Cavalo e cavaleiro - Escola de Equitação do Exército

Transcrição

Cavalo e cavaleiro - Escola de Equitação do Exército
MINISTÉRIO DA DEFESA
EXÉRCITO BRASILEIRO
ESCOLA DE EQUITAÇÃO DO EXÉRCITO
O DESPERTAR DO LÍDER: CAVALO E CAVALEIRO
por
Sérgio de Aragão Costa Rigueira – 1° Ten Cav
Rio de Janeiro
2003
MINISTÉRIO DA DEFESA
EXÉRCITO BRASILEIRO
ESCOLA DE EQUITAÇÃO DO EXÉRCITO
O DESPERTAR DO LÍDER: CAVALO E CAVALEIRO
por
Sérgio de Aragão Costa Rigueira – 1o Ten Cav
Monografia apresentada como requisito parcial à
obtenção do grau de instrutor de equitação, Curso
de Instrutor de Equitação, da Escola de Equitação
do Exército.
Orientador: Carlos Alberto do Couto Ramos Fico
– Maj Cav
César Alves da Silva – Cap Cav
Rio de Janeiro
2003
ESCOLA DE EQUITAÇÃO DO EXÉRCITO
Avenida Duque de Caxias-Vila Militar-Rio de Janeiro-RJ
Este trabalho, nos termos da legislação que resguarda os direitos autorais, é
considerado propriedade da Escola de Equitação do Exército (EsEqEx).
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a qualquer revisão no trabalho monográfico arquivado, seja quanto à forma e à correção na
apresentação, seja quanto ao conteúdo.
RIGUEIRA, Sérgio de Aragão Costa.
O Despertar do Líder: Cavalo e Cavaleiro. Rio de Janeiro: Escola de Equitação
do Exército (EsEqEX), 2003.
74 p.
Monografia (Curso de Instrutor de Equitação), EsEqEx.
1.Ensino. 2.Equitação. 3.Estabelecimentos de Ensino. 4.Liderança Militar.
I. Autor. II.Título
(Ficha catalográfica elaborada pelo autor)
Em memória do General Waltencir dos Santos
Costa,avô, soldado, líder, cavaleiro e amigo eterno.
Para
Wanda de Aragão Costa, avó e entusiasta
das coisas de Cavalaria
e
Wânia
de
Aragão-Costa,
mãe
e
companheira das horas doces e amargas
Obrigado pelo amor incondicional
“Ars longa, vita brevis.”
AGRADECIMENTOS
Ao General Íris Lustosa de Oliveira (in memoriam), meu primeiro instrutor de equitação.
Ao Coronel Jair Marques Jacques (in memoriam), meu primeiro comandante. À
Professora Doutora Wânia de Aragão-Costa, revisora desta obra. Ao General Ernani
Jorge Corrêa, pelo exemplo de líder e cavaleiro. Ao Major Callafange, pela amizade,
incentivo e suporte na senda eqüestre. Ao Major Fico e Capitão Migon, pelas orientações
oportunas e seguras. À querida Academia Militar das Agulhas Negras, particularmente à
Seção de Equitação, na pessoa do Capitão Larri e ao Curso de Cavalaria, na pessoa do
Capitão André Luiz, que muito contribuíram para este trabalho facilitando a pesquisa de
campo e prestando valiosas informações. Aos caros Cadetes, líderes do Terceiro Milênio,
pela receptividade e maturidade com que responderam aos questionamentos propostos e
pela fidalguia sempre a mim dispensada. Ao Nobre Amigo Cavalo que me revelou tesouros
inesgotáveis.
CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO
O MENINO E O CORCEL
Sob o sol da árida Macedônia, o menino observa atentamente um furioso corcel.
Apesar dos seis escravos que tentam segurá-lo com cordas, o animal não se acalma: é
considerado indomável. O jovem tem apenas treze anos, mas não demonstra temor; afinal,
é exímio ginete e, desde os dez anos, acompanha seu pai nas batalhas. Este o desafiara
quanto à doma do impetuoso CAVALO, prometendo-o de presente caso tivesse sucesso.
Mandando que o virem de frente para o sol, ao perceber que o
CAVALO
se assusta
com a própria sombra, o menino empunha as rédeas, sussurra palavras incompreensíveis
para o animal e o monta. Ambos seguem galopando em direção à tribuna do rei Felipe II,
espantado com mais aquela demonstração de audácia do seu filho.
O jovem príncipe é Alexandre, eternizado como O GRANDE, conquistador de todo o
Mundo Antigo conhecido. Ele cavalga Bucéfalo, que será sua montada por duas décadas,
conduzindo-o à frente de seus exércitos, da Europa à Ásia, em direção ao sol até os
confins da terra...
Desde a Antiguidade até os nossos dias, o CAVALO exerce fascínio sobre os homens,
particularmente ante os chefes militares e líderes das mais diversas sociedades:
antigamente, uma necessidade vital para a locomoção e a guerra – exaltado como “trono de
reis e pedestal de príncipes” – hoje, ainda uma estreita ligação com os eqüinos. E, em que
pese o frenético progresso dos meios de transporte e de combate, é intrigante e inestimável
a sua contribuição na transformação da personalidade humana. Como ressalta o francês
Ephrem Houël, Diretor do Haras du Pin (1847 – 1850): “Cercado pelos elementos que
conspiram para sua ruína e por animais cuja velocidade e força superam as suas, o
homem teria sido um escravo sobre a terra. O
CAVALO
fez dele um rei.”(Houël,
Ephrem.Histoire du cheval apud Hontang, Maurice. A psicologia do cavalo, p.11 )
Assim, a presente monografia tem, por finalidade, apreciar as influências do
contato com o
CAVALO
no surgimento de líderes, ao longo do tempo, e investigar o papel
da Equitação na formação dos Oficiais de carreira do Exército Brasileiro.
Para tanto, foi realizada pesquisa bibliográfica acerca dos feitos de personalidades
fundamentais da história mundial e brasileira e da presença eqüestre em suas trajetórias de
vida. Também foram colhidas informações sobre a
EQUITAÇÃO
e o Programa de
desenvolvimento da liderança na Academia Militar das Agulhas Negras, além de
Pesquisa de Campo junto aos Cadetes dos terceiro e quarto anos.
No próximo capítulo, são investigadas as origens da arte eqüestre e analisado o
fenômeno da liderança, buscando estabelecer os primeiros pontos comuns deste com
aquela. Em seguida, são apresentadas as trajetórias de líderes históricos e suas experiências
com CAVALOS que lhes marcaram profundamente.
No Capítulo IV, são analisadas as teorias modernas sobre o desenvolvimento da
chamada “liderança natural” pelo contato com o CAVALO. A liderança militar é o foco do
Capítulo V, em que é explicada a importância do
CAVALO
como ferramenta para a
simulação de situações semelhantes às vivenciadas em combate.
O resultado da Pesquisa de Campo junto aos Cadetes da AMAN, seu pensamento
quanto à importância da EQUITAÇÃO para sua formação como líderes e a contribuição desta
para o desenvolvimento da área afetiva, bem como as atividades, os objetivos e a
finalidade da Seção de Equitação daquela Escola são expostos no Capítulo VI.
Por fim, as conclusões sobre o papel histórico e atual do
CAVALO
no
desenvolvimento da liderança e as sugestões para o melhor aproveitamento desta
contribuição inestimável do CAVALO são apresentadas no último capítulo.
Separadamente, a arte eqüestre e o fenômeno da liderança são assuntos de imensa
vastidão e mesmo a relação entre ambos já é foco de alguns estudiosos, como veremos em
capítulos seguintes. Este trabalho visa, então, sob novo enfoque, a despertar – ou antes
reavivar – a atenção para a importância da convivência com este fascinante animal – o
CAVALO
– como ferramenta para desenvolver atributos essenciais em um líder.
O Homem sabe intuitivamente, há milhares de anos, que o cavalo e a equitação estão ligados à
liderança. Eles não são apenas símbolos de liderança, mas contribuem com a própria capacidade de
liderar. Os esportes eqüestres provocam a plena atividade do cérebro humano. A mente torna-se
vivaz e o corpo flexível. Sendo o cérebro o órgão responsável pela posição do indivíduo na hierarquia
do gênero Homo, a equitação, por causa da sua capacidade única de mobilizar a totalidade da
fisiologia humana, pode tornar-se o próprio agente catalisador da liderança.
(Rink, Bjarke. Desvendando o Enigma do
Centauro)
CAPÍTULO II
A ARTE E O FENÔMENO
“O cavaleiro é mais do que um homem – montar
num cavalo simboliza o ato de domínio sobre toda
a Criação”.
(Bronowski ,Jacob. A Ascensão do Homem)
2. 1. ORIGEM E EVOLUÇÃO DA EQUITAÇÃO
O tempo e lugar dos primeiros contatos de um humano com um eqüídeo são
desconhecidos, mas fato é que os ancestrais do
CAVALO
moderno foram caçados e depois
domesticados por sua carne e leite. Segundo Keegan (1993), foram encontrados ossos de
CAVALOS
aparentemente domesticados em sítios datados do quarto milênio antes de Cristo,
nas povoações da assim chamada cultura Srednij Stog, junto ao rio Dnieper, acima do Mar
Negro.
Os primórdios da
EQUITAÇÃO
confundem-se, deste modo, com o surgimento das
primeiras sociedades estruturadas na Ásia, Europa e África. A complexidade da relação
com a espécie humana reside na condição de que o CAVALO, diferentemente do cão, tem de
ser retirado de uma manada e domado para que haja uma relação de afinidade útil com seu
dono humano.
O homem parece ter, inicialmente, tentado conduzir e montar bovinos ou renas,
utilizando-os na lida agrícola. Keegan (1993), relata em sua obra Uma História da Guerra
que: os sumérios foram os primeiros povos a reconhecerem que os eqüídeos eram animais
de tração mais rápidos e vivazes que os bois. Aperfeiçoado seu arreamento, o
CAVALO
tornou-se adequado como animal de tração para carretas e arados, o que significou que o
veículo ao qual estava atrelado deveria ser o mais leve possível. Surgiu, assim, a biga ou o
carro de guerra. O animal para a biga deveria ser bem selecionado e adestrado. A mais
antiga escola para
CAVALOS,
aparentemente para adestramento padrão, pode ser datada,
com base em um grupo de textos mesopotâmios, dos séculos XIII e XII a.C.
A luta em bigas, iniciada em cerca de 1500 a.C. foi, no seu apogeu, superada pela
cavalaria montada um milênio depois, embora o ato de cavalgar já esteja presente na arte
egípcia em 1350 a.C. No entanto, todos cavalgam em pêlo, sem esporas e nas ancas do
animal, numa posição que não é de controle, talvez por deficiência na estrutura física
daqueles animais. Já no século VIII a.C., a reprodução seletiva produzira um CAVALO que
os assírios podiam montar de forma a colocar o peso sobre as espáduas, desenvolvendo-se
“mutualidade” tal entre a montada e seu cavaleiro que este podia usar o arco em
movimento.
Entretanto, tais avanços já eram obtidos pelos Citas, raça iraniana cujo lugar de
origem pode ter sido as distantes montanhas Altai, no Leste da Ásia central. Estes foram
considerados os “inventores” da
EQUITAÇÃO,
atividade esta intrínseca à vida de pastores
nômades. Enfim, este seria o modo mais eficiente de controlar suas manadas, suprimindo
o estágio da atrelagem. No final do século VII a.C., eles varreriam o Império Assírio, na
esteira de outro povo de cavaleiros, os chamados Cimérios. A eles, iriam seguir-se os
Hunos, Turcos e Mongóis, integrando os denominados povos nômades montados das
estepes, que assolariam a Eurásia durante dois milênios com eficazes exércitos com base
na chamada “Equitação Natural do nômade”, segundo o estudioso dinamarquês Bjarke
Rink:
Os nômades, na grande estepe asiática, depois de domesticar o cavalo e adotarem o seu sistema
locomotor, estavam também aprendendo a formar um sutil repertório de movimentos cooperativos
com os movimentos do animal – desenvolvendo um sentimento instintivo para a equitação, que
transformaria o Homo-Caballus no maior predador da história, capaz de conquistar reinos e
impérios, com o poder da sua velocidade física e intelectual... A equitação foi inventada na Ásia
Central e a equitação natural dos povos nômades é provavelmente a que atingiu o mais alto nível de
interação fisiológica entre cavalo e cavaleiro.
(Rink Bjarke.O Catalisador
da História)
Na Grécia, em 400a.C., Xenofonte sistematizou, pela primeira vez, a
EQUITAÇÃO
no
seu “Manual de Cavalaria”, influenciado pelo contato com persas, cujas raízes estavam
nos povos nômades. Nesta obra, fundadora da
princípios do perfeito entrosamento entre
EQUITAÇÃO
CAVALO
clássica, ele apresenta muitos
e cavaleiro – verdadeira fusão – bem
característico dos povos das estepes.
Durante o Império Romano e a Idade Média, muitos destes ensinamentos foram
negligenciados em favor da dominação do animal “irracional” a todo custo, com o
emprego de fortes embocaduras, rédeas restritivas e constantes castigos. Influenciada
pelo modo de vida agrícola e sedentário e dispondo de animais linfáticos, grandes e fortes,
a
EQUITAÇÃO
regrediu à técnica da atrelagem. Foi somente durante a Renascença, já no
século XVI, que, na Escola Napolitana de Equitação, Frederico Grisone e seu sucessor
Gimbatista Pignatelli, resgataram parcialmente o método clássico, ainda que com alguma
brutalidade, expondo-o no livro “Gli Ordini di Cavalcare”– O Sistema de Cavalgar –
escrito por Grisone.
Um brilhante aluno desta Escola, Antoine de Pluvinel (1555 – 1620), aperfeiçoou a
EQUITAÇÃO
acadêmica – aproximando-a dos princípios de Xenofonte – e alçou a França
à condição de maior centro eqüestre da Europa com a Escola Real de Equitação de
Versalhes. Seu livro “Le Manège Royal”, escrito como um diálogo entre ele e seu ilustre
aluno, o futuro rei Luiz XIII, destacava os métodos racionais e menos coercitivos. A ele,
seguiu-se François Robichon de La Guérinière e sua obra “École de Cavalerie”, de 1751,
que refinou ainda mais a arte eqüestre clássica e encontrou grande eco nas cortes européias
do século XVIII.
Cabe ressaltar a participação eqüestre no desbravamento e na colonização nas
Américas. Nestas vastidões territoriais, o
CAVALO,
introduzido pelo colonizador europeu,
encontrou condições extremamente favoráveis à sua propagação, difundindo-se com
rapidez por todo o continente e até tornando-se um novo elemento de diversas culturas
indígenas, como um ressurgimento dos “povos das estepes” nos mitos do “Velho Oeste”.
O século XIX assistiu a grande controvérsia em torno de dois mestres, a qual
movimentou o meio eqüestre, particularmente após a publicação, em 1842, do “Nouvelle
Méthode d'Equitation” de Francois Baucher, excepcional equitador artístico e burguês,
que se apresentava, até mesmo, em espetáculos circenses, introduzindo novos movimentos
na
EQUITAÇÃO
e engrandecendo a Alta Escola. Já o Conde Antoine Cartier D’Aure, um
dos fundadores da Escola de Equitação de Saumur, figurava como nobre cavaleiro
desportista, difundindo maior aproximação com a filosofia inglesa e a prussiana, voltada
para os esportes ao ar livre. Podemos dizer que o primeiro foi o precursor do Dressage
moderno, continuado pelos generais franceses L’Hotte e Decarpentry, enquanto o segundo
lançou as bases do Salto Clássico, aperfeiçoado pelo capitão italiano Frederico
Caprilli(1868 – 1907).
Caprilli introduziu o conceito revolucionário de que os homens se ajustassem ao
centro de gravidade e aos movimentos do
CAVALO,
encarando este não mais como um
objeto e, sim, como parceiro inteligente, restaurando a filosofia da
EQUITAÇÃO
natural
dos povos nômades das estepes.
A partir de meados do século XX o CAVALO é gradualmente afastado dos campos de
batalha, mas os vários desportos eqüestres continuam sua evolução e, mesmo nos dias
tecnológicos do século XXI, a Arte Eqüestre é reconhecida como uma das mais nobres e
importantes conquistas da Humanidade.
2. 2. O FENÔMENO DA LIDERANÇA
Desde o aparecimento da espécie humana e mesmo entre seus ancestrais, verificou-se
fenômeno comum a todos os grupos sociais: o surgimento de um ou vários líderes. A
necessidade e as funções do líder já são bem conhecidas como a unidade, a direção, a
defesa e a organização para garantir a subsistência do grupo. Contudo, à medida que o grau
de complexidade do agrupamento social aumenta mais nebulosos são os fatores detectáveis
que levam à eleição de um indivíduo como líder desse.
A problemática da liderança já foi – e continua sendo – objeto de diversos
estudiosos. Sua importância cresce a cada dia, não só no meio militar, como também no
empresarial, fato que podemos constatar pelo número de publicações anuais em todo
mundo versando sobre o assunto.
Diversas teorias buscam explicar a origem dos líderes, entre as quais se destacam:
– Teoria inatista, na qual a liderança seria fator hereditário, uma característica da
personalidade que tornaria o líder reconhecido em todas as situações. Tal teoria é frágil,
uma vez que não explica a destituição do líder.
– Teoria sociológica, em que o líder surgiria unicamente das situações que o
cercam, definindo o “líder emergente”. Não justifica por que determinados indivíduos
seriam escolhidos nestas situações.
– Teoria do campo social, segundo a qual a liderança seria interação entre os
membros do grupo em que o líder ascenderia por participar ativamente demonstrando suas
qualidades em um contexto sócio-histórico. Concilia as anteriores e é a teoria mais
difundida.
Outra classificação relevante é o tipo ou o estilo de liderança, ou seja, a forma como
o líder exerce a direção do grupo, que pode ser, basicamente: autoritária ou autocrática,
na qual ele é o único responsável, estabelecendo as metas e meios para atingi-las e
avaliando resultados, desprezando, portanto, a iniciativa dos liderados; e participativa ou
democrática, em que os liderados são partícipes no processo para atingir os objetivos
solidários, estabelecendo interdependência entre os membros do grupo.
Em virtude do avanço tecnológico da era da informação, com praticamente todos os
escalões da hierarquia tendo acesso à situação, surgem questionamentos quanto à
permanência da autoridade do comandante, sobretudo os subalternos. Contudo, o
exército mais moderno do mundo reconhece:
Poderá esse maior conhecimento da situação permitir que os comandantes nos níveis mais elevados
dirijam cada movimento no campo de batalha, retirando a responsabilidade do processo decisório
tático do comandante e lideres subalternos ... A doutrina do Exercito dos EUA reconhece dois
componentes principais de comando em combate: processo decisório e liderança. Embora a
tecnologia da era da informação e o ambiente estratégico irão afetar cada aspecto do comando em
combate de forma diferente, ambos os componentes permanecerão essenciais ao êxito no campo de
batalha...Os lideres continuarão operando em ritmo mais acelerado, em ambientes mais complexos e
mais letais do que nunca.
(Blackwell, Paul; Bozek, Gregory. Liderança para o
novo milênio)
Classificada, por vezes, como um atributo único do domínio afetivo, a liderança é
hoje mais entendida como constructo de características e capacidades desejáveis em
determinado grupo social e período histórico. Pode-se afirmar, então, que o seu
desenvolvimento pressupõe a criação de condições especiais para a aprendizagem, a partir
do substrato de aptidões inatas.
Mas, como o contato com o
CAVALO
influenciaria nas condições para o surgimento
deste fenômeno tão complexo? Uma boa indicação é que os CAVALOS também são animais
sociais e guiados por líderes. Outras respostas podem ser encontradas em modernos
conceitos de liderança natural, neurofisiologia aplicada e inteligência emocional.
No próximo capítulo, será analisada a presença histórica do
CAVALO
na vida de
vários líderes de todos os tempo e lugares, buscando mais pistas sobre a contribuição da
arte eqüestre para o fenômeno da liderança.
CAPÍTULO III
LÍDERES MONTADOS
“Em certo sentido, um grande cavalo torna-se um
rei. Não surpreende que os reis tenham sido feitos
pelos primeiros grandes cavalos”.
(Keegan, John. Uma História da
Guerra)
A importância do advento da EQUITAÇÃO para a arte da guerra, modificando de modo
radical e irreversível a forma de combater dos povos antigos, é incontestável. Tal fato
remonta há cerca de 1500 anos antes de Cristo:
A primeira batalha de bigas de que temos notícia, a de Megido, no Norte da Palestina, travada em
1469 a. C. entre os faraós Tutmés III e uma confederação de inimigos do Egito liderada pelos hicsos,
terminou quase sem derramamento de sangue para os dois lados. Megido é também considerada a
primeira batalha da história, no sentido de que podemos datá-la, situar seu local, identificar seus
combatentes e seguir seu desenrolar.
(Keegan, John. Uma História da
Guerra, p.192)
Contudo, é provável que muito antes (cerca de 2000 a.C.) os Citas já constituíssem
uma cavalaria montada. Estes foram os precursores dos “povos montados das estepes” que
Keegan considera “uma das forças mais significativas – e funestas – da história militar”, e
justifica: Os povos cavaleiros, tais como os aurigas antes deles, trouxeram para a guerra o
conceito elétrico de fazer campanhas de longa distância e, quando a campanha se resolvia
em batalha, de manobrar em campo com velocidade - pelo menos cinco vezes mais veloz
que homens a pé. (Keegan, John. Uma História da Guerra, p.230)
A partir deste momento e até 40 séculos depois o
CAVALO
seria indissociável das
figuras de líderes militares, nobres e reis. Avançando mais, pode-se inferir que a
EQUITAÇÃO
foi uma verdadeira “Revolução Biológica”, ao unir duas espécies em
cooperação:
A união do Homo com o Caballus representa um salto qualitativo na fisiologia da humanidade e dá
início a uma série de super-homens do naipe de Alexandre Magno, Júlio César, Atila, Genghis Khan,
Carlos Magno, Pizarro,Wellington e Napoleão que fizeram fama e fortuna em união com seus
cavalos.
(Rink,Bjarke. O catalisador
da história)
De fato os líderes montados escreveram a história e expandiram as fronteiras do
mundo com suas personalidades fortes e carismáticas, nas quais é inegável o traço
eqüestre.
3.1 ALEXANDRE, O GRANDE
A doma de Bucéfalo por Alexandre (356 – 323 a.C.) ainda menino, já narrada na
Introdução, foi decisiva para o início de sua jornada como conquistador do mundo antigo.
Uma demonstração de sua audácia, coragem e habilidade, bem como uma afirmação
perante seu pai Felipe II.
Foram 20 anos de conquistas e amizade insuperável. Bucéfalo tomou parte em quase
todas as batalhas travadas na Ásia e na Europa, só se deixando montar por Alexandre,
perante o qual “dobrava os joelhos”. Este
CAVALO
admirável entrou para a história junto
com seu famoso dono, que lhe construiu túmulo digno de um rei e batizou como Bucéfala
uma cidade situada na planície de Taxila, no norte da atual Índia, que alguns pesquisadores
crêem tenha sido a Jalalpur histórica.
Alexandre foi criado entre soldados e ouvia conversas militares diariamente. Seu
interesse por
CAVALOS
foi aumentando aos poucos e com apenas cinco anos já era exímio
ginete. Aos 10 anos, já acompanhava o pai em algumas campanhas militares, ganhando a
confiança dos soldados a ponto de, aos 12 anos, ser colocado no comando de um grupo de
reserva. Nessa ocasião, pôs inimigos em fuga. Assumindo o trono da Macedônia aos 20
anos, Alexandre, não obstante sua juventude, exerceu uma liderança arrebatadora sobre
seus exércitos, particularmente na sua longínqua e fulminante campanha para dominar o
Império Persa de Dario III: A batalha de Granico(334 a.C.) foi um combate preliminar,
notável principalmente pela liderança dinâmica exibida por Alexandre à frente de sua
cavalaria. (Keegan, John. Uma História da Guerra, p.275)
Diante de seus feitos militares, é impossível imaginar um Alexandre a pé, privado da
velocidade, resistência, perseverança e audácia de seus
incorporou a sua própria personalidade de líder.
CAVALOS
que desde cedo ele
3. 2 OS CÉSARES DE ROMA
Os romanos, influenciados por suas características agrícolas e sedentárias,
preferiram a adoção da biga ou carro de guerra ao invés da cavalaria montada em seus
exércitos, baseados nas falanges de guerreiros a pé.
Contudo, a necessidade de o comandante movimentar-se de forma ágil pelos campos
de batalha permite deduzir a presença do
CAVALO
e sua importância para os grandes
guerreiros imperadores, dos quais Júlio César, com suas campanhas de larga extensão, é o
maior paradigma.
Também a dimensão alcançada por seu império obrigou os romanos a utilizarem
cavaleiros para interligar suas províncias e a transformar lentamente suas legiões de
infantaria em forças de cavalaria, sobretudo no tempo compreendido entre os últimos
cônsules da República (Pompeu e Crasso, 80 a.C.) e os últimos imperadores romanos do
Ocidente (cerca de 400 d.C.).
A primeira verdadeira batalha entre duas armas de cavalaria aconteceu em 378 d.C.,
quando um exército romano, liderado pelo Imperador Valens, atacou um campo fortificado
de Átila, perto de Adrianópolis.
3. 3 ÁTILA, “O FLAGELO DE DEUS”
Átila (406 – 453) foi rei dos hunos, povo nômade do leste europeu. Nascido em local
incerto, provavelmente na atual Transilvânia, durante suas conquistas seria conhecido
como o Flagelo de Deus. Ao assumir o trono em 433 d.C., iniciou uma série de campanhas
desestruturando o Império Romano, primeiramente ao tomar Constantinopla e devastar
várias cidades, para, de 447 a 452, atacar a parte ocidental, invadindo a Gália e avançando
sobre Roma, que só foi salva pela intervenção do papa Leão I. Morreu na Hungria quando
se preparava para atacar novamente a região oriental do Império.
Os Hunos são o primeiro povo montado das estepes sobre o qual temos
conhecimento detalhado. Mas, o que podemos afirmar da ligação deles e de seu fascinante
líder com os CAVALOS? Rink fornece-nos uma descrição:
Os hunos, disseram testemunhas chinesas, "estão sempre montados a cavalo. Às vezes sentam até de
lado se esta posição for mais conveniente para a realização de alguma atividade (urinar, por
exemplo). Não existe ninguém naquela nação – homem, mulher ou criança – que não possa ficar
montado no seu cavalo dia e noite. A cavalo eles compram, vendem, comem, bebem e se reclinam à
frente para dormir". O seu esporte predileto é até hoje praticado no Afeganistão com o nome de Buz
Kashi – um jogo veloz e competitivo que envolve até 300 cavaleiros. Ao invés de uma bola eles
jogam com o corpo de um bezerro. Não é jogo de time. O bezerro é disputado por todos os cavaleiros
e vence o homem que conseguir agarrar o bezerro, contornar uma bandeira no canto do campo e
voltar com o troféu para um círculo marcado no meio do campo. Desnecessário relatar o grau de
destreza eqüestre que este jogo, o precursor do pólo, exige de homens e cavalos. "Este povo eqüestre
faz os seus conselhos de guerra montados, e o seu país é o dorso do seu cavalo", comentou um antigo
emissário chinês. E, naturalmente, o lugar em que se encontrava o seu cavalo passava também a ser o
seu país. De acordo com crônicas chinesas da época, as crianças hunos aprendiam a montar quando
os filhos dos outros povos aprendiam a andar. A dieta dos hunos era leite e carne de cavalo,
consumida fresca, charqueada ou defumada. O leite de égua era bebido fresco ou em forma de
coalhada. Quando necessário, o huno abria uma veia no pescoço e bebia o sangue do seu cavalo.
