Amazônia em Redes

Transcrição

Amazônia em Redes
Informação e Análise No. 2
Projeto
Conservação
das Florestas Tropicais
da Amazônia
www.gtz-amazonia.org
Amazônia em Redes
Estudo panamazônico sobre as redes da sociedade civil
na área da gestão sustentável dos recursos naturais
GTZ, DED, UICN
A Amazônia em Redes
Estudo panamazônico sobre as redes da sociedade civil
na área da gestão sustentável dos recursos naturais
Relatório final
Setembro de 2004
este documento está disponível em:
http://www.gtz-amazonia.org/portugues/redes.htm
Sumário
Sumário.......................................................................................................................... 2
Siglas usadas .................................................................................................................. 5
Agradecimentos............................................................................................................. 6
Resumo........................................................................................................................... 7
Introdução .......................................................................................................................... 9
Metodologia ................................................................................................................. 10
PARTE I : As redes na Amazônia ................................................................................... 15
1.
Levantamento dos dados .................................................................................... 15
2.
Resultados............................................................................................................ 18
2.1. Número de membros..................................................................................... 18
2.2. Natureza institucional dos membros............................................................. 19
2.3. Estrutura........................................................................................................ 20
2.4. Quando nasceram as redes? .......................................................................... 20
2.5. Por que as redes foram criadas?.................................................................... 21
2.6. Quais foram as suas conquistas até hoje? ..................................................... 22
2.7. Atuação das redes ......................................................................................... 22
2.8. Produtos das redes......................................................................................... 23
2.9. As dificuldades.............................................................................................. 24
2.10.
Como funcionam as redes? ....................................................................... 25
2.11.
Os parceiros das redes............................................................................... 26
2.12.
Abrangência .............................................................................................. 27
2.13.
Os financiamentos..................................................................................... 28
2.14.
Complementos .......................................................................................... 29
Parte II.............................................................................................................................. 31
As redes Amazônicas: articulação do espaço público ou novo produto do mercado do
desenvolvimento? ............................................................................................................. 31
1.
Gênese das redes, suas atividades e dificuldades ............................................. 31
1.1. Atividades ..................................................................................................... 33
1.2. Dificuldades .................................................................................................. 34
2.
As redes, estruturas construídas........................................................................ 35
2.1. As redes precisam de um mínimo de infra-estrutura e financiamento.......... 35
2.2. As redes precisam de um mínimo de formalização ...................................... 36
2
2.3.
As redes precisam de meios de comunicação adaptados .............................. 39
3.
As redes, embrião da sociedade panamazônica? ............................................. 42
4.
Quid da cultura de rede?.................................................................................... 44
Parte III ............................................................................................................................ 49
Caracterização das redes ................................................................................................. 49
1.
Classificar as redes?............................................................................................ 49
1.1. Atividades específicas................................................................................... 49
1.2. Um funcionamento específico ...................................................................... 50
1.3. Algumas pistas para qualificar as redes:....................................................... 52
Conclusões e recomendações........................................................................................... 55
Anexos ............................................................................... Erro! Indicador não definido.
Anexo 1: Descrição básica das redes que participaram do estudo............................ 57
Gráficos
Gráfico 1: Repartição das redes por número de membros........................................ 19
Gráfico 2: Natureza institucional dos membros........................................................ 19
Gráfico 3: Pessoal ocupado total............................................................................... 20
Gráfico 4: Data de nascimento das redes.................................................................. 21
Gráfico 5: Razões atrás à formação de redes ............................................................ 21
Gráfico 6: Temas de atuação das redes..................................................................... 23
Gráfico 7: Produtos fornecidos pelas redes .............................................................. 24
Gráfico 7: Principais dificuldades das redes............................................................. 25
Gráfico 8: Processos de tomada de decisão das redes .............................................. 25
Gráfico 9: Meios de comunicação usados ................................................................ 26
Gráfico 10: Parcerias................................................................................................. 26
Gráfico 11: Abrangência de atuação......................................................................... 27
Gráfico 12: Financiamentos...................................................................................... 28
Gráfico 13: Orçamento (em US$)............................................................................. 29
Exemplo 1 de organograma ...................................................................................... 37
Exemplo 2 de organograma ...................................................................................... 37
Exemplo 3 de organograma ...................................................................................... 38
Gráfico 14: Atividades específicas ........................................................................... 49
Gráfico 14: exemplo de representação gráfica da avaliação de uma rede X segundo a
metodologia PAP ...................................................................................................... 54
Tabelas
3
Tabela 1: Redes pesquisadas fase 2.............................................................................. 13
Tabela 2: Lista de redes contatadas na primeira fase................................................ 15
Tabela 3: Grau de preenchimento do questionário ................................................... 18
Tabela 4: Outros temas relevantes, citados nas respostas......................................... 23
Tabela 5: Atividades ................................................................................................. 33
Situação das redes em relação à panamazônia.......................................................... 43
4
Siglas usadas
CESE
CIFOR
CNUCED
CORDAID
DED
DFID
FAO
FAOR
FHB
FLACSO
FMAP
GT
GTA
GTZ
HIVOS
IIRSA
IRD
JA
JAICA
LIDEMA
MAMA
MAP
NOVIB
OEA
ONU
OTCA
PCTA
PICCSA
PNUD
PPG7
PPM
PROBONA
ProDIAS
RAAA
RAFE
REDESMA
REPAMAR
RFA
RLB
RLCU
RAMH
TNC
UC
UFF
UFPA
UFRJ
UICN
UNICEF
USAID
Coordenadoria ecumênica de serviço
Center for international forestry research
Conferência das Nações-Unidas sobre o meio ambiente e o desenvolvimento
Catholic organization for relief and development
Deutscher entwicklungsdienst
Department for international development
Food and agriculture organization
Fórum da Amazônia oriental
Fundação Heinrich Böll
Faculdad latinoamericana de ciências sociais
Fórum da mulher da Amazônia paraense
Grupo de trabalho
Grupo de trabalho amazônico
Gesellschaft für technische zusammenarbeit
Humanistisch instituut voor ontwikellingssamenwerking
Iniciativa para la integración de la infraestructura regional suramerica
Institut de recherches pour le développement
Justiça ambiental
Agencia de cooperação internacional do Japão
Liga de defensa del medio ambiente
Movimento articulado de mulheres da Amazônia
Madre de Dios - Acre - Pando
Organização holandesa para o desenvolvimento e a cooperação
Organização dos Estados das Américas
Organização das Nações-Unidas
Organização do tratado de cooperação amazônica
Programa de capacitação de técnicos e agricultores da Amazônia
Plataforma interinstitucional de creación de consensos socio ambientales
Programa das Nações–Unidas para o desenvolvimento
Programa piloto de proteção das florestas brasileiras financiado pelo G7
Pão para o mundo
Programa regional de bosques nativos andinos
Programa de diálogo e intercambio em agricultura sustentável
Red de acción en alternativas al uso de agroquímicos
Red agroforestal ecuatoriana
Red de desarrollo sostenible y medio ambiente
Red panamericana de manejo ambiental de residuos
Red florestal amazônica
Red latinoamericana de bosques
Red latinoamericana de cooperación universitária
Rede acreana de mulheres e homens
The nature conservancy
Unidade de conservação
Universidade federal da Fluminense
Universidade federal do Pará
Universidade federal do Rio de Janeiro
União mundial para a natureza
Fundo das Nações-Unidas para a infância
US agency for international development
5
Agradecimentos
O autor gostaria de agradecer às numerosas pessoas que tornaram possível este
estudo, através de discussões, entrevistas e comentários escritos.
Agradeço em particular as seguintes pessoas e organizações: Jan Rogge, DED;
Guillaume Fontaine, FLACSO; Frank Krämer e Gunter Simon, GTZ; Tamara Montalvo
Rueda, UICN, para sua participação direta na organização e no trabalho realizado.
Também quero agradecer todos os entrevistados e todas pessoas no Brasil Equador,
Perú e Bolívia, por sua ajuda valiosa para levar à cabo a investigação de campo que
deu origem a este documento: Rita Kietnitz e Luis Román, GTZ; Rainer Schwark e
Werner Göbels, DED; Miguel Pellerano, UICN; Giovanna Orcotoma, SNA; Dania
Quirola, Fundación Natura; Manuel Ruiz, SPDA; Erik Fernández e Sergio Quispe, CIEC;
Patricio Cabrera, FLAA; Jorge Albán e Lucy Ruiz, Ambiente y Sociedad; Jorge Ugaz
Gómez, Proturaleza; Jenny Gruenberger, LIDEMA, José Blanes, CEBEM, Eduardo
Forno, CI; Patricia Molina Carpio, FOBOMADE; Bennett Hennessey, Armonia; Eliane
Moreira, CESUPA; Carla Belas, Museu Geoldi; Michael Schmidlehner e Eugenio
Pantoja, Amazonlink; Betty Pérez e Robert Yaguache, RAFE; Oswaldo Sarango,
Ministério do meio ambiente de Equador; Luis Palma, Maquipucuna; Alicia Garcés,
CEDIME; Luis Gomero Osorio, RAAA; Geni Fundes Buleje, Café Peru; Juan Dumas,
FLAA; Marcos Rochas, IPAM; Denyse Gomez, GTNA; Luiz, CAEX; Pedro Bruzzi e
Nivea Marcondes, CTA; Hamilton Condak, RECA; Esperanza Martínez, Oilwatch; José
Dance Caballero, BSD; Conçita Maia, MAMA; Francisca Leite Ferreira, RAHM; Irene
Viana Pinheiro, CEFTBAM; Graça Costa, Letícia Rangel Tura, Julianna Malerba e JeanPierre Leroy, FASE; Eduardo Hinojosa Velasco, CIMAR; Mario Suárez Riglos, Museo
N.K Mercado; Richard Vaca e Alain Muñoz, FAN Bolívia; Fábio Abdala e Arnaldo, GTA;
Brother e Brahna, PESACRE; Rivalino Mattos de Souza, Comunidade de pescadores
Z20; Zé Costa, STR Monte Alegre; Edilberto, CEAPAC; Tibério Allaggio, PSA; Carlos
Soria, Foro ecológico; Hilderbrando Ruffner, COICAP; Inês Martins, STR Santarém;
Valdivino Cunha da Silva, FETAGRI Belém; Rosely Moura, CEDECA; Nazaré Imbiriba e
Sonia Magalhães, POEMAR; Armelinda Zonta, IPHAE.
6
Resumo
Há mais de uma década, as ONGs amazônicas organizam-se em rede para ganhar
peso na definição das políticas públicas. Pouco a pouco, algumas redes se tornaram
atores importantes da sociedade civil até participarem das transformações da
governança regional. No entanto, as redes são mal conhecidas e muitos preconceitos
circulam a respeito delas. Alguns consideram que elas representam uma forma de
ativismo político adaptada a nossa era de globalização, outros vêm nelas um ideal de
organização solidária entre os desfavorecidos. Ainda há que criticam a pouca
visibilidade de suas atuações. Sem dúvida, as redes merecem ser mais bem
conhecidas. As poucas informações e qualificações disponíveis sobre as suas
características e a falta de conhecimento de suas atividades dificultam a definição de
políticas de desenvolvimento regional baseadas sobre a participação da sociedade civil.
Além disso, as redes estão sob perfusão das agências internacionais de
desenvolvimento, daí a questão: as redes são novos produtos do mercado do
desenvolvimento ou existe realmente uma “cultura de rede” atrás destas estruturas?
Este documento apresenta os resultados de um estudo encomendado pelas agências
de cooperação Gesellschaft für technische zusammenarbeit (GTZ) e Deutscher
entwicklungsdienst (DED), aliadas a União mundial para a natureza (UICN). Durante
mais de 6 meses, foram estudadas as redes ligadas à gestão de recursos naturais na
Amazônia, com os seguintes objetivos: produzir um diagnóstico do universo das redes;
fornecer uma análise e reflexão sobre a capacidade das entidades pesquisadas em
influenciar políticas públicas e gerenciar o fluxo e troca de informações para seus
membros/afiliados; oferecer uma metodologia para avaliar e caracterizar redes e
articulações; identificar possíveis atores/parceiros para a cooperação internacional e
definir estratégias de fomento para estes atores; entender e qualificar a gestão de
conhecimentos e o fluxo de informações entre redes, articulações e principais ONGs no
intuito de fomentar a troca de experiências e conhecimentos; identificar as principais
temáticas para fortalecer a articulação panamazônica a respeito de políticas setoriais
voltadas para a gestão dos recursos naturais.
Os resultados deste estudo constituem sem dúvida um avanço no entendimento destes
atores sociais de primeiro plano que são as redes. A partir de dados quantitativos e
qualitativos, as análises da história, do modo de formação, da atuação e do
funcionamento interno das redes revelam características comuns que permitem
esclarecer a natureza das redes. Ao longo do texto, são apresentados os elementos
que têm um papel fundamental para a sustentabilidade das redes. Entre eles, a
descentralização das tomadas de decisão, a formalização adequada da estrutura e o
uso de ferramentas de comunicação adaptadas aparecem como determinantes.
Além disso, este estudo revela as duas caras das redes: uma orgânica (ligada ao lado
“processo”) e uma construída (ligada ao lado “projeto”), cada uma com propriedades
específicas e complementares. Três tipos de atividades são característicos da atuação
em rede: o manejo da informação, a prestação de serviços e uma forma de ativismo
político. O estudo também traz elementos de definição para a “cultura de rede”,
relacionada com a confiança, o compromisso, a adesão coletiva e até mesmo o
“companheirismo”.
7
Em uma primeira parte são apresentados os resultados da fase sistemática da
pesquisa: a partir das respostas a questionários, é proposta uma fotografia do universo
estudado. Em uma segunda parte são apresentados os ensinos de uma pesquisa
qualitativa, baseada em entrevistas semidirigidas com 11 redes. As entrevistas
realizadas servem de base ao refinamento da análise sobre as redes e permitem ir além
dos preconceitos mais comuns. Finalmente, a terceira parte trata da caracterização das
redes e propõe algumas pistas para a elaboração de uma metodologia de avaliação.
8
INTRODUÇÃO
Desde a Eco 92, o reconhecimento dos atores da sociedade civil como parceiros na
implementação das políticas setoriais de desenvolvimento teve conseqüências
importantes sobre a própria natureza das organizações do chamado “terceiro setor”.
Passando do “confronto a colaboração” com as instituições nacionais e internacionais
responsáveis, as organizações não governamentais se tornaram pouco a pouco
estruturas cada vez mais profissionais, respondendo às exigências técnicas e
administrativas dos seus financiadores. Está dinâmica participou sem dúvida de uma
maior eficiência dos projetos realizados por elas. Também, ela teve o efeito de
questionar o papel histórico das ONGs.
Nascidas no contexto da ditadura militar, as ONGs mais antigas sempre reivindicaram
um papel altamente político na construção da democracia. Com o fim das ditaduras, e
com as transformações da cooperação internacional, esta última passando cada vez
mais pelas organizações multilaterais, uma nova geração de ONG nasceu e as mais
antigas tiveram que se adaptar às novas regras do mercado do desenvolvimento. Na
área ambiental e da gestão dos recursos naturais particularmente, numerosas ONGs se
tornaram os agentes privilegiados dos programas nacionais e internacionais de
preservação da biodiversidade e de promoção de formas sustentáveis de exploração
das biosferas do planeta. Se as organizações do Terceiro Setor aceitaram uma tal
participação e aproveitaram deste processo para se fortalecer e se profissionalizar, elas
também sentiram a necessidade de se organizar em redes para ampliar sua força de
expressão política.
Paralelamente, a aceleração dos processos da globalização, com o considerável
aumento da circulação de idéias e informações, permitiu a organização de novas formas
de atuação política na região. A organização em rede constitui uma delas. Hoje, ONGs,
grupos de base, sindicatos e os que falam, em geral, em nome da “sociedade civil
organizada” reconhecem a importância de participar em redes, fóruns ou articulações.
Seria, para estas organizações, uma maneira de resgatar o seu papel político, dando
voz com mais eficiência nos espaços de poder, sem comprometer o seu papel, mais
técnico, de “prestador de serviço” no mercado do desenvolvimento.
Este fenômeno, mundial, já foi reconhecido como relevante no mundo acadêmico e
várias teorias já foram elaboradas a respeito dos fundamentos socioeconômicos das
redes e de seu funcionamento. No entanto, no que diz respeito às redes ligadas a
gestão de recursos naturais na Amazônia, constata-se a sua grande opacidade, as
poucas informações e qualificações disponíveis sobre as suas características e a falta
de conhecimento de suas atividades. Se, no papel, é possível diferenciar os
fóruns/redes declarados como tal de grupos de interesses (tipo Coiab1), é muito mais
complicado saber quais são as organizações coletivas que, de fato, trabalham em rede
e o que isto significa realmente.
1
Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira
9
Estas dificuldades acarretam no mínimo duas conseqüências negativas:
• As políticas de desenvolvimento regional enfrentam dificuldades em identificar os
seus interlocutores, o que dificulta a participação da sociedade civil em projetos por
elas promovidos.
• A construção de uma identidade Amazônida, conseqüência do conjunto de iniciativas
voltadas para a promoção da cidadania em escala regional, se torna difícil,
questionando o objetivo de implementação de um modelo de desenvolvimento
socioambiental, alternativa ao modelo predatório até hoje característico na região.
