Untitled - alex mero
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1 2 A Lenda de um Nômade Alex Mero 3 A Lenda de um Nômade © Alex Mero, 2010 Autor / Editor http://www.alexmero.com http://www.alexmeroblog.com 4 5 Sinópse Prólogo 1. Poder Interno - Milagre - Percepção - Contemplação - Escolhas 2. Conhecimento Superior - Busca - Sinal - Sinceridade - Emoção 3. Mistério Maravilhoso - Padrão de Hábito - Façanha - Curiosidade - Alternativa 4. Poder Criador - Observação - Inspiração - Realidade - Energia 5. Harmonia Natural - Ligação - Unidade - Memória - Vigilância 6. Energia Motriz - Abertura - Relação - Silêncio - Imaginação 6 7. Equilíbrio Perfeito - Discurso - Rebelião - Destino - Pensamento 8. Confiança Ilimitada - Convicção - Despertar - Beleza - Mensagem 9. Lucidez Crescente - Envolvimento - Consciência - Desejo Profundo - Estado Puro 10. Bem Interminável - Atenção - Paciência - Tranquilidade - Missão 11. Sabedoria da Compreensão - Essência - Claridade - Mudança - Conectividade 12. Redenção Final Epílogo Palavras de agradecimento Autor 7 Sinópse "A Lenda de um Nômade" é uma narrativa inspiradora que constitui a verdadeira essência da vida. Trata-se de um fascinante relato de viagem através do qual, servindo-se de variadas visões culturais e filosofias existentes, se explica o conceito do destino de uma vida. Este romance de aventura descreve de uma forma original o fenómeno que resulta da fusão do conhecimento e da intuição, levando à aparição de uma misteriosa energia. Uma força que, simultaneamente, nos dá compreensão do amanhã e nos torna conscientes do significado do mais profundo de todos os acontecimentos, e que nos leva a lançarmo-nos à descoberta do desconhecido. Aquele que souber fazer sua a essência deste livro não se esquecerá de fazer refletir a mensagem na sua vida pessoal e verá crescer a sua consciência do seu lugar único no seio de tudo. "A Lenda de um Nômade" é um livro que sai fora do habitual, dotado do poder de inspirar os seus leitores e de influenciar verdadeiramente os seus destinos. 8 --- Na sua mais tenra juventude, Nathan foi salvo, de forma quase miraculosa, de um naufrágio no sudeste asiático. Mauro, o pai de uma das vitimas deste desastre, leva Nathan para a Europa e tomao a sua responsabilidade. Rapidamente este jovem fora do comum faz-se notar pelas suas capacidades extraordinárias de intuição e pela sua proprensão para receber o conhecimento. Entrado, na adolescência decide fazer uma grande viagem à procura do que poderá enriquecer a sua vida. Seguindo a inspiração da sua voz interior e da razão da sua relação única com a água, Nathan tem visões que lhe permitem penetrar na essência das pessoas que com ele se cruzam. Enquanto cresce, Nathan constata a influência cada vez maior dos seus atos no que o rodeia. É assim que ele vai descobrir o seu papel «único» na Terra, um início de vida que vai muito além do que ele poderia imaginar! --- Linguístas: Crislaine Sanguino - Kátia Meira - Fabiana Rodrigues Silvia Mira - Ana Cristino 9 Prólogo Este livro convida-nos a retirarmo-nos da nossa história pessoal e a entrar na pele das outras personagens. Para tal, devemos deixar-nos guiar pela nossa imaginação, um dom que todos possuímos e que permitirá, a cada um de nós, completar esta narrativa à sua maneira. As lendas transmitem-nos, muitas vezes, mensagens especiais. Estas mensagens permitem-nos ver a partir de um outro prisma acontecimentos dificilmente explicáveis, que nos tocam, por vezes, no mais fundo do nosso ser. Desde a mais tenra infância que tentei alargar a minha visão das coisas e experimentei sempre um interesse marcado por todas as concepções de vida existentes neste mundo. Explorar este mundo, à procura do que inspira o ser humano, tornou-se a minha maior paixão. A descoberta de novas culturas e de novos modos de vida, serviume de enorme estímulo. Por isso, tentei compreender o sentido das palavras de todas as pessoas que encontrei e interpretar os motivos dos seus atos. Ao mergulhar na sua realidade cultural local, vi-me obrigado a mudar a minha maneira de pensar de modo a poder compreender aquilo que me era revelado. Assim, aprendi a estabelecer parâmetros mais amplos e, sobretudo, a estar atento às múltiplas manifestações de sentimentos que levavam as pessoas que encontrei a falar e a agir da maneira como o faziam. Pouco a pouco, penetrei num mundo misterioso, o mundo dos sentimentos. Aprendi a compreender como estes nascem, como tentam subsistir e, sobretudo, qual a relação que cada um de nós mantém com eles. À medida que ia descobrindo este mundo misterioso, tornava-me cada vez mais consciente da maneira em que surgiam as paixões, 10 os medos e as alegrias e o que os provoca. Estas descobertas ajudaram-me a compreender melhor a diversidade da vida, no sentido mais amplo do termo. Pude observar todo o tipo de condutas aprendidas, e, acima de tudo, aquelas com que eu próprio tinha sido confrontado. Desde então pude constatar, cada vez mais, com que tesouros de engenho os seres humanos se armam para tentar ordenar a realidade. Para interpretar corretamente as informações que me foram reveladas, pude sempre contar com um guia interior, que me transmitia confiança e lucidez e me fazia estar consciente, sempre e a cada momento, do milagre que a vida é. Este guia interior não era mais do que a minha intuição, uma força que todos possuímos e que nos ensina a compreender os sinais que acompanham cada acontecimento, uma força que nos instiga a escutar os nossos verdadeiros sentimentos e nos aproxima, incessantemente, da nossa missão. Descobri, também, que os acontecimentos nunca se produzem por acaso. Todos eles têm uma razão profunda de existência, inscrevendo-se num determinado ciclo. Tomei, pois, cada vez mais consciência da ordem prodigiosa que reina no Universo. Ao reflectir sobre as razões profundas da existência, compreendi que todos nós possuímos um dom precioso que é o desejo que albergamos, no mais recôndito de nós mesmos, de descobrir o objetivo da nossa vida. É este desejo interior que me levou a escrever este livro que é fruto de saberes antigos e de contos recolhidos no seio de diversas culturas com as quais convivi. Ao longo das páginas deste livro, este relato mostra-nos como viver em harmonia com o meio que nos rodeia e ajuda-nos a precisar a razão da nossa existência. É para mim uma enorme satisfação poder partilhar esta narrativa com todos vocês e espero que "A Lenda" vos ajude a tornarem-se um pouco mais conscientes de que a vida realmente é um prodígio. 11 12 -1Poder Interno 13 14 Milagre Numa manhã de uma estação chuvosa, a guarda costeira de Zamboanga recebeu uma chamada de um acidente no mar de Sulu, numa fronteira natural entre a Malásia e o arquipélago Filipino. O navio, chamado Harap, vinha originariamente de Sandakan na Malásia e fazia seu caminho até Zamboanga, Filipinas. Uma tempestade de força inimaginável havia tomado conta do lugar por alguns dias. O mar estava agitado e a corrente do golfo, caprichosamente já havia encalhado vários barcos. O navio destruído pela tempestade era um navio grande e trazia passageiros da Malásia. A notícia sobre o Harap se espalhou rapidamente e causou uma onda de pânico entre os habitantes de Zamboanga e suas redondezas. Muitas pessoas tinham parentes e amigos à bordo. Alguns deles se ofereceram para acompanhar o resgate e ajudar no local do desastre. Por volta de nove horas as fragatas começaram a se aproximar do local onde o navio havia naufragado. Os salvavidas viram incontáveis corpos flutuando na água e acreditavam que aquilo não poderia ter sido uma tempestade comum de todos os dias. Mais tarde naquele dia, no relatório elaborado pelo chefe encarregado do resgate, as seguintes notas foram declaradas: “Uma misteriosa atmosfera prevalecia no local do desastre. Não houve grito e choro de angústia a ser ouvido, somente um triste e medonho silêncio. O tempo estava nublado e a água tinha se tornado excepcionalmente calma. E se não fosse pelos cadáveres, nada ali lembraria que um desastre havia ocorrido. Parecia que o mar estava envergonhado do que acabara de causar” Os mergulhadores faziam suas buscas na água a fim de descobrir a localização do navio e os salva-vidas saíam à procura de sobreviventes. O navio fora localizado relativamente rápido e ainda continha muitos corpos. À primeira vista, parecia que todos os ocupantes haviam se afogado. O chefe do resgate era um homem de autoridade e tinha muita experiência de vida, mas aquele desastre fora maior do que tudo que ele já havia vivido. E ainda assim ele não mostrou sinal de fraqueza alguma. Ordenava que todos continuassem a procura de possíveis sobreviventes. O tempo passava e a esperança de encontrar qualquer sobrevivente tornava15 se cada vez menor, até que ambos, salva-vidas e trabalhadores locais decidiram parar com suas buscas, pois o número de mortes havia traumatizado muitos deles, que também, entre os corpos reconheciam familiares e amigos queridos. Porém o chefe do resgate insistia para que ninguém descansasse até que todos os corpos tivessem sido verificados. O grupo de salvamento trabalhou incessantemente por um longo período de tempo até que, de repente, ouviram gritos vindos da parte traseira de uma das fragatas. Alguns salva-vidas nadaram rapidamente em direção a eles. E para o espanto de todos, viram um pequeno garoto com cabelos longos na altura do ombro. Ele estava deitado num pedaço de madeira tremendo de frio. A julgar pela sua aparência, ele tinha uns cinco anos de idade e o salvavidas que lhe amparava a cabeça, gritava por ajuda. Emocionado, lagrimas de alegria lhes escorriam pela face enquanto falava: ─ Ele respira, ele ainda respira... está vivo! Outros companheiros de salvamento levaram o garoto para o cais. A criança estava mesmo ainda respirando, apenas se encontrava inconsciente. O chefe encarregado do resgate foi chamado imediatamente e com espanto olhou o pequeno garoto, e verificou os seus batimentos cardíacos. Quando realmente ouviu a batida do coração do garoto, gritou a todos os que trabalhavam no resgate. ─ Foi para isso todo o nosso esforço! Gritou ele. Esse é o nosso presente! Harap! Que o nome desse navio fique gravado em nossa memória para sempre! Outro encarregado fez um exame rápido no garoto e depois o cobriu com uma coberta. O corpo da criança estava frio e sem vida. A equipe de salvamento se entreolhou e naquele momento sentiu um pequeno raio de felicidade durante aquele enorme desolamento. A busca não tinha sido em vão! Um dos salva-vidas notou que o garoto não era dali, pois tinha feições diferentes e a cor da pele era mais clara. Outros salva-vidas também o observaram atentamente, entretanto não foram capazes de determinar a origem do garoto. Mais tarde, muitos outros corpos de peles ainda mais claras foram encontrados. A equipe de salvamento continuou a busca, mas nenhum outro sobrevivente foi encontrado. A primeira fragata retornou ao posto da costa de Zamboanga com o pequeno. Uma vez em Zamboanga, o chefe do resgate ordenou que a criança fosse vestida e depois levada ao hospital. No relatório feito após o desastre, o encarregado do salvamento descreveu que fora considerado um 16 milagre o pequeno garoto ter sido o único sobrevivente. E ciente do que fazia, omitiu o fato do pequeno garoto ter sido encontrado nu. Teria ele se despido? Estaria ele se lavando no momento do desastre? Qualquer que fosse o motivo, o chefe achou melhor não mencionar nada, a fim de não causar mais alarde. Nos dias que se seguiram o pequeno garoto permaneceu em coma. A identificação dos passageiros se deu em plena atividade. Os passageiros a bordo eram principalmente da Malásia e Filipinas. Os passageiros com a pele pálida eram da Bélgica e da Holanda e consistia em um pequeno grupo de historiadores de arte que estavam fazendo a travessia às Filipinas a bordo do Harap. As autoridades Belgas e Holandesas foram informadas sobre o desastre marítimo e também sobre o garotinho que sobrevivera a ele. O relatório incluiu fotos e uma clara descrição das características físicas da criança. As famílias das vitimas foram informadas, mas nenhum dos membros reconheceu o garoto. Foi o pai de Dunia, uma das historiadoras, que ficou interessado. Mauro havia perdido somente sua filha. Dunia há alguns anos, vivia em Kuala Lumpur, Malásia. Mauro contatou as autoridades Belgas e disse que ele não via sua filha por alguns anos e que poderia ser que ela estivesse se tornado mãe durante esse tempo, então ele gostaria de saber mais sobre o garotinho. Alguns dias mais tarde, Mauro recebeu todas as informações das autoridades. Foi numa sexta-feira exatamente ao meio-dia e, apenas algumas horas depois, Mauro recebera a informação e contatou o hospital em Zamboanga. A gerência do hospital o informou de que o garoto havia despertado do coma há apenas algumas horas. Quando Mauro questionou o exato momento que a criança havia saído do coma, responderam que tinha sido por volta de meio-dia. Mauro pensou que aquilo ela extraordinário, pois estava completamente de acordo com a informação que havia recebido. Mauro era uma pessoa carismática, já em seus cinqüenta anos, que tinham visto muito do mundo. Prestava muita atenção aos fatos fora do comum e não via o acontecido como uma coincidência. Decidiu então ir às Filipinas e visitar o garotinho lá. A fim de não levantar suspeita, Mauro disse aos funcionários do hospital local que ele era avó do garoto e que sua mãe era uma das pessoas a bordo do “Harap”. Nos dias que se seguiram, Mauro ficou próximo do garoto e cuidou dele como se fosse um pai. Isso fez aumentar a afinidade entre eles. Durante esse tempo, Mauro teve evidências decisivas de que era impossível que o 17 garotinho fosse seu neto. Sua filha Dunia nunca havia estado grávida e adoção estava fora de cogitação. Mesmo assim nada havia mudado para Mauro. Pelo contrario, o homem cresceu mais e mais no seu papel de avô e até deu ao menino um nome, Nathan! Mauro não conseguiu descobrir as origens do garoto porque o mesmo até então não havia pronunciado uma só palavra. Nathan não tinha dificuldade em produzir sons, mas aparentemente não lembrava o nome de nada. Mauro achou aquilo muito estranho. Nathan não parecia traumatizado de modo algum e uma criança de cinco anos deveria saber falar. Mauro não comentou nada sobre isso com ninguém e a ele ensinou algumas palavras em Francês na tentativa de estimular sua memória e suas origens. Nathan se sentia cada vez melhor com o passar dos dias. De acordo com os médicos, ele não sofria de traumas emocionais ou físicos deixados pelo desastre. Com o tempo Mauro notou o quão ativo Nathan era, uma criança extraordinária devido a sua curiosidade aguçada. Uma enfermeira notou algo peculiar: todas as vezes que ela trazia uma jarra d'água, a jarra se esvaziava em questão de minutos. Ela observou com atenção e viu como Nathan levava a jarra à boca e vagarosamente bebia até que a mesma ficasse vazia. Ela comentou o fato com uma colega e quando contaram a Mauro, ele decidiu verificar o fenômeno. Na manhã seguinte ele trouxe algumas garrafas d'água da mercearia. Encheu um grande copo com água e o deu a Nathan. Ele fez isso cerca de vinte vezes e em cada uma delas, Nathan bebera até que o copo estivesse completamente vazio. Mauro ficou intrigado e o observou por algum tempo, mas não pode explicar o fenômeno. A fim de não preocupar a enfermagem, ele culpou a alta temperatura no hospital. Claro que era uma explicação trivial, mas Mauro havia conseguido convencer as enfermeiras de suas intenções de proteção em relação à Nathan, de modo que não tocaram mais no assunto. Nesse meio tempo, Mauro tornou-se amigo do comissário de policia local. Ele era conhecido como um homem de influência em Zamboanga. Mauro o havia solicitado que arranjasse todos os documentos tão logo fosse possível para que Nathan fosse repatriado a Bélgica, enfatizando que não podia perder muito tempo devido a seus assuntos de negócios. E também ofereceu recompensar o comissário para que acelerasse a procedimento. ─ Se o Senhor pudesse fazer disso sua prioridade, eu lhe seria muito grato. Disse ele, numa piscadela. 18 Dois dias mais tarde o comissário de polícia lhe trouxera os documentos requeridos. Mauro fez a reserva de vôo, e retornou a Bélgica com Nathan. Uma vez na Bélgica, Mauro certificou-se que ele fosse apontado como o guardião de Nathan e contou a seus amigos que Dunia, sua filha, tinha adotado Nathan e como morrera no naufrágio, era plausível para todos que ele assumisse a guarda. Mauro trabalhava como correspondente para um importante jornal e, algumas vezes tinha que estar fora do país por longos períodos de tempo. Na sua ausência sua irmã mais jovem o ajudava a tomar conta de Nathan. Assim, Nathan cresceu na Bélgica. A capital Belga estava passando por um clímax econômico e atraía um grande número de pessoas do mediterrâneo. Muitos vinham tentar a sorte na capital e nunca mais a deixavam. Todas aquelas diferentes nacionalidades deram a cidade uma atmosfera sulista e era uma época fascinante de se viver ali. Especialmente quando, um pouco mais tarde, já em certa idade, Nathan pôde apreciar a riqueza das diferentes línguas e culturas com que crescera. Junto com seu pai, Nathan vivia num terraço de uma mansão com vista para a Praça do Benfeitor, um dos bairros tradicionais da cidade. Mauro mesmo era originário de Andaluzia, no sul da Espanha e já vivia na Bélgica por muito tempo. Ele crescera em Mojacar, uma vila próxima ao Mar Mediterrâneo. Assim como muitos estrangeiros em Bruxelas, Mauro retornava todos os anos à sua região nativa. E lugar algum do mundo o fazia se sentir melhor do que como ele se sentia em sua Andaluzia. E apesar de ter viajado freqüentemente, nada se comparava àquela sensação! Nathan também esperava ansioso por suas férias na Andaluzia. Todo ano, no verão, ele ficava lá por um mês ou mais. Para ele a Andaluzia havia se tornado um segundo lar. O longo percurso que percorriam de carro até o sul da Espanha era inesquecível. As paisagens decoradas com infindáveis fileiras de árvores cheias de amêndoas, laranjas e azeitonas permaneceriam gravadas para sempre em sua memória. O momento mais bonito fora quando puderam ver ao longe as casas brancas da cor de giz de Mojacar e mais tarde serem recebidos pela família inteira. Na juventude, Mauro teve a oportunidade de estudar em Granada. Estudou Filosofia e também aprendeu muitas línguas. Desde muito cedo ele nutria uma ambição de explorar o mundo. Antes de emigrar para a Bélgica, ele trabalhou como oficial de imigração no porto de Almeria. E do terminal onde trabalhava, via os navios 19 chegarem e partirem diariamente, cuja cena reforçara, ainda mais, o seu sonho de viajar. Quando Mauro tinha já bastante dinheiro economizado para pagar sua primeira viagem, foi logo à Bélgica. Escolheu a Bélgica por causa de um de seus tios que já vivia em Bruxelas e o lugar parecia ideal como começar uma nova vida. Antes de sua partida, Mauro havia prometido a sua irmã mais jovem que ela poderia segui-lo tão logo ela encontrasse um lugar para morar. Com três meses de sua chegada ele alugou um apartamento e pôde trazê-la para morar na Bélgica com ele. Com sorte, Mauro se casou com uma amiga de sua irmã, com quem mantivera contato na Bélgica. Ela era de Leuven, uma aconchegante cidade provinciana Belga e com um grande número de estudantes de todos os lugares do mundo. Dunia fora sua única filha. Alguns anos antes da morte de Dunia, Mauro havia perdido a esposa devido a uma contaminação por ferro na água. Seu sistema nervoso havia sido altamente afetado pelo ferro das estações de tratamento de água ao qual havia sido exposta por anos na casa de seus pais. Durante os meses antes e após a morte de sua esposa, Mauro passou um período difícil e aprofundou-se no trabalho. Mais tarde Dunia não o perdoou por ele ter passado tão pouco tempo com sua mãe enferma, e aquilo fez com que sua dor ficasse ainda maior quando soube da morte de sua filha. Ele queria tanto ter falado sobre isso com ela, mas nunca havia priorizado a questão. Mauro, que ainda trabalhava como correspondente, era considerado um especialista em assuntos de política internacional. Ele também era um excelente orador e dava muitas palestras. Era especialmente admirado por sua perspicácia e grande capacidade de persuasão. Essas foram as duas características que seriam também fortemente desenvolvidas em Nathan. Nathan recebeu uma respeitável educação de Mauro, a quem ele via como seu próprio pai, e desenvolveu-se num garoto extremamente inteligente. Naquele tempo, Mauro revelou-lhe abertamente sobre a maneira que havia sido trazido à Bélgica. Nathan se diferenciava de seus amigos e colegas de sala, principalmente por sua ingenuidade e atitude calma. Ele também tinha o dom especial de permanecer debaixo d'água, sem vir à tona, por longo tempo. Quando criança, Nathan não tinha conhecimento desse talento e pensava que mais pessoas eram capazes de fazer o mesmo. 20 Não fora antes das férias na Itália que Nathan confrontou pela primeira vez a unanimidade de seu talento. Junto com amigos, Mauro alugara uma vila em Sorrento, uma cidade perto da costa napolitana. Um dos dias da temporada, Gianni, um dos pais que os acompanhavam, propôs uma viagem de barco pela costa. Alugaram um barco com capitão por um dia inteiro para visitar as ilhas de Capri e Ischia. Quando em alto mar alguns deles começaram a mergulhar. Ninguém notou exatamente em que momento Nathan também mergulhara. E foi somente quando Anna, uma das amigas, notou a ausência de Nathan que o nervosismo foi despertado à bordo. Todos começaram a procurá-lo imediatamente. Mauro e os outros mergulhavam incessantemente à sua procura. Ninguém via Nathan e o pânico crescia de imediato. Quando, de repente, Nathan surgiu na superfície da água, sem ter o mínimo conhecimento do pânico que causou. Todos ficaram tão transtornados que resolveram voltar para casa. Durante a viagem de volta, Nathan foi questionado onde estivera o tempo todo. Ele respondia que tinha mergulhado até o fundo do mar. O capitão do barco disse que era difícil de acreditar, pois o fundo ficava há cerca de cinqüenta metros de profundidade. E ainda acrescentou que era impossível que uma criança fosse capaz de ficar sem ar por tanto tempo. Mas Nathan repetia e insistia de que falava a verdade. Mauro, que via tudo isso como uma situação bastante incomum, de repente reagiu de uma maneira inesperada. Na frente se seus amigos ele ficou nervoso com Nathan e o acusou de brincar com as pessoas causando todo o pânico. A sua verdadeira intenção era assegurar de que seus amigos não continuassem a questionar o incidente. ─ Nathan estava apenas se escondendo em algum lugar, Mauro dizia. Ele já fez essa brincadeira antes! Nathan não entendia o que estava acontecendo, mas sabia que, naquele momento, era melhor ficar quieto. Mais tarde quando Mauro e Nathan estavam sozinhos, ele disse a Nathan que ele não havia ficado bravo de modo algum e que acreditava nele. Disse que reagiu daquela maneira simplesmente para protegê-lo e também quis saber mais detalhes sobre o que havia acontecido debaixo d'água. Novamente Nathan disse que tinha mergulhado ao fundo, e ficado lá por algum tempo, pois havia encontrado um velho barco naufragado e quis explorá-lo. Quando Mauro perguntou quanto tempo ele tinha ficado debaixo 21 d'água, notou que Nathan não entendia o porquê da pergunta! Mauro repetiu a pergunta á qual Nathan respondeu: ─ Cerca de dez minutos. E foi naquele momento que Mauro compreendeu que Nathan tinha um dom. Explicou à Nathan o quão especial era aquele dom e o aconselhou a guardá-lo somente para si. Nathan perguntou se Mauro sabia por que ele era capaz de fazer aquilo. Mauro não pode dar-lhe uma resposta, mas disse que era tão extraordinário que sem dúvida havia uma razão muito especial. De acordo com Mauro era um dom com um significado positivo e que ele não deveria se preocupar. No momento certo ficaria claro o porquê deste dom. Enquanto Mauro saia do quarto Nathan fez a última pergunta. Perguntou o significado de “Il Dono”. Mauro não sabia naquele momento, apenas presumia ser algo em italiano. Quando Mauro questionou o porquê da pergunta, Nathan disse que aquele era o nome do navio que ele viu no fundo do mar. No dia seguinte, Mauro retornou à cidade da costa, perto do local onde o incidente aconteceu. Ele queria descobrir se as pessoas sabiam sobre o barco naufragado. Mauro ouviu toda a história na prefeitura. Sim, anos atrás, um barco havia naufragado perto do lugar onde Mauro fora mergulhar. E a estória se tornaria intrigante quando ele ouviu o nome do navio. “Il Dono”. O oficial municipal adicionou que era italiano de “O Dom”! 22 Percepção Já fazia quase sete anos desde que Nathan tinha sido resgatado do Harap. Na certidão de nascimento, Mauro registrou a mesma data que Nathan voltou do coma. Como Nathan tinha a idade estimada de cinco anos, Mauro registrou o ano de cinco anos antes. Assim, naquele verão, Nathan oficialmente completaria doze anos de idade. Fazia uma linda manhã de Domingo, através de uma janela no teto, o sol brilhava no quarto dele. O inverno havia sido longo. Nathan fora despertado por pássaros cantando as boas vindas à primavera e como não tinha nada pra fazer, ficou na cama relaxando. Era muito bom não ter que pensar em nada ou ter que ir a lugar algum. Olhava para um pôster pendurado no seu quarto, um que ele havia encontrado na rua. Nele continha a imagem de um mar azul com um barco azul escuro. Durante os dias de inverno, a imagem trazia uma sensação de verão para o quarto. Nathan olhou o pôster mais de perto e de repente sentiu uma necessidade de saber se havia algo dentro no barco. Um raio de sol brilhava a sua volta e tornava difícil verificar se havia. A fim de descobrir, Nathan tinha que sair da cama, mas ele não queria, pois estava bastante aconchegante debaixo do edredom. Tentou pensar em algo diferente, mas a questão se havia ou não algo no barco o instigava cada vez mais. Quanto mais pensava, mais queria sanar aquela curiosidade que o perturbava. A paciência esvaiu-se completamente e ele definitivamente tinha que saber. Mas ainda assim não queria se mover da cama então apoiou suas mãos no chão pra ver o pôster de um angulo diferente. Mas não importava o quanto ele se esticasse, não conseguia ver, pois a luz do sol brilhava justamente naquela parte da imagem que queria observar com mais detalhe. Finalmente saltou da cama e esse movimento o fez esbarrar no criado mudo. O seu despertador velho foi parar no chão e disparou. Nathan estava naquele momento tão curioso que foi observar a imagem de perto antes mesmo de desligar o despertador. Ajoelhando-se na frente do pôster, ele viu que bem debaixo das enormes velas brancas do barco, havia um velho mapa do mundo. 23 Nathan desligou o despertador, deitou-se novamente na cama e fechou os olhos por um momento. O alarme acordou Mauro que tinha acabado de voltar de uma longa viagem. E quando Nathan abriu os olhos, ele teve uma experiência diferente, algo que ele descobriria mais tarde ser um momento de claridade. Ele perguntou a si mesmo como poderia um único pensamento, especialmente um indescritível como aquele, de repente o consumir todo daquela maneira? Ficou maravilhado com o fato de que algo tão banal de repente se tornasse tão importante por um momento. Nathan permaneceu perdido em seus pensamentos por algum tempo até que seu pai o chamou para o café da manhã, interrompendo-o. Levantou-se e, vestido, foi até a pia para refrescar-se com um pouco de água. A água o revigorou. Parecia que ele estava ainda mais desperto naquele exato momento. E contando com o apoio de ambas as mãos sobre a pia, olhou-se pelo espelho sem secar o rosto, pensou novamente sobre o que havia acontecido, e decidiu comentar com seu pai. Nathan fechou a torneira e foi até a cozinha. Mauro estava lendo o jornal do fim de semana e o cumprimentou com um abraço forte. Eles não se viam há três semanas e estavam felizes por se reencontrarem. Nathan beijou seu pai e sentou-se à mesa. Mauro havia preparado uma omelete e lhe disse essas sábias palavras: ─ Lembre-se de que um bom café da manhã é muito importante. Pois nunca sabemos o que o dia nos reserva! Nathan imediatamente reconheceu o típico modo com o qual seu pai lhe transmitia mensagens. Mauro olhou para seu filho com certa admiração. Nathan não era somente extremamente inteligente, como também se tornara um bonito e atlético jovem. A grande paixão de Nathan era passar seus dias na água. Nada lhe dava maior sensação de liberdade. E também sentia a água como uma misteriosa fonte de inspiração. Nathan nunca havia comentado o seu talento com ninguém e sempre se certificava de que outras pessoas não o notassem. Seu pai era a única pessoa que sabia que ele podia permanecer debaixo d'água por um longo período de tempo. Nathan sabia o quão sortudo era por Mauro ter entrado em sua vida e o quanto ele lhe seria grato. Ele havia escrito isso numa carta e a deixara sobre a escrivaninha de Mauro, que na noite anterior, antes de ir pra cama a lera. Era uma carta sincera, até mesmo emotiva. 24 ─ As três últimas semanas não foram fáceis. Mauro disse. E a sua carta veio num bom momento. Comoveu-me. ─ Eu queria ter a oportunidade de agradecê-lo. Nathan disse. Queria que você soubesse mais uma vez o quanto significa pra mim. ─ Sou muito feliz com o laço que temos. Penso que você ficaria surpreso se soubesse o quanto me inspira durante momentos difíceis. ─ Há momentos que sinto que você está perto de mim, mesmo estando longe. Estranho, não? Disse Nathan. ─ Nossos sentimentos falam mais do que os pensamentos. Talvez eu estivesse pensando em você ao mesmo tempo. Mauro era um leitor ávido de literatura filosófica, e não tão somente era um homem literato, como também tinha uma conhecida dádiva em relação à natureza humana. Ele tinha a habilidade de sentir as pessoas através da comunicação. Parecia que ele tinha exatamente a palavra certa para a hora certa. Mauro tirou a panela do fogo, pôs a omelete à mesa e a dividiu; pegou dois copos grandes do armário, encheu-os com suco de maçã e sentou-se novamente: ─ Você gostaria de saber o que mais me deixou feliz ao ler a carta? Foi que você a escreveu sem uma razão especifica. ─ Verdade... escrevi tão espontaneamente. É que eu estava pensando em tudo que você fez por mim. ─ A gratidão é a memória do coração. Pai e filho estavam felizes de estarem juntos novamente. E como era de costume, Nathan estava curioso pra saber o que seu pai havia visto e experimentado de novo durante a sua viagem. Nessa viagem, Mauro tinha visitado varias cidades do leste europeu, juntamente com sua equipe de filmagem. As primeiras reportagens foram filmadas em Praga na República Tcheca, a segunda na Bratislava, Eslováquia e a última em Budapeste na Hungria. Mauro tinha ficado impressionado com o esplendor dessas cidades e suas culturas fascinantes. Depois do café da manhã, limparam a mesa juntos enquanto trocavam idéias sobre o que exatamente determina o pensamento padrão de cada pessoa. Naquele momento, Nathan lembrou-se novamente do que o acontecera no seu quarto e queria saber como Mauro o interpretaria. 25 ─ Às vezes, não pode acontecer de encontrar-nos completamente absorvido por um específico pensamento, como se nada mais fosse importante do que aquele momento? ─ Mauro olhou para Nathan e pressentiu a importância daquela pergunta. ─ Sim, às vezes isso acontece comigo... e em todas reconheço um sinal! ─ Reconhece um sinal? Nathan perguntou. ─ Eu sei que, quando um pensamento surge de repente do nada, ele não acontece simplesmente, tenho que tentar entender o seu significado. ─ Assim como você sempre diz que coincidência não existe? ─ Exatamente. Dessa maneira você aprende a reconhecer os sinais. ─ O que você quer dizer com sinais? ─ Os sinais, ou mensagens, estão aí pra ajudar você durante seu desenvolvimento pessoal através do aprendizado com a interpretação destes; e nos dão orientação quando fazemos nossas escolhas. ─ Como você reconhece esses sinais? ─ Confiando nos meus sentidos. ─ E os sinais aparecem freqüentemente? ─ Conforme você vai aprendendo a perceber os seus sentidos, você notará que os sinais aparecem cada vez mais freqüentes. ─ E esses sinais acontecem para todo mundo? ─ Sim, sinais são para todos, mas somente aqueles que são receptivos a eles podem notá-los! Nathan estava animado pelo o que ouvia. E até onde sua memória o permitia, ele sempre adorou seus diálogos com o pai. Sentia haver ali alimento para sua alma e até mesmo quando não entendia tudo imediatamente, mais cedo ou mais tarde ele entenderia. Como já havia um bom tempo que Mauro e Nathan não tinham a oportunidade de passar um tempo juntos e ter uma conversa tranqüila, decidiram passar o dia juntos. Nathan organizou seu quarto enquanto Mauro fazia algumas últimas alterações num artigo de jornal que precisava levar para um colega na Antuérpia. Depois do almoço eles chegaram ao porto da cidade da Antuérpia. Mauro dirigiu até Scheldt, o rio que cortava a cidade, estacionaram o carro e Nathan pegou uma manta do porta-malas do carro e caminhou ao lado de seu pai em direção a água. Mauro escolheu um lugar tranqüilo perto da margem. Levaram consigo uns petiscos e uma garrafa de chá quente cheia. Assim tinham tudo pra 26 preencher aquele precioso momento com seus pensamentos favoritos para compartilharem entre si . Nathan foi quem começou a conversa: ─ Eu gostaria de falar novamente sobre sinais. ─ O que gostaria de saber? ─ Como podemos entendê-los corretamente? ─ Perguntando á sua própria força interior e aprendendo a confiar nela. ─ Você quer dizer nossa voz interna? ─ Como a chamamos não é tão importante. "Força interior", “voz interna”, “intuição” ou qualquer outro nome que geralmente significam a mesma coisa. O mais importante é que libertemos essa força que temos dentro de nós mesmos. ─ Como podemos libertá-la? ─ Quando aprendemos a deixar que nossos sentimentos nos guiem mais, olhamos para a vida de uma maneira mais consciente. E assim deixamos que nossa força interior nos ilumine com as mensagens trazidas em cada situação. Aquela conversa com seu pai requeria atenção total. Ele queria compreender tudo muito bem e não esquecer nada. Nathan sentia que o que ele ouvia naquele dia, era algo que o auxiliaria a vida inteira. Mauro levantou-se e caminhou em direção á água. Ajoelhou-se de uma vez e permaneceu olhando fixamente para a água por alguns minutos. Quando retornou, propôs caminharem para o centro da cidade. E no caminho Nathan mais uma vez retomou a conversa: ─ E qual é a utilidade dessas mensagens? ─ Elas nos ajudam a distinguir entre o que é importante ou não em relação ao nosso desenvolvimento pessoal. ─ Então não precisamos ter certeza de que estamos interpretando as mensagens corretamente? ─ Não, pois querer ter certeza somente nos limita a compreensão, o mais importante é crer. ─ Mas podemos viver sem ter certeza? ─ Sim, se reconhecemos que há pouco, ou talvez até mesmo nada do qual possamos realmente ter certeza. ─ Não é a descrença vista mais como um sinal de fraqueza? ─ Muitas pessoas pensam que sim, assim, por conseguinte elas verão o que aprenderam como sendo o único verdadeiro conhecimento e crêem nisso pelo resto de suas vidas. 27 ─ Há uma coisa que não compreendo. Se não há certeza, então há somente dúvida, não é mesmo? ─ Mas a dúvida traz com ela a curiosidade, e isso nos leva a buscar mais luz de conhecimento. ─ Mas como podemos crer se permanecermos na dúvida? ─ Quando temos certeza de algo, não mais estamos abertos para outras possibilidades; e é isso justamente o que nos impede de expandir nosso conhecimento! ─ Então a certeza nos impede de ter o benefício da dúvida. ─ Isso mesmo. Assim é melhor aprendermos a desenvolver nossa força interior e acreditar. Dessa maneira ganhamos conhecimento necessário para nossa evolução pessoal. ─ E esta nossa força interior está sempre correta, então? E se estivermos errados? ─ Todos os eventos, até mesmo os feios e temerosos, podem nos dar mais confiança. As experiências são necessárias para libertar nossa força interior. Dessa maneira estamos trabalhando para nossa grande missão, o aumento de nosso conhecimento. ─ Você não disse que nossa maior missão é amar nossos semelhantes? ─ Conhecimento e amor puros são uma única e mesma coisa. Nathan olhou o para o pai, sem entender nada, e Mauro explicou seus pensamentos: ─ Conhecimento puro é o reconhecimento do que é o bem para você; enquanto amor puro é agir corretamente. Quanto mais você reconhecer o que é do bem, mais corretos serão seus atos! ─ Não é o bem e o mal percebido diferentemente por cada um de nós? ─ Sim, todos nós usamos essas observações para distinguir o bem do mal. Por isso é importante estarmos abertos às novas visões, daí poderemos ajustar nossas percepções. ─ Nossas visões de quê? ─ Basicamente as nossas próprias possibilidades e os propósitos que buscamos na vida. Naquele momento, Nathan precisou aquietar-se. Tentou digerir tudo o que tinha ouvido de seu pai. Aprendeu que pensamentos continham sinais, para os quais tinha que ter a mente aberta. Deles podemos derivar mensagens para nos ajudar a fazer nossas escolhas. A fim de estar apto a interpretar essas mensagens corretamente, devemos desenvolver nossa força interior e crer nela. 28 Dessa maneira podemos obter mais luz em nossas possibilidades e evolução pessoal. Nathan estava imensamente inspirado pelo que tinha aprendido naquele dia na Antuérpia. Era como se tivesse compreendido melhor o que sempre soubera. Isso deu a ele uma inacreditável sensação e sede por mais conhecimento. Também se tornara ainda mais claro para ele o que queria fazer na vida: obter conhecimento através da comunicação. Nada lhe dava mais satisfação do que a ampliação de sua visão nas questões fundamentais dos seres humanos e d mundo. Nathan se deu conta do quão sortudo era por Mauro possuir uma biblioteca impressionante. E nos anos seguintes Nathan leria inúmeros livros. Daí escreveria as mais importantes questões em sua mente surgidas e as discutiria frequentemente com seu pai. 29 Contemplação Nathan estava com dezessete anos de idade. Naquele dia de outono ensolarado ele programou discutir sua mais recente lista de questões com seu pai. E foi no parque Atomium que a conversa se deu: um famoso parque em Bruxelas onde um impressionante monumento de nove esferas pode ser visto. Quando Nathan e Mauro chegaram lá, notaram que estava mais cheio do que esperavam, mas aquilo não os perturbou. Sabiam que não seriam facilmente distraídos, uma vez engrenados na conversa. Mauro foi comprar sorvetes e sentou-se ao lado de Nathan. Nas próximas horas, como era de se esperar, o número de conversas proveitosas cresceu. Um colega de Mauro passou por eles. Notou que era Mauro ali sentado e veio na direção deles. Mauro o viu, levantouse e seguiu em sua direção. Nathan permaneceu sentado e tentava entender a comunicação entre eles à distância. A análise da comunicação entre as pessoas frequentemente intrigava Nathan. Notou que seu pai estava escutando com atenção e somente falou uma única vez. Isso deixou Nathan curioso. Quando terminaram a conversa, Mauro despediu-se de seu colega e acenou a Nathan. Juntos caminharam de volta para o carro e Nathan perguntou a Mauro se ele conhecia aquele seu colega há muito tempo, querendo saber qual era o assunto da conversa. Mauro reconheceu a curiosidade de seu filho e disse que eles somente se conheciam superficialmente, mesmo tendo trabalhado juntos há muitos anos. ─ Algumas pessoas nos dão energia, enquanto outras basicamente a tiram de nós. Geralmente, isso esta ligado com as metas que cada um busca. Nossas metas não somente determinam quem somos, mas também como lidamos com os outros. ─ Qual é a melhor maneira de saber se o que buscamos são as metas corretas? Mauro esperou um momento antes de responder. ─ Você se lembra de nossa conversa sobre a força interior? ─ Claro que sim. ─ Quanto mais consciente dessa força, mais luz nós teremos na exatidão da missão a cumprirmos. Entretanto quem não está 30 consciente de sua força interior, tem somente um pouquinho ou mesmo nenhuma luz sobre isso. ─ As pessoas frequentemente buscam missões erradas? ─ Você pode sentir, prestando atenção á energia que emitem. Nathan refletiu. ─ E como foi com seu colega? ─ Meu colega é uma pessoa muito competitiva. Ele gosta de estar no controle e então sempre tenta, consciente ou inconscientemente, manipular seu ambiente. ─ E ele sabe disso? ─ Ele assume que essa é a melhor maneira de lidar com pessoas. ─ E você chamou a atenção dele sobre isso? ─ Tentei algumas vezes, mas preciso ser mais cauteloso. Não seria bom se mostrarmos julgamento sobre nisso. ─ Porque não? ─ Porque por um lado não podemos assegurar de que estamos completamente certos, e por outro, as pessoas que agem erroneamente geralmente se beneficiam mais com compreensão do que com repreensão. ─ Isso significa que temos que compreender e não julgar? ─ Assim, dessa maneira, suas palavras serão mais efetivas. ─ E podemos mudar uma pessoa reagindo assim? ─ Sim, fazendo as perguntas corretas, assim como Sócrates! ─ Agora eu entendo porque seu colega sempre ficava pensativo depois que você falava. Você soube como fazê-lo pensar. ─ Exato. É a forma de falar que rendem os outros ao silêncio! Nathan já tinha recebido informação suficiente, mas não queria terminar a conversa. ─ Você acha que seu colega entendeu bem isso? ─ Se ele achar suficientemente importante pensar sobre isso, sim, há uma grande possibilidade que ele tenha compreendido as minhas mensagens. ─ O que certamente influenciará seu comportamento? ─ Exatamente. Nesse caso nosso encontro terá também um significado para ele e não foi pura coincidência termos nos encontramos! ─ Ele verá isso como um sinal? Mauro balançou a cabeça: ─ Tudo depende do que decidimos fazer com as assim chamadas coincidências. Quando você entende bem isso, pode distinguir entre os que vêem muitas coincidências e aqueles que são mais 31 conscientes, e olham para o maior significado dos eventos em suas vidas. ─ Eu sempre sinto que a vida significa mais do que aparenta. ─ Isso certamente se aplica a você! Nathan sabia que Mauro estava se referindo ao seu resgate milagroso. ─ É possível que o encontro com seu colega também tenha algum significado para mim? ─ A razão se aplica ao meu colega tanto quanto a você. Se essa conversa o leva a uma nova luz sobre a questão, não seria pura coincidência o que nos levou a escolher vir a esse lugar nesse dia específico. Nathan seguiu as reflexões de seu pai e se ficou mais e mais fascinado por isso. ─ Nossas conversas têm me ensinado muitas coisas, tais como passar mensagens sutilmente simplesmente fazendo as perguntas certas. ─ É verdade. ─ Se isso nos leva a alimentar o hábito de formular perguntas que agucem outros a pensar, você fará com que os outros fiquem mais conscientes de sua “força interior”... ─... e isso pode também mudar o comportamento deles. ─ Com a consequência de que você terá um impacto na vida deles. Nathan se tornou ainda mais alerta sobre as conseqüências de cada ação. Ele estava profundamente em meditação agora e tentou compreender tudo corretamente. ─ Podemos então dizer que há muito mais coerência no mundo do que suspeitamos na primeira impressão? ─ Tudo está conectado! ─ Mauro havia dito essas palavras num sério tom de voz. Nathan entendeu que aquilo era uma importante instrução. ─ Tudo mesmo? ─ Cada mudança nos leva à outras, as quais novamente nos leva à novas outras. Nathan tentou captar a extensão dessa nova informação. Mauro não disse mais nada. Abriu a garrafa, e com um pouco de água na mão levou-a sobre sua testa colocando o seu cabelo pra trás. Nathan observou a cena até que seu pai se movimentou de maneira a refrescar a si mesmo. Nathan caminhou até ele e o imitou. De repente Nathan novamente experimentou um momento cativante, e um pensamento claro como cristal cresceu dentro dele. Se tudo influencia tudo, isso significa que tudo está conectado. 32 Agora Nathan compreendia completamente a conclusão que seu pai queria que ele chegasse. Mauro viu nos olhos de Nathan que ele tinha entendido a mensagem. ─ Se tudo está conectado, isso significa que tudo deve ser também uma coisa só! ─ Não se esqueça do que você descobriu por si mesmo! Essa conversa continuaria a vibrar por um longo tempo. Nos dias seguintes Nathan teve dificuldade de concentrar-se em outros assuntos. Manteve-se pensando nas palavras de seu pai, tais como “força interior” e “tudo é uma coisa só”. Era como se seu cérebro continuasse processando a informação. Isso seguiu por alguns dias até que em uma manhã, Nathan despertou e se sentiu completamente descansado. A informação que obtivera estava agora bem ordenada em sua mente. Tinha noção das leis básicas desse mundo em que vivia. Um mundo feito de escolhas e de experiências. 