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A obra
oferece
uma
visão
político-socioeconómica
d.C.
O autor
primeira,
destruição
situação
classe
para
divide
examina
de Jerusalém
a tratação
da
da cidade:
pobres),
o desenvolvimento
duas
as classes
os
partes:
da
romana
Na segunda
fatores
até
parte
sociais
de Jerusalém,
religiosos
com
essas
escravos
e da
classes
mulher.
a relação
sociais,
I
na
cidade
à
analisa
sua
a
LO
(ricos,
determinantes
das condições
dos habitantes
condição
no século
econômica
a dominação
(6 a 70 d.C).
média,
em
a situação
sob
social
panorâmica
de Jerusalém
econômicas
dos
a situação
partidos
O
dos
o
o
BÊ
O
UE
H
• BC
Li'
NO TEMPO
DE JESU&
PESQUISAS DE HISTÓRIA
ECONÔMICO SOCIAL
NO PERÍODO NEOTESTAMENTÁRIO
J O A Q U I M JEREMIAS
J54j
82-1831
J e r e m i a s , J o a c h i m , 1900J e r u s a l é m n o t e m p o d e Tesus: pesquisa d e história
economico-social no p e r í o d o n e o t e s t a m e n t á r í o / J o a c h i m
J e r e m i a s ; [ t r a d u ç ã o d e M. Cecília d e M. D u p r a t ; revisão de H o n ó r i o D a l b o s c o ] . — São P a u l o : Edições
P a u l i n a s , 1983.
( N o v a coleção bíblica; 16)
1. B í b l i a . N . T . — História de fatos c o n t e m p o r â neos 2 . J e r a u s a l é m — V i d a social e c o s t u m e s I. Título.
CDD-225.95
-309. 133
-330.933
índices para
catálogo
1. J e r u s a l é m : P a l e s t i n a antiga
330.933
2. Jerusalém: Palestina antiga:
309.133
3. Jerusalém: Palestina antiga:
330.933
4. Jerusalém: Palestina antiga:
309.133
5. Novo T e s t a m e n t o : História
225.95
NOVA COLEÇÃO
sistemático:
— Condições
Condições
econômicas
sociais
História
JERUSALÉM
N O TEMPO DE JESUS
P e s q u i s a s de história
no período
econômico-social
neotestamentário
económica
História
social
de fatos
contemporâneos
BÍBLICA
1.
7.
5.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
A s parábolas de Jesus, ]oachiin Jeremias
lonna
e exi;>,£ netas do N.T.. \. S c h r e i n e r - G . D a u t z o n b e r g (coords.)
'l'i'o1o<íiu do \ovo
Tesliitticmo
II" parle), | . Jeremias
A interpretação
do quarto Evangelho.
C. H . D o d d
Introdução
ao A.T. (vol. 1), E. Sellin-G. F ü h r e r
Introdução
ao A.T. (vol. 2). E. Sellin-G. F o h r e r
História de Israel, J o h n Bright
Palavra e mensagem,
)osef Schreiner (coord.)
As migens do Novo Testamento,
C. F. D . M o u l e
A importância
da literatura apocalíptica,
H . H . Rowley
Introdução
aos livros apócrifos
c pseudepigrafos
do Antigo
Testa
mento c aos manuscritos
de Quniian.
L e o n h a r d Rost
12. O Anúncio
cie Cristo nos Evangelhos
sináticos,
W o l f g a n g Trilling
15 Introdução
ao Novo Testamento,
Werner Georg Kümmel
14 As estruturas
teológicas fundamentais
do A.T., G . Fohrer
15, História da religião de Israel. G. F o h r e r
16. Jerusalém no tempo de Jesus, J. Jeremias
EDIÇÕES P A U L I N A S
EDIÇÕES UTILIZADAS
Tftulo original
Jerusalem zur Z e i t Jesu
© V a n d e n h o e c k & Ruprecht
in G ü t t i n g e n ,
Tradução da 3. e d . a l e m ã , r e f u n d i d a
M . C e c í l i a de M . Duprat
ä
de
Revisão de
H. D albo sco
'^árh
Concore
biblioteca
Se
©
EDIÇÕES P A U L I N A S - SÃO P A U L O ,
1983
Göttingen,
1969
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T o s e f t a : P a s e w a l k , 1880 (reimpresso em J e r u s a l é m , 1 9 6 3 ) . E m caso d e
d ú v i d a : m s . de Erfurt (hoje e m Berlim, Staatbibl.
Ms. or. 2? 1220).
Mukilta E x : V e n e z a , 1545 (citações: v e r s í c u l o b í b l i c o , folio c o m a
c o l u n a a-d, n ú m e r o da l i n h a ) .
Sifra L v : c d . p r í n c i p e , V e n e z a , 1545 (citações: v e r s í c u l o b í b l i c o , folio
c o m a c o l u n a a-d; n ú m e r o da c o l u n a e d a l i n h a ) .
Sifré N m e D t : cd. p r í n c i p e , V e n e z a , 1545 ( c i t a ç õ e s : versículo b í b l i c o ,
folio c o m a c o l u n a a-d, n ú m e r o da c o l u n a e d a U n h a ) .
T a l m u d Y e r s u s h a í m i : e d . p r í n c i p e , V e n e z a , 1523 .
T a l m u d B a b l i : L e m b c r g , 1861.
M i d r a s h R a b b a s o b r e o P e n t a t e u c o : Stettin, 1864 (citações: P a r a s h a ,
versículo bíblico, folio c o m a c o l u n a a-d, n ú m e r o d a l í n h a ) .
M i d r a s h s o b r e as c i n c o Megillot: ed. p r í n c i p e , P e s a r o , 1519; i n d i c a ç ã o
das p a s s a g e n s c o n f o r m e Stettin, 1864 ( c o m o p a r a o M i d r a s h R a b b a ) .
T c n h u m a : Sctetlin. 1864.
P i r q e de R a b i Eíiezer: V a r s ó v i a , 1878.
A b b o t d e R a b i N a t a n ( A R N ) ; V i e n a , 1887, e d . d e S. S c h e c h t e r .
P e s i q t a r a b b a t i : V i e n a , 1880, ed. M. F r i e d m a n n .
P o c u m e n t o de D a m a s c o : Berlim, 1933, ed. de L. Rost.
Flávio Josefo: Berlim, 1885-1894 ( r e i m p r e s s o e m Berlim, 1 9 5 5 ) , ed.
de B. Niese.
Fílon d e A l e x a n d r i a : Berlim, 1896-1926 ( r e i m p r e s s o em Berlim, 1962¬
1963), ed. L. C o h n - P . W e n d l a n d .
PUBLICAÇÕES
ABREVIATURAS
P a r a os livros d a
Jerusalém.
Bíblia, u t i l i z a m o s as a b r e v i a t u r a s
d a Bíblia
Escritos rabínicos
1. M i s h n a . Eis os t r a b a l h o s cujos
'A. Z . ( ' A b o d a zara)
'Ar.
('Arakin)
B.B. ( B a b a b a t r a )
B. M. (Baba mesi'a)
B. Q. (Baba q a m m a )
Be/c. (Bekorot)
Ber. (Berakot)
Bik. ( B i k k u r i m )
'Ed. ('Eduyyot)
'Er. ('Erubin)
Git.
(Gittin)
Hag. (Hagiga)
Hor.
(Horayot)
Hul. ( H u l l i n )
Kel. (Kelim)
Ker. (Kcritot)
Ket. (ICetubot)
KU. (Kilayim)
M. O . ( M o ' é d q a t a n )
M. Sh. ( M a ' a s é r shéni)
Ma'as.
(Ma'asrot)
Mak.
(Makkot)
Maksh.
(Makshirin)
títulos são a b r e v i a d o s :
Meg.
M en.
Mid.
Miqw.
Naz.
Neu.
Neg.
Ohal.
Pes.
P. A.
Qid.
R. H.
Sanh.
Shah.
Shebu.
Sheq.
Ta'an.
Tem.
Ter.
Yad.
Yeb.
Zeh.
(Megilla)
(Menahot)
(MiddoO
(Miqwaot)
(Nazir)
( N e d a ri m )
(Nega'im)
(Ohalot)
(Pesahim)
{Pîrq'é a b o t )
(Qiddushin)
( R o s h ha-shana)
(Sanhédrin)
(Shabbat)
(Shebu'ot)
(Sheqalim)
(Ta'anit)
(Ternura)
(Tcrumot)
(Yadayim)
(Yebamot)
(Zebahim)
2. A Tosefta é a s s i n a l a d a p o r T o s ! a n t e s d o título
3. O T a l m u d e b a b i l ô n i o , p o r b . a n t e s do título.
4. O T a l m u d e p a l e s t i n e n s e , p o r j . antes d o título,
b. = ben,
bar. = b a r a i t a ,
R. = R a b i .
1
1. T r a d i ç ã o a n t i g a n ã o inserida na
Mishna.
do t r a t a d o .
de
MODERNAS
B a c h e r , Ag. Tann. = W . B a c h e r , Die Agada der Tannaiten,
t. I, 2? ed.,
S t r a s b o u r g , 1903; t. I I , S t r a s b o u r g , 1890.
B i l l e r b e c k = ( H . L. S t r a c k e) P . Billerbeck, Kommentar
zun
Neuen
Testament
aus Talmud
und Midrasch,
6 vol., M u n i c h , 1922-1961.
B ü c h l e r , Priester
= A. Büchler, Die Priester und der Cullus im
letzten
Jahrzehnt
des jerusalemischen
Tempels,
V i e n a , 1895.
BZAW
— Beihefte
zur Zeitschrift
für die alttestamentliche
Wissenschaft,
G i e s s e n , d e p o i s Berlin, 1896ss.
CCL
= Corpus Christianorum.
Series Latina,
Turnhout.
Cl] — Corpus Jnscripüonum
Judaicarum,
I-II (Sussidi allo studio
delle
antichità
cristiane
I e 3 ) , ed. J.-B. Frey, R o m a , 1936 e 1952.
CSEL
= Corpus Scriptorum
Ecclesiasticorum
Latinorum,
V i e n a , Praga, Leipzig.
D a i m a n , Handwörterbuch
= C. D a i m a n ,
Aramäisch-neuhebräisches
Handwörterbuch
zu Targum,
Talmud
und Midrasch,
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D a i m a n , Itinéraires
= G. D a i m a n , Les itinéraires
de Jésus.
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= Festschrift
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Schriftsteller
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G u t h e , Griech.-röm.
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sebha'
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FIThR
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= J. J e r e m i a s , Sabbathjahr
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Studien
zur neutestamentlichen
Theologie
und
Zeitgeschichte,
G ö t t i n g e n , 1966, 233-238).
JQR
= Jewish
Quarterly
Review,
L o n d r e s , 1889ss.
K r a u s s , Talm.
Arch.
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Archäologie,
3 vol.,
L e i p z i g , 1910-1912 ( r e i m p r e s s o H ü d e s h e i m , 1 9 6 6 ) .
Levy, Wörterbuch
= J. Levy, Neuhebräisches
und chaldäisches
Wörterbuch
über
die Talmudim
und Midraschim,
4 vol., Leipzig,
1876-1889 ( r e i m p r e s s o D a r m s t a d t , 1963).
MGWJ
= Monatsschrift
für Geschichte
und Wissenschaft
des
Judent(h)ums,
D r e s d e , d e p o i s Leipzig, etc. ( n u m e r o s a s m u d a n ç a s ) ,
1851ss.
M e y e r , Ursprung,
II — E. Meyer, Ursprung
und Anfänge
des
Christentums,
t. I I , S t u t t g a r t , 1921 ( r e i m p r e s s o D a r m s t a d t , 1962).
Mitteis-Wilcken, 1/1 =
L. Mitteis e U . W i l c k e n , Grundzüge
und
Chrestomathie
der Papyruskunde,
t. 1/1, Leipzig, 1912.
N e u b a u e r , Géogr.
= A . N e u b a u e r , La géographie
du Talmud,
Paris,
1868,
O t t o , Herodes
= W . O t t o , Merodes. Beiträge zur Geschichte
des letzten jüdischen
Königshauses,
S t u t t g a r t , 1913, 1 ed.
PJB = Palästinajahrbuch,
Berlin, 1905ss.
RB = Revue biblique,
P a r i s , 1892ss.
REI = Revue des études juives, P a r i s , 1880ss.
Schlatter, Gesch. Isr. — A. Schlatter, Geschichte
Israels von
Alexander
dem Grossen bis Hadrian,
3- ed., S t u t t g a r t , 1925.
Schlatter, Joch. b. Zok.
= A. Schlatter, Jochanan
ben Zakkai,
der
Zeitgenosse
der Apostel,
G ü t e r s l o h , 1899 (reimpresso e m A. Schlatter, Synagoge
und Kirche
bis zum Bar-Kochba-Aufstand,
Stuttgart,
1966, 175-237).
Schlatter, Tage
— A. Schlatter, Die
Tage Trajans
und
Hadrians,
G ü t e r s l o h , 1897 ( r e i m p r e s s o em A. S c h l a t t e r , Synagoge
und
Kirche
bis zum Bar-Kochba-Aufstand,
S t u t t g a r t , Î 9 6 6 , 9-97).
Schiatter, Theologie
= A. Schlatter, Die Theologie
des
Judentums
nach dem Bericht des Josefus, G ü t e r s l o h , 1932.
S c h ü r e r = E. S c h ü r e r , Geschichte
des jüdischen
Volks im
Zeitalter
Jesu Christ, 4- ed., vol. I - I I I , Leipzig, 1901-1909 ( r e i m p r e s s o Hild e s h e i m , 1964).
S m i t h = G . A. S m i t h , Jerusalem.
The Topography,
Economies
and
History from the Earliest Times to A. D. 70, 72 v o l , L o n d r e s , 1908.
S t r a c k , Einleitung
= H . L. S t r a c k , Einleitung
in Talmud
und
Midrasch,
5- ed., M u n i c h , 1921 (reimpresso 1 9 6 1 ) .
W e b e r , Religionssoziologie,
I I I = M. W e b e r , Gesammelte
Aufsätze
zur
Religionssoziologie,
t. I I I , T ü b i n g e n , 1921.
W e l l h a u s e n , Pharisäer
= ) . W e l l h a u s e n , Die Pharisäer
und die Sad~
dueäer.
Eine
Untersuchung
zur
inneren
jüdischen
Geschichte,
G r e i f s w a l d , 1974 ( r e i m p r e s s o H a n o v e r , 1924; G ö t t i n g e n , 1967).
ZAW
= Zeitschrift
für die alttestamentliche
Wissenschaft.
Giessen,
d e p o i s Berlin, 1881ss.
ZDPV
= Zeitschrift
des Deutschen
Palästina-Vereins,
Leipzig, d e p o i s
W i e s b a d e n , 1878ss.
ZNW
— Zeitschrift
für die neutestamentliche
Wissenschaft,
Giessen,
depois Berlin, Í900ss.
PRIMEIRA
PAKTE
?
A SITUAÇÃO ECONÔMICA
DA CIDADE DE JERUSALÉM
Sob a denominação romana
até sua destruição por T i t o
( 6 - 7 0 d.C)
Para obtermos um quadro completo da economia
de
uma cidade do Antigo Oriente, procuramos
saber quais as
profissões existentes, seu comércio, o movimento
de estrangeiros etc. Por desejarmos ainda salientar as
características
da cidade, foi necessário após ter examinado
a situação,
pesquisar-lhe
as causas.
CAPÍTULO
I
merciante) de c e v a d i n h a , curtidor, copista, fabricante d e
sandálias, a r q u i t e t o , comerciante de b e t u m e , a l f a i a t e .
Sabemos, p o r é m , da existência de profissões tidas
como desprezíveis; a de tecelão, por e x e m p l o , e muitas
outras \ As razões desse desprezo são diversas: consideradas como sujas, baseadas notoriamente n a fraude, reservadas às mulheres. Mais adiante as e x a m i n a r e m o s .
Depois desta r á p i d a visão sobre a i m p o r t â n c i a das
profissões no judaísmo de então, voltamo-nos p a r a a cidade
de Jerusalém.
4
AS PROFISSÕES
ò
N a q u e l a época, a forma típica de atividade profissional é o a r t e s a n a t o . E m tal gênero de e m p r e e n d i m e n t o , o
p r o d u t o r , c o n t a n d o com todos os meios necessários, fabrica
suas peças e, sem outra forma de transação, vende-as, ele
mesmo, aos consumidores, a seus clientes.
N o j u d a í s m o de e n t ã o , as profissões e r a m altamente
valorizadas. " Q u e m n ã o ensina u m a profissão ao filho, é
como se lhe ensinasse o b a n d i t i s m o " \ N o q u e diz respeito
a Jerusalém, temos u m testemunho particular: " R . Y o h a n a n
dizia três coisas em n o m e do povo daquela cidade: . . . A n tes faze de teu sábado u m dia da semana, do que recorrer
aos h o m e n s " . A prática correspondia a essa teoria. Bik.
I l l 3 descreve a e n t r a d a em Jerusalém das procissões de
primícias: os mais altos funcionários do T e m p l o iam a
seu e n c o n t r o ; nota-se, como p a r t i c u l a r i d a d e , que os próprios artífices de Jerusalém levantavam-se à passagem da
procissão p a r a saudá-la. Tal atitude representava extraordinário sinal de respeito, e assim deviam s a u d a r os doutores, pondo-se de p é ; e n t r e t a n t o , d u r a n t e o t r a b a l h o , os
operários n ã o eram obrigados a seguir esse c o s t u m e .
A alta consideração inspirada pelos artífices e pelo que
faziam decorre t a m b é m do fato de, naquela época, a maioria dos escribas exercer u m a profissão. Paulo, que estudou
em Jerusalém (At 2 2 , 3 ) , era skenopoiós
(At 18,3): fabricava tendas (R. Knopf), segundo outros, tecia tapetes ( H .
Achelis) ou toldos p a r a as tendas (J. Leipoldo). D e n t r e
as profissões que os mais antigos doutores mencionados
no T a l m u d e exerciam, podemos ver: fabricantes de pregos, comerciantes de linho, padeiros, fabricante (ou co2
3
1. fa. Qid. 2 9 .
2. b . Pes. 1 1 3 e p a r .
3 . Cf. b . Qid. 3 3 .
a
a
a
A. AS PROFISSÕES EM JERUSALÉM
E SUA ORGANIZAÇÃO
E m primeiro lugar, examinemos aqui a situação existente. Q u e profissões encontramos em Jerusalém e qual
a sua o r g a n i z a ç ã o ? M o s t r a m as fontes que o T e m p l o , durante a sua construção e u m a vez em f u n c i o n a m e n t o , constituía por si só u m centro de atividades muito v a r i a d a s ;
temos, p o r é m , de considerá-lo à p a r t e , fora das páginas
dedicadas às profissões que c o r r e s p o n d i a m às necessidades
gerais.
1. Profissões de interesse geral
Geograficamente, a província da Judeia pertencia à
província da Síria, assim como do p o n t o de vista da civilização e da política (é difícil d e t e r m i n a r a situação do
governador r o m a n o da Síria em relação ao da Judéia, o
q u e , aliás, n a d a altera; na realidade, esse último parece
ter sido s u b o r d i n a d o ao p r i m e i r o ) . N a Síria de e n t ã o , os
principais p r o d u t o s fabricados d e n t r o da província e r a m
4. Cf. Billerbeck, I I , 745s.
5. V e r infra, p . 12.
6. Infra, p . 404. As profissões r e c o n h e c i d a s e m J e r u s a l é m são, naq u e l e local, i m p r e s s a s e m itálico.
artigos de lã, c o m o tapetes, cobertas e tecidos, unguentos
e resina p e r f u m a d a . E n c o n t r a m o s , igualmente, esses artigos c o m o p r o d u t o s de Jerusalém.
V a m o s t r a t a r e m p r i m e i r o lugar da? profissões ligadas à fabricação de artigos domésticos, em seguida, profissões relativas à alimentação e aos artigos de luxo; finalmente, veremos as profissões que se referem à construção.
7
entre os indígenas (da M e s o p o t â m i a ) , n ã o é desonroso
p a r a os h o m e n s t r a b a l h a r e m t a m b é m a l ã " . N a r e a l i d a d e ,
se h o m e n s se dedicassem à tecelagem, a o c u p a ç ã o passava
a ser desprezível. Na Palestina, u m tecelão não p o d i a ser
sumo sacerdote. O recinto dos tecelões se e n c o n t r a v a e m
Jerusalém, no b a i r r o desprezível da Porta Esterquilínia .
Foi sinal de g r a n d e liberalidade e c o n t a d o como tal, o fato
de Hillel e S h a m m a i , n u m a discussão, terem a d m i t i d o o
t e s t e m u n h o de dois h o n r a d o s tecelões de Jerusalém . Alguns desses são talvez confirmados, em Jerusalém, n a pessoa dos tarsiyyim
\
12
13
a. Artigos
domésticos
l
Em B. Q. X 9, está escrito; " E n t r e t a n t o , pode-se comp r a r de m u l h e r e s , artigos de lã na Judéia e artigos de lin h o da G a l i l e i a " . De acordo com esse texto, o trabalho
da lã era u m a especialidade da Judéia, Ket V 5 o menciona como t r a b a l h o imposto à m u l h e r casada. E m Jerusalém, vendia-se lã n u m dos bazares da cidade. 'Er. X 9
conta: " H . Yosé dizia que tal venda aconteceu no beco
dos c a r d a d o r e s de l ã ' e Levy traduz do mesmo m o d o :
" O comercio dos vendedores de l ã " ; c o m efeito, a m e s m a
palavra indica aquele que p r e p a r a u m artigo e aquele que
o v e n d e . B. j . V 8, 1 § 331 conta-nos que o comercio das
lãs de Jerusalém realizava-se no bairro c h a m a d o " c i d a d e
n o v a " . Após a cardagem era preciso fiar a lã; encontrava-sc e n t ã o p r o n t a para a tecelagem.
1
8
9
Em Jerusalém teciam t a m b é m os fios. N o Apocalipse
siríaco de Baruc, composto pouco depois de 70 d.C., interpelam-se as jovens de Jerusalém: " E vós, jovens que teceis fios de linho e d e seda c o m o o u r o de O f i r " . Essa
indicação, acrescentada ao fato de se tratar de oitenta jovens que teciam artisticamente no T e m p l o , e uma observação de Flávio Josefo p o d e r i a m levar-nos à conclusão de
que a tecelagem eram u m ofício exclusivamente feminino
Com efeito, em Ani. X V I I I 9, 1, § 3 1 4 , Josefo fala de
dois judeus babilónicos que aprendiam a tecer, " p o r q u e ,
1J
11
7. G u t h , Griech.-röm.
Städte,
40.
8. Cf. b . 'Er. 1 0 1 .
9. Levy, Wörterbuch,
I V , 200 a.
10. Betruch syriaque
X 19.
11. Ver infra, p . 40.
a
A função de pisoeiro relaciona-se i n t i m a m e n t e c o m
a de tecelão. Pela feltragem dos pêlos, o pisoeiro devia
tornar impermeável o tecido vindo da tecelagem. E r a m
eles, na maioria, não-judeus; seu bairro situava-se na cid a d e a l t a , e alguns, t a m b é m vistos fora de Jerusalém.
O m o n u m e n t o dito do Pisoeiro constituía o ângulo nordeste da m u r a l h a mais s e t e n t r i o n a l . E m 62 d . C , os j u d e u s
l a n ç a r a m do alto do pináculo do T e m p l o , Tiago, o Justo,
irmão de Jesus; foi u m pisoeiro q u e , com seu bastão,
desferiu-lhe o golpe m o r t a l .
Depois de passar por esse profissional, o tecido era
e n c a m i n h a d o p a r a o alfaiate. N o M i d r a s h há referências
1S
16
1 1
18
12. 'Er. I 3 .
13. Ibid.
14. E m b . Meg. 2 6 , trata-se d a sinagoga dos tarsiyyim
em Jerusalém. Essa p a l a v r a designa ou a p e r t e n ç a à c i d a d e de T a r s o , ou
u m a profissão. Se n ã o se t r a d u z i r essa p a l a v r a p o r " h a b i t a n t e s d e T a r s o " (cm n o s s a o p i n i ã o seria a boa t r a d u ç ã o ) , consideram-se essas pessoas c o m o f u n d i d o r e s de c o b r e (Delitzsch, Jüd. Handwerkerleben,
38;
S c h ü r e r , I I , 524, n . 77, cf. 87, n. 2 4 7 ) , tecelões ou m i n e i r o s (Levy,
Wörterbuch,
I I , 193 b ) , tecelões de arte ou artífices d e m e t a l (Dalm a n , Handwörterbuch,
177 a, q u e , a p a r desses dois s e n t i d o s , indica
i g u a l m e n t e " h a b i t a n t e s d e T a r s o " ) , ou m e l h o r , f a b r i c a n t e s d e trajes
tarsos ( K r a u s s , Talm. Arch.,
I I , 625, n. 6 7 ) . C. W e s s e l y , Studien
zur
Paläographie
und Papyruskunde,
Leipzig, 1901, 2s., m o s t r o u q u e esse
ú l t i m o s e n t i d o era, r e a l m e n t e , p a r a a d e s i g n a ç ã o d e tarsikários,
em diversos p a p i r o s . R e m e t e ao " E d i t o d o m á x i m u m " de D i o c l e c i a n o , c a p .
26-28, o n d e t r a t a d e artigos de l i n h o t a r s o - a l e x a n d r i n o s .
a
15.
16.
17.
18.
V e r infra, p .
B. /'. V 4, 2 §
E u s é b i o , Hist.
Lam. R. I, 2
31.
147.
eccl. II 23,18; cf. Ant. X X 9, 1, § 200.
s o b r e I ( 1 8 3 1 ) ; 1, 9 s o b r e I, I ( 2 1 1 7 ) .
a
a
aos alfaiates de Jerusalém. Um comércio de r o u p a s é mostrado na c i d a d e nova .
A indústria do couro serve t a m b é m p a r a a vestimenta.
N ã o se p o d e dizer com certeza se havia centros de curtum e em Jerusalém. Segundo B. B. II 9, t i n h a m de ser instalados a c i n q ü e n t a côvados de u m a (ou: da) cidade e
somente a leste. Como Jerusalém é a cidade, p u r a e simplesmente , tal prescrição no começo lhe concernia, sem
dúvida a l g u m a ; p o d e m o s pelo menos constatar q u e a prescrição desse m e s m o texto da M i s h n a a respeito dos túmulos era o b s e r v a d o em Jerusalém. E m b o r a , no princípio, a
prescrição p a r a os curtumes dissesse respeito a Jerusalém,
havia lá curtidores, mas suas oficinas sempre fora dos
m u r o s . M a t e r i a l não lhes faltava. Segundo R. H a n a n y a ,
chefe do clero, a pele da vítima, em cada sacrifício, voltava p a r a os sacerdotes, m e s m o n u m sacrifício realizado
após golpe i m p u r o . O s estalajadeiros de Jerusalém tin h a m o h á b i t o de tirar compulsoriamente dos peregrinos,
as peles das vítimas santas — trata-se antes de tudo da
vítima pascal que fora imolada pelo seu proprietário e
cuja pele n ã o pertencia ao sacerdote. A m e n ç ã o de mercadores de sandálias em Jerusalém é exata .
19
20
" E m Jerusalém, eles r e c o m p u s e r a m . . . m u i t a s m á q u i n a s
de guerra, e, em toda a cidade, forjaram armas d e arremesso e couraças c o m p l e t a s " * .
Pelo que dizem, n ã o podia h a v e r olarias em Jerusalém por causa de fumaça; é o que ensina o T a l m u d e . N o
e n t a n t o , Jr 18,2-3 indica a casa de u m oleiro em Jerusalém, e Mt 27,7 fala do c a m p o do oleiro; esses dados pesam mais do que a tradição rabínica. É v e r d a d e que somente o primeiro texto constitui u m testemunho indiscutível; com efeito, conforme o v e r e m o s , Mt 27,7 p o d e r i a
ter sido influenciado por Jr 18,2-3.
11
28
21
2 2
23
24
O u v i m o s falar de algumas outras profissões q u e , de
m o d o especial, garantiam as necessidades domésticas. B. j .
V 8, 1 § 3 3 1 menciona o b a z a r dos ferreiros. Esse artesanato t i n h a sua sede n a cidade nova. São m e n c i o n a d o s
em M.Sh. V 15 e Sota I X 10, os ferreiros como "operários em b r o n z e e f e r r o " q u e t r a b a l h a r a m (em dias semif e s t i v o s , d u r a n t e os quais se p r o i b i a m os trabalhos ruidosos) até q u e o sumo sacerdote Y o h a n a n (João H i r c a n o ,
1 3 4 4 0 4 a.C.) os interditou. D u r a n t e a G u e r r a judaica
contra os r o m a n o s (66-70 d . C ) , esse artesanato foi, ao q u e
parece, r a p i d a m e n t e convertido e m indústria de guerra:
25
19. B.j. V 8, 1, § 3 3 1 .
20. P o r ex., Sanh. I 5: " N ã o
a d r o do T e m p l o " .
2 Í . M u i t o s m s s t ê m a lição
22. 'Ed. II 2 .
2 3 . b . Yoma
12 .
24. Lam. R. I, 14 s o b r e I, í
25. T o s . Sola X I I I 10 (320,
se a c r e s c e n t a n a d a à c i d a d e n e m ao
Hanina.
a
(22
4).
b
4).
b. A
alimentação
Entre os produtos alimentícios deve ser mencionado em
primeiro lugar o óleo. Eupolemo e o Pseudo-Aristeu contam
que os arredores de Jerusalém eram ricos em oliveirais. O Pseudo-Aristeu, § 112. cita oliveiras em primeiro lugar dentre as
árvores e plantas da cidade e seus arredores. Realmente, o solo
lhes é propício e os oliveirais eram, no tempo de Jesus, mais
extensos do que hoje, porque em toda a Palestina, em conseqüência da má exploração do governo turco, o número de árvores se encontra extraordinariamente reduzido em relação às
épocas anteriores. Em Jerusalém, diferentes topónimos, advindos de "óleo" e "olivas", "oliveiras", constituem uma indicação neste sentido. A leste da cidade se encontra o "monte das
Oliveiras" , ou "monte do Oliveiral" ; o Talmude refere-se
a tür zêta, quer dizer, "montanha das Olivas" . Dificilmente
teria sido dado este nome àquela colina se as plantações de
oliveiras não tivessem atingido uma extensão particularmente
notável em relação às das redondezas, e se as azeitonas não
fossem importantes para a economia da cidade. O Talmude
confirma a cultura no monte das Oliveiras: segundo b. Pes.
29
30
31
26. B.j. I I 2 2 , I, § 648s; cf. VI 6, 2, § 327.
27. b . B. Q, 8 2 ; b . Zeb. 96 . Essas p r e s c r i ç õ e s rituais r e u n i d a s
q u a n t o à J e r u s a l é m n ã o são d i g n a s d e fé, ver infra, p . 66 ( j a r d i n s ) e
p . 70, n. 153 ( g a l i n h a s ) .
28. V e r infra, p . 197.
29. M t 21,1;24,3 e
passim.
3 0 . Le 19.29;21,37; A t 1,12; Ani. V I I 9, 2 § 202.
3 1 . O T a r g u m (cf. Billerbeck, I, 8 4 0 ) ; j . Ta'an.
I V 8, 6 9 35
( V / l , 1 9 1 ) , cf. G u t h e , PRE V I I I , 667.
b
a
a
14 , na época do último Templo, ali arava-se a terra. Quanto
ao sul da cidade, Jerônimo refere-se às oliveiras no vale do
H i n n o m . Sobre os nomes de lugares originados de "óleo" e
"olivas", "oliveiras" nas zonas mais afastadas de Jerusalém,
consultar Smith, I, p . 300, n. 3.
a
32
O a p r o v e i t a m e n t o das azeitonas dava-se em Jerusalém e nas p r o x i m i d a d e s da cidade. Segundo Men. V I I I 3 ,
é de Peréia que se i m p o r t a v a u m a parte do óleo necessário ao T e m p l o . H a v i a , p o r é m , u m p r o b l e m a : como conciliar a santidade do óleo com o transporte em território
p a g ã o ? O T a l m u d e nos responde: ia-se buscar as azeitonas
na Peréia, mas somente em Jerusalém e r a m p r e n s a d a s .
Com efeito, muitos lagares foram encontrados no norte
da c i d a d e . Além do mais, lemos no N o v o T e s t a m e n t o : " E
foram a u m lugar cujo n o m e é G e t s ê m a n i " ; " h a v i a lá
u m j a r d i m " , diz Jo 18,1 a propósito do lugar. Getsêmani
significa lagar, m á q u i n a o n d e se espremem uvas, azeitonas,
prensa p a r a b á l s a m o s . A Mishna dá explicações a respeito das prensas de óleo que têm "suas portas dentro (da
c i d a d e ) , suas salas f o r a . Dificilmente ter-se-ia p e n s a d o
em instalar lagares de óleo nos m u r o s da cidade. C o n v é m ,
p o r t a n t o , supor que se trata não da cidade de Jerusalém
p r o p r i a m e n t e dita, mas do distrito u r b a n o mais extenso ,
ou q u e os lagares de óleo sejam evocados somente a título de exemplo de casuística. P e r m a n e c e , p o r é m , a certeza d e q u e esta passagem da M i s h n a supõe lagares de
óleo p a r a Jerusalém. Mostram-nos t a m b é m q u e os negócios e n t r e comerciantes de azeite e de v i n h o , em Jerusalém e r a m consideráveis .
i3
34
3j
36
51
38
Jr 3 7 , 2 1 presume haver u m a loja de padeiros na época antiga. A propósito de u m a fome q u e grassara, fala-se
dos padeiros de J e r u s a l é m . Conforme esse último texto
39
32.
33.
34.
35.
Leipzig,
36.
37.
38.
39.
J e r ô n i m o , In Hieremian
I I 45 s o b r e Jr 7,30-31
j . Hag. I I I 4, 79^ 3 ( I V / t , 2 9 8 ) .
Mc 14,32; M t 26,36; L c 22,39.
G. D a l m a n , Grammatik
des jüdisch-palästinischen
1905 (reimpresso D a r m s t a d t , 1960), 191,
M . Sh. I I I 7.
V e r infra, p p . 63 e 89; ef. Billerbeck, I, 840.
b . Besa 2 9 .
Ant. X V 9, 2, § 309.
a
( C C L 74,83s).
Aramäisch ,
1
indica, a existência dessa profissão n ã o era ó b v i a , p o r q u e
o p ã o costumava ser feito em casa.
O s açougueiros de Jerusalém estavam, como noutros
lugares, organizados em corporação na " r u a dos açougueir o s " . H a v i a ainda, na cidade, u m a loja d e vendedores
de aves domésticas em p o n t o de consumo .
Fala-se t a m b é m de u m ateniense que fazia vir ovos
e queijos do m e r c a d o de Jerusalém .
Vejamos, por fim, a profissão de carregador de água,
tão curiosa hoje p a r a nós. Josefo confirma o comércio de
água d u r a n t e os anos de seca: " A n t e s de sua chegada (a
de T i t o ) , como sabeis, a fonte de Siloé secara, assim como
todas as o u t r a s situadas diante da cidade; precisava-se
então c o m p r a r água na â n f o r a " . M c 14,13 refere-se a
u m p o r t a d o r de água ("ide à cidade; ali encontrareis u m
h o m e m l e v a n d o u m a bilha de á g u a " ) ; p o d e m o s m e n c i o n a r
esse texto neste parágrafo, a menos que se tratasse de u m
empregado.
40
4 1
42
43
44
c. Artigos
de
luxo
A preparação
de bálsamos e de resinas aparece tamb é m como u m a atividade d e Jerusalém. Conta-se que os
comerciantes (ou fabricantes) de a r ô m a t a s
em Jerusalém
diziam: "Se acrescentássemos u m p o u c o de m e l aos perfumes a q u e i m a r , o odor seria tão forte que o m u n d o inteiro
não o poderia suportar" .
D e n t r o do contexto convém l e m b r a r u m a lenda do
T a l m u d e : " O s bosques de Jerusalém eram formados de
45
46
40. Cf. infra, p . 404.
4 1 . T o s . Nidda V I 17 (648, 2 1 ) ; b . Nidda
57 .
4 2 . 'Er X 9.
4 3 . iam. R. I, 10 s o b r e I, I ( 2 1 1 ) .
4 4 . B.j. V 9, § 410.
45. Pattamtm;
assim t r a d u z D a l m a n , Handwörterbuch,
331
(ele
t r a d u z i a " f a b r i c a n t e s de a r ô m a t a s " e m s u a p r i m e i r a e d i ç ã o . "Apoticár i o s " , s e g u n d o Levy, Wörterbuch.
I V , 27 a.
46. /. Yoma
I V 5, 4 1 37 ( I I 1 / 2 , 2 0 9 ) . E n c o n t r a - s e o m e s m o term o pattamtm
e m 'Er. X 9 e j . Sota V I U 3, 2 2 16, p a r . j . Sheq. V I
1, 4 9 ¿111/2, 3 0 0 ) ; é possível q u e se trate t a m b é m a q u i de fabricantes
[ c o m e r c i a n t e s ] de a r ô m a t a s . C o m u m e n t e t r a d u z e m - s e essas p a s s a g e n s ,
d a n d o à p a l a v r a o o u t r o s e n t i d o r e c o n h e c i d o : " c o m e r c i a n t e d e gado
gordo".
b
b
b
( l
c
c
entre os adornos da cabeça . Segundo ARN rec. B c a p .
12, 3 0 10 e passim, as nobres e r a m as únicas a u s a r e m
este atavio. Conclui-se, pois que essa " J e r u s a l é m de o u r o "
era u m enfeite feminino de alto preço. Temos de vê-lo
como u m a espécie de d i a d e m a c r e n a d o . S e g u n d o t u d o indica — o próprio n o m e leva a essa suposição — esse adorno era a princípio fabricado em Jerusalém. Nos nossos
dias, a m a n u f a t u r a das lembranças locais constitui u m
r a m o especialmente florescente do a r t e s a n a t o artístico na
cidade. E m Éfeso, tal indústria só aparece na época do
apóstolo P a u l o . At 19,23-40 conta o m o t i m dos ourives
do lugar ( 1 9 , 2 4 : " u m fabricante de templos de Á r t e m i s " ) .
Se levarmos em conta a e n o r m e i m p o r t â n c i a das festas
anuais de peregrinação p a r a a cidade santa, concluímos
que se c o m p r a v a m muitas vezes estes enfeites como recordação de Jerusalém.
56
c i n a m o m o s ; q u a n d o queimados exalavam u m agradável
p e r f u m e " . De a c o r d o com tal lenda, g r a n d e q u a n t i d a d e
d e cinamomos teriam sido plantados em Jerusalém; essa
asserção foi c o m p l e t a m e n t e excluída. U m a coisa, p o r é m ,
é certa: empregavam-se suas folhas entre os perfumes queim a d o s no T e m p l o .
A venda de bálsamos é conhecida em Jerusalém. Fala¬
-se das mulheres de Galileia presentes aos pés da cruz de
Jesus que " c o m p r a r a m arômatas (misturadas aos bálsamos)
p a r a ungir o M e s t r e " ; e conta-se que Nicodemos veio
ao sepulcro " t r a z e n d o u m a mistura de mirra e aloés de
a p r o x i m a d a m e n t e 100 libras ( r o m a n a s " ) , (Jo 19,39).
N a q u e l a época já se fabricava, em Jerusalém, u m óleo
de rosa. Segundo b . B. Q. 8 2 , n ã o se permitia fazer jardins na cidade , m a s , excepcionalmente temos u m a menção expressa do r o s e i r a l . Na literatura talmúdica, os comerciantes de bálsamos r e p r e s e n t a m p a p e l i m p o r t a n t e .
C o m seu fausto ostensivo e seu cortejo de m u l h e r e s , a corte
d e H e r o d e s , o G r a n d e , contribuiu p a r a o desenvolvimento
dessas profissões.
As profissões de luxo foram as que mais prósperas se
t o r n a r a m devido à corte h e r o d i a n a . C o n v é m lembrar, em
primeiro lugar, o artesanato
artístico. T i n h a sua sede n a
cidade alta. Já na época de Pompeia, sabemos da existência de u m a peça rara, em o u r o , vinda de Jerusalém;
" v i n h e d o ou j a r d i m , esse trabalho era c h a m a d o ter polé
(prazer dos o l h o s ) " , conta o capadócio E s t r a b ã o .
Ouvimos por vezes falar de u m enfeite 'ir sèl zahab,
q u e r dizer, " c i d a d e de o u r o " . Esse a d o r n o é igualmente
c h a m a d o y rüsalayim
d 'dah ba,
isto é, " J e r u s a l é m de
o u r o " . Discute-se p a r a saber se as m u l h e r e s , aos sábados,
p o d e m usar tais enfeites, e colocam a " J e r u s a l é m de o u r o "
47
4B
4 9
b
50
b
51
52
53
A fabricação
de sinetes c o m figuras c u n h a d a s é de
m o d o indireto c o m p r o v a d a p o r R. Eleazar ben Sadoc (cerca de 100 d.C.) que c o n t a : " H a v i a e m Jerusalém toda
espécie de figuras impressas, com exceção de rostos hum a n o s (parsüpôt
do grego
prósopon)".
A profissão de copista t a m b é m fazia p a r t e das profissões de arte. Em b . B. B. I , é descrita a atividade dos
copistas de Jerusalém pelo e n r o l a m e n t o dos m a n u s c r i t o s .
57
a
58
d. Os
edifícios
5 4
e
L
ü
1) A s
construções
55
47.
48.
49.
50.
51.
52.
53.
54.
55.
b . Shab. 63*.
B.j
V I 8, 3, § 390.
Mc 16,1; cf. Lc 23,56-57.
P a r a a crítica deste d a d o v e r infra, p . 62.
Ma'as. II 5; T o s . N e g . V I 2 (626, 15).
K r a u s s , Talm. Arch.,
I, 242.
C i t a d o p o r Josefo, Ani. X I V 3, 1, § 35.
Kel. X I 8; Shab. V I 1; Sola I X 16, 2 4 6 ( I V / 2 , 3 4 1 s ) .
b . Shab. I V 6 (115, 19).
c
O s príncipes da família h e r o d i a n a p r i m a v a m pelo
gosto de construir; outros foram levados a imitá-los. Sob
seu domínio e no período que se seguiu, a indústria de
construção teve grande e x p a n s ã o em Jerusalém. Mencionemos as principais construções.
56. T o s . Shab. I V 6 (115, 1 9 ) .
57. T o s . 'A. Z. V 2 (468, 1 5 ) ; o p a r . j . 'A. Z. Ill 1, 4 2 58 ( V I / 2 ,
209) m e n c i o n a R. E l e a z a r b . S h i m e o n (cerca de 180 d.C.) c o m o autor.
58. S o b r e a c o n s t r u ç ã o artística, ver infra, p . 25ss.
c
Herodes, o Grande (37-4 a . C ) .
— R e s t a u r a ç ã o do T e m p l o (20-19 a.C. a 62-64 d . C ) .
— Construção do palácio de H e r o d e s , perto da muralha oeste, ao lado da Porta Ocidental que d a v a ingresso
a L i d a , hoje Porta de J a i V ' .
— Construção, no mesmo local, das três torres de
H e r o d e s : H i p p i c u s , Fasael, M a r i a n a .
— D o m i n a n d o o T e m p l o , do lado norte, a fortaleza
A n t ô n i a erguia-se no lugar o n d e , em nossa opinião, erigia¬
-se outrora a fortaleza do T e m p l o c h a m a d a Birah e Baris .
— O suntuoso túmulo que Herodes fez construir
p a r a s i , não utilizado, porém, por ter sido o rei enterr a d o no H e r o d i u m .
— O teatro construído por H e r o d e s , em Jerusalém .
— Q u a n t o ao h i p ó d r o m o da cidade , talvez conven h a remontá-lo ao reino de Herodes .
— Construção de u m a q u e d u t o .
— M o n u m e n t o acima da e n t r a d a do t ú m u l o de
Davi .
59
6 0
1
62
63
M
65
66
bl
68
m
59. Ver infra, p . 3 4 .
60. Lam. R. I, 32 s o b r e 1, 5 ( 2 9 5 ) .
6 1 . B.j. V 4, 4, § 176ss.
62. B.j. V 4, 3-4, § 1 6 l s s .
63. B.j. V 5, 8, § 238ss.
64. B.j. V 3, 2, § 108 e passim:
" a t é o t ú m u l o de H e r o d e s " .
65. Ant. X V 8, 1, § 268.
66. Ani. X V I I 10, 2, § 255; B.j. II 3 , 1, § 44.
67. Isso n ã o é possível se d e v e m o s c o n s i d e r a r c o m o u m e s t á d i o
o " g i n á s i o " e o " l u g a r de exercícios" de q u e falam l M c 1,14; 2 M c
4,9.12.14, e identificá-lo ao h i p ó d r o m o
( D a l m a n , Orle
und
Wege,
G ü t c r s l o h , 1924, 2 9 3 , n . 5 ) ; o p i n i ã o diferente e m Itinéraires;
ver u m
p o u c o a b a i x o , n a p r e s e n t e n o t a . Nesse c a s o , o h i p ó d r o m o teria s i d o
c o n s t r u í d o e m 174-171 a.C. M a s 2 M c 4,14 fala palaístra.
O ginásio seria, pois, ao q u e p a r e c e , u m a p a l e s t r a . P o r c o n s e g u i n t e , p o d e ser q u e
p r e c i s e m o s identificá-lo c o m Xyste ( G u t h e , PRE V I I I , 684; D a l m a n ,
Itinéraires,
359, c o m reservas e m sua n o t a 5 ) ; a q u i , são a n t e s d e t u d o
d a d o s topográficos q ü c se c o r r e s p o n d e m . O n o m e a í u a l d a r u a , h â r e t
el-Meidân, r u a d o h i p ó d r o m o ( g e r a l m e n t e tais t r a d i ç õ e s são g a r a n t i d a s ) , p e r m i t e p r o c u r a r o h i p ó d r o m o n a c i d a d e alta. É, p o i s , possível,
a l é m e s m o c e r t o , q u e H e r o d e s seja o c o n s t r u t o r deste h i p ó d r o m o .
Q u a n t o ao " m u i t o g r a n d e a n f i t e a t r o c o n s t r u í d o n a p l a n í c i e " (Ant. X V
8, I, § 2 6 8 ) , p o d e r í a m o s p r o c u r a r sua c o l o c a ç ã o n a p l a n í c i e d e Jericó
(Ant. X V I I 8, 2 § 194; B.j. 1 3 3 , 8 § 6 6 6 ) .
b
68. Ver infra, p . 2 5 .
69. Ant. X V I 7, I, § 182; cf, V I I
15, 3 § 394 .
Agripa I (41-44 d . C ) . Segundo B.j. II 1 1 , 6, §
2 1 8 ; Ani. X I X 7, 2, § 3 2 6 ; B.j. V 4 , 2 , § 1 4 8 . 1 5 2 - 1 5 5 ,
Agripa í construiu a m u r a l h a mais setentrional de Jerusalém q u e englobava uma z o n a considerável. Media cerca
de 3 . 5 3 0 m . de c o m p r i m e n t o , segundo Josefo. O historiador não p o u p a elogios à solidez dessa m u r a l h a . T i n h a ,
segundo dizem, 10 côvados de espessura, construída em
cantaria de 20 côvados de c o m p r i m e n t o e 10 de largura.
70
Convém dizer aqui uma palavra sobre o côvado, medida
de extensão então em uso e que iremos utilizar para os cálculos (ver especialmente infra, p . l l ó s s ) . Não há uma opinião
concorde sobre o comprimento do côvado palestino daquela
época. É preciso lembrar que diferentes côvados estavam em
uso ao mesmo tempo, dentro de Jerusalém. Lemos em Kel.
XVIÍ 9: numa sala do Templo "havia dois côvados, um no
canto nordeste, outro no canto sudeste. O primeiro era mais
longo que metade da largura de um dedo que o primeiro
(portanto mais comprido que a largura de um dedo do côvado
de Moisés). Encomendava-se o trabalho aos operários segundo
o côvado de Moisés e entregavam-no segundo o côvado mais
longo, isto é, segundo o côvado meia polegada mais longo se
as encomendas eram em prata ou em ouro; conforme o côvado, uma polegada mais longo para as outras encomendas. Os
rabinos distinguiam 6 côvados: a) côvado para as construções;
b) côvado para os utensílios; c) côvado para a base do altar;
d) côvado para a circunferência do altar; e) côvado mosaico;
f) côvado real. O Templo foi construído segundo o côvado
para as construções .
71
,É de se notar que os dados de Josefo sobre as medidas
do Templo concordam com as do tratado Middot da Mishna,
como por exemplo, para a largura e altura do frontão do santuário. Josefo pode ter utilizado dois côvados:
a) O côvado romano (cubitus) de 6 palmi (largura da
mão) de 74 mm — 444 mm de comprimento . Certo é que
Josefo possuía terras na Judéia , mas viveu e escreveu em
72
73
70. 6105 m — 33 e s t á d i o s , p e r í m e t r o total d a c i d a d e s e g u n d o B. j .
V 4, 3, § 159, m e n o s 2575 m a p r o x i m a d a m e n t e -—lados oeste, sul e
leste, d a t a n d o d o p e r í o d o a n t e r i o r a A g r i p a I.
7 1 . F. R u i t s c h , Griechische
und römische
Metrologie,
2* ed. rev=
Berlim, 1882, 4 4 1 .
72. A s s i m K r a u s s , Talm.
Arch.,
I I , 388ss s e g u n d o F . L ü b k e r ,
Reallcxikon
des classischen
Alterhums,
7* ed., L e i p z i g , 1891.
7 3 . Vita 76, § 422.
R o m a ; pode-se, pois, realmente, esperar dele que se utilize
do côvado romano.
74
b) O côvado do sistema filitariano. Esse sistema assim
chamado segundo o sobrenome dos reis de Pérgamo (filétairos),
era de uso corrente no império, desde a fundação da província da Ásia em 133 a.C. O côvado filitariano tinha 525mm
de comprimento , e era usado na Palestina e no Egito, como
nos mostra Julião de Ascalao (autor bizantino) ; o côvado
romano não o substituiu. Esse dado vale igualmente para o
período anterior a Juliao de Ascalao; Dídimo de Alexandria
(fim do século I antes de nossa era) o indica para o Egito.
Segundo Dídimo, o côvado egípcio da época romana valia 1,5
pés ptolemaico = 525 mm, isto é, o comprimento já corrente
no Egito no século III antes de nossa e r a . Por conseguinte,
podemos supor que o côvado filitariano era de uso também
na Palestina do século I de nossa era. Conclui-se, pois, que o
côvado da literatura rabínica é de 525 mm. Vimos há pouco
que Josefo dá ao côvado o mesmo comprimento que a Mishna
que é também a do côvado filitariano de 525 mm.
75
7fi
77
Por conseguinte, as cantarias da m u r a l h a de Agripa I
teriam 10,50 m de comprimento e 5,25 m de largura; a
p r ó p r i a m u r a l h a teria 5,25 m de espessura.
N o v e n t a sólidas torres a protegiam . A mais importante era a torre Pséfinus, octagonal, ao nordeste e que
tinha, como dizem , 70 côvados de altura, isto é, 3 6 , 7 5 m .
Por u m a denúncia de C. Víbio M a r s o , g o v e r n a d o r d a Síria, o i m p e r a d o r Cláudio interditou a construção desta
m u r a l h a . Somente no começo da revolta (66 d.C.) foi
terminada .
78
79
80
81
74. V e r suas relações c o m os s o b e r a n o s r o m a n o s , Vita 76, § 422ss;
S h ü r e r , I, 76.
75. H u l t s c h , op. cit. 597; O . H o l t z m a n n , Neutestamentliche
Zeitge¬
schichte,
Fribourg-en-Brisgau, 1895, 118 e sua e d i ç ã o d o t r a t a d o mishn a i c o Middoth
(col. Die Mischna),
G i e s s e n , 1913, 12-15.
76. E d . F . H u l t s c h , Metrologicorum
scriptorum
reliquiae
(col.
T e u b n e r ) t. 1, Leipzig, 1864, 54s e 200s.
77. O . H o l t z m a n n , Middoth,
14.
78. B. /'. V 4, 3, § 158.
79. Ibid., § J59s.
80. Ant. X I X 7, 2, § 326s.
8 1 . B.j. II 20, 3, § 563; V . 4, 2, § 152-155; V I 6, 2, § 3 3 1 .
Agripa II (50-53, rei de Caleis; 5 3 - 1 0 0 , rei de Batanéia, T r a c o n í t i d e , G a u l a n í t i d a , Abilínia e de u m território ao pé do L í b a n o , c h a m a d o e p a r q u i a de Varus) .
a) A u m e n t o u o palácio dos a s m o n e u s ( M a c a b e u s ) .
Esse edifício situava-se na e x t r e m i d a d e nordeste da colina,
a b r a n g e n d o a cidade alta, a oeste do T e m p l o e acima do
X i s t o " . Agripa II certamente n ã o ergueu u m a nova const r u ç ã o , mas a u m e n t o u o palácio: "Erigiu uma obra de
g r a n d e vulto no palácio de Jerusalém perto do Xisto. Esse
palácio fora outrora construído pelos a s m o n e u s " . D e todo
m o d o , deste palácio — o que não era antes o caso — o
rei gozava de u m a visão de conjunto da esplanada do
T e m p l o . O s sacerdotes fizeram construir u m m u r o p a r a
interceptar a vista. As querelas que se seguiram c h e g a r a m
até N e r o . Neste palácio havia talvez u m a janela p a r a
as a u d i ê n c i a s ' , como se vê em antigas representações
egípcias e como o confirma 2Rs 9,30, referindo-se ao palácio de Acab e de J e z a b e l . Segundo B. j . TI 17, 6, §
4 2 7 , o povo encolerizado incendiou o edifício no início
da insurreição.
82
3
84
8 a
S(
87
b) O término dos trabalhos do T e m p l o (entre 62 e
64 d.C.) incentivou Agripa II p a r a o u t r o e m p r e e n d i m e n t o .
Mais de 18.000 operários achavam-se sem t r a b a l h o . O rei
podia usar o tesouro do T e m p l o ; estimulado pela maioria
da p o p u l a ç ã o de Jerusalém, pôs-se, n u m ato de solidaried a d e social, a favorecer t r a b a l h o àquela gente. Para exterm i n a r a miséria em que viviam, m a n d o u , às custas do tesouro do T e m p l o , calçar as ruas de Jerusalém com p e d r a s
b r a n c a s (provavelmente c a l c á r e a s ) .
Descobriu-se em Jerusalém u m a rua assim calçada;
seguiram-lhe o traçado ao longo do m u r o ocidental e de
u m a parte do m u r o meridional da e s p l a n a d a do T e m p l o .
Esse calçamento de p e d r a , a 13 m abaixo do nível atual,
S8
82. B.j. I I 12, 8, § 247; Ant. X X 7, 1, § 138; cf. S c h ü r e r , I, 587.
8 3 . Ant. X I V 1, 2, § 7; B.j. I 6, 1, § 122; Ant. X I V 4, 2, § 59;
B.j. I 7, 2, § 143; cf. L c 23,7-11.
84. Ant. X X 8, 11, § 189ss.
85. Ani. X X 8, 11, § 194s.
86. B.j. I I 16, 3, § 344; 17, 1, § 406.
87. H . G r e s s m a n n , Der Messias, G o t t i n g e n , 1929, 45ss.
88. Ant. X X 9, 7, § 222.
sustentava as aduelas do " a r c o de R o b i n s o n " (assim chamavam-se os vestígios de u m arco descoberto por Robinson; ligava antigamente a esplanada do T e m p l o à cidade
alta); indica o período anterior a 70 de nossa e r a . A o
n o r t e da piscina de Siloé, Bliss descobriu o u t r a r u a calç a d a , nalguns lugares com 7,50 m de largura. Era, talvez, a
c o n t i n u a ç ã o da primeira, há p o u c o m e n c i o n a d a . Vêem-se
as nítidas marcas da passagem p a r a pedestres. Essa rua
c o n t i n u a v a pela p a r t e sul da cidade q u e , desde o t e m p o
do i m p e r a d o r A d r i a n o , deixou de estar incluída no recinto das fortificações. Por conseguinte, essa p a v i m e n t a ç ã o
poderia ser anterior à destruição de Jerusalém e m 7 0 .
É possível, pois, que tenhamos, nesses dois locais, restos
do calçamento e m p r e e n d i d o sob Agripa I I .
8 9
c) E n t r e t a n t o , essa obra não se prolongou. P a r a evitar o desemprego q u e de novo a m e a ç a v a os operários do
T e m p l o , Agripa I I , antes de 66, de acordo com os sacerdotes em exercício e o p o v o , e m p r e e n d e u novos trabalhos
de construção no santuário .
Os príncipes de Adiabena,
reino situado na fronteira
d o império r o m a n o e p a r t o , e r g u e r a m outros grandes edif í c i o s ' . O u v i m o s falar de u m palácio do rei M o n o b a z e ;
o contexto leva-nos a situá-lo na p a r t e meridional da colina oriental. E m B. j . V I 6, 3 § 3 5 5 , Josefo m e n c i o n a o
palácio da r a i n h a H e l e n a de A d i a b e n a . Achava-se no centro de Acra, p o r t a n t o , igualmente sobre a colina oriental \
A posição exata do palácio da princesa G r a p t é de Adiab e n a não nos é confirmada. O contexto leva a situá-lo
n ã o muito longe do T e m p l o , e o p r o c u r a m o s igualmente
n a colina o r i e n t a l . A r a i n h a H e l e n a determinou a const r u ç ã o , a três estádios ao norte de Jerusalém, de u m t ú m u l o
e m forma de três pirâmides. E u s é b i o
refere-se às colu90
9
n
nas deste m o n u m e n t o ; segundo Pausanias , sua magnificência igualava-se à do t ú m u l o de M a u s o l o em Halicarnasso. Era, pois, p a r a a época, u m a construção particularmente i m p o n e n t e .
Entre os trabalhos de construção de g r a n d e envergad u r a , deve-se m e n c i o n a r a de u m a q u e d u t o p o r
Pôncio
Pilatos . Para essa obra muniu-se do dinheiro do tesouro
d o T e m p l o , o q u e provocou a revolta do p o v o . P a r a acalm a r a m u l t i d ã o desenfreada, Pilatos teve de enviar soldados que distribuíram cacetadas. O a q u e d u t o era, sem dúvida, como aquele descrito pelo Pseudo-Aristeu, § 9 0 , revestido de c h u m b o e argamassa.
Encontraram-se, perto de Jerusalém os restos de dois
a q u e d u t o s que traziam água à c i d a d e . O c o n d u t o "super i o r " era r o m a n o (segundo u m a inscrição de 165 d . C ) .
O c o n d u t o "inferior" é mais antigo; sua técnica corresp o n d e à do a q u e d u t o construído por H e r o d e s , p a r a levar
água ao m o n t e dos Francos (perto de Belém) o n d e se encontrava a fortaleza de H e r o d i u m q u e ele m a n d o u construir . T u d o faz crer que o c o n d u t o inferior é o que Pilatos instalou.
O u v i m o s falar, finalmente, d e n t r o do período que est u d a m o s , da construção ou da r e s t a u r a ç ã o , sobre o Ofel,
de u m a sinagoga com h o s p e d a r i a p a r a estrangeiros e u m a
instalação de b a n h o s °.
%
71
98
w
,0
9
2) O p e r á r i o s d a s
A construção
construções
comum
94
95
89. P . T h o m s e n , Denkmäler
Palästinas
aus der Zeit Jesu, Leipzig,
1916, 29ss.
90. V e r infra, p . 34.
9 1 . B.j. II 19, 2, § 520; V I 6, 4, § 356; Naz. I I I 6; j . Sukka
I
1, 5 1 22 e 25 ( I V / 1 , 2 ) ; j . Naz. I I I 6, 5 2 38 ( V / 2 , 1 1 6 ) .
92. ß . /". V G, 1, § 252,
9 3 . ß. /. V 4, 1, § 137.
94. ß . ;. I V 9, 11, § 567.
95. Hist. eccl. I I 12, 3 .
b
d
A p e d r a era o material mais e m p r e g a d o . Para
t a u r a ç ã o do T e m p l o , H e r o d e s m a n d o u p r e p a r a r
carriolas destinadas a trazer as p e d r a s n e c e s s á r i a s
V I I 2, 2, § 2 6 conta a evasão de u m chefe dos
101
96. Descr.
Graeciae
V I I I 16.
97. B.j. II 9, 4, § 175; Ani. X V I I I 3 , 2, § 6 0 .
98. G u t h e , PRE V I I I , 682 e 686.
99. Ant. X V 9, 4, § 323ss.
100. S e g u n d o u m a i n s c r i ç ã o d e s c o b e r t a p o r R. Weilrj
CIJ I I , n . 1404.
101. Ant. X V 11, 2, § 390.
a res1.000
. B.j.
judeus
texto
em
revoltados, Simão, que tentou fugir c o m sua escolta por
u m túnel; serviam-se de empreiteiros
com os instrumentos
necessários. As cavernas reais m e n c i o n a d a s em B. }. V 4,
2, § 147, ao longo das quais mais tarde passou a terceira
galeria, a setentrional, segundo Josefo, devem ter servido
d u r a n t e muito t e m p o como passagem. A i n d a hoje, existe
uma enorme gruta c h a m a d a " C a v e r n a do a l g o d ã o " ; forma o subsolo de uma p a r t e da cidade e se estende, a partir da encosta atual, a 196 m em direção sul. Sua e n t r a d a
situa-se acima do m u r o norte atual. E m b . 'Er. 6 l , fala-se
da C a v e r n a de Sedecias como de u m a caverna especialm e n t e a m p l a e deserta; segundo o M i d r a x e
Tanhuma ,
tinha 12 milhas de extensão (milhas egípcias de 1 . 5 7 5 m ) ,
isto é, 1 8 , 9 0 0 quilômetros. Essa caverna é, talvez, igual a
u m a das duas m e n c i o n a d a s ; se situarmos o traçado da encosta mais setentrional no local da m u r a l h a norte atual ,
temos a possibilidade de identificar as três cavernas. Seg u n d o Para II 3, " s o b o m o n t e do T e m p l o e sob o adro
havia uma c a v e r n a " . Os subterrâneos da cidade represent a r a m g r a n d e papel por ocasião da t o m a d a de Jerusalém;
m u i t o tempo ainda após a q u e d a da cidade, os habitantes ali se m a n t i n h a m escondidos.
b
m
m
Certo Simão, da cidade de Siknin, q u e perfurava
fontes, poços e subterrâneos,
é localizado n a Jerusalém antes
da destruição em 70 d . C . . M e n c i o n a m t a m b é m u m instalador de fornos
.
104
m
As construções
artísticas
As construções antes indicadas (pp. 19ss) são, na maioria, m o n u m e n t o s estilizados; as profissões de arte t i n h a m ,
p o i s , u m vasto c a m p o de atividade. De m o d o especial o
palácio de H e r o d e s , segundo a descrição de Josefo , era
rico em obras raras de arte. Na decoração externa e interna, na escolha dos materiais e sua execução, na riqueza
m
102.
103.
104.
105.
106
Tanhuma,
bemidbar,
§ 9, 485, 7; c l . Billerbeck, I I , 592ss.
V e r infra, p . 2 1 .
Qoh. R. 4, 8 s o b r e 4, 17 ( 9 1 1 2 ) .
Lam. R. 1, 15 s o b r e 1, 1 ( 2 3 9 ) .
B.j. V 4, 4, § 176ss.
b
a
das variedades e no requinte de p o r m e n o r e s , as profissões
artísticas rivalizavam-se; segundo B. j . V 4, 4 § 178ss, escultores, tecelões artísticos, instaladores de r e p u x o s e projetistas de jardins aprazíveis, artífices p a r a o t r a b a l h o de
o u r o e prata foram c o n t r a t a d o s .
De m o d o especial n u n c a faltava serviço p a r a os escultores de Jerusalém, conforme verificamos nas construções daquela época, cuja notícia chega até n ó s . Os principais são os c h a m a d o s " t ú m u l o s dos r e i s " e os três monumentos funerários do vale do Cédron, hoje t ú m u l o de Absalão, de Tiago e de Z a c a r i a s .
O s " t ú m u l o s dos r e i s " são o de H e l e n a de Adiabena ; B. j . V 4, 2, § 147 " e m frente ao t ú m u l o de Helen a " ; Ani. X X 4, 3, § 95 "nas três pirâmides que sua m ã e
fizera construir a três estádios da c i d a d e " . U m a cornija
com guirlandas de frutos e folhagens em forma de volutas,
está parcialmente conservada. D i a n t e da e n t r a d a que conduz à instalação funerária, acham-se restos de colunas entre as quais se viam capitéis jónicos e dóricos, meias colunas e pilastras de ângulo. I m e d i a t a m e n t e acima dos capitéis, vê-se u m friso d e c o r a d o ; a trave mestra é dórica. N o
t ú m u l o de T i a g o , há colunas de capitéis dóricos encimadas por u m friso dórico com tríglifos . N o túmulo de
Zacarias p o d e m o s ver capitéis jónicos. Esses q u a t r o mon u m e n t o s são, p a r a nós, o único t e s t e m u n h o da contribuição de Jerusalém à escultura m o n u m e n t a l , antes da
destruição pelos r o m a n o s .
107
10S
m
Entre as profissões artísticas ligadas à construção é
preciso assinalar a i n d a os fabricantes
de mosaicos. E m diversos pontos de Jerusalém, p o r exemplo, no sudeste do
Cenáculo, encontraram-se calçamentos dessas p e q u e n a s pedras variegadas; p o d e r i a m datar, em p a r t e , do período
anterior a 70 d.C.
107. Supra, p . 2 9 .
108. Cf. B.j. V 2, 2, § 5 5 ; 3, 3, § 119.
109. D e v e m o s d e t e r m i n a r a d a t a destes m o n u m e n t o s s e g u n d o os
d a d o s da história da a r t e . O t ú m u l o d e A b s a l ã o e a p i r â m i d e d e Zacarias são m e n c i o n a d o s , pela p r i m e i r a vez, e m 333 d . C . (Itin.
Burdigalense
595, e d . P . Geyer, Iíinera
hierosolymitana
saeculi
III-VIII,
CSEL 3 9 , 1898, 2 3 , linhas 10-13). E n t r e t a n t o , n ã o h á d ú v i d a s de q u e
esses m o n u m e n t o s são a n t e r i o r e s a r u í n a de J e r u s a l é m d e 70 d . C .
Manutenção
das
construções
A o lado de operários e artistas e r a m ainda necessárias pessoas p a r a a m a n u t e n ç ã o das construções.
Com o tesouro do T e m p l o p a g a v a m a conservação
do " c a n a l das á g u a s " , dos m u r o s , das torres e de t u d o
q u a n t o a cidade n e c e s s i t a v a . A b r a n g i a t a m b é m o t r a t o
dos poços e das cisternas, limpeza e vigilância das r u a s .
U m a passagem de b . Besa 2 9 bar. corresponde a essas
informações: u m b e m que n ã o se deve adjudicar n e m ao
T e m p l o n e m a proprietários é dispensado pelos tesoureiros
do T e m p l o p a r a as necessidades públicas, a saber: p o ç o s ,
cisternas, subterrâneos ou seja, o fornecimento de água n a
cidade . b . B. M. 2 6 m e n c i o n a talvez os varredores de ruas;
segundo R. Shemaya bas Zeéra, as ruas de Jerusalém
e r a m varridas diariamente. Essa informação sobre a limpeza u r b a n a concorda com o fato de ser o vale do H i n o m
o local o n d e e r a m lançados o lixo e descargas. Josefo
menciona
u m lugar c h a m a d o Besou (variante
Beehsô);
conforme a etimologia proposta por N e u b a u e r , esse n o m e
significa "lugar do l i x o " . A i n d a segundo Josefo, situava-se entre a T o r r e H i p p i c u s e a Porta dos Essênios, n o
sul. Perto do vale do H i n o m encontrava-se, igualmente, a
p o r t a de Jerusalém, c h a m a d a Porta E s t e r q u i l i n a . U m
fato concorda com esses dados. D e s d e os tempos antigos,
o vale do H i n o m era depreciado; ligavam-no a o culto d e
Moloc ; passava p o r ser o lugar da G e e n a (inferno) q u e
110
111
a
m
a
1 U
114
U 5
116
117
110. S e g u n d o J. J. R a b e , Mischnah,
t. 2, O n o l z b a c h , 1 7 6 1 , 147 sob r e Sheq, I V 2, tratar-se-ia d o c a n a l q u e levava d o a d r o e x t e r i o r ao
v a l e d o C é d r o n (ver infra, p . 6 5 ) . M a s pode-se pf-asar t a m b é m n o
a q u e d u t o i n d i c a d o supra, p . 24. A p o d e r a n d o - s e do t e s o u r o d o T e m p l o
p a r a c o n s t r u i r o a q u e d u t o , Pilatos teria, p o í s , p o r u m a a t i t u d e a u t o ritária, castigado a negligência d a a d m i n i s t r a ç ã o c o m u n a l d e J e r u s a l é m ,
o S i n é d r i o , q u e n ã o c u m p r i a s u a s obrigações d e m a n e i r a satisfatória.
T e r i a , pois, u t i l i z a d o os f u n d o s d o T e m p l o c o m o d e v e r i a .
111. Sheq. I V 2 .
112. Cf. b . B. Q. 9 4 .
113. Cf. b . Pes. 7 .
114. B.j. V 4, 2, § 145.
115. N e u b a u e r , Géogr.,
139ss.
116. 'Ed. I 3 ; cf. supra, p . 13, c o l o c a ç ã o das tecelagens, profissão desprezível.
117. 2Rs 23,10; Jr 2,23 e
passim.
b
a
lhe tomou o n o m e . A i n d a hoje, levam p a r a lá e n t u l h o s ,
carniças e resíduos de toda espécie.
É preciso m e n c i o n a r aqui a existência dos esgotos,
cujas instalações estão à altura das de nossa época. Bliss
os mencionou em diversas ocasiões. T i n h a m , interiormente, 1,78 a 2,36 m d e a l t u r a , 0 , 7 6 a 0,91 m d e largura. E r a m ,
ao que parece, providos de orifícios p a r a receber a água
das r u a s , e mesmo de bueiros p a r a a l i m p e z a .
Segundo K r a u s s , a existência de guarda de
túmulos
é p r o v á v e l ; p a r a assim afirmar apóia-se na m e n ç ã o de
um q u a r t o de dormir no t ú m u l o de A b s a l ã o .
118
119
12D
e. As
outras
profissões
Hoje, a profissão m é d i c a n ã o é c o n s i d e r a d a artesanal, mas antigamente, conforme vamos p r o v a r , o médico
era tido c o m o u m artífice, no sentido p r ó p r i o da p a l a v r a
n a época. Artesanato se diz 'ümmanüt
= artesanato, profissão, destreza; u m 'ãmman ('ümmana)
é u m artífice, u m
artista, u m sangrador, u m cirurgião, u m b a n h i s t a , aquele
q u e circuncida. E m outras palavras: o substantivo que significa artífice designa t a m b é m o m é d i c o . Por conseguinte,
devemos falar da profissão dos médicos entre as demais
profissões.
D e acordo com o T a l m u d e , havia médicos em cada
cidade e e m cada p o v o a ç ã o . B. Q. V I I I 1 prescreve q u e ,
p a r a golpes e ferimentos, o responsável deve pagar os
honorários do m é d i c o . N o século I de nossa era, podemos
verificar a existência d e médico em P e g a
e Lida
.
A p ó s u m a q u e d a de cavalo, Josefo
fez-se tratar por médicos em K e p h a r n o k o s (sem dúvida = K e p h a r n o m o s =
K e p h a r n a u i n = C a f a r n a u m ) . N u m lugar à beira do lago
1 2 1
m
123
l24
118. P. T h o m p s e n , Denkmäler
Palästinas
aus der Zeit Jesu,
1916, 2 5 .
119. K r a u s s , Talm. Arch., I I , 80ss.
120. 'Er. V 1; b . 'Er. 5 1 ; T o s . 'Er. V I 5 (144, 2 5 ) .
121. T o s . Yeb. V I 7 (248, 6 ) .
122. T o s . Ohal. I V 2 (600, 2 9 ) .
123. Vita 72, § 403s.
124. B. i. I I I 10, 8, § 519.
a
Leipzig,
de G e n e s a r é , C a f a r n a u m , seguramente, u m a m u l h e r veio
p r o c u r a r Jesus; " m u i t o sofrera nas mãos de muitos médicos, tendo gasto tudo o que possuía, sem n e n h u m resultad o " . U m médico, T o b i a s , é expressamente citado em Jerusalém ; Herodes tinha médicos particulares . A M i s h n a
c o n t é m informação interessante a respeito dos médicos de
Jerusalém: t i n h a m processos especiais que lhes p e r m i t i a m
tratar dos doentes nos dias de festa sem se t o r n a r e m levit i c a m e n t e i m p u r o s : " E r a assim que faziam, em Jerusalém,
as pessoas vitimadas pela úlcera. Na noite de Páscoa iam
p r o c u r a r u m médico. Esse retalhava o local da ferida até
a deixar do t a m a n h o de u m grão de cevada; depois fixava
[a úlcera] n u m a espinha. O doente p u x a v a (para que a
úlcera se desprendesse). Ele e o m é d i c o p o d i a m , e n t ã o ,
celebrar a P á s c o a " .
organizadas. Era o mesmo caso h á mil e novecentos anos.
Para completar o q u a d r o , devemos, pois, e x p o r a organização de cada profissão.
125
U b
121
12S
H a v i a barbeiros em Jerusalém; é o q u e nos leva a
concluir Ez 5,1 . Trifão, barbeiro da corte é m e n c i o n a d o
em B. j . I 2 7 , 5s, § 5 4 7 - 5 5 1 ; Ant. X V I 1 1 , 6 § 387s.
A lavagem da r o u p a era n o r m a l m e n t e o c u p a ç ã o das
m u l h e r e s ; entretanto, havia t a m b é m lavandeiros
profissionais .
Finalmente, em relação ao T e m p l o encontra-se menção expressa de trocadores
. D e v i a m t a m b é m representar algum papel no tráfico do dinheiro profano; podemos
facilmente vê-los graças ao que será dito, mais adiante ,
acerca dos diferentes dinheiros.
Concluímos, pois, que as principais atividades de Jer u s a l é m eram o artesanato de arte, a construção de estilo,
a construção c o m u m , a tecelagem e a fabricação do óleo.
T e m o s , assim, u m p a n o r a m a das profissões daquela
cidade (excetuando-se as relacionadas com o T e m p l o ) n a
época anterior a 70 d.C. Mas o q u a d r o não está c o m p l e t o .
A i n d a hoje, no O r i e n t e , as profissões são rigorosamente
m
m
131
132
125.
126.
127.
128.
129.
130.
131.
132.
M c 5, 26; cf. Lc 8, 4 3 .
R. H. 1 7; b . R. H. 2 2 .
B.j. I 33, 5, § 657.
Ker. I I I 8.
Cf. infra, p . 4 1 .
T o s . Migw. I V 10 (656, 3 6 ) .
Billerbeck, I, 761ss.
Cf. infra, p . 4 9 .
f. A
organização
A disposição
da
interna
de cada
profissão
cidade
A cidade dividia-se em d u a s partes que o vale do Tiropeon
separava: a oeste, a cidade alta (süq
ha-'elyon)
a leste a cidade baixa (süq ha-tahtôn
— Acra) . O n o m e
grego " m e r c a d o do alto e do b a i x o " , c o m o o n o m e indígena, são característicos. E m á r a b e , süq designa, ainda
hoje, bazar. Na cidade alta e na cidade baixa achavam-se
os dois bazares principais. O fato é confirmado pelo cham a d o Mapa de M a d a b a , mosaico do século V I de nossa
era, ainda visível n u m a igreja grega de M a d a b a . Particularmente neste d o m í n i o , o Oriente é conservador; entre 70
d.C. e o século V I , por conseguinte, a situação pouco mud o u . Neste m a p a , duas ruas de colunatas atravessam a cid a d e : a g r a n d e rua do m e r c a d o e a p e q u e n a . O traçado da
primeira c o r r e s p o n d e ao süq Bâb el-'Amüd atual (bazar
da p o r t a de Damasco) e o seu p r o l o n g a m e n t o ao hâret
en-Hebí D â ü d ; atravessava os arrabaldes e a cidade alta.
A segunda r u a de colunatas corresponde à r u a el-Wâd
atual; seguia mais ou menos o fundo do vale do Tiropeon.
D e acordo c o m Josefo , o segundo cinto de m u r a l h a s
setentrional continha a p a r t e norte do b a i r r o de Acra
( = cidade baixa) ; confirma, assim, a extensão para o
norte do bairro de Acra, além da colina sudeste (Ofel).
Devido à extensão do T e m p l o , o vale do T i r o p e o n era a
única ligação entre o bairro norte e o b a i r r o sul, e de
133
134
155
136
137
a
XIV
133.
14
134.
135.
136.
137.
B.j. V 4, 1, § 136ss; T o s . Hul. I l l 23 (505, 2 8 ) ; T o s . Sanh.
(437, 2 8 ) ; Lam. R. 1, 49 s o b r e 1, 16 ( 3 5 24) e
passim.
B.j. V 4, 1, § 137.
Ibid.
B. j . V 4, 2, § 146.
B. j . V 4, 1, § 137.
a
A c r a . O bairro atravessado pela p e q u e n a r u a de colunatas
faz parte a i n d a da cidade baixa.
I n ú m e r a s ruas transversais com início no leste e no
oeste e atravessando o vale do T i r o p e o n ligavam as duas
principais ruas c o m e r c i a i s . A mais i m p o r t a n t e era a
transversal que ia do palácio de H e r o d e s até o T e m p l o , e
chegava a esse pela p o n t e de Xisto. O tariq Bâb es-Silsileh,
u m dos principais bazares atuais, a ele corresponde.
m
A distribuição
das profissões
na
cidade
N a s ruas encontravam-se as lojas (hanüyôt)
dos artesãos. As procissões festivas com molhos de primícias passavam seguramente pela p e q u e n a r u a de colunatas, o n d e
se encontrava o m e r c a d o da cidade baixa, até a p o n t e de
Xisto e de lá se e n c a m i n h a v a m p a r a o T e m p l o . N o b a z a r
d a cidade baixa, nós o sabemos , os artesãos trabalhav a m sentados em oficinas que d a v a m para a r u a . N a
e s p l a n a d a do T e m p l o havia lojas
t a m b é m . N ã o muito
distante encontravam-se as lojas do m o n t e das Oliveiras
e as de Beth H i n o , assim como as do Benê H a n u n ou
H a n a n . Conforme vimos , a fabricação e a v e n d a dos
p r o d u t o s se faziam nessas lojas.
m
J 4 0
141
142
l43
l44
,45
Deduzimos que cada profissão tinha suas lojas n u m
m e s m o q u a r t e i r ã o da cidade , e explorava o seu b a z a r
(süq).^
Às portas da cidade encontrava-se, ao que parece, o
beco dos alfaiates. O M í d r a x e
assim supõe no caso de
Jerusalém e T i r o ; concorda com o fato de o " c o m é r c i o
m
147
138. Ibiã., § 140.
139. V e r supra, p . 10.
140. Bik. 111 3 ; b . Qid. 3 3 .
141. b . R. H. 3 1 ; b . Shab. 1 5 ; b . 'A. Z. 8 ; Lam. R. 4, 7 s o b r e
4, 4 ( 5 7 9 ) ; ver infra, p . 7 1 .
142. Lam. R. 2, 5 s o b r e 2, 2 ( 4 4 1 ) .
143. b . B. M. 8 8 ; b . Hul. 5 3 .
144. j . Pea I 6, 16^ 47 " ( H / l , 2 8 ) ; Sifre D t 14,22, § 105 ( 4 2 165,
3 3 ) ; cf. infra, p . . . .
145. Supra, p . 10.
146. Supra, p . 12.
147. Lam. R. 1, 2 s o b r e 1, 1 ( 1 8 3 1 ) .
a
a
a
m
149
l3
111
l í 2
153
A isso se acrescentam dados veterotestamentários. Sf í,
10-11 implora a maldição sobre a parte setentrional da íerusalém de então: Porta dos Peixes, cidade nova, colinas, maklésh
(sentido incerto, primitivamente, "mortífero"); indica assim
que o inimigo vem do norte. No versículo 11 é dito: "Clamem, habitantes do norte, pois, todo o povo de Canaã está
aniquilado". Essas últimas palavras designam, sem dúvida, os
comerciantes fenícios identificados em Jerusalém por Ne 13,16.
Como podemos observar num rápido olhar sobre o mapa, é,
antes de tudo, o nordeste que está em jogo. A Porta dos Peixes, situada na junção do segundo muro setentrional e do
vale do Tiropeon , deve seu nome aos comerciantes de peixes
de Tiro; é uma confirmação a mais da presença de pagãos no
norte da cidade. O costume segundo o qual os artesãos e comerciantes pagãos habitavam no nordeste da cidade teria sido
mantido até o tempo de Jesus.
l54
A desprezada profissão dos tecelões t i n h a sua sede
na p a r t e meridional da cidade b a i x a , n a Porta Esíerquilina .
155
A organização
de cada
profissão
Q u a n t o a este p o n t o os dados que temos são poucos.
P o d e m o s , e n t r e t a n t o , supor u m a organização pelo fato de
ser, cada profissão, localmente a g r u p a d a . O s operários de
b
b
a
a
das r o u p a s " , segundo J o s e f o , localizar-se no a r r a b a l d e
setentrional, "a cidade n o v a " . Aí se a c h a v a m igualmente
o b a z a r dos comerciantes de lã suq sei sammarim
e o
b a z a r dos ferreiros °.
Seguramente, na cidade alta é que se instalavam os
profissionais de arte . Além do mais, ali m o r a v a m os
pisoeiros p a g ã o s ; por isso, o escarro d e u m h a b i t a n t e
da cidade alta era tido c o m o i m p u r o .
a
a
a
148.
149.
150.
151.
152.
153.
154.
155.
B.j. V 8, 1, § 3 3 1 .
B.j. ibid.; 'Er. X 9; b . 'Er. 1 0 1 .
B.j. V 8, 1, § 3 3 1 .
Supra,
p . 18.
j . Sheq. V I I I 1, 5 1 20 ( I I I / 2 , 3 1 9 ) .
Sheq. V I I I 1.
N e 3 , 3 ; 12,39; So í, 10; 2Cor 33,14.
V e r supra, p p . 13 e 2 8 .
2 - Jerusalém
a
a
no t e m p o
de
Jesus
profissão idêntica instalavam-se no m e s m o b a i r r o ; era cost u m e , mas tais a g r u p a m e n t o s profissionais p o d i a m t a m b é m
ser o resultado de certa necessidade de organização corporativa.
E m b . Sukkci 2 8 e b.B. B. 1 3 4 , faz-se m e n ç ã o de
" f á b u l a s dos pisoeiros e das r a p o s a s " . Delitzsch conclui
q u e a organização de profissões "constituía u m meio de
v i d a ; cada u m t i n h a suas idéias, traçadas de m o d o particular, e somente aqueles a q u e m elas eram familiares pod i a m compreendê-las" . Essa opinião é fácil de conceb e r em função do contexto. Como vimos a c i m a , os
médicos de Jerusalém t i n h a m seus métodos pessoais de assistência aos doentes. Aqueles que p r e p a r a v a m p a r a o
T e m p l o os pães da proposição e os perfumes a q u e i m a r
p o s s u í a m certos segredos de fabricação conservados de maneira muito estrita.
a
a
i56
, 5 7
158
Se os tarsiyyím
figuravam e m Jerusalém c o m o tecelões de arte o u e n t ã o como fundidores de cobre ou ainda
c o m o fabricantes de vestes de T a r s o (o q u e nos parece inviável na passagem q u e se refere a eles, entretanto não
podemos d u v i d a r de que a p a l a v r a existisse com esses significados), u m a sinagoga endossa esta profissão em Jerusalém.
L w
A organização das profissões exprimia-se, antes de
t u d o , pelo seu a g r u p a m e n t o local; tudo faz crer que daí
resultava u m a organização corporativa.
2 . Organização de profissões dedicadas
à construção d o t e m p l o e para o culto
a. A construção
do
Templo
" Q u a r e n t a e seis anos foram precisos p a r a se const r u i r este T e m p l o , e tu pretendes levantá-lo em três d i a s ! " ,
156.
157.
158.
159.
Delitzsch,
Supra, p .
Yoma 111
Supra, p .
Jüd. Handwerkerleben,
29.
2.
13. n . 14.
37.
dizem os judeus a Jesus (cf. Jo 2,20) p o r volta do ano
27. Nesta data, o trabalho n ã o estava a i n d a concluído.
Herodes começara novas construções em 20-19 antes de
nossa era °. Somente em 62-64 d . C , n o tempo do governador A l b i n o , é que o T e m p l o ficou definitivamente
t e r m i n a d o . Eis as alterações: elevação do edifício do Santuário de 60 p a r a 100 côvados; restauração do a d r o sagrado interior; construção de u m a g r a n d e p o r t a entre o
átrio das mulheres e o dos israelitas; a m p l i a ç ã o do adro
exterior p a r a o norte e p a r a o sul, graças a gigantescos
e m b a s a m e n t o s ; decoração c o m pórticos em torno de toda
a esplanada do T e m p l o . Pouco tempo após o término
das novas construções e ainda antes do início da revolta
de 66, foi e m p r e e n d i d a u m a n o v a série de trabalhos, talvez por solicitude social em relação aos operários do
T e m p l o , desempregados . O edifício do santuário deveria ser provido de novos e m b a s a m e n t o s e alteado em 20
côvados. A madeira p a r a a construção já tinha sido trazida do L í b a n o e p r e p a r a d a , q u a n d o , e m 6 6 , a revolta
explodiu contra os r o m a n o s .
16
161
m
m
1M
Segundo o cálculo que nos chega, mais de 1 8 . 0 0 0
t r a b a l h a d o r e s viram-se sem recursos no fim das obras (62¬
-64) . N o começo da construção foram c o n t r a t a d o s 10.000
operários leigos e 1.000 sacerdotes t r a n s f o r m a d o s em artesãos. Mesmo que se dê a Josefo o desconto de seu perm a n e n t e exagero b e m oriental, certo é q u e u m exército de
operários pôs-se à o b r a .
l65
Especialmente canteiros, carpinteiros e artífices em
o u r o , p r a t a e bronze ali t r a b a l h a v a m . P a r a a construção
dos edifícios sagrados, interditados aos leigos, foi preciso
160. S e g u n d o Ant. X V 1, 1, § 380, o 18? a n o d e seu r e i n o ; seg u n d o B, j . I 2 1 , 1, § 4 0 1 , o 15" a n o . H e r o d e s , o G r a n d e , foi n o m e a d o rei d a fudéia e m 40 a . C ; m a s só e m 37, com a t o m a d a de Jerusalém é q u e , e f e t i v a m e n t e , c o m e ç o u a exercer seu p o d e r . D e a c o r d o
c o m esses d a d o s , havia u m a d u p l a m a n e i r a d e c a l c u l a r os anos de
seu r e i n a d o (B. j . I 3 3 , 8, § 665; Ant. X V I I 8, 1, § 190s).
161. Ant. X X 9, 7, § 219.
162. Schlatter, Gesch. Isr., 240.
163. Supra, p . 23,
164. B.j. V 1, 5, § 36.
165. Supra, p , 2 3 .
formar sacerdotes ; ensinavam a uns a talha ou l a p i d a ç ã o
das pedras, a outros, o ofício de carpinteiro.
Os canteiros deviam, de início, retirar seu material
das pedreiras; dava-se mais valor aos blocos de maiores
t a m a n h o s . N ã o podemos crer, p o r é m , em Josefo "' , q u a n d o
nos fala de p e d r a s com 4 5 côvados ( 2 3 . 6 2 5 m ) de comp r i m e n t o , 5 côvados (2,625 m) de altura e 6 côvados
(3,15 m ) de largura. O m a t e r i a l era em parte precioso.
Segundo b . Sukka 5 1 , o T e m p l o foi construído e m mármore amarelo, preto e branco. A esplanada igualmente
calçada com diferentes pedras . Muitos escultores
contrib u í r a m t a m b é m c o m seu t r a b a l h o . T i v e r a m de esculpir os
capitéis das cento e sessenta e duas colunas coríntias d a
galeria m e r i d i o n a l , d i t a " r e a l " , talhar as b a l a u s t r a d a s
de p e d r a : u m a s , com três côvados de altura, s e p a r a v a m o
a d r o interno do a d r o externo, somente acessível aos p a gãos; as outras, com u m côvado de altura, s e p a r a v a m , no
adro interno os sacerdotes e o p o v o . Foi preciso t a m b é m
gravar as placas de advertência: e r a m colocadas de distância em distância sobre a b a l a u s t r a d a externa; redigidas
em grego e latim, advertiam todos os não-judeus de q u e
não p o d i a m , sob p e n a de m o r t e , transpor aquela balaustrada °.
m
7
b
m
m
J7
Os carpinteiros
deviam p r e p a r a r o m a d e i r a m e n t o .
U m a parte era de cedro
e os troncos v i n h a m do L í b a n o .
O s pórticos que rodeavam a e s p l a n a d a do T e m p l o e r a m
recobertos de lambris da m e s m a madeira. T a m b é m o cedro foi utilizado p a r a o e m b a s a m e n t o do santuário,
Nos relatos de Josefo, mais a i n d a do que nos d a
Mishna, o T e m p l o inteiro resplandecia de o u r o . O Talm u d e adverte q u a n t o a esses dados: " A l é m do mais, ele
[Herodes] queria recobri-lo [o T e m p l o ] de o u r o . O s sá171
166. Ant. X V 11, 2, § 390.
167. B.j. V 5, 6, § 224.
168. B.j. V. 5, 2, § 192.
169. Ant. X V l í , 5, § 414.
170. U m a dessas esteias d e p e d r a c o m i n s c r i ç ã o foi e n c o n t r a d a
e m 1871; ver. C h . C l e r m o n t - G a n n e a u , " U n e stèle du T e m p l e d e Jerus a l é m " , n a Revue
archéologique,
n. s. 23 ( 1 8 7 2 ) , 214-234 e 290-296;
o u t r a foi p u b l i c a d a e m 1936, ver Cl} I I , n. 1400.
171. Mid. I I I 5. 8; IV 5.
bios disseram-lhe: Deixe-o como está; é mais belo assim;
assemelha-se às ondas do m a r " . Q u a n d o Josefo fala do aspecto do T e m p l o , acha b o m observar: " M e s m o o n d e não
estava recoberto de o u r o " , diz ele explicitamente, "brilhava de m o d o a cegar" . E m b o r a aceitando as informações
de Josefo c o m a reserva crítica necessária, u m fato não
deixa d ú v i d a s : o T e m p l o foi construído c o m a maior ostentação possível e abriu u m vasto c a m p o de atividade ao
artesanato de arte, tanto no trabalho do o u r o c o m o no
da p r a t a e do b r o n z e .
m
m
P a r a ter acesso ao T e m p l o , não i m p o r t a por que lado
se viesse, era necessário passar sob pórticos recobertos de
o u r o e p r a t a . U m único fazia exceção, conforme nos relata a M i s h n a , segundo Josefo: " T o d a s as portas e r a m
recobertas de ouro, menos a Porta de N i c a n o r por ter-se
aí realizado u m m i l a g r e " ; segundo o u t r o s , p o r q u e seu
b r o n z e brilhava (como o ouro) .
l74
Penetremos mais a i n d a . N o átrio das mulheres vemos
l a m p a d á r i o s de ouro, encimados por q u a t r o taças do mesmo m a t e r i a l . E m u m a das t e s o u r a r i a s , p o d e m o s ver
as taças e os utensílios sacros de ouro e de prata . Algumas dessas taças (b zikin)
n ã o t i n h a m p é ; sinal de q u e
g u a r d a v a m u m a antiga tradição. Q u a n t o aos objetos que
serviam no D i a das Expiações, o s t e n t a v a m alças de ouro;
o rei N o n o b a z e de A d i a b e n a encomendou-os .
175
176
17T
e
17S
179
172. b . Sukka
51 .
173. B. j . V 5, 6, § 2 2 3 .
174. Mid. II 3 ; cf. B.j. V 5, 3 , § 2 0 1 . R e a l m e n t e , a P o r t a de Nic a n o r , e n t r e o átrio das m u l h e r e s e o dos israelitas, era de b r o n z e d e
C o r i n t o (b. Yoma
3 8 ; T o s . Yoma
II 4 [ 1 8 3 , 2 0 ] ) . At 3, 2 dá-nos
o n o m e dessa p o r t a : " P o r t a F o r m o s a " ; c o n f i r m a o fato de representar algo especial. A essas indicações c o r r e s p o n d e a descrição de Josefo (B. j . V 5, 3s, § 2 0 1 s s ) ; n o v e p o r t a s , alizares e denteis i n c l u í d o s ,
i n t e i r a m e n t e r e c o b e r t a s dc o u r o e p r a t a ; u m a só era de b r o n z e de
C o r i n t o e s o b r e p u j a v a as o u t r a s e m valor (B, j . V 5, 3, § 2 0 1 ) . Por
o c a s i ã o d o i n c ê n d i o das p o r t a s d u r a n t e a t o m a d a d o T e m p l o , seu rev e s t i m e n t o fundiu e as p a r t e s de m a d e i r a f o r a m t a m b é m atingidas pelas
c h a m a s (B. j . V I 4, 2, § 2 3 2 ) .
b
a
175.
176.
177.
178.
179.
Sukka
V
M c 12,41;
Yoma I V
Pes. V 5;
Yoma
III
2.
Lc 2 1 , 1 .
4 e passim.
b . Pes. 6 4 .
10,
a
O p r ó p r i o edifício do T e m p l o e seu interior exibiam
o maior luxo. Segundo Josefo, a fachada, de 100 côvados
q u a d r a d o s ( ~ 27,5 m ) era recoberta de placas de o u r o ;
igualmente a p a r e d e e a porta entre o vestíbulo e o santo . T o s . Men. X I I I 19 (535,27) mostra não haver exagero nessa descrição: o vestíbulo era inteiramente recob e r t o de placas áureas " d e 100 côvados q u a d r a d o s , grossas como u m dinar de o u r o " . Sobre o telhado, setas do
m e s m o metal p a r a afugentar os passarinhos, " p r o t e ç ã o
c o n t r a os c o r v o s " . No vestíbulo, correntes de ouro c a í a m
das traves do teto . Viam-se aí duas mesas, u m a de márm o r e e outra de ouro , o u r o maciço, conforme B. j . V I
8, 3 , § 3 8 8 . E n c i m a n d o a e n t r a d a q u e levava do vestíb u l o ao Santo, estendia-se u m a vinha de ouro ; era incessantemente enriquecida graças aos dons de novos orn a t o s que os sacerdotes se e n c a r r e g a v a m de p e n d u r a r .
A c i m a dessa e n t r a d a havia u m espelho que refletia os raios
do sol nascente através da p o r t a principal (que não tinha
batentes) ; doação da rainha H e l e n a de A d i a b e n a . N o
vestíbulo achavam-se, sem d ú v i d a , outras ofertas. E m tempos idos, Augusto e sua m u l h e r ofereceram crateras de
bronze
e outros dons ; seu genro Marcos Agripa tamb é m presenteara largamente .
2
1S0
181
m
posição, p e s a n d o , igualmente, muitos talentos . Alcançamos, finalmente, o Santo dos santos q u e está vazio; suas
p a r e d e s são recobertas de o u r o . O o u r o era, dizem, tão
a b u n d a n t e em Jerusalém e especialmente n o T e m p l o q u e ,
após a t o m a d a da cidade, u m a imensa oferta desse metal
invadiu toda a província da Síria (!); aconteceu q u e , no
dizer de Josefo , " a libra de o u r o passou a ser v e n d i d a
pela m e t a d e do seu antigo p r e ç o " !
U m artesão de arte que inventou u m m e c a n i s m o p a r a
as vascas do T e m p l o , é explicitamente citado em Tamid
I 4 ; I I I 8; Yoma I I I 10 e b . Yoma 3 7 .
m
m
m
a
!83
m
b. O
culto
m
m
IS7
m
189
190
O Santo, situado atrás do vestíbulo, c o n t i n h a peças
raras de arte que se t o r n a r a m mais t a r d e a p a r t e mais
brilhante do cortejo triunfal de Tito , e a seguir depositadas n u m templo de R o m a , ao lado dos mais belos objetos do m u n d o . E r a m o maciço candelabro de sete braços,
p e s a n d o dois talentos, e a mesa maciça dos pães da prom
180.
181.
182.
183.
184.
185.
186.
187.
188.
189.
190.
191.
B. j . V 5, 4, § 207ss.
Mid. I V 6; B.j. V 5, 6, § 224.
Mid. I I I 8.
Men. X I 7.
B.j. V 5, 4, § 210.
Mid. I I I 8.
b . Yoma 3 7 .
Yoma I I I 10.
B.j. V 13, 6, § 562.
Fílon, Leg. ad Caium, § 156 e 312ss,
Ibiã., § 296.
B.j. V I I 5, 5, § 148s,
b
D u r a n t e os oitenta e dois a oitenta e q u a t r o anos da
restauração do T e m p l o , o culto n u n c a foi i n t e r r o m p i d o ,
por u m a hora sequer.
Entre os artesãos q u e g a r a n t i a m as necessidades do
culto, m e n c i o n e m o s , em primeiro lugar, aqueles que prep a r a v a m os pães da proposição
e os perfumes
a serem
queimados.
A p r e p a r a ç ã o dos pães da proposição era
confiada à família de G a r m o ; além dos pães, a família estava i n c u m b i d a de fazer os doces de forno p a r a a
oferenda cotidiana do sumo sacerdote . A fabricação dos
perfumes p a r a q u e i m a r era hereditária n a família de Entinos . Chega a nosso c o n h e c i m e n t o u m a greve dessas duas
famílias; o relato é composto de fragmentos . T e r m i n a
com a r e t o m a d a do t r a b a l h o depois q u e o salário foi dob r a d o . P o d e m o s , p o r t a n t o , deduzir q u e se tratava de u m a
greve p a r a reajuste salarial.
m
1 %
m
198
m
192.
b . Men.
193.
194.
195.
196.
197.
Men. I X
198.
199.
C. Ap. I 22. § 198; B.j. V I 8, 3 , § 3 8 8 ; V I I 5, 5, § 148;
9 8 ; v e r o a r c o d o t r i u n f o d e T i t o n a sacra via de R o m a .
Mid. I V 1; Sheq. I I I 6 (178, 7 ) , cf. M i s h n a Sheq. I V 4 .
B.j. V I 6, 1, 3 Í 7 .
V e r supra, p . 34.
Yoma I I I , 1 1 ; Sheq. V , 1; Tamid I I I 3 .
Men. X I 3 ; Tamid
I 3 ; cf. T o s . Yoma
I I 5 (183, 2 5 ) ; T o s .
2 (525, 3 1 ) ; b . Zeb. 9 6 ; Mid. I 6.
Sheq. V I; Yoma
I 5; I I I 1 1 ; Sheq. I V 5.
b . Yoma
38 .
b
a
a
A i n d a se tornava necessário u m c u i d a d o c o n s t a n t e
c o m as cortinas do Templo. " E l e a z a r era o e n c a r r e g a d o
d e [ m a n d a r confeccionar novasl cortinas [ q u a n d o prec i s o ] d i z e m em Sheq. V 1, n u m a lista de altos funcionários do T e m p l o . Todos os anos determinados tecelões
de arte e fabricantes de malhas deviam confeccionar d u a s
das cortinas do santuário, com 20 côvados de largura p o r
40 de c o m p r i m e n t o . Segundo b . Yoma 5 4 e b . Ket. 1 0 6 ,
essas cortinas encontravam-se p e n d u r a d a s em treze lugares
diferentes. Cada uma delas era tecida com 72 tranças de
24 fios e em 6 cores . Segundo a M i s h n a , 82 jovens
confeccionam cada ano duas c o r t i n a s .
a
a
2110
Além do m a i s , alimentavam-se c o n s t a n t e m e n t e de carne e
só b e b i a m água, pois o v i n h o lhes era i n t e r d i t a d o ; todas
essas circunstâncias causavam-lhes sérias perturbações na
saúde .
Era ainda indispensável a presença de barbeiros no
T e m p l o . A cerimônia dos votos de nazír, da consagração
dos levitas e da purificação após a cura da lepra supõem
o q u a n t o e r a m necessários.
203
201
2Ü2
Alguns ourives tiveram trabalho d u r a n t e a c o n s t r u ç ã o
do T e m p l o e depois, foram c o n t i n u a m e n t e solicitados. Segund o Sheq. IV 4, c o m p r a v a m placas de OLiro c o m o excedente
d a taxa cada a n o paga pelos judeus do m u n d o inteiro sob
a forma de i m p o s t o da d i d r a c m a ; segundo T o s . Sheq.
I S (174, 13), o mesmo emprego era reservado ao suplem e n t o que se devia pagar no m o m e n t o em que se t r o c a v a
d i n h e i r o p a r a outros fins alheios às p r e s c r i ç õ e s . Essas
placas de o u r o serviam p a r a o revestimento do Santo dos
santos.
m
2M
Um encarregado
das fontes
era responsável pelo
fornecimento da água no T e m p l o .
Precisamos mencionar t a m b é m o médico do
Templo . Devia intervir q u a n d o os sacerdotes se feriam dur a n t e o serviço . Dois fatos indicam q u ã o intenso deveria ser seu t r a b a l h o . Os sacerdotes t i n h a m de c a m i n h a r ,
pés descalços, sobre as lajes da esplanada do T e m p l o ,
mesmo no inverno. Adoeciam, p o r t a n t o , com freqüência.
205
2D6
m
200. Sheq. V t ; b . Yoma
7 1 ; T o s . Sheq. I I I 13 (178, 2 0 ) . —
V 5, 4, § 2 l 2 s : 4 cores.
2 0 1 . Sheq. VIU 5; ( v a r i a n t e s ) , cf. b . Ket. 1 0 6 ; j . Sheq. V I I I 4 ,
5 1 13 ( I I I / 2 , 3 2 0 ) .
202. P a r a a crítica, ver infra, p . 54, n . 4 8 .
203. Ex 30,13; M t 17,24-27; Ant. I I I 8, 2, § 194; X V I I I 9. 1. §
3 1 2 ; B.j. V 5, 1 § 187; V I I 6, 6, § 218; M í s h n a e Tosefta, t r a t a d o
Sheqaiim,
Fílon, De spec. leg. I, § 77s e
passim.
204. Sheq.
I 6s.
205. Sheq. V , 1.
206. Sheq. V 1; Sheq. V 2, 4 8 26 ( I I I / 2 , 2 9 3 ) .
207. 'Er. X 13s.
b
B.j.
c. A organização
dos operários
no
Templo
O T e m p l o constituía assim o centro de u m a colônia
de profissões, especialmente d u r a n t e a sua reconstrução,
mas t a m b é m d u r a n t e o serviço litúrgico c o n t í n u o ; com o
tempo, sólidas tradições se t i n h a m constituído. O trabalho
era feito por e m p r e i t a d a . Uma m e d i d a d e p r e c a u ç ã o devia
proteger o santuário contra os abusos; utilizavam-se duas
medidas diferentes de c u m p r i m e n t o , u m a na distribuição
dos trabalhos, a outra na sua entrega .
Os salários e r a m altos; a propósito da greve por
u m a u m e n t o , citam-se algarismos fantásticos. O s operários
sempre e r a m pagos no ato, mesmo q u a n d o tivessem trabalhado apenas u m a h o r a . O tesouro do T e m p l o era obrigado a suprir as necessidades dos operários vítimas do
desemprego. Foi certamente com esta finalidade q u e , após
os t r a b a l h o s de restauração do T e m p l o , empreendeu-se a
p a v i m e n t a ç ã o das ruas de J e r u s a l é m . A decisão, p o u c o
tempo depois, dessa nova iniciativa, deve ter sido pelo
m e s m o m o t i v o . Graças às condições favoráveis de salário, os operários do T e m p l o e r a m os q u e gozavam melhor posição dentre os t r a b a l h a d o r e s da cidade.
2 W
210
2 1 1
212
m
a
b
d
Pertencer a d e t e r m i n a d a s corporações dedicadas ao
culto do T e m p l o fortalece o privilégio d e algumas famí208.
209.
210.
211.
212.
213.
Sheq. V 1; j . Sheq. V 2, 4 8 26
Kel. X V I I I 9; cf. supra, p . . . .
Supra, p . 40.
Ant. X X 9, 7, § 220.
Supra, p. 2 3 .
Supra,
p . 24.
d
(II1/2. 293).
lias; as profissões se t r a n s m i t i a m de pai p a r a filho: e n t r e
essas, a p r e p a r a ç ã o dos pães da proposição e a dos perfumes p a r a q u e i m a r .
m
B. INFLUÊNCIA DAS CARACTERÍSTICAS
DE JERUSALÉM SOBRE AS PROFISSÕES
1) A situação
da
cidade
Jerusalém foi vista por nós
como integrada à província da Síria, na medida em q u e as principais profissões
dessa província t a m b é m figuravam entre as mais importantes daquela cidade.
E n t r e t a n t o , a Cidade Santa se distinguia de m a n e i r a
f u n d a m e n t a l de todas as outras grandes cidades d a província: situava-se n u m a região realmente desfavorável às
profissões. A pedra era a única matéria-prima e n c o n t r a d a
c o m a b u n d â n c i a nas cercanias. N a s m o n t a n h a s da Judéia,
os rebanhos forneciam lã e peles, e os oliveirais, m a d e i r a
e azeitonas. A p e n a s isso. A m a i o r i a das matérias-primas
faltava. A carência dos metais e minérios ricos era total
e de m á q u a l i d a d e a argila fornecida pela r e d o n d e z a . Falt a v a , sobretudo, água. Jerusalém d i s p u n h a de u m a ú n i c a
fonte de certa i m p o r t â n c i a , a de Siloé, no sul da c i d a d e .
N a época da seca, precisavam c o m p r á - l a
dos v e n d e d o res ambulantes e m e s m o em tempos normais o uso da á g u a
das cisternas tinha de ser parcimonioso ou fazê-la vir d e
longe pelos a q u e d u t o s . U m fato p r o v a a que p o n t o a sit u a ç ã o de Jerusalém mostrava-se pouco propícia ao desenvolvimento das profissões: ao longo de sua história n ã o
encontramos u m a única profissão cujos p r o d u t o s seriam
u m a especialidade local.
2 b
216
214. Supra,
215. Supra,
216. Supra,
39.
p p . 11-19.
p . 17.
2 ) Importância
política
e religiosa
da
cidade
A despeito dessa situação desfavorável, o Pseudo¬
- Aristeu, § 114, diz que a cidade era " r i c a em profissões";
com razão dá-lhe esse qualificativo. Precisamente por causa de suas condições desfavoráveis, Jerusalém, cidade no
tempo de Jesus com 2 5 . 0 0 0 habitantes a p r o x i m a d a m e n t e
(ver mais abaixo, na p . 120s), precisava estabelecer u m
comércio ativo visto ter de i m p o r t a r as matérias-primas.
Jerusalém m a n t i n h a , pois, menores transações com países
longínquos do que com as regiões v i z i n h a s .
D e que meios, de que recursos d i s p u n h a a cidade
p a r a financiar este comércio? P r o c u r a r e m o s reunir os
principais elementos.
a) E m primeiro lugar figuram as imensas receitas do
T e m p l o . CompÕem-se de dons q u e afluem do m u n d o inteiro, de taxas previstas pela Lei sob forma do imposto
da d i d r a c m a , do comércio das vítimas, do c u m p r i m e n t o
dos votos, da entrega da lenha e t c , além dos rendimentos
de seus imóveis. E m c o n t r a p a r t i d a , as despesas e r a m imensas, d e m o d o especial no tocante aos t r a b a l h o s da construção do T e m p l o .
211
b) O afluxo d e estrangeiros h a b i l i t a v a a cidade c o m
o u t r a fonte de renda e p a r t i c u l a r m e n t e i m p o r t a n t e por ocasião das peregrinações d u r a n t e as festas. T o d o israelita
piedoso tinha de gastar e m Jerusalém u m decido do rend i m e n t o de sua terra; é o que se c h a m a v a o segundo dízimo .
218
c) C a b e a i n d a m e n c i o n a r o r e n d i m e n t o dos impostos,
pelo menos d u r a n t e os períodos em q u e os senhores independentes residiam em Jerusalém (até 6 d . C , A r q u e l a u ;
41-44 d . C , Agripa I ) . Segundo Josefo, A r q u e l a u arrecad a v a , a n u a l m e n t e , da í d u m é i a , Judéia e Samaria seis milhões de dracmas {Ant. X V I I I I , 4 § 3 2 0 ) ; de seu reino,
m u i t o maior, Agripa recolhia doze milhões de dracmas
217. Supra,
218. Ma'ãsér
p . 40.
séní,
d.
infra,
p . 6 9 , n . 151.
( X I X 8, 2, § 3 5 2 ) . A p a r t e mais substancial dessas quantias
p o d e certamente ter sido e m p r e g a d a em Jerusalém
no sustento d a corte e p a r a as construções.
219
d) Precisamos lembrar ainda que Jerusalém atraía hom e n s que possuíam grandes capitais; importantes negociantes, coletores de impostos, judeus da diáspora que se torn a r a m ricos; mais de u m aí se fixavam por convicção religiosa.
Esses sólidos rendimentos b a s t a v a m p a r a assegurar as
importações. Por sua vez, a p r ó p r i a cidade fabricava, além
de artigos de uso diário, produtos de luxo como unguentos e mercadorias semelhantes. O "frasco de alabastro
c o n t e n d o u m n a r d o de alto p r e ç o " , m e n c i o n a d o por ocasião da u n ç ã o de Jesus em Betânia (Mc 14,3) continha,
sem dúvida, u m p r o d u t o da cidade.
Este r á p i d o esboço nos mostra que a i m p o r t â n c i a política e sobretudo a função religiosa é que d e r a m desenvolvimento às profissões de toda espécie.
E m todas as épocas — ver as narrativas do Antigo
T e s t a m e n t o relativas ao rei Salomão — , o prazer de construir e a v a i d a d e da ostentação desenvolveram a indústria
da construção e as profissões de arte n a capital. D u r a n t e
esse período de q u e nos o c u p a m o s , Jerusalém foi capital
a p e n a s por p o u c o t e m p o : de 4 1 a 44 d . C , sob Agripa I.
M a s os m e m b r o s da família h e r o d i a n a (por e x e m p l o , Herodes Antipas [Lc 2 3 , 7 ] e Agripa II) v i n h a m à cidade
p o r ocasião das festas, visto nela n ã o h a b i t a r e m p e r m a n e n t e m e n t e . Sentiam-se, p o r é m , pertencentes a Jerusalém;
a p r o v a está no fato de Agripa II fazer novas construções
no palácio dos asmoneus.
m
O pessoal da corte e os detentores do capital nacion a l estabelecidos e m Jerusalém criaram u m a série de ne219. P a r a avaliar o p o d e r de a q u i s i ç ã o destas q u a n t i a s , v e r a d i a n t e
os d a d o s s o b r e os salários dos o p e r á r i o s (p. 159) e o p r e ç o dos g ê n e r o s
( p p . 170-175).
220. B.j. I V 3, 4, § 140s indica, q u a n t o a J e r u s a l é m , dois h o m e n s
d a família r e a l ; já B. j . ibid., refere-se a uni h o m e m d a família real
a q u e m , visto o seu prestígio, h a v i a m confiado as finanças p ú b l i c a s ;
cf. Fílon, Leg. ad Caium, § 278.
cessidades p a r a sua vida de pessoas civilizadas; favoreciam assim as profissões que fabricavam artigos de luxo.
Mais do que a i m p o r t â n c i a política, prevalecia a imp o r t â n c i a religiosa: Jerusalém era a cidade do T e m p l o .
O fato de residir na cidade santa i m p u n h a , sem dúvida,
d e t e r m i n a d a s obrigações. Observavam-se aí, de m o d o mais
escrupuloso do que em q u a l q u e r outro lugar, as severas
prescrições relativas à observância do s á b a d o (ver o trat a d o Shabbaí da Mishna) que excluía q u a l q u e r t r a b a l h o .
E em Jerusalém as prescrições de pureza legal, q u e acarretavam tantos inconvenientes p a r a a vida d i á r i a , rep r e s e n t a r a m u m papel diferente do das cidades o n d e viviam muitos pagãos.
221
E n t r e t a n t o , as vantagens que o T e m p l o oferecia aos
t r a b a l h a d o r e s pesavam i n c o m p a r a v e l m e n t e mais. Com os
fundos do T e m p l o pagava-se a m a n u t e n ç ã o dos edifícios
da cidade , os cuidados c o m sua l i m p e z a " , a pavimentação das ruas
e talvez t a m b é m o serviço de água .
222
2
224
225
A importância do T e m p l o fazia-se p o r é m sentir além
dos limites da cidade. Desde a reforma do rei Josias (621
a.C.) que centralizou o culto em Jerusalém, segundo as
prescrições do D e u t e r o n ô m i o , o único s a n t u á r i o dos judeus
achava-se em Jerusalém. A importância do templo de
Onias e m Leontópolis (170 a.C. — 73 d.C.) foi tão insignificante q u e , r e a l m e n t e , o T e m p l o d e Jerusalém continuou sendo o único santuário judaico d o m u n d o . O s peregrinos de todo o orbe lá iam três vezes por ano. Entre
esses peregrinos encontravam-se pessoas ricas c o m o o ministro das finanças da r a i n h a de Etiópia (At 8,27), e membros da família real de A d i a b e n a , cujos enormes projetos
de construção
tanto favoreceram esse gênero de ativid a d e . O s peregrinos constituíam u m a g r a n d e fonte de rend a . A o c o m p r a r e m presentes p a r a o T e m p l o , d a v a m pos226
221.
222.
223.
224.
225.
225.
M i s h n a , os 12 t r a t a d o s d a V I p a r t e ,
Supra,
p. 27.
Supra,
p . 28.
Supra,
p. 23.
Supra, p . 2 8 .
Supra,
p . 24.
Tohorot.
sibilidades d e g a n h o aos seus a r t í f i c e s . E r a m esses peregrinos que faziam viver a indústria de lembranças l o c a i s .
Mas o fator principal media-se pelo T e m p l o , c o m o
centro de u m a colônia de profissões. U m exército de operários t r a b a l h o u na sua construção; o culto m a n t i n h a incessantemente u m grupo de pessoas a seu serviço. Curioso
o resultado desta circunstância: a situação da cidade era
inteiramente desfavorável ao desensolvimento das profissões; e n t r e t a n t o , d a d a a sua i m p o r t â n c i a econômica, política e religiosa, conseguiu incentivá-las tornando-as prósperas.
CAPÍTULO
227
II
m
O
A.
COMÉRCIO
INFORMAÇÕES SOBRE O
D E JERUSALEM
í.
COMÉRCIO
Generalidades
O nível atingido p o r Jerusalém antes de 70 d.C. no
desenvolvimento da circulação dos p r o d u t o s , é, em geral,
o de u m a economia u r b a n a . Temos de aceitar essa expressão no sentido em que a apresenta Bücher (etapa em que
os bens passam diretamente da p r o d u ç ã o econômica aos
c o n s u m i d o r e s ) , e no sentido q u e lhe d á Schmoller (etapa
em que a cidade é detentora da organização econômica).
A profissão de comerciante foi sempre altamente valorizada. Os próprios sacerdotes c o m e r c i a v a m : Tos. Terum.
X 9 ( 4 3 , 4) e j . Pea I 6, 1 6 5 3 ( 1 1 / 1, 28) falam de u m a
loja m a n t i d a por u m deles. N o q u e se refere a Jerusalém,
T o s . Besa I I I 8 ( 2 0 5 , 26) m e n c i o n a dois doutores, Eleazar
b e n Sacloc e A b b a Shaul, filhos da Batanéia, que ali for a m comerciantes " d u r a n t e toda a sita v i d a " . A família
pontifícia t a m b é m p r a t i c a v a u m comércio florescente \
T e n t a r e m o s esboçar a trajetória de u m p r o d u t o comercial em direção a Jerusalém e no interior da cidade.
1
2
c
3
1. C. B ü c h e r , Die Entstehung
der Volkswirtschaft,
8 ed., Tübin¬
g e n , 1911.
2. G . S c h m o l l e r , Grundriss
der allgemeinem
Volkswirtschaftslehre,
I I , Leipzig, 1904.
3 . R. E l e a z a r ( b e n S a d o c ) , o A n c i ã o , d e v e ter n a s c i d o p o u c o dep o i s d e 35 a.C. E r a , c o m efeito, m u i t o j o v e m n o t e m p o de A g r i p a I
(41-44) e e s t u d a v a a T o r á p o r ocasião d a fome q u e grassou e n t r e 45
e 50 (ver infra, p . 170). A b b a S h a u l b e n Batnit vivia i g u a l m e n t e em
J e r u s a l é m antes d a d e s t r u i ç ã o d o T e m p l o ; assim se d e d u z q u e , d a d a
a sua reta c o n s c i ê n c i a , ele e n t r e g a v a a e s p u m a d o v i n h o ao t e s o u r e i r o
d o T e m p l o ( b . Besa 2 9 b a r . ) .
4. Infra, p . 71s.
?
a
227. Supra,
p. 3 8 .
228. Supra,
p.
18.
C a r a v a n a s de camelos, p o r vezes importantes \ traziam de longe, para aquela c i d a d e , artigos comerciais.
P a r a o comércio c o m as regiões p r ó x i m a s , utilizavam-se
jumentos como animais de c a r g a V i s t o o habitual m a u
estado dos c a m i n h o s , os carrinhos de mão só eram utilizados p a r a curtas distâncias. Herodes m a n d o u fabricar mil,
a fim de transportar as pedras destinadas à construção d o
T e m p l o . O s camponeses t r a z i a m , eles mesmos, para a cid a d e , os produtos das cercanias.
7
A segurança das estradas era questão vital p a r a o comércio. Herodes tomara medidas enérgicas, com o intuito
de reprimir o banditismo que reinava então. Cuidara d e
garantir a tranqüilidade no interior do país e rechaçar p a r a
suas fronteiras as tribos do deserto que constituíam perm a n e n t e ameaça. Nos decênios seguintes o governo r o m a n o
t a m b é m se p r e o c u p o u com a proteção do comércio. Já e m
época primitiva, existia u m plano de defesa c o n t r a o povo
do deserto; Paul Karge o observou . Sob T r a j a n o , os romanos o r e t o m a r a m , erguendo os limes .
E n t r e t a n t o , a literatura rabínica menciona r e p e t i d a m e n t e as façanhas d o s
salteadores , o que nos dá idéia de q u ã o freqüentes e r a m
os casos de b a n d i t i s m o . N o que diz respeito a Jerusalém,
ouvimos falar de alguns que teriam ocorrido, e da necessidade de combater os assaltantes.
s
9
l0
Chegado são e salvo ao m e r c a d o de Jerusalém, o comerciante devia e n t ã o pagar sua taxa ao c o b r a d o r encarregado da alfândega do mercado de Jerusalém . Esses cobradores e r a m , na maioria, judeus, conforme nos m o s t r a m
os evangelhos. Exigiam de m o d o inexorável o p a g a m e n t o
u
5. Lam. R. 1, 2 s o b r e 1, 1 ( 1 8 29) m e n c i o n a u m a c a r a v a n a d e
2 0 0 c a m e l o s dirigindo-se p a r a J e r u s a l é m , p a s s a n d o p o r T i r o .
6. Demay
I V 7.
7. Ant. X V I I , 2, § 390.
8. P a u l K a r g e , Rephaim,
Collecíanca
Hierosolymitana
1, Pader¬
b o r n , 1917.
9. G u t h e , Griech.-rõm.
Stadie,
33ss.
10. Ber. I 3 ; Shab. II 5; B. Q. V I 1 e passim;
cf. L e v y . WÔrterbuch, I I , 5035 e S. K r a u s s . Griechische
und lateinische
Lehnwõrler
im
Tcúmud. Midraach und Targum I I , Berlim, 1S99 ( r e i m p r e s s o , H i l d e s h e i m ,
1 9 6 4 ) , 315s.
11. Ant. X V I I 8, 4, § 205: " A alfândega c o b r a d a s o b r e c o m p r a s
e vendas".
a
das contribuições. E n t r e t a n t o , u m alijamento se p r o d u z i u
a partir do ano 37 d . C : o governador Vitélio suprimiu as
taxas sobre a venda das colheitas .
Após ter pago a alfândega, encaminhavam-se p a r a o
bazar correspondente à m e r c a d o r i a em q u e s t ã o . H a v i a diversos m e r c a d o s : o de cereais, de frutas e legumes, de
gado, de madeira. Existia u m m e r c a d o de gado gordo e
m e s m o u m estrado de pedra p a r a a v e n d a pública de escravos onde eram expostos até aparecer algum c o m p r a d o r .
O s mercadores atraíam a clientela, e x a l t a n d o seus produtos e a levavam a c o m p r a r , a p r e g o a n d o em altas vozes; no
que diz respeito a Jerusalém, b . Pes. 116 confirma esse
fato de m o d o explícito. N o m o m e n t o da c o m p r a toda a
atenção no peso era pouca, pois, Jerusalém tinha seu sistema próprio. N a q u e l a cidade, contava-se, de preferência,
por qab e n ã o , como noutros lugares, por " d é c i m o s " .
Além de tudo, essa m e d i d a do qab tinha, manifestamente,
u m valor particular; em todo caso, b . Yoma 4 4 refere-se
ao qab de Jerusalém. A medida de c a p a c i d a d e superior, a
s 'ah, era, n a capital, u m q u i n t o m a i o r do que a " d o deserto"; em c o n t r a p a r t i d a , u m sexto m e n o r que o s°'ah de
Séforis . Para o ajuste das contas, m e r c a d o r e s e peregrinos p o d i a m trocar nos cambistas
o dinheiro estrangeiro
que traziam. Ao q u e se diz, Jerusalém tinha, igualmente,
uma m o e d a p r ó p r i a . Tos. M. Sh. II 4 (88,16) fala de ma'ah
de Jerusalém; j . Kei. 1 2, 2 5 " 10 ( V / l , 7s) de sela' de
Jerusalém. Bek V I I I 7 e T o s . Ket. X I I I 3 (275-22) estabelecem a equivalência entre u m a m o e d a de prata de Jerusalém e u m a de T i r o . É estranho à primeira vista. O fato
se explica q u a n d o se lê a seguinte observação tanaíta: " Q u e
vem a ser u m a m o e d a de Jerusalém? (Uma m o e d a q u e
mostra) D a v i e S h l ô m ô (Salomão) de u m lado, Jerusalém
do o u t r o "
Trata-se d e moedas de p r a t a c u n h a d a s em Jerusalém no q u a r t o ano da Primeira Revolta ( 6 8 / 6 9 d . C ) .
T r a z no anverso sheqel Yisrü'el shd, n o reverso " Jerusalém
12
B
b
c
14
15
12.
13.
14.
15.
16.
Ant. X V I 1 Í 4, 3, §
Meti. V I I 1-2; T o s .
Men. V I I 1; b . 'Er.
'Ed I 9-10; Sheq. I
b . B. Q . 9 7 .
b
90.
Meti. V I I I 16 (524, 16).
8 3 - ; T o s . 'Ed. I 2 (454, 3 1 ) .
3.
a
b
[cidade] s a n t a " . T o m a v a m shd no sentido de " S h ( l ô m ô
e) D(avid e m vez de sh nat 'arba' " a n o q u a t r o " .
1 7
e
e
,8
Além das prescrições relativas à santificação do sáb a d o , válidas de m o d o geral, e das prescrições sobre as
relações comerciais com os pagãos, certos convênios particulares estavam em vigor em Jerusalém p a r a as transações comerciais; b . B. Q. 8 2 cita u m deles, relativo à venda de casas. Exerciam, antes de t u d o , uma rígida vigilância q u a n t o à importação de gado i m p u r o , de carne e de
peles i m p u r a s . Da época i m e d i a t a m e n t e posterior a 198
a.C. conservamos u m edito do rei selêucida Antíoco I I I , o
G r a n d e . Q u a n d o não houvesse i m p e d i m e n t o de o r d e m
cultual p a r a a transação comercial, era preciso então fixar
o preço. C i d a d e g r a n d e , Jerusalém m a n t i n h a preços altos.
Ma'as II 5 apresenta-nos u m caso significativo. Segundo
esse texto, compravam-se em Jerusalém três ou q u a t r o figos por u m as. E m compensação, fora da cidade, podia-se
obter 10 ou 20 pelo m e s m o preço (Ma'as II 6 ) . Nos arredores de Jerusalém os terrenos e r a m especialmente caros;
j . Yoma I V , 4 1 4 9 ( I I I / 2 , 201) o s u p õ e .
b
19
b
20
A polícia vigiava pela ordem do comércio. O T a l m u d e
cita os encarregados do m e r c a d o , os que fixam as taxas
e seus v i g i a s . Chega a nós, vinda de Jerusalém, u m a decisão de u m dos três "juízes c r i m i n a i s " sobre u m a questão de direito comercial: tratava-se de saber se, por ocasião
da venda de u m asno, o arreio estava incluído. Contam¬
-nos ainda u m caso de fixação, de m o d o indireto, do teto
dos preços da p a r t e de Shimeon, filho de G a m a l i e l I,
mestre de P a u l o (At 2 2 , 3 ) ; esse Shimeon era conhecido
no tempo da guerra judaica como m e m b r o i m p o r t a n t e do
21
22
21
24
S i n é d r i o . " U m a vez em Jerusalém, dois qinním
[ninhos;
neste caso dois pássaros p a r a o sacrifício, cf. p o r exemplo, Lc 2 , 2 4 , apresentação de Jesus n o T e m p l o ] c h e g a r a m
a custar u m denário de ouro [cada u m ] . E n t ã o , R a b b a n
Shimeon, filho de Gamaliel, declarou: ' P o r esta m o r a d a [o
T e m p l o ] ! N ã o dormirei esta noite antes de tê-los feito
baixar a u m denário [de p r a t a ] ' . E n c a m i n h o u - s e , pois. p a r a
o tribunal e d e t e r m i n o u : em certos casos, é suficiente, em
lugar de cinco sacrifícios de pássaros, trazer u m só [temia
ele que os p o b r e s , em conseqüência do preço elevado, não
pudessem oferecer sacrifícios]. N o m e s m o dia os dois
qinním
b a i x a r a m p a r a í / 4 de d e n á r i o [de p r a t a ] cada
u m " \ U m denário de ouro vale 25 denários de p r a t a ; seg u n d o este relato da M i s h n a , a decisão do Sinédrio acarretou, pois, uma diminuição de 100 p a r a 1.
25
2Í
Vejamos a i n d a o próprio m e r c a d o r ! Os produtos das
cidades vizinhas passavam d i r e t a m e n t e do p r o d u t o r aos
consumidores. E, na Palestina de e n t ã o , praticava-se, mesmo com freqüência, o sistema de troca . O M i d r a x e conta
u m caso sucedido em Jerusalém: " U m a m u l h e r disse ao
m a r i d o : pega u m colar ou u m a argola de nariz; vai ao mercado e traz-nos em troca q u a l q u e r coisa p a r a c o m e r " .
N ã o p o d e m o s , todavia, tirar u m a conclusão segura desse
relato; trata-se, com efeito, de u m a situação particular
d u r a n t e o cerco dos r o m a n o s em 70 d.C.
Surgem ainda circunstâncias diversas q u a n d o , por
exemplo, existe u m único i n t e r m e d i á r i o ; nesse caso os lojistas o u os vendedores a varejo. Acontecia mesmo que
particulares fizessem suas transações comerciais. Certa vez,
u m alfaiate de Jerusalém c o m p r o u no leilão de u m a car a v a n a , g r a n d e q u a n t i d a d e de p i m e n t a p a r a revendê-la a
u m colega d e t r a b a l h o que se encarregou de distribuí-la .
E m j . Pes. X 3, 3 7 9 ( I I I / 2 , 1 5 0 ) , h á referências a
m e r c a d o r e s ambulantes em Jerusalém que v e n d i a m especia11
2a
39
30
17. A . R e i f e n b e r g , Ancient
Jewish Coins, 2* ed., J e r u s a l é m , 1947,
58 e p l . X 143.
18. L. G o l d s c h m i d t , Der babylonische
Talmud
neu übertragen,
vol.
V I I , Berlim, 1933 = 1964, 337, n. 103.
Í 9 . / t n í . X I I 3, 4, § 146; v e r infra, p . 6 8 .
20. Cf. Levy, Wörterbuch,
I I , 369 b e m kesep, e infra, p . 7 1 .
2 1 . j . B. B. V 11, 1 5 61 ( V I / 1 , 1 9 4 ) ; T o s . Kel. B. Q. V I 19
(576, 3 1 ) ; j . Demay II I, 22= 21 ( I I / l , 1 4 0 ) .
22. b . 'A. Z. 5 8 ; b . B. Q. 9 8 .
23. b . B. B. 8 9 .
24. B. B, V 2.
a
a
a
a
d
25. D e v e ter h a v i d o influência d a assembléia g o v e r n a m e n t a l :
38s, § 189ss.
26. Ker. I 7.
27. K r a u s s . Talm. Arch.,
II, 351, com provas.
2 8 . Lcm. R. 2, 20 s o b r e 2, 12 ( 4 8 I ) .
2 9 . T o s . Besa I I I 8 (205, 2 7 ) .
3 0 . Lam. R. I, 2 s o b r e 1, 1 ( 1 8 4 ) .
a
b
Vita
rias; em passagem paralela b . Pes. 1 1 6 , são c h a m a d o s
tagg rê hãrak, " m e r c a d o r e s de grãos t o r r a d o s " .
Há t a m b é m os grandes negociantes; p o d e m o s vê-los
como homens que t i n h a m empregados e viajavam. E r a m
eles, p r i n c i p a l m e n t e , que se serviam em Jerusalém do vestíbulo para o acerto das contas . E v i d e n t e m e n t e , aí tamb é m eram feitas transações de g r a n d e vulto. Após o término de altos negócios, acontecia, conforme dizem, q u e ,
no ajuste das especulações, u m deles saía p e r d e n d o toda
a sua fortuna .
Os mercadores de Jerusalém mostravam-se m u i t o prudentes na hora de acertar as contas; n a d a assinavam antes
de saber quais e r a m os c o n s i g n a t á r i o s .
a
e
31
32
33
34
da Judéia era p r e d o m i n a n t e , temos de perceber, no período antes de 70 d . C , a influência estrangeira c o n c e n t r a d a
principalmente e m Jerusalém. De certo m o d o , foi a corte
de H e r o d e s que a i n t r o d u z i u n a c i d a d e .
À guisa de minúcias sobre o comércio com a G r é c i a ,
não podemos deixar de assinalar que n a época de H i r c a n o
II (76-67, 63-40 a . C ) , muitos m e r c a d o r e s atenienses viviam em Jerusalém. Tal fato explica, sem dúvida, o sentido da frase que lemos, segundo a q u a l alguns atenienses
achavam-se em Jerusalém p a r a assuntos privados e não somente a título oficial. Essa circunstância deve ter estabelecido relações d u r a d o u r a s e u m intenso tráfico; sem isso,
H i r c a n o II não teria recebido como presente a coroa de
o u r o de Atenas em sinal de r e c o n h e c i m e n t o , e sua estátua
não teria sido erigida naquela cidade . Segundo os testem u n h o s concordes de Josefo e do T a l m u d e , a p o r t a mais
valiosa do T e m p l o era de bronze de Corinto .
3Ò
2. O comércio c o m países distantes
37
Após esse esboço, examinaremos, sucessivamente, os
diferentes artigos comerciais. De início, trataremos do comércio com países distantes, a começar pela Grécia.
A influência da Grécia, d i r e t a m e n t e o u p o r intermédio da civilização helenística em geral sobre o comércio
palestinense, sempre se mostrou e x t r e m a m e n t e forte. Temos a prova no grande n ú m e r o de palavras e m p r e s t a d a s
do grego, já contidas na Mishna; referem-se a todos os
setores da vida cotidiana e, em p r i m e i r o lugar, aos do
comércio. E n c o n t r a m o s t a m b é m , mas em m e n o r n ú m e r o ,
palavras latinas . Como a influência de Jerusalém d e n t r o
i5
3 1 . Cl', infra, p . 147, n . 26. N u m a v a r i a n t e se lê tagg rê
ha-dak,
" m e r c a d o r e s dc p r o d u t o s m o í d o s " , l i m a conjectura a s s i n a l a d a p o r K r a u s s ,
7'a/m. Arch. I I , 688. n . 314 p r o p õ e taggerê barun " n e g o c i a n t e s d e H a r a n " . Nesse c a s o , trata-se d a p r e s e n ç a , c m Jerusalém, de m e r c a d o r e s
v i n d o s de H a r a n , na M e s o p o t â m i a (os r o m a n o s c h a m a v a m a c i d a d e
C a r r h a e ) ; i m p o r t a v a m , sem d ú v i d a , especiarias d a M e s o p o t â m i a .
32. Pesiqtu rabbali 4 1 , 173 7.
35. Ex. R. 54, 4 s o b r e 39, 32 ( 1 1 6 17). S e g u n d o este t e x t o , •
c o n s t r u ç ã o situava-se fora de J e r u s a l é m , a fim de q u e n ã o h o u v e s s e
confusões d e n t r o d a c i d a d e em caso de g r a n d e s p e r d a s . E m Jerusal é m , c o m efeito, é preciso ser alegre. — M e s m a coisa em Lam. R. 2,
24 sobre 2, 15 4 8 12). com a l u s ã o ao SI 4 8 . 3 : "Alegria p a r a a t e r r a
inteira". N ã o p o d e m o s a t r i b u i r n e n h u m v a l o r h i s t ó r i c o a essa especulação.
34. Iam.
R. 4, 4 s o b r e 4, 2 (57-- 8 ) .
35. S c h ü r e r . I I , 71ss.
e
H
b
b
1
Pouco antes de 6 6 d . C , Agripa I I , de acordo com
o povo e os sacerdotes em exercício, resolveu construir
novos e m b a s a m e n t o s no santuário e levantá-lo 20 côvados.
Com g r a n d e despesa importou a m a d e i r a do Líbano, exigindo que só m a n d a s s e m troncos b e m retos . T a m b é m do
Líbano veio a madeira de cedro p a r a os lambris dos pórticos e dos m a t a d o u r o s .
3S
39
40
A principal indústria de Sídon era a v i d r a r i a . Kel.
IV 3 menciona os pratos e copos de Sídon. U m hierosolimitano, Yosé b e n Y o h a n a n , decretou, com Yosé b e n
Yoézer de Serada. que os utensílios d e vidro seriam suscetíveis de tornarem-se ritualmente i m p u r o s . Esses dois
h o m e n s figuram, p o r volta de 150 a . C , entre os mais antigos escribas m e n c i o n a d o s no T a l m u d e ; a importação do
vidro em Jerusalém começou, p o r t a n t o , muito cedo.
41
A2
36. Ani. X I V 8, 5, § 153.
37. Supra, p . 37.
38. B. j . V I, 5, § 36.
39. B. /'. V 5, 2, § 190.
40. Mid. I I I 5; q u a n t o à m a d e i r a de c e d r o c o m o m a t e r i a l
o T e m p l o , v e r t a m b é m Mid. I I I 8; I V 5.
4 1 . S c h ü r e r , I I , 8 1 , n . 229.
42. b . Shab. 1 4 ; j . Shab. I 7, 3 37 ( I I I / l , 2 0 ) ; cf. j . Ket.
11, 32^ 4 V / l , 110).
b
d
para
VIII
SEMH^AíiSü CONCORDIA^
Já e n c o n t r a m o s vendedores de peixes e outros mercadores de Tiro; comerciavam suas mercadorias no n o r t e
d a cidade. C o m o Sídon, T i r o era afamada pelos seus vidros
preciosos e pela p ú r p u r a .
Avalia-se por vezes a m o e d a de Jerusalém segundo o
valor da m o e d a de T i r o , o que faz supor relações comerciais entre as duas cidades. Segundo Tos. Ket. X I I I
3 (275, 22) e, freqüentemente, o p a d r ã o m o n e t á r i o de Jerusalém correspondia ao de T i r o . A p r e d o m i n â n c i a do pad r ã o de Tiro explica-se pelas relações comerciais intensas,
m a s t a m b é m pelo fato de somente o valor de T i r o ter
curso no T e m p l o .
Escravos de ambos os sexos v i n h a m p r i n c i p a l m e n t e
d a Síria, p a s s a n d o p o r T i r o ; muitas vezes c h e g a v a m d e
mais longe e passavam, como m e r c a d o r i a em trânsito, p e l o
g r a n d e m e r c a d o de escravos em T i r o . A importação dessa
classe representou papel considerável: havia em Jerusalém
u m a p e d r a onde os e x p u n h a m p a r a a v e n d a pública . N ã o
r a r o , Josefo fala de escravos dos dois sexos, especialmente
a propósito da corte de H e r o d e s , o G r a n d e . T a m b é m a lit e r a t u r a rabínica faz deles freqüentes referências; lemos,
p o r exemplo, que u m ateniense c o m p r o u u m escravo e m
Jerusalém .
Por ocasião de u m a fome que grassou na Palestina,
a r a i n h a H e l e n a de A d i a b e n a m a n d o u vir de Chipre grand e carga de figos frescos .
A Babilônia fornecia tecidos valiosos: jacinto, escarlate, bisso, p ú r p u r a . Utilizavam-nos, p o r e x e m p l o , p a r a o
v é u do Santo e p a r a a tiara do sumo s a c e r d o t e . As vestes do sacerdote em exercício e r a m de b i s s o , m a t e r i a l
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50
largamente e m p r e g a d o na liturgia do D i a d a E x p i a ç ã o ;
entre o sacerdote e o povo estendiam-se m e t r o s de b i s s o .
H a v i a a i n d a no T e m p l o grandes reservas d e tecidos d e
p ú r p u r a e escarlate p a r a as c o r t i n a s . Lc 16,19 m e n c i o n a
a p ú r p u r a e o bisso como trajes d e pessoas d e posses.
O t i r a n o S i m ã o , em Jerusalém, por ocasião de sua tentativa de f u g a , revestiu-se de u m m a n t o d e p ú r p u r a c o m
o fito d e a m e d r o n t a r os soldados r o m a n o s . N a cena d o
evangelho q u e descreve as zombarias dos soldados romanos, lemos que esses jogaram sobre Jesus u m a c a p a (a capa
escarlate d e M t 2 7 , 2 8 ) . C o n v é m o b s e r v a r q u e n ã o era d e
p ú r p u r a , e sim, de cor escarlate.
Se, em b . Pes. 1 1 6 , a retificação d e Krauss é exata ,
importavam-se especiarias da M e s o p o t â m i a . Confere com
u m d a d o fornecido pelo M i d r a x e : u m a c a r a v a n a de duzentos camelos passa p o r T i r o e segue p a r a Jerusalém
c o m u m carregamento de p i m e n t a .
Q u a n t o às relações com a Pérsia, temos u m a indicaç ã o n o baixo-relevo da p o r t a oriental do T e m p l o ; por curioso que pareça, representava a cidade d e Susa ; podemos
supor q u e se tratasse de u m presente votivo.
O T e m p l o importava tecidos até m e s m o da índia. " N a
noite [do Dia da expiação] o sumo sacerdote apresentava¬
-se vestido d e tecido das í n d i a s .
F o r a m sempre m u i t o intensas as relações comerciais
c o m o O r i e n t e , sobretudo com a Arábia:
" O s árabes trazem p a r a o país g r a n d e q u a n t i d a d e d e a r ô m a t a s [mais
e x a t a m e n t e , matérias-primas p a r a a fabricação dos perfumes e m Jerusalém, c o m o c o m e n t a m o s a c i m a , p . 1 7 ] , d e
p e d r a s preciosas e de o u r o . Já no Antigo T e s t a m e n t o ,
h á alusão ao incenso d a A r á b i a . O s perfumes queimados
S1
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54
a
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5 3
3 9
60
4 3 . Supra, p. 3 3 ; N e 13,16.
44. Supra,
p . 49; T o s . Ket. X I I I 3 (275, 22) e
passim.
4 5 . Sijra Lv 42 (55 c 220, 1 6 ) ; Sifre D t 3,23, § 26 ( 3 1 124, 1 1 ) ;
K r a u s s Talm. Arch.,
I I , 362.
4 6 . Lam. R. 1, 13 s o b r e 1, 1 ( 2 2 1).
47. Ant. X X 2, 5, § 5 1 .
48. B. /'. V 5, 4, § 212s; essa i n d i c a ç ã o é m a i s digna de fé d o q u e
os relatos t a l m ú d i c o s s o b r e a confecção desses v é u s e m J e r u s a l é m p o r
82 j o v e n s , cf. Supra,
p. 40. Pode-se, p o r é m , p e n s a r e m r e p a r a ç õ e s o u
o u t r o s t r a b a l h o s feitos n o local.
49. B, j . V 5, 7, § 2 3 5 .
50. Ibid., § 2 2 9 .
c
a
51.
52.
53.
54.
55.
56.
57.
58.
59.
60.
Yoma
I I I 4,
B. j . VI 8, 3, § 390.
Supra, p. 2 5 .
B. j . V I I 2, 2 , § 29.
V e r supra, p. 5 1 , n . 3 Í .
Lam. R. \, 2 s o b r e 1. 1, (18* 2 9 ) .
Kel. X V I I 9.
Yoma I I I 7.
P s e u d o - A r i s t e u , § 114.
I s 60,6; Jr 6,20.
no T e m p l o v i n h a m , e m grande p a r t e , do d e s e r t o . O cin a m o m o e a cássia são indicados como perfumes p a r a o
T e m p l o em B. } . VI 8, 3 , § 3 9 0 ; são d u a s plantas de clima
tropical e sub-tropical. O Pseudo-Aristeu, § 1 1 9 , menciona a importação de cobre e ferro d a Arábia.
Herodes organizava, e m Jerusalém, lutas de feras ;
p a r a isso precisava fazer vir do deserto árabe leões e outros animais selvagens. N o século II antes de nossa e r a ,
E u p o l e m o m e n c i o n a entregas de carne provindas da Aráb i a " ; para c o m p r e e n d e r esse texto, p o r é m , é preciso levar
em conta o q u e será dito mais a d i a n t e sobre a extensão
do reino nabateu n a época d e E u p o l e m o .
D u r a n t e u m a g r a n d e fome, H e r o d e s , o G r a n d e , fez v i r
trigo do E g i t o ' ; Helena de A d i a b e n a procedeu da m e s m a
forma e m igual c i r c u n s t â n c i a . T o s Maksh
III 4 (675,
2 2 ) fala do frumento do Egito i m p o r t a d o p o r Jerusalém.
D o leste do delta do Nilo vinha linho de Pelússia, q u e
o s u m o sacerdote usava n a m a n h ã d o D i a d a s expiações .
N a fúnebre história d a família de H e r o d e s , o veneno representou g r a n d e papel; B. j . I 3 0 , 5 § 5 9 2 m e n c i o n a
aquele q u e A n t i p a s , filho de H e r o d e s , o G r a n d e , fazia vir
do Egito. Segundo j . Sota I 6, 1 7 19 ( I V / 2 ) , a m a r r a v a m ,
c o m cordas egípcias, na esplanada d o T e m p l o , a m u l h e r
suspeita de adultério.
O comércio com países distantes representou, pois,
g r a n d e papel p a r a Jerusalém, se b e m q u e as fontes das
quais dispomos sejam devidas ao acaso. A parte q u e o
T e m p l o ocupava no comércio de Jerusalém era especialm e n t e importante; tratava-se, aliás, de produtos alimentares, metais preciosos, artigos de luxo, e tecidos.
61
62
M
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a
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66.
67.
B. /. V 5 , 5, § 2 1 8 .
Ant. X V 8, 1. § 2 7 3 .
E u s é b i o , Praep. ev. I X 3 3 , 1 (GCS
V e r infra, p . 57, n . 69.
Ant. X V 9, 2 , § 3 0 7 .
Ant. X X 2, 5, § 5 1 .
Yoma Í I Í 7.
43, 1, 5 4 0 s ) .
3 . O comércio c o m as regiões p r ó x i m a s
O u t r o r a , como hoje, o comércio com regiões p r ó x i m a s
visava especialmente ao reabastecimento d a g r a n d e cidade.
Quais as principais m e r c a d o r i a s i m p o r t a d a s ? Sobre o assunto temos duas informações.
Pouco depois de 150 antes de nossa e r a , E u p o l e m o
redigiu seu t r a b a l h o Sobre a profecia
de Elias. Contém
u m a carta fictícia dirigida p o r Salomão a o rei de T i r o , n a
qual trata d a alimentação dos operários enviados p o r esse
último à Judeia. " D e i instruções n a Galileia, Samaria,
M o a b e A m o n p a r a q u e essas regiões lhes fornecessem o
necessário: todo mês 1 0 . 0 0 0 kor de t r i g o . . . Q u a n t o ao
óleo e outras m e r c a d o r i a s , é a Judéia q u e p r o v e r á ; a Arábia entregará os animais a b a t i d o s " . Conforme esses dados, as principais mercadorias i m p o r t a d a s e m Jerusalém
e r a m o trigo, o óleo e a c a r n e . A Judéia fornecia o óleo
ou as azeitonas. O resto da Palestina m a n d a v a o trigo.
O gado v i n h a d a T r a n s j o r d â n i a . S e m d ú v i d a alguma Eupolemo reflete a situação de seu t e m p o . E n t r e t a n t o , os
fatos enquadram-se nos dois séculos q u e seguem a época
de E u p o l e m o .
6M
69
70
A literatura rabínica fornece o u t r a informação relativa às principais necessidades de p r o d u t o s alimentares e m
Jerusalém. Segundo b . Git. 5 6 , q u a n d o explodiu a revolta contra os r o m a n o s , três conselheiros (provavelmente
a
71
68. R e l a t o d e A l e x a n d r e P o l y h i s t o r , cerca d e 4 0 a , C , t r a n s m i t i d o
p o r E u s é b i o , Praep. ev- I X 3 3 , 1 (GCS 4 3 , 1, 5 4 0 s ) .
69. N o q u e d i z r e s p e i t o à entrega d e a n i m a i s d a A r á b i a , c o n v é m
fazer u m a o b s e r v a ç ã o . N a época e m q u e E u p o l e m o escrevia, as tribos
dos n a b a t e u s n ã o e s t a v a m c o n f i n a d a s à região d e P e t r a . T i n h a m est e n d i d o seu d o m í n i o s o b r e u m a p a r t e d a T r a n s j o r d â n i a . P o u c o t e m p o
d e p o i s , s u a s i n c u r s õ e s faziam t r e m e r egípcios e sírios ( l M c 5,25 e
9,35; J u s t i n o , Hist. Philippíc.
X X X I X 5, 5-6). P o r c o n s e g u i n t e , q u a n d o se fala d e a n i m a i s d e corte i m p o r t a d o s da A r á b i a , trata-se e m grande p a r t e d e a n i m a i s v i n d o s dessas regiões d a T r a n s j o r d â n i a ; n a é p o c a
em q u e E u p o l e m o escrevia, e r a m essas h a b i t a d a s p o r j u d e u s , m a s
submetidas aos árabes.
70. S m i t h , I, 3 1 5 .
7 1 . M e s m o n ú m e r o e m Gn. R. 4 2 , 1 s o b r e 14, 1 ( 8 5 4 ) . E m cont r a p a r t i d a , Lam. R. 1, 32 s o b r e 1, 5 ( 2 8 5) fala d e q u a t r o , c e r t a m e n t e
devido a algum equívoco.
a
b
m e m b r o s do S i n é d r i o ) d e c l a r a r a m q u e iriam garantir o
abastecimento da cidade d u r a n t e vinte e u m anos. O primeiro entregaria a farinha e a cevada, o segundo, o v i n h o ,
o sal e o óleo; o terceiro se incumbiria da lenha. Nessas
disposições, observar-se-á q u e não h á m e n ç ã o de a n i m a i s .
72
U m a questão p r e l i m i n a r ergue-se a q u i : esses " c a m p o s " , " d o m í n i o s " , " p r o p r i e d a d e s " não c o m p r e e n d i a m tamb é m os vergéis? Além do mais, o Pseudo-Aristeu, no contexto da passagem h á pouco citada, diz-nos que os produtos do solo v i n h a m p r i n c i p a l m e n t e da S a m a r i a e da "planície q u e confina com a I d u m é i a " . É preciso a i n d a lembrar que o solo pedregoso e calcáreo dos montes da Judéia
e r a m pouco favoráveis à cultura do trigo. Segundo Ar I I I
2, o terreno q u e cerca Jerusalém é n o t o r i a m e n t e p o b r e e
os nomes dos vilarejos o confirmam. S a b e m o s , por exemplo, q u e inúmeras cidades devem seus nomes aos produtos agrícolas que lhes são peculiares. O r a , a t u a l m e n t e , n u m
raio de 18 quilômetros em torno de Jerusalém, encontra-se
apenas u m a vez u m n o m e composto de " t r i g o " . Se acrescentarmos a isso os dados de E u p o l e m o relativos à importação de trigo em J e r u s a l é m , ficaremos convencidos de
que as cercanias da cidade e a Judéia não p o d i a m atender, senão de m o d o p r e c á r i o , ao c o n s u m o daquele cereal.
75
a.
Trigo
Com muito acerto os dois documentos citados mencionam o trigo em primeiro lugar. D a importação do trigo
dependia inteiramente a sobrevivência da c i d a d e ; em épocas de p e n ú r i a , era especialmente o trigo q u e faltava.
C o m o p o d e m o s deduzir, a maior p a r t e das i m p o r t a ç õ e s
de m e r c a d o r i a s consistia nesse cereal. D e o n d e o faziam
vir?
Cultivava-se o trigo nos arredores de Jerusalém. Seg u n d o o Pseudo-Aristeu, § 112, os campos d e Jerusalém
e r a m inteiramente cultivados e via-se q u a n t i d a d e de oliveiras, cereais e legumes secos. S i m ã o d e Cirene chega à
cidade pelo norte ou pelo oeste, q u a n d o o o b r i g a m a carregar a cruz d e Jesus; voltava " d o c a m p o " (Mc 1 5 , 2 1 ; Lc
2 3 , 2 6 ) . N a c o m u n i d a d e cristã primitiva de Jerusalém, havia proprietários d e grandes extensões d e terra (At 4 , 3 4 - 3 7 ;
5,1-10). Josefo m e n c i o n a os c a m p o s q u e possuía em Jerusalém" . Me/2. X 2 transcreve a prescrição segundo a
qual o feixe da apresentação, formado de espigas de trigo,
deve vir das redondezas d e Jerusalém. Bik. I I 2 estende¬
-se sobre a questão de c o m o se deve proceder c o m o trigo
das primícias misturado ao trigo c o m u m , no caso d e ter
sido semeado em Jerusalém; ainda a q u i , Jerusalém deve
designar o distrito da cidade. Demay V I 4 apresenta o caso
de u m c a m p o n ê s q u e arrendou a m e t a d e do c a m p o de u m
habitante de Jerusalém. E m b . B. M. 9 0 , h á u m a referência à d e b u l h a do tribo no interior de Betfagé.
73
7 6
77
A farinha p a r a o T e m p l o devia ser de primeira qualidade. Segundo Men. V I I I , faziam-na vir de Micmas e de
Z a n o á , em segundo lugar de Efraim " n a p l a n í c i e " (Haf a r a i m ? ) . M i c m a s situava-se no nordeste de Jerusalém,
Z a n o á no sudeste, a m b a s na Judéia, Se o terceiro lugar se
identifica c o m Aifraim , localizamo-lo a 5 milhas romanas ((7,390 km) a leste de B e t e i . Sendo exata essa localização, deveria achar-se em território judaico , e não em
território s a m a r i t a n o , o que seria totalmente inadmissível, visto tratar-se de farinha p a r a o T e m p l o . Mas como
o lugar se situa " n a p l a n í c i e " , é preciso ler, seguramente,
H a f a r a i m e, por conseguinte, p r o c u r a r a terceira localidade
78
19
80
81
S2
7 4
a
72.
Qoh. R.
bülew tes
73.
74.
e
Cf. Gii. R. 4 2 , 1 s o b r e 14. 1 ( 8 5 4 ) : " g r a n d e s d a c i d a d e " .
7, 18 s o b r e 7, 11 ( 1 0 4 9 ) ; Lam. R. 1, 32 s o b r e 1, 5 ( 2 8 5 ) ;
=
bouleutés.
Vita 76, § 422.
V e r supra, p . 16.
a
a
b
75. P s e u d o - A r i s t e u , § 107.
76. S m i t h , I, 298.
77. Supra,
p . 57.
78. Men. V I I I 1. S e g u n d o I. K a h a n , seria H a p h a r a i m p e r t o de
Séforis (Js 19,19); H a p h a r a i m é a i n f o r m a ç ã o de m u i t o s mss, cf. R.
N . R a b b i n o w i c z , Sepher
diqdüqê
sôph rtm
(em h e b r a i c o = Variae
lectiones
in Mischnam
et Talmud
Babylonicum),
t. X V , M u n i c h , 1886,
s o b r e Men. V I I I 1.
79. E u s é b i o , Onomasticon
223 {CCS 1 1 , 1, 2 8 ) .
8 0 . Cf. fo 11,54; b . Men. 8 5 .
8 1 . A s s i m i g u a l m e n t e e m l M c 11,34; Ant. X I I I 4, 9, § 127.
82. N e u b a u e r , Géogr.,
155, situava-o e m t e r r i t ó r i o s a m a r i t a n o .
e
a
n o limite ocidental d a fértil planície d e Esdreíon. É, p o i s ,
principalmente da Judéia que se fazia vir a farinha p a r a
o T e m p l o . E n t r e t a n t o , não se deve avaliar a i m p o r t a n c i a
da Judéia pela cota d e trigo enviada a Jerusalém; tratava¬
-se, com efeito, de trigo p a r a o T e m p l o e, neste caso, a
Samaria e a Peréia estavam excluídas .
A m a i o r p a r t e de trigo seria fornecido pela Transjord â n i a . O H a u r a n passava p o r celeiro d e trigo da Palestina e da Síria. Herodes c u i d a r a de garantir a segurança
d a T r a n s j o r d â n i a . C e r t a m e n t e , n ã o alcançou o r e s u l t a d o esp e r a d o , e n v i a n d o 3 . 0 0 0 idumeus à T r a c o n í t i d e mas a segurança se deu após o estabelecimento, na região d a Batanéia, a oeste da T r a c o n í t i d e , do valoroso Z a m a r i s , judeu babilónico e de seus p a r t i d á r i o s . Essa m e d i d a foi tom a d a nos últimos anos antes d o início de nossa era. Começou a p a r t i r daí a ascensão da T r a n s j o r d â n i a .
83
8J
85
Entre as regiões produtoras de trigo, E u p o l e m o cita,
ao lado da Transjordânia, a Samaria e a Galileia. Da cidade de Samaria Herodes fez vir trigo, vinho, óleo e g a d o
no m o m e n t o em q u e fazia o cerco d e Jerusalém e q u a n d o
as tropas r o m a n a s enviadas em reforço, queixavam-se d a
carência d e víveres . A propósito d o feixe d e espigas d a
apresentação e dos dois pães do T e m p l o , diz b . Men. 8 5 :
"Ter-se-ia feito vir t a m b é m o trigo d e C o r a z i m
e de
Kephar-Akim se esses lugares fossem mais próximos de
J e r u s a l é m " . Essas duas localidades são certamente Coraz i m , p e r t o de C a f a r n a u m , e a p r ó p r i a C a f a r n a u m . Seg u n d o essa asserção, o trigo da Galileia passava e m Jerusalém p o r ser d e primeira q u a l i d a d e , e, p o r t a n t o , utilizável no T e m p l o . M a s , por causa do transporte e m território
pagão, não podia servir p a r a aquele s a n t u á r i o , sendo somente aproveitado p a r a a p o p u l a ç ã o da cidade.
86
a
8 7
8 8
89
8 3 . Cf. supra. p . 16.
84. Cf. E u p o l e m o , supra,
p . 57.
85. Ani. X V I I , 2, 1-3, § 23ss.
8 6 . B. j . I 15, 6 § 297ss.
87. V a r i a n t e s : Barziyin, K a r w i s . T o s . Men. I X 2 (525, 3 4 ) : B a r h a i m ;
cf. R a b b i n o w i c z , Variae ¡ectíones
(citado supra, n. 7 8 ) .
88. Mt 11,21; Lc 10,13.
89. T a m b é m L. G o l d s c h m i d t . Der babvlonische
Talmud,
t. V I U ,
Leipzig, 1909 = La H a y e , 1933, 705, n . 79.
A respeito do comércio de trigo e m Jerusalém, sabemos da existência de u m m e r c a d o deste cereal cujas transações e r a m consideráveis e a venda da farinha começava
logo após a oferta do feixe da a p r e s e n t a ç ã o em 16 N i s a .
É curioso observar que são muito escassos os detalhes
sobre a c o m p r a do trigo p a r a Jerusalém. Talvez seja esta
a razão: o trigo vinha de regiões longínquas. Q u a n d o se
tratava de p r o d u t o s da circunvizinhança, o p e q u e n o comerciante trazia pessoalmente a sua m e r c a d o r i a ; em contrapartida, o transporte das cargas v i n d a s de longe ficava
reservado às c a r a v a n a s . Os grandes negociantes, muitas vezes desonestos, e n c o n t r a v a m nesse comércio u m c a m p o de
atividade que lhes convinha sobremodo . Assim hoje, como
o foi e m tempos remotos, conforme no-lo m o s t r a m as prédicas sociais dos profetas no Antigo T e s t a m e n t o . Apesar
d e sua importância, o comércio d e trigo em Jerusalém não
se efetuava às claras. E r a assunto de b a s t i d o r e s . . .
90
91
92
b . Frutas
e
legumes
E m segundo lugar, b . Git. 5 6 e E u p o l e m o
mencion a m a importação de frutas e produtos derivados.
F o r m u l a m o s t a m b é m aqui u m a p e r g u n t a : q u e entendemos por cultura de frutas e legumes nos arredores da
Jerusalém antiga?
O solo calcáreo das cercanias da cidade convém sob r e t u d o às oliveiras e, n u m grau menor, à cultura do trigo
e da vinha. E m sua descrição dos a r r e d o r e s , o Pseudo-Aristeu, § 1 1 2 , observa a seguinte o r d e m : " A região é
toda p l a n t a d a de oliveiras, cereais, legumes secos, [rica]
t a m b é m em vinhedos e a b u n d â n c i a de m e l ; q u a n t o às outras frutas e tâmaras não se poderia descrever". D e modo
mais geral apoiamo-nos, de preferência, nos dados do livro de E n o c (I Enoc) e de Josefo. O livro de E n o c , redigido após a invasão dos partos em 48-38 a . C , assim se
e x p r i m e , o p o n d o os arredores de Jerusalém ao vale do
a
90.
91.
92.
93.
Lam. R. 1,
Men. X 5 ;
Ver supra,
V e r supra,
2 s o b r e 1, 1 ( 1 8
b . Git. 5 6 .
p. 52.'
p . 57.
a
b
16).
93
H i n o m : " P o r q u e será essa terra tão a b e n ç o a d a e fartam e n t e a r b o r i z a d a , e n q u a n t o a r a v i n a , no centro, é amaldiçoada?" .
Conta Josefo que H e r o d e s , d u r a n t e o cerco d e 3 7
a . C , m a n d o u cortar todas as árvores da r e g i ã o , a b e m
dizer, da região do norte. O b o s q u e deve, porém, ter brot a d o ou a d e r r u b a d a não foi total. C o m efeito, por ocasião
d o cerco de 70 d . C , os r o m a n o s d e s b a s t a r a m , p a r a c o m e çar, a região diante da cidade '' , e depois o c a m p o , n u m
raio de 90 estádios (isto é, 16,650 k m ) ; enfim, n u m raio
d e 100 estádios ( 1 8 , 5 0 0 k m ) ; assim sendo, d e s b a s t a r a m
u m a área o u t r o r a rica e m árvores e j a r d i n s d e lazer
E n t r e esses, viam-se belos vinhedos; é o q u e Ta'an com e n t a (IV 8) e o n d e R. Shimeon ben Gamaliel se refere
à g r a n d e festa p o p u l a r de 15 a b : sob as vinhas, as j o v e n s
d e Jerusalém d a n ç a v a m d i a n t e dos r a p a z e s .