(Rink,Bjarke.O catalisador
da história)
3. 4 GENGIS KHAN, REI DOS MONGÓIS
Em 1206 d.C., imensa multidão de nômades reuniu-se junto ao rio Onon, no coração
das estepes da Ásia Central, para um “kuriltai” (conselho geral). Vieram em seus corcéis
baixos e peludos para saudar Temudjin (1162 – 1227 d.C.), outrora um chefe obscuro, mas
que forjou a nação dos mongóis a partir de um caos de tribos turbulentas, passando a
ostentar o título de “ Gengis Khan”, que significa “chefe supremo” na língua mongol.
Este “kuriltai” mais do que o nascimento de uma Nação anunciava o início de 70
anos de conquistas incessantes que culminaram no império mais vasto sob o domínio de
um único homem que o mundo conheceu, estendendo-se da Europa Oriental à costa do
Pacífico e abrangendo um quarto da população da época.
Desde os três anos, as crianças mongóis eram atadas à sela, e seria lá, sobre o dorso
do
CAVALO,
que eles passariam a maior parte de suas vidas. Os
CAVALOS
mongóis, pouco
maiores que pôneis, mas incrivelmente robustos, podiam atravessar 120 quilômetros por
dia, sem parar para comer ou beber água. Tal rapidez e energia deram às tropas do grande
“Khan” uma enorme vantagem sobre seus inimigos, a tal ponto de serem considerados
invencíveis e conquistarem largos territórios sem lutar, só por sua força moral.
Na figura deste admirável chefe militar, que incluía entre os grandes prazeres da
vitória apossar-se e montar os
CAVALOS
do derrotado, a cultura eqüestre afirmava-se mais
uma vez como forja de líderes incontestes.
3.5 ÁRABES
Os árabes não surgiram como “povo montado”; porém, tornar-se-iam um dos
maiores utilizadores de
CAVALOS
e responsáveis pela criação de uma fantástica raça ainda
admirada em nosso tempo. Os Beduínos, povo nômade do Saara, assim descrevem sua
origem mítica: E Deus tomou uma mão plena do vento Sul e dela formou um cavalo,
dizendo: Eu te crio, oh Árabe. Ao teu topete, eu ligo a Vitória nas batalhas. Nas tuas
ancas, eu escondo um rico presente, e um Tesouro sobre teu dorso. Eu te faço uma das
Glórias da Terra...Eu te dou o poder de voar sem ter asas.
O profeta Maomé(570 – 563d.C.), fundador do islamismo, foi notável guerreiro e
cavaleiro. Sua liderança militar e espiritual é reconhecida como o fundamento da
identidade dos povos árabes e, ao redor dele, formaram-se diversas lendas que sugerem
uma íntima ligação com o CAVALO. Mesmo sua “ascensão ao céu” é relatada como estando
montado na égua Al-Borak, símbolo da luz e da verdade.
Outra lenda nos conta que ele, estando montado em sua égua favorita, foi ferido em
combate. O leal animal conduziu-o até o acampamento da tribo e, em virtude do seu
ferimento, ele manchou a espádua da égua com sangue. A partir deste momento Alá
marcaria “os bons” com uma marca de sangue no ombro.
3. 6 ORDENS DE CAVALARIA
Após a derrocada dos romanos ante às numerosas invasões dos nômades, surge a
figura de outro grande líder montado: Carlos Magno (742 – 814), inicialmente rei dos
francos, iniciou um processo de conquista e unificação da Europa que restaurou
brevemente a glória do Império Romano do Ocidente.
Famoso por sua altura (1,92 m) e habilidade política, aprendeu a ler aos 32 anos e
depois de conquistar na Itália o reino lombardo, fazer incursões contra os muçulmanos na
Espanha conquistando a região da Catalunha (785), anexar a Baviera (788) e os ávaros na
Hungria, estendendo seu poderio até as regiões do Danúbio, e submeter completamente os
saxões (804), conseguiu reunir sob sua coroa quase toda a Europa cristã e ocidental.
No Natal (800), foi coroado imperador do Ocidente pelo papa Leão III, que disse "A
Carlos Magno, coroado por Deus, vida e vitória", representando o surgimento do Sacro
Império Romano-Germânico para fazer frente ao Império iconoclasta Bizantino. Durante
os 46 anos de seu reinado, promoveu grande desenvolvimento cultural e empreendeu mais
de 50 guerras, para expandir o cristianismo e impor sua hegemonia no ocidente. Recebeu o
título de maior soberano da Europa Medieval.
A corte logo se tornou não apenas capital política e administrativa do império, mas
também importante centro cultural e artístico. Procurou elevar o nível cultural de seus
domínios tão heterogêneos e dotá-los de uma eficaz estrutura econômica, administrativa e
judicial. Criou uma rica biblioteca e procurou ampliar a cultura do clero, fomentando o
estudo intensivo do latim nas escolas dos mosteiros e das catedrais.
Baseava seus exércitos em grupos de cavaleiros escolhidos com os quais podia
contar para lutar com bravura e a qualquer momento, decretando que todo homem que
tivesse um
CAVALO,
ou devesse ter um, deveria vir montado à assembléia, na qual, uma
vez por ano passava seu exército em revista montado no lendário corcel Tencedor.
Após sua morte, o império desmoronou, porém sua personalidade continuou tão viva
e forte que, séculos mais tarde, o próprio Napoleão Bonaparte proclamou-se seu sucessor.
Se a Idade Média não foi pródiga na evolução das técnicas eqüestres, foi, contudo,
responsável por um acréscimo fundamental ao espírito cavaleiro: o surgimento do ideal
romântico.
Num contexto de obscurantismo e crise para a cultura européia e influenciadas pelas
Cruzadas – campanhas militares extensas visando à “retomada” da Terra Santa dos
“infiéis” mulçumanos – aparecem as Ordens de Cavalaria: Entre os séculos XI e XIII, a
cavalaria tornou-se indiscutivelmente o elemento mais importante da cultura militar do
Ocidente, numa época em que as energias das aristocracias ocidentais estavam quase que
completamente dirigidas para a guerra. (Keegan, John. Uma História da Guerra, p.310)
Em 1279, o cavaleiro e filósofo catalão Ramon Llull (1232 – 1316) escreve o Llibre
de l’Orde de Cavalleria (Livro da Ordem de Cavalaria), onde estabelece vários princípios
morais e éticos que deveriam reger o comportamento dos guerreiros montados ocidentais,
“ao cavaleiro convém que seja amador do bem comum, porque para a comunidade das
gentes foi eleita Cavalaria...”. Exaltava ele as virtudes desejáveis: “amizade de bons
homens, lealdade, verdade, ardor, verdadeira largueza, honestidade, humildade, piedade e
outras coisas semelhantes a estas”. Algo muito próximo dos códigos de honra das nossas
Escolas Militares e das qualidades necessárias para o exercício do comando.
A presença do CAVALO também é ponto central nos seus escritos:
Cavayl és donat a cavayler per significança de nobilitat de coratge, e per so que sie plus alt
encavalcat que altre home, e que sie vist de luny, e que més coses tengua dejús si, e que enans sie a tot
so ques cové a la honor de cavaylaria que altre home..
(Llull,Ramon. Llibre de l’Orde de Caballería, p.82)
(Cavalo é dado ao cavaleiro para significar nobreza de coragem e para que seja, montado a cavalo,
mais alto que outro homem, e seja visto de longe, e mais coisas tenha debaixo de si. E que antes que
outro homem esteja em tudo o que convém à honra de Cavalaria.)
E mesmo ao arreamento é associado um simbolismo especial: “a sela em que
cavalga o cavaleiro significa segurança de coragem... E pelas rédeas entenda-se que deve
deixar-se conduzir até qualquer parte...”.
Tal código de conduta atravessou os séculos e, mesmo após a motomecanização das
tropas, ainda se constitui o arcabouço da Cavalaria ocidental.
3. 7 NAPOLEÃO BONAPARTE, IMPERADOR DA EUROPA
Todos os grandes homens da guerra tiveram numerosos
CAVALOS
e Napoleão
Bonaparte (1769 – 1821) não foi uma exceção. O homem que, após a Revolução Francesa
dominou a Europa Continental, criando o mais vasto Império Francês, era um aficcionado
por estes animais.
O “imperador burguês” não equitava da maneira acadêmica, mas começou a montar
cedo, ainda durante sua juventude na Córsega. Sobre seu estilo de montar nos fala o
pesquisador Philippe Osché, autor da obra “Les cheveaux de Napoléon Bonaparte”:
Les quelques leçons dispensées par Monsieur d'Auvergne à l'École Militaire de Paris de 1784 à 1785
ne suffisent pas à faire de lui un cavalier émérite. L'art de l'équitation est long et le temps lui manque
pour devenir un bon cavalier, un cavalier ayant du style. Il monte à cheval avec instinct, très à fond
dans sa selle, les jambes ballantes. Il ne connaît que le galop, souvent à vive allure, avec les rênes
posées sur l'encolure de sa monture. Cela lui vaut quelques bonnes chutes au cours de sa carrière
militaire.
(Osché, Philippe. Les cheveaux de Napoleón Bonaparte)
(Algumas lições dadas pelo Senhor D´Auvergne na Escola Militar de Paris de 1784 à 1785 não foram
suficientes para fazê-lo um cavaleiro emérito. A arte da equitação é longa e lhe faltou tempo para
tornar-se um bom cavaleiro, um cavaleiro com estilo. Ele montava com o instinto, sentando muito
fundo na sela, as pernas bambas. Só conhecia o galope, muitas vezes desenfreado, com as rédeas
frouxas sobre o pescoço de sua montada. Isto lhe valeriam alguns bons tombos no decorrer de sua
carreira militar.)
Napoleão teve
CAVALOS
de todas as origens: austríacos, normandos, bascos,
espanhóis e também os favoritos árabes, raça que descobriu em 1798, durante a campanha
do Egito e usou no aperfeiçoamento das raças francesas. Preferia os “inteiros”, isto é, não-
castrados. Numerosos receberam sobrenomes sempre atribuídos por Sua Majestade em
homenagem a uma vitória ou a uma pessoa querida.
Alguns dos seus
CAVALOS
possuíram biografias próprias, particularmente seus
“chevaux de l'Équipage de selle”(CAVALOS de combate) como o baio Jafa, e os tordilhos
Vizir e Marengo, todos árabes. Os dois últimos ainda são conservados empalhados, este no
National Army Museum de Londres e aquele no Musée de l'Armée de Paris.
Com base nestes fatos pode-se inferir a admiração do grande comandante e do povo
francês por estes nobres animais.
3. 8 AS GUERRAS MUNDIAIS
A Primeira Guerra Mundial (1914 – 1917) foi a última grande conflagração de
amplo emprego do CAVALO em combate. Durante este conflito, destacou-se, como líder, o
Marechal Ferdinand Foch, Oficial de cavalaria francês e Comandante do Exército Aliado.
Esta contenda marcou também o início dos primeiros aviões militares e para pilotálos foram convocados os melhores oficiais de cavalaria, por estes homens serem
considerados os únicos com a coragem e a habilidade necessária. Neste contexto, destacase o lendário “Barão Vermelho”:
Naquele início de século, a cavalaria continuava a ditar a moda e os cavaleiros eram as locomotivas
da sociedade... O caso mais notório de um cavaleiro-piloto foi o de Manfred Freiherr Richthoften um
oficial da cavalaria alemã convocado para comandar o 11º Esquadrão de Caças, mais conhecido
como 'O Circo Voador'. Manfred, depois conhecido como o Barão Vermelho, foi o maior ás da
aviação de todos os tempos, com o crédito de 80 vitórias aéreas — oitenta aviões aliados derrubados
em combate.”
(Rink,Bjarke. O Enigma do
Centauro)
Ainda hoje pilotos de caça de forças aéreas como a australiana, praticam a
EQUITAÇÃO
como forma de apurar seus reflexos e sua rapidez de tomada de decisões.
A Segunda Grande Guerra caracterizou-se pela drástica diminuição do
CAVALO
como meio de combate, sobretudo em virtude do advento da metralhadora (“machinegun”) e dos carros de combate blindados, mas não da sua importância da formação da
personalidade dos líderes que a conduziram.
Uma das figuras mais notáveis deste conflito é Winston S. Churchill (1874 – 1965),
Oficial de cavalaria, formado pela Escola Militar de Cavalaria de Sandhurst,
posteriormente primeiro-ministro inglês e maior líder europeu durante a fase crítica da
conflagração. Admitido como tenente no 4º Regimento de Hussardos, em 1895, assim
expressa suas impressões da EQUITAÇÃO da época:
Nessa época era hábito os jovens passarem seis meses de aprendizado como simples soldados.
Montavam a cavalo e faziam exercícios com os homens, recebendo exatamente a mesma instrução. À
frente da fila de cavaleiros, durante os exercícios, ou no pelotão do pátio, cabia-lhes dar o exemplo
aos soldados, tarefa da qual nem sempre se desincumbiam muito bem. Montar e saltar de um cavalo
em pêlo, a trote ou a galope; saltar, sem estribo ou mesmo sem sela, uma barra alta, às vezes com as
mãos atrás das costas; sair num trote largo sem nada entre os joelhos além do pêlo do animal nem
sempre era fácil e provocava muitas quedas...Há um encanto todo especial em tomar parte nas
manobras de um brilhante esquadrão de Cavalaria a trote, e esse encanto se transforma em deliciosa
emoção quando os exercícios são executados a galope. O movimento dos cavalos, o tinir dos metais
no arreio, a ondulação das plumas, a excitação dos cavaleiros, a consciência de participar de uma
máquina viva, a dignidade do uniforme, tudo isto contribui para a beleza de um exército de
Cavalaria...É uma pena realmente, que a guerra, em sua marcha voraz, baixa e oportunista, tenha
relegado tudo isso e se tenha voltado para os químicos de óculos ou os mecânicos que manobram
alavancas de metralhadoras ou de avião.
(Churchill,Winston. Minha Mocidade apud Marques, Geraldo Lauro. Era uma vez na
Cavalaria)
Serviu, ainda, nos mais distantes recantos do Império Britânico como a Índia, onde
se revelou exímio jogador de pólo e no Sudão, onde participou, em Ondurman, da última
carga de Cavalaria do exército inglês.
De sua fase como cavaleiro ficaram as glórias e a admiração pela atividade eqüestre,
assim por ele demonstrada: Não dêem dinheiro a seus filhos. Se puderem dêem-lhes
cavalos. A equitação nunca arrastou ninguém a desonra. Nenhuma hora de vida passada
numa sela é perdida.(Churchill, Winston. Minha Mocidade)
Também o genial General George S. Patton (1885 – 1945), Oficial de cavalaria do
exército norte-americano e um dos maiores comandantes e estrategistas das Forças Aliadas
era exímio cavaleiro e foi, como tenente, o primeiro campeão olímpico dos Estados Unidos
no hipismo. A impulsividade era uma de suas marcas: Um bom plano executado com
impetuosidade agora e melhor que um plano perfeito na próxima semana. É conhecido o
seu caráter corajoso, audaz, impulsivo e profissionalmente brilhante.
3. 9 A CAVALARIA BRASILEIRA E OSÓRIO, O LEGENDÁRIO
No Brasil, os colonizadores portugueses e holandeses introduziram o
CAVALO
e a
arte eqüestre, já enraizada na cultura européia, com um registro da primeira utilização
desportiva no Torneio de Cavalaria promovido pelo holandês Maurício de Nassau, em
Pernambuco, no ano de 1641, que foi responsável também por um grande
desenvolvimento econômico e cultural do Nordeste brasileiro no século XVII.
Durante o Primeiro Império, Dom Pedro I e sua esposa Maria Leopoldina eram
também entusiastas do desporto eqüestre, promovendo numerosas corridas e disputas. No
retorno da Guerra da Tríplice Aliança, Dom Pedro II preocupou-se em fomentar a
EQUITAÇÃO,
trazendo, de Portugal, o Capitão Luís de Jácome, difusor da doutrina francesa
do célebre François Baucher.
Luis Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, honrado como patrono do Exército
Brasileiro, importou garanhões puro-sangue inglês, visando implementar a criação
nacional de eqüídeos, seguindo o exemplo de Napoleão com a raça árabe.
O Período Imperial é rico em exemplos de líderes montados, particularmente durante
a Guerra da Tríplice Aliança (1866-1869), como o General José Joaquim de Andrade
Neves, o Barão do Triunfo e o Tenente de Cavalaria Antônio João, cujo ato heróico
defendendo a colônia militar de Dourados com 16 homens e sabedor do massacre iminente
é um dos maiores monumentos de sacrifício e amor à Pátria, imortalizado nas suas últimas
palavras: Sei que morro, mas o meu sangue e o de meus companheiros servirá de protesto
solene contra a invasão do solo de minha Pátria.
Mas, é na imponente figura de Manoel Luis Osório (1808 – 1879), Marquês do
Herval, que temos a síntese do líder cavaleiro, reconhecido como Patrono da Arma de
Cavalaria e chefe militar mais popular da nossa história. Exerceu uma liderança incomum
que magnetizava os soldados mesmo argentinos e uruguaios durante a Guerra da Tríplice
Aliança.
A exemplo de outros grandes capitães esteve em contato com o
CAVALO
desde sua
infância: Entregue aos brincos de sua idade, não tarda em saber montar a cavalo, como
bom gaúcho, mal aprende a andar. Em breve faz-se ginete. Doma, salta, joga o laço e a
bola. Nenhuma rodada súbita o pega descuidado. Fez-se gaúcho de fato, capaz de tropear
e pelejar.
(Magalhães, J.B. Osório
– síntese de seu perfil histórico)
Participou da Guerra da Cisplatina (1825-1828), ficando famosa sua ação no
rompimento do cerco de Sarandi, onde, perseguido por dois gaúchos uruguaios, deles
escapa e os elimina, demonstrando uma incomum habilidade eqüestre.
Também na Revolução Farroupilha (1842-1845) e na Guerra contra Oribe e Rosas
(1851-1852), esbanjou bravura e competência profissional, atingindo os mais altos postos
do Exército Imperial.
Entretanto sua consagração seria na Guerra da Tríplice Aliança como comandante
em chefe das forças aliadas. Ferido no rosto durante a Batalha de Avaí, mesmo assim não
abandona seus liderados:
Sente copiosa hemorragia. Tenta estancá-la talvez, banhando o rosto nas águas de um córrego
próximo. Tudo é debalde. Compreende a gravidade da situação. Chama o Brigadeiro Auto Guimarães
e passa-lhe o Comando. Mas, para que a tropa não lhe sinta logo a ausência, monta de novo a cavalo.
Envolve o rosto num poncho e percorre as linhas a galope bradando a todos: Carreguem, camaradas!
Acabem com este resto!
(Magalhães, J.B. Osório – Síntese de seu perfil
histórico, p.223)
Após retirar-se brevemente, seu retorno se faz necessário para manter a coesão e o
moral das tropas com sua presença, como relata o Visconde de Taunay, descrevendo o que
chama de maior acontecimento do período que viviam os exércitos:
Osório chegou! No dia 6, às 2 horas da tarde, desembarcou nesta estação o General que talhou, como
Roldâo nos Pirineus, seu lugar na história, a quem os mais ousados na peleja se gabam de ter
seguido, e as Repúblicas Platinas receberam como o tipo do valor militar. Os soldados, em grupos de
três e quatro, vinham pela estrada saudando com vivas de amor o chefe que com eles sempre
ombreara nas fileiras do perigo.
(Taunay apud Magalhães, J.B. Osório – Síntese de seu perfil histórico, p.237)
De fato, uma de suas características mais marcantes era a proximidade com os
subordinados, mesmo após ascender aos mais altos postos da hierarquia e receber títulos
nobiliárquicos. Constantemente era visto em meio aos acampamentos, de noite,
“mateando” em volta do fogo com seus soldados.
Tinha também o “vício da bravura” ainda segundo Taunay:
Aí, se destacou à frente de todos, da outra banda daquela em que eu me achava, um homem, só,
montado num grande cavalo branco, cujo pêlo brilhava à luz do dia como se fosse um animal todo de
prata. Começou ele a descrever o declive com a maior calma e majestade, embora logo se tornasse
alvo de nutrida fuzilaria e até de tiros de peça. Perguntei a um soldado de cavalaria que por junto de
mim passou:’Quem é aquele cavaleiro?’ ‘É o General Osório, respondeu-me ele’. E a estas simples
palavras de mim se apoderou tal frêmito de entusiasmo que eu queria estar a seu lado, ante os olhos
de todo o exército brasileiro. São atos destes que arrebatam os homens até os mais frios e cépticos e
os levam à morte, afrontando extraordinários, quase inacreditáveis perigos.
(Taunay apud Magalhães, J.B. Osório – Síntese de seu perfil histórico, p.243)
Suas inúmeras realizações militares transformaram-no em arquétipo de soldado, líder e
cavaleiro, alçando ao domínio da lenda, não obstante sua modéstia de atitudes e do seu
desprendimento de ambições. Entre a soldadesca, costumava-se dizer que quando passava ao
galope pelos campos de batalha até os mortos levantavam bradando: É Osório! É Osório! Na
visão de Calógeras: Tornou-se um dos numes da nacionalidade, a quem servira desde os albores
da Independência. Ainda hoje nos inspira, e nos aponta o duro e austero e inexcedível caminho
do Sacrifício sem limites, e do Dever sem mácula do interesse. (Calógeras, Res Nostra–Osório!
apud Magalhães, J.B. Osório – Síntese de seu perfil histórico, p.8 )
Apresentados todos estes exemplos de grandes comandantes, cabe-nos agora investigar o
porquê de o
CAVALO
colaborar no desenvolvimento de características tão extraordinárias de
liderança, a luz das modernas teorias do nosso tempo.
CAPÍTULO IV
LIDERANÇA NATURAL E EQUITAÇÃO
“Grandes líderes nos mobilizam.Inflamam nossa
paixão e inspiram o melhor dentro de nós.”
(Goleman, Daniel. Primal Leadership)
Nas últimas décadas do século XX, verificou-se o desenvolvimento de diversos
ramos da ciência que contribuíram para a afirmação do papel da
EQUITAÇÃO
como
instrumento de auto-aperfeiçoamento humano.
Neste contexto, destaca-se o conceito de inteligência emocional:
A inteligência emocional foi uma das mais badaladas idéias psicológicas da década de 1990. A
expressão foi criada pelos psicólogos Peter Salovey, de Yale, e John Mayer, da Universidade de New
Hampshire, no final da década de 1980 como um modo de resumir qualidades humanas tais como
empatia, conhecimento de si mesmo e controle emocional. Daniel Goleman, um escritor e
colaborador do New York Times, retomou a expressão onde ela fora deixada e fez dela o título de um
best-seller, Inteligência emocional.
(Ratey, John J. O Cérebro: um guia para o usuário)
A ligação deste conceito ao de liderança é clara uma vez que o líder deve,
necessariamente ter empatia com os integrantes do grupo que conduz. O próprio
Goleman explora esta interdependência de conceitos no seu livro, recentemente lançado,
Primal Leadership (O poder da inteligência emocional):
O segredo da liderança reside na competência para lidar consigo mesmo e com os seus
relacionamentos, o que certamente constitui um enorme desafio para os líderes atuais. Acostumados
a menosprezar a importância do autoconhecimento, grande parte dos chefes apoiou-se no poder
conferido pelo cargo, adiou a reflexão sobre suas posturas, afundou-se na busca exterior e descuidouse de aprofundar na indagação mais antiga que a humanidade conhece: quem sou e o que faço aqui?
Prova disto a distanciamento emocional, a arrogância e a indiferença com que a maioria dos chefes
trata as equipes.
(Goleman, Daniel. O Poder da Inteligência
Emocional)
Pode-se inferir que a “liderança primal” equivale à “liderança natural”, esta
calcada em princípios de autenticidade e honestidade nos relacionamentos interpessoais e
descrita por pesquisadores como o inglês Paul Hunting e a americana Adriana Strozzi, que
aplicam a idéia de “natural leadership through natural horsemanship”(liderança natural
pela EQUITAÇÃO natural):
I find the most effective relationship I can have with a client is when we are both being 'natural
leaders'. Where there is harmony and flow like dancers. And leading and following become one. At
heart everyone is a natural leader. But the ability to fully express this quality is easily obscured by the
issues and false images we accrue during our life and career. Working with horses in the very
particular context we call 'RIDE FOR YOUR LIFE' can rapidly liberate hidden leadership talent and
unlimited
creative
energies.
Experience has shown us that the four ways horses enable us to become more effective are aptly
summed up in the acronym: R – I – D – E.
R esponsability
I ntegrity
D irection
E nthusiasm.
This means to take 100% Responsability for your life and experience. Have the courage to stand in
your own Integrity. To follow the Direction of a heartfelt vision. And to clear the obstacles to your
Enthusiasm by being in the 'present moment'.
(Eu percebo que o relacionamento mais efetivo que eu posso ter com um cliente é quando ambos
estamos sendo “líderes naturais”. Onde há harmonia e fluímos como dançarinos. No fundo toda
pessoa é um líder natural. Mas a habilidade para expressar completamente esta qualidade é
facilmente obscurecida pelas censuras e falsas imagens que nos são acrescidas ao longo de nossa
vida e carreira. Trabalhando com cavalos num contexto muito particular que chamamos
“CAVALGANDO PARA SUA VIDA” podemos rapidamente liderar o talento oculto para liderar e
energias criativas ilimitadas. A experiência nos mostra que as quatro formas pelas quais o cavalo
permite nos tornarmos mais eficazes podem ser resumidas no acrônimo: R – I – D – E(cavalgar).
R esponsabilidade
I ntegridade
D ireção
E ntusiasmo
Isto significa assumir 100% da Responsabilidade por sua vida e experiência. Ter coragem para
permanecer com sua própria Integridade. Seguir a Direção de uma visão emotiva. E ultrapassar os
obstáculos para o seu Entusiasmo, estando no “momento presente”).
