Fatores Condicionantes Para o Uso em Larga Escala
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Fatores Condicionantes Para o Uso em Larga Escala
DOUTORADO EM ENGENHARIA INDUSTRIAL GEORGE AUGUSTO BATISTA CÂMARA FATORES CONDICIONANTES PARA O USO EM LARGA ESCALA DAS TECNOLOGIAS DE CAPTURA E ARMAZENAMENTO GEOLÓGICO DE DIÓXIDO DE CARBONO NO BRASIL E SUA APLICAÇÃO NO ESTADO DA BAHIA SALVADOR 2012 UFBA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA INDUSTRIAL - PEI Rua Aristides Novis, 02, 6º andar, Federação, Salvador BA CEP: 40.210-630 Telefone: (71) 3283-9800 E-mail: [email protected] Home page: http://www.pei.ufba.br Universidade Federal da Bahia Escola Politécnica Programa de Pós Graduação em Engenharia Industrial - PEI FATORES CONDICIONANTES PARA O USO EM LARGA ESCALA DAS TECNOLOGIAS DE CAPTURA E ARMAZENAMENTO GEOLÓGICO DE DIÓXIDO DE CARBONO NO BRASIL E SUA APLICAÇÃO NO ESTADO DA BAHIA Salvador 2012 GEORGE AUGUSTO BATISTA CÂMARA FATORES CONDICIONANTES PARA O USO EM LARGA ESCALA DAS TECNOLOGIAS DE CAPTURA E ARMAZENAMENTO GEOLÓGICO DE DIÓXIDO DE CARBONO NO BRASIL E SUA APLICAÇÃO NO ESTADO DA BAHIA Tese apresentada ao Programa de Pós Graduação em Engenharia Industrial – PEI, Faculdade Politécnica, Universidade Federal da Bahia, como requisito para obtenção do grau de Doutor em Engenharia Industrial Orientador: Prof. Dr. José Célio Andrade Co-Orientador: Prof. Dr. Paulo Sérgio Vieira Rocha Salvador 2012 B333 Batista Câmara, George Augusto. Fatores condicionantes para o uso em larga escala das tecnologias de captura e armazenamento geológico de dióxido de carbono no Brasil e sua aplicação no Estado da Bahia / George Augusto Batista Câmara. – Salvador, 2012. 240 f. : il. color. Orientador: Prof. Dr. José Célio Andrade Co-Orientador: Prof. Dr. Paulo Rocha Tese (doutorado) – Universidade Federal da Bahia. Escola Politécnica, 2012. 1. Dióxido de carbono. 2. Efeito estufa (atmosfera). 3. Aquecimento global. 4. Geologia ambiental. I. Andrade, José Célio. II. Rocha, Paulo. III. Universidade Federal da Bahia. IV. Título. CDD: 551.5 1 “Pesquisar sempre foi algo extremamente prazeroso para mim e faz parte do meu existir, nunca foi trabalho e sim prazer.” George Câmara AGRADECIMENTOS Agradeço a DEUS por me proporcionar a realização de mais um sonho e para isso ELE colocou em minha vida muitas pessoas que sonharam junto comigo e puderam transformar este sonho em realidade. Dentre estas pessoas, destaco minha Mãe, Josenice Câmara, que é o meu exemplo de vida e referencial educacional, que me fez acreditar que a única forma de transformar o homem é por meio da educação. Minha esposa e companheira, Luciana Câmara, que sempre me apoiou e esteve ao meu lado por onde quer que eu andasse mundo afora. Meu irmão, Roberto Câmara, por ter reacendido a chama acadêmica e me apresentado ao mestre Paulo Rocha que, ao lado de outro mestre José Célio, trilharam comigo este caminho. A estes dois um agradecimento especial. Além dos mais próximos, outras pessoas e instituições merecem os meus agradecimentos. O Programa de Engenharia Industrial (PEI) onde sempre fui muito bem recebido e atendido, em destaque para Cristiano Fontes e Tatiane Reis Woytysiak, os meus colegas de curso com ressalva para Maísa Paraguassú, a UNIFACS e o Mestrado em Energia, instituição parceira em diversas empreitadas, a Petrobras por ter cedido dados importantes para o desenvolvimento do meu trabalho, a UNU-IAS por ter me recebido, em especial ao Professor Puppim e a Áurea Tanaka, além dos meus colegas, em especial Gareth Haslam, Magali Deyfrus e Lisa Lee. Não poderia deixar de agradecer ao grupo de pesquisa de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL), à equipe da Câmara Consultoria em Projetos Ltda, Eduardo Câmara, Amauri Mascarenhas, Alan Batista, Edson Vitor, Victor Sanchez e Hélio Câmara, que seguraram a “onda” enquanto estive no Japão desenvolvendo pesquisas e à DWG Computação Gráfica, em especial a Luciano Câmara. Aproveito também para agradecer ao meu tio, José Renato Mendonça, que, de forma peculiar, nos poucos dias que esteve comigo no Japão, me fez ver com outros olhos a cultura oriental. Aproveito para estender a todos os demais familiares que de uma forma ou de outra torceram e colaboraram para a conclusão deste trabalho. RESUMO CÂMARA, George Augusto Batista. Fatores Condicionantes para o Uso em Larga Escala das Tecnologias de Captura e Armazenamento Geológico de Dióxido de Carbono no Brasil e sua Aplicação no Estado da Bahia. 2012. 234 f. Tese (Doutorado em Engenharia Industrial) - Programa de Pós-Graduação em Engenharia Industrial, Universidade Federal da Bahia, UFBA, Salvador, Brasil, 2012. A necessidade de ações mundiais direcionadas ao combate do aquecimento global, decorrente das emissões antrópicas de Gases de Efeito Estufa (GEE), tem movimentado tanto o setor público quanto o setor privado. A falta de iniciativas ou até mesmo a excessiva cautela nestas ações de combate podem ter um preço muito alto para as futuras gerações. A tecnologia de Captura e Armazenamento do Dióxido de Carbono (CCS) em Reservatórios Geológicos é apontada, a curto e médio prazo, como uma das principais ações de mitigação de GEE. Este trabalho tem como objetivo analisar os fatores condicionantes para o uso em larga escala das tecnologias de CCS no Brasil e sua aplicação no Estado da Bahia. Para isso, teve como estratégia metodológica: a pesquisa exploratória e a revisão da literatura relacionada com o tema, a coleta de dados secundários, via análise de documentos dos atores chaves envolvidos, e a coleta de dados primários, via entrevistas com experts, visita a centros de referência das tecnologias de CCS e participação de fóruns voltados para o tema. Em suporte à pesquisa foi realizado um estágio acadêmico de seis (06) meses numa instituição no Japão, para acompanhar os desenvolvimentos das tecnologias de CCS naquele país. Foram analisados os principais fatores condicionantes para o uso em larga escala das tecnologias de CCS no Brasil, em particular no Estado da Bahia, e realizado o estudo de caso para a aplicação das tecnologias de CCS na região do recôncavo baiano, tendo como base os dados oriundos de um estudo realizado pela empresa Petrobras, fornecidos para esta pesquisa. Além disso, são apresentadas propostas para minimizar os riscos de insucesso no uso em larga escala das tecnologias de CCS no Brasil como a realização de projetos pilotos em captura, transporte, injeção e monitoramento do armazenamento geológico do CO2; a definição de uma autoridade competente para conduzir as questões das tecnologias de CCS no Brasil; a elaboração de uma lei específica para as tecnologias de CCS no Brasil; a participação mais ativa do setor público, por meio de políticas claras para o incentivo ao uso em larga escala das tecnologias de CCS; a criação e utilização de instrumentos financeiros como fundos ou o mercado de crédito de carbono voltados para as tecnologias de CCS; o maior domínio das tecnologias de CCS pelo Brasil como questão estratégica para o setor privado e setor público; a definição conceitual das tecnologias de CCS como item crítico para o entendimento dessas tecnologias e por consequência a definição do marco regulatório de tais tecnologias no Brasil, e; a definição e estabelecimento de indicadores voltados para as tecnologias de CCS no Brasil, em particular no Estado da Bahia. Este trabalho tem como principal contribuição para a literatura o estabelecimento de indicadores e a apresentação de propostas para a minimização dos riscos de insucesso de projetos das tecnologias de CCS no Brasil. Esta contribuição se faz importante a partir do momento em que essa discussão é ainda incipiente em países desenvolvidos e inexistente em países em desenvolvimento. Por isso ela coopera para a apresentação dos fatores condicionantes relacionados com o uso em larga escala das tecnologias de CCS no Brasil. Como principais resultados o trabalho destaca que os fatores tecnológicos não são um empecílio para o uso em larga escala das tecnologias de CCS na 1 Bahia, em contrapartida, os fatores políticos, estratégicos e econômicos são os mais críticos, tendo no setor público o principal obstáculo para o uso em larga escala do CCS. Sendo assim, conclui-se que as tecnologias de CCS são possíveis de implantação no Estado da Bahia, entretanto, a falta de interesse, participação e organização do setor público, no seu uso em larga, escala impede o avanço de tais tecnologias no Estado e, por consequência no País. Palavras chave: CCS, Armazenamento Geológico, Dióxido de Carbono, Brasil, Japão. ABSTRACT The need for global actions aimed at combating global warming resulting from anthropogenic emissions of Greenhouse Gases (GHG), has moved both the public sector and the private sector. The lack of initiatives or even excessive caution in these combat actions can have a very high price for future generations. Technology Capture and Storage of Carbon Dioxide (CCS) in Geological Reservoirs is pointed in the short and medium term, as a major GHG mitigation actions. This study aims to analyze the determining factors for the large-scale use of CCS technologies in Brazil and its application to the State of BahiaPara that, had the methodological strategy and exploratory review of the literature related to the topic, data collection via secondary document analysis of key players involved and the collection of primary data through interviews with experts, visits to centers of reference of CCS technologies and participation in forums focused on the theme. In supporting the research was conducted a six academic probation (06) months in an institution in Japan to monitor developments of CCS technologies in the country. We analyzed the main determining factors for the large-scale use of CCS technologies in Brazil, especially in Bahia state and conducted a case study of the application of CCS technologies in the area of the Reconcavo Baiano based on data from a study conducted by company Petrobras provided for this research. In addition, it was developed proposals to reduce the risks of failure in large-scale use of CCS technologies in Brazil as conducting pilot projects, the definition of a competent authority to driving issues about CCS technologies in Brazil; a specific law for CCS technologies in Brazil; more active participation of the public sector through clear policies; the creation and use of financial instruments for CCS technologies; the largest field of CCS technologies by Brazil as a strategic issue for the private sector and the public sector; the conceptual definition of CCS technologies and the definition and establishment of indicators focused on the technologies of CCS in Brazil, especially in Bahia. This work has main contribution to the literature establishing indicators and proposals for minimizing the risk of failure of projects of CCS technologies in Brazil. This contribution becomes important from the moment that this discussion is still incipient in developed countries and there isn’t in developing countries. As the work highlights key findings that technological factors are not a cumber to the large scale use of CCS technologies in Bahia, in contrast, political, strategic and economic are the most critical, and in the public sector the main obstacle to The large scale use of the CCS. Therefore, it is concluded that CCS technologies are possible deployment in the State of Bahia, however, lack of interest, participation and organization of the public sector in its use in large scale prevents the advancement of such technologies in the state and consequently in Brazil Keywords: CCS, Geological Storage, Carbon Dioxide, Brazil, Japan. 11 LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURAS Figura 1 - Inter-relações entre Governos, Empresas Transnacionais, GAG e as Mudanças Climáticas. .................................................................................. 24 Figura 2 – Principais questões por atores envolvidos para o uso em larga escala das tecnologias de CCS...................................................................................... 26 Figura 3 – Componentes do processo de mudanças climáticas. ..................................... 30 Figura 4 – As 07 cunhas para Mitigação das Alterações Climáticas (traduzido). .......... 38 Figura 5 – Tecnologias para Captura de CO2 [Adpatado de IPCC, 2005]. .................... 40 Figura 6 – Custos Projetados para Diversas Soluções Tecnológicas para a Mitigação do CO2. ............................................................................................................. 41 Figura 7 - Emissões mundiais de CO2-eq e CO2 por setores. ........................................ 44 Figura 8 – Projeção Populacional do Brasil para o ano de 2050. ................................... 46 Figura 9 – Situação do PIB do Brasil em 2011. ............................................................. 47 Figura 10 – Emissões de GEE do Brasil e sua projeção para 2020. ............................... 50 Figura 11 – Emissões de GEE do Brasil por setores. ..................................................... 51 Figura 12 – Emissões de GEE da Bahia e do Brasil por setores. ................................... 53 Figura 13 – Mapa brasileiro de fontes estacionárias de CO2.......................................... 55 Figura 14 – Opções para o armazenamento geológico do CO2. ..................................... 59 Figura 15 – Ilustração do processo de recuperação avançada de petróleo com CO2. .... 60 Figura 16 – Localização nos EUA dos projetos correntes de EOR com CO2 e dutovias61 Figura 17 – Projetos de CCS no mundo – Países e Volume .......................................... 69 Figura 18 – Projetos de CCS no mundo – Tipos de Captura.......................................... 70 Figura 19 – Projetos de CCS no mundo – Tipos de Opções para o Transporte do CO2 70 Figura 20 – Projetos de CCS no mundo – Tipos de Opções para o Armazenamento do CO2 .............................................................................................................. 72 Figura 21 – Fluxo das Relações entre as Principais Atividades de P&D nas Tecnologias de CCS no Brasil ......................................................................................... 75 Figura 22 – Representação do Objetivo Geral, suas perspectivas e principais ações na pesquisa........................................................................................................ 81 Figura 23 – Etapas da Metodologia. ............................................................................... 83 9 Figura 24 – Posicionamento dos Países e demais Atores quanto a inclusão das tecnologias de CCS como MDL. ................................................................. 87 Figura 25 – Cronologia das principais políticas e estratégias de mudanças climáticas no Brasil............................................................................................................ 91 Figura 26 – Ilustração dos cenários antes e depois da implantação de um projeto de CCS............................................................................................................ 101 Figura 27 - Etapas do Projeto de CCS e a relação com as Autoridades Competentes Indicadas. ................................................................................................... 102 Figura 28 - Representação das atividades previstas em um projeto de CCS para o Brasil, suas sequencias, etapas e responsabilidades.. ............................................ 105 Figura 29 - Técnicas para Redução da Poluição........................................................... 112 Figura 30 – Rotas das Technologias de Captura do CO2- US DOE CO2. .................... 116 Figura 31 – Gráfico de escolha da rota tecnológica para recuperação de CO2. ........... 120 Figura 32 – Proposta de planta de separação de CO2 por absorção com amima – Sistema de Geração de Vapor ................................................................................. 121 Figura 33 – Processo de separação de CO2 de gás de EOR por meio de Absorção com Amina. ....................................................................................................... 122 Figura 34 – Pirâmide dos Recursos Técnico-econômico para a Capacidade de Armazenamento do CO2. ........................................................................... 129 Figura 35 – Pirâmide da Capacidade de Armazenamento do CO2............................... 130 Figura 36 – Escalas integradas de avaliação da Capacidade de Armazenamento do CO2. ................................................................................................................... 133 Figura 37 – Capacidade Teórica de Armazenamento de CO2 nos Campos de Petróleo por Bacia Sedimentar no Brasil. ................................................................ 134 Figura 38 – O custo líquido do CCS nos Estados Unidos – fontes e tecnologias atuais. ................................................................................................................... 136 Figura 39 - Custo de transporte de CO2 para uma pressão na cabeça do poço de 500 psig............................................................................................................. 139 Figura 40 - Preço do CO2 e Investimento antes da compressão em função da capacidade - gás natural (MEA). .................................................................................. 142 Figura 41 - Preço do CO2 e Investimento antes da compressão em função da capacidade - gás natural (KS-1). .................................................................................. 143 Figura 42 - Preço do CO2 e Investimento antes da compressão em função da capacidade - cimenteira (MEA).................................................................................... 144 10 Figura 43 - Preço do CO2 e Investimento antes da compressão em função da capacidade - cimenteira (KS-1). ................................................................................... 144 Figura 44 - Preço do CO2 e Investimento antes da compressão em função da capacidade - biomassa (MEA)...................................................................................... 145 Figura 45 - Preço do CO2 e Investimento antes da compressão em função da capacidade - biomassa (KS-1). ..................................................................................... 146 Figura 46 - Preço do CO2 e Investimento antes da compressão em função da capacidade – turbina a gás (MEA). .............................................................................. 147 Figura 47 - Preço do CO2 e Investimento antes da compressão em função da capacidade – turbina a gás (KS-1)................................................................................ 147 Figura 48 - Preço do CO2 e Investimento antes da compressão em função da capacidade – combustão a gás natural, cimenteiras, biomassa e turbina a gás. ........... 148 Figura 49 - Preço do CO2 e Investimento antes da compressão em função da capacidade – siderúrgica, planta de amônia e refinaria (KS-1 e Queima). .................. 149 Figura 50 - Preço para a compressão e transporte do CO2 em função da pressão para diversas distâncias – combustão a gás natural. ......................................... 150 Figura 51 - Preço para a compressão e transporte do CO2 em função da pressão para 50 km – siderúrgicas, amônia e refinaria. ...................................................... 151 Figura 52 - Preço do CO2 e Investimentos para a separação em atividades de EOR. .. 152 Figura 53 - Esquema geral do projeto. ......................................................................... 155 Figura 54 - Localização do campo de Pudina............................................................... 156 Figura 55 - Detalhamento do projeto a ser implantado no projeto da PETRONAS. ... 157 Figura 56 - Projeto de Recuperação Avançada de Petróleo Monell. ............................ 160 Figura 57 - Diagrama do Processo de EOR no Projeto Monell. .................................. 161 Figura 58 - Localização do projeto Petro Source para redução das emissões de CO2. 162 Figura 59 – Esquema apresentando as fontes de emissão de CO2 em projeto de operações e cenário de referência. ............................................................. 163 Figura 60 - Localização do projeto Merit Energy. ....................................................... 164 Figura 61 - Esquema apresentando as fontes de emissão de CO2e para operação de sequestro de CO2........................................................................................ 164 Figura 62 - Recursos disponibilizados. ........................................................................ 165 Figura 63 – Localização das Principais Regiões Emissões de GEE no Recôncavo Baiano. ....................................................................................................... 168 Figura 64 – Localização dos Campos da Bacia do Recôncavo. .................................. 169 11 Figura 65 – Rede de Dutos da Bacia do Recôncavo.................................................... 173 Figura 66 – Fluxo de Ações e Decisões para a implantação de um Projeto de CCS na Bahia. ......................................................................................................... 176 Figura 67 – Simulação para a obtenção dos valores para investimento e preço do CO2 em empresas do Recôncavo....................................................................... 182 Figura 68 – Proposta de Trajeto da Linha Tronco para o Transporte do CO2 na Bacia do Recôncavo.................................................................................................. 188 Figura 69 – Polígono da Província do Pré-sal. ............................................................. 225 Figura 70 - Localização do Campo de Tupi. ................................................................ 227 Figura 71 - Projeção populacional até 2050 do Brasil e Japão, e situação do PIB em 2011. .......................................................................................................... 233 Figura 72 - Comparativo entre as emissões de GEE do Brasil e do Japão. .................. 234 Figura 73 - Cronologia das principais políticas e estratégias de mudanças climáticas no Japão. ......................................................................................................... 235 Figura 74 - Cronologia das principais políticas e estratégias de mudanças climáticas no Brasil.......................................................................................................... 235 Figura 75 - Estrutura Organizacional dos Projetos de CCS conduzidos pela Japan CCS Co............................................................................................................... 237 Figura 76 - Comparativo entre Brasil e Japão de depósito de patentes das tecnologias de CCS............................................................................................................ 238 Figura 77 - Situação das Instituições de Pesquisa no Brasil e Japão............................ 238 12 TABELAS Tabela 1 - GWP dos GEE............................................................................................... 31 Tabela 2 - Prefixos e Fatores de Multiplicação. ............................................................. 42 Tabela 3 - Metas de Redução de GEE previstas nas NAMAS do Governo do Brasil para 2020................................................................................................................ 48 Tabela 4 - Metas de Redução de GEE por setores previstas nas NAMAS do Governo do Brasil para 2020. ............................................................................................ 49 Tabela 5 - Emissões Gasosas por Regiões Industriais.................................................... 54 Tabela 6 – Projetos de CCS no mundo (em execução e planejados) de diversas escalas ............................................................................................................ 67 Tabela 7 – Capacidades operacionais de dutos para o transporte de CO2 .................... 125 Tabela 8 – Valores de massa específica e visosidade do CO2 ...................................... 127 Tabela 9 – Identificação e Potencial de Emissões das Fontes Estacionárias no Recôncavo Baiano ....................................................................................... 179 Tabela 10 – Capacidade Teórica de Armazenamento de CO2 nos Campos da Bacia do Recôncavo. ................................................................................................... 185 Tabela 11 - Principais efluentes atmosféricos emitidos pelo FPSO Cidade de Angra dos Reis. ............................................................................................................. 229 13 QUADROS Quadro 1- Fontes e absorção de gases de efeito estufa e aerosóis. ................................ 29 Quadro 2 - Fatores de conversão dos prefixos das medidas de peso do Sistema Internacional. ............................................................................................. 43 Quadro 3 – Distâncias dos dutos de transporte do CO2 em operação ou em projeto. .... 71 Quadro 4 – Tecnologias de captura do CO2 disponíveis comercialmente. .................. 117 Quadro 5 – Exemplos de processos industriais de separação de gases por membranas. ................................................................................................................. 119 Quadro 6 – Estimativa de Custos de Armazenamento do CO2. ................................... 135 Quadro 7 – Faixas de Custos Correntes dos Componentes do CCS Aplicado a Usinas de Energia ou Outras Fontes Industrial. ....................................................... 136 Quadro 8 – Estimativa de Custos para o Armazenamento Geológico do CO2............. 137 Quadro 9 – Preço do CO2 antes da compressão em função da capacidade - gás natural (MEA). .................................................................................................... 141 Quadro 10 – Preço do CO2 antes da compressão em função da capacidade - gás natural (KS-1). ..................................................................................................... 142 Quadro 11 – Preço do CO2 antes da compressão em função da capacidade - cimenteira (MEA). .................................................................................................... 143 Quadro 12 – Preço do CO2 antes da compressão em função da capacidade - cimenteira (KS-1). ..................................................................................................... 144 Quadro 13 – Preço do CO2 antes da compressão em função da capacidade - biomassa (MEA). .................................................................................................... 145 Quadro 14 – Preço do CO2 antes da compressão em função da capacidade - biomassa (KS-1). ..................................................................................................... 145 Quadro 15 – Preço do CO2 antes da compressão em função da capacidade – turbina a gás (MEA). .............................................................................................. 146 Quadro 16 – Preço do CO2 antes da compressão em função da capacidade – turbina a gás (KS-1). .............................................................................................. 147 Quadro 17 – Preço do CO2 antes da compressão em função da capacidade – siderúrgica, planta de amônia e refinaria (KS-1 e Queima)........................................ 149 Quadro 18 – Investimento e Preço do CO2 para atividades de EOR............................ 152 Quadro 19 – Status dos fundos de financiamento de projetos de CCS. ....................... 166 Quadro 20 – Campos da Bacia do Recôncavo. ............................................................ 170 14 Quadro 21 - Critérios para seleção de reservatórios de óleo com potencial para aplicação de CO2. .................................................................................................... 184 Quadro 22 – Identificação dos Diplomas Legais com Possível relação com as Tecnologias de CCS. ............................................................................... 189 Quadro 23 – Indicadores para o uso em larga escala das Tecnologias de CCS. .......... 200 Quadro 24 - Situação das Descobertas do Pré-sal. ....................................................... 226 Quadro 25 – Publicações da pesquisa. ......................................................................... 231 15 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AC ACI ACR AGERBA ANA ANP ANSI ANTAQ ANTT BAU BO C&T CAC CAC CCI CCS CCSA CCX® CDP CEBDS CENPES CEPGN CEPRAM CFCs CH4 CICCS CIA CNEN CNPE CNRH CNTL CO2 CO2CRC CO2eq COFIC CONAMA CONERH CONIT COP CQNUMC ou UNFCCC CSFL DCPP DGC DNPM E&I Autoridade Competente Autoridade Competente Indicada American Carbon Registry Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transporte e Comunicações da Bahia Agência Nacional de Águas Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis American National Standarts Institute Agência Nacional de Transporte Aquaviário Agência Nacional de Transporte Terrestre Business-As-Usual Fator Volume de Produção Ciência e Tecnologia Captura e Armazenagem de Dióxido de Carbono Clean Air Canada Câmara de Comércio Internacional Carbon Capture and Storage Carbon Capture & Storage Association Chicago Climate Exchange Carbon Disclosure Project Centro Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Melo/Petrobras Centro de Estudos em Petróleo e Gás Natural Conselho Estadal do Meio Ambiente Halocarbonos Metano Centre for Innovation in Carbon Capture and Storage US Central Intelligence Agency Comissão Nacional de Energia Nuclear Conselho Nacional de Políticas Energéticas Conselho Nacional de Recursos Hídricos Centro Nacional de Tecnologias Limpas Dióxido de Carbono Cooperative Research Centre for Greenhouse Gas Dióxido de Carbono Equivalente Comitê de Fomento Industrial de Camaçari Conselho Nacional do Meio Ambiente Conselho Estadual de Recursos Hídricos Conselho Nacional de integração de Políticas de Transporte Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima Convenção-Quadro das Nações Unidas para Mudança do Clima Fórum de Lideranças em Seqüestro de Carbono Demonstrativo de Controle de Produtos Processados Dakota Gasification Company Departamento Nacional de Produção Mineral Engenharia e Inovação 16 E&P EB ECBM EOR EOR/EGR EPA EPE ESTs EU EVTE FPSO GAG GCCSI GEE GLP GS GWP Exploração e Produção Executive Board Recuperação Avançada de Metano em Jazidas de Carvão Mineral Recuperação Avançada de Petróleo Recuperação Avançada de Óleo ou de Gás Natural U.S. Environmental Protection Agency Empresa de Pesquisa Energética Environmentally Sound Technologies União Européia Estudo de Viabilidade Técnico-Econômica Unidade Flutuante de Armazenamento e Escoamento Governança Ambiental Global Global CCS Institute Gases de efeito estufa Gás Liquefeito de Petróleo Gold Standart Potencial de Aquecimento Global Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais IBAMA Renováveis IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBP Instituto Brasileiro de Petróleo ICETT International Centre for Environmental Technology Transfer IEA International Energy Agency INEMA Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hidricos INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologias INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais IOGCC Interstate Oil and Gas Compact Commission International Performance Assessment Centre for the Geologic Storage IPAC-CO2 of CO2 IPCC Intergovernamental Panel on Climate Change JIs Joint Implementations LABMUNDO Laboratório de Análise Política Mundial MARPOL International Convention for the Prevention of Pollution From Ships MCMPR Conselho Ministerial de Petróleo e Recursos Minerais MCT Ministério da Ciência e Tecnologia MDL Mecanismos de Desenvolvimento Limpo MEA Monoetanolamina Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia MMA Legal MME Ministério de Minas e Energia NAMAs Nationally Appropriate Mitigation Actions Óxido Nitroso N2O NPGA Núcleo de Pós-Graduação em Administração OECD Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico ONGs Organizações Não-Governamentais ONU Organização das Nações Unidas OPA Commonwealth Offshore Petroleum Act P&D Pesquisa e Desenvolvimento PAP Programa Anual de Produção PCHs Pequenas Centrais Hidroelétricas PDE Plano Decenal de Expansão de Energia 17 PETROBRAS PETRONAS PIB PNUD PRONAR PTRC PUC-RS RCRA REDD RGGI RIMA RITE RLAM RMC SEED SEI SEMA SIGEA SISNAMA TEMADRE TIR TMA UFBA UIC UNEP UNIFACS VAUE VCS VPL WBCSD WCED WCI WTOF Petróleo Brasileiro S.A. Petroliam Nasional Berhad Produto Interno Bruto Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Programa Nacional de Controle da Qualidade do Ar Petroleum Technology Research Centre Pontifica Universidade Católica do Rio Grande do Sul Resource, Conservation and Recovery Act Reduções de Emissões por Desmatamentos e Degradação Regional Greenhoue Gas Iniciative Relatório de Impacto do Meio Ambiente Research Institute of Innovative Technology for the Earth Refinaria Landulfo Alves em Mataripe recuperação avançada de hidrocarbonetos Schlumberger Excellence in Educational Development Sustainable Energy Ireland Secretaria do Meio Ambiente do Estado da Bahia Sistema de Gestão de Emissões Atmosféricas da Petrobras Sistema Nacional de Meio Ambiente Terminal de Madre de Deus Taxa Interna de Retorno Taxa Mínima de Atratividade Universidade Federal da Bahia Underground Injection Control Program United Nations Environment Programme Universidade de Salvador Valor Anual Uniforme Equivalente Voluntary Carbon Standard Valor Presente Líquido World Business Council for Sustainable Development World Commission on Environment and Development Western Climate Initiative White Tiger Oil Field 18 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 20 1.1. CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA ............................................................... 22 1.2 MOTIVAÇÃO/JUSTIFICATIVA ........................................................................... 23 1.3. OBJETIVO GERAL................................................................................................ 27 1.4. OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................................. 27 2. REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................... 29 2.1 GOVERNANÇA AMBIENTAL GLOBAL DO CLIMA ........................................ 32 2.2 TECNOLOGIAS DE REDUÇÃO DO DIÓXIDO DE CARBONO (CO2) ............. 37 2.3. EMISSÕES DO CO2 NO MUNDO ........................................................................ 42 2.4 EMISSÕES DE CO2 NO BRASIL........................................................................... 44 2.5 EMISSÕES DE CO2 NA BAHIA ............................................................................ 52 2.6 O ARMAZENAMENTO GEOLÓGICO DO CO2 .................................................. 55 2.7 STATUS DO CCS NO MUNDO ............................................................................. 64 2.8 CCS NO BRASIL..................................................................................................... 74 3 METODOLOGIA...................................................................................................... 77 4. ANALISE DOS FATORES CONDICIONANTES PARA O USO EM LARGA ESCALA DA TECNOLOGIA CCS NO BRASIL ..................................................... 84 4.1 FATORES POLÍTICOS E ESTRATÉGICOS ......................................................... 84 4.1.1 Discussão sobre os Fatores Políticos ............................................................. 85 4.1.2 Discussão sobre os Fatores Estratégicos ....................................................... 92 4.1.2.1 Uma discussão sobre a regulação do Armazenamento Geológico do CO2 no Brasil.............................................................................................................. 100 4.2 FATORES TÉCNOLÓGICOS E ECONÔMICOS ................................................ 108 4.2.1 Discussão sobre os Fatores Tecnológicos ................................................... 114 4.2.1.1 Captura e Separação ............................................................................... 115 4.2.1.2 Transporte ............................................................................................... 123 4.2.1.3 Capacidade de Armazenamento ............................................................. 127 4.2.2 Discussão sobre os Fatores Econômicos ..................................................... 134 4.2.2.1 Custos e Investimentos de um projeto de CCS – Estudo da Petrobras .. 140 4.2.2.2 Instrumentos Econômicos para Projetos de CCS ................................... 153 4.2.2.2.1 Mercado Regulado de Crédito de Carbono e o CCS........................ 154 4.2.2.2.2 Mercado Voluntário de Crédito de Carbono e o CCS...................... 157 19 4.2.2.2.3 Fundos de Financiamento para Projetos de CCS ............................. 165 5. FATORES CONDICIONANTES À APLICAÇÃO DAS TECNOLOGIAS DE CCS NO ESTADO DA BAHIA – UM ESTUDO DE CASO .................................. 167 5.1 CONTEXTO........................................................................................................... 167 5.2 ESTUDO DE CASO .............................................................................................. 174 5.3 FATORES POLÍTICOS, ESTRATÉGICOS, TECNOLÓGICOS E ECONÔMICOS IMPLICADOS NO ESTUDO DE CASO .................................................................... 194 5.4 MEDIDAS MITIGADORAS ................................................................................. 197 6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES FINAIS ............................................... 201 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 206 ANEXO I ..................................................................................................................... 224 ANEXO II.................................................................................................................... 231 ANEXO III .................................................................................................................. 233 20 1 INTRODUÇÃO O Homem moderno e sua forma de viver desencadeou uma série de efeitos diretos e indiretos ao meio ambiente. Diversos são os impactos ambientais reconhecidos e estudados pela comunidade científica mundial, decorrentes do atual estilo de vida da humanidade. Mesmo com as dicussões sobre estes impactos e aumento da conscientização sobre as questões ambientais, inúmeros são os processos produtivos que ainda mantém os princípios do século passado. O mundo está envolvido em debates sócio-ambientais cada vez mais intensos que têm modificado a forma de agir e viver das sociedades mais desenvolvidas. Diversos são os atores envolvidos e inúmeras são as formas para influenciar tanto os indivíduos como uma comunidade com o objetivo de alcançar um equilíbrio. A maneira como os indivíduos ou comunidades respondem aos estímulos externos são diferentes e isso termina influenciando a coletividade e, consequentemente, um país ou toda uma região para responder a essas questões. O crescimento populacional e a elevação do consumo de diversos países têm desencadeado consequências não previstas para o planeta e provocado a necessidade de debates quanto à manutenção do padrão de consumo dos países desenvolvidos e a escalada dos países em desenvolvimento. Entretanto, na atual conjuntura estabelecida, somente com a pesquisa, desenvolvimento e inovação de tecnologias ambientavelmente amigáveis em curto e médio prazo, a humanidade poderá equalizar este dilema. A introdução de uma tecnologia ambientalmente amigável requer um esforço muito grande entre os diversos atores do setor público, privado e da sociedade civil. De maneira geral, uma nova tecnologia é, geralmente, mais cara do que as que estão em uso e sempre posta em cheque no que diz respeito aos seus benefícios e desempenho. Essa realidade se amplia ainda mais quando é discutida a difusão e uso em larga escala de uma tecnologia mais ambientalmente amigável. Este trabalho entende que uma tecnologia mais ambientamente amigável necessita de uma discussão e análise mais ampla quanto à condução de sua governança. Governança esta exercida em âmbito internacional e também em âmbito nacional em cada país, sendo que o posicionamento de cada país em fóruns internacionais é o reflexo de como as tecnologias ambientalmente mais amigáveis devem estar sendo conduzidas internamente no país. 21 A maneira como as políticas internas em um país são conduzidas e o resultado das discussões externas em fóruns internacionais podem influenciar diretamente o sucesso ou insucesso da implantação de uma tecnologia ambientalmente amigável. Isso porque, em se tratando de tecnologias ambientais, existe uma influência muito grande com o estabelecimento de políticas e estratégias pelo setor público mais a participação ativa do setor privado e a sociedade civil, os quais são os principais propulsores dos fatores tecnológicos e econômicos em qualquer processo de inovação. Com o propósito de compreender todas as questões que abrangem uma tecnologia ambientalmente amigável, em especial a Captura e Armazenamento do Dióxido de Carbono (CCS), este trabalho discute e identifica os pontos críticos que envolvem esta tecnologia, além de propor soluções para que o uso das tecnologias de CCS seja feito de forma segura, eficiente e sustentável. Para tanto, ele é composto por esta introdução que tem a caracterização do problema da pesquisa, sua motivação e justificativa assim como seus objetivos geral e específicos. No segundo Capítulo, este trabalho realiza uma revisão da literatura que discute a Governança Ambiental Global (GAG) do clima, assim como as tecnologias de redução do Dióxido de Carbono (CO2), as emissões do CO2, tanto no mundo como no Brasil, e em particular, na Bahia. Além disso, o segundo Capítulo também apresenta a tecnologia de armazenamento geológico do CO2 e o atual status do CCS no mundo e no Brasil. Em seu terceiro Capítulo o trabalho apresenta a sua metodologia. Como resultados da pesquisa do trabalho, o quarto Capítulo analisa o uso do armazenamento geológico de CO2 no Brasil, seus fatores políticos, estratégicos, tecnológicos e econômicos. Discute de forma mais particular os fatores tanto políticos como estratégicos e propõe uma discussão sobre a regulação do armazenamento geológico do CO2 no Brasil. Neste mesmo Capítulo também são discutidos os fatores tecnológicos, tanto a parte conceitual quanto as questões mais técnicas referentes à captura e separação, transporte, capacidade de armazenamento do CO2, assim como uma discussão sobre os fatores econômicos, custos e investimentos de um projeto de CCS e os possíveis instrumentos econômicos que podem ser aplicados em projetos de CCS. No quinto Capítulo, o trabalho analisa a possível aplicação das tecnologias de CCS no Estado da Bahia por meio de um estudo de caso, o qual é composto por uma contextualização da região, a aplicação de teorias e cálculos práticos. Além disso, no 22 estudo de caso, ainda são identificados e discutidos os fatores políticos, estratégicos, tecnológicos e econômicos implicados no mesmo e as medidas mitigadoras propostas e que são críticas para o sucesso de um projeto de CCS na Bahia. Por fim, o trabalho apresenta as suas conclusões e recomendações finais. 1.1. CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA O aumento atual das pressões sociais, quanto às questões ambientais, provenientes das ações antrópicas, impulsionam a necessidade da tomada de ação tanto do setor público como do setor privado. A Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e a Engenharia e Inovação (E&I) em Environmentally Sound Technologies (ESTs tecnologias ambientalmente amigáveis) tem sido uma das formas de a humanidade buscar equacionar os problemas ambientais oriundos do aumento do consumo em escala dos produtos e processos industriais. Se por um lado as ESTs podem ser consideradas como a solução para diversos problemas, por outro, são tecnologias que normalmente não estão diretamente relacionadas com a obtenção de lucro ou benefícios financeiros para os seus usuários, tendo um caráter mais de responsabilidade socioambiental, o que dificulta o seu uso em larga escala, principalmente do setor privado que sempre leva em consideração os fatores técnicos, econômicos e regulatórios. Faz-se importante destacar que cada ESTs tem o seu nível específico de complexidade de implementação e o entendimento do contexto no qual as ESTs estão ou estarão inseridas, assim como as interações entre os setores público, privado e a sociedade civil com as ESTs podem determinar o sucesso da implementação ou difusão de cada ESTs em um país. Em função da importância e proeminência que têm obtido as tecnologias de CCS, o contexto em que este tipo de ESTs está inserida é crítico para entender os fatores possíveis de sucesso ou insucesso da sua difusão. É neste contexto que analisar as ações e decisões tomadas pelo Governo do Brasil, relativas ao tema Mudanças Climáticas, assim como o posicionamento dos demais atores envolvidos do setor privado e da sociedade civil, tem uma importância relevante e requer uma atenção especial. Suplementar ao entendimento da participação dos atores envolvidos no uso em larga escala do CCS, a ampliação da discussão com um caráter mais técnico é também crítica para minimizar os fatores motivadores de empecilhos e obstáculos pré 23 concebidos para o seu largo uso. Para tanto, a discussão da implantação de projetos de CCS no Brasil é um fator chave para o entendimento mais aprofundado da complexidade que envolve a implementação e difusão destas tecnologias. Posto isso, as questões presentes neste trabalho buscam contribuir para o fortalecimento do campo de pesquisa sobre a importância do uso em larga escala das tecnologias de CCS no Brasil, além do papel dos principais atores brasileiros que influenciam a GAG do clima, a partir da investigação da seguinte questão-problema: - Que fatores condicionam o uso em larga escala das tecnologias de CCS no Brasil e sua aplicação no Estado da Bahia? 1.2 MOTIVAÇÃO/JUSTIFICATIVA A principal motivação desta pesquisa está na relevância da discussão do tema no âmbito acadêmico-científico, assim como no âmbito tecnológico industrial. Os resultados da pesquisa contribuem diretamente para analisar o potencial e desenvolvimento das tecnologias de CCS no Brasil, mais específicamente no Estado da Bahia, suas barreiras políticas e tecnológicas; confrontar o posicionamento do Governo do Brasil em relação ao CCS com o posicionamento de outros países; verificar e analisar políticas/estratégias do Governo do Brasil na GAG do clima. A Figura 1 apresenta as inter-relações entre a participação política dos países (Governos) e do setor privado (empresas de atuação transnacional), suas influências na GAG (na Figura 1, o tamanho das setas demonstram a intensidade das influências) e o impacto das EST’s, em particular do CCS que diz respeito às Inovações Tecnológicas, implementadas para a redução das emissões de GEE. Consequentemente, como as participações políticas e tecnológicas podem influenciar nas Mudanças Climáticas decorrentes das ações antrópicas. A figura dá ênfase à intensidade das influências, principalmente, entre os governos dos países que formam o grupo do G 08 (composto pelas 08 maiores potências mundiais) e os que formam o G 05 (composto por 05 países em desenvolvimento, entre eles o Brasil) e as empresas transnacionais. Esta pesquisa teve como premissa que o uso em larga escala das tecnologias de CCS requer uma forte sinergia entre os seus atores, sendo estes atores oriundos do setor público, do setor privado e da sociedade civil. A sinergia apontada anteriormente é identificada nesta pesquisa como sendo um ponto crítico para o sucesso na implementação de projetos de CCS. 24 De maneira geral, o autor deste trabalho entende que o setor público é constituído pelo governo, ministérios, agências reguladoras e demais organizações públicas, o setor privado formado pelas empresas e a sociedade civil, pela academia, organizações não-governamentais e a sociedade. Já a sinergia citada, como um processo em que os atores envolvidos precisam ter o foco nas tecnologias de CCS e entendem que o seu uso é importante para o bem estar social, mesmo que os interesses dos atores sejam diversos como a redução de externalidades negativas, a obtenção de lucros, aumento do conhecimento técnico-científico, dentre outros. Figura 1 - Inter-relações entre Governos, Empresas Transnacionais, GAG e as Mudanças Climáticas. Fonte: elaboração própria. A Figura 2 busca identificar e reunir de forma condensada e por atores as principais questões, interesses e direcionamentos específicos dos mesmos para o êxito do uso em larga escala das tecnologias de CCS em um país. Desta forma, o uso em larga escala do CCS para o setor privado estaria relacionado a investimentos, à P&D e E&I (parcerias com instituições locais, nacionais e internacionais), a prioridades das empresas quanto às questões ambientais e sua responsabilidade social, atrelado a isso a preocupação quanto à criação e manutenção da imagem. 25 A depender do contexto, o setor privado deve ser responsável pela condução de projetos pilotos de CCS com o foco no uso em larga escala do CCS, o que seria um primeiro estágio para, posteriormente, o desenvolvimento e condução de projetos de demonstração e, consequentemente, projetos em escala comercial. Contudo, o setor privado é movido pela busca do capital (lucro) ou controle/incentivo do Estado (estabelecimento de multas, taxas/impostos ou incentivos fiscais) o que não deveria ser desprezado no contexto do uso em larga escala do CCS, além da participação em outros instrumentos econômicos, como os mercados de crédito de carbono ou fundos. Já para o setor público, caberia a responsabilidade de estabelecer Políticas e Estratégias claras quanto às questões industriais e climáticas, assim como a elaboração e estabelecimento de uma estrutura regulatória específica para o CCS e acordos internacionais para a realização de projetos em regiões limites ou de águas internacionais. Além disso, seria necessário que o CCS fosse entendido como uma prioridade de governo o que requereria investimentos, definição de uma instituição focada em CCS, realizando P&D e conduzindo projetos pilotos. Suplementarmente, existe a necessidade da criação de instrumentos econômicos como impostos sobre a emissão de CO2, a criação de mercados de créditos de carbono e fundos. Este trabalho considera a sociedade civil sendo composta pela sociedade em geral, a academia, Organizações Não-Governamentais (ONGs), dentre outros. Com isso, as questões referentes às tecnologias de CCS que teriam relação com a sociedade civil seria a opinião pública quanto à aceitação das tecnologias de CCS. Vinculado a isso, as perdas e benefícios, principalmente, associados ao armazenamento do CO2 em reservatórios geológicos localizados no subsolo de propriedades agropecuárias produtivas, além das questões de riscos e impactos ambientais e de saúde e segurança das comunidades próximas aos locais de armazenamento. Já, para a academia, caberia a produção de Ciência e Tecnologia (C&T) e P&D quanto à captura e separação, transporte, injeção e monitoramento do CO2 nos reservatórios geológicos. 26 Figura 2 – Principais questões por atores envolvidos para o uso em larga escala das tecnologias de CCS. Fonte: elaboração própria. Ao entender o contexto em que estão inseridas as tecnologias de CCS e as possíveis interações e relações de influência nas dimensões político-estratégica e tecnológica, assim como as principais questões relacionadas aos atores chaves, os resultados da pesquisa deste trabalho contribuem diretamente para: - analisar o potencial de uso do CCS no Brasil em particular no Estado da Bahia, suas barreiras políticas e tecnológicas; - confrontar o posicionamento do Governo do Brasil em relação ao CCS com o posicionamento de outros países em desenvolvimento e desenvolvidos. - verificar e analisar o posicionamento e estratégias/políticas do setor privado1 e do Governo do Brasil na GAG do clima; - verificar a disponibilidade e uso de instrumentos de incentivos nacionais e internacionais à implantação e difusão de tecnologias de redução de GEE em específico do CCS; e, - analisar o desenvolvimento do CCS, considerando todas as barreiras tecnológicas e governamentais existentes no Brasil e compará-las com outros países. Além do exposto acima, a pesquisa contribui para a atualização teórica e de conhecimento de novas abordagens sobre o papel do setor privado e público do Brasil 1 Mesmo sendo uma empresa de capital misto e aberto, e tendo o seu principal acionista o Governo do Brasil, a Petrobras foi considerada neste trabalho como sendo uma instituição do setor privado, visto que, nas principais ações da empresa ela trabalha em consórcio com outras empresas petrolíferas como o que ocorre no campo de Tupy onde a participação das empresas é estabelecida da seguinte forma: Petrobras (65%), BG (25%) e Petrogal (10%). Ver o Anexo I deste trabalho. 