um desafio a ser vencido
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® BRASIL ANO VI | NÚMERO 60 |julho/agosto 2009 CONTAG Con fed eração N acional d o s Trab al ha d ores na Agric u lt ura ( Con tag ) Arquivo Fetaemg Educação do campo um desafio a ser vencido João Bitar Arquivo Fetaemg Violência no Campo Conversa de pé de ouvido Dados recentes apontam que o número de assassinatos de lideranças do campo vem diminuindo, mas isso não quer dizer que há menos violência. Agressões físicas, ameaças de morte e prisões irregulares aumentaram. Pág. 07 O deputado Anselmo de Jesus é um dos pioneiros na defesa do pagamento por serviços ambientais. Em uma entrevista exclusiva, ele defende que os agricultores e as agricultoras familiares sejam os primeiros a serem beneficiados por essa política pública. Pág. 08 Editorial O anúncio do Plano Safra 2009/2010, na quarta semana de julho, confirmou as conquistas do Grito da Terra Brasil (GTB) 2009. A começar pela liberação dos R$15 bilhões para o Pronaf, pelo descontingenciamento do orçamento dos serviços de assistência técnica e extensão rural (Ater) e pela criação do seguro investimento, que são medidas fundamentais para fortalecer a agricultura familiar no País. Simultaneamente ao anúncio do Plano Safra, o governo federal também encaminhou ao Congresso Nacional projeto de lei para regulamentar a Ater, e o Ministério da Educação, por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), editou portaria para regulamentar a Lei da Merenda Escolar. Essa lei garante que 30% do total dos alimentos destinados à merenda escolar sejam provenientes da agricultura familiar. Será um reforço na comercialização dos produtos desse segmento, possibilitando a criação de novos postos de trabalho no campo, melhorando a renda e a condição de vida de agricultores e agricultoras familiares, assentados e assentadas da reforma agrária. A luta faz a lei Além dessas conquistas, o Plano Safra formalizou a manutenção do programa Mais Alimentos – cuja vigência inicial seria de apenas 12 meses – e lançou o Selo da Agricultura Familiar, que ainda depende de regulamentação. Com esse selo, o consumidor saberá a origem do produto, a data e o nome do produtor familiar que o produziu. A Contag prosseguirá com a negociação no Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), para definir sua aplicação, garantir a divulgação e a orientação ao agricultor familiar, para que se aproprie e use o selo da melhor forma possível. Mobilização e conquista – Não resta dúvida de que o Plano Safra representa um avanço, pois, além de contribuir para consolidar o modelo de produção baseado na agricultura familiar, é fruto de vigorosa mobilização do movimento sindical de trabalhadores e trabalhadoras rurais (MSTTR). Portanto, as medidas que serão implementadas na safra 2009/20010 não podem ser creditadas apenas ao compromisso político do governo Lula com os trabalhadores e as trabalhadoras rurais, mas, sobretudo, à capacidade de formulação de propostas e negociação do MSTTR. O próximo passo, agora, é dar continuidade à mobilização, para garantir que as medidas do Plano Safra sejam efetivamente implementadas nos municípios. Estou seguro de que as Fetags e os sindicatos de trabalhadores e trabalhadoras rurais (STTRs) vão divulgar e orientar os agricultores familiares, os assentados da reforma agrária a respeito de todas as medidas conquistadas no Plano Safra. Sei também que estarão vigilantes para fazer com que essas conquistas sejam efetivadas em nossa base. Em julho, o governo federal também começou a colocar em prática os compromissos assumidos com o MSTTR, na área de meio ambiente. O projeto sobre remuneração dos serviços ambientais já está sendo analisado pelo Congresso Nacional e o Ministério do Meio Ambiente publicou as três primeiras resoluções, que visam a garantir tratamento diferenciado para a agricultura familiar na legislação ambiental. Essas medidas ainda estão longe de atender à totalidade das reivindicações apresentadas durante o GTB 2009. No entanto, o importante é que Pelo Brasil Afora Agroindústria familiar A Fetag/RS sediou, nos dias 23 e 24 de julho, seminário sobre Agroindústria e Artesanato da Agricultura Familiar. O destaque da programação foi a palestra dada pelo engenheiro de alimentos Renato Santos, da Emater, sobre a legislação das agroindústrias familiares. Trabalho escravo A direção da Fetaeg solicitou à Superintendência do Incra/GO a vistoria de 18 fazendas incluídas na “Lista Suja” do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), por prática de trabalho escravo e condições degradantes de trabalhadores e trabalhadoras rurais. GTE - Piauí Durante a entrega da pauta do Grito da Terra Piauí, a Fetag/PI entregou manifestação contra a instalação da empresa Suzano, produtora de celulose e papel, no estado. A Fetag/PI afirma que os agricultores dos 38 municípios onde a empresa deve plantar eucalipto estão sendo aliciados para vender suas terras. GTE - Maranhão Cerca de 5 mil pessoas participaram do Grito da Terra Maranhão, organizado pela Fetaema, em ação conjunta com os 214 sindicatos filiados à instituição, com o apoio da CUT/MA. A caminhada reuniu agricultores familiares, mulheres trabalhadoras rurais, jovens do campo, assalariados rurais, assentados da reforma agrária, que 2 Jornal da Contag o MSTTR, as organizações ambientais e o governo firmaram aliança cujos fundamentos descriminalizam os produtores rurais representados pela Contag. Além disso, o acordo foi construído mediante a compreensão de que não existe incompatibilidade entre produção familiar e preservação do meio ambiente. Vamos continuar negociando com o governo para acelerar e aprofundar as medidas de adequação da legislação ambiental às reivindicações da agricultura familiar. As alterações de fundo no Código Florestal ainda não foram encaminhadas, mas deverão