Considerando a circulação da informação e do conhecimento como um elemento-chave
do processo de desenvolvimento da região Amazônica, parece essencial promover a
aproximação e o intercâmbio entre os diferentes atores sociais cujo objetivo comum é
uma práxis sustentável para a Amazônia. Com este objetivo, o Projeto Conservação das
Florestas Tropicais da Amazônia2 da GTZ, a DED Brasil e a União internacional para a
conservação da natureza (UICN) se juntaram para realizar um estudo sobre as redes e
fóruns na região amazônica.
O presente relatório apresenta os resultados e as conclusões de uma pesquisa
realizada entre janeiro e junho de 2004, cujos objetivos gerais são:
• Produzir um diagnóstico do universo das redes em vários paises da Amazônia que
atuam na promoção do desenvolvimento sustentável, principalmente, na gestão de
recursos naturais. Este diagnóstico é um serviço de informação que dá transparência
para empoderar ONGs e outras organizações.
• Fornecer uma análise e reflexão sobre a) a capacidade das entidades pesquisadas
de influenciar políticas públicas e b) gerenciar o fluxo e troca de informações para
seus membros/afiliados.
• Oferecer uma metodologia como avaliar e caracterizar redes e articulações (tipologia
etc.) no intuito de a) qualificar a discussão sobre o trabalho em rede na região
panamazônica e a b) poder melhor identificar possíveis parcerias no futuro.
• Identificar possíveis atores/parceiros para a Cooperação Internacional e definir
estratégias de fomento para estes atores.
• Entender e qualificar a gestão de conhecimentos e o fluxo de informações entre
redes, articulações e principais ONGs no intuito de fomentar a troca de experiências e
conhecimentos.
• Identificar as principais temáticas para fortalecer a articulação panamazônica a
respeito de políticas setoriais, voltadas para a gestão dos recursos naturais.
Metodologia
Antes de começar a pesquisa, a equipe do projeto refletiu sobre a melhor maneira de
abordar o objeto de estudo. Além do sentido comum, a noção de rede não é fácil de ser
abordada. A observação rápida das redes de nosso conhecimento mostrou que existem
grandes diferenças entre elas. Foi então necessário chegar a um acordo a respeito da
natureza das redes que deveriam entrar no estudo. Frente à diversidade do universo
2
ver http://www.gtz-amazonia.org/portugues/index.htm
10
encontrado, decidimos partir das necessidades dos diferentes parceiros envolvidos no
estudo. Assim fizemos um recorte temático e um recorte relativo à forma organizacional.
Foi importante considerar as redes, antes de tudo, enquanto atores sociais, participando
das transformações da sociedade, sem entrar nos debates sem fim sobre a definição do
significado original da noção de rede. Seguindo os interesses dos parceiros envolvidos
no projeto, o recorte temático foi o de gestão dos recursos naturais. Por outra parte,
dado o objetivo compartilhado por todos de desenhar futuramente projetos em parceria
com redes, decidimos limitar a pesquisa a redes tendo um mínimo de formalização, isto
é formalmente organizadas, com um interlocutor facilmente identificável e uma certa
visibilidade institucional. A importância da interação das redes com a definição das
políticas públicas também saiu da fase preparatória da pesquisa. Isso significa que o
estudo se orientou particularmente sobre as redes que têm objetivos declarados de
participar da definição das políticas setoriais ligadas a gestão dos recursos naturais na
região.
Nós não partimos de uma definição restrita de rede. Entraram inicialmente no estudo: as
estruturas organizadas com um certo grau de formalização, que respondem e se
autoconsideram como rede, fórum ou articulação atuando na área da gestão de
recursos naturais, e que têm o objetivo de influir sobre a definição das políticas públicas
ou sobre as práticas coletivas na região amazônica. Tratou-se então principalmente de
redes lideradas por ONGs e/ou instituições de pesquisa. É importante ressaltar aqui as
redes constituídas por grupos de interesse de qualquer tipo (étnicos, corporativos,
raciais, etc.) caíram fora do estudo. De fato, foi ao decorrer da pesquisa, estudando e
comparando as diferentes redes pesquisadas, que apareceu a questão da definição do
termo “rede”. Os diferentes casos encontrados mostraram que a noção de rede declinase de várias formas. Mostrar a diversidade das redes na Amazônia foi um dos objetivos
iniciais desta pesquisa, o que levantou um questionamento fundamental sobre a
significação da “cultura de rede”.
Para ter uma primeira idéia do universo estudado, concordamos para realizar a
pesquisa em dois momentos:
• Fazer um levantamento das principais redes, fóruns e articulações atuantes na região
amazônica e recolher informações sobre cada um; e
• Aprofundar o conhecimento das redes, através de entrevistas semidirigidas com
responsáveis e membros de entre 10 e 15 redes identificadas na primeira fase da
pesquisa.
A pesquisa sistemática (janeiro – março 2004) teve como objetivo geral dar um retrato
abrangente do universo das redes na Amazônia. Em um primeiro momento, tratou-se de
identificar as principais redes atuando na região Amazônica ou tratando de assuntos a
ela relacionados, usando os seguintes recursos: internet, literatura sobre o tema, listas
existentes nas diversas instituições trabalhando sobre a região Amazônica. Foram
procuradas redes baseadas em todos os países da Amazônia (Bolívia, Brasil, Colômbia,
Equador, Peru, Venezuela e Guianas) e também redes baseadas fora da região
(principalmente na América do Norte e na Europa). Definimos uma lista e uma base de
dados de contatos relativos a cada rede. Isto foi feito partindo do principio que as redes
que não foram encontradas através deste processo não têm uma visibilidade
suficientemente significativa para ser pesquisadas. Nós escolhemos privilegiar uma
abordagem mais abrangente possível, sobretudo a respeito das temáticas de atuação.
11
A idéia foi de tomar conhecimento do maior número possível de redes, arriscando o fato
de listar redes que, depois, forem excluídas do estudo, por uma razão ou outra.
Em um segundo momento, elaboramos um formulário (ver anexos) para recolher as
informações desejadas: foram pedidos dados sobre a história da rede, os membros
(inclusive informações de contato), orçamentos, atividades, funcionamento interno,
canais de financiamento, parceiros, estratégias, etc. Depois, tratou-se de coletar os
formulários preenchidos e analisar os dados recolhidos.
O conjunto de informações da primeira fase permitiu então elaborar a fase qualitativa do
estudo. Uma primeira dificuldade surgiu neste momento sobre como escolher as redes
a serem pesquisadas em profundidade. A grande diversidade das redes encontradas
fez com que se tornasse praticamente impossível estabelecer um método sistemático
para definir as prioridades. Vários critérios, muitos deles bem pragmáticos, entraram
então nesta escolha:
As redes que não preencheram o questionário foram automaticamente excluídas da
segunda fase da pesquisa. Apesar do interesse que nós portamos a elas, a falta de
informação disponível e, sobretudo, a ausência de resposta por sua parte, nos
obrigaram a deixar de lado estas redes. Infelizmente, muitas das redes que pareceram
importantes, de alcance internacional e com agendas bem definidas foram parte destas
“redes mudas”.
Os recursos financeiros e humanos disponíveis para a pesquisa limitaram a
abrangência geográfica da pesquisa a quatro países e a uma pesquisa de campo
limitada no tempo.
Também, por razões de logística, foi determinante a concentração de redes nos
diferentes países. Algumas cidades pareceram mais “rentáveis”, uma vez que se
encontravam várias redes. Assim, foi necessário deixar de lado as redes “isoladas”.
Enfim, a preocupação de tomar conta da diversidade encontrada na primeira fase do
estudo, aprofundando o conhecimento de redes mais “representativas” possíveis. Isto
significou a) a necessidade de escolher redes situadas geograficamente em lugares
estratégicos (por exemplo, não só redes situadas na Amazônia brasileira oriental mas
também na ocidental) e b) redes que tratam de assuntos diferentes. O pré-requisito
temático foi levemente alterado quando se constatou que algumas redes não estavam
diretamente envolvidas nesta área mas cujas atuações tinham conseqüências indiretas
sobre a gestão sustentável de recursos naturais (como o MAMA, por exemplo, cujas
ações de fortalecimento das mulheres procuram, entre outro, influenciar políticas
públicas de acesso a terra e ao meio ambiente).
Seguindo estes critérios, tentamos escolher um grupo representativo do conjunto de
redes que resultou da primeira fase da pesquisa: 11 redes com abordagens, objetivos e
grupos-alvos diversos, foram escolhidas para serem pesquisadas mais a fundo. Com
todas elas, foram realizadas, na medida do possível, uma entrevista aprofundada com a
coordenação da rede para obter informações qualitativas complementarias e três
entrevistas com três responsáveis de entidades afiliadas à rede, sendo estas as mais
diversificadas.
12
Tabela 1: Redes pesquisadas fase 2
Bolsa Amazônia, Belém.
Membros entrevistados: Pesacre (Rio Branco), Ambiente y sociedad
(Quito), Iphae (Riberalta).
Fórum da Amazônia Oriental (FAOR), Belém.
Membros entrevistados: STR Santarém, Fetagri (Belém), Cedeca
(Belém).
Brasil
Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), Brasília.
Membros entrevistados: Pesacre (Acre), comunidade de pescadores
Z20, STR Monte Alegre, Ceapac (Santarém), Saúde e alegria
(Santarém).
Movimento articulado de mulheres da Amazônia (MAMA), Rio
Branco.
Membros entrevistados: Ramh (Rio Branco), Ceftbam (Santarém),
Fmap (Belém).
Programa de capacitação de técnicos e agricultores da Amazônia
(PCTA), Rio Branco.
Membros entrevistados: Gtna (Belém), Caex (Xapuri), CTA (Rio
Branco), Reca (Nova California).
Red agroforestal ecuatoriana (RAFE), Quito.
Membros entrevistados: ministério do meio ambiente de Equador
(Quito), Maquipucuna (Quito), Cedime (Quito).
Equador
Perú
Bolívia
Red latinoamericana de Bosque (RLB), Quito.
Membros entrevistados: Spda (Lima), Ciec (La Paz).
Red forestal Amazônica (RFA), Quito.
Membros entrevistados: Ambiente y sociedad (Quito), Pronaturaleza
(Lima), Lidema (La Paz)
Foro Ecológico (FE), Lima.
Membro entrevistado: Coicap (Lima)
Liga de defensa del medio ambiente (LIDEMA), La Paz.
Membros entrevistados: Cimar (Santa Cruz), Mnkm (Santa Cruz), Fan
(Santa Cruz)
Red de desarrollo sostenible y medio ambiente (REDESMA), La
Paz.
Membros entrevistados: CI (la Paz), Fobomade (La Paz), Armonia
(Santa Cruz)
Foi decidido aproveitar a pesquisa de campo para entrevistar a coordenação de seis
outras redes afim de sanar algumas dúvidas: Rede Norte, Rede Justiça ambiental,
Oilwatch, Plataforma interinstitucional de creación de consensos socio ambientales
(PICCSA), Repamar, União internacional de conservação da natureza (UICN).
13
Estabeleceu-se claro que novas informações recolhidas durante a pesquisa de campo
poderiam justificar a realização de outras entrevistas.
A equipe de estudos elaborou conjuntamente o roteiro de entrevista (ver anexos) de
maneira a assegurar que todas as informações desejadas seriam abordadas nas
entrevistas. A pesquisa de campo foi realizada no Brasil, por B. Buclet (consultor) e J.
Rogge (DED), em abril de 2004, e nos demais países, por B. Buclet e G. Fontaine
(consultor), em maio de 2004.
O estudo apresenta em uma primeira parte os resultados da pesquisa sistemática: a
partir das respostas aos questionários, tiramos algumas conclusões a respeito do
universo estudado. Em uma segunda parte são apresentados os ensinos da pesquisa
qualitativa, com o objetivo de ir além dos preconceitos mais comum sobre as redes. As
entrevistas realizadas servem de base ao refinamento da análise sobre as redes. Enfim,
a terceira parte trata da qualificação das redes e propõe algumas pistas para a
elaboração de uma metodologia de avaliação.
14
PARTE I : AS REDES NA AMAZÔNIA
1. Levantamento dos dados
Como ponto inicial da pesquisa, foi realizado um levantamento das redes, fóruns ou
articulações que tratam das questões ligadas à gestão sustentável dos recursos
naturais na Amazônia.
As seguintes 66 organizações foram contatadas. Porém, verificou-se durante a
pesquisa que várias delas não são exatamente redes no sentido deste estudo. Como
mencionado na introdução, a idéia foi de apanhar um máximo de organizações.
Tabela 2: Lista de redes contatadas na primeira fase
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
Redes internacionais
Amazon Alliance for Indigenous and Traditional Peoples of the
Amazon Basin
Amazon Watch
Amazonia 21
Bosques Amazônicos (BOAM)
Conflicts over Natural Resources (CNR) Solidarity Network
European Tropical Forest Research Network (ETFRN)
FONTAGRO Regional Fund for Agricultural Technology
Guiana Shield Initiative (GSI)
Indigenous Environmental Network (IEN)
International Network on Forests and Communities(INFC)
La Red Latino Americana y Caribeña de Ecología Social
(RedLACES)
Movimiento Mundial por los bosques tropicales (WRM)
OILWATCH
Red Latinoamericana de Defensa por una Vida Digna y un
Ambiente Sano (FLORECE)
The International Union of Forest Research Organizations
(IUFRO)
The World Conservation Union (IUCN)
Redes Regionais
Bolsa Amazônia
Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales (FLACSO)
Movimiento Agroecológico Latinoamericano (MAELA)
Red de fondos ambientales de Latinoamérica y el Caribe
(RedLAC)
Red de Información Florestal para America Latine y el Caribe
(RIFALC-IUFRO)
Red Florestal Amazônica (RFA)
Red Latinoamericana de Bosques (RLB)
Red Panamericana de Manejo Ambiental de Residuos
(REPAMAR)
Universidade da Amazônia (UNAMAZ)
15
Localização
Washington, USA
San Francisco, USA
Belém, PA, Brasil
Iquito, Perú
Rome, Itália
Wageningen, Holanda
Washington, USA
Amsterdam, Holanda
Bemidji, Minnesota,USA
Victoria, BC, Canada
Montevideo, Uruguay
Montevideo, Uruguay
Quito, Equador
Santiago, Chile.
Vienna, Austria
Quito, Ecuador
Belém - Pará – Brasil
San José, Costa Rica
Telca, Chile.
México D.F. MEXICO
Santiago, Chile
Quito, Equador
Quito, Equador
Lima, Perú
Belém, PA, Brasil
Redes Nacionais
26 Foro Ecológico y Social (FES)
Fórum Boliviano sobre Medio Ambiente e Desarollo
27
(FOBOMADE)
28 Liga de Defensa del Medio Ambiente (LIDEMA)
29 Red de desarrollo sostenible y medio ambiente (REDESMA)
30 ABONG Regional
31 Coalizão Rios Vivos (CRV)
Fórum Matogrossense de Meioambiente e desenvolvimento
(FORMAD)
Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio
33
Ambiente e o Desenvolvimento (FBOMS)
34 Fórum Carajás
35 Fórum da Amazônia Oriental (FAOR)
32
36 Fórum da Sociedade Civil nas Américas (FSCA)
37 Grupo de Trabalho Amazônico (GTA)
38 Grupo de Trabalho Manejo Florestal Comunitário (GTMFC)
Movimento Pelo Desenvolvimento da Transamazônica e Xingu
39
(MDTX)
40 O Movimento Articulado de Mulheres da Amazônia (MAMA)
Programa de Capacitação de Técnicos e Agricultores da
41
Amazônia (PCTA)
42 Rede Brasileira de Educação Ambiental (REBEA)
43 Rede Brasileira de Justiça Ambiental (JA)
44 Rede das Águas
45 Rede Nacional Pró-Unidades de Conservação (PRO-UC)
Rede Norte de Propriedade Intelectual, Biodiversidade e
46
Conhecimentos Tradicionais
47 Consolidación de la Región Amazónica (CRA)
Corporación para el desarrollo sostenible del Norte y Oriente
48
Amazónico (CDA)
Corporación para el desarrollo sostenible del sur de la Amazonia
49
Colombiana (CORPOAMAZONIA)
50 Red de desarrollo sostenible (RDS)
51 Red Ecorregional para América Latina Tropical (REDECO)
52 Red Juvenil Ambiental Nacional de Colombia (JUAN)
Comité Ecuatoriano para la Defensa de la Naturaleza y el Medio
53
Ambiente (CEDENMA)
54 Grupo Nacional de Trabajo sobre la biodiversidad (GNTB)
Plataforma Interinstitucional de Creación de Consensos Socio
55
Ambientales (PICCSA)
56 Red Agroforestal Ecuatoriana (RAFE)
57 Enredadera amazónica
58 Focal Bosques
59 Foro Ecológico (FE)
60 Red de Acción en Alternativas al uso de Agroquímicos (RAAA)
61 Red Género y Ambiente en Latinoamérica y el Caribe (GALAC)
16
Bolívia
La Paz, Bolívia
La Paz, Bolívia
La Paz - Bolivia
Belém – PA, Brasil
Campo Grande MS
Brasil
Cuiabá – MT, Brasil
São Paulo, Brasil
São Luís, Brasil
Belém – PA, Brasil
Rio de janeiro, RJ,
Brasil
Brasília-DF Brasil
Brasília, DF, Brasil
Altamira, Brasil
Rio Branco, AC, Brasil
Rio Branco, AC, Brasil
São Paulo, Brasil
Rio de Janeiro, RJ Brasil
São Paulo, Brasil
Curitiba/PR - Brasil
Belém, PA, Brasil
Colombia
Bogotá, Colombia
Putumayo, Colombia
Bogotá, Colombia
Cali, Colombia
Bogotá, Colombia
Quito, Equador
Quito, Equador
Quito, Equador
Quito, Equador
Lima, Perú
Lima, Perú
Lima, Perú
Lima, Perú
Lima, Perú
62
63
64
65
66
Red Latinoamericana de Investigaciones en Agricultura Urbana –
AGUILA
Red Latinoamericana de Organizaciones de Cuencas
Sociedad Nacional del Ambiente (SNA)
Red Ara
Red Venezolana de Organizaciones para el Desarrollo Social
(REDSOC)
Lima, Perú
Perú
Lima, Perú
Caracas, Venezuela
Caracas, Venezuela
Com o objetivo de coletar dados básicos sobre cada rede, todas elas foram solicitadas
para preencher um formulário. Foram pedidas as seguintes informações:
Informações gerais: endereço, pessoa de contato, número de membros, natureza
institucional dos membros, posse de uma sede própria, numero de pessoas
trabalhando;
Informações sobre o histórico da rede: razões principais da criação, membros
fundadores, data efetiva de nascimento e principais conquistas até hoje;
Informações sobre a atuação: principais temas de atuação, produtos e serviços
oferecidos para os membros, principais dificuldades encontradas;
Informações sobre o funcionamento: processo de tomada de decisão, meios de
comunicação usados, parcerias com órgãos públicos e/ou com organizações
privadas, abrangência geográfica, principais fontes de financiamento, orçamento
anual, nomes dos dois principais financiadores.