33 Escolhas Nathan agora já tinha quase dezoito anos. Certo dia estava junto de dois colegas de sala, Y Chao e Laura. Y Chao chegara à Bélgica com alguns familiares cerca de três anos antes. Tinham voado de Phnom Penh, a capital do Camboja por razões políticas. Y Chao era extremamente inteligente, tinha aprendido a falar Francês fluentemente em apenas alguns meses e também tinha conseguido excelentes resultados na escola. Laura era descendente de grego, seu pai veio de Thessaloniki e sua mãe das ilhas Naxos. Laura tinha lindos cabelos longos e era sempre extremamente atenciosa. Nathan dizia que ela seria uma mulher fantástica. Nathan, Laura e Y Chao estavam sentados num terraço ensolarado no meio de Bruxelas e estavam tendo uma conversa interessante sobre fazer escolhas. Discutiam as carreiras que cada um seguiria. Era uma conversa animada onde os pontos de vista eram distantes uns dos outros. Mauro, que por acaso estava naquele local, viu Nathan e seus amigos e veio cumprimentá-los. Laura e Y Chao estavam felizes em vê-lo, porque Mauro também era muito respeitado entre os amigos de Nathan e tinha até admiradores. Mauro cumprimentou os jovens e viu que sobre a mesa, haviam pastas, assim ele soube imediatamente qual era o assunto da conversa. ─ Vi que estavam em uma conversa profunda. ─ Estamos falando sobre nossos cursos, Y Chao respondeu. Não é fácil ter que fazer a escolha de uma profissão para exercermos a vida inteira. ─ Há mesmo muito que discutir sobre isso. Y Chao prosseguiu: Estou tentando explicar que na tentativa de escolher a ocupação certa, primeiro temos que descobrir o que fazemos de melhor e assim poderemos aprender a gostar da escolha feita. Laura não se conteve em compartilhar seu ponto de vista com Mauro. ─ Eu disse que primeiro teríamos que fazer uma análise da necessidade presente e como a mesma irá se evoluir até que terminemos nossos estudos. Mauro olhou para Nathan, que também deu sua opinião. 34 ─ Eu penso que devemos basear nossas escolhas naquilo que gostamos de fazer e não é tão importante se a fazemos bem ou não. ─ Em todos os casos, os questionamentos são muito inteligentes, Mauro replicou, Eu penso que vocês deveriam levar todos esses critérios em conta. ─ Mas quais são os mais importantes critérios? Y Chao perguntou. Mauro viu que Y Chao basicamente queria descobrir quem estava certo. Mauro tinha um encontro agendado, mas depois de hesitar um pouco decidiu adiá-lo. ─ Vamos beber algo. Mauro foi fazer um pedido de chá pra todos. Nathan conhecia seu pai. Sabia que Mauro tinha sentido que a ocasião era importante o suficiente para que reservasse um tempo pra ela. ─ Meu pai tem o hábito de levar questionamentos a uma perspectiva maior. Entretanto suas respostas podiam parecer confusas a principio. ─ O que quer dizer? Laura indagou. ─ Às vezes suas respostas não parecem ser uma resposta para a questão de imediato, mas que se torna clara depois de um tempo. Às vezes são tão claras que parecem ser respostas de questões que você não tinha nem mesmo pensado a respeito antes. ─ Estou curioso. Y Chao disse. ─ Já estamos familiarizados com a sua abordagem filosófica. Laura disse e então sorriu. Agora veremos até onde ele pode levar isso tudo! Mauro voltou e sentou-se entre eles. ─ Eu já começarei alertando de que vocês não devem esperar que eu escolha o programa de estudo correto para vocês, terão que fazer isso por vocês mesmos. O chá foi servido. Mauro encheu as xícaras e continuou: ─ Vocês não devem ignorar nenhum dos critérios listados, pois a escolha final não será satisfatória. ─ Qual deve ser a base para nossas escolhas então? Laura curiosamente perguntou. ─ Vamos começar pelo início. Eu notei certa urgência em você e não deve ser assim. Devem reservar um tempo para considerar essa fantástica oportunidade desde que é capaz de continuar estudando. ─ Isso era o que Nathan estava tentando explicar para a gente! A jovem garota disse. 35 ─ Vocês são parte de um grupo de sortudos que podem determinar seu próprio futuro, bem como os de outras pessoas. E isso, por si só, é algo sublime e não é para todos. ─ Trabalhamos duro pra isso, Y Chao adicionou. ─ Eu acredito que sim, mas como você sabe, há muitas pessoas que dão muito mais duro, e mesmo assim têm menos controle sobre seus futuros. Y Chao entendeu que Mauro referia-se às circunstâncias de seu país nativo. Y Chao tinha visto com seus próprios olhos. Era evidente que muitos não teriam a mesma oportunidade. ─ Primeiramente, devemos estar cientes de nossa posição privilegiada, Mauro continuou. Esse é o sentimento que deve prevalecer nesse momento. ─ Até onde isso pode nos ajudar na nossa escolha? Laura indagou. ─ Por estar ciente, o contentamento pode repor a pressão que sentem nesse momento e tornar-se um guia na determinação da escolha correta. ─ Devemos escolher uma ocupação que nos deixa contentes? Y Chao replicou. ─ Se você realmente escolher contentamento, então o contentamento aparecerá com certeza. Ademais, você deve continuar a colher informações para fazer uma escolha racional, e é por isso que o critério mencionado antes é importante também. ─ Como fazemos isso exatamente? Y Chao insistiu. ─ Eu aconselharia você a olhar atentamente a sua volta nos próximos dias e perguntar a seus amigos sobre as atividades diárias de cada um. Pode-se aprender muito fazendo isso. ─ Você quer que descubramos quem está satisfeito com suas ocupações? Y Chao perguntou. ─ Vocês aprenderão muito sobre si mesmos. ─ E em que devemos prestar atenção? Laura replicou. ─ Você aprenderá como é a vida deles. Assim ficará claro para você saber como não quer viver! Y Chao daí comentou: ─ Eu quero fazer algo que ganhe bastante dinheiro. Mauro o alertou: ─ Cuidado para não passar a vida toda procurando por um tesouro que poderá não encontrar. Sua motivação pode não ser a recompensa, mas o trabalho por si mesmo! ─ Mas trabalhamos por um propósito e o propósito é a recompensa. Y Chao ponderou. 36 Laura confirmou seu ponto de vista. ─ A maioria das pessoas que conheço trabalha primeiramente por dinheiro. ─ E maioria está sempre correta? Mauro perguntou. ─ Não, lá isso também é verdade. Mas o que devemos concluir disso então? Mauro bebericou o chá e respirou fundo. Nathan estava ouvindo com atenção, e principalmente observava a maneira como Mauro transmitia suas idéias. Viu como Mauro direcionou a conversa e trouxe certos assuntos para a discussão. ─ Pra responder a sua pergunta, Laura, eu teria que discutir nossa percepção de realidade. ─ Você tem toda a nossa atenção. A garota respondeu. ─ Vamos falar sobre o significado de “recompensa”. Está claro que uma recompensa por trabalho pode somente ser obtida após o trabalho ter sido finalizado, ou seja, ainda virá no futuro. ─ Naturalmente. Y Chao disse. ─ O curioso sobre o futuro é que ele não toma parte da realidade, Mauro continuou. ─ Mas o futuro realmente existe? Laura perguntou a si mesma. ─ Irá existir em qualquer momento, mas hoje pode somente existir na nossa imaginação. Laura e Y Chao olharam para Nathan; aparentemente Nathan já tinha se dado conta disso. ─ O mesmo se aplica ao passado, Mauro continuou. O que já aconteceu pode também somente existir na nossa memória, e assim, somente podemos lembrá-lo. Laura e Y Chao balançaram a cabeça indicando compreensão. ─ Você então pode dizer que somente o que presenciamos no presente está realmente acontecendo. Novamente Laura e Y Chao acenaram em concordância. ─ O curioso é que a maior parte das pessoas deixa que suas emoções sejam influenciadas pelo que eles ainda se lembram de seu passado ou pelo que pensam que o futuro lhes reserva, e raramente vivem no presente. Mauro bebeu seu chá e deu a Laura e Y Chao o tempo suficiente para absorver totalmente sua mensagem. Nathan os ajudou confirmando tudo. ─ Muitos não estão cientes de que a realidade somente acontece no presente. 37 ─ Isso significa que somente o presente é importante? Laura questionou. Mauro olhou diretamente nos olhos de Laura. ─ Já fez algo que não ainda não aconteceu no presente? ─ Não, pois isso não é possível. Mauro agora direcionou a atenção à Y Chao. ─ Alguma vez já experimentou algo que não tivesse acontecido no presente? ─ Isso é simplesmente impossível. Mauro olhou cada um deles naquele momento. ─ Então é isso. Não somos nem ao menos capazes de pensar sobre algo em um momento que não está no presente. ─ E que tal fazer planos para o futuro? Laura questionou, sem estar preocupada com a resposta. ─ Somente o planejamento pode acontecer no presente, não a execução. v─ Verdade. Nossa vida inteira somente acontece no presente. Y Chao ressaltou. ─ O que meu pai quer enfatizar é que qualquer que seja a recompensa que esperamos, ela somente existe em nossa imaginação. ─ Quanto mais entendemos isso, Mauro continuou, mais estaremos cientes da nossa realidade. ─ É verdade que muitas pessoas temem o futuro que acontecerá amanhã. Laura adicionou. ─ Arrependimento e medo, Mauro continuou, continuam a corroer a nossa auto-imagem e autoconfiança. Isso causa a pressão que eu mencionei anteriormente. Essa pressão, então influencia todas as escolhas que fazemos. Se não mais sentíssemos essa pressão, seríamos menos impressionáveis e assim mais seguros de nós mesmos. ─ Não estamos autorizados a ver o que está ainda por vir? Y Chao perguntou. ─ Não se esqueça de que você somente olha adiante para um pensamento. Um pensamento que pode se baseado em alta expectativa, e alguém nutrindo altas expectativas irá inevitavelmente se tornar frustrado. Mauro bebericou seu chá e continuou: ─ Algumas pessoas têm trabalhado a vida toda por certa recompensa, mas somente aqueles que realmente apreciaram seu 38 trabalho sabem da sua recompensa. Todos os outros permanecerão com a sensação de que perderam seu tempo. Nathan ainda prestava atenção em como Mauro passava suas mensagens e a sua habilidade de convencer pessoas de sua visão. Prestou atenção em seus gestos, suas escolhas das palavras, sua voz e até mesmo em suas pausas. Nathan não poderia ter desejado um mestre melhor. Laura tentava descobrir como aplicar toda aquela informação na prática. ─ O que me diz dos que requerem muito esforço? ─ Sem esforço, Mauro disse-lhe, você somente pode alcançar o que não vale o esforço. Embora sua satisfação deva também estar no caminho de seu propósito e não somente em alcançá-lo. ─ Alcançar o objetivo pode nos fazer felizes, certo? Y Chao questionou. ─ Como você define a felicidade? ─ Preferia ouvir de você. ─ Pra mim é continuar desejando o que é bom na minha vida. ─ Muito bem colocado, Laura. E para você Y Chao? Y Chao não estava certo se Mauro concordaria com a sua definição de felicidade. Hesitou um pouco, mas finalmente se atreveu e disse: ─ Pra mim, é fazer meus sonhos se tornarem realidade! ─ Sonhos são muito importantes. Y Chao olhou para Mauro. Por um lado, estava feliz que Mauro concordou com ele, por outro, estava impressionado com a resposta. ─ Mas sonhos também acontecem na nossa imaginação, não? ─ Sonhos são mensagens que recebemos de nossa “força interior” a fim de descobrir nossa verdadeira missão. ─ Verdade? Laura exclamou. Isso é lindo! ─ Você somente pode realizar algo se você puder imaginá-lo. ─ Até mesmo se eu sonhar que vou ficar rico? Y Chao perguntou. ─ E o que ser rico quer dizer pra você? Mauro inquiriu. ─ É ter dinheiro suficiente para ser livre, Y Chao respondeu. ─ Suficiente? Mauro perguntou. Mauro manteve-se em silêncio por um momento para que o mesmo fizesse efeito. Nathan sabia o quanto seu pai valorizava o silêncio. Suas intenções eram deixar Y Chao entender o seu desejo. Um pouco mais tarde Mauro continuou: 39 ─ Nossos desejos não conhecem fronteiras e crescem à medida que são alimentados. Não podem nos satisfazer por completo, somente nós mesmos podemos fazer isso. ─ O que você quer dizer com isso? Y Chao perguntou. ─ Sim, Mauro respondeu. Fazê-lo entender que a verdadeira riqueza não está no aumento de nossa capacidade, mas no controle de nosso desejo. Mauro terminou seu chá enunciando que teria que deixá-los. Pagou a conta e preparou-se para sair. ─ Então, eu espero ter contribuído com alguma coisa para a definição do curso de seus estudos. ─ Sabe - disse Y Chao. O que eu aprendi hoje pode ser mais benéfico a mim do que apenas para a escolha de meus estudos. Laura, que estava impressionada, fez uma ultima pergunta: ─ O que devemos aprender para que nos tornemos tão sábios quando o Senhor? Mauro sorriu. ─ Recebemos sabedoria de lições que a vida nos impõe inesperadamente! Mauro disse até logo e desejou a Laura e Y Chao boa sorte na escolha correta. Depois da saída de Mauro, Nathan e seus amigos mantiveram-se falando por um tempo sobre o que tinham acabado de discutir. Nathan era a pessoa principal que podia ver claramente a impressão deixada por seu pai. A continuação de seus estudos não era tão prioridade para Nathan. Assim como seu pai, ele queria explorar o mundo tanto quanto fosse possível. Sua fome de conhecer pessoas, novas culturas e novos países tinha aumentado a cada ano. Mauro, por sua vez, sabia que o dia da partida de seu filho estava por vir. Doía nele ter que dizer adeus, mas ele também sabia que era necessário para seu desenvolvimento pessoal. Foi Mauro quem o ensinara que não havia maneira melhor de ganhar conhecimento do que vivendo. Naturalmente, Mauro também sabia que Nathan era capaz de algo grandioso, uma sensação que até mesmo Nathan percebia a cada dia. Ate que um dia, com o final do verão, o momento chegara. Nathan decidiu viajar para a França e procurar emprego lá. Mauro não se preocupou. Nathan era maduro o suficiente e estava pronto. No dia de sua partida Mauro enfatizou a Nathan que sempre confiasse em si mesmo. 40 ─ A cada obstáculo, pergunte a si mesmo se é necessário passar por ele . Obstáculos desnecessários podem desviá-lo de seu caminho. ─ E com relação aos obstáculos que tenho que passar, será que serei capaz de superar a todos? ─ Eles somente se tornarão insuperáveis se você se ativer á dúvida. Então, sempre mantenha em sua mente que nunca irá encontrar obstáculo tal que não tenha forças o suficiente para vencê-lo. ─ E se minha confiança alguma vez se extinguir? ─ Pelo contrário, a cada obstáculo encontrado nossa força interior cresce! ─ Como saberei que estou no caminho correto e não apenas tentando transpor um obstáculo desnecessário? ─ Deixe que seus dois guias sempre o acompanhem e certifique-se de que eles não padeçam. Quanto mais você os alimentar, melhor eles o guiarão. ─ Meus dois guias? ─ Eles ficam ao seu lado em forma de perguntas. ─ Questionamentos que devem ser alimentados e me guiarão? ─ O primeiro guia é a pergunta: o que vive dentro de em mim? ─ Esse é o questionamento mais importante da vida. ─ O segundo guia é a pergunta: o que pode enriquecer minha vida? ─ Olha só, você já está mencionando as duas questões fundamentais! ─ Esses grandes guias conhecem como ninguém o caminho que você tem que seguir. A cada pensamento, a cada conversa, a cada experiência, alimente seus guias. Eles o ajudarão a seguir na direção de seu propósito de vida. ─ Você disse que eles podem padecer? ─ Sim, pode acontecer se eles não forem alimentados com seus pensamentos, reflexões, conversas ou experiências. Naquele momento Nathan compreendeu completamente a mensagem de seu pai. E novos questionamentos surgiram. ─ Todas as pessoas podem alcançar seu propósito de vida? ─ Todos aqueles que desenvolvem sua força interior suficientemente. Eles se olharam e, sem pronunciar uma palavra sequer, se entenderam, até que Nathan disse: ─ Eu queria lhe dizer algo muito importante e eu estou realmente convencido disso. Mauro ouvia atentamente. 41 ─ Eu sei que não poderia ter encontrado na Terra um melhor pai do que você. Sua motivação, seu conhecimento, seu comportamento e especialmente seu amor são a base de tudo que eu for capaz de realizar na minha vida! A emoção se tornou aparente em Mauro após ouvir as palavras de seu filho e assim se deram um longo abraço apertado. 42 -2Conhecimento Superior 43 44 Busca Nathan chegou a Paris e desceu do trem na estação Norte. O dia estava de sol de modo que os terraços estavam lotados. Ele vagou pela cidade, comeu alguma coisa e alugou um quarto por alguns dias em um hotel perto da Place Clichy. Não era a primeira vez que Nathan visitava a cidade-luz, mas desta vez era diferente. Agora tudo era diferente. Não havia mais obrigações escolares, ele podia dormir onde e quando quisesse, e decidir tudo sozinho. Parecia que estava iniciando uma nova vida. Nathan decidiu explorar a cidade mais a fundo e começar a procurar trabalho. Comprou um mapa da cidade e começou a procurar. Apreciou a atmosfera típica da cidade e, aqui e ali entrava em algum lugar para perguntar se precisavam de alguém para trabalhar. Três dias após sua chegada, Nathan se viu no “Lê Sentier”, um local de encontro para fabricantes de tecidos do mundo todo. Este distrito era conhecido pelo amplo mercado local. Estava sempre lotado e caótico, mas Nathan achou aquilo tudo muito interessante. Ele falou com alguns fabricantes de tecidos e foi assim que conheceu Simon, um senhor descendente de Judeus. O homem grisalho parecia ser bem profissional e aparentava ser um homem bastante experiente. Junto com seu filho Moshe, Simon tinha um comércio de tecidos. Moshe dava a impressão de ser um jovem mimado com certa tendência a tratar os outros com um quê de desprezo. A empresa de tecido tinha mais de dez funcionários. Simon estava ocupado sentado em sua mesa recebendo as atualizações da administração. O que não impediu que Nathan se aproximasse dele. ─ Você acha que pode contratar mais um funcionário? Simon olhou para ele sobre seus óculos sem mover a cabeça e, imediatamente depois, sua atenção já estava de volta a seus documentos. ─ Quem é você? ─ Meu nome é Nathan. ─ Quantos anos você tem? ─ Vou fazer dezoito mês que vem. ─ Você tem alguma experiência? Nathan achou que o homem mostrou um pouco de interesse. 45 ─ Repito que no mês que vem vou fazer dezoito anos de experiência. Simon fitou Nathan mais uma vez, porém desta vez demorou-se um pouco mais e, então, colocou seus documentos de lado e acomodou-se em sua cadeira. Nathan foi bem sucedido em sua intenção. Aparentemente, Simon não havia esperado uma resposta como aquela, e agora parecia realmente interessado. Ele olhou atentamente para Nathan. ─ Dê-me uma boa razão pela qual eu devo contratar você? ─ Vejo que aqui você tem clientes do mundo todo. Eu falo quarto línguas e poderia ajudá-lo a se comunicar com eles. ─ Temos negociado aqui com todos por anos e essa negociação flui bem em francês. ─ Mesmo assim, mais clientes selecionarão os seus negócios quando souberem que podem se comunicar em sua própria língua! ─ O que importa pra mim é saber se você é honesto ou não. ─ Mesmo quando não sou tratado justamente, sempre tento permanecer honesto, Simon pensou que Nathan era um jovem diferente, até mesmo um pouco estranho, mas alguma coisa o atraía naquele jovem. Ele pensou sobre isso e então disse que Nathan podia começar no dia seguinte como empregado do armazém. Nathan agradeceu a Simon por sua confiança e retornou para o seu hotel com um sentimento bom. Ele sabia que Simon tinha muita experiência de vida e tinha a sensação de que poderia aprender muito com ele. No dia seguinte, Nathan chegou bem cedo. Simon o fez realizar uma contagem de estoque e rearranjar o armazém dizendo que esta era a maneira ideal de conhecer todos os produtos. Foi um dia longo e cansativo. Era tarde da noite quando Simon foi ver Nathan. ─ Pode parar agora, você trabalhou muito bem hoje. ─ Me disseram que tudo o que está aqui tem que ser empacotado. Simon olhou para a grande quantidade de caixas que ainda precisavam ser empacotadas. ─ Você gosta de trabalhar aqui? Nathan pensou que Simon pudesse estar insatisfeito e que diria a ele que era demasiado lento e que não precisaria mais voltar. ─ Espero que leve em consideração que este é o meu primeiro dia aqui. Simon olhou para Nathan e percebeu as suas dúvidas. ─ Se gosta de fazer o seu trabalho, deve sempre deixar uma pouco para o dia seguinte. 46 Nathan ficou feliz. Ele não tinha que se preocupar e nem limpar tudo. Quando Simon quis sair do armazém, Nathan se aproximou dele. ─ Você sabe se ainda tem ônibus? ─ Não tenho idéia. Onde você mora? ─ Aluguei um quarto no Place Clichy. ─ Venha, vou te dar uma carona. Nathan ficou feliz em ir com ele. No caminho para o hotel, Simon ficou curioso. ─ Você alugou um quarto inteiro só para você? ─ Sim. Estou em Paris só faz alguns dias. ─ Onde estão os seus pais? ─ Cresci com meu pai em Bruxelas. ─ O que seu pai faz? ─ Ele é repórter de um jornal sobre política internacional. ─ Diga-me: porque está aqui? ─ Acabei de começar uma jornada. ─ Uma jornada? Para onde está indo? ─ Não sei ainda. ─ Porque você procura este tipo de trabalho? ─ O tipo de trabalho não me importa, contando que eu o ache instrutivo. Simon não disse nada por um tempo. ─ Viajar é bom. Amplia sua visão de mundo! Nathan estava animado. Ontem, ele tinha seguido sua intuição e este caminho o havia posto em contato com Simon. Quanto mais o ancião falava com ele, mais Nathan sentia que ele realmente teria algum significado em sua vida. ─ Seu pai concorda que você esteja aqui sozinho? ─ Ele acha que estou pronto para isso. ─ Pronto para o quê? ─ Pronto para determinar meu caminho sozinho. Simon seguiu para o hotel onde Nathan estava hospedado, onde este desceu do carro e o agradeceu. Antes de se despedir, Simon fez uma proposta: ─ Há um quarto livre no sótão de minha casa. Assim, você poderia ir comigo de carro para o trabalho todos os dias. ─ Obrigado pela oferta. Vou pensar a respeito e lhe respondo esta semana. Nathan esperou até o final daquela mesma semana para ver como as coisas se desenvolveriam no trabalho, e no fim de semana ele se 47 mudou para a casa de Simon e Moshe. Também foi apresentado á mãe de Moshe e foi rapidamente aceito. Nos próximos meses, Nathan recebeu mais responsabilidades de Simon, passou muito tempo com Moshe e se especializou em políticas de vendas. 48 Sinal A cada três meses, Nathan viajava com Simon para a Ásia para comprar tecido. Assim, ele tinha a oportunidade de visitar a Índia, o Paquistão e Bangladesh. Moshe não gostava de viajar e tinha estado somente em Bangladesh. Contrariamente, Nathan estava sempre ansioso por estas viagens distantes que duravam pouco e, na verdade, pouco demais para ter uma boa impressão da cultura local, mas, mesmo assim, Nathan conseguia descobrir coisas estranhas junto com Simon. Em várias ocasiões, experimentou coisas bastante peculiares. Havia sido vigiado em algumas ocasiões e às vezes até mesmo seguido por alguém. Quando Simon perguntou a ele a razão pelo que o estavam seguindo, não obteve uma resposta muito clara. Alguns disseram que Nathan era um protetor; outros viam nele um homem santo. Simon tinha viajado muito tempo atrás para a Ásia e foi usado para ouvir as mais diversas estórias de estranhos. No início, Simon ignorava tudo e até mesmo dizia entre risos que era bom para os negócios. Mas depois de um tempo ele teve que admitir que algo estranho, misterioso até, estava acontecendo! Simon sabia que espiritualmente desempenhava um amplo papel na vida das pessoas nesta parte do mundo, mas nos três países que tinha estado com Nathan, havia um par de acontecimentos memoráveis. Em lugares diferentes, as crianças, e ás vezes adultos também, tinham instantaneamente abordado Nathan para oferecerlhe água. Isso ocorria sem nenhum propósito. Quando Simon perguntou às crianças o porquê, não obteve resposta. Eles sorriam de maneira amistosa, olhando Nathan enquanto bebia e então iam embora. Claro, para Nathan o vínculo com a água não era algo novo, mas ele achou impressionante que pessoas que nunca tinha sequer encontrado antes, também faziam este vínculo. O que Nathan mais se lembraria desta jornada na Ásia era que as pessoas que o abordavam estavam claramente esperando algo dele. Era mais uma antecipação, como se soubessem que algo estava por vir. A primeira jornada foi para Mumbai na Índia, uma cidade que daria uma bela impressão para Nathan, especialmente com um grande número de pessoas nas ruas e nos mercados. Na segunda noite de sua estada em Mumbai, Nathan e Simon tinham ido à 49 Calaba, um distrito fora da parte sudeste da península. Eles saíram para comer em um pequeno restaurante perto d'água, quando um homem abordou Nathan. O homem tinha os cabelos negros e brilhantes e olhos escuros. Parecia bem apessoado, e usava uma camisa longa e branca com calças também brancas e chinelos marrons. Sua pele escura contrastava com suas roupas muito alvas. Ele falava em Hindu com Nathan. ─ Você já conhece sua maior missão? Ao lado de sua mesa havia um grupo de jovens estudantes. Uma das garotas do grupo percebeu o que estava acontecendo e traduziu as palavras do homem para Nathan. ─ Por que aquele homem acha que eu tenho uma grande missão? Nathan perguntou. A garota interpretou suas palavras e gestos para os outros. ─ Por causa de seu elemento natural. Simon achou que o homem estava agindo de maneira bizarra e ponderou sobre suas intenções. ─ O que é o elemento natural para você? ─ Uma fonte inesgotável da terra! Ninguém ficou mais confortável com estas palavras. Simon também tinha notado que Nathan ficou desconcertado por causa de tudo aquilo e pediu ao homem que o deixasse em paz. O homem aquiesceu calmamente e continuou com a encenação. Nathan e Simon mantiveram os olhos nele. Um pouco mais adiante, o homem parou e virou-se para olhar uma vez mais para Nathan. Ele juntou as palmas da mão em seu peito, fez uma ampla reverência e só então se foi. Nathan não sabia o que pensar sobre isso. Simon percebeu que isso o tinha confundido e o advertiu daqueles trapaceiros: ─ Esteja sempre aberto para todas as oportunidades, mas também fique alerta àqueles que podem ter más intenções. ─ Como posso distinguir entre quem está sendo sincero e quem não esta? ─ Sinceridade e decepção não são inerentes às pessoas. Todo mundo pode ser honesto e trapaceiro às vezes. ─ Quer dizer que todos nós trapaceamos em algum ponto da vida? ─ Quando tentamos pintar uma figura diferente do que realmente somos, estamos trapaceando. Todos fazemos isso, mas alguns mais que os outros. ─ Como saber então quando alguém esta sendo sincero? 50 ─ Não focando em suas palavras ou ações, mas em suas reais intenções! ─ Não são os grandes trapaceiros aqueles que melhor podem esconder suas reais intenções? ─ É isso aí. Eles têm feito disso um hábito tão grande que nem mesmo prestam atenção a si mesmos quando estão trapaceando! Nathan ficou quieto e com o olhar perdido no horizonte. Pouco mais tarde, tinha novas perguntas: ─ Você acha que aquele homem queria me tapear? ─ Tenho muito pouca informação para ter certeza disso. Se era isso o que queria, não o dei qualquer oportunidade para tal. ─ Então talvez aquele homem estivesse falando a verdade? ─ Realmente acho que ele acredita no que diz, mas como você sabe, a verdade, assim com a água, assume a forma do recipiente onde é colocada. ─ Será que não deveríamos tê-lo ouvido um pouco mais? ─ Percebi que ele o tinha confundido e nestas horas podemos ser facilmente influenciados. ─ Eu realmente fiquei bastante influenciado. ─ Não se preocupe. Se o homem foi sincero, o significado de suas palavras se tornará claro depois de um tempo. Na segunda viagem, outra situação peculiar ocorreu. Aconteceu em Carachi, no sul do Paquistão. No último dia de viajem, Nathan estava com Simon e mais três parceiros de negócios. Estava muito quente e úmido naquela hora e eles estavam em meio a uma viajem para a ilha de Manora, não muito longe de Carachi. Na ilha, o clima estava um pouco mais agradável graças a uma leve brisa que soprava. Foi um dia bastante ocupado. Aparentemente, muitos habitantes de Carachi tinham decidido ir até a ilha para se refrescarem um pouco. O grupo visitava um mercado local, quando de repente, dois homens idosos vieram em direção a Nathan. Pareciam iguais em suas barbas brancas e chapéus retos. Ambos vestiam uma blusa bege com colete sem mangas marrom escuro. Dois homens notaram Nathan de longe e vinham direto em sua direção através da multidão. O primeiro homem parou bem de frente a ele. Colocou as mãos em seus ombros e falou em Urdo: ─ Por favor, tenha paciência! Samir, um dos parceiros de negócios, estava parado ao lado de Nathan o tempo todo e também percebeu a cena. O resto do grupo não tomou conhecimento de nada e continuava andando. Samir não 51 entendeu o que o idoso queria com Nathan e pediu para que este repetisse o que havia acabado de dizer. O homem falou com ele: ─ Peça a ele para ser paciente! Samir traduziu para Nathan: ─ Ele pede para que você seja paciente. ─ Paciente com o que? Com quem? Samir traduziu de novo: ─ Paciente com a ignorância de todos nós! Samir não entendeu a situação. Ele percebeu que Simon e os outros dois homens já estavam longe a ponto de não mais poderem ser vistos, e propôs a Nathan que continuassem andando. Quando quiseram sair, o segundo homem pediu a Samir que traduzisse mais uma coisa: ─ Diga a ele que tenha coragem e que conseguirá nos mostrar o caminho. Samir traduziu a última parte para Nathan e acrescentou que não fazia a mínima idéia do que o homem queria dizer. Eles se despediram e continuara andando. Nathan ficou em silêncio. Este evento o havia confundido de novo, igual ao que aconteceu em Mumbai Estariam estes homens transmitindo a ele uma mensagem importante ou eram impostores? Nathan e Samir se apressaram para alcançar o resto do grupo. Samir percebeu que algo muito estranho tinha acabado de acontecer e agora questionava Nathan: ─ O segundo homem falou sobre mostrar o caminho. - o que ele quis dizer com isso? ─ Sinto muito, eu entendi tanto quanto você desta estória. Samir não ficou nem um pouco satisfeito com a resposta de Nathan, mas não insistiu. ─ O que ‘paciente’ significa para as pessoas daqui? Nathan perguntou pouco mais tarde. ─ Para o meu tio eu sei que “paciente” serve para compreender os erros dos outros! ─ Para o meu pai, eu sei que tais erros nos mostram o caminho! Os dois homens continuaram a andar. Uma vez de novo com Simon, Nathan contou a ele o que havia acontecido. Simon ouviu atentamente e franziu as sobrancelhas. ─ Se o que aquele homem disse e o que aquele homem lá em Mumbai disse for verdade, então não pode haver nenhuma outra explicação que a de que você realmente possui algum dom diferente! 52 Na Índia, Nathan já tinha sentindo que o que havia acontecido poderia ser um sinal. Depois do que aconteceu aqui no Paquistão, ficou ainda mais claro para Nathan que ambos os acontecimentos eram sinais. Ele tentou atribuir um significado a isso. Nathan queria ter considerado essa possibilidade o mais racionalmente possível e ficou ainda mais confuso. Porém, não importava o quanto tentava compreender, simplesmente não conseguia encontrar nenhuma explicação sensata para estes eventos. Então, dali por diante, isso se tornou um grande enigma. A terceira, e mais estranha situação, aconteceu durante sua estada em Bangladesh. Naquele tempo, o país passava por uma inundação bem pouco provável. Um ciclone havia causado uma onda gigante e o mar havia invadido grande parte do país. Na última noite de sua estada também choveu bastante forte, causando inundações de rios e riachos. Nathan estava ficando com Simon e Moshe no hotel Dhaka. Seus quartos eram no andar mais alto do hotel, de onde Nathan tinha uma visão panorâmica da capital do país. Quando ele abriu sua janela naquela manhã, ele podia claramente ver a destruição causada pela água. Dhaka tinha se transformado em um atoleiro gigante no qual a população se isolara e perdera seus pertences. O pânico havia tomado todos os cantos a que se via, e todos gritavam. Certo momento, o teto do prédio que estava bem de frente a ele chamou sua atenção. Podia-se ver uma senhora no alto do telhado sentada em uma cadeira. Ela o olhava diretamente. A mulher tinha rugas no rosto e vestia um longo e quente vestido todo enlameado. Ela devia ter cruzado as ruas enlameadas, o que o levava a crer que ela não morava ali. Eles continuaram fitando-se até que Nathan se sentiu incomodado. Naquele momento, Moshe bateu à porta. Nathan se virou e abriu-a. Moshe disse que tinham que se arrumar rápido porque não seria fácil chegar ao aeroporto devido ao estado das ruas. Nathan se arrumou rápido sem dar mais atenção à senhora no telhado. Quando desceu, Simon e Moshe estavam tomando o café da manhã. Juntou-se a eles e pediu seu café. Simon disse que sentia que seria difícil chegar ao aeroporto. Saíram imediatamente assim que o táxi chegou. Então, Nathan começou a ver imagens que jamais sairiam de sua memória. As ruas tinham se tornados vias de lama. Os carros mal podiam avançar e por todos os lados as pessoas clamavam por ajuda. Muitas vezes, pediu ao taxista que parasse. Era difícil para Nathan ver tanta miséria então, voltou-se para Simon: 53 ─ Como pode a natureza ser tão incrivelmente cruel? ─ Não é a natureza que é cruel, o que seria totalmente sem sentido! ─ E o que poderia fazer algum sentido nisso tudo? ─ Como em qualquer catástrofe, isso também diz respeito ás mudanças que resultarão disso tudo. ─ Que mudanças? ─ Mudança de mentalidade. As calamidades podem fazer as pessoas desenvolverem características tais como a coragem, compaixão e a capacidade de trazer as perspectivas à tona! O táxi seguiu em frente. Nathan tinha dificuldades em ver as coisas pela mesma perspectiva que Simon. ─ Há alguma coisa que podemos fazer para ajudar? ─ Não. Não muito neste momento. ─ Agora não? Mas não é agora que eles precisam de nossa ajuda? ─ O silêncio segue cada calamidade, assim todos podem descobrir o que aprenderam com ela! Pouco mais tarde, descendo a rua, o táxi derrapou e foi parar do outro lado. O grupo saiu do táxi e empurrou o carro de volta para a via, e o conseguiram depois de alguns minutos. Justamente quando Nathan estava entrando no carro, já que o fez depois de todos os outros, algo estranho aconteceu. A mulher que ele tinha visto no telhado estava de pé na sua frente. Ela olhou para ele e sorriu. Nathan sorriu em resposta educadamente, entrou no carro e fechou a porta. Pensou como era possível que aquela mulher, que ele viu anteriormente no hotel, podia estar bem ali agora? Ele não conseguia entender como ela conseguiu chegar ali com tamanha rapidez. Seria este um novo sinal? Ele tinha que fazer alguma coisa? O táxi começou a andar antes que ele pudesse tomar uma decisão. Uma hora depois, chegaram ao estacionamento do aeroporto. Apesar de tudo, o percurso tinha sido melhor que o esperado e eles ainda tinham tempo para gastar. Após Simon, Moshe e Nathan fazerem o check in para o vôo, foram para o terminal do aeroporto. As filas estavam longas e quase todos os assentos estavam ocupados. Simon comprou um jornal e ocupou um lugar vazio. Nathan e Moshe decidiram dar uma volta pelo aeroporto. Em outro dado momento, Nathan percebeu a mesma senhora novamente. Era a terceira vez que a via. Nathan pensou se ela também tinha feito o check in, ou se eles simplesmente a deixaram passar. A mulher se sentou e olhou para ele com um sorriso nos lábios. Nathan não entendia, mas estava completamente convencido de que a senhora 54 estava lá por causa dele. Ele explicou para Moshe que esta era a terceira vez nesta manhã que ele via aquela mulher. Agora, Moshe também estava curioso. Os jovens se aproximaram da mulher para perguntar-lhe se ela estava seguindo Nathan. Como ela só falava bengali, Moshe procurou alguém que pudesse entender inglês. Pouco mais tarde, encontraram um homem que pode interpretar toda a conversa. Moshe repetiu a pergunta: ─ Você está seguindo Nathan? A mulher respondeu calmamente, sempre sorrindo: ─ Sim, eu estou. Nathan não estava realmente surpreso com a resposta. ─ Você continuará me seguindo quando eu voltar para a Europa daqui a pouco? ─ Você terá que viajar muito. Isto é só o começo - ela respondeu. ─ O começo de que? ─ O começo de sua busca! ─ E o que ele está procurando, então? Moshe quis saber. ─ A direção certa para todos nós. ─ A direção certa? Perguntou Moshe. E para onde nos levará? ─ Ele descobrirá e então o dirá a todos! Nathan ouvia, mas não sabia o que pensar sobre isso. As mesmas perguntas como na Índia e no Paquistão voltaram à tona para ele. Estaria esta mulher tentando tapeá-lo? Será que ela via algo que ele não percebera? Estaria ela querendo esclarecer algo para ele? Nathan e Moshe olharam para Simon sentado a certa distância. Ele ainda lia o jornal e não havia percebido nada. A mulher olhou para Nathan ternamente e tocou sua face com as mãos. Nathan pediu ao homem para interpretar mais algumas perguntas. O homem também ficou curioso e estava feliz por participar da conversa. ─ Pergunte a ela onde eu encontrarei a direção certa? ─ Cuidado! Não deixe que ela o influencie! Advertiu Moshe. ─ Não se preocupe. Eu quero ouvir a resposta. ─ Você terá que deixar que a correnteza o leve - disse a senhora. ─ Estava se tornando incrivelmente difícil entender o que a mulher queria dizer. Moshe quis saber por que ela o havia seguido. ─ Pode perguntar por que ela esta aqui? ─ Para esclarecer algumas coisas e reavivar a minha memória do sentimento da esperança - ela disse. ─ Você tem esperança de que? Nathan perguntou. 55 ─ De você! Ela respondeu. ─ O que significa esperança para você? Continuou Nathan. ─ Esperança é o gosto de felicidade futura! ─ Você tem certeza do que acha de mim? ─ Não tenho certeza de nada, mas não é necessário tê-la. Isso tem a ver com o que sinto quando olho para você. ─ O que você vê exatamente? ─ perguntou, então, Moshe. E como você sabia que o Nathan estava hospedado naquele hotel? ─ Eu o segui porque ele tinha alguma coisa que somente poucas pessoas têm. Nathan pensou em como esta mulher, que ele nunca tinha visto antes, achava que sabia tanto sobre ele. ─ E o que seria isso que eu tenho, então? ─ Pelo que você irradia, as pessoas o amam sem que você tenha que agradá-las. E isso é muito raro. As pessoas que têm este dom, assim como você, são enviadas com um propósito maior. Naquela hora, o vôo para Paris foi anunciado e os passageiros tinham que se apresentar para o embarque. Nathan se despediu da mulher, agradeceu ao homem e ele e Moshe foram até Simon. No avião, Nathan tentou se lembrar de cada uma das afirmações da senhora. Este acontecimento indicava que algumas pessoas aparentemente o consideravam como excepcional e também como se tivesse certa predestinação, porém ele não tinha a menor idéia do que pudesse ser. Moshe e Nathan conversaram sobre o ocorrido com Simon, que também trouxe a tona os acontecimentos em Mumbai e Carachi, mas mesmo Simon não podia dar uma resposta sensata para isso. Quando Simon caiu no sono pouco mais tarde, Moshe sussurrou para Nathan: ─ Eu sei quem pode te ajudar. Nathan sabia que Moshe tinha esperado até que Simon dormisse para falar com ele. ─ Então me diga! ─ Eu conheço uma mulher que consegue ver as coisas que os outros não podem ver. ─ Uma vidente? Nathan perguntou. ─ Shiii... quieto! Eu não quero que meu pai saiba disso. ─ Por que não? Ele acha que estes tipos de pessoas são perigosas. ─ Porque ele pensa assim? 56 ─ Ele diz que eles fizeram disso suas profissões para controlar os outros com seus poderes. ─ Você tem medo? ─ Não... pelo contrário. Eu a vejo com freqüência e muito do que ela previu para mim, aconteceu. ─ Deixe-me pensar sobre isso e eu te digo se quero ir até ela ou não. Toda vez que voltava da Asis, Nathan telefonava para seu pai para dividir suas experiências com ele. Mauro também não tinha resposta imediata para estes acontecimentos bizarros. Ele aconselhou Nathan a escrever todas estas experiências interessantes enquanto ainda estavam recentes na memória. Então, ele tinha tentado tornar as conexões entre elas possíveis. Após o último incidente em Bangladesh, Nathan perguntou a Mauro se seria ou não interessante visitar uma vidente. ─ Será que uma vidente poderia lançar um pouco de luz sobre isso tudo? ─ Ninguém tem mais informações sobre você do que você mesmo! Respondeu Mauro ─ Será que é perigoso? ─ Só poderá ser perigoso para as pessoas que não estão completamente atentas aos seus poderes interiores. Estas podem ser influenciadas facilmente. ─ O que pode acontecer? ─ Na melhor das hipóteses, as videntes tentarão fazer com que seus clientes dependam delas para que continuem voltando e pagando por suas doses de bons sentimentos, pois é isso o que negociam: bons sentimentos. ─ E na pior das hipóteses? Na pior das hipóteses, as videntes podem agir como tiranas e desejarem, ou até exigirem uma submissão completa. ─ Você está aconselhando-me a não ir? Mauro ponderou um pouco. ─ Não... você pode ir. Eu sei que você é forte o bastante. Alguns dias depois, Nathan foi com Moshe até a vidente. No caminho, Moshe o advertiu que a mulher parecia estranha e que ele não deveria prestar muita atenção a isso. Ela vivia em um casebre no "Quartier Mouzaïa" no nonagésimo distrito. Era tarde da noite quando o jovem a chamou. O homem mais velho que abriu a porta para que entrassem usava um vestido longo e púrpura, e uma jóia impressionante. Nathan percebeu que Moshe parecia ser um cliente 57 regular e que conhecia bem a mulher. Eles entraram e pararam de pé em frente à entrada, uma sala com muita mobília e iluminada somente por velas. Nathan não se sentia muito confortável ali. ─ Eu trouxe alguém comigo - disse Moshe à mulher; Nathan compreendeu que Moshe não havia dito à mulher que ele iria até lá. ─ Boa noite, senhora. É um prazer conhecê-la. “Meu nome é Nathan”. A mulher olhou para ele e não disse nada por alguns segundos. ─ Você tem algum tempo para me atender? Perguntou Moshe. Quando a mulher tentou dizer alguma coisa, pareceu que havia perdido a voz. A mulher quase teve um desmaio e teve que sentarse. Moshe e Nathan se entreolharam e somente então a ajudaram a alcançar uma cadeira. Na mesa, havia uma garrafa de água e um copo. Nathan o pegou e o encheu com água. E, então, ajoelhou-se ao lado da mulher e o deu a ela. Ela o olhou, aceitou o copo com as duas mãos, bebeu um pouco e só então conseguiu falar novamente. ─ Não me sinto bem. Não poderei atendê-los hoje. Moshe ficou desapontado, mas ainda mais surpreso. ─ Você não poderia fazer nenhuma consulta? Nathan veio até aqui especialmente para lhe encontrar. A mulher continuava a fitar Nathan. ─ Porque Nathan precisa de mim? Moshe não pode dar uma resposta apropriada assim, de imediato. ─ Ele também gostaria de saber algumas coisas. O olhar da mulher não desviava nem por um segundo de Nathan. ─ Nathan descobrirá tudo o que precisa saber. Moshe não entendia o seu comportamento. Ele nunca a tinha visto daquela maneira, e insistiu. ─ Ele também quer se proteger contra as pessoas com más intenções. ─ Nathan já tem essa proteção, uma proteção excepcional! Nathan sentiu que a mulher se sentia desconfortável por causa dele e quis sair. ─ Obrigado pelo seu tempo e minhas desculpas pelo inconveniente. Nathan sinalizou para Moshe que sairia dali e iria para o carro. Ele se sentou e pensou a respeito do que tinha acabado de acontecer. Porque a mulher ficou sem voz de repente? O que ela quis dizer com “ele já esta protegido”? Ele tinha esperanças de encontrar 58 algumas respostas, mas agora ele tinha ainda mais perguntas. Quando Moshe voltou para fora, ele também parecia bastante confuso. ─ Você acha que eu fiz algo errado lá dentro? Nathan perguntou. Não, mas isso é muito estranho. Eu não sei o que pensar. ─ Ela disse alguma coisa depois que eu saí? ─ Ela me pediu para não trazê-lo de volta aqui. Na estrada de volta, ficaram ambos em silêncio. 59 Sinceridade Alguns meses depois, algo muito desagradável aconteceu nos negócios de Simon. Pouco depois de que uma grande quantia de dinheiro tinha sido recebida, o cofre estava vazio. Moshe acusou Nathan. Ele indicou que havia somente três pessoas que sabiam o segredo do cofre: Seu pai, ele mesmo e Nathan. Nathan deixou muito claro que não tinha sido ele. Houve uma grande discussão entre ele e Moshe, testemunhada por todos os outros funcionários. Simon foi chamado e veio imediatamente para o escritório. Simon disse que ouviria tanto a história de Moshe quanto a de Nathan e acrescentou que quem quer que fosse o inocente não tinha nada a perder, pois ele descobriria a verdade. Simon deixou o escritório com seu filho e pediu para Nathan esperar por ele e não ir embora sob nenhuma circunstância. As horas passaram. Nathan esperava que Simon não cometesse um erro acusando-o injustamente por algo que não tinha feito. Poderia não ser fácil escolher entre a sinceridade de seu filho e a sinceridade de um empregado. Essa era uma situação difícil. Tentou convencer-se de que não tinha com o que se preocupar. Simon tinha percebido com bastante frequência o quanto Nathan era honesto. O que mais perturbava Nathan era que Simon tinha que repensar se não tinha dispensado muita confiança a ele. Depois de um tempo ele começou a se preocupar menos. Mesmo se Simon chegasse a uma conclusão errada, sabia que não havia nada pelo que o pudessem acusar; Mas o magoava o fato de que Simon se sentiria profundamente magoado também. Quer fosse seu filho ou Nathan, o veredicto seria doloroso. Era tarde da noite quando Simon voltou. Ele imediatamente chamou todos os funcionários. Havia uma grande tensão. Ninguém estava calmo. Quando todos estavam reunidos, Simon disse a eles que podiam ir para casa e que estavam livres até segunda-feira. Alguns empregados faziam perguntas, temiam por seus trabalhos, mas Simon não respondeu a nenhuma pergunta e pediu a Nathan que o seguisse até o seu escritório. Depois que todos os funcionários se foram, tudo era calma de novo. Quando Nathan entrou no escritório de Simon, ele estava sentado em sua cadeira e olhava para fora da janela. Havia um silêncio gélido no escritório. 