pautar as discussões entre a Contag e o Ministério do Meio Ambiente no segundo semestre deste ano. Portanto, trata-se de processo cuja semente fora plantada pela mobilização de milhares de trabalhadores e trabalhadoras rurais, em maio deste ano. Agora, nossa missão é regar essa semente, para que as políticas para o conjunto dos trabalhadores e das trabalhadoras rurais sejam alavancadas e para que haja desenvolvimento sustentável e solidário no campo. Alberto Ercílio Broch Presidente da Contag César Ramos reivindicaram maior atenção do governo do estado para com as comunidades e as famílias do meio rural maranhense. GTE - Sergipe A Fetag/SE, juntamente com seus sindicatos filiados, realizaram, no dia 23 de julho, o 1º Grito da Terra Sergipe. A mobilização, que começou às 9 horas, percorreu as principais ruas de Aracaju e foi encerrada com ato público diante da Assembleia Legislativa e do Tribunal de Justiça do estado. Festival da Juventude Cerca de 400 jovens de comunidades rurais do Maranhão participaram do 2º Festival Estadual da Juventude Rural, na Escola Agrotécnica Federal de São Luís (MA). Organizado pela Fetaema, o festival é marcado por atividades nas áreas da Educação, da Cultura, do Esporte e do Lazer. Crédito fundiário A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Alagoas (Faeal) realizou, em julho, o Encontro de Reforma Agrária e Crédito Fundiário. O evento contou, na abertura, com as presenças do governador Teotônio Vilela Filho e do secretário nacional do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Adher Almeida. O encontro foi marcado pela retomada da linha de financiamento de Combate à Pobreza Rural (CPR), do Programa Crédito Fundiário, do governo federal, que entra em vigor a partir de 1º de agosto. Jornada das Margaridas As trabalhadoras rurais iniciaram os preparativos para a Jornada das Margaridas 2009. Durante o mês de agosto, está prevista a realização de série de atividades para lembrar os 26 anos da morte da sindicalista Margarida Alves e refletir sobre as principais lutas das mulheres. A secretária de Mulheres da Contag e vice-presidente da CUT, Carmen Foro, explica que, neste ano, o foco da mobilização será a organização produtiva das trabalhadoras rurais. Além de atividades nos municípios e estados, esse tema vai pautar seminário nacional, programado para ocorrer no dia 19, em Brasília. “Queremos estimular as mulheres a implementar as políticas públicas nos territórios, para elas serem protagonistas nesse processo”, explicou. No dia 12 de agosto, durante o Grito da Terra Nordeste, em Natal (RN), as mulheres lançam a Campanha de Enfrentamento à Violência contra Mulheres do Campo e da Floresta, na região. “Colocar esse tema em um evento onde estará o conjunto do movimento sindical do Nordeste, para nós, é simbólico”, ressalta Carmen. Exemplos de Luta Alimento saudável nas escolas de Dois Irmãos Cooperaf fornece alimentos para a merenda escolar desde 2006 A experiência na entrega de produtos para a alimentação escolar colocará os agricultores familiares do município de Itapuranga (GO) em situação privilegiada, assim que o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) for implantado na região. Desde 2006, os agricultores familiares, reunidos em cooperativa, vendem parte da produção ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e são responsáveis pelo abastecimento de escolas e entidades locais e de mais oito municípios vizinhos. A Cooperativa de Agricultura Familiar de Itapuranga (Cooperaf) atua em parceria com o Programa de Reordenamento da Agricultura Familiar Integrada em Cooperativas e Atividades Rurais (Praficar), elaborado pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Goiás (Fetaeg). Além de fornecer alimentos para o PAA, os 50 cooperados e 12 cooperadas comercializam a produção na Feira do Produtor do município. “Nosso trabalho inclui a comercialização de 160 mil litros de leite por mês. Temos um projeto de produção agroecológica, em parceria com a Universidade Federal de Goiás, e estamos iniciando um projeto de beneficiamento de frutas”, explica o presidente da cooperativa, Mauro dos Santos. Foto Dois Irmãos Parceria – O dirigente informa que os agricultores já iniciaram as conversas com o poder público local para negociar a venda direta de alimentos para a merenda escolar. “Só precisamos saber que alimentos a prefeitura costuma comprar. Mas, tranquilamente, temos condições de fazer essa comercialização”, acrescenta. A ideia de reunir os agricultores familiares em cooperativa surgiu dentro do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Itapuranga. A presidente, Generosa Ferraz da Silva, explica que as primeiras reuniões eram realizadas no salão da entidade. “Cada agricultor trazia sua produção para vender, e quando a demanda aumentou, eles viram que o negócio dava certo e iniciaram a cooperativa”, lembra. Modelo de gestão impulsiona produção em Pernambuco O município de Brejo da Madre de Deus (PE) é pioneiro, no estado, em organização da produção da agricultura familiar voltada para a merenda escolar. Antes mesmo da sanção da lei que determina a aquisição de, no mínimo, 30% dos gêneros alimentícios da agricultura familiar para a merenda, trabalhadores e trabalhadoras rurais do município já estavam de olho nessa demanda. O secretário de Política Agrícola da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Pernambuco (Fetape), Adelson Araújo, explica que há quatro meses foi criado um comitê operacional, que dá assistência logística a trabalhadores e trabalhadoras rurais, para oferta de produtos perenes e sazonais, para o equilíbrio nutricional e variado do cardápio escolar. O dirigente, que também é viceprefeito e já exerceu o cargo de presidente do sindicato do município, afirma que a ideia está dando muitos frutos. “Já negociamos cerca de 250 Antes mesmo da nova Lei da Merenda