Algumas perguntas complementares para concluir: temas que merecem e que
receberão mais atenção no futuro; uma pergunta sobre as outras redes que tem um
papel importante na Amazônia; uma outra sobre as parcerias com outros atores em
outros países da Amazônia; uma questão aberta sobre a importância da cooperação
panamazônica; mais um espaço para sugestões e comentários.
Alguns comentários sobre o grau de preenchimento do questionário:
Foram conseguidos 42 questionários preenchidos (63%). Considerando que, no dia do
primeiro deadline, somente sete formulários haviam sido preenchidos, este número é
satisfatório. O grau de preenchimento foi variável: algumas responderam depois da
primeira solicitação, outras precisaram de mais tempo e alguns questionários estavam
incompletos.
Apesar deste número ser satisfatório, foi frustrante não conseguir mais questionários
preenchidos. Podemos avançar algumas hipóteses a respeito das redes que não
chegaram a preencher o questionário: as redes não existem mais; não estão
suficientemente organizadas para que uma pessoa se responsabilize para preencher o
formulário; ou não têm interesse em participar da iniciativa.
17
Tabela 3: Grau de preenchimento do questionário
Redes
Numero
Respostas
Internacionais
Regionais3
Bolívia4
Brasil
Colômbia
Equador
Perú
Venezuela
TOTAL
17
9
4
17
6
4
8
2
67
5
7
3
16
2
2
6
1
42
Sem
resposta
12
2
1
1
4
2
2
1
25
% de respostas
29,4 %
77,7 %
75 %
94,1 %
33,3 %
50 %
75 %
50 %
62,6 %
Algumas redes expressaram resistências em preencher o formulário. Quiseram saber
mais detalhes sobre o objetivo da pesquisa e sobre o que seria feito com os dados
fornecidos.
Foram poucas as redes que enviaram a lista dos membros com o formulário
preenchido. Depois de pedir, algumas mandaram a lista, mas muitas não o fizeram
(justificando falta de disponibilidade, ou, simplesmente, interdição do conselho diretor).
Em termos práticos, é importante ressaltar, para a próxima iniciativa deste tipo, que teria
sido válido explicar de maneira bem clara como preencher o formulário do MS Word.
Para alguns, não foi fácil seguir as “regras” do software.
As respostas obtidas foram distintas segundo os países. Destacaram-se o Brasil, a
Bolívia e o Perú na forte proporção de redes que preencheram o questionário. Isto pode
ser devido à existência de uma sociedade civil especialmente dinâmica. Também, os
resultados mostraram poucas respostas por parte das redes internacionais que, no
entanto, pareceram ser atores importantes na cooperação amazônica.
2. Resultados
Aqui são apresentados os resultados sintéticos da primeira fase do estudo, tal como
aparecem nos questionários preenchidos.
2.1. Número de membros
Algumas redes têm poucos membros, outras têm muitos. Nossa pesquisa mostrou que
o número de membros varia entre 5 e 3500. Esta diversidade explica-se pelo fato de
que algumas redes são constituídas por membros individuais enquanto outras por
organizações ou instituições. Conseqüentemente, todas as redes que declaram mais de
600 membros contam indivíduos nos seus membros. O número médio é de 62
membros.
3
4
Redes que agregam membros em mais de um país da Amazônia.
Redes que agregam membros só no seu país – igual para os outros.
18
Gráfico 1: Repartição das redes por número de membros
11%
32%
13%
de 0 a 49
50% das redes
têm menos de
100 membros
de 50 a 99
de 100 a 299
de 300 a 600
26%
18%
mais de 600
2.2. Natureza institucional dos membros
As ONGs aparecem com maior freqüência enquanto forma institucional nas redes
pesquisadas. Seguem: os indivíduos, as associações representativas, as organizações
governamentais, os sindicatos, as empresas e as organizações profissionais. Além
disso, apareceu dois tipos de instituições, que não contavam na lista proposta no
questionário: as universidades (e/ou escolas) e os movimentos sociais organizados.
A grande maioria das redes tem membros de natureza institucional variada. Quatro
casos de redes homogêneas foram encontrados: três redes formadas apenas por
universidades e um caso apenas por ONGs.
Gráfico 2: Natureza institucional dos membros
120
100
não
60
sim
40
20
pr
o
As
s
Si
nd
ic
at
os
Em
pr
es
as
go
ve
rn
pr
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O
rg
re
As
s
In
di
v.
N
G
s
0
O
%
80
19
88% das redes
pesquisadas
contam ONGs
nos seus
membros
2.3. Estrutura
62% das redes não têm sede própria. Elas ocupam geralmente um espaço dentro de
uma das organizações que criaram a rede. De maneira geral, as redes funcionam com
pouca gente:
5 funcionam somente com pessoas ocasionalmente dedicadas;
Nestas 5, 2 funcionam com uma pessoa só, não integralmente dedicada à rede.
É importante ressaltar a importância da participação ocasional. Isto demonstra que
várias redes funcionam graças ao trabalho, freqüentemente voluntário, de pessoas que
têm, por outro lado, um emprego não diretamente relacionado à rede.
Gráfico 3: Pessoal ocupado total
(com dedicação pelo menos ocasional)
mais de 20
13%
de 1 a 3
21%
de 10 a 20
18%
de 7 a 9
16%
de 4 a 6
32%
Mais de 50%
das redes
funcionam com
menos de 6
pessoas
2.4. Quando nasceram as redes?
Estes resultados mostram a juventude das redes. Observamos um pique no início dos
anos 1990, provavelmente devido a uma dinâmica ligada a CNUCED, em 1992.
Também, aparece um forte crescimento do número de criação de redes no final da
década de 1990 e no início dos anos 2000. A segunda parte da pesquisa trará
elementos de informações sobre este ponto.
20
Gráfico 4: Data de nascimento das redes
Cerca de 40%
das redes têm
menos de 5
anos de
existência
6
5
4
3
2
1
an
o
19
8
19 5
86
19
87
19
88
19
89
19
90
19
91
19
92
19
93
19
94
19
95
19
96
19
97
19
98
19
99
20
00
20
01
20
02
20
03
0
2.5. Por que as redes foram criadas?
A primeira razão para explicar a decisão de criar uma rede é a vontade de intercambiar
informações e conhecimentos com outros. A procura por ganho de peso político
chega em segunda posição, seguida pelo desejo de oferecer serviços específicos a
certas categorias de atores sociais. É notável que as redes não se criam para conseguir
economias de escalas, o que pode explicar as suas dificuldades financeiras (ver ponto
2.9.): enquanto as redes se criam por razões não econômicas, os custos ligados ao
trabalho em rede aparecem rapidamente.
Gráfico 5: Razões atrás à formação de redes
120
100
19
%
80
50
64
60
sim
100
81
40
20
50
36
0
Peso político
Intercambio
0
Reduzir custos
não
Prestação
serviço
A racionalidade
econômica não
entra na
decisão de criar
as redes
As outras razões que foram evocadas nos questionários estão ligadas a eventos
específicos (continuação de encontros, luta contra mega-projetos) e apontam sobre a
vontade de criar uma estrutura adaptada para capacitar, assessorar, promover,
21
fortalecer, sensibilizar, informar, reunir, articular e discutir sobre diferentes temas
ligados ao meio ambiente na região amazônica.
2.6. Quais foram as suas conquistas até hoje?
Globalmente, as conquistas das redes estão relacionadas com seus objetivos em suas
áreas de atuação específica. Isso explica a grande variedade das respostas a esta
pergunta.
Notam-se quatro tipos de conquistas:
1. Melhoria na organização dos atores da sociedade civil na Amazônia:
articulação com outras redes, fortalecimento do terceiro setor em Fóruns
temáticos, capacitação, participação de eventos importantes, aumento da
participação de certas categorias de população nos espaços de discussão
nacional e internacional;
2. Progressos na difusão de informação e comunicação entre atores:
intercâmbio de informações e possibilidades de trabalho conjunto, maior
visibilidade a debates temáticos, realização de seminários e colóquios, criação
de oficinas, promoção dos intercâmbios de informações, publicação, divulgação
da informação, realização de videoconferências;
3. Sucessos na influência de políticas públicas: mudanças de Lei,
posicionamento como ator de primeiro plano em algumas discussões temáticas,
impedir alguns projetos destrutivos, propor políticas alternativas, controlar e
fiscalizar a atuação pública, tornar-se uma referência a nível internacional sobre
tal assunto, participação em várias mobilizações e campanhas, participação em
projetos nacionais e incidência sobre políticas setoriais;
4. Fortalecimento da própria estrutura das redes: ampliação do número de
entidades afiliadas, manutenção do escritório, difusão da cultura organizacional
em padrão de rede, contratação de pessoal fixo, criação de um website, manter
sua identidade de rede, avanços nas capacidades técnicas da rede, consolidarse como espaço privilegiado para discussões sobre políticas públicas ou,
simplesmente, ter conseguido criar a rede e mantê-la viva.
2.7. Atuação das redes
A maioria das redes tem vários temas de atuação. São poucas as que têm realmente
uma única área de atuação. O tema da biodiversidade e de conhecimentos tradicionais
são os mais compartilhados entre as redes pesquisadas.
22
Gráfico 6: Temas de atuação das redes
120
100
%
80
não
sim
60
40
20
M
a
D nej
ire o
ito Flo
s re
hu s
Ex
m tal
an
pl
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os
e
re
D
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ai
co
s
ns
um
id
or
Bi
od
iv
er
si
da
de
e
C
on
he
c.
..
0
Os 5 temas mais
freqüentes:
- Biodiversidade e
conhecimentos
tradicionais
- Povos indígenas
- Água
- Gênero
- Manejo florestal
Apesar do número relativamente elevado de possibilidades propostas no questionário
para responder a esta pergunta, muitas outras repostas foram acrescentadas.
Percebemos que os temas citados têm um variado grau de precisão: enquanto temas
como “biodiversidade” são muito amplos, “gestão de UC” é mais concreto. Para avaliar
mais em profundidade as áreas de atuação das redes, seria necessário especificar os
que está atrás de conceitos amplamente divulgados como “biodiversidade” ou “povos
indígenas”. De modo geral, as redes atuam em todas as áreas imaginável relativas a
região amazônica. Os outros temas de atuação que saíram dos questionários estão
listados na tabela seguinte:
Tabela 4: Outros temas relevantes, citados nas respostas
Controle social de políticas
públicas
Reforma urbana
Economia solidária
Políticas públicas para a
juventude
Agricultura
Geomática
Gestão da propriedade
intelectual
Comércio
Soberania alimentar
Educação e Saúde
Energia
Saneamento
Capacitação de jovens
Relações econômicas entre
países do Mercosul
Matriz Energética Clima
Comércio e Meio Ambiente
Desenvolvimento Institucional
Controle e participação social
Agricultura urbana
Conflitos ambientais
Políticas Florestais Regionais
Educação ambiental
Informação Florestal
Investigação Florestal
Conflitos petrolíferos na
Amazônia
Agricultura sustentável
Agricultura orgânica
Problema dos agroquímicos
2.8. Produtos das redes
A maioria dos produtos fornecidos pelas redes está diretamente relacionada à
divulgação de informação e a comunicação entre os membros. Os produtos ligados à
atuação política vêm em segundo lugar.
23
Gráfico 7: Produtos fornecidos pelas redes
%
120
100
80
60
40
20
0
o
Pr
r
ve
ou
f
il
ac
ita
r
não
sim
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fu
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c
c
so
pa
de
es
g.
Ca
c
r
A
O
m
or
i nf
...
80% das redes
facilitam a
difusão de
informação,
organizam
eventos e
produzem
publicações
2.9. As dificuldades
Sem grandes surpresas, as dificuldades financeiras constituem a maior parte das
respostas. Podemos notar que as três dificuldades que seguem são ligadas à
organização interna das redes e às relações com os membros e entre eles: participação
dos membros, tomada de decisão e comunicação com os membros.
As outras dificuldades mais relevantes são:
• Técnicas ou logísticas: acesso à banda larga e falta de acesso a interlocutores de
determinadas regiões; distância geográfica entre os membros; falta de vontade por
parte dos membros de usar a internet;
• Ligadas à falta de cultura de rede: dificuldade de conceber a rede como estrutura e
não como infraestrutura, falta de dedicação dos membros e tendência a considerar a
rede como financiadora de projetos.
A respeito deste assunto, a pesquisa qualitativa será de grande utilidade para
esclarecer quais são as dificuldades concretas encontradas e, sobretudo, o que pode
ser feito para supera-las.
24
Gráfico 7: Principais dificuldades das redes
%
120
100
80
60
40
20
0
não
sim
s
s
o
s
iço
ro
ros
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a
s
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n
l
P
no
Fa
mu
ia
Co
nc
ê
erg
Div
2.10.
Mais de 90%
das redes têm
dificuldades
financeiras
Como funcionam as redes?
As decisões internas são tomadas geralmente durante reuniões, cuja periodicidade
varia entre 12 vezes ao ano e uma vez cada 3 anos. Em alguns casos, existem
encontros setoriais entre as reuniões gerais. A delegação das responsabilidades para
um núcleo diretor eleito é freqüente. Também vemos que a votação é pouco usada,
provavelmente por causa das dificuldades de comunicação ligadas ao trabalho em rede.
As redes onde não existem processos específicos de tomada de decisão são
geralmente jovens.
Gráfico 8: Processos de tomada de decisão das redes
120
Em 20% das redes,
não existem
processos
específicos de
tomada de decisão
100
%
80
60
40
não
20
sim
0
Reunião dos
membros
Eleições de
um núcleo
diretor
Votações
25
Não existem
processos
específicos
A comunicação é fundamental no funcionamento das redes. Muitas redes usam
quase todos os meios de comunicação propostos no questionário. Porém, o principal
usado é o correio eletrônico. As reuniões estão em segundo lugar, o que mostra a
importância da comunicação interna “de pessoas a pessoas” no funcionamento das
redes.
Gráfico 9: Meios de comunicação usados
%
120
100
80
60
40
20
0
não
sim
e
al
so
fon
s
e
l
e
p
Te
to
nta
o
C
x
Fa
io
rre
Co
l
sta
po
93% das redes
usam o correio
eletrônico
45% usam o
correio postal
Os outros meios de comunicação que apareceram nas repostas são: website, fóruns
eletrônicos, radio regional, boletim informativo, videoconferências.
2.11.
Os parceiros das redes
Trata-se aqui dos parceiros das redes enquanto organizações: não questionamos o fato
dos membros das redes serem considerados como parceiros. A idéia era identificar
quais são os outros atores sociais que têm ligações (de qualquer natureza) com as
redes. Observa-se um equilíbrio relativo entre parceiros públicos e privados.
Gráfico 10: Parcerias
60
50
55
50
50
45
40
sim
não
% 30
20
10
0
com órgãos públicos ?
com instituições privadas ?
26
Os parceiros públicos são:
• Ministérios ou departamentos de ministérios;
• Instituições públicas especializadas;
• Universidades;
• Agências estrangeiras de cooperação;
• Governos estaduais (no Brasil);
• Programas nacionais e internacionais (como o PPG7);
Os parceiros privados são:
• ONGs nacionais e internacionais;
• Universidades privadas;
• Organizações setoriais profissionais (exemplo: federação das indústrias);
• Fundações;
• Igrejas;
• Empresas (são poucas);
• Associações representativas.
Vale a pena ressaltar que algumas redes declaram ter parcerias indiretas com
organizações privadas, através de seus membros. Também aparecem redes que
pretendem não ter nenhuma parceria, nem com organizações públicas, nem com
organizações privadas. Isto ilustra a ambigüidade do termo “parceria”: alguns
consideram os financiadores como parceiros, outros não.
2.12.
Abrangência
As respostas das redes mostram que a maioria delas atuam em mais de um país da
Amazônia. No entanto, algumas atuam também em uma região específica.
Gráfico 11: Abrangência de atuação
Região
específica de
um país da
Amazônia
16%
Atuação global
10%
América Latina
24%
Um país da
Amazônia
26%
Dois ou mais
países da
Amazônia
14%
66% das redes
atuam
exclusivamente
na região
Amazônica
Bacia
amazônica
10%
Estes resultados devem ser relativizados, posto que algumas redes deram mais de uma
resposta (por exemplo, um país da Amazônia e atuação global). A importância da
Amazônia para o planeta pode explicar isto.