(Hunting, Paul. Natural leadership through natural horsemanship)
As quatro qualidades acima descritas soam muito semelhantes àquelas virtudes do
líder preconizadas na nossa literatura militar. A IP 20-10, Liderança Militar, aponta como
alguns dos traços de personalidade mais relevantes para o líder brasileiro a
Responsabilidade e Direção, bem como ressalta que a Motivação (Entusiasmo) é uma
das ações essenciais do líder. Também o Departamento de Ensino e Pesquisa (DEP)
ressalta a Integridade como um valor básico dos indivíduos a ser reforçado ao longo da
vida militar, segundo a Portaria Nr 12, de 12 de maio de 1998.
Ainda sobre o contato eqüestre, diz-nos Strozzi(2003) que ”cavalos treinam humanos
nos princípios atemporais de autenticidade, intenção, coragem, intuição e foco.” E
também a respeito da liderança natural:
“NATURAL LEADERSHIP is not under any form of control, it can’t be forced or manipulated, it has
to be evoked. Horses are masters at evoking who and how we need to be to enjoy the natural positive,
effective influence that is with us from when we were first born.”
(A LIDERANÇA NATURAL não está sob nenhuma forma de controle, não pode ser forçada ou
manipulada, ela deve ser evocada. Cavalos são mestres em evocar quem somos e como devemos ser
para aproveitar a influência natural, positiva e eficaz que está conosco desde que nascemos.)
(Strozzi,Adriana. Horses and Leadership)
Há doze anos, esta pesquisadora dirige o programa Horses and Leadership (Cavalos
e Liderança) na fazenda de sua família perto da Baía de Bodega, com 15 cavalos. Embora
voltado para o mundo dos negócios - com participação de empresas como Cisco Systems,
Pfizer e Procter&Gamble – o programa em essência é sobre assumir o controle da própria
vida. Os cursos vão desde um ou dois dias (a 550 dólares) até intensivos de cinco dias (a
1500 dólares). Em 2002 Strozzi contabilizou 600 pessoas nos seus seminários que incluem
psicologia integrada, comportamento animal, processos administrativos e equitação.
A parte prática abrange desde o manejo e limpeza até exercícios montados, passando
pelo trabalho à guia, este último valioso na detecção do estilo de liderança de cada um
interpretando as reações do cavalo.
A pesquisadora relata no seu site que: num recente seminário Jet Star, uma égua de
três anos, reagiu diferentemente a cada um dos oito alunos. Com um deles, a potra não
tomou a andadura passo, partindo direto ao trote. Strozzi interpretou a ação como uma
tendência do participante de “mergulhar de cabeça” nas situações sem considerar as
conseqüências. O aluno concordou. Já Debora Hunt, executiva da Mill Valley e amazona,
declarou desejar ser mais comunicativa com seus colegas. Ela conseguiu com que Jet Star
trabalhasse na guia corretamente, mas falhou em verbalizar como a égua estava indo no
trabalho, o que foi notado por Strozzi, bem como o fato de ela não deixar folga alguma na
guia. “Eu não estava relaxada nem confiante”, confirmou Hunt, que admitiu estar agindo
com seus colegas como estava com Jet Star, ou seja sem “feedback” nem relaxamento.
Outra aluna, Diana Krakora, conseguiu com que a égua se movesse sem muito esforço,
mas era incapaz de manter o movimento. Strozzi concluiu que ela é uma grande
planejadora e iniciadora de projetos, mas deve delegar a outros o desenvolvimento dos
mesmos.
Cabe ressaltar que estágios de desenvolvimento da liderança pela equitação já são
ministrados no Brasil pela “Universidade do Cavalo”, em Sorocaba, Estado de São Paulo.
Uma das diversas vantagens dos CAVALOS reside na ausência de paradigmas destes
animais, fornecendo-nos retroalimentação verdadeira das nossas ações durante o trabalho:
Nós, humanos, mentimos a maior parte do tempo. Cavalos nunca. Eles não têm motivo
nem recursos para isto (Hunting, 2003). O que é confirmado por Strozzi: Cavalos
rapidamente refletem as coisas que fazemos contra eles. Eles podem sentir quando as
pessoas não estão sendo verdadeiras, quando dizem ou fazem algo diferente do que sentem
ou pensam.
Analista financeiro da Moddy´s Investment Service, Manuel, um dos recentes alunos
de Hunting assim descreve sua experiência: Por meio da ligação que senti com os cavalos,
eu aprendi que há agora uma porta aberta e um caminho para um maravilhoso lugar de
aprendizado e desafio. Todo meu medo de estabelecer compromissos desapareceu por
completo. O cavalo me ensinou que um relacionamento baseado na confiança mútua não
machuca.
Tal testemunho nos remete novamente à “liderança primal” de Goleman, o qual
enfatiza que: Um líder emocionalmente inteligente atrai talentos, pelo prazer que é
trabalhar em sua companhia. Do mesmo modo, chefes irritados, dominadores e frios
afastam as pessoas. Ninguém gosta de trabalhar com pessoas grosseiras e mal
humoradas. (Goleman, Daniel. O poder da Inteligência Emocional)
Entretanto o “bom-mocismo”, apontado como um vício da liderança nas nossas
cartilhas, deve ser evitado bem como o estilo “laissez faire” de alguns chefes, o que é
reforçado tanto nos manuais eqüestres como segundo o próprio Goleman:
Não se trata de uma liderança bondosa e santa. Não se trata de dizer que os líderes tenham que ser
“simpáticos” o tempo todo. A arte de liderar consiste em impor a dura realidade das exigências do
trabalho e faz parte da natureza humana, aborrecer-se. Quem se sente incomodado ou tenso, pode
não perceber as emoções alheias.
(Goleman, Daniel. O Poder da Inteligência Emocional)
Além da psicologia aplicada, outra ciência que permitiu grande avanço na
compreensão dos princípios e mecanismos de atuação do
CAVALO
sobre o indivíduo foi a
neurofisiologia, bastante explorada nos seus estudos pelo, já amplamente citado neste
trabalho, pesquisador dinamarquês residente no Brasil, Bjarke Rink.
Na sua visão a “fusão neurofisiológica” do “Homo sapiens” com o “Equus
Caballus” foi a “revolução biológica” fundamental para a evolução da humanidade até o
nível de desenvolvimento tecnológico atual. Tal acontecimento, iniciado pelos povos
nômades das estepes, como já visto no capítulo anterior, modificou as relações de espaço e
tempo, uma vez que o homem passou a movimentar-se na velocidade eqüestre:
A soma da velocidade do seu raciocínio, da velocidade do cavalo, e mais a velocidade da flecha,
mudou o padrão do uso do tempo e transformou as suas guerras em vitórias militares acachapantes.
A ação militar dos nômades, principalmente dos citas, hunos, turcos e mongóis, deu início ao ciclo do
Homo-caballus em cerca de 1500 aC e provocou a primeira grande corrida armamentista da história
– uma corrida das sociedades agrárias para dominar as técnicas eqüestres.... os nômades, na grande
estepe asiática, depois de domesticar o cavalo e adotarem o seu sistema locomotor, estavam também
aprendendo a formar um sutil repertório de movimentos cooperativos com os movimentos do animal
– desenvolvendo um sentimento instintivo para a equitação, que transformaria o Homo-Caballus no
maior predador da história, capaz de conquistar reinos e impérios, com o poder da sua velocidade
física e intelectual.
(Rink , Bjarke.O catalisador da história)
Mas, não foi somente o aumento na velocidade a contribuição da ligação entre estes
organismos tão complexos, mas também o aumento e a manutenção das conexões neurais
humanas, e conseqüentemente da sua capacidade mental, em virtude dos inúmeros
estímulos que os movimentos do
CAVALO
nos comunicam e das nossas reações buscando
constante adaptação a esses. Tal é comprovado pela neurociência:
O cérebro humano está preparado, em termos de evolução, para procurar e reagir ao que é
inesperado ou inusitado, como novas informações absolutamente inéditas vindas do mundo exterior.
É o que estimula o cérebro. Ao reagir à novidade, atividade cortical aumenta em mais e variadas
áreas do cérebro. Isso fortalece as conexões sinápticas, liga áreas diferentes em novos padrões e
acelera a produção de neurotrofinas.
(Katz, Lawrence C.; Rubin, Manning. Mantenha o seu
cérebro vivo)
A “novidade” é uma constante na prática da EQUITAÇÃO. Para os cavaleiros, a rotina
é o inesperado, pois nunca sabemos a reação exata da nossa montada com a qual estamos
em contínua comunicação, como observa Rink: O cavalo é a extensão do cavaleiro e este,
o prolongamento do cavalo. Entre os dois seres neurofisiologicamente conectados, um
fluxo de informações retroalimenta continuamente a ação do conjunto. (Rink, Bjarke. O
enigma do centauro)
Neste complexo “diálogo silente” entre
CAVALO
e cavaleiro, que ocorre mesmo
durante as atividades simples de manejo e limpeza e o trabalho desmontado, que repousam
os maiores benefícios para o auto-aperfeiçoamento e a busca do constructo da liderança.
Como postula Rink: A boa equitação é um exercício de liderança, e mais à frente:
A sensibilidade de desenvolver uma liderança inteligente, de assumir responsabilidades, de resolver
problemas, de reconhecer o erro e tentar de novo, está na base do sucesso — qualquer sucesso. A
equitação é uma metáfora da vida. A queda do poder e a queda do cavalo estão intimamente ligadas
ao
exercício
da
liderança
e
à
arte
do
bem
viver.
(Rink,Bjarke. O Enigma do Centauro)
CAPÍTULO V
LIDERANÇA MILITAR: CONFLITO E INCERTEZA
“A guerra é o domínio da incerteza”.
(Clausewitz)
Tendo estudado exemplos históricos de líderes cavaleiros e analisado as bases
científicas sobre a influência do contato com o CAVALO para desenvolver a liderança, resta
aplicarmos estes princípios nas peculiaridades da formação de líderes militares.
O Exército Brasileiro apresenta, nas suas Instruções Provisórias 20–10, o conceito
de liderança militar como: A capacidade de influenciar o comportamento humano e
conduzir pessoas ao cumprimento do dever. Está fundamentada no conhecimento da
natureza humana, compreendendo a análise, a previsão e o controle de suas reações. (IP
20 – 10,3 – 3). Também o DEP define Liderança, enquanto atributo da área afetiva, como:
capacidade de dirigir, orientar e propiciar modificações nas atitudes dos membros de um
grupo, visando atingir os propósitos da instituição (Port Nr12/12 de maio de 1998). Cabe
ressaltar a diferença entre essas duas concepções, uma vez que a IP 20-10, embora mais
antiga (1991) postula uma visão mais moderna da liderança como constructo,
contrastando com a definição de atributo isolado da área afetiva, estabelecida pelo DEP.
Os aspectos referentes ao benefício da EQUITAÇÃO no auto-aperfeiçoamento, visando
a empatia com os liderados, bem como no conhecimento da natureza humana e suas
reações já foi discutido anteriormente. Contudo, é no “cumprimento do dever” e nas
conseqüências que dele advém que está problemática da liderança militar. O General
Sérgio A. de A. Coutinho esclarece o assunto:
A organização militar é, essencialmente, idêntica ou, pelo menos, semelhante como estrutura e
funcionamento a qualquer organização empresarial, envolvendo as mesmas funções administrativas,
de direção e controle. Contudo, desta se distingue por ser revestida de singularidades decorrentes de
sua destinação. A “empresa militar” é um instrumento de guerra que lhe impõe uma configuração de
organismo nômade e o desenvolvimento de uma aptidão para atuar permanentemente em situação de
crise.
(Coutinho, Sérgio A de A. Exercício do Comando – A Chefia e a Liderança
militares, p.16)
É lógico afirmar, então, que a liderança militar é indissociável da situação de
“guerra”, mesmo durante os períodos de longa inatividade bélica. Faz-se necessária,
deste modo, análise mais apurada desta que é a nossa atividade-fim.
Entre os pensadores que postulam sobre os meandros e as nuances da guerra,
destaca-se o prussiano Carl Von Clausewitz (1780 – 1831), autor da fundamental “Da
Guerra” (1832), publicada postumamente por sua esposa. Seus princípios estratégicos
conduziram vários exércitos ao longo da história e continuam extremamente válidos para
conflitos atuais da guerra de movimento. Isso é confirmado no âmbito do exército em
maior atividade no mundo atual, o Exército dos EUA:
Entretanto, devemos perceber que, mesmo com os nossos sistemas aperfeiçoados da era da
informação, a incerteza nas operações de combate continuarão a atormentar os lideres. A confusão
da guerra, a fricção, o acaso e a incerteza definidos por Carl Von Clausewitz há mais de 160 anos
ainda descrevem perfeitamente o ambiente em que nossas forças operam hoje em dia – e continuarão
a operar num futuro previsível.
(Blackwell, Paul; Bozek, Gregory. Liderança para o novo milênio – Military Review,
p.24)
O líder de Clausewitz, que ele chama de “gênio militar”, é uma “conjunção
harmoniosa de qualidades” e deve estar apto a enfrentar característica fundamental da
guerra: a incerteza.
Três quartos dos elementos em que se alicerça a ação na guerra estão envoltos em uma névoa de
maior ou menor incerteza. Aqui, em primeiro lugar, exige-se um poder intelectual sensível e
penetrante para sentir a verdade por meio da própria inteligência instintiva...Para que a mente
sobreviva a esta batalha com o inesperado são indispensáveis duas qualidades: a primeira, um
intelecto que mesmo nesse momento de intensa escuridão retenha algo da luz interior que conduzirá à
verdade e, a segunda, a coragem de rumar para onde essa fraca luz conduz. A primeira é descrita
metaforicamente pela expressão francesa coup d’oeil (um olhar, um golpe de vista), a segunda é a
determinação... A guerra é o domínio do perigo, e portanto, a coragem, acima de tudo, é a primeira
qualidade do guerreiro.
(Clausewitz, Carl Von. Da
Guerra, p.101)
Anteriormente, já foi abordada a importância de um estado de incerteza constante
para o desenvolvimento neurológico humano e constatado que o contato com o
CAVALO
em muito contribui neste sentido, dada sua imprevisibilidade. O cavalo é a encarnação do
princípio da incerteza.
Analisando ainda as características do intelecto reflexo(coup d’oeil) e da coragem ou
determinação, no contexto do inesperado, vemos que são atributos muito desejáveis na
prática da EQUITAÇÃO e também desenvolvidos por ela.
Por exemplo, durante o salto de obstáculos, a zona na qual o
CAVALO
pode iniciar
seu movimento ascendente é conhecida como “zona de incerteza”. Para que o cavaleiro
acerte este momento, conhecido como “batida”, e possa indicá-lo ao CAVALO, é necessário
que tenha um sentido de distância extremamente acurado, o comumente chamado “olho do
cavaleiro”, nada mais que um “coup d’oeil” (golpe de vista), uma manifestação da
inteligência reflexa. Também é ponto pacífico a coragem necessária para avançar em
direção ao obstáculo e transpô-lo. Um percurso de salto torna-se, desta forma, a simulação
da batalha.
Discorrendo sobre a guerra como um “choque de vontades”, Clausewitz a compara
com outras manifestações da vontade humana:
A diferença essencial é que a guerra não é um ato de vontade tendo em vista uma matéria
inanimada, como no caso das artes mecânicas, ou contra um objeto vivo, embora passivo e
complacente, como no caso da mente humana e dos sentimentos nas belas-artes. A guerra é, antes,
um ato de vontade que tem por objetivo uma entidade viva que reage.
(Clausewitz, Carl Von. Da Guerra, p.149)
A última sentença da citação anterior poderia ser perfeitamente aproveitada como
definição da arte eqüestre, ou seja, uma arte caracterizada pelo movimento:
O equitador de Dressage é o artista do movimento. Durante uma reprise ele molda a motricidade do
cavalo em figuras de harmonia, fazendo combinações infinitas dos seus movimentos naturais:
alternando, repetindo, seqüenciando, invertendo, acelerando, girando, desacelerando e executando
movimentos até quando parado, no mesmo lugar. Como um mágico, ele produz o inesperado e realiza
o impossível. Como um escultor ele dá forma à forma. Como um poeta ele dá significado ao
significado. Como um músico ele dá harmonia ao som.
(Rink, Bjarke. O Catalisador
da História)
Há que se traçar, também, paralelo com a tensão emocional sofrida pelo cavaleiro
quando compete ou durante um treinamento exigente: o pensador prussiano aponta os
benefícios de se “explorar a tensão”:
Quando há tensão, a decisão é sempre mais eficaz, em parte porque se revela maior força de vontade
e maior pressão de circunstâncias, e em parte porque tudo já está preparado e disposto para um
grande movimento...qualquer medida tomada durante um estado de tensão é mais importante e rende
maiores resultados do que se tivesse sido tomada em tempo de equilíbrio.
(Clausewitz, Carl Von. Da Guerra, p.221)
A atualidade desta idéia acrescida do controle emocional e da necessidade de sempre
expandir os limites psicofísicos, que é um dos objetivo da
EQUITAÇÃO
de alta
performance, é ratificada pelo cientista cognitivo Steven Pinker, professor de psicologia e
diretor do Centro de Neurociência Cognitiva do Massachusetts Institute of Tecnology
(MIT):
A capacidade de dominar o medo é um componente importante do instinto. Pessoas em grave perigo,
como pilotos de combate ou londrinos durante a blitz, podem mostrar-se notavelmente
controladas...Testar os limites é um estímulo poderoso. Suportar eventos relativamente seguros que
tem a aparência e dão a sensação de perigos ancestrais é um divertimento e suscita a emoção que
chamamos de ‘excitação’.
(Pinker, Steven, Como a mente
funciona)
É razoável afirmar que, num momento em que o nosso exército carece de
experiências de combate real e portanto crescem de importância os diversos modos de
simulação de situações de guerra, dispomos na prática dos desportos eqüestres de um
excelente meio auxiliar, ao constatar uma superioridade considerável da qualidade e
diversidade das reações do
CAVALO,
como ser emocional, àquelas programadas em
um computador.
Os militares americanos Blackwell e Bozek (1999) ressaltam que o comandante em
combate não deve depender de soluções baseadas em listas de checagem ou respostas
preconcebidas, mas sim Eles devem entender o ambiente onde se encontram operando e
serem capazes de pensar rapidamente, chegando a decisões precisas e oportunas
complementam aproximando o processo decisório em combate, assim como a equitação,
mais do status de arte: Dada a natureza da conduta da guerra e suas demandas com
relação aos líderes, a tomada de decisão no campo de batalha continua a ser mais uma
arte do que uma ciência e requer líderes inteligentes e decididos, dotados de um
aprimorado senso tático.
Clausewitz indica-nos, também, as qualidades do comandante, na defesa ou ataque,
estas muito próximas às exigidas ao bom cavaleiro: Do mesmo modo que a cautela é o
verdadeiro gênio da defesa, a audácia e a confiança são as marcas do atacante...
Este brilhante pensador e militar também postula sobre as “virtudes morais do
comandante” como a honra: de todos os sentimentos que enchem o coração humano no
calor da batalha, temos de confessar honestamente que nenhum é tão poderoso e
inabalável do que a sede de honra e glória. Pode-se inferir a ligação desta primeira virtude
com a manutenção da tradições de um exército, na qual as demonstrações eqüestres têm
relevante papel. Além disso, a ousadia, marca dos cavaleiros de todos os tempos, é por ele
exaltada: Acreditamos, então, que é impossível imaginar um notável comandante sem
ousadia. A perseverança é outra virtude fundamental e presente na prática da EQUITAÇÃO:
Na guerra as coisas acontecem diferentemente do que prevíamos, e quando vistas de perto
são diferentes do que parecem à distância. Por fim, o autocontrole, muito exigido também
do equitador, é ressaltado: um caráter forte é aquele que não perde seu equilíbrio quando
confrontado com a mais forte das emoções.
Os ensinamentos do general estrategista Carl Von Clausewitz continuam
extremamente atuais e aplicáveis em diversas atividades, o que é corroborado pela
publicação em 2001 da obra Clausewitz on Strategy (Clausewitz e a Estratégia), pelo
Boston Consulting Group (BCG), já considerado pela imprensa especializada como um dos
melhores livros de negócios existentes.
A educação militar, entendida como um processo holístico de aprendizagem
valorada, sempre se preocupou com o desenvolvimento das características de liderança
aqui apresentadas, utilizando as mais variadas técnicas de ensino e meios auxiliares.
Porém, dado o vertiginoso avanço tecnológico atual, será que a ancestral prática da
EQUITAÇÃO
contribui na formação dos chefes militares e líderes da Era Digital? Uma forte
indicação é fornecida pelos próprios futuros oficiais do Terceiro Milênio: os Cadetes da
Academia Militar das Agulhas Negras.
CAPÍTULO VI
EQUITAÇÃO E LIDERANÇA NAS AGULHAS NEGRAS
“Encaro a arte de comandar, antes de tudo por
seu lado prático e defino: arte profissional do
oficial. O oficial é aquele que comanda”.
(Gavet, André. L´Art de Commander)
A Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) é o único estabelecimento de
ensino superior no Exército Brasileiro que forma Oficiais de carreira combatentes. É,
também, o único deste nível a possuir uma Seção de Equitação, destinada a ministrar
instruções e a promover atividades e competições eqüestres, além de encarar esta atividade
como uma disciplina a qual se atribui grau, no caso, para todo o efetivo durante o 2º ano e
para o Curso de Cavalaria no 3º e no 4º ano, visando objetivos integradores, segundo os
seguintes Planos de Disciplinas:
a. No segundo ano de formação, para toda a turma, com uma carga horária anual de 20
horas:
Tabela 1 – Objetivos Integradores da Equitação no 2o ano da AMAN
1 - Manter a mesma performance nas diferentes situações, durante as sessões de equitação.
(ADAPTABILIDADE).
2 – Demonstrar segurança e convicção no manejo do cavalo, nas diferentes situações apresentadas, durante
as instruções (AUTOCONFIANÇA).
3 – Demonstrar firmeza e destemor nas situações de risco, apresentadas durante as sessões de instrução e
durante as eventuais alterações de comportamento manifestadas pelo cavalo, de acordo com as normas de
segurança (CORAGEM).
4 – Atuar de forma firme e enérgica quando das manifestações de vontade observadas na sua montada,
durante as sessões de instrução, visando a execução de uma determinada tarefa, observando o princípio da
oportunidade (DECISÃO).
5 – Demonstrar calma e lucidez na presença do cavalo (EQUILÍBRIO EMOCIONAL).
6 – Adaptar-se, com prontidão, às mudanças de comportamento de sua montada bem como às exigências
crescentes previstas para a instrução, mantendo a eficiência (FLEXIBILIDADE).
OBJETIVOS
7 – Atuar, oportunamente, sem depender de ordens e de acordo com as orientações emanadas pelo instrutor,
INTEGRADORES diante das situações inopinadas, voluntárias ou involuntárias, que venham a ocorrer quando da realização das
sessões de instrução de equitação (INICIATIVA).
8 – Demonstrar, durante a encilhagem e a desencilhagem de sua montada, uma preparação metódica e
ordenada, observando os detalhes e desenvolvendo a suas ações de acordo com o que foi previamente
ensinado (ORGANIZAÇÃO).
9 – Manter-se em ação continuamente, a fim de executar as tarefas programadas para as sessões de
instrução, superando as dificuldades apresentadas, mesmo quando sua montada demonstrar uma reação a
consecução de um determinado exercício (PERSISTÊNCIA).
10 – Identificar as características e sentimentos de sua montada durante a sessões de instrução e procurar
dentro da situação apresentada atender aos objetivos previstos (SENSIBILIDADE).
(Fonte: AMAN, S Equi, PlaDis 2o ano)
b. No terceiro ano de formação, para os Cadetes do C Cav, com uma carga horária
anual de 48 horas:
Tabela 2 – Objetivos Integradores da Equitação no 3o ano da AMAN
Manter a mesma performance nas diferentes situações, durante as
sessões de equitação. (ADAPTABILIDADE).
Demonstrar firmeza e destemor nas situações de risco, apresentadas
durante as sessões de instrução e durante as eventuais alterações de
comportamento manifestadas pelo cavalo, de acordo com as normas de
segurança. (CORAGEM).
Atuar de forma firme e enérgica quando das manifestações de vontade
observadas na sua montada, durante as sessões de instrução, visando a
OBJETIVOS
INTEGRADORES
execução de uma determinada tarefa, observando o princípio da oportunidade.
(DECISÃO).
Demonstrar calma e lucidez com o ou na presença do cavalo.
(EQUILÍBRIO EMOCIONAL)
Atuar, oportunamente, sem depender de ordens e de acordo com as
orientações emanadas pelo instrutor, diante de situações inopinadas,
voluntárias ou involuntárias, que venham a ocorrer quando da realização da
instrução (INICIATIVA).
(Fonte: AMAN, S Equi, PlaDis 3o ano)
c. No quarto ano de formação, para os Cadetes do C Cav, com uma carga horária anual
também de 48 horas:
Tabela 3 – Objetivos Integradores da Equitação no 4o ano da AMAN
OBJETIVOS
INTEGRADORES
1Manter a mesma performance nas diferentes situações,
durante as sessões de equitação (ADAPTABILIDADE).
2Agir com firmeza e destemor nas situações de risco,
apresentadas as eventuais alterações de comportamento manifestadas pelo
cavalo, de acordo com as normas de segurança (CORAGEM).
3Atuar de forma firme e enérgica quando das manifestações
de vontade observadas na sua montada, visando a execução de uma
determinada tarefa e observando o princípio da oportunidade
(DECISÃO).
4Manter a calma e a lucidez com o cavalo ou em sua presença
(EQUILÍBRIO EMOCIONAL).
5Atuar, oportunamente, sem depender de ordens e de acordo
com as orientações emanadas pelo instrutor, diante de situações
inopinadas, voluntárias ou involuntárias , que venham a ocorrer quando da
realização da instrução (INICIATIVA).
6Manter em condições o material sob sua responsabilidade
(ZELO).
(Fonte: AMAN, S Equi, PlaDis 4o ano)
É nítida a correlação direta destes objetivos integradores com sete dos dezessete
traços mais relevantes ao líder militar (caráter do líder), definidos na IP 20-10:
Competência,
Responsabilidade,
Decisão,
Iniciativa,
Equilíbrio
emocional,
Autoconfiança, Direção, Disciplina, Coragem (física e moral), Objetividade, Dedicação,
Coerência, Camaradagem, Organização, Imparcialidade, Persistência, Persuasão. Resta
buscar os reflexos mais nítidos das atividades eqüestres no desenvolvimento dos mesmos e
o porquê disto.
Os antigos manuais de cavalaria reconheciam o valor da EQUITAÇÃO na formação dos
homens, como o C 2 – 50 – Instrução Tática Individual e das Unidades de Cavalaria, de
1954: Só os esportes hípicos como o salto de obstáculos, o pólo, o trabalho ousado no
exterior, criam e desenvolvem nos seus quadros as qualidades necessárias à plena
realização das características da arma.
