Untitled - alex mero

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Untitled - alex mero
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A Lenda de
um Nômade
Alex Mero
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A Lenda de um Nômade
© Alex Mero, 2010
Autor / Editor
http://www.alexmero.com
http://www.alexmeroblog.com
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Sinópse
Prólogo
1. Poder Interno
- Milagre
- Percepção
- Contemplação
- Escolhas
2. Conhecimento Superior
- Busca
- Sinal
- Sinceridade
- Emoção
3. Mistério Maravilhoso
- Padrão de Hábito
- Façanha
- Curiosidade
- Alternativa
4. Poder Criador
- Observação
- Inspiração
- Realidade
- Energia
5. Harmonia Natural
- Ligação
- Unidade
- Memória
- Vigilância
6. Energia Motriz
- Abertura
- Relação
- Silêncio
- Imaginação
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7. Equilíbrio Perfeito
- Discurso
- Rebelião
- Destino
- Pensamento
8. Confiança Ilimitada
- Convicção
- Despertar
- Beleza
- Mensagem
9. Lucidez Crescente
- Envolvimento
- Consciência
- Desejo Profundo
- Estado Puro
10. Bem Interminável
- Atenção
- Paciência
- Tranquilidade
- Missão
11. Sabedoria da Compreensão
- Essência
- Claridade
- Mudança
- Conectividade
12. Redenção Final
Epílogo
Palavras de agradecimento
Autor
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Sinópse
"A Lenda de um Nômade" é uma narrativa inspiradora que
constitui a verdadeira essência da vida. Trata-se de um fascinante
relato de viagem através do qual, servindo-se de variadas visões
culturais e filosofias existentes, se explica o conceito do destino de
uma vida. Este romance de aventura descreve de uma forma
original o fenómeno que resulta da fusão do conhecimento e da
intuição, levando à aparição de uma misteriosa energia.
Uma força que, simultaneamente, nos dá compreensão do amanhã
e nos torna conscientes do significado do mais profundo de todos
os acontecimentos, e que nos leva a lançarmo-nos à descoberta do
desconhecido.
Aquele que souber fazer sua a essência deste livro não se esquecerá
de fazer refletir a mensagem na sua vida pessoal e verá crescer a
sua consciência do seu lugar único no seio de tudo. "A Lenda de
um Nômade" é um livro que sai fora do habitual, dotado do poder
de inspirar os seus leitores e de influenciar verdadeiramente os
seus destinos.
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--- Na sua mais tenra juventude, Nathan foi salvo, de forma quase
miraculosa, de um naufrágio no sudeste asiático. Mauro, o pai de
uma das vitimas deste desastre, leva Nathan para a Europa e tomao a sua responsabilidade.
Rapidamente este jovem fora do comum faz-se notar pelas suas
capacidades extraordinárias de intuição e pela sua proprensão para
receber o conhecimento.
Entrado, na adolescência decide fazer uma grande viagem à
procura do que poderá enriquecer a sua vida. Seguindo a inspiração
da sua voz interior e da razão da sua relação única com a água,
Nathan tem visões que lhe permitem penetrar na essência das
pessoas que com ele se cruzam.
Enquanto cresce, Nathan constata a influência cada vez maior dos
seus atos no que o rodeia. É assim que ele vai descobrir o seu papel
«único» na Terra, um início de vida que vai muito além do que ele
poderia imaginar! ---
Linguístas: Crislaine Sanguino - Kátia Meira - Fabiana Rodrigues Silvia Mira - Ana Cristino
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Prólogo
Este livro convida-nos a retirarmo-nos da nossa história pessoal e a
entrar na pele das outras personagens. Para tal, devemos deixar-nos
guiar pela nossa imaginação, um dom que todos possuímos e que
permitirá, a cada um de nós, completar esta narrativa à sua
maneira.
As lendas transmitem-nos, muitas vezes, mensagens especiais.
Estas mensagens permitem-nos ver a partir de um outro prisma
acontecimentos dificilmente explicáveis, que nos tocam, por vezes,
no mais fundo do nosso ser.
Desde a mais tenra infância que tentei alargar a minha visão das
coisas e experimentei sempre um interesse marcado por todas as
concepções de vida existentes neste mundo. Explorar este mundo,
à procura do que inspira o ser humano, tornou-se a minha maior
paixão.
A descoberta de novas culturas e de novos modos de vida, serviume de enorme estímulo. Por isso, tentei compreender o sentido das
palavras de todas as pessoas que encontrei e interpretar os motivos
dos seus atos.
Ao mergulhar na sua realidade cultural local, vi-me obrigado a
mudar a minha maneira de pensar de modo a poder compreender
aquilo que me era revelado. Assim, aprendi a estabelecer
parâmetros mais amplos e, sobretudo, a estar atento às múltiplas
manifestações de sentimentos que levavam as pessoas que
encontrei a falar e a agir da maneira como o faziam.
Pouco a pouco, penetrei num mundo misterioso, o mundo dos
sentimentos. Aprendi a compreender como estes nascem, como
tentam subsistir e, sobretudo, qual a relação que cada um de nós
mantém com eles.
À medida que ia descobrindo este mundo misterioso, tornava-me
cada vez mais consciente da maneira em que surgiam as paixões,
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os medos e as alegrias e o que os provoca. Estas descobertas
ajudaram-me a compreender melhor a diversidade da vida, no
sentido mais amplo do termo. Pude observar todo o tipo de
condutas aprendidas, e, acima de tudo, aquelas com que eu próprio
tinha sido confrontado.
Desde então pude constatar, cada vez mais, com que tesouros de
engenho os seres humanos se armam para tentar ordenar a
realidade. Para interpretar corretamente as informações que me
foram reveladas, pude sempre contar com um guia interior, que me
transmitia confiança e lucidez e me fazia estar consciente, sempre e
a cada momento, do milagre que a vida é.
Este guia interior não era mais do que a minha intuição, uma força
que todos possuímos e que nos ensina a compreender os sinais que
acompanham cada acontecimento, uma força que nos instiga a
escutar os nossos verdadeiros sentimentos e nos aproxima,
incessantemente, da nossa missão.
Descobri, também, que os acontecimentos nunca se produzem por
acaso. Todos eles têm uma razão profunda de existência,
inscrevendo-se num determinado ciclo. Tomei, pois, cada vez mais
consciência da ordem prodigiosa que reina no Universo.
Ao reflectir sobre as razões profundas da existência, compreendi
que todos nós possuímos um dom precioso que é o desejo que
albergamos, no mais recôndito de nós mesmos, de descobrir o
objetivo da nossa vida.
É este desejo interior que me levou a escrever este livro que é fruto
de saberes antigos e de contos recolhidos no seio de diversas
culturas com as quais convivi.
Ao longo das páginas deste livro, este relato mostra-nos como
viver em harmonia com o meio que nos rodeia e ajuda-nos a
precisar a razão da nossa existência.
É para mim uma enorme satisfação poder partilhar esta narrativa
com todos vocês e espero que "A Lenda" vos ajude a tornarem-se
um pouco mais conscientes de que a vida realmente é um prodígio.
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-1Poder Interno
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Milagre
Numa manhã de uma estação chuvosa, a guarda costeira de
Zamboanga recebeu uma chamada de um acidente no mar de Sulu,
numa fronteira natural entre a Malásia e o arquipélago Filipino. O
navio, chamado Harap, vinha originariamente de Sandakan na
Malásia e fazia seu caminho até Zamboanga, Filipinas. Uma
tempestade de força inimaginável havia tomado conta do lugar por
alguns dias. O mar estava agitado e a corrente do golfo,
caprichosamente já havia encalhado vários barcos. O navio
destruído pela tempestade era um navio grande e trazia passageiros
da Malásia. A notícia sobre o Harap se espalhou rapidamente e
causou uma onda de pânico entre os habitantes de Zamboanga e
suas redondezas. Muitas pessoas tinham parentes e amigos à bordo.
Alguns deles se ofereceram para acompanhar o resgate e ajudar no
local do desastre. Por volta de nove horas as fragatas começaram a
se aproximar do local onde o navio havia naufragado. Os salvavidas viram incontáveis corpos flutuando na água e acreditavam
que aquilo não poderia ter sido uma tempestade comum de todos
os dias.
Mais tarde naquele dia, no relatório elaborado pelo chefe
encarregado do resgate, as seguintes notas foram declaradas: “Uma misteriosa atmosfera prevalecia no local do desastre. Não
houve grito e choro de angústia a ser ouvido, somente um triste e
medonho silêncio. O tempo estava nublado e a água tinha se
tornado excepcionalmente calma. E se não fosse pelos cadáveres,
nada ali lembraria que um desastre havia ocorrido. Parecia que o
mar estava envergonhado do que acabara de causar”
Os mergulhadores faziam suas buscas na água a fim de descobrir a
localização do navio e os salva-vidas saíam à procura de
sobreviventes. O navio fora localizado relativamente rápido e ainda
continha muitos corpos. À primeira vista, parecia que todos os
ocupantes haviam se afogado. O chefe do resgate era um homem
de autoridade e tinha muita experiência de vida, mas aquele
desastre fora maior do que tudo que ele já havia vivido. E ainda
assim ele não mostrou sinal de fraqueza alguma. Ordenava que
todos continuassem a procura de possíveis sobreviventes. O tempo
passava e a esperança de encontrar qualquer sobrevivente tornava15
se cada vez menor, até que ambos, salva-vidas e trabalhadores
locais decidiram parar com suas buscas, pois o número de mortes
havia traumatizado muitos deles, que também, entre os corpos
reconheciam familiares e amigos queridos. Porém o chefe do
resgate insistia para que ninguém descansasse até que todos os
corpos tivessem sido verificados.
O grupo de salvamento trabalhou incessantemente por um longo
período de tempo até que, de repente, ouviram gritos vindos da
parte traseira de uma das fragatas. Alguns salva-vidas nadaram
rapidamente em direção a eles. E para o espanto de todos, viram
um pequeno garoto com cabelos longos na altura do ombro. Ele
estava deitado num pedaço de madeira tremendo de frio. A julgar
pela sua aparência, ele tinha uns cinco anos de idade e o salvavidas que lhe amparava a cabeça, gritava por ajuda. Emocionado,
lagrimas de alegria lhes escorriam pela face enquanto falava:
─ Ele respira, ele ainda respira... está vivo!
Outros companheiros de salvamento levaram o garoto para o cais.
A criança estava mesmo ainda respirando, apenas se encontrava
inconsciente. O chefe encarregado do resgate foi chamado
imediatamente e com espanto olhou o pequeno garoto, e verificou
os seus batimentos cardíacos. Quando realmente ouviu a batida do
coração do garoto, gritou a todos os que trabalhavam no resgate.
─ Foi para isso todo o nosso esforço! Gritou ele. Esse é o nosso
presente! Harap! Que o nome desse navio fique gravado em nossa
memória para sempre!
Outro encarregado fez um exame rápido no garoto e depois o
cobriu com uma coberta. O corpo da criança estava frio e sem vida.
A equipe de salvamento se entreolhou e naquele momento sentiu
um pequeno raio de felicidade durante aquele enorme desolamento.
A busca não tinha sido em vão! Um dos salva-vidas notou que o
garoto não era dali, pois tinha feições diferentes e a cor da pele era
mais clara. Outros salva-vidas também o observaram atentamente,
entretanto não foram capazes de determinar a origem do garoto.
Mais tarde, muitos outros corpos de peles ainda mais claras foram
encontrados.
A equipe de salvamento continuou a busca, mas nenhum outro
sobrevivente foi encontrado. A primeira fragata retornou ao posto
da costa de Zamboanga com o pequeno. Uma vez em Zamboanga,
o chefe do resgate ordenou que a criança fosse vestida e depois
levada ao hospital. No relatório feito após o desastre, o
encarregado do salvamento descreveu que fora considerado um
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milagre o pequeno garoto ter sido o único sobrevivente. E ciente
do que fazia, omitiu o fato do pequeno garoto ter sido encontrado
nu. Teria ele se despido? Estaria ele se lavando no momento do
desastre? Qualquer que fosse o motivo, o chefe achou melhor não
mencionar nada, a fim de não causar mais alarde.
Nos dias que se seguiram o pequeno garoto permaneceu em coma.
A identificação dos passageiros se deu em plena atividade. Os
passageiros a bordo eram principalmente da Malásia e Filipinas.
Os passageiros com a pele pálida eram da Bélgica e da Holanda e
consistia em um pequeno grupo de historiadores de arte que
estavam fazendo a travessia às Filipinas a bordo do Harap.
As autoridades Belgas e Holandesas foram informadas sobre o
desastre marítimo e também sobre o garotinho que sobrevivera a
ele. O relatório incluiu fotos e uma clara descrição das
características físicas da criança. As famílias das vitimas foram
informadas, mas nenhum dos membros reconheceu o garoto.
Foi o pai de Dunia, uma das historiadoras, que ficou interessado.
Mauro havia perdido somente sua filha. Dunia há alguns anos,
vivia em Kuala Lumpur, Malásia. Mauro contatou as autoridades
Belgas e disse que ele não via sua filha por alguns anos e que
poderia ser que ela estivesse se tornado mãe durante esse tempo,
então ele gostaria de saber mais sobre o garotinho. Alguns dias
mais tarde, Mauro recebeu todas as informações das autoridades.
Foi numa sexta-feira exatamente ao meio-dia e, apenas algumas
horas depois, Mauro recebera a informação e contatou o hospital
em Zamboanga. A gerência do hospital o informou de que o garoto
havia despertado do coma há apenas algumas horas. Quando
Mauro questionou o exato momento que a criança havia saído do
coma, responderam que tinha sido por volta de meio-dia. Mauro
pensou que aquilo ela extraordinário, pois estava completamente
de acordo com a informação que havia recebido.
Mauro era uma pessoa carismática, já em seus cinqüenta anos, que
tinham visto muito do mundo. Prestava muita atenção aos fatos
fora do comum e não via o acontecido como uma coincidência.
Decidiu então ir às Filipinas e visitar o garotinho lá. A fim de não
levantar suspeita, Mauro disse aos funcionários do hospital local
que ele era avó do garoto e que sua mãe era uma das pessoas a
bordo do “Harap”. Nos dias que se seguiram, Mauro ficou próximo
do garoto e cuidou dele como se fosse um pai.
Isso fez aumentar a afinidade entre eles. Durante esse tempo,
Mauro teve evidências decisivas de que era impossível que o
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garotinho fosse seu neto. Sua filha Dunia nunca havia estado
grávida e adoção estava fora de cogitação. Mesmo assim nada
havia mudado para Mauro. Pelo contrario, o homem cresceu mais e
mais no seu papel de avô e até deu ao menino um nome, Nathan!
Mauro não conseguiu descobrir as origens do garoto porque o
mesmo até então não havia pronunciado uma só palavra. Nathan
não tinha dificuldade em produzir sons, mas aparentemente não
lembrava o nome de nada. Mauro achou aquilo muito estranho.
Nathan não parecia traumatizado de modo algum e uma criança de
cinco anos deveria saber falar. Mauro não comentou nada sobre
isso com ninguém e a ele ensinou algumas palavras em Francês na
tentativa de estimular sua memória e suas origens.
Nathan se sentia cada vez melhor com o passar dos dias. De acordo
com os médicos, ele não sofria de traumas emocionais ou físicos
deixados pelo desastre. Com o tempo Mauro notou o quão ativo
Nathan era, uma criança extraordinária devido a sua curiosidade
aguçada. Uma enfermeira notou algo peculiar: todas as vezes que
ela trazia uma jarra d'água, a jarra se esvaziava em questão de
minutos. Ela observou com atenção e viu como Nathan levava a
jarra à boca e vagarosamente bebia até que a mesma ficasse vazia.
Ela comentou o fato com uma colega e quando contaram a Mauro,
ele decidiu verificar o fenômeno. Na manhã seguinte ele trouxe
algumas garrafas d'água da mercearia. Encheu um grande copo
com água e o deu a Nathan. Ele fez isso cerca de vinte vezes e em
cada uma delas, Nathan bebera até que o copo estivesse
completamente vazio. Mauro ficou intrigado e o observou por
algum tempo, mas não pode explicar o fenômeno. A fim de não
preocupar a enfermagem, ele culpou a alta temperatura no hospital.
Claro que era uma explicação trivial, mas Mauro havia conseguido
convencer as enfermeiras de suas intenções de proteção em relação
à Nathan, de modo que não tocaram mais no assunto.
Nesse meio tempo, Mauro tornou-se amigo do comissário de
policia local. Ele era conhecido como um homem de influência em
Zamboanga. Mauro o havia solicitado que arranjasse todos os
documentos tão logo fosse possível para que Nathan fosse
repatriado a Bélgica, enfatizando que não podia perder muito
tempo devido a seus assuntos de negócios. E também ofereceu
recompensar o comissário para que acelerasse a procedimento.
─ Se o Senhor pudesse fazer disso sua prioridade, eu lhe seria
muito grato. Disse ele, numa piscadela.
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Dois dias mais tarde o comissário de polícia lhe trouxera os
documentos requeridos. Mauro fez a reserva de vôo, e retornou a
Bélgica com Nathan.
Uma vez na Bélgica, Mauro certificou-se que ele fosse apontado
como o guardião de Nathan e contou a seus amigos que Dunia, sua
filha, tinha adotado Nathan e como morrera no naufrágio, era
plausível para todos que ele assumisse a guarda. Mauro trabalhava
como correspondente para um importante jornal e, algumas vezes
tinha que estar fora do país por longos períodos de tempo. Na sua
ausência sua irmã mais jovem o ajudava a tomar conta de Nathan.
Assim, Nathan cresceu na Bélgica.
A capital Belga estava passando por um clímax econômico e atraía
um grande número de pessoas do mediterrâneo. Muitos vinham
tentar a sorte na capital e nunca mais a deixavam. Todas aquelas
diferentes nacionalidades deram a cidade uma atmosfera sulista e
era uma época fascinante de se viver ali. Especialmente quando,
um pouco mais tarde, já em certa idade, Nathan pôde apreciar a
riqueza das diferentes línguas e culturas com que crescera. Junto
com seu pai, Nathan vivia num terraço de uma mansão com vista
para a Praça do Benfeitor, um dos bairros tradicionais da cidade.
Mauro mesmo era originário de Andaluzia, no sul da Espanha e já
vivia na Bélgica por muito tempo. Ele crescera em Mojacar, uma
vila próxima ao Mar Mediterrâneo.
Assim como muitos estrangeiros em Bruxelas, Mauro retornava
todos os anos à sua região nativa. E lugar algum do mundo o fazia
se sentir melhor do que como ele se sentia em sua Andaluzia. E
apesar de ter viajado freqüentemente, nada se comparava àquela
sensação! Nathan também esperava ansioso por suas férias na
Andaluzia. Todo ano, no verão, ele ficava lá por um mês ou mais.
Para ele a Andaluzia havia se tornado um segundo lar. O longo
percurso que percorriam de carro até o sul da Espanha era
inesquecível. As paisagens decoradas com infindáveis fileiras de
árvores cheias de amêndoas, laranjas e azeitonas permaneceriam
gravadas para sempre em sua memória. O momento mais bonito
fora quando puderam ver ao longe as casas brancas da cor de giz
de Mojacar e mais tarde serem recebidos pela família inteira.
Na juventude, Mauro teve a oportunidade de estudar em Granada.
Estudou Filosofia e também aprendeu muitas línguas. Desde muito
cedo ele nutria uma ambição de explorar o mundo. Antes de
emigrar para a Bélgica, ele trabalhou como oficial de imigração no
porto de Almeria. E do terminal onde trabalhava, via os navios
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chegarem e partirem diariamente, cuja cena reforçara, ainda mais,
o seu sonho de viajar. Quando Mauro tinha já bastante dinheiro
economizado para pagar sua primeira viagem, foi logo à Bélgica.
Escolheu a Bélgica por causa de um de seus tios que já vivia em
Bruxelas e o lugar parecia ideal como começar uma nova vida.
Antes de sua partida, Mauro havia prometido a sua irmã mais
jovem que ela poderia segui-lo tão logo ela encontrasse um lugar
para morar. Com três meses de sua chegada ele alugou um
apartamento e pôde trazê-la para morar na Bélgica com ele. Com
sorte, Mauro se casou com uma amiga de sua irmã, com quem
mantivera contato na Bélgica. Ela era de Leuven, uma
aconchegante cidade provinciana Belga e com um grande número
de estudantes de todos os lugares do mundo. Dunia fora sua única
filha. Alguns anos antes da morte de Dunia, Mauro havia perdido a
esposa devido a uma contaminação por ferro na água. Seu sistema
nervoso havia sido altamente afetado pelo ferro das estações de
tratamento de água ao qual havia sido exposta por anos na casa de
seus pais. Durante os meses antes e após a morte de sua esposa,
Mauro passou um período difícil e aprofundou-se no trabalho.
Mais tarde Dunia não o perdoou por ele ter passado tão pouco
tempo com sua mãe enferma, e aquilo fez com que sua dor ficasse
ainda maior quando soube da morte de sua filha. Ele queria tanto
ter falado sobre isso com ela, mas nunca havia priorizado a
questão.
Mauro, que ainda trabalhava como correspondente, era
considerado um especialista em assuntos de política internacional.
Ele também era um excelente orador e dava muitas palestras. Era
especialmente admirado por sua perspicácia e grande capacidade
de persuasão. Essas foram as duas características que seriam
também fortemente desenvolvidas em Nathan. Nathan recebeu
uma respeitável educação de Mauro, a quem ele via como seu
próprio pai, e desenvolveu-se num garoto extremamente
inteligente. Naquele tempo, Mauro revelou-lhe abertamente sobre a
maneira que havia sido trazido à Bélgica.
Nathan se diferenciava de seus amigos e colegas de sala,
principalmente por sua ingenuidade e atitude calma. Ele também
tinha o dom especial de permanecer debaixo d'água, sem vir à tona,
por longo tempo. Quando criança, Nathan não tinha conhecimento
desse talento e pensava que mais pessoas eram capazes de fazer o
mesmo.
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Não fora antes das férias na Itália que Nathan confrontou pela
primeira vez a unanimidade de seu talento. Junto com amigos,
Mauro alugara uma vila em Sorrento, uma cidade perto da costa
napolitana. Um dos dias da temporada, Gianni, um dos pais que os
acompanhavam, propôs uma viagem de barco pela costa.
Alugaram um barco com capitão por um dia inteiro para visitar as
ilhas de Capri e Ischia. Quando em alto mar alguns deles
começaram a mergulhar. Ninguém notou exatamente em que
momento Nathan também mergulhara. E foi somente quando
Anna, uma das amigas, notou a ausência de Nathan que o
nervosismo foi despertado à bordo. Todos começaram a procurá-lo
imediatamente. Mauro e os outros mergulhavam incessantemente à
sua procura. Ninguém via Nathan e o pânico crescia de imediato.
Quando, de repente, Nathan surgiu na superfície da água, sem ter o
mínimo conhecimento do pânico que causou. Todos ficaram tão
transtornados que resolveram voltar para casa.
Durante a viagem de volta, Nathan foi questionado onde estivera o
tempo todo. Ele respondia que tinha mergulhado até o fundo do
mar. O capitão do barco disse que era difícil de acreditar, pois o
fundo ficava há cerca de cinqüenta metros de profundidade. E
ainda acrescentou que era impossível que uma criança fosse capaz
de ficar sem ar por tanto tempo. Mas Nathan repetia e insistia de
que falava a verdade. Mauro, que via tudo isso como uma situação
bastante incomum, de repente reagiu de uma maneira inesperada.
Na frente se seus amigos ele ficou nervoso com Nathan e o acusou
de brincar com as pessoas causando todo o pânico. A sua
verdadeira intenção era assegurar de que seus amigos não
continuassem a questionar o incidente.
─ Nathan estava apenas se escondendo em algum lugar, Mauro
dizia. Ele já fez essa brincadeira antes! Nathan não entendia o que
estava acontecendo, mas sabia que, naquele momento, era melhor
ficar quieto.
Mais tarde quando Mauro e Nathan estavam sozinhos, ele disse a
Nathan que ele não havia ficado bravo de modo algum e que
acreditava nele. Disse que reagiu daquela maneira simplesmente
para protegê-lo e também quis saber mais detalhes sobre o que
havia acontecido debaixo d'água. Novamente Nathan disse que
tinha mergulhado ao fundo, e ficado lá por algum tempo, pois
havia encontrado um velho barco naufragado e quis explorá-lo.
Quando Mauro perguntou quanto tempo ele tinha ficado debaixo
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d'água, notou que Nathan não entendia o porquê da pergunta!
Mauro repetiu a pergunta á qual Nathan respondeu:
─ Cerca de dez minutos.
E foi naquele momento que Mauro compreendeu que Nathan tinha
um dom. Explicou à Nathan o quão especial era aquele dom e o
aconselhou a guardá-lo somente para si. Nathan perguntou se
Mauro sabia por que ele era capaz de fazer aquilo. Mauro não pode
dar-lhe uma resposta, mas disse que era tão extraordinário que sem
dúvida havia uma razão muito especial. De acordo com Mauro era
um dom com um significado positivo e que ele não deveria se
preocupar. No momento certo ficaria claro o porquê deste dom.
Enquanto Mauro saia do quarto Nathan fez a última pergunta.
Perguntou o significado de “Il Dono”. Mauro não sabia naquele
momento, apenas presumia ser algo em italiano. Quando Mauro
questionou o porquê da pergunta, Nathan disse que aquele era o
nome do navio que ele viu no fundo do mar. No dia seguinte,
Mauro retornou à cidade da costa, perto do local onde o incidente
aconteceu. Ele queria descobrir se as pessoas sabiam sobre o barco
naufragado. Mauro ouviu toda a história na prefeitura. Sim, anos
atrás, um barco havia naufragado perto do lugar onde Mauro fora
mergulhar. E a estória se tornaria intrigante quando ele ouviu o
nome do navio. “Il Dono”. O oficial municipal adicionou que era
italiano de “O Dom”!
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Percepção
Já fazia quase sete anos desde que Nathan tinha sido resgatado do
Harap. Na certidão de nascimento, Mauro registrou a mesma data
que Nathan voltou do coma. Como Nathan tinha a idade estimada
de cinco anos, Mauro registrou o ano de cinco anos antes. Assim,
naquele verão, Nathan oficialmente completaria doze anos de
idade.
Fazia uma linda manhã de Domingo, através de uma janela no teto,
o sol brilhava no quarto dele. O inverno havia sido longo. Nathan
fora despertado por pássaros cantando as boas vindas à primavera e
como não tinha nada pra fazer, ficou na cama relaxando. Era muito
bom não ter que pensar em nada ou ter que ir a lugar algum.
Olhava para um pôster pendurado no seu quarto, um que ele havia
encontrado na rua. Nele continha a imagem de um mar azul com
um barco azul escuro. Durante os dias de inverno, a imagem trazia
uma sensação de verão para o quarto.
Nathan olhou o pôster mais de perto e de repente sentiu uma
necessidade de saber se havia algo dentro no barco. Um raio de sol
brilhava a sua volta e tornava difícil verificar se havia. A fim de
descobrir, Nathan tinha que sair da cama, mas ele não queria, pois
estava bastante aconchegante debaixo do edredom. Tentou pensar
em algo diferente, mas a questão se havia ou não algo no barco o
instigava cada vez mais. Quanto mais pensava, mais queria sanar
aquela curiosidade que o perturbava. A paciência esvaiu-se
completamente e ele definitivamente tinha que saber. Mas ainda
assim não queria se mover da cama então apoiou suas mãos no
chão pra ver o pôster de um angulo diferente. Mas não importava o
quanto ele se esticasse, não conseguia ver, pois a luz do sol
brilhava justamente naquela parte da imagem que queria observar
com mais detalhe. Finalmente saltou da cama e esse movimento o
fez esbarrar no criado mudo. O seu despertador velho foi parar no
chão e disparou. Nathan estava naquele momento tão curioso que
foi observar a imagem de perto antes mesmo de desligar o
despertador. Ajoelhando-se na frente do pôster, ele viu que bem
debaixo das enormes velas brancas do barco, havia um velho mapa
do mundo.
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Nathan desligou o despertador, deitou-se novamente na cama e
fechou os olhos por um momento. O alarme acordou Mauro que
tinha acabado de voltar de uma longa viagem. E quando Nathan
abriu os olhos, ele teve uma experiência diferente, algo que ele
descobriria mais tarde ser um momento de claridade. Ele
perguntou a si mesmo como poderia um único pensamento,
especialmente um indescritível como aquele, de repente o
consumir todo daquela maneira? Ficou maravilhado com o fato de
que algo tão banal de repente se tornasse tão importante por um
momento. Nathan permaneceu perdido em seus pensamentos por
algum tempo até que seu pai o chamou para o café da manhã,
interrompendo-o. Levantou-se e, vestido, foi até a pia para
refrescar-se com um pouco de água. A água o revigorou. Parecia
que ele estava ainda mais desperto naquele exato momento. E
contando com o apoio de ambas as mãos sobre a pia, olhou-se pelo
espelho sem secar o rosto, pensou novamente sobre o que havia
acontecido, e decidiu comentar com seu pai. Nathan fechou a
torneira e foi até a cozinha.
Mauro estava lendo o jornal do fim de semana e o cumprimentou
com um abraço forte. Eles não se viam há três semanas e estavam
felizes por se reencontrarem. Nathan beijou seu pai e sentou-se à
mesa. Mauro havia preparado uma omelete e lhe disse essas sábias
palavras:
─ Lembre-se de que um bom café da manhã é muito importante.
Pois nunca sabemos o que o dia nos reserva!
Nathan imediatamente reconheceu o típico modo com o qual seu
pai lhe transmitia mensagens. Mauro olhou para seu filho com
certa admiração. Nathan não era somente extremamente
inteligente, como também se tornara um bonito e atlético jovem. A
grande paixão de Nathan era passar seus dias na água. Nada lhe
dava maior sensação de liberdade. E também sentia a água como
uma misteriosa fonte de inspiração. Nathan nunca havia comentado
o seu talento com ninguém e sempre se certificava de que outras
pessoas não o notassem. Seu pai era a única pessoa que sabia que
ele podia permanecer debaixo d'água por um longo período de
tempo.
Nathan sabia o quão sortudo era por Mauro ter entrado em sua vida
e o quanto ele lhe seria grato. Ele havia escrito isso numa carta e a
deixara sobre a escrivaninha de Mauro, que na noite anterior, antes
de ir pra cama a lera. Era uma carta sincera, até mesmo emotiva.
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─ As três últimas semanas não foram fáceis. Mauro disse. E a sua
carta veio num bom momento. Comoveu-me.
─ Eu queria ter a oportunidade de agradecê-lo. Nathan disse.
Queria que você soubesse mais uma vez o quanto significa pra
mim.
─ Sou muito feliz com o laço que temos. Penso que você ficaria
surpreso se soubesse o quanto me inspira durante momentos
difíceis.
─ Há momentos que sinto que você está perto de mim, mesmo
estando longe. Estranho, não? Disse Nathan.
─ Nossos sentimentos falam mais do que os pensamentos. Talvez
eu estivesse pensando em você ao mesmo tempo.
Mauro era um leitor ávido de literatura filosófica, e não tão
somente era um homem literato, como também tinha uma
conhecida dádiva em relação à natureza humana. Ele tinha a
habilidade de sentir as pessoas através da comunicação. Parecia
que ele tinha exatamente a palavra certa para a hora certa. Mauro
tirou a panela do fogo, pôs a omelete à mesa e a dividiu; pegou
dois copos grandes do armário, encheu-os com suco de maçã e
sentou-se novamente:
─ Você gostaria de saber o que mais me deixou feliz ao ler a carta?
Foi que você a escreveu sem uma razão especifica.
─ Verdade... escrevi tão espontaneamente. É que eu estava
pensando em tudo que você fez por mim.
─ A gratidão é a memória do coração.
Pai e filho estavam felizes de estarem juntos novamente. E como
era de costume, Nathan estava curioso pra saber o que seu pai
havia visto e experimentado de novo durante a sua viagem. Nessa
viagem, Mauro tinha visitado varias cidades do leste europeu,
juntamente com sua equipe de filmagem. As primeiras reportagens
foram filmadas em Praga na República Tcheca, a segunda na
Bratislava, Eslováquia e a última em Budapeste na Hungria. Mauro
tinha ficado impressionado com o esplendor dessas cidades e suas
culturas fascinantes.
Depois do café da manhã, limparam a mesa juntos enquanto
trocavam idéias sobre o que exatamente determina o pensamento
padrão de cada pessoa. Naquele momento, Nathan lembrou-se
novamente do que o acontecera no seu quarto e queria saber como
Mauro o interpretaria.
25
─ Às vezes, não pode acontecer de encontrar-nos completamente
absorvido por um específico pensamento, como se nada mais fosse
importante do que aquele momento?
─ Mauro olhou para Nathan e pressentiu a importância daquela
pergunta.
─ Sim, às vezes isso acontece comigo... e em todas reconheço um
sinal!
─ Reconhece um sinal? Nathan perguntou.
─ Eu sei que, quando um pensamento surge de repente do nada, ele
não acontece simplesmente, tenho que tentar entender o seu
significado.
─ Assim como você sempre diz que coincidência não existe?
─ Exatamente. Dessa maneira você aprende a reconhecer os sinais.
─ O que você quer dizer com sinais?
─ Os sinais, ou mensagens, estão aí pra ajudar você durante seu
desenvolvimento pessoal através do aprendizado com a
interpretação destes; e nos dão orientação quando fazemos nossas
escolhas.
─ Como você reconhece esses sinais?
─ Confiando nos meus sentidos.
─ E os sinais aparecem freqüentemente?
─ Conforme você vai aprendendo a perceber os seus sentidos, você
notará que os sinais aparecem cada vez mais freqüentes.
─ E esses sinais acontecem para todo mundo?
─ Sim, sinais são para todos, mas somente aqueles que são
receptivos a eles podem notá-los!
Nathan estava animado pelo o que ouvia. E até onde sua memória
o permitia, ele sempre adorou seus diálogos com o pai. Sentia
haver ali alimento para sua alma e até mesmo quando não entendia
tudo imediatamente, mais cedo ou mais tarde ele entenderia.
Como já havia um bom tempo que Mauro e Nathan não tinham a
oportunidade de passar um tempo juntos e ter uma conversa
tranqüila, decidiram passar o dia juntos. Nathan organizou seu
quarto enquanto Mauro fazia algumas últimas alterações num
artigo de jornal que precisava levar para um colega na Antuérpia.
Depois do almoço eles chegaram ao porto da cidade da Antuérpia.
Mauro dirigiu até Scheldt, o rio que cortava a cidade, estacionaram
o carro e Nathan pegou uma manta do porta-malas do carro e
caminhou ao lado de seu pai em direção a água. Mauro escolheu
um lugar tranqüilo perto da margem. Levaram consigo uns petiscos
e uma garrafa de chá quente cheia. Assim tinham tudo pra
26
preencher aquele precioso momento com seus pensamentos
favoritos para compartilharem entre si . Nathan foi quem começou
a conversa:
─ Eu gostaria de falar novamente sobre sinais.
─ O que gostaria de saber?
─ Como podemos entendê-los corretamente?
─ Perguntando á sua própria força interior e aprendendo a confiar
nela.
─ Você quer dizer nossa voz interna?
─ Como a chamamos não é tão importante. "Força interior", “voz
interna”, “intuição” ou qualquer outro nome que geralmente
significam a mesma coisa. O mais importante é que libertemos essa
força que temos dentro de nós mesmos.
─ Como podemos libertá-la?
─ Quando aprendemos a deixar que nossos sentimentos nos guiem
mais, olhamos para a vida de uma maneira mais consciente. E
assim deixamos que nossa força interior nos ilumine com as
mensagens trazidas em cada situação.
Aquela conversa com seu pai requeria atenção total. Ele queria
compreender tudo muito bem e não esquecer nada. Nathan sentia
que o que ele ouvia naquele dia, era algo que o auxiliaria a vida
inteira. Mauro levantou-se e caminhou em direção á água.
Ajoelhou-se de uma vez e permaneceu olhando fixamente para a
água por alguns minutos. Quando retornou, propôs caminharem
para o centro da cidade. E no caminho Nathan mais uma vez
retomou a conversa:
─ E qual é a utilidade dessas mensagens?
─ Elas nos ajudam a distinguir entre o que é importante ou não em
relação ao nosso desenvolvimento pessoal.
─ Então não precisamos ter certeza de que estamos interpretando
as mensagens corretamente?
─ Não, pois querer ter certeza somente nos limita a compreensão, o
mais importante é crer.
─ Mas podemos viver sem ter certeza?
─ Sim, se reconhecemos que há pouco, ou talvez até mesmo nada
do qual possamos realmente ter certeza.
─ Não é a descrença vista mais como um sinal de fraqueza?
─ Muitas pessoas pensam que sim, assim, por conseguinte elas
verão o que aprenderam como sendo o único verdadeiro
conhecimento e crêem nisso pelo resto de suas vidas.
27
─ Há uma coisa que não compreendo. Se não há certeza, então há
somente dúvida, não é mesmo?
─ Mas a dúvida traz com ela a curiosidade, e isso nos leva a buscar
mais luz de conhecimento.
─ Mas como podemos crer se permanecermos na dúvida?
─ Quando temos certeza de algo, não mais estamos abertos para
outras possibilidades; e é isso justamente o que nos impede de
expandir nosso conhecimento!
─ Então a certeza nos impede de ter o benefício da dúvida.
─ Isso mesmo. Assim é melhor aprendermos a desenvolver nossa
força interior e acreditar. Dessa maneira ganhamos conhecimento
necessário para nossa evolução pessoal.
─ E esta nossa força interior está sempre correta, então? E se
estivermos errados?
─ Todos os eventos, até mesmo os feios e temerosos, podem nos
dar mais confiança. As experiências são necessárias para libertar
nossa força interior. Dessa maneira estamos trabalhando para nossa
grande missão, o aumento de nosso conhecimento.
─ Você não disse que nossa maior missão é amar nossos
semelhantes?
─ Conhecimento e amor puros são uma única e mesma coisa.
Nathan olhou o para o pai, sem entender nada, e Mauro explicou
seus pensamentos:
─ Conhecimento puro é o reconhecimento do que é o bem para
você; enquanto amor puro é agir corretamente. Quanto mais você
reconhecer o que é do bem, mais corretos serão seus atos!
─ Não é o bem e o mal percebido diferentemente por cada um de
nós?
─ Sim, todos nós usamos essas observações para distinguir o bem
do mal. Por isso é importante estarmos abertos às novas visões, daí
poderemos ajustar nossas percepções.
─ Nossas visões de quê?
─ Basicamente as nossas próprias possibilidades e os propósitos
que buscamos na vida.
Naquele momento, Nathan precisou aquietar-se. Tentou digerir
tudo o que tinha ouvido de seu pai. Aprendeu que pensamentos
continham sinais, para os quais tinha que ter a mente aberta. Deles
podemos derivar mensagens para nos ajudar a fazer nossas
escolhas. A fim de estar apto a interpretar essas mensagens
corretamente, devemos desenvolver nossa força interior e crer nela.
28
Dessa maneira podemos obter mais luz em nossas possibilidades e
evolução pessoal.
Nathan estava imensamente inspirado pelo que tinha aprendido
naquele dia na Antuérpia. Era como se tivesse compreendido
melhor o que sempre soubera. Isso deu a ele uma inacreditável
sensação e sede por mais conhecimento. Também se tornara ainda
mais claro para ele o que queria fazer na vida: obter conhecimento
através da comunicação. Nada lhe dava mais satisfação do que a
ampliação de sua visão nas questões fundamentais dos seres
humanos e d mundo. Nathan se deu conta do quão sortudo era por
Mauro possuir uma biblioteca impressionante. E nos anos
seguintes Nathan leria inúmeros livros. Daí escreveria as mais
importantes questões em sua mente surgidas e as discutiria
frequentemente com seu pai.
29
Contemplação
Nathan estava com dezessete anos de idade. Naquele dia de outono
ensolarado ele programou discutir sua mais recente lista de
questões com seu pai. E foi no parque Atomium que a conversa se
deu: um famoso parque em Bruxelas onde um impressionante
monumento de nove esferas pode ser visto. Quando Nathan e
Mauro chegaram lá, notaram que estava mais cheio do que
esperavam, mas aquilo não os perturbou. Sabiam que não seriam
facilmente distraídos, uma vez engrenados na conversa. Mauro foi
comprar sorvetes e sentou-se ao lado de Nathan. Nas próximas
horas, como era de se esperar, o número de conversas proveitosas
cresceu. Um colega de Mauro passou por eles. Notou que era
Mauro ali sentado e veio na direção deles. Mauro o viu, levantouse e seguiu em sua direção. Nathan permaneceu sentado e tentava
entender a comunicação entre eles à distância. A análise da
comunicação entre as pessoas frequentemente intrigava Nathan.
Notou que seu pai estava escutando com atenção e somente falou
uma única vez. Isso deixou Nathan curioso. Quando terminaram a
conversa, Mauro despediu-se de seu colega e acenou a Nathan.
Juntos caminharam de volta para o carro e Nathan perguntou a
Mauro se ele conhecia aquele seu colega há muito tempo, querendo
saber qual era o assunto da conversa.
Mauro reconheceu a curiosidade de seu filho e disse que eles
somente se conheciam superficialmente, mesmo tendo trabalhado
juntos há muitos anos.
─ Algumas pessoas nos dão energia, enquanto outras basicamente
a tiram de nós. Geralmente, isso esta ligado com as metas que cada
um busca. Nossas metas não somente determinam quem somos,
mas também como lidamos com os outros.
─ Qual é a melhor maneira de saber se o que buscamos são as
metas corretas?
Mauro esperou um momento antes de responder.
─ Você se lembra de nossa conversa sobre a força interior?
─ Claro que sim.
─ Quanto mais consciente dessa força, mais luz nós teremos na
exatidão da missão a cumprirmos. Entretanto quem não está
30
consciente de sua força interior, tem somente um pouquinho ou
mesmo nenhuma luz sobre isso.
─ As pessoas frequentemente buscam missões erradas?
─ Você pode sentir, prestando atenção á energia que emitem.
Nathan refletiu.
─ E como foi com seu colega?
─ Meu colega é uma pessoa muito competitiva. Ele gosta de estar
no controle e então sempre tenta, consciente ou inconscientemente,
manipular seu ambiente.
─ E ele sabe disso?
─ Ele assume que essa é a melhor maneira de lidar com pessoas.
─ E você chamou a atenção dele sobre isso?
─ Tentei algumas vezes, mas preciso ser mais cauteloso. Não seria
bom se mostrarmos julgamento sobre nisso.
─ Porque não?
─ Porque por um lado não podemos assegurar de que estamos
completamente certos, e por outro, as pessoas que agem
erroneamente geralmente se beneficiam mais com compreensão do
que com repreensão.
─ Isso significa que temos que compreender e não julgar?
─ Assim, dessa maneira, suas palavras serão mais efetivas.
─ E podemos mudar uma pessoa reagindo assim?
─ Sim, fazendo as perguntas corretas, assim como Sócrates!
─ Agora eu entendo porque seu colega sempre ficava pensativo
depois que você falava. Você soube como fazê-lo pensar.
─ Exato. É a forma de falar que rendem os outros ao silêncio!
Nathan já tinha recebido informação suficiente, mas não queria
terminar a conversa.
─ Você acha que seu colega entendeu bem isso?
─ Se ele achar suficientemente importante pensar sobre isso, sim,
há uma grande possibilidade que ele tenha compreendido as
minhas mensagens.
─ O que certamente influenciará seu comportamento?
─ Exatamente. Nesse caso nosso encontro terá também um
significado para ele e não foi pura coincidência termos nos
encontramos!
─ Ele verá isso como um sinal?
Mauro balançou a cabeça:
─ Tudo depende do que decidimos fazer com as assim chamadas
coincidências. Quando você entende bem isso, pode distinguir
entre os que vêem muitas coincidências e aqueles que são mais
31
conscientes, e olham para o maior significado dos eventos em suas
vidas. ─ Eu sempre sinto que a vida significa mais do que aparenta.
─ Isso certamente se aplica a você!
Nathan sabia que Mauro estava se referindo ao seu resgate
milagroso.
─ É possível que o encontro com seu colega também tenha algum
significado para mim?
─ A razão se aplica ao meu colega tanto quanto a você. Se essa
conversa o leva a uma nova luz sobre a questão, não seria pura
coincidência o que nos levou a escolher vir a esse lugar nesse dia
específico.
Nathan seguiu as reflexões de seu pai e se ficou mais e mais
fascinado por isso.
─ Nossas conversas têm me ensinado muitas coisas, tais como
passar mensagens sutilmente simplesmente fazendo as perguntas
certas.
─ É verdade.
─ Se isso nos leva a alimentar o hábito de formular perguntas que
agucem outros a pensar, você fará com que os outros fiquem mais
conscientes de sua “força interior”...
─... e isso pode também mudar o comportamento deles.
─ Com a consequência de que você terá um impacto na vida deles.
Nathan se tornou ainda mais alerta sobre as conseqüências de cada
ação. Ele estava profundamente em meditação agora e tentou
compreender tudo corretamente.
─ Podemos então dizer que há muito mais coerência no mundo do
que suspeitamos na primeira impressão?
─ Tudo está conectado!
─ Mauro havia dito essas palavras num sério tom de voz. Nathan
entendeu que aquilo era uma importante instrução.
─ Tudo mesmo?
─ Cada mudança nos leva à outras, as quais novamente nos leva à
novas outras.
Nathan tentou captar a extensão dessa nova informação. Mauro
não disse mais nada. Abriu a garrafa, e com um pouco de água na
mão levou-a sobre sua testa colocando o seu cabelo pra trás.
Nathan observou a cena até que seu pai se movimentou de maneira
a refrescar a si mesmo. Nathan caminhou até ele e o imitou. De
repente Nathan novamente experimentou um momento cativante, e
um pensamento claro como cristal cresceu dentro dele. Se tudo
influencia tudo, isso significa que tudo está conectado.
32
Agora Nathan compreendia completamente a conclusão que seu
pai queria que ele chegasse. Mauro viu nos olhos de Nathan que
ele tinha entendido a mensagem.
─ Se tudo está conectado, isso significa que tudo deve ser também
uma coisa só!
─ Não se esqueça do que você descobriu por si mesmo!
Essa conversa continuaria a vibrar por um longo tempo. Nos dias
seguintes Nathan teve dificuldade de concentrar-se em outros
assuntos. Manteve-se pensando nas palavras de seu pai, tais como
“força interior” e “tudo é uma coisa só”. Era como se seu cérebro
continuasse processando a informação. Isso seguiu por alguns dias
até que em uma manhã, Nathan despertou e se sentiu
completamente descansado. A informação que obtivera estava
agora bem ordenada em sua mente. Tinha noção das leis básicas
desse mundo em que vivia. Um mundo feito de escolhas e de
experiências.
33
Escolhas
Nathan agora já tinha quase dezoito anos. Certo dia estava junto de
dois colegas de sala, Y Chao e Laura. Y Chao chegara à Bélgica
com alguns familiares cerca de três anos antes. Tinham voado de
Phnom Penh, a capital do Camboja por razões políticas. Y Chao
era extremamente inteligente, tinha aprendido a falar Francês
fluentemente em apenas alguns meses e também tinha conseguido
excelentes resultados na escola. Laura era descendente de grego,
seu pai veio de Thessaloniki e sua mãe das ilhas Naxos. Laura
tinha lindos cabelos longos e era sempre extremamente atenciosa.
Nathan dizia que ela seria uma mulher fantástica.
Nathan, Laura e Y Chao estavam sentados num terraço ensolarado
no meio de Bruxelas e estavam tendo uma conversa interessante
sobre fazer escolhas. Discutiam as carreiras que cada um seguiria.
Era uma conversa animada onde os pontos de vista eram distantes
uns dos outros. Mauro, que por acaso estava naquele local, viu
Nathan e seus amigos e veio cumprimentá-los. Laura e Y Chao
estavam felizes em vê-lo, porque Mauro também era muito
respeitado entre os amigos de Nathan e tinha até admiradores.
Mauro cumprimentou os jovens e viu que sobre a mesa, haviam
pastas, assim ele soube imediatamente qual era o assunto da
conversa.
─ Vi que estavam em uma conversa profunda.
─ Estamos falando sobre nossos cursos, Y Chao respondeu. Não é
fácil ter que fazer a escolha de uma profissão para exercermos a
vida inteira.
─ Há mesmo muito que discutir sobre isso.
Y Chao prosseguiu:
Estou tentando explicar que na tentativa de escolher a ocupação
certa, primeiro temos que descobrir o que fazemos de melhor e
assim poderemos aprender a gostar da escolha feita.
Laura não se conteve em compartilhar seu ponto de vista com
Mauro.
─ Eu disse que primeiro teríamos que fazer uma análise da
necessidade presente e como a mesma irá se evoluir até que
terminemos nossos estudos.
Mauro olhou para Nathan, que também deu sua opinião.
34
─ Eu penso que devemos basear nossas escolhas naquilo que
gostamos de fazer e não é tão importante se a fazemos bem ou não.
─ Em todos os casos, os questionamentos são muito inteligentes,
Mauro replicou, Eu penso que vocês deveriam levar todos esses
critérios em conta.
─ Mas quais são os mais importantes critérios? Y Chao perguntou.
Mauro viu que Y Chao basicamente queria descobrir quem estava
certo. Mauro tinha um encontro agendado, mas depois de hesitar
um pouco decidiu adiá-lo.
─ Vamos beber algo.
Mauro foi fazer um pedido de chá pra todos.
Nathan conhecia seu pai. Sabia que Mauro tinha sentido que a
ocasião era importante o suficiente para que reservasse um tempo
pra ela.
─ Meu pai tem o hábito de levar questionamentos a uma
perspectiva maior. Entretanto suas respostas podiam parecer
confusas a principio.
─ O que quer dizer? Laura indagou.
─ Às vezes suas respostas não parecem ser uma resposta para a
questão de imediato, mas que se torna clara depois de um tempo.
Às vezes são tão claras que parecem ser respostas de questões que
você não tinha nem mesmo pensado a respeito antes.
─ Estou curioso. Y Chao disse.
─ Já estamos familiarizados com a sua abordagem filosófica. Laura
disse e então sorriu. Agora veremos até onde ele pode levar isso
tudo!
Mauro voltou e sentou-se entre eles.
─ Eu já começarei alertando de que vocês não devem esperar que
eu escolha o programa de estudo correto para vocês, terão que
fazer isso por vocês mesmos.
O chá foi servido. Mauro encheu as xícaras e continuou:
─ Vocês não devem ignorar nenhum dos critérios listados, pois a
escolha final não será satisfatória.
─ Qual deve ser a base para nossas escolhas então? Laura
curiosamente perguntou.
─ Vamos começar pelo início. Eu notei certa urgência em você e
não deve ser assim. Devem reservar um tempo para considerar essa
fantástica oportunidade desde que é capaz de continuar estudando.
─ Isso era o que Nathan estava tentando explicar para a gente! A
jovem garota disse.
35
─ Vocês são parte de um grupo de sortudos que podem determinar
seu próprio futuro, bem como os de outras pessoas. E isso, por si
só, é algo sublime e não é para todos.
─ Trabalhamos duro pra isso, Y Chao adicionou.
─ Eu acredito que sim, mas como você sabe, há muitas pessoas que
dão muito mais duro, e mesmo assim têm menos controle sobre
seus futuros.
Y Chao entendeu que Mauro referia-se às circunstâncias de seu
país nativo. Y Chao tinha visto com seus próprios olhos. Era
evidente que muitos não teriam a mesma oportunidade.
─ Primeiramente, devemos estar cientes de nossa posição
privilegiada, Mauro continuou. Esse é o sentimento que deve
prevalecer nesse momento.
─ Até onde isso pode nos ajudar na nossa escolha? Laura indagou.
─ Por estar ciente, o contentamento pode repor a pressão que
sentem nesse momento e tornar-se um guia na determinação da
escolha correta.
─ Devemos escolher uma ocupação que nos deixa contentes? Y
Chao replicou.
─ Se você realmente escolher contentamento, então o
contentamento aparecerá com certeza. Ademais, você deve
continuar a colher informações para fazer uma escolha racional, e é
por isso que o critério mencionado antes é importante também.
─ Como fazemos isso exatamente? Y Chao insistiu.
─ Eu aconselharia você a olhar atentamente a sua volta nos
próximos dias e perguntar a seus amigos sobre as atividades diárias
de cada um. Pode-se aprender muito fazendo isso.
─ Você quer que descubramos quem está satisfeito com suas
ocupações? Y Chao perguntou.
─ Vocês aprenderão muito sobre si mesmos.
─ E em que devemos prestar atenção? Laura replicou.
─ Você aprenderá como é a vida deles. Assim ficará claro para
você saber como não quer viver!
Y Chao daí comentou:
─ Eu quero fazer algo que ganhe bastante dinheiro.
Mauro o alertou:
─ Cuidado para não passar a vida toda procurando por um tesouro
que poderá não encontrar. Sua motivação pode não ser a
recompensa, mas o trabalho por si mesmo!
─ Mas trabalhamos por um propósito e o propósito é a
recompensa. Y Chao ponderou.
36
Laura confirmou seu ponto de vista.
─ A maioria das pessoas que conheço trabalha primeiramente por
dinheiro.
─ E maioria está sempre correta? Mauro perguntou.
─ Não, lá isso também é verdade. Mas o que devemos concluir
disso então?
Mauro bebericou o chá e respirou fundo. Nathan estava ouvindo
com atenção, e principalmente observava a maneira como Mauro
transmitia suas idéias. Viu como Mauro direcionou a conversa e
trouxe certos assuntos para a discussão.
─ Pra responder a sua pergunta, Laura, eu teria que discutir nossa
percepção de realidade.
─ Você tem toda a nossa atenção. A garota respondeu.
─ Vamos falar sobre o significado de “recompensa”. Está claro que
uma recompensa por trabalho pode somente ser obtida após o
trabalho ter sido finalizado, ou seja, ainda virá no futuro.
─ Naturalmente. Y Chao disse.
─ O curioso sobre o futuro é que ele não toma parte da realidade,
Mauro continuou.
─ Mas o futuro realmente existe? Laura perguntou a si mesma.
─ Irá existir em qualquer momento, mas hoje pode somente existir
na nossa imaginação.
Laura e Y Chao olharam para Nathan; aparentemente Nathan já
tinha se dado conta disso.
─ O mesmo se aplica ao passado, Mauro continuou. O que já
aconteceu pode também somente existir na nossa memória, e
assim, somente podemos lembrá-lo.
Laura e Y Chao balançaram a cabeça indicando compreensão.
─ Você então pode dizer que somente o que presenciamos no
presente está realmente acontecendo.
Novamente Laura e Y Chao acenaram em concordância.
─ O curioso é que a maior parte das pessoas deixa que suas
emoções sejam influenciadas pelo que eles ainda se lembram de
seu passado ou pelo que pensam que o futuro lhes reserva, e
raramente vivem no presente.
Mauro bebeu seu chá e deu a Laura e Y Chao o tempo suficiente
para absorver totalmente sua mensagem. Nathan os ajudou
confirmando tudo.
─ Muitos não estão cientes de que a realidade somente acontece no
presente.
37
─ Isso significa que somente o presente é importante? Laura
questionou.
Mauro olhou diretamente nos olhos de Laura.
─ Já fez algo que não ainda não aconteceu no presente?
─ Não, pois isso não é possível.
Mauro agora direcionou a atenção à Y Chao.
─ Alguma vez já experimentou algo que não tivesse acontecido no
presente?
─ Isso é simplesmente impossível.
Mauro olhou cada um deles naquele momento.
─ Então é isso. Não somos nem ao menos capazes de pensar sobre
algo em um momento que não está no presente.
─ E que tal fazer planos para o futuro? Laura questionou, sem estar
preocupada com a resposta.
─ Somente o planejamento pode acontecer no presente, não a
execução.
v─ Verdade. Nossa vida inteira somente acontece no presente. Y
Chao ressaltou.
─ O que meu pai quer enfatizar é que qualquer que seja a
recompensa que esperamos, ela somente existe em nossa
imaginação.
─ Quanto mais entendemos isso, Mauro continuou, mais estaremos
cientes da nossa realidade.
─ É verdade que muitas pessoas temem o futuro que acontecerá
amanhã. Laura adicionou.
─ Arrependimento e medo, Mauro continuou, continuam a corroer
a nossa auto-imagem e autoconfiança. Isso causa a pressão que eu
mencionei anteriormente. Essa pressão, então influencia todas as
escolhas que fazemos. Se não mais sentíssemos essa pressão,
seríamos menos impressionáveis e assim mais seguros de nós
mesmos.
─ Não estamos autorizados a ver o que está ainda por vir? Y Chao
perguntou.
─ Não se esqueça de que você somente olha adiante para um
pensamento. Um pensamento que pode se baseado em alta
expectativa, e alguém nutrindo altas expectativas irá
inevitavelmente se tornar frustrado.
Mauro bebericou seu chá e continuou:
─ Algumas pessoas têm trabalhado a vida toda por certa
recompensa, mas somente aqueles que realmente apreciaram seu
38
trabalho sabem da sua recompensa. Todos os outros permanecerão
com a sensação de que perderam seu tempo.
Nathan ainda prestava atenção em como Mauro passava suas
mensagens e a sua habilidade de convencer pessoas de sua visão.
Prestou atenção em seus gestos, suas escolhas das palavras, sua
voz e até mesmo em suas pausas. Nathan não poderia ter desejado
um mestre melhor. Laura tentava descobrir como aplicar toda
aquela informação na prática.
─ O que me diz dos que requerem muito esforço?
─ Sem esforço, Mauro disse-lhe, você somente pode alcançar o
que não vale o esforço. Embora sua satisfação deva também estar
no caminho de seu propósito e não somente em alcançá-lo.
─ Alcançar o objetivo pode nos fazer felizes, certo? Y Chao
questionou.
─ Como você define a felicidade?
─ Preferia ouvir de você.
─ Pra mim é continuar desejando o que é bom na minha vida.
─ Muito bem colocado, Laura. E para você Y Chao?
Y Chao não estava certo se Mauro concordaria com a sua definição
de felicidade. Hesitou um pouco, mas finalmente se atreveu e
disse:
─ Pra mim, é fazer meus sonhos se tornarem realidade!
─ Sonhos são muito importantes.
Y Chao olhou para Mauro. Por um lado, estava feliz que Mauro
concordou com ele, por outro, estava impressionado com a
resposta.
─ Mas sonhos também acontecem na nossa imaginação, não?
─ Sonhos são mensagens que recebemos de nossa “força interior”
a fim de descobrir nossa verdadeira missão.
─ Verdade? Laura exclamou. Isso é lindo!
─ Você somente pode realizar algo se você puder imaginá-lo.
─ Até mesmo se eu sonhar que vou ficar rico? Y Chao perguntou.
─ E o que ser rico quer dizer pra você? Mauro inquiriu.
─ É ter dinheiro suficiente para ser livre, Y Chao respondeu.
─ Suficiente? Mauro perguntou.
Mauro manteve-se em silêncio por um momento para que o mesmo
fizesse efeito. Nathan sabia o quanto seu pai valorizava o silêncio.
Suas intenções eram deixar Y Chao entender o seu desejo. Um
pouco mais tarde Mauro continuou:
39
─ Nossos desejos não conhecem fronteiras e crescem à medida que
são alimentados. Não podem nos satisfazer por completo, somente
nós mesmos podemos fazer isso.
─ O que você quer dizer com isso? Y Chao perguntou.
─ Sim, Mauro respondeu. Fazê-lo entender que a verdadeira
riqueza não está no aumento de nossa capacidade, mas no controle
de nosso desejo.
Mauro terminou seu chá enunciando que teria que deixá-los. Pagou
a conta e preparou-se para sair.
─ Então, eu espero ter contribuído com alguma coisa para a
definição do curso de seus estudos.
─ Sabe - disse Y Chao. O que eu aprendi hoje pode ser mais
benéfico a mim do que apenas para a escolha de meus estudos.
Laura, que estava impressionada, fez uma ultima pergunta:
─ O que devemos aprender para que nos tornemos tão sábios
quando o Senhor?
Mauro sorriu.
─ Recebemos sabedoria de lições que a vida nos impõe
inesperadamente!
Mauro disse até logo e desejou a Laura e Y Chao boa sorte na
escolha correta. Depois da saída de Mauro, Nathan e seus amigos
mantiveram-se falando por um tempo sobre o que tinham acabado
de discutir. Nathan era a pessoa principal que podia ver claramente
a impressão deixada por seu pai. A continuação de seus estudos
não era tão prioridade para Nathan. Assim como seu pai, ele queria
explorar o mundo tanto quanto fosse possível. Sua fome de
conhecer pessoas, novas culturas e novos países tinha aumentado a
cada ano. Mauro, por sua vez, sabia que o dia da partida de seu
filho estava por vir. Doía nele ter que dizer adeus, mas ele também
sabia que era necessário para seu desenvolvimento pessoal. Foi
Mauro quem o ensinara que não havia maneira melhor de ganhar
conhecimento do que vivendo. Naturalmente, Mauro também sabia
que Nathan era capaz de algo grandioso, uma sensação que até
mesmo Nathan percebia a cada dia.
Ate que um dia, com o final do verão, o momento chegara. Nathan
decidiu viajar para a França e procurar emprego lá. Mauro não se
preocupou. Nathan era maduro o suficiente e estava pronto. No dia
de sua partida Mauro enfatizou a Nathan que sempre confiasse em
si mesmo.
40
─ A cada obstáculo, pergunte a si mesmo se é necessário passar
por ele . Obstáculos desnecessários podem desviá-lo de seu
caminho.
─ E com relação aos obstáculos que tenho que passar, será que
serei capaz de superar a todos?
─ Eles somente se tornarão insuperáveis se você se ativer á dúvida.
Então, sempre mantenha em sua mente que nunca irá encontrar
obstáculo tal que não tenha forças o suficiente para vencê-lo.
─ E se minha confiança alguma vez se extinguir?
─ Pelo contrário, a cada obstáculo encontrado nossa força interior
cresce!
─ Como saberei que estou no caminho correto e não apenas
tentando transpor um obstáculo desnecessário?
─ Deixe que seus dois guias sempre o acompanhem e certifique-se
de que eles não padeçam. Quanto mais você os alimentar, melhor
eles o guiarão.
─ Meus dois guias?
─ Eles ficam ao seu lado em forma de perguntas.
─ Questionamentos que devem ser alimentados e me guiarão?
─ O primeiro guia é a pergunta: o que vive dentro de em mim?
─ Esse é o questionamento mais importante da vida.
─ O segundo guia é a pergunta: o que pode enriquecer minha vida?
─ Olha só, você já está mencionando as duas questões
fundamentais!
─ Esses grandes guias conhecem como ninguém o caminho que
você tem que seguir. A cada pensamento, a cada conversa, a cada
experiência, alimente seus guias. Eles o ajudarão a seguir na
direção de seu propósito de vida.
─ Você disse que eles podem padecer?
─ Sim, pode acontecer se eles não forem alimentados com seus
pensamentos, reflexões, conversas ou experiências.
Naquele momento Nathan compreendeu completamente a
mensagem de seu pai. E novos questionamentos surgiram.
─ Todas as pessoas podem alcançar seu propósito de vida?
─ Todos aqueles que desenvolvem sua força interior
suficientemente.
Eles se olharam e, sem pronunciar uma palavra sequer, se
entenderam, até que Nathan disse:
─ Eu queria lhe dizer algo muito importante e eu estou realmente
convencido disso.
Mauro ouvia atentamente.
41
─ Eu sei que não poderia ter encontrado na Terra um melhor pai do
que você. Sua motivação, seu conhecimento, seu comportamento e
especialmente seu amor são a base de tudo que eu for capaz de
realizar na minha vida!
A emoção se tornou aparente em Mauro após ouvir as palavras de
seu filho e assim se deram um longo abraço apertado.
42
-2Conhecimento Superior
43
44
Busca
Nathan chegou a Paris e desceu do trem na estação Norte. O dia
estava de sol de modo que os terraços estavam lotados. Ele vagou
pela cidade, comeu alguma coisa e alugou um quarto por alguns
dias em um hotel perto da Place Clichy. Não era a primeira vez que
Nathan visitava a cidade-luz, mas desta vez era diferente. Agora
tudo era diferente. Não havia mais obrigações escolares, ele podia
dormir onde e quando quisesse, e decidir tudo sozinho. Parecia que
estava iniciando uma nova vida. Nathan decidiu explorar a cidade
mais a fundo e começar a procurar trabalho. Comprou um mapa da
cidade e começou a procurar. Apreciou a atmosfera típica da
cidade e, aqui e ali entrava em algum lugar para perguntar se
precisavam de alguém para trabalhar.
Três dias após sua chegada, Nathan se viu no “Lê Sentier”, um
local de encontro para fabricantes de tecidos do mundo todo. Este
distrito era conhecido pelo amplo mercado local. Estava sempre
lotado e caótico, mas Nathan achou aquilo tudo muito interessante.
Ele falou com alguns fabricantes de tecidos e foi assim que
conheceu Simon, um senhor descendente de Judeus. O homem
grisalho parecia ser bem profissional e aparentava ser um homem
bastante experiente. Junto com seu filho Moshe, Simon tinha um
comércio de tecidos. Moshe dava a impressão de ser um jovem
mimado com certa tendência a tratar os outros com um quê de
desprezo. A empresa de tecido tinha mais de dez funcionários.
Simon estava ocupado sentado em sua mesa recebendo as
atualizações da administração. O que não impediu que Nathan se
aproximasse dele.
─ Você acha que pode contratar mais um funcionário?
Simon olhou para ele sobre seus óculos sem mover a cabeça e,
imediatamente depois, sua atenção já estava de volta a seus
documentos.
─ Quem é você?
─ Meu nome é Nathan.
─ Quantos anos você tem?
─ Vou fazer dezoito mês que vem.
─ Você tem alguma experiência?
Nathan achou que o homem mostrou um pouco de interesse.
45
─ Repito que no mês que vem vou fazer dezoito anos de
experiência.
Simon fitou Nathan mais uma vez, porém desta vez demorou-se
um pouco mais e, então, colocou seus documentos de lado e
acomodou-se em sua cadeira. Nathan foi bem sucedido em sua
intenção. Aparentemente, Simon não havia esperado uma resposta
como aquela, e agora parecia realmente interessado. Ele olhou
atentamente para Nathan.
─ Dê-me uma boa razão pela qual eu devo contratar você?
─ Vejo que aqui você tem clientes do mundo todo. Eu falo quarto
línguas e poderia ajudá-lo a se comunicar com eles.
─ Temos negociado aqui com todos por anos e essa negociação
flui bem em francês.
─ Mesmo assim, mais clientes selecionarão os seus negócios
quando souberem que podem se comunicar em sua própria língua!
─ O que importa pra mim é saber se você é honesto ou não.
─ Mesmo quando não sou tratado justamente, sempre tento
permanecer honesto,
Simon pensou que Nathan era um jovem diferente, até mesmo um
pouco estranho, mas alguma coisa o atraía naquele jovem. Ele
pensou sobre isso e então disse que Nathan podia começar no dia
seguinte como empregado do armazém. Nathan agradeceu a Simon
por sua confiança e retornou para o seu hotel com um sentimento
bom. Ele sabia que Simon tinha muita experiência de vida e tinha a
sensação de que poderia aprender muito com ele.
No dia seguinte, Nathan chegou bem cedo. Simon o fez realizar
uma contagem de estoque e rearranjar o armazém dizendo que esta
era a maneira ideal de conhecer todos os produtos. Foi um dia
longo e cansativo. Era tarde da noite quando Simon foi ver Nathan.
─ Pode parar agora, você trabalhou muito bem hoje.
─ Me disseram que tudo o que está aqui tem que ser empacotado.
Simon olhou para a grande quantidade de caixas que ainda
precisavam ser empacotadas.
─ Você gosta de trabalhar aqui?
Nathan pensou que Simon pudesse estar insatisfeito e que diria a
ele que era demasiado lento e que não precisaria mais voltar.
─ Espero que leve em consideração que este é o meu primeiro dia
aqui.
Simon olhou para Nathan e percebeu as suas dúvidas.
─ Se gosta de fazer o seu trabalho, deve sempre deixar uma pouco
para o dia seguinte.
46
Nathan ficou feliz. Ele não tinha que se preocupar e nem limpar
tudo. Quando Simon quis sair do armazém, Nathan se aproximou
dele.
─ Você sabe se ainda tem ônibus?
─ Não tenho idéia. Onde você mora?
─ Aluguei um quarto no Place Clichy.
─ Venha, vou te dar uma carona.
Nathan ficou feliz em ir com ele. No caminho para o hotel, Simon
ficou curioso.
─ Você alugou um quarto inteiro só para você?
─ Sim. Estou em Paris só faz alguns dias.
─ Onde estão os seus pais?
─ Cresci com meu pai em Bruxelas.
─ O que seu pai faz?
─ Ele é repórter de um jornal sobre política internacional.
─ Diga-me: porque está aqui?
─ Acabei de começar uma jornada.
─ Uma jornada? Para onde está indo?
─ Não sei ainda.
─ Porque você procura este tipo de trabalho?
─ O tipo de trabalho não me importa, contando que eu o ache
instrutivo.
Simon não disse nada por um tempo.
─ Viajar é bom. Amplia sua visão de mundo!
Nathan estava animado. Ontem, ele tinha seguido sua intuição e
este caminho o havia posto em contato com Simon. Quanto mais o
ancião falava com ele, mais Nathan sentia que ele realmente teria
algum significado em sua vida.
─ Seu pai concorda que você esteja aqui sozinho?
─ Ele acha que estou pronto para isso.
─ Pronto para o quê?
─ Pronto para determinar meu caminho sozinho.
Simon seguiu para o hotel onde Nathan estava hospedado, onde
este desceu do carro e o agradeceu. Antes de se despedir, Simon
fez uma proposta:
─ Há um quarto livre no sótão de minha casa. Assim, você poderia
ir comigo de carro para o trabalho todos os dias.
─ Obrigado pela oferta. Vou pensar a respeito e lhe respondo esta
semana.
Nathan esperou até o final daquela mesma semana para ver como
as coisas se desenvolveriam no trabalho, e no fim de semana ele se
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mudou para a casa de Simon e Moshe. Também foi apresentado á
mãe de Moshe e foi rapidamente aceito. Nos próximos meses,
Nathan recebeu mais responsabilidades de Simon, passou muito
tempo com Moshe e se especializou em políticas de vendas.
48
Sinal
A cada três meses, Nathan viajava com Simon para a Ásia para
comprar tecido. Assim, ele tinha a oportunidade de visitar a Índia,
o Paquistão e Bangladesh. Moshe não gostava de viajar e tinha
estado somente em Bangladesh. Contrariamente, Nathan estava
sempre ansioso por estas viagens distantes que duravam pouco e,
na verdade, pouco demais para ter uma boa impressão da cultura
local, mas, mesmo assim, Nathan conseguia descobrir coisas
estranhas junto com Simon. Em várias ocasiões, experimentou
coisas bastante peculiares. Havia sido vigiado em algumas ocasiões
e às vezes até mesmo seguido por alguém. Quando Simon
perguntou a ele a razão pelo que o estavam seguindo, não obteve
uma resposta muito clara. Alguns disseram que Nathan era um
protetor; outros viam nele um homem santo. Simon tinha viajado
muito tempo atrás para a Ásia e foi usado para ouvir as mais
diversas estórias de estranhos. No início, Simon ignorava tudo e
até mesmo dizia entre risos que era bom para os negócios. Mas
depois de um tempo ele teve que admitir que algo estranho,
misterioso até, estava acontecendo!
Simon sabia que espiritualmente desempenhava um amplo papel
na vida das pessoas nesta parte do mundo, mas nos três países que
tinha estado com Nathan, havia um par de acontecimentos
memoráveis. Em lugares diferentes, as crianças, e ás vezes adultos
também, tinham instantaneamente abordado Nathan para oferecerlhe água. Isso ocorria sem nenhum propósito. Quando Simon
perguntou às crianças o porquê, não obteve resposta. Eles sorriam
de maneira amistosa, olhando Nathan enquanto bebia e então iam
embora. Claro, para Nathan o vínculo com a água não era algo
novo, mas ele achou impressionante que pessoas que nunca tinha
sequer encontrado antes, também faziam este vínculo. O que
Nathan mais se lembraria desta jornada na Ásia era que as pessoas
que o abordavam estavam claramente esperando algo dele. Era
mais uma antecipação, como se soubessem que algo estava por vir.
A primeira jornada foi para Mumbai na Índia, uma cidade que
daria uma bela impressão para Nathan, especialmente com um
grande número de pessoas nas ruas e nos mercados. Na segunda
noite de sua estada em Mumbai, Nathan e Simon tinham ido à
49
Calaba, um distrito fora da parte sudeste da península. Eles saíram
para comer em um pequeno restaurante perto d'água, quando um
homem abordou Nathan. O homem tinha os cabelos negros e
brilhantes e olhos escuros. Parecia bem apessoado, e usava uma
camisa longa e branca com calças também brancas e chinelos
marrons. Sua pele escura contrastava com suas roupas muito alvas.
Ele falava em Hindu com Nathan.
─ Você já conhece sua maior missão?
Ao lado de sua mesa havia um grupo de jovens estudantes. Uma
das garotas do grupo percebeu o que estava acontecendo e traduziu
as palavras do homem para Nathan.
─ Por que aquele homem acha que eu tenho uma grande missão?
Nathan perguntou.
A garota interpretou suas palavras e gestos para os outros.
─ Por causa de seu elemento natural.
Simon achou que o homem estava agindo de maneira bizarra e
ponderou sobre suas intenções.
─ O que é o elemento natural para você?
─ Uma fonte inesgotável da terra!
Ninguém ficou mais confortável com estas palavras. Simon
também tinha notado que Nathan ficou desconcertado por causa de
tudo aquilo e pediu ao homem que o deixasse em paz. O homem
aquiesceu calmamente e continuou com a encenação. Nathan e
Simon mantiveram os olhos nele. Um pouco mais adiante, o
homem parou e virou-se para olhar uma vez mais para Nathan. Ele
juntou as palmas da mão em seu peito, fez uma ampla reverência e
só então se foi. Nathan não sabia o que pensar sobre isso.
Simon percebeu que isso o tinha confundido e o advertiu daqueles
trapaceiros:
─ Esteja sempre aberto para todas as oportunidades, mas também
fique alerta àqueles que podem ter más intenções.
─ Como posso distinguir entre quem está sendo sincero e quem
não esta?
─ Sinceridade e decepção não são inerentes às pessoas. Todo
mundo pode ser honesto e trapaceiro às vezes.
─ Quer dizer que todos nós trapaceamos em algum ponto da vida?
─ Quando tentamos pintar uma figura diferente do que realmente
somos, estamos trapaceando. Todos fazemos isso, mas alguns mais
que os outros.
─ Como saber então quando alguém esta sendo sincero?
50
─ Não focando em suas palavras ou ações, mas em suas reais
intenções!
─ Não são os grandes trapaceiros aqueles que melhor podem
esconder suas reais intenções?
─ É isso aí. Eles têm feito disso um hábito tão grande que nem
mesmo prestam atenção a si mesmos quando estão trapaceando!
Nathan ficou quieto e com o olhar perdido no horizonte. Pouco
mais tarde, tinha novas perguntas:
─ Você acha que aquele homem queria me tapear?
─ Tenho muito pouca informação para ter certeza disso. Se era isso
o que queria, não o dei qualquer oportunidade para tal.
─ Então talvez aquele homem estivesse falando a verdade?
─ Realmente acho que ele acredita no que diz, mas como você
sabe, a verdade, assim com a água, assume a forma do recipiente
onde é colocada.
─ Será que não deveríamos tê-lo ouvido um pouco mais?
─ Percebi que ele o tinha confundido e nestas horas podemos ser
facilmente influenciados.
─ Eu realmente fiquei bastante influenciado.
─ Não se preocupe. Se o homem foi sincero, o significado de suas
palavras se tornará claro depois de um tempo.
Na segunda viagem, outra situação peculiar ocorreu. Aconteceu em
Carachi, no sul do Paquistão. No último dia de viajem, Nathan
estava com Simon e mais três parceiros de negócios. Estava muito
quente e úmido naquela hora e eles estavam em meio a uma viajem
para a ilha de Manora, não muito longe de Carachi. Na ilha, o
clima estava um pouco mais agradável graças a uma leve brisa que
soprava. Foi um dia bastante ocupado. Aparentemente, muitos
habitantes de Carachi tinham decidido ir até a ilha para se
refrescarem um pouco. O grupo visitava um mercado local, quando
de repente, dois homens idosos vieram em direção a Nathan.
Pareciam iguais em suas barbas brancas e chapéus retos. Ambos
vestiam uma blusa bege com colete sem mangas marrom escuro.
Dois homens notaram Nathan de longe e vinham direto em sua
direção através da multidão.
O primeiro homem parou bem de frente a ele. Colocou as mãos em
seus ombros e falou em Urdo:
─ Por favor, tenha paciência!
Samir, um dos parceiros de negócios, estava parado ao lado de
Nathan o tempo todo e também percebeu a cena. O resto do grupo
não tomou conhecimento de nada e continuava andando. Samir não
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entendeu o que o idoso queria com Nathan e pediu para que este
repetisse o que havia acabado de dizer. O homem falou com ele:
─ Peça a ele para ser paciente!
Samir traduziu para Nathan:
─ Ele pede para que você seja paciente.
─ Paciente com o que? Com quem?
Samir traduziu de novo:
─ Paciente com a ignorância de todos nós!
Samir não entendeu a situação. Ele percebeu que Simon e os outros
dois homens já estavam longe a ponto de não mais poderem ser
vistos, e propôs a Nathan que continuassem andando. Quando
quiseram sair, o segundo homem pediu a Samir que traduzisse
mais uma coisa:
─ Diga a ele que tenha coragem e que conseguirá nos mostrar o
caminho.
Samir traduziu a última parte para Nathan e acrescentou que não
fazia a mínima idéia do que o homem queria dizer. Eles se
despediram e continuara andando. Nathan ficou em silêncio. Este
evento o havia confundido de novo, igual ao que aconteceu em
Mumbai Estariam estes homens transmitindo a ele uma mensagem
importante ou eram impostores? Nathan e Samir se apressaram
para alcançar o resto do grupo. Samir percebeu que algo muito
estranho tinha acabado de acontecer e agora questionava Nathan:
─ O segundo homem falou sobre mostrar o caminho. - o que ele
quis dizer com isso?
─ Sinto muito, eu entendi tanto quanto você desta estória.
Samir não ficou nem um pouco satisfeito com a resposta de
Nathan, mas não insistiu.
─ O que ‘paciente’ significa para as pessoas daqui? Nathan
perguntou pouco mais tarde.
─ Para o meu tio eu sei que “paciente” serve para compreender os
erros dos outros!
─ Para o meu pai, eu sei que tais erros nos mostram o caminho!
Os dois homens continuaram a andar. Uma vez de novo com
Simon, Nathan contou a ele o que havia acontecido. Simon ouviu
atentamente e franziu as sobrancelhas.
─ Se o que aquele homem disse e o que aquele homem lá em
Mumbai disse for verdade, então não pode haver nenhuma outra
explicação que a de que você realmente possui algum dom
diferente!
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Na Índia, Nathan já tinha sentindo que o que havia acontecido
poderia ser um sinal. Depois do que aconteceu aqui no Paquistão,
ficou ainda mais claro para Nathan que ambos os acontecimentos
eram sinais. Ele tentou atribuir um significado a isso. Nathan
queria ter considerado essa possibilidade o mais racionalmente
possível e ficou ainda mais confuso. Porém, não importava o
quanto tentava compreender, simplesmente não conseguia
encontrar nenhuma explicação sensata para estes eventos. Então,
dali por diante, isso se tornou um grande enigma.
A terceira, e mais estranha situação, aconteceu durante sua estada
em Bangladesh. Naquele tempo, o país passava por uma inundação
bem pouco provável. Um ciclone havia causado uma onda gigante
e o mar havia invadido grande parte do país. Na última noite de sua
estada também choveu bastante forte, causando inundações de rios
e riachos. Nathan estava ficando com Simon e Moshe no hotel
Dhaka. Seus quartos eram no andar mais alto do hotel, de onde
Nathan tinha uma visão panorâmica da capital do país. Quando ele
abriu sua janela naquela manhã, ele podia claramente ver a
destruição causada pela água. Dhaka tinha se transformado em um
atoleiro gigante no qual a população se isolara e perdera seus
pertences. O pânico havia tomado todos os cantos a que se via, e
todos gritavam.
Certo momento, o teto do prédio que estava bem de frente a ele
chamou sua atenção. Podia-se ver uma senhora no alto do telhado
sentada em uma cadeira. Ela o olhava diretamente. A mulher tinha
rugas no rosto e vestia um longo e quente vestido todo enlameado.
Ela devia ter cruzado as ruas enlameadas, o que o levava a crer que
ela não morava ali. Eles continuaram fitando-se até que Nathan se
sentiu incomodado. Naquele momento, Moshe bateu à porta.
Nathan se virou e abriu-a. Moshe disse que tinham que se arrumar
rápido porque não seria fácil chegar ao aeroporto devido ao estado
das ruas. Nathan se arrumou rápido sem dar mais atenção à
senhora no telhado. Quando desceu, Simon e Moshe estavam
tomando o café da manhã. Juntou-se a eles e pediu seu café. Simon
disse que sentia que seria difícil chegar ao aeroporto. Saíram
imediatamente assim que o táxi chegou.
Então, Nathan começou a ver imagens que jamais sairiam de sua
memória. As ruas tinham se tornados vias de lama. Os carros mal
podiam avançar e por todos os lados as pessoas clamavam por
ajuda. Muitas vezes, pediu ao taxista que parasse. Era difícil para
Nathan ver tanta miséria então, voltou-se para Simon:
53
─ Como pode a natureza ser tão incrivelmente cruel?
─ Não é a natureza que é cruel, o que seria totalmente sem sentido!
─ E o que poderia fazer algum sentido nisso tudo?
─ Como em qualquer catástrofe, isso também diz respeito ás
mudanças que resultarão disso tudo.
─ Que mudanças?
─ Mudança de mentalidade. As calamidades podem fazer as
pessoas desenvolverem características tais como a coragem,
compaixão e a capacidade de trazer as perspectivas à tona!
O táxi seguiu em frente. Nathan tinha dificuldades em ver as coisas
pela mesma perspectiva que Simon.
─ Há alguma coisa que podemos fazer para ajudar?
─ Não. Não muito neste momento.
─ Agora não? Mas não é agora que eles precisam de nossa ajuda?
─ O silêncio segue cada calamidade, assim todos podem descobrir
o que aprenderam com ela!
Pouco mais tarde, descendo a rua, o táxi derrapou e foi parar do
outro lado. O grupo saiu do táxi e empurrou o carro de volta para a
via, e o conseguiram depois de alguns minutos. Justamente quando
Nathan estava entrando no carro, já que o fez depois de todos os
outros, algo estranho aconteceu. A mulher que ele tinha visto no
telhado estava de pé na sua frente. Ela olhou para ele e sorriu.
Nathan sorriu em resposta educadamente, entrou no carro e fechou
a porta. Pensou como era possível que aquela mulher, que ele viu
anteriormente no hotel, podia estar bem ali agora? Ele não
conseguia entender como ela conseguiu chegar ali com tamanha
rapidez. Seria este um novo sinal? Ele tinha que fazer alguma
coisa? O táxi começou a andar antes que ele pudesse tomar uma
decisão.
Uma hora depois, chegaram ao estacionamento do aeroporto.
Apesar de tudo, o percurso tinha sido melhor que o esperado e eles
ainda tinham tempo para gastar. Após Simon, Moshe e Nathan
fazerem o check in para o vôo, foram para o terminal do aeroporto.
As filas estavam longas e quase todos os assentos estavam
ocupados. Simon comprou um jornal e ocupou um lugar vazio.
Nathan e Moshe decidiram dar uma volta pelo aeroporto. Em outro
dado momento, Nathan percebeu a mesma senhora novamente. Era
a terceira vez que a via. Nathan pensou se ela também tinha feito o
check in, ou se eles simplesmente a deixaram passar. A mulher se
sentou e olhou para ele com um sorriso nos lábios. Nathan não
entendia, mas estava completamente convencido de que a senhora
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estava lá por causa dele. Ele explicou para Moshe que esta era a
terceira vez nesta manhã que ele via aquela mulher. Agora, Moshe
também estava curioso. Os jovens se aproximaram da mulher para
perguntar-lhe se ela estava seguindo Nathan. Como ela só falava
bengali, Moshe procurou alguém que pudesse entender inglês.
Pouco mais tarde, encontraram um homem que pode interpretar
toda a conversa.
Moshe repetiu a pergunta:
─ Você está seguindo Nathan?
A mulher respondeu calmamente, sempre sorrindo:
─ Sim, eu estou.
Nathan não estava realmente surpreso com a resposta.
─ Você continuará me seguindo quando eu voltar para a Europa
daqui a pouco?
─ Você terá que viajar muito. Isto é só o começo - ela respondeu.
─ O começo de que?
─ O começo de sua busca!
─ E o que ele está procurando, então? Moshe quis saber.
─ A direção certa para todos nós.
─ A direção certa? Perguntou Moshe. E para onde nos levará?
─ Ele descobrirá e então o dirá a todos!
Nathan ouvia, mas não sabia o que pensar sobre isso. As mesmas
perguntas como na Índia e no Paquistão voltaram à tona para ele.
Estaria esta mulher tentando tapeá-lo? Será que ela via algo que ele
não percebera? Estaria ela querendo esclarecer algo para ele?
Nathan e Moshe olharam para Simon sentado a certa distância. Ele
ainda lia o jornal e não havia percebido nada. A mulher olhou para
Nathan ternamente e tocou sua face com as mãos. Nathan pediu ao
homem para interpretar mais algumas perguntas.
O homem também ficou curioso e estava feliz por participar da
conversa.
─ Pergunte a ela onde eu encontrarei a direção certa?
─ Cuidado! Não deixe que ela o influencie! Advertiu Moshe.
─ Não se preocupe. Eu quero ouvir a resposta.
─ Você terá que deixar que a correnteza o leve - disse a senhora.
─ Estava se tornando incrivelmente difícil entender o que a mulher
queria dizer. Moshe quis saber por que ela o havia seguido.
─ Pode perguntar por que ela esta aqui?
─ Para esclarecer algumas coisas e reavivar a minha memória do
sentimento da esperança - ela disse.
─ Você tem esperança de que? Nathan perguntou.
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─ De você! Ela respondeu.
─ O que significa esperança para você? Continuou Nathan.
─ Esperança é o gosto de felicidade futura!
─ Você tem certeza do que acha de mim?
─ Não tenho certeza de nada, mas não é necessário tê-la. Isso tem a
ver com o que sinto quando olho para você.
─ O que você vê exatamente? ─ perguntou, então, Moshe. E como
você sabia que o Nathan estava hospedado naquele hotel?
─ Eu o segui porque ele tinha alguma coisa que somente poucas
pessoas têm.
Nathan pensou em como esta mulher, que ele nunca tinha visto
antes, achava que sabia tanto sobre ele.
─ E o que seria isso que eu tenho, então?
─ Pelo que você irradia, as pessoas o amam sem que você tenha
que agradá-las. E isso é muito raro. As pessoas que têm este dom,
assim como você, são enviadas com um propósito maior.
Naquela hora, o vôo para Paris foi anunciado e os passageiros
tinham que se apresentar para o embarque. Nathan se despediu da
mulher, agradeceu ao homem e ele e Moshe foram até Simon. No
avião, Nathan tentou se lembrar de cada uma das afirmações da
senhora. Este acontecimento indicava que algumas pessoas
aparentemente o consideravam como excepcional e também como
se tivesse certa predestinação, porém ele não tinha a menor idéia
do que pudesse ser. Moshe e Nathan conversaram sobre o ocorrido
com Simon, que também trouxe a tona os acontecimentos em
Mumbai e Carachi, mas mesmo Simon não podia dar uma resposta
sensata para isso.
Quando Simon caiu no sono pouco mais tarde, Moshe sussurrou
para Nathan:
─ Eu sei quem pode te ajudar.
Nathan sabia que Moshe tinha esperado até que Simon dormisse
para falar com ele.
─ Então me diga!
─ Eu conheço uma mulher que consegue ver as coisas que os
outros não podem ver.
─ Uma vidente? Nathan perguntou.
─ Shiii... quieto! Eu não quero que meu pai saiba disso.
─ Por que não?
Ele acha que estes tipos de pessoas são perigosas.
─ Porque ele pensa assim?
56
─ Ele diz que eles fizeram disso suas profissões para controlar os
outros com seus poderes.
─ Você tem medo?
─ Não... pelo contrário. Eu a vejo com freqüência e muito do que
ela previu para mim, aconteceu.
─ Deixe-me pensar sobre isso e eu te digo se quero ir até ela ou
não.
Toda vez que voltava da Asis, Nathan telefonava para seu pai para
dividir suas experiências com ele. Mauro também não tinha
resposta imediata para estes acontecimentos bizarros. Ele
aconselhou Nathan a escrever todas estas experiências
interessantes enquanto ainda estavam recentes na memória. Então,
ele tinha tentado tornar as conexões entre elas possíveis. Após o
último incidente em Bangladesh, Nathan perguntou a Mauro se
seria ou não interessante visitar uma vidente.
─ Será que uma vidente poderia lançar um pouco de luz sobre isso
tudo?
─ Ninguém tem mais informações sobre você do que você mesmo!
Respondeu Mauro
─ Será que é perigoso?
─ Só poderá ser perigoso para as pessoas que não estão
completamente atentas aos seus poderes interiores. Estas podem
ser influenciadas facilmente.
─ O que pode acontecer?
─ Na melhor das hipóteses, as videntes tentarão fazer com que seus
clientes dependam delas para que continuem voltando e pagando
por suas doses de bons sentimentos, pois é isso o que negociam:
bons sentimentos.
─ E na pior das hipóteses?
Na pior das hipóteses, as videntes podem agir como tiranas e
desejarem, ou até exigirem uma submissão completa.
─ Você está aconselhando-me a não ir?
Mauro ponderou um pouco.
─ Não... você pode ir. Eu sei que você é forte o bastante.
Alguns dias depois, Nathan foi com Moshe até a vidente. No
caminho, Moshe o advertiu que a mulher parecia estranha e que ele
não deveria prestar muita atenção a isso. Ela vivia em um casebre
no "Quartier Mouzaïa" no nonagésimo distrito. Era tarde da noite
quando o jovem a chamou. O homem mais velho que abriu a porta
para que entrassem usava um vestido longo e púrpura, e uma jóia
impressionante. Nathan percebeu que Moshe parecia ser um cliente
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regular e que conhecia bem a mulher. Eles entraram e pararam de
pé em frente à entrada, uma sala com muita mobília e iluminada
somente por velas.
Nathan não se sentia muito confortável ali.
─ Eu trouxe alguém comigo - disse Moshe à mulher;
Nathan compreendeu que Moshe não havia dito à mulher que ele
iria até lá.
─ Boa noite, senhora. É um prazer conhecê-la. “Meu nome é
Nathan”.
A mulher olhou para ele e não disse nada por alguns segundos.
─ Você tem algum tempo para me atender? Perguntou Moshe.
Quando a mulher tentou dizer alguma coisa, pareceu que havia
perdido a voz. A mulher quase teve um desmaio e teve que sentarse. Moshe e Nathan se entreolharam e somente então a ajudaram a
alcançar uma cadeira. Na mesa, havia uma garrafa de água e um
copo. Nathan o pegou e o encheu com água. E, então, ajoelhou-se
ao lado da mulher e o deu a ela. Ela o olhou, aceitou o copo com as
duas mãos, bebeu um pouco e só então conseguiu falar novamente.
─ Não me sinto bem. Não poderei atendê-los hoje.
Moshe ficou desapontado, mas ainda mais surpreso.
─ Você não poderia fazer nenhuma consulta? Nathan veio até aqui
especialmente para lhe encontrar.
A mulher continuava a fitar Nathan.
─ Porque Nathan precisa de mim?
Moshe não pode dar uma resposta apropriada assim, de imediato.
─ Ele também gostaria de saber algumas coisas.
O olhar da mulher não desviava nem por um segundo de Nathan.
─ Nathan descobrirá tudo o que precisa saber.
Moshe não entendia o seu comportamento. Ele nunca a tinha visto
daquela maneira, e insistiu.
─ Ele também quer se proteger contra as pessoas com más
intenções.
─ Nathan já tem essa proteção, uma proteção excepcional!
Nathan sentiu que a mulher se sentia desconfortável por causa dele
e quis sair.
─ Obrigado pelo seu tempo e minhas desculpas pelo
inconveniente.
Nathan sinalizou para Moshe que sairia dali e iria para o carro. Ele
se sentou e pensou a respeito do que tinha acabado de acontecer.
Porque a mulher ficou sem voz de repente? O que ela quis dizer
com “ele já esta protegido”? Ele tinha esperanças de encontrar
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algumas respostas, mas agora ele tinha ainda mais perguntas.
Quando Moshe voltou para fora, ele também parecia bastante
confuso.
─ Você acha que eu fiz algo errado lá dentro? Nathan perguntou.
Não, mas isso é muito estranho. Eu não sei o que pensar.
─ Ela disse alguma coisa depois que eu saí?
─ Ela me pediu para não trazê-lo de volta aqui.
Na estrada de volta, ficaram ambos em silêncio.
59
Sinceridade
Alguns meses depois, algo muito desagradável aconteceu nos
negócios de Simon. Pouco depois de que uma grande quantia de
dinheiro tinha sido recebida, o cofre estava vazio. Moshe acusou
Nathan. Ele indicou que havia somente três pessoas que sabiam o
segredo do cofre: Seu pai, ele mesmo e Nathan. Nathan deixou
muito claro que não tinha sido ele. Houve uma grande discussão
entre ele e Moshe, testemunhada por todos os outros funcionários.
Simon foi chamado e veio imediatamente para o escritório. Simon
disse que ouviria tanto a história de Moshe quanto a de Nathan e
acrescentou que quem quer que fosse o inocente não tinha nada a
perder, pois ele descobriria a verdade. Simon deixou o escritório
com seu filho e pediu para Nathan esperar por ele e não ir embora
sob nenhuma circunstância.
As horas passaram. Nathan esperava que Simon não cometesse um
erro acusando-o injustamente por algo que não tinha feito. Poderia
não ser fácil escolher entre a sinceridade de seu filho e a
sinceridade de um empregado. Essa era uma situação difícil.
Tentou convencer-se de que não tinha com o que se preocupar.
Simon tinha percebido com bastante frequência o quanto Nathan
era honesto. O que mais perturbava Nathan era que Simon tinha
que repensar se não tinha dispensado muita confiança a ele. Depois
de um tempo ele começou a se preocupar menos. Mesmo se Simon
chegasse a uma conclusão errada, sabia que não havia nada pelo
que o pudessem acusar; Mas o magoava o fato de que Simon se
sentiria profundamente magoado também. Quer fosse seu filho ou
Nathan, o veredicto seria doloroso.
Era tarde da noite quando Simon voltou. Ele imediatamente
chamou todos os funcionários. Havia uma grande tensão. Ninguém
estava calmo. Quando todos estavam reunidos, Simon disse a eles
que podiam ir para casa e que estavam livres até segunda-feira.
Alguns empregados faziam perguntas, temiam por seus trabalhos,
mas Simon não respondeu a nenhuma pergunta e pediu a Nathan
que o seguisse até o seu escritório. Depois que todos os
funcionários se foram, tudo era calma de novo. Quando Nathan
entrou no escritório de Simon, ele estava sentado em sua cadeira e
olhava para fora da janela. Havia um silêncio gélido no escritório.
60
Nathan não sabia o que esperar. Ele puxou uma cadeira e se
sentou.
─ Você queria falar comigo?
Neste momento, Simon se virou e olhou para ele. Nathan viu que
os olhos de Simon estavam vermelhos e úmidos. Sua voz tremia de
emoção.
─ Você não tem que me dizer nada. Eu sei o que preciso saber.
─ Você sabe o que aconteceu com o dinheiro?
─ Não é a primeira vez que desaparece dinheiro. Mesmo antes de
você começar a trabalhar aqui, eu já tinha as minhas suspeitas. Eu
tentei consertar isso, mas só piorei a situação.
Nathan não sabia o que dizer. Ele quis amenizar a dor do outro
homem. Por outro lado, ele estava feliz de não ser acusado por ele,
mas sentia-se desprovido de forças. Estava sentado frente a um
homem que amava muito e que naquele momento estava muito
magoado. Seu próprio filho o havia passado para traz. Nathan
simplesmente disse o que lhe ocorreu dizer naquele momento.
─ Eu não entendo o comportamento de Moshe. Ele sempre teve
tudo o que quis. Ainda jovem, já possuía alguns cavalos e tinha
economias o bastante para não ter que se preocupar com dinheiro
pelo resto de sua vida.
─ Moshe se esqueceu de que nasceu com nada e que tinha tudo na
vida. Aparentemente eu não fui capaz de ensiná-lo isso.
Nathan viu que o sentimento de culpa também estava presente em
Simon, não obstante sua desilusão.
─ Você deu a ele tudo o que um pai pode dar a um filho. Você
agora se sente responsável por seu comportamento? Moshe é o que
é hoje por causa da educação que recebeu de você.
“Não se sinta culpado. Eu vi o quanto você foi bom para ele”.
Nathan não estava mais tão nervoso com Moshe por causa de sua
falsa acusação, mas por causa da tristeza que havia causado a seu
pai.
─ Nestes últimos anos eu não pude mais prestar atenção aos atos
de Moshe, sabe, Nathan. Não nos conhecemos mais, e para ajudar,
eu ainda tenho uma conexão mais próxima com você do que com
meu próprio filho. E Moshe sabe disso; e é esse o motivo de sua
inveja.
─ Eu sei disso, e tentei muitas vezes falar sobre isso com ele, mas
ele continuava a negar. Assim o seu ciúme só aumentou.
─ Mas este não foi o motivo do roubo. Moshe já tinha roubado
antes.
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─ Onde ele está agora?
─ Ele sumiu e me deixou com esta tristeza imensa.
─ Não a maior de todas, porque ele ainda pode superá-la. Se ele
estivesse aqui, então seria uma tristeza ainda maior!
─ È melhor perder alguma coisa bonita que nunca tê-la tido. Se ele
tivesse morrido hoje como um filho honesto, eu teria boas
lembranças dele.
─ Estas lembranças também estão lá agora; ninguém pode tirá-las
de você!
─ Moshe tinha uma nuvem de tristeza no passado. Uma vez que se
começa a duvidar da sinceridade de alguém, você esquece todos os
bons momentos que passaram juntos, as mudanças! Acredite,
Nathan! Ser traído por seu próprio filho é mais doloroso do que vêlo morrer.
─ Você consegue perdoá-lo?
─ Neste momento eu não posso fazer nada mais que vê-lo de uma
maneira diferente.
─ Será que ele poderá consertar as coisas algum dia?
─ Eu não sei. Mas para isso ele teria que mostrar um
arrependimento sincero. E mesmo assim!
─ Como dá para saber se alguém realmente se arrependeu?
─ Você pode só ver este processo através de suas ações.
─ Como você pode saber se as ações são sinceras?
─ Deixando o tempo fazer o seu trabalho. Nossas ações nos
determinam muito mais do que não as determinamos.
Nathan reiterou que seu pai tinha dito a ele algo similar e tentou
analisar a situação o melhor que pode.
─ Eu quase começaria a pensar que você era muito bom para o seu
filho?
Simon olhou para Nathan.
─ Você não acha que eu era muito bom para Moshe?
─ Poderia ter sido o único erro, se o que ele fez pudesse ser visto
somente como um erro no final das contas.
Simon olhou novamente para fora.
─ Há um velho ditado que diz que se você nunca foi enganado por
causa de seus deuses, então você nunca foi bom o bastante!
Simon e Nathan fecharam o comércio e foram juntos para casa.
Quando chegaram, a esposa de Simon disse que Moshe tinha feitos
as malas e saído. Mesmo após a partida de Moshe, Nathan
continuou trabalhando com Simon. E continuou a ganhar mais e
mais responsabilidades e Simon, que estava ficando velho, estava
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retrocedendo gradualmente. Simon e Nathan decidiram focar na
exposição de seus artigos na feira de negócios. Assim, estavam
presentes em uma importante feira na França e rodeados de
diferentes países. O negócio prosperou e eles conseguiram grandes
lucros.
No inverno, Simon e Nathan estavam presentes em uma feira de
negócios em Hamburgo, no norte da Alemanha, um país que faz
parte do coração de Simon porque foi onde ele conheceu a sua
esposa. Ela tinha nascido e sido criada em Berlin. Na última noite
da feira de negócios, eles voltaram para o hotel para descansarem e
combinaram de jantar mais tarde na cidade. Simon já tinha estado
em Hamburgo antes e achava esta uma cidade atrativa. Assim que
chegaram ao centro da cidade, Nathan e Simon descobriram que a
maioria dos restaurantes estava cheio de gente. Nathan não tinha
certeza de que haveria espaço para eles, uma vez que não tinham
reserva. Simon estacionou o carro perto do Elba, o rio que divide a
cidade em duas, e sorriu para Nathan.
─ Se ficarmos nestas vizinhanças, conseguiremos uma mesa com
uma vista para o rio.
─ Uma vista para o rio? Acho que teremos sorte se encontrarmos
uma mesa.
─ É só uma questão de paciência!
Nathan reconheceu esta peculiaridade de Simon, que, assim como
seu pai, pedia uma atenção especial. Simon e Nathan seguiram
calmamente para o restaurante até que Simon parou. Olhou para
cima e viu uma grande janela no último andar.
─ Vamos entrar. A vista deve ser fantástica daqui!