27
2.13.
Os financiamentos
Fora das contribuições diretas dos membros, os financiamentos internacionais,
especialmente os que vêm de ONGs, são os mais importantes. Vale a pena ressaltar a
ausência de financiamentos provenientes de empresas, sejam eles nacionais ou
internacionais.
Gráfico 12: Financiamentos
120
100
%
80
não
60
sim
40
20
O
E N
Em m p G
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ac l
io
na
l
O
N
G
in
te
rn
ac
io
na
l
0
As outras fontes de financiamento são organizações multilaterais e projetos
internacionais específicos, como, por exemplo, o PPG7 ou agências como o Banco
mundial ou a União européia.
Os orçamentos das redes variam entre menos de 5000 US$ por ano e mais de 1 milhão
de dólares no mesmo período. Segundo estes dados, o orçamento médio seria entre
200.000 e 300.000 US$ por ano.
28
Gráfico 13: Orçamento (em US$)
500000 a
1000000
2%
Mais de
1000000
2%
Sem resposta
12%
Dados não são
disponíveis
25%
100000 a
500000
19%
37% das rede
não respondem
ou não têm
dados
disponíveis
sobre o seu
orçamento
Menos de 5000
2%
50000 a
100000
14%
2.14.
20000 a 50000
12%
5000 a 20000
12%
Complementos
Segundo as respostas, os temas principais que merecem e que receberão atenção no
futuro são5:
• Apropriação sustentável da biodiversidade
• Controle do desmatamento / manejo florestal
• Desenvolvimento econômico, social e cultural dos povos amazônicos
• Controle social das políticas públicas / legislação ambiental
• Recursos hídricos / água
• Questão fundiária
• Agricultura familiar
• Agroecologia
• Potencial energético
• Capacitação e Educação Ambiental
• Conhecimentos tradicionais
• Petróleo
As redes consideradas como tendo um papel importante na Amazônia são, por ordem
de número de ocorrência6: GTA (11), FAOR (8), Bolsa Amazônia (5), Fórum Carajás (5)
OTCA (3), CNS (3), CIFOR (2), RFA (2), COIAB (2), FORMAD (2). Vale a pena ressaltar
que apenas 3 redes andinas responderam com redes brasileiras (2 Bolsa Amazônia e 1
GTA), enquanto nenhuma rede brasileira respondeu com redes andinas.
Globalmente, a importância de estabelecer parcerias com organizações de outros
países da Amazônia está muito clara. A maioria das respostas revela um grande
interesse em trocar experiências e informações, conhecer a realidade das políticas em
5
Esta pergunta era aberta. Estes temas são os que apareceram mais de uma vez, classificados segundo o número de
ocorrências.
6 Encotram-se aqui todas organizaç~eos que apareceram pelo menos 2 vezes. Nota-se que algumas organizações
citadas aqui não são redes no sentido do estudo. Mesmo assim, foram citadas como redes importantes.
29
implementação nos outros países, unir forças para lutar contra os mesmos inimigos,
afim de desenvolver estratégias comuns para lidar com problemas comuns. A segunda
parte deste estudo mostra as razões evocadas para explicar porque estas parcerias
raramente se concretizam.
***
Estes resultados permitem entender melhor o universo das redes na Amazônia. Apesar
da grande diversidade das estruturas encontradas, conseguimos esboçar o perfil desta
nova forma de ativismo político. Falta agora aprofundar o estudo e qualificar as redes
para trazer respostas às numerosas perguntas que nasceram desta primeira fase do
estudo
Nós sabemos um pouco mais sobre as razões da criação das redes. Mas, qual foi o
processo de criação? Que tipos de instituições e pessoas foram envolvidos?
A respeito da atuação das redes, em que área elas tentam influir? Conseguiram ter
influência sobre leis? Sobre práticas? Qual é o grau de representatividade das redes?
Que tipo de organizações elas podem mobilizar? As redes têm alianças e parcerias?
sobre quais temas? Elas participam de fóruns ou outros projetos? São consultadas por
outras instituições ou organizações?
De que forma se dá a participação dos membros? Como eles contribuem (palestras,
capacitação..)? Existem membros com dificuldades de comunicação? Existe um
membro, ou um núcleo duro de organizações que se destaca? Qual é o papel da rede
na geração, na difusão e na implementação de novos conhecimentos? Que práticas
concretas podem sair das atividades das redes? Como estes conhecimentos são
repassados para os membros?
Por outro lado, muitas redes mostraram, nas respostas ao questionário, um grande
interesse em trabalhar com outros países da Amazônia. No entanto, quais são as outras
redes conhecidas por elas em outros países? Quais outros projetos interessantes ?
Quais são as expectativas de uma maior cooperação a nível amazônico? Se as redes
têm interesse em cooperar a nível panamazônico, quais são os obstáculos? Que papel
pode ter a cooperação internacional?
Finalmente, por que trabalhar em rede? Quais as vantagens de trabalhar em rede? Será
que existe realmente uma cultura de rede?
A segunda parte deste estudo, baseada em entrevistas aprofundadas com
coordenações e membros de redes, tentará trazer uma resposta a estas perguntas.
30
PARTE II
AS REDES AMAZÔNICAS: ARTICULAÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO OU NOVO
PRODUTO DO MERCADO DO DESENVOLVIMENTO?
A literatura e os comentários relativos às redes são freqüentemente produzidos pelos
próprios atores envolvidos na construção das redes. Idéias e reflexões se multiplicam
para justificar a criação de redes e tentar fortalecer e perenizá-las. As redes são
geralmente consideradas no âmbito do fortalecimento da “sociedade civil” e do “terceiro
setor” frente ao mercado e o Estado. Sem entrar na crítica dos comentários feitos sobre
redes, temos que apontar no alto grau ideológico destas discussões.
O resultado disto é uma generalização de preconceitos a respeito das redes.
Consideradas como a forma moderna de atuação política dos desfavorecidos, isto é
adaptada à nossa era de globalização, as redes seriam o resultado de uma tomada de
consciência coletiva, espontânea, frente às dificuldades compartilhadas pelos
dominados (ou pela natureza, incapaz de defender-se sozinha). Funcionando de
maneira horizontal (não piramidal), sem dono e com objetivos necessariamente
positivos, as redes constituiriam a última forma da democracia participativa, reação
natural da sociedade frente à violência dos nossos tempos.
O objetivo deste estudo é também o de objetivar as características das redes e ir além
dos preconceitos comuns ligados a elas. Com a preocupação constante de guardar uma
neutralidade em relação ao assunto, foram realizadas mais de 50 entrevistas com
responsáveis e membros de redes. Esta segunda parte procura mostrar, de maneira
simples, a complexidade do universo estudado e tem como objetivo identificar as
características essenciais das redes.
A partir das informações recolhidas sobre o histórico, a atuação, e a organização interna
das redes, identificamos os critérios essenciais para caracterizá-las e, em seguida,
propomos uma classificação.
1. Gênese das redes, suas atividades e dificuldades
A idéia de que as redes resultam de uma vontade compartilhada, de um processo
espontâneo ligado a um momento histórico, está amplamente divulgada.
Freqüentemente, percebe-se que organizações internacionais e financiadoras jogaram
um papel importante de catalisadores para viabilizar a criação das redes. As histórias
das redes estudadas para esta pesquisa mostram várias agências e organizações que
participaram da criação de redes: ONU, FAO, OEA, G7, USAID, UICN, PPM, GTZ,
Peace Corps, PNUD, IRD, Banco Mundial, WWF. Em alguns casos, doadores induziram
a formação de uma rede, financiando a montagem da estrutura organizacional
31
(considerada neste caso como um verdadeiro projeto), sem que exista nenhuma
dinâmica espontânea ou coletiva.
Percebemos que é freqüente a participação de universidades ou centros de pesquisa na
criação das redes. Mostrou-se na pesquisa o papel fundamental exercido pelas
seguintes instituições: UFPA, Museu Goeldi, UFRJ, UFF, Museo N.K. Mercado,
universidade Mayor de San Andrés universidade de Montreal, universidade de Flórida.
Vale a pena ressaltar que instituições públicas (fora das universidades), como
ministérios ou instituições especializadas, também podem estar na origem da criação de
uma rede. Todavia, este caso é muito raro.
Por outro lado, é comum a idéia de que a criação das redes é o resultado de um
processo coletivo. A pesquisa mostrou que isto é relativo: a maioria das redes nasceu
de um desejo de algumas pessoas ou organizações (quando não só uma): nota-se o
papel fundamental de uma pessoa ou de um grupo de pessoa, ligado a grandes ONGs
ou instituições. Por exemplo, uma rede que pretende agrupar hoje mais de 500
entidades amazônicas nasceu de um conjunto de 6 ONGs; uma outra rede declarou ter
como membros fundadores, principais financiadores e diretores as duas mesmas
pessoas.
Nota-se, igualmente, a importância do papel da mídia na criação das redes. Quando a
mídia divulga informações sobre um assunto específico, a mobilização encontra-se
estimulada. Por exemplo, uma rede nasceu do respaldo na mídia de um sucesso em
uma luta específica. Neste caso, a mídiatização revelou a importância da ação realizada
e estimulou a vontade de aproveitar a dinâmica criada nesta ocasião para continuar
com outras atividades.
Freqüentemente, um evento (encontro, conferência, workshop...) foi na origem da
criação da rede. Podemos citar, a conferência mundial do meio ambiente Rio 92;
conferência de Beijing; pode ser na ocasião de uma nova lei (florestal), ou frente a um
perigo crescente (petróleo); ao redor de um projeto específico. Por exemplo, uma rede
foi criada logo depois de um encontro organizado em 2001 sobre “Justiça ambiental,
cidadania e trabalho” com o apoio de grandes ONGs e universidades brasileiras assim
que organizações e universidades norte-americanas.
Nestes eventos, apareceram oportunidades ou
“A união entre as instituições faz
necessidades que, para serem satisfeitas,
que tem uma probabilidade maior
necessitaram a criação da rede. Estas são
de conseguir recursos para
diversas, mas, geralmente, se referem a:
realização de cursos, de eventos”
− Intercambiar informações e dialogar
sobre assuntos específicos;
− Promover idéias, ideais, temas (desenvolvimento sustentável, questão
fundiária...);
− Possibilitar ações ligadas a uma temática (através de uma maior capacidade de
captação de recursos);
− Ganhar peso político nos debate sobre tal questão.
32
1.1. Atividades
As necessidades que nasceram durante os momentos fundadores das redes refletem
logicamente as suas atividades. A partir das respostas dos entrevistados, podemos
refinar o conhecimento sobre as atividades das redes. Estas últimas podem ser
classificadas em quatro categorias: as atividades ligadas à incidência política; as
atividades ligadas à difusão e intercâmbio de informação; as atividades ligadas ao
fortalecimento dos membros e à oferta de serviços e as atividades ligadas ao
desenvolvimento de competências específicas.
Tabela 5: Atividades
Atividades ligadas à incidência política:
Participação a conselhos e fóruns públicos
Elaboração de documentos de posicionamento público
Representação em fóruns internacionais
Participação na elaboração de leis
Atividade de assessoria dos ministérios
Ações jurídicas contra leis
Organização de campanhas de sensibilização
Formulação de agendas de propostas
Formulação de projetos de lei
Promoção de temáticas específicas (manejo florestal sustentável)
Fortalecer grupos representativos de interesses específicos
Ampliar debates sobre temáticas específicas
Formulação de programas governamentais
Consultoria para governos
Visibilidade de lutas sociais
“Em rede, o
peso é maior”
Atividades ligadas à difusão e intercâmbio de informação:
Publicação
Difusão de boletins
Fóruns eletrônicos
Bibliotecas
Criação de espaços de discussão
Organização de seminários, colóquios ou workshops
CD-Rom
Radio comunitária
Website
Sistematização de experiências (raro)
Organização de grupos de trabalho
Constituição de banco de dados sobre temáticas específicas
Produção de material didático
“As redes são
espaços para
compartilhar,
gerar, promover
idéias”
Fortalecimento dos membros e oferta de serviços7:
Capacitação dos membros
Ajuda à captação de recursos
7
sendo que a capacitação para os membros, com o tempo e a experiência, pode se tornar uma atividade de prestação
de serviço para outros
33
Formação especializada
Design de formação acadêmica
Capacitação de categorias de população desfavorecidas
Oferta de bolsas de pesquisa
Apoio a pequenas empresas
Apoio à organização dos movimentos populares
Desenvolvimento de competências específicas:
Definição de indicadores da sustentabilidade do manejo florestal
Venta de serviço de capacitação em agroflorestaria
Pesquisa
Realização de projetos de desenvolvimento
Criação de negócios sustentáveis
Parece então que as redes conseguiram preencher as necessidades que estavam na
origem da sua criação. É verdade que, de modo geral, as redes ficam fiéis às suas
origens e não mudam de tema de atuação nem de objetivo geral. A juventude do
fenômeno e uma certa rigidez, provavelmente devida ao “controle coletivo” podem
explicar isso. Porém, isso não quer dizer que as atividades planejadas durante os atos
fundadores são sempre concretizadas com sucesso. Não basta sentir coletivamente
necessidades para concretizá-las. As dificuldades são numerosas.
1.2. Dificuldades
A dificuldades não provêm tanto da realização das atividades propriamente ditas mas
de sua realização em rede. Ou seja, a dificuldade está em respeitar a diversidade dos
participantes e a própria idéia de rede. Fora às dificuldades financeiras, que, como nós
vimos na fase 1 do estudo, são compartilhadas pela grande maioria das redes, as
outras dificuldades encontradas são relativas ao funcionamento interno das redes.
Trata-se de:
- Falta de participação dos membros;
“Como conseguir garantir
- Dificuldade de comunicação;
alguma estrutura melhor
- Dificuldade para sistematizar as informações;
para responder às
- Dificuldade de encontrar o parceiro-chave dentro
demandas sem perder o
dos membros; Conflitos entre os membros;
caráter de rede?”
- Idéias falsas a respeito da razão de ser da rede;
- Centralização do poder;
- Conciliar cultura de rede e institucionalização.
“Por causa de problemas
“Temos problemas de manejo de
de orçamento, é difícil
TIC por falta de prática da parte
organizar muitas reuniões”
dos membros. É um obstáculo ao
funcionamento da rede”
A questão da comunicação fica complicada. Mesmo com experiência, recursos e
investimentos importantes, dificuldades de comunicação existem: uma rede que existe
há mais de 10 anos reconhece:
“O nosso calcanhar-de-aquiles ainda é a comunicação”
34
Uma única dificuldade vinda do exterior foi colocada pelos entrevistados: o pouco
reconhecimento por parte dos governos. Isso levanta uma pergunta interessante sobre
as relações das redes com os outros atores sociais: as redes, que trabalham sobre
assuntos altamente políticos e freqüentemente ligados a setores econômicos de
primeiro plano, não têm inimigos? Ninguém tenta calá-las ou impedir suas atuações?
De um lado, esta reflexão evoca o poder das redes em comparação à ação individual. É
difícil matar uma estrutura composta por um conjunto de organização. Parece então
confirmada a idéia de que a atuação em rede permite as ONGs resgatarem o seu lado
político sem colocar em perigo o seu lado técnico. Em outros termos, cada membro da
rede está protegido pela própria rede das críticas de eventuais financiadores ou
parceiros públicos. Em nome do coletivo podem ser tomadas posições dificilmente
aceitáveis em nome individual.
Uma outra interpretação deste fato, mais pessimista, é de ver da ausência de inimigos
uma prova da fraqueza das redes para influenciar decisões importantes: ninguém tenta
dificultar o trabalho das redes uma vez que elas não têm poder em alto nível político. As
redes representariam neste sentido um espaço privilegiado para satisfazer o ativismo
político, permitindo a eles um ambiente de existência mais ou menos confortável e,
sobretudo, controlado, amenizando assim as veleidades radicais de revolucionários
potenciais.
De qualquer maneira, mostramos que as dificuldades das redes vêm justamente da sua
organização interna. Parece então essencial entender como funcionam as redes, como
elas são construídas.
2. As redes, estruturas construídas
O trabalho em rede procura, idealmente, instaurar uma comunicação interna horizontal
entre os nós da rede e manter a espontaneidade do agrupamento de membros com os
mesmos objetivos. No entanto, as redes são organizações. Elas têm regras de
funcionamento que, mesmo sendo freqüentemente implícitas, gerenciam o seu
funcionamento interno. Trata-se agora de entender a construção das redes enquanto
organizações.
2.1. As redes precisam de um mínimo de infra-estrutura e financiamento
Como foi visto na pesquisa sistemática, o volume de
financiamento é muito variável. De modo geral, o
financiamento é problemático e representa a
dificuldade mais comum entre as redes. Como para
as ONGs em geral, mais ou menos 70% dos
financiamentos vêm de organizações ou agências
estrangeiras.
35
“As instituições na Amazônia
são de uma fragilidade... elas
vivem na beira da corda.
Portanto, durante 80-90% do
seu tempo, elas têm que
sobreviver”
Na maioria dos casos, os financiadores principais são agências de cooperação (bi- ou
multilaterais), como a União européia, o Banco mundial, USAID, GTZ, JICA, DFID e/ou
grandes ONGs ou fundações norte-americanas ou européias como TNC, HIVOS, CESE
ou PPM. Os financiamentos nacionais, provenientes de ministérios ou instituições
públicas especializadas, são mais raros e, geralmente, de menor volume.