27 na GAG do clima. Além de contribuir também com a produção intelectual brasileira sobre a relação entre as tecnologias de CCS e a GAG, isto é, na geopolítica do CCS que é muito incipiente, concentrando-se nos campos da Ciência Política e das Relações Internacionais, tendo como objeto de estudo, principalmente, o papel exercido pelos atores estatais ou pelas ONGs na ecopolítica internacional (Milani, 1999; Ribeiro, 2001; Barros-Platiau, 2004; Silva, 2006; Viola, 2005). 1.3. OBJETIVO GERAL Este trabalho tem por objetivo geral analisar os fatores condicionantes para o uso em larga escala das tecnologias de CCS no Brasil e sua aplicação no Estado da Bahia. 1.4. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Para o alcance do objetivo geral do trabalho foram elaborados os seguintes objetivos específicos: - levantar o estagio atual do uso das tecnologias de CCS no mundo e no Brasil, tendo como base a análise das tecnologias de redução do CO2 disponíveis, em especial o Armazenamento Geológico do CO2; as emissões de CO2 no mundo, no Brasil e na Bahia nos últimos anos e o status das tecnologias de CCS no mundo e no Brasil;. - verificar a percepção dos atores internacionais quanto ao uso em larga escala do CCS, e entendê-los de forma mais abrangente, relacionando-os com a GAG do Clima; - identificar o posicionamento e participação dos atores chave brasileiros no sistema da GAG do clima e a percepção desses atores na inclusão da CCS na agenda das negociações das mudanças climáticas; - identificar e analisar as estratégias dos diversos atores internacionais para a utilização do CCS em larga escala, tendo como referência os fatores políticos, estratégicos, tecnológicos envolvidos, com ênfase nos instrumentos econômicos para incentivo a projetos de CCS como os mercados de crédito de carbono (regulado e voluntário) e os fundos de financiamento; - verificar os fatores condicionantes para o uso das tecnologias do CCS no Brasil, por meio da discussão de cada fator individualmente e abrangendo questões críticas como a Regulação do Armazenamento Geológico do CO2 no Brasil, opções técnicas disponíveis para as áreas de captura/separação, transporte e estimativa de capacidade de 28 armazenamento em reservatórios geológicos, além da discussão sobre os custos e investimentos de um Projeto de CCS na província petrolífera do Recôncavo da Bahia; - analisar político, estratégico, técnico e economicamente um possível projeto de CCS na Bahia, entendendo o contexto no qual estaria inserido este projeto, seus fatores condicionantes implicados e as medidas mitigadoras necessárias para o seu sucesso, e; - definir/elaborar indicadores que possam auxiliar no processo decisório para o uso das tecnologias de CCS em um determinado ambiente, em particular no Estado da Bahia. 29 2. REVISÃO DA LITERATURA As discussões sobre o aumento da temperatura da Terra e os efeitos deste aumento nas condições climáticas do planeta são objetos de estudo de diversas áreas da ciência. Muitas discussões têm o foco no chamado “efeito estufa”. Um fenômeno natural que ocorre na atmosfera da Terra, decorrente das condições criadas nas estufas de vidro utilizadas na agricultura (Marques, 1993). Na atmosfera, ocorre um processo semelhante. A função do vidro na estufa é exercida por certos gases atmosféricos que deixam passar a radiação vinda do sol e absorvem aquela emitida pela Terra, reemitindo-a nos dois sentidos, para baixo e para cima. A parte reemitida para baixo é de novo absorvida pela superfície e reemitida para a atmosfera, onde o processo se repete. No saldo, tem-se uma espécie de “aprisionamento” de energia que é avaliado na prática pelo correspondente aumento de temperatura (Marques, 1993). Os principais gases que fazem parte da composição da atmosfera e influenciam neste fenômeno são: o vapor d’água (H2O), o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4), os halocarbonos (CFCs), o óxido nitroso (N2O) e os aerosóis. Cada gás tem fontes distintas e formas de absorção diferenciadas que podem ser observadas conforme o Quadro 1. Gás Fonte Combustível fóssil, desmatamento, queima de CO2 biomassa, produção de cimento. Plantações de arroz, pântanos naturais, animais domésticos ruminantes, queima de biomassa, CH4 combustíveis fósseis, cupins, lixo doméstico e animal. Fontes biológicas no solo e água, adubação, N2O queima de biomassa e indústria. Fontes industriais: propelentes, refrigeradores, Halocarbonos (CFCs) solventes, extintores de fogo, agentes produtores de espuma. Evaporação (oceano), circulação de veículos H2O automotores, combustão. Combustíveis fósseis e queima de biomassa, Aerosois fuligem, atividade vulcânica, poeira do solo, sal marinho, plantas. Quadro 1- Fontes e absorção de gases de efeito estufa e aerosóis. Fonte: Mendonça (2003). Os efeitos no clima do Planeta, decorrentes Absorção Oceano e biosfera terrestre. Reação com radicais hidróxidos na atmosfera. Distribuição fotolítica na estratosfera. Distribuição fotolítica na estratosfera. Gotas de precipitação. nuvens, Redução precipitação. pela do efeito estufa e, consequentemente, do aquecimento global não são totalmente conhecidos. Os atuais estudos apontam que ocorram efeitos positivos e negativos no clima do Planeta, 30 decorrentes das mudanças climáticas originárias do aquecimento global. Sendo que os efeitos negativos têm maior impacto na vida do Planeta do que os positivos. Dentre os efeitos negativos, destacam-se; a poluição do ar e da água, o progressivo aquecimento global, o aumento do nível do mar, as chuvas ácidas, o desequilíbrio em ecossistemas, a salinização e ressecamento do solo (redução de áreas agriculturáveis), a emergência de novas doenças e grandes epidemias. Já, entre os possíveis efeitos positivos, podem ser destacados: a elevação da fertilidade dos vegetais (principalmente em latitudes médias e altas) e, em determinadas regiões, o aumento de áreas agriculturáveis. A inter-relação entre os diversos processos causadores do efeito estufa no Planeta e, consequentemente, o aquecimento global e as mudanças climáticas foi apresentada pelo IPCC em seu relatório de 2007 “Climate Change 2007: the physical science basis”. Na figura elaborada pelo IPCC, são exibidos os principais agentes causadores das mudanças diretas e indiretas nos condutores das mudanças climáticas; a presença de impactos nas questões radioativas que são críticas para as perturbações climáticas, e as respostas que o clima dá em função de tais perturbações. Outro ponto a ser destacado são os processos, tanto de feedback biogeoquímicos quanto os de mitigação. A Figura 3 é a figura do IPCC traduzida pelo autor. Figura 3 – Componentes do processo de mudanças climáticas. Fonte: IPCC, 2007. 31 A atual forma de mensurar o impacto ambiental dos GEE emitidos na atmosfera terrestre é por meio do Potencial de Aquecimento Global de cada GEE (cuja sigla em inglês é GWP). A U.S. Environmental Protection Agency (EPA) estabelece uma definição e a relação de comparação entre o GWP do carbono e dos outros gases que contribuem para o aumento do efeito estufa. Segundo a EPA, o GWP é a medida da energia total que um gás absorve em um período particular comparado com o CO2 (usualmente 100 anos), tendo como base o GWP do dióxido de carbono que é definido como 1. Sendo assim, o GWP de um gás é mensurado através do seu impacto no clima quando comparado ao impacto que seria causado pelo CO2. Com a proposta de equiparar o impacto que cada GEE pode causar em relação ao efeito estufa, foi estabelecido o conceito de carbono equivalente (CO2eq). Por exemplo, o GWP do metano tem 21 vezes mais o potencial de impacto no clima do que o CO2, logo, uma tonelada de metano corresponde a 21 toneladas de CO2eq e, consequentemente, tem-se uma relação de 1 para 21 entre CO2 e CH4. A Tabela 04 apresenta o comparativo do GWP dos principais GEE (IPCC, 1990): Tabela 1 - GWP dos GEE. Gases GWP (100 anos) Gases GWP (100 anos) CO22 1 HCFC-124 430 Metano - CH4 21 HFC-125 2.500 Oxido Nitroso – N2O 290 HFC-134a 1.200 CFC-11 3.500 HCFC-141b 440 CFC-12 7.300 HCFC-142b 1.600 HCFC-22 1.500 HFC-143a 2.900 CFC-113 4.200 HFC-152a 140 CFC-114 6.900 CCl4 1.300 CFC-115 6.900 CH3CCl3 100 HCFC-123 85 CF3Br 5.800 Fonte: IPCC, 1990 (traduzido e adaptado pelo autor). 2 Como o GWP do CO2 é 1, o que significa 1 CO2-eq, algumas comparações nesta Tese foram feitas utilizando o CO2-eq e o CO2 entendendo, por exemplo, que 01 (uma) tonelada de CO 2 é igual a 01 (uma) tonelada de CO2-eq. 32 2.1 GOVERNANÇA AMBIENTAL GLOBAL DO CLIMA O termo Governança tem sido muito utilizado atualmente, principalmente nas áreas de Administração e do Direito Internacional, este fato se dá principalmente em decorrência das atuais relações entre os países, intensificadas após o processo de Globalização. Um dos primeiros conceitos sobre Governança Global foi apresentado pela Comissão sobre Governança Global: “No plano global, a governança foi vista primeiramente como um conjunto de relações intergovernamentais, mas agora deve ser entendida de forma mais ampla, envolvendo organizações não-governamentais, (ONG), movimentos civis, empresas multinacionais e mercados de capitais globais. Com estes interagem os meios de comunicação de massa, que exercem hoje enorme influência”. (Comissão sobre Governança Global, 1996, p. 2). No que diz respeito à Governança Ambiental Global (GAG), este trabalho entende a mesma como a soma dos interesses comuns dos indivíduos e instituições, privadas e públicas, constituída da intercessão entre os interesses na Governança Global nas questões ambientais (The Commission on Global Governance, 1995). Pode-se observar a intrínseca relação entre os mais diversos atores, entretanto, a preocupação em buscar soluções e o processo de tomada de decisão não era explicito no conceito apresentado. Numa evolução deste conceito, segundo Gonçalves: “Fixamo-nos, portanto, na definição de governança como meio e processo capaz de produzir resultados eficazes, sem necessariamente a utilização expressa da coerção. Mas a governança não exclui a dimensão estatal: ao contrário, acaba por envolvê-la. Governança diz respeito... à “totalidade das diversas maneiras” para administrar problemas, com a participação e ação do Estado e dos setores privados. É evidente, porém, que a dimensão não-estatal é o traço proeminente e de certa forma inédito trazido pela governança ao debate e à formulação de políticas e de ações nos planos nacional e internacional. Daí porque, quando se examina o tema da governança, surge com destaque o papel das organizações não-governamentais (Gonçalves, 2005)”. Destaca-se atualmente a importância da Governança, quanto ao estabelecimento de normas que regulam conflitos, com a participação ativa de setores e atores nãoestatais, que contribuem para ampliar as opiniões capazes de influir nos resultados, seja no campo das políticas públicas, na regulação internacional, ou na produção e revisão de normas. Em conseqüência disso, o processo de Globalização tem levado à redefinição do conceito de soberania, devido ao surgimento de ONG’s de atuação internacional e empresas multi e transnacionais (Barros-Platiau et al., 2004). 33 A participação de setores não-estatais tem sido marcante, principalmente no que diz respeito às questões referentes ao Direito Ambiental Internacional. O fortalecimento do conceito do meio ambiente como patrimônio comum da humanidade fez com que surgisse a necessidade de ações integradas e multilaterais de proteção, envolvendo todos os países e enfraquecendo a ideia do Estado-Nação. O que ocasionou também a necessidade de envolver a opinião e o consenso da sociedade civil (Barros-Platiau, 2004). As interações entre Estado e demais atores envolvidos na Governança Global precisam ser intensas e transparentes em função do caráter mundial dos problemas atuais. Sendo assim, estas interações devem ter o objetivo de proporcionar resultados efetivos, impactando positivamente no bem estar da Humanidade e do Planeta. Entretanto, o tratamento e as soluções dos problemas envolvidos neste contexto não são tão simples. Dentre os diversos problemas atuais existentes, a discussão quanto à redução das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) tem sido objeto de discussão de diversas reuniões entre os principais líderes mundiais. De forma geral e basicamente como consequência do processo de industrialização, os países desenvolvidos ou em desenvolvimento emitem mais GEE. Estas emissões de GEE contam com a participação direta do setor privado. A emissão de GEE na atmosfera e sua concentração é um dos principais assuntos em discussão na esfera governamental assim como na comunidade científica. Se, por um lado, tanto governantes como cientistas, acreditam que o Aquecimento Global é um fenômeno natural e que as ações antrópicas nas emissões de GEE não têm impactos significativos ao meio ambiente, por outro lado, outra corrente é enfática em afirmar que as emissões antrópicas de GEE impactam diretamente no Aquecimento Global do Planeta e, por consequência, nas alterações climáticas. Este trabalho assume como pressuposto o preconizado pela corrente da ciência que entende que as emissões antrópicas de GEE impactam nas alterações climáticas do Planeta. Segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano 2007/2008 - Combater as alterações climáticas: Solidariedade humana num mundo dividido, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD: “As alterações climáticas são um fato científico incontestável. Não é fácil de prever com precisão o impacto inerente às emissões de gases de efeito de estufa e há muita incerteza científica no que diz respeito à capacidade de previsão. Mas sabemos o suficiente para 34 reconhecer que estão em jogo sérios riscos, potencialmente catastróficos, incluindo o degelo das calotas glaciais na Groenlândia e na Antártida Ocidental (o que deixaria muitos países submersos) e as alterações no curso da Corrente do Golfo, significando alterações climáticas dramáticas (PNUD, 2008)”. A condição de maiores emissores de GEE coloca os países desenvolvidos e em desenvolvimento em uma posição chave nas discussões quanto à redução das emissões de GEE, já que os efeitos das mudanças no clima do Planeta são mais impactantes nos países subdesenvolvidos, já que estes não tem uma capacidade de reconstrução nem planos de emergências implantados. O que leva a uma ideia de preservação internacional do Meio Ambiente em favorecimento de um bem estar global. De maneira geral, o Direito Internacional e o seu desenvolvimento tem sido marcado pela participação dos setores não estatais, principalmente no que diz respeito ao Direito Ambiental Internacional. Na medida em que cresce a ideia do Meio Ambiente como patrimônio comum da humanidade, aumenta a necessidade de ações integradas e multilaterais de proteção, envolvendo todos os países e enfraquecendo a ideia do Estado-Nação como solução em si mesmo. Por outro lado, cresce também a necessidade de envolver na formulação de tratados, a opinião e o consenso da sociedade civil (Barros-Platiau, 2004). Barros-Platiau sintetiza da seguinte forma a relação entre os conceitos e o atual contexto climático: Atualmente, o aquecimento global é o maior desafio político, econômico, jurídico e ambiental para a humanidade. Entretanto, apesar do crescente consenso científico e político sobre a gravidade do problema, marcado pela publicação parcial dos relatórios do IPCC em 2007, a governança e a governabilidade relativas aos problemas ainda se fazem esperar. Governança global (Keohane e Nye, 2001; Chambers e Green, 2005) ou internacional (Le Prestre e Martimort-Asso, 2007) não são sinônimos. Governança não corresponde ao governo e nem à governabilidade. Governança global pode ser explicada como “um sistema de ordenação” (Rosenau, 2000) e implica reconhecer a importância crescente de atores nãoestatais, inclusive do mercado, seja na participação ativa nos processos decisórios e de engenharia legislativa, seja como destinatários de políticas públicas mais transparentes (Senarclens, 1998; Barros-Platiau, 2003). Neste sentido, convencionou-se analisar a governança a partir de duas dinâmicas. Por um lado, a governança de cima para baixo significa que as autoridades públicas tornam-se mais accountable aos olhos das opiniões públicas nacionais e a internacional. Em outros termos, elas respondem à demanda por maior controle social e prestam contas aos outros atores nacionais e internacionais em geral. Ilustração emblemática é a publicação em websites ministeriais de informações como programas, prioridades e orçamento. Por outro lado, a governança de baixo para cima é criada quando atores não-estatais levam possíveis soluções de um problema às autoridades públicas ou o resolvem sozinhas (como explica o termo “governança sem governo” cunhado por Rosenau, 2000). Quantos aos novos atores, que são assim denominados por não pertencerem à esfera estatal, os mais importantes são as empresas multinacionais, as ONG’s, os indivíduos, as comunidades epistêmicas, os representantes de crime organizado e a Igreja. Todavia, serão 35 privilegiadas as ONG’s, pelo fato de terem assumido um papel importante no desenvolvimento do direito internacional ambiental, principalmente porque elas se autoatribuem o papel de representantes da sociedade civil global. Entretanto, esses novos atores não têm personalidade jurídica internacional e, portanto, não são sujeitos de direito internacional (Barros-Platiau, 2004). A relação entre as questões ambientais e a atual estrutura econômica e produtiva é um assunto discutido desde a primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, em 1972. Após a conferência de Estocolmo, vários passos já foram dados em direção ao estabelecimento de um sistema de governança de produção, consumo e meio ambiente mais equilibrados. Entretanto, mesmo com todo o esforço dedicado, os reflexos decorrentes das ações antrópicas no meio ambiente são latentes e cada vez mais preocupantes. Alguns autores apontam para os seguintes motivos quanto a esta situação (Ivanova, Gordon e Roy, 2007): - proliferação excessiva de acordos ambientais multilaterais e fragmentação da GAG; - falta de cooperação e coordenação entre as organizações internacionais; - falta de implementação e efetividade da GAG; - ineficiente uso de recursos; - processo decisório da GAG não suficientemente aberto à participação de outras áreas, tais como comércio, saúde, finanças, desenvolvimento, e outros; e - sistema ainda fortemente estatocêntrico, não arquitetado para acomodar os múltiplos atores não-estatais, incluindo-se as empresas. Devido à relação produção/consumo/meio ambiente, o setor privado é um dos maiores interessados nas questões referentes à GAG, visto que o estabelecimento de marcos legais e infra-legais impactam diretamente nas diretrizes das empresas e seus processos produtivos, podendo comprometer sua competitividade. Segundo Porter e Brown (1996), o setor produtivo, historicamente, é visto como opositor às políticas ambientais nacionais e globais, e as questões ambientais como uma ameaça à competitividade, devido à imposição de custos adicionais. A atuação dos atores corporativos na GAG deu-se tradicionalmente de maneira indireta, utilizando a sua influência política junto aos atores estatais para vetar ou enfraquecer os regimes ambientais, com ações de lobbying. 36 O setor privado sempre esteve presente direta ou indiretamente nas dicussões globais sobre as questões ambientais. Entretanto, somente a partir da Rio-92 é que o setor teve uma participação direta através do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) e da Câmara de Comércio Internacional (CCI) na Conferência. Entendendo que na Rio-92 o conceito de Desenvolvimento Sustentável era baseado no proposto pela World Commission on Environment and Development (WCED) sendo “o desenvolvimento que é necessário no presente sem comprometer as necessidades das gerações futuras3” (World Commission on Environment and Development, 1987). Outra ação do setor privado que teve destaque foi a elaboração e divulgação da “Carta de Princípios Empresariais para o Desenvolvimento Sustentável” (Business Charter for Sustainable Development) elaborada pelo WBCSD e a CCI, que contribuiu para estruturação dos regimes privados de governança nos anos 90, iniciado pelo programa “Atuação Responsável”, liderado pelas associações da indústria química dos Estados Unidos e do Canadá (Clapp, 2005). Além da carta citada acima, outra ação do setor privado em parceria com o setor público, que influenciou diretamente a GAG do clima, foi a bem sucedida implantação do Programa “Clean Air Act’s Acid Rain” de 1990, do Governo Americano, no combate às chuvas ácidas naquele País. O programa foi a principal referência para a criação do mercado de créditos de carbono existente, estabelecido no Protocolo de Kyoto. Numa análise mais ampla da situação climática, no que diz respeito às políticas, Helm (2008) afirma que, embora as evidências científicas das mudanças climáticas aumentem, as respostas políticas têm tido, até agora, pouco ou nenhum impacto sobre a acumulação de emissões. Pacala e Socolow (2004) afirmam que a humanidade já possui fundamentos científicos, técnicos, industriais e know-how para resolver o problema do carbono e do clima para a próxima metade do século 21. Após 40 anos entre a primeira discussão em Estocolmo sobre Desenvolvimento Sustentável e a recente conferencia Rio + 20 realizada em junho de 2012, os desafios quanto às mudanças climáticas ainda têm destaque na agenda de discussão. O documento final da conferencia Rio + 20 reafirma que as mudanças climáticas é um dos grandes desafios do nosso tempo e que as emissões de GEE continuam aumentando 3 Tradução livre do autor deste trabalho. 37 mundialmente e que as adaptações às mudanças climáticas são uma prioridade global, imediata e urgente. Na conferência Rio +20, as discussões referentes ao desenvolvimento sustentável e erradicação da pobreza tiveram os seus pilares baseados nos aspectos sociais, econômicos e ambientais. Entretanto, os debates ganharam uma nova perspectiva a da Economia Verde. A Economia Verde é um conceito novo apresentado pela United Nations Environment Programme (UNEP) e pode ser definida como a economia que resulta em melhoria do bem-estar humano e equidade social, ao passo que reduz significativamente os riscos ambientais e a escassez ecológica.4 A busca pelo equilíbrio entre a produção, o consumo e o meio ambiente ainda é algo a ser alcançado pela humanidade. Com o aumento da população no planeta e a escassez dos recursos naturais, o alcance deste equilíbrio é praticamente impossível, no atual estágio de desenvolvimento da humanidade, sem o desenvolvimento e implementação de tecnologias ambientalmente amigáveis (Environmentally Sound Technologies - ESTs). 2.2 TECNOLOGIAS DE REDUÇÃO DO DIÓXIDO DE CARBONO (CO2) O Dióxido de Carbono (CO2) é um dos principais GEE e tem propriedades físicas específicas. O Programa do Meio Ambiente das Nações Unidas (ONU, 1996) o define como um gás incolor, inodoro, não-venenoso, que resulta da queima de combustíveis fósseis e é normalmente uma parte do ar. No que diz respeito à sua presença na atmosfera, o principal efeito das emissões do CO2 é a sua permanência e acúmulo na atmosfera que contribui significativamente para o efeito estufa e, conseqüentemente, para o aumento da temperatura global. O CO2 também pode ser encontrado armazenado naturalmente em reservatórios geológicos. Além da forma natural, o CO2 é um subproduto de inúmeros processos industriais, como a produção de cimento, fertilizantes, extração e refino de hidrocarbonetos, geração de energia elétrica por combustíveis fósseis, dentre outros. Pacala e Socolow (2004) discutem as tecnologias atuais para a solução dos problemas das mudanças climáticas e apresentam as sete (07) cunhas para Mitigação das Alterações Climáticas ilustradas na Figura 4. As cunhas estão divididas em dois 4 Tradução livre do autor deste trabalho. 38 grandes grupos: o primeiro, de “Redução de CO 2 ou Processos Livre de Emissões de CO2”, contendo as seguintes soluções tecnológicas: Eficiência energética; Energias Renováveis; Descarbonização dos Combustíveis Fósseis (carvão/óleo/gás); Hidrogênio e Energia Nuclear. O segundo grupo, com o propósito de “Capturar e Armazenar CO2” emitido em processos industriais ou existentes na atmosfera, composto pela Captura e Armazenamento de CO2 e a Conservação das Florestas. Figura 4 – As 07 cunhas para Mitigação das Alterações Climáticas (traduzido). Fonte: Pacala e Socolow (2004). Dentre as soluções apontadas por Pacala e Socolow (2004), que são possíveis de utilização em larga escala para o setor industrial, mais especificamente sua aplicação nos processos industriais, destacam-se a eficiência energética, o uso de energias renováveis e a captura e armazenamento do CO2. Muito tem sido feito para o desenvolvimento de tecnologias de captura e separação do CO2 de correntes gasosas, emitidas por fontes estacionárias. As tecnologias de captura e separação do CO2 podem ser subdivididas em: de póscombustão, de pré-combustão e combustão com oxigênio. Já, quanto ao emprego da tecnologia para a captura do CO2, têm-se as tecnologias de: absorção, adorção, separação por membranas semipermeáveis, separação criogênica e o “looping químico” (Bello e Mustafa, 2010). 39 O Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) discute as opções tecnológicas para a correta captura e separação do CO2 de fontes estacionárias em detalhes na publicação Special Report on Carbon Dioxide Capture and Storage. As seguintes opções são analisadas pelo IPCC (2005): Sistemas de Pós-combustão para a separação do CO2 de correntes de gases produzidos (exaustos) via combustão de correntes primárias de ar. Estes sistemas normalmente usam um solvente líquido para capturar as pequenas frações de CO2 (tipicamente entre 3 – 15% por volume) presentes em uma corrente de gás constituída de nitrogênio. Atualmente, os sistemas de Pós-combustão utilizam um solvente orgânico como as monoetanolamina (MEA). Segundo Gibbins e Chalmers (2008), nos sistemas de pós-combustão, é aplicado um processamento final para remover CO2, a partir dos produtos da combustão antes dos gases serem emitidos. Atualmente, os métodos mais avançados contêm soluções de aminas aquosas. De maneira geral o CO2 é removido do gás residual pela amina em temperaturas consideradas baixas (50°C). O solvente é, então, regenerado para a reutilização por aquecimento (120°C), resfriado e continuamente reciclado. O CO2, removido do solvente no processo de regeneração, é seco, comprimido e transportado para o armazenamento geológico seguro. Sistemas de Pré-combustão, o combustível primário (gás natural ou combustível gaseificado) é convertido em H2 e CO em uma reforma a vapor, seguida de uma conversão de CO a CO2 (reação de shift). O CO2 a alta pressão é separado do H2 e comprimido para armazenamento, enquanto que o hidrogênio é enviado para combustão com o ar, gerando apenas nitrogênio e água (Bello e Mustafa, 2010). O processo de separação do CO2 por sistemas de Pré-combustão, geralmente, é físico com a utilização de um solvente. O CO2 é dissolvido em maior pressão e, em seguida, liberado com pressão reduzida, podendo ser a pressão atmosférica, já que nenhum calor é necessário para regenerar o solvente. Apesar dessa vantagem, que o torna como uma tecnologia em potencial para o futuro, o custo com investimentos é alto (Olajire, 2010). Já nos sistemas de combustão com oxigênio (Oxyfuel), o oxigênio puro é obtido do processo de separação do ar e empregado na combustão. O gás exausto é constituído principalmente de alta concentração de CO2 e água, da qual o CO2 é facilmente 40 separado por condensação da água resultando em uma corrente de gás com alta concentração de CO2 (maior do que 80% do volume). A vantagem dos sistemas de combustão com oxigênio é que os gases de combustão têm uma concentração de mais de 80% de CO2, portanto, apenas simples purificação de CO2 faz-se necessária. Outra vantagem é que a formação de NOx é suprimida e o volume do gás a ser tratado na planta de dessulfurização de gases de combustão é reduzida. Além disso, esse sistema baseia-se principalmente em processos de separação física para a produção de O2 e captura de CO2, evitando assim a utilização de um reagente ou solvente que contribuem para os custos operacionais, além de eliminar os resíduos sólidos ou líquidos, que podem causar danos ambientais. A principal desvantagem é que uma grande quantidade de oxigênio é necessária, que é caro, tanto em termos de custo de capital e consumo de energia (Olajire, 2010). A Figura 5 apresenta cada tipo de tecnologia de captura e separação do CO2 em processos industriais de fontes emissoras estacionárias. Figura 5 – Tecnologias para Captura de CO2 [Adpatado de IPCC, 2005]. Fonte: Bello e Mustafa, 2010. Além da possível aplicação das tecnologias de captura e armazenamento de CO2 em diversos processos industriais, a sua aplicação no setor de geração de energia é um 41 ponto de destaque em comparação com as demais tecnologias de redução do CO2. Segundo o IPCC, no ano de 2004, o setor de energia foi o principal emissor de CO2 com uma participação de 25,9% de todas as emissões mundiais. Se por um lado a necessidade de implementação das tecnologias de CCS no mundo é um fato de suma importância para o combate às emissões de GEE, por outro lado, em virtude da incerteza quanto a formas de incentivos como a comercialização do carbono faz com que o mundo se retraia quanto aos investimentos nesta tecnologia. Muitos analistas acreditam que a principal barreira para o uso em larga escala do CCS é o seu custo, dentre estes analistas, o ex-vice-presidente dos EUA, Al Gore. Numa análise particular quanto aos custos projetados para 2030, no setor de energia para a aplicação das tecnologias para a mitigação das emissões de CO2 e o Potencial Técnico de geração de energia representados na Figura 6, percebe-se uma vantagem do CCS dentre as demais tecnologias de mitigação. Figura 6 – Custos Projetados para Diversas Soluções Tecnológicas para a Mitigação do CO 2. Fonte: elaborado com dados das Tabelas do IPCC (2007). Tradução do autor. 42 2.3. EMISSÕES DO CO2 NO MUNDO As emissões de GEE e seus valores obtidos por meio de inventários elaborados pelos países são objeto de estudo e discussão no mundo. Em 1996, o IPCC publicou um relatório para orientar a elaboração de inventários de GEE. Desde então, muitos estudos e relatórios são baseados na metodologia proposta pelo IPCC (1996). No que diz respeito à forma de expressar os valores obtidos nestes inventários, têm se utilizado os mais diversos prefixos das unidades do Sistema Internacional de medidas e suas variações. O próprio IPCC (1996) apresenta uma tabela de auxilio para a elaboração dos inventários. A Tabela 2, a seguir, é a tabela apresentada pelo IPCC para dar suporte à elaboração dos inventários. Tabela 2 - Prefixos e Fatores de Multiplicação. Fator de Multiplicação Abreviação Prefixo Símbolo 1.000.000.000.000.000 1015 peta P 1.000.000.000.000 1012 tera T 1.000.000.000 109 giga G 1.000.000 106 mega M 1.000 103 kilo k 100 102 hecto h 10 101 deca da 0,1 10-1 deci d 0,01 10-2 centi c 0,001 10-3 milli m 0,000.001 10-6 micro µ Fonte: IPCC, 1996 (traduzido e adaptado pelo autor). As medidas apresentadas neste trabalho manterão as unidades originais das fontes, contudo, as comparações e análises realizadas terão como base a unidade Mega tonelada (Mt) e todas as conversões seguem o padrão apresentado na Tabela 5 do IPCC (1996). Ainda no intuito de auxiliar nas conversões dos prefixos das unidades de pesos do Sistema Internacional, foi elaborado o Quadro 2 a seguir. 43 1g 3 k (10 ) 6 1 kg 1.000 g M (10 ) 1 Mg 1.000.000 g 1.000 kg = 1 t G (109) 1 Gg 1.000.000.000 g 1 kt T (1012) 1 Tg 1.000.000.000.000 g 1.000 t 1 Mt 1.000.000 t k (103) M (106) P(1015) 1 Pg 1.000.000.000.000.000 g 1 Gt 1.000.000.000 t G (109) Quadro 2 - Fatores de conversão dos prefixos das medidas de peso do Sistema Internacional. Fonte: elaboração própria. Conforme o último relatório sobre as emissões mundiais de GEE do IPCC publicado em 2007, ocorreu um aumento de 70% nas emissões mundiais de GEE entre 1970 a 2004. Em 1970, foram emitidas 28,7 Gt CO2-eq5 e em 2004, 49,0 Gt CO2-eq. Dentre os setores avaliados, o setor de fornecimento de energia foi responsável em 2004 por 25,9% das emissões globais (12,7 Gt CO2-eq). Especificamente, quanto às emissões do CO2, suas emissões cresceram cerca de 80% entre 1970 e 2004 (de 21 Gt CO2-eq para 38 Gt CO2-eq), tendo uma taxa de crescimento maior nos últimos 10 anos (0,92 Gt CO2-eq/ano) em comparação ao período anterior de 1970 a 1994 (0,43 Gt CO2-eq/ano). A Agência Internacional de Energia (IEA) tem publicado anualmente as informações das emissões de CO2 referentes ao setor de energia. Tendo como base a mais recente publicação relativa ao ano de 2009 e publicada em 2011 foi elaborada a Figura 7. De forma geral, verificam-se na Figura 7 os valores das emissões mundiais (IPCC, 2007 e IEA, 2011) dos setores que mais emitiram, segundo o IPCC (2007) e a IEA (2011), nestes anos. Por serem dados de fontes distintas, foi realizado o ajuste do prefixo das unidades do Sistema Internacional, transformando todos os valores em megatoneladas no intuito de se ter uma melhor análise dos mesmos. Observa-se uma redução nas emissões dos setores de fornecimento de energia (eletricidade e calor), no setor industrial e no residencial, o que não aconteceu no setor de transporte. A provável causa da redução das emissões destes setores foi a crise econômica que o mundo passou em 2009. É importante ressaltar que os dados oriundos do IPCC (2007) estão em CO2-eq 5 CO2-eq: quantidade de emissão de CO2 que causaria a mesma força radioativa e tempo integrado, sobre um dado horizonte de tempo, como uma quantidade emitida de um GEE e sua longevidade ou uma mistura de GEEs. A emissão de CO2 equivalente é obtida multiplicando a emissão de GEE pelos seus Potenciais de Aquecimento Global (GWP) para um mesmo horizonte (IPCC, 2007). 44 (Dióxido de Carbono Equivalente) já os dados da IEA (2010 e 2011) estão em CO2 (Dióxido de Carbono). 14.000,00 12.000,00 Megatoneladas 10.000,00 8.000,00 6.000,00 4.000,00 2.000,00 0,00 Fornecim ento de Energia (eletricida de e ca lor) Indústria Tra nsporte Residencia l Mundo - IPCC 2007 em Mt CO2-eq (a no de referência 2004) 12.700,00 9.500,00 6.400,00 3.900,00 Mundo - IEA 2011 em Mt CO2 (a no de referência 2009) 11.889,75 5.799,88 6.669,86 1.739,96 Figura 7 - Emissões mundiais de CO2-eq e CO2 por setores. Fonte: elaboração própria. Dados coletados do IPCC (2007) e IEA (2011). 2.4 EMISSÕES DE CO2 NO BRASIL O Brasil participa das ações mundiais de combate a emissões de GEE, desde o início das discussões internacionais sobre o assunto. Além de sediar a Rio 92, o Brasil foi o primeiro pais que assinou a Convenção-Quadro das Nações Unidas para Mudança do Clima (CQNUMC em inglês UNFCCC), em 4 de junho de 1992, e o Congresso Nacional a ratificou em 28 de fevereiro de 1994. A Convenção entrou em vigor para o Brasil em 29 de maio de 1994, no nonagésimo dia após a ratificação pelo Congresso Nacional (Miguez et al., 2008). Em 1997, foi homologado, pela UNFCCC, o Protocolo de Kyoto que foi um acordo internacional focado para a redução das emissões mundiais de GEE. O protocolo estabelecia metas de emissões de GEE para os países signatários, considerados desenvolvidos e instrumentos de fomento para os demais, como os Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL). Além disso, os países desenvolvidos teriam a obrigação de anualmente elaborar um inventário anual de todas as emissões de GEE e 45 submetê-lo a UNFCCC. O que não era obrigatório para os demais países. O Brasil, além de assinar o protocolo, também contribuiu para a criação dos MDLs e, consequentemente, para o estabelecimento do mercado regulado de crédito de carbono. Por não ser um país considerado desenvolvido e por isso não fazer parte da lista de países do Anexo I do protocolo, o Brasil não tinha a obrigação de elaborar e submeter anualmente o seu inventário de emissões de GEE. Entretanto, em 1994 o Brasil submeteu o seu primeiro inventário para a UNFCCC e em 2009 foi elaborado o mais completo inventário brasileiro de emissões de GEE pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (Brasil, 2010). Outra ação voluntária do Brasil foi o estabelecimento de metas de redução de GEE. Em 2010, o Governo do Brasil enviou para a UNFCCC suas “Nationally Appropriate Mitigation Actions” (NAMAs) estabelecendo uma meta de redução em suas emissões de GEE entre 36,1% a 38,9% de suas emissões de GEE projetadas para 2020. Esta projeção foi feita para um cenário sem ações estratégicas definidas, denominado “Business-As-Usual” (BAU). A previsão de crescimento das emissões de GEE no Brasil deve estar atrelada à sua situação econômica e populacional. Atualmente, o Brasil figura entre as dez maiores economias mundiais e sua população tem uma tendência de crescimento, diferente de países desenvolvidos, como o Japão, que tem tendência de decréscimo populacional. A Figura 8 apresenta a projeção da população do Brasil até o horizonte do ano de 2050, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)6. Já a Figura 9 mostra a posição em 2011 da economia do Brasil, tendo como referência o Produto Interno Bruto (PIB) por paridade de poder aquisitivo em comparação com as maiores economias mundiais (US Central Intelligence Agency - CIA)7. Para o atendimento à demanda energética, atrelada ao crescimento populacional e econômico, o Plano Nacional de Energia 2030 (2007) aponta a necessidade de expansão de usinas termoelétricas à base de carvão mineral, nuclear, biomassa e gás natural o que aumentaria as emissões de GEE no país. A necessidade de crescimento da 6 Informações obtidas do site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, http://www.ibge.gov.br, acessado em maio de 2012. 7 Informações obtidas do site da US Central Intelligence Agency (CIA), acessado em maio de 2012do “The World Factbook” (ISSN 1553-8133) em: https://www.cia.gov/library/publications/the-worldfactbook/rankorder/2001rank.html 46 geração de energia por usinas térmicas seria da seguinte ordem, num horizonte entre os anos de 2005 a 2030 e por percentual de participação na produção: - carvão mineral - aumento de 1,3% (passando de 1,7% em 2005 para 3% em 2030); - nuclear – aumento de 2,2 % (passando de 2,7% em 2005 para 4,9% em 2030); - biomassa – aumento de 3,2% (passando de 0% em 2005 para 3,2% em 2030); e, - gás natural – aumento de 4,9% (passando de 3,8% em 2005 para 8,7% em 2030). Com a ampliação da geração de energia por meio de usinas termoelétricas, a projeção para a produção de energia elétrica por meio de usinas hidroelétricas é de redução de 12,1%, passando de uma participação de 89,5% em 2005 para 77,4% em 2030. Caso as projeções se consolidem, as emissões de GEE deverão ser ampliadas ao longo dos 25 anos do estudo feito pelo Plano Nacional de Energia, o que significaria o alcance de mais de 770 Mt/CO2 em 2030, com taxa de crescimento anual de 3,5% sobre 2005. É importante destacar que ao analisar os planos elaborados pelo Governo observa-se o não cumprimento as projeções e metas estabelecidas. No que diz respeito as emissões de GEE, se por um lado isso pode ser benéfico por outro pode ser ruim já que a oferta de óleo e gás com o Pré-sal vai aumentar significativamente, o que tende a induzir a construção de termoelétricas. 250.000.000 População 200.000.000 150.000.000 100.000.000 50.000.000 0 Figura 8 – Projeção Populacional do Brasil para o ano de 2050. Fonte: elaborado com base de dados do IBGE. 47 18,000 16,000 14,000 Trilhões de Dóla res Am erica nos (US$) 12,000 10,000 8,000 6,000 2,282 4,000 2,000 0,000 Figura 9 – Situação do PIB do Brasil em 2011. Fonte: elaborado com base de dados da CIA. Outra fonte importante de informações para as discussões das emissões de GEE pelo setor energético para o ano de 2020 é o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) 2019 elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE). O cálculo das emissões de GEE, decorrentes da produção e do uso da energia para 2020, fez-se por meio da construção de cenários elaborados pela EPE, a partir de modelos de previsão de demanda, baseados em estimativas populacionais, econômicas e de evolução da intensidade das emissões no setor energético (EPE, 2010). Segundo Calou (2011), “nessa situação, a demanda de energia projetada para 2020 seria atendida por meio de fontes fósseis, que ampliariam as emissões projetadas em 234 MtCO2eq. Portanto, a projeção das emissões de gases devido à produção e ao uso da energia é de 868 MtCO2eq em 2020” (IPEA, 2011). Já no PDE 2020 a EPE aponta para um cenário de emissões de GEE no setor energético de 628 MtCO2eq (EPE, 2011). O valor das emissões de GEE, considerado para o setor energético nas metas voluntárias de redução de GEE do Brasil, é de 901 MtCO2-eq. A contribuição do setor energético nas metas voluntárias de redução de GEE, estabelecidas em 2010 para o ano de 2020, é de 166 a 207 Mt CO2-eq o que seria uma participação entre 6,1% a 7,7% na redução das emissões de GEE em 2020, conforme o apresentado na Tabela 6 a seguir. 48 Tabela 3 - Metas de Redução de GEE previstas nas NAMAS do Governo do Brasil para 2020. Emissões Projetadas para 2020 (Business as Usual Scenario – BAU) 3.236 Mt CO2-eq Metas de Redução Voluntárias em 2020 Entre 1.168 Mt CO2-eq (redução de 36.1%) a 1.259 Mt CO2-eq (redução de 38.9%) Emissões/Ações de Mitigaçõa de GEE em Mt CO2-eq/ano 2005 Dados 2020 BAU Cenário de Mitigação em 2020 Redução em 2020 Mt CO2-eq Uso da Terra Agricultura e Pecuária Energia Outros Total 1.268 487 362 86 2.203 1084 627 901 92 2.703 415 461 – 494 694 – 735 82 – 84 1.652 – 1.728 669 133 - 166 166 - 207 8 - 10 975 – 1.052 Redução Total em 2020 (%) 24.7% 4.9% - 6.1% 6.1% - 7.7% 0.3% - 0.4% 36.1% - 38.9% Fonte: elaboração própria com base nas informações das NAMAs do Brasil (Brasil, 2010) Segundo as Nationally Appropriate Mitagation Actions (NAMAs) do Governo do Brasil, as ações de redução de GEE relacionadas com o setor energético estão vinculadas à: eficiência energética; incremento do uso de biocombustíveis; expansão da oferta de energia por hidroelétricas e a utilização de fontes alternativas de energia, como as Pequenas Centrais Hidroelétricas (PCHs), bioeletricidade e eólica (Brasil, 2010). A Tabela 4 mostra as propostas de ações para a redução de GEE, para o ano de 2020, do Brasil além de apresentar os valores previstos por setores e ações de redução de GEE a serem exploradas. 49 Tabela 4 - Metas de Redução de GEE por setores previstas nas NAMAS do Governo do Brasil para 2020. Ações de Mitigação (NAMAs) Uso da Terra Redução do desmatamento da Amazônia (80%) Redução do desmatamento do Cerrado (40%) Agricultura e Pecuária Recuperação de pastos Integração lavoura e pasto Plantio direto Fixação biológica de Nitrogênio Energia Eficiência energética Incremento do uso de biocombustíveis Expansão da oferta de energia por hidroelétricas Fontes alternativas Outras Siderurgia - sub carvão de desmate por plantadas Total Fonte: Brasil, 2010. 2020 (Tendência BAU) 1084 Amplitude da Redução em 2020 Mt CO2-eq Proporção de Redução 669 564 104 133 83 18 16 16 166 12 48 669 564 104 166 104 22 20 20 207 15 60 24.7% 20.9% 3.9% 4.9% 3.1% 0.7% 0.6% 0.6% 6.1% 0.4% 1.8% 24.7% 20.9% 3.9% 6.1% 3.8% 0.8% 0.7% 0.7% 7.7% 0.6% 2.2% 79 99 2.9% 3.7% 92 26 8 8 33 10 10 1.0% 0.3% 0.3% 1.2% 0.4% 0.4% 2,703 975 1052 36.1% 38.9% 627 901 A Figura 10 apresenta as emissões do Brasil de GEE e a sua projeção para 2020, tendo como referência as informações apresentadas no inventário de 2009 e as metas brasileiras de redução das emissões de GEE estabelecidas pelo Governo do Brasil nas NAMAs e submetidas em 2010 à UNFCCC. Verifica-se que o esforço a ser realizado para o alcance da meta estabelecida não será pequeno e deveria abranger os mais diversos setores da economia. Entretanto, quando o Governo do Brasil estabeleceu as metas de redução para 2020, ele vinculou as reduções a setores específicos como o da agricultura e de energia, deixando de fora setores como o petroquímico e o de cimento que são altos emissores de GEE. 50 3.000,00 y = 7,2385x 2 + 272,8x + 1039,3 R² = 0,9282 2.500,00 Megatoneladas CO 2-eq 2.000,00 1.500,00 1.000,00 500,00 0,00 1990 1994 2000 2005 2020 Tota l de Em issões de GEE do Bra sil - UNFCCC Tota l de Em issões de GEE do Bra sil - Inventá rio Na ciona l Previsã o de Em issões de GEE do Bra sil pa ra 2020 - BAU na s NAMAs Meta s do Bra sil de reduçã o de GEE pa ra 2020 - NAMA's (nã o Anexo I) Polinôm io (Tota l de Em issões de GEE do Bra sil - Inventá rio Na ciona l) Figura 10 – Emissões de GEE do Brasil e sua projeção para 2020. Fonte: elaborado com dados da UNFCCC e Brasil (2009 e 2010) O potencial para a redução de GEE no setor industrial do Brasil pode ser verificado na quantidade de GEE emitido pelo setor industrial. A Figura 11 apresenta os valores das emissões de GEE por setores no Brasil. Para tanto, foram consultados o inventário brasileiro além das publicações mais recentes de 2010 e 2011 da IEA referentes às emissões de CO2. Verifica-se na Figura 11 que os principais setores emissores de GEE são os de transporte e o industrial. Segundo Lampreia et al. (2011), existe uma expectativa de aumento das emissões de GEE do setor industrial brasileiro de 180 Mt CO2-eq/ano em 2005 para 360 Mt CO2 –eq/ano em 2030. De maneira geral, os setores industriais apontados por Lampreia, que tem potencial de redução de GEE, são o de produção de aço, o químico, a indústria petrolífera, as refinarias, o setor petroquímico e a indústria de cimento. Além de apontar os setores, Lampreia et al. (2011) também elenca as opções tecnológicas que devem ser implantadas para a redução das emissões de GEE. Sendo assim, somando-se o potencial de redução dos setores industriais apontados, em 2030 poderiam ser evitadas 123 Mt CO2-eq/ano no setor industrial brasileiro (Lampreia et al., 2011). 51 160,00 140,00 120,00 Megatoneladas 100,00 80,00 60,00 40,00 20,00 0,00 Fornecim ento de Energia (Eleltricida de + produçã o de ca lor e outra s indústria s de energia ) Indústria Tra nsporte Residencia l Inventá rio Bra sileiro 2009 em Mt CO2 -eq (a no de referência 2005) 48,50 114,60 136,20 15,40 Bra sil - IEA 2010 em Mt CO2 (a no de referência 2008) 69,10 108,30 149,50 16,30 Bra sil - IEA 2011 em Mt CO2 (a no de referência 2009) 58,10 96,00 147,00 16,50 Figura 11 – Emissões de GEE do Brasil por setores. Fonte: elaborado com dados coletados de Brasil (2009) e IEA (2010 e 2011). Atrelada às questões de emissões de GEE do setor industrial brasileiro, outro fator que ganhou relevância no setor energético do Brasil foram as descobertas das grandes jazidas de óleo e gás offshore denominadas de Pré-sal. Estas descobertas ganharam notoriedade quanto às emissões de GEE, devido às características do hidrocarboneto, encontrado nos campos do Cluster do Pré-sal, que são as seguintes: grau API alto, entre 28 – 30º; alta relação de solução de gás, entre 200 – 300 m3/m3; e, presença de CO2 no hidrocarboneto, entre 8 a 12% (Almeida et al., 2010). O que é uma concentração alta de CO2 em comparação com os outros campos de produção. Em estudo feito nesta pesquisa, estima-se que, quando a província petrolífera do Pré-sal estiver operando, somente a área atual, conforme o planejado pela Petrobras, ocorrerá um acréscimo de 8,9 Mt CO2/ano nas emissões do setor de extração de hidrocarbonetos. Para maiores detalhes, ver o Anexo I deste trabalho. Além da área conhecida pela Petrobras, deve ser levada em consideração a descoberta do campo de Libra pela ANP. A soma das emissões da produção da Província Petrolífera do Pré-sal poderia alcançar, tendo como referência o pior cenário, 17,8 Mt CO2/ano, o que seria maior do que todas as emissões anuais do subsetor de Extração e Transporte de Petróleo e Gás Natural que foram de 12,1 Mt CO2/ano (ano de referência 2005), segundo o Inventário Brasileiro (2009), assim como maior do que as emissões das atividades mundiais de Exploração e Produção (E&P) da Petrobras que em 2004 foram de 16,5 Mt CO2/ano e todas as atividades da empresa em 2004 ficaram em 44,4 Mt CO2/ano (Petrobras, 2009). 52 2.5 EMISSÕES DE CO2 NA BAHIA A quantificação das emissões de GEE nos Estados do Brasil é algo ainda muito incipiente. Dentre os Estados da União, somente os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Bahia e Amazonas, já elaboraram os seus inventários, sendo que este último elaborou o inventário somente para as emissões do setor elétrico. Além destes Estados, também se destaca a iniciativa para a elaboração do inventário do Estado do Espírito Santo. Mais especificamente, quanto ao Estado da Bahia, a Secretaria do Meio Ambiente do Estado da Bahia (SEMA) publicou o “Primeiro Inventário de Emissões Antrópicas de Gases de Efeito Estufa do Estado da Bahia”. O inventário apresenta as quantidades emitidas de GEE e foi estruturado conforme o indicado pelo IPCC (1996). Os anos avaliados foram os de 1990 e o de 2008. Sendo que o ano de 1990 deverá ser tomado como referência para as análises das emissões. De forma geral, quanto ao setor energético, o inventário apresenta as seguintes informações: “As emissões de GEE ... da Bahia em 2008 totalizaram 28.555 Gg CO2-eq., o segmento energético é o maior responsável pelas emissões, com 32% de participação, seguido dos segmentos de transporte e industrial com 30% e 20%, respectivamente. Na comparação com 1990 observa-se um significativo crescimento nas emissões totais dos GEE, da ordem de 83%, sendo que as emissões de CO2 tiveram a maior responsabilidade e cresceram 87% nesse período. Registra-se uma grande inversão nos segmentos mais emissores do setor de energia, uma vez que em 1990, de um total de 15.585 Gg CO2-eq emitidos, o setor industrial respondeu por 37%, enquanto que o setor energético amplo contribuiu com apenas 12%. As maiores reduções relativas ocorreram no segmento de cimento, que a partir de 2001 praticamente zerou as suas emissões, no segmento de outros minerais não metálicos, que também apresentou importante redução das emissões e na indústria química, cujas emissões decresceram 14% (BAHIA, 2010)”. A contribuição do Estado da Bahia, em relação as emissões de GEE do Brasil, podem ser vista na Figura 12. Nesta figura, as unidades das emissões de GEE foram inseridas na mesma base, megatoneladas, entretanto as emissões inventariadas pela IEA são apresentadas em MtCO2 e as dos inventários, tanto do Brasil quanto da Bahia, em MtCO2-eq. De forma geral, a contribuição do Estado da Bahia, dos setores analisados, são menores do que 10%. Já para o setor industrial, fica em torno de 5%. 53 Figura 12 – Emissões de GEE da Bahia e do Brasil por setores. Fonte: elaborado com dados coletados de Bahia (2010), Brasil (2009) e IEA (2010 e 2011). Numa perspectiva mais voltada para a identificação de fontes estacionárias do Estado da Bahia, que tem o potencial para a implantação de projetos de CCS no estado, um dos primeiros estudos direcionados para a utilização do CO2 de Mustafa et al. em 2003. O estudo apresenta uma quantidade total de 32.068 t/dia de emissões de CO2 o que representaria 11,7 Mt CO2/ano. Além disso, o estudo ressalta que, como a concentração de CO2 é baixa (8,13% mol, em média), para a utilização deste CO2 em rejuvenescimento de campos petrolíferos, é necessário implementar um sistema de purificação para o CO2 antes da sua utilização e recomenda a realização de um estudo de viabilidade técnica e econômica para as diversas rotas tecnológicas de produção de CO2, considerando todas as correntes de emissões industriais gasosas que se apresentem como fonte potencial (Mustafa et al., 2003). A Tabela 5 apresenta as informações obtidas no estudo, inclusive com as divisões dos setores industriais e as quantidades emitidas de GEE pelos setores. Destaca-se a participação do Pólo Petroquímico de Camaçari com mais de 50% do total (Mustafa et al., 2003). 