60 Nathan não sabia o que esperar. Ele puxou uma cadeira e se sentou. ─ Você queria falar comigo? Neste momento, Simon se virou e olhou para ele. Nathan viu que os olhos de Simon estavam vermelhos e úmidos. Sua voz tremia de emoção. ─ Você não tem que me dizer nada. Eu sei o que preciso saber. ─ Você sabe o que aconteceu com o dinheiro? ─ Não é a primeira vez que desaparece dinheiro. Mesmo antes de você começar a trabalhar aqui, eu já tinha as minhas suspeitas. Eu tentei consertar isso, mas só piorei a situação. Nathan não sabia o que dizer. Ele quis amenizar a dor do outro homem. Por outro lado, ele estava feliz de não ser acusado por ele, mas sentia-se desprovido de forças. Estava sentado frente a um homem que amava muito e que naquele momento estava muito magoado. Seu próprio filho o havia passado para traz. Nathan simplesmente disse o que lhe ocorreu dizer naquele momento. ─ Eu não entendo o comportamento de Moshe. Ele sempre teve tudo o que quis. Ainda jovem, já possuía alguns cavalos e tinha economias o bastante para não ter que se preocupar com dinheiro pelo resto de sua vida. ─ Moshe se esqueceu de que nasceu com nada e que tinha tudo na vida. Aparentemente eu não fui capaz de ensiná-lo isso. Nathan viu que o sentimento de culpa também estava presente em Simon, não obstante sua desilusão. ─ Você deu a ele tudo o que um pai pode dar a um filho. Você agora se sente responsável por seu comportamento? Moshe é o que é hoje por causa da educação que recebeu de você. “Não se sinta culpado. Eu vi o quanto você foi bom para ele”. Nathan não estava mais tão nervoso com Moshe por causa de sua falsa acusação, mas por causa da tristeza que havia causado a seu pai. ─ Nestes últimos anos eu não pude mais prestar atenção aos atos de Moshe, sabe, Nathan. Não nos conhecemos mais, e para ajudar, eu ainda tenho uma conexão mais próxima com você do que com meu próprio filho. E Moshe sabe disso; e é esse o motivo de sua inveja. ─ Eu sei disso, e tentei muitas vezes falar sobre isso com ele, mas ele continuava a negar. Assim o seu ciúme só aumentou. ─ Mas este não foi o motivo do roubo. Moshe já tinha roubado antes. 61 ─ Onde ele está agora? ─ Ele sumiu e me deixou com esta tristeza imensa. ─ Não a maior de todas, porque ele ainda pode superá-la. Se ele estivesse aqui, então seria uma tristeza ainda maior! ─ È melhor perder alguma coisa bonita que nunca tê-la tido. Se ele tivesse morrido hoje como um filho honesto, eu teria boas lembranças dele. ─ Estas lembranças também estão lá agora; ninguém pode tirá-las de você! ─ Moshe tinha uma nuvem de tristeza no passado. Uma vez que se começa a duvidar da sinceridade de alguém, você esquece todos os bons momentos que passaram juntos, as mudanças! Acredite, Nathan! Ser traído por seu próprio filho é mais doloroso do que vêlo morrer. ─ Você consegue perdoá-lo? ─ Neste momento eu não posso fazer nada mais que vê-lo de uma maneira diferente. ─ Será que ele poderá consertar as coisas algum dia? ─ Eu não sei. Mas para isso ele teria que mostrar um arrependimento sincero. E mesmo assim! ─ Como dá para saber se alguém realmente se arrependeu? ─ Você pode só ver este processo através de suas ações. ─ Como você pode saber se as ações são sinceras? ─ Deixando o tempo fazer o seu trabalho. Nossas ações nos determinam muito mais do que não as determinamos. Nathan reiterou que seu pai tinha dito a ele algo similar e tentou analisar a situação o melhor que pode. ─ Eu quase começaria a pensar que você era muito bom para o seu filho? Simon olhou para Nathan. ─ Você não acha que eu era muito bom para Moshe? ─ Poderia ter sido o único erro, se o que ele fez pudesse ser visto somente como um erro no final das contas. Simon olhou novamente para fora. ─ Há um velho ditado que diz que se você nunca foi enganado por causa de seus deuses, então você nunca foi bom o bastante! Simon e Nathan fecharam o comércio e foram juntos para casa. Quando chegaram, a esposa de Simon disse que Moshe tinha feitos as malas e saído. Mesmo após a partida de Moshe, Nathan continuou trabalhando com Simon. E continuou a ganhar mais e mais responsabilidades e Simon, que estava ficando velho, estava 62 retrocedendo gradualmente. Simon e Nathan decidiram focar na exposição de seus artigos na feira de negócios. Assim, estavam presentes em uma importante feira na França e rodeados de diferentes países. O negócio prosperou e eles conseguiram grandes lucros. No inverno, Simon e Nathan estavam presentes em uma feira de negócios em Hamburgo, no norte da Alemanha, um país que faz parte do coração de Simon porque foi onde ele conheceu a sua esposa. Ela tinha nascido e sido criada em Berlin. Na última noite da feira de negócios, eles voltaram para o hotel para descansarem e combinaram de jantar mais tarde na cidade. Simon já tinha estado em Hamburgo antes e achava esta uma cidade atrativa. Assim que chegaram ao centro da cidade, Nathan e Simon descobriram que a maioria dos restaurantes estava cheio de gente. Nathan não tinha certeza de que haveria espaço para eles, uma vez que não tinham reserva. Simon estacionou o carro perto do Elba, o rio que divide a cidade em duas, e sorriu para Nathan. ─ Se ficarmos nestas vizinhanças, conseguiremos uma mesa com uma vista para o rio. ─ Uma vista para o rio? Acho que teremos sorte se encontrarmos uma mesa. ─ É só uma questão de paciência! Nathan reconheceu esta peculiaridade de Simon, que, assim como seu pai, pedia uma atenção especial. Simon e Nathan seguiram calmamente para o restaurante até que Simon parou. Olhou para cima e viu uma grande janela no último andar. ─ Vamos entrar. A vista deve ser fantástica daqui! Nathan e Simon entraram, saudaram os garçons e foram imediatamente para o último andar. Nathan viu que lá embaixo todos os lugares estavam ocupados e temeu que no último andar também não houvessem mesas livres. Uma vez lá em cima, eles olharam em volta e Nathan parecia estar certo em suas suposições. ─ Uma pena que não hajam lugares disponíveis, por que certamente há um cheiro bom aqui. Simon não disse nada até então. Ele olhava para a vista do Elba. ─ A vista é ainda mais bonita do que pensei! ─ Teremos que ir a outro lugar de qualquer maneira, porque todas as mesas estão ocupadas. ─ Vou perguntar. Simon foi em direção ao garçom mais velho e falou com ele. Nathan viu o garçom sinalizar que não com a cabeça. Mesmo 63 assim, Simon continuou falando com ele e apontou a janela. Pouco mais tarde, o garçom chamou um colega. Ele falou com ele e eles desapareceram da sala. Simon voltou para o local onde estava Nathan. ─ Pode tirar o casaco. ─ Vamos ficar aqui? ─ Não teremos que esperar. Já esta arranjado. Enquanto Simon terminava sua frase, Nathan viu que os dois garçons tinham voltado com uma mesinha que posicionaram bem de frente a janela. Nathan olhou para Simon, que fitava contentemente as lindas luzes das ruas do outro lado do rio. ─ Como sabia que encontraria um lugar neste restaurante? ─ Só me pareceu uma boa idéia entrar aqui. ─ Você sempre consegue arranjar estas coisas! ─ Sentindo as coisas, você pode colocar-las em prática e desta maneira dar vida a seus pensamentos! Novamente, Nathan percebeu o quanto a visão de vida de Simon o lembrava seu pai. ─ Se todos desejassem coisas boas, o mundo seria muito melhor, Afirmou Nathan. ─ Pudera todos soubessem primeiro o que são os bons pensamentos. ─ Parece ser bastante obvio para mim. ─ Nem todo mundo usa o mesmo conhecimento para descobrir quais pensamentos são bons. Muitos preferem seus próprios conhecimentos acima de um conhecimento maior. Nathan sabia que o conhecimento maior não era nada mais do que aquilo que seu pai chamava de poder interno, e mais uma vez teve a confirmação da semelhança entre Simon e seu pai. ─ Porque nem todo mundo percebe o quanto este conhecimento é útil? ─ Porque cada um de nós determina suas prioridades de maneira diferente. ─ Não é o nosso desenvolvimento pessoal, e não sua importância, o fundamental para cada um de nós? ─ Todos temos nossa própria visão a este respeito, independentemente de como vieram a aprender isso. O garçom era um homem jovem de pele escura. Ele veio anotar o pedido. Os próximos eventos deixariam uma forte impressão em Nathan. Ao lado de Simon e Nathan estavam alguns casais, entre os quais estava um homem especialmente alto. Ele tinha uma 64 postura imponente e falava alto. Parecia ser um diretor que tinha convidado alguns de sua equipe para um jantar. O diretor queria pedir novas bebidas e estava nervoso porque não estava sendo atendido imediatamente. O garçom estava claramente nervoso com o comportamento do homem, mas continuou amigável e disse que voltaria em breve. O garçom atendeu Simon e Nathan primeiro, não porque era sua vez, mas porque isso seria extremamente irritante para o diretor. Quando o garçom anotou o pedido de Simon e Nathan, ele voltou para a cozinha. No exato momento que o cliente fez uma alusão à cor de sua pele. Algumas pessoas na mesa riram desta colocação. Os outros sentiram-se envergonhados e reagiram passivamente. Nathan viu como o garçom perdeu a cabeça e voltou diretamente para o homem. Mesmo antes de Nathan perceber, Simon tinha corrido para intervir entre o garçom e o diretor. Simon agarrou a mão do garçom, olhou diretamente em seus olhos e falou com ele em alemão: ─ O primeiro a perder a cabeça sempre está errado. O garçom pareceu surpreso. ─ È fácil para você dizer isso. Sabe como é ouvir este tipo de coisas preconceituosas? ─ È precisamente nestes momentos que você não deve esquecer-se do quanto você é especial. Eu lhe darei o poder de não ser indulgente com sua raiva. Você deve ver isso como uma oportunidade de nunca mais se machucar com este tipo de coisa. ─ Como isso é possível? ─ Tem a ver com quem tem o poder sobre seus sentimentos. Você os controla sozinho ou deixa que os outros os controle? ─ Será que eu devo me deixar ser insultado deste jeito? ─ Uma pessoa decente não insulta e você não deve se sentir insultado por uma pessoa indecente. Houve um período de silêncio. O garçom pensou nas palavras de Simon e se acalmou. O cliente reagiu mal e fez alguns comentários que foram ignorados por Simon, e agora também pelo garçom. ─ Considere o que aconteceu somente como uma lição - Disse Simon. _ Se você a aprender, a dor que esta sentindo agora fará sentido e te fará mais forte. Agora Simon largou as mãos do garçom e continuou falando: ─ Tenha orgulho de si mesmo. De agora em diante você aprenderá a controlar melhor os seus sentimentos. 65 O garçom tinha entendido claramente o que Simon tinha ajudado-o a perceber, e agradeceu-lhe. Simon voltou para o seu lugar na mesa. ─ As pessoas podem ser cruéis! Nathan disse: ─ A coisa mais importante é que aprendemos a lidar com nossos sentimentos tentando controlá-los! ─ Mas ainda é uma pena que existam pessoas tão más! ─ A franqueza nunca é inerente a ninguém, somente as ações podem ser más! ─ Eles não percebem o quanto sofrimento impingem aos outros? ─ Em um mundo sem sofrimento ou dor, não haveria a necessidade de escolhas morais. ─ Seria pior? Significaria que somos iguais às máquinas, sem o livre arbítrio e ainda não teríamos a oportunidade de nos envolver. Nathan pensou sobre isso e entendeu o que Simon quis dizer. ─ Se olhar as coisas desta maneira, a dor de fato parece fazer sentido de certo modo. Isso dá a oportunidade para lutar por santidade e por paz. ─ Você acha que aquele homem realmente teve a intenção de dizer aquilo ou somente quis impressionar as pessoas? ─ Eu não sei. A coisa toda é essa, as diferenças culturais podem dividir as pessoas, mas a diversidade cultural também pode uni-las. Simon olhava a água do rio através da janela. ─ Aprendi que as cidades que são divididas por grandes rios normalmente oferecem uma grande diferença de mentalidade. Você pode frequêntemente ver as pessoas que estão com medo destas diferenças e tentam se proteger, enquanto outros mostram interesse e tentam uma aproximação. ─ De onde vem este medo? Nathan perguntou. ─ O medo normalmente baseia-se somente na ignorância! Muitos não entendem que é isto, a diversidade entre as culturas, o que enriquecem nosso conhecimento. Nathan e Simon olhavam para o rio ondulante pela janela. O reflexo da luz fazia com que a água parecesse cheia de vida. Simon continuou: ─ Olhe como a água flui e como encontrará seu caminho até o oceano, onde fará parte de um grande todo! A água não questiona a natureza sobre outras águas, ela simplesmente flui através de tudo e se juntam novamente. 66 ─ De fato, é assim que nós deveríamos fluir em direção um do outro - Nathan continuou. Durante o jantar, Simon contou para Nathan a respeito de uma decisão importante. Após o verão, ele venderia seu negócio e seus imóveis e daria um tempo dali para frente. Simon queria mudar para Miami com sua esposa, perto de sua irmã, que vivia lá há mais de trinta anos. Estas notícias não eram uma completa surpresa para Nathan. Simon já tinha manifestado o seu desejo de voltar à Flórida em sua velhice. 67 Emoção Foi uma escolha difícil para Nathan. Ele podia ficar em Paris e continuar o seu negócio ou continuar viajando por novos destinos e novos desafios. Nos dias que se seguiram ele ajudou Simon com a venda de suas propriedades e a procurar novos postos de trabalho para os funcionários. Garças ás conexões de Simon tudo correu muito bem. A partida de Simon para os Estados Unidos foi planejada para o inicio do inverno. A esposa de Simon tinha ido antes. Simon e Nathan ficaram acordados a noite toda antes que Simon estivesse prestes a sair. Quando tudo estava empacotado, eles tiraram um tempo para discutirem seus planos com calma. Simon começou a conversa. ─ Da parte de todos os funcionários eu quero agradecer a você por todos os seus esforços nas últimas semanas. Você prestou mais atenção a eles do que a si mesmo. ─ Fiz isso por você, por eles e também por mim. Eles sempre deram o melhor de si mesmos. ─ Eu também quero agradecer a você pelo que você fez por mim, não somente nas últimas semanas, mas desde que cheguei aqui. Apreciei todos os momentos que passamos juntos. Aprendi uma quantidade de coisas incríveis com você. Você foi como um segundo pai para mim. Simon ficou profundamente tocado com o que Nathan disse. ─ Eu sei que você terá que fazer novas escolhas por causa de minha partida. Por causa de tudo o que aconteceu nas últimas semanas, não tivemos tempo para falar sobre isso. Você já decidiu o que vai fazer? ─ Estou pensando se devo ver sua partida como um novo começo e continuar a viajar, ou se ainda há lições importantes para serem aprendidas aqui em Paris. ─ Somente você pode descobrir isso. Simon pode perceber que foi uma escolha difícil para Nathan. Naturalmente, ele sabia o que Nathan estava procurando e diria algo importante sobre isso. ─ Para conseguir “autoconhecimento”, duas viagens são necessárias: A primeira é ao mundo exterior e a segunda é ao mundo interior. 68 ─ Como podemos viajar pelo mundo interior? ─ São as aventuras que experimentamos no mundo exterior que nos leva a nossa viagem para o mundo interior. ─ Levarei suas palavras em consideração. ─ Posso te pedir um favor? ─ Claro! ─ Qualquer que seja o resultado de sua escolha, nunca desista do propósito de sua vida. Afirmou categoricamente, Simon. ─ Eu posso até ficar perdido por um tempo, mas jamais desistirei. Apesar de ter admitido que seria mais fácil se eu já soubesse qual é o propósito de minha vida. ─ Bem, esta é a resposta que deixo para você, mas estou já há bastante tempo com você para saber que sua habilidade é algo único. Você tem a capacidade de alcançar o "conhecimento mais alto" como ninguém mais. Na manhã seguinte, Nathan levou Simon ao aeroporto, onde se despediram. Agora, Nathan estava sozinho de novo, assim como nos primeiros dias em Paris. Ele continuou trabalhando no setor com o que estava familiarizado. Foi bastante rentável para ele nas primeiras semanas, mas de algum modo ele se sentia vazio. Havia ganhado muito e já tinha economizado uma quantia suficiente de dinheiro, mas tinha muito pouca experiência nova e os dias se tornaram monótonos e chatos. Nas semanas seguintes, Nathan passou cada vez menos tempo em suas atividades profissionais. Tinha uma necessidade de novas sensações e foi conhecer a vida noturna. Ele foi regularmente a danceterias e cassinos e bem rapidamente seus amigos eram as pessoas da vida noturna. Nathan se deu bem por causa de suas fortes habilidades de comunicação. Parcialmente por causa de suas habilidades e por causa do que tinha aprendido com seu pai, ele tinha elevado a conversa para um nível artístico. Durante este período ele aprendeu a entender completamente como era grande a influência de seu mundo. Quase todos que estavam com ele, queria se tornar seu amigo. As mulheres caiam por seu charme e os homens apreciavam a sua companhia, parcialmente para colher os frutos de seu sucesso. A princípio Nathan estava contente com o novo mundo que se abria para ele, mas bem em breve ele sentiu como se algo estivesse faltando. Ele viu o quanto era superficial as suas conexões e conseqüentemente isto o estava confrontando cada vez mais consigo mesmo. 69 Na primavera, Nathan saiu por um tempo curto para o sul da França. No mercado de Toulouse ele conheceu a linda Sophie. Ele a viu na barraca de frutas onde trabalhava. Ela tinha os cabelos castanhos, olhos azuis e um sorriso muita atraente. Nathan notou imediatamente seu charme excepcional. Também viu que o homem mais velho que trabalhava na banca com ela parecia muito desconfiado e estranho. Nathan pensou se ele era seu pai ou um colega de trabalho. Quando o homem saiu da banca para jogar fora algumas embalagens vazias, Nathan se aproximou da banca. Nathan e Sophie se olharam nos olhos por algum tempo e sorriram. De perto Nathan pode admirar a beleza de seus olhos verdes ainda mais. Sophie estava maravilhada com a sua presença. Nathan selecionou algumas frutas e aproveitou a oportunidade para calmamente iniciar uma conversa. ─ Seu amigo não parece estar de bom humor hoje. ─ Ele é meu chefe, e não esta nem um pouco diferente hoje dos outros dias. ─ Não parece fácil trabalhar com ele, não? ─ Depois de um tempo você se acostuma. ─ O hábito é uma coisa estranha; ele nos mantém perto do que odiamos. Nathan sabia que suas palavras poderiam surtir algum efeito. Ele pegou mais algumas maçãs verdes e Sophie as pesou para ele. ─ E o que dizem sobre as pessoas que lidam com os hábitos dos outros? Sophie sorriu. ─ É interessante descobrir quais as intenções que estas pessoas têm. ─ Nem sempre é fácil descobrir as intenções reais das pessoas. ─ Fica mais fácil se você quiser dispensar tempo suficiente para descobri-las! Sophie sorriu de novo. Nathan tinha conseguido um encontro para aquela noite. Ele a convidou para um jantar na cidade, onde poderiam se conhecer melhor. Rapidamente ficou muito claro que se sentiam bastante a vontade um com o outro. Sophie contou pra ele que seus pais haviam migrado da Itália para a França. O pai dela morreu quando ainda era muito jovem e ela ainda sentia muita a falta dele. Nathan sentiu que por causa disso, ela subconscientemente esperava encontrar um homem que preenchesse este vazio. Eles se veriam toda noite durante uma semana. Um dos assuntos mais freqüentes em suas conversas era o fato de se fazer escolhas. 70 Através das conversas com Nathan, Sophie percebeu que tinham algo que traria a ela uma maior satisfação. Uma semana depois, Nathan deveria retornar a Paris e, então convidou Sophie para vir junto com ele. Ela estava completamente apaixonada por Nathan e não hesitou por muito tempo. Depois de alguns dias, chegaram a Paris. Na capital, Sophie se dedicou a seu hobby, escultura. Nathan construiu um estúdio especialmente para ela. Em resposta, ela assumiu sua administração. Naquele tempo, Nathan saia com certa freqüência. Sophie não gostava da vida noturna tanto quanto antes e raramente saia com ele. Estava convencida de que era só uma questão de tempo até que Nathan percebesse que a vida noturna não era para ele. Um dia, Nathan veio buscar Sophie após um dia de compras. Sophie havia comprado roupas novas e mal podia esperar para mostrá-las. Quando entrou no carro, notou que os pensamentos dele estavam longe dali. De pronto, ela não se preocupou com isso, uma vez que não era a primeira vez que isso acontecia com ele, ─ Está tudo bem? Perguntou. ─ Está sim. Sophie percebeu que Nathan não tomou o caminho de casa. ─ Onde estamos indo? ─ Quero sair daqui. Vamos dar uma volta. Nathan pegou a estrada para o oeste. ─ Tem alguma coisa que quer me contar? Sophie estava ficando preocupada e Nathan percebeu isso. Ele parou o carro no acostamento e a beijou. ─ Não se preocupe, não tem nada a ver com você. Eu só tenho que pensar um pouco, relaxa. Nathan voltou para a estrada. Suas palavras acalmaram Sophie um pouco. Ela deitou a cabeça em seu ombro e adormeceu. Era bastante tarde quando Nathan parou em um lugar qualquer na costa do Atlântico. Quando estacionou o carro perto de um dique, Sophie acordou. ─ Onde estamos? ─ Em uma grande fonte de vida, ele respondeu. Nathan saiu, sentou-se em uma pequena parede e olhou para a praia e para o mar. Sophie abriu a porta e viu o sol se pondo. O céu estava maravilhosamente em tons rosado e azul. Sophie respirou fundo e encheu os pulmões com ar marinho. ─ Onde estamos exatamente? Perguntou Sophie. 71 ─ Em Sables d´Olonne, respondeu Nathan. Nathan levantou-se e pegou Sophie pela mão. Sophie achava que jamais em sua vida havia sido tão feliz quanto naquele momento. Entraram em uma loja. Nathan comprou uma garrafa de vinho, um saca-rolhas e duas taças. Sophie amou Nathan naquele momento com jamais antes, e sentiu-se completamente segura com ele, como se nada de mal pudesse lhe acontecer. Ninguém jamais foi tão capaz de enxugar as suas lágrimas tão bem, mas ela sentia que esta noite algo de especial estava acontecendo entre eles. Sophie tinha dificuldades em lidar com ele. Caminharam na areia e se ajeitaram bem perto da água. Nathan abriu a garrafa de vinho e encheu as taças. Sophie se aninhou em seus braços. Juntos, olhavam o horizonte. ─ Fala comigo, Nathan! ─ Estou completamente no escuro! Sophie percebeu por sua voz que, fosse o que fosse que o estivesse chateando, era muito importante. ─ Eu nunca conheci alguém que fosse capaz de ver tudo com tanta clareza quanto você. Como pode estar no escuro? ─ As pessoas de fato ouvem o que eu digo e acreditam em quase tudo. O problema é que eu ainda sei muito pouco de mim mesmo! Eu estou jogando no lixo o dom que recebi. ─ O que mais você quer saber? ─ Até a partida de Simon, a cada dia eu aprendia algo novo; mas desde aquele tempo que eu somente me comporto de maneira orgulhosa. ─ Você se arrepende de alguma coisa? Nathan olhou para ela. ─ O que passou, passou. Então o arrependimento não tem nenhuma utilidade. ─ Há alguma coisa que queira mudar, então? ─ Tenho que continuar minha jornada e explorar novos ambientes. A princípio Sophie não disse uma só palavra. Desde o dia que conheceu Nathan, ela tinha medo deste momento. Entendia que ele estava se despedindo dela, e que não podia reprová-lo por isso, porque ele nunca tinha escondido dela que viajaria de novo um dia. Ela o conhecia bem demais e sabia que ele já tinha tomada a sua decisão. Então, dali por diante não haveria mais espaço para ela em sua vida. Já tinha resolvido não prendê-lo consigo, porque não queria perdê-lo. ─ Agora quem está calada é você, Nathan disse. 72 ─ Você me ensinou que jamais deveríamos limitar a liberdade de alguém. Quero lhe dar todo o espaço que precisa para seu bem estar interior. Depois destas palavras, Sophie não pode conter suas lágrimas. Nathan tomou-a em seus braços e a ajudou a encontrar as forças para superar a tristeza. E o conseguiram depois de alguns minutos. ─ O fato de dizermos adeus também te deixa triste? Perguntou Sophie. ─ Claro que sim. Eu vou pensar muito em você, mas estou feliz por isso. ─ O que quer dizer? ─ Sentir a falta um do outro também é uma forma de felicidade! ─ Você vai voltar algum dia? Nathan olhou em seus olhos e segurou suas mãos entre as suas. ─ Sophie, eu sempre amarei você, não importa como seja o futuro. Nathan não podia e nem iria prometer algo mais que isso. Sophie compreendeu e aceitou o que tinha por enquanto. De repente, eles ouviram um vento selvagem vindo do mar. Ficaram de pé e podiam ver muito mal. Tiveram que se esforçar bastante para manterem-se de pé e saírem da praia. De volta ao dique, o vento de repente parou de novo, tão repentinamente quanto começou. Nathan e Sophie acharam isso tudo muito estranho, mas não tinham nenhuma explicação para o que aconteceu. De volta ao carro, notaram que todas as ruas estavam vazias. Tudo era silêncio. De modo muito estranho, Sophie se sentiu muito calma, assim como o vento. Voltaram para o carro e retornaram a Paris. 73 74 -3Mistério Maravilhoso 75 76 Padrão de Hábito Nathan partiu alguns dias depois. Sophie ficou para trás, no apartamento em Paris. Nathan prometeu telefonar com freqüência, do mesmo modo que fazia com seu pai e com Simon. Em seu carro, Nathan colocou algumas peças de roupa, alguns livros e suas anotações. Dirigiu pela mesma estrada que seu pai tomou quando foram para o sul da Espanha. Ele conhecia bem aquela estrada, apesar de nunca tê- la percorrido sozinho. Por volta de meio- dia do dia seguinte, Nathan já tinha quase chegado à Andaluzia. Após uma breve parada no porto da cidade de Cartagena, ele decidiu tomar a estrada ao lado das praias do lado oeste da cidade. Uma vez lá, alugou um quarto com vista para o mar e caiu em um sono profundo depois de pouco tempo. Acordou a tarde e passou o resto do dia no mar. Ver novamente o Mar Mediterrâneo o fez sentir- se muito bem. Sentiu toda a comoção dos últimos meses se esvaindo e se convenceu cada vez mais de que ter continuado sua viagem foi a decisão mais acertada. A noite, dirigia pela costa procurando um lugar para comer. De repente, seu carro atolou na areia. Ele tentou desprender- se, mas seu carro só fez atolar- se ainda mais. Nas imediações, não havia nada para explorar, exceto por uma antiga casa móvel, localizada pouco além de onde se encontrava. Nathan andou em direção á ela para pedir ajuda. Quando se aproximou da casa, percebeu uma placa britânica. Ele viu um jovem grelhando peixe na companhia de outro jovem e duas garotas. Nathan reconheceu o cheiro delicioso de sardinhas grelhadas. Quanto mais perto chegava da casa, mais forte ficava o cheiro. Nathan gritou: ─ Ola, eu sou Nathan. ─ Prazer em conhecê- lo, eu sou Charlie, disse o jovem na churrasqueira. Charlie imediatamente apresentou seus amigos. ─ A garota sentada à mesa é minha namorada Jessica. Aquele abrindo a garrafa de vinho é Paul e ao lado dele está sua namorada Lucy. 77 ─ È um prazer conhecer a todos e desculpem- me por incomodálos, disse Nathan Estou com problemas no motor do meu carro. Será que poderiam me ajudar? ─ Você tem que ir a algum lugar com urgência? Perguntou Charlie. ─ Não. Eu tenho tempo. ─ Porque está com tanta pressa, então? ─ Não estou necessariamente com pressa. ─ Pareceu- me que estava. Onde está o seu carro? ─ Dá pra ver o carro daqui. Nathan apontou em direção ao carro. Charlie olhou na direção apontada e continuou falando. ─ Você já comeu? ─ Ainda não. Paul juntou- se a eles agora. ─ Venha, junte- se a nós à mesa. Nathan gostaria de algumas sardinhas grelhadas, mas ele não queria impor sua presença ali. ─ Vocês não estavam esperando um convidado de última hora. ─ Não se preocupe, Charlie disse ao mesmo tempo em que apontava um recipiente cheio de sardinhas frescas. Temos sardinhas mais que suficiente. ─ E estamos felizes de tê- lo aqui, insistiu Paul. Vamos conhecernos melhor. ─ E com respeito a seu carro, ele não saíra do lugar, adicionou Jessica. Lucy agora tinha se juntado a eles. ─ Se você ainda não comeu, deve estar com muita vontade de nossas sardinhas, não é? Nathan convenceu- se de sua hospitalidade. ─ Para falar a verdade, meu estomago está uivando. Se isso não incomoda mesmo, eu gostaria de juntar- me a vocês. Nathan sentou- se à mesa e quis conhecer o grupo melhor. Ele estava encantado com a amizade deles. Depois de ficar na fria Paris, ele havia se desacostumado a isso. Durante o jantar, o jovem grupo inglês disse a ele como haviam chegado até ali. Depois dos estudos, eles deixaram Londres para uma viagem com sua casa móvel e já haviam passado longos períodos em lugares diferentes. O primeiro lugar que tinham estado por um longo período foi no sul da França, na região de Bordeaux. Na sequência, exploraram Portugal extensivamente e seguiram pela costa em direção ao sul de Lisboa, a capital. Então, eles chegaram à Andaluzia. Primeiro, 78 ficaram em Sevilha. Lá conheceram um homem chamado Pablo, alguém que mudou suas vidas drasticamente Pablo era sulamericano, da Colômbia, e tinha estabelecido uma comunidade alguns anos atrás em Tarifa, uma pequena cidade no extremo sul da Espanha, diretamente de frente para a África. Por alguns meses o quarteto permaneceu na comunidade juntos com algumas outras trinta pessoas de diferentes países. Nathan deixou- os falar extensivamente sobre isso e ouviu atentamente à suas histórias. ─ Até agora, falamos somente sobre nós e ainda não sabemos nada sobre você, Charlie frisou. ─ O que gostariam de saber? Nathan respondeu. ─ Por exemplo, o que lhe trouxe aqui? Jessica perguntou. ─ Minha curiosidade! Disse Nathan. ─ Sua curiosidade sobre o que? Paul quis saber. ─ Sobre o que vale a pena conhecer! Nathan respondeu. ─ E o que vale a pena conhecer para você? Perguntou Lucy com curiosidade. ─ O conhecimento que dá sentido à minha vida! Respondeu Nathan. Os jovens ingleses se olharam, impressionados com as respostas de Nathan. Charlie acrescentou uma coisa: ─ Tenho a impressão que você deveria conhecer o Pablo. Neste momento, a guarda costeira encostou um carro- guincho branco. Estacionou perto do carro de Nathan. Parecia que seus problemas seriam resolvidos. Nathan aprendeu que quando uma solução chegava espontaneamente, era bom checar se alguma coisa mais estava acontecendo ao mesmo tempo. A guarda costeira tinha chegado na hora que Charlie propôs a idéia de apresentar Nathan para Pablo. ─ Eu adoraria acompanhá- los quando retornarem à Tarifa. Eles ficaram claramente deliciados pela escolha de Nathan. Ficou decidido que voltariam à Tarifa no dia seguinte. Nathan se perguntou se Tarifa seria somente uma parada passageira ou seu próximo paradeiro depois de Paris. Nathan se levantou e foi em direção à guarda costeira com Charlie e Paul. O homem imediatamente lançou mão do equipamento necessário em seu caminhão, enganchou o carro de Nathan ao seu guincho e puxou- o para fora da areia de uma vez só. Ele parecia ter sido feito somente para este fim. 79 Nathan agradeceu à guarda costeira e voltou para a casa móvel com Charlie e Paul. ─ È bem útil para você falar espanhol, disse Paul. ─ Meu pai é originário de um vilarejo não muito longe daqui. ─ Então, era neste caminho que você estava? Perguntou Charlie. ─ Eu saí da França com a idéia de viajar primeiro pela Andaluzia. Segui a estrada que pegava com meu pai no passado, mas na verdade eu não tenho destino específico. Neste ínterim, as garotas já tinham trazido o bolo para a mesa como sobremesa. Eles abriram outra garrafa de vinho e continuaram conversando até bem tarde da noite. Nathan estava intrigado com tudo aquilo que tinha ouvido sobre a tal comunidade em Tarifa. Ele tentou entender como os quatro jovens estudantes ingleses de sociologia tinham conseguido entrar lá. ─ Porque vocês decidiram se juntar a esta comunidade? ─ Talvez você deva conhecer primeiro o porquê de decidirmos começar esta jornada, disse Charlie. ─ A decisão de fazer esta viajem, disse Jessica, foi principalmente o resultado de nosso descontentamento com o estilo de vida habitual da maioria das pessoas. ─ Queríamos algo diferente, confirmou Paul. Na comunidade, todos podem ser o que quiserem sem que isso seja visto como algo negativo. ─ Sim, aqui vivemos em liberdade, acrescentou Jessica. ─ Pablo tentou criar um tipo diferente de comunidade aqui, frisou Charlie. ─ Neste contexto, também se enquadra em nossos estudos, disse Lucy. ─ Um tipo diferente de comunidade? Nathan quis saber. ─ Sim, uma comunidade baseada em uma filosofia diferente de vida, Paul disse com algum orgulho. Nathan olhou curioso. ─ Nathan, você acha que somos ingênuos? Jessica quis saber. ─ Pelo contrário, parece bastante interessante para mim, Disse Nathan. E, de qualquer forma, mesmo se for ingenuidade, todo bom progresso é precedido de alguma ingenuidade. ─ De qualquer maneira, sonhamos com um mundo melhor, disse Charlie. ─ Um sonho que dividimos com os outros membros da comunidade, disse Lucy. As pessoas vêm de todo lugar e nutrem o mesmo modo de pensar. 80 ─ È realmente acolhedor aqui e a cada dia aprendemos algo novo, Jessica quis salientar. Nathan pensou por um momento e então se dirigiu à Paul: ─ Paul, você falava de uma filosofia de vida diferente. O que exatamente você quis dizer com isso? ─ Humm, eu não sei como resumir isso. ─ Não é tão fácil explicar, ajudou Lucy. Isso toca todos os aspectos de vida. ─ Deixamos claro que todos podem se expressar, disse Jessica. ─ E temos nossas próprias regras de vida, disse Charlie então. ─ Quais regras de vida? Perguntou Nathan. ─ Por exemplo, os fundos dos quais vivemos, respondeu Charlie. Compramos bens da África e vendemos no Norte rico. Deste modo, mantemos nossa distância do grande sistema capitalista e contribuímos um pouco para a briga contra a pobreza. Agora Paul sabia melhor o que dizer. ─ Além desta forma de comércio, Pablo também tem também regras detalhadas que nos ajuda a experimentar a serenidade longe deste mundo frio. ─ Pablo sabe melhor que ninguém como este mundo esta mergulhado no estresse, disse Lucy. ─ O que ele quer é alcançar isso para nos ensinar a essência da vida, disse Jessica em um tom de voz calmo. ─ Por exemplo, ele nos ensina como podemos manter nossa distância da prosperidade material, contribuiu Paul. ─ O que você acha disso, Nathan? Charlie quis saber. ─ Isso é alimento para os pensamentos. ─ Diga somente o que acha disso, insistiu Jessica. ─ Eu quero saber mais sobre isso. Nathan percebeu que sua audiência estava esperando em suspense por sua resposta. Aparentemente sua opinião tinha se tornado importante. Assim, ele falou com cuidado. ─ Me parece que cada um de vocês recuperou alguma coisa nesta comunidade, algo enriquecedor e aconchegante. Depois de uma curta pausa, ele continuou. ─ Na verdade, eu deveria primeiro ficar mais algum tempo com vocês para conseguir responder esta questão corretamente. Depois desta afirmação, Nathan voltou para o hotel. Na manhã seguinte, eles partiriam juntos rumo a Tarifa. De volta à seu quarto, Nathan pensou sobre o que tinha ouvido a respeito da comunidade que estava descobrindo. Ele tinha muitas perguntas a este respeito. 81 Que tipo de pessoa era Pablo? Como ele conseguia influenciar as pessoas tão fortemente em tão pouco tempo? Como seria a vida em tal comunidade? Nathan esperava conseguir as respostas para todas essas questões. Na manhã seguinte, Nathan trouxe pão, queijo e azeitonas e tomou o café da manhã com seus novos amigos. Decidiram tomar a estrada do interior e fazer uma parada na cidade de Granada. O grupo tinha ainda que visitar esta cidade e estava curioso sobre isso. Nathan tinha estado lá várias vezes com seu pai para visitar velhos amigos. Depois do café da manhã, o grupo saiu em direção ao oeste. Paul e Lucy propuseram ir junto com Nathan. Charlie e Jessica seguiriam na casa móvel. O sol já estava brilhando norte àquela hora matutina. Quando eles se aproximaram de Granada, puderam ver muitas casas de caverna. Eram cavidades do lado das montanhas, pintadas de branco brilhante para torná- las mais reconhecíveis. Nathan lembrou- se que seu pai tinha falado destas casas. Ele sabia que tinham sido ocupadas por um longo tempo pelos ciganos. Lembrou- se que os ancestrais dos ciganos eram originalmente da Índia e que tinham residido por um longo período de tempo na Europa Oriental. Mais tarde, se recolocaram em grandes grupos para a França e a Espanha à procura de uma vida melhor. Infelizmente, ganharam a fama de trapaceiros e foram, assim, freqüentemente negligenciados. Normalmente moravam do lado de fora das cidades ou em cavernas como aqui. Nathan falou a Paul e Lucy sobre isso. 82 Façanha De repente, Nathan teve que frear muito rápido por causa de um rebanho de ovelhas conseguindo parar o carro bem a tempo. Um instante depois outro som de freada se seguiu. Era Charlie. Que tinha conseguido parar a casa móvel á tempo. Os veículos estacionaram no acostamento e todos desceram. Não havia nenhum outro veiculo e nenhum pastor foi visto nas redondezas. Nathan propôs procurarem pelo pastor. Charlie foi com ele, enquanto os outros esperaram nos carros. Após alguns minutos, Nathan e Charlie notaram um velho senhor. Ele estava sentado no chão e parecia desconsolado e cabisbaixo. Nathan e Charlie correram em direção a ele. O sol escaldante queimava o rosto do homem. Ele estava usando um chapéu de pastor muito quente e tinha as mãos sujas. Nathan perguntou a ele em espanhol se era seu o rebanho que estava perdido na estrada. O pastor os olhou, porém nada disse. Nathan e Charlie viram que o homem havia chorado e sentiram pena dele. Nathan falou com ele em espanhol. ─ O que houve? Novamente o homem os olhou, e então permaneceu fitando o nada. ─ Responda! O que houve? O pastor falou, ainda olhando o nada à sua frente. ─ Nada mais faz sentido! Nathan podia facilmente dar ao pastor uma série de motivos, mas sabia que naquele momento, o que o pastor precisava era de compreensão. ─ Aquelas ovelhas são suas? ─ Isso não é importante, respondeu o pastor. ─ O que você quer dizer? ─ Que isso não as impede de seguirem adiante! O pastor apontou algumas cavernas para indicar a Nathan quem era o responsável por isso. Nathan traduziu a conversa para Charlie e então se dirigiu ao pastor novamente. ─ È essa a razão de sua tristeza? ─ Não. Não é isso agora. ─ Bem, o que é então? 83 ─ Minha esposa está muito doente e provavelmente não viverá por muito tempo! Nathan levou um tempo para avaliar a situação. ─ Sua esposa está em casa agora? Ele perguntou. O pastor sinalizou que sim e apontou para uma fazenda um pouco além. ─ Tudo bem para você se nós a visitarmos? O pastor os olhou. Nathan podia ver em seus olhos que tinha sido bem sucedido em suas intenções. Ele tinha dado esperança ao homem novamente. ─ Você seria capaz de fazer alguma coisa? Emendou o pastor. Nathan ignorou a pergunta e ajudou o homem a se levantar. Charlie se apressou em ajudar. ─ O que você vai fazer? Ele questionou Nathan. ─ Primeiro vamos reunir o rebanho, respondeu Nathan. Depois, levaremos o homem pra casa e visitaremos sua esposa enferma. Mesmo antes que Charlie pudesse reagir a isso, Nathan disse: ─ O homem está se sentindo extremamente solitário e precisa de nós. Eles retornaram para o resto do grupo. Charlie disse a eles o que estava acontecendo. Nathan pediu a Charlie e Paul para seguirem para a fazenda com a casa móvel e o carro. Ele seguiria a pé com as garotas e o pastor. Jessica disse a Nathan que não estava confortável com a situação. ─ Nathan, você não está dando falsas esperanças ao homem? ─ Esperança eu conheço, mas o que significa "falsas esperanças”? Perguntou Nathan. ─ Bem, talvez que o velho senhor pense que você irá curar sua esposa. ─ Seria pior não ter dado a ele nenhuma esperança, respondeu Nathan. A resposta de Nathans só serviu para deixá- la ainda mais nervosa. ─ O que acontece se não houver nada que possamos fazer? ─ Jessica, no momento aquele homem precisa de nossa ajuda. Graças a nós, ele agora esta voltando para casa. Jessica ponderou por um momento. ─ Você não está sendo otimista demais? Ela perguntou. Nathan olhou para Jessica. ─ Você tem que confiar mais naquilo que podemos realizar! Jessica quis perguntar o que ele quis dizer com aquilo, mas naquele exato momento eles chegaram à rústica fazenda. Charlie e Paul já 84 estavam esperando por eles. O pastor quis que Nathan entrasse para o andar de cima pela escada que havia do lado de fora da casa. Nathan pediu a Lucy e Jessica que fossem com ele. Charlie e Paul esperaram no andar de baixo. O pastor abriu a porta do quarto onde sua esposa enferma estava deitada. Nathan e as garotas adentraram o pequeno quarto de onde emanava um cheiro ruim. O quarto estava escuro e soberbamente decorado. A enferma estava deitada lá em uma pequena cama adjacente à parede. O pastou beijou sua esposa e sussurrou para ela que tinham visita. A mulher olhou para Nathan e as garotas e sorriu debilmente. O pastou deixou- os a sós e voltou para o andar posterior. Jessica e Lucy estavam claramente desconfortáveis. ─ Lucy, Nathan disse, imagine que esta mulher fosse sua mãe. O que você faria? Lucy não esperava por uma pergunta. ─ Eu gostaria de saber o que primeiro te vem á mente, acrescentou Nathan. ─ Eu começaria por dar um pouco de luz a este quarto, respondeu Lucy. ─ Vá em frente, Lucy, disse Nathan. O que você quer dizer? Lucy reagiu com certa surpresa. ─ Abra estas cortinas pesadas, Nathan continuou enquanto dava o exemplo; não, melhor ainda , pegue uma cadeira e retire- as de modo que mais luz possa entrar no quarto. No início, Lucy focou em dúvida. Ela se sentiu um pouco embaraçada, mas fez o que Nathan pediu. Jessica ajudou Lucy a retirar as cortinas. Agora o quarto estava agradavelmente iluminado. Agora, Nathan falava com Jessica. ─ Jessica, o que você mudaria? Jessica foi até a janela e a abriu. ─ Eu tiraria a cama deste canto e a traria para perto da janela. ─ Boa idéia, disse Nathan. Eu vou ajudá- la. Nathan informou à mulher a respeito de suas intenções. A mulher pareceu alegrar- se com o que estava acontecendo. A cama foi cuidadosamente movida para que ela pudesse apreciar a linda vista. Jessica e Lucy apreciaram o sorriso sincero da mulher. Nathan tinha sido bem sucedido em suas intenções. ─ Meninas, disse Nathan, agora eu vou me juntar ao pastor e aos rapazes para ver se podemos encontrar as ovelhas roubadas. Acho que é melhor ficarem aqui e tomar conta dela. 85 ─ O que podemos fazer por ela? Perguntou Lucy um pouco preocupada. ─ Não podemos nem mesmo falar com ela, disse Jessica. Nathan não respondeu; simplesmente sorriu e saiu do quarto. Um pouco mais tarde, ele retornou com alguns panos úmidos e pediu para Jessica e Lucy refrescarem a mulher. As garotas pareciam em desespero, mas fizeram o que Nathan pediu. ─ Vocês serão mães maravilhosas, disse Nathan. Jessica e Lucy sentiram certo orgulho e sorriram. Nathan voltou e disse para Paul e Charlie que as garotas ficariam ali, enquanto eles sairiam à procura das ovelhas. Traduziu a mesma mensagem para o pastor. O pastor não estava com vontade de procurar pelos ladrões, mas finalmente concordou com a proposta de Nathan. Os rapazes entraram no carro e o pastor mostrou a direção para Nathan. Eles dirigiram montanha acima e no caminho encontraram mulheres e crianças que os olhavam com olhos raivosos. Charlie e Paul se sentiram ainda mais desconfortáveis com aquilo. ─ Tem certeza de que devemos nos envolver nisso? Perguntou Charlie. ─ Se estivesse no lugar deste pastor, disse Nathan, não gostaria de ser ajudado? ─ Provavelmente sim, mas não tem medo deles? Paul questionou. ─ Em situações de aperto, devemos sempre ter três armas a mão, disse Nathan calmamente. ─ Armas? Quis saber Paul. ─ Não se preocupe, são somente metáforas, Riu Nathan. Charlie e Paul ouviram a tudo com muita curiosidade. ─ A coragem vence o medo. A paciência vence a ira. A Paz vence o ódio. Mantenham isso em mente. Enquanto Paul e Charlie pensavam sobre isso, chegaram a um quarteirão onde quatro homens estavam sentados a uma mesa do outro lado. ─ Qual era a minha primeira arma, de novo? Nathan perguntou a Paul e Charlie. ─ A coragem vence o medo! Disse Paul. Nathan saiu do carro e pediu aos outros que esperassem por ele. Cumprimentou os homens na mesa e imediatamente procurou pelo líder do grupo. Falou com o homem sentado no fundo da mesa, que era um homem de compleição forte com uma barba negra e camiseta colorida. O nome dele era Paco. ─ Boa tarde! 86 ─ O que faz aqui? ─ Há um mal- entendido que eu gostaria de resolver, disse Nathan. ─ Que mal- entendido? Perguntou Paco em voz ácida. Nathan puxou uma cadeira, sentou- se e apontou para o pastor ainda sentado no carro. ─ O homem no banco da frente do carro é um pastor desta área. Todo o prazer de sua vida se resume a duas coisas, que são essenciais à ele: sua esposa e seus afazeres como pastor. Luis, um homenzarrão com um colete sem mangas reagiu de modo muito nervoso. ─ Por que está nos contando isso? Nathan não respondeu imediatamente, mas olhou cada um dos homens nos olhos. Finalmente falou firme para o homenzarrão: ─ Você não tem que me ouvir. Se isso não lhe interessa, pode sair agora. Nathan sentiu que suas palavras tiveram o efeito desejado. Teve sua confirmação quando Paco falou para o homenzarrão. ─ Luis, deixa o garoto contra sua história. Nathan agradeceu a Paco e continuou: ─ Hoje, aquele pastor está muito infeliz. Sua esposa está seriamente enferma e suas ovelhas foram roubadas novamente. Ele está a ponto de perder tudo o que mais lhe faz feliz. ─ O que quer de nós? Exigiu Paco. ─ Como sabem, todo roubo que acontece aqui aparecem rumores de que são vocês os responsáveis. Sei que estes preconceitos são quase sempre infundados, mas às vezes estão corretos. Quando são infundados, devem se fazer conhecer, mas se são verdadeiros é do interesse de todos que descubramos os responsáveis. Paco não disse nada por um tempo. ─ Suponho, disse então, que os rumores estejam certos. Qual seria o nosso interesse em trais o nosso povo? ─ Se caso fosse ouvido na cidade que fizeram justiça contra um ladrão de seu próprio bando, seria um forte sinal. ─ Sinal de que? ─ Sinal indicador de que nunca se deve julgar toda uma população. Miguel, um dos homens na mesa, falou: ─ Queremos viver em paz. ─ Tanto o pastor quanto as outras pessoas na cidade querem isso também, Disse Nathan, mas não conhecem vocês. Eles têm medo, e, deste modo, os evitam. 