Nathan e Simon entraram, saudaram os garçons e foram
imediatamente para o último andar. Nathan viu que lá embaixo
todos os lugares estavam ocupados e temeu que no último andar
também não houvessem mesas livres. Uma vez lá em cima, eles
olharam em volta e Nathan parecia estar certo em suas suposições.
─ Uma pena que não hajam lugares disponíveis, por que
certamente há um cheiro bom aqui.
Simon não disse nada até então. Ele olhava para a vista do Elba.
─ A vista é ainda mais bonita do que pensei!
─ Teremos que ir a outro lugar de qualquer maneira, porque todas
as mesas estão ocupadas.
─ Vou perguntar.
Simon foi em direção ao garçom mais velho e falou com ele.
Nathan viu o garçom sinalizar que não com a cabeça. Mesmo
63
assim, Simon continuou falando com ele e apontou a janela. Pouco
mais tarde, o garçom chamou um colega. Ele falou com ele e eles
desapareceram da sala. Simon voltou para o local onde estava
Nathan.
─ Pode tirar o casaco.
─ Vamos ficar aqui?
─ Não teremos que esperar. Já esta arranjado.
Enquanto Simon terminava sua frase, Nathan viu que os dois
garçons tinham voltado com uma mesinha que posicionaram bem
de frente a janela. Nathan olhou para Simon, que fitava
contentemente as lindas luzes das ruas do outro lado do rio.
─ Como sabia que encontraria um lugar neste restaurante?
─ Só me pareceu uma boa idéia entrar aqui.
─ Você sempre consegue arranjar estas coisas!
─ Sentindo as coisas, você pode colocar-las em prática e desta
maneira dar vida a seus pensamentos!
Novamente, Nathan percebeu o quanto a visão de vida de Simon o
lembrava seu pai.
─ Se todos desejassem coisas boas, o mundo seria muito melhor,
Afirmou Nathan.
─ Pudera todos soubessem primeiro o que são os bons
pensamentos.
─ Parece ser bastante obvio para mim.
─ Nem todo mundo usa o mesmo conhecimento para descobrir
quais pensamentos são bons. Muitos preferem seus próprios
conhecimentos acima de um conhecimento maior.
Nathan sabia que o conhecimento maior não era nada mais do que
aquilo que seu pai chamava de poder interno, e mais uma vez teve
a confirmação da semelhança entre Simon e seu pai.
─ Porque nem todo mundo percebe o quanto este conhecimento é
útil?
─ Porque cada um de nós determina suas prioridades de maneira
diferente.
─ Não é o nosso desenvolvimento pessoal, e não sua importância,
o fundamental para cada um de nós?
─ Todos temos nossa própria visão a este respeito,
independentemente de como vieram a aprender isso.
O garçom era um homem jovem de pele escura. Ele veio anotar o
pedido. Os próximos eventos deixariam uma forte impressão em
Nathan. Ao lado de Simon e Nathan estavam alguns casais, entre
os quais estava um homem especialmente alto. Ele tinha uma
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postura imponente e falava alto. Parecia ser um diretor que tinha
convidado alguns de sua equipe para um jantar. O diretor queria
pedir novas bebidas e estava nervoso porque não estava sendo
atendido imediatamente. O garçom estava claramente nervoso com
o comportamento do homem, mas continuou amigável e disse que
voltaria em breve. O garçom atendeu Simon e Nathan primeiro,
não porque era sua vez, mas porque isso seria extremamente
irritante para o diretor. Quando o garçom anotou o pedido de
Simon e Nathan, ele voltou para a cozinha. No exato momento que
o cliente fez uma alusão à cor de sua pele. Algumas pessoas na
mesa riram desta colocação. Os outros sentiram-se envergonhados
e reagiram passivamente. Nathan viu como o garçom perdeu a
cabeça e voltou diretamente para o homem. Mesmo antes de
Nathan perceber, Simon tinha corrido para intervir entre o garçom
e o diretor.
Simon agarrou a mão do garçom, olhou diretamente em seus olhos
e falou com ele em alemão:
─ O primeiro a perder a cabeça sempre está errado.
O garçom pareceu surpreso.
─ È fácil para você dizer isso. Sabe como é ouvir este tipo de
coisas preconceituosas?
─ È precisamente nestes momentos que você não deve esquecer-se
do quanto você é especial. Eu lhe darei o poder de não ser
indulgente com sua raiva. Você deve ver isso como uma
oportunidade de nunca mais se machucar com este tipo de coisa.
─ Como isso é possível?
─ Tem a ver com quem tem o poder sobre seus sentimentos. Você
os controla sozinho ou deixa que os outros os controle?
─ Será que eu devo me deixar ser insultado deste jeito?
─ Uma pessoa decente não insulta e você não deve se sentir
insultado por uma pessoa indecente.
Houve um período de silêncio. O garçom pensou nas palavras de
Simon e se acalmou. O cliente reagiu mal e fez alguns comentários
que foram ignorados por Simon, e agora também pelo garçom.
─ Considere o que aconteceu somente como uma lição - Disse
Simon. _ Se você a aprender, a dor que esta sentindo agora fará
sentido e te fará mais forte.
Agora Simon largou as mãos do garçom e continuou falando:
─ Tenha orgulho de si mesmo. De agora em diante você aprenderá
a controlar melhor os seus sentimentos.
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O garçom tinha entendido claramente o que Simon tinha ajudado-o
a perceber, e agradeceu-lhe.
Simon voltou para o seu lugar na mesa.
─ As pessoas podem ser cruéis! Nathan disse:
─ A coisa mais importante é que aprendemos a lidar com nossos
sentimentos tentando controlá-los!
─ Mas ainda é uma pena que existam pessoas tão más!
─ A franqueza nunca é inerente a ninguém, somente as ações
podem ser más!
─ Eles não percebem o quanto sofrimento impingem aos outros?
─ Em um mundo sem sofrimento ou dor, não haveria a necessidade
de escolhas morais.
─ Seria pior?
Significaria que somos iguais às máquinas, sem o livre arbítrio e
ainda não teríamos a oportunidade de nos envolver.
Nathan pensou sobre isso e entendeu o que Simon quis dizer.
─ Se olhar as coisas desta maneira, a dor de fato parece fazer
sentido de certo modo. Isso dá a oportunidade para lutar por
santidade e por paz.
─ Você acha que aquele homem realmente teve a intenção de dizer
aquilo ou somente quis impressionar as pessoas?
─ Eu não sei. A coisa toda é essa, as diferenças culturais podem
dividir as pessoas, mas a diversidade cultural também pode uni-las.
Simon olhava a água do rio através da janela.
─ Aprendi que as cidades que são divididas por grandes rios
normalmente oferecem uma grande diferença de mentalidade.
Você pode frequêntemente ver as pessoas que estão com medo
destas diferenças e tentam se proteger, enquanto outros mostram
interesse e tentam uma aproximação.
─ De onde vem este medo? Nathan perguntou.
─ O medo normalmente baseia-se somente na ignorância! Muitos
não entendem que é isto, a diversidade entre as culturas, o que
enriquecem nosso conhecimento.
Nathan e Simon olhavam para o rio ondulante pela janela. O
reflexo da luz fazia com que a água parecesse cheia de vida. Simon
continuou:
─ Olhe como a água flui e como encontrará seu caminho até o
oceano, onde fará parte de um grande todo! A água não questiona a
natureza sobre outras águas, ela simplesmente flui através de tudo
e se juntam novamente.
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─ De fato, é assim que nós deveríamos fluir em direção um do
outro - Nathan continuou.
Durante o jantar, Simon contou para Nathan a respeito de uma
decisão importante. Após o verão, ele venderia seu negócio e seus
imóveis e daria um tempo dali para frente. Simon queria mudar
para Miami com sua esposa, perto de sua irmã, que vivia lá há mais
de trinta anos. Estas notícias não eram uma completa surpresa para
Nathan. Simon já tinha manifestado o seu desejo de voltar à
Flórida em sua velhice.
67
Emoção
Foi uma escolha difícil para Nathan. Ele podia ficar em Paris e
continuar o seu negócio ou continuar viajando por novos destinos e
novos desafios. Nos dias que se seguiram ele ajudou Simon com a
venda de suas propriedades e a procurar novos postos de trabalho
para os funcionários. Garças ás conexões de Simon tudo correu
muito bem. A partida de Simon para os Estados Unidos foi
planejada para o inicio do inverno. A esposa de Simon tinha ido
antes. Simon e Nathan ficaram acordados a noite toda antes que
Simon estivesse prestes a sair. Quando tudo estava empacotado,
eles tiraram um tempo para discutirem seus planos com calma.
Simon começou a conversa.
─ Da parte de todos os funcionários eu quero agradecer a você por
todos os seus esforços nas últimas semanas. Você prestou mais
atenção a eles do que a si mesmo.
─ Fiz isso por você, por eles e também por mim. Eles sempre
deram o melhor de si mesmos.
─ Eu também quero agradecer a você pelo que você fez por mim,
não somente nas últimas semanas, mas desde que cheguei aqui.
Apreciei todos os momentos que passamos juntos. Aprendi uma
quantidade de coisas incríveis com você. Você foi como um
segundo pai para mim.
Simon ficou profundamente tocado com o que Nathan disse.
─ Eu sei que você terá que fazer novas escolhas por causa de
minha partida. Por causa de tudo o que aconteceu nas últimas
semanas, não tivemos tempo para falar sobre isso. Você já decidiu
o que vai fazer?
─ Estou pensando se devo ver sua partida como um novo começo e
continuar a viajar, ou se ainda há lições importantes para serem
aprendidas aqui em Paris.
─ Somente você pode descobrir isso.
Simon pode perceber que foi uma escolha difícil para Nathan.
Naturalmente, ele sabia o que Nathan estava procurando e diria
algo importante sobre isso.
─ Para conseguir “autoconhecimento”, duas viagens são
necessárias: A primeira é ao mundo exterior e a segunda é ao
mundo interior.
68
─ Como podemos viajar pelo mundo interior?
─ São as aventuras que experimentamos no mundo exterior que
nos leva a nossa viagem para o mundo interior.
─ Levarei suas palavras em consideração.
─ Posso te pedir um favor?
─ Claro!
─ Qualquer que seja o resultado de sua escolha, nunca desista do
propósito de sua vida. Afirmou categoricamente, Simon.
─ Eu posso até ficar perdido por um tempo, mas jamais desistirei.
Apesar de ter admitido que seria mais fácil se eu já soubesse qual é
o propósito de minha vida.
─ Bem, esta é a resposta que deixo para você, mas estou já há
bastante tempo com você para saber que sua habilidade é algo
único. Você tem a capacidade de alcançar o "conhecimento mais
alto" como ninguém mais.
Na manhã seguinte, Nathan levou Simon ao aeroporto, onde se
despediram. Agora, Nathan estava sozinho de novo, assim como
nos primeiros dias em Paris. Ele continuou trabalhando no setor
com o que estava familiarizado. Foi bastante rentável para ele nas
primeiras semanas, mas de algum modo ele se sentia vazio. Havia
ganhado muito e já tinha economizado uma quantia suficiente de
dinheiro, mas tinha muito pouca experiência nova e os dias se
tornaram monótonos e chatos.
Nas semanas seguintes, Nathan passou cada vez menos tempo em
suas atividades profissionais. Tinha uma necessidade de novas
sensações e foi conhecer a vida noturna.
Ele foi regularmente a danceterias e cassinos e bem rapidamente
seus amigos eram as pessoas da vida noturna. Nathan se deu bem
por causa de suas fortes habilidades de comunicação. Parcialmente
por causa de suas habilidades e por causa do que tinha aprendido
com seu pai, ele tinha elevado a conversa para um nível artístico.
Durante este período ele aprendeu a entender completamente como
era grande a influência de seu mundo. Quase todos que estavam
com ele, queria se tornar seu amigo. As mulheres caiam por seu
charme e os homens apreciavam a sua companhia, parcialmente
para colher os frutos de seu sucesso. A princípio Nathan estava
contente com o novo mundo que se abria para ele, mas bem em
breve ele sentiu como se algo estivesse faltando. Ele viu o quanto
era superficial as suas conexões e conseqüentemente isto o estava
confrontando cada vez mais consigo mesmo.
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Na primavera, Nathan saiu por um tempo curto para o sul da
França. No mercado de Toulouse ele conheceu a linda Sophie. Ele
a viu na barraca de frutas onde trabalhava. Ela tinha os cabelos
castanhos, olhos azuis e um sorriso muita atraente. Nathan notou
imediatamente seu charme excepcional. Também viu que o homem
mais velho que trabalhava na banca com ela parecia muito
desconfiado e estranho. Nathan pensou se ele era seu pai ou um
colega de trabalho. Quando o homem saiu da banca para jogar fora
algumas embalagens vazias, Nathan se aproximou da banca.
Nathan e Sophie se olharam nos olhos por algum tempo e sorriram.
De perto Nathan pode admirar a beleza de seus olhos verdes ainda
mais. Sophie estava maravilhada com a sua presença.
Nathan selecionou algumas frutas e aproveitou a oportunidade para
calmamente iniciar uma conversa.
─ Seu amigo não parece estar de bom humor hoje.
─ Ele é meu chefe, e não esta nem um pouco diferente hoje dos
outros dias.
─ Não parece fácil trabalhar com ele, não?
─ Depois de um tempo você se acostuma.
─ O hábito é uma coisa estranha; ele nos mantém perto do que
odiamos.
Nathan sabia que suas palavras poderiam surtir algum efeito. Ele
pegou mais algumas maçãs verdes e Sophie as pesou para ele.
─ E o que dizem sobre as pessoas que lidam com os hábitos dos
outros? Sophie sorriu.
─ É interessante descobrir quais as intenções que estas pessoas
têm.
─ Nem sempre é fácil descobrir as intenções reais das pessoas.
─ Fica mais fácil se você quiser dispensar tempo suficiente para
descobri-las!
Sophie sorriu de novo. Nathan tinha conseguido um encontro para
aquela noite. Ele a convidou para um jantar na cidade, onde
poderiam se conhecer melhor. Rapidamente ficou muito claro que
se sentiam bastante a vontade um com o outro. Sophie contou pra
ele que seus pais haviam migrado da Itália para a França. O pai
dela morreu quando ainda era muito jovem e ela ainda sentia muita
a falta dele. Nathan sentiu que por causa disso, ela
subconscientemente esperava encontrar um homem que
preenchesse este vazio. Eles se veriam toda noite durante uma
semana. Um dos assuntos mais freqüentes em suas conversas era o
fato de se fazer escolhas.
70
Através das conversas com Nathan, Sophie percebeu que tinham
algo que traria a ela uma maior satisfação. Uma semana depois,
Nathan deveria retornar a Paris e, então convidou Sophie para vir
junto com ele. Ela estava completamente apaixonada por Nathan e
não hesitou por muito tempo. Depois de alguns dias, chegaram a
Paris. Na capital, Sophie se dedicou a seu hobby, escultura. Nathan
construiu um estúdio especialmente para ela. Em resposta, ela
assumiu sua administração. Naquele tempo, Nathan saia com certa
freqüência. Sophie não gostava da vida noturna tanto quanto antes
e raramente saia com ele. Estava convencida de que era só uma
questão de tempo até que Nathan percebesse que a vida noturna
não era para ele.
Um dia, Nathan veio buscar Sophie após um dia de compras.
Sophie havia comprado roupas novas e mal podia esperar para
mostrá-las. Quando entrou no carro, notou que os pensamentos
dele estavam longe dali. De pronto, ela não se preocupou com isso,
uma vez que não era a primeira vez que isso acontecia com ele,
─ Está tudo bem? Perguntou.
─ Está sim.
Sophie percebeu que Nathan não tomou o caminho de casa.
─ Onde estamos indo?
─ Quero sair daqui. Vamos dar uma volta.
Nathan pegou a estrada para o oeste.
─ Tem alguma coisa que quer me contar?
Sophie estava ficando preocupada e Nathan percebeu isso. Ele
parou o carro no acostamento e a beijou.
─ Não se preocupe, não tem nada a ver com você. Eu só tenho que
pensar um pouco, relaxa.
Nathan voltou para a estrada. Suas palavras acalmaram Sophie um
pouco. Ela deitou a cabeça em seu ombro e adormeceu. Era
bastante tarde quando Nathan parou em um lugar qualquer na costa
do Atlântico. Quando estacionou o carro perto de um dique, Sophie
acordou.
─ Onde estamos?
─ Em uma grande fonte de vida, ele respondeu.
Nathan saiu, sentou-se em uma pequena parede e olhou para a
praia e para o mar.
Sophie abriu a porta e viu o sol se pondo. O céu estava
maravilhosamente em tons rosado e azul. Sophie respirou fundo e
encheu os pulmões com ar marinho.
─ Onde estamos exatamente? Perguntou Sophie.
71
─ Em Sables d´Olonne, respondeu Nathan.
Nathan levantou-se e pegou Sophie pela mão. Sophie achava que
jamais em sua vida havia sido tão feliz quanto naquele momento.
Entraram em uma loja. Nathan comprou uma garrafa de vinho, um
saca-rolhas e duas taças. Sophie amou Nathan naquele momento
com jamais antes, e sentiu-se completamente segura com ele, como
se nada de mal pudesse lhe acontecer. Ninguém jamais foi tão
capaz de enxugar as suas lágrimas tão bem, mas ela sentia que esta
noite algo de especial estava acontecendo entre eles. Sophie tinha
dificuldades em lidar com ele. Caminharam na areia e se ajeitaram
bem perto da água. Nathan abriu a garrafa de vinho e encheu as
taças. Sophie se aninhou em seus braços.
Juntos, olhavam o horizonte.
─ Fala comigo, Nathan!
─ Estou completamente no escuro!
Sophie percebeu por sua voz que, fosse o que fosse que o estivesse
chateando, era muito importante.
─ Eu nunca conheci alguém que fosse capaz de ver tudo com tanta
clareza quanto você. Como pode estar no escuro?
─ As pessoas de fato ouvem o que eu digo e acreditam em quase
tudo. O problema é que eu ainda sei muito pouco de mim mesmo!
Eu estou jogando no lixo o dom que recebi.
─ O que mais você quer saber?
─ Até a partida de Simon, a cada dia eu aprendia algo novo; mas
desde aquele tempo que eu somente me comporto de maneira
orgulhosa.
─ Você se arrepende de alguma coisa?
Nathan olhou para ela.
─ O que passou, passou. Então o arrependimento não tem nenhuma
utilidade.
─ Há alguma coisa que queira mudar, então?
─ Tenho que continuar minha jornada e explorar novos ambientes.
A princípio Sophie não disse uma só palavra. Desde o dia que
conheceu Nathan, ela tinha medo deste momento. Entendia que ele
estava se despedindo dela, e que não podia reprová-lo por isso,
porque ele nunca tinha escondido dela que viajaria de novo um dia.
Ela o conhecia bem demais e sabia que ele já tinha tomada a sua
decisão. Então, dali por diante não haveria mais espaço para ela em
sua vida. Já tinha resolvido não prendê-lo consigo, porque não
queria perdê-lo.
─ Agora quem está calada é você, Nathan disse.
72
─ Você me ensinou que jamais deveríamos limitar a liberdade de
alguém. Quero lhe dar todo o espaço que precisa para seu bem
estar interior.
Depois destas palavras, Sophie não pode conter suas lágrimas.
Nathan tomou-a em seus braços e a ajudou a encontrar as forças
para superar a tristeza. E o conseguiram depois de alguns minutos.
─ O fato de dizermos adeus também te deixa triste? Perguntou
Sophie.
─ Claro que sim. Eu vou pensar muito em você, mas estou feliz
por isso.
─ O que quer dizer?
─ Sentir a falta um do outro também é uma forma de felicidade!
─ Você vai voltar algum dia?
Nathan olhou em seus olhos e segurou suas mãos entre as suas.
─ Sophie, eu sempre amarei você, não importa como seja o futuro.
Nathan não podia e nem iria prometer algo mais que isso. Sophie
compreendeu e aceitou o que tinha por enquanto. De repente, eles
ouviram um vento selvagem vindo do mar. Ficaram de pé e
podiam ver muito mal. Tiveram que se esforçar bastante para
manterem-se de pé e saírem da praia. De volta ao dique, o vento de
repente parou de novo, tão repentinamente quanto começou.
Nathan e Sophie acharam isso tudo muito estranho, mas não
tinham nenhuma explicação para o que aconteceu. De volta ao
carro, notaram que todas as ruas estavam vazias. Tudo era silêncio.
De modo muito estranho, Sophie se sentiu muito calma, assim
como o vento. Voltaram para o carro e retornaram a Paris.
73
74
-3Mistério Maravilhoso
75
76
Padrão de Hábito
Nathan partiu alguns dias depois. Sophie ficou para trás, no
apartamento em Paris. Nathan prometeu telefonar com freqüência,
do mesmo modo que fazia com seu pai e com Simon. Em seu
carro, Nathan colocou algumas peças de roupa, alguns livros e suas
anotações. Dirigiu pela mesma estrada que seu pai tomou quando
foram para o sul da Espanha. Ele conhecia bem aquela estrada,
apesar de nunca tê- la percorrido sozinho. Por volta de meio- dia
do dia seguinte, Nathan já tinha quase chegado à Andaluzia. Após
uma breve parada no porto da cidade de Cartagena, ele decidiu
tomar a estrada ao lado das praias do lado oeste da cidade. Uma
vez lá, alugou um quarto com vista para o mar e caiu em um sono
profundo depois de pouco tempo. Acordou a tarde e passou o resto
do dia no mar.
Ver novamente o Mar Mediterrâneo o fez sentir- se muito bem.
Sentiu toda a comoção dos últimos meses se esvaindo e se
convenceu cada vez mais de que ter continuado sua viagem foi a
decisão mais acertada. A noite, dirigia pela costa procurando um
lugar para comer. De repente, seu carro atolou na areia. Ele tentou
desprender- se, mas seu carro só fez atolar- se ainda mais. Nas
imediações, não havia nada para explorar, exceto por uma antiga
casa móvel, localizada pouco além de onde se encontrava. Nathan
andou em direção á ela para pedir ajuda. Quando se aproximou da
casa, percebeu uma placa britânica. Ele viu um jovem grelhando
peixe na companhia de outro jovem e duas garotas. Nathan
reconheceu o cheiro delicioso de sardinhas grelhadas. Quanto mais
perto chegava da casa, mais forte ficava o cheiro.
Nathan gritou:
─ Ola, eu sou Nathan.
─ Prazer em conhecê- lo, eu sou Charlie, disse o jovem na
churrasqueira.
Charlie imediatamente apresentou seus amigos.
─ A garota sentada à mesa é minha namorada Jessica. Aquele
abrindo a garrafa de vinho é Paul e ao lado dele está sua namorada
Lucy.
77
─ È um prazer conhecer a todos e desculpem- me por incomodálos, disse Nathan Estou com problemas no motor do meu carro.
Será que poderiam me ajudar?
─ Você tem que ir a algum lugar com urgência? Perguntou Charlie.
─ Não. Eu tenho tempo.
─ Porque está com tanta pressa, então?
─ Não estou necessariamente com pressa.
─ Pareceu- me que estava. Onde está o seu carro?
─ Dá pra ver o carro daqui.
Nathan apontou em direção ao carro. Charlie olhou na direção
apontada e continuou falando.
─ Você já comeu?
─ Ainda não.
Paul juntou- se a eles agora.
─ Venha, junte- se a nós à mesa.
Nathan gostaria de algumas sardinhas grelhadas, mas ele não
queria impor sua presença ali.
─ Vocês não estavam esperando um convidado de última hora.
─ Não se preocupe, Charlie disse ao mesmo tempo em que
apontava um recipiente cheio de sardinhas frescas. Temos
sardinhas mais que suficiente.
─ E estamos felizes de tê- lo aqui, insistiu Paul. Vamos conhecernos melhor.
─ E com respeito a seu carro, ele não saíra do lugar, adicionou
Jessica.
Lucy agora tinha se juntado a eles.
─ Se você ainda não comeu, deve estar com muita vontade de
nossas sardinhas, não é?
Nathan convenceu- se de sua hospitalidade.
─ Para falar a verdade, meu estomago está uivando. Se isso não
incomoda mesmo, eu gostaria de juntar- me a vocês.
Nathan sentou- se à mesa e quis conhecer o grupo melhor. Ele
estava encantado com a amizade deles. Depois de ficar na fria
Paris, ele havia se desacostumado a isso. Durante o jantar, o jovem
grupo inglês disse a ele como haviam chegado até ali. Depois dos
estudos, eles deixaram Londres para uma viagem com sua casa
móvel e já haviam passado longos períodos em lugares diferentes.
O primeiro lugar que tinham estado por um longo período foi no
sul da França, na região de Bordeaux. Na sequência, exploraram
Portugal extensivamente e seguiram pela costa em direção ao sul
de Lisboa, a capital. Então, eles chegaram à Andaluzia. Primeiro,
78
ficaram em Sevilha. Lá conheceram um homem chamado Pablo,
alguém que mudou suas vidas drasticamente Pablo era sulamericano, da Colômbia, e tinha estabelecido uma comunidade
alguns anos atrás em Tarifa, uma pequena cidade no extremo sul
da Espanha, diretamente de frente para a África. Por alguns meses
o quarteto permaneceu na comunidade juntos com algumas outras
trinta pessoas de diferentes países.
Nathan deixou- os falar extensivamente sobre isso e ouviu
atentamente à suas histórias.
─ Até agora, falamos somente sobre nós e ainda não sabemos nada
sobre você, Charlie frisou.
─ O que gostariam de saber? Nathan respondeu.
─ Por exemplo, o que lhe trouxe aqui? Jessica perguntou.
─ Minha curiosidade! Disse Nathan.
─ Sua curiosidade sobre o que? Paul quis saber.
─ Sobre o que vale a pena conhecer! Nathan respondeu.
─ E o que vale a pena conhecer para você? Perguntou Lucy com
curiosidade.
─ O conhecimento que dá sentido à minha vida! Respondeu
Nathan.
Os jovens ingleses se olharam, impressionados com as respostas de
Nathan. Charlie acrescentou uma coisa:
─ Tenho a impressão que você deveria conhecer o Pablo.
Neste momento, a guarda costeira encostou um carro- guincho
branco. Estacionou perto do carro de Nathan. Parecia que seus
problemas seriam resolvidos. Nathan aprendeu que quando uma
solução chegava espontaneamente, era bom checar se alguma coisa
mais estava acontecendo ao mesmo tempo. A guarda costeira tinha
chegado na hora que Charlie propôs a idéia de apresentar Nathan
para Pablo.
─ Eu adoraria acompanhá- los quando retornarem à Tarifa.
Eles ficaram claramente deliciados pela escolha de Nathan. Ficou
decidido que voltariam à Tarifa no dia seguinte. Nathan se
perguntou se Tarifa seria somente uma parada passageira ou seu
próximo paradeiro depois de Paris. Nathan se levantou e foi em
direção à guarda costeira com Charlie e Paul. O homem
imediatamente lançou mão do equipamento necessário em seu
caminhão, enganchou o carro de Nathan ao seu guincho e puxou- o
para fora da areia de uma vez só. Ele parecia ter sido feito somente
para este fim.
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Nathan agradeceu à guarda costeira e voltou para a casa móvel
com Charlie e Paul.
─ È bem útil para você falar espanhol, disse Paul.
─ Meu pai é originário de um vilarejo não muito longe daqui.
─ Então, era neste caminho que você estava? Perguntou Charlie.
─ Eu saí da França com a idéia de viajar primeiro pela Andaluzia.
Segui a estrada que pegava com meu pai no passado, mas na
verdade eu não tenho destino específico.
Neste ínterim, as garotas já tinham trazido o bolo para a mesa
como sobremesa. Eles abriram outra garrafa de vinho e
continuaram conversando até bem tarde da noite. Nathan estava
intrigado com tudo aquilo que tinha ouvido sobre a tal comunidade
em Tarifa. Ele tentou entender como os quatro jovens estudantes
ingleses de sociologia tinham conseguido entrar lá.
─ Porque vocês decidiram se juntar a esta comunidade?
─ Talvez você deva conhecer primeiro o porquê de decidirmos
começar esta jornada, disse Charlie.
─ A decisão de fazer esta viajem, disse Jessica, foi principalmente
o resultado de nosso descontentamento com o estilo de vida
habitual da maioria das pessoas.
─ Queríamos algo diferente, confirmou Paul. Na comunidade,
todos podem ser o que quiserem sem que isso seja visto como algo
negativo.
─ Sim, aqui vivemos em liberdade, acrescentou Jessica.
─ Pablo tentou criar um tipo diferente de comunidade aqui, frisou
Charlie.
─ Neste contexto, também se enquadra em nossos estudos, disse
Lucy.
─ Um tipo diferente de comunidade? Nathan quis saber.
─ Sim, uma comunidade baseada em uma filosofia diferente de
vida, Paul disse com algum orgulho.
Nathan olhou curioso.
─ Nathan, você acha que somos ingênuos? Jessica quis saber.
─ Pelo contrário, parece bastante interessante para mim, Disse
Nathan. E, de qualquer forma, mesmo se for ingenuidade, todo
bom progresso é precedido de alguma ingenuidade.
─ De qualquer maneira, sonhamos com um mundo melhor, disse
Charlie.
─ Um sonho que dividimos com os outros membros da
comunidade, disse Lucy. As pessoas vêm de todo lugar e nutrem o
mesmo modo de pensar.
80
─ È realmente acolhedor aqui e a cada dia aprendemos algo novo,
Jessica quis salientar.
Nathan pensou por um momento e então se dirigiu à Paul:
─ Paul, você falava de uma filosofia de vida diferente. O que
exatamente você quis dizer com isso?
─ Humm, eu não sei como resumir isso.
─ Não é tão fácil explicar, ajudou Lucy. Isso toca todos os aspectos
de vida.
─ Deixamos claro que todos podem se expressar, disse Jessica.
─ E temos nossas próprias regras de vida, disse Charlie então.
─ Quais regras de vida? Perguntou Nathan.
─ Por exemplo, os fundos dos quais vivemos, respondeu Charlie.
Compramos bens da África e vendemos no Norte rico. Deste
modo, mantemos nossa distância do grande sistema capitalista e
contribuímos um pouco para a briga contra a pobreza.
Agora Paul sabia melhor o que dizer.
─ Além desta forma de comércio, Pablo também tem também
regras detalhadas que nos ajuda a experimentar a serenidade longe
deste mundo frio.
─ Pablo sabe melhor que ninguém como este mundo esta
mergulhado no estresse, disse Lucy.
─ O que ele quer é alcançar isso para nos ensinar a essência da
vida, disse Jessica em um tom de voz calmo.
─ Por exemplo, ele nos ensina como podemos manter nossa
distância da prosperidade material, contribuiu Paul.
─ O que você acha disso, Nathan? Charlie quis saber.
─ Isso é alimento para os pensamentos.
─ Diga somente o que acha disso, insistiu Jessica.
─ Eu quero saber mais sobre isso.
Nathan percebeu que sua audiência estava esperando em suspense
por sua resposta. Aparentemente sua opinião tinha se tornado
importante. Assim, ele falou com cuidado.
─ Me parece que cada um de vocês recuperou alguma coisa nesta
comunidade, algo enriquecedor e aconchegante.
Depois de uma curta pausa, ele continuou.
─ Na verdade, eu deveria primeiro ficar mais algum tempo com
vocês para conseguir responder esta questão corretamente.
Depois desta afirmação, Nathan voltou para o hotel. Na manhã
seguinte, eles partiriam juntos rumo a Tarifa. De volta à seu quarto,
Nathan pensou sobre o que tinha ouvido a respeito da comunidade
que estava descobrindo. Ele tinha muitas perguntas a este respeito.
81
Que tipo de pessoa era Pablo? Como ele conseguia influenciar as
pessoas tão fortemente em tão pouco tempo? Como seria a vida em
tal comunidade? Nathan esperava conseguir as respostas para todas
essas questões.
Na manhã seguinte, Nathan trouxe pão, queijo e azeitonas e tomou
o café da manhã com seus novos amigos. Decidiram tomar a
estrada do interior e fazer uma parada na cidade de Granada. O
grupo tinha ainda que visitar esta cidade e estava curioso sobre
isso. Nathan tinha estado lá várias vezes com seu pai para visitar
velhos amigos. Depois do café da manhã, o grupo saiu em direção
ao oeste. Paul e Lucy propuseram ir junto com Nathan. Charlie e
Jessica seguiriam na casa móvel.
O sol já estava brilhando norte àquela hora matutina. Quando eles
se aproximaram de Granada, puderam ver muitas casas de caverna.
Eram cavidades do lado das montanhas, pintadas de branco
brilhante para torná- las mais reconhecíveis. Nathan lembrou- se
que seu pai tinha falado destas casas. Ele sabia que tinham sido
ocupadas por um longo tempo pelos ciganos. Lembrou- se que os
ancestrais dos ciganos eram originalmente da Índia e que tinham
residido por um longo período de tempo na Europa Oriental. Mais
tarde, se recolocaram em grandes grupos para a França e a Espanha
à procura de uma vida melhor. Infelizmente, ganharam a fama de
trapaceiros e foram, assim, freqüentemente negligenciados.
Normalmente moravam do lado de fora das cidades ou em
cavernas como aqui. Nathan falou a Paul e Lucy sobre isso.
82
Façanha
De repente, Nathan teve que frear muito rápido por causa de um
rebanho de ovelhas conseguindo parar o carro bem a tempo. Um
instante depois outro som de freada se seguiu. Era Charlie. Que
tinha conseguido parar a casa móvel á tempo. Os veículos
estacionaram no acostamento e todos desceram. Não havia nenhum
outro veiculo e nenhum pastor foi visto nas redondezas. Nathan
propôs procurarem pelo pastor. Charlie foi com ele, enquanto os
outros esperaram nos carros. Após alguns minutos, Nathan e
Charlie notaram um velho senhor. Ele estava sentado no chão e
parecia desconsolado e cabisbaixo. Nathan e Charlie correram em
direção a ele. O sol escaldante queimava o rosto do homem. Ele
estava usando um chapéu de pastor muito quente e tinha as mãos
sujas. Nathan perguntou a ele em espanhol se era seu o rebanho
que estava perdido na estrada. O pastor os olhou, porém nada
disse. Nathan e Charlie viram que o homem havia chorado e
sentiram pena dele.
Nathan falou com ele em espanhol.
─ O que houve?
Novamente o homem os olhou, e então permaneceu fitando o nada.
─ Responda! O que houve?
O pastor falou, ainda olhando o nada à sua frente.
─ Nada mais faz sentido!
Nathan podia facilmente dar ao pastor uma série de motivos, mas
sabia que naquele momento, o que o pastor precisava era de
compreensão.
─ Aquelas ovelhas são suas?
─ Isso não é importante, respondeu o pastor.
─ O que você quer dizer?
─ Que isso não as impede de seguirem adiante!
O pastor apontou algumas cavernas para indicar a Nathan quem era
o responsável por isso. Nathan traduziu a conversa para Charlie e
então se dirigiu ao pastor novamente.
─ È essa a razão de sua tristeza?
─ Não. Não é isso agora.
─ Bem, o que é então?
83
─ Minha esposa está muito doente e provavelmente não viverá por
muito tempo!
Nathan levou um tempo para avaliar a situação.
─ Sua esposa está em casa agora? Ele perguntou.
O pastor sinalizou que sim e apontou para uma fazenda um pouco
além.
─ Tudo bem para você se nós a visitarmos?
O pastor os olhou. Nathan podia ver em seus olhos que tinha sido
bem sucedido em suas intenções. Ele tinha dado esperança ao
homem novamente.
─ Você seria capaz de fazer alguma coisa? Emendou o pastor.
Nathan ignorou a pergunta e ajudou o homem a se levantar.
Charlie se apressou em ajudar.
─ O que você vai fazer? Ele questionou Nathan.
─ Primeiro vamos reunir o rebanho, respondeu Nathan. Depois,
levaremos o homem pra casa e visitaremos sua esposa enferma.
Mesmo antes que Charlie pudesse reagir a isso, Nathan disse:
─ O homem está se sentindo extremamente solitário e precisa de
nós.
Eles retornaram para o resto do grupo. Charlie disse a eles o que
estava acontecendo. Nathan pediu a Charlie e Paul para seguirem
para a fazenda com a casa móvel e o carro. Ele seguiria a pé com
as garotas e o pastor. Jessica disse a Nathan que não estava
confortável com a situação.
─ Nathan, você não está dando falsas esperanças ao homem?
─ Esperança eu conheço, mas o que significa "falsas esperanças”?
Perguntou Nathan.
─ Bem, talvez que o velho senhor pense que você irá curar sua
esposa.
─ Seria pior não ter dado a ele nenhuma esperança, respondeu
Nathan.
A resposta de Nathans só serviu para deixá- la ainda mais nervosa.
─ O que acontece se não houver nada que possamos fazer?
─ Jessica, no momento aquele homem precisa de nossa ajuda.
Graças a nós, ele agora esta voltando para casa.
Jessica ponderou por um momento.
─ Você não está sendo otimista demais? Ela perguntou.
Nathan olhou para Jessica.
─ Você tem que confiar mais naquilo que podemos realizar!
Jessica quis perguntar o que ele quis dizer com aquilo, mas naquele
exato momento eles chegaram à rústica fazenda. Charlie e Paul já
84
estavam esperando por eles. O pastor quis que Nathan entrasse
para o andar de cima pela escada que havia do lado de fora da casa.
Nathan pediu a Lucy e Jessica que fossem com ele. Charlie e Paul
esperaram no andar de baixo. O pastor abriu a porta do quarto onde
sua esposa enferma estava deitada. Nathan e as garotas adentraram
o pequeno quarto de onde emanava um cheiro ruim. O quarto
estava escuro e soberbamente decorado. A enferma estava deitada
lá em uma pequena cama adjacente à parede. O pastou beijou sua
esposa e sussurrou para ela que tinham visita. A mulher olhou para
Nathan e as garotas e sorriu debilmente. O pastou deixou- os a sós
e voltou para o andar posterior.
Jessica e Lucy estavam claramente desconfortáveis.
─ Lucy, Nathan disse, imagine que esta mulher fosse sua mãe. O
que você faria?
Lucy não esperava por uma pergunta.
─ Eu gostaria de saber o que primeiro te vem á mente, acrescentou
Nathan.
─ Eu começaria por dar um pouco de luz a este quarto, respondeu
Lucy.
─ Vá em frente, Lucy, disse Nathan.
O que você quer dizer? Lucy reagiu com certa surpresa.
─ Abra estas cortinas pesadas, Nathan continuou enquanto dava o
exemplo; não, melhor ainda , pegue uma cadeira e retire- as de
modo que mais luz possa entrar no quarto.
No início, Lucy focou em dúvida. Ela se sentiu um pouco
embaraçada, mas fez o que Nathan pediu. Jessica ajudou Lucy a
retirar as cortinas. Agora o quarto estava agradavelmente
iluminado. Agora, Nathan falava com Jessica.
─ Jessica, o que você mudaria?
Jessica foi até a janela e a abriu.
─ Eu tiraria a cama deste canto e a traria para perto da janela.
─ Boa idéia, disse Nathan. Eu vou ajudá- la.
Nathan informou à mulher a respeito de suas intenções. A mulher
pareceu alegrar- se com o que estava acontecendo. A cama foi
cuidadosamente movida para que ela pudesse apreciar a linda vista.
Jessica e Lucy apreciaram o sorriso sincero da mulher. Nathan
tinha sido bem sucedido em suas intenções.
─ Meninas, disse Nathan, agora eu vou me juntar ao pastor e aos
rapazes para ver se podemos encontrar as ovelhas roubadas. Acho
que é melhor ficarem aqui e tomar conta dela.
85
─ O que podemos fazer por ela? Perguntou Lucy um pouco
preocupada.
─ Não podemos nem mesmo falar com ela, disse Jessica.
Nathan não respondeu; simplesmente sorriu e saiu do quarto. Um
pouco mais tarde, ele retornou com alguns panos úmidos e pediu
para Jessica e Lucy refrescarem a mulher. As garotas pareciam em
desespero, mas fizeram o que Nathan pediu.
─ Vocês serão mães maravilhosas, disse Nathan.
Jessica e Lucy sentiram certo orgulho e sorriram. Nathan voltou e
disse para Paul e Charlie que as garotas ficariam ali, enquanto eles
sairiam à procura das ovelhas. Traduziu a mesma mensagem para o
pastor. O pastor não estava com vontade de procurar pelos ladrões,
mas finalmente concordou com a proposta de Nathan. Os rapazes
entraram no carro e o pastor mostrou a direção para Nathan. Eles
dirigiram montanha acima e no caminho encontraram mulheres e
crianças que os olhavam com olhos raivosos.
Charlie e Paul se sentiram ainda mais desconfortáveis com aquilo.
─ Tem certeza de que devemos nos envolver nisso? Perguntou
Charlie.
─ Se estivesse no lugar deste pastor, disse Nathan, não gostaria de
ser ajudado?
─ Provavelmente sim, mas não tem medo deles? Paul questionou.
─ Em situações de aperto, devemos sempre ter três armas a mão,
disse Nathan calmamente.
─ Armas? Quis saber Paul.
─ Não se preocupe, são somente metáforas, Riu Nathan.
Charlie e Paul ouviram a tudo com muita curiosidade.
─ A coragem vence o medo. A paciência vence a ira. A Paz vence
o ódio. Mantenham isso em mente.
Enquanto Paul e Charlie pensavam sobre isso, chegaram a um
quarteirão onde quatro homens estavam sentados a uma mesa do
outro lado.
─ Qual era a minha primeira arma, de novo? Nathan perguntou a
Paul e Charlie.
─ A coragem vence o medo! Disse Paul.
Nathan saiu do carro e pediu aos outros que esperassem por ele.
Cumprimentou os homens na mesa e imediatamente procurou pelo
líder do grupo. Falou com o homem sentado no fundo da mesa, que
era um homem de compleição forte com uma barba negra e
camiseta colorida. O nome dele era Paco.
─ Boa tarde!
86
─ O que faz aqui?
─ Há um mal- entendido que eu gostaria de resolver, disse Nathan.
─ Que mal- entendido? Perguntou Paco em voz ácida.
Nathan puxou uma cadeira, sentou- se e apontou para o pastor
ainda sentado no carro.
─ O homem no banco da frente do carro é um pastor desta área.
Todo o prazer de sua vida se resume a duas coisas, que são
essenciais à ele: sua esposa e seus afazeres como pastor.
Luis, um homenzarrão com um colete sem mangas reagiu de modo
muito nervoso.
─ Por que está nos contando isso?
Nathan não respondeu imediatamente, mas olhou cada um dos
homens nos olhos. Finalmente falou firme para o homenzarrão:
─ Você não tem que me ouvir. Se isso não lhe interessa, pode sair
agora.
Nathan sentiu que suas palavras tiveram o efeito desejado. Teve
sua confirmação quando Paco falou para o homenzarrão.
─ Luis, deixa o garoto contra sua história.
Nathan agradeceu a Paco e continuou:
─ Hoje, aquele pastor está muito infeliz. Sua esposa está
seriamente enferma e suas ovelhas foram roubadas novamente. Ele
está a ponto de perder tudo o que mais lhe faz feliz.
─ O que quer de nós? Exigiu Paco.
─ Como sabem, todo roubo que acontece aqui aparecem rumores
de que são vocês os responsáveis. Sei que estes preconceitos são
quase sempre infundados, mas às vezes estão corretos. Quando são
infundados, devem se fazer conhecer, mas se são verdadeiros é do
interesse de todos que descubramos os responsáveis.
Paco não disse nada por um tempo.
─ Suponho, disse então, que os rumores estejam certos. Qual seria
o nosso interesse em trais o nosso povo?
─ Se caso fosse ouvido na cidade que fizeram justiça contra um
ladrão de seu próprio bando, seria um forte sinal.
─ Sinal de que?
─ Sinal indicador de que nunca se deve julgar toda uma população.
Miguel, um dos homens na mesa, falou:
─ Queremos viver em paz.
─ Tanto o pastor quanto as outras pessoas na cidade querem isso
também, Disse Nathan, mas não conhecem vocês. Eles têm medo,
e, deste modo, os evitam.
87
Nathan agora manteve o silêncio de propósito e deixou que o
silêncio trabalhasse a seu favor. Enquanto isso, sentia que alguns
deles sabiam mais sobre o roubo.
─ Quero pedir para que discutam isso, Volto já.
Nathan voltou para o carro e informou os outros sobre a situação.
─ O que fazemos agora? Perguntou Charlie.
─ Agora usarei minha segunda arma, respondeu Nathan.
─ A paciência vence a ira, disse Paul.
Nathan acenou para Paul.
Enquanto isso, os homens discutiam intensamente. Nathan sabia
que tinha tocado em um ponto sensível; a maioria dos Ciganos
queria construir um relacionamento melhor com a população local.
As crianças encontravam muitos problemas devido a esta exclusão,
mas também os adultos eram cada vez mais alimentados com estes
preconceitos. Depois de algum tempo, Paco chamou Nathan de
volta. Luis disse a ele que sabia onde estavam as ovelhas. Nathan
ficou feliz de ouvir isso e apertou as mãos de cada um deles.
Quando quis apertar as mãos de Paco, o homem forte se levantou:
─ Cuidarei disso de agora em diante. Diga ao pastor que amanhã,
antes do sol nascer, suas ovelhas estarão de volta. Ele tem minha
palavra!
─ O pastor ficará feliz com isso, disse Nathan satisfeito.
Nathan abraçou Paco. Quando Nathan quis partir, Paco falou com
ele de novo:
─ Uns instantes atrás você disse que a esposa do pastor estava
seriamente doente.
Nathan concordou.
─ Vou chamar “Ela quem sabe” para acompanhar vocês, disse
Paco.
─ “Ela quem sabe”? Perguntou Nathan.
Ela vive em uma caverna no espírito Mouro e já fez muitos
milagres.
─ Espírito Mouro... milagres?
Paco sentiu as suspeitas de Nathan.
─ Diga- me, quando veio até nós, você sabia se o fim da situação
seria satisfatório?
─ Eu não tinha como saber, mas sempre tenho confiança no futuro.
─ Esta é definitivamente uma atitude muito positiva, mantenha- na.
Paco quis enfatizar.
Nathan entendeu a mensagem. Paco enviou uma menininha para
ver se a mulher estaria disponível por algum tempo. Neste ínterim,
88
Nathan voltou para o carro e disse a eles que as ovelhas seriam
devolvidas. O pastor, Charlie e Paul ficaram profundamente
impressionados pelo que Nathan havia conseguido. Então, Nathan
contou para o pastor sobre a oferta de Paco para ajudar à sua
esposa e perguntou se queria dar uma chance á isso.
O pastor deu a ele uma resposta estranha.
─ Certamente que sim, uma vez que isso tudo vem de você.
─ Como assim? Perguntou Nathan. Você confia tanto assim em
mim?
─ Principalmente eu confio naquele que lhe enviou, o pastor disse.
─ Aquele que me enviou? Nathan quis saber.
No momento que Nathan quis pedir ao pastor que explicasse, Uma
mulher se aproximou deles. Ela estava vestida completamente de
negro e carregava uma pequena caixa com ela. Era a mulher sobre
quem Paco havia falado. Quando ela viu Nathan, ela olhou para ele
por um longo tempo e então sorriu ternamente para ele. Seus
dentes brancos contrastavam com sua pele negra. Nathan se
apresentou.
─ Meu nome é Nathan. Você acha que pode fazer alguma coisa
pela mulher doente?
A cigana continuou olhando para ele e nada respondeu.
─ Você fala espanhol fluentemente, mas não é daqui.
─ Realmente, disse Nathan, só estou de passagem. Você vai ajudar
à mulher?
A cigana olhou para o pastor.
─ Seguiremos você, disse por fim a cigana.
─ Muito obrigado, disse Nathan.
─ Você não tem que me agradecer ainda, reagiu a cigana.
─ Estou lhe agradecendo agora por suas boas intenções. O que
acontecerá de agora em diante dependerá menos de você.
A cigana sorriu e passou para o banco de trás do carro de Paco.
Com dois carros, voltaram para a fazenda. Assim que chegaram lá,
todos desceram, menos Paco. Ele ficou no carro e se preparou para
tirar uma soneca. A cigana havia descido com sua pequena caixa.
Nathan mostrou o caminho para ela até o quarto da mulher
enferma. Jessica e Lucy estavam ao lado da cama. A cigana pediu
para que Nathan trouxesse água quente. Então, ela abriu a caixa e
tirou dela algumas ervas diferentes. Nathan voltou com uma bacia
de água quente. Colocou a bacia ao lado da cama e desceu as
escadas. Charlie e Paul tinham sentado nos bancos dentro do
cômodo. Nathan sentou- se com eles.
89
Paul tinha uma pergunta a fazer.
─ Nathan, você acredita em forças misteriosas?
─ Normalmente não passam de forças que não entendemos ainda!
─ Eu sou cético a respeito de pessoas assim, Disse Charlie. E acho
que isso não faz nenhum sentido.
─ O futuro nos mostrará, disse Nathan, mas lembre- se que nada é
desprovido de sentido se ocupa um lugar em suas memórias!
Nathan tinha dito suas últimas palavras com um indicador de que
não queria mais falar sobre isso de agora em diante. Ficaria muito
claro se a cigana seria capaz de fazer alguma coisa ou não.
Enquanto isso, o pastor trouxe café e biscoitos, e os colocou sobre
uma pequena mesa. Nathan aproveitou a oportunidade para
perguntar ao pastor o que realmente quis dizer quando disse que
confiava naquele que o enviou.
─ Quem me enviou, de acordo com o que disse?
O pastor olhou para ele, fez- se confortável e deu um suspiro
profundo.
─ Esta manhã, eu realmente não via nenhuma saída e clamei por
ajuda.
─ Sim, e então? Perguntou Nathan.
─ Aí você veio! O pastor disse.
Nathan aprendeu a reconhecer os momentos quando o silêncio
servia como melhor resposta. Agora era um destes momentos! Ele
deitou- se e fechou os olhos. Paul e Charlie rapidamente seguiram
seu exemplo. Enquanto Nathan caia no sono, sentiu que de agora
em diante sempre estaria em lugares onde pudesse desempenhar
um papel importante.
90
Curiosidade
Aproximadamente uma hora mais tarde. Lucy desceu e acordou os
rapazes. Quando Nathan viu a cigana descendo as escadas, foi até
ela.
─ Você conseguiu fazer alguma coisa por ela?
─ O mal a deixou, disse a cigana, agora o tempo fará seu trabalho.
Enquanto isso, Lucy contava para Paul e Charlie o que tinha
acontecido no quarto. Nathan conversava com a cigana.
─ Você sabe qual era a doença dela?
─ Isso não é importante, respondeu a cigana.
As desconfianças de Nathan aumentaram.
─ Como você sabe que o mal a deixou?
─ O que me leva a curar não é minha cabeça, mas sim meu
coração!
De uma maneira ou de outra, a cigana com suas últimas palavras
tinha conseguido fazer com que as desconfianças de Nathan
desaparecessem por completo.
─ Quero lhe agradecer pela segunda vez hoje, desta vez por curála.
─ Eu fiz tanto quanto você, disse a cigana.
─ Por causa de meus esforços? Perguntou Nathan.
─ É por que trouxe a água, adicionou a cigana.
Isto fez com que Nathan entendesse que ela havia visto uma
conexão entre ele e a água e tentou descobrir se ela podia ou diria a
ele algo sobre isso.
─ Por que disse isso? O que quer dizer?
A cigana pareceu surpresa.
─ Então ainda não sabe?
─ Ainda não sei o que? Perguntou Nathan.
─ Se ainda não sabe, respondeu a cigana. Significa que o tempo
para você saber ainda não chegou.
Nathan não achava que aquela tinha sido uma resposta satisfatória,
mas sentiu que a cigana não diria mais nada a ele, então não
insistiu. Contudo, a estória sobre o espírito Mouro continuava
intrigando- no.
─ Ouvi dizer que deixará a caverna do espírito Mouro.
A mulher pegou- o pelo braço e andou com ele.
91
─ Nathan, aquela estória não é importante para você.
─ Por quê? Perguntou Nathan.
─ Somente confie em mim! Disse a cigana.
Nathan tentou descobrir as intenções da cigana. A estória não tinha
realmente nenhum significado para ele? Ou ela somente queria
deixá- lo ainda mais curioso? Estaria ela com medo de que ele
descobrisse uma mentira?
─ Você está tentando manter um mistério deste jeito? Perguntou
Nathan.
─ A realidade em si é um mistério.
─ Diga- me então, o que você conhece por certeza.
─ Isso somente diminuiria o poder do mistério.
Nathan pensou a respeito. A cigana olhou para ele em silêncio.
Nathan percebeu que ela radiava tanta calma que tinha que ser
muito segura de si mesma.
─ Entendo, disse Nathan, contando que as pessoas acreditem no
mistério, atribuem certos poderes à você.
─ Como eu já disse, repetiu a cigana, para você esta estória não é
importante.
Nathan concluiu que a cigana possuía seus poderes e confiança
principalmente por causa do fato que ela era vista como mais do
que realmente era. Ele confiou seus pensamentos à cigana.
─ È como o pastor que confia em mim cegamente, porque ele vê
em mim mais do que realmente sou.
─ Tem tanta certeza de que o pastor está errado? Assinalou a
cigana.
Nathan focou quieto e pensou a respeito enquanto a cigana
acrescentou um sorriso.
─ Só o tempo dirá!
De repente a porta do andar superior se abriu. Todos olharam para
os degraus. Jessica apareceu com a esposa do pastor a seu lado. O
pastor não cabia em si de contentamento e correu degraus acima
para abraçar a esposa. Quando desceu, ele também abraçou Jessica,
Lucy e a cigana. Ele estava maravilhado.
─ Pode ter certeza de que todos em Granada saberão do milagre
que aconteceu aqui hoje.
─ Se precisar de mim, disse a cigana, não hesite em me procurar.
Então se dirigiu a Nathan.
─ Tenho que ir agora, Nathan. Estou feliz de conhecê- lo.
A cura da esposa do pastor havia confundido Nathan e suscitou
algumas novas questões.
92
─ Mas, o que operou a cura? Ele perguntou à cigana.
─ A esperança de todas as pessoas hoje que estavam preocupadas
com o destino dela, respondeu.
─ Nada além disso? Perguntou Nathan.
─ Reforçada pelo poder do mistério! Respondeu a cigana.
Depois destas palavras, ela sorriu e abraçou Nathan.
─ Continue experienciando tudo com a mesma curiosidade e
obterá um melhor entendimento o que já possui a respeito do que o
mundo necessita!
Antes que Nathan pudesse compreender completamente o que
tinha acabado de ouvir, a cigana entrou no carro. Paco viu que
Nathan estava confuso.
─ Não sei o que ela disse, mas sei que ela não tem este nome por
acaso!
─ Obrigado por tudo, Paco!
─ Obrigado a você, Nathan.
Enquanto o carro sumia de suas vistas, Nathan entendeu que sua
tarefa ali tinha sido completada e disse ao pastor que tinham que
continuar suas jornadas. O pastor ofereceu para ficarem mais um
dia. Nathan respondeu que ainda tinham outras pessoas para
encontrarem. O pastor disse que compreendia aquilo e que seria
egoísmo querer mantê- lo ali por mais tempo. O grupo disse adeus
ao casal. A esposa do pastor deu a eles uma cesta cheia de vinho,
azeitonas, amêndoas e bolinhos doces como presente. Enquanto
isso, Charlie e Jessica já haviam adentrado o carro de Nathan. Na
estrada, conversaram sobre o que tinha acontecido.
Depois de um tempo, caiu- se um silêncio e Nathan aproveitou
para aprofundar- se em seus pensamentos. Pensava sobre o que a
cigana havia dito para ele.
─ Continue experienciando tudo com a mesma curiosidade e
obterá um melhor entendimento daquilo que o mundo necessita!
Já era tarde quando chegaram a Granada. Depois de estacionar o
carro, decidiram andar um pouco dentro da cidade. Durante o
passeio, foram até a vila Moura de Abaixem que ainda respirava a
atmosfera de séculos passados. Nathan amou aquela atmosfera
especial. Paul propôs comerem algo. Perto dali, eles viram um
estabelecimento agradável onde se sentaram em um pequeno
terraço. Em uma das mesas ao lado, um homem estava olhando
umas fotos. Nathan reconheceu as casas típicas de Abaixem e
perguntou ao homem se podia olhar as fotos também. Também
apresentou o resto do grupo ao homem. O nome dele era Antonio e
93
era o responsável pela revitalização das casas de Abaixem para
seus estados originais. Assim, ele já tinha transformado várias
casas antigas em hoteizinhos charmosos. Quando Antonio soube
que passariam a noite na casa móvel, espontaneamente os
convidou para passarem a noite em uma casa em Abaixem. Depois
de comerem, foram com Antonio e dormiram em um lindo estúdio
aquela noite.
O dia seguinte, aproximadamente meio- dia, eles seguiram para
Tarifa pelas típicas ruas estreitas. As casas brancas de gesso e a
atmosfera relaxante lembraram Nathan da vila Mojacar. Charlie e
Jessica mostraram a Nathan com entusiasmo a estrada para suas
casas. Os membros da comunidade moravam em casas diferentes
em volta de um pátio. Muitos membros vieram saudá- los e Nathan
foi recebido com muito afeto. Graças a seu conhecimento em
línguas, pode saudar muitos deles em suas línguas maternas. Após
uma breve apresentação, Maite, uma mulher jovem e charmosa
levou Nathan até um dos quartos de hóspede.
Conversavam em espanhol.
─ Vai ficar aqui por muito tempo? Perguntou Maite.
─ Sito que sim; que ficarei por um tempo.
─ Seja lá quais forem as razões pelas quais você fique, tentarei
fazer com que se sinta o mais confortável possível.
Novamente Nathan sentiu que a amizade era sincera, do mesmo
modo que tinha sentido quando conheceu seus novos amigos em
Cartagena.
─ De onde você é e desde quando esta aqui? Perguntou a ela.
─ Sou de Barcelona e estou aqui há alguns meses.
─ Você volta com frequência?
─ Encontrei meu lar aqui.
Nathan compreendeu que este era um ponto sensível para ela.
─ Sentímo- nos em casa onde somos compreendidos!
Maite sorriu.
─ Soube que esta viajando por um longo tempo. Este é meu sonho
também!
─ Bem, então você já está viajando, Nathan frisou.
Ambos riram.
─ Você sabe quando Pablo estará aqui? Perguntou Nathan.
─ Você conhece o Pablo?
─ Eu nunca o encontrei.
─ Ele estará de volta da Holanda em alguns dias.
94
Nos próximos dias, Nathan falou com muitas pessoas dentro da
comunidade e descobriu o que os havia levado até lá. A maioria
deles estava desapontada e agora cultivava o mesmo sonho sobre
um mundo melhor. Alguns deles eram muito vagos sobre o que
aquele mundo deveria parecer; outros tinham idéias muito
concretas sobre isso. Nathan havia notado especialmente que cada
pessoa com quem tinha conversado tinha uma grande confiança em
Pablo. Quanto mais Nathan ouvia sobre Pablo, mais ficava
intrigado com ele. Ele realmente ansiava por conhecê- lo.
95
Alternativa
Poucos dias depois chegou o momento. Pablo chegou em uma
caminhonete junto com dois amigos. Pablo era um jovem
carismático com longos cabelos negros. Naquele momento, Nathan
estava no pátio com Charlie e alguns outros, tomando uma bebida.
Nathan e seu grupo se levantaram e saudaram os três cavalheiros.
Charlie apresentou Nathan a Pablo e o contou como se
conheceram.
─ Você gosta daqui, Nathan? Perguntou Pablo.
─ Fui fantasticamente bem recebido, respondeu Nathan. É muito
agradável aqui.
─ Então, muito disso vem de você. Respondeu Pablo.
Pablo olhou atentamente para Nathan.
─ Amigos de meus amigos são meus também, ele disse então,
vamos comer alguma coisa mais tarde e conhecer- nos melhor.
─ Estou ansioso por isso, disse Nathan.
Quando a noite caiu, Pablo veio procurar Nathan e disse que Maite
havia preparado uma paella deliciosa. Nathan seguiu Pablo até seu
apartamento na cobertura. O apartamento era bastante iluminado.
No meio da sala de estar havia uma mesa baixa e redonda, rodeada
por grandes almofadas. Enquanto Pablo abria uma garrafa de
vinho, Maite saiu da cozinha e deu as boas vindas a Nathan.
Quando as taças estavam cheias, Pablo propôs um brinde:
─ Ao milagre de Granada!
─ Ao milagre de Granada? Nathan reagiu com certa surpresa.
─ As notícias correm rápido por aqui, riu Pablo. Você claramente
impressionou a comunidade e todos aqui gostam de você.
─ Espero que pelos verdadeiros motivos.
Pablo estava obviamente apreciando o vinho.
─ Nathan, em você eu reconheço as qualidades de um líder: você é
inteligente, capaz de fazer- se amar e consegue lidar com isso
muito bem.
─ Qual é o seu sonho?
─ Tentar descobrir o futuro escondido em mim.
─ Então ainda está a procura?
─ Não estamos todos?
─ Meu sonho era estabelecer esta comunidade.
96
─ Qual a sua motivação para isso?
─ Eu sabia que isso me faria feliz.
─ Você precisa fazer os outros felizes?
─ A felicidade real é a felicidade que podemos oferecer.
─ As pessoas não têm que compartilhar seus próprios sonhos?
─ Aqui elas aprendem as diferenças entre seus sonhos e a
realidade.
Nathan estava impressionado pelas respostas de Pablo.
─ Como você vê a proposta final? Nathan quis saber.
─ Como tantos, eu quero um mundo melhor, disse Pablo. Aqui em
Tarifa, eu quero mostrar que isso pode ser feito de modo diferente.
Nathan quis saber mais, muito mais mesmo, mas decidiu guardar
suas outras perguntas para mais tarde e não começar sua relação
com Pablo com o pé esquerdo. O resto da noite, a atmosfera foi
muito relaxante. Nas semanas seguintes, Nathan e Pablo passaram
muito tempo juntos. A comunidade estava organizando uma festa.
Para dar a todos os membros a oportunidade de reencontrar velhos
amigos e novas oportunidades vindas de suas casas e países, Pablo
organizava uma festa duas vezes por ano. Este não era o único
motivo; também era uma maneira de apresentar a comunidade e
sua filosofia de vida para os visitantes.
Nathan estava completamente envolvido com isso e dividia seu
prazer com Pablo.
─ É muito bom ver quantas pessoas podem se unir em volta de
uma idéia.
─ A felicidade deles me agrada e fortifica em minhas convicções.
Estamos fazendo um ótimo trabalho.
─ Pablo, você não tem medo que alguns deles se tornem muito
dependentes de você?
Pablo pensou a respeito. Ele adorava conversar com Nathan. Ele
tinha dito mais cedo que ele tinha a arte de fazer as perguntas
certas. Estas questões forçam as pessoas a pensar e travar um
diálogo consigo mesmas.
─ Muitas pessoas tentam entender, disse Pablo, e precisam de um
papel- modelo e uma personalidade forte.
─ Talvez elas precisem de fato de você para começar a acreditar de
novo em seus sonhos, disse Nathan.
─ Cada um de nós procuramos escolher o que mais preenche
nossos sonhos!
─ A questão é: em que extensão somos livres para determinar
nosso próprio ciclo de vida!
97
Pablo entendeu porque Nathan estava preocupado.
─ Olhe, Nathan, minhas intenção é libertá- los para que possam
lidar com a liberdade da melhor maneira possível.
Agora Nathan entendia a razão mais profunda por que Pablo
estabeleceu esta comunidade. A partir daquele momento todas as
suas duvidas sobre Pablo desapareceram por completo. Outras
perguntas vinham à tona agora.
─ O que é a liberdade para você?
Pablo agora falava calmamente. Nathan reconhecia aquele tom de
voz, que vinha de certa mágica de vida.
─ Normalmente parecemos fazer escolhas livres, mas na verdade
somente queremos responder aos requerimentos de nosso
ambiente!
─ Então é só uma ilusão acreditar que estamos fazendo escolhas
livres, em sua opinião?
─ Uma escolha livre de verdade vem de nosso mais profundo eu!
─ Como reconhecemos nosso eu mais profundo?
─ Aprendendo com a experiência novamente e sendo
completamente abertos para o nosso desejo interior!
Nathan deixou as palavras de Pablo tomarem conta dele.
─ Então, somos capazes de determinar nossos próprios
pensamentos? Perguntou.
─ Um pensamento vem para nós espontaneamente, disse Pablo.
Não temos como comandar isso. Mas podemos determinar o que
fazemos com tais pensamentos e como deixamos nossos
sentimentos serem influenciados.
Nathan viu muitas similaridades com o que tinha aprendido
anteriormente. Ele achou impressionante que Pablo, Mauro e
Simon, não obstante suas diferenças de criação e ciclo de vida,
tinham chegado às mesmas conclusões. Pablo continuou:
─ Se podemos reconhecer os pensamentos vindos de nosso eu
interior, também somos capazes de entender todos os aspectos de
nossa condição e libertarmos a nós mesmos disso tudo. A partir
daquele momento demos um salto para uma dimensão diferente.
─ Uma dimensão diferente? Perguntou Nathan.
─ Uma dimensão na qual se tornará incrivelmente claro como
podemos encontrar a felicidade, Pablo esclareceu.
─ Todos os membros da comunidade entendem pra onde você quer
levá- los? Nathan quis saber.
98
─ Para muitos, minhas palavras parecem somente ideias bonitas,
mas chegará um dia em que estas ideias se transformarão em
entendimento, resumiu Pablo.
─ Você está claramente seguro disso tudo.
─ Há rios curtos e longos, estreitos e amplos, mas no final todos
fluem para o mesmo oceano.
Nathan reconheceu uma afirmação que já tinha ouvido de Simon.
─ Quando você realmente sabe que alguém entendeu suas ideias?
Perguntou Nathan.
─ Quando as perguntas sobre como eles podem se tornarem felizes
já não é mais uma pergunta, por que estão experienciando as
dimensões de abertura calma.
─ Abertura calma?
─ Naquela dimensão, disse Pablo, a estrada para nossa felicidade
se torna mais clara e cada experiência nos trás ainda mais clareza.
Pablo esperou enquanto fitava os apetrechos vermelho brilhante.
─ No fim, continuou, não há nada mais importante que as
experiências que nos lança alguma luz, levando- nos a um nível
mais alto e nos permitindo experiências mais profundas.
─ Então, o que exatamente experienciamos? Nathan quis saber.
Pablo olhou para Nathan e continuou a fitar as chamas.
─ O “maravilhoso mistério”!
Nathan nada disse por um momento. Ele sabia que Pablo era uma
pessoa espiritual, mas que raramente falava sobre isso. Nathan
tinha aprendido a ficar em silêncio e ouvir atentamente durante
aqueles raros momentos nos quais as pessoas se abrem. Pablo
continuou:
─ Você pode reconhecer o “maravilhoso mistério” em cada coisa
que existe, mas é dentro de nossa sensibilidade que nossas
experiências se completam.
─ Isso não é uma questão de fé? Perguntou Nathan.
─ Todos têm a escolha de determinar o que se entende por
“maravilhoso mistério” . Só estou tentando semear algumas
sementes valorosas.
─ Semear sementes valorosas?
─ Dividindo minhas experiências e o meu aprendizado.
─ Por que você os chama de sementes?
─ Quando alguém está realmente procurando pelo seu destino de
vida, sua sensibilidade é como um solo fértil e as sementes podem
crescer ali.
99
Esta conversa com Pablo levou Nathan à novas perguntas, mas ele
decidiu guardá- las para mais tarde. Nos dias que se seguiram,
Nathan conheceu muitos amigos e pessoas próximas aos membros
da comunidade. Como sempre, ninguém ficou sem ser tocado.
Nathan e Pablo passavam muito tempo juntos e começaram e ficar
muito próximos. Um dia, perto do fim do inverno, estavam
sentados em um barco na "Costa de La Luz", na região costeira
entre o ponto mais ao sul da Espanha e a fronteira com Portugal.
Na caída da noite, eles remaram até a baía de Cádiz, onde
encontraram um restaurante com uma linda vista da praia.
Sentaram- se no terraço e notaram que havia uma atmosfera
especial, um tipo de desolação, como se alguma coisa estivesse
para acontecer. Pablo comentou:
─ Normalmente Cádiz é cheia de vida, ele disse.
Era ainda mais estranho que esta atmosfera fez Nathan lembrar- se
de Sophie. Especialmente aquele dia que se despediram na praia de
Sables d' Olonne, A última vez que tinha ligado pra ela, ela disse
que estava bem, mas que não havia passado nem um dia sequer
sem que não tivesse pensado nele. Estaria ele se sentindo culpado
agora ou era alguma coisa diferente? Pablo notou o silêncio de
Nathan.
─ Você parece perdido em seus pensamentos.
Nathan não quis incomodá- lo com isso. Nem ele mesmo sabia o
que pensar sobre isso. Ele pensou que talvez esse fosse o memento
ideal para perguntar a Pablo algumas questões adicionais sobre o
conhecimento espiritual.
─ Você acredita que teremos algum dia que levar em consideração
nossas façanhas?
─ Sabe, Nathan, eu sou de origem colombiana, um país com
muitas casas de adoração, mas também com muita violência.
Também é um lugar onde eu perdi muitos dos meus amados, mas
aprendi uma coisa muito importante lá.
Pablo escolheu as palavras com cuidado.
─ Eu acho que se alguma vez estiverdes perante um criador, ele
não terá que perguntar o porquê de não termos sido mais fortes que
nosso vício, ou por que não adoramos um livro sagrado. Ele nem
mesmo perguntará de onde outorgamos o direito de matarmos os
outros.
─ Então, o que ele nos perguntará?
─ A única pergunta que ele fará será: Por que você não foi você
mesmo?!
100
No início, Nathan não disse nada e tomou um tempo para
compreender a visão de Pablo.
─ O que você acha então das objeções morais que muitas pessoas
impõem a si mesmas?
─ A única imposição moral que devemos ter é que nossa procura
pela felicidade não deveria ficar atrás da felicidade dos outros.
─ È uma pena que nem todos vejam assim.
Nathan já sabia a algum tempo que seu processo de aprendizagem
na comunidade caminhava para o fim e que teria que partir em
breve. Aprendera muito com o conhecimento de Pablo. Ele não
sabia ainda qual seria seu próximo destino, mas estava convicto de
que não demoraria muito para reconhecer os novos sinais. Decidiu
falar com Pablo a respeito.
─ Pablo, tem algo que quero te contar.
─ Eu sei, Nathan.
─ O que você sabe, então?
─ Seu que tem que continuar.
Nathan pareceu surpreso.
─ Para você, este foi só um passo no meio disso tudo, disse Pablo.
Sinto- me honrado por todos estes dias que passamos juntos e por
tudo que aprendemos um com o outro.
─ Eu nunca disse a ninguém, como poderia saber?
Pablo colocou a mão sobre os ombros de Nathan e olhou em seus
olhos.
─ Acreditaria em mim se dissesse que para mim parece que já
tivemos essa conversa, exatamente neste lugar?
─ Então sabia que é chegado o momento de eu continuar com
minha jornada?
─ Ao menos não é uma surpresa para mim, Nathan. Você é alguém
que aprende alguma coisa onde quer que vá e então continua com
sua jornada.
─ Você também sabe mais sobre o meu próximo destino?
─ Lembro- me de tê- lo visto partir em um barco.
Naquele momento, um vento extremamente forte soprou. E
transformou a areia em grandes nuvens arenosas. A tempestade era
tão poderosa, que todos os clientes correram para dentro. Enquanto
algumas mesas e cadeiras foram carregadas, Nathan e Pablo
também entraram. No restaurante, todos admiravam a desempenho
da natureza. Esta cena mística também impressionou Nathan e
Pablo. Um cliente até cogitou que o vento forte teria trazido areia
do Saara até ali. O vento continuou soprando com uma força
101
incrivelmente forte e, então, repentinamente parou. Nathan abriu a
porta e saiu, seguido por Pablo. Alguns clientes não estavam
totalmente convencidos. Pablo fechou a porta atrás de si e parou ao
lado de Nathan. Juntos, eles fitaram o continente africano do outro
lado.
─ O mistério da natureza é o maior de todos os mistérios. Nathan
afirmou.
─ Você conseguirá resolver muito deste mistério para todos nós,
disse Pablo. Surpreso, Nathan voltou- se para ele.
─ Tenho experienciado isso todos os dias desde que te conheci,
continuou.
Nathan olhou para o garçom.
─ Já me disseram isso antes. A única coisa é que eu não sei que
devo fazer.
─ Talvez o conselho de Tagore possa lhe ajudar. O poeta indiano
uma vez disse que o oceano não pode ser atravessado somente ao
olhar suas águas!
Naquele exato momento o vento trouxe o cheiro convidativo do
continente do outro lado, ainda desconhecido para Nathan.
─ O sábio, continuou Pablo, também disse que a função do vento é
distribuir mensagens. Quanto mais forte sopra, mais importante a
mensagem é.
Houve mensagens suficientes agora. Ambos estavam muito
cansados e decidiram passar a noite em uma pousada no centro de
Cádiz. No dia seguinte, o sol estava brilhando e não havia vento
nenhum a ser sentido. Cádiz parecia exatamente como antes, como
se a tempestade do dia anterior nunca tivesse acontecido. Pablo e
Nathan saíram para Tarifa onde Nathan começou os preparativos
para sua partida. Pablo contatou Adnan, um de seus amigos no
Marrocos. Adnan imediatamente ofereceu que Nathan ficasse com
ele. Pablo transmitiu as boas notícias a Nathan.
─ Um amigo meu lhe encontrará quando chegar a Tangier.
─ Obrigado por tudo que está fazendo por mim, disse Nathan.
─ Adnan é um ótimo amigo; será muito bom para ambos.
Antes de sua partida, Nathan organizou uma festa de despedidas e
doou seu carro para a comunidade com forma de agradecimento
por sua hospitalidade. Na manhã seguinte, ele cruzou o oceano
com o barco e zarpou rumo ao continente africano.
102
-4Poder Criador
103
104
Observação
Durante o cruzamento, o sol brilhou forte. No mar aberto, um
grupo de golfinhos nadava feliz ao longo do barco. Parecia que
acompanhavam Nathan a seu novo destino. O barco chegou ao
porto de Tanger. Mesmo sendo ainda inverno, o ar já estava
morno. Com o barco aproximando- se da costa, Nathan já
reconhecia o cheiro que havia sentido em Cádiz.
Quando ele botou o pé no solo Africano pela primeira vez, teve
seus sentidos consideravelmente estimulados. Nathan entendeu que
tinha entrado num mundo completamente novo. Depois da
imigração, procurou por Adnan. Pablo o tinha descrito como um
homem simpático, de cabelos curtos e cavanhaque. Ele estaria
usando, para aquela ocasião, um chapéu de palha e o estaria
esperando na porta de entrada do prédio. Percorrendo o caminho de
saída, Nathan viu um homem com essa descrição. Usava um
chapéu de palha e uma veste árabe que cobria seu corpo inteiro. O
homem que estava encostado na parede viu Nathan, sorriu e
caminhou na direção dele.
Falou com Nathan em francês:
─ Nathan, Eu presumo?
─ Sim, Nathan respondeu. E obrigado por vir me receber, Adnan.
─ De nada. Fez uma boa viagem de barco?
─ Sim, foi agradável e fomos acompanhados por um grupo de
golfinhos.
─ Confirmando que vocês vinham na certa direção. Falou sorrindo.
Nathan ficou surpreso com a observação de Adnan.
─ Meu carro está um pouco mais abaixo nessa rua, Adnan
continuou.
─ Essa é sua primeira vez a um país Árabe? Adnan perguntou?
─ Estive na Ásia algumas vezes, mas desta vez é diferente.
O que mais deixou Nathan impressionado foi que somente há
alguns quilômetros da costa européia havia um mundo
completamente diferente. Tão perto e tão diferente.
─ Agora você vê as diferenças, Adnan disse, mas logo verá o que
nos une uns aos outros!
Nathan imediatamente reconheceu o tom de voz que era que
indicava sabedoria, assim como seu pai, Simão e Pablo. Iria Adnan
105
tornar- se importante para ele? Nathan se perguntava. E Adnan
continuou.
─ Originariamente somos todos iguais e como resultado de nosso
ambiente, desenvolvemos hábitos e esses hábitos nos torna
diferentes.
Nathan também notou que Adnan, além de suas palavras sábias,
irradiava uma serenidade natural. Ele também viu que muitas
pessoas o cumprimentavam nas ruas. Alguns somente acenavam,
outros vinham até ele para falar- lhe rapidamente.
─ Você conhece todas essas pessoas? Nathan perguntou.
─ Nossas relações são importantes e gostamos de passar tempo
com elas, Adnan respondeu.
Eles chegaram até o carro, um antigo com muitos quilômetros
rodados. Adnan colocou a bagagem de Nathan no porta- malas, e
assim deixaram Tanger.
─ Tanger é uma cidade populosa, mas é muito mais tranqüilo aqui
do que onde vivo, Adnan disse a ele.
─ Onde é?
─ Venho da cidade de Fez, mas a vila onde moro agora é chamada
Oued Laou, é próxima da costa, do lado leste da cidade de Tetuan.
Adnan mudou a estação de rádio e selecionou uma estação de
música local antes de partir para a auto-estrada que levava a
Tetuan. A paisagem era seca e rodeada de montanhas, idêntica a
algumas paisagens espanholas que Nathan conhecia. A caminho de
Tetuan, pararam em um restaurante a céu aberto onde puderam
escolher o assado que queriam. Nathan deixou Adnan pedir algo
para ele, foi uma escolha apimentada e deliciosa. Sentaram- se ao
longo de uma mesa de madeira, junto com outros viajantes, com os
quais Adnan começou uma conversa.
Nathan tentou acompanhar a conversa, mas com exceção de
algumas palavras francesas, entendeu muito pouco do que fora
dito.
─ A língua árabe soa muito fora do comum para mim, ele
comentou.
─ Para um árabe, a sua língua soaria muito fora do comum, Adnan
disse. Mas eu entendo o que você quer dizer com isso, os sons são
muito diferentes.
Depois da refeição, disseram adeus e seguiram para Oued Laou.
Pararam em Tetuan para comprar algumas coisas. No caminho,
passaram por um impressionante cenário de uma área montanhosa,
onde a estrada pareceu perigosa, porem Adnan conhecia bem a
106
estrada, o que deu a Nathan alguma segurança. Antes de escurecer
eles chegaram à pequena vila Oued Laou. A casa de Adnan ficava
numa montanha pitoresca e verde. Era uma tapera de pescador
simples, mas com uma vista com todo a caminho até o mar
mediterrâneo. Nathan desceu do carro e ambos apreciaram a vista.
Em seguida Adnan mostrou a ele a sala onde ele seria acomodado.
Na casa, ele conheceu uma senhora que cozinhava. Seu nome era
Leila.
Ela não falava Francês, o que tornou difícil para Nathan se
comunicar com ela.
─ Leila toma conta da casa, Adnan o disse. O marido dela faleceu.
Muita gente não tem muita condição de viver bem aqui então
ajudamos uns aos outros.
─ Ela tem filhos?
─ Ela adotou uma menina chamada Sanah, Adnan disse. Sanah é
agora uma jovem trabalhando numa organização social. Nesse
momento ela está na Palestina. Duas ou três vezes por ano ela vem
ao Marrocos. Você a conhecera em breve.
Adnan o deixou descansar e foi fazer reparos na rede. Nas
próximas semanas Nathan estaria em Oued Laou e trabalharia com
Adnan em seu barco pesqueiro. Numa manhã foram despertados
pelo cheiro de chá de hortelã preparado por Leila. Nathan lavou
seu rosto e foi sentar- se com Adnan.
Naquele momento o sol brilhava intensamente sobre o horizonte.
Leila serviu chá em pequenas xícaras.
─ Há um silêncio interessante aqui em Oued Laou, Nathan
salientou.
─ Não há nada melhor do que o silêncio que nos desenvolva a
habilidade de ouvir, disse Adnan.
─ Está ouvindo algo especial? Nathan perguntou.
─ No silêncio se pode ouvir muito. Eu aprendo principalmente no
silêncio do oceano e das montanhas.
─ O que aprendeu do oceano?
─ Aprendi basicamente a me ouvir melhor, e também aos outros.
Claro que Nathan conhecia o poder do oceano como inspiração.
Ele também havia notado que Adnan tinha uma relação muito
próxima com o mar. Nathan se perguntou se ele seria capaz de
dizer algo sobre seu dom. Leila serviu à mesa umas bolachinhas
caseiras. Nathan, principalmente, adorou as bolachinhas em forma
de meia- lua, feitas com amêndoas. Isso deixou Leila feliz. Ela
olhou para ele e pediu a Adnan que traduzisse suas palavras.
107
─ Ela disse que você possuiu algo de bom... Algo excepcional!
─ Como se diz. “obrigado”? Nathan perguntou.
─ Chokran
Nathan olhou para Leila e repetiu a palavra para obrigado, depois
disso houve silêncio. Adnan viu que ao fitar o oceano, Nathan
sonhava de olhos abertos, e então fez uma proposta:
─ Amanhã lhe mostrarei alguns lugares encantadores. E quanto
mais fundo mergulharmos, mais bonitos nos parecerão!
Nathan olhou de relance para Adnan e seriamente lhe perguntou se
ele sabia alguma coisa sobre seu dom.
─ Você mergulha com tanques de ar? Ele perguntou.
─ Sim, mergulhei uma vez, disse Adnan, mas não senti a mesma
liberdade.
─ Estou ansioso por amanhã, Nathan disse.
Nesse meio tempo Leila colocou um prato com figos e tâmaras na
mesa.
─ Essas frutas são da região? Nathan perguntou.
─ Com certeza, Adnan respondeu. Você sabia que todas as frutas
podem ser colhidas livremente aqui?
─ Não são vendidas? Nathan quis saber.
─ Aqui, fruta não é comprada ou vendida, explicou Adnan. Como
elas nos são dadas pela terra, são de todos nós.
Nathan pensou que era muito nobre essa maneira de pensar,
principalmente para os menos afortunados. Ele se perguntava de
onde viera tal ideia.
─ Tem algo a ver com fé?
─ Não são todos os nossos atos um resultado do que acreditamos?
Foi essa a resposta de Adnan.
─ No que você acredita? Nathan quis saber.
Adnan olhou para ele e respondeu em um tom de voz sério.
─ Eu acredito no “poder criador”!
─ E o que é isso?
─ Sua pergunta é o mesmo que perguntar a um peixe no mar o que
é a água!
─ Podemos encontrar esse poder em qualquer lugar?
─ Com certeza. Não há lugar onde não possa ser encontrado.
Nathan olhou para o oceano e deixou as palavras de Adnan
tomarem forma. Na manhã seguinte tomaram café bem cedo com
"donuts" aquecidos. E Nathan quis continuar a conversa do dia
anterior.
108
─ Se ao menos víssemos o quão maravilhoso é o mundo. É
estranho que nem todo mundo acredite na existência do “poder
criador”!
─ Cada um de nós tem experiências de mundo como lhes foi
ensinado. Adnan disse. Qualquer um que não veja o milagre na
ordem que governa o universo não tem que aceitar a existência de
uma “força criadora”!
─ São eles capazes de ter experiências de mundo por completo
então?
─ Para ter experiências de mundo completamente, confiar no
“poder criador” é essencial. Somente essa crença pode nos ajudar a
interpretar mensagens de nossos sentidos sem erros.
Nathan pensou sobre isso, enquanto Adnan bebericava seu café e
depois continuou.
─ Vou te contar uma estória para ilustrar. Um velho homem
sonhou que estava caminhando sozinho no deserto. Ele olhou para
trás e podia ver suas pegadas na areia, pegadas feitas durante sua
vida. Perto dele ele podia ver um segundo par de pegadas. Essa era
a confirmação de que ele sempre tinha estado em companhia de
alguém, quer fosse nos bons momentos ou nos períodos difíceis de
sua vida.
Adnan bebericou novamente e calmamente continuou:
─ Algum tempo mais tarde o homem viu que quando o caminho
havia se tornado muito mais difícil havia somente um par de
pegadas na areia. Ele pensou: “Olha só! Foi justo quando eu mais
precisei da sua ajuda, no período mais difícil de minha vida,
quando eu não podia continuar seguindo sozinho que fui
abandonado!” Ele caiu na areia e sentiu- se sozinho e inseguro.
─ Daí o que aconteceu? Nathan perguntou.
─ De alguma maneira mais tarde, o homem viu uma mulher vindo
duna abaixo com uma criança pequena nas costas. O home
perguntou a si mesmo: “Estranho, o que essa mulher está fazendo
sozinha no deserto?” Esfregou seus olhos, olhou de novo, mas na
fração de um segundo ela já havia desaparecido.
─ Ela esteve realmente ali?
─ Não tinha como ele ter certeza, mas tentou não esquecer a
imagem da mãe. Então se levantou e continuou caminhando, ainda
pensando na imagem da mãe. De repente ele compreendeu a
mensagem e olhou para o céu.
─ Qual era a mensagem?
109
─ Assim como a criança fora carregada pela mãe, o homem
também havia sido carregado nos momentos mais difíceis de sua
vida!
Nathan entendeu a lição na estória de Adnan.
─ Nunca perca sua crença no “poder criador” e esteja...
─ ... atento as más interpretações? Nathan finalizou. Você está
certo, na minha relação com Pablo, vi como é grande a crença dele
no “poder criador”.
─ O “poder criador” é também ainda um “mistério maravilhoso”,
Adnan piscou.
110
Inspiração
Depois do café foram visitar Zobeir, um bom amigo de Adnan que
contou que no passado Zobeir tinha gerenciado um próspero
negócio na Suécia, mas que lhe tinha custado tanto tempo e energia
que ele, completamente exausto, voltou para levar uma vida mais
tranqüila aqui. Ele tinha encontrado um lugar maravilhoso onde
vivia sozinho. E para se manter, ele alugava chalés de madeira aos
visitantes da praia.
Zobeir ficou contente de ver Adnan e deu as boas vindas a Nathan
entusiasticamente. Nathan o parabenizou na escolha e mudança de
vida radical. Quando Adnan disse a Zobeir que ele estava indo
mergulhar com Nathan naquele dia, Zobeir procurou dois pares de
óculos de mergulho e pés de pato em seu armazém. Ele os desejou
um ótimo dia na água e os convidou para jantar mais tarde. Adnan
e Nathan caminharam em direção água que brilhava com a morna
luz da manhã refletida pelo sol nascente. Primeiro os dois homens
sentaram- se na areia e fitaram por vários minutos o nascer do sol.
Foi uma experiência intensa que dividiram sem palavras. Mais
tarde, Adnan levantou- se e olhou para Nathan.
─ Não fantástico é o poder do silêncio?
Nathan acenou afirmativamente. Adnan adentrou na água com os
pés de pato e colocou seus óculos de mergulho. Nathan o
acompanhou. Adnan, que tinha nadado da margem, deu sinal para
que ele o seguisse. Logo Nathan estava ao seu lado.
─ Pronto pra descobrir novos tesouros? Adnan perguntou.
─ Vivemos somente para descobrir tesouros, todo o resto é uma
forma de espera! Disse Nathan.
Ambos encheram seus pulmões de ar e mergulharam. Adnan
rapidamente mergulhou enquanto Nathan nadava cuidadosamente
atrás dele para que não levantasse suspeitas sobre seu dom. Nathan
percebeu a habilidade de Adnan debaixo d’água. Viu como Adnan,
assim como ele, era capaz de viver a experiência da quietude e
silêncio do mundo debaixo d’água. Em curtos espaços de tempo
eles voltavam à superfície. Mesmo que Nathan não sentisse tal
necessidade, ele sempre nadava de volta com Adnan. Adnan
sentou- se numa rocha para descansar por um minuto e Nathan
111
sentou- se ao lado dele. Claro que Adnan notou quão bem Nathan
mergulhava.
─ Você é quase como um peixe debaixo d’água.
Tem sido um de meus favoritos passatempos, Nathan disse. Não há
outro lugar que me inspire mais do que debaixo d’água.
─ Eu também aprendi a desenvolver minha capacidade de
inspiração debaixo d’água.
─ Como podemos influenciar nossa inspiração? Nathan quis saber.
─ Estar receptivo às imagens que recebemos pelo nosso
subconsciente.
Adnan estava falando de imagens recebidas. Isso era algo novo
para Nathan.
─ Quem envia essas imagens?
─ Essas imagens são inspirações que vêm a nós através do “poder
criador”, Adnan respondeu. Exatamente no momento em que
somos capazes de compreendê- las. Elas podem nos ser visíveis em
nossos sonhos, mas elas podem também nos vir como um
pensamento.
─ São elas envidadas por uma razão especifica?
─ Elas vêm para melhor fazer- nos entender o mais profundo
sentido dos acontecimentos. Desenvolvendo melhor a nossa
capacidade de inspiração, podemos melhor compreender que nada
nos acontece se não tiver um propósito. Dessa maneira, tudo do
qual ganhamos inspiração nos é enviado pelo “poder criador” para
o nosso subconsciente.
Nathan entendeu que Adnan era o tipo de pessoa que deixava suas
ações ser determinadas da mesma maneira que seu pai, Simon e
Pablo as deixavam. A única diferença era que Adnan a chamava de
“poder interior” ou “poder criador”. Nathan agora também
entendia que todos aqueles que eram atentos ao poder e à força
criativa poderiam dar a ela diferentes nomes, dependendo do
caminho que essa conscientização tomava. No fim, cada um deles
significava o poder da intuição. Adnan levantou- se e se preparou
para mergulhar novamente na água.
─ Vamos pegar mais algumas novas imagens.
Nathan curtiu intensamente esses momentos. Ao mesmo tempo ele
aprendeu a abrir seu espírito às novas inspirações. A partir daquele
dia ele estaria desenvolvendo sua capacidade para inspirações
muito rapidamente. Em uma das noites seguintes ele dirigiu até a
cidade de Tetuan. Adnan levou Nathan até uma casa de chá onde
eles tocavam uma música muito estranha, quase fascinante.
112
─ Essa musica é capaz de tocar nossos mais profundos
sentimentos, Adnan disse a ele.
Como sempre Adnan pediu chá de hortelã doce, sua bebida
favorita. A música encantou Nathan, bem como esse novo mundo
que se abria perante ele. Adnan estava também muito satisfeito.
─ Dizem que esses sons podem nos fazer nostálgicos de algo que
ainda é desconhecido em nossas vidas!
─ Meu pai é originariamente da Andaluzia e é fã da música daqui.
Eu acho que também reconheço alguns sons nessa música.
─ Você ouviu bem, porque essa música é tocada com instrumentos
que você pode também utilizar para criar música da Andaluzia.
Nathan lembrou-se do dia de sua chegada em Tanger quando
Adnan disse que ele veria mais similaridades entre suas culturas.
─ Desde minha chegada em Marrocos, eu realmente aprendi muito,
Nathan confidenciou.
─ Como você mesmo disse uma vez, somente vivemos para
descobrir tesouros; tudo mais é uma forma de espera!
─ O que você acha que é o mais valioso tesouro na Terra?
Adnan não respondeu prontamente. Ele olhou para ele como se
estivesse esperando essa pergunta e tivesse se preparado para ela.
Nathan também sentiu que Adnan quis adicionar alguma
informação.
─ O mais valioso tesouro são os anjos, respondeu Adnan.
Nathan não entendeu o que ele quis dizer.
─ Anjos?
Adnan balançou a cabeça positivamente.
─ Estou falando de tesouros na Terra, Nathan respondeu na
esperança de esclarecer a questão.
─ Às vezes acontece a visita de anjos! Adnan disse novamente.
Nathan olhou silenciosamente para Adnan e viu que ele quis
mesmo dizer Anjos.
─ Como pode reconhecê- los? Ele perguntou.
─ Eles se parecem com a gente, mas são diferentes no contato com
pessoas.
─ Como são diferentes no contato com as pessoas?
─ Anjos sempre abordam conhecidos e estranhos em uma aberta e
amável maneira. Sempre nos trazem as melhores pessoas.
─ Fazem isso para mudar as pessoas?
─ Anjos nada esperam e não tentam influenciar ou mudar nada!
─ Então fazem isso sem nenhum interesse próprio?
113
─ Anjos já têm abundância de alegria eles mesmos, sem ter que
fazer nada por isso, é sua natureza!
As palavras de Adnan fizeram Nathan pensar. Uma pergunta
urgente lhe ocorreu.
─ Qual o propósito de estarem entre nós?
─ Quando eles tomam a forma humana, estão aqui para uma
missão. Uma vez completada, eles desaparecem.
─ Sinto que há uma razão para você me dizer isso.
─ Correto, desde o começo dos tempos essa informação é passada
a todos os Excepcionais.
Agora Nathan ficou muito curioso. Ele se perguntava o que mais
Adnan sabia sobre os Excepcionais.
─ Quem são os Excepcionais?
─ Pessoas que são capazes de grandes feitos.
─ Você conhece algum excepcional?
Adnan olhou para Nathan e sorriu.
─ Você é um excepcional, Nathan!
Agora Nathan sabia que Adnan também o considerava um
Excepcional. Adnan sabia disso antes mesmo dele ter chegado ao
Marrocos? Ou tinha ele percebido isso durante o tempo que
passaram juntos?
─ Como você sabe?
─ Porque você me foi enviado para que eu possa te apresentar o
seu anjo.
─ Pediram-lhe para fazer isso?
─ Sim. A mim foi solicitado!
Nathan o fitou sem palavras e deixou que as palavras de Adnan
fossem organizadas em sua mente. Adnan o considerava com um
Excepcional, no qual já o colocava numa posição especial, porém
Adnan disse algo ainda mais estranho. Ele falou sobre a existência
de anjos na Terra, anjos que se pareciam com seres humanos. Esses
anjos são pessoas com uma abundância natural de alegria na vida e
cuja missão é guiar os Excepcionais. Uma nova questão surgiu em
sua mente.
─ Você é um excepcional Adnan?
─ Eu tenho o dom de interpretar mensagens escondidas.
─ E você conhece meu anjo?
─ Aconteceu pela primeira vez há anos quando conheci Leila e seu
marido.
─ Leila... Nossa Leila?
Adnan contou a estória toda.
114
─ Certamente. Ela e seu marido primeiramente moraram em
Targuist, uma pequena cidade perto das montanhas de Rif, mas
eles se mudaram para um dos distritos chiques de Tetuan. Naquele
tempo seus conhecidos eram pessoas ricas, e sua filha Sanah
freqüentava uma escola particular e eu lecionava música a ela.
Quando seu marido faleceu, passaram por muitas dificuldades. Ela
teve que deixar sua casa e se mudar para o centro da cidade. Eu
ainda me lembro do dia que fizeram a mudança como se fosse
hoje. A casa era somente um casebre mal construído , sem cozinha
e sem qualquer tipo de banheiro.
Imagine que mudança era aquela para Leila. Ela se desdobrara para
fazer da casa a mais limpa possível, mas quando me viu entrando
não pôde mais segurar suas lágrimas.
Eu me lembro de Leila muito preocupada com Sanah. Sua filha
tinha apenas sete anos de idade e não tinha visto a casa ainda. Ela
tinha ido à sua nova escola pela primeira vez e Leila estava
preocupada de como Sanah iria lidar com a chocante mudança. Eu
a encorajei e disse que ela tinha que ser forte. Ela secou suas
lágrimas e perguntou se eu poderia esperar por Sanah junto com
ela. Eu testemunhei o momento de um valor imensurável.
Sanah abriu a porta e entrou. Eu ainda posso vê- la entrando em
seu vestido de verão e com sua bolsa escolar cor de rosa em seus
ombros. Sua mãe estava sentada em uma cadeira fazendo o
máximo para controlar sua expressão e esconder seu receio. Sanah
olhou a sua volta, sorriu para sua mãe e também pra mim. Ela
aumentou o passo e virou uma estrela perfeita caindo diretamente
nos braços de sua mãe. E ainda posso escutá- la dizendo: “Você é a
mais doce mãezinha na Terra!” Te digo mais, ainda me arrepio
todo quando me lembro disso,
Mãe e filha se abraçaram uma à outra, Leila não pode conter suas
lágrimas, mas dessa vez eram lágrimas de alegria. De uma hora pra
outra sua tristeza tinha sido transformada em felicidade. Eu tinha
plena consciência de que tinha testemunhado um milagre. Já desde
aquele tempo Sanah freqüentemente influenciava a vida das
pessoas à sua volta de uma maneira expressiva. Ela é alguém com
uma abundância de alegria de vida e sempre aborda pessoas de
uma maneira aberta e amável.
Nathan estava tocado pela estória de Adnan, mas se manteve cético
quanto ao fato de Sanah ser um anjo.
─ Pelo menos curioso você me deixou, ele disse.
─ No mês que vem ela virá nos visitar e você verá por si mesmo.
115
Quando foram buscar Sanah um mês mais tarde em Casablanca, a
curiosidade de Nathan aumentara ainda mais. Eles chegaram muito
cedo ao aeroporto e passaram numa cafeteria para tomarem um
refresco. Quando Adnan viu Nathan imerso na leitura do jornal, ele
sugeriu que ele o aguardasse ali enquanto ele fosse buscar Sanah.
Quando ele chegou ao hall de chegada, Adnan imediatamente
reconheceu Sanah pelos seus longos cabelos soltos. Ela estava
dizendo adeus a uma senhora. Nathan caminhou até ela e eles se
cumprimentaram com afeto. Eles eram como tio e sobrinha então
era sempre uma alegria todas às vezes que se encontravam. Depois
de se abraçarem, Adnan ajudou-a com sua bagagem.
─ Eu trouxe alguém que...
Adnan queria informá- la, mas Sanah pôs sua mão nos lábios dele.
─ Eu sei quem ele é!
Adnan nada mais disse e caminharam lado a lado para a cafeteria
onde Nathan os aguardava. Lá ele os apresentou. Olharam- se
intensamente, sem dizer uma palavra sequer. Sanah pegou nas
mãos de Nathan e sem tirar os olhos dele, disse.
─ Obrigada Adnan!
Nathan ficou um pouco chocado e Sanah falou com ele
calmamente.
─ Eu agradeço a Adnan porque ele vê bem!
Nathan não entendeu e se virou a Adnan.
─ Do que ela está falando?
─ Sobre minhas imagens nos sonhos, respondeu Adnan.
Agora Nathan olhou para Sanah.
─ Você me conhece então?
Sanah olhou para as mãos de Nathan.
─ A cada momento o conheço mais.
─ O que sabes de mim?
─ O mais profundo desejo em você esperando por realização.
Naquele momento ela soltou a mão dele.
─ Que profundo desejo? E como você sabe?
─ Você acabou de me confidenciar.
Nathan sabia por certo de que ele tinha anda dito. Então Adnan o
ajudou.
─ Ela quer dizer que seu subconsciente a confidenciou.
─ Você descobriu isso apenas segurando a minha mão? Nathan
perguntou a Sanah.
─ O toque é a mais fundamental das formas de comunicação,
Sanah respondeu.
116
─ O que você descobriu exatamente? Insistiu ele.
─ Que você está incessantemente atraído pelos aspectos místicos e
obscuros da realidade, Sanah revelou.
─ Quais são os aspectos obscuros da realidade? Nathan perguntou.
─ Você saberá mais no Sul, Sanah o informou.
Então, virando- se pegou sua bagagem e caminhou para fora do
lugar. Nathan olhou Adnan, perplexo.
─ No Sul? Repetiu ele.
Adnan gesticulou que nada sabia sobre aquilo. Os dois seguiram
Sanah que já estava muito a frente deles.
─ Você sabe o que ela quis dizer sobre os obscuros aspectos da
realidade? Nathan perguntou.
─ Seja paciente e acredite que nesse momento ela sabe mais sobre
você do que você mesmo! Adnan o assegurou disso.
Uma vez que chegaram ao carro Adnan disse que ele não os
acompanharia.
─ Ok, Sanah disse. Então é melhor seguirmos de volta a Oued
Laou, você já fez muito. Tomamos o ônibus para Marrakech e nos
vemos mais tarde.
Adnan deixou-os na estação de ônibus onde se despediram. Nathan
se perguntava exatamente o que estava acontecendo, mas confiava
em Adnan e sentiu que Sanah seria muito importante para ele. A
viagem de ônibus à Marrakech levou algumas horas. Nathan
pensou muito e aproveitou a oportunidade de pedir Sanah uma
explicação.
─ Sanah, qual é a diferença fundamental entre as pessoas?
─ É a extensão de que estão atentos de seus destinos de vida.
─ Todo mundo tem um destino de vida?
─ Sim, e todos tem a capacidade de se tornar ciente do destino de
sua vida.
─ O que distingue um Excepcional então?
─ Três qualidades excepcionais.
Nathan estava curioso em descobrir quais seriam elas.
─ Um Excepcional não tem que descobrir seu destino de vida, eles
estão continuamente cientes dele; desde o dia em que nascem!
Nathan reconheceu a sensação, ele sempre soube por ele mesmo.
Sanah continuou.
─ Um Excepcional tem uma extraordinária percepção, sendo capaz
de distinguir um conhecimento verdadeiro de um não verdadeiro!
Agora Nathan entendeu melhor porque a sua opinião era acatada
tão freqüentemente.
117
─ E qual é a terceira qualidade? Perguntou.
─ O ultimo é o mais importante de todos os três e de agora em
diante irá iluminar seu caminho. O destino de vida de um
Excepcional abriga uma missão maior.
Agora Nathan se lembrara de sua viagem com Simon na Índia. Ele
se lembrou do homem que tinha falado a ele sobre sua missão
superior em Colaba, distrito de Mumbai.
─ O que é uma missão superior?
─ A missão que é diretamente ligada com um “elemento natural”
ou outra forma superior de energia, Sanah respondeu. Assim, um
Excepcional age como um mensageiro.
