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Ocorrência do canário-rasteiro, Sicalis citrina (Passeriformes:
Emberizidae) na Serra do Itatiaia: um registro inédito para a
avifauna fluminense.
Bruno Rennó¹, Marco Antonio Rego, Marina Somenzari, Tatiana Pongiluppi & Luciano
Lima.
1- Correspondência para o primeiro autor: [email protected]
Incluído na Família Emberizidae, o gênero Sicalis é representado por 12
espécies tipicamente campestres que se distribuem desde o sul da América do Norte até
o sul da América do Sul. No Brasil ocorrem quatro espécies: Sicalis citrina, Sicalis
columbiana, Sicalis flaveola e Sicalis luteola (Ridgely & Tudor 1989, Sick 1997,
Silveira e Méndez 1999, Sigrist 2007, CBRO 2009).
O canário-rasteiro (Sicalis citrina Pelzeln, 1870) é uma espécie restrita a
América do Sul, distribuindo-se de forma disjunta ao longo da sua área de ocorrência
(Ridgely & Tudor 1989, Sick 1997). Está presente em regiões montanhosas, geralmente
entre 1000 e 3000 metros de altitude, desde as Guianas até a Argentina. No Brasil pode
ser encontrado nos Estados de Roraima, Pará, Mato Grosso, Piauí, Bahia, Goiás e
Paraná; em Minas Gerais, pode ser encontrada nas regiões central, leste e sul
(Vasconcelos 2007) e, no estado de São Paulo está presente na região centro-sul
principalmente (Sick 1997, Willis & Oniki 2003).
Sicalis citrina habita, sobretudo, regiões associadas ao Bioma Cerrado e áreas de
transição. (Ridgely & Tudor 1989, Sick 1997, Silveira e Méndez 1999, Sigrist 2007,
Vasconcelos 2007). A espécie frequenta campos rupestres, campos de altitude, campos
limpos, campos cerrados e os cerrados abertos. Sua alimentação é predominantemente
granívora.
Semelhante a outras espécies do gênero (e.g. Sicalis luteola), o canário-rasteiro
apresenta hábitos migratórios e, embora estes movimentos ainda não sejam bem
compreendidos, indícios sugerem que tais deslocamentos podem estar associados a
sazonalidade das chuvas (Braz 2008). Vasconcelos et al. (2007, 2008) sugerem que haja
uma sincronia da estação reprodutiva de Sicalis citrina com a estação chuvosa nos
campos rupestres e campos de altitude das Serras de Minas Gerais.
No presente trabalho é divulgado um registro de Sicalis citrina para o Parque
Nacional do Itatiaia, o qual representa o primeiro registro da espécie para o Estado do
Rio de Janeiro.
Em 27 de Setembro de 2008 às 11:35 h , durante uma saída de campo para a
investigação da avifauna do Parque Nacional do Itatiaia, os autores tiveram a
oportunidade de registrar um indivíduo de Sicalis citrina em uma área de campos
altimontanos com afloramentos rochosos, à 2400 metros de altitude. O local do registro
(22.36932° S, 44.71077° W) situa-se próximo à Pedra do Camelo, dentro dos domínios
do Parque Nacional do Itatiaia, no município de Itatiaia – RJ (Figura 1). Na ocasião, o
indivíduo pôde ser rapidamente observado com o auxílio de binóculos Nikon Monarch
(10x42) e, chamados de sua vocalização foram gravados utilizando gravador digital
Marantz PMD 660 equipado com microfone direcional Sennheiser ME66 (figura 2).
Precedendo o nosso registro, as únicas menções conhecidas da ocorrência do
canário-rasteiro na Serra da Mantiqueira são para o Parque Estadual do Ibitipoca e para
o Parque Estadual da Serra do Papagaio, ambos os locais situados no estado de Minas
Gerais (Pacheco et al. 2009, Vasconcelos et al. 2007). Cabe destacar, que o encontro
recente desse notável elemento campestre no Parque Estadual da Serra do Papagaio, a
cerca de 2110 m de altitude, no município de Aiuruoca – MG, distante 37 km ao Sul da
Serra do Itatiaia, motivou Vasconcelos et. al. (2007), dada a proximidade das
localidades, a aventarem a possibilidade da ocorrência da espécie nos campos de
altitude da Serra do Itatiaia, vindo nosso registro de encontro as suas expectativas.
Considerado como uma área importante para conservação das aves no país
(Bencke et Al., 2006), o Parque Nacional do Itatiaia constitui um importante reduto para
avifauna das montanhas do sudeste do Brasil, sendo a unidade de conservação mais
antiga da federação. Sua ornitofauna já foi amplamente estudada por diversos autores
(Holt 1928, Pinto 1954, Barth 1957, Parker & Goerck 1997, Lima & Rennó 2009), e o
registro de Sicalis citrina, constitui o primeiro registro da espécie para esta unidade de
conservação. Além disso, esse registro representa também o primeiro para o Estado do
Rio de Janeiro, contribuindo para o aumento do conhecimento qualitativo sobre a
avifauna fluminense.
Por apresentar tendências a realizar movimentos migratórios, a presença da
espécie nos campos de altitude da Serra do Itatiaia, pode estar associada a
deslocamentos exploratórios em busca de novos sítios para alimentação e/ou
reprodução, ou mesmo representar um indivíduo vagante desviado das rotas habituais
da espécie. A realização de mais estudos envolvendo Sicalis citrina e sua ocorrência na
Serra da Mantiqueira, é de grande importância para que haja um melhor conhecimento à
cerca do seu comportamento e para a elucidação dos deslocamentos sazonais dessa
espécie, contribuindo, com isso, num melhor entendimento da história natural do
canário-rasteiro.
Agradecimentos:
Somos extremamente gratos aos amigos José Fernando Pacheco e Vitor Torga
Lombardi. Ao primeiro, pela confirmação da identificação dos chamados gravados de
Sicalis citrina e, ao segundo, pela revisão e sugestões feitas ao manuscrito.
Referências Bibliográficas:
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Vasconcelos, M. F., V. T. Lombardi & S. D'Angelo Neto (2007) Nota Sobre o canáriorasteiro (Sicalis citrina) nas Serras de Minas Gerais, Brasil. Atualidades Ornitológicas
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Willis, E. O. & Oniki, Y. 2003. Aves do Estado de São Paulo. Rio Claro, Divisa.
Figura 1: Aspecto dos campos de altitude com afloramentos rochosos, à 2400
metros de altitude, imediações da Pedra do Camelo, Parque Nacional do Itatiaia. Foto:
Luciano Lima.
Figura 2: Sonograma da vocalização espontânea de Sicalis citrina gravada nos
campos altimontanos do Parque Nacional do Itatiaia, Itatiaia, Rio de Janeiro.
Sonograma produzido utilizando o programa Raven Lite versão 1.0 (Cornell Lab of
Ornithology).