87 Nathan agora manteve o silêncio de propósito e deixou que o silêncio trabalhasse a seu favor. Enquanto isso, sentia que alguns deles sabiam mais sobre o roubo. ─ Quero pedir para que discutam isso, Volto já. Nathan voltou para o carro e informou os outros sobre a situação. ─ O que fazemos agora? Perguntou Charlie. ─ Agora usarei minha segunda arma, respondeu Nathan. ─ A paciência vence a ira, disse Paul. Nathan acenou para Paul. Enquanto isso, os homens discutiam intensamente. Nathan sabia que tinha tocado em um ponto sensível; a maioria dos Ciganos queria construir um relacionamento melhor com a população local. As crianças encontravam muitos problemas devido a esta exclusão, mas também os adultos eram cada vez mais alimentados com estes preconceitos. Depois de algum tempo, Paco chamou Nathan de volta. Luis disse a ele que sabia onde estavam as ovelhas. Nathan ficou feliz de ouvir isso e apertou as mãos de cada um deles. Quando quis apertar as mãos de Paco, o homem forte se levantou: ─ Cuidarei disso de agora em diante. Diga ao pastor que amanhã, antes do sol nascer, suas ovelhas estarão de volta. Ele tem minha palavra! ─ O pastor ficará feliz com isso, disse Nathan satisfeito. Nathan abraçou Paco. Quando Nathan quis partir, Paco falou com ele de novo: ─ Uns instantes atrás você disse que a esposa do pastor estava seriamente doente. Nathan concordou. ─ Vou chamar “Ela quem sabe” para acompanhar vocês, disse Paco. ─ “Ela quem sabe”? Perguntou Nathan. Ela vive em uma caverna no espírito Mouro e já fez muitos milagres. ─ Espírito Mouro... milagres? Paco sentiu as suspeitas de Nathan. ─ Diga- me, quando veio até nós, você sabia se o fim da situação seria satisfatório? ─ Eu não tinha como saber, mas sempre tenho confiança no futuro. ─ Esta é definitivamente uma atitude muito positiva, mantenha- na. Paco quis enfatizar. Nathan entendeu a mensagem. Paco enviou uma menininha para ver se a mulher estaria disponível por algum tempo. Neste ínterim, 88 Nathan voltou para o carro e disse a eles que as ovelhas seriam devolvidas. O pastor, Charlie e Paul ficaram profundamente impressionados pelo que Nathan havia conseguido. Então, Nathan contou para o pastor sobre a oferta de Paco para ajudar à sua esposa e perguntou se queria dar uma chance á isso. O pastor deu a ele uma resposta estranha. ─ Certamente que sim, uma vez que isso tudo vem de você. ─ Como assim? Perguntou Nathan. Você confia tanto assim em mim? ─ Principalmente eu confio naquele que lhe enviou, o pastor disse. ─ Aquele que me enviou? Nathan quis saber. No momento que Nathan quis pedir ao pastor que explicasse, Uma mulher se aproximou deles. Ela estava vestida completamente de negro e carregava uma pequena caixa com ela. Era a mulher sobre quem Paco havia falado. Quando ela viu Nathan, ela olhou para ele por um longo tempo e então sorriu ternamente para ele. Seus dentes brancos contrastavam com sua pele negra. Nathan se apresentou. ─ Meu nome é Nathan. Você acha que pode fazer alguma coisa pela mulher doente? A cigana continuou olhando para ele e nada respondeu. ─ Você fala espanhol fluentemente, mas não é daqui. ─ Realmente, disse Nathan, só estou de passagem. Você vai ajudar à mulher? A cigana olhou para o pastor. ─ Seguiremos você, disse por fim a cigana. ─ Muito obrigado, disse Nathan. ─ Você não tem que me agradecer ainda, reagiu a cigana. ─ Estou lhe agradecendo agora por suas boas intenções. O que acontecerá de agora em diante dependerá menos de você. A cigana sorriu e passou para o banco de trás do carro de Paco. Com dois carros, voltaram para a fazenda. Assim que chegaram lá, todos desceram, menos Paco. Ele ficou no carro e se preparou para tirar uma soneca. A cigana havia descido com sua pequena caixa. Nathan mostrou o caminho para ela até o quarto da mulher enferma. Jessica e Lucy estavam ao lado da cama. A cigana pediu para que Nathan trouxesse água quente. Então, ela abriu a caixa e tirou dela algumas ervas diferentes. Nathan voltou com uma bacia de água quente. Colocou a bacia ao lado da cama e desceu as escadas. Charlie e Paul tinham sentado nos bancos dentro do cômodo. Nathan sentou- se com eles. 89 Paul tinha uma pergunta a fazer. ─ Nathan, você acredita em forças misteriosas? ─ Normalmente não passam de forças que não entendemos ainda! ─ Eu sou cético a respeito de pessoas assim, Disse Charlie. E acho que isso não faz nenhum sentido. ─ O futuro nos mostrará, disse Nathan, mas lembre- se que nada é desprovido de sentido se ocupa um lugar em suas memórias! Nathan tinha dito suas últimas palavras com um indicador de que não queria mais falar sobre isso de agora em diante. Ficaria muito claro se a cigana seria capaz de fazer alguma coisa ou não. Enquanto isso, o pastor trouxe café e biscoitos, e os colocou sobre uma pequena mesa. Nathan aproveitou a oportunidade para perguntar ao pastor o que realmente quis dizer quando disse que confiava naquele que o enviou. ─ Quem me enviou, de acordo com o que disse? O pastor olhou para ele, fez- se confortável e deu um suspiro profundo. ─ Esta manhã, eu realmente não via nenhuma saída e clamei por ajuda. ─ Sim, e então? Perguntou Nathan. ─ Aí você veio! O pastor disse. Nathan aprendeu a reconhecer os momentos quando o silêncio servia como melhor resposta. Agora era um destes momentos! Ele deitou- se e fechou os olhos. Paul e Charlie rapidamente seguiram seu exemplo. Enquanto Nathan caia no sono, sentiu que de agora em diante sempre estaria em lugares onde pudesse desempenhar um papel importante. 90 Curiosidade Aproximadamente uma hora mais tarde. Lucy desceu e acordou os rapazes. Quando Nathan viu a cigana descendo as escadas, foi até ela. ─ Você conseguiu fazer alguma coisa por ela? ─ O mal a deixou, disse a cigana, agora o tempo fará seu trabalho. Enquanto isso, Lucy contava para Paul e Charlie o que tinha acontecido no quarto. Nathan conversava com a cigana. ─ Você sabe qual era a doença dela? ─ Isso não é importante, respondeu a cigana. As desconfianças de Nathan aumentaram. ─ Como você sabe que o mal a deixou? ─ O que me leva a curar não é minha cabeça, mas sim meu coração! De uma maneira ou de outra, a cigana com suas últimas palavras tinha conseguido fazer com que as desconfianças de Nathan desaparecessem por completo. ─ Quero lhe agradecer pela segunda vez hoje, desta vez por curála. ─ Eu fiz tanto quanto você, disse a cigana. ─ Por causa de meus esforços? Perguntou Nathan. ─ É por que trouxe a água, adicionou a cigana. Isto fez com que Nathan entendesse que ela havia visto uma conexão entre ele e a água e tentou descobrir se ela podia ou diria a ele algo sobre isso. ─ Por que disse isso? O que quer dizer? A cigana pareceu surpresa. ─ Então ainda não sabe? ─ Ainda não sei o que? Perguntou Nathan. ─ Se ainda não sabe, respondeu a cigana. Significa que o tempo para você saber ainda não chegou. Nathan não achava que aquela tinha sido uma resposta satisfatória, mas sentiu que a cigana não diria mais nada a ele, então não insistiu. Contudo, a estória sobre o espírito Mouro continuava intrigando- no. ─ Ouvi dizer que deixará a caverna do espírito Mouro. A mulher pegou- o pelo braço e andou com ele. 91 ─ Nathan, aquela estória não é importante para você. ─ Por quê? Perguntou Nathan. ─ Somente confie em mim! Disse a cigana. Nathan tentou descobrir as intenções da cigana. A estória não tinha realmente nenhum significado para ele? Ou ela somente queria deixá- lo ainda mais curioso? Estaria ela com medo de que ele descobrisse uma mentira? ─ Você está tentando manter um mistério deste jeito? Perguntou Nathan. ─ A realidade em si é um mistério. ─ Diga- me então, o que você conhece por certeza. ─ Isso somente diminuiria o poder do mistério. Nathan pensou a respeito. A cigana olhou para ele em silêncio. Nathan percebeu que ela radiava tanta calma que tinha que ser muito segura de si mesma. ─ Entendo, disse Nathan, contando que as pessoas acreditem no mistério, atribuem certos poderes à você. ─ Como eu já disse, repetiu a cigana, para você esta estória não é importante. Nathan concluiu que a cigana possuía seus poderes e confiança principalmente por causa do fato que ela era vista como mais do que realmente era. Ele confiou seus pensamentos à cigana. ─ È como o pastor que confia em mim cegamente, porque ele vê em mim mais do que realmente sou. ─ Tem tanta certeza de que o pastor está errado? Assinalou a cigana. Nathan focou quieto e pensou a respeito enquanto a cigana acrescentou um sorriso. ─ Só o tempo dirá! De repente a porta do andar superior se abriu. Todos olharam para os degraus. Jessica apareceu com a esposa do pastor a seu lado. O pastor não cabia em si de contentamento e correu degraus acima para abraçar a esposa. Quando desceu, ele também abraçou Jessica, Lucy e a cigana. Ele estava maravilhado. ─ Pode ter certeza de que todos em Granada saberão do milagre que aconteceu aqui hoje. ─ Se precisar de mim, disse a cigana, não hesite em me procurar. Então se dirigiu a Nathan. ─ Tenho que ir agora, Nathan. Estou feliz de conhecê- lo. A cura da esposa do pastor havia confundido Nathan e suscitou algumas novas questões. 92 ─ Mas, o que operou a cura? Ele perguntou à cigana. ─ A esperança de todas as pessoas hoje que estavam preocupadas com o destino dela, respondeu. ─ Nada além disso? Perguntou Nathan. ─ Reforçada pelo poder do mistério! Respondeu a cigana. Depois destas palavras, ela sorriu e abraçou Nathan. ─ Continue experienciando tudo com a mesma curiosidade e obterá um melhor entendimento o que já possui a respeito do que o mundo necessita! Antes que Nathan pudesse compreender completamente o que tinha acabado de ouvir, a cigana entrou no carro. Paco viu que Nathan estava confuso. ─ Não sei o que ela disse, mas sei que ela não tem este nome por acaso! ─ Obrigado por tudo, Paco! ─ Obrigado a você, Nathan. Enquanto o carro sumia de suas vistas, Nathan entendeu que sua tarefa ali tinha sido completada e disse ao pastor que tinham que continuar suas jornadas. O pastor ofereceu para ficarem mais um dia. Nathan respondeu que ainda tinham outras pessoas para encontrarem. O pastor disse que compreendia aquilo e que seria egoísmo querer mantê- lo ali por mais tempo. O grupo disse adeus ao casal. A esposa do pastor deu a eles uma cesta cheia de vinho, azeitonas, amêndoas e bolinhos doces como presente. Enquanto isso, Charlie e Jessica já haviam adentrado o carro de Nathan. Na estrada, conversaram sobre o que tinha acontecido. Depois de um tempo, caiu- se um silêncio e Nathan aproveitou para aprofundar- se em seus pensamentos. Pensava sobre o que a cigana havia dito para ele. ─ Continue experienciando tudo com a mesma curiosidade e obterá um melhor entendimento daquilo que o mundo necessita! Já era tarde quando chegaram a Granada. Depois de estacionar o carro, decidiram andar um pouco dentro da cidade. Durante o passeio, foram até a vila Moura de Abaixem que ainda respirava a atmosfera de séculos passados. Nathan amou aquela atmosfera especial. Paul propôs comerem algo. Perto dali, eles viram um estabelecimento agradável onde se sentaram em um pequeno terraço. Em uma das mesas ao lado, um homem estava olhando umas fotos. Nathan reconheceu as casas típicas de Abaixem e perguntou ao homem se podia olhar as fotos também. Também apresentou o resto do grupo ao homem. O nome dele era Antonio e 93 era o responsável pela revitalização das casas de Abaixem para seus estados originais. Assim, ele já tinha transformado várias casas antigas em hoteizinhos charmosos. Quando Antonio soube que passariam a noite na casa móvel, espontaneamente os convidou para passarem a noite em uma casa em Abaixem. Depois de comerem, foram com Antonio e dormiram em um lindo estúdio aquela noite. O dia seguinte, aproximadamente meio- dia, eles seguiram para Tarifa pelas típicas ruas estreitas. As casas brancas de gesso e a atmosfera relaxante lembraram Nathan da vila Mojacar. Charlie e Jessica mostraram a Nathan com entusiasmo a estrada para suas casas. Os membros da comunidade moravam em casas diferentes em volta de um pátio. Muitos membros vieram saudá- los e Nathan foi recebido com muito afeto. Graças a seu conhecimento em línguas, pode saudar muitos deles em suas línguas maternas. Após uma breve apresentação, Maite, uma mulher jovem e charmosa levou Nathan até um dos quartos de hóspede. Conversavam em espanhol. ─ Vai ficar aqui por muito tempo? Perguntou Maite. ─ Sito que sim; que ficarei por um tempo. ─ Seja lá quais forem as razões pelas quais você fique, tentarei fazer com que se sinta o mais confortável possível. Novamente Nathan sentiu que a amizade era sincera, do mesmo modo que tinha sentido quando conheceu seus novos amigos em Cartagena. ─ De onde você é e desde quando esta aqui? Perguntou a ela. ─ Sou de Barcelona e estou aqui há alguns meses. ─ Você volta com frequência? ─ Encontrei meu lar aqui. Nathan compreendeu que este era um ponto sensível para ela. ─ Sentímo- nos em casa onde somos compreendidos! Maite sorriu. ─ Soube que esta viajando por um longo tempo. Este é meu sonho também! ─ Bem, então você já está viajando, Nathan frisou. Ambos riram. ─ Você sabe quando Pablo estará aqui? Perguntou Nathan. ─ Você conhece o Pablo? ─ Eu nunca o encontrei. ─ Ele estará de volta da Holanda em alguns dias. 94 Nos próximos dias, Nathan falou com muitas pessoas dentro da comunidade e descobriu o que os havia levado até lá. A maioria deles estava desapontada e agora cultivava o mesmo sonho sobre um mundo melhor. Alguns deles eram muito vagos sobre o que aquele mundo deveria parecer; outros tinham idéias muito concretas sobre isso. Nathan havia notado especialmente que cada pessoa com quem tinha conversado tinha uma grande confiança em Pablo. Quanto mais Nathan ouvia sobre Pablo, mais ficava intrigado com ele. Ele realmente ansiava por conhecê- lo. 95 Alternativa Poucos dias depois chegou o momento. Pablo chegou em uma caminhonete junto com dois amigos. Pablo era um jovem carismático com longos cabelos negros. Naquele momento, Nathan estava no pátio com Charlie e alguns outros, tomando uma bebida. Nathan e seu grupo se levantaram e saudaram os três cavalheiros. Charlie apresentou Nathan a Pablo e o contou como se conheceram. ─ Você gosta daqui, Nathan? Perguntou Pablo. ─ Fui fantasticamente bem recebido, respondeu Nathan. É muito agradável aqui. ─ Então, muito disso vem de você. Respondeu Pablo. Pablo olhou atentamente para Nathan. ─ Amigos de meus amigos são meus também, ele disse então, vamos comer alguma coisa mais tarde e conhecer- nos melhor. ─ Estou ansioso por isso, disse Nathan. Quando a noite caiu, Pablo veio procurar Nathan e disse que Maite havia preparado uma paella deliciosa. Nathan seguiu Pablo até seu apartamento na cobertura. O apartamento era bastante iluminado. No meio da sala de estar havia uma mesa baixa e redonda, rodeada por grandes almofadas. Enquanto Pablo abria uma garrafa de vinho, Maite saiu da cozinha e deu as boas vindas a Nathan. Quando as taças estavam cheias, Pablo propôs um brinde: ─ Ao milagre de Granada! ─ Ao milagre de Granada? Nathan reagiu com certa surpresa. ─ As notícias correm rápido por aqui, riu Pablo. Você claramente impressionou a comunidade e todos aqui gostam de você. ─ Espero que pelos verdadeiros motivos. Pablo estava obviamente apreciando o vinho. ─ Nathan, em você eu reconheço as qualidades de um líder: você é inteligente, capaz de fazer- se amar e consegue lidar com isso muito bem. ─ Qual é o seu sonho? ─ Tentar descobrir o futuro escondido em mim. ─ Então ainda está a procura? ─ Não estamos todos? ─ Meu sonho era estabelecer esta comunidade. 96 ─ Qual a sua motivação para isso? ─ Eu sabia que isso me faria feliz. ─ Você precisa fazer os outros felizes? ─ A felicidade real é a felicidade que podemos oferecer. ─ As pessoas não têm que compartilhar seus próprios sonhos? ─ Aqui elas aprendem as diferenças entre seus sonhos e a realidade. Nathan estava impressionado pelas respostas de Pablo. ─ Como você vê a proposta final? Nathan quis saber. ─ Como tantos, eu quero um mundo melhor, disse Pablo. Aqui em Tarifa, eu quero mostrar que isso pode ser feito de modo diferente. Nathan quis saber mais, muito mais mesmo, mas decidiu guardar suas outras perguntas para mais tarde e não começar sua relação com Pablo com o pé esquerdo. O resto da noite, a atmosfera foi muito relaxante. Nas semanas seguintes, Nathan e Pablo passaram muito tempo juntos. A comunidade estava organizando uma festa. Para dar a todos os membros a oportunidade de reencontrar velhos amigos e novas oportunidades vindas de suas casas e países, Pablo organizava uma festa duas vezes por ano. Este não era o único motivo; também era uma maneira de apresentar a comunidade e sua filosofia de vida para os visitantes. Nathan estava completamente envolvido com isso e dividia seu prazer com Pablo. ─ É muito bom ver quantas pessoas podem se unir em volta de uma idéia. ─ A felicidade deles me agrada e fortifica em minhas convicções. Estamos fazendo um ótimo trabalho. ─ Pablo, você não tem medo que alguns deles se tornem muito dependentes de você? Pablo pensou a respeito. Ele adorava conversar com Nathan. Ele tinha dito mais cedo que ele tinha a arte de fazer as perguntas certas. Estas questões forçam as pessoas a pensar e travar um diálogo consigo mesmas. ─ Muitas pessoas tentam entender, disse Pablo, e precisam de um papel- modelo e uma personalidade forte. ─ Talvez elas precisem de fato de você para começar a acreditar de novo em seus sonhos, disse Nathan. ─ Cada um de nós procuramos escolher o que mais preenche nossos sonhos! ─ A questão é: em que extensão somos livres para determinar nosso próprio ciclo de vida! 97 Pablo entendeu porque Nathan estava preocupado. ─ Olhe, Nathan, minhas intenção é libertá- los para que possam lidar com a liberdade da melhor maneira possível. Agora Nathan entendia a razão mais profunda por que Pablo estabeleceu esta comunidade. A partir daquele momento todas as suas duvidas sobre Pablo desapareceram por completo. Outras perguntas vinham à tona agora. ─ O que é a liberdade para você? Pablo agora falava calmamente. Nathan reconhecia aquele tom de voz, que vinha de certa mágica de vida. ─ Normalmente parecemos fazer escolhas livres, mas na verdade somente queremos responder aos requerimentos de nosso ambiente! ─ Então é só uma ilusão acreditar que estamos fazendo escolhas livres, em sua opinião? ─ Uma escolha livre de verdade vem de nosso mais profundo eu! ─ Como reconhecemos nosso eu mais profundo? ─ Aprendendo com a experiência novamente e sendo completamente abertos para o nosso desejo interior! Nathan deixou as palavras de Pablo tomarem conta dele. ─ Então, somos capazes de determinar nossos próprios pensamentos? Perguntou. ─ Um pensamento vem para nós espontaneamente, disse Pablo. Não temos como comandar isso. Mas podemos determinar o que fazemos com tais pensamentos e como deixamos nossos sentimentos serem influenciados. Nathan viu muitas similaridades com o que tinha aprendido anteriormente. Ele achou impressionante que Pablo, Mauro e Simon, não obstante suas diferenças de criação e ciclo de vida, tinham chegado às mesmas conclusões. Pablo continuou: ─ Se podemos reconhecer os pensamentos vindos de nosso eu interior, também somos capazes de entender todos os aspectos de nossa condição e libertarmos a nós mesmos disso tudo. A partir daquele momento demos um salto para uma dimensão diferente. ─ Uma dimensão diferente? Perguntou Nathan. ─ Uma dimensão na qual se tornará incrivelmente claro como podemos encontrar a felicidade, Pablo esclareceu. ─ Todos os membros da comunidade entendem pra onde você quer levá- los? Nathan quis saber. 98 ─ Para muitos, minhas palavras parecem somente ideias bonitas, mas chegará um dia em que estas ideias se transformarão em entendimento, resumiu Pablo. ─ Você está claramente seguro disso tudo. ─ Há rios curtos e longos, estreitos e amplos, mas no final todos fluem para o mesmo oceano. Nathan reconheceu uma afirmação que já tinha ouvido de Simon. ─ Quando você realmente sabe que alguém entendeu suas ideias? Perguntou Nathan. ─ Quando as perguntas sobre como eles podem se tornarem felizes já não é mais uma pergunta, por que estão experienciando as dimensões de abertura calma. ─ Abertura calma? ─ Naquela dimensão, disse Pablo, a estrada para nossa felicidade se torna mais clara e cada experiência nos trás ainda mais clareza. Pablo esperou enquanto fitava os apetrechos vermelho brilhante. ─ No fim, continuou, não há nada mais importante que as experiências que nos lança alguma luz, levando- nos a um nível mais alto e nos permitindo experiências mais profundas. ─ Então, o que exatamente experienciamos? Nathan quis saber. Pablo olhou para Nathan e continuou a fitar as chamas. ─ O “maravilhoso mistério”! Nathan nada disse por um momento. Ele sabia que Pablo era uma pessoa espiritual, mas que raramente falava sobre isso. Nathan tinha aprendido a ficar em silêncio e ouvir atentamente durante aqueles raros momentos nos quais as pessoas se abrem. Pablo continuou: ─ Você pode reconhecer o “maravilhoso mistério” em cada coisa que existe, mas é dentro de nossa sensibilidade que nossas experiências se completam. ─ Isso não é uma questão de fé? Perguntou Nathan. ─ Todos têm a escolha de determinar o que se entende por “maravilhoso mistério” . Só estou tentando semear algumas sementes valorosas. ─ Semear sementes valorosas? ─ Dividindo minhas experiências e o meu aprendizado. ─ Por que você os chama de sementes? ─ Quando alguém está realmente procurando pelo seu destino de vida, sua sensibilidade é como um solo fértil e as sementes podem crescer ali. 99 Esta conversa com Pablo levou Nathan à novas perguntas, mas ele decidiu guardá- las para mais tarde. Nos dias que se seguiram, Nathan conheceu muitos amigos e pessoas próximas aos membros da comunidade. Como sempre, ninguém ficou sem ser tocado. Nathan e Pablo passavam muito tempo juntos e começaram e ficar muito próximos. Um dia, perto do fim do inverno, estavam sentados em um barco na "Costa de La Luz", na região costeira entre o ponto mais ao sul da Espanha e a fronteira com Portugal. Na caída da noite, eles remaram até a baía de Cádiz, onde encontraram um restaurante com uma linda vista da praia. Sentaram- se no terraço e notaram que havia uma atmosfera especial, um tipo de desolação, como se alguma coisa estivesse para acontecer. Pablo comentou: ─ Normalmente Cádiz é cheia de vida, ele disse. Era ainda mais estranho que esta atmosfera fez Nathan lembrar- se de Sophie. Especialmente aquele dia que se despediram na praia de Sables d' Olonne, A última vez que tinha ligado pra ela, ela disse que estava bem, mas que não havia passado nem um dia sequer sem que não tivesse pensado nele. Estaria ele se sentindo culpado agora ou era alguma coisa diferente? Pablo notou o silêncio de Nathan. ─ Você parece perdido em seus pensamentos. Nathan não quis incomodá- lo com isso. Nem ele mesmo sabia o que pensar sobre isso. Ele pensou que talvez esse fosse o memento ideal para perguntar a Pablo algumas questões adicionais sobre o conhecimento espiritual. ─ Você acredita que teremos algum dia que levar em consideração nossas façanhas? ─ Sabe, Nathan, eu sou de origem colombiana, um país com muitas casas de adoração, mas também com muita violência. Também é um lugar onde eu perdi muitos dos meus amados, mas aprendi uma coisa muito importante lá. Pablo escolheu as palavras com cuidado. ─ Eu acho que se alguma vez estiverdes perante um criador, ele não terá que perguntar o porquê de não termos sido mais fortes que nosso vício, ou por que não adoramos um livro sagrado. Ele nem mesmo perguntará de onde outorgamos o direito de matarmos os outros. ─ Então, o que ele nos perguntará? ─ A única pergunta que ele fará será: Por que você não foi você mesmo?! 100 No início, Nathan não disse nada e tomou um tempo para compreender a visão de Pablo. ─ O que você acha então das objeções morais que muitas pessoas impõem a si mesmas? ─ A única imposição moral que devemos ter é que nossa procura pela felicidade não deveria ficar atrás da felicidade dos outros. ─ È uma pena que nem todos vejam assim. Nathan já sabia a algum tempo que seu processo de aprendizagem na comunidade caminhava para o fim e que teria que partir em breve. Aprendera muito com o conhecimento de Pablo. Ele não sabia ainda qual seria seu próximo destino, mas estava convicto de que não demoraria muito para reconhecer os novos sinais. Decidiu falar com Pablo a respeito. ─ Pablo, tem algo que quero te contar. ─ Eu sei, Nathan. ─ O que você sabe, então? ─ Seu que tem que continuar. Nathan pareceu surpreso. ─ Para você, este foi só um passo no meio disso tudo, disse Pablo. Sinto- me honrado por todos estes dias que passamos juntos e por tudo que aprendemos um com o outro. ─ Eu nunca disse a ninguém, como poderia saber? Pablo colocou a mão sobre os ombros de Nathan e olhou em seus olhos. ─ Acreditaria em mim se dissesse que para mim parece que já tivemos essa conversa, exatamente neste lugar? ─ Então sabia que é chegado o momento de eu continuar com minha jornada? ─ Ao menos não é uma surpresa para mim, Nathan. Você é alguém que aprende alguma coisa onde quer que vá e então continua com sua jornada. ─ Você também sabe mais sobre o meu próximo destino? ─ Lembro- me de tê- lo visto partir em um barco. Naquele momento, um vento extremamente forte soprou. E transformou a areia em grandes nuvens arenosas. A tempestade era tão poderosa, que todos os clientes correram para dentro. Enquanto algumas mesas e cadeiras foram carregadas, Nathan e Pablo também entraram. No restaurante, todos admiravam a desempenho da natureza. Esta cena mística também impressionou Nathan e Pablo. Um cliente até cogitou que o vento forte teria trazido areia do Saara até ali. O vento continuou soprando com uma força 101 incrivelmente forte e, então, repentinamente parou. Nathan abriu a porta e saiu, seguido por Pablo. Alguns clientes não estavam totalmente convencidos. Pablo fechou a porta atrás de si e parou ao lado de Nathan. Juntos, eles fitaram o continente africano do outro lado. ─ O mistério da natureza é o maior de todos os mistérios. Nathan afirmou. ─ Você conseguirá resolver muito deste mistério para todos nós, disse Pablo. Surpreso, Nathan voltou- se para ele. ─ Tenho experienciado isso todos os dias desde que te conheci, continuou. Nathan olhou para o garçom. ─ Já me disseram isso antes. A única coisa é que eu não sei que devo fazer. ─ Talvez o conselho de Tagore possa lhe ajudar. O poeta indiano uma vez disse que o oceano não pode ser atravessado somente ao olhar suas águas! Naquele exato momento o vento trouxe o cheiro convidativo do continente do outro lado, ainda desconhecido para Nathan. ─ O sábio, continuou Pablo, também disse que a função do vento é distribuir mensagens. Quanto mais forte sopra, mais importante a mensagem é. Houve mensagens suficientes agora. Ambos estavam muito cansados e decidiram passar a noite em uma pousada no centro de Cádiz. No dia seguinte, o sol estava brilhando e não havia vento nenhum a ser sentido. Cádiz parecia exatamente como antes, como se a tempestade do dia anterior nunca tivesse acontecido. Pablo e Nathan saíram para Tarifa onde Nathan começou os preparativos para sua partida. Pablo contatou Adnan, um de seus amigos no Marrocos. Adnan imediatamente ofereceu que Nathan ficasse com ele. Pablo transmitiu as boas notícias a Nathan. ─ Um amigo meu lhe encontrará quando chegar a Tangier. ─ Obrigado por tudo que está fazendo por mim, disse Nathan. ─ Adnan é um ótimo amigo; será muito bom para ambos. Antes de sua partida, Nathan organizou uma festa de despedidas e doou seu carro para a comunidade com forma de agradecimento por sua hospitalidade. Na manhã seguinte, ele cruzou o oceano com o barco e zarpou rumo ao continente africano. 102 -4Poder Criador 103 104 Observação Durante o cruzamento, o sol brilhou forte. No mar aberto, um grupo de golfinhos nadava feliz ao longo do barco. Parecia que acompanhavam Nathan a seu novo destino. O barco chegou ao porto de Tanger. Mesmo sendo ainda inverno, o ar já estava morno. Com o barco aproximando- se da costa, Nathan já reconhecia o cheiro que havia sentido em Cádiz. Quando ele botou o pé no solo Africano pela primeira vez, teve seus sentidos consideravelmente estimulados. Nathan entendeu que tinha entrado num mundo completamente novo. Depois da imigração, procurou por Adnan. Pablo o tinha descrito como um homem simpático, de cabelos curtos e cavanhaque. Ele estaria usando, para aquela ocasião, um chapéu de palha e o estaria esperando na porta de entrada do prédio. Percorrendo o caminho de saída, Nathan viu um homem com essa descrição. Usava um chapéu de palha e uma veste árabe que cobria seu corpo inteiro. O homem que estava encostado na parede viu Nathan, sorriu e caminhou na direção dele. Falou com Nathan em francês: ─ Nathan, Eu presumo? ─ Sim, Nathan respondeu. E obrigado por vir me receber, Adnan. ─ De nada. Fez uma boa viagem de barco? ─ Sim, foi agradável e fomos acompanhados por um grupo de golfinhos. ─ Confirmando que vocês vinham na certa direção. Falou sorrindo. Nathan ficou surpreso com a observação de Adnan. ─ Meu carro está um pouco mais abaixo nessa rua, Adnan continuou. ─ Essa é sua primeira vez a um país Árabe? Adnan perguntou? ─ Estive na Ásia algumas vezes, mas desta vez é diferente. O que mais deixou Nathan impressionado foi que somente há alguns quilômetros da costa européia havia um mundo completamente diferente. Tão perto e tão diferente. ─ Agora você vê as diferenças, Adnan disse, mas logo verá o que nos une uns aos outros! Nathan imediatamente reconheceu o tom de voz que era que indicava sabedoria, assim como seu pai, Simão e Pablo. Iria Adnan 105 tornar- se importante para ele? Nathan se perguntava. E Adnan continuou. ─ Originariamente somos todos iguais e como resultado de nosso ambiente, desenvolvemos hábitos e esses hábitos nos torna diferentes. Nathan também notou que Adnan, além de suas palavras sábias, irradiava uma serenidade natural. Ele também viu que muitas pessoas o cumprimentavam nas ruas. Alguns somente acenavam, outros vinham até ele para falar- lhe rapidamente. ─ Você conhece todas essas pessoas? Nathan perguntou. ─ Nossas relações são importantes e gostamos de passar tempo com elas, Adnan respondeu. Eles chegaram até o carro, um antigo com muitos quilômetros rodados. Adnan colocou a bagagem de Nathan no porta- malas, e assim deixaram Tanger. ─ Tanger é uma cidade populosa, mas é muito mais tranqüilo aqui do que onde vivo, Adnan disse a ele. ─ Onde é? ─ Venho da cidade de Fez, mas a vila onde moro agora é chamada Oued Laou, é próxima da costa, do lado leste da cidade de Tetuan. Adnan mudou a estação de rádio e selecionou uma estação de música local antes de partir para a auto-estrada que levava a Tetuan. A paisagem era seca e rodeada de montanhas, idêntica a algumas paisagens espanholas que Nathan conhecia. A caminho de Tetuan, pararam em um restaurante a céu aberto onde puderam escolher o assado que queriam. Nathan deixou Adnan pedir algo para ele, foi uma escolha apimentada e deliciosa. Sentaram- se ao longo de uma mesa de madeira, junto com outros viajantes, com os quais Adnan começou uma conversa. Nathan tentou acompanhar a conversa, mas com exceção de algumas palavras francesas, entendeu muito pouco do que fora dito. ─ A língua árabe soa muito fora do comum para mim, ele comentou. ─ Para um árabe, a sua língua soaria muito fora do comum, Adnan disse. Mas eu entendo o que você quer dizer com isso, os sons são muito diferentes. Depois da refeição, disseram adeus e seguiram para Oued Laou. Pararam em Tetuan para comprar algumas coisas. No caminho, passaram por um impressionante cenário de uma área montanhosa, onde a estrada pareceu perigosa, porem Adnan conhecia bem a 106 estrada, o que deu a Nathan alguma segurança. Antes de escurecer eles chegaram à pequena vila Oued Laou. A casa de Adnan ficava numa montanha pitoresca e verde. Era uma tapera de pescador simples, mas com uma vista com todo a caminho até o mar mediterrâneo. Nathan desceu do carro e ambos apreciaram a vista. Em seguida Adnan mostrou a ele a sala onde ele seria acomodado. Na casa, ele conheceu uma senhora que cozinhava. Seu nome era Leila. Ela não falava Francês, o que tornou difícil para Nathan se comunicar com ela. ─ Leila toma conta da casa, Adnan o disse. O marido dela faleceu. Muita gente não tem muita condição de viver bem aqui então ajudamos uns aos outros. ─ Ela tem filhos? ─ Ela adotou uma menina chamada Sanah, Adnan disse. Sanah é agora uma jovem trabalhando numa organização social. Nesse momento ela está na Palestina. Duas ou três vezes por ano ela vem ao Marrocos. Você a conhecera em breve. Adnan o deixou descansar e foi fazer reparos na rede. Nas próximas semanas Nathan estaria em Oued Laou e trabalharia com Adnan em seu barco pesqueiro. Numa manhã foram despertados pelo cheiro de chá de hortelã preparado por Leila. Nathan lavou seu rosto e foi sentar- se com Adnan. Naquele momento o sol brilhava intensamente sobre o horizonte. Leila serviu chá em pequenas xícaras. ─ Há um silêncio interessante aqui em Oued Laou, Nathan salientou. ─ Não há nada melhor do que o silêncio que nos desenvolva a habilidade de ouvir, disse Adnan. ─ Está ouvindo algo especial? Nathan perguntou. ─ No silêncio se pode ouvir muito. Eu aprendo principalmente no silêncio do oceano e das montanhas. ─ O que aprendeu do oceano? ─ Aprendi basicamente a me ouvir melhor, e também aos outros. Claro que Nathan conhecia o poder do oceano como inspiração. Ele também havia notado que Adnan tinha uma relação muito próxima com o mar. Nathan se perguntou se ele seria capaz de dizer algo sobre seu dom. Leila serviu à mesa umas bolachinhas caseiras. Nathan, principalmente, adorou as bolachinhas em forma de meia- lua, feitas com amêndoas. Isso deixou Leila feliz. Ela olhou para ele e pediu a Adnan que traduzisse suas palavras. 107 ─ Ela disse que você possuiu algo de bom... Algo excepcional! ─ Como se diz. “obrigado”? Nathan perguntou. ─ Chokran Nathan olhou para Leila e repetiu a palavra para obrigado, depois disso houve silêncio. Adnan viu que ao fitar o oceano, Nathan sonhava de olhos abertos, e então fez uma proposta: ─ Amanhã lhe mostrarei alguns lugares encantadores. E quanto mais fundo mergulharmos, mais bonitos nos parecerão! Nathan olhou de relance para Adnan e seriamente lhe perguntou se ele sabia alguma coisa sobre seu dom. ─ Você mergulha com tanques de ar? Ele perguntou. ─ Sim, mergulhei uma vez, disse Adnan, mas não senti a mesma liberdade. ─ Estou ansioso por amanhã, Nathan disse. Nesse meio tempo Leila colocou um prato com figos e tâmaras na mesa. ─ Essas frutas são da região? Nathan perguntou. ─ Com certeza, Adnan respondeu. Você sabia que todas as frutas podem ser colhidas livremente aqui? ─ Não são vendidas? Nathan quis saber. ─ Aqui, fruta não é comprada ou vendida, explicou Adnan. Como elas nos são dadas pela terra, são de todos nós. Nathan pensou que era muito nobre essa maneira de pensar, principalmente para os menos afortunados. Ele se perguntava de onde viera tal ideia. ─ Tem algo a ver com fé? ─ Não são todos os nossos atos um resultado do que acreditamos? Foi essa a resposta de Adnan. ─ No que você acredita? Nathan quis saber. Adnan olhou para ele e respondeu em um tom de voz sério. ─ Eu acredito no “poder criador”! ─ E o que é isso? ─ Sua pergunta é o mesmo que perguntar a um peixe no mar o que é a água! ─ Podemos encontrar esse poder em qualquer lugar? ─ Com certeza. Não há lugar onde não possa ser encontrado. Nathan olhou para o oceano e deixou as palavras de Adnan tomarem forma. Na manhã seguinte tomaram café bem cedo com "donuts" aquecidos. E Nathan quis continuar a conversa do dia anterior. 108 ─ Se ao menos víssemos o quão maravilhoso é o mundo. É estranho que nem todo mundo acredite na existência do “poder criador”! ─ Cada um de nós tem experiências de mundo como lhes foi ensinado. Adnan disse. Qualquer um que não veja o milagre na ordem que governa o universo não tem que aceitar a existência de uma “força criadora”! ─ São eles capazes de ter experiências de mundo por completo então? ─ Para ter experiências de mundo completamente, confiar no “poder criador” é essencial. Somente essa crença pode nos ajudar a interpretar mensagens de nossos sentidos sem erros. Nathan pensou sobre isso, enquanto Adnan bebericava seu café e depois continuou. ─ Vou te contar uma estória para ilustrar. Um velho homem sonhou que estava caminhando sozinho no deserto. Ele olhou para trás e podia ver suas pegadas na areia, pegadas feitas durante sua vida. Perto dele ele podia ver um segundo par de pegadas. Essa era a confirmação de que ele sempre tinha estado em companhia de alguém, quer fosse nos bons momentos ou nos períodos difíceis de sua vida. Adnan bebericou novamente e calmamente continuou: ─ Algum tempo mais tarde o homem viu que quando o caminho havia se tornado muito mais difícil havia somente um par de pegadas na areia. Ele pensou: “Olha só! Foi justo quando eu mais precisei da sua ajuda, no período mais difícil de minha vida, quando eu não podia continuar seguindo sozinho que fui abandonado!” Ele caiu na areia e sentiu- se sozinho e inseguro. ─ Daí o que aconteceu? Nathan perguntou. ─ De alguma maneira mais tarde, o homem viu uma mulher vindo duna abaixo com uma criança pequena nas costas. O home perguntou a si mesmo: “Estranho, o que essa mulher está fazendo sozinha no deserto?” Esfregou seus olhos, olhou de novo, mas na fração de um segundo ela já havia desaparecido. ─ Ela esteve realmente ali? ─ Não tinha como ele ter certeza, mas tentou não esquecer a imagem da mãe. Então se levantou e continuou caminhando, ainda pensando na imagem da mãe. De repente ele compreendeu a mensagem e olhou para o céu. ─ Qual era a mensagem? 109 ─ Assim como a criança fora carregada pela mãe, o homem também havia sido carregado nos momentos mais difíceis de sua vida! Nathan entendeu a lição na estória de Adnan. ─ Nunca perca sua crença no “poder criador” e esteja... ─ ... atento as más interpretações? Nathan finalizou. Você está certo, na minha relação com Pablo, vi como é grande a crença dele no “poder criador”. ─ O “poder criador” é também ainda um “mistério maravilhoso”, Adnan piscou. 110 Inspiração Depois do café foram visitar Zobeir, um bom amigo de Adnan que contou que no passado Zobeir tinha gerenciado um próspero negócio na Suécia, mas que lhe tinha custado tanto tempo e energia que ele, completamente exausto, voltou para levar uma vida mais tranqüila aqui. Ele tinha encontrado um lugar maravilhoso onde vivia sozinho. E para se manter, ele alugava chalés de madeira aos visitantes da praia. Zobeir ficou contente de ver Adnan e deu as boas vindas a Nathan entusiasticamente. Nathan o parabenizou na escolha e mudança de vida radical. Quando Adnan disse a Zobeir que ele estava indo mergulhar com Nathan naquele dia, Zobeir procurou dois pares de óculos de mergulho e pés de pato em seu armazém. Ele os desejou um ótimo dia na água e os convidou para jantar mais tarde. Adnan e Nathan caminharam em direção água que brilhava com a morna luz da manhã refletida pelo sol nascente. Primeiro os dois homens sentaram- se na areia e fitaram por vários minutos o nascer do sol. Foi uma experiência intensa que dividiram sem palavras. Mais tarde, Adnan levantou- se e olhou para Nathan. ─ Não fantástico é o poder do silêncio? Nathan acenou afirmativamente. Adnan adentrou na água com os pés de pato e colocou seus óculos de mergulho. Nathan o acompanhou. Adnan, que tinha nadado da margem, deu sinal para que ele o seguisse. Logo Nathan estava ao seu lado. ─ Pronto pra descobrir novos tesouros? Adnan perguntou. ─ Vivemos somente para descobrir tesouros, todo o resto é uma forma de espera! Disse Nathan. Ambos encheram seus pulmões de ar e mergulharam. Adnan rapidamente mergulhou enquanto Nathan nadava cuidadosamente atrás dele para que não levantasse suspeitas sobre seu dom. Nathan percebeu a habilidade de Adnan debaixo d’água. Viu como Adnan, assim como ele, era capaz de viver a experiência da quietude e silêncio do mundo debaixo d’água. Em curtos espaços de tempo eles voltavam à superfície. Mesmo que Nathan não sentisse tal necessidade, ele sempre nadava de volta com Adnan. Adnan sentou- se numa rocha para descansar por um minuto e Nathan 111 sentou- se ao lado dele. Claro que Adnan notou quão bem Nathan mergulhava. ─ Você é quase como um peixe debaixo d’água. Tem sido um de meus favoritos passatempos, Nathan disse. Não há outro lugar que me inspire mais do que debaixo d’água. ─ Eu também aprendi a desenvolver minha capacidade de inspiração debaixo d’água. ─ Como podemos influenciar nossa inspiração? Nathan quis saber. ─ Estar receptivo às imagens que recebemos pelo nosso subconsciente. Adnan estava falando de imagens recebidas. Isso era algo novo para Nathan. ─ Quem envia essas imagens? ─ Essas imagens são inspirações que vêm a nós através do “poder criador”, Adnan respondeu. Exatamente no momento em que somos capazes de compreendê- las. Elas podem nos ser visíveis em nossos sonhos, mas elas podem também nos vir como um pensamento. ─ São elas envidadas por uma razão especifica? ─ Elas vêm para melhor fazer- nos entender o mais profundo sentido dos acontecimentos. Desenvolvendo melhor a nossa capacidade de inspiração, podemos melhor compreender que nada nos acontece se não tiver um propósito. Dessa maneira, tudo do qual ganhamos inspiração nos é enviado pelo “poder criador” para o nosso subconsciente. Nathan entendeu que Adnan era o tipo de pessoa que deixava suas ações ser determinadas da mesma maneira que seu pai, Simon e Pablo as deixavam. A única diferença era que Adnan a chamava de “poder interior” ou “poder criador”. Nathan agora também entendia que todos aqueles que eram atentos ao poder e à força criativa poderiam dar a ela diferentes nomes, dependendo do caminho que essa conscientização tomava. No fim, cada um deles significava o poder da intuição. Adnan levantou- se e se preparou para mergulhar novamente na água. ─ Vamos pegar mais algumas novas imagens. Nathan curtiu intensamente esses momentos. Ao mesmo tempo ele aprendeu a abrir seu espírito às novas inspirações. A partir daquele dia ele estaria desenvolvendo sua capacidade para inspirações muito rapidamente. Em uma das noites seguintes ele dirigiu até a cidade de Tetuan. Adnan levou Nathan até uma casa de chá onde eles tocavam uma música muito estranha, quase fascinante. 112 ─ Essa musica é capaz de tocar nossos mais profundos sentimentos, Adnan disse a ele. Como sempre Adnan pediu chá de hortelã doce, sua bebida favorita. A música encantou Nathan, bem como esse novo mundo que se abria perante ele. Adnan estava também muito satisfeito. ─ Dizem que esses sons podem nos fazer nostálgicos de algo que ainda é desconhecido em nossas vidas! ─ Meu pai é originariamente da Andaluzia e é fã da música daqui. Eu acho que também reconheço alguns sons nessa música. ─ Você ouviu bem, porque essa música é tocada com instrumentos que você pode também utilizar para criar música da Andaluzia. Nathan lembrou-se do dia de sua chegada em Tanger quando Adnan disse que ele veria mais similaridades entre suas culturas. ─ Desde minha chegada em Marrocos, eu realmente aprendi muito, Nathan confidenciou. ─ Como você mesmo disse uma vez, somente vivemos para descobrir tesouros; tudo mais é uma forma de espera! ─ O que você acha que é o mais valioso tesouro na Terra? Adnan não respondeu prontamente. Ele olhou para ele como se estivesse esperando essa pergunta e tivesse se preparado para ela. Nathan também sentiu que Adnan quis adicionar alguma informação. ─ O mais valioso tesouro são os anjos, respondeu Adnan. Nathan não entendeu o que ele quis dizer. ─ Anjos? Adnan balançou a cabeça positivamente. ─ Estou falando de tesouros na Terra, Nathan respondeu na esperança de esclarecer a questão. ─ Às vezes acontece a visita de anjos! Adnan disse novamente. Nathan olhou silenciosamente para Adnan e viu que ele quis mesmo dizer Anjos. ─ Como pode reconhecê- los? Ele perguntou. ─ Eles se parecem com a gente, mas são diferentes no contato com pessoas. ─ Como são diferentes no contato com as pessoas? ─ Anjos sempre abordam conhecidos e estranhos em uma aberta e amável maneira. Sempre nos trazem as melhores pessoas. ─ Fazem isso para mudar as pessoas? ─ Anjos nada esperam e não tentam influenciar ou mudar nada! ─ Então fazem isso sem nenhum interesse próprio? 