Escolar, a articulação do MSTTR, no município gaúcho, já garantia a compra de alimentos provenientes da agricultura familiar para a rede municipal de ensino toneladas de alimentos para as escolas, que serão entregues a partir de agosto, graças à mobilização do comitê”, comemora. Segundo Araújo, a iniciativa trouxe incremento de recursos da ordem de mais de R$1 milhão. O município possui aproximadamente 13 mil famílias de agricultores e agricultoras, com produção centrada no cultivo de frutas, verduras, além da criação de caprinos e ovinos. A Lei da Merenda Escolar, sancionada no último dia 16 de junho, abre novo mercado a agricultores e agricultoras familiares de todo o País. Mas para os produtores de Dois Irmãos, cidade de 26 mil habitantes, no Rio Grande do Sul, a venda de alimentos destinados à alimentação escolar já é realidade, desde 2004. Uma parceria entre o sindicato e a prefeitura do município, com a participação do Conselho Municipal de Merenda Escolar, garante que todo o leite, mel, ovos e suco de fruta consumidos pelos quase 3,5 mil alunos da rede pública de ensino sejam provenientes da agricultura familiar. Antes do acordo, os produtores locais sofriam com a concorrência dos grandes grupos alimentícios, que oferecem preços mais baixos. Mas o sindicato conseguiu articular, juntamente com a prefeitura, a inclusão de um critério para as compras, via licitação, que prevê que os alimentos destina- Exportação – O resultado tem gerado a expectativa de que a organização produtiva, gerada após a criação do comitê, não vá se restringir à demanda escolar. Araújo adianta que a satisfação dos agricultores e das agricultoras está tão grande que eles já estão se ajustando para produzir para fora do País. “Estamos divulgando o modelo de gestão em toda a nossa rede sindical e nos espaços de fóruns do estado, com objetivo de alavancar a geração de emprego e renda, como vem ocorrendo aqui”, completa. dos à merenda escolar sejam orgânicos. “Essa foi a forma encontrada para priorizar a agricultura familiar e, ao mesmo tempo, garantir alimentos mais saudáveis para as crianças”, explica o presidente do Sindicado de Dois Irmãos, Pedro Joãozinho Becker. Ampliação – Com a nova lei, os produtores esperam aumentar as vendas. “Pretendemos fornecer alimentos como feijão, batata e aipim, já que parte da compra poderá ser feita de forma direta, sem licitação”, diz Pedro Becker. Eles também estão criando um projeto para venda de carne bovina, carne de coelho e peixes orgânicos, todos destinados à alimentação escolar. “Se fecharmos esse novo acordo, é possível que mais da metade dos alimentos consumidos nas escolas do município sejam fornecidos pela agricultura familiar”, completa o dirigente. Jornal da Contag 3 Meio Ambiente O Governo anuncia medidas para agricultura familiar ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, assinou, no dia 22 de julho, três instruções normativas que alteram procedimentos para restauração e recuperação das Áreas de Preservação Permanente (APPs) e da Reserva Legal, com uso de árvores frutíferas e exóticas, além das espécies nativas. As novas normas também tratam de execução de manejo florestal sustentável. As medidas respondem apenas por uma parte dos pontos negociados pela Contag durante o Grito da Terra 2009, quando a entidade propôs alteração da legislação ambiental, em especial do Código Florestal Brasileiro. Na ocasião, Minc anunciou aliança entre a agricultura familiar e o meio ambiente. No decorrer das negociações, foram incorporadas propostas de outros movimentos sociais do campo e de organizações ambientalistas. O ministro informou que a publicação das instruções normativas, somada à edição de portarias, resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), decretos presidenciais e outros instrumentos do Poder Executivo, atende a 70% das propostas negociadas com a Contag para a alteração do Código Florestal. Com isso, os outros 30% ficam para as mudanças que serão encaminhadas, por medida provisória, para aprovação no Congresso Nacional. “Acho que conseguimos dar um passo histórico, selando a aliança entre a agricultura familiar e o meio ambiente”, frisou Minc. Avaliação da Contag – O presidente da Contag, Alberto Broch, considera que as medidas não atendem à totalidade da pauta de reivindicações do movimento sindical de trabalhadores e trabalhadoras rurais (MSTTR). No entanto, elas significam uma nova forma de tratar a agricultura familiar, na legislação. “O que queremos é a convivência tranquila entre produção e conservação ambiental”, destacou. A secretária de Meio Ambiente da Contag, Rosicléia dos Santos, enfatizou que o anúncio das medidas não encerra o processo de negociação com o governo para garantir tratamento diferenciado da agricultura familiar na legislação ambiental. “O que conseguimos hoje é um grande avanço, mas a batalha está só começando. Com certeza, ainda vamos discutir outras propostas que ainda não foram implantadas”, destacou. Um dos principais pontos reivindicados pela Contag é a adoção do conceito de agricultura familiar, conforme definido na Lei nº 11.326, de 2006. Essa lei reconhece que o agricultor familiar é aquele que possui área de até quatro módulos fiscais, entre outros requisitos. As instruções normativas editadas pelo Ministério do Meio Ambiente não garantem, de forma clara, a adoção desse conceito. Histórico das negociações sobre o Código Florestal 2006 • Iniciam-se as discussões sobre a necessidade de encaminhamento de propostas para alterações na legislação ambiental. São realizadas oficinas, seminários, coletivos e reuniões no âmbito do MSTTR. 2007 • Chega-se ao texto da proposta de alteração do Código Florestal Brasileiro. Os debates são ampliados, com o envolvimento dos diversos setores da sociedade e do governo. 