Existem dois modos principais de financiamento:
- Diretos para rede, quando ela tem uma estrutura jurídica;
- Indiretos, através dos recursos dos membros fundadores, ou membros principais.
Em alguns casos, os membros têm que participar financeiramente (a adesão é paga),
mas esta participação é mais simbólica do que outra coisa.
Reflexo dos financiamentos, as infra-estruturas das redes são muito variáveis. Segundo
os casos as redes funcionam com uma pessoa que trabalha a meio-tempo na casa dele
até um staff de 20 pessoas e uma sede própria. Todavia, pertencer uma sede própria é
um caso raro. Quando tem, é um espaço alugado ou cedido por uma instituição pública.
Na maioria dos casos, são hospedadas por uma ONG, geralmente a ONG que teve um
papel-chave na criação da rede, ou aquela que tem um papel-chave no seu
funcionamento.
2.2. As redes precisam de um mínimo de formalização
O grau de formalização das redes depende dos casos, mas todas têm um organograma
mais ou menos definido. Ao contrário das idéias comuns sobre as redes, todas têm uma
coordenação e várias têm uma estrutura piramidal. Isto não significa que a circulação da
informação seja também piramidal ou centralizada, mas é relevante o fato de que todas
têm um órgão reconhecido como o “motor” da rede, que orienta suas atividades e seu
funcionamento interno. Sempre existe um núcleo-duro de membros que compõe a
coordenação.
Os organogramas das redes são variados. De modo geral, são parecidos aos das
ONGs, só que existem mais níveis hierárquicos. Encontram-se, na maioria dos casos,
um órgão de controle das grandes linhas de atuação da rede (pode ser chamado de
conselho diretor), uma coordenação executiva, que agiliza os projetos e a animação da
rede e coordenações regionais (às vezes chamados de pontos focais) nas regiões ou
países. Seguem 3 exemplos de organogramas.
36
Exemplo 1 de organograma
Coordenação executiva
5 membros
1 ou 2 reuniões/mês
+
Coordenação ampliada
= membros da coord. exec + 20
outras entidades
1 ou 2 reuniões/ano
=
Coordenação política
Cada 3 anos, um evento com todos os
membros + a sociedade civil em geral
GT
temático
GT
temático
GT
temático
GT
temático
GT
temático
Exemplo 2 de organograma
Assembléia geral
Reunião 2 vezes/ano
elege o :
Diretório
5 pessoas (3 membros institucionais + 2 ad
honorem), que nomeam um diretor executivo
O diretório administra projetos e fundos, com
pessoas regulares e consultores
Projetos e
programas
Projetos e
programas
Projetos e
programas
37
Projetos e
programas
Exemplo 3 de organograma
Coordenação executiva
eleita em assembléia geral
com uma diretória, que se reúne cada 3 meses e um
conselho deliberativo formado pelos conselhos
regionais, que se reúne cada 6 meses
Regional
Regional
Regional
Com uma coordenação,
eleita cada 3 anos,
composta de 3 até 7
entidades
Regional
Regional
elege :
1 conselheiro
e
1 secretária executiva
A questão da formalização jurídica é crucial. Muitas
redes escolhem não ter personalidade jurídica e
“A gente não quer formar
consideram esta opção como fundamental para guardar
mais uma entidade; já tem
a identidade de rede. Isto pode dificultar a captação de
ONGs demais”
recursos, mais é considerado crucial para evitar uma
forma de apropriação da rede por alguns membros ou pelos diretores da própria pessoa
jurídica.
A formalização das redes questiona também a sua representação. Quem fala em nome
da rede? Esta questão tem respostas variadas mas, na maioria dos casos, são pessoas
ou organizações que fazem parte do núcleo-duro da coordenação. Os casos
exemplares são quando qualquer membro da rede pode representar-la em alguma
ocasião (evento, mobilização...). É um caso raro que resulta mais de uma vontade
específica do que de outros fatores: a gente poderia pensar que fatores como o
tamanho, a juventude ou a homogeneidade dos membros são determinante a respeito
desta questão, mas o estudo não permite chegar a conclusões deste tipo.
Assim, de modo geral, os membros fundadores e/ou as ONGs "ancoradouras" têm um
papel-chave e reconhecem a importância de descentralizar a coordenação: o desafio é
amolecer o núcleo-duro e tentar firmar os nós da rede (flexibilizar os ganchos e firmar
os nós).
A respeito das tomadas de decisões, observa-se a dificuldade em compartilhar as
responsabilidades. A concentração do poder de decisão
“Percebo que eles querem
é comum, facilitada pela proximidade geográfica dos
fazer valer o interesse da
membros da coordenação. Porém, a grande maioria das
suas entidades em vez do
redes está consciente dos riscos ligados a isso,
interesse da rede”
sobretudo aquele de instrumentalização da rede pelo
núcleo duro. Pode também acontecer rigidez ao nível dos nós das redes, quando um
38
representante regional (ou um punto focal) bloqueia a informação e concentra os
poderes. A respeito desta questão, algumas redes, que agregam ONGs e organizações
de outras naturezas institucionais, consideram que as ONGs são parceiras difíceis
quanto ao repasse da informação. Algumas redes começam a privilegiar parcerias com
organizações representativas ou movimentos sociais organizados em vez de passar
pelo intermediário de uma ONG.
Também, uma das conseqüências da concentração do
poder é o exagero da sua responsabilidade. Por exemplo,
os membros começam a considerar a entidade
ancoradora como uma fonte de recursos e ficam
frustrados ao não perceberem benefícios financeiros
devido a sua participação. Em casos extremos, a
comunicação começa a cair e a coordenação é cortada
pouco a pouco dos seus membros. Estes reclamam então da inutilidade de participar da
rede, posto que não sabem o que está acontecendo de fato e quais benefícios eles
tiram da sua participação.
“Porque não existe
método de cobrança dos
coordenadores regionais,
o coordenador geral tem
o papel do chato”
De modo geral, os membros reclamam de não ser muito
“A idéia é que seja um
consultados. Fora algumas redes particularmente
negocio
vivo, e não que
descentralizadas, a maioria tem grande dificuldade em
tenha
mais
um cacique, lá,
funcionar realmente de maneira horizontal. Esta
e
que
aquela
rede vira
dificuldade é devida principalmente aos problemas
aquela
pessoa,
porque
tem
financeiros que dificultam a organização de encontros e
uma
certa
tendência
de
reuniões entre membros geograficamente distante uns
acontecer isso”
dos outros. Dependendo dos casos, as redes tentam
organizar encontros entre 3 vezes ao ano e 1 vez cada 3 anos. Estes encontros são
fundamentais para formalizar e tornar mais concreta a “comunidade” dos participantes
da rede. Todos consideram estes encontros como momentos-chave na vida da rede.
Muitas redes procuram consultar os seus afiliados por meios eletrônicos como fóruns e
listas de discussão pela internet. É óbvio que estas ferramentas facilitam a
comunicação. Porém, parece que elas não são suficientes se não estiverem
acompanhadas de uma verdadeira descentralização do poder de decisão e de reuniões
e encontros onde as pessoas se conhecem e chegam a compartilhar idéias e pontos de
vista sobre as suas experiências comuns. Isto nunca poderá ser substituído por
reuniões virtuais ou fóruns eletrônicos.
2.3. As redes precisam de meios de comunicação adaptados
Para as redes, a comunicação interna é central. Com
“Vai da internet até sinal de
o desenvolvimento das tecnologias de informação e
comunicação (TIC), as redes dispõem de uma certa
fumaça e toque de tambor”
facilidade para organizar a comunicação. Todavia,
não basta. Trata-se de dispor de ferramentas adaptadas
“Os resultados deveriam
para que a informação possa ser recebida e emitida por
ser mais divulgados a
cada um, acrescidos de ferramentas para incentivar e
nível interno”
estimular a vontade de comunicar e compartilhar a
39
informação com ou outros.
Em termos concretos, o uso do correio eletrônico não basta para assegurar uma
participação de todos. Primeiro, é freqüente os membros não terem acesso à internet por exemplo, em um caso, “70% das entidades não têm endereço eletrônico, não têm
computador, ou não têm o costume de usar a internet”. Segundo, se as informações
que circulam através destas ferramentas não correspondem às expectativas dos
participantes, estes vão rapidamente se desinteressar da rede. Todavia, o correio
eletrônico fica sendo a ferramenta mais usada nas redes, mesmo se outros meios de
comunicação são usados – sobretudo telefone e correio.
A comunicação entre e com os membros é o ponto-chave da rede e também a grande
dificuldade. O ideal seria que as informações fluíssem entre os nós da rede e, em caso
de deficiência de algum membro em repassar estas informações, que fosse possível ter
um acesso a elas por outro caminho. Na realidade, é muito mais complicado e, na
maioria dos casos, são poucas as aproximações com outros atores através das redes.
Os casos de comunicação horizontal entre membros são raros. Todavia, quando
acontecem, são considerados como muito positivos para os membros e para a rede
inteira: o dinamismo ligado à comunicação e intercâmbios horizontais é real.
Como organizar o trabalho para assegurar uma comunicação horizontal?
A circulação da informação entre membros e entre membros e coordenação ajuda a
manter uma dinâmica coletiva. Para conseguir isso,
“A força da articulação
algumas redes experimentam uma organização do
dos membros é muito
trabalho adaptada. Por exemplo, a instauração de
maior do que a soma das
Grupos de trabalho (GTs) temáticos caracterizados por
partes”
uma grande autonomia dos nós em relação à
coordenação, favoreceu uma dinâmica entre os
membros da rede. Em um outro caso, a rede decidiu organizar as representações locais
em “casal”: uma entidade como conselheira e uma outra como secretária executiva.
Esta estratégia pode criar um dinamismo entre os membros locais, mas depende muito
das relações dentro do casal. Se a comunicação entre os dois é conflituosa, a
circulação de informações fica paralisada. Observamos casos sucedidos; outros
conflituosos.
Segundo os entrevistados, é especialmente difícil manter um contato entre atores
muitas vezes diferentes uns dos outros, ou muito distante geograficamente; assegurar
uma circulação de informação entre eles; providenciar espaços e meios de expressão a
cada um e lidar com os interesses de cada um.
Todavia, é importante ressaltar que, mesmo se todas as redes têm que lidar com as
diferenças de ponto de vista ou de interesse dos seus membros, a maioria delas
consideram que, globalmente:
“a convergência dos interesses domina as divergências”
Poucas redes têm desenvolvido ferramentas específicas para incentivar a comunicação
entre membros. Na maioria dos casos, conta-se com a informalidade para manter o
contato interno. É considerado que a comunicação se “faz naturalmente”.
40
Na verdade, a questão da comunicação vai além da simples circulação da informação.
Se considerarmos os objetivos e a atuação das redes, percebe-se que o que está em
jogo é o uso da informação para tratar de questões muitas maiores. O desafio é
transformar as informações em conhecimentos que permitem agir e influir sobre
problemas da sociedade como, por exemplo, a conservação de ecossistemas, as
vantagens da agricultura familiar ou o "empoderamento" das mulheres do campo.
Como gerir os conhecimentos produzidos pelas redes?
Os entrevistados reconhecem, de modo geral, a importância da gestão dos
conhecimentos. Para a maioria das redes, o objetivo último da sua existência é
influenciar as políticas públicas. Nesta perspectiva, é desejável controlar a produção e a
divulgação das idéias e propostas que resultam da atuação em rede.
No entanto, na maioria dos casos, não existem processos específicos de gestão de
conhecimentos. Fora das ferramentas clássicas de divulgação dos conhecimentos,
ligadas ao intercâmbio das informações e de experiências (workshops, publicações,
boletins, website, fóruns ou reuniões virtuais), as redes não conseguem implementar
processos de monitoramento das informações geridas por suas atividades. A temática
da gestão dos conhecimentos parece relativamente nova nas agendas. Quando feita
alguma tentativa de sistematização da produção ou de capitalização das experiências,
foram encontradas muitas dificuldades, especialmente financeiras e logísticas (os
membros não fazem circular a informação, os relatórios não são feitos).
A principal dificuldade vem aparentemente da falta de controle sobre o repasse da
informação. Assim, os produtos concretos que nascem das atividades das redes são
raramente o resultado de um trabalho realmente coletivo. Os boletins ou publicações
que resultam das atividades das redes são logicamente de autoria das ONGs ou grupos
que coordenam as redes. Estes reconhecem que é extremamente complicado sintetizar
a complexidades dos debates e idéias que circulam entre os membros, às redes.
Apesar disso, os documentos publicados coletivamente têm uma importância
considerável para os membros porque eles representam de maneira muito concreta a
própria rede. Mesmo sem ser o resultado de uma gestão coletiva dos conhecimentos,
estas publicações “dão corpo” às redes. Elas são freqüentemente apropriadas pelos
membros e usadas por estes como referência nos seus projetos.
Idealmente, os conhecimentos produzidos pelas redes poderiam servir de base a uma
transformação ou definição das práticas coletivas (até das leis) relativas a suas áreas
de atuação. Este ideal, quando sugerido nas entrevistas, sempre foi reconhecido como
relevante. Todavia, as redes não chegaram a agilizar processos para torná-lo mais
concreto: não foi encontrada uma rede com ferramentas de monitoramento para a
concretização dos conhecimentos em práxis sustentável. Isto não significa que a
atuação das redes nunca resulta em uma transformação das práticas ou das leis
relativas a suas áreas de atuação. Existem vários casos de sucesso neste sentido. Mas
estes sucessos não são seguidos por um controle coletivo. Por exemplo, uma vez
obtida a modificação de uma lei ambiental, a rede não tem como controlar a sua boa
aplicação; ela não tem os recursos suficiente nem as ferramentas adequadas. Da
mesma maneira, as redes não verificam se programas de capacitação oferecidos
resultam em uma modificação das práticas de trabalho dos membros.
41
Ferramentas adaptadas de gestão dos conhecimentos deveriam permitir as redes
chamarem a atenção do público e dos tomadores de decisões em particular sobre
questões sociais que vão, na maioria dos casos, bem além do âmbito de atuação das
redes e que deveriam ser consideradas à escala maior. Isto explica porque, para a
quase totalidade dos entrevistados, considerar estas questões em escala
panamazônica representa um desafio portador de esperança em termos de
desenvolvimento.
3. As redes, embrião da sociedade panamazônica?
A quase totalidade das redes reconhece a importância
“A Amazônia é unida pelos
de trabalhar a nível panamazônico: a idéia mais
mesmos problemas”
divulgada é que os diferentes países apresentam
problemas sociais e ecológicos comuns ligados à
Amazônia, que devem ser tratados em escala regional. De modo geral, a perspectiva de
trocar experiências e participar de projetos à escala panamazônica é muito bem
recebida. Logicamente, nos lugares próximos de fronteiras (como no Acre), a
cooperação panamazônica aparece de forma muito mais concreta.
No entanto, poucas coisas concretas são feitas neste
sentido. Na maioria dos casos, ampliar as atividades à
escala panamazônica parece muito complicado mesmo se
desejável. Em alguns casos, esta ampliação parece uma
questão de tempo, sendo que a “vocação” da rede é
panamazônica: por exemplo, uma rede atuando sobre uma temática ampla que chama
atenção em vários contextos nacionais, como a propriedade intelectual ou a integração
comercial dos produtos da floresta, considera que a ampliação das atividades da rede
em nível panamazônico ocorrera de maneira mais ou menos natural.
“A idéia de rede
panamazônica está no
caminho”
Para a maioria dos entrevistados, a identidade amazônida não é uma realidade. As
redes e os indivíduos que as formam identificam-se primeiramente a sua identidade
nacional. As especificidades dos contextos (ambientais, socioeconômicos e políticos)
explicam isso. Para os entrevistados, mesmo se a resolução dos problemas socioambientais da Amazônia deveria encontrar-se em uma escala maior (a Amazônia, a
América latina , até a escala mundial), o desafio atual é, primeiro, conseguir transformar
as políticas e práticas coletivas a nível local e nacional.
Em conseqüência disso, poucas redes têm relações com organizações de outros
países. Fora de alguns casos específicos de redes já implantadas a nível panamazônico
(e que, de certa forma, “vendem” a idéia de panamazônia), a maioria das redes não tem
muitos intercâmbios com outros países da Amazônia. Todavia, observam-se algumas
redes ativas em vários países andinos, mas, nestes casos, o Brasil fica fora. Na tabela
seguinte, apresentamos a situação das 11 redes que foram pesquisadas na segunda
fase do estudo:
42
Situação das redes em relação a panamazônia
Situação em 2004
Não tem relações com outros países da Amazônia
Não tem relações com outros países mas é conhecida nos
países andinos
Não tem relações com outros países mas é conhecida nos
países andinos e no Brasil
Tem contatos através dos seus financiadores (que promovem
aproximações)
Tem atuação no âmbito dos países andinos
Tem atuação no âmbito da região amazônica (Brasil+alguns
países andinos)
Número de redes
4
1
1
2
2
1
Aparece um potencial enorme de trabalho desta questão através das redes: a idéia de
pensar as suas atividades em escala panamazônica é sempre bem-vinda e, geralmente,
desejada. Estes desejos são baseados na convicção de que as suas atividades não
podem ser limitadas a espaços nacionais mas terão, em um momento ou outro, que ser
pensadas a uma escala maior. Várias redes expressaram a idéia de que a sua atuação
se tornaria inevitavelmente panamazônica.