Nathan esteve sempre ciente dessa sua ligação intima com seu
“elemento natural”, mas que ele fosse seu mensageiro fortemente o
emocionou.
─ Um Excepcional sempre alcança sua missão maior?
─ Cada indivíduo, independente de seu processo de
conscientização, tem o livre arbítrio. Ambos por um Excepcional e
por qualquer outro ser humano, a extensão do qual ele sucede em
nossa missão de vida depende completamente da soma de suas
escolhas durante nossas vidas.
Nathan pensou sobre isso por um tempo.
─ Você sabe qual o meu destino final? Ele perguntou.
Sanah colocou sua mão no coração de Nathan e olhou
profundamente nos olhos dele.
─ Saiba que sua maior missão terá um impacto em toda a
humanidade, ninguém jamais terá visto algo parecido antes!
“Um impacto em toda a humanidade, nunca antes visto!” Essas
palavras tocaram Nathan como se fossem seu “elemento natural”
manifestando- se por si próprio para mostrá- lo a importância de
sua missão.
─ Sanah, ninguém jamais me disse isso explicitamente. E ainda me
sinto como se lá no fundo, eu sempre soube disso, ele a
confidenciou.
─ O conhecimento verdadeiro está dentro de nós! Sarah salientou.
─ Eu sempre encontro pessoas no meu caminho de vida que estão
convencidos de que eu sou um Excepcional!
─ Alguns são mesmo capazes, graças a seu alto estado de
consciência, de sentir tais características.
Sanah viu que Nathan já havia recebido informação suficiente até
então.
118
─ É melhor você descansar agora Nathan para que seu
subconsciente possa processar as informações. Há ainda muito
mais esperando por você.
─ Ok, Sanah, mais uma última pergunta. Existem pessoas que tem
um nível ainda maior de consciência do que os Excepcionais?
Naturalmente Sanah entendeu que Nathan estava se referindo a ela
e sorriu.
─ Viemos a Terra com a missão de nossa própria escolha.
Nathan fechou seus olhos, e se perguntava o que poderia esperar
por ele. Quando o ônibus se aproximava de Marrakech, Sanah o
despertou. Nathan olhou pela janela e ficou imediatamente
impressionado com o charme da cidade vermelha. Eles desceram
do ônibus e caminharam até a cidade velha. Nathan não tinha mais
perguntas, sabia que estava em confiável companhia e curtiu esse
novo ambiente. Eles passearam pelos intrigantes labirintos de
vielas estreitas. Parecia que o tempo havia parado.
Sanah parou em uma das típicas casas e bateu. Uma jovem abriu a
porta. Depois que ela trocou algumas palavras com ela, Sanah
gesticulou a Nathan para acompanhá- la. Uma vez dentro, Nathan
parou boquiaberto com a magnificência do Riad, uma daquelas
lindas casas arábicas com jardins de inverno. Esse Riad tinha
atrativas sacadas e uma fonte no meio de um jardim de inverno
cuidadosamente adornado. Sanah sugeriu descansarem antes do
jantar no terraço. A jovem que tinha aberto a porta mostrou a
Nathan o seu aposento.
119
Realidade
Depois de descansar, Nathan subiu. O terraço estava coberto por
uma tenda branca. Sanah já estava lá olhando a vista panorâmica
de Marrakech. Nathan dirigiu-se a ela e eles se sentaram à mesa
onde duas garçonetes os trouxeram "tajines" deliciosos.
─ O que você achou de Marrocos até então? Sanah perguntou.
Nathan pensou por algum tempo.
─ Em um país que estimula seus sentidos. Você está
constantemente sendo surpreendidos por novos sabores, cheiros e
imagens.
─ O Marrocos tem sido um país de transição de diferentes culturas
por longo tempo, Sanah disse. E é particularmente por esse motivo
que é o lugar ideal para ter experiências, a razão que viemos aqui.
Nathan estava curioso e sentiu que sua atenção estava se voltando
para ela. Sanah continuou:
─ O fato de já termos nos encontrado significa que você está
pronto para compreender mais do mundo e suas realidades
obscuras.
─ Realidades obscuras?
─ Conhecimentos que não podem ser experimentados através de
seus sentidos, o conhecimento de uma consciência superior.
─ Se não podemos ver esse mundo com nossos sentidos, como o
vemos então?
─ Somente nossa intuição pode nos conectar com a consciência
superior!
Sanah pegou nas mãos de Nathan e exigiu sua completa atenção.
─ Amanhã você será preparado para entrar no mundo de uma
consciência superior. Será uma experiência intensa. Uma
experiência que o fará sentir o mundo de uma maneira totalmente
diferente.
Nathan se pegou olhando para Sanah com uma curiosidade
particular.
─ Você será colocado numa condição na qual irá claramente ter
uma experiência sobre a maneira como a direção é determinada e
de como nossas escolhas são influenciadas.
─ Como eu seria colocado nessa posição? Perguntou.
120
─ Amanha, Sanah disse você irá conhecer pessoas que são
especialistas na arte do transe. Através da música eles o prepararão
para a primeira transição ao mundo da consciência superior.
─ Você fala em primeira transição. Haverão outras?
─ Depois dessa experiência, cada transição a uma consciência
superior fluirá cada vez mais até que você finalmente verá que não
há mais transição alguma!
Nathan pensou sobre as palavras de Sanah e entendeu que logo ele
seria colocado em uma condição de ver a realidade num nível
diferente. Sanah disse a ele que estariam viajando para a cidade de
Ouarzazate, no dia seguinte.
Ainda estava escuro quando eles passeavam pelas ruas estreitas da
Medina de Marrakech. Quando chegaram à Praça dos Milagres,
Nathan entendeu o que deu àquele lugar, esse nome tão específico.
O coração latente da Medina era uma mistura de aromas picantes,
encantadores de serpentes, engolidores de fogo e acrobatas. No dia
seguinte, eles tomaram o ônibus para Ouarzazate. A rua seguia por
um maravilhoso cenário com impressionantes Oasis com
palmeiras.
Nathan
admirou
as
palmeiras
e
ficou
entusiasmadamente aguardando a experiência mística que estava
prestes a experimentar.
Quando eles chegaram à pitoresca Ouarzazate, tomaram um taxi,
que os levou a uma casa construída como um templo cercado por
altas palmeiras e que irradiavam uma serenidade idílica. Sanah
bateu à porta imponente. Um homem veio recebê- los e trocou
algumas palavras em árabe com Sanah. Então, o homem olhou
Nathan por algum tempo, sem dizer palavra alguma, abraçou-o
como se ele fosse seu filho perdido há muito tempo. O homem
chamado Rashid, convidou-lhes para entrar. Lá encontraram dois
outros homens, Lahcen e Said. Sanah explicou a razão da visita
deles. Nathan não entendeu muito, mas mais tarde Sanah explicou
tudo que ele precisava saber. Ela explicou que eles dormiriam ali e
que ele seria iniciado em seu aprendizado naquela noite mesmo.
No dia seguinte ele seria levado ao Saara para o ritual. Durante a
estadia dele no deserto, Nathan não poderia comer e somente
poderia ingerir água. Nathan respondeu que faria um pequeno
sacrifício em troca de algum conhecimento, uma resposta muito
bem recebida por seus ouvintes.
Depois da conversa, foram explorar Ouarzazate para relaxar. A
cidade parecia ter saído das páginas dos livros de história antiga.
Nathan estava especialmente impressionado pela visita a uma vila
121
de barro vizinha. Naquela noite, Nathan se preparou para sua
iniciação. Essa tarefa seria feita por Lahcen e Said. Outra parte da
iniciação que mais tarde aconteceria, seria feita no deserto por
Rashid. Nathan ocupou o seu lugar no tapete perto de Sanah. Na
frente deles estavam Lahcen e Said. No meio havia um livro.
Sanah disse a Nathan que esse livro continha seus aprendizados e
eles estariam fazendo as leituras nele descritas.
─ Antes que comecemos, ela disse, os senhores gostariam de saber
se você tem alguma dúvida.
Depois de pensar brevemente, Nathan fez a seguinte pergunta:
─ Eu gostaria de saber por que o deserto e o jejum fazem parte da
minha primeira experiência no mundo da consciência superior.
Said disse a Nathan que ele já tinha a disciplina correta por tentar
compreender tudo antes mesmo que acontecesse. Lahcen
esclareceria o mistério do deserto. Então, Said explicaria o poder
do jejum. Lahcen abriu o livro e leu a passagem do deserto.
─ As verdades superiores não são encontradas em nossas
observações familiares, mas através delas. O deserto nos coloca em
uma situação composta de uma força maior na qual somos
obrigados a uma entrega total. Uma experiência que nos leva a
uma sensação maior de intimidade. Sanah fez a tradução e
perguntou a Nathan se essa era uma resposta satisfatória, o qual
Nathan, depois de uma curta pausa, acenou afirmativamente. Said
então pegou o livro e leu a passagem da essência do jejum:
─ O principio por trás do jejum é temporariamente nos limitar a
somente o que é necessário para nossa saúde física e espiritual.
Essa disciplina nos conscientiza de que nossos desejos determinam
quem somos hoje e que nossa capacidade de controlar esses
desejos determinará quem nos tornaremos amanhã.
Sanah esperou até que isso estivesse claro para Nathan. Suas
palavras indicaram que sim.
─ E muito frequente que textos como esses nos dêem tais respostas
convincentes. Eu agora entendo completamente porque o deserto e
o jejum fazem parte do ritual.
Lahcen e Said agora estavam preparados para lerem os textos
iniciais. Era a descrição dos três estágios da evolução que alguém
poderia atingir no mundo da consciência superior. Sanah deu a
Nathan um caderno e um lápis para que escrevesse as palavras
proferidas.
Lahcen leu o primeiro texto:
122
─ Através da consciência superior podemos compreender
completamente o conteúdo de nossa consciência. Daqui podemos
compreender como nossos pensamentos se relacionam com nossos
sentimentos e como nos tornamos cientes do que está se passando
em nossas vidas.
Said esperou até que Nathan tivesse escrito tudo e depois leu o
segundo texto.
─ Se reconhecermos a origem da criação na raiz de cada momento
de nossa vida, transformaremos a nossa vida em uma dádiva. Pela
obtenção da inspiração na nossa perfeita relação com tudo aquilo
que existe, nossa crença na unidade do mundo aumentará.
Said ofereceu o livro para Sanah para que ela pudesse ler o último
texto. Ela primeiro leu as palavras em árabe e depois traduziu o
que acabara de ler.
─ As experiências nesse mundo de consciência superior nos fazem
compreender o quanto podemos dar mais significado à nossa vida.
Quanto mais uma pessoa for capaz de obter conhecimento da
consciência superior em sua própria consciência, melhor ela será
em realizar grandes feitos.
Sanah disse a Nathan que durante os dias seguintes ele
compreenderia completamente o significado correto dos textos.
Enquanto Nathan relia os textos em suas anotações, um grande
prato de cuscuz foi servido. Said e Lahcen os desejaram bom
apetite e asseguraram que aquele alimento seria suficiente para sua
estadia no deserto.
Na manhã seguinte o grupo saiu para o deserto em um ônibus.
Passaram por um largo vale cheio de figueiras alternadas com
pequenos campos de milho. Algumas horas mais tarde, o cenário
se converteu em um grande nada, exceto areia. Não havia nada
além de dunas de areias que iam tão longe quando o olho podia
ver. Depois de um curto período de tempo, o ônibus parou
exatamente onde o ritual aconteceria e eles armaram uma enorme
tenda branca. Durante a tarde, Rashid chamou Nathan em
particular e o informou dos procedimentos. Ele, para sua surpresa,
descobriu que Rashid falava francês fluentemente e tinha estudado
Física em Genebra.
123
Energia
Naquela noite, chegariam alguns músicos para participarem do
ritual. Nathan também ouviu que depois do ritual ele seria deixado
sozinho no deserto do nascer até o pôr- do- sol. Nathan achou a
idéia de ser deixado sozinho no deserto desconcertante, mas ainda
assim excitante.
─ Ei de sobreviver, disse ele.
─ Não tem a ver com sobreviver, mas basicamente reviver! Rashid
respondeu.
Nathan viu que Rashid tinha a intenção de contar muito mais,
assim colocou o lápis e o caderninho na mão e ouviu atentamente.
─ No mundo da consciência superior, Rashid disse você verá
entidades que são invisíveis no mundo consciente, mas também se
movem para acompanhar pessoas.
─ Essas entidades escolhem quem elas acompanharão? Perguntou
Nathan.
─ Elas viajam livremente, Rashid respondeu, mas no final cada
pessoa decide por si mesmas qual das entidades eles querem que os
acompanhe.
─ Como ingressarei no mundo da consciência superior?
─ Há muitos meios de fazer isso. Um deles é através de musica
rítmica. De nossos ancestrais, aprendemos os ritmos que podem
nos levar a um estado de transe e nos habilitar a experimentar
energias muito diferentemente do universo.
Nathan releu suas anotações e perguntou:
─ Me diga Rashid, você aparenta saber muito sobre misticismo.
Como você o compara com a ciência moderna?
─ A Ciência moderna se concentra em como a energia funciona. O
Misticismo, por outro lado, nos ensina como podemos influenciar
essas energias.
─ O que você quer dizer com energias? Nathan perguntou.
─ Tudo é feito de energia e suas interações. Uma experiência de
transe nos ajuda a ver essas energias de maneira diferente. Ela nos
mostra como cada tipo de energia ocorre separadamente. Dessa
maneira podemos ver os aspectos obscuros da realidade.
─ O que podemos ver exatamente?
124
─ O que lhe for revelado, é somente de seu interesse. Ele
contribuirá para sua própria evolução e o levará rumo a seu próprio
e único propósito!
Após essa conversa Sanah propôs que fossem caminhar. Subiram
até a mais alta duna onde poderiam ter uma boa vista.
─ O que você se lembrou de sua conversa com Rashid? Sanah
perguntou.
─ Ele me contou das entidades e como elas se movimentam entre
nós. Também confirmou que o que vou experimentar hoje será
nada mais do que uma extrema observação do que ocorre sempre e
em todo lugar.
─ Está tudo claro pra você?
─ Até então sim, está, muito embora eu tenha a forte impressão
que a revelação que está por vir será muito mais clara.
Sanah colocou sua mão nos braços de Nathan.
─ De agora em diante você vivera experiências de total atração do
mundo místico e nunca mais vai deixar o assunto de lado
novamente!
─ Enquanto Nathan ainda estava impressionado pelas palavras de
Sanah, viu um microônibus ainda distante vindo na direção deles.
─ Teremos visita, disse ele.
─ Verdade, visita musical, Sanah disse.
Sanah e Nathan caminharam duna abaixo e voltaram para a tenda.
Um grupo de músicos, em vestimenta vermelha, saiu do ônibus.
Estavam carregando instrumentos de corda, tambores e tamborins e
se agruparam na tenda. Com o chá servido, começaram a tocar
ritmos lentos, que gradualmente aumentavam a velocidade e depois
começavam a cantar bem alto. A noite caiu e a música se tornou
mais rápida e ainda mais alta. Enquanto Nathan curtia esse evento
festivo intensamente, Rashid veio buscá- lo e o colocou no meio da
tenda, onde Lahcen e Said estavam esperando por ele. Sanah o
abraçou e disse que o buscaria depois do pôr- do- sol no dia
seguinte. A medida em que Nathan adentrava o centro da tenda, a
música se tornava ainda mais forte.
Os três iniciadores mostraram a ele como virar seu axiaaaaa. Não
demorou muito até que Nathan pudesse realizar os giros
tranquilamente. Gradualmente ele sentiu o bom humor aumentando
dentro dele comparável a algo entre uma excitação e euforia.
Agora era mais difícil para ele distinguir as imagens que via fora
das que surgiam dentro de seus pensamentos. Era como se todas as
experiências vividas se misturassem. Olhou para os músicos e viu
125
que mais convidados tinham chegado. Novos convidados que
pareciam semelhantes a espectros de seres humanos e que
flutuavam! Pouco a pouco mais convidados chegavam. Os
espectros não pareciam se preocupar com Nathan que vivenciava
aquela experiência como observador. Nathan agora sentiu como se
fosse luminoso e perdeu a noção de tempo e espaço. Ele fechou
seus olhos e continuou girando seu machado, encorajado pelos
ritmos excitantes. Isso continuou por algum tempo até que de
repente tudo virou silencio!
Quando Nathan abriu os olhos ele viu que estava completamente
sozinho e que ele deitava estirado num sofá. Estava tudo muito
escuro na tenda e extremamente quieto. O incessante
questionamento: Onde estava todo mundo? Ele se levantou
cuidadosamente e saiu. Lá viu que todos os ônibus haviam
desaparecido. Ele tentou se lembrar do que tinha acontecido, mas
não pode visualizar mais do que alguns fragmentos.
Fora da tenda, cujo extremo ele tinha tido como experiência,
predominava o silencio. Nunca antes Nathan tinha tido tal
experiência, e apesar de estar rodeado de areia, a situação o fez
pensar na tranqüilidade de estar debaixo d’água. O único barulho
que ouvia era o barulho do vento soprando suavemente. Nathan
colocou os pés na areia. Sua cabeça cheia de duvidas. O que tinha
acontecido aquela noite? Estava ele realmente no deserto do Saara
naquele momento? O ritual realmente aconteceu? Rashid, Lahcen e
Said realmente existiam? A mente dele começou a vagar por
estranhas indagações. Agora até questionava a existência de Sanah.
Seria ela um anjo? Tinha ele conhecido um anjo? Quem a
apresentou a ele? Ele realmente tinha conhecido Adnan? Estava ele
realmente em Marrocos?
Basta! Pensou. Ele tinha que manter o controle e organizar seus
pensamentos. Ele procurou por afirmações nas quais poderia se
basear, mas não importava o quanto tentava, não conseguia ter
certeza de mais nada. Agachou- se, encheu a mão de areia e a
fechou com força. A areia era algo que ele podia realmente sentir.
Essa certeza o deu força e ele se sentiu aliviado. Então, notou que a
areia lhe escorria das mãos. Ele tentou pará- la a fechando ainda
mais forte do que antes, e quanto mais ele apertava mais a areia
escorria levando com ela a sua certeza. A pergunta era, estaria ele
realmente no deserto ou não? E se estivesse apenas sonhando
acordado?
126
De repente ele pensou ter visto algo, mas foi tão rápido que
enquanto focava os olhos, aquilo que pensou ter visto já tinha
desaparecido. Ele não deu muita atenção ao ocorrido e subiu na
mais alta das dunas para explorar a redondeza. Enquanto subia a
duna o vento ganhava mais força. Isso fez com que percebesse que
não estava sonhando e que a experiência estava realmente
acontecendo. Quando Nathan chegou ao topo da duna ele teve
outra experiência especial. Bem na frente dele o sol estava
nascendo majestosamente e coloria todo grão de areia da cor
laranja. O calor e o brilho do sol o enchiam de uma confiança
inacreditável. Agora ele tinha certeza, que naquele momento ele
estava presente ali e em nenhum outro lugar!
Ele sentou- se e viveu o momento em toda a sua intensidade. Era
como se uma nova energia de vida estive pulsando através dele.
Essa consciência trouxe-lhe uma sensação de prazer inigualável,
um estado de intimidade. Novamente ele pensou ter visto algo,
como se alguém tivesse se sentado ao lado dele. Ele olhou para o
lado e dessa vez olhou com mais atenção, mas tudo o que via era
uma paisagem de dunas de areia amarelo- dourada. Concluiu que
devia ser por causa do brilho do sol. Um tempo mais tarde ele viu
um Beduíno num camelo bem distante. O habitante do deserto veio
até ele. Quando estavam perto um do outro, o Beduíno desmontou
de seu camelo. Nathan usou algumas palavras em árabe que tinha
aprendido de Adnan e saudou o Beduíno:
─ Assalamoe’alaykum!
─ Wa’alaykum assalam! Respondeu o Beduíno.
Nathan quis rapidamente se certificar de que seu pingo de árabe
não foi mal interpretado e continuou em Francês.
─ Você fala outra língua?
O Beduíno respondeu em Francês fluente.
─ Sempre me expresso na língua da pessoa que conheço!
Nathan demonstrou seu contentamento.
─ Quantas línguas você sabe falar então?
─ Não há língua que eu não possa falar!
─ Então você falaria todas as línguas do mundo?
─ Eu falo a língua de todas as coisas existentes!
─ Então você pode se comunicar com todo mundo?
─ Com tudo e com todos desde o primeiro até o ultimo, incluindo
o ultimo grão do deserto do Saara!
Nathan pensou que aquelas eram afirmações peculiares, mas estava
feliz em ter companhia.
127
─ Estou feliz em conhecê- lo. Você é a primeira pessoa que
encontrei hoje.
─ Então você não prestou atenção!
─ Que quer dizer?
─ Você já teve duas visitas hoje. O primeiro se foi quando o
segundo chegou!
Nathan, que tinha certeza de não ter visto ninguém, não entendeu o
que o Beduíno quis dizer.
─ Estive aqui o tempo todo sozinho e não vi ninguém. Quando foi
isso?
─ O primeiro chegou bem cedo e somente o deixou quando você
subiu até as dunas e encontrou o segundo.
Nathan presumiu que o homem não estava bem da cabeça e não
prestou atenção nas suas ultimas palavras.
─ O que você faz por aqui a propósito?
─ Eu trago um presente valioso a todo visitante do Saara.
O Beduíno se virou e pegou uma lata de água de sua bolsa e um
copinho. Encheu o copinho com água e o deu para Nathan.
─ Para você o presente mais valioso que pode existir!
─ Água? Nathan disse. Entendo que é algo valioso, mas isso se
aplica a todos. Por que seria a água mais valiosa para mim?
─ Você acabou de fazer a pergunta correta. Minha tarefa agora está
completa!
Depois de ter falado essas palavras, o Beduíno disse até logo,
montou em seu camelo e se foi. Nathan apenas ficou olhando o
Beduíno desaparecer no deserto e se perguntou o que estaria
acontecendo. Que figura esquisita aquela, que se dizia poder falar
com tudo e com todos. Então, Nathan começou a analisar o que
tinha acabado de dizer. O Beduíno tinha dito aquela manha que ele
já havia tido dois visitantes, isso lhe pareceu impossível porque
não havia visto ninguém. Então o Beduíno disse que era sua tarefa
trazer um presente valioso a todo visitante do deserto do Saara e
ele tinha trazido água a Nathan.
Nathan voltou à tenda com seu copo de água e continuou a pensar
sobre a estranha conversa com o Beduíno. Uma vez de volta ele
viu suas anotações sobre o sofá. Sentou- se no chão e adicionou a
mensagem do Beduíno. Depois de anotado, ele as releu. Consultou
sua intuição para descobrir no que deveria prestar atenção
primeiro. As palavras do Beduíno o intrigavam demais. Como era
possível comunicar-se com tudo? De que dois visitantes o Beduíno
128
falava? E também havia a pergunta que o tinha assombrado por
tanto tempo: qual era o papel da água em sua vida?
Nathan meditou por um bom tempo enquanto bebia devagarzinho a
água do copo. De repente seus pensamentos pareceram
perturbados. Ele ouviu o vento e, ajoelhando- se correu para fora
da tenda. Lá se encontrou diante de uma colossal tempestade de
areia. Viu uma enorme nuvem de areia se aproximando em
velocidade máxima, e ele não tinha lugar algum para onde correr.
A única coisa que conseguiu pensar foi em deitar- se no chão e
proteger sua cabeça com as mãos. A tempestade passou sobre ele
com uma incrível força. Enquanto ele estava deitado, ouviu de
repente uma voz.
─ Oi Nathan, eu sou a Curiosidade!
Como poderia alguém conversar com ele numa situação como
aquela? Nathan pensou. E que nome era aquele? Nathan olhou para
cima por um Segundo e viu um espectro humano similar a um dos
vários que tinha notado durante o ritual.
─ O que está acontecendo? Você me conhece? Nathan perguntou.
─ Claro que te conheço; estou sempre próximo de você!
Nathan tentou ver através da nuvem de areia, mas o espectro já
tinha desaparecido. Nathan levatou-se e olhou a sua frente. O que
viu era uma cidade muito especial, uma cidade feita de barro e nela
havia muitos espectros. E novamente um voou até ele.
─ Ola Nathan, eu sou a Atenção e agora é melhor você se manter
por perto, pois vai sempre precisar de mim!
Até mesmo antes que Nathan pudesse responder, um terceiro
espectro se aproximou.
─ Oi Nathan, como você está?
─ Como estou? Nathan perguntou. Sinto-me estranho, mas quem é
você?
─ Sou uma de suas mais queridas companhias, sou a Confiança.
Agora muitos outros espectros voaram até ele, todos falando ao
mesmo tempo. A situação se tornou insuportável para ele que
fechou os olhos e novamente colocou sua cabeça na areia. Daí o
vento diminuiu. Quando Nathan se deu conta de que a tempestade
havia diminuído, olhou para cima e viu a nuvem de areia se
dissipando. A cidade de barro tinha desaparecido e a silencio
retornado. Nathan esfregou os olhos para tirar a areia. Notou
espantado que apesar da severa tempestade de areia, a tenda tinha
permanecido intacta. Seu contentamento foi maior quando olhou
para o sofá. As anotações e o copinho de água do Beduíno, ambos
129
estavam no mesmo lugar. Tinha ele imaginado a tempestade de
areia? Nathan entendeu que essa questão era sem importância no
mundo da consciência superior. O que era importante era o
significado das imagens que ele havia visto. O que elas traziam?
Lembrou- se de que Adnan tinha dito sobre a força das imagens.
Ele sabia que tinha que descobrir o segredo por trás dos espectros.
Seriam eles figuras chaves? Alguns deles tinham se apresentado e
tinham nomes como Curiosidade, Atenção e Confiança. Nathan
olhou para seu caderno de anotações, escreveu esses nomes e tirou
um tempo para refletir sobre eles. Estava claro que esses nomes
eram sensações. Novamente leu todas as anotações e gradualmente
as palavras pareceram mais claras. Essas três sensações tinham se
manifestado a ele como entidades independentes. Assim, os
espectros eram sensações. Aquelas eram as entidades espirituais
que acompanham as pessoas, sobre as quais Rashid havia lhe
falado.
Nathan entendeu que essa era uma reflexão fantástica que
explicava muito sobre o comportamento das pessoas. Ele tinha
visto como as sensações sempre acompanhavam as pessoas. E
novamente leu as palavras de Rashid. “No final, é você quem
decide quem te acompanha!” Nathan entendeu que seria sempre
capaz de escolher as sensações que nos guia. Agora Nathan estava
ambos, emocionalmente e intelectualmente exausto e estava
incrivelmente ciente de sua fome. Deitou- se no sofá para
descansar.
Bem na hora que fechou seus olhos, um pensamento lhe ocorreu.
Ele entendeu que somente espectros são capazes de se mover tão
rapidamente, tão rápidos quanto pensamentos. Ele agora se
lembrou do primeiro pensamento que lhe tinha ocorrido, ele tinha
visto alguém próximo à duna e que ele tinha sentido naquele
momento. Quando ele viu a areia escorrer- lhe pelas mãos, a
sensação de solidão o pegou de surpresa. Aquela sensação tinha
desaparecido completamente quando o sol nasceu, momento este
em que experienciou uma sensação de intimidade. Então a solidão
tinha sido substituída pela intimidade. Havia também as duas
visitas que o Beduino tinha comentado a respeito. Com esse
pensamento ele caiu no sono.
Quando acordou, já era tarde. Levantou- se e precisou de algum
tempo para compreender as experiências que tinha vivido.
Curiosamente, tudo tinha sido organizado harmoniosamente no seu
sono. Estava quente e o ar estava seco. Nathan pegou seu copinho
130
e quis beber, mas se deu conta de que estava vazio. Então saiu da
tenda e viu que tudo estava calmo. Novamente teve a experiência
extraordinária do silencio no deserto. Nathan olhou para o bonito
céu azul, para a areia dourada e sentiu- se incrivelmente leve. De
repente ele viu uma silhueta ao longe. Obviamente não era um
espectro, mas uma pessoa de verdade. Era um homem e estava
chegando perto. Usava um chapéu de palha e carregava uma
grande bolsa em volta de seu pescoço. Nathan saudou-o do mesmo
jeito que saudou o Beduíno:
─ Assalamoe´alaykum!
─ Wa´alaykum assalam! O homem de chapéu de palha respondeu.
─ Você fala francês?
O homem com o chapéu de palha respondeu em francês, assim
como o Beduíno.
─ Falo a língua de todos aqueles que viajam pelo deserto!
─ Você com certeza deve conhecer o Beduíno? Nathan perguntou.
─ Conheço muitos, na verdade eles estão aqui há muito mais
tempo!
─ Você ficara por aqui ou desaparecerá de repente?
─ Não posso ficar muito, disse o homem. Minha tarefa é
recompensar todos os viajantes no Saara pelas lições que eles
aprenderam!
Tendo dito isso, o homem tomou um copo grande que ficava
pendurado de seu cinto. Curvou- se um pouco e colocou água de
sua bolsa no copo. Nathan aceitou e esvaziou o copo.
─ Receio que não será suficiente, ele disse.
─ Deixe agora o medo desaparecer completamente, o homem
disse. Mantenha a confiança perto de você até que sua grande
missão aqui na terra tenha sido completada!
─ Pode- me dizer mais sobre minha missão?
─ Posso dizer-lhe isso: Eu sempre apareço quando o viajante
entende a lição de sua jornada.
Depois dessas palavras, o homem com o chapéu de palha colocou
o copo de volta no cinto. Disse adeus a Nathan e continuou seu
caminho. Nathan entendeu que a resposta para sua pergunta estava
subtendida nessas palavras. Agora o céu estava colorido de
vermelho. Nathan caminhou até à duna mais alta para ver o por do
sol. Lá chegando, abriu seu espírito à força das imagens. Percebeu
que tinha que superar a sensação de fome e que havia vivido a
experiência do estado de consciência expandida. Conseguiu se
concentrar extraordinariamente bem e ao mesmo tempo sentiu- se
131
tranqüilo sobre o que estava por vir. O horizonte tornou-se denso,
as dunas de areia mudaram de cor. Nathan estava envolvido nesse
fenômeno natural com todos os seus sentidos. Não somente sentiu
uma intimidade com o sol, mas também sentia a experiência de
conexão infinitamente forte. Sentiu mais intensamente que nunca
como as coisas eram tudo uma só. Com essa sensação eufórica ele
deitou a cabeça na areia. Não muito mais tarde ouviu a voz:
─ Nathan, você pode acordar agora.
Nathan tentou reconhecer a voz familiar falando com ele. A lua
cheia iluminava a silhueta. Muitas perguntas surgiram em sua
mente. Estivera sonhando? Era um espectro novamente? Quanto
tempo estaria ali? Ele sonhou tudo aquilo ou teria ele realmente
vivido a experiência? A voz falou novamente:
─ Você esta de volta ao mundo da consciência agora!
Agora Nathan reconheceu a voz, era Sanah. Ao pé de uma duna ele
viu dois homens. Olhou mais de perto e os reconheceu, eram
Rashid e Lahcen. Mais adiante, viu o ônibus, com os faróis acesos.
Said estava sentado atrás da roda. Nathan levantou-se e desceu a
duna com Sanah.
Foi uma viagem tranqüila de volta a Ouarzazate. Sanah deu a
Nathan pão com azeite de oliva. Ele comeu e colocou a sua cabeça
no ombro dela. Algumas horas mais tarde, chegaram ao destino.
Nathan estava exausto com a viagem e foi imediatamente pra
cama.
Na manha seguinte, Lahcen veio acordá- lo para o café da manhã.
Nathan refrescou-se e sentou-se à mesa onde outros estavam
esperando por ele. Haviam panquecas deliciosas com mel ou
queijo de cabra. Rashid disse a ele que era tradição que o
convidado não falasse sobre as experiências no deserto.
Sanah disse a Nathan que sua tarefa estava completa e que eles
poderiam agora voltar à Casablanca. Ela queria ir a uma casa perto
da praia, no confortável distrito de Anfa. Ela sugeriu que
convidassem Adnan para ficarem por alguns dias. A expectativa de
ver o oceano e Adnan encheu Nathan de alegria. Depois do café da
manha os três homens levaram Sanah e Nathan até a estação de
ônibus. Quando este chegou, eles se despediram de seus
convidados. Cada um deles deu a Nathan uma mensagem.
Lahcen foi o primeiro a se pronunciar:
─ Continue a sua jornada e conte aos outros suas estórias de
esperança, assim eles poderão aprender a ouvir a voz que vem de
seu coração.
132
Veio Said:
─ Continue a sua jornada e conte aos outros as usas estórias
instrutivas, assim ele serão encorajados a ser criativos com a
própria imaginação.
E por ultimo, Rashid:
─ Continue a sua jornada e conte aos outros suas estórias
inspiradoras, assim ele poderão tornar-se mais cientes de seus
destinos de vida.
Nathan agradeceu a todos os três com muito entusiasmo, disse
adeus e depois entrou no ônibus onde se sentou ao lado e Sanah.
─ Qual foi a maior lição que aprendeu durante essa viagem? Sanah
o perguntou.
─ Agora eu entendo mais do que antes como nossa vida depende
da natureza de nossos sentimentos e eu gostaria de lhe agradecer
por tudo o que fez por mim.
─ Minhas ações têm o mesmo significado pra mim do que tem pra
você.
Chegaram à Casablanca por volta de meio- dia. De lá foram para a
praia, perto de Anfa. Depois de ter passado dias no deserto, o
oceano era uma vista maravilhosa para Nathan novamente. Ele
imediatamente mergulhou na água, somo sempre, o lugar ideal
para revitalização. Enquanto isso, Sanah foi pegar as chaves de
casa. Na água, Nathan reviveu tudo que tinha vivido no deserto; o
encontro dele com o Beduíno, com os espectros humanos e com o
homem de chapéu de palha. Novas imagens também vieram junto,
imagens de lugares desconhecidos, com pessoas desconhecidas.
Uma imagem lhe voltou varias vezes à mente. Entre todas essas
pessoas estranhas, reconheceu uma que significava muito para ele.
Era Sofia! O que ela fazia ali? Qual o significado de tudo isso? Ou
ainda, qual o significado que ele poderia atribuir a tudo isso?
Depois de algum tempo ele saiu da água e olhou para Sanah. Ela
estava sentada mais distante na praia, lendo um livro.
Quando ela viu Nathan se aproximando, olhou para ele por
bastante tempo.
─ Com certeza você curtiu isso, disse ela.
─ Mergulhar no mar é sempre como estar em casa pra mim,
Nathan disse.
─ Bom! Falei com Adnan. Ele mandou lembranças e pediu pra te
dizer que estará aqui amanha.
─ Ficarei feliz em revê- lo.
Depois de um breve silencio, Nathan continuou.
133
─ Sanah, eu quero aprender mais sobre os aspectos obscuros da
realidade.
─ O poder do misticismo cresce quando damos atenção a ele!
─ Um mundo se abriu pra mim, no qual há provavelmente muito
mais lições de vida para serem aprendidas.
─ Muitas outras culturas usam essa fonte de conhecimento.
─ Eu gostaria de aprender o quanto mais eu puder!
Sanah olhou pra ele sorrindo.
─ Isso vai acontecer; sua jornada ainda é longa!
Caminharam em direção ao centro de Anfa onde havia uma
agradável atmosfera. Nathan continuou pensando sobre as novas
imagens que tinha visto debaixo d’água. Estava basicamente
procurando por uma explicação para a aparição de Sofia. Ela disse
que tinha se mudado para Hyeres, uma cidadezinha perto de
Toulon no sul da França. Disse a ele que exclusivamente se
dedicava à sua arte. Suas esculturas na madeira eram um sucesso
na França e em outros países. Sofia disse a ele com orgulho que
tinha sido convidada para expor suas obras na cidade do Cabo.
Disse que viajaria logo e ficaria feliz em revê- lo. Nathan selou
essa conexão e agora entendeu a mensagem que recebeu debaixo
d’água. África do sul seria seu próximo destino! Ele perguntou
onde ela estaria e prometeu visitá- la. Sofia não pôde acreditar no
que ouvia.
Na manha seguinte, Nathan disse a Sanah sobre sua decisão e o
que o tinha levado a essa conclusão. Sanah achou a idéia
maravilhosa. No dia seguinte Adnan chegou. Os três passearam por
bastante tempo pelo coração de Casablanca e durante o passeio
Nathan disse a Adnan tudo o que pôde sobre os últimos eventos.
─ O deserto o fez ver que nunca estamos sozinhos, Adnan disse.
Agora você compreende ainda mais como tudo está conectado.
─ Sim, isso é certo, Nathan disse. Desde então eu tenho um forte
desejo pela unidade na qual tudo floresce.
Sanah, que ficou quieta até então, se envolveu na conversa.
─ Esse desejo é o melhor incentivo e a ultima razão de nossa
existência.
Depois do passeio, Nathan fez a reserva da passagem para a
viagem para a África do Sul. Alguns dias depois Adnan e Sanah o
levaram ao aeroporto. Antes de sua partida Adnan recomendou
Nathan que confiasse em seu “poder criador” sempre. Sanah
enfatizou que Nathan era capaz de realizar grandes feitos. Com o
chegar da noite Nathan disse adeus a Sanah e Adnan.
134
-5Harmonia Natural
135
136
Ligação
Nathan apanhou um voo para a outra ponta do continente Africano.
Na manhã seguinte, aterriçou na Cidade do Cabo, onde Sophie o
esperava no aeroporto. Ele ansiava por voltar a vê-la e, assim que a
descobriu na zona de chegadas, recordou-se de como ela era bela.
Correram um para o outro para se abraçar. Nathan disse-lhe que ela
estava radiante. Estavam ambos muito emocionados durante o
reencontro. Caminharam até ao carro alugado e dirigiram-se então
para o apartamento onde Sophie estava alojada. O apartamento,
situado nas montanhas, tinha uma grande varanda com sofás
confortáveis e uma mesa baixa de bambu. Nathan sentou-se e
admirou a maravilhosa vista para o mar. Por trás dele situava-se o
famoso Tafelberg com o seu topo envolto em nuvens e rodeado por
um céu azul completamente limpo. Sophie trouxe os refrescos e
encarou Nathan.
─ Agradeço-te do fundo do coração por me ajudares a perceber
que eu só podia ser feliz se desenvolvesse as minhas capacidades
intrínsecas.
─ Bem, isso aplica-se a cada um de nós.
─ Não só ganhei coragem para dedicar-me completamente à minha
arte, mas também consegui perceber melhor as razões para a tua
partida.
─ E é graças à tua arte que nos encontramos hoje novamente.
─ E do outro lado do mundo! Inacreditável!
─ Tens fotografias dos teus trabalhos anteriores?
Ela levantou-se e foi buscar o seu catálogo. Nathan folheou-o e
reconheceu de imediato as formas simbólicas em preto e branco
que caracterizavam o estilo de Sophie.
─ Continuas a fazê-las assim tão grande? perguntou.
─ Cada vez maiores. Vou ter sete obras em exposição e a menor
tem dois metros de altura.
─ Tenho curiosidade de ver o teu trabalho com os meus próprios
olhos.
─ A exposição começa amanhã à noite. Pediram-me para fazer um
discurso e já estou nervosa.
─ Não te sentes muito à vontade, não é?
─ Não, mas tem que ser. Faz parte.
137
─ E já preparaste o texto?
Sophie foi buscar umas páginas escritas em Inglês e entregou-lhas.
Nathan leu-as rapidamente.
─ Achas que está bom? perguntou ela.
─ É um texto muito bem preparado, mas não mostra aquilo que tu
és nem representa as tuas obras de arte.
─ Nathan, conheces-me melhor do que ninguém. Podes rever o
texto?
─ Tens certeza?
Sophie acenou afirmativamente.
Nathan pegou numa caneta e riscou todo o texto com um traço.
Depois escreveu uma única frase e devolveu a página a Sophie,
que estava completamente perplexa.
─ O que é que esta fazendo? perguntou ela.
─ Não queres ler isso em voz alta? disse Nathan.
─ Tudo o que deve ser apreendido na minha arte não cabe em
meras palavras.
─ Agora só tens que acrescentar os agradecimentos do costume.
─ Só isto?
─ Gostas de fazer discursos?
─ Não, de todo!
─ Então, aí tens! Temos que limitar as coisas desagradáveis ao
mínimo possível. Os teus trabalhos transpiram a tua magia; os
convidados só querem deixar-se cativar por ela. É por essa razão
que eles vêm e com esta frase vais captar toda a sua atenção.
Sophie leu novamente a frase e sentiu o stress desaparecer por
completo.
─ A única coisa que tens de fazer amanhã antes de começar, disse
Nathan, é olhar para todas as pessoas que estiverem presentes e
dizer cada palavra de forma lenta e clara.
Ela olhou-o, sorriu e abraçou-o com força. Durante o resto do dia,
andaram os dois a explorar a belíssima zona costeira a sul da
Cidade do Cabo. Pararam quando encontraram uma pequena praia
e passaram a maior parte do tempo na água. Sophie foi a primeira a
sair da água e sentou-se na areia, exausta. Nathan seguiu-a pouco
depois. Foi comprar uns sanduíches em um pequeno bar na praia.
Enquanto saboreavam-nos na praia, ela contou-lhe o que se tinha
passado durante os últimos dois meses. Ela tinha tido realmente
muito sucesso; parecia que todas as portas se abriam para ela.
Nathan ouviu-a com atenção. Naturalmente, Sophie tinha muita
curiosidade em saber aquilo por que ele tinha passado.
138
─ O que se passou contigo durante os últimos meses?
Nathan pensou qual seria a melhor forma de relatar as suas
experiências na Espanha e no Marrocos. O que seria mais relevante
para Sophie e como é que ele o poderia explicar de forma simples.
─ Conheci pessoas simpáticas e empolgantes, que me ensinaram a
recolher conhecimentos do mundo da consciência superior.
─ E o que aprendeste no mundo da consciência superior?
─ Vi de que forma os sentimentos fluem através de nós e
determinam em parte as nossas intenções, as nossas escolhas e as
nossas ações.
─ Não somos nós próprios que determinamos as nossas ações?
─ Não deveríamos subestimar o papel que os nossos sentimentos
desempenham nesse processo.
─ Quando estou trabalhando nas minhas esculturas, fico
completamente vulnerável. Para mim, os meus sentimentos são
uma fonte de energia.
─ Em nós tudo é energia, incluindo os nossos sentimentos.
─ Os nossos sentimentos também são energia?
─ Podemos ver os sentimentos como ondas energéticas que
influenciam a nossa própria energia interior. Eles influenciam as
nossas intenções e as nossas ações.
Sophie deixou que o significado das palavras de Nathan a
percorresse.
─ O mais extraordinário é que todas as formas de energia,
incluindo nós próprios, provêm de um todo. Estamos todos ligados
à energia universal.
─ Ligados à energia universal? Alguns amigos meus artistas já me
falaram da mesma experiência. De que se trata exatamente?
─ É um sentimento interior de que, na verdade, todos os seres
vivos são criados a partir de uma única origem.
Nathan demorou um tempo recordando as experiências por que
passara.
─ Foi só mais tarde que comecei a pensar sobre essa sensação, mas
naquela hora foi como se eu já não estivesse sentindo uma
atividade física. Tudo aconteceu de forma natural, não me
questionei e não precisei de explicações... lá no fundo eu sabia!
─ E esta experiência modificou-te?
─ Agora estou mais consciente do fato de todos estarmos ligados
ao todo.
─ Se cada um de nós faz parte de um todo, então em que consiste o
nosso papel individual?
139
─ No âmbito desta ligação todos nós podemos usar do nosso livre
arbítrio para nos aproximarmos ou distanciarmos da origem.
─ E como é que nós sabemos que estamos nos aproximando da
origem?
─ Quando já não sentimos fluir através de nós aqueles sentimentos
negativos como a solidão, o medo ou a raiva e somos então
inspirados, sobretudo por sentimentos positivos.
─ Parece-me que não és muito influenciado por sentimentos
negativos.
Nathan sabia o que ela queria dizer com aquilo. Ele sempre teve
consciência do seu poder interior e confiou nele acima de tudo. E
desde o início da sua jornada tinha-se tornado mais consciente de
como este poder era especial. No dia seguinte, foram ambos à
cerimônia de abertura da exposição. As esculturas estavam
dispostas numa grande sala de exposições. Estavam cobertas com
grandes panos cinzentos e só seriam expostas após o discurso de
Sophie. A imprensa também estava presente e colocou várias
questões a Sophie.
Nathan deixou-a em paz durante algum tempo e conversou com o
diretor da galeria. Quando voltou para junto de Sophie, reparou no
quanto ela estava nervosa.
─ Vê todas estas pessoas que vieram aqui por causa da tua arte. Sê
tu própria, simplesmente, e vais ver que o teu medo é substituído
por um sentimento de satisfação.
Nathan viu Sophie olhar em volta receosa e percebeu que as
palavras dele não tinham ajudado. Então, tomou-a nos braços e
sussurrou-lhe ao ouvido:
─ Sophie, deixa que um pouco de orgulho te fortaleça e as tuas
palavras vão garantir que a atenção de todos os presentes irá recair
sobre as tuas obras de arte. O próprio encanto das esculturas fará o
resto!
A expressão dela mudou subitamente ao som destas palavras.
Deram-lhe confiança. Ela percebeu que as atenções não estariam
sobre ela, nem mesmo sobre as suas palavras, mas, sobretudo nas
suas obras. Naquele preciso momento foi chamada ao palco.
Nathan deu-lhe um último conselho.
─ Depois de desejares as boas-vindas a todos, olha para os
convidados lá atrás, visualiza as tuas esculturas uma por uma na
tua mente e então fala.
Enquanto Sophie avançou com confiança, Nathan pediu a algumas
das pessoas presentes para se colocarem junto dos panos. Assim,
140
junto de cada escultura encontrava-se uma pessoa preparada para
descobrir a obra de arte logo que fosse dado o sinal. Quando
Sophie terminou de falar, o diretor da galeria desligou as luzes e
acendeu os focos luminosos. Todos os panos foram retirados ao
mesmo tempo. As obras de arte estavam iluminadas de uma forma
maravilhosa e tiveram grande impacto. Parecia que irradiavam
magia. Todos os convidados sem exceção as observavam como se
estivessem enfeitiçados. Enquanto isso Sophie acercou-se de
Nathan.
─ És um feiticeiro.
─ Não, Sophie, a tua arte é encantadora.
Várias pessoas aproximaram-se de Sophie para saber mais sobre o
significado profundo da sua arte. Nathan deixou-a e foi admirar as
esculturas. Eram espantosas visões simbólicas de temas universais.
Quando chegou junto da última escultura, alguém lhe tocou no
ombro. Ele virou-se e viu um homem mais velho, de pele escura.
O homem era alto e esguio e tinha cabelo e barba grisalhos. Vestia
um terno colorido feito à medida e dirigiu-se a Nathan em Inglês.
─ Sou o Dr. Songo. É um prazer conhecê-lo.
─ O meu nome é Nathan. Muito prazer.
─ Fez um trabalho excelente!
─ É a minha namorada que merece os seus elogios.
Songo olhou de relance para as obras de arte.
─ A competência dela está aqui patente de forma brilhante, mas o
seu talento é a outro nível. ─
─ A que talento se refere?
Naquele momento Sophie juntou-se a eles. Ela fugia à confusão de
bom grado, mesmo que fosse apenas por um momento. Songo
apresentou-se.
─ Sou o Dr. Songo. É um prazer conhecê-la. A sua arte revela que
tem uma enorme criatividade.
─ Obrigada. - respondeu ela.
Songo dirigiu-se novamente a Nathan.
─ O talento de que eu falava é a sua capacidade de inspirar os
outros.
─ A minha capacidade de inspirar os outros?
─ Foi muito interessante ver a forma como conseguiu preencher o
silêncio e como soube chegar ao clímax no momento exato, não é
assim, Menina?
─ Tem razão em relação ao envolvimento dele. - disse Sophie
enquanto ria.
141
─ Isso é porque a perspicácia é o meu talento!
Songo exprimiu-se de uma maneira muito especial, mas apesar da
sua notável escolha de palavras, Nathan compreendeu
perfeitamente a que ele se referia.
─ Tenho que ir embora, disse Songo, foi realmente um prazer e
desejo-lhe muito sucesso.
Enquanto Songo se afastava, Sophie comentou em tom divertido:
─ Parece que esta noite o meu talento não é o único a ser
admirado!
─ O Dr. Songo é realmente uma pessoa muito peculiar.
Próximo ao final da exposição Sophie e Nathan dirigiu-se à saída
para alí se despedirem dos convidados. As obras de arte de Sophie
tinham causado muitíssima boa impressão. Agora ela podia
desfrutar plenamente de todas as felicitações. Era já tarde quando
Sophie e Nathan regressaram de carro para o apartamento. Ela
estava aliviada por ter conseguido cumprir os seus compromissos.
A partir daquele momento já podia desfrutar da companhia de
Nathan durante duas semanas num país que a impressionava cada
vez mais. No dia seguinte os dois partiram numa viagem pelo país
que durou aproximadamente dez dias. Visitaram as belíssimas
praias de areia branca de Port Elizabeth. Pernoitaram na cidade
portuária de Durban, onde puderam observar uma acolhedora
miscelânea de culturas. Depois seguiram de carro pelas zonas
rurais até Johanesburgo e Pretória. Pelo caminho visitaram um
parque natural que continha uma riqueza nunca vista de fauna e
flora. Em Johanesburgo passearam pelo moderno centro da cidade.
Depois viajaram até aos townships (subúrbios negros do tempo do
Apartheid) e lá estiveram cara a cara com a pobreza pungente.
Nesta cidade, eram mais visíveis as grandes disparidades entre
ricos e pobres.
Nathan e Sophie debateram todos os pontos altos do seu passeio
durante a viagem de regresso à Cidade do Cabo. Tinham visto
muitas coisas e estavam impressionados com a sua aventura num
país rico em diversidade, que também possuía uma natureza
espantosa. Quando chegaram à Cidade do Cabo, Sophie sentia-se
enjoada e tinha fortes dores de estômago. Nathan decidiu ir a uma
farmácia, mas aconselharam-nos a consultar um médico e deramlhes uma lista de médicos disponíveis. Enquanto analisavam a lista,
o seu olhar recaiu sobre o nome do Dr. Songo. Não podia ser
coincidência. Quando Nathan telefonou para o Dr. Songo, este
pediu-lhe que descrevesse os sintomas. Depois de escutar
142
atentamente, o Dr. Songo disse que iria vê-los no apartamento
nessa noite.
143
Unidade
Songo tocou a campainha depois do jantar. Examinou Sophie,
mediu-lhe a temperatura e perguntou-lhe o que tinha comido nos
últimos dias. Sophie enumerou aquilo de que ainda se lembrava.
─ Acha que é grave? Perguntou ela.
─ Não se preocupe, estes sintomas são provocados por um
pequeno distúrbio no equilíbrio.
Nathan e Sophie reconheceram o notável uso da linguagem de
Songo.
─ É problema de altitude ruim? Porque amanhã volto para França.
Songo interrompeu o que estava fazendo.
─ Há boas alturas para se ficar doente? Perguntou ele a Sophie.
Este comentário fez Sophie sorrir. Songo pediu a Nathan para
colocar um pouco de água a aquecer e abriu sua maleta. Era uma
maleta grande com um dos compartimentos cheio de ervas
medicinais de vários tipos. Songo escolheu duas folhas compridas
e deu-as a Nathan. Nathan lembrou-se que a cigana também tinha
ervas daquelas com ela quando curou a mulher do pastor.
─ Quando a água estiver fervendo, disse Songo, junte-lhe estas
folhas.
─ Parecem ervas daninhas. - disse Sophie.
─ Erva daninha é o nome que as pessoas dão às plantas cuja
utilidade ainda não conhecem. - respondeu Songo.
Sophie ainda tinha algumas dúvidas.
─ Não tem outros medicamentos? - perguntou ela.
─ Nada que seja mais eficaz para restabelecer o seu equilíbrio.
A água fervente tinha-se, entretanto transformado em um chá de
ervas. Nathan foi buscar a cafeteira e pousou-a numa mesa
pequena.
─ Para que servem estas folhas? - perguntou ele a Songo.
─ As ervas medicinais são plantas curativas, eliminam o veneno.
─ Veneno? - reagiu Sophie.
─ Nós comemos alimentos que na realidade são estranhos ao nosso
corpo. - disse Songo. Por isso os alimentos têm que ser
completamente transformados através da digestão, caso contrário
continuam a ser veneno para nós.
144
─ É por essa razão que cada alimento é sentido como um fardo? perguntou ela.
─ Realmente sim, uns mais do que outros, até que sejam vencidos
pela força da digestão.
Cuidadosamente, Songo deu o chá para Sophie beber e deu-lhe
ervas suficientes para os dias seguintes. Nathan sentia-se cada vez
mais fascinado por aquele homem. Ele parecia ter vastos
conhecimentos.
─ Como aprendeu todas estas coisas?
─ Em parte com velhas tradições, disse Songo e em parte com a
minha própria experiência. Acredito no poder da natureza e tento
sempre garantir a sua harmonia.
─ O que é que isso significa exatamente? - perguntou Nathan.
─ Pode descobrir se me observar, - respondeu Songo - só tem que
ver a forma como eu trato os outros para perceber a forma
consciente como eu sinto a natureza!
─ O que quer dizer com a forma consciente como sente a natureza?
- insistiu Nathan.
Songo apercebeu-se que Nathan estava sinceramente interessado.
Sentou-se, imitando a postura de Nathan, e, quando falou, as suas
mãos reproduziam igualmente os movimentos de Nathan.
─ Eu detenho um poder de um nível infinitamente superior ao que
muitas pessoas acreditam ser possível. E porque este poder é tão
grande, é por vezes designado sobrenatural, mas eu considero que
é uma harmonia natural, à disposição de qualquer pessoa.
E Nathan respondeu:
─ As pessoas com uma visão moderna da vida olham de forma
cética para a sua ideia de harmonia natural. Para elas o mundo é
um caos enorme.
─ As pessoas com uma visão moderna da vida normalmente
sentem a natureza de forma muito menos consciente e afastam-se
da harmonia perfeita. Elas têm tendência para confiar cegamente
na tecnologia e pensar que esta fé lhes dá um maior controle sobre
o futuro.
Esta conversa mostrou claramente a Nathan que Songo podia
ensinar-lhe muito. Nathan não só descobriu o tom sábio dele, como
também estava cada vez mais fascinado por esta personagem.
─ Amanhã a Sophie parte para França. Eu ficarei aqui durante mais
algum tempo, porque quero conhecer mais deste país fascinante. E
também gostaria de continuar a nossa conversa.
─ Aqui tem a minha morada, apareça quando lhe for conveniente.
145
Songo partiu.
Mais tarde nessa noite, Nathan e Sophie discutiram os seus planos.
─ Sou co-responsável por um projeto de arte em larga escala com
crianças. - disse Sophie. É em colaboração com a cidade de
Marselha.
─ Parece uma iniciativa bonita para te envolveres, - disse Nathan é mesmo um projeto à tua altura.
─ Tens alguma ideia de quando nos voltaremos a ver?
─ Não, apenas sei que estou já ansioso para que chegue esse dia.
Sophie ficou calada.
─ Passamos um tempo maravilhoso aqui.
─ E temos mais recordações.
Ela já se sentia melhor no dia seguinte. O chá de ervas de Songo
parecia milagroso. Enquanto ela fazia as malas, Nathan foi tratar
de prolongar o aluguel do carro e o arrendamento do apartamento.
À tarde, Nathan levou Sophie ao aeroporto, onde mais uma vez
teve lugar uma despedida emotiva. No dia seguinte, Nathan
dirigiu-se à bela zona costeira a norte da Cidade do Cabo.
Precisava de algum tempo, tanto dentro como fora d’água, para
pensar na sua jornada. Mais do que nunca, estava convencido de
que se encontrava no local certo para prosseguir a sua
aprendizagem e decidiu tentar passar algum tempo com Songo. Na
manhã seguinte, telefonou a Songo e marcou um encontro com ele.
Songo vivia numa mansão situada numa belíssima propriedade. O
pessoal da propriedade também lá vivia, em casas menores. Um
almoço suntuoso esperava Nathan. Ele apreciou, sobretudo as
bredies, uma espécie de guisado típico sul-africano.
Durante a refeição ele foi explicando as suas intenções.
─ Se eu pudesse ficar consigo e ajudá-lo a desempenhar as suas
tarefas diárias... a minha presença teria alguma utilidade para si?
─ Tenho que lhe perguntar qual o motivo para querer ficar. - disse
Songo.
─ São dois os motivos. Em primeiro lugar, seria uma forma de
agradecer por ter tratado a Sophie. Ela ligou-me e disse que já está
melhor.
─ Folgo em saber que ela se sente melhor.
E depois, gostaria de acompanhá-lo para poder recolher o máximo
possível do seu poço de sabedoria.
─ Apenas um dos motivos teria sido suficiente!
No decurso das semanas seguintes Nathan ficou a par o dia-a-dia
de Songo. Visitaram juntos uns grandes números de pessoas que
146
necessitavam dos serviços de Songo. Nathan viu como a reputação
do médico tinha crescido e era conhecida por todo o país. Durante
uma tarde livre, Nathan e Songo foram de carro até Chapman's
Peak, um lugar nos arredores da Cidade do Cabo, com uma costa
fantástica. Os dois sentaram-se numa rocha e desfrutaram da vista.
Nathan queria falar sobre um assunto que lhe despertava a
curiosidade. Juntos tinham visitado pessoas de diferentes origens e
crenças. No entanto, todas elas tinham algo em comum, uma
incrível e imensa confiança em Songo. Aparentemente, o médico
conseguia ser aceito por todos.
─ Porque é que existe tamanha dificuldade de entendimento entre
pessoas de origens diferentes?
─ Porque as pessoas se concentram nas diferenças e esquecem
aquilo que têm em comum.
Estas palavras recordaram a Nathan uma expressão de Adnan.
─ Então, como é que consegue fazer-se entender em todo o lado? perguntou.
─ Para conseguir isso, é preciso fazer da paciência um aliado e
aprender a dar essa confiança.
Nathan pegou então no estilo de expressão de Songo.
─ E como consegue ser aceito por pessoas que vivem de modo
diferente e transmitir essa confiança?
─ Ouça Nathan, a consciência perceptível é muito limitada. A
maior parte do nosso conhecimento está situada no subconsciente.
Assim, na realidade podemos aprender a escutar o nosso
subconsciente.
─ E de que forma podemos escutar o nosso subconsciente?
─ Para isso temos que romper com as teias da desconfiança. Da
mesma forma que o fez ao utilizar o meu invulgar modo de falar.
Nathan tinha feito exatamente isso. Entretanto Nathan aprendia o
uso que Songo fazia da linguagem, mas também as suas metáforas
invulgares. Ele sabia que, com este método, Songo procurava
prender a atenção, sobretudo na mensagem. Para isso, era
necessário escutar com atenção, colocar as perguntas corretas, mas
acima de tudo usar a imaginação.
─ E qual é o papel das teias de desconfiança?
─ Elas impedem que a informação chegue ao subconsciente.
─ Consegue sempre romper com essas teias?
─ Começo por observar a linguagem corporal dos meus pares
durante a conversa. Observo os mínimos detalhes tanto quanto
consigo e começo a imitá-los na sua presença.
147
─ Imita-os?
─ Normalmente, aquilo que as pessoas vêem tem mais impacto do
que as mensagens que lhes são transmitidas.
Para Nathan, esta foi a confirmação do poder da imagem.
─ As pessoas passam a sentir que eu pertenço junto deles. prosseguiu Songo - Muitas pessoas acreditam que exibir um
comportamento semelhante implica uma educação e preocupações
semelhantes.
Estes ensinamentos eram muito preciosos para Nathan. Ajudavamno a compreender melhor a importância das imagens na
comunicação. Nathan sentia-se muito à vontade na presença de
Songo e também começava a sentir-se como se estivesse em casa
na África do Sul. Estava particularmente emocionado pela natureza
impressionante. Algum tempo depois, ele e Songo deslocaram-se
aos townships de Joanesburgo. Songo já visitava alguns bairros há
muitos anos e conhecia lá muita gente. Para Nathan esta era a
segunda visita. Tal como tinha acontecido na primeira vez com
Sophie, ele ficou extremamente comovido com a pobreza e as
condições de vida que lá viu.
─ Quantas crianças sul-africanas vivem na miséria? - perguntou a
Songo.
─ Um mero número não lhe vai trazer mais sabedoria - respondeu
este.
Songo não acrescentou mais nada e Nathan não insistiu.
Continuaram a andar até que Songo se aproximou de um moleque
de calções e camiseta rasgada. Era tão magro que só se viam ossos
e aparentemente não se lavava de forma adequada há já muito
tempo. Ofereceu-lhes um sorriso tímido quando viu que Songo
queria falar com ele. Songo falou no dialeto Xhosa local.
─ Como te chamas?
Chamo-me Moyo. - disse o rapazinho.
─ É a primeira vez que te vejo por aqui.
─ Chegamos a semana passada e dormimos ali.
Moyo indicou umas enormes manilhas de cimento onde se
encontravam alguns grupos de crianças. Songo traduziu a
conversa. A reação de Nathan foi de espanto.
─ Tu vives ali? Perguntou a Moyo ao mesmo tempo em que
apontava para as manilhas de cimento.
─ Sim, com o meu irmãozinho. - respondeu ele.
─ Vieste para cá com quem? - perguntou-lhe Songo.
─ Só eu e o meu irmãozinho. - disse Moyo.
148
Songo traduziu e mais uma vez Nathan ficou espantado.
─ Onde estão os teus pais? - perguntou a Moyo.
─ Temos vivido sozinhos há já um ano. - respondeu ele.
─ Quantos anos tens? - perguntou-lhe Songo.
─ Nove. - disse o miúdo.
Nathan, cheio de pena, acocorou-se junto dele.
─ E quantos anos tem o teu irmão? - indagou Nathan.
─ O meu irmãozinho tem seis anos. - disse Moyo.
Nathan virou-se para Songo e disse-lhe:
─ Não devíamos ajudá-los?
Songo fitou Nathan, mas não lhe respondeu. Depois de uma curta
pausa, continuou a conversar com o moleque .
─ Precisas de alguma coisa neste momento?
A princípio, Moyo pareceu hesitar, mas depois acabou por lhe
pedir um favor.
─ Conhece as outras crianças das manilhas de cimento?
─ Conheço meia dúzia delas, por quê?
─ Algumas delas têm-nos incomodado.
─ Eu falo com elas, para elas saberem que tu e o teu irmão são
amigos de Songo.
Songo deu um beijo na testa a Moyo, sendo depois imitado por
Nathan que lhe desejou boa sorte. Seguiram caminho.
─ Sabes Nathan, - disse Songo - aquele menino toma conta dele
próprio, mas também toca conta do irmão mais novo. Isso quer
dizer que ele, com apenas nove anos, está desempenhando sozinho
o papel de mãe e de pai.
Songo deixou Nathan digerir estas palavras e depois prosseguiu.
─ Esta é a história de apenas duas crianças, mas esclarece muito
mais do que saber o número de crianças que vivem em condições
de pobreza extrema.
Nathan compreendeu a sábia lição que tinha acabado de receber e
voltou a perder-se nos seus próprios pensamentos.
─ Falta humanidade aos humanos!
Songo viu quão profundamente Nathan tinha sido tocado.
─ Aparentemente, nós os humanos não conseguimos viver da
maneira que queremos, em paz, harmonia e amor. Somos as únicas
criaturas na Terra que nos extinguimos a nós próprios.
─ É preciso tanto para ajudá-los a todos. - reagiu Nathan.
Songo parou e olhou para Nathan.
─ Um pouco de amor faz milagres.
149
No dia seguinte, Nathan e Songo foram visitar um desfiladeiro
espetacular. Aí encontraram um miradouro chamado “God's
window” (Janela de Deus). Desse ponto tinham uma vista fabulosa
da gigantesca cratera. Nathan ainda estava muito perturbado com o
que tinha testemunhado no dia anterior. Songo estava consciente
deste fato e decidiu usar este dia para o deixar descontrair e
aproveitar a oportunidade para processar toda a informação. Foi
precisamente por essa razão que Songo escolheu este local
maravilhoso. Disse a Nathan:
─ É importante que, depois das inúmeras imagens comoventes que
presenciou ontem, possa reabastecer os seus sentimentos com
imagens belas.
─ Muitas pessoas não se apercebem da sorte que têm em não terem
de viver naquelas circunstâncias. Sempre me coloquei a mesma
questão: Tanto sofrimento, tanta dor, tanta tristeza, por quê?
Songo pousou a mão no ombro de Nathan.
─ Para cada um de nós que se comove com a miséria dos outros e
deixa que o seu comportamento seja influenciado por ela, esta
miséria ganha um significado.
Nathan pensou que estas palavras eram semelhantes às que Simon
dissera durante as inundações no Bangladesh.
─ Como é que eu posso dar significado a esta miséria?
─ A dor de outra pessoa permite-nos crescer em humildade,
coragem, generosidade e amor. Essas são as características
necessárias para nos modificarmos e para podermos modificar a
vida à nossa volta.
─ Para podermos modificar a vida à nossa volta! Estas últimas
palavras retiniam nos pensamentos de Nathan.
─ E a dor, o sofrimento e até mesmo a morte são realmente
necessários para isto?
─ A vida não é só um elo entre os vivos, mas sim entre os vivos, os
mortos e os que ainda irão nascer. A morte ajuda-nos a ganharmos
consciência da nossa existência. Se vivêssemos para sempre, então
nem sequer seríamos capazes de experienciar a nossa existência.
Para Nathan, esta era uma nova visão da morte.
─ Vamos deixar a morte de lado por algum tempo e já voltamos a
ela. Por enquanto, lembre-se que só deve tentar mudar aquilo que
lhe é possível mudar e que deve aprender a aceitar o restante, mas
para isso é preciso aprender a distingui-los.
150
Mais uma vez Nathan reconheceu aquele tom de voz sábio e
ganhou mais confiança nas palavras de Songo. Os dois homens
fizeram então uma longa caminhada pelo desfiladeiro.
151
Memória
─ Já conhecemos diversos médicos estrangeiros. - disse Nathan. O que me pergunto sempre é qual é a verdadeira força que os
impele a abandonar as suas vidas prósperas para virem trabalhar
em circunstâncias tão deploráveis?
─ Normalmente eles querem dar um melhor uso aos seus
conhecimentos e em troca ganham uma maior capacidade de
empatia. - respondeu-lhe Songo.
─ Os médicos modernos não têm empatia suficiente?
─ Muitos médicos, cuja educação tem por base a medicina
moderna, sabem pensar muito bem, mas normalmente não sabem
como sentir!
─ Então o que é que lhes falta?
─ Falta-lhes a percepção de que curar alguém também ajuda a
expandir a sua própria consciência.
─ De que forma?
Songo manteve-se em silêncio para dar mais força às suas palavras.
─ Curar permite a alguém chegar mais perto do seu âmago. Em
alguns casos podemos até ajudar alguém a lembrar-se de quem é na
realidade.
─ Quer dizer com isso que dessa forma as pessoas são ajudadas a
descobrir o verdadeiro destino da sua vida?
Songo olhou Nathan com admiração e ficou em silêncio. Estava
impressionado com a capacidade de Nathan para estabelecer as
ligações certas.
─ Não podia ter dito as coisas de melhor forma.
Algumas semanas mais tarde, Songo foi abordado por um
conhecido médico da cidade de Bloemfontein. Tinha surgido uma
epidemia numa tribo. A doença era considerada muito perigosa e já
tinham perecido várias pessoas por causa dela. Songo e Nathan
decidiram ficar lá durante algum tempo e oferecer a sua ajuda.
Durante esse tempo, Nathan viu morrer muitas pessoas. Pouco
tempo depois de um outro homem morrer, na presença da mulher e
dos filhos, Songo levantou-se e disse à viúva:
─ Hoje é um novo começo!
Com estas palavras Songo virou-se e saiu. Nathan sentiu muita
compaixão pela viúva e abraçou-a. Ele ficava sempre
152
profundamente comovido quando alguém morria, enquanto Songo
parecia lidar mais facilmente com a situação.
─ Não deveríamos ter-lhe dito algo mais? - perguntou Nathan em
seguida.
─ Quanto mais palavras usamos, menos significado têm. respondeu Songo.
Nathan sabia que Songo tinha uma ideia invulgar da morte. A
última vez que tinham falado a respeito, Songo apenas tinha
aflorado o assunto. Nathan achou que era o momento apropriado
para voltar a falar dele.
─ Na sua ideia, o que acontece quando esta vida termina?
Songo observou Nathan atentamente e conseguiu ver todas as
questões que lhe passavam pela mente.
─ A importância destas questões requer tempo para podermos
discutir o assunto.
Songo apontou para uma grande árvore no alto de uma colina.
─ Vamos sentar-nos à sombra daquela árvore, vai manter-nos
frescos. O que vai ouvir não passa das convicções de um velho,
que baseia as suas conclusões numa vida dedicada à extensão da
existência atual e, consequentemente, ao adiamento do que vem
depois. ─ É isso que aumenta ainda mais o meu interesse nas suas
convicções.
─ Podemos separar as pessoas que necessitam de cura em três
grupos. Em relação às pessoas do primeiro grupo, o tempo ainda
não decidiu enviar-lhes a morte. Para curá-las basta conhecimento
e experiência.
─ O tempo?
─ É o tempo que decide quando é que a morte pode dançar.
─ A morte sabe dançar?
─ De fato, é o que ela faz quando lhe é permitido chegar a alguém.
─ Dançar? Mas não é uma ocasião alegre.
─ Isso é a realidade para os sobreviventes, mas para os que partem
significa libertação.
Nathan percebeu que Songo tinha mais uma vez escolhido um
simbolismo invulgar para facilitar a compreensão de assuntos
complicados.
─ Então e o segundo grupo?
─ O segundo grupo já não pode ser salvo para esta existência,
porque o tempo assim o decidiu.
─ Mais uma vez, é o tempo que decide.
153
─ O tempo tem essa responsabilidade! É por essa razão que apenas
podemos reagir com humildade, tal como aconteceu há pouco com
aquele homem. Nunca nos podemos esquecer que o tempo sabe
mais que nós.
─ Agora começo a perceber um pouco melhor porque é que a
chegada da morte é aceite por si de forma mais fácil.
Songo acenou de forma afirmativa e manteve-se calado.
─ Também falou de um terceiro grupo? - perguntou Nathan.
Songo continuou sem dizer nada e o seu olhar perdia-se na
distância. Observando Songo, Nathan soube que ele tinha que se
concentrar no que se seguiria.
─ Foi ao orientar as pessoas do terceiro grupo que reuni a
sabedoria necessária para utilizar em pleno as minhas capacidades.
─ Foi graças a eles que encontrou o verdadeiro destino para a sua
vida?
Songo acenou mais uma vez, confirmando assim a Nathan que lhe
iria revelar a sua verdadeira missão.
─ Quando existe suficiente força de vontade, é possível convencer
o tempo a ser paciente.─
─ Pode explicar melhor?
─ Em casos muito especiais o tempo pode mandar recuar a morte!
─ E quando é que o tempo abre uma exceção?
─ Quando o tempo vê que a pessoa, pela sua experiência, ainda
tem possibilidade de completar a sua verdadeira missão.
Nathan compreendeu assim aquilo a que Songo dedicado toda a
sua vida. Compreendeu que tipo de competências é que Songo
tinha desenvolvido e em que medida ele sentia de forma consciente
a natureza. Agora Nathan tinha curiosidade em saber o que é que
estas experiências lhe podiam ensinar.
─ As pessoas mudam por causa destas experiências?
─ Elas regressam com um enorme sentimento de responsabilidade
para com o desenvolvimento dos seus talentos nunca aproveitados.
─ Elas alguma vez falam sobre o que sentiram quando a morte veio
para levá-los?
─ Cada pessoa descreve a experiência de forma diferente, mas
todos falam de uma terra de um esplendor radioso, onde se sentiam
completamente incluídos.
─ E o que nota nestas pessoas depois de passarem por tal
experiência?
─ Muitas delas mudam as suas vidas drasticamente. Consideram
esta experiência como um renascimento espiritual. Conseguem
154
reconhecer a harmonia natural e têm um sentimento de união muito
mais forte em relação às outras pessoas e ao universo.
Nos dias que se seguiram, a equipe de médicos trabalhou
arduamente. Conseguiram controlar por completo a epidemia.
Regressou um período de calmaria. Nathan sentia agora a morte de
forma diferente, mas continuava a ter dúvidas sobre o sofrimento
desmedido. Na última noite que passaram em Bloemfontein, ele
falou com Songo sobre isso mesmo.
─ A dor não é um prejuízo para a humanidade?
Na realidade, a dor é necessária ao nosso desenvolvimento pessoal.
Ensina-nos a distinguir sentimentos diferentes.
─ Quer dizer que temos de sofrer?
─ Estava a falar de dor, não de sofrimento.
Este comentário surpreendeu Nathan.
─ Então a dor não é o mesmo que o sofrimento?
─ A dor é algo que nos indica uma falta de harmonia, uma falta de
equilíbrio que necessita de ser restaurada.
─ Então o que é o sofrimento?
─ O sofrimento é um problema cerebral que tem origem na
necessidade emocional de escapar à dor. Se compreendêssemos
realmente a natureza da dor, não existiria sofrimento.─
Isto era algo novo para Nathan. E esta afirmação tornar-se-ia mais
clara nos meses seguintes. Nathan ficaria a conhecer vários
sintomas emocionais e físicos de doença e veria como Songo
normalmente conseguia ajudar os pacientes com sucesso.
Entretanto Nathan também se tornou um ajudante experiente e
chegou mesmo, em várias ocasiões, a tratar sozinho algumas
pessoas. Desta forma, aprendeu a ter consciência do fato de existir
sempre algo de positivo e algo de negativo em tudo. Aprendeu,
especialmente, a distinguir entre as coisas que ele não podia
influenciar e as que podia mudar. O que mais o impressionou foi a
força de vontade de alguns pacientes. Muitos deles mencionavam
um poder superior que os ajudava a prosseguir mesmo quando
existiam retrocessos e obstáculos.
Numa das conversas com Songo falou deste assunto.
─ É impressionante aquilo que as pessoas conseguem atingir
quando têm uma enorme força de vontade!
─ Não só a consciência, mas também a maior percepção têm uma
enorme influência na nossa existência. A força de vontade pode
despertar aquilo que está fora do consciente.
155
Nathan tinha aprendido com Songo a distinguir o consciente do
subconsciente. Ainda não tinha falado com ele sobre a percepção
superior e queria saber a sua opinião sobre o assunto.
─ O que significa para si a percepção superior?
Songo olhou para Nathan e respondeu de forma séria.
─ Os meus antepassados ensinaram-me que a percepção superior
ilumina a escuridão e traz as sombras para a nossa vida. A
percepção superior refere-se àquilo que não percebemos ainda, mas
a que temos acesso através da intuição e dos sonhos.
─ E de que forma é que esta percepção superior influencia o
processo de cura?
─ Através da sabedoria instintiva do nosso corpo, que conduz os
processos e as energias dentro de nós.
─ Quando prescreve exercícios de meditação, é para que as
pessoas aprendam a compreender melhor estes processos?
─ Quando estamos seriamente doentes, é necessário
familiarizarmo-nos com o mundo da percepção superior. Dessa
forma podemos ver quais são os elementos que estão a perturbar a
nossa harmonia natural e podemos influenciá-los.
─ Como é que podemos influenciar esses elementos?
─ Através da nossa força de vontade!
─ A nossa força de vontade permite-nos sofrer menos?
─ Está a referir-se à nossa conversa sobre a diferença entre dor e
sofrimento?
─ Nessa altura percebi que a dor é um fenômeno físico ligado ao
nosso sistema nervoso, mas que o sofrimento é um sentimento
baseado no significado que damos à dor.
─ Exatamente. Ora, a nossa força de vontade ajuda-nos a
interpretar esse sentimento de dor da forma correta.
─ Então, quer dizer que o fato de sofrermos ou não depende da
nossa força de vontade?
─ Agora já lhe é possível compreender que a nossa felicidade
como um todo depende completamente da nossa força de vontade.
Nathan apercebia-se cada vez mais da grande importância das
mensagens de Songo. As semanas passaram e Nathan foi
compreendendo como é que cada vez mais pessoas em África se
deixavam guiar pelos sentimentos e não pelo intelecto para tomar
decisões. Isso fê-lo pensar. Ele e Songo falavam sobre isso com
frequência. Songo acreditava que se devia encontrar um equilíbrio
entre a lógica, que ele designava como sabedoria externa, e a nossa
capacidade intuitiva, que ele designava como sabedoria interna.
156
Num belo entardecer, estavam sentados no jardim e Songo decidiu
clarificar a sua posição.
─ É preciso viver sentindo, mas também pensando.
─ Não é perigoso deixarmo-nos guiar demasiado pelos nossos
sentimentos?
─ Temos que ter a certeza que os nossos sentimentos são
determinados por nós próprios e não pelos outros, porque apenas a
sabedoria vinda do nosso interior nos pode dar as indicações
corretas.
─ Como é que podemos distinguir entre a sabedoria interna e a
sabedoria externa?
─ Deixando-nos guiar pelas percepções da nossa capacidade
intuitiva. Estas percepções estão em harmonia com o nosso
verdadeiro destino de vida.
─ E isto é algo de que o nosso pensamento lógico não tem
conhecimento?
─ A sabedoria interna permite-nos perceber a verdadeira dimensão
da percepção superior.
─ O poder da percepção superior está dentro de nós?
─ Claro, todos temos acesso a uma quantidade misteriosa de
sabedoria. Cada um de nós pode permitir a esta informação fluir
através de si próprio. A única coisa que temos de fazer para nos
apercebermos disso é prestar atenção suficiente.
─ No Marrocos, um amigo disse-me que, quanto melhor
conhecermos o silêncio, mais percepções de sabedoria interna
chegam até nós.
Songo mostrou-se interessado e pediu a Nathan que lhe contasse
mais sobre as suas experiências no Marrocos. Nathan contou-lhe as
suas aventuras, desde a sua chegada a Tânger até a sua partida de
Casablanca.
157
Vigilância
Songo escutara-o com atenção. A sua atenção fora captada,
sobretudo pelos acontecimentos durante a estadia de Nathan no
deserto.
─ Então já tinha tido contacto com a consciência superior. Esse
mundo não está escondido no deserto, está dentro de nós. Os seus
amigos usaram uma técnica ancestral para descobrir o poder, a
magia e o mistério dentro de cada um.
Songo fez uma pausa.
─ No entanto, é preciso estar sempre atento a pessoas que apenas
aparentam guiar-nos para o nosso poder interior. Nem todos terão
as mesmas intenções sinceras que os seus amigos no Marrocos.
Este foi o impulso necessário para Songo aceitar assistir a uma
grande convenção dita espiritual. Ele queria confrontar Nathan
com os perigos da doutrina e dos cultos de massas. A convenção
teve lugar fora da Cidade do Cabo, num local onde habitualmente
se realizavam grandes eventos. Nesse dia, milhares de pessoas
tinham-se reunido em frente a um enorme palco onde os oradores,
caracterizados por Songo como feiticeiros competentes, iriam
discursar. Enquanto aguardavam o primeiro orador, Nathan e
Songo conversaram com várias pessoas entre a multidão. Nathan
estava espantado com a percepção unilateral da vida que tinham
todas as pessoas com quem falava. Era meio-dia quando o primeiro
orador começou a falar. Seguir-se-iam quatro outros oradores.
Nathan e Songo escutaram atentamente as palestras. Nathan estava
sobretudo interessado no efeito das palavras sobre o público.
Quando o último orador terminou de falar, demorou muito tempo
até Nathan e Songo conseguirem afastar-se da multidão. Não se
apressaram e aproveitaram a oportunidade para inquirir sobre as
conclusões a que tinham chegado as outras pessoas presentes.
Porque ia escutando asserções pouco racionais, Nathan ia ficando
cada vez mais consciente dos perigos para os quais Songo o tinha
avisado. No momento em que chegavam ao carro, a atenção de
Nathan desviou-se para um pôster colorido com fotografias de
grupos musicais de diferentes pontos do globo. O pôster anunciava
um festival de música mundial que iria ter lugar na semana
seguinte. Songo observou-o com interesse e disse que o espetáculo
158
era prometedor. Nathan ficou imediatamente entusiasmado e
estava ansioso por ir.
A caminho de casa, Nathan e Songo conversaram sobre as suas
conclusões relativas à convenção.
─ Qual é a sua opinião sobre as palestras? - perguntou Songo.
─ Senti-me quase como uma testemunha de um roubo do
pensamento individual.
Songo admirou a forma como Nathan jogou com as palavras e
sorriu.
─ Também reconheceu o método utilizado?
─ Os oradores conquistaram as emoções dos ouvintes através da
forma como anunciavam as suas afirmações. Parecia uma forma de
hipnose coletiva!
─ De fato, o seu objetivo é sobrepor-se ao medo e à alegria dos
seus seguidores. Eles sabem que estes sentimentos são reforçados
pelo grande número de pessoas presentes.
Houve um momento de silêncio. Nathan apercebia-se cada vez
mais do perigo de que Songo estava a protegê-lo. Ao mesmo
tempo havia algo que o preocupava. Ele percebeu que a
humanidade não estava a ser protegida deste perigo.
─ Todas as pessoas com quem falamos, - disse Nathan - sujeitamse sem questionar o que lhes é ensinado.
─ Do que é que se recorda das nossas conversas entre a multidão?
─ Para essas pessoas a vida espiritual consiste sobretudo em
cumprir obrigações que lhes são impostas. O comportamento da
maior parte dos seguidores é semelhante ao dos animais que vivem
em manada. Seguem o líder e fazem aquilo que a manada fizer.
Nathan e Songo chegaram a casa. Apesar de ser bastante tarde,
estavam bem-dispostos e sentaram-se no jardim. Songo preparou
bebidas e petiscos para os dois e passaram algum tempo a
conversar. Songo conhecia as ideias de Nathan relativamente à
última conversa que tinham tido e voltou a tocar no assunto:
─ Percebi que estaria a ponderar as consequências de tal forma de
doutrina aplicada em larga escala.
─ Temo que, quando as pessoas deixarem de pensar
individualmente, uma forma crítica de pensamento se torne
impossível.
─ E que consequências pensa que isso poderia ter?
Nathan reconheceu o método de trabalho do próprio pai na
pergunta de Songo. Esta forma de abordar os problemas permitialhe utilizar a sua capacidade de raciocínio ao máximo para poder
159
descobrir verdades importantes. E também significava que Songo
se preparava para lhe dizer alguma coisa de muito importante.
Nathan pensou um pouco e depois disse as seguintes palavras:
─ Essas mesmas pessoas deixam de poder pensar de forma
independente sobre o que é melhor para elas. Passam a comportarse de acordo com as expectativas de outrem e a responder pelo seu
comportamento utilizando argumentos pré-determinados.
─ Nathan, - disse Songo num tom de voz muito sério - aquilo de
que fala é exatamente a base para a falta de harmonia na Terra!
Seguiu-se um momento de silêncio e depois Songo falou num tom
mais suave.
─ Que tipo de sentimento é que estas ideias evocam em si, Nathan?
─ Um sentimento de injustiça para com todas as vítimas e para
com as vítimas que estas, por sua vez, provocam.
─ E que mais sente?
─ Sinto o que costumo sentir em relação à injustiça. Quero evitar
que aconteça!
Songo pousou a mão no braço de Nathan e falou de novo num tom
sério. Este olhou para Songo e percebeu que se aproximava o
momento de escutar uma mensagem muito pessoal.
─ Só podemos lutar contra uma corrente muito forte se formos
acompanhados de coragem. A coragem é resistente, tem esperança
e deposita uma confiança interminável num resultado favorável!
As palavras de Songo tiveram em Nathan o mesmo efeito que
tinham tido as que escutara de Sanah. O seu poder de criação
manifestava-se agora para reforçar a importância desta mensagem.
─ Não o demonstrei de imediato, mas apercebi-me do seu caráter
excepcional desde o nosso primeiro encontro!
Nathan meditou sobre estas palavras durante um momento.
─ E veio ter comigo nessa altura?
─ As esculturas de Sophie é que me levaram até si. Quando o vi,
reconheci o seu âmago de imediato.
Songo ainda apertava o braço de Nathan e as suas palavras
penetraram no mais fundo de si. Nathan deixou as palavras de
Songo percorrerem-no.
─ O meu âmago, o meu caráter excepcional? E Nathan perguntou
ainda - Pode falar-me um pouco mais sobre isso?
A princípio, Songo hesitou, mas depois prosseguiu.
─ O seu íntimo é o símbolo da pureza e da receptividade. Por causa
dele, vai sempre sentir a necessidade imperativa de libertar as
pessoas com quem se cruza.
160
Instalou-se um silêncio e Songo largou o braço de Nathan.
Um turbilhão de pensamentos enchia a mente de Nathan. Tentava
recordar todas as conversas que tinha tido com as pessoas que se
tinham apercebido do seu caráter excepcional. Songo deu a Nathan
algum tempo para pensar.
─ Mencionou um resultado favorável. - prosseguiu Nathan - A que
se referia exatamente?
Songo levou algum tempo a estruturar uma resposta adequada.
─ Desde a sua mais tenra juventude, já sabia que todas as coisas
fazem parte de um todo. Depois aprendeu que todas as coisas
contidas neste todo consistem em energia. Entretanto foi
compreendendo melhor a forma como essas energias se interrelacionam. O próximo passo na sua jornada irá permitir-lhe
vislumbrar aquilo que constitui o tecido envolvente deste todo!─
Nathan refletiu sobre isto.
─ Está a referir-se ao poder que mantêm tudo coeso?
─ No decurso da sua jornada futura, mantenha-se sempre atento,
receptivo e acessível. Tudo o que necessitar de ser esclarecido, sêlo-á.
─ Porque é que ainda não se tornou tudo claro para mim?
─ Só tenho mais um conselho para lhe dar. Abrace a paciência e
tolere a ignorância e irá experimentar a iluminação!
Esta conversa com Songo tinha sido, sem sombra de dúvida, a mais
intensa desde que Nathan conhecera este sábio homem. Ele sabia
que a tarefa de Songo estava terminada. Graças a ele, Nathan tinha
agora uma visão muito mais alargada do seu objetivo de vida.
Tinha recebido as lições necessárias e podia agora seguir o seu
caminho.
Uma semana mais tarde, Nathan foi ao festival mundial de música.
Estava um dia fantástico. O programa incluía grupos musicais de
todos os continentes. O público cantava e dançava alegremente ao
ritmo das músicas. Estavam todos com ótima disposição. Ao final
da tarde atuou um grupo de dança latino-americano. Era uma
mistura de bailarinos brasileiros e caribenhos. Nathan, como fã de
dança que era, apreciou a performance pelo seu valor e ficou
encantado com a coreografia. Era uma atuação enorme que fazia os
diferentes estilos entrelaçarem-se de forma harmoniosa uns com os
outros. O fato de os estilos de dança latino-americana apresentados
terem as suas origens em África foi expresso de forma belíssima,
para grande alegria do público.
161
Mais tarde nesse dia, Nathan dirigiu-se a uma das barraquinhas de
comida. Estava na fila à espera de ser atendido e reparou que as
duas raparigas atrás dele faziam parte do grupo de dança que o
tinha impressionado. Deduziu que vinham de Cuba, por causa da
pronúncia espanhola. Aproveitou a oportunidade para felicitá-las
pela atuação. As raparigas agradeceram-lhe, mas sublinharam que
o mérito pertencia à coreógrafa argentina e que era ela quem
merecia as maiores felicitações. Quando finalmente chegou a vez
de Nathan, ele pediu a sua refeição e foi procurar um sítio para se
sentar. As duas raparigas seguiram-no e convidaram-no a juntar-se
a elas à mesa. Aceitou o convite e foi com elas. Apresentaram-no a
outros bailarinos e bailarinas do grupo e à coreógrafa, Catalina.
Nathan felicitou todo o grupo e sentou-se em frente a Catalina. Ela
tinha cerca de quarenta anos e um corpo belíssimo e em forma.
Catalina olhou Nathan de forma intensa: aparentemente a sua
aparência também não tinha deixado de provocar alguma reação.
─ Fala um espanhol muito fluente. - disse ela - É de onde?
─ O meu pai é espanhol e eu próprio estive muitas vezes em
Espanha.
─ Ouvi dizer que tinha gostado muito da nossa atuação. Estou
muito orgulhosa dos meus rapazes e raparigas. Eles trabalharam
muito para chegar até aqui.
─ E pode estar orgulhosa de si também. Achei fantástica a forma
como juntou os diferentes estilos num todo harmonioso.
─ Obrigada...
Catalina, que parecia um pouco confusa, pediu licença e saiu da
mesa.
─ Volto já!
Um dos bailarinos falou.
─ Catalina é uma coreógrafa formidável, mas acima de tudo é um
ser humano fantástico. Tem a capacidade de despertar nas pessoas
o que elas têm de melhor.
Depois uma bailarina comentou:
─ Durante os nossos ensaios a Catalina sublinha sempre que é
preciso construirmos os nossos movimentos com aquilo que
sentimos no nosso íntimo e que assim conseguimos descobrir a
riqueza infinita que existe dentro de nós.
Outra bailarina acrescentou:
─ As palavras dela dão-nos tanta energia e autoconfiança!
O bailarino retomou a palavra:
162
─ No México só ensaiamos cerca de duas semanas, mas temos
feito enormes progressos todos os dias.
─ No México? - perguntou Nathan.
─ A escola de dança da Catalina é na Cidade do México. Tivemos
todos a oportunidade de trabalhar com ela.
─ Infelizmente, o nosso conto de fadas está a chegar ao fim.
Outra bailarina ainda acrescentou:
─ Aprendemos todos muito, tanto a nível profissional, como a
nível pessoal. Em pouco tempo a minha vida mudou realmente por
causa disto.
Nathan conseguia sentir o quanto os bailarinos admiravam Catalina
e como estavam tristes por aquela aventura em conjunto terminar
em breve. Para eles, ela tinha-se tornado uma espécie de figura
maternal. Percebeu que eles tinham passado um tempo
maravilhoso. Em poucas semanas, Catalina tinha conseguido criar
um forte vínculo entre ela e os bailarinos. Catalina voltou e sentouse novamente. Nathan apercebeu-se que ela estava preocupada com
alguma coisa e tentou distraí-la dos seus pensamentos.
─ Catalina, só ouvi elogios e reconhecimento pelo seu trabalho. A
alegria que todos estão a sentir parte de si.
Tal como os outros, Catalina também estava emocionada por causa
de o conto de fadas se aproximar do fim.
─ Eles são todos uns queridos. - disse ela - Nunca vamos esquecer
esta experiência!
Todos os bailarinos concordaram: Nunca vamos esquecer!
Catalina perguntou então a Nathan por que razão estava ele na
África do Sul. Ele contou-lhe sobre a sua jornada e todos os
membros do grupo escutaram atentamente.
Depois da refeição, Catalina convidou-o a ficar com eles durante o
festival. As atuações iriam continuar toda a noite. Entretanto,
Nathan e Catalina foram-se conhecendo melhor. Demonstravam
um interesse óbvio um pelo outro. Quando se separaram no fim do
festival, Catalina convidou Nathan a ir ao México.
─ Os caminhos secretos da paixão não podem estar ausentes da tua
jornada!
Nathan ficou com os contactos dela e prometeu pensar no assunto.
Já em casa, Nathan contou a Songo o que se tinha passado durante
esse dia.
─ Que acha? - perguntou a Songo, curioso por saber a sua opinião.
─ Tudo o que lhe é revelado traz a vida, Nathan.
─ Acha que seria correto aceitar o convite dela?
163
Songo percebeu pelo entusiasmo de Nathan que uma resposta não
seria necessária.
─ Se no seu íntimo a decisão já está tomada, está nas mãos do
tempo a escolha do momento em que dará a conhecer essa mesma
decisão.
Nathan estava já tão acostumado à invulgar construção de frases
por parte de Songo que compreendeu de imediato o que ele queria
dizer. No dia seguinte, Nathan foi ao hotel onde estavam alojados
Catalina e os bailarinos e comunicou-lhes a sua decisão. Nathan e
Songo despediram-se no Aeroporto da Cidade do Cabo algum
tempo antes do início do Ano Novo. Nathan agradeceu e prometeu
a Songo manter o contacto. Iria ser uma longa viagem, com muitas
paragens pelo meio.
164
-6Energia Motriz
165
166
Abertura
Nathan chegou à capital mexicana. O Natal estava para chegar, e
isso era visível nas ruas. Nathan apanhou um táxi e deu ao
motorista o endereço da escola de dança de Catalina. A viagem foi
longa, mas isso não incomodou Nathan. Pelo contrário, dava-lhe a
oportunidade de descobrir um novo mundo no seu tempo livre. Era
a sua primeira viagem à América Latina e ele reparou
imediatamente no trânsito caótico e nas inúmeras estradas que se
entrecruzavam na metrópole. Por todo o lado ouvia clamores
agitados e vozes altas. O táxi parou finalmente na Praça da
Constituição, a grande praça central da cidade. O motorista disselhe que não podia chegar com a viatura à viela onde ele pretendia
ir. Por isso, Nathan teve de sair na praça. Pagou ao motorista e
retirou as suas malas da bagageira.
Na Praça da Constituição Nathan viu um homem com traços de
índio e um longo cabelo grisalho preso em um rabo-de-cavalo.
Estava sentado em uma cadeira e, à sua frente, homens e mulheres
esperavam em fila. Quando chegava a sua vez, o homem girava em
torno deles, balançando um incensário aceso sobre as suas cabeças.
Depois aspergia-lhes a cabeça com um líquido e por fim entregavalhes um pedacinho de papel. O homem com aspecto de índio
reparou em Nathan e manteve o seu olhar sobre ele enquanto
prosseguia o ritual. Nathan continuou a andar e reparou que o
homem o observava. Apesar de querer continuar, decidiu-se a
parar. O fato de o homem continuar a olhá-lo tinha-lhe aguçado a
curiosidade. E, de qualquer forma, ele queria saber que estranha
atividade era aquela. Já tinha, portanto, duas razões para parar.
Nathan caminhou em direção ao homem e colocou-se na fila.
Demoraria algum tempo, mas ele estava disposto a esperar.
Enquanto aguardava a sua vez, Nathan suspeitou que o homem não
pudesse falar. Também reparou que o homem se comportava como
um cego, o que o intrigou porque ele tinha a certeza que o homem
o observara durante um bom bocado.
Quando chegou a sua vez, Nathan disse:
─ Queria perguntar-lhe uma coisa, mas não sei se consegue falar.
─ Porque pensa tal coisa?
─ Porque ainda não tinha proferido qualquer palavra... perdoe-me.
167
─ Sou bastante moderado com as palavras, porque conheço a sua
influência. Para si, abro uma exceção... porque é movido por algo
que a maioria dos adultos já perdeu!
─ E o que é?
─ O que o trouxe até mim foi a curiosidade, acompanhada de
paciência.
─ Queria saber exatamente o que o senhor estava a fazer.
─ As pessoas procuram-me porque eu sei coisas que elas não
sabem!
Estas palavras tornaram Nathan mais cauteloso. Perguntava-se se o
homem seria um impostor.
─ E o que vê?
─ Vejo a excepcionalidade.
Nathan fixou o homem. Mais uma pessoa que o via como tendo um
caráter excepcional. As suspeitas de Nathan dissiparam-se quando
ouviu estas palavras, ao mesmo tempo em que a sua curiosidade se
adensava.
─ Pode descrever exatamente o que vê quando olha para mim?
O homem fez uma pausa e procurou as palavras certas para
descrever o que via.
─ Vejo uma corrente que flui, capaz de absorver forças contrárias,
de convertê-las e fazer mudar de direção.
─ De que forças contrárias está falando?
─ Falo dos limites da energia motriz!
Entretanto, Nathan compreendera que o homem cego possuía a
capacidade de ver o mundo de outra forma. Ao desenvolver a sua
capacidade e debater as suas descobertas, o homem tinha
encontrado o sentido superior da sua vida. Nathan sentiu crescer a
sua confiança neste homem.
─ Desculpe, mas pode explicar-me mais especificamente o que
quer dizer com forças contrárias e limites da energia motriz?
─ Como poderia eu levar a mal o seu interesse nas minhas
palavras? É graças à sua curiosidade que podemos compreender o
sentido destes momentos em que estamos juntos!
Mais uma vez, o homem demorou algum tempo para clarificar os
seus pensamentos. Era óbvio que ele experienciava profundamente
a vida e que, tal como Songo, tinha desenvolvido uma linguagem
rara para mostrar a sua perspectiva da vida. Por experiência
própria, Nathan sabia que graças a este encontro teria a
oportunidade de recolher informações valiosas para o seu
desenvolvimento pessoal.
168
─ Falo das limitações físicas, mas, sobretudo das emocionais, com
as quais cada um de nós veio à Terra.
Nathan refletiu sobre estas palavras por uns momentos e estava
agora curioso em relação ao significado de ‘energia motriz’.
─ Posso pedir-lhe que clarifique o que quer dizer com energia
motriz?
─ A energia motriz é a mãe de todas as energias, o poder que tudo
controla!
─ E as limitações impedem-nos de deixar fluir a energia motriz?
O homem confirmou-o, acenando com a cabeça.
Nathan precisou de alguns momentos para organizar as suas ideias.
Subitamente, estas se tornaram muito claras. Sem dúvida que a
energia motriz de que o homem falava era o ‘poder interior’ de que
falava o seu pai, ‘o conhecimento superior’ de Simon, ‘o mistério
maravilhoso’ de Pablo, ‘o poder criador’ de Adnan e a ‘harmonia
natural’ de Songo.
─ Então, o que me diz é que eu tenho a capacidade de permitir que
a energia motriz flua através de mim?
─ Toda a gente tem essa capacidade e pode mudar as coisas devido
a ela. Mas, quando uma pessoa tiver reunido conhecimento
suficiente, irá impulsionar uma das maiores mudanças de sempre.
É essa a excepcionalidade que cresce dentro de si.
Nathan sentiu o forte poder das palavras que acabava de ouvir.
Ainda que o homem não lhe tivesse sequer tocado, o significado
das palavras penetrou-o profundamente, tal como o haviam feito as
palavras de Sanah e de Songo. Percebeu que estava agora ainda
mais preparado para reconhecer palavras valiosas... "Uma das
maiores mudanças de sempre..."
─ Desfrute da sua estadia no México. Tenho a certeza de que vai
gostar.
─ Como pode ter tanta certeza?
─ O poder que o trouxe aqui é o poder que toma decisões relativas
a todos os ímpetos... a paixão.
─ Obrigado por tudo. Sei que todas as suas palavras foram sinceras
e serão de grande importância para mim.
O homem despediu-se e Nathan pegou na sua bagagem. Voltou-se
e viu que não havia mais ninguém na fila. Seguindo o caminho
indicado pelo taxista, voltou-se uma última vez para olhar o índio,
mas este tinha desaparecido. Pouco depois, Nathan chegou à viela
onde ficava a escola de dança de Catalina. Viu um letreiro com o
nome da escola: "Sentimienta". Seguiu a direção indicada e
169
aproximou-se do edifício. Era um edifício antigo com uma bela
fachada. As portas e janelas estavam pintadas de cores vivas e o
nome da escola de dança podia ler-se no topo do edifício. Não
havia campainha, mas a porta de entrada estava entreaberta.
Nathan empurrou-a e parou na entrada, um longo corredor. De um
dos lados, viu uma escada larga.
No degrau do fundo estavam sentadas duas crianças pequenas, um
menino e uma menina, um ao lado do outro. Deviam ter uns cinco
ou seis anos. Nathan aproximou-se deles e perguntou por Catalina.
Viu então que a menina era cega. Repetiu a pergunta para o rapaz,
pois talvez ele pudesse saber. A menina fez sinal que ele também
não sabia e que, de qualquer forma, não o podia. De súbito, os
acordes de um tango soaram no andar de cima. Aparentemente
estava a começar um ensaio. De forma espontânea, a menina
beliscou o braço do menino e ele levantou-se de imediato.
Estendeu elegantemente o braço para a menina e pegou-lhe na
mão. Ela levantou-se também e ele tomou-a nos braços. Ao ritmo
da música, entregaram-se a belos passos de tango. Nathan
observava ternamente a forma como as duas crianças, apesar das
suas incapacidades, haviam descoberto uma extraordinária forma
de expressão.
Uma empregada de limpeza desceu as escadas e Nathan perguntoulhe se sabia onde podia encontrar Catalina. Ela respondeu que
naquela manhã Catalina estava na piscina, a orientar um grupo de
bailarinos aquáticos. A mulher olhou para o relógio e acrescentou
que ela não ia demorar. Nathan agradeceu e sentou-se nas escadas
a observar o jovem casal que dançava. Quando a música parou,
ambos se sentaram ao seu lado nas escadas. Nathan tirou um
pacote de waffles da mochila e ofereceu uma a cada um. Eles
agradeceram, presenteando-o com um lindo sorriso, e Nathan, por
sua vez, agradeceu-lhes a dança. Naquele momento, a porta abriuse e Catalina surgiu à entrada. Nathan e Catalina abraçaram-se; ela
estava visivelmente feliz por vê-lo. Agradeceu a sua vinda e viu
que ele já tinha travado conhecimento com as crianças. Disse-lhe
que a menina se chamava Lisa, e o menino Manuel. Explicou-lhe
que eles costumavam viver nas ruas e que ela já tomava conta
deles há dois anos. As crianças provavelmente nem se conheceriam
antes disso, uma vez que provinham de regiões diferentes. As suas
histórias eram, sem dúvida tristes, mas ao mesmo tempo muito
belas.
