130120 - Dilma abre jornada de 2014 prometendo crescimento econômico sério

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130120 - Dilma abre jornada de 2014 prometendo crescimento econômico sério
Dilma abre jornada de 2014 prometendo crescimento econômico sério, o maior
desafio de seu governo
Se lhe faltar sensibilidade para entender o empresariado e armar uma relação de
confiança, o clima político poderá azedar a partir do meio do ano
20/1/2013 - 03:08 - Antonio Machado
Em seu primeiro evento público do ano, no Piauí, além de primeira atividade explicita
como candidata à reeleição em 2014, num roteiro que a levou a quatro cidades em dois
estados do Nordeste num só dia a pretexto de visitar obras do PAC, a presidente Dilma
Rousseff não poupou otimismo. “Asseguro que 2013 será um ano em que nós teremos
aquele crescimento sério, sustentável e sistemático”, declarou.
A ênfase que deu ao crescimento econômico foi programada e deverá repetir-se. É a sua
grande preocupação, maior até que o novo coice da inflação neste início de ano, depois
dos resultados frustrantes do Produto Interno Bruto (PIB) em 2011, quando cresceu 2,7%,
e no ano passado, cuja estimativa gira em torno de insustentável 1%.
Outro ano de desempenho fraco do PIB, como uma expansão abaixo de 3%, poderá
desarticular a programação orçamentária federal e dos governos regionais, dependentes
da arrecadação tributária (que por sua vez é função dos lucros empresariais e da renda),
e ameaçar a já baixa expectativa de investimentos na economia.
A relação com o empresariado, marcada por desconfianças mútuas e distanciamento
crescente, se tornaria gélida em tal cenário, pondo o investimento em stand-by até 2015,
exceto os projetos financiados a juros subsidiados, como as concessões de rodovias e
aeroportos – uma forma de compensar a rentabilidade do capital nestas operações,
conforme o modelo de modicidade tarifária cunhado pela presidente.
Ela tem consciência de que a percepção de bem-estar, origem de sua alta popularidade,
decorre do mercado de trabalho apertado - parte devido à expansão movida a consumo
(que requer ampliação do parque manufatureiro e da infraestrutura), parte à mudança
demográfica.
O resultado é que ruas, estradas, aeroportos, redes de saneamento, o fornecimento de
energia estão no limite - e a oferta nacional de bens de consumo requer o complemento
das importações. Em princípio, se tratam de bons problemas, oportunidades de
investimento, mas se os empresários estiverem alinhados com essa visão, e não estão.
Não porque desconfiem do cenário. O problema, que parecia superado nos governos
Lula, é de percepções sobre os riscos regulatórios, de mal-estar com o que tomam como
intervenção de setores da burocracia sobre as margens de lucro de algumas atividades e
a dificuldade da presidente em discutir a relação, desfazendo os mal-entendidos.
Razão e sensibilidade
Se lhe faltar sensibilidade para entender o empresariado e armar uma relação de
confiança, o clima político poderá azedar a partir do meio do ano. E ai é que não decola o
investimento, que deve ter recuado 4,3% em 2012, segundo a consultoria LCA (embora
ela projete crescimento de quase 9% este ano, o dobro da previsão de mercado).
As consultas de novos financiamentos ao BNDES, que já passam de R$ 200 bilhões,
contra uns R$ 160 bilhões em 2012, são um bom augúrio. Mas há condicionantes. Não se
sabe quando disso foi só para guardar lugar, já que as taxas mais atrativas expiravam em
dezembro, nem, pela mesma razão, se inclui o deslocamento de operações típicas da
banca comercial e até de substituição do próprio caixa empresarial.
Bobeiras ministeriais
É bastante factível que a economia tenha maior progressão ao longo de 2013. A questão
é a velocidade. Será maior quanto mais aumente a confiança empresarial, que só Dilma a
esta altura pode resolver.
Manobras da contabilidade pública para sugerir o cumprimento exato da meta de
superávit primário em 2012, 3,1% do PIB contra estimados 2,13% de fato realizados pelo
Tesouro, não colaboram para afastar a incerteza. Os pedidos a prefeitos, como de São
Paulo e do Rio, para postergar o aumento das tarifas de ônibus de janeiro para o fim do
semestre, também só aumentam o desconforto com o rumo da inflação.
É o caso do longo congelamento do preço dos combustíveis, razão do buraco aberto no
caixa da Petrobras, que comprometeu o seu programa de investimentos no pré-sal, além
de marginalizar a substituição da gasolina pelo etanol, outro ramo abalado pelo
voluntarismo oficial.
Os acertos eclipsados
No médio prazo, é possível que se avalie positivamente a transição dos juros, impostos,
câmbio e dos custos de infraestrutura nocivos à produção para níveis decentes. Mas, por
ora, tais decisões estão eclipsadas pelo dirigismo de Dilma. Os desconcertos começam
por ai.
E é deles que surgem receios, reais e fabricados, sobre um segundo mandato, quando,
não podendo mais reeleger-se, ela poderia governar de costas para Lula, PT, PMDB e
para quem fungue em seu cangote. Só que os problemas são mais simples. Basta
acreditar mais no que ouve do empresariado e, sobretudo, se disponha a ouvi-lo. Ah... E
chame concessões pelo que são: privatizações.
O tal mercado e a imprensa ranzinza ficariam sem fala. Dilma não perderia o voto de
quem já a apoia e falaria a mesma língua do capital, sem contorcionismo semântico.
Problema da última gota
Se o investimento crescer forte em 2013, a economia chegará a 2014 bombando. E as
condições sociais ficarão mais fortalecidas. É menor do que se supõe a distância para tal
cenário.
Facilita a presidente intuir que o empresariado está sendo levado a uma agenda
defensiva, e não só pelo governo. Como diz um empresário, não é a última gota que faz o
copo transbordar. Muitos problemas vêm de longe.
Entre a Receita Federal e as agencias regulatórias, por exemplo, o contencioso de
multas, segundo cálculo preliminar de uma entidade da indústria, chega a R$ 250 bilhões,
o equivalente a 5,64% do PIB estimado de 2012, quase o dobro do investimento
estrangeiro também no ano passado.
Tudo isso é custo. E motivo de irritação, se outros mais forem adicionados, e parte da
margem for reduzida. É por ai.