Se considerarmos que já existem grandes eventos panamazônicos (feira panamazônica
do livro, fórum social panamazônico e outros), podemos apontar que a construção de
uma identidade amazônica representa uma corrente de fundo e a temática tem futuro na
região. Neste sentido, o trabalho em rede representa um vetor eficiente de
aprofundamento do sentimento de pertencer à região amazônica e não só a um país. As
redes podem exercer um papel de primeiro plano na construção da cidadania
Amazônida.
Nota-se que alguns projetos se revelam muito eficientes na promoção da cooperação
panamazônica. Por exemplo, no caso do projeto ProDIAS8 que apóia algumas redes, a
reprodução das mesmas atividades em países diferentes facilita a aproximação das
entidades parceiras. Neste contexto, a organização de encontros e a troca de
experiências são muito positivas para ir além dos preconceitos.
De modo geral, a Organização do tratado de cooperação panamazônica (OTCA) é
pouco conhecida. Alguns entrevistados vêem a OTCA como uma oportunidade para
que a sociedade civil se incorpore aos debates sobre as políticas públicas. Outros
questionaram a sua capacidade política real.
8
O Programa de Diálogo e Intercâmbio em Agricultura Sustentável, da organização alemã “Pão para o Mundo”, está
implementado em vários países latino-americanos e procura organizar intercâmbios entre atores envolvidos com projetos
alternativos de exploração agricola.
43
A cooperação internacional
De modo geral, a cooperação internacional é considerada como fundamental no
processo de fortalecimento das redes. Isto se explica
“Não importa o
pelo simples fato das redes ser financiadas
fortalecimiento em sí, mas
principalmente pela cooperação internacional. Todavia,
o resultado deste”
todos os entrevistados sublinharam a necessidade da
cooperação internacional não se limitar a uma
transferência de recursos financeiros.
Encontramos nas respostas dos entrevistados as críticas clássicas da cooperação
internacional: unanimemente, o papel da cooperação internacional deve ser mais que
só financiar. É esperado, em particular, o reconhecimento das necessidades locais
antes de tudo e uma consulta mais ampla dos atores sociais na definição dos
programas de desenvolvimento. Foi ressaltada em várias ocasiões a necessidade de
desenvolver programas a médio e longo prazo, baseados no repasse de
conhecimentos, na capacitação. Vários entrevistados também consideram que a
cooperação internacional deveria ajudar na divulgação dos resultados das atividades
das redes e dar o impulso inicial para outro tipo de interesse.
Foi também ressaltada a questão da intermediação
dos governos nacionais entre os financiadores
internacionais e as ONGs. Um relacionamento direto
das agências de cooperação internacional com as
redes, sem passar pelas instituições públicas
nacionais, foi apresentado por alguns como uma
necessidade das redes. É claro que, para as redes como para qualquer ONG, a
cooperação internacional assegura uma certa autonomia em relação aos poderes
nacionais. Mas, encontra-se, atrás desta questão, as regras da cooperação
internacional. A soberania nacional não pode ser negada em nome do fortalecimento da
sociedade civil. Ademais, muitas agências da cooperação internacional tentam, para
perenizar as ações realizadas no quadro dos seus projetos, fortalecer as relações entre
a sociedade civil e os governos, trabalhando sistematicamente em parceria com ONGs
e órgãos públicos.
“O problema é que a
cooperação deve passar pelo
Estado e que o governo não
apoia nossa rede”
Os atores da cooperação internacional considerados importantes pelos entrevistados
são, logicamente, os que financiam as redes ou seus membros - entre outros: USAID,
GTZ, DFID, JICA, UNICEF, CORDAID, PPM, União européia. Isto sublinha o fato das
redes estarem sob perfusão das agências internacionais de desenvolvimento. Devemos
então questionar: as redes são novos produtos do mercado do desenvolvimento ou
existe realmente uma “cultura de rede” atrás destas estruturas?
4. Quid da cultura de rede?
Todo mundo considera a cultura de rede como
um desafio essencial para conseguir articular
as forças de cada membro com os objetivos
44
“É um desafio enorme mas funciona
dificilmente”
compartilhados na rede. Para alguns, essa cultura de rede existe. Para outros, não.
Para todos, é desejável e representa uma condição para o futuro das redes.
Segundo as respostas, a cultura de rede é ligada à confiança, ao diálogo entre os
membros, ao reconhecimento dos limites de cada um ou a existência real de um
interesse comum. Os critérios, considerados como fundamentais pelos entrevistados,
para o bom funcionamento de uma rede refletem esta distinção. Uma parte das
respostas é composta por critérios ligados ao compromisso moral e ideológico:
Sair do discurso;
Cultura de rede;
Adesão;
Vontade de compartilhar;
Consciência coletiva;
Compartilhar o espírito de rede;
Dedicação.
Confiança (resposta freqüente);
Compromisso (resposta freqüente);
Ter um objetivo comum;
Imparcialidade das organizações;
Companheirismo;
Disciplina;
Reconhecer a diversidade como riqueza;
Objetividade;
As outras respostas são mais ligadas à organização ou a ferramentas técnicas e
metodológicas:
- A questão da comunicação: circulação da informação e comunicação interna entre
membros, comunicação multimídia;
- A organização interna: não se institucionalizar, ficar aberto, ter um plano
estratégico, descentralização das decisões, ter um estatuto flexível para poder
articular-se e desarticular-se em função dos eventos, transparência, coordenação
minimizada, que os responsáveis sejam os primeiros interessados, prestar serviço
concreto para os membros, apropriação da rede pelos membros, rodízio de
secretário executivo;
- Os meios necessários: critério financeiro, possibilidade de se encontrar, gerar um
benefício econômico, ter um bom tema de atuação, que existe uma necessidade,
uma demanda real, plano estratégico.
Para a grande maioria dos entrevistados, a cultura de rede nasce de um processo
orgânico e não depende de uma organização específica.
“É a cultura de rede que
Paradoxalmente, muitos dos entrevistados reconhecem
determina a eficiência dos
também a necessidade de desenvolver estratégias
processos”
adaptadas para reforçar a cultura de rede.
Todos concordam sobre a dificuldade de criar ou
“O jogo do mercado e a
manter essa cultura. Segundo os entrevistados, as
profissionalização
das ONGs
dificuldades vêm da divergência dos interesses, da
matam
a
cultura
de rede”
competição entre os participantes, todos dominados
por interesses individuais muito fortes. Para alguns, uma metodologia adequada poderia
suprir a falta de cultura participativa, permitir descentralizar as decisões e revelar os
benefícios concretos provenientes da atuação na rede. Estes três elementos também
são evocados para explicar a dificuldade de manter a cultura de rede.
O ponto crítico da desaparição da cultura de rede é quando a rede se transforma em
uma nova entidade e se torna concorrente dos membros na captação de recursos e na
realização de projetos. Este caso apareceu mais de uma vez.
45
“A cultura de rede depende muito
das pessoas. Si tem um interesse
pessoal em se envolver, funciona,
senão, é lento e irregular”
O componente individual é considerado como
fundamental para explicar as dificuldades de
funcionamento das redes. Também, para
alguns, a juventude da atuação em rede
explicaria a fraqueza da cultura de rede na
sociedade.
Tem que ressaltar aqui a importância do modo de representação da rede para o
crescimento da identificação dos membros a ela. Quando cada membro pode se tornar
porta-voz da rede, parece que elas se sentem mais próximos dela. Para as
coordenações que tomaram consciência disso, torna-se estratégico nomear alguns
membros para representar a rede em eventos ou reuniões específicas.
Para manter o caráter de rede, a idéia de criar sub-redes temáticas, em vez de deixar
uma rede crescer até impossibilitar a comunicação entre os membros, foi evocada. Isto
lembra a idéia de GTs temáticos autônomos da coordenação.
O exemplo do funcionamento do PNUD, também evocado, parece interessante. Duas
redes funcionam: uma hierárquica, onde está discutida a política da organização, entre
300 altos executivos antes de tomar decisões; uma temática, onde discutem os
expertos.
De modo geral, a cultura de rede é muito dependente da
“Os sucessos da rede
relação entre os membros e também das modalidades de
são
os sucessos de seus
participação na rede. Lembrando que as redes não existem
membros”
sem membros ou participantes. Para desenvolver
metodologias de fomento da cultura de rede, deve-se
primeiro entender a relação dos participantes com a estrutura-rede.
Apesar do sentimento, por vezes muito forte, de compromisso com uma causa,observase que os participantes esperam um retorno concreto da sua participação. Participar de
uma rede é caro, demanda tempo e energia (não sempre fácil a disponibilizar em
organizações como ONGs, associações representativas ou sindicatos que sofrem
freqüentemente de recursos humanos limitados). Para os membros, participar das redes
tem que valer a pena. Segundo os casos, eles consideram de maneira positiva a sua
participação e reconhecem a utilidade de serem membros. Os benefícios em participar
das redes variam segundo os casos. Podemos citar, por
“Você ganha um
exemplo, organizações que beneficiaram de ajuda técnica,
peso político, mais
outras que conseguiram melhor posicionar-se sobre questões
dinheiro não”
específicas graças às informações disponibilizadas pela rede.
Muitos consideram também que participar de redes
“O grau de impacto mudou
estimula a reflexão, traz informações importantes e
radicalmente desde que nós
permite ficar aberto sobre outras questões. O ganho
trabalhamos em rede”
em credibilidade e peso político é também considerado
como uma realidade para alguns membros. Enfim, as redes são consideradas como
espaços para divulgar as experiências sucedidas e, em alguns casos, facilitar o acesso
a financiamentos9.
9
As redes não são fontes de financiamento, mas muitos membros pensam que poderiam (ou deveriam) ser. No melhor
dos casos, elas podem ajudar a buscar financiamentos.
46
Nota-se também que a concepção da participação nas redes depende das
características do membro. Assim, para as instituições públicas, participar de uma rede
não tem a mesma utilidade que para um sindicato ou uma associação de trabalhadores.
Por exemplo, um ministério que participa de uma rede
se considera mais como um padrinho que como um
“A presença do ministério
membro. Ele considera que a sua participação na rede
valoriza os eventos
traz muito mais para a rede do que para ele. Mesmo se
organizados pela rede”
são poucos os exemplos de instituições públicas
participando de redes, é importante ressaltar que isto é considerado importante para
ampliar o leque de influência das redes. É particularmente importante conseguir
participação de ministérios ligados às temáticas de atuação das redes (ministérios do
meio ambiente, por exemplo)
A maioria dos membros encontrados participa de várias redes. A aproximação com as
redes se faz, na maioria dos casos, através de contatos pessoais ou por intermediário
de financiadores envolvidos na criação da rede. Segundo os entrevistados, todas redes
das quais eles participam têm importância, mesmo se, aprofundando as discussões,
percebe-se que algumas redes não têm a menor implicação (positiva ou negativa) sobre
sua atuação. Em outros termos, para algumas redes, sobretudo quando a afiliação é
gratuita, a participação não muda nada. Logicamente, quando solicitados, poucos se
recusam em participar.
É significativo ver muitos membros não saberem exatamente o que o traz a participar na
rede. Não encontramos uma rede que tenha termos de compromisso ou que tenha
formalizado as regras de participação. É mesmo muito raro as redes onde a adesão é
paga. Na forma atual de funcionamento das redes, o compromisso dos membros
repousa quase exclusivamente sobre a informalidade e a ética própria a cada um (que
é, claro, muito variável segundo os casos). Este fato permite manter um caráter aberto e
de “companheirismo”, o que é essencial. Mas a falta de regras de funcionamento e a
ausência de formalização do compromisso dos participantes abrem a possibilidade dos
membros participarem somente para o seu próprio interesse e não para o interesse
coletivo e também a possibilidade do núcleo duro gerenciar a rede sem muita
democracia interna. Uma formalização dos papeis de cada um e, sobretudo, dos “nós”
da rede, deveria esclarecer as responsabilidades individuais e coletivas.
Alguns membros também consideram que eles têm
obrigações e deveres em relação à rede, sobretudo
aquele de repassar informações para os outros
membros da rede e para o seu “público-alvo”, e
encaminhar as informações na base, socializar com a base. A obrigação de repassar
informação para a coordenação é também comum. Alguns também têm uma visão mais
ideológica e consideram que eles devem envolver outros atores e difundir a filosofia da
rede;
“A nossa obrigação é trazer
as informações da rede para
os movimentos”
A cultura de rede parece então muito ligada ao compromisso de cada um em relação à
organização coletiva. Considerando, por outra parte, a importância das redes terem um
mínimo de organização interna, já podemos fazer uma distinção entre duas concepções
de rede: a rede planejada, considerada como o resultado de uma metodologia
específica e a rede enquanto resultado de uma convergência de interesses e da
aprendizagem da ação coletiva. Estas duas faces das redes têm propriedades
47
diferentes e complementares, que serão abordadas na terceira parte. Adicionando a
estas duas faces as características de suas atividades, podemos esperar atingir um
retrato fiel da realidade das redes estudadas. A terceira parte deste estudo aprofunda o
conhecimento das características das redes e propõe algumas pistas para avaliá-las.
48
PARTE III
CARACTERIZAÇÃO DAS REDES
1. Classificar as redes?
Classificar as redes permite dar uma visão sintética do conjunto de atores sociais
estudados. Trata-se de agrupar as redes segundo os seus pontos comuns, partindo do
principio de que existem “famílias” de redes. Apesar da variedade dos nomes (fóruns,
articulações, plataformas, alianças), das histórias e perfis encontrados e das diferenças
de contextos de atuação, identificamos uma base comum a todas as redes estudadas,
ligada às atividades das redes e a seu funcionamento.
1.1. Atividades específicas
O estudo revelou três tipos de atividades: as ligadas ao manejo da informação, as
ligadas à prestação de serviços (principalmente para os membros das redes, mas
podendo ser ampliada para outros atores sociais, quando as redes desenvolvem
atividades semicomerciais), e as ligadas a uma forma de ativismo político. É claro que
todas as redes não realizam os três tipos de atividades, mas é relevante que as suas
atividades se encaixam sempre dentro destes 3 tipos de atividades.
Gráfico 14: Atividades específicas
Prestação de
serviços
Manejo da
informação
Ativismo
político
49
1.2. Um funcionamento específico
O estudo ressaltou duas lógicas diferentes do trabalho em rede:
- Rede-projeto: uma estrutura formalizada, ligada a uma organização do trabalho
adequada, adaptada às exigências organizacionais da estrutura da rede e aos
seus objetivos. A rede-projeto é:
ƒ Planejada: com objetivos definidos a meio e longo prazo, com
plano de financiamento, estratégia de atuação, infra-estrutura e
recursos humanos necessários;
ƒ Estruturada: com um organograma definido segundo as suas
atividades, uma organização do trabalho adaptada às
necessidades dos projetos, respeitando os interesses e
capacidades de cada participante.
- Rede-processo: uma mobilização espontânea de um conjunto de pessoas e
organizações, muito mais relativa à “cultura de rede” e ao lado orgânico da rede,
baseada em valores e objetivos compartilhados entre os membros, confiança e
compromisso. A rede –processo é:
ƒ Viva: com momentos de grande dinamismo e outros de baixa
energia. Ela tem um caráter próprio, pode ser imprevisível,
flutuante nas suas posições públicas. Pode estar doente. Precisa
de alimentos para se manter.
ƒ Reativa: a rede-processo reage às mudanças do seu contexto de
atuação. Este lado espontâneo constitui a força de mobilização da
rede; é dele que pode nascer um movimento coletivo de luta para
alguma causa.
Não existe um modelo “puro” de rede-projeto ou rede-processo: em longo prazo, parece
essencial combinar as duas concepções e chegar a um equilíbrio entre o lado
estruturado e o lado espontâneo das redes. No entanto, cada rede tem um lado mais
forte e, em alguns casos, parece quase exclusivamente “projeto” ou “processo”.
Rede-projeto
Rede-processo
A tendência é de nascer de uma tomada de consciência coletiva que leva a agilizar a
“rede-processo”. Com o tempo, geralmente, se sobrepõe a esse processo uma lógica
de projeto que constitui um reforço logístico e estrutural às ações da rede. Logo, os
casos encontrados mostram que a sobrevivência da rede depende da sua estrutura e a
sua vida do seu dinamismo interno. Este último é variável segundo as redes e os
50
momentos históricos. Foi freqüentemente evocada a existência de um ciclo de vida das
redes, no qual se sucedem períodos de dinamismo e períodos de baixa atividade.
Podemos afirmar que a condição necessária para qualquer rede se manter é a
existência de um mínimo de funcionamento segundo a lógica “processo”. Quando a
lógica “projeto” apaga a lógica “processo”, a rede se torna cada vez mais centralizada e
vira uma entidade precisando de recursos para se manter viva e não fechar as portas.
Ela vira ONG e compete com seus membros na captação de recursos com agências de
cooperação, que ainda a consideram rede.As tendências das redes, segundo os
critérios comuns apresentados acima, estão apresentadas na tabela seguinte.
Concepção
Rede-projeto
Rede-processo
Atividade
Descrição: projeto de ONG para divulgar
informação
= ferramenta de divulgação
Manejo da
informação
Vantagens: ferramenta que pode ser muito
eficiente para expor ações e atualidades
Dificuldades: multiplicar as fontes de
informações classificar a informação pertinente;
dificuldade técnica quando existe um grande
número de receptores
Descrição: projeto de ONG para agilizar uma
oferta de serviço
= serviço coletivo
Vantagens: cria uma identidade comum e
facilita a troca de experiências
Dificuldades: assegurar a qualidade do serviço
oferecido, financeiras para atingir um públicoalvo específico
Exemplo: PCTA, Bolsa Amazônia
Descrição: estrutura criada para fortalecer um
segmento da sociedade civil
= articulação
Ativismo
político
Vantagens: viva, muito focalizada sobre uma
temática
Dificuldades: manter o interesse coletivo e
conseguir um equilíbrio entre os membros; frágil,
depende muito da boa vontade individual.
