130124 - Inflação de janeiro estaria rodando acima de 1% sem o adiamento de aumentos já programados

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130124 - Inflação de janeiro estaria rodando acima de 1% sem o adiamento de aumentos já programados
Inflação de janeiro estaria rodando acima de 1% sem o adiamento de aumentos já
programados
Pela medida do IPCA-15, que capta a variação dos preços no meio do mês, a
inflação avançou 0,88% e acumula aumento de 6,02% em doze meses
24/1/2013 - 03:19 - Antonio Machado
Como previsto desde meados do último semestre, a inflação começou o ano aquecida.
Teria sido pior, se a presidente Dilma Rousseff não tivesse instruído o ministro Guido
Mantega a pedir aos prefeitos de São Paulo e do Rio o adiamento do aumento das tarifas
de ônibus, e do metrô paulistano ao governador Geraldo Alckmin, além de cozinhar o
reajuste da gasolina e do diesel reivindicado pela Petrobras.
Pela medida do IPCA-15, que capta a variação dos preços no meio do mês, a inflação de
janeiro avançou 0,88%, contra 0,69% em dezembro pela mesma métrica, acumulando
aumento de 6,02% em doze meses. Está mais perto do teto da margem da meta de
inflação (6,5%) e distante da convergência ao alvo central (4,5%), que o presidente do
Banco Central, Alexandre Tombini, dissera durante audiência no Senado, no inicio de
dezembro, ser a prioridade da política monetária em 2013.
Não será, a não ser que o BC descongele a taxa Selic do nível de 7,25%, contradizendo
outro compromisso – o de mantê-la estável “por um período de tempo suficientemente
prolongado” -, ou arroche o crédito, que já está apertado, exceto na banca estatal. A
inflação continuará gorda pelos próximos meses. Não é garantido que passe do teto da
meta, mas é improvável que deslize para menos de 5%.
A prioridade assumida pelo governo, embora sem explicitar mudanças no regime de
metas, é empinar o ritmo de expansão da economia para mais que o triplo da projeção de
crescimento em 2012, da ordem de 1%, razão pela qual já se descartou a ideia de
desvalorizar a taxa cambial acima do pouco mais de 10% desde seu menor nível anterior.
O campo de manobra do BC se estreitou por conta das condicionantes impostas pelas
razões políticas de Dilma e de seus aliados, além de estar convocado implicitamente a
colaborar com o esforço para fazer o Produto Interno Bruto (PIB) reluzir até o final do ano,
e chegar a outubro de 2014, final da campanha eleitoral, a toda força.
Divergências do sucesso
O dilema de Tombini é o mesmo de Mantega, instado por Dilma e por assessores diretos,
como o secretário do Tesouro, Arno Augustin, a reduzir a meta de superávit primário
deste ano, de 3,1% do PIB, a fim de criar espaço orçamentário para mais desonerações
de impostos sobre a indústria, uma das causas da manemolência do crescimento da
economia, assim como do investimento para aumentar a produção.
O sucesso econômico e o sucesso político costumam divergir, quando a economia é
instrumento, e não consequência, para os resultados da política. Enquanto há espaço
orçamentário para gastar, a exportação equilibra os compromissos externos, o crédito não
abala a solvência do consumidor e a inflação está comportada, a economia e a politica
andam juntas. Foi assim no segundo governo Lula.
Frustração do corolário
Lula ocupou todos os espaços existentes. Dilma deveria ampliá-los para governar, como
pensa fazer ao cortar seletivamente impostos da indústria, ao reduzir a tarifa de
eletricidade, ao baixar os juros, desvalorizar a moeda, pondo toda fé na retomada do
investimento – o corolário desse conjunto de ações. Só que não há reação nem do que
ela pode influir: o investimento público. Não, ao menos, até agora.
O resultado tem sido o pior dos mundos: liquidez alta, com emprego recorde e renda
crescendo acima da produtividade da economia, sem o bônus do aumento da oferta de
serviços de infraestrutura e de bens manufaturados fabricados no país equivalente aos
estímulos gerados para impeli-la. Formou-se um circulo vicioso: o governo, nervoso,
amplia os incentivos, e o empresariado, ressabiado, se amoita mais.
Carestia ao ritmo de 11%
A dissonância de expectativas desemboca em pressão inflacionária e nas importações,
apesar do encarecimento do dólar e das barreiras comerciais – resultados normais, se
fossem o custo para a economia crescer. Mas só fica o custo, sem crescimento acima de
uma taxa que reponha os equilíbrios desfeitos, como a arrecadação tributária.
As estimativas convergem para algo como 3,5% a 4% de expansão real da economia.
Mas o crescimento nominal teria de ser muito mais, com a inflação no nível atual. O IPCA15 antecipa para janeiro, segundo a consultoria LCA, uma taxa de inflação no mês ao
redor de 0,91%.
Tal taxa corresponde a um ritmo anualizado de 11,5%, que se admite como piso, diante
dos aumentos postergados ao custo de criar novas distorções. A Petrobras não cumprirá
seu plano de investimentos sem a reposição de sua geração de caixa. Na prefeitura de
São Paulo, o transporte urbano já implica um subsidio mensal de R$ 1 bilhão. Ou o
crescimento desponta rápido ou a economia vai girar em falso.
Pouco menos é muito mais
É este o cenário do superávit primário que um naco do governo quer cortar, para
aumentar as desonerações, e Mantega e BC, manter. Não é por razão de solvência fiscal.
Uma economia fiscal pouco menor de 1% do PIB já basta para manter o viés de queda da
dívida pública.
A questão é que, quanto maior tal superávit, menor será a demanda agregada - e é a
meta de 3,1% do PIB, nas contas do BC, que faria a inflação fechar 2013 com aumento
não acima de 5,5%, com tudo mais mantido constante (inclusive o câmbio, que poderá
desvalorizar-se à revelia da política monetária, se o déficit do fluxo cambial visto em
janeiro repetir-se nos próximos meses). Superávit primário, taxa cambial, crédito e Selic
são os utensílios do BC contra a inflação.
A presidente está diante de escolhas terríveis - mais crescimento com mais inflação ou
um pouco menos de ambos. Fazer mais que isso é temerário, já estando na rua o bloco
de sua reeleição.

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