113 ─ Anjos já têm abundância de alegria eles mesmos, sem ter que fazer nada por isso, é sua natureza! As palavras de Adnan fizeram Nathan pensar. Uma pergunta urgente lhe ocorreu. ─ Qual o propósito de estarem entre nós? ─ Quando eles tomam a forma humana, estão aqui para uma missão. Uma vez completada, eles desaparecem. ─ Sinto que há uma razão para você me dizer isso. ─ Correto, desde o começo dos tempos essa informação é passada a todos os Excepcionais. Agora Nathan ficou muito curioso. Ele se perguntava o que mais Adnan sabia sobre os Excepcionais. ─ Quem são os Excepcionais? ─ Pessoas que são capazes de grandes feitos. ─ Você conhece algum excepcional? Adnan olhou para Nathan e sorriu. ─ Você é um excepcional, Nathan! Agora Nathan sabia que Adnan também o considerava um Excepcional. Adnan sabia disso antes mesmo dele ter chegado ao Marrocos? Ou tinha ele percebido isso durante o tempo que passaram juntos? ─ Como você sabe? ─ Porque você me foi enviado para que eu possa te apresentar o seu anjo. ─ Pediram-lhe para fazer isso? ─ Sim. A mim foi solicitado! Nathan o fitou sem palavras e deixou que as palavras de Adnan fossem organizadas em sua mente. Adnan o considerava com um Excepcional, no qual já o colocava numa posição especial, porém Adnan disse algo ainda mais estranho. Ele falou sobre a existência de anjos na Terra, anjos que se pareciam com seres humanos. Esses anjos são pessoas com uma abundância natural de alegria na vida e cuja missão é guiar os Excepcionais. Uma nova questão surgiu em sua mente. ─ Você é um excepcional Adnan? ─ Eu tenho o dom de interpretar mensagens escondidas. ─ E você conhece meu anjo? ─ Aconteceu pela primeira vez há anos quando conheci Leila e seu marido. ─ Leila... Nossa Leila? Adnan contou a estória toda. 114 ─ Certamente. Ela e seu marido primeiramente moraram em Targuist, uma pequena cidade perto das montanhas de Rif, mas eles se mudaram para um dos distritos chiques de Tetuan. Naquele tempo seus conhecidos eram pessoas ricas, e sua filha Sanah freqüentava uma escola particular e eu lecionava música a ela. Quando seu marido faleceu, passaram por muitas dificuldades. Ela teve que deixar sua casa e se mudar para o centro da cidade. Eu ainda me lembro do dia que fizeram a mudança como se fosse hoje. A casa era somente um casebre mal construído , sem cozinha e sem qualquer tipo de banheiro. Imagine que mudança era aquela para Leila. Ela se desdobrara para fazer da casa a mais limpa possível, mas quando me viu entrando não pôde mais segurar suas lágrimas. Eu me lembro de Leila muito preocupada com Sanah. Sua filha tinha apenas sete anos de idade e não tinha visto a casa ainda. Ela tinha ido à sua nova escola pela primeira vez e Leila estava preocupada de como Sanah iria lidar com a chocante mudança. Eu a encorajei e disse que ela tinha que ser forte. Ela secou suas lágrimas e perguntou se eu poderia esperar por Sanah junto com ela. Eu testemunhei o momento de um valor imensurável. Sanah abriu a porta e entrou. Eu ainda posso vê- la entrando em seu vestido de verão e com sua bolsa escolar cor de rosa em seus ombros. Sua mãe estava sentada em uma cadeira fazendo o máximo para controlar sua expressão e esconder seu receio. Sanah olhou a sua volta, sorriu para sua mãe e também pra mim. Ela aumentou o passo e virou uma estrela perfeita caindo diretamente nos braços de sua mãe. E ainda posso escutá- la dizendo: “Você é a mais doce mãezinha na Terra!” Te digo mais, ainda me arrepio todo quando me lembro disso, Mãe e filha se abraçaram uma à outra, Leila não pode conter suas lágrimas, mas dessa vez eram lágrimas de alegria. De uma hora pra outra sua tristeza tinha sido transformada em felicidade. Eu tinha plena consciência de que tinha testemunhado um milagre. Já desde aquele tempo Sanah freqüentemente influenciava a vida das pessoas à sua volta de uma maneira expressiva. Ela é alguém com uma abundância de alegria de vida e sempre aborda pessoas de uma maneira aberta e amável. Nathan estava tocado pela estória de Adnan, mas se manteve cético quanto ao fato de Sanah ser um anjo. ─ Pelo menos curioso você me deixou, ele disse. ─ No mês que vem ela virá nos visitar e você verá por si mesmo. 115 Quando foram buscar Sanah um mês mais tarde em Casablanca, a curiosidade de Nathan aumentara ainda mais. Eles chegaram muito cedo ao aeroporto e passaram numa cafeteria para tomarem um refresco. Quando Adnan viu Nathan imerso na leitura do jornal, ele sugeriu que ele o aguardasse ali enquanto ele fosse buscar Sanah. Quando ele chegou ao hall de chegada, Adnan imediatamente reconheceu Sanah pelos seus longos cabelos soltos. Ela estava dizendo adeus a uma senhora. Nathan caminhou até ela e eles se cumprimentaram com afeto. Eles eram como tio e sobrinha então era sempre uma alegria todas às vezes que se encontravam. Depois de se abraçarem, Adnan ajudou-a com sua bagagem. ─ Eu trouxe alguém que... Adnan queria informá- la, mas Sanah pôs sua mão nos lábios dele. ─ Eu sei quem ele é! Adnan nada mais disse e caminharam lado a lado para a cafeteria onde Nathan os aguardava. Lá ele os apresentou. Olharam- se intensamente, sem dizer uma palavra sequer. Sanah pegou nas mãos de Nathan e sem tirar os olhos dele, disse. ─ Obrigada Adnan! Nathan ficou um pouco chocado e Sanah falou com ele calmamente. ─ Eu agradeço a Adnan porque ele vê bem! Nathan não entendeu e se virou a Adnan. ─ Do que ela está falando? ─ Sobre minhas imagens nos sonhos, respondeu Adnan. Agora Nathan olhou para Sanah. ─ Você me conhece então? Sanah olhou para as mãos de Nathan. ─ A cada momento o conheço mais. ─ O que sabes de mim? ─ O mais profundo desejo em você esperando por realização. Naquele momento ela soltou a mão dele. ─ Que profundo desejo? E como você sabe? ─ Você acabou de me confidenciar. Nathan sabia por certo de que ele tinha anda dito. Então Adnan o ajudou. ─ Ela quer dizer que seu subconsciente a confidenciou. ─ Você descobriu isso apenas segurando a minha mão? Nathan perguntou a Sanah. ─ O toque é a mais fundamental das formas de comunicação, Sanah respondeu. 116 ─ O que você descobriu exatamente? Insistiu ele. ─ Que você está incessantemente atraído pelos aspectos místicos e obscuros da realidade, Sanah revelou. ─ Quais são os aspectos obscuros da realidade? Nathan perguntou. ─ Você saberá mais no Sul, Sanah o informou. Então, virando- se pegou sua bagagem e caminhou para fora do lugar. Nathan olhou Adnan, perplexo. ─ No Sul? Repetiu ele. Adnan gesticulou que nada sabia sobre aquilo. Os dois seguiram Sanah que já estava muito a frente deles. ─ Você sabe o que ela quis dizer sobre os obscuros aspectos da realidade? Nathan perguntou. ─ Seja paciente e acredite que nesse momento ela sabe mais sobre você do que você mesmo! Adnan o assegurou disso. Uma vez que chegaram ao carro Adnan disse que ele não os acompanharia. ─ Ok, Sanah disse. Então é melhor seguirmos de volta a Oued Laou, você já fez muito. Tomamos o ônibus para Marrakech e nos vemos mais tarde. Adnan deixou-os na estação de ônibus onde se despediram. Nathan se perguntava exatamente o que estava acontecendo, mas confiava em Adnan e sentiu que Sanah seria muito importante para ele. A viagem de ônibus à Marrakech levou algumas horas. Nathan pensou muito e aproveitou a oportunidade de pedir Sanah uma explicação. ─ Sanah, qual é a diferença fundamental entre as pessoas? ─ É a extensão de que estão atentos de seus destinos de vida. ─ Todo mundo tem um destino de vida? ─ Sim, e todos tem a capacidade de se tornar ciente do destino de sua vida. ─ O que distingue um Excepcional então? ─ Três qualidades excepcionais. Nathan estava curioso em descobrir quais seriam elas. ─ Um Excepcional não tem que descobrir seu destino de vida, eles estão continuamente cientes dele; desde o dia em que nascem! Nathan reconheceu a sensação, ele sempre soube por ele mesmo. Sanah continuou. ─ Um Excepcional tem uma extraordinária percepção, sendo capaz de distinguir um conhecimento verdadeiro de um não verdadeiro! Agora Nathan entendeu melhor porque a sua opinião era acatada tão freqüentemente. 117 ─ E qual é a terceira qualidade? Perguntou. ─ O ultimo é o mais importante de todos os três e de agora em diante irá iluminar seu caminho. O destino de vida de um Excepcional abriga uma missão maior. Agora Nathan se lembrara de sua viagem com Simon na Índia. Ele se lembrou do homem que tinha falado a ele sobre sua missão superior em Colaba, distrito de Mumbai. ─ O que é uma missão superior? ─ A missão que é diretamente ligada com um “elemento natural” ou outra forma superior de energia, Sanah respondeu. Assim, um Excepcional age como um mensageiro. Nathan esteve sempre ciente dessa sua ligação intima com seu “elemento natural”, mas que ele fosse seu mensageiro fortemente o emocionou. ─ Um Excepcional sempre alcança sua missão maior? ─ Cada indivíduo, independente de seu processo de conscientização, tem o livre arbítrio. Ambos por um Excepcional e por qualquer outro ser humano, a extensão do qual ele sucede em nossa missão de vida depende completamente da soma de suas escolhas durante nossas vidas. Nathan pensou sobre isso por um tempo. ─ Você sabe qual o meu destino final? Ele perguntou. Sanah colocou sua mão no coração de Nathan e olhou profundamente nos olhos dele. ─ Saiba que sua maior missão terá um impacto em toda a humanidade, ninguém jamais terá visto algo parecido antes! “Um impacto em toda a humanidade, nunca antes visto!” Essas palavras tocaram Nathan como se fossem seu “elemento natural” manifestando- se por si próprio para mostrá- lo a importância de sua missão. ─ Sanah, ninguém jamais me disse isso explicitamente. E ainda me sinto como se lá no fundo, eu sempre soube disso, ele a confidenciou. ─ O conhecimento verdadeiro está dentro de nós! Sarah salientou. ─ Eu sempre encontro pessoas no meu caminho de vida que estão convencidos de que eu sou um Excepcional! ─ Alguns são mesmo capazes, graças a seu alto estado de consciência, de sentir tais características. Sanah viu que Nathan já havia recebido informação suficiente até então. 118 ─ É melhor você descansar agora Nathan para que seu subconsciente possa processar as informações. Há ainda muito mais esperando por você. ─ Ok, Sanah, mais uma última pergunta. Existem pessoas que tem um nível ainda maior de consciência do que os Excepcionais? Naturalmente Sanah entendeu que Nathan estava se referindo a ela e sorriu. ─ Viemos a Terra com a missão de nossa própria escolha. Nathan fechou seus olhos, e se perguntava o que poderia esperar por ele. Quando o ônibus se aproximava de Marrakech, Sanah o despertou. Nathan olhou pela janela e ficou imediatamente impressionado com o charme da cidade vermelha. Eles desceram do ônibus e caminharam até a cidade velha. Nathan não tinha mais perguntas, sabia que estava em confiável companhia e curtiu esse novo ambiente. Eles passearam pelos intrigantes labirintos de vielas estreitas. Parecia que o tempo havia parado. Sanah parou em uma das típicas casas e bateu. Uma jovem abriu a porta. Depois que ela trocou algumas palavras com ela, Sanah gesticulou a Nathan para acompanhá- la. Uma vez dentro, Nathan parou boquiaberto com a magnificência do Riad, uma daquelas lindas casas arábicas com jardins de inverno. Esse Riad tinha atrativas sacadas e uma fonte no meio de um jardim de inverno cuidadosamente adornado. Sanah sugeriu descansarem antes do jantar no terraço. A jovem que tinha aberto a porta mostrou a Nathan o seu aposento. 119 Realidade Depois de descansar, Nathan subiu. O terraço estava coberto por uma tenda branca. Sanah já estava lá olhando a vista panorâmica de Marrakech. Nathan dirigiu-se a ela e eles se sentaram à mesa onde duas garçonetes os trouxeram "tajines" deliciosos. ─ O que você achou de Marrocos até então? Sanah perguntou. Nathan pensou por algum tempo. ─ Em um país que estimula seus sentidos. Você está constantemente sendo surpreendidos por novos sabores, cheiros e imagens. ─ O Marrocos tem sido um país de transição de diferentes culturas por longo tempo, Sanah disse. E é particularmente por esse motivo que é o lugar ideal para ter experiências, a razão que viemos aqui. Nathan estava curioso e sentiu que sua atenção estava se voltando para ela. Sanah continuou: ─ O fato de já termos nos encontrado significa que você está pronto para compreender mais do mundo e suas realidades obscuras. ─ Realidades obscuras? ─ Conhecimentos que não podem ser experimentados através de seus sentidos, o conhecimento de uma consciência superior. ─ Se não podemos ver esse mundo com nossos sentidos, como o vemos então? ─ Somente nossa intuição pode nos conectar com a consciência superior! Sanah pegou nas mãos de Nathan e exigiu sua completa atenção. ─ Amanhã você será preparado para entrar no mundo de uma consciência superior. Será uma experiência intensa. Uma experiência que o fará sentir o mundo de uma maneira totalmente diferente. Nathan se pegou olhando para Sanah com uma curiosidade particular. ─ Você será colocado numa condição na qual irá claramente ter uma experiência sobre a maneira como a direção é determinada e de como nossas escolhas são influenciadas. ─ Como eu seria colocado nessa posição? Perguntou. 120 ─ Amanha, Sanah disse você irá conhecer pessoas que são especialistas na arte do transe. Através da música eles o prepararão para a primeira transição ao mundo da consciência superior. ─ Você fala em primeira transição. Haverão outras? ─ Depois dessa experiência, cada transição a uma consciência superior fluirá cada vez mais até que você finalmente verá que não há mais transição alguma! Nathan pensou sobre as palavras de Sanah e entendeu que logo ele seria colocado em uma condição de ver a realidade num nível diferente. Sanah disse a ele que estariam viajando para a cidade de Ouarzazate, no dia seguinte. Ainda estava escuro quando eles passeavam pelas ruas estreitas da Medina de Marrakech. Quando chegaram à Praça dos Milagres, Nathan entendeu o que deu àquele lugar, esse nome tão específico. O coração latente da Medina era uma mistura de aromas picantes, encantadores de serpentes, engolidores de fogo e acrobatas. No dia seguinte, eles tomaram o ônibus para Ouarzazate. A rua seguia por um maravilhoso cenário com impressionantes Oasis com palmeiras. Nathan admirou as palmeiras e ficou entusiasmadamente aguardando a experiência mística que estava prestes a experimentar. Quando eles chegaram à pitoresca Ouarzazate, tomaram um taxi, que os levou a uma casa construída como um templo cercado por altas palmeiras e que irradiavam uma serenidade idílica. Sanah bateu à porta imponente. Um homem veio recebê- los e trocou algumas palavras em árabe com Sanah. Então, o homem olhou Nathan por algum tempo, sem dizer palavra alguma, abraçou-o como se ele fosse seu filho perdido há muito tempo. O homem chamado Rashid, convidou-lhes para entrar. Lá encontraram dois outros homens, Lahcen e Said. Sanah explicou a razão da visita deles. Nathan não entendeu muito, mas mais tarde Sanah explicou tudo que ele precisava saber. Ela explicou que eles dormiriam ali e que ele seria iniciado em seu aprendizado naquela noite mesmo. No dia seguinte ele seria levado ao Saara para o ritual. Durante a estadia dele no deserto, Nathan não poderia comer e somente poderia ingerir água. Nathan respondeu que faria um pequeno sacrifício em troca de algum conhecimento, uma resposta muito bem recebida por seus ouvintes. Depois da conversa, foram explorar Ouarzazate para relaxar. A cidade parecia ter saído das páginas dos livros de história antiga. Nathan estava especialmente impressionado pela visita a uma vila 121 de barro vizinha. Naquela noite, Nathan se preparou para sua iniciação. Essa tarefa seria feita por Lahcen e Said. Outra parte da iniciação que mais tarde aconteceria, seria feita no deserto por Rashid. Nathan ocupou o seu lugar no tapete perto de Sanah. Na frente deles estavam Lahcen e Said. No meio havia um livro. Sanah disse a Nathan que esse livro continha seus aprendizados e eles estariam fazendo as leituras nele descritas. ─ Antes que comecemos, ela disse, os senhores gostariam de saber se você tem alguma dúvida. Depois de pensar brevemente, Nathan fez a seguinte pergunta: ─ Eu gostaria de saber por que o deserto e o jejum fazem parte da minha primeira experiência no mundo da consciência superior. Said disse a Nathan que ele já tinha a disciplina correta por tentar compreender tudo antes mesmo que acontecesse. Lahcen esclareceria o mistério do deserto. Então, Said explicaria o poder do jejum. Lahcen abriu o livro e leu a passagem do deserto. ─ As verdades superiores não são encontradas em nossas observações familiares, mas através delas. O deserto nos coloca em uma situação composta de uma força maior na qual somos obrigados a uma entrega total. Uma experiência que nos leva a uma sensação maior de intimidade. Sanah fez a tradução e perguntou a Nathan se essa era uma resposta satisfatória, o qual Nathan, depois de uma curta pausa, acenou afirmativamente. Said então pegou o livro e leu a passagem da essência do jejum: ─ O principio por trás do jejum é temporariamente nos limitar a somente o que é necessário para nossa saúde física e espiritual. Essa disciplina nos conscientiza de que nossos desejos determinam quem somos hoje e que nossa capacidade de controlar esses desejos determinará quem nos tornaremos amanhã. Sanah esperou até que isso estivesse claro para Nathan. Suas palavras indicaram que sim. ─ E muito frequente que textos como esses nos dêem tais respostas convincentes. Eu agora entendo completamente porque o deserto e o jejum fazem parte do ritual. Lahcen e Said agora estavam preparados para lerem os textos iniciais. Era a descrição dos três estágios da evolução que alguém poderia atingir no mundo da consciência superior. Sanah deu a Nathan um caderno e um lápis para que escrevesse as palavras proferidas. Lahcen leu o primeiro texto: 122 ─ Através da consciência superior podemos compreender completamente o conteúdo de nossa consciência. Daqui podemos compreender como nossos pensamentos se relacionam com nossos sentimentos e como nos tornamos cientes do que está se passando em nossas vidas. Said esperou até que Nathan tivesse escrito tudo e depois leu o segundo texto. ─ Se reconhecermos a origem da criação na raiz de cada momento de nossa vida, transformaremos a nossa vida em uma dádiva. Pela obtenção da inspiração na nossa perfeita relação com tudo aquilo que existe, nossa crença na unidade do mundo aumentará. Said ofereceu o livro para Sanah para que ela pudesse ler o último texto. Ela primeiro leu as palavras em árabe e depois traduziu o que acabara de ler. ─ As experiências nesse mundo de consciência superior nos fazem compreender o quanto podemos dar mais significado à nossa vida. Quanto mais uma pessoa for capaz de obter conhecimento da consciência superior em sua própria consciência, melhor ela será em realizar grandes feitos. Sanah disse a Nathan que durante os dias seguintes ele compreenderia completamente o significado correto dos textos. Enquanto Nathan relia os textos em suas anotações, um grande prato de cuscuz foi servido. Said e Lahcen os desejaram bom apetite e asseguraram que aquele alimento seria suficiente para sua estadia no deserto. Na manhã seguinte o grupo saiu para o deserto em um ônibus. Passaram por um largo vale cheio de figueiras alternadas com pequenos campos de milho. Algumas horas mais tarde, o cenário se converteu em um grande nada, exceto areia. Não havia nada além de dunas de areias que iam tão longe quando o olho podia ver. Depois de um curto período de tempo, o ônibus parou exatamente onde o ritual aconteceria e eles armaram uma enorme tenda branca. Durante a tarde, Rashid chamou Nathan em particular e o informou dos procedimentos. Ele, para sua surpresa, descobriu que Rashid falava francês fluentemente e tinha estudado Física em Genebra. 123 Energia Naquela noite, chegariam alguns músicos para participarem do ritual. Nathan também ouviu que depois do ritual ele seria deixado sozinho no deserto do nascer até o pôr- do- sol. Nathan achou a idéia de ser deixado sozinho no deserto desconcertante, mas ainda assim excitante. ─ Ei de sobreviver, disse ele. ─ Não tem a ver com sobreviver, mas basicamente reviver! Rashid respondeu. Nathan viu que Rashid tinha a intenção de contar muito mais, assim colocou o lápis e o caderninho na mão e ouviu atentamente. ─ No mundo da consciência superior, Rashid disse você verá entidades que são invisíveis no mundo consciente, mas também se movem para acompanhar pessoas. ─ Essas entidades escolhem quem elas acompanharão? Perguntou Nathan. ─ Elas viajam livremente, Rashid respondeu, mas no final cada pessoa decide por si mesmas qual das entidades eles querem que os acompanhe. ─ Como ingressarei no mundo da consciência superior? ─ Há muitos meios de fazer isso. Um deles é através de musica rítmica. De nossos ancestrais, aprendemos os ritmos que podem nos levar a um estado de transe e nos habilitar a experimentar energias muito diferentemente do universo. Nathan releu suas anotações e perguntou: ─ Me diga Rashid, você aparenta saber muito sobre misticismo. Como você o compara com a ciência moderna? ─ A Ciência moderna se concentra em como a energia funciona. O Misticismo, por outro lado, nos ensina como podemos influenciar essas energias. ─ O que você quer dizer com energias? Nathan perguntou. ─ Tudo é feito de energia e suas interações. Uma experiência de transe nos ajuda a ver essas energias de maneira diferente. Ela nos mostra como cada tipo de energia ocorre separadamente. Dessa maneira podemos ver os aspectos obscuros da realidade. ─ O que podemos ver exatamente? 124 ─ O que lhe for revelado, é somente de seu interesse. Ele contribuirá para sua própria evolução e o levará rumo a seu próprio e único propósito! Após essa conversa Sanah propôs que fossem caminhar. Subiram até a mais alta duna onde poderiam ter uma boa vista. ─ O que você se lembrou de sua conversa com Rashid? Sanah perguntou. ─ Ele me contou das entidades e como elas se movimentam entre nós. Também confirmou que o que vou experimentar hoje será nada mais do que uma extrema observação do que ocorre sempre e em todo lugar. ─ Está tudo claro pra você? ─ Até então sim, está, muito embora eu tenha a forte impressão que a revelação que está por vir será muito mais clara. Sanah colocou sua mão nos braços de Nathan. ─ De agora em diante você vivera experiências de total atração do mundo místico e nunca mais vai deixar o assunto de lado novamente! ─ Enquanto Nathan ainda estava impressionado pelas palavras de Sanah, viu um microônibus ainda distante vindo na direção deles. ─ Teremos visita, disse ele. ─ Verdade, visita musical, Sanah disse. Sanah e Nathan caminharam duna abaixo e voltaram para a tenda. Um grupo de músicos, em vestimenta vermelha, saiu do ônibus. Estavam carregando instrumentos de corda, tambores e tamborins e se agruparam na tenda. Com o chá servido, começaram a tocar ritmos lentos, que gradualmente aumentavam a velocidade e depois começavam a cantar bem alto. A noite caiu e a música se tornou mais rápida e ainda mais alta. Enquanto Nathan curtia esse evento festivo intensamente, Rashid veio buscá- lo e o colocou no meio da tenda, onde Lahcen e Said estavam esperando por ele. Sanah o abraçou e disse que o buscaria depois do pôr- do- sol no dia seguinte. A medida em que Nathan adentrava o centro da tenda, a música se tornava ainda mais forte. Os três iniciadores mostraram a ele como virar seu axiaaaaa. Não demorou muito até que Nathan pudesse realizar os giros tranquilamente. Gradualmente ele sentiu o bom humor aumentando dentro dele comparável a algo entre uma excitação e euforia. Agora era mais difícil para ele distinguir as imagens que via fora das que surgiam dentro de seus pensamentos. Era como se todas as experiências vividas se misturassem. Olhou para os músicos e viu 125 que mais convidados tinham chegado. Novos convidados que pareciam semelhantes a espectros de seres humanos e que flutuavam! Pouco a pouco mais convidados chegavam. Os espectros não pareciam se preocupar com Nathan que vivenciava aquela experiência como observador. Nathan agora sentiu como se fosse luminoso e perdeu a noção de tempo e espaço. Ele fechou seus olhos e continuou girando seu machado, encorajado pelos ritmos excitantes. Isso continuou por algum tempo até que de repente tudo virou silencio! Quando Nathan abriu os olhos ele viu que estava completamente sozinho e que ele deitava estirado num sofá. Estava tudo muito escuro na tenda e extremamente quieto. O incessante questionamento: Onde estava todo mundo? Ele se levantou cuidadosamente e saiu. Lá viu que todos os ônibus haviam desaparecido. Ele tentou se lembrar do que tinha acontecido, mas não pode visualizar mais do que alguns fragmentos. Fora da tenda, cujo extremo ele tinha tido como experiência, predominava o silencio. Nunca antes Nathan tinha tido tal experiência, e apesar de estar rodeado de areia, a situação o fez pensar na tranqüilidade de estar debaixo d’água. O único barulho que ouvia era o barulho do vento soprando suavemente. Nathan colocou os pés na areia. Sua cabeça cheia de duvidas. O que tinha acontecido aquela noite? Estava ele realmente no deserto do Saara naquele momento? O ritual realmente aconteceu? Rashid, Lahcen e Said realmente existiam? A mente dele começou a vagar por estranhas indagações. Agora até questionava a existência de Sanah. Seria ela um anjo? Tinha ele conhecido um anjo? Quem a apresentou a ele? Ele realmente tinha conhecido Adnan? Estava ele realmente em Marrocos? Basta! Pensou. Ele tinha que manter o controle e organizar seus pensamentos. Ele procurou por afirmações nas quais poderia se basear, mas não importava o quanto tentava, não conseguia ter certeza de mais nada. Agachou- se, encheu a mão de areia e a fechou com força. A areia era algo que ele podia realmente sentir. Essa certeza o deu força e ele se sentiu aliviado. Então, notou que a areia lhe escorria das mãos. Ele tentou pará- la a fechando ainda mais forte do que antes, e quanto mais ele apertava mais a areia escorria levando com ela a sua certeza. A pergunta era, estaria ele realmente no deserto ou não? E se estivesse apenas sonhando acordado? 126 De repente ele pensou ter visto algo, mas foi tão rápido que enquanto focava os olhos, aquilo que pensou ter visto já tinha desaparecido. Ele não deu muita atenção ao ocorrido e subiu na mais alta das dunas para explorar a redondeza. Enquanto subia a duna o vento ganhava mais força. Isso fez com que percebesse que não estava sonhando e que a experiência estava realmente acontecendo. Quando Nathan chegou ao topo da duna ele teve outra experiência especial. Bem na frente dele o sol estava nascendo majestosamente e coloria todo grão de areia da cor laranja. O calor e o brilho do sol o enchiam de uma confiança inacreditável. Agora ele tinha certeza, que naquele momento ele estava presente ali e em nenhum outro lugar! Ele sentou- se e viveu o momento em toda a sua intensidade. Era como se uma nova energia de vida estive pulsando através dele. Essa consciência trouxe-lhe uma sensação de prazer inigualável, um estado de intimidade. Novamente ele pensou ter visto algo, como se alguém tivesse se sentado ao lado dele. Ele olhou para o lado e dessa vez olhou com mais atenção, mas tudo o que via era uma paisagem de dunas de areia amarelo- dourada. Concluiu que devia ser por causa do brilho do sol. Um tempo mais tarde ele viu um Beduíno num camelo bem distante. O habitante do deserto veio até ele. Quando estavam perto um do outro, o Beduíno desmontou de seu camelo. Nathan usou algumas palavras em árabe que tinha aprendido de Adnan e saudou o Beduíno: ─ Assalamoe’alaykum! ─ Wa’alaykum assalam! Respondeu o Beduíno. Nathan quis rapidamente se certificar de que seu pingo de árabe não foi mal interpretado e continuou em Francês. ─ Você fala outra língua? O Beduíno respondeu em Francês fluente. ─ Sempre me expresso na língua da pessoa que conheço! Nathan demonstrou seu contentamento. ─ Quantas línguas você sabe falar então? ─ Não há língua que eu não possa falar! ─ Então você falaria todas as línguas do mundo? ─ Eu falo a língua de todas as coisas existentes! ─ Então você pode se comunicar com todo mundo? ─ Com tudo e com todos desde o primeiro até o ultimo, incluindo o ultimo grão do deserto do Saara! Nathan pensou que aquelas eram afirmações peculiares, mas estava feliz em ter companhia. 127 ─ Estou feliz em conhecê- lo. Você é a primeira pessoa que encontrei hoje. ─ Então você não prestou atenção! ─ Que quer dizer? ─ Você já teve duas visitas hoje. O primeiro se foi quando o segundo chegou! Nathan, que tinha certeza de não ter visto ninguém, não entendeu o que o Beduíno quis dizer. ─ Estive aqui o tempo todo sozinho e não vi ninguém. Quando foi isso? ─ O primeiro chegou bem cedo e somente o deixou quando você subiu até as dunas e encontrou o segundo. Nathan presumiu que o homem não estava bem da cabeça e não prestou atenção nas suas ultimas palavras. ─ O que você faz por aqui a propósito? ─ Eu trago um presente valioso a todo visitante do Saara. O Beduíno se virou e pegou uma lata de água de sua bolsa e um copinho. Encheu o copinho com água e o deu para Nathan. ─ Para você o presente mais valioso que pode existir! ─ Água? Nathan disse. Entendo que é algo valioso, mas isso se aplica a todos. Por que seria a água mais valiosa para mim? ─ Você acabou de fazer a pergunta correta. Minha tarefa agora está completa! Depois de ter falado essas palavras, o Beduíno disse até logo, montou em seu camelo e se foi. Nathan apenas ficou olhando o Beduíno desaparecer no deserto e se perguntou o que estaria acontecendo. Que figura esquisita aquela, que se dizia poder falar com tudo e com todos. Então, Nathan começou a analisar o que tinha acabado de dizer. O Beduíno tinha dito aquela manha que ele já havia tido dois visitantes, isso lhe pareceu impossível porque não havia visto ninguém. Então o Beduíno disse que era sua tarefa trazer um presente valioso a todo visitante do deserto do Saara e ele tinha trazido água a Nathan. Nathan voltou à tenda com seu copo de água e continuou a pensar sobre a estranha conversa com o Beduíno. Uma vez de volta ele viu suas anotações sobre o sofá. Sentou- se no chão e adicionou a mensagem do Beduíno. Depois de anotado, ele as releu. Consultou sua intuição para descobrir no que deveria prestar atenção primeiro. As palavras do Beduíno o intrigavam demais. Como era possível comunicar-se com tudo? De que dois visitantes o Beduíno 128 falava? E também havia a pergunta que o tinha assombrado por tanto tempo: qual era o papel da água em sua vida? Nathan meditou por um bom tempo enquanto bebia devagarzinho a água do copo. De repente seus pensamentos pareceram perturbados. Ele ouviu o vento e, ajoelhando- se correu para fora da tenda. Lá se encontrou diante de uma colossal tempestade de areia. Viu uma enorme nuvem de areia se aproximando em velocidade máxima, e ele não tinha lugar algum para onde correr. A única coisa que conseguiu pensar foi em deitar- se no chão e proteger sua cabeça com as mãos. A tempestade passou sobre ele com uma incrível força. Enquanto ele estava deitado, ouviu de repente uma voz. ─ Oi Nathan, eu sou a Curiosidade! Como poderia alguém conversar com ele numa situação como aquela? Nathan pensou. E que nome era aquele? Nathan olhou para cima por um Segundo e viu um espectro humano similar a um dos vários que tinha notado durante o ritual. ─ O que está acontecendo? Você me conhece? Nathan perguntou. ─ Claro que te conheço; estou sempre próximo de você! Nathan tentou ver através da nuvem de areia, mas o espectro já tinha desaparecido. Nathan levatou-se e olhou a sua frente. O que viu era uma cidade muito especial, uma cidade feita de barro e nela havia muitos espectros. E novamente um voou até ele. ─ Ola Nathan, eu sou a Atenção e agora é melhor você se manter por perto, pois vai sempre precisar de mim! Até mesmo antes que Nathan pudesse responder, um terceiro espectro se aproximou. ─ Oi Nathan, como você está? ─ Como estou? Nathan perguntou. Sinto-me estranho, mas quem é você? ─ Sou uma de suas mais queridas companhias, sou a Confiança. Agora muitos outros espectros voaram até ele, todos falando ao mesmo tempo. A situação se tornou insuportável para ele que fechou os olhos e novamente colocou sua cabeça na areia. Daí o vento diminuiu. Quando Nathan se deu conta de que a tempestade havia diminuído, olhou para cima e viu a nuvem de areia se dissipando. A cidade de barro tinha desaparecido e a silencio retornado. Nathan esfregou os olhos para tirar a areia. Notou espantado que apesar da severa tempestade de areia, a tenda tinha permanecido intacta. Seu contentamento foi maior quando olhou para o sofá. As anotações e o copinho de água do Beduíno, ambos 129 estavam no mesmo lugar. Tinha ele imaginado a tempestade de areia? Nathan entendeu que essa questão era sem importância no mundo da consciência superior. O que era importante era o significado das imagens que ele havia visto. O que elas traziam? Lembrou- se de que Adnan tinha dito sobre a força das imagens. Ele sabia que tinha que descobrir o segredo por trás dos espectros. Seriam eles figuras chaves? Alguns deles tinham se apresentado e tinham nomes como Curiosidade, Atenção e Confiança. Nathan olhou para seu caderno de anotações, escreveu esses nomes e tirou um tempo para refletir sobre eles. Estava claro que esses nomes eram sensações. Novamente leu todas as anotações e gradualmente as palavras pareceram mais claras. Essas três sensações tinham se manifestado a ele como entidades independentes. Assim, os espectros eram sensações. Aquelas eram as entidades espirituais que acompanham as pessoas, sobre as quais Rashid havia lhe falado. Nathan entendeu que essa era uma reflexão fantástica que explicava muito sobre o comportamento das pessoas. Ele tinha visto como as sensações sempre acompanhavam as pessoas. E novamente leu as palavras de Rashid. “No final, é você quem decide quem te acompanha!” Nathan entendeu que seria sempre capaz de escolher as sensações que nos guia. Agora Nathan estava ambos, emocionalmente e intelectualmente exausto e estava incrivelmente ciente de sua fome. Deitou- se no sofá para descansar. Bem na hora que fechou seus olhos, um pensamento lhe ocorreu. Ele entendeu que somente espectros são capazes de se mover tão rapidamente, tão rápidos quanto pensamentos. Ele agora se lembrou do primeiro pensamento que lhe tinha ocorrido, ele tinha visto alguém próximo à duna e que ele tinha sentido naquele momento. Quando ele viu a areia escorrer- lhe pelas mãos, a sensação de solidão o pegou de surpresa. Aquela sensação tinha desaparecido completamente quando o sol nasceu, momento este em que experienciou uma sensação de intimidade. Então a solidão tinha sido substituída pela intimidade. Havia também as duas visitas que o Beduino tinha comentado a respeito. Com esse pensamento ele caiu no sono. Quando acordou, já era tarde. Levantou- se e precisou de algum tempo para compreender as experiências que tinha vivido. Curiosamente, tudo tinha sido organizado harmoniosamente no seu sono. Estava quente e o ar estava seco. Nathan pegou seu copinho 130 e quis beber, mas se deu conta de que estava vazio. Então saiu da tenda e viu que tudo estava calmo. Novamente teve a experiência extraordinária do silencio no deserto. Nathan olhou para o bonito céu azul, para a areia dourada e sentiu- se incrivelmente leve. De repente ele viu uma silhueta ao longe. Obviamente não era um espectro, mas uma pessoa de verdade. Era um homem e estava chegando perto. Usava um chapéu de palha e carregava uma grande bolsa em volta de seu pescoço. Nathan saudou-o do mesmo jeito que saudou o Beduíno: ─ Assalamoe´alaykum! ─ Wa´alaykum assalam! O homem de chapéu de palha respondeu. ─ Você fala francês? O homem com o chapéu de palha respondeu em francês, assim como o Beduíno. ─ Falo a língua de todos aqueles que viajam pelo deserto! ─ Você com certeza deve conhecer o Beduíno? Nathan perguntou. ─ Conheço muitos, na verdade eles estão aqui há muito mais tempo! ─ Você ficara por aqui ou desaparecerá de repente? ─ Não posso ficar muito, disse o homem. Minha tarefa é recompensar todos os viajantes no Saara pelas lições que eles aprenderam! Tendo dito isso, o homem tomou um copo grande que ficava pendurado de seu cinto. Curvou- se um pouco e colocou água de sua bolsa no copo. Nathan aceitou e esvaziou o copo. ─ Receio que não será suficiente, ele disse. ─ Deixe agora o medo desaparecer completamente, o homem disse. Mantenha a confiança perto de você até que sua grande missão aqui na terra tenha sido completada! ─ Pode- me dizer mais sobre minha missão? ─ Posso dizer-lhe isso: Eu sempre apareço quando o viajante entende a lição de sua jornada. Depois dessas palavras, o homem com o chapéu de palha colocou o copo de volta no cinto. Disse adeus a Nathan e continuou seu caminho. Nathan entendeu que a resposta para sua pergunta estava subtendida nessas palavras. Agora o céu estava colorido de vermelho. Nathan caminhou até à duna mais alta para ver o por do sol. Lá chegando, abriu seu espírito à força das imagens. Percebeu que tinha que superar a sensação de fome e que havia vivido a experiência do estado de consciência expandida. Conseguiu se concentrar extraordinariamente bem e ao mesmo tempo sentiu- se 131 tranqüilo sobre o que estava por vir. O horizonte tornou-se denso, as dunas de areia mudaram de cor. Nathan estava envolvido nesse fenômeno natural com todos os seus sentidos. Não somente sentiu uma intimidade com o sol, mas também sentia a experiência de conexão infinitamente forte. Sentiu mais intensamente que nunca como as coisas eram tudo uma só. Com essa sensação eufórica ele deitou a cabeça na areia. Não muito mais tarde ouviu a voz: ─ Nathan, você pode acordar agora. Nathan tentou reconhecer a voz familiar falando com ele. A lua cheia iluminava a silhueta. Muitas perguntas surgiram em sua mente. Estivera sonhando? Era um espectro novamente? Quanto tempo estaria ali? Ele sonhou tudo aquilo ou teria ele realmente vivido a experiência? A voz falou novamente: ─ Você esta de volta ao mundo da consciência agora! Agora Nathan reconheceu a voz, era Sanah. Ao pé de uma duna ele viu dois homens. Olhou mais de perto e os reconheceu, eram Rashid e Lahcen. Mais adiante, viu o ônibus, com os faróis acesos. Said estava sentado atrás da roda. Nathan levantou-se e desceu a duna com Sanah. Foi uma viagem tranqüila de volta a Ouarzazate. Sanah deu a Nathan pão com azeite de oliva. Ele comeu e colocou a sua cabeça no ombro dela. Algumas horas mais tarde, chegaram ao destino. Nathan estava exausto com a viagem e foi imediatamente pra cama. Na manha seguinte, Lahcen veio acordá- lo para o café da manhã. Nathan refrescou-se e sentou-se à mesa onde outros estavam esperando por ele. Haviam panquecas deliciosas com mel ou queijo de cabra. Rashid disse a ele que era tradição que o convidado não falasse sobre as experiências no deserto. Sanah disse a Nathan que sua tarefa estava completa e que eles poderiam agora voltar à Casablanca. Ela queria ir a uma casa perto da praia, no confortável distrito de Anfa. Ela sugeriu que convidassem Adnan para ficarem por alguns dias. A expectativa de ver o oceano e Adnan encheu Nathan de alegria. Depois do café da manha os três homens levaram Sanah e Nathan até a estação de ônibus. Quando este chegou, eles se despediram de seus convidados. Cada um deles deu a Nathan uma mensagem. Lahcen foi o primeiro a se pronunciar: ─ Continue a sua jornada e conte aos outros suas estórias de esperança, assim eles poderão aprender a ouvir a voz que vem de seu coração. 132 Veio Said: ─ Continue a sua jornada e conte aos outros as usas estórias instrutivas, assim ele serão encorajados a ser criativos com a própria imaginação. E por ultimo, Rashid: ─ Continue a sua jornada e conte aos outros suas estórias inspiradoras, assim ele poderão tornar-se mais cientes de seus destinos de vida. Nathan agradeceu a todos os três com muito entusiasmo, disse adeus e depois entrou no ônibus onde se sentou ao lado e Sanah. ─ Qual foi a maior lição que aprendeu durante essa viagem? Sanah o perguntou. ─ Agora eu entendo mais do que antes como nossa vida depende da natureza de nossos sentimentos e eu gostaria de lhe agradecer por tudo o que fez por mim. ─ Minhas ações têm o mesmo significado pra mim do que tem pra você. Chegaram à Casablanca por volta de meio- dia. De lá foram para a praia, perto de Anfa. Depois de ter passado dias no deserto, o oceano era uma vista maravilhosa para Nathan novamente. Ele imediatamente mergulhou na água, somo sempre, o lugar ideal para revitalização. Enquanto isso, Sanah foi pegar as chaves de casa. Na água, Nathan reviveu tudo que tinha vivido no deserto; o encontro dele com o Beduíno, com os espectros humanos e com o homem de chapéu de palha. Novas imagens também vieram junto, imagens de lugares desconhecidos, com pessoas desconhecidas. Uma imagem lhe voltou varias vezes à mente. Entre todas essas pessoas estranhas, reconheceu uma que significava muito para ele. Era Sofia! O que ela fazia ali? Qual o significado de tudo isso? Ou ainda, qual o significado que ele poderia atribuir a tudo isso? Depois de algum tempo ele saiu da água e olhou para Sanah. Ela estava sentada mais distante na praia, lendo um livro. Quando ela viu Nathan se aproximando, olhou para ele por bastante tempo. ─ Com certeza você curtiu isso, disse ela. ─ Mergulhar no mar é sempre como estar em casa pra mim, Nathan disse. ─ Bom! Falei com Adnan. Ele mandou lembranças e pediu pra te dizer que estará aqui amanha. ─ Ficarei feliz em revê- lo. Depois de um breve silencio, Nathan continuou. 133 ─ Sanah, eu quero aprender mais sobre os aspectos obscuros da realidade. ─ O poder do misticismo cresce quando damos atenção a ele! ─ Um mundo se abriu pra mim, no qual há provavelmente muito mais lições de vida para serem aprendidas. ─ Muitas outras culturas usam essa fonte de conhecimento. ─ Eu gostaria de aprender o quanto mais eu puder! Sanah olhou pra ele sorrindo. ─ Isso vai acontecer; sua jornada ainda é longa! Caminharam em direção ao centro de Anfa onde havia uma agradável atmosfera. Nathan continuou pensando sobre as novas imagens que tinha visto debaixo d’água. Estava basicamente procurando por uma explicação para a aparição de Sofia. Ela disse que tinha se mudado para Hyeres, uma cidadezinha perto de Toulon no sul da França. Disse a ele que exclusivamente se dedicava à sua arte. Suas esculturas na madeira eram um sucesso na França e em outros países. Sofia disse a ele com orgulho que tinha sido convidada para expor suas obras na cidade do Cabo. Disse que viajaria logo e ficaria feliz em revê- lo. Nathan selou essa conexão e agora entendeu a mensagem que recebeu debaixo d’água. África do sul seria seu próximo destino! Ele perguntou onde ela estaria e prometeu visitá- la. Sofia não pôde acreditar no que ouvia. Na manha seguinte, Nathan disse a Sanah sobre sua decisão e o que o tinha levado a essa conclusão. Sanah achou a idéia maravilhosa. No dia seguinte Adnan chegou. Os três passearam por bastante tempo pelo coração de Casablanca e durante o passeio Nathan disse a Adnan tudo o que pôde sobre os últimos eventos. ─ O deserto o fez ver que nunca estamos sozinhos, Adnan disse. Agora você compreende ainda mais como tudo está conectado. ─ Sim, isso é certo, Nathan disse. Desde então eu tenho um forte desejo pela unidade na qual tudo floresce. Sanah, que ficou quieta até então, se envolveu na conversa. ─ Esse desejo é o melhor incentivo e a ultima razão de nossa existência. Depois do passeio, Nathan fez a reserva da passagem para a viagem para a África do Sul. Alguns dias depois Adnan e Sanah o levaram ao aeroporto. Antes de sua partida Adnan recomendou Nathan que confiasse em seu “poder criador” sempre. Sanah enfatizou que Nathan era capaz de realizar grandes feitos. Com o chegar da noite Nathan disse adeus a Sanah e Adnan. 134 -5Harmonia Natural 135 136 Ligação Nathan apanhou um voo para a outra ponta do continente Africano. Na manhã seguinte, aterriçou na Cidade do Cabo, onde Sophie o esperava no aeroporto. Ele ansiava por voltar a vê-la e, assim que a descobriu na zona de chegadas, recordou-se de como ela era bela. Correram um para o outro para se abraçar. Nathan disse-lhe que ela estava radiante. Estavam ambos muito emocionados durante o reencontro. Caminharam até ao carro alugado e dirigiram-se então para o apartamento onde Sophie estava alojada. O apartamento, situado nas montanhas, tinha uma grande varanda com sofás confortáveis e uma mesa baixa de bambu. Nathan sentou-se e admirou a maravilhosa vista para o mar. Por trás dele situava-se o famoso Tafelberg com o seu topo envolto em nuvens e rodeado por um céu azul completamente limpo. Sophie trouxe os refrescos e encarou Nathan. ─ Agradeço-te do fundo do coração por me ajudares a perceber que eu só podia ser feliz se desenvolvesse as minhas capacidades intrínsecas. ─ Bem, isso aplica-se a cada um de nós. ─ Não só ganhei coragem para dedicar-me completamente à minha arte, mas também consegui perceber melhor as razões para a tua partida. ─ E é graças à tua arte que nos encontramos hoje novamente. ─ E do outro lado do mundo! Inacreditável! ─ Tens fotografias dos teus trabalhos anteriores? Ela levantou-se e foi buscar o seu catálogo. Nathan folheou-o e reconheceu de imediato as formas simbólicas em preto e branco que caracterizavam o estilo de Sophie. ─ Continuas a fazê-las assim tão grande? perguntou. ─ Cada vez maiores. Vou ter sete obras em exposição e a menor tem dois metros de altura. ─ Tenho curiosidade de ver o teu trabalho com os meus próprios olhos. ─ A exposição começa amanhã à noite. Pediram-me para fazer um discurso e já estou nervosa. ─ Não te sentes muito à vontade, não é? ─ Não, mas tem que ser. Faz parte. 137 ─ E já preparaste o texto? Sophie foi buscar umas páginas escritas em Inglês e entregou-lhas. Nathan leu-as rapidamente. ─ Achas que está bom? perguntou ela. ─ É um texto muito bem preparado, mas não mostra aquilo que tu és nem representa as tuas obras de arte. ─ Nathan, conheces-me melhor do que ninguém. Podes rever o texto? ─ Tens certeza? Sophie acenou afirmativamente. Nathan pegou numa caneta e riscou todo o texto com um traço. Depois escreveu uma única frase e devolveu a página a Sophie, que estava completamente perplexa. ─ O que é que esta fazendo? perguntou ela. ─ Não queres ler isso em voz alta? disse Nathan. ─ Tudo o que deve ser apreendido na minha arte não cabe em meras palavras. ─ Agora só tens que acrescentar os agradecimentos do costume. ─ Só isto? ─ Gostas de fazer discursos? ─ Não, de todo! ─ Então, aí tens! Temos que limitar as coisas desagradáveis ao mínimo possível. Os teus trabalhos transpiram a tua magia; os convidados só querem deixar-se cativar por ela. É por essa razão que eles vêm e com esta frase vais captar toda a sua atenção. Sophie leu novamente a frase e sentiu o stress desaparecer por completo. ─ A única coisa que tens de fazer amanhã antes de começar, disse Nathan, é olhar para todas as pessoas que estiverem presentes e dizer cada palavra de forma lenta e clara. Ela olhou-o, sorriu e abraçou-o com força. Durante o resto do dia, andaram os dois a explorar a belíssima zona costeira a sul da Cidade do Cabo. Pararam quando encontraram uma pequena praia e passaram a maior parte do tempo na água. Sophie foi a primeira a sair da água e sentou-se na areia, exausta. Nathan seguiu-a pouco depois. Foi comprar uns sanduíches em um pequeno bar na praia. Enquanto saboreavam-nos na praia, ela contou-lhe o que se tinha passado durante os últimos dois meses. Ela tinha tido realmente muito sucesso; parecia que todas as portas se abriam para ela. Nathan ouviu-a com atenção. Naturalmente, Sophie tinha muita curiosidade em saber aquilo por que ele tinha passado. 