170
Catalina encontrara Lisa nas montanhas à saída da cidade. Tinha
sido abandonada aí à sua sorte e, quando Catalina a recolheu,
esperava conseguir alguma informação sobre os seus pais. No
mesmo dia, uma amiga de Catalina tinha aparecido trazendo
Manuel. Perguntou-lhe se poderia tomar conta dele por dois ou três
dias, até conseguir encontrar uma instituição que o recolhesse.
Disse-lhe que Manuel estava doente e que vivia nas ruas havia
muito tempo. O fato de ambas as crianças terem surgido na sua
vida no mesmo dia tinha sido um sinal para Catalina. Quando
soube que eram ambos órfãos decidiu adotá-los. Manuel e Lisa
acabaram por se tornar inseparáveis. Durante a semana dormiam
na escola de dança com Catalina e aos fins-de-semana ficavam em
casa dela, na cidade de Puebla. Catalina disse a Nathan para deixar
a bagagem numa das salas e propôs um passeio pela cidade,
também para comerem qualquer coisa. Manuel e Lisa
acompanharam-nos.
Nathan e Catalina passearam por um parque com belas esculturas e
bancos de jardim ao longo do caminho. Manuel e Lisa
caminhavam à sua frente, de mãos dadas com muito afeto.
Chegaram a uma grande fonte, com barraquinhas de comida em
redor, e aproximaram-se de uma das maiores, onde vendiam tacos
preparados na hora. Sentaram-se numa das bancadas e pediram
panquecas de milho com carne e vegetais.
─ O que existe entre Manuel e Lisa é absolutamente maravilhoso.
─ Há uma beleza maravilhosa em tudo, mas só alguns a
conseguem vislumbrar.
─ Vi-os dançar enquanto esperava por ti.
─ Foi na dança que encontraram uma forma de mitigar a sua dor.
Agora, são os protetores de "Sentimienta".
─ E o que significa "Sentimienta" para ti?
Catalina refletiu por uns momentos antes de responder.
─ "Sentimienta" é um templo musical onde posso alcançar o
significado da minha própria existência, e alimentar a minha
paixão e os meus sonhos. Um lugar onde toda a gente se sente
especial, onde os seus sonhos se podem tornar realidade e novos
sonhos podem nascer.
─ Foi o que vi durante o espetáculo em Cape Town, o fulgor
desses sonhos.
─ Nessa altura tive a oportunidade de reunir um grupo
maravilhoso. Muitos deles tiveram uma vida dura.
─ De onde surgiu a ideia de fundar a "Sentimienta"?
171
─ Sempre tive uma relação especial com a música e queria dar-lhe
um lar…
─ Em que é que essa relação é especial?
─ Desde muito cedo soube que encontraria a minha verdadeira
missão através da música. É difícil explicá-lo, mas na minha vida
aconteceram muitas coisas que tiveram a sua origem na música.
─ Catalina, porque é que a música consegue tocar-nos de forma tão
profunda?
─ A música é pura e só pode ser executada com uma sinceridade
pura. É uma das poucas formas de comunicação em que não podes
mentir.
─ A sinceridade pura tem qualquer coisa de espiritual.
─ É verdade, a música ajuda a que nos elevemos, pode permitirnos escapar à banalidade do dia-a-dia e levar-nos a ver como todas
as coisas estão interligadas.
Catalina percebeu que Nathan meditava sobre isto.
─ Posso contar-te um antigo conto índio sobre a música?
─ Sim, por favor. Sei que os contos índios contêm grande
sabedoria.
─ Dizem que no passado a música e as palavras eram unas, até ao
momento em que foi dita a primeira mentira. Desde então, a
música tenta reunir-se de novo com as palavras.
─ Bem, a música encontrou uma mensageira excepcional em ti,
Catalina.
Manuel e Lisa tinham acabado de comer os seus tacos e foram
brincar juntos nas imediações. Nathan e Catalina continuaram a
sua conversa.
─ Falávamos de sabedoria índia. Hoje testemunhei uma prova viva
dessa sabedoria.
─ Hoje?
─ Na Praça da Constituição.
Nathan descreveu em traços largos a sua conversa com o velho
índio. Enquanto falava, Nathan reparou na estranha expressão de
Catalina. Ela pediu-lhe que descrevesse detalhadamente o velho
índio e o local exato onde se haviam encontrado.
─ Enquanto conversavam, havia outras pessoas presentes?
─ Quando chegou a minha vez, já não havia ninguém atrás de
mim.
A curiosidade de Nathan tinha crescido, com todas as perguntas de
Catalina.
─ O que estava o homem a fazer antes de te aproximares dele?
172
─ Balançava um incensário e aspergia as pessoas com um líquido.
─ Viste mais alguma coisa?
─ Agora que penso nisso, ele deu a cada pessoa um pequeno
pedaço de papel, mas não a mim.
─ Vou dizer-te uma coisa, Nathan. No passado, o homem que
afirmas ter visto era frequentemente visitado por pessoas que
precisavam do seu conselho. Quase todos os dias ele podia ser
encontrado na Praça da Constituição, mas há um ano desapareceu
subitamente. Seria muito especial se o tivesses visto hoje.
─ Bem, hoje ele estava de volta à Praça.
─ E tens a certeza de que falou contigo?
─ Tenho, e acho que o homem foi muito sincero.
─ Não me espanta a sinceridade das suas palavras. O que me
espanta é o facto de ter falado contigo.
─ Não estou a perceber.
Catalina pegou nas mãos de Nathan.
─ Escuta-me, Nathan. Todas as pessoas que o procuram recebem
apenas um papel com as sábias palavras de que necessitam, porque
o homem nunca fala com ninguém!
Nathan olhou para Catalina e caiu num silêncio profundo.
─ Vou dizer-te uma coisa. Algo que nunca disse a ninguém.
Nathan escutava-a com absoluta atenção.
─ Uma vez ele também falou comigo!
Catalina inspirou profundamente.
─ Aconteceu no dia em que recebi notícias mesmo muito tristes, de
Buenos Aires, a cidade onde cresci na Argentina.
─ E quando foi isso?
─ Há três anos.
─ Que aconteceu?
─ Nesse dia, recebi a notícia que a minha mãe adotiva tinha
falecido e, tal como tu, fui passear pela Praça da Constituição. O
velho índio fez-me sinal para me aproximar e disse, literalmente,
as seguintes palavras: "Nada é permanente, exceto a mudança".
Ambos refletiram, tentando compreender as experiências um do
outro, até que Nathan confessou:
─ Eu tinha cinco anos quando fui adotado.
Catalina e Nathan olharam-se e, naquele momento, Catalina
confirmou o que já tinha sentido quando conheceu Nathan em
Cape Town. Instalou-se entre eles um profundo silêncio, até que
Catalina voltou a falar.
173
─ Acho que nos encontramos para aprendermos muito um com o
outro.
Olharam então para Manuel e Lisa, juntaram-se-lhes e regressaram
juntos para a escola de dança. Catalina tinha ainda mais uma
questão que a vinha a incomodar há já algum tempo.
─ Nathan, sabes que não existe nada mais em que eu encontre tanta
energia e inspiração como na música. Isso também acontece
contigo…?
Nathan parou, colocando o braço sobre os ombros de Catalina.
─ Catalina, o que tu sentes com a música, eu sinto com o mais
fluído dos elementos naturais.
Catalina acariciou afetuosamente a face de Nathan.
─ Água! Foi o que pensei.
Recomeçaram a andar.
─ A costa de Vera Cruz agradar-te-ia com toda a certeza. Uns
amigos meus têm lá uma casa à beira-mar. Vamos lá com
frequência. O Manuel e a Lisa adoram água.
Nos dias que se seguiram, Nathan ajudou nas atividades diárias da
escola de dança. Os professores de dança ensinavam diversos
estilos e Nathan participou em múltiplas lições e fez muitos
amigos. Os seus primeiros dias no México foram fantásticos.
Nathan via Catalina como uma irmã mais velha e aprenderam
imenso um com o outro. Ele partilhava o quarto com Manuel e
Lisa e os laços entre eles fortaleceram-se. Nathan adquirira o
hábito de ler para as duas crianças todas as noites, algo que eles
aguardavam sempre com grande impaciência. Lisa escutava as
palavras de Nathan e transmitia-as a Manuel em língua gestual.
Numa sexta-feira à tarde, Nathan, Catalina, Manuel e Lisa partiram
para a casa de Puebla. Regressariam à escola uma semana mais
tarde. Catalina e as crianças viviam numa casa antiga, mas
aconchegante, próxima do centro de Puebla. Depois de uma
refeição ligeira, mostraram a Nathan o centro da cidade dos anjos,
como era chamada. Puebla era conhecida, não só pelos seus anjos,
mas sem dúvida também pelos seus muitos artistas. Nathan adorou
as praças cheias de palmeiras, estátuas e inúmeros vendedores
ambulantes, e ficou muito impressionado com as casas de estilo
colonial decoradas com azulejos extraordinários.
174
Relação
Catalina era bastante conhecida, e muitas pessoas saudavam-na na
rua. Algumas mulheres dirigiam-se a ela e conversaram sobre os
seus problemas pessoais, geralmente questões de relacionamentos.
Nesses momentos, Nathan pedia desculpa e afastava-se para lhes
dar a privacidade de que necessitavam. Quando caiu a noite e
Manuel e Lisa já dormiam, Nathan quis saber por que razão as
pessoas procuravam Catalina para discutir os seus problemas
relacionais. Ela disse-lhe que uma vez tinha dados alguns
conselhos a uma vizinha e que aparentemente a notícia se tinha
espalhado.
Disse-lhe também que não eram só as mulheres que procuravam os
seus conselhos. Os homens também, embora não o fizessem em
público.
─ E que tipo de perguntas fazem?
─ Perguntas sobre problemas de várias ordens, mas geralmente a
questão de fundo é a mesma. Muitos tinham imaginado que as suas
relações seriam diferentes. Pensavam ter encontrado o verdadeiro
Amor graças ao seu parceiro ou parceira, mas com o tempo
desiludiram-se totalmente.
─ E quando é que sabemos que é Amor verdadeiro?
─ O Amor não é Amor verdadeiro se se transforma em sofrimento
quando as circunstâncias mudam!
─ O Amor não é sempre acompanhado de sofrimento dentro de
uma relação?
─ O sofrimento surge quando a relação nasce da necessidade.
Quando, inconscientemente, os parceiros querem possuir o outro e
mantê-lo sob controle. Essas relações são mantidas antes de mais
pela necessidade e depois pelo hábito, mas normalmente terminam
em solidão.
─ Ainda assim, muitas relações começam cheias de promessas.
─ No início de uma relação, os sentimentos de Amor são
inconscientemente associados à pessoa que começaram a conhecer.
─ Então esse Amor não é sincero?
─ O Amor está sempre presente em nós; não precisamos de
ninguém para senti-lo.
175
─ Mas não precisamos de outra pessoa para poder experienciar o
Amor?
─ Não precisamos perseguir ninguém, e certamente não
precisamos possuir ninguém para senti-lo. Muitos têm sido
condicionados pela ilusão de que outra pessoa lhes dará o Amor,
mas ninguém pode dar-nos aquilo que já temos.
─ Então o que significa para ti uma relação amorosa, Catalina?
Catalina refletiu por uns momentos, para encontrar palavras para a
sua resposta.
─ Amar é demorar o tempo que for preciso para conhecer bem a
outra pessoa e para continuar a conhecê-la, mas, sobretudo para
encontrar a paz com ela.
─ Então acho que tenho uma relação amorosa com Sophie.
Catalina sorriu.
─ Temos relações amorosas com todas as pessoas, Nathan. O que
torna tão especial a tua relação com Sophie é o fato de partilharem
uma maior intimidade.
─ Qual é o aspecto mais importante numa relação?
─ Ousarem sempre reconhecer a verdade do momento.
─ A verdade do momento?
─ Reconhecê-la-ás ao oferecer à outra pessoa a oportunidade de se
expressar, tanto em caso de discordância como de aprovação, em
caso de sofrimento como em caso de alegria.
Nesse dia, Nathan tornou-se ainda mais consciente da sabedoria de
Catalina. O seu encontro com ela reforçou a convicção de que
continuava a encontrar as pessoas certas para encontrar o
conhecimento de que necessitava no momento certo.
─ Catalina, sabias que nos encontraríamos?
─ Não, mas quando te vi pela primeira vez senti algo diferente.
Soube que o nosso encontro era especial e que havia uma razão
para ter acontecido.
─ E, na tua opinião, qual é essa razão?
─ Acho que nos encontramos para partilharmos os nossos
conhecimentos mais profundos. Ao partilharmos os nossos
conhecimentos interiores, aumentamos a nossa capacidade de
observação e dispomo-nos a ações ainda mais grandiosas.
Nathan achou este pensamento muito agradável. Dois dias mais
tarde, Catalina e Nathan partiram para a costa de Vera Cruz com
Manuel e Lisa. Catalina tinha conseguido as chaves da casa de
praia e iriam passar uns dias lá. Quando deixaram o vale de Puebla
em direção a Vera Cruz, atravessaram primeiro uma paisagem de
176
montanha e desceram depois para a costa, pelo Golfo do México.
Manuel e Lisa mal podiam esperar para mergulhar no mar com
Nathan. Assim que chegaram a casa, não demorou muito até se
encontrarem na água. Passaram horas na água e divertiram-se
muito. Catalina observava-os do terraço e só se lhes juntou mais
tarde. Ao cair da tarde, Nathan, Catalina e as crianças caminharam
ao longo do dique de Vera Cruz. A atmosfera estava animada,
revelando uma mistura de influências mexicanas e caribenhas. As
pessoas envergavam as suas melhores roupas e viam-se muitas
danças alegres nos terraços. Manuel e Lisa dançavam alegremente
no meio da multidão e as suas incapacidades passavam
praticamente despercebidas.
─ Estas duas crianças têm tanta alegria de viver! Disse Nathan.
Irradiam tanta felicidade! Parece que, por causa das suas
incapacidades, utilizam todos os seus talentos para se expressarem
de maneira diferente.
─ Foram capazes de desenvolver estes talentos porque seguiram a
sua energia motriz. Cada um de nós nasce com um motivo pessoal
para se tornar uma expressão única de vida.
─ Como podemos descobrir a nossa expressão única?
─ As primeiras memórias dos nossos sonhos são as que nos
encaminham para os dons que possuímos, de forma a realizar algo
único no mundo!
─ Porque é que tão poucos conseguem descobrir o seu verdadeiro
dom?
─ Para podermos realmente começar a procurar o nosso dom temos
que colocar um fim em tudo o que nos impeça de experienciar a
‘energia motriz’.
─ O velho índio também falou sobre ‘a energia motriz’. Disse que
era a mãe de todas as energias, o poder que tudo rege!
─ É a energia que é intensamente usada através do nosso Ser
interior. Quando deixamos esta energia conduzir a nossa vida,
compreendemos as indicações que nos ajudam na busca da nossa
expressão única. Tal como Manuel e Lisa perceberam que tinham
de se exprimir de uma forma diferente da linguagem falada.
Nathan compreendeu que Manuel e Lisa eram um exemplo vivo
daquilo que o velho índio lhe havia confidenciado. Possuíam uma
capacidade inata, e tinha aproveitado exatamente a sua
desvantagem como estímulo para deixar fluir a "energia motriz".
Agora que tinham superado esta limitação podiam continuar a
crescer e dar um novo sentido às suas vidas.
177
─ Há outra coisa que o velho índio me disse…
Catalina escutava atentamente.
─ De acordo com ele, eu possuo a capacidade, como ninguém mais
possui, de permitir que esta ‘energia motriz’ flua através de mim.
Depois de um silêncio, Catalina reagiu.
─ Isso confirma outra coisa que vi quando pela primeira vez te
sentaste à mesa, à minha frente. Tive visões momentâneas de água
corrente que inundava tudo e todos.
Manuel e Lisa aproximaram-se para irem todos dançar juntos no
bar da praia. Eles deixaram-se convencer e foram dançar com um
grupo de habitantes locais. Quando o sol se punha lentamente, a
música tornou-se mais calma. Todos haviam desfrutado
intensamente daqueles momentos. Catalina sentou-se numa das
cadeiras do bar da praia. Manuel e Lisa brincavam na areia com
outras crianças. Catalina viu Nathan imerso nos seus pensamentos
enquanto observava o mar calmo. Então, levantou-se e convidou-o
para um passeio em direção à água.
─ Estás a relacionar as novas informações com as antigas?
perguntou.
─ Sim, e algumas questões continuam a preocupar-me, respondeu
Nathan.
─ Conta-me, talvez possamos resolvê-las juntos.
─ Podes clarificar de que forma sentes ‘a energia motriz’?
Catalina refletiu por uns momentos antes de responder.
─ Precisas de saber que, até aos meus sete anos de idade, eu era
incapaz de falar.
─ É por isso que compreendes tão bem os mundos de Manuel e
Lisa.
─ Claro. E também tento levá-los a compreender o poder mútuo de
conexão entre todos os acontecimentos, através da música.
─ Também o descobriste através da música?
─ Foi, de fato, graças à música que muito cedo compreendi que
esta energia se manifesta através do nosso Ser interior. E
gradualmente cheguei a uma importante conclusão.
Nathan pressentiu que Catalina estava prestes a revelar algo de
grande valor para ele, e escutou-a com toda a atenção.
─ Compreendi que este poder tinha incontestavelmente de possuir
a memória do mundo.
─ A memória do mundo?
─ Vou tentar explicar da melhor forma que conseguir. Se existe um
poder que mantém unido tudo o que aconteceu no mundo,
178
podemos simplesmente afirmar que este poder tem o conhecimento
de que todas as experiências estão presentes em simultâneo e em
todo o lado.
Catalina esperou que Nathan refletisse sobre a importante visão
que partilhara com ele.
─ Quando me tornei consciente disto, passei a dar atenção às
mensagens que fluíam com o meu guia interior. Desta forma
desenvolvi uma confiança que se elevou acima do medo e da
ignorância.
─ E assim aproximas-te do teu coração?
─ Exatamente! No desenvolvimento em direção ao mais profundo
do meu ser, deixo espaço para que a ‘energia motriz’ desenvolva
os meus dons.
Nathan sabia que o medo e a ignorância eram as causas do que
Songo designava como falta de harmonia no mundo. Sabia que, se
todas as pessoas seguissem a voz do seu Ser interior, se
aproximariam dos seus corações e desenvolveriam também a sua
expressão única. A energia motriz seria capaz, inclusivamente, de
guiar toda a Humanidade para a harmonia perfeita.
─ Estou-te muito grato, Catalina. Fizeste-me compreender como
funciona o Universo a um nível mais profundo. Graças a ti serei
capaz de agir com mais coragem.
─ Sinto-me feliz por poder contribuir para a grande mudança de
que falou o velho índio.
Nathan olhou para Catalina e tomou a suas mãos.
─ Catalina, sabes mais acerca desta grande mudança?
─ Durante as minhas viagens a diversos locais vi como as pessoas
ansiavam por uma mudança profunda, mas nunca encontrei
ninguém com o potencial para efetivamente dar início a esta
mudança... Até te conhecer!
Quando Catalina proferiu as últimas palavras, aproximou-se uma
onda poderosa, e a água do mar tocou-lhes os pés.
─ Pelo menos sabemos nitidamente qual o poder que dirige o teu
percurso de vida!"
Nos dias que se seguiram, Nathan passou um tempo maravilhoso
em Vera Cruz com Catalina e as crianças. Quando chegou a altura
de regressar, Nathan disse-lhes que queria continuar a explorar o
país, e que regressaria à cidade do México dentro de algumas
semanas. Nathan seguiu de autocarro para Mérida, onde ficou
alguns dias. Daí partiu em exploração das costas de Yucatán e
passou muito tempo contemplando o cálido Mar das Caraíbas.
179
Depois, fez uma longa viagem pelo interior. O seu objetivo era
chegar ao Grande Oceano. Durante a viagem, as montanhas, os
rios, os lagos e a floresta tropical impressionaram Nathan
profundamente. Finalmente chegou a San Cristobal. Depois visitou
várias aldeias índias nas Chiapas. Para além de toda a beleza
natural, interessavam a Nathan as comunidades índias e os seus
antepassados. Permanecia em silêncio quando confrontado com as
dimensões das ruínas que via e imaginava como deveriam ter sido
monumentais os edifícios e as comunidades originais.
180
Silêncio
Um uma das aldeias Nathan ouviu os habitantes falarem acerca de
um sábio índio que possuiria as "memórias perfeitas". Os aldeões
falavam do índio sábio como se ele não fosse apenas uma pessoa.
Nathan queria saber mais sobre este homem e procurou descobrir
informações relevantes. Foi assim que ouviu que ele era uma
pessoa extremamente reservada e que vivia de forma muito frugal.
A sua existência externa era-lhe completamente indiferente.
Quando Nathan perguntou onde poderia encontrá-lo, disseram-lhe
que devia procurar a altitude. Nathan ficou estupefato ao saber o
nome que os aldeões davam ao sábio índio. Chamavam-lhe
‘Aquele que sabe’, o mesmo nome que davam ao cigano em
Granada. Isto intrigou Nathan ainda mais. Perguntou-se se
descobriria mais uma vez conhecimentos importantes. Muito
curioso, continuou o seu caminho em direção às aldeias que
ficavam a uma maior altitude.
Na aldeia seguinte conseguiu mais informações sobre o sábio
índio. Alguns aldeãos alegadamente tinham-no conhecido, e
diziam que ele irradiava uma autoconfiança inacreditável.
Consideravam que, comparados com ele, os homens ricos eram
pobres e os cientistas ignorantes. Acrescentaram ainda que o velho
índio nunca fazia nada em busca de fama, porque a desprezava.
Também não procurava honras, porque não apreciava nenhum tipo
de glória humana. O interesse de Nathan crescia a cada passo, e
por isso perguntou onde poderia encontrar o índio. Na aldeia, foilhe dito uma vez mais que procurasse a altitude, e perguntar por
"Aquele que Sabe". Numa das aldeias mais remotas, muito acima
do nível do mar e próxima da fronteira com a Guatemala, Nathan
obteve a informação mais importante. Os habitantes desta aldeia
alegavam que o sábio índio conseguia controlar as mais poderosas
forças do mundo. Quando Nathan lhes disse que tinha feito toda
aquela viagem para encontrar o homem, os aldeões responderamlhe que apenas uns poucos haviam tido o privilégio de conhecê-lo.
Nathan alugou um quarto na aldeia e solicitou que o seu pedido
fosse divulgado. Uns dias mais tarde, de manhã, Nathan foi
acordado por uma velha índia, de baixa estatura e pele
avermelhada. Ela sorriu-lhe de forma amistosa, mas não proferiu
181
palavra alguma. Nathan preparou o pequeno-almoço e comeram
juntos. A mulher índia olhava-o intensamente.
De súbito, a mulher começou a falar em espanhol.
─ Dizem por aí que procura ‘Aquele que Sabe’?
Nathan surpreendeu-se ao ouvi-la falar, mas mais ainda com a sua
pergunta.
─ Sim, é verdade.
─ Vim para conhecer a sua motivação.
─ Ouvi dizer que o sábio índio possui conhecimentos misteriosos.
─ ’Aquele que sabe’ possui de fato conhecimentos profundos, mas
estes são mantidos em segredo.
─ E porque ele esconde estes conhecimentos?
─ Os conhecimentos profundos apenas podem ser confiados
àqueles cujos percursos de vida se caracterizam pelo equilíbrio e
pela pureza.
─ Se este conhecimento é tão importante, não deveria ser dado a
conhecer ao mundo?
─ O conhecimento profundo contém informação das leis secretas
da natureza, que oferecem determinados poderes. Seria muito
perigoso se caíssem em mãos erradas.
─ Como assim, perigoso?
─ Para os que não são suficientemente equilibrados e puros, este
conhecimento sem orientação experiente pode libertar um imenso
poder e destruí-los.
─ Acha que posso ter o privilégio de alcançar o conhecimento
profundo?
─ O conhecimento profundo nunca é confiado como um privilégio.
Nathan pensou um pouco e reformulou a questão:
─ Será o meu percurso de vida suficientemente equilibrado e puro
para que possa alcançar o conhecimento profundo?
A velha índia segurou a mão de Nathan.
─ Se a sua energia motriz o trouxe até aqui hoje, isso significa que
está pronto para receber o conhecimento profundo. Voltarei dentro
de dois dias para que possa encontrar-se com o sábio índio.
A mulher índia deixou Nathan e saiu da aldeia. Tal como dissera,
reapareceu dois dias mais tarde. Nathan já tinha preparado as suas
coisas. Tomaram o pequeno-almoço juntos e levaram consigo
alguma comida. O caminho conduziu-os ainda mais acima pelas
montanhas. A paisagem era incrivelmente bela. No percurso,
Nathan colocou uma questão que ocupava a sua mente desde a
primeira visita da mulher.
182
─ Se o conhecimento profundo confere certos poderes e se existe o
risco de uso abusivo, como é ele protegido?
─ Apenas os sábios da Terra têm acesso ao lar simbólico, através
do qual têm acesso ao claro significado deste conhecimento. Deste
modo, este conhecimento pode ser acumulado e transmitido em
segurança.
─ O que é o lar simbólico?
─ A mais antiga língua da Humanidade, a linguagem dos símbolos.
Até hoje, o conhecimento profundo entre os sábios do Mundo é
transmitido através desta linguagem.
─ O que devo ter em mente quando falar destes símbolos?
─ É uma coleção de símbolos que remonta aos tempos antigos,
quando as palavras e o discurso ainda não existiam.
─ Se o discurso ainda não existia, como pôde este conhecimento
ser escrito nas ‘memórias mais perfeitas’?
─ As ‘memórias mais perfeitas’? Perguntou a velha índia,
claramente não entendendo de que falava Nathan.
─ Sim, as memórias escritas de que falam os aldeãos.
─ Memórias escritas? O lugar dos símbolos não é na inteligência
consciente, mas no subconsciente.
Nathan refletiu por uns momentos. A mulher apercebeu-se disso e
permaneceu em silêncio.
─ Então o conhecimento da consciência profunda reconhece uma
imagem simbólica que permanece no inconsciente? Perguntou
Nathan.
─ O ser humano nunca consegue alcançar o conhecimento de o seu
próprio ser unicamente através da inteligência. Para consegui-lo,
terá sempre de procurar no seu subconsciente.
Nathan compreendeu então que não existiam memórias escritas.
Era apenas uma ilusão que as pessoas tomavam como verdadeira.
O conhecimento profundo era sempre transmitido através de
símbolos no subconsciente. Desta forma, também não poderia cair
nas mãos erradas. Daqui Nathan depreendeu que por todo o mundo
existiriam pessoas que dominavam esta linguagem. Aqueles que
conheciam a linguagem do conhecimento profundo eram
considerados homens sábios, que tinham um modo de vida
diferente e a quem eram confiados determinados poderes... como o
cigano da Andaluzia.
─ A senhora também conhece o aspecto destes símbolos?
Perguntou Nathan à índia.
183
─ Eles pertencem ao nosso passado remoto e falam diretamente ao
nosso Ser interior. São imagens que surgem espontaneamente em
sonhos e visões.
Entretanto encontravam-se já a grande altitude, envoltos numa
espessa camada de nevoeiro. Pouco tempo depois, este subitamente
desapareceu. A mulher índia disse que haviam caminhado através
das nuvens e que se encontravam agora no telhado do mundo.
Nathan observou as maravilhosas vistas dos cumes das montanhas.
À sua frente estava o vulcão Tajamulco da Guatemala. Ao final da
manhã chegaram a uma pequena e simples casa de pedra. Entraram
e pousaram as suas coisas. A casa estava vazia. A mulher índia
preparou pãezinhos e chá quente.
─ É esta a casa do sábio Ancião? Perguntou Nathan.
─ Sim, ele vive aqui. Todas as manhãs trabalha na sua horta. Deve
estar quase terminando as suas tarefas diárias, e já não demorará
muito.
Pouco depois o Ancião apareceu à porta e saudou-os. Era um
homem esguio, mas forte. Usava uma boina e um poncho bege
sobre os ombros. A mulher índia encheu três xícaras com chá e deu
uma ao Ancião, outra a Nathan e ficou com a última. Ela trocou
algumas palavras com o homem num dialeto indígena que Nathan
não compreendeu. Depois, voltou a falar com Nathan em espanhol.
─ Vamos descansar um pouco e depois iremos para as montanhas.
No topo do vulcão terá uma visão acerca das suas capacidades
utilizáveis, graças ao fogo do êxtase.
─ O fogo do êxtase?
─ O fogo do êxtase dá forma a tudo o que é projetado pela
imaginação. Graças a esta experiência, poderá experienciar
conscientemente todos os seus sonhos e visões.
─ Lá em cima receberei a visão expressa em símbolos?
─ Apenas os sábios do mundo conhecem a linguagem do
conhecimento profundo. Por isso são capazes de reconhecer as
verdadeiras missões de outros. Apenas pela observação da pessoa,
podem identificar as tarefas específicas com que vieram à Terra.
Agora Nathan entendia que já tinha conhecido outros sábios e
sábias do mundo, por exemplo, durante as suas viagens pela Ásia
com Simon.
─ O que conseguirei ver?
─ Receberá visões acerca de sua verdadeira missão.
─ Estas visões consistirão em imagens?
A mulher índia anuiu.
184
─ Após a meditação, estas imagens revelar-lhe-ão que poderes
devem ser utilizados para desempenhar as suas tarefas específicas.
Nathan reparara que, sempre que queria saber mais acerca da
natureza da sua verdadeira missão, nunca recebia respostas claras.
Poderia o Ancião dizer-lhe mais?
─ Pode perguntar ao Ancião onde ou quando o meu feito
excepcional terá lugar? Perguntou à índia.
A mulher trocou algumas palavras com o Ancião e voltou a dirigirse a Nathan.
─ O Nathan sempre foi capaz de dispor do conhecimento de que
necessitava naquele momento, no momento exato, e pode acreditar
que será sempre assim.
Mais uma vez, a mulher e o Ancião trocaram algumas palavras.
Depois ela olhou para Nathan cheia de admiração.
─ Vou agora enumerar-lhe os princípios básicos, para que possa
receber os conhecimentos necessários durante o ritual do fogo do
êxtase.
─ O Ancião sabe de que conhecimentos eu necessito exatamente?
─ ‘Aquele que sabe’ reconhece todas as verdadeiras missões!
Nathan tirou papel e caneta da mochila. Sentia a mesma feliz
excitação que sentira quando da sua iniciação antes de partir para o
deserto do Saara. O Ancião falou. A mulher traduziu as suas
palavras.
─ O primeiro princípio é saber que existe a energia universal,
através da qual todos podemos experienciar a vida. Este
conhecimento ensina-nos que devemos amar todas as pessoas e
todas as criaturas vivas como se fossem uma parte de nós próprios.
Nathan escreveu todas as palavras cuidadosamente.
─ O segundo princípio é saber que em cada pessoa está
adormecido um poder mágico, que nos recorda o primeiro
princípio. Este poder é a consciência. Para experienciar-lo na sua
forma pura, temos de afastar-nos de todas as influências externas e
deixar-nos guiar pelas visões do fogo do êxtase.
Nathan continuava a escrever tudo.
─ O terceiro princípio é saber que podemos encontrar o
conhecimento puro dentro de nós próprios, para podermos libertarnos do único mal do mundo.
─ O único mal do mundo? Perguntou Nathan.
─ O mundo conhece apenas um mal: a ignorância!
O Ancião falou de novo. A mulher continuou a traduzir as suas
palavras.
185
─ O Ancião quer saber se tem algumas questões.
Nathan refletiu.
─ Pode perguntar-lhe se eu sentirei a energia motriz?
Quando ouviu a pergunta, o Ancião fitou Nathan.
─ A energia impulsionadora é onipresente e atravessa todos os
tipos de aparências!
Estas palavras tornaram tudo claro para Nathan. Prepararam-se
para partir. Quando Nathan perguntou para onde se dirigiam, a
mulher índia respondeu que atravessariam a fronteira da
Guatemala para caminhar no topo do Tajamulco. Era uma subida
árdua, e Nathan sentia alternadamente frio e calor. Felizmente
tinham trazido alguns cobertores. Enrolaram-nos à volta do corpo
quando o vento se intensificou. Nathan estava espantado com o
poder e a persistência dos seus dois companheiros. Uma vez
chegados, sentaram-se no chão de pernas cruzadas. Pouco depois,
o Ancião levantou-se para apanhar lenha, e Nathan e a mulher
ajudaram-no. Juntaram toda a lenha numa pilha e quando tinham já
recolhido ramos suficientes voltaram a sentar-se. A mulher índia
disse-lhe que esperariam pelo pôr-do-sol. Quando chegou
gradualmente o crepúsculo, o sábio índio ateou a fogueira, para
onde deitou algumas ervas quando as chamas pegaram. Em
seguida, sentou-se do lado oposto da fogueira, de frente para
Nathan. Devido às chamas, ao aroma especial das ervas e à
exaustão física daquele dia, Nathan experimentou uma sensação
semelhante à que tivera no Saara.
O Ancião dirigiu-se a Nathan, e mais uma vez a mulher traduziu as
suas palavras:
─ Sente o silêncio para interiorizares as mensagens ocultas!
O vento tornou-se mais forte. As chamas intensificaram-se e o
calor era imenso. O aroma das ervas também se tornou mais
intenso. Não era difícil para Nathan experienciar o profundo
silêncio. Concentrou-se na interiorização das mensagens ocultas. E
pouco depois se deu um estranho fenômeno: Nathan viu gotas de
água caindo por entre as chamas. Olhou para cima e viu uma
enorme cascata. Esta parecia vir de uma altura interminável. Então,
começou a cair cada vez mais água, até parecer uma muralha de
água. Esta fluía sobre as chamas para depois correr montanha
abaixo e assim continuou durante muito tempo. Algum tempo
depois, Nathan viu algo ainda mais impressionante. Tinha corrido
tanta água que o nível das águas tinha subido acima da montanha.
Estranhamente, o fogo continuava a crepitar entre as águas. Mais
186
tarde a cascata foi acalmando até desaparecer completamente. O
vento cessara e o silêncio tinha regressado. O Ancião levantou-se e
foi sentar-se de frente para Nathan. Colocou as suas mãos a tapar
os olhos de Nathan, manteve-as assim durante uns momentos e
depois as retirou. Nathan parecia ter acabado de despertar. Não se
via água em parte nenhuma. O fogo continuava aceso, como se
esperava que estivesse. Tudo voltara ao normal.
O Ancião disse à mulher:
─ O fogo do êxtase enviou-lhe uma mensagem
extraordinariamente forte!
Nathan precisou recuperar-se e mal conseguia falar. A índia
trouxe-lhe um cobertor. Ajudou Nathan a deitar-se para que
pudesse dormir e disse apenas:
─ Guarda silêncio durante algum tempo.
Na manhã seguinte, Nathan foi acordado pela mulher. O Ancião já
lá não estava.
─ Quando estiveres totalmente desperto, comeremos qualquer
coisa e regressaremos à aldeia.
Comeram em silêncio e partiram. Nathan não proferira qualquer
palavra desde a sua visão. No caminho de regresso, a índia foi a
primeira a falar.
─ Ao que parece, o que viu ontem surtiu um forte impacto em si!
─ Também o viu?
─ Eu apenas experienciei o silêncio, mas sei que o fogo da
fogueira ligou-lhe ao seu poder criativo.
─ O que vi é indescritível. Primeiro experimentei um profundo
silêncio, e depois aconteceu.
─ É sempre através do silêncio que os poderes criativos trazem as
mensagens.
─ Foi verdadeiramente fantástico!
─ A partir de agora, em tudo o que criar lembrar-se-á do seu poder
criativo.
Depois de uma longa viagem, Nathan e a mulher índia chegaram à
aldeia de onde tinham partido. Na manhã seguinte, a índia
despediu-se de Nathan, e quando ele agradeceu, ela respondeu-lhe
com estas palavras:
─ Eu é que lhe agradeço! Contribuiu para a minha verdadeira
missão.
─ Qual é a sua missão?
─ Vim ao mundo com o desejo de fortalecer o poder de
imaginação dos Excepcionais.
187
Estas palavras revelaram a Nathan que a mulher, tal como Sarah,
era um anjo.
─ Obrigado. Sei agora que a imaginação é mais importante que o
conhecimento!
Abraçaram-se e desejaram-se mutuamente muita sorte. No dia
seguinte Nathan continuou a sua viagem. Deixou Chiapas e
continuou para o estado de Oaxaca. Aí chegou finalmente a Puerto
Angel, um lugar sossegado perto do Grande Oceano. A atmosfera
do local causou tal impressão em Nathan que ele decidiu ficar por
ali. Alojou-se num parque de campismo entre acolhedoras casas de
campo, em pleno monte. Dalí tinha uma vista fenomenal sobre o
mar. Inspirando-se na rebentação impressionante do oceano,
Nathan passava algum tempo ao nascer e ao pôr-do-sol a meditar
sobre as suas recentes experiências. Durante os dias em que ficou
em Puerto Angel, organizou os seus pensamentos e muitas coisas
se tornaram claras para ele. As ondas poderosas lembravam a
Nathan o fogo do êxtase. As chamas luminosas haviam produzido
nele um impacto indescritível. Eram o símbolo do poder da
natureza e revelavam aquilo de que somos capazes quando nos
deixamos estimular pela energia motriz. Nathan chegou a duas
importantes conclusões. A primeira era que todas as grandes
mudanças algumas vez criadas pelas pessoas tinham sido sempre
precedidas de sonhos e visões. A segunda era que todos os grandes
feitos alguma vez levados a cabo tinham sido sempre criados por
pessoas. A partir de então, Nathan manteria um sentimento
permanente de confiança. Estava plenamente convencido de que
nos momentos necessários conseguiria a informação de que
precisava para completar com sucesso a sua missão superior. Isso
proporcionava a Nathan um sentimento libertador e uma confiança
incondicional. Ele sabia que a sua força criativa o acompanharia
sempre para que viesse a fazer as escolhas certas. Agora podia
admirar tudo o que o rodeava sem qualquer sensação de pressão ou
desejo. Isso não lhe exigia qualquer esforço, o que era novidade
para ele. Dera um importante passo para o seu desenvolvimento
pessoal.
Um dia, Nathan viu um grupo de surfistas na praia. Isto por si só
não era estranho, mas as praias estavam geralmente desertas
durante a hora da siesta por causa do sol forte. À exceção dos
surfistas, não se via mais ninguém na praia. Por isso, Nathan
suspeitou que fossem turistas. O tom pálido da sua pele também
indicava que provavelmente não seriam mexicanos. Desde tenra
188
idade que Nathan se habituara a dormir a sua siesta diária sempre
que tinha oportunidade. Esse dia não era exceção. Levou a sua
esteira de palha e deitou-se à sombra de uma fileira de árvores ao
longo da praia. Gradualmente, caiu no sono enquanto observava os
surfistas. Acordou subitamente quando mal tinha adormecido.
Tinha tido um sonho bizarro. Levantou-se e tentou recordar o
sonho. Tinha visto a si próprio nadando debaixo de água, e acima
dele dois objetos boiavam. Continuara a nadar sem prestar atenção.
De súbito vira um jovem, aparentemente inconsciente, afundando
num abismo. Nathan lembrava-se de, no seu sonho, ter feito várias
tentativas para nadar na sua direção, mas estranhamente não
conseguia, por mais que se esforçasse por aproximar-se do jovem.
Os seus sentimentos durante o sonho tinham sido tão intensos que
o tinham despertado. Agora fixava o espaço à sua frente e tentava
entender que significado poderia ter o sonho.
Enquanto Nathan observava o mar, voltou a ver os surfistas.
Estavam deitados sobre as pranchas, aguardando uma nova onda.
Nathan relacionou isto com o seu sonho. Talvez o jovem com que
sonhara fosse um dos surfistas. O seu olhar não mais se afastou do
grupo. Levantou-se e caminhou em direção ao mar, perguntando-se
se a relação que entrevia não seria demasiado rebuscada. Uma vez
junto da água, decidiu nadar próximo dos surfistas. Surgia-lhe todo
o tipo de questões. Teria sido não um sonho, mas uma visão? Seria
agora capaz de receber mensagens com tal clareza? Isso implicaria
que podia ver os acontecimentos ainda antes de ocorrerem. Poderia
influenciar esses acontecimentos? Um pensamento acalmou-o: o
tempo trar-lhe-ia seguramente a resposta. Nathan permaneceu na
água, a pouca distância dos surfistas. Pelo sotaque, podia perceber
que os jovens eram norte-americanos. Viu as acrobacias que
faziam e ficou inquieto. Perguntava-se se eles estariam cientes do
poder do mar. Nathan apenas relaxou quando o grupo regressou à
praia. Mais uma vez, sentiu-se inundado por interrogações. Teria a
sua reação sido exagerada? Qual era a melhor coisa a fazer agora?
Confiou na sua intuição, que lhe dizia que não tinha sido só um
sonho, mas a sensação de dúvida não o abandonava. Nathan
decidiu ir conhecer os surfistas. Assim poderia avisá-los sutilmente
dos possíveis perigos. Aproximou-se deles e apresentou-se. As
quatro moças e os três rapazes eram da Califórnia. Foram muito
amistosos e convidaram Nathan para sentar-se junto deles. Um
livro pousado sobre uma toalha de praia chamou a atenção de
Nathan assim que este se sentou. O livro, de capa dura, parecia ser
189
literatura de investigação. Nathan leu a citação na capa: "Estamos
aqui para descobrir que somos parte do universo e que o universo
está em nós." Nathan pensou que era um texto notável e perguntou
a quem pertencia o livro. Deborah disse que era seu e que falava
sobre as nossas interpretações dos fenômenos naturais estranhos.
─ Que aspectos da natureza são exatamente esses fenômenos
naturais estranhos?
─ Esta pesquisa ilustra a ligação próxima entre a nossa inteligência
e a espiritualidade interior.
Nathan não podia ter pensado em melhor assunto e começou a
conversar com Deborah, Nigel e Jennifer. Desta forma, veio a
saber que Deborah e Nigel estudavam em São Francisco e que
Jennifer estava frequentando um curso na academia de arte.
Deborah e Nigel acrescentaram de imediato que Jennifer era muito
talentosa. Disseram que ela tirava fotografias belíssimas e que já
participara em várias exposições de sucesso. Entretanto, os outros
quatro membros do grupo, John, Seth, Carole e Susan, decidiram ir
dar um passeio. Deborah, Jennifer e Nigel continuaram a conversa,
discutindo com Nathan alguns aspectos da ciência do misticismo.
Para Nathan foi uma conversa muito instrutiva. Naturalmente, ele
já ouvira falar dos elementos que estavam sendo discutidos, mas
agora eles eram-lhe explicados de forma detalhada. Nathan
perguntou-se se não seria demasiado acadêmico aprender acerca
deste conhecimento misterioso numa perspectiva científica. Os
comentários e argumentos que ouviu pareceram-lhe muito teóricos.
Também se perguntou até que ponto os seus colegas de conversa
percebiam do que estavam realmente falando e se conseguiam
distinguir entre as forças místicas reais e as histórias ficcionais e
romantizadas.
Quando Nathan fez um comentário acerca disto, Nigel respondeu
que eles estudavam com um professor que gostava de dar
exemplos práticos. Deborah acrescentou que o professor também
se preocupava com a questão que Nathan levantara e que, por esse
motivo, preferia uma abordagem menos acadêmica, sendo que as
suas aulas consistiam essencialmente em exemplos concretos.
Nathan ficou curioso. Queria saber mais, mas exatamente quando
se preparava para fazer perguntas acerca disto, os outros amigos
regressaram. Carol e Susan deitaram-se, enquanto John e Seth
pegaram imediatamente nas suas pranchas de surf e foram à
procura de ondas grandes. Nathan observou-os e lembrou-se por
190
que motivo se aproximara do grupo. Sentiu que tinha que fazer
qualquer coisa.
─ Vêm aqui surfar frequentemente? Perguntou a todo o grupo.
─ É a primeira vez que estamos em Puerto Angel, disse Nigel.
─ São surfistas experientes?
─ Todos temos alguns anos de experiência, respondeu Carole.
─ Porque perguntas isso? Interrogou Deborah.
Nathan não respondeu e levantou-se. Olhou para o mar e disse
muito seriamente:
─ Porque o mar está cheio de segredos!
Depois de Nathan proferir estas palavras, instalou-se um estranho
silêncio. Ninguém reagiu, como se cada um deles também
pressentisse agora qualquer coisa. O silêncio não durou muito, mas
por causa dele Nathan ficou ainda mais atento à possível realidade
da sua visão. Continuou a observar John e Seth. Eles estavam
claramente divertindo, e faziam todo o tipo de habilidades num
mar cada ver mais bravo. Sem os perder de vista, caminhou
lentamente até a beira-mar. Quando a água tocou os seus pés, o
vento levantou-se subitamente e Nathan foi invadido por uma
estranha sensação que o deixou totalmente alerta. Não conseguia
explicar a origem dessa sensação, mas foi como se o vento o
forçasse a entrar na água. Nathan avançou cada vez mais mar
adentro sem dizer uma palavra aos outros e nadou em direção aos
dois rapazes. O vento soprava com mais força e as ondas tornaramse altíssimas, o que preocupou Nathan ainda mais. Quando
finalmente conseguiu aproximar-se deles, Nathan só conseguia ver
John. Perguntou-lhe onde estava Seth, o que fez com que John
olhasse em volta espantado, fazendo depois sinal que não sabia.
Naquele momento, John e Nathan viram a prancha de Seth, mas
não conseguiam encontrá-lo em parte nenhuma.
O que Nathan sentira ao entrar na água atingia-o agora com uma
força brutal. Sem hesitar nem um momento, mergulhou para
procurar Seth. Demorou algum tempo para encontrá-lo e Seth já
estava inconsciente. A sua cabeça pendia para trás e tinha a boca
aberta. A imagem era idêntica à que Nathan vira no sonho. A única
diferença era que agora conseguia aproximar-se. Nadou
rapidamente em direção a Seth e puxou-o para a superfície tão
depressa quanto pôde. Enquanto subia, Nathan reconheceu outra
imagem do seu sonho: o objeto que boiava acima dele era uma
prancha de surf, a prancha de Seth. Mesmo ao lado estava a
prancha de John. Este estava deitado sobre ela, tentando encontrar
191
Seth ou Nathan. Nathan emergiu entre as duas pranchas. John
sentiu-se aliviado quando os viu, mas entrou em pânico ao
perceber que Seth estava inconsciente. Nathan pediu-lhe que o
ajudasse a içar Seth para cima da prancha, para que pudessem
puxá-lo para a praia.
Da praia, os outros tinham assistido a tudo. Eles próprios tinham
nadado bastante mar adentro. Agora nadavam através das ondas
altas para chegarem até eles. Seth foi levado para a praia e deitado
na areia. Susan tentou reanimá-lo de imediato. Todos se tinham
ajoelhado em volta de Seth, receando o pior. Nathan segurou-lhe a
cabeça, mas Seth não dava sinais de qualquer movimento. O vento
continuava a soprar forte, e fazia voar a areia. Foram momentos
angustiantes. De súbito, Seth tossiu, expelindo a água dos pulmões,
e depois tossiu violentamente. Estava salvo. Todos suspiraram de
alívio e curiosamente o vento amainou aos poucos. Nathan deitouse, exausto, mantendo o olhar no céu. Tudo acontecera
rapidamente, e agora precisava de tempo para recuperar o fôlego e
reconstituir tudo o que acontecera. Não teve muito tempo, porque
todos se aproximaram para lhe agradecer efusivamente. O que
todos queriam saber era a razão pela qual Nathan entrara na água
naquele preciso momento. Também a súbita ventania foi discutida.
Uns falavam de coincidência, outros viam-no como um milagre.
Quem definitivamente não achava que tivesse sido coincidência
era Deborah. Esta esperou que Nathan estivesse sozinho e sentouse ao seu lado. Olhou para ele e deu-lhe um beijo na testa,
agradecendo-lhe o que tinha feito. Falou calmamente enquanto
fitava o mar:
─ Sei que não te levantaste apenas para entrar na água!
Nathan virou a cabeça e olhou para Deborah sem dizer uma
palavra. Deborah continuava a olhar o mar e a murmurar:
─ Também sei que não te sentaste conosco por acaso!
Depois de um momento de silêncio, Nathan reagiu.
─ Pareces saber muitas coisas!
Naquele momento chegou Seth e ajoelhou-se na areia junto de
Nathan.
─ Graças a você ainda estou vivo. Obrigado, disse-lhe.
Nathan e Seth abraçaram-se.
─ O fato de estares vivo significa que a tua hora ainda não chegou,
respondeu Nathan.
Entretanto, o resto do grupo sentara-se junto deles.
─ Sim, mas foste tu quem me salvaste, continuou Seth.
192
─ Fizemo-lo todos juntos, retorquiu Nathan.
─ Não sei como posso agradecer-te, disse Seth.
─ Talvez eu possa resolver isso... Respondeu.
Todos estavam curiosos acerca do que Nathan falaria.
─ A partir de agora, deves estar disposto a preocupar-te
frequentemente com o bem-estar de cada um dos teus amigos aqui
presentes, para o resto da tua vida, e a ajudá-los em tempo de
necessidade.
─ Parece-me uma proposta maravilhosa, disse Carole.
─ Também acho, concordou Seth, levantando-se.
─ Prometo solenemente que podem contar comigo de forma
incondicional! Hoje, amanhã, e para todo o sempre!
O grupo agradeceu-lhe, e reagiu ironicamente dizendo que agora
estavam condenados a ouvir Seth lastimar-se durante o resto das
suas vidas. Aparentemente, Seth tinha a reputação de rabugento. A
atmosfera alegre estava de volta. Depois destes acontecimentos,
todos encontraram uma forma de descontrair. Decidiram organizar
um churrasco naquela noite. Naturalmente, Nathan não podia
faltar. O grupo estava hospedado numa casa de férias a caminho de
Puerto Escondido, uma cidade mais a sul. Deborah sugeriu que
fossem buscar Nathan mais tarde. Este regressou ao seu bangalô,
tomou uma ducha e descansou um pouco. À noite, Deborah chegou
sozinha. Nathan abriu-lhe a porta e acabou de se arranjar na casa
de banho. Deborah sentou-se na pequena sala de estar.
─ Conseguiste descansar alguma coisa? Perguntou ela.
─ Sim, obrigado, e tu? Respondeu Nathan.
─ Eu... estive a pensar em tudo o que aconteceu hoje.
Nathan sentiu que as suas suspeitas se confirmavam. Deborah era
extremamente curiosa e não tinha apenas vindo buscá-lo. Queria
mais explicações.
─ O que queres saber? Perguntou Nathan.
─ Como é que sabias?
Instalou-se um curto silêncio.
─ Pressenti-o, respondeu Nathan.
─ Quando é que o pressentiste? Perguntou ela ─ Quando o vento
se tornou mais forte? Quando Seth e John entraram na água?
Quando decidiste vir conhecer-nos? Quando vieste nadar para
junto de nós? Ou...
─... ou antes? Interrompeu Nathan.
Saiu da casa de banho e sentou-se ao lado de Deborah.
─ Nathan, é muito importante para mim sabê-lo, disse Deborah.
193
─ Por quê? Perguntou Nathan.
─ Desde criança que sei que existe um mundo misterioso que
apenas muito poucos conseguem ver.
─ Um mundo misterioso?
─ Sim, o mundo oculto, como lhe chamam!
─ Deborah, não vieste ao mundo para entrar em contato com um
mundo misterioso, mas para encontrares o teu Ser superior!
Deborah sabia que as respostas não chegariam facilmente. Pensou
um pouco.
─ Como posso tornar-me meu Ser superior?
─ Olhando, ouvindo e sentindo de forma diferente, disse Nathan,
Desta forma, a verdade que procuras revelar-se-á por si sós.
─ E como posso saber quem estará dizendo a verdade?
─ Não procures aqueles que dizem que encontraram a verdade,
aprende antes com aqueles que a procuram.
─ Nathan, podes achar estranho, mas eu sei quando conheço
pessoas especiais. Sei que tenho um sentido especial para isso e…
Deborah perscrutou-o com o olhar.
─... eu sei que tu és especial, nunca conheci ninguém tão especial.
Nathan manteve-se em silêncio para pensar e decidiu então contar
a Deborah a visão que tivera antes de se aproximar deles. Deborah
estava muito impressionada e perguntou a Nathan se já
anteriormente tivera outros sonhos premonitórios. Nathan também
lhe contou a sua experiência com o sábio índio. Agora Deborah
estava verdadeiramente intrigada.
Nathan teve cuidado para não aludir à sua excepcionalidade, para
que ela não se sentisse demasiado dominada
─ Será que estes acontecimentos têm um propósito maior?
Perguntou ela.
─ Tudo tem um propósito maior, respondeu Nathan.
Depois desta conversa, Nathan e Deborah foram juntar-se aos
outros, que os esperavam. Foi uma bela festa e toda a gente se
divertiu até as primeiras horas da madrugada. No dia seguinte o
grupo partiria. As férias tinham terminado. Prepararam-se para o
regresso a casa, despediram-se de Nathan e fizeram-no prometer
que manteria o contato. Nathan ficou em Puerto Angel por mais
dois dias e depois decidiu voltar para junto de Catalina, na Cidade
do México.
194
Imaginação
Quando Nathan chegou a "Sentimienta" viu Catalina
acompanhando um grupo de bailarinos estrangeiros, rendidos por
completo à dança. Ela enfatizava a importância das formas naturais
de movimento, mas, acima de tudo, o prazer que se retira como o
ponto central. Quando viu Nathan fez um intervalo.
─ Como foi a tua viagem? Perguntou.
─ Lindíssima e extremamente instrutiva, respondeu Nathan.
─ E por onde andaste?
─ Depois de explorar a costa de Yucatan, desci para estados mais a
sul. Entre outras coisas, descobri uma natureza maravilhosa e
lugares muito especiais. Estive até na Guatemala, no Tajamulco.
Aí tive uma experiência muito radical.
Catalina morria de curiosidade. Pediu imediatamente a um dos
seus bailarinos para substituí-la, refrescou-se e levou Nathan para a
cidade.
─ Conta-me a tua experiência radical.
─ Nas montanhas mais altas conheci um índio sábio.
─ O sábio índio que possui o conhecimento profundo?
─ Conhece-o?
─ Já ouvi falar dele, mas nunca o conheci pessoalmente.
─ Conheceste algum outro sábio na Terra?
─ Aconteceu-me duas vezes, sempre nos Andes. O meu primeiro
encontro aconteceu no Chile.
─ Então gostaria de conhecer primeiro a tua experiência.
─ Naquele tempo eu estudava em Santiago e durante os tempos
livres ia com amigos para as montanhas. Um dia, chegamos a uma
aldeia solitária, que ficava a grande altitude. Lembro-me que dali
conseguíamos ver o Monte Aconcágua da Argentina.
─ E depois?
─ Lá estava ele, completamente sozinho. Lembro-me que todo o
grupo o achou muito bizarro. Afinal, era estranho encontrar ali um
velho, de cabelos brancos e olhos azuis. Não tinha traços chilenos,
e falava espanhol com um sotaque estranho.
─ E então o que aconteceu?
195
─ Quando reparou em mim, chamou-me e disse-me que teria que
voltar ali sozinha, porque ele tinha uma importante informação a
transmitir-me.
─ Voltaste?
─ Não imediatamente, tinha algum receio, mas tive um sonho que
me fez mudar de ideia. Voltei lá sozinha duas semanas mais tarde e
passei um dia com ele. Tinha de fato uma informação muito
importante para mim: foi o primeiro a mencionar a minha
excepcionalidade.
─ Onde encontraste um sábio pela segunda vez?
─ No Equador, durante a minha travessia pela América do Sul.
Estava com uma amiga em Esmeraldas, uma cidade costeira no
norte do Equador. As pessoas falavam de uma mulher sábia que
vivia no Chimborazo, a mais alta montanha do país.
─ Foste lá com a tua amiga?
─ Estas histórias intrigavam-me. Quando decidi procurar aquela
mulher, a minha amiga insistiu em acompanhar-me. Desde muito
jovem que ela era apaixonada pelas histórias concernentes àquela
mulher e queria saber se ela era uma pessoa real ou apenas um
mito.
─ Talvez a sua tarefa fosse levar-te até ela.
─ Também me ocorreu esse pensamento. Fomos lá juntas e eu
ainda recordo como foi difícil chegar até ela. Não sei se teria
conseguido, se tivesse ido sozinha.
─ Então a mulher existia mesmo!
─ Acabamos por encontrá-la e, até hoje, esse encontro continua a
ser o mais radical de todos os que jamais tive.
─ O que é que teve de tão radical?
─ Enquanto a escutava, era como se escutasse o próprio
conhecimento verdadeiro. Obtive respostas para todas as perguntas
que brotavam do meu Ser mais profundo. Por vezes as suas
afirmações pareciam inacreditáveis, mas então ela disse que eu
acreditava mais na ilusão do conhecimento verdadeiro que no
próprio conhecimento verdadeiro.
─ Podes dar-me um exemplo?
─ Por exemplo, ela agradeceu-me por ter ido visitá-la ao mais alto
lugar do mundo. Quando chamei a atenção para o fato de que os
cumes mais altos do mundo ficavam nas montanhas dos Himalaia e
não nas de Chimborazo, ela respondeu "Tens que olhar sempre
para as coisas através da sua essência."
─ O que queria dizer com isso?
196
─ Só o compreendi mais tarde. O Monte Everest é considerado a
montanha mais alta do mundo porque as montanhas são medidas
através do nível do mar. Devido à sua localização, o Chimborazo,
medido a partir do centro da Terra, é realmente a montanha mais
alta do mundo. No entanto, não foi a isso que atribuí maior
importância, mas ao significado mais profundo da sua mensagem.
Nathan apercebia-se cada vez mais da distribuição dos sábios pela
Terra.
─ Vais dizer-me agora o que aprendeste com o Ancião?
─ Ele ensinou-me a entrar em contato com o conhecimento
profundo que provém do silêncio!
Nathan descreveu a sua visão do fogo do êxtase até ao mais ínfimo
pormenor.
─ Tiveste uma visão da tua missão suprema!
Catalina agarrou Nathan e ficou imóvel.
─ Sabes o que isto significa?
Nathan olhou para Catalina, curioso para saber o que ela diria.
─ Significa que agora estás diretamente ligado ao teu poder
criativo.
─ O que queres dizer?
─ Sabes que os nossos poderes criativos nos enviaram a ambos ao
mundo para transformar os seus desejos em ações.
─ Sim, e isso explica a nossa excepcionalidade.
─ Para podermos cumprir esses desejos, tivemos de passar por um
processo de aprendizagem e de nos ligarmos ao nosso íntimo.
─ E foi isso que aconteceu agora?
Catalina anuiu. Nathan refletiu por uns momentos.
─ Agora percebo o que me aconteceu depois, disse Nathan.
─ O que foi que aconteceu depois? Perguntou Catalina com
curiosidade.
Nathan descreveu o que acontecera em Puerto Angel. Catalina
escutou atentamente.
─ Foi uma lição importante para que compreendesses que podes
tornar reais todas as inspirações puras, confidenciou Catalina.
─ O que é a inspiração pura?
─ Uma torrente espontânea de inspiração. As inspirações puras são
sempre sentidas a partir da imaginação e motivadas pelo poder da
intuição.
─ O poder da intuição que me guiou para o que fiz em Puerto
Angel?
197
─ Sim. A tua intuição foi conduzida pela curiosidade, a confiança e
a inspiração. Como as minhas melodias e coreografias sempre me
chegam através da intuição.
Nathan e Catalina olharam-se. Sentiam-se iguais e ligados pela sua
excepcionalidade. Agora Nathan era capaz de reconhecer os
sentimentos que constituíam a base de todas as formas de
criatividade e reparou na semelhança entre a criatividade e a cura
de que Songo falava. Percebeu que tudo se relacionava com um
processo de afluxo espontâneo de energia motriz, que criava uma
força de vontade inesgotável. Um dia, quando Nathan e Catalina
chegaram a "Sentimienta" depois de irem ao mercado, a empregada
disse-lhes que uma mulher chamada Deborah tinha telefonado de
São Francisco. Queria falar com Nathan e pedira que ele lhe
ligasse de volta. Quando Nathan telefonou a Deborah, esta disselhe que tinha falado com o seu professor sobre os acontecimentos
de Puerto Angel e que o professor estava muito interessado em
conhecê-lo. Se ele assim o desejasse, o professor poderia recebê-lo
como convidado. Nathan respondeu que pensaria no assunto e que
voltaria a ligar-lhe. Contou então a Catalina a proposta que lhe
tinha sido feita, e ela respondeu-lhe que tinha muita pena que
tivessem que se despedir, mas que sabia que, para chegar onde
queria, ele tinha primeiro que partir. Nathan decidiu aceitar o
convite e agradeceu a Catalina. Voaria primeiro para Miami, onde
passaria dois dias com Simon.
No aeroporto, despediu-se de Catalina, Manuel e Lisa, e
agradeceu-lhes o tempo precioso que havia vivido no México.
─ Obrigado por tudo, sentirei a sua falta.
─ O sentimento é mútuo, mas sentimo-nos felizes porque agora
estás preparado.
O comentário de Catalina surpreendeu Nathan.
─ Sonhei com o dia em que os nossos caminhos tomariam rumos
diferentes. Em breve terá lugar o grande início da tua tarefa.
─ Que mais sabes?
─ Sonhei com o Guia latente em ti, que começa a despertar.
─ Referes-te ao nosso guia interior, escondido em cada um de nós?
Catalina tocou com a sua mão nos lábios de Nathan. Não podia
dizer mais nada, pelo que ele não devia fazer mais perguntas.
Nathan abraçou Manuel e, por sinais, disse-lhe para tomar conta de
Lisa. Depois segurou Lisa e pediu-lhe que tomasse conta de
Manuel. Por fim, abraçou fortemente Catalina e despediram-se.
198
Nathan voava agora em direção à Florida. Era a primeira vez que
visitava os Estados Unidos, mas os seus pensamentos eram
essencialmente ocupados pelas últimas palavras de Catalina.
Depois de um vôo rápido chegou a Miami. Simon e a sua mulher
esperavam-no. Foi um encontro feliz. Simon estava com bom
aspecto; o sol fazia-lhe bem. Nos dias que se seguiram, Simon e
Nathan deram alguns belos passeios. Nathan estava impressionado
com Miami. O grande número de pessoas originárias da América
do Sul alegrava a atmosfera. O que mais marcou Nathan foi a sua
visita a Key Biscayne. Foi nessa praia que contou a Simon as
experiências que tivera desde a sua partida de Paris. Simon achou
extraordinárias as aventuras de Nathan, mas não ficou
surpreendido. Disse apenas que ele agora poderia compreender
melhor o significado dos estranhos acontecimentos do passado.
Disse também a Nathan que muito do conhecimento que já reunira
lhe seria confiado de novo, mas desta vez com maior profundidade,
porque ele estava mais equipado para reconhecer a sabedoria do
mundo. Dois dias mais tarde, Nathan deixou Miami para seguir
para o seu próximo destino. Deborah e Nigel esperavam-no em São
Francisco.
199
200
-7Equilíbrio Perfeito
201
202
Discurso
A Primavera acabara de começar quando Nathan chegou em São
Francisco. Foi um agradável encontro com Nigel e Deborah. Nigel
sugeriu que Nathan ficasse com ele no dormitório em Berkeley.
Nathan estabeleceu-se e foi apresentado aos colegas de quarto de
Nigel. À tarde, Deborah e Jennifer o levaram para explorar São
Francisco. Devido às ruas estreitas e montanhosas, a cidade deixou
uma impressão europeia. A cidade costeira era acolhedora. Nathan
foi favoravelmente surpreendido pela diversidade multicultural de
seus habitantes. Deborah disse a Nathan que em dois dias ele
estaria conhecendo o professor de uma de suas palestras. Nathan
perguntou sobre o que a palestra se tratava:
─ Sobre a influência da tecnologia moderna no humor humano,
respondeu Deborah. Deborah também disse a ele algo que ela não
dissera mais cedo, ela mencionou que o professor foi seu padrasto.
Ela também disse que seu nome era Vadim e que ele é oriundo de
São Petersburgo, Rússia. Por anos Vadim estiverapalestrado em
sua cidade natal e se mudou de volta para os Estados Unidos há
alguns anos. Ele havia conhecido a mãe de Deborah em São
Francisco.
Nathan encontrou Vadim na segunda-feira. O professor era um
homem grande e forte, com cabelos grisalhos e uma barba cheia.
Ele tinha olhos azuis-claros e uma contemplação muito penetrante.
Vadim deu as boas-vindas a Nathan e agradeceu por aceitar o seu
convite. O homem deixou uma impressão amigável nele e disse a
Nathan que ele falaria com ele após a palestra. Era uma palestra
fixa, baseada em exemplos concretos das mudanças de longoalcance que vemos hoje como um resultado do progresso
tecnológico e como podemos aprender a lidar com elas. Muitas
afirmações citadas fizeram Nathan pensar sobre outras afirmações
que ele havia ouvido previamente. Dessa forma,Nathan relembrou
as palavras de seu pai, com relação ao enorme respeito por todo o
mundo, quando Vadim declarou que o cosmos não é uma pletora
de partes separadas, porém mais uma engrenagem na qual todas as
partes são interdependentes. Nathan lembrou também das palavras
de Songo, quando Vadim falou sobre a maneira que a tecnologia
demanda o interesse das pessoas e as mantém distraídas de suas
203
necessidades reais. Ouvindo atentamente á palestra, Nathan
concluiu que Vadim foi convencido da existência de um poder
maior. De acordo com Vadim, esse poder não poderia ser
explicado pela ciência moderna. Ele classificou esse poder de "a
unidade perfeita". Nathan sabia que propor uma convicção em
relação à existência de um poder maior, era uma declaração que
não é utilizada no âmbito científico. Quando a palestra terminou e
a maioria das pessoas presentes haviam deixado a sala, o professor
se aproximou de Nathan. Ele perguntou se Nathan havia gostado
da palestra. Nathan replicou que ela foi muito educacional,
especialmente porque foi esclarecedora, com muitos exemplos
claros. Quando Vadim perguntou se Nathan ainda tinha perguntas,
Nathan usou a oportunidade para perguntar qual é a motivação de
Vadim para dar palestras por todo o país.
─ O que motiva você a dar as palestras?
─ Graças a essas palestras eu projeto minha visão para um grupo
alvo, de acordo com o aumento no interesse.
─ No que a sua visão se difere da maior parte dos outros cientistas?
Vadim puxou uma cadeira para Nathan e o convidou asentar. Então
ele pegou uma para si.
─ Muitos se dedicam à capacidadede dividir e definir tudo, e
usando esse método eles esperam explicar tudo. Outros, dentre os
quais eu estou incluso, veem suas admirações para a mais alta
ordem no universo aumentar como se eles acumulassem mais
conhecimento.
─ O que você admira nessa ordem elevada?
─ A unidade perfeita, Nathan. A unidade perfeita entre tudo e
como tudo se mistura continuamente com tudo mais!
─ O que diz àqueles que pensam que não há ordem ou consistência
no universo, mas que tudo não é nada mais que um grande caos?
─ Eu os convido a olhar atentamente as mudanças sazonais ou as
fases da lua, que por si sós os fariam reconhecer a eterna
regularidade no universo.
─ Cada um está familiarizado com esse fenômeno, mas para
muitos isso ainda não parece ser suficiente, pra reconhecer união
perfeita nisso.
─ Isso é definitivamente verdadeiro para quem apenas aceita a
razão como a origem do conhecimento.
─ Muitos cientistas não fazem isso?
─ Muitos cientistas, mas também muitos outros, não sabem que a
razão por si só não pode nunca explicar a base do universo para
204
nós. Eles se baseiam em evidências matemáticas e então podem
simplesmenteaceitar o conhecimento que substancia suas lógicas.
Devido a essa conversa, Nathan entendeu melhor porque muitos
cientistas não tinham nenhuma visão no geral. Eles aprenderam
somentea aceitar a existência daquelas coisas que estão no mundo
físico. Enquanto isso, outras pessoas presentes também vieram
para trocar uma palavra com o professor. Desde as pequenas
conversas entre eles, Nathan observou que não era fácil para
Vadim convencer os outros acerca do meio científico de suas
teorias. Nathan entendeu que Vadim era um professor pouco
comum. Ele era provavelmente um dos raros cientistas que sabiam
que isso era necessário para se desviar do caminho da lógica geral
do mundo físico para descobrir as respostas da vida. Quando
Vadim terminou de falar, ele convidou Nathan para comer algo.
Nathan pensou que isso seria uma boa ideia. Ele já foi convencido
que fez a escolha correta em viajar para São Francisco. Juntos eles
dirigiram para um dos aconchegantes restaurantes no distrito de
Mission. Quando eles finalmente sentaram e a comida foi servida,
Vadim pintou para ele um retrato dessa cidade pela qual ele se
apaixonou. Depois de São Petersburgo, a qual ele considera sua
cidade natal, ele se tornou familiar a muitas cidades, mas foi São
Francisco que roubou seu coração. Vadim disse a ele
orgulhosamente que São Francisco era uma cidade-porto, a qual
tinha atraído pessoas de várias culturas por todos os séculos. Esta é
uma cidade com um charme impregnado, sempre correndo em seu
próprio curso, mas também uma cidade onde artistas de todos os
tipos podem encontrar seguidores e onde movimentos pela
liberdade de expressão podem florescer. Vadim também disse a ele
que a maior parte do charme veio da diversidade de seus distritos.
Alguns distritos tinham propriedades vitorianas maravilhosas;
outros nas montanhas tinham uma vista impressionante da baía.
Por causa da grande quantidade de montanhas, cada distrito
pareceu ser uma pequena cidade própria com suas próprias
características. Depois do jantar, eles novamente discutiram o
assunto que eles começaram depois da palestra.
─ Você falou sobre todos os que se baseiam apenas em evidências
matemáticas e então apenas aceitam conhecimento que substancia
suas lógicas. Como você pode descrever o conhecimento que não
verifica suas lógicas?
205
─ Tudo o que não está contido no mundo físico.─ Como os
cientistas se aproximam do que não pode ser vivenciado pelo
mundo físico?
─ Muitos cientistas dizem que se algo existe, ele deve existir
emcerta quantidade e é então mensurável. O problema é quando
umdelesé confrontado comofenômeno, o qual não é mensurável.
Fenômenos de que ninguém tem duvida da existência, mas ainda
podem não existir no mundo da limitada ciência.
Nathan reparou que Vadim ficou conscientemente incerto sobre o
fenômeno, o qual não tomou lugar no então mundo físico. Ele
falou sobre eles sem nomeação concreta. Nathan poderia adivinhar
o que ele quis dizer com isso, mas ele assumiu que Vadim tinha
razões para não os mencionar ainda.
─ Como podemos entender esse fenômeno melhor?
─ Nós não temos que consultar nossa lógica racional. Cada pessoa
na Terra é capaz de vivenciar isso e então também o entender!
─ Podem algumas coisas apenas serem entendidas por serem
sentidas?
Vadim disse que sim, depoisdisso houve um pequeno silêncio.
─ A ciência não tem que assegurar certa estabilidade de
pensamento?
─ Nada é estável, Nathan. O que está sendo vivenciado como
estável é baseado no que nós aceitamos como uma explicação, para
ser capaz de tratar com o inexplicável.
Nathan ligou isso com o que o seu pai havia explicado a ele com
relação à segurança que muitos de nós estamos tentando encontrar.
─ Se as coisas não podem ser estáveis, isso significa que elas
apenas parecem ser estáveis?
─ Realmente o que parece ser estável é uma forma de energia a
qual influencia nossa consciência de tal maneira que parece estar
parado, um pouco como a Terra parece estar parada para nós.
Enquanto isso entardecia. Por causa dessa conversa, Nathan estava
ainda mais convencido que ele tinha encontrado uma pessoa
inteligente e intrigante em Vadim.
─ Sua visão sobre as questões e a maneira pela qual você as
explica é nova para mim e muito interessante.─ Seu conhecimento
me interessa muito. Eu estou convencido de que seremos de grande
significância um para o outro. Nos dias que se seguiram, Nathan,
junto com Deborah e Nigel, estava presente frequentementenas
palestras de Vadim. Durante as aulas, Vadim radiava entusiasmo,
humor e otimismo. Como professor ele naturalmente tinha o
206
respeito de seus alunos, mas a hierarquia não excluíauma forte
ligação entre eles. O tema discutido era "Poluição da Terra e seus
danos". O professor apontou para os danos das tecnologias
modernas e enfatizou nosso comportamento ecológico. Ele
comparou o comportamento dos humanos modernos com
umacélula de câncer em crescimento em seu hospedeiro. De
acordo com Vadim, a solução impõe moral e padrões éticos para
empurrar o progresso científico e tecnológico na direção correta.
Durante as lições, Nathan estava principalmente interessado em
Vadim. Ele possuía a capacidade para determinar o nível exato que
cada
um
de
seus
interlocutores
ou
ouvintes
estavamexperimentando a vida. Utilizando este dom, Vadim
sabiaperfeitamente com que palavras ele tinha de usar para
esclarecer algo. Nathan viu isso como um dom muito valioso.
Alguns dias depois, Vadim daria uma palestra em uma conferência
científica na cidade de Houston, Texas. Vadim pediua Nathan para
que o acompanhasse e Deborah também poderia ir. Ela sempre
esperou por essasreuniões Para a ocasião, Deborah vestiu uma
roupa clássica e pareceu muito madura com seu belo e longo
cabelo penteado. Ela não mostrou absolutamente nenhum sinal de
ser uma estudante. Junto com Nathan, ela conheceu muitos
cientistas, todos experientes em um campo específico. Durante as
conversasfoi ficando claro para Nathan que Deborah já tinha
aprendido muito de Vadim. Durante a palestra, Nathan discutiu as
diferentes energias influenciando as pessoas. Ele demonstrou como
nós influenciamos outras pessoas pelos significados dessa energia.
Algumas passagens ficaram com Nathan. Dessa forma, Vadim
disse que tudo que vivenciamos como pessoas consiste em um
campo de energia que podemos sentir e perceber intuitivamente.
Ele também disse que nós podemos projetar deixando nossa
atenção fluirna direção certa. Vadim então explicou que naquele
momento a energia escorre do campo energético emdireção a qual
nossa atenção é direcionada. Ele disse que dessa forma podemos
influenciar sistemas de energia e podemos aumentar o ritmo com
que as coincidências ocorrem em nossas vidas. Nathan entendeu
que o que Vadim estava discutindo ia ao encontrodo que ele havia
ouvido recentemente com relação à operação da energia ativa. A
palestra se tornou mais interessante, porque Vadim estava falando
sobre o ser humano,e seu núcleo esclareceu muitopara Nathan.
Vadim indicou que o ser humano na realidade não tem um núcleo
que é separado do todo. Por todo, ele quis dizer o universo inteiro.
207
Vadim apontou que existiaapenas um núcleo. Ele quis dizer que as
pessoas não estão sem um núcleo, apenas que as pessoas não têm
núcleos separados. Para ilustrar isso, Vadim explicou que o
progresso toma lugar da fertilização progressivamente. Ele disse
que um embrião vem a esse mundo sem seu próprio núcleo. No
útero isso funciona por nove longos mesescom o núcleo de sua
mãe como o seu núcleo e não com um núcleo separado. Quando
nasce a criança, elarecebe um nome. Por repetições continuadas,
ela é capaz de se identificar com aquele nome. Desse modo,
começa a perceber-se como um indivíduo com seu próprio núcleo
separado. Seu ambiente e comunidade irão ensinar um sentimento
dentro dele, o qual produz o desejo de conhecer quem realmente é.
Cada sistema social concede uma função a cada um, o que também
determina nossa posição hierárquica. Então o perigo ocorre quando
nós começamos a nos identificar com essa função e nos deixamos
ser guiados por ela, ao invés de pela nossa própria personalidade
verdadeira. Graças a essa palestra, Nathan agora entendiamelhor o
mecanismo condicional. Ele lembrou que Pablo havia falado sobre
o fato depodemos libertar-nosdisso reconhecendo os pensamentos
da nossa mais profunda existência. Dessa maneira seríamos
capazes de seguir nossos maiores desejos íntimos. Pela forma
como Vadim explicou suas declarações, Nathan aprendeu como ele
poderia claramente suscitarum temadifícil para um público cético.
Embora após a palestra existiam ainda cientistas que abordaram
Vadim, como eles não concordaram completamente com ele.
Nathan e Deborah perceberam que suas motivações primárias
estavam explicando suas próprias teorias.
─ Eu tenho o sentimento que alguns deles apenas querem explicar
suas próprias opiniões, disse Nathan, e têm poucointeresseem
novas visões.
─ Eu estou acostumada comisso, Deborah disse. Muitas pessoas
não estão preocupadas em ser de direita, mas estão mais
concentradas em criar a impressão de que osão. Outras
frequentemente liberam o que não entendem, porque têm medo de
ter suas mentes mudadas.
─ Como podem eles sempre ter esperanças em descobrir a
realidade do universo? Nathan revidou.
─ Como disse Vadim, os cientistas geralmente têm
ideiasverdadeiras, por causa do que eles apenas pensam
hipoteticamente.
208
Durante o voode Houston para São Francisco, Vadim, Nathan e
Deborah tiveram uma longa conversa, devido ao entendimento em
quão profundo Nathan era. Quando Vadim propôs a questão como
Nathan tinha acumulado tanto conhecimento, Nathan deu uma
sinopse de algumas de suas experiências. Entre outras coisas,
Nathan falou sobre experiências de transe que ele teve no
Marrocos e no México. Vadim e Deborah estavam muito
impressionados. Nathan estava curioso sobre as opiniões deles. Um
bom ponto de partidapara isso pareceu ser a palestra que Vadim
acabara de dar.
─ O transe os libera para vivenciar nosso desenvolvimento, deuma
maneira diferente e nos desconectade nossos núcleos separados,
Vadim disse. Por causa disso podemos ter experiências similares
para daquelas que temos quando estamos ainda no útero... e ainda
mais cedo.
─ Como a ciência vêesse estado? Nathan perguntou.
─ As bases dos padrões desse estado estão no nível de energia.
Você deve ver seu núcleo como uma teia de relações, as quais
podem ser manipuladas. A dissolução dessas relações energéticas
levam àuma experiência de transe. Nathan lembrou-sedas palavras
de Rachid no deserto. Ele havia também contado a ele que tudo
consistia de energias, suas relações mútuas, e que um estado de
transe pode nos capacitar para ver as energias do universo
diferentemente. Quando Nathan continuou a ponderar esse assunto,
ele também viu analogias em relação ao que seu pai havia dito a
ele sobre como as energias trabalham, mas também com o que
Songo e Catalina haviam dito a ele sobre isso.
─ Como você ganhou discernimento para a operação encoberta das
energias? Nathan perguntou a Vadim.
─ Aprendendo a pensar intuitivamente.Dessa maneira eu tenho
aprendido a ver que a nossa própria imagem é criada de nossas
relações mútuas e que nosso mundo não é o único sujeito à física,
mas mais para as leis de energia.
Nathan estava impressionado sobre o fato que um conhecido
cientista havia alcançado a mesma conclusão que a de todas as
outras pessoas que haviam sido e ainda são importantes nessa vida.
Vadim também entendeu que o conhecimento verdadeiro se
apresenta através da nossa própria intuição.
_Quão importante é a intuição para você? Ele continuou
perguntando.
209
─ Devido a um excesso de informações que temos nesse momento,
apenas nossa intuição pode nos guiar e criar calma em nossos
pensamentos.
─ Essa é uma surpreendente declaração paraum cientista.
─ Meu pai, Deborah interrompeu, frequentemente diz que por toda
a história da ciência, todo grande descobrimento conteve um
elemento irracional de intuição criativa. Vadim sorriu e deixou o
silêncio apresentar sua resposta.
Uma vez de volta a São Francisco, Vadim falou muito em uma
reunião mensal tomando lugar em uma casa country em Carmel,
uma cidade costeira ao sul de São Francisco. Cientistas eminentes
participaram dela, incluindo Vadim. Ele convidou Nathan para
participar no próximo encontro. Mais tarde Nathan ouviu de
Deborah que Vadim havia dito a ela que depois da visita deles ao
congresso de Houston, que ele nunca mais conheceu ninguém tão
especial como Nathan. Quando Deborah perguntou a ele o que ele
quis dizer exatamente, Vadim respondeu que Nathan tem uma
excepcional capacidade para guiar os outros. Nathan também ouviu
de Deborah que Vadim era raramente elogiava alguém. Então, ele
poderia facilmente ser convencido de que seu pai realmente quis
dizer aquilo. Nathan percebeu que, se alguém gosta de Vadim em
tão pouco tempo, então é destinadaàs capacidades de liderança
para alguém,e tema atenção merecida.
210
Rebelião
Nathan e Nigel voaram juntos para Nova Iorque. Eles planejaram
estar ali com Zack, o irmão mais velho de Nigel, por duas semanas.
Zack viviano Brooklyn, uma base ideal para explorar a cidade. No
avião para Nova Iorque, Nigel contou a Nathan que Zack era um
homem especialmente amigável, mas que ele exibe um estranho
humor. Nigel contou a ele o que aconteceu ao seu irmão anos atrás.
No passado Zack foi um estudante excepcional e suas notas o
conduziram para um emprego com um renomado escritório de
advocacia em Nova Iorque. Ele trabalhou lá por vários anos, se
casou e fez suas economias. Um dia, Zack se envolveu em um
grave acidente de carro. Ele sobreviveu, mas ficou em coma por
semanas. Eles temiam por sua vida. Quando ele acordou, ele não
era completamente ele mesmo. Durante as semanas seguintes, ele
se tornou viciado em álcool e como resultado ele perdeu seu
emprego, depois seus amigos e finalmente sua esposa o deixou.
Zack foi aceito em um hospital especializado em Los Angeles. Lá
ele teve sucesso em se desintoxicarcompletamente, mas durante
sua estadia por lá algo muito estranho aconteceu. No hospital Zack
leu todos os livros sobre Gandhi sobre os quais pôs suas mãos e
então ficou convencido que era destinado a continuar a missão de
Gandhi. Nathan ouviu atentamente. Desde então Zack usou
exclusivamente roupas brancas e rapou a cabeça. Cada ano, no dia
da morte de Gandhi, ele vestiaroupa vermelha como símbolo do
sangue de Gandhi. Na residência dele todos os relógios estão
parados em 17:00, a hora que Gandhi foi assassinado durante seu
encontro de oração com as pessoas. Zack estava convencido de que
ele tinha que continuar o trabalho de Gandhi. Desde então tentou
chegar às pessoas para começar uma grande, não-violenta rebelião
contra a injustiça. De acordo com ele nesse sentido a consciência
do mundo será reforçada e a humanidade seria liberada de seus
sofrimentos.
─ Como seu irmão vê a função dele nisso? Nathan perguntou a
Nigel.
_ Sua experiência como advogado, respondeu Nigel, ele agora a
usa para defender os menos afortunados em nossa comunidade. Ele
não perdeu nenhum de seus conhecimentos. Por exemplo, ele visita
211
gerentes e pedea eles para empregar pessoas desempregadas ou
organiza pequenas manifestações contra a injustiça nas ruas de
Nova Iorque.
─ Você está preocupado com seu irmão? Nathan queria saber.
─ Eu não sei realmente o que pensar disso. Eu sei que Zack gastou
ou distribuiu quase todo o seu dinheiro. A única coisa que ele ainda
possui ésua casa no Brooklyn e ele recebe um seguro mensal.
Nathan ouviu atentamente e foi tocado pelo que Nigel dissea ele.
─ Talvez você possa ajudá-lo, Nathan? Nigel acenou.
Nathan ficou surpreso pela observação de Nigel, mas justamente
quando ele quis reagir o comandante de bordo anunciou que eles
estavam chegando aNova Iorque. Zack deu as boas-vindas a eles
na sua chegada. A semelhança física entre o irmão de Nigel e
Gandhi era deveras marcante. Zack era magro, barbeado e usava
pequenos óculos. Ele usava uma jaqueta branca com calças da
mesma cor. Zack fez uma impressão festiva por iniciar com
algumas piadas. Quando ele ouviu que Nathan estava fazendo
umtour pelo mundo, ele mostrou grande interesse. Ele se ofereceu
para mostrar a Nathan a cidade de uma maneira que ele conheceria
a verdadeiraNova Iorque. Nathan aceitou o convite. Naquela noite
Zack foi pegar sua velha van e estacionou em frente à porta.
Nathan e Nigel sentaram. Até agora Zack tinha se conduzido muito
normalmente. Nathan pensou que ele estava agindo com muita
inteligência, embora Nathan tivesse reparado que Zack
frequentemente usava as expressões de Gandhi. Primeiro Zack
dirigiu para amplos bulevares, onde ele os mostrou os mais altos
arranha-céus no meio de pequenas lojas. Lá eles saíram e foram em
um restaurante da moda pra comer algo. Quando Zack fez seu
pedido, ele lançou mão deuma pequena literatura onde ele declarou
por que seria melhor que cada um se tornasse um vegetariano. Sua
literatura não estava chocando as pessoas presentes no restaurante,
porque suas declarações foram feitas com humor. Nigel sentiu-se
desconfortável, enquanto Nathan se sentiu entretido e ficou mais
intrigado pelo seu personagem. Zack pareceu estranho em sua
roupa branca e ele também se comoveu repentinamente. Mas sua
aparência e seu humor estavam em agudo contraste com sua
eloquência. Após a refeição,Zack dirigiu pelo Bronx e Distrito de
Queens. Zack não dirigiu pelos distritos mais empobrecidos por
acaso. Nathan e Nigel entenderam que com isso Zack quis
demonstrar a grande contradição entre distritos mais pobres e os
mais ricos.
212
─ Isso não é estranho, Nathan ─ Zack disse ─ ver tanta pobreza em
uma cidade onde o mais importante centro dos negócios
americanos é localizado e também a maior bolsa de valores do
mundo?
─ O contraste é realmente muito grande, disse Nathan.
─ E então segue a mesma pergunta, o que nós fazemos em relação
àisso? Zack perguntou.
Nigel reagiu imediatamente a essa declaração.
─ Nós não temos o poder para mudar isso, Zack.
─ Enquanto você pensar dessa forma, você realmente não será
capaz de mudar muito, contou Zack a ele.
─ Que tipo de mudanças você criou então? Nigel perguntou em um
tom de repreensão.
─ Alguma coisa está se movendo, Zack contou a ele. Mais e mais
pessoas querem mudar. Nesse sábado teremos uma manifestação.
Você quer vir conosco?
─ Qual a razão para a manifestação? Nathan perguntou
─ Nós estamos nos levantando para os direitos de todos que estão
aqui e trabalham aquiilegalmente. Nós exigimos que eles tenham
os mesmos direitos. Agora usualmente eles devem trabalhar muito
mais que residentes legais, por um salário menor e sem segurança.
─ Quem está organizando a manifestação? Nathan perguntou.
─ Muitas uniões com outros grupos, Zack disse a ele.
─ Zack tem boas intenções, disse Nigel, mas ele não entende que
ele está sendo questionado por quêcom cada manifestação ele
mobiliza muitas pessoas.
─ O que você não entendeNigel, é sobre o que é tudo isso, Zack
replicou defensivamente.
─ Então é sobre o quê? Nathan perguntou.
─ Eu quero envolver o maior número de pessoas possível com
relação à violência tomando lugar em nossa comunidade.
─ Quem são as pessoas que acompanham você durante essas
ações? Nathan perguntou.
─ Amigos que eu tenho cultivado quando ninguém quer cuidar
deles, disse Zack.
─ Existem pessoas vivendo abaixo do nível da pobreza, que estão
seguindo ele por causa do que podem pegar dele, Nigel disse.
─ Não, Nigel, Zack reagiu, assim você vai ficar olhando
novamente mais o mal do que o bem. Eles me seguem pelo que eu
represento. Eles sabem que eu posso liderar eles para o objetivo
final.
213
─ A que objetivo final você está se referindo? Nathan perguntou.
─ Zack aspira afelicidade para todos, disse Nigel.
─ Sozinho isso é um lindo objetivo, disse Nathan, como você quer
alcançá-lo, Zack?
Ensinando os quatro grandes princípios para todos de uma maneira
pacífica: Não temer o fracasso, não ferir nenhuma forma de vida,
lutar pela recuperação da justiça, e o último, não deixar sua
felicidade ser determinada por bensmateriais.
Novamente Nathan reconheceu os ensinamentos de Gandhi nas
palavras de Zack, o que não mais foi discutido enquanto eles
voltaram para casa. Antes de ir dormir, Nathan pensou sobre tudo
que ele havia vivido naquele dia. O que Nathan achou marcante
sobre Nova Iorque era a grande variedade étnica e o modo de vida
agitado. Apesar da comoção, Nathan gostou de ficar nessa
dinâmica metrópole. Essa cidade cosmopolita fez Nathan pensar
das palavras de Simon durante a estada deles na Alemanha.
Cidades separadas por grandes rios geralmente também têm
grandes diferenças em suas mentalidades. Justamente como São
Francisco, Nova Iorque era também uma cidade com rios correndo
por ela. Mais tarde, Nathan tentou formar uma imagem de Zack.
Ele não pôde avaliá-lo completamente, mas teve a sensação que ele
pode ser de importância. Ele teve esperança de que os dias
subsequentes poderiam trazer a ele mais clareza. Na manhã
seguinte, Zack acordou Nigel e Nathan cedo. Ele manteve o
mesmo nível de energia, embora o café da manhã que ele preparou
não era para o gosto de Nigel. Lá tinha grãos, musli de banana e
pão de centeio alemão. O programa de hoje inclui um passeio pelo
centro de Manhattan. Eles visitaram o prédio das Nações Unidas,
muitas galerias de arte, e até assistiram um ensaio gospel em uma
igreja. Em uma das galerias de arte, Nathan usou a oportunidade
para conversar com o administrador da galeria. Como ele
responder entusiasticamente, Nathan prometeu mandar para ele um
catálogo dos trabalhos de Sophie. Nathan começou a ficar mais
conectado a Nova Iorque. Ele achou ser uma cidade cheia de
extremos, onde os sonhadores se sentem em casa. Aqui vive o
pensamento de que os maiores sonhos podem se tornar realidade,
se alguém acreditar neles. Isso criou grandes dinâmicas e para
muitos também uma atitude positiva, a qual Nathan teve também
vivenciado em São Francisco. Naturalmente essas cidades não são
somente beleza. Como qualquer cidade progressiva, é também um
lugar de desilusão para todos que desistiram durante suas jornadas
214
ou cultivaram expectativas irreais. Nathan reparou isso
particularmente de acordo com o grande número de prostitutas que
ele viu nas ruas. Quando ele fez uma observação sobre isso, Zack
perguntou o que ele pensou que fossemas causas disso.
─ O que você aponta como explicação, ele disse, desde o simples
fato de que é uma cidade de milhões, onde todos falam
virtualmente a mesma língua, haver ainda tantas pessoas que estão
sozinhas?
Nathan observou que Zack, e Nigel também, estavam fazendo
mais perguntas e ficou curioso de suas opiniões. Ele pensou sobre
isso e decidiu ir mais longe.
─ Eu acredito que o maior impedimento é o espírito competitivo
que impera pelo mundo. Muitas pessoas apenas vivem para
mostrar que elas são as melhores, as mais fortes e mais poderosas.
Isso estimula indiferença, egoísmo e inveja.
Competição é realmente a causa de muita miséria e é o que nós
vemos nessa comunidade. Vivemos em uma comunidade na qual
queremos estar associados com pessoas que alcançam coisas.
Aqueles que não se apresentam bem são considerados fracos e
então também a visão de grande solidão.
Nigel concordou com isso.
─ Essa compulsão pela realização ainda está dentro das famílias.
Estranho como as pessoas fazem isso a elas mesmas, não é? Nigel
perguntou a Nathan.
Nathan ouviu na voz de Nigel que falavasobre algo que ele havia
vivenciado. Ele havia sofrido por causa disso? Teria seu irmão tido
problemas também por tamanha pressão? Nathan quis saber mais
sobre isso e continuou com o assunto.
─ É esperado um desempenho cada vez maior. Pessoas não apenas
colocamessa pressão nelas mesmas, mas com certeza naquelas em
que amam. Por exemplo, pais têm boas intenções e pensam que
dessa maneira eles estão preparando suas crianças do modo mais
eficiente para a vida que os aguarda...
Zack interrompeu Nathan:
─ Eles não sabem que suas crianças querem principalmente ter
amor... mas, sim aqueles que não se amam não podem amar a mais
ninguém.
Isso confirmou o pensamento de Nathan. Nigel dirigiu-se a Nathan.
─ Você provavelmente já entendeu que nós não temos boas
experiências em relação a isso, Nigel disse.
215
─ Podemos descobrir o verdadeiro valor das coisas de todas as
vivências, disse Nathan. Nosso humor não é determinado pelas
nossas experiências, mas pelas nossas expectativas!
Quanto mais tempo eles passavam com Nathan, mais
impressionados eles ficavam com seu discernimento. Suas
conversas cada vez mais pareciam conversas entre professor e
aluno. Eles deixaram o tumulto do centro da cidade e foram para o
Central Park, em meio às muitas carruagens que faziam suas voltas
ali. Zack quis ir para Strawberry Fields com Nathan para mostrar a
ele o lugar dedicado a um famoso cantor que havia sido
assassinado. Uma vez lá ele mostrou a Nathan o mosaico com o
texto no centro "Imagine", como referência a uma de suas músicas
mais famosas.
─ Ele também teve a coragem para conquistar seu medo, Zack
contou a ele. Pode alguém ser tão inspirador, Nathan?
─ Gandhi não indicou não olhar para os outros, mas apenas para o
que podemos contribuir para esse mundo? Nathan reagiu.
Zack olhou para Nathan e acenou. No caminho de casa Nathan
ficou ciente de quão fortemente ele havia transferido suas opiniões.
Isso aconteceu mais e mais sem esforço consciente. Ele teve que
lembrar-sedas palavras de Catalina, quando ela disse que agora um
período havia iniciado no qual ele começaria sua missão como um
guia. Vadim havia dado a ele a mesma mensagem por Deborah.
Como sempre, antes de ir deitar-se, Nathan tentou lembrar-se de
todas as ocorrências do dia. Mais uma vez ele se perguntou aonde
todas suas experiências o iriam levar. Essa pergunta foi seguida de
um forte sentimento de coragem e confiança. Um sentimento
ficouclaro para ele que era sua voz interior. Uma voz que o
advertiu e a qual se tornou clara com o tempo. Mas hoje essa voz
pareceu diferente! Ela pareceu como se fosse ainda mais clara do
que nos outras vezes. Nathan se concentrou e descobriu que ele
poderia distinguir cada palavra. Ele podia entender a mensagem de
uma maneira mais clara, como se outra pessoa estivesse falando
com ele no quarto. A mensagem que ele ouviu era a seguinte: ─ Se
você seguir sempre a estrada indicada, o tempo dará a certeza de
que todas as suas perguntas se juntarão às respostas no final! Então
o silêncio se seguiu. Essas palavras deram a Nathan ainda mais
convicção do que antes, que tudo que está acontecendo em sua
vida tem um significado maior.
Hoje era sexta-feira, o dia anterior à manifestação. Nathan e Nigel
sabiam que eles poderiam encontrar Zack no Central Park. Ele
216
sempre planejava suas ações ali com seus amigos. Quando Nathan
e Nigel chegaram, eles viram um grupo de pessoas sentadas na
grama. A cena lembrou algo de uma fábula. Zack estava sentado
em frente e estava dando uma explanação. O sol brilhou em sua
roupa branca. Antes dele estavam aproximadamente trinta pessoas
ouvindo atentamente quem estava encorajado para também
envolver seus conhecimentos na revolta deles. Nathan e Nigel
cumprimentaram Zack e sentaram na grama ao fundo. Eles
repararam imediatamente que estavam também entre as pessoas
presentes. Alguns estavam de terno; provavelmente era a hora do
almoço delas. Nigel sussurrou para Nathan que ele estava errado
em sua opinião sobre os seguidores de Zack. Agora questões
diferentes eram perguntadas para o grupo, para o qual Zack
demonstrou que era um bom locutor. A natureza das perguntas era
sobre a desigualdade na comunidade e como ir contra isso.
Inicialmente ideiasinteressantes eram introduzidos, mas então a
atenção diminuiu porque todo mundo quis expressar suas opiniões
ao mesmo tempo. Era principalmente sobre a correta aproximação
para amanhã, as palavras certas, o tempo exato e outros detalhes
pequenos. Todos estavam falando ao mesmo tempo e o volume
cresceu até que Zack requisitou silêncio em voz alta. Isso foi
efetivo, porque as pessoas presentes pararam de falar
imediatamente. Zack agora apontou para Nigel e Nathan.
─ Eu quero apresentar alguém para vocês, disse Zack. O homem
com o cabelo louro é Nigel e é meu irmão mais novo.
Todos viraram e olharam na direção indicada por Zack. Nigel
olhou para seu irmão, sem entender. O que estava fazendo o seu
irmão? E quais eram suas intenções?
─ Nigel trouxe alguém aqui, continuou. Seu nome é Nathan.
Agora todos os olhos eram direcionados para Nathan, o qual estava
curioso também para as intenções de Zack.
─ Nathan viaja pelo mundo. Eu não o conheço há muito tempo,
mas desde já eu posso dizer que nunca conheci alguém que tenha
tanto conhecimento. Embora ele seja ainda jovem, para mim ele
representa o exemplo que todos deviam seguir.
Nathan estava surpreso pelo comentário, mas reagiu serenamente.
Ele mostrou Zack que ele estava preparado pra qualquer coisa que
pudesse ser requisitada por ele agora.
─ Eu não perguntei a ele ainda, mas eu gostaria de saber o que, em
sua opinião, seria a aproximação correta para lutar contra a
desigualdade e a injustiça. Além disso, eu gostaria de perguntar a
217
ele o que ele pensa sobre a maneira na qual nós estamos lutando
contra isso agora.
Nathan tentou abalizar rapidamente o que poderia estar
acontecendo agora. Ele tomou conta de toda a circunstância e
pensou sobre seu próximo curso de ação. Ele viu um grupo de
pessoas antes dele que esperava ansiosamente por suas respostas.
Ele pensou sobre os possíveis motivos de Zack para convidá-lo
para compartilhar suas opiniões. Ele também se lembrouda
requisição de Nigel para ajudar o seu irmão. Depois de alguns
segundos Nathan se levantou. Ele andou para frente e sentou
próximo a Zack. Ele colocousua mão no ombro de Zack para
indicar seu apoio e que o considerava um amigo. Então Nathan
olhou para todos e falou com frases fortes.
─ Eu estou feliz com o que eu vi hoje. Eu vejo pessoas que vieram
aqui, guiadas por um forte sentimento de poder. Um desejo de
poder que motiva vocês a fazerema coisa certa. Quando eu vejo
pessoas que se esforçam para o bem, eu me sinto feliz.
Nathan fez uma pausa. Ele estava surpreso comsuas próprias
palavras e reparou a impressão que suas palavras surtiamem sua
audiência. Sem pensar adiante ele continuou sua declaração.
─ Porque eu vejo que muito entre vocês querem fazer algo
significante contra a injustiça, eu quero contar a vocês algo
importante.
A audiência estava completamente em silêncio.
─ Lembre, e isso, meus amigos, é algo que eu quero enfatizar, que
quando isso é sobre o melhoramento da vida na Terra, existe algo
mais poderoso e efetivo que o desejo de poder.
Agora todos estavam curiosos sobre a importante declaração que
Nathan estava transferindo para eles.
─ E isso é o discernimento! Discernimento pode ser à base de
todas as nossas ações. Quando o discernimento é finalmente
ancorado na origem dos nossos pensamentos e sentimentos, nosso
desejo de poder será guiado pelas intenções ricas com
discernimento.
Novamente Nathan pausou paradeixar o significado de suas
palavras serem absorvidas. Um homem de terno perguntou para
ele:
─ Como nós podemos verificar o que é a origem dos nossos
pensamentos e sentimentos?─ Pensando sobre nossa reais
motivações, Nathan respondeu. Nós fazemos isso perguntando a
218
nós mesmos: Qual o objetivo final que aspiramos alcançar?De
novo Nathan pausou e nesse tempo continuou dinamicamente:
─ Eu ouvi como vocês estavam falando sobre a maneira correta de
ir nessa ação. Mas está cada um de vocês convencido da verdadeira
razão do manifesto?Nathan pausou. Todos estavam ainda em
silêncio.
─ Vocês não têmque responder essas perguntas em voz alta, mas
respondê-las para vocês mesmos. O que o meu mundo ideal se
parece? O que eu posso fazer para alcançar isso? Essas são as
questões, as quais direcionam para discernimentos profundos se
nós prestarmos atenção suficiente aisso. Agora Nathan levantou e
finalizou seu discurso com mensagens fortes, interrompidas por
longas pausas. Suas palavras tiveram um efeito nas pessoas
presentes, comparável a uma hipnose coletiva. ─ Utilizando esse
método irãocertificar-se, quem estiver realmente aspirando para o
bem, irá reconhecer uns aos outros! Eles sentirão uma forte
conexão! Eles serão capazes de usar seus potenciais por inteiro!
Suas ações serão exemplos para todos e suscitarão neles a
vontadepara gradualmente mudar o mundo em um lugar de
hospitalidade e inspiração para todos nós. Nathan agradeceu a
todos e imediatamente andou para fora do parque. Nigel se
levantou e o seguiu. Ele andou próximo a ele e viu que ele ainda
pensava profundamente. Ele não se atreveu a conversar com ele.
Parecia como se Nathan estivesse preocupado com o que acabara
de acontecer. Algum tempo depois, Nigel falou.
─ Tanto Deborah quanto Zack haviam visto isso
imediatamente!Nathan não reagiu. Nigel não desistiu.