54 Tabela 5 - Emissões Gasosas por Regiões Industriais. Fonte: Mustafa et al., 2003. Outro estudo importante referente ao mapeamento e a quantificação das emissões de CO2 oriundas de fontes estacionárias no Brasil é o CARBMAP, realizado pela Pontifica Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e a Petrobras. A Figura 13, extraída deste estudo, apresenta as fontes de emissões de CO2, espacialmente identificadas no Brasil, e seu potencial de emissão e é denominada de “Mapa brasileiro de fontes estacionárias de CO2” (Martins, 2009). É importante destacar que segundo a Figura 13 o Estado da Bahia tem três grandes localizações de emissões de CO2, sendo que, dos três principais centros de emissões, o que se destaca é o localizado na região do Recôncavo e Região Metropolitana de Salvador. Tal situação é reflexo da presença dos polos industriais, em particular o de Camaçari e o Centro Industrial de Aratu, especialmente a presença da Refinaria Landulfo Alves em Mataripe – RLAM. Estes achados são similares aos identificados por Mustafa et al. (2003). 55 Figura 13 – Mapa brasileiro de fontes estacionárias de CO2. Fonte: Martins (2009). 2.6 O ARMAZENAMENTO GEOLÓGICO DO CO2 As tecnologias para o armazenamento do CO2, conhecidas e desenvolvidas até os dias atuais, são basicamente três, o armazenamento em grandes profundidades nos oceanos, a carbonatação mineral e o armazenamento em reservatórios geológicos (IPCC, 2005). Como o foco deste trabalho é o armazenamento do CO2 em reservatórios geológicos, toda a discussão contida nesse trabalho aborda essa tecnologia, não abordando as demais. A ideia de capturar o CO2 oriundo de combustíveis fósseis e armazenar em reservatórios geológicos ou em oceanos data da década de 70, mas somente na década de 80, em função das crescentes preocupações com as mudanças climáticas, a 56 comunidade científica e atores internacionais começaram os desenvolvimentos quanto às tecnologias de CCS. Nos anos 90, a Internacional Energy Agency - IEA, estimulou a pesquisa para o CCS por meio do programa Greenhouse Gas Research and Development Programme. Os principais eventos sobre CCS foram realizados em 1992 e 1993, quando, se reuniu indústria, academia e representantes de governos (Meadowcroft e Langhelle, 2009). Conforme estudo feito pela IEA, em 2008, sobre as emissões de GEE, suas perspectivas e cenários tecnológicos, a adequada captura e armazenagem de CO2 podem contribuir para controlar as emissões a curto e médio prazo. O estudo afirma que, dentre as atuais tecnologias existentes ou que sejam susceptíveis a se tornarem comercialmente disponíveis nas próximas duas décadas, o CCS contribui em torno de 19% do total das reduções de emissões de CO2, tendo por base um horizonte até 2050. As tecnologias de CCS tiveram sua importância para o combate das mudanças climáticas reconhecida pelo G8 (grupo formado pelas oito maiores potências industriais do mundo) em junho de 2008, em reunião realizada em Hokkaido, Japão. Nesta reunião, o G8 definiu que apoiaria as recomendações da IEA e do Fórum de Lideranças em Seqüestro de Carbono (CSFL) para o lançamento de 20 projetos de CCS em grande escala até o ano de 2010, pois o G8 entende que o CCS tem um papel crítico no combate às mudanças climáticas e aos desafios de segurança energética. Em função da meta estabelecida pelo G8 em 2008, a IEA e o CSFL publicaram o "Report to the Muskoka 2010 G8 Summit - Carbon Capture and Storage Progress and Next Steps.” em 2010. Esta publicação apresenta a situação da implantação das tecnologias de CCS no mundo, após o decidido no encontro do G8 em 2008. Os resultados identificados foram os seguintes: dos vinte (20) projetos que estavam propostos, somente cinco (05) estavam em operação (in Salah/Algeria, Sleipner and Snøhvit/Norway, Rangely/United States, and Weyburn-Midale/Canada and United States) e um (01) em construção (Gorgon/Australia). Contudo, o relatório aponta que existe uma perspectiva de entrar em operação de 19 a 43 projetos de CCS até o ano de 2020. A expectativa de alocação de recursos para as tecnologias de CCS em abril de 2010, oriunda dos setores público e privado, era de uma razão de US$ 26,6 a 36,1 bilhões (IEA/CSFL, 2010). Contudo, devido à crise na Europa, a expectativa era de redução destes investimentos e no número de possíveis projetos, já que a Europa 57 concentrava entre 6 a 12 possíveis projetos e um montante de investimentos entre US$ 4 a 6 bilhões. Outro recente trabalho da IEA e importante para as tecnologias de CCS é o "Technology Roadmap - Carbon capture and storage" publicado em 2010. Neste trabalho a IEA ressalta a importância do CCS e indica uma necessidade urgente para o avanço global no conhecimento do CCS. Em destaque a aplicação do CCS em campos de óleo e gás exauridos e formações salinas profundas. Contudo, o potencial de armazenamento destas opções tem sido adequadamente mapeado somente em poucas regiões do Planeta (IEA, 2010). Além da falta de estudos técnicos voltados para a identificação da capacidade de armazenamento do CO2 em reservatórios geológicos, questões importantes, também como os riscos ambientais, os aspectos regulatórios e a percepção pública das tecnologias de CCS não estão sendo discutidas na profundidade e relevância adequada. Os riscos associados ao CCS e à instabilidade quanto à comercialização do CO2 mitigado levaram a Suprema Corte da Holanda a interditar o projeto de CCS de Bergermeer no Norte do país. O projeto tinha a estimativa de armazenar 4.100.000 m3 CO2 num campo depletado de gás natural. Assim como este projeto na Holanda, alguns outros projetos de CCS na Alemanha e nos Estados Unidos (Greenville, Jamestown, and Ohio) foram cancelados ou interrompidos. Na maioria destes casos, a população entende que o CO2 armazenado poderá desvalorizar suas propriedades devido ao risco de fuga. Esta realidade aponta para a necessidade de estudos e ações tanto do setor público como do setor privado junto à sociedade civil no intuito de tornar públicas as informações referentes às tecnologias de CCS para que futuros projetos possam ter sucesso em sua implantação, o que seria de suma importância para todos, pois é certo que as tecnologias de CCS são tecnologias mais amigáveis do que, por exemplo, a geração de energia por plantas nucleares. O Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas - IPCC (2005) define a captura e armazenamento do CO2 em reservatórios geológicos, como um processo que consiste na separação de CO2, emitido por fontes estacionárias, relacionadas com a produção de energia, e também de plantas industriais, o transporte deste CO2 e seu armazenamento a longo prazo, isolando-o da atmosfera. É possível separar o CO2 emitido na queima de combustíveis fósseis, processá-lo para a sua forma liquida e transportá-lo por dutos, rodovias ou por via marítima para 58 sumidouros, onde o CO2 possa ser armazenado. As opções consideradas pelo IPCC (2005) foram os reservatórios geológicos, os oceanos (armazenamento a ser realizado no assoalho orgânico profundo) e a fixação industrial do CO2 em carbonatos inorgânicos. Em relação ao armazenamento geológico, em destaque o local de armazenamento, o IPCC (2005) define um reservatório geológico como sendo um corpo de rocha no subsolo com porosidade e permeabilidade suficiente para armazenar e transmitir fluidos. Bachu e McEwen (2011) apontam que diversos termos têm sido utilizados para descrever o armazenamento do CO2 dentre eles: o sequestro do CO2, mais utilizado nos Estados Unidos; o armazenamento do CO2, utilizado pelas agências da Organização das Nações Unidas (ONU) e na Europa; remoção do CO2 e disposição do CO2. Neste trabalho, o termo utilizado é o armazenamento do CO2 para descrever as atividades de injeção e monitoramento do CO2 em reservatórios geológicos A injeção do CO2 em reservatórios geológicos é um processo que já vem sendo feito em alguns setores industriais. Na indústria petrolífera, existem tecnologias para a recuperação avançada de óleo ou de gás (EOR/EGR) que utilizam algumas substâncias como fluidos de injeção, dentre elas o CO2. Segundo o IPCC (2005), as principais opções para o armazenamento geológico do CO2 são: a injeção em reservatórios depletados (exauridos) de óleo e gás; o uso do CO2 para a recuperação avançada de óleo ou gás; a injeção de CO2 em reservatórios profundos saturados não usados de águas salinas; a injeção em camadas profundas de carvão mineral inexploráveis; o uso do CO2 na recuperação avançada de metano em jazidas de carvão mineral (ECBM), e; outras opções sugeridas: formações basálticas, xisto betuminoso e cavernas. A de injeção de substâncias e resíduos no subsolo dos Estados Unidos é realizada há mais de 50 anos. Esta prática é entendida como essencial para muitas atividades humanas, incluindo a produção petrolífera, a produção química, a produção alimentar, a produção industrial e a mineral. De acordo com o inventário FY 2000 National Injection Well (a partir de 11/07/2006)8, atualmente, existem mais de 400.000 poços com substâncias injetadas no país. O armazenamento do CO2 em formações geológicas se apresenta como uma alternativa para ganho de tempo no desenvolvimento de novas tecnologias de combate à 8 Informações coletadas no site da EPA, página http://water.epa.gov/type/groundwater/uic/upload/ 2007_12_12_uic_UIC-Inventory.pdf, visitada em maio de 2012. 59 emissão de GEE. A Figura 14 traduzida do relatório do IPCC apresenta 06 opções de armazenamento geológico para o CO2. Figura 14 – Opções para o armazenamento geológico do CO2. Fonte: IPCC (2005). Taduzido pelo autor. Cada opção de armazenamento geológico para o CO2 apresentada pelo IPCC tem sua aplicação específica e resultado final esperado. A opção para a Recuperação Avançada de óleo (em inglês, Enhanced Oil Recovery - EOR) é caracterizada como a aplicação de métodos de recuperação especiais, realizadas através da injeção de agentes no reservatório de óleo como polímeros, bactérias ou CO2, proporcionando ganho econômico potencial e incremento na produção de petróleo. Esta opção é utilizada na indústria do petróleo devido à crescente necessidade de se obter maiores taxas de recuperação de petróleo. Com os métodos tradicionais de produção, normalmente, o percentual de óleo recuperado de um reservatório está entre 5-40% da sua quantidade de óleo original, geralmente recuperado pela produção primária (Holt et al. , 1995). Com a aplicação de métodos de recuperação avançada de petróleo é possível um adicional entre 10-20% do óleo extraído do reservatório. Dentre os agentes miscíveis utilizados pela indústria do petróleo para a recuperação de óleo o CO2, têm alcançado um incremento na recuperação de óleo entre 7-23% (média 13,2%) do óleo original 60 (Martin e Taber, 1992 e Moritis, 2003). A Figura 15, a seguir, apresenta uma ilustração do processo de EOR num campo de óleo no qual é injetado o CO2 e, após a produção do óleo, ele é separado e re-injetado novamente. Figura 15 – Ilustração do processo de recuperação avançada de petróleo com CO2. Fonte: IPCC (2005). Traduzido pelo autor. A EOR tem sido utilizada em larga escala nos campos de produção de petróleo nos Estados Unidos e no Canadá. Alguns projetos de EOR nos EUA têm suas localizações apresentadas na Figura 16. Destaca-se que na figura estão representadas as localizações das fontes de emissões industriais, assim como as fontes naturais de CO2 que servem como insumo para a EOR. Além disso, toda a rede de dutos construída para atender os projetos de EOR e também as fontes naturais de CO2 que ainda não foram exploradas. No processo de produção de um hidrocarboneto, seja ele líquido ou gasoso, é importante ressaltar que o CO2 também é encontrado misturado com o hidrocarboneto. Com isso, em processos comuns de exploração e produção de óleo e gás natural, normalmente, o CO2 é ventilado para a atmosfera. Em processos normais de aplicação de técnicas de EOR o CO2 produzido, oriundo tanto da injeção quanto do encontrado no reservatório, é emitido para a atmosfera. Ficando retido no reservatório somente um 61 percentual deste CO2. Entretanto, em projetos de EOR, que tem como finalidade o armazenamento geológico do CO2 todo o CO2, existente no processo é armazenado. Figura 16 – Localização nos EUA dos projetos correntes de EOR com CO2 e dutovias Fonte: National Energy Technology Laboratory (NETL, 2010). Segundo Mohan et al., em 2008, existiam 80 projetos de CO2 ativos nos EUA, com uma produção total diária de 234.000 barris de petróleo. A produção potencial total de petróleo com EOR/CO2 é de aproximadamente 19 bilhões de barris. Muitos destes projetos estavam em execução por causa dos preços do petróleo em 2008, o que tornava os projetos economicamente viáveis, entretanto, eram limitados pela disponibilidade de CO2. Se ocorresse o aumento do fornecimento do CO2, oriundo de fontes naturais e de fontes industriais estacionárias, a preços entre US$ 1 e US$ 3 por milhão de pés cúbicos (ft3) de gás, mais de 200 projetos de EOR/CO2 poderiam ser implantados, atingindo uma produção incremental de 12 milhões de barris por dia. Ao mesmo tempo, esses projetos proporcionariam a oportunidade para armazenar cerca de 5 bilhões de Pés Cúbicos de CO2 por dia. Em 25 anos, isso resultaria na produção de mais de 5,5 bilhões de barris de petróleo e de cerca de 30 trilhões de pés cúbicos de CO2 armazenados em reservatórios geológicos. Por se tratar de um processo que envolve interesses econômicos, principalmente para a indústria petrolífera, a utilização de EOR para fins de armazenamento geológico de CO2 vem sendo amplamente estudada e conta com alguns projetos já em execução no mundo, com destaque para o projeto de Weyburn que tem sua captura em uma fonte estacionária situada na província de Saskatchewan, no Canadá, e com o sumidouro 62 localizado no estado de Dakota do Norte nos Estados Unidos. Este projeto está em operação desde 2000 e utiliza o CO2 para recuperação avançada de petróleo e posterior armazenamento do CO2, possui uma infra estrutura, que, segundo o IPCC (2005), conta com um gasoduto de 325 km para escoamento da produção de CO2. Outra opção para o armazenamento geológico do CO2 são as formações salinas profundas. Estas formações são compostas de rochas sedimentares saturadas com a presença de águas ou salmouras, contendo altas concentrações de sais dissolvidos. Estas formações são muito comuns e contêm enormes quantidades de água, entretanto, a água encontrada nestas formações não são adequadas para a agricultura ou consumo humano. No entanto, podem ter outras utilizações, por exemplo, as salmouras podem ser utilizadas na indústria química e as águas de diferentes salinidade utilizadas em empreendimentos como spas ou para pequenas produções de energia geotérmica (IPCC, 2005). O armazenamento geológico do CO2 combinado com a produção de energia geotérmica pode ser uma opção viável. Entretanto, as regiões com bom potencial energético geotérmico são geralmente menos favoráveis ao armazenamento geológico de CO2 por causa do alto grau de falha e fratura nas formações geológicas e o aumento acentuado da temperatura com a profundidade (IPCC, 2005). Quanto à execução de projetos de armazenamento de CO2 em formações salinas, o Projeto de Sleipner no Mar do Norte é o melhor exemplo para este tipo de opção. O projeto foi concebido em escala comercial e tem conseguido capturar e armazenar aproximadamente 1 MtCO2 por ano no reservatório do campo de Sleipner. A operação começou em outubro de 1996 e, ao longo da vida do projeto, estima-se que seja armazenado um total de 20 MtCO2 (IPCC, 2005). A injeção de CO2 em reservatórios depletados ou exauridos/esgotados de petróleo e gás natural também tem sido objeto de estudo pela comunidade científica. Destaca-se que neste tipo de opção alguns passos já devem ter sido dados no momento em que o campo estava produzindo. Por exemplo, boa parte da geologia do local deve ser conhecida, assim como o comportamento do reservatório, além das instalações do campo. A injeção de CO2 em minas de carvão é outra opção que está identificada pelo IPCC. Basicamente, a idéia constitue-se em injetar CO2 nos microporos presentes no carvão mineral. O carvão mineral pode adsorver fisicamente muitos gases e pode conter 63 até 25 Nm3 (normal metrocúbico - m3, a 1 atm e 0°C metano) por tonelada de pressões de camada de carvão. Essa adsorção pode variar conforme a maturidade do carvão, sendo o carvão maduro (mais antigo) menos propicio para a adsorção e o mais jovens, mais propicio. (IPCC, 2005). O IPCC (2005) aponta que o CO2 injetado em camadas de carvão pode deslocar o metano (CH4), melhorando a recuperação do CH4, gerando, assim, uma alternativa para a recuperação específica de metano em regiões até então não produtoras. O que pode ser um fator impulsionador para este tipo de opção junto ao setor privado, principalmente para a geração de energia. O CO2 tem sido injetado com sucesso no Projeto Allison na Bacia Alberta, Canadá. Além de todas as opções já apresentadas, outras opções também são apontadas pelo IPCC como viáveis para o armazenamento de CO2. Estas opções são identificadas como outros meios geológicos e/ou estruturas – incluindo basaltos, óleo ou gás de folhelho (xisto), cavernas de sal e minas abandonadas. • Basaltos: Apesar da baixa porosidade, existe a possibilidade da formação de minerais de carbonato armazenar o CO2 através da reação entre o CO2 e os silicatos no basalto. O aprofundamento maior em pesquisas neste tipo de opção é necessário, contudo o IPCC (2005) aponta como improvável a adequação dessa formação para armazenamento de CO2 • Óleo ou gás de folhelho (xisto): Segundo o IPCC (2005) existem depósitos de petróleo ou de gás de folhelho em muitas partes do mundo. O mecanismo de captura de óleo ou gás de folhelho é semelhante ao de camadas de carvão, ou seja, ocorre através da adsorção orgânica material. O potencial para o armazenamento de CO2 em óleo ou gás de xisto é, atualmente, desconhecida, mas os grandes volumes de xisto sugerem que a capacidade de armazenamento pode ser significativa. Se a seleção de critérios, como a profundidade mínima, forem considerados e aplicados a esses óleos ou gases, então os volumes podem ser limitados. Outro critério que também pode afetar esta opção de armazenamento é a baixa permeabilidade destes óleo ou gás. • Cavernas de sal: A ideia nesta opção é utilizar as cavernas “criadas” pela mineração para o armazenamento de CO2. Utilizar-se-ia a tecnologia desenvolvida para o armazenamento em formações salinas profundas, visando o armazenamento de gás natural liquido. As cavernas de sal podem ser utilizadas ainda para armazenamento temporário de CO2 em sistemas coletor e distribuidor entre fontes e sumidouros de CO2. 64 • Minas abandonadas: Segundo o IPCC (2005) a adequação de minas abandonadas para o armazenamento de CO2 depende da natureza e vedação da capacidade da rocha em que ocorre a mineração. Minas abandonadas contendo rochas fissuradas (ou leves fraturas), típicas de terrenos compostos por rochas ígneas e metamórficas seria difícil o armazenamento geológico do CO2 em função da dificuldade para realizar a selagem. O que poderia não ocorrer em minas abandonadas compostas por rochas sedimentares onde poderia existir a possibilidade do armazenamento de CO2. Minas de carvão e de sal, como já citado, oferecem essas condições desejadas, assim como depositos de potássio, chumbo ou zinco. A grande desvantagem desse método é que qualquer falha na selagem poderia resultar em liberação de grandes quantidades de CO2. 2.7 STATUS DO CCS NO MUNDO A forma como o mundo tem respondido às questões de redução das emissões de GEE, de maneira geral, é lenta e sempre interelacionada com as questões econômicas e ambiental de cada país. Mesmo com a decisão do G8 em apoiar o indicado pela IEA e CSFL em implantar 20 novos projetos de CCS (contemplando todas as etapas de captura, transporte, injeção e monitoramento), a difusão e implementação das tecnologias de CCS caminham numa velocidade muito menor do que deveria e poderia. Diversas fontes apresentam as ações mundiais em relação às iniciativas para a implementação das tecnologias de CCS no mundo. Estudos realizados pelo Global CCS Institute (GCCSI) e publicados em 2011 (The global status of CCS: 2011 e The global status of CCS: 2010), 2009 (Strategic Analysis of the Global Status of Carbon Capture and Storage) e pelo Scottish Centre for Carbon Storage em 2010 (Benchmarking worldwide CO2 saline aquifer injections) e pela Sustainable Energy Ireland (SEI) em 2008, além do acesso a banco de dados como o do IEA GHG e do MIT. Em suporte às informações coletadas das fontes anteriormente citadas, para a atualização das informações à pesquisa deste trabalho, também foram realizadas visita a instituições e entrevistas a experts. Em análise realizada nos estudos, apenas no banco de dados do GCCSI, existiam 449 projetos no mundo que envolviam alguma tecnologia de CCS. Em uma observação mais detalhada, pode-se verificar a permanência de 275 projetos no mundo em diversos estágios de aplicação que estão distribuídos da seguinte forma: 34 concluídos; 26 cancelados ou atrasados; 02 retidos e 213 ativos ou previstos sendo 101 em escala 65 comercial e 62 integrados (demonstram toda a cadeia produtiva CCS de CO2 captura, transporte e armazenamento) dos quais 07 estão em operação. Os 213 projetos em curso ou planejados foram, então, analisados ainda pela sua dimensão e tipo de projeto de CCS. Dos 213 projetos ativos ou previstos, 101 são de escala comercial. Destes, 62 projetos são considerados como integrados, ou seja, eles demonstram toda a cadeia produtiva do CCS (captura, transporte e armazenamento). Especificamente sobre as tecnologias de armazenamento de CO2 em reservatórios geológicos, a Tabela 6 apresenta o status dos projetos no mundo. Nesta tabela, estão contemplados os projetos, em escala industrial e comercial, os concluídos, os pilotos e os que estão em fase de planejamento coletados das diversas fontes. Além disso, a tabela apresenta os valores totais de armazenamento dos projetos, assim como o somatório de todos os projetos incluindo os planejados e sem os planejados. Pode-se observar a grande quantidade de projetos executados nos Estados Unidos e também a perspectiva de mais três a serem implantados em escala industrial com capacidade de armazenar mais de 4.700.000 tCO2. Contabilizando todos os projetos, incluindo os que estão planejados, pode-se chegar a um total de 93.958.611 tCO2 armazenadas ao longo dos anos previstos para a operação dos mesmos. Só totalizando os projetos que estão em operação ou que já foram encerrados, o total previsto de armazenamento é de 85.098.611 tCO2 ao longo dos anos. Para se ter uma ideia do que isso representa, nos estudos feitos pela IEA referentes aos cenário de emissões mundiais, o CCS deveria contribuir no melhor cenário o “Blue Map” no ano de 2050 com 19% de 57 GtCO2 o que daria 10.830.000.000 tCO2 (IEA, 2010). Após a análise dos projetos identificados na Tabela 6, pode-se constatar que a relação entre a fonte emissora e o sumidouro é feita em sua totalidade de forma direta. O que significa que o CO2 capturado em uma fonte é transportado por um moldal, em grande parte via duto, e injetado em um reservatório. Alguns estudos e iniciativas quebram esta estrutura e buscam fazer a conexão entre diversas fontes de emissão e de diversos tipos diferentes de processos industriais a uma linha de duto que distribui o CO2 capturado em uma região com diversos sumidouros. Algumas publicações apontam para este tipo de solução combinada como uma das possíveis opções do CCS no futuro. Para McKinsey & Company (2008) a combinação do transporte por dois emissores, em uma dutovia simples de 36 pol versus 66 duas dutovias separadas de 24 pol, tem uma estimativa de redução de custo em cerca de 30%. Este mesmo valor de redução de 30% também é apresentado por Mikunda et al. (2010), que aponta o uso de redes de dutos compartilhadas como um dos fatores propulsores para a economia em escala do CCS. A forma de aglomeração de emissores, solução para o transporte e sumidouros em projetos de CCS tem sido denominada pelo GCCSI como Clusters, Hubs e Networks (GCCSI, 2011). As principais iniciativas voltadas para a composição de Clusters, Hubs e Networks estão na América do Norte, Europa e Oceania. Estas iniciativas contam com a participação de atores oriundos do setor público e privado. O GCCSI (2011) aponta as seguintes iniciativas em 2011: - Collie Hub. Projeto localizado na Austrália, uma joint venture entre o governo do Estado Western Australian com diversos parceiros do setor privado, envolvendo plantas de produção de amônia e indústrias de carvão mineral. - CarbonNet CCS. Projeto localizado na Austrália liderado pelo Governo do Estado de Victorian é planejado para a participação de empresas do setor privado, com o propósito de redução das barreiras ao longo do tempo, no intuito de absorver outros interessados. - Rotterdam. Projeto localizado na Europa, iniciado em 2006, conta atualmente com 18 empresas com o propósito de armazenamento do CO2 no Mar do Norte e também de EOR. - Yorkshire e Humber. O projeto está localizado nas regiões da Grã Bretanha e similar ao de Rotterdam, tendo também como opções o armazenamento do CO2 e a EOR em reservatórios do Mar do Norte. - Nos Estados Unidos, já ocorre o compartilhamento dos dutos de CO2, sendo um dos principais tronco de duto o localizado na região centro oeste que tem uma previsão entre 2020 a 2030 de uma rede de mais de 3.600 km de dutos de CO2. - Integrated CO2 Network (ICO2N). Projeto localizado no nordeste do Canadá que deverá envolver usinas geradoras de energia, empresas do setor de carvão mineral e produtores de óleo proveniente de areia (oil sands). O projeto iniciará no Estado de Alberta e contará com o financiamento do fundo para CCS do governo de Alberta. Um dos objetivos do projeto é implantar a “Linha Tronco de Carbono de Alberta” (Alberta Carbon Trunk Line). 67 Tabela 6 – Projetos de CCS no mundo (em execução e planejados) de diversas escalas Média Diária de Injeção (tCO2/dia) Total Planejado a ser Armazenado (tCO2) Tipo de Reservatório Projeto País Início da Injeção Sleipner Noruega 1996 3.000 20.000.000 Formação Salina Weyburn Canadá 2000 3.000 – 5.000 20.000.000 EOR In Salah Argélia 2004 3.000 – 4.000 17.000.000 Campo de Gás Escala Industrial Comercial PCOR Zama Canadá 2006-2009 166 250.000 EOR Monell USA 2005 5500 - EOR Salt Creek USA 2004 5500 27.000.000 EOR Yubari Japão 2002-2006 10 884 ECBM Allison Unit USA 1995-2001 - 277000 ECBM CSEMP Canadá 2002-2008 50 10.000 ECBM MGSC Huff'n Puff USA 2007 - 39 EOR MGSC ECBM USA 2007-2008 9 91 Otway Project 1 Austrália 2008-2009 160 65.400 Westpearl USA 2002-2003 - 210 SACROC USA 2008-2010 821 477.000 ECBM Campos depletados Campos depletados EOR Concluídos Mississippi USA 2008 - 2.750 Aqüífero Salino Central Appalachian USA 2009 - 907 ECBM Western Kentucky USA 2009 - 323 Aqüífero Salino Applachian USA 2009-2009 - - Aqüífero Salino Frio USA 2004 177 1.600 Formação Salina Black Warrior USA 2009-2009 - 907 ECBM Cincinnati Arch USA 2009 - 1.000 Aqüífero Salino Nagaoka Japão 2000-2006 20-40 10400 Aqüífero Salino Alberta Canadá 2006 68,5 - Aqüífero Salino PCOR Fort Nelson SWP Farnham Dome San Juan Canadá 2008 2.740 5000000 Aqüífero Salino USA 2009-2011 2.740 2900000 Aqüífero Salino USA 2008 - 31700 ECBM AEP Mountaineer USA 2009-2011 120 - Aqüífero Salino WESTC Arizona USA 2009 50 - 200 1800 Aqüífero Salino Basalt USA 2009 - 3.000 Basalto Ketzin Alemanha 2008 - 60.000 Aqüífero Salino SWP Paradox EOR USA 2009 372,6 272.000 EOR K12B Holanda 2004 100 a 1.000 8.000.000 EGR Pembina Canadá 2005 50 50.000 EOR - 360 ECBM Escala Piloto PCOR Lignite USA 2009 Fonte: SEI (2008). Nota: Traduzido, adaptado e atualizado. 68 Tabela 6 – Projetos de CCS no mundo (em execução e planejados) de diversas escalas Total Média Diária Planejado a Projeto País Início da Injeção de Injeção ser (tCO2/dia) Armazenado (tCO2) Escala Piloto SECARB Early USA 2008 1.600.000 Test EOR SECARB Early USA 2008 1.500.000 Test Saline Teapot Dome USA 2006 7123 15200000 Fenn Big Valley Canadá 1998 50 Qinshui Basin China 2003 MGSC EOR USA 2009 DOE Alabama USA West Virginia Tipo de Reservatório EOR Aqüífero Salino EOR 200 ECBM 30 150 ECBM 30 8000 EOR 2010 - 6800 EOR USA 2009-2011 24 18.000 ECBM Liaohe China 1998 - - EOR Snovit Noruega 2008 2.000 700.000 Formação Salina Michigan Basin USA 2008-2009 250 - 600 Aqüífero Salino Recopol Polônia 2004 10.000 m3/dia Latrobe Valley Austrália 2006 (?) - 60.000 Somente por 12 meses 65.000.000 Miranga Brasil 2009 370 1.500.000 EOR Porto Batista Brasil 2011 - 100 ECBM ECBM - Planejados BSCSP Moxa Arch USA 2011 2.740 2.700.000 Aqüífero Salino Carb-fix SECARB Anthropogenic Test Iceland 2010 - Basalto USA 2010-2014 - 400.0001.000.000 Total Lacq França 2009-2010 - Otway Project 2 Austrália 2010 - Gorgon (planejado) Austrália 2009 10.000 Decatur USA 2010 1.000 Tomakonai Japão 2015 250.000 Total com planejados 93.958.611 t CO2 Total sem planejados 85.098.611 t CO2 150.000 Aqüífero Salino Campos depletados Aqüífero Salino 10.000 3.000.000 (por Formação Salina 40 anos) 1.000.000 Aqüífero Salino 1.000.000 Aqüífero Salino Fonte: SEI (2008). Nota: Traduzido, adaptado e atualizado. Após a análise dos bancos de dados das diversas fontes, em destaque as informações do GCCSI, pode-se verificar a existência de 78 projetos que utilizam o CCS em larga escala no mundo. Além deles, também foi incluído nesta análise o projeto de Miranga da Petrobras localizado no estado da Bahia. Ressalta-se que estes projetos têm como objetivo o armazenamento de CO2 em larga escala. 69 A Figura 17 apresenta os países que estão desenvolvendo a implantação de projetos de CCS em larga escala, com a quantidade de projetos por país e volume de CO2 a ser armazenado por ano em Megatoneladas de CO2. Ao todo são 18 países operando ou implantando projetos de CCS num total de 79 projetos de CCS em larga escala (69 projetos a implementar nos próximos 10 anos e 10 projetos em funcionamento, contando com Miranga) possibilitando o armazenamento de aproximadamente 158 MtCO2/ano com destaque para os Estados Unidos com 31 projetos e um volume de armazenamento de CO2 de 66,4 MtCO2/ano e o Reino Unido Unidade e Megatoneladas de CO2 por ano com 06 projetos, e com volume de armazenamento de CO2 de 21,25 MtCO2/ano. 70 60 50 40 30 20 10 0 Figura 17 – Projetos de CCS no mundo – Países e Volume Fonte: elaborado com dados do GCCSI. Quanto ao tipo de captura do CO2, nas fontes estacionárias de emissões mais utilizadas entre os projetos, destaca-se a captura pós-combustão devido a sua utilização em quase todos os projetos estudados. Na Figura 18, pode-se visualizar quais são os processos de captura empregados e a sua utilização em cada país. 70 18 16 14 UNIDADE 12 10 8 6 4 Outros Varios Não definido Separação industrial Processamento de gás Pré-Combustão e Processamento de gás Pré-Combustão e Pós-combustão Pré-Combustão Pós-combustão Oxicombustão e Pós-combustão 2 0 Oxicombustão Figura 18 – Projetos de CCS no mundo – Tipos de Captura Fonte: elaborado com dados do GCCSI. Quanto ao tipo de opção para o transporte do CO2, existe uma quantidade maior de projetos utilizando o modal dutoviário. Este tipo de opção está presente em todos os países pesquisados, só não nos projetos na Coréia do Sul (que utiliza o modal hidroviario). A Figura 19 apresenta a relação entre os países e a utilização de cada modal. 30 25 UNIDADE 20 15 10 5 0 Figura 19 – Projetos de CCS no mundo – Tipos de Opções para o Transporte do CO2 Fonte: elaborado com dados do GCCSI. 71 De forma mais detalhada, dos projetos pesquisados, existe uma previsão de mais de 7.000 km de dutos de transporte de CO2. O Quadro 13 apresenta as distâncias dos dutos de transporte de CO2 e os países onde estes projetos estão localizados. Destaca-se que estes dutos podem estar construídos ou em fase de projeto. Os Estados Unidos, em virtude principalmente das atividades de EOR, se destacam com uma proposta de rede dutoviária para o transporte de CO2 com mais de 2.000 km. Distancia total País Km Números de Projetos que não especificou a distância 1 1 2 1 15 2 1 1 2 - ALEMANHA 150 ARGÉLIA 14 AUSTRÁLIA 490 BRASIL 75 CANADÁ 835 CHINA 260 COREA DO SUL 1.050 EMIRADOS ARABES UNIDOS 500 ESPANHA 120 ESTADOS UNIDOS 2.142 FRANÇA 100 HOLANDA 130 ITALIA 100 NORUEGA 160 NOVA ZELÂNDIA 100 POLONIA 100 REINO UNIDO 1.020 ROMENIA 30 7.301 Total Quadro 3 – Distâncias dos dutos de transporte do CO2 em operação ou em projeto. Fonte: elaborado com dados do GCCSI. Já quanto aos tipos de armazenamento, percebe-se a ampla utilização do CO2 para EOR principalmente nos Estados Unidos. A Figura 20 apresenta as opções de armazenamentos, quantidades e países nos quais foram utilizados. É importante destacar que nos banco de dados pesquisados os projetos de escala piloto existentes no Brasil não foram contabilizados. Entretanto, para efeito de análise nesta pesquisa foi inserido o projeto de Miranga no Brasil conduzido pela Petrobras. 72 25 UNIDADE 20 15 10 5 0 Figura 20 – Projetos de CCS no mundo – Tipos de Opções para o Armazenamento do CO2 Fonte: elaborado com dados do GCCSI. Para o suporte e execução dos diversos projetos de CCS existentes, o mundo tem se estruturado. Atores do setor público e privado, assim como na sociedade civil buscam o aprofundamento e o domínio das tecnologias de CCS. Além disso, questões como a forma de financiamento e sustentabilidade destas tecnologias são objetos de estudos e discussões entre os atores envolvidos. Dentre as instituições existentes, destacam-se o CDP (Carbon Disclosure Project - referente à governança junto às empresas privadas), a UNFCCC, o IPCC, a IEA e o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). Especificamente, quanto aos achados científicos relacionados às tecnologias do CCS, assim como à pesquisa e desenvolvimento dessas tecnologias, destacam-se como centros de referência em temas diversos: - Cooperative Research Centre for Greenhouse Gas (CO2CRC). Uma das principais organizações do mundo, focada na captura de dióxido de carbono e seqüestro geológico do CO2. O CO2CRC é uma empresa de sociedade mista, composta por participantes do setor brasileiro e mundial, universidades e outros organismos de investigação da Austrália e Nova Zelândia, e o Commonwealth da Austrália, Estado e agências governamentais internacionais. - Scottish Centre for Carbon Storage – centro de referência formado entre a Universidade de Edimburgo e Heriot Watt University, com o British Geological Survey Edimburgo. - Carbon Sequestration Leadership Forum (CSLF). A CSFL é uma iniciativa de âmbito ministerial internacional focada no desenvolvimento de melhores tecnologias de custo 73 efetivo para a separação e captura do CO2, o transporte e armazenamento. Por ser uma instituição formada por governos, sua secretaria é de responsabilidade do U.S. Department of Energy. - Fundação Bellona. A Fundação Bellona considera a captura e o armazenamento de CO2 (CCS) como uma das principais soluções para combater o aquecimento global. A Bellona foi formada como uma fundação sem fins lucrativos em junho 1986. - Carbon Capture & Storage Association (CCSA). A CCSA foi lançada em março de 2006, para representar os interesses dos seus membros na promoção da atividade de captura e armazenamento geológico de dióxido de carbono. Com sua base em Londres, a CCSA reúne empresas especializadas na fabricação e processamento, geração de energia, engenharia e contratação, petróleo, gás e minerais. - Carbon Capture and Sequestration Technologies Program at MIT. Iniciado em 1989, o programa é reconhecido internacionalmente como um líder neste campo. - O Centre for Innovation in Carbon Capture and Storage (CICCS) da Universidade de Nottingham. - Universidade de Regina – mantém o Petroleum Technology Research Centre (PTRC) e o International Performance Assessment Centre for the Geologic Storage of CO2 (IPAC-CO2), um programa de Pesquisa em CCS em parceria com o Governo de Saskatchewan e a Shell. De forma geral, cabe destacar também as seguintes instituições: GASSNOVA (Companhia estatal Norueguesa para o gerenciamento e apoio dos interesses do Governo da Noruega referentes ao CCS), SINTEF (organização independente situada na Escandinávia), o Global CCS Institute, as empresas francesas de engenharia Schlumberger e GEOGREEN, as norueguesas DNV e BIG CO2. Especificamente, no setor petrolífero: a Shell, a Statoil e StatoilHydro, a Chevron, a ExxonMobil, a Encanada, a BP, a Total, a ENI, a Conoco Phillips e a Petrobras. A difusão das tecnologias de CCS tem como principal opositora a Organização Não-Governamental Greenpeace. O Greenpeace, na publicação False Hope (Falsa Esperança) de maio de 2008, aponta diversos pontos críticos do CCS tendo como principais: os riscos que envolvem o CCS, o seu custo e, principalmente, a questão relativa ao poder de mitigação do CCS e a possível redução de esforços em tecnologias de menor intensidade de carbono. 74 2.8 CCS NO BRASIL As atividades de pesquisa e desenvolvimento das tecnologias de CCS no Brasil tiveram seu começo na indústria petrolífera, mais especificamente na Petrobras. Em dados coletados via entrevistas com experts da Petrobras algumas iniciativas foram realizadas em Araças na Bacia do Recôncavo desde 1987 e segundo Lino (2005) testes de injeção de CO2 foram iniciados desde maio de 1991 no campo de Buracica também localizado da Bacia do Recôncavo. Mesmo tendo as atividades de P&D iniciadas desde a década de 80 a utilização e uso em larga escala das tecnologias de CCS na Petrobras não é um consenso entre os seus técnicos e dirigentes. Ademais, existe na empresa uma discussão ainda não concluída sobre as influências das emissões antrópicas de GEE e os impactos nas mudanças climáticas no Planeta. As principais ações realizadas para a P&D do CCS no Brasil são realizadas pelo setor privado petrolífero, contando com o incentivo governamental estabelecido na Portaria 10/999 da ANP. De acordo com a portaria, as empresas exploradoras de óleo e gás natural no país devem destinar 1% da produção em P&D. Outro setor produtivo brasileiro que também desenvolve atividades de pesquisa e desenvolvimento das tecnologias de CCS é o da indústria de exploração de carvão mineral. As pesquisas neste setor, basicamente, buscam o estudo da utilização convencional e não-convencional de energia, fornecendo usos do carvão tais como a recuperação avançada de metano em camada de carvão (ECBM), o metano contido em camada de carvão (CBM) e hidrogênio derivado de camada de carvão via gaseificação de carvão in situ (UCG). A Figura 21 apresenta os atores envolvidos em P&D nas tecnologias de CCS no Brasil tendo como destaque as ações realizadas pela Petrobras 10 e mais recentemente da Rede CLIMA. 9 Portaria ANP nº 10, de 13/01/99 (D. O. U. de 14/01/99) - Sobre a participação especial. Informações coletadas de apresentações realizadas por colaboradores da Petrobras em eventos técnico-científicos. 10 75 Figura 21 – Fluxo das Relações entre as Principais Atividades de P&D nas Tecnologias de CCS no Brasil Fonte: elaboração própria com informações coletadas de apresentações de colaboradores da Petrobras. Duas instituições se destacam na pesquisa e desenvolvimento das tecnologias de CCS são elas o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Melo/Petrobras (CENPES) e o Centro de Excelência em Pesquisa sobre Armazenamento de Carbono/PUC-RS (CEPAC). No que tange à captura do CO2, emitido por fontes estacionárias, vale destacar também as atividades de pesquisas realizadas pela Universidade de Salvador (UNIFACS). Ao todo, o Brasil conta com 22 centros de estudo e pesquisa para as tecnologias de CCS (Cunha et al., 2009). Somente a Petrobras conta em sua rede de pesquisa com a parceria de 13 instituições, são elas a UFC, UFBA, UFMG, UFRJ, PUC Rio, USP, INPE, IPEN, UNICAMP, UFPR, PUC RS, UFRGS e FURG (Hatimondi et al., 2011). Outras instituições que apoiam a pesquisa e o desenvolvimento das tecnologias de CCS no Brasil merecem destaque, são elas: a Associação Brasileira do Carvão Mineral, a Associação Beneficente da Indústria Carbonífera de Santa Catarina, COPELMI Minerações Ltda, Rede Carvão, Instituto Ecoar, Instituto Ecoclima, dentre outras. Devido à relação das tecnologias de armazenamento geológico de CO2 com a indústria de energia, mais especificamente a indústria petrolífera e carbonífera, outros setores, como o petroquímico e o de produção de cimento, não despertaram para o uso dessas tecnologias como uma ação de mitigação dos GEE emitidos. Isso seria de grande importância para o domínio e difusão das mesmas no país. Numa perspectiva mais abrangente dos diversos temas correlatos, destacam-se como principais centros nacionais de pesquisas os seguintes: 76 - Mudanças Climáticas: o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE); - MDL e Governança Ambiental Global: grupo de pesquisa do Laboratório de Análise Política Mundial (LABMUNDO) criado em 2007 no Núcleo de Pós-Graduação em Administração (NPGA) da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Dentre as instituições privadas, destaca-se o CEBDS (Centro Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), especificamente a Câmara Temática de Energia e Mudança do Clima. No âmbito público, tem-se como principal ator institucional o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) já que é o responsável por conduzir as ações para a obtenção de créditos de carbono dos projetos realizados por organizações brasileiras junto à UNFCCC. 77 3 METODOLOGIA A metodologia de pesquisa deste trabalho foi composta, basicamente, da pesquisa exploratória, descritivo-analítica sobre o tema que privilegiou as estratégias e técnicas de pesquisa qualitativa e quantitativa. Para a coleta e análise dos dados secundários, foram utilizados recursos tradicionais de pesquisa. Um estudo de caso foi elaborado, tendo como base as informações e ferramental disponibilizado para fins acadêmicos por uma empresa brasileira do setor petrolífero com o intuito de realizar uma análise comparativa dos resultados destes estudos com as referências internacionais. Já os dados primários foram coletados através de: 1) entrevistas com lideranças e atores-chave como o Dr. Malcon Wilson da Universidade de Regina (PTRC)/Canadá, PhD. Teeradet Supap e Jirayu Uttaranakorn da Faculty of Engeineering and Applied Science também da Universidade de Regina, o Dr. Ziqiu Xue do RITE/Japão, Dr. Dr. Takeshi Kuramochi do IGES/Japão, Sr. Masanori Abe e Sr. Satoshi Motohashi da Japan CCS CO/Japão, Morikuni Makino do Global CCS Institute, escritório do Japão e colaboradores da Fundação Belona, Global CCS Institute e membros da delegação brasileira que participaram da COP 16 em Cancún/México; 2) observação indireta da realidade estudada através da inserção em redes de pesquisa sobre o assunto como a rede criada pela empresa Shell que reúne experts de todo o mundo para discutir as questões relacionadas como as tecnologias de CCS;. 3) participação na agenda de debates e palestras sobre a temática de estudo; participação de fóruns com experts, eventos e feiras especializadas sobre o tema (ver lista no Anexo II); 4) observação direta, através da participação, com a chancela dos atores envolvidos, em encontros oficiais a exemplo da participação como membro da delegação brasileira na COP 16 em Cancún e com isso, livre acesso às reuniões oficiais no conferência. Outra forma de obtenção direta dos dados primários foram as visitas as instituições de pesquisa e desenvolvimento que conduzem os projetos de CCS como o RITE/Japão e o PTRC/Canadá, além das visitas à instituições chaves como a Japan CCS Co., o IGES, o Global CCS Institite e a Fundação Bellona Em suporte às atividades relacionadas à análise comparativa das tecnologias de CCS no Brasil com outro país, o autor do projeto teve a inserção por 06 meses na 78 Universidade das Nações Unidas – Instituto de Estudos Avançados em Yokohama no Japão. A seleção do Japão para a realização deste estudo foi baseada no fato deste país estar iniciando um projeto de demonstração de CCS, além de já contar com dois projetos pilotos, situação similar encontrada no Brasil. Para o alcance do objetivo geral traçado, foi necessário o estabelecimento de ações estruturadas no âmbito da pesquisa deste trabalho. Ações estas inseridas em três (03) perspectivas de análise distintas e definidas da seguinte forma: a Científica, a Política-Estratégica e, por fim, a Técnico-Econômica. A sequência estabelecida para a pesquisa foi estruturada para que, ao final, todas as perspectivas estudadas fossem analisadas no estudo de caso proposto. A pesquisa do trabalho foi iniciada com a pesquisa exploratória sobre o tema para proporcionar a fundamentação teórica sobre o assunto tema. Posterior à pesquisa exploratória, foram feitos estudos na perspectiva Política-Estratégica com o foco nos pontos críticos que impactam na difusão das tecnologias de CCS nos países, em particular, no Brasil. Por fim, complementando o estudo para dar suporte ao estudo de caso, foi realizada a pesquisa na perspectiva Técnico-Econômica que contou com a colaboração da empresa Petróleo Brasileiro S.A. – Petrobras, com a disponibilização de dados obtidos em estudo produzido pela Universidade de Salvador – UNIFACS em solicitação e financiamento da Petrobras. As ações realizadas na pesquisa em cada perspectiva abordada são descritas a seguir com seu propósito e finalidade. De forma geral, tem-se: - Perspectiva Científica: - Ação: Pesquisa Exploratória sobre o tema. - Propósito: Base científica para o projeto. - Finalidade: Aprofundamento do conhecimento no tema do trabalho. - Ação: Estágio em uma instituição acadêmica no exterior. - Propósitos: Analisar a situação de um país quanto à difusão e implementação das tecnologias de CCS e comparar a realidade do país pesquisado com a realidade do Brasil. - Finalidade: Aprofundamento do conhecimento nas questões PolíticaEstratégicas e Técnico-Econômicas CCS. 79 - Ação: Visitas a Projetos de CCS. - Propósitos: Aprofundar os conhecimentos no uso da tecnologia Comparar com as possíveis aplicações do CCS no Brasil. - Finalidade: Aprofundamento do conhecimento nas tecnologias de CCS. - Perspectiva Técnico-econômica: - Ação: Estudos de Caso. - Propósitos: Testar um modelo de levantamento de custo para projetos de CCS no Brasil. Comparar os dados obtidos com dados internacionais e propostas de MDLs. Obter valores referentes à tonelada de CO2 injetado e comparar com valores internacionais descritos na literatura. Analisar a Viabilidade Técnica-econômica de projetos de CCS no Brasil. - Finalidade: Discutir as tecnologias de CCS enquanto tecnologia a ser adotada no Brasil para a mitigação de GEE e confrontar o seu desempenho em relação aos padrões mundiais para o CCS já estabelecido, tendo como referência o relatório do IPCC (2005). - Perspectiva Político-Estratégica: - Ação: Acompanhamento das decisões da COP. - Propósitos: Acompanhar as principais decisões quanto ao incentivo do uso do CCS em larga escala. Acompanhar as decisões quanto à inserção do CCS como MDL. Acompanhar as decisões/posicionamento do Governo do Brasil e das empresas brasileiras quanto ao CCS. 80 - Finalidade: Compreender as razões inerentes às decisões, posicionamentos e estratégias adotadas e buscar referenciais internacionais similares, com a intenção de realizar uma análise comparativa entre as situações, identificando pontos positivos e negativos. - Ação: Entrevista com Atores-chave. - Propósitos: Coletar informações quanto ao uso do CCS no Brasil de: - Experts (nacionais e internacionais), - Governo, - Empresas e - ONG’s. - Finalidade: Coletar informações dos principais atores envolvidos no processo decisório e também de atores externos ao processo, para identificar os principais pontos de conflito e lacunas existentes. Tendo como referência os pontos críticos levantados e discutidos no âmbito da UNFCCC (não-permanência, incluindo a permanência a longo prazo; medição, comunicação e verificação; impactos ambientais; limites do projeto; Direito Internacional; responsabilidades; do potencial de resultados perversos; a segurança e a cobertura de seguros e indenização por danos causados devido à uma infiltração ou vazamento). No intuito de representar graficamente a disposição das ações e perspectivas adotadas neste trabalho, para o alcance do objetivo geral, foi elaborada a Figura 22 que é apresentada a seguir. A figura busca fornecer a principal ideia da pesquisa e integrá-la aos eixos de estudos principais com suas respectivas ações críticas previstas. Entretanto, a figura não apresenta uma sequência do desenrolar das ações. Esta sequência é apresentada no fluxo da metodologia deste trabalho. 81 Figura 22 – Representação do Objetivo Geral, suas perspectivas e principais ações na pesquisa. Fonte: elaboração própria. Posto isso, a metodologia foi estruturada e dividida em quatro etapas, com as seguintes descrições: - A etapa inicial tem um cunho exploratório, com o intuito de responder ao problema de pesquisa exposto neste projeto. Para tanto, foi realizada uma pesquisa empírica exploratória e um aprofundamento da revisão da literatura especializada no objeto de estudo. - A segunda etapa, a análise dos atores chaves envolvidos nas questões decisórias referentes à difusão e implementação das tecnologias de CCS. Tendo para isso, que verificar a atuação desses atores, tanto do setor público, privado e sociedade civil, e suas estratégias político-institucionais para influenciar a GAG do clima. Nesta etapa do projeto, foi realizado um estudo mais aprofundado das experiências de outros governos e empresas transnacionais. Para isso, foi realizado um estágio pelo autor deste trabalho em uma instituição acadêmica internacional de ensino superior inserida e participando ativamente de pesquisas sobre estratégias político-institucionais e ações de atores corporativos na GAG do clima. - A terceira etapa é referente ao impacto da implantação de uma nova tecnologia para a redução de emissões de GEE. O papel da tecnologia CCS para o cumprimento de metas 82 globais de redução de emissões de GEE e análise em relação às demais tecnologias de redução de emissões de GEE. Identificação e análise dos mecanismos financeiros e político-institucionais disponíveis para a implantação do CCS e seu uso em larga escala. O esforço feito pelas empresas do setor petrolífero para influenciarem o posicionamento dos governos na GAG quanto à difusão do CCS e aprovação de metodologias para obtenção de créditos de carbono. - A quarta etapa é dedicada à realização de um estudo de caso com a aplicação das tecnologias de CCS no Brasil. Este estudo deverá apresentar o status do uso da tecnologia, seus avanços, as barreiras encontradas, oportunidades de melhorias para a difusão da tecnologia do CCS tendo como referência os achados obtidos na pesquisa nas perspectivas Político-Estratégica e Técnico-Econômica. Em específico, este estudo de caso foi realizado na Bacia do Recôncavo, situada no Estado da Bahia, tendo como principais fontes estacionárias de emissões de CO2 as empresas do Pólo Petroquímico de Camaçari, Centro Industrial de Aratu e outras fontes estacionárias de emissões de GEE consideradas críticas pela pesquisa. A Figura 23 representa a estruturação da metodologia deste trabalho e suas etapas com suas interações e sequência. Para dar suporte às etapas e atividades previstas na metodologia deste trabalho, o Anexo II apresenta todas as ações realizadas e também a participação em eventos e congressos técnicos, assim como a produção científica resultante da pesquisa. 