A fim de reunir informações sobre o impacto destas instruções de EQUITAÇÃO sobre o
desenvolvimento da liderança na visão dos futuros oficiais foi realizada, ao fim do
primeiro semestre de 2003, uma pesquisa de campo, conduzida de forma empírica, entre
os Cadetes do terceiro do quarto anos da AMAN, cujo questionário individual figura no
Anexo A. Este foi distribuído pelos tenentes comandantes de pelotão das diversas Armas,
Quadro e Serviço e respondido em caráter voluntário pelos Cadetes.
As 255 pesquisas de opinião foram distribuídas pelo Corpo de Cadetes da seguinte
maneira:
Curso de Infantaria – 50 pesquisas
Curso de Cavalaria – 105 pesquisas
Curso de Artilharia – 40 pesquisas
Curso de Engenharia – 20 pesquisas
Curso de Intendência – 20 pesquisas
Curso de Comunicações – 10 pesquisas
Curso de Material Bélico – 10 pesquisas
Este instrumento de pesquisa deve ser apreciado com restrições, em especial face ao
caráter voluntário das respostas, salvo no Curso de Cavalaria. Também não houve estudos
mais acurados na delimitação da amostra e, ainda, pelo fato da pesquisa ter sido conduzida
à distância.
A seguir, são apresentados os resultados de cada Arma, Quadro ou Serviço, deixando
o Curso de Cavalaria por último, e o Resultado geral.
6.1. CURSO DE INFANTARIA
De 50 pesquisas, distribuídas somente aos Cadetes do 3o ano, todas foram
respondidas.
Quanto à pergunta Nr 1: “O contato com o cavalo influencia no desenvolvimento da
liderança para o futuro oficial do Exercito Brasileiro?”, obtiveram-se 40 respostas SIM e
10 respostas NÃO, perfazendo um índice positivo de 80 %.
Com relação aos atributos da área afetiva que a equitação possibilita o
desenvolvimento foram apontados pelos Cadetes, de acordo com o numero de citações
correspondente e considerando os campos Respostas SIM e Respostas NÃO referentes à
primeira pergunta:
Tabela 4 – Atributos citados pelos Cadetes de Infantaria e sua freqüência
ATRIBUTO
NÃO
SIM
TOTAL
CORAGEM
04
35
39
AUTOCONFIANÇA
02
27
29
INICIATIVA
00
22
22
EQUILIBRIO EMOCIONAL
01
16
17
DECISAO
00
10
10
RUSTICIDADE
01
02
03
DESTREZA
01
00
01
FLEXIBILIDADE
00
01
01
(Fonte : Pesquisa de Campo, Jul 2003)
Foram citados ainda uma vez nas respostas positivas: CAMARADAGEM, ESPÍRITO DE
CORPO, TEMPERANÇA, DETERMINAÇÃO, CRIATIVIDADE, ARROJO, RESPONSABILIDADE,
DIREÇÃO, DISCIPLINA.
Foi citada ainda três vezes a
LIDERANÇA
como atributo o que demonstra haver
alguma confusão no entendimento dos Cadetes quanto a isso. Verificou-se que se destacam
atributos que claramente integram o constructo da liderança como: coragem,
autoconfiança, equilíbrio emocional e iniciativa. A maioria (60%) dos Cadetes que
responderam NÃO a primeira pergunta, indicaram atributos que podem ser desenvolvidos
pela equitação, apenas quatro Cadetes deste grupo não responderam à segunda pergunta ou
colocaram “não-observado”.
Em relação à terceira pergunta, sobre as experiências mais marcantes com o cavalo
cabe ressaltar que vários Cadetes que concordam quanto à utilização do cavalo para
desenvolvimento da liderança relataram como marcantes suas dificuldades ao montar e até
quedas: “A primeira vez que cai dele”; “A dificuldade de impor nossa vontade ao
animal”; “O tombo que levei do cavalo quando estava fazendo um percurso”; “Uma
queda ocorrida em 2002, ocasião na qual machuquei meu braço direito”. A superação
destas dificuldades também é fato marcante: “Quando após o cavalo disparar no galope eu
consegui controlá-lo”. E ainda:
Quando estava fazendo orientação a cavalo, um cadete pegou um cavalo agitado, éramos uma equipe e o cavalo
estava dificultando o cumprimento da missão, derrubou um de nossos companheiros provocando o
medo em todos. Todos tiveram que superar esse medo para cumprir a missão, despertando iniciativa e
sentimento de cumprimento do dever.
(Cad 3o ano C Inf )
Também a profunda ligação do homem com o cavalo já é notada: “A interação que
deve existir entre o cavaleiro e o cavalo para o controle do mesmo”. E causam admiração
as características dos eqüídeos: “A capacidade de agilidade, a velocidade”; “Força e
rapidez por ocasião da Operação Afim”.
6. 2. CURSO DE ARTILHARIA
De 40 pesquisas, distribuídas somente aos Cadetes do 4o ano, todas foram
respondidas.
Quanto à pergunta 1: O contato com o cavalo influencia no desenvolvimento da
liderança para o futuro Oficial do Exército Brasileiro, obtiveram-se 34 respostas SIM e 06
respostas NÃO, perfazendo um índice positivo de 85 %.
Com relação aos atributos da área afetiva que a
EQUITAÇÃO
possibilita o
desenvolvimento, foram apontados pelos Cadetes, de acordo com o número de citações
correspondente e considerando os campos NÃO e SIM referentes à primeira pergunta:
Tabela 5 – Atributos citados pelos Cadetes de Artilharia e sua freqüência
ATRIBUTO
NÃO
SIM
TOTAL
CORAGEM
05
32
37
AUTOCONFIANÇA
02
21
23
EQUILÍBRIO EMOCIONAL
02
14
16
INICIATIVA
01
11
12
PERSISTÊNCIA
00
10
10
DECISÃO
01
05
06
RUSTICIDADE
01
03
04
AGRESSIVIDADE
00
01
01
DIREÇÃO
00
01
01
(Fonte : Pesquisa de Campo, Jul 2003)
Verificou-se que se destacam atributos que claramente integram o constructo da
liderança como:
CORAGEM, AUTOCONFIANÇA, EQUILÍBRIO EMOCIONAL
e
INICIATIVA,
já
amplamente explorados nos capítulos anteriores. Cabe ressaltar que praticamente todos os
cadetes que responderam NÃO à primeira pergunta, indicaram atributos que podem ser
desenvolvidos pela Equitação; apenas um Cadete deste grupo não respondeu à segunda
pergunta. Destaque para as citações incomuns: AGRESSIVIDADE e DIREÇÃO.
Analisando a terceira pergunta, sobre as experiências mais marcantes com o cavalo,
pode-se inferir que:
A “Cavalgada dos Artilheiros”, atividade de passeio no exterior realizada em
comemoração ao dia da Arma, bem como a visita à histórica “Bateria Caiena” (bateria
hipomóvel do 32o GAC – Brasília – DF), são citadas, o que reforça o forte apelo do cavalo
nas Armas que foram hipomóveis ou montadas devido ao fascínio da tradição, sobretudo
na Artilharia que resgatou esses valores há poucos anos.
Notou-se que entre os cadetes que responderam SIM à primeira pergunta, as
freqüentes quedas e outras dificuldades na prática da Equitação são largamente citadas:
“Não só comigo, mas vários cadetes mesmo após sofrerem quedas ou se machucarem por
causa da equitação persistem na atividade desenvolvendo a persistência e a coragem”. E
também: “A 1a vez que montei um cavalo ’alterado’ que quase me derrubou”. O que vem
a corroborar as teorias sobre a incerteza, a dificuldade e o medo como fatores de evolução
emocional e conseqüente aprimoramento da liderança.
O espanto com a fusão neurofisiológica e a afetividade do animal foram marcantes:
“A forma de como o cavalo percebe e reage de acordo com o estado emocional do
cavaleiro”;”A primeira, só de se aproximar do animal, esse percebe o grau de intimidade
e se o cavaleiro esta seguro de tratar com o mesmo”;”O laço afetivo criado entre o
homem e o cavalo”. Também a satisfação com a evolução obtida e o espanto com a
submissão do animal são dignos de nota: “A diferença do início para o final das instruções
do curso Avançado, tendo grande melhora demonstrada na Operação Afim, montando o
cavalo com mais confiança”; “O que mais me impressiona no trato com o cavalo e o fato
de controlar um animal bem maior que o homem”.(Cad 4o ano C Art)
É possível que tenha havido certa confusão ou desconhecimento de alguns quanto à
definição de liderança como um conjunto de atributos, dado que a essa foi citada uma vez
como atributo e em um dos que responderam NÃO transparece esta dúvida: “Acredito que
o cavalo ajuda no desenvolvimento de atributos essenciais a liderança, mas não influi
diretamente no desenvolvimento da liderança”.
6. 3. CURSO DE ENGENHARIA
De 20 pesquisas, sendo distribuídas 10 aos Cadetes do 3o ano e 10 aos do 4o ano,
todas foram respondidas.
Quanto à pergunta 1: “O contato com o cavalo influencia no desenvolvimento da
liderança para o futuro Oficial do Exército Brasileiro?”, obteve-se o seguinte resultado:
Tabela 6 – Apreciação do cavalo como fator de desenvolvimento da liderança pelos Cadetes de Engenharia
NAO
SIM
Índice Positivo
o
02
08
80%
o
01
09
90%
TOTAL
03
17
85%
3 ANO
4 ANO
(Fonte : Pesquisa de Campo, Jul. 2003)
Com relação aos atributos da área afetiva que a
EQUITAÇÃO
possibilita para o
desenvolvimento, foram apontados pelos Cadetes, de acordo com o número de citações
correspondente e considerando os campos NÃO e SIM referentes à primeira pergunta:
Tabela 7 – Atributos citados pelos Cadetes de Engenharia e sua freqüência
ATRIBUTO
NÃO
SIM
TOTAL
CORAGEM
01
15
16
AUTOCONFIANÇA
00
13
13
EQUILÍBRIO EMOCIONAL
01
05
06
INICIATIVA
00
04
04
PERSISTÊNCIA
00
03
03
RUSTICIDADE
00
02
02
TENACIDADE
00
01
01
SENSIBILIDADE
00
01
01
DEDICAÇÃO
00
01
01
(Fonte : Pesquisa de Campo, Jul 2003)
Interessante notar que a maioria dos atributos ligados à liderança se repetem. Duas
pesquisas negativas apenas recusaram-se a responder às perguntas 2 e 3. Ressalva para as
citações mais raras de: SENSIBILIDADE e DEDICAÇÃO. Apenas duas pesquisas negativas não
citaram atributo algum.
Analisando a terceira pergunta, sobre as experiências mais marcantes com o cavalo,
pode-se inferir que:
Também na Engenharia apareceram experiências aparentemente negativas, porém de
fundamental importância:
“Na primeira instrução em que fizemos o percurso da prova sozinhos, porque foi a
primeira vez que estive só com o cavalo, e é bem diferente de estar com o canga ou com o
instrutor para ajudar a resolver os problemas”; “Quando o cavalo não obedecia aos
comandos”. (Cad 3o ano C Eng)
E na visão dos Cadetes do quarto ano: “Dificuldade em manter a postura ereta
quando realizando o trote”; “Dificuldade em manter-se no cavalo, sem cair e sem as
mãos”; “Foi quando numa das instruções e equitação do Curso Avançado eu montei em
um cavalo mais difícil de ser montado em que eu quase sofri um acidente”; “Cavalgar
retirando os pés do estribo, pois, apesar do medo e desequilíbrio iniciais, logo depois
aumentava a confiança em cavalgar do modo normal”.
O elevado grau de percepção do animal e os benefícios do contato para o
desenvolvimento da liderança são sintetizados no seguinte testemunho: “O cavalo sente
quando o cavaleiro esta com medo ou com receio, e nesses momentos que o futuro líder
deve se superar a fim de atingir os objetivos da instrução, encilhar e montar o animal”.
(Cad 3o ano)
6. 4. CURSO DE INTENDÊNCIA
De 20 pesquisas, sendo distribuídas 10 aos Cadetes do 3o ano e 10 aos do 4o ano,
todas foram respondidas.
Quanto à pergunta Nr 1: “O contato com o cavalo influencia no desenvolvimento da
liderança para o futuro Oficial do Exército Brasileiro?”, obteve-se o seguinte resultado:
Tabela 8 – Apreciação do cavalo como fator de desenvolvimento da liderança pelos
Cadetes de Intendência
NAO
3o ANO
SIM
Índice POSITIVO
01
09
90%
4 ANO
04
06
60%
TOTAL
05
15
75%
o
(Fonte : Pesquisa de Campo, Jul 2003)
Com relação aos atributos da área afetiva que a
EQUITAÇÃO
possibilita ao
desenvolvimento, foram apontados pelos Cadetes, de acordo com o número de citações
correspondente e considerando os campos NÃO e SIM referentes à primeira pergunta:
Tabela 9 – Atributos citados pelos Cadetes de Intendência e sua freqüência
ATRIBUTO
NÃO
SIM
TOTAL
CORAGEM
05
15
20
AUTOCONFIANÇA
03
06
09
EQUILÍBRIO
01
04
05
INICIATIVA
00
02
02
DETERMINAÇÃO
00
02
02
ARROJO
00
02
02
DECISÃO
00
01
01
PERSISTÊNCIA
01
00
01
RUSTICIDADE
00
01
01
DESTREZA
00
01
01
ADAPTABILIDADE
00
01
01
(Fonte : Pesquisa de Campo, Jul 2003)
Tal resultado mantém a tendência de atributos, salvo a citação de:
DESTREZA
e
ADAPTABILIDADE.
Analisando a terceira pergunta, sobre as experiências mais marcantes com o cavalo,
pode-se inferir que as experiências de dificuldades ou tensão no contato com o animal são
as mais marcantes: “No momento que tive que encilhar o animal, no primeiro contato,
demonstrando coragem e adaptabilidade a situação”; “ No momento que tive que ficar em
pé na sela do cavalo e pular sobre a cabeça do cavalo”.(Cad 3o ano) “Numa situação que
o cavalo estava galopando e o estribo caiu e, mesmo assim, consegui parar o cavalo antes
que ele se chocasse contra uma cerca”; “A experiência que mais me impressionou foi
quando cai do cavalo”; “ Uma das instruções práticas no Curso Avançado, quando perdi
o controle sobre o cavalo”. (Cad 4o ano)
6.5. CURSO DE COMUNICAÇÕES
De 10 pesquisas, sendo distribuídas 04 aos Cadetes do 3o ano e 06 aos do 4o ano,
todas foram respondidas.
Quanto à pergunta 1: O contato com o cavalo influencia no desenvolvimento da
liderança para o futuro Oficial do Exército Brasileiro, obteve-se o seguinte resultado:
Tabela 10
–
Apreciação do cavalo como fator de desenvolvimento da liderança pelos Cadetes de
Comunicações
3o ANO
o
4 ANO
TOTAL
NAO
SIM
Índice POSITIVO
01
03
75%
02
04
66%
03
07
70%
(Fonte : Pesquisa de Campo, Jul 2003)
Com relação aos atributos da área afetiva que a equitação possibilita ao
desenvolvimento, foram apontados pelos Cadetes, de acordo com o número de citações
correspondente e
considerando os campos NÃO e SIM referentes à primeira pergunta:
Tabela 11 – Atributos citados pelos Cadetes de Comunicações e sua freqüência
ATRIBUTO
NÃO
SIM
TOTAL
AUTOCONFIANÇA
02
07
09
CORAGEM
01
06
07
EQUILÍBRIO
00
02
02
INICIATIVA
00
02
02
PERSISTÊNCIA
00
02
02
DECISÃO
00
01
01
RESPONSABILIDADE
00
01
01
(Fonte : Pesquisa de Campo, Jul. 2003)
No Curso de Comunicações, manteve-se a tendência já observada com ressalva para
maior valorização da
AUTOCONFIANÇA.
Uma pesquisa negativa apenas não citou atributo
algum.
Analisando a terceira pergunta, sobre as experiências mais marcantes com o cavalo,
pode-se inferir que, para os Cadetes de Comunicações, crescem de importância o domínio
e o controle do animal: “O fato de que, conhecendo o animal, fica mais fácil o domínio
do cavalo, ou seja, e importante o entrosamento entre o cavaleiro e o cavalo. Portanto,
devem-se conhecer as características do cavalo antes de montá-lo”.(Cad 4o ano C Com)
Como também lhes importa o acurado grau de sensibilidade do cavalo: “A percepção do
cavalo da insegurança do cavaleiro, sendo necessário o montador se impor”.(Cad 4o ano
C Com); e a capacidade de superação diante das adversidades: “Quando fui voluntário
para competir
EQUITAÇÃO
nas Olimpíadas Acadêmicas pelas Com. Sem nunca ter saltado
um obstáculo montado, entrei e terminei a pista”.(Cad 4o ano C Com); “A dificuldade em
controlar o cavalo no primeiro trote fora do picadeiro”.(Cad 3o ano C Com)
6. 6. CURSO DE MATERIAL BÉLICO
De 10 pesquisas, sendo distribuídas 05 aos Cadetes do 3o ano e 05 aos do 4o ano,
todas foram respondidas. Quanto à pergunta Nr 1: “O contato com o cavalo influencia no
desenvolvimento da liderança para o futuro Oficial do Exército Brasileiro?”, obteve-se o
seguinte resultado:
Tabela 12 – Apreciação do cavalo como fator de desenvolvimento da liderança pelos
Cadetes de Material Bélico
3o ANO
o
4 ANO
TOTAL
NAO
SIM
00
05
100%
02
03
60%
02
08
80%
Índice POSITIVO
(Fonte : Pesquisa de Campo, Jul 2003)
Com relação aos atributos da área afetiva que a
EQUITAÇÃO
possibilita ao
desenvolvimento, foram apontados pelos Cadetes, de acordo com o número de citações
correspondente e considerando os campos NÃO e SIM referentes à primeira pergunta:
Tabela 13 – Atributos citados pelos Cadetes de Material Bélico e sua freqüência
ATRIBUTO
NÃO
SIM
TOTAL
CORAGEM
02
08
10
AUTOCONFIANÇA
01
04
05
EQUILÍBRIO EMOCIONAL
00
03
03
DETERMINAÇÃO
00
02
02
DECISÃO
00
01
02
CAMARADAGEM
00
01
01
PRUDÊNCIA
00
01
01
(Fonte : Pesquisa de Campo, Jul 2003)
Cabe ressaltar a citação da CAMARADAGEM e PRUDÊNCIA, bem como a confusão com
os domínios cognitivos, citando INTELIGÊNCIA e o
CARÁTER PSICOMOTOR,
na Área
Psicomotora. Uma pesquisa negativa apenas não citou atributo algum.
Analisando a terceira pergunta, sobre as experiências mais marcantes com o cavalo,
não obstante as diferenças das atividades do MB para as eqüestres, chegou-se a alguns dos
resultados mais técnicos e surpreendentes, como, por exemplo: foi citada a “Capacidade de
superação” (Cad 3o ano), outro Cad do 3o ano, que citou, erroneamente, a inteligência
como AAA, uma vez que ela se refere ao domínio cognitivo, narrou como experiência:
“Controlar cavalos mais ariscos”, intuindo os benefícios da
EQUITAÇÃO
para a expansão
das conexões neurais. As experiências mais difíceis, contudo mais construtivas, já
presentes em relatos anteriores, não foram esquecidas: “Foi na minha primeira aula
prática de equitação, quando eu sai com o cavalo para cavalgar na região da invernada e
o mesmo, além de não me obedecer, não parava de dar coice e empinar”.(Cad 3o ano)
Merece destaque o grau de percepção dos processos psicológicos do cavalo por este Cad
do 3o ano: “Limpeza das ranilhas do cavalo, pois o cavalo parece entender a necessidade
e não oferece resistência nenhuma, pelo contrário, ajuda. Reflexos condicionados do
cavalo, que a cada ação, responde sempre igual”.
6. 7. CURSO DE CAVALARIA
De 105 pesquisas, sendo distribuídas 48 aos Cadetes do 3o ano e 57 aos do 4o ano,
abrangendo todo o efetivo do Curso, todas foram respondidas.
Quanto à pergunta 1: O contato com o cavalo influencia no desenvolvimento da
liderança para o futuro Oficial do Exército Brasileiro, obteve-se o seguinte resultado:
Tabela 14 – Apreciação do cavalo como fator de desenvolvimento da liderança pelos
Cadetes de Cavalaria
NÃO
SIM
Índice POSITIVO
00
48
100%
01
56
98,25%
01
104
99,04%
3o ANO
o
4 ANO
TOTAL
(Fonte : Pesquisa de Campo, Jul 2003)
Com relação aos atributos da área afetiva que a
EQUITAÇÃO
possibilita o
desenvolvimento foram apontados pelos Cadetes, de acordo com o número de citações
correspondente:
Tabela 15 – Atributos citados pelos Cadetes do terceiro ano de Cavalaria e sua freqüência
ATRIBUTO
TOTAL
CORAGEM
33
INICIATIVA
24
AUTOCONFIANÇA
23
EQUILÍBRIO EMOCIONAL
18
RUSTICIDADE
17
DECISÃO
15
DEDICAÇÃO
04
TENACIDADE
04
FLEXIBILIDADE
03
PERSISTÊNCIA
03
PERSEVERANCA
02
ADAPTABILIDADE
02
SENSIBILIDADE
02
ARROJO
02
.(Fonte : Pesquisa de Campo, Jul 2003)
Ainda com uma citação aparecem: DIREÇÃO, SOCIABILIDADE, TEMPERANÇA,
PRESTEZA, AUDÁCIA, ASTÚCIA, FIBRA, DISCIPLINA, ZELO, ATITUDE, DESEMBARAÇO,
VONTADE, RESPONSABILIDADE e CAMARADAGEM
Citada erroneamente: COORDENAÇÃO MOTORA E PSICOLÓGICA (domínio psicomotor)
Tabela 16 - Atributos citados pelos Cadetes do quarto ano de Cavalaria e sua freqüência
ATRIBUTO
TOTAL
CORAGEM
44
INICIATIVA
35
AUTOCONFIANÇA
28
DECISÃO
28
RUSTICIDADE
16
EQUILÍBRIO EMOCIONAL
16
PERSISTÊNCIA
13
DEDICAÇÃO
10
DETERMINAÇÃO
05
ARROJO
03
FLEXIBILIDADE
03
METICULOSIDADE
03
ADAPTABILIDADE
02
ZELO
02
FORÇA DE VONTADE
02
COORDENAÇÃO
02
COOPERAÇÃO
02
(Fonte : Pesquisa de Campo, Jun 2003)
Ainda com uma citação aparecem: ABNEGAÇÃO, CAMARADAGEM, CRIATIVIDADE,
DIREÇÃO, DESPREENDIMENTO, AUDÁCIA e LEALDADE.
.
Tabela 17 – Resumo dos Atributos mais citados no C Cav
ATRIBUTO
NR de CITAÇÕES
CORAGEM
77
INICIATIVA
59
AUTOCONFIANÇA
51
DECISÂO
43
EQUILÍBRIO EMOCIONAL
34
RUSTICIDADE
33
PERSISTÊNCIA
16
(Fonte : Pesquisa de Campo, Jul 2003)
A diversidade de atributos citados pelos Cad do C Cav , sobretudo do 3o ano,
destacou-se da quantidade apontada pelos demais Cad. Quanto à freqüência dos atributos a
CORAGEM, como nos outros resultados, continua sendo o mais citado, porém cresceram de
importância a INICIATIVA, a DECISÃO e a RUSTICIDADE, provavelmente – ainda que
carecendo de maiores estudos – em função das características e missões da Arma.
Em relação à terceira pergunta, sobre as experiências mais marcantes, será
inicialmente avaliado o 3o ano:
O Cross da Espora apareceu em 15 pesquisas, demonstrando não só a força das
tradições para o espírito da Arma, como também seus benefícios psicológicos: “O Cross
da Espora, em maio do corrente ano, experiência que envolveu não apenas fatores ligados
a atividade de equitação como também fatores psicológicos voltados ao nervosismo,
necessitando de autocontrole e confiança.”
A descoberta da importância da ligação entre homem e cavalo já é notável: “A partir
de uma pequena vivência na prática da equitação, pude perceber que cria-se um espírito
de conjunto entre o cavaleiro – cavalo, onde passa a existir um sentimento de confiança
mútua”; “A possibilidade de interação com o cavalo nas diversas dificuldades impostas ao
cavaleiro e ao animal, possibilitando o apoio mútuo”.
Bem como existe a visão da sensibilidade do animal: “Como muda o comportamento
do animal, de acordo com a experiência de quem o monta (experiência do cavaleiro)”.
As situações de tensão, medo e dificuldade, e logicamente as quedas, também
integram o rol de experiências marcantes e construtivas, como já verificado nos relatos de
outros Cad: “Os tombos”; “As vezes que o cavalo me derrubou”; “O primeiro contato
pois tinha medo do cavalo”; “A primeira queda. Depois dela, o medo vai embora e você
passa a saber que é você que comanda o conjunto homem – cavalo, e, não, o cavalo”;
“Um cavalo que me derrubou sete vezes por não deixar que eu trotasse ao contrário
(montado de frente para a garupa)”; “Quando montei uma égua da Seção de Equitação,
tive que corrigi-la várias vezes, caí um tombo mas, no final da instrução a égua estava
atendendo todos os comandos”.
No 4o ano, a ligação com o cavalo se fortalece, transformando-se em um
relacionamento afetuoso, fato ratificado pelas narrações seguintes: “Quando eu ‘capotei’
com o cavalo e, após os dois caírem ao solo, o cavalo ficou ao meu lado, me esperando,
quase sorrindo”.E também: “Me impressiona a capacidade que o cavalo tem de corrigir
nossos erros”.
Permanece a lembrança das experiências mais difíceis como as de maior ganho
emocional:
Quando comecei as aulas no CMBH com um cavalo ‘nervoso’ , depois de vários tombos e comandos era um dos
únicos que conseguia conduzi-lo. Percebi que tinha desenvolvido um laço afetivo com aquele cavalo,
que no inicio me impôs um desafio mas que acabou me trazendo a confiança que precisava. Acredito
que ele também reconhecera esta confiança só pelo modo como se portava quando eu estava
tratando-o ou quando era outra pessoa.
(Cad 4o ano C Cav)
A evolução gradual na prática
eqüestre e os benefícios de expandir
limites são ressaltados: “A conclusão
de percursos de salto nos quais as
limitações técnicas do cavaleiro os
faziam
parecer
‘impossíveis’.
A
sensação de superação e a mais
marcante”.(Cad 4o ano C Cav)
A quarta pergunta diferenciava os questionários dirigidos ao 4o ano do C Cav e
referia-se às práticas eqüestres que mais desenvolveriam atributos ligados à liderança.