2008 2009 • Reuniões com o Núcleo Agrário do PT; • Reuniões da Contag com representante do Instituto Socioambiental (ISA); •Reuniões no Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e com o ministro Carlos Minc; • Reunião da Contag com parlamentares; • Reunião no Ibama. Carlos Minc orienta a elaboração de proposta conjunta; • Oficina nacional na Contag sobre Meio Ambiente. Janeiro: • Reunião com o deputado Assis do Couto. Abril: • Coletivo de Política Agrária e Meio Ambiente e Coletivos Nacionais, Conselho Deliberativo da Contag: discussão da proposta da Contag. Fevereiro: • Reunião com representante do ISA e parlamentares, na Câmara dos Deputados. Março: • Reuniões com a Frente Parlamentar da Agricultura Familiar, as organizações ambientalistas, as lideranças indígenas, com assessorias de movimentos sociais do campo e parlamentares; • Debates no 10º Congresso Nacional da Contag; •Reunião com representante do Greenpeace. Maio: • Seminário do Diretório Nacional do PT; • Elaboração e negociação da Pauta do Grito da Terra Brasil 2009; • Negociação com o ministro Minc e reuniões com equipes técnicas do MMA. Junho: • Reuniões com parlamentares; • Dia 17: última reunião entre GT Contag e MMA; • Dia 24: proposta final encaminhada pelo MMA à Contag e divulgada no site do ministério. Julho: • Dia 22: anúncio de três Instruções Normativas, pelo MMA. Política Agrária Lei que rege a regularização fundiária entra em vigor Polêmica, a medida é objeto de contestação judicial em Ação Direta de Inconstitucionalidade O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou, no final de junho, a Medida Provisória (MP) nº 458, que resultou na Lei nº 11.952, e estabelece as normas para a regularização fundiária das terras públicas da União na região amazônica. Pressionado por parlamentares, Ministério Público e movimentos sociais, o presidente vetou pontos que tratam da legalização da posse de terras por pessoas jurídicas e por quem não mora na região. O secretário de Política Agrária da Contag, Willian Clementino da Silva, lembra que o movimento sindical dos trabalhadores e trabalhadoras rurais (MSTTR) defendeu o arquivamento da MP e sua substituição por um projeto de lei, durante o Grito da Terra Brasil 2009. “O governo federal não discutiu o conteúdo da MP com os movimentos sociais e a sociedade”, protestou Willian Clementino. 4 Jornal da Contag Os pontos vetados pelo presidente Lula e outros mantidos na lei eram criticados pela Contag, que enviou carta ao presidente pedindo o veto. Desde o início da tramitação da lei, a preocupação da entidade era com a legalização da grilagem de terras, já que o documento permitia a regularização de áreas com mais de quatro módulos fiscais e que chegam a 1,5 mil hectares. A MP também permitia a venda das terras com apenas três anos de regularização. Inconstitucionalidade – Essas medidas são objeto de contestação do Ministério Público Federal (MPF). A procuradora-geral da República, Débora Duprat, propôs ao Supremo Tribunal Federal (STF), Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adi) contra vários pontos da lei. O secretário de Política Agrária da Contag, Willian Clementino da Silva, explica que a entidade apoia a ação do MPF. “As críticas que a procuradora faz agora são as mesmas que fizemos quando o projeto de lei tramitou no Congresso Nacional”, diz. Outra preocupação do MSTTR é que a lei não exige vistoria prévia em todos os processos de regularização. Ela prevê que o governo fará fiscalização no local apenas em casos de denúncia. Nos dias 17 e 18 de agosto, dirigentes sindicais das federações dos estados que formam a Amazônia Legal se reunirão na Contag para discutir a participação do MSTTR no programa de regularização fundiária na região. Segundo o secretário de Política Agrária da entidade, a intenção é esclarecer as novas regras e discutir como será feito o acompanhamento e o controle social do programa. Capa Por uma política nacional de Educação do Campo Reconhecimento da Educação do Campo possibilita a criação de programas específicos para a melhoria do ensino nas áreas rurais, mas os desafios ainda são muitos Arquivo Fetaemg A atuação da Contag e de outros movimentos sociais, na última década, fez que Educação do Campo ganhasse espaço na agenda do governo federal. No entanto, os números mostram que o acesso e a qualidade do ensino nas áreas rurais ainda está abaixo do esperado. Até 2001, a concepção de Educação do Campo não era sequer reconhecida na legislação brasileira. Uma resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE), de 2002, estabeleceu diretrizes para as escolas do campo, o que possibilitou a criação de proposta pedagógica e calendário diferenciados. Em 2004, o Ministério da Educação (MEC) criou a Coordenação-Geral de Educação do Campo e, em 2008, a Comissão Nacional de Educação do Campo (Conec). Esses espaços de debate e construção de políticas, entre governo e sociedade, possibilitaram o surgimento de alguns programas. Criado em 2005, o ProJovem Campo – Saberes da Terra já atendeu 40 mil estudantes, e seu foco é educar jovens que ainda não tiveram acesso, ou não concluíram, o ensino básico. A cearense Maria Aparecida Souza é uma das beneficiadas pelo programa. Ela havia abandonado os estudos, após concluir o quinto ano do ensino básico. “A escola era longe de casa. Voltei a estudar porque no ProJovem tínhamos aula menos dias na semana, aprendíamos técnicas agrícolas e também tínhamos aula no campo”, diz. Especialização – O MEC também criou o ProCampo, que apoia a criação de cursos de licenciatura em Educação do Campo, voltados a professores de escolas do campo e jovens que atuam em programas de educação. “Há defasagem muito grande de profissionais para atuar nesse segmento. Por isso, antes de expandir salas de aula, é preciso formar professores”, explica a coordenadora-geral da Educação no Campo do MEC, Wanessa Sechim. Hoje, 26 universidades já oferecem o