Conforme vimos há pouco °, o Pseudo-Aristeu deve
exagerar em suas informações acerca de u m a a b u n d a n t e
cultura d e trigo. D e v e m o s t a m b é m aceitar, c o m reservas,
suas outras indicações a respeito da p r o d u ç ã o de frutas nos
arrabaldes de Jerusalém. Q u e m se impressionou pelos estragos que a m á exploração dos turcos acarretou p a r a o
reflorestamento, irá supor, d e imediato, q u e a região e r a ,
antigamente, mais reflorestada do que hoje. Podemos, c o m
efeito, c o m p r o v a r essa asserção no que diz respeito a o
leste e ao oeste do vale do J o r d ã o . Sem d ú v i d a , dois grandes cercos c o n t r i b u í r a m p a r a o desflorestamento das cercanias d a cidade (Pompeu em 63 a . C ; H e r o d e s em 37
a . C ; é provável que somente em p a r t e ) ; f o r a m , p o r é m ,
rapidamente reflorestados e, d e 3 7 a.C. até 6 6 d.C. n ã o
h o u v e o u t r o cerco. Acrescentemos a isso, que o solo é favorável aos oliveirais e b e m menos à v i n h a . P o d e m o s ,
9 4
95
6
9 7
9 S
10
101
94. I Enoc
XXVII
1, cf. X X V I
p o r t a n t o , supor u m reflorestamento mais denso do q u e o
de hoje.
Indicações minuciosas v ê m confirmar este resultado.
Segundo b . B. Q. 82", dentro da p r ó p r i a Jerusalém não
podia haver jardins. O T a l m u d e
cita u m a única exceção: u m roseiral, d a t a n d o da época dos profetas . E m
M. Sh. I I I 7, discute-se o caso de u m a árvore p l a n t a d a
d e n t r o do limite de Jerusalém, cujos frutos caíam p a r a
o l a d o da cidade. É impossível e n c o n t r a r árvores na muralha da encosta ou sobre ela; é preciso, p o r t a n t o , supor
q u e nessa passagem o n o m e " J e r u s a l é m " i n d i q u e o perímetro u r b a n o e não a cidade p r o p r i a m e n t e dita. E n c o n t r a m o s
caso análogo a propósito dos lagares p a r a o óleo .
1 0 2
,a3
ltw
Segundo Jo 12,13 " a m u l t i d ã o t o m o u ramos de palmeira e saiu ao encontro de J e s u s " , h a v e r i a então palmeiras na cidade. E m relato paralelo dos sinóticos, não são
as multidões provindas de Jerusalém ao encontro de Jesus
que lhe p r e s t a m h o m e n a g e m , e sim os peregrinos, vindos
p a r a a festa, em cujo cortejo Jesus se i n c o r p o r a , encaminhando-se p a r a a cidade. Nessa n a r r a t i v a cios sinóticos,
além do mais, não se trata de p a l m a s colhidas em Jerusalém que servem p a r a o r n a m e n t a r o c a m i n h o de Jesus, mas
de galhos folhudos cortados das árvores entre Betânia ou
Betfagé e Jerusalém . Levemos, p o r é m , em consideração
os seguintes p o n t o s : ainda hoje há algumas palmeiras em
Jerusalém e o Pseudo-Aristeu, § 1 1 2 , cita t â m a r a s na lista
dos produtos da c i d a d e . Por conseguinte, a informação
de João integra o domínio das possibilidades. Concluímos
daí t a m b é m
q u e as proibições e n u m e r a d a s em b . B. Q.
8 2 , tendo, ao q u e se diz, força de lei p a r a Jerusalém, não
passam de p u r a s teorias. H a v i a lá, com efeito, u m roseiral,
o n d e se e n c o n t r a v a m , igualmente, f i g u e i r a s
e palmeiras.
105
1 0 6
107
b
108
1; s o b r e o v a l e d o H i n n o n , v e r
supra, p . 128.
9 5 . 8. j . I 17, 8, § 344,
96. B. /'. V 6, 2, § 264.
97. B. } . V 12, 4 , § 5 2 3 ; V I 1, I, § 5 .
98. B. j . V I 2, 7, § 151.
99. B. /'. V I 1, 1, § 6.
100. Supra,
p . 58.
101. V e r supra, p . 6 1 .
102.
103.
104.
105.
106.
107.
108.
b . B. Q. 82*; Ma'as. II 5; T o s . Neg. V I 2
V e r supra, p . 18.
Supra, p . 16.
M c 11,1.8; M t 21,1-8.
V e r supra, p . 6 1 .
V e r supra, p . 15 e infra, p . 70, n . 153.
Ma as. II 5.
1
(625, 1 4 ) .
A p ó s essa exposição, façamos o circuito da c i d a d e .
Já c o m p r o v a m o s a existência de oliveiras a leste e ao sul .
Na torre noroeste da encosta mais setentrional, a torre
Pséfinus, Tito se viu em situação difícil p o r ocasião de
uma p a t r u l h a ; com efeito, os jardins com seus muros e
incontáveis cercas criaram-lhe obstáculos "°. O u t r o r a , t o d a
a p a r t e norte abrangia u m a região de jardins (mais exatamente, de p o m a r e s ) . Antes da construção d a terceira encosta setentrional por Agripa I ( 4 1 - 4 4 d . C ) , já existiam ali
alguns jardins que a encosta em questão englobou por fim.
O n o m e da p o r t a que constitui o ponto de partida da seg u n d a encosta b e m o e x p r i m e : Porta dos Jardins (Gennáth) . Contamos com uma única referência a respeito
d e sua situação: achava-se na primeira encosta setentrion a l . Q u a n t o ao mais, sua posição é discutida e mantém-se
q u e s t ã o a r d e n t e p a r a os estudiosos cristãos e m suas pesquisas sobre a topografia da Jerualém antiga. C o m efeito,
a posição dessa Porta dos J a r d i n s , quer dizer, do começo
da segunda encosta setentrional, d e p e n d e em parte da localização da colina do Gólgota e, p o r t a n t o , da autenticidade do local da igreja atual do Santo Sepulcro. O j a r d i m
de José de Arimatéia, m e m b r o do Sinédrio (Jo 2 0 , 1 5 ;
19,41), situava-se na vizinhança d a segunda encosta setentrional; foi incluído na cidade após a construção da terceira encosta (41,44 d . C ) . Um jardineiro c u i d a v a desse
j a r d i m (Jo 2 0 , 1 5 ) . Mesmo depois de a terceira encosta setentrional ter incluído no p e r í m e t r o d a cidade os j a r d i n s
situados d i a n t e da segunda encosta, sabemos q u e h a v i a
jardins ao n o r t e . C o m seu exército, T i t o a v a n ç o u a p a r t i r
do monte Scopus, situado ao norte de Jerusalém, e alcançou j a r d i n s , plantações de árvores e recantos guarnecidos
de árvores selecionadas " .
m
111
2
Chegamos à leste da cidade. Segundo Jo 1 8 , 1 , existia
u m jardim perto do lagar do G e t s ê m a n i , n a área superior
do vale do Cédron. Era, seguramente, u m oliveiral, conforme o indica o lagar p a r a o óleo. N o c a m i n h o de Jeru-
salém, e m Betânia, situado a este, vemos belo a r v o r e d o .
O s evangelhos falam da maldição de u m a figueira ; trata-se, evidentemente, de u m a figueira d e s t a c a d a das outras
árvores ao longo deste c a m i n h o . Neste m e s m o percurso,
entre Jerusalém e Betânia, achava-se Betfagé; segundo as
indicações que possuímos, deve-se t r a d u z i r este n o m e p o r
"casa dos figos v e r d e s " . Se nos dirigirmos p a r a o sudeste, chegamos ao curso inferior do C é d r o n . Nesse local, o
vale favorecia a construção de jardins e o p r ó p r i o vale do
Cédron é u m w a d i . C o m água apenas no inverno , mas
com u m afluxo artificial, o sangue das vítimas que descia
do T e m p l o . Isso dava-lhe e x t r a o r d i n á r i a fertilidade. A esp l a n a d a do T e m p l o , calçada, era ligeiramente inclinada,
a fim de que pudessem lavar o sangue das vítimas . A ent r a d a do canal que o escoava achava-se junto ao altar ;
nele jogavam diretamente o sangue dos animais impróprios p a r a os sacrifícios . Esse canal de escoamento subt e r r â n e o , chegava até o vale do Cédron . Dos tesoureiros
do T e m p l o os jardineiros c o m p r a v a m o sangue e o utilizav a m como a d u b o ; aquele que o usasse sem pagar, r o u b a v a
do T e m p l o .
113
114
1 1 5
m
117
!1S
m
m
121
N a colina ocidental do vale do Cédron, ao sul da
esplanada do T e m p l o , os vinhedos e r a m sem d ú v i d a cultivados. D a l m a n mostrou essa p r o b a b i l i d a d e , baseando-se
nas escavações de R. W e i l l , de 5 de n o v e m b r o de 1913
a 8 de m a r ç o de 1 9 1 4 , n a vertente oriental do O f e l . Na
encosta, Weill descobriu três p a t a m a r e s em forma de ter12Z
113. M t 21,8; M c 11,8.
114. M c 11,13-14; M t 21,18-22.
115. O u t r a s hipóteses s o b r e o d e r i v a d o d a p a l a v r a e m D a l m a n ,
lünéraires,
352 e n . 2 .
116. Ant. V I I I 1, 5, § 17; Jo 18,1.
117. P s e u d o - A r i s t e u , § 88 e 90.
118. Mid. I I I 2.
119. Zeb. V I I I 7.
120. Tamid
I V 1; Mid. I I I 2 ; Yoma V 6; Pes. V 8; Me'i!a I I I
e
passim.
121. Yoma V 6. — T r a t a v a - s e de u m a g r a n d e q u a n t i d a d e de sang u e , s o b r e t u d o d u r a n t e as festas; b . Pes. 6 5 o faz v e r q u a n d o diz:
" E r a o o r g u l h o dos filhos de A a r ã o m e r g u l h a r os p é s , até o t o r n o z e l o ,
n o s a n g u e [das v í t i m a s ] " (esse texto fala da q u a n t i d a d e de s a n g u e
n o átrio d o s s a c e r d o t e s e n ã o n o c a n a l ) .
122. Cf. ZDPV
45 ( 1 9 2 2 ) , 2 7 .
b
109.
1.10.
111.
112.
V e r supra,
fí. j . V 2,
B. j . V 4,
B. /. V 3,
p . 15.
2, § 57.
2, § 146.
2, § 107.
3 - Jerusalém
no t e m p o
de
Jesus
O
raços, c o m vestígios de m u r o s , u m m u r o transversal de
40 m . de c o m p r i m e n t o e u m torreão; segundo D a l m a n ,
todos faziam p a r t e de u m a v i n h a .
Mais ao sul, em direção da piscina de Siloé, a " f o n t e "
d e Siloé (na realidade a fonte b r o t a mais ao norte = fonte
de Gion) alimentara com suas águas os jardins do v a l e
d o Cédron . N a confluência dos vales do Cédron e do
H i n o n , floresciam, já em épocas remotas, os jardins reais.
U m a fonte aí b r o t a v a , E n Rogel, segundo a t r a d i ç ã o .
Nesses jardins é q u e se e n c o n t r a v a m os lagares reais ,
A sudeste d a cidade, o n o m e do vilarejo
Erebínthom
oíkos indica a cultura de grão-de-bico .
O s dados gerais relativos às plantações de frutas e
legumes situadas nas cercanias de Jerusalém c o n f i r m a m a
existência do varejo. Tais plantações forneciam, suficientemente, legumes, azeitonas, u v a s , figos e grão-de-bico.
Além das frutas trazidas das redondezas, faziam vir,
sobretudo da Judéia, azeitonas (óleo) e u v a ( v i n h o ) .
O v i n h o servia, no T e m p l o , p a r a as libações. Segund o Men V I I I , 6, vinha sobretudo de Quiriat-Jearim (sit u a d a seguramente no w a d i F a r ' a h ao norte de Jericó)
e de A t u l a i m (ao norte de Guilgal); a p r e c i a v a m m e n o s o
vinho p r o d u z i d o em Bet-Rema e Bet-Labão, a m b a s situadas na m o n t a n h a , e de G u e f a r Segana na planície \ Seguindo o texto da Mishna, vemos que as outras regiões
da Palestina teriam p o d i d o igualmente fornecer v i n h o p a r a
o T e m p l o , o q u e nos permite p r o c u r a r as cinco localidades em questão, todas n a Judéia, de acordo c o m a localização aceita. Acrescentemos a essas indicações três grupos
de dados: freqüentes topónimos da Judéia confirmam a
cultura d a vinha; subsistem numerosos vestígios de lagares de uva; finalmente, o Antigo T e s t a m e n t o
e o Tal1 B
m
m
m
127
m
l 2
m
123. Cf. Z c 14,10; v e r u m p o u c o mais a d i a n t e .
124. B.
V 9, 4, § 410.
125. Ant. V I I 14, 4, § 347.
126. I R s 1,9.
127. Z c 14,10. Esse d a d o d e v e i n d i c a r o limite m e r i d i o n a l d a
cidade.
128. B. /. V 12, 2, § 507.
129. S o b r e a localização, v e r N e u b a u e r , Géogr., S2ss e S. K l e i n
em Festschrifí
Schwarz,
391.
130. S m i t h , I, 303 e n. 2.
COMÉRCIO
mude
apresentam a Judéia c o m o a região d e vinhateiros p o r excelência. P o d e m o s afirmar, p o r t a n t o , q u e a Judéia fornecia v i n h o e u v a p a r a Jerusalém.
131
As azeitonas constituíam a principal p r o d u ç ã o frutífera da Judéia; E u p o l e m o
e o Pseudo-Aristeu
estão
de a c o r d o neste p o n t o . A existência d e inúmeros topónim o s da Judéia
e a q u a l i d a d e do terreno
confirmam
as informações. Segundo Men. V1ÍI 3 o óleo necessário
p a r a o T e m p l o v i n h a d e T é c u a n a Judéia e de R a g a b na
Peréia . De acordo com j . Hag. I I I 4, 7 9 3 ( 1 V / 1 , 2 9 8 ) ,
a Peréia m a n d a v a azeitonas m a s n ã o o a z e i t e . T o s . Men.
I X 5 ( 5 2 6 , 5) m e n c i o n a G o s h H a l a b ( = Giscala em Josefo) n a Galileia, como terceiro lugar de p r o d u ç ã o ; p o d e
ser, p o r é m , q u e , na base dessa última afirmação o autor
t e n h a q u e r i d o realçar n ã o tanto u m f a t o histórico q u a n t o
a necessidade de fazer u m a e n u m e r a ç ã o completa das três
partes d a Palestina judaica. Um único texto
menciona
o transporte d e frutas da Galileia p a r a venda em Jerusalém.
132
133
134
135
136
t
137
138
Caminhemos agora até o m e r c a d o de frutas e legumes da cidade santa. Conforme o q u e a c a b a m o s d e const a t a r , ali e n c o n t r a m o s figos q u e se p o d e r i a c o m p r a r igualm e n t e n o roseiral , e frutas de sicômoro . U m a só dessas frutas constituía a a l i m e n t a ç ã o d o p i e d o s o S a d o c ; ent r e t a n t o , d i s p u n h a d e mais d e cem p o r dia. N a Páscoa,
devido a o g r a n d e n ú m e r o de peregrinos, forçoso era trazer p a r a o m e r c a d o , g r a n d e q u a n t i d a d e d e legumes e determinados condimentos, necessários à celebração ritual
d a ceia pascal. A alface, por exemplo, era obrigatória ;
m
m
141
131. Klein, loc.
cit„ 389-392.
132. S u p r o , p . 57.
v e i r a 133.
s " . § 112; v e r supra,
134. S m i t h , I, 300, n.
p. 61:
"inteiramente
plantada
com
oli-
3.
135. S u p r a , p . 62.
136. Ant. X I I I 15, 5, § 3 9 8 ; h o j e Rãgib, a identificar c e r t a m e n t e
c o m E r g a , m e n c i o n a d a a 15 m i l h a s a o o e s t e d e G e r a s a ( E u s é b i o ,
Onomasticon
216 (GCS I I . \, 1 6 ) .
137. Ver supra, p . 15.
138. Ma'as. II 3 .
139. Maas.
I I 5.
140. Iam.
R. 1, 32 s o b r e 1, 5 (29^ 1 1 ) .
141. Pes. X 3 .
p e r m i t i a m , p o r é m , a chicória, o agrião, o b r e d o , ervas
amargas . N a Páscoa, o m e r c a d o d e Jerusalém devia
t a m b é m expor condimentos, v i n h o e vinagre; m i s t u r a d o s
às frutas esmagadas formavam a massa ritual
(hãrôset) :
o v i n h o , como b e b i d a , fazia igualmente parte d a refeição
ritual; m e s m o os mais pobres d e v e r i a m b e b e r p e l o m e n o s
q u a t r o taças . O s trezentos tonéis de v i n h o trazidos do
m o n t e de Simeão serviam, ao q u e parece, p a r a esse uso
ou p a r a q u a l q u e r outra necessidade c u l t u a l .
Recapitulemos o q u e as informações nos f o r n e c e m
acerca do cultivo nos a r r a b a l d e s d a cidade e d a importaç ã o d o trigo, frutas e legumes. Fazia-se vir a maior p a r t e
do trigo de outras regiões da Palestina, sobretudo da
T r a n s j o r d â n i a e n ã o só da Judéia. A Galileia e a Samaria o c u p a v a m o segundo lugar no fornecimento desse cereal. O abastecimento d e frutas e legumes p a r a a c i d a d e
era d e m o d o especial g a r a n t i d o pela p r o d u ç ã o das cercanias (vinho, figos, legumes) e pela Judéia (azeitonas e
uvas).
142
143
144
têm licença de comer. Além disso, n ã o é p e r m i t i d o deixar
entrar a pele desses animais n e m fazer criação deles na
cidade. Somente são autorizados os q u e vão servir nos
sacrifícios tradicionais, necessários p a r a aplacar a ira d e
D e u s " . Essa ordem limitou, pois, a importação de animais, só p e r m i t i n d o a dos que iam servir p a r a o culto.
Revela u m a i m p o r t a ç ã o em g r a n d e escala n o início do
século II antes de nossa era.
w
l45
c.
Gado
De onde faziam
vir os
animais?
" G r a n d e v a r i e d a d e de animais ali e n c o n t r a v a pastagens a b u n d a n t e s " , diz o P s e u d o - A r i s t e u . Com efeito,
a região das estepes dos montes da Judéia é propícia às
pastagens, mas u n i c a m e n t e p a r a os r e b a n h o s de carneiros
e cabras. A essa informação do Pseudo-Aristeu corresponde e x a t a m e n t e o q u a d r o d a d o por b . Men. 8 7 , c o m a fórmula de introdução tanaíta ("Nossos mestres e n s i n a r a m " ) ,
indicando u m a data anterior a 2 0 0 d.C. Trata-se das necessidades do T e m p l o : " P r o c u r a v a m - s e carneiros e m M o a b ,
cordeiros no H e b r o n , novilhos em S a r o n , p o m b o s n a ..Montanha r e a l " . Saron era a planície costeira entre Jafa e
Lida , g r a n d e m e n t e propícia à criação de bois. A Montanha real são os montes da Judéia.
143
a
1W
A o l a d o da i m p o r t a ç ã o d e trigo e azeitonas, E u p o lemo
m e n c i o n a a d e g a d o . Conforme conta Josefo, Antíoco, o G r a n d e (príncipe da Palestina p r o v i s o r i a m e n t e em
219-217 a . C , e depois, definitivamente em 1 9 8 ) , proclam o u p a r a todo o seu reino, u m a o r d e m relativa à importação d e animais e m Jerusalém: " A s s i m t a m b é m fica proibida a i n t r o d u ç ã o na cidade de carne de cavalo, de m u a res, onagros ou de asnos domésticos, p a n t e r a , r a p o s a , lebre e, em geral, de q u a l q u e r animal q u e os j u d e u s n ã o
146
142. Pes. I 6.
143. Pes. X 3 .
144. Pes. X 1.
145. Lam. R. 2, s o b r e 2, 2, ( 4 4 4 ) , cf. j . Ta'na.
I V 8, 6 9 37
( I V / 1 , 1 9 1 ) ; r e s u l t a d o fato d e o c o n t e x t o a p r e s e n t a r essa e x p o r t a ção de v i n h o c o m o u m m é r i t o d o m o n t e de S i m e ã o . Assim t a m b é m ,
o p a r a l e l i s m o c o m o m o n t e das O l i v e i r a s (ibid.),
o n d e se e n c o n t r a v a m as lojas d o s v e n d e d o r e s d e a n i m a i s p a r a os sacrifícios, i n d i c a u m a
utilização d o v i n h o p a r a as n e c e s s i d a d e s cultuais.
146. V e r supra, p . 57.
a
a
Se a isso acrescentarmos a indicação d e E u p o l e m o ,
segundo a q u a l os animais de corte v i n h a m da A r á b i a , ou
melhor, da T r a n s j o r d â n i a , temos o seguinte q u a d r o : os
montes da Judéia forneciam carneiros, cabras e p o m b a s ;
a T r a n s j o r d â n i a , animais cevados, especialmente carneiros;
na planície costeira, vitelos.
Jerusalém contava c o m diversos m e r c a d o s de animais,
uns p a r a os profanos e outros p a r a o destinados aos sacrifícios.
1. U m deles só vendia animais v i v o s .
1S0
151
147. Ant. X I I 3 , 4, § 146.
148. § 112.
149. P a r a a localização, v e r A t 9,35.
150. Supra, p . 147.
1 5 1 . Sheq. V I I 2 . Essa p a s s a g e m d e i x a s u p o r q u e aí se c o m p r a v a
a m a i o r p a r t e dos a n i m a i s c o m " o d i n h e i r o d o d í z i m o " . C a d a israelita
p i e d o s o era, c o m efeito, o b r i g a d o a d i s p e n d e r e m J e r u s a l é m , o d é c i m o
2 . O u t r o comerciava animais cevados, sendo explicit a m e n t e u m m e r c a d o de carne . Aí se v e n d i a m galinhas
também.
Aos m e r c a d o s de animais profanos acrescentavam-se
os mercados d e animais p a r a os sacrifícios .
3 . N o m o n t e das Oliveiras, havia dois cedros. Sob
uma dessas árvores achavam-se " q u a t r o lojas o n d e vend i a m o q u e era necessário aos sacrifícios de p u r i f i c a ç ã o " ;
essas palavras indicam especialmente p o m b o s , cordeiros,
carneiros, óleo e farinha. "Sob outro cedro, v i n h a m buscar, todo mês, 40 s "ah d e rolas p a r a os sacrifícios \ N ã o
sabemos, e x a t a m e n t e , o n d e fica situado Migdal Seboaya
((variante: Sabbaaya) = Migdal dos tintureiros; h a v i a lá,
segundo dizem, trezentas lojas de comerciantes de animais
152
153
l
! 5
d o l u c r o de sua terra e talvez t a m b é m d e seus a n i m a i s (a isso se
c h a m a v a s e g u n d o d í z i m o ) . O s fiéis u s a v a m g r a n d e p a r t e d e s s e d i n h e i r o
p a r a os sacrifícios pacíficos e sacrifícios de ação de g r a ç a s , isto é, sacrifícios q u e p o d i a m ser c o n s u m i d o s após t e r e m d a d o aos s a c e r d o t e s
a p a r t e q u e lhes c a b i a . A l é m d o m a i s , a M i s h n a deixa s u p o r q u e
t o d o a n o c o m p r a s eram feitas c o m o d i n h e i r o do s e g u n d o d í z i m o , port a n t o , q u e as p e s s o a s d o c a m p o d e i x a v a m esse d i n h e i r o p a r a seus
amigos de J e r u s a l é m . E m u i t o i m p o r t a n t e p a r a a s i t u a ç ã o social da
c i d a d e (ver supra, p . 4 3 ) .
152. S o b r e os d i f e r e n t e s s e n t i d o s d a p a l a v r a pattamítn,
ver
supra,
p . 17; Levy, Wòrterbuch,
I V , 27 b.
153. S e g u n d o B. Q. V I I 7; T o s . B. Q. V I I I 10 ( 3 6 1 , 2 9 ) ; b . B. Q .
S 2 , a c r i a ç ã o dc g a l i n h a s era p r o i b i d a em J e r u s a l é m . T e m i a - s e , c o m
efeito, q u e as galinhas, ao ciscar, p u s e s s e m à luz coisas i m p u r a s . E m
c o n t r a p a r t i d a , e n c o n t r a m o s referência d e u m g a l o e m J e r u s a l é m ; c a n t o u
n a h o r a da n e g a ç ã o de P e d r o ( M c 14,72; M t 26,74; Lc 22,60; Jo
18,27). S e g u n d o a M i s h n a , o c a n t o d o galo seria, n o T e m p l o , c o m o
p o n t o d e r e f e r ê n c i a : " A o c a n t o d o g a l o , t o c a v a m as t r o m b e t a s "
(Sukka
V 4, cf. Tamid
V 4, cf. Tamid
I 2 e Yoma
I 8 ) . U m a só v e z a
M i s h n a m e n c i o n a u m galo dc J e r u s a l é m e assim m e s m o n u m c o n t e x t o
l e n d á r i o . R. Y u d a b e n Baba, s e g u n d o 'Ed. VI 1, d e c l a r o u : " A p e d r e j a r a m u m galo e m J e r u s a l é m , p o r q u e ele m a t a r a u m h o m e m " ( d i z e m
q u e com o bico, furara o crâneo de u m a c r i a n ç a ) . E m suma, podemos
afirmar q u e se c r i a v a m galinhas c m J e r u s a l é m . A p r e t e n s a p r o i b i ç ã o
de criá-las n ã o é mais digna de c r e n ç a do q u e as o u t r a s p r o i b i ç õ e s
m e n c i o n a d a s nessa p a s s a g e m d e b . B. Q. 82
(cf. supra, p p . 16 e 6 3 ) .
T o s . B. Q . V I I I 10 ( 3 6 1 , 29) traz u m a c o n f i r m a ç ã o : a criação d a q u e l a s
aves é p e r m i t i d a se, p a r a ciscar, elas t i v e r e m u m j a r d i m ou u m m o n t e
de esterco. M e n c i o n a m a esse r e s p e i t o , a existência d e j a r d i n s e m Jer u s a l é m (supra,
p . 6 2 ) ; c o n f i r m a , pois, a i n v e r o s s í m i l b a n ç a d e b .
B. Q. 8 2 e p a s s a g e n s p a r a l e l a s .
b
b
b
154. Lam R. 2, 5 s o b r e 2, 2] ( 4 4 2 ) ; cf. j . Ta'an. I V 8, 6 9 36
( I V / 1 , 1 9 1 ) . A esse r e s p e i t o é p r e c i s o m e n c i o n a r u m texto d e fosefo
q u e d e s c r e v e o m u r o d o c e r c o d e T i t o (B. j . V 12, 2 , § 5 0 5 ) . E s t e
a
a
ritualmente puros p a r a os sacrifícios , e oitenta de tecelões t r a b a l h a n d o e m lã fina . N e u b a u e r situa essa localidade nos arredores de T i b e r í a d e s S e r i a m , pois, obrigados a transportar, através de u m território p a g ã o , os animais p a r a os sacrifícios; essa afirmação de N e u b a u e r parece-nos, p o r t a n t o , duvidosa. H a v e r i a , talvez, nas cercanias de Jerusalém u m lugar com esse n o m e . Segundo o
M i d r a x e . , u m servente da sinagoga p r e p a r a v a neste local as lâmpadas p a r a o s á b a d o , ia r e z a r no T e m p l o e tin h a t e m p o de voltar p a r a acender as l â m p a d a s ; conclui¬
-se, pois, que essa localidade ficava m u i t o p r ó x i m a de Jerusalém. Aceitemos, e n t r e t a n t o , essa informação com algum a reserva, já que o contexto n a r r a fato análogo c o m mulheres de Lida.
,5S
15É
158
N o T e m p l o , em Jerusalém, somente u m comércio de
animais p a r a os sacrifícios nos é c o n f i r m a d o . Jesus chega
à e s p l a n a d a do T e m p l o , d e r r u b a as "mesas dos cambistas"
e " a s cadeiras dos que v e n d i a m p o m b o s " ; seg u n d o Jo 2 , 1 4 , tratava-se de " v e n d e d o r e s de bois, de ovelhas e de p o m b o s " .
Mais de u m a vez a exatidão dessas asserções foi posta
em d ú v i d a . N ã o h á motivo, p o r é m . Já Z c 14,21 (quer
dizer, o Deuterozacarias, séculos Í V / I I I antes de nossa
era) fala d a presença de m e r c a d o r e s no Santuário. Sheq.
I 3 e Tos. Sheq. I 6 (174, 6) g a r a n t e m , igualmente, a
existência de cambistas na e s p l a n a d a d o T e m p l o . C o n v é m
talvez p r o c u r a r , nessa e s p l a n a d a , as lojas situadas ao longo
do a q u e d u t o . Correspondiam, pois, às lojas onde, quarenta anos antes da ruína de J e r u s a l é m , o Sinédrio — dizem — estabelece sua sede. (Esse d a d o é manifestamente
u m a representação figurada da a n u l a ç ã o da p e n a de mor¬
159
1 6 0
l61
m u r o s o b e a t é o m o n t e das O l i v e i r a s e " e n g l o b a
a colina
c h e d o c h a m a d o ' R o c h e d o d o p o m b a l ' " . Seu n o m e p r o v é m
das c a v i d a d e s feitas n a r o c h a o n d e se a b r i g a m
155.
156.
157.
Palästina,
158.
159.
160.
161.
até o rocertamente
os p o m b o s .
Lam. R. 2, 5 s o b r e 2, 2 ( 4 4 1 8 ) .
j . Ta'an I V 8, 6 9 42 ( I V / 1 , 1 9 1 ) .
N e u b a u e r , Géogr.,
217s; cf. F . B u h l , Geographie
des
Fribourg-en-Bisgau e Leipzig, 1896, 2 2 6 .
Lam. R. 3 , 9 s o b r e 3 , 9 ( 5 0 2 3 s s ) .
M c 11,15; M t 21,12; cf. t a m b é m Jo 2,14.
M c 11,15; M t 21,12.
Lam. R. 4, 7 s o b r e 4, 4 ( 5 7 8 ) ; cf. supra, p . 24.
a
a
b
b
alten
t e ' ) . A correspondência dessas lojas àquelas q u e o Midraxe
m e n c i o n a é indiscutível, já q u e , como citam explicitamente os textos do T a l m u d e , o Sinédrio n ã o se
instalou " n a c i d a d e " senão mais t a r d e . Devemos, p o i s ,
p r o c u r a r aqui os vendedores de p o m b o s p a r a os sacrifícios, o que já c o m e n t a m o s acima, à p . 5 1 .
M c 11,15 e Mt 21,12 m e n c i o n a m somente os vendedores de p o m b o s . Mas antes, ambos falam de " v e n d e d o r e s
e c o m p r a d o r e s " ; esses termos talvez p r e t e n d a m designar
os comerciantes de animais (Jo 2,14). R e a l m e n t e , u m a tradição rabínica alude a u m comércio de animais no recinto
do T e m p l o . Segundo j . Besa II 4, 6 l 13 ( I V / 1 , 119),
R. Baba b . Buta, c o n t e m p o r â n e o de H e r o d e s , o G r a n d e ,
fez vir três mil cabeças de animais de p e q u e n o p o r t e e
os pôs à v e n d a na m o n t a n h a do T e m p l o , p a r a os holocaustos e sacrifícios pacíficos . A l é m disso, como vimos na
p . 3 2 , havia lojas, Benê H a n u n o u H a n a n ; é possível q u e
t e n h a m o s de reconhecê-las como as lojas de Beth H i n o e,
talvez, como as que foram acima indicadas, p . 7 0 , 3 . T a i s
lojas p e r t e n c i a m , certamente, à família do sumo sacerdote . Acrescentemos ao fato dois outros dados. J o s e f o
classifica o sumo sacerdote A n a n i a s (em função de 4 7 a
55 d . C , a p r o x i m a d a m e n t e ) como " u m h o m e m de negócios, finório e a s t u t o " ; p o r o u t r o l a d o , segundo Tosefta ,
o amor de M a m o n e o ódio m ú t u o foram, como dizem,
as causas da ruína do T e m p l o . Podemos, pois, concluir
q u e , no átrio dos Gentios, a despeito da santidade do recinto p o d e ter h a v i d o u m comércio florescente de animais
p a r a os sacrifícios. Talvez fosse a influente família pontifical de Anás q u e o exercia.
6 2
163
d. Matérias-primas
e
mercadorias
m
c
165
166
167
168
1. P a r a a construção das casas, empregava-se especialmente a p e d r a ; as cercanias da cidade p o d i a m fornecê-la . As p e d r a s p a r a o altar e sua r a m p a v i e r a m de
Betacarém .
2 . E m p r e g a v a m t a m b é m a m a d e i r a , sobretudo traves
p a r a a construção do teto . T o s . 'Ed. I I I 3 ( 4 5 9 , 25) e
b . Zeb 1 1 3 m e n c i o n a m explicitamente u m entreposto, em
Jerusalém, p a r a o m a d e i r a m e , o n d e foram encontrados restos de ossos. Lam. R. 1, 2 sobre 1, 1 ( 1 8 13) deixa supor q u e as casas de lá teriam c o m u m e n t e três a n d a r e s . Se
assim era, a necessidade de m a d e i r a de construção terá
sido considerável. A n t i g a m e n t e , os arredores de Jerusalém
e r a m mais arborizados do que o são hoje ; a região próxima fornecia, pois, a maior p a r t e da m a d e i r a de construção. E m todo caso, os campos diante d a cidade g a r a n t i a m
o abastecimento de lenha p a r a a q u e c i m e n t o ; é o que nos
mostra o relato do c o m p o r t a m e n t o de Simão, chefe dos
s a l t e a d o r e s . Cada pessoa buscava e m Mosa as folhas
de salgueiro usadas na festa das T e n d a s ; encontramos este
lugar na região da atual Kolonieh, a oeste de Jerusalém,
n a estrada d e Jafa. R. Yosé, o Galileu, exige q u e se asse
o cordeiro pascal com o auxílio de u m espeto de m a d e i r a
de romãzeira ™; sendo tal prescrição o b s e r v a d a , u m a enorm e q u a n t i d a d e dessa madeira seria utilizada por ocasião
da Páscoa p a r a as milhares de vítimas.
m
m
m
a
b
m
m
A p a r desses usos profanos, a m a d e i r a tinha t a m b é m
a sua utilidade no T e m p l o . Para a c o n s t r u ç ã o do santuário foi e m p r e g a d o sobretudo o cedro do L í b a n o . Seg u n d o o M i d r a x e , a arca da aliança teve de ser fabricada com. a m a d e i r a da acácia que Jacó t r o u x e r a de Migdal
175
176
162.
163.
164.
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b . R. H. 3 1 ; b . Sanh. 4 1 ; b . Shab. 1 5 ; b . 'A. Z.
V e r n . 161.
V e r n. 162.
Cf. T o s . Hag. I I 11 (236, 6 ) ; Billerbeck, I, 851s.
É t a m b é m a o p i n i ã o d e D e r e n b o u r g , Essai, 4 5 9 .
Ant
X X 9, 2, § 2 0 5 .
T o s . Men. X I I I 22 (534, 2 ) .
a
a
a
8 .
b
169. V e r supra, p . 30.
170. Mid. I I I 4. S i t u a d o n a Judéia, Jr 6,1 e N e 3,14; s e g u n d o Jer ô n i m o , In Hieremiam
II 8 s o b r e 6, 1 (CCL 74, 6 3 ) , s o b r e a colina
entre Jerusalém e Técua.
171. Ohal. X I I 5s; T o s . Ohal. V 5 (602, 1 6 ) .
172. V e r supra, p . 6 1 .
173. Ü. /. IV 9, 8, § 5 4 1 .
174. Pes. V I I í .
175. V e r supra, p . 5 3 .
176. Gn. R. 94, 4 s o b r e 46, 1 ( 2 0 2 1 3 ) .
a
Seboaya ou Sabbaaya . Para o sacrifício diário, serviam¬
-se da m a d e i r a da figueira, da nogueira e do p i n h o resinoso; a m a d e i r a de oliveira e os sarmentos e r a m impróprios p a r a tal uso . O braseiro onde se assava a novilha
vermelha no m o n t e das Oliveiras era feito de madeira d e
c e d r o , l o u r o , cipreste e figueira .
O T e m p l o fora construído da maneira mais grandiosa
possível e, n o culto conservaram com tenacidade, antigas
tradições. Esses dois motivos explicam a preferência p e l o
cedro, e m b o r a obrigados a fazê-lo vir d e regiões distantes.
E m c o n t r a p a r t i d a era proibido empregar a m a d e i r a de oliveira, muito mais a b u n d a n t e nas vizinhanças.
Josefo menciona u m m e r c a d o de madeira na p a r t e setentrional da cidade , o n d e se e n c o n t r a v a m as q u e pod i a m servir p a r a usos profanos.
171
m
m
tudo isso, salvo o que o T e m p l o não p o d i a prescindir,
vinha em g r a n d e parte da Judéia.
R e s u m i n d o : o comércio com as regiões p r ó x i m a s devia sobretudo suprir às necessidades de Jerusalém com
produtos alimentares. E m segundo lugar, fornecia matérias¬
-primas às diferentes profissões da c i d a d e .
B. INFLUÊNCIAS DAS CARACTERÍSTICAS
DE JERUSALÉM SOBRE O COMÉRCIO
1. A situação da cidade
i m
3. Os h o m e n s do c a m p o iam a Jerusalém p a r a v e n d e r
lã. Por vezes v i n h a m de longe, como podemos deduzir do
que lemos: " u m mercador foi até Jerusalém p a r a v e n d e r
l ã " . Usava-se a lã de p ú r p u r a q u a n d o era q u e i m a d a a
novilha vermelha .
181
182
4 . Os objetos de cerâmica trazidos de Modiit (27 k m
de Jerusalém) ou de mais p e r t o , e vendidos n a q u e l a cid a d e , p a s s a v a m p o r ritualmente p u r o s . Se viessem d e m a i s
longe, consideravam-nos i m p u r o s .
183
5. Escravos dos dois sexos faziam p a r t e das "merc a d o r i a s " , n o sentido específico da época. C o n f o r m e vimos , existia u m a pedra na cidade onde e r a m eles expostos e destinados à venda pública .
A Palestina fornecia, p o r t a n t o , como matérias-primas
e " m e r c a d o r i a s " : m a d e i r a , p e d r a , lã, cerâmica, escravos;
m
m
E m conseqüência do desenvolvimento da proteção militar
e da política colonizadora do império r o m a n o , a
zona civilizada síria estendia-se mais a leste do que hoje.
N a T r a n s j o r d â n i a , uma civilização florescente se expandia. Com efeito, a província da Síria da qual d e p e n d i a
então a província da J u d é i a , " o c u p a v a , ao lado do Egito, o p r i m e i r o lugar entre as províncias do império rom a n o no que concerne ao comércio e às p r o f i s s õ e s " .
Q u a n t o às condições de civilização, a situação apresentava-se, pois, favorável p a r a o comércio d e Jerusalém.
Voltemos nosso olhar p a r a a p r ó p r i a cidade. Sua posição central salta aos olhos. Já na época, causava forte
impressão aos escritores. Jerusalém situa-se b e m no meio
da Judéia . Siloé — b e m e n t e n d i d o pars pro toto, é, digamos, p a r a Jerusalém, o p o n t o central d e todo Israel °.
Mais ainda: Jerusalém é o centro do m u n d o h a b i t a d o ,
o p o n t o central da terra inteira . D e v i d o a sua localização, a cidade é designada como u m b i g o do m u n d o ; os
m
187
188
1S9
19
191
l92
19i
177. Cani. R. 1, 55 s o b r e 1, 12 ( 2 1 2 ) .
178. Tamirí I I 3.
179. Para I I I 10.
180. B. j . II 19, 4, § 530.
181. Lam. R. 2, 24 s o b r e 2 . 15 ( 4 8 1 6 ) .
182. Para I I I 10.
183. Hag. I I I 5.
184. Supra,
p . 54.
185. S o b r e a q u e s t ã o dos escravos, ver infra,
442ss; 455SS.
a
b
pp.
157s,
414ss,
186.
187.
188.
189.
190.
191.
192.
193.
V e r supra, p. 60.
V e r supra, p. 11.
G u t h e , Griech.-ròm.
Stàdte,
40s.
P s e u d o - A r i s t e u , § 8 3 ; B. j . I I I 3 , 5, § 52.
j . Hag. I 1, 7 6 47 ( I V / 1 , 2 6 0 ) .
E z ' 5 , 5 ; cf. G o t t h e i l , JE V I I , 129.
1 Enoc X X V I 1.
Ez, 38,12; B. j . I I I 3, 5, § 52.
a
pagãos e Satanás subirão até a superfície da terra ( A p 2 0 ,
9). Jubileus V I I I 19 enfatiza a expressão referente à mont a n h a de Sião, chamando-a de " o umbigo da t e r r a " .
Além de sua posição, a cidade beneficiava-se de relações m a r í t i m a s fáceis pelos portos d e Ascalon, Jafa, G a z a
e Acra. U m p o n t o de particular importância: Jerusalém
situa-se a igual distância de todos esses p o r t o s . O c u p a ,
p o r t a n t o , u m a posição central e m relação a eles, como b e m
observa o Pseudo-Aristeu, § 115.
Todavia, cometeríamos u m erro se concluíssemos dessas constatações que as relações comerciais se processavam
c o m o d a m e n t e . D e que adiantaria a Jerusalém ser o centro
da província, ter comércio p r ó s p e r o e fáceis ligações marítimas, se p e r m a n e c i a u m a cidade isolada, na m o n t a n h a ?
' Tal era o caso.
E m todos os tempos e a i n d a e m nossos dias, as montanhas da Judéia, com suas grutas e escaninhos sem conta, constituem terreno favorável à atividade dos b a n d i d o s ,
apesar da g r a n d e vigilância do governo. Por volta d o final do século passado, vilarejos inteiros, como A b u - G o s h
entre Jafa e Jerusalém e Abu-Dis ao sudeste da c i d a d e ,
e r a m ainda antros de criminosos b e m conhecidos. C o m
efeito, de períodos anteriores a 70 d . C , ouvimos falar de
casos de b a n d i t i s m o ou de sua ameaça nas estradas que
levavam a Jerusalém. Sheq. II 1 n a r r a o caso de pessoas
que traziam à Capital a taxa p a r a o T e m p l o e e r a m atacadas no c a m i n h o ; em R. H. I 9, trata-se de testemunhas
q u e v i n h a m informar em Jerusalém ter visto a lua n o v a .
Jesus conta (Lc 10,30-37) — é v e r d a d e que somente
em p a r á b o l a — a história de u m viajante agredido na est r a d a que ia de Jerusalém a Jericó, r o u b a d o e largado
semimorto (a p a r á b o l a leva-nos à conclusão de q u e três
viajantes fazem, sem escolta, o mesmo c a m i n h o ) . C o n v é m
ainda l e m b r a r u m relato de Josefo o n d e se n a r r a o caso
de u m escravo imperial atacado e assaltado n a estrada
q u e vai p a r a Jerusalém por Bet-Horon. O s r o m a n o s vingaram-se cruelmente, s a q u e a n d o os vilarejos vizinhos. Jesus
dirige esta censura ao g u a r d a do T e m p l o q u e v e m prendê¬
-lo: " C o m o a u m ladrão, saístes p a r a p r e n d e r - m e com espadas e p a u s ! " (Mc 14,48). Deduz-se q u e a g u a r d a do
T e m p l o tinha p o r dever intervir c o n t r a os b a n d i d o s . Dois
ladrões foram crucificados c o m Jesus (Mc 15,27). Segundo Jo 18,40, Barrabás, a princípio c o n d e n a d o à m o r t e , era
u m assaltante .
Assim q u e a revolta n a cidade m a n i e t o u as autoridades de Jerusalém, os saques r e c r u d e s c e r a m no país . U m
tribunal particular teria q u e julgar casos de p i l h a g e m
e, ao m e s m o t e m p o , tomar medidas policiais contra os
culpados.
m
195
196
T o d a v i a , p a r a Jerusalém, a falta de vias pesava mais
do que o perigo de ataques pelos g a t u n o s . C o m o mostra
o m a p a , altas m o n t a n h a s cercam a cidade q u e se situa
n u m contraforte sul-sudeste da linha d e divisão das águas,
contraforte guarnecido de profundas ravinas a leste, ao
sul e a oeste. U m a conclusão se i m p õ e : a posição natural
desta cidade sobre este contraforte, o u melhor, esta fortaleza, não favorece u m núcleo comercial.
Em Jerusalém, n e n h u m a via atravessa a linha divisória das águas no sentido leste-oeste; a mais p r ó x i m a se
e n c o n t r a muito ao N o r t e . A ligação d e Jerusalém com o
oeste, e sobretudo com o leste, é difícil e p o u c o acessível.
Por essa r a z ã o , Jerusalém n u n c a teve possibilidades de ser
local de acesso p a r a os p r o d u t o s da rica T r a n s j o r d â n i a ,
em e x p a n s ã o naquela época, o u de constituir u m centro
comercial p a r a as tribos n ô m a d e s do deserto. Por conseguinte, o v a u do Jordão em Jericó ficou inteiramente dist a n c i a d o ; o mesmo aconteceu com aquele q u e , não longe
da foz do Jaboc, estabeleceu a ligação c o m a Samaria (Sebaste) pelo w a d i F a r ' a h . As principais transações da Transj o r d â n i a c o m o m a r e r a m feitas pelo J o r d ã o , quase imed i a t a m e n t e ao sul do lago de G e n e s a r é , pela estrada Gadara-Tiberíades, ou 20 k m mais ao sul, pela estrada Gadara-Citópolis. Podiam t a m b é m t r a n s p o r o Jordão no vau
situado a 12 k m ao norte do lago de Genesaré, no p o n t o
194. O s sinóticos c h a m a m - n o de r e v o l u c i o n á r i o e assassino; fazem,
p o r t a n t o , p e n s a r n a l g u m m e m b r o do p a r t i d o dos Sicários, inimigos
dos r o m a n o s .
195. B. j . I V 7, 2, § 406ss.
196. Ket. X I I I 1 s e g u n d o a v a r i a n t e g zeloí;
é assim q u e lê b .
Ket. 1 0 5 .
c
a
Djisr Benât Y a q u b ; e i a a via maris, antigo c a m i n h o das
c a r a v a n a s , u n i n d o D a m a s c o à planície d e Esdrelon. Essa
averiguação prova que as mercadorias p r o v i n d a s da Arábia por Bosra e G a d a r a e utilizando as d u a s passagens
do Jordão dos itinerários G a d a r a - T i b e r í a d e s e Gadara-Citópolis d e v i a m íazer u m a volta considerável.
U m único c a m i n h o n a t u r a l passa pelas cercanias d e
Jerusalém. Trata-se da via norte-sul q u e segue a linha divisória das águas; vai de N a b l u s (Neápolis, Siquém) a
H e b r o m . N a v e r d a d e , é u m a das mais insignificantes p a r a
o comércio palestino. Apresenta interesse apenas p a r a o
tráfico interno. Q u a l q u e r comércio c o m lugares distantes
devía convergir p a r a o m a r ; esse eixo norte-sul só teria
a d q u i r i d o importância através de u m cruzamento com ligação oeste-leste. Eoi j u s t a m e n t e aí q u e a natureza p o u c o
favoreceu Jerusalém. O p r i n c i p a l interesse da via norte-sul
era religar o sul da Palestina a Jerusalém. A cidade representou, p o i s , u m m a i o r p a p e l p a r a a região d a s estepes d o
sul palestino do q u e p a r a a Samaria ao norte; e n t r e t a n t o ,
a Samaria era mais civilizada do q u e o sul palestino e sua
p o p u l a ç ã o mais numerosa. C o n s e q ü e n t e m e n t e , a ligação
q u e a c o m p a n h a v a a l i n h a divisória das águas apenas perm i t i u a Jerusalém ser o c e n t r o d o comércio n a t u r a l d a
Palestina meridional.
A b e m dizer, criou-se, assim, a partir d e Jerusalém,
ligações em direção do leste e do oeste. Foi-lhes d a d a m a i o r
atenção em virtude da importância de Jerusalém e das necessidades dessa grande cidade. E n t r e t a n t o , isso em n a d a
alterou o fato d e a cidade ter importância apenas p a r a o
comércio i n t e r n o . Jerusalém foi u m centro comercial somente p a r a o sul da Palestina.
Josefo explica essa situação d e m a n e i r a m u i t o c l a r a :
" N ã o moramos n u m a região m a r í t i m a e n ã o desfrutamos
d o alto comércio n e m das relações com os estrangeiros
q u e dele r e s u l t a m . . . em compensação, recebemos u m país
fértil e o c u l t i v a m o s " . A Judeia n ã o d e s e m p e n h o u o men o r papel no comércio m u n d i a l .
A despeito dessa situação geográfica desfavorável ao
comércio, Jerusalém desfrutou de u m comércio i m p o r t a n t e .
A que se deve o fato?
2 . A importância política e religiosa da cidade
U m a p a r t e do país " é p l a n a na região d e n o m i n a d a
Samaria e n a que pertence à I d u m é i a , mas a p a r t e do
centro é m o n t a n h o s a " . É preciso, p o r t a n t o , "cultivar a
terra com u m c u i d a d o c o n t í n u o , a fim de que t a m b é m eles
[os habitantes das m o n t a n h a s ] possam obter colheita abund a n t e " . Esse texto do Pseudo-Aristeu pode-nos parecer
cômico pelo motivo q u e o autor — d e c l a r a d a m e n t e judeu
apresentou — : os habitantes da planície devem p e n a r , p o r
u m a questão de pedagogia, a fim de estimular o pessoal
da m o n t a n h a a trabalhar; observa, p o r é m , a situação com
acerto: a cidade necessita i m p o r t a r provisões. A que p o n t o
isto era imprescindível p o d e m o s constatar na p e n ú r i a que sofreu Antíoco em Jerusalém d u r a n t e a l u t a dos m a c a b e u s ,
a fome q u e grassava n a cidade d u r a n t e os cercos
e a
situação d u r a n t e a escassez a l i m e n t a r , muitas vezes repetida no t e m p o de H e r o d e s e de C l á u d i o . A cidade tinha
de alimentar n ã o somente a sua p o p u l a ç ã o , mas t a m b é m
as multidões de peregrinos q u e , três vezes por ano afluíam,
n u m e r o s a s , p a r a as grandes festas. E m c o m p a r a ç ã o com tais
necessidades, as primícias n a d a r e p r e s e n t a v a m p a r a o reabastecimento de Jerusalém. Algumas passagens da literatura rabínica permitem-nos questionar até que p o n t o e r a m
efetivamente q u i t a d a s . A d e m a i s , p e r t e n c i a m aos sacerdotes . Q u a n t o às outras taxas em gêneros, p o d i a m ser entregues ao sacerdote do lugar o n d e m o r a v a m .
11)8
m
200
2C1
O u t r a circunstância tornava a situação ainda mais penosa: as cercanias n ã o a p r e s e n t a v a m condições favoráveis
à cultura do trigo
e lá não se desenvolvia a criação d e
202
197
197. C. Ap.
I 12, § 60.
198.
199.
200.
201
202.
P s e u d o - A r i s t e u , § 107, cf. § 108-112.
B. /. I 1, 5, § 4 6 .
B. j . I 18, 1, § 347. — Ani. X I V 16, 2, § 4 7 1 : e m 37 a.C.
Bik. I I 1.
V e r supra, p . 58.
g a d o \ D e m o d o geral, a Palestina podia satisfazer às necessidades da cidade com p r o d u t o s alimentares. S o m e n t e
p o r ocasião de total p e n ú r i a ou após as guerras é que se
t o r n a v a imperioso comerciar com países longínquos.
2 0
E m conseqüência de sua situação geográfica, a cidad e era carente não só de gêneros essenciais, mas t a m b é m
d e riquezas de necessidade vital, como matérias-primas, especialmente metais. Assim sendo, devia i m p o r t a r as matérias-primas, em p a r t e da Palestina , em p a r t e de países
distantes .
salém, c o m o p e n s a m alguns h i s t o r i a d o r e s . E n t r e t a n t o ,
não existe u m a p r o v a . O único d a d o q u e possuo sobre a
exportação de Jerusalém, encontra-se e m Lam. R. 1, 13
sobre I, I ( 2 2 5 ) : trata-se de u m camelo que volta de
Jerusalém, c a r r e g a n d o dois odres, u m cheio de vinho, o
outro, de vinagre. Tratando-se de u m caso jocoso no texto,
não podemos tirar daí conclusões radicais sobre a exportação da cidade santa.
m
a
204
205
De que produtos de exportação o comércio d i s p u n h a
p a r a suas transações com tais países?
Observemos, de início, q u e era muito densa a p o p u lação da Síria, a Palestina incluída. Como conseqüência,
e n t r e os p r o d u t o s d e seu solo, trigo, azeite e v i n h o , somente
o v i n h o , ao que parece, era e x p o r t a d o em g r a n d e q u a n t i d a d e . N o q u e concerne a Jerusalém em particular, a exp o r t a ç ã o do trigo apresentava-se impraticável. N ã o encontramos
n e n h u m p r o d u t o fabricado em Jerusalém q u e tivesse sido u m a p r o d u ç ã o característica do artesanato d a
cidade. Em compensação, E u p o l e m o
e o Pseudo-Aristeu
m e n c i o n a m o óleo à frente dos produtos da Judéia
o u das cercanias de Jerusalém . Acrescentemos que a dem a n d a de óleo na Síria s e t e n t r i o n a l
era p o r vezes tão
g r a n d e que os preços se elevavam e n o r m e m e n t e . E m Giscala, na Galileia setentrional, 80 sesteiros de óleo n ã o valiam mais do que 4 d r a c m a s , ao passo que, 30 quilômetros a nordeste, em Cesaréia de Filipe, no vale do Herm o m , 2 sesteiros custavam 1 d r a c m a , q u e r dizer, dez vezes
mais . É, pois, razoável que se exportasse óleo de Jerum
207
2 0 J
209
21ü
211
212
203.
204.
205.
206.
207.
208.
209.
210.
cercanias
211.
212.
Ver supra, p . 6 8 .
Ver supra, p . 7 3 .
V e r supra, p . 56.
G u t h e , Griech.-rõm.
Stadte,
40.
Ver supra, p . 4 3 .
Ver supra, p . 57.
Ver supra, p . 5 8 .
V e r supra, p . 15: oliveirais e p r e p a r a ç ã o das a z e i t o n a s n a s
de J e r u s a l é m .
B. j . I I 2 1 , 2, § 5 9 1 ; Vita 13, § 74s.
Vita 13, § 7 5 ; B. j . I I 2 1 , 2, § 5 9 2 : 8 vezes m a i s caros.
A importância política da cidade exerceu sobre o
comércio dupla influência: direta e indireta.
A influência direta: o nível de vida faustoso dos reis
i m p u n h a gastos consideráveis. Q u a n d o Herodes construiu
seu palácio, fez vir do inundo inteiro o mais precioso material . N o dizer de Josefo, esse palácio sobrepujava o
T e m p l o em esplendor. Ao material de luxo trazido pelo
comércio com países distantes, acrescentavam-se produções
da civilização estrangeira. Herodes dizia " s i m p a t i z a r mais
com gregos do que com j u d e u s " ' . Essa preferência se
traduzia especialmente na e q u i p a g e m d e sua corte.
A influência indireta: desde s e m p r e , o centro político
constituíra u m pólo de atração p a r a as riquezas nacionais.
Encontravam-se em Jerusalém os encarregados da alfândega, do comércio
e os dos distritos alfandegários mais
desenvolvidos. T e m o s u m exemplo, no século II antes de
nossa era, com o responsável dos impostos, J o s é . Originário d a cidade d e Fichola, estabeleceu-se e m Jerusalém;
daí dirigia o recolhimento das taxas da Síria, Fenícia, Judéia e Samaria . Manteve-se nessa atividade d u r a n t e 22
a n o s . Possuía u m depósito em A l e x a n d r i a ; cada vez que
seu i n t e n d e n t e recebia ordem, dali retirava as quantias p a r a
os pagamentos da administração das finanças reais. Muitas
vezes esses h o m e n s se estabeleciam t a m b é m como banqueiros na capital. Desde tempos remotos (Is 5,8; M q 2,1-5),
o c a m p o n ê s , impelido pela necessidade, via-se obrigado a
m
2
5
216
217
21S
213.
214.
215.
216.
217.
218.
S m i t h , I, 15 e 3 3 5 .
B. j . V 4, 4, § 178.
Ant. X I X 7, 3, § 329.
V e r supra, p . 4 8 .
Ant. X I I 4, l s s , § 160ss.
Ant. X I I 4, 4, § 175.
hipotecar suas terras e sua c o l h e i t a . Depositava o dinheiro no T e m p l o ; segundo 4 Mac. IV 3, " m i l h a r e s d e
fortunas particulares aí se e n c o n t r a v a m r e u n i d a s " . Podemos reconhecer tais pessoas como fortes n e g o c i a n t e s .
Muitos se r e t i r a v a m p a r a Jerusalém, a fim de ali gastar o
seu capital, mas t a m b é m p a r a m o r r e r n u m lugar s a n t o .
219
220
221
Esse capital exercia dupla influência no c o m é r c i o .
Atraía-o p a r a Jerusalém, favorecendo as transações comerciais. Por o u t r o lado dava saída às m e r c a d o r i a s : as pessoas abastadas p o d i a m exceder-se no luxo de seus trajes,
adornos e t c , e era sobretudo o comércio c o m os países
distantes q u e deveria satisfazê-lo.
Imensa foi a q u a n t i d a d e de material d e v o r a d o p e l o
T e m p l o d u r a n t e os oitenta e dois anos de sua r e s t a u r a ç ã o !
A dignidade da Casa Santa exigia o maior brilho — b a s t a
pensarmos na profusão de o u r o utilizado — e m a t e r i a l
de primeira q u a l i d a d e . Citemos apenas os m á r m o r e s p r e t o ,
amarelo e b r a n c o , assim como a m a d e i r a de c e d r o .
É compreensível, pois, que, na descrição do comércio c o m
os países distantes, o T e m p l o represente a p a r t e mais imp o r t a n t e das transações .
222
223
Para o culto do santuário, igualmente, a lenha, o vin h o , o óleo, o trigo e o incenso deviam ser de primeira
q u a l i d a d e . Buscavam até na í n d i a o tecido p a r a as vestes
que o sumo sacerdote usaria no dia das expiações; as doze
p e d r a s de seu peitoral
ostentavam-se como as mais preciosas do m u n d o . E que q u a n t i d a d e de vítimas — novilhos, bezerros, carneiros, c a b r a s , rolas — o culto reclam a v a ! Todos os dias ofereciam-se vítimas b e m determinadas como sacrifícios públicos da c o m u n i d a d e . D u r a n t e
a festa da Páscoa, diariamente, dois vitelos, u m carneiro
e sete cordeiros serviam de holocausto; u m b o d e de sacri224
225
219.
220.
221.
222.
223.
224.
225.
V e r supra, p . 61.
Cf. B. j . V I 5, 2, § 282.
V e r supra, p . 52.
b . Sukka
51 .
V e r supra, p . 56.
B. /. V 5, 7, § 234.
Ant. I I I 10, 1 § 237.
b
fício expiatório . Alguns sacrifícios p r i v a d o s cotidianos
e r a m igualmente oferecidos. C o r r e s p o n d i a m a vários motivos: e x p i a ç ã o d e n u m e r o s a s transgressões, r e p a r a ç ã o , a ç ã o
de graças: esses sacrifícios p e r m i t i a m r e c u p e r a r a p u r e z a
ritual. E m circunstâncias especiais, ofereciam-se hecatombes. Por exemplo, p a r a celebrar o término do T e m p l o , Her o d e s m a n d o u sacrificar trezentos bois . P o r ocasião d e
sua visita a Jerusalém, Marcos Agripa, genro de Augusto,
"sacrificou u m a h e c a t o m b e " . O n ú m e r o de sacrifícios
a u m e n t a v a sobretudo d u r a n t e as festas: " D e acordo com
as prescrições da Lei, todos os dias e especialmente por
ocasião das assembléias e das festas, oferecem-se inúmeros
sacrifícios, cada u m p a r a si, p a r t i c u l a r m e n t e e p a r a todo
o povo, de m o d o p ú b l i c o " .
226
227
228
22<)
O Pseudo-Aristeu, § 8 8 , fala dos sacrifícios oferecidos por dezenas de milhares nos dias festivos. U m p e q u e n o
d a d o mostra o volume da i m p o r t a ç ã o d e animais p a r a os
sacrifícios: considerava-se destinado a eles todo o gado que
se encontrasse nas cercanias de Jerusalém, n u m raio que
correspondesse à distância de M i d g a l - E d e r .
N ã o nos referimos, p o r é m , a i n d a a o essencial. Três
vezes por ano, o T e m p l o atraía a Jerusalém enormes multidões de peregrinos. Os judeus chegavam de todas as partes do m u n d o , especialmente p a r a a Páscoa. Era preciso
alimentar essa massa h u m a n a . Sem d ú v i d a já providas em
p a r t e pelo segundo d í z i m o , isto é, o décimo de todos
os p r o d u t o s colhidos e talvez, t a m b é m dos animais que
seria preciso comer em Jerusalém, m a s o transporte de
gêneros só era possível das regiões mais p r ó x i m a s .
Aqueles q u e m o r a v a m longe viam-se obrigados a trocar
p o r dinheiro o dízimo dos p r o d u t o s recolhidos e, conform e as prescrições, gastar a q u a n t i a em Jerusalém.
À alimentação dos peregrinos acrescentava-se p a r a a
p e r e g r i n a ç ã o d a Páscoa, a d e m a n d a d e animais pascais.
m
231
226. Ant. I I I 10, 5, § 249.
227. Ant. X V 11, 6, § 422.
228. Ant. X V I 2, 1, § 14.
2 2 9 . Fílon, De vita Mosis I I , § 159.
230. Sheq. V I I 4 [Migdal-Eder, cf. G n
de B e l é m . N . d o T . j .
2 3 1 . Ver supra, p . 69, n . 151.
35, 2 1 , encontra-se
perto
Desde a reforma cultual de Josias, em 6 2 1 a . C , s o m e n t e
e m Jerusalém se podia imolar o cordeiro pascal. Josefo
exagera, certamente, q u a n d o fala de 2 5 5 . 6 0 0 (outra vez:
2 5 6 . 5 0 0 ) vítimas pascais . N ã o resta d ú v i d a , p o r é m , d e
q u e o n ú m e r o se elevava a milhares.
Era o T e m p l o , p o r t a n t o , o responsável pela importância do comércio de Jerusalém. Pela concentração d o tesouro do T e m p l o ao qual cada j u d e u devia pagar anualm e n t e a sua cota, os judeus do m u n d o inteiro c o n t r i b u í a m
p a r a o comércio da Cidade Santa.
CAPÍTULO
O MOVIMENTO
232
A.
INFLUÊNCIA
DO
DE
III
ESTRANGEIROS
ESTRANGEIRO
NA
CIDADE
1
1. Generalidades
a. As
viagens
a
Jerusalém
Se dispuséssemos de meios p a r a levantar u m a estatística sobre entradas e saídas de estrangeiros em Jerusalém,
constataríamos grandes oscilações, p e r m a n e c e n d o , entret a n t o , quase constantes o ano t o d o .
O b s e r v a r í a m o s que a época das viagens começa por
volta de fevereiro-março. Tal fato relaciona-se c o m fatores climáticos. Esses meses m a r c a m o fim do período das
chuvas e somente e n t ã o começa-se a p e n s a r nas viagens;
a n t e r i o r m e n t e , os caminhos e n c h a r c a d o s constituíam u m
g r a n d e o b s t á c u l o . " P e d i p a r a que vossa fuga não aconteça no i n v e r n o " (Mt 2 4 , 2 0 ) . P o r t a n t o , Jerusalém recebia
os estrangeiros d u r a n t e os meses secos, q u e r dizer, de março a setembro. D u r a n t e esses meses a leva de estrangeiros,
três vezes p o r a n o , era de g r a n d e vulto n a ocorrência das
três grandes peregrinações que atraíam fiéis do m u n d o inteiro: Páscoa, Pentecostes, festa das T e n d a s (Dt 16, 1-16),
mas a da Páscoa intensificava-se ao m á x i m o .
2
Sigamos u m viajante a c a m i n h o de Jerusalém. U m a
vez passado o período das c h u v a s , c o m e ç a v a m os preparativos. O comerciante a p r o n t a v a a sua m e r c a d o r i a . O s que
p a r t i a m p a r a Jerusalém p o r motivo religioso, talvez p a r a
232. B. j . V I 9, 3 , § 424.
1. P a r a f o r m a r u m q u a d r o c o m p l e t o , m e n c i o n a m o s a q u i t o d a s as
pessoas q u e n ã o são h i e r o s o l i m i t a n a s ( i n c l u i n d o , p o i s , p o r e x e m p l o , grupos estrangeiros).
2. Ta-an. I 3 .
u m a das festas, aproveitavam a ocasião p a r a levar à cidad e santa as suas " t a x a s " (segundo o costume da é p o c a ,
incluímos neste termo o segundo dízimo que não era entregue, p o r é m gasto de m o d o p a r t i c u l a r na p r ó p r i a Jerusal é m , onde deviam consumi-lo).
Eis as " t a x a s " obrigatórias: o imposto da d i d r a c m a ,
os bikkürim
(primícias; em geral, cada u m a das vinte e
q u a t r o seções as enviava a g r u p a d a s p a r a Jerusalém) e o
segundo dízimo. Ant. X V I I I 9, 1, § 3 1 3 , m e n c i o n a " n u merosas m i r í a d e s " que a c o m p a n h a v a m os impostos em din h e i r o de N e a r d a e Nisibe (na Mesopotâmia) a Jerusalém;
ficamos assim s a b e n d o que se utilizavam as caravanas q u e
se formavam por ocasião das festas, pelo menos a das regiões afastadas, a fim de t r a n s p o r t a r o dinheiro do T e m p l o . Halla IV 10-11 discute o caso de transporte de primícias por particulares; isso confirma que o traziam tamb é m p r i v a d a m e n t e . V i n h a p a r a Jerusalém o fermento p a r a
a massa sem ser, todavia, obrigatório; p o d i a m oferecê-lo
ao sacerdote l o c a l . De q u a l q u e r forma, cada israelita lev a v a consigo, p a r a Jerusalém, em p r o d u t o s ou e m din h e i r o , seu segundo dízimo \
b u r r o ; p o r isso lemos, n a p a s s a g e m c i t a d a , o d i t o irônico
l a n ç a d o por u m h o m e m q u e passava m o n t a d o n u m asno
a Hillel q u e estava a p é . N u m j u m e n t o é que Jesus fez
sua e n t r a d a em Jerusalém (Mc 11,1-10. R a r a m e n t e utilizava-se de u m meio de locomoção p a r a ir a Jerusalém o u
de lá voltar; foi o caso do ministro das finanças da etíope
Cândace (At 8,27-39). As viagens a pé constituíam uso geral p a r a as peregrinações, conclui-se d e Hag I 1. A l é m do
mais, consideravam-nas como meritórias.
O s c a m i n h o s e r a m geralmente m a u s . O Sinédrio, enq u a n t o suprema a u t o r i d a d e indígena deles devia se o c u p a r ,
m a s p o u c o fez p a r a melhorá-los. A p r o v a está n a sua negligência, q u a n t o ao a q u e d u t o de J e r u s a l é m ; o n d e as
estradas estavam sob a responsabilidade dos r o m a n o s , a
situação era b e m melhor. Desde s e m p r e , e n t r e t a n t o , parece
terem c u i d a d o m u i t o mais da estrada dos peregrinos em
direção a Babilônia (saindo de Jerusalém p a r a o norte " ) .
Herodes esforçou-se por garantir sua segurança. Instalou
em Batanéia o j u d e u babilónico Z a m a r i s ; era ele q u e protegia, contra os ataques dos ladrões de T r a c o n i t e s , as caravanas d e festa q u e v i n h a m d a Babilônia .
Entre os preparativos figurava igualmente a escolha
dos companheiros de c a m i n h a d a . Com efeito, d i a n t e d a
constante ameaça de s a l t e a d o r e s , ninguém ousava empreender sozinho a viagem. N a época das festas, grandes
c a r a v a n a s se organizavam. Ant. XVIII
9, I § 313 refere¬
-se a milhares de pessoas que se r e u n i a m em Babilônia;
sem dúvida alguma, tratava-se de caravanas p a r a as festas. Lc 2,44 fala da caravana do povo de N a z a r é ; parentes e conhecidos dos país de Jesus nela t o m a v a m p a r t e .
A caravana das festas na qual Jesus subiu até Jerusalém
pela última vez passou por Jericó (Mc 10,46).
E m geral, viajava-se a p é . Hillel, o A n c i ã o , assim fez,
c o m o dizem, a peregrinação de Babilônia a J e r u s a l é m .
Evidentemente ia-se m u i t o mais depressa no l o m b o de u m
Semelhante viagem, sobretudo se e m p r e e n d i d a em grand e c a r a v a n a , devia contar com atrasos e p a r a d a s ; Ta'an.
I 3 fornece-nos alguns dados a respeito de sua d u r a ç ã o .
R a b b a n Gamaliel ordena que se dê início às orações p a r a
a chuva em 7 m a r c h e s c h v a n somente. (Apoia essa o r d e m
no fato de ser o 15" dia após a festa de tisri); deste m o d o ,
os peregrinos têm a possibilidade de chegar ao Eufrates
sem se m o l h a r e m . A distância entre Jerusalém e o Eufrates
é d e mais d e 6 0 0 k m . G a m a l i e l calcula p a r a a c a r a v a n a
etapas diárias de 4 5 k m a p r o x i m a d a m e n t e , avaliação essa
u m tanto exagerada p a r a g r u p o tão n u m e r o s o .
1
4
6
6
9
lu
1Z
7
3.
4.
5.
6.
7.
Talm.
Bik. I I I 2ss.
Halla I V 10.
Ver supra, p . 69, n . 151.
V e r supra, p . 76s.
ARN B c a p . 27, 5 5 3 3 , cf.
Arch.
I I , 677, n . 161.
b
A cap.
12, 5 5
a
14; v e r
Krauss,
8. V e r supra, p . 8 5 .
9. V e r supra, p . 2 8 , ri. 110.
10. K r a u s s , Talm. Arch.,
II 3 2 3 .
11. V e r supra,
p . 78.
32. Ant. X V I I 2, 2-3, § 26ss.
centes ao T e m p l o , ofereciam abrigo aos peregrinos. Mesm o que se leve e m conta tal possibilidade, compreendemos ser totalmente impossível àquelas imensas multidões
terem como se alojar d e n t r o dos m u r o s . U m a p a r t e das
pessoas p o d i a ainda e n c o n t r a r abrigo nos p o v o a d o s existentes nos arredores da cidade, c o m o , por exemplo, Betfagé ou Betânia. Nesse local Jesus p e r m a n e c e u p o r ocasião
de sua última estada em Jerusalém . O maior n ú m e r o de
peregrinos era, pois, obrigado a erguer tendas em torno
da cidade. (Passar a noite ao relento seria impraticável,
pelo menos no tempo de Páscoa, q u a n d o as m a d r u g a d a s
e r a m a i n d a frias). Ant. X V I Í 9, 3 , § 2 1 7 o confirma e
refere-se a peregrinos p a r a a Páscoa, a r m a n d o suas tendas; segundo o paralelo de B, /. II 1, 3 , § 12, faziam-no
na " p l a n í c i e " , expressão q u e designa, p r o v a v e l m e n t e , o
c a m p o diante da atual Porta de D a m a s c o .
I9
b . A hospedagem
em
Jerusalém
Chegado são e salvo a Jerusalém, forçoso seria proc u r a r u m alojamento. E m tempos comuns não havia dific u l d a d e p a r a e n c o n t r a r a c o m o d a ç ã o n u m dos albergues
q u e J e r u s a l é m , c o m o todos os burgos (Lc 2 , 7 : Belém)
possuía. Os m e m b r o s das c o m u n i d a d e s religiosas, os essen í o s , os fariseus, os cristãos e r a m recebidos pelos amigos.
O s habitantes de Cirene, de Alexandria, das províncias
d a Cilicia e da Ásia desciam até Ofel p a r a a h o s p e d a r i a
a n e x a d a à sua sinagoga . R. Weill aí encontrou u m a inscrição; diz expressamente que naquele lugar foram instalados " q u a r t o s e feitas distribuições de águas, a fim de
servir de albergue àqueles que [vindos] do estrangeiro,
viessem a necessitar" . E m dias de festa, b e m mais difícil
se tornava e n c o n t r a r alojamento. Poucos estrangeiros possuíam casa p r ó p r i a em Jerusalém. Por esse motivo, os príncipes herodianos estrangeiros, vindos p a r a as grandes festas (Herodes A n t i p a s , tetrarca da Galileia e da Peréia [Lc
2 3 , 7 ] ; Agripa I I ) , p r o v i d e n c i a r a m u m a m o r a d a permanente no palácio dos m a c a b e u s , logo acima do Xisto; os
príncipes e princesas de A d i a b e n a fizeram o m e s m o nos
moldes de seus palácios, na colina o r i e n t a l .
13
l4
15
16
O n d e se alojava a m u l t i d ã o de peregrinos? Constituía
u m dos dez milagres de Deus no santuário, terem todos
o n d e se abrigar, e, jamais u m a pessoa disse a outra: " O
p o v o é n u m e r o s o , não encontro o n d e d o r m i r na c i d a d e " ' .
Parte dos peregrinos podia alojar-se na própria Jerusalém;
n u m único lugar n e m sequer deviam pensar instalar-se:
n a esplanada do T e m p l o , o n d e u m a inscrição rezava: " A
n i n g u é m é permitido e n t r a r na esplanada do T e m p l o com
seu bastão, suas sandálias, seu alforje ou a poeira nos
p é s " . Podemos, p o r é m , supor q u e construções perten7
, 8
13.
14.
15.
16.
17.
18.
Lam. R. I, 2 s o b r e !, 1 ( 1 8
Ver supra, p . 9 5 .
Cl] I I , n. 1404, lig. 6-8.
Ver supra, p . 24.
P. A. V 5.
Ber. I X 5; b . Yeb.
6 .
b
a
24).
20
A q u e l e , p o r é m , que participava da Páscoa, era obrigado a passar a noite pascal (noite de 14 p a r a 15 nisân)
em Jerusalém. A cidade p r o p r i a m e n t e dita não podia conter o afluxo de peregrinos. Para facilitar a observância
desta prescrição, estendera-se o distrito u r b a n o tão longe
que englobava até m e s m o Betfagé .
21
Segundo Mc 11,11-12 e Mt 21,17, Jesus e seus discípulos, nos últimos dias antes de sua morte, passaram a noite em
Betânia. Já Lc 21,37 diz: "Passavam-se as noites ao relento,
no monte chamado das Oliveiras". Na realidade, não há contradição nisso, pois Betânia encontra-se no perímetro do monte
das Oliveiras, mas, no contexto do evangelho de Lucas, o comentário suscita uma dificuldade. Com efeito, Lc 22,39 emprega a mesma expressão ("dirigiu-se ao monte das Oliveiras")
para designar o Getsêmani. Mas Lc 21,37 não passa, evidentemente, de um resumo da tradição de Marcos (Mc 11,11;
17,19) redigida pelo próprio Lucas. Deve-se, então, concluir
que Lucas, não conhecendo a posição geográfica do lugar em
que prenderam Jesus, isto é, o Getsêmani, considerou-a, de
modo inexato, como sendo o lugar em que, ordinariamente
Jesus passava a noite. Em contrapartida, a informação conce19. P r o p r i e d a d e d o T e m p l o , cf. supra, p . 4 3 .
20. M c 11,11-12; M t 21,17.
2 1 . O texto mais claro é Men, X I 2; cf. N e u b a u e r , Géogr.,
D a l m a n , Itinéraires,
329-333; v e r supra, p p . 16 e 62.
147ss;
dida por Lc 22,39 vem da fonte lucana especial, conforme o
demonstra a expressão "segundo seu costume" . É perfeitamente exata; porque "segundo seu costume" refere-se não ao
fato de passar a noite, mas ao fato de Jesus ir, com seus discípulos, a lugar determinado do monte das Oliveiras; Jo 18,2
confirma a explicação. Esse lugar é, certamente, o jardim do
Getsêmani . À diferença de Betânia, o Getsêmani, sobre a
vertente ocidental do monte das Oliveiras, encontrava-se ainda
dentro do distrito da Grande Jerusalém que não se deveria deixar durante a noite pascal .
22
23
24
D e acordo c o m a distribuição das diferentes seções
da p o p u l a ç ã o nos quarteirões da cidade, cada grupo de
peregrinos p a r a a festa tinha seu lugar de a c a m p a m e n t o
fixo. Baseando-nos no fato de que Jesus tinha o h á b i t o de
passar a noite em Betânia, podemos supor q u e o acampam e n t o dos peregrinos galileus encontrava-se a leste da
cidade.
25
2. M o v i m e n t o de estrangeiros
provenientes de países distantes
A c a b a m o s de evocar a c a m i n h a d a de u m viajante r u m o
a Jerusalém e seu alojamento na cidade santa. L a n c e m o s
agora u m olhar sobre o m o v i m e n t o de estrangeiros, segundo seu país de origem. A q u i t a m b é m , c o m o acima, p a r a
o comércio, t r a t a r e m o s , p r i m e i r a m e n t e , dos países distantes e, depois, das regiões p r ó x i m a s .
P o d e m o s ler em At 2 , 9 - 1 1 , inserida n o relato do milagre de Pentecostes, u m a lista de " h o m e n s piedosos de
todas as nações, que estavam e m J e r u s a l é m " . Trata-se de
judeus e prosélitos q u e ali estavam c o m o peregrinos p a r a
a festa. Nessa e n u m e r a ç ã o e n c o n t r a m o s representantes de
quase todos os países então conhecidos; trata-se de " p a r t o s ,
medos e elamitas, habitantes da M e s o p o t â m i a , da Judeia
e Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frigia e da Panfília,
do Egito e da p a r t e da Líbia limítrofe d e Cirene, r o m a n o s
adventícios, judeus e prosélitos, cretenses e á r a b e s " .
A verificação desses dados será feita mais adiante,
q u a n d o e x a m i n a m o s as relações de Jerusalém c o m o estrangeiro, país por país; sendo utilizada a lista de At 2,
9-11 só a p o d e m o s aceitar n a m e d i d a em que suas indicações forem confirmadas por outras t e s t e m u n h a s . A título,
p o r é m , de c o m p a r a ç ã o , devemos assinalar, desde já, duas
outras e n u m e r a ç õ e s :
1" U m trecho de At (6,9), n u m contexto visivelmente
não estilizado e muito b e m informado ( 6 , l s s ) que descreve
sobriamente os fatos. Diz, por exemplo, em relação a Jerusalém: " V i e r a m então alguns da sinagoga c h a m a d a dos
Libertos , dos cireneus e dos alexandrinos, dos da Cilicia
e da Á s i a " . Trata-se de judeus residentes em Jerusalém.
Possuíam u m a sinagoga c o m u m , c o m albergues p a r a os
estrangeiros ; a passagem indica q u e , e n q u a n t o helenistas,
m o r a v a m juntos, no m e s m o q u a r t e i r ã o , semelhante aos
quarteirões dos diferentes grupos judaicos em Jerusalém no
início deste século.
26
11
22. A m e u ver, L u c a s n ã o c o m p ô s seu e v a n g e l h o i n s p i r a n d o - s e n o
e v a n g e l h o de M a r c o s e d a fonte dos logia ( Q ) , c o n f o r m e o q u e r a
teoria das d u a s fontes e m sua f o r m a clássica. A base d e L u c a s é sua
"fonte especial", e v a n g e l h o cujo a u t o r d e s c o n h e c i d o h a v i a a m a l g a m a d o
m a t é r i a s p a r t i c u l a r e s c o m a l g u n s logia (extraídos d a t r a d i ç ã o o r a l e
n ã o d e u m a fonte escrita ' Q ' ) e o r e l a t o d a P a i x ã o . N e s s e e s c r i t o ,
L u c a s inseriu a l g u n s itens escolhidos e m M a r c o s (ver J. J e r e m i a s ,
" P e r i k o p e n - U m s t e l l u n g e n bei L u k a s ? " e m New
Testament
Studies
4
(1957-1958) 115-119 = e m J. J e r e m i a s , Abba.
Studien
zur
neutestamenilichen
Theologie
und Zeitgeschichte,
G ö t t i n g e n , 1966, 93-97). Seja
q u a l for a visão d o fato, parece-me q u e o relato l u c a n o d a P a i x ã o ,
a p a r t i r d e Lc 22,14, n ã o é e x t r a í d o de M a r c o s , m a s p r o v é m d e u m a
t r a d i ç ã o i n d e p e n d e n t e . É o q u e nos interessa n o m o m e n t o a p r o p ó sito do versículo 22,39.
2 3 . M c 14,26,32; M t 26,30.36.
24. V e r supra, p . 89.
25. V e r a inscrição c i t a d a supra,
p . 88.
2 U m texto de Fílon, Leg. ad Caium, § 281s, refere-se a u m a carta de Agripa l a Calígula, onde diz, ao
falar de Jerusalém: é a capital dos j u d e u s da Judeia, mas
t a m b é m dos j u d e u s do Egito, Fenícia, Síria, Celessíria, Panfília, Cilicia, Ásia, Bitínia, P o n t o , E u r o p a , Tessália, Beócia,
M a c e d ó n i a , Eólia, Ática, Argos, Corinto, Peloponeso, ilhas
9
2 6 . V e r supra,
p. 93.
2 7 . V e r infra,
p . 95.
de E u b é i a , C h i p r e , Creta, países do Transeufrates, Babilônia e suas satrapias vizinhas. Essa lista, é v e r d a d e , n ã o
m e n c i o n a , d e m o d o explícito, as viagens a Jerusalém, m a s
estão implicitamente incluídas, já q u e a peregrinação ao
T e m p l o era obrigatória p a r a todo judeu adulto.
Vejamos agora o m o v i m e n t o de estrangeiros provenientes de cada país em particular.
a. Gália
e
Germânia
Os muros da Jerusalém antiga a b r i g a r a m gauleses e
g e r m a n o s . O i m p e r a d o r Augusto (29 a.C. — 14 d.C.) enviara a H e r o d e s , o G r a n d e , a guarda pessoal de Cleópatra, última rainha do Egito que se suicidara em 30 a.C.
Essa g u a r d a era composta de quatrocentos gauleses '\ Dizem que Herodes o r d e n o u aos soldados gauleses que afogassem seu c u n h a d o , Jonatas (somente aqui é c h a m a d o
por este n o m e ; Aristóbulo nas demais referências), em Jericó, d u r a n t e u m b a n h o . Na descrição do cortejo fúnebre de H e r o d e s , ao lado de trácios e gauleses, mencionam¬
-se, igualmente, os germanos, m e m b r o s de sua g u a r d a .
Após a m o r t e de H e r o d e s , seu filho, o etnarca A r q u e l a u
(4 a.C. — 6 d . C ) , encarregou-se dessas tropas, mas depois de sua deposição (6 d . C ) , foram os r o m a n o s q u e
dela se e n c a r r e g a r a m . É duvidoso, p o r é m , q u e as t e n h a m
deixado na Palestina, após o ano 6.
2
29
freqüentes. Já antes ouvimos falar das viagens de H e r o d e s
e de seus filhos a R o m a ; de Agripa II àquela c i d a d e ;
fala-se t a m b é m de r o m a n o s que v ê m a Jerusalém, na maioria das vezes em missão oficial. E m c o n t r a p a r t i d a , n a
guarnição de Jerusalém, como a cidade fazia p a r t e de u m a
província p r o c u r a t ó r i a , n e m m e s m o os oficiais e r a m romanos (At 2 2 , 2 8 ) . Mas e m Cesaréia, sede do p r o c u r a d o r ,
encontrava-se a "coorte c h a m a d a itálica" (At 10,1). O proc u r a d o r p e r m a n e c i a regularmente em Jerusalém por ocasião da festa de Páscoa, com u m destacamento de soldados; essas tropas de Cesaréia certamente dele faziam p a r t e .
D e R o m a voltou a maior p a r t e dos " l i b e r t o s " , aprisionados n a c a m p a n h a de P o m p e u e e m seguida libertados *' ;
p a r e c e m ligados à sinagoga citada em At 6,9 ("da sinagoga c h a m a d a dos L i b e r t o s " ) . O s judeus de R o m a que
v i n h a m em peregrinação p a r a as festas (At 2,10) alojavam-se, sem dúvida, na h o s p e d a r i a contígua a essa sinagoga. At 2 8 , 2 1 supõe relações regulares, através de cartas
e p o r contatos pessoais, entre os judeus de R o m a e a sup r e m a a u t o r i d a d e judaica, o Sinédrio.
31
2
33
? 0
b.
Roma
Desde o ano 6 d . C , a Judéia era província r o m a n a ;
tinha u m governador r o m a n o , assim como soldados e funcionários. E m Jerusalém, havia u m destacamento r o m a n o ,
isto é, u m a cohors miliaria equiíata,
sob o c o m a n d o d e
u m t r i b u n o . C o n s e q ü e n t e m e n t e , as relações com R o m a e r a m
28. B. j .
Mas, como o
4, § 364. 371
ater s o m e n t e
29. B. j .
50. Ant.
I 20, 3 § 397. Pode-se t r a t a r de
d e m o n s t r a o e m p r e g o desse t e r m o
e V I I 4, 2, § 76 (cf. C. A p , I
ao s e n t i d o d e " g a u l ê s " .
I 22, 2, § 437.
X V I I 8, 3, § 198; B. j . I 3 3 , 9,
gauleses ou de g á l a t a s .
Galátai e m B. /'. II 16,
12, § 6 7 ) , d e v e m o s n o s
§ 672.
c.
Grécia
Entre outras, a influência helenística é sensível na
q u a n t i d a d e de palavras gregas transpostas p a r a a literatura rabínica. É a civilização e não a política que condiciona essa influência. Por tal motivo, é mais i m p o r t a n t e do
que a influência exercida por R o m a .
Já no t e m p o de H i r c a n o II (76-67, 63-40 a . C ) , enc o n t r a m o s atenienses em Jerusalém; assuntos oficiais assim como particulares davam-lhes o p o r t u n i d a d e de estabelecer intensa circulação entre as duas cidades *. Herodes
tinha mercenários trácios em sua g u a r d a p e s s o a l ; Euricles, u m l a c e d e m ô n i o , representou papel i m p o r t a n t e na
corte de H e r o d e s . O q u e c h a m a m o s de segunda e ter3
35
36
31.
32.
33.
34.
35.
36.
Ani. X X 8, 1 1 , § 193ss;
Fílon, Leg. ad Caium §
V e r injra, p . 9 5 .
Ant. X I V 8, 5, § 149ss;
Ant. X V I I 8, 3, § 198;
B. /. I 2 6 , 1-4, § 513ss.
Vita
155.
3, § 13ss e
passim.
Ver supra, p . 5 3 .
B. j . I 3 3 , 9, § 672.
ceira viagem missionária de P a u l o é u m a p r o v a das relações entre Jerusalém e a Grécia. D e volta de sua terceira
viagem, e n c o n t r a m o s , a c o m p a n h a n d o - o p a r a o c a m i n h o d e
Jerusalém, mensageiros p a r a as coletas, u m da comunidade cristã de Beréia e dois da de Tessalônica (At 2 0 , 4 ) . N o
relato de Lam. R. 1, 5-14 sobre 1, 1 ( 2 0 - 2 2 ) , as relações com Atenas representam relevante papel: trata-se d e
híerosolímítanos, dirigindo-se p a r a Atenas e de atenienses,
fixando-se em Jerusalém,
a
d.
b
Chipre
O u v i m o s falar, em Jerusalém, de alguns cipriotas (At
11,20); são judeu-cristãos obrigados, pela perseguição aos
seguidores de Cristo, a deixar a cidade e partir p a r a
a A n t i o q u i a . Lã a n u n c i a r a m o E v a n g e l h o aos gregos,
p o r t a n t o , a não-judeus; é u m progresso de relevada importância. B a r n a b é , levita originário de C h i p r e , possuía
um c a m p o nas redondezas de Jerusalém (At 4,36-37; Gl
2,1 e t c ) . Podemos contar t a m b é m com M n a s o n , de Chip r e , "discípulo dos primeiros d i a s " (At 2 1 , 1 6 ) , entre os
membros da c o m u n i d a d e cristã primitiva de Jerusalém.
e. Ásia
Menor
Existia, na Ásia M e n o r , uma i m p o r t a n t e diáspora judaica. E n c o n t r a m o s , em Jerusalém, representantes de todas as regiões da Ásia Menor. São habitantes dos seguintes países:
1. A província da Ásia, Mencionam-se juntos, j u d e u s
da província da Ásia e outros helenistas pertencentes a
u m a m e s m a sinagoga (At 6,9). Entre os mensageiros p a r a
as coletas que a c o m p a n h a m P a u l o , há dois asiáticos. Alguns j u d e u s da Ásia, presentes em Jerusalém p a r a a festa
de Pentecostes reconhecem P a u l o no T e m p l o e q u e r e m
linchá-lo (At 2 1 , 2 7 ) . São, de m o d o verossímil, pessoas de
Éfeso, pois v i r a m , em c o m p a n h i a de P a u l o , Trófimo de
Éfeso a q u e m conheciam. D a província da Ásia, traziam¬
-se a Jerusalém somas vultosas p a r a o T e m p l o . E m A p a -
méia, Laodicéia, A d r u m e t o e P é r g a m o , F l a c o s , p r o c ô n s u l
da Ásia em 62-61 a . C , m a n d a confiscar o dinheiro destinado a o T e m p l o . É o que nos conta Cícero .
37
2. A ilha de Cós, Everato de Cós acha-se em Jerusalém n o p e r í o d o q u e seguiu o dos p r í n c i p e s h e r o d i a n o s .
Dessa ilha e r a m enviadas grandes q u a n t i a s p a r a o T e m p l o ; lá t a m b é m Mitridates deu ordens p a r a confiscarem
o dinheiro destinado ao T e m p l o .
M
3 . A província
da Galácia. G a i o de D e r b e e Timóteo de Listra encaminham-se p a r a Jerusalém com P a u l o
(At 20,4 cf. 16.1-8). O s missionários j u d a i z a n t e s q u e a
Epístola aos G á l a t a s censura v i n h a m , p r o v a v e l m e n t e , de
Jerusalém.
4. Pisídia. E m B. j . I 4, 3 , § 88, vemos gente da
Pisídia em Jerusalém, no exército de mercenários de Alex a n d r e Janeu.
5 . Cilicia. H o m e n s da Cilicia s e r v i a m n o exército d e
mercenários de A l e x a n d r e J a n e u . P a u l o , originário de
T a r s o , estudou em Jerusalém (At 2 2 , 3 ) . Esses h o m e n s estabelecidos e m Jerusalém, assim como outros helenistas,
p e r t e n c e m a Lima c o m u n i d a d e c o m sinagoga c o m u m (At
6,9: "Alguns v i e r a m da sinagoga c h a m a d a dos Libertos,
cireneus e alexandrinos, e outros da Cilicia e da Á s i a " ) .
E n c o n t r a m o s igualmente referência a essa sinagoga n a literatura talmúdica; ora chamavam-na de sinagoga dos Alexandrinos , ora, sinagoga dos T a r s i o t a s
( = pessoas de
i 9
40
41
37. Pro Ftacco 2 8 .
58. Ant.
X I V 7, 2, § 112.
39. B. i. I 4 , 3 , § 8 8 .
40. T o s . Meg. I l l 6 (224, 2 6 ) ; j , Meg. I I I 1, 7 3 35 ( I V / I , 2 3 6 ) .
4 1 . b . Meg. 2 6 . — Verificamos q u e , n a v a r i a n l e d e b. Meg. 2 6 .
" T a r s i o t a s " (tarsiyyím)
designa os h a b i t a n t e s de T a r s o . Tratar-se-ia
a n t e s d e o p e r á r i o s (SchÜrer, I I , S7, n, 2 4 7 ; 524, n. 77 6 o u t r o s , cf.
supra, p p . 13 e 34. S ã o p a r a o sentido geográfico: D e r e n b o u r g , Essai,
2 6 3 ; N e u b a u e r , Géogr., 293 n . 5 e 315; G o t l h e i ) , }E V J I , J 2 9 ) . C o n t r a
essa i n t e r p r e t a ç ã o é p r e c i s o , e n t r e t a n t o , dizer: 1" b . Meg. 7 e m p r e g a a mesm a p a l a v r a " T a r s i o t a s " ; d a d o o c o n t e x t o , o s e n t i d o é u m só, pois,
trata-se d e p e s s o a s q u e f a l a m n a sua língua m a t e r n a . 2° D e resto, n ã o
se p o d e c o m p r o v a r a existência, em Jerusalém,
de sinagogas d e corp o r a ç õ e s profissionais. 3 em b . Meg. 2 6 , " T a r s i o t a s " é u m a v a r i a n t e
d e " A l e x a n d r i n o s " q u e figura em T o s . Meg. Ill 6 (224, 26), e j . Meg.
d
3
a
?
a
Cilicia). É, sem dúvida, essa sinagoga que R. Weill descobriu no Ofel. Por ocasião das escavações de 1913-1914
ele e n c o n t r o u , entre vestígios de construção, várias inscrições ; u m a delas indicava: essa sinagoga foi construída
p o r T e o d o t o , filho de Veíenos, sacerdote e presidente da
sinagoga; u m a hospedaria e instalação de b a n h o s foram-íhe a n e x a d a s . O n o m e do pai, Vetenos e a m e n ç ã o da
hospedaria contígua à sinagoga levaram o Pe. V i n c e n t ,
a c o m p a n h a d o por R. Weill e G. D a l m a n , a deduzir q u e
se tratava da sinagoga dos Libertos (At 6 , 9 ) . S e g u n d o
nossas conclusões, essa sinagoga é a dos alexandrinos ou
dos tarsiotas.
42
43
4 4
6. Capadócia.
Cidade s a n t a .
A r q u e l a u , rei da C a p a d ó c i a , visitou a
43
f.
Mesopotâmia
Desde a deportação dos judeus pelos assírios (722
a.C.) e os babilônios (597 a 5 8 7 a.C.) havia u m a n u m e rosa c o m u n i d a d e judaica na Mesopotâmia; sabemo-lo através de informações d i r e t a s
e pelas relações ativas, no
domínio d o espírito, entre a Palestina e a Babilônia, país
de origem do T a l m u d e de Babilônia.
Intenso intercâmbio reinava, p o r t a n t o , entre Jerusalém e a Mesopotâmia. Anauel, juiz b a b i l ô n i o , foi sumo sacerdote em 37-36 a . C , e depois, a partir de 3 4 , pela segunda vez . Para I I I 5 fala de u m H a n a m e e l , s u m o sacerdote o r i u n d o do Egito; sob seu pontificado, foi queim a d a u m a novilha vermelha. Se, como é provável, trata¬
-se da m e s m a pessoa, preferimos as informações de Josefo .
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47
48
I I I 1, 7 3 32 ( I V / l , 2 3 6 ) ; isso t o r n a p r o v á v e l o fato de q u e o n o m e
d a sinagoga v a r i a v a . Assim p o d e r í a m o s e x p l i c a r i g u a l m e n t e a e n u m e r a ç ã o p a r t i c u l a r de At 6,9.
42. T e x t o em CU I I , n . 1404.
4 3 . L. H . V í n c e n t , Découverte
de la "Synagogue
des
Affranchis"
à Jerusalém,
em RB 30 ( 1 9 2 1 ) , 127-277.
44. V e r supra, p . 9 3 .
45. B. j . I 25, 1-6, § 499ss; cf. I 2 3 , 4, § 456; 26, 4, § 530; 2 7 , 2,
§ 538.
46. Ant. X I 5, 2, § 131ss; X V 2, 2, § 14; 3, 1, § 39; Fílon, Leg.
ad Caium,
282.
47. Ant. X V 2, 4, § 22; 3, 1, § 39, 3 , 3 , § 5 6 .
48. V e r infra, p. 100.
d
Conta-se q u e os sacerdotes de Jerusalém, originários
de Babilônia, comiam, crua, no dia das expiações, a carne
do sacrifício suplementar; n ã o sentiam, com isso, n e n h u m a
repugnância . Hillel, o escriba b e m c o n h e c i d o , q u e ensin a v a no início d e nossa era, chamava-se "o Babilônio";
conforme c o n t a m , ele foi a p é de Babilônia a Jerusalém
(ver supra, p . 8 6 ) .
w
Além de sacerdotes e escribas, e n c o n t r a m o s ainda outros babilônios n a C i d a d e s a n t a . Josefo, Vita l í , § 4 7 , escreve: "Alguns b a b i l ô n i o s . . . encontrando-se em Jerusal é m " . O b a b i l ô n i o Silas é u m chefe n o t á v e l d a revolta
contra R o m a . U m a m u l h e r de Carquemis m o r a e m Jer u s a l é m . " M a g o s d o O r i e n t e " teriam i d o a Jerusalém
para se informarem acerca do Rei do m u n d o (Mt 2,1-6),
d o m e s m o m o d o q u e uma e m b a i x a d a do povo p a r t o vai
em 66 d . C , até junto de N e r o , a fim de lhe t e s t e m u n h a r
honras divinas. E r a m igualmente b a b i l ô n i o s , sem d ú v i d a
pagãos e n ã o fiéis zelosos q u e , com gritos de mofa, arr a n c a v a m pêlos do b o d e expiatório, no D i a das expiações
e n q u a n t o o c o n d u z i a m ao local do sacrifício . Posteriormente à q u e d a de Jerusalém (70 d . C ) , alguns babilônios
vieram à C i d a d e santa, trazidos p o r u m voto de nazireato .
50
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53
Estamos informados de que peregrinos da Mesopotâmia, encaminhando-se p a r a as festas, reuniam-se aos milhares em N e a r d a e Ntsíbe; levavam consigo p a r a o Temp l o , as q u a n t i a s oferecidas pela c o m u n i d a d e judaica m e sopotâmica, e faziam juntos a viagem a J e r u s a l é m . Zam a r i s , j u d e u estabelecido n a região da Batanéia, zelava
pela segurança da c a r a v a n a . Esses j u d e u s entregavam,
c o m o taxa. o imposto da d i d r a e m a . P o r questões d e pureza ritual, n ã o e r a m e n t r e t a n t o aceitos dons de primícia
(animais ou frutos) provenientes de B a b i l ô n i a .
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4 9 . Men. X I 7.
50. B. j . 11 19, 2, § 520; I I I 2, 1-2, § 11.19.
5 1 . 'Ed. V 6.
52. Yoma V I 4.
53. Naz.
V 5.
54. Ant. X V I I I 9 , 1, § 310-313, v e r s u p r a , p . 8 6 ; cf. Ta'an.
v e r supra, p . 87, Ned. V 4-5.
55. Ant. X V I I 2, 2, § 26.
56. Sheq.
I I 4 ; Ant.
57. Halla
ÍV
4 - Jerusalém
XV11I 9, 1, § 312s.
II.
no t e m p o
de
Jesus
I 3,
deus . Com efeito, existia entre a Síria e a Palestina forte
relacionamento. A o contrário do que estava estabelecido
p a r a a B a b i l ô n i a , aceitavam as primícias vindas d a Síria . I n ú m e r o s mensageiros e r a m enviados de Jerusalém
p a r a a Síria, a fim de a n u n c i a r o início d a nova lua que
d e t e r m i n a v a as datas das festas . N a época da conversão
de Paulo, o Sinédrio comunicava-se c o m as sinagogas de
D a m a s c o ; a c o m u n i d a d e cristã de Jerusalém m a n t i n h a
também relações ativas, sobretudo com A n t i o q u i a , capital
da Síria . U m prosélito d a q u e l a cidade foi m e m b r o da
c o m u n i d a d e cristã primitiva de Jerusalém (At 6,5). Miriam, judia de Palmira, cidade da Síria reconhecida autôn o m a pelos r o m a n o s , é m e n c i o n a d a por ocasião dos sacrifícios q u e ela oferece como n a z i r .
65
g. As regiões do império
situadas
a leste da
parto
Mesopotâmia
66
67
N a q u e l a época, somente u m a p e q u e n a p a r t e d a Mesopotâmia — a região nordeste — pertencia ao império
r o m a n o . O restante e a z o n a que abrangia sua fronteira
oriental p e r t e n c i a m ao império p a r t o .
O rei de A d i a b e n a d e p e n d i a do rei dos p a r t o s . A família real achegara-se ao judaísmo e reatara relações com
Jerusalém. O rei M o n o b a z e , assim como sua m ã e , a
r a i n h a H e l e n a , possuía u m palácio em J e r u s a l é m . Seg u n d o a M i s h n a , Helena viera a Jerusalém q u a n d o estava
p a r a expirar u m nazireato de sete a n o s . Entre outros
m e m b r o s da família real de A d i a b e n a , e n c o n t r a m o s em
Jerusalém, G r a p t é que ali possuía u m p a l á c i o
; tamb é m parentes do rei M o n o b a z e e filhos e irmãos do rei
I z a t e s ' . Esses príncipes c o m b a t e r a m do l a d o j u d a i c o contra os r o m a n o s em 66 e 70 d.C. As lutas c o n t r a Cestius
Gallus em 6 6 , nas quais t o m a r a m p a r t e os príncipes de
A d i a b e n a , citados em B. j . I I , 19, 2, § 5 2 0 , t i v e r a m início na época da festa da Páscoa; é, p o r t a n t o , p a r a se supor q u e esses príncipes encontravam-se em Jerusalém por
ocasião da peregrinação pascal. E m 7 0 , Chageiras de Adiab e n a c o m b a t e u do lado judaico .
5 8
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M
1,1
71
6 0 bls
6 1
(
63
D a Média era originário o escriba N a u m , o M e d o ;
conforme b . Ket. 1 0 5 , fazia p a r t e de u m t r i b u n a l d e Jerusalém.
M
a
h.
i . Arábia
{reino
nabaíeu)
2
Síria
De todos os países, fora da Palestina, era a Síria q u e ,
p r o p o r c i o n a l m e n t e , contava com o maior n ú m e r o d e ju58. B. j V 6, 1, § 252.
59. B. j . V I 6, 3, § 355. Q u a n t o a seus p r e s e n t e s p a r a o T e m p l o ,
ver supra, p. 3 8 ; s o b r e a a t i v i d a d e social de H e l e n a d u r a n t e u m a
crise de a u m e n t o s e m J e r u s a l é m , v e r supra, p . 54.
60. Naz. I I I 6.
6 0 . B. J. I V , 9, 11, § 567.
6 1 . B. j . I I , 19, 2, § 520.
62. B. } . V I 6, 4, § 356.
6 3 . B. j . V 1 1 , 5, § 474.
64. Shab. I I 1; Naz. V 4; B. B. V 2; b . 'A. Z. 7 .
b i s
b
Relações políticas u n i a m aos árabes os reis judaicos
do século I a.C. C o m freqüência o rei dos árabes prestava
a sua colaboração, enviando tropas e auxílios particulares . Na corte de H e r o d e s encontramos u m guarda-costas
á r a b e . Depois de u m a tentativa de assassínio de H e r o d e s ,
dois outros árabes são presos com o criminoso. O primeiro
é u m amigo d e Siícos, ministro d e Aretas IV, rei dos árabes; o outro é o xeque de u m a t r i b o á r a b e " . Q u a n d o
Paulo foi obrigado a fugir de D a m a s c o p a r a J e r u s a l é m ,
aquela cidade encontrava-se a p a r e n t e m e n t e em p o d e r de
u m etnarca desse Aretas I V ( " e t n a r c a " tanto p o d e design a r u m g o v e r n a d o r q u a n t o u m e n v i a d o ; mas esse h o m e m
parece ter tido em m ã o o p o d e r militar). Pouco t e m p o antes
72
74
75
65. B. j . V I I 3, 3, § 4 3 .
66 Supra, p. 97.
67. Halla I V 1 1 .
68. R. H. I 4 .
69. A t 9,2.
70. A t 11,27. — Coletas e m A n t i o q u i a p a r a J e r u s a l é m : At 11,29-30;12.25. — G l 1,18-21; At 15, e s p e c i a l m e n t e 15,2.4.30; G l 2,11-12.
7 1 . Naz. VI 11.
72. B. j . 1 6. 2. § 124ss; 9, 3 , § 187.
7 3 . B. /". ( 2 9 , 3, § 5 7 7 .
74. A t 9,26; C l 1,18.
75. 2 C o r 11,32; At 9,24-25.
da conversão de P a u l o , D a m a s c o teria p a s s a d o da soberania de R o m a , sob a qual fez p a r t e da Síria, à dos á r a b e s .
j. O
Egito
8J
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C o m sua n u m e r o s a c o m u n i d a d e judaica, o Egito representava i m p o r t a n t e papel no m o v i m e n t o dos estrangeiros em Jerusalém. O s egípcios q u e m o r a v a m nessa cidade
e r a m , c o m outros helenistas, incorporados a u m a m e s m a
sinagoga (At 6,9). Por causa deles, é por vezes c h a m a d a
"sinagoga dos a l e x a n d r i n o s " . Herodes investiu no sumo
sacerdócio a Simão, filho de u m judeu egípcio, o alexandrino Boetos, a fim de p o d e r desposar sua filha M a r i a n a .
Depois, s e t e outros m e m b r o s dessa família tornaram-se
igualmente sumos sacerdotes. Segundo Para I I I 5 , u m deles, A n a u e l , originário de Babilônia (ver supra, p . 96)
era e g í p c i o . U m escriba hierosolimitano, H a n n a b e n
Abishalom, m e m b r o de u m tribunal de Jerusalém , t i n h a
o cognome de " o E g í p c i o " .
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76. T o s . Meg. I I I 6 (224, 2 6 ) ; j . Meg. I I I 1, 7 3 * 32 ( I V / 1 , 2 3 6 ) .
77. Ver infra, p . 266, n. 303.
78. Ant. X V 2, 4, § 22; Para I I I 5; H a n a m e l .
79. Existe u r a fato c u r i o s o , cujas c a u s a s n ã o são c l a r a s : de m o d o
m a n i f e s t o , n a P a l e s t i n a , os j u d e u s d e Babilônia n ã o e r a m a p r e c i a d o s .
E m c o m p e n s a ç ã o , d e m o n s t r a v a m g r a n d e a p r e ç o aos j u d e u s d o E g i t o .
E m t o d o caso, q u a n d o q u e r e m c o n t a r algo elogioso a r e s p e i t o dos babilônios — c o m o o fato de t e r e m d a d o u m s u m o s a c e r d o t e — i m p u t a r e essa d i g n i d a d e a u m egípcio (Para I I I 5 ) . O s c o m e n t á r i o s a respeito dos b a b i l ô n i o s n ã o são e s p e c i a l m e n t e f a v o r á v e i s : os s a c e r d o t e s
babilônios c o m e m c a r n e c r u a , o q u e c o n s t i t u í a u m a a b o m i n a ç ã o p a r a
os j u d e u s ; p o r o u t r o l a d o , os b a b i l ô n i o s z o m b a m d o b o d e e x p i a t ó r i o
(supra, p . 9 7 ) . O r a , nesses dois ú l t i m o s casos, o T a l m u d e de Babilônia afirma q u e se t r a t a v a d e a l e x a n d r i n o s . Eis em q u e t e r m o s ele
c o m e n t a a c e n a irônica d o b o d e e x p i a t ó r i o (Yoma
VI 4 ) ; (Rabba b.
Bar-Hana d i z : " N ã o se t r a t a d e b a b i l ô n i o s e sim d e a l e x a n d r i n o s ; e
c o m o os palestinos o d i a v a m os b a b i l ô n i o s , d e s i g n a v a m a q u e l e s [os alex a n d r i n o s q u e , n o dizer d o T a l m u d e de Babilônia, i n s u l t a v a m o b o d e
expiatório] d e a c o r d o c o m esses [os b a b i l ô n i o s i n o c e n t e s , s e g u n d o o
m e s m o r e l a t o ] " ( b . Yoma 6 6 ) . O m e s m o e m Men. X I 7 {supra,
p.
9 6 ) . P o r t a n t o , o T a l m u d e de Babilônia p r o c u r a , a b e r t a m e n t e , salvar
a h o n r a dos b a b i l ô n i o s . A ú n i c a c e r t e z a q u e p o d e m o s o b t e r desses
c o m e n t á r i o s d o T a l m u d e p a r e c e ser a de q u e , n a P a l e s t i n a , os b a b i lónios n ã o e r a m f a v o r a v e l m e n t e j u l g a d o s .
b
80. Ket.
C o m o muitos judeus egípcios, Fílon p e r e g r i n o u a Jerusalém .
Por ocasião do casamento dos sacerdotes que habitav a m no Egito, esses p r o c u r a v a m verificar, conforme as
prescrições, a genealogia de sua futura e s p o s a . P o r outro l a d o , trazia-se de Alexandria p a r a Jerusalém a " a r r e cadação da m a s s a " (Hallah) ,
q u e , devido às regras de
pureza legal, não era, e n t r e t a n t o , aceita. Esses fatos mostram-nos q u e o culto não se c o n c e n t r a v a de m o d o algum
no templo de Onias p a r a todos os j u d e u s e g í p c i o s \ Informações particulares relativas a esse t e m p l o conferem¬
-lhe a m e s m a imagem. J o s e f o observa q u e , a começar pelas suas dimensões, o templo era p e q u e n o e p o b r e comp a r a d o c o m o de Jerusalém. Men. X I I I descreve as ordens
dos doutores da Cidade santa, concernentes aos sacrifícios
e aos sacerdotes daquele templo de Leontópolis. Segundo
suas recomendações, os sacerdotes que oficiavam lá não
p o d i a m exercer seu ministério no T e m p l o de Jerusalém.
XIII
1-9; b . Ket.
1 0 5 ; v e r supra,
a
p . 77.
83
8
85
M e s m o p a r a os judeus egípcios, Jerusalém era o centro religioso. Disso temos u m a p r o v a : u m egípcio foi o
incentivador de u m dos muitos m o v i m e n t o s messiânicos
q u e q u e r i a m alcançar Jerusalém. R e u n i u em torno de si
g r a n d e m u l t i d ã o : segundo At 2 1 , 3 8 , q u a t r o mil zelotas
(membros do p a r t i d o fanaticamente revolucionário); seg u n d o B. j . II 1 3 , § 2 6 1 , trinta mil p a r t i d á r i o s . Pretendia
ele, no m o n t e das Oliveiras, mostrar a seus partidários o
d e s m o r o n a m e n t o das m u r a l h a s de Jerusalém e, após esse
milagre messiânico, tornar-se senhor da C i d a d e s a n t a .
F i n a l m e n t e , temos t a m b é m no T a l m u d e provas de int e r c â m b i o entre o Egito e Jerusalém. N o T e m p l o , por ocasião d e u m a greve dos fabricantes de perfumes p a r a queim a r e de pães da p r o p o s i ç ã o , fizeram vir do Egito, p a r a
86
87
8 1 . F r a g m e n t o d o De providentia
e m E u s é b i o , Praep. ev. V I I I 14,
64 (GCS 4 3 , 1, 4 7 7 ) .
82. C. Ap. I 7, § 30-33; cf. infra, p p . 295 e 3 7 8 .
8 3 . Baila V 10.
84. V e r supra, p . 4 5 .
85. Ant. X I I 9, 7, § 3 8 8 ; X I I I 3 , 1-3, § 62ss; 10, 4, § 2 8 5 ; X X
10, 3 , § 236s; B. j . I 1, 1, § 3 3 ; V I I 10, 2-4, § 421ss.
86. Ant. X X 8, 6, § 169s.
87. B. j . I I 13, 5, § 262.
substituí-los, pessoas que lá exerciam essas profissões.
A tentativa fracassou, p o r é m , p o r q u e n ã o t i n h a m a competência n e c e s s á r i a . Experiências igualmente desastrosas
as que tiveram com os artífices de Alexandria q u e dever i a m reparar, no T e m p l o , o címbalo de b r o n z e e os q u e
v i e r a m p a r a r e p a r a r a peça de cobre na qual se triturav a m os a r ô m a t a s p a r a os perfumes a q u e i m a r e q u e estava r a c h a d a . E m ambos os casos foi preciso refazer o
t r a b a l h o executado p o r e l e s . U m a última informação indica o tráfico existente com o Egito. Sob A l e x a n d r e Jan e u (103-76 a . C ) , R. Yoshna b e n Perahia foge de Jerusalém p a r a a Alexandria com u m aluno c h a m a d o J e s u s .
U m a carta de Jerusalém tê-lo-ia convocado a voltar.
U m sumo sacerdote, Ismael, foi d e c a p i t a d o em Cirene ; desconhecemos os motivos.
93
8S
89
90
k.
1. Etiópia
M e s m o da Etiópia alguns estrangeiros v i n h a m a Jer u s a l é m . E m At 8,27-39, vemos o ministro das finanças
d a etíope C â n d a c e r e t o r n a n d o d e Jerusalém o n d e estivera
por motivos religiosos.
E m r e s u m o : os estrangeiros v i n h a m a Jerusalém d e
quase todo o m u n d o então c o n h e c i d o , a t r a í d o s , antes de
t u d o , por motivos religiosos; em segundo lugar por razões
de natureza política ou econômica. E r a m , especialmente,
sírios, babilônios, egípcios e gente d a Ásia Menor.
Cirene
Foi e n c o n t r a d o o t ú m u l o de u m a família judaica de
Cirene, no vale do C é d r o n , Simão, aquele a q u e m os
soldados r o m a n o s obrigaram a levar a cruz de Jesus ao
Gólgota era dessa localidade. O s cireneus que m o r a v a m
e m Jerusalém pertenciam à sinagoga m e n c i o n a d a em At
6,9. O s peregrinos q u e v i n h a m de Cirene p a r a a festa —
mais exatamente da Líbia cirenaica, com Cirene por capital — alojavam-se, talvez, na hospedaria contígua a essa
sinagoga. Parte desse povo passou p a r a o cristianismo;
unidos aos cristãos de Chipre, esses cristãos de Cirene ousaram, em A n t i o q u i a , pregar o evangelho até mesmo a
não-judeus (At 11,20).
3 . M o v i m e n t o de estrangeiros
provenientes de regiões próximas
91
92
88. b . Yoma 38 -*>.
89. b . 'Ar. 1 0 bar.; cf. Billerbeck, I I I , 450.
90. b . Sanh.
1 0 7 ; b . Sola 4 7 . — Billerbeck, I, 85, q u a n t o a o
n o m e d o rei, deixa s u p o r u m a confusão c o m H e r o d e s q u e , s e g u n d o Ant.
X I V 9, 4, § 175, m a n d o u m a s s a c r a r e m 37 a.C. os m e m b r o s d o Sin é d r i o c o m e x c e ç ã o de S h e m a y a , Essa h i p ó t e s e , e n t r e t a n t o , n ã o se imp õ e . C o m efeito, o T a l m u d e fala m u i t a s vezes d a p e r s e g u i ç ã o d e Shim e o n ben S h e t a h , o e s c r i b a , p o r A l e x a n d r e J a n e u e Josefo faz-nos con h e c e r as lutas s a n g r e n t a s desse rei, d u r a n t e longos a n o s , c o n t r a o
p o v o d o m i n a d o pela influência farisaica. O p a r a l e l o , cm j . Hag. II 2 ,
7 7 30 (TV/l, 2 7 7 s ) , coloca Y u d a b e n T a b b a i n o lugar d e Y o s h u a ; isso
t a m b é m c o n f i r m a a c r o n o l o g i a do T a l m u d e .
a
b
b
a
Desde s e m p r e , a circulação interna da Palestina representava a maior parte do tráfico v o l t a d o para Jerusalém. Conforme vimos, o comércio d a c i d a d e atraía sobrem o d o os h a b i t a n t e s das regiões mais p r ó x i m a s . O m e s m o
acontecia por motivos comerciais, conforme p o d e m o s perceber pelas interligações de estradas \ já q u e a natureza
forçava os habitantes da Palestina meridional, a v i r e m a
Jerusalém. D e toda a Palestina a Judéia era a q u e mais
ligada estava a Jerusalém. O país fora dividido pelos rom a n o s em onze t o p a r q u í a s judaicas com b a s e , sem dúvida, n a divisão da Palestina em v i n t e e q u a t r o distritos
s a c e r d o t a i s ; v i n h a m a Jerusalém pagar seus impostos. As
medidas policiais concernentes à Judéia r e p o u s a v a m em
parte sobre os o m b r o s das autoridades de Jerusalém e da
g u a r d a do T e m p l o à sua disposição. E m d e t e r m i n a d o s casos, os tribunais d a província d a Judéia i a m a Jerusalém
pedir u m a decisão. O s casos especialmente difíceis e r a m
apresentados ao Sinédrio d e Jerusalém q u e então repre9
95
96
d
9 1 . N . A v i g a d , " A d e p o s i t o r y of I n s c r i b e d O s s u a r i e s in t h e K i d r o n
V a l l e y " em Israel Exploration
Journal
12 (1962) 1-12.
92. Mc 15,21; M t 27,32; Lc 23,26.
93.
94.
95.
96.
B. }.
Ver
B. ].
Ver
V I 2,
supra,
I l l 3,
mira.
2, § 114.
77s.
5, § 54.
374.
sentava o p a p e l de tribunal s u p r e m o ; nos casos duvidosos,
o escriba vinha do c a m p o — de Masfa, por e x e m p l o —
até Jerusalém, p a r a aí obter melhores informações.
A província da Judéia t a m b é m participava mais do
culto de Jerusalém do que o resto da Palestina. Somente
q u e m estava domiciliado nos arredores da cidade podia
vir praticar seu culto no santuário, aos sábados. As testem u n h a s q u e iam a n u n c i a r a lua nova à comissão competente, composta de sacerdotes, eram n a t u r a l m e n t e da cid a d e , ou pelo m e n o s , de muito perto . A maioria dos sacerdotes m o r a v a na Judéia. Segundo Ned I I , 4, os galileus
não conheciam o costume de consagrar alguma oferenda
em proveito dos sacerdotes, por ser muito p e q u e n o o núm e r o desses em sua terra. Na Judéia, n e m todos m o r a v a m
em Jerusalém. Ali residiam, por exemplo, os sumos sacerdotes, o sacerdote S a d o c J o s e f o °. Já o sacerdote Zacarias m o r a v a , segundo a tradição, em Ain K a r i m , n a região m o n t a n h o s a da Judéia (Lc 1,39). O sacerdote Matarias, antepassado dos m a c a b e u s , residia em M o d i n ( l M c
2,1). N a p a r á b o l a do b o m s a m a r i t a n o , vemos u m sacerdote que passa, indo de Jerusalém a Jericó (Lc 1 0 , 3 1 ) .
Segundo Orígenes , Betfagé era u m a cidade de sacerdotes. Finalmente, Terum II 4 prescreve q u e , o n d e m o r a r
u m sacerdote, deve-se dar-lhe o " a r r e c a d a d o " . Essas explicações p e r m i t e m considerar como verossímeis os dados
q u e temos, segundo os quais a Palestina era dividida em
vinte e q u a t r o seções, alternando-se no serviço do santuário; a que estava em exercício m a n d a v a p a r a o T e m p l o
seus sacerdotes e levitas, com alguns r e p r e s e n t a n t e s do
povo .
9 7
9S
10
101
102
A província da Judéia, graças, a distâncias m e n o r e s ,
tinha a possibilidade de se fazer representar em n ú m e r o
mais considerável nas peregrinações por ocasião das fes97. Pea II 6.
98. R. H. I 7.
99. Lam. R. 1, 49 s o b r e 1. 16 ( 3 5 2 2 ) , o n d e ele é c h a m a d o
kôhen
gadôl, chefe dos s a c e r d o t e s . ( S o b r e o s u m o s a c e r d o t e e chefe
dos s a c e r d o t e s v e r infra, p p . 243-248).
100. Vita 2, § 7.
101. Comm. in Mt 2, 4s, X V I 17 (GCS 40, 5 3 1 s ) .
102. Ta'an. I V 2; Bik. I I I 2; Para I I I 11.
a
tas. O u v i m o s dizer q u e u m a c i d a d e inteira d a importância e t a m a n h o de Lida , t o m a v a p a r t e na festa das Tendas, de tal forma que a p e n a s u m a s c i n q ü e n t a pessoas fic a v a m e m casa . T a l fato só p o d e o c o r r e r n a J u d é i a . . .
À m e d i d a q u e as distâncias a u m e n t a v a m , o comércio
era feito, d e preferência, pelas c a r a v a n a s e grandes negociantes ; p o r t a n t o , os deveres religiosos, mais do q u e o
comércio, faziam as outras regiões da Palestina p a r t i c i p a r
do m o v i m e n t o rumo a Jerusalém. Excetuavam-se somente
os s a m a r i t a n o s cujo culto se c o n c e n t r a v a no G a r i z i m (Jo
4,20-21). E n c o n t r a m o s e m Jerusalém, o carpinteiro José
com M a r i a e Jesus, vindos d e N a z a r é p o r ocasião de u m a
festa (Lc 2,41-44). Assim t a m b é m , a r a i n h a Berenice, filha d o rei Agripa I e irmã do rei Agripa I I , veio à Cidade
santa p a r a u m nazireato ; veio c e r t a m e n t e , d e Cesaréia
de Filipe (66 d . C ; nessa data já deveria estar divorciada
de seu m a r i d o Polemon da Cilicia). O dever religioso
atraía à C i d a d e santa ricos e p o b r e s .
l0í
l w
105
m
Quando um movimento perturbava a nação, o número
de peregrinos p a r a as festas crescia e n o r m e m e n t e . N ã o é
preciso d i z e r q u e o a j u n t a m e n t o das m u l t i d õ e s e m Jerusalém adquiria t a m b é m uma i m p o r t â n c i a política; variados
exemplos o d e m o n s t r a m . Foi assim, p o r razões políticas
q u e n o a n o 6 d . C , reuniu-se em Jerusalém u m a " m u l t i d ã o
i n c o n t á v e l " de judeus a r m a d o s , vindos da Galileia, Iduméia, Jericó, Peréia e sobretudo d a J u d é i a . Q u a l q u e r
m o v i m e n t o messiânico tinha como fito alcançar Jerusalém.
A sede principal das correntes anti-romanas e das idéias
messiânicas era a Galileia. É difícil acreditar q u e a atitude de Pilatos no s a n t u á r i o , contra os peregrinos vindos
da Galileia p a r a a Páscoa (Lc 1 3 , 1 ) , não tivesse motivo
c o n c r e t o . Foi n a Galileia q u e se desenvolveu o p a r t i d o
dos zelotas; com o t e m p o , teve nas m ã o s a sorte do povo
inteiro. J u d a s , cuja revolta c o n t r a os r o m a n o s (6-7 d.C.)
d e u o i m p u l s o decisivo à f o r m a ç ã o d o m o v i m e n t o zelota,
107
103.
104.
105.
106.
107.
E r a a sede d e u m a t o p a r q u í a (B. /. I I I 3 , 5, § 5 5 ) .
B. /". I I 19, I, íj 515s: e m 66 d . C .
V e r supra, p . 6 1 .
B. h I I 15, 1, § 3 1 3 .
B. /. I I 3 , (, § 4 3 .
era originário da Galileia; seu p a i Ezequias já chefiava
u m m o v i m e n t o partidarista q u e n a Galileia lutou c o n t r a
H e r o d e s . E m 6 6 , M e n a é m , filho de Judas, foi u m d o s
principais chefes d a revolta contra os r o m a n o s . As p e regrinações p o r ocasião das festas e m Jerusalém ajudavam
tais movimentos a estabelecer u m elo com a Cidade santa.
m
B . INFLUÊNCIAS DAS CARACTERÍSTICAS
DE JERUSALÉM SOBRE O MOVIMENTO
D E ESTRANGEIROS
1. Situação da cidade
O q u e dissemos nas p p . 75-79 d a situação geográfica
da cidade e m relação ao comércio, vale p a r a o m o v i m e n t o
de estrangeiros.
2 . Importância política e religiosa da cidade
A situação econômica da cidade tinha influência n o
tráfico dos estrangeiros n a m e d i d a e m q u e fazia vir p a r a
Jerusalém mercadores do m u n d o inteiro, especialmente da
J u d e i a e d o resto d a Palestina.
Jerusalém era ainda o centro da vida política j u d a i c a .
T r ê s características d a cidade justificam o g r a n d e atrativo
q u e exercia sobre os estrangeiros: era a antiga capital, a
sede d o s u p r e m o t r i b u n a l , a m e t a d a s peregrinações p a r a
as festas.
Jerusalém era a antiga capital. A corte de H e r o d e s ,
o n d e o espírito helenista reinava com influência total, a
l u t a das feras, os jogos dos ginásios e das m u s a s , os espetáculos, as corridas de bigas q u e Herodes organizava
n o h i p ó d r o m o e n o teatro
constituíam p a r a os estrangeiros u m poderoso centro de a t r a ç ã o . C o m o t a m b é m to109
3
]()8. B. j . II 17, Ss, § 433ss.
109. Ant. X V 8, 1, § 268ss.
m a v a m p a r t e ativa ou passiva n o s jogos esportivos pessoas
vindas de fora, muitos intelectuais e outros de formação
helenística e r a m hóspedes da corte d e H e r o d e s . Acrescentam-se ainda n u m e r o s a s relações oficiais m a n t i d a s p o r H e rodes e p o r Agripa I, q u e t r a z i a m a Jerusalém emissários,
mensageiros e guardas de corpo estrangeiros. Já vimos
de q u e maneira a capital, e m b o r a no interior do país, constituía u m centro de atração p a r a m u i t o s , sobretudo p a r a
os detentores d a riqueza n a c i o n a l .
Jerusalém era t a m b é m a sede do supremo
tribunal:
nela o Sinédrio estava sediado. Sendo a sua origem e natureza, esse Sinédrio era a primeira assembléia d o país;
por tal característica, sua atribuição estendia-se aos j u d e u s
do m u n d o inteiro. E m princípio assim era; seu prestígio
de s u p r e m a instância garantia-lhe ser o u v i d o por todos,
m a s , c o n c r e t a m e n t e , pouco podia usar de a u t o r i d a d e fora
da Judeia. P a u l o recebe cartas p a r a as sinagogas de Damasco, com o r d e m de p r e n d e r os cristãos e entregá-los ao
Sinédrio (At 9,2). Os judeus de R o m a dizem a P a u l o n ã o
terem recebido, a seu respeito, instruções escritas d a Judeia (At 2 8 , 2 1 ) . D e n t r o d o país a influência do Sinédrio
fazia-se sentir mais forte. D e s d e q u e a Judeia tornara-se
província r o m a n a , em 6 d . C , o Sinédrio impôs-se c o m o a
mais alta representação política. U m a d e suas comissões
constituía a assembléia financeira p a r a as onze t o p a r q u í a s
j u d a i c a s , divisões q u e os r o m a n o s t i n h a m imposto ao
país. N a q u e l a época, o Sinédrio era, além do mais, nos
assuntos da c o m u n a a s u p r e m a instância judiciária judaica
p a r a a província.
110
111
D a d a a sua importância, o Sinédrio entretinha relações c o m os judeus do m u n d o inteiro e, dentro d a Judeia, u n i a a d m i n i s t r a t i v a m e n t e todos os vilarejos de Jerusalém.
N o T e m p l o , três festas de peregrinações e r a m celebradas cada a n o . E m conseqüência d a i m p o r t â n c i a política
dos a g r u p a m e n t o s para as festas, já vimos
como as car a v a n a s cresciam nos anos de agitações.
112
110. Supra, p . 8 1 .
111. B. j . I I I 3, 5 , § 54.
112. V e r p . 105.
Desde o ano ó d . C , Jerusalém era u m a cidade
romana de província,
còm guarnição de tropa, m a s tal fato não
teve senão influência m í n i m a na circulação dos estrangeiros. P a r a a festa de Páscoa, certamente de m o d o
h a b i t u a l , o p r o c u r a d o r r o m a n o v i n h a d e Cesaréia p a r a
Jerusalém c o m u m a forte escolta de soldados e aí exercia
a justiça.
Assim sendo, d a d a a importância de Jerusalém c o m o
centro da vida política judaica, o p o v o afluía, e m g r a n d e
n ú m e r o , p a r a assuntos públicos ou p r i v a d o s .
Enfim, a importância religiosa d a cidade foi absolutamente decisiva na atração que exercia sobre os estrangeiros.
Jerusalém era, e m primeiro lugar, u m dos centros
mais i m p o r t a n t e s p a r a a formação
religiosa dos j u d e u s .
Atraía sábios da Babilônia e do Egito e a r e p u t a ç ã o m u n dial de seus h o m e n s doutos fazia acorrer os a l u n o s . G o z a v a
de prestígio entre as mais diversas correntes
religiosas.
N e l a se a c h a v a o p o n t o de convergência d a v i d a farisaica;
nela se encontrou, d u r a n t e muito tempo, o centro da cristandade m u n d i a l (cf. Gl 2,1-10); lá estão t a m b é m os essênios. P a r a os cristãos, os lugares santos — é impensável
q u e assim n ã o t e n h a sido desde o início — e a p r e s e n ç a
das mais antigas testemunhas do evangelho c o n s t i t u í r a m
u m centro p e r m a n e n t e de atração. Conforme m o s t r a m Gl
2 , 1 0 ; I C o r 16,1-3; 2Cor 8-9 (cf. At 2 0 , 4 ) , os cristãos d o
m u n d o inteiro e n v i a v a m suas ofertas à c o m u n i d a d e de Jerusalém.
A expectativa
religiosa prendia-se a Jerusalém; p o r
isso, todos os movimentos messiânicos, m u i t o numerosos
n a época, voltavam-se p a r a ela. M u i t a gente ali se estabelecia, a fim de m o r r e r naquele local santo e ser e n t e r r a d o
lá onde se realizarão a ressurreição e o juízo final.
Acima de t u d o , p o r é m , havia o T e m p l o . Jerusalém
era a pátria do culto judaico, lugar da presença divina n a
terra. Ali v i n h a m p a r a rezar, pois, as orações c h e g a v a m
mais diretamente aos ouvidos do Senhor. N o T e m p l o , o
nazir, após o c u m p r i m e n t o de seu voto, e o não-judeu
desejoso de se tornar prosélito integrado, v i n h a m oferecer
seus s a c r i f í c i o s ; l e v a v a m p a r a o j u l g a m e n t o de D e u s a
sôtah, m u l h e r suspeita de adultério. A o T e m p l o traziam¬
-se as primícias; ali, após cada n a s c i m e n t o , as mães se
purificavam pelo sacrifício prescrito e os judeus do m u n d o
inteiro p a r a lá e n v i a v a m suas taxas. C a d a u m p o r sua
vez, os grupos de sacerdotes, levitas e israelitas se revezavam; ao T e m p l o , três vezes por a n o , afluía o judaísmo
disperso por todas as nações.
É difícil formarmos u m a idéia da imensidão desses
a g r u p a m e n t o s por ocasião das três festas a n u a i s , sobretudo
d u r a n t e a Páscoa. Vamos tentar fazê-lo, e x a m i n a n d o as
prescrições relativas à participação e sua observância; depois, p r o c u r a r e m o s calcular o n ú m e r o dos peregrinos.
113
N a s três festas principais, "todos estão obrigados a
comparecer [diante de D e u s = no T e m p l o ] , exceto o surd o , o débil m e n t a l , o m e n o r , o h o m e m c o m órgãos obstruídos [ = sexo d u v i d o s o ] , o a n d r ó g i n o , as m u l h e r e s , os escravos n ã o libertos, o coxo, o cego, o enfermo, o ancião
e aquele que estiver impedido de subir a p é [à m o n t a n h a
do T e m p l o ] ". A escola de Shamai assim define o termo
" m e n o r " : " a q u e l e que n ã o p o d e [ a i n d a ] m o n t a r a cavalo
nos o m b r o s do pai p a r a subir a Jerusalém, à m o n t a n h a
do T e m p l o ' ; a escola de Hilel diz: " a q u e l e que não p o d e
[ainda] d a r a m ã o ao pai p a r a subir a Jerusalém, à mont a n h a do T e m p l o " " . Conforme essas indicações, o termo
"israelita" tem por perífrase " a q u e l e que vai a J e r u s a l é m " .
4
A prática corresponderia à teoria? E m Lc 2 , 4 1 , lemos q u e os pais de Jesus " s u b i r a m a Jerusalém p a r a a
festa de Páscoa, segundo o c o s t u m e " . Podemos, p o r t a n t o ,
concluir: 1. os pobres — segundo Lc 2 , 2 4 , os pais de Jesus servem-se do privilégio dos pobres d e apenas oferecer
dois p o m b o s — ou aqueles q u e , m o r a n d o muito distante,
se p e r m i t i a m fazer, d u r a n t e cada ano somente a viagem
pascal; 2. as mulheres t o m a v a m parte nas viagens p a r a as
festas, se b e m que n ã o fossem obrigadas " . Lemos em Lc
2 , 4 2 : " Q u a n d o Jesus completou doze a n o s " , seus pais le3
¡ 1 3 . ÍCer. I I 1; b . Ker.
114. Uag. I 1.
115. íbid.
81'
varam-no com eles, a Jerusalém, por ocasião d a Páscoa.
P o d e m o s , pois, supor: 3 . q u e era costume, p a r a os de fora,
trazer os filhos q u a n d o já tivessem completado seu 12"
a n o . O sacerdote Josefo levava consigo seus filhos m e n o res e as pessoas de sua casa p a r a a segunda Páscoa (em
certos casos de i m p e d i m e n t o , p o d i a m celebrar a Páscoa
u m mês depois ) . Mas impediram-no, a fim de não criar
precedentes p a r a a celebração da segunda Páscoa. Esse
simples fato revela q u a n t o Josefo era zeloso
Aliás, alguns textos do T a l m u d e indicam o décimo terceiro a n o
como a idade a partir da qual o israelita fica obrigado a
submeter-se aos preceitos da Lei; esse dado não c o n t r a d i z
Lc 2 , 4 2 ; era hábito começarem a levar as crianças de doze
anos às peregrinações, p a r a habituá-las ao preceito q u e
deveria atingi-las a partir do ano seguinte.
116
D a diáspora chegavam t a m b é m peregrinos p a r a as
festas; além de Josefo e informações acima citadas, p p .
9 2 , temos o t e s t e m u n h o de Fílon: " C o m efeito, miríades
chegavam de miríades de cidades para cada festa no T e m plo, uns p o r via terrestre, outros por m a r , do O r i e n t e e
cio O c i d e n t e , do Setentrião e das regiões a u s t r a i s " . Sem
dúvida, esses peregrinos da diáspora que v i n h a m p a r a as
festas p o d i a m desfrutar da concessão indicada acima (cf.
Lc 2,41), que permitia fazer somente u m a viagem por a n o .
É mesmo possível q u e t e n h a m p o d i d o , e m circunstâncias
difíceis, gozar de u m a dispensa a i n d a maior, análoga, p o r
exemplo, à que existe no Islã, e fazer a viagem u m a só
vez na vida.
trangeiros vindos para o culto d i v i n o " . E m todos esses
casos, trata-se d e u m a p a r t i c i p a ç ã o livre.
É essa, p o r t a n t o , a síntese das prescrições e das narrativas com seus casos p a r t i c u l a r e s : t o d o israelita e todo
prosélito i n t e g r a d o d e sexo m a s c u l i n o , e m condições de
viajar, era obrigado a tomar p a r t e nas peregrinações anuais
p a r a as festas; e n t r e t a n t o , algumas concessões foram introduzidas em favor dos que viviam no exterior. Disso
possuímos p r o v a , com o endosso de n ú m e r o s em Vita 6 5 ,
§ 3 5 4 ; essa informação é mais digna d e fé do que qualquer outra, visto Josefo, nessa passagem erguer polêmica
contra Justo, de T i b e r í a d e s e d a r , a b e r t a m e n t e , g r a n d e importância à precisão. Trata-se de T i b e r í a d e s que se tornou
capital da Galileia sob H e r o d e s A n t i p a s . Seu conselho
compunha-se d e seiscentos m e m b r o s , o q u e permite concluir q u e a p o p u l a ç ã o da cidade era considerável. Entretanto, segundo Vita 6 5 , § 3 5 4 , somente dois mil h o m e n s
de Tiberíades achavam-se em Jerusalém entre os sediados,
isto é, entre os que celebravam a Páscoa
do ano 7 0 .
m
121
ll8
D e n t r e os prosélitos, os que já eram prosélitos integrados deviam vir em p e r e g r i n a ç ã o , p a r a as festas
Enc o n t r a m o s , igualmente, em Jerusalém p a r a a m e s m a finalidade, os semiprosélitos: " h a v i a lá alguns gregos, entre os
que t i n h a m subido p a r a a d o r a r , na festa" (Jo 12,20); trata-se aqui de pagãos incircuncisos, os " t e m e n t e s de" D e u s " .
Era esse t a m b é m o caso do ministro das finanças da etíope
Cândace. E m B. j . VI 9, 3 , § 4 2 7 , Josefo m e n c i o n a "es116.
117.
118.
119.
Pes. I X .
Halla I V 11.
Fílon, De spec. leg. I 12, § 69.
Cf. G l 5,3; P a u l o r e p r o d u z a p r e s c r i ç ã o
Excurso
O número
de peregrinos
a
Páscoa
Conseguimos o b t e r , d e q u a t r o fontes, informações
acerca da m u l t i d ã o daqueles q u e p a r t i c i p a v a m da Páscoa,
quer dizer, do n ú m e r o de peregrinos p a r a a festa e da pop u l a ç ã o d c Jerusalém. Pelo q u e lemos, parece-nos que tal
cálculo p a r a os peregrinos se baseia no n ú m e r o das vítimas pascais.
1. S e g u n d o b . Pes. 6 4 e
22), Agripa (mais exatamente,
deixar de lado um rim de cada
quanto ao número das vítimas
b
120. B. j . II 2 1 , 9, § 6 4 1 .
judaica.
para
121. B. j . V I , 9, 3, § 4 2 1 .
Iam. R. 1, 2 sobre 1, 1 ( 1 8
Agripa II, ver n. 2) mandou
vítima pascal. Eis o resultado
pascais: " O dobro do número
b
daqueles que saíram do Egito (600.000 segundo Ex 12,37),
sem contar as pessoas impuras e aquelas que estavam ausentes, em viagens; e nenhum cordeiro pascal era dividido por
menos de 10 pessoas"
(segundo Lam, R. o número daqueles que comiam uma vítima podia variar de 10 a 100). Temos,
por conseguinte: 6 0 0 . 0 0 0 X 2 X 10 — 12 milhões de peregrinos para a Páscoa.
2. Narra-nos Josefo
que, por ocasião de uma Páscoa
entre 63 e 66 d.C. contaram-se as vítimas; chegou-se a 2 5 5 . 6 0 0
(variante: 256.500) vítimas e a 2 . 7 0 0 . 0 0 0 pessoas celebrando
a festa. Quando Josefo
fala de três milhões de participantes,
trata-se, provavelmente, de número redondo.
3. Eis os números fornecidos por Josefo a propósito do
cerco que começou repentinamente por ocasião da Páscoa de
70 d . C :
122
123
124
os judeus se dividiam em 3 grupos para imolar as vítimas: "O
primeiro grupo entrou e encheu o adro; as portas foram fechadas e a trombeta soou d e m o r a d a m e n t e . . . " ; V 7: "Saído
o primeiro grupo, entrou o segundo; à saída do segundo, o
terceiro e n t r o u . . . " esse último, não é, entretanto, tão numeroso quanto os dois precedentes.
Sabemos que no tempo de Jesus, as vítimas eram imoladas no Templo e não em casa. Já sc evidencia pelo fato de
ser o cordeiro pascal uma vítima; seu sangue devia ser utilizado ritualmente (derramado sobre o altar, 2Cr 35,11) .
A vííima pascal é explicitamente chamada de sacrifício em Ex
12,27;34,25; Nm 9,7,13; Ant. II 14, 6, § 312s; IIÍ 10, 5, §
2 4 8 ; B. j . V I 9, 3 , § 4 2 3 (thusía); Fílon, De Vita Mosis I I ,
§ 224 (Ihúein); no Novo Testamento: Mc 14,12; Lc 22,7; ICor
5,7 {ihueín, thúesthai). Além disso, as prescrições de Dt 16,
2.6, a regulamentação de 2Cr 35,5-6
e a regra rabínica relativa aos sacrifícios de menor santidade , exigem que a imolação se realize no Templo. É o que os relatos igualmente mostram sobre a maneira de contar os ossos ou os rins dos cordeiros da Páscoa; só se poderia fazer este cômputo se a imolação fosse executada unicamente no Templo. É, finalmente,
o que atestam todos os textos segundo os quais a imolação
deveria ser feita por leigos, como nos diz Fílon . Concorda
com Pes. V ò onde está escrito: "Um israelita degolou e o sacerdote recolheu o sangue". No Antigo Testamento, Lv 1,5
prescreve a imolação de uma vítima por leigos. Todas essas
minúcias indicam que o ato cultual se realizava no Templo.
121
128
mortos
prisioneiros
fugiram para a ravina
arborizada de Jarde
Total
1.100.000 ( 5 . / . VI 9, 3, § 420)
9 7 . 0 0 0 (B.). VI 9, 3, § 420)
3-000 (B. j . VII 6, 5, § 210ss)
1 . 2 0 0 . 0 0 0 participantes da Páscoa
4. T á c i t o
fornece-nos uma quarta indicação; segundo
seu parecer, um total de 6 0 0 . 0 0 0 homens devem ter ficado
confinados em Jerusalém, no ano 70. Devemos ter certa reserva
quanto a esse número, porque Tácito seguramente se baseou
em Josefo, e n e s s e
encontra-se o seguinte dado: os tránsfugas contaram que o número de cadáveres dos pobres lançados fora das portas totalizavam 6 0 0 . 0 0 0 ; quanto ao número
de outros mortos, é impossível avaliar.
É provável que Tácito, tomando por engano este número
como sendo do conjunto de assediados, o tenha utilizado.
Esses quatro textos apresentam cifras tão vultosas que não
podemos considerá-las verídicas.
125
126
Devemos então desistir de encontrar o número real dos
peregrinos de Páscoa? Não, porque uma passagem da Mishna
vem em nosso auxílio. Lemos em Pes. V 5 que, em 14 nisân,
122.
123.
124.
125.
126.
b . Pes.
B. j . V I
B. /'. II
Hist. V
B. j . V
64 .
9, 3 , § 422ss.
14, 3, § 280.
13.
13, 7, § 569.
b
m
ü 0
O tratado Middot da Mishna e Josefo fazem-nos conhecer
as dimensões do Templo. Torna-se, pois, possível avaliar, pelo
menos de modo aproximativo, o espaço ocupado pelos três
grupos e daí deduzir o número dos participantes da festa.
Que espaço poderia ocupar um grupo que entrou para
imolar as vítimas?
Um grupo é admitido no "adro"; deve-se entender como
sendo o espaço a oeste da Porta de Nicanor, o "adro interior"
onde se encontravam o local da imolação e o altar dos holocaustos. Imaginemos as divisões da esplanada do Templo.
127. Cf. H . L . Strack, P*sahim, Leipzig, 1911, 6 ' .
128. Cf. lubileus X U X 19$.
129. Zeb. V 8.
130. De v/ta Mosis
leg. I I , § 145.
II
[ I I I ] , § 2 2 4 ; De decálogo.
§ 159; De
spec.
A Mishna
fala de 10 degraus de santidade; foram construídos em círculos concêntricos em torno do Santo dos santos:
O ÁTRIO
131
I.
II.
III.
IV.
V.
VI.
VII.
VIII.
IX.
X.
Esboço do
O país de Israel.
A cidade de Jerusalém.
A montanha do Templo.
O bel, terraço com uma balaustrada que o separava
do resto da esplanada do Templo; essa balaustrada
demarcava o limite que os pagãos não podiam ultrapassar (ver supra, p. 36).
O átrio das mulheres.
O átrio dos israelitas.
O átrio dos sacerdotes.
O espaço entre o altar dos holocaustos e o edifício
do Templo.
O edifício do Templo.
O Santo dos santos.
Conforme essa divisão, o adro interior em questão compreende os círculos de santidade VI e VII: átrio dos israelitas e átrio dos sacerdotes. Sem dúvida, os círculos VIII, IX e
X fazem igualmente parte do adro interior, mas em caso algum os leigos podiam aí penetrar. Em compensação, o espaço
situado atrás de cada lado do edifício do Templo não pertencia
ao domínio fechado, em princípio, para os leigos .
A Mishna dá-nos as seguintes medidas: o espaço do círculo VI (a no desenho, átrio dos israelitas) media 135 X 11
côv. — 1.485 côv. . Ignoramos o espaço do círculo VII (b,
átrio dos sacerdotes), mas podemos conhecê-lo de modo indireto, porque o espaço total dos círculos VII + VIII (espaço
entre c, o altar dos holocaustos e o edifício do Templo) +
I X / X (edifício do Templo) mediam 135 X 176 côv. = 2 3 . 7 6 0
côv. . Dessas três unidades conhecemos as duas últimas. O círculo VIII media 32 X (19 + 3) côv. = 704 côv. , os círculos
I X / X mediam 100 X 22 (/, vestíbulo) + 80 X 70 (edifício
principal) côv. = 7 . 8 0 0 côv. . Subtraindo então VIII + I X / X
do total de VII + VIII + I X / X : 2 3 . 7 6 0 - (704 + 7.800)
= 15-256 côv. . É o espaço do círculo VIL Dessa superfície,
o altar (c, 32 X 32 côv. = 1-024 côv. ) e seus degraus (d,
32 X 16 côv. = 512 côv. ) eram interditados aos leigos que
vinham imolar os animais pascais; é preciso, portanto, sub-
INTERIOR
(Círculos VI-X) segundo os dados da Mishna e de Josefo.
autor.
O
l32
2
2
0
2
Explicações
do
10
20
30
40
esboço
2
2
2
2
131. Kel.
I 6-9.
132, B. /". V 5, 6, § 226.
a
b
c
d
e
/
g
h
=
—
=
—
=
=
—
=
As medidas
círculo
átrio dos israelitas
átrio dos sacerdotes
altar dos holocaustos
círculo
degraus do altar
lavabo para as abluçÕes dos sacerdotes
> círculo
vestíbulo
Santo
círculo
Santo dos santos
são i n d i c a d a s
em côvados.
VI
VII
IX
X
traí-los. Nosso número, para o círculo VII desce, por conseguinte a 13-720 côv. . Com o círculo VI, de 1.485 côv. (ver
supra) temos um espaço de 15.205 côv. ( isto é, 1 côv. equivalendo a 0,276 m (ver supra, p. 22), de 4.196,58 m \ Isso
representa o espaço que os leigos tinham, ou quase, à sua disposição para imolar em VI e VII. Teríamos ainda de subtrair
a superfície que não conhecemos, do lavabo das abluções (e),
das colunas etc. Por conseguinte, podemos calcular um espaço
de aproximadamente
4.000 m , para um grupo admitido com
0 fito de sacrificar.
Estamos em condições de controlar esse número.
Pes. V 10 discute o caso em que o 14 nisân cai num sábado, interditando as pessoas de voltarem para casa imediatamente após a imolação; dizem que o segundo grupo esperava
então o cair da tarde no hêl. isto é, no terraço que enquadrava a parte central da esplanada do Templo, a saber, o conjunto do adro interior, com o santuário, e do átrio das mulheres; é o círculo IV (ver supra, p . 115). Um grupo poderia,
pois, manter-se no IV. Qual era a sua superfície?
Segundo a Mishna e Josefo , a largura do bêl era de 10
cevados. Conhecemos, aliás, seu perímetro interior que é idêntico ao perímetro da parte central da esplanada; essa parte
comprendia, repetimos, além do adro interior, o átrio das mulheres e, ao norte, a leste e ao sul, as alas laterais do edifício .
2
2
2
2
2
l
m
134
O lado maior do perímetro interior compõe-se, pois, da seguinte maneira: lado maior do adro interior + lado maior do
átrio das mulheres + largura da ala, portanto 1 8 7 + 135 +
40 = 362 côv.; o lado menor, por sua vez: lado menor dos
átrios + largura das alas norte e sul, portanto 155 + 40 +
40 = 215 côv. O perímetro interior do hêl mede, pois (2 x
362) + (2 X 215) = 1-154 côv. Obtemos seu perímetro
exterior, acrescentando a largura do hêl dc 10 côvados a cada
extremidade dos dois lados, maior e menor, do perímetro interior; o perímetro exterior mede, portanto, 2 X (362 + 10
+ 10) 4 - 2 X (215 + 10 4- 10) = 1.234 côvados. Para
chegar à superfície do hêl é preciso multiplicar sua largura pela
metade de seus dois perímetros interior e exterior adicionados,
1154 X 1234
portanto,
X 10 = 11-940 côv. , isto é, 1 côv.
2
equivalendo a 0,276 m , 3-295,44 m . É esse o espaço do hêl
onde podiam se agrupar, segundo Pes. V 10, todos aqueles
que teriam ocupado antes o átrio interior para imolar seus animais pascais .
No adro interior, era naturalmente necessário haver lugar
para imolar os animais; além disso, os sacerdotes dispostos cm
filas, também ocupavam lugar. O fato diminui aproximadamente de 1/5 o espaço disponível para os leigos. Finalmente,
os resultados se correspondem. Um grupo exigia mais ou menos um espaço de 3-200 m quando não imolava.
Quantos homens podiam ocupar esse espaço? Mantinham-se bem rentes um ao outro. Entre os dez milagres que se rea2
2
2
2
135
2
133. Mid. II 3; B. j . V 5, 2, § 197.
134. O a d r o interior n ã o era d i r e t a m e n t e c o n t í g u o ao t e r r a ç o ;
h a v i a e n t r e os dois, as alas de edifícios. Josefo e a M i s h n a r e s s a l t a m
essa m i n ú c i a . Mid. I 1 c h a m a de edifícios as p o r t a s q u e l e v a m d o
a d r o interior ao bêl (Mid. I 5 ) . Isso é c o n f i r m a d o pela d e s c r i ç ã o m a i s
d e t a l h a d a d o s edifícios d a s p o r t a s , e s p e c i a l m e n t e a q u e l e c h a m a d o " n i c h o d a l a r e i r a " (I 6-9) e o u t r o q u e t e m o s de identificar com u m a d a s
p o r t a s i n d i c a d a s em I I 7. Esses "edifícios das p o r t a s " t i n h a m u m a
ê x e d r a , p ó r t i c o circular c o m assentos e, e m cima, u m q u a r t o
(Mid.
1 5, B. j . V 5, 3, § 2 0 3 ) ; essa ê x e d r a m e d i a 30 c ô v a d o s d e l a r g u r a
(B. j . ibid.).
M a s , e n t r e o bêl e o a d r o interior n ã o h a v i a a p e n a s os
edifícios das p o r t a s , p o r q u e as alas os l i g a v a m e n t r e si. N a s alas n o r t e
e sul d o a d r o interior achavam-se, s e g u n d o B. j . V 5 2, § 200, as salas
d o t e s o u r o ; s e g u n d o Mid. V 3-4, seis salas t i n h a m f u n ç ã o c u l t u a ] ou
q u a l q u e r o u t r o d e s t i n o a n á l o g o . E n t r e o átrio das m u l h e r e s e o bêl,
h a v i a t a m b é m edifícios d e p o r t a s e o u t r a s c o n s t r u ç õ e s . D e m o d o part i c u l a r , fala-se d e 4 salas, d e 40 c ô v a d o s q u a d r a d o s n o s 4 c a n t o s d o
á t r i o das m u l h e r e s (Mid. 11 5 ) . N á o se deve p r o c u r a r essas salas n o
p r ó p r i o átrio das m u l h e r e s ; com efeito, a p o r t a de N í e a u o r , os 15 d e g r a u s e m semicírculo d a escada q u e p a r a lá c o n d u z i a m e as salas ind i c a d a s cm Mid I 7, a b a i x o d o átrio dos israelitas o c u p a v a m t o d a a
p a r t e o c i d e n t a l do átrio das m u l h e r e s , a b r a n g e n d o 150 c ô v a d o s .
Esses d a d o s n ã o d e i x a m m a r g e m a d ú v i d a s : havia alas q u e ligav a m os edifícios das p o r t a s . C i r c u n d a v a m a á r e a sagrada ao n o r t e ,
a leste e ao sul. A largura seria de 40 c ô v a d o s , c o r r e s p o n d e n d o às
salas d o átrio das m u l h e r e s .
E n t r e o átrio das m u l h e r e s e o dos israelitas n ã o existia, ao q u e
p a r e c e , n e n h u m a c o n s t r u ç ã o . É o q u e Mid, II 7 d e i x a entender
quand o se refere às salas a b a i x o d o átrio dos israelitas, a b e r t a s d o lado
d o átrio d a s m u l h e r e s .
135. É possível q u e o s e g u n d o g r u p o t e n h a p o d i d o , a l e m d o terr a ç o , d i s p o r das escadas desse t e r r a ç o . S e g u n d o Josefo (B. ]. V 5, 2,
§ 195, 198) e n t r e o átrio dos gentios ( l i m i t a d o p o r u m a b a l a u s t r a d a
de p e d r a ) c o t e r r a ç o , h a v i a 14 d e g r a u s , e 5 c n l r e o t e r r a ç o e os átrios
c e n t r a i s . Mid. i l 3 m e n c i o n a a p e n a s 12 d e g r a u s d e 0,5 c ô v a d o s d c
a l t u r a ; a l a r g u r a não é i n d i c a d a . Se fizermos o c á l c u l o dessas escad a s , t e r e m o s , s e g u n d o Josefo, u m a superfície de a p r o x i m a d a m e n t e
6 . 6 0 0 m . Esses cálculos elevados p o d e r i a m i g u a l m e n t e c o n f i r m a r os
r e s u l t a d o s d a p . 116: p o d e r í a m o s s u p o r , e n t ã o , q u e ficassem m e n o s
p r e m i d o s no hêl do q u e n o á t r i o .
2
lizava no Templo, o oitavo era que houvesse lugares suficientes . Entretanto, nem sempre terminava tudo bem. Lemos
em b. Pes. 64 : "Os rabis ensinavam [é a fórmula de introdução tanaíta que indica uma época anterior a 200 d . C ] : jamais qualquer pessoa ficou esmagada no adro do Templo, salvo numa Páscoa, no tempo de Hilel, durante a qual um velho
foi pisado. Por esse motivo chamaram-na 'Páscoa dos esmagados' ". Josefo refere-se também a essa falta de lugar: Por
ocasião de uma Páscoa, entre 4 8 a 52 d.C. — o 4 ' dia da
festa e não no próprio dia do sacrifício durante um pânico
ocorrido, 3 0 . 0 0 0 homens ficaram esmagados .
Visto a estreiteza do lugar, podemos contar dois homens
por metro quadrado, cada um com uma vítima, raramente
d u a s . Seriam, então, 6-400 homens. Por conseguinte, havia
mais ou menos 6 . 4 0 0 vítimas em cada grupo. As informações
de Josefo a respeito da Páscoa do ano 4 a.C. a elas correspondem: durante os sacrifícios, 3.000 homens foram mortos
pelos soldados de Arquelau ; os outros conseguiram fugir.
Havia ali três grupos: o último não era tão numeroso
quanto os dois outros, pois todo o mundo acorria para tomar
parte nos dois primeiros. Alcançamos, assim, um total de 18.000
vítimas pascais.
Quantos peregrinos havia, no total, para a Páscoa? Cada
vítima era prevista para uma mesa comum . Qual era a importância? Discutia-se a possibilidade de um particular imolar
para ele somente uma vítima . A respeito do limite máximo,
eis o que dizem: "Para uma comunidade de 100 pessoas, calcula-se que cada uma receba o equivalente, em tamanho, a
uma azeitona". Esse número não era aceito . Pes IX lOs, cita,
como exemplos, mesas comuns de 5, 10 e 12 pessoas. Se a
última ceia de Tesus foi uma refeição pascal, nela tomaram
parte Jesus e os doze apóstolos, isto é, treze pessoas. Josefo ,
o Talmude
e o Midraxe
concordam quando supõem uma
média de 10 participantes. Devemos nos ater a esse número.
!36
b
1
137
138
m
Por conseguinte, obtemos, como número de participantes
à Páscoa; 18.000 X 10 = 180-000. Subtraindo alguns 5 5 . 0 0 0
habitantes de Jerusalém , obtemos um número aproximativo
de 125-000 peregrinos para a Páscoa. Devemos, talvez, diminuir ou aumentar esse número em pouco mais da metade.
O m o v i m e n t o dos estrangeiros era tão considerável
em Jerusalém q u e , d u r a n t e as festas, seu n ú m e r o superava
largamente o dos h a b i t a n t e s . Esse fator é que conferia
maior importância à vida econômica da cidade.
Lancemos u m olhar retrospectivo. A pesquisa levou¬
-nos a u m a cidade na m o n t a n h a , p o b r e em água; seus arrabaldes c o m precária p r o d u ç ã o de matérias-primas p a r a
as profissões; sua situação desfavorável ao comércio e à
circulação. E no e n t a n t o , essa cidade c o n t é m , dentro de
seus m u r o s , profissões prósperas e estabeleceu u m comércio q u e se estende p a r a m u i t o longe. Conta, sobretudo,
com u m a vaga de estrangeiros que c h e g a m de todos os
países do m u n d o então conhecido e q u e , por m o m e n t o s ,
supera o n ú m e r o de seus h a b i t a n t e s . A razão consiste em
encontrar-se nela o santuário dos judeus do m u n d o inteiro.
!4É
140
1-11
E p í l o g o ( 1 9 6 6 ) da enumeração
dos peregrinos para a Páscoa
142
l4í
144
145
136.
137.
138.
139.
140.
P. A. V 5 .
B. j . I I 12, I, § 227.
Pes. V I I I 2.
B. j . I I 1, 3, § 12s; Ani. X V I I 9, 3, § 218.
Fratria, hãbürah, Pes. V I I 3 .
141.
142.
143.
144.
145.
Pes. V I I I ; interdito s e g u n d o B. /. V I 9, 3 , § 4 2 3 .
Pes. V I I I 7.
B. } . V I 9. 3, § 4 2 3 .
b . Pes. 6 4 \
Iam.
R. 1, 2 s o b r e 1, 1 ( 1 9 2 ) .
a
Para tentar calcular o n ú m e r o d e peregrinos vindos
p a r a a Páscoa, os escritores da antigüidade, visto o seu
exagero, n ã o nos fornecem ajuda m a i o r : só contamos, portanto, c o m u m a via possível: partir d o espaço disponível
para aqueles que sacrificam o cordeiro pascal. Por esse
motivo, ainda hoje (1966) considero como justificado, do
p o n t o de vista metodológico, o c a m i n h o que segui em
1923. Q u a n t o ao resultado, posso igualmente prender-me a
ele; com efeito, após ter chegado ao n ú m e r o de 1 2 5 . 0 0 0
peregrinos, tive por sorte, a p r u d ê n c i a de acrescentar que
se deveria talvez reduzir esse n ú m e r o à m e t a d e .
147
146. P a r a c a l c u l a r a p o p u l a ç ã o d e J e r u s a l é m , os escritores d a ant i g ü i d a d e i ã o falhos ( P s c u d o - H e c a t e u [em C. Ap. I 22, § 1 9 7 ] , q u a n -
Hoje, eu fixaria esses n ú m e r o s ainda mais p a r a b a i x o .
Para começar, no q u e diz respeito à p o p u l a ç ã o de Jerusalém , remeto os leitores a meu artigo Die
Einwohnerzahl
Jerusalém
zur Zeit Jesu .