83 Início Livros, Artigos Científicos: GAG e CCS Documentos do setor público Pesquisa sobre as tecnologias existentes, seus financiamentos e resultados Etapa 01 Pesquisa empírica exploratória e um aprofundamento da revisão da literatura especializada no objeto de estudo. I Etapa 02 Análise dos atores chaves envolvidos nas questões decisórias referentes à difusão e implementação das tecnologias de CCS e levantamento da atuação desses atores, tanto do setor público, privado e sociedade civil, e suas estratégias político-institucionais para influenciar a GAG do clima. I Documentos do setor privado. Documentos da sociedade civil. Etapa 03 Análise do papel da tecnologia CCS para o cumprimento de metas globais de redução de emissões de GEE em relação às demais tecnologias de redução de emissões de GEE e identificação e análise dos mecanismos financeiros e político-institucionais disponíveis para a implantação do CCS e seu uso em larga escala. Pesquisa dos mecanismos financeiros para o CCS Pesquisa das metodologias de MDLs para CCS Perspectiva Político-Estratégica Perspectiva Técnico-Econômica Entrevistas com experts no Brasil Visita a projetos de CCS Acompanhameto das decisões e Participação nas COPs Visitas a Centros de P&D Estágio em Instituição acadêmica relacionada com o tema GAG do clima Participação em discussões sobre o tema (congressos, internet, seminários, etc.) Levantamento e Análise de dados II Pesquisa de bacias petrolíferas similares e com projetos de CCS Pesquisa de estudos realizados por empresas na Bacia do Recôncavo. Teses, Dissertações, Relatórios e Pesquisas III IV Etapa 04 Estudo de caso das tecnologias de CCS no Brasil. Para tanto, foi feito simulação de um projeto de CCS no Brasil e a definição dos Indicadores. VII Análises Conclusões e Recomendações Fim Figura 23 – Etapas da Metodologia. Fonte: elaboração própria. Levantamento e Análise de dados V VI Pesquisa de estudos realizados nas regiões industriais da Bahia 84 4. ANALISE DOS FATORES CONDICIONANTES PARA O USO EM LARGA ESCALA DA TECNOLOGIA CCS NO BRASIL A forma como cada país, cada empresa e também cada sociedade tem discutido e entendido as tecnologias de CCS ao redor do mundo não são similares ou consensuais. Se por um lado os países considerados desenvolvidos ou alguns em desenvolvimento consideram as tecnologias de CCS como uma solução para as emissões de GEE, outros não entendem dessa forma ou empregam os seus esforços em questões que para eles são consideradas mais urgentes. Para se obter de forma mais exata quais os motivos e principais lacunas e barreiras para o uso em larga escala das tecnologias de CCS, este trabalho concentrou seu foco em discutir o que foi entendido por ele como os fatores críticos para a difusão das tecnologias de CCS, em particular no Brasil. Para tanto, o trabalho teve que definir o que para ele foi caracterizado como estes fatores críticos, que são: - Fatores Políticos: relacionados diretamente com as posições dos atores públicos, privados e da sociedade civil referente ao posicionamento externo ou internacional, por exemplo, a manifestação ou pronunciamento público em um fórum específico destinado `as discussões e direcionadas às tecnologias de CCS. - Fatores Estratégicos: relacionados com a definição de regras e normas internas aos governos e instituições do setor público e privado, por exemplo, o desenvolvimento e implantação do marco regulatório para as tecnologias de CCS em um país ou diretrizes estratégicas de uma empresa. Destaca-se que este trabalho teve como objeto de análise as questões estratégicas vinculadas aos governos como a definição de uma lei para o armazenamento do CO2 em reservatórios geológicos. - Fatores Tecnológicos: estes fatores estão relacionados inicialmente com a definição conceitual das tecnologias de CCS, assim como a identificação de técnicas para a realização da captura, transporte e armazenamento do CO2 em reservatórios geológicos. - Fatores Econômicos: vinculados diretamente à identificação de instrumentos econômicos que estão sendo utilizados para a difusão das tecnologias de CCS e da valoração das etapas de um projeto de CCS, tendo como referência a técnica escolhida. 4.1 FATORES POLÍTICOS E ESTRATÉGICOS Os levantamentos e análises contidas neste item e subitem do trabalho buscam identificar principalmente o posicionamento dos atores governamentais quanto ao uso 85 em larga escala das tecnologias de CCS e, principalmente, a posição do Governo do Brasil quanto às tecnologias de CCS. Como estes dois fatores estão intrinsecamente relacionados, o subitem 4.1.1 tem o seu foco nos fatores políticos, entretanto, no que diz respeito ao Brasil, o subitem também apresenta como o marco regulatório para as questões climáticas está estruturado no Brasil. Ele aborda tanto as leis que definem as políticas externas como as estratégias internas no país. O subitem 4.1.2 discute as questões estratégicas do armazenamento geológico do CO2 no Brasil e, para tanto, faz uma revisão no que está acontecendo quanto a este tema no mundo e também apresenta a proposição para o marco regulatório do armazenamento de CO2 em reservatórios geológicos11 para o Brasil e suas lacunas. 4.1.1 Discussão sobre os Fatores Políticos O principal ambiente regulatório internacional, onde os países e demais atores são solicitados a emitirem suas opiniões sobre as questões relacionadas com as emissões de GEE ou referente a formas de reduzi-las, é a UNFCCC. Neste fórum são discutidos diversos temas dentre eles a adoção de uma tecnologia como Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), umas das formas para a obtenção de créditos de carbono prevista no Protocolo de Kyoto. Além das questões relacionadas diretamente com a utilização das tecnologias que são elegíveis como MDL’s na redução dos GEE, existe outra questão extremamente importante que é a transferência de tecnologias entre os países no uso das EST. Este é um dos resultados previstos no Protocolo de Kyoto para a obtenção dos créditos de carbonos oriundos dos MDLs. Sendo assim, com a adoção do CCS como MDL os países em desenvolvimento que abrigarão os possíveis projetos de CCS poderão não só obter recursos financeiros como ter acesso a tecnologias de ponta que estão sendo pesquisadas e desenvolvidas nos países desenvolvidos. Para se tornar uma tecnologia reconhecida e elegível no âmbito dos MDL, as tecnologias são submetidas ao crivo das delegações e também são feitas consultas aos 11 A pesquisa referente a esse tema foi objeto de estudo do autor na sua pesquisa de mestrado e também apresentado em congressos nacionais e publicações em revistas internacionais. Além do autor também participaram desta pesquisa os Professores Paulo Rocha, Luis Eraldo e José Célio Silveira Andrade. 86 Governos e aos demais atores envolvidos como centros de pesquisas, fundações, organizações não governamentais, dentre outros. A possibilidade de inclusão de projetos de CCS como MDL foi discutida, inicialmente, na primeira sessão da 11ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 11) e na 1ª Reunião das Partes do Protocolo de Kyoto (MOP 1) em Montreal-Canadá em 2005 (IEA, 2007). Em dezembro de 2006, em Nairóbi, foi decidido que seria necessário mais tempo para considerar as questões referentes à adoção de uma metodologia do CCS como MDL. Na terceira reunião em dezembro de 2007, decidiu-se postergar a decisão para a reunião de 2008 em Polznan na Polônia. Em Polznan, nenhuma decisão relevante foi adotada e as definições foram novamente postergadas para Copenhague, na Dinamarca, quando o CCS foi reconhecido como uma tecnologia de redução possível (UNFCCC, 2009a e 2009b). Em paralelo as discussões das reuniões a UNFCCC solicitou a opinião de diversos Governos e outros atores, como fundações e ONG’s, quanto à tecnologia CCS como MDL. A Figura 24 apresenta de forma sintetizada a posição dos Governos e atores consultados pela UNFCCC até 2012, quanto à inclusão do CCS como um MDL. 87 Posição em País 2010 2009 2008 Instituições e ONG’s 2007 Brasil Carbon Capture & Storage Association Indonésia South African Centre for CCS União Européia Venezuela International Chamber of Commerce International Emissions Trading Association World Coal Institute Indian Institute of Technology Kharagpur Indian Institute of Management Indore International Petroleum Industry Environmental Conservation Association WWF International Risk Governance Council Legenda: Contra as tecnologias de CCS Aceita as tecnologias de CCS e contra a inclusão do CCS como MDL A favor da inclusão das tecnologias de CCS como MDL Extremamente a favor das tecnologias de CCS e sua inclusão como MDL 2007 2006 Eureletric Arábia Saudita Coréia 2008 Eskon Greenpeace Canadá 2009 Carbon Sequestration Leadership Forum Nova Zelândia Slovênia 2010 Bellona Austrália Noruega Posição em Pembina Sustain US The Norwegian Forum for Environment and Development Figura 24 – Posicionamento dos Países e demais Atores quanto a inclusão das tecnologias de CCS como MDL. Fonte: elaboração própria com dados obtidos das UNFCCC. Observa-se na Figura 24 que, dos países consultados pela UNFCCC quanto à inclusão do CCS no âmbito do MDL, somente o Brasil e Portugal em 2007, representando a União Européia, foram contrários à inclusão. Destaca-se que a posição da União Européia muda em 2010, quando a mesma foi representada pela Espanha. Entretanto, a posição do Brasil se mantém contrária à inclusão do CCS no âmbito do MDL nos dois posicionamentos, tanto em 2008 quanto em 2010. No que tange às demais instituições e ONG’s, somente o Greenpeace se posicionou contrário não só à inclusão do CCS como MDL mas também contra as tecnologias de CCS. Na COP 16, realizada em dezembro de 2010 em Cancún no México, o CCS foi reconhecido como uma tecnologia importante para o combate às emissões de GEE e considerado elegível no âmbito dos MDL’s. Entretanto, alguns passos ainda precisam ser dados para que seja validada a adoção do CCS como um MDL. Destaca-se que, para se tornar elegível, o CCS teve que ser aceito no Executive Board (EB) que conta com a participação de diversos países. O Brasil esteve presente a esta reunião na qual foi 88 aprovada a elegibilidade do CCS no MDL mesmo sendo um dos países que é contra a inclusão do CCS no âmbito do MDL, posição esta externada antes da COP 16, em documento enviado à UNFCCC pelo Governo do Brasil. O Governo do Brasil se pronunciou duas vezes junto à UNFCCC quanto à adoção do CCS como MDL. A primeira vez em 2007 e mais atualmente em 2010 antes da realização da COP16. De forma geral, o Brasil não é contra o uso das tecnologias de CCS, contudo, entende que estas tecnologias não são elegíveis como projetos de MDL por diversas razões, dentre as quais se destacam as seguintes: O Brasil apóia a aceleração da pesquisa sobre tecnologias de CCS e apoia o desenvolvimento, implantação e difusão, incluindo a transferência dessas tecnologias CCS que já estão, pelo menos, na fase de demonstração, sob análise da UNFCCC [...]. O Brasil está consciente de que a aplicação da CCS nos países em desenvolvimento dependerá da maturidade técnica, custos de difusão e transferência de tecnologia e avaliação das questões ambientais, tendo em conta que este processo é intensivo em capital e tecnologia (UNFCCC, 2010). E, especificamente, quanto à adoção das tecnologias de CCS como um MDL: Levando em consideração as modalidades e procedimentos dos MDL, tais tecnologias têm implicações e características que são incompatíveis com a natureza e as características das atividades de projeto MDL. Questões como o fugas, limite do projeto, a responsabilidade a longo prazo e permanência tem muitas implicações adicionais. Algumas destas questões foram analisadas por instituições confiáveis, mas nenhuma solução satisfatória foi alcançada, especialmente se levando em conta as características das atividades de um projeto de MDL. Algumas outras questões importantes a respeito da natureza dos MDL e possíveis impactos econômicos e de mercado ainda não foram avaliados (UNFCCC, 2010). O Brasil acredita que os incentivos do MDL devem ser bastante utilizados para promover tecnologias mais limpas e renováveis, que apontam claramente para a descarbonização dos padrões atuais de produção e consumo e não para promoção do uso do petróleo, gás e carvão mineral. Projetos de CCS, nos países em desenvolvimento, poderiam acontecer num outro contexto, com mecanismos financeiros específicos, financiamentos e parcerias no âmbito da UNFCCC, mas não como um mecanismo de compensação, gerando créditos de carbono a ser usado por países do Anexo I, como acontece com o MDL. A inclusão de projetos de CCS dentro do MDL pode diminuir a ênfase na busca de outros mecanismos financeiros mais adequados no âmbito da UNFCCC ou das políticas governamentais (UNFCCC, 2010). Os riscos inerentes às novas tecnologias de CCS só seriam minimizados com a consideração da possível aplicação comercial de tecnologias maduras de CCS. O único mercado maduro de tecnologias para o armazenamento geológico de CO2, listado no relatório do IPCC, é a Recuperação Avançada de Petróleo (EOR). O Governo do Brasil 89 acredita que o MDL não foi concebido a fim de subsidiar a produção de petróleo e gás natural dos países com produção terrestre que tem custos muito baixos de produção. Este tipo de projeto não pode depender ou ser complementado por incentivos oriundos do MDL. Os produtores de combustíveis fósseis não precisam deste tipo de subsídio, tendo em conta que o preço atual do petróleo é superior a U$ 80/bbl. Além disso, essas empresas detêm know-how e investimentos significativos na área das tecnologias de CCS. O MDL também não deve ser destinado para incentivar a extração de metano em minas de carvão (UNFCCC, 2010). Para o Governo do Brasil, uma das principais características das atividades do projeto de MDL é a geração de créditos a curto prazo, entretanto seus benefícios devem ser reais e mensuráveis a longo prazo. Projetos de CCS no âmbito dos MDL poderiam gerar uma quantidade importante de créditos à curto prazo, mas não trariam benefícios a longo prazo. A conseqüência seria o ganho de tempo para a economia atual, baseada em combustíveis fósseis. A inclusão de projetos de CCS no MDL poderia gerar um grande número de projetos, especialmente concentrados em poucos países. Isso impediria a participação mais equitativa dos países que não fazem parte do Anexo I no âmbito do MDL e, certamente, iria criar obstáculos adicionais para projetos de pequena escala. Além disso, adiaria investimentos importantes que poderiam levar à introdução de tecnologias de energia renovável no mundo em desenvolvimento. A este respeito, o CCS é claramente uma tecnologia que pode ser usada por países do Anexo I nos seus esforços de mitigação, já que eles têm uma enorme infraestrutura, voltada para o uso de combustíveis fósseis e para a necessidade de reduzir significativamente suas emissões no curto prazo (UNFCCC, 2010). O CCS é tipicamente uma tecnologia de transição para ser usada na passagem de uma economia baseada no uso de combustíveis fósseis para uma economia de baixa intensidade de carbono. O Governo do Brasil reconhece que o CCS pode ser útil durante um longo tempo, antes que o mundo possa confiar plenamente nas energias renováveis para atender suas necessidades energéticas. Sendo assim, o CCS poderia ser uma das tecnologias-ponte até que os países possam ter plena confiança nas energias renováveis, mas, ao mesmo tempo, o CCS, no âmbito do MDL, acarretaria em incentivos perversos para o aumento da produção de energia fóssil nos países em desenvolvimento o que permitiria reforçar a lacuna tecnológica existente entre o mundo desenvolvido e o mundo em desenvolvimento (UNFCCC, 2010). Todas as vezes que o Governo do Brasil abordou o uso das tecnologias de CCS não é destacada a necessidade do domínio dessas 90 tecnologias pelo país, o que seria importante para a posição do país nas questões da GAG do clima. Mesmo dando atenção às questões de emissões de GEE e às alterações climáticas desde o início das discussões na Rio 92, o Governo do Brasil só foi ser mais direto quanto a sua forma de atuação com relação ao tema nos últimos cinco (05) anos. O documento que teve o foco mais direto nestas questões foi o Plano Nacional de Mudanças Climáticas aprovado em 2007 (Brasil, 2008). Outra ação importante do Governo do Brasil para a redução das emissões de GEE foi a criação do Fundo da Amazônia em 2008 (Brasil, 2008). Outro fundo importante criado em 2009 foi o Fundo Nacional de Mudanças Climáticas (Brasil, 2009). A criação deste fundo impactou diretamente o setor petrolífero pois a lei que cria o fundo altera a Lei 9.478, a Lei do Petróleo (Brasil, 1997). Em 29 de dezembro de 2009, após a realização da COP 15, o Governo do Brasil aprovou a Lei da Política Nacional de Mudança Climática (Brasil, 2009). Segundo a lei aprovada, o Brasil, “adotará, como compromisso nacional voluntário, ações de mitigação das emissões de gases de efeito estufa, com vistas em reduzir entre 36,1% (trinta e seis inteiros e um décimo por cento) e 38,9% (trinta e oito inteiros e nove décimos por cento) suas emissões projetadas até 2020”. A Figura 25, a seguir, apresenta as principais estratégias e políticas do Governo do Brasil para as questões climáticas, como elas se relacionam, seu diploma legal e sua cronologia. É possível perceber que os diplomas legais brasileiros referentes às questões climáticas são recentes, sendo iniciada no ano de 2007 com o Plano Nacional de Mudanças Climáticas. Anterior ao plano existiam apenas algumas iniciativas como o incentivo da Lei n. 9.478 para o desenvolvimento de P&D. No inventário de emissões de 2009, elaborado pelo Ministério de Ciência e Tecnologia, pode-se verificar que os itens que tiveram a maior variação entre o período de 1990 à 2005 foram: o subsetor energético e a extração e transporte de petróleo e gás natural. De forma global, a participação das Mudanças do Uso da Terra e Florestas é a mais significativa no total do inventário, contribuindo com 76,3% das emissões no Brasil no ano de 2005 (Brasil, 2009). 91 Figura 25 – Cronologia das principais políticas e estratégias de mudanças climáticas no Brasil. Fonte: elaboração própria. É importante destacar que as atividades de extração e transporte de petróleo vão contribuir para o aumento das emissões no país, quando entrar em operação a produção dos campos de petróleo e gás natural, situados nas áreas das grandes jazidas nas camadas do pré-sal no litoral brasileiro. Ciente da necessidade da utilização de ações de mitigação de GEE, no Plano Nacional Sobre Mudança do Clima existe um capítulo, o nono, específico para o estudo na área de mitigação. Neste capítulo, o CCS é apresentado como uma das tecnologias a serem desenvolvidas para viabilizar a indústria do petróleo no país, conforme o texto a seguir: “A estratégia do setor de petróleo e gás prevê investimentos em pesquisa, desenvolvimento e demonstração de tecnologias limpas para a mitigação da mudança do clima e redução do risco carbono de suas atividades, incluindo tecnologias de seqüestro de carbono. A captura e a estocagem de dióxido de carbono em formações geológicas é uma técnica ainda objeto de pesquisas e avaliação em todo o mundo, que poderá contribuir para a mitigação da mudança do clima global. A técnica viabilizaria ainda o desenvolvimento de relações sinérgicas entre setores industriais, que são emissores geograficamente concentrados de CO2, tais como os setores de siderurgia e de cimento, e, por exemplo, o setor petróleo e gás, que dispõe dos reservatórios geológicos e do conhecimento especializado para a captura do gás. A magnitude das emissões de GEE, decorrentes do crescimento das atividades do setor de petróleo e gás, nos próximos anos, poderá requerer a utilização de tecnologias de mitigação em grande escala. Ainda que as tecnologias necessárias ao seqüestro geológico de carbono ofereçam um elevado potencial de mitigação das emissões de GEE, o custo de sua utilização ainda é muito elevado, o que requer muito investimento em desenvolvimento tecnológico. Ademais, trata-se de tecnologia ainda em estágio de desenvolvimento. Portanto, devem ser encontradas formas de fomento específicas para esta opção tecnológica (Brasil, 2008)” 92 Ao analisar as políticas e as principais estratégias do Governo do Brasil quanto às emissões de GEE, constata-se que não existe uma definição para os setores industriais. Elas se restringem às questões florestais e energéticas. As tecnologias de CCS não são foco de atenção do governo, deixando com isso o setor privado ter a iniciativa de P&D e ações de E&I. A atenção dada às tecnologias de CCS pelos países desenvolvidos é completamente diferente da que está sendo dada pelo Brasil. O Anexo III deste trabalho apresenta uma análise comparativa do status das tecnologias de CCS no Brasil e um país desenvolvido, em particular o Japão. 4.1.2 Discussão sobre os Fatores Estratégicos Devido ao estágio atual da implantação e difusão das tecnologias de CCS, alguns países desenvolvidos já estruturaram os seus sistemas regulatórios para a implementação das tecnologias de CCS, em especial na área de armazenamento do CO2 em reservatórios geológicos. Dentre os países desenvolvidos que se destacam em relação ao desenvolvimento de um sistema regulatório para o armazenamento geológico do CO2, destacam-se os Estados Unidos e a Austrália e o bloco econômico da União Europeia. Nas últimas décadas, devido à atividade de injeção, muitos Estados, Territórios e o próprio Governo Federal dos Estados Unidos desenvolveram programas e métodos para a proteção das fontes subterrâneas de águas potáveis. É neste contexto que o Governo Federal dos Estados Unidos delegou a U.S. Environmental Protection Agency EPA o desenvolvimento de padrões mínimos da atividade de injeção de substâncias no subsolo. Em 1979, foram estabelecidos os regulamentos do Underground Injection Control Program - UIC, que não impõem exigências jurídicas aos Estados ou Territórios. Ele resume prescrições legais ou regulamentares. Inclusive, ele é enfático quanto à conservação do poder discricionário para adotar abordagens, caso-a-caso, que difere do documento se for necessário. O UIC estabelece cinco classes de poços para injeção, baseadas, sobretudo, no potencial destes (tipo de atividade e profundidade da injeção), o que pode resultar em uma ameaça às fontes subterrâneas de águas potáveis. O principal fator para definir cada classe é o tipo de atividade e a natureza geral dos fluidos, associados a esta atividade, exceto para a Classe V. Sendo assim, tem-se: a) Classe I: relacionada à injeção de resíduos perigosos, industriais e resíduos urbanos; 93 b) Classe II: relacionada à produção de petróleo e gás; c) Classe III: relacionada à recuperação de minerais; d) Classe IV: outras atividades relacionadas à injeção, em que os dados são insuficientes para avaliar a ameaça às fontes subterrâneas de águas potáveis (ex: os radioativos); e) Classe V: inclui todos os outros tipos não abrangidos nas classes anteriores. Um fator secundário na classificação utilizada é a localização, no que diz respeito à profundidade do reservatório, da injeção em relação à fontes subterrâneas de água potável. Em 25 de julho de 2008, a EPA apresentou uma proposta para a regulação de injeção do CO2 em reservatórios geológicos. Ela propõe que, inicialmente, a injeção de CO2 seja considerada como Classe V (pois ainda estaria em fase de projeto-piloto) e, após a sua utilização em larga escala, fosse criada a Classe VI (Estados Unidos, 2008). Em virtude da existência de um sistema regulatório nos Estados Unidos para a injeção de outras substâncias no subsolo do país, a estruturação de uma proposta para a injeção de CO2 em reservatórios geológicos foi desenvolvida tendo como base o arcabouço existente. Porém, devido a este aproveitamento, a proposta de regulação para o armazenamento geológico do CO2 neste país tem sua atenção voltada para a proteção de fontes subterrâneas de água potável. Como as atividades de EOR nos Estados Unidos já têm um tempo relativamente significativo, muitos trabalhos sobre a regulação específica do setor petrolífero para a EOR e também sobre o CCS têm sido publicados. Dentre eles, destaca-se o artigo produzido por Marston e Moore denominado From EOR to CCS: the evolving legal and regulatory framework for Carbon Capture and Storage. Este artigo aborda as questões regulatórias referentes à EOR com a análise das lacunas regulatórias, buscando aproveitar o marco regulatório já estabelecido para a criação de uma estrutura regulatória para o CCS. Esta análise foi realizada tendo como base o sistema regulatório petrolífero americano e a experiência dos Estados Unidos em transporte, injeção e armazenamento de diversas substâncias no subsolo e aborda questões regulatórias referentes a venda, transporte e armazenamento do CO2 (Marston e Moore, 2008). Já na Austrália, o Governo Federal estabeleceu e publicou em 25 de novembro de 2005, por intermédio do Ministerial Council on Mineral and Petroleum Resources - 94 MCMPR “Os Princípios Orientadores do Dióxido de Carbono para a Captura e Armazenamento Geológico”. A publicação do MCMPR tem o objetivo de apresentar os “Princípios Orientadores” para que seja alcançado um padrão mínimo nacional das atividades de armazenamento de CO2 em reservatórios geológicos em cada Estado da Federação australiana. Ele aborda seis questões-chaves fundamentais de um sistema regulatório, são elas: processos de avaliação e aprovações; acesso e direitos de propriedade; transporte; acompanhamento e verificação; responsabilidades operacionais e de pósencerramento; e as questões financeiras (Austrália, 2005). Para dar suporte às atividades de armazenamento geológico do CO2 em áreas off-shore, o Governo Federal da Austrália desenvolveu emendas à legislação petrolífera existente12 (Commonwealth Offshore Petroleum Act 2006 - OPA) tendo como objetivo fornecer acesso e direitos de propriedade do CO2 injetados em reservatórios geológicos localizados em águas australianas, no intuito de garantir que as atividades sejam desenvolvidas em coerência com os princípios estabelecidos pelo governo (Austrália, 2009). A situação do marco regulatório do governo federal australiano para o CCS é a seguinte: - Offshore Petroleum and Greenhouse Gas Storage (Environment) Regulations 2009. Entrou em vigor em 01 de janeiro de 2010. - Offshore Petroleum and Greenhouse Gas Storage (Management of Greenhouse Gas Well Operations) Regulations 2010. Entrou em vigor em 25 de fevereiro de 2005. - Offshore Petroleum and Greenhouse Gas Storage (Datum) Regulations 2010. Entrou em vigor em 25 de fevereiro de 2010. - Offshore Petroleum and Greenhouse Gas Storage (Safety) Regulations 2009. Entrou em vigor em 03 de junho de 2010. Além das regulações acima citadas, a Commonwealth desenvolveu o esboço da lei específica para o armazenamento geológico do CO2 denominada Offshore Petroleum and Greenhouse Gas Storage (Injection and Storage) Regulations 2010, em consulta e comentários de todos os envolvidos nas atividades de CCS desde 03 de maio de 2010. 12 A Commonwealth é uma zona regulada pelo Reino Unido, como a Austrália faz parte da comunidade esta lei é aplicável para a atividades off-shore neste país. 95 Alguns estados da Federação australiana já estabelecem algumas questões regulatórias do CCS em suas legislações, é o caso das leis: The South Australian Petroleum Act 2000, do estado da Australian South, e Queensland Petroleum and Gas (Production and Safety) Act 2004, do estado da Queensland, que tratam do transporte e do armazenamento de substâncias em reservatórios naturais, incluindo o CO2. Entretanto, o estado que mais avançou na elaboração de uma regulação específica para o CCS foi o de Victória (Victoria, 2008), onde a proposta da regulação do CCS cumpriu o seguinte calendário: - Documento de reflexão – 14 de janeiro 2008; - Consulta – fevereiro de 2008; - Respostas ao documento de reflexão – 29 de fevereiro de 2008; - Outras consultas com as partes interessadas – abril 2008; - Documento legal para a regulação do CCS do estado de Victória, com a posição política finalizada no início de 2008; e - Documento sujeito à aprovação – 2008. No final de 2008 o projeto de lei para a regulação do CCS foi submetido e aprovado pelo Congresso. A legislação offshore de Victoria para CCS, denominada Offshore Petroleum and Greenhouse Gas Storage Act 2010, recebeu o aceite real em 23 de março de 2010. Esta regulação espelha-se na legislação da Commonwealth e está em vigor desde 1º de janeiro de 2012. A situação atual das regulações mais evoluídas das jurisdições australianas é apresentada a seguir (IEA, 2011): - Queensland - Sua nova regulação, específica para o CCS, denominada Greenhouse Gas Storage Regulation 2010, entrou em vigor em 09 de abril de 2010. - Western Australia - Em maio de 2009, o Ministério de Minas e Petróleo de Western Australian aprovou o desenvolvimento da estrutura regulatória para as atividades de onshore. A proposta é que a legislação assuma a forma de uma emenda à legislação de petróleo existente denominada Petroleum and Geothermal Energy Resources Act 1967. - New South Wales - desenvolveu uma proposta de legislação para o CCS em atividades onshore, que foi lançada para consulta pública durante um período de quatro semanas e terminou em 15 de setembro de 2010. 96 O bloco econômico formado pelos países da Europa teve a proposta para a regulação do armazenamento geológico do CO2 apresentada em janeiro de 2008. Ela é denominada de Proposta de Directiva do Parlamento Europeu e do Conselho Relativa à Armazenagem Geológica de Dióxido de Carbono, datada de 23 de janeiro de 2008 (CCE, 2008). A proposta da União Europeia teve como principal motivação e objetivos: A eficiência energética e as energias renováveis são, a longo prazo, as soluções mais sustentáveis, no que respeita quer à segurança do aprovisionamento quer ao clima. Todavia, se não aproveitarmos também a possibilidade de capturar o dióxido de carbono das instalações industriais e o armazenar em formações geológicas (...), não conseguiremos reduzir em 50% até 2050 as emissões de CO2 a nível da União Europeia ou no mundo. Nos próximos 10 anos, proceder-se-á à substituição de cerca de um terço da capacidade energética existente na Europa com base no carvão. A nível internacional, o consumo de energia da China, da Índia, do Brasil, da África do Sul e do México fará aumentar drasticamente a procura mundial, que deverá ser satisfeita, em grande parte, com combustíveis fósseis. O presente quadro jurídico destina-se a garantir que a captura e a armazenagem de CO2 sejam uma opção de atenuação viável e se processem com segurança e responsabilidade [sic]. (CCE, 2008). Segundo a Directiva da União Europeia, a obrigatoriedade do CCS estimula uma absorção mais célere, mas a um custo adicional substancial; entregue às regras do mercado do carbono, o CCS será adotado se e quando for economicamente rentável (CCE, 2008). Nos dias 11 e 12 de dezembro de 2008, a Comunidade Europeia, em virtude da crise econômica mundial, rediscutiu os compromissos da União Europeia de combate às mudanças climáticas. O documento no 17215/08 do Conselho da União Europeia, denominado Energia e Mudanças Climáticas – Elementos do Compromisso Final apresenta os novos compromissos da união, contendo metas específicas para cada país (Conselho da União Europeia, 2008). Como desdobramentos desta reunião, foram aprovados alguns textos propostos para regulações específicas voltadas para as questões de mudanças climáticas pelo Parlamento Europeu. Em 17 de dezembro de 2008, o Parlamento Europeu divulgou os textos das regulações aprovados. Dentre estes textos, está a aprovação do texto, por meio do processo de co-decisão: primeira leitura, da regulação para o armazenamento geológico de CO2 (Parlamento Europeu, 2008). Após toda a evolução, foi aprovada pela União Europeia a Directiva 2009/31/CE relativa à armazenagem geológica de dióxido de carbono, conhecida como DirectivaCCS (Parlamento Europeu e Conselho da União Europeia, 2009). Essa Directiva constitui um dos primeiros marcos legais para a gestão dos riscos ambientais e de saúde, relacionados com o CCS em todo o mundo, incluindo os requisitos relativos ao 97 licenciamento, à composição do fluxo de CO2, o monitoramento, os relatórios, as inspeções, as medidas corretivas, o encerramento e o pós-encerramento, as obrigações, a transferência de responsabilidade para o Estado e a segurança financeira. A DiretivaCCS alterou igualmente uma série de outras leis da UE, buscando estabelecer requisitos em matéria de captura e operações de transporte com o objetivo de remover as barreiras legais existentes para o armazenamento geológico de CO2 (IEA, 2011). Outro ponto importante foi a aprovação da Directiva 2009/29/CE que altera a Directiva 2003/87/CE a fim de melhorar e ampliar o sistema de comércio de licenças de emissão de GEE da comunidade europeia, permitindo a emissão de 300 milhões de licenças para novos operadores do Sistema de Comércio de Emissões (ETS) e que deve estar disponível até 31 de dezembro de 2015 para ajudar a estimular a construção e a operação de até 12 projetos de demonstração comercial que visam à captura ambientalmente segura e ao armazenamento geológico de CO2, bem como aos projetos de demonstração de tecnologias inovadoras de energia renovável no território da União Europeia (IEA, 2011). Alguns países do bloco econômico da União Europeia estão estruturando o seu arcabouço regulatório para regular as atividades de CCS, tendo como base as orientações estabelecidas nas Diretivas da União Europeia. Em especial, cabe um destaque para a França e a Alemanha. As ações para estabelecimento do marco regulatório francês estão sendo conduzidas pela Direção Geral de Energia e Mudança do Clima que fica sob a responsabilidade do Ministério de Ecologia, Energia e Desenvolvimento Sustentável. De maneira geral, a Diretiva da União Europeia serve como diretriz, tendo os seus itens desdobrados em leis, resoluções e outros regulamentos. A lei francesa, que serve como base para os desdobramentos, é a n° 2009-967 de 03 de agosto de 2009 do Programmation Relative à la mise en Oeuvre du Grenelle de l'environnement. Já as ações para a estruturação do marco regulatório na Alemanha foram iniciadas desde 2008 em uma ação conjunta entre os Ministérios do Meio Ambiente e o Ministério de Economia. A primeira proposta de lei sobre CCS na Alemanha foi validada em abril de 2009 pelo Gabinete Federal. Esta proposta foi colocada para a consulta pública e, devido a questões eleitorais e também por conta da rejeição pública em relação ao CCS, principalmente das regiões propícias para projetos de CCS, ela não foi aprovada. Da mesma forma que a França, a Alemanha também tem como base para 98 o desenvolvimento do marco regulatório do CCS as orientações contidas nas Diretivas da União Europeia. Outro país importante na Europa é a Noruega devido aos projetos de CCS em execução neste país desde 1996. Quanto às questões regulatórias, no que diz respeito à gestão dos recursos petrolíferos, são conduzidas pela legislação petrolífera existente. Já, quanto às questões ambientais, são conduzidas pelo Ministério do Meio Ambiente. Em 2009, o Rei da Noruega homologou a Lei 1.963 (Continental Shelf Act) estabelecendo a autoridade para o Ministério do Petróleo e Energia e o Ministério do Trabalho para as questões referentes à exploração, desenvolvimento e utilização de reservatórios submarinos na plataforma continental da Noruega. Sendo assim, existe uma responsabilidade compartilhada entre 03 (três) Ministérios, quanto ao CCS na Noruega demandando uma interação intensa entre eles no que diz respeito ao tema. No Reino Unido, as questões referentes à aplicação das tecnologias de CCS estão vinculadas às questões energéticas. Em novembro de 2008, foi homologada a Energy Act 2008 que regula as atividades de armazenamento de dióxido de carbono em reservatórios offshore. Ações similares foram tomadas na Escócia. Em 2010, foi homologada uma lei de incentivos financeiros, na forma de taxas para os fornecedores de eletricidade, com o objetivo de financiar projetos de CCS no Reino Unido. Além dos países já mencionados, assim como a União Europeia, outros países também iniciaram a discussão ou implementaram algumas diretrizes regulatórias quanto à utilização do armazenamento geológico do CO2 em larga escala. O Governo Federal do Canadá tem estabelecida uma política de controle de emissões de GEE alinhada com a política Americana e conta com a legislação Canadian Environmental Protection Act, 1999 para dar suporte às decisões tomadas (IEA, 2011). Além da legislação Federal Canadense, as Províncias de Alberta, British Columbia e Saskatchewan também estão desenvolvendo as suas legislações específicas. Em Alberta foi estabelecido o Alberta CCS Development Council, um conselho composto por membros da indústria, da academia e do governo, que concluiu, no seu relatório de março 2009, que a preparação da estrutura regulatória de Alberta, para os primeiros projetos, CCS está bastante avançada. Em British Columbia, já existe uma estrutura regulatória voltada para indústria de petróleo e gás natural que está sendo base para o desenvolvimento da regulação para a regulação do CCS. A província tem uma estrutura regulatória em vigor que rege os direitos de armazenamento do reservatório, 99 de armazenamento subterrâneo e eliminação de emissões, relacionados com o petróleo e o gás natural. Além disso, a British Columbia está em processo de criação de uma regulação que contempla uma Listagem de substâncias prescritas como o CO2, que, a partir de qualquer fonte de emissão, deverão ser eliminados ou armazenados em reservatórios geológicos. Já a Província de Saskatchewan tem um quadro regulamentar em vigor que inclui a injeção de CO2. Projetos de EOR, em escala comercial, com a intenção de armazenar geologicamente o CO2, já estão em andamento na província e regidos por leis e regulamentos existentes. Saskatchewan está analisando a necessidade da criação de uma regulamentação adicional que irá refletir o papel dos GEE. As iniciativas referentes ao estabelecimento de um marco regulatório no projeto de Weyburn são de suma importância por se tratar de uma ação realizada entre dois países, o Canadá e os Estados Unidos. Para conduzir as questões regulatórias, foi criado um grupo (força-tarefa) na Comissão Interestadual de Óleo e Gás dos Estados Unidos (Interstate Oil and Gas Compact Commission – IOGCC13). A IOGCC é uma agência governamental multiestado que, no que diz respeito às questões regulatórias, auxilia os estados a equilibrarem os interesses através de boas práticas regulatórias. Atualmente a IOGCC conta com cerca de 30 estados-membros, dez estados associados e dez afiliados internacionais. Quanto aos afiliados internacionais, destacam-se, devido ao projeto de Weyburn, as províncias canadenses de Alberta e Saskatchewan. Para as questões referentes às tecnologias de CCS, a IOGCC criou o Grupo de Trabalho de Sequestro Geológico de CO2, que analisa as questões políticas, técnicas e regulamentos relacionados com o armazenamento seguro e eficaz de CO2 no subsolo nas seguintes opções geológicas: campos depletados de petróleo e gás natural, formações salinas e camadas de carvão. No Japão, diversas ações estão sendo realizadas com relação ao desenvolvimento do marco regulatório para as tecnologias de CCS, dentre elas, destacam-se: emendas na Lei de Prevenção da Poluição Marinha de 2007, tendo como base a ratificação do Protocolo de Londres, de 1996; participação na International Convention for the Prevention of Pollution From Ships (MARPOL); estabelecimento da Law Concerning the Promotion of Measures to Cope with Global Warming; o 13 Informações obtidas no site: http://www.iogcc.state.ok.us/, acessado em 11/08/2011. 10 0 desenvolvimento do Kyoto Protocol Target Achievement Plan e do Action Plan for Building a Low Carbon Society. De forma mais direcionada para a regulação dos projetos que estão sendo atualmente discutidos no país, já foi estabelecida a Desirable Safety and Environmental Standarts for the Implementation of CCS. As ações para a regulação do CCS no Japão têm sido conduzidas pelos Ministérios do Meio Ambiente e o Ministério da Economia, Comércio e Indústria. 4.1.2.1 Uma discussão sobre a regulação do Armazenamento Geológico do CO2 no Brasil Mesmo com mais de vinte (20) anos de discussão e avanços técnicos das tecnologias de CCS, no Brasil as discussões sobre o marco regulatório dessas tecnologias são inexistentes. A necessidade de avanço nas questões estratégicas pelo Governo do Brasil é crítica para impulsionar a difusão das tecnologias e CCS no país. A ausência de uma autoridade competente definida para conduzir estas questões e um marco regulatório é uma fragilidade para o setor privado investir nas tecnologias no país. A discussão para a definição do marco regulatório das tecnologias de CCS deveria ter início na definição das etapas de um projeto e como elas deveriam se relacionar. Para uma melhor compreensão da dinâmica das etapas, a Figura 26 busca ilustrar o contexto de um projeto de CCS. No primeiro cenário, a situação apresentada é de um parque industrial sem a existência de um projeto de CCS. No segundo cenário, a existência do projeto de CCS é representada em suas diversas etapas e possíveis responsáveis. 101 Figura 26 – Ilustração dos cenários antes e depois da implantação de um projeto de CCS. Fonte: elaboração própria. Além das etapas ilustradas na Figura 26, existem outras que também foram identificadas como importantes num projeto de CCS. Segue a identificação e as definições sugeridas para estas etapas: Levantamento de Informações Técnicas (acervo) - informações prévias que a autoridade competente detém sobre assuntos relacionados com o CCS. Projeto - etapa de elaboração e desenvolvimento do projeto de CCS que pode ser feita pela própria equipe da autoridade competente indicada ou por empresa contratada ou pelo operador. Outra seqüência para a realização de um projeto de CCS é a que uma empresa emissora de CO2 elabora o projeto e apresenta à Autoridade Competente Indicada. Captura- etapa de um projeto de CCS que abrange desde a separação do CO2 na fonte estacionária, sua compressão e envio a um city gate (quando existir). Transporte - etapa de um projeto de CCS que envolve o envio do CO2 do city gate (quando existir) para o local de injeção, podendo ser feito por diversos tipos de moldais logístico (dutos, caminhões, navios, trens e outros). Injeção - etapa de um projeto de CCS que envolve o início da introdução do CO2 no reservatório geológico até o seu término. Monitoramento pós-injeção - etapa de um projeto de CCS, iniciada posteriormente ao encerramento da etapa de injeção do CO2 no reservatório geológico, caracterizada pelo 10 2 acompanhamento do comportamento do reservatório geológico com o CO2 injetado pelo Operador. Esta etapa tem um tempo determinado e é de responsabilidade da empresa que realizou a injeção. Pós encerramento - etapa de um projeto de CCS, caracterizada pela transferência de responsabilidade da área onde foi injetado o CO2, do Operador para a autoridade competente indicada. É composta por atividades de monitoramento e inspeção. Não tem prazo determinado. Existem questões em um projeto de CCS que precisam estar muito bem definidas e estabelecidas no marco regulatório antes da execução do projeto. Dentre elas, pode-se destacar o direito à propriedade do CO2 armazenado e a responsabilidade após o armazenamento. Para a proposta apresentada neste artigo, o direito de propriedade do CO2 armazenado é do Estado e a responsabilidade após o armazenamento é da Autoridade Competente Indicada e das empresas participantes do projeto de CCS. Após a definição das etapas que compõem um projeto de CCS, a Figura 27 apresenta a possível relação com as esferas governamentais. Ressaltando-se que as esferas governamentais se resumiram à Federal e à Estadual. Esta seleção se deu em função dos marcos regulatórios estabelecidos na Constituição, na Lei do Petróleo e na Lei do Gás. CONCEPÇÃO DO PROJETO Edital Licitação Contrato Desenvolvimento Etapa conduzida pela Autoridade Competente Indicada Federal com participação ativa da Autoridade Competente Indicada Estadual CAPTURA TRANSPORTE INJEÇÃO E MONITORAMENTO PÓS ENCERRAMENTO City Gate CO2 Etapa Regulada pela Autoridade Competente Indicada Estadual CO2 Etapas Reguladas pela Autoridade Competente Indicada Federal Figura 27 - Etapas do Projeto de CCS e a relação com as Autoridades Competentes Indicadas. Fonte: elaboração própria. 103 É importante destacar a diferença estabelecida neste trabalho entre Autoridade Competente (AC) e Autoridade Competente Indicada (ACI). A Autoridade Competente é toda autoridade que tem algum tipo de interferência nas etapas de um projeto de CCS, seja pela necessidade de emissão de licenças ou qualquer outro tipo de instrumento governamental e/ou fiscalizações. Já a Autoridade Competente Indicada é aquela nomeada para conduzir um projeto ou etapas de um projeto. Cada esfera governamental deve ter uma Autoridade Competente Indicada para a condução ou participação em um projeto de CCS. As competências das Autoridades Competentes Indicadas deverão ser estabelecidas em uma lei específica e as questões infra-legais deverão ter regulações desenvolvidas pelas Autoridades Competentes Indicadas tanto da esfera Federal como da Estadual. As ações da Autoridade Competente Indicada em um projeto de CCS deve ter caráter decisório de cunho técnico (inclusive para a detenção de conhecimento), financeiro e fiscal. Além da responsabilidade da condução do projeto de CCS, após a transferência da responsabilidade pela empresa operadora que realizou os serviços de injeção. Conseqüentemente, a Autoridade Competente Indicada conduzirá todas as ações de manutenção e monitoramento do projeto para garantir a sua confiabilidade. A independência da Autoridade Competente Indicada é um fator crítico em um projeto de CCS. É fato que as ações da Autoridade Competente Indicada envolverão tanto o poder governamental quanto a iniciativa privada, instituições nãogovernamentais e a própria sociedade e, para que a condução de um projeto de CCS seja realizada sem qualquer interferência, sua independência é um ponto que merece destaque. A Figura 28 apresenta a aplicação de um modelo de regulação para os projetos de CCS no Brasil, que vem sendo discutido pelo autor desta tese desde sua pesquisa de mestrado e apresentado em diversos congressos técnicos sobre o tema e em jornais científicos internacionais. É importante destacar que esta proposta teve como referência a regulação atual brasileira para a exploração e produção de petróleo e gás, além da regulação ambiental vigente. Na proposta apresentada, a aplicação das tecnologias de CCS em um projeto foram divididas em quatro etapas, denominadas de Projeto/Pesquisa, Armazenamento de CO2, Monitoramento Pós Injeção e Pós Encerramento. A etapa de Projeto/Pesquisa é direcionada para a elaboração do projeto de CCS e suas atividades iniciais com o intuito de qualificar o local onde será implantado o 10 4 projeto de CCS. Nela, está inserida uma fase de pré-projeto na qual faz parte todo o processo licitatório do projeto de CCS. Ela contém as responsabilidades financeiras (seguros e sanções) e ambientais, principalmente com relação às licenças. A operação, nesta etapa, está relacionada com os primeiros estudos sísmicos (se necessários) e testes no reservatório para a injeção. Em todas as etapas, a necessidade de apresentação de relatórios de acompanhamento é crítica. Nas etapas em que existe a figura de um Operador, os relatórios deverão ser apresentados à Autoridade Competente Indicada que deverá aprová-los ou não. Esta etapa poderá ser realizada por uma empresa proponente de um projeto de CCS, que deverá apresentá-lo à Autoridade Competente Indicada que julgará a sua relevância e aprovação. A segunda etapa é composta pelo início do armazenamento em escala do CO2 no reservatório. Para tanto, todas as instalações já devem estar prontas, assim como a obtenção das licenças de operação. Nesta etapa, também são necessárias novas garantias financeiras (seguros e sanções). Além dos relatórios de acompanhamento, o Operador deverá apresentar o Programa Anual de Trabalho, no qual deverá constar o conjunto de atividades a serem realizadas no decorrer do ano, e o Programa Anual de Armazenamento no qual o operador deverá discriminar as previsões de armazenagem, oriundas do processo de armazenamento de cada local/área. Nesta etapa, todo o monitoramento será feito pelo Operador cabendo às Autoridades Competentes ou uma organização independente contratada as inspeções e fiscalizações. A terceira etapa, denominada de Monitoramento Pós Injeção, é caracterizada pelo encerramento das atividades de injeção do CO2 no reservatório geológico e a transferência da responsabilidade do Operador para a Autoridade Competente Indicada. Esta transferência é caracterizada pelo documento que representa o aceite do encerramento. A partir da assinatura deste documento, o Operador não tem mais responsabilidades sobre o armazenamento, cabendo à Autoridade Competente Indicada dar continuidade às atividades necessárias. Por fim, a etapa de Pós Encerramento, na qual existem as operações de manutenção do reservatório, principalmente no poço, os monitoramentos necessários e a elaboração de relatório de acompanhamento. Tudo isso a ser realizado pela Autoridade Competente Indicada ou um terceiro. Nesta etapa, serão mantidas todas as inspeções necessárias para a verificação das condições do reservatório e do meio ambiente (lençóis freáticos e fauna e flora da superfície, dentre outros) a serem realizadas por demais Autoridades Competentes. 105 Figura 28 - Representação das atividades previstas em um projeto de CCS para o Brasil, suas sequencias, etapas e responsabilidades.. Fonte: elaboração própria. Tendo como base o modelo apresentado do marco regulatório do CCS no Brasil faz-se necessário ampliarem-se as discussões em questões críticas que envolvem o modelo apresentado e qualquer outro modelo regulatório para o armazenamento geológico do CO2. Todo o marco regulatório para o CCS em um país deve apresentar definições específicas, determinar as relações entre as autoridades competentes, nomear as autoridades competentes indicadas para conduzir o CCS no país e conter a base para que seja desenvolvida toda a regulação infra legal necessária (resoluções, portarias, regulamentos, normas técnicas, etc.). Uma questão que precisa ser abordada e definida no marco regulatório é o direito à propriedade do CO2 durante as etapas de armazenamento e monitoramento pós injeção. Outra questão também importante é a especificação da substância a ser injetada. As propostas de projeto de CCS devem ser iniciadas pela autoridade competente indicada com a identificação de uma área emissora formada por fontes estacionárias, análise da melhor forma de transporte e a seleção inicial dos locais. Sendo que deve caber ao operador a apresentação do estudo de viabilidade técnica, e quando aplicável, econômica desta proposta de projeto. Caso a proposta de um projeto seja apresentada por uma empresa, ela deverá ser aprovada pela Autoridade Competente Indicada. As 10 6 funções e responsabilidades de cada ator na estrutura de um projeto de CCS devem estar muito bem definidas. As principais fontes de recursos no sistema regulatório para o CCS seriam a cobrança de taxas ou impostos dos emissores de CO2 e a obtenção de possíveis créditos de carbono provenientes dos projetos de CCS. Os recursos devem ser vinculados às autoridades competentes indicadas assim como a sua prestação de contas. A estrutura necessária para a regulação do CCS não pode ter impacto significativo no valor total de um projeto de CCS nem no valor do CO2 armazenado. Esta é uma premissa que deve ser seguida durante toda a estruturação do sistema regulatório do CCS no Brasil e na sua execução. Estes custos não podem ser empecilho para a concepção e operação de um projeto de CCS e não devem ser um item crítico para a Autoridade Competente Indicada, nem para o emissor, quanto menos para o Operador envolvido em um projeto de CCS. A citação da existência de CO2 armazenado no documento de posse das propriedades que estão localizadas em áreas dos projetos de CCS deve ser uma ação prevista na regulação do CCS no Brasil. A seleção do local onde será feita a armazenagem do CO2 é outra questão relevante em um projeto de CCS. Existem critérios técnicos relacionados com as características do CO2 a ser armazenado que devem impactar na seleção do local e que precisam ser levados em consideração, como sua topografia (vales e depressões são potenciais acumuladores de CO2) e a falta de ventos constantes que ajudaria a dissipar o CO2 em casos de vazamentos ou fugas. As questões sócio-econômicas dos locais também devem ser levadas em consideração. É necessário estabelecer um limite mínimo das quantidades totais de injeção de CO2 num reservatório geológico para que um projeto seja considerado um projeto de CCS. Um exemplo que pode ser tomado como referencia é o da proposta da União Europeia, que estipula uma quantidade mínima de 100.000 toneladas. Esta medida se faz necessária para que atividades como as de recuperação avançada de hidrocarbonetos, que não têm a finalidade de armazenamento geológico de CO2 e sim de tecnologias de recuperação de hidrocarbonetos, não sejam consideradas como CCS. Contudo, elas poderão ser consideradas se forem previamente planejadas para atender às especificações de um projeto de CCS após a recuperação dos hidrocarbonetos existentes. 