Foram citadas 11 práticas ou modalidades, de acordo com a seguinte tabela:
Tabela 18 – Modalidades eqüestres citadas como ligadas ao desenvolvimento da liderança
pelos Cadetes do 4o ano do C Cav
PRÁTICA OU MODALIDADE
SALTO DE OBSTÁCULOS
NR DE CITAÇÕES
32
PÓLO
23
“CROSS-COUNTRY”
20
VOLTEIO
09
CCE
08
BASQUETE A CAVALO
06
ADESTRAMENTO
05
“ENTREVEROS”
03
EXTERIOR
01
(Fonte : Pesquisa de Campo, Jul 2003)
Há que se ressaltar que a atividade de “cross-country”, ou seja, o salto de obstáculos
rústicos no exterior, faz parte da modalidade de “Concurso Completo de
Equitação”(CCE), podendo este ser também Combinado, mas de qualquer forma
compreendendo o Salto e o Adestramento, além do Cross. Pode-se considerar, então, o
CCE como o segundo mais citado.
Algumas estréias em modalidades, principalmente no Pólo, foram apontadas na
pergunta nº 2, sobre a experiência mais marcante a CAVALO.
Diversos Cadetes justificaram suas escolhas apresentando as características
pertinentes a cada modalidade e sua ligação com a liderança. Muitas são bastante claras e
já foram abordadas neste trabalho.
O estado de tensão é inerente a toda competição, com conseqüente descarga de
adrenalina. Algumas modalidades desenvolvem mais os movimentos reflexos e a
capacidade de decidir com rapidez e oportunidade como o Salto e o Pólo. Outras,
coordenação motora mais refinada e elevada concentração mental à custa de treinamentos
exaustivos como o Adestramento e o Volteio, além de perfeita integração com o
CAVALO.
Já o CCE envolve três modalidades, com treinamento metódico e desgastante, exigindo
disciplina, flexibilidade e perseverança, contando com um, muitas vezes perigoso, percurso
de cross-country, o qual trabalha o arrojo e o domínio do medo diante de possível queda
mais grave. O Concurso Completo é também chamado de Prova de
sendo a modalidade militar por excelência. O Pólo e o Basquete a
CAVALO
CAVALO
d’Armas,
são jogos de
equipe e, por isso, excelentes exercícios de liderança. Este último e a prática dos
“Entreveros”, forma de luta corporal a
CAVALO,
desenvolvem também a rusticidade, o
vigor físico e a destreza.
6. 8. APRECIAÇÃO FINAL
Totalizando-se as respostas à pergunta Nr 1 versando sobre a influência do
contato com o cavalo no desenvolvimento da liderança para o futuro oficial do Exército
Brasileiro, chegou-se a 225 respostas SIM e 30 respostas NÃO, totalizando 255 respostas,
mostradas no gráfico a seguir:
Gráfico 1 – A influência do contato com o cavalo no desenvolvimento da liderança segundo os
Cadetes da AMAN
11,76%
88,24%
Com relação aos atributos da área afetiva (AAA) desenvolvidos pelo contato
eqüestre, objeto da pergunta Nr 2, a CORAGEM é a mais citada (206 vezes – 80,78%),
seguida pela AUTOCONFIANÇA (139 – 54,51%), INICIATIVA (101 – 39,61%) e
EQUILÍBRIO EMOCIONAL (83 – 32,55%).
Em que pese o acelerado avanço tecnológico, o desenvolvimento afetivo do
homem não deverá nunca ser negligenciado:
A guerra continua a ser um esforço muito humano. Seres humanos estão envolvidos e soldados e
lideres têm de lidar com as emoções humanas do medo e da confusão diante de um determinado
inimigo. Segundo escreveu Maurice de Saxe, “A coragem dos combatentes deve ser renovada
diariamente. Esse é o papel dos lideres”. As missões que conduzimos na guerra e em outros tipos de
operações requerem soldados no terreno, operando em condições de perigo. T.R. Fehrenbach
descreve isso muito bem no seu livro “This Kind of War”: “Você sempre pode sobrevoar a terra, pode
bombardeá-la, atomizá-la, pulverizá-la e eliminar os sinais de vida humana – mas se quiser defendêla, protegê-la e mantê-la para a civilização, deve combater no terreno da mesma forma que as
Legiões Romanas fizeram, colocando jovens soldados na luta”.
(Blackwell, Paul; Bozek, Gregory. Liderança para o novo milênio, Military
Review, p.25)
Os resultados da pergunta Nr 3 já foram amplamente explorados nos relatórios de
cada Curso, ressalvando-se a sinceridade e a maturidade dos Cadetes nas suas respostas,
que valorizaram, principalmente a dificuldade das atividades eqüestres como estimulo à
superação e à expansão de limites, constituindo-se em fator de crescimento pessoal.
Por fim, a pergunta Nr 4, dirigida apenas aos Cad do 4o ano de Cavalaria, mostrou a
diversidade das modalidades aceitas para o desenvolvimento da liderança, cada uma com
sua contribuição particular e popularidade de acordo com sua divulgação, destacando-se o
Salto de obstáculos, quer clássico quer de obstáculos rústicos no exterior (“crosscountry”).
Como já dito no início deste capítulo, as práticas eqüestres sempre foram respeitadas
na Cavalaria Hipomóvel não só como meio de combate da época, mas também como meio
auxiliar na formação da personalidade do oficial, principalmente do Tenente e dos
integrantes de sua fração. Tais métodos de desenvolvimento da liderança e área afetiva não
consistiam em ações complexas, porém em atividades cotidianas fundamentais levadas a
cabo com simplicidade, seriedade, dedicação, entusiasmo e guiadas pelo exemplo do líder,
fatores estes que algumas vezes deixam, lamentavelmente, a desejar nas pequenas frações
atuais. A “Velha Hipo” é revivida nas palavras do Coronel Benício da Silva:
A instrução ministrada a tropa e praticada pelo oficial, os trabalhos a cavalo, o manejo das armas, as missões
isoladas e a distância de outros combatentes, a doma, a educação e o trato do cavalo – tudo isto
exige do oficial de cavalaria a energia, a fortaleza física e nele desperta e alimenta o arrojo, a
coragem individual.
Na prática da equitação, servindo de modelo aos novos soldados ou exercitando-se ele mesmo, para seu uso
próprio, o oficial de cavalaria é forçado a freqüentes demonstrações de vigor físico, de desassombro
ante os perigos que o exercício acarreta. A equitação, as evoluções em andaduras violentas, as
galopadas vertiginosas, através de campos por sebes e valados, o emprego das armas a cavalo, os
exercícios de volteio, os jogos praticados pelos cavaleiros, são outros tantos elementos geradores de
energia física e moral, de força e valor.
É na obscura e árdua vida do quartel, dias e noites entre soldados, no trato e doma de cavalos novos, nos mil
cuidados que eles exigem, oficiais transformados em domadores de potros, dominando as fúrias do
animal bravio, fazendo-lhe o penso, vencendo—lhe as resistências com paciência ou recorrendo a
força quando aquela não basta; nessas tarefas – que são a vida diária nas casernas de cavalaria –
não se distingue o oficial subalterno, comandante de pelotão, dos simples soldados, seus
comandados... Em tudo isso a força, a energia, a coragem, o arrojo, como exemplo, como função
própria, como ação espontânea, como ato reflexo, sem ostentação, natural, imperioso. Vede um
pelotão em inspeção – cavalos em magnífico estado, delgados, limpos, ferrados, sem ferimentos nem
escoriações; arreios trabalhados, mas bem conservados, completos, ajustados; equipamentos e
uniforme irrepreensíveis; armamento limpo e pronto para ser empregado; alojamento bem cuidado;
baias numeradas; asseadas; rações de forragem convenientemente acondicionadas; tanques em
condições de serem a qualquer momento utilizados – basta isto para descrever o tenente, mesmo sem
o ver: madrugador, ativo; infatigável no trabalho, compleição robusta, delgado, semblante alegre e
enérgico, metódico, dinâmico, um pouco de Mestre de Forja, algo de Cyrano e muito dessa figura
lendária que enche páginas e páginas da nossa história com um só nome – Osório.
(da Silva, Benicio, O Oficial de Cavalaria: como é, como deve ser, p.39)
A AMAN desenvolve, desde 2001, o Programa para o Desenvolvimento e
Avaliação da Liderança (PDAL), que hierarquiza os Cadetes da mesma turma em frações
como GC, Pel e Cia, Bia ou Esqd, estabelecendo funções (e conseqüentes níveis de
liderança), exercidas por eles em sistema de rodízio e em períodos predeterminados,
durante os quatro anos de formação.
Tal programa visa a propiciar condições para o desenvolvimento da liderança nos
futuros comandantes das pequenas frações. Utilizando-se de um sistema de fichas e
relatórios, nos quais são feitas entrevistas do líder com seu liderado, traçadas metas e
registradas observações e avaliações horizontais e verticais, o PDAL busca mensurar o
grau de liderança individual no chamado Grau de Liderança Militar(GLM).
Era objetivo inicial desta pesquisa traçar um paralelo entre o GLM e o grau de
equitação obtido no 2o ano, da primeira turma na qual foi implantado o PDAL, no caso o
atual 3o ano, buscando alguma relação concreta entre estes instrumentos de medida.
Contudo, segundo informação colhida em conversa telefônica no dia 06 de junho de 2003
às 15h30m, do Maj SAPER, chefe da recém criada Seção de Liderança e Apoio a
Doutrina(SLAD), a mesma não dispunha de relatório dos GLM, ainda só registrados nas
fichas do PDAL, arquivadas nas pastas de informações individuais dos Cadetes, estas de
caráter sigiloso.
Deste modo, segue como campo útil à pesquisa a busca de uma ligação entre os
dados e avaliações do PDAL e a quantificação da Equitação enquanto disciplina na
AMAN. Bem como revela-se um espectro de possibilidades para investigação e
experimentações, quer em outros Estabelecimentos de Ensino, quer em estágios da prática
eqüestre, que poderão ser inseridos futuramente em outros Cursos do EB que visem o
desenvolvimento da liderança.
CAPÍTULO VII
CONCLUSÕES
“Eia camaradas! Aqui só há Deus e as nossas
armas.” (Osório)
Após apreciarem-se as definições e origens da arte eqüestre e do fenômeno da
liderança, pôde-se afirmar que ambos são processos de aprendizagem graduais e
subjetivos, aproximando-se mais do conceito artístico que do técnico e relativos a um
contexto sócio-histórico e cultural.
Em seguida, analisaram-se diversas passagens históricas de líderes e comandantes
que mudaram o curso da Civilização ao longo das eras, deduzindo-se que a maioria
estabeleceu contato com o cavalo ainda muito jovem e naturalmente. Salvo algumas
exceções, como os monarcas europeus da Idade Moderna e Contemporânea, não
praticaram a Equitação dita acadêmica, a qual se constitui em refinamento da prática
eqüestre “natural” e dos atributos por ela desenvolvidos, mas não é indispensável ao
surgimento desses. Os líderes montados preferiram as raças marchadoras, ágeis e
resistentes como o cavalo mongol, na Antiguidade, e as raças mais “sangüíneas”, como o
árabe e o PSI, nos tempos modernos, mais velozes, inteligentes e temperamentais, portanto
mais difíceis de serem montadas. Isto ratifica a idéia, embasada pela neurociência, de que
são as resistências e dificuldades apresentadas pelo eqüino e superadas pelo cavaleiro que
estimulam o maior desenvolvimento cognitivo e emocional. Cabe ressaltar o
reconhecimento, pelos líderes mais modernos, e, por conseguinte, que pouco utilizaram o
CAVALO
como meio de combate, da importância dele como fator de auto-aperfeiçoamento
e meio auxiliar na formação de combatentes.
Verificou-se a valorização crescente e sistematizada, nos dias atuais, da capacidade
de lidar com as emoções próprias e alheias, sintetizada no conceito de “inteligência
emocional”, este aplicado à chamada “liderança primal”. A utilização do
CAVALO
na
exploração e desenvolvimento destas características, longe de ser idéia inédita, já é
operacionalizada há mais de uma década na Europa e EUA, e mesmo no Brasil, por
entidades e instrutores civis. O mercado empresarial está ávido por iniciativas desta
natureza, uma vez que a pesquisadora americana Adrina Strozzi obtém, com 15
CAVALOS
no seu rancho, um faturamento anual mínimo de 330.000 dólares, segundo os valores já
expostos. Também os novos estudos de neurofisiologia aplicada à
EQUITAÇÃO
fornecem
embasamento científico irrefutável para os diversos benefícios da prática eqüestre, antes
apenas intuídos pela sociedade.
O estudo da “liderança militar” revelou a sua inerente destinação bélica, mesmo
quando da ausência de conflitos.Também estabeleceu analogia entre os princípios da
doutrina militar de Clausewitz, tais como a incerteza, o acaso e o atrito, plenamente
comprovados no moderno teatro de operações, e aqueles empregados na arte eqüestre. O
CAVALO
é para o EB um meio auxiliar absolutamente viável para a simulação da situação
de tensão, desgaste e, sobretudo, imprevisibilidade vivida nos combates atuais.
A pesquisa de campo realizada na AMAN veio a confirmar o arcabouço histórico e
científico anterior. A EQUITAÇÃO como meio para o desenvolvimento da liderança mostrou
ser largamente aceita entre os Cadetes, atingindo um índice de 88,24 %., particularmente
entre os Cadetes do curso de Cavalaria comprovando que, por mais que se modernizem os
meios de combate, é sobre o dorso do
CAVALO
que se forja o verdadeiro espírito do
Cavalariano.
Os atributos da área afetiva citados enquadram-se perfeitamente naqueles integrantes
do constructo da liderança e nos objetivos regulamentares da Seção de Equitação,
sintetizados no PlaDis do 4o ano do C Cav:
Evidenciar capacidade para agir de forma firme e destemida, diante de situações difíceis e perigosas,
seguindo as normas de segurança (CORAGEM); de optar pela alternativa mais adequada, em tempo
útil e com convicção (DECISÃO); de controlar as próprias reações para continuar a agir,
apropriadamente, nas diferentes situações (EQUILÍBRIO EMOCIONAL); de cuidar dos bens móveis
e imóveis que estão ou não sob sua responsabilidade (ZELO); de se ajustar apropriadamente às
mudanças de situações (ADAPTABILIDADE); e agir, de forma adequada e oportuna, sem depender
de ordem ou decisão superior (INICIATIVA).”
(AMAN, S Equi, PlaDis 4o
ano C Cav)
As experiências mais marcantes relatadas e modalidades eqüestres preferíveis para a
formação do líder coadunaram-se com o embasamento apresentado nos capítulos
anteriores.
Neste contexto, cabe enfatizar e bem definir o papel do Especialista em Equitação.
Muitas das suas características imutáveis são definidas pelo Coronel Benício da Silva:
O caráter distinto mais se acentua no oficial que se dedicou a equitação, quer tenha feito dela uma especialização,
que lhe consome meses e anos de aturado e apaixonado labor, quer a tenha praticado com dedicação,
no afã de desempenhar calmamente, como modelo de seus comandados, as exigências dos
regulamentos militares...A inteligência do homem com o cavalo cria no oficial de cavalaria uma
notável dedicação ao nobre animal e chega a estabelecer um comércio de idéias nas exigências
impostas por um e nos esforços progressivos empenhados e nos resultados surpreendentes alcançados
pelo outro...Desse comércio surgem reflexos no caráter do cavaleiro, reflexos que se manifestam no
consórcio de idéias com os outros homens, nas suas maneiras, no seu modo de considerar os
múltiplos fenômenos que se lhe apresentam na vida em sociedade.”
(da Silva, Benicio. O Oficial de Cavalaria: como é, como deve ser, p.15 )
Ao Especialista, cabe a incansável manutenção e divulgação das práticas eqüestres
onde quer que esteja e sob quaisquer condições. Deve ter a
EQUITAÇÃO
como uma
atividade-meio de fundamental importância para a formação do homem e dos líderes, mas
sem negligenciar nossa atividade-fim de prontidão para a defesa da Pátria. É necessário
que sua conduta espelhe o esmero, a dedicação e o entusiasmo nas atividades simples do
cotidiano eqüestre, seguindo o provérbio latino: “Simplex veri sigillum” (“A simplicidade
é a marca da verdade”).
Num tempo de grave crise econômica e de acirrada incompreensão de muitos em
relação à equitação, devido ao progressivo afastamento das gerações do
CAVALO,
não se
admite postura egoísta, vaidosa ou puramente desportista e competitiva da nossa parte. É,
ao contrário, na humildade, na elegância de atitudes, no constante aperfeiçoamento, na
pesquisa e na ampla difusão de conhecimentos que reside nossa força para continuarmos
eternos baluartes da nobre e ancestral Arte Eqüestre e do Irmão Cavalo.
Buscou-se em todas as bestas qual era a mais bela besta e a mais veloz, e a que pudesse sustentar maior
trabalho, e qual era a mais conveniente para servir ao homem; e porque o cavalo é a mais
nobre besta e a mais conveniente a servir ao homem, por isso, de todas as bestas, o homem
elegeu o cavalo, que foi doado ao homem que foi dos mil homens eleito. E por isso aquele
homem tem o nome de cavaleiro.
( Llull, Ramon. Llibre de l’Orde de Caballería, 1279)
ANEXO A
PESQUISA DE CAMPO
Curso:__________
ESCOLA DE EQUITAÇÃO DO EXÉRCITO
PESQUISA DE OPINÃO
Ano:__________
Cad:__________________
(facultativo)
Prezado Cadete,
Esta pesquisa destina-se a coletar informações para a monografia de pós-graduação
o
do 1 Ten Rigueira., oficial aluno da Escola de Equitação do Exército. O preenchimento do
seu nome é opcional, sendo, de qualquer forma, preservada sua identidade quando da
divulgação dos resultados. Solicito a máxima sinceridade em suas respostas, mesmo que sejam
contrárias à prática da equitação como fator de desenvolvimento da liderança. Agradeço sua
atenção e colaboração!
1. O contato com o cavalo influencia no desenvolvimento da liderança para o futuro oficial do
Exército Brasileiro?
SIM
NÃO
2. Cite algum(s) atributo(s) da área afetiva que julga ser(em) desenvolvido(s) pelas atividades
eqüestres:
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
______________
3. Qual das suas experiências com o cavalo que mais o impressionou?
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
______________
ESCOLA DE EQUITAÇÃO DO EXÉRCITO
PESQUISA DE OPINÃO
Cad:__________________
4o Ano do Curso de Cavalaria
(facultativo)
Prezado Cadete,
Esta pesquisa destina-se a coletar informações para a monografia de pós-graduação
do 1o Ten Rigueira., oficial aluno da Escola de Equitação do Exército. O preenchimento do
seu nome é opcional, sendo, de qualquer forma, preservada sua identidade quando da
divulgação dos resultados. Solicito a máxima sinceridade em suas respostas, mesmo que sejam
contrárias à prática da equitação como fator de desenvolvimento da liderança. Agradeço sua
atenção e colaboração! Que nossos estribos se choquem em cavalgadas futuras!
1. O contato com o cavalo influencia no desenvolvimento da liderança para o futuro oficial do
Exército Brasileiro?
SIM
NÃO
2. Cite algum(s) atributo(s) da área afetiva que julga ser(em) desenvolvido(s) pelas atividades
eqüestres:
_________________________________________________________________________
_______
3. Qual das suas experiências com o cavalo que mais o impressionou?
_________________________________________________________________________
_______
4. Qual(is) prática(s) eqüestre(s) julga desenvolver(em) mais atributos ligados à liderança?
_________________________________________________________________________
_______
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Portaria Nr 12, de 12 de maio de 1998, do Chefe do Departamento de Ensino e Pesquisa.
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Instruções Provisórias. IP 20 – 10 Liderança Militar. Brasília: EGGCF, 1991.
Portaria Nr 12, de 12 de maio de 1998, do Chefe do Departamento de Ensino e Pesquisa.
O DESPERTAR DO LÍDER: CAVALO E CAVALEIRO
Por Sérgio de Aragão Costa Rigueira
Nenhum outro animal marcou tanto a história da civilização como o cavalo. Sobre o
seu dorso impérios floresceram e foram destruídos. A sua contribuição para o
desenvolvimento humano nos mais diversos campos de atividade, do econômico ao militar,
é inconteste e inestimável. Na visão do francês Ephrem Houël, Diretor do Haras du Pin
(1847 – 1850): “Cercado pelos elementos que conspiram para sua ruína e por animais
cuja velocidade e força superam as suas, o homem teria sido um escravo sobre a terra. O
CAVALO
fez dele um rei.”(Houël, Ephrem.Histoire du cheval apud Hontang, Maurice. A
psicologia do cavalo, p.11 )
O tempo e lugar dos primeiros contatos de um humano com um eqüídeo são
desconhecidos, mas fato é que os ancestrais do
CAVALO
moderno foram caçados e depois
domesticados por sua carne e leite. Segundo Keegan (1993), foram encontrados ossos de
CAVALOS
aparentemente domesticados em sítios datados do quarto milênio antes de Cristo,
nas povoações da assim chamada cultura Srednij Stog, junto ao rio Dnieper, acima do Mar
Negro.
Os primórdios da
EQUITAÇÃO
confundem-se, deste modo, com o surgimento das
primeiras sociedades estruturadas na Ásia, Europa e África.
A importância do advento da EQUITAÇÃO para a arte da guerra, modificando de modo
radical e irreversível a forma de combater dos povos antigos, é incontestável. Tal fato
remonta há cerca de 1500 anos antes de Cristo:
A primeira batalha de bigas de que temos notícia, a de Megido, no Norte da Palestina, travada em
1469 a. C. entre os faraós Tutmés III e uma confederação de inimigos do Egito liderada pelos hicsos,
terminou quase sem derramamento de sangue para os dois lados. Megido é também considerada a
primeira batalha da história, no sentido de que podemos datá-la, situar seu local, identificar seus
combatentes e seguir seu desenrolar.
(Keegan, John. Uma História da Guerra,
p.192)
Contudo, é provável que muito antes (cerca de 2000 a.C.) os Citas já constituíssem
uma cavalaria montada. Estes foram os precursores dos “povos montados das estepes” que
Keegan considera “uma das forças mais significativas – e funestas – da história militar”, e
justifica: Os povos cavaleiros, tais como os aurigas antes deles, trouxeram para a guerra o
conceito elétrico de fazer campanhas de longa distância e, quando a campanha se resolvia
em batalha, de manobrar em campo com velocidade - pelo menos cinco vezes mais veloz
que homens a pé. (Keegan, John. Uma História da Guerra, p.230)
A partir deste momento e até 40 séculos depois o
CAVALO
seria indissociável das
figuras de líderes militares, nobres e reis. Avançando mais, pode-se inferir que a
EQUITAÇÃO
foi uma verdadeira “Revolução Biológica”, ao unir duas espécies em
cooperação:
A união do Homo com o Caballus representa um salto qualitativo na fisiologia da humanidade e dá
início a uma série de super-homens do naipe de Alexandre Magno, Júlio César, Atila, Genghis Khan,
Carlos Magno, Pizarro,Wellington e Napoleão que fizeram fama e fortuna em união com seus
cavalos.
(Rink,Bjarke.
O
catalisador
da
história)
De fato os líderes montados escreveram a história e expandiram as fronteiras do mundo
com suas personalidades fortes e carismáticas, nas quais é inegável o traço eqüestre. Ao passar
dos séculos, a Equitação evoluiu e tornou-se, mais do que um esporte ou ciência, uma Arte,
instrumento de transformação do corpo e da alma. E, em que pese o frenético progresso dos
meios de transporte e de combate, é intrigante e inestimável a sua contribuição na
transformação da personalidade humana.
A problemática da liderança já foi – e continua sendo – objeto de diversos
estudiosos. Sua importância cresce a cada dia, não só no meio militar, como também no
empresarial, fato que podemos constatar pelo número de publicações anuais em todo
mundo versando sobre o assunto.
Nas últimas décadas do século XX, verificou-se o desenvolvimento de diversos
ramos da ciência que contribuíram para a afirmação do papel da
EQUITAÇÃO
como
instrumento de auto-aperfeiçoamento humano.
Neste contexto, destaca-se o conceito de inteligência emocional:
A inteligência emocional foi uma das mais badaladas idéias psicológicas da década de 1990. A
expressão foi criada pelos psicólogos Peter Salovey, de Yale, e John Mayer, da Universidade de New
Hampshire, no final da década de 1980 como um modo de resumir qualidades humanas tais como
empatia, conhecimento de si mesmo e controle emocional. Daniel Goleman, um escritor e
colaborador do New York Times, retomou a expressão onde ela fora deixada e fez dela o título de um
best-seller, Inteligência emocional.
(Ratey, John J. O Cérebro: um guia para o usuário)
A ligação deste conceito ao de liderança é clara uma vez que o líder deve,
necessariamente ter empatia com os integrantes do grupo que conduz. O próprio
Goleman explora esta interdependência de conceitos no seu livro, recentemente lançado,
Primal Leadership (O poder da inteligência emocional):
O segredo da liderança reside na competência para lidar consigo mesmo e com os seus
relacionamentos, o que certamente constitui um enorme desafio para os líderes atuais. Acostumados
a menosprezar a importância do autoconhecimento, grande parte dos chefes apoiou-se no poder
conferido pelo cargo, adiou a reflexão sobre suas posturas, afundou-se na busca exterior e descuidouse de aprofundar na indagação mais antiga que a humanidade conhece: quem sou e o que faço aqui?
Prova disto a distanciamento emocional, a arrogância e a indiferença com que a maioria dos chefes
trata as equipes.
(Goleman, Daniel. O Poder da Inteligência
Emocional)
Pode-se inferir que a “liderança primal” equivale à “liderança natural”, esta
calcada em princípios de autenticidade e honestidade nos relacionamentos interpessoais e
descrita por pesquisadores como o inglês Paul Hunting e a americana Adriana Strozzi, que
aplicam a idéia de “natural leadership through natural horsemanship”(liderança natural
pela EQUITAÇÃO natural):
Eu percebo que o relacionamento mais efetivo que eu posso ter com um cliente é quando ambos
estamos sendo “líderes naturais”. Onde há harmonia e fluímos como dançarinos. No fundo toda
pessoa é um líder natural. Mas a habilidade para expressar completamente esta qualidade é
facilmente obscurecida pelas censuras e falsas imagens que nos são acrescidas ao longo de nossa
vida e carreira. Trabalhando com cavalos num contexto muito particular que chamamos
“CAVALGANDO PARA SUA VIDA” podemos rapidamente liderar o talento oculto para liderar e
energias criativas ilimitadas. A experiência nos mostra que as quatro formas pelas quais o cavalo
permite nos tornarmos mais eficazes podem ser resumidas no acrônimo: R – I – D – E(cavalgar).
R esponsabilidade
I ntegridade
D ireção
E ntusiasmo
Isto significa assumir 100% da Responsabilidade por sua vida e experiência. Ter coragem para
permanecer com sua própria Integridade. Seguir a Direção de uma visão emotiva. E ultrapassar os
obstáculos para o seu Entusiasmo, estando no “momento presente”).