Nesse estudo, p a r t o , c o m o
acima, n. 1.46 da dimensão da c i d a d e ; mas chego a u m
n ú m e r o menos expressivo. Com efeito: a) de dentro das
m u r a l h a s , no tempo de Jesus, subtraio o espaço i n a b i t a d o :
T e m p l o , m o n u m e n t o s e t c ; b) levo em conta, apoiado nos
resultados das pesquisas, o fato d e ser menos populoso o
espaço o u t r o r a situado fora da cidade e a ela a n e x a d o depois pelo m u r o setentrional de Agripa I (41-44 d . C ) ; c)
baseando-me nos d a d o s relativos à d e n s i d a d e d a população de Jerusalém em 1 8 8 1 , fixo para a cidade do t e m p o
de Jesus, dentro dos m u r o s , a d e n s i d a d e d a p o p u l a ç ã o
de 1 habitante por 35 m (e não de 1 por 25 n v ) . N a época
de Jesus, podemos contar com u m a p o p u l a ç ã o a p r o x i m a d a
de 2 0 . 0 0 0 habitantes dentro do recinto da cidade, e de 5
a 1 0 . 0 0 0 fora dos muros. Esse n ú m e r o de 25 a 3 0 . 0 0 0
poderia representar o limite m á x i m o .
14S
14y
2
to à época a n t e r i o r a 100 a . C : 1 2 0 . 0 0 0 h a b i t a n t e s ; Lam.Jl.
1, 2 sob re 1. I, ['18 141 cila n ú m e r o s q u e e l e v a m a 9,5 bilhões d e h a b i tantes) . S o m o s , pois, o b r i g a d o s a c a l c u l a r o n ú m e r o dos h a b i t a n t e s
de a c o r d o com a superfície de J e r u s a l é m . C o m o vimos supra
(p. 2 1 ,
n. 70, os três lados o c i d e n t a l , m e r i d i o n a l e o r i e n t a l d o c o n t r a f o r t e anterior a Agripa I m e d i a m , ao t o d o , mais ou m e n o s 2 . 5 7 5 m ; a isso
acrescer) ta-sc u terceiro c o n t r a í orle setentrional c o m e ç a d o sob A g r i p a
I. Se a c o m p a r a r m o s com a m u r a l h a setentrional a l u a i , cia d e v e r i a
ler 2 . 0 2 5 m. de c o m p r i m e n t o ; m a s , se d e r m o s c r é d i t o às i n f o r m a ç õ e s
dc Juü<:fo, citadas supra
(p. 2 1 ) , c h e g a m o s a 3 , 5 3 0 m. a p r o x i m a d a m e n t e . l ' o r í a t i t o , o p e r í m e t r o d a c i d a d e e r a mais ou m e n o s ou d c
4 . 6 0 0 m. ou de 6 . 1 0 5 m.; sua superfície seria, p o r c o n s e g u i n t e o u
Í' 4.600 \
/ 6.105\ z
•\ —i
= 1 . 3 2 2 . 0 0 0 m , ou .* •—
= 2 . 3 2 9 . 0 0 0 m . H á cin4
•''
4
••"
q ü e n t a a n o s , a d e n s i d a d e d a p o p u l a ç ã o , n a c i d a d e e a r r e d o r e s era, a p r o x i m a d a m e n t e , dc 1 h a b i t a n t e p o r 30 m . A antiga c i d a d e limitava-se
ao interior dos m u r o s ; n ã o i n c o r r e m o s , p o r t a n t o , em e r r o , s u p o n d o
u m a dcníjidadc um p o u c o m a i o r : l h a b i t a n t e p o r 25 m . D a m o s , então, p a t a a ferusalém a n t i g a , u m a p o p u l a ç ã o dc a p r o x i m a d a m e n t e
5 5 . 0 0 0 ou 95.0Ü0 h a b i t a n t e s . O n ú m e r o inferior é mais s e g u r o (ver,
e n t r e t a n t o , a b a i x o , p . 119).
147. Supra,
p. 118.
148. ibid.
149. E m Z D P V 66 (1943), 24-51 (reimpress-o em 1. J e r e m i a s .
Ahba.
Studicn
zur neulestamenUichen
Theülogie
und Zeitgeschicfite,
Gõlt ingeri, 1966, 335 541.
h
2
2
2
2
2
Q u a n t o ao cálculo (pp. 116-121) d o espaço disponível
p a r a as pessoas q u e v i n h a m oferecer seu sacrifício, consideramo-lo certo. Hoje, eu faria apenas u m a p e r g u n t a : devemos levar em conta, realmente, todo o espaço o c u p a d o ,
a superfície de trás incluída, e de c a d a lado do edifício
do T e m p l o o n d e aqueles q u e v i n h a m imolar se comprim i a m ? C o m o , porem, representá-los assim, comprimidos
u m ao o u t r o , trazendo nos o m b r o s a vítima que iam oferecer? (p. 118). Assim s e n d o , não estará t a m b é m no total de 1 8 0 . 0 0 0 participantes à festa incluída à p o p u l a ç ã o
local? U m fato, p o r é m , n ã o deixa d ú v i d a s : por ocasião
da Páscoa, o afluxo de peregrinos, vindos do i n u n d o inteiro, era muito g r a n d e ; seu n ú m e r o s u p e r a v a , várias vezes, a p o p u l a ç ã o de Jerusalém.
SEGUNDA
PARTE
A SITUAÇÃO SOCIAL
A. RICOS
Cap.
Cap.
E
POBRES
1 - Os ricos
II - A cîasse média
C a p . I I I - O s pobres
C a p . IV - Fatores determinantes para o desenvolvimento
das condições econômicas dos h a b i t a n t e s de
Jerusalém
CAPÍTULO I
OS RICOS
A. A CORTE
Como capital, sob os soberanos da dinastia herodia¬
na, Jerusalém conheceu u m esplendor indescritível. Luxuosas construções foram erguidas na Cidade santa
a cada
q u a t r o anos H e r o d e s organizava festas c o m jogos espetaculares ; no santuário recém-construído, o culto se desenrolava c o m brilho n u n c a visto. M a s , pelo gênero de vida
faustoso da corte é que a riqueza dos soberanos se exibia
à p o p u l a ç ã o de Jerusalém de maneira mais significativa.
A corte regia a vida oficial; m e s m o na época da dom i n a ç ã o estrangeira de R o m a , as cortes principescas ali
r e p r e s e n t a r a m g r a n d e p a p e l , se b e m que seu brilho n ã o fosse senão u m resquício do q u e fora n o u t r o s tempos. Visitemos o palácio . À porta, temos de passar diante dos postos da g u a r d a do c o r p o . H e r o d e s vivia, c o m r a z ã o , n u m
p e r p é t u o receio dos próprios súditos e, por isso, m a n t i n h a
forte segurança p e s s o a l . Certa vez, m a n d o u quinhentos
destes h o m e n s da g u a r d a p a r a ajudar o i m p e r a d o r Augusto . U m segundo caso, permite-nos calcular-lhe a importância: além de sua g u a r d a p e s s o a l , trata-se de " t r o p a s
trácias, germânicas e g a u l e s a s " . Antes de ingressar no
serviço d e H e r o d e s , os gauleses constituíram a g u a r d a pes2
3
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5
6
7
8
1. V e r supra, p . 19.
2 . Ant. X V 8, 1 § 268.
3. 6 4 1 d.C.; 44-66 d.C.
4. P a r a e s b o ç a r o q u a d r o q u e s e g u e , b a s e a m o - n o s n a situação d a
c o r t e d e H e r o d e s , o G r a n d e , p o r ser a q u e m a i s c o n h e c e m o s .
5. Doruphóroi,
somatophúlakes.
Deve-se distinguir esses ú l t i m o s
dos oficiais d a c â m a r a real q u e t r a z e m o m e s m o título.
6. Ant. X V 9, 3, § 317.
7. Ant. X V I 7, 1, § 182; X V I I 7, 1, § 187; v e r a n o t a seguinte.
8. Ant. X V I I 8, 3, § 198; B. j . I 3 3 , 9, § 672.
soai d e Cleópatra, r a i n h a do Egito; só esses já se elevav a m a quatrocentos h o m e n s .
O s p o r t e i r o s i n d a g a m o que desejamos. Fazem p a r t e
do serviço doméstico q u e c o m p r e e n d e q u i n h e n t a s pessoas ;
a maioria se compõe de escravos, em p a r t e , t a m b é m , de
l i b e r t o s ' . Entre esses domésticos, alguns e u n u c o s . A q u e les q u e Herodes enviou a A r q u e l a u , rei da C a p a d ó c i a ,
eram escravos; os três oficiais da c â m a r a real citados mais
a b a i x o , pertenciam, sem dúvida, ao grupo dos libertos.
D o serviço doméstico fazem parte ainda os copeiros reais,
sob as ordens do mestre da copa e, sem dúvida t a m b é m ,
os barbeiros da corte e médicos p e s s o a i s . Da época do
rei A l e x a n d r e Janeu (103-76 a . C ) , o T a l m u d e confirma a
existência do t r a n ç a d o r de coroas reais . H a v i a a i n d a os
carrascos que t i n h a m tão dolorosas incumbências, especialmente nos últimos anos de H e r o d e s .
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ls
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D e n t r o do próprio palácio encontramos funcionários
da corte. H á o secretário do rei, em cujas m ã o s passa toda
a correspondência . É o tesoureiro Josefo q u e dirige os
assuntos materiais , como, p o r exemplo, a c o m p r a de uma
pérola preciosa p a r a o tesouro r e a l . Dois h o m e n s estão
absortos n u m a conversa. São A n d r ô m a c o e G e m e l o , preceptores e c o m p a n h e i r o s de viagem dos príncipes r e a i s .
Seus filhos são súntrofoi dos príncipes A l e x a n d r e e Aristóbulo; e n c o n t r a m o s , com efeito, na corte de H e r o d e s , u m
20
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2 3
9. B. /'. I 20, 3, § 397.
10. Ant. X V I I 5, 2, § 90.
11. Ani. X V I I 8, 3, § 199; B. j . I 3 3 , 9, § 673.
12. B. h I, 3 3 , 9, § 673.
13. B. j . I 25, 6, § 5 1 1 , v e r t a m b é m Ant. X V I I 2, 4, § 44.
14. Infra,
p . 129.
15. Ant. X V I 10, 3, § 316.
16. B. j . I 27, 5-6, § 547ss (no p l u r a l ) ; cf. Ant. X V I 11, 6-7, §
387ss.
37. Ant. X V 7, 7, § 246; X V I I 6, 5, § 172; B. j . I 3 3 , 5, § 657.
18. b . B, B. 1 3 3 •— E m a l g u m a s m o e d a s , os i m p e r a d o r e s r o m a n o s u s a m coroa. P o r z o m b a r i a , os soldados r o m a n o s c o l o c a m s o b r e a
c a b e ç a de Jesus u m a c o r o a real t r a n ç a d a de e s p i n h o s ( M c 15,17; Mt
27,29; Jo 19,2.5).
19. B. j . I 30, 5, § 592; 32, 3 , § 635 e
passim.
2 0 . Ant. X V I 10, 4 , § 3 1 9 ; B. j . I 2 6 , 3 , § 5 2 9 .
2 1 . Ant. X V 6, 5, § 185.
22. b . B. B. 1 3 3 .
23. Ant. X V I 8, 3-4, § 242ss.
b
b
h á b i t o das cortes helenísticas segundo o q u a l os filhos dos
maiorais são educados com os p r í n c i p e s . At 1 3 , 1 , m e n c i o n a ,
na pessoa d e M a n a é n , u m súntrofos do príncipe H e r o d e s
A n t i p a s , e d u c a d o na corte d e Jerusalém. O " g u a r d a d o
c o r p o " , Corinto, conduz-nos agora aos aposentos reais. É cham a d o somatojúlax,
mas dois fatos nos i m p e d e m d e contá¬
-lo e n t r e os guardas do c o r p o : tratava-se d e u m dos funcionários da corte mais íntimos de H e r o d e s
e sobretudo
ele era u m súntrofos de H e r o d e s (devemos l e m b r a r aqui
que Corinto tinha origem á r a b e , assim c o m o a m ã e dc
H e r o d e s , K y p r o s ) . D e preferência precisamos considerar
esse título de somatofúlax
c o m o u m título n a h i e r a r q u i a da
corte, c o r r e s p o n d e n d o , talvez, ao de oficial d a c â m a r a real
q u e t a m b é m e n c o n t r a m o s nas cortes helenísticas . O t t o
foi q u e m , em primeiro lugar, c h a m o u a atenção sobre este
p o n t o ; observou q u e dois outros " g u a r d a s do c o r p o " , [ucundus e T i r a n o
são c h a m a d o s , em p a s s a g e m paralela
d a Guerra judaica, c o m a n d a n t e s da cavalaria . Três outros oficiais da c â m a r a real de H e r o d e s , seu escanção,
aquele que deitava vinho n a taça e a apresentava ao rei,
e seu c a m a r e i r o , e r a m e u n u c o s . Josefo m o s t r a q u e esses
camareiros reais eram pessoas influentes; o terceiro, que
e n t r a v a no q u a r t o de d o r m i r do rei, era o e n c a r r e g a d o dos
mais i m p o r t a n t e s assuntos d o g o v e r n o . Q u a n t o a Blasto,
q u e o c u p a v a o m e s m o p o s t o n a corte de Jerusalém sob
Agripa l. serviu de m e d i a d o r , talvez e m 44 d . C , na conclusão do t r a t a d o de paz entre seu senhor e as cidades d e
T i r o e Sidónia (At 1 2 , 2 0 ) .
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31
Nos a p a r t a m e n t o s reais e n c o n t r a m o s , em torno do sob e r a n o , algumas pessoas íntimas, " p r i m o s e a m i g o s " . De
m o d o algum o termo " p r i m o " designa u n i c a m e n t e o grau
d e p a r e n t e s c o . Esses " p r i m o s e a m i g o s " são os primeiros
24.
25.
26.
27.
28.
29.
Ant.
X V I I 3. 2, § 55$.
B. j . 1 2 9 , 3, § 576.
O t t o , Herodes,
col. 87 n.
O. c. col. 86-87, e 87 n.
Ant. X V I 10, 3, § 314.
B. j . 1 2 6 , 3 . § 527.
30. Ant.
X V I 8, !, § 230; B. j . I 24, 7, § 4 8 8 , cf. Ant.
§ 226.
3 1 . Ant.
X V I 8, 1, § 230.
5 - Jerusalém no tempo de J e s u s
X V 7, 4,
colocados n a h i e r a r q u i a da corte, segundo o m o d e l o de
todas as cortes h e l e n í s t i c a s . Além dos p r i m o s , sobrinhos,
c u n h a d o s e outros parentes do r e i e r a m os notáveis gregos q u e , na corte de H e r o d e s , faziam p a r t e dessa categoria. Com efeito, q u a n d o após a m o r t e do soberano, o p o v o
exigiu o afastamento dos gregos, não cogitava de hóspedes, m a s de pessoas de sua entourage p e r m a n e n t e . O mais
conhecido desses familiares de H e r o d e s é Nicolau de Damasco, h o m e m sábio e culto, filósofo e historiador da corte; a seu lado encontra-se seu irmão Ptolomeu . Citemos
t a m b é m o u t r o Ptolomeu, ministro das finanças e chanceler
e o reitor grego I r e n e u . De muitos outros "amig o s " de Herodes conhecemos apenas os nomes. É talvez
na corte que devamos p r o c u r a r o c o m a n d a n t e das tropas
sob H e r o d e s , Arquelau
e Agripa í , e n q u a n t o é cert a m e n t e na corte que encontramos V o l ú m n i o , c o m a n d a n t e
de c a m p o . Por causa de seu n o m e , O t t o se p e r g u n t a se
não se trata de u m oficial de instrução r o m a n a . Foi enviado a C é s a r como mensageiro, j u n t a m e n t e com O l i m p o ,
" a m i g o " de H e r o d e s , e u m a e s c o l t a . E n c o n t r a m o s , fin a l m e n t e , com bastante freqüência outros hóspedes de Herodes: Marcos Agripa , genro do i m p e r a d o r A u g u s t o , Arquelau , rei da Capadócia, E u r i c l e s de Esparta, Evara32
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de Cós, M e l a s , e n v i a d o do rei da Capadócia. Na
maioria das vezes essas importantes pessoas d e i x a v a m a
c o r t e d e Jerusalém c a r r e g a d a s d e preciosos presentes oferecidos pelo anfitrião.
4 8
49
Por mais helenística que a corte se apresentasse no
seu funcionamento exterior, n ã o deixava, na sua essência,
de ser oriental. E o q u e vamos mostrar ao falar agora d o
h a r é m . A lei permitia ao rei a poligamia . A M í s h n a concede-lhe dezoito mulheres n o m á x i m o ' ; o T a l m u d e menciona vinte e q u a t r o a q u a r e n t a e oito, seguindo dois ensinamentos diferentes dos tanaítas, p o r t a n t o , antigos '' .
N ã o é, pois, de a d m i r a r q u e o u ç a m o s f a l a r , de passagem, das concubinas do rei A l e x a n d r e J a n e u (103-76 a . C ) .
Q u a n d o A n t í g o n o , último rei asmoneu quis, em 40 a . C ,
c o m o auxílio dos partos, apoderar-se d o t r o n o , ele lhes
p r o m e t e u , entre outros " d o n s " , q u i n h e n t a s j u d i a s ; p o r
esse n ú m e r o referia-se ao cortejo de mulheres pertencentes
à corte, q u e r dizer, a H i r c a n o , o e t n a r c a dos j u d e u s em
exercício, assim como das de dois outros tetrarcas da Judeia, residentes t a m b é m em Jerusalém, H e r o d e s
e seu
irmão Fasael .
M
5
2
53
54
5 5
56
H e r o d e s , o G r a n d e (37-4 a.C.) teve dez m u l h e r e s ,
sendo que pelo menos n o v e — as q u e se e n c o n t r a v a m
com vida em 7-6 — a o m e s m o tempo \ Na v e r d a d e , som e n t e M a r i a n a , a asmonéia, parece ter m e r e c i d o o título
de r a i n h a . O h a r é m de H e r o d e s deveria, p o r é m , ser mais
57
s
32. O t t o , Herodes,
col. 86.
3 3 . C f . , p o r ex., Ant. X V J I 9, 3 , § 219ss; B. j . I I 2, 1, § 15.
34. N i c o l a u de D a m a s c o , F r a g m e n t o 136, 8, ed. F . ] a c o b y , Die
Fragmente
der griechischen
I-Hstoriker, 2. Teil A, Berlim, 1926 (reimp r e s s o L e y d e , 1957), 424; cf. Ant. XVII 9, I, 207; B. j . [I I, 2, § 7.
35. Ant. X V I I 9, 4, § 2 2 5 ; B. j . I I 2, 3, § 2 1 .
36. Ant. X V I 7, 2, § 1 9 1 ; X V I I 8, 2, § 195; B. j . I 33, 8, § 667.
37. Ant. X V I I 9, 4, § 226; B. j . II 2, 3 , § 2 1 .
38. Ani. X V I I 6, 3, § 156; B. j . I 53, 3 , § 652.
39. B. j . I ) 3, 3 , § 8; Josefo, oficial nomeado
em Ant. X V I Í 10,
9, § 294 e B. j . II 5, 2, § 74, p r i m o d e A r q u e l a u e s o b r i n h o de H e r o d e s , é talvez o c o m a n d a n t e chefe.
40. Ant. X I X 7, 1, § 517; 8, 3, § 353.
4 1 . E r a , talvez, c o m a n d a n t e da c a s e r n a s i t u a d a ao l a d o d o palacio e dele f a z e n d o p a r t e (B. j . II 15, 5, § 329; 17, 8, § 4 4 0 .
42. O t t o , Herodes,
col. 60.
4 3 . Ant. X V I 10, 7, § 317; 8, 3, § 353.
44. Ant. X V I 10, 9, § 354.
45. Ant. X V I 2, 1, § 13s; 2, 4, § 55s; Fílon, Leg. ad Caium, § 294.
4 6 . Ant. X V I 8, 6, § 261s; B. j . I 25, 6, § 5 1 1 .
47. Ant. X V I 10, 1, § 3 0 1 ; B. /. I 26, 1, § 513; 26, 4, § 530.
59
48.
49.
50.
51.
52.
Ant. X V I 10, 2, § 312; B. /. I 26. 5, § 552.
Ant. X V I 10, 6-7, § 325ss.
D t 17,17; cf. Ant. I V 8, 17, § 224.
Sanh. I I 4 .
b . Sanh. 21» bar.
5 3 . Ant. X Í I I 14, 2 . § 380; B. } . I 4, 6, § 9 7 .
54. Ant. X I V 13, 3, § 3 3 1 ; 13, 5, § 3 4 3 ; 13, 10 § 365; B. j . I 13,
1, § 2 4 8 ; .13, 4, § 2 5 7 ; 13, 1 1 , § 2 7 3 .
55. O f u t u r o rei.
56. S e g u n d o lí. j . I 13, 4, § 2 5 7 , trata-se d a p r o m e s s a d e " a maioria das m u l h e r e s q u e lhes [ H i r c a n o e Fasael] p e r t e n c i a m " ; s e g u n d o
Ant. XIV 1 3 , 10, § 365, f o r a m e s s a s m u l h e r e s q u e f u g i r a m c o m H e r o d e s , t e n d o esse salvo toda a c o r t e .
57. Ant. X V I I 1, 3 . § 19; B. j . I 2 8 , 4, § 5 6 2 ; cf. Ant. X V 9, 3,
§ 319ss; X V I I 1, 2, § 14; B. j . I 24, 2, § 477.
58. B. I I 2 8 . 4, § 562.
59. B. /. I 24, 6, § 4 8 5 .
n u m e r o s o , c o m o o prova o envio de u m a c o n c u b i n a a Arq u e l a u , rei da C a p a d ó c i a . C o n v é m lembrar q u e a m ã e
de H e r o d e s , t e m p o r a r i a m e n t e , sua irmã S a l o m é e Alex a n d r a , m ã e da rainha M a r i a n a , m o r a v a m t a m b é m no
palácio. Segundo o costume (cf. Pr 3 1 , 1 ) , as crianças, durante seus primeiros anos, e r a m educadas p e l a m ã e , portanto ficavam no h a r é m . Esse setor da corte d i s p u n h a tamb é m de vultoso corpo de e m p r e g a d o s ; sabemos da existência de u m eunuco da r a i n h a M a r i a n a , de escravos de
Dóris, m u l h e r de Herodes .
A o l a d o da corte do soberano, havia ainda o u t r a s
cortes de menores proporções. Encontramo-las igualmente
e m palácio: pelo menos as dos príncipes reais A l e x a n d r e ,
Aristóbulo, A n t i p a t e r (12 a . C ) , e a de Peroras, i r m ã o de
H e r o d e s . T i n h a m sua p r ó p r i a entourage
("amigos") e
criadagem p a r t i c u l a r .
Josefo dá-nos algumas informações sobre as r e n d a s q u e
p e r m i t i a m aos soberanos arcar c o m tão fabulosas despesas,
Calcula as rendas dos sucessores de Herodes q u e teriam
dividido entre si o seu d o m í n i o . Segundo tais cálculos,
Herodes Antipas recebia 2 0 0 talentos de impostos, Filipe,
100, A r q u e l a u 400 (B. /'.) ou 6 0 0 (Ani.), Salomé 6 0 ; ao
todo, o domínio de Herodes recolhia, pois 7 6 0 ou 960
talentos.
L e v a n d o e m conta os dados sobre a r e n d a de Agripa
I, podemos optar pela q u a n t i a mais alta. As cidades de
G a z a , G a d a r a , H i p o s faziam t a m b é m parte do d o m í n i o
real; após a m o r t e de H e r o d e s , foram anexadas à provínm
6 1
bl
63
M
65
M
67
60. B, ;. I 25, 6, § 5 1 1 .
6 1 . A p ó s a c o n d e n a ç ã o à m o r t e d e seu p r i m e i r o m a r i d o (35 ou
34 a . C . ) , a t é o seu s e g u n d o c a s a m e n t o c o n t r a í d o d e p o i s de 30 (em
30 ela a i n d a fazia p a r t e d a c o r t e de J e r u s a l é m , Ant. X V 6, 5, § 1 8 4 ) ,
assim c o m o a p ó s a c o n d e n a ç ã o à m o r t e d e seu s e g u n d o m a r i d o , a c o n tecida e m 2 5 .
62. Ant. X V 6, 5, § 183ss.
6 3 . Ani. X V 7, 4, § 226.
64. Ant. X V I I 5, 3, § 9 3 .
65. O i t o , Herodes,
col. 87s; cf. B. j . I 2 3 , 5, § 457ss.
66. E m p r e g a d o s de A l e x a n d r e e de A r i s t ó b u l o Ant.
X V I 4, 1, §
97; u m l i b e r t o de A n t i p a t e r Ant. X V I I 4, 3 , § 79; l i b e r t o s d e Fero*
ras X V I I 4, I, § 6 1 ; m u l h e r e s escravas d e F é r o r a s X V I 7, 3, § 194.
cf. X V I I 4 . 1-2. § 61ss; B. j . I 30, 2. § 584.
67. Ant. X V I I 11, 4-5, § 317ss; B. j . II 6, 3, § 93ss.
cia da Síria. A d e m a i s , a Samaria ficou isenta, na m e s m a
é p o c a , do q u a r t o d o s i m p o s t o s . É preciso, p o r t a n t o , avaliar, em mais de 1 . 0 0 0 talentos a receita dos impostos de
Herodes.
A renda de Agripa I chegava a doze milhões de dracmas ; trata-se d e d r a c m a s d e p r a t a áticas, m o e d a d a q u a l
Josefo se serve, como noutras passagens p a r a seus cálculos.
O domínio de Agripa I era maior do q u e o de H e r o d e s —
tendo Agripa recebido as posses de Cláudio na zona montanhosa do L í b a n o e o reino d e Lisânias, isto é, a região
de Abiía, perto do Líbano . P o d e m o s , p o r t a n t o , imaginar
que a cota de seus impostos era b e m m a i o r do q u e a de
Herodes.
68
b9
70
H e r o d e s c o m 1 . 0 0 0 talentos d e r e n d a , Agripa í c o m
1 . 2 0 0 não p o d i a m enfrentar todas as d e s p e s a s , mas H e rodes possuía a mais, u m a considerável fortuna particular.
É o que se conclui dos legados de seu t e s t a m e n t o . As censuras lançadas c o n t r a ele, expressas e m R o m a pelos j u d e u s
em 4 a.C., parecem bem f u n d a d a s : conseguiu obter vultosas riquezas, apoderando-se dos bens d e altas personagens da realeza, após m a n d a r executá-las . Além do mais,
o i m p e r a d o r Augusto cedeu-lhe, e m 12 a . C , as m i n a s d e
cobre de Solí, em C h i p r e ; tal gesto beneficiou-o com imp o r t a n t e receita. Finalmente, os presentes, ou m e l h o r , as
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74
68. Ant. X V I I 11, 4, § 319; B. j . II 6, 3, § 96.
69. Ant. XIX
8, 2, § 352.
70. Ant. X I X 5, 1, § 275; B. j . I I 1 1 , 5, § 2 1 5 .
7 1 . O v a l o r d o talento q u e serve d e base aos cáicuíos é o tal e n t o h e b r a i c o q u e e q u i v a l e a 1 0 . 0 0 0 d r a c m a s d e p r a t a áticas. Podem o s mostrá-lo d e d u a s maneiras:
a) comparando
Ant. X V Í I 6, 1, §
146 e I I , 5 , § 3 2 1 s . c o m 8, 7 , § 190: n o t e s t a m e n t o d e H e r o d e s , u m
l e g a d o d e 1.500 t a l e n t o s t r a n s c r i t o 15 m i l h õ e s d e d r a c m a s , p o r t a n t o ,
u m t a l e n t o v a l e 1 0 . 0 0 0 d r a c m a s ; b) c o m p a r a n d o as r e n d a s d e H e r o des c o m as de A g r i p a I. P a r a avaliar as s o m a s das r e n d a s das q u a i s
t r a t a m o s é preciso m e n c i o n a r os seguintes fatos: H e r o d e s d e u a sua
filha u m d o t e de 300 t a l e n t o s (B. /. I 24, 5. § 4 8 3 ) ; seu i r m ã o Féroras s a c a v a t o d o a n o 100 t a i e n t o s de suas posses, além dos subsídios
de sua t e t r a r q u i a de Peréia (B. } . , i b i d . ) ; Z e n ó d o r o v e n d e u a A u r a nítíde aos á r a b e s p o r 50 t a l e n t o s (Ant. X V 10, 2, § 3 5 2 ) .
72. O t t o , Herodes,
col. 91s.
73. Ant. X V I I 11, 2, § 307.
74. Ant. X V I 4, 5, § 128; n ã o s a b e m o s , c o m c e r t e z a , se H e r o d e s
recebeu i o d a a mina e a m e t a d e l i b e r a d a d o a r r e n d a m e n t o ou s o m e n t e
a metade como renda líquida da arrecadação.
gratificações cobriam, com certeza, alguns r o m b o s das fin a n ç a s do r e i .
7 5
v a s . Era costume contratar u m cozinheiro por u m salário elevado; se não se saísse b e m n a sua i n c u m b ê n c i a ,
devia, p o r u m a penitência p r o p o r c i o n a l ao prestígio do
dono da casa e de seus c o n v i d a d o s , r e p a r a r o v e x a m e q u e
ocasionou a seu a m o . E m Jerusalém bebia-se o v i n h o
de mesa em copos de cristal sem misturar-lhe á g u a .
Criado o a m b i e n t e festivo, todos c e r t a m e n t e d a n ç a v a m —
faz-nos p e n s a r nas rondas de h o m e n s , semelhantes àquelas q u e se exibiam em festas religiosas — ao bater das
mãos como o fizeram, por exemplo, os " g r a n d e s " de Jerusalém por ocasião da festa da circuncisão de Elisha Ben
A b u y a , cujo pai pertencia à alta sociedade . H á b i t o s b e m
estabelecidos regiam os convites. A pessoa convidada esperava que lhe fossem c o m u n i c a d o s os n o m e s dos outros
convivas c q u e , i n d e p e n d e n t e m e n t e do p r i m e i r o convite,
algum emissário a chamasse no p r ó p r i o dia do b a n q u e t e .
Esse costume parece ter vigorado igualmente na Palestina
e no Egito * . Com efeito, os convites por escrito, encontrados em papiros egípcios, foram em geral enviados somente
na véspera da festa ou no p r ó p r i o dia, o que confirma
tratar-se, r e a l m e n t e , de u m a segunda solicitação.
8 1
u
B. A CLASSE RICA
1. O
8 3
luxo
N o primeiro capítulo deste estudo, comentamos diversos aspectos do luxo nas casas, nos trajes e na criadagem, assim como os inúmeros sacrifícios, os presentes ao
T e m p l o , os m o n u m e n t o s funerários das pessoas ricas de
Jerusalém. Fomos e x t r a i n d o , ocasionalmente, de,fontes diversas, as características deste luxo. Dois h o m e n s apostar a m 400 züz (denários) p a r a ver q u e m conseguia encolerizar H i l e l . Rabi Meir conta que alguns ricaços d e Jerusalém a m a r r a v a m com cordões de ouro seu lülab (ramos)
p a r a a cerimônia da festa das T e n d a s . O hierosolimitano
rico tem sua casa de c a m p o ; assim, p o r exemplo, o ministro das finanças de H e r o d e s , Ptolomeu, a q u e m pertence o vilarejo de A r u s . O u t r a informação fornece-nos
u m a indicação a este respeito: a r a i n h a Helena de Adiab e n a , de q u e m Josefo c o m p r o v a a visita a J e r u s a l é m ,
possuía em Lida u m a t e n d a conforme às prescrições rituais para a festa do mesmo n o m e .
76
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7 S
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so
F o r a m os b a n q u e t e s dos ricos que exerceram u m a
g r a n d e função, com suas características especiais, todas
nascidas em Jerusalém. Significa que aquela cidade servia de modelo p a r a outros países por suas m a n e i r a s requintadas.
T a m b é m lá, u m anfitrião podia distinguir-se de m o d o
espetacular pelo g r a n d e n ú m e r o de c o n v i d a d o s , ou d e
m o d o mais real pelo tratamento dispensado a seus convi75.
76.
77.
78.
79.
80.
Ver, p o r ex., Ant.
b . Shab. 3 0 - 3 1
Sukka I I I 8.
Ant. X V I I 10, 9,
Ant. X X 2, 5, §
j . Sukka
I 1, 5 1
b
a
d
XVIII
bar.
11, 2, § 308.
84
gs
86
67
s
O c o n v i d a d o d o b r a v a as largas mangas de sua veste ,
talvez p a r a não ser i n c o m o d a d o ao comer. U m véu suspenso do lado de fora da casa indicava às pessoas que ainda
seriam acolhidas. Esse véu era retirado após ser servida
a terceira e n t r a d a . Segundo u m relato digno de fé , os
Ê9
9Ü
91
8 1 . hum. R. 4, 2 s o b r e 4, 2 ( 5 6 2 6 ) .
82. Ibid.; H i r s c h e n s o h n , 133; b . B. B. 9 3 .
8 3 . Lam. R. 4, 5 s o b r e 4, 2 ( 5 7 I ) .
84. j . Hag. II 1. 7 7 33 ( I V / 1 , 2 7 2 ) ; Billerbeck, 1, 682. O p a i :
Qoh. R. 7, 18 s o b r e 7, 8 ( 1 0 4 9 ) ; S c h l a t t e r , Tage, 2 5 .
8 5 . Lam. R . 4 . 4 s o b r e 4 , 2 ( 5 7 8 ) .
86. Lam. R. 4, 2 s o b r e 4, 2 ( 5 6 2 5 ) .
87. M t 22,3 e s o b r e t u d o Lc 14,16-17. O p r ó p r i o t e x t o desta pass a g e m e d e M t 22,1 Is, assim c o m o as analogias r a b í n i c a s (por ex.. b .
Shab. 1 5 3 , cf. Qoh. R. 9, 6 s o b r e 9, 8 [ H 4 7 ] , m o s t r a m q u e se t r a t a
de um segundo convite).
88. Mitteis-Wilcken, 1 / 1 , 419.
89. Lam. R. 4, 4 s o b r e 4, 2 ( 5 7 10). Cf. j . Demay I V 6, 2 4 53
( H / 1 , 173).
90. T o s . Ber. I V 10 {10, 1 9 ) ; Lam. R. 4, 4 s o b r e 4, 2 ( 5 7 1 3 ) ;
b . B. B. 9 3 . R e l a t o q u e p r o v é m d e R a b b a n S h i m e o n b e n G a m a l i e l I I .
9 1 . Pes. I X 1 1 ; c o n f i r m a d o p e l a H a g a d a d e P á s c o a (ha
iafpma).
A i n d i c a ç ã o a r e s p e i t o d a h o s p i t a l i d a d e d e b e n K a l b a S h a b u a , consea
b
b
b
a
a
a
a
b
a
a
a
§ 289; B. j . II 5, 1, § 69.
49.
22 ( I V / 1 , 2 ) ; cf. N e u b a u e r , Gêogr.,
b
11.
hierosolimitanos c o n v i d a v a m , p a r a a ceia pascal, os p o b r e s
da r u a . E m certas ocasiões da vida política, " t o d a a pop u l a ç ã o " de Jerusalém era convidada p a r a u m a refeição,
c o m o o fez M a r c o s Agripa por ocasião de sua visita à Cid a d e santa , e A r q u e l a u na m o r t e de seu pai Herodes .
U m a segunda p a r t e i m p o r t a n t e d a s despesas relacionava-se com as mulheres. N a q u e l a época, a poligamia era
p e r m i t i d a aos j u d e u s . N u m a casa onde havia diversas
m u l h e r e s , a m a n u t e n ç ã o representava tal sobrecarga financeira que, de m o d o geral, só e n c o n t r a m o s a poligamia nos
a m b i e n t e s d e alto nível econômico.
É a círculos ricos de Jerusalém q u e nos c o n d u z b .
Yeb. 1 5 . A discussão concentra-se n u m p o n t o controvertido a respeito do casamento levirático. Todos s a b e m e m
q u e consiste o levirato: se o m a r i d o m o r r e sem deixar fil h o , o irmão do defunto é obrigado a casar-se com a viúv a . Q u e acontece se o falecido deixou diversas m u l h e r e s ,
sendo uma, a própria sobrinha? Sem dúvida, o irmão não
p o d e desposar essa que é sua filha. E o q u e acontece
c o m as outras mulheres? A escola de S h a m m a i autorizava
semelhante casamento p a r a satisfazer a lei. do levirato; a
escola de Hilel, proíbia-o. A esse respeito, o levita R.
Y o s h u a b e n H a n a n y a conta que d u a s famílias hierosolimitanas de elevado nível, das quais se o r i g i n a r a m alguns sum o s pontífices e m exercício, d e s c e n d i a m dessas "concubin a s da filha" . Por conseguinte, ouvimos falar de dois
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95
c a s o s de poligamia em Jerusalém, pelo menos do primeiro casamento das m u l h e r e s . Se p a r a o segundo casam e n t o , como é provável, aproveitaram-se da licença da
escola de S h a m a i , de se casar com o c u n h a d o , teríamos
maiores informações sobre essas famílias, p e l o fato de se
terem t o r n a d o sumos sacerdotes os descendentes das duas
mulheres. P o r q u e os segundos esposos seriam irmãos dos
primeiros e ambos pertenceriam, p o r conseguinte, à famílias de sumos sacerdotes. T e r í a m o s , p o r t a n t o , nesse caso,
u m a p r o v a de poligamia e m Jerusalém em q u a t r o famílias
de sumos sacerdotes.
96
9 7
E m Josefo encontramos outros exemplos de poligamia em famílias da alta sociedade. Ele conta que Tobias
José tinha duas m u l h e r e s
e A l e x a n d r e Janeu, diversas
concubinas ao lado de u m a esposa legítima . Sabemos de
u m funcionário da administração do rei A g r i p a t a m b é m
casado com duas m u l h e r e s ; u m a m o r a v a em Tiberíades,
a o u t r a em Séforis . Esses casos fazem-nos constatar a
existência de poligamia na alta sociedade de Jerusalém,
mas sem ser de regra.
Nesses meios, as jovens recebiam grandes q u a n t i a s
p o r dote. N o contrato do casamento de M i r i a m , p o r exemplo, filha de Nicodemos ( N a q d e m o n b e n G o r i o n ) constava
u m m i l h ã o de denários de o u r o , aos quais o sogro acrescentou algo mais . Assim s e n d o , as pretensões dessas jovens senhoras e r a m consideráveis. T i n h a m o direito de gastar u m d é c i m o de seu dote
u n i c a m e n t e p a r a seus ca98
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l h e i r o d e Jerusalém q u e a l i m e n t a v a os f a m i n t o s é s i m p l e s m e n t e u m a
i n t e r p r e t a ç ã o de seu n o m e (b. Git. 5 6 ) .
92. Ant. X V I 2, 1, § 14; 2, 4, § 5 5 .
93. Ant. X V I I 8, 4 . § 2 0 0 ; B. /. II 1. 1, § 1.
94. J. Leipoldt, Jesus und die Frauen, Leipzig, 1921, 44-49 e n o t a s
fornecem-nos i n ú m e r a s p r o v a s .
95. U m a dessas famílias chama-se "família d e Q u p h a é " ; I. K a h a n
a p r o x i m a esse n o m e d o n o m e d o s u m o s a c e r d o t e Joséfo, c h a m a d o
Q a y a p h a ( C a i f á s ) , c o n h e c i d o através d o N o v o T e s t a m e n t o . Excetuan¬
do-se esse Q a y a p h a , o s u m o s a c e r d o t e d a família de Q u p h a é só p o d e
ser u m dos dois s a c e r d o t e s s e g u i n t e s : ou E l i o n a i o s , filho de K a n t h p e r a s s e g u n d o Josefo (Ant. X I X 8, I, § 342, em exercício p e l o a n o 44
d . C ) , c h a m a d o b e n h a - Q a y y a p h em Para I I I 5; ou o s u m o s a c e r d o t e
J o s e f o Q a b i ( = K a b i ) q u e , s e g u n d o )osefo {Ant. X X 8, I I , § 1 9 6 ) ,
e r a filho do s u m o s a c e r d o t e S i m ã o c exerceu suas funções até 62 d.C.
( P a r a clareza d o t e x t o t r a n s c r e v e m o s a q u i Q a y a p h a [ N . T . , Josefo]
c o m u m Q , visto esse n o m e d e r i v a r d e qayyaph d o h e b r a i c o m i x n a i c o ;
o m e s m o c o m Q a b i , com Q ) .
a
3
96. N ã o é d i t o q u e as d u a s m u l h e r e s , p e l o seu p r i m e i r o c a s a m e n t o ,
e r a m as e s p o s a s d o m e s m o m a r i d o ; c e r t a m e n t e , trata-se de dois casos
análogos.
97. Cf. os casos n a r r a d o s e m b . Yeb. 1 5 1 6 p o r R. T a r p h o n e
R a b b a n G a m a l i e l assim c o m o o p r ó p r i o texto q u e r e l a t a a controvérsia n o t e m p o d e R. D o s a b e n A r k i n o s ( 1 6 ) , o n d e são e x p r e s s a m e n t e
m e n c i o n a d o s dois i r m ã o s q u e t i v e r a m de d e s p o s a r c o n c u b i n a s . É assim
q u e A. B u c h l c r , " F a m i l i e n r e i n h e i t u n d F a m i l i e n m a k d in J e r u s a l é m v o r
d e m J a h r e 7 0 " , e m Festschrift
Schwarz,
136, e x p l i c a a p a s s a g e m .
98. Ant. X I I 4, 6, § 186ss.
99. B. j . I 4, 6, § 97; Ant. X I I I 14, 2, § 380.
100. b . Sukka
2 7 . — T r a t a - s e , sem d ú v i d a , d e A g r i p a I. C o m
efeito, s e g u n d o o q u e s a b e m o s , Séforis n ã o fazia p a r t e do d o m í n i o
de A g r i p a I I . N e r o d e u T i b e r í a d e s a A r g i p a I I , Ant. X X 8, 4, § 159;
B. j . II 13, 2, § 252.
101. b . Ket.
66 .
102. Ibid.
a
a
a
b
a
prichos e luxo: perfumes e vestuário , e n f e i t e s , dentes
postiços reforçados por fios de o u r o e prata
etc. A questão discutida, p o r é m é saber se o uso desse décimo era-lhes p e r m i t i d o cada ano ou somente no primeiro.
m
l04
105
Considerava-se o m u n d o das grandes d a m a s de Jerusalém como u m m u n d o cercado de mimos e cuidados. Marta , viúva do sumo sacerdote R. Y o s h u a , d i s p u n h a — assim contam — p a r a a sua m a n u t e n ç ã o diária, de duas porções de v i n h o fixadas pelos doutores; a nora de N a q d e m o n
ben G o r i o n , de dois s 'ah (mais de 26 litros de v i n h o p a r a
u m a semana . A filha dele amaldiçoou os doutores q u e ,
n a hora de estabelecer sua subvenção de viúva, fixaram¬
-na somente em 4 0 0 denários de ouro p a r a suas despesas
supérfluas . N ã o é, pois, de a d m i r a r que M a r t a não t e n h a
resistido à g r a n d e fome decorrente do assédio de Jerusalém em 70 d.C. N a hora de sua m o r t e , atirou à r u a t u d o
o que tinha em o u r o e prata; compreendia, t a r d e demais,
q u e a fortuna de n a d a serve , É interessante observar
q u e alguns deveres relativos à sua condição tinham-se introduzido entre as grandes d a m a s da cidade. Por e x e m p l o ,
p a r a aliviar os condenados conduzidos à execução, mand a v a m dar-lhes v i n h o m i s t u r a d o com incenso . Segundo
A b b a Shaul, teriam igualmente g a r a n t i d o a m a n u t e n ç ã o
das mulheres que e d u c a v a m seus filhos p a r a o rito da novilha vermelha .
m
e
,ÜT
108
m
n o
de imóveis, arrendatários de impostos e pessoas q u e v i v i a m
de r e n d a s .
E n c o n t r a m o s alguns representantes dessa classe entre
os m e m b r o s do Sinédrio. O conselheiro Nicodemos
era
rico; dizem q u e levou ao t ú m u l o de Jesus, p a r a ungi-lo.
100 libras r o m a n a s de m i r r a e aloés (Jo 1 9 , 3 9 ) . A literatura r a b í n i c a
m e n c i o n a híerosolimitanos, altos comerciantes de trigo, v i n h o , óleo e l e n h a , fazendo parte do Conselho entre 66 e 70 d.C. A tradição refere-se particularmente a u m dentre esses, N i c o d e m o s ( N a q d e m o n ben Gorion) , i m p o r t a n t e negociante de trigo. Comenta o luxo
reinante em sua casa, seu vasto p r o g r a m a de beneficência,
n e m sempre isento de certa a m b i ç ã o , e a perda de suas
riquezas: d u r a n t e a confusão que p r e c e d e u a destruição
de Jerusalém, segundo Josefo d u r a n t e o inverno de 69-70,
a p o p u l a ç ã o incendiou seus celeiros repletos de trigo e
c e v a d a ' . José de Arimatéia, m e m b r o do Sinédrio, é u m
euschémon
(Mc 15,43): os papiros nos m o s t r a r a m que
esse termo parece designar o rico p r o p r i e t á r i o de imóveis . Sabemos, com efeito, q u e se tratava de u m h o m e m
rico (Mt 2 7 , 5 7 ) ; possuía, ao norte da c i d a d e , u m jardim
c o m u m t ú m u l o de família talhado na rocha (Jo 1 9 , 4 1 ;
cf. 2 0 , 1 5 ) . É bem provável q u e todos os seus bens se encontrassem n a sua pátria. E v i d e n t e m e n t e , o terreno de Jem
113
114
m
16
l17
, n
2 . O s representantes da classe rica
E m todos os tempos, Jerusalém atraiu o capital nacional do país: altos negociantes, grandes proprietários
103. b . Yoma
39 .
104. V e r supra, p . 18; Kel X I I 7.
105. Shab. V I 5.
106. V e r infra, p . 2 1 7 , n . 6 1 .
107. Lam. R. 50 s o b r e 1, 16 ( 3 5 5 ) ; b . Ket. 6 5 .
108. b . Ket. 6 6 ; Lam. R. 1, 51 s o b r e 1, 16 ( 3 5 1 3 ) : 500 d e n á r i o s .
109. b . Git. 5 6 .
110. b . Sank. 4 3 b a r . Cf. as "filhas de J e r u s a l é m " q u e a c o m p a n h a v a m Jesus a t é o local d a crucifixão (Lc 23,27-31); p o d e ser, p o r t a n t o , que elas t e n h a m oferecido o v i n h o m i s t u r a d o c o m m i r r a e
a p r e s e n t a d o a Jesus antes d e ser p r e g a d o n a c r u z ( M c 15,23; M t 2 7 , 3 4 ) .
111. b . Ket. 1 0 6 .
b
b
b
a
b
a
a
a
112. V e r supra, p p . 8 1 , 5 2 , 6 1 ; S m i t h , I, 3 6 7 .
113. Jo 7,50;3,1; cf. 12,42.
114. V e r supra, p . 58.
115. Será o m e s m o N i c o d e m o s do e v a n g e l h o d e J o ã o ? Josefo cita
u m n o t á v e l d e J e r u s a l é m , m u i t o c o n s i d e r a d o , cujo n o m e é G o r i o n (B. /.
I V 3, 9, § 159) ou G u r i o n (6, 1, § 3 5 8 ) . Se é o m e s m o pai de Naqd e m o n , havia, pois, p o r volta de 70 d . C , c o m o m e m b r o s vivos da
família: G o r i o n , seu filho N a q d e m o n , assim c o m o a filha desse últim o (cf. supra, p . 137; essa filha a i n d a vive p o r volta d o a n o 70,
S c h l a t t e r , Joch. b. Zok.,
67, n. 2 ) . M a s n a q u e l e a n o , G o r i o n a i n d a
p a r t i c i p a d a v i d a p ú b l i c a ; é, pois, difícil q u e t e n h a n a s c i d o antes d o
c o m e ç o de n o s s a era. N a é p o c a de Jesus, seu filho N i c o d e m o s n ã o
p o d i a já ser h o m e m feito, m e m b r o d o S i n é d r i o .
116. b . Git. 5 6 . O i n c ê n d i o pelos zelotas, n a J e r u s a l é m e m revolta, das reservas dos cereais são b e m c o m p r o v a d o s pela t r a d i ç ã o : B. j .
V 1, 4, § 2 5 ; T á c i t o , Hist. V 12; Lam. R. 1, 32 s o b r e 1, 5 ( 2 8 7 ) ;
Qoh. R. 7, 24 s o b r e 7, 11 ( 1 0 5 2 6 ) ; Schlatter, Joch. b. Zak., 62.
117. V e r a d i s c u s s ã o d e J. L e i p o l d t , e m Theolog.
Literaturblatt
39
(1918) col. 180s, s o b r e os p a p i r o s d e Basiléia p u b l i c a d o s p o r E. R a b e l
e m Abhandlungen
der königlichen
Gesellschaft
der Wissenschaften
zu
Göttingen.
Phil.-hist. K l a s s e , n. s. 16, 3 , Berlim, 1917.
a
b
a
rusalém pertencia à família há pouco t e m p o , visto o túm u l o ter sido recentemente t a l h a d o .
A nobreza sacerdotal fazia p a r t e dos meios ricos. Na
cidade alta residiam o sumo sacerdote A n a n i a s , o chefe
dos sacerdotes, Sadoc
e, segundo a tradição, os sumos
sacerdotes A n á s e Caifás. Segundo o relato de João ( 1 8 ,
1 3 ) , Jesus, após sua prisão, foi conduzido à casa onde
Anás residia e n q u a n t o ex-sumo sacerdote e sogro do s u m o
sacerdote em exercício. N a q u e l e palácio h a v i a u m g r a n d e
pátio (Jo 18,15); u m porteiro (Jo 18,16) e outros servos
que pertenciam à casa. O t ú m u l o de A n á s , ao sudeste da
cidade, devia ser u m g r a n d e m o n u m e n t o , d o m i n a n d o a região . Caifás, o sumo sacerdote e m exercício, à casa de
q u e m levaram Jesus, m o r a v a n u m lugar que d i s p u n h a de
local p a r a q u a l q u e r sessão e x t r a o r d i n á r i a do Sinédrio .
A p r o p r i e d a d e contava, com efeito, com u m a construção
na e n t r a d a
e elevado n ú m e r o de servos
e servas p a r a
o serviço .
118
119
120
121
l22
123
124
12S
Segundo o que nos transmite a t r a d i ç ã o , reinava grande luxo nas residências das famílias pontifícias . Eis o
que se conta de M a r t a , pertencente à família dos Boetos.
N o Dia das expiações, todos deviam ir ao T e m p l o a p é .
O r a , q u a n d o M a r t a desejava ver o m a r i d o Y o s h u a b e n
Gamaliel oficiar nessa festa, fazia estender u m t a p e t e entre sua casa e a p o r t a do santuário . Os homicidas que
e n c o n t r a r a m asilo n u m a das cidades de refúgio, só p o d i a m
r e c u p e r a r a l i b e r d a d e após a m o r t e d o sumo sacerdote e m
I26
127
12B
118. R, j . I I 17, 6, § 426.
119. Lam. R. 1, 49 s o b r e 1, 16 ( 3 5 2 3 ) .
120. Jo 18,18 q u e inclui, sem d ú v i d a , o d e s t a c a m e n t o q u e prend e u Jesus.
121. B. j . V 12, 2, § 506.
122. M t 26,57; M c 14,53; Lc 22,66.
123. M t 26,71; M c 14,68.
124. M t 26,51; M c 14,47; Lc 22,50; Jo 18,10.26: a j u d a n t e s do
s u m o s a c e r d o t e q u e p a r t i c i p a r a m d a p r i s ã o de Jesus. V e r t a m b é m M t
26,58; Mc 14,54; Lc 22,55.
125. A j u d a n t e s dos chefes dos s a c e r d o t e s em T o s . Men. X I I I 21
(533, 3 6 ) ; Ant. X X 8, 8, § 1 8 1 ; 9, 2, § 206.
126. Q u a n t o à p o l i g a m i a , v e r supra, p . . . .
127. Lam. R. 1, 50 s o b r e 1, 16 ( 3 5 1) a c h a m a M i r i a m ; p o r
o u t r o l a d o , Ycb. V I 4 e b . Yeb. 6 1 , assim c o m o b . Git, 5 6 d ã o - l h e
o nome de Marta.
128. Lam. R. 1, 16 ( 3 5 2 ) .
exercício; a fim de impedi-los de rezar p a r a pedir a morte dos sumos sacerdotes, as mães desses se e n c a r r e g a v a m
de toda a alimentação e vestimenta
daqueles condenados. Falava-se t a m b é m das despesas feitas pelas mães dos
sumos sacerdotes p a r a o Dia das expiações. C o m efeito,
nesse dia, o sumo sacerdote se revestia com trajes brancos
d u r a n t e a p a r t e da cerimônia c h a m a d a " c u l t o p ú b l i c o "
que c o m p r e e n d i a o serviço no Santo dos Santos; d u r a n t e
o "serviço p r i v a d o " , ostentava os p a r a m e n t o s de sumo sacerdote . T i n h a t a m b é m o privilégio de usar u m a r o u p a
de b a i x o pessoal, espécie de túnica colante q u e descia até
os tornozelos . Segundo o costume, era a m ã e que lhe
oferecia essa peça. Tal túnica passava em seguida para a
c o m u n i d a d e que pagara 30 minas, c o n t r i b u i n d o p a r a as
despesas de sua confecção. A genitora do sumo sacerdote
rabi Ishmael ben Phiabi (em função até 6 1 d.C.) deu-lhe
uma túnica no valor de 100 minas, isto é, u m talento.
129
130
m
A m ã e do sumo sacerdote rabi Eleazar ben H a r s o m
e n c o m e n d o u u m a que custou 2 0 . 0 0 0 — minas, devemos
completar, de acordo c o m o contexto, mas n a realidade,
trata-se de denários ( 2 0 . 0 0 0 denários = 2 talentos). Essa
túnica era tecida com material tão t r a n s p a r e n t e que os sacerdotes n ã o a aceitaram depois .
A p r ó p r i a função de s u m o sacerdote exigia recursos.
Basta p e n s a r m o s nas vítimas do D i a das expiações que o
sumo sacerdote deveria p a g a r por conta própria . Conta¬
-se q u e Y o s h u a ben Gamaliel (63-65 d.C.) c o m p r o u a função d e s u m o sacerdote e q u e isso se repetiu diversas ve132
m
l34
a
b
a
b
a
129. Mak.
II 6.
130. S o b r e esses o r n a m e n t o s , v e r Ant. I I I 7, 4-7, § 159ss; o u t r o s
textos e m S c h ü r e r , I I , 319, n. 6.
131. D e s c r i t o em Ant. I I I 7, 2, § 353s; cf. 7, 4, § 159.
132. Lam. R. 2, 5 s o b r e 2, 2 ( 4 4 6 ) o c i t a c o m o u m r i c o escriba d o t e m p o de A d r i a n o ; Josefo dá-nos o u t r a genealogia q u a n t o
aos s u m o s s a c e r d o t e s de a n t e s de 70 d . C , d e n o m e E l e a z a r . Essas
d u a s i n f o r m a ç õ e s c o n f e r e m a i d e n t i d a d e — aliás t a m b é m estabelecida
p o r S c h l a t t e r , Tage, 54-56 — c o m " E l e a z a r , o s a c e r d o t e " , s u m o sacerdote d a r e v o l t a de Bar K o k b a c o n h e c i d o p e l a s m o e d a s dessa r e v o l t a
(132-135 [6] d . C ) .
133. S o b r e a t ú n i c a , b . Yoma 5 5 b a r . e T o s . Yoma
\ 21s (182,
2 6 ) ; S c h l a t t e r , Tage, 54s.
134. Ant. I I I 10, 3, § 242; cf. Lv 16,3.
a
b
s a n t u á r i o . Acrescentemos u m paralelo t o m a d o n a Palestina m o d e r n a . D e n t r o do clero da igreja grega, os membros do convento do Santo Sepulcro, n a maioria gregos,
possuíam grandes r e n d a s e n q u a n t o os p a d r e s do c a m p o ,
os á r a b e s , viviam muito p o b r e m e n t e . D u r a n t e a Primeira
G u e r r a M u n d i a l essa situação levou-os a sustentar uma
greve d u r a n t e vários anos . Esses d a d o s permitem-nos sup o r q u e a n o b r e z a sacerdotal tirava do tesouro do T e m p l o
q u a n t i a s regulares. Devemos m e n c i o n a r ainda as rendas
particulares. É d e crer q u e uma p a r t e das famílias t e n h a
sido p r o p r i e t á r i a de imóveis. Eleazar ben H a r s o m , por
e x e m p l o , q u e pertencia talvez a essa nobreza sacerdotal ,
h e r d o u , a o q u e dizem, d e seu p a i , mil vilarejos e mil barcos e tinha tantos escravos q u e esses n e m chegavam a con h e c e r o a m o . T a m b é m n ã o n o s esqueçamos d o comércio d e animais p a r a os sacrifícios d o q u a l se encarregava
a família pontifícia d e A n á s , e da m a n e i r a a c i m a citada
c o m o os sacerdotes c o m u n s e r a m r o u b a d o s e de outros atos
d e violência
e corrupção
l44
zes °. Para obter tal função, sua m u l h e r M a r t a ou M i r i a m
pagou — assim dizem — 3 qab (de 2,02 l i t r o s ) d e denários ao rei Janeu
(provavelmente o n o m e de faneu,
que reinou de 103 a 76 a.C. figura aqui intencionalmente
pelo de Agripa I I ; a literatura rabínica sempre envolve
Agripa
c o m u m juízo muito favorável).
13
136
137
138
I g n o r a m o s quais p o d i a m ser os salários regulares dos
sumos sacerdotes. N o dizer de Josefo, d u r a n t e os anos de
agitação que p r e c e d e r a m a guerra j u d e u - r o m a n a d e 66
d . C , " a impudência e a audácia dos chefes dos sacerdotes foram tais que ousaram enviar seus escravos às eiras
p a r a furtar os dízimos reservados aos sacerdotes" . " D e s s a
forma, os sacerdotes, antes sustentados pelos dízimos, cheg a r a m a m o r r e r de fome" °. A isso podemos acrescentar
Lima informação tanaíta : p r i m i t i v a m e n t e , os sacerdotes
conservavam no T e m p l o , na sala da casa Parva, peles das
vítimas que lhes cabiam. À tarde, distribuíam-nas aos sacerdotes em exercício naquele dia na seção do serviço (havia vinte e q u a t r o seções que se revezavam cada s e m a n a ) .
Pessoas violentas chegaram, os " m a g n o s do s a c e r d ó c i o " ,
termo que designa, de acordo com o contexto, os m e m b r o s
das famílias pontifícias e r o u b a r a m as peles. Esses dois
depoimentos concordes permitem tirar u m a c o n c l u s ã o : a
n o b r e z a pontifícia não p a r t i c i p a v a do que era destinado
aos simples sacerdotes .
39
14
141
142
De o n d e , então, extraía seus recursos? O b s e r v e m o s ,
de início, que os bens da nobreza s a c e r d o t a l
são fabulosos c o m p a r a d o s com a situação miserável dos sacerdotes
c o m u n s . C o n v é m t a m b é m l e m b r a r que essa nobreza parece interessar-se sobremaneira pelo tesouro do T e m p l o ,
colocando seus descendentes nos postos de tesoureiros do
143
145
m
147
l48
149
E n c o n t r a m o s a i n d a forte n e p o t i s m o nas n o m e a ç õ e s
p a r a os postos mais lucrativos e mais influentes
dos
funcionários do T e m p l o , c o m o os d e tesoureiros e d e com a n d a n t e s do T e m p l o . E m 52 d.C,
A n a n , filho d o
sumo sacerdote A n a n i a s , é c o m a n d a n t e d o T e m p l o
—
título esse d a d o ao chefe dos sacerdotes — , q u e substituía i m e d i a t a m e n t e o sumo sacerdote d e n t r o d a o r d e m hier á r q u i c a . Eleazar, o u t r o filho de A n a n i a s , o c u p a o mesmo cargo , em 6 6 d.C.
151
152
m
154
,55
144. b . Pes.
57* bar,; T o s . Meu.
145. I n f o r m a ç ã o
146. V e r supra,
147. b . Yoma
135. Por ex., 2 M c 4,7-10.24.32.
136. D a l m a n , Handwòrterbuck,
368 b n a p a l a v r a qab,
137. b . Yeb. 6 1 .
138. O T a l m u d e n ã o faz distinção e n t r e A g r i p a I e A g r i p a
talvez só c o n h e ç a u m desses dois reis.
139. Ant. X X 8, 8, § 181; cf. 9, 2, § 206.
140. Ant. X X 9, 2, § 207; cf. 8, 8, § 181.
141. b . Pes. 5 7 b a r .
142. Kohen hedyôt
em o p o s i ç ã o a g dôlê
k hünnah.
143. Ver a n o t a p r e c e d e n t e .
e
e
p.
35
b
X I I I 21
(533, 36).
pai.
1 4 1 , n . 132.
bar.;
cf. Iam.
R.
2, 5 s o b r e 2 , 2
II;
(44
a
6).
148. V e r supra, p . 72.
149. O caso d o r o u b o d e t r o n c o s d e s k ô m o r o e m Jericó, c o n t a d o
p o r b . Pes. 5 7 b a r . , faz p a r t e desses atos d e violência, c o n f o r m e demonstra o contexto.
150. P o r ex., Vita 3 9 , § 195.
1 5 1 . b . Pes. 5 7 b a r . ; T o s . Men. X I I I 21 (533, 3 6 ) .
152. 'Ammarkai;
SchÜrer, I I , 326s: f u n c i o n á r i o d o t e s o u r o , ver
infra, p . 230s.
153. Ant. X X 6, 2 , § 1 3 1 ; cf. B. j . I I 12, 6 § 2 4 3 .
a
a
a
de meu
a
154. S gan
c
ha-kôhanim;
cf. S c h ü r e r , I I , 320s.
155. B. j . II 17, 2, § 409; Ant.
X X 9. 3 , § 208.
CAPÍTULO
II
riam recebido, p o r dia, p r i m e i r o 12, depois 24 (e até 4 8 ,
segundo R. Yuda) minas ( = a p r o x i m a d a m e n t e 1 / 8 , 1 / 4 ,
1/2 talento).
Era de p r a x e não entregar o salário no fim do dia
a n ã o ser q u e fosse exigido; n o r m a l m e n t e , entregavam-no
d e n t r o das doze o u vinte e q u a t r o h o r a s após o término
do t r a b a l h o . E m c o n t r a p a r t i d a , no T e m p l o , seguiam esc r u p u l o s a m e n t e a prescrição veterotestamentária (Dt 2 4 ,
15) q u e o r d e n a v a pagar o salário no m e s m o dia . Sem
d ú v i d a , usufruir dos grandes benefícios do T e m p l o era tido
por falta grave. Mas é certo, t a m b é m , q u e o T e m p l o tinha
vistas largas na maneira de conduzir os assuntos e assum i r a m e d i d a s d e caráter social ; tal a t i t u d e o dignifica.
O comércio hoteleiro
era m a n t i d o , quase exclusivam e n t e , pelos peregrinos. Na maioria das vezes, alojavam¬
-se em grandes áreas análogas às dos kans atuais, o n d e havia lugar p a r a os animais de carga e de tiro. N a primeira
Páscoa , segundo opinião d o m i n a n t e , n a segunda
tamb é m , — festa das T e n d a s — e q u a n d o traziam as primícias , era-se obrigado a passar a noite na p r ó p r i a Jerusalém, mas certas dificuldades técnicas levaram a formar "a g r a n d e J e r u s a l é m " : Betfagé foi englobada no distrito o n d e se p o d i a passar a noite . N a v e r d a d e , essa aten u a n t e n ã o era válida p a r a o oitavo dia da festa das Tendas (servia apenas p a r a q u a n d o se traziam as primícias),
de q u a l q u e r forma, ao que p a r e c e , os peregrinos t o m a v a m
a refeição pascal na própria c i d a d e .
8
A CLASSE
MÉDIA
9
A o lado do alto negociante que importa de longe as
m e r c a d o r i a s e as estoca em grandes entrepostos, temos o
p e q u e n o comerciante que explora sua loja n u m dos mercados '. Além desses, os artesãos, q u a n d o proprietários d e
oficinas e n ã o t r a b a l h a n d o como a s s a l a r i a d o s , fazem parte dessa classe média. N a d a encontramos sobre exploração industrial. E m b o r a estejamos nos referindo à Jerusalém do t e m p o de Jesus, isto vale, de m o d o geral, p a r a a
Jerusalém jordânica atual.
São escassos os d a d o s precisos sobre a situação fin a n c e i r a dessa classe. N a d a p o d e m o s deduzir de certos
exageros que lemos. Por exemplo: u m c i d a d ã o de Jerusalém enchera u m celeiro de denários ; u m alfaiate da cid a d e d i s p u n h a de 2 kor (mais ou menos 790 l i t r o s ) d e
d e n á r i o s . O u t r a informação n ã o nos esclarece muito m a i s :
c o m o podemos seguramente afirmar, gastavam-se as econ o m i a s na c o m p r a de coifas e enfeites ; já n a q u e l a é p o ca, era costume furar moedas e com elas fazer a d o r n o s
p a r a a cabeça. Concluímos, sem a m e n o r dúvida, que essa
classe gozava de maiores o p o r t u n i d a d e s na m e d i d a e m
q u e estava ligada ao T e m p l o e aos peregrinos. N o T e m p l o ,
funcionários e operários recebiam alta r e m u n e r a ç ã o ; podemos nos lembrar do relato — um tanto e x a g e r a d o , talvez ~— segundo o qual os padeiros que faziam os pães d a
proposição e os fabricantes de perfume p a r a q u e i m a r , te2
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5
6
7
10
11
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13
14
J í
,b
l7
18
8. b . Y orna 3 8 .
9. B. At. I X 1 1 4 2 ; Billerbeck, I, 832.
10. Ánt. X X 9, 7, § 220.
1 1 . V e r supra, p . 23 e 4 1 .
12. V e r supra, p . 8 8 .
13. b . Pes. 9 5 e passim; cf. D a l m a n , Itinêraires,
330.
14. T o s . Pes. V I I I 8 (168, 3 0 ) ; p a r a a s e g u n d a P á s c o a , v e r supra,
p . 110.
15. b . Sukka
47 .
16. b . Sukka 4 7 bar.
17. V e r supra, p . 89.
18. Mak III 3 o r d e n a q u e flagelem a q u e l e q u e " c o m e ' s a n t i d a d e s
leves' fora dos m u r o s [de J e r u s a l é m ] " ; a P á s c o a fazia p a r t e dessas
"coisas s a g r a d a s t e m p o r á r i a s " . P a r a explicar tal p r e s c r i ç ã o , n ã o é necessário s u p o r a existência real desses m u r o s ; 'Ed V I I I 6 confirma¬
-nos. S e m d ú v i d a , bômah designa o c o n t r a f o r t e d a c i d a d e d e Jerusaa
b
1. O s p a p i r o s egípcios d i s t i n g u e m os hémporoi
(altos n e g o c i a n t e s )
e os kápetoi
( p e q u e n o s c o m e r c i a n t e s ) , Mitteis-Wilcken, 1/1, 268.
2. Igual d i s t i n ç ã o e n t r e os egípcios d a q u e l a é p o c a , M i t t e i s - W i l c k e n ,
1 / 1 , 260.
3. •iinta.
4.
5.
6.
7.
b. B. B. 1 3 3 .
Ver infra, p . 182, n . 70.
Lam. R. 1, 2 s o b r e 1, 1 ( 1 8 6 ) .
Kel. X I I 7; cf. Lam. R. 2, 20 s o b r e 2, 12 ( 4 8
b
b
a
2).
a
b
U m a prescrição proibia alugar casas em Jerusalém,
p o r serem p r o p r i e d a d e comum de todo Israel; essa interdição devia ser observada pelo menos por aqueles q u e tin h a m a convicção de que Jerusalém não fora distribuída
às tribos, mas mantinha-se p r o p r i e d a d e c o m u m de Israel.
Mais ainda: segundo diz R. Eleazar b e n Sadoc, e d u c a d o
em Jerusalém , não se podia sequer alugar lugares p a r a
deitar. D e que m o d o p r o c e d i a m , p o d e m o s ver pela contin u a ç ã o do texto: " O s estalajadeiros t o m a v a m compulsoriamente a pele dos animais oferecidos em sacrifício [pelos
seus hóspedes] ". Diz A b b a y é : " P o d e m o s concluir ser uso
deixar o c â n t a r o e a pele ao seu h o t e l e i r o " . A b b a y é revive o costume de seu t e m p o (após 300 d . C ) , o direito
de os estalajadeiros hierosolimitanos g u a r d a r e m a pele das
vítimas. À custa delas, g a n h a v a m grandes q u a n t i a s , porque a pele, pelo menos a da ovelha egípcia, valia de 4 a 5
sela', isto é, de 16 a 20 d e n á r i o s . A título de comparação, será útil dizer que o serviço de u m diarista valia,
em média, 1 dcnário por dia. Eventualmente, podia-se participar da refeição pascal de seu hospedeiro, em troca de
p a g a m e n t o ; se o 14 nisân caía n u m s á b a d o , deixava-se a
capa como garantia e ajustavam-se as contas após a festa ,
19
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21
n
l é m , m a s , e m Meti. V I I 3 e a l h u r e s , o t e r m o designa o c o n t r a f o r t e ,
c e r t a m e n t e fictício de líetfagé. E talvez p e r m i t i s s e m t a m b é m c o m e r
a vítima pascal n o p e r í m e t r o da " g r a n d e J e r u s a l é m " ; c o m efeito, l e m o s
e m b . Pes. 9 1 : imola-se u m c o r d e i r o p a r a u m prisioneiro q u e está e m
p r i s ã o pagã e c o m a g a r a n t i a dc sair dela (cf. Pes. V I I I 6 ) , n o caso
e m q u e essa p r i s ã o esteja d e n t r o dos " m u r o s " de Betfagé. M a s n ã o
era d e regra c o m e r a vítima pascal fora do c o n t r a f o r t e de J e r u s a l é m .
S a b e m o s m e s m o q u e os e s c r u p u l o s o s o b s e r v a d o r e s d a Lei (os " c o m p a n h e i r o s " , baberim)
c o m i a m as " s a n t i d a d e s l e v e s " n ã o e m J e r u s a l é m
em geral, m a s n u m a p a r t e s o m e n t e ; das d u a s z o n a s d a c i d a d e cham a d a s "os dois bis'ín", eles rejeitavam a p a r t e s u p e r i o r e c o n s i d e r a v a m s o m e n t e c o m o válida a p a r t e inferior ( T o s . Sanh. I I I 4; 418, 2 1 ) .
N o q u e diz r e s p e i t o à p r á t i c a , atemo-nos, pois, e c o m r a z ã o , à refeição pascal de Jesus (os Sinóticos a p r e s e n t a m a Ceia c o m o u m a refeição p a s c a l ) ; Jesus t o m o u - a d e n t r o de Jerusalém, se b e m q u e t e n h a
p a s s a d o a n o i t e n o distrito d a " g r a n d e J e r u s a l é m " (ver supra, p . 8 9 s ) .
a
19. Pode-se t r a t a r de Eleazar, o A n c i ã o , ver S t r a c k ,
Einleitung,
124 e 130.
20. b . Yoma
1 2 bar.; b . Meg. 2 6
2 1 . K r a u s s , Taltn. Arch.,
I I , 113; s o b r e o g r a n d e valor das peles,
v e r Fílon, De spec. leg. I, § 151.
22. Shab. X X I I I I; s e g u n d o b . Shab. 1 4 8 , só p o d e r i a ser a d m i s í sível o sentido q u e a c a b a m o s de e n u n c i a r .
a
a
b
A vinda d e peregrinos constituía i m p o r t a n t e fonte de
r e n d a p a r a o comércio de gêneros alimentícios e p a r a as
profissões responsáveis pelo reabastecimento. C o n v é m lemb r a r , em primeiro lugar, os sacrifícios que o peregrino deveria oferecer; v a r i a v a m conforme o fito d e c a d a peregrin a ç ã o . Para a festa Pascal, era o cordeiro p a s c a l
e os
sacrifícios e s p o n t â n e o s ; a esses, juntavam-se os q u a t r o copos d e vinho , as ervas amargas ~ , as geléias, o pão ázim o . As despesas extras feitas pelos p e r e g r i n o s com alimentação e r a m ainda maiores do que essas despesas exigidas
pelos deveres religiosos. C o m palavras entusiásticas, Fílon
enaltece os dias d e festa na C i d a d e santa: no m e i o d e u m a
existência agitada, são m o m e n t o s de trégua q u e p e r m i t e m
às pessoas libertarem-se de q u a l q u e r p r e o c u p a ç ã o e distenderem-se u m p o u c o . M a s , p a r a que o prazer fosse completo, e r a m precisas fartas refeições, a b u n d a n t e m e n t e reg a d a s d e b o m v i n h o . " B a n q u e t e a v a m - s e d u r a n t e sete dias
e n ã o r e c u a v a m diante das maiores d e s p e s a s " ; é assim que
Josefo descreve a festa pascal do povo . C o n v é m acrescentar que essa espécie de luxo era n ã o só justificada, mas
obrigatória. Trata-se d a q u e l e dever, já m e n c i o n a d o , de gastar e m Jerusalém todo o dinheiro do segundo dízimo; de
acordo c o m a Eei (Dt 14,26) devia-se c o m p r a r , c o m tal
i m p o r t â n c i a , gado, bebida fermentada e t u d o q u a n t o se
desejasse. A M i s h n a
diz q u e o segundo dízimo deve ser
e m p r e g a d o p a r a comer, beber e perfumar-se. Josefo acrescenta: p a r a " b a n q u e t e a r " . De m o d o particular, ouvimos
dizer q u e se d a v a i m p o r t â n c i a m a i o r à c a r n e , c o m o a i n d a
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24
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ü
2 7
:N
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23. Q u a n t o
ao n ú m e r o
das
2 4 . H o l o c a u s t o s e sacrifícios
v í t i m a s p a s c a i s , ver
supra,
d e c o m u n h ã o , Hag.
I 3.
p . 118.
25. Pes.
X I .
26. O s c o m e r c i a n t e s a c i m a citados ( p . 51) g r i l a v a m às p e s s o a s :
" I d e ! c o m p r a i as especiarias c o n f o r m e a L e i " ( j . Pes. X 3 . 3 7 9 I H / 2 ,
150). S e g u n d o a explicação m u i t o clara d c I . K a h a n , é preciso v e r
n o s íagg rê hàrak n e g o c i a n t e s de grãos t o r r a d o s ; n a e x p l i c a ç ã o de R a s h i
(cf. H i r s c h e n s o h n , 1 3 3 ) : " c o m e r c i a n t e s d e treliças p a r a j a n e l a s " , esp e r a r í a m o s o p l u r a l bãrakkin.
N o t e m p o da P á s c o a , os v e n d e d o r e s de
g u l o s e i m a s t o r r a d a s ou de o u t r a s espécies, q u e a i n d a h o j e fazem p a r t e
d o c e n á r i o d e J e r u s a l é m , a c r e s c e n t a v a m o vencia de especiarias.
2 7 . De spec. leg. I, § 69; cf. Ant. X V 3 , 3 , § 50 e
passim.
2 8 . Ani. X I 4 , 8, § 110.
d
e
2 9 . M. Sh.
3 0 . Ani.
I I 1.
I V 8, 8, § 2 0 5 ; 8, 2 2 , § 240.
e n t r e os á r a b e s cie nossos dias: " E n q u a n t o d u r o u o santuár i o , n ã o h a v i a alegria sem c a r n e " . As pessoas se p r o v i a m
d e caça, especialmente d e veados ou carnes de a ç o u g u e ,
p o d i a m escolher à v o n t a d e entre u m a m a t a n ç a profana o u
oferecer u m sacrifício d e c o m u n h ã o , n o q u a l as partes gordurosas e r a m levadas ao altar e o a n i m a l ficava p a r a o
proprietário .
3 l
n
33
mes (alho , alforva , cigirão ) e c o n d i m e n t o s p a r a cocção . C o m o gulodices, davam-se às crianças nozes e amêndoas t o r r a d a s . Podia acontecer que trouxessem o segundo
dízimo parcialmente em gêneros; e n t r e t a n t o , era de regra
trazê-lo em dinheiro e despendê-lo em Jerusalém . Muitas
vezes depositavam-no n u m p e q u e n o r e s t a u r a n t e ou loja
o n d e se c o m p r a v a m pratos feitos, e gastava-se o equivalente .
As outras profissões da cidade eram favorecidas igualmente em seus negócios graças à presença dos peregrinos.
Para c u m p r i r o preceito que r e c o m e n d a v a alegria d u r a n t e
a festa, necessário se t o r n a v a dar t a m b é m prazer às mulheres. Para a Páscoa, os j u d e u s de Babilônia ofereciam
às esposas vestidos multicores, e os da Palestina, vestidos
de linho b r a n c o . Essas c o m p r a s se efetuavam muitas vezes na p r ó p r i a Cidade santa. Supõe-se q u e os peregrinos
levavam p a r a casa muitas recordações de Jerusalém .
Além disso, a generosidade traduzia-se e m presentes p a r a
o T e m p l o ; levavam objetos relacionados c o m as profissões
exercidas na cidade.
45
46
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49
50
51
Teria sido costume, por exemplo, oferecer t a m b é m ,
na noite de Páscoa, u m sacrifício de festa (sacrifício d e
c o m u n h ã o ) ; comiam-no antes ou depois, se as rações da
vítima pascal fossem muito pequenas, Deixava, p o r é m , de
ser uso, se a vítima pascal desse fartamente de comer .
Com freqüência, os fiéis se r e u n i a m p a r a c o m p r a r , j u n t o s ,
u m animal. Somente assim p o d e m o s explicar u m trecho
da Mishna: a escola de S h a m m a i exige que se gaste 2 ma'ah
de prata p a r a o holocausto da festa (os holocaustos d a q u e les q u e n ã o d i s p u n h a m de dinheiro p a r a oferecê-lo e que
n ã o p o d i a m ser pagos com o segundo dízimo) e 1 ma'ah
de prata p a r a o sacrifício da c o m u n h ã o ; os hilelitas invertiam essas duas q u a n t i a s . Por 1 ma'ah ( = 1/6 de denãr i o ) , n ã o se conseguia u m a n i m a l inteiro. As famílias
q u e c o n t a v a m c o m inúmeros comensais viam-se obrigadas
a oferecer mais sacrifícios de c o m u n h ã o ; em c o n t r a p a r t i d a ,
o n d e h a v i a p o u c a s b o c a s e maior riqueza, ofereciam m a i o r
n ú m e r o de h o l o c a u s t o s C o m o b e d i d a , c o m p r a v a m vin h o q u e a d o c i c a v a m c o m m e l , p o r vezes, e z u r r a p a .
D e s p e n d i a m o segundo dízimo t a m b é m em p e i x e , azeit e , frutas (azeitonas, u v a s , nozes, a m ê n d o a s ) , legu34
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4P
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3 1 . b . Pes.
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a
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41.
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44.
53
E n t r e os da classe m é d i a , devem-se m e n c i o n a r os sacerdotes comuns.
A maioria deles m o r a v a em diferentes
partes do país, divididos em vinte e q u a t r o classes sacerdotais. D e n t r e esses, aqueles que residiam n a p r ó p r i a cidade p a r e c e m ter sido pessoas abastadas e cultas. Josefo pertencia a uma rica família sacerdotal, residente de Jerusalém há várias g e r a ç õ e s . Era razoavelmente elevado o
n ú m e r o de sacerdotes hierosolimitanos q u e , como os escribas, possuíam u m a boa c u l t u r a . Podemos citar R. Sadoc
(por volta de 50 d.C.) e seu filho E l e a z a r ; H a n a n y a ,
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55
bar.
32. M. Sh. I 3 . 4; t i l
33.
34.
35.
36.
37.
38.
eA
52
11
M. Sh. I 5, 4; Ani. I V 8, 8, § 205.
Pes. V I 3 .
Hag. I 2-3.
Billerbeck, I, 293.
Hag. I 5.
M. Sh. 1 3 , 4 ; I I I 12; b . P e s . 1 0 9 b a r .
Aí. Sh. II 1.
Jbid. I 3 .
Ibiã.
I I 1.
Pes. V I I 3 .
Aí. Sh. I 4.
Jbid. I 3 .
a
45. ibid. I I 1.
46.
47.
48.
49.
50.
51.
52.
53.
54.
55.
56.
M. Sh. II 3 .
Ibid. I I 4.
Ibid. II 1.
b . Pes. 1 0 8 - 1 0 9 b a r .
M. Sh. I 5-6.
Ibid. I I 9-10.
b . Pes. 1 0 9 b a r .
V e r supra, p . 18.
Vita I, § 1.6, ver infra,
Ver infra, p . 382.
Pes. I 6 e
passim.
b
a
a
p , 155.
56
c o m a n d a n t e d o T e m p l o (mais o u menos 7 0 ) ; Eliézer b e n
Hircano
(90, a p r o x i m a d a m e n t e ) ; Gozoros, fariseu e sacerdote q u e , " e m 66-67 fez p a r t e de u m a e m b a i x a d a na
G a l i l e i a ; R. Shimeon b e n N a t h a n a e l e o sacerdote Yosé,
a l u n o s de R. Y o h a n a n b e n Z a k k a i . T a l v e z d e v a m o s tamb é m ver sacerdotes-escribas na familia hierosolimitana,
c h a m a d a R a b b a n Y o h a n a n . C o n t a m que havia u m a família em Jerusalém cujos filhos m o r r i a m ao atingir 18 anos.
Aconselharam-se c o m Y o h a n a n b e n Z a k k a i ; ele s u p ô s tratar-se de descendentes de Heli nos quais se c u m p r i a a maldição lançada sobre esse sacerdote ( I S m 2,33). Recomendou-lhes dedicarem-se à Lei; tal atitude afastaria a maldição.
P a r a desviá-la, definitivamente, a família t o m o u o n o m e
de Y o h a n a n . O r a , Heli, sacerdote de Silo ( I S m 1,9),
pertencia à família a a r ô n i d a ; seus descendentes e r a m sacerdotes e, se dermos crédito ao que acabamos de saber,
e m p a r t e , escribas. E m c o n t r a p a r t i d a , q u a n t o ao s u m o sacerdote Yoshna b e n G a m a l i e l
ter sido r a b i , n ã o nos
parece provável, visto o que conhecemos dos sumos sacerdotes; a fonte dessa afirmação poderia ser u m a falsa identificação-entre seu p a i e Gamaliel, o conhecido escriba (At
5,34-39;22,3). Q u a n t o aos levitas, e n c o n t r a m o s t a m b é m alguns que se distinguiam pela fortuna ou cultura, c o m o
Y o h a n a n b e n G u d g e d a , chefe dos levitas, e Y o s h u a ben
H a n a n y a . P o d e b e m ser q u e o levita B a r n a b é (At 4,36-37),
c o m p a n h e i r o de Paulo e organizador d a primeira v i a g e m
missionária, fizesse igualmente p a r t e desse g r u p o .
57
58
5 0
6 0
61
62
A respeito dos emolumentos dos sacerdotes, c o n v é m
fazer u m a nítida distinção entre as prescrições e a p r á t i c a .
Q u a n t o às prescrições, p o d e m o s remeter a o excelente re57. j . Sota I I I 4, 1 9
58. Vita
59. P. A.
a
28 ( I V / 2 , 2 6 1 ) .
sumo de S c h ü r e r ; esse q u a d r o levaria a p e n s a r q u e os
sacerdotes t i n h a m excelentes condições de v i d a . Quais
eram, p o r é m , as q u a n t i a s efetivamente p e r c e b i d a s ? O s fiéis
observadores da Lei, nós o sabemos, p a g a v a m muito esc r u p u l o s a m e n t e certas taxas, mas constituíam u m n ú m e r o
r e d u z i d o . Q u a l a atitude do povo em g e r a l ? Às altas taxas
do E s t a d o acrescentemos as pesadas e i n ú m e r a s contribuições p a r a o culto e os sacerdotes. Concluídos os cálculos,
reconhecemos improvável que a m a i o r i a do povo tenha
pago tais taxas, conforme as prescrições. Com efeito, temos
conhecimento de i n ú m e r a s queixas a este r e s p e i t o . U m
tratado inteiro da Mishna é consagrado aos produtos colhidos d may, isto é, produtos colhidos sobre os quais paira
u m a d ú v i d a : teriam a r r e c a d a d o o dízimo dos sacerdotes
e o segundo dízimo? N a Galileia, conhecia-se, evidentem e n t e , os dízimos , mas n ã o o a n á t e m a e m benefício dos
sacerdotes ou consagração de p r o d u t o s p a r a eles ; Fílon
parece ignorar c o m p l e t a m e n t e a a r r e c a d a ç ã o p a r a os sacerdotes e a expressão que designa as pessoas n ã o instruídas, 'am ha-'ares, indica aqueles dos quais não se pode
esperar u m a obediência p o n t u a l às prescrições da Lei. Esses dados todos já nos fazem ver que a obediência às prescrições legais não é, de m o d o algum, generalizada.
63
64
65
c
66
6T
68
69
70
U m fato de g r a n d e importância nos mostra o valor
das prescrições teóricas: é somente de determinados tributos que p o d e m o s constatar com certeza o p a g a m e n t o (nem
assim sabemos em q u e p r o p o r ç ã o ele se e f e t u a v a . . . ) .
1. A q u a n t i d a d e de vítimas que os sacerdotes, oficiando de tempos em tempos em Jerusalém, recebiam. " N ã o
sabeis que aqueles que d e s e m p e n h a m funções no T e m p l o ,
vivem dos rendimentos do santuário, e aqueles que servem
ao altar têm p a r t e no q u e é sobre ele oferecido? fquer
39. § 196s; seu n o m e é, p o r vezes, Y o z a r o s .
II 8.
60. b. R. H. 1 8 .
6 1 . Seu n e t o A q u i t o l ( I S m 14,3) t i n h a u m filho A q u i m e l e t ( I S m
2 2 , 2 0 ) ; esse ú l t i m o é t i d o c o m o d e s c e n d e n t e de l t a m a r ( l C r 2 4 , 3 ) ,
filho m a i s m o ç o d e A a r ã o ( l C r 2 4 , 1 ; Ex 6 . 2 3 ) . C o n v é m o b s e r v a r
q u e , p a r a o l e v a n t a m e n t o das genealogias, o t e s t e m u n h o escriturístico
e r a suficiente p a r a os c o n t e m p o r â n e o s d e Jesus. N ã o c o g i t a v a m de reflexões histórico-críticas s o b r e o v a l o r desse t e s t e m u n h o .
62. V e r supra, p. 142.
a
63. S c h ü r e r , II, 301-312.
64. P o r ex., P. A. V 8s; Uek. Ex 19,1 ( 2 5 25ss) epar., Schlat¬
ter, Joch. b. Zak., 67 e n . 2.
65.
D may.
66. O u seja, 1 % d a c o l h e i t a .
67. Vita 12, § 6 3 ; 15, § 80.
68. Ned, I I 4.
69. V e r infra, p . 153, n. 9 0 .
70. T rúmah,
q u e r dizer, a p r o x i m a d a m e n t e 2% d a colheita,
c
e
e
dizer, as suas v í t i m a s ] ? " , afirma são P a u l o . D o s dois
p o m b o s oferecidos por M a r i a e m Jerusalém (Lc 2 , 2 4 ) , o
q u e e r a destinado ao sacrifício expiatório reverteu, c o m o
s e m p r e , p a r a o s a c e r d o t e . Algumas p e q u e n a s informações colhidas aqui e acolá, têm, inegavelmente, u m c u n h o
d e historicidade, como, p o r exemplo, as que dizem respeito ao sorteio das porções de vítimas p a r a os sacerdotes , à intervenção do médico do T e m p l o nos casos d e
doenças a b d o m i n a i s e o recurso à água do Geon p a r a
facilitar a digestão dos sacerdotes, q u a n d o ingeriam excessiva q u a n t i d a d e de carne . As peles dos sacrifícios p e l o
p e c a d o , dos sacrifícios de r e p a r a ç ã o e dos holocaustos tamb é m valiam c o m o porções das v í t i m a s ; possuímos d a d o s
concretos de sua distribuição .
7 1
11
B
7 4
7j
76
2. Ofereciam-se, igualmente, as primícias d o s p r o d u tos colhidos; é o q u e m o s t r a a descrição sugestiva da p r o cissão o r g a n i z a d a n a q u e l a o c a s i ã o , e, antes d e t u d o , o
relato segundo o q u a l o rei Agripa t o m a v a p a r t e nessa
oferenda .
77
73
3. A terceira taxa p a r a os sacerdotes que p o d e m o s
notificar é o dízimo dos produtos agrícolas. M a s , fato
curioso, é totalmente omitida nos compêndios da época
sobre os emolumentos dos s a c e r d o t e s . Eis o motivo: esses sumários basearam-se u n i c a m e n t e na legislação mosaica
e não n a prática. Por Josefo sabemos com certeza q u e o
dízimo pertencente aos levitas, segundo a p r e s c r i ç ã o mosaica ( N m 18,21-32), era d a d o aos sacerdotes já antes d o
início da guerra judaico-romana em 6 6 d.C. Fornece-nos
ele as seguintes informações: p o r diversas vezes os sacer79
71.
72.
73.
74.
l C o r 9,13; cf. 10,18; H b
Ani. I l l 9, 3, § 230.
Shab. X X I I I 2.
V e r supra, p. 4 1 .
7 5 . ARN
A c a p . 35, 1 0 5
76. b . Pes.
77. Bik.
De
ms
Der
S.
III
57
a
a
13,10.
80
81
u
83
84
8 S
8Ü
87
88
Fílon alude a u m dízimo p a r a os s a c e r d o t e s , mas
suas informações nos c o n f u n d e m seriamente. A o lado daquele, destinado aos sacerdotes, apresenta o u t r o p a r a os
levitas; além disso, sustenta que os dízimos dos sacerdotes, acrescentados aos p r o d u t o s do solo, estendem-se igualm e n t e ao gado .
89
90
2 4 ; N e u b a u e r . Géogr.,
bar.; cf. b . B. Q . 1 0 9 M 1 0 ; b . Tem.
b
145.
20 .
b
1-9.
78. Bik. I I I 4 ; A g r i p a I ou A g r i p a I I ?
79. Ani. I V 4, 4, § 69ss; 8, 2 2 , § 240ss; I I I 9, 1-4, § 224ss; F í l o n ,
spec. leg. I § 131-161; Halla I V 9-11, e a a d i ç ã o a Halla I V 11 n o
d e M u n i q u e d o T a l m u d e ( e n c o n t r a m o s v a r i a n t e s e m L. G o l d s c h m i d t .
babyionische
Talmud,
t. I, Berlim, 1897 = H a i a , 1933, 310) - b .
Q . 1 1 0 . O u t r o s textos r a b í n i c o s em S c h ü r e r , I I , 3 0 1 , n. 6.
b
dotes chefes fizeram seus servos r e t i r a r e m o dízimo pertencente aos sacerdotes ; na Galileia, seus c o m p a n h e i r o s
de e m b a i x a d a r e c e b e r a m o dízimo q u e , como sacerdotes,
era-lhes d e v i d o ; ele p r ó p r i o , e m b o r a fosse sacerdote, renunciou a tal dízimo . A epístola aos H e b r e u s confirma
o q u e sabemos sobre o dízimo sacerdotal: " O r a , os filhos
d e Levi, c h a m a d o s ao sacerdócio, devem, segundo a Lei,
estabelecer o dízimo p a r a o p o v o " ( H b 7,5). E o Pseudo-Hecateu de A b d e r o refere-se aos sacerdotes dos judeus
como sendo aqueles " q u e recebem o dízimo dos produtos c o l h i d o s " . F r e q ü e n t e m e n t e o T a l m u d e enfatiza o pag a m e n t o do dízimo aos levitas e n ã o aos s a c e r d o t e s . Explica-se através de considerações exegéticas sobre a prescrição veterotestamentária. N ã o se trata d e índices da prática corrente, pois, noutras passagens o T a l m u d e dá a entender q u e , n a realidade, pagava-se o dízimo aos sacerdotes. Discutem o motivo por q u e os levitas teriam sido castigados c o m a supressão do d í z i m o . N o u t r a passagem
falam da arrecadação do dízimo pelo sacerdote Rabi Eleazar b e n Azarya, c o n t e m p o r â n e o de R. A q i b a ; coment a m p r o v e r b i a l m e n t e sobre o sacerdote q u e p e r a m b u l a pelas e i r a s . C o n t a m , finalmente, que o sumo sacerdote
Y o h a n a n (João H i r c a n o , 134-104 a.C.) aboliu a declaração do d í z i m o ; a explicação rabínica é r a z o á v e l : foi
pelo fato de o dízimo n ã o ser mais p a g o aos levitas.
80. Ant. X X 8, 8, § 1 8 1 ; 9, 2, § 206.
8 1 . Vita 12, § 6 3 ; 15, § 80.
82. C i t a d o p o r Josefo, C. Ap. I 22, §
83. Aí. Sh. V 9; Ter. I V 2 e passim.
84. b . Yeb. 8 6 ; cf. Sota 4 7 - 4 8 .
85. b . Yeb. 8 6 .
86. b . Ket. 1 0 5 .
87. Aí. Sh. V 15 = Sota I X 10.
88. b . Sota 4 7 - 4 8 .
89. De virt, § 95.
a
b
188.
a
a
b
b
90. Dízimo para
a
os levitas-. De
spec. leg.
I
§
156. D í z i m o
para
Por coneguinte, esse dízimo dos sacerdotes, no dizer
de Fílon, só p o d e ser o segundo do qual fazia p a r t e o dízimo dos animais. T a n t o q u a n t o sei, até agora não se definiu o fato. O r a , esse segundo dízimo sempre foi gasto
pelo seu p r o p r i e t á r i o , em Jerusalém. N ã o p o d e m o s , port a n t o , atribuir q u a l q u e r valor histórico a essa informação
de Fílon. Com efeito; prendia-se ele ao p r ó p r i o texto da
Escritura e tudo ignorava q u a n t o à prática.
Podemos, p o r t a n t o , levar em consideração somente
essas três espécies de benefício aos sacerdotes. S a b e m o s
que grandes c a m a d a s do povo não p a g a v a m , ou faziam¬
-no de m o d o insuficiente; assim sendo, as taxas destinadas
aos sacerdotes e muitas outras não e r a m sequer entregues.
As informações q u e temos da situação financeira deles,
confirma essas observações.
Para julgar d e v i d a m e n t e tal contexto, cometeríamos
u m erro se nos baseássemos na condição do s a c e r d o t e
Flávio Josefo, o escritor. Esse h o m e m recebeu, d u r a n t e
muitos anos, esmerada e completa e d u c a ç ã o , quase semp r e e m Tiberíades ; era p r o p r i e t á r i o de imóveis e possuía terras em Jerusalém, certamente a oeste da c i d a d e .
E já pela sua origem, pertencia à mais alta linhagem, na
p r i m e i r a das 2 4 classes sacerdotais ; deste m o d o , Josefo
não serve de exemplo p a r a a condição geral dos sacerdotes c o m u n s . A g r a n d e m a i o r i a vivia p o b r e m e n t e . Q u a n d o
suas eiras foram p i l h a d a s , u m a p a r t e deles m o r r e u de
fome
segundo o relato talvez u m pouco exagerado de
losefo. C o m termos escolhidos, Fílon pinta as grandes rendas dos sacerdotes p a r a realçar a excelência da Lei mosaica. Ele mesmo, e n t r e t a n t o , deveria reconhecer: os sacerdotes gozariam até do supérfluo, se todos os fiéis pagassem regularmente suas taxas; mas a indiferença de u m a
p a r t e do povo foi s e m p r e a causa d a p o b r e z a e m q u e
viviam °.
94
A existência do dízimo dos sacerdotes é, pois, confirm a d a , mas resta-nos saber desde q u a n d o é pago. A abolição do dízimo é a t r i b u í d a ao rabino Y o h a n a n b e n Z a k k a i — o q u e nos leva às últimas décadas anteriores a
70 d.C. — e ao sumo sacerdote João H i r c a n o . O fato
de, antes de 100 a . C , o Pseudo-Hecateu falar do dízimo
dos sacerdotes é u m argumento em favor da segunda informação (João H i r c a n o ) . Como sabemos, os fiéis observadores da Lei e n t r e g a v a m o dízimo m u i t o escrupulosam e n t e ; pagavam-no até m e s m o das plantas mais insignificantes como a hortelã, e n d r o , c o m i n h o etc. (Mt 2 3 , 2 3 ; Lc
11,42). Assim como de todas as suas c o m p r a s (Lc 1 8 , 1 2 ;
em produtos do solo, é b o m acrescentar). Conhecemos essa
última cláusula pela oração do fariseu n a p a r á b o l a do fariseu e do p u b l i c a n o ; vigorava, sem d ú v i d a , pois, n e m
sempre se podia saber se o p r o d u t o r já p a g a r a , na forma
prescrita, o dízimo sobre os produtos c o l h i d o s .
9 1
91
93
os sacerdotes s e g u n d o Fílon, a r r e c a d a ç ã o t a m b é m s o b r e o g a d o : De
virt., § 9 5 . É i n t e r e s s a n t e c o m p a r a r De spec. leg. I § 131-144 c o m a
p a s s a g e m citada n a n o t a p r e c e d e n t e . E m a m b o s os casos temos u m a
lista dos r e n d i m e n t o s dos s a c e r d o t e s ;
De spec leg. I , § 131-144
De virt., § 95
Arrecadação sobre a massa
T a x a s o b r e as posses
Primícias
dos produtos
colhidos
em p r o d u t o s c o l h i d o s
Primogênitos
dos animais
Primogênitos
dos
animais
Taxa sobre a produção
D í z i m o dos p r o d u t o s c o l h i d o s
de colheitas e do g a d o
e do gado
A c o m p a r a ç ã o m o s t r a q u e a taxa s o b r e as posses c o r r e s p o n d e aos
bikkurím;
o d í z i m o ( " p a r a os s a c e r d o t e s " , n a r e a l i d a d e o s e g u n d o díz i m o [ver infra, p . 157]) é c o n s i d e r a d o c o m o u m a taxa s o b r e a p r o d u ç ã o . Conclui-se, enfim, q u e Fílon d e s c o n h e c e a
t rúmah.
9 1 . T o s , Sota X I I I 10 (230, 3 ) , Schlatter, foch. b. Zak., 29, n . 2 .
92. M. Sh. V 15 = Sota I X 10.
93. C o m o u t r a s p a l a v r a s , caso n ã o se tratasse de p r o d u t o s
d may.
e
e
95
%
97
%
10
94. Vita 15, § 80.
95. Vita 2, § 7ss.
96. Vita 53, § 274.
97. Vita 76, § 422; após a d e s t r u i ç ã o de J e r u s a l é m , n a p a r t e oeste
d a c i d a d e e n o s a r r e d o r e s , e n c o n t r a v a - s e o c a m p o d a 10- legião (B. /'.
V I I 1, 2, § 5) d e q u e se refere Vita 76, § 422.
98. Vita I. § 2.
9 9 . Ant. X X S, 8, § 1 8 1 ; 9, 2 , § 2 0 7 .
100. De
spec.
leg.
1, § 153-155.
CAPÍTULO
III
OS POBRES
N ã o possuímos n e n h u m p a p i r o p a l e s t i n e n s e ' . P a r a
conhecer as c a m a d a s pobres da p o p u l a ç ã o , ficamos, pois,
reduzidos às fontes literárias. O r a , tudo o que se refere à
transmissão de p o r m e n o r e s , deixa muito a desejar. Sem
dúvida ouvimos falar de u m a viúva p o b r e de Jerusalém,
cujos meios de subsistência não passam de 2 lepia (=
1/4
de asse), isto é, de alguns centavos que não deviam bastar
p a r a sua m a n u t e n ç ã o diária ; deitou-os no cofre do T e m plo . O u t r a , só d i s p u n h a de u m p o u c o de farinha p a r a a
oferta alimentar, fato esse q u e motivou comentário desairoso por p a r t e do sacerdote em exercício \ O u t r o p o b r e
p r o c u r a v a pegar todo dia q u a t r o rolas e levava duas ao
T e m p l o . Assim fez até mesmo no dia em q u e o rei Agripa
quis oferecer mil sacrifícios e, c o n s e q ü e n t e m e n t e , p r o i b i u
que houvesse o u t r o s . N ã o é garantida, p o r é m , a historicidade desses relatos. Possuímos, com efeito, u m texto
budista análogo que se relaciona sobretudo com a história do óbulo da viúva; outro texto muito se assemelha à
história do p o b r e que pegava as rolas . N o segundo caso,
u m sonho esclarece o sacerdote sobre o valor da oferta
alimentar da m u l h e r ; no terceiro caso, igualmente, u m son h o informa ao rei o valor das rolas oferecidas. O r a , é
u m tema que ressalta de m o d o especialmente claro na trad u ç ã o chinesa do texto b ú d i c o , semelhante ao relato do
ó b u l o da viúva: u m c o n h e c i m e n t o s o b r e n a t u r a l permite
reconhecer o valor do dom feito pela viúva. A respeito
d e p o b r e s , n ã o temos à nossa disposição elementos garantidos. E n t r e t a n t o , mesmo q u e gostássemos de ter maiores
indicações, as fontes são suficientes p a r a esboçar u m quadro de como viviam as c a m a d a s p o b r e s .
Entre essas, é preciso distinguir aqueles que g a r a n t i a m
sua subsistência pelo t r a b a l h o e os que viviam, em parte
ou totalmente, da ajuda alheia.
A. ESCRAVOS E DIARISTAS
2
3
5
6
1. Trata-se de d e s c o b e r t a s em Q u m r ã e n o w a d i M u r a b b a ' â t , assim c o m o n o l a d o sudeste do m a r M o r t o e n o w a d i F a r ' a h . Infelizm e n t e n ã o n o s fornecem indicações s o b r e a J e r u s a l é m a n t e r i o r a 70
d.C.
2. A r a ç ã o de p ã o d i á r i a d i s t r i b u í d a aos p o b r e s , g a r a n t i n d o - l h e s
e s t r i t a m e n t e o i n d i s p e n s á v e l , já c u s t a v a 2 asses (ver infra, p . 1 7 3 ) .
3. M c 12,41-44; Lc 21,1-4.
4. hv. R. 3, 5 s o b r e 2, 1 ( 9 1 8 ) .
5. Ibiã. 9 5.
6. H . H a a s , " D a s Scherflein
der Witwe"
und seine
Entsprechung
im Tripitaka,
Leipzig, 1922.
a
a
Muitos papiros confirmam o comércio de escravos
n a Palestina d o século I I I antes d e nossa e r a ; o estrado
de pedra p a r a a venda pública dos escravos é uma prova
p a r a a Jerusalém do t e m p o de Jesus. O s escravos não representaram g r a n d e papel na economia r u r a l ; é o que ded u z i m o s das informações rabínicas e n e o t e s t a m e n t á r i a s ,
assim como dos papiros e g í p c i o s . E n c o n t r a m o s escravos,
sobretudo na cidade, como domésticos: m e s m o aí não são
m u i t o n u m e r o s o s , salvo, por exemplo, na corte de H e r o d e s .
A M i s h n a menciona u m e u n u c o hierosolimitano "; era talvez u m servo de h a r é m . Diversas vezes se e n c o n t r a m escravos libertos. " T u a filha é núbil, liberta teu escravo e
casa-o c o m e l a " , é o q u e repetem c o m o u m p r o v é r b i o
local .
7
8
,;
10
n
U m escravo liberto t r a b a l h a p a r a T o b i a s , médico de
Jerusalém ' \ n o tempo de Shemaya e A b t a l i ã o , d u r a n t e o
7. Papiri greci e latini (Pubblicazioni
delia Società italiana per la
ricerca dei papiri greci et latini in Egitto),
v o l . I V , F l o r e n ç a , 1917,
n. 406.
8 . V e r supra, p. 5 4 .
9. N a s p a r á b o l a s de Jesus q u e se p a s s a m n o c a m p o , os empregados e r a m , c o m o o m o s t r a M t 20,1-16, o p e r á r o s a l u g a d o s p o r u m temp o b a s t a n t e longo (cf. B. M. I X 11-12).
10. M i t t e i s - W i l c k e n , 1/1, 260 e 274.
J l , Yeb. V I I I 4 .
12. b . Pes. 1 1 3 .
13. R. H. I 7.
a
reinado de H e r o d e s , o G r a n d e . D ã o de beber as águas da
maldição (Nm 5,11-31) a u m escravo hierosolimitano, liberto . Afirmou-se q u e , já d u r a n t e o segundo p e r í o d o do
estado judaico (a p a r t i r da época m a c a b a i c a ) , era impossível p a r a u m judeu de nascença tornar-se escravo de o u t r o
judeu ' . E n t r e t a n t o , os textos invocados nesse sentido são,
manifestamente, afirmações teóricas; n ã o h o u v e escravos
j u d e u s , p r e t e n d e m elas, a n ã o ser e n q u a n t o durou o ano
jubilar. O b s e r v a m o s que o Antigo T e s t a m e n t o leva em consideração a escravidão dos judeus de nascença ; q u e a literatura r a b í n i c a fala freqüentemente de escravos j u d e u s
e delimita sua situação jurídica em relação à dos escravos
pagãos . N a d a disso prova ainda que a situação no t e m p o
de fesus correspondesse a esses dados.
14
5
16
17
1S
Para penetrarmos naquele contexto, devemos observar
que Josefo supõe em vigor, p a r a a época de H e r o d e s , o
G r a n d e , a prescrição veterotestamentária (Ex 2 2 , 2 ) , segundo a qual podia-se vender como escravo o judeu ladrão que
n ã o estivesse e m condições de fazer a restituição d e v i d a .
Josefo confirma, efetivamente, a ratificação pelo r e i
dessa p e n a l i d a d e . Além do mais, convém dizer que é secundária a questão de saber se havia escravos de o r i g e m
judaica, pois, na maior parte das vezes, os escravos pagãos recebiam a circuncisão e, por conseguinte, tornavam¬
-se j u d e u s . Foi então d e t e r m i n a d o o tipo de imolação
imposto aos e s c r a v o s ' . Encontramo-los a oferecer d u a s
vítimas pascais nos átrios dos sacerdotes; u m a por si e outra p o r seu senhor . De o u t r o m o d o , a vida em c o m u m
d o a m o e do escravo não teria sido possível p a r a os j u d e u s
observantes. Só m u i t o s u m a r i a m e n t e p o d e r í a m o s considerar
os libertos c o m o prosélitos, salvo, p o r e x e m p l o , na corte
o n d e p o u c o se p r e o c u p a v a m c o m considerações religiosas.
É o que p r o v a m os fatos acima n a r r a d o s : aconselhar q u e
se case a filha c o m u m escravo liberto. P o r t a n t o , n a maioria dos casos torna-se impossível a constatação d a origem
d o escravo o q u e , ao final das c o n t a s , p o u c o i m p o r t a .
O s diaristas e r a m mais n u m e r o s o s que os escravos. É diarista aquele h o m e m alugaâo p o r u m rico hierosolimitano c o m o c u r s o r . O s diaristas g a n h a v a m u m a média de 1 d e n á r i o , c o m refeição \ O p o b r e q u e vivia a
caçar p o m b o s pegava, c a d a dia, 4 rolas. D i a r i a m e n t e oferecia d u a s e m sacrifício . O preço de 1/8 d e d e n á r i o a
rola e m JerusaJém , r e p r e s e n t a u m g a n h o diário de 1/4
d e d e n á r i o . Considerava-se esse g a n h o c o m o n o t o r i a m e n t e
f r a c o . Catastrófica a situação d e u m diarista,
quando
não e n c o n t r a v a t r a b a l h o ; foi o que aconteceu a HUel, e m
Jerusalém .
23
14
2
2o
21
28
29
1 9
B A PARTE DA POPULAÇÃO
AMPARADA P O R AUXÍLIO PUBLICO
20
2
12
14. 'Ed. v 6.
15. K r a u s s , Talm. Arch., I I , 8 3 .
16. b . 'Ar. 2 9 e p a r . ( b . Qid. 6 9 ; b . Git. 6 5 ) .
17. Ex 21,2; Lv 25,39.47 ( i s r a e l i t a ) ; Ex 21,3 ( e s p o s a ) ; 21,6 (jov e m ) ; 22,2 ( l a d r ã o ) .
18. O e s c r a v o j u d e u é c h a m a d o 'ebed c o m o o e s c r a v o p a g ã o . D o
p o n t o de vista j u r í d i c o , o escravo j u d e u é c o m p a r a d o aos filhos m a i o r e s ; o e s c r a v o p a g ã o aos filhos m e n o r e s (B. Aí. I 5; 'Ar. VIIT 4s;
M. Sh. I V 4 ) .
19. Ant. X V I 1, 1, § l s s .
20. T i n h a m u m a n o p a r a reflexão; em caso d e r e c u s a e r a m rev e n d i d o s a n ã o - j u d e u s , cf. E. R i c h m , Handwörterbuch
des
biblischen
Altertums
2 .' ed., t. I I , Leipzig e Bielefeld, 1894, 1524 a.
2 1 . Ber. I I I 3 .
2 2 . Pes. V I I I 2.
a
1
a
a
A alta percentagem da p o p u l a ç ã o que vivia princip a l o u totalmente
de auxílios constituí u m a característica
d e Jerusalém. Convém m e n c i o n a r , e m p r i m e i r o lugar, os
escribas. Era-lhes proibido receber q u a l q u e r r e m u n e r a ç ã o
pela sua atividade . O s evangelhos m o s t r a m que essa prescrição vigorava n o t e m p o de Jesus: " d e graça recebestes,
d e graça d a i . N ã o procureis o u r o n e m p r a t a , nem cobre
<0
2 3 . b . Ket. 6 7 b a r .
2 4 . M t 20.2.9; cf. T b 5,15: o c o m p a n h e i r o d e
r e c e b e u 1 d r a c m a p o r dia, a l é m d o s u s t e n t o .
b
2 5 . Cf.
B. M. V I I
26. Ver
supra,
2 7 . Ker
I
1.
p . 156.
7.
28. b. Yoma
35
b
bar.
29. Ihid.
30. P. A.
I 1 3 ; Bek.
I V 6; b . Ned.
37 . 62 .
a
a
viagem d e
Tobias
[e n ã o os leveis] n o s vossos c i n t o s . N ã o tomeis alforje
p a r a o c a m i n h o , n e m duas túnicas, n e m sandálias, n e m
cajados! Pois o o p e r á r i o é digno de seu s a l á r i o " . A M í s h n a
atribui essa prescrição a u m mestre de Jerusalém, Hilel, e
R. Sadoc, r a b i n a q u e l a cidade antes de 7 0 d . C , o confirm a . Hilel p a g a v a p a r a e n t r a r na "escola de Shemaya e de
A b t a l i ã o ; Schürer apoia-se nessa informação p a r a concluir
q u e tais mestres não ministravam suas lições gratuitamente \ mas se esquece de que n ã o se trata de m o d o algum d e
u m salário: a q u a n t i a entregue pelos alunos revertia p a r a
o guardião da " e s c o l a " . Somente mais tarde, a n u l a d a a
prescrição, permitiu-se ao escriba, se exercesse u m a profissão, indenizar-se pelo tempo dedicado ao ensino ou c o m o
juiz, atividades essas q u e ele podia c o m p r o v a r .
31
3J
33
34
3
3fi
De que viviam os escribas? Entre os rabinos citados
no T a l m u d e , mais de 100 t i n h a m uma profissão e e r a m
conhecidos pelos nomes das p r o f i s s õ e s , A maioria, é verd a d e , p e r t e n c e a uma época mais tardia. Em c o n t r a p a r t i d a ,
o livro do Siráeida (início do século II a.C.) p õ e e m dúvida a compatibilidade de uma profissão secular com a ativ i d a d e do escriba (Eclo 38,24-39 II) e mais t a r d e , até o
século II de nossa era, discute-se essa c o m p a t i b i l i d a d e .
Tal fato p o d e suscitar dúvida: seria já c o s t u m e , n o t e m p o
d e Jesus, a c u m u l a r o estudo da Lei e o exercício d e o u t r a
profissão? N o e n t a n t o , os testemunhos q u e possuímos •—
iodos referentes a Jerusalém — m o s t r a m que nessa é p o c a
já havia escribas q u e exerciam profissões. S h a m a t afastou
c o m sua vara de carpinteiro u m p a g ã o q u e q u e r i a se t o r n a r
prosélito . Hilel que viveu t a m b é m p o r volta d o início d e
37
38
nossa era, foi diarista p e l o m e n o s d u r a n t e seus e s t u d o s .
São Paulo exercia u m a profissão d u r a n t e sua atividade missionária (At 18,3); t o r n a d o apóstolo conservou o h á b i t o de
g a n h a r a vida c o m o rabi de Jerusalém. A s informações seguintes nos c o n d u z e m aos últimos decênios antes da destruição de Jerusalém. R. Y o h a n a n b e n Z a k k a í , p e l o menos no
início de seus estudos , trabalhava n o setor comercial; R.
Eleazar b e n S a d o c e A b b a Shaul b e n B a t n i t , lecionavam
e m a n t i n h a m lojas n a cidade. C o m freqüência, p o r t a n t o , os
escribas do t e m p o de Jesus exerciam u m a profissão ao l a d o
do ensino, mas era sobretudo de auxílios q u e v i v i a m . Antes
da Segunda G u e r r a M u n d i a l , a condição de v i d a , n a Palestina, dos conhecedores da T o r a , levam a tal conclusão, e as
fontes o confirmam q u a n t o ao período antigo. Segundo
Franz Delitzsch, "os doutores ou 'os alunos dos sábios" ''
[sem n a d a h a v e r de fixo, n e m m e s m o p a r a o ensino] . . .
ficavam reduzidos à gratidão espontânea de seus a l u n o s . . .
à consideração deles q u a n d o da distribuição dos dízimos
p a r a os pobres e, em certos casos, t a m b é m aos subsídios
da caixa do T e m p l o " . Dizia-se q u e era meritório oferecer
hospitalidade ao escriba e fazê-lo participar dos r e c u r s o s
de que a pessoa d i s p u n h a ou gerir os negócios em seu lug a r . Além do mais, segundo N e h o n y a b e n H a - q a n a ,
mestre na época do segundo T e m p l o , destituem-se os doutores do jugo do governo (quer dizer dos i m p o s t o s ) e de
assuntos seculares (isto é, da p r e o c u p a ç ã o d e sua subsistência). O s evangelhos confirmam q u e essas disposições
vigoravam. N o que diz respeito à hospitalidade oferecida
40
41
4 2
43
1
4 5
46
4 7
48
49
39
31. U m a
nheiro.
longa
echarpe
32. M t 10,8*10; cf. M c
3 3 . P. A. IV 5; 1 13.
34. b . Yoma 3 5
b
que
servia
6,8; Lc
também
para
guardar
o di-
9,3,
b
a
bar.
35. S c h ü r e r , I I , 380.
36. b . Kel. 105»; Pesiqta de Rab Kahana X X V I I I 4, e d . S. B u b e r ,
L y c k , 1868, 1 7 8 ) 7 ; P. W e b e r , Jüdische
Theologie
auf Grund
des
Talmud
und verwandter
Schriften
2" ed., Leipzig, 1897, 130.
37. Delitzsch. }üd. Bandwerkerleben,
75, dá-nos i n ú m e r o s exemplos. W e b e r , Religionssoziologie,
I I I , 410-411.
38. b . Ber. 3 5 .
a
b
39. b . Shab.
3 1 . Cf.
a
Mc 6,3:
t e i r o , a r q u i t e t o ou f e r r e i r o ) ; d e v e m o s l e m b r a r q u e e r a c o s t u m e fazer
c o m q u e o filho a p r e n d e s s e o ofício d o p a i , e q u e J e s u s se c o m p r a z
e m u s a r a i m a g e m da c o n s t r u ç ã o de u m a casa.
40. b . Yoma 3 5 b a r .
4 1 . b. Sanh. 4 1 ; Sifre D t 3 4 , 7 ; § 357 (63"= 26); Gn. R. 100, 11
s o b r e 50, 14; S c h l a t t e r , Joch. b. Zak.,
9.
42. T o s . Besa I I I 8 (205, 2 5 ) ; H i r s c h e n s o h n , 133; cf. supra, p. 47.
e t a m b é m T o s . Pes. X 10 (173, 7 ) .
43. T o s . Besa I I I 8 (205, 2 7 ) ; b . Bem 2 9 bar.
44. Talmidê
hãkamim.
4 5 . D e l i t z s c h , Jud. Handwerleben,
78s,
46. b . Ber. 6 3 .
47. b . Ber. 3 4 .
48. P. A. I I I 5 .
4 9 . Cf. b . B. B. 8.
Jesus é c h a m a d o
tékíon
ícarpin-
a
b
b
6 - Jerusalém
no t e m p o
de Jesus
SEJVMAfôSO &0NC0RDKA
ao mestre, lembramo-nos das palavras d e Jesus; " O operário é digno de seu a l i m e n t o " ; ("seu s a l á r i o " em Lc 10,7).
A o invocar u m a prescrição de Jesus ( I C o r 9,14), P a u l o
considera que essa p a l a v r a vale p a r a q u e m ensina (cf. G l
6,6). Lembremo-nos, igualmente, do aviso de Jesus aos discípulos de se fazerem acolher e receber como convidados
d u r a n t e o t r a b a l h o de evangelização (Lc 9 , 4 ; 1 0 , 7 - 8 ) , da
maneira pela qual Jesus era recebido como hóspede em Betânia, na casa das duas i r m ã s .
N o que toca às pessoas abastadas que s u b v e n c i o n a v a m
as necessidades do Mestre, c o n v é m lembrar as m u l h e r e s
que o a c o m p a n h a v a m ; p u n h a m seus bens à disposição dele.
Por outro lado, diversas espórtulas foram oferecidas a Jesus
e aos discípulos d u r a n t e sua vida e r r a n t e " . Q u a n t o ao período anterior a 70 d . C , n ã o p u d e m o s nos certificar da
existência dc coletas p a r a os doutores . As pessoas não procediam sempre dc m o d o correto ao aceitar os subsídios; verificamos tal fato r e p e t i d a m e n t e . Dizem, por exemplo, que
o rei Alexandre Jancu (103-76 a.C.) em seu leito de morte
preveniu a esposa contra os falsos devotos que exteriormente se assemelham aos fariseus , mas que, na r e a l i d a d e ,
são m a u s h o m e n s , ávidos de l u c r o s . Essa sede d e lucro
fazia-os ambicionar as vantagens dessa terra e não as da
o u t r a vida; é o que d e m o n s t r a o contexto d a cena, muitas
vezes citada, mas hoje parcialmente incompreensível, referindo-se às sete espécies de fariseus . A isso se acrescentam
outras informações. Dizem q u e os fariseus r e c e b e r a m gra50
51
l 2
54
55
5Í>
57
sa
50. M l 10,10; "seu s a l á r i o " s e g u n d o Lc 10,7. O c a r á t e r p r i m i t i v o
do texto de Mt é g a r a n t i d o pelas analogias r a b í n i c a s assim c o m o p o r
P a u l o q u e as r e t o m a de m a n e i r a livre em ICor 9,14.
5 1 . I C o r 9.3-18; 2 C o r 11,8-9; Fl 4,10-20.
52. Lc 1 0 , 3 8 4 2 ; Jo 11,1,
53. Lc 8,1-3; M c 15,41; Jo 12,6.
54. j . Mor. I I I 7, 4 8 40 ( V l / 2 . 2 7 6 ) ; o e n s i n a m e n t o s e g u n d o o
qual a l g u n s r a b i n o s j u n t a v a m c o n t r i b u i ç õ e s p a r a s u s t e n t a r os d o u t o res refere-sc ao p e r í o d o cm t o r n o d o a n o 100 d.C.
55. Ant. X I I I 15, 5, § 400-402.
56. A m a i o r i a dos escribas era de fariseus,
57. b . Sota
22^.
58. b . Sota 22 bar.; p a r a l e l o s e m D e r e n b o u r g , Essai, 3 e n . 1. Cf.
em b . Sota 22 o p r i m e i r o n o m e a d o , o parus sikmi:
s u a p r á t i c a religiosa era g u i a d a p o r m o t i v o s i m p u r o s , à s e m e l h a n ç a de S i q u é m ( G n
34,2-5).
a
b
h
tíficações d a s mulheres de F é r o r a s , i r m ã o de H e r o d e s ; o
evangelho afirma que eles " a m a m o d i n h e i r o " (Lc 16,14)
e os escribas são censurados p o r explorar as v i ú v a s . Conforme m o s t r a o próprio texto dessa ú l t i m a passagem ("eles
d e v o r a m as casas das v i ú v a s " ) ; é difícil p e n s a r q u e se trata,
p a r a os escribas, d e c o b r a r , d e m o d o ilícito, as consultas
jurídicas ou de n ã o reconhecer às viúvas seus direitos, oti
e n t ã o q u e se trata da prosboíe d e Hilel (que permitia alterar a Lei sobre a quitação das dívidas p o r ocasião d o ano
sabático) que despejaria d e suas casas as viúvas endividad a s . Provavelmente, o texto refere-se aos escribas p a r a s i t a s ,
exploradores da hospitalidade d e pessoas p o u c o afortunadas .
5 9
m
6Í
As informações tradicionais sobre a situação financeira dos escribas c o n c o r d a m c o m o q u e p r e c e d e . N ã o é
certo q u e n o t e m p o de Jesus houvesse em Jerusalém muitos escribas ricos. Segundo o T a l m u d e , S h i m é o n b e n Shetah era c u n h a d o d o rei A l e x a n d r e Janeu e i r m ã o d a rainha
A l e x a n d r a ' ' ; Trata-se d e uma lenda q u e deve sua origem
ao fato d e ser a r a i n h a amiga dos fariseus. E m compensação, conta-se d e A b b a S h a u l , p r o p r i e t á r i o d e u m loja o n d e
se v e n d i a v i n h o , q u e ele r e c u p e r a v a , p a r a o tesouro d o
T e m p l o , a espuma que se f o r m a v a ao e n c h e r os recipientes, pois essa e s p u m a a n i n g u é m p e r t e n c i a ; desse m o d o ,
conseguia encher trezentos barris de v i n h o . T a l exagero
deve a p e n a s caracterizar sua delicadeza d e consciência. R a b i
E l e a z a r b e n Sadoc, seu c o m p a n h e i r o d e t r a b a l h o , c o m p r o u
para si a sinagoga helenista d e Jerusalém; e r a , entretanto.,
u m a c o n s t r u ç ã o pequenina \ Se rabi E l e a z a r b e n H a r s o n ,
sumo sacerdote, g r a n d e proprietário
d e imóveis, pertenceu
2
63
6
59.
B.
60. M c
j . 1 29, 2 , § 5 7 1 .
12,40;
Lc
20,47. Essa
p a l a v r a foi
pronunciada cm
Jeru-
salém.
6 1 . Cf. Assunção
6 2 . b . Sota
47
de
a
e
Moisés
V I I 6:
comealores,
glutões.
passim.
6 3 . b . Besa 29" b a r .
6 4 . T o s . Meg. I l l 6 (224, 2 6 ) ; S c h l a t t e r , Tage, 8 1 . — Edifício
p e q u e n i n o , b . Meg. 2 6 ; o m s d e M u n i q u e d o T a l m u d e (ver L. Golds c h m i d t , Der bubytonische
Talmud,
t. 111, Berlim, 1899 = H a i a , 1933,
643) i n d i c a , c o m o c o m e r a d o r , E l e a z a r b e n A z a r y a ; n ã o se p o d e const a t a r a existência dessa p e r s o n a g e m e m J e r u s a l é m .
a
a Jerusalém, foi somente n o período de A d r i a n o , e n a qualidade de sumo s a c e r d o t e .
Por o u t r o lado, sabemos com certeza q u e u m a p a r t e
dos escribas, aqueles, p o r exemplo, q u e e r a m s a c e r d o t e s ,
p e r c e b i a m salários fixos. Os escribas q u e exerciam u m a função n o T e m p l o gozavam d o mesmo sistema; pagavam-nos
com o dinheiro do imposto anual daquele santuário. D i z e m
que alguns doutores t i n h a m p o r função ensinar aos sacerdotes as regras d o s a n g r a m e n t o ; o u t r o s , de ensiná-los a fazer as ofertas alimentares segundo as p r e s c r i ç õ e s . D a mesm a forma, três ou q u a t r o doutores, juízes q u e constituíam
u m tribunal de Jerusalém inúmeras vezes citado, , e r a m
pagos pelo T e m p l o ; recebiam, conforme afirmam, 99 m i n a s
(1 talento, a p r o x i m a d a m e n t e ) ; lastimamos q u e n ã o n o s dig a m e m q u e período .
É5
66
67
68
w
70
Esses casos de rendas fixas n ã o p o d e m induzir-nos ao
erro: os escribas pertenciam, e m sua maioria, à classe pobre. Visto a sua situação real, o T a l m u d e de Babilônia relaciona o fato de u m doutor n ã o ter necessidade de mendigar ao princípio segundo o qual ele n ã o se e m p o b r e c e .
O T a l m u d e muitas vezes menciona a mulher, j a m a i s as
mulheres de u m doutor; a principal razão consiste, sem dúvida, mais n a pobreza de condição d o q u e n u m a estima d a
monogamia. Citemos alguns exemplos dessa pobreza n o
século II de nossa era. Dois alunos de R a b b a n G a m a l i e l
II, cuja ciência era tão g r a n d e q u e chegava a " p o d e r contar as gotas d o m a r " , n ã o t i n h a m u m p e d a ç o de p ã o p a r a
comer, n e m u m a peça de r o u p a p a r a vestir . R. A q i b a , o
célebre d o u t o r d a Lei e sua mulher, em pleno inverno tin h a m de se deitar sobre p a l h a , e A q i b a n u n c a conseguiu
dinheiro suficiente p a r a oferecer à esposa a alegria de u m
enfeite . R. Y u d a b e n Elai, o doutor tantas vezes c i t a d o
11
7 2
73
n
65.
66.
67.
68.
69.
70.
71.
72.
73.
74.
V e r supra, p . 141. n. 132.
V e r supra, p . 149.
b . Ket. 1 0 6 .
b . Ket. 1 0 5 .
Ibiã.; Ket. X I I I I s s ; b . B. Q. 5 8 .
b . Ket. 1 0 5 .
b , Shab. 1 5 1 .
J. Bergel, Die Eheverhãltnisse
der alten
b . Hor. 1 0 .
b . Ned. 50«.
7S
76
11
Voltemos nossa a t e n ç ã o p a r a Jerusalém. Antes d e t u d o
lembremo-nos d e Hihl. Nascido e m Babilônia, de u m a p o b r e família d e exilados, veio a p é p a r a J e r u s a l é m . T r a b a lhou c o m o diarista p o r u m frop-pct'tq, isto é, p o r meio den á r i o . A p ó s p a g a r o g u a r d i ã o d a escola, só lhe restava u m
q u a r t o d e d e n á r i o p a r a s u a m a n u t e n ç ã o e a d e sua família . Conta-se q u e u m d i a n ã o e n c o n t r o u t r a b a l h o ; deixou,
p o i s , de p a g a r a entrada n o estabelecimento e m q u e estud a v a . Apesar d o rigor d o i n v e r n o , ficou d o l a d o d e fora a
ouvir pela janela; foi e n c o n t r a d o s e m i - e n r e g e l a d o . Somente q u a n d o se t o r n o u u m mestre célebre, com oitenta
a l u n o s e m d e t e r m i n a d o s m o m e n t o s , é q u e conseguiu m e l h o r a r s u a situação. Estaria e m condições d e alugar, e m
benefício d e u m rico e m p o b r e c i d o , c a v a l o e c u r s o r , o u
de m a n d a r sangrar u m b o i p a r a si, n o á t r i o d o T e m p l o \
Citemos dois outros casos d e pobreza e n t r e os escribas d e
Jerusalém. R. Y o h a n a n , filho d a h a u r a n i t a , vive miserav e l m e n t e d e p ã o seco d u r a n t e u m p e r í o d o de estiagem '" .
C o n t r a a v o n t a d e d e seu p a i , R. Eliézer b e n H i r c a n o s decidiu e s t u d a r ; vive e m meio a grandes privações, a t é q u e
seu mestre R a b a n Y o h a n a n b e n Z a k k a i constata a fome '
d o discípulo. P a r a confirmar o q u e foi d i t o , podemos menc i o n a r a p o b r e z a d e Jesus. V e i o de u m a família p o b r e
( p a r a o sacrifício d e purificação, M a r i a serviu-se d o privilégio dos p o b r e s : oferecer d u a s rolas'' ); s u a existência apre78
19
m
8 1
n
s
4
,s
6
7 5 . M a i s d e 600 vezes.
76. b . Ned. 49 -5Ü=.
b
77. b . Sanh. 2 0 .
78. V e r supra, p. 8 6 .
79. b . Yoma 3 5 b a r .
a
b
80. Ibid.
a
E l e estava
coberto
d e n e v e ; a c o n t e c e cair neve e m Je-
rusalém, mas raramente.
a
b
8 1 . b . B. B. 1 3 4 .
a
a
82. b . Ket.
b
a
n a M i s h n a , tinha u m a ú n i c a capa; ele e a m u l h e r usavam¬
-na a l t e r n a d a m e n t e p a r a s a i r ; seis d e seus alunos p o s s u í a m
u m só casaco p a r a se c o b r i r e m .
fuden,
Leipzig, Í 8 8 1 , 10.
6 7 bar.
b
8 3 . F . Detitzsch, \esus und Hitel, 3 . ed., Francfort-sur-le-Maín.
1875, 3 5 .
84. b . Yeb. 6 7 .
85. ARN 3 0 ; S c h l a t i e r , }ock.
86. L c 2 , 2 4 ; cf. L v 12,8.
b
b. Zak., 2 3 .
senta tantas privações que não tem o n d e repousar a cabeça ' ; pessoalmente, não traz dinheiro consigo (a história do
estáter e d o " t r i b u t o a César" o d e m o n s t r a m ' ) e ele aceita
esmolas . Podemos, p o r t a n t o , de u m m o d o geral, colocar
os rabinos entre as camadas p o b r e s da p o p u l a ç ã o .
Q u a n d o a t r a d i ç ã o diz q u e os hierosolimitanos têm u m a
v a i d a d e d e p o b r e s , é u m a h o m e n a g e m que lhes presta . N a
v e r d a d e , Jerusalém já n o í e m p o d e Jesus, apresentava-se
c o m o u m centro d e mendicância. A distribuição das esm o l a s era c o n s i d e r a d a p a r t i c u l a r m e n t e meritoria se feita na
C i d a d e santa, q u e m a n t i n h a essa m e n d i c â n c i a . N ã o é de
a d m i r a r q u e já e n t ã o houvesse pessoas q u e simulavam cegueira, fingiam-se d e surdas, estropiadas, hidrópicas, coxas
etc. A semelhança entre hoje e a n t i g a m e n t e é tão g r a n d e
q u e , ainda h á u m a d e z e n a d e anos, encontravam-se leprosos, p e d i n d o esmolas nos seus lugares habituais, n o c a m i n h o do G e t s ê m a n i . A e n t r a d a n a C i d a d e santa era-lhes p r o i bida; p a r a protegerem-se das intempéries, sentavam-se s o b
as portas, consideradas como ainda n ã o fazendo p a r t e da
cidade p r o p r i a m e n t e dita ' .
8
3
89
90
y i
92
B
E m Jerusalém, a mendicância concentra-se em t o r n o
dos lugares santos; por conseguinte, naquela época, e m
torno do T e m p l o . Os mendigos não t i n h a m acesso a todos
os lugares do T e m p l o . N o texto de 2Sm 5,8, r e p r o d u z i n d o
87. Ml 8,20; Lc 9,58.
88. M t 17,24-27. Cf. M c 12,13-17; M t 22,15-22; Lc 20,20-26.
89. Lc 8,1-3. É p r e c i s o reconhecei' q u e e x i s t e m , e x t e r i o r m e n t e , n u m e r o s o s p a r a l e l o s na m a n e i r a d e viver e n t r e os e s c r i b a s e Jesus rod e a d o pelos seus d i s c í p u l o s ; n ã o i m p e d e , p o r e m , q u e Jesus tenha-se
o p o s t o ao g r u p o d e e s c r i b a s d e SL*U t e m p o .
90. Cf. W e b e r , Religionsoziologie,
I I I , 4 0 9 : " U m m e i o de intelectuais p l e b e u s " . A . Büchler, The Politica!
and Social
Leaders
of lhe
fewhh
Cotnmunity
o / S e p p / i o n s , L o n d r e s , 1909, 5: " E m geral, os p r ó prios rabis e r a m pessoas d o p o v o " . Cf. K r a u s s , Ta/m. Arch..
til, 66.
9 1 . b . Pes. 1 1 5 .
a
92. Pea V I I I 9 ; b . Keí. 67^-68.
93. b . Pes. 8 5 . E m b . Sanh. 9 8 , d i z q u e o M e s s i a s e n c o n t r a - s e
e m R o m a , às p o r t a s da cidade, e n t r e os doentes
e gente miserável,
e cura suas feridas. S e g u n d o b . Sanh. 9 8 , p e l o m e n o s s e g u n d o a inf o r m a ç ã o hiwwara,
a e n f e r m i d a d e d o M e s s i a s é a l e p r a ; m e s m a opin i ã o em R a s h i s o b r e Is 53,4-5 (Bitlerbeck, I, 4 8 1 , n. 2 ) . C e r t a m e n t e
t r a n s p o r t a r a m p a r a R o m a a s i t u a ç ã o d a Palestina o n d e os l e p r o s o s
ficavam s e n t a d o s às p o r t a s d a c i d a d e ; b . Sanh. 9 8 c o n f i r m a , pois, a
i n d i c a ç ã o de b . Pes. relativa aos leprosos d e J e r u s a l é m .
b
a
b
a
o provérbio "cegos e coxos n ã o e n t r a r ã o na c a s a " , a L X X
acrescenta " d o S e n h o r " . Mas no átrio dos israelitas e n o
dos sacerdotes, encontravam-se sacerdotes m a n c o s e vítimas
de defeitos físicos . Faremos b e m , p o r t a n t o , em não concluir da L X X , 2 S m 5,8 q u e havia ali certas discriminações.
Com efeito, os estropiados p o d i a m p e n e t r a r no a d r o interior, mas somente sob certas condições. Eis a prescrição: "Se
a p e r n a de pau tem u m a cavidade p a r a receber pedaços
de p a n o [ q u e i m p e d e m o atrito do coto do m e m b r o amput a d o ! , ela p o d e tornar-se i m p u r a . [E n a v e r d a d e ] , as muletas p o d e m se tornar i m p u r a s por compressão [se o estrop i a d o que delas se serve é i m p u r o , ele transmite sua imp u r e z a às m u l e t a s ] ; pode-se [entretanto] pegá-las p a r a sair
n u m dia de s á b a d o , assim como para e n t r a r no a d r o . U m
suporte ou muletas p o d e m [ t a m b é m ] ficar impuros por
compressão [ver supra]; não é p e r m i t i d o , e n t r e t a n t o , tomá¬
-los p a r a sair em dia de s á b a d o o u p a r a p e n e t r a r no a d r o " .
Assim, pois, os aleijados em condições de mover-se por si
mesmos com u m a muleta t i n h a m a b e r t a m e n t e o direito de
entrar na p a r t e do s a n t u á r i o proibido aos pagãos; em cont r a p a r t i d a , não o p o d i a m aqueles que não estavam em
estado de se m o v e r sozinhos (completamente estropiados,
entre outros os q u e n ã o t i n h a m as d u a s pernas) e que
deviam se sentar n u m a cadeira estofada n a q u a l e r a m
t r a n s p o r t a d o s , O coxo q u e n ã o conseguia a n d a r por si
m e s m o , m e n c i o n a d o nos Atos dos apóstolos (3,2), p o d e
ser u m exemplo disso. Deixa-se ficar junto à " P o r t a Form o s a " , a Porta de N i c a n o r q u e liga o á t r i o dos israelitas
ao átrio das m u l h e r e s , m a s (At 3,8) a i n d a nesse átrio. Esse
coxo m e n d i g a (At 3,2.3,10); seus amigos o colocam lá
nas h o r a s de oração q u a n d o o fluxo e refluxo das pessoas é especialmente g r a n d e no T e m p l o . Talvez seja no
pátio dos pagãos q u e devamos p r o c u r a r os cegos e aleijados q u e se e n c o n t r a m c o m Jesus no s a n t u á r i o e lhe ped e m a c u r a (Mt 2 1 , 1 4 ) .
M
9 5
H a v i a , p o r é m , muitos mendigos fora desse local; vemo-los às portas externas da esplanada do T e m p l o . N u m a
94. Mid. TI 5; j . Yoma
B i l l e r b e c k I I , 795s.
95. Shab. V I 8.
I 1, 38<< ( I H / 2 ,
1 6 5 ) ; b . Sukka
44 ;
a
cf.
dessas p o r t a s meridionais é que se deve p r o c u r a r o mendigo p o b r e d e nascença (Jo 9,1-8) cuja cura p o r Jesus o
evangelho nos conta. A cena precedente (Jo 8,58-59) desenrola-se no T e m p l o , mais precisamente, no átrio dos
gentios, onde p o d e r i a m existir p e d r a s p a r a as reparações
do T e m p l o e q u e os inimigos d e Jesus t o m a m nas m ã o s
com o intuito de lapidá-lo.
Sem d ú v i d a , a cura n a r r a d a i m e d i a t a m e n t e após esse
incidente não p o d e ter-se d a d o tão logo; é provável q u e
o redator tivesse e m mente u m fator d e o r d e m local, pois,
se Jesus envia o cego à piscina de Siloé (Jo 9,7) é p o r
tê-lo e n c o n t r a d o a o sul do T e m p l o . Podemos t a m b é m considerar como mendigos, os enfermos, os cegos, os coxos
e paralíticos presentes à piscina d e Bezata (Jo 5,2-3); seg u n d o relato análogo em At 3,2-8 (cf. Jo 9,1-7), é fácil
supor que a troca d e palavras entre Jesus e o enfermo (Jo
5,6), deu-se q u a n d o esse último lhe pediu esmola. Essa
piscina foi lugar sempre freqüentado p a r a pedir graças e
curas (provam-no suficientemente os objetos doados, encontrados d u r a n t e escavações; m e s m o após 70 era tida
c o m o curativa); os enfermos t i n h a m , pois, inúmeras ocasiões p a r a m e n d i g a r .
N ã o é, p o r é m , somente nos mendigos que se deve
pensar para justificar a impressão de que Jerusalém, já n o
t e m p o de Jesus, era a cidade dos v a g a b u n d o s e q u e u m
n u m e r o s o p r o l e t a r i a d o , vivendo da importância religiosa
da Cidade santa, era-lhe u m a das particularidades mais
singulares. A noção de cidade, dizem, incluía o fato de
nela existirem pelo menos dez "pessoas o c i o s a s " , isto é,
pessoas que r e n u n c i a r a m a u m a o c u p a ç ã o pessoal p a r a
consagrar-se t o t a l m e n t e à participação do culto. Jerusalém contava com esses t a m b é m ; R. Eleazar ben Sadoc
fala das confrarias q u e visitavam as famílias e n l u t a d a s e
que t o m a v a m parte nas refeições de núpcias e nas festas
de circuncisão, assim como n a cerimônia de r e u n i r os
ossos (sem d ú v i d a em casos de r e i n u m a ç ã o ) ; era proibido aos escribas viverem assim c o m o parasitas.
Constatamos, com e s p a n t o , o n ú m e r o d e pessoas dessa categoria que surgiram nos últimos a n o s antes d a destruição; alguns b a n d o s se f o r m a r a m e n t ã o , a m e d r o n t a n d o
toda a J e r u s a l é m , e a seguir, t r o u x e r a m a g u e r r a civil p a r a
a c i d a d e . I n d u b i t a v e l m e n t e , h a v i a , e n t r e esses revolucionários, alguns ardorosos patriotas e h o m e n s repletos de
entusiasmo religioso, mas t a m b é m m u i t a gente q u e Josefo
a p o n t a , com r a z ã o , como escravos, pessoas sem eira n e m
beira, escória do p o v o .
U m fato nos m o s t r a , d e m o d o p a r t i c u l a r m e n t e esclarecedor, a que p o n t o , no m o v i m e n t o zelota, o fator social
foi i m p o r t a n t e : a exaltação c o m q u e esses libertadores d o
p o v o , e m 66 d . C , i n c e n d i a r a m os a r q u i v o s d e Jerusalém
p a r a d e s t r u i r as provas d e dívidas q u e ali estavam guard a d a s °.
98
9 9
10
96
9 7
L'enterrement
46
96. Meg.
I 3 , cf. b . Meg.
97, T r a t a d o Semahot
3 .
b
X I I ; T o s . Meg.
I V 15 {226, 1 3 ) ; A, B ü c h l e r ,
des
criminels
d'après
(1903), 76.
98. B. j . I I 14, 1, § 2 7 5 .
99. B. j . V 10, 5, § 4 4 3 .
100. B. j . II 17, 6, § 4 2 7 .
le Talmud
et
le Midrash,
em
RE}
CAPÍTULO
IV
questão. O c a m p o do oleiro, c o m p r a d o pela administração
do T e m p l o de Jerusalém , deve ter custado trinta moedas
de p r a t a , quer dizer, uns 120 denários r o m a n o s ou dracmas de p r a t a á t i c a s ; essa q u a n t i a é confirmada como
preço m é d i o de u m c a m p o .
Baseando-nos n u m caso específico , sabemos que as
frutas c u s t a v a m , em Jerusalém, três a seis vezes mais do
que no c a m p o . Devido à imensa d e m a n d a de p o m b o s p a r a
os sacrifícios, o especulador, na c i d a d e , fazia o preço subir até cem vezes o preço corrente \ O s artigos de luxo
vendidos na g r a n d e cidade, a l c a n ç a v a m preços altos, conforme deduzimos da c o m p a r a ç ã o de seu preço com os do
c a m p o há pouco citados. U m exemplo é o perfume c o m
que Jesus foi ungido em Betânia e q u e custou mais de
300 denários . A q u a n t i a p a r a o c a s a m e n t o mohar q u e
o pai de u m a hierosolimitana recebia por ocasião do noivado de u m futuro esposo não da c i d a d e , era, ao que dizem, s o b r e m a n e i r a elevado; igualmente, o dote que a noiva
estrangeira trazia a seu noivo de Jerusalém. " O h a b i t a n t e
de uma cidade q u e desposasse u m a nativa de Jerusalém
dava-lhe [como q u a n t i a devida ao c a s a m e n t o ] o peso dela
cm o u r o ; a jovem de u m a cidade p e q u e n a que desposasse
u m h o m e m de ferusalém entregava-Jhe [como dote ou
bens parafernais] o peso dele em o u r o " . D e acordo c o m
5
FATORES DETERMINANTES
PARA O DESENVOLVIMENTO
DAS CONDIÇÕES ECONÔMICAS
D O S HABITANTES D E JERUSALÉM
6
7
8
!
A.
A
SITUAÇÃO
ECONÓMICO-GEOGRÁFICA
_ A situação de Jerusalém constituía g r a n d e obstáculo
á v i d a econômica da cidade. N a primeira p a r t e (p. 1 1 9 ) ,
vimos Jerusalém como uma cidade m o n t a n h o s a , p o b r e de
água, carente de matérias-primas p a r a as profissões, com
localização pouco favorável p a r a o comércio e ao tráfico.
Esse fato acarretava u m custo de vida muito alto.
1. O c u s t o d e v i d a e m t e m p o n o r m a l
,0
u
D e m o d o geral, sabemos q u e gado e p é r o l a s , produtos colhidos e vinho , alcançavam preços mais altos n a cid a d e do que no c a m p o . M e n c i o n a r e m o s dados minuciosos
a respeito dos preços em Jerusalém. " O país de Israel foi
dividido [entre as tribos] c o m base em três critérios: segundo a sorte, segundo o U r i m e o T u m i m [a consulta
p o r oráculos] e segundo o valor e m d i n h e i r o " , d i z o T a l m u d e ; se a interpretação r e t o m a d a por Levy é exata \ o
terceiro critério, q u a n d o à repartição do país, seria a consideração do maior valor do terreno nas cercanias de Jerusalém. O único d a d o que conheço a respeito do preço
de u m terreno e m Jerusalém, é o d e Mt 2 7 , 6 - 7 ; na realidade, a informação não indica a superfície do c a m p o em
l
2
3
t.
2.
3.
4.
'Ar. V I 5.
M. Sh. I V 1.
j . Y orna I V 1,
Levy, Wörterbuch,
49 ( I I I / 2 , 2 0 1 ) .
I I , 369 b.
5. V e r o e x c u r s o c o n s a g r a d o à h i s t o r i c i d a d e de M t 27,7, infra,
195ss.
6. M u i t a s vezes se diz, e r r o n e a m e n t e , q u e as 30 m o e d a s de p r a t a
(argúria) q u e c o n s t i t u e m o p r e ç o d a traição d e J u d a s v a l e m 60 d e n á rios. N a r e a l i d a d e argúrion
p o d e ter s o m e n t e dois v a l o r e s : l O den á r i o r o m a n o d e p r a t a = u m a d r a c m a de p r a t a ática q u e era, n a
é p o c a a m o e d a de p r a t a c o r r e n t e n a P a l e s t i n a ; é o q u e diz Josefo.
2? U m a e q u i v a l ê n c i a d o kesep d o A n t i g o T e s t a m e n t o = 1 seqel d e
p r a t a . N o T a l m u d e , e m Fílon, Josefo, O r í g e n e s , D í o n Cássio, o seqel
é a v a l i a d o em 4 d e n á r i o s . — O s e g u n d o v a l o r é m a i s p r o v á v e l , p o i s :
a) u m a citação do A n t i g o T e s t a m e n t o (Zc 11,13), f u n d a m e n t a a q u a n tia de 30 m o e d a s d e p r a t a (Mt 26,15;27,3.5-6.9); b) a mais antiga exegese (Codex Bezae Cantabrigiensis
= D , c i n c o m a n u s c r i t o s d a Vetus
latina, d o i s m i n ú s c u l o s , E u s é b i o , a t r a d u ç ã o d e O r í g e n e s d ã o
argúrion
p o r siater)
s u p õ e m esse valor.
p.
v
7. Ver infra, p . 196.
8. Ma'as. I I 5s., cf. supra, p . 50.
9. Ker. I 7, cf. supra, p . 5 1 .
10. M c 14,5; | o 12,3.
1 1 . Lam. R. 4, 2 s o b r e 4, 2 ( 5 6
a
2 3 ) ; H i r s c h e n s o h n , 134.
esse texto, u m a r a z ã o d e t e r m i n a n t e explica e m p r i m e i r o
lugar a i m p o r t â n c i a das quantias necessárias ao c a s a m e n t o :
a g r a n d e estima q u e geralmente se dedicava ao T e m p l o ,
à cidade e as enormes perspectivas q u e p r o p o r c i o n a v a a
cada u m . Nessas quantias reflete-se, igualmente, o fato de
ser o custo de vida mais alto em Jerusalém.
2 . O custo de vida e m época de calamidade
E m épocas de calamidade ' \ a desfavorável situação
económico-geográfica de Jerusalém fazia-se sentir e m t o d a
a sua crueza, antes de tudo sob a forma de carência d e
víveres, t a m b é m de tecidos p a r a as r o u p a s e conseqüente
alta de preços. O u v i m o s falar de u m a seca p r o l o n g a d a ,
de u m tufão, de u m abalo sísmico, de epidemias, u m a
delas agravada pelo longo período sem chuvas. A todas
essas c a l a m i d a d e s , juntam-se combates na cidade e os
cercos.
Jerusalém sofreu, de m o d o p a r t i c u l a r m e n t e p e n o s o ,
com todas essas adversidades; é o que mostram as informações sobre a fome que grassou d u r a n t e o r e i n a d o de
Cláudio. E m A n t i o q u i a , os cristãos organizaram u m a coleta, a fim de socorrer os irmãos da Judéia (At 11,28-30),
isto é, para a c o m u n i d a d e de Jerusalém , e m b o r a a carência de gêneros e a fome atingissem o m u n d o inteiro
(At 11,28). D a m e s m a forma, o relato do auxílio organizado pela r a i n h a Helena de A d i a b e n a por ocasião dessa
crise, mostra q u e Jerusalém estava p a r t i c u l a r m e n t e necessitada . A esse respeito, narra-nos Josefo que n a q u e l e
m o m e n t o era ainda possível dispor de g r a n d e q u a n t i d a d e
de cereais p a r a as necessidades cultuais; em c o n t r a p a r t i d a ,
os sacerdotes viam-se desprovidos de a l i m e n t o s . N a li1 3
14
teratura r a b í n i c a , e n c o n t r a m o s u m e x e m p l o individual
q u e se relaciona e x a t a m e n t e com essa fome que assolava
o país. De acordo com o relato, Eleazar b e n S a d o c , estudante da T o r á em Jerusalém, viu seu m e s t r e R. Y o h a n a ,
filho da h a u r a n i t a , comer u m p e d a ç o de p ã o seco. Seu
pai, R. Sadoc, enviou azeitonas p a r a o mestre. Esse recusou-as devido a sua u m i d a d e ; aceitou-as somente após
R. Sadoc ter-lhe g a r a n t i d o que a conservação fora feita
conforme as prescrições.
D u r a n t e esses períodos, os preços s u b i a m assustadoramente. O especulador aproveitava-se da situação de desespero: " A n u v e m [ t r a z e n d o a c h u v a ] é a desgraça dos
especuladores [literalmente: aqueles q u e fixam os preços
d o m e r c a d o ] " . O s d a d o s sobre o p r e ç o d o trigo permitem-nos confirmar o q u e foi d i t o , através de n ú m e r o s .
O texto s e g u i n t e fornece-nos o preço n o r m a l : " A u m
p o b r e , u m v a g a b u n d o , n ã o se dá menos [do ' p r a t o dos pob r e s ' que dispõe de víveres p a r a o socorro cotidiano dos
necessitados] do que um p e d a ç o de p ã o que custa u m
dupondius
(= 2 asses), [feito com trigo ou f a r i n h a ] , portanto 4 s 'ah valem 1 selá' ". Nesse caso, o indigente, o
v a g a b u n d o , recebe da caixa de beneficência u m a ração —
sem d ú v i d a cotidiana — de u m p e d a ç o de p ã o , custando
2 asses = 1/12 de d e n á r i o . Esse p ã o , pelo q u e sabemos,
é feilo com trigo ou f a r i n h a , dos quais 4 s 'ah
— aprox i m a d a m e n t e 5 2 , 5 litros p o d e m ser c o m p r a d o s por 1 sela'
= 4 denários . Nosso texto fornece-nos, pois, duas inform a ç õ e s : l , o preço do trigo ou da farinha era de 1 denário por 1 s 'ah = mais ou menos 13 litros; 2 , a quan17
1S
19
e
20
e
7]
11
y
e
9
15
16
12. Ver o e x c u r s o d e d i c a d o às c a l a m i d a d e s e m J e r u s a l é m ,
infra,
p . 197ss.
13. Ant. X V 9, 2, § 310.
14. C o n f o r m e v e m o s e m At 12,25; cf. 11,1 c o m 11,2; 11,27-28 c o m
21,10 e
passim.
15. Ant. X X 2, 5, § 5 1 .
16. Ant. I I I 15, 3, § 3 2 1 .
17. b . Yeb.
1 5 ; T o s . Sukka
I I 3 (193, 2 7 ) = T o s . 'Ed. II 2
(457, 1 3 ) , Schfatter, Tagc, 80s.
18. Gn. R. 13, 11 s o b r e G n 2, 5 ( 2 8 1 8 ) . P a l a v r a p o r p a l a v r a :
" A n u v e m q u e a n i q u i l a [sôber]
os maléficos desígnios ['êdan]
daq u e l e s q u e fixam os p r e ç o s d o m e r c a d o " . M a s , a s s i m o indica I. K a h a n ,
c o n v é m abolir t a n t o sôber c o m o 'êdan. E m a m b o s os casos, o sentido
é a q u e l e q u e i n d i c a m o s em n o s s o t e x t o .
19. Pea V I I I 7.
2 0 . S e g u n d o o cálculo d o s r a b i n o s , cf. Billerbeck, I, 2 9 1 .
2 1 . S e g u n d o Ant.
I X 4, 5, § 85, 1 o s 'ah
c o r r e s p o n d e a 1,5
moáius
itálico. O r a 1 modius
= 8,751; p o r t a n t o , 1 s 'ah
= 13,125 1
aproximadamente.
22. M. Sh. II 9 e passim.
b
b
e
e
tidade m í n i m a de p ã o necessário por u m dia equivalia a
1/12 de denãrio e representava u m a q u a n t i d a d e de trigo
de 1 3 / 1 2 — a p r o x i m a d a m e n t e 1 litro.
O cálculo dos discípulos de J e s u s
concorda com
essas informações; no relato neotestamentário (Mc 6,44),
os discípulos calculam que seria preciso gastar 2 0 0 denários p a r a fornecer pão a toda aquela m u l t i d ã o . C o n t a m ,
200
pois, p a r a cada u m
= 1/25 de denário, quer di5.000
zer, o preço normal da m e t a d e de uma ração diária. As
informações da época, fora da Palestina, c o n c o r d a m exatamente com os n ú m e r o s obtidos. Segundo C í c e r o , 12
choenix
= 1 3 . 1 2 8 litros de frumento c u s t a v a m 1 denário. De acordo com A t e n e u , a r a ç ã o diária p a r a u m hom e m era de 1 choenix = 1,094 litros de frumento. O p r e ço do trigo e a q u a n t i d a d e de p ã o necessária por dia
correspondem aos dados rabínicos.
Quais seriam os preços em tempos de calamidade pública? E m 64 a . C , u m tufão varreu toda a colheita " a ponto de o modius de trigo ser v e n d i d o por 11 d r a c m a s " .
P o r t a n t o , p o r 11 dracmas conseguia-se 8,752 litros, p o r 1
d r a c m a 0,796 litro. E m tempos c o m u n s , obtinham-se 13 litros por 1 d r a c m a . Os preços multiplicados por 16. U m litro, q u a n t i d a d e , diária necessária p a r a u m h o m e m , custava
1,25 denários (em tempo c o m u m passava, c o m o a c a b a m o s
de ver, a 1/12 de denário, p o r t a n t o , mais do que o salário
diário médio [ver acima, p . 1 5 9 ] ) .
J o s e f o fornece-nos t a m b é m os preços d u r a n t e a fome
q u e grassou sob Cláudio. " O 'issarôn valia 4 d r a c m a s " .
Ura 'issarôn
equivale a 3,94 litros; obtinham-se, p o r t a n t o ,
3,94 litros por 4 d r a c m a s , quase 1 litro por 1 d r a c m a . O s
preços se multiplicavam, pois, por 1 3 .
A cidade teve de suportar sofrimentos p a r t i c u l a r m e n t e
grandes nesses períodos de necessidades p r e m e n t e s , conseqüência de sua posição económico-geográfica desfavorável.
23
24
25
26
B. A SITUAÇÃO P O L Í T I C A
E m 6 d . C , c o m a deposição do e t n a r c a A r q u e l a u , a
Judéia p e r d e u , em proveito dos r o m a n o s , a i n d e p e n d ê n c i a
política que possuía desde a época d e j u d a s M a c a b e u
(165-161 a . C ) , em p a r t e essa p e r d a foi efetiva e em algumas ocasiões somente ilusória. Uma ú n i c a vez, antes do
d e s a p a r e c i m e n t o do Estado j u d a i c o , a história viu u m rei
dos judeus na pessoa de Agripa I (41-44 d . C ) . Em que
m e d i d a a situação política influiu na c o n d i ç ã o material
dos h a b i t a n t e s da c a p i t a l ?
2 7
28
19
lit:
23. M c 6,37; cf. Jo 6,7,10.
24. In Verren I I I 8 1 .
25. D e 1,994 1.
26. I I I 20.
27. Ant. X I V 2, 2, § 2 8 .
28. Ani. I I I 15, 3 , § 320.
29. E m N m 15,4 p a r a o 'issarôn d o T e x t o m a s s o r é t í c o , a S e t e n t a
1/10 oifí ('épah).
O r a , s e g u n d o Ant. V I I I 2, 9, § 57, u m bat
1. A s taxas
O Estado manifestou desde o início o seu poder, cob r a n d o taxas.
Sob Herodes, o Grande, recolhiam-nas de modo inflexível. Para suas imensas despesas, o rei tinha necessidade de recursos incessantemente n o v o s : " C o m o despendia muito acima de suas posses, era obrigado a mostrar-se
e m p e d e r n i d o em relação a seus s ú d i t o s " , impondo-lhes
altos impostos, no dizer de J o s e f o . Sem d ú v i d a , Herodes v i s a v a ' , a o mesmo t e m p o , desenvolver as condições
de progresso, o q u e onerava as forças econômicas do país:
segurança através de fortalezas e postos d e colonos; criaç ã o p o r esses colonos de z o n a s de progresso cultural; de30
3
(= 'épah, E z 4 5 , 1 1 ; b . Men, 7 7 ) = 72 s e x t á r i o s d e
o 'épah = 72 sextários = 39.4 1 = 3 s?'ah. Assim
b . Men. 77- e o T a r g u m d e O n q u e l o s em Ex 16,36.1
Por c o n s e g u i n t e , 1 'issarôn
= 1/10 de 'épah = 3,94
30. Ant. X V I 5, 4, § 154.
3 1 . O t l o , Herodes,
col. 93-95.
a
1
0,547 I. P o r t a n t o
também, segundo
'épah = 3 s 'ah.
1,
e
senyolvimento econômico do país pela disposição de cidades e construção de portos, pelo n ú m e r o de profissões e
a u m e n t o do c o m é r c i o , e, sobretudo, pela edificação do
T e m p l o . T o d o esse conjunto favoreceu a grandeza d o p a í s ;
d e outra forma n ã o teria p o d i d o suportar os imensos dispêndios de H e r o d e s .
32
Mesmo que se leve em conta a sua intervenção e m
favor do povo d u r a n t e a fome que se declarou pelo ano
2 5 a . C , e de algumas isenções de impostos, não temos
a i n d a o direito de considerar exageradas as queixas do
povo transmitidas a R o m a após sua m o r t e . A o lado d a s
despesas internas — o que acabamos de ver — h a v i a as
despesas no estrangeiro; eram mais consideráveis e n ã o
c o n t r i b u í a m p a r a o b e m do p o v o . O u v i m o s referências sob r e dádivas, construções utilitárias e construção de apar a t o , por vezes e m grandes d i m e n s õ e s , oferecidas às seguintes cidades e ilhas estrangeiras: ilhas de Cios, Cós,
R o d e s ; cidades de Laodicéia, Tripoli, Biblos, Beirute, Síd o n , T i r o , Ptolemaida, Ascalen; Nicópolis, O l í m p i a ; Esp a r t a , Atenas, P é r g a m o , Antioquia, D a m a s c o .
33
34
D i a n t e dessa e n u m e r a ç ã o p o d e m o s crer em J o s e f o
q u a n d o nos diz que u m insaciável orgulho constituía o
traço fundamental da personalidade do m o n a r c a ; era a
m o l a de seu c o m p o r t a m e n t o i m b u í d o d e grandeza. Os impostos e alfândegas, relativamente aceitáveis, só em fraca
m e d i d a conseguiam cobrir as despesas. As d á d i v a s — a
H e r o d e s , a seus parentes e " a m i g o s " , assim c o m o aos coletores de impostos e demais encarregados desse serviço
e a seus s u b o r d i n a d o s — a confiscação de bens e imposições extraordinárias devem ter pesado e n o r m e m e n t e sob r e o p o v o . Queixou-se esse, c o m a m a r g u r a , d o m o d o
c o m o comunas inteiras foram prejudicadas consoante pro35
36
37
32. Q u a n t o a Jerusalém, v e r supra. p p . 44s, 81s, 106s.
3 3 . O t t o , Herodes,
col. 95.
34. Md.,
col. 75-77.
35. Ant. X V I 5, 4, § 153.
36. N a o p o d e m o s r e s o l v e r a q u e s t ã o : a d m i n i s t r a ç ã o ou a r r e n d a m e n t o e s t a r i a m e m uso sob H e r o d e s ? Cf. O t t o , Herodes,
col. 97.