107 A necessidade de pagamento ao proprietário da posse das terras, assim como aos Estados e Município, é uma questão relevante na regulação do CCS e precisa ser analisada e tratada claramente. A princípio, devido à proximidade com a indústria do petróleo, pode-se aproveitar o que atualmente é praticado, estabelecendo um paralelo com os royalties e demais impostos pagos. Para as situações em que a injeção do CO2 é utilizada para a recuperação de hidrocarbonetos, deve-se manter o vinculo dos pagamentos a serem feitos com a produção do óleo ou gás. Já para a implantação de um projeto específico de CCS, caracterizado exclusivamente pela injeção do CO2 no reservatório geológico, deve-se relacionar os pagamentos de impostos e royalties à tonelada de CO2 injetada. É certo que estes pagamentos deverão ser feitos pela autoridade competente indicada, gestora do projeto, e vinculado ao volume de CO2 injetado no reservatório geológico. Outros tipos de benefícios como isenção de impostos para o Município que abrigar um projeto de CCS também podem ser aplicados. A definição do prazo pelo qual o Operador terá responsabilidade sobre a injeção realizada é outro ponto importante a ser contemplado na regulação do CCS. Em função do longo período de duração do armazenamento geológico do CO2, a proposta da União Europeia estabeleceu um período de 30 anos de responsabilidade para o Operador. Todavia, faz-se necessária uma análise para o estabelecimento destes prazos em virtude das peculiaridades e contexto do Brasil. É importante destacar que a proposta da regulação brasileira para o CCS deve prever situações em que os cenários estabelecidos sejam os piores possíveis. Ela precisa descrever mecanismos claros quanto a fugas e as piores conseqüências que estas fugas podem acarretar; falência de Operadores; parada de um projeto por motivos de força maior; a extinção das Autoridades Competentes Indicadas; dentre outros. Quanto a Autoridade Competente Indicada para a conduzir as questões dos projetos de CCS verifica-se a maior aderência com a ANP. Alguns pontos devem ser levados em consideração na decisão da indicação da autoridade competente para o CCS, são eles: a proximidade com a indústria de exploração e produção de petróleo e gás natural e sua regulação, a existência e experiência em regulação nos processos de injeção de substâncias no subsolo como a água produzida, a experiência na regulação do transporte de óleo e gás natural, quantidade de dados existentes provenientes das atividads sísimicas já realizadas, dentre outros. 10 8 4.2 FATORES TÉCNOLÓGICOS E ECONÔMICOS As questões relacionadas com a perspectiva técnica-econômica neste trabalho abrangem não somente a discussão sobre os tipos de técnicas e valores de referência para o uso destas técnicas. A discussão também aborda as questões teóricas envolvidas na definição de uma tecnologia ambiental e os instrumentos econômicos atuais que vêm sendo utilizados pelos países na difusão das tecnologias de CCS 14. No que tange ao fator tecnológico, a discussão inicial deve passar pela definição das tecnologias de CCS, enquanto tecnologias ambientalmente amigáveis, entretanto há a necessidade de discuti-las mais profundamente quanto a sua classificação. Lloyd e Subbarao (2009) sugerem que seria necessário mudar a tradicional economia baseada em combustíveis fóssil e desenvolver alternativas para um sistema de produção de energia livre de carbono, por meio de energias renováveis com o objetivo de alcançar uma economia ambientalmente sustentável. As questões envolvendo sustentabilidade têm atraído a atenção em fóruns políticos, educacionais, técnicos, sociais, econômicos e ambientais. Diversos autores discutem terminologias e definições referentes a ações sustentáveis. Observa-se que nestas definições sempre esta envolvido o conceito de produção mais limpa. A primeira definição amplamente usada de produção mais limpa foi a apresentada pelo United Nations Environment Programme (UNEP) em 1989 em Paris. Glavič and Lukman (2007) afirmam que o conceito de produção mais limpa tem atraído muito interesse nas últimas décadas e que, atualmente, eles o definem como: “... um conceito sistematicamente organizado para produção de atividades as quais tem efeitos positivos no meio ambiente. Estas atividades incluem a minimização de recursos, a melhoria da eco-eficiencia e a redução na fonte, consequentemente para o aumento da proteção ambiental e redução dos riscos dos organismos vivos”. 15 Além da definição de produção mais limpa, há a necessidade de entender o conceito de tecnologia mais limpa. O International Centre for Environmental Technology Transfer (ICETT) define tecnologia mais limpa como um processo produtivo que por sua natureza ou intrinsecamente (2012): - reduz a produção de efluentes ou de outros resíduos, 14 A discussão apresentada neste item 4.2 foi objeto de um trabalho apresentado no 3rd International Workshop on Advances in Cleaner Production realizado em 2011 em São Paulo por George Câmara, A. Silva Júnior, José Célio Andrade e Paulo Rocha. Este trabalho ganhou uma menção honrosa no evento e foi convidado a submissão ao Journal Cleaner Production e posteriormente teve sua aprovação e publicação neste periódico internacional. 15 Tradução livre do autor deste trabalho. 109 - maximiza a qualidade dos produtos, e - maximiza o uso das matérias primas, energia e outras entradas no processo. Ainda, segundo o ICETT (2012), uma tecnologia é usualmente comparada com outras tecnologias ou processos. Uma tecnologia mais limpa pode ser considerada uma componente das atividades de produção mais limpa, com um foco nos processos industriais existentes, e considerando a integração de sistemas produtivos melhores que minimizam os danos ambientais e maximizam a produção eficiente de muitos ou de todos os seus inputs. Atualmente, as tecnologias mais limpas são definidas como as modificações de um processo que minimize ou elimine algum efeito ambientalmente danoso. Estas modificações poderiam incluir a introdução de tecnologias modernas de controle, mudanças nos tipos de matérias prima, ou o uso adicional de materiais (Kuehr, 2007). No que diz respeito às tecnologias ambientais, para Jabbour (2007), elas se relacionam com o desenvolvimento de produtos e processos verdes, envolvendo tecnologias que reduzem o consumo de energia, previnem a poluição e reciclam os resíduos. Assim, segundo Gouldson e Murphy (1998), a incorporação de tecnologias ambientais no sistema produtivo vai fazer com que seja necessária a compatibilização entre crescimento econômico e proteção ambiental. Específicamente quanto à definição das tecnologias ambientais, pode-se observar uma grande diversidade de nomenclaturas, tanto na literatura nacional como na internacional, havendo, assim, uma pluralidade de termos que se relacionam a consideração de fatores ambientais no desenvolvimento tecnológico. As tecnologias ambientais seriam o desenvolvimento de hardwares ou softwares que, por meio da adoção de novos conceitos de design, equipamentos e procedimentos operacionais, passam a incorporar práticas de melhoria contínua de desempenho ambiental, principalmente por utilizar matérias-primas de baixo impacto ambiental, processá-las de forma eficiente, fomentar o reaproveitamento e o mínimo desperdício de seus produtos finais, alterando um dado ciclo produtivo (Jabbour, 2010). Jabbour (2010) as classifica em: tecnologias de controle e prevenção da poluição; tecnologias de mensuração e organizacionais, além das tecnologias de impacto ambiental nulo. Os conceitos de Lenzi (2006), que são aderentes aos supracitados de Jabbour (2010), pois define que as tecnologias ambientais são divididas em tecnologias de controle e tecnologias mais limpas, sendo que, as primeiras possuem foco no tratamento 11 0 de resíduos (end of pipe) e as segundas, na prevenção da poluição. Contudo, para Kemp, Smith e Becher (2000), além das tecnologias mais limpas e de fim de tubo (end of pipe), existe uma terceira, que seria a reciclagem. O uso da reciclagem nos processos produtivos apresenta tanto características de tecnologia end of pipe, quando se trata de reciclagem externa, quanto de tecnologias mais limpas, quando acontece em modificações integradas de produto e processo (Kemp, Smith e Becher, 2000). Para Madruga e Nascimento (1999), o aspecto da tecnologia ambiental é preponderante para um quadro de prevenção da poluição, pois, através de tecnologias mais limpas, é possível aumentar a eficiência no uso de matérias-primas, água e energia, através da não geração, minimização ou reciclagem de resíduos gerados num processo produtivo. Busca-se, com a prevenção da poluição, a reversão do quadro de tratamento de resíduos através de uma abordagem sistêmica ou holística. Segundo o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS, 2011), a prevenção da poluição, através de tecnologias mais limpas, busca eliminar a poluição durante o processo de produção e não no final dela. Isso porque todos os resíduos que a empresa gera custaram dinheiro, pois foram comprados a preço de matéria-prima e consumiram insumos como água e energia. Uma vez gerados, continuam a consumir dinheiro, seja sob a forma de gastos de tratamento e armazenamento, seja sob a forma de multas pela falta de cuidados, ou ainda pelos danos à imagem e à reputação da empresa. Para o Centro Nacional de Tecnologias Limpas (CNTL, 2011), a mudança nos paradigmas ambientais induz as empresas a se voltarem para a origem da geração de seus resíduos sólidos, emissões atmosféricas e seus efluentes líquidos. Isso acarreta na busca por soluções nos seus próprios processos produtivos, minimizando, assim, o emprego de tratamentos convencionais de fim de tubo, muitas vezes onerosos e de resultados não definitivos para os resíduos. Conforme Mello e Nascimento (2002), é importante salientar as diferenças sutis que, muitas vezes na prática, são empregadas como sinônimos entre os conceitos de produção mais limpa, produção limpa, prevenção da poluição, tecnologias limpas, tecnologias mais limpas e tecnologias de fim de tubo ou end of pipe. Produção mais limpa é um conceito definido pela UNIDO/UNEP que estimula atitudes voluntárias por parte das indústrias, independentemente do alcance da legislação ambiental, e se configura como uma aplicação continuada de uma estratégia ambiental preventiva e 111 integrada aos processos, produtos e serviços. Já a prevenção da poluição é um conceito bastante semelhante à produção mais limpa, criado pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA), pois refere-se a qualquer prática, processo, técnica ou tecnologia que vise à redução ou eliminação em volume, concentração e/ou toxidade dos resíduos na fonte geradora. Por fim, quanto ao conceito de produção limpa, que foi criado pela organização não governamental ambientalista Greenpeace, este é mais restritivo do que o da produção mais limpa, pois a primeira propõe produtos atóxicos e o uso de fontes de energia renováveis, a produção mais limpa estimula a redução da toxidade e o uso mais eficiente da energia. Ainda, segundo Mello e Nascimento (2002), o mesmo acontece com os conceitos de tecnologias mais limpas e tecnologias limpas, pois tecnologias limpas são metas que devem ser perseguidas, mas difíceis de serem atingidas na prática, pois sempre haverá um tipo de impacto ambiental. Já as tecnologias mais limpas atuam na prevenção da poluição e causam menor impacto do que outras tecnologias com as quais está se comparando. Quanto às tecnologias de fim de tubo, ou end of pipe, são as tecnologias utilizadas para o tratamento, minimização e inertização de resíduos, efluentes e emissões, ou seja, atuam visando remediar os efeitos da produção depois que a poluição foi gerada no processo produtivo. Para Kiperstok (2006), as tecnologias de fim de tubo não são capazes de deter o avanço da degradação ambiental, quanto mais de gerar as mudanças requeridas, pois tais tecnologias se aplicam depois da geração dos resíduos, ou seja, não há uma preocupação com a prevenção da poluição, uma vez que são considerados como inevitáveis no processo produtivo. Mello e Nascimento (2002) e Jabbour (2010) afirmam que a prevenção da poluição através de tecnologias mais limpas focam no potencial de ganhos diretos no mesmo processo de produção, e de ganho indireto pela eliminação de custos, associados com o tratamento e a disposição final de resíduos, desde a fonte, ao menor custo e com períodos curtos de amortização do investimento. As tecnologias mais limpas se caracterizam pela adoção de qualquer medida de mudança ou transformação de métodos utilizados para reduzir, ou melhor, eliminar já na fonte a produção de qualquer tipo de poluição, e, ao mesmo tempo, de racionalizar o uso de recursos naturais ou não. Dessa forma, valoriza-se o conceito dos 3Rs: redução, reutilização e reciclagem, sendo que a disposição da ordem dos 3Rs não é aleatória, pois quanto mais as tecnologias e práticas de produção mais limpa tendam para a redução de 11 2 emissão de resíduos, mais elas estarão ligadas à redução na fonte, ou seja, serão transformações relevantes na matriz do processo produtivo. Ao passo que, quanto mais essas mesmas práticas atuem no tratamento dos resíduos do processo produtivo, a mesma tenderá a práticas de fim de tubo (LaGrega et al., 1994). Essa afirmação pode ser evidenciada pela Figura 29, que demonstra os diversos tipos de posicionamento que uma corporação pode adotar para a redução da poluição. Quanto mais o posicionado para o lado direito do quadro, as práticas tenderão a ser de fim de tubo (end of pipe), por outro lado, quanto mais estiver tendendo para o lado esquerdo, o processo estará voltado para a redução de resíduos na fonte, colaborando para a produção e consumo sustentável. Figura 29 - Técnicas para Redução da Poluição. Fonte: Lagrega et al. (1994). No que tange à redução na fonte, a EPA (1988) afirma que o passo inicial é repensar o produto, e esse repensar implica em mudanças no produto, compreendendo sua substituição, conservação ou alterações na sua composição a fim de atender ás exigências ambientais. Outra possibilidade, segundo Kiperstok (2002), pode ser mudança no processo através de mudança de insumos, usando materiais menos tóxicos e mais eficientes ou de tecnologia, tornando o processo mais eficiente através da busca do resíduo zero. 113 Quando as ações de redução na fonte não são capazes de evitar a geração de resíduos, opta-se então pela reciclagem interna/externa, através de técnicas de uso e reuso quando não se requer modificações no resíduo. O material retorna diretamente ao próprio processo gerador, sendo utilizado como componente ou intermediário na fabricação de um produto (Kiperstok, 2002) Numa análise conceitual inicial da tecnologia de CCS, vinculada a sua aplicação somente para o armazenamento geológico do CO2 oriundo de processos industriais, emitidos por fontes estacionárias, ela deve ser considerada como uma tecnologia de fim de tubo (end of pipe). Haja vista que, conceitualmente, as tecnologias de fim de tubo (end of pipe) preconizam estratégias de controle, visando remediar os efeitos da poluição gerada nos processos produtivos. Para tanto, deve-se considerar o CO2 como um resíduo industrial e o seu armazenamento em reservatórios geológicos tendo como objetivo evitar e controlar sua emissão. Em contraponto a esta afirmação, tem-se o uso do CO2, como insumo, para a recuperação avançada de petróleo ou gás. Nesta situação, a tecnologia de CCS deve ser considerada em outra classificação. Principalmente, se a obtenção do CO2 não for originária de processos industriais e sim de fontes naturais como os reservatórios geológicos de CO2 localizados nos EUA. Algumas tecnologias para o armazenamento geológico do CO2 como EOR, EGR e ECBM adicionam valor ao CO2 armazenado nos reservatórios geológicos devido à injeção proporcionar o aumento na produção de óleo, gás natural ou metano, diferente de um projeto que vise somente o armazenamento do CO2. Haja vista que, projetos que não adicionam valor, o foco do armazenamento é somente com o objetivo de prevenir as emissões de CO2 na atmosfera (APEC, 2005). As tecnologias de CCS devem ser analisadas de forma distintas em seus diversos tipos de opções, podendo ser considerada uma tecnologia de transição entre as tecnologias de fim de tubo (end of pipe) e as tecnologias mais limpa, enquanto se busca uma nova economia mais sustentável e menos intensiva em carbono ou simplesmente uma tecnologia estritamente de final de tubo, adotada para perpetuar um modelo de desenvolvimento econômico insustentável e totalmente dependente de combustíveis fósseis. Assim, tendo como referência a classificação de LaGrega et al. (1994), apresentada na Figura 29, a tecnologia CCS poderia ser classificada como uma estratégia de reciclagem interna/externa. 11 4 Como o caminho para que ocorram as mudanças entre o antigo modelo de desenvolvimento, a proposta de uma modelo sustentável é longo e entende-se que não pode ser realizado sem que ocorra um período de transição, a opção do uso de tecnologias, como as de CCS, é crítica para contribuir na busca pela sustentabilidade. Segundo Batista (1993), antes que novas e melhores tecnologias ambientais sejam uma constante no mercado, tem-se que passar por um período de transição entre o antigo modo de produção de tecnologias de fim de tubo, ou end of pipe, e o novo, promoção de tecnologias mais limpas, visando o caminho de práticas ambientais que promovam um desenvolvimento mais limpo. É coerente afirmar, portanto, que as tecnologias de CCS podem ser consideradas como tecnologias de transição entre as tecnologias de fim de tubo (end of pipe) e as tecnologias mais limpas, conforme o dito anteriormente, a depender do tipo de resposta estratégica frente às mudanças climáticas e à busca de um desenvolvimento mais sustentável, adotada pelas empresas que as utilizam, principalmente as ligadas ao setor de energia. A definição quanto ao tipo de classificação a ser empregado às tecnologias de CCS e o seu uso são extremamente importantes na definição do marco regulatório específico para essas tecnologias, além disso, na definição da forma de atuação do setor público, pois se, o uso das tecnologias de CCS tem por objetivo adicionar valor à produção de óleo, gás natural ou metano, a participação do setor público deveria ser de forma diferenciada à uma opção que não vise o ganho adicional e que tenha somente o foco no armazenamento do CO2 com o objetivo de evitar a sua emissão na atmosfera. 4.2.1 Discussão sobre os Fatores Tecnológicos As questões relacionadas com os fatores tecnológicos estão vinculadas à captura ou separação, transporte e armazenamento do CO2. O propósito delas, neste item do trabalho, é apresentar de forma mais prática as tecnologias de CCS para que possam ser analisadas e aplicadas no estudo de caso. Para tanto, a discussão apresentada neste item foi enriquecida com a disponibilização do estudo realizado pela Petrobras denominado “Avaliação do Potencial de Utilização de CO2 para a Explotação de Jazidas de Óleos em Campos Maduros”. O projeto foi executado pelo Centro de Estudos em Petróleo e Gás Natural (CEPGN) da UNIFACS no período de 01/01/2005 a 30/05/2007. Sendo considerada a 115 segunda etapa de um projeto maior, do qual a primeira etapa foi o projeto “Utilização de Gás Carbônico para a Explotação de Jazidas de Óleos da Bacia do Recôncavo” realizado no período de 01/01/2002 a 30/06/2004. O projeto teve como objetivo investigar a viabilidade técnica e econômica da utilização de CO2 na explotação de jazidas de óleo em campos maduros, através da definição do potencial do CO2 para a produção de óleo e da elaboração de projetos conceituais e estudos econômicos de unidades de produção de CO2 em altas concentrações. Os achados do projeto serviram como referência para as discussões sobre as etapas de captura e transporte e todas as análises econômicas desta pesquisa. 4.2.1.1 Captura e Separação Dos três principais tipos de captura apresentados no item 1.2 do Capítulo 1 deste trabalho, são diversos os estágios em que se encontram as tecnologias. Algumas já estão disponíveis comercialmente ou em fase de teste (piloto) e outras, ainda em P&D, estão sendo desenvolvidas em laboratório sem ainda passar para a etapa de E&I. O Departamento de Energia do Governo dos Estados Unidos (US DOE), em particular o Escritório de Energia Fóssil – (Office of Fossil Energy) realizou via o National Energy Technology Laboratory em 2007 o estudo denominado Carbon Sequestration Technology Roadmap and Program Plan 2007. Neste trabalho, é apresentado o estágio em que se encontram as tecnologias de captura de CO2. A Figura 30 representa, de forma condensada, a situação das tecnologias de captura do CO2, seus desafios críticos, rotas já percorridas ou a serem percorridas no que diz respeito ao desenvolvimento das tecnologias. Além disso, também apresenta as rotas a serem percorridas dentro de um contexto maior das tecnologias de captura de CO2 inseridos no CCS. Pode-se observar que diversas são as tecnologias de captura do CO2,dentre as quais poucas estão disponíveis comercialmente. Segundo Chapel et al. (1999), a Dow Chemical e a Union Carbide desenvolveram a Monoetanolamina (MEA) para a recuperação de CO2 em combustão de gases nas décadas de 70 e 80 inicialmente para o mercado de EOR. Esta MEA foi denominada de GAS/SPEC FT-1TM que mais tarde viria a ser vendida para a Fluor Daniel, Inc. em 1990. 11 6 Figura 30 – Rotas das Technologias de Captura do CO2- US DOE CO2. Fonte: US DOE Office of Fossil Energy, (2007). Nota: tradução livre do autor. A partir da situação das tecnologias de captura apresentada na Figura 30, foi elaborado o Quadro 4 que apresenta as principais tecnologias de captura de CO2 disponíveis comercialmente com o nome comercial e o fabricante de cada uma delas. No levantamento realizado, pode-se verificar a presença muito intensa da empresa Dow Chemical com produtos disponíveis comercialmente em diversos tipos de tecnologias de captura do CO2. No estudo feito pela Petrobras “Avaliação do Potencial de Utilização de CO2 para a Explotação de Jazidas de Óleos em Campos Maduros” foram mapeadas diversas correntes de emissões gasosas industriais no Estado a Bahia e identificadas as que continham uma elevada presença de concentração de CO2, sendo que concentração mínima de CO2 desejada foi da ordem de 99% mol, livre de contaminantes. Basicamente o estudo identifica as correntes gasosas próximas à Bacia do Recôncavo, sendo provenientes de: combustão de gás natural, combustão de biomassa, turbina a gás 117 e cimenteira. As vazões que despertavam algum interesse estavam na faixa de 500 a 5.000 toneladas de CO2 por dia. Tipo de captura ou separação Póscombustão Tecnologia empregada Solventes químicos Aminas Descrição ou nome comercial Fabricante Monoetanolamina (MEA) GAS/SPEC FT-1TM Dow Chemical Company Monoetanolamina (MEA) Fluor Econamine FG SM e Econamine FG Plus SM Fluor® Digycolamine (DGA® ) Huntsman Corporation KS® series solvents (KS-1, KS-2 e KS-3.) Cansolv Absorbent DC-101 HTC Purenergy Kansai Electric Power Company (KEPCO) e Mitsubishi Heavy Industries (MHI) Cansolv Technologies Inc.(CTI) HTC CO2 Systems Corp. TM AMP (2-amino-2-methyl-1propanol) Chilled ammonia Amônia aquosa ECO TM system Dow Chemical Company Alstom e EPRI NETL e Powerspan TM Dow Aminas Solventes químicos Carbonato de potássio Tetrahydrothi ophene Glicol Pré-combustão Solventes físicos Oxycombustão Fornecimento de oxigênio Metanol N-methyl-2pyrolidone (NMP) Produção de oxigênio criogênico (destilação) Diethanolamine (DEA) Methyldiethanolamine (MDEA) Flexsorb™ PS Dow Chemical Company, BASF e outros ExxonMobil Ucarsol™ LE Amisol Dow Chemical Company Lurgi Germany Benfield UOP Sulfinol Shell Selexol™ Dow Chemical Company Linde AG, Lurgi AG e Lotepro Corporation Rectisol Dow Chemical Company Purisol Lurgi AG Air Separation Units (ASU) Air Products e Praxair Quadro 4 – Tecnologias de captura do CO2 disponíveis comercialmente. Fonte: elaboração própria. 11 8 Em função do estágio de desenvolvimento a tecnologia de separação do CO2 tanto de correntes líquidas como gasosas por membranas foi discutida no estudo da Petrobras, já que segundo o estudo: “...a aplicação comercial da separação de CO 2 de metano por membranas tem sido utilizada com sucesso no tratamento de gás natural, recuperação de CO 2 em recuperação avançada de petróleo, entre outros. Nestes casos específicos, quando a corrente de gás está a baixas pressões, a absorção por aminas é notadamente o processo mais viável economicamente, porém, quando esta corrente está a altas pressões, utilização de membrana pode vir a ser a tecnologia mais adequada. Este é o caso da corrente de gás de poço, provenientes da produção de petróleo e gás natural. Nesta corrente, a composição de CO2 varia consideravelmente durante a produção” (Petrobras, 2007). De maneira mais direcionada para as atividades do estudo da Petrobras, o mesmo apresenta o Quadro 5, contendo exemplos de processos industriais de separação de gases por membrana segundo Nunes e Peinemann, (2001). Sendo assim, para orientar as discussões do estudo para a seleção da melhor tecnologia a ser empregada na separação do CO2 nas correntes gasosas, levou-se em consideração, além das questões comerciais, localização geográfica, problemas relacionados à corrosão do sistema, fornecimento de insumos e transporte do produto. Para dar suporte à decisão para a seleção da tecnologia, o estudo utilizou o diagrama esquemático de Shaw e Hughes (2001) para servir de referência na escolha da rota tecnológica mais adequada para a recuperação do CO2 de correntes industriais gasosas. A Figura 31 apresenta o diagrama esquemático presente no estudo da Petrobras (2007). Após a análise inicial, o estudo da Petrobras (2007) agrupou as correntes industriais gasosas selecionadas em quatro correntes típicas, representativas das principais emissões gasosas geradas pelas indústrias localizadas na Bacia do Recôncavo, ou próximas, que corresponderam a fontes de emissões gasosas provenientes de: - Combustão de gás natural; - Combustão de biomassa; - Turbina a gás; - Cimenteira; - Siderúrgica. 119 Mistura gasosa Aplicação Fornecedores O2/N2 Geração de N2 e enriquecimento de O2 A/G Technology Permea (Air Products) Generon (Messer) Medal (DuPont, Air Liquide) IMS (Praxair) Aquilo (Parker Hannifin) Ube H2/ Hidrocarbonetos Recuperação de H2 de refinaria Air Products, Air Liquids, Praxair CO2/ Hidrocarbonetos Tratamento de gases ácidos Recuperação avançada de petróleo Captura de CO2 para confinamento subterrâneo Kvaerner (Grace Membrane System), Air Products, Ube H2S/ Hidrocarbonetos Tratamento de gases ácidos Kvaerner (Grace Membrane System), Air Products, Ube H2O/Hidrocarbonetos Desidratação de gás natural Kvaerner, Air Products Hidrocarbonetos/ar Controle de poluição e recuperação de hidrocarbonetos MTR, GMT, NKK Hidrocarbonetos de correntes de processo Recuperação de solventes orgânicos MTR, GMT, SIHI CO2/correntes gasosas Recuperação de CO2 UOP Quadro 5 – Exemplos de processos industriais de separação de gases por membranas. Fonte: Nunes e Peinemann (2001). Traduzido por Petrobras (2007). Além destas fontes de emissão gasosa, também foi estudada uma corrente gasosa proveniente da Refinaria Landulpho Alves em Mataripe (RLAM) e o processo de separação do CO2 oriundo da produção do óleo ou gás natural decorrente do uso de EOR. O processo de obtenção de CO2, a partir de correntes gasosas por absorção com amina, seguiu as seguintes etapas operacionais: - Captação e transferência da carga; - Remoção de NOx; - Resfriamento através de contato direto (quench); - Absorção do CO2 com amina; - Regeneração do solvente de absorção (amina); e - Compressão, secagem e transporte do CO2 produto. 12 0 Figura 31 – Gráfico de escolha da rota tecnológica para recuperação de CO 2. Fonte: Shaw e Hughes (2001). Traduzido por Petrobras (2007). A capacidade estudada, para a unidade de captura e separação, foi prevista para seis (06) faixas diferentes, sendo elas de: 500, 1.000, 1.250, 1.500, 2.000 e 2.500 t CO2/dia; O estudo da Petrobras (2007) teve como referência a planta base apresentada na Figura 32, projetada para a separação de CO2 por absorção com amina com sistema de geração de vapor. As condições operacionais, composições e propriedades das correntes de processo até a entrada da compressão, são independentes das condições adotadas como base, dependendo apenas da corrente típica em estudo. Além disso, as vazões das correntes são sempre proporcionais às obtidas na capacidade do caso base. 121 Figura 32 – Proposta de planta de separação de CO2 por absorção com amima – Sistema de Geração de Vapor Fonte: Petrobras (2007). Para a captura e separação do CO2 aplicados na EOR a planta proposta pelo estudo da Petrobras (2007) foi a apresentada na Figura 33. Sendo que os critérios utilizados para os projetos dos equipamentos das unidades foram os mesmos. Sendo que para as correntes gasosas decorrentes de EOR foram consideradas as seguintes características para a aplicação do estudo: - Composição de 15% de massa de CO2 e Vazão de 50 t/dia, - Composição de 35% de massa de CO2 e Vazão de 50 t/dia, - Composição de 60% de massa de CO2 e Vazão de 50 t/dia, - Composição de 60% de massa de CO2 e Vazão de 150 t/dia, - Composição de 60% de massa de CO2 e Vazão de 300 t/dia, - Composição de 75% de massa de CO2 e Vazão de 50 t/dia, - Amina KS1– Composição de 75% de massa de CO2 e Vazão de 150 t/dia, - Amina KS1– Composição de 75% de massa de CO2 e Vazão de 300 t/dia, - Amina KS1– Composição de 90% de massa de CO2 e Vazão de 300 t/dia. 12 2 Figura 33 – Processo de separação de CO2 de gás de EOR por meio de Absorção com Amina. Fonte: Petrobras (2007). Em função de algumas características do arranjo proposto no projeto do estudo, foi recomendado ainda uma pressão de, no mínimo, 75 psi (517 kPa) para o tambor de flash que tem por objetivo eliminar os gases arrantados da absorvedora, antes do glicol entrar na coluna regeneradora. Para tanto, foi estudado o processo de separação por absorção com amina via membrana seletiva para: - Membrana - Composição de 15% m de CO2 e Vazão de 50 t/dia, - Membrana - Composição de 60% m de CO2 e Vazão de 150 t/dia, - Membrana - Composição de 60% m de CO2 e Vazão de 300 t/dia. Como o estudo elaborado pela Petrobras também teve o objetivo de quantificar os valores da tonelada do CO2 a ser capturado, foi feita uma pesquisa junto a empresas licenciadoras das tecnologias de separação do CO2. Esta pesquisa teve o objetivo de obter informações sobre projetos de plantas de separação de CO2. Foram contatadas várias empresas: Air Products, Alcoa, Dow, Exxon, IFP, Linde, Lurge, Mitsubishi, Shell e UOP. Porém, apenas a Mitsubishi e a UOP enviaram informações, que foram utilizadas no cálculo preliminar do preço mínimo do CO2 (Petrobras, 2007). 123 A Mitsubishi enviou alguns dados técnicos e de custos da absorção de CO2 de gás de combustão com monoetanolamina (MEA) e com uma amina especial denominada de KS-1 (patente Mitsubishi). Já a UOP, forneceu uma quantidade de dados suficientes para a elaboração de toda uma estrutura de simulação e de estudo de viabilidade técnica e econômica, denominada de “Caso UOP”. Os dados enviados pela UOP são relativos a uma unidade industrial, projetada em 1981, cujo objetivo era separar CO2 de gás de combustão por absorção com MEA. A unidade da UOP foi projetada para recuperar 1.300 t/dia de CO2 de gases de combustão. Esta unidade operou de 1982 a 1984, quando saiu de operação devido à queda do preço do petróleo, que atingiu cerca de US$ 10/bbl -, tornando inviável a operação da unidade (Petrobras, 2007). 4.2.1.2 Transporte As opções para o transporte do CO2, das fontes emissoras ou naturais para o seu armazenamento em reservatórios geológico, são similares às opções de transporte de gases, podendo ser via dutos, caminhões, navios e trens. As diversas opções têm sido estudadas para os diversos tipos de projetos de CCS ao redor do mundo. Em cada opção listada podem ser identificados pontos positivos e negativos. Por exemplo, se a opção por dutos pode ser mais viável economicamente para um determinado arranjo de um projeto, por outro, pode ser mais onerosa do que a opção por trem ou caminhão. Já as opções por trem e/ou caminhão podem não ser tão eficientes quando se trata de um projeto de grande escala e, necessariamente o arranjo deste projeto requer uma compressão para injeção muito alta. Outro fator importantíssimo a ser considerado, na decisão da opção de transporte de um projeto de CCS, é a distância a ser percorrida entre a fonte emissora e o reservatório geológico. Segundo Sasaki (2004), o transporte mais comum se dá via dutos, onde a eficiência de transporte é elevada pela compressão do CO2 e tem sido considerada como o método mais eficiente, quando a distância até o local de armazenamento não é grande, caso contrário, o transporte por caminhões é preferível. De acordo com o IEA (2008), para distâncias menores que 1.000 km, o transporte por dutos tem geralmente custo efetivo maior quando comparado com transporte por navios e por caminhão, tendo sido utilizados nos Estados Unidos por mais de duas décadas com histórico comprovado de segurança. 12 4 De maneira geral, o transporte por dutos é composto pela tubulação e por compressores que devem transportar o CO2 em estado líquido ou supercrítico até o local de injeção. Em se tratando da compressão adequada para os compressores, a preferência da indústria é operar o gasoduto a mais de 10,3 MPa na entrada (ou seja, a pressão de descarga do compressor), de modo que o CO2 permaneça na fase supercrítica ao longo do gasoduto. Deve-se notar que, quando o CO2 permanece na fase densa, pode-se reverter para bombeamento em vez de compressão para atingir a maior pressão necessária (APEC, 2005). Diversos danos, relacionados com a especificação do CO2 que está sendo transportado, surgem em função do estado físico do CO2, das condições de temperatura e pressão, assim como da presença de outras substâncias misturadas ao CO2. Em função da vasta rede de dutos de transporte de CO2 e a participação de diversos atores que compõem esta rede, os Estados Unidos atualmente é o país que mais evoluiu na definição das especificações de transporte por dutos do CO2. O IPCC (2005) apresenta as especificações para o transporte do CO2 via dutos, baseando-se na experiência dos Estados Unidos (principalmente da experiência da empresa Seller) que, basicamente, apresenta as seguintes especificações: - CO2 - o produto deve ser composto de no mínimo de 95% de CO2 em moles. - Água – não deve conter água livre e mais do que 0.48 9 m-3 em vapor - Sulfeto de hidrogênio – não deve conter mais do que mil e quinhentas (1.500) parte por milhão em peso. - Enxofre – não deve conter mais do que mil quatrocentos e cinquenta (1.450) partes por milhão e peso. - Temperatura – não deve exceder de 48,9 oC. - Nitrogênio – não deve conter mais do que quatro por cento (4%) em moles - Hidrocarbonetos – não deve conter mais de cinco por cento (5%) em moles de hidrocarbonetos e o ponto de orvalho do produto não deve exceder 28,9 oC. - Oxigênio – não deve conter mais do que dez (10) partes por milhão em peso. - Glicol – não deve ter mais do que 4 x 10-5 L m-3. A condição operacional mais utilizada para o transporte do CO2 por dutos é a de manter o CO2 a uma pressão superior a sua pressão crítica. A pressão crítica do CO2 é de 7,4 MPa (1.070 psi) e o gasoduto do CO2 é usualmente operado a uma pressão entre 8 e 17 MPa (1.200 e 2.500 psi). Acima da pressão crítica do CO2, existe uma fase densa 125 com intervalo amplo de temperaturas. Isto é particularmente necessário para a tubulação em terra, onde a temperatura do duto está sujeita a alteração em função da temperatura ambiente. A operação do sistema com CO2, neste estado, evita problemas associados com o fluxo de duas fases na calha posterior e as fases de injecção. Fluxo de duas fases induz picos de pressão e é mais caro por causa da necessidade de dutos maiores ou a construção e operação de estações de compressão adicionais (Nguyen, 2003). É certo que todo o sistema de transporte por dutos a ser construído em um projeto de CCS precisa ter definida a pressão de saída do CO2 e a pressão para a injeção no reservatório geológico. Haja vista que há uma perda de atrito como os fluxos de CO2 através de um gasoduto. Normalmente, a perda de atrito pode variar de 4 a 50 kPa por km, dependendo do diâmetro do tubo, massa, taxa de fluxo de CO2 e do fator de rugosidade do tubo. Como regra, quanto maior o diâmetro do gasoduto, menor a perda de atrito. Assim, a fim de manter o CO2 na fase densa para o gasoduto todo, seria manter a pressão de entrada para o gasoduto a uma pressão alta o suficiente para superar todas as perdas e ainda acima de 7,38 MPa ou instalar postos de reforço a cada 100-150 km para compensar as perdas de pressão (APEC, 2005). Para a definição do diâmetro dos dutos, Nguyen (2003) apresenta uma série de diâmetros em milímetros e o seu equivalente em polegadas e suas respectivas faixas de vazão do CO2. Sendo que estas faixas de vazão do CO2 estão em metro cúbicos por segundo (m3/s) e milhões de pés cúbicos por dia (MMcfd). A Tabela 7, a seguir, apresenta os diâmetros da tubulação de um projeto de CCS e suas respectivas vazões Tabela 7 – Capacidades operacionais de dutos para o transporte de CO2 Diâmetro Faixa de Vazão (m3/s) Faixa de Vazão (MMcf/dia) mm 168 219 in 6 8 mínima máxima mínima máxima 8 10 23 16 21 48 31 64 273 10 28 38 84 115 324 12 43 55 130 168 356 14 56 77 170 235 406 16 75 108 230 330 180 400 550 131 507 20 Fonte: Nguyen (2003) Nota: tradução livre do autor. O estudo da Petrobras “Avaliação do Potencial de Utilização de CO2 para a Explotação de Jazidas de Óleos em Campos Maduros” realizou uma análise referente ao transporte do CO2, tendo como base uma faixa de distância da compressão do CO2 12 6 separado até a cabeça do poço de injeção de: 5, 50, 100, 150, 200, 250 e 300 km. Outra consideração feita para o estudo foi a pressão do gás de combustão, na entrada do poço para efeito de projeto, sendo consideradas as pressões de: 500, 1.000, 1.250, 1.500, 2.000 e 2.500 psig. Quanto às características do CO2 para o transporte, o estudo considerou, para o sistema CO2-H2O, o dado apresentado por Knapp et al.(1982) na faixa próxima à de trabalho do projeto com as composições molares de CO2 em equilíbrio com a água, a 99,999 bar abs e 383,15 K, são de 0,014 e 0,956, respectivamente. Já, quanto às propriedades físico-química e de transporte do CO2, o estudo considerou o comportamento do CO2 em suas quatro fases, gás, líquido, sólido e fluido supercrítico, tendo uma maior atenção ao ponto triplo. O ponto triplo é o ponto no qual o CO2 apresenta à determinada pressão e temperatura três fases (gás, líquido e sólido), podendo existir simultaneamente em equilíbrio termodinâmico. De maneira geral, em pressões acima do ponto triplo, o CO2 pode existir como um líquido. Além disso, outro fator importante destacado é que a definição de fluido supercrítico considera que o fluido é supercrítico apenas quando a pressão e a temperatura estão, ambas, acima dos seus valores críticos. Um fluido acima de sua pressão crítica, mas abaixo da temperatura crítica, por exemplo, é considerado um líquido. (Petrobras, 2007) Outros fatores importantes pesquisados no estudo da Petrobras (2007) foram a massa específica e a viscosidade do CO2, especificamente para efeito do cálculo da potência de compressão e, principalmente, da perda de carga da tubulação. A pesquisa realizada teve como referência os dados levantados no National Institute of Standards and Technology (NIST), instituto americano que regula padrões e medidas (NIST, 2003). Além dos dados do NIST, outra referência para os estudos da Petrobras (2007) foram os dados de massa específica e viscosidade apresentados por Sovová e Jaroslav, suplementarmente, foram obtidos pelo estudo dados calculados pelos modelos de um simulador. A Tabela 8 a seguir apresenta os dados levantados de massa específica e viscosidade do CO2 das três fontes listadas anteriormente (Petrobras, 2007). 127 Tabela 8 – Valores de massa específica e visosidade do CO2 Temperatura (K) 220 300 800 304 220 300 800 Pressão (bar abs) 1 1 1 70 150 500 750 Sovová e Jaroslav ρ(kg/m3) µ(µPa.s) 2,440 11,06 1,773 15,02 0,662 35,09 254,321 20,89 1194,86 274,22 1029,27 133,15 407,828 48,62 Desvio médio (%) Desvio máximo (%) Simulador A ρ(kg/m3) µ(µPa.s) 2,474 11,11 1,797 15,09 0,670 34,139 289,530 22,02 1181,53 237,31 1032,67 61,22 393,047 50,42 3,27 11,46 13,84 54,02 NIST ρ(kg/m3) µ(µPa.s) 2,439 11,06 1,773 15,02 0,662 35,09 254,070 20,89 1195,0 269,47 1028,9 132,41 405,95 48,62 0,09 0,33 0,46 1,73 Fonte: Petrobras (2007) 4.2.1.3 Capacidade de Armazenamento Uma das principais questões a ser avaliada e analisada em um projeto de CCS é a capacidade de armazenamento do CO2 no reservatório geológico. Já que cada tipo de opção de reservatório geológico tem suas peculiaridades. Estudos têm sido realizados e publicados no sentido de estabelecer conceitos para a definição da capacidade de armazenamento do CO2, nos reservatórios geológicos, a exemplo dos estudos de Bachu em 2001 e 2003 e, mais recentemente, em 2007 as publicações também de Bachu et al. e de Bradshaw et al. Além desses autores, cabe destacar também o trabalho da APEC (2005), já citada nesta tese, e o trabalho realizado em 2008 pelo CO2CRC. Neste trabalho, o CO2CRC define a capacidade de armazenamento sendo: Uma estimativa da quantidade de CO2 que pode ser armazenada em formações geológicas na subsuperfície. Devido às incertezas inerentes à avaliação da subsuperfícies a quantificação exata das propriedades geológicas não é possível e por isso a capacidade de armazenamento é sempre uma melhor aproximação da quantidade de CO2 que pode ser armazenado. A estimativa da capacidade de armazenamento, portanto, está confiada na integridade, habilidade e capacidade de julgamento do avaliador que são afetados pela complexidade geológica, estágio de exploração ou desenvolvimento, quantidade de dados disponíveis e quantidade existente armazenada. O uso de definições deve aguçar a distinção entre as várias classificações e fornecer documentos mais consistentes (CO2CRC, 2008). Segundo St John et al. (1984), existem mais de oitocentas (800) províncias sedimentares ao redor do mundo. Entretanto, não é possível o armazenamento geológico em todas. Bachu (2003) destaca a importância da avaliação das bacias em escala regional para a seleção do local de armazenamento do CO2, sendo que esta avaliação deve seguir critérios relacionados com: 12 8 1. As características da Bacia - relacionadas com a geologia, tectonismo, características geotérmicas e regimes hidrodinâmicos (estas são as características “hard” porque não mudam). 2. Os recursos da Bacia (hidrocarbonetos, carvão mineral, sal), maturidade e infraestrututra (estas características são “semi-hard” ou “semi-soft” porque podem mudar com novas descobertas, avanços das tecnologias e/ou desenvolvimento econômico). 3. As questões Sociais relacionadas com a região onde se encontra a Bacia, como o nível econômico, a economia, a estrutura e estabilidade política, educação pública e atitude (estas são as características “soft” porque podem mudar rapidamente ou variar de uma região para outra). Uma proposta para a avaliação técnico-econômica de uma região candidata para um projeto de CCS é apresentada na Figura 34. Quando a capacidade de armazenamento é calculada, diversos tipos de estimativas podem ser feitas, dependendo da natureza e proposta da análise. As seguintes nomenclaturas e definições são um guia preliminar e considera três categorias, sendo a capacidade teórica, a realista e a viável (Bachu et al., 2007): Capacidade Teórica - assume que a formação de um reservatório na sua totalidade é acessível para o armazenamento livre do CO2 em seu volume poroso, ou que a água contida no reservatório está totalmente disponível para dissolver o CO2 nela a uma saturação máxima, ou toda a massa de carvão mineral encontrada no reservatório está disponível para absorver o CO2 e armazená-lo a uma capacidade máxima de adsorção. Isto fornece um limite superior máximo de uma estimativa da capacidade, no entanto, é um número irreal, na prática, existirão sempre limitações técnicas e econômicas. Capacidade Realista - aplica-se uma variedade de técnicas de geológia e de engenharia, levando-se em consideração os dados das caracerísticas do reservatório como elementos de uma avaliação (por exemplo, permeabilidade e porosidade) e vedante, a profundidade, pressão, o tamanho do volume de poros do reservatório e a trapa (armadilha). Além disso, se podem existir outros interesses concorrentes que poderiam ser comprometidos pela injeção de CO2 (por exemplo, recursos existentes, tais como óleo, água carvão, gás, energia geotérmica, minerais, parques nacionais). Esta é uma estimativa muito mais pragmática, que pode ser feita com algum grau de precisão, ela dá indicações importantes sobre a viabilidade técnica de armazenamento de CO2. 129 Capacidade Viável - é a capacidade que se obtem considerando também as questões econômicas, barreiras legais e regulatórias para o armazenamento geológico de CO2 e, portanto, baseia-se na avaliação de capacidade realista. Detalhamento da fonte de emissão - sumidouro e sua corresponência é realizada nesta fase para combinar os melhores locais de armazenamento e sua próximidade às fontes de emissões de grandes dimensões. A correspondência entre a fonte de emissão e o sumidouro deve se estender para além dos aspectos apenas de geociências e engenharia, e incluem aspectos sociais e ambientais dos locais de armazenamento. Análise e simulações de custo também devem compor este nível. Uma vez alcançado este nível, pode ser possível a expressar em âmbito regional a capacidade como uma taxa anual sustentável de injeção, e não apenas como um volume total. Figura 34 – Pirâmide dos Recursos Técnico-econômico para a Capacidade de Armazenamento do CO2. Fonte: Bachu et al. (2007). Nota: tradução livre do autor. Em se tratando, especificamente, da capacidade de armazenamento do CO2 no reservatório geológico, de forma correlata ao apresentado acima para as análises de um projeto de CCS o CSFL (2007) também apresenta uma representação gráfica para a estimativa da capacidade de armazenamento por meio de uma pirâmide. Segundo Bachu et al. (2007), o cálculo de capacidade de armazenamento de CO2 no reservatório pode 13 0 ser obtido quando existem dados conhecidos como espessura, área e profundidade do reservatório, sendo possível calcular o volume total da formação, obtendo assim o valor geral da estimativa. Após este primeiro cálculo, refina-se este dado para o volume poroso que corresponde a uma parte do volume total do reservatório, obtendo-se assim o volume teórico. A Figura 35 ilustra as fases evolutivas do cálculo para a estimativa de armazenamento de CO2 em um reservatório geológico. Figura 35 – Pirâmide da Capacidade de Armazenamento do CO2. Fonte: CSFL (2007). Nota: tradução livre do autor. Dentre os tipos de opções para o armazenamento geológico do CO2, a estimativa da capacidade de armazenamento de CO2 em reservatórios de petróleo e gás é a mais simples, além de serem mais conhecidos e caracterizados do que os de carvão mineral e aquíferos, como resultado de exploração e produção de hidrocarbonetos. Além disso, ao contrário, leitos de carvão e aquíferos salinos profundos os reservatórios de petróleo e gás são distintos em vez de contínuos, de tal modo que a sua capacidade de armazenamento de CO2, em qualquer região específica e em qualquer escala, é dada pela soma das capacidades de todos os reservatórios e sua área é calculada com base em propriedades, tais como quantidade de óleo ou gás natural, original, fator de 131 recuperação, temperatura, pressão, porosidade da rocha e a densidade do CO2 in situ (Bachu, 2007). Quanto ao nível de conhecimento das opções para o armazenamento do CO2 em reservatórios geológicos, sabe-se que, devido ao tipo de atividade, a indústria de exploração e produção de petróleo e gás natural tem um maior conhecimento tanto das técnicas de obtenção de dados dos reservatórios geológicos como as de produção. Entretanto, a aplicação das tecnologias de injeção e armazenamento de CO2 em bacias não maduras é questionável. Existem diversos motivos para a preservação do armazenamento geológico do CO2 em bacias jovens produtoras de óleo e gás natural. Primeiro porque muito dos recursos dos hidrocarbonetos estão ainda por serem descobertos, com isso, existe uma questão sobre a possibilidade da contaminação dos hidrocarbonetos existentes. Segundo porque não existem nas bacias jovens reservatórios de óleo ou gás natural abandonados ou exauridos/depletados devido à sua idade de produção, com perspectiva de desenvolvimento e terceiro porque a geologia e hidrologia da bacia ainda não é bem conhecida (Bachu, 2001). O pressuposto fundamental adotado em cálculos de capacidade de armazenamento é que o volume anteriormente ocupado pelos hidrocarbonetos produzidos está disponível para o armazenamento do CO2. Esta suposição é geralmente válida para reservatórios em produção que não estão em contato com as condições hidrodinâmica de um aqüífero, ou que não têm a injeção de água durante a recuperação secundária ou terceária do óleo. Outro pressuposto importante é que o CO2 em reservatórios depletados/esgotados de petróleo ou gás natural pode ser injetado até que a pressão do reservatório seja trazida de volta à pressão original do reservatório. Em alguns casos, o esgotamento do reservatório pode danificar a sua integridade e/ou rocha de cobertura, e, com isso, a pressão não pode ser levada de volta para a pressão original do reservatório, consequentemente, a capacidade de armazenamento de CO2 do reservatório seria mais baixa, enquanto que, em outros casos, a pressão pode ser aumentada para além da pressão original do reservatório, desde que ela permaneça segura e abaixo da pressão capilar de entrada e do limiar de fratura da rocha selo (caprock). No entanto, o aumento da pressão de armazenagem para valores acima da pressão original do reservatório requer uma análise particular do reservatório, o que não é prático para uma avaliação em escala (Bachu, 2007). 13 2 Conforme a APEC (2005), quando os dados são insuficientes ou inexistentes, uma maneira de se estimar a capacidade de armazenamento de CO2 em um reservatório é considerar a produção e reservas de hidrocarbonetos (known hydrocarbon), no caso de uma bacia sedimentar, e converter (substituir) o volume de hidrocarbonetos por volume de CO2 (considerando-se a densidade do CO2 de 600 a 700 kg/m3 em profundidades entre 1.5 e 4 km, gradiente geotermal de 30-350 C/km, 10.5 MPa/km e fator de compressibilidade de 1.6). Em geral, o armazenamento em campos de óleo e gás é baseado no volume previamente ocupado pela produção de hidrocarbonetos que se torna disponível para o armazenamento do CO2, é representado pela seguinte equação (Machado et al., 2009): GCO2 = A hg φtot ρ E, onde: A= área geográfica hg= espessura do reservatório φtot= porosidade média/espessura (hg) ρ= densidade do CO2 E= taxa de porosidade efetiva Embora existam tentativas para avaliar a capacidade de armazenamento de CO2 em reservatórios geológicos, a maioria tem usado uma série de abordagens e metodologias e conjuntos de dados de tamanho e qualidade variável, resultando em ampla variedade de estimativas da capacidade de armazenamento inconsistentes e sem confiabilidade. Dos vários métodos para estimar a capacidade de armazenamento, poucos são restritos às questões das limitações da viabilidade comercial ou engenharia. Devido às incertezas com relação à avaliação de reservatórios da subsuperficie, o cálculo exato nem sempre é possível, com isso, a capacidade de armazenamento tornase uma aproximação do volume de CO2 que pode ser armazenado (CO2CRC, 2008). A Figura 36 apresenta a interação entre a capacidade de armazenamento de CO2 em uma determinada região geográfica e sua integração com o nível de detalhamento da estimativa do armazenamento. Faz-se importante destacar a tendência de redução das incertezas com o aumento da quantidade de dados obtidos e esforços empregados na avaliação da estimativa da capacidade de armazenamento, assim como a redução da própria capacidade estimada de armazenamento, capacidade esta que tem o seu início em uma região geográfica ampla como um país ou estado, passando pela bacia 133 sedimentar e terminando em um determinado local (site) onde efetivamente poderá ocorrer um projeto de CCS. Figura 36 – Escalas integradas de avaliação da Capacidade de Armazenamento do CO2. Fonte: CO2CRC (2008). Nota: tradução livre do autor. No Brasil, a principal ação para a obtenção da estimativa da capacidade de armazenamento do CO2 em reservatórios geológicos é o CARBMAP, um projeto realizado pelo CEPAC (PUC/RS) em parceria com a Petrobras. O CARBMAP identificou as principais fontes de emissão de CO2 no país e os reservatórios geológicos existentes. Uma estimativa da capacidade teórica preliminar dos aquíferos salinos, camadas de carvão mineral e campos de petróleo foi produzida em cada bacia sedimentar do Brasil. A estimativa mostra que o Brasil tem um alto potencial para a implementação das tecnologias de CCS. As bacias sedimentares do Brasil poderiam armazenar mais de 2.035 Gt de CO2 (Ketzer et al., 2007). Somente nos campos de petróleo, a capacidade estimada é de cerca de 4 Gt de CO2, com a Bacia de Campos contribuindo com 1,7 Gt, já as jazidas de carvão mineral contribuem com 170 Mt e a capacidade preliminar teórica estimada para o armazenamento do CO2 em aquíferos salinos é de 2.03 Gt de CO2 (Rockett et al., 2010). A Figura 37 apresenta a capacidade teórica de armazenamento de CO2 nos campos de petróleo por bacia sedimentar no Brasil. 