Nenhum controle das informações.
Não tem exemplo (esse tipo de rede carece de
visibilidade)
Exemplo: REDESMA
Prestação
de serviços
Descrição: informal, pessoas (ligadas a
organizações) envolvidas na mesma área de
atividade
= grupo
Vantagens: os objetivos são claros: chamar a
atenção sobre certas questões sociais e/ou
ambientais
Dificuldades: Falta de base social; pode ser
visto como uma instrumentalização da
sociedade civil. Necessita uma organização forte
para criar o “lado processo”. Necessita pessoas
influentes
Descrição: agrupamento de pessoas e
organizações para socializar os recursos de cada
um em uma oferta de serviço.
= plataforma de ajuda mútua
Vantagens: economiza recursos
Dificuldades: manter uma guia e assegurar uma
repartição justa dos benefícios
Exemplo: PICCSA, Rede Norte
Descrição: Dinâmica visando uma mobilização
coletiva para influir sobre políticas públicas
= fórum
Vantagens: pode ser muito eficiente graças a
forte base social
Dificuldades: ganhar legitimidade na área de
atuação, não ser dominada por um pequeno
grupo de ONGs, manter participação, definir
estratégias comuns e articular o trabalho
Exemplo: FAOR ou RAAA
Exemplo: GTA primeiro período, RFA
51
1.3. Algumas pistas para qualificar as redes:
A partir da nossa caracterização, podemos avançar alguns elementos para qualificar as
redes. Devem ser consideradas as características fundamentais das redes para
procurar quais são os elementos que as compõem.
Rede-projeto: os elementos fundamentais que compõem o lado “projeto”
das redes estão mais ligados à suas infra-estrutura, recursos e governança.
Podemos pensar em :
Recursos financeiros
Segurança financeira (curto, médio, longo prazo)
Autonomia financeira (diversidade dos financiadores)
Recursos humanos (número de assalariados, participantes ocasionais,
voluntários..)
Planificação das atividades (existe ou não)
Espaço físico de funcionamento
Grau de formalização (hierarquia, organograma)
Modo de representação
Número de membros
Número de membros ativos
...
Rede-processo: os elementos fundamentais que compõem o lado
“processo” das redes estão mais ligados à cultura de rede e tomadas de
decisão. Podemos pensar em:
Descentralização do poder de decisão
Grau de autonomia dos nós
Democracia interna
Transparência
Identificação dos membros à rede
Grau de participação dos membros
Objetivos compartilhados
Grau de institucionalização (personalidade jurídica, departamento de ONG,
nada...)
...
Os elementos fundamentais relativos às atividades são:
Gestão da informação:
Meios disponíveis
Capitalização e publicações
Monitoramento do repasse da informação
Comunicação horizontal
Volume da informação
Grau de receptividade dos membros
...
52
Prestação de serviços:
Volume de serviços prestados
Facilidade de acesso aos serviços
Posição no mercado
Grau de especialização
Monitoramento
...
Ativismo político:
Participação em eventos
Participação em espaços de negociação
Assessoria/consultoria
Campanhas de sensibilização
Apoio a grupos representativos
Elaboração ou modificação de leis
Ampliação de debates temáticos
...
A partir destes elementos, esboçamos uma metodologia de avaliação das redes. A idéia
é representar cada elemento em um mesmo gráfico, partindo da hipótese de que é
possível chegar a uma medida para cada um. Para confirmar esta hipótese, será
necessário elaborar uma escala de valores para cada elemento e um método refinado
para recolher os dados.
Uma tal metodologia (que podemos chamar de metodologia PAP - Projeto- AtividadeProcesso), constituiria uma ferramenta muito útil para as próprias redes melhorarem o
seu desempenho e para os outros atores que trabalham no desenvolvimento da região.
Trata-se, em primeiro lugar, de uma ferramenta de auto-avaliação que pode ser
adaptada às necessidades de cada rede.
A grande vantagem de uma tal representação é a identificação imediata do conjunto das
características e das forças e fraquezas da rede avaliada, o que facilita a definição de
medidas adaptadas aos objetivos da rede e também a elaboração de projetos de apoio
para as agências financiadoras.
O resultado desta avaliação seria um esquema representando todos os elementos
característicos listados acima em um gráfico, exemplado na página seguinte.
53
Gráfico 14: exemplo de representação gráfica da avaliação de uma rede X
segundo a metodologia PAP
Atividades:
Gestão da informação:
Processo:
Meios disponíveis
Capitalização e public.
Descentralização do poder
Mon. do repasse da
inf.
Grau de autonomia dos nós
Comunicação
horizontal
Democracia interna
Transparência
Volume da
informação
Identificação dos membros à rede
Grau de participação dos membros
Grau de
receptividade
Objetivos compartilhados
Grau de institucionalização
Prestação de
serviços:
Projeto:
Volume
Recursos financeiros
Segurança financeira
Facilidade de
acesso
Autonomia financeira
Posição no mercado
Recursos humanos
Planificação das atividades
Grau de especialização
Espaço físico de funcionamento
Monitoramento
Grau de formalização
Incidência política:
Modo de representação
Participação em eventos
Número de membros
Particip. em espaços de neg.
Número de membros ativos
Assessoria/consultoria
Campanhas de sensibilização
Apoio a grupos representativos
Elab. ou modif. de leis
Ampliação de debates
54
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Considerando a atualidade de grandes projetos promovidos pelo Banco interamericano
de desenvolvimento (IIRSA), que vão transformar a realidade socioeconômica da
região, parece urgente fomentar mecanismos de fortalecimento da sociedade civil
amazônida. Isto significa apoiar as organizações que representam (diretamente ou
indiretamente) os interesses das numerosas populações que constituem a sociedade
amazônica, plural e multicultural, para que elas possam expressar seu ponto de vista e
participar das transformações regionais. Adiciona-se a estas organizações todas que
experimentam novas formas de exploração sustentável dos recursos naturais.
As redes estudadas neste nosso estudo apresentam várias características que nós
autorizam considerá-las como atores sociais de primeiro plano. Constituídas por
organizações historicamente implantadas na Amazônia, atentas às evoluções sociopolíticas e econômicas regionais, freqüentemente reconhecidas tão pelos movimentos
sociais que pelos poderes públicos, as redes têm, de modo geral, toda legitimidade para
ser parceiros ativos das políticas de desenvolvimento e da cooperação internacional.
Seria uma perda pela democracia não contar com esses atores nos debates
contemporâneos.
A grande vantagem de fomentar a gestão de conhecimentos e valorizar a cultura de
rede como principio de gestão social é fortalecer, através de um número restrito de
estruturas organizadas, um conjunto abrangente e representativo da diversidade das
organizações da sociedade civil amazônica.
As redes têm duas caras: uma orgânica (ligada ao lado “processo”); uma construída
(ligada ao lado “projeto”). É a harmonia entre estes dois lados que assegura o bom
funcionamento de uma rede, e o cumprimento dos seus objetivos. Ao longo do estudo,
apareceram vários critérios determinantes para esta harmonia. Destacaremos aqui
alguns deles: a descentralização das tomadas de decisão; uma estrutura formalizada,
adequada para garantir uma autonomia dos participantes (especialmente para os nós
da rede); a necessidade absoluta de ferramentas de comunicação adaptadas e,
logicamente, um mínimo de recursos financeiros e humanos para assegurar um bom
funcionamento.
O estudo também trouxe elementos de definição para a “cultura de rede”. Esta última
depende tanto de um quadro organizacional adaptado quanto de uma consciência
compartilhada entre os membros de participar de uma aventura comum. Assim, a
confiança, o compromisso, a adesão e até mesmo o “companheirismo” são fatores
essenciais. Estes fatores são relacionados com o conhecimento (e o reconhecimento)
dos membros uns com outros. Por outro lado, a consciência de ganhar alguma coisa na
participação em uma rede sempre apareceu fundamental para manter a vontade de
participar. Parece então importante deixar claro os serviços oferecidos pelas redes aos
seus membros. Todavia, seria bom que a idéia de que “a gente recebe mais quando a
gente dá mais” fosse mais divulgado por parte dos atores sociais envolvidos: o que a
rede oferece aos seus membros depende também dos serviços e informações que os
membros estão prontos a oferecer à rede.
55
Observações finais
As propostas formuladas neste estudo precisam de um quadro amplo de parceiros para
serem concretizadas. Temos que aproveitar da reativação da OTCA para agilizar um
consórcio de agências e organizações ligadas à Amazônia. A iniciativa da GTZ, DED e
UICN mostra que é possível juntar diferentes agências ou organizações para estudar
questões específicas. Queremos ver nesta iniciativa o início de várias outras,
destinadas a aprofundar seus conhecimentos da região e as práticas coletivas e, quem
sabe, o embrião de um observatório da governança panamazônica, que poderia ser
encabeçado pela OTCA e contar com a participação de agências de cooperação
internacional, universidades e redes de universidades (como RLCU, FLACSO). Uma
das tarefas desse observatório da governança poderia ser fortalecer a auditoria ou
monitoramento social de projetos públicos. Neste sentido, a cooperação representa o
ator par excelência de facilitador de processos entre o público e o privado. As
universidades têm a responsabilidade da capacitação e da formação.
Algumas agências financiadoras, como USAID, já optaram para apoiar rede, ou criação
de redes, e, depois resolveram parar. Seria interessante saber o porquê. Talvez existam
alguns documentos disponíveis, como “lessons learned”. Fora isso, seria com certeza
enriquecedor organizar encontros com responsáveis destas agências.
Lugares de fronteira são lugares-chave. Existem algumas iniciativas interessantes que
implicam vários países, sobretudo nas fronteiras. Em particular o projeto MAP10, na
fronteira Brasileira, Perú e Bolívia e o projeto ProDias (ver p. 43). Essas experiências
parecem sucedidas e têm sem dúvida muitas coisas a ensinar a respeito da cooperação
panamazônica.
10
O projeto MAP, iniciado em 1999 por diversas universidades, visa aproximar instituições públicas (principalmente
universidades) e organizações da sociedade civil das 3 regiões fronticeiras. São organizados Comités Trinacionais para
debater sobre temáticas de interresse comum (madeira, educação, clima, saúde). Eventos são organizados cada ano. O
último encontro, o MAP IV, aconteceu em 2003 e reuniu mais de 600 pessoas e 160 instituições. Os 3 eixos de trabalho
são: equidade social, desenvolvimento econômico e proteção ambiental. O MAP recebe apóio do WWF, da fundação
Ford, da fundação Moore e da Universidade de Flórida.
56
Anexo 1: Descrição básica das redes que participaram do estudo
Redes
Associação
Brasileira de
Organizações Não
Governamentais Regional
Amazônia
ABONG
Bosques
Amazônicos
BOAM
Coalizão Rios
Vivos
RV
Enredadera
Amazónica,
Freidrich Ebert
Stiftung, Perú
Enredadera Amaz
Informações de contato
Endereço: Tv. 03 de maio, nº 1529,
São Brás, Belém, Pará.
Tel:(91) 259-6868
Fax:(91) 229-3000
[email protected]
Contato: Maura Rejane L. Moraes
Cargo: Coordenadora Regional
Telefone(s): (91) 229-2210
Endereço(s) eletrônico(s): [email protected]
Endereço: JR. LA CONDAMINE Nº 285
IQUITOS PERÚ
Tel: 0051-65-223039
Fax: 0051-65-223039
[email protected]
Contato: JUAN EDUARDO MATELUNA FLORIAN
Cargo: DIRECTOR
Telefono(s): 0051-65-223039
Dirección (s) eletrónica(s):
[email protected]
Endereço: Rua 14 de Julho 3169
Campo Grande MS
Brasil
Tel:55 67 324 3230
Fax:55 67 324 3230
[email protected]
www.riosvivos.org.br
Contato: Alcides Faria
Cargo: Secretario Executivo
Telefono(s): 55 67 324 3230
Dirección (s) eletrónica(s):
[email protected]
Áreas de atuação
• Desenvolvimento
institucional
• Desenvolvimento
da
região Amazônica
• Controle e participacão
social
• Manejo florestal
• Gestão de UC
• Certificação
• Produtos florestais
não-
madeireiros
• Povos indígenas
• Biodiversidade
• Água
• Povos indígenas
• Direitos humanos
• Cambios el modelo
de
desarrollo
Endereço: Av da Camino Real 492, Centro
Comercial Camino Real, Torre Real, Piso 9
Tel:4418454
Fax:4418422
[email protected]
• Capacitación
Contato: Ernesto Gonbzález Roberto
Cargo: Asesor, Coordinador del Proyecto
Amazónico de la FES en Perú
Telefono(s): 4418454
Dirección (s) eletrónica(s): [email protected]
57
de
facilitadores amazónicos
Fórum Carajás
F. Carajás
Endereço: rua Armando Vieira da Silva, 110
Apeadouro, São Luís, Maranhão/BR
Tel:982.499.712
Fax:982.754.267
[email protected]
www.fcarajas.org.br
Contato: Denise Goemes Privado
Cargo: Secretaria executiva
Telefone(s): 236 2309
Endereço(s) eletrônico(s): [email protected]
• Manejo florestal
• Biodiversidade
• Água
• Povos indígenas
• Gênero
• Exploração de recursos
minerais
humanos
• Direitos
Endereço: Páez N 19-26 y Patria, Quito
Faculdad Latino
Americana de
Ciencias Sociales
FLACSO
Fórum Matogrossense de Meio
Ambiente e
Desenvolvimento
FORMAD
Contato:Teodoro Bustamante Ponce
Cargo: Coordinador Programa Estudios
Socioambientales
Telefono(s): 2234 545
Dirección (s) eletrónica(s): tbustamante
flacso.org.ec
Endereço: Rua Carlos Gomes, 20 - bairro Araés
Cep; 78005-260 Cuiabá - MT
Tel:(65) 324-0893
Fax:(65) 324-0893
[email protected]
www.formad.org.br
Contato:Jonia Fank
Cargo: Secretaria Executiva
Telefone(s): (65) 324-0893
Endereço: Manuel Gomez 634 Lince Lima 14
Tel:(511) 266 0245
Fax:(511) 266 0580
www.foroecologico.org
Foro Ecologico del
Peru
FE
Foro ecológico y
social
FORO ECO
Contato: Carlos Soria
Cargo: Responsable del Area De Politica y
Derecho Ambiental
Telefono(s): 266 0245
Dirección (s) eletrónica(s):
[email protected]
Endereço: 7 Este Nº 29 Equipetrol;
Santa Cruz, Bolivia
Tel: 33432098
Fax: 33431332
[email protected]
Contato: Rosa Virginia Suarez A., Coordinador
Dirección (s) eletrónica(s):
[email protected]
58
• Gestão de UC
• Biodiversidade
• Povos indígenas
• Exploração de recursos
minerais
humanos
• Direitos
• Manejo florestal
• Gestão de UC
• Biodiversidade
• Água
• Direitos à terra
• Povos indígenas
• Gênero
• Direitos humanos
• Defesa do consumidor
• Saúde, Educação
• Manejo florestal
• Gestão de UC
• Biodiversidade
• Povos indígenas
• Exploração de recursos
minerais
do consumidor
• Defesa
• Gestão de UC
• Biodiversidade
• Produtos florestais
nãomadeireiros
• Povos indígenas
• Direitos humanos
• Defesa do consumidor
Fórum Brasileiro
de ONGs e
Movimentos
Sociais para o
Meio Ambiente e
Desenvolvimento
FBOMS
Fórum da
Amazônia Oriental
FAOR
Fórum da
Sociedade Civil
nas Américas
FSC
Grupo de pesquisa
amazonia 21
GPA 21
Endereço: Rua General Jardim, 660 , 8 andar, sala
81 CEP 01223-010
São Paulo - SP - Brasil
Tel:55(11) 3159-5071 ou 327 29411
Fax:11 - 3258-8469
www.fboms.org.br
Contato: Cimara Machado
Cargo: Secretaria Adjunta
Telefone(s): 53 225 4954
Endereço(s) eletrônico(s):
[email protected]
Endereço: Rua Senador Lemos Nº 557, CEP
66050-000, Bairro Umarizal, Belém - Pará
Tel:(91) 261 4334
Fax:261 4334
[email protected]
www.faor.org.br
Contato: Marcos Roberto da Silva Sousa
Cargo: secretário executivo
Telefone(s): (91) 9602 7343
Endereço(s) eletrônico(s):
[email protected]
Endereço: CEPIA (Secretaria Execituva do Fórum
da Sociedade Civil nas Américas)
Rua do Russel, 694/201 - Glória Rio de Janeiro - RJ.