37. Pelo q u e se p o d e c o n c l u i r d o t e x t o a l t e r a d o d e Ani. X V I I 1 1 ,
2 § 308.
cedimentos t i r â n i c o s , da dilapidação do dinheiro de u m a
p o p u l a ç ã o sugada ao e x t r e m o . Ao m o r r e r , lemos ainda
em Josefo, Herodes deixou u m povo t o t a l m e n t e arruinad o , de m o r a l arrasada , submetido a t o d a espécie de desd i t a . Se, ao mesmo t e m p o que constatamos o volume de
suas despesas, lembrarmo-nos de q u e H e r o d e s , ao alcançar
o poder, era tão p o b r e q u e foi obrigado a derreter objetos
preciosos de seus bens pessoais p a r a ter dinheiro líquido
na m ã o , e q u e , pouco tempo depois, d i s p u n h a de tão enormes meios, podemos d a r todo crédito às queixas erguidas
contra ele.
3S
39
A0
41
42
O etnarca Arquelau
não tratou m e l h o r o seu p o v o ;
em 6 d . C , o imperador Augusto o depôs p o r causa da
sua crueldade e o exilou; seus bens pessoais foram confiscados .
Agripa í herdou de seu avô H e r o d e s o amor ao fausto " ; dono de tendências perdulárias, os lucros de seu extenso reino não lhe forneciam o n e c e s s á r i o . A seu respeito n ã o ouvimos queixas; pelo c o n t r á r i o , parece ter sido
a m a d o pelo p o v o . T u d o faz crer q u e sabia cobrir as
excessivas despesas pessoais sem sacrificar seus súditos de
m o d o desmedido; defendia-se, c o n t r a i n d o dívidas; já o fizera antes m e s m o de se t o r n a r rei, em diferentes ocasiões.
43
4
45
4fi
3 8 . B. j . I I 6, 2, § 84-91; Ant. X V I I 11, 2, § 304-310.
39. B. j . I 26, 2, § 524; II 6, 2, § 84-86.
40. B. j . I I 6, 2, § 85s. Ant. X V I I I 11, 2, § 304ss. H i l c l q u e pert e n c e a é p o c a de H e r o d e s , o G r a n d e , e d e A r q u e l a u , já e x p r e s s a r a
sua o p i n i ã o s o b r e a m a n e i r a d e e s c a p a r d a a l f â n d e g a g r a ç a s a u m
p a u o c o q u e p e r m i t e fazer o c o n t r a b a n d o (cf. Kel. X V I I , 1 6 ) . S e g u n d o
a Tosefta, R. Y o h a n a n b e n Z a k k a i q u e e n s i n a v a em Jerusalém nos
a n o s a n t e r i o r e s a 70 d . C , p r o n u n c i o u - s e i g u a l m e n t e ; fazia u m claro
a p e l o a o e n s i n o t r a d i c i o n a l (Schlatter, Joch. b. Zak., 3 0 ) . E m Kil. I X
2, discute-se a r e s p e i t o do c o n t r a b a n d o p r a t i c a d o graças a diversas
p e ç a s de r o u p a s enfiadas u m a na o u t r a ; em Ned. I I I 4 e b . Ned. 2 7 ,
fala-se d e o u t r o s p r a t i c a d o s a t r a v é s de falsas d e c l a r a ç õ e s ; ver, aliás,
Billerbeck, I, 379s.
4 1 . B. j . II 6, 2, § 87.
4 2 . O fato deve ter o c o r r i d o antes d a c o n f i s c a ç ã o q u e se processou e n t ã o {Ant. X V 1, 2, § 5 ) , s u p o n d o q u e n ã o se trate de u m a
r e p e t i ç ã o d o relato da f u n d i ç ã o de objetos preciosos p e r t e n c e n t e s ao
rei q u e se d e u mais t a r d e {Ant. X V 9, 2, § 3 0 6 ) .
4 3 . Ant. X V I I 13, 2, § 342ss; B. j . I I 7, 3, § 111.
44. Ant. X I X 7, 3, § 4 2 8 ; B. j . I I 11, 6, § 218.
45. Ant. X I X 8, 2, § 352.
4 6 . Ibid., § 349.
;
b
N u m dos casos, trata-se de u m a dívida de mais de u m
m i l h ã o de d r a c m a s de p r a t a á t i c a s . Mesmo como rei,
agiu assim p a r a obter as quantias ^ almejadas.
N o t e m p o do domínio r o m a n o ( 6 - 4 1 , 44-46 d . C ) , o
nível dos impostos manteve-se mais ou menos i n a l t e r a d o ,
isto é, subiu a 600 talentos p a r a a província da Judéia .
E m 6 6 , as autoridades de Jerusalém p e r c e b e r a m 4 0 talentos de impostos atrasados ; se se trata do imposto a n u a l
d a t o p a r q u i a de Jerusalém, seria u m a confirmação, pois é
b e m provável q u e a mais i m p o r t a n t e das onze t o p a r q u i a s
pagasse essa taxa, não incluídos os direitos alfandegários.
Tácito mostra-nos até que p o n t o o povo se ressentia do
peso das taxas: no ano 17 d . C , as províncias da Síria e
d a Judéia solicitaram uma r e d u ç ã o . D u r a n t e o cerco d e
Jerusalém, em 70 d . C , a recusa do imposto, segundo B. j .
V 9, 4 , § 4 0 5 , é a única causa da guerra. Visto dessa form a , deduzimos ser falso, mas característico do papel q u e
as taxas r e p r e s e n t a v a m . Seria a b s o l u t a m e n t e impossível
avaliar os subsídios e gratificações pagos às autoridades e
serviços administrativos. " A ninguém molesteis com extorsões; não denuncieis falsamente e contentai-vos c o m
vosso s o l d o " (Lc 3,14); tal é a exortação de João Batista
aos soldados, em sua "pregação profissional". Mateus (Mt
2 8 , 1 2 ) m e n c i o n a u m caso de corrupção entre soldados rom a n o s em Jerusalém. Por c o r r u p ç ã o ou c o m p r a , o quiliarca Cláudio Lísias, c o m a n d a n d o a praça de Jerusalém, adquiriu o direito de cidadania r o m a n a (At 2 2 , 2 8 ) . A corr u p ç ã o atingiu os postos mais elevados. Basta ver as n u m e rosas queixas relativas à venalidade dos p r o c u r a d o r e s ;
dessa censura n e m P i l a t o s
ficou isento: Félix reteve
P a u l o em Cesaréia na esperança de obter dele gratificações (At 2 4 , 2 6 ) , mas é sobretudo Josefo q u e , nesse camp o , conta-nos fatos desagradáveis.
2 . Lutas e saques
47
w
50
N a situação política confusa da é p o c a , Jerusalém teve
de sofrer p a r t i c u l a r m e n t e e n q u a n t o capital dos j u d e u s e
cidade de seu s a n t u á r i o . D u r a n t e o r e i n a d o de H e r o d e s ,
gozou de certa trégua, mas após sua m o r t e e especialmente
sob o domínio r o m a n o , as angústias da guerra reapareceram.
C. R E L I G I Ã O E CULTO
3l
52
1. A beneficência
A esmola representa g r a n d e papel na piedade judaica.
" M u i t a s esmolas, muita p a z " , ensinava Hilel. T e r compaixão do próximo é sinal que permite reconhecer a descendência de A b r a ã o . E m Jerusalém corre este d i t a d o :
" O sal da riqueza, é a prática da c a r i d a d e
(hesed)" .
N u n c a se deve s u b e s t i m a r o papel q u e a prática da
caridade representa na pregação de Jesus. " V e n d e i vossos
b e n s e d a i e s m o l a " (Lc 12,33). " Q u a l q u e r de vós q u e n ã o
r e n u n c i a r a tudo o que possui, não p o d e ser meu discíp u l o " (Lc 1 4 , 3 3 ) . Sem dúvida esses são trechos característicos de são Lucas, que a m a os pobres, no e n t a n t o , não podemos considerá-los secundários. Com efeito, a perícope
do moço rico figura nos três sinóticos . D e t u r p a m o s por
vezes essa perícope ao d a r u m a explicação errônea do
" p e r f e i t o " e d e " t e u s b e n s " (Mt: " o que possuis", M c :
" t u d o o q u e p o s s u i s " ; L c ) . Vejamos como interpretá-la:
5 3
5,1
55
M
5 7
a) É inadmissível considerar " p e r f e i t o " como designação de u m grupo p a r t i c u l a r de pessoas sem defeitos ou
47.
48.
49.
50.
51.
52.
Ani. X V I I I 6, 3-4, § 157 e 163.
Ani. X I X 8, 2, § 352.
Ani. X V I I 11, 4, § 320; B. /. II 6, 3, § 97.
B. j . II 17, 1, § 405.
TáciLo, Annal.
S c h ü r e r , I, 474, n . 96.
Fílon, Leg. ad Caium, § 302.
5 3 . P. A. U 7.
54. b . Besa 3 2 .
55. b . Ket. 6 6 bar.;
economia
baset)".
b
b
o u t r a forma,
56. M t 19,16-30; M c 10,17-31;
57. M c
10,21; M t
ibid.;
" O sal d a r i q u e z a
Lc 18,18-30.
19,21; Lc 18,22.
é a
d e pessoas q u e t e n d e m à perfeição, às quais Jesus p e d e
d e t e r m i n a d a s atitudes. Sem d ú v i d a , no e n t e n d i m e n t o helenístico " p e r f e i t o " poderia ter esse s e n t i d o , m a s , na comp r e e n s ã o d o b a i x o j u d a í s m o , perfeito é o justo que observa
fielmente a T o r á . Q u a n d o Jesus diz: "Se queres ser perfeito", não introduz, pois, n e n h u m termo n o v o ; a p e n a s
exprime, de m o d o diferente, a idéia contida em Mt 1 9 , 1 7 :
"Se queres e n t r a r p a r a a V i d a " , forma q u e retomou n a
questão do m o ç o rico (Mt 19,16). C o n s e q ü e n t e m e n t e , n a
idéia de Jesus, a utilização das riquezas com o fito de d a r
esmolas faz p a r t e do c u m p r i m e n t o dos m a n d a m e n t o s .
58
5 9
b) Se há nesse texto uma p a l a v r a cujo sentido d e v a
ser t o m a d o com prudência, é a p a l a v r a " t u d o " ; a literatura da época b e m o d e m o n s t r a .
Segundo a Mishna , deve-se dedicar ao santuário p o r
a n á t e m a , somente u m a parte das próprias riquezas; as disposições que p r e v ê e m q u a l q u e r acréscimo não são válidas.
Usa-se essa passagem como p r o v a de que t a m b é m deve haver u m limite à prática da caridade. N o século I de nossa
era, já estava em vigor a p r e s c r i ç ã o q u e proibia dispor de
mais de u m quinto da fortuna pessoal p a r a fins beneficentes.
Z a q u e u , chefe dos publícanos, p r o m e t e distribuir a m e t a d e
de seus bens em esmolas e ainda r e p a r a r os danos causados (Lc 19,8); Jesus louva-lhe o intento e declara-o bem¬
-aventurado. À expressão " v e n d e r todos os seus b e n s "
não pode, pois, ser sempre t o m a d a ao p é da letra. Esses
testemunhos mostram até o n d e , na prática, podia-se empregar os bens com fitos caritativos. Em c o n t r a p a r t i d a ,
sabemos de u m h o m e m — R. Y o h a n a n — q u e c u m p r i u
o preceito ao pé da letra: vendeu tudo o q u e possuía
como propriedades imobiliárias p a r a consagrar-se ao estudo da T o r a ; n a d a reservou p a r a manter-se na velhice .
fi0
D e v e m o s , pois, aceitar a i n t e r p r e t a ç ã o segundo a qual
" v e n d e r t u d o " não deve ser t o m a d o literalmente, mas
como expressando, de m o d o e m p o l g a n t e , a exigência da
caridade. Mesmo nesse caso, certo é q u e tal exigência representou papel considerável na p r e g a ç ã o de Jesus.
Após esse p a n o r a m a do valor da caridade na época,
vejamos agora a situação de Jerusalém e, inicialmente, a
beneficência
exercida por
particulares.
O piedoso herosolimitano q u e freqüentava o T e m p l o
e cruzava, talvez com u m m e n d i g o , paralítico de nascença,
à p o r t a do santuário c h a m a d a " P o r t a F o r m o s a " (At 3,2¬
-10), dava-lhe, e v i d e n t e m e n t e , u m a esmola. Se visse u m
p o b r e , doente ou louco, diante de sua casa, dava-lhe de
comer . N a q d e m o n b e n G o r i o n usava u m processo curioso: q u a n d o se dirigia p a r a sua escola, estendia pelo camin h o q u e percorria, m a n t a s de lã; atrás dele, os pobres
p o d i a m apanhá-las . C o n v é m t a m b é m salientar a generosidade da família real. Agripa I era tido como muito caridoso e muito louvado foi o vasto p r o g r a m a q u e Herodes pôs em prática d u r a n t e a g r a n d e fome de 25-24 (23)
a.C. N a q u e l e m o m e n t o , o rei não r e c u o u diante de sacrifícios pessoais: m a n d o u fundir todos os ornamentos em
p r a t a e o u r o de seu palácio, sem excluir peças preciosas
ou objetos de a r t e " . Conta-nos J o s e f o
as medidas tomadas por Herodes:
64
65
66
6 7
68
62
6Í
58.
ciado".
59.
60.
61.
62.
63.
1 7 8 5.
b
Ver, p o r ex., Poimandrés
I V 4, o n d e " p e r f e i t o "
significa
"ini-
Saddiq
gamúr,
cf. Billerbeck, I, 816.
'Ar. V l l l 4.
j . Pea I 1, 1 5 23 ( I I / l , 5 ) .
Makar koi mah séyyes lô, b . Pes. 4 9 b a r .
Pesiqía de Rab Kahana X X V I I I 13, ed. S. Buber, Lyck, 1868,
b
a
à) Inicialmente, após pesquisa minuciosa, distribuiu
trigo a todos aqueles q u e estavam em condições de preparar pessoalmente o seu alimento.
u
6) E n t r e t a n t o , a velhice ou q u a l q u e r enfermidade deix a v a inúmeras pessoas sem p o d e r fazer o p r ó p r i o pão.
P r o c u r o u então prover às suas necessidades, e m p r e g a n d o
p a d e i r o s " . Essa última m e d i d a apresenta, de m a n e i r a característica, a situação das zonas u r b a n a s e faz-nos logo
p e n s a r em Jerusalém.
64.
65.
66.
67.
68.
B. j . V I 5, 3 , § 307.
b . Ket. 6 6 - 6 7 b a r .
Ant. X I X 7, 3, § 328 e 330; cf. 6. 1, § 293s.
Ant. X V 9, 2, § 306.
Ibiã., § 309.
b
a
c) T o m o u , finalmente, as providências indispensáveis p a r a que a p o p u l a ç ã o pudesse atravessar o inverno
sem perigo, pois a falta de tecidos e de roupa fazia-sc
t a m b é m sentir [juntamente com a fome] ".
A q u a n t i a , digna de fé , de 8 0 . 0 0 0 kor = mais ou
menos 3 1 5 . 2 0 0 hectolitros™ de trigo, distribuídos no reino
de H e r o d e s , dá uma idéia de q u ã o amplas foram as medidas tomadas.
11
6y
O peregrino piedoso exercia a caridade d u r a n t e a sua
peregrinação; se a praticasse na própria Jerusalém, o ato
seria especialmente meritório. N ã o é por acaso que o mendigo cego de Jericó fica sentado à beira do c a m i n h o dos
peregrinos. Q u a n d o Judas afasta-se do círculo dos discípulos, após a última ceia, u m a inadvertência fê-lo crer
que Jesus encarregara-o de distribuir e s m o l a s . Q u a n d o
Paulo chega a Jerusalém para a festa de Pentecostes (At
20,16) recomendam-lhe pagar as despesas que o voto de
nazireato exige de q u a t r o cristãos de Jerusalém (At 2 1 , 2 4 ) ;
(trata-se de sacrifícios a o f e r e c e r ) . N ã o era essa u m a
forma desusada de caridade: Shimeon ben Shctah, assim
nos c o n t a m , convenceu A l e x a n d r e Janeu (103-76 a.C.) a
encarregar-se das despesas de cento e cinqüenta nazireus ;
q u a n d o atingiu o p o d e r , Agripa 1 (41-44 d.C.) " m a n d o u
b a r b e a r e cortar os cabelos de g r a n d e n ú m e r o de nazireus,
a r c a n d o com a despesa . D u r a n t e a fome que grassou entre 47 e 4 9 , a ingerência da r a i n h a Helena foi particularmente eficiente. " A o chegar a Jerusalém, a fome dizimava
a cidade e a falta de gêneros provocava a morte de inúmeros habitantes. O r d e n o u , pois, q u e fosse c o m p r a d a g r a n d e
71
72
73
74
75
q u a n t i d a d e de trigo em Alexandria; enviou outros súditos
a C h i p r e para trazerem v o l u m o s a carga d e figos s e c o s " .
Izates de A d i a b e n a interveio, igualmente, r e m e t e n d o certa
q u a n t i a em d i n h e i r o . Segundo o T a l m u d e , todo o tesouro
real teria sido e m p r e g a d o para tal fim .
E r a de uso corrente que os peregrinos praticassem
a caridade em Jerusalém. Esse h á b i t o se deduz do que
Josefo nos diz: em Jerusalém gastava-se e m beneficências
certa p a r t e do segundo dízimo e o p r o d u t o das árvores e
v i n h a s de q u a t r o a n o s . Vista essa afirmação, parece útil
mencionar o texto do Sinaiticus
e m T b 1,6-8: supõe, evid e n t e m e n t e , q u e o dízimo dos p o b r e s do terceiro e sexto
ano da semana de anos fosse distribuído em Jerusalém aos
p o b r e s , viúvas e prosélitos. E n t r e t a n t o , n ã o exclui q u e fossem em geral os pobres do lugar o n d e a pessoa residia
q u e recebessem o terceiro dízimo , na m e d i d a , é evidente,
em que tivesse sido pago.
76
77
7S
73
so
31
I n t e r m e d i á r i a entre a beneficência p r i v a d a e p ú b l i c a ,
existia a beneficência
das comunidades
religiosas. Podemos
comprová-lo, o b s e r v a n d o o q u e se p a s s a e n t r e os essênios:
em cada cidade, p o r t a n t o , em Jerusalém t a m b é m , havia
u m funcionário p a r t i c u l a r d a ordem, e n c a r r e g a d o de prover de roupas e outras coisas necessárias, os irmãos em
t r â n s i t o . C o n s t a t a m o s igualmente essa ajuda na comunidade cristã de Jerusalém. D e n t r o da c o m u n i d a d e primitiva,
vemos u m a c o m u n i d a d e d e bens
voluntária \ que se
82
83
76. Ant.
X X 2, 5, § 5 1 .
77. Ibiã., § 5 3 .
78. b . B. B. l l
b a r . É p o r e r r o q u e esse relato do T a l m u d e refere-sc a M o n o b a z e de A d i a b e n a , p o r q u e trata-se, s e g u n d o t o d a veross i m i l h a n ç a , do m e s m o fato.
79. Ant. I V 8, 19, § 227.
8 0 . V e r infra, p. . . .
8 1 . Cf. Dl 2 6 , l 2 ; 1 4 , 2 8 s .
82. B. j . II 8, 4, § 125.
8 3 . A t 2.44-45;4,^2-37;5,1-11. M u i t a s v e z e s se t e m c o n t e s t a d o essa
c o m u n h ã o de b e n s d a c o m u n i d a d e p r i m i t i v a . O s m o t i v o s i n v o c a d o s
p a r a negá-la não m e p a r e c e m c o n v i n c e n t e s , se o b s e r v a r m o s q u e os
c r i s t ã o s p e r m a n e c i a m livres d c p a r t i c i p a r o u n ã o dessa posse e m com u m . A m a n e i r a p a r t i c u l a r de salientar o e x e m p l o d e B a r n a b é (At
4.36-37), explica-se, pois, pela i m p o r t â n c i a desta pessoa. A casa. n u m a
p r o p r i e d a d e p r i v a d a (12,12-13) e r a , o b v i a m e n t e , o l u g a r c m q u e a
c o m u n i d a d e se r e u n i a . A p r e s e n ç a de p o b r e s n a c o m u n i d a d e (6,1) é
L l
69. N o fim d o século p a s s a d o , a Bélgica era o b r i g a d a a i m p o r t a r ,
a n u a l m e n t e , 6 m i l h õ e s de hectolitros de trigo p a r a a p a n i f i c a ç ã o .
70. 1 kor = 30 s"'ah = 3,94 hectolitros ( s e g u n d o Josefo, 1 kor
= 10 m e d i m n e s áticas d e 5 1 , 84 1 c a d a [ A n i . X V 9, 2, § 314; cf. F .
L ü b k e r , Reallexikon
des classischen
Aheríums,
8- ed., Leipzig, 1914,
11481)•
7 1 . M c 10,46 p a r . Lc 18,35. — M t 20,30 (cf. 9,27) fala d e dois
cegos.
72. Jo 13,29; cf. M t 26,9; Mc 14,5; Jo 12,5.
7 3 . At 21,26; cf. 24,17: " o b l a ç õ e s " .
74. S c h ü r e r , I, 279s.; Billerbeck, I I , 755s.
75. Ant. X I X 6, I, § 294.
s
f
estendia às p r o p r i e d a d e s prediais
e tornava o benefício
possível. Mesmo p a r a q u e m vê no relato dos Atos dos Apóstolos sobre essa c o m u n i d a d e de bens u n i c a m e n t e u m ideal
apresentado por u m a história, reconhecerá sem dificuldade,
a extensão dos benefícios prestados pela c o m u n i d a d e primitiva que se provia de meios na v e n d a das p r o p r i e d a d e s .
A distribuição era feita a partir de u m a central (dos Apóstolos) (At 4,37;5,2) através de colaboradores voluntários
(At 6,1-6). Temos informações mais precisas na p a r t e do
livro dos Atos relativa à instituição das sete pessoas encarregadas dos pobres (ib.). Segundo esse relato, vigorava
u m "serviço de m e s a s " (At 6,2); a c o m u n i d a d e alimentava
os que não t i n h a m recursos.
85
Para melhor c o m p r e e n d e r como se processava essa
ajuda, será útil fazer uma c o m p a r a ç ã o entre as duas instituições judaicas correspondentes: o tamhüy ( " p r a t o dos
p o b r e s " ) e a qüppah ("cesta dos p o b r e s " ) . Vejamos o q u e
distinguia u m a da outra. O tamhüy era distribuído todos
os dias aos pobres em trânsito; compunha-se de alimento
(pão, favas, frutas; n a Páscoa era acrescentado o v i n h o
prescrito). A qüppah, distribuída todas as semanas aos p o e x p l i c a d a se a c o m u n h ã o d e b e n s se e s t e n d e a p e n a s às p r o p r i e d a d e s
i m o b i l i á r i a s . — A q u e l e q u e p õ e c m d ú v i d a a existência d a c o m u n i d a d e de b e n s d e v e , a n t e s de t u d o , e x p l i c a r a o r i g e m dos r e l a t o s dos
A t o s . A l g u m a s expressões dos Atos são u m eco d o ideal c o m u n i t á r i o
helenístico ( P l a t ã o ; J a m b b l i q u e , Vida de Pitágoras;
ver E. Preuschen,
Die Apostelgeschichte,
T ü b i n g e n , 1912, 2 8 ) ; m a s n ã o b a s t a p r o v a r q u e
o a u t o r dos Atos i m p r i m i u , de si p r ó p r i o , à c o m u n i d a d e p r i m i t i v a , u m
ideal diferente. — E m p a g a , deve-se salientar q u e u m a c o m u n h ã o d e
b e n s é c o m p r e e n s í v e l se l e v a r m o s e m c o n t a três fatos, a) C o m o v i m o s
(p. 179s), Jesus exigiu, p o r diversas vezes, q u e se r e n u n c i e aos p r ó p r i o s b e n s e m favor dos p o b r e s ; b) Jesus e os discípulos d e r a m o
e x e m p l o ; v i v i a m à custa de u m a caixa c o m u m e h a v i a m a b a n d o n a d o
seus b e n s (Jo 13,29; 12,6; Mt 19,29 e p a r . ) ; c) h á t a m b é m o e x e m p l o
dos essênios q u e t i n h a m , c o m o a c o m u n i d a d e p r i m i t i v a , refeições em
c o m u m (B. j . I I 8, 5 § 129s). — At 5,1-11 é u m a p r o v a formal da
c o m u n h ã o de b e n s ; c o m efeito, o p e c a d o de A n a n i a s n ã o é o d e ter
m a n t i d o , m a s o de ter s u b t r a í d o algo de u m b e m c o n s a g r a d o a D e u s ;
cf. 5,2 ("ele s o n e g o u " ) e 5,3 (pseúdesthai
com o acusativo: "enganar";
v e r B l a s - D e b r u n n e r , Grammatik
des neutest.
Griechisch,
12" ed., G õ t tingen, 1965, § 187, 4; m e s m o em At 5,4, o v e r b o p o d e r i a ter esse
s e n t i d o , a p e s a r d e o d a t i v o ser, sem d ú v i d a a q u i , u m s e m i t i s m o (cf.
klbeí
l ).
£
84. A t . 5,4;2,45;4,32.
85. At 2 , 4 5 ; 4 , 3 4 . 3 6 - 3 7 ; 5 , l - l l .
bres d a cidade, compunha-se de alimento e r o u p a s . Concluímos, com certeza: essas instituições serviram de certo
m o d o como modelos à c o m u n i d a d e p r i m i t i v a . A distribuição cotidiana de subsídios r e m e t e ao tamhüy, como a seu
m o d e l o ; assim t a m b é m , o recebimento de víveres por pessoas domiciliadas no lugar (trata-se, antes de t u d o , das
viúvas) remete à qüppah. É possível que os auxílios aos
p o b r e s , entre os j u d e u s , só se tenha organizado em duas
direções em época mais tardia e, p r i m i t i v a m e n t e , t e n h a m
sido, como a ajuda cristã, distribuídos todos os dias tamb é m às pessoas m o r a d o r a s do lugar. É mais provável, porém, q u e , d i a r i a m e n t e , a refeição em c o m u m da comunid a d e primitiva constituísse, p o r si m e s m a , u m a distribuição cotidiana de esmolas aos m e m b r o s desfavorecidos.
8 6
Seja c o m o for, eis como p o d e m o s c o m p r e e n d e r a man u t e n ç ã o dos pobres pelos cristãos:
a) feita in natura
At 6,2);
(pelo que se d e p r e e n d e dos próprios
b) garantia e subsistência por vinte e q u a t r o
(— duas r e f e i ç õ e s ) ;
horas
87
c) p r o v a v e l m e n t e , a distribuição centralizava-se n u m
único lugar. Podemos esboçar o seguinte q u a d r o : todos os
dias os cristãos de Jerusalém se r e u n i a m n u m a c a s a ,
casa d a reunião, talvez à noite , p a r a u m a refeição que
se desenrolava n u m q u a t r o litúrgico , sob a direção dos
doze apóstolos (At 6 , 2 ; 2 , 4 2 ) . C o m os donativos recebidos
serviam os pobres — as viúvas em p r i m e i r o lugar — e
eles recebiam, ao m e s m o tempo, alimento p a r a o dia se8S
8S
w
8 6 . Pea V I I I 7; b . B. B. 8 b a r ; b . B. M. 3 8 ; T o s . B. M. I I I
9 (376, 20) (favos e f r u t o s ) ; M i s h n a Pes. X 1 ( v i n h o ) .
87. Cf. Pea V I I I 7.
88. E m At 2,46 kat' Otkon opÕe-se " a o T e m p l o " , n o sentido, de
"à c a s a " c o m o e m F m 2. Isso n ã o significa dizer " e m c a d a c a s a " ,
c o n f o r m e o d e m o n s t r a a p r e s e n ç a de t o d o s os apóstolos assim c o m o
as p a s s a g e n s d e A t 12,12-2,1-2; 1,Í5 o n d e se e n c o n t r a toda a c o m u n i d a d e
í-eunida.
89. E m At 12,12, a c o m u n i d a d e reúne-se a i n d a d u r a n t e a n o i t e
(12,6).
90. At 2,42-46; fração d o p ã o (essa e x p r e s s ã o designa a refeição
v e s p e r t i n a ; é, p r o p o s i t a d a m e n t e i m p r e c i s a , l e v a d a em conta a disciplina
do m i s t é r i o .
b
a
guinte. O s Atos cios Apóstolos descrevem assim essa festa
diária: "Eles se m o s t r a v a m assíduos ao e n s i n a m e n t o dos
apóstolos, à c o m u n h ã o fraterna [isto é: repartição dos
bens] , à fração do pão e às o r a ç õ e s " (At 2 , 4 2 ) .
Com o correr do tempo, as coletas feitas nas comunidades do exterior a u m e n t a r a m os meios da c o m u n i d a d e
primitiva p a r a a sua ação caritativa. Por ocasião da grande fome q u e grassou entre 47 e 49 d . C , fez-se, talvez pela
primeira vez, u m a coleta desse gênero em Antioquia, c o m
o fito de amenizar a situação desesperadora da comunidade de Jerusalém (At 1 1 , 2 7 - 3 0 ; 1 2 , 2 5 ) . E m seguida, repetiram-se as coletas para a Cidade santa, pelo menos u m a
vez, por ocasião da terceira viagem missionária de Pardo
d u r a n t e a qual o apóstolo organizou u m serviço de auxílios'' . A n a l i s a n d o tais coletas, K, H o l l associou à obrigação da m a n u t e n ç ã o dos " p o b r e s " , com a qual Paulo (Gl
2,10) e os apóstolos estão de acordo, a existência de u m a
taxa regular das c o m u n i d a d e s pagãs p a r a Jerusalém; é difícil, porém, aceitar que tenha razão.
9I
2
9 3
Vejamos agora qual a prática da beneficência
pública.
N ã o nos cabe descrever a legislação veterotestamentária
e rabínica no setor social. Ä guisa de i n t r o d u ç ã o , lembremos apenas as principais prescrições: a) o ano sabático,
d u r a n t e o qual se deviam anular todas as dívidas ; o uso
da cláusula c h a m a d a prosbole,
i n t r o d u z i d a por H i l e l ,
permitia escapar dessa obrigação, b) o dízimo dos pobres : no terceiro e sexto ano, o fiel devia d a r aos pobres, após ter deduzido as taxas já prescritas, u m décimo
do que restava dos produtos colhidos. A Mishna lastima
que tantas vezes esse dízimo deixe de ser pago; ao q u e
tudo indica, vêem nessa negligência a causa d a manifes94
9 5
%
9 1 . Q u e r dizer, a p r á t i c a d a c a r i d a d e (koinonía),
cf. R m 15,26;
1,5;4,14-16.
92. G a l 2,10; I C o r 16,1-4; 2Cor 8,9; R m 15,25-32; At 24,17.
93. " D e r Kirchenbegriff des P a u l u s in seinem V e r h ä l t n i s z u d e m
der U r g e m e l n d e " e m Sitzungsberichte
der Preussischen
Akademie
der
Wissenschaften,
Berlin, 1921, 920-947.
94. Ver o t r a t a d o m i s h n a i c o
Shebiit.
95. Shebiit
X 4.
96. Pea V I I I 2-9; M. Sh. V 6. 9-10; e passim. V e r infra, p . 189ss,
o p r o c e s s o do s e g u n d o d í z i m o .
Fl
tação crescente da peste cada q u a t r o e sétimo ano da semana de anos, p o r q u e sucedem o terceiro e sexto ano que
são os determinados p a r a o dízimo dos p o b r e s c ) Os
direitos regulares do c a m p o \ respiga ° , o que é deixado
(por exemplo, o feixe esquecido) " , grãos que c a e m durante a vindima
e rebusca das v i n h a s . A esse respeito
t a m b é m há queixas de q u e as prescrições não são observadas ( m a s , conforme vemos em alguns trechos, os pobres sabiam fazer valer os seus direitos.
9
9
,u
m
m
m
d) Assinalemos ainda u m a série de prescrições sociais m e n c i o n a d a s no T a l m u d e , e q u e r e m o n t a m , segundo dizem, a Josué. Dc acordo com essas disposições poderiam t a m b é m levar a pastar o gado em campos alheios,
cortar lenha nas matas de outros, ceifar q u a l q u e r pasto,
salvo nos campos de feno grego,, e pescar à vontade no
lago de G e n e s a r é .
Q u e instilLiiçÕes públicas vemos nós em Jerusalém
no c a m p o da beneficência? O que jã dissemos da manutenção dos pobres pela c o m u n i d a d e cristã primitiva levou-nos a crer na existência, dentro do j u d a í s m o , de instituições semelhantes anteriores. Com efeito, delas ouvimos falar, por e x e m p l o , a propósito de u m a questão de
direito, discutida entre H a n a n b e n A b i s h a l o m , juiz cm
Jerusalém e os sacerdotes chefes, c sobre a qual R. Yohan a n ben Z a k k a i expõe sua opinião. Ficamos sabendo que
uma m u l h e r cujo m a r i d o partiu p a r a o estrangeiro pode
pedir subsídios à c o m u n i d a d e ; deve recebê-los do "cesto
do p o b r e " (qüppah).
A M i s h n a prevê a i n d a que u m pob r e deve receber do " p r a t o dos p o b r e s " (tamhüy) os 4 copos de vinho prescritos p a r a a Páscoa, no caso de não
p o d e r obtê-los de outra maneira ; esse costume remonta,
p r o v a v e l m e n t e , à época em que se celebrava ainda a Pás104
105
106
97. P. A. V 9.
98. Pea I l s s .
99. Pea I V 10ss.
100. Pea V 7ss.
101. Pea V I I 3 .
102. Pea V I I 5s.
103. P. A. V 9.
104. b . B. Q. 8 0 - 8 1
105. Ket. X I I I 1-2.
106. Pes. X 1
b
a
bar.
coa em Jerusalém. H á uma instituição que só se e n c o n t r a
aí: a caixa de auxílio p a r a a p o b r e z a e n v e r g o n h a d a . " H a via duas salas no T e m p l o : u m a se c h a m a v a 'Sala dos silenciosos' [em o u t r a fonte: dos p e c a d o r e s ] ; a outra, ' S a l a
dos utensílios'. N a Sala dos silenciosos [ou dos p e c a d o r e s ] ,
as pessoas, temendo o p e c a d o , depositavam [suas d á d i v a s ]
em silêncio [ = secretamente] e os pobres d e b o a s famílias [ p o b r e z a e n v e r g o n h a d a ] e r a m atendidos e m segred o " . É provável que Jesus tivesse em m e n t e essa prática q u a n d o m e n c i o n o u a esmola "feita em s e g r e d o " (Mt
6,4), em oposição à c a r i d a d e p r a t i c a d a p u b l i c a m e n t e , ao
som da t r o m b e t a . Essa caixa achava-se no T e m p l o ; p o d e mos, pois, supor que outras instituições de auxílio estivessem t a m b é m n a q u e l e s a n t u á r i o , t a n t o mais que H a n a n , o
juiz há pouco m e n c i o n a d o que decide uma questão de
subsídio, fazia p a r t e dos escribas mantidos pelo T e m p l o ;
sabe-se, igualmente, q u e os sacerdotes chefes p o d i a m opinar nesses assuntos.
J07
Ligadas t a m b é m ao culto no T e m p l o e n c o n t r a m o s
certas medidas s o c i a i s . Para prestar serviços no santuário, algumas aptidões físicas tornavam-se imprescindíveis,
ficando o Sinédrio i n c u m b i d o de comprová-las . Aos sacerdotes, portadores de q u a l q u e r tara, não lhes era permitido oficiar, mas t i n h a m acesso a o s a n t u á r i o o n d e e r a m
e n c a m i n h a d o s p a r a outros t r a b a l h o s . I n c u m b i a m - n o s , por'
exemplo, de, na sala nordeste do átrio das mulheres, separarem a madeira bichada
d a m a d e i r a sã. R a b i T a r f o n i
viu seu tio, m a n c o de u m a p e r n a , soar a trombeta, c o m o
sacerdote, no adro , e assim fazia n u m a festa das T e n das . Nesses serviços, os sacerdotes em questão t i n h a m
direito a u m salário correspondente a sua origem, isto é,
conforme sua p e r t e n ç a à família sacerdotal, revezando-se
no serviço . Para os pobres, o culto concedia, em casos
determinados, algumas atenuantes i m p o r t a n t e s . Por exemI08
109
110
m
112
m
107. Sheq.
108.
109.
110.
111.
112.
113.
V 6.
Ver supra, p . 23s ( o p e r á r i o s d o T e m p l o ) .
Mid. V 4.
Mid. II 5.
j . Yoma I 1, 3 8 32 ( I I I / 2 , 165).
T o s . Sota V I I 16 (308, 8 ) .
B. j . V 5 , 7 , § 2 2 8 .
d
pio, n o caso dos sacrifícios pelo p e c a d o , em lugar de u m a
ovelha podia oferecer duas rolas, e na c o n d i ç ã o de pobreza extrema, até m e s m o u m a oferenda a l i m e n t a r . As
pessoas p o d i a m t a m b é m colocar seu d i n h e i r o em lugar seguro, no T e m p l o ; conta-se que as viúvas e órfãos serviam-se dessa possibilidade (2Mc 3,10).
C o n v é m m e n c i o n a r a i n d a u m a m e d i d a social q u e ,
p r i m i t i v a m e n t e , dizia respeito apenas a Jerusalém. Trata¬
-se da situação da viúva. E m Jerusalém, era costume prever, por testamento, q u e continuaria a m o r a r na casa de
seu m a r i d o d u r a n t e a viuvez, e viver dos bens p o r ele deixados. Tal m e d i d a tornou-se u m direito p a r a a viúva israelita; poderia desfrutá-lo mesmo q u e não existisse u m a
disposição testamentária expressa .
114
li5
116
2. O m o v i m e n t o de peregrinos
como fonte de rendas
Poderíamos obter u m a imagem aproximativa das despesas dos peregrinos se pudéssemos d e m o n s t r a r a sua real
observância das prescrições segundo as quais, conforme a
interpretação rabínica de alguma passagens da Lei mosaica, cada israelita estaria obrigado a gastar em Jerusalém sua p a r t e da renda a n u a l . Trata-se do segundo dízim o , do dízimo do gado e dos p r o d u t o s das árvores e das
vinhas de q u a t r o anos .
Existia u m a diferença entre as disposições da Lei relativas aos dízimos dos p r o d u t o s do solo e dos frutos destinados aos funcionários do culto . Essa diferença levou
a exegese a aí e n c o n t r a r a prescrição d e doís dízimos: u m
primeiro, de d o a ç ã o obrigatória, e u m segundo que o proprietário deveria gastar em Jerusalém. Se n ã o quisessem
levar esse segundo dízimo in natura, p o d e r i a m trocá-lo por
w
l l s
114. Lv 5,7-13; Ant. I I I 9, 3, § 230.
115. 2 M c 3,4-6.10-15; 4 Mac. I V 1-3.7; B. j . V I 5, 2, § 282. A i n d a
e m nossos dias, n a P a l e s t i n a , usam-se os s a n t u á r i o s c o m o lugares seg u r o s p a r a d e p ó s i t o s . E m 1914, vi n o t ú m u l o de u m s a n t o
(weli)
grandes moedas empilhadas.
116. Kel. I V 12.
117. I n d i c a ç ã o dos textos e bibliografia e m S c h ü r e r , I I , 306, n . 22
n? 1-3.
118. N m 18,20-32 e Lv 27,30-31; D t 14,22-26.
dinheiro, m a s nesse caso, a pessoa via-se o b r i g a d a a acrescentar-lhe u m q u a r t o se não usasse de algum estratagema,
exposto na M i s h n a , p a r a eximir-se d e tal a c r é s c i m o . D e
qualquer m o d o , era proibido gastar o segundo dízimo noutro lugar q u e n ã o a c i d a d e santa. O t r a t a d o m í s h n i c o
Ma'aser sem "segundo d í z i m o " expõe todas as questões
q u e se levantam sobre o assunto.
As prescrições sobre o segundo dízimo p a s s a r a m por
diversos processos evolutivos. O mais antigo t e s t e m u n h o
de u m segundo dízimo ao lado daquele que se era obrigado a d a r aos funcionários d o culto, encontra-se n a Setenta, em Dt 2 6 , 1 2 , o livro dos jubileus
X X X I I , 8-14 e
T b 1,6-8 °, segundo a mais antiga das d u a s recensões
existentes, a do Sinaiticus
. De acordo com essa mais anm
l2
121
tiga concepção, as pessoas deviam, no terceiro e no sexto
ano da semana de anos, transformar o segundo dízimo
n u m dízimo p a r a os pobres . Por conseguinte, deviam
somente pagá-lo no p r i m e i r o , segundo, q u a r t o e q u i n t o
ano da semana de anos ; no sétimo ano o solo deveria
ficar totalmente de pousio.
E n c o n t r a m o s o u t r a interpretação na forma de texto
mais recente {Alexandrinus-Vaticanus)
da passagem de Tobias há pouco citada, texto que fala de três dízimos. C o m o
fosefo explica , considerava-se como taxa a u t ô n o m a o
dízimo para os pobres do terceiro e sexto ano. Além do
mais, o segundo dízimo devia ser p a g o nos seis primeiros
anos da semana de anos. E m c o n t r a p a r t i d a , a literatura
rabínica
parece defender a antiga m o d a l i d a d e , isto é, a
transformação, no terceiro e sexto a n o , do segundo dízimo
em dízimo p a r a os pobres. (Para Fílon , enfim, o segundo dízimo é uma taxa destinada aos sacerdotes, e n q u a n t o
o primeiro dízimo destina-se ¿tos levitas). Essas profundas
m u d a n ç a s já p e r m i t e m , por si mesmas, d u v i d a r de que o
segundo dízimo tenha sido u m costume religioso praticado
de m o d o geral. Tais dúvidas se reforçam pelo fato de u m
122
123
m
m
m
119. M. Sh. I V 4-5.
120. O livro dos jubileus
dafa dc 100 a . C , a p r o x i m a d a m e n t e (cf.
O . Eissfeldt, Einleilimg
in das Alie Testaivent,
3 ed., T ü b i n g e n , 1964,
8 2 4 ) , o de T o b i a s é, s e g u r a m e n t e , p r é - m a c a b a i c o (o.c.
793).
121. T b 1,6-8. C o m p r o v a n d o a a n t e r i o r i d a d e , q u a n t o ao livro de
T o b i a s , do Sinaiticus
cm relação ao Alexandrinus-Vaticanus,
Schürcr,
I I I . 2 4 3 , i n v o c a , com m o t i v o justo, dois fatos: p a r a Sin.. o d í z i m o do
g a d o em 1,6 é a i n d a u m a taxa d a d a aos s a c e r d o t e s , o q u e Alex.
refuta,
c o n f o r m e a p r e s c r i ç ã o p o s t e r i o r ; e m c o n t r a p a r t i d a , em Alex.
o estilo
foi b u r i l a d o . U m e x a m e mais a c u r a d o de T b 1,6-8 c o n f i r m a a m a i o r
a n t i g u i d a d e d e Sin.:
J
Alexandrinus-V
Sinaiticus
" Apressava-mc em ir a Jerusalém
com as p r i m í c i a s , os p r i m o g ê n i t o s
dos a n i m a i s , os d í z i m o s do g a d o e a
primeira t o n s u r a das ovelhas
e
oferecia-os a o s s a c e r d o t e s , filhos d e
A a r ã o [que oficiam] no altar.
E o dízimo d o trigo, d o v i n h o ,
d o ó l e o , das r o m ã s , dos figos e
outras frutas, dava-os aos filhos de
Levi q u e se d e d i c a v a m ao serviço
do altar cm J e r u s a l é m .
O s e g u n d o d í z i m o , eu o c o n v e r t i a
em d i n h e i r o seis a n o s s e g u i d o s e ia
gastá-lo e m Jerusalém todo a n o
e eu o d a v a aos órfãos e às
v i ú v a s e levava-os aos prosélitos q u e
se u n i r a m aos israelitas e eu lhes
dava n o terceiro a n o e o comíamos
s e g u n d o as prescrições.
b
7
s
alicanus
"
E u ia a J e r u s a l é m c o m as
primícias e
os d í z i m o s dos p r o d u t o s c o l h i d o s e a
p r i m e i r a de t o d a s as o v e l h a s e eu
os d a v a aos s a c e r d o t e s , filhos de
A a r ã o [que oficiam] no a l t a r .
E de lodos os p r o d u t o s c o l h i d o s
eu d a v a o d í z i m o
•os
filhos de Levi q u e se d e d i c a m ao
serviço e m J e r u s a l é m .
O s e g u n d o d í z i m o , eu o v e n d i a
e
ia gastá-lo e m J e r u s a l é m
todo ano.
E o terceiro d í z i m o eu o d a v a
àqueles a q u e m se d e s t i n a v a " .
b
7
8
Sanh. a p r e s e n t a u m s e n t i d o c l a r o : os versículos 6-7 a citam as taxas
d e v i d a s aos s a c e r d o t e s ; 7b, a dos levitas; 7 c-8, as o u t r a s p r e s t a ç õ e s .
E m c o n t r a p a r t i d a , Alax.-Vat.
n ã o e x p õ e u m s e n t i d o c l a r o : A) E m
6-7 a, a p e s a r da c o n c l u s ã o " e u os d a v a aos s a c e r d o t e s " , as taxas
p a r a esses s a c e r d o t e s n ã o foram c i t a d a s . P o r q u e , e n t r e as primícias e
o p r o d u t o d a t o s q u i a das o v e l h a s oferecidas aos s a c e r d o t e s , figuram
"os d í z i m o s dos p r o d u t o s c o l h i d o s " . Já q u e , n a c o n t i n u a ç ã o ,
Alex-Vat.
cita o dízimo p a r a os levitas, o s e g u n d o e o terceiro d í z i m o s n ã o se p o d e
tratar de o u t r o d í z i m o dos p r o d u t o s colhidos a ser d a d o s aos sacerdotes.
B) E m 6, trata-se, a n t e s , do c o n j u n t o das t a x a s q u e T o b i a s traz a Jer u s a l é m . A c o n c l u s ã o , e m 7 a ("eu as d a v a aos s a c e r d o t e s " ) não t e m
s e n t i d o . C) Eis a e x p l i c a ç ã o desse fato. Alex-Vat.
queria suprimir o
d í z i m o do g a d o , c i t a d o c m Sanh., c o m o taxa p a r a os sacerdotes. Por
esse m o t i v o , e m lugar de " o dízimo d o g a d o " ( o n d e o p l u r a l é filol ó g i c a m e n t e admissível) ele pôs de m a n e i r a m a q u i n a i "os dízimos dos
p r o d u t o s c o l h i d o s " ( e m b o r a n e m o singular n e m o plural p a r a o díz i m o dos p r o d u t o s colhidos c o n c o r d e m c o m o c o n t e x t o ) . N o livro de
T o b i a s , Shan, é, p o i s , o texto mais a n t i g o .
122. Remete-se a Dt 14,28-29;26,12.
123. O livro jubileus
é t a m b é m dessa o p i n i ã o ; isso se conclui d a
é p o c a em q u e foi redigido e d o fato de só c o n h e c e r dois dízimos.
124. Ant.
IV 8, 22, § 240.
125. M. Sh. V 9.
126. Ver supra, p . 153, n . 90.
t r a t a d o inteiro da M i s h n a , o t r a t a d o D may,
determinar
o que deve ser feito dos produtos colhidos dos q u a i s n ã o
se sabe se o p r o d u t o r pagou o previsto p a r a os sacerdotes e o segundo dízimo.
Primitivamente, o dízimo sobre o gado t a m b é m fazia
p a r t e das taxas destinadas aos funcionários do culto .
A literatura rabínica o inclui no n ú m e r o das taxas que o
proprietário deve consumir em Jerusalém. Com efeito, seg u n d o a M i s h n a , podia-se, no caso de animais p u r o s , deixar de pagá-la , mas era preciso levá-la in natura a Jerusalém; lá estrangulavam-se os animais em sacrifício de
c o m u n h ã o (com a única diferença de que se omitia a imposição das mãos) , e o p r o p r i e t á r i o podia consumi-las
após ter d a d o aos sacerdotes as partes q u e lhes c a b i a m .
As próprias prescrições relativas ao dízimo do g a d o passaram por muitas m u d a n ç a s , conforme no-lo mostra a lista
seguinte :
e
As variantes d i z e m respeito s o b r e t u d o às relações entre o dízimo do gado e o p r i m e i r o e segundo dízimos.
Levando em conta o silêncio de Josefo, chegamos a u m a
conclusão: é difícil que essa taxa do dízimo do gado t e n h a
sido efetivamente q u i t a d a .
131
i27
i2B
m
130
Dízimo
do gado
Tobias (Siri) . . . .
Tobias {Alex) . . .
Livro dos Jubileus
Josefo
Talmude
Fílon
sacerdotes
sacerdotes
proprietário
sacerdotes
Primeiro
dízimo
Dízimo
(dos
produtos
colhidos)
Segundo
dízimo
Dízimo
(dos
produtos
colhidos)
levitas
levitas
sacerdotes
sacerdotes
sacerdotes
levitas (lev.)
proprietário
proprietário
proprietário
proprietário
proprietário
sacerdotes
127. C o n c l u s ã o e x t r a í d a d e Lv 27,32-33.
128. M. Sh. I 2.
129. Hag. I 4; Zeb. V 8: " S a n t i d a d e m é d i a " designa o d í z i m o
do g a d o .
130. T b 1,6-8; — Jubileus
X X X H 15, cf. 2. 8 ; X I I I 26; — Bek.
I X 1-8 e passim; -— q u a n t o a Fílon, ver supra, p . 153, n. 190. T e m o s
p o u c o o q u e a p r o v e i t a r das i n f o r m a ç õ e s d e Fílon; c o m efeito, ele n ã o
descreve a situação real, m a s e x p r i m e , ao q u e p a r e c e , s u a s p r ó p r i a s
idéias a r e s p e i t o das prescrições da Lei.
D e acordo com a Lei (Lv 19,23-25), não se devia
colher fruto das árvores e das vinhas nos três primeiros
anos; o q u a r t o ano seria consagrado a D e u s . Fílon repete
simplesmente esta prescrição . Segundo o livro dos jubileus devia-se depositar sobre o altar u m a parte da colheita
d o q u a r t o a n o e d a r a o u t r a aos funcionários d o culto .
Por outro lado, Josefo
e a Mishna
estão de acordo
em concluir que o proprietário devia gastar o equivalente
dessa colheita do q u a r t o a n o , em Jerusalém.
132
133
134
135
Expressamos dúvidas sobre a o b s e r v a ç ã o geral dessas prescrições. E n t r e t a n t o , i n ú m e r o s círculos deviam observá-las q u a n t o ao segundo dízimo e às rendas do q u a r t o
a n o : essa conclusão ressalta das d u a s informações seguintes q u e conservaram, visivelmente, alguns elementos históricos: " m o e d a s e n c o n t r a d a s diante de [lojas dos] comerciantes de gado são sempre consideradas como dinheiro
do dízimo; [se o e n c o n t r a r e m ] em Jerusalém, na h o r a d e
u m a festa, é dinheiro do dízimo; e m outras ocasiões, trata-se de dinheiro p r o f a n o " . P o r t a n t o , em Jerusalém, qualquer dinheiro e n c o n t r a d o p o r ocasião de u m a festa, passava por dízimo. Mas o primeiro dízimo era d a d o , n a
h o r a , aos sacerdotes d o local , in natura
. O r a , trata-se
aqui de u m dízimo trazido p a r a Jerusalém, sobretudo e m
período de festa, e transformado e m dinheiro; só pode
ser o segundo dízimo. A isso c o r r e s p o n d e o fato de que
m
13T
J3S
131. P o d e i g u a l m e n t e valer p a r a o p e r í o d o mais antigo, I . Benzin¬
ger, Hebräische
Archäologie
2? ed., T ü b i n g e n , 1907, 385 o p i n a q u e o
d í z i m o do g a d o , c o m o s u b v e n ç ã o p a r a os f u n c i o n a r i o s do culto e r a ,
" c o m efeito, s i m p l e s m e n t e i m p r a t i c á v e l " .
132. De virt., § 159.
133. Jubileus
V I I 36.
134. Am. I V 8, 19, § 227.
135. Pea V I I 7; M. Sh. V 1-5; o t r a t a d o 'Orla inteiro,
136. Sheq. V I I 2 .
137. Vita 12, § 6 3 ; 15 § 80.
138. Ant. X X 8, 8, § 1 8 1 ; 9, 2, § 206.
7 - Jerusalém
no tempo de J e s u s
se trata de dinheiro utilizado em p r i m e i r o l u g a r
na
c o m p r a de gado. A outra indicação é u m p o r m e n o r fornecido por R a b b a n Shiméon b e n Gamaliel ( I I ) : distribuíam¬
-se em Jerusalém as colheitas do q u a r t o ano aos vizinhos,
parentes e conhecidos " p a r a decorar os bazares de Jerusal é m " , a fim de que u m a oferta de aparência ostensiva
em p r o d u t o s colhidos fizesse baixar os p r e ç o s .
Podemos, p o r t a n t o , dizer que as prescrições em questão c o n t r i b u í r a m p a r a a u m e n t a r a importância do movim e n t o de peregrinos como fonte de renda p a r a Jerusalém.
1 3 9
Excurso I
A historicidade de Mateus 27,7
l4l)
141
3 . Lucros tributados à cidade pelo culto
O culto constituía a principal fonte de r e n d a p a r a
a cidade. G a r a n t i a o meio de vida da n o b r e z a sacerdotal,
dos sacerdotes e dos funcionários do T e m p l o . As enormes
despesas do tesouro do s a n t u á r i o (basta lembrar a sua reconstrução) e o que os piedosos fiéis d a v a m p a r a o culto
(sacrifícios, presentes) p r o p o r c i o n a v a m diferentes possibilidades de benefícios às profissões e ao comércio da cidade.
Para terminar, vejamos a característica de Jerusalém
q u a n t o a situação financeira dos h a b i t a n t e s :
a) n a g r a n d e parte da população que vive de caridade;
b) na tensão resultante das oposições sociais
essas c a m a d a s pobres de u m lado, a presença da
e a nobreza sacerdotal de o u t r o ;
entre
corte
c) no fato de a cidade dever à i m p o r t â n c i a religiosa
sua p r o s p e r i d a d e .
139. O d i n h e i r o e n c o n t r a d o a q u a l q u e r m o m e n t o do a n o , p r ó x i m o aos c o m e r c i a n t e s de g a d o era c o n s i d e r a d o c o m o d i n h e i r o d o dízimo, isso deve, p o i s , e x p r e s s a r a " p o s s i b i l i d a d e m a i s e s t r i t a " . C o m
efeito, é s u m a m e n t e viável q u e , m e s m o nesse caso, se cogitasse d o
d i n h e i r o do s e g u n d o d í z i m o .
140. T o s . M. Sh. V 14 (96, 1 0 ) ; b . Besa 5 ; b . R. H. 3 1 .
141. R. S h i m e o n b e n Y o h a i é d e o p i n i ã o d i f e r e n t e ; m a s essa
o p i n i ã o só c o n c e r n e à q u e s t ã o seguinte: deve-se levar a f e r u s a l é m os
p r o d u t o s c o l h i d o s in natura ou s u a e q u i v a l ê n c i a e m d i n h e i r o ?
a
b
Os chefes dos sacerdotes compraram o campo de um
oleiro com o preço da traição de Judas. Esse dado parece-nos
duvidoso. Com efeito:
1. talvez resulte da passagem de Zc 11,13 considerada
como uma profecia: "E tomei trinta siclos de prata e lancei¬
-os na Casa de Iahweh, ao oleiro" (texto massor);
2. esse dado só é encontrado em Mt (segundo At 1,18¬
-19); o próprio Judas teria comprado o campo.
Não podemos deixar de citar quatro grupos de fatores.
a) A indicação segundo a qual Judas traz o dinheiro para
o santuário, passa erroneamente por ter sido tomada da profecia. Esse texto é explicado da seguinte maneira: Mt procura levar em consideração tanto o yôser do texto massorético de Zc
11,13 ("e lancei-os na Casa de Iahweh, ao oleiro") quanto do
ensinamento 'ôsar admitido pela tradução siríaca do Antigo
Testamento ( — tesouro; "e lancei-os na Casa de Iahweh, no
tesouro"); por esse motivo, Mt chama o campo "campo do
oleiro" (Mt 27,7) e traz Judas ao Templo para que ele traga
o dinheiro no intento de fazê-lo chegar ao tesouro do Templo,
conforme podemos deduzir de Mt 27,6. Portanto, concluímos
nós, nem a qualificação do campo como campo do oleiro, nem
a passagem segundo a qual Judas traz dinheiro ao Templo
poderiam ser dados históricos.
Essa explicação supõe que o mesmo homem que atribui
a citação a Jeremias em vez de a Zacarias (Mt 27,9) possui
conhecimentos de crítica textual sem impor-se, porém. Parece
mais provável que Mt tenha lido yôser com o texto massorético, conforme o demonstra 27,10; o fato de Judas levar o
dinheiro ao Templo é decorrente do costume e, sem dúvida,
histórico.
A Mishna descrevemos um hábito já em uso antes do
tempo de Jesus. Em certos casos, aquele que possuía primitivamente o dinheiro, evitava retomá-lo; traziam então a quantia
ao Templo e ela podia, assim, anular a compra. 'Ar. IX 4: se
alguém deseja fazer uso de seu direito de recuperar a casa
vendida, dentro de doze meses, e se, para impedi-lo o com-
prador se esconde, deve, segundo Hilel, o Ancião, lançar o
dinheiro na sala do tesouro do Templo. O comprador pode,
se o desejar, vir buscar seu dinheiro. É provável que tenha
acontecido caso análogo, baseando-nos em Mt 27,5; Judas traz
o dinheiro ao Templo, não com o intuito de fazê-lo chegar ao
tesouro do santuário, mas para anular uma transação já efetuada; nesse caso, com efeito, não se traía de uma casa, como
na passagem da Misfina citada há pouco, mas da própria pessoa de Jesus que foi comprada. O processo é o seguinte: o
comprador, chefe dos sacerdotes e anciãos, isto é, o Sinédrio
(Mt 27,3), recusa retomar o dinheiro. Judas o traz ao Templo
para assim anular a compra. No Templo, considera-se o dinheiro como um bem abandonado; os chefes dos sacerdotes
têm competência para decidir sobre seu uso (Mt 27,6). Convém observar o seguinte: Mt 27,3 refere-se aos sumos sacerdotes como membros do Sinédrio; 27,6, porém, menciona-os
em sua missão específica, como corpo administrativo do Templo. Chegamos, pois, à seguinte conclusão: o trecho, segundo
o qual Judas traz o dinheiro ao Templo não é condicionado
pela profecia; justifica o fato de, na citação de Mt 27,9-10,
não haver referência ao Templo.
b) Os sumos sacerdotes, com escrúpulo de depositar o
dinheiro no tesouro do Templo, decidem comprar com aquela
quantia um cemitério para o sepultamento dos estrangeiros
(isto é, dos peregrinos); essa passagem é, igualmente, digna
de fé. Conforme reza o Talmude, os bens adquiridos de maneira ilegal ou não pertencendo a ninguém (por exemplo, objeto roubado cujo dono não se consegue mais encontrar) não
eram colocados no tesouro do Templo; utilizavam-nos para
as necessidades públicas (decantação da água de Jerusalém,
por exemplo) .
c) O campo custou 120 denários ; é o preço médio
avaliado para as terras. Em 'Ar. VIII 1, há uma exceção, mas
trata-se de um exemplo de casuística: o preço do campo é de
um asse — 1/14 de denãrio . 'Ar. IX 2 menciona 1 e 2 minas, isto é, 100 e 200 denários; 'Ar. VIII 2 fala de um campo
pelo qual oferecem 10, 20, 30, 40, 50 seqel, de 4 denários
cada u m , quer dizer, 40, 80, 120, 160, 200 denários. O prem
ço médio de um campo é, portanto, de 120 denários, aproximadamente.
d) Não foi a profecia que levou a chamar o campo Hakeldama (At 1,19; cf. Mt 27,8), e sua utilização como lugar
de sepultamento para os estrangeiros. Realmente; o nome Hakeldama, então de emprego geral para o campo significava,
primitivamente, "cemitério"; se assim é, podemos concluir que,
na verdade, a administração do Templo o utilizava para os
sepultamentos.
Por conseguinte, considero perfeitamente plausível que
Judas tenha trazido a quantia de dinheiro ao Templo para
anular a compra, e que a administração daquele santuário tenha utilizado esse dinheiro para adquirir um cemitério. Em
seguida, alguns aspectos foram determinados pelo texto de Zc
11,13, visto como uma profecia: a designação do campo como
um campo do oleiro, quando o nome mais corrente era o de
Hakeldama; sua localização pela tradição no vale do Hinom,
localização que talvez tenha a sua origem numa fusão da passagem de Zacarias com os textos de Jeremias (Jr 19,1-2; 18,
2-3). No que diz respeito ao preço da traição, nenhum juízo
é possível.
Excurso I I
As calamidades em Jerusalém
m
144
145
142. b . Besa 2 9 bar.; b . B. Q . 9 4 ; e t a m b é m Billerbeck, I , 37
s o b r e D t 23,19.
143. Ver supra, p . 171, n . 6.
144. Billerbeck, 1, 2 9 1 ; q u a n t o a essa q u a n t i a , tinha-se 2 (Mt 10,
29 ou 2,5 (Lc 12,6) a v e z i n h a s !
145. E m 'Ar. I I I 3, u m seqel d o A n t . T e s t . v a l e 1 sela' = 4
denários.
a
b
A exposição seguinte abrange o período de 169 a.C. (primeira tomada de Jerusalém por Antíoco Epifanes) a 70 d.C.
(destruição de Jerusalém); exclui os casos que concernem unicamente aos eventos militares.
1. Na época de Antíoco V Eupator, Jerusalém foi assediada (163 a . C ) ; os campos estavam de pousio, pois era o
ano sabático (164-163), o que agravou a situação de fome.
Os assediados foram os que mais sofreram, porque as provisões da cidade esgotaram-se logo, mas os sitiadores não foram
menos poupados .
14fi
146. Ant.
XII
9, 5, § 3 7 8 ; cf.
lMc
6,49.53-54.
2. Uma seca violenta ocorreu algum tempo antes de 65
a.C. (antes que Hircano II e Aretas, rei dos árabes tivessem
assediado Aristóbulo II no Templo). Um homem piedoso, Onias,
obteve, graças às suas orações, a chuva tão ardentemente desejada . Trata-se, com certeza, do mesmo fato narrado pela
literatura rabínica: passado o semi-adar (início de março) que
marca, geralmente, o fim do período das chuvas, não havia
ainda caído uma gota de água; foi então que a oração de
Honi, o "fazedor de círculos" atraiu a chuva. A eficácia da
oração foi tão grande, assim contam, que o povo se viu obrigado a refugiar-se na esplanada do Templo, porque o aguaceiro provocou enorme inundação. Vemos, pois, que o fato
se deu em Jerusalém .
w
148
e a vontade de viver aos que restavam, pois não encontravam
meios para combater o mal. c) A segunda colheita foi também
muito fraca . d) Havia também falta de roupas porque os rebanhos foram dizimados ou transformados em alimento; a lã
deixou, pois, de existir, assim como outras matérias necessárias
à tecelagem" .
>5i
154
8. Sob o imperador Cláudio (24 de janeiro 41-13 de outubro 54) houve outra grande fome na Palestina. O vasto noticiário consagrado a esse fato permite-nos avaliar a sua amplitude.
a) Grassava violenta fome em Jerusalém quando Helena
de Adiabena ali foi em peregrinação \ Temos informações mais
precisas de sua data em Ant. XX 5, 2, § J 0 1 : a menção desse
período desastroso é introduzida por epi toútois . Se esse epí
toútois for tomado como um masculino conforme pede a tradução latina e, como tal, adapta-se ao contexto, significa que a
fome ocorreu sob os dois procuradores Cúspio Fado e Tibério
Alexandre. Se, pelo contrário, tomarmos este epi toútois como
um neutro, será preciso situar o período da fome somente durante a procuradoria de Tibério Alexandre; é assim que compreendo o Abrégé (Epiíomé) des Antiquités judaiques e pode
ser que seja esse o único sentido exato. Por questão lingüística,
Josefo, para as datas, emprega sempre epi com o genitivo e
nunca com o dativo. De qualquer modo, a fome ocorreu sob
Tibério Alexandre.
Eis o que sabemos a respeito da data da procuradoria
desses dois homens. Cúspio Fado tomou posse de suas funções
após a morte de Agripa I, portanto, após a Páscoa do ano 44
de nossa e r a ; um edito do ano 45 deixa supor que ainda
ocupava o cargo nessa data . Só conhecemos de maneira aproximada a data do fim da procuradoria de Tibério Alexandre.
Sua deposição é contada imediatamente antes da morte do rei
Herodes de Caleis que ocorreu no 8? ano (24 de janeiro 48-24
de janeiro 49) do governo de Cláudio; temos, portanto, de situar essa deposição no ano 48 . Por conseguinte, a mudança
15
m
3. Depois da Páscoa de 64 a . C , um tufão destruiu as
colheitas em todo o p a í s .
l49
4. O cerco de Jerusalém por
ceu no ano sabático de 38-37; a
na cidade. Os próprios invasores
seus adversários haviam saqueado
Herodes em 37 a.C. acontefome grassou com violência
sofreram a penúria, porque
toda a redondeza .
!50
5. No 7" ano de Herodes (contando a partir da tomada
de Jerusalém em 37 e não de sua investidura à realeza em
40 a . C ) , um tremor de terra matou, no campo, grande quantidade de r e s e s .
1M
6. Após a morte da rainha Mariana, em 29 a . C ,
peste assolou o p a í s .
uma
152
7. Outra grande fome grassou no 13? ano de Herodes e
foi particularmente devastadora. Processou-se por etapas:
a) Começou com uma seca persistente que tornou o país
improdutivo e nele planta alguma brotava, b) A falta de gêneros
acarretou uma transformação nas condições de vida; como conseqüência, diversas enfermidades e uma epidemia se espalharam. Os infortúnios se agravaram reciprocamente porque a falta
de cuidados e de alimentos fez piorar as más condições de
saúde e a enfermidade, espécie de peste, matava violentamente.
A morte daqueles que eram atingidos por ela, tirava a alegria
147.
148.
149.
150.
151.
152.
Ant.
Ta'an.
Ant.
Ant.
B. /',
Ant.
X I V 2, 1, § 22,
I l l 8; b . Ta'an. 2 3 b a r .
X I V 2, 2, § 2 8 .
X I V 16, 2, § 4 7 1 ; X V 1, 2, § 7; B. /". I
I 19, 3 , § 370s; Ant. X V 5, 2, § 121.
X V 7, 7, § 2 4 3 .
a
18, 1, § 347.
1S7
I58
159
153. Ibiã. 9, 1, § 299s.
154. Ibid. 9, 2, § 310.
155. Ant. X X 2, 5, § 5 1 .
156. I n f o r m a ç ã o de t o d o s os m s s ; igual referência e m E u s é b i o ,
Hist. eccl. I I 12, 1 q u e cita a p a s s a g e m , e n a t r a d u ç ã o l a t i n a :
horum
temporibus;
e n c o n t r a m o s o singular s o m e n t e n o Abrégé
(Epiíomé)
des
Antiquités
judaiques,
ed. B. N i e s e , Berlin, 1896, 352.
157. Ibid. 1, 1, § l s .
158. Ibid. 1, 2, § 14.
159. Ibid. 5, 2, § 103s.
de procurador aconteceu em 46 ou 47, e a fome sobreveio entre
46 e 48.
b) Em Ant. III, 15, 3, § 320, há menção de uma fome
que se propagou no tempo de Cláudio (24 de janeiro 48-13 de
outubro 54) e do sumo sacerdote Ishmael: atingiu especialmente
a cidade de Jerusalém. De que fome se trata? A resposta depende do pontificado do sumo sacerdote Ishmael. De início,
poderíamos situar este pontificado posteriormente a 54; com
efeito, Josefo narra a instalação de Ishmael somente após o
advento de Nero , sucessor de Cláudio em 54. Não precisamos, porém, dar maior importância a essa ordem do relato,
pois, em Ant. XX 7, 1-8, 4, § 137ss, Josefo descreve primeiramente, de maneira conjunta, a história familiar dos descendentes de Herodes e os acontecimentos de Roma, antes de se
voltar para a situação na Palestina. Em contrapartida, um fato
é certo: Ishmael foi entronizado antes da nomeação de Pórcio
Festo como governador da Judeia , portanto, no tempo do
governador Antonio Félix. Foi após a revogação de Ventídio
Cumano , no fim de 52 d . C , que Antonio Félix tornou-se
governador da província da Judéia . Anteriormente, apenas
administrara a província de Samaria , enquanto a província
da Judéia, como a Galileia, estava submetida a C u m a n o .
As informações de Josefo confirmam a data de fins de 52 para
a nomeação de Antonio Félix como governador da Judéia: a
ampliação do território de Agripa II no início de 53 foi posterior à nomeação de Félix . Vemos, porém, através de At
23,2;24-l que Ananias, predecessor do sumo sacerdote Ishmael,
ocupava ainda o cargo sob Félix e isso (At 20,16) por ocasião
de um Pentecostes, portanto, Pentecostes de 53. Segundo Ant.
III, 15, 3, § 320 a fome castigou no tempo de Ishmael, por
ocasião de uma Páscoa; é portanto mais provável que a Páscoa de 54 é que esteja em causa. Mas essa possibilidade não
entra tampouco em cogitação se dermos fé à cronologia dos
Atos. Segundo esses, Paulo chegou a Jerusalém por volta do
Pentecostes de 55, e, nessa data, por conseguinte, Ananias exercia ainda as suas funções (At 23,2;24,1). Um engano deve ter-se
160
161
m
!63
164
,65
,66
167
160.
161.
1Õ2.
163.
164.
165.
166.
167.
Ibid. 8, 8, § 179.
Ibiã. 8, 1-3, § 148ss.
Ibid. 8, 9, § 182,
T á c i t o , Ann.
X I I 54.
Ant. X X 7, 1, § 137; B. /. II 12, 8, § 2 4 7 .
T á c i t o , Ann. X I I 54.
Ant. X X 5, 2-4, § 100-117.
Ant. X X 7, 1, § 138; B. /. I I 12, 8, § 247.
insinuado em Josefo em Ant. III 15, 3, § 320, já que Ishmael
não era sumo sacerdote sob Cláudio. Nb quadro da narrativa
de Cláudio, Josefo não se refere à fome acima citada que ocorreu entre 46 e 48; devemos, portanto, colocar, no lugar de
Ishmael um de seus dois predecessores, Josefo ou Ananias,
e reportar Ant. III 15, 3, § 320 à mesma família.
c) Inspirando-nos no ciclo do ano sabático, é possível
obter outras informações sobre a fome durante o reinado de
Cláudio, à qual se reporta igualmente a predição de Àgabo
(At 11,28). Como sabemos, o ano entre o outono de 47 e o
outono de 48 foi um ano sabático . As etapas da fome poderiam ter sido estas: o verão de 47 fez perder as colheitas;
o ano sabático (outono 47-outono 48) agrava a fome e a prolonga até a colheita seguinte, verão de 49.
16B
d) É possível que a literatura rabínica mencione também
essa fome sob Cláudio. Eleazar, o Ancião, filho de R. Sadoc
descreve uma lembrança de sua juventude. Enquanto aprendia
a Tora junto de R. Yohanan, filho da hauranita, viu seu mestre comer um simples pedaço de pão "porque eram anos de
seca" . Schlater tira dessa frase a conclusão seguinte °; é
mais fácil deduzir-se que se trata da fome sob Cláudio do que
a do cerco de Jerusalém em 70. É também nesse período do
reinado de Cláudio que as informações particulares, relativas
a Eleazar, antes de tudo Tos. Sanh. IX, 11 (429, 30) o situam;
segundo essa passagem, Eleazar, ainda criança, montado nos
ombros de seu pai. foi testemunha da condenação à morte,
por fogo, da filha de um sacerdote. Esse acontecimento supõe
uma época em que os judeus podiam decretar julgamentos criminosos, sem entraves; o fato se coaduna melhor ao período
do reino de Agripa 1 . É verdade que Eleazar deve ter recebido a instrução extremamente jovem, pois Agripa I, em cujo
reinado Eleazar seria ainda uma criança, só ocupou o trono
durante três anos.
m
17
1 7 1
9. Devemos situar pouco antes de 6 6 d . C , a penúria de
água em Jerusalém que se deu durante uma das três festas de
peregrinação. A alusão ao comandante romano e o fato de ci168.
ver m e u
169.
14).
170.
Sota V I I 8 p r o v a a o b s e r v â n c i a d o a n o sabático de 40-41,
artigo Sabbathjahr,
e m Z N W 27 ( 1 9 2 8 ) , 100, n. 9.
b . Yeb. 1 5 ; T o s . Sukka
I I 3 (193, 2 7 ) ; T o s . -Ed. II 2 (457,
b
S c h l a í t e r , Tage,
1 7 1 . Ver infra,
80s.
p . 246, n. 222.
tarem Naqdemon ben Goríon como homem de notoriedade,
indicam que se trata de um período anterior a 66; esse Naqdemon, durante a guerra judeu-romana, era um dos homens mais
ricos de Jerusalém . Casos semelhantes de falta de chuva nos
anos que precederam a destruição do Templo é que nos fazem
pensar no relato segundo o qual Yohanan ben Zakkai consegue
fazer chover após uma seca persistente .
m
1B
10. Foi sem dúvida no fim do verão do ano 69 que se
deu a seca mencionada por Josefo: "Antes de sua chegada (a
de Tito), como o sabeis, a fonte de Siloé estava seca assim
como todas as outras, situadas diante da cidade devia-se, pois,
comprar a água na ânfora" . Aliás, o período compreendido
entre o outono de 68 e o outono de 69 foi um ano sabático .
A título de complemento, observemos que o nome "gafanhoto de Jerusalém" podia muito bem fazer alusão a ocasionais pragas de gafanhotos .
174
175
I76
172. b,Ta'an
í g ^ O * bar.
173. j . Ta-an
I I I 13, 6 7 ( I V / 1 , 1 7 5 ) .
174. B. j . V 9. § 410.
175. S c h ü r e r , I, 3 5 .
176. b . Hul. 6 5 . N a p r i m a v e r a d e 1915, p r e s e n c i e i a m a n e i r a c o m o
Jerusalém foi infestada p o r p e s a d a s n u v e n s de g a f a n h o t o s .
a
a
B. A ALTA E A BAIXA CAMADA
I Seção: As classes
altas
TI Seção: A preservação da pureza do povo
PRIMEIRA
SEÇÃO
AS CLASSES
Cap.
Cap.
I - O clero
II - A nobreza leiga
Cap. I I I - O s escribas
C a p . IV - Apêndice: os fariseus
ALTAS
CAPÍTULO
O
I
CLERO
A. O DETENTOR DA PRIMAZIA
O sumo sacerdote em exercício
B. OS CHEFES DOS SACERDOTES
O C o m a n d a n t e do
1. Culto
O s chefes das 24
seções h e b d o m a d á rias e de suas seções
cotidianas
Templo
2 . Vigilância
do T e m p l o
3 . Finanças
do T e m p l o
Vigilantes
do T e m p l o
3. Tesoureiros
C. OS SACERDOTES
2 4 seções h e b d o m a d á r i a s
c o m p r e e n d e n d o , c a d a u m a , 4 a 9 seções diárias
com 7 . 2 0 0 sacerdotes a p r o x i m a d a m e n t e
D. OS LEVITAS (CLERUS M I N O R )
24 seções h e b d o m a d á r i a s , cada u m a dividida em:
1. Cantores e músicos
2 . Funcionários e guardas do T e m p l o
com 9 . 6 0 0 levitas a p r o x i m a d a m e n t e
A. O
SUMO
SACERDOTE
1
" E m outros povos, critérios diferentes d e t e r m i n a m a
nobreza; entre nós, é a posse do sacerdócio a p r o v a de
origem ilustre"; assim se exprime Josefo em sua
Autobiografia . C o m efeito, no t e m p o de fesus, Israel é p u r a mente u m a teocracia. Assim, é o clero que, em p r i m e i r o
lugar, c o m p õ e a nobreza e, no período em q u e n ã o h á
rei, o pontífice em exercício é a personagem mais importante do p o v o . É, pois, do sumo sacerdote ikôhen
gadôl)
que nos o c u p a r e m o s agora, e n q u a n t o mais alta personagem do clero e, c o n s e q ü e n t e m e n t e , do povo t o d o .
2
O papel de chefe, representado pelo sumo sacerdote
repousava no caráter de natureza cultual, a " s a n t i d a d e etern a " (q düssat 'ôlam ,
character indelebilis),
q u e a função
lhe conferia e habilitava a c u m p r i r a expiação pela comunidade , e n q u a n t o m a n d a t á r i o de D e u s . Esse caráter,
oriundo de sua função, era-lhe conferido pela investidura,
a tradição dos p a r a m e n t o s pontificais compostos de oito
p e ç a s . Essa veste possuía u m a virtude expiatória; cada
e
s
4
5
6
1. A r e s p e i t o d o clero, i m p o r t a n t e d o c u m e n t a ç ã o e m S c h ü r e r I I ,
267-363; u m a ú n i c a ressalva: S c h ü r e r , infelizmente, n ã o leva em cons i d e r a ç ã o os textos d o T a l m u d e t r a n s m i t i d o s fora d a M i s h n a . V e r a i n d a ,
A. Büchler, Die Priester
und der Cultus
im letzten
Jehrzehnt
des
jerusalemischen
Tempets,
V i e n a , 1895. S u a tese básica é a de u m g r a n d e t u m u l t o n o T e m p l o em 62 d.C. e n o s anos seguintes (vitória d o s
fariseus s o b r e os s a d u c e u s ) ; a b e m dizer, ele falha n a sua d e m o n s t r a ç ã o , p o r q u e n ã o h á o m e n o r e l e m e n t o c o n c r e t o nesse s e n t i d o . P a r a
a descrição d o T e m p l o h e r o d i a n o , ver a excelente p e s q u i s a de G .
D a l m a n , Der zweite
Tempel
zu Jerusalém
e m PJB 5 ( 1 9 0 9 ) , 29-57.
W . Bousset-H. G r e s s m a n n , Die Religion
des Judentums
im
spaíhellenitischen
Zeitalter,
3? ed., T ü b i n g e n 1926 ( r e i m p r e s s o em 1960)
s u b e s t i m a c o n s i d e r a v e l m e n t e a i m p o r t â n c i a do c u l t o e d o clero, e o m i t e
a m a i o r i a das q u e s t õ e s de q u e v a m o s t r a t a r nas p á g i n a s s e g u i n t e s .
2. Vita I, § 1.
3. Naz. V I I 1.
4. Ex 30,10; Lv 16.
5. b . Qid 2 3 : q u a n d o oferece sacrifícios, o s a c e r d o t e é m a n d a tário de D e u s .
6. C o m p u n h a m - s e das q u a t r o p e ç a s d a v e s t i m e n t a dos s a c e r d o t e s :
túnica de bisso, calção de bisso, t u r b a n t e , cinto e, a l é m dessas, q u a t r o
p e ç a s p a r t i c u l a r e s : p e i t o r a l , o efó (larga faixa de f a z e n d a m u n i d a d e
alças) a túnica d e b a i x o c o m c a p u z , o d i a d e m a de o u r o ( c o l o c a d o
s o b r e o t u r b a n t e ) . Ex 28-29; Eclo 45,6-13; P s e u d o - A r i s t e u § 96-99; B. /'.
b
u m a dessas oito peças expiava p e c a d o s d e t e r m i n a d o s . Assim sendo, tal veste constituía, p a r a os j u d e u s , u m símbolo de sua religião; somente assim p o d e r e m o s compreender os fatos que vamos n a r r a r . P a r a se preservar das
agitações dos judeus, H e r o d e s , o G r a n d e , A r q u e l a u e, depois dele, os r o m a n o s , não c o n h e c e r a m meio mais eficaz
do que colocar as vestes do sumo sacerdote sob sua g u a r d a
na fortaleza Antônia. Só as devolviam para uso do sumo
pontífice nos dias de festa. Assim se explica a luta tenaz
m a n t i d a pelos j u d e u s p a r a recuperarem-nas, luta só termin a d a q u a n d o o i m p e r a d o r Cláudio r e s t i t u í u - a s através de
u m decreto assinado de p r ó p r i o p u n h o com data de 2 8 de
j u n h o d e 45 d . C . C o m p r e e n d e m o s e n t ã o que a luta pela
veste do sumo sacerdote foi, p a r a os j u d e u s , u m a luta religiosa.
1
8
U m fato exprime b e m o caráter de n a t u r e z a cultual
que a função conferia ao sumo sacerdote: sua morte possuía uma virtude expiatória. Q u a n d o m o r r i a u m s u m o sacerdote, todos os homicidas q u e , diante da vingança do
sangue t i n h a m fugido p a r a as cidades de refúgio , viam¬
-se livres no m e s m o dia; p o d i a m voltar p a r a casa , e até
m e s m o retomar sua profissão anterior, segundo a opinião
d o m i n a n t e dos doutores. Em virtude do caráter de natuy
10
u
12
V 5, 7, § 231ss; Ant. I I I 7, 4-7, § 159ss; F í l o n , De vita Mosis I I , §
1 0 9 4 3 5 ; De spec. leg. I, § 84-91; Yoma V I I 5 e
passim.
7. A e n u m e r a ç ã o d a v i r t u d e e x p i a t ó r i a d a s oito p a r t e s dos param e n t o s d o s u m o s a c e r d o t e encoolra-se e m Caní. R. 4, 7 s o b r e 4, 2
( 4 7 2 ) e b . Zeb. 88 . F o r n e c e m - n o s a i n d a o u t r a s i n f o r m a ç õ e s . Seg u n d o T o s . Pes. VI 5 (165,7) o d i a d e m a de o u r o expia a i m p u r e z a d o
s a n g u e d a v í t i m a e a d o fiel q u a n d o ele o f e r e c e a vítima, m a s , p a r a
os sacrifícios de n a z i r a t o e o da P á s c o a , e x p i a s o m e n t e a i m p u r e z a
d o s a n g u e d a vítima e a m a n c h a d o o f e r t a n t e c a u s a d a p o r u m "túm u l o d o a b i s m o " ( m a n c h a d e s c o n h e c i d a , v i n d a de u m c a d á v e r ) ; cf. j .
Yoma 1 2, 3 9 26 ( 1 I I / 2 . 1 6 9 ) .
8. Ant. X V I I I 4, 3, § 90ss; ver t a m b é m X V 11, 4, § 403ss. A veste
ficou e n t r e as m ã o s dos r o m a n o s de 6 a 37 d.C. (restituição p o r
V i t é l í o ) . E m 44, o p r o c u r a d o r C ú s p i o F a d o quis de n o v o apossar-se
d a veste p a r a tê-la sob sua g u a r d a ; u m a d e l e g a ç ã o j u d a i c a o b t e v e
e n t ã o em R o m a q u e o e d i t o d e C l á u d i o i m p e d i s s e tal m e d i d a e q u e
a r e s t i t u i ç ã o p o r Vitélio fosse c o n f i r m a d a .
9. Q u a n t o à v i r t u d e e x p i a t ó r i a d a o f e r e n d a a l i m e n t a r c o l i d i a n a d o
s u m o s a c e r d o t e , v e r B i ü e r b e c k , I I I , 697 e.
10. N r a 35,9-34; Dt 19,1-13; cf. Ex 2 1 , 2 3 .
1 1 . N m 35,25; Mak. I I 6.
12. Mak. II 8.
a
h
a
reza cultual que lhe conferia o cargo, o sumo sacerdote,
por sua m o r t e , expiava as faltas de homicídios cometidos
por negligência.
Esse caráter conferido a o s u m o sacerdote, pela sua
função, acarretava privilégios e deveres d e t e r m i n a d o s , de
natureza especial.
O privilégio mais i m p o r t a n t e permitia-lhe, e somente
a ele entre os mortais, penetrar no Santo dos santos u m
dia por a n o . A tríplice e n t r a d a neste recinto, no Dia das
expiações, significava a e n t r a d a diante do Deus propício;
tal dignidade traduzia-se nas aparições divinas particulares
com que era h o n r a d o o sumo sacerdote nesse Santo dos
santos. Simão, o justo (por volta de 2 0 0 a.C.)
e João
H i r c a n o (134-104 a.C.)
o u v i r a m vozes celestes, v i n d a s
do Santo dos santos. O m e s m o Simão, o Justo , e Ishmael
(I a p r o x i m a d a m e n t e 15-16, ou II 55-61 d.C.)
tiveram
visões neste lugar, e ] o 1 1 , 5 1 , atribui, de m o d o absolutamente geral ao sumo sacerdote, a faculdade de profetizar.
A mínima falha nas regras litúrgicas acarretaria u m a sentença de Deus ; era, pois, com tremor q u e o sumo sacerL<
14
,5
16
17
dote c u m p r i a suas funções no lugar sacrossanto, sombrio,
vazio e silencioso, q u e se e n c o n t r a v a p o r trás do d u p l o véu.
E m segundo lugar m e n c i o n a r e m o s os privilégios do
sumo sacerdote no c a m p o cultual. G o z a , antes de t u d o ,
da permissão de t o m a r p a r t e n a oferta de u m sacrifício cada
vez que o desejar . T a m b é m é direito seu oferecer u m
sacrifício, e m b o r a estando de luto, prática p r o i b i d a aos
outros sacerdotes . Além do mais, n o m o m e n t o de distribuir as "coisas santas do T e m p l o " e n t r e os sacerdotes em
serviço, o sumo sacerdote podia selecionar, e m primeiro
lugar, aquilo que d e s e j a s s e . D u r a n t e essa separação, tin h a licença de escolher p a r a si: 1) u m sacrifício pelo pecado (animais ou a v e s ) ; 2 ) u m sacrifício de r e p a r a ç ã o ;
3) u m a p o r ç ã o das oferendas alimentares
(tiradas do q u e
havia sido separado p a r a ser oferecido no altar); 4) quatro ou cinco (até seis, segundo outros) dos doze pães de
proposição (ázimos) distribuídos c a d a s e m a n a ; 5) u m
dos dois pães de primícias (fermentados) p a r a a festa de
l9
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25
18
7 1 ) ; lá, ele c o n t i n u a a festa c o m seus a m i g o s " p o i s t u d o t e r m i n o u a
c o n t e n t o " (Yoma
VII 4).
19. Yoma I 2; Tamid
V I I 3 . S e g u n d o b . Yoma
1 7 , esse privilégio estendia-se a t o d o s os sacrifícios; cf. j . Yoma
1 2, 3 9 23 ( I I I / 2 ,
168) o n d e se c o n t a q u e o s u m o s a c e r d o t e n a s e m a n a q u e p r e c e d e o
D i a das e x p i a ç õ e s o f e r e c e r a , i g u a l m e n t e , os sacrifícios pelos votos e
sacrifícios v o l u n t á r i o s .
2 0 . tíor.
I I I 5; deduzia-se a p o s i ç ã o p a r t i c u l a r d o s u m o sacerdote d e Lv 10 o n d e A a r ã o , a p e s a r d a m o r t e de dois filhos, oferece
o b o d e e m sacrifício e x p i a t ó r i o e s o m e n t e r e c u s a c o m e r a c a r n e d o
sacrifício (Lv 10,19).
2 1 . Yoma I 2; T o s . Yoma I 5 (180, 1 9 ) ; j . Yoma I 2, 3 8 6 3 - 6 9
4 ( I I I / 2 , 1 6 7 ) ; b . Yoma 1 7 ; Sljra Lv 2, 3 ( 6 24, 1 8 ) ; Sifra Lv 24,
8 ( 5 3 209, 2 6 ) . D o texto d e Lv 2, 3 " q u a n t o a A a r ã o e seus filhos,
r a b i Y u d a I ( | 217) c o n c l u i u q u e o s u m o s a c e r d o t e tinha direito à
m e t a d e das p o r ç õ e s r e s e r v a d a s aos s a c e r d o t e s ( T o s . Yoma
I 5 [180,
2 0 ] ) . T r a t a - s e aí de u m p o n t o d e vista t e ó r i c o q u e n a d a t e m a v e r
c o m a p r á t i c a n a é p o c a em q u e o T e m p l o existia. Essa p r á t i c a apenas c o n h e c i a o direito d o s u m o s a c e r d o t e de ser o p r i m e i r o a escolher.
22. T o s . Yoma I 5 (180, 1 9 ) ; b . Yoma
17 .
2 3 . Sifra Lv 2, 3 ( 6 24, 2 7 ) .
24. T o s . Yoma I 5 (180, 1 9 ) ; b . Yoma
17 .
25. j . Yoma I 2, 3 9 II ( I I I / 2 , 1 6 8 ) ; Sifra Lv 2, 3 ( 6 24, 18).
2 6 . Q u a t r o ou c i n c o p ã e s : T o s . Yoma
I 5 (180, 2 0 ) ; b .
Yoma
1 7 . — Seis p ã e s : j . Yoma I 2, 3 8 64 ( I I I / 2 , 167). — D i r e i t o d e escolher em p r i m e i r o lugar, sem i n d i c a ç ã o d o n ú m e r o de p ã e s : Sifra Lv
24, 9 ( 5 3 209, 2 6 ) .
b
13. Yomci V 1-4. D e m o d o curioso T o s . Kel. B. Q. I 7 (569, 32)
e Nb. R. 7, 8 s o b r e 5, 2 ( 3 7 2 0 ) , i n d i c a 4 e n t r a d a s e a t é m e s m o 5,
s e g u n d o R. Y o s é (Nb. R.,
ibid.).
14. b . Sot 3 3 b a r . e p a r . — O b r i l h a n t e t r a b a l h o d e G . F . M o o r e ,
" S i m e o n t h e R i g h t e o u s " em fewish Sludies
in Memory
of Israel
Abra¬
hams, N o v a I o r q u e , 1927, 348-464, d e m o n s t r o u q u e S i m ã o , o J u s t o ,
vivia d e p o i s de 200 a . C , e q u e o p r e t e n s o S i m ã o 1, q u e teria v i v i d o
(Ani. X I I 2, 5 § 157) no t e m p o d e P t o l o m e u I (323 [306]-285 a . C ) ,
deve sua existência a Joselo q u e d e s d o b r o u tal p e r s o n a g e m . H . G u t h e ,
Geschichte
des Volkes
Israel, 3- ed., T ü b i n g c n 1910, 318, já r e c o n h e cera essa d u b l a g e m de Simeão, m a s c o n s i d e r a v a c o m o h i s t ó r i c o o Sim ã o do T e m p o de P t o l o m e u I.
15. b . Sota 3 3 b a r . e p a r . ; Ant. X I I I 10. 3, § 282; cf. § 300 e 322.
16. b . Yoma 3 9 - b a r . e p a r . A b a r a í t a v e m de T o s . Sota X I I I 8
(319, 22) o n d e , e n t r e t a n t o , o n o m e d e S i m ã o n ã o é c i t a d o .
17. b . Ber. 7 bar.; essa p a s s a g e m c o n f u n d e u m s u m o s a c e r d o t e
I s h m a e l c o m R. I s h m a e l b . Elisha e x e c u t a d o cerca d e 135 d.C. (Biller¬
b e c k , I I , 79, n. 1 ) .
18. b. Yoma
1 9 b a r . d e s c r e v e a p u n i ç ã o de u m s u m o s a c e r d o t e
s a d u c e u . E m Yoma V 1 e j - Yoma V 2 , 4 2 17 ( I H / 2 , 2 1 8 ) , está prescrito q u e o s u m o s a c e r d o t e deve fazer s o m e n t e u m a o r a ç ã o b e m c u r t a
n o Santo dos santos, a fim d e q u e o p o v o n ã o se assuste e n ã o chegue a recear q u e l h e t e n h a s u c e d i d o alguma desgraça. U m a vez term i n a d o de m o d o feliz o serviço do D i a das expiações, t o d a a m u l t i d ã o r e c o n d u z s o l e n e m e n t e o s u m o s a c e r d o t e a t é sua casa (b.
Yoma
a
a
a
a
b
a
b
c
b
a
d
b
d
a
b
d
b
a
b
d
d
a
a
Pentecostes (Lv 23,17) ; 6) u m couro dos h o l o c a u s t o s .
Entre os outros privilégios é b o m realçar a presidência do
grande conselho (Sinédrio), suprema assembléia dos j u d e u s
no c a m p o administrativo e judiciário, e sobre o princípio
d e direito segundo o qual o s u m o sacerdote, e m caso d e
crime, teria de submeter-se somente à decisão do G r a n d e
Sinédrio .
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filhos" fazer, na m a n h ã e na t a r d e de sua u n ç ã o , u m a ofer e n d a alimentar cozida sobre u m a c h a p a ; n a época que
e s t u d a m o s , essa oferta era feita todos os d i a s . O sumo
sacerdote, e n t r e t a n t o , não precisava oferecê-la d i a r i a m e n t e ,
mas somente pagá-la .
Entre as obrigações financeiras do sumo sacerdote
figurava o p a g a m e n t o de u m novilho i m o l a d o em sacrifício pelo pecado, no D i a das expiações (Lv 1 6 , 3 )
e a
quitação das despesas p a r a a c o n s t r u ç ã o da p o n t e sobre
o vale do Cédron. Segundo u m relato digno de fé, emb o r a exagerado em seus detalhes, d e v i a m construir essa
p o n t e e n q u a n t o u m a novilha vermelha fosse q u e i m a d a (Nm
19,1-10) no M o n t e das O l i v e i r a s . D i z e m que d u r a n t e os
três últimos séculos antes da ruína do T e m p l o , tal só se
deu u m a s cinco ou seis vezes .
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3 6
O b v i a m e n t e , os deveres inerentes ao cargo de s u m o
sacerdote e r a m de natureza principalmente cultual. A Lei
de m o d o expresso prescrevia u m ú n i c o dever para o s u m o
sacerdote: o de oficiar no Dia das expiações (Lv 16), m a s
os costumes foram-lhe acrescentando outras obrigações litúrgicas. Segundo a Mishna , deveria participar da cerimônia na qual era q u e i m a d a u m a novilha vermelha
e
executar seu serviço d u r a n t e a semana q u e precedia o D i a
das expiações , a fim de c u m p r i r as prescrições dos escribas fariseus relativas à celebração litúrgica daquele D i a .
Segundo Josefo e o T a l m u d e , h a v i a a i n d a u m c o s t u m e e m
vigor que obrigava o sumo sacerdote a oficiar aos s á b a d o s ,
nas neomênias, nas três festas de peregrinação (Páscoa-rnossôt, Pentecostes, festa das Tendas) e por ocasião das
assembléias p o p u l a r e s . A Lei ordenava a " A a r ã o e a seus
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a
27. T o s . Yoma
I 5 (180, 1 9 ) ; j . Yoma
I 2, 3 8 63 ( I I I / 2 , 1 6 7 ) ;
b . Yoma
17 .
28. j . Yoma I 2, 38 » 63-69 3 ( I 1 I / 2 , 167). b . Pes. 57" b a r . e T o s .
Zeb. X I 16 (497, 2-3) falam do r o u b o das peles pelos " m a i o r a i s d o
c l e r o " ; essas opiniões c o n s t i t u e m d u a s i n f o r m a ç õ e s a m a i s , p o i s , trata-se d e u m a b u s o d o direito d o s u m o s a c e r d o t e d e escolher em prim e i r o lugar.
29. Sin. 1 5.
30. Para I I I 5 e passim.
3 1 . A r e g u l a m e n t a ç ã o s o b r e a novilha v e r m e l h a acha-se em N i n 19.
32. Yoma
I 2: " A o longo dos sete dias, a) ele e s p a r g i a o s a n g u e
[do h o l o c a u s t o c o t i d i a n o , de m a n h ã e à t a r d e , n o altar dos h o l o c a u s tos] ; b) oferecia o sacrifício dos p e r f u m e s [sobre o altar dos perfum e s n o S a n t o ] ; c) p r e p a r a v a as l â m p a d a s [do c a n d e l a b r o de sete braços no S a n t o ] e d) oferecia a c a b e ç a e o q u a r t o d o a n i m a l [ h o l o c a u s t o
d i á r i o , o b r i g a t ó r i o , m a n h ã e n o i t e , no a l t a r dos h o l o c a u s t o s ] " .
33. Ant. X V I I , 4, § 4 0 8 : antes de u m a festa ( X V I I I 4, 3, § 9 4 :
antes das três festas d e p e r e g r i n a ç ã o e a n t e s do D i a das e x p i a ç õ e s ) ,
vai-se b u s c a r a veste do s u m o s a c e r d o t e n a fortaleza A n t ô n i a . I M e
10,21; Ant. X I I I 13, 5, § 372; X V 3, 3 , § 51 ( J o n a t a n , A l e x a n d r e Tan e u e A r i s t ó b u l o o f i c i a r a m n u m a festa d a s T e n d a s ) c o n f i r m a m igualm e n t e q u e o s u m o s a c e r d o t e n ã o oficiava s o m e n t e n o D i a das expia-
37
3S
O u t r o s deveres do cargo pontifício t i n h a m por finalidade preservar n o sumo sacerdote sua aptidão ritual p a r a
oficiar; trata-se das prescrições de pureza. O contato com
u m cadáver tornava-o i m p u r o ; N m 19,11-16 exigia u m a
cerimônia purificatoria d e sete dias antes de o sacerdote
p o d e r exercer de novo sua função. A fim de evitar-lhe
tão g r a n d e impureza, era-lhe proibido manchar-se c o m o
contato de u m m o r t o (Lv 2 1 , 1 1 ) . A Lei n ã o lhe permi-
d
b
1
a
ções. A i n d i c a ç ã o de Josefo e m B. j . V 5, 7, § 230 é m u i t o e x a t a : o
s u m o s a c e r d o t e oficiava " a o s s á b a d o s , n a s n e o m ê n i a s , n a s festas ancestrais [isto é, t r a d i c i o n a i s ] e n a s o u t r a s a s s e m b l é i a s p ú b l i c a s a n u a i s " .
Essa i n f o r m a ç ã o c o n c o r d a p l e n a m e n t e com o q u e diz R. Y o s h u a b e n
Levi (250 d.C.) n a r r a d o p o r R. U q b a : o s u m o s a c e r d o t e oficiava a o s
s á b a d o s e nos dias de festa (j. Yoma I 2, 3 9 25 ( I I I / 2 , 168s).
34. Lv 6,12-16; Ani. I I I 10. 7, § 257; L X X l C r 9,31; Eclo 45,14;
Fílon, De spec. leg. I, ] 256; Yoma
II 3 ; I I I 4, e passim na M i s h n a ,
a o f e r e n d a se c o m p u n h a , ao t o d o , de u m d é c i m o d o 'epah ( 3 , 9 4 ' ) d e
flor d e f a r i n h a m i s t u r a d a c o m óleo q u e se fazia c o z i n h a r ; cortavam¬
-se e m p e d a ç o s os b o l o s assim o b t i d o s e e r a m a i n d a r e g a d o s c o m
óleo. D e m a n h ã e à t a r d e , a m e t a d e era o f e r t a d a ( S c h ü r e r . I I , 3 4 8 ) .
35. P a g a m e n t o p e l o s u m o s a c e r d o t e : Ant.
I l l 10, 7, § 257, cf.
Sheq. V I I 6, O f e r e n d a c o t i d i a n a pela seção d e s a c e r d o t e s em serviço:
Yoma II 3-5; Tamid I I I 1; I V 3 .
36. Ant. I I I 10, 3 , § 242;Hor.
III 4.
37. j . Sheq.
IV 3 , 4 8 35 ( I I I / 2 , 2 8 5 ) . S e m d ú v i d a , Sheq. I V 2
e n s i n a q u e a p o n t e era p a g a c o m os d e n á r i o s do T e m p l o , mas A b b a
S h a u l c o n t e s t a o f a t o e g a r a n t e q u e os s a c e r d o t e s c u s t e a v a m a construção.
38. Para I I I 5. R a b i M e i r : . 5 v e z e s ; os r a b i n o s : 7 vezes.
a
a
tia tocar n u m cadáver n e m e n t r a r n u m a casa m o r t u á r i a ;
nos enterros, não podia c a m i n h a r i m e d i a t a m e n t e atrás do
c a i x ã o . Proibiam-lhe t a m b é m
deixar crescer os cabelos
em desalinho e rasgar as vestes em sinal de luto . A proibição de se macular ao contato de u m cadáver n ã o sofria
exceção n e m no caso d e u m parente p r ó x i m o ; essa minúcia faz c o m p r e e n d e r todo o seu rigor. Para os outros
sacerdotes tal determinação deixaria de ser prescrita no
caso de familiares: esposa, pais, filhos, irmãos, irmãs solteiras que m o r a v a m na casa do irmão . Para o sumo sacerdote havia u m a única exceção: dizia respeito ao " m o r to de p r e c e i t o " , isto é, não deixando n e n h u m p a r e n t e .
Q u e m encontrasse seu corpo devia prestar-lhe os últimos
serviços. Assim mesmo, essa exceção era discutida. Os fariseus aceitavam-na, colocando a misericórdia acima do
c u m p r i m e n t o estrito do preceito de pureza pelo sumo sacerdote; mas os saduceus, os indefectíveis defensores da
letra da Bíblia, afastavam até m e s m o essa ú n i c a exceção .
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4 0
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44
Para o Dia das expiações, o sumo sacerdote devia revestir-se da mais alta pureza levítica. Na s e m a n a precedente, era obrigado a submeter-se, d u r a n t e sete dias, à cerimônia de purificação prescrita em N m 19,11-16, a fim
de apagar alguma eventual impureza ritual contraída ao
contato com u m c a d á v e r . Além disso, d u r a n t e a q u e l a
semana, a p a r t i r do 3 tisri, devia instalar-se p o r sete noi4S
39. Sanh. II 1 (no dizer de R. M e i r ) .
4 0 . Lv 21,10;10,6.
4 1 . A o s o u t r o s s a c e r d o t e s era p r o i b i d o s o m e n t e c o r t a r os c a b e l o s
e a p o n t a d a b a r b a e se t a t u a r e m (Lv 21,5-6) e m sinal de l u t o ;
s e g u n d o Ez 44,20 era-lhes i g u a l m e n t e p r o i b i d o d e i x a r crescer o c a b e l o
em d e s a l i n h o , c o m o sinal de l u t o .
42. Lv 2 Í , l - 4 ; E z 44,25-27. O texto n ã o fala de e s p o s a , m a s , seg u n d o os r a b i n o s (Sijra Lv 21,2) ( 4 6 184, 3 9 ) , ela e r a i n d i c a d a n o
t e r m o s 'erô "sua p a r e n t a mais p r ó x i m a " . S e g u n d o Sijra Lv 21,3 ( 4 7
185, 25) a m u l h e r de José, s a c e r d o t e q u e vivia n a é p o c a d o s e g u n d o
T e m p l o , m o r r e u n o dia d a p r e p a r a ç ã o d a festa d e P á s c o a . José n ã o
q u e r i a macular-se e m c o n t a t o c o m o c a d á v e r de sua m u l h e r ; dessa
forma, os r a b i n o s fizeram-no c o n t r a i r a q u e l a i m p u r e z a ritual c o n t r a
a sua v o n t a d e .
4 3 . b . Naz, 4 7 .
44. Naz, V I I I 1, " o n d e os d o u t o r e s " r e p r e s e n t a m o p o n t o d e v i s t a
saduceu.
45. Para I I I 1; Fílon, De somniis
I, § 214.
d
e
a
b
tes, mais e x a t a m e n t e , logo após o fim do holocausto vespertino
no c ô m o d o que lhe estava reservado no Templo, d o l a d o sul do átrio dos s a c e r d o t e s e aí passar a
noite ; desse m o d o o s u m o s a c e r d o t e protegia-se contra
q u a l q u e r possibilidade de contágio d a impureza levítica,
p r o v e n i e n t e , em particular, d e sua m u l h e r . Esse isolam e n t o d o sumo sacerdote d u r a n t e a noiíe, n o correr d a
s e m a n a que precedia o Dia das expiações, foi talvez decretado por volta do ano 20 d . C , após uma m a n c h a contraída pelo sumo sacerdote S h i m e o n , filho d e K a m i t h
(17-18 d . C ) . N a véspera d o D i a d a s expiações, ao cair
da t a r d e , ele recebeu o escarro de u m árabe e viu-se, por
conseguinte, inapto p a r a o f i c i a r no D i a das e x p i a ç õ e s ' .
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46. j . Yoma
I 2, 3 9 22 ( I I T / 2 , 168), relato de R. Y o s h u a b e n
Levi ( a p r o x i m a d a m e n t e , 250 d . C ) .
47. Yoma I 1 da a esse c o m p a r t i m e n t o o n o m e de liskat
parhedrin
( T o s . Yoma
I 1 (180, 3 e passim:
liskat parhedrin)
= câmara dos
próedroi
= c â m a r a dos p r e s i d e n t e s do T r i b u n a l . É e r r a d o i n t e r p r e t a r
essa expressão no s e n t i d o de c â m a r a dos páredroi
= q u a r t o d o s assessores d o T r i b u n a l (assim Levi: Worterbuch
I V , 105 b ) . Falso igualm e n t e o n o m e d a d o p o r R. Y u d a : liskat
palwatm
= c â m a r a dos
bouleutai
( T o s . Yoma 1 1, 180, 5 ) , p o i s , e v i d e n t e m e n t e , essa c â m a r a
e m o p o s i ç ã o à sala das sessões (liskat
ha-gazít)
n ã o se d e s t i n a v a a
l o d o s o s m e m b r o s d o S i n é d r i o , m a s s o m e n t e ao s u m o sacerdote q u e
o c u p a v a a p r e s i d ê n c i a . A b a r a í t a de b . Yoma
8 c o n s i d e r a c o m o marc a d e d e s p r e z o o f a l o d c o s u m o s a c e r d o t e ser c h a m a d o p r e s i d e n t e
do T r i b u n a l : desde q u e os s u m o s s a c e r d o t e s e x e r c i a m sua função
n ã o m a i s p a r a s e m p r e , p o r é m , s o m e n t e p o r d o z e m e s e s (em m é d i a )
à m a n e i r a dos p r e s i d e n t e s das a s s e m b l é i a s , ter-se-ia c h a m a d o o seu
e s c r i t ó r i o d e c â m a r a d o s p r e s i d e n t e s d o T r i b u n a l . N ã o h á nisto nen h u m d e s p r e z o . Mid. V 4 diz-nos q u e o escritório do s u m o sacerd o t e achava-se n a p a r t e sul d o a d r o d o s s a c e r d o l e s ; u m m e s m o teto
r e c o b r i a esse escritório e a sala vizinha, a Sala das p e d r a s t a l h a d a s .
Essa ú l t i m a era a sala d a s sessões d o S i n é d r i o ; m e i a d e e n c o n t r a v a - s e
e m d o m í n i o s a g r a d o e m e t a d e em d o m í n i o p r o f a n o (b. Yoma
25 ).
O escritório d o s u m o s a c e r d o t e , s i t u a d o a o l a d o d a sala d a s sessões,
devia o seu n o m e ao fato d e o s u m o s a c e r d o t e ser o p r e s i d e n t e d o
G r a n d e C o n s e l h o , o q u e se justificava p l e n a m e n t e .
a
b
a
4 8 . Yoma I 1.
4 9 . T o s . Yoma I 1 (180, 2 ) - : proteger-se c o n t r a u m a i m p u r e z a d e
niddah,
pois ela t e r m i n a v a t o r n a n d o - o i m p u r o p o r sete dias.
50. Trata-se de u m a t r a n s p o s i ç ã o d a i m p u r e z a ritual d e niddah,
cf.
s o b r e este p o n t o A. Büchler. The Levitical
Impurity
oj the
Gentile
in Palestine
bejore the Year 70, e m }QR, n . s. 17 (1926-1927), 1-81,
e s p e c i a l m e n t e 8.
5 1 . b . Yoma 4 7 : e s c a r r o de u m á r a b e . T o s . Yoma I V 20 (189,
1 3 ) ; j . Yoma I . 1. 3 S 6 ( I 1 I / 2 , 1 6 4 ) ; j . Meg. I 12, 7 2 49 (não trad u z i d o e m I V / 1 , 220 q u e r e m e t e ao p a r . I U / 2 , 1 6 4 ) ; j . Hor, I I I 5,
a
d
a
Devia-se, pois, evitar, tanto q u a n t o possível, a repetição
de semelhante caso de impureza levítica antes d a q u e l e
Dia. H a v i a ainda u m terceiro meio p a r a defender o sumo
sacerdote de q u a l q u e r nódoa antes dessa festa: na noite
q u e a precedia, m a n t i n h a m - n o d e s p e r t o p a r a evitar-lhe
a i m p u r e z a prevista no final de Lv 2 2 , 4 .
52
Essas regras de pureza t i n h a m por finalidade preservar a aptidão ritual do sumo sacerdote prestes a oficiar,
mas tornava-se ainda necessário garantir à sua descendência a p u r e z a de origem, p o r q u e , segundo a Lei, sua função era hereditária. N o intuito de garantir tal p u r e z a , o
pontífice submetia-se a diversas prescrições ligadas a seu
casamento.
Segundo o Antigo T e s t a m e n t o , o sumo sacerdote devia desposar uma jovem virgem; n ã o podia aceitar
n e m u m a viúva, n e m u m a divorciada, n e m uma r e p u d i a d a ,
n e m u m a prostituta (Lv 21,13-15). A exegese rabínica explicava essa prescrição, limitando o termo " j o v e m " àquela
que tivesse doze anos e doze anos e m e i o ; por o u t r o
lado, reforçava as proibições: por " v i ú v a " entendia tamb é m aquela cujo noivo tivesse m o r r i d o " ; a noiva, cujo
noivado tivesse sido rompido era t a m b é m considerada c o m o
d i v o r c i a d a ; " r e p u d i a d a " designava, assim dizem, a filha
5 3
54
56
47 11 (não t r a d u z i d o em V I / 2 , 2 7 4 ) ; Lv. R. 20, 7 s o b r e 16, 1-2 ( 5 3
2 6 ) ; Nm. R. 2, 22 s o b r e 3, 4 ( I I 3 3 ) ; Tanhuma,
'aharê môt, § 7,
433, 2 4 : escarro de u m x e q u e ("rei") á r a b e . b . Yoma
4 7 : escarro
d e u m " g r a n d e s e n h o r " ( n ã o j u d e u ) . — A v a r i a n t e : escarro d e u m
s a d u c e u (b. Nidda 3 3 bar.; T o s . Nidda V 3 [645, 2 4 ] ) é, manifestam e n t e , u m a c o r r e ç ã o anti-saducéia; n ã o se c o n c e b e q u e u m s u m o
sacerdote tenha-se c o n s i d e r a d o c o m o m a c u l a d o p e l o e s c a r r o de u m
s a d u c e u a p o n t o d e n ã o m a i s p o d e r oficiar n o D i a d a s e x p i a ç õ e s ,
t a n t o mais q u e os s a d u c e u s o b s e r v a v a m m u i t o r i g o r o s a m e n t e a Lei -—
m a s , é claro, s e g u n d o a exegese s a d u c é i a do texto d a Bíblia — os
próprios sumos sacerdotes eram saduceus.
52. Yoma I 6-7.
53. Yeb.
V I 4; o u t r a i n t e r p r e t a ç ã o (ibid.).
sustentada por rabi
Eleazar e r a b i S h i m e o n , rejeitava essa l i m i t a ç ã o d o t e r m o m o ç a à q u e las q u e t i n h a m e n t r e doze anos e doze e m e i o . A j o v e m q u e tivesse
p e r d i d o a v i r g i n d a d e p o r u m infeliz a c a s o , via-se t a m b é m e x c l u í d a
(ibid.).
54. Yeb. V I 4.
55. A i n t e r d i ç ã o do c a s a m e n t o Ievírático (desposar a v i ú v a de
u m irmão q u e m o r r e u sem deixar f i l h o s ) , Sanh. II 1, já estava contida n o p r ó p r i o t e x t o d e L v 21,14 ( 4 7 18S,1).
56. Fílon, De spec. leg. I, § 107.
ú
de u m sacerdote casado i l e g a l m e n t e ; o t e r m o "prostit u í d a " c o m p r e e n d i a a prosélita, a escrava liberta e a deflorada (como, por exemplo, a prisioneira de g u e r r a ) .
Assim, pois, a exegese rabínica reforçava a prescrição
p a r a o casamento do sumo sacerdote; só podia tomar p a r a
m u l h e r , u m a jovem, virgem, de 12 a 12 anos e meio, nascida de u m sacerdote, de u m levita o u de u m israelita de
descendência legítima.
Fílon, guiado pelo texto de Lv 2 1 , 1 3 segundo a Setenta , limita à filha de sacerdote a possibilidade de casamento com u m sumo sacerdote, e x c l u i n d o , pois, a filha
de levita e a filha de israelita . Fílon faz-se eco, sem dúvida, não da prescrição em vigor n a Palestina, mas do
costume ali reinante; e m todo caso, b e m o sabemos, diversos sumos sacerdotes tiveram c o m o esposas, filhas de
sacerdotes ''. E m c o n t r a p a r t i d a , eis os raros casos de mulheres de sumos sacerdotes que não e r a m de descendência
sacerdotal: a esposa de A l e x a n d r e Janeu, sumo sacerdote
asmoneu , c a dc Pinhas de H a b t a , que os zelotas nom e a r a m sumo sacerdote em 67 d . C , e q u e o Rabi H a n a nya b e n Gamaliel II (por volta d e 120) chama "nosso
g e n r o " , quer dizer, p a r e n t e por a l i a n ç a . Esse último caso,
transmitido p o r u m a tradição digna de fé, p o u c o significa,
57
5S
59
6()
f
bl
63
b
b
a
b
d
57. Sifra Lv 21,14 (47' 188, 1 ) .
58. Yeb. V I 5.
59. "Ele d e v e casar-se c o m u m a v i r g e m de sua parentela.
Essas
três ú l t i m a s p a l a v r a s (ek toü génous)
são u m a c r é s c i m o da L X X .
60. De spec. leg. I, § 110.
6 1 . a) S e g u n d o Ani. X V I I 6, 4, § 164, o s u m o sacerdote M a t i a s ,
filho de Teófilo (5-4 a . C ) , era c u n h a d o d o s u m o s a c e r d o t e Y o z a r (4
a . C . ) ; sua m u l h e r e Y o z a r e r a m filhos d o s u m o sacerdote S i m ã o
{ c h a m a d o Boetos, 22 a p r o x . - 5 ) . 6) O s u m o s a c e r d o t e Caifás (cerca de
18-37 d.C.) d e s p o s a r a u m a filha d o s u m o s a c e r d o t e A n á s , (6-15 d . C ) ,
Jo 18,13. c) o s u m o s a c e r d o t e Y o s h u a , filho de G a m a l i e l (63 a p . 6 5 ) ,
casara-se c o m M a r t a (Lam. R. 1, 50 s o b r e 1, 16 [ 3 5 1 ] : M i r i a m ) d a
família pontifícia dos Boetos (Yeb.
V 4; b . Yoma
1 8 ; cf. s u p r a , p .
1 4 2 ) . — Essas esposas e r a m t o d a s de famílias pontifícias; p o d e m o s , p o i s ,
c o n c l u i r q u e os s u m o s s a c e r d o t e s p r e f e r i a m c o n t r a i r m a t r i m ó n i o c o m
m o ç a s de d e s c e n d ê n c i a s a c e r d o t a l .
1
b
a
62. E m b . Ber. 4 8 e passim
diz-se q u e A l e x a n d r e J a n e u era cas a d o c o m u m a i r m ã d o r a b i S h i m e o n b e n S h e t a h q u e n ã o era sacerd o t e . I n f e l i z m e n t e n ã o p u d e m o s verificar a a u t e n t i c i d a d e dessa inform a ç ã o , Ê dificilmente m e r e c e d o r a de c r é d i t o .
6 3 . T o s . Yoma
I 6 (180, 2 6 ) ; Sifra L v 21,10 ( 4 7 187, 10). —
S e g u n d o Gn. R. 98, 22 s o b r e 4 9 , 20 (214» 5) e 7 1 , 13 s o b r e 30 ( 1 5 5
a
J
c
b
aliás, p o r q u e , antes de se tornar sumo sacerdote, P i n h a s
foi simples sacerdote do c a m p o e canteiro,
As prescrições p a r a o casamento de u m sumo sacerdote t i n h a m de ser observadas. Q u a n d o u m deles infringia a regra, provocava indignação nos círculos farisaicos,
estendendo m e s m o essa indignação ao povo todo. Assim,
o asmoneu João H i r c a n o (134-104 a.C.) teve de ouvir do
fariseu Eleazar severa admoestação: ele era u m sumo sacerdote ilegítimo e deveria r e n u n c i a r a seu cargo, ele e seus
descendentes, pois, sua m ã e , a m u l h e r do sumo sacerdote
Simão ( 1 4 2 / 1 - 1 3 4 a.C.) fora prisioneira de guerra sob Antíoco IV Epifanes e, por conseguinte, deixara de ser, desde aquela época, a esposa legítima do sumo sacerdote ;
como já vimos , a escrava de guerra era igualada à rep u d i a d a ; seus filhos tidos por filhos ilegítimos de sacerdotes, inaptos ao sacerdócio .
64
tó
66
A l e x a n d r e Janeu (103-76), filho de João H i r c a n o foi
submetido publicamente à mesma admoestação; e n q u a n t o
filho •— é provável que se tratasse de neto — de u m a
prisioneira de guerra, não lhe foi permitido exercer a função de sumo sacerdote. Mais ainda: o povo exaltou-se d e
tal maneira que o b o m b a r d e o u , por ocasião de u m a festa
das T e n d a s , com os 'êtrôgím (cidras-limões) q u e todos os
israelitas traziam nas m ã o s , assim como o íülab (ramo d a
festa) d u r a n t e a celebração da m a n h ã , no T e m p l o . A ad67
6 ) , os s u m o s s a c e r d o t e s ter-se-iam c a s a d o , de p r e f e r ê n c i a , c o m j o v e n s
d a tribo de A s e r ; trata-se de u m jogo de p a l a v r a s sem valor h i s t ó r i c o
s o b r e G n 49,20.
64. Ant. X I I I 10, 5, § 288ss. Exigiu-se de João H i r c a n o r e n u n c i a r
t a m b é m à função d e s u m o s a c e r d o t e a favor dos d e s c e n d e n t e s ; t a l
fato é d e d u t í v e l d a s suas r e p e t i d a s c e n s u r a s dirigidas ao filho. Josefo
d e m o n s t r a q u e e r a m sem f u n d a m e n t o . O T a l m u d e refere-se ao caso
e m b . Qid. 6 6 : u m fariseu idoso exige q u e A l e x a n d r e f a n e u r e n u n cie ao p o n t i f i c a d o pois sua m ã e foi p r i s i o n e i r a d e g u e r r a . D e m o d o
geral, esse relato c o n c o r d a c o m o de Josefo, m a s c o n f u n d e as p e r s o n a g e n s : João H i r c a n o é t r a n s f o r m a d o c m A l e x a n d r e J a n e u e o fariseu
E l e a z a r torna-se u m i n i m i g o dos fariseus.
65. Supra, p . 216.
66. C. Ap. I 7, § 3 5 .
67. Ant. X I I I 13, 5, § 371s. — T o s . Sukka
I I I 16 (197, 2 2 ) , cf.
M i s h n a Sukka
I V 9, c o n t a c o m o o p o v o a t a c o u u m s u m o s a c e r d o t e
b o e t ú s i o ( s a d u c e u ) a golpes de 'etrôgi p o r q u e , diziam eles, p o r o c a s i ã o
d a festa das T e n d a s , esse s u m o s a c e r d o t e d e r r a m o u a l i b a ç ã o s o b r e
seus pés (os s a d u c e u s r e j e i t a v a m esse rito c o m o n ã o b í b l i c o ) . P o d e ,
p r o v a v e l m e n t e , tratar-se do caso q u e pôs A l e x a n d r e J a n e u c m c e n a .
a
vertência a A l e x a n d r e Janeu, a n t e r i o r m e n t e já dirigida a
seu pai, assim como a transmissão dos dois fatos t a n t o por
Josefo como pelo T a l m u d e , b e m d e m o n s t r a m a g r a n d e imp o r t â n c i a atribuída à transgressão desse preceito relativo
ao m a t r i m ô n i o do sumo sacerdote. O s fariseus n ã o tiveram
receio de manifestar em público a sua d e s a p r o v a ç ã o , e até
mesmo lançá-la à face do soberano, apesar do perigo evidente q u e essa a t i t u d e representava p a r a a vida deles.
Mais ainda: com base nessa advertência, rejeitaram o sob e r a n o pontificado asmoneu ilegítimo .
P o d e m o s citar a i n d a o u t r o caso de transgressão da
regra relativa ao casamento do sumo sacerdote. Na ocasião em que Y o s h u a , filho de G a m a l i e l (63-65 d . C , aprox i m a d a m e n t e ) foi n o m e a d o sumo sacerdote, estava noivo
de u m a viúva, M a r t a , da família dos B o e t o s . U m a vez
sumo sacerdote, casou-se; tal decisão era-lhe permitida
como sacerdote, mas não como s u m o s a c e r d o t e . Cont a m que M a r t a dera ao rei Agripa II u m a vultosa quantia p a r a fazer com que seu noivo fosse n o m e a d o sumo
sacerdote. Desse relato deduzimos q u e o casamento projetado c o m u m a viúva, casamento ilegal para u m sumo
sacerdote, ameaçava impedir a n o m e a ç ã o de Yoshua ao
soberano pontificado. Podemos concluir q u e , t a m b é m nessa
circunstância, o desprezo d a Lei causou indignação a o povo
e aos círculos fariseus. Só posteriormente (Yeb. V I 4) tent a r a m legalizar o caso.
èi
6S
70
7 1
Entre as obrigações q u e a f u n ç ã o i m p u n h a a o s u m o
sacerdote, constava t a m b é m u m cerimonial correspondente
à sua posição; esse cerimonial que o envolvia não se lim i t a v a , de m o d o a l g u m , às funções litúrgicas. Por exemplo: p a r a apresentar condolências, aproximava-se com cortejo p o m p o s o . À sua direita mantinha-se sempre o comandante do T e m p l o . Se era o p r ó p r i o sacerdote que estava
de l u t o , à sua esquerda ficava o chefe da seção dos sacerdotes em exercício n a q u e l e dia. Se, pelo contrário, o sumo
68. Sobre a ilegitimidade d o s a c e r d ó c i o a s m o n e u , ver infra, p . 250ss.
69. Yeb. V I 4. — Lam. R. 1, 50 s o b r e 1, 16 ( 3 5 1) c h a m a a
noiva, Miriam.
70. A p e s a r d a p r o i b i ç ã o da Lei, A l e x a n d r e J a n e u p a r e c e ter-se
t a m b é m c a s a d o c o m sua c u n h a d a v i ú v a , A l e x a n d r a (Schürer, I, 277,
n. 2 ) .
7 1 . b . Yoma,
1 8 ; b . Yeb. 6 1 , cf. p . 142.
b
a
a
sacerdote é que apresentava suas condolências, seu predecessor no cargo pontifício colocava-se à sua e s q u e r d a .
As prescrições seguintes faziam igualmente p a r t e desse
cerimonial: " N i n g u é m p o d e vê-lo nu; não se p o d e vê-lo
e n q u a n t o corta os cabelos ou t o m a seu b a n h o " . Enfim,
esperava-se do sumo sacerdote u m a apresentação partic u l a r m e n t e c u i d a d a ; dizem ser de uso o "corte j u l i a n o "
p a r a o cabelo, quer dizer, o cabelo b e m curto .
11
73
74
M e s m o após sua deposição,
o sumo sacerdote conservava o título e o prestígio. A i n d a mais: se, após u m a
impureza ritual, o sumo sacerdote não pudesse oficiar no
Dia das expiações, outro sacerdote o substituía na cerimônia , fato freqüentemente repetido . O r a , esse sacerdote que substituía o sumo sacerdote passava a constar
n a lista dos sumos sacerdotes, e m b o r a só tivesse exercido
a função, como substituto, d u r a n t e algumas h o r a s .
15
76
O b s e r v a m o s , c o n t i n u a m e n t e , a influência dos sumos
sacerdotes depostos. Pensemos no papel que representou
Anás (em exercício de 6 a 15) no processo de J e s u s .
Lembremo-nos no sumo sacerdote Jonatas, filho de A n á s
(em exercício da Páscoa a Pentecostes de 3 7 ) ; em 5 2 dirigiu u m a i m p o r t a n t e e m b a i x a d a judaica junto ao govern a d o r da Síria, Umídio Q u a d r a t o , e foi enviado, c o m
A n a n i a s , o sumo sacerdote em exercício, ao i m p e r a d o r q u e ,
sob seu desejo, confiou o governo da Palestina a Félix .
O s sumos sacerdotes depostos, A n a n , filho de A n a n (em
exercício em 62 d . C . ) , e Y o s h u a , filho de G a m a l i e l (em
exercício de 63 a 6 5 , a p r o x i m a d a m e n t e ) , r e p r e s e n t a r a m
papel d e t e r m i n a n t e no início da revolta contra os r o m a n o s .
77
7S
79
80
A p ó s sua deposição, o s u m o sacerdote conservava não
somente u m a g r a n d e p a r t e d e seu prestígio, mas t a m b é m
o caráter que sua função lhe conferia. A prescrição que
limitava a escolha d a m u l h e r p a r a o c a s a m e n t o , assim
como a proibição de manchar-se em contato c o m os mortos, v i g o r a r a m , p a r a ele, como a n t e s . E m b o r a interrompidas as suas funções, sua m o r t e c o n s e r v a v a u m a virtude
expiatória p a r a os criminosos que se e n c o n t r a v a m nas cidades de r e f ú g i o . "A única diferença entre u m sumo
sacerdote em exercício e u m deposto consiste no [pagam e n t o e oferenda do] novilho no Dia das expiações e no
[ p a g a m e n t o ] do d é c i m o 'épha [de fina flor d e farinha a
ser q u e i m a d a todos os dias] " . M e s m o após a sua deposição, como podemos n o t a r , o sumo sacerdote conserva,
em character indelebilis,
o caráter conferido pelo seu cargo que o torna primeira pessoa da teocracia. Possui u m a
"santidade eterna" *.
81
83
83
8
Esse caráter de natureza cultual conferido pelo cargo de sumo sacerdote era o f u n d a m e n t o incontestado d e
sua posição privilegiada na c o m u n i d a d e , mas o q u a d r o
ficaria incompleto se não formulássemos u m a pergunta:
em q u e m e d i d a a situação histórica influenciava a posição
do sumo pontífice? C o n v é m lembrar, em primeiro lugar,
toda uma série d e fatos que t e n d i a m a m i n i m i z a r a imp o r t â n c i a do sumo sacerdote. A extensão progressiva do
p o d e r político era dos mais radicais. S e g u n d o uma antiga
t r a d i ç ã o , o sumo sacerdote q u e recebera a unção assumia
o compromisso p a r a o resto d e sua v i d a e transmitia o pontificado como h e r a n ç a , a seus descendentes. N a época
h e r o d i a n a e r o m a n a — não sabemos d e s d e q u a n d o
nem
p o r q u ê , — a u n ç ã o prescrita pela Lei (Ex 29,7;30,22-33)
deixara de vigorar; a consagração do sumo sacerdote fazia-se por i n v e s t i d u r a . Esse fato já lhe diminuía o pres85
72. T o s . Sanh. I V 1 (420, 1 3 ) , cf. M i s h n a Sanh. I I 1.
73. T o s . Sanh. I V 1 (420, 14).
74. b . Sanh. 2 2 ; b . Ned. 5 1 (Bilíerbeck, I I I , 440, n . 1 ) .
75. T o s . Yoma I 4 (180, 12).
76. Era 5 a . C , Josefo, filho d e E l l e m , substituiu M a t i a s , filho de
Teófilo ( A n i . XVII
6, 4, § 166; T o s . Yoma I 4 [180, 1 4 ] ; b .
Yoma
12^; j . Yoma I 1, 5 8 1 [ I I I / 2 , 1 6 4 ] . S h i m e o n , filho d e K a m i t h (17-18
d . C ) , foi o b r i g a d o a se deixar substituir, ver supra, p . 2 1 5 .
77. Jo 18,13.24; cf. At 4,6; Lc 3,2.
78. B. /. II 12, 5-6, § 240ss; Ani. X X 8, 5, § 162.
79. B. j . I I 20, 3, § 5 6 3 ; 22, 1-2, § 648-654; I V 3, 7ss, § 151ss;
Vita 38, § 193s; 39, § 195ss; 44, § 216ss.
80. B. j . I V 3 , 9, § 160; 4, 3, § 238ss; Vita 38, § 193; 41 § 2 0 4 .
b
a
d
8fi
8 1 . Hör. I I I 4.
82. Mak. II 6; Hör. I I I 4 .
8 3 . Hör. I I I 4 ; Meg. I 9.
84. Naz. V I I 1.
85. S e g u n d o u m a t r a d i ç ã o r a b í n i c a (b. Yoma
5 2 ) , desde o temp o d o rei Josias q u e e s c o n d e u — d i z e m — o ó l e o s a n t o p a r a a u n ç ã o .
8 6 . Q u e r dizer, pela i m p o s i ç ã o d a s q u a t r o p a r t e s d a v e s t e d o
s u m o s a c e r d o t e , v e r supra, p . 208, n . 6.
b
tígio. O s chefes políticos n ã o d a v a m importância a certas
prescrições; H e r o d e s , por exemplo, instituiu A r i s t ó b u l o ,
o último sumo sacerdote asmoneu (35 a . C . ) , com dezessete anos , q u a n d o a idade canónica p a r a os sacerdotes
era, n o r m a l m e n t e , vinte anos " . T a l ocorrência t a m b é m
não contribuía p a r a a u m e n t a r o crédito inerente à função.
U m fato n o v o , porém, abalou p r o f u n d a m e n t e a situação.
Para destruir a importância da função pontifical, H e r o des ousou n o m e a r ou destituir a seu bel-prazer os s u m o s
sacerdotes e, desprezando os privilégios da antiga aristocracia dos sumos sacerdotes sadoquitas; chegou a n o m e a r
sumo sacerdote qualquer m e m b r o de família sacerdotal
c o m u m ; assim sendo, mesmo sob os r o m a n o s , o cargo
deixou de ser vitalício e hereditário. Herodes alcançou
seu fito, pelo menos em p a r t e . U m a total d e p e n d ê n c i a dos
sumos sacerdotes em relação aos chefes políticos, alguns
casos de sintonia e a rivalidade dos chefes dos sacerdotes foram as conseqüências das novas disposições.
87
8ÍÍ
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90
tJl
Além do mais, a influência crescente dos fariseus fazia-se sentir, sobretudo no Sinédrio, mas t a m b é m no culto.
Os sumos sacerdotes de idéias saducéias tiveram, pois, de
87. Aliás, p o u c o t e m p o d e p o i s , m a n d o u - o m a t a r , v e r infra, p . 2 6 1 .
88. Ant. X V 3, 3, § 5 1 .
89. E m b . Hul. 2 4 - ( T o s . Zeb. X I 6 [ 4 9 6 , 3 ] , c o m v a r i a n t e s ) tem o s três p o n t o s de vista: a) U m s a c e r d o t e e n c o n t r a - s e a p t o ao serviço
d e s d e q u e se m a n i f e s t a m os p r i m e i r o s sinais d a p u b e r d a d e , b) A p a r tir da i d a d e de v i n t e anos (por analogia c o m Esd 3,8 q u e e s t a b e l e c e
essa i d a d e c o m o i d a d e c a n ó n i c a dos l e v i t a s ) , c) " D e s d e q u e surjam
os p r i m e i r o s sinais d e p u b e r d a d e , u m s a c e r d o t e está a p t o ao serviço,
m a s seus i r m ã o s , os s a c e r d o t e s , n ã o o d e i x a m oficiar a n t e s d e seu
vigésimo a n o " . — Esse terceiro p o n t o de vista r e p r e s e n t a a p r á t i c a
c o r r e n t e , já q u e o m i d r a x e t a n a í t a Sifra Lv 2 1 , 17 ( 4 7 188, 29) t e m
a p e n a s essa t r a d i ç ã o p a r a i n f o r m a r .
90. Ver supra, p . 219; a i n d a b . Yoma 8 - 9 bar.; j . Yoma I 1, 3 8
38 ( I I I / 2 , 1 6 2 ) , e passim.
9 1 . Eis o texto de j . Yoma I 1, 3 8 43 ( 1 I I / 2 , 162s) relativo aos
c a n d i d a t o s ao cargo de pontífice; c a d a u m excede o o u t r o n a s gratificações. V e r t a m b é m j . Yoma
I 1, 3 8 ( 1 I I / 2 , 1 6 4 ) : em 5 a . C , no
D i a das e x p i a ç õ e s , Josefo, filho de E l l e m , s u b s t i t u i seu p a r e n t e M a t i a s ,
filho de Teófilo, q u e u m a i m p u r e z a ritual i m p e d e d e oficiar. N e s s a
ocasião, Josefo tenta afastar de seu c a r g o o s u m o s a c e r d o t e l e g í t i m o .
A p r e s e n t a ao rei ( H e r o d e s ) u m a d ú v i d a a p a r e n t e m e n t e i n o c e n t e , m a s
q u e , na v e r d a d e , constituía u m a c i l a d a : " O n o v i l h o [do sacrifício p e l o
p e c a d o ] e o c a r n e i r o [do h o l o c a u s t o ] d e v e m ser pagos p o r m i m ou
pelo s u m o s a c e r d o t e [em exercício] ?" Josefo espera q u e o rei r e s p o n da " p o r t i " , e assim o c o n f i r m a c o m o s u m o s a c e r d o t e ; m a s H e r o d e s
a
b
d
b
ü
d
;i
fazer calar suas vozes e opiniões no Sinédrio; e no Templo precisavam c u m p r i r os ritos segundo a tradição farisaica. N ã o se p o d e dizer que os s u m o s sacerdotes se ten h a m eximido de q u a l q u e r responsabilidade no declínio
de sua influência. Casos de n e p o t i s m o , eventuais conquistas abusivas , transgressões das prescrições em vigor
p a r a seu m a t r i m ô n i o , prática do comércio na esplanada
do T e m p l o , talvez mesmo falta de formação teológica
do pontífice ; esses fatores, p r i n c i p a l m e n t e nas c a m a d a s
do povo submetidas à influência dos fariseus, contribuíram
p a r a diminuir o prestígio da função pontifical. Nesse ponto, p o r é m , é preciso n ã o exagerar.
92
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9 5
9b
Por outro lado, no século I de nossa era, a importância do sumo sacerdote via-se reforçada de m o d o considerável. C o m efeito, e n q u a n t o chefe do Sinédrio e primeiro
representante do p o v o , neste período em q u e não havia
mais rei, o sumo sacerdote representava o povo judeu diante dos r o m a n o s . E entre os sumos sacerdotes da época,
h o u v e homens eminentes q u e , graças a sua personalidade,
tiveram poder e prestígio, como, por e x e m p l o , A n á s , Caifás e os sumos sacerdotes q u e no início da revolta ent r a r a m em cena contra os r o m a n o s . É preciso observar o
seguinte: o caráter de natureza cultual conferido pela função pontifícia, que permitia ao sumo sacerdote e a ele só
entre os mortais, a e n t r a d a no Santo dos santos, exaltava-o
de tal m o d o acima de seus semelhantes que a situação histórica n e n h u m a importância representava p a r a a sua posição. P o r q u e " n i n g u é m arroga a si m e s m o a h o n r a [de
ser sumo s a c e r d o t e ] ; é c h a m a d o p o r D e u s , exatamente
como A a r ã o " ( H b 5,4).
c
d e s c o b r e a a r m a d i l h a (par. e m T o s . Yoma
I 4 [180, 1 6 ] ; j . Hor. I I I
5, 4 7 7 [ n ã o t r a d u z i d o e m V I / 2 , 2 7 4 ] ) .
92. Supra, p . 144s.
9 3 . Supra, p . 141s.
94. Supra, p . 218s.
9 5 . V e r supra, p . 72.
96. Yoma I 6: p a r a manter-se a c o r d a d o d u r a n t e a noite q u e prec e d e o Dia das e x p i a ç õ e s , o s u m o s a c e r d o t e q u e estava h a b i t u a d o
a ler, lia a l g u m a s p a s s a g e n s d o A n t i g o T e s t a m e n t o ; se, p e l o c o n t r á r i o ,
n ã o estava h a b i t u a d o a isso, a l g u é m fazia-lhe a l e i t u r a : " Z a c h a r y a b e n
Q e b u t a l dizia: M u i t a s vezes li Daniel p a r a e l e " ; cf. Hor. I I I 8.
d
miciliados p o r todo o país, só t i n h a m serviço n o T e m p l o
u m a s e m a n a em 2 4 , e mais as três festas anuais de peregrinação.
B. OS CHEFES DOS SACERDOTES
E OS CHEFES DOS LEVITAS
"a) O sumo sacerdote, ungido com o óleo da u n ç ã o
precede [na h i e r a r q u i a ] o sumo sacerdote, diferençado [dos
outros sacerdotes] somente pela investidura ; o s u m o sacerdote diferençado pela investidura precede o sacerdote
ungido p a r a a guerra (Dt 20,2-4);
b) aquele que é ungido p a r a a guerra [ p r e c e d e ] o
comandante
do Templo
(sugan) ;
c) esse [precede] o chefe da seção sacerdotal
hebdomadária (nós
ha-misinar);
d) esse, o chefe da seção sacerdotal
cotidiana
(ros
bêt 'ab);
e) esse, o vigilante do Templo
Cammarkal);
f) esse, o tesoureiro
(gizbar);
g) esse, o sacerdote comum (kôhen
hedyôt);
h) esse, o levita " (continuação desta lista, p . 3 6 4 ) .
97
9S
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1 0 3
101
O q u a d r o demonstra q u e havia, além da função do
sumo sacerdote, cinco postos principais (b-f) d e n t r o da assembléia d o clero. Passamos a analisá-los. A esse respeito,
convém observar que as funções de c o m a n d a n t e d o Templo, de vigilante e de tesoureiro (b, e, f) achavam-se tão
intimamente ligadas ao culto do santuário que s u p u n h a m
uma presença p e r m a n e n t e de seus titulares em Jerusalém;
em compensação, os sacerdotes investidos da função de
chefe das 24 seções sacerdotais h e b d o m a d á r i a s (c, d) do97. O rito da c o n s a g r a ç ã o do s u m o s a c e r d o t e p r e s c r i t o pela Lei,
mas q u e n ã o estava mais e m uso na é p o c a h e r o d i a n a e r o m a n a .
98. R i t o d a c o n s a g r a ç ã o d o s u m o s a c e r d o t e q u e eslava e m uso
na é p o c a h e r o d i a n a e r o m a n a . E m lugar do s u m o s a c e r d o t e i n v e s t i d o ,
j . Hor. I I I 9, 4 8 33 ( V l / 2 , 278) m e n c i o n a " o p r o f e t a " .
99. b . Táan,
3 1 b a r . coloca o c o m a n d a n t e d o T e m p l o a c i m a d o
sacerdote u n g i d o p a r a a g u e r r a . Em j . Hor. 111 9, 4 8 34 ( V I / 2 , 278)
falta o c o m a n d a n t e d o T e m p l o .
100. T o s . Hor. II 10 (476, 2 7 ) ; j . Hor. I I I 9, 4 8 33 ( V I / 2 , 2 7 8 ) .
101. E n c o n t r a m o s h i e r a r q u i a s e m e l h a n t e e m Q u m r â n e m 1 QM
II 1-4: s u m o s a c e r d o t e , seu s u b s t i t u t o , 12 chefes d e s a c e r d o t e s , os
chefes das seções h e b d o m a d á r i a s de s a c e r d o t e s , 12 chefes d e levitas
c os chefes das seções h e b d o m a d á r i a s de levitas ( i n d i c a ç ã o d e G .
Kiinzing).
b
a
b
b
O sacerdote d e grau mais elevado depois d o s u m o sac e r d o t e , era o comandante
do Templo
(s"gan
ha-kòhamim) ,
Josefo e o N o v o T e s t a m e n t o : strategòs
[toü
hiroü]
. Sua função era u m a daquelas que se encontrav a m ligadas por t o d o o ano ao culto do T e m p l o e pertencia
a u m único titular.
A posição privilegiada d o c o m a n d a n t e do T e m p l o manifestava-se d a seguinte m a n e i r a : nas cerimônias solenes era
o assistente do s u m o sacerdote e o c u p a v a , à sua direita, o
lugar d e h o n r a ; talvez tivesse, a o m e s m o t e m p o , d e cuid a r p a r a q u e o s u m o sacerdote cumprisse corretamente os
ritos . E r a a i n d a costume designá-lo, u m a semana antes
102
m
m
10S
m
102. S c h ü r e r , I I , 320s; Billerbeck, I I , 628-630.
103. P. A. Ul 2 e passim
= c h e f e d o c l e r o . P o r s u a vez, j . Sheq.
V 3, 49
30-36 ( 1 I I / 2 , 295) p õ e qftilikôs
( v a r i a n t e k«talikos)
=
katholikós
e s u p õ e , e r r o n e a m e n t e , a p o i a n d o - s e e m 2Cr 31,12, q u e h a via d u a s p e s s o a s d e s s a c o n d i ç ã o , q u a n d o os d e z h o m e n s n o m e a d o s
em 2Cr 31,13 d e v e m designar os três t e s o u r e i r o s e os sete vigilantes
d o T e m p l o . S e g u n d o j . Sheq. V 3 , 4 9 3 3 ( H I / 2 , 295) a h i e r a r q u i a é
a s e g u i n t e : s u m o s a c e r d o t e , katholikós,
vigilante do T e m p l o , t e s o u r e i r o .
104. Ant. X X 6, 2, § 131 e passimAt 4,1;5,24.26.
105. Yoma
I I I 9; I V 1; Tamid
V I I 3 ; j . Yoma
I I I 8, 4 1 4
( I I 1 / 2 , 1 9 7 ) . Cf. V I I 1; Sota V I I 7-8. Q u a n d o o s u m o s a c e r d o t e apresenta s u a s c o n d o l ê n c i a s , o c o m a n d a n t e do T e m p l o m a n t é m - s e à s u a
d i r e i t a , T o s . Sanh. I V 1 (420, 13) b . Sanh. 19» b a r .
106. Yoma I V 1: p o r ocasião d o sorteio dos dois b o d e s p a r a o
s u m o s a c e r d o t e , n o D i a das E x p i a ç õ e s , o c o m a n d a n t e d o T e m p l o à sua
d i r e i t a o u o chefe d o s s a c e r d o t e s d a s e ç ã o , f a z e n d o o s e r v i ç o cotid i a n o , e q u e se m a n t i n h a à e s q u e r d a , devia c o n v i d a r o s u m o s a c e r d o t e
a e r g u e r a m ã o n a qual a sorte " p a r a I a h w e h " caíra, e m o s t r a r o
resultado da sorte a todo o povo. Aqiba opina que nos defrontamos
aí com u m a m e d i d a de p r e c a u ç ã o c o n t r a os s a d u c e u s (b. Yoma
40 ;
cf. T o s . Yoma 111 2 [185, 1 1 ] ; B ü c h l e r , Priesíer,
110s); ao q u e t u d o
indica, e r a u m a q u e s t ã o d i s c u t i d a : o s u m o s a c e r d o t e deveria segurar
a sorte " p a r a I a h w e h " na m ã o e s q u e r d a n o caso e m q u e a e x t r a ç ã o
dessa sorte a fazia cair nessa m ã o {opinião d o s fariseus) ? O u deveria ele, n e s s e c a s o , fazer p a s s a r d a m ã o e s q u e r d a p a r a a direita (opin i ã o dos s a d u c e u s ) ? E r g u e r a m ã o era u m a m e d i d a d e p r e c a u ç ã o
c o n t r a os s a d u c e u s ; isso é c o n f i r m a d o p o r u m a regra s e m e l h a n t e n a
cerimônia da libação d e á g u a , p o r ocasião da festa das T e n d a s
(Sukka
I V 9 ) . O s s a d u c e u s r e j e i t a v a m a l i b a ç ã o de á g u a c o m o n ã o b í b l i c a ; p o r
c a u s a d i s s o , u m s u m o s a c e r d o i e s a d u c e u , c e r t o a n o , d e r r a m o u a água
s o b r e seus pés (ver infra, p . 218, n . 6 7 ) . P o r c o n s e g u i n t e , ao erguer
a m ã o , o s u m o s a c e r d o t e d e v i a t o r n a r visível, o mais longe possível,
a
a
a
b
8 - Jerusalém
no t e m p o
de
Jesus
do D i a das expiações, substituto do sumo sacerdote, no
caso em q u e surgisse algum empecilho e esse não pudesse
exercer sua função . Finalmente, a importância deste posto
aparece n u m d a d o do T a l m u d e da P a l e s t i n a : " O sumo
sacerdote n ã o seria n o m e a d o sumo sacerdote se não tivesse
sido, antes, c o m a n d a n t e do T e m p l o " .
Na v e r d a d e , essa afirmação apenas possui u m valor
geral; com efeito, desde o início do reinado de H e r o d e s , o
G r a n d e , a n o m e a ç ã o do sumo sacerdote foi com freqüência
arbitrária e d e t e r m i n a d a , p u r a e simplesmente, por considerações políticas. E n t r e t a n t o , essa indicação podia-se verificar em inúmeros casos; tornava-se facilmente o p r i m e i r o
chefe dos sacerdotes como sucessor de u m sumo sacerdote
deposto.
N ã o resta dúvida, p o r é m , de que o c o m a n d a n t e do
T e m p l o era escolhido entre as famílias da aristocracia sacerdotal. O exemplo dos dois filhos do sumo sacerdote Ananias no-lo d e m o n s t r a . U m , A n a n , foi c o m a n d a n t e do
107
108
1 0 9
o rito c o r r e t a m e n t e c u m p r i d o c o n f o r m e a h a l a k a farisaica. Por tal motivo p o d e m o s c o n c l u i r q u e , s e g u n d o Yoma
I V 1, o c o m a n d a n t e do
T e m p l o devia fiscalizar o s u m o s a c e r d o t e n o d e s e n r o l a r d a c e r i m ô n i a
do sorteio.
107. T o s . Yoma I 4 (180, 1 2 ) : " R . H a n a n y a b e n G a m a l i e l I I (por
volta de 120 d.C.) dizia: O c o m a n d a n t e d o T e m p l o é d e s i g n a d o p a r a
s u b s t i t u i r o s u m o s a c e r d o t e [ n o D i a das E x p i a ç õ e s ] n o caso em q u e
lhe a c o n t e ç a a l g u m a i r r e g u l a r i d a d e q u e o t o r n e i n a p t o ao serviço [ L v
22,4 f i m ] " . O t e s t e m u n h o de R. H a n a n y a a d q u i r e m a i o r i m p o r t â n c i a
p o r ser ele p a r e n t e de P i n h a s , o ú l t i m o s u m o s a c e r d o t e {supra, p . 217,
n . 6 3 ) . M e s m a t r a d i ç ã o e m b . Yoma 3 9 bar.; b . Soía 4 2 b a r . : " R .
H a n a n y a , c o m a n d a n t e d o T e m p l o dizia: P o r q u e postava-se o c o m a n d a n t e d o T e m p l o à sua direita [à direita d o s u m o s a c e r d o t e p a r a o
sorteio dos dois b o d e s , Yoma
I V 1, ver a n . p r e c e d e n t e ] ? A fim d e
q u e , se a c o n t e c e r ao s u m o s a c e r d o t e tornar-se i n a p t o p a r a c u m p r i r suas
funções, o c o m a n d a n t e d o T e m p l o o s u b s t i t u a " . A q u i , h á u m a volta
ao p a s s a d o : é o p r ó p r i o c o m a n d a n t e d o T e m p l o , o sábio H a n a n y a q u e
relata essa t r a d i ç ã o . M a s é sem d ú v i d a a Tosefta q u e cita o verdad e i r o r e l a t o r ; vê-se b e m d e q u e m o d o , através de u m a t r a d i ç ã o relativa a o serviço d o T e m p l o e t r a z e n d o o n o m e d e u m H a n a n y a foi
fácil a t r i b u i r ao c o m a n d a n t e d o T e m p l o q u e levava o m e s m o n o m e .
D i v e r s a m e n t e ao q u e p e n s a S c h ü r e r , I I , 3 2 1 , n ã o c o n s i g o e n c o n t r a r
c o n t r a d i ç ã o e n t r e essas i n f o r m a ç õ e s e a de Yoma I 1 s e g u n d o a q u a l ,
7 dias antes d o D i a das E x p i a ç õ e s , designava-se o s u b s t i t u t o d o s u m o
s a c e r d o t e ; a n o m e a ç ã o solene, c a d a a n o , n ã o exclui de m o d o algum
o fato d e a s u b s t i t u i ç ã o d o s u m o s a c e r d o t e ter sido u m privilégio d o
comandante do Templo.
a
108. j . Yoma
I I I 8. 4 1 5 ( I I I / 2 , 197).
109. Ant. X X 6, 2, § 1 3 1 ; B. j . II 12, 6, § 2 4 3 .
a
a
T e m p l o e m 5 2 d . C ; o o u t r o , Eleazar , e m 6 6 . O u t r o fato
n o s p r o v a que se nomeava c o m a n d a n t e do T e m p l o u m dos
m e m b r o s da aristocracia sacerdotal: os dois filhos de A a r ã o ,
N a d a b e Abiú, são c h a m a d o s s 'ganê k hünnah
; ao nomear assim os dois filhos d e A a r ã o " c o m a n d a n t e s d o T e m p l o " , o M i d r a x e r e m e t e ao p a s s a d o u m título e u m a condição de época tardia. Devemos m e n c i o n a r , enfim, os casos
de substituição efetiva do sumo sacerdote. O sumo sacerdote Shímeon, filho d e K a m i t h (17-18 d . C , a p r o x i m a d a m e n t e ) , substituído p o r seu i r m ã o n o D i a das Expiações ; o sumo sacerdote Matias, filho de Teófilo entre
5-12 de m a r ç o de 4 a . C foi substituído n o D i a das Expiações do ano 5 por u m p a r e n t e d e n o m e José, filho d e
Eílem " ; já Aristóbulo I (104-103 a . C ) , e n f e r m o p o r ocasião d e u m a festa das T e n d a s , fora t a m b é m substituído
por seu irmão Antígona .
De m o d o h a b i t u a l , como vimos acima, o c o m a n d a n t e
d o T e m p l o era designado substituto do sumo sacerdote
p a r a o D i a das Expiações. P o r t a n t o , p e l o m e n o s n o s dois
primeiros casos de substituição para o citado Dia. podemos supor, m e s m o sem ter sido explicitado, q u e o substituto foi o c o m a n d a n t e do T e m p l o . Conclui-se, pois, ser
d e uso escolher o c o m a n d a n t e do T e m p l o e n t r e os p a r e n t e s
p r ó x i m o s e m e s m o m u i t o p r ó x i m o s do sumo sacerdote.
0 c o m a n d a n t e do T e m p l o devia fiscalizar, permanentem e n t e , todo o serviço de culto e, conforme o próprio n o m e
s gan ha-kôhãním
indica, o dos sacerdotes e m serviço. As
informações relativas a o c o m a n d a n t e d o T e m p l o , Eleazar,
d e q u e m vamos nos o c u p a r , confirmam esse p o n t o , assim
li0
l
e
m
m
3
m
c
110. Ant. X X 9, 3, § 2 0 8 ; B. j . I I 17, 2, § 409.
111. Lv. R. 20, 2 s o b r e 16, I ( 5 1 2 2 ) ; Lv. R. 20, 7 s o b r e 16, 1
( 5 3 1 4 ) ; Tanhuma,
'aharê môt, § 1, 4 2 7 , 12.
112. O s t e x t o s são c i t a d o s supra, p . 108, n . 5 1 .
113. R e l a t o c o n c o r d e d e ]osc£o, Ant. X V I I 6, 4, § 166, e d a lit e r a t u r a r a b í n í c a . T o s . Yoma í 4 (180, 1 4 ) ; b . Yoma
1 2 ; j . Yoma
I
1 3 8 1 ( I H / 2 , 1 6 4 ) . Q u a n t o à i n v e s t i d u r a d e M a t i a s em m e a d o s do
a n o 5 a . C , ver Ant. X V I I 4, 2, § 7 8 : após a m o r t e d e F é r o r a s , Dest i t u i ç ã o , s e g u n d o Ant. X V I I 6, 4, § 167. n a v é s p e r a do eclipse parcial d a l u a e m 13 de m a r ç o de 4 a.C. O D i a das E x p i a ç õ e s caía e m
s e t e m b r o - o u t u b r o ; a s u b s t i t u i ç ã o deu-se, p o i s e m 5.
114. Ant. I I I 11, 1, § 304. B ü c h l e r , Priester,
109, n. 1, c o n s t a t o u
q u e se t r a t a v a d o p a p e l d e s u b s t i t u t o r e a l i z a d o p o r A n t í g o n a .
b
a
b
d
como as q u e nos foram fornecidas p o r H a n a n y a , c h a m a d o
de C o m a n d a n t e d o T e m p l o e relativos aos costumes observados no desenrolar do culto. Por e x e m p l o : " E m t o d a a
m i n h a vida, jamais vi u m a pele [de vítima i m p r ó p r i a ao
sacrifício] trazida p a r a ser i n c i n e r a d a " ; essas p a l a v r a s
supõem u m a longa familiaridade com a liturgia d o santuário.
Além d a fiscalização d o culto, o c o m a n d a n t e d o Templo d i s p u n h a de toda a força policial. A tal título efetuava as prisões que quisesse; foi u m deles q u e p r e n d e u
os apóstolos no adro externo d o T e m p l o . D e m o n s t r e mos, com u m e x e m p l o , q u a l a extensão dos p o d e r e s desses h o m e n s . N o sagan do a n o 66 d . C , Eleazar decidiu sup r i m i r o sacrifício p a r a o i m p e r a d o r ; tal o r d e m r e p e r c u t i u
como u m a declaração de guerra aos r o m a n o s e ocasião
imediata de início da guerra d o extermínio . Nos fins
desse a n o 6 6 , os chefes da revolta n o m e a r a m Eleazar gov e r n a d o r da I d u m é i a . Dificilmente p o d e r í a m o s encontrar algo que ilustrasse m e l h o r a p l e n i t u d e de p o d e r de
que gozava o c o m a n d a n t e como senhor do T e m p l o , e de
que prestígio era revestido.
1!5
l16
l17
11B
Após o c o m a n d a n t e d o T e m p l o , v i n h a m , em o r d e m
h i e r á r q u i c a , os chefes das seções sacerdotais
hebdomadárias, e m n ú m e r o de 2 4 , e os chefes das seções
cotidianas,
a b r a n g e n d o cerca de 156, pois, cada seção h e b d o m a d á r i a
era dividida em 4 a 9 seções d i á r i a s . Esses sacerdotes
viviam dispersos na Judéia e n a Galileia; exceto n a s três
festas anuais de p e r e g r i n a ç ã o , só estavam presentes em
Jerusalém u m a semana em 2 4 , q u a n d o lhes tocava a vez
de fazer o serviço sacrificai. D u r a n t e aquela s e m a n a de
serviço, d e v i a m c u m p r i r as funções d e t e r m i n a d a s p a r a o
culto cotidiano e o sacerdote chefe da seção h e b d o m a d á ria realiza as cerimônias de purificação p a r a os leprosos
119
115.
116.
strategós.
117.
118.
119.
178): 5
'Ed. I I , 2 .
A t 5,24,26; cf. 4 , 1 . Cf. i g u a l m e n t e
a tradução
d e sagan
por
B. j . I I 17, 2, § 409s.
B. /'. II 20, 4, § 566.
T o s . Ta'an. I I 2 (216, 1 7 ) . — j . Ta'an. I V 2, 6 8 14 ( I V / 1 ,
a 9 seções c o t i d i a n a s . — b . Men. 1 0 7 ; 6 seções c o t i d i a n a s .
a
b
e as m u l h e r e s p a r t u r i e n t e s q u e , t e n d o t e r m i n a d o seu tempo de purificação, h a v i a m sido d e c l a r a d a s p u r a s n a Porta
de N i c a n o r . Foi, pois, o chefe dos sacerdotes da seção
h e b d o m a d á r i a e m serviço q u e , n a P o r i a d e N i c a n o r , p o r t a
d e c o m u n i c a ç ã o entre o átrio das m u l h e r e s com o dos
israelitas , recebeu o sacrifício da m ã e de Jesus (Lc 2,24)
" q u a n d o os [ 4 0 ] dias de sua purificação, prescritos pela
Lei d e Moisés, se c o m p l e t a r a m " ( L c 2 , 2 2 ) . E r a , igualm e n t e , n a Porta de N i c a n o r q u e o chefe da seção hebdom a d á r i a , para c u m p r i r o ordálio, devia fazer a m u l h e r
suspeita de adultério , b e b e r as águas amargas .
m
m
lzz
120. E m Mid. I 4 , a P o r t a do Leste só p o d e ser a passagem entre o á t r i o dos israelitas e o d a s m u l h e r e s , c o n f o r m e o d e m o n s t r a a
c o m p a r a ç ã o c o m B. j . V 5, 2, § 198ss; é p r e c i s o , p o i s , e n t e n d e r Mid.
II 6 n o m e s m o s e n t i d o . A l é m do m a i s , d e v e m o s levar e m c o n t a de
Nm. R. 7, 8 s o b r e 5, 2 {37» 2 8 ) e T o s . Kel. B. Q. 1 12 (570, 1 3 ) , seg u n d o os q u a i s o " c a m p o dos l e v i t a s " se e s t e n d i a até a Porta de Nic a n o r ; ora, s e g u n d o Sifre N m 5,3 § 1 ( 2 7, 2 0 ) , estendia-se a t é a
P o r t a d o a d r o (mais i n t e r i o r ) . P o r c o n s e g u i n t e , a P o r t a de N i c a n o r
c a e n t r a d a d o a d r o q u e se a c h a m a i s p a r a d e n t r o . E n f i m , e sobrei u d o , c o n v é m o b s e r v a r q u e o á t r i o d a s m u l h e r e s era acessível a todos
aqueles q u e só t i n h a m c o m o ú l t i m o rito d e p u r i f i c a ç ã o u m sacrifício a o f e r e c e r {Kel. I 8; T o s . Kel. B. Q. I 10 [ 5 7 0 , 1 ] ) ; era o c a s o ,
p o r e x e m p l o , d o l e p r o s o q u e , a n t e s d a d e c l a r a ç ã o final de p u r e z a ,
d e v i a b a n h a r - s e n o hall d o s l e p r o s o s , s i t u a d o n o á t r i o d a s m u l h e r e s .
D e v e m o s , p o i s , a f i r m a r q u e a P o r i a de N i c a n o r , local d e d e c l a r a ç ã o
d a p u r e z a , é a p a s s a g e m q u e liga o á t r i o d a s m u l h e r e s a o á t r i o i n t e rior. Essa é t a m b é m a o p i n i ã o de D a l m a n , Itinéraires,
392 e n . 6, e
mais r e c e n t e m e n t e , a p ó s u m e x a m e m i n u c i o s o d e t o d a s as fontes, a d e
K. Stauffer. Das Tor des Nikanor
em ZNW
44 (1952-1953). 44-66.
fiilíerbeck, I I , 622-624, é de o p i n i ã o d i f e r e n t e ; situa a P o r t a d e N i c a n o r a leste d o á t r i o d a s m u l h e r e s .
C
121. Tamid V 6: " O chefe d a estação [ n o m e coletivo q u e design a v a o s r e p r e s e n t a n t e s d o s leigos q u e c o m p u n h a m u m a s e ç ã o h e b d o m a d á r i a , s u b i n d o a J e r u s a l é m ] c o l o c a v a os i m p u r o s n a s p o r t a s orienInís [ = P o r t a d e N i c a n o r q u e , a l é m d o p ó r t i c o p r i n c i p a l , c o m p r e e n dia, s e g u n d o Mid. II 6, d u a s p e q u e n i n a s p o r t a s , e d a í , o p l u r a l ] . Nm.