13 4 Figura 37 – Capacidade Teórica de Armazenamento de CO2 nos Campos de Petróleo por Bacia Sedimentar no Brasil. Fonte: Kertzer et al. (2010). Nota: Tradução livre do autor. 4.2.2 Discussão sobre os Fatores Econômicos Os fatores econômicos que envolvem as tecnologias de CCS são considerados um dos que mais impactam na difusão dessas tecnologias. Entendo os fatores econômicos como os que estão relacionados com as questões financeiras que envolvem investimentos e custos de implantação das tecnologias como os de incentivos como os instrumentos econômicos, a exemplo dos mercados de crédito de carbono e fundos, além de impostos e taxas. Dentre as tecnologias de redução de emissões de CO2, o CCS é uma das mias competitivas em relação a custos de implantação, conforme o IPCC (2007) apresentado anteriormente no Capitulo 02 desta tese. Entretanto, dentre as opções tecnológicas para o armazenamento do CO2 nas tecnologias do CCS, o armazenamento geológico é tido como o de mais baixo custo, principalmente se o armazenamento geológico for realizado em reservatórios terrestres. O IPCC (2005) estima que os custos para o armazenamento geológico do CO2 em reservatórios geológicos giram em torno de US$ 0,5 a 8 por tCO2 armazenada, sem considerar os custos de monitoramento. O Quadro 6 apresenta os valores encontrados pelo IPCC para as situações de armazenamento em reservatórios geológicos, seu 135 monitoramento, o armazenamento em oceanos com a possibilidade de transporte por dutos ou por navios e, por fim, os custos relativos à carbonatação mineral. Quadro 6 – Estimativa de Custos de Armazenamento do CO2. Fonte: IPCC (2005). Nota: Tradução livre do autor. Os custos das tecnologias de CCS têm sido objeto de estudo nos últimos anos em função da importância que têm tido estas tecnologias. De forma mais detalhada, o IPCC (2007) apresenta os custos das tecnologias de CCS pelas suas grandes etapas. Em destaque, o valor referente à etapa de captura que é considerada a mais cara entre o transporte e a injeção (incluindo o monitoramento). O Quadro 7 apresenta os valores das etapas das tecnologias de CCS, incluindo as opções de armazenamento em oceanos e a carbonatação mineral. Em relação ao tipo de fonte de emissão e as opções de tecnologias para o armazenamento geológico do CO2, de acordo com Dooley et al. (2006) que a utilização do CO2 para EOR são os projetos que têm os menores valores entre a relação custo e tonelada de CO2 capturada e armazenada . Esta relação pode ser vista na Figura 38, além dela, podem-se verificar outras formas de armazenamento de CO2 e sua relação entre custos líquidos do CCS e a quantidade de CO2 capturado e armazenado. Destacase que a opção de captura do CO2 em plantas de produção de amônia com a distância menor que 10 milhas entre a fonte e o sumidouro, sendo este sumidouro a opção técnica para o uso em EOR, este custo se transforma em lucro de cerca de US$ 20 por tonelada de CO2 utilizada. 13 6 Componentes do CCS Custo médio Observações Captura de usinas de geração de energia de carvão mineral ou gás 15-75 US$/tCO2 capturado Custos de captura do CO2 comparado com usinas similares sem a implementação das tecnologias de captura. Captura de produção de hidrogênio e amônia ou processamento de gás 5-55 US$/tCO 2capturado Aplicado a requerendo compressão. fontes de alta pureza simples secagem e Captura de outras fontes industriais 25-115 US$/tCO2 capturado A faixa reflete o uso de um número de diferentes tecnologias e combustíveis. Transporte 1-8 US$/tCO2 transportado Distância de até 250 km para transporte por dutos ou navios com uma média de 5 a 40 MtCO2 /ano. Armazenamento Geológico (Ao longo dos anos deve ser considerado o custo de remediações e questões de responsabilidades ) 0.5-8 US$/tCO2 injetado Excluindo o potencial em Recuperação Avançada de Petróleo ou Recuperação Avançada de Metano em Minas de Carvão. Armazenamento Geológico: monitoramento e verificação 0.1-0.3 US$/tCO2 injetado Abrange as etapas de pré-injeção, injeção, pós-injeção e monitoramento e depende de requerimentos regulatórios. Armazenamento em Oceanos 5-30 US$/tCO2 injetado Incluindo transporte offshor de 100 a 500 km, excluindo monitoramento e verificação. Carbonatação Mineral 50-100 US$/tCO2 mineralizado Média do melhor caso de estudo. Incluindo o uso adicional de energia para a carbonatação. Quadro 7 – Faixas de Custos Correntes dos Componentes do CCS Aplicado a Usinas de Energia ou Outras Fontes Industrial. Fonte: IPCC (2007). Nota: Tradução livre do autor Figura 38 – O custo líquido do CCS nos Estados Unidos – fontes e tecnologias atuais. Fonte: Dooley et al. (2006). Nota: Tradução livre do autor. 137 Segundo a GCCSI (2010), os custos de um projeto de CCS podem variar significativamente com base em fatores específicos do local de implantação do projeto, tais como taxas, custos de combustível e as características do combustível. Especificamente, em uma termoelétrica a gás (Integrated Gasification Combined Cycle - IGCC), o CCS aumenta os custos de investimento de capital em cerca de 30%. Pode-se verificar que os custos com a etapa de armazenamento nos projetos de CCS são os que têm o menor valor. Em contrapartida, os custos com a etapa de captura são os que mais impactam, vindo depois os de transporte. Numa análise mais detalhada dos preços da etapa de armazenamento, o IPCC (2005) elaborou um quadro com os valores para o armazenamento, tendo como base as informações publicadas por Allinson et al., (2003), Hendriks et al., (2002) e Bock et al., (2003). O Quadro 8 apresenta os valores pesquisados pelo IPCC (2005) tendo destaque os valores levantados nos Estados Unidos. Preço da ton armazenanda (US$/tCO2 ) Baixo Médio Alto Tipo de Opção Onshore ou offshore Local Formação Salina Onshore Austrália 0.2 0.5 5.1 Formação Salina Onshore Europa 1.9 2.8 6.2 Formação Salina Onshore Estados Unidos 0.4 0.5 4.5 Formação Salina Offshore Austrália 0.5 3.4 30.2 Formação Salina Offshore Mar do Norte 4.7 7.7 12.0 Onshore Estados Unidos 0.5 1.3 4.0 - Onshore Estados Unidos 0.5 2.4 12.2 - Onshore Europa 1.2 1.7 3.8 Faixa representativa Offshore Mar do Norte 3.8 6.0 8.1 - Campos depleados de óleo Campos depletados de gás Campos abandonados de óleo ou gás Campos abandonados de óleo ou gás Quadro 8 – Estimativa de Custos para o Armazenamento Geológico do CO 2. Fonte: IPCC (2005). Nota: Tradução livre do autor. Comentários Estatística de 20 locais Faixa representativa Estatística de 34 locais Faixa representativa 13 8 Estes valores praticados nos Estados Unidos estão muito relacionados com a estrutura existente para a recuperação avançada de hidrocarbonetos. No Texas, o preço do CO2 é atrelado ao preço do petróleo. O preço de compra do CO2 é que indica a escala de benefícios para a EOR em paralelo aos custos de armazenamento (Jarrel et al., 2002 e IPCC, 2005). Outro fator que reduz o custo do CO2 injetado em um projeto de EOR é o reaproveitamento do CO2. A experiência nas operações de campo na América do Norte fornece informações sobre quanto do CO2 injetado permanece no reservatório de óleo durante as atividades de EOR. Em média, 170 m3 de CO2 é requerida para cada barril de óleo produzido via EOR, com um intervalo de 85 (0,15 tCO2) a 227 (0,4 tCO2) em m3 (Bock et al., 2003). Alguns estudos referentes a custos de projetos de CCS já foram feitos no Brasil ou estão em andamento, em destaque os realizados pela PUC/RS. A modelagem de custos para a Bacia de Campos, tendo como base o ano de 2025, é apresentada por Rockett (2012) da seguinte forma: - Captura: 10 Mt/ano (amônia, etanol e siderúrgicas) - 36,57 US$16/tCO2; - Poucas emissões provenientes de fontes com baixo custo de captura; - Armazenamento: 84% capacidade < 7,84 US$/tCO2 [Marlim (9Mt/ano) < 2,61 US$/tCO2 + Barracuda, Albacora, Roncador (20Mt/ano) 2,61 - 5,22 US$/tCO2]; - Infra-estrutura já instalada. -Transporte: - 7,44 – 11,36 US$/tCO2 (grande extensão + estações recompressão) - Cenários de redução de emissões – Bacia de Campos: - Custo CCS varia de 60,73 à 106,44 US$/tCO2 (seleção de fontes + baratas). Outro estudo que tem o foco mais voltado para o transporte do CO2 por dutos em terra é apresentado por Neves et al. (2005). O estudo apresenta uma relação entre a distância a ser percorrida pelo duto, o seu diâmetro e os custos de construção para uma pressão fixa de 500 psig e usando o comprimento da tubulação como parâmetro. A Figura 39 apresenta os valores encontrados pelos autores. 16 Valores originais do autor em Euros, contudo foram convertidos para Dólar Americano, tendo como referência para a conversão das moedas os dados coletados do site do Banco Central do Brasil na data de 04/01/2013, acesso em janeiro de 2013, disponível em: http://www4.bcb.gov.br/pec/conversao 139 Figura 39 - Custo de transporte de CO2 para uma pressão na cabeça do poço de 500 psig. Fonte: Neves et al. (2005). Mesmo com diversos estudos relacionados com os custos de um projeto de CCS, muitas variáveis estão presentes nestes tipos de empreendimentos e impactam diretamente no resultado final do projeto. Tendo como referência o levantado pelos estudos realizados, pode-se verificar que os maiores custos de um projeto de CCS estão relacionados com as etapas de captura e transporte. Entretanto, estes custos ainda podem ter uma variação muito grande em função da tecnologia escolhida e as condições sociais do local a ser implantado o projeto. Para estimar os valores de um projeto de CCS no Brasil, em especial na Bacia do Recôncavo, a Petrobras (2007) aplicou princípios da Engenharia Econômica e obteve valores de referência para as etapas de maior custo em um projeto de CCS, levando em consideração as características e peculiaridades da região. As etapas de um projeto de CCS estudadas foram as de captura e separação em fontes de emissão, compressão e transporte via dutos para diversas distâncias, e a separação do CO2 produzido utilizados em atividades de EOR. 14 0 4.2.2.1 Custos e Investimentos de um projeto de CCS – Estudo da Petrobras Esse item apresenta os achados encontrados pelo estudo da Petrobras (2007) referente à aplicação dos princípios da Engenharia Econômica em projetos de CCS projetados para a região do Recôncavo Baiano e levando em consideração as peculiaridades regionais e tecnologias disponíveis. Para tanto, foi realizado um estudo de viabilidade técnico-econômica (EVTE), de forma geral, o estudo utilizou uma filosofia dualista: contabilidade de custos separada da contabilidade financeira, tendo como base os métodos determinísticos da análise de investimentos que se ajustam aos conceitos de ”equivalência” da matemática financeira que são: - Método do Valor Anual Uniforme Equivalente (VAUE); - Método do Valor Presente Líquido (VPL); e - Método da Taxa Interna de Retorno (TIR). Além desses métodos, outros conceitos da Engenharia Econômica também foram aplicados ao estudo como: Taxa Mínima de Atratividade (TMA), fluxo de caixa, receitas, depreciação, valor residual, investimento, dentre outros. Na avaliação econômica, realizada pelo estudo, ao invés de se determinar a TIR ou o VPL, foi calculado o preço do CO2 para que a TIR fosse igualada à taxa mínima de atratividade (TMA) da Petrobras (13 % ao ano), considerando um tempo de depreciação de 15 anos. Portanto, o preço do CO2 calculado é o valor mínimo para que o negócio seja economicamente atrativo. Visando uma melhor definição dos resultados obtidos na avaliação econômica, as unidades de obtenção de CO2 foram divididas em dois sistemas: sistema de separação e sistema de compressão e transporte. Para estes dois sistemas, foram determinados os preços do CO2, separadamente. Os custos dos equipamentos principais foram estimados baseados em dados de dimensionamento obtidos em duas etapas. Os casos da primeira etapa foram atualizados monetariamente para o mês de dez/2003 enquanto que os desenvolvidos na segunda etapa foram atualizados para o mês de jun/2006 e internalizados para o Brasil (Camaçari) a uma taxa de 45 %. Os custos variáveis foram calculados baseados nos preços do mercado brasileiro dos produtos químicos e utilidades industriais, e no custo de tratamento de resíduo 141 praticado pela CETREL. Os custos fixos também foram estimados para a realidade brasileira (salário de trabalhador, custos de manutenção etc.). Por se tratar de um projeto com forte vertente ambiental – redução de emissões gasosas industriais, contendo gases responsáveis pelo efeito estufa – foi considerada uma isenção de imposto de renda de 10 anos para os casos da primeira etapa e sem isenção para os casos da segunda etapa. Os valores encontrados para cada tipo de tecnologia e etapas de um projeto de CCS (captura e separação, compressão e transporte, e separação do CO2 produzido em atividades de EOR) a ser aplicada são apresentados a seguir em formas de gráficos. Para unidades de obtenção de CO2 a partir de gases da combustão de gás natural com os gases de combustão sendo captados de chaminés de fornos ou caldeiras, com ajuda de um soprador, passando por um reator para remoção de NOx e enviados para uma torre de quench, onde ocorre o seu resfriamento por contato direto com água fria. Sendo assim, para este sistema de separação de CO2 por absorção com a utilização da monoetanolamina (MEA), obtiveram-se os seguintes valores no estudo, conforme apresentado no Quadro 9 e Figura 40. Observa-se que o preço da tonelada de CO2 diminui com o aumento da capacidade de captura e separação, os valores de investimentos têm o comportamento inverso com aumento de valor para o aumento da capacidade de captura e separação. Esse comportamento se repete para a captura e separação do CO2 em outros tipos de fontes de emissões estudadas pela Petrobras (2007) e que serão vistas neste trabalho. Itens Unidades Preço do CO2 Investimento US$/t MM US$ Capacidade (t CO2/dia) 500 1.000 1.250 1.500 2.000 2.500 45,78 16,10 42,07 27,82 41,40 33,82 40,87 39,61 38,44 44,88 37,60 52,93 Quadro 9 – Preço do CO2 antes da compressão em função da capacidade - gás natural (MEA). Fonte: Petrobras (2007). 14 2 60 US$ e MM US$ 50 40 30 Gas MEA - Preço do CO2 US$/ton 20 Gas MEA - Investimento em MM US$ 10 0 500 1.000 1.250 1.500 2.000 2.500 Capacidade (t CO2/dia) Figura 40 - Preço do CO2 e Investimento antes da compressão em função da capacidade - gás natural (MEA). Fonte: elaboração própria com dados de Petrobras (2007). O comportamento dos valores dos preços da tonelda do CO2 com a utilização da amina especial patenteada pela Mitsubishi, denominada KS-1, como solvente de absorção do CO2 tem como vantagem a redução das perdas por degradação (90 % menor do que as perdas de MEA) e a não necessidade de utilização de inibidor de corrosão. Por outro lado, o KS-1 é 225 % mais caro do que a MEA (Petrobras 2007). O Quadro 10 e a Figura 41 apresentam os valores obtidos na captura e separação do CO2 antes da compressão e transporte e o seu comportamento em função da capacidade capturada e separada, usando a amina especial KS-1, considerando uma TIR de 13% a.a.. Itens Unidades Preço do CO2 Investimento US$/t MM US$ Capacidade (t CO2/dia) 500 1.000 1.250 1.500 2.000 2.500 42,82 15,96 39,11 27,53 38,44 33,46 37,90 39,18 35,47 44,30 34,64 52,21 Quadro 10 – Preço do CO2 antes da compressão em função da capacidade - gás natural (KS-1). Fonte: Petrobras (2007). 143 60 US$ e MM US$ 50 40 30 Gas KS-1 - Preço do CO2 US$/t 20 Gas KS-1 Investimento MM US$ 10 0 500 1.000 1.250 1.500 2.000 2.500 Capacidade (t CO2/dia) Figura 41 - Preço do CO2 e Investimento antes da compressão em função da capacidade - gás natural (KS-1). Fonte: elaboração própria com dados de Petrobras (2007). Tendo como fonte de emissão de CO2 as cimenteiras, também foram projetadas unidades de obtenção de CO2 a partir de gases efluentes deste tipo de emissor. O processo de obtenção de CO2 a partir de gases efluentes de cimenteiras considerado foi semelhante ao processo a partir da combustão do gás natural (Petrobras, 2007). O Quadro 11 apresenta os valores obtidos para o preço do CO2 e o investimento no estudo da Petrobras (2007) para as correntes gasosas oriundas de cimenteiras e sua respectiva capacidade de captura e separação, além disso, a Figura 42 apresenta o comportamento de forma gráfica desses valores. Itens Unidades Preço do CO2 Investimento US$/t MM US$ Capacidade (t CO2/dia) 500 1.000 1.250 1.500 2.000 2.500 42,24 13,14 38,42 21,70 37,72 26,12 37,18 30,35 35,82 36,35 35,33 43,81 Quadro 11 – Preço do CO2 antes da compressão em função da capacidade - cimenteira (MEA). Fonte: Petrobras (2007). US$ e MM US$ 14 4 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Cimenteira MEA - Preço do CO2 em US$/t Cimenteira MEA Investimento em MM US$ 500 1.000 1.250 1.500 2.000 2.500 Capacidade (t/CO2/dia) Figura 42 - Preço do CO2 e Investimento antes da compressão em função da capacidade - cimenteira (MEA). Fonte: elaboração própria com dados de Petrobras (2007). Já para a utilização da amina especial KS-1 os valores obtidos no estudo são os apresentados abaixo no Quadro 12 e graficamente na Figura 43. Itens Unidades Preço do CO2 Investimento US$/t MM US$ Capacidade (t CO2/dia) 500 1.000 1.250 1.500 2.000 2.500 42,24 13,14 38,42 21,70 37,72 26,12 37,18 30,35 35,82 36,35 35,33 43,81 Quadro 12 – Preço do CO2 antes da compressão em função da capacidade - cimenteira (KS-1). Fonte: Petrobras (2007). 50 45 US$ e MM US$ 40 35 30 Cimenteira KS-1 - Preço do CO2 em US$/t 25 20 Cimenteira KS -1 Investimento em MM US$ 15 10 5 0 500 1.000 1.250 1.500 2.000 2.500 Capacidade (t CO2/dia) Figura 43 - Preço do CO2 e Investimento antes da compressão em função da capacidade - cimenteira (KS1). Fonte: elaboração própria com dados de Petrobras (2007). 145 Da mesma forma foram obtidos valores de preço e investimento para unidades de obtenção de CO2 a partir de gases da combustão da biomassa. O Quadro 13 e a Figura 44 apresentam os respectivos valores de preço do CO2 e do investimento em função da capacidade capturada e separada e seu comportamento em comparação da capacidade para a utilização de MEA. Itens Unidades Preço do CO2 Investimento US$/t MM US$ Capacidade (t CO2/dia) 500 1.000 1.250 1.500 2.000 2.500 42,64 13,50 38,82 22,42 38,14 27,06 37,54 31,32 36,19 37,65 35,73 45,59 Quadro 13 – Preço do CO2 antes da compressão em função da capacidade - biomassa (MEA). Fonte: Petrobras (2007). 50 45 US$ e MM US$ 40 35 30 Biomassa MEA - Preço do CO2 em US$/t 25 20 Biomassa MEA Investimento em MM US$ 15 10 5 0 500 1.000 1.250 1.500 2.000 2.500 Capacidade (t CO2/dia) Figura 44 - Preço do CO2 e Investimento antes da compressão em função da capacidade - biomassa (MEA). Fonte: elaboração própria com dados de Petrobras (2007). O Quadro 14 e a Figura 45 apresentam os valores obtidos para o preço do CO2 e os investimentos para biomassa com a utilização da amina especial KS-1. Itens Unidades Preço do CO2 Investimento US$/t MM US$ Capacidade (t CO2/dia) 500 1.000 1.250 1.500 2.000 2.500 39,91 13,36 36,09 22,13 35,41 26,70 34,81 30,88 33,45 37,08 33,00 44,87 Quadro 14 – Preço do CO2 antes da compressão em função da capacidade - biomassa (KS-1). Fonte: Petrobras (2007). 14 6 50 45 US$ e MM US$ 40 35 30 Biomassa KS -1 -Preço do CO2 em US$/t 25 20 Biomassa KS - 1 Investimento em MM US$ 15 10 5 0 500 1.000 1.250 1.500 2.000 2.500 Capacidade (t CO2/dia) Figura 45 - Preço do CO2 e Investimento antes da compressão em função da capacidade - biomassa (KS1). Fonte: elaboração própria com dados de Petrobras (2007). Outra fonte de emissão estudada pela Petrobras (2007) foram as correntes gasosas oriundas de turbina a gás, que para tanto foram projetadas unidades de obtenção de CO2 a partir de gases da combustão da turbina. Da mesma forma que as demais fontes, os achados foram para a aplicação de MEA e KS-1. O Quadro 15 e a Figura 46 apresentam os valores e comportamento dos preços do CO2 e do investimento em função da capacidade, assim como, o Quadro 16 e a Figura 47 os valores e comportamento do preço do CO2 e investimentos para a amina KS-1. Itens Unidades Preço do CO2 Investimento US$/t MM US$ Capacidade (t CO2/dia) 500 1.000 1.250 1.500 2.000 2.500 56,48 28,85 50,79 43,79 48,31 49,75 49,12 62,30 47,15 76,79 46,72 94,65 Quadro 15 – Preço do CO2 antes da compressão em função da capacidade – turbina a gás (MEA). Fonte: Petrobras (2007). 147 100 90 US$ e MM US$ 80 70 60 Turbina a gás MEA - Preço do CO2 em US$/t 50 40 Turbina agás MEA Investimento em MM US$ 30 20 10 0 500 1.000 1.250 1.500 2.000 2.500 Capacidade (t CO2/dia) Figura 46 - Preço do CO2 e Investimento antes da compressão em função da capacidade – turbina a gás (MEA). Fonte: elaboração própria com dados de Petrobras (2007). Itens Unidades Preço do CO2 Investimento US$/t MM US$ Capacidade (t CO2/dia) 500 1.000 1.250 1.500 2.000 2.500 53,74 25,71 48,05 43,50 45,57 49,39 46,37 61,87 44,41 76,22 43,98 93,93 Quadro 16 – Preço do CO2 antes da compressão em função da capacidade – turbina a gás (KS-1). Fonte: Petrobras (2007). 100 90 US$ e MM US$ 80 70 60 Turbina a gás KS -1 - Preço do CO2 em US$/t 50 40 Turbina a gás KS -1 Investimento em MM US$ 30 20 10 0 500 1.000 1.250 1.500 2.000 2.500 Capacidade (t CO2/dia) Figura 47 - Preço do CO2 e Investimento antes da compressão em função da capacidade – turbina a gás (KS-1). Fonte: elaboração própria com dados de Petrobras (2007). Tendo como referência os dados do estudo da Petrobras para as correntes gasosas oriundas da combustão a gás natural, cimenteiras, biomassa e turbina a gás, 14 8 pode-se elaborar a Figura 48 que é um gráfico no qual reúnem-se os valores encontrados para o preço do CO2 e os investimentos para a implantação de unidades de captura e separação do CO2 com capacidades estabelecidas em 500, 1.000, 1.250, 1.500, 2.000 e 2.500 t CO2/dia. Ao inserir em um único gráfico, observa-se que o comportamento para todas as correntes gasosas são semelhantes, pois tendem a ter um valor do CO2 mais alto para menores quantidades capturadas enquanto os investimentos tendem a ser mais altos em quantidades maiores de captura do CO2. Figura 48 - Preço do CO2 e Investimento antes da compressão em função da capacidade – combustão a gás natural, cimenteiras, biomassa e turbina a gás. Fonte: elaboração própria com dados de Petrobras (2007). Além das correntes anteriormente estudadas, a Petrobras (2007) também estudou as correntes de gases oriundas de refinarias, plantas de produção de amônia e da indústria siderúrgica. As tecnologias estudadas foram a amina especial KS-1 e em particular para a siderúrgicas também a queima com oxigênio (O2). A capacidade de captura estudada para estas plantas não seguiram as previstas para as correntes gasosas anteriores. O Quadro 17 e a Figura 49 apresentam os valores obtidos para o preço do CO2 e os investimentos em função da capacidade de captura a ser implantada. Observase que o comportamento do preço do CO2 e dos investimentos não segue a tendência das correntes gasosas anteriores. 149 Itens Capacidade (t CO2/dia) Amônia Siderúrgica (KS-1) (KS-1) 19 51 60 64 Siderúrgica (Queima) 19 51 60 UN Refinaria (KS-1) 378 602 1.976 Preço US$/t 91,37 76,53 81,44 169,96 87,06 159,06 97,46 55,21 46,17 44,19 do CO2 Investi MM 12,08 14,17 21,08 2,59 3,50 6,24 5,79 31,97 82,17 13,12 mento US$ Quadro 17 – Preço do CO2 antes da compressão em função da capacidade – siderúrgica, planta de amônia e refinaria (KS-1 e Queima). Fonte: Petrobras (2007). 180 160 US$ e MM US$ 140 120 100 80 60 40 20 0 19 51 60 64 378 602 1.976 Capacidade (t CO2/dia) Preço do CO2 Siderúrgica (Queima) US$/t Investimento Siderúrgica (Queima) MM US$ Preço do CO2 Siderúrgica (KS-1) US$/t Investimento Siderúrgica (KS-1) MM US$ Preço do CO2 Amônia (KS-1) US$/t Investimento Amônia (KS-1) MM US$ Preço do CO2 Refinaria (KS-1) US$/t Investimento Refinaria (KS-1) MM US$ Figura 49 - Preço do CO2 e Investimento antes da compressão em função da capacidade – siderúrgica, planta de amônia e refinaria (KS-1 e Queima). Fonte: elaboração própria com dados de Petrobras (2007). No que diz respeito à compressão e transporte do CO2, após a captura e separação das correntes gasosas, foram feitas análises no estudo da Petrobras (2007) em função da distância percorrida e da pressão de transporte do CO2 na tubulação até a cabeça do poço onde o CO2 será injetado. A Figura 50 apresenta os resultados da simulação do preço do CO2 transportado para as distâncias de, 5, 50, 100, 150, 200, 15 0 250, e 300 km para as pressoes na cabe<;a do po<;o de 500, 1.000, 1.250, 1.500, 2.000 e 2.500 psig para conentes gasosas de combustao de gas natural. Preo do C02 x Capacidade x Oistancia skm - 90,01) PrE's.<i3o do Poo = 500 psig - Pressao do Poo = 1.000 psig 90,00 <;;> (/) :::> 70,01) 70,00 50,01) -- 30,00 10.00[ "'0 - 50,00 --...... - --*"------\of--- --'1< ::: 1..000 1..500 : : 2.500 2.000 soo 1.000 1..501) 2.SOO t COfdia Pressao do Poc;o = 1.250 psig 90,00 so km ....-100 km >< 150 km ....,_ 200km -+-250 km ->-300km - ;;; Pressao do Poo = 1.500 psig 90,00 <;;> (/) (/) :::> :::> 70,00 70,00 50,00 50,00 .....t 30.00500 . ; -: ; r----. .. "·'"r- ....._.__ ; -.< --.. . 1.000 -- *-- -----"""------1( 2.500 t...SOO 2.000 10.00 t=;:=: ::!::;: =·· soo 1.000 2.SOO 1..500 t COfdia 130,00 130,01) Pressao do Poo = 2.000 psig 110,00 Pressao do Poo, = 2.500 psig 110,01) 90,00 90,00 s <;;> (/) (/) :::> :::> 70,00 70,01) 50,00 30,00 - .....-- .... ... .. ..-- _ .. 50,01) 30,00 --· ----------·- ---- ,--------. 10,00 soo 1.000 1..501) • ---"""'i( 000 2.500 .. . , , to. o!=====:::====== "'0 1..000 1..500 a-- 2.000 • 2.500 t COfdia Figura 50 - Preo para a compressao e transporte do C02 em fi.m ao da pressao para diversas distiincias combustao a gas natural. Fonte: Petrobras (2007). 151 Observa-se a tendência de maiores valores para maiores distâncias percorridas e menores pressões na cabeça do poço, já para outros tipos de correntes gasosas como a encontrada nas siderúrgicas, plantas de amônia e refinaria, o comportamento é o inverso. Conforme os dados do estudo da Petrobras (2007), para estes tipos de correntes gasosas e um transporte a 50 km, entre a fonte de emissão e o poço injetor, a tendência é de aumento do valor do CO2 a ser transportado em função do aumento da pressão. É importante ressaltar que os valores encontrados no estudo da Petrobras (2007) para o transporte do CO2 estão inseridos os valores para a construção das linhas de dutos e a compressão do CO2 até a “boca do poço”. Já os valores obtidos para as atividades de transporte pelo IPCC não incluem a compressão do CO2, são contabilizados somente a construção da linha de dutos. A Figura 51 ilustra o comportamento dos valores do CO2 a ser transportado a uma distância de 50 km para as correntes gasosas em siderúrgicas para uma capacidade de captura e separação de 19, 51 e 60 t CO2/dia, plantas de amônia com a capacidade de 64 t CO2/dia e refinarias com a capacidade de 378, 602 e 1.976 t CO2/dia. 100 90 Siderúrgica - Preço do CO2 (US$/t) 19 t CO2/dia 80 Siderúrgica - Preço do CO2 (US$/t) 51 t CO2/dia 70 US$ 60 Siderúrgica - Preço do CO2 (US$/t) 60 t CO2/dia 50 Amônia - Preço do CO2 (US$/t) 64 t CO2/dia 40 30 Refinaria - Preço do CO2 (US$/t) para 378 t CO2/dia 20 Refinaria - Preço do CO2 (US$/t) para 602 t CO2/dia 10 Refinaria - Preço do CO2 (US$/t) para 1.976 t CO2/dia 0 500 (psig) 1.000 (psig) 1250 (psig) 1500 (psig) 2000 (psig) 2500 (psig) Pressão Figura 51 - Preço para a compressão e transporte do CO2 em função da pressão para 50 km siderúrgicas, amônia e refinaria. Fonte: elaboração própria com dados da Petrobras (2007). – Além dos valores para investimentos e preços da tonelada do CO2 capturado, separado, comprimido e transportado o estudo da Petrobras (2007) levanta os valores de investimento e preço do CO2 em processos de separação do CO2 em atividades de EOR. Para tanto, foram estudadas as tecnologias de separação com uso da amina especial KS1 e por membrana seletiva. Outros fatores importantes foram os percentuais de massa de CO2, presentes nos hidrocarbonetos produzidos por EOR, e a quantidade por dia de CO2 separado. O Quadro 18 e a Figura 52 apresentam todas as faixas estudadas com os respectivos valores de investimentos e preço da tonelada do CO2. 15 2 EOR 15% em massa de CO2 - 50 t/dia (KS-1) 35% em massa CO2 – 50 t/dia (KS-1) 60% em massa CO2 – 50 t/dia (KS-1) 60% em massa CO2 – 150 t/dia (KS-1) 60% em massa CO2 – 300 t/dia (KS-1) 75% em massa CO2 – 50 t/dia (KS-1) 75% em massa CO2 – 150 t/dia (KS-1) 75% em massa CO2 – 300 t/dia (KS-1) 90% em massa CO2 – 300 t/dia (KS-1) 15% em massa CO2 - 50 t/dia (Membrana) 60% em massa CO2 – 150 t/dia (Membrana) 60% em massa CO2 – 300 t/dia (Membrana) Investimento MM US$ 4,22 3,89 3,67 7,39 10,57 3,44 6,77 10,67 8,47 6,16 12,53 22,66 Preço do CO2 US$/t 559,53 239,03 141,44 88,17 65,55 110,89 69,18 55,5 43,07 688,92 107,92 93,79 Quadro 18 – Investimento e Preço do CO2 para atividades de EOR. Fonte: elaboração própria com dados da Petrobras (2007). 700 600 500 400 300 200 100 0 Preço do CO2 US$/t Investim ento MM US$ Figura 52 - Preço do CO2 e Investimentos para a separação em atividades de EOR. Fonte: elaboração própria com dados de Petrobras (2007). 153 Observou-se que os valores de investimento são relativamente baixos para separar o CO2 em atividades de EOR, em contrapartida o preço do CO2 separado é alto em comparação aos processos de captura e separação em correntes gasosas apresentados anteriormente. Os valores do preço do CO2 só são menores para uma quantidade maior de CO2 separado por dia. É o que acontece com todas as correntes de CO2 em EOR que tem uma previsão de separar 300 t CO2/dia. 4.2.2.2 Instrumentos Econômicos para Projetos de CCS Pode-se observar a complexidade para o estabelecimento de valores tanto para investimentos quanto para precificação da tonelada do CO2 em projetos de CCS, mas, como se trata de uma tecnologia com grande potencial, faz-se necessário discutir como estes custos devem ser absolvidos na economia. Com a percepção, por parte da economia, de que os agravos ao meio ambiente, gerados pelos processos produtivos, podem ser ajustados através de instrumentos econômicos, a criação de instrumentos econômicos fez-se necessária. Atualmente, os recursos destes instrumentos econômicos para a difusão e implantação de tecnologias de redução de GEE estão disponíveis por meio dos mercados de crédito de carbono e os fundos. Quanto aos mercados de carbono, existem dois ambientes em que são comercializados créditos de carbono, oriundos da implantação e validação de tecnologias de menor emissão de GEE que são os Mercados Regulados de Crédito de Carbono, criados a partir do Protocolo de Quioto, e os Mercados Voluntários de Crédito de Carbonos. Os mercados de crédito de carbono são ambientes que estão diretamente relacionados com os movimentos da economia mundial. Em virtude das recentes crises econômicas ao redor do mundo, o valor da tonelada de carbono vem sofrendo consecutivas quedas o que pode fragilizar o uso deste instrumento econômico para a difusão das tecnologias de CCS. Além dos mercados de créditos de carbono, outra forma de incentivo que está sendo utilizada para financiar projetos para o armazenamento geológico de CO2 são os fundos. Em destaque os fundos que têm a participação governamental, como é o caso do 15 4 fundo criado na Noruega que obtem os seus recursos por meio da tributação das emissões de CO2. Vale destacar, novamente, conforme o citado no Capítulo 2 deste trabalho, a iniciativa do Governo do Brasil via a ANP em P&D estabelecida na Portaria 10/99. O uso dos instrumentos econômicos por projetos de CCS no Brasil se limita ao incentivo dado pela ANP ao setor petrolífero, contudo um projeto de CCS envolvendo as diversas etapas da tecnologia (captura, transporte e injeção) poderia ter o suporte financeiro dos instrumentos listados. Principalmente para os projetos de MDL que são direcionados a países em desenvolvimento. Os subitens a seguir apresentam os projetos de CCS que já foram submetidos ao mercado regulado e os que já obtiveram créditos de carbono no mercado voluntário, para servir de ilustração, além dos fundos existentes de apoio à projetos de CCS e sua forma de governança. 4.2.2.2.1 Mercado Regulado de Crédito de Carbono e o CCS Mesmo com a indefinição dos instrumentos da UNFCCC para o incentivo e estabelecimento de metas de redução de GEE após o período de vigência do Protocolo de Kyoto, as regras que estão estabelecidas são uma das principais diretrizes para as atuais formas de financiamento de projetos de redução de GEE. A inserção das tecnologias de CCS como MDL tem sido discutida desde as primeiras reuniões da COP conforme abordado anteriormente neste trabalho. Em se tratando de propostas de metodologias de CCS para a obtenção de créditos e carbono, a primeira proposta foi apresentada à UNFCCC em 01 de setembro de 2005. O projeto era o White Tiger Oil Field (WTOF), localizado na República Socialista do Vietnã, no estado de Vung Tau City. As empresas envolvidas no projeto eram Mitsubishi Heavy Industries LTD., Vietsovpetro e Marubent Corporation (UNFCCC, 2005). O projeto tinha como propósito armazenar geologicamente o CO2, emitido das usinas termoelétricas movidas a gás natural (Phu My), situadas em uma área industrial, e transportá-lo, via dutos, por uma distância de 144 km. O destino final eram campos de petróleo, nos quais o CO2 seria utilizado para a EOR. A projeção era a de armazenar aproximadamente 30 mil tCO2/dia para recuperar uma média de 50 mil barris de óleo cru por dia, tendo ainda que recuperar e separar deste óleo o CO2 e reinjetá-lo no 155 campo, tendo uma armazenamento total por ano de aproximadamente 7,7 milhões de tCO2. O projeto tinha o objetivo de reduzir em média, em relação a todos os anos de operação, o valor de 4.622.311 tCO2e, anualmente, gerando uma expectativa de redução de emissões de total de 32,3 milhões de tCO2e em um período inicial de 07 anos, quando seriam obtidos os créditos de carbono. A Figura 53 apresenta, de forma simplificada, um esquema geral do projeto e as inter-relações entre as fases de emissão, captura, desidratação, transporte e injeção de CO2 no reservatório geológico. Após esta etapa, também é apresentada, na figura, a fase de recuperação do petróleo por meio da EOR e, em virtude da presença do CO2 neste petróleo, a separação do CO2 e sua reinjeção no reservatório. Figura 53 - Esquema geral do projeto. Fonte: UNFCCC (2005). Traduzido pelo autor. Outro projeto, com o qual foram solicitados créditos de carbono no âmbito do MDL da UNFCCC, foi o de Sarawak, na Malásia. Este projeto foi apresentado em 06 de janeiro de 2006 e tinha como proposta armazenar o CO2, capturado do gás natural, produzido em aquíferos salinos profundos de Sarawak, no campo de Pudina. O projeto tinha como participantes a Petroliam Nasional Berhad (PETRONAS), da Malásia, e a LGC Corporation, do Japão (UNFCCC, 2006). 15 6 A Malásia é um dos maiores produtores de gás natural no mundo. O gás natural processado e liquefeito (GNL) é exportado para o Japão e outros países. O projeto estava localizado em Bintulu, Malásia, nos campos de Pudina, que ficam no Mar Sul da China. A Figura 54 apresenta a localização e alguns detalhes do projeto. Figura 54 - Localização do campo de Pudina. Fonte: UNFCCC (2006). Traduzido pelo autor. O projeto envolvia a implantação de instalações adicionais às plantas de GNL, com o objetivo de separar o CO2 do gás natural produzido. As instalações seriam compostas de ventiladores de CO2, compressores de CO2, refrigeradores, unidades de desidratação de CO2, unidades de tratamento, dutos e campos para a injeção. O projeto tinha a estimativa de reduzir as emissões da planta em cerca de três milhões de tCO2/ano e ao longo de sete anos deveria mitigar aproximadamente 21,56 milhões de tCO2. A Figura 55 ilustra esquematicamente todo o processo a ser feito no projeto e as interações entre as etapas de captura, separação, transporte e injeção do CO2. 157 Figura 55 - Detalhamento do projeto a ser implantado no projeto da PETRONAS. Fonte: UNFCCC (2006). Traduzido pelo autor. 4.2.2.2.2 Mercado Voluntário de Crédito de Carbono e o CCS Um outro movimento, que está sendo feito em relação ao mercado de crédito de carbono, é a criação dos mercados voluntários. Estes mercados são formados por grupos ou setores que não têm obrigações quanto à redução de suas emissões, ou por empresas situadas em países não signatários, como os Estados Unidos, que já reconhecem a necessidade de reduzir as suas emissões ou promover a redução de emissões em outras instituições, compensando, assim, metas internas estabelecidas. Um exemplo é o da Bolsa do Clima de Chicago (Chicago Climate Exchange – CCX®). A CCX® atraiu muitas empresas de grande porte, entretanto, esta iniciativa dá sinais de desgastes, já que os Estados Unidos não contam com uma meta de redução de emissões estabelecidas. Algumas iniciativas regionais e estaduais americanas, como a Regional Greenhoue Gas Iniciative (RGGI) e a Western Climate Initiative (WCI), ganharam força em virtude de possíveis estabelecimentos de metas estaduais de redução de emissões. A obtenção de créditos de carbono no mercado regulado ou mercado voluntário, no que diz respeito à forma de agrupamento dos projetos, segue uma orientação setorial. Estes setores são previamente estudados e selecionados para que sejam elaboradas as metodologias/padrões a serem implantados, que serão passíveis de obtenção de créditos. 15 8 No mercado regulado, os setores selecionados são: indústria de energia (fontes renováveis/não renováveis); distribuição de energia; demanda de energia; indústria de transformação; indústria química; construção; transportes; mineração/produção mineral; produção de metais; emissões fugitivas de combustíveis (óleo, sólidos e gás); emissões fugitivas da produção e consumo de halocarbonos e hexafluoreto de enxofre; uso de solventes; tratamento e eliminação de resíduos; florestamento e reflorestamento, e agricultura. Ao todo, são quinze setores que abrigam 3.377 projetos nas diversas metodologias aprovadas na UNFCCC. Quanto ao mercado voluntário, cada instituição seleciona o setor que irá trabalhar e, caso necessário, desenvolve os padrões que orientam a obtenção de créditos. Entretanto, vale ressaltar a existência da norma ANSI – GHG-PR-706, desenvolvida pela American National Standarts Institute. Esta norma foi elaborada para orientar a definição dos escopos setoriais de instituições que trabalham com validação e verificação de emissões de GEE (ANSI, 2009). A norma ANSI GHG-PR-706 estabelece seis grandes setores nos quais podem ser enquadrados os projetos de obtenção de créditos de carbono, são eles: o de redução de emissões de GEE de combustíveis fósseis; o de redução de emissões de GEE de processos industriais (não combustão, reações químicas, fugitivas e outros); uso do solo, mudanças no uso do solo e florestas; captura e armazenamento de carbono; gado; tratamento e disposição de resíduos. Estes setores são organizados em dez categorias de verificação, descritas da seguinte forma: geral; manufatura; geração de energia; transação de energia elétrica; mineração e produção mineral; produção de metais; produção química; extração, produção e refino de óleo e gás, incluindo petroquímicos; resíduos; agricultura, florestais e outros usos da terra. É importante destacar que tanto os setores selecionados pela a UNFCCC quanto os sugeridos pela ANSI GHG-PR-706 são orientações para as instituições do mercado voluntário, pois tais instituições têm a liberdade de atuar nos diversos escopos. Sendo assim, as instituições do mercado voluntário podem estabelecer a delimitação da sua área de atuação que, em certas situações, pode ser determinada em função da demanda do mercado. Tendo como exemplo a Voluntary Carbon Standard (VCS), observa-se que esta instituição segue a estrutura dos grupos de projetos e escopos estabelecidos na ANSI, desenvolve suas metodologias/padrões e aceita as metodologias/padrões aprovadas no 159 âmbito da UNFCCC, tanto para MDL quanto para Joint Implementations (JIs,) e para Climate Action Reserve. A instituição Gold Standart (GS) tem como referência os escopos definidos na UNFCCC, assim como as metodologias aprovadas no âmbito do MDL, além de desenvolver suas próprias metodologias. Outra instituição que também adota as metodologias da UNFCCC no âmbito do MDL é a American Carbon Registry (ACR). A ACR também desenvolve suas próprias metodologias para a obtenção de créditos de carbono em outros escopos que não os do MDL, como as Reduções de Emissões por Desmatamentos e Degradação (REDD) e CCS. Quanto à ACR, é importante destacar que, nesta instituição, já foram emitidos créditos de carbono oriundos de projetos de CCS. Podem-se verificar três projetos, todos localizados nos Estados Unidos e feitos para empresas petrolíferas com a aplicação da tecnologia para a EOR. Outra instiuição que também se mostrou aberta a emitir créditos de carbono oriundos de projetos de CCS é a VCS, entretanto, ela ainda não foi demandada para a certificação de projetos de CCS e, consequentemente, não desenvolveu metodologias específicas para esta tecnologia de mitigação de GEE. Em relação aos projetos existentes na ACR, o primeiro teve sua última revisão em agosto de 2004. É um projeto da Anadarko E&P Company LP, especificamente, da sua subsidiária Anadarko Petroleum Corporation (Anadarko). O projeto foi denominado de Projeto Monell EOR implantado no campo de Sweetwater County em Wyoming. De maneira geral, envolve a captura do CO2 de uma planta de processamento de gás no campo de Shute Creek, próximo de Labarge, em Wyoming, a compressão deste CO2 e seu transporte por dutos por uma distância aproximada de 33 milhas (cerca de 53 km). Após o transporte, o CO2 é injetado e posteriormente armazenado no campo de produção de petróleo (ACR, 2004). A Figura 56 apresenta o projeto de Monell e a localização dos campos de produção de petróleo e injeção do CO2. 16 0 Figura 56 - Projeto de Recuperação Avançada de Petróleo Monell. Fonte: ACR (2004). Traduzido pelo autor. A Figura 57 apresenta a síntese do projeto e as inter-relações entre as etapas de captura, separação, transporte e injeção do CO2. Os dados referentes ao tempo de execução do projeto e à quantidade de CO2 injetada por dia e por ano não foram disponibilizados pela ACR. 161 Figura 57 - Diagrama do Processo de EOR no Projeto Monell. Fonte: ACR (2004). Traduzido pelo autor. O outro projeto de CCS que obteve crédito de carbono pela ACR foi o preparado pela Blue Source. A Blue Source é um fornecedor de Emissões Reduzidas (ER) de CO2 para empresas petrolíferas que utilizam este CO2 como insumo na recuperação avançada dos campos das bacias do oeste do Texas (ACR, 2006). Além da Blue Source, a empresa responsável pela venda e transporte do CO2 é a Petro Source. O CO2 é capturado de plantas de processamento de gás e transportado por dutos até o destino final. Em 2004, a Petro Source finalizou um duto de transporte chamado Sierra Madera com 32 milhas (cerca de 51 km). A Figura 58 apresenta a localização deste projeto. 16 2 Figura 58 - Localização do projeto Petro Source para redução das emissões de CO 2. Fonte: ACR (2006). Traduzido pelo autor. O projeto entrou em operação em 1998, num período anterior à solicitação das emissões reduzidas certificadas pela ACR. Inicialmente foram reduzidos aproximadamente 2,5 milhões de CO2e. As ERcertificadas geradas somente foram contabilizadas a partir de 2001. De janeiro de 2001 a junho de 2004 foram registradas no programa canadense Clean Air Canada (CAC) 3,7 milhões de tCO2e para o projeto aprovado pela ACR. Já para o período de julho de 2004 a julho de 2006, foram certificadas aproximadamente 2,9 milhões tCO2e. A Figura 59 apresenta, de forma esquemática, o cenário base do projeto e o cenário após a implantação do projeto, com as inter-relações entre os principais estágios. 163 Figura 59 – Esquema apresentando as fontes de emissão de CO2e em projeto de operações e cenário de referência. Fonte: ACR (2006). Traduzido pelo autor. O terceiro projeto para a obtenção de créditos de carbono com o uso de tecnologias de CCS apresentado na ACR também foi elaborado pela Blue Source. Ele foi desenvolvido na região noroeste dos Estados Unidos e é similar ao anterior, tendo como fonte de captura uma unidade de processamento de gás natural da Exxon Mobil, próxima a LaBarge, Wyoming. Após a captura, o CO2 é entregue no duto da Merit Energy, empresa que dá nome ao projeto apresentado a ACR. Após ser transportado por dutos, o CO2 é utilizado para a EOR em campos de petróleo de Lost Soldier e Wertz, localizados em Wyoming. Além da captura feita na unidade de processamento de gás natural após a recuperação do petróleo nos campos de produção, também é realizada a separação do CO2, contido no petróleo recuperado e, posteriormente, reinjetado no campo (ACR, 2008). O projeto apresentado a ACR tinha como finalidade certificar as emissões reduzidas no período de outubro de 2004 a junho de 2008. A Figura 60 apresenta a localização do projeto. 16 4 Figura 60 - Localização do projeto Merit Energy. Fonte: ACR (2008). Traduzido pelo autor. Ao todo, nos quatro anos de projeto, foram certificadas e mitigadas 3.024,628 tCO2e. A Figura 61 apresenta, de forma esquemática, a estrutura do projeto, suas interrelações e limites. Figura 61 - Esquema apresentando as fontes de emissão de CO2e para operação de sequestro de CO2. Fonte: ACR (2008). Traduzido pelo autor. 165 4.2.2.2.3 Fundos de Financiamento para Projetos de CCS Atualmente, a principal forma de incentivo internacional para o uso das tecnologias de CCS são os fundos. No que diz respeito à origem dos recursos para os projetos de CCS, grande parte é oriunda de medidas de financiamento dos governos e outras agências, principalmente para os projetos em escala piloto. Em 2009 estavam disponíveis, aproximadamente, entre US$ 17 e US$ 20 bilhões de recursos para projetos de CCS (GCCSI, 2009), já em 2010 entre US$ 26,6 a US$ 36,1 bilhões (IEA, 2010). Contudo, devido à crise, estima-se que tenha existido uma queda nos investimentos pois entre 6 a 12 projetos que estavam previstos estavam localizados na Europa e tinham uma previsão de investimentos de US$ 4 a US$6 bilhões. O estudo de 2010 a GCCSI (2011) aponta que o valor investido de financiamento público direto é superior a U$ 25 bilhões e que este montante foi disponibilizado entre 2005 e 2010. Além destes recursos disponibilizados, o Reino Unido comprometeu-se em aumentar suas ações de CCS até 2015. Com isso, a expectativa é que os recursos disponibilizados estejam entre U$ 37 e 40 bilhões. A Figura 62 apresenta a evolução da disponibilização destes recursos. Além da figura o Quadro 19 apresenta de forma sintetizada, os países onde estão localizados os fundos, a iniciativa política, os valores disponibilizados, o modelo de governança do fundo e o número de projetos apoiados pelo fundo. Figura 62 - Recursos disponibilizados. Fonte: GCCSI (2011). Traduzido pelo autor. 16 6 País Austrália Canadá União Européia Iniciativa política CCS Flagships Program Clean Energy Fund Alberta CCS Fund SaskPower Boundary Dam Project European Energy Programme for Recovery NER300 Program Holanda Noruega Coreia do Sul Reino Unido Subsídios do governo baseados no Road Project Test Centre Mongstad & full scale CCS project CCS Test Programme CCS Demonstration Competition CCS Electricity Levy (second phase of CCS demonstration competition) Clean Coal Power Initiative FutureGen Estados Unidos Industrial Carbon Capture and Storage Power Sector and Industrial Gasification Tax Credits Carbon Sequestration Tax Credit Número de projetos Valor em US$ Modelo de governança 1,76 bilhão Em negociação 603 milhões Apenas concede capital 1,97 bilhão Concede capital com subsídios 237,3 milhões Apenas concede capital 1,3 bilhões Concede capital com pagamento por sequestro 6 2,65 – 3,05 bilhões Em negociação 8 198.9 milhões Concede capital com subsídios 1 1 bilhão Parceria entre governo e indústria 1 648.4 milhões Parceria entre governo e indústria 2 1,58 bilhão Concede capital com subsídios 1 8.84 - 1,22 bilhão A ser negociado 4 1,7 bilhão 1 bilhão 1,43 bilhão 2-4 5 Concede capital com subsídios Parceria entre governo e indústria Concede capital 10 3,15 bilhões Créditos/investimentos de impostos federais 1 bilhão Créditos de impostos federais Quadro 19 – Status dos fundos de financiamento de projetos de CCS. Fonte: GCCSI (2011). Tradução livre do autor. 167 5. FATORES CONDICIONANTES À APLICAÇÃO DAS TECNOLOGIAS DE CCS NO ESTADO DA BAHIA – UM ESTUDO DE CASO O estudo de caso proposto neste capítulo tem como principal objetivo apresentar, de forma ilustrativa e didática, a possível aplicação das tecnologias de CCS no Estado da Bahia, em particular na região do Recôncavo Baiano, para que possam ser analisados e discutidos os principais fatores políticos, estratégicos, técnicos e econômicos que impactam diretamente em seu uso em larga escala. Com o crescente uso das tecnologias de CCS no mundo, essa discussão e análise se fazem necessárias para a minimização dos riscos de insucesso de um possível projeto de CCS no Estado da Bahia. 5.1 CONTEXTO O Estado da Bahia tem algumas peculiaridades importantes a serem destacadas dentro de um contexto voltado para os projetos de CCS. Um dos pontos principais é a existência de concentrações regionais de importantes emissores de CO2 (fontes estacionárias), como, por exemplo, o Pólo Petroquímico de Camaçari e o Centro Industrial de Aratu, e suas proximidades de grandes sumidouros, como a Bacia do Recôncavo. No que diz respeito ao pólo petroquímico, segundo o Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (COFIC) ele, “...iniciou suas operações em 1978. É o primeiro complexo petroquímico planejado do País e está localizado no município de Camaçari, a 50 km de Salvador, capital do Estado da Bahia. Maior complexo industrial integrado do Hemisfério Sul, o Pólo tem mais de 90 empresas químicas, petroquímicas e de outros ramos de atividade como indústria automotiva, de celulose, metalurgia do cobre, têxtil, bebidas e serviços”17. O Pólo Petroquímico de Camaçari abrange uma área de 233,53 km 2 e está localizado a 5 km de Camaçari e a 35 km de Salvador. Quanto aos portos, o Pólo Petroquímico de Camaçari se encontra a 24 km do Terminal de Aratu, a 45 km do Porto de Salvador e a 36 km do Terminal de Madre de Deus (TEMADRE), além de estar a 27 km da RLAM e da recém inaugurada refinaria da empresa Dax-Oil, que se localiza dentro dos limites do Pólo Petroquímico. Além do Pólo Petroquímico de Camaçari, outra região industrial importante para 17 Fonte site do COFIC: http://www.coficpolo.com.br/, visitado em 25 de outubro de 2010. 16 8 a economia do Estado e emissora de GEE é o Centro Industrial de Aratu. O Centro Industrial é composto por duas regiões a norte e a sul, sendo que a maior emissões, segundo Mustafa et al. (2003) é a norte. Isso se dá principalmente devido a presença da RLAM. Vale ressaltar que as emissões de GEE do Estado da Bahia e as emissões por regiões já foram apresentadas no Capítulo 2 desta Tese. A Figura 63 apresenta a localização geográfica destas duas regiões emissoras de GEE no Recôncavo Baiano. Figura 63 – Localização das Principais Regiões Emissões de GEE no Recôncavo Baiano. Fonte: elaboração própria baseada nas cartas cartográficas de 1:100.000 do IGBE e dos mapas das regiões industriais da SICM. No que tange à presença de sumidouros no Estado, encontra-se a bacia petrolífera do Recôncavo. A Bacia do Recôncavo vem sendo explorada desde o início da década de 40 e nela já foram realizados alguns testes de injeção de CO2 com o objetivo de recuperar o hidrocarboneto ainda existente em seus campos ou também para armazenar o CO2, para efeito de teste pela Petrobras. Numa perspectiva voltada para a recuperação avançada de óleo (EOR) na Bacia do Recôncavo, Câmara e Reis (2002 18) destacam o seguinte: “...A aplicação adequada de métodos especiais de recuperação (EOR) permite que se recupere, em média, 5% a 15% a mais do que o petróleo original que existia na jazida na época de sua descoberta. Como são conhecidos sua localização e volume, não existem o 18 Fonte: Revista Brasil Energia, site: http://www.energiahoje.com/brasilenergia/noticiario/2002/09/01/360812 /novas-oportunidades-para-abacia-do-reconcavo.html, visitado em 25 de outubro de 2010. 