curso, para 1,8 mil estudantes. O secretário de Políticas Sociais da Contag, José Wilson, reconhece os avanços, mas lembra que ainda há muito que fazer. “Não bastam apenas programas, precisamos que a Educação do Campo seja consolidada e tratada como política de Estado, tanto pelo governo federal, como por estados e municípios”, defende. Fórum contag de Educação do Campo A Contag promove, entre 24 e 26 de agosto, em Brasília, o 2º Fórum Contag de Educação do Campo. O objetivo é ampliar o debate sobre a construção políticas públicas de Educação do Campo nos estados, além de debater a relação educação versus desenvolvimento. Durante o fórum, a Contag pretende articular, com representantes do setor público e das entidades ligadas ao tema agenda de trabalho para implementar as políticas públicas relacionadas ao tema. Ao todo, 400 pessoas vão participar do encontro, entre lideranças sindicais, professores de universidades que desenvolvem trabalhos com o movimento sindical dos trabalhadores e trabalhadoras rurais (MSTTR) e alunos dos cursos de Educação do Campo. A Contag também convidou representantes da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), do Ministério da Educação, da Secretária de Desenvolvimento Territorial e pesquisadores que contribuem com o debate. Os números mostram que o ensino nas áreas rurais ainda está abaixo do esperado. Dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (Pnad), do IBGE, mostram que, de 2005 a 2007, o analfabetismo na população rural com mais de 15 anos caiu apenas 1,6% (de 25% para 23,4%). Para José Wilson, isso ocorre porque as políticas para essa modalidade de ensino, muitas vezes, não são executadas na ponta. “A maioria dos gestores locais não tem, ainda, a visão da importância da Educação do Campo. Por isso entendemos que o governo federal tem papel fundamental, de estimular o debate e a aplicação das diretrizes em estados e municípios”, diz. Pacto – Uma articulação entre MEC, Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) prevê a criação de pacto para fortalecer a Educação do Campo. Entre os principais pontos, está a garantia de que seja considerada política de Estado, assumida efetivamente por estados e municípios. Outro destaque defendido pelo pacto é o aumento e a aplicação da diferença da “verba de custo-aluno”, assegurado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), além da valorização do magistério. Atualmente, para cada R$1 repassado pelo governo federal aos municípios para o ensino básico, em localidades urbanas, a União repassa R$1,05 para aquelas com ensino básico em localidades rurais. Os entes federados que propõem o pacto defendem que esse valor seja de R$1,20. Pronera: desafios e continuidade O Programa Nacional de Educação da Reforma Agrária (Pronera) completou 11 anos de existência e é considerado forte estratégia de acesso à educação para assentados e acampados da reforma agrária. O programa foi criado por meio de parceria entre movimentos sociais e Incra, para aumentar o nível de escolarização dos trabalhadores e das trabalhadoras rurais assentados. Hoje, ele apoia projetos da alfabetização ao ensino superior, e atende mais de 17 mil alunos. Em muitos lugares, o Pronera é a única possibilidade de acesso à educação para trabalhadores e trabalhadoras rurais. Porém, esse programa tem enfrentado diversas ofensivas do Ministério Público, do Tribunal de Contas da União, os quais questionam suas ações. O fechamento do curso de Direito voltado a assentados e assentadas rurais, na Universidade Federal de Goiás (UFG), é só um dos problemas por que passa o programa. No dia 15 de junho, a Procuradoria-Geral de Goiás determinou o fim do curso de Direito, alegando que uma turma especial fere o princípio de equidade. O Incra anunciou que vai entrar com recurso para reverter a decisão. O secretário de Políticas Sociais da Contag, José Wilson, lamentou a decisão. “Essa era uma oportunidade para que os assentados tivessem acesso a um curso superior, já que sempre foram privados de educação de qualidade”. Suspensão – A Procuradoria Jurídica do MEC recomendou que fossem suspensos o pagamento de bolsas de ensino a professores de universidades federais e estaduais, o quais davam aulas em cursos de extensão e ou cursos especiais. Com isso, vários cursos do Pronera tiveram de ser interrompidos. “Defender a continuidade do programa é defender o acesso dos trabalhadores a um direito fundamental, que é a educação. Por isso nossa luta é pela manutenção e ampliação do Pronera, e não o contrário”, argumenta José Wilson. Neste ano, o governo federal cortou o orçamento do programa em 62%, caindo de R$69 milhões para R$26 milhões. Segundo o secretário de Política Agrária da Contag, Willian Clementino da Silva, mesmo com os problemas recentes, o Pronera já teve muitos avanços desde sua criação. “O Pronera é fundamental para os assentados, pois oferece oportunidade de educação à parcela excluída”, diz. Jornal da Contag 5 Secretaria Geral Contag traça planejamento estratégico para os próximos quatro anos Diretoria e assessoria se reúnem e estabelecem as seis prioridades unificadoras, que serão discutidas com as Fetags César Ramos A pós cinco dias de muita discussão, diretores e assessores da Contag e representantes das Regionais aprovaram, no final de junho, as prioridades estratégicas do movimento sindical dos trabalhadores e trabalhadoras rurais (MSTTR) para os próximos quatro anos. Ao todo, aprovaram seis prioridades estratégicas unificadoras, que englobam desde iniciativas para fortalecer as ações de massa e ampliar as relações institucionais, até atualização do Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário (PADRSS), na base. Essa foi a primeira, das três etapas de planejamento estratégico. A segunda etapa será levar o que foi discutido durante a semana de debate para os seminários regionais. (confira