─ Você é realmente excepcional!Nathan ergueu os olhos por causa
das palavras de Nigel, mas ainda não disse uma palavra. Mas então
ele forçou Nigel a parar segurando seu braço.
─ Eu não entendo o que aconteceu aqui. Eu apenas lembro que eu
estava pensando um pouco, mas o que se seguiu... apenas
aconteceu... como se algo dentro de mim tivesse formulado tudo.
Eles continuaram andando. Nigel quis saber algo mais.
─ Posso perguntar uma coisa?
─ Acredite em mim, Nigel, nemmesmo eu não sei aonde tudo isso
irá levar!Nigel estava surpreso pelo fatode que Nathan tivesse
adivinhado sua pergunta. Ele viu que Nathan tinha pensado o
suficiente sobre isso e viu que era melhor deixar tudo descansar
por agora. Nathan pediua Nigel para deixá-lo sozinho pelo resto do
dia. Nigel foi para a cidade comprar algo. Nathan foi para Coney
219
Island, uma praia o sul doBrooklyn. Raramente Nathan tinha tido
tanta necessidade de olhar para o mar e se isolar. Ele foi a uma loja
na praia e pediuao caixa por uma bolsa. Na loja ele tirou suas
roupas, deixando apenas o seu short e perguntou àmulher se ele
podia deixar suas coisas ali. A mulher pegou a bolsa com um
sorriso e colocou-a de lado. Nathan saiu da loja, foi à praia e
mergulhou no mar. Por horas ele permaneceu na água. Ele queria
mais clareza sobre sua missão maior. Pelos anos ele descobriu que
suas palavras e ações foram grandemente inspiradas pelo
"elemento natural" na origem de sua vida. Um "elemento natural",
o qual o guioupara uma missão maior, o qual é para esclarecer algo
para a humanidade; um "elemento natural", no qual ele se
reconhece mais e mais. Nessa noite Nathan chegou tarde e foi
dormir imediatamente. No dia seguinte Zack partiu cedo. Nathan
levantou ao meio-dia. Nigel havia preparado almoço para os dois.
Nigel viu que Nathan havia descansado bem. Embora
houvessefeito muitas perguntas para Nathan, ele se conteve. Ele
sabia que um momento chegariaem queNathan indicaria que queria
falar. Depois do almoço, Nathan e Nigel foram à manifestação para
ver o final dela. Ambos não eram grandes advogados de muitas
ocorrências, mas fizeram principalmente como um favor para
Zack. Zack sabia disso e apreciou seus gestos. Quando a
manifestação terminou, Nathan, Nigel e Zack andaram pelas ruas
de Nova Iorque. Zack agradeceu a Nathan por seu discurso de
ontem e indicou como ele e os outros ficaram fortemente
impressionados. Estava quente e eles decidiram sentar na varanda
de um bar. Naturalmente Zack e Nigel quiseram perguntar todo
tipo de perguntas. Zack começou primeiro perguntando a ele o que
seria a melhor aproximação para lutar contra a pobreza e a
injustiça.
─ Ontem e durante a manifestação hoje, eu pensei sobre o que
você disse. Eu concordo com você que todos devem primeiro
pergunta a si próprio aonde querem ir para obter discernimento
sobre oque a contribuição pode ser.
─ Estou feliz de ter sido útil, disse Nathan. Zack ficou quieto,
como se ele estivesse reunindo toda a sua coragem para dizer o
seguinte:─ Nathan, toda pessoa que conhece você pessoalmente
sabe que você é capaz de nos dar muito mais direção.
─ O que você está tentando me dizer, Zack? Nathan perguntou.
─ Eu quero perguntar a você como eu posso trazer mais
discernimento às pessoas. Vivemos em uma era na qual tanto pobre
220
como rico gastam a maior parte do tempo trabalhando. Seja por
sobrevivência ou paraacúmulo de posses, a atenção deles é quase
exclusivamente direcionada para isso.
─ E se eles não estão trabalhando, eles querem ter o maior prazer
possível e tem menos atenção para as doenças sociais, Nigel
paramostrar que apoia a pergunta de Zack.
─ Você também conhece a razão para isso? Nathan perguntou.
Nigel e Zack pensaram sobre isso. Eles deram respostas diferentes
até que Nigel deu a seguinte resposta.
─ Eu diria que eles estão muitoenvolvidos consigo mesmos.
─ Você deu justamente a resposta correta, disse Nathan. As
pessoas devem primeiro se sentir satisfeitas e felizes e então fazer
um esforço poralguém mais. Apenas quando suas próprias
necessidades forem preenchidas, eles podem se tornar mais
conscientes das necessidades dos outros.
─ Certamente, geralmente as pessoas felizes são as únicas a fazer
os maiores esforços, Zack declarou.
─ Quando sua própria vida está suficientemente preenchida, você
irá sentir mais envolvimento com as pessoas ao seu redor, Nathan
disse, e então você naturalmente sentirá uma necessidade de se
envolver de uma maneira ou de outra.
─ Por que as pessoas felizes são mais capazes de fazer esforços do
que outras? Nigel perguntou.
─ Isso se refere ao fato que uma pessoa pode apenas ajudar as
outras se ele pode entendê-las e as suas necessidades sobsuas
próprias perspectivas. Isso só é possível quando essas pessoas
aprenderam a compreender as suas necessidades e a dos outros.
Sem conhecimento sobre si próprio, entender os outros é
impossível.
─ É esse o discernimento que você estava falando ontem?─ Tanto
o que eu disse ontem quanto hoje, e o que eu direi amanhã,
formarão parte de um e do mesmo discernimento Se eu olhar ao
redor, disse Zack, para o que prende a maior parte da atenção das
pessoas, é difícil entender comoeles serão capazes de conhecer
isso. Você ainda tem esperanças, Nathan?
─ As coisas podem mudar rapidamente, disse Nathan, o
discernimento de um momento pode abrigar mais valores que a
experiência de uma vida inteira.
221
Destino
Durante a segunda semana da estada deles na costa Leste, Nathan e
Nigel foram perambular por alguns dias. Durante a viagem, Nigel
se tornou ainda mais fascinado pela profunda visão da vida de
Nathan. Primeiro eles visitaram a bela cidade histórica de Boston,
com suas casas pitorescas. Depois disso, eles foram para o Canadá,
onde eles visitaram duas grandes cidades. Primeiro eles visitaram
Toronto, a maior cidade no país, a qual é chamada "a cidade de
vidro", por causa de suas altas construções. Então eles dirigiram
para French Quebec, onde eles visitaram Montreal. Lá Nigel e
Nathan ficaram fascinados principalmente pela bela cidade antiga.
Em um dos cafés na "Vieux Quartier" Nathan e Nigel trocaram
suas visões sobre a vida de Zack. Isso levou a uma fascinante
conversa sobre um tema que prendeu fortemente a atenção de
Nigel. Ele precisava da opinião de Nathan sobre a liberdade que
cada um de nós tem de escolher um caminho de vida:
─ Até que ponto nós temos nossos destinos em nossas próprias
mãos?
Nathan entendeu a importância daquela pergunta e o valor que
Nigel daria às suas palavras.
─ Sabendo que você deve terum entendimento claro do destino de
um lado e do livre arbítrio do outro e fazer distinções corretas entre
oque nós não escolhemos para nós mesmos e oque nós o fazemos.
Nigel ouvia muito atentamente:
─ O que você quer na realidade é conhecer para ondevãoas forças e
onde nossa função começa. Vamos começar primeiro com o
destino.
Nathan bebericou o seu café:
─ O que nós vivenciamos como destino, ele então disse, é a
expressão de uma ordem universal.
─ Uma ordem universal? Nigel repetiu.
─ Em todo o mundo existem diferentes nomes para isso. Por
exemplo, o Professor Vadim chama isso de unidade perfeita.
Nigel fez a associação com ambososnomes e então entendeu
perfeitamente o que Nathan dizia.
─ De acordo com o professor, essa unidade perfeita está em todo o
ser vivente, disse Nigel.
222
─ Essa ordem, Nathan continuou, é o conjunto de todos os
princípios criativos, os quais regulam a vida e a evolução no
universo inteiro. Em essência, estamostodos nós com essa unidade
perfeita, na qual nós temos um lugar único.
─ Como podemos reconhecer o nosso lugar único na ordem
universal?
─ Utilizando nossas possibilidades congênitas, assim como nossa
natureza, nossos genes, nossa personalidade e tal. Essas são as
expressões do nosso destino.
─ Então o que acontece com o nosso livre arbítrio?
Nathan deu outra bebericada em seu café, enquanto Nigel ouvia
atentamente.
─ Dentro dessa ordem que eu estava falando, cada um de nós cria a
nossa própria vida. Nós não fazemos isso sozinhos, mas juntos
com nossas companhias desde a concepção. Usando ou não certas
possibilidades e fazendo escolhas certas, nós influenciamos a vida
de cada um de nós.
─ As escolhas não estão ligadas ao nosso destino?
─ A essência de nosso livre arbítrio é a maneira na qual tratamos
com nosso lugar único na ordem universal. Para dominar isso
completamente, eu irei explicar para você como o nosso
pensamento funciona.
─ Isso soa fantástico!
─ Séries inumeráveis de escolhas se apresentam para nós em
qualquer ponto durante o dia. Como você sabe, essas escolhas têm
consequências e então cada escolha no presente determina nosso
futuro.
─ Mas o que determina que fizemos uma escolha certa e não outra?
─ Quando pensamos conscientemente sobre uma escolha, nós
sempre tentamos fazer uma estimativa das consequências relativas.
Cada um de nós faz isso baseado em percepções derivadas de
experiências anteriores.
─ No Central Park você falou sobre a importância de encontrar a
origem dos nossos pensamentos e sentimentos verdadeiros.
─ Você tem uma boa memória. Paraganhar discernimento no modo
de como pensamos, devemos ser cientes do fato que sempre
decidimos quais sentimentos nós ligamos acada pensamento.
Nigel pensou por um instante.
─ Cada pensamento não está conectado ainda com certos
sentimentos?
223
─ Parece como isso, mas lembre-seque cada um de nós tem a
capacidade de escolher qual sentimento ligara qualpensamento.
Quanto mais temos ciência disso, mais corretas as nossas escolhas
e mais felizes seremos no fim de nossas ações.
Nigel pensou que isso estava muito claro e agora tomou tempo
para pensar sobre o que aconteceu com cada escolha. Nathan
permaneceu em silêncio o olhou para as pessoas andando ao seu
redor. Ele conscientemente deixou o tempo fazer o seu trabalho e
esperou até que sua mensagem alcançasse seu destino.
─ Agora eu posso vivenciar claramente a origem de nossos
pensamentos, Nigel disse após pequena pausa, e eu entendi melhor
o que é determinado pelo destino e o que diz respeito ao nosso
livre arbítrio. Agora eu sou ainda mais ciente de que nosso destino
depende da extensão na qual aprendemos a sentir as coisas da
maneira certa.
─ Você poderia dizer que somos destinados a ser livres, Nathan
replicou.
Nathan e Nigel deixaram o café e passearam de volta para o hotel.
No caminho, Nigel teve outro questionamento.
─ Você tem me dado informações muito claras e valiosas sobre um
tema que eu tenho me questionado por toda a minha vida. Você
aprendeu essas declarações ou elas vieram até você
espontaneamente hoje?
Nathan percebeu que Nigel queria descobriro que havia acontecido
no Central Park. Ele respondeu com um sorriso.
─ Vamos apenas dizer que eu posso facilmente colocar o que eu já
recebi em palavras!
Após a visita deles à Montreal, Nathan e Nigel dirigiram de volta
para Nova Iorque. Na chegada deles Zack perguntou se
poderiaacompanha-lo no dia seguinte. Ele tinha uma surpresa para
eles. No dia seguinte eles foram com Zack para um gigantesco
centro de compras coberto. Era sábado, o dia mais cheio da
semana. Nathan e Nigel estavam muito curiosos sobre a surpresa.
Quando eles entraram no centro de compras, Zack disse com certo
orgulho:
─ Olhe para vocês mesmos!
Nathan e Nigel olharam em volta, mas não viram nada incomum.
─ Vocês não veem?
─ O que deveríamos ver? Nigel perguntou. Quando Nathan olhou
para cima, percebeu alguma coisa. Eram fotos enormes. Estas eram
imagens dos bairros pobres e dos desabrigados. Abaixo, essas
224
grandes aspas haviam sido adicionadas. Agora Nigel também
olhou para cima e leu as aspas:
─ Isto também é Nova Iorque!, O dia moderno Nova Iorque!, Isso
é onde nós vivemos!
Nathan olhou para Zack:
─ Você conseguiu que pusessem essas fotos aí?
─ Esse projeto foi criado depois que eu, juntamente com alguns
amigos, pensamos sobre as suas palavras, Zack respondeu. Nós
temos que agradecer a você por isso, Nathan.
─ O que você quer dizer? Nigel perguntou.
─ Nathan falou sobre duas questões que tivemos que perguntar
para nós mesmos. Com o que o nosso mundo ideal se parece e o
que eu posso fazer pessoalmente para alcançá-lo. O debate que
tivemos sobre isso nos inspirou para esse projeto. Além disso,
muitos outros projetos foram propostos.
Nathan não disse nada e emocionou-se por Zack, que continuou
falando.
─ Esses são todos projetos que mostram a injustiça, mas queremos
trabalhar usando uma fundação criativa. Nós esperamos que
quando as pessoas verem em que situação patética muitas cidades
vivem, eles serão mais cientes de quão sortudos eles são. Quem
sabe, talvez eles também irão se impor sobre alguns fatos
concernentes à injustiça.
─ Como você planeja realizar isso em alguns dias? Nigel
perguntou.
─ Isso é incrível! Zack disse. Muitos fotógrafos, um escritório de
publicidade e uma prestadora de serviços trabalharam de graça
nisso. Adicionalmente, eles me apoiaram em convencer a diretoria
do centro de compras para contribuírem.
Nathan foi até Zack e o abraçou. Quando eles se separaram, ambos
estavam com os olhos cheios de lágrimas.
─ Como você disse, Zack disse para Nathan, o discernimento de
um momento pode ser mais valioso que a experiência de uma vida
inteira.
─ Você é puro, Zack, Nathan adicionou, você é puro e justo!
Depois dessas palavras emocionadas eles passearam pelo centro de
compras, que hoje também funcionavacomo uma área de exposição
para essa exposição imprevisível. Na manhã seguinte eles disseram
adeus para Zack no Aeroporto JFK em Nova Iorque. Zack tinha
uma última pergunta para Nathan.
225
─ O que exatamente você quis dizer quando disse que eu sou puro
e justo?
Nathan pegou sua mochila e então pôs sua mão sobre o ombro de
Zack.
─ Você não é o que você pensa, Zack, você é autêntico!
De volta a São Francisco, Nathan ligou para Deborah e Vadim para
avisá-los que ele estava de volta. Vadim imediatamente convidou
Nathan para jantar na casa deles em North Beach. Durante a
refeição, Nathan discursou sobre sua viagem a Nova Iorque.
Vadim, Deborah e sua mãe ouviram atentamente. Depois do jantar,
Vadim propôsque Nathan ficasse com eles por um momento. Ele
gostaria de passar mais tempo com ele; um desejo que também era
compartilhado por Nathan, então ele aceitou o convite. Vadim teve
que sair, mas ele manteria a próxima noite livre para falar com
Nathan. Nathan e Deborah sentaram nasacada. Era uma noite
quente e úmida e existia uma agradável atmosfera no ar de São
Francisco. A mãe de Deborah abriu uma nova garrafa de vinho
regional e a trouxe para a sacada. Naquela noite Deborah seria
muito honesta com Nathan. Talvez o vinho tenha algo a ver com
isso.
─ Quando éramos mais jovens, Deborah disse, Zack e eu tivemos
um relacionamento por um longo período. Eu tinha pedido a Nigel
para não contar ainda para você sobre isso. Eu não queria
influenciar sua relação com Zack.
─ Eu entendo, disse Nathan, por favor, continue.
─ Para mim era claro que Zack seria o homem da minha vida, mas
quando ele partiu para Nova Iorque ele terminou o nosso
relacionamento.
─ Qual foi a razão?
─ Ele era completamente devoto a sua carreira e pensou que seria
melhor se nós seguíssemos nossas vidas separadas.
─ Você já quis vê-lo novamente?
─ Ele havia dito para eu esquecê-lo. Eu tentei, então não muito
depois ele já estava casado.
Nathan podia ouvir que Deborah ainda achava isso difícil.
─ Quando eu ouvi que ele estava em coma, eu quis vê-lo. Então eu
voei para Nova Iorque com Nigel e passei uma noite com ele. Ele
acordou algumas semanas depois.
─ O que aconteceu quando ele acordou?
─ Quando Nigel me contou, eu senti algo indescritível, um intenso
sentimento de alegria.
226
─ Você o visitou em que momento?
─ Quando ele deixou o hospital, ele se tornou viciado em álcool.
Ele não era mais ele mesmo e foi Nigel quem me alertou para não
voar para Nova Iorque. Ele me disse que Zack discutiu com todo
mundo, especialmente com sua esposa.
─ Você se arrependeu em não ir?Deborah pensou por um instante.
─ Eu sabia que não seria uma boa ideiaencontrá-lo naquele
momento. Mais tarde, quando ele estava em Los Angeles, eu fui
visitá-lo, mas ninguém sabia sobre isso.
─ Por que não?
─ Eu ainda não sei se Zack se lembra. Foi um dia estranho. Eu não
acho que ele me reconheça.
─ Deve ter sido um momento difícil para você.
─ Ele mudou muito. Ele pareceu diferente com sua careca. Suas
palavras foram tão incoerentes. ─ Eu não podia veratravés dele. Eu
acho que esse momento foi o mais triste da minha vida.
Nathan olhou para o lindo pôr-do-sol. Ele pensou sobre as palavras
de Deborah e tentou ligar todas as informações.
─ O que você está pensando, Nathan?
Nathan tomou algum tempo para responder.
─ Zack tem renascido!
─ Renascido?
─ Ele havia se distanciado muito de seu núcleo pela sua maneira de
viver nesse momento. Depois do seu acidente e seus problemas
com a bebida ele recebeu ajuda de um poder superior.
Deborah ouviu atentamente.
─ Você pode comparar isso com uma experiência de quasemorte,
Nathan continuou.
Deborah acenou levemente e indicou que ela já havia feito essa
comparação.
─ Se isso ajuda, Deborah, hoje Zack está mais feliz do que jamais
esteve.
─ Até mesmo mais feliz de quando nós estávamos juntos?
Nathan olhou para os olhos de Deborah.
─ Apenas saiba que Zack é capaz de amar você, Deborah.
Quando ela ouviu aquelas palavras, era como se todos os
sentimentos dolorosos que Deborah guardou daquele período
fossem subitamente liberados. Nathan viu as lágrimas em seus
olhos. Ele colocou sua cadeira próxima para escutar e pôs seu
braço em seus ombros.
227
─ Suas lágrimas estão brotando, porque você pode dar um novo
significado para o que aconteceu durante aquele tempo. Deixe-as
cair; elas irão encher o seu coração com novos sentimentos.
Deborah se sentiu melhor nos braços de Nathan e pensou quão
sortuda era porque ele tinha cruzado o seu caminho.
─ Obrigada pelo que você fez por mim e por Zack.
─ Essa é a minha forma de agradecer a você, Deborah, por seu
convite. Graças a você eu encontrei pessoas fantásticas em um país
fantástico.
228
Pensamento
Nas noites seguintes, Deborah deixou Nathan e o pai dela
conversarem. Algumas vezes ela sentava com eles e ouvia. Ambos
foram transportados paralongas conversas sobre o qual foi o
conhecimento mais importante que o homem moderno precisou.
Muito rapidamente Nathan foi de grande importância no preparo
das palestras de Vadim. Embora Vadim tivesse grande
conhecimento nesses temas, ele estava se tornando
progressivamente impressionado com as claras inspirações de
Nathan. Até que, não mais de que um mês mais tarde ele pediu a
Nathan um importante favor. Vadim foi convidado para uma
recepção em Atlanta, mas também foi convidado a fazer um
discurso em Los Angeles na mesma noite. Ele perguntou a Nathan
se ele queria substituí-lo e fazer o discurso em seu lugar. O tema
seria sobre "pensamento", um assunto que eles falaram
extensivamente nos últimos dias. Nathan disse a ele que ele amaria
dar esse discurso e ele mesmo o prepararia para seu primeiro
grande teste. O público consistiria tanto de conhecidos como
desconhecidos do mundo literário. O discurso formou parte de um
seminário dedicado à inspiração. Deborah disse a ele que iria com
ele. Alguns dias depois Nathan iria também pedira Nigel para ir
com ele para Los Angeles. Isso aconteceu durante um passeio que
eles fizeram no belo Parque Yosemite. Eles tiveram uma conversa
na qual Nathan enfatizou a análise da verdadeira motivação de
nossas ações.
─ Eu tenho falado para diferentes amigos, disse Nigel, sobre o que
você me disse concernente ao destino e ao livre arbítrio. Todos os
meus amigos ficaram impressionados.
─ O que foi a sua verdadeira motivação durante a conversa, Nigel?
O que você quer dizer?
─ Qual era o seu propósito? Compartilhar conhecimento ou fazer
uma impressão?
Nigel estava de certa forma confuso pelas declarações de Nathan.
Nathan não esperou por uma resposta. A mensagem foi clara.
─ Tente se libertar do esforço pela aprovação e poder, nenhum
deles são capazes de fazer você feliz.
229
Era a intenção de Nathan fazer Nigel pensar a respeito disso. Ele
viu que ele foi bem sucedido e então o tranquilizou imediatamente.
─ Não se preocupe, isso faz parte do seu processo de evolução. É
importante que você aprenda a procurar quais sentimentos são a
origem dos seus motivos.
─ Os motivos também têm sentimentos?
─ Motivos também são pensamentos, eles existem por eles
mesmos. Como eu disse a você mais cedo, todos temos a
capacidade de ligar os pensamentos aos sentimentos.
─ De onde vêm os pensamentos, então?
Nathan olhou para Nigel e percebeu naquele momento que ele
tinha que pedir a Nigel para acompanhá-lo ao seminário em Los
Angeles.
─ Vadim me pediu para dar uma palestra em Los Angeles na
semana que vem. Eu falarei sobre a origem dos pensamentos. Você
quer vir?
─ Gostaria muito!
─ Bom, Deborah também virá. Ficaremos por lá por todo o fim de
semana.
─ O pai de Seth vive em San Diego e ele frequentemente pede para
ficarmos em suacasa. Talvez devêssemos visitá-lo primeiro. Seth
certamente ficará feliz, eu falarei com ele primeiro.
Um pouco depois Nathan se preparou para sua palestra. Vadim deu
a ele conselhosvaliosos. Em um curto período, Nathan ficou
preparado para se tornar um orador público muito capaz. Seth
respondeu entusiasticamente ao convite. Nathan, Deborah, Nigel e
Seth saíram juntos no avião para San Diego, onde o pai de Seth os
aguardava. Ele era um homem jovial que já conhecia Deborah e
Nigel. Ele dirigiu-se a Nathan e se apresentou. Seu nome era
Richard.─ Então você é Nathan! Eu tenho ouvido muito sobre você
e quero agradecer por salvar a vida do meu filho.
─ Obrigado a você pela hospitalidade, respondeu Nathan. Em
relação ao que aconteceu em Puerto Angel, foi uma experiência
que deu ênfase à percepção para todos nós.
─ Definitivamente, por todos nós, enfatizou Deborah.
─ Eu tenho que dizer que por causa disso Seth também mudou,
Richard acrescentou. Ele tem se tornado mais calmo e mais
pensativo. Poderia isso ter algo a ver com todo o que aconteceu?
─ Uma grande mudançasempre toma lugar internamente e então se
expressa externamente, respondeu Nathan.
230
Richard não entendeu imediatamente o que Nathan queria dizer.
Ele ouviu algo sobre ele e acenou como se ele tivesse a
confirmação do que ele tinha ouvido. Richard viviaem uma grande
vila com um jardim enorme. Existiam lagos repletos de peixes
coloridos no jardim e uma grande piscina em forma de concha.
Seth e Nigel imediatamente trocaram suas roupas para roupas de
banho e pularam na piscina. Nathan e Deborah sentaram
próximosáRichard. Eles estavam sentados nas sombras de
grandesárvores quando Anna, uma garçonete de sotaque espanhol,
veio perguntar o que eles gostariam de beber. Quando Nathan
ouviu que Anna veio do México, ele disse que esteve lá
recentemente e havia viajado por grande parte do país.
─ Eu vim de Guadalajara, mas não vou lá há cinco anos. Quase
toda a minha família vive lá.
Nathan pode sentir que a mulher estava emocionada pelo seu tom
de voz. Ele suspeitou que ela provavelmente não poderia deixar
uma cidade como aquela e retornar sem problemas.
─ Você sente falta deles?
─ Eu sinto falta das pessoas, disse Anna, eu sinto falta do país,
sinto muita falta.
Nathan agora falou em espanhol.
─ Quando você sentir falta de algo, você tem que aprender a ver
isso com o seu coração. Seu coração te coloca emtodos os lugares.
Anna sorriu e também respondeu em espanhol.
─ Dizemos que quando sentimos amor por alguém, iremos sempre
ver mais do que nossos olhos podem ver!
Anna foi alegremente para dentro da casa e preparou suco de frutas
frescas. Richard, que também falava espanhol, seguiu a conversa.
─ Você é muito astuto, Nathan.
─ Quando você escuta o seu coração, você ouve o que acontece no
coração de qualquer pessoa, complementou Nathan.
─ Como você faz isso? Richard quis saber.
─ Falando sobre sentimentos podemos abrir atalhos para outros
sentimentos.
Richard estava ficando impressionado com Nathan.
─ Eu ouvi que você está indo dar uma palestra que é normalmente
dada por Vadim e que o público será composto por escritores
renomados e roteiristas.
─ Talvez você pudessevir também amanhã à noite? Nathan
perguntou.
231
─ Normalmente eu tenho algo mais planejado, mas eu posso
reprogramá-lo.
─ Estou certo de que você não iria recusar, disse Deborah.
Após um momento de silêncio, Richard propôs uma ideiapara
Nathan.
─ Nathan, eu posso ajudar você a fazer dinheiro dando palestras.
─ Obrigado Richard, mas para mim isso é sobre algo mais.
Os drinques foram servidos em belos copos de cristal.
─ Qual é o seu motivo então? Richard quis saber.
─ Estou preocupado com a humanidade, respondeu Nathan.
Houve um pequeno silêncio. Todos estavam bebendo seus sucos.
Depois de pouco tempo, Richard falou novamente.
─ Para ajudar a humanidade você precisa de recursos, e para
adquirir recursos você precisa de dinheiro.
Nathan olhou ao seu redor novamente e viu como tudo exibia
luxúria. Ele sabia que isso era um assunto sensível com Richard e
falou cuidadosamente.
─ Existe dinheiro suficiente no mundo. O que perdemos é o
discernimento!
─ Que tipo de discernimento você está falando, Nathan?
─ Discernimento doque a humanidade realmente necessita!
Seth veio beber seu suco e correu em direção à piscina.
─ Você despreza o dinheiro, Nathan? Richard perguntou.
─ Eu tento dar ao dinheiro o menor papel possível em minha vida.
─ De acordo com você, é errado apreciar o dinheiro? Richard
perguntou.
─ Nunca é errado apreciar, enquanto não é para a desvantagem de
outra pessoa. Embora a vida tenhame ensinado que aqueles que
apreciam a riqueza, são aqueles que precisam o mínimo, na
maioria das vezes.Novamente a conversa seguiu silenciosa. Mais
tarde Nathan ouviria de Seth que essas palavras fizeram o seu pai
pensar.
─ Nathan, disse Richard, eu quero te perguntar uma coisa. Quando
eu lhe disse que Seth tem se tornado mais pensativo, você disse
que grandes mudanças primeiro se iniciam internamente e então
são expressas externamente. O que exatamente você quis dizer?
Deborah olhou para Nathan.
─ Posso responder essa?
─ Vá em frente, Deborah! Nathan disse.
─ O que Nathan quis dizer é que grandes mudanças são resultados
visíveis do nosso processo de evolução. Tais processos começam
232
com o nosso nascimento e se diferenciam de pessoa para pessoa,
dependendo dos discernimentos que tenhamos obtido.
Richard acenou e a resposta pareceu ser suficiente para ele. No dia
seguinte eles tomaram o café da manhã juntos no terraço.
─ Quais são os seus planos para hoje? Richard perguntou.
─ Após o café eu quero mostrar aos nossos convidados os mais
belos lugares de San Diego, disse Seth, e à tarde talvez nós
possamosir para a praia.
Nathan, Deborah e Nigel concordaram com o programa. Após o
café da manhã quatro deles exploraram San Diego. Ao meio-dia
eles almoçaram em um dos muitos restaurantes no dique. Mais
tarde eles foram para a praia. Nathan procurou por um local
apropriado para tirar uma sesta, seguindo um bom costume. Ele foi
o primeiro a adormecer. Em seguida Nigel seguiu o seu exemplo.
Deborah leu um livro, enquanto Seth colocava os headphones e
ouvia música. Quando Nathan e Nigel acordaram, todos eles
mergulharam no mar. Quando eles saíram da água, Nathan disse a
eles que poderiam começar a ir para casa. Ele iria seguir um pouco
mais tarde. Uma vez sozinho, Nathan foi ao fundo da água para se
fortalecer para sua primeira grande missão como guia. Uma vez no
fundo na água, ele abraçou completamente o silêncio e encontrou a
força para sempre encontrar as palavras certas, para transferir suas
mensagens da maneira mais adequada. A voz que ele ouviu
claramente pela primeira vez alguns dias atrás, enquanto ele estava
em seu quarto em San Francisco, inegavelmente veio para ele de
novo, "O universo dará sempre a você a força que precisar." Com
essas palavras, Nathan sentiu sua autoestimacrescer ainda mais.
Ele percebeu por algum tempo que sua vida inteira foi
compreendida de mensagens que ele anunciaria e que o universo
inteiro o ajudaria, mas hoje cada célula de seu corpo estava
verdadeiramente convencida disso. Quando ele retornou da água,
sentiu uma segurança invencível. Nathan nunca antes havia sentido
isso tão poderosamente. Uma vez na casa de Richard, Nathan
tomou banho. Então ele se juntou aos outros na mesa. Anna
preparou um prato com frutos do mar delicioso. Depois cada um se
preparou para a viagem para Los Angeles. Cada um pôs sua
melhor roupa para essa ocasião. Nathan vestiu uma bela blusa azulclarae uma calça de linho branca. Cinco deles entraram no interior
negro brilhante do carro de Richard. Depois de algumas horas eles
chegaram a Los Angeles. Quando eles entraram no prédio do
congresso, eles puderam ver que muito mais pessoas assistiram ao
233
seminário do que eles esperavam. Até Deborah, que acompanha
Vadim regularmente às suas leituras, estava surpresa de quantas
pessoas haviam vindo. Por causa da presença de grande número de
pessoas bem conhecidas, muitos jornalistas também vieram cobrir
todo o evento. Essa noite houve três locutores no programa. Cada
um deles falaria por meia hora com uma pausa de quinze minutos
entre eles. O primeiro locutor foi um famoso psicólogo de Chicago
com um grande serviço recorde. O segundo era um filósofo do
Brasil. E Nathan seria o terceiro, atuando como substituição em
nome de Vadim. Nathan se sentiu bem tranquilo, e isso o
surpreendeu. Nigel e Seth eram os únicos que estavam nervosos.
Deborah sentiu a serenidade de Nathan e ficou calma, como
resultado disso. Todos sentaram próximos uns dos outros.
Durante a sua palestra, o primeiro locutor explicou como o cérebro
trabalha. Ele ajustou o nível para o público usando conceitos claros
e simples. Após a primeira pausa, o segundo locutor apareceu.
Quando ele apareceu no palanque, Richard sentiu-se subitamente
muito entusiasmado. Quando Seth perguntou a ele o que causou
isso, seu pai respondeu que o palestranteera um velho amigo seu
que se mudou para o Brasil anos atrás e essa era uma surpresa
muito agradável. O filósofo era um belo homem negro de quarenta
anos. Seu nome era Melvin e ele deu algumas classificações muito
interessantes sobre a maneira na qual nossa inteligência vocal
vivencia a realidade. Ele indicou que nós vivenciamos a realidade
pelos nossos sentidos enquanto eles ocorrem na superfície das
coisas. Ele imediatamente complementou que nós temos que
estarcientes que nossos sentidos também escondem a realidade
enquanto ela se torna aparente. Então Melvin mostrou como nós
poderíamos subdividir a realidade em três dimensões, duas das
quais são mais ou menos conhecidas para nós. De acordo com ele,
a terceira teve de ser redescoberta por muitos. Nathan continuaria
ouvindo essa passagem em sua mente, palavra por palavra.
Melvin traçou a primeira dimensão como a nossa observação do
mundo físico. Ele chamou de a primeira realidade: A vida, vivida
por cada um de nós, dependendo do nível no qual nós estamos
acerca do nosso processo de evolução pessoal.
A segunda dimensão continha o modo de pensar do nosso
ambiente. Nessa segunda realidade nós podemos encontrar todas as
formas da nossa influência consciente, e como isso se aplica a
todas as coisas.
234
Melvin prestou mais atenção para a terceira dimensão. Ele disse
que essa realidade era o conhecimento de nossa consciência, o
conhecimento que nos aproxima de nosso centro. Melvin explicou
que esse conhecimento estavaalém do mundo físico e então não
poderia ser encontrado na primeira dimensão. Isso também não
poderia ser encontrado na segunda dimensão, porque esse
conhecimento era em um nível mais profundo que o dos
pensamentos do nosso ambiente. Melvin enfatizou que nós
podemos apenas obter a realidade dessa terceira dimensão por nós
mesmos. Essa dimensão pode apenas ser acessada por um caminho
que não é determinado ou indicado pelo nosso ambiente. Mesmo
sábios conselhos de nosso ambiente não poderiamnos ajudar com
isso. Entretanto, sábios conselhos poderiam contribuir para um
grande conhecimento geral e até para um melhor conhecimento
sobre nós mesmos, mas apenas o exercício individual poderia nos
dar discernimento em nossa consciência e capacitar-nospara obter
o discernimento para os nossos sentimentos.
Quando eles ouviram essas últimas palavras, Nathan e Richard se
olharam, percebendo que exatamenteno dia anterior eles haviam
conversado sobre o que as pessoas realmente necessitam. Desde as
primeiras palavras pronunciadas por Melvin, Nathan havia
percebido que ele não havia simplesmente aparecido em sua vida e
que ele faria uma grande contribuição. O fato de Melvin ser um
amigo de Richard não era uma coincidência. Durante a pausa,
Richard avistou Melvin. Ele o viu em uma mesa um pouco mais
abaixo. Ele estava bebericando um drinque, enquanto muitas
pessoas vinham cumprimenta-lo. Melvin imediatamente
reconheceu Richard. Ambos estavam muito felizes de se verem
novamente. Durante a conversa, Richard mencionou a razão para a
sua presença. Dessa forma Richard aprendeu que há algum tempo
Melvin havia conhecido Vadim em Seattle. Ele manteve uma
impressão muito boa e no momento ele achou a palestrade Vadim
muito impressionante. Melvin complementou dizendo que quem
quer que esteja substituindo Vadim, certamente valeria a pena
ouvir. Melvin quase não podia acreditar que hoje seria a primeira
palestra de Nathan. Aquilo o fez ainda mais curioso. Richard olhou
ao seu redor para ver se ele poderia convidar Nathan para a mesa
deles, mas exatamente naquele momento o fim da pausa foi
anunciado. Melvin sentou próximo a Richard, no mesmo assento
que Nathan havia usado. Enquanto isso Nathan pisou no palanque
e foi anunciado. A mulher que o anunciou, leu uma pequena nota
235
preparada por Vadim. Nela, ele se desculpava por sua ausência.
Vadim complementou que o público deveria estar muito orgulhoso,
porque hoje à noite eles seriam testemunhas da primeira palestra
pública de alguém que possui uma disposição para passar
mensagens nunca mostrada antes. Nathan se levantou depois
dessas palavras. Ele foi ao microfone e imediatamente iniciouuma
nota cômica, em reação às palavras de Vadim.
─ Muito obrigado, Vadim, como se a pressão não fosse grande o
suficiente!
Então Nathan olhou para o público e foi surpreendido, pois não se
sentiu pressionado. Mesmo agora que ele estava de pé no palanque,
ele se sentiu tão relaxado como o usual. Os ouvidos atentos até
deram a ele uma boa sensação. Ele estava ciente de que todas as
forças do universo o ajudavam. E não poderia ser de outra maneira,
visto que ele era predestinado para isso. Ele começou sua palestra
agradecendo a Vadim pela oportunidade oferecida a ele e pelas
suas respeitosas palavras. Depois, Nathan informou ao público que
sua palestra se basearia na origem de nossas causas. Ele
complementou que ele havia preparado esse texto junto com
Vadim. Antes de ele continuar, Nathan perguntou a um cameraman
se ele poderia conseguir uma cópia da gravação. O cameraman
admirou-se sobre a pergunta, mas imediatamente concordou em
fazer. Depois dessa introdução, a curiosidade na sala era
extremamente grande. Nathan foi bem sucedido em prender a
atenção de cada um.
─ Eu tenho ouvido que hoje à noite existem escritores, roteiristas,
atores e outras pessoas criativas nessa sala. Então vocês são
perfeitamente capazes de entender que essa criatividade vem a nós
na forma de pensamentos. A questão é por que cada um não usa
seus pensamentos criativamente ainda mais então, se sabemos que
cada pessoa é inclinada a alcançar algo único na Terra. Então,
talvez nós devêssemos discutir primeiro a natureza dos
pensamentos e então o que nos causa colocar certos pensamentos
em ação. Ou, colocando nas palavras do locutor anterior: "Trazer
conhecimento da terceira dimensão para a segunda e finalmente
para dentro da primeira."
Nathan piscou para Melvin, que por sua vez acenou e sorriu.
Depois Nathan deu uma explicação muito detalhada, porém clara,
da direção dos pensamentos. Usando isso, ele explicou como os
pensamentos que vêm a nós estão seguindo um plano fixo, que
formou o plano para o processo universal de evolução. Nathan
236
poderia discutir sobre a ordem universal muitas vezes. Nathan
também falou sobre a importância de fazer distinções entre os
pensamentos com uma força construtiva e os com uma força
destrutiva. Aprendendo a fazer essa distinção nos faz ver a
construção ou a quebra da energia, não apenas em nós, mastambém
em outros. Nathan também notou que quando fossemosser capazes
de reconhecer pensamentos construtivos e aprender como os usar
criativamente, seríamos também capazes de fazer essas coisas
visíveis, que estavam escondidas até esse momento. Nathan
terminou fazendo sua ciência pública da posição privilegiada que
eles têm em propagar novos pensamentos pelo mundo todo. Ele
enfatizou as oportunidades que isto ofereceu, mas também a
responsabilidade que isso exige. Quando Nathan terminou de falar,
um curto período de silêncio seguiu. Lentamente suas palavras
penetraram através da multidão. Os aplausos começaram
lentamente, mas se tornaram muito fortes e se mantiveram por
algum tempo. Todos o ovacionaram de pé. Cheio de admiração,
Melvin e o primeiro locutor também aplaudiram. Depois da
palestra, grande parte das pessoas quiseram apresentar-separa
Nathan. Então demorou algum tempo até que ele pudesse se juntar
aos seus amigos novamente. Eles confirmaram o quão fortemente o
público ficou tocado por suas palavras. Então Nathan foi
apresentado a Melvin. Eles se agradeceram pelos novos
discernimentos que adquiriram ouvindo as palestras um do outro.
Nathan falou sobre a jornada que ele iniciou anos antes e disse que
ele está ficando atualmente com Vadim, Deborah e sua mãe em
San Francisco. Melvin disse que ele poderia ficar algumas semanas
nos Estados Unidos antes que ele retornasse para o Brasil. Deborah
estava ouvindo também e sugeriu um encontro em San Francisco.
Ela estava convencida de que Vadim também ficaria feliz com sua
chegada. Melvin agradeceu a eles e aceitou esse convite, mas
primeiro teve que cuidar de alguns outros compromissos. Richard,
que encontrou alguns outros colegas, retornou e tomou um drinque
no bar. Lá eles relembraram sobre eventos da juventude de Melvin
e Richard. Richard também convidou Melvin para visitá-lo em
casa. No dia seguinte Richard retornou para San Diego. Nathan
retornou para Laguna Beach junto com seus amigos. Nathan
gostou desse lugar. Eles fizeram uma longa caminhada e também
visitaram uma galeria de arte. Seth contou a eles que Jennifer havia
feito algumas exposições ali. Agora Nathan se lembrou de Sophie e
do fato de que seria interessante se ela e Jennifer se conhecessem.
237
Assim como em Nova Iorque, Nathan também falou com as
pessoas para ver se seria possível para Sophie expor seus trabalhos
de arte ali. O gerente da galeria de arte reagiu entusiasticamente.
No dia seguinte, o grupo retornou para San Francisco.
Durante o vooNathan ponderou todos os eventos dos últimos dias.
Na sua chegada Vadim parabenizou Nathan por sua palestra e
falou a ele sobre as reações positivas que ele recebeu. Durante os
próximos dias, Nathan ainda receberia múltiplas ofertas para
organizar palestras em vários lugares, mas ele decidiu não aceitálas por enquanto. O encontro mensal em Carmel foi planejado para
essa semana. Na sexta à noite, NathanDeborah e sua mãe foram lá.
No dia seguinte, Vadim poderia seguir. A mãe de Deborah foi
dormir quando eles foram para casa. Nathan e Deborah saíram para
um passeio. Era noite e eles admiravam o céu estrelado. Nesse
momento Nathan lembrou algo que ele havia lido uma vez;
supostamente durante a noite os pensamentos procuram por novos
hospedeiros. Deborah disse a Nathan que ele precisava repousar
bem porque os encontros amanhã poderiam demorar muito. Nathan
declarou que ele já estava descansando, porque esse lugar o fazia
sentir-sebem. No dia seguinte cerca de dez pessoas chegaram para
o encontro. Nathan era de longe o mais jovem do grupo. Muitos
dos convidados eram professores e cientistas e vieram de todos os
Estados Unidos. Cada um conhecia o outro, com exceção de
Nathan. À tarde eles foram a uma grande sala e tomaram café. No
início do encontro, Vadim apresentou Nathan. Ele disse que ele
estava tomando para si uma grande jornada e que ele estava agora
explorando os EUA, e que depois estaria na Europa e na África.
Então Vadim também disse algo relativo ao sucesso da palestra de
Nathan em Los Angeles. Nesse momento uma das pessoas
presentes também disse que ele ouviu que Nathan havia deixado
grande impressão em Los Angeles, embora tenha sido sua primeira
palestra. Outro homem perguntou a Nathan sobre o que sua
palestra tratou.
Nathan respondeu declarando:
─ Como o público consistiu de pessoas do mundo cultural, eu quis
primeiro discutir o que realmente os motiva durante o trabalho
deles. Então eu mostrei a eles as consequências que suas
mensagens poderiam causar.
Todos os convidados presentes viram que Nathan tinha um nível
de autoconfiança extremamente bem desenvolvido pra discutir tais
temas, sendo um palestrante jovem e inexperiente, e que ele
238
realmente queria se suceder com sua intenção. O grupo começou o
encontro discutindo muitos assuntos. Nathan não quis se impor
sobre eles e na maior parte do tempo ouviu atentamente. Em certo
momento uma mulher perguntou a Nathan qual a coisa mais
importante que ele havia aprendido durante a sua jornada. Nathan
tomou algum tempo para ponderar sua resposta:
─ Que um número crescente de pessoas estáseguindo uma
abordagem materialista da vida e por isso tem pouca harmonia
entre suas ambições e suas ações.
Um homem perguntou a Nathan o que causou isso.
─ O mundo está evoluindo de tal maneira que mais ênfase é
colocada no desenvolvimento intelectual e tecnológico. Por causa
de essa humanidade ter caído em um ambiente competitivo e
consequentemente os aspectos físicos e emocionais estão sendo
abandonados. Nathan deu uma pequena pausa para apreciar seu
drinque. Ele prestou atenção cuidadosamente a sua pausa e tomou
tempo suficiente para manter atenção otimizada e então continuou.
─ Muitas pessoas não estão procurando indícios que os conduza
para seus destinos verdadeiros ou para o trabalho concreto que os
proporcionam ganhar mais satisfação interior. Para eles isso é
usualmente sobre dinheiro, status ou desempenho. No fim, eles se
tornam apenas como máquinas e isso significa que essas pessoas
não viveram realmente.
Alguém então disse que as ideiasque Nathan estava explicando,
para ouvir mais os nossos sentimentos, têm de ser anunciados por
todo o mundo.
─ O que você pensa disso, Nathan? Vadim perguntou.
─ Você não pode forçar as ideias nas pessoas, ninguém quer isso.
Uma mulher então disse que nós deveríamos ter uma delicada
aproximação. Então Nathan citou outro elemento que deve ser
levado em conta.
─ Assim como a água toma outra forma dependendo do vaso em
que é posta, cada ideia é diferente dependendo do ouvinte!
Com isso, Nathan demonstrou belamente a diversidade de
percepção. A mesma mulher então perguntou a Nathan o que ele
proporia.
─ Nós não podemos impor os pensamentos nos outros. O que
podemos fazer é forçar as pessoas a pensar!
Alguém então disse que isso poderia tomar séculos antes detodos
tomaremciênciadisso.
239
─ Se a maneira na qual essas ideiassão anunciadas forforte demais,
então o tempo não irá desempenhar um papel nisto!
Existiu um silêncio. Ninguém no grupo disse uma palavra. Todos
estavam olhando para Nathan.
─ O que eu quero dizer é que o que nos mantém num mundo ideal
não é mais do que um segundo. Esse momento em que todos nós
iremos considerar o mesmo pensamento no mesmo tempo e decidir
localizar movimento através das nossas ações!
Durante esse encontro Nathan não deixou ninguém intacto. Nos
dias seguintes Nathan e Vadim tiveram muitas conversas sobre o
futuro do mundo. Uma manhã, Nathan e Vadim receberam uma
carta, endereçada para ambos. A carta veio do Brasil. Melvin, o
filósofo, que também deu uma palestra em Los Angeles, enviou a
carta. Melvin contou a eles que ele, devido a todos os seus
compromissos, não encontrou tempo para visitá-los em San
Francisco. Ele se desculpou por isso e os convidou para vir ao
Brasil. Eles poderiam ficar em uma pousada de um de seus amigos.
A pousada, um hotel designado para parecer acomodações locais,
era na costa da Bahia, em Salvador. Melvin moravano centro da
cidade. Nathan e Vadim discutiram a proposta de Melvin e
decidiram viajar para lá durante o feriado da Páscoa. Vadim
poderia apenas ficar lá por uma semana e Nathan, que não tinha
compromissos, poderia provavelmente ficar lá por mais tempo.
Eles saíram durante o primeiro fim de semana do feriado de
Páscoa. Deborah, Nigel e Seth os levaram ao aeroporto. Cada um
novamente expressou sua gratidão a Nathan. Seth falou primeiro:
─ Meu resgate significou o fim e também o início de uma nova
vida. Eu nunca esquecerei que esse renascimentonãopoderia ter
lugar, graças a você. Você pode acreditar que eu irei manter minha
promessa para sempre.
Nathan deu um grande abraço nele. Então Nigel veio dizer adeus.
─ Graças a você eu sei que nós temos a capacidade de mudar o
destino a qualquer momento e que cada um de nós é capaz de fazer
coisas grandes. Eu serei eternamente grato a você por isso.
Depois, Nigel agradeceu a Nathan, eles se deram um grande
abraço. As palavras finais vieram de Deborah. Ela tentou segurar
as lágrimas, mas não pode.
─ Você tem me dado o mais belo presente que uma pessoa poderia
receber. Você me deu plena confiança de que existe realmente um
desenho da base do universo.
240
Eles se abraçaram fortemente. Deborah sussurrou essas últimas
palavras nos ouvidos de Nathan:
─ Mesmo que nós nunca venhamos a nos ver novamente, tenho
certeza que irei ouvir de você!
Nathan olhou profundamente em seus olhos. Era como se eles
pudessem entender um o pensamento do outro. Ele sorriu e a
abraçou forte. Nathan tinha uma última mensagem para seus
amigos.
─ Cuidem muito bem uns dos outros e lembrem-se de que o
sentido da vida é dar sentido a ela!
241
242
-8Confiança Ilimitada
243
244
Convicção
Após várias escalas Nathan e Vadim finalmente chegaram a
Salvador, Bahia. Melvin estava esperando por eles. As primeiras
palavras que Vadim e Melvin trocaram imediatamente deram o
tom para conversas excitantes.
─ Bem vindos ao país do futuro! Disse Melvin.
─ Por que isso? Disse Vadim
─ Por causa do que tem sido dito a respeito deste país, respondeu
Melvin. Ou seja, que o Brasil é o país da “esperança sem fim”.
Como Nathan esperava, Vadim e Melvin mostraram um grande
interesse e apreciação um pelo outro. Quando eles estavam
dirigindo do aeroporto para a pousada, Melvin explicou porque ele
estava tão apaixonado pelo país. Ele falou poeticamente a respeito
das pessoas maravilhosas e das paisagens extraordinárias. Melvin
disse que no Brasil houve um encontro das culturas indígena,
africana e europeia.
─ Todas essas culturas ainda são existentes aqui! Ele disse.
Enquanto eles estavam dirigindo pela costa em direção ao norte,
Nathan pôde perceber que havia chegado a um país especial. As
primeiras impressões o encantaram e deram a ele um sentimento
irreal, como se ele estivesse admirando uma pintura. A paisagem
adiante dele estava cercada por florestas tropicais com o Oceano
Atlântico no plano de fundo e um magnífico céu azul por cima.
Eles chegaram a um lugar chamado Sítio do Conde. Na praia eles
encontraram cabanas de madeira, feitas com folhas de palmeira e
cercada por coqueiros. Uma vez na pousada, Nathan e Vadim
foram apresentados ao muito amigável João, um bom amigo de
Melvin e um homem com um verdadeiro amor pela vida. Ele havia
projetado a pousada sozinho e falou orgulhosamente sobre como
ele a havia criado, até os pequenos detalhes. Tanto a enorme
vivenda quanto o jardim exótico com piscina foram atrativamente
planejados. Nathan disse que estava claro que ele havia feito com
entusiasmo. Após João tê-los levado para um completo
reconhecimento do local, ele levou os hóspedes para seus quartos.
Quinze minutos depois todos retornaram para o pátio da piscina.
Havia ficado muito quente, mas o ar era fresco àsombra das
grandes árvores. João pediu um pouco de água de coco. Melvin
245
agradeceu seus convidados por vir visitá-lo e, virando-separa
Vadim disse:
─ Finalmente nos vimos de novo. Desta vez teremos mais tempo
para colocarmos nossa conversa em dia.
─ Obrigado a você por ter-nos convidado.
─ Obrigado a vocês também por aceitarem o convite!
─ Vocês têm muito em comum,disse Nathan. Ambos estão
tentando realizar o mesmo objetivo. Eu acho fascinante que
estejam se encontrando novamente.
Vadim reagiu primeiro, dizendo a Melvin:
─ Eu sei que você é famoso por apresentar e dividir sabedoria
como um meio de viver dirigido para o descanso espiritual e a
felicidade interior.
─ O espírito não brilha somente por si mesmo, declarou Melvin.
De qualquer formaé,sobretudo por causa do reflexo desta luz em
outros espíritos que alguém se torna consciente.
─ Desta forma, você pode libertar as pessoas de suas ilusões,
Vadim adicionou, e mostrá-los a pura realidade exterior às
limitações de observação habitual.
─ Você faz isso também, disse Melvin. Graças ao seu trabalho,
pessoas são mais bemcapacitadas para entender que o mundo não é
uma coleção aleatória de coincidências circunstanciais, mas sim
um sistema ordenado curiosamente.
Nathan ouviu estes homens especiais trocando elogios entre si.
─ O que vocês têm em comum com certeza, ele disse aos dois, é
que vocês dois são capazes de influenciar as crenças fixas das
pessoas.
─ E, portanto, de toda a humanidade, adicionou Vadim.
─ De fato, disse Melvin concordando, porque no final, a
humanidade consiste na soma de todas as convicções unidas. Elas
formam a fonte da qual todos os sentimentos e ações se originam.
─ Outra coisa que vocês têm em comum, notou Nathan, éque
ambos são sensíveis à essência do mundo e querem
especificamente esclarecer este aspecto.
─ Comunicação com os outros é um fator importante, disse
Melvin.
─ Está certo, Vadim concordou. Quando nós estamos em um
mundo fechado de pensamento, nossa produtividade chega a um
impasse. É confrontando os outros que o diálogo se torna possível.
246
─ É somentepor uma troca aberta de pensamentos que a sabedoria
pode crescer e que a apreciação, o entendimento e o encantamento
podem prosperar organicamente, continuou Melvin.
─ Quando as pessoas prestam atenção umas às outras, os seus
espíritos se encontram, disse Vadim. Seus pensamentos então se
entrelaçam e se dispersam; assim dá significado a suas existências.
─ Você também vê diferenças entre nós? Melvin quis saber.
─ Não as fundamentais, de qualquer maneira. Talvez, por sua
experiência particular. Vadim tem um olhar mais para evidências
prováveis e Melvin assume que é mais importante que não
julguemos uns aos outros.
─ Nossa meta em comum é que nós três lutamos por mais
felicidade no mundo, concluiu Vadim.
Melvin sugeriu a Nathan e Vadim que descansassem pelo restante
do dia, uma vez que eles haviam completado uma longa jornada.
Ele estaria esperando por eles no dia seguinte em Salvador e
mostraria a cidade a eles. Após o almoço, Nathan e Vadim foram
explorar a costa. Eles alugaram um carro e dirigiram para um
cativante lugar chamado Mangue Seco. Quando eles chegaram, o
sol estava brilhando ininterruptamente na praia. A água estava com
um estonteante verde turquesa. Vadim deitou-se à sombra das
árvores próximas enquanto Nathan mergulhou na água clara.
Quando o tempo se tornou mais fresco, eles visitaram a vila. Então
eles retornaram para sua pousada no Sítio do Conde onde
aproveitaram uma refeição prazerosa. No dia seguinte eles se
dirigiram para Salvador e lá, conforme combinado, Melvin os
estava esperando em sua casa para levá-los para um passeio pela
cidade. Melvin vivia em Santo Antônio, um distrito mais velho,
com casas atraentes. A casa de Melvin possuía uma vista da praia
da cidade. Do terraço, Melvin pôde ver seus convidados chegando.
Ele os deixou entrar e ofereceu-os água gelada. Então eles
começaram o passeio pela cidade. Primeiro eles visitaram o
coração da cidade, o distrito do Pelourinho. Um distrito acolhedor
com muitas casas coloridas. Aqui eles também encontraram muitos
restaurantes, terraços e pequenos bares, dos quais uma música
animada reverberava.Melvin disse a eles que a cultura africana era
tão profundamente enraizada neste lugar, que Salvador era
chamado de Memorial africano do Brasil. Em todos os lugares,
podiam-sever mulheres negras que estavam vestindo belos vestidos
brancos, e envoltórios de cabeça intrinsecamente concebidos. Os
homens eram cumprimentados de maneira amigável por quase
247
todos que encontravam. Melvin disse a eles que os habitantes de
Salvador eram pessoas muito felizes que aproveitavam toda
oportunidade para fazer uma festa. Após uma longa caminhada
através da cidade eles chegaram a um lugar onde moças e rapazes
atléticos estavam dançando capoeira, que é a graciosa arte marcial.
A arte consiste emfazer movimentos fortes enquanto se dança o
mais perto possível do seu oponente sem tocá-lo. Os homens
sentaram-se em um atrativo restaurante na esplanada. Melvin pediu
uma refeição regional, frango com macarrão e camarão, cozido no
óleo de dendê e molho de tomate. Enquanto esperavam beberam
três caipirinhas geladas, a bebida nacional do Brasil. Então,
tomaram algum tempo para admirar a maravilhosa arte dos
dançarinos de Capoeira. Todos os elementos apropriados estavam
presentes para uma boa conversa, que era o passatempo favorito
deste grupo. Nathan deu o tom aqui também. Enquanto
falava,apontou para os dançarinos.
─ A paixão tem que ser uma das condições para a felicidade?
─ A felicidade é principalmente experimentada quando alguém
pode expressar sua criatividade e alegria. Melvin respondeu. Se
você olhar para eles você pode ver que têm seus movimentos
cuidadosamente estudados. Agora expressam sua criatividade e sua
alegria compartilhando conosco.
─ Eu sou da mesma opinião, disse Vadim. Em minha opinião, não
existe um caminho definido ao qual todos deveriam seguir para
encontrar a felicidade. Uma vida feliz somente pode ser vivida
enquanto olhamos para o caminho que é o verdadeiro para nós e
então por segui-lo.
─ Sim, surge como um resultado da descoberta dequem nós
realmente somos, ─ continuou Melvin, a partir do desenvolvimento
de nossos talentos específicos e de repartir estes talentos com os
outros.
─ Você ilustrou com beleza, disse Nathan.
─ De fato, eu acho que nós dois aprendemos a desenvolver nossa
felicidade compartilhando nossa sabedoria, revelou Melvin. Nós
sabemos que quanto mais compartilhamos nossa sabedoria, mais
será acrescentado a ela. Isso é provavelmente o porquê de sempre
estamos procurando por novas pessoas.
─ Eu passo por este processo com os meus alunos, disse Vadim.
Quando estou ensinando, isto significa que o que está na minha
cabeça é transferido em tantas partes quanto há ouvintes e, uma
248
vez que cada um tem um passado diferente, cada um tem um
contexto diferente.
─ Definitivamente, eu tenho notado como cada um de seus
estudantes tem recebido suas mensagens pegando-as por diferentes
pontos de vista, comentou Nathan. A informação foi filtrada por
suas crenças pessoais e por seus próprios sentimentos.
─ Por causa disso, nossos ouvintes podem descobrir coisas que nós
podemos não haver notado – Melvin enfatizou.
─ É isso que é tão brilhante a respeito do conhecimento! Disse
Vadim. Quanto mais conhecimento compartilhamos, maior nosso
conhecimento se torna!
─ São poucas as coisas que nos dão mais satisfação do que
encontrar outras criaturas que querem se aproximar de nós, por sua
própria experiência interior! Declarou o filósofo.
Nathan estava exultante com a conversa e usou-a para mergulhar
mais profundamente em alguns tópicos.
─ Você faz parte daqueles que lutam diariamente para usar o
conhecimento para o bem. Lutar pelo bem é algo que pode ser
ensinado?
─ Eu acredito que sim, Vadim respondeu, embora o bem seja algo
mais experimentado do que pensado. No entanto, é verdade que
nos tornamos similares às pessoas ao nosso redor, isso é uma
tendência que podemos encontrar em todos os humanos.
─ Certamente, nós todos somos inclinados a reverter ou elevar a
nós mesmos ao mesmo nível das pessoas em nossa volta, Melvin
concordou. Todos nós ensinamos o que nós demonstramos com
nosso próprio comportamento.
─ Isto confirma o que eu sempre pensei, disse Nathan. Então, o
bem também pode ser ensinado e pode ser transmitido.
─ Com certeza, o cientista afirmou, embora se devanotar que para
atingir bondade sincera, o ouvinte terá que tomar as ações
necessárias.
Durante os poucos dias que se passaram os homens discutiram
várias coisas. Essas conversas sempre aconteceram em alguma
espetacular cidade costeira do estado da Bahia, cada uma mais
cativante que a outra. A primeira semana no Brasil voou e Vadim
teve que retornar a São Francisco. Como esperado, Nathan não
retornou, ele sabia que ainda tinha muito para ver e aprender
muitas coisas no Brasil. Vadim despediu-se de Melvin um dia
antes e junto com os vizinhos de Melvin, uma pequena festa foi
organizada. Na noite antes de Vadim voar de volta para os Estados
249
Unidos, ele passou algum tempoasós com Nathan. Eles falaram
sobre o país que Vadim havia escolhido como sua nova terra natal.
─ Por que você se mudou dos Estados Unidos para outro país?
Nathan quis saber.
─ Mesmo quando criança o país me atraía, eu sempre soube que eu
iria ficar lá. Mas deixe-me responder sua pergunta com outra
pergunta. Qual foi a sua impressão enquanto você estava viajando
pelos Estados Unidos?
─ É um país especial com uma mentalidade única. A candura e a
atitude
positiva
do
povo
americano
me
impressionamrepetidamente.
─ Exatamente, e é por isso que os americanos são pioneiros e seus
ancestrais vêm de todos os possíveis cantos do mundo. Eu mesmo
trouxe o meu plano de fundo intelectual e cultural comigo.
─ Isto é provavelmente o que eu experimentei. Talvez o país não
tenha uma longa história, mas certamente tem a incontável história
de seus habitantes.
─ Uma vez que incorpora a história de todas as culturas, é
provavelmente capaz de experimentar e expressar a evolução
interior da humanidade de uma forma que ninguém mais pode.
Com isto, Vadim respondeu à pergunta de Nathan perfeitamente.
Desde criança Vadim queria contribuir para a evolução interior da
humanidade e para ele, os Estados Unidos forneciam o lugar
perfeito para que ele continuasse seu trabalho.
─ Sua parte nisto é de grande valor, Nathan continuou, e eu desejo
a você todo o sucesso.
No dia seguinte, Nathan acompanhou Vadim ao aeroporto onde
eles se despediram. Ambos se tornaram amigos.
─ Graças a você, disse Nathan, eu aprendi a apreciar como os
pequenos detalhes neste mundo adquirem infinito significado
considerando a ordem universal.
─ Pessoalmente, graças a você, eu agora obtive uma confiança
ilimitada em saber que tudo no universo vai de acordo com um
plano, disse Vadim. Esta confiança já estava se desenvolvendo
antes que eu te conhecesse, mas agora se tornou muito mais
reforçada.
─ Estas são quase as mesmas palavras que Debora disse para mim
quando nos despedimos, comentou Nathan.
─ Você é, de longe, a pessoa mais excepcional que tanto ela quanto
eu, já conhecemos. Melvin me disse a mesma coisa.
Nathan ouviu Vadim enquanto ele olhava para a distância.
250
─ Eu sei que você tem altas expectativas, ele disse discretamente.
─ Mas especialmente confiança, Nathan. Todos nós confiamos que
você irá restaurar o balanço entre o racional e o espiritualmente
irracional.
Após estas palavras, eles disseram adeus um ao outro. Enquanto
Nathan estava dirigindo de volta para a pousada, ele manteve-se
pensando nas últimas palavras de Vadim. Ele passaria o resto do
dia no mar e deixaria a pousada no dia seguinte. Nathan alugou um
carro e informou a Melvin que ele iria explorar a costa nordeste
entre Salvador e Recife. Esta estrada costeira era cercada por
coqueiros intercalados pela floresta tropical, havia vilas pesqueiras
e magníficas praias brancas. Nathan aprendeu a falar bastantes
coisasem português e passou por uma variedade de experiências.
Ele achou que as áreas visitadas foram agradáveis por todo o
caminho. Nas cidades maiores Nathan encontrou tempo para reunir
o máximo de impressões possível. Assim ele ficou vários dias em
Aracaju, Maceió e Recife, onde conheceu pessoas maravilhosas.
Ele ficou por mais tempo na bela Recife, antes de dar a volta em
seu carro alugado e voar novamente para Salvador.
251
Despertar
Quando Nathan encontrou Melvin novamente ele contou a ele
sobre o tempo maravilhoso que ele teve e descreveu suas
experiências. Ele falou sobre as impressionantes florestas verdes
que havia visto e contou a Melvin como ele havia dirigido por
praias brancas que pareceram a ele completamente irreais. Nathan
disse como ele havia notado que apesar de algumas pessoas terem
pouco em seu nome, elas ainda irradiavam alegria de viver, com
sua música e dança vivaz. Estas pessoas maravilhosas haviam
deixado sua impressão nele juntamente com a magnificência do
ambiente natural que ele havia descoberto. Nathan discutiu como
ele havia experimentado contratempos e eventos inesperados. Ele
notou que, como um resultado, ele havia experimentado cada
encontro como se tivesse um significado especial, tanto para ele
quanto para aqueles com quem se encontrava.
─ Quando você viaja pelo Brasil, disse Melvin, você não deve
planejar muito, porque deve ser experimentado.
─ Graças aos meus encontros eu descobri a existência de novas
coisas. Por exemplo, o que eu mais tenho notado neste país é que
muitas pessoas são supersticiosas.
─ Você não tem que viajar para longe para compreender
completamente quão grande é a influência da superstição no Brasil.
Aqui em Salvador existem exemplos mais que suficientes.
Aquela noite, graças a Melvin, Nathan descobriria uma multidão
de crenças espirituais e rituais mágicos. Havia pequenas lojas e
barracas com uma grande variedade de amuletos da sorte, ervas e
bebidas mágicas sendo vendidas em vários lugares da cidade.
Vários artigos eram para colocar uma maldição em alguém ou para
compeli-los a confessar seu amor. Além disso, Nathan encontrou
uma ampla variedade de poções, vendidos para melhorar a saúde,
tais como, casco de tartaruga, peles de cobra e outros itens
exóticos, cada um com o seus tão chamados “poderes
sobrenaturais”.
─ Muitos desses impostores espalham as trevas sobre as vidas dos
outros, disse Melvin. Eles pregam uma falsa sabedoria que é
contagiosa, porque as pessoas olham para eles, uma vez que são
vistos em uma posição de poder.
252
─ Como você distingue entre pessoas sinceras e impostores?
─ Pessoas com más intenções diversas vezes escondem suas
verdadeiras personalidades nos relacionamentos. Você pode
descobrir isto de várias formas, há sempre sinais, e seus olhos
geralmente são a primeira coisa que os entrega.
Após um tempo, Nathan e Melvin chegaram a um lugar onde um
grupo de pessoas estava sentado no chão assistindo a uma
cerimônia. Melvin sugeriu que eles ficassem para assistir. Nathan
concordou, e eles se sentaram no chão. Era um desempenho bem
teatral, que fazia parte com um ritual, um homem fazia uma densa
nuvem de fumaça e gritava bem alto. Nathan achou o desempenho
estúpido, mas o que o intrigou mais era como a maioria dos
espectadores estavam seriamente olhando para este homem. Ele
tinha um sentimento similar com aquele que ele teve quando havia
ido a um encontro espiritual com Songo. Aqui muitos também
acreditavam nos estranhos poderes do homem, Após alguns
minutos, Nathan disse a Melvin que eles eram espectadores de um
show comum e que ele queria partir. Melvin notou o quanto
Nathan ficara irritado por causa do engano sendo mostrado.
Quando ambos se levantaram para sair, todos os presentes ficaram
surpresos. Eles haviam acabado de chegar e já estavam de saída. O
homem, que estava se apresentando, também os havia notado.
Então algo muito inesperado aconteceu. O homem, que viu sua
credibilidade sendo questionada, interrompeu seu ritual e ordenou
a Nathan que permanecesse sentado. Embora Nathan estivesse
assustado, ele agradeceu ao homem e disse que estava partindo.
Apesar disso o homem insistiu.
─ Fique, porque você também precisa ser limpo!
Agora todos estavam olhando na direção de Nathan. Melvin
continuava muito calmo. Agora Nathan entendera que não havia
entrado nesta situação por nada e respondeu ao homem com um
forte tom de voz.
─ Não, obrigado, já vi o suficiente!
O homem ficou amedrontado pelo grito de Nathan.
─ Você tem que gritar? Ele perguntou.
─ Me perdoe, eu pensei que você não podia escutar direito, já que
estava gritando o tempo todo.
Agora algumas pessoas presentes tiveram certa dificuldade de
conter suas risadas. O homem claramente não estava feliz com a
situação. Isso não interrompeu Nathan, que continuou a falar com
ele.
253
─ Mas me diga, por que eu deveria ser limpo?
─ De seus pecados, respondeu o homem.
─ Eu te ouvi direito? Nathan replicou.
Agora Nathan olhou para os espectadores e falou no seu melhor
português.
─ Este homem está dizendo que é capaz de me limpar de meus
pecados?
Então se voltou novamente ao homem.
─ É nisto que você quer que estas pessoas acreditem? Perguntou
Nathan.
─ Você não sabe que estamos nesta terra para sofrer e desta forma
limpar a nós mesmos de nossos pecados? Ohomem respondeu.
Mais uma vez Nathan olhou silenciosamente aos espectadores e
disse as palavras seguintes a eles.
─ Marquem bem minhas palavras e isto se aplica a todos os
presentes. Ninguém está nesta terra para sofrer! E ninguém é capaz
de nos limpar, exceto nós mesmos! Cada um de nós tem esta vida
para melhorar a nós mesmos e se escolhermos este caminho, então
seremos capazes de experimentar a verdadeira alegria.
O homem quis reagir, mas não podia pensar em nada para dizer.
Nenhuma de suas ideias era forte o suficiente para liberá-lo desta
situação. Ele estava claramente fora de seu elemento e resolveu
desafiar Nathan.
─ Devo provar os meus poderes para você? Ele gritou.
Nathan se dirigiu a ele pessoalmente e disse a ele calmamente.
─ Os seus poderes não são segredo para mim. O que você faz é
usar o medo para preencher o futuro daqueles que acreditam em
você com experiências desagradáveis. E você sabe que você é a
grande vítima, porque o medo deles não vai deixá-lo facilmente.
O homem estava sem palavras. Era como se tivesse perdido a voz.
Nathan havia jogado o medo contra ele. Agora o homem se tornara
bastante inquieto. Nathan continuou a falar com voz calma.
─ Agora que você aprendeu isto através de mim, você não mais
tem uma desculpa. Então, lembre-se em todas as suas ações e nas
intenções que as precedem, que cada momento pode fazer a
diferença entre vida e morte!
Após dizer estas palavras, Nathan se virou e foi embora. Ele andou
para casa com Melvin através das ruas escuras de Salvador. Todas
as pessoas na reunião ficaram impressionadas por suas palavras.
Algumas até seguiram Nathan e Melvin por certa distância. Alguns
adolescentes andaram até eles para dizer que o homem havia feito
254
as malas e partido. Nathan estava quieto e Melvin deixou-o
escolher o momento para quebrar o silêncio, que só aconteceu após
vários minutos, quando eles estavam sozinhos.
─ Este evento me irritou! Disse Nathan, Eu não podia mais
controlar meus sentimentos.
─ Nosso poder está intimamente relacionado com nossas
fraquezas. Juntos eles garantem o equilíbrio que nos faz
verdadeiramente quem somos. Sua raiva mostra a pessoa que você
é, Nathan.
─ A pessoa que eu sou?
─ Você tem uma aversão inata à injustiça. É por isso que você
sente por todas as pessoas que permitem a si mesmas serem mal
guiadas e isso te irrita. Mas também é esta raiva que pede paraque
você faça o que faz. Essa raiva fez com que você se levantasse
desafiadoramente e, desta forma, fazer aquele homem agir.
Isto era novo para Nathan e também deixava tudo muito mais
claro. Sentimentos negativos podiam nos confrontar e nos
impulsionar a fazer a coisa certa.
─ Minha raiva me fez agir daquela forma.
─ Aqui também, e talvez em maior medida, a visão é de grande
importância. Nós devemos ser cuidadosos com sentimentos
negativos e ter certeza de que eles não vão nos surpreender. Nós
podemos fazer isso tomando algum tempo para escolher como
lidaremos com eles.
Nathan estava em profundo pensamento e não disse mais nada até
que eles estavam parados em frente à porta da casa de Melvin.
─ Obrigado Melvin, eu aprendi uma importante lição hoje.
─ Eu também quero agradecer, em nome de todos aqueles
presentes, nós testemunhamos um forte exemplo de coragem e
inspiração.
Nathan e Melvin agora passaram a maior parte dos dias que
seguiram na companhia um do outro. Ambos aproveitavam a
presença do outro e falavam por horas. Um dia Melvin e Nathan
foram convidados para visitar Adriana, a mãe de Claudio, de dois
anos de idade, que era filho de Melvin. Melvin e Adriana nunca
viveram juntos, mas tinham um bom entendimento. Melvin não
queria se comprometer, e Adriana aceitava isso. Adriana e Claudio
viviam em Porto Seguro, uma cidade no sul do estado da Bahia.
Quando eles chegaram à casa de Adriana, Nathan imediatamente
percebeu que ela e Melvin tinham uma boa amizade. Nathan e
Melvin foram para ficar por uma semana.
255
O incidente com o homem em Salvador deixou uma profunda
impressão em Nathan. Junto com Melvin ele tentava entender
como as pessoas divergiam de sua verdadeira espiritualidade por
falsas crenças. Assim, eles tiveram uma interessante discussão
sobre este assunto enquanto passeavam pela cidade de Arraial
d’Ajuda.
─ É uma pena que a espiritualidade não seja mais que expressar
expressões adquiridas, disse Nathan. É por isso que o significado
mais profundo de espiritualidade está perdido e há pouco
entendimento do significado superior.
─ Como você sabe, há diferentes graus de consciência. Muitos
devem primeiro tornar-se conscientes a respeito de seus mais
profundos sentimentos antes que possam fazer qualquer exploração
espiritual mais profunda.
─ Por causa de suas crenças, falta-lhes visão sobre a verdadeira
espiritualidade. A verdadeira espiritualidade é experimentada sem
argumentos racionais, porque é inspirada por nossa intuição.
─ Nós temos que aceitar que muitos são desviados durante uma
fase onde acreditam no que querem e ignoram o que prefeririam
não saber, independente dos fatos.
─ Então eles ignoram o que intrinsecamente são capazes de saber.
─ Para muitos, conhecimento intrínseco foi substituído por suas
crenças.
─ E suas crenças repostas por suas próprias opiniões.
─ Está muito mais claro para mim agora, disse Nathan, porque
tantos são convencidos por verdades imaginárias contadas por
outros.
─ Geralmente acontece a eles durante a infância, quando eles ainda
não adquiriram conhecimento suficiente ou quando eles estão em
uma posição mais fraca como um adulto durante sua busca
espiritual.
Nathan pensou novamente sobre a grande tão chamada
congregação que ele havia testemunhado na África.
─ O pó da doutrinação não é mais um mistério, disse Nathan.
Agora eu entendo que o ser humano é capaz de imaginar um futuro
distante e que esta imaginação é geralmente guiada pelo medo.
─ E estes sentimentos de medo não são dominados, continuam
criando novos sentimentos de medo, disse Melvin. Isso se aplica ao
medo do desconhecido, medo de falhar, medo de perder e outras
facetas do medo.
256
─ Medo é verdadeiramente o agente através do qual as pessoas
podem perder o seu poder, disse Nathan. A fim de fugir deste
medo muitos escolhem escutar àqueles que os presenteiam com um
cenário ideal no qual seres mais poderosos se apegam a tudo.
─ Com tais pensamentos, pessoas são encorajadas a fazer grandes
sacrifícios, continuou Melvin, quando suas expectativas são
realizadas, eles agradecem aos seus seres superiores imaginários e
quando suas expectativas não se cumprem, eles continuam
insistindo que o caminho de seus seres superiores é insondável.
─ Para esses, todos os eventos confirmam a autenticidade de sua
crença, concluiu Nathan.
─ Eu mesmo me pergunto às vezes se essas pessoas não são mais
felizes por causa desses seres superiores imaginários. O que você
acha Nathan?
Nathan pensou um pouco antes de responder.
─ Eles aprenderam a dar satisfação aos seus seres superiores
mostrando um comportamento perfeito. Isso é impossível de se
fazer então eles desenvolvem sentimentos de culpa. Para serem
felizes, eles devem primeiro aprender a se livrar destes sentimentos
de culpa auto-impostos.
─ Está certo, eles não podem ser felizes porque foram ensinados
que vivem em pecado. O incessante pensamento de que são
pecadores tem feito muitos deles fatalistas. O que poderia libertálos disso?
─ Por si mesmos, não é o pecado que os fazem infelizes, mas a sua
visão destes pecados. Então o conhecimento é a única coisa que
pode libertá-los para que eles possam experimentar a verdadeira
felicidade.
─ Você está certo, somente o conhecimento pode deixá-los sóbrios
e libertá-los.
─ O conhecimento é perceber a essência de nossa existência,
continuou Nathan, a percepção de que nós viemos para este planeta
para nos desenvolver passo a passo e não para antes que tenhamos
entendido o universo.
Melvin ouviu atentamente a Nathan e ficou muito impressionado
por sua visão.
─ Qual é a sua compreensão do universo, Nathan?
─ Quando eu penso a respeito do universo, eu tenho um sentimento
de unidade. É como se eu estivesse em contato com o universo em
mim. Sinto um jeito intenso de olhar para tudo como parte de um
257
todo e uma percepção de que a Terra e todo ser vivo éparte de
mim.
Melvin olhou para Nathan com admiração. Ele se lembrou de seu
primeiro encontro. O que ele havia visto nele agora estava sendo
completamente expressado. Melvin havia percebido que Nathan
era um homem excepcional.
─ Além de seus dons naturais, disse Melvin, você também tem
atributos de um mestre.
Nathan ficou intrigado por esta declaração.
─ Você é capaz de imediatamente entender o que alguém precisa.
Não é difícil pra você expelir qualquer sentimento de rivalidade e
você continua abanando a chama do interesse como ninguém mais
pode. Como resultado, você é alguém que pode trazer outros a
visões mais amplas com suas palavras e pode capacitá-los a
desenvolver suas habilidades.
Nathan agradeceu a Melvin pelo elogio.
─ Eu fui sortudo por passar tempo com excelentes mestres que
foram meus exemplos. – respondeu Nathan.
Antes de retornar para Salvador, Nathan, Melvin, Adriana e
Claudio velejaram em um iate catamarã de Caravelas, para a Ilha
de Abrolhos. Eles admiraram as baleias perto destas ilhas. Quando
Nathan retornou com Melvin a Salvador, Sophie informou-os que
ela estaria voando para São Francisco no mês seguinte. Nathan
havia dito a ela, que enquanto estava nos Estados Unidos, que
havia muitas possibilidades para artistas em Nova Iorque e
Califórnia. Ele enviou para ela o telefone e endereço de Jennifer e
disse que podia ser interessante voar até lá.
Sophie havia seguido o conselho de Nathan e entrado em contato
com Jennifer. Elas se deram instantaneamente e Jennifer convidou
Sophie para os Estados Unidos. Sophie primeiro iria para Nova
Iorque, onde ela tinha vários compromissos com gerentes de
galerias. Ela disse a Nathan que sentia falta dele e queria vê-lo. Ele
assegurou-a que sentia o mesmo e sugeriu que eles viajassem
juntos pelo Brasil mais tarde. Sophie pensou que era uma grande
ideia e entusiasticamente contou a ele que havia conhecido Uiara
um ano atrás, uma artista brasileira vivendo em Belo Horizonte.
Uiara havia pedido a ela várias vezes para visitá-la. Nathan pensou
sobre isso e respondeu que, quando eles estivessem viajando pelo
Brasil, eles poderiam definitivamente visitar Belo Horizonte.
Nathan disse a Melvin que ele ficaria no Brasil e que Sophie estava
258
chegando. Melvin ficou feliz de ouvir que Nathan prolongaria sua
estada.
Durante as semanas seguintes Nathan acompanhou Melvin quando
ele viajou para dar suas palestras nos estados do nordeste do Brasil.
Assim como Vadim havia feito, Melvin também perguntou se
Nathan ajudaria a preparar os textos de suas palestras. As semanas
voaram e Nathan aprendeu bastante. Sua fascinação pelo Brasil
havia aumentado e ele estava pensando em explorar o resto do país
com Sophie.
259
Beleza
Era um belo e ensolarado dia quando Sophie chegou a Salvador.
Assim como o sol, ela também brilhou quando viu Nathan. Eles
caíram nos braços um do outro e se abraçaram longa e ternamente.
Nathan apresentou Sophie a Melvin. No caminho para a cidade,
Sophie disse a eles como havia sido bem sucedida a sua visita aos
Estados Unidos. Seus trabalhos foram grandemente admirados e
havia várias exposições no programa. Ela também disse quão
prestativos e interessantes Jennifer e todos os seus amigos haviam
sido. Jennifer havia mandado seus cumprimentos e acrescentou que
Nathan havia deixado uma impressão inesquecível neles.
Finalmente, Sophie disse a eles algo que deixou Nathan muito
feliz. Zack e Deborah estavam juntos novamente e estavam
planejando viver juntos em breve. Eles ainda não haviam decidido
entre Nova Iorque ou São Francisco.
Nos primeiros dias que se seguiram Nathan e Sophie passaram
muito tempo juntos no idílico litoral do sul de Salvador pelas belas
praias estendendo-se até Itacaré. Primeiro, eles visitaram os banhos
naturais do morro de São Paulo. A beleza natural da área e a
simpatia de seus habitantes imediatamente encantaram Sophie.
Após o Morro de São Paulo eles viajaram adiante e descobriram as
praias paradisíacas de Maraú. Lá, Nathan e Sophie tiveram tempo
de discutir suas últimas experiências. Pareceu que Sophie estava
frequentemente recebendo sinais. Pelas suas conversas, Nathan
entendeu que Sophie havia desenvolvido sua espiritualidade
fortemente, o que se demonstrava em suas atitudes em relação aos
outros e nas perguntas que ela fazia.
Enquanto havia apenas os dois na praia, Sophie perguntou a
Nathan uma coisa importante. Ela queria saber como convencer as
outras pessoas de que cada um de nós tem um propósito único na
vida e que todos nós fazemos parte de uma ordem universal.
─ Eu tive muitas conversas durante o ano passado sobre a ordem
universal em que nós vivemos. Eu notei como este assunto é difícil
para pessoas que não acreditam na existência de um poder
superior.
260
─ Para aqueles que perderam sua fé, em tudo que forma uma parte,
a renovada descoberta de um poder superior é o mais importante
propósito nesta vida!
─ Como podemos ajudá-los a se tornar conscientes disso?
Nathan olhou para Sophie. O sol estava brilhando em seus olhos
verdes. Sua pele havia adquirido um belo tom marrom
avermelhado. Nathan percebeu o quanto ele a amava, de uma
forma que ele nunca amara mais ninguém. Ele rolou para o lado na
areia de forma que a cabeça dela ficou em seu peito.
─ Esta é uma pergunta que eu me faço desde que sou jovem, disse
Nathan, uma pergunta que me mantém ocupado todos os dias.
─ Quais as respostas que você encontrou?
Nathan pensou e procurou pelas palavras certas.
─ A descoberta da existência de um poder superior é um processo
que só pode acontecer numa experiência pessoal.
─ Nós podemos estimular o processo nos outros? Quis saber
Sophie.
─ Somente quando a pessoa está pronta para isso e nunca antes.
─ Mas quando então?
Nathan compreendeu que Sophie precisava de um exemplo
concreto.
─ Quando você notar que uma pessoa está procurando por uma
evidência infalível da existência de um poder superior, então peça
a pessoa para ir sozinha para a água em uma noite clara e olhar
para o céu.
─ Em um lago? No mar?
─ Isto não é importante, Quando as pessoas olham por um longo
tempo para a profundidade e vastidão do céu, elas repentinamente
são surpreendidas por um sentimento estranho e passam a
experimentar o maravilhoso universo.
─ Sempre acontece assim?
─ Existem diversas maneiras de se abrir completamente a esta
experiência. O único requerimento é estar pronto para isso.
─ E se estiverem com medo?
─ Conquistar seus medos faz parte do processo. Diga às pessoas
que elas não devem temer. Ao contrário, é um sentimento
maravilhoso, um sentimento que nunca se esquece.
Após seu regresso para Salvador, Melvin disse a eles que havia
sido convidado para uma convenção em Fortaleza e que Adriana e
Cláudio iriam com ele. Melvin perguntou se Nathan e Sophie
gostariam de se juntar a eles. Melvin sugeriu que ficassem em
261
torno de cinco dias na cidade no norte do país. Nathan e Sophie
aceitaram e quando chegou a hora todos se reuniram no aeroporto.
Durante o voo o pequeno Claudio adormeceu. Assim Sophie e
Adriana puderam se conhecer sem interrupção. Melvin discutia a
palestra que daria em Fortaleza com Nathan.
─ Você ainda se lembra de como eu dividi a realidade observável
em três dimensões durante a minha palestra em Los Angeles?
Perguntou Melvin
─ Eu ainda me lembro exatamente do que disse, respondeu Nathan.
Você falou as dimensões nas quais a realidade pode ser dividida: a
física, a intelectual e a espiritual.
─ Desta vez eu quero me aprofundar neste tema e mostrar que,
junto com a sabedoria escondida nestas dimensões, existe outro
conhecimento que é muito importante para que entremos em
contato com o universo dentro de nós.
─ Eu estou muito interessado. Por que você não disse nada a
respeito em Los Angeles?
─ Porque somente agora eu percebi que a fonte desta sabedoria não
está em nossa realidade observável. Pode soar estranho, mas só se
tornou claro para mim abordo do iate catamarã perto das ilhas de
Abrolhos, enquanto eu estava observando as baleias com Claudio
em meus braços.
─ No que você estava pensando então?
─ Eu me lembrava da conversa que tivemos em Arraial d’Ajuda
quando você estava falando sobre sua experiência do universo em
que vivemos.
─ Qual foi o seu discernimento?
─ O que ficou claro para mim foi que para entender a essência da
vida, e sabedoria observável, é mesmo necessária outra coisa...
─ O que é necessário, Melvin? Nathan perguntou cheio de
curiosidade.
─... Beleza, Nathan! Nós temos que aprender a reconhecer e
experimentar a beleza em todos os lugares!
Nathan não disse nada por um tempo e permaneceu imerso em
pensamentos.
─ Eu percebi que o conhecimento sozinho não pode fazer a
essência do mais alto para nós. O conhecimento nos ajuda a
entender melhor as coisas que nós já sabemos bem no fundo de nós
mesmos, mas nós também temos a necessidade de experimentar a
beleza, beleza em todas as suas formas.
Nathan escutou atentamente.
262
─ Para sermos capazes de experimentar a beleza nós temos que
desenvolver um atributo especial, que é a profunda receptividade.
Quanto mais receptivos nos tornarmos, mais beleza nós
reconhecemos.
Melvin agora esperou pela reação de Nathan, uma vez que ele
estava olhando para fora da janela. Foram apenas alguns momentos
depois que Nathan reagiu.
─ Você está completamente certo, Melvin. Aprendendo a
reconhecer a beleza, nós descobrimos a essência da pessoa, da
natureza e do poder superior!
Melvin ficou feliz por Nathan compartilhar sua opinião e seu
discernimento.
─ O Mundo é maravilhoso, continuou Nathan.
─ Por que diz isso? Perguntou Melvin.
─ Adnan, um amigo meu que mora no Marrocos, uma vez me disse
que o peixe maior está em um estado constante de sensibilização,
um tipo de estado meditativo. Ele disse que se pudéssemos
encontrar sensibilidade suficiente para este silêncio, nós
poderíamos receber insights, que vem de áreas ainda
desconhecidas para nós.
Agora Melvin estava pensando.
─ Você acha, agora ele perguntava a Nathan, que eu cheguei a este
insight quando estava observando as baleias?
─ Você sabe Melvin, respondeu Nathan, eu estou convencido que
ainda há muito que temos que aprender da natureza.
─ Uma vez eu conheci um e velho e muito marcante homem
indígena, disse Melvin. Foi em Lençóis, uma cidade pequena do
interior da Bahia. Seu nome era Thiago; ele trabalhava como um
guia para a área natural da Chapada Diamantina.
─ Como você o conheceu?
─ Ele havia vindo em uma de minhas palestras, e era notável em
meio às pessoas presentes. Após minha palestra ele veio e se
apresentou. Ele me disse que os seus ancestrais eram da tribo
Pataxó, os habitantes originais da região. Eu me lembro que ele me
agradeceu por quem eu era. Eu perguntei como ele me via. “Como
uma pessoa que ajuda as pessoas a entenderem o que sentem e o
porquê sentem.”, ele respondeu.
─ Você viu este homem de novo alguma vez?
─ Não, mas ele me afirmou que nos veríamos novamente. Eu
respondi que era possível, porque eu viajo um pouquinho. O que
263
ele disse então foi estranho. Ele disse que chegaria o dia em que eu
o procuraria na Chapada Diamantina.
Melvin tentou se lembrar das palavras exatas da conversa.
─ Eu perguntei a ele por que ele pensava que eu o procuraria. Ele
deu uma resposta mais entranha ainda. Ele me disse que se eu
queria realmente entender a razão de nossa existência, primeiro eu
teria que ser capaz de reconhecer a beleza da vida.
─ Ele disse algo mais?
─ Ele disse que quem quer que consiga isso experimentaria uma
paz interior que guiaria a conclusão essencial.
Nathan e Melvin deixaram de falar por um tempo. Nathan olhou
para o céu azul através da janela:
─ Talvez agora seja o tempo de procurar por esse homem, ele
disse. Você sabe onde encontrá-lo?
Melvin pensou.
─ Ele falou sobre um acampamento na estrada da primavera
mágica.
O avião pousou no Aeroporto de Fortaleza. Era meio dia e a
conferência iria começar no dia seguinte. O grupo foi para seu
hotel e então foram explorar a cidade. O primeiro lugar para o qual
andaram, foi o distrito Irecemar. Fortaleza era uma cidade cheia de
atmosfera com um centro de boas vindas, bonitas praias arenosas e
prazerosos restaurantes e bares. Música de festa estava sendo
tocada e as pessoas eram amigáveis, e explanavam que a razão
disso era que eles viviam no estado do sol.
No dia seguinte Melvin apresentou sua palestra. No final ele
mencionou o que havia discutido com Nathan sobre a importância
da busca de se experimentar a beleza. A palestra foi bem recebida.
Nathan pode notar que Melvin estava a caminho de se tornar
famoso. Nathan ouviu uma mulher na audiência dizer que os livros
de Melvin, além do sucesso nos Estados Unidos, também estavam
sendo vendidos pelo Brasil e eram muito populares. No dia
seguinte a palestra o grupo foi explorar parte da costa do estado do
Ceará. As empolgantes dunas lembraram Nathan do Saara. Aqui, a
natureza também irradiava serenidade e dava uma sensacional
sensação de liberdade. No paraíso de uma praia em Jericoacoara,
ou Jeri, como é chamada localmente, Melvin contou a eles que
havia decidido procurar por Thiago na Chapada Diamantina. Ele
também disse que gostaria que Nathan e Sophie o acompanhassem.
No voo de volta para Salvador, Nathan e Sophie discutiram sobre a
proposta de Melvin. Sophie falou sobre tudo que haviam lido sobre
264
esta área e que tinha um sentimento de que iriam lá. Alguns dias
depois eles partiram para Lençóis. Adriana não pôde ir com eles
por causa de seus compromissos com o hospital, onde ela
trabalhava. Uma vez que chegaram a Lençóis, eles passaram a
noite em um hotel e partiram na manhã seguinte em um ônibus
para a primitiva área da Chapada Diamantina.
No começo de sua jornada Melvin, Nathan e Sophie ficaram
encantados pela paisagem imponente das montanhas e a
impressionante variedade de flora e fauna que eles encontraram lá.
Eles andaram por profundos vales, ao lado de lagos e rios de beleza
maravilhosa. Após andar por algumas horas através de uma
floresta tropical, Nathan escutou um barulho que se tornou cada
vez mais alto. Um pouco mais tarde Sophie escutou e também
Melvin. Nathan andou mais rápido que os outros e foi o primeiro a
sair da floresta. De repente ele parou e olhou para cima. Sophie e
Melvin se apressaram para o seu lado. Todos eles estavam
impressionados pela vista maravilhosa... uma esplêndida cachoeira.
No final da cachoeira estava uma maravilhosa lagoa. Nathan e
Sophie se apressaram em direção a ela, tiraram suas roupas e
pularam na água. Melvin deixou que fossem e sentou-se quieto em
uma rocha para aproveitar a cena. Somente após a insistência de
Nathan e Sophie que Melvin pôs bermudas e pulou na água.
─ Este deve ser um dos poucos lugares na terra que permanece
intocado, disse Nathan.
─ Você sabe em que eu estou pensando agora Melvin? Perguntou
Sophie, sobre suas palavras sobre beleza. Eu acabei achando a
melhor parte da sua palestra e outras pessoas tiveram a mesma
opinião.
─ Quase todos estavam falando sobre isso após a palestra, Nathan
continuou. Um homem até me disse algo bonito, ele me disse:
“Felicidade é sempre refletida na beleza”
─ Muito bonito, de fato, disse Melvin.
Após nadarem, eles continuaram. Eles encontraram um grupo de
jovens em uma excursão e perguntaram ao guia se eles sabiam
onde era a primavera mágica. O guia disse que eles provavelmente
estavam falando sobre a primavera encantada. Ele disse que o
caminho mais fácil para se chegar até lá era através da água. Eles
teriam que seguir por pequenos córregos até que chegaram ao
grande rio. Uma vez lá eles pegariam uma gaiola, que eram
pequenos barcos fluviais usados pelos habitantes locais. Eles
seguiram seu conselho e chegaram meia hora depois à costa do São
265
Francisco, um amplo rio fluindo através da Chapada Diamantina.
De lá eles podiam ver algumas pessoas locais sentadas em suas
gaiolas do outro lado do rio. Eles acenaram e um dos homens veio
em sua direção. Melvin perguntou se poderia levá-los a primavera
encantada. O homem assinalou que poderiam subir a bordo.
A bordo todos os três aproveitaram as maravilhosas paisagens e a
serenidade do lugar. Nathan disse que este era um dos lugares mais
inspiradores em que ele já havia estado. Melvin perguntou ao
indígena que guiava o barco por que a nascente para a qual
estavam indo era chamada de a primavera encantada. O Homem
disse que esta nascente tinha um poder mágico. Toda pessoa que
olhava através da água clara como cristal para o fundo se lembraria
para sempre de sua beleza. Nathan deitou sua cachorrinha no colo
de Sophie e aproveitou a paisagem em silêncio. Quando ouviu as
palavras do homem, ergueu-se; Nathan e Melvin se entreolharam,
porém não trocaram uma única palavra. Pouco tempo depois o
homem ancorou o barco. Melvin perguntou a ele se conhecia
Thiago. Enquanto ele calmamente ajudava-os a sair do barco, o
homem respondeu que eles haviam vindo para Thiago. Sophie
sugeriu agendar uma hora para que o homem do barco viesse pegálos novamente. Quando Melvin começou a discutir este tópico, o
barqueiro disse que eles estavam com Thiago e que não deveriam
temer, após observaram o homem do barco desaparecer rio acima.
Eles haviam acabado de começar a caminhar, quando de repente
um velho homem apareceu, andando em direção a eles. Ele tinha
pele escura e o torso nu. Seu longo cabelo negro estava preso em
um rabo de cavalo. Ele parecia muito bem, apesar de sua idade.
─ Olá Melvin. Maravilhoso o fato de haver trazido amigos junto.
Melvin olhou para cima. Ele reconheceu Thiago, mas ficou
surpreso por Thiago vir buscá-los aqui. Parecia que o velho homem
havia sabido que Melvin o visitaria naquele dia.
─ Olá Thiago... Disse Melvin – e eu pensando que iria surpreendêlo.
─ Você não surpreende um velho guerreiro como eu assim tão
fácil! Thiago riu
Melvin apresentou Thiago a Nathan e Sophie. Thiago
cumprimentou Sophie primeiro. Quando Thiago apertou a mão de
Nathan, ele segurou-a por um longo tempo, enquanto olhava para
ele silenciosamente. Alguns momentos depois ele deixou a mão de
Nathan ir e então se dirigiu a todos.
─ Eu estou honrado por sua chegada e lhes dou boas vindas.
266
Imediatamente depois Thiago se virou e gesticulou para que o
seguissem. Eles andaram através de uma floresta tropical onde
orquídeas selvagens estavam crescendo. O pensamento que
intrigavaMelvin, Nathan e Sophie era o de como era possível que
Thiago houvesse aparecido no momento de sua chegada. Thiago
havia dito que os estava esperando, mas como isso era possível?
Melvin não o havia dito sobre sua chegada, eles sequer sabiam
onde ele vivia. Melvin escutou que Nathan e Sophie estavam
falando sobre isso e sinalizou que não havia entendido isso
também. Eles decidiram não levar a discussão adiante. Nathan
apenas disse que ele estava curioso para saber o que ele iria
aprender desta jornada. Após uma longa caminhada eles chegaram
a um pequeno acampamento, que havia sido criado na entrada de
uma caverna profunda. Lá o grupo foi recepcionado por duas
mulheres e crianças.
─ Eu vivo aqui, Thiago disse, junto com nossa pequena
comunidade. Eu sou o homem mais velho; os outros homens estão
trabalhando agora. Eles trabalham como guias e guiam visitantes
na área. Eles voltarão em breve.
Neste meio tempo, se tornou tarde e o sol estava se pondo. Nathan
pode ver que as mulheres estavampreparando a refeição da noite.
Parecia que iampassar a noite ali. Thiago disse que daria mais
informação a eles sobre a primavera mágica no dia seguinte. Neste
meio tempo, Melvin havia se refrescado e Sophie havia ido com o
grupo de mulheres. O fato de que ela não conhecia a língua não a
impediu de se comunicar com elas. Sophie não teve problemas em
se ajustar à situação.
Thiago reuniu lenha para fazer fogo e Nathan o ajudou. A cena fez
que com lembrassedo dia em que ele havia andado para o topo do
Tajumulco junto com o homem sábio e a mulher e construído uma
fogueira através da fronteira do México na Guatemala. Desta vez a
fogueira serviria apenas para iluminar o acampamento ao cair da
noite. Quando a lenha havia sido reunida, foi honra de Melvin
acendê-la. Enquanto isso, os homens mais jovens haviam voltado e
sentaram-se ao redor do fogo. Eles conheceram seus visitantes e
então comeram uma refeição vegetariana. Após a refeição todos se
reuniram e falaram uns com os outros.
─ Eu já visitei várias grandes cidade, mas nenhuma delas pôde me
cativar – começou Thiago – E mais, eu não consigo entender por
que tantas pessoas escolhem viver em lugares onde há tanta
poluição, pobreza e violência.
267
─ Muitos estão apenas tentando sobreviver, Nathan respondeu.
─ Que objetivos estas pessoas estão tentando alcançar?
─ Eles não têmum grande propósito ou ideais e geralmente vivem
retirados dentro de si mesmos, continuou Nathan.
─ Eles vivem em confusão! Disse Melvin. Eles lutam por riquezas
materiais, algo que eles pensam que é necessário.
Sophie dirigiu-se a Thiago.
─ O que você faria caso pudesse mudar o mundo em que estas
pessoas vivem?
Thiago pensou sobre isso.
─ Eu vejo o mundo como um deserto espiritual. Eu deixaria as
pessoas experimentarem o poder da natureza mais uma vez, então
eles se lembrariam deque fazem parte dela também. E, dessa
forma, poderiam se manter firmes em três sabedorias existenciais.
Melvin traduziu para Nathan e Sophie, que tiveram dificuldade em
entender Thiago.
─ O que são estas três sabedorias existenciais? Perguntou Sophie
─ Estas são as sabedorias que nos fazem ver porque nós estamos
na terra e qual é o nosso propósito aqui.
Thiago calmamente tomou algum tempo antes de começar a falar.
─ A primeira sabedoria é entender o ambiente natural de onde
viemos, nossos pais que nos criaram e a comunidade onde
crescemos. Para entender nossas possibilidades e limitações
quando começamosa crescer, e que genes e valores nós recebemos.
Nesse momento uma borboleta brilhante e colorida assentou-se no
ombro de Thiago. Ele continuou calmamente.
─ A segunda sabedoria é se tornar consciente de que nós temos
habilidades únicas. Aqui a natureza também ajuda a nos
lembrarmos deque nós formamos o mais recente elo na cadeia de
evolução e de que nós temos a mais impressionante habilidade de
experimentar coisas,tais como a fantasia, a criatividade e o amor.
Tendo dito isto, Thiago se levantou e retornou com uma cesta de
mangas. Todos pensaram que Thiago usaria as mangas para ilustrar
a terceira sabedoria. Ele colocou a cesta no meio, pegou uma,
abriu-a e comeu. Enquanto estava saboreando a manga, ele encarou
o horizonte sonhador. Melvin, Nathan e Sophie olharam um para o
outro maravilhados. Um longo tempo se passou sem que ninguém
dissesse nada, até que Melvin perguntou a Thiago se não havia
uma terceira sabedoria a seguir. Thiago olhou para ele e mais uma
vez cortou um pedaço de manga. Após comê-lo, ele respondeu.
268
─ Você poderia adivinhar a terceira sabedoria, sendo que um dia
não estaremos mais nessa terra.
Tendo dito isto, ele mais uma vez encarou o horizonte, sonhador.
Nathan, assim como Sophie e Melvin, ficaram surpresos pela
capacidade de Thiago para ensinar e com sua sabedoria.
─ Nós gostaríamos de agradecê-lo, disse Melvin, por compartilhar
conosco o que a natureza te ensinou.
─ Nós também achamos que muitas pessoas perderam o seu
contato com a natureza, acrescentou Nathan.
─ Muitos perderam até mesmo ocontato com seus companheiros
seres humanos, finalizou Sophie.
─ O que não é usado, se atrofia, disse Thiago. Quando alguém não
pode mais experimentar o poder da natureza, perde-se o sentimento
de conexão com a terra, com a flora, a fauna e finalmente também
com seus companheiros seres humanos.
─ A questão é se todos ainda são capazes de entender a natureza,
Melvin perguntou.
─ Nesse momento, muitos não são capazes nem mesmo de
entender seus próprios sentimentos, responde Thiago, e ainda
assim, é somente através de nossos sentimentos que conseguimos
entender a infinidade da natureza.