138 ─ O que se passou contigo durante os últimos meses? Nathan pensou qual seria a melhor forma de relatar as suas experiências na Espanha e no Marrocos. O que seria mais relevante para Sophie e como é que ele o poderia explicar de forma simples. ─ Conheci pessoas simpáticas e empolgantes, que me ensinaram a recolher conhecimentos do mundo da consciência superior. ─ E o que aprendeste no mundo da consciência superior? ─ Vi de que forma os sentimentos fluem através de nós e determinam em parte as nossas intenções, as nossas escolhas e as nossas ações. ─ Não somos nós próprios que determinamos as nossas ações? ─ Não deveríamos subestimar o papel que os nossos sentimentos desempenham nesse processo. ─ Quando estou trabalhando nas minhas esculturas, fico completamente vulnerável. Para mim, os meus sentimentos são uma fonte de energia. ─ Em nós tudo é energia, incluindo os nossos sentimentos. ─ Os nossos sentimentos também são energia? ─ Podemos ver os sentimentos como ondas energéticas que influenciam a nossa própria energia interior. Eles influenciam as nossas intenções e as nossas ações. Sophie deixou que o significado das palavras de Nathan a percorresse. ─ O mais extraordinário é que todas as formas de energia, incluindo nós próprios, provêm de um todo. Estamos todos ligados à energia universal. ─ Ligados à energia universal? Alguns amigos meus artistas já me falaram da mesma experiência. De que se trata exatamente? ─ É um sentimento interior de que, na verdade, todos os seres vivos são criados a partir de uma única origem. Nathan demorou um tempo recordando as experiências por que passara. ─ Foi só mais tarde que comecei a pensar sobre essa sensação, mas naquela hora foi como se eu já não estivesse sentindo uma atividade física. Tudo aconteceu de forma natural, não me questionei e não precisei de explicações... lá no fundo eu sabia! ─ E esta experiência modificou-te? ─ Agora estou mais consciente do fato de todos estarmos ligados ao todo. ─ Se cada um de nós faz parte de um todo, então em que consiste o nosso papel individual? 139 ─ No âmbito desta ligação todos nós podemos usar do nosso livre arbítrio para nos aproximarmos ou distanciarmos da origem. ─ E como é que nós sabemos que estamos nos aproximando da origem? ─ Quando já não sentimos fluir através de nós aqueles sentimentos negativos como a solidão, o medo ou a raiva e somos então inspirados, sobretudo por sentimentos positivos. ─ Parece-me que não és muito influenciado por sentimentos negativos. Nathan sabia o que ela queria dizer com aquilo. Ele sempre teve consciência do seu poder interior e confiou nele acima de tudo. E desde o início da sua jornada tinha-se tornado mais consciente de como este poder era especial. No dia seguinte, foram ambos à cerimônia de abertura da exposição. As esculturas estavam dispostas numa grande sala de exposições. Estavam cobertas com grandes panos cinzentos e só seriam expostas após o discurso de Sophie. A imprensa também estava presente e colocou várias questões a Sophie. Nathan deixou-a em paz durante algum tempo e conversou com o diretor da galeria. Quando voltou para junto de Sophie, reparou no quanto ela estava nervosa. ─ Vê todas estas pessoas que vieram aqui por causa da tua arte. Sê tu própria, simplesmente, e vais ver que o teu medo é substituído por um sentimento de satisfação. Nathan viu Sophie olhar em volta receosa e percebeu que as palavras dele não tinham ajudado. Então, tomou-a nos braços e sussurrou-lhe ao ouvido: ─ Sophie, deixa que um pouco de orgulho te fortaleça e as tuas palavras vão garantir que a atenção de todos os presentes irá recair sobre as tuas obras de arte. O próprio encanto das esculturas fará o resto! A expressão dela mudou subitamente ao som destas palavras. Deram-lhe confiança. Ela percebeu que as atenções não estariam sobre ela, nem mesmo sobre as suas palavras, mas, sobretudo nas suas obras. Naquele preciso momento foi chamada ao palco. Nathan deu-lhe um último conselho. ─ Depois de desejares as boas-vindas a todos, olha para os convidados lá atrás, visualiza as tuas esculturas uma por uma na tua mente e então fala. Enquanto Sophie avançou com confiança, Nathan pediu a algumas das pessoas presentes para se colocarem junto dos panos. Assim, 140 junto de cada escultura encontrava-se uma pessoa preparada para descobrir a obra de arte logo que fosse dado o sinal. Quando Sophie terminou de falar, o diretor da galeria desligou as luzes e acendeu os focos luminosos. Todos os panos foram retirados ao mesmo tempo. As obras de arte estavam iluminadas de uma forma maravilhosa e tiveram grande impacto. Parecia que irradiavam magia. Todos os convidados sem exceção as observavam como se estivessem enfeitiçados. Enquanto isso Sophie acercou-se de Nathan. ─ És um feiticeiro. ─ Não, Sophie, a tua arte é encantadora. Várias pessoas aproximaram-se de Sophie para saber mais sobre o significado profundo da sua arte. Nathan deixou-a e foi admirar as esculturas. Eram espantosas visões simbólicas de temas universais. Quando chegou junto da última escultura, alguém lhe tocou no ombro. Ele virou-se e viu um homem mais velho, de pele escura. O homem era alto e esguio e tinha cabelo e barba grisalhos. Vestia um terno colorido feito à medida e dirigiu-se a Nathan em Inglês. ─ Sou o Dr. Songo. É um prazer conhecê-lo. ─ O meu nome é Nathan. Muito prazer. ─ Fez um trabalho excelente! ─ É a minha namorada que merece os seus elogios. Songo olhou de relance para as obras de arte. ─ A competência dela está aqui patente de forma brilhante, mas o seu talento é a outro nível. ─ ─ A que talento se refere? Naquele momento Sophie juntou-se a eles. Ela fugia à confusão de bom grado, mesmo que fosse apenas por um momento. Songo apresentou-se. ─ Sou o Dr. Songo. É um prazer conhecê-la. A sua arte revela que tem uma enorme criatividade. ─ Obrigada. - respondeu ela. Songo dirigiu-se novamente a Nathan. ─ O talento de que eu falava é a sua capacidade de inspirar os outros. ─ A minha capacidade de inspirar os outros? ─ Foi muito interessante ver a forma como conseguiu preencher o silêncio e como soube chegar ao clímax no momento exato, não é assim, Menina? ─ Tem razão em relação ao envolvimento dele. - disse Sophie enquanto ria. 141 ─ Isso é porque a perspicácia é o meu talento! Songo exprimiu-se de uma maneira muito especial, mas apesar da sua notável escolha de palavras, Nathan compreendeu perfeitamente a que ele se referia. ─ Tenho que ir embora, disse Songo, foi realmente um prazer e desejo-lhe muito sucesso. Enquanto Songo se afastava, Sophie comentou em tom divertido: ─ Parece que esta noite o meu talento não é o único a ser admirado! ─ O Dr. Songo é realmente uma pessoa muito peculiar. Próximo ao final da exposição Sophie e Nathan dirigiu-se à saída para alí se despedirem dos convidados. As obras de arte de Sophie tinham causado muitíssima boa impressão. Agora ela podia desfrutar plenamente de todas as felicitações. Era já tarde quando Sophie e Nathan regressaram de carro para o apartamento. Ela estava aliviada por ter conseguido cumprir os seus compromissos. A partir daquele momento já podia desfrutar da companhia de Nathan durante duas semanas num país que a impressionava cada vez mais. No dia seguinte os dois partiram numa viagem pelo país que durou aproximadamente dez dias. Visitaram as belíssimas praias de areia branca de Port Elizabeth. Pernoitaram na cidade portuária de Durban, onde puderam observar uma acolhedora miscelânea de culturas. Depois seguiram de carro pelas zonas rurais até Johanesburgo e Pretória. Pelo caminho visitaram um parque natural que continha uma riqueza nunca vista de fauna e flora. Em Johanesburgo passearam pelo moderno centro da cidade. Depois viajaram até aos townships (subúrbios negros do tempo do Apartheid) e lá estiveram cara a cara com a pobreza pungente. Nesta cidade, eram mais visíveis as grandes disparidades entre ricos e pobres. Nathan e Sophie debateram todos os pontos altos do seu passeio durante a viagem de regresso à Cidade do Cabo. Tinham visto muitas coisas e estavam impressionados com a sua aventura num país rico em diversidade, que também possuía uma natureza espantosa. Quando chegaram à Cidade do Cabo, Sophie sentia-se enjoada e tinha fortes dores de estômago. Nathan decidiu ir a uma farmácia, mas aconselharam-nos a consultar um médico e deramlhes uma lista de médicos disponíveis. Enquanto analisavam a lista, o seu olhar recaiu sobre o nome do Dr. Songo. Não podia ser coincidência. Quando Nathan telefonou para o Dr. Songo, este pediu-lhe que descrevesse os sintomas. Depois de escutar 142 atentamente, o Dr. Songo disse que iria vê-los no apartamento nessa noite. 143 Unidade Songo tocou a campainha depois do jantar. Examinou Sophie, mediu-lhe a temperatura e perguntou-lhe o que tinha comido nos últimos dias. Sophie enumerou aquilo de que ainda se lembrava. ─ Acha que é grave? Perguntou ela. ─ Não se preocupe, estes sintomas são provocados por um pequeno distúrbio no equilíbrio. Nathan e Sophie reconheceram o notável uso da linguagem de Songo. ─ É problema de altitude ruim? Porque amanhã volto para França. Songo interrompeu o que estava fazendo. ─ Há boas alturas para se ficar doente? Perguntou ele a Sophie. Este comentário fez Sophie sorrir. Songo pediu a Nathan para colocar um pouco de água a aquecer e abriu sua maleta. Era uma maleta grande com um dos compartimentos cheio de ervas medicinais de vários tipos. Songo escolheu duas folhas compridas e deu-as a Nathan. Nathan lembrou-se que a cigana também tinha ervas daquelas com ela quando curou a mulher do pastor. ─ Quando a água estiver fervendo, disse Songo, junte-lhe estas folhas. ─ Parecem ervas daninhas. - disse Sophie. ─ Erva daninha é o nome que as pessoas dão às plantas cuja utilidade ainda não conhecem. - respondeu Songo. Sophie ainda tinha algumas dúvidas. ─ Não tem outros medicamentos? - perguntou ela. ─ Nada que seja mais eficaz para restabelecer o seu equilíbrio. A água fervente tinha-se, entretanto transformado em um chá de ervas. Nathan foi buscar a cafeteira e pousou-a numa mesa pequena. ─ Para que servem estas folhas? - perguntou ele a Songo. ─ As ervas medicinais são plantas curativas, eliminam o veneno. ─ Veneno? - reagiu Sophie. ─ Nós comemos alimentos que na realidade são estranhos ao nosso corpo. - disse Songo. Por isso os alimentos têm que ser completamente transformados através da digestão, caso contrário continuam a ser veneno para nós. 144 ─ É por essa razão que cada alimento é sentido como um fardo? perguntou ela. ─ Realmente sim, uns mais do que outros, até que sejam vencidos pela força da digestão. Cuidadosamente, Songo deu o chá para Sophie beber e deu-lhe ervas suficientes para os dias seguintes. Nathan sentia-se cada vez mais fascinado por aquele homem. Ele parecia ter vastos conhecimentos. ─ Como aprendeu todas estas coisas? ─ Em parte com velhas tradições, disse Songo e em parte com a minha própria experiência. Acredito no poder da natureza e tento sempre garantir a sua harmonia. ─ O que é que isso significa exatamente? - perguntou Nathan. ─ Pode descobrir se me observar, - respondeu Songo - só tem que ver a forma como eu trato os outros para perceber a forma consciente como eu sinto a natureza! ─ O que quer dizer com a forma consciente como sente a natureza? - insistiu Nathan. Songo apercebeu-se que Nathan estava sinceramente interessado. Sentou-se, imitando a postura de Nathan, e, quando falou, as suas mãos reproduziam igualmente os movimentos de Nathan. ─ Eu detenho um poder de um nível infinitamente superior ao que muitas pessoas acreditam ser possível. E porque este poder é tão grande, é por vezes designado sobrenatural, mas eu considero que é uma harmonia natural, à disposição de qualquer pessoa. E Nathan respondeu: ─ As pessoas com uma visão moderna da vida olham de forma cética para a sua ideia de harmonia natural. Para elas o mundo é um caos enorme. ─ As pessoas com uma visão moderna da vida normalmente sentem a natureza de forma muito menos consciente e afastam-se da harmonia perfeita. Elas têm tendência para confiar cegamente na tecnologia e pensar que esta fé lhes dá um maior controle sobre o futuro. Esta conversa mostrou claramente a Nathan que Songo podia ensinar-lhe muito. Nathan não só descobriu o tom sábio dele, como também estava cada vez mais fascinado por esta personagem. ─ Amanhã a Sophie parte para França. Eu ficarei aqui durante mais algum tempo, porque quero conhecer mais deste país fascinante. E também gostaria de continuar a nossa conversa. ─ Aqui tem a minha morada, apareça quando lhe for conveniente. 145 Songo partiu. Mais tarde nessa noite, Nathan e Sophie discutiram os seus planos. ─ Sou co-responsável por um projeto de arte em larga escala com crianças. - disse Sophie. É em colaboração com a cidade de Marselha. ─ Parece uma iniciativa bonita para te envolveres, - disse Nathan é mesmo um projeto à tua altura. ─ Tens alguma ideia de quando nos voltaremos a ver? ─ Não, apenas sei que estou já ansioso para que chegue esse dia. Sophie ficou calada. ─ Passamos um tempo maravilhoso aqui. ─ E temos mais recordações. Ela já se sentia melhor no dia seguinte. O chá de ervas de Songo parecia milagroso. Enquanto ela fazia as malas, Nathan foi tratar de prolongar o aluguel do carro e o arrendamento do apartamento. À tarde, Nathan levou Sophie ao aeroporto, onde mais uma vez teve lugar uma despedida emotiva. No dia seguinte, Nathan dirigiu-se à bela zona costeira a norte da Cidade do Cabo. Precisava de algum tempo, tanto dentro como fora d’água, para pensar na sua jornada. Mais do que nunca, estava convencido de que se encontrava no local certo para prosseguir a sua aprendizagem e decidiu tentar passar algum tempo com Songo. Na manhã seguinte, telefonou a Songo e marcou um encontro com ele. Songo vivia numa mansão situada numa belíssima propriedade. O pessoal da propriedade também lá vivia, em casas menores. Um almoço suntuoso esperava Nathan. Ele apreciou, sobretudo as bredies, uma espécie de guisado típico sul-africano. Durante a refeição ele foi explicando as suas intenções. ─ Se eu pudesse ficar consigo e ajudá-lo a desempenhar as suas tarefas diárias... a minha presença teria alguma utilidade para si? ─ Tenho que lhe perguntar qual o motivo para querer ficar. - disse Songo. ─ São dois os motivos. Em primeiro lugar, seria uma forma de agradecer por ter tratado a Sophie. Ela ligou-me e disse que já está melhor. ─ Folgo em saber que ela se sente melhor. E depois, gostaria de acompanhá-lo para poder recolher o máximo possível do seu poço de sabedoria. ─ Apenas um dos motivos teria sido suficiente! No decurso das semanas seguintes Nathan ficou a par o dia-a-dia de Songo. Visitaram juntos uns grandes números de pessoas que 146 necessitavam dos serviços de Songo. Nathan viu como a reputação do médico tinha crescido e era conhecida por todo o país. Durante uma tarde livre, Nathan e Songo foram de carro até Chapman's Peak, um lugar nos arredores da Cidade do Cabo, com uma costa fantástica. Os dois sentaram-se numa rocha e desfrutaram da vista. Nathan queria falar sobre um assunto que lhe despertava a curiosidade. Juntos tinham visitado pessoas de diferentes origens e crenças. No entanto, todas elas tinham algo em comum, uma incrível e imensa confiança em Songo. Aparentemente, o médico conseguia ser aceito por todos. ─ Porque é que existe tamanha dificuldade de entendimento entre pessoas de origens diferentes? ─ Porque as pessoas se concentram nas diferenças e esquecem aquilo que têm em comum. Estas palavras recordaram a Nathan uma expressão de Adnan. ─ Então, como é que consegue fazer-se entender em todo o lado? perguntou. ─ Para conseguir isso, é preciso fazer da paciência um aliado e aprender a dar essa confiança. Nathan pegou então no estilo de expressão de Songo. ─ E como consegue ser aceito por pessoas que vivem de modo diferente e transmitir essa confiança? ─ Ouça Nathan, a consciência perceptível é muito limitada. A maior parte do nosso conhecimento está situada no subconsciente. Assim, na realidade podemos aprender a escutar o nosso subconsciente. ─ E de que forma podemos escutar o nosso subconsciente? ─ Para isso temos que romper com as teias da desconfiança. Da mesma forma que o fez ao utilizar o meu invulgar modo de falar. Nathan tinha feito exatamente isso. Entretanto Nathan aprendia o uso que Songo fazia da linguagem, mas também as suas metáforas invulgares. Ele sabia que, com este método, Songo procurava prender a atenção, sobretudo na mensagem. Para isso, era necessário escutar com atenção, colocar as perguntas corretas, mas acima de tudo usar a imaginação. ─ E qual é o papel das teias de desconfiança? ─ Elas impedem que a informação chegue ao subconsciente. ─ Consegue sempre romper com essas teias? ─ Começo por observar a linguagem corporal dos meus pares durante a conversa. Observo os mínimos detalhes tanto quanto consigo e começo a imitá-los na sua presença. 147 ─ Imita-os? ─ Normalmente, aquilo que as pessoas vêem tem mais impacto do que as mensagens que lhes são transmitidas. Para Nathan, esta foi a confirmação do poder da imagem. ─ As pessoas passam a sentir que eu pertenço junto deles. prosseguiu Songo - Muitas pessoas acreditam que exibir um comportamento semelhante implica uma educação e preocupações semelhantes. Estes ensinamentos eram muito preciosos para Nathan. Ajudavamno a compreender melhor a importância das imagens na comunicação. Nathan sentia-se muito à vontade na presença de Songo e também começava a sentir-se como se estivesse em casa na África do Sul. Estava particularmente emocionado pela natureza impressionante. Algum tempo depois, ele e Songo deslocaram-se aos townships de Joanesburgo. Songo já visitava alguns bairros há muitos anos e conhecia lá muita gente. Para Nathan esta era a segunda visita. Tal como tinha acontecido na primeira vez com Sophie, ele ficou extremamente comovido com a pobreza e as condições de vida que lá viu. ─ Quantas crianças sul-africanas vivem na miséria? - perguntou a Songo. ─ Um mero número não lhe vai trazer mais sabedoria - respondeu este. Songo não acrescentou mais nada e Nathan não insistiu. Continuaram a andar até que Songo se aproximou de um moleque de calções e camiseta rasgada. Era tão magro que só se viam ossos e aparentemente não se lavava de forma adequada há já muito tempo. Ofereceu-lhes um sorriso tímido quando viu que Songo queria falar com ele. Songo falou no dialeto Xhosa local. ─ Como te chamas? Chamo-me Moyo. - disse o rapazinho. ─ É a primeira vez que te vejo por aqui. ─ Chegamos a semana passada e dormimos ali. Moyo indicou umas enormes manilhas de cimento onde se encontravam alguns grupos de crianças. Songo traduziu a conversa. A reação de Nathan foi de espanto. ─ Tu vives ali? Perguntou a Moyo ao mesmo tempo em que apontava para as manilhas de cimento. ─ Sim, com o meu irmãozinho. - respondeu ele. ─ Vieste para cá com quem? - perguntou-lhe Songo. ─ Só eu e o meu irmãozinho. - disse Moyo. 148 Songo traduziu e mais uma vez Nathan ficou espantado. ─ Onde estão os teus pais? - perguntou a Moyo. ─ Temos vivido sozinhos há já um ano. - respondeu ele. ─ Quantos anos tens? - perguntou-lhe Songo. ─ Nove. - disse o miúdo. Nathan, cheio de pena, acocorou-se junto dele. ─ E quantos anos tem o teu irmão? - indagou Nathan. ─ O meu irmãozinho tem seis anos. - disse Moyo. Nathan virou-se para Songo e disse-lhe: ─ Não devíamos ajudá-los? Songo fitou Nathan, mas não lhe respondeu. Depois de uma curta pausa, continuou a conversar com o moleque . ─ Precisas de alguma coisa neste momento? A princípio, Moyo pareceu hesitar, mas depois acabou por lhe pedir um favor. ─ Conhece as outras crianças das manilhas de cimento? ─ Conheço meia dúzia delas, por quê? ─ Algumas delas têm-nos incomodado. ─ Eu falo com elas, para elas saberem que tu e o teu irmão são amigos de Songo. Songo deu um beijo na testa a Moyo, sendo depois imitado por Nathan que lhe desejou boa sorte. Seguiram caminho. ─ Sabes Nathan, - disse Songo - aquele menino toma conta dele próprio, mas também toca conta do irmão mais novo. Isso quer dizer que ele, com apenas nove anos, está desempenhando sozinho o papel de mãe e de pai. Songo deixou Nathan digerir estas palavras e depois prosseguiu. ─ Esta é a história de apenas duas crianças, mas esclarece muito mais do que saber o número de crianças que vivem em condições de pobreza extrema. Nathan compreendeu a sábia lição que tinha acabado de receber e voltou a perder-se nos seus próprios pensamentos. ─ Falta humanidade aos humanos! Songo viu quão profundamente Nathan tinha sido tocado. ─ Aparentemente, nós os humanos não conseguimos viver da maneira que queremos, em paz, harmonia e amor. Somos as únicas criaturas na Terra que nos extinguimos a nós próprios. ─ É preciso tanto para ajudá-los a todos. - reagiu Nathan. Songo parou e olhou para Nathan. ─ Um pouco de amor faz milagres. 149 No dia seguinte, Nathan e Songo foram visitar um desfiladeiro espetacular. Aí encontraram um miradouro chamado “God's window” (Janela de Deus). Desse ponto tinham uma vista fabulosa da gigantesca cratera. Nathan ainda estava muito perturbado com o que tinha testemunhado no dia anterior. Songo estava consciente deste fato e decidiu usar este dia para o deixar descontrair e aproveitar a oportunidade para processar toda a informação. Foi precisamente por essa razão que Songo escolheu este local maravilhoso. Disse a Nathan: ─ É importante que, depois das inúmeras imagens comoventes que presenciou ontem, possa reabastecer os seus sentimentos com imagens belas. ─ Muitas pessoas não se apercebem da sorte que têm em não terem de viver naquelas circunstâncias. Sempre me coloquei a mesma questão: Tanto sofrimento, tanta dor, tanta tristeza, por quê? Songo pousou a mão no ombro de Nathan. ─ Para cada um de nós que se comove com a miséria dos outros e deixa que o seu comportamento seja influenciado por ela, esta miséria ganha um significado. Nathan pensou que estas palavras eram semelhantes às que Simon dissera durante as inundações no Bangladesh. ─ Como é que eu posso dar significado a esta miséria? ─ A dor de outra pessoa permite-nos crescer em humildade, coragem, generosidade e amor. Essas são as características necessárias para nos modificarmos e para podermos modificar a vida à nossa volta. ─ Para podermos modificar a vida à nossa volta! Estas últimas palavras retiniam nos pensamentos de Nathan. ─ E a dor, o sofrimento e até mesmo a morte são realmente necessários para isto? ─ A vida não é só um elo entre os vivos, mas sim entre os vivos, os mortos e os que ainda irão nascer. A morte ajuda-nos a ganharmos consciência da nossa existência. Se vivêssemos para sempre, então nem sequer seríamos capazes de experienciar a nossa existência. Para Nathan, esta era uma nova visão da morte. ─ Vamos deixar a morte de lado por algum tempo e já voltamos a ela. Por enquanto, lembre-se que só deve tentar mudar aquilo que lhe é possível mudar e que deve aprender a aceitar o restante, mas para isso é preciso aprender a distingui-los. 150 Mais uma vez Nathan reconheceu aquele tom de voz sábio e ganhou mais confiança nas palavras de Songo. Os dois homens fizeram então uma longa caminhada pelo desfiladeiro. 151 Memória ─ Já conhecemos diversos médicos estrangeiros. - disse Nathan. O que me pergunto sempre é qual é a verdadeira força que os impele a abandonar as suas vidas prósperas para virem trabalhar em circunstâncias tão deploráveis? ─ Normalmente eles querem dar um melhor uso aos seus conhecimentos e em troca ganham uma maior capacidade de empatia. - respondeu-lhe Songo. ─ Os médicos modernos não têm empatia suficiente? ─ Muitos médicos, cuja educação tem por base a medicina moderna, sabem pensar muito bem, mas normalmente não sabem como sentir! ─ Então o que é que lhes falta? ─ Falta-lhes a percepção de que curar alguém também ajuda a expandir a sua própria consciência. ─ De que forma? Songo manteve-se em silêncio para dar mais força às suas palavras. ─ Curar permite a alguém chegar mais perto do seu âmago. Em alguns casos podemos até ajudar alguém a lembrar-se de quem é na realidade. ─ Quer dizer com isso que dessa forma as pessoas são ajudadas a descobrir o verdadeiro destino da sua vida? Songo olhou Nathan com admiração e ficou em silêncio. Estava impressionado com a capacidade de Nathan para estabelecer as ligações certas. ─ Não podia ter dito as coisas de melhor forma. Algumas semanas mais tarde, Songo foi abordado por um conhecido médico da cidade de Bloemfontein. Tinha surgido uma epidemia numa tribo. A doença era considerada muito perigosa e já tinham perecido várias pessoas por causa dela. Songo e Nathan decidiram ficar lá durante algum tempo e oferecer a sua ajuda. Durante esse tempo, Nathan viu morrer muitas pessoas. Pouco tempo depois de um outro homem morrer, na presença da mulher e dos filhos, Songo levantou-se e disse à viúva: ─ Hoje é um novo começo! Com estas palavras Songo virou-se e saiu. Nathan sentiu muita compaixão pela viúva e abraçou-a. Ele ficava sempre 152 profundamente comovido quando alguém morria, enquanto Songo parecia lidar mais facilmente com a situação. ─ Não deveríamos ter-lhe dito algo mais? - perguntou Nathan em seguida. ─ Quanto mais palavras usamos, menos significado têm. respondeu Songo. Nathan sabia que Songo tinha uma ideia invulgar da morte. A última vez que tinham falado a respeito, Songo apenas tinha aflorado o assunto. Nathan achou que era o momento apropriado para voltar a falar dele. ─ Na sua ideia, o que acontece quando esta vida termina? Songo observou Nathan atentamente e conseguiu ver todas as questões que lhe passavam pela mente. ─ A importância destas questões requer tempo para podermos discutir o assunto. Songo apontou para uma grande árvore no alto de uma colina. ─ Vamos sentar-nos à sombra daquela árvore, vai manter-nos frescos. O que vai ouvir não passa das convicções de um velho, que baseia as suas conclusões numa vida dedicada à extensão da existência atual e, consequentemente, ao adiamento do que vem depois. ─ É isso que aumenta ainda mais o meu interesse nas suas convicções. ─ Podemos separar as pessoas que necessitam de cura em três grupos. Em relação às pessoas do primeiro grupo, o tempo ainda não decidiu enviar-lhes a morte. Para curá-las basta conhecimento e experiência. ─ O tempo? ─ É o tempo que decide quando é que a morte pode dançar. ─ A morte sabe dançar? ─ De fato, é o que ela faz quando lhe é permitido chegar a alguém. ─ Dançar? Mas não é uma ocasião alegre. ─ Isso é a realidade para os sobreviventes, mas para os que partem significa libertação. Nathan percebeu que Songo tinha mais uma vez escolhido um simbolismo invulgar para facilitar a compreensão de assuntos complicados. ─ Então e o segundo grupo? ─ O segundo grupo já não pode ser salvo para esta existência, porque o tempo assim o decidiu. ─ Mais uma vez, é o tempo que decide. 153 ─ O tempo tem essa responsabilidade! É por essa razão que apenas podemos reagir com humildade, tal como aconteceu há pouco com aquele homem. Nunca nos podemos esquecer que o tempo sabe mais que nós. ─ Agora começo a perceber um pouco melhor porque é que a chegada da morte é aceite por si de forma mais fácil. Songo acenou de forma afirmativa e manteve-se calado. ─ Também falou de um terceiro grupo? - perguntou Nathan. Songo continuou sem dizer nada e o seu olhar perdia-se na distância. Observando Songo, Nathan soube que ele tinha que se concentrar no que se seguiria. ─ Foi ao orientar as pessoas do terceiro grupo que reuni a sabedoria necessária para utilizar em pleno as minhas capacidades. ─ Foi graças a eles que encontrou o verdadeiro destino para a sua vida? Songo acenou mais uma vez, confirmando assim a Nathan que lhe iria revelar a sua verdadeira missão. ─ Quando existe suficiente força de vontade, é possível convencer o tempo a ser paciente.─ ─ Pode explicar melhor? ─ Em casos muito especiais o tempo pode mandar recuar a morte! ─ E quando é que o tempo abre uma exceção? ─ Quando o tempo vê que a pessoa, pela sua experiência, ainda tem possibilidade de completar a sua verdadeira missão. Nathan compreendeu assim aquilo a que Songo dedicado toda a sua vida. Compreendeu que tipo de competências é que Songo tinha desenvolvido e em que medida ele sentia de forma consciente a natureza. Agora Nathan tinha curiosidade em saber o que é que estas experiências lhe podiam ensinar. ─ As pessoas mudam por causa destas experiências? ─ Elas regressam com um enorme sentimento de responsabilidade para com o desenvolvimento dos seus talentos nunca aproveitados. ─ Elas alguma vez falam sobre o que sentiram quando a morte veio para levá-los? ─ Cada pessoa descreve a experiência de forma diferente, mas todos falam de uma terra de um esplendor radioso, onde se sentiam completamente incluídos. ─ E o que nota nestas pessoas depois de passarem por tal experiência? ─ Muitas delas mudam as suas vidas drasticamente. Consideram esta experiência como um renascimento espiritual. Conseguem 154 reconhecer a harmonia natural e têm um sentimento de união muito mais forte em relação às outras pessoas e ao universo. Nos dias que se seguiram, a equipe de médicos trabalhou arduamente. Conseguiram controlar por completo a epidemia. Regressou um período de calmaria. Nathan sentia agora a morte de forma diferente, mas continuava a ter dúvidas sobre o sofrimento desmedido. Na última noite que passaram em Bloemfontein, ele falou com Songo sobre isso mesmo. ─ A dor não é um prejuízo para a humanidade? Na realidade, a dor é necessária ao nosso desenvolvimento pessoal. Ensina-nos a distinguir sentimentos diferentes. ─ Quer dizer que temos de sofrer? ─ Estava a falar de dor, não de sofrimento. Este comentário surpreendeu Nathan. ─ Então a dor não é o mesmo que o sofrimento? ─ A dor é algo que nos indica uma falta de harmonia, uma falta de equilíbrio que necessita de ser restaurada. ─ Então o que é o sofrimento? ─ O sofrimento é um problema cerebral que tem origem na necessidade emocional de escapar à dor. Se compreendêssemos realmente a natureza da dor, não existiria sofrimento.─ Isto era algo novo para Nathan. E esta afirmação tornar-se-ia mais clara nos meses seguintes. Nathan ficaria a conhecer vários sintomas emocionais e físicos de doença e veria como Songo normalmente conseguia ajudar os pacientes com sucesso. Entretanto Nathan também se tornou um ajudante experiente e chegou mesmo, em várias ocasiões, a tratar sozinho algumas pessoas. Desta forma, aprendeu a ter consciência do fato de existir sempre algo de positivo e algo de negativo em tudo. Aprendeu, especialmente, a distinguir entre as coisas que ele não podia influenciar e as que podia mudar. O que mais o impressionou foi a força de vontade de alguns pacientes. Muitos deles mencionavam um poder superior que os ajudava a prosseguir mesmo quando existiam retrocessos e obstáculos. Numa das conversas com Songo falou deste assunto. ─ É impressionante aquilo que as pessoas conseguem atingir quando têm uma enorme força de vontade! ─ Não só a consciência, mas também a maior percepção têm uma enorme influência na nossa existência. A força de vontade pode despertar aquilo que está fora do consciente. 155 Nathan tinha aprendido com Songo a distinguir o consciente do subconsciente. Ainda não tinha falado com ele sobre a percepção superior e queria saber a sua opinião sobre o assunto. ─ O que significa para si a percepção superior? Songo olhou para Nathan e respondeu de forma séria. ─ Os meus antepassados ensinaram-me que a percepção superior ilumina a escuridão e traz as sombras para a nossa vida. A percepção superior refere-se àquilo que não percebemos ainda, mas a que temos acesso através da intuição e dos sonhos. ─ E de que forma é que esta percepção superior influencia o processo de cura? ─ Através da sabedoria instintiva do nosso corpo, que conduz os processos e as energias dentro de nós. ─ Quando prescreve exercícios de meditação, é para que as pessoas aprendam a compreender melhor estes processos? ─ Quando estamos seriamente doentes, é necessário familiarizarmo-nos com o mundo da percepção superior. Dessa forma podemos ver quais são os elementos que estão a perturbar a nossa harmonia natural e podemos influenciá-los. ─ Como é que podemos influenciar esses elementos? ─ Através da nossa força de vontade! ─ A nossa força de vontade permite-nos sofrer menos? ─ Está a referir-se à nossa conversa sobre a diferença entre dor e sofrimento? ─ Nessa altura percebi que a dor é um fenômeno físico ligado ao nosso sistema nervoso, mas que o sofrimento é um sentimento baseado no significado que damos à dor. ─ Exatamente. Ora, a nossa força de vontade ajuda-nos a interpretar esse sentimento de dor da forma correta. ─ Então, quer dizer que o fato de sofrermos ou não depende da nossa força de vontade? ─ Agora já lhe é possível compreender que a nossa felicidade como um todo depende completamente da nossa força de vontade. Nathan apercebia-se cada vez mais da grande importância das mensagens de Songo. As semanas passaram e Nathan foi compreendendo como é que cada vez mais pessoas em África se deixavam guiar pelos sentimentos e não pelo intelecto para tomar decisões. Isso fê-lo pensar. Ele e Songo falavam sobre isso com frequência. Songo acreditava que se devia encontrar um equilíbrio entre a lógica, que ele designava como sabedoria externa, e a nossa capacidade intuitiva, que ele designava como sabedoria interna. 156 Num belo entardecer, estavam sentados no jardim e Songo decidiu clarificar a sua posição. ─ É preciso viver sentindo, mas também pensando. ─ Não é perigoso deixarmo-nos guiar demasiado pelos nossos sentimentos? ─ Temos que ter a certeza que os nossos sentimentos são determinados por nós próprios e não pelos outros, porque apenas a sabedoria vinda do nosso interior nos pode dar as indicações corretas. ─ Como é que podemos distinguir entre a sabedoria interna e a sabedoria externa? ─ Deixando-nos guiar pelas percepções da nossa capacidade intuitiva. Estas percepções estão em harmonia com o nosso verdadeiro destino de vida. ─ E isto é algo de que o nosso pensamento lógico não tem conhecimento? ─ A sabedoria interna permite-nos perceber a verdadeira dimensão da percepção superior. ─ O poder da percepção superior está dentro de nós? ─ Claro, todos temos acesso a uma quantidade misteriosa de sabedoria. Cada um de nós pode permitir a esta informação fluir através de si próprio. A única coisa que temos de fazer para nos apercebermos disso é prestar atenção suficiente. ─ No Marrocos, um amigo disse-me que, quanto melhor conhecermos o silêncio, mais percepções de sabedoria interna chegam até nós. Songo mostrou-se interessado e pediu a Nathan que lhe contasse mais sobre as suas experiências no Marrocos. Nathan contou-lhe as suas aventuras, desde a sua chegada a Tânger até a sua partida de Casablanca. 157 Vigilância Songo escutara-o com atenção. A sua atenção fora captada, sobretudo pelos acontecimentos durante a estadia de Nathan no deserto. ─ Então já tinha tido contacto com a consciência superior. Esse mundo não está escondido no deserto, está dentro de nós. Os seus amigos usaram uma técnica ancestral para descobrir o poder, a magia e o mistério dentro de cada um. Songo fez uma pausa. ─ No entanto, é preciso estar sempre atento a pessoas que apenas aparentam guiar-nos para o nosso poder interior. Nem todos terão as mesmas intenções sinceras que os seus amigos no Marrocos. Este foi o impulso necessário para Songo aceitar assistir a uma grande convenção dita espiritual. Ele queria confrontar Nathan com os perigos da doutrina e dos cultos de massas. A convenção teve lugar fora da Cidade do Cabo, num local onde habitualmente se realizavam grandes eventos. Nesse dia, milhares de pessoas tinham-se reunido em frente a um enorme palco onde os oradores, caracterizados por Songo como feiticeiros competentes, iriam discursar. Enquanto aguardavam o primeiro orador, Nathan e Songo conversaram com várias pessoas entre a multidão. Nathan estava espantado com a percepção unilateral da vida que tinham todas as pessoas com quem falava. Era meio-dia quando o primeiro orador começou a falar. Seguir-se-iam quatro outros oradores. Nathan e Songo escutaram atentamente as palestras. Nathan estava sobretudo interessado no efeito das palavras sobre o público. Quando o último orador terminou de falar, demorou muito tempo até Nathan e Songo conseguirem afastar-se da multidão. Não se apressaram e aproveitaram a oportunidade para inquirir sobre as conclusões a que tinham chegado as outras pessoas presentes. Porque ia escutando asserções pouco racionais, Nathan ia ficando cada vez mais consciente dos perigos para os quais Songo o tinha avisado. No momento em que chegavam ao carro, a atenção de Nathan desviou-se para um pôster colorido com fotografias de grupos musicais de diferentes pontos do globo. O pôster anunciava um festival de música mundial que iria ter lugar na semana seguinte. Songo observou-o com interesse e disse que o espetáculo 158 era prometedor. Nathan ficou imediatamente entusiasmado e estava ansioso por ir. A caminho de casa, Nathan e Songo conversaram sobre as suas conclusões relativas à convenção. ─ Qual é a sua opinião sobre as palestras? - perguntou Songo. ─ Senti-me quase como uma testemunha de um roubo do pensamento individual. Songo admirou a forma como Nathan jogou com as palavras e sorriu. ─ Também reconheceu o método utilizado? ─ Os oradores conquistaram as emoções dos ouvintes através da forma como anunciavam as suas afirmações. Parecia uma forma de hipnose coletiva! ─ De fato, o seu objetivo é sobrepor-se ao medo e à alegria dos seus seguidores. Eles sabem que estes sentimentos são reforçados pelo grande número de pessoas presentes. Houve um momento de silêncio. Nathan apercebia-se cada vez mais do perigo de que Songo estava a protegê-lo. Ao mesmo tempo havia algo que o preocupava. Ele percebeu que a humanidade não estava a ser protegida deste perigo. ─ Todas as pessoas com quem falamos, - disse Nathan - sujeitamse sem questionar o que lhes é ensinado. ─ Do que é que se recorda das nossas conversas entre a multidão? ─ Para essas pessoas a vida espiritual consiste sobretudo em cumprir obrigações que lhes são impostas. O comportamento da maior parte dos seguidores é semelhante ao dos animais que vivem em manada. Seguem o líder e fazem aquilo que a manada fizer. Nathan e Songo chegaram a casa. Apesar de ser bastante tarde, estavam bem-dispostos e sentaram-se no jardim. Songo preparou bebidas e petiscos para os dois e passaram algum tempo a conversar. Songo conhecia as ideias de Nathan relativamente à última conversa que tinham tido e voltou a tocar no assunto: ─ Percebi que estaria a ponderar as consequências de tal forma de doutrina aplicada em larga escala. ─ Temo que, quando as pessoas deixarem de pensar individualmente, uma forma crítica de pensamento se torne impossível. ─ E que consequências pensa que isso poderia ter? Nathan reconheceu o método de trabalho do próprio pai na pergunta de Songo. Esta forma de abordar os problemas permitialhe utilizar a sua capacidade de raciocínio ao máximo para poder 159 descobrir verdades importantes. E também significava que Songo se preparava para lhe dizer alguma coisa de muito importante. Nathan pensou um pouco e depois disse as seguintes palavras: ─ Essas mesmas pessoas deixam de poder pensar de forma independente sobre o que é melhor para elas. Passam a comportarse de acordo com as expectativas de outrem e a responder pelo seu comportamento utilizando argumentos pré-determinados. ─ Nathan, - disse Songo num tom de voz muito sério - aquilo de que fala é exatamente a base para a falta de harmonia na Terra! Seguiu-se um momento de silêncio e depois Songo falou num tom mais suave. ─ Que tipo de sentimento é que estas ideias evocam em si, Nathan? ─ Um sentimento de injustiça para com todas as vítimas e para com as vítimas que estas, por sua vez, provocam. ─ E que mais sente? ─ Sinto o que costumo sentir em relação à injustiça. Quero evitar que aconteça! Songo pousou a mão no braço de Nathan e falou de novo num tom sério. Este olhou para Songo e percebeu que se aproximava o momento de escutar uma mensagem muito pessoal. ─ Só podemos lutar contra uma corrente muito forte se formos acompanhados de coragem. A coragem é resistente, tem esperança e deposita uma confiança interminável num resultado favorável! As palavras de Songo tiveram em Nathan o mesmo efeito que tinham tido as que escutara de Sanah. O seu poder de criação manifestava-se agora para reforçar a importância desta mensagem. ─ Não o demonstrei de imediato, mas apercebi-me do seu caráter excepcional desde o nosso primeiro encontro! Nathan meditou sobre estas palavras durante um momento. ─ E veio ter comigo nessa altura? ─ As esculturas de Sophie é que me levaram até si. Quando o vi, reconheci o seu âmago de imediato. Songo ainda apertava o braço de Nathan e as suas palavras penetraram no mais fundo de si. Nathan deixou as palavras de Songo percorrerem-no. ─ O meu âmago, o meu caráter excepcional? E Nathan perguntou ainda - Pode falar-me um pouco mais sobre isso? A princípio, Songo hesitou, mas depois prosseguiu. ─ O seu íntimo é o símbolo da pureza e da receptividade. Por causa dele, vai sempre sentir a necessidade imperativa de libertar as pessoas com quem se cruza. 160 Instalou-se um silêncio e Songo largou o braço de Nathan. Um turbilhão de pensamentos enchia a mente de Nathan. Tentava recordar todas as conversas que tinha tido com as pessoas que se tinham apercebido do seu caráter excepcional. Songo deu a Nathan algum tempo para pensar. ─ Mencionou um resultado favorável. - prosseguiu Nathan - A que se referia exatamente? Songo levou algum tempo a estruturar uma resposta adequada. ─ Desde a sua mais tenra juventude, já sabia que todas as coisas fazem parte de um todo. Depois aprendeu que todas as coisas contidas neste todo consistem em energia. Entretanto foi compreendendo melhor a forma como essas energias se interrelacionam. O próximo passo na sua jornada irá permitir-lhe vislumbrar aquilo que constitui o tecido envolvente deste todo!─ Nathan refletiu sobre isto. ─ Está a referir-se ao poder que mantêm tudo coeso? ─ No decurso da sua jornada futura, mantenha-se sempre atento, receptivo e acessível. Tudo o que necessitar de ser esclarecido, sêlo-á. ─ Porque é que ainda não se tornou tudo claro para mim? ─ Só tenho mais um conselho para lhe dar. Abrace a paciência e tolere a ignorância e irá experimentar a iluminação! Esta conversa com Songo tinha sido, sem sombra de dúvida, a mais intensa desde que Nathan conhecera este sábio homem. Ele sabia que a tarefa de Songo estava terminada. Graças a ele, Nathan tinha agora uma visão muito mais alargada do seu objetivo de vida. Tinha recebido as lições necessárias e podia agora seguir o seu caminho. Uma semana mais tarde, Nathan foi ao festival mundial de música. Estava um dia fantástico. O programa incluía grupos musicais de todos os continentes. O público cantava e dançava alegremente ao ritmo das músicas. Estavam todos com ótima disposição. Ao final da tarde atuou um grupo de dança latino-americano. Era uma mistura de bailarinos brasileiros e caribenhos. Nathan, como fã de dança que era, apreciou a performance pelo seu valor e ficou encantado com a coreografia. Era uma atuação enorme que fazia os diferentes estilos entrelaçarem-se de forma harmoniosa uns com os outros. O fato de os estilos de dança latino-americana apresentados terem as suas origens em África foi expresso de forma belíssima, para grande alegria do público. 