K. 9, 11 s o b r e 5, 16 ( 5 0 1 9 ) : * " D i a n t e d e I a h w e h ' , ( N m 5,16) [isto
é j na P o r t a de N i c a n o r [o s a c e r d o t e coloca a m u l h e r a c u s a d a de
a d u l t é r i o ] ; p o r essa r a z ã o se diz [Tamid
V 6 ] : O chefe d a estação
ii>loc;iva os i m p u r o s n a P o r t a d e N i c a n o r " . Q u e m é " o chefe d a esl a ç ã o " ? O s " i m p u r o s " q u e ele c o l o c a v a à P o r t a d e N i c a n o r d e s i g n a m ,
de m o d o m a i s p r e c i s o , a s p e s s o a s desejosas d e s e r e m d e c l a r a d a s p u r a s ,
• •orno l e p r o s o s , p a r t u r i e n t e s e m u l h e r e s s u s p e i t a s de a d u l t é r i o
(Soía
1
Nm. R. 9 , 11 s o b r e 5, 16 ( 5 0 1 9 ) ; Sifra L v 14,11 ( 3 5 138, 2 1 ) .
r nm s a c e r d o t e q u e d e v e fazer a c e r i m ô n i a de p u r i f i c a ç ã o dessas pes•,Dii;. s e g u n d o
Lv 14,11 ( l e p r o s o s ) L v 12,6 ( m u l h e r e s q u e d e r a m à l u z ) ,
Nm 5,16 ( m u l h e r suspeita d e a d u l t é r i o ) . S a b e m o s , p o r t a n t o , q u e é u m
M U v i •dote q u e p r e s i d e a p u r i f i c a ç ã o e isso é e x p r e s s a m e n t e d i t o e m
a
a
b
O chefe dos sacerdotes da seção cotidiana devia, no
dia de serviço de sua seção, estar presente à oferenda sacrificai. Sabemos por diferentes informações q u e ele se
colocava à esquerda do sumo sacerdote, e n q u a n t o esse oferecia o sacrifício . E n t r e t a n t o , eram o c o m a n d a n t e do
T e m p l o e u m de seus s u b o r d i n a d o s , o "designado a tirar
a s o r t e " q u e dirigiam o culto realizado por seções q u e se
a l t e r n a v a m , m u d a n d o cada semana.
O s dois últimos postos ocupados pelos chefes dos sacerdotes encontravam-se estreitamente ligados u m ao outro; ambos eram postos p e r m a n e n t e s do T e m p l o . Seus titulares são citados juntos muitas vezes; são eles, por exemplo, q u e , de acordo, a n u n c i a m sua nomeação ao sacerdote
Pinhas, canteiro, designado sumo sacerdote de m a n e i r a tumultuosa . Trata-se, V dos 'ammarkHín e 2-, dos gizbarim,
tesoureiros.
O sentido de 'ammarkHín é discutido. Segundo Schü¬
rer, seriam tesoureiros como os gizbarim p o r q u e , em persa,
a p a l a v r a significa, mais ou m e n o s , "conselheiro d o trib u n a l de c o n t a s " . Essa a p r o x i m a ç ã o não é, p o r é m , concludente; com efeito, conforme nos mostra o T a r g u m , essa
p a l a v r a extraída do persa, tinha em aramaico o sentido
geral de "chefe do p o v o " ; adquiriu a seguir, o sentido
m
i24
m
o u t r a p a s s a g e m (Sifra Lv 14,11 ( 3 5 138, 2 1 ) : " o s a c e r d o t e q u e ia
p r o c e d e r à c e r i m ô n i a d a p u r i f i c a ç ã o c o l o c a v a o h o m e m [ l e p r o s o ] a ser
d e c l a r a d o p u r o . . . [138, 30] ' d i a n t e d e l a h w e h ' (Lv 14,11) [a s a b e r ]
d i a n t e da T e n d a ; [ q u e r dizer q u e ] colocava-o n a P o r t a d e N i c a n o r ,
as costas v o l t a d a s p a r a o leste, o r o s t o p a r a o o e s t e " . O c h e f e d a
estação era, p o i s , c e r t a m e n t e , u m s a c e r d o t e {O. H o l t z m a n n ,
Tamid
[col. Die Mischna],
Giessen, 1928, 6 3 , e m Tamid
V 6 v e m o s , incorr e t a m e n t e , q u e esse título "chefe d a e s t a ç ã o " p o d e r i a " d e s i g n a r a função d e t e r m i n a d a [ ! ] , n o T e m p l o , de u m levita [!] ou [!] de u m sac e r d o t e " ) . D e v e e n t ã o ser idêntica ao chefe d a seção s a c e r d o t a l h e b domadária.
122. Yoma I I I 9; I V 1. Cf. T o s . Sin. I V 1 (420, 1 3 ) : q u a n d o o
s u m o s a c e r d o t e , a p ó s u m f a l e c i m e n t o e m sua família, recebia as condolências, o chefe d a seção d i á r i a em serviço m a n t i n h a - s e , i g u a l m e n t e ,
à sua e s q u e r d a .
123. Tamid
I 2-3; I I I 1-3; V 1-2; V I 3 . F a l a r e m o s c o m m a i s min ú c i a infra, p . 274, do sorteio das funções p a r a o h o l o c a u s t o c o t i d i a n o
da c o m u n i d a d e (tamid)
de manhã e à tarde.
124. T o s . Yoma
I 6 (180, 2 5 ) .
125. S c h ü r e r , I I , 327. T a m b é m H . G r á t z , Topographische
und
historische
Streifzüge,
I : Die letzten Tempelbeamten
vor der
Tempelzerstorung
und die Tempelamter,
e m MGWf
34 ( 1 8 8 5 ) , 193.
b
particular d e " c h e f e dos s a c e r d o t e s " . A s fontes i n d i c a m ,
claramente, q u a l a função d o s 'ammark lin.
Citemos, e m
p r i m e i r o lugar, o texto p r i n c i p a l , " O s [sete]
'ammarkHín
q u e faziam? As sete chaves do átrio [dos israelitas e do
átrio dos sacerdotes] estavam sob sua g u a r d a e, se u m
deles quisesse [pela m a n h ã ] a b r i r , n ã o podia fazê-lo antes
que lodos estivessem r e u n i d o s " . E v i d e n t e m e n t e , essa
informação é e s q u e m a t i z a d a ; c o m b i n a o n ú m e r o dos sete
'ammarkHín
c o m as sete chaves d o á t r i o i n t e r n o d e sorte
a d a r , a cada 'ammarkHín
u m a das chaves do átrio .
E n t r e t a n t o , toda essa passagem n ã o r e p o u s a , necessariam e n t e , n u m a p u r a invenção; nessa informação é sem dúvida exalo q u e os 'ammarkHín
d e t i n h a m as chaves d o
T e m p l o e fiscalizavam o s a n t u á r i o . É o q u e Bik. I I I 3
deixa supor. E m geral os 'ammarkHín
são n o m e a d o s d e
a c o r d o com os tesoureiros , mas e m Bik. I I I 3 , os s ganim
apareciam e m seu lugar ao l a d o dos tesoureiros. Os 'ammarkHín são, p o r t a n t o , os vigilantes do Templo ( N . T . [ L c
2 2 , 4 . 3 2 ] e Josefo stralegoí);
o estudo q u e faremos mais
adiante sobre as d u a s listas d e funcionários d o T e m p l o
confirmará essa conclusão. S e g u n d o a t r a d i ç ã o rabínica,
n ã o deveria h a v e r m e n o s d e sete 'ammarkHín
.
c
126
U 1
l28
m
e
m
N a o r d e m hierárquica, os gizbarim
v i n h a m após os
vigilantes do T e m p l o ; não deviam ser menos de três .
E r a m os tesoureiros.
As finanças d o santuário compreend i a m imóveis, grandes q u a n t i a s m o n e t á r i a s e jóias, administração das taxas e d a s ofertas, assim c o m o capitais particulares ali depositados. A p r o v i s ã o e m gêneros e em prom
126. Falta o n ú m e r o n o m a n u s c r i t o d e V i e n a d a Tosefta ( V i e n a ,
Nalionalbibl.
H e b r . 2 0 ) ; e m c o n t r a p a r t i d a , figura n o m s . d e E r f u r t
(agora em B e r l i m , Staatsbibl.
M s . o r . 2- 1220) e nas antigas e d i ç õ e s .
127. T o s . Sheq. II 15 ( 1 7 7 , 6 ) .
128. E m c o n s e q ü ê n c i a , a m e s m a fonte de t r a d i ç ã o q u e , n o total
das p o r t a s , c o n t a t a m b é m as d o átrio d a s m u l h e r e s e fala, p o i s , ( q u a n to ao interior d o T e m p l o ) d e treze p o r t a s (Mid. I I 6; Sheq. V I 3 :
A b b a Y o s é b e n H a n a n ) s u p õ e q u e h o u v e s s e t a m b é m treze
gizbarim
(b. Tamid 27*: R. N a t h a n ) .
129. Sheq. V 2 ; T o s . Yoma I 6 (180, 2 5 ) ; b . Pes. 5 7 bar.; Sifra
Lv 21,10 ( 4 7 187, 9) e n a lista d e T o s . Ror. II 10 (476, 27) e p a r .
c i t a d o supra, p . 2 2 4 s .
130. Sheq. V 2 ; T o s . Sheq. I I 15 (177, 6 ) , ver, e n t r e t a n t o , supra,
n. 126; j . Sheq. V 3 , 4 9 30 ( I I I / 2 , 2 9 5 ) .
Í 3 1 . Sheq.
V 2; T o s , Sheq. I I 15 (177, 4 ) .
a
c
a
dutos necessários ao culto, a fiscalização da v e n d a das
aves e o u t r o s gêneros p a r a os sacrifícios, a d m i n i s t r a d a n o
T e m p l o e o c u i d a d o na conservação e reparação dos objetos de o u r o e prata, dos quais 93 e r a m utilizados n u m
ú n i c o serviço diário, p r o p o r c i o n a v a m aos tesoureiros
um
vasto c a m p o de atividade e exigiam u m grupo g r a n d e de
funcionários sob seu controle.
" Q u e faziam os três tesoureiros? A eles é q u e se
pagava:
132
1. O equivalente [ao que era dedicado ao T e m p l o ,
mas em d i n h e i r o ] ;
2. os a n á t e m a s [dons p a r a o T e m p l o sem q u e a pessoa pudesse p a g á - l o ] ;
3. as [outras] coisas consagradas ao T e m p l o ;
4. o s e g u n d o
dízimo
[podia ser-lhes p a g o ] ;
5. [em s u m a ] , ocupavam-se de todas as operações
[financeiras]" .
133
134
l35
E r a m , pois, as rendas do T e m p l o que os chefes dos
tesoureiros d e v i a m , em p r i m e i r o lugar, a d m i n i s t r a r . C o m o
sabemos, recebiam o trigo oferecido no s a n t u á r i o ; pagavam-lhe o equivalente ; os produtos colhidos , a massa ofertada ; decidiam d o emprego dos objetos d o a d o s
e exerciam a alta gerência dos i m p o s t o s , a q u e l a d u p l a
136
137
,3S
IW
m
141
132. S o b r e os tesouros d o T e m p l o e os depósitos p a r t i c u l a r e s de
d i n h e i r o n o s a n t u á r i o , ver, p o r ex., Ant. X I V 7, 1, § 106ss; B. j . V I
8, 3, § 390ss; Billerbeck, I I , 37-45. O s 93 utensílios: Tamid
III 4.
C u i d a d o s d o s utensílios p r e s t a d o s p e l o s t e s o u r e i r o s : Sheq. V 6.
133. I n f o r m a ç ã o do m s . d e V i e n a e das edições.
134. V e r supra, p . . . .
135. T o s . Sheq, I I 15 (177, 4 ) .
136. Pea 11 8.
137. Pea I 6.
138. Pea I V 8; Halla I I I 4.
139. Halla I I I 3 .
140. Sheq. V I 6.
141. Sheq. I I 1: se o d i n h e i r o fosse p e r d i d o ou r o u b a d o , n o caso
em q u e o d e p ó s i t o p r é v i o já tivesse sido feito no t e s o u r o d o T e m p l o
(a p a r t i r d a p r i m e i r a a r r e c a d a ç ã o colocada n o t e s o u r o , q u i n z e d i a s
a n t e s da P á s c o a , o total do i m p o s t o d o T e m p l o d o a n o em c u r s o tornava-se, de d i r e i t o , posse d o T e m p l o ) ; os e n v i a d o s d e v i a m p r e s t a r
c o n t a s aos tesoureiros d o T e m p l o , s o b r e a c a u s a do p r e j u í z o ; se fosse possível p r o v a r q u e os emissários n ã o e r a m r e s p o n s á v e i s , o t e s o u r o
d o T e m p l o a r c a v a c o m o p r e j u í z o . ( V e r a i n d a j . Sheq.
I I I 2, 4 7 31
c
d r a c m a q u e cada israelita devia p a g a r a n u a l m e n t e (Mt
17,24). Além das r e n d a s do T e m p l o , os tesoureiros admin i s t r a v a m as despesas: c o m p r a v a m a l e n h a , e x a m i n a v a m
o v i n h o p a r a as libações
e a farinha p a r a os dois pães
de primícias de Pentecostes . Era t a m b é m função deles
a administração das reservas do T e m p l o
e de seu tesouro, do qual a veste do s u m o sacerdote constituía a
p a r t e mais sagrada .
1 4 2
143
144
145
m
Sobre os vigilantes e tesoureiros do T e m p l o dos quais
acabamos de tratar, possuímos informações mais minuciosas em duas listas de excepcional, valor, relativas aos "chefes ". Comecemos pela mais antiga ( T o s . Sheq. II 14;
177,2) .
147
" E i s os 'chefes do T e m p l o
5
1 4 8
:
* LLT] Y o h a n a n b e n G u d g e d a
era chefe
porteiro,
* 1 2.j Ben Totephet, encarregado
das
chaves,
* [ 37| Ben D i p h a i fiscalizava
o lülab para a festa das
Tendas,
* |._47| Arza , primeiro chefe de música
,
"5. S h e m u e l , e n c a r r e g a d o dos fornos,
149
150
1S1
152
( I I I / 2 , 278s) b a r . : os t e s o u r e i r o s d o T e m p l o fiscalizavam a q u e l e q u e
fazia a a r r e c a d a ç ã o p a r a o t e s o u r o d o T e m p l o (o q u e a c o n t e c i a q u i n z e
dias a n t e s d e c a d a u m a das três festas d e p e r e g r i n a ç ã o ) .
142. Me'ila
I I I 8.
143. Men. V I I I 7.
144. Men. V I I I 2. Q u a n t o à data (70 dias a n t e s d a P á s c o a é preciso s e m e a r o trigo q u e f o r n e c e r á a f a r i n h a ) , sou l e v a d o a crer, p o r
assimilação c o m V I I I 1, q u e n ã o se trata d a farinha p a r a a oferta
a l i m e n t a r em geral, m a s u n i c a m e n t e d a q u e l a p a r a os dois p ã e s d e
primícias.
145. V e r p . 143, n . 132.
146. Ant. X V 11, 4, § 4 0 8 ; X V I I I 4, 3, § 9 3 ; cf. supra, p . 208.
147. Sigo o m s . d e Erfurt (agora e m B e r l i m , Staatsbibl.
M s . or.
2"- 1 2 2 0 ) .
148. O s n ú m e r o s e n q u a d r a d o s i n d i c a m os levitas; os n ú m e r o s
s u b l i n h a d o s , os s a c e r d o t e s * = vigilantes; • = t e s o u r e i r o s .
149. Ele era levita, b . 'Ar. 1 1 .
150. I n f o r m a ç ã o do m s . de Erfurt. E m c o m p e n s a ç ã o , n o ms. d e
Viena ( V i e n a Nationalbibl.
H e b r . 20) e a e d i ç ã o original de V e n e z a ,
1521 d.: Ben A r z a .
151. L i t e r a l m e n t e : "ele era chefe d o dúkkan",
q u e r dizer, do esi r a d o s o b r e o q u a l p e r m a n e c i a m os levitas c a n t o r e s e m ú s i c o s .
152. N o m s . d e V i e n a e n a e d i ç ã o o r i g i n a l , os n o m e s de 5 a 6
foram invertidos.
a
°6.
Binyamin, e n c a r r e g a d o da fabricação da
da do sumo sacerdote
cozida no carvão
Ben Maqlit, do
sal *,
Ben Pelak, das reservas de lenha
.
f7.
^CK
oferen,
1S3
15
155
Temos pontos de referência garantidos p a r a determin a r a época à qual remonta essa lista. Segundo D. Hoffmann
data do período imediatamente anterior à destruição d o T e m p l o , pois, m e n c i o n a , c o m o chefe p o r t e i r o
(n. 1) Y o h a n a n ben G u d g e d a q u e ainda vivia a p ó s a destruição do T e m p l o . Esse a r g u m e n t o é sedutor, mas não
convincente. Com efeito, a afirmação segundo a qual Yohan a n viveu a i n d a após o a n o 7 0 r e p o u s a n u m a i n f o r m a ç ã o
do T a l m u d e de Babilônia ; conforme mostra a p a s s a g e m
paralela do Sifre sobre Dt 1,16, esse texto falava primitiv a m e n t e não de Y o h a n a n b e n G u d g e d a , mas de Y o h a n a n
b e n N u r i . D e o u t r o lado, b e m o sabemos, Y o h a n a n b e n
G u d g e d a o c u p a v a seu cargo algum tempo antes d a destruição do T e m p l o . D o m o m e n t o que completassem seus
ÍS?
1 5 S
m
153. E v i d e n t e m e n t e s a c e r d o t e , s e g u n d o Tamid \ 3 : os p a d e i r o s q u e
p r e p a r a v a m a o f e r e n d a assada ao forno e r a m c h a m a d o s p a r a o trab a l h o a n t e s d o n a s c e r d o sol (cf. I l l 2 ) , n a é p o c a c m q u e sua sala,
situada ao l a d o d a P o r t a d e N i c a n o r {ver supra, p . 229, n. 120) só
era acessível aos s a c e r d o t e s (ver infra, p . 287, n. 4 1 9 ) .
154. S a c e r d o t e , sem a m e n o r d ú v i d a : a C â m a r a P a r w a ( a o l a d o
da Câmara d o sal, n a p a r t e n o r t e d o átrio dos s a c e r d o t e s ) , o n d e se
salgavam as peles das v í t i m a s (Mid. V 3 ) , achava-se em t e r r i t ó r i o sag r a d o {Yoma I I I 3 ) .
155. S a c e r d o t e , sem d ú v i d a : a C â m a r a d a lenha (Mid. V 4) achava-se n o território s a g r a d o , acessível s o m e n t e aos s a c e r d o t e s , a o l a d o
d a P o r t a d o c o m b u s t í v e l , n a p a r t e s u d o e s t e d o átrio d o s s a c e r d o t e s ;
a l é m d o m a i s , h a v i a , n a p a r t e n o r d e s t e d o átrio das m u l h e r e s u m
local d e s t i n a d o à l e n h a o n d e e x a m i n a v a m as a c h a s p a r a s a b e r s e n ã o
estavam bichadas.
156. E m Magazin
für
die Wissenschajt
des
Judenthums
9
(í882),
96ss.
157. b . Hor.
10 ".
158. Sifre D l 1, 16, § 16 ( 3 0 120, 3 5 ) . E l e a z a r hsm', c i t a d o ao
m e s m o t e m p o , e r a c o n t e m p o r â n e o d e Y o h a n a n ben N u r i ; s o m e n t e esse
ú l t i m o n o m e se e n q u a d r a n o c o n t e x t o . Bacher, Ag. Tann., I, 368 n. 4,
G . KJltel, Sifre zu Deuteronomium,
S t u t t g a r t , 1922, 24, n. 4, e o u t r o s ,
p e n s a m i g u a l m e n t e q u e a i n f o r m a ç ã o original é a d o
Sifre.
159. S e g u n d o b . 'Ar. l l , ele instrui o levita Y o s h u a b e n H a n a n y a p a r a o serviço; n a é p o c a , esse ú l t i m o era a i n d a i n e x p e r i e n t e n o
t r a b a l h o , q u e r dizer, m a l tinha c o m p l e t a d o a i d a d e c a n ó n i c a de v i n t e
anos (Esd 3,8; ver supra, p . 2 2 2 , n.o 89) q u a n d o e n t ã o o s l e v i t a s e r a m
a
d
b
c i n q ü e n t a anos, os levitas teriam de r e n u n c i a r ao seu trab a l h o . É provável q u e Y o h a n a n — se depois de t u d o
sobreviveu à destruição do T e m p l o — não estivesse mais
exercendo sua função. A presença desse n o m e em nossa
lista não c o m p r o v a que r e m o n t e aos últimos anos antes
de 7 0 ; remete-nos, antes, a u m a época a n t e r i o r .
E m c o n t r a p a r t i d a , o n. 3 da lista dá-nos u m p o n t o
de referência p a r a a data. C o m efeito, e n q u a n t o existiu o
T e m p l o , levavam p a r a lá o lülab d u r a n t e os seis dias úteis
d a festa das T e n d a s cuja d u r a ç ã o era de sete dias , excetuando-se o s á b a d o . E n t r e t a n t o , d u r a n t e os primeiros anos
de nossa era, q u a n d o o p r i m e i r o dia da festa caía n u m
s á b a d o , agitava-se o lülab no T e m p l o d u r a n t e os sete
d i a s , e, p o r t a n t o , no sábado t a m b é m . Era proibido nesse
dia t r a n s p o r t a r q u a l q u e r objeto de u m domínio p r i v a d o
p a r a u m domínio público; t r a z i a m , pois, os lülab desde a
sexta-feira, a fim de entregá-los aos servos (levitas) d o
Templo
que os e m p i l h a v a m no pórtico do átrio externo . N a m a n h ã seguinte, atiravam-nos à m u l t i d ã o e cada
pessoa a p a n h a v a u m . Esse costume provocou confusões
com risco p a r a a vida dos assistentes; o t r i b u n a l decidiu
e n t ã o q u e n u n c a mais ( p o r t a n t o n e m m e s m o q u a n d o o primeiro dia da festa caísse n u m sábado) se agitaria o lülab
no T e m p l o , mas sempre em casa . N o n. 3 da lista, Ben
D i p h a i devia fiscalizar a r u m a dos lülab no T e m p l o ; ele
vivia, p o r t a n t o , n u m a época em que o t r i b u n a l não tinha
ainda decidido a reforma dessa cerimônia. V a m o s verifi,fi0
161
m
l ó i
164
165
m
a d m i t i d o s ao serviço. O r a , Y o s h u a b e n H a n a n y a , a i n d a antes d a dest r u i ç ã o d o T e m p l o , era, e n t r e ós d o u t o r e s de J e r u s a l é m , u m a l u n o
c o n c e i t u a d o (j. Hag. II 1, 71 34 [ I V / 1 , 2 7 2 ] ; é, pois, de se s u p o r
q u e o e p i s ó d i o n a r r a d o p o r b . 'Ar. I I situa-se algum t e m p o antes d e
70. N e s s a ocasião, Y o h a n a n b e n G u d g e d a já era porteiro-chefe, p o r t a n t o , u m h o m e m de i d a d e m a d u r a ; seu ingresso n o serviço situa-se,
p o r c o n s e g u i n t e , a i n d a na p r i m e i r a m e t a d e d o século I.
160. N m 8,25; cf. 4,3,23.30.35.39.43.47; j . Ber. I V 1, 7 63 ( 1 , 7 4 ) .
1 6 1 . V e r n . 159.
162. O o i t a v o dia d a festa, q u e era a festa d o e n c e r r a m e n t o , era
c o n s i d e r a d o c o m o u m a festa p a r t i c u l a r ; n e s s e dia, o lülab da festa ficava suprimido,
163. Sukka
I V 1-2.
164. Levitas
hazzanim.
165. Sukka
I V 4.
166. Ibid.
b
b
b
car, u m p o u c o a d i a n t e , na segunda lista, que não se trata
mais daquele ofício.
O u t r a característica pleiteia a favor de u m a origem
mais antiga dessa lista da Tosefta: apresenta u m n ú m e r o
mais restrito de funções. Finalmente, convém l e m b r a r q u e ,
no m a n u s c r i t o de Erfurt da Tosefta, o principal chefe da
música chama-se A r z a ; em compensação, na segunda
lista, é o filho de Arza que aparece como p r i m e i r o chefe
de música. Se a informação do manuscrito de Erfurt é a
original — o manuscrito de Viena e a primeira edição
de V e n e z a em 1521 dão igualmente o n o m e de Ben Arza
n a lista da Tosefta — foi p o r q u e , nesse ínterim, o filho
h e r d o u o posto do p a i . Aliás, esse Arza é pessoa t o t a l m e n t e
desconhecida; o fato torna-se a r g u m e n t o para afirmar que
a informação do manuscrito de Erfurt é o r i g i n a l .
1 6 7
168
T u d o o q u e precede leva a dizer que a lista d e Tosefta r e m o n t a a alguns decênios antes da destruição do
Templo.
A segunda lista
169
encontra-se em Sheq.
V 1-2:
" V 1. Eis quais e r a m os 'chefes' no T e m p l o :
*
°1.
°2.
3.
Yohanan ben Pinhas,
chanceler' ,
Ahia, encarregado
das
libações ,
M a t t h i a b e n Shemuel, encarregado
dos
sorteios
,
70
171
m
^4.
P e t a h i a , encarregado
dos sacrifícios
de
aves ,
,
Ben Ahia, médico do Templo
\
N e h u n i a , encarregado das fontes
,
G e b i n i , arauto,
Ben G e b e r , chefe de portaria
,
Ben Bebai, esbirro
,
Ben Arza, primeiro chefe de músicos
,
Hugdas
ben Levi, cerimoniário
do coro
levitas
,
m
°5.
6.
ZI
I "g.l
l~97]
[TÜ.]
Cl 171
m
n
m
171
m
m
dos
1 8 0
1SI
c e r i m o n i a l d e oferta do sacrifício p ú b l i c o d i á r i o (tamid)
pela m a n h ã
e à n o i t e (Tamid
I 2-3; I I I 1^3; VI 1-2; V I 3 ) .
173. Ele s u p e r v i s i o n a v a o p a g a m e n t o e q u i v a l e n t e a o t e r c e i r o d o s
treze recipientes e m forma de t r o m b e t a (ef. " o t r o m b e t e a r " e m Mt
6,2; essa e x p r e s s ã o t e m p o r o r i g e m a f o r m a d o s cofres n o T e m p l o ;
t i n h a m o feitio d e u m a t r o m b e t a , estreitos e m c i m a e largos e m baixo, p a r a protegê-los c o n t r a os l a d r õ e s ) esses r e c i p i e n t e s e n c o n t r a v a m ¬
-se n u m a das saías q u e c e r c a v a m o átrio d a s m u l h e r e s . O e n c a r r e g a d o
a i n d a vigiava a j u s t a entrega d o s p o m b a s . E r a s a c e r d o t e ( T o s . Sheq.
I I I 2, 177, 2 4 ) .
174. H á , nesse local d o t e x t o , u m a a n o t a ç ã o m a r g i n a l : " P e t a h i a
é [um a p e l i d o de] m a r d o q u e u . Por q u e l h e d e r a m tal a l c u n h a de
P e t a h i a ? P o r q u e ele abria (patah)
as p a l a v r a s , d a n d o - l h e s a s u a interp r e t a ç ã o ; sabia, c o m efeito. 70 i d i o m a s " .
175. L i t e r a l m e n t e ; " e n c a r r e g a d o d a s d o e n ç a s d o v e n t r e " . A alim e n t a ç ã o dos s a c e r d o t e s era e x t r e m a m e n t e rica em c a r n e ; a l é m disso,
n ã o p o d i a m b e b e r v i n h o e m d i a s de serviço ( L v 10,9; E z 4 4 , 2 1 . Seg u n d o Ta'an II 7, q u a n t o à s e ç ã o h e b d o m a d á r i a a p r o i b i ç ã o vigorava
d u r a n t e o dia, m a s n ã o à noite; q u a n t o à s e ç ã o c o t i d i a n a d o serviço,
vigorava noite e d i a ) . As d o e n ç a s a b d o m i n a i s e r a m , p o i s , f r e q ü e n t e s
(é assim q u e explica, de m o d o e x a t o , j . Sheq. V 2, 4 8 26 ( I I I / 2 ,
293s).
176. L i t e r a l m e n t e : " p o c e i r o " , o p e r á r i o q u e a b r e p o ç o s ; e n c a r r e g a d o d a m a n u t e n ç ã o d o a q u e d u t o e das c i s t e r n a s d o T e m p l o e fiscalização dos b a n h o s ( H . G r á t z , Topographische
und historische
Streifzüge
cm MCWf
34 [ 1 8 8 5 ] , 2 0 4 destacou b e m este ú l t i m o p o n t o ) .
177. L e v i t a .
178. " E n c a r r e g a d o d o s a ç o i t e s " . T o c a v a a ele m a n d a r açoitar os
s a c e r d o t e s q u e t e n t a v a m t r a p a c e a r n a h o r a d o sorteio (b. Yoma
23 ),
Outra tradução diz: "era encarregado [da fabricação e colocação]
das m e c h a s " (j. Sheq. V 2, 48^ 46 [ n ã o t r a d u z i d o e m I I I / 2 , 294 q u e
remete a o p a r , I l / i , 1 1 2 ] } , f a b r i c a d a s c o m as faixas e calções n ã o
mais e m u s o pelos s a c e r d o t e s (Sukka
V 3 ) . A b b a y a s u s t e n t o u essa
s e g u n d a e x p l i c a ç ã o ; r e t r a t o u - s e e s p o n l a n e a m e n t e ( b . Yoma
23 ).
179. L i t e r a l m e n t e : " m a n e j a v a os c í m b a l o s " , q u e r dizer q u e , dur a n t e b serviço litúrgico, d a v a a o s levitas o sinal d o início d o c a n t o ,
v i b r a n d o os c í m b a l o s . T u d o faz crer q u e fosse u m levita.
180.
=Hógdos.
181. P r o v a v e l m e n t e u m levita, c o m o o d e m o n s t r a seu p a t r ô n i m o
c sua a t i v i d a d e : o c a n t o era e x c l u s i v a m e n t e e x e c u t a d o p e l o s levitas,
d
167. V e r supra, p. 2 3 3 , n . 150.
168. Bem e n t e n d i d o , é possível q u e o m s . de Erfurt t e n h a , p o r
e r r o , e s q u e c i d o bn.
169. Cf. supra, p. 233, n . 148._
170. O T e m p l o regia as libações e o u t r o s sacrifícios ( v e r
infra,
p . 237, n . 173). A q u e l e q u e quisesse oferecer u m a l i b a ç ã o p a g a v a o
p r e ç o a Y o h a n a n q u e l h e d a v a u m selo c o m o r e c i b o (Sheq.
V 4).
0 escritório de Y o h a n a n era a " C â m a r a d a c h a n c e l a " (Tamid
III 3),
p a r t e n o r d e s t e d a C a s a do fogo d o a l t a r q u e se e n c o n t r a v a n o â n g u l o
n o r o e s t e d o átrio dos s a c e r d o t e s ; p r o v a v e l m e n t e a C â m a r a d a c b a m
cela se a c h a v a em t e r r i t ó r i o p r o f a n o .
171. C o n t r a o selo de r e c i b o (ver n . p r e c e d e n t e ) , ele oferecia a
libação c o r r e s p o n d e n t e .
172. S o b r e o sorteio das funções dos sacerdotes v e r infra, p . 275ss.
Esse f u n c i o n á r i o era s a c e r d o t e . Isso se d e d u z , c l a r a m e n t e , d e
Tamid
1 3 e I V 3 : ele linha acesso ao átrio dos s a c e r d o t e s . A f u n ç ã o d o
e n c a r r e g a d o d o sorteio era a de p r o c e d e r a t o d o s os sorteios dos
serviços; além disso, devia fiscalizar e dirigir t o d a a c e l e b r a ç ã o do
a
a
°12.
A família [sacerdotal] de G a r m u se responsabilizava pela fabricação dos pães de proposição
,
"13. A família [sacerdotal] de Abtinas , responsável
pela fabricação dos perfumes para queimar
,
°14. Eleazar era encarregado
das cortinas
e
_^15. P i n h a s , das vestes dos sacerdotes
.
V 2 . N ã o deve haver menos de sete 'ammarkflin
e
de três tesoureiros. E, (em matéria financeira ) n ã o se
confie a u t o r i d a d e sobre a c o m u n i d a d e a menos de dois,
exceto p a r a Ben Ahia, o médico (n. 5) e Eleazar, o encarregado das cortinas (n. 14) porqtie a c o m u n i d a d e encarregou-se d e l a s " .
U2
m
m
m
m
iS7
, 8 8
Essa segunda lista data de época mais tardia do que
a p r i m e i r a . O que torna provável tal asserção é, em primeiro lugar, o fato de ter sido suprimida na segunda lista,
a função n. 3 e acrescidas muitas outras. A isso, devemos
anexar o que nos conta Josefo : em 70 d . C , "Finéias,
tesoureiro do T e m p l o " foi preso alguns dias depois da
destruição do santuário; " m o s t r o u " aos r o m a n o s " a s túI89
e O g d o o s tinha atribuições p a r t i c u l a r e s n o c a n t o (Yoma
III 11; b .
Yoma
3 8 epassim).
E n t r e t a n t o , ao l a d o da e x p r e s s ã o "seus i r m ã o s ,
os l e v i t a s " (Cant. R. 3, 9 s o b r e 3, 6 ( 4 0 I I ) , e n c o n t r a m o s t a m b é m a
e x p r e s s ã o "seus i r m ã o s , os s a c e r d o t e s " ( b . Yoma
3 8 ; j . Sheq. V 2,
48<i 53 ( I I I / 2 2 9 4 ) .
182. Trata-se d e s a c e r d o t e s ; deduz-se c o m c e r t e z a p e l o f a t o d e
estar a "sala d a q u e l e s q u e f a b r i c a m os p ã e s d a p r o p o s i ç ã o " {câmara
s u d e s t e da Casa d o fogo d o a l t a r q u e se situa n o â n g u l o n o r o e s t e
d o átrio dos sacerdotes) em território s a g r a d o acessível s o m e n t e aos
s a c e r d o t e s (Mid. I 6 ) .
183. Euthúnoos
ou
Eúthinos.
184. Família s a c e r d o t a l , pois, c m seu local dc t r a b a l h o os sacerdotes m o n t a v a m g u a r d a d u r a n t e a n o i t e {Mid. I 1; Tamid
I 1, Supõe¬
-se, p o r t a n t o , q u e esse local se e n c o n t r a v a n o átrio dos s a c e r d o t e s ,
d o n d e , e m t e r r i t ó r i o s a g r a d o (cf. Yoma
I 5).
185. O e n c a r r e g a d o das c o r t i n a s era s a c e r d o t e (Ant. X I V 7, 1, §
1.06s). S o b r e as c o r t i n a s , ver supra, p . 182.
186. Mid. I, 4 ; B. j . V I 8, 3, § 390.
187. Falta n o texto da M i s h n a d a e d i ç ã o p r í n c i p e d o Y e r u s h a l m i ,
Veneza, 1523. E m c o m p e n s a ç ã o , essa e x p r e s s ã o figura na e d . d e Riva
di T r e n t o , 1559, assim c o m o no m s . de C a m b r i d g e d a M i s h n a , e d . W .
H . L o w e , C a m b r i d g e , 1883, e em Sheq. V 3, 49» 37 ( I I I / 2 , 2 9 5 ) .
188. O s o u t r o s " c h e f e s " c i t a d o s t i n h a m , pois, pelo m e n o s u m auxiliar a seu l a d o , e n q u a n t o m u i t o s t r a b a l h a v a m sós, c o m o , p o r exemplo, nn. 1 e 2.
189. B. j . V I 8, 3, § 390s.
b
a
b
nicas e faixas dos sacerdotes,..grande q u a n t i d a d e de púrpura e de escarlate reservada p a r a u m a eventual r e p a r a ç ã o
do véu do T e m p l o , assim como g r a n d e q u a n t i d a d e d e
c i n a m o m o , cássia e a b u n d â n c i a d e o u t r o s a r ô m a t a s q u e
iriam servir na mistura p a r a o sacrifício dos perfumes.
Apresentou-lhes ainda outros objetos preciosos e muitos
p a r a m e n t o s s a c r o s " . N ã o nos resta d ú v i d a d e q u e esse
"Finéias, tesoureiro do T e m p l o " é o m e s m o " P i n h a s , encarregado das vestes do sumo sacerdote, citado no n. 15
da segunda l i s t a . Conclui-se que estava e m serviço n o
m o m e n t o d a destruição do T e m p l o e, p o r t a n t o , q u e a segunda lista cita os últimos altos funcionários do T e m p l o
antes de sua destruição.
193
A indicação de Josefo confirma outra conclusão imp o r t a n t e . Designa c o m o "tesoureiro d o T e m p l o " aquele já
citado no n. 15 de nossa lista; n o u t r a o c a s i ã o , deu
igualmente este título de "tesoureiro do T e m p l o " ao encarregado das vestes do sumo s a c e r d o t e " , citado no n. 15
mos a i n d a q u e essa segunda lista t e r m i n a com u m a observação segundo a qual não deveria h a v e r no santuário menos de sete vigilantes e de três tesoureiros. Conclui-se,
pois, q u e essa segunda lista d ê os n o m e s e as funções dos
vigilantes e dos tesoureiros do T e m p l o ; o mesmo se dá
com a primeira lista, já que a m b a s c o n c o r d a m na enume191
190. N ã o se p o d e p r o v a r q u e n o m e s fixos, i n d e p e n d e n t e s d o n o m e
p r ó p r i o dos titulares sucessivos, se tivessem i n t r o d u z i d o p a r a algumas
funções e, nesse c a s o , o e n c a r r e g a d o d a s vestes d o s s a c e r d o t e s se c h a masse s e m p r e P i n h a s . Existia, sem d ú v i d a , u m a " C â m a r a de P i n h a s ,
e n c a r r e g a d o d a s v e s t e s " (Mid. I 4 ) , ao l a d o d a P o r t a d e N i c a n o r . M a s
essa d e s i g n a ç ã o n ã o d e r i v a , n e c e s s a r i a m e n t e , do fato de o e n c a r r e g a d o
de tal função c h a m a r - s e s e m p r e P i n h a s . P o d e explicar-se p o r ter o último titular desse cargo ficado m u i t o t e m p o n o p o s t o e ser u m a
p e r s o n a l i d a d e e s p e c i a l m e n t e c o n h e c i d a . E m 54 a . C , q u a n d o Licínia
Crasso s a q u e o u o lesouro do T e m p l o , o e n c a r r e g a d o das cortinas chamava-se E l e a z a r (Ant.
X I V 7, I, § 1 0 6 s ) ; t r a z i a o m e s m o n o m e 120
anos d e p o i s em nossa s e g u n d a lista (n. 1 4 ) . N ã o é de a d m i r a r p o r q u e
o n o m e Eleazar era m u i t o f r e q ü e n t e . E m 70 d.C. Jesus, filho d e T h e b o u i h i , e n t r e g o u dois c a n d e l a b r o s , d u a s m e s a s , utensílios d o T e m p l o ,
as c o r t i n a s , a veste do s u m o s a c e r d o t e e o u t r o s tesouros (B. j . V I 8,
§ 387-389). N ã o é tido c o m o t e s o u r e i r o (nesse caso deveria o c u p a r o
lugar n. 14 d a s e g u n d a lista, e a divergência de n o m e dos titulares
seria e s p a n t o s a ) ; Josefo designa-o c o m o " u m dos s a c e r d o t e s " .
191. Ant. X I V 7. 1, § 106s.
ração dos principais ofícios, apenas com p e q u e n a s diferenças nas especificações.
D e v e m o s e x a m i n a r essas listas c o m maior atenção e
observar q u e a m b a s citam inúmeros levitas. N a lista I encontramos como levitas: certamente, o chefe dos porteiros (n. 1); sem d ú v i d a t a m b é m o p r i m e i r o chefe dos músicos que fiscalizava os levitas cantores (n. 4 ) , e o funcionário q u e fiscalizava os levitas servidores do T e m p l o
p o r ocasião da festa das T e n d a s e, c o m certeza, e m o u t r a s
circunstâncias (n. 3). P r o v a v e l m e n t e , t a m b é m , o encarreg a d o das chaves citado e n t r e esses três levitas (n. 2 ) .
Na lista II são levitas: o chefe dos porteiros (n. 8 ) , o primeiro chefe de música (n. 10), o mestre do coro (n. 11).
D e n o v o , e n t r e esses três chefes levitas figura o u t r a função, a de esbirro (n. 9). Com suficiente certeza p o d e m o s
nele reconhecer o chefe do vigilante da lista I (n. 3); foi
preciso, n a lista 11, d a r o u t r o n o m e a essa função já q u e
a decisão do t r i b u n a l
fizera cair de uso o e m p i l h a m e n t o
dos lülab. Falaremos desses q u a t r o chefes levitas que exerciam a função de vigilantes (nn. 8-11) n a p a r t e consagrada, mais adiante, (p. 284) aos levitas. O s outros funcionários citados nas d u a s listas deveriam ser, na maioria,
sacerdotes, pois, era em suas mãos q u e se a c h a v a m as finanças do T e m p l o . Com efeito, na maioria dos casos pod e m o s assegurar, — atendo-nos a seu lugar d e trabalho
— que fossem sacerdotes.
192
193
m
As próprias listas d e m o n s t r a m , entre os funcionários
citados, quais e r a m tesoureiros e quais e r a m 'animar kHín,
vigilantes. N a lista I, os n n . 5-8 ocupam-se das finanças;
p o r o u t r o l a d o , os n n . 1-4 fiscalizam os levitas músicos e
192. N a lista 11 c o n s t a m dois chefes d e levitas m ú s i c o s ( n n . 10 e
11) e dois chefes de levitas f u n c i o n á r i o s d o T e m p l o ( n u . 8 e 9 ) . Pode-se pois facilmente i m a g i n a r q u e a lista I, a o l a d o de dois vigilantes dos levitas funcionários d o T e m p l o ( n n . 1 e 3) m e n c i o n a tamb é m dois chefes de m ú s i c o s . Isso se c o n f i r m a n o n . 4 . Assim s e n d o ,
pode-se s u p o r q u e o e n c a r r e g a d o das c h a v e s (n. 2) c o n s e r v a v a c o n s i g o
as c h a v e s das salas c o n s t r u í d a s sob o átrio dos israelitas, d a n d o p a r a
o átrio das m u l h e r e s , salas essas o n d e se g u a r d a v a m h a r p a s , c í t a r a s ,
c í m b a l o s e o u t r o s i n s t r u m e n t o s d e m ú s i c a d o s levitas (Mid. \\ 6 ) .
193. V e r supra, p . 191.
194. V e r supra.
184s.
p. 234, n . 153-155; p . 236, n . I 7 2 s ; p. 238, n. 182,
servos do T e m p l o . N a lista I I , q u a n t o ao médico (n. 5)
e ao encarregado das cortinas (n. 14), temos o testemun h o do p r ó p r i o texto (Sheq. V 2) segundo o qual eles
exerciam " u m a a u t o r i d a d e em m a t é r i a financeira"; o primeiro estava, efetivamente, ligado às finanças do T e m p l o
na m e d i d a em que o T e m p l o fornecia os medicamentos e
sobretudo o v i n h o \ Dos 14 e 15 temos o t e s t e m u n h o de
Josefo, afirmando serem eles tesoureiros . Além do mais,
o chanceler ( n . l ) , o encarregado das libações (n. 2), o
responsável pelos sacrifícios de aves (n. 4 ) , aqueles que
se i n c u m b i a m da fabricação dos pães da proposição (n.
12) e da p r e p a r a ç ã o dos perfumes p a r a q u e i m a r (n. 13)
lidavam com o dinheiro e reservas do T e m p l o ; pertenciam, pois, ao grupo dos que exerciam " u m a a u t o r i d a d e
em matéria financeira". Os outros funcionários da lista
(nn. 3, 6, 7, 9, 10, 11) dos quais n ã o podemos encontrar
n e n h u m a relação com as finanças do T e m p l o , são sete, o
que demonstra termos diante de nós os sete
'ammarkHín
que constam no fim dessa lista I I . O fato confirma que
essas sete personagens são funcionários que exercem u m
posto de vigilância, o q u e c o r r e s p o n d e a nossas considerações precedentes sobre o sentido da p a l a v r a
'ammarkal .
Afirmamos, de n o v o , ser inadmissível a opinião que declara os 'ammarkHín
c o m o funcionários das f i n a n ç a s .
19
1%
,97
19s
Podemos ainda apresentar dados mais precisos sobre
os vigilantes e tesoureiros do T e m p l o . Entre os vigilantes
achavam-se o sacerdote (lista I I , n. 3) q u e , todos os dias,
dirigia o sorteio das funções da seção cotidiana de serviço
e, conforme nos mostra o t r a t a d o Tamid ,
o conjunto
do culto diário, pela m a n h ã e à t a r d e ; além desses, o encarregado das fontes (II 6 ) , q u e cuidava dos b a n h o s e da
m a n u t e n ç ã o das cisternas e do a q u e d u t o ; depois o a r a u t o
(II 7) que c h a m a v a p a r a o culto sacerdotes, levitas e fiéis;
finalmente, os q u a t r o levitas chefes (lista I 1-4; II 8-11)
supervisionando os levitas músicos e os guardas do T e m p l o .
m
195.
196.
197.
198.
199.
j . Sheq. V
V e r supra,
V e r supra,
V e r supra,
V e r supra,
2, 4 8 (I1T/2, 2 9 4 ) .
238.
231.
229.
236, n. 172.
3
prescrições farisaicas sobre a p u r e z a ; os kôhãnim g dôlim
citados n o T a l m u d e , c o m o S a d o c
e l z a c a r de Kephar-Barqai .
E. Schürer, cujo papel pioneiro no c a m p o d a história neotestamentária b e m c o n h e c e m o s , tentou resolver o
enigma e todos os m o d e r n o s o s e g u i r a m . Via nesses
kôhãnim
g dôlim, archiereís m e m b r o s d e famílias ilustres
no seio das quais se escolhiam os sumos sacerdotes" .
P a r a tanto, evocava B. j . V I 2 , 2 , § 1 1 4 ; A t 4 , 6 e dois
textos d a Mishna (Ket. X I I I 1-2; Ohal. X V I I 5 ) .
P o d e m o s desde já constatar, conforme veremos mais
adiante, q u e Schürer n ã o traduziu corretamente esses
dois textos da Mishna. N a passagem d a Guerra,
Josefo c o n t a : " E n t r e eles [os tránsfugas] encontravam¬
-se os sumos sacerdotes José e Jesus e os filhos; sumos
sacerdotes: três de Ismael, d e c a p i t a d o e m Cirene, q u a t r o
de Matias e u m de outro Matias q u e , conforme foi contado, fugiu logo depois de seu pai e três de seus filhos
terem sido c o n d e n a d o s à m o r t e p o r S i m ã o , filho de Gioras. C o m os archiereís fugiram a i n d a muitos outros dignitários ". Conforme pensa Schürer, p o d e m o s realmente
ver juntos nos archiereís d a última frase, os dois sumos
sacerdotes depostos h á pouco m e n c i o n a d o s e os oito filhos dos sumos sacerdotes; assim s e n d o , o termo archiereús englobaria os parentes mais próximos dos sumos sacerdotes. M a s archiereús
pode igualmente designar apenas os dois s u m o s sacerdotes depostos, citados n o início
do texto. Neste caso, archiereús n a d a mais significaria d o
que " s u m o sacerdote n ã o mais e m exercício". Essa passagem de Josefo n ã o constitui, pois, d o p o n t o de vista d e
Schürer, u m a p r o v a irrefutável.
e
m
N o q u e concerne t a m b é m aos tesoureiros, a idéia acim a obtida
, extraída de fontes q u e deles fazem menção, confirma-se a m p l a m e n t e : além d a administração das
rendas do T e m p l o , suas principais funções e r a m a gestão
das reservas d o santuário e seu emprego no culto (I 5-8;
II 5 , 12-13), a gestão das riquezas do T e m p l o (II 14-15)
e do comércio das libações e outros sacrifícios (II 1, 2 , 4)
por conta do T e m p l o .
m
b l s
O desenrolar d a liturgia, a administração das finanças, a vigilância d o T e m p l o , tais e r a m os três campos de
atividade o n d e os chefes dos sacerdotes e os chefes dos
levitas exerciam sua a u t o r i d a d e .
Nesta p a r t e consagrada aos chefes dos sacerdotes, conv é m estudar o i m p o r t a n t e emprego do termo
archiereús,
kôhen gadôl, q u e aparece n o N o v o T e s t a m e n t o , e m Flávio
Josefo e n o T a l m u d e . Só o N o v o Testamento cita 6 4 vezes
archiereís n o p l u r a l , q u a n d o , entretanto, h a v i a u m só s u m o
sacerdote e m exercício; emprega mesmo de b o m g r a d o u m a
frase feita: "os archiereís e os a n c i ã o s " . P o d e r í a m o s pensar q u e esse plural sc explica pelo fato de a p a l a v r a designar n ã o somente o sumo sacerdote em exercício {kôhen
nfsammes)
m a s , freqüentemente, t a m b é m u m sumo sacerdote demitido (kôhen se'abar) .
Essa solução n ã o é, porém, a m e l h o r ; com efeito, e m todas as fontes e de m a neira repetida, e n c o n t r a m o s , com o n o m e kôhen
gadôl,
archiereús, pessoas q u e n ã o figuram n a lista completa dos
sumos sacerdotes d a d a p o r Josefo. Assim Sceva, " u m archiereús dos j u d e u s " , cujos sete filhos são exorcistas em
Éfeso (At 1 9 , 1 4 ) . Simão, " d o n ú m e r o dos archiereís"
;
Jesus, filho de Safias, " u m dos archiereís"
, o archiereús
Matias, filho de Boetos ; archiereús Levi q u e censurava
Jesus p o r ter p e n e t r a d o n o santuário sem ter o b s e r v a d o as
2m
201
m
2 0 5
m
2Ü7
K
208
203
204. F r a g m e n t o d e u m p a p i r o d e O x i r i n c o e m B. P . Grenfcll e
A . S. H u n t , The Oxyrhynchus
Papyri V, L o n d r e s , 1908, n. 840.
205. Lam. R. 1, 49 s o b r e 1, 16 ( 3 5 1 4 ) ; n o relato p a r a l e l o diferente, b . Gil. 5 8 , temos Ishmael ben Eíisha.
206. b . Pes. 5 7 b a r . A l é m d o m a i s , é preciso citar a q u i o relato
a r e s p e i t o d o kôhen
gadôl q u e a sorte e s c o l h e p a r a fazer b e b e r as
á g u a s a m a r g a s (Pesiqla
rabbati
26, 129 5 ) ; o sumo sacerdote em
exercício n ã o p r e c i s a v a submeter-se a o sorteio d o s serviços (Yoma
l 2).
207. A. S c h l a t t e r faz u m a e x c e ç ã o , c o m o constatei depois (ver
infra, p . 2 4 5 . n. 2 1 7 ) .
208. S c h ü r e r , I I , 275-277.
a
a
1 9 9 . Supra, p . 2 3 1 .
200. I-Ior. I I I 4. — D e m o d o m a i s p r e c i s o , o s u m o s a c e r d o t e dest i t u í d o chama-se, e m T o s . Sanh,
I V 1 {420, 1 3 ) , ha-kôhen
se'abar
migg düllatô.
2 0 1 . Vita 39, § 197.
202. B. j . II 20, 4, § 566.
2 0 3 . B. j . I V 9, 11, § 574: V 13, 1, § 527-531; V I 2, 2 , § 114.
b i s
E
a
b
Schürer apela, c o m maior r a z ã o , p a r a At 4,6 o n d e
" m e m b r o s das famílias dos sumos s a c e r d o t e s " a p a r e c e m
como u m g r u p o no Sinédrio, q u a n d o , no e n t a n t o , o N o v o
T e s t a m e n t o chama-os, simplesmente "os archiereís", O texto t a m p o u c o prova, de maneira convincente, q u e os membros das famílias pontifícias fossem c h a m a d a s
archiereís.
Podemos nos p e r g u n t a r , com razão, se seria por m o t i v o
de sua origem, como Schürer vê-se obrigado a supor, que
os m e m b r o s das famílias pontifícias citadas em A t 4,6
t i n h a m voz ativa no Sinédrio ou antes, por m o t i v o d e sua
função .
209
F a l t a m , pois, provas a favor no sentido q u e Schürer
sustenta; mais a i n d a : p o d e m o s d u v i d a r seriamente dessa
solução. Y o h a n a n ben Z a k k a i encontra em Bet-Rama (ou
R a m a t Bene Anat) provavelmente na Galileia , u m kôhen
gadôl .
Será que antes de 70 d.C. m e m b r o s das famílias pontifícias reinantes já m o r a v a m na Galileia? É m u i t o
pouco provável! Segundo Schürer, os " m e m b r o s das família sacerdotais" teriam a t u a d o no S i n é d r i o , h a v e r i a
lugar p a r a todos nesse colégio de 71 m e m b r o s ? E m caso
negativo, segundo que critério seria feita u m a escolha da
qual n u n c a ouvimos falar? Mas a d ú v i d a m a i o r
provém do fato de ser contrário à filologia o sentido confirmado por Schürer. Kôhen gadôl, archiereús
significa
arcipreste e n a d a mais; como p o d e r i a m u m leitor grego
em archiereús,
u m leitor j u d e u em kôhen gadôl chegar a
c o m p r e e n d e r , sem outra explicação, que se t r a t a v a de u m
" m e m b r o de família s a c e r d o t a l ? "
m
211
212
2 1 3
Os dois textos da M i s h n a p o d e m nos ajudar a esclarecer o fato; vemos aí os "filhos" dos kôhãriim
g dôltm
E
t o m a r e m decisões e m m a t é r i a de direito c i v i l
e receber e m cartas do estrangeiro . S c h ü r e r , tão seguro, comete,
e n t r e t a n t o , u m erro filológico ao p e n s a r em "filhos dos
sumos sacerdotes" q u e , por tal título, " s ã o pessoas providas d e prestígio e de a u t o r i d a d e " . C o m efeito, outras
passagens, de m o d o p a r t i c u l a r algumas variantes textuais,
m o s t r a m q u e a expressão bme kôhãnim g''dôlím não designa, conforme pensa Schürer, os "filhos dos sumos sacerd o t e s " , m a s os kôhãnim g ãôüm;
do mesmo m o d o , no Antigo T e s t a m e n t o ( l R s 2 0 , 3 5 e c o m u m e n t e ) os profetas são
c h a m a d o s "filhos dos p r o f e t a s " ; no N o v o T e s t a m e n t o (Mt
12,27) os escribas são c h a m a d o s "filhos dos e s c r i b a s " .
Com o u t r a s p a l a v r a s , o termo " f i l h o " designa não a descendência mas o sistema . Servimo-nos desse elemento
p a r a a leitura das fontes. O u v i m o s dizer que os b°ne
kôhãnim g dôlím,
isto é, os kôhãnim
gdôlim
constituíam
u m tribunal que tomava decisões em matéria de direito
civil a respeito dos sacerdotes. N o u t r o trecho relatam-nos
u m a decisão dessa instância: no D i a das Expiações somente u m sacerdote ou u m levita p o d e r á levar ao deserto
o b o d e A z a z e l . Conforme d e m o n s t r a m as questões analisadas, é do mesmo tribunal que se trata ao falar de u m
214
21J
216
t
217
c
218
214. Ket. X I I I 1-2.
215. Ohal. X V I I 5.
2 1 6 . S c h ü r e r , I I , 276.
217. E m j . Sheq. I V 3, 48- 35 ( I I I / 2 , 2 8 5 ) , os s u m o s s a c e r d o t e s
em exercício, q u e r e a l i z a r a m o rito da n o v i l h a v e r m e l h a ( d e s d e 200
a.C. são em n ú m e r o de c i n c o , s e g u n d o Para I I I 5) c h a m a v a m - s e , glob a l m e n t e , "os filhos dos s u m o s s a c e r d o t e s " . E m ARN
rec. A c a p . 4,
2 4 Í 0 , t e m o s os " s u m o s s a c e r d o t e s " ; a rec. B c a p . 7, 2 1 33 diz "os
filhos dos s u m o s s a c e r d o t e s " . As d u a s e x p r e s s õ e s se m e s c l a m , pois.
Sífra Lv 2,3 ( 6 24, 2 1 ) : " A s s i m c o m o o s u m o s a c e r d o t e A a r ã o c o m e
Jsua p a r l e da oferenda a l i m e n l a r ] sem c o n t e s t a ç ã o [ p o r q u e ele t e m
p r i o r i d a d e n a e s c o l h a ] , t a m b é m os b nê kôhãnim
g dôt'tm
c o m e m sem
c o n t e s t a r " . Esse texto p õ e em p a r a l e l o o p r i m e i r o s u m o sacerdote e
seus s u c e s s o r e s , os s u m o s s a c e r d o t e s e m e x e r c í c i o d e s d e A a r ã o ; é evid e n t e q u e se trata, t a m b é m lá, dos s u m o s - s a c e r d o t e s e n ã o dos filhos
deles. — E e x a t a a t r a d u ç ã o , em Schlatter, Joch. b. Zak., 25, d e b nê
kôhãnim
g^dôlim,
p o r " c h e f e d e s a c e r d o t e s " (Ket. X I I I 1-2).
218. Yoma
V I 3 . A i n f o r m a ç ã o " d e c i s ã o dos s a c e r d o t e s " em vez
de " d e c i s ã o dos chefes dos s a c e r d o t e s " (ed. p r í n c i p e , N á p o l e s , 1492;
ed. d e V e n e z a , 1609; m s . d e C a m b r i d g e , e d . W . H . Lov/e, C a m b r i d g e ,
1883; m s . d e Berlim, Staatsbibl.
M s . o r . 5 6 7 , 4- ed.; ed. p r í n c i p e d o
Y m i s b a l m i , V e n e z a , 1523) r e s u l t a de u m a c o r r e ç ã o ou da omissão
a c i d e n t a l de
g dôlitn.
1
a
b
d
c
209. V e r infra, p . 268-271: a discussão s o b r e A t 4,6 e o q u e foi exp o s t o s o b r e o n e p o t i s m o q u e a h i e r a r q u i a ilegítima p r a t i c a v a ao o c u p a r
os postos de chefes dos s a c e r d o t e s .
210. Bet A n a t está, sem d ú v i d a , n a Galileia e m T o s . Miqw.
VI
3 (658, 5 ) ; ver S c h l a ü e r , Joch. b. Zak., 27, n . 1. O s p a p i r o s Z e n o n
m e n c i o n a m t a m b é m u m Bait(Í) a n a t a na Galileia (Papiri greci e latini
[Pubblicazioni
delia Società italiana],
vol. V I , F l o r e n ç a , 1920, n . 594,
linha 1 8 ) .
2 1 1 . ARN
rec. A ch. 12, 5 6 9; rec. B ch. 2 7 , 5 6 29 ( R a m a t
benê A n a í ) .
212. S c h ü r e r , I I , 276; c o n c l u s ã o a p a r t i r de A t 4,6.
2 1 3 . O b s e r v a r , i g u a l m e n t e , supra, p . 2 4 3 , a n. 206.
a
a
e
e
a
" t r i b u n a l de sacerdotes" diante do q u a l surgiam, igualmente, assuntos de direito sacerdotal (direito m a t r i m o n i a l
dos s a c e r d o t e s )
e das questões de culto (audição do calendário) °; em compensação, o t r i b u n a l , q u e sob Agripa I c o n d e n a à morte u m a filha de sacerdote c u l p a d a de
adultério, é o Sinédrio . Q u e m são os " a r c i p r e s t e s " que
c o m p õ e m esse t r i b u n a l ? São sacerdotes de nível mais alto,
como o demonstra t a m b é m a sua teologia saducéia ; form a m u m colégio a u t ô n o m o e exercem a u t o r i d a d e nas decisões a respeito dos sacerdotes e nas questões cultuais;
trata-se, pois, de u m clero superior do T e m p l o de Jerusalém.
219
22
221
222
223
Temos a solução do enigma. As palavras kôhen
gadôl
designam o arcipreste, o sacerdote cuja posição ergue-se
acima da m u l t i d ã o de sacerdotes e n a d a mais. E m sentido
estrito, o arcipreste é p u r a e simplesmente o sumo sacerdote; em sentido lato, os arciprestes são os chefes dos sacerdotes, elevados a u m nível superior aos demais. A o lado
do kôhen gadôl que "faz o serviço [no Santo dos san219. Ket. 1 5 : o T r i b u n a l fixou cm 400 d e n á r i o s (o d o b r o d a
tarifa c o m u m ) o m o n t a n t e d a kHübbah
( c o n t r a t o d e c a s a m e n t o ) de
u m a j o v e m de família s a c e r d o t a l ou q u e se c a s o u c o m u m s a c e r d o t e .
220. R. H. I 7. Esse t e x t o se refere a d u a s i n s t â n c i a s q u e fixam
o c a l e n d á r i o : o colégio dos s a c e r d o t e s e o S i n é d r i o . Explica-se porq u e , p r i m i t i v a m e n t e , os s a c e r d o t e s t i n h a m a u t o r i d a d e nesse d o m í n i o ;
m a s c o m o e r a m de o p i n i ã o saducéia, o S i n é d r i o o a s s u m i u p a r a i m p o r
o p o n t o de vista fariseu. Essas m e s m a s d u a s i n s t â n c i a s a p a r e c e m tamb é m em Yoma
I 5: ao l a d o dos " a n c i ã o s do T r i b u n a l " , m a n t ê m - s e os
"anciãos do clero".
2 2 1 . b . Sanh.
52 .
222. A respeito deste c a s o , eis o q u e é c e r t o , a) U m t r i b u n a l judaico p o d e ocupar-se, sem e m b a r a ç o s , desse j u l g a m e n t o c r i m i n a l ; isso
indica a é p o c a de A g r i p a I (Schlatter, Tage, 8 0 s ) . Essa d a t a é conf i r m a d a p e l o fato de R. E l e a z a r b e n S a d o c , c r i a n ç a , ter t e s t e m u n h a d o
a e x e c u ç ã o dessa s e n t e n ç a ( T o s . Sanh. I X 11; 429, 30) ver supra,
p.
200. b) A decisão foi t o m a d a n ã o s e g u n d o o d i r e i t o farisaico
{Sanh.
V I I 2: " N a q u e l a é p o c a , o t r i b u n a l n ã o era i n s t r u í d o [na L e i ] " , m a s ,
s e g u n d o o direito s a d u c e u (b. Sanh.
5 2 ) . C o m efeito, c o n f o r m e o
e n s i n a m e n t o dos fariseus, a p e n a de m o r t e p o r fogueira p r e s c r i t a pela
Lei em Lv 21,9 era infligida c o m c h u m b o d e r r e t i d o d e r r a m a d o pela
b o c a , q u e r dizer, i n t e r n a m e n t e ; e m c o n t r a p a r t i d a , s e g u n d o o ensinam e n t o dos s a d u c e u s , era preciso q u e i m a r os c u l p o s o s n u m a fogueira,
p o r t a n t o , e x t e r i o r m e n t e . Foi s e g u n d o o sistema s a d u c e u q u e se p u n i u
a filha d o s a c e r d o t e e m q u e s t ã o .
b
b
223. V e r
supra,
n . 220.
t o s ] " , q u e é " c o n s a g r a d o p o r i n v e s t i d u r a " " , colocam¬
-se os outros b ne kohãním
g dôlím,
os chefes dos sacerdotes .
Essa explicação filológicamente incontestável permite
decifrar todos os textos. C o m p r e e n d e m o s , então, p o r que
se p o d e falar dos kôhdním
g dôlim. archiereís no p l u r a l ,
p o r q u e se m e n c i o n a m n o m e s d e archiereís q u e não constam da lista dos sumos sacerdotes e m exercício, por que
um kôhen gadôl, archiereús p o d e m o r a r n a Galileia, por
que p o d e submeter-se ao sorteio , p o r q u e o sumo sacerdote P i n h a s , que os zelotas elegeram por sorteio, era, sem
d ú v i d a , descendente de u m a família pontifícia, mas n ã o
fazia p a r t e dos archiereís ,
e por qtte, no Sinédrio, havia
lugar p a r a os archiereís. E m todos esses casos trata-se de
chefes d e sacerdotes do T e m p l o .
Essa explicação esclarece s o b r e t u d o os trechos do N o v o
T e s t a m e n t o — há pelo menos 64 — q u e falam dos archiereís. Na maior parte das vezes, são textos em que eles
a p a r e c e m como m e m b r o s do Sinédrio, ao lado dos escribas e anciãos. O s archiereís,
na q u a l i d a d e de m e m b r o s
do Sinédrio, p a r t i c i p a m do processo de Jesus e de sua
c o n d e n a ç ã o ; mais tarde, do processo dos apóstolos e do
interrogatório de P a u l o . São os chefes dos sacerdotes q u e
o c u p a m u m posto p e r m a n e n t e no T e m p l o e q u e , por motivo dessa função, têm voz ativa no Sinédrio o n d e constituem u m grupo b e m definido. S a b e m o s , com efeito, que
o c o m a n d a n t e do T e m p l o
e u m tesoureiro
e r a m memb r o s do Sinédrio. O n ú m e r o m í n i m o (só conhecemos esse)
era de 1 (sumo sacerdote) . + 1 ( c o m a n d a n t e do T e m p l o )
+ 1 (vigilante do T e m p l o , sacerdote) + 3 (tesoureiros) =
6 ; ao n ú m e r o m í n i m o acrescentavam-se os sumos sacer224
2
¿
e
m
e
221
m
229
230
224. Hor. I I I 4 ; Meq. I 9.
225. Hor. I I I 4; Mak. II 6; Meg. I 9; Sifra Lv 21,12 (47^ 187,
4 3 ) ; j . Yoma I 1. 3 8 39 ( H l / 2 , 1 6 6 ) , e
passim.
226. I Q M I I 1 (ver supra, p . 224, n. 101) cita u m ao l a d o do
o u t r o s u m o s a c e r d o t e {kôhen
harás) e chefes de s a c e r d o t e s {rase ha-kôlulním).
227. Pesiqta rabbati 26, 1 2 9 5: v e r supra p . 242, n. 206.
d
b
228. B. j . I V 3, 8, § 155.
229. At 4,5-6; s o b r e essa p a s s a g e m v e r infra,
a n. 528.
2 3 0 . Ant. X X 8, 11, § 189ss.
p . 270, e s p e c i a l m e n t e
dotes depostos, assim c o m o os sacerdotes vigilantes e tesoureiros. Temos aí u m total que está em relação provável c o m os 7 1 m e m b r o s d o Sinedrio.
E n c o n t r a m o s ainda, no N o v o T e s t a m e n t o , algumas
passagens que falam dos chefes dos sacerdotes ou dos chefes dos sacerdotes e dos chefes dos guardas (vigilantes)
(Lc 22,4) ou dos chefes dos sacerdotes e de seus partidários (At 5,17-21). Trata-se aqui dos chefes dos sacerdotes e n q u a n t o autoridades a u t ô n o m a s do T e m p l o , judiciárias e administrativas . Conforme vimos acima, à p .
2 4 7 , de acordo com fontes talmúdicas, os chefes dos sacerdotes constituíam u m colégio a u t ô n o m o , c o m atribuições p a r a os assuntos do T e m p l o e do clero. E n q u a n t o
corpo de administração, os chefes dos sacerdotes decidem
o emprego do dinheiro da traição, trazido ao T e m p l o por
Judas, d e c l a r a n d o q u e o " p r e ç o d o s a n g u e " n ã o p o d e ser
depositado no tesouro do santuário . A u t o r i d a d e s da polícia do T e m p l o projetam com Judas a prisão de Jesus ,
anteriormente decidida pelo Sinédrio (Mt 26-3-4 e p a r . ) ,
dão ordens de prender os apóstolos no átrio do T e m p l o
(At 5,17.2.1), recebem a notícia dos guardas do sepulcro
a respeito da ressurreição de Jesus
e dos guardas da prisão, a n u n c i a n d o que os apóstolos e s c a p a r a m à vigilância
da polícia do T e m p l o (At 5,24); é ainda nessa q u a l i d a d e
q u e concedem a o fanático fariseu Saulo u m d e s t a c a m e n t o
da polícia do T e m p l o p a r a perseguir os cristãos (At 2 6 , 1 2 ;
cf. 9 , 1 4 . 2 1 ; 2 6 , 1 0 ) .
m
m
233
234
Eis o q u a d r o o b t i d o : o c o m a n d a n t e do T e m p l o , responsável pelo culto e pela o r d e m e x t e r n a , e n c a b e ç a os
chefes dos sacerdotes, e n q u a n t o sacerdote q u e , na hierar2 3 1 . Fazem e x c e ç ã o as p a s s a g e n s nas q u a i s , c o n f o r m e o m o s t r a m
o c o n t e x t o e os p a r a l e l o s , "chefes dos s a c e r d o t e s " é u m a d e s i g n a ç ã o
a parte poiiori
d o S i n é d r i o : M c 15,3 (cf. Mt 26,12; os chefes dos
s a c e r d o t e s e os a n c i ã o s ) ; 15,10 (cf. M c 1 5 , 1 ) ; 15,11 (cf. p a r . M t 2 7 , 2 0 :
os chefes dos s a c e r d o t e s e os a n c i ã o s ) ; ]o 12,10.
232. M t 27,6; ver supra, p . 198.
233. M c 1 4 , 1 0 4 1 ; M t 26,14-15; Lc 22,4-5.
234. Mt 28.11; é difícil i m a g i n a r q u e os g u a r d a s d o s e p u l c r o fossem soldados r o m a n o s ; esses, com efeito, n ã o t e r i a m o u s a d o acusar-se
d e q u e h a v i a m d o r m i d o d u r a n t e a g u a r d a ( 2 8 , 1 3 ) . Assim t a m b é m , o
aviso aos chefes dos sacerdoles deixa e n t e n d e r q u e se t r a t a d a p o l í c i a
do T e m p l o (28,11). P o r c o n s e g u i n t e , c o n v é m t o m a r o ¡léchete
de M t
27.65 c o m o indicativo e n ã o c o m o i m p e r a t i v o .
quia, ocupava o posto mais alto, i m e d i a t a m e n t e após o
sumo sacerdote. Depois dele v e m , em o r d e m h i e r á r q u i c a ,
o chefe da seção h e b d o m a d á r i a que regula o r e v e z a m e n t o ;
depois, os chefes das q u a t r o a nove seções diárias q u e
fazem p a r t e dessa seção semanal. A m a n u t e n ç ã o da o r d e m
externa está nas m ã o s dos sete vigilantes p e r m a n e n t e s , dos
quais q u a t r o são chefes de levitas; os três tesoureiros permanentes g a r a n t e m , c o m seus auxiliares, a administração
das finanças. O s chefes dos sacerdotes, c o n t i n u a m e n t e de
serviço, f o r m a m u m colegiado bem definido; possuem jurisdição sobre os sacerdotes e seus m e m b r o s o p i n a m no
Sinédrio.
O fato de os chefes dos sacerdotes de Jerusalém constituírem tal colegiado assume i m p o r t â n c i a , acrescida pela
indicação de At 4,6 segundo a qual os chefes dos sacerdotes e r a m m e m b r o s da aristocracia sacerdotal. N ã o seria, p o r t a n t o , q u a l q u e r sacerdote q u e tinha acesso a tais
postos. O fato demonstra q u e , do p o n t o de vista social,
existiam grandes diferenças dentro do clero; outras informações o confirmam. Entre os chefes dos sacerdotes de
Jerusalém (os archiereís do N o v o Testamento) e os outros
sacerdotes, vivas oposições se c r i a r a m nos tempos que prec e d e r a m de perto a destruição do T e m p l o ; o T a l m u d e e
Josefo no-lo c o n t a m e m perfeito a c o r d o . O T a l m u d e queixa-se dos atos de violência dos chefes dos sacerdotes; apropriavam-se compulsoriamente dos couros das vítimas q u e ,
todas as noites, n u m a das salas do T e m p l o , eram repartidas entre os sacerdotes da seção c o t i d i a n a do serviço .
N a sua atitude violenta, os chefes dos sacerdotes n e m sequer aceitaram a medida defensiva dos sacerdotes que consistia, simplesmente, em dividir m u t u a m e n t e as peles u m a
vez por s e m a n a na presença da seção h e b d o m a d á r i a completa. Além desses fatos, a literatura rabínica queixa-se de
sua política de força e do seu n e p o t i s m o . Com total lib e r d a d e Josefo conta q u e os servidores dos chefes dos sacerdotes r o u b a r a m das eiras dos camponeses o dízimo des235
236
235. T r a t a - s e , e v i d e n t e m e n t e , de u m g r o s s e i r o a b u s o d o d i r e i t o d o
s u m o s a c e r d o t e de escolher a n t e s dos o u t r o s ; esse direito é d e s c r i t o
supra, p . 2 1 3 .
2 3 6 . b . Pes. 5 7 b a r . ; T o s . Zeb. X I 16 (497, 2-3).
a
tinado aos s a c e r d o t e s . Essas diferenças sociais e n t r e os
chefes dos sacerdotes e o resto do clero, de acordo com
o q u e os textos nos revelam, n ã o nos serão compreensíveis a não ser que procuremos conceber, c o m clareza, a
situação da aristocracia sacerdotal.
2Í7
sumos sacerdotes da casa de Sadoc d e s d e a construção do
T a b e r n á c u l o até a do primeiro T e m p l o . 9 sumos sacerdotes sadoquitas ( l C r 5 , 3 6 - 4 1 ; 18 segundo o T a l m u d e e
Josefo)
q u e se sucederam r e g u l a r m e n t e devem ter exercido sua função no primeiro T e m p l o (salomónico); 15
do exílio a M e n e l a u (inclusive) no segundo T e m p l o (pós-exílico) .
N ã o nos cabe e x a m i n a r aqui a autenticidade dessas
listas , salvo p a r a os últimos m e m b r o s da série. Basta-nos
constatar o conceito histórico do século I de nossa era,
segundo o qual h o u v e , sem i n t e r r u p ç ã o , u m a sucessão de
sumos sacerdotes sadoquitas desde A a r ã o até a época do selêucida Antíoco IV Epifanes (175-164 a . C . ) ; a intervenção desse rei na n o m e a ç ã o do sumo sacerdote e sua perseguição religiosa d e r a m fim ao pontificado sadoquita.
São estes os últimos sumos sacerdotes deste período
sadoquita:
244
245
246
C. A ARISTOCRACIA
SACERDOTAL
O sumo sacerdote e a maioria dos chefes dos sacerdotes de Jerusalém e r a m m e m b r o s de "famílias pontifíc i a s " , q u e r dizer, da aristocracia sacerdotal. Nesse domínio existem muitas idéias inexatas, até mesmo falsas;
somente u m olhar na história permite esclarecê-las.
Segundo o conceito histórico do judaísmo c o n t e m p o râneo de Jesus, a família pontifícia sadoquita — o n o m e
lhe vem d e S a d o c , s u m o sacerdote c m exercício sob Salomão e D a v i
— tinha d a d o , desde o t e m p o de A a r ã o ,
muitos sumos sacerdotes que se sucederam sem i n t e r r u p ção . Desses temos a lista, sem n e n h u m a l a c u n a , de A a r ã o
até o e x í l i o , em l C r 5 , 2 9 - 4 1 . N e 12,10-11 apresenta-a,
igualmente, sem u m a falta sequer, até o século IV antes
de nossa era. E m suas Antiguidades,
Josefo lhe dá prosseguimento, desde essas referências até o sumo sacerdote
Menelau (172-162 a.C.)
q u e , segundo seu p o n t o de vista
certamente falso (ver a b a i x o , p . 2 5 4 ) , foi o último s u m o
sacerdote sadoquita l e g í t i m o . Contamos 14 gerações de
2 3 5
247
24S
Duração
do pontificado
Origem
Instalado
por
Onias II
Até 175
sucessão
Jesus (Jasão)
175-172
filho do sumo sacerdote
Simão
filho do sumo sacerdote
Simão
Menelau
172-162
sacerdote não sadoquita
Yakim (Aleimo)
162-159
sacerdote ilegítimo
2 i 9
m
241
242
243
237. Ant. X X 8, 8, § 1 8 1 ; 9, 2, § 206s.
238. At 4,6; Ant. X V 3, 1, $ 39.
239. 2 S m 8,17; 15,24 e passim;
l R s 1,8 e passim. e s p e c i a l m e n t e 2.35.
240. Na v e r d a d e , o direito dos s a d o q u i t a s ao s a c e r d ó c i o n ã o rem o n t a , p e l o m e n o s ao q u e s a b e m o s , senão a t é a é p o c a d e S a l o m ã o , v e r
W e l h a u s e n , Pharisäer,
p p . 47ss.
2 4 1 . A t é a época de S a l o m ã o figura u m a lista p a r a l e l a , l C r 6,35-38,
de a c o r d o c o m a p r i m e i r a .
242. Ant. X I 8, 7, § 347 a X I I 5, 1, § 239. Q u a n t o à crítica, ver
infra, p . 254, n. 256 e supra, p . 2 1 2 , n . 14.
243. Ant.
X X 10, 3, § 2 3 5 . Josefo d á e m Ant.
X X 10, 1-5, §
224-251 u m p a n o r a m a s u m á r i o de todos os s u m o s s a c e r d o t e s d e s d e
A a r ã o a t é a d e s t r u i ç ã o do T e m p l o .
Antíoco
IV
Epifanes
Antíoco
IV
Epifanes
Antíoco
V
Eupator
(?)
2 4 4 . l C r 5,29-36; Tosefo, Ant. X X 10, 1 § 228, conta t r e z e .
245. j . Yoma
I 1, 3 8 37 ( I I I / 2 1 6 2 ) ; Ant. X X 10, 2, § 2 3 1 .
246. Ant. X X 10, 2, § 2 3 4 .
247. A historiografia do b a i x o j u d a í s m o (Josefo) afirma q u e
a família s a d o q u i t a c o n t r i b u i u com s u m o s s a c e r d o t e s s e g u n d o sucessão
regular. Essa a f i r m a ç ã o é v e r d a d e i r a p a r a a é p o c a q u e vai do exílio
a O n i a s I I . C o n v é m , p o r é m , n ã o p r o c u r a r r e m o n t a r a genealogia até
c
Dois exemplos podem ilustrar essa dupla cronologia no
IV livro dos Macabeus : o primeiro diz respeito a um acontecimento político; o segundo, a um acontecimento "eclesial"
da vida interna judaica.
Excurso
254
A cronologia dos livros dos Macabeus
Antes de explicar esta lista, é necessário, para justificar
as datas ali indicadas, dizer uma palavra sobre o cálculo da
era selêucida nos dois livros dos Macabeus.
Como sabemos, existe uma divergência de opiniões quanto ao início da era selêucida que, nesses dois livros, serve de
base à cronologia; se na primavera (1? nisan) 311 a.C.
ou
312 a.C. , ou no outono (1? tishri) 312 a . C . " ; ou até mesmo,
se não há, no 1" livro dos Macabeus, uma dupla cronologia,
correspondendo, realmente, aos dois cômputos diferentes, o da
Babilônia e o da Síria-Macedônia: a) uma cronologia para os
eventos políticos, começando no outono de 312; b) uma cronologia para os eventos "eclesiais" da vida interna judaica, começando na primavera de 311. Baseando-se na lista dos selêucidas, British Museum 35 603 publicada pela primeira v e z
em 1954, J. Schaumberger
propôs essa última solução. Realmente, essa hipótese de dupla cronologia no 1"? livro dos Macabeus poderia ser exata, pois explica melhor as diferenças
entre o 1? e o 2? livro dos Macabeus na cronologia dos acontecimentos políticos.
249
250
2
252
253
A a r ã o (ver supra, n . 241) n e m i m a g i n a r o chefe dos s a c e r d o t e s do
T e m p l o de J e r u s a l é m , a n t e s do exílio, i n v e s t i d o d o p r i m a d o s o b r e o
clero d a m e s m a m a n e i r a q u e após o exílio. P a r a a crítica m a i s m i n u ciosa ver infra, p . 254, n. 256.
249. S e g u n d o a lista dos selêucidas British Museum
35 603 p u b l i c a d a p o r A. \. Sachs e D . J. W i s e m a n e m íraq 16 ( 1 9 5 4 ) , 202-212,
a m o r t e d e A n t í o c o I V deu-se e n t r e 19 de n o v e m b r o e 19 de d e z e m b r o
160 a.C. A m e s m a d a t a em I M c 6,16: o a n o d a m o r t e de A n t í o c o
I V e o a n o 149 d a era selêucida = d o o u t o n o 164 ao o u t o n o 163.
249. W . K o l b e , Beiträge zur syrischen
und jüdischen
Geschichte,
Stuttgart, 1926, 47-57.
250. S c h ü r e r , I, 32-38, q u e retrata sua o p i n i ã o a n t e r i o r e m u i t a s
outras.
2 5 1 . M e y e r , Ursprung,
I I , 2 4 8 , n . 1, e o u t r a s . S e g u n d o S. Z e i t í í n ,
Megillat Taanit as a Source for Jewish Chronology
and History in the
Hellenistic
and Roman
Periods,
em JQR n. s. 9 (1918-1919), 8 1 , ao
o u t o n o 313 a . C ; é impossível.
252. A . J. Sachs e D . W i s e m a n , A Babylonian
King List of the
Hellenistic
Period, em Iraq 16 ( 1 9 5 4 ) , 202-212.
2 5 3 . Die neue SeleukidenUste
B. M. 35 603 und die
makkabaische
Chronologie,
e m Bibblica
36 ( 1 9 5 5 ) , 423-435; cf. R. H a n h a r t , " Z u r
Z e i t r e c h n u n g des I u n d II M a k k a b a e r b u c h e s " , e m A. Jepsen-R. Ha-
1. Em IMc 6,20-63 como em 2Mc 13,1 é narrada a campanha de Antíoco V Eupator contra a Judéia. Segundo IMc
aconteceu em 150 da era selêucida, segundo 2Mc no ano 149
dessa era. Se seguirmos Schaumberger , não se trata de erro
em um dos livros dos Macabeus, mas ambos partem de cálculos diferentes para situar a era selêucida. Estão de acordo sobre se a campanha se realizou no outuno 163 a.C. Na realidade,
esse outono, segundo a cronologia do judaísmo empregada por
2Mc, pertence ainda ao ano 149 da era selêucida (— primavera
163-primavera 162); em contrapartida, segundo a cronologia
sírio-macedônica utilizada por IMc para os eventos políticos,
esse outono 163 a.C. já pertence ao ano 150 da era selêucida
(— outono 163-outono 162).
255
2. Uma análise dos acontecimentos do ano 160 da era
selêucida contados por IMc 10,1-21 mostra que IMc calcula
também os acontecimentos "eclesiais" da vida interna judaica
a partir da primavera (311 a . C ) ; uma vez Alexandre Balas
tornado rei (IMc 10,1), Demétrio Soter esforça-se por angariar a amizade dos judeus (10,2-7) que, a essa altura, fortificam Jerusalém (10,8-14). Então, Alexandre Balas também faz
propostas aos judeus (10,15-20). Nessa situação política favorável, Jonatas, na festa das Tendas, reveste-se a si mesmo dos
paramentos de sumo sacerdote (10,21). — Os judeus celebravam a festa das Tendas do 15 ao 21 tishri. Se a era selêucida
tivesse começado no outono, todos os acontecimentos precedentes do ano 160 dessa era deveriam ter acontecido do \°- ao
14 tishri. É absolutamente impossível. Em contrapartida, todas
as dificludades desapareceriam se, para esse acontecimento da
vida interna judaica, o ano 160 da era selêucida fosse contada
a partir da primavera (311 a . C ) ; nesse caso, o ano 160 da
era selêucida teria sido da primavera 152 à primavera 151.
Sucede, pois, que IMc utiliza duplo cálculo da era selêucida:
n h a r t , Untersuchungen
zur
israeiítisch-jüdischen
Chronologie,
BZAW
88, Berlim, 1964, 49-96.
254. E m 2 M c os fatos s ã o m a i s simples já q u e , c o m e x c e ç ã o das
d u a s c a r t a s d o c a p . I I , as d a t a s são d a d a s s e g u n d o o cálculo d a v i d a
interna judaica.
255. Art. cit., 429s.
os acontecimentos políticos são contados a partir do outono
312 a . C , os acontecimentos "eclesiais" da vida interna judaica
a partir da primavera de 311.
Retomemos agora a lista dos últimos s u m o s sacerdotes apresentada um pouco a c i m a . Segundo a o p i n i ã o certamente exata do livro d e Daniel ( 9 , 2 5 - 2 6 ; l l , 2 2 ) , O n i a s I í
foi o último sumo sacerdote legítimo na sucessão s a d o q u i t a
l e g a l . A m a n d o d e A n t í o c o IV. e m 1 7 5 a . C .
substituíu-o seu i r m ã o Jesus (helenizara seu n o m e p a r a Jasão)
q u e , e m troca, p r o m e t e r a a o rei altas quantias e a introd u ç ã o d e costumes gregos em Jerusalém. D e a c o r d o com
a Lei, e n t r e t a n t o , Onias I I tinha direito vitalício à sua
função, e seu filho que t a m b é m se c h a m a v a Onias ( I I I )
seria o sucessor mais p r ó x i m o n o soberano pontificado .
Com a n o m e a ç ã o ilegítima de Jasão ao pontificado e m 1 7 5 ,
a confusão se introduziu na sucessão dos sumos sacerdotes; o povo tinha o sentido do q u e era certo e, a seus
olhos, o fato de Jasão t a m b é m ter o sangue d e s u m o sacerdote nas veias, n a d a m u d a v a à ilegalidade d e sua h o n r a
u s u r p a d a (ver o julgamento d e D n 9 , 2 ó - 2 7 ; l l , 2 2 ) .
256
357
258
256. S e g u n d o a n u m e r a ç ã o de Joscfo, é o terceiro de igual n o m e .
N a r e a l i d a d e , este O n i a s é o filho d o s u m o s a c e r d o t e S i m ã o (o J u s t o ,
d e p o i s d e 200 a . C . ) . Por e r r o , Josefo d e s d o b r o u O n i a s , c o m o o fez
p a r a S i m ã o , cf. supra, p . 210, n . 14 e H . G u t h e , Geschichte
des
Volkes
Israel, 3-, T ü b i n g e n . 1914, 318. P a r a o q u e segue, v e r l M c ; 2 M c ;
Ant. X I I 5, 1-11, 2, § 237-435; B. j . I 1, 1-6, § 31-47. A i n d a O . Holtzm a n n . Ncutest.
Zeitgeschichte,
2- ed., T ü b i n g e n , 1906, 27-29; S c h ü r e r ,
I. 194-226; B. Stade e A. Bertholet, Biblische
Thcologie
des A.T.
II,
T ü b i n g e n , 1911, 203-207; 276-279; H . G u t h e , O. c, 318, 322-327; S.
ZeitÜn, Megülal
Taanit as a Source for ]ewish
Chronology
and
Hlstory in tthe Hellcnistic
and Roman Periods e m }GR n . s. 9 (1918-1919),
7-102; 10 (1919-1920), 49-80. 237-290; e e s p e c i a l m e n t e M e y e r ,
Urspruag,
I I , 131-166, 205-252; Schlatter, Gesch. isr., 102-129.
257. Q u a n t o à d a t a : Jasão foi instituído s u m o s a c e r d o t e p o r Ant í o c o I V E p i f a n e s , feito rei em 174 a . C , e p o r três a n o s e x e r c e u a
função ( 2 M c 4 . 2 3 ) . S e g u n d o D n 9, 26-27 (ver infra, p . 2 5 5 , n. 2 6 1 ) ,
M e n e l a u já era s u m o s a c e r d o t e n o fim de 172 a . C . (assassínio d e
O n i a s I I ) . Jasão foi, p o r t a n t o , s u m o s a c e r d o t e de 175 a 172.
258. 2 M c 4,7-22. O relato de Josefo em Ant. X I I , 5, 1, § 237
tenta esconder a irregularidade da sucessão de Jasão, fazendo m o r r e r
O n i a s de m o r t e n a t u r a l desde 175 a . C . e a c r e s c e n t a n d o q u e s e u filho
O n i a s 1(1 p o r ocasião da m o r t e do pai era a i n d a m e n o r . Essa a p r e s e n t a ç ã o é visivelmente t e n d e n c i o s a . A m o r t e violenta de O n i a s I I é,
a l é m d o m a i s c o n f i r m a d a p o r D n 9,26; 11,22, o q u e c o n f i r m a a apres e n t a ç ã o de 2 M c .
Jasão, p o r é m , n ã o desfrutou por m u i t o t e m p o dessa
função ilegalmente c o n q u i s t a d a . E m 1 7 2 , após três anos
de pontificado (2Mc 4,23), Antíoco IV destituiu-o e o substituiu por u m não sadoquita — ofensa aos sentimentos mais
sagrados do povo — M e n e l a u , da classe sacerdotal de
Bilga, que p r o m e t e r a ao rei impostos ainda mais elevados . A justo título, o povo considerava O n i a s I I , ainda
vivo, como o s u m o sacerdote legítimo °; pela violação da
fé j u r a d a , Menelau condenou-o à morte em fins de 172 —
início de 171 a . C . .
Onias III
, revoltado c o m . o assassínio do pai e
p a r a sempre sucessor legítimo do pontificado, declarou
guerra. Em 170 conquistou Jerusalém n u m ataque inesp e r a d o e seguro, com exceção da fortaleza
o n d e Mene219
26
261
262
263
259. 2 M c 4,23-24. D e s c e n d ê n c i a n ã o s a d o q u i t a , 4,23, cf. 3,4 tradução latina e a r m ê n i a . Josefo esforça-se p o r e s c o n d e r a ilegitimidade
de M e n e l a u , e x p l i c a n d o q u e ele é i r m ã o de O n i a s II e de Jasão e
d i z e n d o q u e ele se c h a m a , i g u a l m e n t e , O n i a s (Ant. X I I 5, 1, § 238s;
X V , 3, 1, § 4 1 , X I X 6, 2, § 298; X X 10, 3 § 2 3 5 ) , m a s é absolutam e n t e inverossímil q u e o s u m o s a c e r d o t e S i m ã o t e n h a t i d o dois filhos
com o m e s m o n o m e : O n i a s II e " O n i a s M e n e l a u " . A l é m disso, o
c a r á t e r t e n d e n c i o s o d a a p r e s e n t a ç ã o de Josefo, q u e já o b s e r v a m o s na
n . p r e c e d e n t e , é e v i d e n t e . Suas i n f o r m a ç õ e s s o b r e a o r i g e m d e M e n e lau são " u m a falsificação grosseira d e s t i n a d a a legitimar o u s u r p a d o r
M e n e l a u " (Meyer, Ursprung,
I I , 133).
260. Q u a n t o ao j u l g a m e n t o p r o n u n c i a d o p e l o p o v o , ver, p o r ex.,
Assunção
de Moisés V 4: pessoas " q u i n o n s u n t s a c e r d o t e s sed servi
a servis n a t i " .
2 6 1 . 2 M c 4,34. Essa i n d i c a ç ã o d e 2 M c é preferível à a p r e s e n t a ção d e fosefo e m Ant. X I I 5, 1, § 237, s e g u n d o a q u a l O n i a s I I morr e u d e m o r t e n a t u r a l em 175 a.C. C o m efeito, D n 9,26; 11,22, e talvez
t a m b é m Z c 12,10-14, c o n f i r m a m a m o r t e v i o l e n t a d e O n i a s I I . D n
9,26-27 d á a d a t a d o assassínio de O n i a s I I : s e g u n d o esse texto, aconteceu n o início d a s e m a n a de a n o s q u e vai d e d e z e m b r o 171 a dez e m b r o 164 a.C.
262. Ê p o r e n g a n o q u e Josefo e m B. j . I 1. 1, § 31 e V I I 10, 2,
§ 423 fala de O n i a s I I , pois esse já h a v i a m o r r i d o . Ver a n . precedente.
2 6 3 . C o n v é m sem reserva preferir a a p r e s e n t a ç ã o de Josefo e m sua
Guerra judaica
I 1, 1, § 31s, v i n d o sem d ú v i d a d e N i c o l a u d e Dam a s c o , h i s t o r i ó g r a f o d a c o r t e de H e r o d e s , à q u e l a d a Antiguidade,
que
é d e t u r p a d a ; e n t r e t a n t o , d e v e m o s utilizar as p r ó p r i a s i n f o r m a ç õ e s de
Guerra c o m p r e c a u ç ã o e crítica (ver n . 262 e n . 2 6 4 ) . S e g u n d o Ant.
X I I 5, 1, § 239s e 2 M c 5,5-iO, foi o a n t i g o s u m o s a c e r d o t e J a s ã o q u e
teria a t a c a d o J e r u s a l é m . M a s a i n d i c a ç ã o de 2 M c 5,8, s e g u n d o a q u a l
Jasão fora o b r i g a d o a fugir p a r a o E g i t o , p e r m i t e s u p o r q u e se tratava p r i m i t i v a m e n t e de O n i a s I I I q u e fugiu p a r a o Egito e f u n d o u
o t e m p l o de L e o n t ó p o l i s . A l é m do m a i s , a a p r e s e n t a ç ã o de Josefo em
lau se refugiara (2Mc 5 , 5 ) . E n t r e t a n t o , O n i a s ( I I I ) n ã o
conseguiu manter-se n a luta contra Antíoco I V ; o r e i r e tomou Jerusalém e m 169 , e Onias teve d e fugir, enq u a n t o Menelau e r a reinvestido n o sumo sacerdócio. Em
situação desesperadora, O n i a s ( I I I ) voltou-se p a r a o Egito
cuja c o m u n i d a d e judaica distinguia-o c o m o s u m o sacerdote
legítimo. Obteve de Ptolomeu V I Filometor ( 1 8 1 - 1 4 5 a.C.)
e d e sua esposa Cleópatra a permissão d e construir o temp l o d e Leontópolis *. O n i a s decidira construir u m templo
e m p a í s p a g ã o e, mais ainda, encontrou, p a r a executar seu
p l a n o , m u i t o s sacerdotes e levitas, u m a c o m u n i d a d e , e os
meios necessários, realmente consideráveis. Enfim, esse
templo rival subsistiu e m país pagão d u r a n t e 2 4 3 anos,
até a s u a destruição, pelos r o m a n o s , e m 7 3 d.C. Essas circunstâncias seriam a b s o l u t a m e n t e incompreensíveis, se n ã o
soubéssemos c o m q u e força vivia, n o p o v o , a convicção
de q u e Onias I I I era o sucessor legítimo p a r a o pontificado, e n q u a n t o filho d e Onias I I , último sumo sacerdote
sadoquita legítimo \ A legitimidade d o sumo sacerdote e
2 M
2i
2 W
Antiguidades é d e t u r p a d a d e m o d o t e n d e n c i o s o visto q u e o relato d e
Ani. X l l 5, 1. § 237ss é d o m i n a d o p e l a p r e o c u p a ç ã o d e e s c o n d e r alg u m a i r r e g u l a r i d a d e n a sucessão d o s s u m o s s a c e r d o t e s (ver supra, p .
254s, n , 258-259-261). É p o r isso q u e , s e g u n d o Ant,, foi o a n t i g o s u m o
s a c e r d o t e Jasão, e n ã o O n i a s 111 q u e e m p r e e n d e u o a t a q u e a Jerusal é m e m 170 a . C .
264, S e g u n d o I M c l , 2 0 s e Ant. V I I 5, 3 , § 246, d e v o l t a d e s u a
p r i m e i r a c a m p a n h a egípcia, e m 143 d a era s e l ê u c i d a = o u t o n o 170- o u t o n o 169. S e g u n d o B. j. I l , 1, § 31ss e 2 M c 5,1-10, d e volta de
sua s e g u n d a c a m p a n h a egípcia, e m 168 a . C ; c o n t r á r i a a essa, v e r
a cronologia n a n . seguinte.
265. B. j. 1 1, 1, § 33. A i n d a B. /. V I í 10, 4 , § 43Ó ( o u s o m e n t e
em V I I 10, 2, § 423 O n i a s I I I é p o s t o n o lugar d e seu p a i O n i a s I I ) :
0 t e m p l o d e L e o n t ó p o l i s foi d e s t r u í d o e m 7 5 d . C , 3 4 3 ( l e r 2 4 3 ) a n o s
a p ó s sua c o n s t r u ç ã o . A f u n d a ç ã o se d e u , p o i s , e m 170 o u 169 a.C. —
S e g u n d o Ant. X I I 9, 7 , § 387; X X 10, 2, § 236, foi somente
após o
assassínio d o s u m o s a c e r d o t e M e n e l a u e a instituição d e A l c i m o (162)
q u e O n i a s 111 teria fugido p a r a p Egito. Essa data tardia n ã o m e r e c e
n e n h u m c r é d i t o , p o i s o u t r a s p a s s a g e n s n o s m o s t r a r a m q u e a apresent a ç ã o d e Ant. é suspeita (supra, p . 2 5 4 , n . 258-259, 261-262). A l é m
disso, a f u n d a ç ã o d e u m t e m p l o rival é mais c o m p r e e n s í v e l n o s anos
de crise religiosa q u e c o m e ç a m e m 169 d o q u e e m 162, dois anos
d e p o i s d o fim dessa crise. F i n a l m e n t e , a i n d i c a ç ã o q u e a c a b a d e ser
c i t a d a , relativa à d u r a ç ã o d o t e m p l o d e L e o n t ó p o l i s é c o n t r á r i a à s inf o r m a ç õ e s d e Ant.
266. V e r e m B. j. V I I 10, 2-3. § 423-432 a e s p e r a n ç a d e O n i a s I I I
de a t r a i r p a r a si a t o t a l i d a d e d o p o v o j u d e u pela c o n s t r u ç ã o desse
templo.
o fato d e o T e m p l o d e Jerusalém ter sido p r o f a n a d o pelos
sírios r e d u z i a m a silêncio todas as objeções q u e o caráter
não sagrado desse novo templo podia despertar.
Nesse ínterim caiu sobre a Palestina o raio d a perseguição religiosa ( 1 6 9 o u 167-164) e os M a c a b e u s se
sublevaram. E m d e z e m b r o 1 6 4 a . C , o T e m p l o d e Jerusalém q u e fora p r o f a n a d o , recebeu nova consagração. A o
ler Josefo temos a impressão d e q u e os M a c a b e u s n a d a
alteraram d a situação d o sumo sacerdote M e n e l a u . Se
essa apresentação é exata, a tolerância deles só p o d e ser
explicada pela imensa deferência p a r a c o m a dignidade d o
sumo sacerdote. Para c o m p r e e n d e r a atitude pacífica dos
Macabeus e m relação a M e n e l a u , tal c o m o chegamos a
deduzi-la d a n a r r a ç ã o d e Josefo, p o d e r í a m o s t a m b é m levar
em conta q u e o legítimo sucessor d o pontificado, Onias
( I I I ) p e r d e r a seus direitos ao construir u m templo rival,
no Egito, e, d e o u t r o l a d o , q u e os M a c a b e u s n ã o e r a m
ainda, de m o d o algum, os senhores poderosos da situação
e tiveram, p o r exemplo, d e aceitar, e m 162 a . C , q u e o
rei d a Síria nomeasse o sumo sacerdote. N ã o é certo, porém, q u e os Macabeus t e n h a m tolerado como sumo sacerdote o c o l a b o r a d o r Menelau, q u a n t o mais q u e I M c 4 , 4 2
declara: " J u d a s escolheu sacerdotes sem m á c u l a , praticantes d a L e i " . Podemos somente afirmar q u e , até 1 6 2 a . C ,
Menelau foi, n o m i n a l m e n t e , s u m o s a c e r d o t e .
267
268
D e u m a coisa temos certeza: e m 1 6 2 , s o b a instigação d e seu tutor e primeiro ministro Ltsias, Antíoco Eup a t o r , c o m dez anos d e i d a d e , m a n d o u executar Menelau
p a r a atrair a simpatia dos judeus. O sacerdote Y a k i m
2 6 9
267. S e g u n d o Ant. X I I 9, 7, § 382ss, e s p e c i a l m e n t e § 3 8 5 , M e n e l a u foi s u m o s a c e r d o t e d u r a n t e d e z a n o s , a t é o início d e 162 a.C.
( t r a t a d o d e p a z e n t r e A n t í o c o I V e os j u d e u s ) .
268. S c h ü r e r , (, 215, n . 16 s u p õ e q u e M e n e l a u " d u r a n t e a domin a ç ã o efetiva d e J u d a s n ã o p ô d e exercer n o r m a l m e n t e as funções d e
s u m o s a c e r d o t e " . O p i n i ã o s e m e l h a n t e e m S c h l a t t e r , Gesch. Isr., 116.
Por o u t r o l a d o M e y e r , ürsprung, I I , 2 1 1 , 2 1 4 , 2 2 4 , 233 s u p õ e q u e
M e n e l a u p e r m a n e c e u no posto. I n f e l i z m e n t e n e n h u m a fonte nos indica
c l a r a m e n t e q u a l foi a a t i t u d e d o s M a c a b e u s e m r e l a ç ã o a M e n e l a u .
269. Ant. X I I , 9, 7, g 3 8 5 ; X X 10, 3 , § 2 3 5 ; 2 M c 13,3-8. D a t a
desta e x e c u ç ã o : s e g u n d o a a p r e s e n t a ç ã o d e Josefo foi u m a c o n s e q ü ê n cia d a p a z c o n c l u í d a e m 162 ajC. e n t r e A n t í o c o V E u p a t o r e os
j u d e u s . S e g u n d o 2 M c essa e x e c u ç ã o se d e u a n t e s d a c a m p a n h a q u e
9 - Jerusalém
no t e m p o
de Jesus
(Alcimo) que os sírios alçaram então (162 a.C.) ao sumo
sacerdócio ™, n ã o era, com efeito, descendente do último
s u m o sacerdote legítimo Onias I I , m a s , pelo m e n o s , sadoquita , e o fato de ter h a v i d o de n o v o , após Menelau,
u m sadoquita como sumo sacerdote, foi o suficiente p a r a
despertar as esperanças. Os assideus a b a n d o n a r a m os Macabeus e se coligaram a Y a k i m ( l M c 7, 12-15) que decepcionou a m a r g a m e n t e aqueles q u e nele d e p o s i t a r a m sua
esperança , e sua m o r t e , em maio de 159, p ô s termo a
seu pontificado \
A situação de Jerusalém era então confusa por causa
das intervenções arbitrárias dos reis sírios n a sucessão
dos sumos sacerdotes e da partida p a r a o Egito de Onias
I I I , herdeiro legítimo do pontificado. U m fato revela, clar a m e n t e , a intensidade dessa confusão: de 159 a 152 a . C ,
no dizer de Josefo, o cargo de sumo sacerdote dos judeus
ficou vacante .
2
m
272
2 7
274
A n t í o c o V e m p r e e n d e u c o n t r a a Judéia n o fim d o v e r ã o de 163; isso
parece menos provável.
2 7 0 . S e g u n d o Ant. X I I 9, 7, § 385 e X X 10, 3 , § 2 3 5 , A l c i m o foi
a l ç a d o a s u m o s a c e r d o t e p o r A n t í o c o V E u p a t o r (163. o u t o n o 1 6 2 ) ;
era c o m p e n s a ç ã o , s e g u n d o l M c 7,5-21 e 2 M c 14,3-13, foi D e m é t r i o I
Soter ( o u t o n o 162-150) q u e o instituiu. M a s , s e g u n d o 2 M c 13,3-8,
c o m o s e g u n d o Josefo (ver n. p r e c e d e n t e ) , M e n e l a u , o p r e d e c e s s o r d e
A l c i m o , fora e x e c u t a d o já n o r e i n a d o de A n t í o c o V em 162 a . C ; e
s e g u n d o 2 M c 14,3-7, A l c i m o tinha sido n o m e a d o s u m o s a c e r d o t e antes d o r e i n a d o de D e m é t r i o . A l é m d o m a i s , a m u d a n ç a do s u m o sac e r d o t e foi c o n s e q ü ê n c i a d o t r a t a d o d e p a z e n t r e A n t í o c o V e os
j u d e u s n o início de 162 (Ant. X I I 9, 7, § 3 8 2 s s ) . A s s i m , pois, a dat a ç ã o de Josefo é c e r t a m e n t e exata ( o u t r a s o l u ç ã o em S c h ü r e r , I I , 216,
n . 2 3 , que n ã o se j u s t i f i c a ) ; a escolha de A l c i m o já se d e r a n o início
do a n o 162 a.C. e n ã o s o m e n t e n o o u t o n o .
2 7 1 . Ani. X X 10, 3 , § 2 3 5 : " d a raça de A a r ã o " , m a s n ã o d a família d e s u m o s s a c e r d o t e s r e i n a n t e s , Ant. X I I 9, 7, § 3 8 7 : " E l e n ã o
p e r t e n c i a à família dos s u m o s s a c e r d o t e s " . I M c 7,14: " u m s a c e r d o t e
d a r a ç a de A a r ã o " . E m 2 M c 14,7, A l c i m o , d i a n t e de D e m é t r i o I reiv i n d i c a s u a d i g n i d a d e d e s u m o s a c e r d o t e , progonikè
dóxa.
272. I M c 7,16-18;9,54-57; 2 M c 14; Ant. X I I 10, 2-3, § 395ss.
2 7 3 . D a t a s e g u n d o l M c 9,54: 153 d a era selêucida = p r i m a v e r a
159-primavera 158 a . C , n o s e g u n d o mês,
274. Ant. X X 10, 3, § 237. E m c o n t r a p a r t i d a , s e g u n d o Ant. X I I
10, 6, § 414 e 1 1 , 2 , § 434, o p o v o , após a m o r t e d e A l c i m o , acontecida ao q u e d i z e m , e m 161 a . C , teria t r a n s m i t i d o o p o n t i f i c a d o a
J u d a s M a c a b e u q u e teria sido s u m o s a c e r d o t e d u r a n t e três anos (161¬
- 1 5 8 ) . D e a c o r d o c o m esses d a d o s , Ant. X I I I 2, 3 , § 46 c o n t a n ã o
sete, m a s q u a t r o anos d e intersacerdotium.
T a l p a r e c e r é visivelmente
t e n d e n c i o s o e, aliás, impossível, s i m p l e s m e n t e p o r q u e I M c ignora u m
r a n c e m o s d e n o v o u m o l h a r retrospectivo sobre a seqüenrin dos sumos sacerdotes d u r a n t e os q u i n z e anos estudados (175-159 a . C ) .
Depois d a destituição d e O n i a s I I , último s u m o sacerdote legítimo da família d e Sadoc, vemos, sucessivameiiíc, c o m o s u m o s sacerdotes: 1? um u s u r p a d o r sadoquita,
Jesus ( l a s ã o ) , 175-172; 2' u m sacerdote d a classe d e Belga
Menelau, 1 7 2 - 1 6 2 ; 3 u m sadoquita sem l i n h a g e m legítima,
Yakim (Alcimo) 162-159. Q u a n t o a Ornas I I Í , o legítimo
herdeiro s a d o q u i t a d o pontificado, fugiu p a r a o Egito o n d e
fundou o t e m p l o rival d e Leontópolis. E m 1 5 9 , Jerusalém
viu-se sem s u m o sacerdote. Essa vacância d u r o u sete anos.
N o outono d e 152 a . C , p o r ocasião da festa d a s Tend a s , o chefe dos j u d e u s n a época \ o asmoneu Jonatas ( 1 6 1 - 1 4 3 / 2 ) , revestiu-se das vestes pontificais. A t é então, o bêí hasmônay
e r a , d e n t r o da classe sacerdotal de
Y e h o y a r i b , uma família c o m u m , u m d o s grupos diários,
c o m o h a v i a , e m n ú m e r o d e 4 a 9, em cada classe sacer1
?
275
2 7
277
pontificado de Judas e p o r q u e Judas, segundo a cronologia certamente
exata d e I M c 9,3 m o r r e u n o p r i m e i r o m ê s , q u e r dizer, n o nisan d o
a n o 152 d a e r a selêucida = a b r i l 160 a.C. ( C o m esse c á l c u l o , supomos q u e os a n o s d a e r a s e l ê u c i d a correm
de primavera a primavera
[ver s u p r a , p . 2 5 2 s ] , p o r t a n t o , q u e o a n o 152 d a era s e l ê u c i d a vai d a
p r i m a v e r a 160 à p r i m a v e r a 159. M e s m o q u e c o n t e m o s o a n o s e l ê u c i d a
a p a r t i r d o o u t o n o , e nesse caso o a n o 152 d a era s e l ê u c i d a d o out o n o 160 a o o u t o n o 159 [ e n t ã o a m o r t e d e J u d a s e m n i s a n 152 d a
e r a s e l ê u c i d a , cai e m abril de 1 5 9 ] ; J u d a s t e r i a a i n d a m o r r i d o a n t e s
d a m o r t e d e A l c i m o q u e , s e g u n d o I M c 9,54 m o r r e u s o m e n t e n o a n o
seguinte,
153 d a e r a selêucida. V e r a n. p r e c e d e n t e ) .
275. I M c 10,21: " N o sétimo
m ê s í t i s h r i ] d o a n o 160, n a festa
d a s T e n d a s " . 160 d a e r a s e l ê u c i d a — p r i m a v e r a 152-primavera 151 a.C.
O s é t i m o m è s é tishri ( s e t e m b r o - o u t u b r o ) ; a festa d a s T e n d a s celebrava-se d e 15 a 22 tishri. P o r t a n t o , início d e o u t u b r o 152.
276. Só mais tarde os a s m o n e u s t o m a r a m o t í t u l o d e r e i : s e g u n d o
Josefo (B. j . I 3 , 1, § 70, Ant. X I Í I I I , 1, § 301) c o m A r i s t ó b u l o I
(104-103 a . C ) ; s e g u n d o o t e s t e m u n h o d a s m o e d a s e d e S t r a b o n X V I
2, 40, s o m e n t e c o m A l e x a n d r e J a n e u (103-76 a . C ) . Essas d u a s inform a ç õ e s n ã o s ã o c o n t r a d i t ó r i a s ; u m e m p r e g o i n t e r n o d o título d e rei
p o d e ter p r e c e d i d o a p r o c l a m a ç ã o oficial.
2 7 7 . T a r g u m d o P s e u d o - J ô n a t a s e m I S m 2,4: hasmannay.
—
Ant.
X I I 6, 1, § 265 c h a m a Matatias,
o s a c e r d o t e v a l o r o s o pai dos c i n c o
m a c a b e u s : filho d e J o ã o , ídho d e S i m ã o , filho d e A s a m o n a i o s " . B. j .
I , 1, 3 , § 3 6 . e m c o m p e n s a ç ã o , c h a m a M a t a t i a s " f i l h o d e A s a m o n a i o s " .
C o n f o r m e m o s t r a a c o m p a r a ç ã o d e s s a s três i n f o r m a ç õ e s , talvez n ã o
tenha sido o antepassado de Matatias que tinha o n o m e d e Asmon a i o s (hasmônay);
esse n o m e p e r t e n c e à f a m í l i a .
dotal (seção h e b d o m a d á r i a ) . Os sírios ofereceram o pontificado aos asmoneus; esses consideraram-se em condições
de aceitá-lo em vista dos serviços que p r e s t a r a m ao p o v o ,
livrando-o do perigo de decadência religiosa d u r a n t e a
perseguição síria. Mas pesou t a m b é m o fato de os o n í a d a s ,
herdeiros legítimos do pontificado, estarem em exercício
em Leontópolís, no templo d e O n i a s , n ã o r e c o n h e c i d o e m
Jerusalém.
E n t r e t a n t o , a origem da família asmonéia n ã o fora
esquecida. E m c o n t r a p a r t i d a , os fariseus mantiveram-se
n u m a atitude de desconfiança diante dos sumos sacerdotes
e príncipes a s m o n e u s , por terem saído de u m a família sacerdotal c o m u m . Contestaram-lhes o direito ao pontificad o , b a s e a n d o sua objeção relativa a João H i r c a n o (134¬
-104) e a A l e x a n d r e Janeu (103-76) no fato de a m ã e de
João H i r c a n o ter sido prisioneira de guerra, decidiram que
os asmoneus deviam renunciar ao pontificado . N ã o podemos esquecer, p o r é m , de que essa justificação da queixa
dos fariseus representa apenas u m a parte de seus protestos. A oposição deles visava aos filhos da prisioneira de
guerra, e, s o b r e t u d o , dos descendentes d e u m a família sacerdotal c o m u m que u s u r p o u u m a dignidade q u e n ã o lhe
era devida. A passagem seguinte da T o s e f t a
mostra a
que p o n t o estavam conscientes da ilegitimidade dos sumos
sacerdotes asmoneus originários de u m a família sacerdotal
c o m u m , q u e , além do mais, não voltara a sua p á t r i a senão muito tempo após o fim do exílio: " E [os profetas
de Jerusalém] entretiveram-se assim c o m eles [as 24 classes sacerdotais h e b d o m a d á r i a s ] : ' M e s m o que Y e h o y a r i b
[família sacerdotal à qual p e r t e n c e m os asmoneus] deva
voltar do exílio, n e n h u m de vós [de vossas seções h e b d o m a d á r i a s ] deve-se afastar em benefício dela, m a s , sim, integrá-la [uma d e vossas seções h e b d o m a d á r i a s ] ' ". Segundo esse texto, p o r conseguinte, os asmoneus n ã o t ê m sequer o direito de serem m e m b r o s de u m a seção sacerdotal
m
m
280
278.
178) : 5
279.
280.
178); b.
T o s . Ta'an.
a 9 seções
Ver supra,
T o s . Ta'an.
Ta'an. 2 7 ;
b
I I 2 (216, 1 7 ) ; /. Ta'an.
cotidianas.
p . 218.
I I 1 (216, 15) p a r . j . Ta'an.
b . 'Ar. 1 3 .
a
IV
2, 6 8
I V 2, 6 8
a
a
14
(IV/l,
842
(IV/1,
e, com mais razão ainda, não têm o direito d e se tornarem sumos sacerdotes.
T o d a v i a , os asmoneus s o u b e r a m arrostar c o m a situação. D e Jonatas, primeiro titular do pontificado, essa nova
dignidade passou a seu i r m ã o S i m ã o ( 1 4 2 / 1 - 1 3 4 ) e, a
partir desse m o m e n t o , p e r m a n e c e u h e r e d i t á r i o n a família
asmonéia. O s asmoneus f o r a m sumos sacerdotes sem interrupção d u r a n t e 1 1 5 a n o s , até a t o m a d a d e Jerusalém
por H e r o d e s , o G r a n d e , e o g o v e r n a d o r r o m a n o d a Síria
C. Sósio, e m julho de 3 7 a . C ; d u r a n t e esse p e r í o d o h o u v e
oito sumos sacerdotes a s m o n e u s . A seguir, H e r o d e s exterm i n o u os a s m o n e u s ; o parvenú i d u m e u considerava, c o m
razão, os asmoneus c o m o o m a i o r perigo pava a sua dom i n a ç ã o . E m 35 a.C. h o u v e a i n d a u m s u m o sacerdote asm o n e u , A r i s t ó b u l o , c o m dezessete a n o s , instituído p o r seu
c u n h a d o H e r o d e s . Q u a n d o A r i s t ó b u l o , em 3 5 , subiu ao
a l t a r p a r a a festa das T e n d a s , o p o v o o aclamou com tumultuosas manifestações de alegria e c o m lágrimas d e emoç ã o . Aos olhos de H e r o d e s , foi o suficiente p a r a eliminá-lo; i m e d i a t a m e n t e após essa festa deu ordens p a r a afogá-lo n u m a piscina de Jericó . Aristóbulo foi o último
sumo sacerdote de sua família. H e r o d e s multiplicou os
crimes, c o n d e n o u igualmente à morte os parentes afastados
da família asmonéia, a fim de que não sobrevivesse
n e n h u m em condições de tornar-se chefe e, conseqüentem e n t e , sumo sacredote .
A t o m a d a de Jerusalém em 37 a.C. m a r c a o início
de u m terceiro período: a supressão do soberano pontificado vitalício e, ao m e s m o t e m p o , a cessação do princípio d e h e r e d i t a r i e d a d e . Salvo d u a s exceções — o babilô2 8 1
m
283
m
2 8 1 . Ani.
X V 3 , 3 , § 50-52; B. j . I 2 2 , 2, § 437.
2 8 2 . Ant. X V 3 , 3 , § 53-56; B. j . I 22, 2, § 437.
2 8 3 . H e r o d e s mandem assassinar os filhos de Babas; i n i c i a l m e n t e
e s c o n d i d o s p o r u m ilustre i d u m e u , C o s t o b a r , f o r a m vítimas d a jurisd i ç ã o c r i m i n o s a d e H e r o d e s c m 28 ou 27 a.C. D e v i a m ser p a r e n t e s
afastados do r a m o a s m o n e u r e i n a n t e , p o i s s e u n o m e n ã o a p a r e c e e m
n e n h u m o u t r o l u g a r . E n t r e t a n t o , H e r o d e s n ã o os p o u p o u . E r a m os últimos r e p r e s e n t a n t e s d e s e x o m a s c u l i n o d a família a s m o n é i a
(Ant.
X V 7, 10, § 260-266).
284. Ant. X V 7, 10, § 266; " d e m a n e i r a q u e n ã o sobreviveu ning u é m d a família d e H i r c a n o " . E x t e r m i n a ç ã o c o m p l e t a d o s a s m o n e u s
em b . B. B. 3 i g u a l m e n t e .
b
nio A n a n e l
e o asmoneu Aristóbulo h á p o u c o citado —
Herodes só n o m e o u sumos sacerdotes " m e m b r o s d a s famílias sacerdotais c o m u n s " ; instituía e destituía sumos
sacerdotes a seu bel-prazer. Essa situação a n á r q u i c a continuou até a destruição d o T e m p l o e m 70 d . C ) , de tal
forma q u e , e m 106 anos (37 a . C . — 70 d . C ) , h o u v e 2 8
sumos sacerdotes, dos quais 2 5 oriundos de famílias sacerdotais c o m u n s . Esse n ú m e r o p o d e ser c o m p a r a d o a out r o : d u r a n t e u m período mais longo, isto é, d u r a n t e 115
anos, os asmoneus só instituíram 8 sumos sacerdotes.
Resumiremos a situação c o m o auxílio de n ú m e r o s ,
seguindo os dados fornecidos p o r Josefo . C o n v é m n o t a r
que ele conta Menelau como décimo q u i n t o s a d o q u i t a e m
exercício n o segundo T e m p l o ; c o m efeito, os nove anos
d u r a n t e os quais ocupou o cargo devem ser c o n t a d o s n o
intersacerdotium
p o r q u e M e n e l a u n ã o era sadoquita. Josefo
conta 8 3 sumos sacerdotes
desde A a r ã o até a destruição do T e m p l o .
285
Intersacerdotium
2 8 6
287
288
LISTA COMPLETA DOS SUMOS SACERDOTES
SEGUNDO JOSEFO
Número
de sumos
sacerdotes
1? período:
sadoquitas
a) Da saída do Egit o até a construção do primeiro
Templo
b) No primeiro Templo (salomónico)
O exílio
c) No segundo Templo (Menelau incluído)
2 8 9
13
612
18
—
466 V2
70
15
412
46
285.
286.
287.
288.
Duração
1 • 560 V2
V e r infra, 272s.
Ant. XX 10, 5, § 2 4 7 ; T o s . Yoma I 7 (180, 2 8 ) .
Ant. X X 10, I s s , § 224ss.
Ant. X X 10, 1, § 227. Q u a n t o a este n ú m e r o , v e r a i n d i c a -
a) O sacerdote Alcimo
b) Período sem sumo
sacerdote
2? período:
asmoneus
3? período:
época hero¬
diana e romana
(37 a.C. —
70 d.C.)
Total . . .
1
3
•—
7
8
113
28
107
83
290
m
1.791
Esse p a n o r a m a histórico permite-nos c o m p r e e n d e r melhor o conceito de aristocracia sacerdotal. N o século I de
nossa e r a h a v i a dois g r u p o s d e famílias pontifícias: as q u e
e r a m legítimas e as q u e n ã o e r a m . As famílias
legítimas
c o m p u n h a m - s e u n i c a m e n t e d e s a d o q u i t a s e m serviço no
T e m p l o de Onias e m Leontópolis e as famílias oriundas
desse r a m o dirigente; os ilegítimos
e r a m as famílias d e
cujo seio o acaso e a política t i n h a m , desde 37 a . C , elev a d o u m o u diversos m e m b r o s à dignidade s u p r e m a .
( Q u a n t o aos a s m o n e u s , e n t ã o já extintos, teriam constituído u m intermediário entre os dois; descendiam de u m a
família sacerdotal c o m u m , m a s h a v i a m entretanto detido
o pontificado d u r a n t e mais de u m século, antes de serem,
exterminados). T a l é o q u a d r o fornecido pelas fontes.
N o I V livro d e s u a Guerra judaica, Josefo conta
c o m o o chefe dos zelotas, João de Giscala, apossou-se de
Jerusalém p o r volta d o início d e n o v e m b r o d e 67 d . C ,
e de q u e m a n e i r a os zelotas estabeleceram, após u m a nova
ç ã o d o T a l m u d e , j . Yoma 1 1, 3 8 39 ( I I 1 / 2 , 1 6 2 ) : n o s e g u n d o T e m p l o ( d o exílio até 70 d.C.) e s t a r i a m e x e r c e n d o suas funções 80 s u m o s
s a c e r d o t e s ; s e g u n d o o u t r o s , 8 1 , 8 2 , 8 3 . 84 o u 85.
289. Ant. X X 10, 1, § 2 3 0 : Josefo c o n t a a p a r t i r d a saída d o
Egito e n ã o a p a r t i r d a c o n s t r u ç ã o d o T a b e r n á c u l o .
2 9 0 . F e s t a d a s T e n d a s 152-julho 3 7 a . C , p o r t a n t o , n a r e a l i d a d e ,
114 anos e 9 m e s e s .
2 9 1 . J u l h o 3 8 a.C.-10 a b (cerca d e agosto) 70 d . C , p o r t a n t o , n a
r e a l i d a d e , 106 anos e 1 m ê s .
c
instância, a escolha do sumo sacerdote. Esses benfeitores
do povo p a r a cujo a u m e n t o de p o d e r t u d o contribuía, exp l o r a v a m c o m suas maneiras os sentimentos da p o p u l a ção fiel à Lei; p o d e ser q u e , em p a r t e , t e n h a m agido com
seriedade. Inicialmente, " d e c l a r a r a m inválidos os direitos
das famílias no seio das q u a i s , a l t e r n a d a m e n t e , escolhiam¬
-se sempre os sumos sacerdotes" . Trata-se daquelas famílias de o n d e , desde 37 a . C , saíam os sumos sacerdotes; delas ainda falaremos com mais m i n ú c i a s . Os zelotas
t i n h a m r a z ã o ; tratava-se de famílias sacerdotais c o m u n s
e consideradas ilegítimas. Para substituí-las, os novos dirigentes, servindo-se de um velho costume, i n t r o d u z i r a m
o sorteio p a r a a escolha do sumo sacerdote. E m conseqüência, c o n v o c a r a m u m a das tribos pontifícias, a de Eniaquin e sortearam u m sumo sacerdote . De propósito, Josefo escolhe a p a l a v r a " t r i b o " (phulê) como a única q u e
convém aqui. U m a " t r i b o pontifícia" só p o d e designar
uma família o r i u n d a da família pontifícia sadoquita legítim a que fornecera os sumos sacerdotes em lerusalém, até
172 a . C , e, depois, cm Leontópolis. Essa tribo pontifícia
vivia no c a m p o . E x t e r i o r m e n t e , n a d a a distinguia das outras famílias sacerdotais, nem m e s m o a educação de seus
m e m b r o s ; o s u m o sacerdote escolhido p o r sorteio, F a n i ,
do vilarejo de Aftía , era u m canteiro > totalmente inculto . T o d a v i a , essa tribo tinha a v a n t a g e m de ser descendente de sadoquitas; foi por esse motivo
q u e os zelotas p e n s a r a m nela, r e a t a n d o assim com o p a s s a d o . O último sumo sacerdote da história judaica foi, pois, u m sa293
293
294
m
29&
297
292. B. j . I V 3, 6, § 148, cf. 3, 7, § 153,
2 9 3 . B. j . I V 3, 8, § 155.
294. P i n h a s de H a b t a n a t r a d i ç ã o r a b í n i c a .
295. S e g u n d o T o s . Yoma I 6 (180, 2 5 ) ; Lv. R. 26, 8 s o b r e 2 6 , 8
s o b r e 2 1 , 10 ( 7 ! 2 8 ) ; Sijra Lv 21,10 (47^ 1 8 7 , 8 ) os s a c e r d o t e s enviados p a r a buscá-lo t r o u x e r a m - n o da p e d r e i r a a J e r u s a l é m . A p o i a n d o - s e
e m l R s 19,19, seu p a r e n t e H a n a n y a b e n G a m a l i e l I I ( p o r v o l t a d e
120 d.C.) afirma q u e o t r o u x e r a m de sua c h a r r u a à n o v a d i g n i d a d e
( T o s . Yoma I 6 ( 1 8 0 , _ 2 7 ) ; Sijra Lv 21,10 ( 4 7 189. 1 0 ) ; n ã o se t r a t a
senão de u m a a d a p t a ç ã o s e g u n d o l R s 19,19.
293. B. j . I V 3, 8, § 155.
297. S c h ü r e r , I, 618: " E r a u m h o m e m d o p o v o , e isso é essencial". Essa o p i n i ã o n ã o leva e m c o n t a o fato p r i n c i p a l , isto é, a orig e m familiar do s u m o s a c e r d o t e e s c o l h i d o p o r sorteio.
b
c
d o q u i t a , se fizermos abstração d o sumo sacerdote E l e a z a r ,
d u r a n t e o l e v a n t a m e n t o d e Bar K o k b a .
E n i a q u i n não era a ú n i c a " t r i b o " s a d o q u i t a . O u t r a família sacerdotal, procedente do r a m o pontifício legítimo,
vivia em Babilônia; dela saiu o sumo sacerdote A n a n e l ,
p r i m e i r o s u m o sacerdote n o m e a d o p o r H e r o d e s a p ó s a
tomada de Jerusalém em 37 a . C . . C o m o os zelotas, Herodes t a m b é m representou, neste p o n t o , o papel de guarda da tradição, ao n o m e a r sumo sacerdote, e m lugar dos
" u s u r p a d o r e s " a s m o n e u s , u m d e s c e n d e n t e d a família sadoquita legítima. M a s , c o m o os zelotas mais t a r d e , escolheu
p r u d e n t e m e n t e u m h o m e m sem q u a l q u e r p r o j e ç ã o .
D o que precede, chegamos à conclusão d e que h a v i a ,
no século I antes d e nossa era e n o século I a p ó s , famílias sacerdotais descendentes d o r a m o sadoquita legítimo ;
o p r i m e i r o e o último dos sumos sacerdotes em exercício
entre 37 a.C. e 70 d . C , foram de origem sadoquita. O fato
é m u i t o ilustrativo; e m b o r a as famílias s a d o q u i t a s n ã o gozassem d e influência política, a consciência p o p u l a r colocava-as b e m acima das influentes famílias pontifícias ilegítimas. N o Oriente, a descendência pesou sempre mais
do q u e o p o d e r p o r q u e é a t r i b u í d a à v o n t a d e de D e u s ;
muitas vezes teremos a i n d a ocasião d e constatá-lo.
S e m d ú v i d a , influência e p o d e r encontravam-se do
lado das famílias pontifícias ilegítimas, p o r t a n t o daquelas
q u e , desde 37 a . C legaram os sumos sacerdotes, menos
três. E n t r e os 28 últimos sumos sacerdotes j u d e u s e m exercício d e 3 7 a.C. a 70 d . C . — foi a p e n a s d u r a n t e a guerra
de Bar-Kokba q u e apareceu a i n d a u m a vez u m sumo sacerdote, Eleazar — somente o p r i m e i r o e o último d a séZ9S
299
m
2 9 8 . Ant.
X V 3 , 1, § 40, cf. 2 , 4, § 22 ( s e g u n d o Para
era
I I I 5, ele
egípcio.
2 9 9 . Ant. X V 2, 4, § 2 2 diz q u e H e r o d e s n o m e o u n ã o u m sac e r d o t e d o p a í s . h o m e m influente, m a s u m e s t r a n g e i r o insignificante.
E m c o n t r a d i ç ã o c o m Josefo, i n t e r p r e t o u - s e essa i n d i c a ç ã o d a s e g u i n t e
m a n e i r a , q u e é c o m p l e t a m e n t e falsa: A n a n e l era " d e origem sacerdotal c o m u m " ( S c h ü r e r , I I , 269; o p i n i ã o s e m e l h a n t e e m O t t o ,
Herodes,
col. 38. P r e c i s a m e n t e o q u e ele n ã o era!
300. É a u m a dessas famílias q u e p e r t e n c i a R. S a d o c , s a c e r d o t e
c é l e b r e q u e m i n i s t r a v a a u l a s em J e r u s a l é m , antes de 70 d.C. ARN
rec.
A c a p . 16 6 3 25 refere-se a ele c o m o s e n d o da d e s c e n d e n c i a pontifícia. N a o é p o r a c a s o q u e se c h a m a v a S a d o c !
a
rie, c o m o vimos, pertenciam a u m a família legítima; o
b a b i l ô n i o A n a n e l (sumo sacerdote em 37-36 [ 5 ] , e a partir de 37 a.C. pela segunda vez) e Pinhas de H a b t a , o
canteiro (67 [ 8 ] d . C ) ; além disso, u m a s m o n e u foi a i n d a
u m a vez sumo sacerdote na pessoa de Aristóbulo (35
a . C ) . Os 2 5 outros p r o c e d i a m de famílias sacerdotais com u n s . Essas famílias assim enobrecidas de u m m o m e n t o
p a r a o u t r o , vindas, em p a r t e , do estrangeiro , e em parte da p r o v í n c i a , formavam r a p i d a m e n t e uma nova hier a r q u i a , ilegítima, sem d ú v i d a , mas p o d e r o s a . Compunha¬
-se, especialmente, de q u a t r o famílias; cada uma delas se
esforçava por conservar, o mais tempo possível, o pontificado. Entre os 25 sumos sacerdotes ilegítimos da época
h e r o d i a n a e r o m a n a , n ã o menos de 22 p e r t e n c e m a essas
q u a t r o famílias, isto é, aos Boetos (8) , A n á s (8), Fiabi
(3) e K a m i t h (3); q u a n t o aos três outros sumos sacerdotes , podemos supor que lhes estavam ligados.
301
3DZ
303
m
Entre essas famílias a mais i m p o r t a n t e na origem foi
a de Boetos , procedente de A l e x a n d r i a . Seu p r i m e i r o
representante foi o sumo sacerdote Simão , sogro de He305
306
3 0 1 . A família d e Boetos era originária de A l e x a n d r i a .
302. O s u m o s a c e r d o t e (osé, filho de Ellem, q u e oficiou e m 5
a.C. no Dia das E x p i a ç õ e s , n o l u g a r do s u m o s a c e r d o t e e, p o r conseq ü ê n c i a , figura n a lista dos 28 s u m o s s a c e r d o t e s , era o r i g i n á r i o de
Séforis ( T o s . Yoma
I 4 (180, 1 4 ) ; b . Yoma
12»; j . Yoma
I 1, 38<>
1 ( I I I / 2 , 164). A família pontifical bêfalôbay
(].: 'anôbay)
era originária de s biyyím
(}.: bêt s bõ"im
a
família pontifical bêt
qayyapha
(].: neqíphí),
de bêt m qoses
(j.: bêt qôses):
T o s . Yeb. I 10 ( 2 4 1 , 2 5 ) ;
]. Yeb. I 6, 3 47 ( I V / 2 , 18) (desses n o m e s de lugares b . Yeb.
15»
faz n o m e s de f a m í l i a s ) . A ú l t i m a família c i t a d a p o d e r i a ser a d o
s u m o sacerdote Caifás, cf. supra, p . 136, n . 9 5 .
3 0 3 . Aos seis m e m b r o s d a família de Boetos citados p o r S c h ü r c r ,
II, 275, é preciso a c r e s c e n t a r d o i s : M a t i a s , filho de T e ó f i l o (5-4 a.C.)
q u e , s e g u n d o Ant. X V I I 6, 4 § 164, era genro de S i m ã o , c h a m a d o
Boetos (22-5 a . C ) , e José, filho de E l l e m (5 a . C ) . Esse ú l t i m o par e n t e de M a t i a s , e visivelmente p a r e n t e m u i t o p r ó x i m o , p o i s , substituiu-o u m a vez (Ant. X V I I 6, 4, § 1 6 4 ) ; c o n v é m , pois, contá-lo entre os m e m b r o s d a família de Boetos.
304. São eles: Jesus, filho de See (até 6 d . C ) ; A n a n i a s , filho de
N e b e d e u (a p a r t i r de 4 7 , a p r o x i m a d a m e n t e ) ; Jesus, filho de D a m n é i a
{cerca d e 62-63).
305. E m b . Pes. 5 7 bar., ela é c i t a d a em p r i m e i r o l u g a r ; e m seguida v e m a família de Q a t r o s ( K a n t e r a s ) q u e l h e é a p a r e n t a d a .
306. C h a m a m - n o p o r vezes Boetos, s e g u n d o o n o m e de sua família, p o r ex., Ant. X I X 6, 2, § 297.
e
e
e
a
a
rodes (22-5 a . C ) ; notemos a d u r a ç ã o de seu pontificado:
17 anos! ; essa família a i n d a conseguiu investir das funções pontifícias sete de seus m e m b r o s . U m fato m o s t r a
t a m b é m o p o d e r de sua influência: u m a p a r t e dos saduceus
e até mesmo todo esse p a r t i d o é c h a m a d o " B o e t ú s i o s " .
Mais tarde a família de Boetos foi s u p l a n t a d a pela do sumo
sacerdote A n á s (6-15 d . C , no cargo, p o r t a n t o , d u r a n t e 9
a n o s ) , de q u e m cinco filhos assim c o m o o genro Caifás
(18, a p r o x i m a d a m e n t e , — 3 7 , 19 anos em exercício!)
e o neto Matias (65) foram sumos sacerdotes. Segundo as
informações de Josefo, a família de Kanit, como a de Fiabi
deu três sumos sacerdotes; m a s , segundo a lenda do Talm u d e , d e u sete q u e e r a m , dizem, todos irmãos e dos quais
somente u m ou dois d e v e m ter oficiado como substitutos
de seu irmão impedido por alguma i m p u r e z a r i t u a l .
307
m
309
310
311
307. Q u a n t o a estas d a t a s : S i m ã o foí c i t a d o após o fim d a fome
(Ant. X V 9, 3, § 3 1 9 s s ) . B a s c a n d o - n o s na c r o n o l o g i a dos anos sabáticos, d e v e m o s situar essa fome e m 24-22 a . C ; ver m e u artigo
Sabbathjahr, e m ZNW
27 ( 1 9 2 8 ) , 98s.
308. T o s . Sukka
I I I 1 ( 1 9 5 , 1 9 ) ; b . Sukka
4 3 ; cf. T o s . Yoma
I
8 (181, 3) e passim.
309. Lc 3,2; At 4,6; Jo 18,13.24.
310. F r e q ü e n t e m e n t e n o N o v o T e s t a m e n t o ; v e r t a m b é m supra, p .
266, n . 302. N ã o nos d e v e m o s p r e n d e r à d a t a de 36 d . C , c o r r e n t e m e n t e aceita p a r a a d e s t i t u i ç ã o d e Caifás. S e g u n d o Ant. X V I I I 4, 2,
§ 89, Vitélio, g o v e r n a d o r da Síria, e n v i o u Pilatos a R o m a p a r a se justificar, d e p o i s veio a Jerusalém p a r a a P á s c o a e, nesta ocasião, destituiu Caifás (§ 9 5 ) . Pilatos só c h e g o u a R o m a após a m o r t e de Tib é r i o , a c o n t e c i d a e m 16 d e m a r ç o de 37; n ã o foi, pois, d e s t i t u í d o
antes d o fim de 36, p r o v a v e l m e n t e no início d e 37. Por c o n s e g u i n t e ,
Vitélio e n c o n t r a v a - s e em J e r u s a l é m n a P á s c o a d e 37 e foi e n t ã o q u e
Caifás foi r e v o g a d o (cf. O t t o , Herodes,
col. 193ss n. O t t o c o m e t e apenas o e r r o d e c o n f u n d i r essa p r i m e i r a visita d e Vitélio c o m a s e g u n d a ,
c o n t a d a c m Ant. X V I I I 5, 3 , § 122ss. É a b s o l u t a m e n t e impossível,
pois p o r ocasião dessa s e g u n d a visita, o d e s t i t u í d o foi o s u m o sacerdote J o n a t a s , sucessor de Caifás. D u r a n t e s u a s e g u n d a visita, Vitélio
r e c e b e u a notícia d a m o r t e de T i b é r i o . O r a , p a r a chegar à Palestina,
as notícias l e v a v a m de u m a três meses, c o n f o r m e os v e n t o s fossem
favoráveis ou n ã o . Essa s e g u n d a visita realizou-se, p o i s , c e r t a m e n t e , n o
P e n t e c o s t e s de 37. P o r c o n s e g u i n t e , J o n a t a s , sucessor do s u m o sacerd o t e Caifás, ficou n o c a r g o a p e n a s 50 dias, d a P á s c o a até Pentecostes
37).
b
3 1 1 . S e g u n d o b . Yoma 4 7 , os i r m ã o s q u e oficiavam c o m o substitutos f o r a m Y e s h é b a b e Josefo. A p a s s a g e m p a r a l e l a T o s . Yoma
IV
20 (189, 14) m e n c i o n a a p e n a s u m i r m ã o s u b s t i t u t o ; chama-se J u d a s
e m Lv. R. 20, 7 s o b r e 16, 1-2 ( 5 3 2 6 ) ; j . Yoma
I 1, 3 8 6 ( I I I / 2 ,
164); j . Meg. I 12, 7 2 49 ( n ã o t r a d u z i d o e m I V / 1 , 220 q u e r e m e t e
ao p a r . I I I / 2 , 1 6 4 ) ; T a n h u m a , 'abaré môt, § 7, 4 3 3 , 24 e
passim.
a
b
a
d
Sobre q u e r e p o u s a v a o p o d e r dessas poucas famílias?
E n c o n t r a m o s a resposta no lamento
p r o n u n c i a d o contra
a n o v a h i e r a r q u i a p o r Abba S h a u l , filho d a b a t a n é i a ( q u e
vivia em Jerusalém antes de 70 d . C .
e m i n i s t r a n d o seus
e n s i n a m e n t o s até q u a s e 100), e m n o m e d e
A b b a José
ben H a n i n
(antes de 7 0 , em Jerusalém):
312
3 , 3
í M
3 1 5
Ai de mim por causa da família de Baithos [Boetos],
ai de mim por. causa de sua lança 1
Ai de mim por causa da família de Hanin (Tos.: Elhanan; é
[Anás) ' ,
ai de mim por causa de suas murmurações !
Aí de mim por causa da família de Qatros (Tos.: Qadros; é
[Kantheras),
ai de mim por causa de seu cálama!
[Ai de mim por causa da família de Elisha,
ai de mim por causa de seu punho! — acrescentado em Tos.]
Ai de mim por causa da família de hhmael ben Fiabi,
ai de mim por causa de seu punho!
Por que eles são sumos sacerdotes, tesoureiros são os seus
filhos, os genros, vigilantes do T e m p l o , e seus servos maltratam o povo [Tos.-, nós] com p a u l a d a s .
316
3
7
3,a
319
320
321
m
312. b . Pes. 57* b a r . ; T o s . Meu. X I I I 2 1 ( 5 3 3 , 3 3 ) .
313. Ressalta de b. Besa 1 9 bar. q u e ele vivia e m J e r u s a l é m a i n d a
antes d a d e s t r u i ç ã o d o T e m p l o .
314. T o s . : " e " .
315. T o s . : " A b b a Y o s é b e n Y o h a n a n , m o r a d o r de J e r u s a l é m " . O
n o m e é o m e s m o ; somente a transtiteração é diferente. Pode-se dar,
p o r é m , q u e a Tosefta, p o r e n g a n o , tome-o p e l o d o u t o r d o m e s m o
n o m e , m e n c i o n a d o e m P. A. 1 4 e q u e vivia p o r volta d e 150 a.C.
316. O u " p o r causa de sua m a l d i ç ã o " .
317. A lição de Bablt é a m e l h o r : H a n i n .
318. = m a l e d i c ê n c i a s . — T o s , : " . . . ai d e m i m p o r c a u s a d a família e m u r m u r a ç õ e s " .
319. = decretos.
320. Essas o i t o ú l t i m a s p a l a v r a s í a l t a m n a T o s . q u e Já as c o l o c o u
n a frase anterior.
3 2 1 . 'Ammark [in,
ver supra, p . 23ss.
322. O texto da Tosefta á m e n o s b o m (ver supra, p . 268, n . 314s,
318. É de a d m i r a r q u e nesse texto d a Tosefta a p a r e ç a o u t r a família,
a d e Elisha. N a lista c o m p l e t a q u e Josefo n o s d á dos s u m o s sacerdotes nos 100 últimos anos a n t e s d a d e s t r u i ç ã o d o T e m p l o , n ã o c o n s t a
n e n h u m sacerdote com o n o m e Elisha ou filho d e Elisha. Q u a n t o à
t r a d i ç ã o r a b í n i c a : a) nesse texío ela cila u m a família pontifícia de
Elisha; b) em Ber. 7 b a r . e b . Gil. 5 8 , o u v i m o s falar de r a b i (sic!)
I s h m a e l b e n Elisha, s u m o s a c e r d o t e , o f i c i a n d o n o S a n t o d o s s a n t o s ; s ó
a
c
a
a
Essa l a m e n t a ç ã o q u e nos revela d e m a n e i r a característica o estado de espírito do povo e do baixo clero contra a nova h i e r a r q u i a ilegítima, c o n t é m excelente material
histórico. O autor, assim c o m o aquele que n a r r a a tradição, p e r t e n c e m ainda à Jerusalém de antes da destruição
do T e m p l o , e o texto cita as três famílias pontifícias (Boetos, A n á s , Fiabi; o sumo sacerdote S h i m e o n K a n t h e r a s
era filho de Boetos, sua família p e r t e n c e , pois, à família
dos Boetos) q u e , como já p u d e m o s ver pelos escritos de
Josefo, m a n t i n h a as rédeas. Essas maldições nos m o s t r a m
q u e a influência da nova aristocracia r e p o u s a v a sobre a
política da força, em p a r t e b r u t a l ( p a u l a d a s , m u r r o s ) , em
p a r t e intrigante ( m u r m u r a ç õ e s , c a l a m o s ) . Essa política permitia-lhe obter as principais funções do T e m p l o , assim
como as taxas e os fundos. Q u a n t o às funções, trata-se
dos postos fixos de chefes d e sacerdotes em Jerusalém:
o de c o m a n d a n t e do T e m p l o — conforme vimos nas p p .
277s, era h a b i t u a l m e n t e p r e e n c h i d o pelos amigos íntimos
e pelos mais próximos p a r e n t e s do s u m o sacerdote — e
os de vigilantes do T e m p l o que v i n h a m logo a seguir, assim como os postos de tesoureiros. Segundo o texto dessa
queixa era, pois, costume escolher todos os chefes dos sacerdotes entre os filhos e os genros dos sumos sacerdotes
e dos antigos sumos sacerdotes.
N u m a passagem freqüentemente i n t e r p r e t a d a erroneam e n t e , o N o v o T e s t a m e n t o afirma este n e p o t i s m o da nova
h i e r a r q u i a . At 4,5-6 descreve assim a c o n v o c a ç ã o de u m a
seção do Sinédrio: " N o dia seguinte, reuniram-se em Jerusalém os chefes dos judeus, os anciãos e os e s c r i b a s . Est a v a m presentes o sumo sacerdote A n á s , [o ancião] Caifás
5
6
p o d e ser u m dos dois s u m o s s a c e r d o t e s p o r t a d o r e s d o m e s m o n o m e
I s h m a e l ( I s h m a e l b e n P h i a b i I, cerca de 15-16 d . C , e I s h m a e l b e n
P h i a b i I I , a t é 6 1 ) , q u e foi c o n f u n d i d o c o m o c é l e b r e R. I s h m a e l b e n
Elisha ( e x e c u t a d o em 135 d . C ) ; c) e m T o s . Halla I 10 (98, 10), R.
I s h m a e l b e n Elisha j u r a pelas vestes pontificais d e seu 'abba. N ã o d e v e
estar se r e f e r i n d o a seu p a i , já q u e n ã o existe n e n h u m s u m o sacerdote com o n o m e Elisha; trata-se, p o r t a n t o , d e u m a n t e p a s s a d o , p r o v a v e l m e n t e o s u m o s a c e r d o t e I s h m a e l b e n P h i a b i I I . — É de se s u p o r
que o texto d a Tosefta designe p o r família d e Elisha, a família de
P h i a b i q u e se e n c o n t r a assim d u a s vezes m e n c i o n a d a .
e Jonatas , A l e x a n d r e e todos os m e m b r o s das famílias
dos sumos sacerdotes".
O versículo 5 cita os três grupos conhecidos q u e form a m o Sinédrio: chefes de sacerdotes, anciãos e escribas.
A p a l a v r a "chefes" archontes aí figura no lugar de archiereís, termo preferido alhures; o mesmo acontece no versículo 8
e com freqüência em Josefo . O v. 6 n ã o menciona o u t r o grupo de m e m b r o s do Sinédrio; conforme o
d e m o n s t r a a i n a d e q u a ç ã o do nominativo na c o n s t r u ç ã o , ele
especifica os membros do primeiro g r u p o , o mais importante, isto é, o dos archieréis, q u e r dizer , chefes dos sacerdotes de Jerusalém. São estes: a) o antigo sumo sacerdote Anás (em exercício de 6 a 15 d . C ) , e n c a b e ç a n d o a
lista p o r causa de sua idade e influência; b) seu g e n r o
Caifás, sumo sacerdote em exercício (18-37 ap.); c) Jonatas, filho de Anás q u e , alguns anos após o evento n a r r a d o
por At 4,1-22, sucedeu a Caifás como sumo sacerdote
(37)
e q u e , segundo t u d o indica , era, na época, com a n d a n t e do T e m p l o ; d) A l e x a n d r e q u e não é conhecido
de m a n e i r a mais precisa, aliás; e) outros m e m b r o s das famílias sacerdotais na m e d i d a em que o c u p a v a m os postos
de chefes de sacerdotes no T e m p l o de Jerusalém.
m
324
32s
326
327
328
3 2 3 . N a m a i o r i a dos mss. lê-se íoánnes.
E m c o n t r a p a r t i d a , em
D d g p lê-se Ionãthas.
João a p a r e c e cerca d e 135 vezes no N o v o T e s t a m e n t o , e n q u a n t o J o n a t a s n ã o é e n c o n t r a d o em l u g a r a l g u m ; a l é m
do m a i s , a i n t e r v e n ç ã o desses dois n o m e s encontra-se n o u t r o l u g a r .
( T h . Z A H N , Die Aposíelgeschichte
T, 3? ed., Leipzig, 1922, 167, n . 8 8 ) .
Razões de crítica i n t e r n a p e r m i t e m , pois, sem d ú v i d a , d e c i d i r a f a v o r
da v e r s ã o J o n a t a s das t e s t e m u n h a s ocidentais q u e a c a b a m d e ser c i t a d a s .
324. C o m p a r a r o v. 8 c o m o v. 2 3 ! —• O m e s m o e m p r e g o d o
t e r m o se e n c o n t r a já, talvez, e m l M c 1,26 " A r c o n t e s e a n c i ã o s " c o m
7,33 e 11,23 " s a c e r d o t e s e a n c i ã o s " . D e o u t r o m o d o e m 14,28, o n d e
" s a c e r d o t e s , a r c o n t e s d o p o v o e a n c i ã o s do p a í s " e n c o n t r a m - s e u n s a o
l a d o dos o u t r o s .
325. V e r as p r o v a s de S c h ü r e r , I I , 252, n . 41 e 42.
326. V e r supra, 245s,
327. Ant. X V I I I 4, 3, § 9 5 . S o b r e seu c u r t o p o n t i f i c a d o de apenas 50 dias, ver supra. p . 267, n. 310.
328. j . Yoma I I I 8, 4 1 ( I H / 2 , 1 9 7 ) : " O s u m o s a c e r d o t e n ã o era
n o m e a d o p a r a tal d i g n i d a d e se já n ã o tivesse sido c o m a n d a n t e d o
T e m p l o " ; s o b r e essa q u e s t ã o , v e r supra, p . 227. Ê p r o v a v e l m e n t e o
q u e se d á a q u i , t a n t o mais q u e a família de A n á s está em exercício,
família q u e desfrutava e n t ã o de p o d e r p a r t i c u l a r m e n t e g r a n d e ; nen h u m o u t r o s u m o s a c e r d o t e d o século I m a n t e v e - s e t a n t o t e m p o n o
exercício d e s u a s funções q u a n t o Caifás.
At 4,5-6 confirma, pois, os dados talmúdicos segundo
os quais a nova h i e r a r q u i a se conluiava p a r a d a r a seus
m e m b r o s os postos influentes do T e m p l o : n ã o somente o
genro do antigo sumo sacerdote A n á s é sumo sacerdote
e m exercício e u m de seus filhos c o m a n d a n t e s do T e m plo, mas a família pontifícia r e i n a n t e , a de A n á s , d e t é m
outros postos, na realidade, todos os outros postos-chave!
A composição do governo em 66 d . C , q u a n d o estourou
a revolta c o n t r a os r o m a n o s , permite-nos avaliar de que
p o d e r d i s p u n h a a nova h i e r a r q u i a , e c o m o tinha entre as
mãos não somente o T e m p l o , o culto, a jurisdição sobre
os sacerdotes , u m n ú m e r o considerável de cadeiras n a
assembléia s u p r e m a , o Sinédrio , mas t a m b é m a direção
política da assembléia do p o v o . E m 6 6 , com efeito, u m
dos dois governantes de Jerusalém foi o ex-sumo sacerdote A n a n ; u m dos dois da I d u m é i a foi o chefe dos sacerdotes, o o u t r o , o filho do s u m o sacerdote A n a n ; além
desses, três sacerdotes r e c e b e r a m o c o m a n d o na Galileia,
mas ignoramos a origem dos outros q u a t r o governantes, os
de Jericó, Peréia, T a m a e Gofua c o m A c r a b a t a . Pelo
seu nepotismo, a aristocracia sacerdotal conseguiu ter nas
mãos não somente a força política, m a s t a m b é m a administração dos fundos do T e m p l o , que é igualmente importante. "Seus filhos são t e s o u r e i r o s . . . e seus servos malt r a t a m o p o v o com p a u l a d a s " , lemos h á pouco no lamento
de A b b a Shaul. A queixa a respeito das brutalidades dos
servos faz p e n s a r nos casos, acima n a r r a d o s , de apropriação b r u t a l e ilegal das taxas e porções de vítimas destin a d a s aos sacerdotes das 24 seções h e b d o m a d á r i a s . N a
realidade, p o d e m o s constatar q u e a m a i o r i a das famílias,
da n o v a h i e r a r q u i a , assim como os Boetos, A n á s , Fiabi,
d i s p u n h a m de grandes recursos .
m
m
3 3 1
332
333
A nova h i e r a r q u i a p o d i a exibir riquezas e p o d e r i o ;
n a d a substituía a legitimidade que lhe faltava.
a
329. Supra, p p . 245s.
330. Supra, p . 247.
3 3 1 . São q u a s e s e m p r e os s a c e r d o t e s dirigentes q u e t o m a m
n a s e m b a i x a d a s , p o r ex., An¡. X X 8, 11, § 194 e
passim.
332. E. j . I I , 20, 3 s., § 562ss; Galileia: Vita 7, § 29.
3 3 3 . R e u n i as p r o v a s supra, p . 139ss. Cf. a p r e s c r i ç ã o de T o s .
parte
Yoma
persos na Judéia e na Galileia . C a d a u m a dessas classes sacerdotais (seções h e b d o m a d á r i a s )
dividia-se em 4
a 9 famílias de sacerdotes (seções cotidianas) °, oficiando,
a l t e r n a d a m e n t e , d u r a n t e os sete dias da s e m a n a de serviço de sua seção h e b d o m a d á r i a . Já e n c o n t r a m o s
u m exemplo dessa divisão, sob a forma do bêt hasmônay,
seção cotidiana que fazia p a r t e da seção h e b d o m a d á r i a de Joiarib.
E n c a b e ç a n d o u m a seção h e b d o m a d á r i a achava-se o rôs-ha-mismar; e n c a b e ç a n d o u m a seção cotidiana, o rôs bêt'ab
.
V e m o s , pois. que o conjunto dos sacerdotes se c o m p u n h a
d e 2 4 seções h e b d o m a d á r i a s , divididas em a p r o x i m a d a m e n t e
156 seções cotidianas.
N a presente pesquisa não nos toca descrever a atividade litúrgica dos sacerdotes. E m compensação, ligado
ao que expusemos sobre a sua distribuição social, devemos
p r o c u r a r saber o n ú m e r o dos sacerdotes j u d e u s .
C o m exagero i n c o m u m , o T a l m u d e afirma que a menor das seções h e b d o m a d á r i a s com sede em Shihin, na
Galileia, contava com 8 5 . 0 0 0 jovens sacerdotes . Opost a m e n t e , segundo o Pseudo-Hecateu , o n ú m e r o não excedia a 1.500
. N e m m e s m o esse n ú m e r o deve ser lev a d o em consideração conforme deduziu Büchler ; talvez
esse n ú m e r o correspondesse apenas aos sacerdotes que ha338
D, O S S A C E R D O T E S
"COMUNS"
339
34
P a r a l e l a m e n t e a essa aristocracia sacerdotal encontrava-se a m u l t i d ã o dos sacerdotes. N o meio do povo j u d e u ,
0 clero constituía u m a c o m u n i d a d e tribal fortemente organizada que fazia r e m o n t a r sua genealogia até A a r ã o ,
e d e n t r o da qual o sacerdócio se transmitia por h e r a n ç a .
Segundo u m a distribuição m u i t o antiga, o clero era
dividido em classes sacerdotais. Já em 4 5 5 a.C., por ocasião da assinatura solene da Lei, contavam-se 2 1 classes
sacerdotais, seções p a r a o serviço (Ne 10,3-9). N o século
I V , cerca do fim do período persa, aparece u m a segunda
lista q u e m e n c i o n a 2 2 ; cinco das classes antigas desapareceram, seis novas lhes foram acrescentadas (Ne 1 2 , 1 . 7 .
12-21). O primeiro livro das Crônicas cita, pela p r i m e i r a
vez, 24 classes de sacerdotes; de novo doze antigas classes desapareceram, catorze novas surgem ( l C r 2 4 , 1 - 1 9 ) .
E m l C r 2 4 , 7 , a família sacerdotal d e Joiarib à qual pertenciam os M a c a b e u s ( l M c 2 , 1 ; 14,29) é citada em primeiro lugar, e n q u a n t o não figura em Ne 10,3-9 e a p a r e c e
n u m posto s u b o r d i n a d o e m Ne 12,1-7.12-21. Conclui-se,
pois, q u e essa terceira lista só p o d e ter sido redigida no
tempo dos M a c a b e u s .
341
m
343
í44
34S
m
335
As divisão do clero em 24 classes sacerdotais, cump r i n d o a l t e r n a d a m e n t e , segundo sua condição, u m a sem a n a de t r a b a l h o e m Jerusalém, de sábado a sábado
—
e por isso as classes se c h a m a v a m t a m b é m seções h e b d o m a d á r i a s — estava em vigor n o t e m p o de Jesus . Essas
24 classes sacerdotais a b r a n g i a m todos os sacerdotes dis336
337
1 6 {180, 23) s e g u n d o a q u a l o s u m o s a c e r d o t e d e v e s u p e r a r e m riq u e z a s os o u t r o s s a c e r d o t e s .
334. Kôhen
hedyôt.
35. O texto d a Tosefta, c i t a d o supra, p . 260, m o s t r a i g u a l m e n t e
q u e a divisão de l C r 2 4 , 7 4 8 q u e coloca a classe de Y e h o y a r i b e m
p r i m e i r o lugar, deve ser de d a t a r e c e n t e .
336. C. Ap. II 8, § 108; Ant. V I I 14, 7, § 365; Lc 1,8.
337. Ant. V I I 14, 7, § 365s; Vita 1, § 2; T o s . Ta'an II 1 (216,
12) e p a r . (ver supra, p . 260, n . 2 7 9 ) ; L c 1,5-8; Cant. R. 3 , 12 s o b r e
í, 7 ( 4 0 31) e passim.
a
338. Sacerdotes n a G a l i l e i a : Shihin n a Galileia: j . Ta'an.
I V 8,
6 9 53 ( I V / 1 , 1 9 2 ) ; Séforis: v e r supra, p . 256, n . 302; T o s . Sota X I I I
8 (319. 2 0 ) ; j . Yoma VI 3, 43^ 59 ( 1 I I / 2 , 2 3 4 ) ; b , Yoma 3 9 , Schlat¬
ter, Gesch. Isr., 136; B ü c h l e r , Priester.
196-202.
339. Mistnar
( g u a r d a ) , Josefo, Vila 1, § 2: ephemerís,
patriá Lc
1,5-8:
ephemeria.
340. Bêt'ab; Josefo, Vita, § 2 : phulé. D e m o d o c u r i o s o , Josefo inverte os t e r m o s gregos e d e n o m i n a a seção h e b d o m a d á r i a , "seção cot i d i a n a " (ephemerís)
e d e s i g n a a s e ç ã o c o t i d i a n a p e l o t e r m o geral d e
" t r i b o " (phulé).
E n c o n t r a m o s o n ú m e r o das seções c o t i d i a n a s de u m a
seção h e b d o m a d á r i a em T o s . Ta'an
II 1-2 (216, 1 2 ) : 4 a 9 seções
c o t i d i a n a s , e em j . Ta'an I V 2, 6 8 14 ( I V / 1 , 1 7 8 ) ; 5 a 9.
3 4 1 . Supra,
p . 259.
342. Supra,
p p . 228ss.
3 4 3 . j . Ta-an. I V S, 6 9 53 ( I V / 1 , 1 9 2 ) .
3 4 4 . Q u a n t o à a t r i b u i ç ã o d a n o t a c i t a d a n . 347, p . 274, n o P s e u d o - H e c a l e u q u e se d e v e situar n o fim do s é c u l o II a . C . v e r a e x p o s i ç ã o
d e B. S c h a l l e r , Hekataios
von Abdera
über die juden,
e m ZNW
54
( 1 9 6 3 ) , 15-31.
345. C i t a d o p o r Josefo, C. Ap. I 22, § 188.
346. Büchler, Priester,
48ss.
a
a
a
a
SEMINÁRIO CONCÓRDIA
b i t a v a m Jerusalém . A indicação de N e 11,10-19 segundo
a qual em 4 4 5 a . C , 1 . 1 9 2 sacerdotes se estabeleceram em
Jerusalém, concorda com essa explicação . E m contrapartida, podemos utilizar a indicação da carta do Pseudo-Aristeu, escrita nas últimas décadas do século II antes
de nossa era ; por ocasião de sua visita ao T e m p l o , 7 0 0
sacerdotes em exercício estão presentes, " a l é m de u m a
g r a n d e m u l t i d ã o q u e oferece v í t i m a s " . N o seu m o d o de
interpretar, o n ú m e r o 7 0 0 representa o conjunto de sacerdotes e de levitas da seção h e b d o m a d á r i a em serviço. Aliás,
aqueles q u e oferecem as vítimas, acrescentados pelo Pseudo-Aristeu, representam os m e m b r o s da seção cotidiana
que executam o serviço. As informações do Pseudo-Aristeu
levam, pois, a u m total de a p r o x i m a d a m e n t e 7 5 0 X 24 =
1 8 . 0 0 0 sacerdotes e levitas.