a programação na matéria ao lado) “A Contag ouvirá opinião das federações e de lideran- ças da base sobre as diretrizes aprovadas na primeira etapa. As contribuições serão fundamentais para que a Contag finalize seu planejamento ainda neste final de ano”, afirma o presidente da entidade, Alberto Broch. Após a consolidação da segunda etapa, a Contag vai começar a discutir seu Plano Operacional Anual (POA) para 2010. Também foi aprovada a criação de núcleos temáticos para incrementar a intersetorialidade das ações da Contag e das Regionais. O secretário de Finanças da Contag, Manoel dos Santos, explica porque é importante levar essa discussão para os estados e as regiões. “Com a iniciativa, focamos as prioridades e, em seguida, trabalhamos no processo das interfaces das políticas entre as secretarias da Contag e das Fetags, de maneira que todos se sintam contemplados por elas”, define. O presidente da Contag, Alberto Ercílio Broch acredita que as contribuições das lideranças regionais serão fundamentais Dirigentes definem programação dos seminários regionais P ara definir a preparação e a programação dos seminários regionais, a Contag mobilizou dirigentes de 20 Fetags de todo o País, além da Diretoria e da Assessoria da entidade. O objetivo dos eventos é debater temas como a relação entre desenvolvimento rural, sustentável e solidário e territorialidade. “Queremos pautar a atuação do movimento sindical dos trabalhadores e trabalhadoras rurais nos territórios rurais”, explica o presidente da Contag, Alberto Broch. O dirigente acrescentou que a Contag deseja debater, nessas reuniões, o Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural Sustentável (PADRSS) e estender o planejamento estratégico da entidade para Regionais e Fetags. “Precisamos atualizar nosso PADRSS, e nosso planejamento precisa ter o olhar da base. Não podemos perder a dimensão do todo”, afirmou Broch. 6 A expectativa da Contag é reunir 2,1 mil participantes em todo o País, já que cada um dos sete seminários terá a participação de 300 lideranças sindicais. O calendário dos eventos foi definido conjuntamente com as Fetags, que também decidiram a cota de participação de cada estado. A proposta de organização dessa agenda foi discutida e construída em 18 reuniões, com diretores e assessores da Contag. Segundo o secretário de Administração e Finanças da Contag, Manoel dos Santos, os seminários regionais são importantes, porque a implantação do PADRSS passa pela intervenção do movimento sindical dos trabalhadores e trabalhadoras rurais (MSTTR), nos territórios rurais. “Este projeto foi construído a partir do foco e da realidade locais. É por isso que o Sistema Contag precisa definir política de intervenção nesses espaços”, garante. Veja o calendário dos seminários regionais: Local Data Região Sudeste (SP, RJ, MG e ES) Bauru/SP 31/Ago a 4/Set Região Nordeste Etapa 1 (PE, AL, BA, PB, SE) Recife/PE 14 a 18/Set Região Norte Etapa 1 (PA, TO e AP) Belém/PA 21 a 25/Set Região Centro-Oeste (GO, DF, MT e MS) Goiânia/GO 28/Set a 02/Out Região Nordeste Etapa 2 (CE, RN, PI e MA) Fortaleza/CE 5 a 9/Out Região Sul (SC, PR e RS) São José/CS 12 a 16/Out Região Norte Etapa 2 (AM, AC, RR, RO) Manaus/AM 19 a 23/Out Jornal da Contag Lideranças Universidade internacional Terra Cidadã U ma delegação da Contag esteve na França para participar de evento promovido pela Fundação pelo Progresso do Homem, em parceria com a Aliança Internacional Terra Cidadã, que reuniu dirigentes sindicais de todo o mundo para trocar experiências sobre a formação de movimentos sindicais. Um dos destaques do encontro foi a discussão em torno da idéia de se criar uma universidade de alcance mundial que tivesse o papel de contribuir na formação e fortalecimento das organizações de pequenos produtores e pescadores, povo de montanhas, dentre outros. Na oportunidade, o MSTTR apresentou a experiência da Escola Nacional de Formação da Contag (Enfoc). “Nós tivemos um papel importante no debate por termos apresentado as ações da entidade, dos sindicatos e das federações nessa articulação cidadã”, afirma o presidente da entidade, Alberto Broch. Segundo a vice-presidente da Contag e secretária Relações Internacionais, Alessandra Lunas, a proposta da universidade é compartilhar as demandas de todos os continentes. “É como se a gente imaginasse uma ampliação do trabalho da Enfoc, que hoje atua com essa preocupação de formar as lideranças”, afirmou, salientando que o espaço também serve para questionar qual é o tipo ideal de capacitação com base nas experiências práticas trazidas de diferentes partes do planeta, além de contribuir para capacitar lideranças para atuarem nas demandas internacionais. Participara do encontro representantes de países da América do Sul, África, Ásia e da Espanha. A proposta será analisada agora pelas organizações que participaram do evento em seus países de origem. Violência no Campo Assassinatos diminuem, mas violência no campo é preocupante Dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) demonstram que grande parte das lideranças assassinadas estavam juradas de morte N o dia 17 de junho, a morte de dois trabalhadores rurais no município de Bom Jesus do Araguaia (MT) chocou o movimento sindical de trabalhadores e trabalhadoras rurais (MSTTR). Abiner José da Costa e Edeoton Rodrigues Nascimento foram assassinados quando protestavam em uma rodovia, juntamente com outros trabalhadores rurais, pelo fim do impasse na fazenda Bordolândia. Desapropriada para assentamento da reforma agrária, em 2007, a fazenda, com mais de 50 mil hectares, abrigava 600 famílias, que foram retiradas do local, após contestações dos proprietários e do Ministério Público Federal do estado, na Justiça Federal. No ano passado, 28 trabalhadores e trabalhadoras rurais foram assassinados no Brasil. Neste ano, o levantamento parcial aponta