Nathan estava impressionado pelo que Thiago havia aprendido sem
nenhum tipo de educação formal. Ele soube por Melvin que Thiago
nunca havia ido à escola ou sequer lido um livro. E ainda assim
possuía um grau de conhecimento que ia muito além da média.
Thiago propôs que todos fossem dormir cedo, assim estariam
descansados para sua jornada pela manhã. Os locais de dormir para
convidados haviam sido preparados enquanto eles conversavam.
Na manhã seguinte os convidados foram acordados pelo cheiro de
beignets quentes, um cheiro que lembrou a Nathan de sua estadia
com Adnan no Marrocos. Após o café da manhã, Thiago, Nathan,
Sophie e Melvin partiram para a primavera encantada. No
caminho, Melvin quis comentar algo sobre a conversa que haviam
tido no dia anterior. Nathan escutou sem interromper.
─ Thiago, eu pensei sobre nossa conversa de ontem. Mais tarde, eu
até mesmo escrevi tudo, porque eu quero usar o material em minha
próxima palestra.
─ Esta também é uma razão para você ficar aqui, disse Thiago.
Então você pode ensinar as pessoas a prestar mais atenção à
natureza.
269
─ De fato, eu quero trazer à tona as maravilhas da natureza. Pode
ajudar se eu colocar melhor minhas palavras em um quadro mais
amplo.
Thiago assentiu e não disse mais nada.
Algum tempo depois Thiago parou em um espaço aberto. Era
provavelmente um lugar usado para descansar ou se conversar.
Isso pôde ser determinado pelos três troncos de árvore dispostos
em um círculo. Thiago sentou-se e esperou até que todos fizessem
o mesmo e então compartilhou a água que havia trazido com ele.
Estava claro que ele havia escolhido este lugar para falar sobre a
primavera mágica. Após cada frase, Thiago dava tempo a Melvin
para traduzir suas palavras.
─ Todos vocês três não vieram aqui hoje por acaso, mas para
aprender uma importante lição, uma lição que vai derramar grande
luz sobre seus destinos.
Thiago continuou após uma pequena pausa.
─ O fato de vocês haverem conhecido um ao outro nesta vida não é
uma coincidência. Melvin, e é claro, você Sophie, são de vital
importância para cumprir a grande tarefa.
Melvinlimitou-sea apenas traduzir as palavras e não fez nenhuma
pergunta. Nathan e Sophie também não. Todos os três estavam
curiosos sobre a grande tarefa da qual Thiago estava falando.
─ As pessoas novamente se tornarão parte da luz que é a fonte de
toda a vida!
O tom de Thiago se tornou mais profundo.
─ Para isso as pessoas serão confrontadas com a força da natureza.
O que parecerá ser um grande caos no início; gradualmente nos
fará mais conscientes da ordem dentro do universo e do papel
único que cada um de nós tem nela.
Thiago bebeu um pouco de água e então continuou no mesmo tom.
─ Para nos confrontar com seu poder, a natureza nos enviou
alguém. Alguém que é capaz, como ninguém mais, de entender a
humanidade e saber como cumprir esta tarefa.
Quando Melvin traduziu estas palavras, se tornou claro para todos
que esta pessoa a qual Thiago agora se referia era ninguém mais do
que Nathan.
─ Você está certo de sua previsão? Perguntou Melvin
Agora Thiago continuou em um tom mais calmo.
─ Sua chegada foi anunciada há tempos atrás.
Sophie agora falou. Porque não havia dúvida de que Thiago falava
de Nathan. Melvin traduziu sua pergunta.
270
─ Mas como você pode ter certeza de que é ele o escolhido?
─ Eu posso reconhecer os diferentes grausde consciência.
Thiago parou de falar e então continuou.
─ Eu nunca conheci ninguém com tão profunda nostalgia pelo
poder superior quanto Nathan.
Agora que o nome de Nathan havia sido falado, houve silêncio até
que o próprio Nathan falou.
─ Quais são as importantes lições que aprenderemos hoje na
primavera mágica?
Mais uma vez Thiago levou algum tempo para responder.
─ Não importa quão grande seja a nossa capacidade mental,
eventualmente o nosso espírito encontrará limites que a limitam. É
um limite que somente pode ser ultrapassado quando vemos que a
natureza de nosso ser não está em nós mesmos.
─ Não em nós mesmo, mas onde está então? Perguntou Melvin
─ Na presença do nosso mais alto, respondeu Thiago.
─ O que você quer dizer com “o nosso mais alto”? Perguntou
Melvin
─ Eu acho que sei sobre o que Thiago está falando, disse Nathan,
Ele está se referindo ao nosso verdadeiro eu, àquele que estava
aqui antes que nós nascêssemos e aquele que estará aqui após a
nossa morte nesta terra... Ele está falando sobre a nossa
sensibilidade.
Melvin traduziu o que Nathan disse para Thiago e perguntou a ele
se estava certo. Thiago olhou para Nathan e assentiu
afirmativamente.
─ Nosso espírito vê pouco, mas nossa sensibilidade vê
amplamente, disse Thiago.
─ Como aprendemos a entrar em contato com nossa sensibilidade?
Perguntou Sophie
─ Aprendendo a meditar em nossas mais profundas questões,
respondeu Thiago.
Agora, Thiago se levantou e indicou que tudo que tinha que ser
dito, havia sido dito. Eles continuaram sua jornada para a
primavera mágica. Todos caminharam sem falar nada. Thiago
havia dado a eles o suficiente para se pensar. Após um tempo,
chegaram ao topo de uma colina. De lá eles foram para a encosta
através de uma abertura cavernosa. Dentro era escuro, mas Thiago
havia trazido lanternas com ele e as distribuiu. Eles andaram
cuidadosamente através dos túneis estreitos na caverna até que se
encontraram em uma ampla câmara. Este espaço era aberto no
271
topo, de forma que a luz do sol pudesse entrar. Thiago sinalizou
que podiam botar as lanternas de lado. Sophie se segurou em
Nathan para ver o quão profunda a caverna era. Quando ela foi
longe o suficiente para ver o fundo, ela encorajou Nathan e Melvin
para também darem uma olhada. No fundo havia um belo lago
azul. Esta era a primavera mágica.
Thiago começou a descer para o manancial, seguido por seus
convidados. Era como se eles estivessem indo para o meio de uma
montanha. Quanto mais eles desciam pelo caminho estreito, mais
eles ficavam maravilhadoscom a beleza do lago. Uma vez lá
embaixo, eles puderam ver a clareza da água. Eles tentaram
estimar sua profundidade, mas não importava quão clara a água
parecesse ser, eles não podiam ver o fundo. Thiago sentou-se em
uma rocha plana e chamou seus convidados para que se sentassem
perto dele. Sophie estava exultante.
─ Dá pra sentir que a primavera é muito especial, ela disse.
─ Quais são seus poderes especiais? Perguntou Melvin
─ A água da fonte nos limpa de falsidades que consideramos
verdades, respondeu Thiago. Quanto mais profundo alguém
mergulha, mais falsidades irão desaparecer.
─ Se isso funciona, deve ser por mágica! Disse Sophie. Funciona
com todo mundo?
─ Há condições para se cumprir, disse Thiago a eles, A primeira é
que devemos estar realmente buscando pela verdade. A segunda é
que, antes de mergulharmos, nós não tomamos mais ar do que
nossos pulmões podem suportar.
─ Por que isso? Perguntou Melvin.
─ Pensamentos circulam através do ar, respondeu Thiago, tanto os
bons quanto os maus, tanto os verdadeiros quanto os falsos.
─ Qual a terceira condição? Quis saber Sophie.
─ Antes de mergulhar é preciso esvaziar a cabeça completamente,
disse Thiago, para que nenhum pensamento possa nos influenciar.
Sophie não podia mais esperar e se preparou para mergulhar
primeiro. Ela caminhou para a beira e esvaziou sua cabeça.
Quando chegou a hora ela tomou o máximo de ar que conseguia e
então mergulhou na água o mais profundamente que conseguiu.
Após uns dois minutos ela voltou à superfície. Nathan ajudou-a.
Ela sentou-se e olhou para Nathan sem dizer uma palavra. Ele
tomou-a em seus braços e sussurrou o quanto ele a amava. Thiago
agora sorriu e sinalizou para Melvin que agora era sua vez. Melvin
caminhou para a beira com sua bermuda. Ele seguiu o exemplo de
272
Sophie e pulou na água. Após quase o mesmo tempo ele voltou à
superfície. Nathan também o ajudou. Melvin estava claramente
impressionado e não disse uma palavra. Primeiro ele encarou
Sophie que moveu a cabeça para ele como se ela soubesse o que
ele estava pensando. Então ele encarou Nathan.
Agora era a vez de Nathan. Ele estava ciente que esta seria uma
experiência de longo alcance. Ele soubera desde o momento em
que Thiago havia segurado sua mão e permanecera olhando para
ele por um longo tempo.Nathan se levantou usando somenteuma
bermuda e caminhou para a beira da água. Nathan sabia que o
segredo de seu dom seria descoberto hoje. Antes de pular ele pediu
que ninguém reagisse ao que quer que fosse acontecer naquele dia.
Ele pediu para eles permanecerem calmos e ter uma “confiança
ilimitada” em um final feliz. Quando todos os três responderam
afirmativamente, ele encheu os seus pulmões. Um completo
silêncio se seguiu; não havia realmente nenhum som a ser ouvido.
Agora Nathan também mergulhou na água. Os minutos voaram.
Melvin foi o primeiro a ficar preocupado. Ele caminhou para a
beira da água, mas não importava o quão fundo olhasse para dentro
da água clara, Nathan não estava em nenhum lugar que pudesse ser
visto. Sophie sabia que Nathan podia ficar bastante tempo embaixo
d’água. Mesmo que ele nunca tenha contado a ela esse seu segredo,
ela havia notado o quanto tempo ele conseguia nadar por baixo
d’água. Alguns minutos depois ficou difícil até para ela. Ela se
ergueu e sentou-se ao lado de Melvin, que estava fazendo o melhor
para não mostrar o quão preocupado ele estava. Quando eles não
podiam mais esconder sua preocupação, se dirigiram para Thiago.
─ Ele está embaixo d’água por um tempo demasiado longo, disse
Melvin.
Thiago ainda estava sentado no mesmo lugar e disse calmamente:
─ Confiem neste homem, disse Thiago, ele sabe o que está
fazendo.
Melvin tomou Sophie pelos ombros e pediu para que ela se
sentasse de novo.
─ Não se esqueça do que Nathan nos pediu antes que mergulhasse
no lago. Então sejamos fortes e vamos seguir o conselho dele.
Sophie sabia que Melvin estava certo, mas não pôde deixar de se
preocupar. Ela reuniu toda a coragem e tentou reunir o máximo de
confiança e fé em um final feliz. Conseguiu por um tempo até que
não teve mais paciência e caminhou para a beira da água, em
pânico, olhou para a fonte profunda e então verbalizou:
273
─ Eu ainda não o vejo, isto não é possível!
Agora se tornara muito para Melvin. Com medo no coração ele foi
para perto dela. Ele também não via nada. Ambos olharam
desolados para Thiago, que reagiu da mesma maneira calma.
─ Como eu disse antes, não importa quão grande seja nossa
capacidade de pensar, cedo ou tarde o espírito vai encontrar
limites.Nestes momentos, somente a confiança pode nos ajudar,
deixe que isso seja uma grande lição para vocês.
Sophie pediu a Melvin para traduzir as palavras de Thiago.
Enquanto ele fazia isso, Sophie viu o quanto Thiago estava calmo e
que até mesmo sorrira.
─ Pergunte a ele como ele pode permanecer calmo, ela pediu a
Melvin.
─ Isto faz parte da preparação de Nathan para a grande tarefa, disse
Thiago. Vocês também estão sendo preparados hoje. Sentem-se, os
dois, e tentem entrar em contato com sua sensibilidade e seus
sentimentos de medo serão substituídos por calma e confiança.
Por mais irracional que isso parecesse, Sophie e Melvin fizeram o
que Thiago disse. Eles se sentaram novamente e tentaram seguir
seu conselho. O tempo pareceu se mover ainda mais lento do que
antes, mas Sophie e Melvin tiveram sucesso em manter a calma.
De repente Thiago falou.
─ Vocês podem ficar orgulhosos do que conseguiram hoje. Agora
Nathan deve estar voltando à tona em breve, de outra forma eu
também começaria a me preocupar.
Thiago levantou-se e foi até a beira da fonte. Melvin e Sophie
seguraram um no outro e pararam perto de Thiago.
─ Eu acho que o vi, disse Thiago repentinamente.
─ Onde? Disse Sophie, eu não vejo nada.
─ Espere um momento, disse Melvin, acho que eu vi também!
─ Sim! Sophie falou aliviada. Agora eu o vejo também, ele está
subindo depressa.
A felicidade retornou. Alguns momentos depois Nathan subiu. Ele
parecia exausto e segurou-se na beira da fonte. Melvin e Thiago
quiseram ajudá-lo, mas ele sinalizou para que o deixassem respirar
um pouco. Estava claro que Nathan havia atingido seu limite.
Thiago agora parara na frente dele e perguntou em palavras
simples.
─ Você chegou onde achou que chegaria?
─ Sim Thiago... disse Nathan – Eu toquei o fundo!
274
Melvin traduziu a conversa para Sophie, que estava esperando com
uma grande toalha. Agora Nathan saiu da água e beijou Sophie. Ele
se desculpou com ela e com Melvin pelo que eles tiveram que
passar.
─ Você não deve se desculpar, disse Melvin, ao contrário, eu acho
que para mim e para Sophie, esta foi a mais instrutiva experiência
de nossas vidas.
Agora Thiago tomou Nathan em seus braços.
─ Fico feliz de ter podido contribuir com isso.
─ Este foi o começo da contribuição, disse Nathan, para isso que
está esperando por nós, sua ajuda seria de grande valor!
Após este misterioso anúncio, eles retornaram ao acampamento.
Uma vez lá eles novamente comeram uma refeição vegetariana.
Após dizer adeus, Melvin não pode evitar fazer a Thiago a seguinte
pergunta.
─ Você acha que veremos um ao outro novamente?
Thiago abraçou Melvin.
─ Desta vez é Nathan quem vai nos dar a resposta, mas eu tenho a
sensação de que ele terá uma tarefa em comum para todos nós.
Nathan não disse nada com relação a isso. Agora Sophie veio se
posicionar na frente de Thiago. Ela seguiu o exemplo de Melvin e
abraçou Thiago antes de entrar na gaiola que os levaria embora.
Como os outros, Nathan disse seu adeus. Quando se abraçaram,
Thiago tinha uma mensagem final para ele.
─ Não importa quão impossível sua missão possa parecer, nunca
duvide do bom resultado que obterá dela.
─ A única dúvida que eu tenho é se as pessoas terão vontade de me
escutar.
─ Nuca subestime o poder que lhe foi dado. – respondeu Thiago –
Não se esqueça deque toda pessoa está ciente que a última
sabedoria não pode ser mantida por uma única pessoa.Não importa
quão dura e longamente uma pessoa tenha estudado, eles sabem lá
no fundo que precisarão da entrada do maior.
Nathan não entendeu Thiago completamente, mas memorizou suas
palavras. Uma vez no barco, pediu a Melvin que traduzisse as
palavras de Thiago. Quando o encorajamento de Thiago se tornou
claro, Nathan gritou para Thiago enquanto o barco estava saindo
lentamente.
─ Agora eu só tenho que lembrar isso tudo a todos!
Durante a jornada de retorno todos estavam quietos. Nathan,
Sophie e Melvin tomaram tempo para ponderar a experiência pela
275
qual haviam passado. Foi uma jornada cheia de pensamentos de
volta para Salvador. Durante os dias que se seguiram Nathan e
Sophie viajaram por Salvador, e conheceram-na ainda melhor do
que haviam discutido em seus planos de viagem. Sophie falou
sobre Uiara, a escritora brasileira que ela conhecera na França e de
quem se tornara boa amiga. Ela disse que Uiara havia herdado uma
grande casa de campo há mais ou menos um ano e, portanto
retornara para sua terra natal.
Uiara havia crescido em Belo Horizonte, mas a casa de campo que
ela havia herdado era em Curitiba, no estado do Paraná. Agora ela
vivia lá com sua amiga e sua mãe, com quem havia ficado. Sophie
disse que quando Uiara soubera que ela viria para o Brasil, havia
insistido que ela deveria ir para Curitiba junto com Nathan e passar
algum tempo com ela. Sophie repetiu várias vezes o quanto Uiara
era especial, por esta razão Nathan compreendeu o quanto Sophie
queria visitá-la. Eles decidiram ir para Curitiba na semana seguinte
e comunicaram isso a Melvin. No dia anterior a partida de
Salvador eles sentaram com Melvin no terraço. Sophie ofereceu-se
para preparar duas caipirinhas geladas na cozinha. Nathan e
Melvin permaneceram no terraço e olharam por cima dos tetos de
Salvador e para a bela praia. Nathan calmamente disse adeus à
cidade que ele havia gostado tanto. Ambos os homens falaram
sobre o futuro, e sobre o fato de suas estradas estarem se separando
aqui. Para Melvin estava claro que ele era devotado a este lugar.
Ele estava convencido de que este era o seu lugar e que sua missão
era aqui. Ele disse que o Brasil era um país maravilhosoque tinha
tudo para deixar seus habitantes felizes, mas que isso era
interrompido pela grande diferença entre pobreza e riqueza.
Enquanto Nathan o escutava, Sophie chegou com três grandes
caipirinhas. Ela pôs os copos sobre a mesa e todos se sentaram nas
cadeiras de vime.
─ É a primeira vez que eu as faço sozinha. – ela disse – Espero que
gostem.
Melvin foi o primeiro a provar a bebida e disse a Sophie que estava
deliciosa. Nathan concordou com ele. Sophie ficou feliz com os
elogios e perguntou sobre o que conversavam.
─ Estávamos falando sobre Melvin, que encontrou este lugar na
terra, disse Nathan.
─ Como é que você veio parar no Brasil? Sophie perguntou
─ Eu sempre fui atraído por este país. Desde minha primeira visita
ao Brasil eu sabia que poderia realizar grandes coisas aqui.
276
─ Por favor, continue! Pediu Sophie
Melvin continuou seriamente e divulgou o verdadeiro propósito em
sua mente.
─ As pessoas daqui têm um sentimento otimista inato sobre seus
futuros, mas...
─ Isso é errado? Perguntou Sophie
─ Não! Ao contrário. Para muitos isto é até mesmo de importância
essencial para vencerem a dureza de suas vidas. Mas eu acredito
que em vista do processo evolucionário humano, esperança é uma
força imperfeita!
─ Pode explicar? Pediu Sophie, enquanto Nathan também estava
escutando atentamente.
─ Se as pessoas somente vivem na esperança, eles caem numa
situação de viver sempre esperando por mais ou por algo melhor.
A longoprazo, a situação pode nunca ser satisfatória.
─ Que alternativa melhor você ofereceria a eles? Nathan perguntou
─ Bem, neste sentido, os dias que nós passamos juntos foram
bastante iluminadores. Agora eu sei quanta beleza pode ser
encontrada em formas ilimitadas e em todos os lugares possíveis.
O que eu quero é que todos os meus ouvintes e leitores aprendam a
experimentar um sentido mais profundo de beleza cada dia.
─ Não será possível esperar por uma vida melhor e experimentar a
beleza todo dia? Perguntou Sophie
─ Quando se experimenta a beleza na vida, sabe-se que não
precisamos esperar por mais nada para sermos felizes, respondeu
Melvin.
Houve um curto silêncio, após o qual Nathan pôs sua mão no
ombro de Melvin.
─ Quando sua jornada pela terra da esperança eterna estiver
acabada, disse Nathan, terá que ser renomeada para terra da beleza
sem fim!
─ Quais são os seus planos para quando sua visita ao Brasil estiver
acabada? Melvin perguntou a Nathan e Sophie.
─ Depois de Curitiba, Sophie é esperada de volta na França, disse
Nathan. E eu, não sei ainda, mas com certeza te avisarei.
No dia seguinte Melvin acompanhou seus convidados ao aeroporto
onde se despediram.Primeiro ele beijou Sophie e confiou a ela
estas palavras.
─ Sophie, saiba que você, por causa de quem é e de seus
maravilhosos trabalhos de arte, é prova para todos de quão
maravilhoso este mundo é.
277
Sophie agradeceu a Melvin por estas bonitas e sinceras palavras,
desejou-lhecoragem e sorte ao cumprirsua tarefa. Em seguida,
Melvin foi até Nathan e o abraçou.
─ Nathan, certifique-se de que suas palavras sejam ouvidas pelo
mundo afora, para que as pessoas possam enxergar que não podem
viver uma vida de racionalismo e que podem ser libertas de suas
próprias ilusões.
─ Você será de grande ajuda, disse Nathan.
─ Como? Perguntou Melvin
─ Finalizando sua própria tarefa!
Com estas palavras Nathan tomou Sophie pelo braço e juntos
seguirampara seu avião. Foi um voo curto, durante o qual eles
falaram sobre suas aventuras nos dias anteriores.
─ Qual a coisa mais importante que você aprendeu aqui? Sophie
perguntou
─ Eu aprendi muitas coisas importantes, mas a mais importante foi
na fonte mágica. Lá eu me tornei consciente de energias sutis, que
me fizeram mais consciente do que nunca de que nós
determinamos nossas vidas usando as oportunidades que nos são
dadas.
─ Energias?
─ Este é o melhor nome em que posso pensar para o que eu
experimentei, Sophie. Qual foi a mais importante lição para você?
─ Depois que você saiu da água, eu me tornei mais consciente de
quão felizes devemos ser com tudo que se apresenta; que devemos
considerar tudo na vida como um dom, começando pela vida em si.
Nathan olhou para Sophie com admiração e amor. Fez bem a ele
saber que poderiam compartir seus sentimentos com toda a
sinceridade. Naquele momento, Nathan se tornou ciente, mais do
que nunca, de como eles eram felizes juntos. Nathan estava
profundamente convencido de que ele poderia nunca ter a mesma
intimidade com outra pessoa. Ele tomou Sophie em seus braços e
juntos adormeceram.
278
Mensagem
Quando o avião pousou em Curitiba, uma anfitriã gentilmente
acordou Nathan e Sophie. Eles aterrissaram no tempo exato em que
Sophie havia dito a Uiara, portanto, quando foram para o saguão de
chegada, Uiara estava lá para recebê-los entusiasticamente. Ela
caminhou em direção à Sophie e abraçou-a longamente. Então ela
abraçou Nathan com o mesmo entusiasmo. Quando percebeu que
poderia ter sido muito íntima, soltou-a. Ela não sabia se Nathan
consideraria seu entusiasmo muito agressivo e apressou-se em
explicar em francês que ela havia ouvido falar tanto dele, que era
como se o conhecesse há muito tempo. Sophie prontamente a
acalmou dizendo que ela havia contado a Nathan sobre sua
personalidade extrovertida. Então Uiara perguntou o que mais ela
havia contado sobre ela. Sophie disse que havia contado também
que era uma mulher muito bonita de descendência mista.
Uiara estava bastante animada com a visita de Nathan e Sophie.
Ela disse que poderiam ficar com ela o tempo que quisessem e
enfatizou que era muito sincero. Enquanto isso, eles andaram para
o estacionamento onde Amão, amigo de Uiara, estava esperando
no carro. Uiara apresentou Amão a Nathan e Sophie. Amão era do
Rio de Janeiro, mas havia conhecido Uiara na França, enquanto
também estava lá.
Do aeroporto de Curitiba, Amão dirigiu para o leste, para a
pequena cidade de Morretes. Uiara contou que eles viviam em uma
grande casa de campo, que havia sido herdada de seu pai. Ela disse
que sabia pouco a respeito dele, exceto pelo fato de que ele era
descendente de europeus e que havia deixado ela e a mãe alguns
anos após seu nascimento. Ele havia deixado Belo Horizonte e
voltado para o estado de Santa Catarina, no sul do país, onde sua
família vivia. A mãe de Uiara a havia criado sozinha; felizmente a
solidariedade no distrito em que viveram era grande. Uiara ainda
tinha muitos amigos em Belo Horizonte.
Uiara havia começado a trabalhar quando ainda era muito jovem e,
por causa disso não pudera mais frequentar a escola, portanto
passava seu tempo livre lendo livros. Assim ela havia desenvolvido
habilidades de escritora. Uiara explicou que jamais esperava ouvir
nada do pai até que receberaa carta no ano anterior explicando que
279
ele havia falecido em Florianópolis e que havia deixado para ela a
casa de campo em uma cidade não tão longe de Curitiba. Isso por
si só foi memorável, porque seu pai havia se casado novamente e
tinha três outros filhos. Então, Uiara voou da França para o Brasil
com a intenção de vender a casa. Quando finalmente viu a casa,
souberaque nunca partiria de novo.
Por estranho que parecesse, soubera pelo tabelião que o pai havia
predito que acabaria acontecendo deste jeito. Ele havia dito ao
tabelião que sua filha sugeriria vender a casa e adicionou que uma
vez que entrasse na casa não desejaria partir nunca mais.
Sophie perguntou se a segunda esposa de seu pai ou seus filhos
haviam tido algum problema com o fato de ela haver herdado a
casa. Uiara disse a eles exatamente o que o tabelião havia dito a
ela. O testamento declarava que a segunda esposa de seu pai havia
herdado outra casa, sendo a casa onde viviam em Florianópolis. O
tabelião disse que nem a segunda esposa nem os filhos que tiveram
juntosnão sabiam absolutamente nada sobre a existência de uma
segunda casa. Ele acrescentou que eles sequer sabiam que ele havia
sido casado anteriormente. Sophie abraçou Uiara. Nathan também
escutou atentamente a sua história. Houve um curto silêncio e
então Amão pôs alguma música para ajudar a todos a relaxar.
Nathan e Sophie aproveitaram o magnífico panorama da montanha.
Está área era diferente dos estados do nordeste, uma das coisas era
a temperatura mais baixa. Quando eles chegaram à casa, Nathan e
Sophie viram que de fato era uma bela casa de campo. Ficava
situada em uma propriedade privada cercada por altos pinheiros.
Charmene, mãe de Uiara, estava esperando por eles na estrada. Ela
convidou Nathan e Sophie para sentarem-se embaixo da sombra
das árvores e deixou que Amão e Uiara se encarregassem das
bagagens. Charmene já havia preparado drinks e bombardeado
Nathan e Sophie com perguntas. Ela estava muito curiosa por suas
impressões sobre o Brasil. Sophie, que entendia um pouco de
português, deixou Nathan responder.
Nathan disse a ela que havia passado um tempo em Salvador e que
também havia visitado vários lugares nos estados do nordeste.
Charmene então, disse orgulhosamente que ela também havia
estado em Salvador uma vez. Todos concordaram que era uma
cidade incrivelmente interessante. Charmene quis sabe se eles já
haviam estado na África. Quando Nathan respondeu
afirmativamente, ela perguntou se Salvador era de fato a cidade
mais africana fora da África. Ela pareceu extremamente satisfeita
280
quando Nathan disse a ela que de todos os lugares que havia
visitado, Salvador era uma das que mais merecia este título. Neste
momento Uiara retornou e ouviu que ele estava falando de
Salvador. Ela suspeitou que sua mãe houvesse contado a eles que
eles haviam assistido o Carnaval lá uma vez e que era uma de suas
lembranças mais bonitas. Uiara disse à mãe que um de seus amigos
havia vindo visitá-la e estava esperando por ela no corredor.
Charmene se levantou, desejou a seus convidados uma prazerosa
estadia e foi ver seu amigo.
─ Sua mãe é uma pessoa adorável, disse Sophie para Uiara.
─ Independentemente do fato de ela não ter tido uma vida fácil, eu
aprendi com ela a reconhecer o bem e as coisas positivas na vida.
─ É isso que você irradia, Uiara! Disse Nathan
Uiara olhou para Nathan e então para Sophie. Essas palavras
claramente a deixaram feliz. Durante os dois dias que se seguiram
Uiara e Amão mostraram os mais bonitos lugares na vizinhança.
Eles deram uma longa caminhada pela pitoresca cidade de
Morretes, onde visitaram um artista que esculpia em pedra. Outro
dia,fizeramuma pequena viagem para a praia mais próxima,
Paranaguá. Aproveitaram juntos mergulhando e nadando nas ondas
do mar.Este bonito dia terminou com um churrasco. Alguns dias
depois fizeram uma espetacular viagem no trem que viaja através
de profundas ravinas e ao lado de estonteantes cachoeiras, Amão
disse a Nathan e Sophie que se caso quisessem ver cachoeiras
impressionantes, não deveriam perder as de Iguaçu. Ele também
disse que um amigo deles gerenciava uma pequena pousada junto
com sua esposa. Uiara sugeriu uma visita em um fim de semana.
Nathan e Sophie gostaram da ideia e naquele dia Amão contatou
Eder, seu amigo em Iguaçu, e reservou dois quartos para o fim de
semana seguinte. No caminho para as cachoeiras, eles ficaram em
Curitiba e visitaram a cidade. Nathan e Sophie notaram que esta
cidade estava imbuída com influência europeia. Nos dois últimos
séculos, muitos imigrantes europeus haviam se estabelecido por
ali. A cidade parecia moderna e era deitada com bastante cuidado e
tinha muitos parques diferentes. Por causa disso, apesar do grande
número de habitantes, era quieta e prazerosa para se viver.
Passaram a noite em um hotel no centro e voaram para o ponto de
encontro entre Argentina, Paraguai, e Brasilno dia seguinte. Lá
pelo meio dia eles se encontraramno hotel que pertencia a Eder e
sua esposa Beatriz. Após um pequeno almoço eles visitaram a
cachoeira. Eles sabiam antes de ir que esta era uma famosa atração
281
turística. Ainda assim Nathan e Sophie ainda aproveitaram a
grosseira beleza natural da dramática cachoeira que estava
localizada em um exuberante parque, onde a água caía rugindo
para circular em volta de muitas pequenas ilhotas.
No seu retorno à pousada, descobriram que Beatriz havia feito uma
grande e deliciosa refeição para eles. Em seguidaabriram duas
garrafas de vinho e Uiara compartilhou alguns detalhes de sua
vida.
─ Eu achei meu equilíbrio escrevendo, disse Uiara. O que quer que
aconteça, quando eu posso ter tempo para mim mesma, começo a
escrever. Então posso por tudo em perspectiva.
─ Você publicou alguma coisa? Perguntou Sophie.
Uiara olhoupara Amão.
─ Apenas algumas das minhas histórias foram publicadas.
─ Eu sempre digo que ela é uma grande escritora, interrompeu
Amão, e que ela deveria publicar mais de seus escritos.
─ Eu escrevo principalmente para mim mesma, disse Uiara. Pode
soar estranho; apesar de este ser um caminho pra que eu me
aproxime dos outros...
Uiara queria acrescentar algo, mas estava duvidosa. Nathan
encorajou.
─ No que está pensando Uiara?
─ Existe outra razão importante pela qual eu não estou publicando
meus trabalhos. – respondeu Uiara – Eu nunca disse isso a
ninguém exceto a Amão. Somente ele sabe o porquê.
─ Eu acho que seria bom falar sobre isso agora, disse Amão.
─ Como eu posso dizer isso, Uiara falava sem dúvida, algumas
coisas sobre as quais escrevo requerem muito de mim. Quando eu
leio as palavras de novo,algumas vezes chego a duvidar que eu
mesma as escrevi sozinha.
Sophie queria dizer algo, mas Nathan fez menção para que
deixasse Uiara acabar de falar.
─ De fato, eu me sinto desconfortável com o fato de que as pessoas
serão capazes de ler meus segredos mais profundos, continuou
Uiara. Eu sei que soa estranho para um escritor, principalmente
para alguém que é tão extrovertida quanto eu.
Nathan ouviu interessado.
Uiara disse:
─ Eu quero saber com quem eu estou compartilhando os meus
textos e ser capaz de lê-los alto e sentir que são entendidos
plenamente.
282
Alguns dias depois após o retorno deles para Iguaçu, Nathan teve
um sonho estranho. Sem revelar seu sonho a Sophie, ele disse que
precisava falar com Uiara. Pelo seu tom de voz, Sophie pode ouvir
que era algo de grande importância e imediatamente procurou por
ela:
─ Uiara, Nathan gostaria de falar com você amanhã à noite.
─ Se é importante, disse Uiara, eu posso ir agora.
─ Não, ele quer falar com você amanhã à noite. Somente você e
ninguém mais pode estar lá.
Uiara pareceu surpresa, não disse nada e concordou.
─ Amanhã Amão vai sair com uns amigos, ela disse a Sophie. Mas
é sobre o quê?
─ Não se preocupe, disse Sophie. Nathan me disse que é algo bom!
Saiba por mim que se existe alguém em quem você pode confiar
cegamente, este alguém é Nathan.
─ Você sabe do que se trata? Perguntou Uiara curiosa.
─ Não! Ele quer falar com você antes.
Uiara estava intrigada. Que misteriosa mensagem Nathan poderia
ter para ela? Ela não conseguiu tirar isso da cabeça pelo resto do
dia. Queria visitar Nathan neste momento, mas ele havia ido à
cidade com Amão e só retornaria tarde da noite. Quando eles
voltaram, era de fato tarde, e eles foram dormir imediatamente.
Uiara não conseguiu dormir e ficou pensando a noite toda. No dia
seguinte teve que se controlar para ter certeza de não mostrar sua
excitação. Quando Amão finalmente saiu, ela procurou por Sophie
que disse que Nathan estava esperando por ela na varanda. Nathan
estava olhando para fora de costas para ela.
─ Você queria falar comigo? Perguntou Uiara.
Nathan virou-see olhou profundamente nos olhos dela sem dizer
nada. A curiosidade de Uiara agora havia atingido o topo. Ela
tentou imaginar todas as possíveis mensagens que Nathan poderia
ter. Ela pôde sentir que tinha que ser algo importante. Nathan veio
até ela e pediu que ela mostrasse onde ela escrevia. Uiara não
entendeu imediatamente a razão, mas fez o que Nathan pediu. Eles
subiram as escadas guiando-se para o sótão. Uma vez lá em cima,
Uiara abriu a porta da pequena sala. Dentro havia uma mesa perto
de uma pequena janela, construída no teto, pela qual a suave luz da
lua caía. Por trás estava uma estante generosamente cheia de livros,
seguida de uma cadeira velha. Nathan olhou para o espaço, andou
até que atingisse a janela e olhou para o lado de fora por um longo
tempo. Uiara que neste meio tempo havia sentado na cadeira,
283
perguntou a ele sobre o que queria falar com ela. Nathan se virou e
sentou-se à seu lado:
─ Uiara, você tem um dom muito especial.
─ Eu? Qual?
─ O dom de escrever.
─ Oh, é isso que você quer dizer, obrigada! Você quer me dizer
que eu devo publicar os meus escritos?
Nathan percebeu que Uiara estava fazendo um esforço para falar
com ele despreocupadamente, mas ele sabia que este era um
assunto difícil pra ela.
─ Se seus escritos são publicados ou não isso não é importante. Eu
estou me referindo a sentimentos de uma camada inferior que a
impedem de publicá-los.
─ Talvez eu não tenha sido feita para ser uma escritora. Eu
geralmente não entendo o que eu escrevo muito bem.
Nathan se levantou e parou perto da janela para olhar para fora.
Uiara o observou encarar a lua.
─ Todos nós somos muito mais do que pensamos. Somosainda
mais do que aprendemos a ser, disse Nathan suavemente.
Quando Nathan disse essas palavras, Uiara se tornou emotiva. Suas
palavras trouxeram a tona sentimentos muito profundos.
Sentimentos estranhos que ela havia sentido apenas em sua
infância. Nathan virou-se, parou em frente a ela e olhou-a nos
olhos. “Sim Uiara, eu sei seu segredo!”.
Agora Uiara sentia-se quente e começara a suar. O que ela havia
temido tanto agora se tornara um fato. Ela sabia que este momento
era inevitável, o momento em que ela deveria se confrontar com a
verdadeira razão pela qual temia escrever para o público.
─ Eu sei porque você tem tanta dificuldade em saber que outras
pessoas irão ler o que escreve.
Ela se lembrou deque Sophie havia dito que Nathan podia ver o
que outras pessoas não podiam. De uma forma inexplicável ele
agora havia descoberto o seu mais profundo segredo. Nathan sentiu
o seu medo e segurou suas mãos.
─ Uiara, você sabia que cada um de nós tem um destino na vida?
─ Sim, eu sempre senti que fosse assim.
─ Você sabe qual a sua missão pessoal na terra?
Agora foi a vez de Uiara olhar pela janela, para a lua.
─ Eu sei que este mistério está escondido em minhas palavras
escritas, respondeu, como se soubesse disso o tempo inteiro.
─ Uiara, disse Nathan, nos tínhamos que nos encontrar.
284
Uiara esperou em suspense pelo que Nathan iria dizer.
─ Você irá escrever a grande mensagem e publicá-la ao tempo
certo.
─ A grande mensagem? Uiara perguntou. Não tenho certeza de que
compreendi direito.
─ Uiara, você tem o dom de transmitir mensagens do mundo
escondido para este mundo.
Uiara não disse nada. Ela parou de respirar momentaneamente, e
então uma lágrima desceu por sua bochecha. Agora Nathan
segurou suas duas mãos firmemente.
─ Eu também sei que você tem sido abordada em seus
pensamentos para transmitir outras mensagens. Mensagens que
você sabe que não são boas.
─ Eu tenho tido muitos momentos desagradáveis, Nathan.
─ Isso agora irá terminar.
O rosto de Uiara clareou.
─ Sério? Você tem certeza? Como você pode saber disso? Como
pode saber?
Nathan continuou calmamente.
─ Seu encontro com Sophie não foi mero acaso, assim como não
existem coincidências. Nós teríamos nos encontrado de qualquer
forma, para que eu pudesse explicar o significado do seu dom.
Agora que você está ciente deste significado, cabe a você fazer
uma escolha.
─ Você mesmo disse que esta é minha verdadeira missão. Então eu
tenho outra escolha?
─ Qualquer dom que nos é dado não pode ser determinado ou
escolhido por mais ninguém. Esta é a base de nosso livre arbítrio.
Uiara tomou algum tempo para pensar nas palavras de Nathan. Ela
olhou para as mãos dele, os dedos ainda entrelaçados, então falou
solenemente e com grande convicção.
─ Eu com certeza farei com que todos os meus escritos secretos
que não são para o bem maior sejam destruídos. Eu prometo que de
agora em diante eu somente escreverei para promover o bem
maior.
─ Através da escolha que você fez hoje, você somente será tocada
por inspiração amorosa e será para sempre livre destes maus
momentos. Saiba que ninguém mais neste mundo pode completar
esta tarefa melhor que você. É o destino de sua vida, Uiara!
285
─ Eu estou tão feliz de saber meu propósito maior e agora que eu
sei,considero uma grande honra. Há tantas coisas se tornando
claras para mim.
─ Tudo que acontece em sua vida tem a ver com isso direta ou
indiretamente. O universo sempre nos dá estas experiências que
sempre se encaixam perfeitamente dentro de nós. Do momento de
seu nascimento até o momento de sua transição.
─ E sobre as nossas escolhas?
─ A cada momento nós estamos escolhendo como lidar com nossas
experiências.
Uiara olhou para Nathan cheia de admiração e entendeu as
palavras que Sophie usara para descrevê-lo.
─ Agora que eu finalmente entendo isto melhor, eu estou livre do
meu medo. Obrigado Nathan!
Uiara olhou para a lua novamente e não disse nada até que
perguntou:
─ Como é o sentimento de ter uma missão na vida que afeta toda a
humanidade?
─ Cada um de nós tem uma missão na vida e cada missão
influencia a humanidade. E mais, cada pensamento e ação afeta até
mesmo o mais longínquo canto do universo!
Agora Nathan se levantou e disse a Uiara que dormisse bem, mais
uma vez ela agradeceu. Quando retornou para Sophie em seu
quarto, explicou tudo a ela. Antes de cair no sono, Nathan
entendeu que sua tarefa estava completa.
Alguns dias depois, Nathan e Sophie partiram para São Paulo, de
lá, Sophie voaria de volta para a França. Nathan ainda não sabia o
que iria fazer, mas de uma coisa estava certo, sua jornada não
terminaria tão cedo. Nathan e Sophie passaram dois dias em São
Paulo, o centro econômico e cultural do Brasil e uma das maiores
cidades do mundo.Após um jantar suntuoso passearam pelo parque
do Ibirapuera. Quando voltaram ao hotel, deitaram-se e tiveram a
seguinte conversa.
─ Talvez eu não devesse começar com este assunto, disse Sophie,
mas você tem ideia de quando nos veremos de novo?
─ Não posso te dizer Sophie, eu nem sei qual é o meu próximo
destino.
─ Nathan, eu quero lhe perguntar algo... onde eu me encaixo em
sua vida?
Nathan beijou os lábios de Sophie ternamente e disse:
286
─ Não existe ninguém na Terra por quem eu sinta mais amor do
que eu sinto por você, você é minha companheira espiritual.
─ O que companheira espiritual quer dizer exatamente?
─ Companheiros espirituais têm um relacionamento que tem um
significado maior do que ser apenas companheiros nesta vida. Eles
estão juntos na Terra para lutar por perfeição e segurança interior.
Sophie olhou para Nathan por um longo tempo sem dizer uma
palavra. Estas foram as palavras mais sinceras e amáveis que ela já
escutara, e deu a ela um sentimento de “confiança ilimitada”. Ela
pôs sua cabeça no ombro de Nathan e ambos caíram no sono. No
dia seguinte se despediramno aeroporto, mas desta vez Sophie não
sentiu mais tristeza ou dúvida, apenas felicidade por quem ela era e
pelo que significava.
Agora Nathan estava sozinho e passeou pelos distritos de São
Paulo. Ele tentou descobrir dentro de si mesmo onde ele deveria
continuar sua jornada. Ele entrou em contato com amigos e
conhecidos para descobrir como eles estavam. Todos queriam
saber tudo sobre suas experiências.
Após Nathan passar um longo tempo no distrito oriental da
Liberdade. As cenas que ele viu lá o fezlembrar dediferentes
passeios que havia dado com Simon na Ásia. Ele percebeu o
quãoeducativas estas viagens haviam sido e se tornou ciente de que
poderia aprender coisas importantes destas culturas.
Dois dias depois Nathan passou pela vitrine de uma agência de
viagens e sua atenção foi focada em uma imagem em um pôster.
Era a imagem de um veleiro azul escuro em um mar perto de uma
praia muito bonita. A imagem o fez pensar no pôster pendurado na
parede de seu quarto em Bruxelas, aquele que havia sido um dos
primeiros sinais que mostraram a jornada que ele havia começado
anos atrás. As palavras impressas no topo do pôster eram:
“Austrália, a memória do mundo!”. Estas palavras inspiraram
Nathan a entrar na agência de viagens e, sem titubear, seguiu sua
intuição e abriu a porta da agência. Quando estava dentro, a
primeira coisa que viu foi um folder comercial, anunciando um voo
promocional para Sidney. Perguntou ao agente de viagens se a
tarifa ainda era válida. Ele foi avisado que a tarifa acabara de subir.
Sem nenhuma dúvida Nathan agendou o voo. De volta em seu
quarto, percebeu repentinamente que estaria partindo para a
Austrália em três dias sem ter nenhuma ideia do que iria fazer lá.
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288
-9Lucidez Crescente
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290
Envolvimento
O vôo para Sidney chegou sem dificuldade. Dessa vez não haveria
ninguém para buscar Nathan. Enquanto aguardava por sua
bagagem, ficou claro para ele que havia deixado para o outro lado
do mundo sua intuição que o incomodava espontaneamente. Mas
isso não o preocupou. Ao contrário, deu a ele o sentimento de
liberdade. Ele confiou em sua intuição e estava certo que a razão
para estar na Austrália poderia ficar mais clara mais tarde. Na
realidade, ele já queria visitar Austrália há muito tempo. Sua única
preocupação era que suas economias estavam se esgotando
rapidamente. Quando chegou ao centro da cidade, procurou um
hotel. Não demorou muito para que encontrasse um bom hotel,
onde ficou com um quarto no nono andar, de onde ele tinha uma
bela vista do porto. Ele tomou banho e então foi conhecer o centro
da cidade por um instante. O sol estava brilhando cintilantemente
nos altos arranha-céus, mas felizmente havia uma agradável brisa.
Nathan passeou pelas belas e mais populares ruas de compras.
Sidney pareceu ser uma cidade muito bem organizada, assim como
as pessoas, que estavam muito bem vestidas. Imediatamente
sentiu-se em casa. Nathan pediu uma deliciosa refeição em um dos
vários shoppings na cidade e passou o tempo observando as
pessoas. Mais tarde ele retornou ao hotel. No dia seguinte, Nathan
foi a um Centro Turístico. Ele pegou um mapa da cidade e foi
informado que Bondi-Beach era uma das melhores praias em
Sidney. No primeiro dia, Nathan explorou as melhores partes do
centro com o mapa em suas mãos. No dia seguinte, pegou suas
roupas de natação e um livro e foi para Bondi-Beach. O ambiente
estava muito agradável, então Nathan ficou por lá o dia inteiro.
Quando ele voltou para o seu hotel tarde da noite, ele decidiu
comprar alguns aperitivos na loja de conveniência mais próxima.
Ele foi à loja e cumprimentou dois homens que estavam
casualmente conversando. Um dele era o proprietário, um homem
de origem chinesa com uma barba pequena. O outro homem tinha
pele clara e estava bronzeado. Ambos estavam sentados em bancos
e pareciam conhecer-se muito bem. Enquanto Nathan estava
escolhendo seus produtos pode ouvir partes da conversa deles.
Estavam discutindo qual era a fonte mais segura de informação:
291
sentimentos ou inteligência. O homem chinês disse que
sentimentos dizem mais que o que as pessoas pensam ser possível.
O outro homem replicou que ele confiava em sua inteligência mais
que em seus sentimentos. Nathan pensou que isso não era
exatamente um assunto que alguém abordaria uma loja de
conveniência. Quando ele foi pagar, entrou na conversa. Pete, que
era realmente um bom amigo do proprietário, estava tão
convencido de que estava certo, que supôs que Nathan estaria
compartilhando sua opinião.
─ Não é verdade que nós devemos confiar mais em nossa
inteligência do que em nossos sentimentos? Ele perguntou a
Nathan.
O homem chinês se apresentou antes de deixar Nathan responder.
Ele apertou sua mão e disse que seu nome era Qiao. Pete então
seguiu seu exemplo. Nathan também se apresentou e disse a eles
que havia acabado de chegar à Austrália. Ambos deram as boasvindas a ele. Então Qiao abordou o assunto:
─ Claro que nossa inteligência é de grande importância, Qiao
disse.
─ Com ela nós podemos converter a informação que recebemos em
conhecimento.
─ O que eu estou tentando explicar para Pete é que os sentimentos
nos dão a clareza para distinguirmos entre a informação certa e a
errada.
Tanto Pete como Nathan aguardaram por uma reação e ambos
esperaram por uma confirmação de suas próprias visões.
─ Pete, perguntou Nathan, você pode descrever o que você quer
dizer exatamente com a palavra inteligência?
─ Com isso eu quero dizer o nosso intelecto, nossa lógica racional,
a capacidade que temos de construir certezas.
─ Poderia ser que essas certezas que nos leva com a impressão que
nós não estamos nos enganando?
Colocando essa pergunta, Nathan teve sucesso em fazer Pete
duvidar de sua convicção de modo simples, porém irrefutável.
─ Todos nós precisamos de certeza? Perguntou Pete.
─ Nós temos uma necessidade muito forte de não aceitar nada
como uma resposta, Nathan replicou.
─ Em que nós nos basearíamos se não pudéssemos ter certeza de
nada, nossos sentimentos? Foi a próxima pergunta de Pete.
Agora Nathan pegou um banco e sentou em frente a Pete e Qiao.
292
─ Nossos sentimentos dão sentido às nossas vidas, Nathan
respondeu.
─ Sem sentimentos não podemos apreciar belas melodias nem nos
impressionar com as praias ou tenros carinhos.
─ Mas os sentimentos nem sempre nos dão a informação correta,
Pete continuou.
─ Os sentimentos nunca mentem, disse Nathan, mas somos nós
quem precisa aprender a interpretá-los corretamente.
─ Como? Pete perguntou.
─ Sempre descobrindo suas origens usando nosso guia interno,
Nathan respondeu.
Pete desejou saber a resposta de Nathan. Ele olhou para ele e então
olhou para Qiao. Nathan ficou em silêncio e então Qiao falou.
─ Ele está falando sobre a nossa intuição, disse Qiao.
Pete olhou pra Nathan procurando questionar se Qiao estava certo.
Nathan acenou.
Pete imediatamente fez uma nova pergunta a Nathan:
─ Para mim, intuição é algo ambíguo.
─ Você pode descrevê-la para mim?
─ Responder a essa pergunta é o mesmo que contar a um cego o
que é a percepção visual ou explicar o som para um surdo. Intuição
é uma capacidade, a qual nos mostra a infinita diversidade de
mensagens que aparecem para nós.
Ela pode ser vista, tocada de uma maneira ou de outra?
Isso é principalmente uma força que nos faz suspeitar que existam
novos aspectos do invisível, do intocável.
Qiao ouviu atentamente a Nathan. Assim como Pete, ele estava
impressionado pela maneira como Nathan esclareceu seu ponto de
visão.
─ Nós podemos apenas entender o poder da intuição se nós a
vivenciarmos em nós mesmo, Nathan continuou.
─ Acredite em mim, Pete, quando você realmente quiser ficar
ciente desse poder, você verá o mundo sob uma luz completamente
diferente.
─ Muitos querem provar isso e duvidam dessa capacidade interna,
Qiao declarou.
─ Muitos tiveram aprendido a olhar por evidência, disse Nathan.
─ A evidência pode nos dar um sentimento de certeza, mas com a
intenção de realmente compreender os segredos da vida, nós
devemos sempre reconsiderar tudo sempre.
293
─ Suas palavras mostram que a vida realmente tem um sentido
mais profundo, mas eu tenho que admitir que frequentemente me
questiono se esse é o caso, disse Pete.
─ Para entender o sentido da vida, Nathan disse, você tem que
perguntar a si mesmo o seguinte:
─ Qual o significado da minha vida? Somente procurando uma
resposta para essa pergunta é que você irá encontrar os limites
intelectuais.
Além do meu intelecto, o que mais pode me fazer entender o
sentido da minha própria vida? Pete perguntou a Nathan.
─ Esse que é ilimitado em essência, Nathan respondeu.
─ E isso é? Pete perguntou.
Novamente Nathan se manteve em silêncio e novamente Qiao se
sentiu estimulado a responder. De um modo ou de outro Nathan
percebeu que Qiao obteve o seu conhecimento, mas que ele achou
difícil de conduzir.
─ Agora ele está falando sobre o nosso espírito, disse Qiao, que se
sentiu completamente correto em sua declaração.
Tanto Qiao como Pete entenderam que Nathan estava concedendo
a cada um deles o conhecimento adequado. Pete precisou de
informação relativa aos fatos para melhor entender o centro do
conhecimento, enquanto Qiao precisou aprender como
compartilhá-lo.
─ Nosso espírito é ilimitado e, assim, se abre para tudo, Nathan
continuou. É o único que pode nos tornar livres.
─ Tornar-nos livres de quê? Pete perguntou curiosamente.
Nathan disse que agora Qiao sentira-se suficientemente forte e
deixou-o continuar por si próprio:
─ Da nossa falta de consciência! Quanto mais nosso espírito se
desenvolve, mais aceitamos a vida. E mais felizes nos sentimos
sem lamentos, impaciências ou Cansaço.
As palavras de Qiao confirmaram o que Nathan tinha suspeitado
desde o início: que Qiao tem uma grande fundação teórica de
conhecimento. Agora, Pete também entendeu isso.
─ Agora eu estou preso a dois sentimentos, disse Pete, de um lado
sou grato porque minha vida tem um significado maior do que eu
pensava originalmente. E de outro, também tenho a sensação que
tenho perdido muito tempo com problemas superficiais e sem
utilidade.
─ Continue com seu pensamento de hoje em diante e você irá
continuar apenas com o primeiro sentimento, Nathan disse. O
294
segundo sentimento desaparecerá quando você descobrir que seu
espírito reteve tudo de real e bom. Nada de valor se perde para o
espírito: ele se funde continuamente com seu eu profundo!
Depois dessas palavras Nathan se levantou e agradeceu aos dois
homens pela conversa. Ambos claramente mostraram o quão gratos
estavam pelo que ele os ensinou. Nathan disse adeus e saiu da loja.
Uma vez do lado de fora, Qiao alcançou-o:
─ Espere um momento, onde você está hospedado? Ele gritou para
Nathan.
─ Nesse hotel, aqui em frente.
─ Você vai voltar?
─ Você gostaria que eu voltasse?
─ O que eu digo pode parecer estranho, mas eu tenho a sensação
que você pode ser de grande importância para mim.
─ Nesse caso você também será importante para mim.
Depois dessas palavras Nathan se virou e continuou a andar.
─ Você não me respondeu.
Ver-lhe-ei novamente? Qiao
perguntou.
Nathan parou antes de atravessar a rua e sorriu para Qiao:
─ Mas eu disse, eu respondi a você.
Qiao não entendeu completamente, mas antes que pudesse reagir
Nathan atravessou a rua e acenou para ele. No dia seguinte Nathan
alugou um pequeno motor home. Ele deixou Sidney e rumou para
o norte ao longo da costa. Depois de alguns dias, ele chegou ao
estado de Queensland. Passou um bom tempo nessa região. Os
bancos de areia continuaram por longos trechos, as montanhas
caprichosas e o clima subtropical providenciaram a ele o descanso
de que precisava. Em Queensland, Nathan passou muito tempo na
cidade de Brisbane. Ele ficou em Redcliffe e foi lá que decidiu
começar a escrever um livro. Daquele momento em diante ele
poderia frequentemente adicionar novos comentários e anotações
ao manuscrito. Nathan aprendeu que a literatura era um grande
meio para dispersar a mensagem em larga escala. Ele estava
querendo escrever há muito tempo, mas foi o talento de Uiara que
o convenceu a começar. Desde sua conversa com ela que se sentia
confiante que sua mensagem seria apresentada da maneira correta.
Nathan escreveu suas primeiras palavras em uma noite fria. Essa
foi uma sessão de escrita que terminou apenas no raiar do sol.
Nathan passou a noite inteira trabalhando sem perceber.
Inumeráveis pensamentos vieram voando pelo espírito de Nathan.
A noite inteira, ele tentou o melhor que pode para escrever seus
295
pensamentos clara e conscientemente. Pela manhã, sentiu-se
incrivelmente cansado. Antes de ir dormir, arrumou um tempo para
reler seus textos. Um título e uma estrutura clara ainda estavam
faltando, mas ele achou que aquelas milhares de palavras tinham
que ser postas em papel. Ele foi dormir sentindo-se satisfeito. Ele
agora entendia que isso era o início de um trabalho incrivelmente
importante, que o tomaria muitas noites mais.
Como estava se afastando de Brisbane, Nathan visitou muitas
cidades ao redor da costa. Nenhum dia passou sem dar um
mergulho no oceano. Ele ainda teve a maioria de suas inspirações
enquanto estava debaixo da água. Enquanto estava em Caloundra,
Nathan conheceu um pintor que vendia seus trabalhos na rua.
Tinha belas pinturas de paisagens de montanha. O homem contou
que as montanhas pintadas em seus trabalhos eram chamadas de
Montanhas da casa de vidro. Ele adicionou que essas montanhas
eram sagradas e que estavam lá para lembrar-nos o quão
importante é a caridade. Nathan ficou muito comovido pela beleza
das pinturas e realmente quis ver a Montanha da casa de vidro. No
dia seguinte, tomou um rápido café da manhã e dirigiu até lá. Ao
chegar, ficou tão impressionado pela beleza da paisagem que
decidiu escalar uma das Montanhas da casa de vidro. Ele observou
cada uma delas de perto e então escolheu a montanha chamada
Ngungun. Nathan percebeu que seria uma grande escalada. Ele
alcançou o topo depois de algumas horas. Lá, sentou-se em uma
pedra plana e tomou algum tempo para curtir a serenidade e a vista
apaixonante. Enquanto admirava a beleza natural ao seu redor,
seus olhos avistaram uma velha árvore. Algo o impeliu a ir até lá.
Levantou-se e andou até ela. Quando alcançou a árvore, Nathan
tocou nela com as duas mãos e admirou-a dos pés à cabeça. De
repente, ele viu que uma sequência de palavras foram entalhadas
no alto do tronco. Ele não pode lê-las porque estavam muito altas,
mas estava tão curioso que decidiu escalar a árvore e sentou em um
galho. Daquele lugar ele pode plenamente ler as palavras. Elas
estavam escritas em um idioma desconhecido para ele, então não
conseguiu nada com isso. Nathan pegou uma caneta e alguns
papéis de seu bolso e escreveu as palavras:
─ Cooma el ngruwar, ngruwar el cooma, illa booka mer ley urrie
urrie! Quando ele estava de novo em solo firme, sentou-se na
mesma pedra lisa e tentou adivinhar o que acabara de escrever. De
repente, o vento começou a soprar muito forte. A areia subiu tão
alto que Nathan teve que manter seus olhos fechados, e somente
296
abriu seus olhos novamente quando a intensidade diminuiu. Foi
nesse momento que ele viu uma jovem com uma bela pele morena
e longos cabelos negros ondulados. Ela andou em direção a ele.
Nathan manteve-se olhando fixos nela e pareceu como se ela
estivesse impressionada. Quando ela aproximou-se dele, olhou-o
gentilmente para e sorriu. Nathan quis dizer alguma coisa, mas não
teve êxito em dizer nada que fizesse sentido. Isso era muito raro
para ele, e fez com que se sentisse inseguro. A jovem se apresentou
primeiro. O nome dela era Leewana. Nathan levantou-se:
─ Desculpe, meu nome é Nathan.
─ Você não deve se desculpar, eu é que devo.
─ Por que aquilo?
─ Eu estava tão surpresa de ver você aqui que não dei tempo a
você para pensar!
Nathan não soube como interpretar essas palavras. O que ela quis
dizer exatamente? Por que ela disse que não dera tempo a ele para
pensar?
─ Posso perguntar o que está fazendo aqui? Leewana perguntou.
─ Estou viajando e quis muito ver essas montanhas, Nathan
replicou. Quando eu cheguei aqui, eu tive repentinamente o desejo
de escalar uma delas.
─ Por que essa montanha? Leewana perguntou.
Nathan supôs que Leewana estava procurando por uma razão mais
profunda.
─ Como de costume eu segui meus sentimentos, Nathan
respondeu.
Leewana olhou para Nathan por um longo tempo, mas não disse
nada mais até que Nathan continuou a conversa:
─ Você vive nessa região?
─ Eu tenho vivido em quase todo lugar, mas eu cresci em
Adelaide, se é isso o que você quis dizer. Eu vivi aqui com meus
pais adotivos. Eles vieram da Polônia e viveram na Austrália por
muito tempo.
Quando Nathan ouviu que Leewana era adotada, ele naturalmente
quis saber se ela conheceu seus pais biológicos. Ela deu uma
resposta antes mesmo que ele pudesse fazer a pergunta.
─ Meus pais naturais viveram numa região ao norte de Adelaide.
Eles formaram parte de uma tribo de Aborígenes, os habitantes
originais da Austrália.
─ Você foi para lá?
297
─ Não, a tribo inteira da qual eles pertenciam perdeu suas vidas
durante uma das mais pesadas tempestades desse país. Foi um
milagre eu ter sobrevivido.
─ O que aconteceu depois disso?
─ Quando eu fui encontrada, fui levada para Adelaide. Lá meus
pais adotivos me pegaram e cuidaram de mim de uma maneira
maravilhosa.
Nathan ficou sem fala quando ele ouviu a história de Leewana. A
similaridade com a sua história era impressionante.
─ Existiu algum outro sobrevivente?
Leewana deu uma olhada para Nathan e então agarrou seu braço.
─ Nós temos muito mais em comum, Nathan!
Agora, Nathan estava realmente impressionado. Não apenas pela
similaridade entre a história deles, mas também por causa do fato
que Leewana sempre parecer saber disso, mesmo antes dele ter dito
alguma coisa sobre seu passado. Agora Nathan estava
incrivelmente curioso.
─ Por que você está aqui hoje? Ele perguntou.
─ Eu também segui meus sentimentos!
Essa conversa claramente confundiu Nathan. Ele quis ser capaz de
organizar seus pensamentos, então deu alguns passos e sentou-se
novamente. Leewana sentou próxima a ele. Ela viu que ele
carregava uma anotação em suas mãos e perguntou o que aquilo
significava. Nathan a deixou ler. Enquanto ele estava esticando o
papel, Leewana olhou para a árvore que ele acabara de subir. Ela
estava olhando diretamente para o lugar onde o escrito foi
entalhado. Agora Nathan não tinha mais dúvidas. Alguma coisa
muito rara estava acontecendo aqui.
─ Como você soube que estas palavras podem ser lidas naquela
árvore? Ele perguntou.
Inicialmente Leewana não disse nada, e então replicou:
─ Você vai acreditar em mim se eu te contar?
─ Acredite em mim, se você me contar a verdade, eu vou acreditar
em você.
─ Isso é um segredo, mas eu sei que posso dividir com você.
Leewana sentou-se muito perto de Nathan e pegou sua mão.
─ Eu tenho um talento extraordinário.
─ Qual é o seu talento?
Leewana respirou fundo.
─ Eu tenho percepções no mundo dos pensamentos.
─ O que exatamente você quer dizer?
298
─ Eu tenho a capacidade de ver onde os pensamentos voam.
─ Onde os pensamentos voam?
─ O desejo da cada pensamento é ser recontado!
Nathan não disse nada por um momento e pensou por um instante.
Será que Leewana falara a verdade? Ela tinha esse talento
excepcional?
─ Diga-me, como os pensamentos viajam?
─ Pensamentos viajam em todos os lugares. Eles tentam se
converter em ações acerca da dimensão na qual nós vivemos. Eles
podem fazer isso quando são convidados pelos sentimentos.
─ Você pode me contar quais pensamentos estão aqui nesse
momento?
─ Agora mesmo existem dois pensamentos ao seu lado e eles
deixaram dois pensamentos entraram em você. O primeiro
sentimento é a emoção, o qual faz você pensar que eu também fui
levada a Terra com uma missão maior.
Essas palavras convenceram Nathan que mais do que nunca
Leewana estava falando a verdade.
─ O segundo sentimento é sua boa amiga, a curiosidade, a qual faz
você supor que elemento natural me levou á Terra.
Nathan entendeu que Leewana possuía o conhecimento que ele
recebeu no Saara. Mesmo que mais forte, Leewana não apenas viu
os sentimentos que se manifestaram, mas também os pensamentos
que eles evocaram. E tudo isso em plena consciência.
─ Eu gostaria definitivamente de saber que elemento natural a
mandou à Terra, respondeu Nathan.
─ A relação que você tem com a água, Nathan, eu tenho com o
vento.
─ Você conhece a sua missão maior?
─ Assim como você, eu não sei ainda.
Novamente houve uma pequena pausa.
─ Eu pensei que nós tivéssemos sido trazidos juntos em ordem de
dividir nossas experiências, Leewana continuou. E para ganhar
mais percepção em direção à nossas missões. ─ Eu também tenho
uma forte sensação que nós iremos precisar um do outro. É o que a
mensagem nesta árvore esta tentando passar para nós.
─ Pode uma árvore também enviar mensagens? Nathan perguntou.
─ Assim como todos os seres vivos!
Agora Leewana tomou as anotações das mãos de Nathan e leu-a
em voz alta. Depois de lê-la, ela sorriu.
─ Por que você está rindo? Perguntou Nathan.
299
─ Eu vi a impaciência correndo para você.
─ Eu nunca tentarei esconder nada de você.
Leewana piscou os olhos:
─ Isso seria engraçado.
Leewana pegou firmemente nas mãos de Nathan e disse então em
um tom sério:
─ Aqui está escrito: Um por todos, e todos por um, e o egoísmo
não morrerá!
─ Em que idioma está escrito? Nathan perguntou.
─ Em uma velha linguagem usada pelos Aborígenes para revelar
mensagens do tempo do sonho.
─ Tempo do sonho?
─ O tempo do sonho é um tempo numa dimensão diferente, que
acontece simultaneamente a este. É uma realidade diferente
próxima à essa.
─ O que acontece durante o tempo do sonho?
─ Pensamentos viajam de lá e eles tentam ser magníficos em nossa
dimensão.
Leewana trouxe aperitivos e os pegou em sua mochila. Pegou um
cobertor amarrado à sua bolsa e o esticou no chão. Depois,
convidou Nathan para sentar-se com ela.
─ Você sabe, disse Nathan, pelo que eu aprendi de você, eu
entendo melhor como toda a tristeza no mundo vem para dentro
dos seres.
─ Para que isso termine, as pessoas devem ter ciência do fato de
que cada ação delas é o fruto dos pensamentos que evocam os
sentimentos.
─ Nós podemos dizer que as pessoas têm que aprender a sentir de
novo.
Leewana sorriu e limpou um cacho de uvas com água. Então,
cortou o cacho em dois e deu metade para Nathan.
─ Você sorriu de novo quando ouviu minhas palavras, Nathan
disse.
Leewana olhou gentilmente para Nathan.
─ Nathan, não existe na Terra ninguém que saiba como fazer as
pessoas conscientes de seus sentimentos mais profundos melhor do
que você!
O que Leewana disse, fez Nathan pensar novamente.
─ E o que você pode fazer melhor do que qualquer um na Terra?
Ele perguntou para Leewana.
─ Transferência de pensamentos, com certeza.
300
Um silêncio se seguiu.
─ O que você absorve das palavras entalhadas na árvore? Leewana
perguntou a Nathan.
Nathan tomou algum tempo para pensar.
─ Que cada missão individual forma parte de uma grande missão.
Leewana acenou.
─ Eu penso da mesma forma.
Depois de comerem os aperitivos, Nathan e Leewana desceram a
montanha juntos. Leewana seguiu atrás de Nathan até eles
chegarem a Caloundra, onde ficaram juntos por três dias e
discutiram muitas das suas experiências. Por causa disso, eles
ganharam mais percepção em suas missões maiores. Tornaram-se
incrivelmente cientes do que poderiam significar um para o outro,
e uma forte ligação cresceu entre eles. No terceiro dia, despediramse. Nathan continuaria sua jornada em direção a Cairns, enquanto
Leewana era esperada na Rússia. Antes de suas partidas, eles
falaram sobre suas excepcionalidades. Leewana iniciou:
─ Assim como a água é o princípio de toda nova vida, você tem a
capacidade como ninguém mais de trazer novos pensamentos à
vida.
─ Assim como o vento pode colocar tudo em movimento, você tem
a capacidade, como ninguém mais, de transportar pensamentos
muito antigos.
Nathan piscou para Leewana e eles se abraçaram longa e
intensamente. Ambos estavam convencidos de que se encontrariam
novamente.
301
Consciência
Nathan dirigiu para o Norte e descobriu muitos outros lugares
bonitos. Depois de alguns dias ele chegou a Tropical Cairns, onde
ele conheceu Jack, um jovem rapaz com longos cabelos louros, que
veio de Vancouver. Jack obteve seu diploma como biólogo no
Canadá. Imediatamente após seus estudos, ele começou a trabalhar
para uma grande companhia farmacêutica, mas seu emprego não
estava satisfazendo-o. Desde criança, Jack sonhava em viver na
Austrália. Dois anos atrás, quando havia economizado o suficiente,
ele realizou esse sonho e mudou-se para Cairns. Uma vez na
Austrália, Jack decidiu fazer algo completamente diferente. Ele
comprou um catamarã e ofereceu cruzeiros para a Grande Barreira
de Recifes. Nathan e Jack conheceram-se em uma varanda de bar.
Eles tiveram uma conversa sobre a beleza da natureza, mas
também sobre as mudanças climáticas e as possíveis consequências
disso se não houver uma grande mudança na mentalidade. Eles se
entenderam muito bem. Jack convidou Nathan para navegar no
Mar de Coral no dia seguinte. Ele disse que teriam o prazer de
navegar com duas jovens moças da Romênia. A bordo da catamarã
o quarteto pode se conhecer melhor. As duas morenas com olhos
castanhos são irmãs e seus nomes são Mihaela e Ioana. Mihaela
viveu na Irlanda e trabalhou em Dublin. Ela também
imediatamente ressaltou que não havia encontrado grande
satisfação com o trabalho. Sua irmã mais nova, Ioana, esteve
estudando psicologia em Bucareste e fez isso com muita devoção.
Ambas as irmãs terminaram uma viagem na Nova Zelândia, onde
haviam visitado amigos com seus pais. As duas irmãs voaram de
Auckland para uma viagem de dez dias pela costa leste da
Austrália. Quando o barco se aproximou da barreira de coral,
Nathan pulou na água. Mihaela e Ioana seguiram o seu exemplo,
enquanto Jack permaneceu no barco. Nathan admirou os
maravilhosos corais e nadou por entre muitos cardumes de peixes
cheios de cores com as garotas. Para Nathan, isso confirmou
novamente como a natureza pode ser bela, tanto em cima como
debaixo d'água. Ele adoraria mergulhar mais fundo, mas ele pensou
que era importante não causar suspeitas em suas companheiras.
Mihaela e Ioana já estavam no barco por algum tempo, quando
302
Nathan retornou a bordo. Uma vez que se puxou para bordo, Jack
continuou navegando. Um pouco depois eles ancoraram em uma
pequena ilha. Sentaram-se embaixo das árvores. Quando se
sentiram suficientemente confortáveis, Jack serviu deliciosas
saladas.
─ Eu já tinha ouvido e lido sobre as belezas dos corais, disse
Nathan, mas o que eu vi debaixo das águas excede as minhas
expectativas.
Tudo aqui é verdadeira e incrivelmente lindo, disse Mihaela.
─ Isso ainda é tão especial para você, Jack? Ioana perguntou.
─ Certamente, eu não apenas aprecio a beleza da natureza, como
também o prazer vivido pelos convidados que eu trago a bordo.
Depois da refeição, Mihaela e Ioana passearam pela ilha. Nathan e
Jack se fizeram confortáveis na praia. Jack contou a Nathan que a
conversa deles no dia anterior fez com que pensasse bastante, e que
tinha algumas perguntas:
─ Nathan, você me disse que eu não apenas tive um sonho para vir
aqui, mas existiu uma razão mais profunda para isso.
─ Tudo tem uma razão mais profunda, isso não é limitado aos
sonhos.
Eu me convenci disso, mas o que isso poderia significar
especificamente para mim?
─ Sabendo que você tem que perguntar a si mesmo as perguntas
certas concernentes às importantes fases da sua vida e, então
conectar-se às respostas.
Nathan sentou-se ereto e olhou Jack diretamente nos olhos para
indicar a importância da informação que ele passaria agora:
─ Jack, que meio-ambientes tem sempre interessado mais a você?
─ Tudo relativo à natureza, vida na Terra, as mútuas relações entre
cada ser vivo.
─ E sobre que lugar você tem sonhado viver desde a sua infância?
─ Esse lugar, onde eu estou vivendo hoje.
─ Qual é a sua maior preocupação hoje?
─ Sem dúvida, o que nós, como humanos estamos fazendo para a
natureza.
Desde ontem eu tenho aprendido com você que o lugar no qual
estamos hoje é uma das mais valiosas áreas para estar para ser
capaz de seguir o status da Terra.
─ Não é esse o caso?
303
─ Sim, tá certo. Aqui o mar eleva-se ao máximo e os corais fazem
parte dos mais delicados seres vivos na Terra. Eles são
extremamente sensíveis a qualquer mudança no clima.
Nathan agora se deitou de costas e não tirou os olhos do céu.
─ Bem Jack, até a delicadeza dos corais tem um significado mais
profundo.
Os olhos de Jack abriram-se totalmente:
─ Para nos prevenir de um possível desastre?
Nathan acenou afirmativamente.
─ Isso poderia também explicar porque o mar se eleva ao máximo
nesse lugar? Jack continuou.
Novamente Nathan acenou e então disse:
─ Agora ligue toda essa informação às importantes fases da sua
vida, Jack. Por que você foi interessado em Biologia?
─ Por que você agora tem esse conhecimento específico?
─ Por que você teve esse desejo ardente de vir aqui?
Jack ficou bem quieto agora.
─ Realmente Jack, Nathan continuou, você tem sempre seguido a
estrada em direção ao seu destino de vida e hoje, como ninguém
mais, pode tornar-se o protetor da Grande Barreira de Recifes.
Daqui você será capaz de fazer o mundo ver a importância do que
engana o mais perto do seu coração.
Enquanto Jack estava observando calado o horizonte, Mihaela e
Ioana retornaram do passeio. As garotas sugeriram nadar de novo.
Jack, que ainda estava pensando nas palavras de Nathan, disse que
elas poderiam ir e que ele seguiria mais tarde. Mihaela e Ioana
foram para o mar, enquanto Nathan ficou com Jack por um
momento. Então, foram juntar-se às mulheres. Eles se divertiram
bastante antes de retornarem para casa na catamarã. A bordo,
Nathan disse a eles que esse seria seu último dia em Cairns.
Amanhã ele começaria a dirigir de volta para Sidney. Depois de
alguma hesitação, Mihaela atreveu-se a perguntar a Nathan se elas
poderiam tomar uma carona de volta para Sidney, porque elas
estariam voando de volta para Europa daquela cidade em quatro
dias. Nathan respondeu que nunca recusa boas companhias.
Quando eles voltaram à terra firme, eles disseram adeus a Jack.
Mihaela e Ioana agradeceram a ele pelo maravilhoso dia que
viveram e foram para dentro do motor home de Nathan. Nathan
trocou algumas palavras com Jack.
─ Você ficou quieto no retorno. Nathan disse.
304
─ Suas palavras têm me dado sentido para muitas coisas que eu
tenho vivenciado em minha vida. Muito tem significado agora.
─ Eu apenas disse em voz alta o que sua pequena voz estava
sussurrando.
─ Você é verdadeiramente especial, Nathan, você sabe disso?
─ Todos somos, Jack, embora nem todos saibam.
Nathan abraçou Jack e eles desejaram um ao outro muita sorte.
Então Nathan entrou no motor home e dirigiu para o hotel onde
Mihaela e Ioana estavam para que pudessem pegar suas bagagens.
─ Hoje nós ouvimos um pouco da sua conversa, Mihaela disse.
─ Você parece ter dito ao Jack coisas importantes.
─ Às vezes nós temos todos os elementos do conhecimento, disse
Nathan, mas isso não é suficiente até que apareça alguém e os
aponte para nós, para que vejamos.
Ioana quis perguntar o que isso tudo significava, mas Mihaela
sinalizou que isso poderia ser algo muito pessoal. Elas não
quiseram ser desrespeitosas e não fizeram outra pergunta mesmo
Nathan tendo conhecimento da curiosidade delas.
─ A conversa era sobre nosso verdadeiro destino de vida.
─ E atualmente, quais são os seus grandes objetivos na vida?
─ Quais são os seus sonhos?
─ Eu estudo psicologia e espero fazer algo com isso mais tarde,
Ioana disse.
─ E você, Mihaela?
─ Eu tive sonhos, mas eu não sonho mais, ela respondeu.
─ Isso soa pessimista, Nathan declarou.
─ Mihaela tem um sonho, disse Ioana, ela tem guardado isso em
seu coração por muito tempo.
─ Bem, eu estou muito curioso sobre isso, disse Nathan.
─ Não, esqueça isso, Mihaela disse, a vida tem escolhido outra
coisa para mim.
─ Mihaela sempre quis fundar um grande orfanato, Ioana disse.
─ Isso explica muito, Nathan disse.
─ O que você quer dizer? Mihaela quis saber.
─ No seu interior há compaixão suficiente para ter uma grande
influência em muitas vidas, Nathan respondeu.
─ As pessoas que conhecem Mihaela bem, todas dizem que ela tem
um bom coração, confirmou Ioana.
Nathan puxou o motor home para a lateral da estrada e se virou
em direção a Mihaela:
305
─ Mihaela, se você desistir do sonho que vem guardando em seu
coração por tanto tempo, isso significa o mesmo que morrer um
pouco. Você tem a mais valiosa percepção; você tem a percepção
em seus objetivos de vida, o íntimo desejo que chegou com você a
Terra.
─ O íntimo desejo que chegou a Terra comigo? Mihaela disse.
─ No começo de sua existência, cada pessoa tem conhecimento de
seu destino de vida, Nathan respondeu. Isso é um desejo escondido
bem dentro de nós e de lá nunca sai
- Você quer dizer nossa responsabilidade de vida? Ioana
perguntou.
─ Isso não é uma responsabilidade, Nathan replicou, nós fazemos
nossas próprias escolhas se prestamos ou não atenção a elas.
─ E para aqueles que nunca descobriram seus objetivos de vida?
Ioana perguntou, enquanto Mihaela ouvia atentamente.
─ Isso significa que eles estão ignorando os sinais e que eles estão
prestando pouca atenção aos seus desejos interiores. Eles aspiram
por objetivos transitórios, os quais podem trazer a eles algum
prazer, mas nunca serão capazes de realmente os satisfazerem.
─ Isso é uma escolha que determina nossa felicidade? Mihaela
perguntou.
─ Realmente Mihaela, quando nós conhecemos nosso íntimo
desejo e tentamos realizá-lo, nós vivemos a nossa vida de forma
completa.
─ O que você acha que devo fazer? Mihaela perguntou.
─ Você já sabe qual é o seu propósito de vida, o que já é fantástico.
Agora você deve prestar atenção aos sinais.
─ O que são sinais? Disse Ioana.
─ Sinais trazem mensagens, as quais podem contribuir para a
realização do seu destino de vida. A partir do momento em que
você prestar atenção a eles, eles seguirão uns aos outros em
sucessão.
Nathan religou o motor home. Suas palavras impressionaram. Ele
falou com tanta convicção que nem Mihaela nem Ioana puderam
duvidar de suas palavras. No caminho para Sidney, Nathan e
Mihaela revezaram no volante. Eles gastaram dois dias na estrada.
Quando eles chegaram a Sidney, Nathan devolveu o motor home.
Nathan então voltou para o hotel onde ele estivera anteriormente.
Mihaela e Ioana também reservaram um quarto nesse mesmo hotel.
Nathan prometeu passar a noite com elas antes de sua partida. No
dia seguinte Nathan passou ao lado da loja noturna à noitinha. Qiao
306
estava muito ansioso para vê-lo novamente. Nathan perguntou
quando teria tempo livre para conversarem um pouco, ao que Qiao
respondeu entusiasticamente que seu sobrinho sempre poderia dar
uma olhada para ele por um instante. Qiao imediatamente chamou
seu sobrinho e em menos de meia hora, Nathan e Qiao estavam
andando juntos por Kings Cross, o distrito de vida noturna de
Sidney. Nathan estava curioso sobre a vida de Qiao e este pareceu
extremamente feliz com sua atenção. Ele contou a Nathan sobre
suas principais fases da vida com muito de seu passado, de forma
nostálgica.
─ Desde que eu escolhi deixar o meu país, eu tenho o sentimento
que eu inconscientemente também escolhi me boicotar, isso não é
estranho?
─ Cada sentimento tem sua razão. Conte-me mais sobre a sua vida
na China.
─ Minha família é originalmente de Xangai, mas eu gastei boa
parte de minha juventude em um monastério perto de Lijiang, uma
cidade ao sul, na província ocidental de Yunnan. Eu fui levado
para lá como um jovem monge e segui os ensinamentos de um
velho mestre.
─ Em que consistem esses ensinamentos?
─ Nosso mestre, que nesse meio tempo ficou muito velho, nos
ensinou como no início de nossas vidas, estamos ainda muito perto
da mais elevada consciência e como projetamos nossos
pensamentos para o mundo externo quando envelhecemos.
Nathan ouviu com grande interesse.
─ Por causa disso, aprendemos a ficar sabendo como, com o tempo
nos identificamos com o nosso corpo, nossas posses, nossa
imagem, nosso desempenho e muito mais.
─ O que o seu mestre mostrou a você com isso?
─ O ponto constante de seus ensinamentos foi um retorno para
nosso interior. Ele quis que nós víssemos que todos nós temos
imagens erradas da realidade, que pode nos separar do nosso
íntimo e através disso da mais elevada consciência.
Nathan acenou para indicar que ele também compartilha da
mesma opinião. Quanto mais Qiao contava sobre seus
ensinamentos, mais podia contar com o interesse de Nathan. Qiao
teve ciência de sua atenção e sugeriu discutirem isso em mais
detalhes amanhã. Nathan respondeu que havia prometido passar a
noite com duas amigas que havia conhecido em Cairns. Disse que
não poderia adiar seu encontro, porque as garotas estariam
307
retornando para a Europa no dia seguinte. Qiao não viu isso como
um problema e também as convidou. Disse que sua esposa poderia
prepara um delicioso jantar para a ocasião. De volta ao hotel,
Nathan passou pelo quarto de Mihaela e Ioana para contar sobre o
convite e elas ficaram empolgadas. Na noite seguinte, Nathan,
Mihaela e Ioana foram recepcionadas por Qiao e sua esposa,
Stephanie, uma mulher pequena e magra . Ela era de Perth, uma
cidade na costa oeste da Austrália e era uma mulher socialmente
muito ocupada. Ela ainda havia viajado pelas áreas mais pobres e
havia participado em diferentes projetos humanitários. De todos os
países que havia visitado, a China foi o país que lhe deixou a maior
impressão. Ela esteve lá por muitas vezes com Qiao e se tornou
incrivelmente fascinada pelo país. Essa noite, Stephanie preparou
um prato especial da China. Durante o jantar as conversas
logicamente foram sobre a China.
─ A China tem uma cultura que incita tanto nossa inteligência
quanto nossa fantasia, disse Stephanie. É realmente um país
encantador.
─ Uma vez que você se enche com a magia, Qiao continuou, você
vivenciará experiências íntimas muito marcantes.
─ O que você quer dizer com experiências íntimas? Ioana
perguntou.
─ Experiências nas quais você é confrontada com você mesma,
Stephanie respondeu.
─ Na China eu tenho aprendido a meditar sobre o que aconteceu
comigo e tenho aprendido muito sobre mim dessa forma.
Qiao e Stephanie falaram por um longo momento, e com paixão,
sobre suas experiências na China. Foi marcante como todos eles
eram capazes de discutir sobre o território do país. Após a refeição
Stephanie tirou a mesa. Mihaela e Ioana decidiram ajudar
voluntariamente. Enquanto as mulheres conversavam na cozinha,
Qiao convidou Nathan para sentar na sala de estar. Eles
continuaram a conversa com um copo de chá.
─ Eu queria falar para você essa noite sobre um homem marcante
que conheci recentemente, disse Qiao.
─ Seu nome é Yeshe; ele é da cidade de Lhasa no Tibete e agora
vive em Melbourne, onde dá lições de meditação.
─ O que o torna marcante? Nathan perguntou.
─ Tive uma longa conversa com ele e entendi que sua visão de
vida é baseada nos mesmos velhos conhecimentos de meu antigo
mestre.
308
Nathan deixou Qiao falar.
─ Ouvi de um amigo que Yeshe é o pioneiro de um movimento
que está progressivamente atraindo mais seguidores, mesmo que
esteja longe da China.
Nathan sentiu crescer mais seu interesse pelos velhos
conhecimentos sobre os quais Qiao estava falando.
─ O que mais você pode me contar sobre os velhos
conhecimentos? Nathan perguntou.
─ O mais importante elemento ensinado para nós por esses
conhecimentos é que o mundo não é gerenciado por seres
humanos, mas pelas forças que influenciam nossas vidas.
─ De que forças você está falando?
─ Meu antigo mestre as chama forças de luz e forças de escuridão.
Essas forças trabalham cada uma ordeira ou destrutivamente e
influenciam todas as nossas ações.
As palavras de Qiao fizeram com que Nathan ficasse curioso. Ele
sentiu intuitivamente que essa informação não lhe foi dada sem um
propósito.
─ O que você acha que faz Yeshe ter tanto sucesso?
Qiao pensou sobre isso.
─ Eu acho que existe um aspecto muito importante.
─ Esse velho estado de conhecimento de que o mundo é
gerenciado por poderes superiores e não pelas pessoas em si. E
com isso eles tiram o sentimento do pecado.
─ Essa opinião realmente será atrativa para muitos, porque isso nos
liberta dos nossos sentimentos de culpa, mas o que esses
conhecimentos então dizem sobre as ações do mal?
─ De acordo com o meu mestre, e que também se aplica a Yeshe, o
mal não existe, apenas "bom" e "pior"!
Nathan ficou cada vez mais interessado nesses velhos
conhecimentos de que Qiao falava e disse a que precisava conhecer
Yeshe. Qiao estava muito entusiasmado e sugeriu que o visitassem
em Melbourne em alguns dias.
Ioana veio para a sala de estar e trouxe notícias importantes para
Nathan. Stephanie trabalhou para uma grande organização
internacional que criou e apoiou grandes projetos humanitários
pelo mundo. Durante a conversa delas, Ioana disse a Stephanie que
isso era o sonho de Mihaela, criar um orfanato, de preferência na
Romênia. Tudo isso junto determinou que uma boa amiga de
Stephanie esteve à frente dessa organização humanitária e que ela
tem a experiência necessária, bem como ofereceu recursos para
309
realizar tais projetos. Stephanie disse que ela deseja ajudar com o
envio de uma proposta. Qiao pulou e pegou duas garrafas de vinho
para que pudessem celebrar. Nathan foi olhar Mihaela na cozinha.
Stephanie deixou-os sozinhos e foi para a sala de estar. Mihaela
chorava de alegria e abraçou Nathan. Ela quis dizer algo, mas
Nathan pôs seus dedos nos lábios dela. Nenhuma observação
poderia dar a esse momento mais significado que o silêncio. Juntos
eles retornaram para a sala de estar e foi uma noite agradável. Um
táxi os levou de volta para o hotel. Mihaela e Ioana andaram até o
quarto de Nathan. Ioana disse que estava muito cansada e
agradeceu a Nathan pelo bom momento que tiveram juntos nos
últimos dias. Ela disse boa noite e foi para o seu quarto. Nathan
sentou-se em sua cama e Mihaela se recostou próximo a ele. Ela
estava mentindo com uma mão atrás de sua cabeça e a outra na
barriga, e olhou de modo sedutor para Nathan.
─ E então? Mihaela perguntou.
Para Nathan tornou-se imediatamente claro o que Mihaela queria.
Ela chegou perto dele e pegou em sua mão. Justamente no
momento em que os lábios dela tocaram os dele, ele pensou em
Sophie. Então repentinamente e com tal resistência que pareceu
como se ele pudesse sentir a presença de Sophie. Nathan conteve
Mihaela e desculpou-se por não ter contado a ela mais cedo que ele
já estava noivo. Mihaela imediatamente o deixou ir. O
desapontamento dela era visivelmente aparente. Nathan disse:
─ Isso também é culpa minha, eu não deveria ter deixado isso ir
tão longe.
─ Podemos ser amigos?
─ Nós já somos, Mihaela.
Nathan foi com Mihaela até a porta.
─ Mihaela, você é uma mulher linda, por fora, mas especialmente
por dentro. Se eu já não estivesse com alguém, eu provavelmente
veria nossa relação de forma diferente.
As palavras de Nathan fizeram Mihaela chorar.
─ Como posso eu encontrar alguém mais como você? Eu
inconscientemente irei comparar todo homem a você.
Novamente Nathan pôs seus dedos nos lábios dela.
─ Nesse momento tudo é confuso e você não pode pensar
coerentemente.
Depois dessas palavras, Nathan deu-lhe um delicado beijo no rosto.
Mihaela sorriu e acariciou o rosto de Nathan suavemente.
─ Quem quer que seja ela, disse, é muito sortuda!
310
Ela se desculpou e foi para seu quarto. Nathan fechou a porta e se
sentiu desconfortável com a situação. Ele deveria ter sido mais
claro desde o início. Culpou a si mesmo por ser tão egoísta e
consequentemente causar tanto sofrimento.
No dia seguinte, todos três tomaram café da manhã juntos. Quando
Ioana saiu por um momento, Nathan usou a oportunidade para
perguntar a Mihaela como ela havia ficado. Ela apreciou sua
honestidade e pensou que suas ações se encaixam com sua
natureza. Agora ela estava um pouco temerosa que a amizade deles
estivesse afetada pelo que aconteceu. Nathan disse a ela que não
era o caso, na realidade ele contou a ela que haviam se tornado
bons amigos em um curto tempo por causa disso. Ele também
pediu a que o mantivesse informado com relação ao progresso do
projeto que ela estaria iniciando com Stephanie. Depois do café da
manhã, Nathan acompanhou Mihaela e Ioana ao aeroporto. Alguns
dias depois, Nathan retornou ao mesmo aeroporto e voou para
Melbourne junto com Qiao.
311
Desejo Profundo
Pelo meio-dia, Nathan e Qiao chegaram a Melbourne, onde
estavam indo ao encontro de Yeshe no próximo dia. Reservaram
um hotel no distrito de Fitzroy e exploraram a cidade em um bonde
elétrico. Aqui em Melbourne, Nathan também ficou impressionado
pela beleza dos parques. Admirou o modo como foram
desenhados, entre belas casas e prédios. Na próxima noite, Nathan
e Qiao foram à casa de Yeshe. Qiao se sentiu orgulhoso, porém
nervoso ao mesmo tempo. Ele foi à pessoa que organizou o
encontro entre Nathan e Yeshe. De uma maneira ou de outra soube
que estava fazendo algo de suprema importância.
Uma mulher amável os recebeu e os levou a uma pequena, porém
aconchegante área com largos travesseiros no chão. Ela nos trouxe
chá e disse que Yeshe chegaria em pouco tempo. Qiao se saciou
com três copos e aguardou a chegada de Yeshe, que chegou com
um livro em baixo de seu braço. Ele era um homem magro e bem
cuidado, com cabelos negros e uma bela barba. Nathan e Qiao
levantaram-se e agradeceram pelo tempo concedido a eles. Então
algo estranho aconteceu. Ao invés de saudá-los, Yeshe não disse
uma palavra quando ele viu Nathan, sem dizer nada, Yeshe sentou
numa das almofadas em frente a Nathan e Qiao. Agora Nathan e
Qiao sentiram-se um pouco desconfortáveis. Para quebrar o
silêncio, Nathan agradeceu mais uma vez a ele pelo convite e disse
que ele gostaria de aprender sobre a sua visão. Yeshe manteve-se
olhando para Nathan. Finalmente, desculpou-se pela sua falta de
atenção, mas não fez nada para se explicar. Como se nada tivesse
acontecido ele reagiu ao que Nathan tinha dito:
─ Eu adquiri minha visão na vida pelo “Verdade da verdade”!
Nathan e Qiao olharam-se, sem saber o que fazer devido ao
comportamento estranho de Yeshe. Estava claro que alguma coisa
havia chamado sua atenção. Como Yeshe não disse nada a
respeito, Nathan decidiu também não prestar atenção. Então ele
continuou o diálogo:
─ Por que essa doutrina é chamada “Verdade da verdade”?
Perguntou Nathan.
Agora Yeshe estava entusiasmado. Durante a continuação da
conversa ele poderia mostrar com grande entendimento que tinha
312
um profundo conhecimento dos antigos conhecimentos nos quais
baseou suas visões.
─ Primeiramente, nós experimentamos esse mundo como ele se
apresenta à nossa convicção, o mundo da experiência. Mas por
detrás da existência de um mundo, que não é acessível para nós,
porque o mundo da experiência se esconde. A visão da “Verdade
da verdade” nos mostra como nós podemos tirar essa venda.
─ O que essa visão diz sobre a existência humana? Perguntou
Nathan.
─ Estamos aqui na Terra para desenvolver-nos espiritualmente; o
que podemos fazer conquistando o menor instinto animal e
orientação manual.
─ Cada um de nós é livre para escolher seu trajeto de vida, mas a
“Verdade da verdade” nos ensina que a pessoa que não presta
atenção ao seu desenvolvimento espiritual mergulhará, cada vez
mais profundamente, no materialismo e no animalesco por causa
dos seus desejos e suas vontades.
─ Qual é o destino daqueles que estão à procura do
desenvolvimento espiritual? Nathan precisava saber.
─ Eles são livres. Consequentemente, mais e mais do instinto
animal e da orientação material deles retornam sempre ao seu
interior, para o estado mais puro.
─ Um estado puro?
─ O estado puro ocorre quando o sofrimento desapareceu
completamente. Nesse momento, nós temos o conhecimento e a
distinta intenção de opor-nos contra esse sofrimento. Desse
momento em diante, somos capazes de sentir o fluir da maior
consciência.
Nathan tirou um momento para pensar sobre as palavras de Yeshe.
─ Como essa evolução espiritual acontece e como podemos
alcançar o estado puro?
─ Direcionando nossos pensamentos na direção correta.
Qiao também quis dizer alguma coisa:
─ A maior parte das pessoas não fica parada com seus
pensamentos. Essa é a causa do grande sofrimento em todo o
mundo.
Até agora Nathan teve a confirmação de tudo o que ele sabia.
Embora tenha sido dito aqui com palavras diferentes, em essência
dizia respeito à mesma coisa. O que lhe deu confiança nas
revelações de Yeshe. Ele soube que, fazendo as perguntas corretas,
poderia obter o conhecimento.
313
─ Em todo lugar do mundo nós vemos que as pessoas são capazes
de fazer o melhor, mas também o pior.
O que a “Verdade da verdade” diz sobre isso?
─ Que o universo nos dá coragem, disse Yeshe, para mudar o que
nós podemos mudar, a tranqüilidade para aceitar o que não
podemos mudar e o conhecimento para perceber as diferenças
entre eles. Como eu disse mais cedo, somos livres para escolher
como lidamos com esses presentes do universo.
─ Eu desejo saber se essa liberdade é boa para nós considerando o
grande sofrimento que existe no mundo, Qiao arriscou.
─ Se nós não tivéssemos liberdade seria, Yeshe reagiu, assim
seríamos condenados antecipadamente pelos nossos impulsos
primitivos e nossa orientação material e nossa existência humana
não faria o menor sentido.
─ Como podemos ter a percepção sobre nossa evolução espiritual?
─ Aceitando que vivemos de acordo com a lei do Karma, a qual
determina que cada ação, em acréscimo a essa conseqüência direta
no mundo da experiência, também tem uma conseqüência
espiritual que é sempre a base de nossas experiências futuras.
Nathan conheceu a lei universal da causa e efeito e tinha
conhecimento que mais cedo ou mais tarde iria colher aquilo que
semeou.
Yeshe continuou:
─ Quando levamos essa lei em conta e aplicamos em nossas vidas,
estamos capacitados a entender que somos responsáveis por nossas
experiências futuras e obteremos discernimento da nossa evolução
espiritual.
─ Como a “Verdade da verdade” explica que há pessoas com um
senso de espiritualidade e outras que preferem misturar nas
pessoas?
─ Dentro de cada um de nós existem necessidades íntimas, que
todos nós satisfazemos de maneiras diferentes. Por um lado,
depende da nossa natureza, e por outro, das nossas ações. A
“Verdade da verdade” faz uma distinção entre as quatro
necessidades e nos mostra como devemos lidar com isso quando
queremos seguir a estrada espiritual.
Yeshe agora abriu o livro que ele havia trazido. Depois de dar uma
olhada nele, ele apoiou seu polegar, indicando que estaria
concluindo as quatro necessidades interiores. Nathan ouviu
atentamente:
314
─ A primeira necessidade é a exclusividade. Cada um de nós tem a
necessidade de se diferenciar. Uma pessoa olhando para a
satisfação espiritual irá diferenciar a si própria
Favoravelmente, não negativamente para outras. Ele faz então
trazendo profundidade aos seus relacionamentos, de forma que a
energia positiva que ele irradia trabalhe contagiosamente em
outras!
Yeshe colocou um segundo dedo:
─ A segunda necessidade é unidade. Cada um de nós tem a
necessidade de se sentir único com alguma coisa maior que si
próprio. A pessoa, olhando para a satisfação espiritual será tocada
pelo mundo, de forma que ganhará consciência que espiritualidade
não é algo exclusivamente espiritual, mas é desse modo todo
abrangido.
Agora Yeshe colocou um terceiro dedo:
─ A terceira necessidade é a satisfação. Cada um de nós tem a
necessidade de ser criativamente ocupado. A pessoa que olha para
a satisfação espiritual estará procurando pela sua virtude criativa
mais profunda, até que ele desenvolva uma função puramente
espiritual na Terra, então ele se tornará um navio de conhecimento
da ordem universal e outros estarão capacitados a vivenciar isso!
Então Yeshe colocou um quarto dedo:
─ A quarta necessidade é a reunificação. Cada um de nós tem a
necessidade de experimentar um profundo entendimento
emocional de seu lugar no mundo. A pessoa que procura satisfação
espiritual irá aspirar por purificação mental, iluminação e
unificação, de forma que sua vida se tornará estruturada em
conformidade com o amor de criação!
Nathan pensou por alguns instantes sobre essas quatro
necessidades espirituais:
─ Para satisfazer essas quatro necessidades de maneira correta,
Yeshe disse, nós sentimos a conexão com nosso interior, e nós
desenvolvemos na direção do estado puro.
─ Como nós sabemos qual é o caminho correto? Qiao perguntou.
─ Analisando a natureza dos seus desejos, Yeshe respondeu.
Nossos desejos, um após outro, são encorajados pelos nossos
sentimentos.
─ O que então determina os desejos que sentimos? Qiao queria
saber.
─ Nossos pensamentos secretos, são os nossos pensamentos mais
importantes, por que eles dão forma às nossas vidas.
315
─ E o que determina esses pensamentos secretos? Perguntou
Nathan.
─ Isso é determinado pelo seu desejo mais profundo!
Nathan olhou intrigado:
─ Nosso desejo mais profundo é a nossa essência e a confiança em
nós. Isso é graças ao desejo mais profundo, o que cada um de nós
mais gosta, então nós somos capacitados para criar algo que nunca
existiu na Terra antes.
Agora Yeshe olhou para Nathan.
─ Você seguiu seu desejo mais profundo muito cedo na intenção
de satisfazer seu elemento natural.
Um poder inacreditável veio das palavras de Yeshe. Nathan sentiu
o que havia sentido mais cedo, quando Sanah contou a ele sobre a
importância dessa missão de vida. Yeshe tem mostrado a Nathan
algo fundamental. Nathan conheceu a importância de verificar cada
pensamento e sentimento que estão acompanhando ele nesse
momento. Agora, ele também sabia o que é a fonte desses
sentimentos. Algo que está diretamente conectado à nossa
natureza, nosso desejo profundo.
Nathan se levantou e pegou nas mãos de Yeshem, enquanto
agradecia a ele:
─ Obrigado por essas sábias palavras.
─ A honra não é minha, mas para aquele que entende e aceita essas
palavras.
Nathan pediu permissão a Yeshe e saiu da sala, enquanto Qiao
ficou com Yeshe para encontrar a razão para o estranho
comportamento em relação à Nathan.
─ Eu fui informado que você tem um dom, Qiao perguntou, de ver
as especialidades em cada um de nós. É esse o porquê de você ter
ficado surpreso ao ver Nathan?
─ O que te falaram sobre mim?
─ Com seus olhos, você seria capaz de ver o ego de cada pessoa.
Yeshe não confirmou nem negou a pergunta.
─ O que você quer saber? Perguntou Yeshe.
─ O que você viu em Nathan?
Yeshe chegou bem próximo a Qiao e olhou diretamente em seus
olhos:
─ Essa é a primeira vez na minha vida que eu conheço uma pessoa
cujo ego eu não consigo ver.
Qiao olhou surpreso:
─ O que isso significa?
316
─ Meus sentidos dizem que Nathan nasceu sem ego! Se isso for
verdade, ele não faz distinção entre seu próprio bem-estar e o dos
outros. Então, não existe poder de desejo ou ambição material ao
redor dele.
─ O que mais você sabe?
─ Nathan apenas veio do nono portal.
─ Você está falando dos portais que levam ao estado puro?
Yeshe indicou com a cabeça e então continuou:
─ Em breve, Nathan irá procurar pelos últimos dois portais, os
quais o mantém na direção do último grande portal, o portal do
estado puro.
─ O décimo e o décimo primeiro portais? Tranquilidade e
conhecimento?
Yeshe estava surpreso com a inteligência especial de Qiao e
acenou afirmativamente.
─ O que acontecerá a primeira vez que Nathan tiver chegado ao
estado puro? Perguntou Qiao, com curiosidade.
Yeshe ficou em silêncio por um instante antes de responder, e
então olhou para Qiao como se ele desconfiasse do que ele poderia
responder sobre isso. Finalmente ele disse as seguintes palavras:
─ O que vai acontecer exatamente, ninguém pode dizer, mas o que
é certo é que Nathan tem receptividade suficiente para fazer o
sofrimento do mundo diminuir.
─ Você sabia que eu pensei exatamente a mesma coisa quando eu
o vi pela primeira vez? Disse Qiao.
─ Você é muito mais que um simples espectador, desde o princípio
existe uma função para você nisso tudo.
─ O quê? Como?
─ O que você deve fazer é levar Nathan para sua fundação.
─ Minha fundação? Onde é minha fundação?
─ Onde você obteve o maior conhecimento.
─ Você quer dizer onde Shuang, meu antigo mestre, está
localizado?
─ Shuang é capaz de dar a Nathan nova informação sobre o
caminho que ele deve seguir, no intuito de alcançar o estado puro.
Depois dessas palavras, Yeshe se despediu de Qiao e desejou uma
boa jornada. Qiao ficou completamente confuso quando ele saiu.