Brasil CEP 22210-010
Tel:(55-21) 2205-2136 / 2558-6115
Fax:(55-21) 2205-2136 / 2558-6115
[email protected]
www.forumcivil.org.br
Contato: Adriana Mota
Cargo: Pesquisadora
Telefone(s): (55-21) 2205-2136 / 2558-6115
Endereço(s) eletrônico(s):
[email protected]
Endereço: UFPA - NAEA
Campus Guamá
Belém, PA, Brasil
Tel:0055-91-2299059
Fax:0055 -91-2299059
• Gestão de UC
• Biodiversidade
• Água
• Povos indígenas
• Gênero
• Defesa do consumidor
• Matriz Energetica
• Clima, Comércio e Meio
Ambiente,
em Meio
Ambiente
• Carta da Terra
• Trabalho
• Água
• Direitos à terra
• Gênero
• Direitos humanos
• Controle social de
políticas
públicas
• Reforma urbana
• Economia solidária
• Politicas públicas para a
juventude
• Gênero
• Direitos humanos
• Relações Econômicas
entre países
• Mercosul
• Democracia
• Biodiversidade
• Água
• Exploração de recursos
minerais
• Desenvolvimento
www.gpa21.org
Contato:Norbert Fenzl
sustentável
59
Grupo de Trabalho
Amazônico
GTA
Endereço: SAIS Canteiro Central do Metrô Lote 08
Galpão 01
CEP 70610-000
Brasília DF
Tel:61 346 7048
Fax:61 346 7048
[email protected]
www.gta.org.br
Contato: José Arnaldo de Oliveira, coordenador de
comunicação e campanhas, arnaldo @ gta.org.br
Grupo de Trabalho
Manejo Florestal
Comunitário
GT MFC
Guiana Shield
Initiative
GSI
Liga de Defensa
del Medio
Ambiente
LIDEMA
Endereço: Belém, Av. Tavares Bastos, 933
Conjunto Residencial Colúmbia, Bloco F
Apartamento 201
Tel:91- 238 0144 / 9985 7346
Fax:91- 238 23415
Futuramente, na página do IIEB : www.iieb.org.br
Contato:Manuel Amaral Neto, coordenator,
Telefone(s): 91- 238 0144
Endereço(s) eletrônico(s): [email protected]
Endereço: Netherlands Committee for IUCN
Plantage Middenlaan 2K1018DD Amsterdam
Tel:+31 20 626 1732
Fax:+31 20 6279349
www.iucn.nl/www.guianashield.org
Contato: Amy MacKinven
Position: Project Officer GSI
Phone(s): +31 20 626 1732
Email address: [email protected]
Endereço: Av. Ecuador 2131
La Paz - Bolivia
Tel:591 2 2419393 y 2416044
Fax:591 2 2412322
[email protected]
www.lidema.org.bo
Contato: Jenny Gruenberger
Cargo: Directora Ejecutiva
Telefono(s): 591 2 2419393 y 2416044
Dirección (s) eletrónica(s): [email protected]
60
• Manejo florestal
• Gestão de UC
• Biodiversidade
• Água
• Direitos à terra
• Gênero
• Direitos humanos
• Educação
• Saúde
• Energia
• Manejo florestal
• Certificação
• Manejo florestal
• Biodiversidade
• Pagos por serviços
ambientais
florestais nãomadeireiros
• Água
• Direitos à terra
• Produtos
• Manejo florestal
• Gestão de UC
• Biodiversidade
• Água
• Povos indígenas
• Exploração de recursos
minerais
• Defesa do consumidor
• Promover el desarrollo
sostenible
Movimento
Articulado de
Mulheres da
Amazônia
MAMA
Plataforma de
construcción de
consensos
socioambientales
PICCSA
Programa Bolsa
Amazônia
BOLSA
AMAZONIA
Programa de
Capacitação de
Técnicos e
Agricultores da
Amazônia
PCTA
Endereço: Rua Barão do Rio Branco 163 Bosque, Rio Branco / Acre, 69908-340
Tel:(0xx68) 223-8120/6784
Fax:(0xx68) 223-6784
[email protected]
www.mama.org.br
Contato :Viviane Leodegário
Cargo: Técnica- Pedagógica
Telefone(s): 223-6784 ou 9979-6979
Endereço(s) eletrônico(s): [email protected]
Endereço: San Ignacio 134 y Seis de Diciembre
Quito, Ecuador
Tel:593 2 504 496
Fax:593 2 904 098
[email protected]
• Biodiversidade
• Água
• Direitos à terra
• Povos indígenas
• Gênero
• Direitos humanos
• Comércio
• Água
• Povos indígenas
• Gênero
• Exploração de recursos
minerais
Contato: María Arboleda
Cargo: Secretaria Ejecutiva
Telefono(s): 593 2 504 496, 593 2 904 098
Dirección (s) eletrónica(s): [email protected]
Endereço: Campus Universitário do Guamá - Setor
Profissional - Casa do POEMA - Cx Postal 8606 Cep: 66075-900 Belém - Pará - Brasil
Tel:(91) 211-1686/2027/1700
Fax:(91) 259-3423
[email protected]
www.bolsaamazonia.com
Contato: Danielle Redig Serra
Cargo: Assessoria de Comunicação
Telefone(s): (91) 9986-6148
Endereço(s) eletrônico(s):
[email protected]
Endereço: Rua Iracema, Q11, casa 8 conj. Village Vila Ivonete, Rio Branco - AC cep: 69.914-390
Tel:(68) 223-3773
Fax:(91) 223-1724
[email protected]
www.pesacre.org.br
Contato: Brahna ou Brother
Cargo: Coordenação Técnica
Telefone(s): (91) 223-3773 e 223-1724
Endereço(s) eletrônico(s): [email protected]
61
• Conflictos
petroleros en la
Amazonía
• Conflcitos por la
producción del banano
• Manejo florestal
• Biodiversidade
• Produtos florestais
madeireiros
• Biodiversidade
• Certificação
• Gênero
• Intercâmbio de
informações em
agroecologia
não-
Proyecto
"Mejoramiento de
las Condiciones
Ambientales en las
Comunidades
Indígenas"
REPAMAR
Red de Acción
Alternativas al uso
de Agroquímicos
RAAA
Red Agroforestal
Ecuatoriana
Endereço: Centro Panamericano de Ingenieria
Sanitaria y Ciencias del Ambiente -CEPISLos Pinos 259 Urb. CamachoLima,12, PERU
Tel:(51 1)437-1077
Fax:(51 1)437-8289
[email protected]
http://www.cepis.ops-oms.org
Contato:Ricardo Dianderas
Cargo: Asesor Técnico del Proyecto Comunidades
Indígenas
Telefono(s): (51 1)437-1077
Dirección (s) eletrónica(s): [email protected]
Endereço: Jr. Julio Rodavero 682- Urb. Las BrisasLima 1- Peru
Tel:(51-1) 4257955
Fax:(51-1)3375170
[email protected]
www.raaa.org
Contato: Luis Gomero Osorio
Cargo: Coordinador de Desarrollo Institucional
RAAA
Telefono(s): 51-1 3375170/ 51-1 4257955
Dirección (s) eletrónica(s): [email protected]
Endereço: Av. Mariana de Jesus E6-172 entre a
Amazonas y Moreno Bellido, 2do piso (Altos de la
Guardería Aleli)
Tel:02 2 527220 2907739 2909616
Fax:02 2 527220
[email protected]
• Água
• Povos indígenas
• Gênero
• Biodiversidade
• Gênero
• Agricultura sustentable
• Agricultura organica
• Problematica de los
agroquímicos
• Manejo florestal
• Gênero
RAFE
Contato: Janett Torres T. Coordinadora nacional,
tel: 02 2527220, [email protected]
Red de Desarrollo
Sostenible y Medio
Ambiente
REDESMA
Endereço: Av. Ecuador 2330, esq. Rosendo
Gutierrez, Sopocachi
Casilla Postal 9205
La Paz - Bolivia
Tel:(5912) 24153
Fax:(5912)2414726
www.redesma.org
Contato: Cecilia González
Cargo: Servicios y difusión
Telefono(s): (5912) 2415324
Dirección (s) eletrónica(s): [email protected]
62
• Manejo florestal
• Gestão de UC
• Povos indígenas
• Gênero
• Difusión de temas
Medio
Ambiente y Desarrollo
Sostenible
• Uso de TIC's para esta
temática
Red de Gènero y
Ambiente en
Latinoamèrica y el
Caribe
GALAC
Red de
Resistencia
Oilwatch
OILWATCH
Red Ecorregional
para América
Latina Tropical
REDECO
Red Forestal
Amazónica
RFA
Endereço: Unión Mundial para la Naturaleza-UICN
200 sur y 100 este Banco Nacional Moravia,
San José, Costa Rica
Tel:506-2410101
Fax:506240-9934
[email protected]
http://www.generoyambiente.org/ES/red_galac/
• Gênero
Contato: Jackeline Siles
Cargo: Webmistress
Telefono(s): 506-2410101
Dirección (s) eletrónica(s): [email protected]
Endereço: Alejandro de Valdez N24-33 y La Gasca
- QUITO - ECUADOR
Tel:(593 2) 2547516 - 2527583
Fax:(593 2) 2547516 - 2527583
[email protected]
www.oilwatch.org.ec
• Seguimiento
a actividades
hidrocarburíferas
Contato: Ivonne Yanez
Dirección (s) eletrónica(s):
[email protected]
Endereço: Km 17 Recta Cali-PalmiraCali,
Valle del Cauca, Colombia A.A 6713
Tel:4450000 Ext: 3716
Fax:4450073
[email protected]
www.redeco.org
• Manejo florestal
• Gestão de UC
• Biodiversidade
• Pagos por serviços
ambientais
florestais nãomadeireiros
• Água
• Gênero
• Agricultura
• Geomática
• Produtos
Contato:Liliana Rojas
Cargo: Asistente de Investigación
Telefono(s): 4450000 Ext: 3716
Dirección (s) eletrónica(s): [email protected],
[email protected]
Endereço:Mariano Ehecverría 843 y Francisco
Feijoo.
Quito - Ecuador
Tel:593 2 2920635
Fax:593 2 2920636 ext. 109
www.amazoniaforestal.org
Contato:Carlos Fierro
Cargo: Director de Proyectos
Telefono(s): 593 2 2920 635
Dirección (s) eletrónica(s): [email protected]
63
• Manejo florestal
• Certificação
• Pagos por serviços
ambientais
florestais nãomadeireiros
• Povos indígenas
• Políticas Forestales
Regionales
• Produtos
Red Juvenil
ambiental
Nacional de
Colombia
Red JUAN
Colombia
Red
Lalinoamericana
de Investigaciones
en Agricultura
Urbana
AGUILA
Red
Latinoamericana
de Bosques
RLB
Red Venezolana
de Organizaciones
para el Desarollo
Social
REDSOC
Endereço: Diagonal 24 No. 27ª-42,
Bogotá - Colombia
Tel:1-2442465, 1-2440581
Fax:1-2442465, 1-2440581
[email protected] http://
www.censat.org/Red_Juan.htm
Contato: Irene Vélez
Telefono(s): 1-2442465 y 1-2446775
Dirección (s) eletrónica(s): [email protected],
[email protected],
[email protected]
Endereço: Calle Manuel Piqueras, No. 194,
San Isidro, Lima, Peru
Tel:(51-1) 440-6099 / 421-9722 / 421-6684
Fax:(511) 440-6099 / 421-9722 / 421-6684 ext. 107
[email protected]
http://www.ipes.org/aguila
Contato: Mario Gonzalez Novo
Cargo: Secretario Ejecutivo
Telefono(s): (511) 440-6099 / 421-9722 / 421-6684
ext. 108 y 110
Dirección (s) eletrónica(s): [email protected]
Endereço: Avenida Republica 481 y Almagro
Quito Ecuador
Tel:593-2-2503385 / 94 ext. 325
Fax:593-2-2503385/24 ext.219
[email protected]
http://www.fnatura.org/
Contato: Dania Quirola Suárez
Cargo: Coordinadora
Telefono(s): 593-2-2503385 / 94 ext. 325 o
59399825272
Dirección (s) eletrónica(s):
[email protected]
Endereço: Segunda Avenida Los Cortijos de
Lourdes. Edificio Fundación Planta Baja,
Caracas 1071
Tel:(+58 212) 202.7540 / 202.7587
Fax:(58 212) 202.7626
[email protected]
http://www.redsoc.org.ve
Contato: Consuelo Morillo de Hidalgo
Cargo: Directora-Coordinadora
Telefono(s): (+58 212) 202.7540 / 202.7587
64
• Biodiversidade
• Água
• Direitos à terra
• Povos indígenas
• Exploração de recursos
minerais
• Direitos humanos
• Soberania alimentaria
• Fumigaciones
• Plan Colombia
• Manejo florestal
• Água
• Direitos à terra
• Gênero
• Agricultura urbana
• Manejo florestal
• Biodiversidade
• Produtos florestais
não-
madeireiros
• Povos indígenas
• Gênero
• Capacitación de jóvenes
en oficios
sexual y
reproductiva
• Educación preescolar y
básica
• Educación ambiental
• Trabajo con mujeres y
comunidades
• Capacitación en redes y
TICs
• Salud
Rede Brasileira de
Educação
Ambiental
REBEA
Rede Brasileira de
Justiça Ambiental
REDE JÁ
Rede das Águas
R. ÁGUAS
Rede Nacional
Pró-Unidades de
Conservação
Rede Pró-UC
Endereço: REBEA Instituto Ecoar para a Cidadania
Rua Tomás Carvalhal, 551 Paraíso - São Paulo - SP Cep 04006-002
Tel:011 3051 1362
Fax:011 3051 1362
[email protected]
www.rebea.org.br
• Educação ambiental
• Cultura de rede
Contato: Vivianne Amaral
Cargo: secretária executiva e faciltadora
Telefone(s): 11 3052 1362 ( Ecoar) 3399 6239 (res)
Endereço(s) eletrônico(s): [email protected]
Endereço: Rua das Palmeiras, 90 Botafogo
Rio de Janeiro - RJ
22270-070
Tel:21 22861441
Fax:21 22861209
www.justicaambiental.org.br
Contato: Julianna Malerba
Cargo: tecnica do projeto Brasil sustentável
Função: secretariar e coordenar a Rede Brasileira
de JÁ
Telefone(s): 21 2286 1441
Endereço(s) eletrônico(s): [email protected]
Endereço: Rua Manoel da Nóbrega 456
Paraíso SP CEP 04001-001
Tel:38877550, 3887-7888
Fax:3885-1680
[email protected]
www.rededasaguas.org.br
• Biodiversidade
• Água
• Direitos à terra
• Povos indígenas
• Direitos humanos
• Conflitos ambientais
• Água
Contato: Maria Luisa Ribeiro
Cargo: coordenadora de projetos
Telefone(s): 11 4013-4656
Endereço(s) eletrônico(s): [email protected]
Endereço: Rua Schiller, 702 B - Alto da XV
Curitiba - PR - Brasil
CEP 80050-260
Tel:041 262-9255
Fax:041 362-7939
[email protected]
www.redeprouc.org.br
Contato: Alexandre Lorenzeto
Cargo: Técnico Executivo
Telefone(s): 041 262-9255
Endereço(s) eletrônico(s):
[email protected]
65
• Proteger,
fortalecer,
aprimorar e ampliar o
conjunto de Unidades de
Conservação
Rede Norte de
Propriedade
Intelectual,
Biodiversidade e
Conhecimentos
Tradicionais
Rede Norte
Red de
Información
forestal para
America latina y el
Caribe
RIFALC
Sociedad Nacional
del Ambiente
SNA
Associação de
Universidades
Amazônicas
UNAMAZ
Endereço:Av. Nazaré 630, bl. D CEP 66.035.-170
Belém - Pará
Tel:(91) 216-2636
http://www.cesupa.br/redenorte/
Contato: Eliane Moreira
Telefone(s): (91) 216-2636
Endereço(s) eletrônico(s):
[email protected]
Endereço: AV. BULNES 259 OF.
706CORPORACION NACIONAL FORESTAL
(CONAF)SANTIAGO - CHILE
Tel:56 2 3900334
Fax:56 2 6731053
[email protected]
http://iufro.boku.ac.at
• Biodiversidade
• Povos indígenas
• Gestão da Propriedade
Intelectual
• Información Forestal
• Investigación Forestal
Contato: Santiago Barros
Cargo: Coordinador RIFALC
Telefono(s): 56 2 3900334
Dirección (s) eletrónica(s): [email protected]
Endereço: ANTERO ASPILLAGA 235-A +
SAN ISIDRO
Tel:00511 421 9167
Fax:00511 421 9167
[email protected]
www.sna.org.pe
Contato: Edwin Gonzales / Giovanna Orcotoma
Cargo: Representante alterno ante Consejo
directivo
Telefono(s): 421 9167
Dirección (s) eletrónica(s): [email protected]
Endereço: Travessa 3 de Maio, 1573 - São Braz
Caixa Postal 558 cep:66063-390
Tel:91-259 2525
Fax:91-229 44 80
www.ufpa.br/unamaz
Contato: Rosa Azvedo Marin
Cargo: Diretora da Sede Institucional
Telefone(s): 91-2294478
Endereço(s) eletrônico(s):
[email protected]
66
• Manejo florestal
• Biodiversidade
• Produtos florestais
nãomadeireiros
• Povos indígenas
• Exploração de recursos
minerais
• Saneamiento
• Biodiversidade
• Povos indígenas
• Formação
• Cultura e Meio Ambiente
Unión Mundial
para la naturaleza
- Oficina Regional
para América del
Sur
UICN-Sur
Endereço: Shyris 2680 y Gaspar de Villarroel - PH.
Quito - Ecuador
Tel:593-2-2261075
Fax:593-2-2263075
[email protected]
www.sur.iucn.org
Contato: Tamara Montalvo Rueda
Cargo: Coordinadora Portal Conservación y
Equidad Social/ Director Regional
Telefono(s): 593-2-2261075
Dirección (s) eletrónica(s): [email protected]
67
• Manejo florestal
• Gestão de UC
• Biodiversidade
• Certificação
• Água
• Direitos à terra
• Povos indígenas
• Gênero
• Ecosistemas marino-
costeros

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