oito vítimas fatais. Os dados são da Comissão Pastoral da Terra (CPT), e revelam que, apesar de o número de assassinatos ter diminuído nos últimos anos, a violência no meio rural ainda é preocupante. Outro dado que merece destaque é que boa parte das vítimas não foi pega de surpresa. Eram lide- ranças que vinham recebendo ameaças e estavam juradas de morte. O secretário de Política Agrária da Federação de Trabalhadores na Agricultura do Mato Grosso (Fetagri-MT), Antonio Paulo da Silva, informa que os dois trabalhadores assassinados no mês passado, vinham recebendo ameaças há algum tempo, e ressalta que outros líderes da região também são ameaçados. Ele garante que, mesmo tendo conhecimento das ameaças e dos riscos de confrontos na região, o poder público não fez nada para impedir as mortes. Até meados de julho, a polícia só havia divulgado retrato falado de um suspeito, o qual continua foragido. “Pelo tempo que ocorreram as mortes, as investigações já poderiam estar mais adiantadas, mas, como se sabe, a Justiça é morosa”, disse. Impunidade – Os culpados pela morte do presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Tucuruí (PA), Raimundo Nonato do Carmo, o Raimundinho, também estão soltos. Ele foi assassinado por dois motoqueiros, no dia 16 de abril deste ano. Antes de morrer, ele havia denunciado madei- reiros envolvidos na exploração ilegal de madeira em projetos de assentamento da região. “Em muitos casos, ninguém é preso. Temos esperança de que os culpados sejam punidos, mas é complicado”, desabafa o atual presidente do sindicato, Antonio Wilson de Moura. Na opinião do secretário de Política Agrária da Contag, Willian Clementino, a maior parte dos casos de assassinatos no campo é encomendada por pessoas ligadas aos poderosos locais e seus grupos, o que dificulta a punição dos culpados. “Esses grupos de interesse muitas vezes se relacionam com Executivo, Legislativo e Judiciário e isso favorece a impunidade e a impunidade favorece a violência”. Para ele, a reforma agrária poderia ser uma saída para conter a violência, porque garantiria o direito à terra, a emprego e à renda. “A reforma agrária poderia garantir direitos e evitaria as ocorrências de violência”, diz. Estado facilita a impunidade Os dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) revelam que de 1985 a 2009, dos 1.093 casos de assassinatos no campo, apenas 85 foram julgados. Desses, apenas 19 mandantes e 71 executores foram condenados. Um dos coordenadores da CPT, padre Dirceu Fumagalli, explica que a impunidade é favorecida pelo poder público – nas três esferas – que, na sua opinião, não exerce o papel de combater e punir a violência. “O mais problemático, hoje, é o Judiciário, que parece estar acima do bem e do mal. E sabemos que os ruralistas têm muita influência nessa esfera”, garantiu. Casos 1.093 Vítimas 1.469 Casos julgados Mandantes condenados Mandantes absolvidos Executores condenados Executores absolvidos 85 19 8 71 49 4XDQGRRUHVXOWDGRQmRpDPRUWH 2DVVDVVLQDWRQmRpD~QLFD IRUPDGHYLROrQFLDQRFDPSR TXDQGRRVFRQIOLWRVQmRUHVXOWDP HPPRUWHWUDEDOKDGRUHVH WUDEDOKDGRUDVUXUDLVVHPWHUUDV DFDPSDGRVDVLQGtJHQDVH TXLORPERODVVRIUHPDPHDoDV WHQWDWLYDVGHDVVDVVLQDWRV WRUWXUDVDJUHVV}HVHSULV}HV LUUHJXODUHV&RQILUDRVGDGRV UHODWLYRVj 1GH&RQIOLWRV 3HVVRDVHQYROYLGDV $VVDVVLQDWRV 7HQWDWLYDVGH$VVDVVLQDWRV 0RUWRVHP&RQVHTXrQFLD $PHDoDGRVGH0RUWH 7RUWXUDGRV 3UHVRV $JUHGLGRV 1RUGHVWH 1GH&RQIOLWRV 3HVVRDVHQYROYLGDV $VVDVVLQDWRV 7HQWDWLYDVGH$VVDVVLQDWRV 0RUWRVHP&RQVHTXrQFLD $PHDoDGRVGH0RUWH 7RUWXUDGRV 3UHVRV $JUHGLGRV 1GH&RQIOLWRV 3HVVRDVHQYROYLGDV $VVDVVLQDWRV 7HQWDWLYDVGH$VVDVVLQDWRV 0RUWRVHP&RQVHTXrQFLD $PHDoDGRVGH0RUWH 7RUWXUDGRV 3UHVRV $JUHGLGRV 1RUWH 7RWDO 1GH&RQIOLWRV 3HVVRDVHQYROYLGDV $VVDVVLQDWRV 7HQWDWLYDVGH$VVDVVLQDWRV 0RUWRVHP&RQVHTXrQFLD $PHDoDGRVGH0RUWH 7RUWXUDGRV 3UHVRV $JUHGLGRV &HQWUR RHVWH 6XGRHVWH 6XO 1GH&RQIOLWRV 3HVVRDVHQYROYLGDV $VVDVVLQDWRV 7HQWDWLYDVGH$VVDVVLQDWRV 0RUWRVHP&RQVHTXrQFLD $PHDoDGRVGH0RUWH 7RUWXUDGRV 3UHVRV $JUHGLGRV 1GH&RQIOLWRV 3HVVRDVHQYROYLGDV $VVDVVLQDWRV 7HQWDWLYDVGH$VVDVVLQDWRV 0RUWRVHP&RQVHTXrQFLD $PHDoDGRVGH0RUWH 7RUWXUDGRV 3UHVRV $JUHGLGRV 2VQ~PHURVGRVFRQIOLWRVDJUiULRV 'HDWpRVFRQIOLWRVHQYROYHQGRDSRVVHGDWHUUDGLPLQXtUDPPDVRVQ~PHURVDLQGDVmRDODUPDQWHV 7RWDOGH &RQIOLWRV 2FRUUrQFLD GH&RQIOLWRV $VVDVVLQDWRV 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 870 277 564 174 625 366 743 495 1.335 659 1.398 752 1.305 777 1.212 761 1.027 615 751 459 27 20 29 43 71 37 38 35 25 27 * Incluindo ocorrências, ocupações e acampamentos. Fonte: Comissão Pastoral da Terra Jornal da Contag 7 Conversa de Pé de Ouvido Em defesa de quem mais preserva O deputado Anselmo de Jesus (PT-RO) é um dos pioneiros na defesa do pagamento por serviços ambientais. Ele é autor do Projeto de Lei nº 792, de 2007, que serviu de base para o do Executivo e de mais outras cinco propostas semelhantes. Nesta entrevista, ele fala sobre como será o trabalho de sensibilização dos parlamentares à aprovação dessa bandeira da agricultura familiar. es S gen Dió s anto fot. - Se om Sec Deputado Anselmo de Jesus (PT-RO) Como surgiu a ideia de criar normas para pagamentos por serviços ambientais? Surgiu das discussões sobre sustentabilidade, principalmente para os povos da Amazônia. O debate nos fez perceber que quando você preserva uma reserva legal, quando cuida de uma mata ciliar, você presta um serviço que vai além da sua família, além da sua propriedade. Você presta um serviço para a humanidade. Isso vinha sendo feito gratuitamente. Hoje se fala tanto em preservação ambiental da Amazônia, ou do Brasil, mas não se pensa que alguém presta um serviço para a humanidade. Então, seguindo essa lógica, começamos a pensar em formas de se recompensar àqueles que prestam esse serviço. Também levamos em consideração que o modelo adotado no programa Proambiente acabava prejudicando aqueles agricultores que queriam preservar