347
348
349
350
A relação entre esse n ú m e r o e os dados veterotestamentários inspira confiança. Segundo Esd 2,36-39 — N e
7,39-42, voltaram do exílio com Z o r o b a b e l e Josué q u a t r o
famílias de sacerdotes, c o m p r e e n d e n d o 4 . 2 8 9 h o m e n s ,
além de (Esd 2,40-42; Ne 7,43-45) 74 levitas; 128 ( N e :
148) cantores e 139 (Ne: 138) porteiros. Isso representa
4 . 6 3 0 ( N e : 4 . 6 4 9 ) sacerdotes e levitas. As condições históricas explicam p o r q u e o n ú m e r o de levitas é b a i x o . C o m
efeito, os sacerdotes de postos altos, reduzidos pelo Deuteronômio à categoria de levitas, não tiveram — e o comp r e e n d e m o s b e m — n e n h u m prazer em voltar do exílio e
só o fizeram aos poucos p a r a Jerusalém. É u m a época
347. O P s e u d o - H e c a t e u diz: " O n ú m e r o de s a c e r d o t e s j u d e u s q u e
r e c e b e m o d í z i m o dos p r o d u t o s e a d m i n i s t r a m os negócios p ú b l i c o s
é, n o m á x i m o de 1.500". A l é m d a r e d u ç ã o do n ú m e r o , a m e n ç ã o dc
u m a a t i v i d a d e a d m i n i s t r a t i v a faz p e n s a r , i g u a l m e n t e , c m J e r u s a l é m .
348. O s n ú m e r o s estão e m perfeito a c o r d o . Visto o e s p a ç o do t e m p o de 300 a n o s a p r o x i m a d a m e n t e , o n ú m e r o dos s a c e r d o t e s d e Jerusalém cresceu r e l a t i v a m e n t e p o u c o . É explicável se p e n s a r m o s q u e
m u i t a s famílias p r e f e r i r a m se estabelecer no c a m p o (cf. N e 11,2). Assim, pois, os s a c e r d o t e s da família de Y e h o y a r i b r e s i d i a m e m Jerusal é m s e g u n d o N e 11,10; em c o m p e n s a ç ã o , s e g u n d o I M c 2,1.18-20.70;
13,25, h a b i t a v a m , em p a r t e , M o d i n .
349. É difícil p r e c i s a r a d a t a da c a r t a do P s e u d o - A r i s t e u , m a s h á
u m a t e n d ê n c i a c o m u m hoje e m dia a p e n s a r q u e ela n ã o é c e r t a m e n t e
p o s t e r i o r a 100 a.C. A p r e s e n t a ç ã o f u n d a m e n t a l : E . B i c k e r m a n n ,
Zur
Datierung
des Pseudo-Aristeas
em ZNW
29 ( 1 9 3 0 ) , 280-298.
350. P s e u d o - A r i s t e u § 95.
mais tardia que l C r 12,26-28 evoca, ao falar de mais de
3 . 7 0 0 sacerdotes e 4 . 6 0 0 levitas
( 8 . 3 0 0 sacerdotes e
levitas). O a u m e n t o do n ú m e r o dos levitas é explicável
p o r q u e , no intervalo, os cantores e porteiros, a i n d a distintos dos levitas em Esd 2 , 4 1 - 5 8 , foram elevados a levitas,
e p o r q u e , ao mesmo t e m p o , u m g r a n d e n ú m e r o d e sacerdotes dos antigos postos altos tiveram de voltar de Babilônia. E m c o m p e n s a ç ã o , a q u e d a d o n ú m e r o dos sacerdotes explica-se pelo fato de certas pessoas, contadas no núm e r o dos sacerdotes em Esd 2,36-39 e paralelas, serem,
em nossa lista, colocadas no n ú m e r o dos levitas. Se levarmos em consideração o intervalo de tempo entre a redação do livro das Crônicas (antes de 300 a . C ) , podemos
ter como digna de crença a avaliação em n ú m e r o s do conj u n t o d o clero, 8 . 3 0 0 (livro das Crônicas) a 1 8 . 0 0 0 (Pseudo-Aristeu).
F a ç a m o s u m segundo cálculo p a r a e n c o n t r a r a totalidade do clero. Segundo Yoma II 1-5, na m a n h ã dos dias
d e serviços o r d i n á r i o s , tirava-se a sorte, em q u a t r o operações com intervalos, 1 + 13 + 1 + 9 — 24 serviços.
Escolhiam-se assim os sacerdotes que deviam colaborar n a
p r e p a r a ç ã o e na oferta do sacrifício público cotidiano da
m a n h ã ; compunha-se do sacrifício dos perfumes, do holocausto de u m cordeiro, da oferta alimentar, d a oferta do
s u m o sacerdote, cozida nas cinzas e da libação. A esses
24 serviços juntavam-se três outros
que não e r a m sor351
352
3 5 ) . E m c o m p e n s a ç ã o , o n ú m e r o 3 8 . 0 0 0 levitas e m l C r 23,3-5, é
u m exagero inconseqüente.
352. P a r a a oferta d o sacrifício dos p e r f u m e s , era preciso q u e dois
s a c e r d o t e s a j u d a s s e m o s a c e r d o t e s o r t e a d o p a r a esta f u n ç ã o (cf. Lc
1,9). C o m u m a p á de p r a t a , o p r i m e i r o ia a t é o altar dos h o l o c a u s t o s
b u s c a r os c a r v õ e s acesos e trazia-os p a r a d e n t r o do T e m p l o , no S a n t o ,
s o b r e o a l t a r d o s p e r f u m e s (Tamid
V 5; VI 2; VII 2 ) . O segundo
r e c e b i a d o s a c e r d o t e q u e q u e i m a v a os p e r f u m e s a bacia n a qual se
a c h a v a a capela c o n t e n d o os a r o m a s {Tamid,
V I 3 ; V I I 2) até q u e
fossem o f e r t a d o s . O s a c e r d o t e i n c u m b i d o de oferecer o sacrifício
dos p e r f u m e s e s c o l h i d a , ele p r ó p r i o , o s e g u n d o p r i m e i r o assistente. S e g u n d o
R. Y u d a ( b e n Elai, p o r volta de 150 d . C ) , o p r ó p r i o s a c e r d o t e q u e
oferecia o sacrifício dos p e r f u m e s o escolhia ( T o s . Yoma I 11; 181,
16). L e m o s o o p o s t o n o t r a t a d o Tamid
o n d e o p r i m e i r o assistente é
" a q u e l e a q u e m [ p o r ocasião d a d i s t r i b u i ç ã o dos serviços] c o u b e a
p á " (Tamid
V 5 ; VI 2 ) . O p r i m e i r o assistente é, p o r t a n t o , igual ao
s a c e r d o t e q u e , p o r ocasião d o p r i m e i r o dos q u a t r o sorteios, foi esco-
teados, de m o d o a ser 27 o total. À tarde, os mesmos sacrifícios e r a m repetidos. A purificação do altar dos holocaustos, q u e u m sacerdote devia garantir de m a n h ã , parece ter sido suprimida à tarde; mas essa supressão foi
c o m p e n s a d a pelo fato de, no sacrifício vespertino, ser designado u m segundo assistente p a r a o sacrifício dos perfumes. Além disso, à tarde, e r a m necessários dois outros sacerdotes p a r a trazer a lenha ao altar dos holocaustos .
Para o sacrifício público da noite, havia, p o r t a n t o , 29 serviços. U m único sacerdote, é v e r d a d e , podia ser i n c u m b i d o
de diversas funções no mesmo dia, pelos sorteios e pela
distribuição dos serviços (mesmo sendo difícil crer q u e
o sorteio feito de m a n h ã fosse válido p a r a o sacrifício vespertino). N ã o p o d e m o s , pois, concluir, desses n ú m e r o s , q u e
cada dia 2 7 + 29 sacerdotes diferentes estivessem de serviço. Sabemos, p o r é m \ que os sacerdotes da seção cotidiana em serviço, sobre q u e m , pela m a n h ã , a sorte n ã o
tivesse caído, viam-se livres e tiravam suas vestes sagradas;
essa informação permite concluir q u e , em geral, u m a seção cotidiana ocupava mais de 30 sacerdotes.
353
3 5
T o d a v i a é b o m l e m b r a r que os sábados e dias de festa
exigiam u m n ú m e r o b e m mais elevado de sacerdotes do
que em dias c o m u n s . N a q u e l e s dias, com efeito, além d o
holocausto m a t u t i n o e o vespertino que a c a b a m o s de com e n t a r ( c h a m a d o tamíd, o " p e r f e i t o " ) , havia outros sacrifícios públicos; no primeiro dia das festas das T e n d a s atingiam o n ú m e r o mais elevado. N ã o nos cabe falar aqui das
três festas de peregrinação p o r q u e , b e m o sabemos, as 2 4
seções sacerdotais h e b d o m a d á r i a s encontravam-se todas e m
Jerusalém p a r a essas festas, e as seções que não estavam
em exercício e r a m e n t ã o c h a m a d a s p a r a ajudar as seções
h e b d o m a d á r i a s designadas p a r a o serviço
Não vamos
nos deter nas outras festas, n e o m ê n i a s , A n o n o v o , Dia das
expiações, pois pode ter-se d a d o q u e a seção cotidiana
em função tivesse sido, naqueles dias, ajudada pelas outras seções cotidianas da seção h e b d o m a d á r i a . Limitamonos ao sabat. Naquele dia, além do tamíd da m a n h ã e da
tarde, imolava-se em sacrifício público dois outros cordeiros; era preciso u m sacerdote p a r a matá-los, outro p a r a
espargir o sangue, e oito p a r a oferecer o sacrifício - .
A i n d a na m a n h ã do s á b a d o , no q u a r t o sorteio, designavam-se dois outros sacerdotes " , q u e c o m os seis sacerdotes assistentes, r e n o v a v a m as duas taças de incenso sobre
a mesa dos pães de proposição e os doze pães . Como
e p o d e v e r n o dia d e s á b a d o , 2 8 o u t r o s serviços e r a m
acrescentados aos serviços cotidianos.
3
6
3
358
Além dos sacrifícios públicos q u e acabamos de mencionar, h a v i a i n ú m e r o s outros sacrifícios particulares a oferecer d i a r i a m e n t e . Dividiam-se em holocaustos, sacrifícios
pelos p e c a d o s , sacrifícios de r e p a r a ç ã o e sacrifícios de com u n h ã o . Cada israelita devia custear esses sacrifícios enq u a n t o os sacrifícios, segundo a o p i n i ã o farisaica domin a n t e , e r a m geralmente pagos pelos fundos do T e m p l o .
Os sacrifícios privados não d a v a m ensejo ao sorteio para
os serviços; pelo contrário, e r a m os p r ó p r i o s leigos que
d e v i a m , cora base no Lv 1,5, encarregar-se de imolar
e
depois esfolar a vítima e dividi-la em quartos ~'" . A ofer e n d a do sacrifício p r o p r i a m e n t e dita era deixada à decisão dos sacerdotes . P o d e m o s i m a g i n a r o n ú m e r o exorbitante dos sacrifícios privados oferecidos no T e m p l o , sabendo q u e as hecatombes foram, por diversas vezes, ofe359
<i
361
l h i d o p a r a purificar o altar dos h o l o c a u s t o s (cf. Tamíd
I 4 ) . A difer e n ç a e n t r e essas d u a s i n f o r m a ç õ e s explica-se p e l o fato d e o altar d o s
h o l o c a u s t o s só ser p u r i f i c a d o u m a vez p o r dia, pela m a n h ã . C o m efeito,
o t r a t a d o Tamíd
descreve o serviço litúrgico m a t u t i n o q u a n d o , c o m
e v i d ê n c i a , R. Y u d a t e m em m e n t e o serviço d a t a r d e . S o m e n t e à t a r d e
era preciso p e d i r a u m s a c e r d o t e q u e exercesse a função d e a s s i s t e n t e
p a r a o sacrifício dos p e r f u m e s , já q u e à t a r d e n ã o era feito o sorteio
p a r a o serviço de p u r i f i c a ç ã o d o a l t a r dos h o l o c a u s t o s . — A l é m d i s s o ,
dois s a c e r d o t e s t o c a v a m a t r o m b e t a de p r a t a q u a n d o os levitas interr o m p i a m o c a n t o c o m e ç a d o n a libação q u e e n c e r r a v a a oferta d o
tamíd
(Tamid
V I I 3 ) . P o r t a n t o , aos s a c e r d o t e s d e s i g n a d o s p e l o sorteio, acrescentavam-se três sacerdotes de m a n h ã , e q u a t r o à t a r d e .
3 5 3 . Yoma
354. Tamíd
II 5.
V 3.
355. Sukka V 7.
356. O s n ú m e r o s r e s u l t a m de Yoma II 3-5.
357. Yoma
II 5.
358. Men. X I 7.
359. Zeb. I I I 1; b . Zeb, 3 2 ; Sifra Lv 1,5 ( 4 14, 3 2 ) ; Billerbeck,
I I . 193. — Supra, p . 113, citei as p r o v a s q u e m o s t r a m c o m o os p r ó prios leigos i m o l a v a m a v í t i m a p a s c a l .
360. Yoma I I 7.
3 6 1 . Ibid.
a
b
recidas nesse s a n t u á r i o . Podemos t a m b é m deduzir que
a seção cotidiana de serviço, em tais circunstâncias, era
ajudada p a r a a oferta dos sacrifícios particulares, p o r outras seções cotidianas da mesma seção h e b d o m a d á r i a .
Se recapitularmos a d o c u m e n t a ç ã o e, em p r i m e i r o lugar, as indicações n u m é r i c a s , concernentes aos serviços
cotidianos p a r a a oferta dos sacrifícios públicos, n ã o caím o s em exagero ao estimarmos em 50 o n ú m e r o dos sacerdotes de u m a seção cotidiana. U m a seção h e b d o m a d á ria c o m p r e e n d i a , em média, seis seções c o t i d i a n a s ; temos assim, a p r o x i m a d a m e n t e , 300 sacerdotes p a r a u m a
seção h e b d o m a d á r i a . Esse n ú m e r o apóia-se em dados c o m o
este: o véu diante do Santo tendo-se m a n c h a d o , deve ser
lançado n u m b a n h o , sendo necessária a presença de 300
s a c e r d o t e s ' ; ou ainda: u m a vez, 300 sacerdotes trabalhar a m na vinha de o u r o que encimava a e n t r a d a do Santo .
Essas duas indicações provêm de testemunhas b e m inform a d a s . A primeira p r o v é m de Shimeon, filho do comandante do T e m p l o ; a segunda é atribuída a Eleazar ben
Sadoc, sacerdote, escriba e negociante que vivia em Jerusalém, q u a n d o o T e m p l o ainda e x i s t i a . O n ú m e r o 300
não é, pois, inventado. Convém aí ver a m é d i a a p r o x i m a d a
de u m a seção h e b d o m a d á r i a , e teremos nossos cálculos
confirmados. Como havia 24 seções h e b d o m a d á r i a s , o núm e r o total se elevava a 24 X 300 = 7 . 2 0 0 sacerdotes.
A esses se acrescentem os levitas.
m
m
3
4
365
366
36T
O n ú m e r o de levitas, igualmente distribuídos e m 24
seções, era considerável. Segundo Josefo, teriam sido necessários 2 0 0 p a r a fechar as portas do T e m p l o \ é pro3 6
362. Ant. X V f 2, 1 § 14 ( M a r c o s A g r i p a , o u t o n o 15 a . C . ) ; X V
11, 6, § 422 ( H e r o d e s , 10 a . C ) ; Fílon, Leg. ad Caium,
§ 356 (três
h e c a t o m b e s sob o r e i n a d o d e C a l í g u l a ) ; Lv. R. 3 , 5 s o b r e 1, 16 ( 9
5 ) ; Oráculos
sibilinos
111 576 e 626.
363. V e r supra, p . 228, n . 119.
364. Sheq. V I I I 5.
365. Mid. I I I 8.
366. Sheq. V I I I 5 (ed. p r í n c i p e do T a l m u d e de J e r u s a l é m , Ven e z a , 1523); Men. X I 9 ( v a r i a n t e : -f R a b b i ) S h i m e o n b e n ha-sagan. —
b . Hul. 9 0 : R a b b i S h i m e o n ha-sagan. C o n v é m rejeitar essa ú l t i m a
v e r s ã o , pois é a m e n o s b e m c o m p r o v a d a e p o u c o p l a u s í v e l .
367. V e r Supra, p p . 161, 163, 2 0 1 .
368. C. Ap. I I 9, § 119.
a
b
vável que esse n ú m e r o c o m p r e e n d a o conjunto de levitas
porteiros e guardiões em serviço no q u a d r o d e u m a seção
h e b d o m a d á r i a . A esses g u a r d a s do T e m p l o juntavam-se os
levitas cantores e músicos. Seu n ú m e r o e r a , i g u a l m e n t e ,
m u i t o elevado; podemos fixá-lo em 2 0 0 , já q u e , segundo
a tradição de l C r 2 3 , 5 , o n ú m e r o de levitas porteiros e o
de levitas cantores é o m e s m o . Chegamos, p o r t a n t o , a u m
n ú m e r o r e d o n d o de 4 0 0 X 24 — 9 . 6 0 0 levitas.
Q u e esses n ú m e r o s — 7 . 2 0 0 sacerdotes e 9 . 6 0 0 levitas — sejam exatos, disso temos p r o v a evidente ao verificar a relação dos dois grupos graças aos n ú m e r o s fornecidos por l C r 12,26-28. Conforme vimos , esse texto
m e n c i o n a 3 . 7 0 0 sacerdotes e 4 . 6 0 0 levitas; o n ú m e r o de
levitas excedeu, pois, o dos sacerdotes q u a n d o , no início,
após o exílio, constituíam visível m i n o r i a . Segundo l C r ,
p o r conseguinte, a p r o p o r ç ã o entre sacerdotes e levitas é
de 37 p a r a 4 6 . Para 9 6 0 0 levitas, o cálculo nos dá 7 . 7 2 2
sacerdotes, n ú m e r o p r ó x i m o , p o r t a n t o , dos 7 . 2 0 0 q u e obtivemos p o r u m a informação t o t a l m e n t e diferente. Lembremo-nos, enfim, de q u e , p a r t i n d o dos dados da carta do
Pseudo-Aristeu, chegamos a u m total de 1 8 . 0 0 0 sacerdotes e levitas , q u a n d o nosso segundo cálculo dá 7 . 2 0 0 +
9 . 6 0 0 — 1 6 . 8 0 0 . C r e m o s ter a l c a n ç a d o , com a ajuda das
fontes hoje disponíveis, a certeza histórica, difícil de se
obter. N o t e m p o de Jesus havia, e n t r e os j u d e u s , u m clero
q u e , no total, c o m p r e e n d i a , em n ú m e r o s r e d o n d o s , 1 8 . 0 0 0
sacerdotes e l e v i t a s .
369
370
371
De propósito, somente agora cito u m texto de Josefo.
N ã o é u m texto claro, o q u e o t o r n a , p o r t a n t o , discutível,
369 Supra,
p p . 274s.
3 7 0 . Supra, p . 274.
3 7 1 . £ a u m r e s u l t a d o s e m e l h a n t e q u e L. H e r z f e l d chega, m a s
p o r o u t r o c a m i n h o : Geschichte
des Volhes
Jisrael, I I I , N o r d h a u s e n ,
1857. 193. P a r a o clero ele dá u m total dc 2 4 . 0 0 0 , baseando-se e m
três d o c u m e n t o s : a) o texto do j . Ta'an. I V 2, 6 7 46 (não t r a d u z i d o
em I V / 1 , 178 q u e r e m e t e ao p a r . I I I / 2 , 4 7 ) b a r . , s e g u n d o o qual a
" e s t a ç ã o " (leiga) de Jerusalém c o m p r e e n d i a 2 4 . 0 0 0 pessoas, a de Jericó 1 2 . 0 0 0 ; b) u m a c a r t a apócrifa d e u m cônsul M a r c o s relativa à
c e l e b r a ç ã o d o D i a das e x p i a ç õ e s fala de 2 4 . 0 0 0 sacerdotes; c) o texto
d e C. Ap. II 8, § 108 q u e vai ser i m e d i a t a m e n t e d i s c u t i d o . — B ü c b l e r ,
Priester,
4 9 s ; b a s e a n d o - s e e m C. Ap. I I 8, § 108 e o P s e u d o - A r i s t e u ,
§ 95, c o n t a 2 0 . 0 0 0 s a c e r d o t e s .
d
m a s , p r e s e n t e m e n t e , não se p o d e duvidar de sua legitimid a d e . N u m a passagem de seu Contra Apion, passagem conservada somente em latim, Josefo exprime-se assim : " H á
quatro tribos de sacerdotes; cada u m a c o m p r e e n d e mais d e
5 . 0 0 0 m e m b r o s . T o d a v i a , estão em serviço u m só dia;
depois, outros os s u b s t i t u e m " . N ã o há d ú v i d a de q u e as
últimas palavras se referem às seções h e b d o m a d á r i a s . Podemos, pois, supor q u a n t o ao " q u a t r o " u m a c o r r u p ç ã o
textual e a conjetura de que existia, p r i m i t i v a m e n t e , " v i n t e
e q u a t r o " , p o r t a n t o , que fosefo p r e t e n d e u fazer crer a
seus leitores — n u m de seus exageros — que havia 24 X
5 . 0 0 0 = 1 2 0 . 0 0 0 sacerdotes . Nosso resultado precedente convida, p o r é m , a u m a delimitação e n ã o p e r m i t e
rejeitar p r e c i p i t a d a m e n t e o n ú m e r o 4 X 5 . 0 0 0 = 2 0 . 0 0 0 .
E m todo caso, podemos supor que Josefo nesta passagem
t e n h a em mira uma divisão q u a d r i p a r t i d a do clero; o termo " t r i b o " (tribus), que ele não e m p r e g o u em n e n h u m
outro lugar p a r a designar a seção h e b d o m a d á r i a , confirma
essa hipótese. C o m efeito, Tos. Ta'an. II 1 (216-12) mostra como as q u a t r o seções de sacerdotes, de volta do exílio,
segundo Esdras-Neemias
teriam sido repartidas em 24
seções h e b d o m a d á r i a s pelos profetas de Jerusalém; em seguida, ter-se-iam f o r m a d o , por sorteio, q u a t r o grupos, comp r e e n d e n d o , cada u m , 6 seções semanais. Essa indicação
permite supor que a antiga divisão q u a d r i p a r t i d a do clero
conservou-se até o século I de nossa era n a t r a d i ç ã o sacerdotal, como esquema de distribuição do conjunto do
clero. Se isso é exato, o n ú m e r o 2 0 . 0 0 0 , d e d u z i d o desse
texto, confirma o nosso resultado.
372
373
374
exílio com Josué e Z o r o b a b e l constituíam ao todo u m décimo do conjunto da c o m u n i d a d e ; essa p r o p o r ç ã o é perfeitamente plausível. P o r t a n t o , segundo o nosso cálculo,
a Palestina do tempo de Jesus tinha u m a p o p u l a ç ã o judaica de 10 X 5 0 . 0 0 0 [ou 6 0 . 0 0 0 ] = a p r o x i m a d a m e n t e
5 0 0 a 6 0 0 . 0 0 0 . N a m i n h a opinião, esse n ú m e r o é mais
provável do q u e o milhão muitas vezes admitido \ Assim,
por exemplo, segundo os n ú m e r o s oficiais
do governo
do m a n d a t o britânico para 1 9 2 6 , a Palestina contava com
8 6 5 . 0 0 0 h a b i t a n t e s . Nesse total estão incluídos a Transj o r d â n í a , a Samaria e outros territórios q u e , na época de
Jesus, e r a m habitados principal ou exclusivamente por não-judeus, assim como 1 0 3 . 0 0 0 b e d u í n o s n ô m a d e s . A hipótese de u m milhão de j u d e u s na Palestina no t e m p o de
Jesus faria, pois, deduzir que a Palestina daquela época
era d u a s vezes mais p o v o a d a do que em 1 9 2 6 . É absolut a m e n t e inverossímil. Pelo c o n t r á r i o , u m a p o p u l a ç ã o judaica de 5 0 0 a 6 0 0 . 0 0 0 c o r r e s p o n d e à densidade da pop u l a ç ã o da Palestina após a Primeira G u e r r a m u n d i a l .
Esse fato constitui u m novo e definitivo conjirmatur
do
n ú m e r o 1 8 . 0 0 0 obtido q u a n t o ao total do clero, excluindo¬
-se mulheres e crianças.
375
3 7
377
378
N a s 24 semanas e ainda nas três festas anuais de peregrinação, cada seção sacerdotal h e b d o m a d á r i a , contando seguramente com 3 0 0 sacerdotes e 400 levitas e à qual
se j u n t a v a u m g r u p o de representantes leigos de seu distrito
subia a Jerusalém p a r a exercer sua função de u m
sábado a outro. A seção entregava-lhe solenemente as chaves do T e m p l o e os 93 objetos necessários p a r a o sacrifício . Foi assim que, nos últimos anos do r e i n a d o de He3S0
O conhecimento que temos do n ú m e r o de elementos
que constituíam o clero é m u i t o i m p o r t a n t e p a r a avaliar
a p o p u l a ç ã o palestinense na época de Jesus; vejamo-la p e l o
menos a título de c o m p l e m e n t o . Os sacerdotes e os levitas,
com mulheres e filhos, deviam representar algo como 50
ou 6 0 . 0 0 0 pessoas. O s sacerdotes e os levitas de volta do
372. C. Ap. II 8, § 108.
373. S c h ü r e r , I I , ?,88s. Leia-se tribus quattuor
(scil.
viginti).
374. S e g u n d o Esd 2,36-39 = N e 7,39-42, q u a t r o famílias s a c e r d o tais v o l t a r a m do exílio c o m Z o r o b a b e l e Josué. A i n d a n a é p o c a de
Esd 10.18-22, elas f o r m a v a m o c o n j u n t o d o clero.
375. Esd 2,36-42, c o m p a r a d o com 2,64 ( = N e 7,39-45.66).
376. P o r e x e m p l o , R. K n o p f e H . W e i n e t , Einführuitg
in das
N.T.,
2- ed., G i e s s e n 1923, 182: " n a estimativa mais plausível, a Transjord à n i a i n c l u í d a , n ã o c h e g a v a a u m m i l h ã o de j u d e u s " .
3 7 7 . ZDPV
51 ( 1 9 2 8 ) , 238.
378. A . v. H a r n a c k , Die Mission und Ausbreitung
des
Christentums,
4- ed., I, Leipzig, 1924, 12, calcula, c o m r a z ã o , cerca de 5 0 0 . 0 0 0 jud e u s n a P a l e s t i n a d o t e m p o de Jesus.
379. Cf. cm Bik. 2 o relato d a viagem a Jerusalém p a r a levar as
p r i m í c i a s ; p o r vezes, t o d a a p o p u l a ç ã o d e u m d i s t r i t o d e u m a s e ç ã o
s a c e r d o t a l h e b d o m a d á r i a se dirigia c o m ela p a r a J e r u s a l é m .
380. C. Ap. I I 8, § 108.
rodes, a seção h e b d o m a d á r i a de Abia, que tinha o oitavo
lugar, p a r t i u da m o n t a n h a da Judéia
ao T e m p l o . N o dia
de serviço de sua seção cotidiana, o sacerdote Z a c a r i a s
fora designado p a r a a função privilegiada d a oferta do sacrifício dos perfumes, ou mais exatamente, do tamíd da
tarde . Foi nesse m o m e n t o que o Anjo do Senhor lhe
apareceu no Santo.
381
382
As funções cultuais dos sacerdotes achavam-se, p o i s ,
p r a t i c a m e n t e limitadas a duas semanas por a n o , e às três
festas anuais de peregrinação. Os sacerdotes viviam em
suas casas 10 a 11 meses (conforme a distância entre o
domicílio e Jerusalém, a viagem de ida e volta, feita cinco
vezes por a n o , exigia tempo de d u r a ç ã o diversa). Só m u i t o
ocasionalmente exerciam u m a atividade sacerdotal. E r a o
sacerdote, p o r exemplo, que declarava p u r o u m leproso
após a sua c u r a , antes que esse fosse a Jerusalém; lá,
após ter oferecido o sacrifício de purificação prescrito,
seria definitivamente declarado p u r o . O s dízimos e outras
taxas particulares constituíam a renda dos sacerdotes, mas
insuficientes p a r a permitir-lhes levar, no resto do a n o , Lima
vida ociosa . Pelo contrário, os sacerdotes e r a m obrigados a exercer u m a profissão o n d e residiam; tratava-se principalmente de t r a b a l h o m a n u a l . Herodes e n c a m i n h o u , p a r a
o ofício de carpinteiro e canteiro, mil sacerdotes; por ocasião da reconstrução do T e m p l o empregou-os no átrio dos
sacerdotes e p a r a a construção do santuário, só p o d i a m ser
contratados os q u e e r a m sacerdotes . Já e n c o n t r a m o s
Fani, sacerdote talhador de p e d r a s ; rabi Eleazar b e n
Sadoc m a n t i n h a u m comércio em Jerusalém, e ao que t u d o
3 8 i
384
385
m
381. C o m C h . C. T o r r e y e m HThR
17 ( 1 9 2 4 ) , 83ss, c o n s i d e r o em
Lc 1,39 eis polin Ioúda
c o m o u m erro d e t r a d u ç ã o ; p o r i n a d v e r t ê n c i a
m dlnah
foi t r a d u z i d o p o r " c i d a d e " e m vez d e " p r o v í n c i a " .
382. Lc 1,5.8.9. — Lc 1,10 c o m p a r a d o c o m At 3,1 d á a e n t e n d e r
q u e se t r a t a d o sacrifício v e s p e r t i n o .
383. M t 8,4; L c 17,14. O l e p r o s o devia de i m e d i a t o apftesentar-se
ao s a c e r d o t e local. Essa p r e s c r i ç ã o se e n c o n t r a e m T o s . Neg. V I I I 2
(628, 7 ) ; j . Sota II 2, 1 8 11 ( I V / 3 , 2 4 6 ) , a l é m de Sifra
Lv H , 3 ( 3 4
e
a
135,
20)
e
passim.
384.
Cf.
supra,
385. A n t . X V
386.
Supra,
p.
pp.
c
154s.
1, 2, § 390.
264,
n.
295.
indica, u m comércio de ó l e o , u m sacerdote de Jerusalém do q u a l e n c o n t r a r e m o s mais a d i a n t e (p. 300) u m filho Z a c a r i a s , era açougueiro n a C i d a d e s a n t a ; o sacerdote Eleazar ben Azarias era criador de g a d o ; finalm e n t e , p o d e r í a m o s t o r n a r a falar de u m g r a n d e n ú m e r o
de sacerdotes que e r a m escribas.
E m muitos lugares, os sacerdotes t i n h a m u m a função
nos tribunais de justiça, sem d ú v i d a q u a s e sempre a título
h o n o r á r i o . O r a , ali e r a m c h a m a d o s e m consideração a
seu estado sacerdotal , ora por causa de sua formação
de escribas, na medida em q u e e r a m categorizados
ou,
enfim, p a r a c u m p r i r o preceito bíblico. Com efeito, quanto à estimação nas questões de votos, por exemplo, conforme o preceito bíblico que confiava a apreciação ao sacerdote, esse devia, n o r m a l m e n t e , c o m p a r e c e r ao tribunal
p a r a defender os interesses d o T e m p l o , ao qual
convergia o equivalente das coisas dedicadas a D e u s , q u e r
dizer, ao T e m p l o . A o lado dos sacerdotes do c a m p o
providos de u m a formação escriturística a p r o f u n d a d a e
que, c o m o conta Fílon, viam-se encarregados do serviço
sinagogal \ a leitura e a explicação da Lei , havia os
que e r a m incultos
e isso se c o m p r e e n d e .
3S7
338
m
390
391
392
3 9 3
l 9
395
396
Conforme m e n c i o n a m o s a c i m a , havia profundos
contrastes entre a g r a n d e massa dos sacerdotes e os cheJ 9 7
387. T o s . Besa I I I 8 (205, 2 6 ) . A c o m p a r a ç ã o d e s t e texto c o m
b . Besa 2 9 b a r . p e r m i t e s u p o r se t r a t a r de u m c o m é r c i o de azeite.
388. Ket, II 9.
a
389.
b.
Yona
26 .
a
390. C. Ap.
I I 2 1 , § 187.
391. b . Yoma
2 6 . Visto os textos v e t e r o t e s t a m e n t ã r i o s c o m o Dt
17,9-13;21,5; Ez 44,24; l C r 23,4 cf. 26,29; Ecl 45,17, s e g u n d o os q u a i s
os juízes s a í a m d o c l e r o ; é m u i t o p r o v á v e l q u e , a i n d a mais t a r d e , se
n o m e a s s e m s a c e r d o t e s p a r a a função de juízes. M a s nos ú l t i m o s séculos a n t e s d a d e s t r u i ç ã o d o T e m p l o , é a f o r m a ç ã o de escribas q u e
d e t e r m i n a v a a h a b i l i t a ç ã o à função de juiz.
392. Sanh.
I 3 ; c o m b a s e n a p r e s c r i ç ã o d e Lv 27,12.
393. D i f e r e n t e d o " b a n h o " (herem),
q u a n d o a oferta devia ser
e n t r e g u e in
natura.
394. Billerbeck, I V , 153ss.
395. A p a s s a g e m de Fílon é c i t a d a p o r E u s é b i o . Proep.
ev. V I I I
7, 12-13 (GCS 4 3 , I 4 3 1 s ) .
396. S e g u n d o Josefo (B. /. I V 3, 8, § 1 5 5 ) , F a n i q u e os zelotas
e l e g e r a m s u m o s a c e r d o t e p o r sorteio era t ã o r u d e q u e n ã o sabia seq u e r e m q u e consistia a f u n ç ã o de s u m o s a c e r d o t e .
397. Supra,
p p . 249s.
a
fes dos sacerdotes pertencentes, em sua m a i o r i a , à aristocracia sacerdotal. N ã o é, pois, de a d m i r a r que a multidão de sacerdotes, de acordo com a jovem m e n t a l i d a d e insensata da aristocracia — totalmente diversa do resto do
clero que compreendia verdadeiras notabilidades
— tenha-se m a n c o m u n a d o c o m o p o v o , q u a n d o e m 6 d.C. estourou a revolta contra os r o m a n o s .
398
E. OS LEVITAS (CLERUS M I N O R )
m
Os levitas, em n ú m e r o a p r o x i m a d o de 1 0 . 0 0 0 °,
achavam-se, como os sacerdotes, repartidos em 24 seções
h e b d o m a d á r i a s ; revezavam-se a cada semana p a r a o serviço e cada u m a tinha s e u ' c h e f e . Conforme vimos ,
existiam no T e m p l o q u a t r o postos p e r m a n e n t e s de levi40
401
402
403
B. j . I I 17, 2ss, § 408ss.
N m 18,3; Nm. R. 7, 8 s o b r e 5, 2 ( 3 7 1 6 ) .
Cf. supra, p . 279.
Ant. V I I 14, 7, § 367; Ta'an. I V 2; T o s . Ta'an.
402. l C r 15, 4-12.
403. Supra, p . 240.
404
40s
Os levitas, descendentes dos sacerdotes de postos altos, destituídos pelo D e u t e r o n ô m i o , constituíam o b a i x o
clero. Em. princípio, p a s s a v a m por descendentes de Levi,
um. dos doze patriarcas das tribos de Israel; a relação deles com os sacerdotes era assim r e p r e s e n t a d a : esses, enq u a n t o descendentes de A a r ã o , o levita, f o r m a v a m a classe privilegiada no seio dos descendentes de Levi; por sua
vez, os sumos sacerdotes legítimos, e n q u a n t o descendentes
de Sadoc, o aaronita, f o r m a v a m a classe privilegiada no
seio do sacerdócio. Os levitas, e n q u a n t o clerus minor e r a m ,
pois, inferiores aos sacerdotes e, como tais, não participav a m do serviço sacrificai; encarregavam-se somente da
música do T e m p l o e dos serviços inferiores do s a n t u á r i o .
U m fato é característico de sua posição: como aos leigos,
era-lhes proibido, sob pena de m o r t e , p e n e t r a r no edifício do T e m p l o e chegar até o altar .
398.
399.
400.
401.
tas, isto é, dois vigilantes-chefes dos levitas músicos (um
p r i m e i r o chefe e u m mestre de coro) e dois vigilantes-chefes dos levitas servidores do T e m p l o (um chefe porteiro e u m g u a r d i ã o , outrora c h a m a d o vigia dos lülab
p a r a a festa das T e n d a s ) . Isso correspondia à divisão dos
levitas em músicos e servidores do T e m p l o ; esses dois
grupos e r a m quase iguais em n ú m e r o .
O s cantores e os músicos constituíam a classe superior dos levitas; somente p a r a eles era exigida a p r o v a
de u m a origem sem m á c u l a , q u a n d o desejavam ser nomeados p a r a o p o s t o . T i n h a m p o r função o acompan h a m e n t o musical do culto diário, c a n t a n d o e tocando
i n s t r u m e n t o s , p e l a m a n h ã e à tarde, e por ocasião de festas particulares.
N o serviço cotidiano, o chefe do coro dos levitas e
os levitas músicos e cantores , assim como dois a doze
tocadores de flauta n a Páscoa e na festa das Tendas ,
colocavam-se sobre u m estrado q u e formava a separação
entre o átrio dos sacerdotes e o dos israelitas; achava-se
a u m côvado acima do átrio dos israelitas, a u m côvado e
meio abaixo do átrio dos sacerdotes . D u r a n t e as alegres
cerimônias n o t u r n a s que faziam parte da festa das T e n d a s ,
u m -considerável coro d e levitas cantava, de pé, nos quinze degraus que levavam do átrio das mulheres ao dos israelitas . Jamais, p o r é m , os levitas músicos o c u p a v a m
lugar no átrio dos sacerdotes exclusivamente p a r a eles reservado; apenas p o d i a m , como q u a l q u e r leigo, e n t r a r nesse
átrio dos sacerdotes p a r a oferecer u m sacrifício °.
a
IV 2
(219,
406
407
408
409
41
Os serventes
do Templo
incumbiam-se das funções
inferiores de sacristãos; consistiam e m toda espécie de
serviços anexos ao culto. D e v i a m , p o r exemplo, ajudar os
sacerdotes a vestir e despir suas vestes sacerdotais: "Eles
[os sacerdotes q u e n ã o t i n h a m sido designados pelo sor4 0 4 . Cf. supra, p . 2 7 8 .
405. V e r n a p a r t e seguinte, s o b r e o caráter hereditário
dócio, as p p . . . .
406. 'Ar. II 6. N ã o d e v e r i a h a v e r m e n o s d o q u e doze
4 0 7 . 'Ar. I I 3-4; Sukka V 1; T o s . 'Ar. I 15 (544, 7 ) .
408. Mid. II 6, B. j . V 5, 6, § 226.
409. Sukka
V 4.
4 1 0 . Kel. I 8.
do
sacer-
cantores.
teio ao serviço e que se v i a m , por conseguinte, livres] entregavam-nas aos hazzantm
[serventes do T e m p l o ] que lhes
r e t i r a v a m as túnicas [ b r a n c a s , de l i n h o ] " . A j u d a v a m
t a m b é m e m outras circunstâncias; nos dias de festa prep a r a v a m o livro da Lei p a r a a leitura b í b l i c a
e empil h a v a m os lülab na festa das T e n d a s , q u a n d o o p r i m e i r o
dia dessa festa caía n u m s á b a d o . Além disso, esses serventes c u i d a v a m da limpeza , mas aí t a m b é m , com exceção do átrio dos sacerdotes do qual os próprios sacerdotes se e n c a r r e g a v a m . Os levitas só p o d i a m p e n e t r a r
nele p a r a oferecer u m sacrifício , Constituíam ainda, p o r
fim, a polícia do T e m p l o .
4 1 1
412
413
414
41s
4I6
Fílon descreve, d e t a l h a d a m e n t e , as suas funções: " E n tre eles [os levitas] u n s , porteiros, mantêm-se junto às
portas, n a p r ó p r i a soleira; outros, do lado de dentro [da
esplanada do T e m p l o ] , no p r o n a u s [no m u r o , hêl, q u e
delimita a p a r t e da esplanada o n d e os pagãos n ã o p o d e m
p e n e t r a r ] ; interceptam a e n t r a d a a q u a l q u e r pessoa q u e
sem o direito de transpô-la o faça intencionalmente ou
n ã o . O u t r o s fazem a patrulha ao redor. O [serviço p a r a
o] dia e a noite é sorteado, segundo u m a o r d e m [determ i n a d a de molde a serem os guardas divididos] em guardas do dia e guardas da n o i t e " . Dessa descrição sugestiva, completada por Mid. I 1, deduz-se q u e a vigilância
do T e m p l o , assegurada pelos levitas d u r a n t e o dia c o m o
d u r a n t e a noite, compunha-se de três grupos: a) porteiros
das portas externas do T e m p l o ; b) guardas da " m u r a l h a " ;
c) p a t r u l h a s do átrio dos gentios e, de dia, sem d ú v i d a ,
t a m b é m do átrio das mulheres. À noite, os levitas serventes do T e m p l o fechavam as portas sob a vigilância do
porteiro-chefe . E m seguida, os guardas da noite ocupav a m seus postos, em n ú m e r o de 2 1 , todos situados na
4 1 7
41S
4 1 1 . Tamid V 3 .
412. Yoma V I I 1; Sota V I I 7-8.
4 1 3 . Sukka I V 4 ; cf. supra, p . 235s, a m o d i f i c a ç ã o deste r i t o .
414. Fílon, De spec. leg. I, § 156: " O u t r o s v a r r e m os p ó r t i c o s e
as p a r t e s d a e s p l a n a d a q u e ficam ao r e l e n t o " .
415. Pes. V 8.
416. Kel. I 8.
417. De spec. leg. I, § 156.
418. C. Ap. I I 9, § 119, B. /', 5, 3, § 294; b . 'Ar. l l .
b
zona profana, isto é, nas portas externas e n o átrio dos
g e n t i o s ; e r a m os sacerdotes que g u a r d a v a m a zona sagrada . Além disso, a polícia do T e m p l o , constituída por
levitas, era c h a m a d a p a r a diversas operações policiais.
Mantinha-se à disposição do Sinédrio que se reunia na
Sala das p e d r a s t a l h a d a s , u m dos cômodos a sudeste do
átrio dos s a c e r d o t e s . Sob as o r d e n s dos vigilantes do
T e m p l o , essa polícia t i n h a a u t o r i d a d e p a r a p r e n d e r e, s o b
a orientação do g u a r d a , levava à execução as penalidades infligidas.
Se nos lembrarmos de que o Sinédrio funcionava no
T e m p l o , n ã o podemos d u v i d a r de q u e a seção proposta
p o r essa a u t o r i d a d e p a r a p r e n d e r Jesus (Mc 1 4 , 4 3 ; Mt
2 6 , 4 7 ; Lc 2 2 , 4 7 ; Jo 18,3.12) e c o m a n d a d a pelos chefes
da g u a r d a d o T e m p l o (Lc 2 2 , 5 2 ) era c o m p o s t a p o r essa
polícia levítíca, reforçada pela corte do sumo sacerdote
em exercício (Mc 14,17 par.) e t a m b é m , segundo João,
por soldados romanos (Jo 18,3.12). De m o d o muito exato
Jo 18,18 distingue, pois, os guardas [do sumo sacerdote]
e os servidores [polícia levítica do T e m p l o ] . Além disso,
as palavras repletas de censura de Jesus, ao dizer no mom e n t o d e sua prisão, q u e ele ali estava todos os dias n o
átrio [exterior] do T e m p l o a ensiná-los sem q u e o tivessem p r e n d i d o (Mc 14,18), só são compreensíveis se tiver
sido preso pela polícia do T e m p l o . É preciso considerar
t a m b é m , como polícia levítíca do T e m p l o , os guardas já
antes enviados pelo Sinédrio p a r a p r e n d e r Jesus (Jo 7,32.
4 5 . 4 6 ) . O m e s m o se dá c o m as pessoas q u e , sob a o r d e m
4l9
420
421
m
4 1 9 . Mid. I 1. D e d u z - s e de Tamid I 3 q u e , à n o i t e , o átrio das
m u l h e r e s n o q u a l se e n c o n t r a v a a p a d a r i a o n d e e r a m p r e p a r a d o s os
bolos na cinza p a r a a oferta d o s u m o s a c e r d o t e estava f e c h a d a e fazia
p a r t e d o setor g u a r d a d o pelos s a c e r d o t e s .
420. Mid. I 1; Tamid
I 1.
4 2 1 . C o n f o r m e a M i s h n a , d e m o d o m u i t o p r e c i s o (Mid. V 5; cf.
Sin. X I 2 ; Tamid I I 5; I V 3 f i m ) . S e g u n d o b. 'A. Z, 8 , p a r b . Shab.
1 5 ; b . Sanh. 4 1 , o S i n é d r i o se transferiu "40 a n o s " ( n ú m e r o redond o ) a n t e s d a d e s t r u i ç ã o d o T e m p l o d a Sala d a s p e d r a s t a l h a d a s p a r a
u m Bazar. Se j o s e f o p e n s a q u e a boulê (ou o bouleutérion)
encostado
ao S a n t u á r i o ao l a d o d o oeste (B. j . V 4, 2, § 144; V I 6, 3, § 354)
é o S i n é d r i o , s u p õ e essa m u d a n ç a c o m o já r e a l i z a d a ; assim, t a m b é m ,
p r o v a v e l m e n t e , At 23,10. N ã o d i s p o m o s , p o r é m , de n e n h u m a r g u m e n to p a r a dizer se essa transferência já estava feita n a é p o c a d e ] e s u s .
422. V e r supra, p . 237, n. 238 e p . 2 4 1 .
b
a
a
SÊffllNAfUO KORUORDIft.
" d o s sacerdotes e do c o m a n d a n t e do T e m p l o , assim como
dos s a d u c e u s " (At 4 , 1 ) , p r e n d e m os apóstolos p a r a fazê-los
c o m p a r e c e r d i a n t e d o Sinédrio (At 4 , 5 . 1 2 ; 5 , 1 7 - 1 8 ) , q u e
vigiam os apóstolos na prisão (5,23 p a r t i c u l a r m e n t e v. 24)
e que lhes b a t e m com varas (5,40). Finalmente, os h o m e n s
q u e , por ocasião do levante p o p u l a r i n d u z i n d o a prisão
d e P a u l o , arrastam-no fora do " s a n t u á r i o " , isto é, d o Templo (At 2 1 , 3 0 ) , levando-o do átrio dos gentios ao das mulheres, são evidentemente policiais do T e m p l o , ou m e l h o r ,
corpos de guarda levíticos estacionados, d u r a n t e o dia, ao
pé d a " m u r a d a " .
Além do porteiro-chefe e do g u a r d i ã o , cita-se como
chefe dos levitas servidores do T e m p l o o 'ís har
ha-bayit,
" o homem da m o n t a n h a do T e m p l o " . Segundo a M i s h n a . 21
corpos d e vigia d a seção levítíca h e b d o m a d á r i a m o n t a v a m
guarda no átrio externo. " O h o m e m da m o n t a n h a do T e m p l o "
vinha inspecioná-los todas as noites; cada c o m p o n e n t e d a
guarda devia saudá-lo com o c u m p r i m e n t o da paz p a r a
mostrar-lhe que não d o r m i a . Se o chefe encontrasse u m
deles a d o r m e c i d o , batia-lhe com seu bastão; tinha m e s m o
o direito de despertá-lo b r u t a l m e n t e , a t e a n d o fogo e m sua
roupa . Sem dúvida, é o m e s m o funcionário que a p a r e c e
no relato onde Josefo nos conta que certa noite, d u r a n t e
a festa da Páscoa de 66 d . C , os levitas guardas do Templo avisaram a seu vigilante (íô sírategô) que a P o r t a de
N i c a n o r encontrava-se aberta . É-nos d a d o supor q u e esse
chefe dos corpos levíticos da noite é idêntico ao chefe-port e i r o . Enfim, convém seguramente ver t a m b é m os chefes
dos levitas guardas do T e m p l o nos stralegoí com os q u a i s ,
segundo Lc 2 2 , 4 , a p r i s ã o de Jesus é decidida e sob o
m a n d o dos qLiais, segundo Lc 2 2 , 5 2 , Jesus é l e v a d o . Com
efeito, conforme acabamos de ver, Josefo designa o chefe
da guarda levítica da noite pelo termo strategós.
m
424
425
Em contrapartida, o Ts ha-bírah, comandante da Fortaleza
do Templo , nada tem a ver com os funcionários vigilantes
426
423. Mid.
I
1-2.
4 2 4 . B. j . V I 5, 3 , § 2 9 4 .
425. O u ao esbirro (opinião d e I. M. Jost, Geschichte
des
thums
und seiner Seden
I, Leipzig, 1857, 151s e 152, n . 4.
426. 'Orla II 12.
juden¬
do Templo, contrariamente ao que sempre se supôs '. Birah
é a fortaleza ao norte do Templo, a Antônia, e A. Schlatter
bem viu que esta personagem, no tempo da independência,
sob Agripa I (41-44 d . C ) , comandava a fortaleza Antônia .
Com isso, concorda o fato de ser contemporâneo de Rabban
Gamaliel I; como sabemos pelos Atos dos Apóstolos (At 5,34¬
-39), esse doutor estava em plena atividade nos anos 30 e 40,
e talvez ainda nos anos 40 a 50 de nossa era . O 'is ha-bírat
é, pois, um comandante militar e não um dos chefes dos sacerdotes ou um dos chefes dos levitas. É igualmente errado,
como tantas vezes se repete ™, ver os pahôt como chefes dos
sacerdotes ou vigilantes do Templo. Para tanto, apoiamo-nos
em Bik. III 3 onde é dito que os pahôt, com os vigilantes do
Templo e os chefes dos tesoureiros, vêm ao encontro das procissões das primícias à sua entrada em Jerusalém. Por toda a
parte e sempre, no Antigo Testamento como noutros lugares,
a palavra pehah designa apenas o pachá, o comandante que
dispõe do poder militar. O contexto de Bik. III 3 mostra
que essa passagem descreve um evento do reino de Agripa I,
portanto, de uma época onde havia judeus comandantes militares e funcionários de Estado. No Oriente, é óbvio que esses
comandantes vêm, com os chefes dos sacerdotes, à frente da
procissão. Em 1913, vi o pachá turco, em companhia das sumidades religiosas muçulmanas, ir ao encontro dos peregrinos
da festa de Nébi-Musa que entravam em Jerusalém.
427
428
429
43i
D o p o n t o de vista social h a v i a u m abismo entre os músicos
e servidores do T e m p l o , o q u e se explica pela evolução
histórica. A i n d a no t e m p o de E s d r a s , n e m os " c a n t o r e s "
n e m os " p o r t e i r o s " faziam p a r t e d a corporação dos levi427. S c h ü r e r , I I , 3 3 1 , atribui-lhe a vigilância d o T e m p l o i n t e i r o .
428. S c h l a t t e r , Gesch. Isr., 271 e n . 2 4 3 .
429. S e g u n d o M . Mielziner, Introduction
to the Talrnud,
3° ed.,
N o v a I o r q u e , 1925, 24, G a m a l i e l m o r r e u 18 anos antes d a d e s t r u i ç ã o
d o T e m p l o , p o r t a n t o e m 52 d . C ; Bilíerbeck, I I , 636 situa sua ativid a d e e m 25-50 d . C .
430. E x p l i c a ç ã o de M a i m ô n i d e s : " o s pahôt são s ganim
sacerdotes";
J. T. R a b e , Mischnah,
t. I. O n o l z b a c h , 1760, 2 6 5 : "os s a c e r d o t e s m a i s
e m i n e n t e s " ; A. S a m m t e r , Mischnajoth,
t. I, Berlim, 1887, 192: "os rep r e s e n t a n t e s dos s a c e r d o t e s " ; K . A í b r e c h t , Bikkurim
(col. Die
Mischna),
G i e s s e n , 1922, 4 3 : "os r e p r e s e n t a n t e s dos s a c e r d o t e s " ; S c h ü r e r , I I , 322
e Bilíerbeck, I I , 6 3 1 : "os chefes dos s a c e r d o t e s " ; Bilíerbeck, I V , 644:
"os chefes dos s a c e r d o t e s [ ? c o m a n d a n t e s ] " . Esse p a r ê n t e s e c o n t é m a
solução exata.
4 3 1 . Bik. I I I 4 .
e
10 - J e r u s a l é m
no t e m p o
de
Jesus
tas , pois n ã o pertenciam a famílias levíticas . Os cantores foram os primeiros a obter sua integração n a corp o r a ç ã o dos levitas (Ne l l , 1 7 . 2 2 - 2 3 ; 1 2 , 8 - 9 . 2 4 - 2 5 ) e, diferentemente dos porteiros, a d q u i r i r a m , desde e n t ã o , o nível superior entre os levitas. O abismo que separava os
dois grupos no t e m p o de Jesus é b e m definido n a seguinte
frase: "Possuímos uma tradição reconhecida segundo a
q u a l u m músico é passível de p e n a de morte se faz o serviço das p o r t a s p a r a seus c o m p a n h e i r o s [levitas] " *. N a
p r á t i c a , é v e r d a d e , o rigor n ã o era tão g r a n d e . Eis o q u e
relata u m a baraíta inserida na mesma passagem: " U m dia,
R. Yoshua b e n H a n a n y a [levita e escriba] quis ajudar
Y o h a n a n b e n G u d g e d a [levita, porteiro-chefe] a fechar
as p o r t a s . Y o h a n a n disse-lhe: ' M e u filho, volta, pois tu
pertences [à classe] dos músicos e não à dos servidores
do T e m p l o [literalmente: dos p o r t e i r o s ] ' " .
432
433
4J
4 3 S
Nesse contexto, u m a luta de classes que os levitas
em 64 d.C. e m p r e e n d e r a m com sucesso é ilustrativa. L a n ç a
luz sobre a separação no seio dos levitas, mas t a m b é m
sobre o ressentimento desses contra os sacerdotes e sobre
a atmosfera revolucionária dos anos agitados que preced e r a m a revolta r o m a n a . Os levitas músicos, os " c a n t o r e s
dos s a l m o s " , diz Josefo, exigiram do rei Agripa I I , a q u e m
os r o m a n o s t i n h a m confiado a vigilância do T e m p l o , p o d e r
usar d a í por diante a veste de linho b r a n c o dos sacerdotes — até e n t ã o os levitas não t i n h a m u m traje oficial
—;
q u a n t o aos levitas servidores do T e m p l o , r e i v i n d i c a r a m o
direito " d e p o d e r aprender os h i n o s " , neste caso o p o d e r
de ficarem em pé de igualdade com os levitas músicos .
Agripa I I estava então em conflito com os sacerdotes; ti436
n h a m esses, em 6 2 , e n v i a d o u m a e m b a i x a d a ao i m p e r a d o r
q u e lhes dera razão na sua luta contra o rei . C o m o
acordo d o Sinédrio, Agripa II c o n c e d e u , pois, aos levitas,
o que pleiteavam. O povo considerou, p o r é m , c o m o u m a
infração à lei dos antepassados essa n o v a organização da
o r d e m social dos levitas. Vemos de n o v o confirmado que
os músicos constituíam a c a m a d a superior dos levitas; lut a r a m p o r obter igualdade com os sacerdotes, e n q u a n t o os
porteiros aspiravam a ser iguais aos músicos. A atmosfera
revolucionária dos anos 60 lhes concedeu, por u m b r e v e
período de seis anos, a satisfação parcial de seus desejos.
Contamos com escassas informações a respeito da form a ç ã o dos levitas. O levita José B a r n a b é , u m dos membros dirigentes da cristandade primitiva como profeta, doutor e missionário, era h o m e m de valor n o c a m p o intelectual e possuía b o a formação bíblica ; originário de Chipre
(At 4 , 3 6 ) , seu pai era, e v i d e n t e m e n t e , u m daqueles levitas que n ã o exerciam seu serviço em Jerusalém, ao q u e ,
aliás, ninguém se via o b r i g a d o . Sabemos que muitos levitas e r a m escribas , como, por e x e m p l o , Y o s h u a b e n
H a n a n y a q u e , em sua vida p a r t i c u l a r , como profissional,
fabricava pregos, e o porteiro-chefe Y o h a n a n ben G u d g e d a .
438
439
440
C o m o dissemos, as informações sobre os levitas são
m u i t o e s p o r á d i c a s ; suficientes, e n t r e t a n t o , p a r a nos traçarem u m esquema da situação social dessa fração inferior
do clero.
441
437
432. Esd 2,40-42;7,7.24; 10,23-24; N e 10,29 e
passim.
4 3 3 . O s c o r a í t a s , p o r e x e m p l o , e r a m , p r i m i t i v a m e n t e , de descendência e d o m i t a s e g u n d o C n 36,5.14-18; l C r 1,35. D e s c e n d i a m de Caleb s e g u n d o l C r 2,42-43. E m a m b o s os casos e r a m , pois, não-israelitas.
E m c o n t r a p a r t i d a , s e g u n d o l C r 12,6, e r a m b e n j a m i n i t a s . F o r a m emp r e g a d o s , i n i c i a l m e n t e , c o m o p o r t e i r o s ( l C r 26,í.19;9,19; 2Cr 3 1 , 1 4 ) ,
d e p o i s c o m o c a n t o r e s (2Cr 20,19; SI 4 2 4 9 ; 8 4 - 8 5 ; 8 7 - 8 8 ) .
434. b . 'Ar. t l .
435. ibid.
456. Cf. o T a r g u m d o P s e u d o - J ô n a t a s e m Ex 29,30.
437. Ant. X X 9, 6, § 216ss.
F. O CARÁTER H E R E D I T Á R I O D O SACERDÓCIO
A c a b a m o s de esboçar u m q u a d r o do clero de Jerusalém, segundo a sua estrutura social. Seria incompleta se,
p a r a terminar, n ã o disséssemos a l g u m a s palavras sobre o
caráter hereditário do sacerdócio,
b
438.
439.
440.
441.
Ant. X X 8, 11, § 189ss.
At 9,27;11,22-26;12,25;13,1-15,39; Í C o r 9,6; G l 2,1-10; Cl 4,10.
Cf. Doe. Damasco
X 5.
O n o m e de Levi e r a c o m u m e n t r e os levitas, p o r e x e m p l o .
A dignidade de sacerdote e de levita transmitia-se p o r
herança e n ã o p o d i a ser a d q u i r i d a por o u t r a via; era, p o i s ,
da m á x i m a importância conservar a pureza da descendência. Para tanto exigia-se, de início, u m levantamento minucioso d a s genealogias, n o r m a s estritas p a r a os m a t r i m ô nios. Se u m sacerdote não podia p r o v a r sua origem legítima, p e r d i a p a r a si e p a r a seus descendentes, o direito
à função e às r e n d a s do sacerdócio; se contraísse u m casamento ilegítimo, os filhos nascidos dessa u n i ã o n ã o pod i a m h e r d a r o cargo.
N o T e m p l o de Jerusalém havia uma espécie de arquivo onde as genealogias do clero eram sempre atualizadas . E n c o n t r a m o s diversas vezes na tradição, árvores genealógicas que indicam os antepassados de sacerdotes .
É assim que Josefo, sacerdote, dá sua genealogia do lado
p a t e r n o , a b r a n g e n d o u m período d e 250 a n o s , aproxim a d a m e n t e , "tal como a encontrou consignada nos registros p ú b l i c o s " , c o m a indicação das datas de n a s c i m e n t o
d e seus a n c e s t r a i s . O m e s m o Josefo afirma, expressam e n t e , que após grandes guerras, como sob Antíoco Epifanes, P o m p e u , Quintílio V a r o , Vespasiano e T i t o , os sacer
dotes sobreviventes, estabeleceram novas genealogias com
o auxílio dos antigos documentos . Essa m e d i d a visa aos
casos em q u e as genealogias desapareceram nas confusões
da guerra, e t a m b é m a necessidade de verificar se mulhe¬
442
44i
444
res de sacerdotes não t i n h a m sido prisioneiras de guerra;
com efeito, após ter estado e m cativeiro, elas n ã o p o d i a m
mais ser consideradas esposas legítimas dos sacerdotes, e
seus descendentes, a partir da época do cativeiro da m ã e
não p o d i a m mais exercer suas funções sacerdotais.
Q u a n d o u m filho de sacerdote atingia a idade canónica de vinte anos , o Sinédrio, sediado no T e m p l o de
Jerusalém n a Sala das p e d r a s t a l h a d a s , do lado sul do
átrio dos sacerdotes, examinava-o
q u a n t o às suas condições físicas
e q u a n t o à legitimidade
de sua
origem ,
antes de permitir-lhe ser o r d e n a d o . Somente após considerado apto era admitido ao sacerdócio : (depois de u m
b a n h o de purificação), i m p u n h a m - l h e a veste sacerdotal
(veste longa de bisso, calção do m e s m o tecido, faixa e turbante) e oferecia-se u m a série de sacrifícios aos quais se
acrescentavam cerimônias particulares; ao todo, esse ato
solene d u r a v a sete dias.
m
449
450
451
452
w 5
446
447
R. Y o s h u a b e n Levi q u e , s e g u n d o j . M. Sh.
opinava
favoravelmente
em
relação
aos
V 5, 5 6
h
37
levitas. E x c e ç õ e s
(11/2, 2 5 3 ) ,
(talvez
so-
m e n t e a p a r e n t e s ) : em B. j . I V 3, 4, § 141, a p a r e c e u m Levi q u e é d e
família
real
(herodiana)
segundo
[osefo, e o
n o m e Levi
volta
duas
vezes n a genealogia d o D a v i de Josefo, Lc 3,24-29.
442. Sifre N m 18,7, § 116 ( 1 8 70, 9 ) ; v e r injra, p . 294, n . 457.
443. N o Antigo T e s t a m e n t o ver as listas de í e 2 C r . Esd. N e .
S o b r e a geenalogia dos s u m o s s a c e r d o t e s , ver supra, p . 249ss.
444. D e d u a s gerações a t é a r e d a ç ã o de sua Vita ( d e p o i s d e 100
d.C).
445. Vita 1, § 6.
446. Esta lista c o n t é m a l g u m a s i n e x a t i d õ e s . Explicam-se m u i t o
b e m pela omissão de dois i n t e r m e d i á r i o s : visto o g r a n d e e s p a ç o de
t e m p o q u e separa " M a t i a s , o c o r c u n d a " (nascido em 135-154 a.C.) de
Josefo (nascido em 67 a . C . ) , e este ú l t i m o de M a t i a s ( n a s c i d o e m 6
d . C ) , deve h a v e r , c a d a vez, u m i n t e r m e d i á r i o . S c h ü r e r , 1, p . 77, n . 4,
d á u m a explicação d i f e r e n t e , s u p o n d o u m a falha textual ( o u u m a negligencia) e u m e r r o d o a u t o r .
447. C. Ap. I 7, § 34s.
b
Sabemos q u e p a r a os levitas, músicos, procedia-se a
igual exame de sua origem legítima antes de admiti-lo na
sua n o v a f u n ç ã o . T a m b é m p a r a esses existia u m a idade
canónica. O Antigo T e s t a m e n t o fala de trinta , vinte e
cinco ( N m 8,23-26) e vinte anos ; trinta anos representava, ao q u e parece, a prática corrente no tempo de Je453
454
455
448. Ver supra, p . 222, n. 89.
449. Mid. V 4.
450. A ciência dos r a b i n o s d e s e n v o l v e u Lv 21,16-23, a p o n t o de
distinguir 142 defeitos físicos q u e os p o d i a m t o r n a r i n a p t o s ao serviço,
S c h ü r e r , I I , p p . 283s. O s s a c e r d o t e s i n a p t o s ao serviço e m conseq ü ê n c i a d e deficiências físicas t i n h a m acesso ao átrio dos s a c e r d o t e s ,
c o m e x c e ç ã o do e s p a ç o c o m p r e e n d i d o e n t r e o altar e o vestíbulo d o
T e m p l o (Kel. I 9) o n d e só p o d i a m p e n e t r a r d u r a n t e a p r o c i s s ã o dos
á l a m o s em r e d o r do altar d o s h o l o c a u s t o s p o r ocasião d a festa das
T e n d a s (j. Sukka I V 5, 5 4 3 [ I V / 1 , 3 4 ] ; b . Sukka 4 4 ) . Esses sacerd o t e s t i n h a m o direito de r e c e b e r os h o n o r á r i o s dos s a c e r d o t e s , m a s
não podiam usar a túnica sacerdotal (8.
V 5, 7, § 2 2 8 ) . Sobre suas
funções e n q u a n t o os o u t r o s sacerdotes e x e c u t a v a m o serviço, v e r supra,
p . 188. — O caso d o s u m o s a c e r d o t e H i r c a n o I I (76-67, 63-40 a.C.)
é c é l e b r e ; A n t í g o n o (40-37 a.C.) m u t i l o u - o , c o r t a n d o - l h e as orelhas
( A n i . X I V 13, 10, § 366) o u a r r a n c a n d o - a s c o m os d e n t e s (B. j . I 13,
9, § 2 4 0 ) , a fim de torná-lo i n a p t o às funções s a c e r d o t a i s .
c
451.
452.
453.
454.
455.
Ver n . 457, p . 294.
Ex 29; Lv 8.
Qid. I V 5.
N m 4,3.23.30.35.39.43.47; l C r 23,3.
Esd 3,8; l C r 23,24-27; 2Cr 31,17.
a
sus . O exame do jovem levita era feito na Sala das pedras talhadas. Lá "eles se assentavam e e x a m i n a v a m as genealogias dos sacerdotes e dos levitas" . T a l e x a m e , é
v e r d a d e , parece ter sido limitado aos levitas músicos e somente assim podemos compreender os fatos que vamos
narrar.
De u m a filha de levita cujo pai ocupava lugar no
estrado (dos levitas cantores e músicos) , dizem que sua
origem foi considerada como legítima sem outro e x a m e ;
a propósito dos locadores de charamela que aí se colocav a m na Páscoa e na festa das T e n d a s , diz-se que suas filhas p o d i a m casar-se com sacerdotes, p o r t a n t o , que seus
pais e r a m de origem pura . Essas duas informações perm i t e m concluir que não se exigia a prova de pureza da
família p a r a as funções inferiores dos levitas.
456
457
45S
459
460
Sob q u e condições u m sacerdote ou u m levita músico
era considerado de origem p u r a a p o n t o de não existir obstáculo à sua participação no culto? Q u a n d o tivesse nascido
de u m sacerdote ou de u m levita com u m a m u l h e r de
igual condição de p u r e z a legal. Se u m sacerdote ou u m levita cantor se casava, era, pois, necessário e x a m i n a r a genealogia da esposa, a fim de que u m nascimento legítimo
456. T o s . Sheq. I I I 26 (179, 17).
457. T o s . Sheq. I I I 26 (179, 17).
458. Ver supra, p . 285.
459. Qid. I V 5.
460. E m 'Ar. II 4, e n c o n t r a m o s diversos p o n t o s de vista s o b r e a
o r i g e m dos tocadores de c h a r a m e l a : "a) e r a m escravos dos s a c e r d o t e s ,
dizia R. Meier; b) m a s r a b i Y o s é d e c l a r a v a : eram as [ d u a s ] famílias
bêt h a - P g a r i m e bêt Sipparyyaa d e E m a ú s , cujas [filhas] p o d i a m casar-se c o m s a c e r d o t e s ; c) q u a n t o a rabi H a n a n y a , filho de A n t í g o n o ,
assim o p i n a v a : e r a m levitas". N ã o se deve levar cm c o n t a o p o n t o
de vista a p o r q u e esses escravos do T e m p l o n ã o d e v e m a sua existência senão à c o n c l u s õ e s teóricas t i r a d a s de passagens v e t e r o t e s t a m e n tárias. Os outros dois p o n t o s de vista n ã o se e x c l u e m . R a b i Y o s é (b)
rejeita a o p i n i ã o de r a b i Meir, servindo-se de d a d o s históricos irrecusáveis de o n d e se d e d u z q u e n ã o se trata de e s c r a v o s , m a s de israelitas
livres, de p u r a d e s c e n d ê n c i a . A d e c l a r a ç ã o de r a b i Y o s é é c o m p l e t a d a
p o r r a b i H a n a n y a (c) q u e era, ele p r ó p r i o , s a c e r d o t e e, s e g u n d o T o s .
'Ar. I 15 (544, 10) t i n h a a i n d a c o n h e c i d o p e s s o a l m e n t e levitas q u e
t o c a v a m flauta n o altar. O s dois p o n t o s de vista b e c t o m a d o s juntos c o n t ê m a v e r d a d e i r a s o l u ç ã o : e r a m levitas de d e s c e n d ê n c i a p u r a ,
m e m b r o s de d u a s famílias de notáveis de E m a ú s q u e t o c a v a m a char a m e l a s o b r e o e s t r a d o dos levitas p o r ocasião da P á s c o a e d a festa
das T e n d a s .
e
garantisse aos descendentes a d i g n i d a d e sacerdotal ou levítica. Esse e x a m e pré-nupcial da o r i g e m d a m u l h e r só se
fazia na Palestina. Conforme afirma Josefo, os sacerdotes
que m o r a v a m no Egito, em Babilônia ou n o u t r o lugar " m a n d a v a m p a r a Jerusalém u m relatório, c o n t e n d o o n o m e da
esposa
e de seus antepassados do lado p a t e r n o , assim
c o m o o n o m e das testemunhas [ p a r a as informações particulares] " ; tais providências d e m o n s t r a m o c u i d a d o exigido. Segundo Fílon, devia-se e x a m i n a r se os p a i s , avós e
bisavós e r a m de sangue p u r o . A M i s h n a fornece indicações mais precisas. Se a esposa era d e família sacerdotal,
examinavam-se as q u a t r o gerações anteriores do lado paterno e do lado m a t e r n o ; as cinco, se era filha de levita
ou d e israelita . Para as filhas de sacerdotes e levitas músicos em exercício, assim como p a r a as esposas cujo pai
era m e m b r o de u m corpo constituído (por exemplo, membro do Sinédrio, juiz, e n c a r r e g a d o dos óbolos), ficava disp e n s a d o o exame de origem; nesses casos, c o m efeito, o
p a i já p r o v a r a , a o t o m a r posse d e seu cargo, a legitimidade
de sua origem .
461
462
4bJ
lbi
465
Lv 21,7 formulava assim a prescrição p a r a a escolha
de u m a esposa de sacerdote: ' N ã o t o m a r ã o por m u l h e r
uma d e s o n r a d a ou u m a vil prostituta, n e m a que foi rep u d i a d a p o r seu m a r i d o " . Essa passagem tão i m p o r t a n t e
era interpretada da seguinte maneira : por " r e p u d i a d a "
(hãlalah),
compreendia-se a jovem nascida do casamento
ilegítimo de u m sacerdote (casamento com uma das mulheres de condição de pureza legal inferior, proibido em
Lv 2 1 , 7 ) ; p o r ' ' p r o s t i t u t a " , a prosélita, a escrava libertada
!
466
4 6 1 . L a u r c n t i a n u s : tês gegramménes.
L a t i m : n u p t a e . Essa ú l t i m a inf o r m a ç ã o é a m e l h o r ; deve-se ler tês
gametés.
462. C. Ap. I 7, § 3 3 .
4 6 3 . Fílon, De spec. leg. I, § 101.
4 6 4 . Qid. I V 4 . Q u a n t o às filhas d e s a c e r d o t e s e x a m i n a v a m - s e o i t o
ancestrais de sexo f e m i n i n o , em relação à p u r e z a de sua o r i g e m : a) a
m ã e . b) as d u a s a v ó s , c) as d u a s b i s a v ó s d o l a d o p a t e r n o e u m a bis a v ó d o l a d o m a t e r n o , d) u m a trisavô d o l a d o p a t e r n o e u m a do
l a d o m a t e r n o . N o s o u t r o s casos acrescentava-se a i n d a u m a geração
D e q u e m o d o explicar este e s q u e m a que d á a i m p r e s s ã o de ser totalmente arbitrário?
465. Qid. I V 5.
4 6 6 . P a r a o q u e segue, v e r Billerbeck, I, 2-3.
e a deflorada . H a v i a , pois, u m a p a r t e b e m d e t e r m i n a d a
da p o p u l a ç ã o que não p o d i a casar c o m sacerdotes, isto é,
todas as israelitas que n ã o eram de origem p u r a . Som e n t e a filha de u m sacerdote ou de u m levita apto a exercer sua função e a filha de u m cidadão israelita estavam,
pois, em condição de contrair m a t r i m ô n i o regular com u m
sacerdote .
Todavia, dentro desse círculo de famílias legítimas,
outras mulheres se a c h a v a m excluídas , a m u l h e r repudiada , a hãlüsah (isto é, a m u l h e r q u e , após a morte de
467
4 6 S
m
-
470
467. Sifra Lv 21,7 ( 4 7 186, 2 2 ) ; Yeb. V I 5. D e t a l h a d a m e n t e tem o s : a) a hãlalah: sem d ú v i d a , ela n ã o p o d e se casar com u m sacerd o t e , m a s n o caso de se casar com u m israelita, a filha n a s c i d a d e s t e
c a s a m e n t o p o d e d e s p o s a r u m sacerdote (Qid. I V 6 ) . b) A p r o s é l i t a :
p o r causa de sua origem p a g ã , n ã o p o d e se casar com u m s a c e r d o t e ,
m a s se se casar c o m u m israelita, a filha n a s c i d a desta u n i ã o p o d e se
casar c o m u m s a c e r d o t e ( o p i n i ã o de R. Y u d a ben Elai, p o r volta de
150 d . C ; R. Eliézer b e n Y a c o b , cerca de 150 d . C , só a u t o r i z a o cas a m e n t o c o m u m s a c e r d o t e à filha n a s c i d a d o c a s a m e n t o de u m p r o sélito c o m u m a israelita; R. Yosc ben H a l a f l a , 150 d . C , o a u t o r i z a
m e s m o à filha nascida d o c a s a m e n t o de u m prosélito c o m u m a pros é l i t a ) . Qid. I V 6s; m e s m o p o n t o de vista c m Bik. 1 5. U m a voz i s o l a d a
(R. S h i m e o n p o r volta de 150 d.C.) invoca N m 31,18 p a r a p e r m i t i r
b
0 c a s a m e n t o c o m u m s a c e r d o t e à prosélita q u e se c o n v e r t e u ao jud a í s m o a n t e s da i d a d e de três anos e u m dia (j. Qid. I V 6, 6 6 10
[não t r a d u z i d o em V / 2 , 284 q u e r e m e t e ao p a r . I I / 2 3 6 3 ] ) . c) A escrava liberta: c o m o b. d) A q u e l a q u e foi deflorada p o r u m a t o de
p r o s t i t u i ç ã o ; a esse g r u p o p e r t e n c e m , e n t r e o u t r a s , a p r o s t i t u t a (Targ u m do Pseudo-Tônatas a Lv 2 1 , 7 ; Ant. I I I 12, 2 § 2 7 6 ) , a t a b e r n e i r a
ou h o s p e d e i r a (Ant.
ibid.),
a m u l h e r q u e foi p r i s i o n e i r a d e g u e r r a
(Ant., C. Ap. I 7, § 3 5 ; cf. supra, p . 218ss, os a t a q u e s c o n t r a os sum o s sacerdotes f o ã o H i r c a n o e A l e x a n d r e J a n e u ) . Discu lia-se p a r a
saber se u m a j o v e m judia a q u e m u m israelita de o r i g e m legítima
v i o l e n t a r a , e n t r a v a nessa categoria d. E m Ket. I 10, permitia-se a essa
j o v e m casar-se c o m u m s a c e r d o t e . M a s , c o n f o r m e a e x p l i c a ç ã o d o rabi
Eliézer (por volta de 90 d . C ) , é preciso considerá-la c o m o u m a " p r o s t i t u t a " , e, p o r c o n s e g u i n t e , n ã o p o d e sc casar c o m u m s a c e r d o t e
(Sifra
Lv 21,7 ( 4 7 186, 2 4 ) ; b . Yeb,
6í
b a r . ) . O r a , esse d o u t o r r e p r e senta, em geral, a t r a d i ç ã o antiga; resulta, pois, daí q u e na é p o c a em
q u e o T e m p l o existia, aplicava-se, g e r a l m e n t e , o p o n t o de vista m a i s
estrito.
a
b
b
seu m a r i d o , libertara-se do casamento levirático pela cerim ô n i a do "tirar o c a l ç a d o " (Dt 2 5 , 9 ) , colocada no m e s m o
n í v e l , e a m u l h e r estéril c o m q u e m u m sacerdote podia
se casar s o m e n t e se já tivesse m u l h e r e filho . E z 4 4 , 2 2
p r o í b e t a m b é m aos sacerdotes desposar u m a viúva, salvo
a viúva de outro sacerdote. E somente ao sumo sacerdote
q u e o Levítico p r o í b e o c a s a m e n t o c o m u m a viúva (Lv
2 1 , 1 4 ) ; em c o n t r a p a r t i d a , silencia a respeito da interdição
aos outros sacerdotes de desposarem u m a viúva. O período posterior não seguiu as normas d e Ezequiel. J o s e f o
diz expressamente que todos os sacerdotes, salvo o sumo
sacerdote, p o d e m contrair m a t r i m ô n i o com viúvas. Essas
regulamentações n ã o se destinavam aos levitas; interditavam-nos somente de desposar israelitas ilegítimas, portadoras d e i m p u r e z a grave
(bastarda, escrava d o T e m p l o , filha de pai desconhecido e criança enjeitada ) .
471
472
m
m
4 7 5
Após esse exame de prescrições, vejamos a prática.
Com freqüência, u m sacerdote casava-se com u m a filha de
sacerdote; ocorria, p a r t i c u l a r m e n t e , nos círculos da aristocracia sacerdotal e entre os sacerdotes d e Jerusalém cujo
prestígio e formação elevavam a u m nível superior. Sob r e t u d o as famílias pontifícias c a s a v a m suas filhas de preferência com sacerdotes. T a l fato já se d e d u z d a qtteíxa
e s t u d a d a acima , segundo a qual os sumos sacerdotes impeliam seus genros aos postos lucrativos do T e m p l o , o que
faz supor que esses últimos fossem sacerdotes. Conhecemos inúmeros sumos sacerdotes q u e , de seu l a d o , e r a m
genros d e sumos sacerdotes em exercício. Citemos, em primeiro lugar, o sumo sacerdote M a t i a s , filhos de Teófilo e
t a m b é m Caifás . Além disso, duas famílias da aristocracia
sacerdotal d e r a m s u m o s sacerdotes q u e d e s e m p e n h a r a m
476
477
4 7 1 . Yeb. II 4; Qid. I l l 12; Mak. I I I 1: Sota I V 1; V I I I 3; T a r g u m d o P s c u d o - I ô n a t a s e m Lv 2 1 , 7 ; Sifra Lv 21,7 ( 4 7 186, 27) e
passim.
4 7 2 . Yeb. V I 5. R. Y u d a b e n Elai (cerca d e 150 d.C.) p r o í b e o
c a s a m e n t o em t o d o s os casos (Sifra Lv 2 1 , 7 [ 4 7 186, 2 5 ] ) .
4 7 3 . Ani. I I I 12, 2, § 277.
4 7 4 . Qid. I V 1.
4 7 5 . V e r infra, p p . 446s.
4 7 6 . P p . 268s.
477. Ver as c o m p r o v a ç õ e s supra, p . 217, n . 6 1 .
h
468. Disso f a l a r e m o s m i n u c i o s a m e n t e n o c a p . V I I I : O s
israelitas
ilegítimos,
ver infra, p . 420ss.
469. Qid. I I I 12.
470. Lv 21,7; Ez 44,22; Qid. I I I 12; Mak. I 1; I I I 1; Ter. V I I I
1 e passim.
A m u l h e r cujo m a r i d o foi d e c l a r a d o m o r t o e q u e t o r n a
a se casar, deve, se o p r i m e i r o m a r i d o v o l t a r à casa, a c o m p a n h á - l o
de n o v o . N ã o é tida c o m o d i v o r c i a d a do s e g u n d o m a r i d o , p o i s esse
s e g u n d o c a s a m e n t o tornou-se l e g a l m e n t e i n v á l i d o (Yeb, X 3, Sifra Lv
21,7 <47 186, 3 5 ) .
b
b
suas funções, sendo u m , talvez, o sumo sacerdote Caifás ;
aconteceu — assim nos contam — que u m a jovem casou¬
-se com u m tio p a t e r n o . O caso suscitou discussões acalor a d a s , p o r q u e as duas mulheres ficaram viúvas e sem filhos. U m casamento levirático com o p r ó p r i o p a i era, evid e n t e m e n t e , impensável. Mas u m a questão excitou os espíritos dos hiJelitas e dos shamaítas : poderia o pai consumar u m casamento levirático com a concubina de seu
g e n r o ? O que nos interessa aqui é tão-somente constatar
q u e , em duas grandes famílias da aristocracia pontifícia
de Jerusalém, u m a jovem tenha se casado com o i r m ã o de
seu pai, concluindo que os dois esposos t e n h a m sido de
famílias sacerdotais de alto nível. H á outro caso a i n d a : o
casamento de M a r t a , da família pontifícia de Boetos, com
o sumo sacerdote Yoshua b e n Gamaliel I, de q u e m já falamos ; nesse caso t a m b é m , os dois esposos p e r t e n c i a m
a famílias sacerdotais de alta posição. O s outros sacerdotes igualmente desposavam, de preferência, filhas de sacerdotes. Por exemplo, o sumo sacerdote Z a c a r i a s , da classe
sacerdotal de Abia, desposou Isabel, filha de sacerdote (Lc
1,5). R. Tarfon, ele próprio s a c e r d o t e , tinha, em J e m salém, u m tio m a t e r n o c h a m a d o Shimeão
ou Shims h ã o , t a m b é m s a c e r d o t e ; os pais desse rabi p e r t e n c i a m ,
pois, a famílias sacerdotais.
m
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4S0
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482
483
484
cante de pregos, que viveu ainda até depois da tomada da
c i d a d e , casara-se c o m u m a filha d e sacerdote. Eis alguns
exemplos de alianças com leigos. O sumo sacerdote Alex a n d r e Janeu, como já vimos , desposou — dizem —
uma irmã do rabi Shimeão b e n Shetah. O sacerdote e escriba Shimeão ben N a t a n a e l t i n h a p o r mulher uma filha *'
de R a b b a n Gamaliel I, célebre mestre de Jerusalém e
m e m b r o do Sinédrio . O b e m conhecido doutor Eliézer
ben H i r c a n o , s a c e r d o t e , casou-se c o m u m a filha de
Gamaliel l . Q u a n t o a Pinhas de H a b t a , sacerdote e
depois sumo sacerdote (em 67 d.C.), R. H a n a n y a , filho de Gamaliel I I , chama-o p a r e n t e por aliança . Portanto, três sacerdotes casaram-se c o m jovens da casa d e
G a m a l i e l . Assim, entre as famílias de leigos, os sacerdotes, pelo que parece, preferiam as dos escribas. Eis u m
último exemplo. O sacerdote R. Sadoc, célebre escriba, tinha como mulher uma benjaminíta, cuja família p a t e r n a
pertencia às famílias de notáveis i n c u m b i d a s de trazer a
lenha para o a l t a r ' " . Os enlaces entre sacerdotes e filhas
de leigos d e nível elevado não foram r a r o s , p o r t a n t o , se
b e m q u e o T a l m u d e , q u a n d o a ocasião se oferece, trace
u m juízo desfavorável sobre tais uniões . N ã o temos nen h u m a informação a respeito da origem das mulheres dos
levitas; a c a b a m o s de v e r o c a s a m e n t o d o levita Y o s h u a
c o m u m a filha de sacerdote, e já f a l a m o s " da legitimidade das duas famílias de levitas d e E m a ú s que tocam
a charamela.
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E n t r e t a n t o , de m o d o algum, as famílias de sacerdotes
se casavam u n i c a m e n t e entre elas; havia t a m b é m uniões
entre descendentes de sacerdotes, e descendentes de levitas
ou de israelitas. Assim, o levita cantor R. Y o s h u a , fabri-
Q u a n d o u m sacerdote ou u m levita músico desposava
u m a m u l h e r que a Lei proibia , era p u n i d o com impie494
47S. V e r supra, p . 266, n. 302; cf. p . 136, n. 9 5 .
479. E m b . Yeb. 1 5 (ver supra, p . 136s), o caso e m d i s c u s s ã o relaciona-se c o m u m d e b a t e s o b r e a p o l i g a m i a em J e r u s a l é m n o t e m p o
d e Jesus.
480. Supra, 219.
4 8 1 . j . Yoma I I I 7, 4 0 57 ( I I I / 2 , 196) e passim; T o s . Neg. V I I I
2 (628,9).
482. T a m b é m em j . Hor. I I I 5, 4 7 37 (não t r a d u z i d o e m V I / 2 ,
274).
4 8 3 . T a m b é m e m Qoh. R. 15 s o b r e 3, 11 ( 8 5 1 0 ) .
484. j . Yoma I 1, 3 8 82 ( I I I / 2 , 1 6 5 ) ; j . Hor. I I I 5 4 7 37 ( n ã o
t r a d u z i d o e m V I / 2 , 274: e m b o r a este tio fosse m a n c o , ele, c o m o sac e r d o t e , tocou a t r o m b e t a p o r ocasião de u m a das festas das T e n d a s .
Qoh. R. 3, 15 s o b r e 3 , 11 ( 8 5 1 0 ) : coloca-se e m c o m p a n h i a d o sob r i n h o s o b r e o e s t r a d o do átrio.
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d
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4 8 5 . Supra, p . 2 1 7 , n. 62.
486. O ms. de Erl'urt, a g o r a e m Berlim, Staatsbibl.
M s . or. 2
1220, diz "filha". Razões c r o n o l ó g i c a s t o r n a m essa i n f o r m a ç ã o inadmissível; v e r M a c h e r , Ag. Tann.,
I, 75, n. 3 .
487. T o s . 'A. Z. I l l 10 (464, 6 ) ,
4S8. j . Sola III 4, 1 9 3ss ( I V / 2 , 2 6 1 ) .
489. b , SÍiab. 1 1 6 e
passim.
490. Sifra Lv 21,10 (47^ 187. 10).
4 9 1 . V e r infra, p . 3 8 1 .
4 9 2 . b . Pcs. 4 9 bar.; b . Pes. 4 9 .
4 9 3 . Supra, p . 294, n. 4 6 0 .
494. Isso acontecia. O escritor Josefo é u m e x e m p l o ; p r i s i o n e i r o
dos r o m a n o s , casou-se e n l r e 67 e 69 d . C , sob o r d e m de V e s p a s i a n o ,
?
a
a
a
a
dosa severidade; o casamento declarado ilegítimo
e os
filhos p r i v a d o s do direito do sacerdócio. Esse filho chamava-se halal (profano) e fazia p a r t e do g r u p o dos israelitas ilegítimos; seus filhos, como ele, também n ã o p o d i a m
exercer o sacerdócio. As filhas de u m m a t r i m ô n i o ilegítim o de sacerdote não p o d i a m se casar com u m sacerdote .
Esses princípios p e r m a n e c i a m e m vigor. Já no t e m p o
d e Esdras , três famílias sacerdotais foram excluídas cio
sacerdócio, p o r q u e não p u d e r a m exibir a sua genealogia;
os sumos sacerdotes asmoneus v i r a m contestada pelos fariseus a legitimidade d e seu sacerdócio, p o r q u e a m ã e d e
João H i r c a n o foi, dizem, prisioneira de guerra sob Antíoco
W Epifanes ; e m seguida, por diversas vezes o u v i m o s
falar de processos p a r a a deposição de determinados sacerdotes do direito de exercer sua f u n ç ã o . T a i s exemplos d e m o n s t r a m o rigor com que se agia p a r a p r e s e r v a r
a pureza do c l e r o . " R . Z a c a r i a s , filho do açougueiro,
diz: [eu j u r o ] pelo T e m p l o ! Sua m ã o [a m ã o de m i n h a
m u l h e r ] não largou a minha desde que os pagãos entrar a m em Jerusalém [sem d ú v i d a por ocasião da tomada da
cidade em 1 3 3 / 4 d . C , d u r a n t e a gLierra de Bar-Kokba] ,
até sua p a r t i d a . — Responderam-lhe: n i n g u é m p o d e test e m u n h a r em causa p r ó p r i a " .
495
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498
m
m
íni
502
Um sacerdote não p o d e contrair m a t r i m ô n i o c o m u m a
israelita q u e foi prisioneira de guerra, pois n ã o lhe poderá d a r filhos legítimos, aptos a exercerem o sacerdócio .
N ã o é, p o r é m , u n i c a m e n t e tal jovem que lhe será negada.
505
c o n f o r m e diz. e c o n t r a a p r e s c r i ç ã o d a Lei (ver supra, p . 296, n. 467
d), c o m u m a judia, p r i s i o n e i r a de g u e r r a , Vita 75, § 414.
4 9 5 . b . Keí. 3-', e s o b r e este p o n t o Billcrbeck. I Í I , 543 b.
496. Qid. I V 6. Cf. supra, p . 296, n . 467 a.
497. Esd 2,61-63; N e 7,63-65.
498. V e r supra, p p . 2 1 8 e 260.
499. G e n e r a l i d a d e s e m Ma/c. I 1; Mid V 4. I n t e r p r e t a ç ã o n a cont i n u i d a d e de nossa e x p o s i ç ã o .
500. P a r a o q u e segue ver A . Büchler, " F a m i U e n r e i n h c i l u n d
F a m i l i e n m a k e l in J e r u s a l é m v o r d e n J a h r e " 70, em Festschrift
Sehwarz,
133-162.
5 0 1 . Q u a n t o à d a t a deste r a b i . v e r Scblatter, Tage, 4 1 ; deve-se
d a t a r a g u e r r a de Bar K o k b a dos anos 132-135 (6) d.C., v e r C. H .
H u n z i n g e r , art. Q u m r a n 6 em Die Religion
in Geschichte
und
Gegen¬
wart, 3? ed., V ( 1 9 6 1 ) , col. 754s.
502. Keí. II 9.
503. V e r supra, p . 296, n. 467.
Ele não p o d e r á c o n t i n u a r a viver c o m u m a esposa q u e ,
m e s m o sem ter sido prisioneira, viveu n u m a cidade tom a d a e o c u p a d a pelo inimigo, não tendo condições de
p r o v a r sua integridade através de t e s t e m u n h a s desinteressadas ; se mantiver tal aliança, será considerada concubin a t o e os filhos dessa u n i ã o são ilegítimos. Semelhante
regra é aplicada de m a n e i r a inexorável, mesmo q u e o
próprio m a r i d o ateste, sob j u r a m e n t o , que a m u l h e r n ã o
teve relações com pagãos. Mais a i n d a : os m e m b r o s de
u m a família, evidentemente família de sacerdotes, foram
tão longe q u e recusaram o direito d e desposar u m sacerdote c o m u m a jovem m e n o r q u e fora d a d a em p e n h o r a
Ascalon (ou q u e lhe fora levada c o m o refém); e n t r e t a n t o ,
h a v i a testemunhas p a r a afirmar que n ã o tivera relações
( " q u e ela não tinha sido presa [com u m h o m e m ] n e m
d e f l o r a d a " ) , e os escribas decidiram q u e esse d e p o i m e n t o
não era. j u s t i f i c a d o . P o r t a n t o , nesse caso, não somente
se põe a jovem d a d a em p e n h o r em p é de igualdade c o m
a prisioneira de guerra, o que de m o d o algum seria
óbvio , mas a p r ó p r i a família decide, no caso de u m de
seus m e m b r o s , t o r n a n d o a regra a i n d a mais intransigente,
a fim de afastar dela q u a l q u e r suspeita de m a n c h a . São,
pois, os próprios sacerdotes q u e , p o r vezes, apesar mesm o dos protestos dos escribas, a s s u m e m o c u i d a d o de aplicar, inexoravelmente, as prescrições sobre a pureza das famílias sacerdotais.
504
505
5 %
N ã o se trata de exceção, mas tornou-se regra que os
p r ó p r i o s sacerdotes, contra as decisões dos escribas, dêem
p r o v a de implacável rigidez. Assim s e n d o , ouvimos dizer
q u e os escribas p e r m i t i a m às filhas d e famílias 'issah (isto
é, famílias de sacerdotes sobre as quais h a v i a , em relação
a u m dos m e m b r o s , certa d ú v i d a sobre a legitimidade de
sua o r i g e m ) , casarem-se c o m sacerdotes. O s sacerdotes,
501
504. N e s t e caso permitia-se t a m b é m a u m e s c r a v o , h o m e m ou mulher, t e s t e m u n h a r , Ket. II 9; m a s n ã o h a v i a p e r m i s s ã o p a r a o próprio marido.
505. 'Ed. V I I I 2 .
506. Ket. I I 9 : " O c a s a m e n t o c o m u m a m u l h e r p r i s i o n e i r a d e
pagãos por questões pecuniárias [como refém] é permitido".
507. O t e r m o 'issah significa massa, m i s t u r a . N ã o p o d e m o s precisar, c o m certeza, o s e n t i d o m e t a f ó r i c o . R. M e i r (cerca d e 150 d.C.)
p o r é m , n ã o a d m i t i a m q u a l q u e r concessão ; bastava-lhes
a mais leve suspeita p a r a se m a n t e r e m afastados das filhas
de famílias 'íssah. Vemos assim justificada a queixa lev a n t a d a por R a b b a n Y o h a n a n ben Z a k k a i , p o r t a n t o , p o r
u m h o m e m que exercia sua função em Jerusalém antes
da destruição do T e m p l o : os sacerdotes não seguem as
decisões dos escribas a n ã o ser que se declarem essas pessoas inaptas às funções sacerdotais ou ao casamento c o m
sacerdotes; por outro lado, eles as desprezam se os escribas cedem, a t e n u a n d o . Os mesmos sacerdotes q u e , sob
A g r i p a I (41-44 d . C ) , q u a n d o os j u d e u s p o d i a m exercer
a justiça criminal, fizeram q u e i m a r publicamente em Jerusalém u m a filha de sacerdote acusada de adultério ,
zelavam pela p u r e z a das famílias sacerdotais com inexorável severidade. C o m efeito, os sacerdotes ofereciam os sacrifícios como investidos não pelo povo, mas por Deus ;
por esse motivo, constituíam a fração santa do povo instituída p o r Deus. N o fim dos tempos, formariam, c o m
perfeição, a linhagem santa: " Q u a n d o o Santo, seja ele
bendito, purifica as tribos, purifica, em primeiro lugar, a
tribo de L e v i " .
508
509
m
51í
5 I 2
d á esta definição (b. Ket. 1 4 b a r . ) : " Q u e é u m a v i ú v a 'issah? A q u e l a
c o m q u e m , e v e n t u a l m e n t e uniu-se u m filho ilegítimo de s a c e r d o t e
(balai). Esse texto n ã o tem s e n t i d o . C e r t a m e n t e , a p a l a v r a " v i ú v a " foi
i n t r o d u z i d a p o r i n a d v e r t ê n c i a a p a r t i r de 'Ed. V I I I 3 q u e fala d a v i ú v a
'issah, e isso a c a r r e t o u o e r r o . Se p u d e r m o s riscar a p a l a v r a " v i ú v a "
em b . Ket. 1 4 bar., o s e n t i d o torna-se c l a r o ; u m a família 'issah é u m a
família da q u a l se p e r g u n t a se u m dos m e m b r o s é de o r i g e m ilegítim a ; (aliás, em 'Ed. V I I I 3 i g u a l m e n t e , a p a l a v r a " v i ú v a " é u m a glosa,
ver infra, p . 422, n . 17). As explicações de B ü c h l e r em
Festschrifi
Schwarz,
155-160 n ã o levam e m c o n s i d e r a ç ã o essa s o l u ç ã o s i m p l e s e
n ã o c o n s e g u e m c o n v e n c e r . P o r 'issah ele e n t e n d e as famílias ilegítim a s a p e n a s m a r c a d a s p o r u m a falha leve (ver infra, p . 4 2 0 s s ) , p o r t a n t o :
p r o f a n a s (halalim),
prosélitas, escravas l i b e r t a s .
b
b
508. 'Ed. V I I I 3.
509. fbid. — ' E d . V I I I 7 c o n t a o caso de certo Ben Sion (sem
d ú v i d a antes de 70 d.C. já q u e a t r a d i ç ã o r e m o n t a a Y o h a n a n b e n
Z a k k a i ) : s u c e s s i v a m e n t e ele tinha, de m o d o injusto e arbiLrário, "afastado e a p r o x i m a d o " u m a família — visto o c o n t e x t o , trata-se de sacerdotes •— isto é, declarara-se ilegítima e legítima.
510. Sanh. V I I 2; b . Sanh. 5 2 . M i n ú c i a s supra, p . 246, n . 2 2 2 .
5 1 í . b. Qid, 2 3 \
512. b. Qid. 7 0 71».
b
b
CAPÍTULO
A NOBREZA
II
LEIGA
A o l a d o da nobreza sacerdotal, existia em Jerusalém
uma aristocracia leiga. Sua i m p o r t â n c i a foi infinitamente
mais fraca, como c o m p r o v a a escassez d e provas e testemunhas.
E x a m i n e m o s , de início, como era formado o Sinédrio.
Segundo lemos no N o v o T e s t a m e n t o , essa assembléia judaica s u p r e m a , que c o m p r e e n d i a 7 1 m e m b r o s , compunha¬
-se d e três g r u p o s : os chefes dos sacerdotes q u e , representados na pessoa do sumo sacerdote, escolhiam o presidente, os escribas e os anciãos.
Q u e m fazia p a r t e d o g r u p o dos anciãos?
A história
da assembléia judaica nos dá a resposta. A p ó s o exílio, os
reorganizadores do p o v o , doravante sem rei, basearam-se
na antiga composição em famílias, p r o c e d e n t e s d a divisão
d o p o v o e m tribos, e n u n c a t o t a l m e n t e caída n o esquecim e n t o , n e m mesmo depois do sedentarismo em C a n a ã .
Talvez já em exílio, q u e r dizer, com a extinção d a realeza,
os chefes das linhagens e das famílias mais importantes
a s s u m i r a m a chefia do p o v o , dirigindo, individualmente,
a instalação das famílias em Babilônia e governando-as a
título d e guias e juízes . A p ó s a volta d o exílio, esses che1
2
1. N o N o v o T e s t a m e n t o (Ml 21,23;26,3.47;27,1-3.12.20;28,11-12; L c
22,52; A t 4,25;25,15; c í . 24,1) a s s i m c o m o n a l i t e r a t u r a r a b í n i c a
(Yoma
I 5; Para I I I , 7; cf. T o s . Para I I I 8 (632, 1 8 ) : os a n c i ã o s a p a r e c i a m
c o m o r e p r e s e n t a n t e s d o S i n é d r i o e g u a r d i õ e s d a t r a d i ç ã o farisaica n o s
ritos a o b s e r v a r n o D i a das e x p i a ç õ e s e p a r a q u e i m a r a novilha verm e l h a ) ; a p a l a v r a i n d i c a , e m a m p l o s e n t i d o , t o d o s os sinedrilas n ã o
s a c e r d o t e s . É preciso distinguir esse a m p l o s e n t i d o da p a l a v r a , incluind o os dois g r u p o s d o S i n é d r i o (escribas e anciãos em s e n t i d o rest r i t o ) , d o s e n t i d o restrito q u e v a m o s e x a m i n a r , e q u e designa os anciãos c o m o u m g r u p o do S i n é d r i o d i s t i n t o d o s chefes dos s a c e r d o t e s
e d o s escribas.
2. Ez 8 , l ; 2 0 , l . Ver I. Benzinger, Hebräische
Archäologie,
3- ed,,
Leipzig, 1927, 269 c a d i s s e r t a ç ã o de O . S e e s e m a n n , Die Ältesten
im
AT.,
Leipzig, 1895.
fes de famílias, os "anciãos dos j u d e u s " (sabe
y húdayê)
a p a r e c e m como representantes do povo com os quais o
governador persa discute (Esd 5,9-16) e q u e , unidos ao
" g o v e r n a d o r dos j u d e u s " , dirigem a reconstrução do T e m plo (Esd 5 , 5 . 9 ; 6 , 7 . 8 . 1 4 ) . Dessa m a n e i r a o Sinédrio, assembléia suprema do judaísmo pós-exílico, formou-se da reunião desses chefes de família n ã o sacerdotes, dirigentes
que r e p r e s e n t a v a m a " n o b r e z a " leiga, c o m a aristocracia
sacerdotal. A esse respeito, a descrição da reforma judiciária de fosafá pelo Cronista (2Cr 19,5-11) descrição que
reflete a situação pós-exílica, é elucidativa; a a u t o r i d a d e
judiciária s u p r e m a de Jerusalém compunha-se de levitas,
de sacerdotes e de chefes de f a m í l i a s . É, pois. um senado
aristocrático composto de representantes da aristocracia sacerdotal e leiga q u e , nas épocas persa e grega, alcançou
a chefia do povo judeu. Somente mais tarde, talvez no
tempo da r a i n h a A l e x a n d r a (76-67 a . C ) , de p e n d o r farisaico , os escribas fariseus foram admitidos nessa assembléia suprema até então p u r a m e n t e aristocrática. Não p o d e ,
pois, haver d ú v i d a q u a n t o à composição do g r u p o dos anciãos no Sinédrio: são os chefes das famílias leigas mais
influentes ,
r e p r e s e n t a n d o a " n o b r e z a leiga" do povo neste
conselho s u p r e m o .
e
3
4
5
6
3. E m p r e g o esta p a l a v r a p a r a e x p r i m i r o p r i n c í p i o d a h e r e d i t a riedade.
4. Cf. a i n d a : l M c , o n d e s a c e r d o t e s e anciãos do p o v o (7.33-11,23)
a p a r e c e m c o m o r e p r e s e n t a n t e s d o p o v o , e e s p e c i a l m e n t e 14,28, o n d e
a assembléia d o p o v o q u e toma as decisões assim se c o m p õ e : epi
sinagogês
niegáles ton ieréon kái laoü kcú árehonton
éthnous
kui tôn
presbutéron
tês choras.
N o b r e z a clerical e n o b r e z a leiga
(ãrchontes
éthnous)
dirigem o p o v o ; os a n c i ã o s da c o m u n i d a d e (presbúteoi
tês
choras)
e a m u l t i d ã o do p o v o agregam-se a esses dirigentes p a r a a
assembléia d o p o v o .
5. E n c o n t r a m o s sinedritas fariseus pela p r i m e i r a vez e m Ani.
XIII
16, 5, § 4 2 8 . C o n f o r m e m o s t r a o c o n t e x t o , a q u e l e s q u e a p a s s a g e m
cita c o m o " a n c i ã o s dos j u d e u s " (sinedritas) são c e r t a m e n t e fariseus
desta casta.
6. Foi o q u e b e m o b s e r v o u E. Meyer, Die Entstehung
des
fudenthums, H a l l e , 1896, e Ursprung,
I I , 12 c 2 9 . Ver a i n d a | . W e l l h a u s e n ,
Das Evangelíwn
Marci, Berlim, 1909, 6 5 : "a n o b r e z a leiga de Jerusal é m " ; Billerbeck, 1 1 , 6 3 1 : " o s m e m b r o s leigos d o G r a n d e C o n s e l h o " . —
S c h ü r e r , I I , 252, d i z : " O s m e m b r o s q u e p e r t e n c i a m a u m a dessas duas
categorias especiais [archiereis
e grammateís]
c h a m a v a m - s e simplesm e n t e presbíteroi";
u m b o m e x p e d i e n t e p a r a sair-se b e m .
O N o v o T e s t a m e n t o , t a m b é m Josefo e a literatura talm ú d i c a a d m i t e m essa n o b r e z a leiga. N o N o v o T e s t a m e n t o ,
"os chefes do p o v o " (Lc 19,47) a p a r e c e m uma vez no
lugar dos " a n c i ã o s " , como terceiro g r u p o do Sinédrio;
essa expressão sinônima é e x t r e m a m e n t e esclarecedora.
Como representante desse g r u p o e n c o n t r a m o s José de Arim a t é i a , rico (Mt 27,57) p r o p r i e t á r i o .
7
8
E m Josefo, ao lado dos chefes dos sacerdotes, aparecem como personagens mais influentes de Jerusalém: " a s
autoridades da c i d a d e " , " o s chefes do p o v o " , "os notáveis"
"os p o d e r o s o s " , "os poderosos e notáveis d o
p o v o " \ São os mesmos " a n c i ã o s " do N o v o T e s t a m e n t o ;
temos esta certeza através de u m texto de Josefo onde
a p a r e c e , igualmente, a divisão tríplice do Sinédrio, corrente no Novo T e s t a m e n t o . O s três grupos aí são chamados "os poderosos, os sacerdotes-chefes c os notáveis fariseus" ; ressalta, pois, sem equívoco, a identidade dos " p o d e r o s o s " de Josefo e dos " a n c i ã o s " d o Novo T e s t a m e n t o ,
E m outras passagens, os " p o d e r o s o s " aparecem ao lado
dos m e m b r o s d o conselho s u p r e m o ; v e m o s , pois, q u e som e n t e uma parte dos chefes das famílias de notáveis, p o r
assim dizer como representantes de sua classe, t i n h a m voz
no Sinédrio. U m estudo c o m p a r a d o de dois textos de Jo9
1 0
I2
l
14
1S
7. M c 15,43; M t 27,57; L c 23,50-51; J o 19,38-42. N ã o é design a d o n e m c o m o s a c e r d o t e n e m c o m o escriba; d e v e m o s , pois, tomá-lo
c o m o p e r t e n c e n t e ao g r u p o dos " a n c i ã o s " d o S i n é d r i o .
8 . A o n o r t e d o s e g u n d o c i r c u i t o s e t e n t r i o n a l , n o p r ó p r i o lugar d a
a t u a l igreja d o S a n t o S e p u l c r o (ver m e u Colgota,
Leipzig, 1926, 1-33),
ele p o s s u í a u m a p r o p r i e d a d e c o m jardim (Jo 19,41;20,15; Mt 27,60 e
p a r . ) . A l é m d o m a i s . c o n f o r m e faz s u p o r o e m p r e g o d e
euschémon
nos p a p i r o s , esse t e r m o ( M c 1 5 , 4 3 ) , designa, talvez, o rico proprietário d e imóveis (cf. J. L e i p o l d t c m Thcoíogisches
Literaturhlatt
39
11918], col. I 8 0 s ) .
9. Vita 2, § 9.
10. Vita 3 8 , § 194.
1 1 . B. /". II 17, 2, § 4 1 0 e
passim.
12. B. j . II 15, 2 § 316 e passim.
13. B. j . II 14, 8. § 3 0 1 .
14. B. /. II 17, 3 , § 4 1 1 : sunelihóntcs
goun hoi dunatoi toís archieinisin
eis tautò kái tois tôn Pharisaíon
Gnorímois.
C l . II 14, 8, §
301: oí te archiereis
kai dunatoà
tú te gnorimótaton
tês
póieos.
15. B. j . II 16. 2. § 336: " O s chefes dos sacerdofes dos j u d e u s
iMin os p o d e r o s o s e o c o n s e l h o " ; II 2 1 , 7, § 627: " O s p o d e r o s o s e
.iljuins dos a r c o n t e s " .
sefo confirma que os " a n c i ã o s " são os chefes das famílias
de nobreza leiga. Por ocasião de seu acesso ao p o d e r em
37 a.C. Herodes c o n d e n o u à morte, segundo Ant. X J V 9,
4, § 4 7 5 " t o d o s os m e m b r o s do S i n é d r i o " ; de acordo com
Ant. X V 1, 2, § 6 c o n d e n o u "os 45 principais m e m b r o s
do partido de Antígono frei e sumo s a c e r d o t e ] " . Conform e nos mostra a c o m p a r a ç ã o desses dois textos, os principais membros da nobreza leiga, partidários dos asmoneus, t i n h a m voz ativa no Sinédrio. U m a segunda sinonímia é ainda mais clara. Aqueles que B. j . II 12, 5, § 237
chama de representantes " d o s magistrados [árcontes]
de
J e r u s a l é m " são c h a m a d o s , na passagem paralela dos Ant.
X X 6, 1, § 1 2 3 , "os principais habitantes de Jerusalém
pela dignidade e nascimento; de n o v o , a c o m p a r a ç ã o desses dois textos mostra que os chefes das famílias patrícias
e r a m ouvidos no Sinédrio.
1 6
O exame da literatura rabíníca leva à m e s m a conclusão, pois, fala t a m b é m dos representantes da n o b r e z a
leiga como de u m grupo do Sinédrio. O b t e m o s , assim, total certeza histórica sobre a característica dos " a n c i ã o s " ,
Diversas vezes, na literatura rabínica aparecem "os grandes da g e r a ç ã o " , "os grandes de J e r u s a l é m " , " a s pessoas
de Jerusalém de alto n í v e l " . A e n u m e r a ç ã o mostra que
formam u m grupo restrito. O relato lendário do M i d r a x e
segundo o qual Vespasiano locupleta três barcos com "os
grandes de Jerusalém" e deporta-os
já faz p a r t e deste
contexto. O u t r a s informações situam-se sob u m a luz histórica. " R . Sadoc era u m ' g r a n d e da g e r a ç ã o ' " . " U n s hierosolimitanos da alta classe, t i n h a m o costume de dar gratuitamente a bebida anestésica p a r a os c o n d e n a d o s à mort e " . " A b b a Shaul [cerca de 150 d . C ] dizia: 'Uns hierosolimitanos de nível alto' c u i d a v a m da m a n u t e n ç ã o [das mães
que e d u c a v a m seus filhos p a r a o rito da novilha v e r m e l h a ,
N m 1 9 ] " . O s filhos m e n o r e s não p o d i a m p e n e t r a r no átrio
dos israelitas . E m c o m p e n s a ç ã o , os filhos menores dos
"hierosolimitanos de classe a l t a " t i n h a m o direito de participar no canto dos levitas d u r a n t e o sacrifício cotidiano;
p a r a a circunstância o c u p a v a m lugar no átrio dos israelitas, aos pés do estrado, colocado entre o átrio dos israelitas
e o dos sacerdotes , o n d e ficam os levitas.
D e g r a n d e importância a informação d a d a pelo apóstata Elisha ben A b u y a , nascido em Jerusalém antes de
70 d.C. " M e u pai A b u y a era u m dos grandes de Jerusalém . N o dia de m i n h a circuncisão, ele convidou todos
os outros grandes de Jerusalém " e instalou-os n u m quart o " . Esse convite faz-nos ver o pai, n o b r e de Jerusalém,
como u m h o m e m a b a s t a d o . A p a l a v r a " t o d o s " e a inform a ç ã o segundo a qual pôde-se colocar juntos " t o d o s " os
grandes da cidade n u m m e s m o c ô m o d o , m o s t r a m que os
chefes das famílias hierosolimitanos de alta classe formav a m u m grupo restrito.
2 0
21
2 2
11
24
2 6
Fazem parte desse g r u p o os três sólidos mercadores
de Jerusalém q u e u m relato b e m conhecido p r o c u r a realç a r . P o r ocasião da revolta contra os r o m a n o s , eles se
c o m p r o m e t e r a m — assim dizem — a reabastecer a cidade
c o m víveres e l e n h a , d u r a n t e vinte e u m anos ; são cham a d o s ora como "três ricas p e r s o n a g e n s " ; ora como
" g r a n d e s de I s r a e l " ou " g r a n d e s d a c i d a d e " , ora "con27
28
29
3Ü
17
18
19
16. N ã o t o m a r ao p é d a letra; o S i n é d r i o c o n t a v a c o m 7] m e m bros. S. F u n k , Die Mãnner
der grossen
Versammlung
und die
Gerichlsòfe
im nachexilischen
Judentum,
em MGWJ
55 ( 1 9 1 1 ) , 37-39 tin h a em m e n t e o p e q u e n o Sinédrio c o m p o s t o , c o n f o r m e diz, d e 45
m e m b r o s . É difícil dar-lhe r a z ã o .
17. Lam. R. 1, 48 s o b r e 1, 16 ( 3 4 19).
18. ARN
rec. A c a p . 16, 6 3 19.
19. b . Sanh. 4 3 bar.; ver supra, 140.
a
a
a
20. b . Kei.
2 1 . 'Ar.
106 .
a
II 6; T o s . 'Ar.
I I 1 (544, 1 4 ) .
22. T o s . T o s . 'Ar. II 2 (544, 1 6 ) .
2 3 . S e g u n d o T o s . 'Ar. I I 2 (544. 14), m a n t i n h a m - s e n o átrio das
m u l h e r e s . M a s , c o m o b e m d e m o n s t r a II 1 (544, 1 4 ) , a M i s h n a
'Ar.
II 6 é q u e c o n s e r v o u a l e m b r a n ç a e x a t a : "Eles se c o l o c a v a m n ã o
s o b r e o e s t r a d o , m a s n o c h ã o , de m o l d e a q u e suas c a b e ç a s ficassem
n a a l t u r a dos pés dos levitas [colocados n o e s t r a d o e r g u i d o a u m
c ò v a d o e m e i o = 75 cm. acima d o átrio dos i s r a e l i t a s ] " . G. D a l m a n ,
Der zweite
Tempcl
zu Jerusalém
e m PJB 5 ( 1 9 0 9 ) , 4 5 , n . 6 rejeita
i g u a l m e n t e a localização d e T o s . 'Ar. II 2 (544, 16).
24.. V a r i a n t e : " u m dos g r a n d e s da g e r a ç ã o " em Qoh. R. e Rute R.
25. Qoh. R.: "e todos os g r a n d e s d a g e r a ç ã o " .
26. j . Hag. II 1. 77^ 33 ( I V / 1 , 272) e p a r . : Rute R. 6, 6 s o b r e
3 , 13 ( 1 7 1 4 ) ; Qoh. R. 7 , 18 s o b r e 7. 8 ( 1 0 4 9 ) . As ú l t i m a s palavras faltam nas p a r a l e l a s .
27. V e r supra, 57 e 139.
28. b. Gii. 6 5 .
29. ARN
rec. A c a p . 6, 3 1 2 3 .
b
a
a
a
2 . e m 2 0 t a m u z , a família d e D a v i d a t r i b o d e J u d á
(cf. Esd 8,2);
3. e m 5 a b , a família d e Parosh d a tribo d e J u d á ;
4 . e m 7 a b , a família d e Y o n a d a b , d a tribo d e R e c a b ;
5. e m 10 a b , a família d e Senaa, d a tribo d e Benjamim ;
6. em 15 a b , a família d e Z e t u a , d a tribo de Judá e,
com e l a , os sacerdotes, os levitas e todos aqueles sobre
cuja origem p a i r a v a u m a incerteza % [isto é ] , os filhos
de ladrões d e folhas [ o u : de morteiros]
e os filhos dos
cortadores d e figos;
7. e m 2 0 a b , a família F a a t - M o a b , da tribo d e J u d á ;
8. e m 20 elul, a família d e A d i m , d a tribo d e J u d á ;
9 . e m 1" tebet, a família d e P a r o s h , pela segunda
vez".
selheiros" . Pode ser q u e esse relato c o n t e n h a particularidades lendárias, mas encerra u m sólido n ó d u l o h i s t ó r i c o ;
dele d e p r e e n d e m o s q u e " o s grandes da c i d a d e " faziam
p a r t e d o Sinédrio. T u d o isso se evidencia pelo fato d e sabermos q u e " a s principais personagens d e J e r u s a l é m " exerciam, n o D i a d a s expiações, u m a função oficial n o quadro da liturgia d a festa: a título de m e m b r o s do Sinédrio
e v i d e n t e m e n t e , a c o m p a n h a v a m a t é a primeira das dez
b a r r a c a s colocadas n o c a m i n h o , aquele q u e deveria levar
o bode Azazel a o deserto . Ressalta, enfim, d a c o m p a r a ção d e dois textos midráxicos, q u e as designações "grandes d a c i d a d e " ( " d a g e r a ç ã o " e " a n c i ã o s " ) p a r e c e m sinônimas . Fechamos, assim, o círculo: no Sinédrio, o g r u p o
dos anciãos compunha-se de chefes das famílias
patrícias
de
Jerusalém.
31
32
3 8
39
w
41
33
4
34
3S
4 5
4 6
N o e m p e n h o d e d e t e r m i n a r a composição do Sinédrio,
descobrimos a existência incontestável d e u m a n o b r e z a
leiga e m Jerusalém. Trata-se agora d e saber se p o d e m o s
obter constatações mais precisas dessa casta. Ta'an. I V 5
fornece-nos u m a lista preciosa das famílias privilegiadas ,
aptas a trazer a lenha p a r a o altar:
36
3 7
a
b
b
b
a
P
e
É s u r p r e e n d e n t e e n c o n t r a r nessa lista a m e n ç ã o de
u m a família recabita; a última informação histórica sobre
os recabitas encontra-se, c o m efeito, e m N m 3,14 e l C r
2 , 5 5 , pois p o d e m o s d u v i d a r seriamente d a indicação d e
Higésipo, r e p r o d u z i d a p o r Eusébio , segundo a qual T i a g o ,
irmão d e Jesus foi c o n d e n a d o à m o r t e p o r u m sacerdote
recabita (sic!). Além d o m a i s , é de a d m i r a r q u e ao l a d o
da família recabita sejam citadas a p e n a s as famílias mencionadas n o s livros d e Esdras e d e N e e m i a s . Essas duas
observações são concordes e permitem, dizer q u e a lista
d a t a d e u m a época u m p o u c o posterior à volta d o exílio;
indiscutivelmente, p r o v é m d i r e t a m e n t e do relato d e N e 1 0 ,
3 5 - 3 7 ; 1 3 , 3 1 sobre o sorteio d a s entregas d a l e n h a . C o m o
47
" N o v e dias fpor a n o ] os sacerdotes e leigos traziam
a lenha [conforme a o r d e m s e g u i n t e ] :
1. e m 1" nisan, a família d e Area da tribo d e J u d á ;
30. Gn. R. 4 2 , 1 s o b r e 14, 1 ( 8 5 4 ) ; ARN r c c . B c a p . 13, 3 1
2 1 ; Pirge de R. Eliézer
2.
3 1 . Qoh. R. 7, 2 5 s o b r e 7, 11 ( 1 0 5 2 9 ) ; Lam. R. 1, 32 s o b r e
1, 5 ( 2 8 5 ) . Neste ú l t i m o texto trata-se d e q u a t r o p e s s o a s , pois N a q d e m o n b e n G o r i o n foi, p o r e r r o , d i v i d i d o e m dois n o m e s .
32. V e r supra, p . 139, n . 116.
33. Cf. Yoma
I 5.
34. Yoma
VI 4.
3 5 . Lv. R. 3 0 , 7 s o b r e 2 3 , 40 ( 8 2 23) e n u m e r a : a) os g r a n d e s
d a c i d a d e ( d a g e r a ç ã o ) ; b) as pessoas p a r t i c u l a r e s ; c) h o m e n s , m u lheres, crianças. Cant. R. 6, 11 s o b r e 6, 5 ( 6 4 7) cita; a) as p e s s o a s
p a r t i c u l a r e s ; b) as c r i a n ç a s ; c) os z qenim.
A c o m p a r a ç ã o desses d o i s
textos p e r m i t e dizer q u e z qenim
designa, r e a l m e n t e , n ã o a i d a d e m a s
a d i g n i d a d e . S o b r e este p o n t o v e r A . Büchler, The Politicai
and Social
Leaders
as the Jewish
Community
of Sepphoris,
L o n d r e s , 1909, 10.
36. N e e m i a s fizera a escolha p o r sorteio (Ne 10, 3 5 ) , cf. b .
Táan.
28*.
37. Cf. E s d 2,5; N m 7,10.
43
4 4
b
3 8 . Cf. E s d 2,3;8,3;10,25; N e 3.25;7,S;10,15.
39. Cf. 2 R s 10,15.23; Jr 3 5 , 8 ; l C r 2 , 5 5 .
4 0 . Cf. E s d 2 , 3 5 ; N e 3,3;7,38;11,9.
4 1 . Cf. Z a t t u : E s d 2,8; 10,27; N e 7,13;10,15.
4 2 . P r o v á v e l e u f e m i s m o p a r a "cuja o r i g e m n ã o e r a a b s o l u t a m e n t e
pura".
4 3 . A i n d i c a ç ã o d a t r i b o falta p a r a os d o i s p s e u d ô n i m o s seguintes; esses nomes c o n s t i t u e m , p o r t a n t o , a e p i x e g e s e d a o b s e r v a ç ã o p r e cedente.
4 4 . I n f o r m a ç ã o d e b . Ta'an. 2 8 .
a
45.
Cf.
Esd
2,6;8,4;1Ú,30;
Ne
3,11;7,11;
46. Cf. E s d 2,15;8,6: N e 7.20,10.17.
4 7 . Hist. cccl. I I 2 3 , 4-18.
10,15.
vemos, o relato t a l m ú d i c o é exato. Segundo esse p a i n e l ,
o privilégio de trazer a lenha é u m a antiga perrogativa
que r e m o n t a à época da reorganização da c o m u n i d a d e judaica após o exilio de Babilonia; as familias privilegiadas
conservaram-na com tenacidade d u r a n t e séculos. T e m o s ,
p o r t a n t o , todos os motivos p a r a crer que essa lista conservou os nomes das familias patricias eminentes, cujo critério de o r d e m repousava em privilégios antiquíssimos.
Conforme m o s t r a m as entregas em espécie p a r a o
T e m p l o , conclui-se que essas famílias privilegiadas e r a m ,
p r i m i t i v a m e n t e , famílias de proprietários
agrícolas; d a í decorre o fato de, na época de Jesus, a n o b r e z a leiga compor-se especialmente de famílias abastadas. N o M i d r a x e , a
frase: " F u l a n o é rico; façamo-lo c o n s e l h e i r o " é a t r i b u í d a
aos funcionários r o m a n o s . C o m p r e e n d e m o s essa frase se
tivermos em mente os hábitos do p r o c u r a d o r . Era entre
eles, os " a n c i ã o s " do Sinédrio, que h a b i t u a l m e n t e os procuradores escolhiam os funcionários p a r a os impostos , os
" d e c a p r o t o s " . Encarregavam-se esses de repartir e n t r e os
cidadãos sujeitos ao fisco, o tributo imposto pelos romanos à Judéia; respondiam pelo p a g a m e n t o exato com seu
próprio d i n h e i r o . Para o c u p a r esse cargo dito "litúrgico"
de decaproto, era preciso ter consideráveis recursos,
antes de t u d o , bens imobiliários, c o m o acontecia no Egito.
Esse fato prova que os chefes das famílias patrícias, na
medida em que pertenciam ao Sinédrio, e r a m pessoas de
48
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52
5 3
48. b . Ta'an. 2 8 ; T o s . Ta'an. I V 5 (219, 2 4 ) ; j . Ta'an. I V 2 , 6 8
(não t r a d u z i d o cm 1 V / 1 , 183 q u e r e m e t e ao p a r . 111/2, 280.
49. Gn. R. 76, 5 s o b r e 32, 12 (_164 2 4 ) ; cf. a l é m de b . Gil. 3 7 :
" R a b H i s d a [f 309] dizia: 'Bulé, sao os ricos', pois está e s c r i t o [Lv
2 6 , 1 9 ] : ' Q u e b r a r e i a s o b e r b a d c vossa d u r e z a ' ; s e g u n d o a e x p l i c a ç ã o
de R a b José [ t 3 3 3 ] , isso designa os c o n s e l h e i r o s [büla'ót, v e r a este
respeito Bacher, Ag. Tann.,
I, 52, n. 6] de J u d e i a " . Nesse t e x t o ,
i g u a l m e n t e , os conselheiros são pessoas ricas.
50. B. /'. II 17, 1 § 405; arcontes e c o n s e l h e i r o s r e c o l h e m os imp o s t o s ; § 407: a r c o n t e s e patrícios são a p r e s e n t a d o s ao p r o c u r a d o r
t e n d o em vista a n o m e a ç ã o dos f u n c i o n á r i o s p a r a os i m p o s t o s .
5 1 . Ant. X X 8, 1 1 , § 194.
52. S o b r e o e n c a r g o dos d e c a p r o t o s : C. G . B r a n d i s art.
Dekáprotoi
cm Pauly-Wissoma, Real-Encydopàdie
I V ( 1 9 0 1 ) , col. 2417-2422; O . Seeck,
" D e c e m p r i m a t u n d D e k a p r o t i e " , c m Beiträge zur alten Geschichte,
ed.
de C. F . L e h m a n n , I, Leipzig, 1902; Mitteis-Wileken, 11, 218.
53. Este t e r m o designa u m cargo oficial ao q u a l se era o b r i g a d o
de m o d o legal.
a
a
38
b
a
excelentes condições financeiras. Foi o caso de José de Arimatéia e dois dos três influentes negociantes de Jerusalém
dos quais já falamos na p . 3 0 7 .
Uma passagem do M i d r a x e , cujo sentido é difícil de
captar, t a m b é m faz p a r t e deste contexto. Eis o que nos
conta. Os conselheiros de Jerusalém, com muita astúcia,
teriam obrigado certos ricos h a b i t a n t e s d e Bitter a aceitar
postos de conselheiros e, p a r a tanto, lhes teriam r o u b a d o
as propriedades . T a n t o q u a n t o esse relato exagerado o
d e m o n s t r a , os membros leigos d o Sinédrio em geral tiniram
fortuna, e sua função — é esse que parece ser o núcleo
histórico •— p o d i a exigir sacrifícios p e c u n i á r i o s .
M
Algumas declarações de Josefo nos informam sobre
a posição intelectual e religiosa da nobreza leiga. " S u a
d o u t r i n a é seguida a p e n a s p o r u m p e q u e n i n o n ú m e r o , mas
são os primeiros em d i g n i d a d e " , diz ele dos s a d u c e u s .
N o u t r a p a s s a g e m conta que os saduceus só conseguiam
atrair os ricos e não e r a m seguidos p e l o p o v o . O q u a d r o
histórico de Josefo corrobora, dc m a n e i r a convincente, essas indicações segundo as quais os m e m b r o s da n o b r e z a
leiga eram, em grande p a r t e , s a d u c e u s . Descreve, por
exemplo, os saduceus como os mais considerados e as
principais personagens d e n t r e as q u e c e r c a v a m o rei Alex a n d r e Janeu (103-76 a.C.) que t i n h a idéias saducéias .
A opinião ainda m u i t o difundida segundo a qual os
saduceus e r a m u m partido clerical q u e se recrutava, não
55
56
57
5S
54. Iam. R. 2, 5 sobre 2 , 2 (43" 1 9 ) ; 4, 22 s o b r e 4, IS ( 6 0 1 0 ) ;
j . Ta'an IV 8, 6 9 22 ( I V / 1 , 190).
55. Ant. X V I I I 1, 4, § 17.
56. Ant. X I I I 10, 6, § 298. Ver a i n d a ARN
rec. A c a p . 5, 2 6
12: "E eles [os s a d u c e u s c os boetusianos") serviam-se d i a r i a m e n t e d e
utensílios de p r a t a e o u r o " ( p o r q u e n e g a v a m a r e s s u r r e i ç ã o dos mortos e q u e r i a m , assim gozar o m a i s possível d o s b e n s da v i d a t e r r e n a ) .
É c e r t o q u e os p a r t i d á r i o s dos s a d u c e u s p e r t e n c i a m aos meios afort u n a d o s . L e m b r e m o - n o s , enfim, de q u e as influências helcnísticas se
d i s t i n g u e m n a teologia dos s a d u c e u s e no seu j u l g a m e n t o s o b r e a
v i d a ; isso t a m b é m indica os meios mais a f o r t u n a d o s , pois foram esses
os m a i s atingidos pela c u l t u r a helenística.
57. A bibliografia s o b r e os s a d u c e u s e n c o n t r a - s e mais a d i a n t e , no
c a p . I V c o n s a g r a d o aos fariseus. Citemos a q u i W e l l h a u s e n ,
Pharisaer;
S c h l a t t e r , Gesch.
Isr., 165-170; R. Lcszynsky, Die Sadáuziier,
Berlim,
1912.
58. Ant. X I I I 16, 2, § 4 1 1 ; B. /. I 5, 3 , § 114.
a
a
a
exclusiva, mas principalmente nos círculos d e sacerdotes
de alta classe, precisa ser corrigida. É b e m v e r d a d e q u e
os últimos asmoneus e as familias da aristocracia pontificia ilegítima, ao contrario da m u l t i d ã o dos sacerdotes, conservavam, e m g r a n d e p a r t e , idéias saducéias "; vemos, por
exemplo, João H i r c a n o (134-104 a . C ) , sumo sacerdote e
príncipe dos judeus q u e , no início de seu reinado m a n t i nha-se do lado dos fariseus e coligou-se a seguir aos saduceus ; assim A l e x a n d r e Janeu (103-76 a . C ) , sumo sacerdote e r e i ; assim, também, o sumo sacerdote S i m ã o , filho de Boetos (cerca de 22 a . C . ) ; assim, o sumo sacerdote José, c o g n o m i n a d o Caifás (18-37 d . C . ) ; assim A n a n ,
o jovem, filho de A n a n (62 d.C.) ; e assim ainda dois
sumos sacerdotes s a d u c e u s dos quais fala a t r a d i ç ã o rabínica, mas sem lhes mencionar os n o m e s ; podemos identificar u m deles c o m o sendo Ishmael ben Fiabi I I (até 6 1
d.C.) .
5
bD
6 1
ñ2
6 3
64
65
T a m b é m os chefes dos sacerdotes e r a m , em geral
sadticeus; ainda no tempo de Agripa I, seu tribunal p a r e ce ter proferido uma sentença segundo o direito saduceu .
6T
59. As m e d i d a s de p r e c a u ç ã o cm Yoma 1 5 ; IV I e Sukka
I V 9,
são explicadas de m a n e i r a exata p o r b . Yoma
1 9 : desconfíava-se q u e
o s s u m o s s a c e r d o t e s tivessem idéias s a d u c é i a s .
60. Ani. X I I I 10, 5-6, § 288ss; b . Ber. 2 9 .
6 1 . Ani. X I I I 13, 5, § 371s, c o m p a r a d o c o m b. Sukka
4 8 onde
o s u m o s a c e r d o t e c h a m a d o " u m certo s a d u c e u " é A l e x a n d r e ] a n e u .
62. Ver infra, n. 6 8 .
63. At 5,17 c h a m a os s a d u c e u s " t o d o o seu p a r t i d o " ( d o s u m o
s a c e r d o t e ) . Trata-se d e Caifás e n t ã o s u m o s a c e r d o t e (At 4 , 6 ) .
64. Ant. X X 9, 1, § 199.
65. T r a t a - s e : 1" de u m s u m o s a c e r d o t e s a d u c e u q u e , n o D i a d a s
expiações ofereceu o sacrifício dos perfumes s e g u n d o o rito s a d u c e u ,
b . Y orna 1 9 bar.; j . Yoma I 5, 3 9 45 ( I H / 2 , 1 7 0 ) : T o s . Yoma
I 8
(181, 6 ) ; 2" dc u m s u m o s a c e r d o t e s a d u c e u q u e q u e i m o u a n o v i l h a
v e r m e l h a , T o s . Para I I I 8 (632, 1 8 ) , e isso e m p r e s e n ç a d e R a b b a n
Y o b a n a n b e n Z a k k a i . R e s u l t a , pois, daí, q u e este s e g u n d o e v e n t o
n ã o p o d e ter a c o n t e c i d o m u i t o t e m p o a n t e s de 70 d.C. O r a , s e g u n d o
Para I I I 5, n o s é c u l o I d e n o s s a era, s o m e n t e dois s u m o s s a c e r d o t e s
p r e p a r a r a m u m a novilha v e r m e l h a : Elíonaios, filho d e K a n t e r a s (cerca
de 44 d.C.) e Ishmael, filho de Fiabi (até 61 d . C ) . Só p o d e , p o i s .
tralar-se de I s h m a e l .
h
a
b
b
a
66. E p r o v á v e l q u e d e n t r e os s a c e r d o t e s d e alto nível h o u v e s s e
t a m b é m a l g u n s fariseus (ver infra, p . 347, n o c a p í t u l o d e d i c a d o a o s
f a r i s e u s ) ; m a s não era de regra.
67. Ver supra. p. 246, n. 222. T a l v e z t a m b é m u m sacerdote sad u c e u em Lc 10,25-37.
Além do m a i s , é v e r d a d e q u e esses sacerdotes de nível
elevado e r a m os dirigentes dos s a d u c e u s ; os Atos dos Apóstolos designam os saduceus como p a r t i d á r i o s do sumo sacerdote (At 5,17; cf. 2 1 ) , e u m g r u p o de saduceus, talvez
mesmo o conjunto dos s a d u c e u s , chamavam-se "Boetus i a n o s " , segundo o s u m o sacerdote S i m ã o , filho de Boetos . N ã o significa, p o r é m , de m o d o algum, q u e os saduceus t e n h a m contato u n i c a m e n t e ou p e l o menos em maioria, c o m sacerdotes entre seus m e m b r o s .
Essa possibilidade já se acha excluída pela inexistência d e tal p r o n u n c i a m e n t o na apresentação dos saduceus
por Josefo; a distinção apresentada nos Atos dos apóstolos, entre os sacerdotes (de idéias saducéias) e os saduceus t o m o u o mesmo r u m o . É At 2 3 que m o s t r a a verd a d e i r a situação. C o m p a r e c e n d o d i a n t e do Sinédrio, P a u l o
sabe q u e a assembléia se divide em dois grupos, os saduceus e os fariseus. Ele declara: "Sou fariseu, filho de fariseus. É por causa de nossa esperança, a ressurreição dos
m o r t o s , que sou s u b m e t i d o a j u í z o " (At 23,6); essas palavras ligam-no ao grupo dos fariseus. N o dia seguinte, u m
complô fanático é a r m a d o contra a v i d a do Apóstolo e
o b t é m o acordo dos "chefes dos sacerdotes e dos a n c i ã o s "
(At 2 3 , 1 2 - 1 4 ) . Já que os fariseus a p r o v a m as atitudes de
Paulo, vemos que só p o d e tratar-se d o grupo saduceu do
Sinédrio.
68
ò9
70
Verificamos, p o r t a n t o , que os chefes dos sacerdotes,
a n o b r e z a sacerdotal e a nobreza leiga formam o partido
dos saduceus. As famílias patrícias acham-se, pois, em relação à nobreza sacerdotal, do m e s m o m o d o que os fariseus em face aos escribas. E m ambos os casos, os leigos
f o r m a m a g r a n d e massa dos p a r t i d á r i o s ; os " h o m e n s d a
68. A l g u m a s passagens p a r a l e l a s e m p r e g a m m u i t a s vezes u m p o r
o u t r o os t e r m o s s a d u c e u s e b o e t u s i a n o s . E m ARN
rec. A c a p . 5 2 6
4, rec. B c a p . 10, 2 6 3, a d i s t i n ç ã o e n t r e s a d u c e u s e b o e t u s i a n o s é
artificial.
69. T o s . Sukka
I I I 1 (195, 1 9 ) ; b . Sukka
4 3 ; T o s . Yoma
I 8
(181, 3 ) ; T o s . R. H. I 15 (210, 1 0 ) ; b . Shab. 1 0 8 ; b . Men. 6 5 ; ARN
rec. A c a p . 5, 2 6 II e passim;
Billerbeck, I I , 849s e 599 a.
70. At, 4 , 1 . — U m a d i s t i n ç ã o c o r r e s p o n d e n t e e n t r e u m s u m o sac e r d o t e e u m s a d u c e u e n c o n t r a - s e em R o s . Nidda
V 3 (645, 2 4 ) ; b .
Nidda. 3 3 , Q u a n t o ao t e x t o p r i m i i t v o d a p a s s a g e m ( x e q u e á r a b e em
lugar d e s a d u c e u ) , v e r supra, p . 216, n . 5 1 .
a
b
b
a
a
b
a
religião" — clérigos entre os saduceus, teólogos entre os
fariseus — forneciam os chefes.
Os saduceus c o n s u m i a m um grupo o r g a n i z a d o ; essa
obervação é especialmente elucidativa p a r a se conhecer a
idéia q u e as famílias patrícias faziam de si mesmas c o m o
detentoras da tradição. O fato sobressai por ser restrito
o n ú m e r o dos saduceus, como conclui Josefo, e de possuírem u m a liülaka (tradição) que r e p o u s a v a n u m a exegese
da Escritura, que os membros deviam seguir como diretriz
de vida.
O caráter exclusivo do grupo dos saduceus ressalta
ainda mais claramente q u a n d o Josefo os aproxima dos fariseus e dos essênios. Conta ele, em sua Autobiografia,
de
que m o d o p r a t i c o u , sucessivamente, as observancias d o s
fariseus, dos saduceus e dos essênios, p a r a adquirir u m conhecimento prático dessas três tendências, e, finalmente,
agregou-se aos f a r i s e u s . Sabemos, com certeza, q u e os
fariseus e os essênios constituíam c o m u n i d a d e s organizadas, com condições para admitir novos m e m b r o s e com observancias firmemente estabelecidas. Conclui-se, por conseguinte, que o mesmo acontecia q u a n t o aos saduceus. N ã o
era, pois, q u a l q u e r que podia penetrar no seu círculo.
71
72
71
A "teologia" saducéia é t a m b é m esclarecedora e faz
conhecer o conservadorismo institucional da nobreza leiga.
Atinha-se estritamente à letra da T o r á , p a r t i c u l a r m e n t e
às suas prescrições sobre o culto e o sacerdócio; via-se,
pois, em nítida oposição com os fariseus e sua halaka o r a l
q u e declaravam obrigatórias, m e s m o p a r a o círculo de leigos piedosos, as prescrições acerca da p u r e z a relativa aos
sacerdotes \ Os saduceus consignaram essa teologia n u m a
halaka perfeitamente elaborada e exegeticamente funda74
7
7 1 . S o b r e este p o n t o B . D . E e t d m a n s , Farizeèn
cn Sadduceên.
em
Theologish
Tijdschriji
48 ( 1 9 1 4 ) , 1-26 e 223-230 (opondo-se a W e l Ihausen, Pharisaer)
viu a c e r t a d a m e n t e , se b e m q u e certos d e t a l h e s de
sua exposição sejam, cies t a m b é m , c o n t e s t á v e i s . É falso, p o r e x e m p l o ,
c h a m a r os lariseus e os s a d u c e u s de " s e i t a s " , pois esses dois g r u p o s
não rejeitaram a c o m u n i d a d e do p o v o ; t a m b é m é e r r ô n e o c o n t e s t a r o
c a r á t e r aristocrático dos s a d u c e u s .
72. Ant. X V I I I 1, 4 § 17.
73. Vita 2, § lOss.
74. R. Leszynsky. Die Sadduzaer,
Berlim, 1912, deu-lhe a p r o v a .
75. Ver infra,
p. 357, no c a p í t u l o d e d i c a d o aos
fariseus.
d a . T i n h a m , além do mais, seu p r ó p r i o código p e n a l
do qual inúmeros dados dão a conhecer a extrema severid a d e . Já tivemos ocasião de e n c o n t r a r
u m tribunal saduceu de chefes de sacerdotes q u e se referem muitas vezes
a sentenças proferidas segundo o direito saduceu . Esses
fatos conferem total garantia sobre a existência de escribas
saduceus, e n u n c a deveriam ser contestados, pois, as fontes m e n c i o n a m expressamente a sua e x i s t ê n c i a . Temos
provas ainda de que as famílias patrícias saducéias formav a m u m g r u p o g r a n d e m e n t e o r g a n i z a d o , c o m u m a tradição
teológica e u m a d o u t r i n a e l a b o r a d a ; apegavam-se estritamente ao texto da Escritura, o que m o s t r a o caráter conservador desses círculos.
7 6
7 7
78
7y
ao
81
G r a ç a s às suas relações com a p o d e r o s a n o b r e z a sacerdotal, as ricas famílias patrícias r e p r e s e n t a v a m u m fator
m u i t o influente n a vida da n a ç ã o . Sob os asmoneus em
p a r t i c u l a r , até a vinda da r a i n h a A l e x a n d r a (76 a . O ) ,
t i n h a m nas m ã o s o poderio político. Com os sacerdotes de alta classe constituíam o Sinédrio; por conseguinte, possuíam, ao l a d o do s o b e r a n o , o p o d e r judiciário e a a u t o r i d a d e g o v e r n a m e n t a l . O declínio de seu poder d a t a da época da r a i n h a A l e x a n d r a ; sob seu reino, os
fariseus ingressaram no Sinédrio e a m u l t i d ã o chegou-se
cada vez mais a eles. O s saduceus l u t a r a m com H e r o d e s ,
o G r a n d e , de m o d o especial d u r a n t e o longo pontificado
do sumo sacerdote Simão (22-5 a . C ) , filho de Boetos de
q u e m a d v é m o cognome Boetusianos; isso permitiu-lhes, ao
76.Cf. M t 16,12: "a d o u t r i n a dos s a d u c e u s " .
77. Megillat
ía'anit
10, ao 14 t a m m u z (ed. H . Lichtenstein em
HUCA 8-9 (1931-1932), 319, n. 1 2 ) ; ver os escólios e m Megillat
ta'anit
10 (ed. L i c h t e n s t e i n , ibid., 3 3 1 , n . 12.
78. P s . Salomon
I V 2; Ant.
X X , 9, 1, § 199; Billerbeck, I V ,
349-352.
79. P p . 245s.
80. Ant. X X 9, 1, § 199; b . Sanh. 5 2 .
8 1 . Ant. XV11I 1, 4, § 16. — Cf. a i n d a A t 2 3 , 9 : " a l g u n s escribas
d o p a r t i d o dos f a r i s e u s " ; M c 2,16 p a r . Lc 5,30: "escribas dos fariseus".
Essas expressões fazem p e n s a r q u e h a v i a , de m o d o inverso, escribas
s a d u c e u s . S o b r e esses ú l t i m o s v e r Billerbeck, I, 250; I V , 343-352;
Meyer, Ursprung,
I I , 286ss; S c h ü r e r , I I , 380s, 457; G . F. M o o r e em
HThR
17 ( 1 9 2 4 ) , 350s; L. Baeck, Die Pharisaer,
e m 44. Bericht
der
Hochschule
für die Wissenschaft
des Judeníums
in Berlim,
Berlim,
1927, 70, n . 87.
b
que parece, cerrar suas fileiras, mas n ã o p u d e r a m conter
a evolução. O declínio da importância política dos sumos
sacerdotes na primeira m e t a d e d o p r i m e i r o século de nossa
era teve como conseqüência o declínio da n o b r e z a leiga,
e os fariseus, apoiando-se no grande n ú m e r o de seus partidários entre o p o v o , souberam fazer prevalecer c a d a vez
mais fortemente a sua v o n t a d e no Sinédrio .
A i n d a u m a vez, a sorte pareceu colocar a n o b r e z a à
testa do p o v o : em 66 d . C , q u a n d o estourou a revolta contra os r o m a n o s , os jovens nobres t o m a r a m entre as mãos
o destino d o p o v o . Mas foi d e p o u c a d u r a ç ã o . D e s d e 6 7 ,
os zelotas se apossaram do c o m a n d o ; o declínio do E s t a d o
determinou a decadência da nobreza leiga e da corrente
saducéia resultante da u n i ã o entre a n o b r e z a sacerdotal e
a nobreza leiga. A nova e poderosa classe superior, a dos
escribas, tinha e m todos os sentidos s u p e r a d o a antiga classe da nobreza sacerdotal e leiga fundada no privilégio de
origem.
CAPÍTULO
III
OS ESCRIBAS
sz
P a r a l e l a m e n t e à antiga classe superior constituída pela
n o b r e z a hereditária do clero e do laicato, formou-se nos
últimos séculos antes de nossa era, u m a nova classe superior: a dos escribas. D u r a n t e o período q u e e s t u d a m o s ,
século I de nossa era até a destruição do T e m p l o , a luta
pela supremacia, entre a antiga e a nova classe superior,
atingiu o seu paroxismo e o p r a t o da b a l a n ç a pendia a
pouco e pouco a favor da nova classe. Como tal se d e u ?
E m que círculos essa nova classe superior se r e c r u t o u ? E m
que força e prestígio essas pessoas r e p o u s a v a m p a r a ousar e m competir com a n o b r e z a h e r e d i t á r i a instalada desde
épocas r e m o t a s ? São essas as perguntas que formulamos
agora.
P a r a responder a elas é preciso, desde logo, examin a r a c o r p o r a ç ã o dos escribas em J e r u s a l é m S e procurarmos a origem desses escribas, u m a i m a g e m variegada apresenta-se a n ó s . E m Jerusalém até 70 d . C , p o d e m o s constatar a existência de g r a n d e n ú m e r o de sacerdotes com
formação de escribas .
Entre eles encontram-se os sacerdotes da alta classe
como o c o m a n d a n t e do T e m p l o R. H a n a n i a ; o chefe dos
sacerdotes, Simão , o u t r o Simão, filho de u m c o m a n d a n t e
do T e m p l o , Ishmael b e n Elisha, n e t o de u m sumo sa¬
2
3
4
3
I. É aos escribas e fariseus, e n q u a n t o fatores e c o n ô m i c o s , q u e se
a p l i c a a e x p o s i ç ã o cie M. W e b e r , Religionssoziologie,
Judentum,
82. Ant,
X V I I I I, 4, § 17
Nachtrag: Die
III:
P h a r i s ä e r . E. L o h m e y e r , Soziale
Das
Fragen
antike
im
Urchristentum,
Leipzig, 1921, segue-o a m p l a m e n t e .
2. G e n e r a l i d a d e s supra, p . 282s e infra, p . 330, n. 93.
3. P. A. I I I e p a s s i m .
4. Vita 39, § 197.
5. Referências supra, p . 278, n . 366. O título de r a b i só se enc o n t r a n u m a p a r t e dos t e s t e m u n h o s .
cerdote em exercício ; R. Sadoc \ sacerdote n o b r e o r i u n d o
de u m a família pontifícia e seu filho R. E l e a z a r ; o escritor Flávio fosefo pertencente à primeira seção hebdom a d á r i a , a de Yehoyarib .
6
fi
9
Ao lado dos membros da aristocracia sacerdotal, simples sacerdotes u s a v a m a túnica dos escribas: o sacerdote
R. Yosé ben Yoezer, extremamente consciencioso nas questões de pureza ; os sacerdotes em cujas famílias se transmitia por h e r a n ç a o posto de chefe da sinagoga helenística de J e r u s a l é m : o sacerdote R. Yosé, discípulo de
Y o h a n a n b e n Z a k k a i ; R. Eliézer ben H i r c a n o s . sacerdote de alta cultura que vivia em Jerusalém antes da destruição do T e m p l o ' ; o sacerdote Yoezer e seu pai
o
sacerdote R. Tarfon que, em sua j u v e n t u d e participou ainda do culto d o T e m p l o ; n ã o sabemos se os sacerdotes
Zacaria ben Qebutal e Shimeon, o Virtuoso , foram ordenados escribas, pois os textos não lhes d ã o o título de
rabi.
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11
, 2
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,6
i7
1S
r o s ; rabi Y o s h u a b e n H a n a n y a , levita cantor q u e é fabricante de pregos ; o levita profeta e doutor das primeiras c o m u n i d a d e s cristãs (At 1 3 4 ) ; r a b i Eliézer b e n Y a c o b ,
sobrinho de u m levita . H a v i a a i n d a , como v i m o s , os
escribas procedentes dos círculos de famílias patriarcais
que e l a b o r a r a m a tradição saducéia.
V ê m em seguida — e é a g r a n d e massa dos escribas — pessoas de todas as outras c a m a d a s do p o v o ; esses
outros escribas de Jerusalém constituem, segundo as suas
profissões, u m q u a d r o v a r i a d o e multicolor. Citemos Yoezer,
c o m a n d a n t e da fortaleza do T e m p l o sob Agripa I, u m sham a í t a ; aparecem diversos m e r c a d o r e s , entre os quais
u m m e r c a d o r de v i n h o ; artesãos d e diferentes ofícios:
u m carpinteiro , u m c a r d a d o r de l i n h o , u m fabricante
de t e n d a s , e há mesmo u m operário, Hilel, posteriorm e n t e célebre d o u t o r . A maioria desses plebeus — e em
g r a n d e escala — pertencia às c a m a d a s n ã o abastadas da
p o p u l a ç ã o . Entre os escribas de Jerusalém, e n c o n t r a m o s ,
ao lado de pessoas de família antiga como P a u l o , até
m e s m o h o m e n s sem descendência israelita — a continuação de nossa pesquisa m o s t r a r á o q u e isso q u e r dizer —
assim como Shemaya e A b t a l i o n , os célebres doutores dos
m e a d o s do século I antes de nossa e r a q u e , conforme dizem, descendiam de p r o s é l i t o s . Dois outros mestres de
Jerusalém parecem t a m b é m ter sangue pagão, pelo menos
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Entre os escribas q u e viviam cm Jerusalém antes da
destruição d o T e m p l o , encontramos a i n d a m e m b r o s do
baixo clero : Y o h a n a n ben G u d g e d a , chefe dos porteií9
6. E m T o s . Halla I 10 (98, 10) ele j u r a p e l a s v e s t e s d e s e u ancestral Vabba).
N ã o p o d e ser o p a i p o r q u e , n o século I de nossa era,
n ã o h a v i a s u m o s a c e r d o t e de n o m e Elisha; trata-se, c e r t a m e n t e , d o
a v ô I s h m a e l b e n P h i a b i II (até 61 d . C ) , v e r supra, p . 268, n . 322.
Foi em J e r u s a l é m , antes dc 70, q u e I s h m a e l b e n Elisha c o m e ç o u a
receber as bases de sua c u l t u r a bíblica, a n t e s q u e os r o m a n o s o levassem, a i n d a a d o l e s c e n t e , ao cativeiro.
7. Ver supra, p . 2 6 5 , n. 300.
8. V e r supra, p . 278, n. 367, p . 283, n. 387.
9 . Vita I, § Iss.
10. Hag. II 7.
11. V e r supra, 95.
12. P. A. II 8 e passim.
13. D e p r e e n d e - s e de j . Soía I I I 4, 1 9 3ss ( I V / 2 , 261) q u e ele
era s a c e r d o t e .
14. Vila 39, § 197: o Lózoros
( v a r i a n t e Lázaros).
A forma e x a t a
d o nome e n c o n t r a - s e na p a s s a g e m p a r a l e l a B. j . II 2 1 , 7, § 6 2 8 : lóesdros = Yoezer.
15.
B. I II 2 1 , 7 , § 6 2 8 .
16. Ele era s a c e r d o t e . T o s . Neg. VII1 2 (628, 9 ) .
17. Yoma
I 6.
18. T o s . Kel. B. Q. I 6 (569, 2 2 ) .
19. G e n e r a l i d a d e s supra, p . 2 9 1 .
a
3Í
20. Q u a n t o à sua função v e r supra, p p . 187s, 290. E r a r a b i s e g u n d o
Y eh. X I V 3 ; Git. V 5; b . 'Ar. í l " ; b . Gil. 5 5 . S e g u n d o b . Hor. 1 0 - ,
teria c o n h e c i m e n t o s m a t e m á t i c o s f a b u l o s o s . M a s o p a r a l e l o Sifra D t
1, 16, § 16 (30d 120, 35) fala, em seu lugar, de R. Y o h a n a n b e n
N u r i , o q u e é c e r t a m e n t e e x a t o ; v e r supra, p . 234, n . 158.
2 1 . b . 'Ar. I I ; j . Ber. I V 1, l
19 (I, 7 9 ) ; b . Ber. 2 8 .
22. Mid. I 2.
2 3 . Supra, p . 3 1 5 , n. 8 1 .
2 4 . 'Orla II 12; v e r supra, p . 287s.
25. Supra, p. 1 6 1 : R a b b a n Y o h a n a n b e n Z a k k a i .
26. Ibid. A b b a S h a u l , filho d a b a t a n é i a .
27. Ibid.:
Shammai.
28. S h i m e o n b e n S h a t a h , j . B. M. I I 4, 8 18 ( V I / 1 , 9 3 ) .
2 9 . P a u l o : A t 18,3; cf. supra, p. 10.
30. V e r supra, 1 6 1 .
3 1 . V e r supra, 160-166.
32. Fl 3,5; R m 11,1.
3 3 . b . Yoma
7 1 ; b . Git. 5 7 . Mais t a r d e , R. A q i b a t a m b é m foi
c o n s i d e r a d o d e s c e n d e n t e d e p r o s é l i t o ; é falso.
a
b
á
a
C
b
b
a
b
do lado m a t e r n o : R. Y o h a n a n , "filho da h a u r a n i t a " (cerca
de 40 d . C . ) e A b b a Shaul, "filho da b a t a n é i a " (cerca
d e 60 d . C . ) . Esses cognomes estranhos só p o d e m ser
explicados da seguinte m a n e i r a : suas mães e r a m respectiv a m e n t e prosélitas h a u r a n i t a s e batanéias (ver infra, p .
4 2 8 ) . É claro, p o r t a n t o , que se todos esses escribas representavam u m papel importante, sua influência, porém, não
se m e d i a pela nobreza nem pela sua profissão.
O saber é o único e exclusivo fator do poder dos escribas. Q u e m desejasse agregar-se à corporação dos escribas pela o r d e n a ç ã o , seguia u m ciclo regular de estudos
de alguns anos. O jovem israelita, desejoso de consagrar
sua vida à sábia atividade de escriba começava o ciclo
de sua formação como discípulo (Iatmid). Diversos exemplos m o s t r a m que o ensino começava, h a b i t u a l m e n t e , desde tenra idade. É o que nos conta Josefo, e m b o r a n ã o levemos em conta boa parte de seu elogio pessoal por fazê¬
-lo com prodigalidade, na sua Autobiografia ;
desde os
catorze anos, d o m i n a v a p l e n a m e n t e a exegese da Lei. É o
q u e mostra t a m b é m o retrato relativo a R. íshmael ben
Elisha que já possuía u m sólido conhecimento da Escritura, q u a n d o os r o m a n o s o levaram, ainda r a p a z , p a r a o
cativeiro .
3 4
35
36
37
O aluno tinha convivência pessoal com seu mestre e
ouvia seus ensinamentos. Q u a n d o tivesse a p r e n d i d o a dominar toda a matéria tradicional e o método h a l a q u i t a a
ponto de p o d e r resolver por si m e s m o questões de legislação religiosa e ritual, tornava-se " d o u t o r não o r d e n a d o "
(talmid hakam).
Mas somente q u a n d o atingisse a i d a d e
canónica p a r a a o r d e n a ç ã o , fixada em 40 anos, segundo
u m a informação pós-tanaíta , é que p o d i a , pela o r d e n a ç ã o
(s mikak) ,
ser recebido na c o r p o r a ç ã o dos d o u t o r e s ,
3S
e
39
40
como m e m b r o legítimo " d o u t o r o r d e n a d o " (hakam).
Estava e n t ã o a u t o r i z a d o a resolver por si m e s m o as questões
de legislação religiosa e r i t u a l , a ser juiz em processos
criminais e d a r pareceres nos processos civis, seja como
m e m b r o de u m a corte de justiça, seja i n d i v i d u a l m e n t e .
Passava a merecer o título de rabi, pois, tal título já
era de uso para os escribas do t e m p o de Jesus . Aliás,
m e s m o outros, os que não h a v i a m seguido o ciclo regular
de f o r m a ç ã o , c u l m i n a n d o n a o r d e n a ç ã o , e r a m t a m b é m
c h a m a d o s rabi; Jesus d e N a z a r é é um e x e m p l o . O fato se
explica: esse título, no início do século I de nossa era,
passava p o r u m a e v o l u ç ã o ; inicialmente título honorífico
geral, iria ser exclusivamente r e s e r v a d o aos escribas. De
todo m o d o , u m h o m e m d e s p r o v i d o d a f o r m a ç ã o rabínica
completa passava por grámmata
mè memathekos
(Jo 7,
1 5 ) ; n ã o desfrutava dos privilégios d e u m d o u t o r o r d e n a d o .
41
42
43
44
Somente os doutores o r d e n a d o s t r a n s m i t i a m e criavam
a tradição d e r i v a d a d a T o r a q u e , s e g u n d o o e n s i n a m e n t o
dos fariseus recebido pela massa do p o v o , colocava-se em
pé d e igualdade c o m a Lei escrita
até m e s m o acima
d e l a . Suas decisões t i n h a m o poder de "ligar" e "deslig a r " (cf. Mt 1 6 , 1 9 ; 18,18) p a r a sempre os j u d e u s do mundo inteiro. Àquele q u e estudara, que freqüentara círculos
acadêmicos, abriam-se por conseguinte, como ao detentor
deste saber e desse p o d e r i o , as posições-chave do direito,
da administração e do ensino. "Profissões a c a d ê m i c a s " então surgiram; os escribas as exerciam ao lado de seu magistério didático e de sua profissão civil.
46
C o m exceção dos chefes dos sacerdotes e dos membros das famílias patriarcais, o escriba era o único a poder ingressar n a assembléia suprema, o Sinédrio; o partido fariseu do Sinédrio compunha-se inteiramente de es40. Cf. as " g u i l d a s dos e s c r i b a s " ( I C r 2.55 misp hôt),
"a associaç ã o dos e s c r i b a s " ( I M c 7,12 sunagogé)
e
passim.
4 1 . b . Sanh. 5 .
42. Ibiã. 3 .
4 3 . Ibid. 4 b a r .
4 4 . Mt 23,7-8. G . D a l m a n , Die Worte fesu I, 2? ed., Leipzig, 1930
( r e i m p r e s s o D a r m s t a d t , 1 9 6 5 ) , 274, e Jesu-feschua,
Leipzig, 1922, 12.
45. BiJlerbcck. 1, 81s.
e
34. Sukka
II 7 e
passim.
35. b . Besa 2 9 e passim. T a l v e z N a h u m , o M e d o (cerca d e 50
d . C ) , Shab. II 1 e passim, p e r t e n c e m t a m b é m a essa categoria.
36. Vita 2, § 9.
37. b . Git. 5 8 b a r . e p a r . S o b r e este p o n t o ver Bacher, Ag.
Tann.,
I, 166, n, 1. '
38. b . Sota 2 2 .
39. O c o s t u m e c o r r e s p o n d e n t e d o c r i s t i a n i s m o p r i m i t i v o (At 6,6 e
passim)
g a r a n t e i vetustez do r i t o .
a
a
b
a
a
b
46. ibid.,
11 - J e r u s a l é m
691ss.
no t e m p o de
Jesus
cribas . Esse Sinédrio não era apenas u m a assembléia gov e r n a m e n t a l ; constituía, e m p r i m e i r o lugar, u m a c o r t e d e
j u s t i ç a . O r a , o conhecimento da exegese escríturística
era obrigatório nas sentenças judiciárias. Acrescentemos a
g r a n d e influência q u e o g r u p o fariseu do Sinédrio conseguira ter em sua atividade administrativa. Essas condições
permitem-nos avaliar o privilégio dos escribas q u e os autorizava a fazer parte dos 7 1 . É assim q u e e n c o n t r a m o s
no Sinédrio os principais escribas: Shemaya , N i c o d e m o s
(fo 3 , 1 ; 7 , 5 0 ) , R a b b a n Gamaliel I (At 5,34) e seu filho
S h i m e o n . O u t r o s escribas eram m e m b r o s de t r i b u n a i s :
Yohanan ben Z a k k a i
e P a u l o (At 26,10-11) participar a m , como juízes, em processos criminais; três o u t r o s escribas formavam u m tribunal civil em Jerusalém ,
47
4S
49
5tl
5 1
52
Q u a n d o u m a c o m u n i d a d e devia escolher e n t r e u m
leigo e u m escriba p a r a o posto d e ancião da c o m u n i d a d e ,
de arqui-sinagogo ou juiz, supõe-se q u e , de m o d o geral,
dava preferência ao escriba. Significa que u m g r a n d e núm e r o de postos i m p o r t a n t e s , ocupados antigamente por sacerdotes e leigos de alta c l a s s e " , e r a m , n o século I d e
nossa era, passados totalmente ou em g r a n d e parte p a r a
as mãos desses doutores.
O q u e vimos a i n d a n ã o levou, p o r é m , a concluir o
motivo decisivo da influência d o m i n a n t e dos escritas sob r e o p o v o . O fator definitivo dessa influência n ã o consistia e m os escribas serem os senhores da totalidade da
tradição no domínio da legislação religiosa e p o d e r e m , por
47. N o N o v o T e s t a m e n t o , o g r u p o farisaico d o S i n é d r i o é geralm e n t e d e s i g n a d o c o m o "os f a r i s e u s " ou "os e s c r i b a s " (cf. p o r e x . Mt
21,45: " o s s u m o s s a c e r d o t e s e os f a r i s e u s " c o m o p a r a l e l o Lc 2 0 , 1 9 :
"os escribas c os s u m o s s a c e r d o t e s " ) ; e m c o n t r a p a r t i d a , j a m a i s lariseus c escribas a p a r e c e m u n s ao l a d o dos o u t r o s c o m o g r u p o s do
Sinédrio.