Nathan veio em direção a ele:
─ O que foi isso? Ele perguntou a Qiao.
─ Yeshe me contou o quão especial você é.
317
─ O que ele disse? Foi essa a razão do silêncio dele quando ele me
viu?
Qiao se virou na direção de Nathan e o segurou pelos ombros com
seus braços:
─ Yeshe tem um dom. Eu tinha ouvido sobre isso anteriormente,
mas queria ter certeza.
─ Que dom? Nathan perguntou.
─ Yeshe pode ver o ego de cada pessoa com seus próprios olhos.
Nathan pensou sobre isso e então perguntou:
─ É esse o porquê de ele ter olhado para mim por tanto tempo?
Qiao balançou a cabeça:
─ O que ele viu? Perguntou Nathan.
Qiao respirou, engolindo a emoção.
─ Com você, algo estanho aconteceu.
Nathan olhou para Qiao ansiosamente.
─ Você é a primeira pessoa cujo ego Yeshe não pode ver.
Nathan não disse nada e começou a andar. Agora Qiao ficou
extremamente curioso:
─ Você pode explicar isso, Nathan?
Nathan não respondeu a pergunta, porém fez outra:
─ O que mais ele disse?
─ Yeshe me disse que quando você conseguir tranqüilidade e
conhecimento suficientes, você será capaz de fazer algo
excepcionalmente maravilhoso.
Qiao observava Nathan com a esperança de conseguir mais
informação.
─ Ele disse mais alguma coisa? Perguntou Nathan.
─ Sim, eu tenho que levar você a Shuang.
─ Quem é Shuang?
─ Meu antigo mestre em Lijiang.
Nathan e Qiao entraram em um táxi que os levaram ao hotel. No
hotel, Nathan agradeceu a Qiao pela informação e disse que ele
precisava estar sozinho com seus pensamentos. Uma vez chegando
a seu quarto, Nathan tomou esse tempo para organizar seus
pensamentos. Fez isso enquanto continuava escrevendo em seu
livro. Dormiu pela primeira vez quando o sol estava se pondo. Na
manhã seguinte, Nathan sentiu o distinto impulso para continuar
viajando. Quando encontrou Qiao, pareceu que ele também teve o
mesmo impulso. Estava claro para ambos que eles deviam
brevemente seguir para a China. No vôo retornando para Sidney,
Qiao disse a ele sobre as belas memórias que ainda tinha dos seus
318
momentos no monastério de Lijiang. Qiao terminou dizendo que
por muito tempo manteve um desejo de retornar lá um dia, mas que
não tinha retornado devido a uma série de razões. Nathan disse a
ele que tudo mantido em nossas memórias está lá por causa de uma
razão profunda. Acrescentou que quando tentamos entender o que
é essa razão profunda, novas visões também aparecem ao mesmo
tempo, concernentes às mudanças que nós temos de fazer pra agir
de acordo com tudo isso, para poder encontrar nosso verdadeiro
destino de vida.
319
Estado Puro
Alguns dias mais tarde, Nathan e Qiao voaram para Kunming, a
capital da província de Yunnan. Assim que aterrissaram, seguiram
para o centro da cidade e reservaram um hotel por lá. Depois de
descansarem um pouco, foram às montanhas Xishan. Lá,
apreciaram a vista de tirar o fôlego da “cidade com a primavera
sem fim”. Quando a noite caiu, eles passearam pelo centro da
cidade. Embora Nathan não tenha visto nenhuma grande diferença
com o que ele tinha visto antes, percebeu que aqui existia um estilo
de vida completamente diferente. Percebeu que um novo mundo
poderia abrir-se de novo para ele. Eles passaram o dia seguinte no
Parque Cuihu. Qiao contou a Nathan que tanto jovens como
senhores de Kunming vão para lá descansar. A maior parte das
atividades foi compreendida por pessoas que passeavam pelos
templos e pelos belos lagos. Na manhã seguinte, Nathan e Qiao
pegaram bem cedo um trem que os levaram à Dali por entre vales e
montanhas incríveis. Aqui Nathan e Qiao também reservaram um
hotel para a primeira noite, e então exploraram o centro. Um dia
depois Qiao conversou sobre a rica história da Província Yunnan
que contém uma variedade de culturas, durante um passei pelo lago
Erhai. No dia seguinte, tomaram um ônibus para Lijiang.
Chegaram à cidade pela noite e reservaram um hotel. Na manhã
seguinte, Qiao guiou Nathan entusiasticamente por becos sinuosos
cheios de pedras de pavimentação. Para Qiao, esse era um retorno
emocionante à cidade que conhecia tão bem. Nathan reparou que
essa cidade se parecia com a cidade de Bruges na Bélgica, uma
cidade onde ele gostou de passar o tempo na sua infância. Nathan
amou as cozinhas aqui, graças às muitas casas de madeira ao longo
de pequenos desfiladeiros. Quando apareceu a noite, Nathan e Qiao
foram dormir cedo. No dia seguinte eles também levantaram muito
cedo, com as cabeças no monastério. Cedo pela manhã, Nathan e
Qiao pegaram um ônibus que os levariam à margem da montanha
Yulong. No topo dessa montanha nevada estava o monastério, que
só pode ser alcançado após árdua escalada. Uma vez chegando,
alguns monges recepcionaram Nathan e Qiao. Com suas cabeças
raspadas e suas longas túnicas, eles lembram Nathan de Zack, seu
amigo de Nova York. Os monges desse monastério são conhecidos
320
por sua hospitalidade e eles definitivamente herdaram essa
reputação. Eles se apresentaram para Nathan e Qiao o os
mostraram como eles viviam e onde meditavam. Depois do tour
eles foram levados a uma sala ampla. Lá eles sentaram no chão,
todos de costas. Uma vez sentindo-se confortável, Nathan
observou com interesse os rituais, enquanto Qiao dava mais
informações sobre eles. Enquanto isso, mais e mais monges
moviam-se lentamente para dentro da sala. Centenas de monges
estavam esperando pacientemente até que mestre Shuang fizesse
sua aparição. Qiao estava muito nervoso. Repentinamente chegou
o momento: o velho mestre entrou na sala e sentou-se em uma
cadeira de frente. Ele pediu aos seus seguidores para que
fechassem seus olhos e respirarem calma e profundamente. Qiao
traduziu as palavras de Shuang e então seguiu suas ordens. Ao
invés de seguir os exemplos de Qiao, Nathan fez algo
completamente inesperado. Ele se levantou. O mestre
imediatamente observou Nathan. Eles permaneceram olhando-se
até que Nathan decidiu andar em direção ao mestre. Qiao viu o que
acontecera e também se levantou e seguiu Nathan por entre a
multidão de monges. Qiao não sabia o que estava acontecendo, e
perguntou calmamente por uma explicação, mas Nathan continuou
andando despreocupado. Quando eles chegaram de frente ao
mestre, Shuang abaixou a cabeça de Nathan para os visitantes. Um
após o outro, Nathan e Qiao também abaixaram suas cabeças,
Shuang falou a Nathan em Mandarim. Qiao traduziu a conversa
entre os dois:
─ Sinta-se à vontade aqui, disse Shuang, e eu fiquei honrado pela
sua presença.
─ É uma honra ter autorização para ficar com você, disse Nathan.
Qiao falou sobre você e assegurou que nós poderíamos nos
conhecer.
Shuang olhou para Qiao e reconheceu seu antigo estudante.
Shuang acenou, indicando que Qiao fez um bom trabalho.
Enquanto os monges começaram a sussurrar progressivamente
entre si na sala. Shuang então pediu por silêncio completo. Quando
nada mais pode ser ouvido, Shuang primeiramente olhou dura e
continuamente para Nathan e então fechou seus olhos. Quando ele
abriu seus olhos, pareceu como se o mestre tivesse obtido uma
visão compenetrada para dentro do que ele pretendia para Nathan:
─ Eu vou te ajudar, disse Shuang a Nathan.
321
Nathan não disse nada, e aguardou pelas próximas palavras de
Shuang.
─ Venha me ver à noite e traga Qiao com você. Eu o ensinarei
como você pode escutar o som dentro de você, de forma que
também possa ver o som interior de outros.
Depois dessas palavras, os três homens abaixaram suas cabeças
uns para os outros. Nathan e Qiao deixaram a sala sob os olhares
penetrantes das pessoas presentes. Quando a noite caiu, Nathan e
Qiao foram ao topo do monastério. Shuang estava esperando lá por
eles em sua humilde sala. Nathan e Qiao sentaram-se de frente ao
mestre, e foi oferecido chá quente, justamente como Yeshe. Qiao
traduziria a conversa por inteiro.
─ Você tem viajado por um belo caminho, Shuang disse a Nathan.
─ Você está falando do caminho viajado ou meu caminho de vida?
Perguntou Nathan.
─ Qual a diferença? Shuang respondeu de volta.
─ Eu já tive a oportunidade de me familiarizar com várias
contemplações de vida.
─ Você está agora melhor capacitado para entender como cada
verdade vem para a existência? Shuang queria saber.
─ Eu tenho aprendido que cada verdade consiste em uma
percepção. Se isso está certo ou não, é geralmente sem
importância. Contemplação da vida pode se tornar uma verdade
quando é capaz de convencer as pessoas da sua justiça.
─ Uma verdade é realmente criada nesse sentido. Ela é visível
conforme o nível de consciência do vidente. Desse modo, cada um
de nós tem a própria verdade e a própria percepção da realidade.
Mas é aí que o perigo também mora.
Shuang bebeu de seu chá.
─ Quando alguém considera a percepção da realidade de alguém
como certeza absoluta, o desejo de anunciar isso como certeza
absoluta é também produzido é a causa de todo sofrimento. Nathan
ouviu muito atentamente. Shuang continuou muito calmamente.
─ Cada um de nós deve refletir nas certezas que ele tem construído
durante o seu tempo de vida. Deve verificar se a suas crenças
atuais são justificáveis e se elas são corretas o suficiente para guiar
os seus desejos.
─ Para que isso aconteça, é necessário que tenhamos força de
vontade, Nathan respondeu, para procurar por conhecimento real
concernente a si próprio e ao mundo atual onde vive.
322
─ Cada um de nós tem força de vontade para realizar isso, no
nosso próprio interior. Deve-se apenas fazer a escolha para ser
acompanhado de coragem e disciplina; coragem para desafiar a si
mesmo, para discutir crenças fundamentais e disciplina para que
seja realmente receptivo à novas visões.
─ Coragem e disciplina, Qiao disse, são a base do próprio
desenvolvimento!
Shuang acenou e sorriu.
─ O próprio desenvolvimento é realmente o melhor presente que
podemos dar a nós mesmos!
─ Nathan viu que Shuang estava claramente excitado pelo fato de
seu antigo aluno ter lembrado essas instruções corretamente. O
velho mestre continuou a história.
─ Cada um de nós tem a necessidade de ter sabedoria de vida para
que passemos pela vida sem ser um tolo. Por causa disso,
deveríamos sempre se atrever a por nossas crenças para discussão.
Shuang bebeu de seu copo de chá de novo e olhou dentro dos olhos
de Nathan. E apenas como um tom de voz discreto, Nathan
reconheceu essa visão como um anúncio de informação
importante. Ele se concentrou e aguardou pacientemente pelo que
Shuang diria a ele.
─ Sua natureza sempre o encorajou a procurar pelo conhecimento
de vida, Nathan. Por hora, você sabe que nós não podemos
alcançar isso pela razão, mas apenas pela experiência. Não
demorará antes que você experimente o último conhecimento de
vida.
─ O último conhecimento de vida? Perguntou Nathan.
─ O último conhecimento de vida é o estado puro, Qiao replicou.
Nathan lembrou que Yeshe também o contou sobre o estado puro.
Qiao também soube que essa informação foi de grande importância
para Nathan.
─ Diferentes pessoas eu conheci, disse Nathan, entre elas Yeshe, o
homem que advertiu Qiao a me trazer aqui, que me falaram sobre o
estado puro. O que você pode dizer-me sobre isso, Mestre Shuang?
─ O estado puro é um estado de liberdade, um estado no qual não
se conhece egoísmo, sem sofrimento e nem medo. É o estado em
que cada um é completamente livre de ego.
Nathan e Qiao se entreolharam. Eles pensaram sobre a confusão de
Yeshe quando ele viu Nathan pela primeira vez. O olhar trocado
entre Nathan e Qiao não passou despercebido pelo mestre.
323
─ Realmente, continuou, o ego é o que você e todos os outros
excepcionais não sabem.
─ Como pode isso? Qiao quis saber.
─ Excepcionais vêm à vida sem ego, de acordo com suas missões
maiores.
─ Como Nathan pode nos ensinar a conquistá-la? Qiao perguntou.
─ Entendendo a real razão para a existência do ego, ele irá
entender de que maneira nós podemos conquistar o ego.
Qiao e Nathan tiveram que entender.
─ Como alguém alcança o estado puro? Perguntou Nathan.
Shuang segurou Nathan com suas duas mãos e enfatizou para Qiao
a importância de traduzir suas palavras corretamente.
─ O estado puro não é alcançado pela razão ou pela experiência!
─ Como então? Nathan perguntou.
─ O estado puro é alcançado tendo confiança em Deus!
─ Eu sempre tenho confiado nele, Nathan reagiu.
─ Você também nunca deixou o estado puro... a propósito,
nenhuma simples criatura viva já o alcançou.
As palavras finais de Shuang foram incompreensíveis por Nathan e
Qiao.
─ Você disse que não demoraria antes que Nathan experimentaria
o último conhecimento de vida, disse Qiao, e agora você está
dizendo que nenhuma criatura viva jamais deixou esse estado?
─ Essa é justamente a razão da existência de cada vida, a profunda
força de direção por trás de cada destinação de vida, e o caminho
da salvação. Nós estamos todos na Terra para sermos lembrados
que fazemos parte do estado puro.
As palavras de Shuang impactaram Nathan com grande força.
Agora isso também deixou claro que seu elemento natural precisou
enfatizar essa mensagem.
─ Continue agora na estrada indicada a você pela sua confiança em
Deus e olhe para a tranqüilidade e para o conhecimento, então você
poderá mostrar-nos o caminho da salvação.
Depois dessas palavras, o velho mestre levantou e disse adeus a
Nathan e Qiao.
No caminho de volta para o hotel os dois conversaram um pouco
sobre a percepção que obtiveram de Yeshe e Shuang. Por enquanto
ficou claro para eles que o desejo profundo que cultivamos dentro
de nós é também o que nos encoraja a mover-nos em direção ao
estado puro, o que é a consciência de que todos nós fazemos parte
de um conjunto. No dia seguinte, Nathan e Qiao passearam um
324
pouco em Lijiang. Eles sentaram na grama nas proximidades de
um agradável quarteirão, onde crianças estavam brincando
alegremente. Mal se sentaram e de repente um homem veio
andando na direção deles. Ainda ofegando, ele conversou com
Nathan. Nathan pediu a Qiao para traduzir as palavras do homem.
Qiao disse que o homem falou vietnamita, um idioma que ele não
entende. A única coisa que ele pode entender é que o nome do
homem é Ngai. O homem então falou em inglês com muita
dificuldade. O que Nathan e Qiao puderam entender de suas
palavras foi que ele viveu em Hanoi e que insistia que Nathan tinha
que ir lá com ele. Quando ele perguntou pela razão, ele respondeu
que tem um amigo lá que está seriamente doente. Nathan pediu a
Qiao para perguntar ao redor daquela área e ver se alguém podia
entender vietnamita. Nathan e Ngai ficaram juntos. Nathan
observou o homem e tentou sentir intuitivamente se suas intenções
eram sinceras. Lentamente foi ficando claro para ele que isso era
um sinal. Quando Qiao retornou com uma mulher que podia
traduzir as palavras de Ngai, Nathan já havia tido uma forte
suspeita que poderia estar saindo de Hanoi naquele dia. A mulher
traduziu as palavras de Ngai. Era isso realmente, ele tinha um
grande amigo em Hanoi que estava seriamente doente. Foi seu tio
quem o mandou aqui com a missão de procurar por Quan em
Lijian e trazê-lo para casa. Qiao, que não pareceu acreditar no
homem completamente, frisou que Quan não era o nome de
Nathan. Isso não desanimou Ngai; ele estava convencido de que
Nathan era o homem que ele estava procurando. Quando Qiao
perguntou a ele porque ele acreditava nisso, Ngai disse que isso foi
a maneira como ele sentiu. Qiao indicou que isso não fazia sentido.
Isso era um mistério para Nathan também, embora ele também
tenha acreditado que Ngai estivesse falando a verdade. O pequeno
silêncio foi repentinamente interrompido quando a mulher, que
estava traduzindo para Qiao, teve um pressentimento. Ela traduziu
o significado do nome “Quan”. Em vietnamita, significava “água”.
Isso definitivamente retirou todas as dúvidas que Nathan
porventura tivesse. Ele disse a Ngai que ele poderia ir com ele.
Ngai agradeceu muitas vezes, mas também indicou imediatamente
que o tempo era de vital importância. Nathan deu a ele o endereço
do hotel que eles estavam hospedados e disse que ele podia esperar
por eles na manhã seguinte. Ngai agradeceu a Nathan, Qiao
agradeceu à tradutora muitas vezes claramente agitada por ter
325
alcançado seu objetivo e disse até logo. Qiao não pareceu feliz com
o evento repentino:
─ Você não sabe nada sobre o homem e vai segui-lo assim à toa?
Ele disse a Nathan.
─ O homem radiou simpatia, Nathan replicou, isso significa que
ele seguiu o seu coração.
─ Como você sabe que o homem tem boas intenções?
─ Você não tem que definir bondade, você tem que reconhecê-la,
Qiao.
Qiao entendeu a interminável e profunda crença que Nathan tinha
em Deus. Ele entendeu que Nathan sempre a seguiu. Atualmente
Qiao também conheceu que algo estava esperando por Nathan em
Hanoi, mas ele estava tão ligado a Nathan que teve dificuldades
com sua partida.
─ Você tem certeza que quer partir amanhã? Qiao perguntou.
─ Nathan naturalmente tinha dito que Qiao teria dificuldades em
dizer adeus.
─ Porque deveria eu ir mais tarde? Isso apenas estenderia nossa
despedida.
Um longo silêncio se seguiu até que Nathan falasse de novo:
─ Qiao, eu percebi que você sentiu muito mais alegria aqui na
China.
─ Isso não é difícil, no meu armazém minha vida é monótona, nada
acontece aqui.
─ Quando nossa vida é monótona, não é por causa da vida, mas
devido à imaginação que está faltando. È a nossa imaginação que
nos mostra a maneira de sair da monotonia.
Qiao quis dizer algo, mas pensou melhor sobre isso.
─ Você compartilharia os seus pensamentos comigo? Perguntou
Nathan.
Qiao hesitou no começo, mas quando ele viu a sinceridade nos
olhos de Nathan, ele decidiu confiar nele.
─ Eu não sei exatamente como colocar em palavras.
─ Tome o seu tempo e então fale, eu irei em direção aos seus
pensamentos.
─ Você se lembra da nossa primeira conversa com Pete? Num
certo momento ele disse que tinha a sensação de que estava
perdido, muitas vezes com coisas sem necessidade.
─ Sim, eu me lembro disso.
─ Bem, quando eu vejo pessoas como você, Yeshe ou Shuang, que
me fizeram sentir muito pequeno. Eu tenho ciência que a vida me
326
colocou em contato com guias tão especiais e o que eu faço? Eu
continuo gastando os meus dias sem fazer nada de valor.
Qiao estava agora muito emocionado. Nathan ficou em silêncio e o
deixou continuar:
─ Nathan, eu descobrirei o meu verdadeiro destino de vida?
─ Você deve pensar que o que você pensa é importante, e sobre o
tempo que você atualmente gasta fazendo isso. Usando esse
método, você redescobrirá seus talentos naturais e sentirá quais são
as suas possibilidades.
─ É mais fácil dizer do que fazer.
Nathan abraçou Qiao e mostrou as crianças brincando no terreno:
─ Você tem que retomar sua imaginação de novo, aquela apreciada
quando você estava pensando sobre o nosso futuro, Qiao. Então
você deve descobrir que limitações estão impedindo você de
realizar a sua imaginação.
─ E então o quê?
─ Esta é a maneira na qual você cria a situação que permitirá a
você realizar seus sonhos. Qiao, eu sinto como se uma grande
missão estivesse esperando por você aqui. Uma vez iniciado, você
descobrirá uma importante especialidade em seu trabalho.
Qiao sentiu uma força se liberando enquanto ouvia essas palavras.
─ Talvez eu tenha que viver aqui em alguns anos. Isso poderá
deixar Stephanie empolgada se viermos para cá viver.
─ Você sabe, Qiao, mesmo quando temos conhecimento suficiente,
algo pode nos conter de seguir nosso destino de vida.
─ O que é isso?
─ O costume do adiamento.
─ O costume do adiamento?
─ Sim, esse sentimento que esconde razões admitidas que apenas
parecem importantes.
─ Mas eu simplesmente não posso .
─ Seguir o seu destino de vida é um processo que requer dedicação
total, Qiao. Sua vida inteira depende em quem você pensa que é e
quais são as suas ambições.
Mais uma vez Qiao soube que Nathan estava certo.
─ Você está certo, minha vida inteira eu tenho postergando minhas
ambições mais profundas.
─ independente do que você faz, tente fazer com todo o seu ser.
Dessa maneira sua consciência elevar-se-á.
─ Eu aprendi de Shuang que quando alguém quer deixar um mau
hábito, ele vai procurar um momento verdadeiro. É o que
327
chamamos “o momento no qual nós podemos achar poder para
conquistar esse hábito”.
─ Existem momentos nos quais alguém cria coragem e força
moral, os poderes que nos direcionam a tudo que é maravilhoso.
Nathan e Qiao retornaram ao hotel. Na manhã seguinte, Ngai havia
chegado ao hotel cedo com uma mochila nos ombros. Nathan o
convidou para tomar café da manhã com ele e Qiao. Quando Qiao
veio até a mesa, ele estava radiando alegria.
─ Eu decidi ficar aqui e já contei a Stephanie que nós viremos
viver aqui. Eu quero significar algo para essa região e existem
projetos humanitários suficientes aqui que nós podemos trabalhar.
Sei que seremos felizes aqui.
─ Essa é uma boa escolha; esse é o lugar que você deve ficar.
─ Yeshe também disse isso! Sou muito agradecido a vocês dois.
─ Você tem que ser agradecido a você mesmo. A causa real da sua
escolha foi a mudança de pensamento que você tinha sobre você
mesmo e sobre o que você queria tornar-se.
─ Repouso garantido, de agora em diante eu serei sempre sabedor
que o meu desejo mais profundo é satisfeito por minhas
experiências.
Depois de um profundo abraço, Nathan deixou o hotel com Ngai.
Uma longa viagem de ônibus estava aguardando por eles e também
uma viagem de trem, antes que pudessem pegar o avião para o
Vietnam. No caminho, Nathan ficou sabendo que naquele
momento ele tinha também que deixar seu sentimento determinar
sua jornada. Mesmo que esse momento acontecesse de uma
maneira muito estranha. Várias questões passaram por sua cabeça.
Como Ngai pôde estar tão convencido que tinha que ir e buscá-lo?
Por que ele o chamou de “Quan”? E quem é o misterioso amigo
dele em Hanoi? Comunicar-se com Ngai sobre isso era difícil. Por
enquanto, Nathan aprendeu a reconhecer as questões para as quais
as respostas seriam claras mais tarde, então, ele adormeceu com o
pensamento que tudo se tornará muito mais claro no Vietnam.
328
- 10 Bem Interminável
329
330
Atenção
Quando chegaram a Hanói, Nathan e Ngai pegaram um ônibus
indo para o movimentado centro da cidade. Nathan podia ver que a
capital vietnamita estava cheia de gente animada e com energia.
Eles saíram do ônibus no Lago Hoan Kiem. Nathan não teve muito
tempo para desfrutar da paisagem, pois Ngai foi imediatamente
levado para um distrito com impressionantes edifícios coloniais.
Ngai virou-se enquanto sorria para Nathan e indicou que eles
estavam quase lá. Foi a primeira vez que Ngai sorriu durante a
viagem. Um pouco mais tarde, foram para dentro de uma casa
antiga, porém bastante elegante. Ele subiu as escadas seguido por
Nathan. Ngai bateu à porta. Uma simpática senhora os recebeu e os
deixou entrar. Ela vestia um longo robe, decorado com flores
coloridas. Seu cabelo preto estava preso no alto da cabeça. Ela
olhou para Nathan por um longo tempo, trocou algumas palavras
com ele e, em seguida lhe deu as boas vindas. Seu nome era Linh,
ela era a tia de Ngai e, para sorte de Nathan, falava um inglês
perfeito. Nathan mantinha os olhos em Ngai vendo-o andar
descalço pela sala para uma varanda interna, onde um jardim de
ervas fora plantado. Primeiro, ele teve tempo para verificar
atentamente todas as plantas e, em seguida, começou a cuidar
delas, uma por uma. Linh sugeriu que Nathan se sentasse.
─ Obrigado por aceitar o pedido de Ngai, ela disse a Nathan.
─ Ficou muito claro para mim que a melhor coisa a fazer era vir
com ele. O que ainda não está claro para mim é o motivo disso
tudo. Se bem entendi, uma amiga de Ngai está muito doente?
─ Isso mesmo, Myate tem uma doença muito grave em seu trato
respiratório e estamos ainda receosos por sua vida. Cuidamos dela
o melhor que pudemos e agora já se nota alguma melhora. Mas há
dias, como hoje, que ela mal sai da cama.
─ Não seria melhor que ela fosse a um hospital?
Linh assentiu.
─ Myate foi colocada em um hospital de Ho Chi Minh, antiga
Saigon. Eles fizeram pouco por ela lá. Um médico que nos conhece
foi quem a trouxe para nós e, desde então, estamos conseguindo
mantê-la estável.
─ Que tipo de tratamento ela tem aqui?
331
─ Nós vamos fazer com que sua energia volte a fluir em equilíbrio.
─ Como se faz isso?
─ Ngai cuidará das ervas e eu aplicarei o tratamento.
Esta informação ainda não fazia sentido algum que justificasse a
presença de Nathan ali. Começou a suspeitar que ela saiba mais do
que disse e lhe faz uma pergunta direta.
─ Por que estou aqui?
─ Ngai foi pegar você, mediante pedido da Myate.
─ Será que ela me conhece?
─ Ela pergunta frequentemente por você.
─ Não me lembro de ninguém com o nome de Myate. Ela é daqui?
─ Não, veio para o Vietnã depois de ter viajado por quase todo o
mundo.
─ De onde ela é?
─ Myate foi encontrada ao longo das margens do rio Irrawaddy,
em Mianmar, quando ela era criança. Algumas pessoas dizem que
foi em algum lugar nos arredores da cidade de Mandalay, outros
dizem que ela foi encontrada mais ao norte.
─ Ela cresceu lá?
─ Nos primeiros anos viveram em Yangon, que é a maior cidade
de Mianmar, até que ela foi adotada por um casal de irlandeses e se
mudou para Dublin.
─ Ela foi adotada?
Linh sorriu.
─ E todos vocês não são?
De repente, o coração de Nathan bateu mais rápido.
─ Não fique tão surpreso, Linh disse.
─ Mas como você sabe... ?
─ Você se lembra de Sanah?
─ Sim, claro!
─ Eu sou para Myate o que Sanah foi para você.
Nathan estava confuso e olhou para Linh. Um verdadeiro
caleidoscópio de pensamentos vieram à sua mente. Linh percebeu
e sorriu novamente, Leewana esteve aqui recentemente, ela tinha o
mesmo olhar que você tem agora.
─ Você conhece Leewana?
─ Claro que eu conheço a mulher para a qual os meus pensamentos
não têm segredos. Ela é uma menina fantástica. Ela sabe
perfeitamente o modo pelo qual os pensamentos cruzam o
universo.
332
Tornou-se claro para Nathan que Linh, assim como Sanah, tinham
que ser anjos!
─ Venha, vou apresentá-lo a Myate. Ela está ansiosa por este
momento.
Linh leva Nathan para uma sala na parte de trás da casa. Um
grande número de seringas e frascos com ervas estava disposto na
mesa. Myate estava dormindo. Linh acordou-a e falou-lhe em
vietnamita. Myate abriu os olhos e olhou para Nathan. Ela sorriu,
mas estava fraca demais para dizer qualquer coisa. Nathan pode
ver quão bonita Myate era. Ela acenou para que Nathan se
aproximasse e pegou sua mão. De repente, seu rosto se iluminou.
Era como se ela tivesse recebendo nova energia de algum lugar.
Com longas pausas entre o que falava, ela falou com Nathan em
inglês.
─ Obrigada por ter vindo me visitar... Linh me disse que você
perguntou quem eu era... sei que o nosso processo criativo já
começou... não está muito distante de sabermos quem somos...
mas... sobre quem nos tornamos.
Estas palavras tinham esgotado Myate completamente. Linh
cobriu-a e disse que ela tinha que dormir. Myate sorriu pela última
vez a Nathan enquanto soltava suas mãos. Antes que ela fechasse
os olhos, ela acenou para que ele se aproximasse.
─ Amanhã eu vou me sentir melhor... vamos dar um passeio de
bicicleta.
Linh guia Nathan, que agora estava confuso, para fora da sala e
sentou-se ao lado dele na sala de estar.
─ Felizmente, ela não está sempre nesta condição. Linh disse. Ela
geralmente se sente melhor, mesmo com suas rápidas alterações da
doença.
─ Eu não entendo muito bem, ela parecia estar desorientada.
─ Não se engane, ela sabe exatamente o que está dizendo.
─ Por que ela tem que sofrer assim?
─ Myate não tem que sofrer desta forma, aliás, ninguém tem que
sofrer.
─ Ela não esta sofrendo?
─ O sofrimento só tem lugar quando as pessoas prestam atenção
nele.
─ Quer dizer que Myate pode parar de sofrer se não prestar atenção
em sua doença?
─ Não subestime o poder da atenção. Tudo a que nós prestamos
atenção se torna uma realidade. Ao dirigir sua atenção somente
333
para a cura, Myate nos dá o exemplo certo. Esse é o processo
criativo pelo qual a Terra a enviou para nós.
O que Nathan suspeitava agora estava se confirmando. Myate era
uma excepcional. Assim como ele tinha sido enviado como
mensageiro da água e Leewana como mensageira do vento, da
mesma forma Myate era a mensageiro da terra.
─ Essa é a mensagem que a terra quer dar à humanidade,
perguntou Nathan, que devemos dirigir nossa atenção para curá-la?
─ A maior missão de todos os Excepcionais é a mesma: chegar a
uma consciência coletiva que nos levará à iluminação final.
Linh deixou a sala e deixou Nathan sem palavras. Um pouco mais
tarde, ela voltou e mostrou o quarto onde ele dormiria. Nathan
banhou-se e depois tirou uma soneca. Quando acordou, ele sentiu
um forte desejo de pensar em Leewana. Ele não compreendeu
imediatamente o motivo e foi para a sala de estar. Uma vez lá, ele
podia ver Linh na cozinha. Ela estava lavando louças e falou
enquanto sorria a Nathan.
─ De agora em diante ela fará isso frequência.
─ De quem você está falando?
─ Leewana, é claro.
Novamente Nathan foi surpreendido pelo notável dom de Linh de
sondar seus pensamentos.
─ Ela me faz pensar sobre ela?
Linh acenou com a cabeça.
─ Por que ela faz isso?
─ Ela queria mostrar-lhe que ela está ficando melhor em se
aprofundar no mundo da meditação.
─ Você sabe onde ela está no momento?
─ Com Dian, na Indonésia.
─ Dian?
─ Dian também visitou recentemente Myate, você vai encontrá-lo
também.
─ Onde Dian vive?
─ Em Surakarta na ilha indonésia de Java. Ele foi encontrado ali
quando criança, antes de ser criado por seus pais adotivos, na
Ucrânia.
─ Será que Dian cresceu na Ucrânia?
─ Dian passou sua juventude em Odessa, às margens do Mar
Negro. Mais tarde ele se mudou para Kiev para estudar. De lá ele
viajou ao redor do mundo antes de retornar ao seu local de
nascimento, na Indonésia.
334
Nathan ficou absorto em seus pensamentos. Linh viu isso e não
disse mais nada para que ele pudesse chegar a importantes
deduções com tranquilidade. Nathan compreendeu que se Myate
tinha sido enviada pela terra, Leewana pelo vento e ele mesmo pela
água, Dian tinha de ser o último "elemento natural"... o mensageiro
de fogo!
─ Haverá um momento em que nós quatro estaremos juntos?
Nathan queria saber.
Linh sorriu novamente.
─ O tempo vai certamente chegar quando suas energias se unirão.
Durante esse momento específico vocês irão mostrar toda a beleza
do "elemento interior" para toda a humanidade
─ O "elemento interior"?
─ Isso é o que chamamos de mundo do conhecimento, onde todas
as mensagens viajam.
Nathan ouviu com grande curiosidade e perguntou.
─ Você está falando sobre o conhecimento dentro de cada um de
nós?
Linh acenou afirmativamente.
Era claro que para Nathan o "elemento interior" que Linh estava
falando poderia ser nada mais que o "poder interior" da "intuição".
Após alguns momentos de silêncio, sua curiosidade forçou-o a
fazer uma pergunta, que carregaria com ele a partir daquele
momento.
─ Quando esse momento vai acontecer?
─ Em breve, você vai notar pela sucessão rápida de sinais que se
manifestarão.
─ Eu gostaria que você me dissesse tudo o que você sabe sobre o
"elemento interior" e sobre esse momento específico. Como é que
vai acontecer exatamente? Será que vai aparecer em forma
humana? Como as pessoas vão reagir?
Linh sorriu novamente.
─ Você quer saber tudo instantaneamente. Está claro que a
paciência é uma virtude que não possui ainda.
─ Você não é a primeira pessoa a observar isto para mim.
─ Eu vou te dizer uma coisa que é de grande importância tendo em
vista a sua missão na vida.
Ela tinha toda a atenção de Nathan.
─ Vamos permitir que a paciência seja amiga de sua curiosidade
natural para que ela permaneça sempre ao seu lado também. A
335
paciência é necessária ao desenvolvimento de uma vida frutuosa e
regular.
─ Eu vou lembrar-me disso a partir de agora, vou tentar reconhecer
todas as mensagens que podem me ajudar a obter esta
característica.
Linh secou as mãos e sentou-se em um sofá baixo na pequena sala
de estar. Nathan seguiu-a e sentou-se em frente a ela.
─ O "elemento interior" não é um elemento "natural" da terra. Ele
não pode aparecer em forma humana ou material, porque este
poder está em todos nós. Se ele aparecesse na forma física, a luz
brilharia tão intensamente que poderia cegar a humanidade.
─ Mas você estava apenas falando de um momento em que Myate,
Leewana, Dian e eu, traríamos o “elemento interior ".
─ Os quatro que representam todos os poderes sobre os quais o
mundo físico é construído.
Linh pegou as duas mãos de Nathan.
─ Sintonizando as suas energias, vocês serão capazes de direcionar
a atenção de toda a humanidade com o mesmo objetivo e,
consequentemente, fazer com que todas as criaturas vivas tenham
consciência de que elas também têm o poder de utilizar este
"elemento interior".
Agora, Nathan emudeceu. Linh continuou.
─ Esta experiência será um evento extremamente radical para a
humanidade como um todo e isso levará a uma súbita consciência
coletiva.
Nathan sentiu o forte poder dessas palavras. Ele sabia que neste
momento o seu elemento "natural" queria enfatizar a importância
deste e, consequentemente, ele iria receber grandes ideias a
respeito de sua missão de vida. Nathan precisava de algum tempo
para reorganizar seus pensamentos. Avisou a Linh que sairia para
uma caminhada ao longo do Lago Hoan Kiem. Linh lhe deu um
beijo na testa antes que ele saísse. Havia uma grande quantidade de
vendedores ao longo da costa que foram cumprimentados por
Nathan enquanto ele passava. Eventualmente, ele se sentou em
frente ao lago, com as pernas cruzadas. Uma vez que ele começou
a se concentrar, o sol começou a se posicionar. Esse foi
definitivamente o lugar perfeito em um momento magnífico para
sentar-se ali. Todas as informações que Linh tinha compartilhado
estavam lentamente começando a fazer sentido para Nathan. Ele
gastou um pouco mais de tempo pensando sobre o evento que Linh
mencionou e permaneceu na margem do Hoan Kiem até o pôr do
336
sol estar completo. Linh e Ngai tinham acabado de preparar o
jantar. Quando Nathan caminhou até a porta, eles estavam sentados
à mesa a sua espera, pois Linh sabia que ele voltaria após o pôr do
sol. Muito pouco foi dito durante a refeição. Era óbvio que Linh e
Ngai estavam preocupados com a saúde do Myate. Nathan foi
direto para a cama depois do jantar. A combinação de viajar ao
Vietnã juntamente com a grande quantidade de novas informações
que tinha recebido, culminou em uma completa exaustão. O último
pensamento que atravessou sua mente antes de adormecer foi em
relação à Myate. O Ngai, na manhã seguinte acordou-o para o café.
Nathan foi agradavelmente surpreendido. Myate estava sentada à
mesa, e parecia muito bem, assim que dirigiu-se imediatamente a
Nathan.
─ Dormiu bem?
─ Sim, obrigado, você também!
─ Claro, eu quero aproveitar o tempo que teremos juntos.
Nathan percebeu como a saúde de Myate satisfazia Linh e Ngai.
─ Eu pedi a Ngai para pegar as bicicletas, Myate continuou.
Nathan compreendeu que Myate estava muito consciente ao que
tinha dito ontem, e que sabia o que realmente quis dizer.
Naturalmente ele se perguntou se ela era forte o suficiente para
isso.
─ Está tudo bem? Você está forte o suficiente para isso?
─ Myate não está pensando em andar de bicicleta sozinha, Linh
disse. Ela pediu ao Ngai para colocar um assento confortável na
traseira da bicicleta.
Myate sorriu e piscou para Nathan.
Após o café, Nathan e Myate se preparam para o passeio de
bicicleta. Ngai tinha colocado uma cadeirinha confortável com
uma almofada no bagageiro de modo que Myate pudesse sentar na
parte de trás, com suas pernas uma de cada lado. Era um belo dia
ensolarado. Graças a uma brisa fresca que não estava muito quente.
Nathan e Myate andavam pelas ruas estreitas e vielas, em Hanói.
Na estrada tinham muito a compartilhar um com o outro.
Nathan iniciou a conversa dizendo:
─ Linh e Ngai são pessoas muito agradáveis.
─ Estou feliz por eles cruzarem o meu caminho na vida. Estas são
as pessoas que prestam atenção à harmonia do mundo, tais pessoas
são de grande valor para orientar a humanidade na direção certa.
─ Você está certo, essas são as pessoas que realmente ajudam o
mundo a seguir adiante.
337
Paciência
Nathan partiu para o aeroporto Hanoi. Ele sentou-se em meio aos
passageiros no salão de embarque e examinou o seu mapa. Com as
palavras de Linh ainda frescas em sua mente, ele calmamente usou
o tempo para pensar em seu próximo destino. Repentinamente, a
costa da Tailândia destacou-se a ele. Nathan pediu informação
sobre voos para a Tailândia e foi informado que o próximo avião
estaria partindo àquela noite. Ele decidiu tomar aquele voo e
chegou naquela noite no aeroporto Don Muang em Bangcoc. Ele
andou pelo ocupado salão de entrada e tomou um táxi para o centro
da cidade, que estava dominada por um úmido calor. O que Nathan
instantaneamente notou foram os fortes contrastes de uma cidade
com seus luxuosos shopping centers, modernos arranha-céus e
caras moradias ao lado de pequenas cabanas quebradas. Assim
como em outras cidades, Nathan foi mais uma vez confrontado
pela grande desigualdade entre ricos e pobres. Nathan perguntou
ao motorista do táxi por um hotel barato e saiu no distrito
Banglamphu onde reservou um quarto.
Na manhã seguinte Nathan deu um passeio pelo Mercado e
conheceu Suchart, um jovem amigável que se ofereceu para
mostrar a cidade à Nathan. Nathan pensou que isto seria uma boa
idéia e pediu Suchart para levá-lo aos lugares mais naturais.
Suchart soube imediatamente onde levar Nathan. Eles tomaram um
tuk-tuk, um típico táxi motorizado e dirigiram para o Chao Phraya,
o rio que flui através de Bangcoc. Lá eles embarcaram em um
longo barco e fizeram uma viagem pelos canais estreitos, alinhados
com casas feitas de estacas de madeira. Eles saíram em Thonburi e
continuaram a pé. Suchart mostrou a Nathan os mais velhos
distritos e, ao mesmo tempo, contou a história da cidade. Quando
eles estavam passando em frente a um dos muitos templos, a
atenção de Nathan foi tomada por um grupo de pessoas esperando
em frente a um portão. Suchart notou o interesse de Nathan e
contou a ele.
─ Todos eles querem ver o novo mestre.
─ O novo mestre? Nathan perguntou curiosamente
─ Ele não está aqui há muito tempo, mas já é muito popular.
─ Vamos nos juntar a eles.
338
Nathan ficou na fila com Suchart, que estava um pouco surpreso.
Um pouco mais tarde, eles entraram o salão e sentaram-se no chão
na parte de trás; De repente eles ouviram música e um homem
enorme apareceu. O mestre sentou em uma alta cadeira e pediu por
silêncio. Quando ele começou a abordar as pessoas presentes
Nathan pediu a Suchart que traduzisse suas palavras;
─ O mestre agradece a todos que trouxeram um presente.
Nathan notou que a maioria dos visitantes havia trazido dinheiro,
joias ou outros presentes e haviam colocado neste pódio, que havia
sido especialmente preparado. Suchart continuou a traduzir.
─ Ele diz que quem quer que esteja disposto a se submeter a ele
será libertado.
Nathan experimentou a mesma sensação que teve quando o homem
no Brasil havia falado a multidão, que acreditava que ele poderia
purificá-los. Mesmo que ele não estivesse sendo abordado
pessoalmente, ele ainda sentia que tinha que fazer alguma coisa.
─ O que você acha disso, Suchart?
─ Eu acho que o homem é um impostor.
─ Você percebeu isso bem, Suchart. Siga-me!
Nathan ficou de pé e seguiu em direção ao homem. Suchart não
tinha ideia do que Nathan estava planejando, mas seguiu-o. O
mestre viu os dois homens vindo e parou de falar. Uma vez que
eles estavam diretamente em frente ao mestre Nathan pediu a
Suchart para traduzir suas palavras bem alto, para que todos
pudessem ouvi-las.
─ Permita-me perguntar o que é isto tudo? Nathan perguntou.
O mestre estava claramente infeliz com aparecimento de Nathan.
─ Quem é você para interromper-me deste modo? Ele perguntou.
─ Meu nome é Nathan e eu gostaria de saber por que você está
pedindo por completa subserviência?
─ Eu sou o escolhido para ensinar as regras. Estas são as regras
estabelecidas que devem ser seguidas para que se obtenha
sabedoria.
─ Sabedoria só pode aparecer para aqueles que livremente fazem
escolhas e nunca para aqueles que cegamente seguem regras
impostas.
Todos os presentes puderam ver que o mestre estava ficando
inquieto. Ele abordou Nathan raivosamente.
─ O que você sabe sobre sabedoria?
Nathan evadiu da questão. Ele reuniu os presentes no pódio e
distribuiu-os entre os visitantes. Inicialmente Suchart olhava para
339
Nathan ceticamente, mas então o ajudou. Nathan agradeceu e pediu
que traduzisse suas palavras novamente.
─ Sabedoria nunca aparece através da subserviência ou obediência
a outro. A sabedoria também não existe para ser obedecida ou para
se tornar rico. Sabedoria é exatamente o que nos inspira a doar.
Agora o mestre estava extremamente raivoso. Ele quis falar, mas
aparentemente havia perdido sua voz. O incidente lembrou a
Nathan do que havia acontecido com a cartomante em Paris, que
ele havia visitado com Moshe. Nathan sentiu pena do mestre. Ele
tomou Suchart pelo braço e mais uma vez falou ao mestre, mas
com uma voz mais amena.
─ Minha mensagem não é direcionada somente a você, mas a todos
aqui. Eu tenho um conselho pra você: use seus talentos para
transferir verdadeiro conhecimento e você verá que a pessoa que
oferece verdadeiro conhecimento recebe verdadeira satisfação.
Após pronunciar estas palavras Nathan rapidamente deixou o
templo. Profundamente impressionado, Suchart o seguiu. Quando
eles estavam do lado de fora Suchart finalmente compreendeu o
que havia acontecido.
─ Por que você fez aquilo?
─ Como eu disse, para entregar uma mensagem.
Suchart continuou andando silenciosamente ao lado de Nathan.
─ Por que você fez daquele jeito?
─ O que você tinha em mente?
Suchart não tinha uma resposta imediatamente.
─ Quando você sente que há algo errado, você não deve fazer o
que é esperado, mas mostrar qual é o seu sentimento sem medo ou
receio.
─ Após certo ponto, por que foi impossível para o mestre falar
algo?
─ Algumas vezes nossa sensibilidade assume o controle.
Suchart pensou por um instante.
─ Mas isto não pode acontecer, é impossível, não é?
─ Quando você dá às suas verdades o espaço para mudar você
também se torna capaz de efetuar grandes mudanças.
─ De que mudanças você está falando?
Agora Nathan parou Suchart e pôs a mão em seu ombro.
─ Quanto mais profunda a experiência de sua vida, mais
poderosamente o universo vai se mover através de você e você será
livre para mudar o que deveria ser mudado.
340
Nathan continuou a andar enquanto Suchart permaneceu parado.
As palavras de Nathan surtiram ainda outra grande impressão sobre
ele.
─ Espere Nathan, eu quero saber mais!
─ Em momento oportuno, agora eu estou com fome. Leve-nos a
um lugar onde possamos comer.
Eles retornaram para o centro da cidade e pararam em ‘Sana
Luang’, uma movimentada praça com pequenos estandes onde
vendiam lanches, amuletos e ervas curativas. Eles encontraram
uma vaga, não muito longe da praça, em um restaurante onde
Suchart conhecia o dono muito bem. Quando eles estavam
sentados, Suchart quis que Nathan sobre as mudanças que ele
poderia promover.
─ Eu sabia que nosso encontro não era uma coincidência.
─ Que encontro pode ser uma coincidência? disse Nathan
Suchart olhou para Nathan e sentiu mais admiração pela visão de
vida dele. Ele também sentiu que Nathan não havia apenas o
selecionado como um guia, mas que ele queria encorajá-lo a fazer
algo.
─ Nathan, você tem uma mensagem para mim?
─ Não temos todas as mensagens uns para os outros?
Suchart entendeu que deveria escolher suas perguntas mais
cuidadosamente.
─ Você sabe o propósito final pelo qual eu devo lutar?
─ Ninguém sabe melhor que você, Suchart.
─ Eu tenho já venho me preocupando com há um longo tempo.
─ E ainda assim você sabe mais do que você acha que sabe.
─ Você não pode me ajudar?
─ Mas é isso que estou fazendo.
Suchart levou algum tempo para ponderar a questão, ele tinha que
perguntar a si mesmo e então disse a Nathan.
─ O que pode me fazer tomar consciência de uma coisa que eu já
sei?
Nathan notou o quão rápido o pensamento de Suchart processou o
desenvolvimento.
─ Sua sensibilidade, ele respondeu.
─ Minha sensibilidade?
─ Com isto você mostra a causa de sua ignorância. Você aprendeu
a esperar por sinais dos outros, enquanto a sua sensibilidade tem
tentado quietamente mostrar a você o caminho.
341
─ Espere um minuto, disse Suchart, agora está ficando muito
difícil pra mim.
─ Então deixe os sinais ajudá-lo.
─ Você está falando sobre eventos inesperados?
─ Eventos inesperados estão lá para nos lembrar do que nós
originalmente queríamos!
─ Você não está me ajudando de verdade!
─ Eu estou, mas você é que não está acostumado a obter respostas
valiosas.
─ Mas você não está me respondendo.
─ Eu estou. Eu te dou as respostas como questões para ajudá-lo a
corrigir seu modo de pensar.
Mais uma vez, após pensar por um momento, Suchart entendeu o
que Nathan queria mostrar a ele que ele não precisava de mais
ninguém para decidir o seu caminho de sua vida.
─ Há algo que você vê que pode ser útil para mim? Ele então
perguntou a Nathan.
─ Eu reconheço em você uma alegria de viver ainda por nascer;
você ainda precisa aprender a como dividí-la com outros.
─ Obrigado Nathan, então agora eu tenho uma indicação.
─ Não se esqueça de que aqueles que se mantém na busca irão
achar o que procuram.
Após a refeição, Nathan e Suchart passearam através de um
emaranhado de vielas onde eles acharam várias lojas pequenas.
─ Amanhã eu deixarei Bangcoc, disse Nathan, e continuarei
viajando ao longo da costa.
─ Você já sabe para onde você irá?
─ Onde você me recomenda?
─ Isso depende, o que você está procurando?
─ Eu estou procurando por descanso, Suchart!
Suchart pensou por alguns instantes.
─ Ano passado eu fui até a ilha Koh Chang com alguns amigos.
Nós ficamos em uma casa sobre palafitas na Vila Bang Bao ao
lado sul da ilha. A tranquilidade que você experimenta naquela
maravilhosa pequena vila pesqueira não pode ser comparada a
nada mais.
─ Obrigado por este conselho, Suchart.
Ambos disseram adeus.
Na manhã seguinte Nathan tomou o trem para a Província de Trat e
então o barco para Koh Chang. Era tarde da noite quando Nathan
chegou. Ele alugou um quarto em um pequeno hotel com vista para
342
o oceano. No dia seguinte Nathan passou horas no mar. Mais tarde
naquele dia ele foi mais para o sul da ilha. Quando ele chegou à
vila pesqueira de Bang Bao ficou imediatamente claro o porquê de
Suchart ter gostado tanto de estar ali. As casas de palafita com o
oceano azul como plano de fundo era empolgante. A beleza que ele
estava vendo trazia a confiança mais concreta de que ele havia
chegado ao lugar correto. Nathan se sentou no terraço de um bar.
A única cliente era uma garota que sorriu para ele. Nathan foi até
ela e perguntou onde ele poderia achar um lugar simples para
dormir. A garota disse a Nathan que a maioria das acomodações
estava cheia. Após hesitar um pouco ela deu a ele o nome de um
distante alojamento. Nathan notou sua hesitação e perguntou se ela
saberia a razão de ainda haver quartos neste alojamento. A garota
respondeu que “Chuenchai” era muito mais que um alojamento
normal. Quando Nathan perguntou a ela o que havia de tão
especial sobre o alojamento ela respondeu que era uma instituição
de ensino para aumentar a força espiritual. Nathan olhou para cima
e respondeu que ele estaria satisfeito com uma cama e um
chuveiro, mas se ele pudesse aprender alguma coisa durante sua
estadia, ele certamente não se absteria de fazê-lo. A garota sorriu,
tomou um pedaço de papel e desenhou uma rota para Nathan. Ela
disse que o alojamento podia ser alcançado facilmente, mas que o
desenho o levaria a começar na direção correta. Nathan ofereceu a
garota algo para beber e então disse adeus. Na estrada Nathan viu
que o desenho no papel de repente parou. Até ali a garota havia
desenhado tudo perfeitamente, mas não havia alojamento para ser
visto de onde ele estava. Ele decidiu descansar um pouco e deitouse. Enquanto ele estava admirando o céu azul ele percebeu que
estava ficando impaciente e naquele momento um pastor se
aproximou. Nathan falou com ele em inglês.
─ Você sabe onde eu posso achar o alojamento “Chuenchai”?
Nathan sacou seu rascunho, mas o pastor fez sinal de que não era
necessário e respondeu com um inglês quebrado.
─ Eu irei com você!
Eles atravessaram uma grande extensão de terra por meio de uma
grande floresta crescente ao lado da água. O pastor, que havia
permanecido quieto até então, falou com Nathan.
─ O que você sabe a respeito do “Chuenchai”?
─ Não muito, uma garota na vila me falou sobre ele.
O pastor olhou para Nathan sem fazer um som. Eles continuaram
andando até que Nathan falou.
343
─ O que você sabe sobre o “Chuenchai”?
─ Uma mulher idosa do Japão vive lá; ela é chamada “Aquela que
Sabe”
Nathan ponderou a respeito deste nome, que ele havia previamente
ouvido na Espanha e no México. O pastor continuou andando,
olhando diretamente à frente. Nathan, que estava ficando
consideravelmente curioso, perguntou a ele por que a mulher era
chamada desta forma. O pastor parou e olhou para Nathan, como
se a questão fosse supérflua.
─ Porque ela sabe o que os outros não sabem a respeito de si
mesmos!
Então o pastor e Nathan continuaram até que Nathan mais uma vez
falou com o menino.
─ O que mais você sabe sobre o “Chuenchai”?
O pastor não respondeu imediatamente, como se ele não tivesse
ouvido a pergunta. Apenas quando Nathan quis perguntar mais
uma vez, ele respondeu.
─ Dentro dos muros do “Chuenchai” o tempo viaja mais devagar.
Antes que Nathan pudesse reagir, o pastor apontou para uma
grande casa. Então ele desejou a Nathan uma estadia instrutiva e
partiu sem olhar para trás. O alojamento era uma bela e antiga casa
que havia sido construída perto da água, no topo de uma floresta.
Nathan caminhou para a porta da frente, por todo o tempo
pensando nas últimas palavras do menino. Ele empurrou a porta da
frente abrindo-a e encontrou-se em um pequeno saguão. Ele
chamou para ver se havia alguém ali, mas não obteve resposta.
Então Nathan se encaminhou para uma sala maior e entrou em uma
grande área cheia de esculturas e retratos pintados. Nathan pôs sua
bagagem no chão e olhou as obras de arte uma a uma.
Repentinamente sua atenção foi capturada por uma pintura,
pendurada sozinha em um canto. Era a única pintura que não era
um retrato, mas uma imagem abstrata de formas coloridas com
formas humanas que pareciam fundir-se umas com as outras.
Nathan andou até a imagem. Quanto mais ele olhava, mais ele
ficava fascinado por sua beleza. As formas humanas, o lembrava
de sua estada no Sahara. Agora ele sentia como se as pinturas
quisessem dizer algo para ele. Uma mulher idosa apareceu e sorriu
para ele. Ela era pequena, vestia um terno de seda colorido e tinha
o cabelo preso no alto da cabeça. Nathan pode ver que, apesar de
sua avançada idade, a mulher irradiava uma energia jovial. Ela
falou com Nathan em inglês.
344
─ Eu estava esperando você!
Nathan ficou surpreso por isso e quis perguntar a ela como ela
sabia que viria. Repentinamente ele pensou a respeito da garota no
bar e pensou que ela havia ligado para a mulher para contar de sua
chegada. Antes que Nathan pudesse dizer qualquer coisa, a mulher
falou novamente.
─ Eu vejo que encontrou o seu caminho para a única obra de arte,
isso é ótimo.
Quase todas as palavras dela confundiram a cabeça de Nathan. A
mulher notou isto e disse:
─ Meu nome é Takara, bem vindo ao “Chuenchai”.
─ Obrigado, meu nome é Nathan.
─ Claro!
Nathan tentou não deixar que as palavras dela confundi-lo.
─ Você pode me dizer se há algum quarto disponível?
─ Seu quarto está disponível, você somente tem que encontrá-lo.
Nathan não pôde evitar ficar surpreso com suas respostas
incomuns.
─ Eu não tenho certeza de que entendi muito bem.
─ Todos os quartos estão disponíveis, exceto um, o quarto
embaixo das escadas, lá é onde eu durmo.
─ E quantos quartos você tem?
─ Sete no total, então isso significa que ainda restam seis quartos.
─ Então não deve ser difícil achar um quarto para mim.
─ Algumas vezes acontece rapidamente, algumas vezes demora
um pouco mais. Esta é a lei de tudo que é inesperado.
─ Acredito que não a compreendi novamente.
─ Ainda não, mas isso irá mudar!
─ O quarto que eu escolho faz diferença?
─ Nem todos os quartos são adequados para você. Apenas em um
dos quartos você vai se sentir no seu melhor. Você é responsável
por identificar este quarto dentre todos os outros.
Nathan concluiu que estava lidando com uma mulher bastante
incomum, mas ele também sabia que parte de sua sabedoria era
porque tais pessoas haviam entrado em sua vida. Ele confiou nisso,
mesmo que o que ela havia dito a ele agora parecesse estranho, se
tornaria claro mais tarde.
─ Você mesma planejou todas estas coisas bonitas aqui sozinha?
─ Todo o trabalho de arte foi dado a mim, incluindo a pintura que
você está admirando.
Nathan deu mais uma olhada na pintura abstrata.
345
─ O artista foi bem sucedido em fazer uma expressão muito
profunda. Você conhece o artista?
─ O artista desta pintura sempre é a pessoa que a está vendo.
─ Como assim?
─ O que você vê agora é uma projeção da sua imaginação; esta
projeção toma seu lugar sem que as imagens sigam o caminho da
razão.
O que Nathan escutou desta vez foi muito incomum e quase irreal,
mas o fascinou.
─ Quando você olha para este trabalho, você vê algo diferente? Ele
perguntou.
─ Este é o caso com tudo o que eu vejo, Nathan.
Nathan entendeu que esta obra de arte era simbólica da própria
percepção.
─ Acho que entendi.
─ Ainda não, mas isso vai mudar!
Após ter dito isso, a mulher virou-se e voltou para o pequeno
saguão. Ela voltou bem rapidamente e deu a ele seis chaves e
consequentemente deixou bem claro que ele poderia iniciar sua
missão.
─ Eu serei capaz de achar o melhor quarto para mim?
─ Isso será apenas um exercício de paciência.
Nathan reconheceu a expressão sábia.
─ Gaste tempo suficiente em cada quarto, continuou Takara, até
que você sinta o que é melhor para você.
─ Você já sabe qual quarto será?
─ Eu não estaria te fazendo um favor se te contasse.
Nathan compreendeu que era pra ser um processo de aprendizado.
─ Além de qual quarto é mais adequado para se dormir, o que eu
aprenderei?
─ Reconhecer lugares que sejam os melhores para você.
A compreensão de Nathan sobre sua missão já havia se
aperfeiçoado e agora ele confiava que ela tencionava o melhor.
─ Há algo mais que você precisa saber Nathan. Um dos quartos
não é nada adequado para você. Aprender a distinguir tais lugares
também é muito importante.
Nathan pegou a bagagem e dirigiu-se para as escadas. Ele virou-se
um pouco e viu que Takara estava sorrindo para ele.
─ Eu ainda não posso te dizer por quanto tempo eu irei ficar, ele
disse para ela.
─ Acredite todos os dias em si mesmo.
346
Nathan começou sua missão inspecionando cada quarto. Ele viu
que todos pareciam iguais. Eles eram exatamente do mesmo
tamanho, decorados no mesmo estilo e mobiliados identicamente.
A única diferença que Nathan pôde perceber foi a posição da
mobília em cada quarto. Ele passou alguns minutos em cada
quarto, mas não importava o quão perto ele chegasse, nenhum
quarto parecia ser o melhor para ele do que outro. Desencorajado,
ele foi procurar por Takara. Nathan procurou por todo o andar
térreo, mas não pôde achar Takara em lugar nenhum.
Eventualmente, ele ouviu um som de água corrente. Ele foi em
direção ao som e viu luz brilhando através de uma porta de vidro.
Quando ele a abriu ficou maravilhado com o que viu. Por trás da
casa um belo jardim de ervas havia sido plantado com todos os
tipos de plantas e flores exóticas. Na grama havia grandes potes,
sendo preenchidos por uma fonte. Os potes eram feitos de folhas,
tecidas firmemente juntas. Nathan viu Takara de pé, folhas longas
e finas nas mãos. Estas ela usava como um cordão, para tecer entre
e ao redor das folhas mortas que estavam pendendo dos ramos. Ela
cuidadosamente as trouxe para baixo e colocou-as em uma tigela
menor na sombra. Então ela pegou vários ramos secos, com os
quais ela fez pequenos buracos na terra macia. Então ela colocou
pequenas sementes neles. Nathan observou o que ela estava
fazendo e se sentiu comovido pela tranquilidade e dedicação
expressas por Takara. Este jardim de ervas era realmente uma
maravilhosa obra de arte. Enquanto Nathan estava admirando
como Takara cumpria suas tarefas prestando muita atenção ao
trabalho dela, ela falou com ele sem virar sua cabeça em sua
direção.
─ O que você vê aqui é o coração do “Chuenchai”.
─ Isto é maravilhoso!
Takara continuou a trabalhar imperturbável.
─ Eu vi os seis quartos, mas não pude fazer distinção entre eles.
─ O tempo é uma condição que você vai aprender a sentir.
─ Poderia deixar isso mais fácil para mim?
─ Eu poderia, mas a questão é se isso é desejável.
─ Então é realmente importante que eu descubra por mim mesmo?
─ É importante que você faça amizade com a paciência.
Agora Nathan se lembrou das palavras de Linh. Ela recentemente
havia dito que este era um processo de aprendizado necessário para
ele. Takara secou suas mãos e as moveu para que ele a seguisse.
Eles entraram em uma área que era completamente vazia e onde as
347
paredes, o chão e o teto eram brancos como a neve. Takara ficou
de pé em frente a Nathan e segurou suas duas mãos.
─ Tente esvaziar sua mente e não deixe nenhum pensamento
entrar.
Nathan realizou sua missão.
─ Agora pense somente na água. O que você vê?
─ Eu vejo a mim mesmo seguindo por montanhas e vales.
─ Água sempre flui para onde isto é possível. Sua natureza é tão
receptiva que não há cognição de tempo e espaço. A única maneira
que a água encontrou para expressar a si mesma foi tomar forma
humana.
─ O que você está dizendo é que meu “elemento natural” não é
capaz de entender que cada ação precisa acontecer em um local e
tempo específicos?
─ Esta é de fato a razão pela qual a água enviou um mensageiro,
primeiro para compreender e então agir.
Nathan olhou para Takara e sentiu a habilidade em suas mãos.
Suas palavras tronaram tantas coisas claras. Nathan acabara de
obter uma revelação sobre sua verdadeira razão para existir. Ele
agora sentia a presença de seu “elemento natural” como nunca
antes sentira. Ele entendeu que todas as suas experiências haviam
sido necessárias para obter um melhor entendimento do
comportamento humano e das mudanças necessárias que
precisavam vir à tona.
─ Agora se tornou claro para mim a causa subjacente de meus
defeitos.
─ Agora você aprenderá a aceitar que o tempo decide em todas as
mudanças e que cada um de nós pode escolher em que prestar
atenção. Você também mostrará compreensão por todos que não
possuem o mesmo sentido de profundidade.
─ A água não mostrou compreensão suficiente?
─ Até a água tem seus momentos de fúria. Pense sobre as
enchentes em Dhaka ou as circunstâncias em que você veio à vida.
Tudo estava se tornando cada vez mais claro para Nathan; tudo
agora fazia sentido.
─ Como posso corrigir estes defeitos?
─ Como com qualquer defeito, aqui é tudo sobre sentir o
desequilíbrio das circunstâncias. Reconhecendo a linha em que o
defeito está presente, nós podemos lutar por equilíbrio.
─ Que linha eu tenho que reconhecer, com relação a minha
impaciência?
348
─ Você encontrará o equilíbrio entre paciência e impaciência se
mantendo firme por um momento e você aprenderá a aceitar que
todas as coisas devem ter um fim antes que as coisas novas possam
surgir.
As palavras de Takara fizeram Nathan pensar.
─ Então a minha impaciência está me impedindo de aceitar as
coisas?
─ De fato, por causa da impaciência nós perdemos a revelação de
que nem tudo acontece como desejado.
─ Em tais momentos, o tempo é realmente difícil de suportar.
─ O tempo é intrínseco para o nosso mundo e governa toda
mudança. A paciência nos ensina a aceitar que o tempo acompanha
todas as mudanças.
─ A paciência nos guia para a tranquilidade que todos nós
buscamos?
─ Tranquilidade, por si só, não é nada além de confiar no tempo.
Isto permite que as mudanças tomem seu lugar nos momentos
adequados.
─ Agora eu entendo porque a paciência é tão importante. Ainda
não está claro porque eu tenho que aprender os lugares que são
melhores para mim?
─ As linhas de tempo e espaço são fortemente inter-relacionadas.
Há sempre um lugar onde o tempo é propício para as mudanças
que nós podemos trazer!
Os olhos de Nathan piscaram. Ele abraçou Takara e deixou a sala.
Enquanto ele estava indo para o andar de cima, sentiu-se
extremamente preparado para executar sua missão. Nathan não
precisou de muito mais tempo para encontrar o quarto em que ele
se sentiu menos confortável. Precisou de muito mais para achar o
quarto no qual se sentiu melhor. Finalmente ele o encontrou e
retornou para Takara satisfeito.
349
Tranquilidade
Durante as semanas seguintes, Nathan era frequentemente
encontrado com Takara no jardim vegetal próximo ao alojamento.
Ele gostava de trabalhar com ela e aprendia bastante observando-a.
Takara comia apenas os vegetais de seu jardim. Ela disse que
quando escolhia comida facilmente digerível, ela também se sentia
leve.
Além do seu relacionamento com a natureza, Nathan descobriu
importantes facetas do seu relacionamento com o tempo.
Quaisquer que fossem as circunstâncias, Takara nunca se apressava
e nunca se esquecia de nada. O que mais impressionava Nathan era
o fato de que ela irradiava uma tranquilidade especial em todos os
momentos e em todos os dias.
─ Parece que o tempo é seu amigo, disse Nathan.
─ O tempo é amigo de tudo que vive, Takara respondeu.
─ Ainda assim, o tempo é frequentemente combatido.
─ Isso é completamente sem sentido, porque é a única coisa que
realmente possuímos.
─ Takara, tem uma coisa que tem me incomodado por algum
tempo.
─ Então é hora de dividir o seu pensamento comigo.
─ Eu sei que nós só podemos encontrar tranquilidade confiando no
tempo. Mas se o tempo decide em todas as mudanças, então quão
importantes são nossas ações?
Takara olhou para Nathan e tomou conhecimento da profundidade
da sua questão. Ela sugeriu que dessem um passeio junto à água.
Ela continuou a conversa uma vez que eles começaram a andar.
─ Você sabe que nós devemos confiar no tempo se queremos
aceitar o inevitável, mas isso não significa que nós temos que
assistir a vida passivamente. Ao longo do tempo, o equilíbrio pelo
qual devemos lutar é bem distante da paciência assim como da
impaciência. Agora Nathan precisou de tempo para compreender
completamente a última declaração de Takara.
─ Isso quer dizer que precisamos tanto da impaciência quanto da
paciência? – ele perguntou.
─ Pode-se dizer isso. Não é para nada que nos foi concedida a
habilidade de fazer mudanças através de nossas ações. Por
350
exemplo, pegue o jardim de vegetais ou o de ervas; que tipo de
forma eles teriam se eu apenas olhasse para eles.
─ Até aqui, também é sobre lutar para pelo equilíbrio certo.
─ Quando nós assistimos a vida passivamente existe um perigo de
queda na preguiça espiritual e nós ficamos incapazes de cumprir
ações significativas. Então é de grande importância que
mantenhamos nossas intenções alinhadas com nossas ações.
─ Então tranquilidade não é uma forma de se ficar parado na vida?
─ A vida nunca fica parada. Quanto mais caminhamos no caminho
de nosso destino, mais vemos que é um caminho ininterrupto com
possibilidades ilimitadas, um caminho que gradualmente se abre
perante nós como o desabrochar de uma flor.
─ Por que existem tantos entre nós que nunca prestam atenção a
sua tarefa única e nem mesmo estão cientes que a vida tem um
significado mais profundo?
─ Eles nunca foram informados ou não mostraram nenhum
interesse. Por causa disso experimentam a vida como uma sucessão
de ocorrências caóticas que eles chamam de destino.
─ Está se tornando mais claro para mim. Por causa do medo deles
do destino, eles escolhem o que parece ser um caminho seguro e
acabam vagando completamente fora de seu caminho.
─ De fato, vagueiam por medo de vagar.
─ Para muitos, a vida consiste em esperar pelo que virá.
─ Assim eles passam o tempo olhando para os momentos perdidos
de suas vidas.
─ É possível para uma pessoa mudar. Alguém que nunca tenha
antes vivido a vida pensando em sua única tarefa?
─ Nosso comportamento não é determinado por nossas
experiências, mas por nossas ambições.
As palavras de Takara deixaram Nathan feliz, mesmo que ele não
soubesse se era por causa da esperança ou confiança, ou talvez
uma combinação de ambas.
Ele quis saber:
─ O que pode alterar a nossa atenção em direção a nossa única
tarefa?
Takara se sentou em uma pedra e fez um movimento para que
Nathan se sentasse em frente a ela.
─ Nossa tarefa única só aparece quando nós liberamos nossa fonte
sem fim!
─ Nossa fonte sem fim?
351
─ Se alguém viaja para uma trilha errada e fecha a si mesmo para a
fonte de todo o conhecimento, eles terão que reabrir a porta se
quiser se familiarizar com os seus desejos íntimos.
Nathan entendeu que o que Takara chamava de fonte sem fim, era
mais uma vez um novo nome para nossa força interior. Takara
continuou.
─ O verdadeiro sentido de nossa vida só pode ser descoberto
quando prestamos atenção a esta fonte. Aprendendo a agir
intuitivamente, nós tomamos o poder sobre nossos sentimentos.
Então nós estamos livres da infinita corrente de ações sem sentido.
As palavras de Takara trouxeram muitos pensamentos para dentro
de Nathan. Ela viu acontecendo e silenciosamente encarou a água.
Levou certo tempo até que Nathan falasse novamente.
─ Deve existir um meio de fazer a humanidade entender que a vida
não precisa ser um destino? – declarou Nathan.
─ Somente quando as pessoas se tornam mais conscientes da
existência da fonte sem fim, eles irão reconhecer a ordem universal
e seu lugar único dentro dela.
─ Eu sinto que deve existir um meio de ajudar a todos a virem à
consciência, sem exceção.
Takara se levantou e segurou a cabeça de Nathan bem próxima a
dela.
─ Aproveite o processo de desenvolvimento, Nathan!
Takara deixou Nathan para meditar e retornou ao alojamento
sozinha. Nathan passaria o resto do dia na água. Os dias seguintes
ele estava na água a maior parte do tempo e lá ele encontrava
inspiração como nunca antes. Uma noite, quando ele tinha quase
alcançado o alojamento, ele reconheceu no ar um cheiro prazeroso
de madeira queimando. Ele olhou e viu que uma grande fogueira
havia sido construída. Um rapaz, parado bem perto do fogo, estava
mexendo em galhos secos vermelhos brilhantes no fogo com uma
vara longa. Os olhos deles se encontraram. Nathan soube
imediatamente que Dian havia chegado.
─ É muito bom te conhecer, finalmente, disse Nathan.
─ Eu estou apenas aquecendo, Dian sorriu.
Nathan sentou-se no chão, um pouco longe das chamas. Dian
sentou-se próximo a ele e perguntou.
─ Como foi com Myate?
─ Ela se sentia melhor no dia em que parti.
─ Leewana está com ela agora.
Houve um curto silêncio.
352
─ Nós não podemos esperar muito tempo mais Nathan.
─ O fato de todos estarmos nos encontrando agora indica que
nossos processos de aprendizado estão chegando ao fim.
Takara fez um chá e veio sentar-se com eles.
─ Você já escolheu o seu quarto? Nathan perguntou para Dian.
─ Dian não precisa disso, Takara interrompeu.
─ O que eu tenho que aprender, disse Dian, é como manter minha
espontaneidade em cheque. Eu frequentemente tenho a inclinação
de impor minha vontade aos outros.
─ Por causa de sua natureza, Dian não conhece moderação, disse
Takara.
Nathan lembrou-se que Takara havia lhe ensinado que ele
precisava determinar o equilíbrio para cada necessidade. Então não
precisou de muito esforço para saber o que Dian precisava.
─ Como Dian pode lutar por moderação? perguntou Nathan.
─ Prestando atenção à harmonia dos contrastes, disse Takara.
Quando ele reconhecer esta harmonia, ele entenderá melhor como
contrastes necessários podem direcionar nossas energias dentro do
contexto de nossa evolução.
Nathan considerou estas palavras e então perguntou.
─ Nós, assim como muitas outras pessoas, não queremos ajudar
àqueles que estão perdidos?
Tudo tem a ver com o quanto queremos mudar as coisas, disse
Takara.
─ Quando eu quero que pessoas perdidas se tornem conscientes de
seu destino, eu normalmente trabalho destrutivamente. Dian
confirmou.
─ Quando a chuva vem como uma inundação, Takara ilustrou,
plantas sem raízes profundas são varridas e perecem. Isso também
acontece com espíritos mais lentos se eles não ouvirem nada sobre
a vida espiritual.
─ É difícil para eu deixar de mostrar às pessoas suas escolhas
erradas, disse Dian.
─ Dian pode realmente destruir coisas se ele não aprender a
entender sem julgar, disse Takara. Ele deve aprender que poucas
pessoas têm a mesma capacidade de fazer as perguntas certas sobre
suas vidas e sobre o mundo em que vivem.
Nathan ouviu atentamente e percebeu similaridades com sua
impaciência.
353
─ Dian viajará para a Bolívia, Takara contou a ele. Lá ele
aprenderá a ver que tudo que acontece é necessário, mesmo que
invoque sentimentos negativos.
─ Por que Bolívia? pergunto Nathan.
─ Dian viajará para os maiores lagos de sal do mundo, o Salar de
Uyuni. Não há lugar melhor na terra para aprender a reconhecer a
harmonia entre contrastes.
─ Você sabe qual é a minha próxima tarefa Takara? Nathan
perguntou.
Takara deitou um pouco de chá nos copos e serviu os convidados
antes de continuar.
─ Depois que nós seguirmos caminhos separados, você se
reconectará com alguém que você não vê há um longo tempo e que
está perdido.
─ Minha tarefa será fazer esta pessoa ciente da situação?
Takara assentiu com a cabeça.
─ Isto é o que sempre fazemos o que será diferente nesta tarefa?
perguntou Dian.
─ Desta vez Nathan estará envolvido emocionalmente, isto será
novo para você. Terá que aprender a lidar com o que irá circular
dentro de seu ser interior.
Nathan se tornou ciente da seriedade de sua próxima tarefa e
perguntou.
─ Quem é?
─ Você não está fazendo a pergunta certa, disse Takara.
Nathan sabia que Takara quis dizer que não havia sentido e esperar
mais pistas sobre a pessoa. Faria mais sentido perguntar sobre o
nível que ele teria que trabalhar para restaurar o equilíbrio. Dian
viu que Nathan estava em pensamento profundo e ajudou-o.
─ Lembre-se que esta tarefa influencia fortemente seu
envolvimento emocional.
─ Isso significa que eu não sou suficientemente comprometido
com o destino das pessoas?
─ Você está à deriva por causa da sua natureza, independente do
que se encontra em seu caminho, disse Takara.
─ Então para você é importante aprender a manter-se firme com o
que as pessoas sentem.
Nathan entendeu o que Takara disse e perguntou.
─ Como eu aprenderei a ser mais prudente?
─ A compaixão cresce na medida em que você se torna ciente de
sua orientação interior!
354
─ Minha orientação interior?
─ Sua sensibilidade, Nathan.
Os dias seguintes Nathan e Dian passaram a maior parte do tempo
juntos. Os dois sabiam que tinham difíceis tarefas pela frente, mas
sentiam-se encorajados pela ideia de que, juntos com Myate e
Leewana, eles seriam capazes de completar algo único. Tornou-se
muito claro para eles que se unissem forças seriam capazes de
atingir algo de proporções indescritíveis. No dia que Nathan estava
deixando o alojamento, Takara olhou para os dois homens. Ela
pediu a eles que a seguissem e foram para a área cheia de trabalhos
de arte. Ela imediatamente foi à pintura abstrata e olhou para ela
atentamente. Nathan e Dian posicionaram-se perto dela.
─ Vocês dois aprenderam que podemos ver elementos de
diferentes dimensões.
─ Eu me lembro disto muito bem, disse Dian. Na primeira
dimensão vemos o mundo físico, na segunda o mundo dos
pensamentos e na terceira a estrada para nossa consciência.
─ Você chegou a conhecer Melvin, o filósofo brasileiro? perguntou
Nathan.
Não! – Dian respondeu – eu aprendi isso de um psicólogo Búlgaro.
O trabalho que vocês estão vendo aqui engloba toda a segunda
dimensão, Takara interrompeu.
─ Isso significaria que todos os pensamentos estão reunidos nesta
obra de arte? observou Dian.
─ Certo! disse Takara. Em nosso mundo físico um pensamento
toma a forma pela qual é observado.
Nathan e Dian se entreolharam, sem entender. Eles acharam difícil
entender o raciocínio de Takara. Takara foi para a cozinha e
Nathan e Dian a seguiram. Uma vez lá ela pegou uma maçã verde
redonda nas mãos e se dirigindo a Nathan disse.
─ No que você pensa quando você olha para isso?
─ O pensamento é sobre uma maçã!
Takara pôs a maçã sobre o aparador da cozinha, pegou uma faca
afiada, cortou uma fatia fina. Ela pôs a fatia de lado e perguntou a
Dian a mesma coisa. No que você pensa quando olha para isso?
─ Mesmo que a forma esteja um pouquinho diferente, minha
opinião é a mesma que a dele, o pensamento é sobre uma maçã!
Takara pôs a maça sobre o aparador e pegou a fatia fina que havia
acabado de cortar. Ela a segurou e fez a mesma pergunta a Nathan.
─ Acho que a entendi, respondeu Nathan.
─ Sim, está claro para mim agora, disse Dian.
355
─ Certo! disse Takara. Na primeira dimensão só podemos ter
pensamentos limitados, mas não se aplica a segunda dimensão.
Eles deixaram a cozinha e foram para o jardim. Takara se virou e
perguntou a Nathan e Dian:
-Vocês se lembram do que eu estava segurando na cozinha?
─ Uma maçã, é claro! disse Dian.
Com isto, Takara foi capaz de tornar claro que todos os
pensamentos existem por si só, mesmo que eles não possam ser
vistos no mundo físico. Enquanto Dian e Nathan sentavam-se em
um banco no jardim, Takara agarrou um jarro com suco fresco e
encheu três copos grandes.
─ Um pensamento decide por si mesmo quando entrar no mundo
físico? perguntou Nathan.
─ Isso só é possível quando ele sabe quando persuadir a nós para
dar certa forma, respondeu Takara. É por isso que é o desejo de
todo pensamento ser contado.
─ Então pensamentos têm desejos? – Dian perguntou surpreso.
─ Assim como as pessoas, pensamentos têm sua própria natureza.
─ Eles também têm uma única tarefa dentro da ordem universal?
perguntou Nathan.
Takara sorriu e expressou satisfação. Ela havia conseguido guiar
Nathan e Dian para esta importante ideia. Ela reencheu os copos e
continuou.
─ Todos os pensamentos são interconectados e sempre tentam
armar uma conexão entre a primeira dimensão e a terceira. Como
eles não são ligados a tempo e espaço eles podem até mesmo
causar grandes mudanças.
─ De que mudanças você está falando? perguntou Dian.
─ A transferência de pensamentos que nós geralmente não lidamos
da primeira dimensão, Takara disse seriamente.
Nathan e Dian se lembrariam desta conversa por um longo tempo.
Graças a Takara eles agora tinham um melhor entendimento sobre
as energias trabalhando na ordem universal e sua influência.
Ambos sentiram que estas compreensões finais seriam de grande
uso para eles no futuro. Agora Nathan disse adeus para Dian e
Takara. Neste momento o vento ganhou força, como tão
frequentemente acontece em despedidas.
─ Foi bom te conhecer Nathan. Pense sobre isto na próxima tarefa:
A fonte principal é direcionada pelo que acontece dentro de você!
356
─ Obrigado Dian. Foi bom te conhecer também. Eu também tenho
um pensamento para que você seja forte na Bolívia, se o frio não
existisse você não saberia o que era o calor.
Takara sorriu e disse.
Leewana passou bastante tempo aqui. Nós aprendemos bastante
uma com a outra, mas eu tenho que dizer que ela ainda pode me
surpreender.
─ Nathan e Dian estavam surpresos, após isso Dian perguntou:
─ Você quer dizer que estes pensamentos finais vieram dela?
─ Hoje ela mandou mais pensamentos! Takara riu.
Nathan se levantou e abraçou Takara e Dian com carinho. Então
ele pegou sua bagagem e deixou o alojamento. Uma vez do lado de
fora, ele viu o mesmo pastor que havia mostrado a ele o caminho.
Nathan foi até ele e perguntou:
─ Você pode me mostrar o caminho para o porto?
─ Você mudou de ideia? perguntou o pastor.
─ O que você quer dizer?
─ Você queria ir para o “Chuenchai”?
─ Mas é de lá que eu venho!
O pastor estava surpreso pela resposta de Nathan e o encarou
penetrantemente. Ele continuou andando silenciosamente. Nathan
andou próximo a ele e perguntou:
─ Por que você está tão surpreso em me ver?
Mais uma vez o pastor olhou para Nathan e perguntou:
─ Posso te perguntar algo?
Nathan assentiu.
─ Há quanto tempo atrás foi à última vez que você me viu?
─ Umas duas semanas; você não se lembra?
O pastor ficou maravilhado.
─ Você parece surpreso? disse Nathan.
Eu percebi o quanto a sua única tarefa deve ser!
─ O que a sua surpresa tem a ver com minha única tarefa?
─ Como eu disse antes, o tempo no “Chuenchai” vai mais devagar,
apenas o atraso em sua estadia deve ter sido extraordinário.
─ Tem alguma coisa a ver com minha única tarefa?
─ O atraso que ocorre no alojamento depende da magnitude única
do visitante. Quanto mais devagar o tempo vai, maior é a tarefa.
O pastor parou e disse seriamente:
─ Nunca antes eu vi alguém entrar e sair no mesmo dia!
Estas notícias foram a confirmação para Nathan sobre a
importância de sua tarefa. Eles permaneceram em silêncio pelo
357
resto do caminho. Uma vez no porto o pastor disse adeus para
Nathan. Mais uma vez o vento se tornou mais forte.
─ Eu tenho uma mensagem final para você, algo que será útil na
sua próxima tarefa.
Nathan ouviu atentamente.
─ Mostre compaixão por aqueles que cometeram grandes erros,
porque você não sabe pelo que o coração deles tem passado.
O pastor partiu após dizer estas palavras. Nathan o agradeceu e
teve uma palavra de agradecimento por Leewana. Nathan tomou o
primeiro barco que pode para La em Ngop.
Enquanto estava a bordo fez a si mesmo duas questões. Qual seria
exatamente a sua próxima tarefa e quem seria a pessoa perdida?
Com estas perguntas em mente adormeceu.
358
Missão
Quando o barco ancorou em Laem Ngop, Nathan acordou de um
profundo sono. Ele saiu do barco e pegou um ônibus para a cidade
de Trat. Uma vez lá ele procurou por um hotel. Nathan estava
exausto pelos últimos eventos e vagueou pelas ruas de Trat. Ele
acabou andando pela mesma rua três vezes, as duas primeiras a rua
estava vazia, mas na terceira vez ele viu serviços de segurança e
um grupo de pessoas na porta de uma casa. Nathan estava curioso e
foi ver o que estava acontecendo. Uma mulher disse a ele em
inglês que um homem havia sido encontrado e parecia ter cometido
suicídio. Nathan pensou que haver passado três vezes pela mesma
rua havia acontecido por um motivo. Ele perguntou a mulher se ela
iria dentro com ele para pegar mais informações. Ela acompanhou
Nathan até dentro da casa onde encontraram dois oficiais de polícia
analisando os documentos do falecido. Nathan perguntou se
também poderia dar uma olhada. A mulher traduziu suas palavras
para os dois policiais. Eles não tinham nenhuma objeção.
Parecia, pelos documentos, que o falecido viera de Camboja. Ele
vivia em Phnom Penh, mas estava em Trat há vários meses. Havia
também uma carta escrita em Khmer e um envelope endereçado
para o Camboja. Nathan quis saber o que a carta dizia. A mulher
não podia ler Khmer, mas um dos policiais podia. Primeiro ele leu
a carta sozinho e resumiu em tailandês. A mulher traduziu em
inglês para Nathan. Era uma carta de adeus do falecido para seu
filho. Pela primeira carta poderia se entender que o homem se
sentia abandonado pelo filho. De repente uma foto caiu do
envelope. Um dos policiais pegou-a e Nathan pediu para vê-la.
Quando ele segurou a foto seu coração parou por um segundo. Ele
perguntou se eles leriam o nome do envelope em voz alta. Suas
suspeitas se tornaram realidade. O nome e a foto revelaram que o
filho do homem morto não era ninguém mais que... Y Chao, seu
amigo de infância que havia ido à escola com ele em Bruxelas.
Nathan agora sabia que seu destino seria o Camboja. Ele perguntou
aos policiais se podia fazer uma cópia da carta e prometeu entregar
em pessoa. No dia seguinte Nathan partiu para a fronteira do
Camboja de ônibus. De lá ele tomou um mini-ônibus, que o levou
até a capital, Phnom Penh. Uma vez que havia cruzado a fronteira,
359
Nathan imediatamente notou que o Camboja era muito mais pobre
que a Tailândia. As estradas eram sem pavimentação, os veículos
eram mantidos inteiros por fios e as ruas eram ladeadas por muitas
crianças pedintes, uma visão que o entristeceu. Na capital Nathan
tomou um táxi e mostrou ao motorista o envelope com o endereço.
O motorista o levou a um prédio de escritórios no distrito de
negócios da cidade. Nathan estava surpreso. Ele havia esperado
uma habitação familiar normal, mas o motorista confirmou que o
endereço no envelope era de fato o local.
Nathan entrou no prédio e pediu a recepcionista se poderia ver Y
Chao. A recepcionista quis saber se ele tinha um horário marcado.
Nathan respondeu que ele não tinha, mas que tinha uma mensagem
importante do pai de Y Chao. A recepcionista fez algumas ligações
e então contou a Nathan que Y Chao havia partido par sua casa de
férias em Kampot, uma cidade costeira a algumas horas de Phnom
Penh. Quando Nathan perguntou quando Y Chao iria retornar, ela
respondeu que somente Y Chao sabia disso, já que era dono da
companhia. No dia seguinte, Nathan partiu para a cidade de
Kampot, que era no mesmo estado, e chegou ao início da noite.
Depois de fazer algumas perguntas, se tornou claro para ele que Y
Chao havia se tornado uma pessoa de negócios bem sucedida. A
maioria das pessoas sabia onde era sua casa de férias, então Nathan
rapidamente achou o lugar, que era uma imponente casa de campo
construída em estilo colonial. Ele tocou a campainha e a
empregada abriu a porta. Quando Nathan perguntou por Y Chao, a
empregada deu um passo ao lado e deixou que ele entrasse. Ela
perguntou-lhe o nome e o propósito da visita para que pudesse
anunciar sua chegada. Nathan respondeu que era um amigo com
uma mensagem pessoal. A empregada se foi e retornou alguns
momentos depois para buscar Nathan. Ela abriu uma porta e fez
menção para que entrasse. Nathan entrou em um grande escritório
e viu Y Chao que estava vestido em um terno. Y Chao reconheceu
Nathan e imediatamente se levantou de trás de sua mesa.
─ Que surpresa agradável você vir me visitar!
Nathan tinha apenas um pensamento agora. Quando seria o melhor
momento para dizer a Y Chao sobre seu pai morto?
─ Como me encontrou? perguntou Y Chao.
─ Como te achei não é importante, Nathan respondeu. É mais
importante saber que nossos caminhos se cruzaram de novo!
─ Ainda bem profundo, vejo eu.
360
Y Chao sentou-se em um dos grandes sofás, pediu a Nathan que se
sentasse ao seu lado e pediu a empregada para trazer café.
─ Algumas vezes as coisas podem ser um pouquinho estranhas. Há
algumas semanas atrás eu estava em umas férias em um cruzeiro
no Mar Mediterrâneo e você tem alguma ideia de quem encontrei?
Laura! Ela disse que encontrou o amor da sua vida na Grécia...
Aliás, ela também perguntou por você.
─ Estou feliz por ela. Talvez eu a visite. Mas como você está indo?
─ Os negócios vão indo bem, Nathan!
Y Chao apontou para um grande quadro onde um slogan estava
escrito:
─ Se alguém quer viver, não se submeta, mas comprometa-se!
Juntamente com alguns parceiros estrangeiros, eu sou o dono de
vários prédios na capital. Além disso, eu também tenho
participação em alguns grandes projetos imobiliários. Para alguém
que começou do nada, eu posso ficar bastante orgulhoso do que eu
alcancei.
─ Quais são seus objetivos para o futuro?
─ Do jeito que as coisas vão indo, em alguns anos eu poderei me
tornar um dos maiores desenvolvedores imobiliários na cidade.
Nathan continuou olhando silenciosamente para Y Chao.
─ Como está sua vida pessoal Y Chao?
─ Recentemente eu me divorciei... Mas estou melhor agora. Por
que a pergunta?
─ Eu perguntei a mesma coisa a você três vezes!
Nathan se levantou, pegou a carta de seu bolso e pôs na mesa. Y
Chao pegou-a.
─ É do meu pai! ver a carta o deixou animado.
Nathan não disse nada e deu a Y Chao o tempo necessário para lêla. Após haver lido a carta Y Chao permaneceu em profundo
silêncio por vários minutos, com sua cabeça baixa.
─ Eu levei até agora um modo de viver no qual não prestei atenção
a ele ou a minha esposa. Minha única preocupação era ser bem
sucedido financeiramente.
Y Chao tinha lágrimas em seus olhos. Nathan se sentiu comovido e
sentou-se perto dele.
─ Como você pegou esta carta? perguntou Y Chao.
─ Uma pergunta melhor seria: como esta carta veio para mim?
Muitas ocorrências simultâneas aconteceram para esta reunião
acontecer.
361
─ Eu aprendi que tudo tem uma razão com você, qual é a razão
agora?
─ Nós fomos colocados juntos para entender nossos sentimentos
com maior profundidade e experimentar novos sentimentos,
sentimentos que nos fazem mais conscientes de nossa fonte sem
fim.
─ Você se refere a nosso conhecimento interior.
Nathan assentiu e disse:
─ Quanto mais conscientes dessa fonte nos tornamos, mais nossas
visões se tornam claras e nosso propósito de vida se torna mais
claro ainda.
─ Você não foi sempre consciente dessa fonte?
─ Não soaria estranho pra você que alguns sentimentos são
desconhecidos para mim. Graças a você eu posso aprender a
desembaraçá-los e assim continuar crescendo.
Y Chao havia passado tempo suficiente na presença de Nathan
para saber que ele nunca, ou raramente, havia experimentado
sentimentos dolorosos. Agora ele perguntou.
─ O que você quer dizer exatamente com “continuar a crescer”?
─ Você estava apenas falando sobre evolução, mas a única
evolução realmente importante durante nossa existência não tem
nada a ver com graus ou saúde. Tem a ver com a evolução de sua
sensibilidade.
Y Chao levantou seus olhos ouvindo as palavras de Nathan, que
continuou:
─ Nossa sensibilidade contém nossa mais profunda verdade.
Nunca se esque do plano original do universo e sempre tenta
lembrar-nos de nossos desejos originais.
As palavras de Nathan não eram completamente estranhas a Y
Chao. Ele sabia exatamente o que Nathan queria dizer, mas havia
um longo tempo desde que alguém havia lembrado a ele dessas
ideias.
─ Nathan, você sabe o que acontece com nossa sensibilidade após
nossa morte?
Nathan entendeu que Y Chao estava pensando no pai.
─ Após nossa morte, nossa sensibilidade revive o que
experimentou durante nossa vida, mas do ponto de vista das
pessoas que foram influenciadas por ela.
Y Chao pensou sobre seus últimos momentos com o pai e disse.
─ Então eu temo que meu pai sinta grande tristeza quando se
lembrar de mim!
362
─ Não se preocupe, quando a sensibilidade revive experiências,
acontece sem julgamento ou dor.
─ Então o que nossa sensibilidade experimenta?
─ As lições necessárias para continuar nosso desenvolvimento.
─ Acho que compreendo.
─ Não completamente, mas isso virá, Nathan repetiu as palavras
sábias de Takara. Agora você precisa descansar e meditar,
continuou Nathan enquanto se preparava para sair.
─ Onde você está indo?
─ Eu ficarei na cidade.
─ Eu gostaria que ficasse comigo.
Nathan pensou sobre isso por um momento.
─ Eu retornarei à noite.
Nathan abraçou Y Chao e passou o resto do dia na praia. Quando
retornou para a casa de campo àquela noite, Y Chao mostrou a ele
o quarto de hóspedes. Nathan tinha um pedido para ele.
─ Eu gostaria que fizesse uma viagem comigo por uns dois dias.
─ Dois dias? Isso não é possível para mim. Eu tenho muitos
compromissos.
─ Nada precisa de mais atenção do que seu eu interior.
Y Chao pensou a respeito e perguntou:
─ Aonde você quer ir?
─ Para o lugar que mais impressionou você.
Y Chao quis reagir, mas Nathan o interrompeu:
─ Eu vou dormir agora, responda-me amanhã.
No dia seguinte Nathan sentou-se à mesa de café da manhã, onde
Y Chao o recebeu com boas-vindas.
─ Eu pensei a respeito, Nathan. Eu quero mudar as coisas na minha
vida e eu sei que não há pessoa melhor que você para me ajudar.
Nathan sabia que a conversa do dia anterior estava tendo seu
efeito.
─ Bom, então para onde estamos indo? ele perguntou.
─ Após o café da manhã nós partiremos para um templo que há em
Siem reap. Nós viajaremos de carro e estaremos na estrada por uns
dois dias, é a melhor maneira de explorar meu país.
─ Eu tenho lido sobre os templos de Angkor, eles parecem ser
impressionantes.
─ Eu quero levar você para o “Ta Prohm”. Eu me senti comovido
como nunca antes quando eu entrei nas ruínas deste templo e vi o
incrível poder da natureza.
─ Você está me deixando curioso.
363
Após o café da manhã eles seguiram para o norte. Eles pararam
brevemente em Phnom Penh e então continuaram pelo país para
Siem Reap. Nathan viu muita pobreza. Muitas pessoas viviam em
vilas que eram bem distantes umas das outras. Famílias, com
muitas crianças pequenas, frequentemente viviam em casas
pequenas sem nenhuma provisão sanitária. Y Chao contou a
Nathan que essas pessoas haviam sofrido por causa das guerras
duradouras. Mesmo que o país estivesse em paz agora, muitas
pessoas ainda eram feridas ou machucadas pelas minhas terrestres.
Isso explicava o porquê do grande número de pessoas com
membros amputados. E como se não fosse mal o suficiente, este
ano, pelo curso de vários meses, muitas colheitas de arroz haviam
falhado, causando uma escassez que afetou muitas famílias.
Nathan simpatizou-se pelas pessoas e frequentemente pediu a Y
Chao que parasse o carro. O que foi marcante para Nathan foi que,
apesar da miséria, em cada vila, as pessoas eram muito amigáveis e
respeitosas.
─ O que se pode fazer a respeito de tanto sofrimento? Y Chao
disse.
─ Você acaba de fazer uma pergunta que pode ser a causa de
milagres, Y Chao.
Y Chao olhou para Nathan e viu que ele se preparava para ir
dormir. Isso deu a oportunidade para Y Chao meditar nesta
conversa em silêncio. Quando eles chegaram a Siem Reap, Y Chao
foi diretamente para o templo sobre o qual ele havia falado mais
cedo. Nathan previu que algo especial aconteceria. Quando eles
chegaram ao templo “Ta Prohm” já era tarde e o sol estava se
pondo, mudando a cor do céu para um bonito vermelho-alaranjado.
─ É tarde, talvez devêssemos voltar amanhã? disse Y Chao.
Nathan viu que a maioria dos visitantes partindo. Quando ele
estava para aceitar a proposta de Y Chao, sentiu algo lhe pedindo
para entrar mesmo assim.
Ele respondeu dizendo:
─ Nós temos que entrar agora!
Y Chao não entendeu, mas conhecia Nathan o suficiente para saber
que ele sempre seguia seus sentimentos e que não faria sentido
contradizê-lo. Dentro, Nathan viu que o templo tinha uma miríade
de corredores e galerias cobertas por trepadeiras e musgo. Ele
como viu torres e estátuas haviam sido tomadas por cipó e como
velhas árvores com raízes gigantescas estavam enroladas ao redor
do templo.
364
─ Impressionante, não é? Y Chao perguntou.
Nathan não disse nada e continuou a andar. Por causa do por do
sol e porque o sol dificilmente passava pelas folhas espessas, era
escuro lá dentro. Y Chao viu que a maioria dos visitantes havia
partido a esta altura e insistiu que eles deveriam voltar pela manhã.
─ Me dê à lanterna e você pode ir se sentar no carro, disse Nathan.
Mesmo antes que Y Chao tivesse uma resposta, Nathan seguiu pelo
corredor. Y Chao estava acostumado com o comportamento
estranho de Nathan, mas não pode evitar se sentir preocupado com
ele. A caminho do carro esse sentimento começou a se tornar mais
forte. Nathan andou através das ruínas ainda sem saber para onde
estava indo. De repente parou em um corredor com colunas
quadradas e viu como as colunas estavam sendo destruídas pelas
raízes, mas ao mesmo tempo também eram mantidas juntas por
elas. Do momento em que ele pisou dentro do templo Nathan havia
ficado impressionado pelo poder destrutivo da natureza, mas agora
ele via como a floresta mantinha todas as paredes e colunas
direitas. O complexo inteiro havia se tornado um com a terra.
Neste momento ele teve um sentimento muito estranho. Entre as
colunas ele viu a estátua de Myate, Leewana e Dian. Todas as três
estava no chão entre as colunas e estavam olhando para o que a
natureza tinha conseguido. Mesmo que Nathan soubesse que não
estavam ali realmente, pareceu-lhe real. Foi como se todos eles
juntos estivessem recebendo a mesma mensagem. Nathan sentouse no chão entre as duas colunas. Ante si ele viu Dian, a sua
esquerda estava Myate e na sua direita Leewana. Juntos eles
tentaram reconhecer a mensagem deste sinal. De repente tudo se
tornou claro para Nathan e, naquele momento, seus amigos
desapareceram. Nathan se levantou e foi para fora. Ele havia
estado fora por um longo tempo. Y Chao havia até mesmo
considerado chamar a segurança. No entanto ele estava aliviado
quando viu Nathan reaparecer.
─ O que aconteceu lá?
─ Não existem palavras para descrever esta experiência, Y Chao.
─ Você pode me dizer o que aprendeu?
─ Esta experiência me ensinou que o universo não teve um grande
início e também não terá um grande final porque cada final será
seguido de um novo início.
Y Chao olhou para Nathan, mas não entendeu muito bem o que ele
quis dizer.
365
─ faz pouco sentido continuar fazendo perguntas, continuou
Nathan, qualquer outra descrição seria uma traição com a própria
experiência.
Eles fizeram reserva em um hotel no centro da cidade e dirigiram
de volta para Phnom Penh no dia seguinte. Após dirigirem o dia
todo, apenas com uma parada para comer, Y Chao sugeriu que eles
passassem a noite na próxima vila. Suas palavras tinham acabado
de sair de sua boca quando o motor começou a dar-lhes problemas.
Y Chao só foi capaz de colocar o carro no acostamento ao lado da
estrada. Eles saíram para ver se podiam ligar o motor mais vez,
mas sem sucesso. Enquanto isso, a noite havia caído, e não havia
mais luz para ser vista em lugar nenhum ao redor deles. Y Chao
sacou sua lanterna e tentou encontrar o problema sob o capô do
carro. Ele não viu nada de incomum e achou tudo muito estranho,
uma vez que o carro era novo e havia estado em perfeito estado até
o momento. Quando Y Chao quis fazer uma ligação, ele percebeu
que o telefone celular não tinha nenhum sinal. Nathan observou
que uma vez que fazia um bom tempo desde que eles haviam
avistado casas, que eles deveriam estar provavelmente fora da área
de cobertura. Ambos os homens estava cansados e decidiram
passar a noite no carro. A manhã seguinte traria uma solução. Os
primeiros raios de sol os acordaram. Após explorar na luz, eles
viram que era uma área desolada. Nathan sentou-se em uma pedra
e pensou por um momento.
─ Muita coisa ainda tem que acontecer antes que você comece a se
preocupar, declarou Y Chao.
─ Você tem que confiar nas ocorrências inesperadas. Elas sempre
vêm acompanhadas de sabedoria.
Y Chao tentou não demonstrar que estava apreensivo e sentou-se
próximo a Nathan. De repente Y Chao apontou para o céu. Ele viu
uma grande ave de rapina voando em círculos. Quando Nathan
também olhou para cima, eles viram como a ave de rapina
mergulhou em linha reta para o outro lado da colina. Eles olharam
um para o outro... Isso parecia muito com um sinal. Eles decidiram
se arriscar e subiram a colina. Demorou mais que o esperado para
alcançarem o topo.
Eles ficaram bastante surpresos por acharem uma grande
propriedade cercada por uma cerca onde podiam ver uma grande
vila no meio de um jardim magnífico. Eles se dirigiram para a
entrada da propriedade e tocaram a campainha no portão, que
parecia ser equipada com vários sistemas de segurança. Nathan e Y
366
Chao suspeitaram estar em uma tela e sob observação neste
momento. Levou um tempo até que alguém aparecesse. O homem
que abriu o portão para eles era chamado de Hyun-Ki e era
empregado da propriedade. Y Chao explicou para ele que eles
estavam tendo problemas com o motor. Hyun-Ki fez menção para
que o seguissem. Eles andaram através do jardim, que era cheio de
lagoas graciosas e trabalhos de arte. Uma vez que chegaram a casa,
um homem idoso apareceu pela porta da varanda. O homem
apresentou a si mesmo em inglês. Seu nome era Chong e ele era da
Coréia do Sul. Y Chao disse a ele sobre o problema no carro após o
que ordenou que Hyun-Ki pegasse o carro e lavasse para reparar.