(Hunting, Paul. Natural leadership through natural horsemanship)
As quatro qualidades acima descritas soam muito semelhantes àquelas virtudes do
líder preconizadas na nossa literatura militar. A IP 20-10, Liderança Militar, aponta como
alguns dos traços de personalidade mais relevantes para o líder brasileiro a
Responsabilidade e Direção, bem como ressalta que a Motivação (Entusiasmo) é uma
das ações essenciais do líder. Também o Departamento de Ensino e Pesquisa (DEP)
ressalta a Integridade como um valor básico dos indivíduos a ser reforçado ao longo da
vida militar, segundo a Portaria Nr 12, de 12 de maio de 1998.
Ainda sobre o contato eqüestre, diz-nos Strozzi(2003) que ”cavalos treinam humanos
nos princípios atemporais de autenticidade, intenção, coragem, intuição e foco.” E
também a respeito da liderança natural:
(A LIDERANÇA NATURAL não está sob nenhuma forma de controle, não pode ser forçada ou
manipulada, ela deve ser evocada. Cavalos são mestres em evocar quem somos e como devemos ser
para aproveitar a influência natural, positiva e eficaz que está conosco desde que nascemos.)
(Strozzi,Adriana. Horses and Leadership)
Há doze anos, esta pesquisadora dirige o programa Horses and Leadership (Cavalos
e Liderança) na fazenda de sua família perto da Baía de Bodega, com 15 cavalos. Embora
voltado para o mundo dos negócios - com participação de empresas como Cisco Systems,
Pfizer e Procter&Gamble – o programa em essência é sobre assumir o controle da própria
vida. Os cursos vão desde um ou dois dias (a 550 dólares) até intensivos de cinco dias (a
1500 dólares). Em 2002 Strozzi contabilizou 600 pessoas nos seus seminários que incluem
psicologia integrada, comportamento animal, processos administrativos e equitação.
A parte prática abrange desde o manejo e limpeza até exercícios montados, passando
pelo trabalho à guia, este último valioso na detecção do estilo de liderança de cada um
interpretando as reações do cavalo.
A pesquisadora relata no seu site que: num recente seminário Jet Star, uma égua de
três anos, reagiu diferentemente a cada um dos oito alunos. Com um deles, a potra não
tomou a andadura passo, partindo direto ao trote. Strozzi interpretou a ação como uma
tendência do participante de “mergulhar de cabeça” nas situações sem considerar as
conseqüências. O aluno concordou. Já Debora Hunt, executiva da Mill Valley e amazona,
declarou desejar ser mais comunicativa com seus colegas. Ela conseguiu com que Jet Star
trabalhasse na guia corretamente, mas falhou em verbalizar como a égua estava indo no
trabalho, o que foi notado por Strozzi, bem como o fato de ela não deixar folga alguma na
guia. “Eu não estava relaxada nem confiante”, confirmou Hunt, que admitiu estar agindo
com seus colegas como estava com Jet Star, ou seja sem “feedback” nem relaxamento.
Outra aluna, Diana Krakora, conseguiu com que a égua se movesse sem muito esforço,
mas era incapaz de manter o movimento. Strozzi concluiu que ela é uma grande
planejadora e iniciadora de projetos, mas deve delegar a outros o desenvolvimento dos
mesmos.
Cabe ressaltar que estágios de desenvolvimento da liderança pela equitação já são
ministrados no Brasil pela “Universidade do Cavalo”, em Sorocaba, Estado de São Paulo.
Uma das diversas vantagens dos CAVALOS reside na ausência de paradigmas destes
animais, fornecendo-nos retroalimentação verdadeira das nossas ações durante o trabalho:
Nós, humanos, mentimos a maior parte do tempo. Cavalos nunca. Eles não têm motivo
nem recursos para isto (Hunting, 2003). O que é confirmado por Strozzi: Cavalos
rapidamente refletem as coisas que fazemos contra eles. Eles podem sentir quando as
pessoas não estão sendo verdadeiras, quando dizem ou fazem algo diferente do que sentem
ou pensam.
Analista financeiro da Moddy´s Investment Service, Manuel, um dos recentes alunos
de Hunting assim descreve sua experiência: Por meio da ligação que senti com os cavalos,
eu aprendi que há agora uma porta aberta e um caminho para um maravilhoso lugar de
aprendizado e desafio. Todo meu medo de estabelecer compromissos desapareceu por
completo. O cavalo me ensinou que um relacionamento baseado na confiança mútua não
machuca.
Tal testemunho nos remete novamente à “liderança primal” de Goleman, o qual
enfatiza que: Um líder emocionalmente inteligente atrai talentos, pelo prazer que é
trabalhar em sua companhia. Do mesmo modo, chefes irritados, dominadores e frios
afastam as pessoas. Ninguém gosta de trabalhar com pessoas grosseiras e mal
humoradas. (Goleman, Daniel. O poder da Inteligência Emocional)
Entretanto o “bom-mocismo”, apontado como um vício da liderança nas nossas
cartilhas, deve ser evitado bem como o estilo “laissez faire” de alguns chefes, o que é
reforçado tanto nos manuais eqüestres como segundo o próprio Goleman:
Não se trata de uma liderança bondosa e santa. Não se trata de dizer que os líderes tenham que ser
“simpáticos” o tempo todo. A arte de liderar consiste em impor a dura realidade das exigências do
trabalho e faz parte da natureza humana, aborrecer-se. Quem se sente incomodado ou tenso, pode
não perceber as emoções alheias.
(Goleman, Daniel. O Poder da Inteligência Emocional)
Além da psicologia aplicada, outra ciência que permitiu grande avanço na
compreensão dos princípios e mecanismos de atuação do
CAVALO
sobre o indivíduo foi a
neurofisiologia, bastante explorada nos seus estudos pelo, já amplamente citado neste
trabalho, pesquisador dinamarquês residente no Brasil, Bjarke Rink.
Na sua visão a “fusão neurofisiológica” do “Homo sapiens” com o “Equus
Caballus” foi a “revolução biológica” fundamental para a evolução da humanidade até o
nível de desenvolvimento tecnológico atual. Tal acontecimento, iniciado pelos povos
nômades das estepes, como já visto no capítulo anterior, modificou as relações de espaço e
tempo, uma vez que o homem passou a movimentar-se na velocidade eqüestre:
A soma da velocidade do seu raciocínio, da velocidade do cavalo, e mais a velocidade da flecha,
mudou o padrão do uso do tempo e transformou as suas guerras em vitórias militares acachapantes.
A ação militar dos nômades, principalmente dos citas, hunos, turcos e mongóis, deu início ao ciclo do
Homo-caballus em cerca de 1500 aC e provocou a primeira grande corrida armamentista da história
– uma corrida das sociedades agrárias para dominar as técnicas eqüestres.... os nômades, na grande
estepe asiática, depois de domesticar o cavalo e adotarem o seu sistema locomotor, estavam também
aprendendo a formar um sutil repertório de movimentos cooperativos com os movimentos do animal
– desenvolvendo um sentimento instintivo para a equitação, que transformaria o Homo-Caballus no
maior predador da história, capaz de conquistar reinos e impérios, com o poder da sua velocidade
física e intelectual.
(Rink , Bjarke.O catalisador da história)
Mas, não foi somente o aumento na velocidade a contribuição da ligação entre estes
organismos tão complexos, mas também o aumento e a manutenção das conexões neurais
humanas, e conseqüentemente da sua capacidade mental, em virtude dos inúmeros
estímulos que os movimentos do
CAVALO
nos comunicam e das nossas reações buscando
constante adaptação a esses. Tal é comprovado pela neurociência:
O cérebro humano está preparado, em termos de evolução, para procurar e reagir ao que é
inesperado ou inusitado, como novas informações absolutamente inéditas vindas do mundo exterior.
É o que estimula o cérebro. Ao reagir à novidade, atividade cortical aumenta em mais e variadas
áreas do cérebro. Isso fortalece as conexões sinápticas, liga áreas diferentes em novos padrões e
acelera a produção de neurotrofinas.
(Katz, Lawrence C.; Rubin, Manning. Mantenha o seu cérebro
vivo)
A “novidade” é uma constante na prática da EQUITAÇÃO. Para os cavaleiros, a rotina
é o inesperado, pois nunca sabemos a reação exata da nossa montada com a qual estamos
em contínua comunicação, como observa Rink: O cavalo é a extensão do cavaleiro e este,
o prolongamento do cavalo. Entre os dois seres neurofisiologicamente conectados, um
fluxo de informações retroalimenta continuamente a ação do conjunto. (Rink, Bjarke. O
enigma do centauro)
Neste complexo “diálogo silente” entre
CAVALO
e cavaleiro, que ocorre mesmo
durante as atividades simples de manejo e limpeza e o trabalho desmontado, que repousam
os maiores benefícios para o auto-aperfeiçoamento e a busca do constructo da liderança.
Como postula Rink: A boa equitação é um exercício de liderança, e mais à frente:
A sensibilidade de desenvolver uma liderança inteligente, de assumir responsabilidades, de resolver
problemas, de reconhecer o erro e tentar de novo, está na base do sucesso — qualquer sucesso. A
equitação é uma metáfora da vida. A queda do poder e a queda do cavalo estão intimamente ligadas
ao
exercício
da
liderança
e
à
arte
do
bem
viver.
(Rink,Bjarke. O Enigma do Centauro)
O Exército Brasileiro apresenta, nas suas Instruções Provisórias 20–10, o conceito
de liderança militar como: A capacidade de influenciar o comportamento humano e
conduzir pessoas ao cumprimento do dever. Está fundamentada no conhecimento da
natureza humana, compreendendo a análise, a previsão e o controle de suas reações. (IP
20 – 10,3 – 3). Também o DEP define Liderança, enquanto atributo da área afetiva, como:
capacidade de dirigir, orientar e propiciar modificações nas atitudes dos membros de um
grupo, visando atingir os propósitos da instituição (Port Nr12/12 de maio de 1998). Cabe
ressaltar a diferença entre essas duas concepções, uma vez que a IP 20-10, embora mais
antiga (1991) postula uma visão mais moderna da liderança como constructo,
contrastando com a definição de atributo isolado da área afetiva, estabelecida pelo DEP.
Os aspectos referentes ao benefício da EQUITAÇÃO no auto-aperfeiçoamento, visando
a empatia com os liderados, bem como no conhecimento da natureza humana e suas
reações já foi discutido anteriormente. Contudo, é no “cumprimento do dever” e nas
conseqüências que dele advém que está problemática da liderança militar. O General
Sérgio A. de A. Coutinho esclarece o assunto:
A organização militar é, essencialmente, idêntica ou, pelo menos, semelhante como estrutura e
funcionamento a qualquer organização empresarial, envolvendo as mesmas funções administrativas,
de direção e controle. Contudo, desta se distingue por ser revestida de singularidades decorrentes de
sua destinação. A “empresa militar” é um instrumento de guerra que lhe impõe uma configuração de
organismo nômade e o desenvolvimento de uma aptidão para atuar permanentemente em situação de
crise.
(Coutinho, Sérgio A de A. Exercício do Comando – A Chefia e a Liderança militares,
p.16)
É lógico afirmar, então, que a liderança militar é indissociável da situação de
“guerra”, mesmo durante os períodos de longa inatividade bélica. Faz-se necessária,
deste modo, análise mais apurada desta que é a nossa atividade-fim.
Entre os pensadores que postulam sobre os meandros e as nuances da guerra,
destaca-se o prussiano Carl Von Clausewitz (1780 – 1831), autor da fundamental “Da
Guerra” (1832), publicada postumamente por sua esposa. Seus princípios estratégicos
conduziram vários exércitos ao longo da história e continuam extremamente válidos para
conflitos atuais da guerra de movimento. Isso é confirmado no âmbito do exército em
maior atividade no mundo atual, o Exército dos EUA:
Entretanto, devemos perceber que, mesmo com os nossos sistemas aperfeiçoados da era da
informação, a incerteza nas operações de combate continuarão a atormentar os lideres. A confusão
da guerra, a fricção, o acaso e a incerteza definidos por Carl Von Clausewitz há mais de 160 anos
ainda descrevem perfeitamente o ambiente em que nossas forças operam hoje em dia – e continuarão
a operar num futuro previsível.
(Blackwell, Paul; Bozek, Gregory. Liderança para o novo milênio – Military Review,
p.24)
O líder de Clausewitz, que ele chama de “gênio militar”, é uma “conjunção
harmoniosa de qualidades” e deve estar apto a enfrentar característica fundamental da
guerra: a incerteza.
Três quartos dos elementos em que se alicerça a ação na guerra estão envoltos em uma névoa de
maior ou menor incerteza. Aqui, em primeiro lugar, exige-se um poder intelectual sensível e
penetrante para sentir a verdade por meio da própria inteligência instintiva...Para que a mente
sobreviva a esta batalha com o inesperado são indispensáveis duas qualidades: a primeira, um
intelecto que mesmo nesse momento de intensa escuridão retenha algo da luz interior que conduzirá à
verdade e, a segunda, a coragem de rumar para onde essa fraca luz conduz. A primeira é descrita
metaforicamente pela expressão francesa coup d’oeil (um olhar, um golpe de vista), a segunda é a
determinação... A guerra é o domínio do perigo, e portanto, a coragem, acima de tudo, é a primeira
qualidade do guerreiro.
(Clausewitz, Carl Von. Da Guerra,
p.101)
Anteriormente, já foi abordada a importância de um estado de incerteza constante
para o desenvolvimento neurológico humano e constatado que o contato com o
CAVALO
em muito contribui neste sentido, dada sua imprevisibilidade. O cavalo é a encarnação do
princípio da incerteza.
Analisando ainda as características do intelecto reflexo(coup d’oeil) e da coragem ou
determinação, no contexto do inesperado, vemos que são atributos muito desejáveis na
prática da EQUITAÇÃO e também desenvolvidos por ela.
Por exemplo, durante o salto de obstáculos, a zona na qual o
CAVALO
pode iniciar
seu movimento ascendente é conhecida como “zona de incerteza”. Para que o cavaleiro
acerte este momento, conhecido como “batida”, e possa indicá-lo ao CAVALO, é necessário
que tenha um sentido de distância extremamente acurado, o comumente chamado “olho do
cavaleiro”, nada mais que um “coup d’oeil” (golpe de vista), uma manifestação da
inteligência reflexa. Também é ponto pacífico a coragem necessária para avançar em
direção ao obstáculo e transpô-lo. Um percurso de salto torna-se, desta forma, a simulação
da batalha.
Discorrendo sobre a guerra como um “choque de vontades”, Clausewitz a compara
com outras manifestações da vontade humana:
A diferença essencial é que a guerra não é um ato de vontade tendo em vista uma matéria
inanimada, como no caso das artes mecânicas, ou contra um objeto vivo, embora passivo e
complacente, como no caso da mente humana e dos sentimentos nas belas-artes. A guerra é, antes,
um ato de vontade que tem por objetivo uma entidade viva que reage.
(Clausewitz, Carl Von. Da Guerra, p.149)
A última sentença da citação anterior poderia ser perfeitamente aproveitada como
definição da arte eqüestre, ou seja, uma arte caracterizada pelo movimento:
O equitador de Dressage é o artista do movimento. Durante uma reprise ele molda a motricidade do
cavalo em figuras de harmonia, fazendo combinações infinitas dos seus movimentos naturais:
alternando, repetindo, seqüenciando, invertendo, acelerando, girando, desacelerando e executando
movimentos até quando parado, no mesmo lugar. Como um mágico, ele produz o inesperado e realiza
o impossível. Como um escultor ele dá forma à forma. Como um poeta ele dá significado ao
significado. Como um músico ele dá harmonia ao som.
(Rink, Bjarke. O Catalisador da
História)
Há que se traçar, também, paralelo com a tensão emocional sofrida pelo cavaleiro
quando compete ou durante um treinamento exigente: o pensador prussiano aponta os
benefícios de se “explorar a tensão”:
Quando há tensão, a decisão é sempre mais eficaz, em parte porque se revela maior força de vontade
e maior pressão de circunstâncias, e em parte porque tudo já está preparado e disposto para um
grande movimento...qualquer medida tomada durante um estado de tensão é mais importante e rende
maiores resultados do que se tivesse sido tomada em tempo de equilíbrio.
(Clausewitz, Carl Von. Da Guerra, p.221)
A atualidade desta idéia acrescida do controle emocional e da necessidade de sempre
expandir os limites psicofísicos, que é um dos objetivo da
EQUITAÇÃO
de alta
performance, é ratificada pelo cientista cognitivo Steven Pinker, professor de psicologia e
diretor do Centro de Neurociência Cognitiva do Massachusetts Institute of Tecnology
(MIT):
A capacidade de dominar o medo é um componente importante do instinto. Pessoas em grave perigo,
como pilotos de combate ou londrinos durante a blitz, podem mostrar-se notavelmente
controladas...Testar os limites é um estímulo poderoso. Suportar eventos relativamente seguros que
tem a aparência e dão a sensação de perigos ancestrais é um divertimento e suscita a emoção que
chamamos de ‘excitação’.
(Pinker, Steven, Como a mente
funciona)
É razoável afirmar que, num momento em que o nosso exército carece de
experiências de combate real e portanto crescem de importância os diversos modos de
simulação de situações de guerra, dispomos na prática dos desportos eqüestres de um
excelente meio auxiliar, ao constatar uma superioridade considerável da qualidade e
diversidade das reações do
CAVALO,
como ser emocional, àquelas programadas em
um computador.
Os militares americanos Blackwell e Bozek (1999) ressaltam que o comandante em
combate não deve depender de soluções baseadas em listas de checagem ou respostas
preconcebidas, mas sim Eles devem entender o ambiente onde se encontram operando e
serem capazes de pensar rapidamente, chegando a decisões precisas e oportunas
complementam aproximando o processo decisório em combate, assim como a equitação,
mais do status de arte: Dada a natureza da conduta da guerra e suas demandas com
relação aos líderes, a tomada de decisão no campo de batalha continua a ser mais uma
arte do que uma ciência e requer líderes inteligentes e decididos, dotados de um
aprimorado senso tático.
Clausewitz indica-nos, também, as qualidades do comandante, na defesa ou ataque,
estas muito próximas às exigidas ao bom cavaleiro: Do mesmo modo que a cautela é o
verdadeiro gênio da defesa, a audácia e a confiança são as marcas do atacante...
Este brilhante pensador e militar também postula sobre as “virtudes morais do
comandante” como a honra: de todos os sentimentos que enchem o coração humano no
calor da batalha, temos de confessar honestamente que nenhum é tão poderoso e
inabalável do que a sede de honra e glória. Pode-se inferir a ligação desta primeira virtude
com a manutenção da tradições de um exército, na qual as demonstrações eqüestres têm
relevante papel. Além disso, a ousadia, marca dos cavaleiros de todos os tempos, é por ele
exaltada: Acreditamos, então, que é impossível imaginar um notável comandante sem
ousadia. A perseverança é outra virtude fundamental e presente na prática da EQUITAÇÃO:
Na guerra as coisas acontecem diferentemente do que prevíamos, e quando vistas de perto
são diferentes do que parecem à distância. Por fim, o autocontrole, muito exigido também
do equitador, é ressaltado: um caráter forte é aquele que não perde seu equilíbrio quando
confrontado com a mais forte das emoções.
Os ensinamentos do general estrategista Carl Von Clausewitz continuam
extremamente atuais e aplicáveis em diversas atividades, o que é corroborado pela
publicação em 2001 da obra Clausewitz on Strategy (Clausewitz e a Estratégia), pelo
Boston Consulting Group (BCG), já considerado pela imprensa especializada como um dos
melhores livros de negócios existentes.
A educação militar, entendida como um processo holístico de aprendizagem
valorada, sempre se preocupou com o desenvolvimento das características de liderança
aqui apresentadas, utilizando as mais variadas técnicas de ensino e meios auxiliares.
Porém, dado o vertiginoso avanço tecnológico atual, será que a ancestral prática da
EQUITAÇÃO
contribui na formação dos chefes militares e líderes da Era Digital? Uma forte
indicação é fornecida pelos próprios futuros oficiais do Terceiro Milênio: os Cadetes da
Academia Militar das Agulhas Negras.
A Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) é o único estabelecimento de
ensino superior no Exército Brasileiro que forma Oficiais de carreira combatentes. É,
também, o único deste nível a possuir uma Seção de Equitação, destinada a ministrar
instruções e a promover atividades e competições eqüestres, além de encarar esta atividade
como uma disciplina a qual se atribui grau, no caso, para todo o efetivo durante o 2º ano e
para o Curso de Cavalaria no 3º e no 4º ano
A fim de reunir informações sobre o impacto destas instruções de EQUITAÇÃO sobre o
desenvolvimento da liderança na visão dos futuros oficiais foi realizada, ao fim do
primeiro semestre de 2003, uma pesquisa de campo, conduzida de forma empírica, entre
os Cadetes do terceiro do quarto anos da AMAN, cujo questionário individual figura no
Anexo A. Este foi distribuído pelos tenentes comandantes de pelotão das diversas Armas,
Quadro e Serviço e respondido em caráter voluntário pelos Cadetes.
As 255 pesquisas de opinião foram distribuídas pelo Corpo de Cadetes da seguinte
maneira:
Curso de Infantaria – 50 pesquisas
Curso de Cavalaria – 105 pesquisas
Curso de Artilharia – 40 pesquisas
Curso de Engenharia – 20 pesquisas
Curso de Intendência – 20 pesquisas
Curso de Comunicações – 10 pesquisas
Curso de Material Bélico – 10 pesquisas
6. 8. APRECIAÇÃO FINAL
Totalizando-se as respostas à pergunta Nr 1 versando sobre a influência do
contato com o cavalo no desenvolvimento da liderança para o futuro oficial do Exército
Brasileiro, chegou-se a 225 respostas SIM e 30 respostas NÃO, totalizando 255 respostas,
mostradas no gráfico a seguir:
Gráfico 1 – A influência do contato com o cavalo no desenvolvimento da liderança segundo os
Cadetes da AMAN
11,76%
88,24%
Com relação aos atributos da área afetiva (AAA) desenvolvidos pelo contato
eqüestre, objeto da pergunta Nr 2, a CORAGEM é a mais citada (206 vezes – 80,78%),
seguida pela AUTOCONFIANÇA (139 – 54,51%), INICIATIVA (101 – 39,61%) e
EQUILÍBRIO EMOCIONAL (83 – 32,55%).
Em que pese o acelerado avanço tecnológico, o desenvolvimento afetivo do
homem não deverá nunca ser negligenciado:
A guerra continua a ser um esforço muito humano. Seres humanos estão envolvidos e soldados e
lideres têm de lidar com as emoções humanas do medo e da confusão diante de um determinado
inimigo. Segundo escreveu Maurice de Saxe, “A coragem dos combatentes deve ser renovada
diariamente. Esse é o papel dos lideres”. As missões que conduzimos na guerra e em outros tipos de
operações requerem soldados no terreno, operando em condições de perigo. T.R. Fehrenbach
descreve isso muito bem no seu livro “This Kind of War”: “Você sempre pode sobrevoar a terra, pode
bombardeá-la, atomizá-la, pulverizá-la e eliminar os sinais de vida humana – mas se quiser defendêla, protegê-la e mantê-la para a civilização, deve combater no terreno da mesma forma que as
Legiões Romanas fizeram, colocando jovens soldados na luta”.
(Blackwell, Paul; Bozek, Gregory. Liderança para o novo milênio, Military Review,
p.25)
Os resultados da pergunta Nr 3 já foram amplamente explorados nos relatórios de
cada Curso, ressalvando-se a sinceridade e a maturidade dos Cadetes nas suas respostas,
que valorizaram, principalmente a dificuldade das atividades eqüestres como estimulo à
superação e à expansão de limites, constituindo-se em fator de crescimento pessoal.
Por fim, a pergunta Nr 4, dirigida apenas aos Cad do 4o ano de Cavalaria, mostrou a
diversidade das modalidades aceitas para o desenvolvimento da liderança, cada uma com
sua contribuição particular e popularidade de acordo com sua divulgação, destacando-se o
Salto de obstáculos, quer clássico quer de obstáculos rústicos no exterior (“crosscountry”).
Como já dito no início deste capítulo, as práticas eqüestres sempre foram respeitadas
na Cavalaria Hipomóvel não só como meio de combate da época, mas também como meio
auxiliar na formação da personalidade do oficial, principalmente do Tenente e dos
integrantes de sua fração. Tais métodos de desenvolvimento da liderança e área afetiva não
consistiam em ações complexas, porém em atividades cotidianas fundamentais levadas a
cabo com simplicidade, seriedade, dedicação, entusiasmo e guiadas pelo exemplo do líder,
A AMAN desenvolve, desde 2001, o Programa para o Desenvolvimento e
Avaliação da Liderança (PDAL), que hierarquiza os Cadetes da mesma turma em frações
como GC, Pel e Cia, Bia ou Esqd, estabelecendo funções (e conseqüentes níveis de
liderança), exercidas por eles em sistema de rodízio e em períodos predeterminados,
durante os quatro anos de formação.
Tal programa visa a propiciar condições para o desenvolvimento da liderança nos
futuros comandantes das pequenas frações. Utilizando-se de um sistema de fichas e
relatórios, nos quais são feitas entrevistas do líder com seu liderado, traçadas metas e
registradas observações e avaliações horizontais e verticais, o PDAL busca mensurar o
grau de liderança individual no chamado Grau de Liderança Militar(GLM).
Deste modo, segue como campo útil à pesquisa a busca de uma ligação entre os
dados e avaliações do PDAL e a quantificação da Equitação enquanto disciplina na
AMAN. Bem como revela-se um espectro de possibilidades para investigação e
experimentações, quer em outros Estabelecimentos de Ensino, quer em estágios da prática
eqüestre, que poderão ser inseridos futuramente em outros Cursos do EB que visem o
desenvolvimento da liderança.
Após apreciarem-se as definições e origens da arte eqüestre e do fenômeno da liderança,
pôde-se afirmar que ambos são processos de aprendizagem graduais e subjetivos,
aproximando-se mais do conceito artístico que do técnico e relativos a um contexto sóciohistórico e cultural.
Em seguida, analisaram-se diversas passagens históricas de líderes e comandantes
que mudaram o curso da Civilização ao longo das eras, deduzindo-se que a maioria
estabeleceu contato com o cavalo ainda muito jovem e naturalmente. Salvo algumas
exceções, como os monarcas europeus da Idade Moderna e Contemporânea, não
praticaram a Equitação dita acadêmica, a qual se constitui em refinamento da prática
eqüestre “natural” e dos atributos por ela desenvolvidos, mas não é indispensável ao
surgimento desses. Os líderes montados preferiram as raças marchadoras, ágeis e
resistentes como o cavalo mongol, na Antiguidade, e as raças mais “sangüíneas”, como o
árabe e o PSI, nos tempos modernos, mais velozes, inteligentes e temperamentais, portanto
mais difíceis de serem montadas. Isto ratifica a idéia, embasada pela neurociência, de que
são as resistências e dificuldades apresentadas pelo eqüino e superadas pelo cavaleiro que
estimulam o maior desenvolvimento cognitivo e emocional. Cabe ressaltar o
reconhecimento, pelos líderes mais modernos, e, por conseguinte, que pouco utilizaram o
CAVALO
como meio de combate, da importância dele como fator de auto-aperfeiçoamento
e meio auxiliar na formação de combatentes.