169 risco exploratório inerente à atividade de localizá-lo, nem o custo das instalações para produzi-lo quando recém-descoberto. Exige, porém, a aplicação de tecnologias avançadas, produtos e processos dispendiosos, o que freqüentemente inibe sua aplicação. Para exemplificar a potencialidade do petróleo já encontrado, pode-se citar a Bacia do Recôncavo Baiano, descoberta no final da década de 30 e ainda em produção. Nos campos em operação dessa bacia, são utilizados largamente os métodos de injeção de gás natural e água. Toda a infraestrutura está praticamente montada: acessos, dutos, estações coletoras e de transferência, plantas de processamento de gás etc. A Bacia do Recôncavo é a província petrolífera mais antiga do Brasil e é a mais petrolífera dentre todas as bacias brasileiras, tendo como referência a sua área (11.000km2) e o volume de óleo encontrado até o momento. Nela, foram gerados mais de 1.000 milhões de m3 de óleo, dos quais se espera recuperar mais de 250 milhões de m3 com os atuais métodos de recuperação. Mais de 230 milhões de m3 de óleo equivalente foram produzidos nos últimos 60 anos nos seus 80 campos de óleo e gás (Rocha, Souza e Câmara, 2002). A produção de petróleo em 2008, na Bacia do Recôncavo, foi de 2.454.746 m3 o que representou 2,38% de toda a produção nacional de óleo no ano de 2008 (ANP, 2009). A Figura 64 apresenta os campos da Bacia do Recôncavo, sendo os verdes produtores de óleo e os vermelhos de gás. Figura 64 – Localização dos Campos da Bacia do Recôncavo. Fonte: elaboração própria baseada nas cartas cartográficas de 1:100.00 do IGBE, dos mapas das regiões industriais da SICM e imagem extraída do mapa da revista Brasil Energia (2008). 17 0 Verifica-se na Figura 64 que os campos produtores da Bacia do Recôncavo não tem uma área muito grande com destaque para Miranga, Água Grande, Candeias, Dom João, Buracica, Taquipe e Fazenda Balsamo. A maioria dos campos foram descobertos nas décadas de 60, 70 e 80 e estão distribuídos ao longo de uma faixa de no máximo 150 km. O Quadro 20 apresenta os campos da Bacia do Recôncavo com sua situação (em produção, desenvolvimento ou fechado), a data da sua descoberta, o início da produção, sua produção diária em óleo e/ou gás, e por fim, a empresa que tem a sua concessão. Acajá-Burizinho Prod nov/2005* Início da produção set/2005* Água grande Prod jan/1951 jul/1951 2950 0 Petrobras Apraiús Prod jul/1973 ago/1973 89 605 Petrobras Aracás Prod mar/1965 abr/1965 3662 39527 Petrobras Aracás Leste Prod mar/1967 mai/2007 8 13 Aratu Prod fev/1942 dez/1949 0 22341 Bela Vista Fech jun/1984 jul/1984 0 0 Biriba Prod dez/1963 fev/1979 10 70801 Bom Lugar Prod jul/1968 não disp. 45 378 Alvorada Petróleo Bonsucesso Prod nov/1992 dez/1992 103 169 Petrobras Brejinho Prod jan/1961 fev/1961 47 236 Petrobras Buracica Prod abr/1959 mai/1959 4391 4240 Petrobras Camaçari Prod dez/1966 fev/2005 0 0 Petrobras Cambacica Desenv dez/2009 - 0 0 Petrobras Sonangol Starfish Canabrava Prod fev/1961 mar/1961 36 225 Canário Prod abr/2004 ago/2006 177 1970 Candeias Prod dez/1941 mar/1942 706 0 Petrobras Cantagalo Prod dez/1992 fev/1996 4 16639 Petrobras Caracatu Fech nov/1982 jan/1983 0 0 Cassarongongo Prod jan/1959 mar/1959 1216 9881 Petrobras Cexis Prod mar/1963 jun/1966 491 245475 Petrobras Cidade de Entre Rios Prod ago/1992 set/1992 1069 3191 Petrobras Dias D'Ávila Fech nov/1967 out/1996 0 0 Dom João Prod mar/1947 jun/1947 1241 134 Petrobras Dom João Mar Prod nov/1954 dez/1954 0 0 Petrobras Faz. Alto das Pedras Prod mar/1997 jun/1997 0 0 Petrobras Faz. Alvorada Prod fev/1984 mar/1984 621 659 Petrobras Faz. Azevedo Prod mai/1962 mar/1963 60 2858 Petrobras Nome do campo Situação Descoberta Prod. Óleo (b/d) 5 Prod. Gás Empresa (m³/d) 9 Recôncavo E&P Engesa Petrobras ANP Petrobras Petrobras Petrosynergy ANP ANP Quadro 20 – Campos da Bacia do Recôncavo. Fonte: elaboração própria tendo como referência os dados da Brasil Energia, ANP e pesquisa de campo. 171 abr/1984 Início da produção mai/1984 Prod. Óleo (barril/dia) 0 Prod jul/1983 ago/1983 3051 7774 Petrobras Faz. Belém Prod fev/1987 mai/1987 425 1810 Petrobras Faz. Boa Esperança Prod out/1966 jan/1967 1884 16032 Petrobras Faz. Gameleira Fech out/1993 dez/1998 0 0 Faz. Imbé Prod jul/1964 set/1964 685 27574 Faz. Mamoeiro Prod out/1982 nov/1982 0 0 Faz. Onça Prod mai/1966 ago/1966 172 409 Petrobras Faz. Panelas Prod out/1962 nov/1962 3589 26371 Petrobras Faz. Rio Branco Prod abr/1994 mai/1994 23 240 Faz. Santo Estevão Prod jun/1967 jul/1967 193 490 Faz. São Paulo Prod jun/1984 out/2007 0 0 W. Petróleo e Brazalta W. Petróleo e Brazalta ANP Faz. Sori Prod mar/1968 fev/2005 0 0 Petrobras Gamboa Fech jun/1978 - 0 0 ANP Guanambi Prod jan/2007 mar/2007 117 1784 Petrobras Guanambi Ilha Bimbarra Prod jun/1961 mar/1983 0 1910 Petrobras Itaparica Prod jun/1942 set/1942 15 3 Petrobras Jaó Fech out/2008 - 0 0 ANP Jandaia Prod set/2004 mar/2005 2736 10179 Juriti Prod jan/1997 out/2006 6 44 Lagoa do Paulo Prod out/1968 set/2003 27 43 Lagoa do Paulo Norte Prod dez/2003 dez/2004 87 462 Lagoa do Paulo Sul Prod dez/2003 set/2005 4 19 Lagoa Verde Prod mai/1974 fev/1984 0 0 Lamarão Prod nov/1966 set/1980 35 135312 Petrobras Leodório Prod abr/1982 jun/1982 10 113 Petrobras Malombê Prod fev/1966 jan/1969 465 888 Petrobras Mandacaru Prod nov/1979 fev/1979 23 18892 Petrobras Mapele Prod nov/1962 out/1965 3 16542 Maritaca Desenv Jul/2008 - 0 0 Massapê Prod jan/1964 jul/1964 733 197990 Petrobras Sonangol Starfish e Somoil Petrobras Massuí Prod mar/1964 set/1964 0 3401 Petrobras Nome do campo Situação Descoberta Faz. Azevedo Oeste Fech Faz. Bálsamo Prod. Gás Empresa (m³/dia) 0 ANP ANP Petrobras UFBa Petrobras Recômcavo E&P Recômcavo E&P Recômcavo E&P Recômcavo E&P Petrobras Mata de São João Prod jul/1951 dez/1952 409 18990 Petrobras Quadro 20 – Campos da Bacia do Recôncavo. Fonte: elaboração própria tendo como referência os dados da Brasil Energia, ANP e pesquisa de campo. 17 2 mar/1965 Início da produção jul/1965 Prod. Óleo (b/d) 3497 Prod. Gás (m³/d) 1226415 Fech mar/1970 mai/1979 0 0 Miranga Norte Prod mar/1971 abr/1971 61 9844 Petrobras Norte Faz. Caruaçu Prod jan/1962 out/1982 139 41875 Petrobras Paramirim Fech dez/1950 dez/1952 0 0 Pedrinhas Prod fev/1968 set/1998 0 319 Pitanga Fech dez/1945 - 0 0 ANP Pojuca prod jul/1953 dez/1953 33 27 Petrobras Pojuca Norte Fech mai/1971 dez/2001 0 0 Petrobras Quiambina Prod abr/1983 mai/1983 0 0 UFBa Remanso Prod abr/1971 jun/1973 444 38523 Petrobras Riacho da Barra Prod mar/1982 abr/1982 832 7471 Petrobras Riacho Ouricuri Prod dez/1981 mar/1982 188 748 Petrobras Riacho São Pedro Prod set/1973 jan/1983 0 14142 Petrobras Rio da Serra Prod out/1950 jul/1951 28 20 Petrobras Rio do Bu Prod mai/1984 jun/1984 2925 2969 Petrobras Rio dos Ovos Prod mar/1974 jun/1974 238 767 Petrobras Rio Itariri Prod fev/1985 mar/1985 263 765 Petrobras Rio Joanes Prod nov/1967 jan/2005 18 579 Petrobras Rio Piriri Prod abr/1995 out/1995 1 3202 Petrobras Rio Pojuca Prod abr/1982 abr/1984 455 3171 Petrobras Rio Sauípe Prod jun/1990 set/1998 19 271 Petrobras Rio Subaúma Prod jun/1993 jul/1993 23 33 Petrobras Rio Una Fech jun/1976 - 0 0 Santana Prod dez/1962 dez/1962 29 373 São Domingos Prod mar/1983 abr/1983 27 3 ANP W. Petróleo Brazalta Petrobras São Pedro Prod dez/1957 dez/1962 23 550 Sauípe Prod mai/1960 mai/1960 0 0 Sesmaria Prod jul/1966 out/1966 196 19207 Socorro Prod jan/1960 abr/1960 156 165 Petrobras Socorro Extensão Socorro Extensão Norte Sussuarana Prod out/1962 out/1978 0 23752 Petrobras Desenv mai/2010 - 0 0 Petrobras Prod ago/1975 mai/1979 0 0 Petrobras Tapiranga Desenv mai/2010 - 0 0 Petrobras Tangará Prod nov/2005 abr/2006 413 3312 Petrobras Taquipe Prod dez/1958 mar/1959 1999 19819 Petrobras Tico-Tico Prod ago/2008 não disp. 0 0 Nome do campo Situação Descoberta Miranga Prod Miranga Leste Empresa Petrobras ANP ANP Petrobras Petrobras W. Petróleo Brazalta Petrobras W. Petróleo Brazalta Uirapuru Prod jul/2003 fev/2005 52 6645 Petrosynergy Quadro 20 – Campos da Bacia do Recôncavo. Fonte: elaboração própria tendo como referência os dados da Brasil Energia, ANP e pesquisa de campo. 173 Devido ao seu tempo de exploração e produção, a Bacia do Recôncavo também conta com uma rede de dutos de transporte de hidrocarbonetos já instalada. A Figura 65 apresenta a rede de dutos da Bacia do Recôncavo. Figura 65 – Rede de Dutos da Bacia do Recôncavo. Fonte: elaboração própria baseada nas cartas cartográficas de 1:100.00 do IGBE, dos mapas das regiões industriais da SICM e imagem extraída do mapa da revista Brasil Energia (2008). É importante destacar que a Petrobras tem um projeto piloto de injeção de CO2 na Bacia do Recôncavo. O CO2 é proveniente de uma indústria de fertilizantes (FAFEN) e uma de óxido de eteno (OXITENO), onde ele é um subproduto da produção de amônia que normalmente seria emitido para a atmosfera (200 t CO2/dia). Depois de capturado, CO2 é comprimido em estado supercrítico, transportado através de um duto de 75 km e utilizado no projeto de EOR no campo maduro terrestre (Miranga), com uma 17 4 área de 12 km2. O CO2 é injetado em um reservatório com uma profundidade de aproximadamente 1.800 m (Ravagnani e Suslick, 2008). Segundo Shecaira (2004), a Petrobras planejava mudar o foco do projeto que era de EOR para o de Armazenamento Geológico de CO2. No que diz respeito às distâncias das fontes de emissão e os sumidouros em um projeto de CCS com o transporte por dutos, segundo o IPCC (2005), as distâncias não devem ser maior do que 300 km devidos aos custos envolvidos. Essa situação é encontrada na Bacia do Recôncavo, onde as fontes de emissão estão a menos que 300 km dos sumidouros. 5.2 ESTUDO DE CASO A discussão do estudo de caso referente à aplicação das tecnologias de CCS no Estado da Bahia teve como premissa a condução pelo setor privado, haja vista que a posição do Governo do Brasil é clara quanto ao suporte à implantação das tecnologias de CCS, o Governo é a favor das tecnologias de CCS, entretanto entende que tais tecnologias devem ser conduzida pelo setor privado. Contudo, o setor público não pode ser excluído dessa discussão, já que interage diretamente em diversos pontos críticos para o sucesso na implantação das tecnologias de CCS. É importante ressaltar que para o setor privado se despertar para o uso das tecnologias de CCS são necessários incentivos do setor público. Conforme afirmado anteriormente, a sinergia e interação entre os diversos atores envolvidos na implantação e difusão das tecnologias de CCS é um fator crucial. Diversas são as formas de interação entre estes atores, que vão desde as questões básicas, como a definição dos locais onde abrigarão os projetos, como as questões econômicas, financeiras, técnicas e, principalmente, estratégica e políticas. De forma geral, o autor desta tese entende que existem diversas formas para o alcance do sucesso de um projeto de CCS, tendo, como referência, as peculiaridades da região onde se encontra e o nível de desenvolvimento desta região. A Figura 66 apresenta o fluxo das ações e decisões que devem ser as mais apropriadas para a implantação das tecnologias de CCS no Estado da Bahia para fins de armazenamento geológico do CO2. Além da sequência das ações, também é apresentado, via cores, o possível responsável pela ação, sendo a cor verde para o setor privado e a vermelha para a ação que pode ser do setor privado ou público. Sendo mais específico quanto ao setor 175 público, uma possível atuação de empresas públicas, como na área de transporte de gás como acontece para o gás natural com a Bahiagás. INÍCIO - Levantamento das fontes de emissão de CO2 - Infra-estrutura - existência de sumidouros - levantamento das legislações existentes que tenha alguma relação com o projeto - Conhecimento técnico da sociedade civil Análise geral da região em estudo. Tem potencial? N FIM S Identificação e mapeamento (screening) das fontes de emissão. Análise do potencial para a injeção (screening) e definição da capacidade teórica dos reservatórios. 1 Análise das tecnologias de captura existentes passíveis de aplicação nas fontes mapeadas. Análise dos captura. custos Uso em EOR ou Aquífero Salino. de 2 O destino agrega valor? Viável capturar? N S N FIM Análise da obtenção de Crédito de Carbono pelo Mercado Voluntário. S Definição dos potenciais destinos (venda ou reuso). Definição das especificações do CO2. 3 Análise dos injeção. 4 Análise final da possibilidade de injeção e definição do valor do CO2 na “boca do poço”. 5 custos N Viável injetar? S de Análise da obtenção de Crédito de Carbono pelo Mercado Regulado (MDL) 17 6 1: - Mapeamento das fontes emissoras existentes - Caracterização das tecnologias de produção das fontes emissoras - Capacidade teórica de emissão das fontes. Análise das tecnologias de transporte existentes passíveis de aplicação. Análise dos transporte. custos 2: de - Com impostos sobre o CO2 - Sem impostos sobre o CO2 - Com subsídios do Governo (isenções, etc.) - Venda para o setor privado (levantamento de possíveis compradores/destino) 6 3: Viável transportar? - Deve-se levar em consideração a escala a ser capturada e a escala do destino a ser dado. - A depender do destino há a necessidade de consultar a comunidade. N FIM 4: - Se o destino for para a injeção em reservatórios geológicos há a necessidade das especificações estarem estabelecidas em regulação específica. S 5: - Percepção pública - Conhecimento técnico - Análise da circuvizinhança da área do projeto - Análise de risco - Consulta ao Setor Público (Instituições de licenciamento) - Consulta sobre possibilidade de projeto para obtenção de crédito de carbono - Análise financeira em função da viabilidade do projeto, levando em consideração o preço do barril do petróleo ou do m3 do metano a ser recuperado. Definição das Especificações para o transporte do CO2. Projeto é viável? N FIM 6: - Transporte feito pela iniciativa privada - Transporte feito por empresa pública - Com impostos sobre o CO2 transportado - Sem impostos sobre o CO2 transportado - Com subsídios do Governo (isenções, etc.) - Venda para o setor privado (levantamento de possíveis compradores/destino) - Custos com regulação. S Implantação das unidades piloto de captura, sistema de transporte e injeção. 7: Projeto é viável em larga escala? N FIM S Nova discussão sobre o porte e tempo do projeto e definição dos atores. 7 - Participação ativa da comunidade via conselhos específicos - Conhecimento técnico - Definição dos Atores regulatórios - Definição da regulação, abrangendo transporte, injeção e monitoramento - Discussão do estabelecimento de impostos e/ou taxas - Ajustes finais sobre Licenciamento - Discussão sobre os custos de monitoramento - Definição das responsabilidades do projeto e direto de propriedade do CO2 injetado. FIM Figura 66 – Fluxo de Ações e Decisões para a implantação de um Projeto de CCS na Bahia. Fonte: elaboração própria. 177 Posto isso, a sequência a ser seguida no desenvolvimento deste estudo de caso é, inicialmente, a avaliação do potencial de emissões de CO2 no Recôncavo baiano. Esta avaliação já foi realizada por Mustafa et al. (2003), entretanto esta publicação aponta o potencial da região e não o das fontes de emissão. Segundo o IPCC (1996 e 2006), as duas metodologias para realizar o inventário de emissões de GEE é por meio do balanço de massas ou do fator de emissão que são aplicados para a elaboração de inventários nacionais e também podem ser aplicados em casos como uma unidade industrial. Entretanto, cada uma dessas metodologias tem os seus pontos positivos e negativos. No que se refere ao balanço de massas, tem a vantagem de refletir as emissões reais no local em que elas ocorreram, capturando as diferenças não só entre os tipos de instalações e equipamentos, mas entre instalações individuais e equipamentos (IPCC, 2006). Sendo assim, a metodologia de contabilização das emissões via, o balanço de massas, é susceptível de serem mais precisas do que os fatores de emissão, entretanto, necessita de informações detalhadas do processo, equipamentos, matéria-prima, dentre outras informações que em geral são difíceis de serem disponibilizadas. Já os fatores de emissão são valores obtidos em função da tecnologia e das matérias-primas de um processo, estes fatores buscam retratar o desempenho do processo quanto às emissões. A robustez e a confiabilidade de um fator de emissão dependem fortemente da avaliação contínua, levando em consideração as características regionais e o parque tecnológico (IPCC, 2006). No estudo de caso realizado neste trabalho, a metodologia aplicada para quantificar as emissões de CO2 das fontes estacionárias foi a aplicação dos fatores de emissão relacionados com os produtos das empresas selecionadas. Para a definição do fator de emissão, foram consultados o guia do IPCC (2006) e os fatores de emissão definidos nos inventários do Brasil (2011) e de diversos Estados como o de São Paulo (CETESB, 2011), Rio Grande do Sul (Rio Grande do Sul, 2010), Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, 2007). Além da estimativa das emissões, obtidas via a aplicação dos fatores de emissão, outra fonte para a obtenção das emissões de CO2 das empresas foram os relatórios elaborados pelas próprias empresas e divulgados ao público, em destaque o relatório elaborado pela Braskem para o Programa Brasileiro GHG Protocol em 2010. A identificação das fontes de emissão foi feita, tendo como referência as principais fontes emissoras de CO2 apresentadas pelo IPCC (2006) e pelo Roadmap do CCS específico para os setores industriais da IEA (2011). Além da consulta a essas duas 17 8 fontes, outra fonte consultada foi o banco de dados da IEA GHG, disponiblizado pela instituição específicamente para esta pesquisa. Tendo como base estas fontes, as fontes emissoras identificadas foram provenientes de refino de petróleo, produção de cimento, indústria petroquímica e química, produção de amônia, além da produção de metais e ligas. Outro setor também identificado foi o da indústria sucro-alcoleira, entretanto, por se tratar de um setor safreiro, o mesmo ficou de fora desta análise numa perspectiva futura de ampliação deste estudo de caso. A Tabela 9 apresenta as empresas identificadas na região do recôncavo baiano com o potencial de emissões possíveis para serem capturadas, com o objetivo de participarem de um projeto de CCS. As informações, quanto à produção destas indústrias, foram coletadas junto ao Centro de Fomento Industrial de Camaçari (COFIC, 2009)19. 19 Os nomes das empresas foram preservados em função das informações obtidas no COFIC ou em documentos oriundos das empresas. Não foi feita nenhuma atualização nos nomes em função da originalidade das informações obtidas nas fontes de pesquisas. 179 Tabela 9 – Identificação e Potencial de Emissões das Fontes Estacionárias no Recôncavo Baiano Empresa Área Produto final Capacidade Instalada (t/ano) Emissões de tCO2/ano Emissões de tCO2/dia 3.282.152,00 8.992,20 446,00 1,22 21.868,00 59,91 20.014,00 54,83 105.673,00 289,52 109,00 0,30 Braskem Complexo Básico Eteno Propeno GP Propeno GQ Butadieno Benzeno Orto-xileno Para-xileno Tolueno Braskem PE 1 Complexo Básico PEAD (polietileno de alta densidade) 225.000,00 Braskem PE 2 Complexo Básico PEAD (polietileno de alta densidade) 150.000,00 Braskem PE 3 Complexo Básico PELBD/PEAD PEBD/EVA 200.000,00 150.000,00 Braskem Complexo Básico DMT Resina PET Caprolactama Sulf. Amônia Ciclohexano Ciclohexanona PVC 82.000,00 74.000,00 60.000,00 110.000,00 75.000,00 60.000,00 250.000,00 CQR/ Triken e Brasken Complexo Básico Cloro Soda Caústica 45.700,00 51.500,00 Oxiteno Complexo Básico Óxido de eteno Etilenoglicóis Éteres glicólicos Etanolaminas Derv. Etoxilados 260.000,00 300.000,00 25.000,00 45.000,00 130.000,00 0,863 (IPCC, 2006) 224.380,00 614,74 DOW Química (Aratu) Candeias Óxido de propeno Propileno glicol (MPG + DPG) 250.000,00 103.000,00 0,8170 0,8563 (IPCC, 2006) 292.448,90 801,23 Ciquine/ Elekeiroz Complexo Básico Anidrido ftálico Anidrido fumárico n-Butanol Isobutanol Octanol DBP DIB DOP Maleato de butila Acrílatos 42.000,00 1.700,00 27.500,00 27.500,00 85.000,00 47.500,00 47.000,00 74.000,00 70.000,00 10.800,00 0,105 (Índice técnico declarado pela empresa) 45.465,00 124,56 Acrinor Complexo Básico Acrilonitrila Acido cianidrico (HCN) Acetonitrila 0,6664 (IPCC, 2006) 58.643,20 160,67 Politeno Complexo Básico 1.237,00 3,39 PEBD EVA Polietileno linear/PEAD Fonte: elaboração própria. 910.000,00 240.000,00 322.000,00 185.000,00 300.000,00 70.000,00 130.000,00 35.000,00 Emissões declaradas ou Fator de emissão 88.000,00 12.000,00 135.000,00 56.000,00 130.000,00 Relatório do GHG Protocolo da Empresa e considerado somente as emissões provenientes do processo de combustão. 0,0030 0,0064 (MCT, 2006) 18 0 Tabela 9 – Identificação e Potencial de Emissões das Fontes Estacionárias no Recôncavo Baiano Empresa Área Produto final Capacidade Instalada (t/ano) Complex o Básico Linear Alquil Benzeno (LAB) Linear Alquil Benzeno Sulfonado (LAS) Alquilado pesado Metanor/ Copenor Complex o Básico Metanol Hexamina Pentaeritritol Formiato de sódio Nitrato de hexamina Formaldeído 70.400,00 50.000,00 Poliolefinas Complex o Básico PELBD/PEAD 85.000,00 Complex o Básico Amonia Ureia Acido nitrico Dioxido de carbono - CO2 504.432,00 504.432,00 73.983,00 603.540,00 Dias D'avila Catodo de cobre eletrolítico Vergalhão laminado de diam. 8mm Fio trefilado de diam 1,1 a 2,5 mm Ácido Sulfúrico a 98% Oleum a 22% Sulfato de Níquel Lama Anódica Decoperizada Ouro (na Lama Decoperizada) Prata (na Lama Decoperizada) 220.000,00 211.000,00 12.000,00 500.000,00 60.000,00 300,00 600,00 2,00 30,00 Pojuca Ferro Cromo Alto Carbono(FeCrAC) Ferro Cromo Baixo Carbono (FeCrBC) Ferro Silício Cromo (FeSiCr) Ferro Silício 75 (FeSi 75) Deten FAFEN Caraíbas Metais Ferbasa 220.000,00 80.000,00 Emissões declaradas Emissões de ou Fator de tCO2/ano emissão Estudo feito pela UNIFACS 262,70 por solicitação da Petrobras 0,3750 0,0050 (IPCC, 2006) Emissões de tCO2/dia 0,72 26.650,00 73,01 544,00 1,49 1,3000 (IPCC, 2006) 655.761,60 1.796,61 Kogachi, 2008. 100.000,00 273,97 0,0064 (MCT, 2006) Fonte: elaboração própria. 204.000,00 22.000,00 22.000,00 78.000,00 1,56 (Inventário Brasileiro, 2006) 1,72 Fator de emissão fornecido pelo trabalho do MME. 34.320,00 461,59 134.160,00 181 Tabela 9 – Identificação e Potencial de Emissões das Fontes Estacionárias no Recôncavo Baiano Empresa Área Produto final Capacidade Instalada (t/ano) Emissões declaradas ou Fator de emissão Emissões de tCO2/ano Emissões de tCO2/dia 104.400,00 286,03 118.720,00 325,26 384.007,50 1.052,08 1,8 58.000,00 Alcan Candeias Alumina (Al203) Orsine, 2002 Inventário Brasileiro 2006 - Fator de Emissão Soldeberg 0,371 Votorantin Gerdau Rlam Candeias – Complexo Cimento Industrial de Aratu Simões Filho São Francisco do Conde Vergalhão GG 50 Treliça CA-60 Gerdau Diesel Nafta Gasolina Oleo combustivel Propeno Parafina GLP Querosene de aviacao - QAV-1 Lubrificantes 320.000,00 450.000,00 Capacidade de Refino de 44.500 m3/dia conforme Anuário da ANP 2012. Capacidade ano de 16.242.500,00 m3 Fator de desempenho de emissão de CO2 em 2005 = 51.350 m3/dia = 15,8% da produção Brasil. (MCT, 2006). Sindicato Nacional da Indústria do cimento – 2009. 0,85335 Gerdau, 2005. 0,058149 944.491,27 (Rio Grande do Sul, 2010) Total 6.555.753,17 2.587,65 17.960,98 Fonte: elaboração própria. Após a identificação das empresas existentes que têm relação com as principais áreas emissoras listadas pelo IPCC (2006), pode-se verificar o potencial de emissões de CO2 em aproximadamente 6,5 Mton/ano e 17,96 kton/dia. Entretanto, mesmo com esse potencial, sabe-se que não é possível capturar todo o CO2 emitido. Ao simular os valores obtidos no estudo da Petrobras (2007), tanto para investimentos a serem feitos para a implantação da unidade de captura pela indústria quanto ao valor final da tonelada do CO2, observou-se uma tendência no preço da 18 2 tonelada do CO2 obtido via KS-1, menor do que a MEA. Entretanto, no que diz respeito aos investimentos, observou-se um valor maior para a utilização da KS-1 em relação à MEA. A Figura 67 apresenta o comportamento dos valores obtidos via a simulação feita. A simulação foi feita com as empresas que obtiveram as maiores quantidades de emissões de CO2 após elaborada a Tabela 9. O processo de captura via a queima do O2 também foi analizado em relação à KS-1 nas empresas Ferbasa, Alcan e Gerdau tendo o valor da tonelada do CO2 competitivo mas com os valores de investimento superiores. Vale destacar que as análises realizadas preservaram as capacidades das unidades de captura estudadas pela Petrobras (2007) como 500, 1.000, 1.250, 1.500, 2.000 e 2.500 t CO2/dia e as demais capacidades para as correntes oriundas de siderurgia, produção de amônia e refinaria. Figura 67 – Simulação para a obtenção dos valores para investimento e preço do CO 2 em empresas do Recôncavo. Fonte: elaboração própria com dados da Petrobras (2007). A faixa dos valores de investimentos para a implantação das tecnologias de captura está em torno de 20 a 35 milhões de US$, a valores obtidos em 2007 pela Petrobras (2007). Estão fora dessa faixa os valores para investimento para empresas do setor de siderurgia. Além desses valores para as empresas identificadas, também existem os valores de investimentos para a obtenção de CO2 em plantas de amônia de 5,79 milhões de US$ e em refinaria, variando de 13 a 82 milhões de US$ em função da quantidade capturada, segundo estudo da Petrobras (2007), todos esses valores são referentes à aplicação da membrana KS-1. 183 O comportamento da faixa de preço do CO2 para as tecnologias de captura aplicada é similar, tendo uma variação pequena entre a utilização da MEA e da KS-1. Entretanto, da mesma forma que o valor de investimentos, o setor de siderurgia tem um valor acima da faixa das demais indústrias. A faixa de preço da tonelada do CO2 está entre 35 a 45 US$, estão fora dessa faixa os preços da indústria de siderurgia e para plantas de amônia que é de 97,46 US$. Já para a captura em refinaria, os preços estão dentro da faixa dos demais setores, somente ficando acima para captura de quantidades menores como 378 t/dia que tem o preço de 55,21 US$ a tonelada do CO2. Em paralelo a análise do potencial de captura do CO2 no Recôncavo Baiano, fazse necessária a análise quanto à capacidade de armazenamento do CO2. A análise quanto à capacidade de armazenamento seguiu algumas premissas, sendo elas: - o foco da utilização do CO2 em EOR nos campos da bacia; - análise da capacidade dos campos que estão em operação; - análise dos campos que têm uma profundidade superior a 2.500 ft (762 m) segundo os critérios estabelecidos por Taber et al. (1997); - Fator Volume de Produção - Bo do Óleo (1,28 m3/m3), Fator Volume de Produção Bg do Gás (0,00763 m3/m3) e Densidade de 0,6. Estes valores foram considerados tendo como base os dados fornecidos nos documentos de licitação de campos da Bacia do Recôncavo, disponíveis no Banco de Dados de Exploração e Produção (BDEP)20 da ANP; - produção diária do campo em óleo ou gás natural, sendo desconsiderados os campos com pequena capacidade de produção; - potencial de acréscimo da produção com o uso da injeção do CO2 2,58 ton/m3 (Rocha et al., 2002). Outra fonte de consulta para a seleção inicial dos reservatórios que são potenciais candidatos para a injeção de CO2 foram os critérios pesquisados por Ravagnani e Suslick (2008). Estes autores realizaram uma pesquisa quanto aos critérios de seleção de um reservatório de óleo com potencial para a injeção de CO2, tendo como base o estabelecido na literatura. Com isso, os autores elaboraram o Quadro 21 apresentado a seguir. 20 www.bdep.gov.br 18 4 Características do Reservatório Variação Referência Bibliográfica > 40 Carcoana (1982) >30 Klins (1984) > 27 Bachu (2001) e Stalkup (1984) >25 Bachu (2001) > 30 Carcoana (1982) Temperatura (ºC) < 90 Carcoana (1982) Porosidade (%) >15 Bachu (2001) >1 Bachu (2001) Fator não crítico Klins (1984) Fator não crítico Klins (1984) >1.102 Bachu (2001) >1.500 Klins (1984) < 2.990 Carcoana (1982) >914 Klins (1984) >762 Stalkup (1984) < 12 Klins (1984) e OTA (1978) Densidade (ºAPI) Saturação do Óleo (%) Permeabilidade (mD) Espessura (m) Pressão do Reservatório (psi) Profundidade (m) Viscosidade (cP) Quadro 21 - Critérios para seleção de reservatórios de óleo com potencial para aplicação de CO2. Fonte: Ravagnani e Suslick (2008). Tendo como base as variáveis para a seleção dos reservatórios candidatos, apresentadas anteriormente, a capacidade teórica de armazenamento dos reservatórios selecionados foi de 5,79 Mt CO2/ano (15.850,74 t CO2/dia), com um potencial de acréscimo de produção de 6.143,70 m3/dia. Vale ressaltar que a razão de armazenamento no reservatório do campo de Miranga do projeto da Petrobras foi de 50% (Ravagnani e Suslick, 2008), o que reduziria pela metade a capacidade de armazenamento de um projeto de EOR em operação. A Tabela 10 apresenta o potencial teórico da capacidade de armazenamento e do possível acréscimo da produção de cada campo da Bacia do Recôncavo, tendo como base os valores citados anteriormente para os BO’s de óleo e de gás natural e a densidade de 0,6 admitida para efeito de cálculo. 185 Tabela 10 – Capacidade Teórica de Armazenamento de CO2 nos Campos da Bacia do Recôncavo. Produção de Óleo/dia (m³) Fator Volume de Produção BO Óleo (1,28 m3/m3) Produção de Gás/dia (m³) Fator Volume de Produção BO Gás (0,00763 m3/m3) Potencial para armazenamen to de CO2 (ton) Potencial de acréscimo da produção (2,58 ton/m3) Água grande 469,00 600,32 0,00 0,00 360,19 139,61 Apraiús 14,15 18,11 605,00 4,62 13,64 5,29 Aracás 582,19 745,21 39.527,00 301,59 628,08 243,44 Aratu 0,00 0,00 22.341,00 170,46 102,28 39,64 Biriba 1,59 2,03 70.801,00 540,21 325,35 126,10 Bom Lugar 7,15 9,16 378,00 2,88 7,22 2,80 Bonsucesso 16,38 20,96 169,00 1,29 13,35 5,17 Brejinho 7,47 9,56 236,00 1,80 6,82 2,64 Buracica 698,09 893,56 4.240,00 32,35 555,55 215,33 5,72 7,33 225,00 1,72 5,43 2,10 Canário 28,14 36,02 1.970,00 15,03 30,63 11,87 Candeias 112,24 143,67 0,00 0,00 86,20 33,41 Cantagalo 0,64 0,81 16.639,00 126,96 76,66 29,71 Cassarongongo 193,32 247,45 9.881,00 75,39 193,71 75,08 Cexis 78,06 99,92 245.475,00 1.872,97 1.183,73 458,81 169,95 217,54 3.191,00 24,35 145,13 56,25 98,73 126,37 659,00 5,03 78,84 30,56 Faz. Azevedo 9,54 12,21 2.858,00 21,81 20,41 7,91 Faz. Bálsamo 485,06 620,87 7.774,00 59,32 408,11 158,18 Faz. Belém 67,57 86,49 1.810,00 13,81 60,18 23,32 Faz. Boa Esperança 299,52 383,39 16.032,00 122,32 303,43 117,61 Faz. Imbé 108,90 139,40 27.574,00 210,39 209,87 81,35 Faz. Onça 27,34 35,00 409,00 3,12 22,87 8,87 Faz. Panelas 570,59 730,35 26.371,00 201,21 558,94 216,64 3,66 4,68 240,00 1,83 3,91 1,51 30,68 39,28 490,00 3,74 25,81 10,00 18,60 23,81 1.784,00 13,61 22,45 8,70 Ilha Bimbarra 0,00 0,00 1.910,00 14,57 8,74 3,39 Itaparica 2,38 3,05 3,00 0,02 1,85 0,72 Jandaia 434,98 556,77 10.179,00 77,67 380,66 147,54 Juriti 0,95 1,22 44,00 0,34 0,93 0,36 Lagoa do Paulo 4,29 5,49 43,00 0,33 3,49 1,35 Lagoa do Paulo Norte 13,83 17,70 462,00 3,53 12,74 4,94 Nome do campo Canabrava Cidade de Entre Rios Faz. Alvorada Faz. Rio Branco Faz. Santo Estevão Guanambi Fonte: elaboração própria. 18 6 Tabela 10 – Capacidade Teórica de Armazenamento de CO2 nos Campos da Bacia do Recôncavo. Lagoa do Paulo Sul 0,64 0,81 19,00 Fator Volume de Produção BO Gás (0,00763 m3/m3) 0,14 Lamarão 5,56 7,12 135.312,00 Leodório 1,59 2,03 Malombê 73,93 Mandacaru Nome do campo Produção de Óleo/dia (m³) Fator Volume de Produção - Produção de BO Óleo (1,28 Gás/dia (m³) m3/m3) Potencial de Potencial para acréscimo armazenamen da produção to de CO2 (2,58 (ton) ton/m3) 0,58 0,22 1.032,43 623,73 241,76 113,00 0,86 1,74 0,67 94,63 888,00 6,78 60,84 23,58 3,66 4,68 18.892,00 144,15 89,30 34,61 Mapele 0,48 0,61 16.542,00 126,22 76,10 29,49 Massapê 116,53 149,16 197.990,00 1.510,66 995,90 386,01 0,00 0,00 3.401,00 25,95 15,57 6,03 Mata de São João 65,02 83,23 18.990,00 144,89 136,87 53,05 Miranga 555,96 711,63 1.226.415,00 9.357,55 6.041,51 2.341,67 9,70 12,41 9.844,00 75,11 52,51 20,35 22,10 28,29 41.875,00 319,51 208,68 80,88 Pedrinhas 0,00 0,00 319,00 2,43 1,46 0,57 Pojuca 5,25 6,72 27,00 0,21 4,15 1,61 Remanso 70,59 90,35 38.523,00 293,93 230,57 89,37 Riacho da Barra 132,27 169,31 7.471,00 57,00 135,79 52,63 Riacho Ouricuri 29,89 38,26 748,00 5,71 26,38 10,22 Riacho São Pedro 0,00 0,00 14.142,00 107,90 64,74 25,09 Rio da Serra 4,45 5,70 20,00 0,15 3,51 1,36 Rio do Bu 465,02 595,23 2.969,00 22,65 370,73 143,69 Rio dos Ovos 37,84 48,43 767,00 5,85 32,57 12,62 Rio Itariri 41,81 53,52 765,00 5,84 35,61 13,80 Rio Joanes 2,86 3,66 579,00 4,42 4,85 1,88 Rio Piriri 0,16 0,20 3.202,00 24,43 14,78 5,73 Rio Pojuca 72,34 92,59 3.171,00 24,19 70,07 27,16 Rio Sauípe 3,02 3,87 271,00 2,07 3,56 1,38 Santana 4,61 5,90 373,00 2,85 5,25 2,03 São Domingos 4,29 5,49 3,00 0,02 3,31 1,28 São Pedro 3,66 4,68 550,00 4,20 5,33 2,06 Sesmaria 31,16 39,89 19.207,00 146,55 111,86 43,36 Socorro 24,80 31,75 165,00 1,26 19,80 7,68 0,00 0,00 23.752,00 181,23 108,74 42,15 Tangará 65,66 84,04 3.312,00 25,27 65,59 25,42 Taquipe 317,81 406,79 19.819,00 151,22 334,81 129,77 Uirapuru 8,27 10,58 6.645,00 50,70 36,77 14,25 Total 15.850,74 6.143,70 Massuí Miranga Norte Norte Faz. Caruaçu Socorro Extensão Fonte: elaboração própria. 187 Como o intuito da proposta do projeto de injeção de CO2 apresentada neste capítulo além de recuperar hidrocarbonetos é, também, evitar as emissões de CO2, com isso, deve ser realizada a separação do CO2 do hidrocarboneto produzido. Tendo como referência os valores obtidos pela Petrobras (2007), a depender do % em massa do CO2 a ser separado e a quantidade em toneladas por dia, tem-se uma faixa muito grande para os investimentos, variando de 3,44 a 22,66 milhões de US$. Esse mesmo comportamento acontece com o preço da tonelada do CO2 capturado e separado, variando de 43,07 a 688,92 US$/t. Após verificar a capacidade de captura e armazenamento de CO2 na região do Recôncavo baiano faz-se necessário analisar as questões relativas ao transporte do CO2. Em função das características apresentadas pela região em estudo, o Recôncavo baiano, a melhor opção seria a utilização de dutos já que a distância entre as fontes emissoras de CO2 e os sumidouros não ultrapassa 300 km. É importante destacar que o transporte de CO2 por dutos na região do Recôncavo não é algo novo e essa experiência deve servir como referência para futuras ações. A Figura 68 apresenta o traçado proposto para a linha tronco do duto de transporte do CO2 na região do Recôncavo. 18 8 Figura 68 – Proposta de Trajeto da Linha Tronco para o Transporte do CO 2 na Bacia do Recôncavo. Fonte: elaboração própria. A faixa de preço do CO2, a uma distância a ser percorrida de 300 km, está entre 10 a 15 US$ por tonelada (Petrobras, 2007). Em função das características ambinetais da região (entre 30 a 40 graus Celsius), uma pressão ótima de transporte do CO2 em torno de 12 MPa e o potencial de CO2 a ser capturado na região, o diâmetro da linha tronco pode ser estabelecido em 14 polegadas e uma pressão de injeção de 2.000 psi. A definição do diâmetro da linha tronco foi estabelecida em 14 polegadas em virtude da capacidade de transporte de massa de CO2 de um duto com este diâmetro. 189 Tendo como base o apresentado por Nguyen (2003), um duto de 14 polegadas tem uma faixa de vazão entre 56 a 77 m3/s. Tomando como referência o volume específico do CO2 com 554 m3/ton a uma temperatura de 20º e 1 Atmosfera, esse duto tem a capacidade de transportar entre 8.733,57 a 12.008,66 toneladas de CO2 por dia. Outro fator importante a ser analisado num contexto para a realização de um projeto de injeção de CO2 na Bacia do Recôncavo é a identificação da legislação existente e a correlação das mesmas com as tecnologias de CCS. Isso se faz necessário para que possa ser identificada alguma barreira regulatória existente. É certo que, pelo fato de não existir um arcabouço regulatório específico para as tecnologias de CCS, muitas leis existentes deverão ser aplicadas com o intuito de orientar as possíveis atividades de um projeto de CCS. Isso também deverá acontecer, com as regulações infralegal existentes orundas dos conselhos e agências. O Quadro 22 apresenta os órgãos emissores dos diversos diplomas legais, o nome e o propósito dos diplomas legais e, por fim, a possível relação dos dplomas legais com as tecnologias de CCS. Órgão Nome e propósito da regulação Possível relação com as tecnologias de CCS Lei nº 9605/1998. Dispõe sobre as sanções penais e Esta lei tem uma relação direta com o CCS, administrativas derivadas de condutas e principalmente as questões abordadas na Seção III, atividades lesivas ao meio ambiente e dá outras referente à poluição e a outros crimes ambientais. providências. Lei nº 9985/2000. Presidência Institui o Sistema Nacional de Unidades de Relação direta com a seleção dos locais para da Conservação da Natureza e dá outras possíveis projetos de CCS. República providências. Lei n° 11.909/2009. Dispõe sobre as atividades relativas ao transporte de gás natural, bem como sobre as atividades de tratamento, processamento, estocagem, liquefação, regaseificação e comercialização de gás natural. Conselho Nacional de Políticas Energéticas - CNPE A relação é estabelecida, pois tanto o gás natural quanto o dióxido de carbono são gases e, assim, passam por processos de tratamento, estocagem, liquefação e regaseificação semelhantes. Como define as relações entre a ANP, o IBAMA e os órgãos ambientais estaduais na seleção das áreas Estabelece a política de produção de petróleo e de concessão para a indústria do petróleo, pode ser gás natural e define diretrizes para a realização um instrumento legal a ser tomado como referência de licitações de blocos exploratórios ou áreas quanto à composição das autoridades competentes com descobertas já caracterizadas, nos termos para a seleção dos possíveis locais para projetos de da Lei nº 9.478, de 6 de agosto de 1997. CCS. Resolução nº 08/2003. Quadro 22 – Identificação dos Diplomas Legais com Possível relação com as Tecnologias de CCS. Fonte: elaboração própria. 19 0 Órgão Nome e propósito da regulação Possível relação com as tecnologias de CCS ° Resolução n 92/2008. Relação direta devido aos reservatórios subterrâneos Estabelece critérios e procedimentos gerais profundos de água salina ser potenciais locais para para proteção e conservação das águas um projeto de CCS. subterrâneas no território brasileiro. Conselho Nacional de Recursos Hídricos CNRH Resolução n° 91/2008. Relação direta devido aos reservatórios subterrâneos Dispõe sobre procedimentos gerais para o profundos de água salina serem potenciais locais enquadramento dos corpos de água para um projeto de CCS. superficiais e subterrâneos. Resolução n° 54/2005. Em virtude de regular a utilização do reúso das Estabelece modalidades, diretrizes e critérios águas industriais, pode ser aproveitada para a gerais para a prática de reúso direto não destinação de águas provenientes de um projeto de CCS. potável de água e dá outras providências. Resolução nº 001/1986. Dispõe sobre critérios básicos e diretrizes Relação direta e possível aplicação em sua gerais para o Relatório de Impacto totalidade. Ambiental (RIMA). Resolução nº 013/1990. Dispõe sobre normas referentes às atividades Relação direta e possível aplicação em sua desenvolvidas no entorno das Unidades de totalidade. Conservação. Resolução nº 023/1994. Institui procedimentos específicos para o licenciamento de atividades relacionadas à exploração e lavra de jazidas de combustíveis líquidos e gás natural. Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA Possível aproveitamento como referencial, já que num projeto de CCS deverão existir as atividades de pesquisa dos locais que serão muito semelhantes às de exploração da indústria do petróleo. Resolução nº 237/1997. Regulamenta os aspectos do licenciamento Relação direta e possível aplicação em sua ambiental estabelecidos na Política Nacional totalidade. de Meio Ambiente. Resolução nº 306/2002. Estabelece os requisitos mínimos e o termo Relação direta e possível aplicação em sua de referência para realização de auditorias totalidade. ambientais. Resolução nº 350/2004. Dispõe sobre licenciamento ambiental específico das atividades de aquisição de dados sísmicos marítimos e em zonas de transição. Possível aproveitamento como referencial, já que num projeto de CCS deverão existir as atividades de pesquisa dos locais que serão muito semelhantes às de exploração da indústria do petróleo. Resolução nº 371/2006. Estabelece diretrizes aos órgãos ambientais para cálculo, cobrança, aplicação, aprovação e controle de gastos de recursos advindos de Relação direta e possível aplicação em sua compensação ambiental, conforme a Lei nº totalidade. 9.985/2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) e dá outras providências. Decreto nº 10.943/2008. Governo do Estado da Bahia Dispõe sobre a fiscalização do uso dos Aproveitamento da estrutura para as infrações, recursos hídricos, superficiais e entretanto não aborda situações específicas para o subterrâneos, de domínio do estado da CCS. Bahia. Quadro 22 – Identificação dos Diplomas Legais com Possível relação com as Tecnologias de CCS. Fonte: elaboração própria. 191 Órgão Nome e propósito da regulação Possível relação com as tecnologias de CCS Decreto nº 11.235/2008. Aprova o regulamento da Lei nº 10.431, de 20 de dezembro de 2006, que institui a Política de Meio Ambiente e de Proteção à Biodiversidade do Estado da Bahia, e da Lei nº 11.050, de 06 de junho de 2008, que altera Relação direta com o CCS em função de conter a denominação, a finalidade, a estrutura inúmeros pontos que podem ser aplicáveis ao CCS. organizacional e de cargos em comissão da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMARH) e das entidades da administração indireta a ela vinculadas e dá outras providências. Lei nº 10.432/2006. A lei aborda as questões referentes ao uso das águas subterrâneas, contudo, não aborda possíveis Dispõe sobre a política estadual de recursos contaminações com outras substâncias injetadas no hídricos, cria o Sistema Estadual de subsolo, aborda somente as substâncias depositadas Gerenciamento de Recursos Hídricos e dá no solo. Correlação direta com um projeto de CCS. outras providências. Resolução nº 475/1986. Governo do Estado da Bahia Resolução aplicável para o CCS no que diz respeito Aprova a Norma Administrativa NA003, a situações de emergência provenientes de um dispondo sobre a comunicação de situações projeto. de emergência e de lançamentos acidentais de substâncias perigosas no ambiente. Resolução nº 1039/1994. Esta resolução tem relação direta com um projeto de Aprova a Norma Administrativa NA001/94, CCS no qual o transporte do CO2 seja realizado por que dispõe sobre o controle do transporte caminhões. rodoviário de produtos e resíduos perigosos no estado da Bahia. Conselho Estadal do Meio Ambiente CEPRAM Resolução nº 2929/2002. Dispõe sobre o processo de avaliação de impacto ambiental, para os empreendimentos e atividades consideradas efetiva ou potencialmente causadoras de significativa degradação do meio ambiente e para os empreendimentos e atividades consideradas efetiva ou potencialmente causadoras de significativa degradação do meio ambiente, cuja redação com esta se publica. Na aprovação de um projeto de CCS, em virtude do seu potencial impacto ambiental, o processo de avaliação de impacto ambiental deverá está presente como uma das etapas de elaboração e aprovação do projeto. Resolução nº 2933/2002. Dispõe sobre gestão integrada e responsabilidade ambiental, para as empresas e instituições com atividades sujeitas ao licenciamento ambiental, no estado da Bahia. A resolução apresenta itens que devem ser cumpridos para uma empresa ou instituição que tenha atividades sujeitas ao licenciamento ambiental e deverá ser aplicada em um projeto de CCS. Resolução nº 2983/2002. Dispõe sobre a documentação necessária para o requerimento da licença ambiental, Relação direta para a obtenção de uma possível autorização de supressão de vegetação ou licença ambiental de um projeto de CCS. uso alternativo do solo e outorga de direito do uso das águas, no estado da Bahia. Quadro 22 – Identificação dos Diplomas Legais com Possível relação com as Tecnologias de CCS. Fonte: elaboração própria. 19 2 Órgão Breve descrição do conteúdo Possível relação com o CCS Resolução nº 3022/2002. Aprova a Norma Técnica NT – 006 e Anexo I, que dispõe sobre o processo licenciamento ambiental da atividade exploração e lavra de jazida de petróleo e natural, em terra, no estado da Bahia. seu de de gás Toda a estrutura estabelecida nesta resolução pode ser aplicada no licenciamento de um projeto de CCS, pois nela são estabelecidos os critérios para autorização ambiental, licença simplificada e licença de operação das atividades de perfuração de poços para pesquisa e produção de petróleo e gás natural em terra. Isso se dá em virtude da proximidade entre as atividades de um projeto de CCS e a indústria do petróleo. Resolução nº 3183/2003. Resolução aplicável para o CCS no que diz Aprovar a Norma Técnica – NT001/2003 que respeito a situações de emergência Conselho dispõe sobre comunicação em situações de provenientes de um projeto. Estadal do Meio emergências ambientais no estado da Bahia. Ambiente Esta resolução caracteriza a tipologia e o porte Resolução nº 3925/2009. CEPRAM dos empreendimentos e atividades sujeitos a licença, autorização ou termo de compromisso Dispõe sobre o Programa Estadual de Gestão de responsabilidade ambiental. Ela contempla Ambiental Compartilhada com fins ao as atividades de extração de petróleo e gás fortalecimento da gestão ambiental, mediante natural que podem ser tomadas como normas de cooperação entre os sistemas referência para as atividades de um projeto de estadual e municipal de meio ambiente, define CCS. A resolução estabelece o seguinte para a as atividades de impacto ambiental local para indústria do petróleo: as atividades de petróleo fins do exercício da competência do cru e gás natural e de exploração de poços de licenciamento ambiental municipal e dá outras petróleo e gás natural são passíveis de licença ambiental. Já as de perfuração ou reabilitação providências. de poço e teste de viabilidade econômica são passíveis de autorização. Potencial relação entre projetos de CCS e as Resolução nº 01/2005. Conselho diretrizes quanto ao manuseio e ao uso dos Estadual de recursos hídricos do estado. Principalmente Recursos Aprova o Plano Estadual de Recursos Hídricos quanto a possíveis fugas do CO2 e potencial Hídricos do Estado da Bahia (PERHBA). contaminação de aquíferos subterrâneos de CONERH água potável. Resolução nº 03, de 30.03.2006. AGERBA Estabelece as condições gerais de fornecimento Assim como o gás natural, a utilização de CO2 de gás canalizado a distribuidores de gás deverá ser precedida das condições para natural comprimido no estado da Bahia e fixa transporte e preço. regras tarifárias. Resolução nº 82, de 24.04.2002. Agência Nacional de Águas - ANA Relação direta, em virtude de possíveis fugas Dispõe sobre procedimentos e define as do CO2 armazenado e contato com lençóis atividades de fiscalização da Agência Nacional subterrâneos de águas potáveis. de Águas (ANA), inclusive para a apuração de infrações e aplicação de penalidades. Resolução nº 06, de 3.2.2011. O transporte de gases por modal dutoviário é largamente utilizado, logo, a regulação desse tipo de modal, voltada ao mercado de armazenamento e injeção de CO2, deve partir do mesmo principio legal, da regulação voltada para transporte de hidrocarbonetos gasosos, estabelecendo uma relação forte entre a regulação existente para gás natural e sua viabilidade para o CCS. Considera-se que compete à ANP estabelecer os requisitos técnicos, econômicos e jurídicos a serem atendidos pelos agentes autorizados ou concessionários responsáveis pela Agência movimentação, por dutos terrestres, de Nacional de Petróleo, Gás petróleo, seus derivados e gás natural, visando à proteção ambiental, à segurança das Natural e Biocombustíveis instalações e das populações. Os agentes produtores, distribuidores, - ANP Resolução nº 15, de 18.6.2009. operadores de dutos entre outros (envolvidos com CCS) ficariam submetidos à mesma Os agentes relacionados na resolução ficam resolução (N° 15) visando promover o controle obrigados a enviar à ANP informações mensais das atividades de EOR e/ou o armazenamento sobre as suas atividades. em campos maduros ou secos. Quadro 22 – Identificação dos Diplomas Legais com Possível relação com as Tecnologias de CCS. Fonte: elaboração própria. 193 Órgão Breve descrição do conteúdo Resolução nº 16, de 17.6.2008. Fica estabelecida no Regulamento Técnico ANP, parte integrante desta resolução, a especificação do gás natural, nacional ou importado a ser comercializado em todo o território nacional, especificações de transporte e facilitadores envolvidos no processo. Possível relação com o CCS A produção e a venda de CO2 deverão obedecer às normas técnicas da ANP para que o gás possa ser comercializado em território nacional ou ainda importado para fins de EOR. Cada membro integrante do mercado de CCS deve ter suas funções especificadas pela ANP, fazendo desta resolução um modelo perfeito para uma possível legislação de CCS. Resolução nº 17, de 10.6.2010. Fica regulada, pela presente resolução, a atividade de processamento de gás natural, que abrange construção, modificação, ampliação de capacidade e operação de unidades de processamento de gás natural, condicionada à prévia e expressa autorização da ANP. Possível aproveitamento da regulação quanto à construção de estruturas para processamento de CO2 capturado ou produzido em fontes estacionárias. Para as atividades de EOR será necessária a implementação de uma cadeia de suprimento de CO2 e poderão ser considerados suprimentos de Resolução que aborda a questão dos agentes de CO2 oriundos de fontes internacionais através transporte marítimo da indústria do petróleo de cabotagem, o que torna esta resolução um brasileiro. exemplo para uma resolução de CCS. Resolução nº 23, de 2.5.2011. Resolução nº 43, DE 06.12.2007. Relação direta e possível aplicação em sua Dispõe sobre o regime de segurança totalidade. operacional para as instalações de perfuração e produção de petróleo e gás natural. Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis - ANP Resolução nº 46, de 22.12.2009. Fica aprovado o regulamento técnico, contido no anexo da presente resolução, do Plano de Reabilitação da Jazida para os campos declarados comerciais em áreas inativas com acumulações marginais, definindo o seu conteúdo e estabelecendo procedimentos quanto à forma de sua apresentação. Sendo o CO2 o gás utilizado na recuperação avançada de petróleo através da sua injeção em campos, essa resolução possui correlação direta com o CCS, pois dispõe claramente sobre a utilização do CO2 para fins comerciais. Portaria nº 54, de 30.3.2001. Ficam estabelecidas, por meio da presente portaria, as normas e os procedimentos para o envio de informações mensais sobre processamento, movimentação e estoque de matérias-primas, produção, movimentação, qualidade e estoque de derivados, em instalações industriais e em outros locais de faturamento, por meio do conjunto de formulários Demonstrativo de Controle de Produtos Processados (DCPP). Sendo o CO2 um produto utilizado na recuperação avançada de petróleo, esta portaria correlaciona-se com o CCS, pois o CO2 também deve ser mensalmente introduzido no DCPP. Portaria nº 75, de 3.5.2000. Através dessa portaria podem-se atribuir especificações quanto a poços onde seja O regulamento trata do procedimento para a possível a realização de injeção de CO2 para codificação de poços perfurados com vistas à fins de aprisionamento. exploração ou à produção de petróleo e/ou gás. Portaria ANP nº 100, de 20.6.2000. O regulamento técnico do Programa Anual de Produção (PAP) para os campos de petróleo e gás natural dispõe sobre as questões relacionadas com o acompanhamento e a fiscalização das atividades de produção. O PAP deve incluir a previsão de injeção de fluidos, o que caracteriza a necessidade de recuperação após determinado volume de produção, criando uma relação direta entre esta resolução e a indústria de CCS. Quadro 22 – Identificação dos Diplomas Legais com Possível relação com as Tecnologias de CCS. Fonte: elaboração própria. 19 4 Órgão Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis - ANP Agência Nacional de Transporte Terrestre ANTT Breve descrição do conteúdo Possível relação com o CCS Portaria nº 104, de 8.7.2002. Sendo o CO2 um gás, a portaria pode ser adaptada Fica estabelecida, através da presente para a especificação do CO2 que deverá ser portaria, a especificação do gás natural, de injetada para fins de recuperação ou origem nacional ou importada, a ser armazenamento. comercializada em todo o território nacional. O PRONAR já estabelece que o CO2 é um gás Resolução nº 3.632. Aprova as instruções complementares ao poluente e, assim, seu transporte terrestre (dutos Regulamento do Transporte Terrestre de ou rodovias) deve ser realizado conforme as especificações vigentes na ANTT. Produtos Perigosos. Portaria nº 44, de 11.2.2009. Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologias - INMETRO Aprova o Regulamento Técnico Metrológico, em anexo, o qual estabelece critérios para comercialização, indicação quantitativa e metodologia de verificação dos recipientes transportáveis de aço, destinados ao acondicionamento do Gás Liquefeito de Petróleo (GLP). Assim como para o GLP, os recipientes para transporte de CO2 devem obedecer aos requisitos instituídos pelo INMETRO, visando à maior segurança quanto ao transporte desse gás. O dióxido de carbono líquido refrigerado já figura na lista de grupos de produtos perigosos. Com relação ao CCS deve-se estabelecer uma Aprova a nova Lista de Grupos de Produtos legislação em que o CO2 seja classificado pelo Perigosos. seu potencial danoso ao ser humano e ao meio ambiente. Portaria nº 101, de 9.4.2009. Portaria nº 225, de 29.7.2009. Este regulamento técnico metrológico estabelece os critérios para serem utilizados no exame de determinação quantitativa do conteúdo efetivo do produto Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) quando comercializado em recipientes transportáveis de aço. Quando transportado por modal rodoviário em recipientes de aço, a quantidade de GLP deve ser dentro das especificações técnicas. Com o CO2, a situação deve ser muito semelhante, criando um vínculo entre essa portaria e uma possível regulação de CCS. Quadro 22 – Identificação dos Diplomas Legais com Possível relação com as Tecnologias de CCS. Fonte: elaboração própria. 5.3 FATORES POLÍTICOS, ESTRATÉGICOS, TECNOLÓGICOS E ECONÔMICOS IMPLICADOS NO ESTUDO DE CASO Esta parte do trabalho busca identificar os principais fatores político, estratégicos, tecnológicos e econômicos que estão diretamente implicados no estudo de caso e tem como propósito a apresentação destes principais fatores para que possam ser discutidos, e posteriormente, identificadas as medidas mitigadoras passíveis de serem adotadas para o sucesso do projeto de CCS na Bacia do Recôncavo. O primeiro fator a ser apresentado é o político. Em sendo o setor público o principal agente neste fator, o mesmo não tem se colocado como um facilitador nem impulsionador para a aplicação das tecnologias de CCS, tanto em âmbito nacional como estadual. Contudo, sua participação seria, sem dúvida, um diferencial para alavancar a implantação das tecnologias de CCS no Estado. 195 A necessidade da participação do setor público, estabelecendo políticas de governos específicas e de apoio às tecnologias de CCS, impacta diretamente não só na confiança dos demais atores mas também nas questões relacionadas com P&D. A experiência internacional de pesquisa, desenvolvimento e implantação das tecnologias de CCS tem evidenciado a importância da participação direta do setor público. Nas pesquisas de campo realizadas pelo autor deste trabalho no Japão e no Canadá, pode-se verificar a atuação direta do setor público inicialmente por meio de políticas de governos e consecutivamente via aportes diretos de recursos humanos, infraestrutura e financeiros. No que diz respeito à realidade do Estado da Bahia, não existe nenhum posicionamento do Governo quanto ao uso das tecnologias de CCS, o que é de se esperar já que este comportamento reflete o posicionamento do Governo Federal. Essa falta de suporte político relativo ao uso das tecnologias de CCS tem impactado diretamente o posicionamento dos demais atores e, por consequência, nas áreas de pesquisa e desenvolvimento. O setor público também apresenta lacunas nas questões estratégicas/regulatórias e isso pode ser considerado natural em virtude da não existência de políticas específicas para o uso em larga escala das tecnologias de CCS. O atual arcabouço legal e infralegal não abrange as questões mais críticas do CCS, em especial quanto ao armazenamento geológico do CO2. Por outro lado, como dito anteriormente neste trabalho, muito dos avanços das tecnologias de CCS realizados no setor privado, específicamente na indústria do petróleo, são oriundos do percentual de P&D estabelecido na Resolução 10/99 da ANP. Percebe-se que, mesmo não tendo um foco direcionado para as tecnologias de CCS, muito pode ser feito. O uso desses recursos pelo setor privado e pela sociedade civil (academia) nas tecnologias de CCS é crítico para a redução dos valores de investimento e preço da tonelada armazenada de CO2 visto no estudo de caso. Para os fatores tecnológicos, é possível verificar que não existem barreiras que impeçam o uso das tecnologias de CCS no Estado da Bahia. Percebe-se que todas as tecnologias identificadas no estudo de caso, seja de captura/separação, transporte e armazenamento, são completamente dominadas pelo setor privado e academia, assim como as tecnologias de monitoramento pré, durante e pós injeção do CO2. 19 6 Um dos fatores mais críticos para o uso das tecnologias de CCS na Bacia do Recôncavo é o econômico. Entretanto, pelo fato de a Bacia do Recôncavo ser uma bacia madura com mais de 60 anos de produção, toda a infraestrutura existente como rede de dutos, poços injetores e produtores, dentre outros, pode servir de suporte, o que minimizaria alguns investimentos. Por outro lado, deve ser levada em consideração a questão cultural da população da região, o que pode impactar diretamente no fator econômico, já que a presença de CO2 no subsolo pode ser entendida como algo perigoso pela população o que afetaria diretamente no sucesso de um projeto. A aplicação de técnicas de análise de riscos poderiam minimizar esta questão, pois conhecer e compreender os riscos de fuga envolvidos será mais uma alternativa para dar subsídios na análise de viabilidade dessa tecnologia assim como para compor as informações que serão expostas aos stakeholders, agentes reguladores e ao público em geral (Paraguassú, 2012). O fator econômico é visto pelo setor privado como um ponto crucial para o uso das tecnologias de CCS. A realidade de cada país é distinta quanto aos valores obtidos em projetos de CCS ao redor do mundo. Após a realização do estudo de caso, pode-se verificar que os valores para a tonelada de CO2 capturada nas fontes de emissão em torno de 35 a 45 US$, para a tonelada transportada um valor de 10 a 15 US$. Estes valores são muito maiores dos obtidos, por exemplo, no projeto de Weyburn no Canadá e USA. Em pesquisa de campo realizada, foram coletados valores referentes à tonelada do CO2 para o produtor de óleo na “cabeça do poço” de US$ 20,00. É importante ressaltar que em Weyburn o custo da captura está imbutido no processo, o que acontece nos processos de reforma de gás natural e de oxido de eteno. Os reservatórios do projeto de Weyburn tem uma razão de armazenamento de 50%, a mesma obtida no projeto de Miranga (Ravagnani e Suslick, 2008). Entretanto, o valor da tonelada do CO2, separado após a produção, é de US$ 10,00 e os verificados no estudo de caso apresentado neste trabalho estariam numa faixa de 43,07 a 688,92 US$ a tonelada. As diferenças encontradas nos valores dos preços estão muito relacionadas com o estágio de desenvolvimento e implantação das tecnologias de CCS no país pesquisado o Canadá, além dos incentivos dados pelo setor público a estas tecnologias. Para se ter uma ideia da participação do setor público no fator econômico no Canadá, o novo projeto de CCS, voltado para a injeção em aquíferos salinos, denominado Aquistore e 197 conduzido pelo Petroleum Technology Research Centre (PTRC) em sua grande parte é financiado pelo setor público. Essa mesma realidade acontece no Japão onde as tecnologias de CCS, principalmente as de armazenamento de CO2 em reservatórios geológicos, estão tendo os primeiros estudos mais detalhados e com a previsão de início de um projeto de demonstração em 2015. No Japão, o governo é o principal financiador para o uso das tecnologias de CCS em larga escala, exercendo o papel de suporte à empresa Japan CCS Co. fundada por mais de 30 empresas do setor privado. 5.4 MEDIDAS MITIGADORAS As medidas mitigadoras presentes neste item do trabalho tem como finalidade o levantamento das possíveis ações que possam minimizar os fatores de insucesso de um posssível projeto de CCS na Bacia do Recôncavo. Para tanto, serão preservadas as perspectivas trabalhadas anteriormente. No que diz respeito aos fatores políticos, há a necessidade do estabelecimento de diretrizes claras quanto às emissões de GEE pelo setor industrial, assim como o posicionamento do Governo sobre as tecnologias de CCS, com o intuito de apoiá-las como tecnologias importantes para o combate às emissões de GEE. Este posicionamento acarretaria em suporte a P&D o que levaria a redução dos valores das tecnologias de CCS. Atrelado ao posicionamento do Governo, que está relacionado com o fator político, no que tange o fator estratégico, faz-se necessário definir uma autoridade competente para conduzir as questões sobre CCS no Estado e estabelecer um arcabouço regulatório específico para as tecnologias de CCS, com todas as definições e especificações essenciais para o correto uso dessas tecnologias. Sem a definição da autoridade e do arcabouço regulatório não existe interesse do setor privado, criando com isso um ciclo não produtivo, o Estado não age de forma incisiva nas tecnologias de CCS porque entende que são tecnlogias caras e que deve ser financiada pelo setor privado. Já o setor privado não investe nas tecnologias CCS porque não tem garantias de como serão conduzidas as questões de uso como o direito a propriedade do CO2 injetado ou ações pós injeção , dentre outros. 19 8 A indústria do petróleo instalada na Bacia do Recôncavo, por entender que a injeção de CO2 em campos maduros é uma tecnologia de grande potencial de retorno no futuro e utlizada ao redor do mundo, dá sinais claros de interesse em injetar CO2 em seus campos. A realização de um projeto piloto pela Petrobras é um destes sinais, assim como a pesquisa de campo realizada neste trabalho com outras operadoras. Entretanto, o CO2 é considerado pelas operadoras como uma matéria-prima difícil de ser obtida em grandes quantidades e por um valor não acessível. Em virtude do exposto anteriormente, a participação do setor público se faz tão crítica no processo, pois somente o setor público tem o poder de articulação para organizar os atores privados envolvidos nas etapas de captura, transporte e injeção. O modelo proposto no Japão é passível de análise e de aplicação no Estado da Bahia, já que lá o Governo é o principal contratante de estudos exploratórios (pré-projetos) para a aplicação das tecnologias de CCS. Esta indução do Governo japonês acontece em diversos setores industriais, com mais intensidade para a indústria de geração de energia, a petrolífera e a petroquímica. A fundação da Japan CCS Co. foi um marco para as atividades de parceria entre o setor público e o privado quanto às tecnologias de CCS naquele país. Além de impulsionar o setor privado nos países pesquisados, o setor público também impulsiona a P&D na academia e centros de excelência em tecnologias de CCS. Existem exemplos nos paises pesquisados que são referências mundiais em P&D em CCS. No Japão, o Governo fundou o centro de pesquisa Research Institute of Innovative Technology for the Earth (RITE), que conduziu um dos projetos pilotos naquele país e atualmente é responsável por realizar as atividades de monitoramento pós-injeção do projeto, além de suportar tecnicamente os demais projetos em desenvolvimento. Já no Canadá, o Governo suporta as ações do PTRC um dos principais centros de excelência em P&D nas tecnologias de CCS no mundo. Uma das ações importante para serem realizadas e que estaria relacionada com o fator tecnológico seria o incentivo à pesquisa por meio de linhas de financiamento específicas para as tecnologias de CCS. Haja vista que existem centros de P&D no Estado da Bahia que poderiam ser melhor utilizados quanto à pesquisa em tecnologias de CCS com o objetivo de suportar o seu uso em larga escala. É importante destacar que na pesquisa realizada nesta tese não foi identificada nenhuma barreira tecnológica crítica que inviabilizasse a utilização das tecnologias de CCS no Estado da Bahia. 199 A utlização de instrumentos como os créditos de carbono poderia ser uma ação para auxiliar o fator econômico. Contudo, seria importante estabelecer os limites dos projetos, determinando quem deveria ser beneficiado com os créditos de carbono. Vale destacar que a metodologia que está sendo desenvolvida para o CCS no âmbito dos MDLs somente será passível de aplicação em projetos que tenham como objetivo o armazenamento do CO2 em aquíferos salinos ou em campos depletados/exauridos de óleo e gás. Para a injeção de CO2 com fins de EOR, seria possível a obtenção de créditos de carbono no mercado voluntário, não sendo posssível no regulado, haja vista que, o uso do CO2 para fins de EOR tem um valor agregado, relacionado com o aumento da produtividade dos campos. Da mesma forma, conforme discutido anteriormente, há a necessidade de estabelecer os limites do projeto com o objetivo de definir os beneficiários e suas responsabilidades. Observando numa perspectiva mais ampla as questões mais críticas e que tem relação direta com o sucesso para a implantação de projetos de CCS em um país, o Quadro 23 apresenta os principais indicadores que devem servir como base para a tomada de decisões. Os indicadores apresentados retratam os achados deste trabalho relacionados com cada fator condicionante impactantes na implantação de um projeto de CCS. 20 0 Tipos Indicadores Ratificação de tratados/protocolos internacionais que abordam as tecnologias de CCS (ex.: os protocolos de Kyoto e Londres) Participação ativa em fóruns internacionais de discussão sobre as tecnologias de CCS; Realização de eventos específicos sobre o tema; Estabelecimento de metas de redução de emissões de GEE com a Políticos utilização das tecnologias de CCS; Inclusão na política industrial/ambiental da implantação das tecnologias de CCS; Suporte político e financeiro; Envolvimento da sociedade civil e participação da mesma nas decisões sobre as tecnologias de CCS, em especial quanto aos projetos de armazenamento geológico de CO2. Estabelecimento de uma Autoridade Competente Indicada específica para os assuntos referente as tecnologias de CCS; Estabelecimento de um arcabouço regulatório das tecnologias de Fatores Condicionantes Estratégicos CCS; Participação/ratificação de leis internacionais como a MARPOL; Investimentos em P&D específico para as tecnologias de CCS; Interesse do setor privado nas tecnologias de CCS. Entendimento conceitual das tecnologias de CCS, com o intuito de balizar o desenvolvimento do arcabouço regulatório e investimentos; Tecnológicos Existência de pesquisas e estudos nas tecnologias de CCS; Existência de projetos piloto nas diversas áreas das tecnologias de CCS. Investimentos do setor público e privado nas tecnologias de CCS; Existência de mercados de créditos de carbono que comercializem créditos oriundos da implantação das tecnologias de CCS; Existência de instrumentos financeiros de suporte para a Econômicos implantação das tecnologias de CCS como os fundos; Existência de taxas ou impostos que incentivem a P&D e E&I das tecnologias de CCS; Existência de referenciais nacionais dos custos de implantação e operação das tecnologias de CCS. Quadro 23 – Indicadores para o uso em larga escala das Tecnologias de CCS. Fonte: elaboração própria. 201 6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES FINAIS Os principais fatores que envolvem o uso em larga escala das tecnologias de CCS foram discutidos neste trabalho. Além das discussões apresentadas, também foi levantada a atual situação das tecnologias de CCS no mundo e em destaque no Brasil e, mais específicamente, a possibilidade do seu uso em larga escala no Estado da Bahia. Este trabalho em como principal contribuição para a literatura o estabelecimento de indicadores e a apresentação de propostas para a minimização dos riscos de insucesso de projetos das tecnologias de CCS no Brasil. Esta contribuição se faz importante a partir do momento em que essa discussão é ainda incipiente em países desenvolvidos e inexistente em países em desenvolvimento. Por isso ela coopera para a apresentação dos fatores condicionantes relacionados com o uso em larga escala das tecnologias de CCS no Brasil. Posto isso, o desenvolvimento desta pesquisa se fez necessário para entender e analisar a aplicação das tecnologias de CCS reconhecendo a sua importância no contexto mundial atual e a necessidade do domínio destas tecnologias pelos setores público e privado, assim como, pela sociedade civil do Brasil, em especial pela academia. Reconhecendo que o domínio tecnológico pelo Brasil das tecnologias de CCS é importante para o seu posicionamento junto as demais nações nas discussões referentes à GAG do clima. O trabalho teve como objetivo geral analisar os fatores condicionantes para o uso em larga escala das tecnologias de CCS no Brasil e sua aplicação no Estado da Bahia. Neste sentido, pode-se verificar que as tecnologias de CCS poderão exercer um papel crítico nas questões de combate às emissões de GEE. É certo que, atualmente, somente os países desenvolvidos têm utilizado em larga escala as tecnologias de CCS e que eles são promotores destas tecnologias ao redor do mundo, seja via disussões, em fóruns políticos como a COP, ou via o setor privado por imtermédio de empresas multinacionais. No que diz respeito às tecnologias de CCS no Brasil, a posição do Governo brasileiro tem sido a favor da aplicação das tecnologias de CCS, sendo, contudo, de responsabilidade do setor privado sua implantação e uso. Após o desenvolvimento deste trabalho, pode-se verificar que este posicionamento não fará com que as tecnologias de 20 2 CCS tenham um amplo uso no Brasil. Haja vista que a experiência mundial aponta o setor público, em especial o Governo, como o principal indutor do uso em larga escala das tecnologias de CCS nos países que as utilizam em larga escala. O potencial para a aplicação das tecnologias de CCS no Brasil é muito grande, principalmente para a opção de EOR. Quanto à aplicação das tecnologias de CCS no Estado da Bahia, pode-se constatar um grande potencial para o seu uso em larga escala. Não foram identificadas barreiras tecnológicas significativas que possam impedir a difusão das tecnologias de CCS na Bacia do Recôncavo. Vale destacar que o estudo de caso realizado teve como objetivo ter uma visão mais ampla da utilização das tecnologias de CCS em uma região específica e um caráter exploratório. Nele foram discutidas tanto as questões técnicas e econômicas como as políticas e estratégicas. Entretanto, principalmente nas questões técnicas e econômicas merecem um detalhamento maior das informações. Por exemplo, faz-se necessária a realização de um screening dos reservatórios da Bacia do Recôncavo para se obter com maior exatidão o potencial do uso da injeção do CO2 nos reservatórios. No que diz respeito ao fator econômico, ele poderia ser impulsionado via incentivos governamentais ou impostos/taxas que promovam a redução de GEE emitidos pelo setor privado. Em paralelo a isso, o setor público precisa estar devidamente organizado com atribuições e responsabilidades definidas quanto as tecnologias de CCS. Além disso, o uso de instrumentos como os créditos de carbonos podem ser um fator redutor dos custos de implantação das tecnologias para a injeção do CO2 em reservatórios geológicos. Contudo, como o valor da tonelada do CO2 varia muito com a economia, estes instrumentos não podem ser considerados como essenciais num projeto de CCS e sim como um incremento. Conclui-se então que, dentre os fatores analisados, os que foram considerados como os que contêm maiores obstáculos para o uso em larga escala das tecnologias de CCS no Brasil, e em particular na Bahia, são os fatores políticos e estratégicos, seguidos do econômico e, por fim, o tecnológico. Estes dois últimos não apresentam questões que sejam consideradas críticas, entretanto, estão diretamente ligados aos dois anteriores, em especial o fator econômico que necessita de políticas e estratégias claras para que os valores tanto de investimentos como de preços da tonelada do CO2 alcance o patamar dos valores já praticados em outros países. 203 Outro fator importante a ser destacado após a análise da situação das tecnologias de CCS no Brasil é que não existe sinergia nem interação entre os atores envolvidos e isso impacta diretamente na evolução das mesmas. Todas as discussões e estudos estão sendo conduzidos pelo setor privado que trás consigo a academia. Essa conjuntura não favorece a difusão de uma tecnologia mais ambientalmente amigável, mesmo entendendo o CCS como uma tecnologia de transição, porque não existe segurança na estrutra político/estratégica. A falta de segurança polítco/estratégica para a difusão de determinadas tecnologias não tem um impacto significativo, o que não acontece com as tecnologias de CCS. As tecnologias de CCS são eminentemente intensivas em recursos o que implica na necessidade de um posicionamento políico/estratégico claro para que sejam absorvidas nos processos existentes. Mesmo que o setor privado se empenhe em desenvolver e implantar as tecnologias de CCS, tendo como final o armazenamento geológico do CO2, não será possível sua difusão em virtude das complicações legais existentes no atual arcabouço regulatório. O que implica na descontinuidade das ações e declínio nos investimentos em P&D, o que vem sendo observado junto aos centros de P&D dessas tecnologias espalhadas no Brasil. É possível afirmar que, se não existir alguma definição mais clara sobre as tecnologias de CCS no Brasil, a tendência é que os esforços que têm sido empregados pelo setor privado sejam reduzidos. Isso pode não acontecer se existir um interesse social do setor privado nas tecnologias de CCS, em função de ações de responsabilidade social relacionadas com a imagem das empresas. Mesmo assim, o interesse do setor privado estará relacionado com a necessidade da segurança político/estratégica do setor público e os custos que envolvem a implantação das tecnologias de CCS. Sendo assim, as tecnologias de CCS no Brasil enfrentam atualmente um contexto nada promissor em função da ausência de posicionamento do setor público. O que pode impactar diretamente no domínio das tecnologias de CCS, o que não colocaria o Brasil em evidência nas negociações internacionais da GAG do clima. Refletindo diretamente em sua influência junto aos demais países, já que o Brasil está em desenvolvimento, tanto econômico como populacional, e atrelado a isso, o possível aumento das emissões de GEE. Outro fator importante no aumento das emissões de GEE são as atuais descobertas petrolíferas na Província do Pré-sal que devem impactar diretamente as emissões do país. 20 4 A necessidade de futuras pesquisas no Brasil nas tecnologias de CCS também são de fundamental importância no entendimento dessas tecnologias. Pesquisas direcionadas para o conhecimento dos locais com potencial para abrigar um projeto de CCS são de extrema relevância no atual contexto. Nessa perspectiva é exibida a seguir a consolidação das propostas apresentadas e analisadas ao longo desta Tese: - a realização de projetos pilotos em captura, transporte, injeção e monitoramento do armazenamento geológico do CO2; - a definição de uma autoridade competente para conduzir as questões das tecnologias de CCS no Brasil; - a elaboração de uma lei específica para as tecnologias de CCS no Brasil; - a participação mais ativa do setor público, por meio de políticas claras para o incentivo ao uso em larga escala das tecnologias de CCS; - a criação e utilização de instrumentos financeiros como fundos ou o mercado de crédito de carbono voltados para as tecnologias de CCS; - o maior domínio das tecnologias de CCS pelo Brasil como questão estratégica para o setor privado e setor público; - a definição conceitual das tecnologias de CCS como item crítico para o entendimento dessas tecnologias e por consequência a definição do marco regulatório de tais tecnologias no Brasil, e; - a definição e estabelecimento de indicadores voltados para as tecnologias de CCS que possam minimizar o risco de insucesso na implantação de projetos das tecnologias de CCS no Brasil, em particular no Estado da Bahia. Específicamente quanto ao atual estágio das tecnologias de CCS no Estado da Bahia, há a necessidade de aprofundar as pesquisas e propor soluções nas áreas relacionadas com as políticas governamentais; o desenvolvimento do arcabouço regulatório para o CCS, abrangendo desde a captura até o armazenamento, a análise e aplicação dos atuais de instrumentos econômicos no auxílio à implantação de projetos de CCS. Associado a isso, a identificação dos atores chave como empresas, organizações públicas e experts nas tecnologias de CCS e a realização de eventos com os mesmos com o intuito de discutir amplamente as tecnologias de CCS no Estado. 205 Quanto às pesquisas relacionadas com os fatores tecnológicos, faz-se necessário um aprofundamento na aplicação das tecnologias de captura em cada planta industrial candidata, sendo observadas as especificidades de cada uma, as tecnologias a serem aplicadas e seus custos. Além disso, há a necessidade de discutir e rever os processos industriais existentes e suas rotas químicas, haja vista que existem processos antigos nos quais há a possibilidade de evitar as emissões de CO2 como nos processos que transformam CO em CO2. Quanto ao transporte, há a necessidade de definir com maior exatidão a melhor rota da dutovia, assim como os locais dos city gates, a possibilidade de utilização de outros moldais como o rodoviários, os custos relacionados as opções e o desenvolvimento e aplicação de ferramentas de geoprocessamento e sistemas de informações geográficas para o auxílio à tomada de decisões. Já para a injeção do CO2 e seu armazenamento há a necessidade do aprofundamento das pesquisas de cararcterização dos reservatórios e seleção dos campos candidatos à injeção de CO2. Associado a isso uma análise do aumento da produção de óleo e gás com a utilização da injeção de CO2. 20 6 REFERÊNCIAS AGÊNCIA NACIONAL DE PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS – ANP, 2009. Anuário Estatístico Brasileiro do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis - 2009. Rio de Janeiro, 2009. AGÊNCIA NACIONAL DE PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS – ANP, 2012. Anuário Estatístico – 2012. Disponível em: <http://www.anp.gov.br/?pg=60983>. Acessado em: out. 2012. AGÊNCIA NACIONAL DE PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS – ANP., 1999. Portaria ANP nº 10, de 13/01/99 - Sobre a participação especial. D. O. U. de 14/01/99 Rio de Janeiro, 1999. ALLINSON, W.G, NGUYEN D.N. e BRADSHAW J., 2003. The economics of geological storage of CO2 in Australia. APPEA Journal, 623. ALMEIDA, A.S., ROCHA, P.S., LIMA, S.T., PINTO, A.C.C., BRANCO, C.C.M., SALOMÃO, M. C., 2010. A study on the potential for CCGS in the Pre-salt cluster of Santos Basin: the Tupi pilot application. 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Estes projetos de lei discutem, basicamente, o seguinte: - O modelo regulatório para a exploração e produção de hidrocarbonetos, com a proposta de mudança no regime de contração, passando do atual regime de concessão para o regime de partilha de produção. - A criação de uma empresa estatal direcionada para gerir a parte da produção destinada ao Governo, oriunda do novo regime de contratação (partilha de produção). - Capitalização da Petrobras com o intuito de aumentar a capacidade de financiamento dela e a Cessão Onerosa, que busca aumentar a participação da União no capital e nos resultados da Petrobras. Destaca-se que a proposta em análise coloca a Petrobras como a única empresa que poderá operar os campos petrolíferos do Pré-sal. - Por fim, a criação de um Fundo Social com o objetivo de se consolidar uma fonte de renda regular para o desenvolvimento social e regional. A área onde está localizada a denominada “Província do Pré-sal” foi caracterizada da seguinte forma pelo Congresso Nacional (2009): “Os dados atuais indicam a ocorrência de grandes reservatórios de petróleo e gás natural abaixo de uma camada de sal que deve se estender, pelo menos, do litoral do Espírito Santo até o litoral de Santa Catarina. Essa camada tem aproximadamente 800 km de comprimento e, em algumas áreas, 200 km de largura; a maior parte dos reservatórios deve estar em lâminas de água superiores a 2.000 m. Estima-se que a área da província do Pré-Sal seja de cerca de 112 mil km2. Desse total, 41 mil km2 já estão sob concessão (Congresso Nacional, 2009)”. A Figura 69 apresenta o mapa da Província Petrolífera do Pré-sal com a delimitação de sua área feita pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Bicombustíveis (ANP). 225 Polígono da Província Petrolífera do Pré-sal Figura 69 – Polígono da Província do Pré-sal. Fonte: ANP em www.brasil-rounds.gov.br, acessado em 08 de setembro de 2012. De forma geral, com todas as informações fornecidas pelo Governo do Brasil e pela Petrobras, as descobertas do Pré-sal são da seguinte ordem, apresentadas no Quadro 24 a seguir. É importante ressaltar que alguns blocos do Pré-sal já foram licitados pela ANP e há outras empresas petrolíferas participando do consórcio ou também operando, como é o caso do Bloco BMS-22, operado pela Exxon. Além de todas as descobertas já declaradas pela Petrobras, a ANP informou, em outubro de 201021, a presença de outra reserva no Pré-sal chamada de Libra. A reserva fica em um bloco de propriedade integral da União e foi auditada pela certificadora Gaffney, Cline & Associates. A certificadora avaliou que o volume recuperável pode variar entre 3,7 bilhões e 15 bilhões de barris, sendo mais provável a possibilidade de extração de 7,9 bilhões de barris. O poço situa-se a 183 quilômetros da costa do Rio de Janeiro, sob 1.964 metros de lâmina d'água e a 5,4 quilômetros de profundidade. “A profundidade final prevista, de cerca de 6.500 metros, é estimada para ser alcançada no início de dezembro próximo”, (Agência Brasil, 2010). 21 Fonte: Agência Brasil. Site: http://agenciabrasil.ebc.com.br/web/ebc-agencia-brasil/enviorss/-/journal_ content/56/19523/1090057, visitado em 07 de novembro de 2010. 22 6 Bloco Campo Presença de Hidrocarboneto Volume Recuperado Consórcio Operador BMS-8 Bem-te-vi Sim Não informado Petrobras (66%), Shell (20%) e Petrogal (14%) Petrobras BMS-9 Carioca Iguaçu Abaré Guará Sim Sim Sim Sim Não informado Não informado Não informado 22 1,1 a 2 bi boe Petrobras (45%), BG (30%) e Repsol (25%) Petrobras BMS10 Parati Sim Não informado Petrobras (65%), BG (25%) e Partex (10%) Petrobras Sim Sim BMS11 Tupi Tupi Sul Tupi Nordeste Iracema Iara Não informado Petrobras (65%), BG (25%) e Petrogal (10%) Petrobras Sim Sim Não informado 3 a 4 bi boe Caramba Sim Não informado Azulão Guarani Sim Não Não informado - Júpiter Sim Não informado Libra Sim BMS21 BMS22 BMS24 5 a 8 bi boe Petrobras (80%) e Petrogal (20%) Exxon (40%), Hess (40%) e Petrobras (20%) Petrobras (80%) e Petrogal (20%) União 12,8 a 29 bi boe Petrobras Exxon Petrobras 3,7 a 15 bi boe Total Quadro 24 - Situação das Descobertas do Pré-sal. Fonte: Petrobras, 2009. Atualizado pelo autor (Agência Brasil, 2010). A área do pré-sal, que está sob a concessão da Petrobrás, localiza-se a aproximadamente 290 km da costa, tem uma profundidade de 1.900 a 2.400 metros, cerca de 15.000 km2 e é nomeada de Cluster do Pré-sal da Bacia de Santos, conforme apresenta a Figura 70. Um dos primeiros campos a ser explorado pela Petrobras foi o de Tupi, onde a previsão de início da produção é no final de 2010 com uma estimativa de 100.000 barris de petróleo por dia (bpd) e 5 milhões de m3 de gás natural por dia. De forma geral, as características do hidrocarboneto encontrado nos campos do Cluster do Pré-sal são as seguintes: grau API alto, entre 28 – 30º; alta relação de solução de gás, entre 200 – 300 m3/m3; e, presença de CO2 no hidrocarboneto, entre 8 a 12% (Almeida et al., 2010). A estimativa do potencial de recuperação da área de Tupi é de 5 a 8 bilhões de barris (Almeida et al., 2010). 22 Barril de óleo equivalente (boe) – normalmente usado para expressar volumes de líquidos e gás natural na mesma medida (barris) pela conversão do gás natural à taxa de 1.000 metros cúbicos de gás para 1 metro cúbico de óleo. Para o barril de óleo equivalente internacional, é aproximadamente 6.000 pés cúbicos de gás natural (Definição do site da ONIP – Organização Nacional da Indústria do Petróleo). Observação: A taxa de 1.000 metros cúbicos de gás para 1 metro cúbicos de óleo é para o gás natural nacional. Para cada composição de gás natural e de óleo teremos taxas variadas. 227 Figura 70 - Localização do Campo de Tupi. Fonte: Almeida et al., 2010. Tendo como referência as características do hidrocarboneto do Pré-sal que contém de 8 a 12% de CO2, em função da produção estimada de 5 milhões de m3 dia, pode ser feito um cálculo da massa do CO2 que será emitida diariamente. Ressalta-se que não é necessário este cálculo para a produção de óleo pois as emissões de CO2 são desprezíveis no separador. O cálculo foi feito com a equação P.V = n.R.T, sendo n = m/M, onde, P é a pressão, V é o volume, n=massa/massa molar, R o valor de 0,00821 e T a temperatura. Os valores da pressão e temperatura considerados foram os apresentados pela Resolução ANP Nº 16, de 17.6.2008: “Os limites especificados são valores referidos a 293,15K (20ºC) e 101,325kPa (1atm) em base seca, exceto os pontos de orvalho de hidrocarbonetos e de água”. Com isso obtêm-se: P.V = n.R.T 1 x 1.000 = (m/44) x 0,0821 x 293,15 1.000 = m x 0,5469912 m = 1.828,18 g (referente a 1 m3 = 1.000 lts). = 1,83 kg. Como é estimada a presença de 8 a 12% de CO2 no gás natural do Pré-sal, tem-se a seguinte relação: 5.000.000 gás natural/dia, 22 8 - Melhor cenário (8% de CO2) = 400.000 m3 de CO2/dia = 732.000 kg CO2/dia. Em 01 ano tem-se 267.180 t CO2/ano = 267,18 kt CO2/ano = 0,27 Mt CO2/ano. - Pior cenário (12% de CO2) = 6000.000 m3 de CO2/dia = 1.098.000 kg CO2/dia. Em 01 ano tem-se 400.770 t CO2/ano = 400,77 kt CO2/ano = 0,40 Mt CO2/ano. Quanto às emissões da infra-estrutura de produção, só foram consideradas, neste levantamento, as oriundas dos equipamentos de geração de energia da Unidade Flutuante de Armazenamento e Escoamento – FPSO (Floating Production Storage and Offloading), Cidade de Angra dos Reis, conforme declarado pela Petrobras no Estudo de Impacto Ambiental – EIA e Relatório de Impacto do Meio Ambiente – RIMA, do Piloto do Sistema de Produção e Escoamento de Óleo e Gás da Área de Tupi, Bloco BM-S-11, Bacia de Santos, à Prefeitura de Niterói23 do Estado do Rio de Janeiro, descritas na Tabela 11. Para chegar aos valores declarados, a Petrobras considerou dois cenários, um de implantação e outro de produção, descritos abaixo, e utilizou o Sistema Informatizado da Petrobras denominado Sistema de Gestão de Emissões Atmosféricas (SIGEA24). “Foram identificados 2 cenários distintos de emissão atmosférica: o primeiro refere-se à fase de instalação e a fase inicial de operação, quando o sistema ainda não tiver atingido a estabilização de produção (Cenário I), em que estará em funcionamento os turbo geradores e a caldeira a diesel; o segundo cenário (Cenário II) refere-se a fase estável de produção, quando estes equipamentos passarão consumir o gás produzido (Petrobras, 2009)”. 23 Informações coletadas no site: http://www.urbanismo.niteroi.rj.gov.br/. Acessado no dia 09 de novembro de 2010. 24 Segundo as informações do Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa da Petrobras, 2009, o SIGEA teve sua utilização iniciada na empresa a partir de 2002 para o levantamento das emissões da empresa calculadas pela metodologia desagregada (bottom-up) com base em algoritmos do sistema SIGEA. Fonte: Petrobras, 2009. Gestão de Emissões Atmosféricas – Relatório de Desempenho disponível em < http://www.petrobras.com.br/pt/ meio-ambiente-e-sociedade/preservando-meioambiente/downloads/pdf/131205VersaoFinalPetrobrasInternet. pdf>, acessado em 09 de novembro de 2010. 229 Tabela 11 - Principais efluentes atmosféricos emitidos pelo FPSO Cidade de Angra dos Reis. Emissões – kg/h Fonte de Emissão Combustível Cenários de Emissões NOx CO CH4 SOx MP HCT CO2 Flare Gás II 0,21 1,19 5,19 - 0,28 6,84 341,30 Gás II 40,15 10,30 1,07 - 0,83 1,34 15.970,00 Diesel Marítimo I 99,40 0,37 - 45,73 1,35 0,05 20.900,00 Gás II 40,15 10,30 1,07 - 0,83 1,34 15.970,00 Diesel Marítimo I 99,40 0,37 - 45,73 1,35 0,05 20.900,00 Gás II 40,15 10,30 1,07 - 0,83 1,34 15.970,00 Diesel Marítimo I 99,40 0,37 - 45,73 1,35 0,05 20.900,00 Gerador Auxiliar 1 Diesel Marítimo * 2,85 0,01 - 1,31 0,04 0,001 597,70 Gerador Auxiliar 2 Diesel Marítimo * 2,85 0,01 - 1,31 0,04 0,001 597,70 Gerador de Emergência Diesel Marítimo * 1,90 0,01 - 0,87 0,03 0,001 389,50 Gás II 9,34 3,88 0,11 - 0,35 0,51 7.796,00 Diesel Marítimo I 10,55 2,19 0,02 21,57 0,87 0,11 9.831,00 * 20,37 4,23 0,04 41,66 Emergência *Utilizado somente em situações Emergenciais Fonte: Sistema de Gerenciamento de Emissões Atmosféricas (SIGEA) – Petrobras. 1,69 0,21 18.990,00 Turbo Gerador Principal 1 Turbo Gerador Principal 2 Turbo Gerador Principal 3 Caldeira Principal Caldeira de Diesel Marítimo Como as informações fornecidas pela Petrobras apresentam os dois cenários e ainda um levantamento para os equipamentos de emergência, para efeitos de cálculo deste trabalho, somente foi considerado o cenário II no qual a FPSO estará operando em carga máxima, produzindo cerca de 5 milhões de m3 de gás natural por dia. Sendo assim, totalizando os equipamentos da FPSO inseridos no cenário II, tem-se uma quantidade de emissões de CO2 de 56.047,30 kg CO2/h, por dia tem-se 1.345.135,20 kg CO2/dia que em toneladas seria 1.345,13 t CO2/dia, que em ano seria 490.972,45 t CO2/ano ou 490,97 kt CO2/ano ou 0,49 Mt CO2/ano. Para a realização do cálculo completo das emissões do projeto de Tupi, tem-se os seguintes cenários de emissões por ano: - Melhor cenário (8% de CO2) = 0,27 Mt CO2/ano (proveniente do gás natural) + 0,49 23 0 Mt CO2/ano (proveniente dos equipamentos da FPSO) = 0,76 Mt CO2/ano. - Pior cenário (12% de CO2) = 0,40 Mt/ano ano (proveniente do gás natural) + 0,49 Mt CO2/ano (proveniente dos equipamentos da FPSO) = 0,89 Mt CO2/ano. A Petrobras tem planejado para a operação dos campos da província do Pré-sal, segundo Estrella (2009), cerca de 10 FPSO’s (contando com a Cidade de Angra dos Reis) até 2016. Sendo assim, somente as emissões decorrentes dos reservatórios e das FPSO’s seriam na ordem de 8,90 Mt CO2/ano. O que representaria mais de 70% das emissões do setor de extração e transporte de óleo e gás natural do Brasil, tendo como base o inventário brasileiro de 2005. É importante destacar que, além dessas FPSO’s que estarão em operação na área do Pré-sal da Petrobras, existem outras FPSO’s em operação na costa brasileira seja sob a responsabilidade da Petrobras seja sob a responsabilidade de outra operadora, como a Shell operadora da FPSO Fluminense. Outro fator a ser levantado é que, em todas as áreas já licitadas do Pré-sal, a Petrobras está presente, entretanto, tem a parceria com outras empresas petrolíferas conforme o listado no Quadro 22. Quanto ao campo de Libra, que não tem definição específica para a sua exploração e produção, pode-se fazer uma projeção tendo como base a análise para a produção da área da Petrobras do Pré-sal. 231 ANEXO II Ações e produção científica realizadas no desenvolvimento da pesquisa A primeira ação desenvolvida pelo autor da pesquisa foi a realização do curso de mestrado em Regulação da Indústria de Energia (UNIFACS): 2008 – 2009, tendo como resultado final da pesquisa a dissertação: CÂMARA, G.A.B. Aspectos importantes do armazenamento geológico de CO2 e uma proposta para o seu modelo regulatório no Brasil. 2009. 141 f. Dissertação (Mestrado em Regulação da Indústria de Energia) - Universidade Salvador, UNIFACS, Salvador, 2009. O Quadro 25 a seguir apresenta a participação em congressos acadêmicos e também as publicações em periódicos nacionais e internacionais. PERIÓDICOS Ano Publicação/Congresso 2011 International Journal of International Journal of Greenhouse Gas Greenhouse Gas Control Control 5 (2011) 966–974 ISSN:1750-5836 2012 Journal of Environmental Science and Engineering A 1 Journal of (2012) 21-34 Carbon Capture and Storage Environmental Science Formerly part of Journal Technology: World and Engineering, 5 of Environmental Overview and Potential to (2011) Science and Mitigate GHG in Brazil ISSN:1934-8932 Engineering, ISSN 1934-8932 6 (2011), pp 238-253 George Câmara José Célio Andrade Paulo Rocha 2012 Sistemas & Gestão ISSN: 1980-5160 Revista Eletrônica Sistemas & Gestão 6 (2011), pp 238-254 Tecnologia de Armazenamento Geológico de Dióxido de Carbono: Panorama Mundial e Situação Brasileira George Câmara José Célio Andrade Paulo Rocha 2012 Journal of Cleaner Production ISSN: 0959-6526 Journal of Cleaner Production xxx (2012) 1 - 9 (in press) Storage of Carbon Dioxide in Geological Reservoirs: Is It a Cleaner Technology? George Câmara José Célio Andrade Paulo Rocha Quadro 25 – Publicações da pesquisa. Fonte: elaboração própria. Local/Forma Título Autores Regulatory framework for geological storage of CO2 in Brazil – Analyses and proposal George Câmara, José Célio Andrade, Luiz Eraldo Araújo Ferreira, Paulo Rocha 23 2 CONGRESSOS E EVENTOS Ano Publicação/Congresso 2009 VI Congresso Brasileiro de Regulação - ABAR Local/Forma Realizado de 18 a 20 de maio de 2009, no Rio de Janeiro (RJ). Apresentação Oral Título Mercado de Créditos de Carbono para o Armazenamento de CO2 em Reservatórios Geológicos - Futuro Eminente e Ações Brasileiras Estruturais e Regulatórias Necessárias Autores George Câmara Osvaldo Soliano Luiz Eraldo Ferreira Paulo Rocha Análise da Legislação Ambiental Vigente no Brasil e a sua aplicação para a Tecnologia de Armazenamento de CO2 em Reservatórios Geológicos George Câmara José Ângelo Araújo dos Santos Luiz Eraldo Ferreira Paulo Rocha VI Congresso Nacional de Excelencia em Gestão Realizado de 05 e 06 de agosto de 2010, Rio de Janeiro - RJ e 07 de agosto de 2010 em Niterói – RJ Apresentação Oral Análise e Proposição para a Regulação Brasileira do Uso da Tecnologia de Armazenamento Geológico de CO2 George Câmara, José Célio Andrade, Paulo Rocha e Luiz Eraldo Araújo Ferreira 2º Simpósio de Gestão 2010 Ambiental e Mudanças Climáticas Realizado de 17 a 18 de junho de 2010, Curitiba, Paraná. Apresentação Oral A Utilização do Armazenamento Geológico do CO2 pelo Setor Petrolífero Brasileiro e sua Influência na Governança Ambiental Global do Clima George Câmara Paulo Rocha José Célio Andrade Columbia University in New York, USA, from May 8 to 10, 2011 Pôster Capture and Store Carbon Dioxide Technology: Potential to Mitigate GHG in Brazil George Câmara José Célio Andrade Paulo Rocha Realizado de 18 de abril de 2011, Rio de Janeiro, RJ. Apresentação Oral Estratégias para a Utilização do Armazenamento Geológico de CO2 pelo setor petrolífero brasileiro e sua influência na governança ambiental global do clima George Câmara Paulo Rocha José Célio Andrade 3rd International Workshop on Advances in Cleaner Production São Paulo, Brazil, May 18-20, 2011 Apresentação Oral Storage of Carbon Dioxide in Geological Reservoirs: Is it a Cleaner Thecnology? George Câmara A. Silva Júnior José Célio Andrade Paulo Rocha VII Congresso Nacional de Excelencia em Gestão Realizado de 12 de agosto de 2010, Rio de Janeiro - RJ e 13 de agosto de 2010 em Niterói – RJ Apresentação Oral Tecnologia de Armazenamento Geológico de Dióxido de Carbono: Panorama Mundial e Situação Brasileira George Câmara José Célio Andrade Paulo Rocha Vancouver, BC, Canada, Status of CCS Technology in Japan from October 14 to 17, and Brazil: A Comparative Analysis 2012. Apresentação Oral George Câmara José Célio Andrade José de Oliveira Puppim Paulo Rocha 2009 2010 V Congresso Brasileiro de P&D em Petróleo e Gás 17TH Annual International 2010 Sustainable Development Research Conference 1o Congresso de CO2 na Indústria do 2011 Petróleo, Gás e Biocombustível IBP 2011 2011 2012 62nd CSChE Conference 2012 Realizado de 18 a 22 de outubro de 2009 em Fortaleza, Ceará. Pôster Quadro 25 – Participação em Congressos e Eventos da pesquisa. Fonte: elaboração própria. 233 ANEXO III Análise Comparativa do Status das Tecnologias de CCS no Brasil e no Japão A forma de responder a questões globais dos países desenvolvidos e dos em desenvolvimento difere em diversos pontos. Isso pode ser visto nas questões referentes às decisões globais em relação às emissões de GEE e em consequência às mudanças climáticas. Mas, para analisar as questões referentes ao uso de uma tecnologia, se faz necessária uma análise da situação populacional e econômica já que as mesmas estão relacionadas com o consumo e, consequente, com as emissões de GEE de um País. A Figura 71 apresenta a atual situação populacional do Brasil e do Japão além de projetar as populações de ambos países até o ano de 2050. Além disso, a figura também apresenta a situação em 2011 do Produto Interno Bruto das principais economias mundiais na qual o Japão se coloca como a quarta economia e o Brasil como a sétima. Figura 71 - Projeção populacional até 2050 do Brasil25 e Japão26, e situação do PIB em 201127. Fonte: elaboração própria. Com relação às emissões de GEE no Brasil e no Japão, ambos os países são signatários do Protocolo de Kyoto, entretanto, o Japão é um país Anexo 01 e o Brasil não-Anexo. Em virtude disso, o Japão publica anualmente o inventário nacional de emissões de GEE, além de comunicar suas emissões à UNFCCC. Já o Brasil não tem obrigação de contabilizar anualmente as suas emissões de GEE nem de relatar à UNFCCC. Contudo, em 1994, o Brasil relatou as suas emissões, em 2009 fez um inventário mais detalhado e em 2010 se comprometeu voluntariamente junto a 25 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, acesso em maio/2012: http://www.ibge.gov.br. National Institute of Population and Social Security Research, acesso em maio/2012: http://www.ipss.go.jp. 27 US Central Intelligence Agency (CIA), acesso em maio/2012 of “The World Factbook” (ISSN 1553-8133) in: https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/rankorder/2001rank.html 26 23 4 UNFCCC. A Figura 72 apresenta a situação das emissões do Brasil e do Japão e com suas linhas de tendências. Figura 72 - Comparativo entre as emissões de GEE do Brasil e do Japão. Fonte: elaboração própria Pode-se observar na Figura 72 que a linha de tendência das emissões brasileira de GEE é de crescimento e não alcance das metas enquanto a do Japão é de declínio e estabilização, com probabilidade de alcance das metas estabelecidas. Diversas questões podem estar relacionadas com estas tendências, mas é importante verificar o foco político e estratégico de ambos os países em relação às emissões de GEE e as mudanças climáticas. Desde antes da Rio 92, o Japão está atento às questões climáticas e de aquecimento global, isso fica explícito na publicação do Plano de Ação Arrest Global Warning. Após a Rio 92 até os tempos atuais, o Governo do Japão tem buscado responder às decisões estabelecidas em acordos mundiais em suas políticas e estratégias internas. A Figura 73 apresenta a evolução do quadro político/estratégico do Japão nos últimos vinte anos e as principais respostas em suas políticas e estratégias internas. 235 Figura 73 - Cronologia das principais políticas e estratégias de mudanças climáticas no Japão. Fonte: elaboração própria Se no Japão o estabelecimento de políticas e estratégias é algo que busca responder às principais decisões mundiais, tendo uma evolução gradativa com o passar do tempo, no Brasil, o estabelecimento das políticas e estratégias de combate às mudanças climáticas ganharam importância maior nos últimos cinco anos. A Figura 74 apresenta as principais políticas e estratégias do Brasil com os principais instrumentos legais e a data de vigência dos mesmos. Figura 74 - Cronologia das principais políticas e estratégias de mudanças climáticas no Brasil. Fonte: elaboração própria 23 6 Devido à forma como o setor público no Japão responde às discussões mundiais sobre as questões climáticas, foram identificados alguns pontos importantes durante a realização da pesquisa, com destaque a forma como foram estruturadas as questões referentes às tecnologias de CCS. Tradicionalmente, o setor privado japonês sempre foi avançado na área de desenvolvimento de tecnologia para a captura de CO2, tendo as empresas japonesas participação em diversos projetos de CCS no mundo. Quanto ao desenvolvimento das pesquisas no Japão sobre as tecnologias de CCS, a fundação pelo Governo Japonês do Research Institute of Innovative Technology for the Earth (RITE), em 1990, foi um marco. Entretanto, o diferencial foi o reconhecimento no Action Plan for Building a Low Carbon Society28 do potencial de 30% de redução das emissões japonesas de GEE pelas tecnologias de CCS até 2020. Além de inserir a participação do CCS nas metas de redução de GEE, o setor público também fomenta as iniciativas do setor privado no Japão. Um exemplo disso foi a elaboração do Strategic Technology Roadmap (Energy Sector) e o Cool Earth- Innovative Energy Technology Program. Estes programas atingem principalmente os setores emissores de energia, com destaque para as empresas de geração por carvão mineral, e o de produção de aço. Em 2008, um pool de empresas fundou a Japan CCS Corporation, uma empresa específica para conduzir os projetos de CCS no Japão. Atualmente, a Japan CCS conta com trinta e seis sócias. A Japan CCS está conduzindo estudos em três locais candidatos para abrigar projetos de CCS, sendo o mais avançado o de Tomakomai. Todos os projetos têm o apoio do Governo Japonês e a participação da sociedade civil. A Figura 75, fornecida pela Japan CCS em visita à empresa, apresenta a governança dos projetos de CCS. 28 Action Plan for Achieving a Low-carbon Society, publicado em 29/07/ 2008 pelo Governo do Japão. 237 Figura 75 - Estrutura Organizacional dos Projetos de CCS conduzidos pela Japan CCS Co. Fonte: elaboração própria Para dar suporte à análise do estágio em que se encontram as tecnologias de CCS no Brasil e Japão foi feita uma pesquisa na European Patent Office29 das patentes depositadas por ambos os países nos últimos vinte anos nos principais escritórios de patentes do mundo. Dentre os 09 códigos específicos para as tecnologias de CCS do item de controle da poluição do Inventário Verde da Classificação internacional de Patentes estabelecido pela UNFCCC e o World Intellectual Property Organization (WIPO), somente em dois o Brasil tem mais depósitos do que o Japão. Estes dois códigos estão relacionados com a áreas das tecnologias voltadas para o armazenamento do CO2. A Figura 76 apresenta o comparativo entre o Brasil e o Japão com relação ao depósito de patentes. 29 Pesquisa feita no “Espacenet - Patent search”, http://worldwide.espacenet.com/advancedSearch?locale= en_EP (concluída em 21 de maio de 2012). 23 8 Figura 76 - Comparativo entre Brasil e Japão de depósito de patentes das tecnologias de CCS. Fonte: elaboração própria No que diz respeito à sociedade civil, em especial à academia, os resultados da pesquisa apontam para um número maior de universidades envolvidas com as tecnologias de CCS no Japão do que no Brasil, conforme mostra a Figura 77. Os critérios para a identificação destas instituições foram tomados levando em consideração a participação em projetos, a existência de grupos de pesquisa e o depósito de patentes. Figura 77 - Situação das Instituições de Pesquisa no Brasil e Japão. Fonte: elaboração própria. De maneira geral, no Japão, a sociedade civil tem sido estimulada a conhecer mais sobre as tecnologias de CCS via eventos e congressos promovidos por instituições públicas e pelo setor privado. Já no Brasil, isso tem acontecido de uma maneira menos 239 intensa, restringindo-se ao setor petrolífero que tem estimulado a discussão sobre o tema. Uma ação feita pela sociedade civil no Japão a ser destacada foi a constituição em 2008 do Tomakomai CCS Promotion Council. Este conselho foi formado com a participação dos moradores e associações de pescadores, assim como, pesquisadores das localidades onde sofrerão influência do projeto Tomakomai de CCS. Nesta análise comparativa da situação em que se encontram as tecnologias de CCS nos dois países, pode-se concluir que alguns países têm liderado o processo de domínio e difusão destas tecnologias para o seu uso em larga escala. A forma como os atores de cada país estão respondendo às decisões mundiais sobre as questões climáticas têm influenciado diretamente no desenvolvimento das tecnologias de CCS em cada país. Foi possível verificar avanços no setor privado do Brasil quanto ao desenvolvimento das tecnologias de CCS, em especial quanto ao armazenamento do CO2. Em especial quanto ao setor privado, atualmente, o Japão pode ser considerado um exportador de tecnologias de CCS para a captura e importador de tecnologias de CCS para o armazenamento de CO2. Contudo, devido aos esforços dos atores japoneses envolvidos com o CCS, a tendência é de avanço em todas as áreas tecnológicas do CCS. É possível afirmar que a forma como o Japão está conduzindo as questões referentes ao uso em larga escala das tecnologias de CCS são mais eficientes do que no Brasil. Por isso, a probabilidade de sucesso em futuros projetos de larga escala no Japão é maior do que no Brasil.