48. Cf. M t 26,57-66; At 5,34-40; Ani. X I V 9,4, § 172 e a a b u n dante documentação rabínica.
49. Ani. X I V 9, 4, § 172.
50. Vita 38, § 190: c o m p a r a r c o m B. } . II 2 1 , 7, § 627.
5 1 . Sanh.
V 2.
52. Kct. X I I I l s s ; b . B. Q. 5 8 .
53. S a c e r d o t e s c o m o juízes, a n t e s e d e p o i s do exílio: D t 17,9-13;
21.5; Ez 44.24. S a c e r d o t e s q u e e n s i n a m : D t 33,10; Jr 18.18; Ml 2,7:
Eclo 45,17. Levitas c o m o juízes: l C r 23,4;26,29. S a c e r d o t e s levitas e
chefes de famílias c o m o j u í z e s : 2Cr 19,5-11, ver s u p r a , p . 304.
b
esse c o n h e c i m e n t o , atingir os postos-chave; consistia, sim,
no fato, m u i t o pouco n o t a d o , de serem p o r t a d o r e s de u m a
ciência secreta, a tradição esotérica
.
" N ã o se deve explicar p u b l i c a m e n t e as leis sobre o
incesto diante de três auditores, n e m a história da criação
do m u n d o diante de dois, n e m a visão do carro de Ezequiel d i a n t e de u m só, a menos que ele seja sábio e criterioso. Para q u e m especula q u a t r o coisas, melhor fora
não ter vindo ao m u n d o [isto é, p r i m e i r a m e n t e ] o q u e é
do Alto, [em segundo lugar] o que é da terra, [em terceiro lugar] o que existia antes, [em q u a r t o lugar] o q u e
será d e p o i s " . O e n s i n a m e n t o esotérico, e m sentido estrito, tinha, pois, como objeto, conforme muitos outros
testemunhos o d e m o n s t r a m t a m b é m , os ensinamentos mais
secretos e ocultos sobre o ser divino (a visão do c a r r o ) —
sem dúvida o nome divino sagrado, d o t a d o de u m a virtude
mágica dele fazia parte igualmente — e os segredos das
maravilhas da criação . As conversações e r a m particulares, entre mestre e discípulo e v e r s a v a m sobre teosofia e
cosmogonia, tais como foram consignadas por escrito no
primeiro capítulo do livro de Ezequiel e do Gênesis. Falava-se em tom baixo e ao a b o r d a r a sacrossanta visão do
carro, c o b r i a m ainda a c a b e ç a
p o r temor reverenciai
diante do segredo do ser divino.
54
s5
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5 7
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60
O final do texto que acaba de ser citado poderia ser
explicado por u m a polêmica antignóstica. Esse final vai
mais longe ainda, i n t e r d i t a n d o q u a l q u e r especulação 1)
sobre a topografia cósmica com suas afirmações relativas
ao m u n d o celeste e o s u b t e r r â n e o , 2) sobre a eternidade,
54. Q u a n t o à t r a d i ç ã o esotérica n o b a i x o j u d a i s m o e n o cristian i s m o , v e r m i n h a e x p o s i ç ã o d e s e n v o l v i d a e m Die
Abendmahlsworte
Jesu, 4- ed., G ò t t i n g e n , 1967, 118-130. A e x p o s i ç ã o q u e segue a p e n a s
p o d e e s b o ç a r o essencial.
55. T a l m u d e de J e r u s a l é m , V e n e z a , 1523, e m s . de C a m b r i d g e :
ratüy. A lição ra'üy ê u m a c o r r e ç ã o , Billerbeck, I, 989, n. 1.
56. Hag. II 1; T o s . H a g , II 1 (233, 24) e I I 7 (234, 2 2 ) .
57. Ma'aseh
merkabah,
Ez 1 e 10.
58. I Enoc L X I X 14-25: efeitos m a r a v i l h o s o s d o n o m e s a g r a d o
p e l o q u a l D e u s criou o m u n d o , e revelação do segredo aos h o m e n s .
A b u n d a n t e d o c u m e n t a ç ã o e m Billerbeck, 11, 302-333, ver a i n d a m e u
Golgolha,
Leipzig, 1926, 5 1 .
59. Ma'aseh
b resit, G n 1.
60. b . Yeb.
6 .
s
b
antes d a criação d o m u n d o , e sobre os fins ú l t i m o s . N a
v e r d a d e , o apocalíptico, tal como os escritos pseudepigráficos do baixo judaísmo nô-lo conservaram, c o m suas descrições dos acontecimentos escatológicos e da topografia
cósmica do m u n d o celeste e s u b t e r r â n e o , fazia p a r t e d a
tradição esotérica dos escribas. Podemos concebê-lo p e l o
fato de, nesses escritos, encontrar-se de maneira repetida
u m a descrição d a visão sacrossanta do carro de E z e q u i e l
e do relato da c r i a ç ã o . Mas não faltam t e s t e m u n h a s
diretas.
6 1
62
63
O 4° livro de Esdras termina com a o r d e m d a d a
ao Pseudo-Esdras d e publicar os 2 4 livros precedentem e n t e redigidos p o r ele, os 24 escritos canónicos do Antigo T e s t a m e n t o , " p a r a aqueles que são dignos e p a r a aqueles q u e n ã o são dignos de os l e r " . Mas o texto contin u a : " Q u a n t o aos 70 últimos [ l i v r o s ] , tu os g u a r d a r á s
e os darás [somente] aos sábios de teu p o v o , pois, esses
livros fazem correr a fonte da inteligência, o jato d a sab e d o r i a e fluir o rio d a ciência". Trata-se dos escritos esotéricos apocalípticos aos quais a massa do p o v o n ã o deve
ter acesso. São inspirados como livros do cânone, mas
superam-nos em valor e santidade.
M
6 3
O s escritos apocalípticos d o j u d a í s m o t a r d i o contin h a m , pois, os ensinamentos esotéricos dos escribas; o conhecimento desse fato permite descobrir, de i m e d i a t o , a
extensão e o valor q u e se lhes atribuía. O s ensinamentos
esotéricos não são ensinamentos teológicos isolados, m a s
grandes sistemas teológicos, grandes construções doutrinais
cujo conteúdo é atribuído à inspiração divina.
Estamos agora e m condições d e fazer a distinção, n a
tradição rabínica, entre as matérias esotéricas e as m a t é 61. S o b r e a reserva da literatura t a l m ú d i c a n a d e s c r i ç ã o d o p a r a í so celeste e d a felicidade de seus h a b i t a n t e s , ver Billcrbeck, I V , 1146.
62. I Enoc X I V 9ss. L X X I 5ss; 2 Enoc
X X - X X I Í . O texto do
livro h e b r a i c o d e E n o c e d i t a d o p o r H . O d e b e r g , 3 Enoch or the
Hebrew
Book oj Enoch, C a m b r i d g e , 1928, c o m e ç a q u a n d o D e u s o l e v o u d a
t e r r a ( G n 5,24) e c o n t i n u a : " R a b i I s h m a e l diz: Q u a n d o subi às alt u r a s p a r a c o n t e m p l a r a visão d o c a r r o . . . " { O d e b e r g , 3 ) .
63. Jubileus
II 1,22; 1 Enoc L I X 16-25; 4 E s d . V I 38-56.
64. 4 Esd. X I V 4 5 .
65. 4 Esd. X I V 45-46. Q u a n t o ao fato d e m a n t e r secretos os esc r i t o s apocalípticos, v e r t a m b é m Assunção
de Moisés
I 17; Tesl.
de
Salomão
rec. C, XIII
13s (ed. C. C. M a C o w n , Leipzig, 1922, 8 7 ) , e
s o b r e esse p o n t o , m e u Golgotha,
Leipzig, 1926, 5 1 , n . 4.
rias exotéricas. Todos os e n s i n a m e n t o s da literatura apocalíptica dos escritos pseudepigráficos, estranhos à tradição
t a l m ú d i c a ou que nela só figuram e s p o r a d i c a m e n t e , pert e n c e m ao e n s i n a m e n t o esotérico; assim, por e x e m p l o , o
e n s i n a m e n t o sobre o Salvador, bar nasa ("Filho do hom e m " ) ; esse fato é de suma i m p o r t â n c i a p a r a compreender a mensagem de Jesus. É o c o n h e c i m e n t o do caráter
esotérico do apocalipse q u e permite, antes de t u d o , explicar o liame orgânico que existe entre a literatura apocalíptica e a literatura talmúdica; observemo-lo à guisa d e
apêndice.
Afirmações como as de Bousset, segundo q u e m a literatura apocalíptica c o n t i n h a a religião do p o v o , e a literatura talmúdica a teologia dos escribas, p r o v o c a m a mais
completa confusão .
Alguns ensinamentos esotéricos de o r d e m exegético-jurídica juntam-se aos ensinamentos esotéricos teosóficos,
cosmogónicos e apocalípticos. Alguns foram mantidos ocultos d a d o a sua santidade; é exato especialmente q u a n t o
aos "fundamentos da T o r á " , isto é, as razões q u e levaram
Deus a estabelecer as prescrições legais p a r t i c u l a r e s ;
D e u s fez saber, através do silêncio da Escritura sobre esses " f u n d a m e n t o s da T o r á " , que era v o n t a d e sua deixar
a g r a n d e m u l t i d ã o no desconhecimento das razões pelas
quais ele estabelecera exigências legais particulares.
O u t r o s ensinamentos particulares de o r d e m exegético-jurídica não foram divulgados ao p o v o por razões pedagógicas, a fim de evitar m a u uso deles. Assim se explica a
prescrição m e n c i o n a d a no início deste relato , segundo o
q u a l só se p o d e m explicar as leis sobre o incesto diante
66
67
6S
66. W . Bousset, Die Religion
des Judentums
in
späthellenislischen
Zeitalter,
V ed., T ü b i n g e n , 1902; 3? ed. p o r H . G r e s s m a n n , T ü b i n g e n ,
1926 ( r e i m p r e s s o em 1 9 6 6 ) . C o n t r a o c o n c e i t o de Bousset e de Gressm a n n ver, e n t r e o u t r o s , G . Kittel, Die Probleme
des palästinischen
und
das Urchristentum,
S t u t t g a r t , 1926, l i s . A l i t e r a t u r a apocalíptica n a d a
mais é do que o midraxe e a h a b a d á criados a partir da Escritura;
é o q u e A. Schlatter s e m p r e a c e n t u o u c o m m u i t o a c e r t o . M a s s o m e n t e
a precisão midraxe "esotérico", hagadá "esotérica" torna perfeitamente
c o m p r e e n s í v e l a d i s t i n ç ã o e n t r e l i t e r a t u r a a p o c a l í p t i c a e l i t e r a t u r a talmúdica.
67. b . Pes. 1 1 9 ; b . Sanh. 2Y° e p a s s i m .
68. Supra, p . 323, Hag. I I 1.
a
de dois ouvintes. Assim t a m b é m se explicam as prescrições relativas à leitura de certas histórias ou expressões escabrosas do Antigo T e s t a m e n t o , d u r a n t e o serviço sinagogal.
Algumas não p o d i a m m e s m o ser lidas em hebraico; o u t r a s
só deviam ser lidas n a q u e l e idioma, sem t r a d u ç ã o e m aram a i c o , a língua p o p u l a r ; enfim algumas expressões chocantes deviam ser substituídas por outras mais a m e n a s .
Considerações pedagógicas explicam t a m b é m p o r que
se m a n t i n h a m secretas as fórmulas mágicas de efeitos maravilhosos utilizadas pelos rabinos , assim como as prescrições destinadas a atenuar as leis relativas à pureza , ao
t r a b a l h o nos dias de festa intermediária , à santificação
do sábado , etc. Razões pedagógicas, enfim, determinav a m m a n t e r ocultas as tradições genealógicas de m o l d e a
desacreditar p u b l i c a m e n t e as famílias de notáveis .
m
70
71
11
73
74
Somente à guisa de apêndice, lembremos, para mostrar a
exatidão das páginas que precedem, o papel representado pelo
esoterismo nos escritos neotestamentários. Antes de tudo, no
que concerne a pregação de Jesus, os sinólicos conservaram
uma lembrança talvez muito exata, quando distinguem as palavras de Jesus à multidão, de suas palavras aos discípulos, e
sua pregação antes da confissão de Pedro em Cesaréia de Filipe daquela que segue tal evento. O quarto evangelho o confirma. K. Bornhãuse bem viu que Nicodemos veio encontrar
Jesus à noite (Jo 3,lss) para receber dele, durante um colóquio secreto, alguns ensinamentos a respeito dos últimos segredos do Reino de Deus (3,3), da regeneração (3,3-10) e da
salvação (3,13ss). No sermão de despedida do quarto evangelho, Jesus revela o sentido supremo de sua missão e de seus
sofrimentos durante a conversa íntima que manteve com seus
discípulos (cap. 13 a 17).
75
O lugar ocupado pelo esoterismo é ainda maior no cristianismo primitivo. Compreende: á) os últimos segredos da Cristología (o silêncio do segundo Evangelho sobre as aparições do
Ressuscitado; o fato de todos os relatos evangélicos evitarem
69. Meg. I V 10; T o s . Meg. I V 31ss (228, 5 ) .
70,b. Hag. 1 3 ; cf. supra, p . 323, n . 5 8 .
7 1 . b . Ber. 22* b a r .
7 2 . j . Besa I 1 1 , 6 0 64 ( I V / 1 , 1 1 4 ) .
7 3 . b . Hul.
15 .
74. b . Qid. 7 0 - 7 1 , cf. b . Pes. 6 2 .
75. Das fohannesevangelium,
G ü t e r s l o h , 1928, 26.
a
d
a
b
a
b
descrever a Ressurreição; H b 6,íss onde toda a parte 6,5-10,18
apresenta-se como o ensinamento perfeito que se deve revelar
somente àqueles que são capazes de comprendê-lo [Hb 5,14];
cf. Cl 2,2); b) o esoterismo estende-se aos segredos do ser divino (2Cor 12,1-7, especialmente v. 4) e de seu plano de salvação (Rm 11,25 e passim), em particular aos segredos do
plano de salvação escatológica (ICor 2,6-3,2; 11,51; todo o
Apocalipse joânico segundo Ap 10,7; 17,5-7); c) começou-se
desde o século I a preservar da profanação
as palavras da
Ceia.
16
A c a b a m o s d e falar dos ensinamentos esotéricos dos escribas e m sentido estrito, aqueles q u e n ã o se deviam transmitir às pessoas incompetentes. T o d a v i a , não p o d e m o s esquecer u m fato mais i m p o r t a n t e ; n a época que agora nos
o c u p a , o conjunto da tradição oral, a h a l a k a em particular,
era uma d o u t r i n a esotérica na m e d i d a em q u e , b e m ensin a d a nos estabelecimentos d e estudos e sinagogas, n ã o podia ser difundida p o r escrito, sendo o "segredo de D e u s " ,
mas devia ser transmitida só o r a l m e n t e , de mestre a discípulo, pois era preciso n ã o confundir escritura e tradição . Foi somente no século I I d e nossa era q u e a l u t a
c o n t r a o cânone n e o t e s t a m e n t á r i o levou os j u d e u s a lhe
o p o r e m u m a i n t e r p r e t a ç ã o paralela do A n t i g o T e s t a m e n t o
sob a forma de u m escrito da T o r á oral, tornada assim,
acessível a todos. Desse m o d o , o conjunto das matérias ensinadas ficou despojado de sua característica d e tradição
esotérica.
Enfim, os p r ó p r i o s escritos sagrados d o Antigo Test a m e n t o n ã o se a p r e s e n t a v a m acessíveis à massa; eram,
com efeito, redigidos n a "língua s a g r a d a " , a hebraica,
77
78
76. S o b r e o c o n j u n t o desta p a r t e , ver m e u Die
Abendmahlsworte
G o l U n g e n , 1967, 123-130.
7 7 . Pesiqta
rabbati
5, 1 4 3 ; Tanhuma,
ivayyar'.
§ 5, 65, 30;
Tanbuma,
ki tisía, § 34, 529, 4 .
78. Ex. R. 4 7 , 1 s o b r e 34, 27 (108* 2 9 ) . S o b r e a " i n t e r d i ç ã o de
p ô r p o r e s c r i t o " , ver S t r a c k , Einleitung,
§ 2, 9-16. N u m p o n t o c o n v é m
c o m p l e t a r a e x c e l e n t e e x p o s i ç ã o d e S t r a c k , 14: o c a r á t e r e s o t é r i c o d a
ciência dos escribas aí n ã o é r e c o n h e c i d o d e m o d o suficientemente estrito c o m o m o t i v o d e t e r m i n a n t e d a i n t e r d i ç ã o d e d i f u n d i r p o r e s c r i t o
a t r a d i ç ã o oral. — A isso p o d e m o s c o m p a r a r a c e n s u r a feita p o r Jesus aos e s c r i b a s : t o m a s t e s a " c h a v e da c i ê n c i a " (Lc 11,52 p a r . M t
2 3 , 1 3 ) e assim fecharam aos homens o acesso ao Reino de Deus.
fesu*,
b
q u a n d o a língua p o p u l a r e r a a a r a m a i c a . A i n d a n o século
I de nossa era, os doutores dirigentes c o m b a t e r a m a difusão d o Antigo T e s t a m e n t o e m a r a m a i c o . O relato q u e concerne a R a b b a n Gamaliel I (cerca de 30 d.C.) é elucidativo q u a n t o a Jerusalém. Na e s p l a n a d a do T e m p l o , trouxeram-lhe u m a t r a d u ç ã o aramaica, u m targum do livro de
Jó; ele, desviando do conhecimento público, o m a n d o u esconder como p r o d u t o proibido .
19
Somente após ter reconhecido o caráter esotérico do
e n s i n a m e n t o dos escribas aplicados n ã o somente aos ensinos esotéricos no sentido estrito, mas t a m b é m ao conjunto
da tradição oral, até m e s m o ao texto da Bíblia, é q u e podemos c o m p r e e n d e r a posição social desses escribas. D o
p o n t o de vista social eles são, e n q u a n t o possuidores da
ciência secreta de D e u s , os herdeiros imediatos e sucessores dos profetas. "A q u e m são c o m p a r a d o s o profeta e o
escriba? A dois enviados d e u m único e m e s m o r e i " , diz
o T a l m u d e da Palestina . Como os profetas, os escribas
são os servos d e D e u s , ao l a d o d o clero; c o m o os profetas congregam em torno de si muitos discípulos aos quais
transmitem sua d o u t r i n a ; como os profetas, são qualificados n ã o em razão de sua origem como os sacerdotes, mas
simplesmente pelo seu conhecimento da v o n t a d e d i v i n a
q u e a n u n c i a m ao ensinar, ao serem juízes e ao p r e g a r .
Pode acontecer q u e u m escriba seja de origem m u i t o duvidosa, até mesmo de origem não israelita; n a d a altera o
seu prestígio. Pode acontecer ainda q u e seja miserável
c o m o Hilel, o diarista originário d e Babilônia; sua ciência
faz dele u m h o m e m universalmente célebre.
80
D e todos os cantos do m u n d o , a j u v e n t u d e j u d a i c a
afluía a Jerusalém p a r a sentar-se aos pés dos mestres q u e
ensinavam c o m uma r e p u t a ç ã o m u n d i a l no j u d a í s m o de
então. N o t e m p o d e H e r o d e s , Hilel veio d e Babilônia p a r a
ouvir Shemaya e A b t a l i ã o , sem recuar diante de u m a
81
viagem de muitas s e m a n a s a pé; H a n a n b e n A b i s h a l o m
veio do Egito a Jerusalém o n d e mais t a r d e foi juiz , e da
M é d i a chegou N a h u m , seu colega n o m e s m o t r i b u n a l ;
de T a r s o n a Silícia, são P a u l o encaminhou-se p a r a Jerusalém o n d e deveria a p r e n d e r tanto c o m G a m a l i e l (At 22,3).
Com efeito, no t e m p o de Jesus, Jerusalém constituía
a cidadela da ciência teológica e jurídica do j u d a í s m o . Já
n a q u e l a época, os estabelecimentos d e estudos de Babilônia e r a m importantes; deles é q u e saíram, por exemplo,
os benê Bethyra
q u e , até os tempos de Hilel foram os
escribas dirigentes e aos quais o p r ó p r i o Hilel foi devedor
da base de sua formação de escriba . T o d a v i a , por mais
importantes que fossem essas casas de estudos babilónicos, n ã o p o d i a m competir c o m as de Jerusalém. Dizem que
só ele, Hilel, reuniu em torno de si oitenta discípulos .
Era n a vida cotidiana, como nos estabelecimentos de estudos que os alunos se instruíam j u n t o aos mestres; as atitudes, até m e s m o os mais simples gestos dos instrutores
e r a m vigiados e deles se extraíam regras p a r a as questões
religiosas. As decisões e ensinamentos desses docentes se
i r r a d i a v a m muito além dos limites da Palestina . Os discípulos conservavam o q u e a p r e n d i a m como u m b e m precioso e transmitiam os benéficos ensinamentos, inserindoos na cadeia da t r a d i ç ã o .
8 2
83
84
85
sè
87
s s
S9
C o m p r e e n d e m o s , pois, que o p o v o t e n h a venerado
os escribas como o u t r o r a os profetas, com respeito ilimita82. ARN rec. A c a p . 12, 5 5 14; rec. B c a p . 2 7 , 5 5 3 3 ; cf. supra,
p . 86s.
8 3 . Ket. X I I I 1-9; b , Ket. 1 0 5 .
84. Shab. I I 1; Naz. V 4 ; B. B. V 2; b . 'A. Z. 7 .
85. Seu n o m e v e m , i n d u b i t a v e l m e n t e , d a colônia de Batira e m
Batanéia, e s t a b e l e c i m e n t o de j u d e u s b a b i l ó n i c o s c r i a d a p o r Z a m a r i s de
Babilônia c o m a p e r m i s s ã o de H e r o d e s , o G r a n d e (Ani. X V I I 2, 1-2,
§ 23ss; S t r a c k , Einléiíung,
1 1 8 ) . A r g u m e n t o s a favor dessa e x p l i c a ç ã o :
R. Y u d a b e n Bethyra, q u e vivia n a época e m q u e o T e m p l o a i n d a
existia, t i n h a sua escola e m N i s i b e n a Babilônia (b. Pss. 3 ) ; nessa
c i d a d e , u m d o u t o r de igual n o m e exercia seu m i n i s t é r i o no t e m p o d a
perseguição de A d r i a n o <b. Yeb.
1 0 8 ; Sifre
D t 12,29, § 80 (4Ü
160, 3 0 ) .
86. Bacher, Ag. Tatin.,
I, 2s.
87. b . Sukka
2 8 bar.
88. P o r ex., Sukka
I I I 9.
89. P o r ex., Yeb. X V I 7.
a
b
a
b
b
79. b . Shab.
80. j . Ber. I
q u e o escriba t e m
ser a u t e n t i f i c a d o .
8 1 . b . Yoma
115 .
7, 3 56 (J. 17). O c o n t e x t o d e s e n v o l v e a idéia d e
a u t o r i d a d e m a i o r d o q u e o profeta p o r n ã o p r e c i s a r
a
b
b
a
55 .
b
d
do e u m temor reverenciai, como a detentores e mestres
da ciência esotérica sagrada; suas p a l a v r a s revestiam-se de
soberana a u t o r i d a d e . E r a m sobretudo as c o m u n i d a d e s farisaicas que obedeciam, incondicionalmente, aos escribas
fariseus. Esses constituíam o maior n ú m e r o . Se os ensinamentos dos escribas saduceus d e s a p a r e c e r a m em g r a n d e
p a r t e d a tradição, deve-se ao fato de o papel dos saduceus
ter-se encerrado com a ruína de Jerusalém e de a tradição chegada até nós, fixada por escrito somente a p a r t i r
do século I I , ter v i n d o , exclusivamente, de seus inimigos
fariseus. H á outro fator ainda: já antes da destruição do
T e m p l o , os escribas saduceus exerceram na vida pública
u m p a p e l muito menos considerável do q u e os escribas fariseus . O s m e m b r o s das sociedades farisaicas g a r a n t i r a m
aos ensinamentos dos escribas sua g r a n d e influência sobre
o povo.
yü
Incontáveis provas atestam o prestígio dos escribas no
meio do p o v o ; citaremos alguns exemplos. Segundo o
relato do T a l m u d e , n u m d e t e r m i n a d o a n o , na n o i t e do
D i a das expiações, e n q u a n t o u m a m u l t i d ã o a c o m p a n h a v a
o sumo sacerdote até onde residia, A b t a l i o n e S h e m a y a
se a p r o x i m a r a m ; a m u l t i d ã o a b a n d o n o u e n t ã o o s u m o sacerdote — causando-lhe g r a n d e mágoa — p a r a acompan h a r os escribas muito a m a d o s . Nos últimos dias antes do
eclipse da lua (noite de 12 p a r a 13 de março) do a n o 4
a . C , Herodes lutava contra uma enfermidade m o r t a l que
o levaria três semanas depois. H a v i a então dois escribas
"tidos como grandes conhecedores especialmente da Lei
dos patriarcas e aos quais o p o v o reverenciava de m o d o
p a r t i c u l a r " ; a eles "afluíam todos os jovens do local, quando explicavam a Lei, e ficavam p o r eles cercados todos
os d i a s " . Entre as obras profanas de H e r o d e s , m a n d a r a
ele colocar e consagrar u m a águia de o u r o de e n o r m e tam a n h o e valor inestimável sobre o pórtico do T e m p l o .
9 1
9 1
9J
90. Ant. X V I I I 1, 4, § 17.
9 1 . Referindo-se à m u l t i d ã o , diz Josefo (Ant. X X 12, I, § 2 6 4 ) :
Reconheceu-se c o m o sábios s o m e n t e a q u e l e s q u e p o s s u e m u m c o n h e c i m e n t o e x a t o d a Lei e são c a p a z e s d e i n t e r p r e t a r t o d a a f o r ç a das
Sagradas Escrituras.
92. b . Yoma
71 .
93. Ant.
X V I I 6. 2, § 1 5 1 : húper
toü megálou
pulônos
toü
b
Apesar do perigo mortal a que iam se expor, os dois zelosos escribas instigaram seus discípulos a a r r a n c a r e m - n a .
Algumas dezenas de anos mais tarde, conta J o s e f o , u m
escriba c h a m a d o Simão ousou excitar p u b l i c a m e n t e o povo
contra o rei Agripa 1. Lemos q u e , p o r ocasião de u m assassínio, R. Sadoc, escriba m u i t o c o n s i d e r a d o , dirigiu aos
sacerdotes, dos degraus d o vestíbulo d o T e m p l o , u m enérgico apelo à p e n i t ê n c i a . Nos primeiros anos da revolta
de 66-70 d.C. e n c o n t r a m o s , à testa do m o v i m e n t o , alguns
escribas fariseus tais c o m o Shimeon, filho de Gamaliel 197,
e o escritor Flávio Josefo.
M
95
96
Nossas fontes fornecem-nos u m a série d e p e q u e n i n o s
casos típicos q u e r e a l ç a m o prestígio dos escribas aos olhos
do h o m e m do p o v o . Vemo-lo levantar-se respeitosamente
à passagem de u m escriba, dispensados disso .somente os
operários d u r a n t e seu t r a b a l h o . Ouvimo-lo saudar o escriba em primeiro lugar , d e m a n e i r a pressurosa, c h a m a n do-o " R a b i " * , " P a i " , " M e s t r e " , q u a n d o passa c o m
sua túnica de escriba
em forma de filactérios, caindo até
os pés e m u n i d a de longas franjas (Mt 2 3 , 5 ) . Q u a n d o os
notáveis de Jerusalém oferecem u m b a n q u e t e , é u m a hon9S
w
1
1 0 1
1 0 2
103
naoü B. j . I 3 3 , 3, § 6 5 1 : katlümésantes
sphàs auioús apò toü
têgous.
Se se trata d a e n t r a d a tio s a n t u á r i o , os a u t o r e s , discípulos dos d o u t o res, d e v i a m ser s a c e r d o t e s , p o i s s o m e n t e o s s a c e r d o t e s p o d i a m s u b i r
ao teto d o s a n t u á r i o .
94. Ant. X V I I 6, 2-3, § 149ss; B. /. I 3 3 , 2-3, § 648ss.
95. Ant. X I X 7, 4, § 332ss.
96. T o s . Yoma I 12 ( 1 8 1 , 2 0 ) ; j . Yoma U 2, 5 9 13 ( I I I / 2 , 1 7 9 ) ;
b . Yoma 2 3 ; T o s . Shebu. I 4 (466, 6 ) ; Sifre N m 35, 34, § 161 ( 2 8
III, 18).
97. Veta 3 8 , § 191 e
passim.
98. b. Qid. 3 3 .
99. M c 12,38; Mt 23,7; Lc 20,46; j . Ber. I I 1, 4 24 (I. 3 0 ) .
100. 5 2 1 .
101. Mt 23,9. — Billerbeck, I, 918s d á , p a r a a é p o c a antiga, exemplos d e 'abba c o m o título honorífico u s a d o de m o d o p e r m a n e n t e p o r
certos d o u t o r e s . S e g u n d o A . B ü c h l e r , Der galilãische
'Am-ha'
Ares
des
zweiten
fahrhunderts,
V i e n a , 1906, 332ss, 'abba seria o título dos d o u tores f o r m a d o s nas escolas galiléias. T a l v e z seja e x a t o , m a s não exclui
p o r isso, c o m o o d e m o n s t r a b . Mak. 24", o e m p r e g o d o título 'abi
para outros doutores.
102. b . Mak. 2 4 (mari). — Kathegtés
(Mt 23,10) n ã o possui equiv a l e n t e , c o m o título, n a l i t e r a t u r a r a b í n i c a ; m a s o c o r r e s p o n d e n t e
oáegós a p a r e c e em Mt 23,16 c o m certeza c o m o título. O título Katliegelés-odcgós
é s u f i c i e n t e m e n t e a t e s t a d o p o r M L 23,10.16 e R m 2,19.
103. M c 12,38; Lc 20,46. Billerbeck, I I , 31-33; I V , 228 b.
d
a
c
a
b
a
ra contar c o m a presença de alunos de escribas e futuros
doutores c o m o Eliézer ben H i r c a n o e Yoshua ben H a n a n y a . O s primeiros lugares são reservados aos escribas
(Mc 12,39 e par.) e o rabi merece mais honrarias q u e os
h o m e n s de idade mais a v a n ç a d a e até m e s m o mais que
os próprios pais. T a m b é m na sinagoga, ocupava lugar de
h o n r a ; sentava-se de costas p a r a o a r m á r i o da T o r á , olhando a assistência e visível a todos (ibid.). F i n a l m e n t e , só
em caso excepcional contraíam m a t r i m ô n i o com filhas de
pessoas que desconhecessem a L e i .
Para se ter, p o r é m , u m a idéia exata da v e n e r a ç ã o
com q u e o p o v o cercava os escribas, e da ousadia q u e representou o a t a q u e de Jesus contra eles, é preciso e s t u d a r
as tradições talmúdicas relativas aos túmulos dos santos
n a Palestina ; é preciso inteirar-se das informações p a r a
ver como, ao lado dos túmulos dos patriarcas e profetas,
são os túmulos dos rabinos q u e , envoltos em lendas e "sagas", encontram-se por toda p a r t e venerados e conservados com u m temor supersticioso . Perceberemos, e n t ã o ,
até certo p o n t o , como foi possível à aristocracia j u d a i c a
suportar a concorrência da aristocracia intelectual e, após
a destruição de Jerusalém, deixar-se finalmente s u p e r a r
p o r essa última. T ú m u l o de rabinos e t ú m u l o de profetas
l a d o a l a d o ; é aí que se e n c o n t r a a solução do enigma
diante do qual nos colocamos desde o início do capítulo I I I .
CAPÍTULO
IV
m
1 0 5
1M
107
104. j . Hag.
I i I, 7 7
b
34 ( I V / 1 , 2 7 2 ) .
105. Billerbeck, I I , 378.
106. Ver ). J e r e m i a s , Heiligengräber
1958.
107. Ibid., 141.
in
Jesu
Umwelt,
Göttingen,
APÊNDICE: OS FARISEUS
1
Sociologicamente, n ã o se deve situar os fariseus na
classe superior. Fariseu significa "os s e p a r a d o s " , quer dizer, os santos, a verdadeira c o m u n i d a d e d e I s r a e l . C o m o
vamos ver, e r a m eles, n a maioria, pessoas do p o v o , sem
formação de escriba. T o d a v i a , m a n t i n h a m elos estreitos
2
1. A d o c u m e n t a ç ã o r a b í n i c a s o b r e os fariseus é a p r e s e n t a d a de
m o d o e x c e l e n t e p o r Billerbeck. I I , 494-519 e I V , 334-352. S c h l a t t e r ,
Gesch. Isr.. 137-153 é u m perfeito c o n h e c e d o r d a o r i g e m d o farisaís¬
m o . O b r i l h a n t e e s t u d o d e J. W e l l h a u s e n , Die Pharisäer und die
Sadducäer, G r e i f s w a i d , 1874, c o n t i n u a i n s t r u t i v o e sugestivo; ver a i n d a
M e y e r . Ursprung,
I I , 282-319. G . F. M o o r e , The Rise of
Normative
judaism,
HThR
17 ( 1 9 2 4 ) , 307-373 e 18 ( 1 9 2 5 ) , 1-38, a p r e s e n t a , c o m
c l a r e z a , a e v o l u ç ã o histórica. 8. D . E e r d m a n s , Farizeen en
Sadduceen,
e m Theologlscha
Tijdschrift
48 ( 1 9 1 4 ) , 1-26, 223-230, b e m definiu o
c a r á t e r c o m u n i t á r i o dos fariseus. A. B ü c h l e r , Der galiläische
'Am-ha
'Ares des zweiten
Jahrhunderts,
V i e n a , 1906, fornece-nos a b u n d a n t e
d o c u m e n t a ç ã o . Sua tese d e base é q u e as c o m u n i d a d e s farisaicas só
a p a r e c e m d e p o i s d a d e s t r u i ç ã o d o T e m p l o ; essa tese, c o m efeito, n ã o
se c r e d e n c i a d i a n t e dos d o c u m e n t o s n e o t e s t a m e n t á r i o s i g n o r a d o s p o r
Büchler. O t r a b a l h o de L. Baeck, Die Pharisäer
em 44. Bericht
der
Hochschule
für die Wissenschaft
des Judentums
in Berlin, Berlim, 1927,
33-71, c o n t é m o b s e r v a ç õ e s i n t e r e s s a n t e s , m a s ele d e s c o n h e c e c o m p l e t a m e n t e a característica c o m u n i t á r i a dos fariseus e erra p o r n ã o distinguir os fariseus dos escribas. O e s t u d o de R. T . H e r f o r d , The
Pharisees,
L o n d r e s , 1924 é a i n d a m e n o s satisfatório; o a u t o r n ã o p e r c e b e u a dist i n ç ã o e n t r e escribas e fariseus — p a r a ele, os fariseus são " i n s t r u t o r e s
d a T o r á " — e i g n o r o u t o t a l m e n t e a o r i g e m d o farisaísmo assim c o m o
d e sua característica c o m u n i t á r i a . — S o b r e o c o n j u n t o d o p r o b l e m a ,
ver agora R. Meyer, " T r a d i t i o n u n d N e u s c h ö p f u n g im a n t i k e n J u d e n t u m . Dargestellt a n d e r G e s c h i c h t e des P h a r i s ä i s m u s " e m
Sitzungsberichte
der sächsischen
Akademie
der Wissenschaften
zu Leipzig,
filolog-hist.
KL, vol. 110, fasc. 2, Berlim, 1965. 7-88; L. F i n k e l s t e i n , The
Pharisees.
The Sociological
Background
of their Faith, 3- ed., 2 vol., Filadélfia,
1966.
2. L. Baeck, Die Pharisäer.
34-41 f o r n e c e u disso a p r o v a convinc e n t e . Baeck d e m o n s t r a q u e , n o s m i d r a x e s t a n a í t a s . parüs e gados são
s i n ô n i m o s ; ver os textos infra, n. 2 3 . — D o m e s m o m o d o , a c o m u n i d a d e essênia se define c o m o a c o m u n i d a d e d a " n o v a a l i a n ç a "
(Doe.
Dam. V I 19, V I I I 2 1 , X I X 33s, X X 1 2 ) , c o m o o " r e s t o " (Doe.
Dam.
1 4 ; 1 Q M X I I I 8, X I V 8-9; I QH V I 8 ) , c o m o os " s o b r e v i v e n t e s "
(Doe. Dam. II 1 1 ) ; seus m e m b r o s d e v e m se " s e p a r a r " (bdl: I QS V
10, V I I I 13, I X 20; Doe. Dam. V I 1 4 ) .
c o m os escribas a p o n t o de n ã o os podermos separar, t a n t o
mais q u e a ascensão dos escribas m a r c o u , ao m e s m o temp o , sua p r ó p r i a ascensão. Assim sendo, faremos u m com e n t á r i o a título de apêndice.
Da santa comunidade de Jerusalém é que, inicialmente,
precisamos falar neste contexto. O Talmude palestinense menciona uma vez "a santa comunidade" ; no Midraxe, rabi Yuda
I, redator da Mishna (cerca de 200 d . C ) , transmite uma tradição que nela foi incluída .
De acordo com a interpretação tardia que o Midraxe dá
à denominação "santa comunidade", trata-se, ao que se supõe,
de dois doutores R. Yosé ben Meshullam e R. Shimeon ben
Menasia que viveram por volta de 180 d . C , em Séforis, provavelmente. Ambos consagravam, segundo contam, um terço
de seu dia ao estudo, um terço à oração e um terço ao trabalho manual; por esse motivo receberam o cognome de "santa
comunidade" ''. Mais tarde, R. Ishac ben Eleazar (280 d.C.)
aplicou o nome de "santa comunidade" a R. Yoshua, filho de
R. Timai e a R. B o r q u a l .
Nos dois casos, a limitação da expressão "santa comunidade" constituída por duas pessoas, devido a uma interpretação evidentemente errônea do Talmude palestinense há pouco
citado, já mostra que essa explicação não se impõe como exata ; as informações do Talmude de Babilônia tornam a conclusão absolutamente clara. Esse Talmude, com efeito, chama
a mesma associação "santa comunidade de Jerusalém e lhe
atribui, por diversas vezes, algumas tradições. Entre outras, ouvimos dizer que os membros da associação tinham hábitos determinados para a oração e que explicavam com particular
severidade as prescrições relativas aos tecidos de fios misturados .
Que significa a expressão "santa comunidade de Jerusalém?" Bacher queria suprimir "de Jerusalém" , baseando-se
na expressão mais sucinta "santa comunidade" do Talmude
de Jerusalém e do Midraxe. Trata-se, pois, apenas de uma
abreviatura. Büchler retomava a explicação do Midraxe e via
7
8
N o q u e segue, p r o c u r a r e m o s analisar a organização
das c o m u n i d a d e s farisaicas (habúrôt)
de Jerusalém e descrever sua situação n o q u a d r o da sociedade. A esse respeito, convém q u e se diga, logo de início, tratar-se de comunidades
fechadas. C o m efeito, os fariseus n ã o são simplesmente pessoas q u e vivem segundo os m a n d a m e n t o s
religiosos dos escribas fariseus ou segundo as prescrições
sobre o dízimo e a p u r e z a ; s ã o m e m b r o s d e associações
religiosas q u e visam a essa meta.
3
N a primeira aparição dos fariseus, n o século II antes
de nossa era, já os vemos como u m grupo o r g a n i z a d o ; talvez se prendessem aos assideus q u e l M c 2,42 c h a m a de
"associação d e JLtdeus piedosos [sunagogè Asidoíon]
den o d a d o s homens de Israel, e x t r e m a m e n t e d e v o t a d o s à
L e i " *.
,0
11
12
Foi, igualmente, n o século I I antes de nossa e r a q u e
se constituiu o grupo dos essênios \ E m b o r a t e n h a m sofrido influências estrangeiras em sua formação, sem dúvida são eles oriundos do m e s m o tronco q u e os fariseus;
as severas prescrições rituais dos essênios e seu esforço
p a r a a separação b e m o d e m o n s t r a m . Podemos, p o i s , ins¬
pirando-nos na vida estritamente comunitária dos essênios,
inferir o caráter comunitário dos fariseus. E n t r e os textos
essênios, é sobretudo o Documento
de Damasco q u e apresenta importantes paralelos com a organização farisaica;
disso teremos q u e falar longamente mais a d i a n t e (p. 3 5 0 ) .
N o século I de nossa era existiram, somente em Jerusalém,
diversas c o m u n i d a d e s farisaicas.
6
13
14
15
16
7. j . M. Sh. I I 10, 5 3 2 ( H / 2 , 2 1 8 ) .
8. Qoh. R. 9, 7, s o b r e 9, 9 ( 1 1 5 2 ) .
9. Ibid. 1 1 5 4 .
10. Ibid. 1 1 5 7.
11. L. Baeck, Die Pharísaer,
39.
12. Bacher, Ag. Tann.,
I I , 490, n. 2.
13. b . Bem 14b (
b . Yoma 6 9 - ; b . Tamid
21\ 6 1 b ) ; b. Besa
27"; b . R. H. 1 9 ; b . Ber. 9> (cf. Billerbeck, I I , 6 9 2 ) . Aqueles q u e
I r a n s m i t e m estas t r a d i ç õ e s p e r t e n c e m ao s é c u l o II de nossa era, à sec u n d a m e t a d e deste século p a r a a m a i o r i a .
14. b . Ber. 9 . T i n h a m o h á b i t o d e r e c i t a r , d e m a n h ã , as D e z o i t o
lu'iiçaos i m e d i a t a m e n t e d e p o i s do
s ma'.
15. b . Besa 1 4 e p a r . (ver supra, n. 1 3 ) . — L v 19,19; D t 22,9-11.
16. Bacher, Ag. Tann., I I , 490, n. 6.
d
a
a
a
3. O t e r m o " c o m u n i d a d e " é preferível ao t e r m o " s o c i e d a d e " o u
"associação".
4. Cf. l M c 7,13; 2 M c 14.6.
5. P r i m e i r a m e n ç ã o p o r volta de 150 a . C , Ani. XIII 5, 9, § 172.
d e p o i s , cerca d e 104, Ant. X I I I 11, 2, § 3 1 1 ; B. /. I 3, 5, § 7 8 .
6. A a p a r i ç ã o c u r i o s a d a e x p r e s s ã o hbwe
ysr'1 c o m o d e s i g n a ç ã o
d a c o m u n i d a d e e s s ê n i a e m Doe. Dam. X I I 8 p o d e r i a , t a m b é m e l a , indicar essa o r i g e m c o m u m .
a
=
b
b
c
b
b
nessa associação um grupo de hierosolimitas que fugiram, após
a queda de Jerusalém, para a Galileia, especialmente para Séforis '. Sem dúvida, a estada de hierosolimitas em Séforis após
a queda da cidade santa é bem confirmada ' , mas, como vimos um pouco acima, não convém nos atermos excessivamente
à explicação da expressão "santa comunidade" do Midraxe
que designa dois doutores da Galileia. Com toda razão, pois,
Baeck e Marmorstein sustentam a expressão "santa comunidade de Jerusalém". O primeiro aí via uma designação do
conjunto da comunidade de Jerusalém; o segundo, a designação de um grupo organizado já existente na época dos grandes tanaítas.
17
8
iy
20
Nas cartas do apóstolo P a u l o , a comunidade cristã primitiva de Jerusalém é chamada "os santos''; Baeck nisso se
apoia para a sua explicação. Essa designação cristã opõe-se à
sua maneira de ver e justifica a de Marmorstein. Com efeito,
os membros da comunidade primitiva chamam-se "os santos"
em oposição categórica ao conjunto da comunidade, enquanto
são a verdadeira comunidade messiânica da salvação, o "resto"
que Deus escolheu dentre o povo da salvação, portanto, exatamente da mesma maneira como os fariseus chamavam-se "os
separados", quer dizer, "os santos" .
21
22
Chegamos assim a um ponto em que a maneira de ver de
Marmorstein também exige um complemento. Qadôs (santo) e
parus (separado, designação dos fariseus) são empregados como
sinônimos nos midraxes t a n a í t a s . Convém ainda levar em
conta os hábitos de vida e das tradições da "santa comunidade", de modo particular de sua fidelidade que todos estão de
acordo em l o u v a r , na observância das horas fixadas para as
orações; é preciso aproximar essa minúcia ao fato de que, no
século I de nossa era, a observância das horas fixadas para
B
24
Í7. Büchler, Priester,
39-41.
18. b. Ket. 7 7 e passitn.
19. L. B a c c k , Die Pharisäer,
39.
20. A . M a r r a o r s t e i n , " E i n e angebliche V e r o r d n u n g
Jeschurun,
Berlim, II ( 1 9 2 4 ) , 152s,
2 1 . i C o r 16,1; 2 C o r 8,4;9,1.12; R m 15,25-31.
b
Hadrians",
em
22. V e r supra, n. 2.
23. L. Barck, Die Pharisäer, 36s. Sifra Lv 19,2 ( 4 4 174); ' " S e d e
qedôiím',
q u e r dizer, p^rünm":
Sifra Lv 11,44 ( 2 9 115, 3 2 ) ; " ' S e d e
q dôsim
p o r q u e eu sou qadôs', q u e r dizer: c o m o eu s o u qadôs, assim
d e v e i s ser q dôsim;
c o m o sou partis, assim deveis ser p^rãsim".
Mesma
coisa e m Sifra Lv 11,45 ( 2 9 113, 3 9 ) ; Sifra Lv 20,26 (46* 184, 1 3 ) ;
Lv. R. 24, 4 s o b r e 19, 2 ( 6 4 15).
24. Qoh. R. 9, 7 sor 9, 9 ( 1 1 5 4 s s ) ; b . Ber. 9 . V e r supra, n . 14.
b
a
e
e
a
b
a
b
a oração era precisamente tida como sinal distintivo dos fariseus . Todos esses fatos levam-nos a concluir que, provavelmente, a "santa comunidade de Jerusalém" era uma comunidade farisaica da Cidade santa no século 1 de nossa era.
É igualmente à época anterior à destruição do Templo
que nos leva a seguinte informação da Tosefta: "R. Eleazar
ben S a d o c disse: Eis o costume das hãbürôt [comunidades]
em Jerusalém: alguns [dentre os membros de uma hãbürah]
iam a um banquete de núpcias, outros a um banquete de noivado, outros a uma festa de circuncisão, outros à reunião dos
ossos [visando à sepultura definitiva] ; uns iam a uma ceia
festiva enquanto outros a uma sala mortuária" .
De que natureza eram essas associações da Cidade santa?
Diversas vezes encontramos, na literatura rabínica, a partir do
século II de nossa era, associações de interesse público (beber
'ir) em certas regiões do país; tinham como obrigatório consagrar-se às obras caridosas de toda espécie, entre outras, àquelas que estão indicadas nesse texto da Tosefta e observar as
prescrições litúrgicas .
Os hãbürôt de Jerusalém de que fala o texto da Tosefta
estão, incontestavelmente ligados a essas associações beneficentes: constituem a mais antiga organização dessa categoria referida nas fontes. É verdade que nem nesse texto, nem em ou25
26
2T
28
29
25. b . Ber. 4 7 b a r . : " Q u e é u m 'am ha-'ares
[um não fariseu]?
A q u e l e q u e n ã o recita o s ma'
de m a n h ã e à t a r d e . P a l a v r a s de R.
Eliézer [cerca de 90 d . C , o r e p r e s e n t a n t e da antiga t r a d i ç ã o e n t r e os
d o u t o r e s d e seu t e m p o ] ".
26. C o n f o r m e o c o n t e x t o d e m o n s t r a , trata-se de R. E l e a z a r I, nascido p o u c o depois d e 35 d.C. em J e r u s a l é m e ali t e n d o v i v i d o a t é a
d e s t r u i ç ã o d o T e m p l o (ver supra, p . 2 0 1 ) .
27. Se o c a d á v e r estivesse d e p o s t o n u m t ú m u l o c a v a d o na roc h a , recolhiam-se os ossos n u m o s s u á r i o cerca de u m a n o após o sepultamento.
2 8 . T o s . Meg. I V 15 (226, 1 3 ) ; Semahot
XII.
2 9 . S o b r e estas associações, ver A. B ü c h l e r , Der galilaische
'Am-ha
'Ares des zweiten
fahrhunderts,
V i e n a , 1906, 207-221; J. H o r o v i t z , hbr
"ir, Francfort-sur-de-Main,
1916; Billerbeck, I V , 607-610. D e v e r e m o s
vocalizar beber 'ir (associação d e interesse p ú b l i c o da c i d a d e ) ou hãber
"ir ( d o u t o r da c i d a d e , ou m e m b r o de u m a associação de interesse público)? Apesar da oposição de Horovitz, a questão, atualmente, pende
a favor d a p r i m e i r a a s s e r ç ã o (A. Geiger, Urschrift
und
Überselzungen
der Bibel, Breslau,
1857, 122s; Levy, Wõrterbuch,
I I , 9 b; Eliézer b e n
Y c h u d a , Thesaurus
totius hebraitatis
I I I , B e r l i m , 1911, sub verbo, 1433:
II. C r a t z , Geschichte
der fuden
I I I / l , 5? ed., Leipzig, 1905, 77, n.;
A. Büchler, o.c., 210-212; S c h ü r e r , I I , 503, n . 10; D a l m a n ,
Handwortrrbuch,
discussão T o s . Meg. I V 29 (228, 2 ) . Q u a i s as relações e n t r e
essas associações de interesse p ú b l i c o e as c o m u n i d a d e s farisaicas?
A q u e s t ã o a i n d a n ã o foi esclarecida.
b
e
tras passagens que citam o beber ir, mencionam-se obrigações
dos membros, semelhantes às que deviam cumprir os membros
das comunidades farisaicas quanto à pureza e ao dízimo; continua provável que esse texto da Tosefta refira-se também às
associações caritativas privadas que deviam existir em Jerusalém .
Entretanto, podemos nos indagar se os fatos eram assim
tão simples. Antes de mais nada, é preciso observar que precisamente esse texto não emprega a expressão beber 'ir, mas
o termo habürah que, além de associações e colégios de outra
natureza, indica também as comunidades farisaicas . Convém
ainda lembrar que os fariseus davam grande importância às
obras supererogatorias e às boas obras. Além do mais, a realização das opera superem gationis eram parte integrante da
essência do farisaísmo e de seu conceito de mérito- . Outro
fato é digno de nota: uma fonte do início do século I de nossa
era, a Assunção de Moisés, censura aos fariseus o serem pessoas que "a qualquer hora do dia gostam de banquetear-se c
fartar-se" e que "da manhã à noite se aprazem em dizer: queremos ter festins e abundância, comer e b e b e r " . Essas censuras forçam-nos a procurar nos fariseus — se não os quisermos catalogar como puros beberrões e glutões — costumes semelhantes àqueles de que fala nosso texto da Tosefta, referindo-se às "comunidades" de Jerusalém.
!
30
31
12
33
Temos de levar em consideração uma última referência.
Nas fontes talmúdicas, encontramos "os filhos da sinagoga"
(b nê ha-k neset) , que observavam, como uma obrigação, em
ocasiões oportunas, as regras litúrgicas e participavam das cerimônias fúnebres (litúrgicas). Trata-se, pois, de uma organização semelhante às associações caridosas citadas acima. Zabim
III 2 supõe que essas associações sinagogais sigam as prescrições farisaicas de pureza para a preparação dos alimentos ;
e
e
M
35
30. T a m b é m A . Büchler, o.c,
208-212.
3 1 . Por ex... T o s . Demay
II 14 (48, 11) e
passim.
32. P a r a m o s t r a r a i m p o r t â n c i a q u e os fariseus a t r i b u í a m às o b r a s
s u p e r e r r o g a t ó r i a s , c i t a m o s aqui s o m e n t e , e n t r e os a b u n d a n t e s d o c u m e n t o s ,
alguns e x e m p l o s e x t r a í d o s d o N o v o T e s t a m e n t o . D í z i m o s u p e r e r r o g a t ó r i o : Ml 23,23; Lc 18,12; prescrições de p u r e z a : M t 15,1-2; M c 7,1-4;
Mt 23,26 e p a r . ; j e j u n s : Lc 18,12; Mt 9,14 e par.; o r a ç ã o ; M t 6,5-8
(este trecho é dirigido c o n t r a os fariseus, ver infra, p . 3 4 3 , e s m o l a s :
M l 6,2-4.
33. A s s u n ç ã o de Moisés V I I 4.7-8. Trata-se dos fariseus; o contexto é e v i d e n t e .
34. Bek. V 5; Zabim I I I 2; b . M. Q. 2 2 bar.; Semahot
XI.
35. A. B ü c h l e r , Der galildische
'Am-ha'
Ares, 74, n. 2.
b
aqui se encontra, pois, claramente expresso, o elo entre fariseus e as associações de interesse público que provêm às necessidades das sinagogas.
A existência, em Jerusalém, de associações caritativas de
interesse comum, mas que teriam sido puramente privadas, nunca nos foi confirmada; toda a documentação estudada obrigamos a concluir que os habürôí de que fala o texto da Tosefta
acima citado têm relação com as comunidades farisaicas, supondo que essas não lhes sejam absolutamente idênticas.
As c o m u n i d a d e s farisaicas d e Jerusalém, muitas das
q u a i s , como acabamos de ver, são conhecidas, observavam
regras precisas para a admissão dos membros;
esse fato
demonstra, mais u m a vez, seu caráter de comunidades particulares. Antes de admitir q u a l q u e r p r e t e n d e n t e , havia o
período de p r o v a ç ã o que durava u m mês ou u m ano , dur a n t e o qual o postulante devia dar provas de sua aptidão
p a r a seguir as prescrições rituais. Josefo conta-nos, por
e x e m p l o , ter-se s u b m e t i d o sucessivamente às prescrições
dos fariseus, dos saduceus e dos essênios; finalmente, aos
dezenove anos, aderiu aos f a r i s e u s . Esse exemplo preciso
confirma a existência desse t e m p o p r e p a r a t ó r i o p a r a ser
admitido a u m a c o m u n i d a d e farisaica.
36
37
U m a vez t e r m i n a d o o p e r í o d o experimental, o candidato comprometia-se a observar o regulamento da comun i d a d e ; na época antiga, a única q u e nos ocupa a q u i , esse
compromisso se realizava diante de u m m e m b r o da comu36. A o século I de n o s s a era é q u e n o s c o n d u z a divergência d a
o p i n i ã o e n t r e s h a m a í t a s e hilelilas a r e s p e i t o d a d u r a ç ã o d o l e m p o de
p r o v a ç ã o em T o s . Demay
II 12 (48, S) •. ' ' N o fim de q u a n l o t e m p o
[de p r o v a ç ã o ] aceitar-se-á [o c a n d i d a t o ] ? O s s h a m a í t a s exigiam trinta
d i a s p a r a o s l í q u i d o s [trata-se d o s s e t e ' l í q u i d o s q u e t o r n a m aptos à
i m p u r e z a ' : o r v a l h o , á g u a , v i n h o , azeite, s a n g u e , leite, m e l de a b e l h a s ;
q u a n d o os a l i m e n t o s sólidos ou secos e n t r a v a m em c o n t a t o c o m a l g u m a
coisa i m p u r a , n ã o se t o r n a v a m i m p u r o s a n ã o s e r q u e tivessem s i d o
antes m o i n a d o s p o r u m desses sete l í q u i d o s . O c a n d i d a t o devia p r o v a r
q u e p r e s t a r a a t e n ç ã o a essas regras e as h a v i a o b s e r v a d o , e q u e cons e r v a r a esses sete l í q u i d o s afastados d e s u a s frutas e l e g u m e s e o u t r o s
a l i m e n t o s secos] e d o z e m e s e s p a r a as vestes [as vestes t o r n a v a m - s e
i m p u r a s p o r p r e s s ã o ou c o n t a t o da p a r t e dc a l g u é m em c o n d i ç ã o lev i l i c a m e n t e i m p u r a , o q u e o fariseu p r o c u r a v a e v i t a r ] . M a s os heleI is las se c o n t e n t a v a m , p a r a as d u a s [ p r o v a s ] c o m trinta d i a s " . V e r ,
M í h r c este p o n t o , Billcrbeck, I I , 505s.
37. Vita 2, § lOss.
n i d a d e q u e fosse e s c r i b a . O recém-admitido p r o m e t i a observar as prescrições farisaicas sobre a p u r e z a e o d í z i m o .
D a í por diante, tornava-se m e m b r o de u m a associação.
Tais associações t i n h a m seus chefes e suas assembléias ,
essas, ao que p a r e c e , caracterizavam-se p o r u m a refeição
e m c o m u m , especialmente às sextas-feiras à noite, p a r a
a abertura do s á b a d o . T u d o indica que as associações
farisaicas ingeriam-se publicamente em ocasiões especiais,
como, p o r exemplo, p a r a exprimir condolências ou p a r a
festas alegres . Possuíam sua p r ó p r i a justiça interna; entre as decisões deliberadas p o d i a m pronunciar-se sobre a
exclusão de u m de seus c o m p o n e n t e s .
38
39
40
41
4 2
43
44
45
P r u d e n t e m e n t e não queremos subestimar o n ú m e r o
dos m e m b r o s das hãburôt farisaicas. De u m d a d o merecedor de fé, transmitido por Josefo q u e o extraiu, sem dúvida alguma, de Nicolau de D a m a s c o , conselheiro íntimo
e historiógrafo da corte de H e r o d e s , o G r a n d e , p o r t a n t o ,
fonte semi-oficial, temos "mais de 60 mil fariseus na época
de H e r o d e s , na assembléia de seu r e i n o . A título de
4 6
38. E m b . Bek. 3 0 b a r . (par. T o s . Demay
II 13 [48,11] s e g u n d o
o m s . de V i e n a e a e d . p r í n c i p e ) , o c o m p r o m i s s o , s e g u n d o A b b a S h a u l
(cerca de 150 d.C.) era p r e s t a d o d i a n t e de u m m e m b r o da c o m u n i d a d e q u e fosse escriba. Mais t a r d e , a a d m i s s ã o se p r o c e s s a v a d i a n t e
de três fariseus ( b . Bek. 3 0 b a r ) . Billerbeck, I I , 506 t i n h a t o d a razão de ver, nesse dizer de A b b a S h a u l a descrição d a antiga p r á t i c a ;
é c o n f i r m a d o p e l a p r á t i c a a n á l o g a dos essênios d a q u a l f a l a r e m o s
infra, p . 3 5 1 , cf. Doc. Dam. X I I I 11-13; XV 7ss: r e c e p ç ã o p e l o vigil a n t e ; esse é escriba, X I I I 6.
39. Q u a n t o às prescrições de p u r e z a , v e r M t 15,1-2; M c 7,1-4; M t
23,25-26; Lc 11,39-41. Q u a n t o às prescrições do d í z i m o : Lc 18,12; M t
23,23; Lc 11,42.
40. Ant. X V 10, 4, § 370; B. j . I I 17, 3 , § 4 1 1 ; L c 1 4 , 1 : " u m
chefe fariseu", e
passim.
4 1 . M t 22,15 e par.; cf. 12,14;22,41.
4 2 . b . Pes. 1 0 1 - 1 0 2 , se os b ne haburâh
citados aqui e em b .
'Er. 8 5 são m e m b r o s de u m a c o m u n i d a d e farisaica. V e r Le 14,1 ; 7 ,
3 6 - 5 0 ; l l , 3 7 - 3 8 . T a l v e z se d e v a t a m b é m c o n s i d e r a r c o m o refeição e m
c o m u m , as refeições d o s fariseus e m J e r u s a l é m dos q u a i s A b b a S h a u l
m e n c i o n a d o supra, n . 38 (Tos. Sanh. I I I 4 (418, 2 0 ) ; j . Sanh.
I 2,
1 9 57 ( V I / 1 , 2 3 9 ) ; b . Shebu, 1 6 - b a r , ) . L e m b r e m o - n o s , a n t e s de t u d o ,
das refeições de c o m u n i d a d e ''entre os essêniqs.
43. b . 'Er. v e r a n . p r e c e d e n t e .
44. V e r supra, p . 337.
45. b. Bek. 3 1 b a r .
46. Ant. X V I I 2, 4, § 42. I. E l b o g e n ("Einige n e u e r e T h e o r i e n
ü b e r d e n U r s p r u n g d e r P h a r i s ä e r u n d S a d d u z ä e r " e m Jewish
Studies
in Memory
of Israel Abrahams,
N o v a I o r q u e , 1927, 135-148) e m i t i u
c o m p a r a ç ã o , citemos a l g u n s outros n ú m e r o s . A p o p u l a ç ã o
de Jerusalém era de 25 a 30 mil h a b i t a n t e s ; o total dos
sacerdotes e dos levitas elevava-se a 1 8 . 0 0 0 a p r o x i m a d a mente ; os essênios c o n t a v a m com 4 . 0 0 0 m e m b r o s .
Aliás, tais n ú m e r o s confirmam q u e , j u n t a m e n t e c o m os fariseus, estamos d i a n t e d e u m grupo p a r t i c u l a r , e a importância desses n ú m e r o s indica q u e , e m Jerusalém do século
I de nossa e r a , devia haver diversas c o m u n i d a d e s farisaicas .
N ã o c o n t a m o s c o m elementos elucidativos a respeito
da composição das c o m u n i d a d e s farisaicas, que são freqüent e m e n t e confundidas c o m os e s c r i b a s . H á m u i t o s motivos
p a r a isso. P r i m e i r a m e n t e , o fato de o termo Haber, design a n d o o m e m b r o d e u m a c o m u n i d a d e farisaica ser, após o
período neotestamentário, a designação do d o u t o r não form a d o ("colega dos d o u t o r e s " ) , m a s , s o b r e t u d o , o fato de
M t e L c englobarem muitas vezes, m i m a única fórmula,
"escribas e fariseus". Mt, nos discursos d e Jesus, e Lc nas
n a r r a t i v a s d e seu evangelho, e m p r e g a m freqüentemente essa
expressão . M c e Jo , em c o m p e n s a ç ã o , não a mencio47
4ff
4 9
50
5I
52
53
b
b
b
a
€
b
b
a
a
certas d ú v i d a s a respeito deste n ú m e r o 6 . 0 0 0 : a) trata-se s o m e n t e dos
fariseus q u e r e c u s a r a m j u r a m e n í o a H e r o d e s , b) o n ú m e r o 6 . 0 0 0 encontra-ae t a m b é m e m Ant. X I I I 13, 5, § 3 7 3 e 14, 2, § 379. N ã o
p o s s o c o m p a r t i l h a r dessas d ú v i d a s . C o m efeito, d) e m Ant. X V I I 2,
4 § 4 2 , parece-nos q u e Josefo s u p õ e q u e t o d o s os fariseus r e c u s a r a m
o j u r a m e n t o ; b) as d u a s o u t r a s p a s s a g e n s q u e c i t a m o n ú m e r o 6 . 0 0 0
t r a í a m d c a c o n t e c i m e n t o s d e u n s 80 a n o s a n t e r i o r e s . — O s evangelhos m o s t r a m q u e h a v i a m u i t o s fariseus n a Galileia, M t 9,11.14 e
passim.
S e g u n d o Lc 5,17 " v i n d o s d e t o d a s as aldeias d a Galileia, da
Judeia e d e J e r u s a l é m " . E m A t 23,6, P a u l o d e T a r s o se d i z
Pharisaias
uiós Pharisaíon.
M a s essas d u a s ú l t i m a s p a l a v r a s p o d e m i g u a l m e n t e
significar (cf. s u p r a , p . 2 4 5 ) que ele e r a d i s c í p u l o d e m e s t r e s fariseus
ou m e m b r o d e u m a associação farisaica.
47. V e r supra, p . 1 2 1 .
48. V e r supra, 27-280.
49. Ant. X V I I I 1, 5, § 20.
50. V e r supra, n . 1 e infra, n. 5 9 .
5 1 . M t 5,20;12,38 (Lc 11,29: as m u l t i d õ e s ) ; 15,1 ( M c 7 , 1 : os fariseus
e a l g u n s escribas v i n d o s de J e r u s a l é m ) ; 23,2.13.1523.25.27.29;
— L c 5,17.21 (Mt 9,3; M c 2,6: alguns e s c r i b a s ) ; 5,30 (Mt 9,11: os
fariseus; M c 2,16: os escribas f a r i s e u s ) ; 6,7 (Mt 12,10; Mc 3,2: e l e s ) ;
7,50; 11,53; 14,3; 15,2.
5 2 . E m M c 7,5, o artigo r e m e t e ao q u e p r e c e d e ; n ã o é e m p r e g a d o
de m o d o geral.
5 3 . Salvo em Jo 8,3 q u e faz p a r t e d a p e r í c o p e d a " m u l h e r adúltera", inserida no quarto evangelho.
n a m . É lamentável que especialmente Mt conserve q u a s e
sempre essa designação global d o s dois grupos até mesmo nas p a l a v r a s que reúne em seu c a p . 2 3 contra os escribas e os fariseus. C o m efeito, M t introduz do m e s m o
m o d o , p o r "ai de vós, escribas e fariseus!", as p a l a v r a s
contra a v a i d a d e e o desejo de honrarias entre os doutores, e as p a l a v r a s contra a hipocrisia dos fariseus na observância das prescrições da legislação religiosa sobre a
pureza e o dízimo; assim sendo, ele elimina a diferença
e n t r e os dois grupos. D e m o d o mais feliz, a t r a d i ç ã o p a r a lela de Lo permite evitar conclusões errôneas; Lc estabelece u m a nítida separação entre u m discurso de Jesus contra os teólogos q u e são os e s c r i b a s , e u m d i s c u r s o d e
Jesus aos " h o m e n s da p r á t i c a " que são os f a r i s e u s .
54
55
56
Percebemos de modo especialmente claro a separação
t r a ç a d a e n t r e os dois, se nos l e m b r a r m o s das censuras dirigidas por Jesus, segundo Lc, a cada u m a das duas categorias. Aos e s c r i b a s eis o que ele censura: a) i m p o r e m
às pessoas certas leis religiosas e x t r e m a m e n t e p e s a d a s , enq u a n t o eles próprios não as c u m p r e m ; b) constroem túmulos aos profetas, e n q u a n t o eles próprios estão p r o n t o s a
c o n d e n a r à m o r t e os enviados d e D e u s ; c) m a n t ê m o c u l t a
a sua ciência e fecham assim à m u l t i d ã o o acesso ao Reino de D e u s , e n q u a n t o eles mesmos n ã o utilizam os seus
conhecimentos; d) ambição de a p a r ê n c i a , de h o n r a r i a s e
atenções, em particular o desejo do primeiro lugar n a s sinagogas. C o m o se vê, são censuras relacionadas com sua
sábia formação de escribas e com os direitos q u e dela decorrem na vida social.
57
54. C o m e x c e ç ã o
de 23.26.
55. Lc 11,46-52;20,46 (cf. 11,43).
56. Lc 11,39-44. E m l i , 4 3 s o m e n t e , u m e r r o insínuou-se n a tradição l u c a n a ; u m a t r a d i ç ã o p a r a l e l a , p o r é m , d e n t r o d e s t e terceiro e v a n gelho e em M c , p e r m i t e corrigi-la c o m p l e t a m e n t e de m o d o incontestável. C o m efeito, em Lc 20,46, c o m q u e m M c 12,38-39 está d e a c o r d o ,
é aos escribas q u e se dirige, c o m r a z ã o , a c e n s u r a d o desejo a m b i c i o s o
de ter os p r i m e i r o s lugares nas sinagogas e r e c e b e r , em p r i m e i r o lugar, as s a u d a ç õ e s nos b a z a r e s ; em c o n t r a p a r t i d a , em Lc 11,43 a cens u r a é, p o r erro, dirigida aos fariseus.
57. Lc l l , 4 6 - 5 2 ; 2 0 , 4 6 ; cf. 11,43. G u a n l o a 11,43, v e r a n . p r e c e dente.
As censuras q u e , segundo Lc, Jesus dirige aos fariseus (Lc 11,39-42,44) são de o u t r a natureza. Ei-ías: a)
hipocrisia no c u m p r i m e n t o das prescrições de p u r e z a , q u a n do eles mesmos são interiormente i m p u r o s ; b) hipocrisia
no p a g a m e n t o do dízimo p a r a os legumes verdes e os legumes secos isentos do dízimo segundo a Lei, ao passo
que negligenciavam as exigências religiosas e morais d a
m e s m a Lei. Como se vê, essas críticas não têm n e n h u m a
relação com u m a formação teológica; dirigem-se a pessoas
que c o n d u z e m sua vida segundo as exigências das leis religiosas dos escribas fariseus.
Lc mostra-nos, claramente e e m perfeito acordo com
os dados das fontes c o n t e m p o r â n e a s , q u e o discurso paralelo de Jesus em Mt 23 divide-se e m duas partes: a primeira (vv. l - 2 2 ; 2 9 - 3 6 ) é dirigida c o n t r a os escribas; a seg u n d a (vv. 23-28) contém as censuras lançadas aos fariseus. N o p r ó p r i o texto de Mt esse fato aparece c o m clareza por diversas vezes, como, por exemplo, q u a n d o ele
introduz os cinco " A i ! " (Mt 23,25-26) pela apóstrofe " A i
de vós, escribas e fariseus!", e n q u a n t o continua (v. 26)
pela única apóstrofe; " T u , fariseu c e g o " .
Assim, t a m b é m , os dois primeiros capítulos do Serm ã o da m o n t a n h a contêm u m discurso contra os escribas
e u m contra os fariseus. E m Mt 5,20, os dois grupos são
citados no início, encabeçados por escribas. Mas logo a
seguir, em 5,21-48 vem o discurso c o n t r a os escribas q u e
t r a n s m i t e m e explicam a " t r a d i ç ã o dos a n c i ã o s " . Depois
6,1-18 volta-se contra os " h i p ó c r i t a s " (no primeiro evangelho esse termo designa, salvo nalguns c a s o s , os fariseus); esses versículos são dirigidos n ã o mais contra a tradição d o u t r i n a l , mas contra as pessoas que a c u m u l a m obras
supererrogatórias (esmola, oração, jejum, cf. Lc 18,12).
É preciso, p o r t a n t o , estabelecer u m a nítida distinção
entre escribas e fariseus, e rejeitar a idéia completamente
falsa segundo a q u a l os fariseus, c o m o tais, e r a m escribas .
58
j9
58. E m M t 23,13-29 ( p r o v a v e l m e n t e t a m b é m 2 3 , 1 5 ) , os h i p ó c r i t a s
são os escribas; em 24,51, os sem-deus; e m 7,5 pessoas h i p ó c r i t a s .
59. Por ex., W . Bousset-H. G r e s s m a n n , Die Religion
des Juden¬
tums im spatheÜenistischen
Zeitalter,
3? ed., T ü b i n g e n , 1926, 187: " O s
fariseus são pessoas c u l t a s " , É u m j u l g a m e n t o t o t a l m e n t e falso, m a s
muito difundido.
U m ú n i c o p o n t o é indiscutível: os chefes e os membros influentes das c o m u n i d a d e s farisaicas eram
escribas,
A tradição nos mostra que os escribas que vamos mencionar pertenciam a u m a c o m u n i d a d e farisaica ou conform a v a m sua vida às prescrições farisaicas: antes de 162
a.C. Yose b e n Yoezer ; por volta d e 5 0 , A b t a l i ã o e Shem a y a ; cerca de 2 0 , talvez H i l e l ; em 30 d . C , no temp o de Jesus e da c o m u n i d a d e cristã primitiva, N i c o d e m o s
(Jo 3 , l s s ) , ainda o rabi a n ô n i m o a q u e m Jesus interroga
a respeito do maior m a n d a m e n t o (Mc 12,28), diversos outros escribas q u e e n t r a r a m em contato c o m Jesus , R a b b a n 1 e Sattlo de Tarso ; por volta de 5 0 , Y o h a n a n , filho da h a u r a n i t a , que se alimentava segundo as regras de
pureza levítica e R. Sadoc, sacerdote célebre que ingeriu
igualmente seus alimentos segundo as regras d e p u r e z a levítica , pelo ano 6 0 . Josefo , sacerdote e escritor, e Shimeon, filho de Gamaliel I " ; n a época da destruição do
T e m p l o o filho desse Shimeon, R a b b a n Gamaliel 11 q u e ,
assim dizem, alimentava-se segundo as prescrições farisaicas de pureza levítica e conservava sempre as suas vestes
em estado de s u p r e m a pureza l e v í t i c a , e Yoezer, sacerdote e s c r i b a .
M
6 1
62
63
6 4
65
66
67
6S
9
70
71
60. Hag. II 7.
6 1 . Ánt. X V 1, 1, § 3 ; 10, 4, § 370.
62. P o d e m o s deduzi-lo do a c o n t e c i m e n t o ('Er V I 2) q u e G a m a l i e l
c o n t a dc seu p a i . O p a i de G a m a l i e l I era H i l e l ; o S h i m e o n m e n c i o n a d o s o m e n t e em b . Shab. 1 5 bar., ao q u e se p r e t e n d e p r e s i d e n t e d o
Sinédrio d e p o i s d c Hilel e antes de G a m a l i e l I, n ã o é c i t a d o e m nen h u m o u t r o lugar, c de q u a l q u e r m o d o n ã o c dito ser pai d e G a m a liel I. E n t r e t a n t o , n ã o s a b e m o s se o relato de 'Er. V I 2 v e m d e R.
G a m a l i e l I ou d e R. G a m a l i e l I I ; é s o m e n t e no p r i m e i r o caso q u e
se p o d e tirar u m a d e d u ç ã o q u a n t o a H i l e l .
6 3 . M c 2,16; Lc 5,30; Mt 15,1-9; M c 7,1-13. O s fariseus q u e disc u t e m c o m Jesus d a exegese do D t 24,1 (Mt 19,3; M c 10,2) são igualm e n t e teólogos.
64. At 5,34; T o s . 'A. Z. I I I 10 (464, 6 ) .
65. At 23,6. P a u l o era u m escriba f o r m a d o . A t 26,10 o n d e ele
fala de sua a t i v i d a d e de juiz, dá-nos esta certeza.
66. b . Yeb. 1 5 e p a r .
67. Sukka
II 5 .
68. Vita 2, § 12.
69. Vita 38, § 191. S u p o n d o q u e o relato d e 'Er. VI 2 v e n h a de
C a m a l i e l I I (ver supra, n. 62) diz r e s p e i t o t a m b é m a seu p a i , R. Shim e o n ben G a m a l i e l I.
70. T o s . Hag. I l l 2 (236, 18). G a m a l i e l II já estava em a t i v i d a d e
a
b
C o m o v e m o s , a lista não é extensa. A b e m dizer, só
conhecemos n o m i n a l m e n t e u m a ínfima p a r t e de escribas
q u e p e r t e n c i a m a u m a c o m u n i d a d e farisaica; o n ú m e r o ,
p o r é m , era m u i t o m a i o r . C o n v é m a i n d a observar que muitos escribas, opostos aos doutores saduceus, defendiam
idéias farisaicas sem que nos seja expressamente confirm a d a a sua pertença à hãbürah.
Y o h a n a n b e n Z a k k a i , por e x e m p l o , em Yab. IV 6,
sustenta contra os saduceus a o p i n i ã o farisaica segundo a
qual os livros santos m a n c h a m as m ã o s , ele fala, p o r é m ,
dos fariseus na terceira pessoa, t a n t o q u e , baseando-se
nesse texto, c o n s i d e r o u - s e
Y o h a n a n com u m saduceu
(sic!). E m Lc 1 1 , 4 5 , u m escriba diz a Jesus após a sua rep r i m e n d a aos fariseus: " M e s t r e , falando assim tu nos insultas t a m b é m ! " Esse escriba defende igualmente os fariseus sem se colocar diretamente no n ú m e r o deles. Se em
semelhantes casos pode-se, sem hesitação, supor que o escriba, defendendo opiniões farisaicas, pertença igualmente
a u m a c o m u n i d a d e farisaica, não se deve d e m o d o algum
subestimar o n ú m e r o dos doutores n ã o pertencentes a u m a
hãbürah farisaica. E m todo caso, é consideravelmente mais
elevado do que o p r e t e n d e a tradição talmúdica, redigida
de u m p o n t o de vista u n i l a t e r a l m e n t e farisaico.
72
O exemplo de Shimeon ben N e t h a n a e l é, a meu ver,
p a r t i c u l a r m e n t e elucidativo. Shimeon que vivia p o r volta
do ano 70 d . C , era sacerdote e discípulo de R a b b a n Yohanan ben Z a k k a i
cujas idéias farisaicas constatamos há
7 3
antes dc 70 d. C , c o m o o c o n f i r m a m os d a d o s q u e se s e g u e m . T o s .
Sanh. II 6 (416, 2 4 ) : nos d e g r a u s d a e s p l a n a d a d o T e m p l o , ele esc r e v e u m a o r d e m p a r a a Galileia (com Billerbeck, I, 154 e G . Dalm a n , Die Worte
jesu.
I, 2- ed., Leipzig, 3 ; é preciso atribuir essa
p a s s a g e m a G a m a l i e l I I ) ; Pes. V I I 2; m a n d a assar em Jerusalém o
c o r d e i r o p a s c a l p e l o seu e s c r a v o T a b i (o n o m e d o e s c r a v o é conhecido; m o s t r a q u e se t r a t a de G a m a l i e l I I ) ; Sukka
I I I 9 (pode acontecer ser p r e c i s o , j u n t a m e n t e c o m Billerbeck, I I , 788 e, situar esse
a c o n t e c i m e n t o n a liturgia do T e m p l o , antes de 70, p o r t a n t o ) ; o fato
faz, p o i s , s u p o r q u e R a b b a n G a m a l i e l I I já era nessa é p o c a u m a auloridade reconhecida.
7 1 . Vita 39, § 197. Q u a n t o à forma d e s t e n o m e , v e r supra, n . 14,
72. B. D . E e r d m a n s , " F a r i z e è n e n S a d d u c e é n " , e m
Theologisch
'1'ijdschrift
48 ( 1 9 1 4 ) , 9ss. G r a n d e e r r o ! O u t r a s passagens t a m b é m (b.
Mcn. 6 5 e p a s s i m ) m o s t r a m , sem e q u í v o c o , q u e Y o h a n a n b e n Z a k k a i
o c u p a v a , sem d ú v i d a , u m a p o s i ç ã o c a t e g o r i c a m e n t e anti-saducéia.
73. P. A. I I 8.
a
pouco e desposou u m a neta
do fariseu R a b b a n G a m a liel 1 . E n t r e t a n t o , Shimeon recusava tomar seu alimento
profano, conformando-se às prescrições farisaicas sobre a
pureza e, p o r ocasião de seu c a s a m e n t o , foi obrigado a
p r o m e t e r expressamente não exigir de sua m u l h e r que preparasse alimentos puros em sua casa (já q u e , de certa maneira, ele não tinha observado a pureza r i t u a l ) . E n t r e os
escassos dizeres que dele chegaram até nós, u m critica a
determinação de tornar-se a oração "algo b e m regulament a d o " , pois a intimidade da oração viria a sofrer com isso .
E v i d e n t e m e n t e , Shimeon critica o estabelecimento de h o r a s
fixas p a r a orar ao que os fariseus d a v a m tão g r a n d e importância .
7 i
7 5
7Ó
11
D e m o d o esclarecedor o texto q u e vamos transcrever mostra-nos o grau de consciência com que os membros do clero se s u b m e t i a m às exigências farisaicas sobre
a p u r e z a : "Yose ben Yoezer [antes d e 162 a . C ] era, entre os sacerdotes, u m h o m e m piedoso e suas vestes consideradas como midras [impuras somente por contato] p a r a
fa c o n s u m a ç ã o ] das coisas santas. Y o h a n a n ben G u d g e d a
[cerca de 40 d.C.j d u r a n t e a sua vida inteira só se alimentou dentro [das regras] da pureza das coisas santas, de
sorte que sua veste era considerada c o m o midras
[impura
somente por contato] pela [aspersão da água d a ] purificação".
&2
7S
Esse caso particular mostra-nos que é preciso n ã o subestimar n e m valorizar o n ú m e r o dos escribas não fariseus, e que somente u m a p a r t e — na realidade mais importante do que a outra — dos escribas pertencia às com u n i d a d e s farisaicas.
Os m e m b r o s das hãbúrôt,
na maioria, não e r a m escribas. Sabemos que inúmeros sacerdotes e r a m fariseus.
Entre os escribas fariseus que citamos há p o u c o , encontramos os seguintes sacerdotes: Yose ben Yoezer, R. Sadoc, Josefo e Yoezer. A esses p o d e m o s acrescentar membros do clero q u e , sem serem providos de u m a f o r m a ç ã o
de escriba, e r a m fariseus. Conta-nos Josefo que João Hircano (134-104 a . C ) , sumo sacerdote e príncipe dos j u d e u s ,
foi, no princípio de seu reinado, "discípulo dos fariseus
que o estimavam e n o r m e m e n t e " ; além disso u m fragmento de evangelho apócrifo cita Levi, sacerdote-chefe fariseu ; finalmente, devemos mencionar o levita Y o h a n a n
ben G u d g e d a que já encontramos como porteiro-chefe do
Templo .
79
80
B1
74. Ver supra, p . 2 9 9 , n . 4 8 6 .
75. T o s . 'A. Z. I I I 10 (464, 6 ) .
76. Ibid. 464, 7.
77. P. A. I I 13.
78. V e r supra, n . 25 e
passim.
79. Ant. X I I I 10. 5, § 289; b . Ber. 2 9 .
80. E. P. Grenfell e A. S. H u n t , The Oxyrhynchus
Papyri,
L o n d r e s , 1908, n. 8 4 0 . S o b r e o s e n l i d o d o ( e r m o archiereús,
ver
p p . 242-248.
8 1 . V e r supra. p p . 234s, 290, 318.
Segundo esse texto, Yose b e n Yoezer, mesmo fora do
T e m p l o , na vida cotidiana, observava com tal consciência
as regras de pureza válidas p a r a os sacerdotes, de m o d o
p a r t i c u l a r preservava suas vestes da i m p u r e z a com taman h o c u i d a d o que podia, cm q u a l q u e r ocasião, comer a
primícia reservada aos sacerdotes sem m u d a r as vestes; só
tinha de trocá-las q u a n d o fosse comer a carne das vítimas.
Q u a n t o a Y o h a n a n b e n G u d g e d a , i m p u n h a a si próprio
u m grau de p u r e z a a i n d a mais severo, u l t r a p a s s a n d o o texto da prescrição farisaica sobre a p u r e z a . E m b o r a fosse
levita, observava em toda a sua alimentação o grau de
pureza exigido p a r a a carne dos sacrifícios; assim sendo,
se tivesse sido sacerdote, teria tido o direito de comer a
carne dos sacrifícios c o m suas vestes diárias e só teria de
mudá-las p a r a a aspersão da água da purificação ( N m 19).
N o u t r a circunstância t o m a m o s c o n h e c i m e n t o de u m sacerdote, Shimeon b e n N e t h a n a e l , que recusou submeter-se à
prescrição farisaica sobre a pureza; o fato faz-nos, pois,
c o m p r e e n d e r que a obediência dos sacerdotes a tal prescrição não era de m o d o algum óbvia.
O s sacerdotes t o m a r a m g r a n d e p a r t e no m o v i m e n t o
farisaico. É explicável pelo fato de esse m o v i m e n t o ter seu
núcleo no T e m p l o ; p r o c u r a v a erguer a nível de n o r m a geral, válida igualmente p a r a aqueles q u e não e r a m sacerdotes, as prescrições d e pureza que a Escritura i m p u n h a
a
t. V.
supra,
82. Hag.
1906.
II 7. Cf. A. B ü c h l e r , Der
galüais-che
'Am-ha'
Ares,
Viena,
aos sacerdotes q u a n d o do c o n s u m o da a r r e c a d a ç ã o que
lhes era reservada.
O s escribas que a c a b a m de ser citados, sacerdotes e
levitas, constituíam a p e n a s a p a r t e dirigente dos fariseus.
Os leigos que se agregavam às c o m u n i d a d e s farisaicas e se
c o m p r o m e t i a m a observar as suas prescrições sobre o dízimo e sobre a pureza eram muito mais n u m e r o s o s .
É o que já verificamos, pela constante citação no
Novo T e s t a m e n t o , de "escribas e fariseus" lado a l a d o .
Conforme d e m o n s t r a essa expressão, havia, junto aos chefes q u e e r a m os escribas, a g r a n d e massa p o p u l a r desprovida da formação que aqueles possuíam. O T a l m u d e acentua expressamente, a respeito de u m fariseu que se voltou
contra A l e x a n d r e Janeu, que era u m "simples israelita" ;
Josefo, referindo-se a duas pessoas de alta classe q u e faziam p a r t e em 67 d.C. de u m a e m b a i x a d a na Galileia, diz
serem fariseus e l e i g o s . O " p o v o de J e r u s a l é m " q u e escondeu na água seus doces de figos — c e r t a m e n t e durante os anos da revolta em 66-70 d.C. — para os subtrair aos sicários e se p r e o c u p o u c o m sua p u r e z a ritual
até que os escribas o tranqüilizou , são fariseus d e Jerusalém, gente simples do p o v o , sem formação ou c u l t u r a .
N o u t r o lugar, vemos "gente de J e r u s a l é m " c u m p r i r c o m
zelo seus deveres religiosos p a r a a festa das Tendas:, participação no culto sinagogal, visitas d e c o n d o l ê n c i a s , . v i s i tas a enfermos, freqüência às escolas, o r a ç ã o ; t a m b é m
nesse caso, trata-se talvez de fariseus e assim s e n d o , pensar-se-ia, antes de t u d o , em leigos piedosos.
83
84
ífS
SÉ
87
H á ainda em Jerusalém aqueles mercadores d e v i n h o
e azeite q u e , n a delicadeza de sua consciência, e n c h e r a m
300 odres com a espuma do v i n h o d u r a n t e a venda e 300
com o azeite q u e sobrou nas vasilhas de m e d i d a ; entregaram-nos aos tesoureiros do T e m p l o por n ã o c o n s i d e r a r e m
esses restos p r o p r i e d a d e deles ; trata-se, ao q u e t u d o in88
8 3 . b . Qid. 6 6 .
84. Vita 3 9 , § 197.
85. Maksh.
I 6.
86. b . Sukka 4 1 ; T o s . Sukka I I 10 (195, 6 ) ; j . Sukka
(IV/1, 30).
87. Cf. a e x p o s i ç ã o d e t a l h a d a supra, p p . 336-338.
88. b . Besa 2 9 bar.
a
b
38
a
III
14, 5 4
a
dica, de fariseus. O s fabricantes d e aromas dos quais se
fala a propósito de u m debate sobre a santificação do sábado
p r o v a v e l m e n t e são t a m b é m fariseus. É u m deles
q u e , e m Lc 18,9-14 se vangloria de jejuar d u a s vezes p o r
semana e pagar o dízimo de tudo o que a d q u i r e (como
p r o d u t o c o l h i d o ) ; temos de considerá-lo como u m leigo,
já que n e n h u m título lhe é a t r i b u í d o .
89
90
91
As incontáveis prescrições sobre relações comerciais
entre fariseus e não-fariseus fazem-nos conhecer melhor os
círculos q u e formavam a g r a n d e massa dessa seita . Esses
textos n ã o d e i x a m a m e n o r d ú v i d a : e r a m sobretudo os
mercadores, artífices e camponeses q u e faziam p a r t e da
hãbürah. E m r e s u m o : a c o m u n i d a d e farisaica compunha-se,
especialmente, de plebeus, gente do p o v o sem formação
de escriba , honestos, sérios e p r o n t o s a se dedicarem ao
que fosse necessário. Muitas vezes, porém, mostravam-se
severos e orgulhosos em relação à g r a n d e multidão, os
'ammê ha-'ares
q u e n ã o observavam, como eles, as prescrições das leis religiosas dos escribas fariseus e p e r a n t e
os quais os fariseus se consideravam c o m o o v e r d a d e i r o
Israel .
y2
93
94
95
89. A p a l a v r a t a m b é m p o d e designar m e r c a d o r de a n i m a i s . Seg u n d o R. Y o s e , írata-se de m e r c a d o r e s de lã ('Er X, 9 ) .
90. 'Er. X 9.
9 1 . Pode-se t a m b é m t r a d u z i r : a) " p a g o o d í z i m o d e t u d o o q u e
p r o d u z o " ; ou b) " d e t u d o q u a n t o g a n h o d o u 1 0 % p a r a as o b r a s de
b e n e f i c ê n c i a " , ver Billerbeck, I I , 244s. E m n o s s a t r a d u ç ã o , e s c o l h e m o s
o s e n t i d o c s e g u n d o o qual o h o m e m se g a b a de p a g a r o dízimo d e
t u d o o q u e c o m p r a e n ã o s o m e n t e d o q u e ete p r ó p r i o p r o d u z ( p o r q u e
n ã o s a b e c o m certeza se o v e n d e d o r , m e s m o q u e o afirme, já d e s o n e rou-se d o d í z i m o ) . Essa ú l t i m a asserção é a m a i s p r o v á v e l , pois, encerra, d e m a n e i r a m u i t o clara, u m e l e m e n t o característico dos fariseus
(Demay
II 2 [ 4 7 , 1 0 ] ) .
92. Demay II 2-3; V I 6; T o s . Ma'as. I I I 13 (85,19), e passim.
9 3 . É b o m n o t a r q u e q u a n d o Jesus d i s c u t e c o m os fariseus s o b r e
q u e s t õ e s exegéticas (Mt 22,41-46 e par.) c s o b r e o u t r a s questões teóricas, é c o m os chefes, c o m os escribas q u e o f a z .
94. N o singular, a e x p r e s s ã o significa, a o p é d a letra " p o v o d o
país [de I s r a e l ] " . P r i m i t i v a m e n t e , d e s i g n a v a a vasta m u l t i d ã o p o p u lar de Israel; d e p o i s , foi u s a d a p a r a a p o p u l a ç ã o m e s c l a d a j u d e u - p a g ã
o r i u n d a d o p o v o a m e n t o d a P a l e s t i n a pelos p a g ã o s d u r a n t e o exílio de
Habilônia; enfim d e p o i s d o século II antes de nossa era, foi e m p r e g a d a p a r a designar a q u e l e q u e n ã o c o n h e c i a a Lei, e s p e c i a l m e n t e o
não-fariseu.
95. Q u a n t o ao s e n t i d o do t e r m o " f a r i s e u " , ver supra, n. 2.
Analogias c o m o c a r á t e r e a organização das comun i d a d e s farisaicas tal como acabamos de descrever, aparecem no Documento
de Damasco
p u b l i c a d o em 1910,
e, recentemente, em p r o p o r ç ã o m e n o r , na Regra da Comunidade
( 1 Q S ) , p u b l i c a d a em 1 9 5 1 . Antes das descobertas de Q u m r ã , considerava-se geralmente o Doe.
Dam.
como u m texto fariseu (a primeira redação dessa p a r t e em
1929 compartilhava t a m b é m dessa opinião). Depois d a publicação dos textos de Q u m r ã , tivemos a certeza d e ser
ele de origem essênia. A p r o v a nos foi d a d a pelas semelhanças de base e pelo fato de os fragmentos do Doe. Dam.
terem sido encontrados em Q u m r ã
56
91
9 8
T o d a v i a , a origem essênia do Doe. Dam. n a d a m u d a
ao fato de p o d e r ser ele de g r a n d e ajuda p a r a se compreender a organização das c o m u n i d a d e s farisaicas; c o m efeito, fariseus e essênios tiveram a m b o s , sem sombra d e dúvida, sua origem no m o v i m e n t o dos assideus, na época
macabaica °, o que mostra muitas semelhanças e n t r e os
dois movimentos. A p a r e c e m com maior nitidez no Doe.
Dam. do q u e na Regra. O Doe. Dam. estabelecido provavelmente p a r a grupos essênios dispersos no país, supõe formas de c o m u n i d a d e semelhantes àquelas que as regras farisaicas p r e v ê e m : em compensação, a Regra organiza a vida
severa de Q u m r ã , centro monástico.
I0
Se e x a m i n a r m o s a organização das c o m u n i d a d e s essênias, vemos, de imediato, que se trata de grupos rigorosamente organizados. M a n t ê m m e m b r o s
(Doc. Dam. X I I I
12, cf. X 2) estabelecidos segundo a o r d e m igualmente
válida p a r a as reuniões: sacerdotes, levitas, israelitas, pro1 0 1
96. Ver supra,
ibid.
97. S. S c h e c h t e r , Documents
of Jewish
Sectaries,
vol. I, Cambridge, 1910.
98. M. Burrows-J. C. T r e v e r - W . H . B r o w n l e e , The Dead Sea
Scrolls
of St. Mark's
Monastery
I I / 2 , N e w H a v e n , 1951. — A Regie de la
congregation
(1 Q Sa), a n e x o da Regie de la communauté,
foi p u b l i c a d a p o r D . B a r t h é l e m y e m Qumran
Cave I (Discoveries
in the ]udaean Desert, t. 1), O x f o r d , 1955, 109-111.
99. N a g r u t a 4 (J. T . Milik, RB 63 [ 1 9 5 6 ] , 61) e a g r u t a 6 ( M .
Baillet, ibid., 513-523).
100. Ver supra, p . 334.
101. 1 Q S V 2 3 , V I ( 1 0 ) 2 2 ( 2 6 ) , V I I 2 . 2 1 , V I I I 19, I X 2 ; cf.
1 Q Sa I 2 1 .
sélitos ( X I V 3ss). Algumas prescrições r e g u l a m e n t a m , porm e n o r i z a d a m e n t e , a admissão na c o m u n i d a d e . Somente
" a d u l t o s " p o d e m ser recebidos d e n t r e aqueles que são exam i n a d o s " (X 1-2, cf. X V 5-6). Como p o d e m o s ver em N m
1,3 a regra fixa em 20 anos a i d a d e m í n i m a p a r a o ingresso de q u a l q u e r p r e t e n d e n t e .
Previamente, o c a n d i d a t o submete-se a u m exame feito pelo escriba vigilante (Doe. Dam. X I I I 11-12; X V 11)
que tão-somente possui o direito de admiti-lo ( X I I I 12¬
13)
e a q u e m o postulante deve apresentar-se (XV 7-8).
O vigilante dá-lhe logo a conhecer as disposições jurídicas
secretas
da c o m u n i d a d e (XV 10-11); o c a n d i d a t o presta
o j u r a m e n t o de e n t r a d a (XV 6), e é incluído na lista dos
m e m b r o s ( X I I I 12). Segue-se, então, segundo a Regra (1QS
V I 13ss; cf. V I I 19ss, V I I I 24s), u m período de provação q u e dura dois anos. Faltas graves são p u n i d a s por u m a
exclusão t e m p o r á r i a ou definitiva (Doe. Dam. X X 1-13;
ver t a m b é m as disposições penitenciais n a Regra, 1QS V I
24-VII 2 5 ) .
lü2
103
104
Essas informações estão perfeitamente de acordo com
o resultado da análise das c o m u n i d a d e s farisaicas feita acim a ; torna-se especialmente claro se p e n s a r m o s que a sinagoga, ao contrário desses dois movimentos n ã o adota exclusões e só aceita adultos em caso de conversões de pagãos.
N o q u e concerne ao governo, u m viligante
(m baqqer)
q u e não deve ter menos de trinta anos n e m mais de 50
(Doe. Dam. X I V 8s) chefia cada " c a m p o " . É u m escriba
q u e informa sobre o sentido exato da Lei ( X I I I 7s). É a
ele q u e se devem c o m u n i c a r as faltas cometidas (IX 18s,
2 2 ) , U n i c a m e n t e ele tem o direito d e admitir u m candidato na c o m u n i d a d e ( X I I I 12s); e x a m i n a e instrui os novos recrutas ( X I I I l i s ; cf. X V 8,11). É ainda o pai espiritual da c o m u n i d a d e ; " c o m o u m p a i , compadece-se de
seus filhos" ( X I I I 9). Suas relações c o m a c o m u n i d a d e são
descritas sob a figura do pastor e do r e b a n h o (ibid.). Por
e
102. 1 Q Sa I 8 indica e x p r e s s a m e n t e o limite d a i d a d e de v i n t e
anos.
103. Apresenta-se d i f e r e n t e m e n t e e m 1 Q S V 8.20ss o n d e os sac a r d e o t e s e os m e m b r o s c o m direitos de c i d a d a n i a p r o c e d e m j u n t o s
à admissão.
104. Aplica-se a justiça s e g u n d o as regras j u r í d i c a s específicas.
esse m o t i v o , ao "desligar os elos de suas c o r r e n t e s " ( X I I I
10) , cuida p a r a que ninguém d a c o m u n i d a d e seja oprimido ou fisicamente atingido. Com os juízes, recebe da
c o m u n i d a d e dons caritativos e vigia a sua distribuição ( X I V
13).
105
A o levar em conta a correspondência de organização
e s t u d a d a acima entre as c o m u n i d a d e s essênias e farisaicas,
podemos imaginar as funções dos ârchontes
fariseus (Lc
14,1), sobre os quais as fontes nos dão poucas informações como análogas às funções d o nfbaqqer
essênio. O fato
deste nfbaqqer
m a n t e r t a m b é m contatos com o bispo cristão concorre p a r a essa a p r o x i m a ç ã o . T u d o q u a n t o foi explicado até agora q u a n t o à origem dessa última função (a
saber, o termo episcopo designava os m e m b r o s das comissões c o m u n a i s de construção nas cidades sírias , o u o
chefe da sinagoga entre os judeus , não nos satisfaz. Impõe-se u m a dupla observação : o título nfbaqqer
corresp o n d e literalmente ao grego episkopos.
De outro lado, a
posição e as funções do nfbaqqer
são idênticas às do b i s p o
n a Didascaiia siríaca. Esses fatos levam-nos a i n d a g a r se
a função de chefe de u m a c o m u n i d a d e essênia, função tal
como a conhecemos pelos dados do Doe, Dam. sobre o
nfbaqqer,
não terá sido o modelo do episkopos
cristão
(caberia u m a segunda p e r g u n t a : a influência não se fez
antes sentir p o r intermédio dos fariseus do q u e p e l o dos
essênios?).
106
lo:
m
H o u v e objeções contra a hipótese de tais d e p e n d ê n cias: que u m "vigilante de todos os c a m p o s " (Doe.
Dam.
X I V 8-9), p o r t a n t o , u m a a u t o r i d a d e m o n á r q u i c a n a chefia, aparecesse no Doe. Dam. ao lado do vigilante de cada
c a m p o . Seria, c o m efeito, inverossímil q u e as c o m u n i d a d e s
cristãs da época neotestamentária tivessem r e t o m a d o a função dos episkopoi das c o m u n i d a d e s particulares (observe-se
o plural em Fl 1,1) e não esse episcopo m o n á r q u i c o . O r a ,
esse ú l t i m o , como se sabe, aparece pela primeira vez em
Inácio de A n t i o q u i a .
Eis c o m o se deve r e s p o n d e r . É muitíssimo duvidoso
que o Doe. Dam. conheça a função m o n á r q u i c a de u m
" vigilante-chefe ". A expressão decisiva, nfbaqqer
l kol ha-mahanôt
( X I V 8-9), p o d e apresentar diferentes significados. A t r a d u ç ã o "vigilante de cada c a m p o " concorda com
o sentido do trecho; com efeito, as regras que seguem,
X I V 9ss, n ã o se p o d e m aplicar a u m vigilante-chefe ú n i c o .
Como o mostra IX 17ss, aplicam-se m e l h o r ao vigilante
de cada c a m p o .
E m r e s u m o , convém dizer que p o d e m o s levar em
consideração os dados sobre a organização dos " c a m p o s "
essênios, mas c o m a maior p r e c a u ç ã o , p a r a d a r contornos
mais acentuados às raras e ocasionais informações acerca
da organização das c o m u n i d a d e s farisaicas.
A influência que as c o m u n i d a d e s farisaicas e seus
chefes, os escribas, s o u b e r a m exercer é r e a l m e n t e admirável e, à primeira vista, enigmática.
E m nosso conhecimento de historiador, o primeiro
g r a n d e sucesso que a l c a n ç a r a m situa-se nos seis anos de
tumultos sangrentos e de guerras civis sob A l e x a n d r e Jan e u (103-76 a . O ) ; a g r a n d e massa p o p u l a r se uniu aos
fariseus que contestavam a legitimidade dos sumos sacerdotes asmoneus . Diversas vezes à beira d a ruína, Alex a n d r e Janeu conseguiu estabelecer a p a z , mas a preço
de u m doloroso b a n h o de sangue. E n t r e t a n t o , os fariseus
obtiveram a vitória. E m seu leito de m o r t e , o rei aconselhou à esposa A l e x a n d r a (76-67) que se unisse aos fariseus . Fizeram então a sua e n t r a d a n o Sinédrio q u e , até
aquela data c o m p r e e n d i a exclusivamente representantes da
aristocracia religiosa e leiga, e a b a n d o n a r a m sua oposição
à família reinante. A l e x a n d r a governou, mas e n q u a n t o mulher, não p ô d e ser, ao m e s m o t e m p o sumo sacerdote; essa
circunstância deve ter facilitado a coligação dos fariseus.
Apoiados n o p o d e r da r a i n h a , tornaram-se, e n t ã o , os verdadeiros chefes de estado .
e
m
n o
m
m
105. " L i g a r " e " d e s l i g a i " , cf. Mí 16,19.
106. A. Schlattcr, Geschichte
der ersten
Christenheit,
Gütersloh,
1926, 95; M . D i b e l i u s , An die Phüipper,
3 ed., T ü b i n g e n , 1957, a
FI 1, 1.
107. K. G . G o e t z , Petrus, Leipzig, 1927, 49ss.
3
108. G . H o l s c b e r , era ZNW
28
( 1 9 2 9 ) , 39.
109.
110.
111.
I 12.
V e r supra, p p . 219s, 259.
Ani. X I I I 13, 5 4 4 , 2, § 372-382; B. ;. I 4, 3-6, § 88-98.
Ant. X I I I 16, 5, § 401-404.
B. j . I 5, 2, § 110s.
12 - .Inrusalém no tempo de J e s u s
A p ó s a morte de A l e x a n d r a e sob Aristóbulo I (67-63
a . C ) , a força dos fariseus d i m i n u i u . R e t o m a r a m sua velha
oposição à família reinante e, e m 6 3 , c o n v e n c e r a m o p o v o
a enviar u m a e m b a i x a d a a P o m p e u , a fim de p e d i r a supressão d a realeza nacional " ; n ã o esconderam seu regozijo pelo sucesso d o projeto . Foi sobretudo d u r a n t e o
reinado de H e r o d e s , o G r a n d e (37-4 a . C ) , q u e se manifestou a extensão do seu p o d e r . A s c e n d e n d o ao t r o n o , H e rodes fez perecer os dirigentes d a nobreza leiga, seus inimigos mais influentes no Sinédrio; e m c o m p e n s a ç ã o , poup o u os chefes fariseus e conferiu-lhes todas as h o n r a s .
Q u a n d o mais tarde os fariseus recusaram, u n a n i m e m e n t e ,
prestar j u r a m e n t o de fidelidade a H e r o d e s e a César, o
rei contentou-se e m impor-lhes u m a multa p e c u n i á r i a , enq u a n t o , pelo m e s m o motivo, m a n d o u executar o u t r a s pessoas . N a corte de Jerusalém os fariseus t i n h a m suas pequenas e grandes o p o r t u n i d a d e s e exerciam p r o f u n d a influência n o h a r é m e entre os domésticos .
3
m
l15
116
117
É n a força dos fariseus q u e devemos, de m o d o especial, p r o c u r a r a razão d a indulgência do rei. M e s m o u m
H e r o d e s tinha de reconhecer q u e os fariseus c o n t a v a m
com o p o v o . W e l l h a u s e n n ã o tem razão ao dizer q u e
"os fariseus tiveram sua época de p r o s p e r i d a d e s o b H e rodes"
— situa-se ela, com efeito, após 70 d . C — m a s
u m fato é certo: e n q u a n t o as famílias sacerdotais d a n o v a
h i e r a r q u i a ilegítima d e p e n d i a m d a s b o a s graças d e H e r o des de m a n e i r a total e indigna, os fariseus mantiveram-se
tranqüilos; t i n h a m , então, r e a d q u i r i d o sua influência n o
U B
Sinédrio. Foi somente e m 6 a . C , dois anos antes de sua
m o r t e q u e H e r o d e s , e m conluio com as intrigas d a corte,
rompeu com os fariseus .
130
N a época seguinte, até o início da Primeira Revolta
(66 d . C ) , os fariseus tiveram p o u c a influência na vida política d o p o v o judeu. C o n t i n u a v a m a ter representantes n a
Assembléia s u p r e m a , m a s é a aristocracia sacerdotal e leiga, de observância saducéia, q u e ali representava papel
d e t e r m i n a n t e . Os fariseus, m e m b r o s do Sinédrio, sempre
s o u b e r a m fazer-se o u v i r d u r a n t e as sessões e t i n h a m relações com H e r o d e s A n t i p a s , tetrarca da Galileia ; pelo
m e n o s é a o p i n i ã o d o s evangelhos e d o s Atos d o s Apóstolos ; (segundo o q u a r t o evangelho, a c o n d e n a ç ã o de Jesus é , substancialmente, obra dos fariseus ; é difícil dar-Ihe razão). N ã o causa estranheza q u e o fariseu Saulo ten h a sido i n c u m b i d o de representar p a p e l ativo na perseguição aos cristãos . E n t r e t a n t o , a influência dos fariseus
sobre a política e a administração d a justiça n a Palestina,
antes de 6 6 d . C , n ã o deve ser e x a g e r a d a . Bem diferente era o q u e acontecia n o domínio religioso. Nesse pont o , os fariseus levavam vantagem sobre os saduceus. Assim
sendo, encont r am os t o d a a vida religiosa, especialmente a
121
122
m
m
m
119
113. Ant. X I V 3, 2, § 4 1 ; c o m r a z ã o supõe-se, g e r a l m e n t e , q u e a
e m b a i x a d a foi o r g a n i z a d a pelos fariseus.
114. B. j . I 8, 5, § 170.
115. Ant. X V I, 1-2, § 3ss. O s fariseus t i n h a m a c o n s e l h a d o a rendição d e J e r u s a l é m a H e r o d e s .
116. É p r o v á v e l , c o n f o r m e e x p ô s O t t o , Herodes,
c o l . 6 4 n., n a
trilha d e W e l l h a u s e n , q u e os dois relatos d e Josefo, Ant. X V 10, 4, §
368-370 e X V I I 2 , 4 , § 42, c o n t e n h a m o m e s m o c a s o , m a s s e g u n d o d u a s
fontes, u m a desfavorável aos fariseus ( X V § 3 6 8 ) , a o u t r a simpatiz a n t e a H e r o d e s e oposta aos fariseus ( X V I I § 4 2 , s e m d ú v i d a Nicolau d e D a m a s c o ) .
117. Ant. X V Í 1 2, 4 , § 41ss, cf. X V 1, 1, § 3 5 .
118. Ant. X V I I 2, 4 , § 4 1 : e s t a v a m m e s m o p r o n t o s a d e c l a r a r
guerra a o rei e a prejudicá-lo.
119. W e l l h a u s e n , Pharisaer,
109.
120. Ani.
XVII
2, 4, § 36-46; B. j . I 2 9 , 1, § 569-571.
121. M c 3,6; Lc ¡ 3 , 5 1 ; M c
12,13 p a r . M t
22,15-16.
122. A t 5,34-39;23,6.
123. Jo 7,32.45-52;! 1,46; 12.42; cf. " o s j u d e u s " e m 7,13;9,22; 19,38:
20,19.
124. A t 9,l-4;22,3-8;25,9-14. Q u a n t o à d a t a ç ã o : s e g u n d o G a l 1,18;
2 , 1 , a c o n v e r s ã o d e P a u l o se deu dezessete a n o s — q u e r dizer, quinze, c o n f o r m e nossa m a n e i r a m o d e r n a d e c o n t a r — a n t e s d o concílio
a p o s t ó l i c o q u e se r e a l i z o u n o fim d e 48 d . C , p o r t a n t o , e m 33 (ver
m e u artigo Sabbatlyahr,
e m ZNW 2 7 ( 1 9 2 8 ) , 98-103.
125. A p a r t i r d e 66 d . C , a s i t u a ç ã o m u d o u c o m p l e t a m e n t e . V e r
a abolição cio c ó d i g o p e n a l cujo a n i v e r s á r i o será c e l e b r a d o a l e g r e m e n t e ,
s e g u n d o Megillat
táanií
10, e m 14 t a m m u z ( e d . H . L i c h t e n s t e i n , e m
UUCA
8-9 (1931-1932), 319, n . 1 2 ) . Essa a b o l i ç ã o n ã o se d e u n e m
M»b A l e x a n d r a (76-67 a.C.) n e m s o b A g r i p a I (41-44 d . C ) . m a s n o
linimento e m q u e e s t o u r o u a revolta c o n t r a os r o m a n o s (66 d . C ) . C o m
H i ' i l o , a c o n d e n a ç ã o à m o r t e d a filha d e u m s a c e r d o t e , sob A g r i p a I,
r e n d a d a supra, p . 2 4 6 , n. 2 2 2 a, foi p r o n u n c i a d a s e g u n d o o d i r e i t o
'..idlliTll.
liturgia , regrada segundo as prescrições farisaicas. O último rei j u d e u , Agripa I (41-44 d . C ) , vivia como fariseu .
O s sumos sacerdotes saduceus eram obrigados, m e s m o
c o n t r a a v o n t a d e , a realizar as cerimônias litúrgicas seg u n d o a explicação farisaica da T o r á , assim como o sorteio dos dois bodes
e a oferenda do sacrifício dos perfumes
no D i a das expiações, a libação da água n a festa
das T e n d a s °, o rito da novilha vermelha ; o m e s m o
acontecia q u a n t o aos ritos q u e , c o m o o d a libação d a água
na festa das T e n d a s , não t i n h a m fundamento bíblico .
O calendário em geral, especialmente a festa d e Pentecostes, era fixado conforme a datação farisaica . Cerca
do ano 20 a . C , Hilel já conseguira fazer aceitar q u e se
imolassem os cordeiros d a Páscoa m e s m o n o dia d e sábado e assim abolira a prática saducéia até então em uso .
O fato que vamos n a r r a r mostra até o n d e ia a i n a p t i d ã o
dos saduceus. T e n t a r a m , certa vez, por meio f r a u d u l e n t o ,
fixar o calendário conforme sua datação da festa d e Pentecostes; p a r a tanto, t e n t a r a m induzir e m e r r o , através d e
falsas testemunhas, a comissão do calendário no Sinédrio .
m
m
128
129
13
m
132
133
m
115
A antiga geração dos saduceus revelou total resignação, pois, c o m p r e e n d i a b e m a impossibilidade de triunfar
126. Ant. X V I I I 1, 3, § 15.
127. Ant. X I X 7, 3, § 3 3 1 ; S c h ü r e r , I, 554ss. Cf. o j u í z o favorável d e q u e é o objeto n o T a l m u d e (Billerbeck, I I , 7 0 9 s ) .
128. V e r supra, p . 226, n. 106.
129. T o s . Yoma 1 8 ( 1 8 1 , 6 ) ; b. Yoma 1 9 bar.; j . Yoma I 5, 3 9
46 ( I I Í / 2 , 170).
130. V e r supra, p . 225, n . 106.
131. T o s . Para I I I 8 (632, 18). S o b r e csie p o n t o v e r A. B ü c h l e r ,
D a s Synedrion
in Jerusalém,
V i e n a , 1902, 67s ç 9 5 .
132. b . Ta'an. 3 r e m o n t a o rito a u m a h a l a k a de Moisés no Sin a i ; s e g u n d o j . Shebu.
1 9, 3 3 50 (não t r a d u z i d o e m V I / 2 , 1 0 8 ) ,
trata-se de u m a o r d e m dos p r i m e i r o s p r o f e t a s . R. Y u d a b e n Bethyra
(cerca de 110 d.C.) e R, A q i b a (f a p ó s 135), b . Ta'an.
2 , assim
c o m o R. N a t h a m (cerca de 160), b . Ta'an. 3 bar., t e n t a r a m encontrar u m a p r o v a escriturística.
133. O cálculo farisaico d a d a t a de Pentecostes e n c o n t r a - s e e m
p r i m e i r o lugar na Setenta Lv 23,11. N o século I de nossa era, Fílon,
De spec. leg. I I , § 176; De decálogo,. § 160, e Josefo, Ant. I I I 10, 5B,
250ss, a t e s t a m a i m p o r t â n c i a da o b s e r v â n c i a farisaica q u a n t o à fixação
da d a t a do P e n t e c o s t e s .
134. T o s . Pes. I V 1-2 (162, 2 1 ) .
135. T o s . R. H. I 15 (210, 1 0 ) .
b
a
d o p o d e r i o dos fariseus. N o T a l m u d e , vemos u m s u m o
sacerdote saduceu presidir o sacrifício dos perfumes n o
Dia das expiações segundo o rito saduceu; derramou-os sob r e os carvões acesos e n q u a n t o estava a i n d a no S a n t o e
não após ingressar no S a n t o dos santos c o m o exigiam os
fariseus. Seu pai disse-lhe e n t ã o : " M e u filho, e m b o r a sejamos saduceus, tememos os fariseus fe conformamo-nos
com seu m o d o de v e r ] E m o u t r a passagem, u m a t r a d i ç ã o
t a n a í t a descreve o c o m p o r t a m e n t o das m u l h e r e s dos saduceus.
O b s e r v a v a m , assim dizem, as prescrições farisaicas sobre
a p u r e z a pois, de outro m o d o , os fariseus teriam-nas considerado m a c u l a d a s d a impureza d a s m u l h e r e s menstruadas q u e t o r n a v a m seus m a r i d o s c o n t i n u a m e n t e i m p u r o s .
O t e s t e m u n h o de Josefo concorda perfeitamente com essas
indicações. Eis o que conta dos saduceus : " Q u a n d o se
elevam às magistraturas, é c o n t r a sua v o n t a d e e por necessidade que se c o n f o r m a m às prescrições dos fariseus,
p o i s , d e o u t r o m o d o , o p o v o n ã o os s u p o r t a r i a " . C o m o
v e m o s , a massa p o p u l a r segue incondicionalmente os fariseus; Josefo, em p a r t i c u l a r , n ã o se cansa de realçar este
fato .
P a r a c o m p r e e n d e r tal evolução, é preciso ver que o
m o v i m e n t o farisaico desenvolveu-se p o r oposição a o movim e n t o s a d u c e u . N o clero, essa o p o s i ç ã o formou-se n o séc u l o IJ a . C , isto é, sob a d o m i n a ç ã o selêucida antes do
começo das lutas m a c a b a i c a s , q u a n d o u m grupo de sacerdotes, o grupo fariseu, operou u m a grande transformação: p a r a os sacerdotes em serviço, a T o r á p r o m u l g a r a
prescrições d e pureza e alguns r e g u l a m e n t o s sobre a alim e n t a ç ã o ; o g r u p o fariseu tornou-as n o r m a s válidas igualm
137
m
139
l40
a
b
b
a
136. b . Yoma 1 6 bar.; T o s . Yoma
I 8 ( 1 8 1 , 8 ) ; j . Yoma
46 ( I I I / 2 , 1 7 0 ) . — Billerbeck, I I , 78s e 84Ss.
137. T o s . Nidda
V 3 ( 6 4 5 , 2 6 ) ; b . Nidda
3 3 bar.
b
39
a
I 5,
b
138. Ant. X V I I I 1, 4 , § 17.
159. Ant. X í I I ÍO, 5, § 2 8 8 (o p o v o c r ê n o s fariseus m e s m o se
d i s s e r e m algo c o n t r a u m rei ou u m s u m o s a c e r d o t e ) ; X I I I 10, 6, §
298 (a m u l t i d ã o é sua a l i a d a ) ; X V I I 2 , 4 , § 4 1 s , ver supra, n . 115;
X V I I I 1, 3, § 15 (o c u l t o , em seu c o n j u n t o , é c e l e b r a d o s e g u n d o as
regras f a r i s a i c a s ) ; X V 1 I 1 1, 4, § 17.
140. Cf. supra. p . 334, os fariseus já e x i s í i a m n o t e m p o d a s l u l a s
m a r a b a i c a s , cerca de 162 a.C. ( I M e 2 , 4 2 ) . M e s m a coisa supra, p . 3 4 7 :
Yose b e n Yoeser, m e n c i o n a d o e m Hag. I I 7, viveu a t é 162 a . C .
m e n t e p a r a a vida diária do sacerdote e, ao mesmo t e m p o ,
do p o v o . O s fariseus q u e r i a m , deste m o d o , f o r m a r a
verdadeira " c o m u n i d a d e s a n t a " de I s r a e l . E m troca, o
grupo dos saduceus conservadores pensava q u e , conforme
o texto da Escritura, o direito sacerdotal era limitado aos
sacerdotes e ao culto.
O conflito entre fariseus e saduceus nasceu dessa oposição. D o m i n o u a evolução religiosa profunda do j u d a í s m o
desde as lutas macabaicas até a destruição de Jerusalém;
podemos julgar a sua agudeza ao ler os Salmos de Salomão . O s representantes das antigas teologia e da tradição ortodoxas que eram os defensores inflexíveis da letra
do texto da Bíblia, refutaram a lei não escrita , p a r a dom i n a r os representantes da nova tradição. A luta assumiu
p a r t i c u l a r acuidade pelo fato de u m a oposição social juntar-se à oposição religiosa: a velha nobreza conservadora,
isto é, a n o b r e z a clerical, como a nobreza leiga, opunha¬
-se à nova classe d o m i n a n t e dos intérpretes d a Escritura
e dos m e m b r o s das c o m u n i d a d e s . Essa última se recrutava
em todos os meios, especialmente n a p e q u e n a burguesia;
submetia-se de b o m grado às regulamentações dos sacerdotes e p r e p a r a v a assim o c a m i n h o p a r a u m sacerdócio
universal.
1 4 1
142
m
l44
Esses fatos c o m p r o v a m q u e , religiosa e socialmente,
os fariseus constituíam o p a r t i d o do p o v o ; r e p r e s e n t a v a m
a massa em face da aristocracia tanto d o p o n t o de vista
religioso q u a n t o social. Sua p i e d a d e que era respeitada —
p r e t e n d i a m ser o Israel verdadeiro — e sua o r i e n t a ç ã o so141. E m T o s , 'A. Z. 111 10 (464, 9 ) , r a b i Meir (cerca d e 150
d.C.) assim definiu o não-fariseu: a l g u é m q u e " n ã o toma seu a l i m e n t o
p r o f a n o s e g u n d o a p u r e z a levítica [prescrita p a r a os s a c e r d o t e s n a
T o r a ] " . — Schlatter, Gesch. Isr., 138, d i z d e m a n e i r a clara e p r e c i s a :
" O T e m p l o e o clero c o n s t i t u í a m o foco d o m o v i m e n t o e é o direito
s a c e r d o t a l q u e esse m o v i m e n t o se esforçava p o r i n c u t i r " . Cf. I. A b r a h a m s , Studies
in Pharisaism
and the Gospels
II, C a m b r i d g e , 1924; I.
E l b o g e n , '"Einige n e u e r e T h e o r i e n ü b e r d e n U r s p r u n g der P h a r i s ä e r
u n d S a d d u z ä e r " , e m Jewish
Studies
in Memory
of Israel
Abrahams,
N o v a I o r q u e , 1927, 137; L. Baeck, Die Pharisäer,
Berlim, 1927, 5 8 .
142. É o s e n t i d o d a p a l a v r a " f a r i s e u " , v e r supra, n. 2.
143. Josefo, Ant. X I I I 1, 3 , § 12, insiste n o c a r á t e r i n t r a t á v e l e
fanático dos fariseus.
144. Josefo, Ant. X I I I 10, 6, § 287s, r e a l ç a c l a r a m e n t e a o p o s i ç ã o :
Lei escrita — Lei n ã o escrita.
ciai, visando a s u p r i m i r as diferenças d e classes, fizeram
deles o p a r t i d o d o p o v o e a p o u c o e p o u c o garantiram-Ihes a vitória.
A m a n e i r a incondicional como a m u l t i d ã o seguia os
fariseus contém algo impressionante. Os fariseus sustentav a m dupla frente de batalha: opunham-se aos saduceus e,
e n q u a n t o Israel v e r d a d e i r o , t r a ç a v a m u m a nítida separação entre eles próprios e a g r a n d e massa, os 'ammê
ha-'ares
que não observavam, as prescrições dos escribas fariseus
sobre o dízimo e a pureza . Essa oposição entre os membros das c o m u n i d a d e s farisaicas e os 'ammê ha-'ares repousava, especialmente, n o a b a n d o n o das obrigações d o
dízimo peio p o v o . O conflito tornou-se especialmente
agudo nos anos e m q u e João H i r c a n o (134-104 a.C.) publicou sua célebre o r d e m sobre o d í z i m o , visando a impedir a negligência n o p a g a m e n t o d o dízimo dos p r o d u t o s
agrícolas ; b e m depressa assumiu as dimensões d e u m a
s e p a r a ç ã o d e casta da p a r t e dos fariseus. Comércio
casamento
e comensalidade
com o não-fariseu, suspeito — até prova contrária — de ser i m p u r o , foram, se
n ã o completamente p r o i b i d o s , pelo m e n o s sujeitos à limitações muito precisas.
O povo não se p e r t u r b o u c o m a situação. É certo
que n ã o faltaram manifestações de ira contra a nova classe superior; certo t a m b é m que f r e q ü e n t e m e n t e se manifestou u m intenso desejo d e se libertar do jugo da indiferença religiosa. É preciso, pelo menos e m p a r t e , explicar
através desse desejo o g r a n d e m o v i m e n t o dos "infelizes"
e dos " a f l i t o s " , dos " p u b l i c a n o s " e dos " p e c a d o r e s " q u e
a c o m p a n h a r a m Jesus. D e m o d o geral, e n t r e t a n t o , o p o v o
145
1 4 6
147
H 8
3
I4y
150
145. Jo 7.49; Lc 18,9-14. 146. V e r supra,
147. b .
Sota
B ü l e r b e c k , I I , 505ss; S c h ü r e r , I I , 468s.
p . 151.
48^ b a r . ;
c{.
Tos.
Sota
XIII
10 (320, 4 ) . B ü l e r b e c k ,
II. 500.
148. T o s . Mas'as. I I I 13 (85, 1 9 ) : " N a o se p o d e m v e n d e r [cereais
(salvo f r u m e n t o ) , u v a s c a z e i t o n a s ] s e n ã o a u m haher [fariseu] s u b m e t e n d o - s e às regras de p u r e z a " . Demay
I I 3 p r o í b e v e n d e r ao n ã o -fariseu legumes e frutas ú m i d a s e secas, e dele c o m p r a r o m e s m o .
149. E x c e ç ã o : T o s . 'A. Z. í f l 10, ( 4 6 4 , 7 ) , v e r supra, p . 346.
150. M c 2,16; M t 9 , 1 1 ; Lc 5,30; cf. Lc 15,2. — Demay I I 3 p r o í b e
ser r e c e b i d o c o m o h ó s p e d e n a casa de u m 'am ha-'ares e recebê-lo
c o m o h ó s p e d e q u a n d o usa sua p r ó p r i a v e s t e .
considerava os fariseus q u e se obrigavam v o l u n t a r i a m e n t e
a praticar obras suplementares c o m o modelos da p i e d a d e
e realizadores deste ideal de vida q u e os escribas h a v i a m
concebido; os escribas, esses h o m e n s da ciência divina e
da ciência esotérica. D a p a r t e d e Jesus foi u m a a u d á c i a
sem p a r , b r o t a d a d o p o d e r q u e a consciência de sua soberania lhe dava, o ter dirigido, àquela gente, p u b l i c a m e n t e
e sem receio, o apelo à penitência; tal audácia o levou à
cruz.
SEGUNDA SEÇÃO
A PRESERVAÇÃO D A PUREZA D O
POVO
Numa dimensão
até agora não suficientemente
avaliada, a classificação,
do ponto de vista social do
judaísmo
no tempo de Jesus era guiada pela idéia fundamental
da
preservação
da pureza do sangue no povo. Enquanto
chefes religiosos do povo, os sacerdotes velavam,
meticulosamente, pela legitimidade
das famílias sacerdotais e afastavam de seu meio todos os descendentes
de sacerdotes
nascidos de uma união ilegítima \ Mas não eram os únicos:
na teoria e na prática da legislação religiosa, no tempo de
Jesus, a comunidade
total do povo, também essa, era classificada segundo a pureza de sua origem. Somente
os israelitas de origem legítima formavam
o Israel puro;
excluíam-se do núcleo impoluto da comunidade
do povo todas as famílias em cuja origem se podia encontrar
mácula.
Como para o sacerdócio,
a razão era de ordem
religiosa:
a Nação, considerada como um dom de Deus, e sua pureza como imposta por ele; as promessas do fim dos
tempos
eram válidas para o núcleo ilibado do povo.
Já que, como dissemos, a classificação
do povo, do
ponto de vista social, era inteiramente
comandada
pela
idéia da conservação
da pureza na Nação, a mera
distorção desse princípio assumia proporções muito graves. Tratava-se dos pagãos que se convertiam
ao judaísmo.
Certamente, não faziam parte do núcleo puro do povo
israelita,
mas eram, sem dúvida, recebidos na comunidade
do povo
em geral e tinham o direito de se casar com israelitas
de
origem pura, não sacerdotes. Também
nesse caso, a razão
era de ordem religiosa: a pertença à comunidade
religiosa
pesava mais do que a origem.
CAPÍTULO
V
OS GRUPOS D A C O M U N I D A D E D O
POVO
U m a lista de i m p o r t â n c i a f u n d a m e n t a l p a r a a pesquisa que segue, informa-nos sobre os critérios segundo os
quais se dividia a c o m u n i d a d e do p o v o j u d e u , no t e m p o
II. Tos. Meg. II 7
(223, 2 3 )
I. Qid IV 1
III. Hor.
III
8
6
2
A) 1. Sacerdotes
2. Levitas
3. Israelitas com
direitos de cidadania.
1. Sacerdotes
2. Levitas
3. Israelitas com
direitos de cidadania.
1. Sacerdotes
2. Levitas
3. Israelitas com
direitos de cidadania
B) 4. Filhos ilegítimos de sacerdotes
5. Prosélitos
6. Escravos libertos
C) 7. Bastardos
4. Prosélitos
4. Bastardos
5. Escravos libertos
5. Escravos
Templo
6. Filhos ilegítimos de sacerdotes
7. Escravos do
Templo
8. Bastardos
6. Prosélitos
do
3
8. Escravos do
Templo
9 De pai desçoir
nhecido
10 Crianças
postas
ex-
7. Escravos libertos
9. Castrados"
10.
Tumlôm
1 1 . Andróginos
s
í . V e r supra,
p p . 291-302.
2. T e x t o d o m s . de Erfurt, agora e m Berlim, Staatsbibl.
M s . or. 2¬
1220; p a r . T o s . Ber. V 14 (12,14ss) e T o s . R. H. I V 1 (212, 6 s s ) .
Esses três textos, e de m a n e i r a e s p e c i a l m e n t e c l a r a T o s . Meg. e T o s .
R. H. d i v i d e m a lista e m q u a t r o p a r t e s (1-3.4-5,0-8.9.11) E m T o s . R. H.,
n a e d i ç ã o de M. S. Z u c k e r m a n d e l , 2 1 2 . l i n h a 6, essa divisão n ã o sobressai p o r q u e , c o n t r a todos os t e s t e m u n h o s ( m s s . d e Erfurt e d e
de Jesus. Essa lista chegou a nós através de diferentes redações; vejamos, inicialmente, que forma de tradição deve
ser considerada como a mais antiga.
Essas três formas da lista q u e o leitor é c o n v i d a d o
a c o m p a r a r c o m atenção se igualam somente no início
(1-3) o n d e são citados os israelitas de origem legítima; q u a n to ao restante, p a r e c e m divergir totalmente. Na r e a l i d a d e ,
a concordância é b e m maior. Concerne, sobretudo, à divisão tripartida da sociedade segundo a origem, divisão que
está na base de cada u m a das três disposições da lista.
Qib. IV 1 diz i m e d i a t a m e n t e após ter a p r e s e n t a d o a
primeira lista:
"Sacerdotes, levitas e israelitas que gozam de todos
os direitos de cidadania p o d e m se casar entre si.
Levitas, israelitas, filhos ilegítimos de sacerdotes, prosélitos e escravos libertos p o d e m se casar entre si.
Prosélitos, escravos libertos, bastardos, escravos do
T e m p l o , filhos de pai desconhecido e crianças e x p o s t a s
p o d e m se casar entre s i " .
Esse texto divide a sociedade em três grupos a saber:
A) as famílias de origem legítima: sacerdotes, levitas e israelitas com todos os direitos de cidadania; somente essas
famílias t i n h a m o direito de contrair m a t r i m ô n i o com sacerdotes. B) em seguida, vêm as famílias d e origem ilegítima, atingidas somente por u m a m a n c h a leve; não t i n h a m ,
evidentemente, o direito de se casar com sacerdotes, mas
p o d i a m unir-se com levitas e israelitas legítimos. C) Finalm e n t e , v ê m as famílias de origem ilegítima lesadas por
7
Viena, Alfasi), Zuckermandel deixou escapar, diante de "israelitas" o
" e " q u e s e p a r a o p r i m e i r o g r u p o . — D u a s o u t r a s p a r a l e l a s se e n c o n t r a m em T o s . Men. X 13 (628, 7s) e X 17 (528. 1 4 s ) ; n ã o falta, enfim, a n ã o ser o tumtóm
e o a n d r ó g i n o . Nessas d u a s p a s s a g e n s , igualm e n t e , as divisões d a lista são claras.
3. A p a l a v r a hãlalím
falta e m T o s . R. H. I V 1 m s . de E r f u r t ;
foi e n t r e t a n t o e n c o n t r a d a n o m s . de V i e n a e e m Alfasi.
4. Citam-se q u a t r o espécies d e e u n u c o s .
5. A l g u é m cujas p a r t e s sexuais são i n d e f i n i d a s .
6. P a r . T o s . Hor. I I 10 (476, 30) e
passim.
7. A r e s p e i t o de crianças de pai d e s c o n h e c i d o e c r i a n ç a s enjeitad a s , R. Eliézer (cerca d e 90 d.C.) d e f e n d e u m p o n t o de vista difer e n t e : p o r causa d a incerteza existente a respeito de sua o r i g e m , é-lhes
p r o i b i d o u n i r e m - s e e n t r e si (Qid. I V 3 ) .
m a n c h a g r a v e ; de m o d o algum p o d i a m se u n i r , pelo casam e n t o , c o m famílias legítimas, pois, o c a s a m e n t o passava
p o r ilegítimo, isto é, p o r c o n c u b i n a t o .
Essa divisão tripartida está na b a s e de cada u m a das
três disposições da lista. Existe a p e n a s , na lista I I I , interversão dos grupos B e C; essa forma julga, p o i s , m u i t o
desfavoravelmente os prosélitos e os escravos libertos, colocando-os socialmente abaixo dos b a s t a r d o s israelitas, por
causa d e sua origem pagã. Talvez se b a s e i e m n u m a antiga
tradição.
A lista dos repatriados em Esd 2,2-63 par. Nra 7,7¬
-65 d á , c o m efeito, esta c o n t i n u a ç ã o :
A) Famílias de origem pura:
Leigos:
Esd 2,2-35 par. Nm 7,7-38
Sacerdotes: Esd 2,36-39 par. Nm 7,39-42
Levitas:
Esd 2,40-42 par. Nm 7,43-45
B
B) Servidores
do
Templo:
Escravos do rei:
Esd 2,43-54 par. Nm 7,46-56
Esd 2,55-58 par. Nm 7,57-60
Apêndice: Israelitas e sacerdotes
sem genealogia:
Esd 2,59-63 par. Nm 7,61-65
Pode ser que a lista I I I t e n h a sido constituída diret a m e n t e desse esquema ou d e u m e s q u e m a antigo análogo,
a c r e s c e n t a n d o os prosélitos e os escravos libertos. O u t r a
explicação, p o r é m , parece-me mais p r o v á v e l . Com o crescimento das c o m u n i d a d e s cristãs, a atitude do j u d a í s m o
em face da missão e dos prosélitos p a s s a a ter u m sentido
desfavorável. Desde a destruição de Jerusalém, julgam-se
mais severamente os prosélitos, s o b r e t u d o depois q u e , p o r
volta da guerra de Bar-Kokba (132-135 [ 6 ] d . C ) , cessa a
intensa atividade missionária do j u d a í s m o , tal como se reflete no N o v o T e s t a m e n t o \ U m a m u d a n ç a análoga se prod u z n o j u l g a m e n t o sobre os p a g ã o s ; começa desde a época
8. b , Ket. 3 , e s o b r e e s t e p o n t o Billerbeck, I I I , 3 4 3 b.
9. M t 23,15, e antes de t u d o as i n f o r m a ç õ e s dos Atos dos Apóstolos s o b r e o s proséliíOs e semi p r o s é l i t o s n a d i á s p o r a . Cf. G . R o s e n ,
F. R o s e n e G . B e r t r a m . Juden und Phönizier,
T ü b i n g e n , 1929.
a
pré-cristã e se c o m p r o v a e m seguida no a g r a v a m e n t o das
prescrições da legislação religiosa a respeito da i m p u r e z a
levítica dos pagãos. A lista I I I poderia refletir essa situação t a r d i a , q u a n d o modifica a o r d e m do e s q u e m a das listas I e II p a r a colocar o b a s t a r d o antes do prosélito .
As diferenças entre as listas I e I I , em c o m p a r a ç ã o ,
são m u i t o menos i m p o r t a n t e s . Se fizermos a b s t r a ç ã o de
minúcias sem v a l o r , limitam-se aos diferentes critérios
de apreciação a respeito dos filhos ilegítimos dos sacerdotes: a lista I coloca o filho ilegítimo do sacerdote (4)
antes do prosélito (5) e o escravo pagão liberto ( 6 ) ; na
lista I I , em compensação, os descendentes ilegítimos de
sacerdotes v ê m depois dos pagãos que se c o n v e r t e r a m ao
judaísmo e ao l a d o dos bastardos desprezados.
N ã o h á dúvidas na explicação dessa diferença. C o m o
já vimos , existe u m a profunda divergência entre sacerdotes e escribas n a apreciação dos filhos ilegítimos de sacerdotes, pois, esses m a n t i n h a m u m a posição de rigorismo
inflexível p a r a conservar a pureza de sangue na sua classe. Esse fato recomenda a hipótese segundo a qual a lista
I, contendo u m julgamento mais favorável sobre os filhos
ilegítimos d e sacerdotes, tenha sido redigida nos círculos
de escribas e a lista I I , q u e os julga mais severamente,
em círculos de sacerdotes. Fora dessa diferença de pontos
de vista sobre os descendentes ilegítimos de sacerdotes, as
listas I e I I estão p l e n a m e n t e de acordo na classificação
da c o m u n i d a d e do povo segundo a origem. D e v e m o s aí reconhecer u m a sólida tradição antiga; u m a informação intenta m e s m o dizer q u e a divisão em dez grupos q u e se
encontra na lista I r e m o n t a a H i l e l .
10
u
l2
13
E x p u s e m o s , assim, o processo de nosso t r a b a l h o . D e
início, descreve o núcleo legítimo do povo (cap. V I ) ; m a s
10. M e s m a o p i n i ã o e m L . G i n z b e r g , Eine unbekannie
jüdische
e m MGWf
56 ( 1 9 1 2 ) , 667s.
11. A lista I coloca o b a s t a r d o a n t e s d o natin (escravo d o T e m p l o ) , e n q u a n t o v e m o s o inverso n a lista I I ; é sem i m p o r t â n c i a p o r q u e , n o t e m p o de Jesus, o e s c r a v o do T e m p l o era u m e l e m e n t o p u r a m e n t e teórico (ver infra, p . 4 5 3 ) . A lista I cita, n o final, os filhos
de p a i d e s c o n h e c i d o e as crianças e n j e i t a d a s , e n q u a n t o a lista I I cita
ainda u m q u a r t o g r u p o ( c a s t r a d o s e t c . ) ; n ã o é d i g n o d e a t e n ç ã o .
12. Supra, pp, 299-302.
13. b . Yeb. 3 7 ; b . Qid. 75".
Sekte,
a
a esse respeito n ã o p o d e m o s omitir q u e , além da origem,
outros fatores e r a m igualmente d e t e r m i n a n t e s na posição
social (cap. V I I ) . E m seguida, é preciso tratar dos grupos
do p o v o atingidos p o r u m a n ó d o a leve ou grave em sua
origem ( c a p . V I I I ) . E , finalmente, d e v e m o s apresentar —
intermediários entre j u d e u s e pagãos — os escravos pagãos
e os samaritanos (cap. X ) . U m capítulo final tratará, à
guisa d e apêndice, d a posição social d a m u l h e r (cap. X I ) .
CAPÍTULO
OS ISRAELITAS DE O R I G E M
A. A O R I G E M L E G Í T I M A
N o tocante à época d e Jesus, já vimos q u e algumas
famílias da n o b r e z a leiga t i n h a m o privilégio d e entregar
a l e n h a no T e m p l o em dias d e t e r m i n a d o s ; esse fato confirma q u e a tradição genealógica era b e m conservada dentro d a nobreza leiga. T o d a v i a , n o t e m p o de Jesus, o u t r a s
famílias d e p u r a cepa t a m b é m c o n h e c i a m sua origem. Portanto — e t a m b é m isso já vimos — t o d a israelita, e m b o r a
m o r a n d o no estrangeiro, q u e quisesse casar-se c o m u m sacerdote devia levar em consideração cinco g e r a ç õ e s d e sua
genealogia, e q u a l q u e r c a n d i d a t o a u m p o s t o p ú b l i c o devia passar, igualmente, pela prova de sua l e g i t i m i d a d e .
Essas disposições i n d u z e m a crer que c a d a israelita conhecia ao menos as últimas gerações d e seus antepassados .
4
VI
PURA
1
5
6
Com o clero (sacerdotes e levitas), os israelitas de origem p u r a constituíam o Israel íntegro.
Para exercer os direitos cívicos mais i m p o r t a n t e s , e r a m
obrigados a p r o v a r sua origem legítima. Esse fato, por si
só, confirma u m a conclusão: como já vimos , n ã o era somente o sacerdote admitido a exercer seu cargo q u e sem
exceçãcr-, preocupava-se com sua genealogia: mesmo o simples israelita conhecia seus antepassados mais p r ó x i m o s e
podia dizer de qual das doze tribos p r o v i n h a . Após a volta
do exílio, as famílias p u r a s separaram-se daquelas q u e se
h a v i a m c o n t a m i n a d o c o m os pagãos (Esd 9,1-10,44); desde essa época, por conseguinte, a p r o v a da origem legítima
tornou-se o verdadeiro f u n d a m e n t o da c o m u n i d a d e do p o v o
r e s t a u r a d a . As famílias de p u r a cepa, e tão-somente elas,
constituíam o verdadeiro Israel. Os dados genealógicos dos
livros bíblicos de Esdras e de N e e m i a s , especialmente as
genealogias minuciosas das doze tribos ( l C r 1-9) refletem
o interesse q u e d e s p e r t a r a m no período pós-exílico. N a s
épocas seguintes, essas informações assentaram-se sobre
bases que p e r m i t i r a m estabelecê-las.
7
s
2
Esse interesse manifesta-se t a m b é m pelo fato de, n o
período pós-exílico ter-se começado a usar, c o m o n o m e s
próprios, os nomes dos patriarcas das doze tribos e a exprimir assim, já pelo n o m e , a pertença à tribo.
3
t . Billerbeck, I, L 6 ; I V , 792ss; A. Büchler, " F a m i l i e n r e i n h e i t u n d
F a m i l i e n m a k e l in Terusalem v o r d e n Tahre 7 0 " , em Festschrift
Schwarz,
133-164; L. F r e u n d , Uber Genealogien
und Familienreinheit
in
biblischer
und Talmudischer
Zeit, ibid., 163-192; G. Kittel, Die genealogiai:
der
Pastoralbriefe,
em ZNW 20 ( 1 9 2 1 ) , 49-69; A. Bücheler,
Familienreinheit
und Sittlichkeit
in Sepphoris
im zweiten
Jahrhundert,
e m MGWJ
78
( 1 9 3 4 ) , 126-164; S. Klein, Kleine Beiträge zur Erklärung
der
Chronik
Dibre ha-jamim,
e m MGWJ 80 ( 1 9 3 6 ) , 195-206.
2. Supa, p . 291s.
3. P r o v a s , p . 3 9 5 .
A l g u m a s referências confirmam esses d a d o s gerais.
As mais n u m e r o s a s são a s indicações q u e concernem à
p e r t e n ç a à tribo de Judá
e, entre elas, especialmente as
qLie dizem respeito à p e r t e n ç a à família davídica. E é compreensível. E . Sellin m o s t r o u a p r o b a b i l i d a d e d o seguinte
fato: m e s m o depois da q u e d a d e Z o r o b a b e l , a gens davidica p e r m a n e c e u , no judaísmo pós-exílico, a principal família leiga; de seu m e i o , é verossímil, escolhia-se o chefe
supremo d o S e n a d o . A l é m d o m a i s , a esperança messiânica estava presa a essa família real; p o r tal r a z ã o , a tradição tantas vezes mencionava a origem davídica.
9
!0
4. Supra, p . 3 0 6 s : Ta'an. I V 5 .
5. CL a i n d a os d a d o s genealógicos d e u m m e m b r o de u m a dessas
famílias, infra, p . 381s.
6. Supra,
p . 2 9 5 , Qid.
I V 4.
7. Supra, p . 295, Qid. I V 5 .
8. A i n d a h o j e é n o r m a l p a r a u m p a l e s t i n e n s e c o n h e c e r t o d a a lin h a d e seus a n c e s t r a i s . P . K a h l e , Die Sumaritaner
im Jahre 1909 (A.
H . 1 3 2 7 ) , e m PJB 26 ( 1 9 3 0 ) , 89,103, o d e m o n s t r o u a o p u b l i c a r s u a s
i n f o r m a ç õ e s a r e s p e i t o das genealogias dos s a m a r i t a n o s a i n d a vivos
e m 1909 ( e x i s t i a m 1 7 3 ) .
9. Cf. a lista d e Ta'an I V 5 impressa supra, p . 308, q u e atestat a
existência de seis famílias j u d a i c a s n o p e r í o d o a n t e r i o r a 70 d.C.
10. E . Sellin, Geschichte
des israelitisch-judhchen
Volkes I I , Leipzig, 1932, 82ss, 121, e s p e c i a l m e n t e 168s. U m a c o n s t a t a ç ã o reforça o
q u e Sellin d e m o n s t r o u : c o m o logo v a m o s v e r , os exiliarcas e r a m , seg u n d o t u d o indica, d a v í d i c o s . V e r a i n d a G. D a l m a n , Die Worte
fesu
I , 2? ed., Leipzig, 1930, 266, q u e r e m e t e a o Breviarium
temporum
pseud o f i l o n i a n o q u e d á u m a série d e p r í n c i p e s (duces) d a v í d i c o s , c h e g a n d o
até aos a s m o n e u s .
SERfflíNARíO CONCORDIA
Sobre este p o n t o c o n v é m l e m b r a r q u e , segundo o test e m u n h o u n â n i m e do N o v o T e s t a m e n t o , Jesus Cristo pertencia à tribo de Davi, já q u e , segundo o direito familiar
judaico, ele devia, legalmente , ser considerado filho davídico de José de N a z a r é , da mesma tribo. Além do m a i s ,
conforme Eusébio que segue Hegésipo (cerca de 180 d . C ) ,
os imperadores Vespasiano , Domiciano
e Trajano
teriam perseguido o ramo davídico p a r a que não subsistisse
n e n h u m descendente d e linhagem real; infere-se daí q u e o
n ú m e r o daqueles que se dizem da família de D a v i n ã o era
p e q u e n o . Diz o T a l m u d e q u e R. Hiyya, o Ancião (por
volta de 2 0 0 d . C ) , p r o v i n h a de D a v i . O sábio exilarca
R a b H u n a , chefe da c o m u n i d a d e judaica da Babilônia, vivendo t a m b é m pelos anos 2 0 0 , era judeu
e, talvez, da
mesma origem; é o que mostra, entre outras, a informação segundo a qual ele fazia p a r t e da família de R. Hiyya,
o Ancião, há p o u c o m e n c i o n a d o .
n
12
13
14
15
1 6
17
18
Por fim, parece que entre os pretendentes messiânicos, do século I de nossa era, h a v i a pelo menos u m a família que atribuía a si u m a descendência davídica; em
todo caso, é o que explica, de maneira mais esclarecedora
a b e m conhecida narrativa lendária que transfere p a r a Belém, cidade de D a v i , o nascimento da criança messiânica
M e n a h e m b e n Hisqiyya
— trata-se do chefe da revolta
que aparece em 66 d.C., M e n a h e m , filho de Judas de Ga19
2 0
m a l a , filho de H i s q i y y a . D u r a n t e mais de cem anos, a
família de Hisqiyya fez-se notar de m a n e i r a sempre renov a d a p o r conflitos e pretensões a o t r o n o ; tais fatos tamb é m t o r n a m provável que fosse d e descendência real.
A o l a d o dos j u d a í t a s , são m e n c i o n a d o s os benjaminitas. O V- livro das Crônicas e n u m e r a as famílias benjaminitas de seu tempo ( l C r 7 , 6 - l l ; 8 ; 9 , 7 - 9 ) . Certo M e n e l a u ,
ilegalmente e n t r o n i z a d o sumo sacerdote em 172 antes de
nossa era e executado dez anos depois \ n ã o era benjam i n i t a ; e m c o n t r a p a r t i d a , M a r d o q u e u , o herói do livro
de E s t e r , assim como o apóstolo P a u l o e seu mestre
R a b b a n G a m a l i e l 1 , o e r a m , c e r t a m e n t e . N a época anterior à destruição do T e m p l o em 70 d . C , a família benjaminita de Senaá, d e alta classe é reconhecida .
21
22
23
2
a
26
2 7
2S
29
2 1 . Cf. m e u artigo Erlöser
und Erlösung
im Spatjudentum
und
Urchristentum,
cm Deutsche
Theologie,
G ö t t i n g e n , 2 ( 1 9 2 9 ) . 116s.
22. E m 47 a . C , H e r o d e s m a n d o u e x e c u t a r o " a s s a l t a n t e " E z e q u i a s
( H i z q i y v a ) ; essa decisão a u m e n t o u c o n s i d e r a v e l m e n t e a h o s t i l i d a d e do
S i n é d r i o c o n t r a H e r o d e s (Ant. X I V 9. 2, § 159; B. j . I 10, 5, § 2 0 4 ) .
E m 4 a . C , revolta de seu filho J u d a s q u e a s p i r a v a à c o r o a
{Ant.
X V I I 10, 5, § 271s; B. j . II 4, 1, § 56.
E m 6 d . C , n o v o m o t i m de J u d a s (Ant. X V I I I 1, 1, § I s s ; B. j .
II 8, 1, § 117ss; At 5.37). T r a t a - s e , com certeza, d o m e s m o J u d a s ,
c o n f o r m e se p o d e s u p o r p e l o q u e diz S c h l a t t e r , Theologie,
8 2 , n. 2.
Cerca de 47 d . C , e x e c u ç ã o dos dois filhos de J u d a s , Tiago e Sim ã o , pelo p r o c u r a d o r T i b é r i o A l e x a n d r e (Ant.
XX 5, 2, § 1 0 2 ) .
E m 66, M e n a h e m , filho de J u d a s tornou-se s e n h o r d e J e r u s a l é m
e r e i v i n d i c o u o t i t u l o d e rei (B. j . I I 17, 8-9. § 433ss; cf. j . Ber. II
4, 5 14ss ( I , 4 1 s ) . — E m 7 3 , E l e a z a r , p a r e n t e e sucessos de M e n a h e m ,
dirigiu a defesa de M a s a d a (B. j . V I I 8, l s s ; § 253ss; cf. II 17, 9,
§ 447.
2 3 . Supra, 2 5 5 .
2 4 . Supra,
257.
25. C o n s t a , p o r e r r o , n a L X X de 2 M c 3,4; i n f o r m a ç ã o exata n a
t r a d u ç ã o l a t i n a e a r m é n i a , ver supra, p . 2 5 4 , n. 258.
26. Est 2,5; acréscimos d a L X X e m Esi 1,1; Ani. X I 6, 2, § 198.
27. R m 11,1; Fl 3,5. A d ú v i d a c o m p l e t a m e n t e injustificada q u e K.
K o h l e r , / £ X I ( 1 9 0 4 ) , 79 e x p r i m i u a r e s p e i t o d e s s e d a d o d o a p ó s t o l o
foi c o m r a z ã o rejeitada p o r W . G . K ü m m e l , Römer
7 und die Bekehrung des Paulus, Leipzig, 1929, 112, n . 1: " P a u l o n ã o teria inventado isto!"
28. V e r infra, p . 3 8 5 . G a m a l i e l é u m a n t e p a s s a d o d e R. Y u d a cuja
origem benjaminita é b e m a t e s t a d a .
29. Ta'an. I V 5 (ver supra, p . 3 0 9 ) ; b . Ta'an. 1 2 , ver infra, 381s. —
E m c o n t r a a p r t i d a é s e m valor a i n f o r m a ç ã o q u e a t r i b u i u m a o r i g e m
b e n j a m i n i t a a Ben Sisit ha-kassat, forte n e g o c i a n t e de Jerusalém q u e
viveu n a é p o c a d a d e s t r u i ç ã o d o T e m p l o ( j . Ta'an. I V 2 6 8 46 { I V / 1
180] e p a r . ) , v e r infra, p . 380.
im
a
11. V e r infra, p . 388ss.
12. P o r ex., d o p o n t o de vista da h e r a n ç a .
13. E u s é b i o , Hist. ecd.
Ill 12.
14. Ibiã., I I I 19-20.
15. lbid., I I I 3 2 , 3-4.
16. b . Ket. 62"; cf. j . Ta'an. I V 2, 6 8 48 ( I V / 1 , 180) e p a r .
17. j . Kil. ÍX 4, 3 2 30 ( I I / l , 317) e p a r . Esse t e s t e m u n h o é gar a n t i d o p e l o fato de p r o v i r de R. Y u d a I, o p a t r i a r c a p a l e s t i n e n s e e
c o n c o r r e n t e do exiliarca q u e , n o m e s m o c o n t e x t o , reconhece-se, c o m o
benjaminita, de d e s c e n d ê n c i a m e n o s ilustre d o q u e o exiliarca. V e r
a i n d a b . Sanh. 5 ; b . Hor. l l
bar., o n d e a p r o m e s s a d e G n 49,10:
" O cetro n ã o será tirado de J u d á " é a p l i c a d a aos exiliarcas; eles pass a v a m , pois, p o r j u d e u s . O r í g e n e s , De princ. IV 1, 3 (GCS 22, 297)
c o n h e c e u a t r a d i ç ã o s e g u n d o a q u a l os exiliarcas e r a m j u d e u s e G n
49,10 referia-se a eles.
18. j . Kil. I X 4, 3 2 57 ( I I / l , 3 1 7 ) .
19. j . Ber. II 4, 5 18 (I, 41s) e p a r .
20. B. j . II 17, 8-9, § 433ss. Cf. S c h ü r e r , I, 487.
a
b
a
b
b
a
a
a
A atribuição de origem a u m a das d e z
tribos ou
das n o v e tribos e m e i a de Israel que estão " p e r d i d a s " ,
certamente só é e n c o n t r a d a de m o d o esporádico. I n d i c a m
Tobias c o m o descendente da tribo de Neftali (Tb 1,1-2);
Judite deve proceder da tribo de Simeão (Jd 8 , 1 ; 9 , 2 ) ; a
profetisa A n a , filha de F a n u e l , da tribo de Aser (Le 2 , 3 6 ) .
Falamos h á p o u c o (p. 309) de u m a família recabita (cf.
também Nm 3 , 1 4 )
de u m período anterior à r u í n a do
T e m p l o ; mas é d u v i d o s o q u e R. Yose b e n Halafta, célebre d o u t o r e artesão de couro (150 d . C ) , tenha sido rec a b i t a . Hegésipo refere-se a u m sacerdote r e c a b i t a . Se
aceitarmos a versão de u m a origem recabita, a m e n ç ã o
a Hegésipo é certamente falsa; em n e n h u m outro l u g a r ,
com efeito, encontramos q u a l q u e r alusão ao fato de os recabitas (2Rs 1 0 , 1 5 . 2 3 ; Jr 35,2-19; l C r 2,55) terem sido,
n u m período posterior, considerados como família sacerdotal .
3 0
3 1
3 2
33
34
35
36
37
D e m o d o geral podemos crer que os leigos t a m b é m
possuíam tradições sobre sua origem. Essas tradições apresentavam suas famílias q u a s e exclusivamente como sendo
das tribos de Judá e de Benjamim; tal asserção corresponde à imagem q u e resulta de l C r 1-9, p a r t i c u l a r m e n t e do
c a p . 9 e d o conteúdo da lista citada acima (p. 3 0 8 ) , m a s ,
sobretudo, da situação histórica; essas duas tribos, com
os sacerdotes e levitas, constituíram, o nodulo do j u d a í s m o
pós-exílico. O texto seguinte nos mostra a extensão dessas
tradições genealógicas: " M a r Z u t r a [ I I , t 4 1 7 ] dizia: En30. É o n ú m e r o c o r r e n t e , 4 Esd. X I I I 39ss e passim:
Billerbeck
I V , 903-906.
3 1 . Baruc siriaco L X X V I I 17ss, L X X V I I I l s s .
32. S o b r e N m 3,14 v e r E. Sellin Geschichte
des
israelitisch-jü¬
dischen
Volkes
I I , Leipzig, 1932, 7.
3 3 . Este d a d o faz p a r t e das genealogias t r a n s m i t i d a s p o r R. Levi
(cerca d e 300 d . C . ) . P a r a a crítica dessas g e n e a l o g i a s , ver Israel Levi
em RE} 31 ( 1 8 9 5 ) , 209ss ("urna fantasía p o p u l a r " ) e infra, p . 380,
34. j . Ta'an. I V 2, 6 8 48 ( I V / 1 , 180) e p a r .
35. E u s é b i o , Hist. eccl. I I 2 3 , 4-18.
36. N ã o se o u s o u s e q u e r c o n c l u i r de Jr 35,19 ( o n d e l a h w e h prom e t e aos r e c a b i t a s q u e n ã o lhes faltarão d e s c e n d e n t e s q u e e s t e j a m
s e m p r e d i a n t e dele) q u e fossem s a c e r d o t e s . Sifre N m 10, 2 9 , § 78,
aplica esse v e r s í c u l o aos d e s c e n d e n t e s de filhas d e r e c a b i t a s c a s a d a s
c o m sacerdotes.
37. S. Klein e m MGWJ
70 ( 1 9 2 6 ) , 413 e 80 ( 1 9 3 6 ) , 200, m a n i festa m a i o r c o n f i a n ç a n a h i s t o r i c i d a d e dos d a d o s relativos aos r e c a b i t a s .
a
ire Asei [ l C r 8,37-38] e Asei ( l C r 9,43-44) ele [ = R a b ,
t 2 4 7 ] ele [ = R a m m i b a r Y u d a ] impôs explicações escriturísticas" equivalentes à carga d e 4 0 0 camelos. Entre
Asei e Asei, l C r transmite listas genealógicas; ao lado de
sacerdotes e levitas, trata-se exclusivamente, de informações sobre as famílias benjaminitas e j u d a í t a s . Confirma,
pois, que nas tradições genealógicas, as informações sobre
as famílias dessas d u a s tribos c o n s t i t u í a m a totalidade dos
elementos.
38
O q u e p r e c e d e permite-nos n ã o nos a d m i r a r m o s c o m
u m fato: n ã o somente ouvimos falar e m geral de tradições
genealógicas das famílias leigas, m a s , ao l a d o das genealogias de sacerdotes deixadas por escrito e que estudamos
a c i m a , encontramos outras iguais p a r a os leigos.
Q u a n t o à época antiga, o relato do Cronista alusivo
ao registro de todo
o povo por ocasião da volta do exílio e d a reinstalação dos exilados e m sua p á t r i a ' , confirm a o que dissemos, com u m a p r o v a i m p o r t a n t e . Baseando¬
-se e m d o c u m e n t o s mais antigos , anotaram-se, e n t ã o , os
nomes dos chefes de cada família, com a indicação de
seus ancestrais ; assim se c o n s t i t u í r a m as genealogias
dos
leigos. Q u a n t o aos outros m e m b r o s d e cada família, somente
o n ú m e r o foi i n d i c a d o , e n t r e t a n t o , assinalaram-se, particularmente, as famílias cuja origem israelita era incert a e os israelitas casados com pagãs (Esd 10,18-44), tend o , p o r t a n t o , d e i x a d o alguma m a n c h a em seus descendentes ( 1 0 , 4 4 ) . Além da correlação c o m as genealogias dos
sacerdotes, c o n t i n u a d a s c o m c u i d a d o , temos u m p o n t o d e
3y
40
11
42
43
44
4 5
38. b .
Pes.
62 .
b
3 9 . Supra,
291ss.
40. W . R o t h s t e i n e J. H a n e l , Kommentar
zum ersten
Buch
der
Chronik,
L e i p z i g , 1927, X X V I I I e 188 ( s o b r e l C r 9 , 1 a).
4 1 . N e 7,6-7 p a r . Esd 2,1-2; N e 11,3; E s d 8,1.
42. N e 7,64 p a r . Esd 2,62. As genealogias de l C r 1-7 p r e n d e m - s e
aos d a d o s genealógicos d e G n , E x , N m , | o s . 1 e 2 S m , l R s , R t .
4 3 . Esd 8,1-14; cf. N e 7,6-69 par. Esd 2,1-67. — N e 11,3-24 fornece i n f o r m a ç õ e s s o b r e os chefes das famílias i n s t a l a d a s , após o exílio, e m J e r u s a l é m . A lista p a r a l e l a l C r 9,1-17 q u e , s e g u n d o 9,1-3, p r o c u r a d a r a i m p r e s s ã o de r e m o n t a r à é p o c a real deve ser c o n s i d e r a d a
c o m o p o s t e r i o r a N e 11,1-3.
44. E s d 8,3-14; N e 7,6-69 p a r . E s d 2,1-67.
45. N e 7,61-65 p a r . Esd 2,59-63.
apoio que nos permite dizer q u e as genealogias assim constituídas, pelo menos em p a r t e , tiveram c o n t i n u i d a d e : l C r
3,1-24 transmite a genealogia da casa de D a v i sob u m a
forma q u e vai até a época do Cronista; t a m b é m l C r 2,
34-41 prossegue a genealogia dos shemasita, u m r a m o do
grupo de Caleb , talvez até a época do Cronista.
N o que concerne ao período posterior, a existência
p o r escrito de genealogias de leigos nos é muitas vezes
a p r e s e n t a d a . Para começar devemos citar aqui as d u a s genealogias de J e s u s transmitidas em Mt 1,1-17 e Lc 3,
23-28; Mt prende-se à l C r . Shimeon b e n Azzai (cerca
de 110 d.C.) encontrou em Jerusalém u m rolo de genealogias ; segundo a tradição p o s t e r i o r , trata-se t a m b é m de
dados genealógicos ligados sobretudo a famílias leigas.
Convém a i n d a citar u m comentário de Júlio, o Africano
(cerca de 160-240), médico cristão. Eis o que ele observa
a respeito da pretensa destruição pelo fogo das genealogias o r d e n a d a por H e r o d e s (ver u m p o u c o mais a d i a n t e ) :
" A l g u m a s pessoas cuidadosas g u a r d a m em seu p o d e r suas
próprias genealogias, q u e r as t e n h a m reconstituído d e memória, quer t e n h a m se apossado das cópias [ c o n s e r v a d a s ] ;
elas se vangloriam de ter m a n t i d o a l e m b r a n ç a de sua origem isenta de i m p u r e z a " .
46
47
4 8
49
50
51
46. W . R o t h s t e i n e J. H ã n e l , Kommentar
zum Buch der
Chronik,
Leipzig, 1927, L I I s e 27s.