Verificou-se a valorização crescente e sistematizada, nos dias atuais, da capacidade
de lidar com as emoções próprias e alheias, sintetizada no conceito de “inteligência
emocional”, este aplicado à chamada “liderança primal”. A utilização do
CAVALO
na
exploração e desenvolvimento destas características, longe de ser idéia inédita, já é
operacionalizada há mais de uma década na Europa e EUA, e mesmo no Brasil, por
entidades e instrutores civis. O mercado empresarial está ávido por iniciativas desta
natureza, uma vez que a pesquisadora americana Adrina Strozzi obtém, com 15
CAVALOS
no seu rancho, um faturamento anual mínimo de 330.000 dólares, segundo os valores já
expostos. Também os novos estudos de neurofisiologia aplicada à
EQUITAÇÃO
fornecem
embasamento científico irrefutável para os diversos benefícios da prática eqüestre, antes
apenas intuídos pela sociedade.
O estudo da “liderança militar” revelou a sua inerente destinação bélica, mesmo
quando da ausência de conflitos.Também estabeleceu analogia entre os princípios da
doutrina militar de Clausewitz, tais como a incerteza, o acaso e o atrito, plenamente
comprovados no moderno teatro de operações, e aqueles empregados na arte eqüestre. O
CAVALO
é para o EB um meio auxiliar absolutamente viável para a simulação da situação
de tensão, desgaste e, sobretudo, imprevisibilidade vivida nos combates atuais.
A pesquisa de campo realizada na AMAN veio a confirmar o arcabouço histórico e
científico anterior. A EQUITAÇÃO como meio para o desenvolvimento da liderança mostrou
ser largamente aceita entre os Cadetes, atingindo um índice de 88,24 %., particularmente
entre os Cadetes do curso de Cavalaria comprovando que, por mais que se modernizem os
meios de combate, é sobre o dorso do
CAVALO
que se forja o verdadeiro espírito do
Cavalariano.
Os atributos da área afetiva citados enquadram-se perfeitamente naqueles integrantes
do constructo da liderança e nos objetivos regulamentares da Seção de Equitação,
sintetizados no PlaDis do 4o ano do C Cav:
Evidenciar capacidade para agir de forma firme e destemida, diante de situações difíceis e perigosas,
seguindo as normas de segurança (CORAGEM); de optar pela alternativa mais adequada, em tempo
útil e com convicção (DECISÃO); de controlar as próprias reações para continuar a agir,
apropriadamente, nas diferentes situações (EQUILÍBRIO EMOCIONAL); de cuidar dos bens móveis
e imóveis que estão ou não sob sua responsabilidade (ZELO); de se ajustar apropriadamente às
mudanças de situações (ADAPTABILIDADE); e agir, de forma adequada e oportuna, sem depender
de ordem ou decisão superior (INICIATIVA).”
(AMAN, S Equi, PlaDis 4o ano C
Cav)
As experiências mais marcantes relatadas e modalidades eqüestres preferíveis para a
formação do líder coadunaram-se com o embasamento apresentado nos capítulos
anteriores.
O DESPERTAR DO LÍDER: CAVALO E CAVALEIRO1
Por Sérgio de Aragão Costa Rigueira2
A liderança é uma necessidade vital para o fortalecimento das organizações militares
em todos os níveis. O estudo deste fenômeno social cresce a cada dia, não só no meio
militar, como também no empresarial, buscando-se meios e técnicas que propiciem
condições para o seu desenvolvimento. O Exército Brasileiro dispõe, na arte eqüestre, de
um valioso instrumento para a formação de seus líderes.
Nenhum outro animal marcou tanto a história da civilização como o cavalo. Sobre o
seu dorso impérios floresceram e foram destruídos. A sua contribuição para o
desenvolvimento humano nos mais diversos campos de atividade, do econômico ao militar,
é incontestável. Na visão do francês Ephrem Houël, Diretor do Haras du Pin (1847 –
1850): Cercado pelos elementos que conspiram para sua ruína e por animais cuja
velocidade e força superam as suas, o homem teria sido um escravo sobre a terra. O
cavalo fez dele um rei.
Inicialmente caçados e depois domesticados por sua carne e leite, os eqüídeos
mostraram-se também excelentes animais de tração agrícola, evoluindo daí para a biga. O
advento da equitação modificou de modo radical e irreversível a forma de combater dos
povos antigos, quer em seus carros de guerra, forma mais comum entre povos agricultores
e sedentários como mesopotâmios, egípcios e romanos, quer montados, como os pastores
nômades hunos, turcos e mongóis. O pesquisador britânico John Keegan, em sua obra Uma
História da Guerra, relata que por volta de 2000 a.C. os Citas já constituíram uma
cavalaria montada. Estes foram os precursores dos “povos montados das estepes” que
Keegan considera “uma das forças mais significativas – e funestas – da história militar”, e
justifica: Os povos cavaleiros, tais como os aurigas antes deles, trouxeram para a guerra o
conceito elétrico de fazer campanhas de longa distância e, quando a campanha se resolvia
em batalha, de manobrar em campo com velocidade - pelo menos cinco vezes mais veloz
que homens a pé.
1
2
Este artigo contém excertos da Monografia apresentada como requisito
parcial à obtenção do grau de Instrutor de Equitação, Curso de Instrutor de
Equitação, da Escola de Equitação do Exército, com orientação do Maj
Cav Carlos Alberto do Couto Ramos Fico, Cap Cav Eduardo Xavier
Ferreira Migon e do Cap Cav César Alves da Silva.
O autor é Capitão da Arma de Cavalaria, Pós-graduado em Equitação pela Escola de Equitação
do Exército e foi instrutor no Curso Básico da AMAN.
A partir deste momento e até 40 séculos depois o cavalo seria indissociável das figuras de
líderes militares, nobres e reis. Ao passar dos séculos, a Equitação evoluiu e tornou-se, mais do
que um esporte ou ciência, uma Arte, instrumento de transformação do corpo e da alma.
Líderes montados escreveram a história e expandiram as fronteiras do mundo com suas
personalidades fortes e carismáticas. O traço eqüestre é inegável ao serem apreciadas as
trajetórias de chefes como Alexandre da Macedônia (356 – 323 a.C.), Átila (406 – 453 d.C.),
Gengis Khan (1162 – 1227 d.C.), Maomé (570 – 563 d.C.), Carlos Magno (742 – 814 d.C.) e
Napoleão Bonaparte (1769 – 1821 d.C.).
Mesmo quando o cavalo cedeu lugar às metralhadoras e carros de combate, durante a
Segunda Grande Guerra, marcou a individualidade de líderes como o General George S. Patton
(1885 – 1945) e Winston S. Churchill (1874 – 1965). Este último, no seu livro Minha Mocidade,
assim sintetiza a sua admiração por estes animais: Não dêem dinheiro a seus filhos. Se puderem dêemlhes cavalos. A equitação nunca arrastou ninguém a desonra. Nenhuma hora de vida passada numa sela é
perdida.
No Brasil, é na imponente figura de Manoel Luis Osório (1808 – 1879), Marquês do Herval, que
temos a síntese do líder cavaleiro, reconhecido como Patrono da Arma de Cavalaria e chefe militar
mais popular da nossa história. Exerceu uma liderança incomum que magnetizava todos soldados,
mesmo argentinos e uruguaios, durante a Guerra da Tríplice Aliança. Suas inúmeras realizações
militares transformaram-no em arquétipo de soldado, líder e cavaleiro, alçando ao domínio da lenda,
não obstante sua modéstia de atitudes e do seu desprendimento de ambições.
Estudando a ligação entre seres humanos e eqüídeos mais profundamente, à luz da
neurofisiologia, pode-se inferir que a equitação foi uma verdadeira Revolução Biológica, ao unir
duas espécies em cooperação. O pesquisador dinamarquês residente no Brasil, Bjarke Rink é o
grande defensor desta idéia nas suas obras O Catalisador da História e Desvendando o Enigma do
Centauro.
Na sua visão a “fusão neurofisiológica” do “Homo sapiens” com o “Equus
Caballus” foi fundamental para a evolução da humanidade até o nível de desenvolvimento
tecnológico atual. Tal acontecimento, iniciado pelos povos nômades das estepes modificou
as relações de espaço e tempo, uma vez que o homem passou a movimentar-se na
velocidade eqüestre: A soma da velocidade do seu raciocínio, da velocidade do cavalo, e
mais a velocidade da flecha, mudou o padrão do uso do tempo e transformou as suas
guerras em vitórias militares acachapantes. A ação militar dos nômades, principalmente
dos citas, hunos, turcos e mongóis, deu início ao ciclo do Homo-caballus em cerca de
1500 a.C. e provocou a primeira grande corrida armamentista da história – uma corrida
das sociedades agrárias para dominar as técnicas eqüestres... Os nômades, na grande estepe
asiática, depois de domesticar o cavalo e adotarem o seu sistema locomotor, estavam também
aprendendo a formar um sutil repertório de movimentos cooperativos com os movimentos do
animal – desenvolvendo um sentimento instintivo para a equitação, que transformaria o HomoCaballus no maior predador da história, capaz de conquistar reinos e impérios, com o poder da
sua velocidade física e intelectual.
Não foi somente o aumento na velocidade a contribuição da ligação entre estes
organismos tão complexos, mas também o acréscimo e a manutenção das conexões neurais
humanas, e conseqüentemente da sua capacidade mental, em virtude dos inúmeros estímulos
que os movimentos do cavalo nos comunicam e das nossas reações buscando constante
adaptação a esses. Tal é comprovado por pesquisadores como Lawrence Katz e Manning
Rubin, autores de Mantenha o seu cérebro vivo: O cérebro humano está preparado, em termos
de evolução, para procurar e reagir ao que é inesperado ou inusitado, como novas
informações absolutamente inéditas vindas do mundo exterior. É o que estimula o cérebro. Ao
reagir à novidade, atividade cortical aumenta em mais e variadas áreas do cérebro. Isso
fortalece as conexões sinápticas, liga áreas diferentes em novos padrões e acelera a produção
de neurotrofinas.
A “novidade” é uma constante na prática da equitação. Para os cavaleiros, a rotina é o
inesperado, pois nunca sabemos a reação exata da nossa montada com a qual estamos em
contínua comunicação, como observa Rink: O cavalo é a extensão do cavaleiro e este, o
prolongamento do cavalo. Entre os dois seres neurofisiologicamente conectados, um fluxo de
informações retroalimenta continuamente a ação do conjunto.
Neste complexo diálogo silente entre cavalo e cavaleiro, que ocorre mesmo durante
as atividades simples de manejo e limpeza e o trabalho desmontado, que repousam os
maiores benefícios para o auto-aperfeiçoamento e a busca do constructo da liderança.
Como postula Rink: A boa equitação é um exercício de liderança, e mais à frente: A
sensibilidade de desenvolver uma liderança inteligente, de assumir responsabilidades, de
resolver problemas, de reconhecer o erro e tentar de novo, está na base do sucesso —
qualquer sucesso. A equitação é uma metáfora da vida. A queda do poder e a queda do
cavalo estão intimamente ligadas ao exercício da liderança e à arte do bem viver.
Neste contexto, destaca-se o conceito de inteligência emocional, uma das mais
comentadas idéias psicológicas da década de 1990 e definida como um modo de resumir
qualidades humanas tais como empatia, conhecimento de si mesmo e controle emocional.
A ligação deste conceito ao de liderança é clara uma vez que o líder deve,
necessariamente ter empatia com os integrantes do grupo que conduz. Daniel Goleman,
autor do best-seller Inteligência Emocional, explora esta interdependência de conceitos no
seu livro sobre o desenvolvimento da liderança Primal Leadership (O poder da
inteligência emocional): O segredo da liderança reside na competência para lidar consigo
mesmo e com os seus relacionamentos, o que certamente constitui um enorme desafio para
os líderes atuais. Acostumados a menosprezar a importância do autoconhecimento, grande
parte dos chefes apoiou-se no poder conferido pelo cargo, adiou a reflexão sobre suas
posturas, afundou-se na busca exterior e descuidou-se de aprofundar na indagação mais
antiga que a humanidade conhece: quem sou e o que faço aqui? Prova disto a
distanciamento emocional, a arrogância e a indiferença com que a maioria dos chefes
trata as equipes.
Pode-se inferir que a liderança primal equivale à liderança natural, esta calcada em princípios de
autenticidade e honestidade nos relacionamentos interpessoais e descrita por pesquisadores como o inglês
Paul Hunting e a americana Adriana Strozzi, que aplicam a idéia de natural leadership through natural
horsemanship (liderança natural pela equitação natural): Eu percebo que o relacionamento mais efetivo que
eu posso ter com um cliente é quando ambos estamos sendo “líderes naturais”. Onde há harmonia e
fluímos como dançarinos. No fundo toda pessoa é um líder natural. Mas a habilidade para expressar
completamente esta qualidade é facilmente obscurecida pelas censuras e falsas imagens que nos são
acrescidas ao longo de nossa vida e carreira. Trabalhando com cavalos num contexto muito particular que
chamamos “Cavalgando para sua Vida” podemos rapidamente liderar o talento oculto para liderar e
energias criativas ilimitadas. A experiência nos mostra que as quatro formas pelas quais o cavalo permite
nos tornarmos mais eficazes podem ser resumidas no acrônimo: R – I – D – E (cavalgar):
Responsabilidade, Integridade, Direção, Entusiasmo.
Isto significa assumir 100% da Responsabilidade por sua vida e experiência. Ter
coragem para permanecer com sua própria Integridade. Seguir a Direção de uma visão
emotiva. E ultrapassar os obstáculos para o seu Entusiasmo, estando no momento
presente.
As quatro qualidades acima descritas soam muito semelhantes àquelas virtudes do líder
preconizadas na nossa literatura militar. A IP 20-10, Liderança Militar, aponta como alguns dos
traços de personalidade mais relevantes para o líder brasileiro a Responsabilidade e Direção, bem
como ressalta que a Motivação (Entusiasmo) é uma das ações essenciais do líder. Também o
Departamento de Ensino e Pesquisa (DEP) ressalta a Integridade como um valor básico dos
indivíduos a ser reforçado ao longo da vida militar, segundo a Portaria Nr 12, de 12 de maio de
1998.
Ainda sobre o contato eqüestre, Strozzi expõe que: cavalos treinam humanos nos
princípios atemporais de autenticidade, intenção, coragem, intuição e foco. Bem como: A
Liderança Natural não está sob nenhuma forma de controle, não pode ser forçada ou
manipulada, ela deve ser evocada. Cavalos são mestres em evocar quem somos e como
devemos ser para aproveitar a influência natural, positiva e eficaz que está conosco desde que
nascemos.
Há doze anos, esta pesquisadora dirige o programa Horses and Leadership (Cavalos
e Liderança) na fazenda de sua família perto da Baía de Bodega (EUA), com 15 cavalos
em média. Embora voltado para o mundo dos negócios - com participação de empresas
como Cisco Systems, Pfizer e Procter&Gamble – o programa em essência é sobre assumir
o controle da própria vida. Os cursos vão desde um ou dois dias (a 550 dólares) até
intensivos de cinco dias (a 1500 dólares). Em 2002, Strozzi contabilizou 600 pessoas nos
seus seminários que incluem psicologia integrada, comportamento animal, processos
administrativos e equitação, portanto com um faturamento anual mínimo de 330.000
dólares.
A parte prática abrange desde o manejo e limpeza até exercícios montados, passando
pelo trabalho à guia, este último valioso na detecção do estilo de liderança de cada um
interpretando as reações do cavalo. A pesquisadora relata no seu site que: num recente
seminário Jet Star, uma égua de três anos, reagiu diferentemente a cada um dos oito
alunos. Com um deles, a potra não tomou a andadura passo, partindo direto ao trote.
Strozzi interpretou a ação como uma tendência do participante de “mergulhar de cabeça”
nas situações sem considerar as conseqüências. O aluno concordou. Já Debora Hunt,
executiva da Mill Valley e amazona, declarou desejar ser mais comunicativa com seus
colegas. Ela conseguiu com que Jet Star trabalhasse na guia corretamente, mas falhou em
verbalizar como a égua estava indo no trabalho, o que foi notado por Strozzi, bem como o
fato de ela não deixar folga alguma na guia. “Eu não estava relaxada nem confiante”,
confirmou Hunt, que admitiu estar agindo com seus colegas como estava com Jet Star, ou
seja, sem feedback nem relaxamento. Outra aluna, Diana Krakora, conseguiu com que a
égua se movesse sem muito esforço, mas era incapaz de manter o movimento. Strozzi
concluiu que ela é uma grande planejadora e iniciadora de projetos, mas deve delegar a
outros o desenvolvimento deles.
Cabe ressaltar que estágios de desenvolvimento da liderança pela equitação já são
ministrados no Brasil pela “Universidade do Cavalo”, em Sorocaba, Estado de São Paulo.
Uma das diversas vantagens dos
CAVALOS
reside na ausência de paradigmas destes
animais, fornecendo-nos retroalimentação verdadeira das nossas ações durante o trabalho:
Nós, humanos, mentimos a maior parte do tempo. Cavalos nunca. Eles não têm motivo
nem recursos para isto (Hunting). O que é confirmado por Strozzi: Cavalos rapidamente
refletem as coisas que fazemos contra eles. Eles podem sentir quando as pessoas não estão
sendo verdadeiras, quando dizem ou fazem algo diferente do que sentem ou pensam.
Analista financeiro da Moddy´s Investment Service, Manuel, um dos recentes alunos
de Hunting assim descreve sua experiência: Por meio da ligação que senti com os cavalos,
eu aprendi que há agora uma porta aberta e um caminho para um maravilhoso lugar de
aprendizado e desafio. Todo meu medo de estabelecer compromissos desapareceu por completo.
O cavalo me ensinou que um relacionamento baseado na confiança mútua não machuca.
Tal testemunho nos remete novamente à “liderança primal” de Goleman, o qual
enfatiza que: Um líder emocionalmente inteligente atrai talentos, pelo prazer que é
trabalhar em sua companhia. Do mesmo modo, chefes irritados, dominadores e frios
afastam as pessoas. Ninguém gosta de trabalhar com pessoas grosseiras e mal
humoradas.
Resta analisar o conceito de liderança militar, apresentado nas suas Instruções
Provisórias 20–10, do Exército Brasileiro como: A capacidade de influenciar o
comportamento humano e conduzir pessoas ao cumprimento do dever. Está fundamentada
no conhecimento da natureza humana, compreendendo a análise, a previsão e o controle
de suas reações. Também o DEP define Liderança como: a capacidade de dirigir, orientar
e propiciar modificações nas atitudes dos membros de um grupo, visando atingir os
propósitos da instituição (Portaria Nr12 de 12 de maio de 1998).
Os aspectos referentes ao benefício da equitação no auto-aperfeiçoamento, visando à
empatia com os liderados, bem como no conhecimento da natureza humana e suas reações
já foram discutidos anteriormente, contudo, é no cumprimento do dever e nas
conseqüências que dele advém que está problemática da liderança militar. O General
Sérgio A. de A. Coutinho, na sua obra Exercício do Comando – A Chefia e a Liderança
militares esclarece o assunto: A organização militar é, essencialmente, idêntica ou, pelo
menos, semelhante como estrutura e funcionamento a qualquer organização empresarial,
envolvendo as mesmas funções administrativas, de direção e controle. Contudo, desta se
distingue por ser revestida de singularidades decorrentes de sua destinação. A “empresa
militar” é um instrumento de guerra que lhe impõe uma configuração de organismo
nômade e o desenvolvimento de uma aptidão para atuar permanentemente em situação de
crise.
É lógico afirmar, então, que a liderança militar é indissociável da situação de
“guerra”, mesmo durante os períodos de longa inatividade bélica. Faz-se necessária, deste
modo, análise mais apurada desta que é a nossa atividade-fim.
Entre os pensadores que postulam sobre os meandros e as nuances da guerra,
destaca-se o prussiano Carl Von Clausewitz (1780 – 1831), autor da clássica obra Da
Guerra (1832), publicada postumamente por sua esposa. Seus princípios estratégicos
conduziram vários exércitos ao longo da história e continuam extremamente válidos para
conflitos atuais da guerra de movimento. Isso é confirmado no âmbito do exército em
maior atividade no mundo atual, o Exército dos EUA, nas palavras dos coronéis Paul
Blackwell e Gregory Bozek: Entretanto, devemos perceber que, mesmo com os nossos
sistemas aperfeiçoados da era da informação, a incerteza nas operações de combate
continuarão a atormentar os lideres. A confusão da guerra, a fricção, o acaso e a
incerteza definidos por Carl Von Clausewitz há mais de 160 anos ainda descrevem
perfeitamente o ambiente em que nossas forças operam hoje em dia – e continuarão a
operar num futuro previsível.
O líder de Clausewitz, que ele chama de gênio militar, é uma conjunção harmoniosa de
qualidades e deve estar apto a enfrentar característica fundamental da guerra: a incerteza,
como ele postula em Da Guerra: Três quartos dos elementos em que se alicerça a ação na
guerra estão envoltos em uma névoa de maior ou menor incerteza. Aqui, em primeiro lugar,
exige-se um poder intelectual sensível e penetrante para sentir a verdade por meio da própria
inteligência instintiva...Para que a mente sobreviva a esta batalha com o inesperado são
indispensáveis duas qualidades: a primeira, um intelecto que mesmo nesse momento de
intensa escuridão retenha algo da luz interior que conduzirá à verdade e, a segunda, a
coragem de rumar para onde essa fraca luz conduz. A primeira é descrita metaforicamente
pela expressão francesa coup d’oeil (um olhar, um golpe de vista), a segunda é a
determinação... A guerra é o domínio do perigo, e portanto, a coragem, acima de tudo, é a
primeira qualidade do guerreiro.
Anteriormente, já foi abordada a importância de um estado de incerteza constante para o
desenvolvimento neurológico humano e constatado que o contato com o cavalo em muito
contribui neste sentido, dada sua imprevisibilidade logo o cavalo é a encarnação do princípio da
incerteza.
Analisando ainda as características do intelecto reflexo (coup d’oeil) e da coragem
ou determinação, no contexto do inesperado, constata-se que são atributos muito
desejáveis na prática da equitação e também desenvolvidos por ela.
Por exemplo, durante o salto de obstáculos, a zona na qual o cavalo pode iniciar seu
movimento ascendente é conhecida como zona de incerteza. Para que o cavaleiro acerte
este momento, conhecido como batida, e possa indicá-lo ao animal, é necessário que tenha
um sentido de distância extremamente acurado, o comumente chamado olho do cavaleiro,
nada mais que um “coup d’oeil” (golpe de vista), uma manifestação da inteligência
reflexa. Também é ponto pacífico a coragem necessária para avançar em direção ao
obstáculo e transpô-lo. Um percurso de salto torna-se, desta forma, a simulação da batalha.
Discorrendo sobre a guerra como um choque de vontades, Clausewitz a compara com
outras manifestações da vontade humana: A diferença essencial é que a guerra não é um ato de
vontade tendo em vista uma matéria inanimada, como no caso das artes mecânicas, ou contra
um objeto vivo, embora passivo e complacente, como no caso da mente humana e dos
sentimentos nas belas-artes. A guerra é, antes, um ato de vontade que tem por objetivo uma
entidade viva que reage.
A última sentença da citação anterior poderia ser perfeitamente aproveitada como
definição da arte eqüestre, ou seja, uma arte caracterizada pelo movimento e por um acordo
entre as vontades do ginete e de sua montada.
Há que se traçar, também, paralelo com a tensão emocional sofrida pelo cavaleiro
quando compete ou durante um treinamento exigente. O pensador prussiano aponta os
benefícios de se explorar a tensão: Quando há tensão, a decisão é sempre mais eficaz, em
parte porque se revela maior força de vontade e maior pressão de circunstâncias, e em
parte porque tudo já está preparado e disposto para um grande movimento...qualquer
medida tomada durante um estado de tensão é mais importante e rende maiores resultados
do que se tivesse sido tomada em tempo de equilíbrio.
A atualidade desta idéia acrescida do controle emocional e da necessidade de sempre
expandir os limites psicofísicos, que é um dos objetivo da equitação de alta performance, é
ratificada pelo cientista cognitivo Steven Pinker, professor de psicologia e diretor do
Centro de Neurociência Cognitiva do Massachusetts Institute of Tecnology (MIT), em
Como a mente funciona: A capacidade de dominar o medo é um componente importante
do instinto. Pessoas em grave perigo, como pilotos de combate ou londrinos durante a
blitz, podem mostrar-se notavelmente controladas...Testar os limites é um estímulo
poderoso. Suportar eventos relativamente seguros que tem a aparência e dão a sensação
de perigos ancestrais é um divertimento e suscita a emoção que chamamos de ‘excitação’.
É razoável afirmar que, num momento em que o nosso exército carece de
experiências de combate real e, portanto crescem de importância os diversos modos de
simulação de situações de guerra, dispomos na prática dos desportos eqüestres de um
excelente meio auxiliar, ao constatar uma superioridade considerável da qualidade e
diversidade das reações do cavalo, como ser emocional, àquelas programadas em um
computador.
A educação militar, entendida como um processo holístico de aprendizagem
valorada, sempre se preocupou com o desenvolvimento das características de liderança
aqui apresentadas, utilizando as mais variadas técnicas de ensino e meios auxiliares.
Porém, dado o vertiginoso avanço tecnológico atual, será que a ancestral prática da
equitação contribui na formação dos chefes militares e líderes da Era Digital? Uma boa
indicação é fornecida pelos próprios futuros oficiais: os Cadetes da Academia Militar das
Agulhas Negras (AMAN).
A AMAN é o único estabelecimento de ensino superior no Exército Brasileiro que
forma Oficiais de carreira combatentes. É, também, o único deste nível a possuir uma
Seção de Equitação, destinada a ministrar instruções e a promover atividades e
competições eqüestres, além de encarar esta atividade como uma disciplina a qual se
atribui grau, no caso, para todo o efetivo durante o 2º ano e para o Curso de Cavalaria no 3º
e no 4º ano.
A fim de reunir informações sobre o impacto destas instruções de equitação sobre o
desenvolvimento da liderança na visão dos futuros oficiais foi realizada, ao fim do primeiro
semestre de 2003, uma pesquisa de campo, conduzida de forma empírica, entre os Cadetes do
terceiro do quarto anos da AMAN. Um questionário padrão foi distribuído pelos tenentes
comandantes de pelotão das diversas Armas, Quadro e Serviço e respondido em caráter voluntário
pelos Cadetes.
As 255 pesquisas de opinião foram disseminadas pelos Cursos do Corpo de Cadetes
da seguinte maneira: Infantaria – 50 pesquisas, Cavalaria – 105, Artilharia – 40,
Engenharia – 20, Intendência – 20 pesquisas, Comunicações – 10 pesquisas, Material
Bélico – 10.