161 Mais tarde nesse dia, Nathan dirigiu-se a uma das barraquinhas de comida. Estava na fila à espera de ser atendido e reparou que as duas raparigas atrás dele faziam parte do grupo de dança que o tinha impressionado. Deduziu que vinham de Cuba, por causa da pronúncia espanhola. Aproveitou a oportunidade para felicitá-las pela atuação. As raparigas agradeceram-lhe, mas sublinharam que o mérito pertencia à coreógrafa argentina e que era ela quem merecia as maiores felicitações. Quando finalmente chegou a vez de Nathan, ele pediu a sua refeição e foi procurar um sítio para se sentar. As duas raparigas seguiram-no e convidaram-no a juntar-se a elas à mesa. Aceitou o convite e foi com elas. Apresentaram-no a outros bailarinos e bailarinas do grupo e à coreógrafa, Catalina. Nathan felicitou todo o grupo e sentou-se em frente a Catalina. Ela tinha cerca de quarenta anos e um corpo belíssimo e em forma. Catalina olhou Nathan de forma intensa: aparentemente a sua aparência também não tinha deixado de provocar alguma reação. ─ Fala um espanhol muito fluente. - disse ela - É de onde? ─ O meu pai é espanhol e eu próprio estive muitas vezes em Espanha. ─ Ouvi dizer que tinha gostado muito da nossa atuação. Estou muito orgulhosa dos meus rapazes e raparigas. Eles trabalharam muito para chegar até aqui. ─ E pode estar orgulhosa de si também. Achei fantástica a forma como juntou os diferentes estilos num todo harmonioso. ─ Obrigada... Catalina, que parecia um pouco confusa, pediu licença e saiu da mesa. ─ Volto já! Um dos bailarinos falou. ─ Catalina é uma coreógrafa formidável, mas acima de tudo é um ser humano fantástico. Tem a capacidade de despertar nas pessoas o que elas têm de melhor. Depois uma bailarina comentou: ─ Durante os nossos ensaios a Catalina sublinha sempre que é preciso construirmos os nossos movimentos com aquilo que sentimos no nosso íntimo e que assim conseguimos descobrir a riqueza infinita que existe dentro de nós. Outra bailarina acrescentou: ─ As palavras dela dão-nos tanta energia e autoconfiança! O bailarino retomou a palavra: 162 ─ No México só ensaiamos cerca de duas semanas, mas temos feito enormes progressos todos os dias. ─ No México? - perguntou Nathan. ─ A escola de dança da Catalina é na Cidade do México. Tivemos todos a oportunidade de trabalhar com ela. ─ Infelizmente, o nosso conto de fadas está a chegar ao fim. Outra bailarina ainda acrescentou: ─ Aprendemos todos muito, tanto a nível profissional, como a nível pessoal. Em pouco tempo a minha vida mudou realmente por causa disto. Nathan conseguia sentir o quanto os bailarinos admiravam Catalina e como estavam tristes por aquela aventura em conjunto terminar em breve. Para eles, ela tinha-se tornado uma espécie de figura maternal. Percebeu que eles tinham passado um tempo maravilhoso. Em poucas semanas, Catalina tinha conseguido criar um forte vínculo entre ela e os bailarinos. Catalina voltou e sentouse novamente. Nathan apercebeu-se que ela estava preocupada com alguma coisa e tentou distraí-la dos seus pensamentos. ─ Catalina, só ouvi elogios e reconhecimento pelo seu trabalho. A alegria que todos estão a sentir parte de si. Tal como os outros, Catalina também estava emocionada por causa de o conto de fadas se aproximar do fim. ─ Eles são todos uns queridos. - disse ela - Nunca vamos esquecer esta experiência! Todos os bailarinos concordaram: Nunca vamos esquecer! Catalina perguntou então a Nathan por que razão estava ele na África do Sul. Ele contou-lhe sobre a sua jornada e todos os membros do grupo escutaram atentamente. Depois da refeição, Catalina convidou-o a ficar com eles durante o festival. As atuações iriam continuar toda a noite. Entretanto, Nathan e Catalina foram-se conhecendo melhor. Demonstravam um interesse óbvio um pelo outro. Quando se separaram no fim do festival, Catalina convidou Nathan a ir ao México. ─ Os caminhos secretos da paixão não podem estar ausentes da tua jornada! Nathan ficou com os contactos dela e prometeu pensar no assunto. Já em casa, Nathan contou a Songo o que se tinha passado durante esse dia. ─ Que acha? - perguntou a Songo, curioso por saber a sua opinião. ─ Tudo o que lhe é revelado traz a vida, Nathan. ─ Acha que seria correto aceitar o convite dela? 163 Songo percebeu pelo entusiasmo de Nathan que uma resposta não seria necessária. ─ Se no seu íntimo a decisão já está tomada, está nas mãos do tempo a escolha do momento em que dará a conhecer essa mesma decisão. Nathan estava já tão acostumado à invulgar construção de frases por parte de Songo que compreendeu de imediato o que ele queria dizer. No dia seguinte, Nathan foi ao hotel onde estavam alojados Catalina e os bailarinos e comunicou-lhes a sua decisão. Nathan e Songo despediram-se no Aeroporto da Cidade do Cabo algum tempo antes do início do Ano Novo. Nathan agradeceu e prometeu a Songo manter o contacto. Iria ser uma longa viagem, com muitas paragens pelo meio. 164 -6Energia Motriz 165 166 Abertura Nathan chegou à capital mexicana. O Natal estava para chegar, e isso era visível nas ruas. Nathan apanhou um táxi e deu ao motorista o endereço da escola de dança de Catalina. A viagem foi longa, mas isso não incomodou Nathan. Pelo contrário, dava-lhe a oportunidade de descobrir um novo mundo no seu tempo livre. Era a sua primeira viagem à América Latina e ele reparou imediatamente no trânsito caótico e nas inúmeras estradas que se entrecruzavam na metrópole. Por todo o lado ouvia clamores agitados e vozes altas. O táxi parou finalmente na Praça da Constituição, a grande praça central da cidade. O motorista disselhe que não podia chegar com a viatura à viela onde ele pretendia ir. Por isso, Nathan teve de sair na praça. Pagou ao motorista e retirou as suas malas da bagageira. Na Praça da Constituição Nathan viu um homem com traços de índio e um longo cabelo grisalho preso em um rabo-de-cavalo. Estava sentado em uma cadeira e, à sua frente, homens e mulheres esperavam em fila. Quando chegava a sua vez, o homem girava em torno deles, balançando um incensário aceso sobre as suas cabeças. Depois aspergia-lhes a cabeça com um líquido e por fim entregavalhes um pedacinho de papel. O homem com aspecto de índio reparou em Nathan e manteve o seu olhar sobre ele enquanto prosseguia o ritual. Nathan continuou a andar e reparou que o homem o observava. Apesar de querer continuar, decidiu-se a parar. O fato de o homem continuar a olhá-lo tinha-lhe aguçado a curiosidade. E, de qualquer forma, ele queria saber que estranha atividade era aquela. Já tinha, portanto, duas razões para parar. Nathan caminhou em direção ao homem e colocou-se na fila. Demoraria algum tempo, mas ele estava disposto a esperar. Enquanto aguardava a sua vez, Nathan suspeitou que o homem não pudesse falar. Também reparou que o homem se comportava como um cego, o que o intrigou porque ele tinha a certeza que o homem o observara durante um bom bocado. Quando chegou a sua vez, Nathan disse: ─ Queria perguntar-lhe uma coisa, mas não sei se consegue falar. ─ Porque pensa tal coisa? ─ Porque ainda não tinha proferido qualquer palavra... perdoe-me. 167 ─ Sou bastante moderado com as palavras, porque conheço a sua influência. Para si, abro uma exceção... porque é movido por algo que a maioria dos adultos já perdeu! ─ E o que é? ─ O que o trouxe até mim foi a curiosidade, acompanhada de paciência. ─ Queria saber exatamente o que o senhor estava a fazer. ─ As pessoas procuram-me porque eu sei coisas que elas não sabem! Estas palavras tornaram Nathan mais cauteloso. Perguntava-se se o homem seria um impostor. ─ E o que vê? ─ Vejo a excepcionalidade. Nathan fixou o homem. Mais uma pessoa que o via como tendo um caráter excepcional. As suspeitas de Nathan dissiparam-se quando ouviu estas palavras, ao mesmo tempo em que a sua curiosidade se adensava. ─ Pode descrever exatamente o que vê quando olha para mim? O homem fez uma pausa e procurou as palavras certas para descrever o que via. ─ Vejo uma corrente que flui, capaz de absorver forças contrárias, de convertê-las e fazer mudar de direção. ─ De que forças contrárias está falando? ─ Falo dos limites da energia motriz! Entretanto, Nathan compreendera que o homem cego possuía a capacidade de ver o mundo de outra forma. Ao desenvolver a sua capacidade e debater as suas descobertas, o homem tinha encontrado o sentido superior da sua vida. Nathan sentiu crescer a sua confiança neste homem. ─ Desculpe, mas pode explicar-me mais especificamente o que quer dizer com forças contrárias e limites da energia motriz? ─ Como poderia eu levar a mal o seu interesse nas minhas palavras? É graças à sua curiosidade que podemos compreender o sentido destes momentos em que estamos juntos! Mais uma vez, o homem demorou algum tempo para clarificar os seus pensamentos. Era óbvio que ele experienciava profundamente a vida e que, tal como Songo, tinha desenvolvido uma linguagem rara para mostrar a sua perspectiva da vida. Por experiência própria, Nathan sabia que graças a este encontro teria a oportunidade de recolher informações valiosas para o seu desenvolvimento pessoal. 168 ─ Falo das limitações físicas, mas, sobretudo das emocionais, com as quais cada um de nós veio à Terra. Nathan refletiu sobre estas palavras por uns momentos e estava agora curioso em relação ao significado de ‘energia motriz’. ─ Posso pedir-lhe que clarifique o que quer dizer com energia motriz? ─ A energia motriz é a mãe de todas as energias, o poder que tudo controla! ─ E as limitações impedem-nos de deixar fluir a energia motriz? O homem confirmou-o, acenando com a cabeça. Nathan precisou de alguns momentos para organizar as suas ideias. Subitamente, estas se tornaram muito claras. Sem dúvida que a energia motriz de que o homem falava era o ‘poder interior’ de que falava o seu pai, ‘o conhecimento superior’ de Simon, ‘o mistério maravilhoso’ de Pablo, ‘o poder criador’ de Adnan e a ‘harmonia natural’ de Songo. ─ Então, o que me diz é que eu tenho a capacidade de permitir que a energia motriz flua através de mim? ─ Toda a gente tem essa capacidade e pode mudar as coisas devido a ela. Mas, quando uma pessoa tiver reunido conhecimento suficiente, irá impulsionar uma das maiores mudanças de sempre. É essa a excepcionalidade que cresce dentro de si. Nathan sentiu o forte poder das palavras que acabava de ouvir. Ainda que o homem não lhe tivesse sequer tocado, o significado das palavras penetrou-o profundamente, tal como o haviam feito as palavras de Sanah e de Songo. Percebeu que estava agora ainda mais preparado para reconhecer palavras valiosas... "Uma das maiores mudanças de sempre..." ─ Desfrute da sua estadia no México. Tenho a certeza de que vai gostar. ─ Como pode ter tanta certeza? ─ O poder que o trouxe aqui é o poder que toma decisões relativas a todos os ímpetos... a paixão. ─ Obrigado por tudo. Sei que todas as suas palavras foram sinceras e serão de grande importância para mim. O homem despediu-se e Nathan pegou na sua bagagem. Voltou-se e viu que não havia mais ninguém na fila. Seguindo o caminho indicado pelo taxista, voltou-se uma última vez para olhar o índio, mas este tinha desaparecido. Pouco depois, Nathan chegou à viela onde ficava a escola de dança de Catalina. Viu um letreiro com o nome da escola: "Sentimienta". Seguiu a direção indicada e 169 aproximou-se do edifício. Era um edifício antigo com uma bela fachada. As portas e janelas estavam pintadas de cores vivas e o nome da escola de dança podia ler-se no topo do edifício. Não havia campainha, mas a porta de entrada estava entreaberta. Nathan empurrou-a e parou na entrada, um longo corredor. De um dos lados, viu uma escada larga. No degrau do fundo estavam sentadas duas crianças pequenas, um menino e uma menina, um ao lado do outro. Deviam ter uns cinco ou seis anos. Nathan aproximou-se deles e perguntou por Catalina. Viu então que a menina era cega. Repetiu a pergunta para o rapaz, pois talvez ele pudesse saber. A menina fez sinal que ele também não sabia e que, de qualquer forma, não o podia. De súbito, os acordes de um tango soaram no andar de cima. Aparentemente estava a começar um ensaio. De forma espontânea, a menina beliscou o braço do menino e ele levantou-se de imediato. Estendeu elegantemente o braço para a menina e pegou-lhe na mão. Ela levantou-se também e ele tomou-a nos braços. Ao ritmo da música, entregaram-se a belos passos de tango. Nathan observava ternamente a forma como as duas crianças, apesar das suas incapacidades, haviam descoberto uma extraordinária forma de expressão. Uma empregada de limpeza desceu as escadas e Nathan perguntoulhe se sabia onde podia encontrar Catalina. Ela respondeu que naquela manhã Catalina estava na piscina, a orientar um grupo de bailarinos aquáticos. A mulher olhou para o relógio e acrescentou que ela não ia demorar. Nathan agradeceu e sentou-se nas escadas a observar o jovem casal que dançava. Quando a música parou, ambos se sentaram ao seu lado nas escadas. Nathan tirou um pacote de waffles da mochila e ofereceu uma a cada um. Eles agradeceram, presenteando-o com um lindo sorriso, e Nathan, por sua vez, agradeceu-lhes a dança. Naquele momento, a porta abriuse e Catalina surgiu à entrada. Nathan e Catalina abraçaram-se; ela estava visivelmente feliz por vê-lo. Agradeceu a sua vinda e viu que ele já tinha travado conhecimento com as crianças. Disse-lhe que a menina se chamava Lisa, e o menino Manuel. Explicou-lhe que eles costumavam viver nas ruas e que ela já tomava conta deles há dois anos. As crianças provavelmente nem se conheceriam antes disso, uma vez que provinham de regiões diferentes. As suas histórias eram, sem dúvida tristes, mas ao mesmo tempo muito belas. 170 Catalina encontrara Lisa nas montanhas à saída da cidade. Tinha sido abandonada aí à sua sorte e, quando Catalina a recolheu, esperava conseguir alguma informação sobre os seus pais. No mesmo dia, uma amiga de Catalina tinha aparecido trazendo Manuel. Perguntou-lhe se poderia tomar conta dele por dois ou três dias, até conseguir encontrar uma instituição que o recolhesse. Disse-lhe que Manuel estava doente e que vivia nas ruas havia muito tempo. O fato de ambas as crianças terem surgido na sua vida no mesmo dia tinha sido um sinal para Catalina. Quando soube que eram ambos órfãos decidiu adotá-los. Manuel e Lisa acabaram por se tornar inseparáveis. Durante a semana dormiam na escola de dança com Catalina e aos fins-de-semana ficavam em casa dela, na cidade de Puebla. Catalina disse a Nathan para deixar a bagagem numa das salas e propôs um passeio pela cidade, também para comerem qualquer coisa. Manuel e Lisa acompanharam-nos. Nathan e Catalina passearam por um parque com belas esculturas e bancos de jardim ao longo do caminho. Manuel e Lisa caminhavam à sua frente, de mãos dadas com muito afeto. Chegaram a uma grande fonte, com barraquinhas de comida em redor, e aproximaram-se de uma das maiores, onde vendiam tacos preparados na hora. Sentaram-se numa das bancadas e pediram panquecas de milho com carne e vegetais. ─ O que existe entre Manuel e Lisa é absolutamente maravilhoso. ─ Há uma beleza maravilhosa em tudo, mas só alguns a conseguem vislumbrar. ─ Vi-os dançar enquanto esperava por ti. ─ Foi na dança que encontraram uma forma de mitigar a sua dor. Agora, são os protetores de "Sentimienta". ─ E o que significa "Sentimienta" para ti? Catalina refletiu por uns momentos antes de responder. ─ "Sentimienta" é um templo musical onde posso alcançar o significado da minha própria existência, e alimentar a minha paixão e os meus sonhos. Um lugar onde toda a gente se sente especial, onde os seus sonhos se podem tornar realidade e novos sonhos podem nascer. ─ Foi o que vi durante o espetáculo em Cape Town, o fulgor desses sonhos. ─ Nessa altura tive a oportunidade de reunir um grupo maravilhoso. Muitos deles tiveram uma vida dura. ─ De onde surgiu a ideia de fundar a "Sentimienta"? 171 ─ Sempre tive uma relação especial com a música e queria dar-lhe um lar… ─ Em que é que essa relação é especial? ─ Desde muito cedo soube que encontraria a minha verdadeira missão através da música. É difícil explicá-lo, mas na minha vida aconteceram muitas coisas que tiveram a sua origem na música. ─ Catalina, porque é que a música consegue tocar-nos de forma tão profunda? ─ A música é pura e só pode ser executada com uma sinceridade pura. É uma das poucas formas de comunicação em que não podes mentir. ─ A sinceridade pura tem qualquer coisa de espiritual. ─ É verdade, a música ajuda a que nos elevemos, pode permitirnos escapar à banalidade do dia-a-dia e levar-nos a ver como todas as coisas estão interligadas. Catalina percebeu que Nathan meditava sobre isto. ─ Posso contar-te um antigo conto índio sobre a música? ─ Sim, por favor. Sei que os contos índios contêm grande sabedoria. ─ Dizem que no passado a música e as palavras eram unas, até ao momento em que foi dita a primeira mentira. Desde então, a música tenta reunir-se de novo com as palavras. ─ Bem, a música encontrou uma mensageira excepcional em ti, Catalina. Manuel e Lisa tinham acabado de comer os seus tacos e foram brincar juntos nas imediações. Nathan e Catalina continuaram a sua conversa. ─ Falávamos de sabedoria índia. Hoje testemunhei uma prova viva dessa sabedoria. ─ Hoje? ─ Na Praça da Constituição. Nathan descreveu em traços largos a sua conversa com o velho índio. Enquanto falava, Nathan reparou na estranha expressão de Catalina. Ela pediu-lhe que descrevesse detalhadamente o velho índio e o local exato onde se haviam encontrado. ─ Enquanto conversavam, havia outras pessoas presentes? ─ Quando chegou a minha vez, já não havia ninguém atrás de mim. A curiosidade de Nathan tinha crescido, com todas as perguntas de Catalina. ─ O que estava o homem a fazer antes de te aproximares dele? 172 ─ Balançava um incensário e aspergia as pessoas com um líquido. ─ Viste mais alguma coisa? ─ Agora que penso nisso, ele deu a cada pessoa um pequeno pedaço de papel, mas não a mim. ─ Vou dizer-te uma coisa, Nathan. No passado, o homem que afirmas ter visto era frequentemente visitado por pessoas que precisavam do seu conselho. Quase todos os dias ele podia ser encontrado na Praça da Constituição, mas há um ano desapareceu subitamente. Seria muito especial se o tivesses visto hoje. ─ Bem, hoje ele estava de volta à Praça. ─ E tens a certeza de que falou contigo? ─ Tenho, e acho que o homem foi muito sincero. ─ Não me espanta a sinceridade das suas palavras. O que me espanta é o facto de ter falado contigo. ─ Não estou a perceber. Catalina pegou nas mãos de Nathan. ─ Escuta-me, Nathan. Todas as pessoas que o procuram recebem apenas um papel com as sábias palavras de que necessitam, porque o homem nunca fala com ninguém! Nathan olhou para Catalina e caiu num silêncio profundo. ─ Vou dizer-te uma coisa. Algo que nunca disse a ninguém. Nathan escutava-a com absoluta atenção. ─ Uma vez ele também falou comigo! Catalina inspirou profundamente. ─ Aconteceu no dia em que recebi notícias mesmo muito tristes, de Buenos Aires, a cidade onde cresci na Argentina. ─ E quando foi isso? ─ Há três anos. ─ Que aconteceu? ─ Nesse dia, recebi a notícia que a minha mãe adotiva tinha falecido e, tal como tu, fui passear pela Praça da Constituição. O velho índio fez-me sinal para me aproximar e disse, literalmente, as seguintes palavras: "Nada é permanente, exceto a mudança". Ambos refletiram, tentando compreender as experiências um do outro, até que Nathan confessou: ─ Eu tinha cinco anos quando fui adotado. Catalina e Nathan olharam-se e, naquele momento, Catalina confirmou o que já tinha sentido quando conheceu Nathan em Cape Town. Instalou-se entre eles um profundo silêncio, até que Catalina voltou a falar. 173 ─ Acho que nos encontramos para aprendermos muito um com o outro. Olharam então para Manuel e Lisa, juntaram-se-lhes e regressaram juntos para a escola de dança. Catalina tinha ainda mais uma questão que a vinha a incomodar há já algum tempo. ─ Nathan, sabes que não existe nada mais em que eu encontre tanta energia e inspiração como na música. Isso também acontece contigo…? Nathan parou, colocando o braço sobre os ombros de Catalina. ─ Catalina, o que tu sentes com a música, eu sinto com o mais fluído dos elementos naturais. Catalina acariciou afetuosamente a face de Nathan. ─ Água! Foi o que pensei. Recomeçaram a andar. ─ A costa de Vera Cruz agradar-te-ia com toda a certeza. Uns amigos meus têm lá uma casa à beira-mar. Vamos lá com frequência. O Manuel e a Lisa adoram água. Nos dias que se seguiram, Nathan ajudou nas atividades diárias da escola de dança. Os professores de dança ensinavam diversos estilos e Nathan participou em múltiplas lições e fez muitos amigos. Os seus primeiros dias no México foram fantásticos. Nathan via Catalina como uma irmã mais velha e aprenderam imenso um com o outro. Ele partilhava o quarto com Manuel e Lisa e os laços entre eles fortaleceram-se. Nathan adquirira o hábito de ler para as duas crianças todas as noites, algo que eles aguardavam sempre com grande impaciência. Lisa escutava as palavras de Nathan e transmitia-as a Manuel em língua gestual. Numa sexta-feira à tarde, Nathan, Catalina, Manuel e Lisa partiram para a casa de Puebla. Regressariam à escola uma semana mais tarde. Catalina e as crianças viviam numa casa antiga, mas aconchegante, próxima do centro de Puebla. Depois de uma refeição ligeira, mostraram a Nathan o centro da cidade dos anjos, como era chamada. Puebla era conhecida, não só pelos seus anjos, mas sem dúvida também pelos seus muitos artistas. Nathan adorou as praças cheias de palmeiras, estátuas e inúmeros vendedores ambulantes, e ficou muito impressionado com as casas de estilo colonial decoradas com azulejos extraordinários. 174 Relação Catalina era bastante conhecida, e muitas pessoas saudavam-na na rua. Algumas mulheres dirigiam-se a ela e conversaram sobre os seus problemas pessoais, geralmente questões de relacionamentos. Nesses momentos, Nathan pedia desculpa e afastava-se para lhes dar a privacidade de que necessitavam. Quando caiu a noite e Manuel e Lisa já dormiam, Nathan quis saber por que razão as pessoas procuravam Catalina para discutir os seus problemas relacionais. Ela disse-lhe que uma vez tinha dados alguns conselhos a uma vizinha e que aparentemente a notícia se tinha espalhado. Disse-lhe também que não eram só as mulheres que procuravam os seus conselhos. Os homens também, embora não o fizessem em público. ─ E que tipo de perguntas fazem? ─ Perguntas sobre problemas de várias ordens, mas geralmente a questão de fundo é a mesma. Muitos tinham imaginado que as suas relações seriam diferentes. Pensavam ter encontrado o verdadeiro Amor graças ao seu parceiro ou parceira, mas com o tempo desiludiram-se totalmente. ─ E quando é que sabemos que é Amor verdadeiro? ─ O Amor não é Amor verdadeiro se se transforma em sofrimento quando as circunstâncias mudam! ─ O Amor não é sempre acompanhado de sofrimento dentro de uma relação? ─ O sofrimento surge quando a relação nasce da necessidade. Quando, inconscientemente, os parceiros querem possuir o outro e mantê-lo sob controle. Essas relações são mantidas antes de mais pela necessidade e depois pelo hábito, mas normalmente terminam em solidão. ─ Ainda assim, muitas relações começam cheias de promessas. ─ No início de uma relação, os sentimentos de Amor são inconscientemente associados à pessoa que começaram a conhecer. ─ Então esse Amor não é sincero? ─ O Amor está sempre presente em nós; não precisamos de ninguém para senti-lo. 175 ─ Mas não precisamos de outra pessoa para poder experienciar o Amor? ─ Não precisamos perseguir ninguém, e certamente não precisamos possuir ninguém para senti-lo. Muitos têm sido condicionados pela ilusão de que outra pessoa lhes dará o Amor, mas ninguém pode dar-nos aquilo que já temos. ─ Então o que significa para ti uma relação amorosa, Catalina? Catalina refletiu por uns momentos, para encontrar palavras para a sua resposta. ─ Amar é demorar o tempo que for preciso para conhecer bem a outra pessoa e para continuar a conhecê-la, mas, sobretudo para encontrar a paz com ela. ─ Então acho que tenho uma relação amorosa com Sophie. Catalina sorriu. ─ Temos relações amorosas com todas as pessoas, Nathan. O que torna tão especial a tua relação com Sophie é o fato de partilharem uma maior intimidade. ─ Qual é o aspecto mais importante numa relação? ─ Ousarem sempre reconhecer a verdade do momento. ─ A verdade do momento? ─ Reconhecê-la-ás ao oferecer à outra pessoa a oportunidade de se expressar, tanto em caso de discordância como de aprovação, em caso de sofrimento como em caso de alegria. Nesse dia, Nathan tornou-se ainda mais consciente da sabedoria de Catalina. O seu encontro com ela reforçou a convicção de que continuava a encontrar as pessoas certas para encontrar o conhecimento de que necessitava no momento certo. ─ Catalina, sabias que nos encontraríamos? ─ Não, mas quando te vi pela primeira vez senti algo diferente. Soube que o nosso encontro era especial e que havia uma razão para ter acontecido. ─ E, na tua opinião, qual é essa razão? ─ Acho que nos encontramos para partilharmos os nossos conhecimentos mais profundos. Ao partilharmos os nossos conhecimentos interiores, aumentamos a nossa capacidade de observação e dispomo-nos a ações ainda mais grandiosas. Nathan achou este pensamento muito agradável. Dois dias mais tarde, Catalina e Nathan partiram para a costa de Vera Cruz com Manuel e Lisa. Catalina tinha conseguido as chaves da casa de praia e iriam passar uns dias lá. Quando deixaram o vale de Puebla em direção a Vera Cruz, atravessaram primeiro uma paisagem de 176 montanha e desceram depois para a costa, pelo Golfo do México. Manuel e Lisa mal podiam esperar para mergulhar no mar com Nathan. Assim que chegaram a casa, não demorou muito até se encontrarem na água. Passaram horas na água e divertiram-se muito. Catalina observava-os do terraço e só se lhes juntou mais tarde. Ao cair da tarde, Nathan, Catalina e as crianças caminharam ao longo do dique de Vera Cruz. A atmosfera estava animada, revelando uma mistura de influências mexicanas e caribenhas. As pessoas envergavam as suas melhores roupas e viam-se muitas danças alegres nos terraços. Manuel e Lisa dançavam alegremente no meio da multidão e as suas incapacidades passavam praticamente despercebidas. ─ Estas duas crianças têm tanta alegria de viver! Disse Nathan. Irradiam tanta felicidade! Parece que, por causa das suas incapacidades, utilizam todos os seus talentos para se expressarem de maneira diferente. ─ Foram capazes de desenvolver estes talentos porque seguiram a sua energia motriz. Cada um de nós nasce com um motivo pessoal para se tornar uma expressão única de vida. ─ Como podemos descobrir a nossa expressão única? ─ As primeiras memórias dos nossos sonhos são as que nos encaminham para os dons que possuímos, de forma a realizar algo único no mundo! ─ Porque é que tão poucos conseguem descobrir o seu verdadeiro dom? ─ Para podermos realmente começar a procurar o nosso dom temos que colocar um fim em tudo o que nos impeça de experienciar a ‘energia motriz’. ─ O velho índio também falou sobre ‘a energia motriz’. Disse que era a mãe de todas as energias, o poder que tudo rege! ─ É a energia que é intensamente usada através do nosso Ser interior. Quando deixamos esta energia conduzir a nossa vida, compreendemos as indicações que nos ajudam na busca da nossa expressão única. Tal como Manuel e Lisa perceberam que tinham de se exprimir de uma forma diferente da linguagem falada. Nathan compreendeu que Manuel e Lisa eram um exemplo vivo daquilo que o velho índio lhe havia confidenciado. Possuíam uma capacidade inata, e tinha aproveitado exatamente a sua desvantagem como estímulo para deixar fluir a "energia motriz". Agora que tinham superado esta limitação podiam continuar a crescer e dar um novo sentido às suas vidas. 177 ─ Há outra coisa que o velho índio me disse… Catalina escutava atentamente. ─ De acordo com ele, eu possuo a capacidade, como ninguém mais possui, de permitir que esta ‘energia motriz’ flua através de mim. Depois de um silêncio, Catalina reagiu. ─ Isso confirma outra coisa que vi quando pela primeira vez te sentaste à mesa, à minha frente. Tive visões momentâneas de água corrente que inundava tudo e todos. Manuel e Lisa aproximaram-se para irem todos dançar juntos no bar da praia. Eles deixaram-se convencer e foram dançar com um grupo de habitantes locais. Quando o sol se punha lentamente, a música tornou-se mais calma. Todos haviam desfrutado intensamente daqueles momentos. Catalina sentou-se numa das cadeiras do bar da praia. Manuel e Lisa brincavam na areia com outras crianças. Catalina viu Nathan imerso nos seus pensamentos enquanto observava o mar calmo. Então, levantou-se e convidou-o para um passeio em direção à água. ─ Estás a relacionar as novas informações com as antigas? perguntou. ─ Sim, e algumas questões continuam a preocupar-me, respondeu Nathan. ─ Conta-me, talvez possamos resolvê-las juntos. ─ Podes clarificar de que forma sentes ‘a energia motriz’? Catalina refletiu por uns momentos antes de responder. ─ Precisas de saber que, até aos meus sete anos de idade, eu era incapaz de falar. ─ É por isso que compreendes tão bem os mundos de Manuel e Lisa. ─ Claro. E também tento levá-los a compreender o poder mútuo de conexão entre todos os acontecimentos, através da música. ─ Também o descobriste através da música? ─ Foi, de fato, graças à música que muito cedo compreendi que esta energia se manifesta através do nosso Ser interior. E gradualmente cheguei a uma importante conclusão. Nathan pressentiu que Catalina estava prestes a revelar algo de grande valor para ele, e escutou-a com toda a atenção. ─ Compreendi que este poder tinha incontestavelmente de possuir a memória do mundo. ─ A memória do mundo? ─ Vou tentar explicar da melhor forma que conseguir. Se existe um poder que mantém unido tudo o que aconteceu no mundo, 178 podemos simplesmente afirmar que este poder tem o conhecimento de que todas as experiências estão presentes em simultâneo e em todo o lado. Catalina esperou que Nathan refletisse sobre a importante visão que partilhara com ele. ─ Quando me tornei consciente disto, passei a dar atenção às mensagens que fluíam com o meu guia interior. Desta forma desenvolvi uma confiança que se elevou acima do medo e da ignorância. ─ E assim aproximas-te do teu coração? ─ Exatamente! No desenvolvimento em direção ao mais profundo do meu ser, deixo espaço para que a ‘energia motriz’ desenvolva os meus dons. Nathan sabia que o medo e a ignorância eram as causas do que Songo designava como falta de harmonia no mundo. Sabia que, se todas as pessoas seguissem a voz do seu Ser interior, se aproximariam dos seus corações e desenvolveriam também a sua expressão única. A energia motriz seria capaz, inclusivamente, de guiar toda a Humanidade para a harmonia perfeita. ─ Estou-te muito grato, Catalina. Fizeste-me compreender como funciona o Universo a um nível mais profundo. Graças a ti serei capaz de agir com mais coragem. ─ Sinto-me feliz por poder contribuir para a grande mudança de que falou o velho índio. Nathan olhou para Catalina e tomou a suas mãos. ─ Catalina, sabes mais acerca desta grande mudança? ─ Durante as minhas viagens a diversos locais vi como as pessoas ansiavam por uma mudança profunda, mas nunca encontrei ninguém com o potencial para efetivamente dar início a esta mudança... Até te conhecer! Quando Catalina proferiu as últimas palavras, aproximou-se uma onda poderosa, e a água do mar tocou-lhes os pés. ─ Pelo menos sabemos nitidamente qual o poder que dirige o teu percurso de vida!" Nos dias que se seguiram, Nathan passou um tempo maravilhoso em Vera Cruz com Catalina e as crianças. Quando chegou a altura de regressar, Nathan disse-lhes que queria continuar a explorar o país, e que regressaria à cidade do México dentro de algumas semanas. Nathan seguiu de autocarro para Mérida, onde ficou alguns dias. Daí partiu em exploração das costas de Yucatán e passou muito tempo contemplando o cálido Mar das Caraíbas. 179 Depois, fez uma longa viagem pelo interior. O seu objetivo era chegar ao Grande Oceano. Durante a viagem, as montanhas, os rios, os lagos e a floresta tropical impressionaram Nathan profundamente. Finalmente chegou a San Cristobal. Depois visitou várias aldeias índias nas Chiapas. Para além de toda a beleza natural, interessavam a Nathan as comunidades índias e os seus antepassados. Permanecia em silêncio quando confrontado com as dimensões das ruínas que via e imaginava como deveriam ter sido monumentais os edifícios e as comunidades originais. 180 Silêncio Um uma das aldeias Nathan ouviu os habitantes falarem acerca de um sábio índio que possuiria as "memórias perfeitas". Os aldeões falavam do índio sábio como se ele não fosse apenas uma pessoa. Nathan queria saber mais sobre este homem e procurou descobrir informações relevantes. Foi assim que ouviu que ele era uma pessoa extremamente reservada e que vivia de forma muito frugal. A sua existência externa era-lhe completamente indiferente. Quando Nathan perguntou onde poderia encontrá-lo, disseram-lhe que devia procurar a altitude. Nathan ficou estupefato ao saber o nome que os aldeões davam ao sábio índio. Chamavam-lhe ‘Aquele que sabe’, o mesmo nome que davam ao cigano em Granada. Isto intrigou Nathan ainda mais. Perguntou-se se descobriria mais uma vez conhecimentos importantes. Muito curioso, continuou o seu caminho em direção às aldeias que ficavam a uma maior altitude. Na aldeia seguinte conseguiu mais informações sobre o sábio índio. Alguns aldeãos alegadamente tinham-no conhecido, e diziam que ele irradiava uma autoconfiança inacreditável. Consideravam que, comparados com ele, os homens ricos eram pobres e os cientistas ignorantes. Acrescentaram ainda que o velho índio nunca fazia nada em busca de fama, porque a desprezava. Também não procurava honras, porque não apreciava nenhum tipo de glória humana. O interesse de Nathan crescia a cada passo, e por isso perguntou onde poderia encontrar o índio. Na aldeia, foilhe dito uma vez mais que procurasse a altitude, e perguntar por "Aquele que Sabe". Numa das aldeias mais remotas, muito acima do nível do mar e próxima da fronteira com a Guatemala, Nathan obteve a informação mais importante. Os habitantes desta aldeia alegavam que o sábio índio conseguia controlar as mais poderosas forças do mundo. Quando Nathan lhes disse que tinha feito toda aquela viagem para encontrar o homem, os aldeões responderamlhe que apenas uns poucos haviam tido o privilégio de conhecê-lo. Nathan alugou um quarto na aldeia e solicitou que o seu pedido fosse divulgado. Uns dias mais tarde, de manhã, Nathan foi acordado por uma velha índia, de baixa estatura e pele avermelhada. Ela sorriu-lhe de forma amistosa, mas não proferiu 181 palavra alguma. Nathan preparou o pequeno-almoço e comeram juntos. A mulher índia olhava-o intensamente. De súbito, a mulher começou a falar em espanhol. ─ Dizem por aí que procura ‘Aquele que Sabe’? Nathan surpreendeu-se ao ouvi-la falar, mas mais ainda com a sua pergunta. ─ Sim, é verdade. ─ Vim para conhecer a sua motivação. ─ Ouvi dizer que o sábio índio possui conhecimentos misteriosos. ─ ’Aquele que sabe’ possui de fato conhecimentos profundos, mas estes são mantidos em segredo. ─ E porque ele esconde estes conhecimentos? ─ Os conhecimentos profundos apenas podem ser confiados àqueles cujos percursos de vida se caracterizam pelo equilíbrio e pela pureza. ─ Se este conhecimento é tão importante, não deveria ser dado a conhecer ao mundo? ─ O conhecimento profundo contém informação das leis secretas da natureza, que oferecem determinados poderes. Seria muito perigoso se caíssem em mãos erradas. ─ Como assim, perigoso? ─ Para os que não são suficientemente equilibrados e puros, este conhecimento sem orientação experiente pode libertar um imenso poder e destruí-los. ─ Acha que posso ter o privilégio de alcançar o conhecimento profundo? ─ O conhecimento profundo nunca é confiado como um privilégio. Nathan pensou um pouco e reformulou a questão: ─ Será o meu percurso de vida suficientemente equilibrado e puro para que possa alcançar o conhecimento profundo? A velha índia segurou a mão de Nathan. ─ Se a sua energia motriz o trouxe até aqui hoje, isso significa que está pronto para receber o conhecimento profundo. Voltarei dentro de dois dias para que possa encontrar-se com o sábio índio. A mulher índia deixou Nathan e saiu da aldeia. Tal como dissera, reapareceu dois dias mais tarde. Nathan já tinha preparado as suas coisas. Tomaram o pequeno-almoço juntos e levaram consigo alguma comida. O caminho conduziu-os ainda mais acima pelas montanhas. A paisagem era incrivelmente bela. No percurso, Nathan colocou uma questão que ocupava a sua mente desde a primeira visita da mulher. 182 ─ Se o conhecimento profundo confere certos poderes e se existe o risco de uso abusivo, como é ele protegido? ─ Apenas os sábios da Terra têm acesso ao lar simbólico, através do qual têm acesso ao claro significado deste conhecimento. Deste modo, este conhecimento pode ser acumulado e transmitido em segurança. ─ O que é o lar simbólico? ─ A mais antiga língua da Humanidade, a linguagem dos símbolos. Até hoje, o conhecimento profundo entre os sábios do Mundo é transmitido através desta linguagem. ─ O que devo ter em mente quando falar destes símbolos? ─ É uma coleção de símbolos que remonta aos tempos antigos, quando as palavras e o discurso ainda não existiam. ─ Se o discurso ainda não existia, como pôde este conhecimento ser escrito nas ‘memórias mais perfeitas’? ─ As ‘memórias mais perfeitas’? Perguntou a velha índia, claramente não entendendo de que falava Nathan. ─ Sim, as memórias escritas de que falam os aldeãos. ─ Memórias escritas? O lugar dos símbolos não é na inteligência consciente, mas no subconsciente. Nathan refletiu por uns momentos. A mulher apercebeu-se disso e permaneceu em silêncio. ─ Então o conhecimento da consciência profunda reconhece uma imagem simbólica que permanece no inconsciente? Perguntou Nathan. ─ O ser humano nunca consegue alcançar o conhecimento de o seu próprio ser unicamente através da inteligência. Para consegui-lo, terá sempre de procurar no seu subconsciente. Nathan compreendeu então que não existiam memórias escritas. Era apenas uma ilusão que as pessoas tomavam como verdadeira. O conhecimento profundo era sempre transmitido através de símbolos no subconsciente. Desta forma, também não poderia cair nas mãos erradas. Daqui Nathan depreendeu que por todo o mundo existiriam pessoas que dominavam esta linguagem. Aqueles que conheciam a linguagem do conhecimento profundo eram considerados homens sábios, que tinham um modo de vida diferente e a quem eram confiados determinados poderes... como o cigano da Andaluzia. ─ A senhora também conhece o aspecto destes símbolos? Perguntou Nathan à índia. 183 ─ Eles pertencem ao nosso passado remoto e falam diretamente ao nosso Ser interior. São imagens que surgem espontaneamente em sonhos e visões. Entretanto encontravam-se já a grande altitude, envoltos numa espessa camada de nevoeiro. Pouco tempo depois, este subitamente desapareceu. A mulher índia disse que haviam caminhado através das nuvens e que se encontravam agora no telhado do mundo. Nathan observou as maravilhosas vistas dos cumes das montanhas. À sua frente estava o vulcão Tajamulco da Guatemala. Ao final da manhã chegaram a uma pequena e simples casa de pedra. Entraram e pousaram as suas coisas. A casa estava vazia. A mulher índia preparou pãezinhos e chá quente. ─ É esta a casa do sábio Ancião? Perguntou Nathan. ─ Sim, ele vive aqui. Todas as manhãs trabalha na sua horta. Deve estar quase terminando as suas tarefas diárias, e já não demorará muito. Pouco depois o Ancião apareceu à porta e saudou-os. Era um homem esguio, mas forte. Usava uma boina e um poncho bege sobre os ombros. A mulher índia encheu três xícaras com chá e deu uma ao Ancião, outra a Nathan e ficou com a última. Ela trocou algumas palavras com o homem num dialeto indígena que Nathan não compreendeu. Depois, voltou a falar com Nathan em espanhol. ─ Vamos descansar um pouco e depois iremos para as montanhas. No topo do vulcão terá uma visão acerca das suas capacidades utilizáveis, graças ao fogo do êxtase. ─ O fogo do êxtase? ─ O fogo do êxtase dá forma a tudo o que é projetado pela imaginação. Graças a esta experiência, poderá experienciar conscientemente todos os seus sonhos e visões. ─ Lá em cima receberei a visão expressa em símbolos? ─ Apenas os sábios do mundo conhecem a linguagem do conhecimento profundo. Por isso são capazes de reconhecer as verdadeiras missões de outros. Apenas pela observação da pessoa, podem identificar as tarefas específicas com que vieram à Terra. Agora Nathan entendia que já tinha conhecido outros sábios e sábias do mundo, por exemplo, durante as suas viagens pela Ásia com Simon. ─ O que conseguirei ver? ─ Receberá visões acerca de sua verdadeira missão. ─ Estas visões consistirão em imagens? A mulher índia anuiu. 184 ─ Após a meditação, estas imagens revelar-lhe-ão que poderes devem ser utilizados para desempenhar as suas tarefas específicas. Nathan reparara que, sempre que queria saber mais acerca da natureza da sua verdadeira missão, nunca recebia respostas claras. Poderia o Ancião dizer-lhe mais? ─ Pode perguntar ao Ancião onde ou quando o meu feito excepcional terá lugar? Perguntou à índia. A mulher trocou algumas palavras com o Ancião e voltou a dirigirse a Nathan. ─ O Nathan sempre foi capaz de dispor do conhecimento de que necessitava naquele momento, no momento exato, e pode acreditar que será sempre assim. Mais uma vez, a mulher e o Ancião trocaram algumas palavras. Depois ela olhou para Nathan cheia de admiração. ─ Vou agora enumerar-lhe os princípios básicos, para que possa receber os conhecimentos necessários durante o ritual do fogo do êxtase. ─ O Ancião sabe de que conhecimentos eu necessito exatamente? ─ ‘Aquele que sabe’ reconhece todas as verdadeiras missões! Nathan tirou papel e caneta da mochila. Sentia a mesma feliz excitação que sentira quando da sua iniciação antes de partir para o deserto do Saara. O Ancião falou. A mulher traduziu as suas palavras. ─ O primeiro princípio é saber que existe a energia universal, através da qual todos podemos experienciar a vida. Este conhecimento ensina-nos que devemos amar todas as pessoas e todas as criaturas vivas como se fossem uma parte de nós próprios. Nathan escreveu todas as palavras cuidadosamente. ─ O segundo princípio é saber que em cada pessoa está adormecido um poder mágico, que nos recorda o primeiro princípio. Este poder é a consciência. Para experienciar-lo na sua forma pura, temos de afastar-nos de todas as influências externas e deixar-nos guiar pelas visões do fogo do êxtase. Nathan continuava a escrever tudo. ─ O terceiro princípio é saber que podemos encontrar o conhecimento puro dentro de nós próprios, para podermos libertarnos do único mal do mundo. ─ O único mal do mundo? Perguntou Nathan. ─ O mundo conhece apenas um mal: a ignorância! O Ancião falou de novo. A mulher continuou a traduzir as suas palavras. 185 ─ O Ancião quer saber se tem algumas questões. Nathan refletiu. ─ Pode perguntar-lhe se eu sentirei a energia motriz? Quando ouviu a pergunta, o Ancião fitou Nathan. ─ A energia impulsionadora é onipresente e atravessa todos os tipos de aparências! Estas palavras tornaram tudo claro para Nathan. Prepararam-se para partir. Quando Nathan perguntou para onde se dirigiam, a mulher índia respondeu que atravessariam a fronteira da Guatemala para caminhar no topo do Tajamulco. Era uma subida árdua, e Nathan sentia alternadamente frio e calor. Felizmente tinham trazido alguns cobertores. Enrolaram-nos à volta do corpo quando o vento se intensificou. Nathan estava espantado com o poder e a persistência dos seus dois companheiros. Uma vez chegados, sentaram-se no chão de pernas cruzadas. Pouco depois, o Ancião levantou-se para apanhar lenha, e Nathan e a mulher ajudaram-no. Juntaram toda a lenha numa pilha e quando tinham já recolhido ramos suficientes voltaram a sentar-se. A mulher índia disse-lhe que esperariam pelo pôr-do-sol. Quando chegou gradualmente o crepúsculo, o sábio índio ateou a fogueira, para onde deitou algumas ervas quando as chamas pegaram. Em seguida, sentou-se do lado oposto da fogueira, de frente para Nathan. Devido às chamas, ao aroma especial das ervas e à exaustão física daquele dia, Nathan experimentou uma sensação semelhante à que tivera no Saara. O Ancião dirigiu-se a Nathan, e mais uma vez a mulher traduziu as suas palavras: ─ Sente o silêncio para interiorizares as mensagens ocultas! O vento tornou-se mais forte. As chamas intensificaram-se e o calor era imenso. O aroma das ervas também se tornou mais intenso. Não era difícil para Nathan experienciar o profundo silêncio. Concentrou-se na interiorização das mensagens ocultas. E pouco depois se deu um estranho fenômeno: Nathan viu gotas de água caindo por entre as chamas. Olhou para cima e viu uma enorme cascata. Esta parecia vir de uma altura interminável. Então, começou a cair cada vez mais água, até parecer uma muralha de água. Esta fluía sobre as chamas para depois correr montanha abaixo e assim continuou durante muito tempo. Algum tempo depois, Nathan viu algo ainda mais impressionante. Tinha corrido tanta água que o nível das águas tinha subido acima da montanha. Estranhamente, o fogo continuava a crepitar entre as águas. Mais 186 tarde a cascata foi acalmando até desaparecer completamente. O vento cessara e o silêncio tinha regressado. O Ancião levantou-se e foi sentar-se de frente para Nathan. Colocou as suas mãos a tapar os olhos de Nathan, manteve-as assim durante uns momentos e depois as retirou. Nathan parecia ter acabado de despertar. Não se via água em parte nenhuma. O fogo continuava aceso, como se esperava que estivesse. Tudo voltara ao normal. O Ancião disse à mulher: ─ O fogo do êxtase enviou-lhe uma mensagem extraordinariamente forte! Nathan precisou recuperar-se e mal conseguia falar. A índia trouxe-lhe um cobertor. Ajudou Nathan a deitar-se para que pudesse dormir e disse apenas: ─ Guarda silêncio durante algum tempo. Na manhã seguinte, Nathan foi acordado pela mulher. O Ancião já lá não estava. ─ Quando estiveres totalmente desperto, comeremos qualquer coisa e regressaremos à aldeia. Comeram em silêncio e partiram. Nathan não proferira qualquer palavra desde a sua visão. No caminho de regresso, a índia foi a primeira a falar. ─ Ao que parece, o que viu ontem surtiu um forte impacto em si! ─ Também o viu? ─ Eu apenas experienciei o silêncio, mas sei que o fogo da fogueira ligou-lhe ao seu poder criativo. ─ O que vi é indescritível. Primeiro experimentei um profundo silêncio, e depois aconteceu. ─ É sempre através do silêncio que os poderes criativos trazem as mensagens. ─ Foi verdadeiramente fantástico! ─ A partir de agora, em tudo o que criar lembrar-se-á do seu poder criativo. Depois de uma longa viagem, Nathan e a mulher índia chegaram à aldeia de onde tinham partido. Na manhã seguinte, a índia despediu-se de Nathan, e quando ele agradeceu, ela respondeu-lhe com estas palavras: ─ Eu é que lhe agradeço! Contribuiu para a minha verdadeira missão. ─ Qual é a sua missão? ─ Vim ao mundo com o desejo de fortalecer o poder de imaginação dos Excepcionais. 