47. É à genealogia de Lucas q u e se a t r i b u i a i n d i c a ç ã o o d i o s a de
b . Sanh, 1 0 6 : " V i u m a crônica d e Baíaão [sobre Balaão c o m o designaç ã o d e Jesus ver H . L. S t r a c k , Jesus, die Haretiker
und die
Christen,
Leipzig, 1910, 2 6 " , n. 2] n o q u a l se a c h a v a ; " B a í a ã o , o m a n c o , tinha
trinta e três a n o s q u a n d o P i n h a s lista'a [ P ô n c i o Pilatos] o m a t o u " .
Essa i n f o r m a ç ã o r e m o n t a , sem d ú v i d a , a Lc 3,23.
48. M t 1,2-6 a: l C r 2,1-15; M t 1,6 Ò-12: l C r 3-5,19. E m M t 1,12,
Salatiel (no h e b r a i c o de l C r 3,19: P e d a y a ) é o pai de Z o r o b a b e l ; explica-se pela utilização d a L X X cujos m s s . A e B d ã o e m l C r 3,19 a
i n f o r m a ç ã o Salathiel,
r e c e n s ã o d e L u c i a n o : Phadaias).
Essa c o n s t a t a ção n ã o exclui a existência de u m a f o r m a p r i m i t i v a semítica d a genealogia de M t (ver infra, p . 392, n.o 1 4 9 ) , pois foi o t r a d u t o r q u e p ô d e
se utilizar d a L X X de l C r .
49. Yeb. I V 13: " S h i m e o n b e n Azzai dizia: E n c o n t r e i e m Jerusalém u m r o l o genealógico [m^gillat yühasin]
o n d e estava e s c r i t o : N .
N. é bastardo de uma mulher casada".
50. j . Ta'an. I V 2, 6 8 54ss ( I V / 1 , 1 8 0 ) ; ver infra, p . 380.
5 1 . Júlio, o A f r i c a n o , em sua Carta a Aristides,
ed. W. Reichardt,
Die Briefe des Sextus Julius Africanas
an Aristides
und Origenes
(Texte
und Untersuckungen
X X X I V 3 ) , Leipzig, 1909, 6 1 , l i n h a s 17ss.
b
c
a
O relato seguinte dá-nos a i n d a o u t r a p r o v a : " R a b i
[Yuda I, por volta de 2 0 0 d . C ] ocupava-se [com os projetos d e casamento] d e seu filho R. Hiyya [o A n c i ã o ] ;
na ocasião de assinar o contrato de c a s a m e n t o , a noiva
faleceu. R a b i p r o n u n c i o u e n t ã o estas palavras: Valha-me
D e u s ! N ã o haveria oculta alguma i m p u r e z a [e, então Deus
i m p e d i u o casamento] ? — R e u n i r a m - s e , pois, e fizeram
u m a pesquisa nas [genealogias d a s ] famílias; [ d e s c o b r i r a m
que] Rabi descendia de Safatia, filho de Abital [2Sm 3,4:
filhos d e D a v i ] e R. Hiyya d e Semei [sic. E m 2 S m 1 3 , 3 :
S e m a a ] , irmão de D a v i " .
52
É, p o r t a n t o , certa a existência de genealogias d e leigos consignadas p o r escrito, mas é preciso ainda averiguar a v e r a c i d a d e da existência de genealogias de leigos
registradas p u b l i c a m e n t e . Júlio, o Africano, afirma, c o m
efeito, em sua Carta a Aristides ,
t r a n s m i t i d a por Eusébio : " A t é agora [a época d e H e r o d e s ] encontravam-se
consignadas nos arquivos [em p r i m e i r o lugar] as famílias
hebraicas e [em segundo lugar] as famílias daqueles cuja
origem r e m o n t a v a a prosélitos, como A q u i o r , o a m o n i t a ,
e R u t e , a m o a b i t a , o u a m e s t i ç o s saídos do Egito ao
m e s m o t e m p o [ q u e os j u d e u s ] . H e r o d e s q u e n ã o tinha
sangue israelita nas veias, excitado pela consciência de
sua origem o b s c u r a , o r d e n o u que fossem q u e i m a d o s os
d o c u m e n t o s dessas famílias; passaria — pensava ele —
por ser de origem n o b r e , pois, n i n g u é m mais teria a possibilidade d e p r o v a r , através de d o c u m e n t o s públicos, que
ele descendia de patriarcas ou [de prosélitos e]
daqueles q u e se c h a m a m geiôrai ,
os m e s t i ç o s " .
5l
54
55
56
57
5S
52. b . Ket. 6 2 ; ver infra, p . 380.
b
53. Ed. Reichardt, 61.
5 4 . Hist. eccl. I 7, 13.
55. E m v e z d e os Achiór,
T E R M D l ê e m héos Achiór,
"até
Aquior",
56. P a r a os epímiktoi,
cf. a L X X em E x 12,38 e N m 11,4.
57. C o m E. S c h w a r t z e W . R e i c h a r d t c o n v é m c o n s i d e r a r
proselútous te e toús epímiktous
c o m o glosas a n t e r i o r e s a E u s é b i o . F o r a m
o c a s i o n a d a s pela p a l a v r a estrangeira geiôrai
que u m primeiro copista
interpretou corretamente "prosélitos", e u m segundo, erroneamente,
"mestiços".
58. É o a r a m a i c o giyyôra,
" p r o s é l i t o " , isto é, prosélito c o m p l e t o ;
cf. a L X X em E x 12,19 e Is 14,1: giúras.
M e r e c e r á crença tal n a r r a ç ã o ? A gruta do tesouro, escrito siríaco cujo conteúdo r e m o n t a a 3.50 confirma que
Herodes destruiu pelo fogo as g e n e a l o g i a s ; mas A gruta
do tesouro é baseada em Júlio, o Africano
E m b . Pes.
6 2 , conta-se: " R a m m i bar R a b Y u d a diz e m n o m e de
R a b (j* 247 d . C ) : Desde o dia em que o livro das genealogias foi escondido, a força d o s sábios declinou e seu
olhar tornou-se t u r v o " . Essa passagem não constitui u m a
prova, pois o contexto tanto antecedente q u a n t o subseqüente mostra q u e R a s h i tinha r a z ã o ao ver neste "livro das genealogias" os livros bíblicos das Crônicas . Essa
passagem do T a l m u d e babilónico refere-se, p o r t a n t o , ao
m o m e n t o e m q u e a interpretação t r a d i c i o n a l de l C r foi
incluída nos elementos e s o t é r i c o s — nignaz, "ser ocul59
b
&1
6 2
63
64
65
59. A gruta do tesouro
(ed. C. Bezold, Die Schatzhöhle
aus
dem
syrischen
Texte dreier unedirten
Handschriften
in's Deutsche
ubersetzt,
Leipzig, 18S3, 53) distingue três d e s t r u i ç õ e s p e l o fogo: a) n a é p o c a
de A n t í o c o ( I V E p i f a n e s ) ; b) l a c u n a n o t e x t o ; s e g u n d o O livro
de
AdÜo, o etíope (Das christliche
Adambuch
des Morgenlandes
aus
dem
Äthiopischen
mit Bemerkungen
übersetzt
p o r A. D i l l m a n n , G ö t t i n g e n ,
1853, 1 3 3 ) , é p r e c i s o , talvez, c o m p l e t a r : p o r o c a s i ã o d a d e s t r u i ç ã o d e
Jerusalém ( ? ) ; " n o s dias de H e r o d e s , q u a n d o J e r u s a l é m foi destruída".
60. A. G ö t z e , Die Schatzhöhle.
Überlieferung
und Quellen
(Sitzungsberichte
der Heidelberger
Akademie
der Wissenschaften,
philos.-hist. Klasse 13, fas. 4 ) , H e i d e l b e r g , 1922, 80-85 e 91 m o s t r o u q u e a
c r o n o l o g i a da A gruta do tesouro r e p o u s a s o b r e a d e Júlio, o A f r i c a n o .
6 1 . H á u m a ligação e n t r e b . Pes. 6 2 e a i n f o r m a ç ã o d e )úlio,
o Africano, s e g u n d o M . S a c h s , Beiträge
zur Sprach- und
Alterthumsforschung
aus jüdischen
Quellen
I I , Berlim, 1854, 155ss; F . R o s e n t h a l ,
Über 'issah, era MGWf
30 ( 1 8 8 1 ) , 118ss; K r a u s s . Talm.
Arch.,
II,
434, n . 9 1 ; G . K i t t e l , Die genealogiai
der Pastoralbriefe.
e m ZNW
20
( 1 9 2 1 ) , 52.
62. Ele c o n s i d e r a nossa p a s s a g e m c o m o e x p l i c a ç õ e s orais d o livro
das Crônicas.
6 3 . O e l o e n t r e b . Pes. 6 2 e a i n f o r m a ç ã o d e Júlio, o Afric a n o , é c o n t e s t a d a p o r L. F r e u n d , " Ü b e r G e n e a l o g i e n u n d F a m i l i e n r e i n h e i t " , e m Festschrift
Schwarz,
173, n. 3 , e 187ss. F r e u n d , assim
c o m o L. G i n z b e r g , MGWf
56 ( 1 9 1 2 ) , 665, n. 4 e L. G o l d s c h m i d t , Der
babylonische
Talmud
I I , Berlim, 1930, 496, n. 72, a p r o x i m a r a m os
d a d o s de b . Pes. 6 2 aos das genealogias p r o f a n a s . — C o m r a z ã o ,
Strack, Einleitung,
12 e Billerbeck, I, 6 aí r e c o n h e c e m os livros das
Crônicas.
64. Cf. a p e n ú l t i m a n.
65. Ver supra, p . 3 2 5 . — A explicação d o " l i v r o das g e n e a l o g i a s "
fazia p a r t e dos e l e m e n t o s esotéricos dos escribas; é o q u e n o s diz,
e x p l i c i t a m e n t e , b . Pes. 6 2 : R. Y o h a n a n ( i 279 d.C.) o u s o u m o s t r a r
a R. Simlaí (cerca de 260) o "livro das g e n e a l o g i a s " .
o
b
b
t o " é o t e r m o técnico p a r a dizer q u e certos elementos são
afastados da tradição ensinada p u b l i c a m e n t e — e l a m e n t a
a confusão causada por essa m e d i d a nas tradições genealógicas.
A notícia de Júlio, o Africano, sobre a destruição
pelo fogo das genealogias encontra-se isolada. É v e r d a d e
que n ã o se p o d e com certeza a t r i b u i r u m a excessiva importância ao silêncio de Josefo. Esse silêncio sobre u m a
r e d u ç ã o a cinzas das genealogias o r d e n a d a por Herodes
pode-se explicar pelo fato de Josefo, e m sua história do
reino, seguir a m p l a m e n t e Nicolau d e D a m a s c o , historiógrafo da corte e panegirista do rei. H e r o d e s teria sido totalmente capaz de semelhante d e s t r u i ç ã o ; sabemos, com
certeza, q u e ele p r o c u r o u esconder sua origem . Além do
m a i s , ao destruir os documentos genealógicos, teria p o d i d o
refrear a esperança messiânica ligada à família davídica,
esperança que c o n t i n u a m e n t e a m e a ç a v a sua a u t o r i d a d e soberana.
66
Se, e n t r e t a n t o , n ã o conseguimos aqui nos desvencilhar do domínio das possibilidades, o u t r a observação levamos mais longe. Segundo Júlio, o Africano, encontravam¬
-se registrados nos arquivos, p r i m e i r a m e n t e as famílias hebréias, depois, as prosélitas. A prescrição do Doe.
Dam.
concorda totalmente com essa indicação; seria preciso registrar os m e m b r o s da c o m u n i d a d e da nova aliança da
seguinte m a n e i r a : " T o d o s d e v e m ser inscritos pelo seu
n o m e , u m após o o u t r o , p r i m e i r a m e n t e os sacerdotes, depois os levitas, os israelitas e m terceiro lugar, e os prosélitos em q u a r t o " . T a m b é m aqui temos em primeiro lugar a inscrição das famílias israelitas e, e m seguida, a dos
prosélitos. Podemos deduzir q u e esse registro feito na com u n i d a d e de D a m a s c o v e m a ser u m a r e p r o d u ç ã o ; tal inferência i m p e d e considerar fábula a notícia de Júlio, seg u n d o a qual havia nos arquivos algumas listas genealógicas semelhantes àquelas de que fala. (Segundo Rufino
tratar-se-ia dos arquivos secretos do T e m p l o ) . É preciso,
61
6 S
b
7
66. Ant. X I V 1, 3, § 9.
67. Doe. Dam. X I V 4-6.
68. R u f i n o e m s u a t r a d u ç ã o latina de a Hist. eccl. de E u s é b i o , I
13 (GCS 9, 1, 6 1 , linhas 3-4), o b s e r v a a r e s p e i t o d a i n f o r m a ç ã o de
porém, prevenir-se p a r a n ã o tomar esse informe como u m a
situação geral d a p o p u l a ç ã o . É mais provável tratar-se
de escritos referentes às tradições genealógicas. A m e n ç ã o
dos mestiços saídos do Egito com os judeus, de R u t e , a
m o a b i t a , e de Aquior, o amonita conhecido através d o livro de Judite, mostra q u e a lenda devia d a r forte colorido
ao c o n t e ú d o .
Nesse contexto encontramos ainda u m d a d o de Josefo; infelizmente, seu valor é d i m i n u í d o pela interpretação incerta d a palavra-chave. E m seu C. Ap. I 6, § 2 9 , Josefo fala do c u i d a d o com q u e seu povo conserva os documentos públicos; diz ainda (I 7, § 3 0 s ) : " N ã o nos contentamos e m confiar, desde o começo, esse c u i d a d o [o de
organizar os documentos] a pessoas capacitadas e cheias
de zelo pelo culto; tomaram-se ainda medidas p a r a q u e a
casta dos sacerdotes se mantivesse isenta de miscigenação
e sem m á c u l a . [ 3 1 ] C o m efeito, aquele q u e p a r t i c i p a do
sacerdócio deve, p a r a gerar, unir-se com u m a m u l h e r de
sua p r ó p r i a nação e, sem considerar a fortuna ou outras
distinções, fazer u m a pesquisa sobre a família [da n o i v a ] ,
extraindo dos arquivos [é sem d ú v i d a a b o a lição]
os
ascendentes de seus pais e a p r e s e n t a n d o numerosas testem u n h a s " . Se, pois, ek tôn archeion é o conselho certo,
as famílias leigas d a época, n o dizer de Josefo, encontrav a m nos arquivos os elementos básicos q u e lhes permitiam controlar sua origem de maneira irrefutável. A i n d a
a q u i , podemos d a r crédito a essa indicação, desde q u e n ã o
imaginemos q u e Josefo fale de u m registro sistemático de
todo o p o v o . Ele pensa muito mais nas genealogias d e sa69
70
11
Júlio, o A f r i c a n o ; Q u o d p e r idem l e m p u s o m n e s H e b r a e o r u m generaü o n e s d e s c r i p t a e in archivis t e m p l i s e c r e t i o r i b u s h a b e b a n t u r .
69. O Protoevangelho de Tiago I 3 m e n c i o n a u m " r e g i s t r o d a s d o z e
t r i b o s " ; n ã o designa, d e m o d o a l g u m , u m c ô m p u t o c o m p l e t o d a pop u l a ç ã o , m a s , s e g u n d o p a r e c e l C r 1-9.
70. E m vez d e ek tôn archaíon ( " d e s d e as antigas f a m í l i a s " ? ) , A .
G u t s c h m i d , Kleine Schriften I V , Leipzig, 1893, 398, p r o p ô s ler ek tôn
archeion " d o s a r q u i v o s " . Essa conjectura, cujo s e n t i d o se r e c o m e n d a ,
a p r e s e n t a m e n o r dificuldade, visto q u e o texto dessa p a s s a g e m r e p o u s a
s o b r e u m só m s . , o Laurentianus p l u t . 69, G o d . 22, d o século X I .
É, pois, c o m r a z ã o , q u e T h . R e i n a c h , Flavius Josèphe, Contre Apion,
P a r i s , 1930 a i n t r o d u z i u n o t e x t o .
7 1 . V e r o s e g u i m e n t o d a citação supra, p . 2 9 5 .
c e r d o t e s q u e se e n c o n t r a v a m nos a r q u i v o s d o T e m p l o
(contendo igualmente dados sobre as esposas d o s sacerdotes q u e t i n h a m v i n d o , e m p a r t e , de famílias leigas);
assim como das declarações de dívidas e outros documentos conservados nos a r q u i v o s , cujas indicações genealógicas p o d i a m servir d e base às famílias leigas, p a r a form u l a r a lista de seus antepassados.
T o d o esse contexto g a r a n t e , pois, para as famílias leigas, a existência de tradições genealógicas orais e escritas, d e caráter privado e público. Ergue-se e n t ã o u m a perg u n t a : qual é o seu valor histórico?
72
75
74
B. VALOR HISTÓRICO DAS GENEALOGIAS
DOS LEIGOS, PARTICULARMENTE
AS DE MATEUS 1,1-17 E LUCAS 3,23-38
As genealogias das famílias de sacerdotes eram, e m
g e r a l , autênticas e essa a u t e n t i c i d a d e garantida pelo menos p a r a u m o u dois séculos precedentes. É fato indubitável desde q u e se leve e m conta a hereditariedade do sacerdócio estritamente m a n t i d a e d o e x a m e cuidadoso das
genealogias, antes da consagração sacerdotal, assim c o m o
a distribuição d o clero e m linhagens e famílias sacerdotais . T a m b é m é certo q u e os sacerdotes faziam pesquisas pré-nupciais sobre a pureza da família de suas futuras
esposas, sobretudo se n ã o e r a m d e família s a c e r d o t a l .
O conjunto dessas informações exclui c o m p l e t a m e n t e qualquer idéia de q u e as tradições genealógicas das famílias
leigas, d a s quais constatamos a existência ( p p . 3 6 8 s ) , sejam p u r a s invenções.
75
76
77
72. V e r supra. p . 291ss.
73. 2 C r 5 1 , 18; Josefo, Vita I, § 4 .
74. B. j . 11 17, 6, § 4 2 7 .
75. C o n v é m c o n t a r c o m a l g u m a s i n e x a t i d õ e s
i n d i c a d a s supra,
p. 292, n . 4 4 6 .
no gênero
daquelas
76. Supra, 223s.
tima
77. V e r as partes s o b r e a aristocracia s a c e r d o t a l legitima e ilegí(supra, p p . 250-272) e s o b r e o c a r á t e r h e r e d i t á r i o d o sacerdócio
(supra, p p . 291-302).
I
N a v e r d a d e , n u m a tradição q u e é, conforme se sustenta, genealógica, encontram-se, q u a n d o a ocasião se apresenta, jogos de palavras destituídos de q u a l q u e r valor, lev a n d o à conclusões genealógicas a partir d a significação
dos n o m e s , segundo a etimologia p o p u l a r . Trata-se do seguinte texto :
7S
para fazerem suas lamentações nos lugares santos
b) O s
dados genealógicos dos n n . 2 e 5 resultam de u m jogo de
palavras; a indicação do n, 10 p r o v é m de u m a i d e n t i d a d e
de nomes; a do n . 1 aparecerá u m p o u c o a d i a n t e
como
u m a falsificação histórica.
Por conseguinte, essa genealogia q u e se julga ter sido
e n c o n t r a d a em Jerusalém, é u m a p r o d u ç ã o fantasista
que
surgiu em Séforis pelo ano 250 de nossa e r a . É igualm e n t e impossível salvar os cinco primeiros m e m b r o s
na
hipótese de u m a lista e n c o n t r a d a e m Jerusalém antes de
70 d . C e completada mais t a r d e . N a t u r a l m e n t e os dados genealógicos do Antigo T e s t a m e n t o favoreciam amp l a m e n t e semelhantes deduções genealógicas, graças a jogos de p a l a v r a s e significado dos n o m e s .
82
83
8 4
B 5
"R. Levi [cerca de 300 d . C ] diz: Encontrou-se em Jerusalém uma genealogia na qual se podia ler:
1. Hilel [cerca de 20 a . C ] descende de Davi;
2. Ben [a família] Yasaf [Yasa], de Asaf;
3. Ben [a família] Sisit ha-kassat [cerca de 70 d . C ] , de
Abner;
4. Ben [a família] Qobesin [Kobshin], de Acab;
5. Ben [a família] Kalba Shabua [cerca de 70 d . C ] , de
Caleb;
6. R. [a família] Yanar [cerca de 225 d . C ] , de EU;
7. B e n
[a família] Yehud [Yahn], de Séforis;
8. R. Híyya Rabba [cerca de 200 d . C ] , de Shefatia,
filho de Abital [2Sm 3,4];
9. R. Yose bar Halafta [cerca de 200 d . C ] , de Ionadab
ben Recab [2Rs 10,15];
10. R. Nehemia [cerca de 150 d . C ] , de Neemias, o
tirsata [Nm 8 , 9 ] " .
79
U m a dupla observação é suficiente p a r a caracterizar
esta lista: a) supõe-se q u e t e n h a sido e n c o n t r a d a e m Jerusalém, o n d e veio a lume no século I I I de nossa era —
R. Y a n a i (6) exercia suas atividades pelo ano 2 2 5 aprox i m a d a m e n t e . Ora, a p ó s a guerra de Bar-Kokba {132¬
-135 [ 6 ] ) , Jerusalém tornou-se colônia r o m a n a , Aélia capitolina, e a e n t r a d a na C i d a d e santa foi p r o i b i d a aos judeus sob p e n a de morte . P o d i a m e n t r a r na cidade apenas em 9 a b , dia do aniversário da t o m a d a de Jerusalém,
80
78. j . Tu'an. I V 2 m 6 8 45ss ( I V / 1 , 1 8 0 ) ; Gn. R. 98, 13 s o b r e
49, 10 ( 2 1 1 12ss). j . Ta'an. d á a m a i s antiga t r a d i ç ã o , p o r q u e a p e n a s
este texto c o n s e r v a o jogo d e p a l a v r a s Y a s a p h - A s a p h . A l g u m a s var i a n t e s i m p o r t a n t e s da t r a d i ç ã o p a r a l e l a em Gn. R. são i n d i c a d a s e n t r e
colchetes; a o r d e m é diferente em Gn. R.
79. É assim q u e se d e v e ler, e m vez d e min.
80. V e r m e u Golgotha,
L e i p z i g , 1926, 19s.
a
b
8 6
8 7
Esse c o n h e c i m e n t o n ã o p r o v a q u e todas as tradições
genealógicas sejam destituídas de valor histórico; incita¬
-nos, p o r é m , à p r u d ê n c i a e a u m e x a m e crítico das tradições. Por exemplo, devemos aceitar com certa reserva as
informações genealógicas de T b 1,1; Jd 8 , 1 ; Est 2,5. Fazem p a r t e , ao q u e p a r e c e , do estilo desses romances históricos.
II
E m dois casos possuímos elementos que nos permitem fazer u m exame crítico dos dados genealógicos do
T a l m u d e , relativos a famílias leigas. N o primeiro caso,
trata-se de R. Eleazar b e n Sadoc, escriba hierosilomita
8 1 . O r í g e n e s , In Librum
Jesu Nave
X V I I 1; Itin.
Burdigalense
591 (ed. P . G e y e r , Itinera hierosolymilana
saeculi III1-VIII,
CSEL 39,
1898, 2 2 ) ; J e r ô n i m o , In Soph. I 15ss; S c h ü r e r , I, 703s; m e u
Golgotha,
20, n. 13.
8 2 . V e r infra, p p . 382-386.
8 3 . I. Levi, L'Origine
davidique
de Hillel,
e m RE} 31 ( 1 8 9 5 ) ,
209ss.
84. D e m o n s t r a ç ã o de A. Büchler, Priester,
42.
8 5 . Foi s o m e n t e n o século I I I q u e se a f i r m o u a o r i g e m davídica
dos hilelitas, v e r infra, p . 384.
86. C o n t r a Büchler, Priester,
42.
8 7 . G . Kittel d á a l g u m a s p r o v a s em Die genealogíai
der Pastoral¬
briefe, ZNW
20 ( 1 9 2 1 ) , 59-67; v e r t a m b é m b . Pes. 4 .
em atividade antes da destruição da cidade . Eleazar afirm a descender dos filhos de Senaah (sic! E m Esd 2 , 3 5 ; N e
3 , 3 ; 7 , 3 8 ; Ta'an IV 5: Senaa), da tribo de Benjamim, u m a
das famílias que teve o privilégio de trazer lenha p a r a o
T e m p l o . Conta ele que o 10 a b , dia festivo em q u e essa
família devia trazer a l e n h a , coincidiu, certo a n o , com
o aniversário da destruição de Jerusalém, o 9 a b , a d i a d o
n a q u e l a vez, p a r a o 10. N a q u e l e a n o , com efeito, o 9 ab
caiu n u m sábado e quiseram evitar fazer do s á b a d o u m
dia de luto em Jerusalém .
C o m o se vê, trata-se de dados tão concretos q u e é
impossível d u v i d a r da pertença de R. Eleazar b e n Sadoc
a u m a família de benjaminitas de alta classe. D i a n t e disso
encontramos a indicação segundo a qual seu pai, R. Sadoc, era de origem p o n t i f í c i a , isto é, de origem pontifícia legítima, como sadoquita \ Poderíamos ser t e n t a d o s
a tomar esse último d a d o por u m a conclusão genealógica
sem valor, extraída de seu n o m e , Sadoc. Mas é impossível:
u m relato digno de fé, a m p l a m e n t e confirmado
conta-nos
que u m dia, por ocasião de u m assassínio no T e m p l o , R.
Sadoc dirigiu aos sacerdotes e ao p o v o , do vestíbulo do
T e m p l o , u m enérgico apelo à penitência. U m leigo não
teria p o d i d o p e n e t r a r naquele recinto; c o n s e q ü e n t e m e n t e ,
podemos ter certeza de que R. Sadoc era sacerdote. Essas
duas informações sobre a origem de Eleazar c o n t ê m elementos absolutamente autênticos. É, pois, b e m provável
88
8 3
9 0
91
92
9
94
88. Q u a n t o às d a t a s , v e r a e x p o s i ç ã o d e t a l h a d a s u p r a , p- 2 0 1 .
Ele era a i n d a m u i t o jovem d u r a n t e o r e i n a d o d e A g r i p a I (41-44 d . C ) ;
d u r a n t e a fome q u e grassou n o r e i n a d o de C l á u d i o (47-49, v e r m e u
artigo Sabbathjahr
e m ZNW
27 [ 1 9 2 8 ] , 98-103), já era u m d i s c í p u l o
de R. Y o h a n a n , filho d a h a u r a n i t a . N a s c e u , p o i s , no fim dos anos 30-40.
89. V e r supra, 308s.
90. Táan.
Í V 5.
9 1 . b . Ta'an. 1 2 ; b . 'Er, 4 1 ; j . Ta'an. IV 6, 6 8 44 ( I V / 1 , 1 9 5 ) ;
j . Meg. I 6, 7 0 13 (não t r a d u z i d o e m I V / 1 , 205 q u e r e m e t e a o p a r .
I V / 1 , 195). S o b r e este p o n t o , v e r J. N . E p s t e i n , Die Zeiten
des Hol¬
zopfers,
e m MGWJ
78 ( 1 9 3 4 ) , 97-103; ele conclui q u e esta p a s s a g e m
(em o p o s i ç ã o a Ta'an. IV 5) c o n s i d e r a o 9 ab c o m o o dia em q u e a
família S e n a a e n t r e g a v a a l e n h a .
92. ARN rec. A c a p . 16, 6 3 2 5 .
93. Ver supra, p . 265, n . 300.
94. T o s . Yoma I 12 (181, 2 0 ) ; T o s . Shebu.
I 4 (446, 6 ) ;
Sifre
N m 35, 34, § 161 ( 2 8 I I I , 1 8 ) ; j . Yoma I I 2, 3 9 13 ( I I I / 2 , 179 bar.;
b . Yoma 2 3 b a r .
a
a
b
c
a
c
a
d
que os tosafistas tivessem razão ao concluir que Eleazar
ben Sadoc pertencia à família benjaminita pelo lado materno. Essa conclusão torna-se a i n d a mais esclarecedora
pelo fato de Eleazar m e n c i o n a r sua origem benjaminita
não relacionando-a com u m a afirmação genealógica e sem
intenção especial, por ocasião de informações acerca da
celebração do 10 ab. N ã o temos, p o r t a n t o , como rejeitar
os dados relativos à sua origem.
95
O segundo caso diz respeito à origem do patriarca
palestinense R. Y u d a I (135 até depois de 2 0 0 ) , descend e n d o de H i l e l . Existem informações contraditórias quanto à sua o r i g e m : 1", do lado p a t e r n o ele p r o v é m da tribo
de Benjamim, e, da tribo de Judá , somente do lado materno. 2", o r i u n d o da tribo de J u d á , isto é, de D a v i .
3" O u t r a tradição acrescenta que ele descende de Safatias,
filho de D a v i e de Abital (2Sm 3,4) . H á pois, completa
c o n t r a d i ç ã o ; na realidade, o caso é a b s o l u t a m e n t e claro.
y6
97
%
y,;
1 0 0
m
1. Y u d a I diz que o exiliarca b a b i l ô n i o Rab H u n a é
de origem mais ilustre do q u e ele , pois Y u d a é benjaminita e n ã o p o d e descender d a tribo de Judá senão pelo
l a d o m a t e r n o . Esse t e s t e m u n h o autobiográfico é autêntico . C o m efeito, o p a t r i a r c a aqui se coloca abaixo dos
exiliarcas; p o r outro lado, não se p o d e pôr em dúvida a
102
103
104
95. Tosafot
s o b r e 'Er. 4 1 . M e s m a c o n c l u s ã o e m Billerbeck, I, 5;
V. A p t o w i t z e r , e m HUCA
4 ( 1 9 2 7 ) , 238; S. Klein Zur jüdischen
Altertumskunde,
e m MGW}
77 ( 1 9 3 3 ) , 192.
96. N ã o é a b s o l u t a m e n t e c o m p r o v a d o q u e a família de G a m a l i e l
d e s c e n d a de Hilel, m a s é p r o v á v e l .
97. O s textos c i t a d o s nas q u a t r o n o t a s seguintes f o r a m traduzidas em Billerbeck, I, 4-5.
98. j . KU. I X 4, 32" 30 ( H / 1 , 3 1 7 ) ; Gn. R. 3 3 , 3 s o b r e 8, 1
( 6 6 18s). E d i ç ã o crítica e m G . D a l m a n , Aramäische
Dialektproben,
2- ed., Leipzig, 1927 ( r e i m p r e s s a D a r m s t a d t , 1960) 27s.
99. b . Sank
5 ; b . Hör. l l
bar.
100. R. Y u d a I d a v í d i d a ; b . Shab. 5 6 . Hilel d a v i d i d a : j . Ta'an.
I V 2, 6 8 46 ( V / 1 , 180) e p a r . , ver supra, p . 380.
1.01. b . Ket. 6 2 , v e r supra, p . 3 7 5 .
102. Ele e r a p r o v a v e l m e n t e d a v í d i d a , v e r supra, p . 370.
103. V e r supra, p . 3 8 3 , n . 9 8 .
104. I. Levi, ¿'origine
davidique
de Hilel,
e m REI
31 ( 1 8 8 5 ) ,
209ss, a p r e s e n t o u a d e m o n s t r a ç ã o c o n v i n c e n t e . Insiste, antes d e t u d o ,
no fato d e a afirmação d a o r i g e m d a v í d i c a d a família de Hilel n ã o
se e n c o n t r a r antes de 200 d.C.
a
a
a
b
a
a
b
informação segundo a qual a família de R. Y u d a I possuía anotações genealógicas \
1 0
2 . M a s , como o p r ó p r i o texto indica, era penoso p a r a
R. Y u d a I ouvir l e m b r a r q u e o exiliarca b a b i l ô n i o pertencia à família mais n o b r e do que a sua . Logo depois
do t e s t e m u n h o autobiográfico de R. Y u d a , conta-se o seguinte: " C e r t o dia, R. Hiyya, o Ancião [descendente de
Davi
e que queria fazer com que R. Y u d a I tomasse
consciência da inferioridade de sua o r i g e m ] , e n t r o u em
casa dele e disse-lhe: R a b H u n a [o exiliarca d e e n t ã o , parente de R. Hiyya] , está lã fora. —• Rabi [ Y u d a I]
empalideceu. Ele [ R a b i H i y y a ] diz-lhe: T r o u x e r a m seu
esquife" . O incidente teve como conseqüência o degredo de R. Hiyya p o r trinta dias e a r u p t u r a t e m p o r á r i a
entre os dois h o m e n s .
m
1 0 7
108
m
O fato fornece a chave dos dados contraditórios sobre a origem de R. Y u d a I. Para não mostrar a família
dos patriarcas palestinenses como inferior a dos exiliarcas
babilônios, a tradição, pela primeira vez em b . Sanh. 5 6
onde é transmitida por Rab ( t 2 4 7 ) , discípulo de R. Y u d a
e s o b r i n h o d e R. Hiyya, atribuiu u m a origem davídica a
R. Y u d a I. A conclusão pareceu muito possível visto o
p a t r i a r c a ser, c o m efeito, d e s c e n d e n t e d a t r i b o d e J u d á , se
b e m que somente do lado m a t e r n o .
O motivo dessa falsificação histórica é especialmente
clara em b . Sanh, T (bar.) , baraíta já conhecido de
Orígenes , o n d e G n 49,10 a " o cetro não será tirado de
J u d á " é aplicado aõs exilarcas, e 49,10 b: " n e m o príncipe de sua d e s c e n d ê n c i a " aos patriarcas palestinenses.
Conforme nos demonstra essa passagem do T a l m u d e , não
a
n o
m
105. b . Ket. 6 2 . A i n d a í o s e f o ; Vita 3 8 , § 1 9 1 : R. S h i m e o n b e n
G a m a l i e l 1 (o b i s a v ô de R. Y u d a I) descendia d e u m a "família m u i t o
ilustre", p o r t a n t o , de u m a família q u e t i n h a u m a g a r a n t i d a t r a d i ç ã o
genealógica.
106. Cf. t a m b é m b . Hor, l l .
107. V e r supra, p . 370.
108. Sbiá.
109. ]'. Kil. I X 4, 3 2 31 ( I I / l , 317) e p a r . (ver esses p a r . supra,
p . 380, n . 80.
110. Cf. b . H o r . I I ; b . Sanh. 3 8 .
b
b
b
1 5
111. Cf. supra,
p . 370, n. 17.
a
é apenas " s o c i a l m e n t e " que se deseja c o l o c a r - o s patriarcas no m e s m o nível dos exiliarcas; q u e r e m atribuir-lhes,
do m e s m o m o d o que aos exiliarcas, u m a participação n a
promessa de G n 49,10 e assim, possivelmente, u m a pretensão legítima ao domínio messiânico. M u i t o esclarecedor o fato de o baraíta não estabelecer u m a igualdade total entre os dois; o escrito exprime c l a r a m e n t e a superioridade dos exiliarcas que " r e i n a m sobre Israel com seu
c e t r o " , em relação aos patriarcas q u e " t ê m o poder de
ensinar publicamente em I s r a e l " . P a r a reforçar a falsificação histórica, a tradição palestinense, no século I H de
nossa era , a transferiu p a r a Hilel, o antepassado de R.
Y u d a I, colocando sobre ele o sinal de descendente de
Davi.
ll2
3. P a r a l e l a m e n t e à idéia de relacionar patriarcas e
exiliarcas, a c o m p a r a ç ã o de R. Y u d a com R. Hiyya, o
Ancião, foi d e t e r m i n a n t e no processo da t r a d i ç ã o . Pareceu
intolerável que R. Hiyya fosse de origem mais ilustre do
q u e o patriarca pertencente à tribo d e Benjamim. Saíram
dignamente do cenário, d a n d o u m passo a mais; não somente fizeram de R. Y u d a I u m davídico, mas transferir a m , p u r a e simplesmente p a r a ele, a genealogia de R.
Hiyya
e t o r n a r a m o p a t r i a r c a u m descendente de Safatias, filho de D a v i e de Abital. Q u a n t o a R. Hiyya, ficou sendo descendente, não de D a v i , mas d e u m r a m o
colateral da família real; Shimea, i r m ã o de D a v i , conform e dizem, foi seu antepassado .
1 1 3
1W
Essas constatações são p a r t i c u l a r m e n t e instrutivas, n ã o
pelo fato de termos aí u m caso o n d e se tentou, d u r a n t e
o século I I I de nossa era, u m a falsificação histórica p a r a
a m a i o r glória da família dos p a t r i a r c a s palestinos, m a s
p o r q u e a v e r d a d e i r a tradição n ã o foi suprimida. Todos os
esforços p a r a p r o v a r a origem davídica da família de Hilel
n ã o p u d e r a m impedir que continuasse conhecida a sua
112. A t e s t e m u n h a mais antiga é R. L e v i (cerca d e 300 d . C . ) :
j . Ta'an, I V 2, 6 8 45ss ( I V / 1 , 1 8 0 ) . V e r o t e x t o supra, p . 380.
113. S u p o n d o q u e essa seja d a d a c o m e x a t i d ã o e m j . Ta'an.
IV
2, 6 8 4 8 ( I V / 1 , 1 8 0 ) , v e r supra, p . 380.
114. b . Ket. 6 2 .
a
a
b
13 - Jerusalém no tempo de J e s u s
origem benjaminita. O s elementos da tradição genealógica
e r a m sólidos demais p a r a p o d e r e m ser s u m a r i a m e n t e suprimidos pelas falsificações.
O fato de os círculos de doutores t r a n s m i t i r e m as
tradições sobre a legitimidade ou ilegitimidade de certas
famílias c o n t r i b u i u essencialmente p a r a essa solidez da
tradição genealógica.
A força foi d a d a a essas tradições pelo rigor — acim a descrito (pp. 299-302) c o m q u e os sacerdotes se esforçavam em conservar sua classe p u r a de elementos ilegítimos ou de descendentes de sacerdotes cuja legitimidade
de origem era duvidosa. Esses esforços levaram os sacerdotes a m a n t e r e m firmemente a tradição p a r a saber quais
famílias de sacerdotes e r a m legítimas e quais e r a m duvidosas (as c h a m a d a s famílias Issah) . Por o u t r o l a d o , em
muitos casos, os escribas n ã o a p r o v a v a m a severidade e
os pontos de vista do clero; foram assim levados a conservar tradições sobre famílias que os sacerdotes erroneamente d e c l a r a r a m ilegítimas ou legítimas.
m
U m a tradição de R a b b a n Y o h a n a n ben Z a k k a i ( f cerca de 80 d . C ) , evidentemente do tempo em que o T e m plo existia, n a r r a : " U m a família de n o m e Bet Serifa vivia
na T r a n s j o r d â n i a ; ben Sion afastou-a c o m p u l s o r i a m e n t e
[declarou-a i l e g í t i m a ] . O u t r a família então aí vivia; b e n
Sion do m e s m o m o d o a a p r o x i m o u [declarou-a legítim a ] " . Podemos supor tratar-se de famílias sacerdotais
e que as decisões tomadas por b e n Sion e não a p r o v a d a s
pelos escribas
foram julgamentos p r o n u n c i a d o s p e l o tribunal de sacerdotes já m e n c i o n a d o (pp. 2 4 5 s ) . Q u e posição assumiam os escribas e m semelhantes casos? A continuação do texto na Tosefta no-lo m o s t r a : " E os doutores não quiseram revelar p u b l i c a m e n t e o caso; eles os
[os nomes das famílias e r r o n e a m e n t e declaradas legítimas]
m
117
118
115. V e r supra, p . 3 0 ! , e s p e c i a l m e n t e n . 507 e ss.
116. 'Ed. V I I I 7; 'Ed. I I I 4 (459, 3 0 ) ; j . Yeb. V I I I 3 , 9* 8 ( I V / 2 ,
124); j . Qid. I V 1, 6 5 51 (não t r a d u z i d o e m V / 2 , 281 q u e r e m e t e
ao p a r . 1 V / 2 , 1 2 4 ) ; b . Qid. 7 1 b a r .
117. Este R a b b a n Y o h a n a n b e n Z a k k a i a q u e m r e m o n t a n o s s a trad i ç ã o queixou-se d o rigor dos s a c e r d o t e s , ver supra, p . 3 0 1 .
118. T o s . 'Ed. I I I 4 (459, 3 1 ) ; j . Qid. I V 1, 6 5 53 (não t r a d u z i d o
e m V / 2 , 281 q u e r e m e t e ao p a r . I V / 2 , 124).
c
a
transmitiram a seus filhos e a seus discípulos u m a ú n i c a
vez em sete anos [ e m s e g r e d o ] " " .
C o m o t e m p o , tais t r a d i ç õ e s , a p r e s e n t a d a s através da
explicação dos dados genealógicos d o 1" livro das Crônicas, assumiram tal i m p o r t â n c i a
q u e se temeu p u d e s s e m
ser desacreditadas e m p ú b l i c o , as famílias d o s notáveis,
caso fosse divulgada alguma d e s o n r a em sua o r i g e m .
D e c i d i u - s e , então — não sabemos q u a n d o , mas certamente antes da época de R. Y o h a n a n ( 1 9 9 aproximadamente-279)
— proibir a i n t e r p r e t a ç ã o pública d e 1" livro das Crônicas e colocá-lo entre os elementos d a tradição esotérica .
Eis, p o r t a n t o , o q u e constatamos nessa segunda parte: h á , sem d ú v i d a , falsificações históricas nas genealogias,
mas não se p o d e m construir genealogias imaginárias, ao
bel-prazer, pois, existem meios de controle. E n c o n t r a m o s
assim u m a regra para julgar as genealogias neotestamen9
120
131
I22
123
m
119. Cf. b . Qid. 7 1 bar.-. " H a v i a a i n d a o u t r a [família c o m p u l s o r i a m e n t e d e c l a r a d a l e g í t i m a , R a s h í In loco] e os d o u t o r e s n ã o q u i s e r a m d e n u n c i á - l a p u b l i c a m e n t e , m a s os d o u t o r e s o [seu n o m e ] revel a r a m a seus filhos e discípulos u m a vez e m sete a n o s " . E x e m p l o s de
u m a t r a d i ç ã o esotérica a r e s p e i t o d e famílias ilegítimas e m b . Qid. 7 0 .
120. S o b r e a a m p l i d ã o d a s t r a d i ç õ e s g e n e a l ó g i c a s , cf. b . Pes. 6 2
a
b
b
c i t a d o supra, p . 3 7 3 .
1 2 1 . b . Qid. 7 1 p a r . j . Qid. I V 1. 6 5 54 [ n ã o t r a d u z i d o e m V / 2 ,
281 q u e r e m e t e ao p a r . I V / 2 , 1 2 4 ] ; j . Yeb. V I I I 3 , 9¿ I I [ Í V / 2 , 1 2 4 ] ;
" R , Y o h a n a n ( t 279) d i z : " P e l o T e m p l o ! n ó s s a b e m o s d e q u e família se t r a t a [tratara-se a n t e s d e sua i l e g i t i m i d a d e ] , m a s q u e posso
fazer? C o m o p o d e i s v e r , os g r a n d e s d o s é c u l o estão u n i d o s a e l a " .
Ibid.: " N o s dias d e R. P i n h a s (b. H a m a , c e r c a d e 360 d . C ) , p r o c u r a va-se c o n s i d e r a r Babilônia ' m a s s a ' , ['íssah d e s i g n a ç ã o d e o r i g e m duv i d o s a , v e r supra, p. 301] em c o m p a r a ç ã o c o m a P a l e s t i n a . Ele [ P i h a s ,
q u e q u e r i a i m p e d i - l o ] , disse a seus s e r v o s : ' A s s i m q u e eu tiver p r o n u n c i a d o d u a s sentenças n a E s c o l a , r e t i r e m - m e na m i n h a liteira, o m a i s
d e p r e s s a p o s s í v e l ' ! — Ele e x p ô s s e u p e n s a m e n t o : 1. ' O estrangulam e n t o r i t u a l d a s aves n ã o está p r e s c r i t o n a T o r á ' . E n q u a n t o os ouvintes s e n t a d o s refletiam s o b r e o p r o n u n c i a m e n t o , ele c o n t i n u o u : 2 .
' T o d o s os países são u m a m a s s a em r e l a ç ã o à P a l e s t i n a , e a P a l e s t i n a
é a m a s s a e m r e l a ç ã o à B a b i l ô n i a ' . E l e s [ o s s e r v o s ] e r g u e r a m a lfteira
e saíram a correr. O s [ouvintes] o perseguiram, mas não conseguiram
alcançá-lo. S e n t a r a m - s e d e n o v o p a r a e x a m i n a r m e l h o r [as t r a d i ç õ e s
genealógicas] até c h e g a r e m ao perigo [de d e s c o b r i r o r i g e n s i m p u r a s ] .
S e p a r a r a m - s e e n t ã o " , Cf. Billerbeck, I, 1.
122. b . Pes. 6 2 . v e r supra, p p . 376 e 3 2 5 .
a
c
b
123. b . Pes.
c
tima
6 2 , cf.
b
a q u e i x a d e s t e d o u t o r citado
na
antepenúl-
nota.
124. S o b r e esses e l e m e n t o s esotéricos, ver supra.
p p . 323-326.
tárias de Jesus, a única q u e , fora dos documentos d o próprio N o v o T e s t a m e n t o , está a nossa disposição.
III
Q u a l o valor histórico das genealogias
de Jesus? Mt
(1,1-17) e Lc (3,23-38) transmitem cada u m a sua. Ambas
dão os antepassados do carpinteiro José, e a m b a s
q u e r e m mostrar a sua origem davídica.
D e v e m o s aceitar essa afirmação da origem davídica
de José. Poderíamos supor, sem dúvida, q u e , mais t a r d e ,
baseando-se no caráter messiânico de Jesus, ter-se-ia feito
de José u m descendente de D a v i . Mas há, contra essa hipótese, o testemunho u n â n i m e do Novo T e s t a m e n t o ,
segundo o qual Jesus pertencia àquela linhagem; e m seguida, as informações de Hegésipo que escreve p o r volta
de 180, e x p l o r a n d o a tradição palestinense: os netos de
Judas, irmão do Senhor, foram denunciados a D o m i c i a n o
como descendentes de Davi e r e c o n h e c e r a m , d u r a n t e o interrogatório, sua origem d a v í d i c a . D o m e s m o m o d o ,
Simeão, p r i m o de Jesus e sucessor de Tiago na chefia da
c o m u n i d a d e de Jerusalém, foi d e n u n c i a d o c o m o d e origem davídica e messias, e depois c r u c i f i c a d o . Júlio, o
Africano, confirma que os pais de Jesus se v a n g l o r i a v a m
da sua origem d a v í d i c a . A essas diferentes informações
acresce o fato de n ã o p o d e r m o s e n c o n t r a r entre os j u d e u s
125
126
127
128
129
do t e m p o de Jesus e dos apóstolos, q u a l q u e r contestação
sobre a origem davídica de Jesus . O r a , para contestar
o c a r á t e r messiânico d e Jesus, a p o l ê m i c a judaica dificilm e n t e teria d e i x a d o escapar este a r g u m e n t o q u e podia exercer forte míluència
sobre o p o v o .
T o d a v i a , as d u a s genealogias d e Jesus diferem completamente uma da o u t r a . D e A b r a ã o a D a v i , elas se equip a r a m , p o r q u e a m b a s a c o m p a n h a m o Antigo T e s t a m e n t o
(Rt 4,12.18-22; l C r 2,1-14). A seguir, a p a r e c e m as diferenças: V Mt continua a genealogia por S a l o m ã o , Lc por
N a t ã , filho d e D a v i . 2" D e maneira admirável, as listas
estão de acordo no m o m e n t o do exílio de Babilônia quanto a o n o m e d e Salatiel, m a s atribuem-lhe pais diferentes
(Mt 1,12: ]econias [cf. l C r 3,17] ; L c 3 , 2 7 : N e r i ) . V A
partir de Z o r o b a b e l , q u e as d u a s listas indicam c o m o fil h o d e S a l a t i e l , divergem, d e n o v o , t o t a l m e n t e . Contin u a m por dois filhos diferentes d e Z o r o b a b e l (Mt 1,13;
A b i u d ; Lc 3,27: Ressa). 4" As listas só se e n c o n t r a m nov a m e n t e no m o m e n t o de citar o carpinteiro J o s é ' " ; diverg e m , p o i s , desde já q u a n t o ao avô de Jesus: chama-se Jacó
s e g u n d o M t 1,16, Eli, segundo Lc 3 , 2 3 .
F r a c a s s a r a m as n u m e r o s a s tentativas — a começar
p o r Júlio, o Africano — p a r a h a r m o n i z a r as listas genealógicas tão totalmente diÍQrQiites uma d a outra. Muitas veü 0
,31
m
130. A p o l ê m i c a l e v a n t a d a pelos j u d e u s i n c r é d u l o s e m Jo 7,42 dirige-se c o n t r a Jesus, e n q u a n t o galileu. D a v i é m e n c i o n a d o p u r a e simp l e s m e n t e p a r a reforçar q u e o M e s s i a s v i r á d e B e l é m . — Ulla (cerca
d e 280 d.C.) diz q u e Jesus e s t a v a " p r ó x i m o d o r e i n o " (qarôb
l malkut,)
b. Sanh. 4 3 . H á g r a n d e p r o p e n s ã o em ver aí u m r e c o n h e c i m e n t o , p e l o
T a l m u d e , da filiação d a v í d i c a de Jesus ( D e r e n b o u r g , Essai, 349; F .
D e l i t z c h , Jesus und Hillel, Francfort-sur-le M a i n , 1875, 13; S. K r a u s s ,
Das Leben Jesu nach jüdischen
Quellen,
B e r l i m , 1902, 2 0 5 , e
passim).
M a s H . L . S t r a c k , Jesus, die Häretiker
und die Christen, L e i p z i g , 1910,
18*, n . 8 ergueu-se, c o m r a z ã o , c o n t r a esta i n t e r p r e t a ç ã o , r e m e t e n d o
a b . B. Q. 8 3 : e m a m b o s os casos, estar " p r ó x i m o do r e i n o " significa
" t e r relações cora o g o v e r n o p a g ã o " .
131. C o m r a z ã o , M t i n t e r p r e t o u ou c o l o c o u o artigo d i a n t e d e
'assir ( l C r 5 , 1 7 ) ; c o m p r e e n d e u , p o i s , e s s e t e r m o , c o m o u m a t r i b u t o
d c l^conias
( " o p r i s i o n e i r o " ) e n ã o c o m o n o m e p r ó p r i o , assim c o m o
o fazem, erroneamente, a Massora e a Setenta.
132. Mt 1,12; L c 3,27.
133. É possível q u e eles já se e n c o n t r e m q u a n t o a o a v ô d e José
( M t 1,15-16: Matã-Jacó-José; L c 3,23-24; M a t a t - H e l i - J o s é ) , cf. K. H .
Rengstorf, Das Evangelium
nach Lukas W ed., G ö t t i n g e n , 1965, 60. M a s
n ã o é c e r t o q u e o n o m e de M a t a t seja o r i g i n á r i o em L c ; ver infra, p . 3 9 1 .
c
a
125. As antigas e m o d e r n a s tentativas p a r a v e r n u m a dessas d u a s
genealogias a de M a r i a n ã o o b t i v e r a m r e s u l t a d o .
126. R m 1,3; 2 T m 2,8; H b 7,14; M t 1,1-17,20; Lc 1,27-32; 2,4;3,
23-38; At 2,25-31; 13,23.34-37; 15,16; A p 5,5;22,16; cf. 3,7. A l é m d o m a i s ,
é preciso c i t a r a q u i o título de "filho de D a v i " d a d o a Jesus ( M c
10,47-48 e par.; M t 9,27;15,22;2Í,9.15; cf. M c 11,10; M t 12,23. S e m dúvida, é, antes d e t u d o , u m título m e s s i â n i c o , m a s a f i r m a ao m e s m o
t e m p o a origem davídica ( G . D a l m a n , Die Worte Jesu I, 2- ed., Leipzig, 1930, 2 6 2 ) . — E m M c 12,35-37 e p a r . Jesus luta c o n t r a o ideal
messiânico político, i n v o c a n d o o SI 110; este discurso de c o n t r o v é r s i a
n ã o significa d e m o d o a l g u m q u e Jesus t e n h a r e n e g a d o sua origem
davídica.
127. E u s é b i o , Hist. eccl. I I I 19-20, 1-6.
128. Ibid. I I I 32, 3-6.
129. W . R e i c h a r d t , Die Briefe des S. J. Africanus
an Aristides
Origenes,
Leipzig, 1909; Carta a Aristides,
6 1 , linhas 20s.
und
a
OS ISRAELITAS
DE O R I G E M
dão somente 7 6 n o m e s ; s y . ' c o n t é m 7 3 ; Irineu Aáv,
Haer. I I I 2 2 , 3 apresentava apenas 7 2 . É , p o r é m , m u i t o
provável q u e no texto corrente d e 77 n o m e s , os nomes seguintes n ã o sejam originais: Lc 3,27 Ressa (originariamente n ã o nome próprio, mas atributo de Zorobabel [ = o
príncipe]
v. 3 1 Meléia ou M e n á (ditografia) ; v. 33
A m i n a d a b (falta, c o m r a z ã o , e m B e sy. -; u m glosador
acrescentou esse n o m e , apoiando-se n a L X X d e l C r 2 , 1 0
e em R u t e 4^19-20; n ã o p e r c e b e u q u e , e m Lc 3 , 3 3 , o
n o m e seguinte, A d m i n , o u t r a coisa n ã o era d o q u e a form a a b r e v i a d a d e A m i n a d a b ) °. A l é m do m a i s , n o v. 2 4 ,
os nomes d e M a t a t á e Levi são d u v i d o s o s , p o r q u e Júlio,
o Africano
(e Irineu t a m b é m , provavelmente) , nesse
v. 24 n ã o leu os dois nomes (voltando ao v. 29) . P o r
conseguinte, na genealogia de Lc p o d e , d e início, só ter
constado 7 2 n o m e s . Duvida-se, s o b r e t u d o , de que Lc t e n h a
feito a conta dos n o m e s . E m todo caso, se Lc dá u m sentido simbólico a o n ú m e r o dos ancestrais de Jesus, seria de
se e s p e r a r igualmente n e l e u m a o b s e r v a ç ã o q u e correspondesse a M t 1,17.
s,n
zes os historiadores foram levados a considerar essas duas
listas como invenções sem valor. O curso de nossa pesquisa n ã o justifica tal ceticismo, mas impõe-nos o dever
de e x a m i n a r se u m a das listas n ã o é preferível à o u t r a .
U m a c o m p a r a ç ã o entre a m b a s , do p o n t o de vista da
autenticidade, d á - n o s , o s seguintes resultados:
1. E m 1,17 Mt diz, explicitamente, que sua lista se
divide em 3 X 14 n o m e s . Esses n ú m e r o s têm u m a significação simbólica; há u m a gematria (atribuição de valores numéricos às letras), baseada no fato de o n o m e D a v i
ter, em hebraico, o valor 4 - f 6 + 4 = 14. E m Jesus se
perfaz, pela terceira e última vez, o n ú m e r o de Davi .
Lc, segundo o texto de K L T sa. bo., dá 77 n o m e s ,
incluindo o de Jesus. Pode ser que se fundamente n u m
simbolismo dos n ú m e r o s semelhante àquele que expusemos na nota 134, isto é, u m a divisão da história do
m u n d o em 12 períodos : Jesus situa-se no fim da décima
primeira s e m a n a do m u n d o , à qual segue a semana messiânica . E n t r e t a n t o , essa hipótese só m u i t o dificilmente
se justifica. P r i m e i r a m e n t e , é preciso observar que a tradição textual não é uniforme . B N U e outros manuscritos
B 4
135
m
-
134. P o d e ser q u e haja o u t r o s e n t i d o s i m b ó l i c o n a o r i g e m d e Mt
1,17. C o m o p o d e m o s ver e m I Enoc X C I I I 1-10, 12-17, já n a p r i m e i r a
m e t a d e d o século II a n t e s de nossa era, dividia-se a história d o m u n d o d a criação ao fim dos t e m p o s , e m dez s e m a n a s de sete g e r a ç õ e s
cada u m a . Baseando-se nas listas de famílias n o G ê n e s i s , s e g u n d o as
quais A b r a ã o p e r t e n c i a à vigésima g e r a ç ã o h u m a n a d e s d e a c r i a ç ã o ,
p u n h a m - s e as três p r i m e i r a s s e m a n a s p o r conta do p e r í o d o pré-israelita d a h u m a n i d a d e (I Enoc X C I I I 3-5). R e s t a v a m , pois, sete semanas p a r a a história israelita; a ú l t i m a s e m a n a c o m p r e e n d i a o p e r í o d o
messiânico ( X C I 15-17). Se Mt 1-17 p e n s o u nesse e s q u e m a , a d i v i s ã o
da história h u m a n a , de A b r a ã o a Jesus, em 3 x 14 gerações q u e r i a
dizer q u e a sexta das sete s e m a n a s c ó s m i c a s da história israelita term i n a com Jesus; a s e m a n a cósmica messiânica segue-a c o m o s é t i m a e
ú l t i m a s e m a n a . Billerbeck, J., 44s., e c o m m a i o r s e g u r a n ç a , K. Bornh ã u s e r , Die Geburtsund Kindheitsgeschichie
Jesu, G ü t e r s l o h , 1930,
16ss, c o n s e r v a m essa p o s s i b i l i d a d e . Concede-se a p o s s i b i l i d a d e d e u m a
a l u s ã o a este e s q u e m a , m a s e n t ã o nos p e r g u n t a m o s p o r q u e M t 1,17
n ã o e x p r i m e , mais c l a r a m e n t e , essa a l u s ã o .
135.
X I V 11;
136.
Problems
Bibíiotheca
Baruc síriaco LIII-LXXH,
t r a d u ç ã o latina e á r a b e de 4 E s d .
cf. Apocalipse
de Abraão
X X I X ; Billerbeck, I V , 986s.
K. B o r n h ã u s e r , o.c,
22; C h . K a p l a n , " S o m e N e w T e s t a m e n t
in t h e Light of t h e R a b b i n i c s a n d t h e P s e u d e p i g r a p h a " , e m
sacra, D a l l a s , 87 ( 1 9 3 0 ) , 465-471; K. H . Rengstorf, o.c. 6 1 .
391
PURA
w
m
sin
14
141
142
m
2 . Mt acrescenta à sua genealogia os nomes d e quat r o m u l h e r e s (Mt 1.3 T a m a r ; 1,5 R a a b e R u t e ; 1,6 Betsabéia), c o m o tipos d e M a r i a , n a m e d i d a em que o poder de
D e u s se manifestou a elas . Lc n a d a de semelhante apresenta.
144
3 . Q u a n t o à sua primeira p a r t e , d e A b r a ã o a Z o r o b a b e l , M t segue l C r . E m c o n t r a p a r t i d a , a fonte de Lu1 4 5
137. E x a t a m e n t e
só
Matthäus
n.
72
mais uma
lacuna,
d e i x a n d o lugar
para
um
nome.
138. V e r infra, p . 3 9 4 .
139. A . S c h l a t t e r , Das Evangelium
des Lukas, S t u t t g a r t , 1 9 3 1 , 2 1 8 .
140. Cf. G . K u h n , Die Geschiechtsregisler
Jesu bei Lukas
und
nach
ihrer
Herkunft
untersucht,
em
ZNW
22
( 1 9 2 3 ) , 217,
2.
141. C i t a d o p o r E u s é b i o , Hist.
eccl.
1 7, 5 .
142. Já q u e c o n t a s o m e n t e 72 n o m e s .
143. A. S c h l a t e r , D o s Evangelium
des Lukas,
Stuttgart, 1931, 218.
144. Cf. E. K l o s t e r m a n n , Das Matthäusevangelium,
2* ed., T ü b i n gen, 1927, 2; A . Schlatter, Der Evangelist
Matthäus,
S t u t t g a r t , 1929,
2s. — O p i n i ã o diferente e m G . Kittel, a r t . Thamar
ktl e m
Theo!.
Wörterbuch
zum N. T. I I I ( 1 9 3 8 ) , l s .
145. V e r supra, n . 4 8 .
cas n ã o reconhece ainda os livros das C r ô n i c a s
como
Escritura sagrada '. Representa, p o r t a n t o , u m a forma mais
antiga da t r a d i ç ã o .
146
147
4 . U m tríplice erro se insinuou em Mt ou e m sua
fonte, a) Na lista dos reis depois de Davi, em 1,8-9, Mt
omite três n o m e s . Conforme demonstra a c o m p a r a ç ã o seguinte, é certamente em conseqüência de u m e r r o . M t 1,
8-9: loram — Ozias — loaiham.
l C r 3,11-12: Joram —
Ozias (A V ; Ozeia B; Ochozia[s]
plurimi) — loas —
Amazias — Ozias (recensão de Luciano; Azarias A; Azaria B) — loatham
. b) Por causa da semelhança dos nomes J o a q u i m e Joakim, o primeiro desses dois reis foi
omitido
em Mt 1,11. c) C o n t r a r i a m e n t e ao que Mt 1,17
afirma, o terceiro grupo de nomes (Mt 1,12-16) c o n t é m 13
e não 14; Joakim é m e n c i o n a d o duas vezes, a p r i m e i r a ,
a c e r t a d a m e n t e , como último m e m b r o do segundo g r u p o , e
a outra, e r r o n e a m e n t e , como último m e m b r o do terceiro
g r u p o . M t , ou sua fonte, não elaborou com precisão ou
então deixou-se influenciar p o r dados inexatos sugeridos
pelo esquema baseado no n ú m e r o 14.
14S
m
5 . Mt cita 12 nomes p a r a o período q u e vai de Zorobabel (incluído) a Jesus (incluído). É u m a cifra m u i t o
fraca p a r a 6 0 0 anos, em n ú m e r o s redondos ( Z o r o b a b e l
nasceu p o r volta de 570 a . C . )
d a n d o a m é d i a d e 50
anos por geração. A lista n ã o terá sido a b r e v i a d a pelo prazer do princípio do n ú m e r o 1 4 ? — A b r a n g e n d o o m e s m o
p e r í o d o , Lc, segundo o texto original (ver u m p o u c o aci150
1
146. A c a n o n i z a ç ã o dos livros das C r ô n i c a s deu-se n a P a l e s t i n a
e n t r e 20 a.C. (terminus
post quem)
e 60 d.C. (terminas ante quem),
cf.
Schlattcr, Theologie
131, n. 2.
147. V e r infra,
p . 395 e a d i v e r g ê n c i a total, e s t u d a d a n a q u e l e
lugar, das genealogias de Lc 3 e l C r 3 .
148. O e r r o p o d e r i a r e m o n t a r à forma semítica p r i m i t i v a ( q u e se
deve s u p o r , v e r n. seguinte) d a genealogia: n o texto h e b r a i c o de
2Cr 22,6 ( c o m o n a genealogia d e M t ) , ' A h a z y a h ü e ' A z a r y a h ü são
i g u a l m e n t e c o n f u n d i d o s {Ch. C. T o r r e y , The Four Gospels,
Londres,
1933, 2 8 9 ) . É mais p r o v á v e l , p o r é m , q u e a a d m i s s ã o dos três n o m e s
tenha-se d a d o n a h o r a d a t r a d u ç ã o d a genealogia p a r a o grego.
149. E r r o q u e r e m o n t a ao original semítico.
150. E. Sellin, Geschichie
des
israelilisch-füdischen
Volkes
II,
Leipzig, 1392, 89.
m a , no n . 1), cita 18 n o m e s , o que dá, p a r a cada geração,
o n ú m e r o , d i g n o d e fé, d e 3 3 a n o s .
1S1
6. Mt, finalmente, — e essa o b s e r v a ç ã o é especialmente i m p o r t a n t e — r e m o n t a a genealogia de Jesus a
D a v i pelo r a m o reinante dos d a v í d i d a s (Salomão). L c , d e
seu lado, por u m r a m o n ã o reinante ( N a t ã ) .
T o d a s essas observações levam a u m a m e s m a conclusão: em relação a Mt, Lc apresenta uma tradição mais
segura . É pouco provável que a lista de Mt t e n h a sido
p u r a e simplesmente i n v e n t a d a ; n a falta de elementos exatos, o p r i m e i r o evangelho serviu-se de dados de o u t r a lista
davídica.
T a i s comentários n ã o resolvem a i n d a a questão do
valor absoluto da lista genealógica de Lc. C o n t a m o s , a q u i ,
com dois pontos de apoio p a r a a crítica: p r i m e i r a m e n t e ,
a diferença entre Lc e l C r ; depois, u m a pesquisa sobre
os nomes da lista l u c a n a .
A diferença entre te e lCr é tríplice: 1- segundo Lc,
Z o r o b a b e l era filho de Salatiel (Lc 3,27), segundo o texto
h e b r e u de l C r , filho de Fadaías ( l C r 3,19); 2° segundo
Lc, Z o r o b a b e l descendia de D a v i p o r N a t ã (Lc 3,27-31),
segundo l C r por Salomão ( l C r 3,10-19); 3" Lc indica,
como filho de Z o r o b a b e l u m Ressa (Lc 3,27) q u e , em
l C r 3,19-20 falta entre os filhos d e Z o r o b a b e l . Se Lc difere de l C r . não q u e r dizer que tenha rejeitado — talvez
por possuir elementos melhores — os dados d e l C r ; é
antes p o r q u e o autor da genealogia d e Lc (diversamente
m
151. C o m p a r e m o s essa i n d i c a ç ã o c o m os n ú m e r o s e n c o n t r a d o s supra,
p . 263s, a r e s p e i t o dos s u m o s s a c e r d o t e s : s e g u n d o os cálculos d e Tosefo, t e m o s , p a r a c a d a g e r a ç ã o u m a d u r a ç ã o média de 26 anos n o
p e r í o d o do p r i m e i r o T e m p l o , de 27 anos e 6 meses no do s e g u n d o
T e m p l o a t é 168 a . C .
152. I s t o h o j e é a m p l a m e n t e r e c o n h e c i d o . K. B o r n h a u s e r
Die
Geburtsund Kindheitsgeschichte
]esu, G ü t e r s l o h , 1930, 28 ( e n q u a n t o
a genealogia d e M t é d e t e r m i n a d a p e l o p o n t o de vista da sucessão n a
família r e a l a genealogia d e L c r e p o u s a " n o p a r e n t e s c o e o n s a g ü í n e o
dc seus m e m b r o s ) ; A. Schlatter, Das Evangeiium
des Lukas, de Mt
p o r ser " m a i s c o m p r o v a d a " ; C h . C. T o r r e y , The Four Gospels,
Lond r e s , 1933, 305 (Lc inseriu u m a genealogia " q u e ele c o n s i d e r a v a autêntica, c o n t r a r i a m e n t e ao c a r á t e r m u i t o artificial d a de M t ) ; K. H .
Rengstorf, Das Evangeiium
nach Lukas
(N. T . Deutsch
3 ) , GõtLingen,
1965, 62 (segue B o r n h a u s e r ) .
de Mt q u e conhecia com certeza l C r )
não conheceu os
livros das Crônicas
q u e , m e s m o na Palestina, só foram
aceitos, como canónicos, no correr do século I d e nossa
era .
Q u e dizer dessas diferenças? 1" P o d e m o s verificar a
p r i m e i r a . Graças ao t e s t e m u n h o concorde de Ag 1,1.12.14;
2 , 2 . 2 3 ; Esd 3,2.8;5,2; N m 1 2 , 1 , ao q u a l se p r e n d e tamb é m a L X X A* B l C r 3,19; Josefo, Ani. X I 3,10, § 7 3 ;
Mt 1,12 é a b s o l u t a m e n t e certo q u e Lc está c o m a razão,
opondo-se a l C r : Z o r o b a b e l era filho de Salatiel , N ã o
p r o v a , p o r é m , que a genealogia de Lc seja a u t ê n t i c a ; ele
se contenta em seguir o t e s t e m u n h o dos livros q u e conhece. 2" Q u a n t o à segunda diferença entre Lc e l C r u m
fato fala a favor de Lc: l C r descende Z o r o b a b e l d o r a m o
davídico reinante , ao passo que Lc o faz descender de
u m r a m o não r e i n a n t e . O r a , em p a r t e alguma do Antigo
T e s t a m e n t o é dito que Z o r o b a b e l era, conforme afirma
l C r 3,17-19, neto do rei Joakim levado e m exílio. Teria
l C r , e r r o n e a m e n t e , considerado como neto do último rei,
o r e s t a u r a d o r d o T e m p l o sobre q u e m se c o n c e n t r o u dur a n t e algum t e m p o a esperança política, e à descendência
do q u a l se p r e n d e u ainda n u m a época tardia, a esperança
m e s s i â n i c a ? 3" A terceira diferença é apenas a p a r e n t e .
Lc cita Resá c o m o filho d e Z o r o b a b e l , e loanám c o m o filho de Resá (3,27). Assim, como já o constatara A . Hervey , Ressa n a d a mais é do q u e o aramaico resa ~ chefe, príncipe; p r i m i t i v a m e n t e , essa palavra era a t r i b u t o de
Z o r o b a b e l ° ; assim sendo, loanám era citado c o m o Filho
1 5 3
154
155
l56
157
158
159
I6
153. V e r supra, n. 4 8 .
154. T h . Z a b n , Das Evangelium
des Lukas 3-4, Leipzig, 1920. 218.
155. S c h l a t t e r , Theologie,
131, n . 2 : e n t r e 2 0 a.C. e 6 0 d . C .
156. A p ó s o u t r o s , E. Sellin, Geschichte
des
israelilisch-jüdischen
Volkes
I I , Leipzig, 1932, 83s, m o s t r o u a i n e x a t i d ã o d a i n d i c a ç ã o de
l C r 3,19 s e g u n d o a q u a l Z o r o b a b e l é filho de P e d a y a ,
157. T a m b é m Mt 1,1-17 q u e segue o C r o n i s t a .
158. V e r Tanhuma,
tôledòt,
§ 14, 4 8 9 s : " E d e q u e m [ d e q u a l
d e s c e n d ê n c i a ] n a s c e r á [o M e s s i a s ] ? D e Z o r o b a b e l " .
159. The Geneaiogies
of Christ, C a m b r i d g e , 1853.
160. E n t r e os q u e s e g u i r a m H e r v e y , p o d e m o s c i t a r e n t r e o u t r o s
A. P l u m m e r , The Gospel according
to S. Luke,
5? ed., E d i m b u r g o ,
1922, in loco; C h . C. T o r r e y , The Four Cospels,
Londres, 1953, 306;
F. H a u c k , Das Evangelium
des Lukas,
Leipzig, 1934, 57.
b
de " Z o r o b a b e l , o p r í n c i p e " = H a n a n i a s , filho de Z o r o babel, l C r 3,19. Somente a partir d a q u i é que Lc e l C r
divergem: Ioda (Lc 3,26) não figura entre os filhos de
H a n a n i a s ( l C r 3,21),
Em c o m p e n s a ç ã o , uma pesquisa sobre os nomes leva
a julgar muito desfavoravelmente a p a r t e pré-exílica. R.
Fruin
mostrou q u e o costume de empregar os nomes
dos pais das doze tribos c o m o nomes de pessoas só se
introduziu depois do exílio. C o m efeito, q u a n t o ao n o m e
de José, as primeiras provas encontram-se em Esd 10,42;
N m 12,14; l C r 2 5 , 2 . 9 ; q u a n t o ao n o m e de Judas, em Esd
3,9; 1 0 , 2 3 ; N m 11,9 e passim; q u a n t o ao de Simão, em
Esd 1 0 , 3 1 . O n o m e de Levi, c o m o n o m e p r ó p r i o , só se
encontra n a época m a c a b a i c a
e neotestamentária .
Q u a n t o ao período real antigo, Lc cita, u m após o u t r o ,
os nomes de José, Judas, Simão, Levi, que teriam sido atribuídos aos descendentes de D a v i , do sexto
ao n o n o ;
constatamos u m anacronismo revelador de que a parte pré-exílica da genealogia de Lc não possui valor histórico.
lül
162
m
364
É pouco provável dever-se estender esse juízo a t o d a
a p a r t e pós-exílica da genealogia d e Lucas. Se p e n s a r m o s
que essa genealogia lucana foi tida como superior à de
Ml; se considerarmos depois o q u e constataremos mais
adiante, q u a n t o ao valor, no domínio civil e religioso da
fidelidade à tradição a respeito da legitimidade de origem;
se considerarmos que o carpinteiro José pertencia não somente a uma das famílias que t i n h a o privilégio de trazer a lenha p a r a o altar (supra, p . 3 9 6 ) , mas ainda a uma
família real cuja tradição era c u i d a d o s a m e n t e conservada,
161. " O u d c h r i s t e l i j k e S t u d i e n " , e m Nieuw
Theologisch
Tijdschrift
20 ( 1 9 3 1 ) , 222. Cf. a o b s e r v a ç ã o de F . D e l i t z c h , em R i c h m , Handwörterbuch
des biblischen
Altertums,
2" ed., I, Bielefeld-Leipzig, 1893,
919 b; R. d e V a u x , Binjamim-Minjamin,
e m R B 45 ( 1 9 3 6 ) , 402.
162. P s e u d o - A r i s t e u ( r e d i g i d o e n t r e 1945 e 100 a . C , v e r
supra,
274, n. 349, § 4 8 : Levis. M e s m a f o r m a d o n o m e e m 3 Esd. I X 14.
163. M c 2,14 (par. Lc 5,27-29). Levi é a i n d a o n o m e d o pai d e
dois c o n t e m p o r â n e o s de Josefo: o pai de João de Giscala (B. j . I I 20,
6, § 575 e passim)
c o pui d e João de T i b e r í a d e s (Vita 2 6 , § 131). N o
século I d e nossa era, i g u a l m e n t e , o n o m e se e n c o n t r a s o b r e u m oss u á r i o de J e r u s a l é m (Clj I I , n . 1340).
164. Toü Meleà toü Menná
(Lc 3,31} é, e v i d e n t e m e n t e , u m a ditografia, e c o n t a , pois, c o m o u m n o m e só.
como o d e m o n s t r a m provas garantidas; se, enfim, valorizarmos a conclusão obtida na p . 4 0 0 a respeito do valor
das genealogias leigas c o n t e m p o r â n e a s , não hesitaremos em
considerar possível que Lc, ou sua fonte, t e n h a conserv a d o — pelo menos p a r a as últimas gerações antes de
José — elementos a u t ê n t i c o s .
165
todas as dignidades, todos os postos d e confiança e todos
os postos públicos i m p o r t a n t e s e r a m reservados aos cidadãos i s r a e l i t a s . A p r o v a da p u r e z a de sua origem era
exigida p a r a se t o r n a r e m m e m b r o s dos tribunais suprem o s , c o m o o Sinédrio
ou u m d o s t r i b u n a i s criminais
de 2 3 m e m b r o s
q u e , segundo a M i s l m a , t i n h a m o
direito de aplicar sentenças capitais. U m a fonte mais tardia
afirma q u e essa regra estendeu-se aos escrivães de
justiça e aos introdutores dos t r i b u n a i s . A p r o v a de u m a
origem sem deslize era a i n d a exigida dos funcionários da
comunidade
— c o n v é m lembrar, antes de t u d o , do con168
169
170
1 7 1
m
17í
C. DIREITOS CÍVICOS DO
CIDADÃO
ISRAELITA
m
A c o m p r o v a ç ã o da pureza de origem de u m a família graças a tradições e notas genealógicas n ã o t i n h a som e n t e valor teórico; ela garantia à família em questão os
direitos cívicos q u e os cidadãos israelitas possuíam. O privilégio mais i m p o r t a n t e exprimia-se na designação dos israelitas legítimos como aqueles "que [ p o d e m ] casar [suas
filhas] com sacerdotes"
. Somente mães israelitas de origem p u r a p o d i a m dar à luz filhos dignos de exercerem o
serviço do altar em Jerusalém . V e m o s , de novo o elo
íntimo entre a estratificação social e a religião. Só faziam
parte do Israel verdadeiro as famílias que conservassem
a pureza de origem do p o v o , q u e r i d a por D e u s , tal qual
Esdras a restabelecera pela sua reforma.
T o d a v i a , o direito de contrair m a t r i m ô n i o com sacerdotes não era o privilégio único das famílias legítimas:
m
167
165. Ê a u m r e s u l t a d o s e m e l h a n t e , e m b o r a p o r c a m i n h o totalm e n t e diferente q u e c h e g a G . K u h n Die Geschlechtsregister
Jesu, e m
ZNW
22 ( 1 9 2 3 ) , 206-228, e s p e c i a l m e n t e 209 e 222. — K u h n r e m o n t a
a antigos d o c u m e n t o s " q u e p a s s a v a m de u m a g e r a ç ã o a o u t r a n a família d c J e s u s " (p. 222) a lista de Lc 3,23-26 (de Jesus a M a t a t i a s )
com a q u a l , a seu ver, c o n c o r d a v a p r i m i t i v a m e n t e a lista de Lc 3,29-31
(de Jesus a M a t a t i a s ) . N ã o posso aceitar a análise de K u h n e as suas
d e d u ç õ e s p o r vezes o u s a d a s (há e n t r e o u t r a s dificuldades o f a l o de
q u e Júlio, o A f r i c a n o , s e g u n d o E u s é b i o Hist. eccl. I 7, 9-10.16, n ã o
i n t e r p r e t o u os n o m e s de M a t a t e d e Levi e m Lc 3,24; seus p r i n c i p a i s
p o n t o s de apoio p a r a a r e c o n s t r u ç ã o d a d u p l a lista c o n j e c t u r a d a p o r
K u h n ) . M a s estou p e r f e i t a m e n t e d e a c o r d o c o m ele q u a n t o a a p r e c i a ção positiva d o início d a genealogia de L c .
166. Qid. I V 5; Sanh. I V 2; 'Ar. II 4 e
passim.
167. V e r supra, p p . 291 e 299, S o b r e o e x a m e das genealogias das
noivas dos s a c e r d o t e s , supra, p p . 295-302.
168. A p a s s a g e m mais i m p o r t a n t e , Qid. I V 5, assim se e x p r i m e :
" N ã o se b u s c a m [os ancestrais d a esposa d e u m s a c e r d o t e ou d e u m
levita m ú s i c o ] , p a r t i n d o do a l t a r [se o pai d a esposa é s a c e r d o t e em
exercício, a l e g i t i m i d a d e d e sua o r i g e m está g a r a n t i d a ] , n e m do e s t r a d o
[dos levitas c a n t o r e s ] , n e m d o S i n é d r i o . E t o d o s a q u e l e s cujos pais
são c o n h e c i d o s c o m o s e r v i d o r e s p ú b l i c o s e c o l e t o r e s de e s m o l a s t ê m
o direito de casar [suas filhas] c o m s a c e r d o t e s , sem q u e u m e x a m e
de sua o r i g e m seja n e c e s s á r i o " .
169. A s s i m se explica t a m b é m q u e b. Skab.
139 possa falar de
"famílias de j u í z e s " .
170. Qid. I V 5; b . Qid. 7 6 . M e s m a coisa e m Hor. I 4: prosélito, b a s t a r d o e e s c r a v o d o T e m p l o n ã o p o d e m fazer p a r t e d o t r i b u nal (trata-se d o S i n é d r i o [Hor. 1 5 ] ) . — T o s . Sanh. I V 7 ( 4 2 1 , 19s)
constitui o u t r a p r o v a ; eis o q u e se c o n t a : o e x e m p l a r p r i v a d o d a
T o r á q u e o rei d e v e p o s s u i r , s e g u n d o D t 17,18-19, e n o q u a l ele deve
fazer a l e i t u r a n o T e m p l o p o r o c a s i ã o d e u m a festa d a s T e n d a s q u e
segue u m a n o s a b á t i c o , foi c o r r i g i d o p e l o " t r i b u n a l dos s a c e r d o t e s , dos
levitas e dos israelitas q u e p o d e m c a s a r [suas filhas] c o m s a c e r d o t e s " .
E m j . Sanh. II 7, 2 0 48 ( V I / 1 , 252) substitui-se p o r : " o t r i b u n a l dos
d o s 7 1 " . S o m e n t e o s israelitas d e o r i g e m p u r a p o d i a m , pois, ser m e m bros d o S i n é d r i o .
171. Sanh. I V 2, cf. b . Sanh. 3 6 ; b . Qid. 7 6 .
172. G . A l l o n , Zur Erforschung
der Halacha
ei Philon, em Tarbis
5 (5694 = 1933-1934), 28-36 e 241-246 d e f e n d e o p o n t o d e vista seg u n d o o q u a l , c o n f o r m e p e n s a Fílon, s o m e n t e o G r a n d e S i n é d r i o de
Jerusalém p o d i a p r o n u n c i a r s e n t e n ç a s capitais.
173. j . Qid. I V 5, 6 5 " 49 ( V / 2 , 2 8 3 ) .
174. Qid. I V 5; j . Qid. I V 5, 6 5 4 8 ( V / 2 , 2 8 3 ) . É v e r d a d e q u e ,
s e g u n d o b . Qid. 7 6 , isso valia e x c l u s i v a m e n t e p a r a J e r u s a l é m . —
Q u a n d o R. S h i m e o n b e n Y o s a d a q (cerca de 225 d.C.) r e c o m e n d a , b .
Yoma 2 2 , n ã o estabelecer c o m o chefe d a c o m u n i d a d e a não ser u m
h o m e m q u e t e m p r e s a a si " u m a cesta de r é p t e i s " ( q u e r dizer, q u e
tem m á c u l a s n a série de seus a n t e p a s s a d o s ) , trata-se aí de u m remédio r a d i c a l c o n t r a a p r e s u n ç ã o ; a o m e s m o t e m p o , deve-se d a r à com u n i d a d e , a o p o r t u n i d a d e de se d e s e m b a r a ç a r d e seus chefes desagradáveis — o q u e significa q u e n o r m a l m e n t e u m p u r e z a r e g u l a m e n t a r
d a origem é a c o n d i ç ã o p a r a ser c h a m a d o a essa f u n ç ã o .
a
b
c
b
b
d
b
b
selho diretor local de sete m e m b r o s das c o m u n i d a d e s judaicas
— e dos h o m e n s de confiança, encarregados pela
c o m u n i d a d e do c u i d a d o das esmolas . E m todos esses
casos examinavam-se as genealogias antes de conferir u m
cargo. Chegou até nós u m a única exceção e assim mesm o , duvidosa: os dois escribas célebres Shemaya e Abtalion (cerca de 50 a . C ) , visto que o p r i m e i r o , certamente
m e m b r o do Sinédrio, descendia, assim dizem, d e prosélitos ™.
A l é m do mais, R a b b a n Shimeon b e n Gamaliel II (por
volta de 140 d.C.) afirma q u e , em época anterior, os contratos de casamento das mulheres (de origem p u r a ) ,
e r a m assinados u n i c a m e n t e por sacerdotes, levitas ou israelitas de origem p u r a °. C o n t r a r i a m e n t e aos hilelitas, os
shamaítas só a d m i t i a m , dizem, em seus estabelecimentos
de ensino, filhos de boas f a m í l i a s . Enfim, c o n v é m mencionar que os essênios inscreviam, de a c o r d o com sua origem , os m e m b r o s recém-chegados e a t r i b u í a m t o d a imp o r t â n c i a à o r d e m fixada segundo a origem .
175
m
177
m
18
181
m
183
H a v i a lugares da Palestina o n d e se desfrutava de det e r m i n a d a exclusividade e o n d e os privilégios dos israelitas legítimos e r a m a i n d a mais consideráveis do q u e os
que constatamos até aqui. Eis o q u e se conta
d e Séforis que foi, sem dúvida, a capital da Galileia
no início
do reino de H e r o d e s A n t i p a s : " R . Yose [por volta d e 150
d . C ] disse: ' M e s m o aquele que foi reconhecido
[como
184
185
186
175. S o b r e esse c o n s e l h o , cf. S c h ü r e r , I I , 224-226; Billerbeck, I I ,
641s e I V , 145. — Sifre D t 17,15, § 157 ( 4 5 17S, 4 6 ) : " N ã o se estabelece c o m o chefe da c o m u n i d a d e a l g u é m ' q u e n ã o seja teu i r m ã o '
[ D t 1 7 , 1 5 ] " . S e g u n d o b . B. B. 3 , esta e x p r e s s ã o exclui o p r o s é l i t o .
176. Qid. I V 5; j . Qid. I V 5, 6 5 48 ( V / 2 , 2 8 3 ) ; b . Pes. 4 9 b a r .
177. Ant. X V I 9, 4, § 172-176; X V 1, 1, § 4 . Samaías c i t a d o e m
Ani. X V 1, 1, § 4 é s e g u r a m e n t e S h e m a y a e n ã o S h a m m a i ( S c h ü r e r ,
I I , 422-424; S c h l a t t e r , Theologie,
199, n . 1.
178. Ver s u p r a , 319.
179. Este a d e n d o enconíra-se e m j . Sank. I 2, 19= 9 ( V I / 1 , 240) b a r .
180. T o s . Sank. V I I 1 (425, 1-2).
181. ARN
r e c . B. c a p . 4, Í 4 2 5 .
182. Doc. Dam. X I V 3ss.
183. Ibid. X I V 6.
184. Qid. I V 5.
185. S c h ü r e r , I I , 211 e n. 4 9 6 .
186. C o m os m e l h o r e s m s s . c o n v é m s u p r i m i r a p a l a v r a 'ed.
a
b
d
b
m e m b r o ] n o antigo governo de Séforis [passa, sem o u t r a
exigência, por israelita de origem p u r a ] ' . R. H a n a n i a
b e n A n t í g o n a sentenciou: ' M e s m o aquele que foi recrutado p a r a o c a m p o do r e i " . Esse " c a m p o do r e i " é, sem
d ú v i d a , o m e s m o que o " v e l h o castelo de Séforis" mencionado n o u t r a passagem ; temos, p o r t a n t o , que p r o c u r a d o t a m b é m em Séforis . Assim s e n d o , a informação de
R. H a n a n i a prende-se a u m t e m p o em que h a v i a n a q u e l e
castelo u m a tropa judaica
a serviço de u m dos príncipes h e r o d i a n o s .
1 S 7
m
189
190
Infelizmente, estamos m u i t o p o u c o informados p a r a
dizer até q u e p o n t o , sob os p r í n c i p e s h e r o d i a n o s , os judeus p r e s t a v a m seu serviço a o exército. Sabemos q u e a
lei do s á b a d o , p r o i b i n d o q u a l q u e r a t a q u e neste dia, limitava e n o r m e m e n t e a utilização dos j u d e u s no exército. Entretanto, sabemos t a m b é m q u e H e r o d e s , o G r a n d e , instalou colonos militares judeus n a Batanéia . Por outro l a d o ,
o c o m a n d a n t e do exército de Agripa I, cujo domínio comp r e e n d i a Séforis, chamava-se Silas = Sh°'íla ; esse n o m e
leva a p e n s a r que o c o m a n d a n t e p o d i a perfeitamente ser
u m j u d e u . N ã o é, pois, impossível q u e , em d a d o m o m e n t o ,
sob H e r o d e s , o G r a n d e , H e r o d e s A n t i p a s
ou H e r o d e s
Agripa I, u m a tropa judaica tenha sido a q u a r t e l a d a em Séforis, t r o p a em q u e os oficiais ou os g r a d u a d o s — é a
esses q u e a indicação de R. H a n a n i a p o d e r á limitar-se —
deviam d a r p r o v a d e u m a origem legítima. E m Séforis, a
prova de u m a descendência p u r a m e n t e israelita teria, pois,
sido exigida não somente p a r a se t o r n a r magistrado, como
era a regra n u m a cidade judaica, mas a i n d a p a r a obter
u m p o s t o n a guarnição do lugar.
191
m
1 9 3
b
187. S c h ü r e r , I I , 2 1 1 , n . 495 d e u a e x p l i c a ç ã o e x a t a d a p a s s a g e m .
188. 'Ar. I X 6; T o s . Shab. X I I I 9 (129, 2 7 ) .
189. B ü c h l e r , Priester,
198, n. 2,
190. G u a r n i ç ã o p a g ã n o castelo de Séforis: T o s . Shab.
XIII 9
(129, 2 7 ) .
191. Ant. X V I I 1, 1-2, § 23-28.
192. Ani. X I X 6, 3 , § 299; 7, 1, § 317ss. Josefo m e n c i o n a q u a t r o
pessoas c o m este m e s m o n o m e ; todos são j u d e u s .
193. J. W e l l h a u s e n , Das Evangelium
Matthaei,
Berlim, 1904, 3 5 .
" É possível q u e os s o l d a d o s d e A n t i p a s sejam i g u a l m e n t e j u d e u s " .
C o m Séforis na Galileia
e E m a ú s - N i c ó p o l i s , é sob r e t u d o Jerusalém a elogiada pelo zelo com que protegia
os direitos dos israelitas de origem p u r a ; e c o m justa razão . Conta-se que na C i d a d e santa, todos os funcionários públicos gozavam dessa q u a l i d a d e . Segundo o u t r a
informação, as "pessoas de coração n o b r e em J e r u s a l é m "
n ã o assinavam n e n h u m d o c u m e n t o , não exerciam nenhum a função d e juiz no tribunal e não aceitavam convite
algum sem se garantirem da q u a l i d a d e dos consignatários,
dos colegas do tribunal ou dos comensais; sem d ú v i d a proc u r a v a m saber assim, entre outras coisas, se esses israelitas e r a m de origem i r r e p r e n s í v e l . Podemos perceber
com que exclusivismo as famílias hierosolimitanas legítimas se isolavam, até mesmo p o r causa de insignificâncias
da vida cotidiana .
194
;9S
m
197
m
199
Alguns privilégios cívicos muito importantes e r a m ,
pois, reservados aos cidadãos israelitas °; e n t r e t a n t o , não
mostramos a i n d a a principal v a n t a g e m dessas famílias de
origem impoluta. Situava-se n o domínio religioso. G r a ç a s
a essa origem sem jaça, p o d i a m participar dos méritos dos
ancestrais que se transmitiam aos filhos e t i n h a m u m a função substitutiva. Essa participação se realizava de d u p l a
forma, a) segundo o e n s i n a m e n t o geral, todo Israel participava dos méritos dos patriarcas, de A b r a ã o e m particular. Esses méritos deviam atender às suas preces, proteger no perigo, assistir na guerra, substituir os méritos
20
que faltam em cada pessoa, expiar as c u l p a s , aplacar a
cólera de D e u s e s u s p e n d e r seus castigos, salvar d o gêhinnôm e conceder a participação no reino eterno de Deus .
b) A l é m do m a i s , c a d a israelita p a r t i c i p a v a dos méritos
de seus próprios antepassados, se houvesse justos entre
eles ; i n v e r s a m e n t e , a escolha d e u m a m u l h e r sem a
mesma condição d e p u r e z a , seria v i n g a d a nos f i l h o s .
" O p a i merece p a r a seu filho beleza, força, riqueza, sabedoria, longos anos de v i d a " . "A oração de u m justo,
filho d e u m justo, n ã o é igual à o r a ç ã o d e u m j u s t o , filho
de u m m a l v a d o " .
C o m t u d o isso, p o r é m , a ú l t i m a p a l a v r a a i n d a n ã o
foi dita. O profeta Elias devia p r e c e d e r ao Messias p a r a
p ô r em o r d e m a c o m u n i d a d e , p a r a r e s t a u r a r Israel em sua
pureza primitiva, a fim de que o povo estivesse interior
e e x t e r i o r m e n t e , p r e p a r a d o p a r a receber a salvação .
O principal dever desse restabelecimento de Israel consistia e m "restabelecer as tribos d e J a c ó " (Eclo 4 8 , 1 0 ) ,
q u e r dizer, segundo a exegese rabínica: " d e c l a r a r i m p u r o "
e " d e c l a r a r p u r o " , " a f a s t a r " e " a p r o x i m a r " as famílias
q u e , e r r o n e a m e n t e foram d e c l a r a d a s legítimas ou ilegítimas . Somente as famílias israelitas impolutas p o d i a m
2ül
202
m
2 0 4
205
206
201
2 0 1 . D o c u m e n t a ç ã o em Billerbeck. I, 116-120; F. W e b e r ,
Jüdische
Theologie
auf Grund des Talmud,
I - ed., L e i p z i g , 1897, 292-294 e 296s.
202. F . W e b e r , o.e.
294-297. C i t e m o s dois e x e m p l o s . R- E l e a z a r
b e n A z a r y a , d e s c e n d e n t e de E s d r a s em 10" g r a u , foi i n c u m b i d o da dir e ç ã o d a Escola de [ á m n i a p o r c a u s a " d o s m é r i t o s d e seus antepassad o s " (b. Ber. 2 7 ) . — R. Y o s h u a , de i n í c i o , afastou R a b b a n G a m a l i e l
11 q u e lhe p e d i a p e r d ã o ; m a s q u a n d o esse ú l t i m o lhe r e n o v o u o
p e d i d o , a c r e s c e n t a n d o : " P r o c e d o assim e m h o n r a de m e u s antepassad o s " , R. Y o s h u a d e i x o u d e l a d o a sua i n t r a n s i g ê n c i a ( b . Ber. 2 8 ) .
a
b
194. Qid. I V 5,
195. 'Ar. II 4 (sobre essa p a s s a g e m ver supra,
p . 294, n. 4 6 0 ) ;
hoje A m o u a s , ao s u d e s t e d e Lida.
196. A p a s s a g e m d e Qid. I V 5 a c i m a e s t u d a d o , 397s, c o n c e r n e ,
sem d ú v i d a , e m p r i m e i r o lugar, à s i t u a ç ã o de J e r u s a l é m .
197. b . Qid. 7 6 .
198. b . Sanh. 2 3 bar. e p a r . Cf. a i n d a Git. I X 8 a p r o p ó s i t o d o
c u i d a d o c o m q u e as pessoas d e J e r u s a l é m faziam e a s s i n a v a m os
processos de d i v ó r c i o .
199. Cf. a i n d a b . Sanh. 1 9 b a r . : conta-se o c i ú m e existente e n t r e
duas famílias de Terusalém q u e , e m ocasião de a p r e s e n t a r c o n d o l ê n c i a s ,
u m a q u e r i a p a s s a r à frente da o u t r a .
200. Fazia-se e x c e ç ã o p a r a os h o m e n s q u e n ã o t i n h a m filhos. Mesm o se fossem de origem p u r a , p r o i b i a m - l h e s serem m e m b r o s d o Sin é d r i o (Hor. I 4; b . Sanh. 3 6 bar.; s e g u n d o T o s . Sanh. V I I 5 [426,
7 ] , i n t e r d i ç ã o s e m e l h a n t e p a r a o t r i b u n a ! criminal d e 23 m e m b r o s ) ,
p o r q u e o fato de n ã o ter filho p a s s a v a p o r m á c u l a e p u n i ç ã o d i v i n a ,
cf. Protoevangelho
de Tiago I 2.
b
a
a
b
a
2 0 3 . b . Qid.
204. j . Qid.
70 .
a
I 7, 6 1
a
27s ( V / 2 , 2 3 4 ) ; p a r . 'Ed.
II
9.
205. b . Yeb, 64*.
/
2 0 6 . Cf. J. J e r e m i a s , a r t . Elias, e m Theol. Wörterbuch
zum
N.T.
II ( 1 9 3 5 ) , 930-943.
207. Ed. V I I I 7. N e s t e texto, o p a p e l d e Elias limita-se aos casos
em q u e a l g u m a s famílias f o r a m d e c l a r a d a s c o m p u l s o r i a m e n t e legítimas
ou ilegítimas; essa l i m i t a ç ã o se a p r e s e n t a c o m o a exegese p o s t e r i o r de
u m a antiga t r a d i ç ã o q u e a i n d a n ã o conhecia tal l i m i t a ç ã o . — N o m e i o
d o século I I , d u a s t e n d ê n c i a s se o p u s e r a m : u m a t e n d ê n c i a mais rigorosa s e g u n d o a q u a l Elias só d e v i a afastar as famílias ilegítimas;
u m a t e n d ê n c i a mais c l e m e n t e (e q u e v e n c e u ) s e g u n d o a qual devia
s o m e n t e a c o l h e r de n o v o as famílias d e c l a r a d a s , e r r o n e a m e n t e , ilegítim a s , Billerueck, I V , 792-794.
ter certeza de participar da salvação messiânica , pois,
somente a elas o mérito da legitimidade de o r i g e m " ajudaria . E n c o n t r a m o s assim o sentido mais p r o f u n d o do
c o m p o r t a m e n t o das famílias p u r a m e n t e israelitas, sentido
que as fazia zelar c o m ansiedade pela m a n u t e n ç ã o da pureza do sangue e, antes do casamento dos filhos, examin a r as genealogias de seus futuros genros e n o r a s . Da
pureza de origem dependia não somente a posição social
dos descendentes, mas t a m b é m a certeza e participação
definitivas da salvação por vir de I s r a e l . E n t r e t a n t o ,
n ã o era assim aos olhos do Batista, que exigia dos filhos
legítimos de A b r a ã o t a m b é m a penitência como condição
indispensável p a r a participar do reino de Deus (Mt 3,9
par. Lc 3,8); n e m o era p a r a Jesus, que mostrou a seus
compatriotas que arrogavam p a r a si a descendência de
A b r a ã o (Jo 8,33.39) que o único caminho p a r a se salvarem era a libertação através do Filho (Jo 8,36).
CAPÍTULO
208
VII
PROFISSÕES DESPREZÍVEIS.
-ESCRAVOS" JUDEUS
m
2 I 0
A. PROFISSÕES
DESPREZÍVEIS
211
208. b . Qid. 7 0 : " R . H a m a b . R. H a n í n a (cerca d e 260 d.C.)
disse: " D e u s n a o fará r e p o u s a r sua S h e k i n a [na é p o c a m e s s i â n i c a ] a
n ã o ser s o b r e as famílias israelitas de d e s c e n d ê n c i a legitima, pois está
escrito [Tr 3 1 , 1 ] : ' N a q u e l e t e m p o , o r á c u l o de Y a h w e h , c u serei o D e u s
de t o d a s as famílias de Israel'. N ã o foi d i t o : de todos os israelitas,
m a s : de t o d a s as famílias". S e g u n d o b . Qid. 7 0 , Elias a n o t a n u m liv r o , no m o m e n t o d o c a s a m e n t o , a q u e l e s q u e d e s p o s a m u m a m u l h e r
q u e n ã o lhes é s e m e l h a n t e do p o n t o de vista d a p u r e z a .
209. Midrash SI 20, § 3, ed. S. Buber, V i l n a , 1891, 1 7 5 4 : " N a q u e l e t e m p o , teu p o v o será salvo [do j u l g a m e n t o d o gêhínnom],
isto
é, q u e m q u e r q u e esteja inscrito n o livro [ D n 1 2 , 1 ] . P o r q u a l m é r i t o
[será ele s a l v o ? ] . . . R. S h e m u e l b . N a h m a n [cerca de 260 d . C ] disse:
' P e l o m é r i t o da legitimidade de sua o r i g e m ' . Pois foi d i t o [no v e r s í c u l o
escriturístico c i t a d o , D n 1 2 , 1 ] : Q u e m q u e r q u e esteja inscrito n o livro [ g u a r d a d o p o r Elias s o b r e a l e g i t i m i d a d e dos c a s a m e n t o s ] " . V e r
n. precedente.
210. E x e m p l o e m b . Qid. 7 1 .
211. N u m a linha diferente, Fílon, e m seu t r a t a d o s o b r e a n o b r e z a
(De nobilitate)
ao De viríutibus,
§ 187-227, d e f e n d e , e n e r g i c a m e n t e , a
idéia de q u e a v e r d a d e i r a n o b r e z a n ã o r e p o u s a s o b r e a o r i g e m , m a s
s o b r e a vida v i r t u o s a ; ele é g u i a d o p o r ideias h e l e n í s t i c a s , em particular p e l o ideal estoico d o s á b i o c o m o ú n i c o n o b r e (cf. L. C o h n , Die
Werke
Philos von Alexandria
in deutscher
Uebersetzung
I I , Breslau,
1910 (reimpresso e m Berlim, 1962), 367, n . 1.
b
a
A p u r e z a d e origem d e t e r m i n o u c e r t a m e n t e , e em larga escala, a posição social d o j u d e u d a época neotestamentária, d e n t r o da c o m u n i d a d e d e seu p o v o . E n t r e t a n t o , comp r e e n d e r í a m o s i n d e v i d a m e n t e os capítulos V e VI se deles concluíssemos q u e a origem era o único fator determin a n t e . Conforme tivemos ocasião d e ver no capítulo I I I ,
u m a origem inferior p e l o sangue o u p e l o nível social n ã o
p r e j u d i c a r a d e m o d o algum a posição social dos escribas.
I n v e r s a m e n t e , c o n v é m m o s t r a r nas páginas seguintes que
havia circunstâncias — igualmente independentes d a origem deste ou d a q u e l e — que os d e s o n r a v a m aos olhos d a
o p i n i ã o p ú b l i c a . Trata-se a q u i , a n t e s d e t u d o , d o fato de
u m a série de profissões serem tidas como desprezíveis; de
m o d o mais ou menos inexorável, r e b a i x a v a m socialmente
aqueles q u e as e x e r c i a m ' . P o r diversas vezes foram redigidas listas dessas m e n c i o n a d a s profissões. R e p r o d u z i r e m o s
as q u a t r o principais
.
1
b l s
a
b
1. P a r a o q u e segue, ver m e u artigo Zõllner und Sünder, e m ZNW
3 0 ( 1 9 3 1 ) , 293-300.
1 . As profissões c o m p r o v a d a s e m J e r u s a l é m são i m p r e s s a s e m
itálico.
2 . T r a n s c r e v o o início d a lisla (1-6) s e g u n d o a m e l h o r t r a d i ç ã o
e n c o n t r a d a e m j . Qid. I V 1, 6 6 25ss ( V / 2 , 289) q u e cita nossa m i s h n a
como baraíta anônima.
3 . O texto d o T a l m u d e p a l e s t i n o p a r a essa p a s s a g e m (ed. príncip e ) , j . Qid. I V 11, 6 5 4 0 ( V / 2 , 287, t r a d u z s o m e n t e " m a r i n h e i r o " )
lit: sappar, sappan
( m a r u j o , b a r b e i r o ) ; n a M i s h n a Qid. I V 14, Stettin,
1865, h á , i g u a l m e n t e , i n t e r v e n ç ã o . É , s e m d ú v i d a , u m a ditografia, p o i s ,
o b a r b e i r o n a d a tem a v e r c o m os t r a n s p o r t a d o r e s . O b a r b e i r o falta,
pois, c o m r a z ã o , n o nosso t e x t o (ver a n o t a p r e c e d e n t e ) e n o d a
Mishna d o T a l m u d e babilônio, Leipzig. 1861.
b i s
b
a
Qid.
IV
14
2
II
III
IV
Ket. V I I
b . Qid. 8 2 b a r "
b . Sanh. 2 5 is
10
1. Coletor de 1. O u r i v e s ( T o s . :
1- J o g a d o r d e daexcremenfabricante
de
dos
to de cães
crivos)
2. F u n d i d o r
2. Assedador
de 2. A g i o t a
de c o b r e
linho
3. Curtidor
3. C o r t a d o r de pe- 3. O r g a n i z a d o r de
d e peles
d r a s p a r a moiconcursos
de
nhos
pombos
4. Mascate
4. M e r c a d o r
de p r o d u t o s do
ano de pousio
5. Tecelão
5.
Pastor
( + T o s . : Í/Í/aw/e) »
a
b
9
1. T r o p e i r o
2. C a m e l e i r o
12
3. M a r u j o
3
1 0
1 9
4. Carreteiro
5.
4
15
Pastor
6. Lojista
7. Médico
5
6. Barbeiro
6
7
8. Açougueiro
1 5
7. Lavandeiro
s
20
6. Coletor
postos
16
7.
de
Se olharmos superficialmente essas q u a t r o listas, terem o s a impressão de q u e sobra p o u c o lugar p a r a profissões
dijuias, já q u e e n u m e r a m tantas consideradas suspeitas. Pode-nos parecer que cada lista é o r g a n i z a d a de m o d o fantasista, de u m p o n t o de vista i n t e i r a m e n t e subjetivo. Dá-se o
contrário, e n t r e t a n t o .
N a lista I, nn. 1-6, A b b a Shaul (cerca de 150 d . C )
cila as profissões a q u e u m pai não deve incentivar n u m
filho, pois são "profissões de l a d r õ e s " , isto é, profissões
que, de m o d o ingente levam à desonestidade e é evidente
nas profissões 1-4 que concernem aos transportes e carretos. É g r a n d e a tentação de subtrair algo das mercadorias
confiadas. A lista cita, com efeito, todas as formas de
transporte existentes n a época, com exceção da profissão
2 3
2 4
im-
2 i
Publicano
22
8. Sangrador
9. E n c a r r e g a d o
dos banhos
10. Curtidor
17
10. E m J e r s u a l é m , v e r supra, p . 14.
11. As profissões 1-7 e n c o n t r a m - s e t a m b é m e m T o s . Qid. V 14
(343,8) c o m as seguintes d i f e r e n ç a s : o f a b r i c a n t e de crivos a p a r e c e e m
p r i m e i r o l u g a r , e o alfaiate é c o l o c a d o n o s e x t o lugar; a o r d e m é diferente:
1. F a b r i c a n t e d e crivos;
2. A s s e d a d o r d e l i n h o ( i n t e r p r e t a r c o m b . Qid. 8 2 b a r . : ha-s riq'un);
3. T e c e l ã o ;
4. M a s c a t e ;
5. C a n t e i r o de p e d r a s e m ó s ;
6. A l f a i a t e ;
7. B a r b e i r o ;
8. L a v a n d e i r o .
12. U m c o m e r c i a n t e de l í n h o e m J e r u s a l é m , j . B. M. II 5, 8 18
( V I / 1 , 9 3 ) , v e r infra, n . 6 8 .
13. E m J e r u s a l é m : v e r supra, p p . 18s, 2 8 , 3 3 , 40.
14. E m J e r u s a l é m : ver supra, p p . 13, 3 2 , 4 1 .
15. E m J e r u s a l é m : v e r supra, p p . 30, 4 1 .
16. E m J e r u s a l é m : v e r supra, p . 32 ( p i s o e i r o ) .
17. L e r ha-bürsi
e m vez d e ha-bürs qê
( c u r t i ç ã o ) , Billerbeck, I I ,
695. E m J e r u s a l é m , v e r supra, n . 10. — As profissões 8 e 10 são acresc e n t a d a s e m b . Qid. 8 2 b a r .
18. As q u a t r o p r i m e i r a s profissões, Sanh. I I I 3 = R. H. I 8.
19. Jogo de a z a r (jogo c o m a p o s t a s ) .
20. V e r supra, n . 5 .
2 1 . E m J e r u s a l é m : v e r supra, p . 179.
22. E m J e r u s a l é m , ver supra, p . 4 8 ; L c 18,10-14. O s n n . 5-7 são
a c r e s c e n t a d o s e m Sanh. 2 5 b a r . D a m e s m a m a n e i r a , T o s . Sanh. V 5
(423, 25) a c r e s c e n t a c o m o nn. 5-8; 5. S a l t e a d o r e s , 6. Pastores, 7. Autores de atos d e violência, 8. O s q u e são suspeitos em assuntos d e
dinheiro.
2 3 . Ver supra, n . 6,
24. Qid. I V 14.
a
e
4. O texto da M í s h n a d o T a l m u d e p a l e s t i n e n s e q u a n t o à nossa
p a s s a g e m (j. Qid. I V 11, 6 5 40 [ V / 2 , 287] e o d a M i s h n a d o T a l m u d e b a b i l ô n i o , L e m b c r g , 1861, c i t a m o qaddar
( c o m e r c i a n t e de cer â m i c a ) cuja m e n ç ã o entre pessoas q u e t r a b a l h a m e m t r a n s p o r t e s nos
s u r p r e e n d e . Nosso texto (ver a p e n ú l t i m a n.) dá-nos a s o l u ç ã o ; fala
d e qarar, qaddar
( c o m e r c i a n t e de c e r â m i c a , c a r r e t e i r o ) . O c o n t e x t o
indica q u e " c a r r e t e i r o " é o original; " c o m e r c i a n t e de c e r â m i c a " v e i o ,
i g u a l m e n t e , n o texto p o r ditografia. — C a r r e t e i r o s e m J e r u s a l é m , v e r
supra, p . 4 8 .
a
5. P a s t o r e s a serviço de h i e r o s o l i m i t a s : s e g u n d o b . Ket. 6 2 , R.
A q i b a , q u a n d o Jovem, era p a s t o r e t r a b a l h a v a p a r a b e n K a l b a Shab u a , rico n e g o c i a n t e de J e r u s a l é m .
6. Q u a n t o ao a u t o r da p r i m e i r a p a r t e d a lista I ( n n . 1-6), o
texto da M i s h n a do T a l m u d e b a b i l ô n i o e a M i s h n a de Stettin 1865
d i z e m : " A b b a G o r y a n [ p o r volta de 180 d.C.?, Billerbeck I, 187] disse
e m n o m e de A b b a G o r i y a " . D e n o v o u m caso d e ditografia! A b o a
explicação é d a d a pelo texto d a M i s h n a d o T a l m u d e p a l e s t i n e n s e ,
ed. p r í n c i p e , q u e diz, j . Qid. I V 11, 6 5 39 ( V / 2 , 2 8 7 ) : " A b b a G o r y o n de S í d o n disse em n o m e de A b b a S h a u m " . •— Lojistas e m Jei-usalém, ver supra, p p . 12ss, 5 1 , 161, 318.
7. E m J e r u s a l é m , v e r supra, p . 29.
8. E m J e r u s a l é m : v e r supra, p p . 16 e 300. — A s profissões
e 8
foram a c r e s c e n t a d a s p o r R. Y u d a (cerca de 150 d . C ) , Qid. I V 14.
9. Cf. T o s . Ket. V I I 11 (269, 2 7 ) ; j , Ket. V I I 11, 3 1 22 • ( V / l .
102); b. Ket. 7 7 .
b
a
( l
a
C
e
a
b
SEWIINARÍC
CONCQKDIA
d e mensageiro, sem d ú v i d a por ele ser utilizado somente p a r a
p e q u e n a s distâncias e p o d e r ser s u b m e t i d o mais facilmente
a vigilância. Suspeita semelhante pesa sobre os pastores (5)
que n ã o gozavam de b o a r e p u t a ç ã o . Conforme p r o v a v a a
experiência, n a maioria das vezes e r a m desonestos e gatunos; p a s t o r e a v a m seus r e b a n h o s em p r o p r i e d a d e s alheias
e, o q u e ainda é mais grave, e x t o r q u i a m a r e n d a dos rebanhos. Por esse motivo foi p r o i b i d o c o m p r a r deles lã, leite
ou cabritos . N o que diz respeito ao lojista ou feirante (6)
facilmente se v i a m tentados a explorar seus clientes. R.
Y u d a (cerca de 150 d.C.) acrescenta u m juízo severo contra os médicos (7) e os açougueiros (8): " O m e l h o r médico só serve p a r a o inferno e o mais honesto dos açougueiros é u m associado dos a m a l e c i t a s " . O s m é d i c o s , sob r e os quais ouvimos outras opiniões com razão desfavoráveis \ são mencionados ao lado da profissão de ladrões,
pois e r a m suspeitos de d a r preferência aos ricos e descuidarem-se dos pobres que p a g a v a m m a l . Q u a n t o aos açougueiros, supõem-se que não sejam honestos pela t e n t a ç ã o
de vender p a r a c o n s u m o , carne de frepah , quer dizer,
segundo a interpretação rabínica do termo frepah , carne
de animais com defeitos físicos mortais \
25
26
11
28
2
3 0
31
22
3
Por mais difundidos
fossem os critérios contidos na
lista I, n ã o podemos esquecer, e n t r e t a n t o , a existência de
34
25. O b s e r v e m o s q u e os pastores r e a p a r e c e m n a lista I V ; v e r infra,
p p . 412s, as a n o t a ç õ e s s o b r e esta lista.
26. b . Sanh. 2 5 , Biílerbeck, I I , 114.
27. B. Q. X 9; T o s . B. Q. X I 9 (370, 2 4 ) .
28. Qid. I V 14.
29. L X X Is 26, 14: iatrói ou mè anantrésosin
e L X X SI 87 (88)
11: iatroi anantrésosin
[ d e n t r e os m o r t o s ] kat exomologésontaí
soi;
b. Pcs. 1 1 3 p r e v i n e c o n t r a a p e r m a n ê n c i a n u m a c i d a d e cujo chefe é
médico.
30. R a s h i s o b r e b . Qid. 8 2 b a r . ( T a l m u d e de Babilônia, e d . de
L e m b e r g , 1861, c o m e n t á r i o de Rashi, l i n h a 53) cita três m o t i v o s p a r a
j u l g a r d e s f a v o r a v e l m e n t e os m é d i c o s ; a) i l u d e m t r a n q ü i l a m e n t e os doentes e os m a n t ê m , assim, longe d a p r o c u r a d e D e u s ; b) c a r r e g a m muitas vidas h u m a n a s n a c o n s c i ê n c i a ; c) descuidam-se dos p o b r e s . O terceiro m o t i v o c o a d u n a - s e m e l h o r ao c o n t e x t o .
3 1 . b . Sanh. 2 5 .
32. S e n t i d o b í b l i c o : " d i l a c e r a d o " , isto é, a n i m a l m o r t o p o r u m a
fera.
33. É i n d i f e r e n t e q u e o a n i m a l t e n h a m o r r i d o desse defeito físico
( m o r t e n a t u r a l ou c a u s a d a p o r u m h o m e m ou a n i m a l feroz) ou t e n h a
sido e s t r a n g u l a d o .
b
a
julgamentos contrários sobre as profissões " d e l a d r õ e s "
citados nessa lista. Assim, p o r t a n t o , ouvimos falar d e u m
tropeiro (1) versado n a E s c r i t u r a , q u e R. Y o n a t h a n ( 2 2 0
d.C.) h o n r a c o m p a l a v r a s e c o m a t o s . R . Y u d a (cerca
d e 150 d.C.) declara c o n t r a A b b a Shaul (cerca d e 150
d.C.) q u e se p o d e fiar n a m a i o r i a dos c o n d u t o r e s de camelos (2) e q u e os marujos ( 3 ) , p o r causa dos perigos
constantes a q u e estão expostos, são n a m a i o r i a piedosos .
N o q u e se refere aos pastores ( 5 ) . sua imagem simpática
q u e conhecemos através d a p r e g a ç ã o de Jesus é certamente
u m fato isolado; a literatura r a b í n i c a c o n t é m , quase semp r e , o p i n i ã o desfavorável a eles, c o m exceção dos textos
q u e , d e s e n v o l v e n d o passagens d o Antigo T e s t a m e n t o , apresentam Y a h w e h , o Messias, Moisés, D a v i , como pastores.
P o r o u t r o l a d o , e n c o n t r a m o s em Jerusalém, c o m o lojistas
ou feirantes (6) escribas m u i t o c o n c e i t u a d o s . Q u a n t o aos
m é d i c o s (7), é preciso l e m b r a r o elogio que lhes traça o
livro d o Sirácida (38,1-15); T e n d a s , médico de Lida,
a p a r e c e na M i s h n a como responsável de u m a t r a d i ç ã o .
N o q u e concerne os açougueiros (8), R a b i , p o r exemplo
( f 2 1 7 d . C ) , recusa energicamente formular u m juízo, baseando-se n u m só caso em d e t r i m e n t o de toda a c l a s s e .
E n a d a nos diz que as profissões citadas n a lista I t e n h a m
sido nocivas q u a n t o a sua posição social, desde que faç a m o s a b s t r a ç ã o do pastor q u e aparece de novo na lista
I V . Pelo c o n t r á r i o , sabemos que inúmeros rabinos e r a m
lojistas ( 6 ) . E soubemos, o c a s i o n a l m e n t e , q u e T o b i a s ,
m é d i c o (7) em Jerusalém, foi m e s m o aceito p a r a testemun h a r a nova lua e que certa vez pediu-se a opinião de todos os médicos d e Lida antes d e se tomar uma decisão
em d e t e r m i n a d a questão de p u r e z a r i t u a l . Devemos, por3 5
36
37
3 8
39
40
41
42
a
a
3 4 . V e r supra,
35. Gn.
36. Qid.
R,
n. 25, 2 7 , 2 9 . 3 1 .
32 s o b r e 7 , 19
(64
a
24ss).
I V 14.
37. V e r supra,
p . 161 e 319.
38. C h a m a - s e T e o d o r o e m T o s . Ohai.
IV 2
(600, 2 9 ) .
3 9 . Bek. I V 4 ; b . Sanh. 9 3 b a r .
4 0 . b . Hul. 9 4 . — E n c o n t r a m o s s u p r a , p . 300, u m r a b i de Jerusal é m q u e era filho d e u m a ç o u g u e i r o .
4 1 . R. H. I 7.
a
b
4 2 . T o s . Ohal.
IV 2
(600, 2 9 ) .
tanto, convencer-nos de que temos, na e n u m e r a ç ã o das
"profissões de l a d r õ e s " da lista I, u m julgamento de valor
pessoal de A b b a Shaul, prendendo-se, é certo, a idéias alt a m e n t e difundidas, mas d e m o d o algum, generalizadas.
O m e s m o acontece c o m algumas listas menores, citando profissões q u e jamais a t r a e m " u m sinal de b ê n ç ã o " , q u e r
dizer, a m e n o r bênção . Citemo-las como a p ê n d i c e
.
43
4J
b í s
m e n t o do ano sabático (Ex 2 3 , 1 0 - 1 1 ; Lv 23,1-7) a proibição rabínica de m a n d a r o gado m i ú d o pastar nas terras
de Israel, com exceção das regiões de estepes (B. Q. V I I
7), ou a lei bíblica sobre a p r o t e ç ã o das árvores (Dt 2 0 ,
19-20). As pessoas citadas nas listas I b e í c ocupam-se
de assuntos sacrossantos: o escriba que exige p a g a m e n t o
p a r a a trancrição dos livros s a g r a d o s ; o intérprete q u e
cobra o seu t r a b a l h o e, além do mais, parece aceitar u m
salário s a b á t i c o ; aquele q u e efetua negócios com o dinheiro dos órfãos, tentado a lesar esses infelizes protegidos p o r D e u s ; finalmente (lista I c ) , os fabricantes e comerciantes de objetos rituais. Essas listas I a e Ic t a m b é m
não são documentos jurídicos; q u e m exerce u m a das profissões citadas nas listas b e c não deve ser proscrito socialmente . Urge considerar essas listas como u m a advertência à delicadeza de consciência, advertência q u e , na
v e r d a d e , repousa sobre experiências concretas desagradáveis.
50
I a.
b. Pes. 5 0 bar.
b
I b.
I c.
44
5 1
b. Pes. 5 0
1. Mercadores
de
produtos do ano
de pousio
2. Criadores de gado miúdo
3. Pessoas que cortam árvores frutíferas
1. Copistas
b
bar.
46
b. Pes. 5 0
1. Copistas
b
bar.
de
48
li-
45
52
2. Intérpretes
3. Pessoas que negociam com o dinheiro de órfãos
4. Aqueles que fazem
comércio
marítimo
47
2. C o p i s t a s
fphillin
3. C o p i s t a s
e nfzüzôt
de
de
4. Comerciantes de
l i v r o s , tyjhillin
e m süzôt
5. Vendedores
de
fios de p ú r p u r a
46
c
49
As pessoas citadas n a lista I a. são suspeitas de transgredir prescrições definidas de leis religiosas: o m a n d a -
A lista II cita três profissões que na v e r d a d e n ã o
eram consideradas desonestas e sim, repugnantes , especialmente por causa do mau cheiro p r o d u z i d o por tais atividades . Coletor de excrementos e curtidor de peles estão ligados u m a o u t r o , p o r q u e o primeiro a p a n h a e
junta os excrementos p a r a o pisoar do couro e a curtição.
Se algum h o m e m exercia u m a das três profissões citadas
p o r essa lista, sua esposa tinha o direito d e exigir o divórS3
54
5 5
50. T a m b é m b . Pes. 5 0 .
5 1 . As pessoas q u e t r a t a m do c o m é r c i o m a r í t i m o n ã o são pertin e n t e s ao c o n t e x t o .
5 2 . A lista I c, t e r m i n a c o m estas p a l a v r a s : " M a s q u a n d o se ded i c a m a esses negócios p e l o interesse q u e s u s c i t a m [e n ã o p o r a t r a ç ã o
ao d i n h e i r o ] , eles vêem [sinais d e b ê n ç ã o s ] " . R. Meír (cerca de 150
d.C.) exercia a profissão de c o p i s t a , b . 'Er. 1 5 " ; o n d e se diz q u e as
pessoas citadas n a lista I c estão livres d e t o d o s os m a n d a m e n t o s
m e n c i o n a d o s n a T o r á , pois, sua profissão já significa o c u m p r i m e n t o
dos m a n d a m e n t o s .
5 3 . C o m o profissão r e p u g n a n t e , b . P e s . 1 1 3 cita a i n d a a de esc o r c h a d o r : " E s c o r c h a u m a n i m a l n a r u a e r e c e b e teu s a l á r i o " (o q u e
sinifica: n ã o h á t r a b a l h o d e s o n r o s o ; o m a i s h u m i l d e t r a b a l h o v a l e
mais d o q u e a m e n d i c i d a d e ) .
54. Cf. a diferença e n t r e u m c o m e r c i a n t e d e especiarias e u m
c u r t i d o r e m b. Qid. 8 2 b a r .
55. Identificam-se em T o s . Ket. V I I 11 (269, 2 7 ) ; c o m efeito, o
c u r t i d o r m u i t a s vezes tinha t a m b é m de r e c o l h e r os e x c r e m e n t o s .
b
4 3 . C o m e r c i a n t e s de espetos de c a r v a l h o e de â n f o r a s a p a r e c e m
c o m o p r i m e i r o g r u p o em b . Pes. 5 0 b a r . Esses n ã o r e c e b e m a b ê n ç ã o
p o r q u e a q u a l i d a d e de sua m e r c a d o r i a atrai s o b r e eles o m a u o l h a d o .
Essa s u p e r s t i ç ã o n ã o p e r t e n c e à nossa n a r r a ç ã o q u e d e v e t r a t a r de
profissões d e s p r e z í v e i s .
4 3 . ' . A s profissões verificadas em Jerusalém são i m p r e s s a s em
itálico.
44. Par. T o s . Bik. II 16 (102, 13).
45. Ler c o m T o s . ed. A. S c h w a r z , Vilna, 1890, tagg^rê
l^mitiah,
e m vez de tagg rê
sèm ta,
" c o m e r c i a n t e s de r u a s " , q u e n ã o t e m sentido n o c o n t e x t o .
46. J e r u s a l é m ; b. B. B. 1 4 ; Soferim
I V 1 = j . Meg. T 9, 7 1 ^ 57
( I V / 1 , 2 1 8 ) . E m nossa p a s s a g e m , trata-se d e copistas d e rolos d a T o r a .
47. E m J e r u s a l é m ; ver supra, p . 3 1 .
48. P a r . T o s . Bik. II 15 (102, 10).
49. E m p r e g a v a m - s e lios de p ú r p u r a n a f a b r i c a ç ã o d e b o r l a s nsíf.
o p a r . T o s . Bik. II 15 cita em q u a r t o lugar aqueles q u e "se o c u p a m d a
c o b r a n ç a do d i n h e i r o " .
b
b
s
e
e
a
a
b
cio d i a n t e do t r i b u n a l , reivindicando o p a g a m e n t o d a
q u a n t i a q u e lhe fora p r o m e t i d a n o contrato de c a s a m e n t o
p a r a o caso em que a m a n d a s s e m e m b o r a ou em caso de
m o r t e de seu m a r i d o . Mais ainda, o direito da m u l h e r
ia tão longe que podia exigir o divórcio m e s m o se, n o
m o m e n t o d o c a s a m e n t o , soubesse q u e o m a r i d o exercia
uma das três profissões em questão, e tivesse se casado
c o m a condição explícita de que ele não a b a n d o n a r i a aquela atividade. Nesse caso p o d i a explicar, pelo m e n o s seg u n d o a o p i n i ã o d e R. Meir (cerca de 150 d . C ) : " E u pensava poder suportar, mas reconheço agora q u e não consigo m a i s " . Por outro lado, a m u l h e r , a partir dos treze
anos só t i n h a licença p a r a exigir o divórcio se o m a r i d o
a obrigasse a compromissos abusivos à sua dignidade ou
se o m a r i d o fosse a t a c a d o
de l e p r a ou de pólipos ;
nos outros c a s o s , o direito d o divórcio cabia exclusivam e n t e a ele. Se p e n s a r m o s e m todas essas condições, podemos avaliar até q u e p o n t o aqueles que p r a t i c a v a m as
profissões citadas n a lista II e r a m destituídos de seus direitos cívicos. U m a observação aqui se i m p õ e : n ã o se tratava de n e n h u m a n ó d o a m o r a l .
5 6
5 Í
5 8
59
6 0
6 1
a
6Í
Os que exerciam as profissões citadas na lista I I I sofriam de m a n e i r a a i n d a mais sensível. O s t r a b a l h a d o r e s
e n u m e r a d o s l i d a v a m c o m mulheres e e r a m suspeitos d e
i m o r a l i d a d e ; p o r essa r a z ã o se diz q u e n ã o se deve deixá5 6 . T o s . Ket.
V I I 11 (270, 2 ) ,
57. Ket. V I I 10.
58. Se d e s s e m u m n o i v o à filha ou a casassem m e n o r (ela era
q tannah
até a i d a d e d e 12 a n o s e u m d i a , b . Yeb. 1 0 0 ) ; p o d i a , event u a l m e n t e , e x p l i c a n d o a sua r e c u s a , a n u l a r o n o i v a d o o u o c a s a m e n t o :
a) d u r a n t e a v i d a d o p a i , s o m e n t e se já tivesse s i d o d e s p e d i d a p o r u m
libelo de d i v ó r c i o {Yeb, X I I I 6; o c a s a m e n t o p r e c e d e n t e tinha-a subt r a í d o d o p o d e r d o p a i ) ; b) a p ó s a m o r t e d o p a i , se tivesse c o n t r a í d o
n o i v a d o o u se c a s a d o pela m ã e o u os i r m ã o s {Yeb. X I I I 2 ; o casam e n t o r e a l i z a d o sem o pai d a m e n o r só é v á l i d o s o b c o n d i ç õ e s ) .
59. Billerbeck, I, 318s.
b
60. Ket. V I I 11 (270, 1.3).
6 1 . C o n f o r m e c o n c l u i ] . P r e u s s , BibUsch-talmudische
Medizin,
Berlim, 1911, 399s a p a r t i r de b . Ket. 2 0 ; Ker. I I I 7; b . Ta'an.
21 ,
mâkkeh
s hín é o p o r t a d o r de u m a lepra q u e m u t i l a .
62. S o b r e esta d o e n ç a , v e r ] . P r e u s s , o.c., 340.
63. S e g u n d o i n d i c a ç õ e s m a i s t a r d i a s , a i m p o s s i b i l i a d d e em q u e se
vê o m a r i d o p a r a m a n t e r sua m u l h e r é t a m b é m u m a r a z ã o p a r a anular o c a s a m e u i o , b . Ket. 7 7 .
b
a
M
ú5
66
6 7
N ã o é por acaso q u e , entre o g r a n d e n ú m e r o de escribas que exerciam u m artesanato ou u m a profissão, não
haja u m
do qual possamos dizer c o m certeza ter exercido u m a das funções profissionais citadas n a lista I I I .
Os tecelões (5) e os curtidores (10) sempre foram os mais
m a r c a d o s p o r essa ignomínia. P a r a os tecelões, além da
suspeita de i m o r a l i d a d e acrescentava-se o fato daquela pro6 8
64. Qid. I V 14; T o s . Qid. V 14 ( 3 4 3 , 8 ) ; b . Qid. 8 2 b a r . N o
q u e c o n c e r n e e s p e c i a l m e n t e à d e s c o n f i a n ç a c o n t r a os m a s c a t e s (com e r c i a n t e s a m b u l a n t e s de e s p e c i a r i a s ) , ver A. B ü c h l e r ,
Familienreinheit
und Sittlichkeit
in Sepphoris
im zweiten
Jahrhundert,
e m MGWJ
78
( 1 9 3 4 ) , 138, n . 2.
65. O b s e r v e m o s a n a t u r a l i d a d e c o m q u e se s u p õ e q u e os sacerdotes e x e r ç a m u m a p r o f i s s ã o .
66. b . Qid. 8 2 b a r .
67. Derek
'eres zúta 6 (Billerbeck, I I , 6 4 2 ) . Essa p a s s a g e m n ã o
figura n a ed. de A . T a w r o g i , K o n i g s b e r g , 1885 (dissertação de Königsberg) .
68. Conta-se q u e R. S h i m e o n b e n S h e t a h " o c u p a v a - s e d o l i n h o " ,
j . B. M. I I 5, 8 18 ( V I / 1 , 93 t r a d u z : " e s t a v a o c u p a d o e m seus trabalhos [fatigantes] de f i a ç ã o " ) . Essa e x p r e s s ã o p o d e designar o assedad o r de l i n h o (lista I I I , n . 2) o u o c o m e r c i a n t e deste t e c i d o . O contexto m o s t r a c o m o seus a l u n o s l h e o f e r e c e m u m asno p a r a q u e se
latigue m e n o s ; é preferível, p o i s , p e n s a r n u m m e r c a d o r de l i n h o , emb o r a seja possível q u e t e n h a e x e r c i d o os dois ofícios, c o m o acontecia
m u i t a s vezes n a é p o c a .
a
e
e
-los sozinhos c o m mulheres . Eis o q u e estava previsto a
seu respeito: " N ã o se escolha entre eles rei ou sumo sacerdote , n ã o p o r serem inaptos ao serviço, mas p o r q u e
sua profissão é d e s p r e z í v e l " . Nesta frase, rei e sumo sacerdote são citados somente a título de exemplo de função pública. É o que mostra, p r i m e i r a m e n t e , u m a sentença de R. Yose (cerca de 150 d . C ) : " S a n g r a d o r , curtidor
e encarregado dos b a n h o s [cf. lista I I I , n . 8 - 1 0 ] , entre
eles n ã o se escolherá chefe de c o m u n i d a d e " . Segundo
essa sentença, até mesmo o posto de chefe da comunidade ficava interditado àqueles que exerciam tais profissões;
é o q u e lemos, e m segundo lugar, n u m texto que declara
ser i n c o m u m admitir tecelões c o m o t e s t e m u n h a s . Conform e vemos, aqueles que exerciam profissões suspeitas de
imoralidade p a s s a v a m a ser m a r c a d o s p o r u m a n ó d o a em
sua vida legal pública, não de jure, é v e r d a d e , — de jure
seus m e m b r o s e r a m " a p t o s " a aceder às funções públicas
e a ser testemunhas — mas de facto.
a
a
C
fissão, n a Palestina, ser considerada como u m t r a b a l h o de
m u l h e r e s . Citemos u m fato especialmente significativo da
posição social dessa classe, e m Jerusalém: os escribas rec o n h e c e r a m o t e s t e m u n h o de dois tecelões hierosolimitas
(que, além de t u d o , m o r a v a m perto da Porta do M o n t u r o
q u e d a v a passagem p a r a o vale denegrido do H i n o m ) ;
ora, a t r a d i ç ã o conservou esse fato como e x t r a o r d i n á r i o e
como p r o v a de especial liberalidade p o r p a r t e dos escrib a s . Q u a n t o aos curtidores, acrescentava-se à p e c h a de
imoralidade, o fato de sua profissão ser tida como repugn a n t e (ver lista I I , n. 3). " A i daquele que é c u r t i d o r ! " ,
exclamava R a b i ( | 217 d . C . ) . A esse respeito não deve¬
mos deixar de lado At 9,43 q u e diz, de m a n e i r a m u i t o
simples, talvez mesmo não enfatizando a última p a l a v r a :
" P e d r o ficou em Jope por mais t e m p o , na casa de u m certo
Simão, o c u r t i d o r " .
69
7 0
7 1
72
Exercer u m a das profissões citadas na lista IV indicava i m p u r e z a maior; q u e m praticava u m a delas p e r d i a
os direitos cívicos e políticos. Essa lista reúne as profissões diretamente baseadas na t r a p a ç a e, por causa disto,
passavam por c o n d e n a d a s de jure. As q u a t r o p r i m e i r a s de
sete profissões desta lista são citadas pela M i s h n a ; as
três últimas foram acrescentadas por uma. baraíta \ Jogadores de dados, u s u á r i o s , organizadores de jogos de
azar e traficantes de p r o d u t o s do ano sabático (1-4) são,
com efeito, charlatães notórios. Já m e n c i o n a m o s o desprezo pela p r o p r i e d a d e alheia de que e r a m acusados os
pastores (5). A experiência t a m b é m m o s t r a r a que os coletores de impostos (6) e os titulares dos postos de publícanos (7) arrendados aos que ofereciam mais altas importâncias, assim como seus s u b o r d i n a d o s , q u a s e sempre
7 3
7
75
aproveitavam-se desses cargos p a r a enriquecerem-se indev i d a m e n t e . Disse a l g u é m : " É difícil p a r a os pastores,
coletores de impostos e p u b l í c a n o s fazer p e n i t ê n c i a ! " O motivo é jamais saberem a q u a n t o s lesaram o u l u d i b r i a r a m
p a r a p o d e r e m fazer r e p a r a ç ã o .
É característico o costume de associar coletores d e
impostos e l a d r õ e s ; publícanos e ladrões ; chefes de cob r a n ç a , ladrões, cambistas e p u b l í c a n o s ; p u b l í c a n o s e
p e c a d o r e s ; publícanos e pagãos (Mt 18,17); publícanos
e prostitutas (Mt 2 1 , 3 1 - 3 2 ) ; ladrões, t r a p a c e i r o s , adúlteras e p u b l í c a n o s (Lc 18,11); assassinos, ladrões e publícanos . O h á b i t o levava a c h a m a r os publícanos categoricamente d e p e c a d o r e s (Lc 19,7). E r a p r o i b i d o aceitar,
proveniente da caixa de impostos de barreira e dos confiscos dos coletores de impostos , o d i n h e i r o das trocas
ou das esmolas p a r a a caixa dos p o b r e s , p o r q u e a injustiça i m p r e g n a v a esse dinheiro. Se, antes de receber seu
cargo o u seu a r r e n d a m e n t o , os coletores de impostos e publícanos fizessem parte de u m a c o m u n i d a d e farisaica, e r a m
dali expulsos e não p o d i a m se reabilitar a não ser que
abandonassem o p o s t o que ocupavam.
77
78
81
32
83
M
8 5
N ã o era, p o r é m , somente no espírito do público que
as profissões da lista I V apresentavam-se categoricamente
d e s p r e z í v e i s , até m e s m o o d i a d a s ; de jure t a m b é m eram
Sè
77. b . B. Q, 9 4
76
69. Ant. X V I I I 9, 1, § 314. Cf. B. /. I 24, 3, § 4 7 9 : A l e x a n d r e e
A r i s t ó b i d o p r e p a r a m as m u l h e r e s d a família p a r a a é p o c a em q u e chegassem ao p o d e r , d o t r a b a l h o f o r ç a d o à profissão d e t e c e l a g e m .
70. Ver supra, p p . 18 e 29; cf. Billerbeck, I V , 1030, n . 1.
7 1 . 'Ed. I 3 .
72. b . Qid. 82 bar., p a r . b . Pes. 6 5 b a r .
73. Sanh. I I I 3 = R. H. I 8.
74. b . Sanh. 2 5 b a r .
75. T r a n s g r e d i a m a i n t e r d i ç ã o v e t e r o t e s t a m e n t á r i a do i n t e r e s s e , Ex
22,24; Lv 25, 36-37; Dt 23,20-21.
76. Supra, p . 406; v e r t a m b é m infra, n n . 86 e 87.
h
a
b
79
80
87
b
bar.
78. Tohorot
V I I 6.
79. B. Q. X 2; b . Shebu. 39« b a r . Cf. Lc 18,11; Ned. I l l 4; Derek
'eres 2.
' 80. Derek 'eres 2.
8 1 . M c 2,15-16; Mt 9,10-11; Lc 5,30; M t 11,19 (par. Lc 7,34);
Lc 15,1-2. C o m p a r a r M t 5,46: " C o m efeito, se amais aos q u e vos
a m a m , q u e r e c o m p e n s a t e n d e s ? N ã o fazem t a m b é m os p u b l í c a n o s a
m e s m a c o i s a ? " c o m o p a r a l e l o L c 6,32; " S e a m a i s os q u e vos a m a m ,
q u e g r a ç a a l c a n ç a i s ? A t é m e s m o os p e c a d o r e s a g e m a s s i m ! "
82. N o c o n t e x t o de Lc 18,11, àdikoi t e m este s e n t i d o preciso, cf.
E. K l o s t e r m a n n , Das Lukasevangelium,
2" ed., T ü b i n g e n , 1929, in loco.
8 3 . Ned. I I I 4.
84. B. Q, X 1. — " M a s pode-se aceitar [ d i n h e i r o ] de sua casa
ou n a r u a [ c o m o e s m o l a ] " , ibid.
85. T o s . Demay H l 4 ( 4 9 , 1 5 ) ; j . Demay
I I 3 , 2 3 10 { I I / l , 151).
86. V e r t a m b é m Midrash
SI 2 3 , § 2, ed. B. Buber, Vilna, 1891,
9 9 12: " N ã o h á profissão m a i s d e s p r e z í v e l d o q u e a d e p a s t o r " ; Fílon, de agricultura,
§ 6 1 : ocupar-se das c a b r a s e c a r n e i r o s passa p o r
" p o u c o glorioso e h u m i l d e " , b . Yeb.
16 .
87. T o s . B. M. II 33 (375, 2 7 ) : " N ã o se r e t i r a [de u m a cisterna]
a
b
a
oficialmente ilegais e p r o i b i d a s . Q u e m exercesse q u a l q u e r
u m a delas, n u n c a mais p o d e r i a ser juiz, e a impossibilidade de prestar t e s t e m u n h o igualava-o ao escravo . Dizendo melhor, ele próprio via-se privado dos direitos cívicos e políticos atribuídos a q u a l q u e r israelita, m e s m o
aquele q u e , como o b a s t a r d o , tinha uma origem seriamente m a c u l a d a . Essa realidade permite avaliar o escând a l o q u e foi o fato d e Jesus c h a m a r u m p u b l i c a n o p a r a
ser seu discípulo de maneira tão íntima (Mt 9,9 e par.;
10,3) e a n u n c i a r a Boa-nova aos publícanos e aos "pecad o r e s " sob o símbolo d a comensalidade.
83
M
dados do T a l m u d e sobre o preço do escravo judeu tamb é m c o r r e s p o n d e m a algumas condições concretas. Esse
p r e ç o era de 1 a 2 minas , segundo outra informação, de
5 a 10 m i n a s ; por o u t r o lado, o escravo p a g ã o valia até
100 m i n a s . O preço inferior d o escravo judeu p r o v é m
das circunstâncias; explica-se pelo fato de seu t e m p o de
serviço só d u r a r seis anos, diversamente da servidão perp é t u a do escravo p a g ã o . O n ú m e r o dos escravos judeus
na Palestina, na realidade não se elevava m u i t o . Sua sit u a ç ã o harmonizava-se c o m as prescrições h u m a n i t á r i a s do
Antigo T e s t a m e n t o .
92
9 3
9 4
U m judeu podia tornar-se escravo de três m a n e i r a s .
B . "ESCRAVOS" J U D E U S
90
1. Podia descer à escravidão ex furto, o q u e parece
ter sido a maneira mais freqüente. Trata-se do caso de
u m ladrão n ã o estar em condições d e restituir o equivalente
ao furto. L e v a n d o em conta Ex 2 2 , 2 , o tribunal
o vendia c o m p u l s o r i a m e n t e . A v e n d a , à qual estavam
submetidos apenas os israelitas adultos de sexo masculino , só p o d i a ser feita a j u d e u s . E n t r e t a n t o , p a r a liberar
o país de toda espécie de pessoas marginalizadas, Herodes decidiu, em oposição ao direito em vigor, q u e os ladrões d e v e r i a m ser vendidos t a m b é m no estrangeiro e a
não-israelitas . Podemos nos indagar se u m a g r a v a m e n t o
ainda maior do direito p e n a l não se terá introduzido nesta
época. C o m efeito, a halaka desconhece a v e n d a da esposa
e da filha a d u l t a ; ora, e m Mt 1 8 , 2 5 , n u m a pa95
%
Entre as pessoas socialmente o p r i m i d a s , deve c o n s t a r
o escravo j u d e u . N a época neotestamentária eles existiam
na Palestina e é só desses que vamos tratar por o r a . Já o
mostramos antes (p. 157ss) na exposição c o n s a g r a d a aos
escravos e diaristas; Bíllerbeck defendeu, igualmente, com
energia, esse p o n t o de v i s t a . O b s e r v e m o s ainda q u e os
91
os goyim, os pastores cie a n i m a i s m i ú d o s e o s c r i a d o r e s d e a n i m a i s
m i ú d o s " ( q u e c r i a v a m t a m b é m p o r c o s , Billerbeck, I V , 359; n ã o são
citados n o p a r . b . 'A. Z. 2 6 - b a r ) .
88. E m Sanh. I I I 3, p a r . R. H. I 8, essa i m p o s s i b i l i d a d e se est e n d e às q u a t r o p r i m e i r a s profissões d a lista I V ; às três o u t r a s e m b .
Sanh. 2 4 . A c o m u n i d a d e j u d a i c a d e Cesaréia m a r í t i m a c o n f i o u sua
r e p r e s e n t a ç ã o ao a d m i n i s t r a d o r j u d e u d a a l f â n d e g a p o r t u á r i a (B. ¡. I I
14. 4, § 2 8 7 ) ; era u m caso a b s o l u t a m e n t e fora d o c o m u m . S c h l a t t e r ,
Theologie,
18(5, explica o s u c e d i d o pelo f a t o d e a c o m u n i d a d e n ã o se
a c h a r sob d i r e ç ã o farisaica.
89. R. H. I 8.
90. A d e s i g n a ç ã o " e s c r a v o " n ã o c o r r e s p o n d e , t o t a l m e n t e , à sit u a ç ã o jurídica, n a m e d i d a e m q u e n ã o se trata d e u m a s e r v i d ã o . —
O p e q u e n i n o t r a t a d o t a l m ú d i c o s o b r e os escravos foi e d i t a d o p o r R.
K i r c h h e i m , Septem
libri talmudici
parvi hierosolymitani,
Francfort-sur¬
-le-Main, 1 8 5 1 , 25,30. e t r a d u z i d o p o r L. G u l k o w i t s c h , em
Angelas,
Leipzig, I ( 1 9 2 5 ) , 89-95. A i n t r o d u ç ã o d e G u l k o w i t s c h deixa a desejar
p e l o fato d e c o n f u n d i r i n ú m e r a s vezes as p r e s c r i ç õ e s s o b r e o tratam e n t o dos escravos j u d e u s e os escravos p a g ã o s . — Billerbeck, I V ,
698-716 a p r e s e n t a e m seu e x c u r s u s 26 u m q u a d r o a d m i r á v e l das declarações r a b í n i c a s a respeito dos escravos j u d e u s .
9 1 . Billerbeck, I V , 6 8 9 . E s t e p o n t o d e vista foi d e n o v o c o n t e s t a d o
a
b
b
91
98
99
100
101
|ior S. Z u c r o w , Women,
Slaves and the ígnorant
in Rabblnic
Literature
and also the Dignity of Man, B o s t o m , 1932.
92. b . 'Ar. 3 0 bar.; t r a t a d o 'Abadim
I I 10.
9 3 . b . Qid. 1 8 b a r .
94. B. Q. I V 5. Ver infra, p . 453s, d e t a l h e s s o b r e este p o n t o .
95. S e g u n d o Ani. X V I , 1, 1, § 3, o l a d r ã o teria de restituir q u a t r o
vezes o m o n t a n t e d o r o u b o ; essa a f i r m a t i v a é p r o v a v e l m e n t e u m a generalização e r r ô n e a de E x 21,37b. E m Lc 19,8, trata-se d e u m a u m e n t o
voluntário.
96. Mek. E x 21,7 (28^ 17,20); Sifre D t 15,12 (43* 3 2 ) .
97. Mek. Ex 21,20 ( 3 0 4 2 ) .
9 8 . Ant. X V I 1, 1, § 3 ; Sifre D t 15,12 ( 4 3 3 2 ) .
99. Ant. X V I , 1, 1, § l s .
100. BÜlerbeck, I, 798. A m u l h e r n ã o p o d i a ser v e n d i d a p o r u m
luí (o q u e tivesse c o m e t i d o , Sota I I I 8.
101. Mek. Ex 21,20 ( 3 0 4 3 ) ; Mek. Ex 21,7 ( 2 9 2 0 s s ) .
a
a
c
a
c
a
rábola de Jesus, supõe-se a venda da m u l h e r e dos filhos
p o r causa do desvio de fundos pelo m a r i d o . Nesse caso,
devemos imaginar que essa p a r á b o l a reflete u m a situação
alheia à Palestina.
2 . U m judeu podia t a m b é m tornar-se escravo ex concessu, vendendo-se, v o l u n t a r i a m e n t e (Lv 2 5 , 3 9 - 4 3 ) . Entretanto, somente os israelitas adultos , e u n i c a m e n t e e m caso
de extrema p o b r e z a , t i n h a m o direito de se v e n d e r e m ,
o q u e era proibido às mulheres israelitas . Aceitava-se a
v e n d a a não-judeus, mas impunha-se aos pais o direito de
resgate , A maioria das vezes tratava-se de u m gesto de
desespero de u m endividado sem q u a l q u e r esperança.
m
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1M
105
m
moça m e n o r — e isso a pagãos! — é-nos c o m p r o v a d o n u m
caso concreto já c o m e n t a d o ; e n t r e t a n t o , literalmente, pode-se atribuir a u m a c a p t u r a (captura c o m o refém).
O estado de servidão e m face d e u m senhor j u d e u
d u r a v a seis anos completos , sem ir além , a menos que
o escravo h o m e m — as escravas não t i n h a m o direito
—
renunciasse livremente à sua libertação e transformasse
seu serviço de seis anos em serviço p e r p é t u o (Ex 21,5-6;
Dt 15,16-17), só findando com a m o r t e do p r o p r i e t á r i o .
Tal caso sucedia sobretudo q u a n d o o escravo judeu tinha
filhos de u m a escrava n ã o israelita, p e r t e n c e n t e a seu sen h o r , e n ã o quisesse separar-se dela e de seus filhos " .
Esse fato poucas vezes sucedeu, p o r é m . O serviço do
escravo podia terminar antes do t e r m o dos seis anos através da alforria ou resgate, ou se ele próprio se resgatasse . A escrava judia ficava liberada se o d o n o morresse
— sucedia o oposto ao escravo h o m e m
q u e passava
então ao p o d e r do filho
— o u se atingisse seus doze
anos . E n t r e t a n t o , segundo o uso corrente, o d o n o ou o
filho, nesse último caso, desposava a e s c r a v a . Seriam
1 U
112
u 3
114
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7
1 1 S
3 . Até aqui (salvo a propósito de Mt 18,25), falamos
somente da v e n d a de israelitas adultos do sexo masculino.
E n t r e t a n t o , podiam-se t a m b é m vender jovens israelitas, desde que fossem menores , e até a idade de 12 a n o s .
L e v a n d o em conta, n o v a m e n t e , Ex 2 1 , 7 , a pátria
poteslas
d a v a ao pai judeu o direito de vender suas filhas m e n o r e s
a u m judeu . Neste caso, n a prática, a venda da jovem
significava, na maioria das vezes, q u e estava destinada a
ser mais t a r d e , m u l h e r do c o m p r a d o r ou de seu filho .
Ressalta de Josefo (Ant. X V I 1, 1, § lss) e do N o v o
T e s t a m e n t o (Mt 18,25), ambos de acordo neste p o n t o , que
especialmente a v e n d a compulsória por causa de r o u b o ,
citado em 1, não era i n c o m u m . O compromisso de u m a
i07
m
m
119
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12J
J24
n o
102. Cf. supra, p . 415, n . 97.
103. Sifra Lv 25,39 ( 5 5 3 5 ) .
104. Mek. Ex 21,7 ( 2 9 2 7 ) .
105. Mek. Ex 21,7 ( 2 9 2 4 . 2 8 ) .
106. Lv 25,47-52; b . B. B. 8 ; b . B. M. 7 1 bar.; 'Ar. 3 0 ; trat a d o 'Abadim
II 9, D i f e r e n t e m e n t e e m Git. I V 9.
107. Mek. E x 21,7 ( 2 9 7 ) ; Mek. Ex 21,20 ( 3 0 4 3 ) .
108. A j o v e m devia ser e m seguida l i b e r t a d a n o caso d e n e m o
a m o n e m seu filho q u e r e r e m desposá-la (ver infra, p . 417, n . 1 2 4 ) .
109. Mek. Ex 21,7 ( 2 9 19ss), cf. Sota I I I 8. O pai n ã o p o d i a
v e n d e r seus filhos (Mek., ibid.). Difere em Gil. I V 9; " S e a l g u é m se
v e n d e ou v e n d e seus filhos [banaw]
a u m não-israeíita, n ã o será resg a t a d o " ; trata-se a q u i , p o r é m , de u m m o d o de agir legal. É t a m b é m a
r a z ã o pela q u a l n ã o existe o r e s g a t e ; só se r e s g a t a m as c r i a n ç a s a p ó s
a m o r t e d o p a i (Git. I V , 9 ) . A p ó s a volta do exílio h o u v e p e r í o d o s
de a d v e r s i d a d e , c o n f o r m e indica N e 5,2.5, em q u e os pais v e n d i a m
seus filhos e filhas c o m o e s c r a v o s .
110. T r a t a d o 'Abadim
I 10s.
c
a
a
b
a
a
a
b
c
111. 'Ed. V I I I 2, v e r supra, p . 300.
112. Ex 21,2; Dt 15,12; cf. Jo 8,35: " O e s c r a v o n ã o fica n a casa
p a r a s e m p r e " . V e r a i n d a Ani. I V 8, 29, § 2 7 3 ; X V I 1, 1, § 3 , e a
h a l a k a em Billerbeck, I V , 701 s.
113. A f i r m a ç ã o c u r i o s a em b . Q_id. H
b a r . : " Q u e m v e n d e a si
m e s m o p o d e vender-se p o r seis a n o s e p o r mais de seis a n o s " . R.
Eliézer (cerca de 90 d . C ) , o d e f e n s o r i n q u e b r a n t á v e l d a antiga trad i ç ã o rejeita, e n t r e t a n t o , essa p o s s i b i l i d a d e (ibid.).
Se u m e s c r a v o fugisse, deveria d e p o i s servir d u r a n t e u m t e m p o c o r r e s p o n d e n t e à dur a ç ã o de sua a u s ê n c i a , Billerbeck, I V , 702s.
114. Mek. Ex 21,7 ( 2 9 32) e
passim.
115. N e s t e caso, o filho d o p r o p r i e t á r i o n ã o h e r d a v a o e s c r a v o ,
Mek. Ex 21,6 ( 2 9 1. 6 ) ; Qid. 1 2; b . Qid. 1 7 b a r . , e passim.
116. S o b r e este p o n t o v e r o final d a alínea seguinte.
117. E x 2 1 , 5 ; Ant. I V 8, 28, § 2 7 3 .
118. As p r e s c r i ç õ e s r a b í n i c a s p r o c u r a r a m a g r a v á - l o , Billerbeck, I V
707.
119. N ã o se l e v e m em conta as p r e s c r i ç õ e s s o b r e o a n o jubilar,
pois, n ã o e s t a v a m e m vigor,
120. Mek. E x 21,6 ( 1 9 6 ) ; Qid. I 2 e
passim.
121. Mek. Ex 21,6 ( 2 9 5) e
passim.
122. N i n g u é m mais t i n h a , e n t r e t a n t o , o d i r e i t o de h e r d a r o escravo!
123. Qid. I 2; b . Qid. 4 , 1 6 - ; t r a t a d o 'Abadim
I 4 e passim:
"à a p a r i ç ã o dos sinais d a p u b e r d a d e " .
124. Mek. Ex 21,8 ( 2 9 4 ) . T r a t a d o 'Abadim
I 7-10 e
passim.
h
a
a
b
a
a
a
b
14 - J e r u s a l é m
no t e m p o de
Jesus
a
b
essas prescrições sempre o b s e r v a d a s ? É o u t r a q u e s t ã o . N ã o
nos esqueçamos de que Eclo 7,21 insiste no dever d e não
iludir a escrava q u a n t o à sua libertação.
N o q u e diz respeito à situação jurídica d o escravo judeu, c o n v é m l e m b r a r q u e seu encargo n ã o era tido como
desonroso, e seu senhor devia poupá-lo dos d e p r i m e n t e s
trabalhos d e u m escravo , Juridicamente igual ao filho
mais velho da família, o escravo judeu tinha direito ao
m e s m o t r a t a m e n t o q u e seu senhor: boa a l i m e n t a ç ã o , b o a
roupa, u m lugar à mesa e local p a r a d o r m i r . Diferentemente do escravo pagão, podia apossar-se de bens achados
ou doados
e oferecer u m resgate p a r a d i m i n u i r
seu t e m p o d e serviço. T a m b é m diversamente d o escravo
pagão, seu senhor não podia condená-lo à interdição ;
se fosse casado, o a m o era obrigado a m a n t e r a m u l h e r e
os filhos . E m suma, a situação jurídica d o escravo judeu era r e g u l a m e n t a d a segundo a prescrição do Antigo
T e s t a m e n t o : ele deve estar e m tua casa " c o m o u m mercen á r i o " (Lv 2 5 , 4 0 ) . E r a " u m o p e r á r i o q u e alugava, p o r
seis anos, a u m senhor d e t e r m i n a d o sua c a p a c i d a d e d e trab a l h o , contra u m salário pago a n t e c i p a d a m e n t e sob forma
d e p r e ç o d e custo, por u m p e r í o d o d e igual d u r a ç ã o " .
1Z5
m
137
m
m
130
131
Sob u m único aspecto via-se p r i v a d o de seu direito;
isso concernia, exclusivamente, ao escravo h o m e m . Apoiavam-se n a exegese r a b í n i c a d e E x 2 1 , 4 o n d e a Lei prescreve: " M a s , se o senhor lhe [o escravo j u d e u ] tiver d a d o
m u l h e r e ela tiver filhos e filhas, a m u l h e r e sua prole
serão de seu s e n h o r " . C o m o u m a h e b r é i a a d u l t a n ã o po125. Mek. Ex 2 1 , 2 ( 2 8 4 2 s s ) , p o r e x e m p l o , l a v a r os pés do a m o ,
calçar-lhe as s a n d á l i a s etc. V e r a i n d a Sifra L v 25,39 ( 5 5 4 0 ) ;
'Abadim
II 1. — T a m p o u c o se d e v i a p e d i r - l h e serviços q u e o m o s t r a s s e m , publicamente, como escravo.
126. Mek.
Ex 2 1 , 5 <28<» 2 2 ) ; Sifra Lv 25,39 ( 5 5 4 5 ) ; t r a t a d o
'Abadim
II 2 e passim. — Cf. M t 10,24-25!
127. B. M. I 5.
128. E m c o m p e n s a ç ã o , a r e n d a de seu t r a b a l h o d e e s c r a v o pertencia t o t a l m e n t e a seu a m o (cf. M t 25,14-30; L c 19,13-27).
129. 'Ar. V I I I 5.
dia ser escrava de u m j u d e u , deu-se à esta passagem o seguinte sentido: o amo tinha o direito d e dar u m a escrava
pagã como m u l h e r ao escravo judeu , m e s m o contra sua
vontade ; q u a n d o da libertação do escravo, ela e os filhos ficavam de posse do senhor.
A d u r a realidade mostrava-se m u i t a s vezes mais r u d e
do que a legislação r a b í n i c a ; disso temos p r o v a através da
o r d e m de Herodes segundo a qual os ladrões deviam ser
vendidos no estrangeiro . Q u a n d o a o p o r t u n i d a d e se apresentava, c o m total falta de escrúpulo desprezava-se a Lei;
é o q u e mostra a atitude de M a c a b e u Antígono: e m 40
a . C , além de 1.000 talentos, ele p r o m e t e u aos p a r t o s , 5 0 0
m u l h e r e s , se o ajudassem a apoderar-se do trono . T i n h a
assim e m vista " a m a i o r i a das m u l h e r e s se e n c o n t r a v a m
perto deles [seus inimigos H i r c a n o , Fasael e H e r o d e s ] " ,
p o r t a n t o , h e b r é i a s . N o geral, c o n v é m dizer q u e , em tempos n o r m a i s , a legislação do Antigo T e s t a m e n t o , protegendo tão fortemente os escravos j u d e u s , fechou as portas
a u m excessivo absolutismo da p a r t e dos senhores. É b e m
expressivo o tão conhecido d i t a d o : " Q u e m c o m p r a u m a
escrava h e b r é i a , a d q u i r e u m a m o " . Q u a n t o à p a l a v r a
de Jesus: " O discípulo n ã o é maior d o q u e o mestre, n e m
o servo m a i o r do q u e seu senhor; b a s t a q u e o discípulo
se torne como o mestre e o servo c o m o seu s e n h o r " , é
preciso, igualmente, considerá-la c o m o o reflexo de u m
t r a t a m e n t o caridoso aos escravos j u d e u s .
m
133
l34
135
1 3 6
137
13B
b
c
c
130. Mek. Ex 21,3 ( 2 8 36) e
passim.
131. Billerbeck, I V , 709. — L. G u l k o w i t s c h , " D e r kleine Talmud¬
t r a k t a t ü b e r die S k l a v e n " , e m Angelos
1 ( 1 9 2 5 ) , 88, a f i r m a q u e o
e s c r a v o j u d e u não tinha o direito de ser t e s t e m u n h a . É u m e r r o ; o
t e x t o que ele m e n c i o n a , b . B. Q. 8 8 , fala do e s c r a v o p a g ã o .
c
b
132. D e a c o r d o c o m a o p i n i ã o s e g u r a m e n t e antiga, a p r e s e n t a d a p o r
R. Eliézer (cerca de 90 d.C.) essa regra valia t a n t o p a r a o e s c r a v o
v e n d i d o ex concessu
q u a n t o p a r a a q u e l e v e n d i d o ex furto
( b . Qid,
J 4 b ) . — A limitação p a r a u m e s c r a v o já c a s a d o ( c o m u m a h e b r é i a )
só a p a r e c e n o século I V ( b . Qid. 2 0 ) .
133. b . Qid. 1 4 , o p i n i ã o de R. Eliézer (cerca d e 90 d . C ) ; cf.
Tem. V I 2.
134. Ant. X V I 1, 1, § l s s .
135. Ant. X I V 13, 3, § 3 3 1 ; 13, 5, § 3 4 3 ; 13, 10, § 3 6 5 ; B. j . I
13, 1, § 2 4 8 ; 13, 4, § 2 5 7 ; 13, 1 1 , § 2 7 3 .
136. B. f. I 13, 4, § 257.
137. b . Qid. 2 0 , 2 2 e
passim.
138. M t 10,24-25; Jo 13,16;15,20.
a
b
a
a
CAPÍTULO V I I Í
ISRAELITAS
ILEGÍTIMOS
pusemos m i n u c i o s a m e n t e ( p p . 293) os casos em que o
casamento de u m sacerdote era considerado p r o i b i d o e
sua descendência ilegítima. Conforme Esd 2,61-63 e N m
7,63-65 tal filho ilegítimo de sacerdote, assim como seus
descendentes, não p o d i a m vir a exercer a função sacerdotal (ver supra, p . 300) ; era-lhe a i n d a proscrito casar-se
com filha de s a c e r d o t e . Se u m filho ilegítimo de sacerdote t i n h a u m meio-irmão de origem legítima , n ã o p o d i a ,
no caso desse último vir a m o r r e r sem deixar filho, contrair m a t r i m ô n i o levirático c o m a viúva de seu irmão ;
p o r q u e , visto a sua origem ilegal, n ã o estava em condições
de p e r p e t u a r , através de u m filho, o " n o m e " (Dt 25,6) d e
u m sacerdote legítimo. A filha ilegítima de u m sacer

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