a mata e suas águas. Por isso, buscamos informações sobre a legislação da Costa Rica, que mudou todos os pilares do desenvolvimento sustentável e foi um dos primeiros países a criar regulamentação para o serviço ambiental. O que o senhor acha do projeto de lei enviado pelo governo federal – que foi anexado –, apresentado pelo senhor? O que o governo fez foi dar mais agilidade a minha proposta, a qual tinha mais seis projetos anexados. Quando o governo faz isso, o assunto ganha maior agilidade no Par- lamento. E com isso, claro, o ganha também visibilidade para que possamos discuti-lo. O governo compreendeu a urgência da aprovação de proposta de pagamento por serviços ambientais. O fato de a Contag ter incluído na pauta do Grito da Terra essa reivindicação também ajudou a agilizar o processo. Temos certeza de que, em breve, teremos legislação para instituir o pagamento por serviços ambientais. Um dos principais problemas apontados, para viabilizar a aprovação do projeto, é saber de onde virão os recursos que garantirão os pagamentos. Como o senhor vê essa questão? Hoje existem vários países que já desmataram suas áreas de florestas e, de certa forma, pela grande floresta que temos aqui, buscam um diálogo com o Brasil, até oferecendo compensações financeiras para incentivar a preservação no País. É o caso da Noruega, que depositou US$1 bilhão no Fundo Amazônia. Outra opção é encontrar fontes de renda sem precisar mexer nas leis já existentes. Por exemplo, muito se fala, agora, do petróleo encontrado no Pré-Sal, que ainda não começou a ser extraído. Então, por que não prevê, na lei, a criação de um fundo com recursos vindos dos negócios gerados pelo Pré-Sal? E existem mais possibilidades. Em Rondônia, há duas hidrelétricas sendo construídas, por que não exigir delas a preservação da água e do meio ambiente? Por que não se busca recursos, também, nessas hidrelétricas? Outra possibilidade é criar taxas para quem polui. Não temos milhões de carros circulando em São Paulo, poluindo? E não temos, também, milhões de brasileiros que andam a pé? Então, por que aqueles que poluem não pagam por essa poluição? Temos, hoje, várias formas de viabilizar a criação desses fundos para pagamento por serviços ambientais. Diante dessas propostas e de outras mais que existem por aí, tenho certeza de que podemos constituir essa política. Que análise o senhor faz da recepção deste projeto de lei no Congresso Nacional? A tramitação vai ser fácil ou complicada? Temos um único obstáculo: convencer a bancada ruralista de que é necessário começar pagando benefícios aos pequenos que preservam o meio ambiente – os povos da floresta, os pequenos agricultores, os ribeirinhos, os índios. Porque é preciso entender que estamos construindo uma política pública e que ela precisa começar de alguma forma. Não dá para começar uma política-geral, que vá atingir grandes e pequenos desde o começo. A proposta do governo vem nessa lógica. E se a bancada ruralista quiser estender o pagamento para grandes produtores desde o começo? Vamos ter de convencê-los de que, como é uma política que está nascendo agora, nós temos de bus- car atender àqueles que realmente têm esse cuidado maior com a floresta. Vamos pegar a questão dos índios, dos próprios agricultores familiares, dos remanescentes quilombolas. São pessoas que estão, no dia a dia, se preocupando com a floresta. Quando você observa o lado dos grandes, verifica que eles não têm tido muito essa preocupação. Eles se preocupam em desmatar a Amazônia, em criar boi, em produzir soja. Então, eles têm de entender que os pequenos são quem mais preservaram a região. O debate no Congresso Nacional vai ser para mostrar isso. É verdade que temos alguns grandes produtores que têm essa preocupação, com a preservação. Mas, para eles, temos outras políticas que podem beneficiá-los. Acredito que se fizermos esse trabalho de sensibilização, existe perspectiva muito grande de que eles queiram preservar a Amazônia. O que o senhor espera do relator do projeto de lei, deputado Jorge Khoury (DEM-BA)? Acho que ele tem feito um belo trabalho. Tem mobilizado a sociedade, os intelectuais, os movimentos sociais e tem trazido pessoas de bancos internacionais, também, para a discussão. Apesar de ser filiado ao Partido dos Democratas, ele está conduzindo bem o debate. É por isso que a gente percebe que há, hoje, sensibilidade muito grande de todos os partidos para aprovar essa proposta. expediente Jornal da Contag - Veículo informativo da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) | Diretoria Executiva – Presidente Alberto Ercílio Broch | 1º VicePresidente/ Secretária de Relações Internacionais Alessandra da Costa Lunas | Secretarias: Assalariados e Assalariadas Rurais Antonio Lucas Filho | Finanças e Administração Manoel José dos Santos | Formação e Organização Sindical Juraci Moreira Souto |Secretário Geral David Wylkerson Rodrigues de Souza | Jovens Trabalhadores Rurais Maria Elenice Anastácio | Meio Ambiente Rosicléia dos Santos |Mulheres Trabalhadoras Rurais Carmen Helena Ferreira Foro | Política Agrária Willian Clementino da Silva Matias | Política Agrícola Antoninho Rovaris | Políticas Sociais José Wilson Gonçalves | Terceira Idade Natalino Cassaro | Endereço SMPW Quadra 1 Conjunto 2 Lote 2 Núcleo Bandeirante CEP: 71.735-102, Brasília/DF | Telefone (61) 2102 2288 | Fax (61) 2102 2299 | E-mail [email protected]. br | Internet www.contag.org.br | Assessoria de Comunicação Jacumã - Soluções Criativas em Comunicação Ltda. | Edição Ana Luiza Aguiar| Reportagem Ciléia Pontes, Danielle Santos, Iara Balduíno | Projeto Gráfico Wagner Ulisses e Fabrício Martins | Diagramação Fabrício Martins | Diretor responsável: Ronaldo de Moura | Revisão Bárbara de Castro e Joira Coelho | Impressão Dupligráfica 8 Jornal da Contag
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