Então os convidou para beber chá com ele. Seung parecia estar
bem curioso a respeito de seus convidados.
─ Onde vocês estavam?
─ Nós estávamos em Siem reap, onde visitamos o “Tah Prohm”,
respondeu Y Chao.
Seung , que estava apenas bebendo seu chá, quase entrou em
choque.
─ Que coincidência, na semana passada mesmo eu estava no
mesmo templo.
─ A pessoa que presta atenção na coincidência, achará um guia,
declarou Nathan.
Seung olhou para Nathan por um longo período e se tornou mais
curioso.
─ Com o que você trabalha?
─ Eu tenho uma imobiliária em Phnom Penh, respondeu Y Chao.
─ E você Nathan o que faz?
─ Eu bebo chá e ouço você.
─ você prefere não falar sobre suas atividades? perguntou Seung.
─ Não é isso, eu apenas quis dizer que eu experimento cada
momento como se eu estivesse fazendo uma experiência.
─ Então você não está no ramo dos negócios como seu amigo?
─ Eu aprendi que muitas coisas não são para ser possuídas, mas
para ser usadas.
Y Chao ficou visivelmente desconfortável por esta afirmação.
Nathan pôs sua mão em seu braço. Seung olhou mais uma vez para
Nathan por um longo tempo e então disse.
─ Então posses temporárias, se posso chamá-las assim, não têm
nenhum valor para você?
367
─ Quando alguém eleva tais bens a um patamar mais alto, isto é
perigoso porque esta pessoa se torna subserviente a estes bens e
finalmente sacrifica sua vida por eles.
─ Sacrifícios fazem parte da vida. – declarou Seung.
─ Por fazer uma distinção clara entre o que é certo e o que é
aparentemente certo para nós, apenas queremos o que realmente
precisamos. Coisas que melhoram nossa liberdade, não que a
limitam.
─ A que coisas se refere? disse Seung inquisitivamente.
─ A nossas percepções. Percepções não pedem sacrifícios e
aumentam nossa liberdade. Elas nunca podem ser tomadas de nós,
porque fazem parte de quem realmente somos.
─ Interessante, disse Seung.
Y Chao percebeu que Seung estava ouvindo mais atentamente a
Nathan. O mal-estar que ele havia sentido a princípio agora havia
mudado em um sentimento de orgulho, tanto que ele confirmou as
palavras de Nathan.
─ É verdade que bens parecem apenas melhorar nossa liberdade.
Quanto mais nós possuímos, mais discernentes nos tornamos e
mais difícil se torna experimentar satisfação.
Seung permaneceu em silêncio por um longo tempo. Nathan sentiu
que ele havia obtido sucesso em fazem ambos Seung e Y Chao
pensar. Agora Seung falou.
─ O que eu estou para te contar você provavelmente achará
estranho. Hoje à noite eu sonhei que eu receberia percepções que
radicalmente mudariam a minha vida.
─ Você sentiu que o que estava ouvindo agora era como algo que
poderia mudar sua vida? perguntou Nathan.
─ A questão é se eu iria querer mudar alguma coisa, disse Seung.
─ A verdadeira questão é se você quer permanecer sozinho, disse
Nathan.
─ O que te faz pensar isso? Seung perguntou a Nathan
─ Os dois tem seguido um caminho que resultou em sacrifícios,
um caminho que sempre termina em solidão.
Nathan deixou que o silêncio falasse por um pouco, então Seung
falou novamente.
─ Você mal me conhece e ainda assim você já foi rapidamente
através do luxo.
─ Se Nathan trouxe isso à tona, disse Y Chao, ele teve suas razões
para fazê-lo.
368
─ Isso mesmo, disse Nathan. Assim como a solidão, cada
sentimento aparece por uma razão e é anunciado por um desejo
pelo significado da vida.
─ Um desejo pelo significado da vida? Seung perguntou.
─ Um desejo de seguir seu desejo original, disse Nathan.
─ O que é que eu desejo? Seung quis saber.
─ O desejo de seguir o caminho de seu propósito de vida,
respondeu Nathan.
─ Você quer dizer que a solidão é indicada pelo seu desejo
original? Y Chao repentinamente quis saber.
─ Nossos desejos mais profundos são indicados pela nossa
sensibilidade, explicou Nathan.
─ Por que nossa sensibilidade escolhe nos fazer sentir a dor da
solidão? perguntou Seung.
─ Para todos aqueles que estão em um caminho de sacrifício, disse
Nathan – geralmente é a única forma de torná-los cientes de sua
existência.
Agora havia um profundo silêncio deixado no ar pelas palavras de
Nathan. Então Nathan perguntou se poderia se refrescar. Quando
retornou a conversa entre Y Chao e Seung era sobre a grande
necessidade de dar abrigo ao país. Eles estavam discutindo sobre
como cada um deles sentia o grande desejo de fazer algo. Seung
explicou que ele tinha grandes tratos de terra perto do cruzamento
dos dois rios com terrenos férteis e, no entanto também uma
locação ideal para construir uma grande vila. Agora Nathan falou a
ambos Y Chao e Seung.
─ Mais sinais seriam mortais. O fato de vocês dois se encontrarem
hoje não é coincidência, assim como nada é uma coincidência.
─ Eu estou maravilhado pela maneira que você nos colocou juntos,
disse Y Chao.
─ Você tem que olhar além, disse Nathan, O que os reuniu foi o
sentimento de justiça.
─ Você sabia que iríamos trabalhar juntos? Seung quis saber.
─ Durante nossa conversa se tornou claro que um grande projeto
estava sendo criado. Pelo que vocês puderem alcançar pelo povo
do Camboja, todos os sentimentos de culpa e solidão que vocês
estão sentindo irão definitivamente se tornar algo do passado.
Hyun-ki veio dizer que o carro estava reparado. Nathan e Y Chao
se levantaram e se prepararam para partir. Y Chao e Seung
acertaram uma data para se encontrarem de novo para dar uma
forma mais concreta a seu projeto. Depois, Seung levou os dois
369
jovens à saída. Quando chegaram ao portão Y Chao já estava
andando na frente. Seung ainda tinha algumas perguntas para
Nathan.
─ Como você sabia que Y Chao seria importante para mim?
─ Y Chao é alguém que foi apresentado à camada escondida deste
mundo antes de ir para a Europa. Por causa disso, quando criança,
ele já tinha uma visão muito clara a respeito da vida. Ele será capaz
de colocar em prática agora e você aprenderá bastante de suas
lições.
─ E o que eu significarei para ele?
─ Y Chao sempre teve um inibição natural. Existe um grande
medo de falhar dentro dele. Por causa dessa sensibilidade sempre
tem a urgência de encontrar um aliado que pudesse ajudá-lo a
vencer este medo.
Seung assentiu em entendimento e Nathan agradeceu a ele
abundantemente pela ajuda. Uma vez no carro, Nathan e Y Chao
conversaram sobre sua reunião com Seung. Durante a conversa os
pensamentos de Y Chao eram similares ao de Seung.
─ Como você sabia que Seung seria importante para mim?
─ Aconteceu durante a conversa. Seung segura um grande senso de
autoridade dentro de si desde sua juventude e se tornou rico muito
rápido. Por causa disso ele rapidamente apresentou-se a poderosos
relacionamentos neste mundo. Lidando com ele você aprenderá
muito de suas experiências.
─ O que e serei capaz de ensinar a ele?
─ Seung nunca teve uma visão clara de objetivos mais altos. Isso
também explica muitos desapontamentos. Por causa disso, sua
sensibilidade o tem sempre encorajado a encontrar um aliado para
ajudá-lo a obter clareza.
─ Nathan, eu não sei como eu posso te agradecer por isso.
─ Mantendo-me informado dobre o andamento desse seu projeto.
Com essas palavras Y Chao entendeu que Nathan viu seu
programa de ação como cumprido.
─ O que você aprendeu, Nathan?
─ Eu obtive a confirmação de que todos os nossos sentimentos
estão a serviço de nosso desejo original e no “ Ta Prohm” eu
aprendi algo extremamente importante sobre a natureza.
Y Chao ainda estava curioso sobre o que havia acontecido em
Siem Reap.
─ Mesmo quando há furacões, Nathan continuou, terremotos e
enchentes, após um curto período de tempo os elementos estão
370
exaustos e o silêncio retorna. É neste silêncio que as coisas
realmente começam a existir.
Y Chao não era muito sábio, mas ele sabia que um dia se tornaria
mais claro.
Você sabe onde está indo? ele perguntou a Nathan.
─ Você não disse que Laura queria me ver?
Algumas horas depois Y Chao levou Nathan ao aeroporto e
ajudou-o a reservar um voo para a Grécia.
371
372
- 11 Sabedoria da Compreensão
373
374
Essência
Ao chegar a Atenas naquela manhã, Nathan logo telefonou para
Laura para contar-lhe sobre sua chegada e disse-lhe que ficaria por
alguns dias na capital antes de seguir viagem até onde ela morava.
Reservou acomodação em Plaka, no coração da cidade. Durante
todo o dia, passeou pela parte antiga da cidade apreciando a
excepcional atmosfera histórica. No dia seguinte, ele decidiu subir
até o topo da montanha de Areópagos, viu a impressionante vista
da cidade de Atenas do alto do topo da montanha. Como estava
cansado com o esforço da subida e também com o calor intenso,
ele procurou um lugar à sombra para descansar um pouco. Não
demorou muito até que caiu no sono. Quando acordou, percebeu a
presença de uma jovem sentada ao seu lado. Ela olhou para ele,
amigavelmente sorriu e serenamente continuou apreciando a vista.
Nathan sentou-se ao lado dela e lhe dirigiu a palavra em Inglês.
─ Há quanto tempo você está aí?
Ela jogou o longo cabelo para o outro lado e disse sorrindo:
─ Não muito, mas você já estava manifestando o seu futuro quando
eu cheguei.
A jovem notou que Nathan o olhou surpresa e continuou a falar
mantendo o mesmo sorriso:
─ Isso é o que acontece durante o sono.
Enquanto Nathan esfregava os olhos na tentativa de despertar
totalmente, a jovem apresentou-se.
─ Meu nome é Rajiya.
─ Sou Nathan. De onde você é?
─ De Beirute, capital do Líbano. E você?
─ Me criei na Bélgica, mas tenho viajado por muitos anos.
Rajiya lançou um olhar como se acabasse de entender algo e então
perguntou:
─ Você já sabe onde seu caminho o está levando?
─ Todos os dias eu deixo a minha luz determinar a direção.
Rajiya e Nathan se olharam sorrindo. Os dois sentiram que o
encontro deles não era apenas uma coincidência.
─ Seu caminho é tão claro que sua luz também ilumina outros
caminhos.
─ O que lhe faz dizer isso?
375
─ Isso me foi revelado pelo sentido das suas palavras não
pronunciáveis.
Novamente Nathan a olhou surpreso. Rajiya esclareceu:
─ Estou falando das emoções que trazem vida às suas palavras.
─ Como você as reconhece? Nathan perguntou.
─ Aprendi com meu pai e ele, por sua vez, aprendeu com seu tio.
Depois dessas palavras Rajiya fixou os olhos num ponto distante
por um momento e depois continuou.
─ Estou seguindo um dom que me foi dado.
─ O que você faz exatamente? Nathan queria saber.
─ Escrevo poemas.
─ Do que fala seus poemas?
─ Na maioria das vezes de paz.
Rajiya chegou mais perto de Nathan e continuou.
─ Com minhas palavras eu tento demonstrar que ninguém
consegue ter paz na vida enquanto existir o desejo de possuir algo
pertencente à outra pessoa.
─ Você crê que a verdadeira paz na terra é possível?
─ Um dia será sim, quando as pessoas tiverem a voracidade de se
unir em busca de algo que é maior do que elas mesmas!
O entardecer começou a cair sobre a cidade de Atenas. Nathan e
Rajiya desceram a montanha de Areópagos e combinaram de
jantarem juntos. Eles pegaram um taxi para a Taverna, um pequeno
restaurante à beira rio, que serve comida grega. Enquanto isso o dia
se tornou noite. Eles se sentaram num terraço caprichosamente
iluminado e discutiram as sublimes ideias que ambos tinham em
suas mentes. Nathan contou a Rajiya sobre sua grande admiração
por poetas e músicos:
─ Sempre achei fascinante a maneira como poetas e músicos
lindamente dão forma à essência da vida.
─ Sim, músicos frequentemente também deixam seu coração e seu
intelecto conectarem mutuamente... é estranho você se referir a
músicos.
Ela fez uma pausa.
─ Eu estive recentemente em Istambul. Ouvi falar de um senhor de
idade que possuía poderes milagrosos. Fiquei curiosa e o procurei.
Ele previu que meus poemas seriam transformados em música.
─ Um senhor que tem poderes milagrosos. Fale-me mais sobre
esse homem.
376
─ Ele é muito um homem extraordinário. Chamado Koan. Dizem
que se mudou dos países Bálticos para Istambul há muito tempo
atrás.
─ Em que sentido ele é extraordinário?
─ Ele disse que viveu de acordo com uma sabedoria que não é
possível ser expressa em palavras; e ele se expressava através de
metáforas. Depois que leu um de meus poemas, disse que a vida
tinha mais vida em meus versos que na própria vida por si mesma.
─ Essa foi uma definição muito bonita.
─ Segundo ele, eu tenho um dom muito especial o qual ele chamou
de o dom de Bsharri!
─ O dom de Bsharri?
─ Bsharri é uma pequena cidade no norte do Líbano, também
minha cidade natal; detalhe esse que seria impossível de ele saber.
Nathan sentiu que Rajiya estava muito impressionada pela
conversa que teve com aquele homem. Deixou que prosseguisse.
─ Koan foi capaz de dizer-me que meu dom era originário de
Khalil Gibran
─ O poeta?
─ Ele mesmo. Koan disse-me que ele recentemente o havia
encontrado.
─ Um encontro? Mas Khalil Gibran já esta morto, não?
─ Certamente. Quando eu disse a ele o quão impossível aquele
encontro era, ele me deu uma resposta extraordinária.
Nathan ouvia atentamente.
─ Ele disse que nada era impossível nos sonhos e nas visões!
Nathan permaneceu com o olhar fixo num ponto distante por um
tempo. Inúmeros pensamentos passaram pela sua cabeça. Rajiya
prosseguiu falando:
─ Quando perguntei a ele se havia se encontrado com mais gente
do passado... ele disse... de ambos... do passado e do futuro!
Muito embora as palavras de Rajiya parecessem improváveis,
Nathan não teve duvida de sua sinceridade. Ele sabia que haveria
uma explicação para o que o homem havia revelado a ela e havia
apenas uma maneira de descobri-la.
─ Gostaria de conhecê-lo, onde posso encontrá-lo?
─ Ele mora recluso no morro de Camlica, a leste de Istambul.
─ Você sabe exatamente onde?
─ Da casa dele, ele tem a vista para um riacho que corre a um
continente diferente, e é dessa maneira que eles também me
mostraram o caminho.
377
Nathan decidiu-se rapidamente. Depois de visitar Laura, viajaria à
Istambul e procuraria por Koan. Já era meia noite quando Nathan
acompanhou Rajiya ao hotel. Na despedida deles, Rajiya pediu a
Nathan que aguardasse um pouco. Ela foi ao seu quarto, pegou um
maço de papéis e o entregou a Nathan.
─ São seus poemas?
Rajiya acenou a cabeça.
─ Esses são alguns de meus poemas, os quais foram traduzidos do
Árabe pra o Inglês.
Nathan folheou as páginas e parou para ler um poema. Não
precisou de muito tempo pra notar a beleza das palavras dela.
─ Continue escrevendo Rajiya. Sinto que seus poemas
desempenham uma tarefa essencial.
Rajiya lançou um olhar de expectativa a Nathan.
─ Eles mostram uma breve beleza onipresente!
─ Obrigada Nathan, isso significou muito para mim.
─ Não por isso Rajiya... desenvolva seu talento.
─ Algo me diz que entregando isso a você, estou também
entregando a humanidade!
Nathan deu um beijo em sua testa e ambos disseram adeus.
Uma vez no quarto do hotel, Nathan leu a coleção de poemas sem
parar. Ele continuou a ler a noite toda sentado a beira da janela,
abaixo de um incrível céu estrelado. Estava claro pra ele de que
Rajiya era extremamente talentosa. Na última página ele leu essas
palavras.
─ Com meus agradecimentos a Khalil, minha fonte inesgotável de
inspiração
No dia seguinte, Nathan tomou o trem para Thessaloniki,
localizado no norte do país. Quando saltou do trem, na plataforma,
imediatamente reconheceu Laura. Ela estava ao lado de seu
namorado e acenava para ele. Quando Nathan aproximou-se do
casal, pode ver que Laura estava grávida. Assim, suas primeiras
palavras também foram os bons votos para esse feliz
acontecimento. Depois de se abraçarem, ela o apresentou ao futuro
pai de sua criança. O nome dele era Zaim, e era da cidade de
Teheran no Irã.
Eles entraram no carro e seguiram em direção ao centro da cidade.
Nathan apreciou a aconchegante atmosfera de Thessaloniki com
suas praças encantadoras. Depois de um passeio inicial, seguiram
para casa onde Laura e Zaim viviam. Era um bonito casarão.
Sentaram-se ao jardim sombroso, no fundo do quintal da casa.
378
─ Você visitou Y Chao... Laura disse.
─ Como ele está?
─ Ele estava deprimido devido à morte de seu pai, mas agora já
superou.
─ Quando o encontrei, ele estava passeando com o navio que o
tinha trazido aqui. Foi uma estranha coincidência encontrá-lo aqui
em Thessaloniki.
─ As coincidências devem ser observadas com atenção, nós
devemos tentar ver o significado maior de cada uma delas.
Zaim era da mesma opinião:
─ Aprendo com o grande poeta persa e fonte de inspiração Hafiz,
que as coincidências têm um significado maior e sempre estão
acompanhados de sabedoria.
─ A maneira como conheci Zaim foi uma estanha e pura
coincidência.
─ Você está me deixando curioso. Nathan comentou.
─ Eu estava em Kassandra, Laura disse.
─ Um lugar na costa, não tão longe daqui. Meu avô tem uma casa
de verão lá.
─ Eu estava viajando com amigos na Grécia. Visitamos
Thessaloniki e fomos a Kassandra para curtir a praia e passar a
noite.
─ Eu me encontraria com uma amiga naquela noite, Laura
continuou, Mas ela não pôde ir. Estava uma noite quente então saí
a caminhar sozinha.
─ Sabia que aquela noite era uma noite cheia de energia, Zaim
continuou. Meus amigos preferiram relaxar e decidiram tomar
outro drinque no terraço, enquanto isso, eu saí sozinho para uma
caminhada próximo à praia.
─ De repente, ambos estávamos caminhávamos na mesma direção
na praia, Laura disse. Zaim caminhava com os pés na água e
segurava suas chinelas nas mãos.
─ Estávamos caminhando relativamente no mesmo passo, Zaim
acrescentou.
─ Sabia que era um bonito entardecer, Laura lembrou. A areia, as
árvores, a água estavam cobertos com um brilho rosa azulado. Um
espetáculo fantástico.
─ Notamos um ao outro imediatamente, Zaim disse, pois
estávamos sozinhos na praia. Daí até pareceu de que nossos passos
se tornaram sincronizados.
379
─ Continuamos caminhando por um longo tempo sem dizer nada
um ao outro. Imediatamente sentimos um tipo de conexão.
─ Isso mesmo, disse Zaim, Foi uma boa sensação.
─ Como é que vocês finalmente se juntaram? Nathan perguntou.
─ Esse foi a mais estranha das experiências que tivemos, Laura
respondeu.
Nathan ouvia com atenção. Zaim continuou. Então, estávamos
caminhando por bastante tempo quando de repente um brilho de
luz surgiu do nada. Parecido com um raio, mas não era.
─ O raio era uma luz branca bastante clara, Laura explicou; que
refletiu na água e tudo envolta estava imerso de luz naquele
momento.
─ Ficamos cegos por alguns segundos e imediatamente olhamos
um para o outro para saber se tínhamos visto a mesma coisa... mas
ainda não dissemos nada um ao outro. Era como se soubéssemos
que tínhamos testemunhado algo excepcional. Olhamos nos olhos
um do outro por longo tempo.
─ Quanto mais o tempo passava, mais sentíamos de que tínhamos
presenciado algo único, Zaim disse. Pareceu um momento mágico
intencionado a nós dois.
Zaim veio até mim e perguntou se eu tinha visto aquilo também
Ele respondeu de que havia principalmente sentido.
Houve um momento de silêncio. Daí Laura continuou. Sentamos
na areia e admiramos juntos os últimos raios de sol. Foi assim que
conhecemos um ao outro. Numa noite que ficará guardada, como
uma das mais belas, em nossas memórias para sempre.
Nathan olhou para eles sem palavras. Laura notou isso e
perguntou. Nathan, você tem conhecimento sobre tais eventos. O
que você acha disso tudo?
Nathan permaneceu em pensamento profundo por um bom tempo.
Laura e Zaim ficaram ansiosos, mas esperaram pacientemente pela
resposta. Depois de algum tempo ela respondeu:
─ Vocês já sabem o sexo do bebê?
Laura e Zaim se olharam com um ar de incompreensão. Nenhum
deles entendeu a razão da pergunta.
─ É um menino, respondeu Laura.
Nathan abriu um sorriso como se tivesse recebido uma
confirmação de suas certezas.
─ Vocês vivenciaram uma ocorrência espiritual, ele disse. Essa
experiência os uniu pela vida toda.
380
─ O que você quer dizer com isso exatamente? Zaim curiosamente
perguntou.
─ Vocês estavam destinados a receber essa dádiva.
─ Dádiva? Laura perguntou.
─ De quem? Zaim queria saber.
─ Do Sol, é claro!
─ Como... ? Laura retrucou.
Antes mesmo que ela terminasse de falar, Nathan a interrompeu:
─ Mais perguntas serão supérfluas nesse momento; a vida de seu
filho vai tornar tudo muito mais claro para você.
Zaim pegou na mão de Laura. As palavras de Nathan os deixaram
perplexos. Estava claro de que essa não era a resposta de que eles
esperavam, muito embora Nathan tenha confirmado o que
sentiram. Eles sabiam que algo especial tinha sido dado a ambos,
mas agora sentiam uma nova responsabilidade. Nathan notou isso e
disse:
─ Saibam que o Sol não os escolheu somente. A ambos têm
sempre sido transbordado um amor ilimitado, a força essencial
para deixar essa dádiva florir. Nathan sentiu de que era uma boa
hora para deixá-los a sós. Levantou-se e saiu para caminhar.
Quando retornou, Zaim estava pondo a mesa. O peixe fresco
preparado e assado por Laura estava delicioso. Depois do jantar
Zaim buscou uma garrafa na adega. Ele a desembrulhou de um
tecido do qual estava embrulhada e a colocou na mesa.
Laura serviu os cálices e disse:
─ Essa bebida é chamada de “Mede” e foi preparada pelo avô de
Zaim.
─ É uma bebida centenária, Zaim disse. Também nos cura de
varias indisposições e doenças. Pode até revelar sabedoria dentro
de nós.
Zaim cheirou sua bebida, um cheiro que ele gostava muito.
Laura disse:
─ Zaim tem o habito de cheirar tudo.
─ Aromas funcionam diretamente em nossas emoções, Zaim disse.
─ São capazes de agir diretamente na nossa memória e suscitar
lembranças.
Nathan também cheirou sua bebida e disse:
─ O que vivenciamos emocionalmente está sempre conectado a
nossa memória.
Zaim ergueu seu copo e disse:
381
─ Em nossos países o mais consciente espírito aparentemente é
capaz de ver claramente as energias universais quando tomam essa
bebida.
Não demorou muito até que a garrafa estivesse vazia e Laura abriu
uma segunda. Gradualmente foi escurecendo, a noite adentrou e as
conversas foram até tarde da noite. Zaim inesperadamente olhou
para Laura.
─ Você quer me dizer algo? Laura perguntou.
─ Certamente, Zaim disse. Acabei de pensar em um nome para o
nosso filho. O que você acha do nome Kiran?
─ É um nome muito bonito, Laura comentou.
─ O que Kiran significa? Nathan perguntou.
─ Kiran é persa e significa “Raio de sol”.
Laura sorriu e beijou Zaim. Nathan ergueu sua taça brindando o
ultimo cálice a Kiran.
Nos próximos dias Nathan e seus amigos exploraram a região
montanhosa na selva. Durante os passeios Nathan especialmente
admirou os rios selvagens e as encantadoras cachoeiras.
Na manhã de sua saída de viagem a Turquia, Nathan agradeceu a
Laura e Zaim pela hospitalidade e desejou boa sorte na atual
missão. Logo que tomou o trem para a Turquia, ficou ansioso para
encontrar Koan.
382
Claridade
Já era noite quando Nathan chegou a Istambul. A atmosfera da
cidade impressionou Nathan imediatamente. Outro viajante levouo ate o bairro onde havia acomodação barata no distrito de Gálata.
Na manhã seguinte ele tomou café no terraço do Golden Hoorn.
Ele passearia o dia todo pelas vielas e ruas emaranhadas, estreitas
e cobertas da cidade. Na manhã seguinte Nathan fez um passeio de
barco em Bosporus, o rio que divide a cidade ao meio. O barco
atracou na vila de Cengelkoy. De lá ele tomou um taxi até o pé do
morro Camlica, onde Koan morava. Ele subiu o morro e lá de cima
viu uma casa de chá. Ele seguiu até lá, sentou-se e pediu um chá
para a jovem proprietária. Ainda era bem cedo e havia uma serena
tranquilidade. Uma mulher mais velha entrou e Nathan
cumprimentou-a. Ela sorriu e sentou-se em outra mesa sem fazer
pedido algum. Nathan notou aquilo e chegou até ela. Ele se dirigiu
a ela em inglês e perguntou se ele poderia pedir um chá para ela.
Ela balançou a cabeça. Nathan não teve certeza de que ela o havia
entendido, mas pediu dois chás do mesmo jeito. Depois Nathan
perguntou se ela da região. Para indicar de que ela vinha de outro
lugar, ela balançou a cabeça da esquerda pra direita. Não ainda
completamente convencido de que ela o entendia, Nathan
perguntou de onde ela era. Dessa vez ela se acenou em direção ao
leste. Nathan agora tinha certeza de que ela compreendia suas
perguntas, e que provavelmente não podia falar. Daí Nathan
perguntou se ela conhecia Koan. Ela acenou a cabeça com um
sorriso. Em seguida ele perguntou se ela sabia onde ele morava. A
mulher virou-se e acenou para a direção oeste. Nathan apontou na
mesma direção e perguntou confirmando. A mulher segurou a mão
dele e apontando um pouco mais para a direção norte. Nathan
estava certo de que ela realmente sabia onde era a casa de Koan.
Ele agradeceu e levantou-se para pagar a conta. Como a mulher o
havia impressionado, Nathan perguntou à jovem proprietária da
casa de chá se ela a conhecia. A proprietária o olhou surpreso e
perguntou de quem o ele falava. Nathan virou-se para mostrar a
senhora, mas ela já havia desaparecido. Nathan respondeu que
falava da senhora pra quem ele havia pedido o chá. A proprietária
respondeu que não havia visto nenhuma senhora, mas comentou
383
que havia achado bem estranho que ele tivesse trocado de mesa e
pedido dois chás ao mesmo tempo. Nathan deixou a casa de chá
meio atordoado para seguir a rua indicada pela senhora. De cima
do morro ele tinha uma vista maravilhosa da cidade. O lugar o
lembrou das palavras de Rajiya, “Da casa ele tem a vista da água
que corre a outro continente”. Nathan sentou-se e apreciou a vista.
Deitou-se para descansar da subida e contemplar o céu. Ele fechou
os olhos e cochilou um pouco. De repente acordou com a imagem
de uma casa de madeira. Para ele não havia sombra de duvida de
que aquela era a casa de Koan! Levantou-se, e direcionou-se a
direção nordeste e um pouco mais tarde viu a casa de madeira,
justo onde o morro começava a depressão, exatamente como na
visão dele. Ele subiu até lá e viu um homem trabalhando no jardim.
Ele tinha uma barba grisalha e peito nu. Havia um cavalo branco
parado próximo a ele. Apesar de sua idade o homem parecia
radiante e forte. Nathan suspeitando de que tinha encontrado Koan,
dirigiu-se a ele em francês.
─ É você o homem que dizem ter poderes milagrosos?
O homem parou de trabalhar, olhou para Nathan e enxugou o suor
de sua testa antes de responder:
─ Poderes são somente milagrosos para aqueles que não o
conhecem!
Depois dessas palavras o homem continuou a trabalhar. Na mente
de Nathan ele não tinha duvidas de que ele havia encontrado Koan.
─ Venho até você para um conselho, ele disse ao homem.
Koan olhou de relance para Nathan e continuou trabalhando.
─ Poderias dar-me um conselho sobre qual caminho devo seguir?
Nathan esclareceu sua pergunta.
─ Se você ouvir atentamente poderá escutar o riacho. Koan
respondeu sem parar com o seu trabalho.
Nathan aprumou o ouvido e pode escutar o som da correnteza da
água a distancia. Ele esperou por mais explicações, mas Koan
permaneceu silencioso.
─ O que o meu caminho tem de ver com o riacho? Nathan
perguntou.
─ O riacho é a sua estrada, Koan respondeu, novamente sem parar
o trabalho.
Daí Koan levou seu cavalo para o estábulo um pouco mais abaixo.
Nathan teve a sensação de que Koan não queria perder seu tempo
com ele.
─ Você não quer me ajudar? ele perguntou.
384
Koan parou por um momento e se virou para ele.
─ Eu cumpro todas as tarefas a mim designadas. A pergunta é, se
você tem consciência de como pode ser ajudado a partir de agora!
Depois dessas palavras Koan continuou caminhando em direção ao
estábulo. Nathan notou que o sol estava em seu ponto mais alto e
suspeitou de que o homem tinha seu dia de trabalho terminado.
Agora Koan seguia em direção a sua casa. Nathan o acompanhou.
Uma vez lá dentro ele viu como a casa era mobiliada de modo
simples. Havia apenas uma sala de estar e uma escada que dava
acesso ao sótão. Na sala de estar, a mobília era composta apenas de
uma mesa, duas cadeiras, um sofá e um par de velhas prateleiras.
Koan tinha agora uma toalha nos braços e saia para porta que dava
entrada para o terraço. Nathan ouviu barulho de água caindo e só
então tomou uma cadeira para esperar pacientemente até que Koan
terminasse seu banho. Koan voltou um pouco mais tarde. Foi até a
prateleira e pegou uma massa e alguns vegetais. Daí acendeu um
pequeno forno, colocou duas panquecas e uma forma com vegetais.
Em um momento e outro Koan lembrava Nathan de seu próprio
pai. Koan encheu as panquecas quentes com os vegetais e deu uma
a Nathan logo após enrolá-la. Nathan agradeceu e esperou que
Koan se sentasse à mesa. Koan encheu uma jarra com água e
colocou-a sobre a mesa junto com dois copos. Koan permanecia
em silêncio.
Nathan agradeceu e disse:
─ Está apimentado!
Koan acenou, mas não disse nada. Nathan provou mais uma vez.
─ Foi Rajiya, uma poeta libanesa, quem me falou você.
Koan olhou para fora e balançou a cabeça. Nathan tentou chamar
sua atenção.
─ Do que consiste a sua vida exatamente?
─ Eu observo o mundo e tento não julgá-lo
De repente Nathan entendeu de que Koan somente falava quando
ele formulava uma pergunta.
─ Como você tem sucesso não julgando?
─ Prestando atenção no coração de todas as coisas e não na forma
delas.
Nathan recebeu sua confirmação, ele apenas falava quando lhe era
dirigido uma pergunta.
─ Como é que podemos não prestar atenção à forma? perguntou
Nathan.
─ No mundo físico tudo existe em uma forma especifica?
385
─ Apenas prestando atenção na força do silencio de cada forma.
Essa força ensina mais do que as formas temporárias que, dentro
de cada uma delas, guia a um estado puro.
Nathan sentiu que Koan tinha uma visão profunda e extremamente
clara da realidade, mas era difícil para ele compreender exatamente
qual era a sua percepção da vida.
─ O que lhe chama a atenção quando você encontra pessoas?
Koan fez uma pausa limpando seus lábios e bebericou um pouco
de água. Depois disso lançou um olhar penetrante a Nathan.
─ Eu estou em uma posição da qual observo toda sensibilidade.
─ E como essa observação acontece? Nathan queria saber.
─ Através de uma linguagem superior de ordem universal, a
linguagem das sensações, a língua na qual cada mensagem é
sinalizada de consciência para consciência.
Nathan estava extremamente curioso agora. Koan realmente
possuía uma característica excepcional e Nathan queria saber o
tanto quanto fosse possível sobre isso.
─ Pode descrever-me exatamente o que você vê?
─ Eu reconheço todo desejo tão logo o cérebro de uma pessoa é
formado e assim posso observar o desejo original de cada um de
nós.
Nathan parou para ponderar sobre isso.
─ O que você viu quando Rajiya estava na sua frente?
─ Eu vi uma sensibilidade que tem o potencial de colocar a
humanidade no caminho de uma ordem superior. As palavras dela
dão luz ao amor, as palavras não poderiam estar mais próximas da
ordem superior.
─ São as palavras também simplesmente formas?
─ Palavras se referem a pensamentos; pensamentos referem-se à
ordem superior.
Koan levantou-se e colocou o seu chapéu. Nathan seguiu- o e
juntos desceram o morro.
─ Onde estamos indo? perguntou Nathan.
─ Para onde a estrada nos leva, Koan respondeu.
Com essas palavras, Koan deixou claro que ele somente
responderia perguntas os quais ele acreditava fazer sentido. Quase
todas as pessoas que encontravam Koan pelo caminho o
cumprimentavam. Ele não fazia mais do que acenar a cabeça um
pouquinho. Nathan apreciava estar na presença de Koan e tentava
descobrir como seria o mundo visto através de seus olhos. Uma
pergunta aguçou-se em sua mente.
386
─ Você é capaz de reconhecer a sensibilidade em cada uma das
pessoas, bem como seu desejo inicial. Então porque não as informa
dos verdadeiros fatos do destino de suas vidas?
Koan olhou para Nathan e colocou sua mão sobre seus ombros.
─ Nem todas as pessoas tem a mesma receptividade. Qualquer um
que esteja pronto para receber a luz de seu destino na vida ouve as
minhas mensagens, mas o restante ouve nada exceto o eco de
minhas palavras.
Eles continuaram a caminhar e uma pergunta surgiu em sua mente
novamente.
─ Koan, qual é a minha contribuição ao mundo?
Koan sabia quão importante essa pergunta era para Nathan. A
pergunta que ele fazia a si mesmo desde sua chegada à Terra e cujo
motivo o havia guiado àquela viagem. Sentaram-se em um
barranco.
─ Outros mensageiros e você estão prestes a fazer uma evolução
espiritual jamais vista, e através dela as pessoas não mais verão a si
mesmas como entidades individuais, e sim como parte única da
ordem universal.
Nathan sentiu seu coração palpitar.
─ Durante essa evolução espiritual cada um nós será capaz de ver
seu desejo interior e ele os levará a tomar uma atitude na qual
deixará todos os aspectos de seus comportamentos serem
determinados por esse novo conhecimento.
─ O que posso aprender antes que desta evolução?
Koan fitou o horizonte e depois novamente Nathan antes de
responder.
─ A conexão entre todos os desejos.
Depois dessas palavras Koan se levantou e seguiu caminhando.
Nathan seguiu-o. Não mais palavras foram trocadas até Nathan
notar que tinham chegado de volta ao pé do morro. Assim Koan
aparentemente não tinha outra intenção do que fazer uma
caminhada. Chegando a casa, Koan se deita em sua esteira e
cochila imediatamente. Nathan pegou uma coberta e dormiu no
chão. Na manhã seguinte Nathan foi despertado pelo som de chuva
caindo na beirada da janela. Koan já estava de pé, preparando chá.
Nathan na tentativa de acordar, perguntou:
─ Já é tarde?
─ Quando você é capaz de reconhecer a perfeição da ordem
universal, cada observação de tempo se torna relativa.
387
Essas palavras imediatamente recordaram Nathan da pessoa
excepcional que o hospedara. Koan colocou o bule de chá em uma
pequena mesa e encheu uma pequena xícara. Nathan falou sobre a
sua compreensão do tempo.
─ Na Tailândia, aprendi quão relativo o tempo pode ser. Takara, a
senhora que me hospedou, me disse que no estado puro nenhum
passado ou futuro existia.
Koan tomou um gole de chá e depois esvaziou o restante de volta
no bule. Adicionou açúcar e mexeu antes de encher as duas
xícaras. Em seguida bebeu de sua xícara sem demonstrar reação
alguma ao que Nathan acabara de comentar. Nathan lembrou-se de
que seu anfitrião somente falaria quando lhe era direcionada uma
pergunta.
─ Como é o passado e o futuro experimentado através de um
estado puro? Nathan perguntou.
─ Não muito diferente... mas ambos estão presentes no aqui e no
agora.
─ Pode explicar-me como?
─ Quando somos capazes de conectar o passado a uma visão clara
no futuro, ficamos alerta de que cada momento completamente
observado contém a eternidade.
Não era fácil para Nathan conceber a dimensão de um estado puro.
Ele sabia que teria que experimentá-la por si mesmo para que
pudesse compreendê-la, mas não conseguia parar de perguntar.
─ O tempo aqui é diferente do tempo no estado puro?
─ Nenhum outro tempo, além desse, existe lá.
Para Nathan não estava claro, então tentou simplificar a sua
pergunta.
─ E a respeito desse tempo anterior ao que estamos presentes.
─ E o tempo depois que morremos?
─ Nos não morremos, somente mudamos de forma.
Nathan tinha dificuldade em compreender esse estado e persistia
nas perguntas.
─ Deixe-me colocar dessa maneira. Havia um tempo no qual eu
tinha menos conhecimento que agora. Não seria necessária certa
progressão de tempo para isso?
Koan olhou calmamente para Nathan e saboreou completamente
sua primeira xícara de chá. Nathan conscientizou-se de que não
receberia uma resposta, pois não tinha claramente formulado uma
questão. Assim, tentou uma maneira diferente.
─ Não haveria um tempo no qual eu era mais jovem?
388
─ Você está confundindo a sua idade com o desenvolvimento de
sua consciência. Vou repetir; através do absoluto da ordem
universal, todos os acontecimentos começam agora, ambos,
passados e futuros! Com essas palavras Koan colocou Nathan na
linha de raciocínio em relação ao processo de pensamento. Koan
manteve-se em silêncio e encheu as xícaras novamente. Nathan
continuou pensando e falou muito mais tarde.
─ Não é verdade que a ordem num estado puro é diferente da
ordem no mundo físico?
─ Todo ser conhece uma e a mesma ordem e a experimenta de
acordo com o nível consciente em qual estiver.
Gradualmente a mensagem de Koan foi passada e Nathan se tornou
consciente de que a sabedoria daquele homem tinha-o guiado a
uma fabulosa descoberta. Ele se tornou consciente de que Koan
podia estar em diferentes lugares e em múltiplos lugares
simultaneamente. Agora Nathan compreendia que isso não
somente se aplicava a Koan, mas a todos os sábios na Terra.
Porque estavam em um estado no qual não conheciam tempo nem
espaço, cada um deles era capaz de se mover através de diferentes
dimensões e podiam experimentar o mundo físico, o mundo dos
pensamentos e o mundo puro simultaneamente. Koan olhou para
Nathan e sorriu. O sorriso dele demonstrou que Nathan aprendeu
uma importante lição. Ele se trocou para o trabalho e foi cuidar de
seu cavalo. Nathan ajudá-lo-ia com varias atividades. Durante as
mesmas, não trocariam uma única palavra, assim o resto do dia
progrediria em silêncio. Isso deu a Nathan a oportunidade de
meditar sobre tudo que tinha aprendido com Koan. Durante o
jantar também não trocaram palavra alguma. Nathan se tornou
ainda mais consciente de que quando o silêncio era preenchido
com palavras demais, tornava-se mais difícil desenvolver o
conhecimento puro. Ele entendeu o porquê Koan falava tão pouco
e o porquê, quando falava, as palavras deveriam ser valiosas o
bastante para quebrar aquele silêncio.
Na manhã seguinte o sol brilhou cedo através das grandes vidraças.
Nathan notou que Koan já tinha se levantado e preparado o chá.
Uma vez pronto, trouxe-o até a mesa e sentou-se.
Nathan perguntou:
─ Você faz as mesmas tarefas todos os dias?
Koan encheu as xícaras e respondeu:
─ Você tem conhecimento de um acontecimento antes mesmo de
acontecer?
389
─ Isso não se aplicaria a cada novo acontecimento?
─ O que é novo acontecimento?
Nathan entendeu que Koan o encorajava a pensar em suas próprias
questões.
─ Não é todo acontecimento ocorrendo pela primeira vez um novo
ato?
─ Como pode algo acontecer sem mesmo ter existido antes em um
pensamento?
Através de suas perguntas Koan tinha obtido êxito em fazer Nathan
pensar além do que somente nas formas físicas. Entretanto, ele foi
alertado do fato de que pensamentos não são atados pelo tempo.
Nathan também se lembrou das palavras de Catalina quando ela
falava sobre a memória do mundo, a energia que compassa tudo
que já aconteceu no mundo. Daí lembrou-se das três dimensões
que Melvin tinha comentado. Fortalecido com essa confirmação,
Nathan continuou.
─ Como você consegue pensar através das três dimensões ao
mesmo tempo?
Koan calmamente saboreou seu chá, verificando se estava doce o
suficiente e adicionou mais um pouco de açúcar.
─ O que lhe faz pensar que eu faço isso? ele então adicionou.
Nathan notou que Koan tinha alterado sua abordagem. Agora ele
respondia a cada questão com outra questão que dava à Nathan
mais consciência e também o levava a um novo questionamento.
─ Estão seus pensamentos estão acontecendo em todas as
dimensões ao mesmo tempo?
─ E qual o pensamento que não ocorreria assim?
Esse questionamento fez Nathan ver que mesmo quando o
pensamento é parte da segunda dimensão, ele não atravessa para as
outras dimensões e funcionam como um túnel. Com isso as três
dimensões nunca se separam uma da outra e são compostas como
uma só.
Nathan Continuou pensando.
─ Está claro pra mim como os pensamentos surgem, mas como
pode o estado puro passar para o mundo físico?
─ Você não vê a claridade quando a pureza se encontra no estado
físico?
Nathan questionou-se de qual claridade Koan estaria falando.
Depois de algum momento era da claridade do insight em si
mesma que o presenteou com a resposta. Nathan compreendeu que
todas as vezes que alguém tinha um momento de insight, ele se
390
tornava mais consciente do mundo em que vivemos. Essa era uma
forma de presença do estado puro no mundo físico. Koan se
levantou pra pegar um pão quentinho. Nathan pegou o queijo e o
azeite de oliva. Novamente o café da manhã permaneceu em
silêncio.
391
Mudança
Após o café da manhã, Nathan colheu alguns vegetais. Koan pegou
duas grandes sacolas e as encheu com vegetais frescos que Nathan
havia colhido e os colocou nos cestos sobre o lombo do cavalo.
Nathan pressentiu que não mais retornaria a casa e levou consigo
seus pertences. Eles desceram o morro e ambos caminharam ao
lado do cavalo. Nathan sabia que não faria sentido perguntar aonde
iam. Durante a caminhada Koan era cumprimentado por todos por
quem passavam. Ele retribuía os cumprimentos com aceno de
cabeça, educadamente porem silencioso. Depois de caminharem
por aproximadamente uma hora e meia, chegaram a uma imensa
feira livre. Koan prendeu o cavalo e fez sinal para que Nathan o
aguardasse ali. Ele voltou alguns minutos mais tarde,
acompanhado por um senhor mais velho vestindo uma beca e dois
jovens carregando sacolas com pacotes de alimentos. Os rapazes,
que aparentemente eram gêmeos, retiraram as sacolas do lombo do
cavalo e as colocaram nas sacolas que carregavam. O homem
vestido com a beca preta veio até Nathan e apresentou-se.
─ Olá, meu nome é Hakim. Vim para lhe encontrar.
─ De onde você é?
─ Nasci no Azerbaijão, na cidade de Baku as beiras do Mar
Cáspio.
O homem abraçou Nathan e continuou caminhando calmamente,
acompanhado pelos gêmeos.
─ Muito está sendo falado sobre você, Hakim disse.
Nathan olhou surpreso para Hakim.
─ O que tem sido falado sobre mim?
─ Que você floresceu na pessoa única que poderia ser.
Nathan manteve-se em silêncio e aguardou com curiosidade o que
estava por vir.
─ amanhã, volte aqui ao nascer do Sol. Vamos a um lugar onde
você poderá ver o futuro no mundo físico e a grandiosidade de sua
missão.
Nathan certamente não compreendeu o que Hakim quis dizer, mas
também sabia que seria inútil fazer perguntas. Hakim foi trazido
até ele por Koan, então Nathan poderia confiar nele. Hakim
392
abraçou-o e saiu. Nathan caminhou de volta ao lugar onde Koan o
aguardava. Koan naquele momento falou com ele.
─ Por enquanto nossos caminhos se separaram aqui Nathan. Você
agora esta preparado para experimentar a sensação ilimitada de
reunificação com seu elemento natural e realizar a grande mudança
que quer ver no mundo.
─ Nos veremos novamente uma vez que isso tudo tenha
terminado? Nathan perguntou.
─ Eu ainda estarei aqui quando voltar a viver aqui nesta parte do
mundo!
Depois de dizer essas palavras, Koan deu a Nathan um beijo na
testa e também um abraço bem apertado. Nathan entendeu que
Koan tinha concluído sua tarefa. Nathan deixou a área do mercado
e saiu para passear. Ele havia caminhado por longo tempo quando
notou uma casa de banho publica que despertou a atenção a sua
completamente. Nesse tempo ele foi capaz de reconhecer tais
sinais e entrou a casa de banho. Ele achou que era um lugar ideal
para relaxar, com uma vista que o esperava no dia seguinte. Dentro
da casa de banho ele desfrutou de uma chuveirada quente e depois
seguiu para a sauna, onde havia alguns poucos homens. Nathan
deitou-se numa grande mesa de mármore no meio da sauna.
Fechou seus olhos e pensou sobre as últimas palavras de Hakim,
mas seu pensamento foi interrompido por uma voz que lhe parecia
familiar. Sentou-se rapidamente e viu Moshe, filho de Simon, ali
parado.
─ Oi Moshe, Nathan a ele dirigiu-se. Que coincidência a gente se
encontrar aqui!
Moshe estava realmente surpreso de ver Nathan ali. Do lado dele,
Nathan não tinha que pensar muito pra saber que seu encontro
tinha sido uma razão especial. Ele deu espaço para Moshe e
convidou-o para sentar-se ao seu lado.
─ O que o traz aqui, Moshe?
─ Moro em Haifa, Israel e venho frequentemente a Istambul a
negócios.
─ Como você está?
─ Em altos e baixos, como manda a vida.
─ Voltou a ter contato com seu pai?
─ Não. Não desde aquele dia... você o viu recentemente?
─ Eu o visitei na Florida, mas isso já foi ha algum tempo atrás.
Houve uma pausa.
─ Como ele estava? Moshe queria saber.
393
Nathan pode sentir uma tristeza nele.
─ Ele tenta aproveitar seus anos finais o tanto quanto possível.
Moshe não disse nada, mas Nathan ficou altamente em alerta de
um triste sentimento, provavelmente alimentado pela negligencia.
Nathan sabia que esse sentimento também poderia levar a claros
insights. Nathan procurou por palavras adequadas:
─ Mas ele ainda esta sofrendo... assim como você Moshe!
─ Eu nunca tive a coragem de pedir desculpas a ele... e nem a
você.
O que não significa que isso não possa mudar.
─ Mas não posso trazer o tempo de volta.
─ Assim faria ainda mais sentido encontrar uma maneira para que
possa fazer isso agora.
─ Você acredita que ainda posso acertar as coisas?
─ Primeiro você tem que decidir por você mesmo o que é certo e o
que você quer.
─ De que tipo de desejo você esta falando?
─ Sobre o mais profundo desejo, Moshe. O desejo escondido bem
no fundo da gente, o desejo de amar!
Nathan se levantou e encheu uma jarra com água fria. Despejou a
água no prato quente; deitou-se e fechou os olhos. Moshe teve um
tempo para pensar. As palavras de Nathan o lembraram de uma
conversa especifica que teve com seu pai, no qual Simon falou-lhe
que nosso mais profundo desejo poderia somente ser satisfeito
prestando atenção ao conhecimento superior.
─ Não é sempre fácil seguir o caminho do conhecimento superior,
ele disse a Nathan.
Nathan manteve-se de olhos fechados e respondeu:
─ É quando você se torna consciente de que o que desejas esta
dentro de você mesmo, em uma maneira infinita. Daquele
momento em que você esta desejando dividir com os outros sem se
preocupar com as aparências e sem esperar algo em troca.
─ Meu pai frequentemente dizia que podemos calcular tudo, exceto
o diz respeito ao amor.
─ Seu pai é um homem muito sábio, Moshe.
Moseh ficou emocionado. Nathan o consolou.
─ Sabe Moshe, você pode dar ao seu pai uma grande lição de vida!
─ O que eu poderia ensinar?
─ Mostrando remorso, você pode imediatamente tirar a tristeza
dele. Durante aquele momento de claridade ele vai ver que
394
somente as emoções do momento é que contam, seja o que for que
aconteceu no passado, permanece no passado.
Moshe pensou sobre o que Nathan disse e falou:
─ Tenho receio de machucá-lo profundamente.
─ não subestime a força da sinceridade. Essa força é inspirada pelo
conhecimento superior e pode curar tudo.
Nathan viu Moshe na duvida de que se seria capaz de assim fazer
ou não.
─ Talvez seja difícil pra você acreditar, mas na verdade você não é
diretamente responsável pela tristeza dele, ela era inevitável.
─ O que você quer dizer com isso? Moshe perguntou.
─ Seu pai teria passado por uma experiência similar independente
de você, para poder ter consciência do milagre do remorso. Se não
fosse através de você, seria através de qualquer outra pessoa.
─ Você quer dizer que isso era parte de um plano superior?
─ Tudo que acontece é parte de um plano superior Moshe. Isso é
inerente à ordem universal. Ou você pensava que nosso encontro
aqui é mera coincidência?
Ambos os rapazes se levantaram e foram ao chuveiro. Moshe
sentiu-se livre para agradecer pela conversa. Eles deixaram a sauna
e sentaram-se a uma mesinha, onde pediram suco fresco. Nathan
viu que Moshe estava parado, pensando sobre o final da conversa.
─ Aprendi duas importantes certezas. A primeira é que podemos
fazer um esforço de alcançar o que desejamos, mas se não estiver
de acordo com o plano superior, não acontecerá!
─ E a segunda?
─ Que podemos fazer o esforço necessário para evitar algo, mas se
estiver no plano superior, vai acontecer!
Moshe ficou em silêncio por um momento e depois disse:
─ Darei prioridade nisso. Comprarei uma passagem área para
Miami.
─ Você será capaz de dar a seu pai um presente maravilhoso.
─ O que seria?
─ O presente de ser capaz de perdoar!
Moshe sentiu um entusiasmo crescendo dentro dele.
─ Como posso um dia agradecer-lhe por isso Nathan?
─ Encorajando aos que estão a sua volta a acompanhá-lo pelo
caminho que você segue a partir de agora.
Nathan e Moshe levantaram-se e se abraçaram.
─ Aonde você vai? Moshe perguntou.
395
─ A única coisa que posso dizer é que eventos importantes estão
me aguardando a partir de amanhã.
─ Até onde sei, você veio a terra somente para eventos
importantes.
─ Se cuide Moshe; e dê minhas lembranças na Florida.
Nathan e Moshe disseram adeus com uma sensação de realização.
Nathan passou o resto do dia às margens de Bosporus.
396
Conectividade
Nathan retornou a praça ao entardecer e reservou um quarto em um
albergue, na manhã seguinte ele foi até a praça no horário
combinado. Os gêmeos, que acompanhavam Hakim no dia
anterior, o aguardavam. Os nomes deles eram Oktay e Olcay e fez
menção a Nathan para segui-los até o carro. Olcay abriu a porta de
traz para Nathan e se sentou na frente. Oktay sentou-se à direção.
Pareceu ser uma longa viagem na direção sudeste na qual muito
pouco foi dito. Nathan aproveitou o silêncio para apreciar a
paisagem pela janela. À noite eles chegaram a uma região de vales
e platôs coloridos. O por do sol coloriu toda a área com de tom
ocre. Logo, Goreme, Olcay fez sinal de que haviam chegado. Um
pouco mais adiante, Hakim os aguardava e deu as boas vindas a
Nathan.
─ Bem vindo a Cappadocia.
─ Essa região não pode ser comparada com nenhuma outra que
jamais visitei. Tem mágica ali.
─ Você ainda tem que descobrir a magia dessa região, Nathan.
─ O silêncio da viagem me ajudou a apreciar a paisagem
maravilhosa.
─ Os dois irmãos Curdos não eram de muita conversa, mas eram
excelentes guias.
Hakim caminhou pela caverna que dava para um espaço que servia
como uma moradia. Nathan o seguiu. Hakim abriu uma porta. O
cheiro delicioso de jantar despertou nossos sentidos. Hakim e
Nathan foram para uma sala pequena e se sentaram em um sofá
bem baixo. Irina, a mulher muito amigável de Hakim que era muito
mais jovem que ele veio e cumprimentou Nathan. Em seguida
trouxe uma jarra de água morna para que lavassem suas mãos antes
do jantar.
─ Vamos dizer-lhe o que vai acontecer amanhã, Hakim disse.
─ Mas sabemos que depois do ritual, muitos questionamentos
surgirão em você.
─ Alguém será capaz de responder minhas perguntas?
Hakim olhou para sua esposa. Irina respondeu:
─ Daquele momento em diante, Sybil será capaz de ajudar você.
─ Quem é Sybil?
397
─ Sybil é a jovem que você ira encontrar no ritual.
Nathan olhou-o surpreso e perguntou:
─ Quem realizará o ritual?
─ Será realizado por monges da cidade de Konya, disse Hakim.
─ Pode dizer-me mais a respeito desse ritual?
─ Durante o ritual o mundo das formas parecerá muito diferente.
Os monges unificarão sua sensibilidade com a ordem superior.
Irina continuou:
─ Uma vez seus limites de pensamentos desapareçam, você será
capaz de sintonizar-se diretamente com o estado puro.
─ E o que exatamente irei experimentar, então? Nathan queria
saber.
─ Quando você se conecta com a mais alta ordem, Hakim
continuou, você irá experimentar uma visão na qual você se torna
mais consciente de seu verdadeiro potencial.
Nathan aguardou por mais informação, mas nem Hakim ou Irina
continuou a falar. Nathan percebeu que não receberia mais
informação alguma e saboreou uns apimentados churrasquinhos no
espeto. No dia seguinte o cantar do galo despertou Nathan. Hakim
tinha saído e Irina trouxe a Nathan seu café da manhã.
─ Você dormiu bem? perguntou ela.
─ Muito bem, obrigado.
Irina olhou para Nathan como se não ousasse perguntar algo.
─ O que você gostaria de saber Irina?
─ Não se preocupe, o deixarei com seu café da manhã.
Irina saiu do quarto com essas palavras. Um pouco mais tarde
Nathan saiu de dentro da casa. A paisagem parecia algo diferente
naquela manhã que na noite anterior. Nathan subiu um morro e
tirou um tempo para refletir sobre o ritual que estava por vir. Ele
havia pensado nessa experiência no Saara. Irina também foi lá fora
e se sentou perto dele.
─ Me pergunte o que você queria saber Irina, Nathan disse.
─ É verdade o que estão dizendo sobre você?
─ O que ouviu sobre mim?
─ Muitos veem você como o salvador.
─ Do que eu os salvaria?
─ Desse mundo!
─ Pra que mundo eles iriam?
Nathan olhou bem nos olhos de Irina e disse:
─ Tudo aqui é parte de um único e mesmo mundo!
─ Muitos querem ser libertados dos medos e dores desse mundo.
398
─ O que você esta mencionando são coisas de que somente nós
podemos nos libertar.
Irina pegou na mão de Nathan. Nathan sentiu algo estranho
acontecendo naquele momento. Irina não fez mais pergunta
alguma, como se as palavras não fossem mais necessárias. Depois
de segurar a mão dele por um momento, ela comprimiu seus lábios
e balançou a cabeça, com isso deixou claro de que para ela Nathan
era um salvador, mesmo que ele não admitisse. Ela soltou-lhe a
mão, levantou-se e disse:
─ Tenho que voltar pra dentro, Nathan.
Nathan notou a estranha reação de Irina quando tinha tocado sua
mão e queria saber mais.
─ Irina, diga-me o que você sentiu quando segurou minha mão?
─ Confirmei o que pensava.
─ O que foi confirmado?
─ Que em tempos de imensa escuridão, Excepcionais são enviados
a nós como luzes de esperança, de iluminação para que nunca
fiquemos totalmente na escuridão!
Irina retirou-se após essas palavras. Nathan notou como Irina
parecia ter sido tomada pela sensação de completa certeza. Dois
carros aproximaram-se enquanto ele estava ainda imerso em seus
pensamentos. Nathan reconheceu Hakim que desceu do carro
acompanhado de dois homens vestidos em longas túnicas. Hakim
os apresentou para Nathan. Nathan não podia compreender suas
palavras, mas viu que eles estavam impressionados pelo que
ouviam. Depois das apresentações, os homens das longas túnicas
entravam no carro e saíam. Hakim falou com Nathan.
─ Você está pronto para a noite de hoje?
─ Estive pronto minha vida toda para o que está por vir.
─ Muito bem, sairemos no final da tarde.
─ Há algo sobre Irina de que eu gostaria de saber.
─ Você provavelmente notou algo de especial nela.
Nathan balançou a cabeça. Hakim sentou-se e o convidou a fazer o
mesmo próximo a ele.
─ Eu conheci Irina ainda mocinha quando eu viajava pela
Armênia. Ela estava vagando sozinha sem direção pelas ruas de
Erevan. Quando me dirigi a ela, ela me contou que todos os
membros de sua família haviam sido assassinados.
─ Porque assassinaram a família dela?
─ Eu também quis saber, e quando descobri, não pude fazer mais
nada alem de trazê-la comigo e deixar o país.
399
Nathan ficou muito curioso. Hakim continuou:
─ O povo dizia que ela era amaldiçoada... eles não viam que ela
possuía um dom.
─ Que dom ela possui?
Hakim olhou ao longe antes de falar, Irina pode sentir relances da
sabedoria universal com suas mãos!
As palavras de Hakim confirmaram o que Nathan tinha suspeitado.
Hakim levantou-se e colocou sua mão nos ombros de Nathan.
─ Ela te tocou, não tocou?
Nathan confirmou com a cabeça.
─ O que seja que ela queria saber, saiba você que agora era sabe a
verdade.
Hakim disse a Nathan que eles tinham que se preparar. Quando
eles estavam prontos para partir, Irina veio desejar a Nathan força
em sua jornada. Estranhamente ela não disse uma palavra, mas
somente colocou a mão em seu coração. Palavra alguma poderia
ter sido dita tão mais claramente. Nathan e Hakim seguiram para o
lugar chamado Urgup. Lá estavam Oktay e Olcay esperando por
eles numa carruagem. Os irmãos o cumprimentaram e ajudaram o
velho Hakim a se acomodar na carruagem. Assim que Nathan
ocupou o seu lugar ao lado de Hakim, Olcay deu o comando aos
cavalos para seguir. Num ponto na estrada de Avanos, os irmãos
deixaram Hakim e Nathan sair da carruagem por uma rocha alta e
saíram. Não havia residência alguma ou em qualquer lugar
visivelmente próximo. Hakim pediu que Nathan o acompanhasse e
seguiu por uma entrada escondida. Um pouco mais a frente eles
estavam em frente a um portão. Hakim abriu-o através de uma
fenda e entrou. O que Nathan viu estava alem de sua imaginação.
O portão era uma passagem secreta que dava para um lugar
subterrâneo todo gramado com dúzias de passagens e salas. Hakim
disse a Nathan que agora os monges estavam usando aquele lugar
para seus rituais. Na praça central, onde músicos ensaiavam, um
palco tinha sido montado. Hakim levou Nathan até o meio do palco
e disse adeus a ele.
─ Em um curto período de tempo você se verá como nunca se viu
antes.
Monges vestidos em largas túnicas brancas e chapéus armados
vieram até o palco. Sentaram-se em exatamente a mesma distancia
um dos outros e fecharam os olhos em concentração. Com as
primeiras notas musicais eles começaram a girar em seus próprios
eixos. Conforme a musica era acelerada, o giro também era
400
acelerado até que eles entraram numa espécie de transe. Nathan
manteve-se sentado no mesmo lugar e viu tudo ficar obscuro. Ele
olhou para as imensas e rodadas túnicas brancas dos monges que
batiam como as asas de um pássaro. Depois de um tempo as
túnicas aparentemente emergiam-se até se tornarem um pássaro
gigante. Nathan se viu no dorso desse pássaro. A única ligação que
ele tinha com o mundo físico era o som da musica que tocavam.
Um pouco mais tarde pareceu que esse pássaro subiu aos céus e
voava através das nuvens. Um tempo depois Nathan viu um ser
aproximando-se dele, trazido pelo vento, e com ele falou.
─ Eu sou o guardião do Ar. No mundo das formas você me
conhece como Vento. Você tem a força e o poder da receptividade.
Darei a ti minha habilidade; assim você também terá o poder da
conectividade.
Nathan agradeceu o ser, experimentou a metamorfose e caiu como
uma gota de chuva. Uma vez no chão, viu-se como um rio
correndo através de um leito fundo debaixo da Terra. Lá havia um
segundo ser que chegou até ele. Esse ser também a ele se dirigiu.
─ Eu sou o guardião da Terra, No mundo das formas você me
conhece como solo. Você tem a força da receptividade e agora
também o poder da conectividade. Dar-lhe-ei minha habilidade,
assim também você terá força física.
Nathan agradeceu o segundo ser e foi submetido à segunda
metamorfose. Agora ele flutuava em alta velocidade e saiu do solo
no meio de uma fonte gigante de chamas vermelhas. De lá um
terceiro ser apareceu e disse:
─ Eu sou o guardião do fogo. No mundo das formas sou conhecida
como chama. Você tem a força da receptividade, conectividade e
agora também força física. Darei a ti minha habilidade, assim você
terá também o poder da transformação.
Novamente Nathan recebeu a metamorfose. Ele estava sentado
numa fila com outros três seres. Todos os quatro estavam olhando
para uma límpida luz branca na frente deles. De repente imagens
muito impressionantes apareceram de uma força natural nunca
antes vista. Sobre a Terra os mares transbordaram. As florestas
estavam incendiadas e furacões destruíam tudo a sua volta. O que
estava acontecendo não parecia real e ia alem de qualquer sonho.
Parecia que o mundo estava na vertente de cruzamento de uma
fronteira diferente. De repente Nathan abriu os olhos e retornou a
realidade de seus pensamentos. As imagens tinham sido tão
impressionantes que elas ficariam com ele para sempre. Seu
401
coração ainda palpitava com o que acabara de ver. Nathan olhou a
sua volta e notou que estava em uma montanha debaixo de um céu
estrelado. Estava deitado em mantos com esculturas gigantes a sua
volta. Eram gigantescas esculturas de cabeças. Nathan não se
lembrava de que maneira havia chegado lá e até mesmo duvidava
de que o que via era fruto de sua imaginação. Ele sentou-se e viu
uma vasta área na frente dele. Pouco a pouco ele se tornou
consciente de que estava acordado e que aquela experiência estava
realmente acontecendo. Ele sabia que haveria uma razão para o
fato de que estava numa montanha. Naquele momento uma jovem
loura saiu de trás de uma escultura. Em uma mão ela segurava uma
lamparina e na outra uma jarra com água. A jovem sorriu e
caminhou em direção a um Nathan surpreso. Ele a questionou:
─ Quem é você e onde nos estamos?
A jovem o deixou beber e falou num tom suave.
─ Meu nome é Sybil e estamos na montanha Nemrud.
Nathan recordou-se de que Hakim e Irina haviam falado sobre
Sybil, a jovem que responderia suas perguntas.
─ Eu presenciei um acontecimento impressionante, Nathan disse,...
eu vi o que a natureza é capaz de fazer.
─ Você viu o que o mundo precisa, Sybil disse.
─ Me pareceu como se o mundo estivesse à beira do...
Sybil levantou-se, pegou seu óleo e disse:
─ Venha, quero mostrar-lhe algo.
Nathan a seguiu por uma espécie de entrada secreta. Essa entrada
era muito mais longa do que a anterior que ele havia atravessado
com Hakim. E finalmente chegaram a uma área maravilhosamente
iluminada por lamparinas e coberta de inúmeros livros antigos e
escrituras.
─ Nessa área, Sybil disse. Eles são os mais bem guardados
segredos da humanidade.
─ O que você vê aqui são todos os livros que foram uma vez
destruídos. Minha tarefa é monitorar todos os pensamentos que
uma vez foram escritos.
─ Como você consegue fazer isso?
─ Possuo o dom de experimentar todos os pensamentos que vem a
essa dimensão.
─ Pode também explicar visões como um resultado dele?
Sybil balançou a cabeça.
─ Pode explicar o que vi durante o ritual?
─ Foi por essa razão que eu esperei dois dias ao seu lado!
402
─ Como assim, dois dias?
─ Desde que os gêmeos o trouxe aqui.
─ Eu dormi todo esse tempo?
─ O ritual o deixou exausto.
Sybil sentou-se no chão ao lado de Nathan e disse.
─ Conte-me o que viu e não esqueça detalhe algum.
Nathan explicou a Sybil que ele acreditava que tinha acontecido
durante o ritual tão detalhadamente como pode. Sybil escutou
muito atentamente e depois permaneceu em silêncio por um longo
tempo. Nathan estava muito curioso em saber a explicação que
Sybil daria sobre sua missão superior e calmamente deixou que ela
meditasse sobre suas palavras. Quando ele sentou-se próximo a ela
novamente, pareceu-lhe ter desvendado a visão dele.
─ Foi a mesma visão que tiveram. Você e os três mensageiros que
mencionou. Vocês foram enviados como mensageiros pelas forças
naturais que nos conecta mais uma vez com o poder maravilhoso
dentro de cada coisa.
─ Eles também veem a maneira na qual devemos criar essa
conectividade?
─ Certamente. A humanidade se separou tanto da natureza que
esse é o único caminho eficaz para nos ensinar como mostrar
respeito para com o milagre da vida.
Nathan deitou sua cabeça sobre a palma de suas mãos. Agora ele
entendeu a magnitude da tarefa de Myate (Terra), Leewana
(Vento), Dian (Chama) e dele mesmo.
─ Para que aconteça tal grande mudança, Sybil continuou,
primeiro há de ser em um lugar de grande instabilidade.
Nathan ergueu sua cabeça novamente e disse:
─ Mas isso não pode desencadear sérias consequências?
─ Você e os outros mensageiros devem confiar nas forças naturais.
Elas estão diretamente ligadas à sabedoria universal.
Nathan notou a credibilidade de Sybil e perguntou:
─ Pode-me dizer como o mundo será depois disso?
─ Isso vai assegurar uma consciência coletiva jamais vista. Em
todos os lugares, mestres irão se erguer com quem será tomado por
uma energia superior.
As palavras de Sybil asseguraram Nathan.
─ Pode-me explicar mais sobre essa energia superior, perguntou.
─ Essa é a energia que conecta tudo, a energia do elemento
interior!
403
Nathan lembrou-se de que Linh tinha usado o mesmo nome
quando ele a visitou no Vietnam. Também havia aprendido que
essa energia não somente se conectava com os elementos físicos,
mas também a todos os pensamentos.
Sybil continuou:
─ Estudantes irão se levantar e converter as mensagens em ações.
Graças a essa energia superior, as primeiras comunidades crescerão
voltadas umas para as outras e finalmente todas as comunidades
pelo resto do mundo também.
Sybil notou que todas as dúvidas de Nathan estavam
desaparecendo.
─ Agora é hora de você por em prática a sua sabedoria, Nathan. A
fé que tens na ordem universal!
Nathan a beijou na testa e disse que a ultima mensagem era a mãe
de todas as mensagens. Sybil viu que ela havia tido êxito na sua
missão e sorriu contente.
─ Vamos lá fora agora; os gêmeos não tardarão.
Sybil deu a Nathan uma lamparina e saiu primeiro. Eles seguiram
por uma particularmente longa e intrigante passagem e finalmente
saíram pelo pé da montanha. Uma vez a céu aberto, o sol já estava
brilhando totalmente na vasta área. Nathan e Sybil deixaram-se
curtir o calor da atmosfera.
─ Obrigado por tudo que você fez por mim Sybil!
─ Obrigada você por tudo que você fará por nós, Nathan!
Ambos caíram no sono. Mais tarde Nathan foi despertado por
Olcay, enquanto Oktay esperava-os sentado no carro. Levantou-se
e se deu conta de que Sybil não mais estava lá. Entrou no carro e
sentou-se no banco traseiro e perguntou aos irmãos onde tinha ido
a jovem. Oktay e Olcay olharam pra ele estranhamente. Estava
claro que eles não tinham ideia de que jovem Nathan estava
falando. Olcay viu que Nathan tinha dificuldade de entender a
situação. Ele virou-se e disse que Hakim tinha pedido pra eles o
trazerem ali depois do ritual e buscá-lo depois do nascer do sol.
Havia uma jovem. Quando Nathan perguntou Olcay onde ele o
levaria naquele momento, Olcay pegou um mapa e apontou para
um lugar que tinha sido circulado por alguém. O lugar era
chamado Samandag, uma cidade na costa perto da fronteira com a
Síria. Depois de uma longa e bonita viagem através dos muitos
campos de frutas, eles chegaram à cidade de Iskenderun. Lá Olcay
sugeriu que fossem a um restaurante, o qual era famoso por seus
deliciosos pratos. À mesa ficou claro para Nathan o porquê de os
404
irmãos falarem tão pouco. Oktay teve problema com a fala e a
maneira que encontraram de confrontá-lo o mínimo possível com
isso foi de o irmão aprender a falar somente quando necessário.
No caminho de volta, Olcay contou a Nathan que ele e seu irmão
não ficariam in Samandag. Eles tinham que retornar e desejaram a
ele alegria e força pra o que se seguiria. Nathan não perguntou
mais nada e agradeceu muito a Olcay e Oktay. Em Samandag os
irmãos indicarem um pequeno hotel nos morros não muito longe
da água. Nathan seguiu os conselhos deles e reservou um quarto
com vista pro mar. Já no quarto, deitado em sua cama, admirou o
maravilhoso mar azul, mas caiu no sono quase que imediatamente
devido à exaustão da longa viagem.
405
406
- 12 Redenção Final
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408
Na manhã seguinte Nathan sentiu-se descansado. Ele tomou seu
café da manhã no terraço. Estava convencido de que estava no
lugar certo e na hora certa. Seus pensamentos eram claros e ele
pôde concentrar-se nas importantes escolhas a seguir. Decidiu
passar o dia na água, sabendo que era o melhor lugar para inspirálo. Do hotel, Nathan desceu a colina para a água e descobriu uma
pequena praia desolada. Lá ele passou horas, mergulhando
repetitivamente, buscando por mensagens do seu elemento natural.
Reconheceu as faces e vozes de praticamente todas as pessoas que
o influenciaram. De cada uma ele recebeu uma mensagem que
sabia ser designada ao propósito maior de sua vida e, portanto teve
a força e sabedoria de se tornar unificado com seu destino. No fim
da tarde, Nathan caminhou calmamente para fora da água e deitouse na areia, satisfeito. Encarou o céu por um longo tempo antes de
retornar ao hotel. Ao chegar lá, o proprietário apressou-se em
avisá-lo que havia alguém esperando por ele na sala de estar.
Curiosamente, Nathan foi até lá e parou com espanto. Parada em
frente a ele estava a mais doce e bela jovem mulher que ele já
conhecera. Eles olharam um para o outro e se abraçaram
intimamente. Nathan estava completamente emocional e não
conseguia proferir uma palavra. A aparência de Sophie tinha um
efeito mágico sobre ele. Seus olhos e seu sorriso tornavam-no mais
consciente do quanto ele estava atado a ela:
─ Como você sabia que eu estava...?
Sophie pôs seus dedos nos lábios dele e disse:
─ Isso não é importante... não foi você quem me ensinou que os
sentimentos do coração são mais importantes que os pensamentos
do intelecto?
Com estas palavras Sophie deixou claro que entender como ela
estava ali não era mais importante do que aproveitar o tempo deles
juntos. Nathan somente pôde assentir e agradeceu por este presente
maravilhoso. Foram para um local mais arejado e então perguntou
ao proprietário onde poderiam encontrar um lugar para comer. O
proprietário recomendou um pequeno restaurante perto da água
que era dirigido por um amigo próximo dele. Seguindo seu
conselho, foram bem recebidos por toda a família. Foi-lhes dada
uma mesa com uma atraente vista para o mar e para as montanhas
409
sírias. Então Nathan e Sophie tiveram uma conversa em que tudo
se tornou muito claro.
─ Quando você decidiu procurar por mim, Sophie?
─ No dia em que eu ouvi que o momento da sua missão suprema
estava se aproximando.
─ O que você sabe sobre esta missão?
─ Eu sei que algo maior que todos nós está para acontecer.
Sophie tomou suas mãos.
─ Eu sei que você fará possível que todos os seres da terra se
reúnam.
Nathan já estava confuso sobre como Sophie descobrira onde ele
estava neste dia em particular, mas suas últimas palavras
trouxeram a tona ainda mais questões.
─ Como você ouviu?
─ Em um sonho... Que foi mais real do que qualquer coisa que já
experimentei.
Sophie sorveu seu vinho e olhou distante para o horizonte. Um
pouco depois ela continuou:
─ Neste sonho eu recebi mensagens e então eu as segui.
Sophie pousou o seu copo e olhou seriamente para Nathan.
─ Eu estou aqui para dizer adeus.
Nathan segurou suas mãos e perguntou:
─ O que exatamente você viu no seu sonho?
─ Eu vi pessoas de várias cores e culturas vivendo juntas em
diferentes lugares da terra. Eles trabalhavam e riam juntos e eram
todos muito felizes. A vida parecia ser diferente da vida que
conhecemos agora, alguma coisa havia mudado.
Nathan estava em silêncio, profundo em pensamentos, então seu
rosto abrilhantou-se:
─ Agora eu estou começando a ter um entendimento mais claro.
─ Me diga Nathan.
─ Só existe um poder capaz de criar esta reunificação. É por isso
que fomos colocados juntos novamente. Você veio em minha vida
para me tornar completamente consciente deste poder.
Inicialmente, o rosto de Sophie mostrou curiosidade, até que sua
face também se abrilhantou. Ela entendeu sobre o que Nathan
estava falando. A única coisa a que ele podia estar se referindo era
ao poder do amor. Eles seguraram as mãos um do outro fortemente
e olharam profundamente nos olhos por um longo tempo. De
repente Nathan sentiu as mãos de Sophie se contraírem
ligeiramente.
410
─ O que é? – ele perguntou.
─ Nada, não é importante.
Nathan pôde sentir que Sophie estava tomada pelo medo.
─ É sim – ele disse – Eu sinto que é importante para você.
─ Eu estava apenas imaginando... o que vai acontecer conosco
depois disso tudo?
Nathan olhou profundamente em seus olhos, então acariciou seu
rosto e a libertou para sempre do seu medo.
─ O que quer que aconteça, não importa o quão sem esperança
possa parecer, nunca perca a fé de que eu vou retornar para você.
As palavras de Nathan trouxeram Sophie de volta à vida. Ela sabia
que Nathan jamais diria isso se não tivesse realmente um
significado. Esta era a promessa mais linda que já escutara e, talvez
por esta razão, ela teve que encontrá-lo. Ela ergueu-se e beijou-o.
No dia seguinte eles passaram a manhã na água. Após o meio dia
eles deram uma longa caminhada pelas espetaculares colinas de
Hatay.
─ Após nossa conversa de ontem, eu recebi outro importante
insight – disse Sophie – Eu entendi a base de nosso
relacionamento.
Nathan escutou atentamente.
─ Nossa preocupação pessoal e pelo nosso bem estar e pelo dos
outros.
Nathan sorriu.
─ Em todos os relacionamentos, onde esta é a fundação, ambos os
parceiros conseguem desenvolver seu envolvimento com total
liberdade. Somente desta forma é que eles podem experimentar o
amor verdadeiro.
Sophie assentiu e o abraçou:
─ É o propósito final... – Sophie perguntou – experimentar o amor?
─ Quando nós experimentamos o verdadeiro amor, sentimos que
nos fundimos com nossa consciência e o caminho para
experimentar nossa completude original se torna aberto.
─ O caminho para nossa completude original?
─ O caminho para o propósito de nossa vida.
Naquela noite, Nathan e Sophie retornaram ao hotel. Após um dia
exaustivo eles foram para cama cedo. Nathan repentinamente
acordou no meio da noite. Abriu seus olhos e viu a lua cheia
através da janela aberta. Como se a lua tivesse escolhido estar em
frente ao quarto dele. Nathan sentiu um encorajamento que o levou
a ir para a praia deserta imediatamente. Levantou-se e tentou sair
411
sem fazer barulho, para que Sophie não acordasse. Uma vez fora
do hotel, Nathan desceu a colina em direção a água. Quando
chegou a praia, notou um barco azul escuro com grandes velas
brancas, flutuando calmamente. Sentiu que havia algo misterioso
sobre o barco e decidiu determinar qual era a causa disso. De
repente, ele se virou para olhar a lua cheia. Ele tomou consciência
de que o barco parecia exatamente igual ao que estava no pôster
em seu quarto em Bruxelas. Naquele momento, Nathan entendeu
que o fim da jornada estava próximo. Continuou fitando o barco e
tomou tempo para meditar. Quando a luz do dia veio, ele se
levantou e retornou para seu quarto. No caminho, procurou pelas
palavras certas para dizer a Sophie sobre sua partida. Quando ele
abriu a porta ele viu Sophie sentada do seu lado da cama em seu
roupão de banho branco. Ela havia acabado de sair do banho e
enrolava uma toalha em seu cabelo molhado. Quando ela viu
Nathan, levantou-se, abraçou-o e pôs sua cabeça ao em seu peito.
─ Você não tem que dizer nada, Nathan.
Ela olhou Nathan diretamente nos olhos e sorriu com ternura.
─ Faça o que sente que tem que fazer.
Sophie decidiu partir aquele dia. Após o café da manhã, Nathan
acompanhou-a até o ônibus que a levaria a cidade de Adana. De lá
ela pegaria o avião de volta para a França. Durante sua despedida,
Nathan notou o quanto a promessa do dia anterior havia
significado para Sophie. Suas palavras a haviam libertado de um
grande desconhecido.
─ Você sabe aonde está indo agora? – ela perguntou.
─ Não, mas eu sinto que estou perto do final da minha jornada.
Após estas palavras eles se abraçaram por um longo tempo. Então
Nathan retornou para a praia. Ele pôs seus pertences em uma bolsa
e atou a si. Sem questionar, entrou na água para nadar até o barco
veleiro. Quando subiu a bordo não viu ninguém mais lá. Nathan
não fazia ideia do que estava esperando por ele. Sentou-se na proa
do barco, de lá ele tinha a visão das montanhas sírias. Assim ele
passou o dia inteiro meditando e ao aproximar-se a noite
presenciou um maravilhoso pôr do sol.
Quando a lua apareceu, ele ficou assustado quando notou que mais
alguém subira a bordo. Julgando pela silhueta era uma mulher. Ela
sentou-se ao seu lado e apresentou-se. Seu nome era Ilham. A
mensagem de Ilham alcançou Nathan sem que ela falasse. Ele
nunca havia experimentado algo assim; Nathan fora capaz de
receber a mensagem diretamente. Ele estava muito curioso sobre
412
quem era a misteriosa Ilham e como ela havia conseguido entrar
em sua mente, porque todas as perguntas que o tentaram receberam
a mesma resposta. Assim uma conversa começou em silêncio.
─ Como você pode responder as minhas perguntas sem eu ter que
dizê-las em voz alta?
─ Eu posso sentir tudo que você pensa, no momento em que você
pensa. – Ilham respondeu.
─ Como isso é possível?
─ Nos comunicamos através da linguagem dos “segredos abertos”:
uma linguagem de “segredos”, porque eles não podem ser
entendidos pelo intelecto, e “abertos”, porque todos podem
experimentá-los.
Não obstante lhe soava estranho, Nathan parecia familiarizado com
a linguagem dos “segredos abertos”. Ilham também começou a se
tornar mais familiar a ele, como se fosse uma velha amiga. A
conversa seguinte só veio a confirmar este sentimento.
─ Por que você veio a mim? – Nathan quis saber.
─ Assim como todos os outros, eu nunca saí do seu lado.
Agora Nathan teve que pensar sobre os encontros que tivera
durante sua jornada e, desta forma, tornou-se claro para ele o que
estava acontecendo. Este encontro era o mais especial de todos,
Ilham era a personificação de seu “poder interior”; ela era a
intuição em si.
─ Por que hoje eu posso vê-la?
─ Porque eu vou guiá-lo e aos outros mensageiros nesta forma!
Tornou-se imediatamente claro para Nathan que Ilham não havia
aparecido apenas para ele, mas também para Leewana, Myate e
Dian.
─ Você pode nos dizer como esta jornada continuará?
─ De agora em diante as grandes forças iluminarão o caminho
mais energeticamente.
Estas palavras deixaram claro pra Nathan que o que estava para vir
excederia os limites de suas individualidades. Naquele momento o
barco começou a mover-se. Nathan notou que o barco estava se
movendo em direção ao sul e por sua própria vontade. Uma vez no
caminho, Nathan se tornou mais familiarizado com a forma pela
qual Ilham lhe fornecia as informações. Ele havia descoberto a
vasta entrada para a fonte de conhecimento sem fim.
─ Você está comigo assim como está com Leewana, Myate e
Dian?
─ Feche seus olhos e veja.
413
Nathan fez o que Ilham disse e viu Leewana Myate e Dian. Ele viu
que eles também estavam a caminho de seu destino final. Ilham
teve certeza de deixar bem claro para os quatro que eles estavam
sendo trazidos juntos. Isto deu a eles um distinto sentimento de
coragem e confiança. Eles estavam cientes de que a salvação final
estava próxima. Cansado por causa destes estranhos eventos ele
entrou na cabine onde rapidamente caiu no sono. Depois, quando
Nathan retornou ao convés na manhã seguinte, ele notou nuvens
teimosas acima. Não demorou muito até que as gotas de chuva
começassem a cair, que então se tornaram em um grande
aguaceiro. Apesar da tempestade, Ilham permaneceu sentada no
mesmo ponto em que ela estava na noite anterior.
Nathan ficou no convés com ela e apreciou o espetáculo de
múltiplos raios, enquanto a água fluía por seu corpo.
De repente o sol brilhou novamente, mesmo que chovesse sem
interrupção, o que criou um arco-íris de tirar o fôlego, tão grande
que o topo desaparecia nas nuvens e não podia ser visto. Nathan
sabia que este era o sinal pelo qual estava esperando. O barco
continuou a navegar sob o arco-íris e finalmente ancorou no Egito,
na costa do Sinai, na cidade de Arish. Quando Nathan pôs os pés
no solo, um casal de beduínos o recebeu cordialmente. Após os
cumprimentos eles o levaram para um dromedário. Nesta hora,
Nathan percebeu que somente ele podia ver Ilham. O olhar dela se
virou para o sul e ela assentiu aprovando. Enquanto Nathan subia
em seu dromedário, os beduínos deram a ele um saco de comida e
um grande contêiner de água. Ele colocou-o sobre a corcova do
dromedário e agradeceu a eles. Os beduínos desejaram sorte e
disseram adeus. Nathan foi pelo deserto do Sinai com Ilham, que
era capaz de se mover pelo ar como um pássaro. Sempre
permanecendo ao seu lado.
No silêncio, que somente podia ser experimentado no deserto,
Nathan sentiu-se fora do tempo. Ele aproveitou a conexão especial
que ele havia obtido com seu conhecimento interior. Na jornada
eles descansaram a intervalos regulares, tanto por oásis verdes
quanto à sombra de palmeiras. Nathan usou este tempo para
continuar a trabalhar em seu manuscrito. Eles viajaram por
extensas planícies arenosas cercadas de montanhas coloridas. A
paisagem do deserto era espetacular, especialmente quando a lua
surgiu. Após três dias viajando através do deserto, eles chegaram a
Nuweiba, no Golfo de Akaba. Nathan Pensou que era um
espetáculo inesquecível ver o mar azul aparecer como se houvesse
414
saído do deserto. Assim que chegou Nathan encontrou uma praia
com várias cabanas de palha. Ele notou um beduíno ao longe e foi
em direção a ele. Ilham seguiu Nathan de perto. Nathan
cumprimentou o beduíno com umas poucas palavras arábicas que
se lembrava. O beduíno retornou o cumprimento e olhou
penetrantemente para Nathan. Então ele olhou para a vasta área
arenosa como se imaginasse de onde Nathan repentinamente
aparecera. Nathan contou ao beduíno que viajara pelo deserto por
três dias e perguntou se podia passar a noite. O beduíno o levou a
uma cabana de palha, que parecia servir como uma área de dormir
para viajantes que passavam. O beduíno também pegou o cantil
vazio e encheu com água antes de devolvê-lo. Nathan agradeceu o
homem e viu Ilham na areia perto água. Nathan mudou sua roupa
de viagem e foi sentar perto dela. Ilham sabia que por vários dias
Nathan estivera ansioso por mergulhar na água e encorajou-o.
─ O silêncio embaixo d’água tem sido sempre a mais alta forma de
relaxamento que pode ser experimentada. Vá para a água e relaxe
em seu próprio silêncio antes de sua missão.
Nathan quis saber:
─ Que faz o silêncio na água ser diferente do silêncio que eu
experimentei nos dias que se passaram?
─ Embaixo da água os pensamentos podem fluir para você sem
que você tenha que explicá-los. Cada um de nós tem tal lugar na
terra, apesar de muitas pessoas não saberem disso. Para você o
mundo submarino é onde você está completamente receptivo a
pura inspiração!
Nathan se levantou e caminhou para dentro da água. Embaixo
d’água as palavras de Ilham se tornaram claras para ele. Nathan
entendeu o verdadeiro significado da pura inspiração da qual Ilham
havia falado a respeito e experimentou maior harmonia interior
mais do que antes. Ele podia sentir sua força natural vir para dentro
dele. Foi como se ele se tornasse mais do que apenas seu próprio
ser. Ele estava livre de todos os pensamento reunidos durante sua
existência e sabia que havia se tornado totalmente consciente de
seu ser único. Nathan sabia que sua sensibilidade estava pronta
para formar uma ponte entre as diferentes dimensões. A vida
terrena, os pensamentos eternos e a fonte universal de todo o
conhecimento em breve tornar-se-iam uma só coisa. Quando ele
saiu da água o início da noite já havia caído. Somente então ele
percebeu que havia ficado na água por um longo tempo. Ele olhou
para Ilham , que ainda estava sentada no mesmo lugar. Ela
415
balançou a cabeça e desejou-lhe uma boa noite. No dia seguinte,
Nathan e Ilham continuaram em direção ao sul, desta vez em
direção a Dahab, na costa. No fim do dia , Ilham disse a Nathan
que eles haviam chegado ao seu destino final. Nathan olhou em
volta. O que ele via era uma área estéril, em si mesma sem
nenhuma diferença das paisagens que ele observara nos dias
anteriores. Ele se tornou mais atento até que repentinamente, na
beira do mar, ele viu um lago azul claro à distância. Era um lago
memorável; Do qual a cor azul o lembrara do poço mágico no
Brasil, onde Thiago o havia levado junto com Melvin e Sophie. Ele
viu Ilham desaparecer na distância e notou que três outras pessoas
estavam indo em direção ao lago em dromedários, eles vinham de
diferentes direções. Foi uma maravilhosa vista ao por do sol. Um
sentimento intenso de excitação brotou em Nathan. Ele sabia que
os viajantes eram Leewana, Myate e Dian. Todos os quatro
chegaram ao lago ao mesmo tempo. Uma vez que estavam juntos,
eles se abraçaram fortemente. Uma fogueira foi acesa e eles se
sentaram na areia em um círculo com suas cabeças viradas em
direção ao lago. Ilham apareceu mais uma vez e falou com eles da
mesma maneira que havia falado com Nathan nos últimos os dias.
Silenciosamente, diretamente à suas mentes, sem uma única
palavra dita.
─ Vocês foram enviados aqui para investigar e entender o porque
de o mundo estar desta maneira e descobrir as causas mais
profundas, mas vocês também foram enviados como mensageiros
para acabar com esse caos. Tornou-se claro para as forças naturais
quão pouca harmonia existe entre as pessoas e entre todos os seres.
Vocês estão às vésperas de restaurar esta harmonia. Todas as suas
experiências aconteceram de forma a vocês alcançarem esta
mudança. Este é o desejo original que vocês deram a terra, e os
eventos por acontecer serão como nenhum outro antes.
Esta experiência fará com que a toda humanidade volte seus olhos
para o mundo interior de pensamentos e sentimentos. Esta
experiência inspirará a humanidade a fazer parte da grande
conectividade. Para fazer esta mudança, as forças naturais tomarão
medidas drásticas excepcionais. As forças naturais criarão
circunstâncias em que todas as pessoas serão forçadas a escolher
unidade e respeito uns para com os outros, se quiserem sobreviver.
Deste tempo em diante a energia universal mais alta será capaz de
se desenvolver completamente. Este poder irá extinguir todos os
outros poderes e libertar as pessoas da cegueira das luxurias
416
primitivas, resultado do egoísmo. Graças a este poder, todos serão
libertos do medo e da dúvida. Eles irão experimentar um profundo
envolvimento com a realidade, e assim reconhecer um núcleo de
puro bem dentro de si mesmos, que é maior que eles ou que
possam imaginar. A humanidade se tornará consciente de que uma
vida só é valiosa quando todo mundo presta atenção aos
companheiros seres humanos e a todo ser vivente, assim eles
aprenderão a entender um estado natural de paz interior. Todo
mundo será capaz de ver que o amor é a única coisa que dá um
sentido maior a nossa existência. Virá um tempo quando este
grandioso poder universal será aplicado simultaneamente através
do mundo.
Ilham tomou uma grande pausa e continuou seu discurso.
─ A partir do próximo nascer do sol vocês se tornarão consciente
do quão único cada um de vocês é e serão capazes de ultrapassar a
realidade material. Serão capazes de sintonizar com a grande fonte
de todas as energias, o poder que converte todas as limitações
físicas em possibilidades e assegura que a somente a expressão é
dada a energia espiritual. Esta noite vocês desenvolverão um foco
ambiental extremamente forte, que irá continuar a se estender até
que o planeta inteiro faça parte dele, graças à imaginação. O que se
seguirá é que vocês crescerão completamente até suas habilidades
perfeitas. O desejo interior original de cada um de vocês será unido
com o grande propósito. Assim vocês conseguirão o último estado
harmonioso como um todo.
Após estas palavras, Ilham se levantou e desapareceu. Leewana,
Nathan, Myate e Dian permaneceram meditando o resto da noite
sem trocar uma palavra. Com os primeiros raios de sol eles se
levantaram juntos e cada um tomou a mão do outro. Sem ter que
falar, eles andaram juntos em direção ao lago. Eles permaneceram
um ao lado do outro e deixaram-se encher com energia solar.
Quando o momento chegou, eles mergulharam na água ao mesmo
tempo e afundaram no lago, onde acharam uma conexão com o
mar no fundo. Todos os quatro viram suas limitações desaparecer.
Primeiro aquelas que os faziam se comparar uns com os outros e,
então, aquelas que os faziam se comparar com todo o ambiente.
Sua experiência de tempo e espaço transformada. Sua percepção de
realidade afiada. Pareceu como se seus corpos houvessem
desaparecido junto com o seu intelecto e que eles foram feitos
apenas de sentimentos.
417
Naquele momento a água de todos os mares e oceanos começou a
se mover. O gelo polar derreteu completamente o nível do mar
alcançou níveis jamais vistos antes.
Ao mesmo tempo enormes incêndios apareceram ao redor do
mundo. Florestas e o deserto arderam em chamas, dirigidos por
fortes ventos e tempestades. Não demorou muito até que as
primeiras grandes cidades fossem destruídas. O fogo queimou
praticamente tudo em seu caminho. A água passou por cima das
áreas secas e queimadas e se juntaram novamente em grandes
circuitos fluídos. Lentamente, grandes áreas dos cinco continentes
estavam inundadas. Os sobreviventes se misturaram por segurança,
sendo em botes, jangadas ou outras embarcações improvisadas.
Atividades diárias foram interrompidas e as pessoas começaram a
se reunir. Tornou-se claro que a cooperação era necessária para a
sobrevivência.
Logo algo aconteceu, algo que nunca havia acontecido antes.
Simultaneamente, em muitos lugares houve os primeiros sinais do
milagre se desdobrando. Novas comunidades foram criadas onde
todos se ajudavam. As palavras de Ilham foram confirmadas.
Grandes embarcações a prova d’água foram construídas para que
muitas pessoas pudessem ser trazidas para a segurança. A comida
foi reunida e distribuída de acordo com a necessidade.
Lentamente, todos seguiram suas energias em direção ao completo
desenvolvimento. Uma a uma as pessoas aprenderam como elas
poderiam melhor usar seus talentos e outras qualidades.
Desenvolvendo sua consciência intuitiva, as pessoas lentamente
viram o significado de suas ações e puderam finalmente satisfazer
suas necessidades interiores. A água decidiu retrair. A humanidade
pôde ver o grande contexto. A terra havia se transformado em um
lugar onde as pessoas eram dirigidas por valores, que viam o
benefício do mundo inteiro... A ordem havia sido restaurada!
418
Promessa
No pacote que Uiara, a escritora brasileira, havia recebido, não
havia nome ou endereço, apenas o nome de uma montanha em um
lugar que anteriormente havia sido conhecido como Nova
Zelândia. Uiara abriu o pacote postal, sentindo extrema
curiosidade. Dentro ela encontrou uma carta acompanhada de um
manuscrito.
Querida Uiara,
Eu espero que estes eventos não a tenham confundido muito. Eu
sei que você queria que grandes mudanças viessem. Você também
sabia que seria necessário afetar a humanidade e revelar a essência
da vida. Um fim chegou para o sofrimento. O curso que ocorre e
muda nosso ser inteiro, fluiu e o verdadeiro conhecimento
apareceu a todos nós. De agora em diante cada um de nós pode
calmamente sair em busca de nosso desejo original, nosso
propósito e destino.
Como Nathan prometeu, mandamos juntamente com esta o
manuscrito em que ele descreve tudo que precedeu estes eventos.
Eu confio a você, e peço para que reescreva suas palavras com toda
a liberdade criativa que existe dentro de você. Saiba que você será
inspirada a escrever como nunca antes, que muitas pessoas serão
afetadas por estas palavras e que a disseminação destas palavras
alcançará grande reconhecimento. Como você notará, Nathan não
deu ao manuscrito um título. Ele com prazer deixa esta tarefa a
você.
Eu desejo a você todo sucesso e eu quero que você saiba que
Nathan e eu estamos muito bem aqui. Nós enviamos a você, Amão
e a seus entes queridos nossos mais carinhosos pensamentos.
Um grande abraço de ambos,
Sophie e Nathan.
419
Uiara passou os muitos dias e noites seguintes escrevendo o livro.
Ela não encontrou um título logo no princípio, mas ela deixou que
seu amado Amão lesse primeiro. Após ele haver lido o livro inteiro
suas primeiras palavras foram, “Este livro será conhecido como a
maior de todas as lendas!”
420
Epílogo
Foi com uma grande satisfação e um enorme fervor que escrevi
este romance na qual tentei explicar a minha concepção da coesão
que sustém o Universo e o papel único que aí nos é reservado.
Pode ser que este relato vos estimule a compreender melhor as
razões da vossa existência. "A Lenda de um Nômade" é, pois, em
grande medida, uma incitação à procura do verdadeiro objetivo da
nossa vida.
Esta narrativa mostra-nos que, para atingir este objetivo, devemos
primeiramente, abrir-nos aos acontecimentos que, de maneira
aparentemente fortuita, captam a nossa atenção.
Deste modo descobriremos, paulatinamente, que possuímos uma
enorme fonte de inspiração. Desde esse momento emerge em nós
um processo criador, o qual irá modificar totalmente a nossa vida.
E quanto mais a nossa curiosidade por esta realidade interior
aumenta, tanto mais descobrimos sinais em cada acontecimento,
mesmo sem importância, da nossa vida. Nessa altura damo-nos
conta que o universo, na sua globalidade, está movido por um
princípio criador no qual participamos ativamente.
Ao desenvolvermos a nossa criatividade entramos, desta maneira,
simultaneamente em contacto com a espiritualidade que cada um
de nós alberga. E descobrimos, então, o objetivo da nossa vida,
dedicando toda a nossa existência a alcançá-lo.
Pelo caminho somos confrontados, ao mesmo tempo, com os
nossos talentos inatos e com as nossas limitações. Mas uma vez
que tenhamos compreendido o papel único que desempenhamos, o
nosso campo de visão ampliar-se-á, permitindo-nos tirar o máximo
proveito das nossas capacidades.
Esta narrativa ilustra o modo segundo o qual o nosso guia
instintivo, a nossa intuição, nos torna conscientes da dimensão dos
nossos atos e como, por nossa escolha, somos nós mesmos que
traçamos o caminho da nossa vida.
421
Esta intuição não é mais que uma força que nos guia em direção ao
propósito da nossa existência, o desejo inicial que motiva a nossa
vinda a este mundo e nos ajuda a atingi-lo. Uma finalidade que
transcende todos os objetivos que possamos imaginar,
ultrapassando até mesmo a nossa existência individual, temporária,
para nos fazer descobrir a verdadeira liberdade interior.
Para finalizar, permitam-me partilhar convosco uma última
reflexão cuja origem remonta à minha infância mais tenra e que se
tem revelado prodigiosamente verdade em todas as culturas com as
quais tive o privilégio de estar em contacto.
Aquele que se consagra com fervor ao verdadeiro propósito da
vida segue o caminho do amor e pode, por conseguinte,
sensibilizar o seu próximo, de modo a tomar consciência da sua
missão e a dedicar-se a ela de corpo e alma.
O essencial de tudo isto, quanto a mim e também para muitos
outros, é que cada um de nós encontre a sua própria maneira de
viver à luz de uma maior verdade, de um grande respeito por tudo
o que está vivo, prosseguindo na senda do amor.
Quando a humanidade estiver preparada para partilhar esta
concepção de existência, poderemos evitar transmitir os nossos
erros às gerações vindouras, podendo, então, oferecer-lhes os
meios de realizarem os seus desejos interiores!
Alex Mero
422
Palavras de agradecimento
Eu gostaria de expressar meu respeito e reconhecimento a todos
àqueles que tanto diretamente quanto de outras maneiras
colaboraram com a realização desse livro.
Penso nas pessoas cujo caminho, durante toda a minha jornada,
cruzei. Naqueles que me ensinaram a ver a beleza em todas as suas
formas. Aqueles que me estimularam a estar sempre atento às
maneiras nas quais pensamentos e motivações se manifestam. E
também àqueles cujos ensinamentos foram a base na qual construí
a mim mesmo.
Gostaria de agradecer, Crislaine Sanguino, Kátia Vasconcelos,
Fabiana Rodrigues, Silva Mira, Ana Cristina e muitos outros pelo
suporte linguístico. Sem eles, esse livro não teria se tornado uma
realização tão bonita.
Gostaria de endereçar meu agradecimento especialmente aos meus
queridos familiares e amigos. Aqueles que comigo dividiram o
entusiasmo pessoal e profissional da minha aventura e que são uma
fonte contínua de apoio e motivação.
Meus mais sinceros votos de gratidão vão para a minha fonte de
inspiração. Para a essência de minha existência. Para essa
maravilhosa energia que coordena o universo inteiro.
A todos, um sincero obrigado.
423
Autor
Alex Mero nasceu na Bélgica em 1969 e cresceu em Bruxelas.
Viajante apaixonado e um grande observador da diversidade
cultural no mundo, experimenta, desde cedo, uma fascinação
crescente pelas diversas concepções de vida, no seio de cada
cultura. Hoje em dia, o escritor partilha as suas experiências
através do estilo inspirador que é a filo-ficção.
A filo-ficção tem a sua origem no reconhecimento da diferença e
da multiplicidade do mundo no qual vivemos. Este estilo literário
baseia-se em diálogos que nos ajudam a explorar diferentes
processos de pensamento. A filo-ficção estimula-nos a identificar
as fronteiras que nos definem e convida-nos a comunicar através
destas fronteiras.
Alex Mero oferece a possibilidade de imprimir as suas publicações
gratuitamente e em várias línguas, proporcionando, deste modo,
que todos tenham acesso à sua literatura. O autor também participa
em programas educativos em países em desenvolvimento e apoia
diversos projetos que promovem o diálogo intercultural.
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A Lenda de um Nômade
© Alex Mero, 2010
Autor / Editor
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