Primeiramente os Cadetes foram perguntados se: O contato com o cavalo influencia
no desenvolvimento da liderança para o futuro oficial do Exército Brasileiro? Sendo
totalizadas 225 respostas SIM (88,24%) e 30 respostas NÃO (11,76%).
Com relação à segunda pergunta: Cite algum(s) atributo(s) da área afetiva que
julga ser (em) desenvolvido(s) pelas atividades eqüestres. A Coragem foi a mais citada
(206 vezes – 80,78%), seguida pela Autoconfiança (139 – 54,51%), Iniciativa (101 –
39,61%) e Equilíbrio Emocional (83 – 32,55%). Também citados: Decisão, Rusticidade,
Destreza, Flexibilidade, Persistência, Direção, Sensibilidade, Dedicação, Adaptabilidade,
Responsabilidade, Tenacidade, Zelo. É nítida a correlação direta destes atributos citados
com os traços mais relevantes ao líder militar (caráter do líder), definidos na IP 20-10:
Competência,
Responsabilidade,
Decisão,
Iniciativa,
Equilíbrio
emocional,
Autoconfiança, Direção, Disciplina, Coragem (física e moral), Objetividade, Dedicação,
Coerência, Camaradagem, Organização, Imparcialidade, Persistência, Persuasão.
A terceira pergunta indagou: Qual das experiências com o cavalo que mais o
impressionou? Os Cadetes valorizaram, principalmente a dificuldade das atividades
eqüestres como estimulo à superação e à expansão de limites, constituindo-se em fator de
crescimento pessoal com muitas narrativas de quedas, temores, laço afetivo (interação) e
atividades tradicionais, mostradas nos exemplos a seguir: “O cavalo sente quando o
cavaleiro esta com medo ou com receio, e nesses momentos que o futuro líder deve se
superar a fim de atingir os objetivos da instrução, encilhar e montar o animal”. (Cad C
Eng); “Numa situação que o cavalo estava galopando e o estribo caiu e, mesmo assim,
consegui parar o cavalo antes que ele se chocasse contra uma cerca.” (Cad C Int); “Foi
na minha primeira aula prática de equitação, quando eu sai com o cavalo para cavalgar
na região da invernada e o mesmo, além de não me obedecer, não parava de dar coice e
empinar”.(Cad C Mat Bel)
No 4o ano de Cavalaria, a ligação com o cavalo se fortalece, transformando-se em um
relacionamento afetuoso, fato ratificado pelas narrações seguintes: “Quando eu ‘capotei’ com o
cavalo e, após os dois caírem ao solo, o cavalo ficou ao meu lado, me esperando, quase
sorrindo”.E também: “Me impressiona a capacidade que o cavalo tem de corrigir nossos
erros”.
A quarta pergunta, dirigida apenas ao 4º ano de Cavalaria, indagava: Qual (is)
prática(s) eqüestre(s) julga desenvolver (em) mais atributos ligados à liderança? As
respostas mostraram a diversidade das modalidades aceitas para o desenvolvimento
da liderança, cada uma com sua contribuição particular e popularidade de acordo com
sua divulgação, destacando-se o Salto de obstáculos (32 vezes), quer clássico quer de
obstáculos rústicos no exterior (“cross-country”). Algumas modalidades desenvolvem
mais os movimentos reflexos e a capacidade de decidir com rapidez e oportunidade
como o Salto e o Pólo. Outras, coordenação motora mais refinada e elevada
concentração mental como o Adestramento e o Volteio, além de perfeita integração
com o cavalo. Já o Concurso Completo de Equitação (CCE), também chamado de
Prova de Cavalo d’Armas, envolve três modalidades (adestramento, cross-coutry e
salto na pista), com treinamento metódico e desgastante, exigindo disciplina,
flexibilidade e perseverança, contando com um, muitas vezes perigoso, percurso de
cross-country, o qual trabalha o arrojo e o domínio do medo diante de possível queda
mais grave.
A AMAN desenvolve, desde 2001, o Programa para o Desenvolvimento e Avaliação
da Liderança (PDAL). Tal programa visa a propiciar condições para o desenvolvimento da
liderança nos futuros comandantes das pequenas frações, quantificando o grau de liderança
individual no chamado Grau de Liderança Militar (GLM). Deste modo, segue como
campo útil à pesquisa a busca de uma ligação entre os dados e avaliações do PDAL e a
quantificação da Equitação como disciplina acadêmica.
Os resultados obtidos são indicativos da validade da equitação para a formação dos
futuros oficiais, bem como revelam um espectro de possibilidades para investigação e
experimentações, quer em outros Estabelecimentos de Ensino, quer em estágios de prática
eqüestre, os quais poderão ser inseridos em outros Cursos que visem o desenvolvimento da
liderança.
Conclui-se que ao preservar sua doutrina eqüestre e seu animais, um patrimônio por
si inestimável, o Exército Brasileiro garante às futuras gerações o acesso a este histórico e
fascinante instrumento para o desenvolvimento psicomotor e afetivo, bem como para a
formação dos líderes do Terceiro Milênio: o Cavalo. Nas palavras de Bjarke Rink: O
Homem sabe intuitivamente, há milhares de anos, que o cavalo e a equitação estão ligados
à liderança. Eles não são apenas símbolos de liderança, mas contribuem com a própria
capacidade de liderar. Os esportes eqüestres provocam a plena atividade do cérebro
humano. A mente torna-se vivaz e o corpo flexível... a equitação, por causa da sua
capacidade única de mobilizar a totalidade da fisiologia humana, pode tornar-se o
próprio agente catalisador da liderança.
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Elementares de Cavalaria. Rio de Janeiro: EGGCF, 1954.
Instruções Provisórias. IP 20 – 10 Liderança Militar. Brasília: EGGCF, 1991.
Portaria Nr 12, de 12 de maio de 1998, do Chefe do Departamento de Ensino e Pesquisa.
RESUMO
Este trabalho investiga a contribuição do
CAVALO
e da
EQUITAÇÃO
para o
desenvolvimento da liderança. Para tanto, inicialmente apresenta as origens e a evolução
da arte eqüestre e define o fenômeno da liderança. Em seguida, analisa passagens
históricas das vidas de líderes montados da Antiguidade aos tempos modernos, buscando
identificar a presença do
CAVALO
na formação de suas personalidades. Também são
estudadas teorias científicas que embasam a utilização do
CAVALO
como meio para a
evolução afetiva e psicomotora. É dissecada a problemática da liderança militar,
relacionando os princípios de guerra aos atributos necessários para a prática eqüestre. A
fim de verificar a influência do contato com o
CAVALO
na AMAN para a formação do
Oficial, foi realizada Pesquisa de Campo, que se apresenta como evidência de resultados
compatíveis com os aspectos teóricos. Por fim, conclui-se justificando a importância do
CAVALO
para o despertar do líder, justificando-se a manutenção destas atividades no
contexto atual.
APRESENTAÇÃO
* Ernani Jorge Corrêa
Congratulo-me com as autoridades do
Departamento de Ensino e Pesquisa (DEP), que
determinaram a obrigatoriedade de apresentação
de monografia sobre assuntos versados em suas
Escolas. Por certo é uma forma inteligente de
reunir conceitos, conhecimentos e opiniões que,
devidamente apreciados, possam engrandecer os
registros dos acervos desses estudos.
Assim entendendo, o trabalho apresentado pelo 1o Tenente de Cavalaria, Sérgio de
Aragão Costa Rigueira, que concluiu seu Curso de Instrutor de Equitação, preenche de
maneira cabal a finalidade desejada e esperada.
O autor, ao escolher o título “O DESPERTAR DO LÍDER: CAVALO E CAVALEIRO” ,
impôs ser mister aprofundar sua investigação desde os remotos tempos da civilização,
quando o cavalo já era elemento básico, não só nas lides do labor diário, mas também
elemento indispensável nas vicissitudes da guerra.
Para acompanhar o processo evolutivo de milênios, até os nossos dias, tornou-se
imperativa a consulta à vasta bibliografia (mais de vinte autores), além de exaustiva
pesquisa complementar, abrangendo outros campos do conhecimento: história, artes,
liderança, certos atributos do homem, mutações na arte da guerra, enfim o momento
presente.
Na verdade, trata-se de trabalho sério, baseado em fundamentos sólidos, servindo-se
de modernos meios de busca histórica, respaldado em variada fonte de informações.
A dissertação é desenvolvida em estilo elegante e ao mesmo tempo ameno,
parecendo induzir o leitor a participar de fatos, dúvidas e conclusões.
O trabalho toma uma maior dimensão por tratar de atividade que vem sofrendo os
naturais desgastes do tempo; a importância e utilização do cavalo vêm decrescendo na
medida em que novos meios e tecnologias vão predominando nos tempos atuais.
Hoje, o emprego do cavalo quase se limita ao esporte e à eqüoterapia que vem
ganhando novas adesões. Entretanto, nas Forças Armadas a utilização do cavalo é ainda
um apoio ou meio complementar, que se mantém inclusive até mesmo como bela e
importante tradição histórica imprescindível. A rigor, a utilização do cavalo no âmbito
militar concorre ainda para desenvolver os melhores atributos básicos da personalidade:
coragem, iniciativa, autoconfiança, rusticidade, equilíbrio emocional, perseverança,
decisão, dedicação, tenacidade, arrojo, flexibilidade, sensibilidade, etc.
Desta forma a monografia apresentada ganha mais expressão por seu valor
intrínseco, isto é, como registro histórico da preservação da memória.
Por outro lado, este trabalho se tornou “expressivo monumento” ao cavalo: o NOBRE
AMIGO que merece nosso respeito e gratidão pelo que fez e pelo que fará.
* O autor é General-de-Brigada,
oriundo da Arma de Cavalaria e
mestre em Equitação, pela Escola
de Equitação do Exército.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AAA
- Atributo da área afetiva
AMAN
- Academia Militar das Agulhas Negras
Cad
- Cadete
C Art
- Curso de Artilharia
C Cav
- Curso de Cavalaria
CCE
- Concurso Completo de Equitação
C Com
- Curso de Comunicações
C Eng
- Curso de Engenharia
C Inf
- Curso de Infantaria
C Int
- Curso de Intendência
C MB
- Curso de Material Bélico
CMBH
- Colégio Militar de Belo Horizonte
DEP
- Departamento de Ensino e Pesquisa
EB
- Exército Brasileiro
EsEqEx
- Escola de Equitação do Exército
GLM
- Grau de Liderança Militar
Nr
- Número
PDAL
- Programa de Desenvolvimento e Avaliação da Liderança
PlaDis
- Plano de Disciplina
PSI
- Puro Sangue Inglês
S Equi
- Seção de Equitação
SLAD
- Seção de Liderança e Apoio à Doutrina
GLOSSÁRIO
Acrônimo- Palavra formada pela primeira letra (ou mais de uma) de cada uma das partes
sucessivas de uma locução ou pela maioria dessas partes.(Dic.)
Adestramento- Modalidade hípica- ver Dressage.
Adrenalina – Hormônio produzido pelas glândulas supra-renais e descarregado na
corrente sanguínea face à situações de risco, preparando-o para reagir à ameaça.
Alá - Deus único revelado à Maomé, profeta fundador da religião islâmica. “Alá é Deus e
Maomé o seu profeta”.
Alta Escola - Divisão do Dressage que compreende as formas ditas elevadas e/ou
estilizadas das andaduras(passo, trote e galope).
AMAN- Escola de ensino de nível superior destinada a formar os oficiais de carreira
combatentes do Exército Brasileiro. Seu curso compreende quatro anos conciliando
disciplinas universitárias e militares.
Anca - Denominação da parte superior da extremidade posterior do corpo do cavalo,
também chamada garupa.
Aprendizagem - Processo de aquisição de conhecimentos ou execução
comportamentos. È dinâmico, pessoal, global, gradativo, contínuo e cumulativo.
de
Armas- Especialidades do Exército. Na AMAN são formados oficiais combatentes de
cinco Armas: Infantaria, Cavalaria, Artilharia, Engenharia e Comunicações.
Arquétipo - Modelo, referência, protótipo.
Arreamento - Conjunto ou parte do material utilizado para montar a cavalo, como a sela,
cabeçada, loro, estribo, etc.
Arte eqüestre - Processo subjetivo de integração do homem com o cavalo em movimento.
Atividade cortical – Atividade ocorrida no córtex cerebral.
Atrelagem - Ligação do cavalo com um meio de transporte ou ferramenta agrícola,
utilizando cabos, cordas ou rédeas longas. Não há contato direto com o homem. È também
denominação de uma modalidade eqüestre.
Atributo da área Afetiva(AAA) - Característica de personalidade inata ou desenvolvida
relacionado ao domínio afetivo do comportamento humano, ou seja, aquele relacionado
com valores, atitudes, interesses e emoções.
Baixa Escola - Divisão do Dressage que compreende o trabalho em andaduras naturais
(passo, trote e galope) em uma ou duas pistas (movimentos laterais).
Batida - Momento em que o cavalo apóia os membros anteriores para elevar-se do solo e
saltar um obstáculo. É um dos tempos do salto.
Basquete a cavalo - Jogo realizado a cavalo, num picadeiro a cavalo, no qual dois times
montados tentam executar o maior número de cestas.
Biga - Plataforma com rodas tracionada por cavalos em número variável, tipo de carro de
guerra.
Bom-mocismo - Vício de liderança caracterizado pela abdicação da
Incapacidade de contrariar interesses, castigar e dizer não.
autoridade.
Cadete(Cad) - Título nobiliárquico dado ao aluno da AMAN. Do francês cadet, mais
novo.
Concurso Completo de Equitação (CCE) - Modalidade hípica olímpica que abrange três
provas: adestramento, prova de fundo (em 4 fases, incluindo o cross-contry) e prova de
salto clássico, exigindo proficiência considerável do cavalo e cavaleiro nestas disciplinas
eqüestres
Centro de gravidade - Ponto de maior equilíbrio de um corpo no espaço. Geralmente
central, mas varia com a forma do mesmo.
Chefe militar- Militar no exercício de um cargo de chefia, de qualquer nível ou natureza,
consubstanciando a autoridade legal, o administrador e o líder. (IP 20-10)
Código de Honra - Conjunto de leis ou normas de conduta ética e moral.
Cognitivo - Domínio do comportamento humano que abrange os aspectos ligados ao
raciocínio, pensamento. Há ainda o domínio afetivo e psicomotor.
Comandante - 1. Aquele que exerce o comando. 2. Militar investido de autoridade legal
para o exercício de um cargo de chefia.(IP 20-10)
Comando - 1.Ação coercitiva sobre um grupo consentida pelo mesmo ou não.2.
Componente da chefia militar que traduz, em essência, autoridade da qual o militar está
investido legalmente no exercício de um cargo.(IP-20-10)
Conexões neurais - Ligações entre as células cerebrais os neurônios. O aumento no
número e a manutenção das mesmas estão diretamente relacionados à capacidade de
processamento do cérebro.
Conexões simpáticas- Conexões dos neurônios do sistema nervoso simpático, que
coordena as ações voluntárias.
Constructo – Aquilo que é elaborado ou sintetizado.
Corpo de Cadetes - Conjunto dos nove Cursos da AMAN: Básico(1o ano), Avançado(2o
ano), Infantaria, Cavalaria, Artilharia, Engenharia, Comunicações, Intendência e Material
Bélico.
Cross-country - Percurso de salto de obstáculos rústicos que podem ser naturais e/ou
construídos, principalmente com troncos, realizado por terreno aberto. Constituí a fase D
da prova de fundo do CCE.
Dever- 1. Imposição moral. 2. Segundo o General Sérgio A. de A. Coutinho: O Dever
Militar é a força impulsora, compulsão à perseverança e ao cumprimento da missão a
todo custo.
Doma- Processo de amansamento do cavalo para que ele aceite o cavaleiro e o trabalho
Dressage - Denominação francesa para a modalidade também conhecida como
Adestramento que visa o desenvolvimento harmonioso do organismo e da habilidade do
cavalo e o perfeito entendimento deste com seu cavaleiro.
Em pêlo - Montar sem qualquer tipo de sela, diretamente sobre o dorso do cavalo.
Embocadura - Peça do arreamento utilizada na boca do cavalo para controlá-lo em
direção e velocidade. Os mais comuns são o freio e o bridão de inúmeros tipos e usos.
Entrevero – Confrontamento físico de caráter lúdico realizado a cavalo.
Equitação - Processo de interação entre o homem e o cavalo das mais diversas formas.
Equitação acadêmica - Equitação sistematizada em princípios racionais e artísticos por
grandes mestres, sobretudo da Escola Francesa, como os Generais L´Hotte e Decarpentry.
Equitação natural - Aquela que busca o máximo de integração do conjunto homemcavalo, considerando este último como um igual no processo e não apenas um objeto de
trabalho.
Equitador - Aquele que pratica a equitação, cavaleiro.
Era Digital - Momento histórico atual regido pela velocidade da informática e seus
dispositivos.
Espádua - Parte superior do membro anterior do cavalo equivalente ao ombro humano.
Estilo de liderança - Também conhecido como tipo de liderança, é a forma que o líder
utiliza para estabelecer a direção, aperfeiçoar planos e ordens e motivar seus homens
para o cumprimento da missão. (IP 20-10)
Exterior - Percurso a cavalo realizado pelo campo aberto com ou sem saltos de obstáculos.
Falange - Divisão da infantaria romana.
Feedback - Retroalimentação (Ingl.).
Frêmito - Excitação, furor.
Garanhão - Cavalo não castrado, reprodutor.
Ginete – Bom cavaleiro, armado de lança e adaga.
Guerra - Fenômeno ancestral e cultural de disputa ou confronto entre povos ou grupos.
Para Clausewitz é a “continuação da política por outros meios.” Idéia contestada por
historiadores modernos como Keegan que a consideram uma manifestação cultural
inerente ao ser humano.
Guerra de movimento – Guerra moderna caracterizada pela velocidade e fluidez de
objetivos e frentes de combate.
Hipomóvel - Aquilo que se desloca tracionado por cavalos ou montado nos mesmos.
Holístico - Aquilo que busca abarcar a totalidade de um processo.
Intelecto reflexo - Conjunto das respostas cognitivas imediatas a um estímulo ou
problema, decisão instantânea.
Islamismo - Religião monoteísta fundada por Maomé, que tem em Alá seu Deus.
Laissez-faire - Literalmente “deixe fazer”(Fr.), em sentido figurado um estilo de liderança
caracterizado por pouca ou nenhuma intervenção do líder nos processos do grupo.
Largueza- O mesmo que generosidade.
Legião - Conjunto de falanges.
Líder - Aquele que exerce a liderança.
Líder militar - Militar habilitado a conduzir subordinados ao cumprimento do dever, em
razão do cargo de chefia que exerce. (IP 20-10)
Liderança – 1. Capacidade de conduzir um grupo de indivíduos na consecução de um
determinado objetivo ou reuni-los em torno de um ideal. 2. Componente da chefia militar
que diz respeito ao domínio afetivo do comportamento dos subordinados – compreendendo
todos os aspectos relacionados com valores, atitudes, interesses e emoções – que permite
ao militar, no exercício de um cargo, conduzir seus liderados ao cumprimento das missões
e à conquista dos objetivos determinados. (IP 20-10)
Liderança primal - Diz-se da liderança próxima à essência de cada indivíduo com o
mínimo de deturpações. Aproxima-se muito do conceito de liderança natural.
Linfático - Classificação do temperamento eqüino. Diz-se dos cavalos calmos e letárgicos.
Relacionado às raças chamadas de “sangue frio”.
Mateando - Costume gaúcho de tomar chá mate, geralmente em grupo.
Meio auxiliar - Artifício que ajuda numa instrução para melhorar compreender um
assunto, simular uma situação, assimilar um conhecimento ou desenvolver um atributo da
personalidade.
Motomecanização - Processo de substituição das viaturas hipomóveis por motorizadas
e/ou mecanizadas
Mutualidade - Qualidade ou estado do que é mútuo; reciprocidade, permutação, troca.
(Dic.)
Neurociência - Ciência que estuda o funcionamento do cérebro.
Nômade - Aquele que não se fixa em nenhum lugar, errante.
Nume – Divindade, gênio.(Dic.)
Paradigma - Estrutura que serve de modelo para determinado comportamento. Pode se
tornar um preconceito.
Pelejar - Lutar, combater.
Pólo - Jogo eqüestre disputado por dois times de quatro cavaleiros que disputam uma bola
com tacos longos visando o maior número de gols.
Psicofísico - Relativo à interação entre aspectos mentais e corpóreos.
Psicomotor - Domínio do comportamento humano relativo aos aspectos corporais e
mentais interligados, movimentos e exercícios físicos.
Puro-sangue inglês (PSI) - Raça eqüina criada pelos ingleses combinando o sangue do
árabe com cavalos europeus de grande velocidade e inteligência. È a preferida nas corridas
e bastante versátil para diversas modalidades eqüestres.
Quadro - Especialidade do Exército. Na AMAN são formados oficiais combatentes do
Quadro de Material Bélico.
Salto clássico - Modalidade hípica oriunda das caçadas dos nobres que consiste no salto
montado de obstáculos, em sua maioria construídos com vara de madeira segundo um
percurso e determinadas condições.
Sanguíneo - Classificação do temperamento eqüino. Diz-se dos cavalos nervosos, agitados
e vivazes. Relacionado às raças chamadas de “sangue quente”.
Serviço - Especialidade do Exército. Na AMAN são formados oficiais combatentes do
Serviço de Intendência.
Volteio - Modalidade eqüestre onde o cavaleiro realiza uma série de movimentos
acrobáticos sobre o cavalo em movimento.
Zona de Incerteza - Faixa do terreno onde o cavalo pode executar a batida para saltar um
obstáculo. Varia de acordo com as dimensões do mesmo, ficando menor conforme estas
aumentam.
LISTA DE TABELAS E GRÁFICO
TABELAS
PÁGINA
1.OBJETIVOS INTEGRADORES DA EQUITAÇÃO NO 2o ANO DA
AMAN...........................
42
2.OBJETIVOS INTEGRADORES DA EQUITAÇÃO NO 3o ANO DA
AMAN...........................
42
3.OBJETIVOS INTEGRADORES DA EQUITAÇÃO NO 4o ANO DA
AMAN...........................
43
4.ATRIBUTOS CITADOS PELOS CADETES DE INFANTARIA E SUA
FREQÜÊNCIA..........45
5.ATRIBUTOS CITADOS PELOS CADETES DE ARTILHARIA E SUA
FREQÜÊNCIA..........47
6.APRECIAÇÃO DO CAVALO COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO DA
LIDERANÇA
PELOS
CADETES
ENGENHARIA........................................................................................ 49
7.ATRIBUTOS CITADOS PELOS CADETES DE ENGENHARIA E SUA
FREQÜÊNCIA......... 50
DE
8. APRECIAÇÃO DO CAVALO COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO DA
LIDERANÇA
PELOS
CADETES
DE
........................................................................................
INTENDÊNCIA
52
9. ATRIBUTOS CITADOS PELOS CADETES DE INTENDÊNCIA E SUA
FREQÜÊNCIA......... 52
10. APRECIAÇÃO DO CAVALO COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO DA
LIDERANÇA
PELOS
CADETES
DE
COMUNICAÇÕES................................................................................
53
11. ATRIBUTOS CITADOS PELOS CADETES DE COMUNICAÇÕES E SUA
FREQÜÊNCIA....
54
12. APRECIAÇÃO DO CAVALO COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO DA
LIDERANÇA
PELOS
CADETES
DE
BÉLICO......................................................................................
MATERIAL
55
13. A TRIBUTOS CITADOS PELOS CADETES DE MATERIAL BÉLICO E SUA
FREQÜÊNCIA
56
14. APRECIAÇÃO DO CAVALO COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO DA
LIDERANÇA
PELOS
CADETES
DE
CAVALARIA............................................................................................. 57
15. ATRIBUTOS CITADOS PELOS CADETES DO TERCEIRO ANO DE
CAVALARIA
E
SUA
FREQÜÊNCIA..................................................................................................................................
16. ATRIBUTOS CITADOS PELOS CADETES DO QUARTO ANO DE
CAVALARIA
E
SUA
FREQÜÊNCIA..................................................................................................................................
58
59
17.
RESUMO
DOS
ATRIBUTOS
CAV....................................................
18.
MODALIDADES
MAIS
CITADOS
NO
C
LIGADAS
AO
60
EQÜESTRES
CITADAS
COMO
DESENVOLVIMENTO
DA
LIDERANÇA
PELOS
CAV.............................................
CADETES
DO
4O
ANO
62
GRÁFICO 1 – A INFLUÊNCIA DO CONTATO COM O CAVALO NO DESENVOLVIMENTO
DA LIDERANÇA SEGUNDO OS CADETES DA AMAN.......................................
64
DO
C
SUMÁRIO
CAPÍTULO I INTRODUÇÃO.................................................................................................
CAPÍTULO II - A ARTE E O
FENÔMENO.............................................................................
2. 1. ORIGEM E EVOLUÇÃO DA ARTE
EQÜESTRE...........................................................
1
4
4
2. 2. O FENÔMENO DA
LIDERANÇA...................................................................................
8
CAPÍTULO III - LÍDERES
MONTADOS.................................................................................
11
3.1. ALEXANDRE, O
GRANDRE..............................................................................................
12
3.2. OS CÉSARES DE
ROMA....................................................................................................
14
3.3. ÁTILA, “O FLAGELO DE
DEUS”.......................................................................................
3.4. GENGIS KHAN, O REI DOS MONGÓIS
...........................................................................
14
15
3.5. ÁRABES
...............................................................................................................................
3.6. ORDENS DE CAVALARIA
................................................................................................
17
3.7. NAPOLEÃO BONAPARTE, IMPERADOR DA
EUROPA................................................
20
3.8. AS GUERRAS MUNDIAIS
.................................................................................................
21
3.9. A CAVALARIA BRASILEIRA E OSÓRIO, O LEGENDÁRIO
........................................
23
CAPÍTULO IV - LIDERANÇA NATURAL E EQUITAÇÃO
...................................................
27
CAPÍTULO V - LIDERANÇA MILITAR: CONFLITO E INCERTEZA
..................................
34
CAPÍTULO VI - EQUITAÇÃO E LIDERANÇA NAS AGULHAS NEGRAS
.........................
41
6.1. CURSO DE INFANTARIA
....................................................................................................
45
6.2. CURSO DE ARTILHARIA
....................................................................................................
47
6.3. CURSO DE ENGENHARIA
..................................................................................................
49
6.4. CURSO DE INTENDÊNCIA
.................................................................................................
51
16
6.5. CURSO DE COMUNICAÇÕES
............................................................................................
53
6.6. CURSO DE MATERIAL BÉLICO
........................................................................................
55
6.7. CURSO DE CAVALARIA
....................................................................................................
57
6.8. APRECIAÇÃO FINAL
..........................................................................................................
63
CAPÍTULO VII - CONCLUSÕES ........................................................................................
..
67
ANEXO A - PESQUISA DE
CAMPO..........................................................................................
71
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................................
72
BIBLIOGRAFIA......................................................................................................................
....
73

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