187 Estas palavras revelaram a Nathan que a mulher, tal como Sarah, era um anjo. ─ Obrigado. Sei agora que a imaginação é mais importante que o conhecimento! Abraçaram-se e desejaram-se mutuamente muita sorte. No dia seguinte Nathan continuou a sua viagem. Deixou Chiapas e continuou para o estado de Oaxaca. Aí chegou finalmente a Puerto Angel, um lugar sossegado perto do Grande Oceano. A atmosfera do local causou tal impressão em Nathan que ele decidiu ficar por ali. Alojou-se num parque de campismo entre acolhedoras casas de campo, em pleno monte. Dalí tinha uma vista fenomenal sobre o mar. Inspirando-se na rebentação impressionante do oceano, Nathan passava algum tempo ao nascer e ao pôr-do-sol a meditar sobre as suas recentes experiências. Durante os dias em que ficou em Puerto Angel, organizou os seus pensamentos e muitas coisas se tornaram claras para ele. As ondas poderosas lembravam a Nathan o fogo do êxtase. As chamas luminosas haviam produzido nele um impacto indescritível. Eram o símbolo do poder da natureza e revelavam aquilo de que somos capazes quando nos deixamos estimular pela energia motriz. Nathan chegou a duas importantes conclusões. A primeira era que todas as grandes mudanças algumas vez criadas pelas pessoas tinham sido sempre precedidas de sonhos e visões. A segunda era que todos os grandes feitos alguma vez levados a cabo tinham sido sempre criados por pessoas. A partir de então, Nathan manteria um sentimento permanente de confiança. Estava plenamente convencido de que nos momentos necessários conseguiria a informação de que precisava para completar com sucesso a sua missão superior. Isso proporcionava a Nathan um sentimento libertador e uma confiança incondicional. Ele sabia que a sua força criativa o acompanharia sempre para que viesse a fazer as escolhas certas. Agora podia admirar tudo o que o rodeava sem qualquer sensação de pressão ou desejo. Isso não lhe exigia qualquer esforço, o que era novidade para ele. Dera um importante passo para o seu desenvolvimento pessoal. Um dia, Nathan viu um grupo de surfistas na praia. Isto por si só não era estranho, mas as praias estavam geralmente desertas durante a hora da siesta por causa do sol forte. À exceção dos surfistas, não se via mais ninguém na praia. Por isso, Nathan suspeitou que fossem turistas. O tom pálido da sua pele também indicava que provavelmente não seriam mexicanos. Desde tenra 188 idade que Nathan se habituara a dormir a sua siesta diária sempre que tinha oportunidade. Esse dia não era exceção. Levou a sua esteira de palha e deitou-se à sombra de uma fileira de árvores ao longo da praia. Gradualmente, caiu no sono enquanto observava os surfistas. Acordou subitamente quando mal tinha adormecido. Tinha tido um sonho bizarro. Levantou-se e tentou recordar o sonho. Tinha visto a si próprio nadando debaixo de água, e acima dele dois objetos boiavam. Continuara a nadar sem prestar atenção. De súbito vira um jovem, aparentemente inconsciente, afundando num abismo. Nathan lembrava-se de, no seu sonho, ter feito várias tentativas para nadar na sua direção, mas estranhamente não conseguia, por mais que se esforçasse por aproximar-se do jovem. Os seus sentimentos durante o sonho tinham sido tão intensos que o tinham despertado. Agora fixava o espaço à sua frente e tentava entender que significado poderia ter o sonho. Enquanto Nathan observava o mar, voltou a ver os surfistas. Estavam deitados sobre as pranchas, aguardando uma nova onda. Nathan relacionou isto com o seu sonho. Talvez o jovem com que sonhara fosse um dos surfistas. O seu olhar não mais se afastou do grupo. Levantou-se e caminhou em direção ao mar, perguntando-se se a relação que entrevia não seria demasiado rebuscada. Uma vez junto da água, decidiu nadar próximo dos surfistas. Surgia-lhe todo o tipo de questões. Teria sido não um sonho, mas uma visão? Seria agora capaz de receber mensagens com tal clareza? Isso implicaria que podia ver os acontecimentos ainda antes de ocorrerem. Poderia influenciar esses acontecimentos? Um pensamento acalmou-o: o tempo trar-lhe-ia seguramente a resposta. Nathan permaneceu na água, a pouca distância dos surfistas. Pelo sotaque, podia perceber que os jovens eram norte-americanos. Viu as acrobacias que faziam e ficou inquieto. Perguntava-se se eles estariam cientes do poder do mar. Nathan apenas relaxou quando o grupo regressou à praia. Mais uma vez, sentiu-se inundado por interrogações. Teria a sua reação sido exagerada? Qual era a melhor coisa a fazer agora? Confiou na sua intuição, que lhe dizia que não tinha sido só um sonho, mas a sensação de dúvida não o abandonava. Nathan decidiu ir conhecer os surfistas. Assim poderia avisá-los sutilmente dos possíveis perigos. Aproximou-se deles e apresentou-se. As quatro moças e os três rapazes eram da Califórnia. Foram muito amistosos e convidaram Nathan para sentar-se junto deles. Um livro pousado sobre uma toalha de praia chamou a atenção de Nathan assim que este se sentou. O livro, de capa dura, parecia ser 189 literatura de investigação. Nathan leu a citação na capa: "Estamos aqui para descobrir que somos parte do universo e que o universo está em nós." Nathan pensou que era um texto notável e perguntou a quem pertencia o livro. Deborah disse que era seu e que falava sobre as nossas interpretações dos fenômenos naturais estranhos. ─ Que aspectos da natureza são exatamente esses fenômenos naturais estranhos? ─ Esta pesquisa ilustra a ligação próxima entre a nossa inteligência e a espiritualidade interior. Nathan não podia ter pensado em melhor assunto e começou a conversar com Deborah, Nigel e Jennifer. Desta forma, veio a saber que Deborah e Nigel estudavam em São Francisco e que Jennifer estava frequentando um curso na academia de arte. Deborah e Nigel acrescentaram de imediato que Jennifer era muito talentosa. Disseram que ela tirava fotografias belíssimas e que já participara em várias exposições de sucesso. Entretanto, os outros quatro membros do grupo, John, Seth, Carole e Susan, decidiram ir dar um passeio. Deborah, Jennifer e Nigel continuaram a conversa, discutindo com Nathan alguns aspectos da ciência do misticismo. Para Nathan foi uma conversa muito instrutiva. Naturalmente, ele já ouvira falar dos elementos que estavam sendo discutidos, mas agora eles eram-lhe explicados de forma detalhada. Nathan perguntou-se se não seria demasiado acadêmico aprender acerca deste conhecimento misterioso numa perspectiva científica. Os comentários e argumentos que ouviu pareceram-lhe muito teóricos. Também se perguntou até que ponto os seus colegas de conversa percebiam do que estavam realmente falando e se conseguiam distinguir entre as forças místicas reais e as histórias ficcionais e romantizadas. Quando Nathan fez um comentário acerca disto, Nigel respondeu que eles estudavam com um professor que gostava de dar exemplos práticos. Deborah acrescentou que o professor também se preocupava com a questão que Nathan levantara e que, por esse motivo, preferia uma abordagem menos acadêmica, sendo que as suas aulas consistiam essencialmente em exemplos concretos. Nathan ficou curioso. Queria saber mais, mas exatamente quando se preparava para fazer perguntas acerca disto, os outros amigos regressaram. Carol e Susan deitaram-se, enquanto John e Seth pegaram imediatamente nas suas pranchas de surf e foram à procura de ondas grandes. Nathan observou-os e lembrou-se por 190 que motivo se aproximara do grupo. Sentiu que tinha que fazer qualquer coisa. ─ Vêm aqui surfar frequentemente? Perguntou a todo o grupo. ─ É a primeira vez que estamos em Puerto Angel, disse Nigel. ─ São surfistas experientes? ─ Todos temos alguns anos de experiência, respondeu Carole. ─ Porque perguntas isso? Interrogou Deborah. Nathan não respondeu e levantou-se. Olhou para o mar e disse muito seriamente: ─ Porque o mar está cheio de segredos! Depois de Nathan proferir estas palavras, instalou-se um estranho silêncio. Ninguém reagiu, como se cada um deles também pressentisse agora qualquer coisa. O silêncio não durou muito, mas por causa dele Nathan ficou ainda mais atento à possível realidade da sua visão. Continuou a observar John e Seth. Eles estavam claramente divertindo, e faziam todo o tipo de habilidades num mar cada ver mais bravo. Sem os perder de vista, caminhou lentamente até a beira-mar. Quando a água tocou os seus pés, o vento levantou-se subitamente e Nathan foi invadido por uma estranha sensação que o deixou totalmente alerta. Não conseguia explicar a origem dessa sensação, mas foi como se o vento o forçasse a entrar na água. Nathan avançou cada vez mais mar adentro sem dizer uma palavra aos outros e nadou em direção aos dois rapazes. O vento soprava com mais força e as ondas tornaramse altíssimas, o que preocupou Nathan ainda mais. Quando finalmente conseguiu aproximar-se deles, Nathan só conseguia ver John. Perguntou-lhe onde estava Seth, o que fez com que John olhasse em volta espantado, fazendo depois sinal que não sabia. Naquele momento, John e Nathan viram a prancha de Seth, mas não conseguiam encontrá-lo em parte nenhuma. O que Nathan sentira ao entrar na água atingia-o agora com uma força brutal. Sem hesitar nem um momento, mergulhou para procurar Seth. Demorou algum tempo para encontrá-lo e Seth já estava inconsciente. A sua cabeça pendia para trás e tinha a boca aberta. A imagem era idêntica à que Nathan vira no sonho. A única diferença era que agora conseguia aproximar-se. Nadou rapidamente em direção a Seth e puxou-o para a superfície tão depressa quanto pôde. Enquanto subia, Nathan reconheceu outra imagem do seu sonho: o objeto que boiava acima dele era uma prancha de surf, a prancha de Seth. Mesmo ao lado estava a prancha de John. Este estava deitado sobre ela, tentando encontrar 191 Seth ou Nathan. Nathan emergiu entre as duas pranchas. John sentiu-se aliviado quando os viu, mas entrou em pânico ao perceber que Seth estava inconsciente. Nathan pediu-lhe que o ajudasse a içar Seth para cima da prancha, para que pudessem puxá-lo para a praia. Da praia, os outros tinham assistido a tudo. Eles próprios tinham nadado bastante mar adentro. Agora nadavam através das ondas altas para chegarem até eles. Seth foi levado para a praia e deitado na areia. Susan tentou reanimá-lo de imediato. Todos se tinham ajoelhado em volta de Seth, receando o pior. Nathan segurou-lhe a cabeça, mas Seth não dava sinais de qualquer movimento. O vento continuava a soprar forte, e fazia voar a areia. Foram momentos angustiantes. De súbito, Seth tossiu, expelindo a água dos pulmões, e depois tossiu violentamente. Estava salvo. Todos suspiraram de alívio e curiosamente o vento amainou aos poucos. Nathan deitouse, exausto, mantendo o olhar no céu. Tudo acontecera rapidamente, e agora precisava de tempo para recuperar o fôlego e reconstituir tudo o que acontecera. Não teve muito tempo, porque todos se aproximaram para lhe agradecer efusivamente. O que todos queriam saber era a razão pela qual Nathan entrara na água naquele preciso momento. Também a súbita ventania foi discutida. Uns falavam de coincidência, outros viam-no como um milagre. Quem definitivamente não achava que tivesse sido coincidência era Deborah. Esta esperou que Nathan estivesse sozinho e sentouse ao seu lado. Olhou para ele e deu-lhe um beijo na testa, agradecendo-lhe o que tinha feito. Falou calmamente enquanto fitava o mar: ─ Sei que não te levantaste apenas para entrar na água! Nathan virou a cabeça e olhou para Deborah sem dizer uma palavra. Deborah continuava a olhar o mar e a murmurar: ─ Também sei que não te sentaste conosco por acaso! Depois de um momento de silêncio, Nathan reagiu. ─ Pareces saber muitas coisas! Naquele momento chegou Seth e ajoelhou-se na areia junto de Nathan. ─ Graças a você ainda estou vivo. Obrigado, disse-lhe. Nathan e Seth abraçaram-se. ─ O fato de estares vivo significa que a tua hora ainda não chegou, respondeu Nathan. Entretanto, o resto do grupo sentara-se junto deles. ─ Sim, mas foste tu quem me salvaste, continuou Seth. 192 ─ Fizemo-lo todos juntos, retorquiu Nathan. ─ Não sei como posso agradecer-te, disse Seth. ─ Talvez eu possa resolver isso... Respondeu. Todos estavam curiosos acerca do que Nathan falaria. ─ A partir de agora, deves estar disposto a preocupar-te frequentemente com o bem-estar de cada um dos teus amigos aqui presentes, para o resto da tua vida, e a ajudá-los em tempo de necessidade. ─ Parece-me uma proposta maravilhosa, disse Carole. ─ Também acho, concordou Seth, levantando-se. ─ Prometo solenemente que podem contar comigo de forma incondicional! Hoje, amanhã, e para todo o sempre! O grupo agradeceu-lhe, e reagiu ironicamente dizendo que agora estavam condenados a ouvir Seth lastimar-se durante o resto das suas vidas. Aparentemente, Seth tinha a reputação de rabugento. A atmosfera alegre estava de volta. Depois destes acontecimentos, todos encontraram uma forma de descontrair. Decidiram organizar um churrasco naquela noite. Naturalmente, Nathan não podia faltar. O grupo estava hospedado numa casa de férias a caminho de Puerto Escondido, uma cidade mais a sul. Deborah sugeriu que fossem buscar Nathan mais tarde. Este regressou ao seu bangalô, tomou uma ducha e descansou um pouco. À noite, Deborah chegou sozinha. Nathan abriu-lhe a porta e acabou de se arranjar na casa de banho. Deborah sentou-se na pequena sala de estar. ─ Conseguiste descansar alguma coisa? Perguntou ela. ─ Sim, obrigado, e tu? Respondeu Nathan. ─ Eu... estive a pensar em tudo o que aconteceu hoje. Nathan sentiu que as suas suspeitas se confirmavam. Deborah era extremamente curiosa e não tinha apenas vindo buscá-lo. Queria mais explicações. ─ O que queres saber? Perguntou Nathan. ─ Como é que sabias? Instalou-se um curto silêncio. ─ Pressenti-o, respondeu Nathan. ─ Quando é que o pressentiste? Perguntou ela ─ Quando o vento se tornou mais forte? Quando Seth e John entraram na água? Quando decidiste vir conhecer-nos? Quando vieste nadar para junto de nós? Ou... ─... ou antes? Interrompeu Nathan. Saiu da casa de banho e sentou-se ao lado de Deborah. ─ Nathan, é muito importante para mim sabê-lo, disse Deborah. 193 ─ Por quê? Perguntou Nathan. ─ Desde criança que sei que existe um mundo misterioso que apenas muito poucos conseguem ver. ─ Um mundo misterioso? ─ Sim, o mundo oculto, como lhe chamam! ─ Deborah, não vieste ao mundo para entrar em contato com um mundo misterioso, mas para encontrares o teu Ser superior! Deborah sabia que as respostas não chegariam facilmente. Pensou um pouco. ─ Como posso tornar-me meu Ser superior? ─ Olhando, ouvindo e sentindo de forma diferente, disse Nathan, Desta forma, a verdade que procuras revelar-se-á por si sós. ─ E como posso saber quem estará dizendo a verdade? ─ Não procures aqueles que dizem que encontraram a verdade, aprende antes com aqueles que a procuram. ─ Nathan, podes achar estranho, mas eu sei quando conheço pessoas especiais. Sei que tenho um sentido especial para isso e… Deborah perscrutou-o com o olhar. ─... eu sei que tu és especial, nunca conheci ninguém tão especial. Nathan manteve-se em silêncio para pensar e decidiu então contar a Deborah a visão que tivera antes de se aproximar deles. Deborah estava muito impressionada e perguntou a Nathan se já anteriormente tivera outros sonhos premonitórios. Nathan também lhe contou a sua experiência com o sábio índio. Agora Deborah estava verdadeiramente intrigada. Nathan teve cuidado para não aludir à sua excepcionalidade, para que ela não se sentisse demasiado dominada ─ Será que estes acontecimentos têm um propósito maior? Perguntou ela. ─ Tudo tem um propósito maior, respondeu Nathan. Depois desta conversa, Nathan e Deborah foram juntar-se aos outros, que os esperavam. Foi uma bela festa e toda a gente se divertiu até as primeiras horas da madrugada. No dia seguinte o grupo partiria. As férias tinham terminado. Prepararam-se para o regresso a casa, despediram-se de Nathan e fizeram-no prometer que manteria o contato. Nathan ficou em Puerto Angel por mais dois dias e depois decidiu voltar para junto de Catalina, na Cidade do México. 194 Imaginação Quando Nathan chegou a "Sentimienta" viu Catalina acompanhando um grupo de bailarinos estrangeiros, rendidos por completo à dança. Ela enfatizava a importância das formas naturais de movimento, mas, acima de tudo, o prazer que se retira como o ponto central. Quando viu Nathan fez um intervalo. ─ Como foi a tua viagem? Perguntou. ─ Lindíssima e extremamente instrutiva, respondeu Nathan. ─ E por onde andaste? ─ Depois de explorar a costa de Yucatan, desci para estados mais a sul. Entre outras coisas, descobri uma natureza maravilhosa e lugares muito especiais. Estive até na Guatemala, no Tajamulco. Aí tive uma experiência muito radical. Catalina morria de curiosidade. Pediu imediatamente a um dos seus bailarinos para substituí-la, refrescou-se e levou Nathan para a cidade. ─ Conta-me a tua experiência radical. ─ Nas montanhas mais altas conheci um índio sábio. ─ O sábio índio que possui o conhecimento profundo? ─ Conhece-o? ─ Já ouvi falar dele, mas nunca o conheci pessoalmente. ─ Conheceste algum outro sábio na Terra? ─ Aconteceu-me duas vezes, sempre nos Andes. O meu primeiro encontro aconteceu no Chile. ─ Então gostaria de conhecer primeiro a tua experiência. ─ Naquele tempo eu estudava em Santiago e durante os tempos livres ia com amigos para as montanhas. Um dia, chegamos a uma aldeia solitária, que ficava a grande altitude. Lembro-me que dali conseguíamos ver o Monte Aconcágua da Argentina. ─ E depois? ─ Lá estava ele, completamente sozinho. Lembro-me que todo o grupo o achou muito bizarro. Afinal, era estranho encontrar ali um velho, de cabelos brancos e olhos azuis. Não tinha traços chilenos, e falava espanhol com um sotaque estranho. ─ E então o que aconteceu? 195 ─ Quando reparou em mim, chamou-me e disse-me que teria que voltar ali sozinha, porque ele tinha uma importante informação a transmitir-me. ─ Voltaste? ─ Não imediatamente, tinha algum receio, mas tive um sonho que me fez mudar de ideia. Voltei lá sozinha duas semanas mais tarde e passei um dia com ele. Tinha de fato uma informação muito importante para mim: foi o primeiro a mencionar a minha excepcionalidade. ─ Onde encontraste um sábio pela segunda vez? ─ No Equador, durante a minha travessia pela América do Sul. Estava com uma amiga em Esmeraldas, uma cidade costeira no norte do Equador. As pessoas falavam de uma mulher sábia que vivia no Chimborazo, a mais alta montanha do país. ─ Foste lá com a tua amiga? ─ Estas histórias intrigavam-me. Quando decidi procurar aquela mulher, a minha amiga insistiu em acompanhar-me. Desde muito jovem que ela era apaixonada pelas histórias concernentes àquela mulher e queria saber se ela era uma pessoa real ou apenas um mito. ─ Talvez a sua tarefa fosse levar-te até ela. ─ Também me ocorreu esse pensamento. Fomos lá juntas e eu ainda recordo como foi difícil chegar até ela. Não sei se teria conseguido, se tivesse ido sozinha. ─ Então a mulher existia mesmo! ─ Acabamos por encontrá-la e, até hoje, esse encontro continua a ser o mais radical de todos os que jamais tive. ─ O que é que teve de tão radical? ─ Enquanto a escutava, era como se escutasse o próprio conhecimento verdadeiro. Obtive respostas para todas as perguntas que brotavam do meu Ser mais profundo. Por vezes as suas afirmações pareciam inacreditáveis, mas então ela disse que eu acreditava mais na ilusão do conhecimento verdadeiro que no próprio conhecimento verdadeiro. ─ Podes dar-me um exemplo? ─ Por exemplo, ela agradeceu-me por ter ido visitá-la ao mais alto lugar do mundo. Quando chamei a atenção para o fato de que os cumes mais altos do mundo ficavam nas montanhas dos Himalaia e não nas de Chimborazo, ela respondeu "Tens que olhar sempre para as coisas através da sua essência." ─ O que queria dizer com isso? 196 ─ Só o compreendi mais tarde. O Monte Everest é considerado a montanha mais alta do mundo porque as montanhas são medidas através do nível do mar. Devido à sua localização, o Chimborazo, medido a partir do centro da Terra, é realmente a montanha mais alta do mundo. No entanto, não foi a isso que atribuí maior importância, mas ao significado mais profundo da sua mensagem. Nathan apercebia-se cada vez mais da distribuição dos sábios pela Terra. ─ Vais dizer-me agora o que aprendeste com o Ancião? ─ Ele ensinou-me a entrar em contato com o conhecimento profundo que provém do silêncio! Nathan descreveu a sua visão do fogo do êxtase até ao mais ínfimo pormenor. ─ Tiveste uma visão da tua missão suprema! Catalina agarrou Nathan e ficou imóvel. ─ Sabes o que isto significa? Nathan olhou para Catalina, curioso para saber o que ela diria. ─ Significa que agora estás diretamente ligado ao teu poder criativo. ─ O que queres dizer? ─ Sabes que os nossos poderes criativos nos enviaram a ambos ao mundo para transformar os seus desejos em ações. ─ Sim, e isso explica a nossa excepcionalidade. ─ Para podermos cumprir esses desejos, tivemos de passar por um processo de aprendizagem e de nos ligarmos ao nosso íntimo. ─ E foi isso que aconteceu agora? Catalina anuiu. Nathan refletiu por uns momentos. ─ Agora percebo o que me aconteceu depois, disse Nathan. ─ O que foi que aconteceu depois? Perguntou Catalina com curiosidade. Nathan descreveu o que acontecera em Puerto Angel. Catalina escutou atentamente. ─ Foi uma lição importante para que compreendesses que podes tornar reais todas as inspirações puras, confidenciou Catalina. ─ O que é a inspiração pura? ─ Uma torrente espontânea de inspiração. As inspirações puras são sempre sentidas a partir da imaginação e motivadas pelo poder da intuição. ─ O poder da intuição que me guiou para o que fiz em Puerto Angel? 197 ─ Sim. A tua intuição foi conduzida pela curiosidade, a confiança e a inspiração. Como as minhas melodias e coreografias sempre me chegam através da intuição. Nathan e Catalina olharam-se. Sentiam-se iguais e ligados pela sua excepcionalidade. Agora Nathan era capaz de reconhecer os sentimentos que constituíam a base de todas as formas de criatividade e reparou na semelhança entre a criatividade e a cura de que Songo falava. Percebeu que tudo se relacionava com um processo de afluxo espontâneo de energia motriz, que criava uma força de vontade inesgotável. Um dia, quando Nathan e Catalina chegaram a "Sentimienta" depois de irem ao mercado, a empregada disse-lhes que uma mulher chamada Deborah tinha telefonado de São Francisco. Queria falar com Nathan e pedira que ele lhe ligasse de volta. Quando Nathan telefonou a Deborah, esta disselhe que tinha falado com o seu professor sobre os acontecimentos de Puerto Angel e que o professor estava muito interessado em conhecê-lo. Se ele assim o desejasse, o professor poderia recebê-lo como convidado. Nathan respondeu que pensaria no assunto e que voltaria a ligar-lhe. Contou então a Catalina a proposta que lhe tinha sido feita, e ela respondeu-lhe que tinha muita pena que tivessem que se despedir, mas que sabia que, para chegar onde queria, ele tinha primeiro que partir. Nathan decidiu aceitar o convite e agradeceu a Catalina. Voaria primeiro para Miami, onde passaria dois dias com Simon. No aeroporto, despediu-se de Catalina, Manuel e Lisa, e agradeceu-lhes o tempo precioso que havia vivido no México. ─ Obrigado por tudo, sentirei a sua falta. ─ O sentimento é mútuo, mas sentimo-nos felizes porque agora estás preparado. O comentário de Catalina surpreendeu Nathan. ─ Sonhei com o dia em que os nossos caminhos tomariam rumos diferentes. Em breve terá lugar o grande início da tua tarefa. ─ Que mais sabes? ─ Sonhei com o Guia latente em ti, que começa a despertar. ─ Referes-te ao nosso guia interior, escondido em cada um de nós? Catalina tocou com a sua mão nos lábios de Nathan. Não podia dizer mais nada, pelo que ele não devia fazer mais perguntas. Nathan abraçou Manuel e, por sinais, disse-lhe para tomar conta de Lisa. Depois segurou Lisa e pediu-lhe que tomasse conta de Manuel. Por fim, abraçou fortemente Catalina e despediram-se. 198 Nathan voava agora em direção à Florida. Era a primeira vez que visitava os Estados Unidos, mas os seus pensamentos eram essencialmente ocupados pelas últimas palavras de Catalina. Depois de um vôo rápido chegou a Miami. Simon e a sua mulher esperavam-no. Foi um encontro feliz. Simon estava com bom aspecto; o sol fazia-lhe bem. Nos dias que se seguiram, Simon e Nathan deram alguns belos passeios. Nathan estava impressionado com Miami. O grande número de pessoas originárias da América do Sul alegrava a atmosfera. O que mais marcou Nathan foi a sua visita a Key Biscayne. Foi nessa praia que contou a Simon as experiências que tivera desde a sua partida de Paris. Simon achou extraordinárias as aventuras de Nathan, mas não ficou surpreendido. Disse apenas que ele agora poderia compreender melhor o significado dos estranhos acontecimentos do passado. Disse também a Nathan que muito do conhecimento que já reunira lhe seria confiado de novo, mas desta vez com maior profundidade, porque ele estava mais equipado para reconhecer a sabedoria do mundo. Dois dias mais tarde, Nathan deixou Miami para seguir para o seu próximo destino. Deborah e Nigel esperavam-no em São Francisco. 199 200 -7Equilíbrio Perfeito 201 202 Discurso A Primavera acabara de começar quando Nathan chegou em São Francisco. Foi um agradável encontro com Nigel e Deborah. Nigel sugeriu que Nathan ficasse com ele no dormitório em Berkeley. Nathan estabeleceu-se e foi apresentado aos colegas de quarto de Nigel. À tarde, Deborah e Jennifer o levaram para explorar São Francisco. Devido às ruas estreitas e montanhosas, a cidade deixou uma impressão europeia. A cidade costeira era acolhedora. Nathan foi favoravelmente surpreendido pela diversidade multicultural de seus habitantes. Deborah disse a Nathan que em dois dias ele estaria conhecendo o professor de uma de suas palestras. Nathan perguntou sobre o que a palestra se tratava: ─ Sobre a influência da tecnologia moderna no humor humano, respondeu Deborah. Deborah também disse a ele algo que ela não dissera mais cedo, ela mencionou que o professor foi seu padrasto. Ela também disse que seu nome era Vadim e que ele é oriundo de São Petersburgo, Rússia. Por anos Vadim estiverapalestrado em sua cidade natal e se mudou de volta para os Estados Unidos há alguns anos. Ele havia conhecido a mãe de Deborah em São Francisco. Nathan encontrou Vadim na segunda-feira. O professor era um homem grande e forte, com cabelos grisalhos e uma barba cheia. Ele tinha olhos azuis-claros e uma contemplação muito penetrante. Vadim deu as boas-vindas a Nathan e agradeceu por aceitar o seu convite. O homem deixou uma impressão amigável nele e disse a Nathan que ele falaria com ele após a palestra. Era uma palestra fixa, baseada em exemplos concretos das mudanças de longoalcance que vemos hoje como um resultado do progresso tecnológico e como podemos aprender a lidar com elas. Muitas afirmações citadas fizeram Nathan pensar sobre outras afirmações que ele havia ouvido previamente. Dessa forma,Nathan relembrou as palavras de seu pai, com relação ao enorme respeito por todo o mundo, quando Vadim declarou que o cosmos não é uma pletora de partes separadas, porém mais uma engrenagem na qual todas as partes são interdependentes. Nathan lembrou também das palavras de Songo, quando Vadim falou sobre a maneira que a tecnologia demanda o interesse das pessoas e as mantém distraídas de suas 203 necessidades reais. Ouvindo atentamente á palestra, Nathan concluiu que Vadim foi convencido da existência de um poder maior. De acordo com Vadim, esse poder não poderia ser explicado pela ciência moderna. Ele classificou esse poder de "a unidade perfeita". Nathan sabia que propor uma convicção em relação à existência de um poder maior, era uma declaração que não é utilizada no âmbito científico. Quando a palestra terminou e a maioria das pessoas presentes haviam deixado a sala, o professor se aproximou de Nathan. Ele perguntou se Nathan havia gostado da palestra. Nathan replicou que ela foi muito educacional, especialmente porque foi esclarecedora, com muitos exemplos claros. Quando Vadim perguntou se Nathan ainda tinha perguntas, Nathan usou a oportunidade para perguntar qual é a motivação de Vadim para dar palestras por todo o país. ─ O que motiva você a dar as palestras? ─ Graças a essas palestras eu projeto minha visão para um grupo alvo, de acordo com o aumento no interesse. ─ No que a sua visão se difere da maior parte dos outros cientistas? Vadim puxou uma cadeira para Nathan e o convidou asentar. Então ele pegou uma para si. ─ Muitos se dedicam à capacidadede dividir e definir tudo, e usando esse método eles esperam explicar tudo. Outros, dentre os quais eu estou incluso, veem suas admirações para a mais alta ordem no universo aumentar como se eles acumulassem mais conhecimento. ─ O que você admira nessa ordem elevada? ─ A unidade perfeita, Nathan. A unidade perfeita entre tudo e como tudo se mistura continuamente com tudo mais! ─ O que diz àqueles que pensam que não há ordem ou consistência no universo, mas que tudo não é nada mais que um grande caos? ─ Eu os convido a olhar atentamente as mudanças sazonais ou as fases da lua, que por si sós os fariam reconhecer a eterna regularidade no universo. ─ Cada um está familiarizado com esse fenômeno, mas para muitos isso ainda não parece ser suficiente, pra reconhecer união perfeita nisso. ─ Isso é definitivamente verdadeiro para quem apenas aceita a razão como a origem do conhecimento. ─ Muitos cientistas não fazem isso? ─ Muitos cientistas, mas também muitos outros, não sabem que a razão por si só não pode nunca explicar a base do universo para 204 nós. Eles se baseiam em evidências matemáticas e então podem simplesmenteaceitar o conhecimento que substancia suas lógicas. Devido a essa conversa, Nathan entendeu melhor porque muitos cientistas não tinham nenhuma visão no geral. Eles aprenderam somentea aceitar a existência daquelas coisas que estão no mundo físico. Enquanto isso, outras pessoas presentes também vieram para trocar uma palavra com o professor. Desde as pequenas conversas entre eles, Nathan observou que não era fácil para Vadim convencer os outros acerca do meio científico de suas teorias. Nathan entendeu que Vadim era um professor pouco comum. Ele era provavelmente um dos raros cientistas que sabiam que isso era necessário para se desviar do caminho da lógica geral do mundo físico para descobrir as respostas da vida. Quando Vadim terminou de falar, ele convidou Nathan para comer algo. Nathan pensou que isso seria uma boa ideia. Ele já foi convencido que fez a escolha correta em viajar para São Francisco. Juntos eles dirigiram para um dos aconchegantes restaurantes no distrito de Mission. Quando eles finalmente sentaram e a comida foi servida, Vadim pintou para ele um retrato dessa cidade pela qual ele se apaixonou. Depois de São Petersburgo, a qual ele considera sua cidade natal, ele se tornou familiar a muitas cidades, mas foi São Francisco que roubou seu coração. Vadim disse a ele orgulhosamente que São Francisco era uma cidade-porto, a qual tinha atraído pessoas de várias culturas por todos os séculos. Esta é uma cidade com um charme impregnado, sempre correndo em seu próprio curso, mas também uma cidade onde artistas de todos os tipos podem encontrar seguidores e onde movimentos pela liberdade de expressão podem florescer. Vadim também disse a ele que a maior parte do charme veio da diversidade de seus distritos. Alguns distritos tinham propriedades vitorianas maravilhosas; outros nas montanhas tinham uma vista impressionante da baía. Por causa da grande quantidade de montanhas, cada distrito pareceu ser uma pequena cidade própria com suas próprias características. Depois do jantar, eles novamente discutiram o assunto que eles começaram depois da palestra. ─ Você falou sobre todos os que se baseiam apenas em evidências matemáticas e então apenas aceitam conhecimento que substancia suas lógicas. Como você pode descrever o conhecimento que não verifica suas lógicas? 205 ─ Tudo o que não está contido no mundo físico.─ Como os cientistas se aproximam do que não pode ser vivenciado pelo mundo físico? ─ Muitos cientistas dizem que se algo existe, ele deve existir emcerta quantidade e é então mensurável. O problema é quando umdelesé confrontado comofenômeno, o qual não é mensurável. Fenômenos de que ninguém tem duvida da existência, mas ainda podem não existir no mundo da limitada ciência. Nathan reparou que Vadim ficou conscientemente incerto sobre o fenômeno, o qual não tomou lugar no então mundo físico. Ele falou sobre eles sem nomeação concreta. Nathan poderia adivinhar o que ele quis dizer com isso, mas ele assumiu que Vadim tinha razões para não os mencionar ainda. ─ Como podemos entender esse fenômeno melhor? ─ Nós não temos que consultar nossa lógica racional. Cada pessoa na Terra é capaz de vivenciar isso e então também o entender! ─ Podem algumas coisas apenas serem entendidas por serem sentidas? Vadim disse que sim, depoisdisso houve um pequeno silêncio. ─ A ciência não tem que assegurar certa estabilidade de pensamento? ─ Nada é estável, Nathan. O que está sendo vivenciado como estável é baseado no que nós aceitamos como uma explicação, para ser capaz de tratar com o inexplicável. Nathan ligou isso com o que o seu pai havia explicado a ele com relação à segurança que muitos de nós estamos tentando encontrar. ─ Se as coisas não podem ser estáveis, isso significa que elas apenas parecem ser estáveis? ─ Realmente o que parece ser estável é uma forma de energia a qual influencia nossa consciência de tal maneira que parece estar parado, um pouco como a Terra parece estar parada para nós. Enquanto isso entardecia. Por causa dessa conversa, Nathan estava ainda mais convencido que ele tinha encontrado uma pessoa inteligente e intrigante em Vadim. ─ Sua visão sobre as questões e a maneira pela qual você as explica é nova para mim e muito interessante.─ Seu conhecimento me interessa muito. Eu estou convencido de que seremos de grande significância um para o outro. Nos dias que se seguiram, Nathan, junto com Deborah e Nigel, estava presente frequentementenas palestras de Vadim. Durante as aulas, Vadim radiava entusiasmo, humor e otimismo. Como professor ele naturalmente tinha o 206 respeito de seus alunos, mas a hierarquia não excluíauma forte ligação entre eles. O tema discutido era "Poluição da Terra e seus danos". O professor apontou para os danos das tecnologias modernas e enfatizou nosso comportamento ecológico. Ele comparou o comportamento dos humanos modernos com umacélula de câncer em crescimento em seu hospedeiro. De acordo com Vadim, a solução impõe moral e padrões éticos para empurrar o progresso científico e tecnológico na direção correta. Durante as lições, Nathan estava principalmente interessado em Vadim. Ele possuía a capacidade para determinar o nível exato que cada um de seus interlocutores ou ouvintes estavamexperimentando a vida. Utilizando este dom, Vadim sabiaperfeitamente com que palavras ele tinha de usar para esclarecer algo. Nathan viu isso como um dom muito valioso. Alguns dias depois, Vadim daria uma palestra em uma conferência científica na cidade de Houston, Texas. Vadim pediua Nathan para que o acompanhasse e Deborah também poderia ir. Ela sempre esperou por essasreuniões Para a ocasião, Deborah vestiu uma roupa clássica e pareceu muito madura com seu belo e longo cabelo penteado. Ela não mostrou absolutamente nenhum sinal de ser uma estudante. Junto com Nathan, ela conheceu muitos cientistas, todos experientes em um campo específico. Durante as conversasfoi ficando claro para Nathan que Deborah já tinha aprendido muito de Vadim. Durante a palestra, Nathan discutiu as diferentes energias influenciando as pessoas. Ele demonstrou como nós influenciamos outras pessoas pelos significados dessa energia. Algumas passagens ficaram com Nathan. Dessa forma, Vadim disse que tudo que vivenciamos como pessoas consiste em um campo de energia que podemos sentir e perceber intuitivamente. Ele também disse que nós podemos projetar deixando nossa atenção fluirna direção certa. Vadim então explicou que naquele momento a energia escorre do campo energético emdireção a qual nossa atenção é direcionada. Ele disse que dessa forma podemos influenciar sistemas de energia e podemos aumentar o ritmo com que as coincidências ocorrem em nossas vidas. Nathan entendeu que o que Vadim estava discutindo ia ao encontrodo que ele havia ouvido recentemente com relação à operação da energia ativa. A palestra se tornou mais interessante, porque Vadim estava falando sobre o ser humano,e seu núcleo esclareceu muitopara Nathan. Vadim indicou que o ser humano na realidade não tem um núcleo que é separado do todo. Por todo, ele quis dizer o universo inteiro. 207 Vadim apontou que existiaapenas um núcleo. Ele quis dizer que as pessoas não estão sem um núcleo, apenas que as pessoas não têm núcleos separados. Para ilustrar isso, Vadim explicou que o progresso toma lugar da fertilização progressivamente. Ele disse que um embrião vem a esse mundo sem seu próprio núcleo. No útero isso funciona por nove longos mesescom o núcleo de sua mãe como o seu núcleo e não com um núcleo separado. Quando nasce a criança, elarecebe um nome. Por repetições continuadas, ela é capaz de se identificar com aquele nome. Desse modo, começa a perceber-se como um indivíduo com seu próprio núcleo separado. Seu ambiente e comunidade irão ensinar um sentimento dentro dele, o qual produz o desejo de conhecer quem realmente é. Cada sistema social concede uma função a cada um, o que também determina nossa posição hierárquica. Então o perigo ocorre quando nós começamos a nos identificar com essa função e nos deixamos ser guiados por ela, ao invés de pela nossa própria personalidade verdadeira. Graças a essa palestra, Nathan agora entendiamelhor o mecanismo condicional. Ele lembrou que Pablo havia falado sobre o fato depodemos libertar-nosdisso reconhecendo os pensamentos da nossa mais profunda existência. Dessa maneira seríamos capazes de seguir nossos maiores desejos íntimos. Pela forma como Vadim explicou suas declarações, Nathan aprendeu como ele poderia claramente suscitarum temadifícil para um público cético. Embora após a palestra existiam ainda cientistas que abordaram Vadim, como eles não concordaram completamente com ele. Nathan e Deborah perceberam que suas motivações primárias estavam explicando suas próprias teorias. ─ Eu tenho o sentimento que alguns deles apenas querem explicar suas próprias opiniões, disse Nathan, e têm poucointeresseem novas visões. ─ Eu estou acostumada comisso, Deborah disse. Muitas pessoas não estão preocupadas em ser de direita, mas estão mais concentradas em criar a impressão de que osão. Outras frequentemente liberam o que não entendem, porque têm medo de ter suas mentes mudadas. ─ Como podem eles sempre ter esperanças em descobrir a realidade do universo? Nathan revidou. ─ Como disse Vadim, os cientistas geralmente têm ideiasverdadeiras, por causa do que eles apenas pensam hipoteticamente. 208 Durante o voode Houston para São Francisco, Vadim, Nathan e Deborah tiveram uma longa conversa, devido ao entendimento em quão profundo Nathan era. Quando Vadim propôs a questão como Nathan tinha acumulado tanto conhecimento, Nathan deu uma sinopse de algumas de suas experiências. Entre outras coisas, Nathan falou sobre experiências de transe que ele teve no Marrocos e no México. Vadim e Deborah estavam muito impressionados. Nathan estava curioso sobre as opiniões deles. Um bom ponto de partidapara isso pareceu ser a palestra que Vadim acabara de dar. ─ O transe os libera para vivenciar nosso desenvolvimento, deuma maneira diferente e nos desconectade nossos núcleos separados, Vadim disse. Por causa disso podemos ter experiências similares para daquelas que temos quando estamos ainda no útero... e ainda mais cedo. ─ Como a ciência vêesse estado? Nathan perguntou. ─ As bases dos padrões desse estado estão no nível de energia. Você deve ver seu núcleo como uma teia de relações, as quais podem ser manipuladas. A dissolução dessas relações energéticas levam àuma experiência de transe. Nathan lembrou-sedas palavras de Rachid no deserto. Ele havia também contado a ele que tudo consistia de energias, suas relações mútuas, e que um estado de transe pode nos capacitar para ver as energias do universo diferentemente. Quando Nathan continuou a ponderar esse assunto, ele também viu analogias em relação ao que seu pai havia dito a ele sobre como as energias trabalham, mas também com o que Songo e Catalina haviam dito a ele sobre isso. ─ Como você ganhou discernimento para a operação encoberta das energias? Nathan perguntou a Vadim. ─ Aprendendo a pensar intuitivamente.Dessa maneira eu tenho aprendido a ver que a nossa própria imagem é criada de nossas relações mútuas e que nosso mundo não é o único sujeito à física, mas mais para as leis de energia. Nathan estava impressionado sobre o fato que um conhecido cientista havia alcançado a mesma conclusão que a de todas as outras pessoas que haviam sido e ainda são importantes nessa vida. Vadim também entendeu que o conhecimento verdadeiro se apresenta através da nossa própria intuição. _Quão importante é a intuição para você? Ele continuou perguntando. 209 ─ Devido a um excesso de informações que temos nesse momento, apenas nossa intuição pode nos guiar e criar calma em nossos pensamentos. ─ Essa é uma surpreendente declaração paraum cientista. ─ Meu pai, Deborah interrompeu, frequentemente diz que por toda a história da ciência, todo grande descobrimento conteve um elemento irracional de intuição criativa. Vadim sorriu e deixou o silêncio apresentar sua resposta. Uma vez de volta a São Francisco, Vadim falou muito em uma reunião mensal tomando lugar em uma casa country em Carmel, uma cidade costeira ao sul de São Francisco. Cientistas eminentes participaram dela, incluindo Vadim. Ele convidou Nathan para participar no próximo encontro. Mais tarde Nathan ouviu de Deborah que Vadim havia dito a ela que depois da visita deles ao congresso de Houston, que ele nunca mais conheceu ninguém tão especial como Nathan. Quando Deborah perguntou a ele o que ele quis dizer exatamente, Vadim respondeu que Nathan tem uma excepcional capacidade para guiar os outros. Nathan também ouviu de Deborah que Vadim era raramente elogiava alguém. Então, ele poderia facilmente ser convencido de que seu pai realmente quis dizer aquilo. Nathan percebeu que, se alguém gosta de Vadim em tão pouco tempo, então é destinadaàs capacidades de liderança para alguém,e tema atenção merecida. 210 Rebelião Nathan e Nigel voaram juntos para Nova Iorque. Eles planejaram estar ali com Zack, o irmão mais velho de Nigel, por duas semanas. Zack viviano Brooklyn, uma base ideal para explorar a cidade. No avião para Nova Iorque, Nigel contou a Nathan que Zack era um homem especialmente amigável, mas que ele exibe um estranho humor. Nigel contou a ele o que aconteceu ao seu irmão anos atrás. No passado Zack foi um estudante excepcional e suas notas o conduziram para um emprego com um renomado escritório de advocacia em Nova Iorque. Ele trabalhou lá por vários anos, se casou e fez suas economias. Um dia, Zack se envolveu em um grave acidente de carro. Ele sobreviveu, mas ficou em coma por semanas. Eles temiam por sua vida. Quando ele acordou, ele não era completamente ele mesmo. Durante as semanas seguintes, ele se tornou viciado em álcool e como resultado ele perdeu seu emprego, depois seus amigos e finalmente sua esposa o deixou. Zack foi aceito em um hospital especializado em Los Angeles. Lá ele teve sucesso em se desintoxicarcompletamente, mas durante sua estadia por lá algo muito estranho aconteceu. No hospital Zack leu todos os livros sobre Gandhi sobre os quais pôs suas mãos e então ficou convencido que era destinado a continuar a missão de Gandhi. Nathan ouviu atentamente. Desde então Zack usou exclusivamente roupas brancas e rapou a cabeça. Cada ano, no dia da morte de Gandhi, ele vestiaroupa vermelha como símbolo do sangue de Gandhi. Na residência dele todos os relógios estão parados em 17:00, a hora que Gandhi foi assassinado durante seu encontro de oração com as pessoas. Zack estava convencido de que ele tinha que continuar o trabalho de Gandhi. Desde então tentou chegar às pessoas para começar uma grande, não-violenta rebelião contra a injustiça. De acordo com ele nesse sentido a consciência do mundo será reforçada e a humanidade seria liberada de seus sofrimentos. ─ Como seu irmão vê a função dele nisso? Nathan perguntou a Nigel. _ Sua experiência como advogado, respondeu Nigel, ele agora a usa para defender os menos afortunados em nossa comunidade. Ele não perdeu nenhum de seus conhecimentos. Por exemplo, ele visita 211 gerentes e pedea eles para empregar pessoas desempregadas ou organiza pequenas manifestações contra a injustiça nas ruas de Nova Iorque. ─ Você está preocupado com seu irmão? Nathan queria saber. ─ Eu não sei realmente o que pensar disso. Eu sei que Zack gastou ou distribuiu quase todo o seu dinheiro. A única coisa que ele ainda possui ésua casa no Brooklyn e ele recebe um seguro mensal. Nathan ouviu atentamente e foi tocado pelo que Nigel dissea ele. ─ Talvez você possa ajudá-lo, Nathan? Nigel acenou. Nathan ficou surpreso pela observação de Nigel, mas justamente quando ele quis reagir o comandante de bordo anunciou que eles estavam chegando aNova Iorque. Zack deu as boas-vindas a eles na sua chegada. A semelhança física entre o irmão de Nigel e Gandhi era deveras marcante. Zack era magro, barbeado e usava pequenos óculos. Ele usava uma jaqueta branca com calças da mesma cor. Zack fez uma impressão festiva por iniciar com algumas piadas. Quando ele ouviu que Nathan estava fazendo umtour pelo mundo, ele mostrou grande interesse. Ele se ofereceu para mostrar a Nathan a cidade de uma maneira que ele conheceria a verdadeiraNova Iorque. Nathan aceitou o convite. Naquela noite Zack foi pegar sua velha van e estacionou em frente à porta. Nathan e Nigel sentaram. Até agora Zack tinha se conduzido muito normalmente. Nathan pensou que ele estava agindo com muita inteligência, embora Nathan tivesse reparado que Zack frequentemente usava as expressões de Gandhi. Primeiro Zack dirigiu para amplos bulevares, onde ele os mostrou os mais altos arranha-céus no meio de pequenas lojas. Lá eles saíram e foram em um restaurante da moda pra comer algo. Quando Zack fez seu pedido, ele lançou mão deuma pequena literatura onde ele declarou por que seria melhor que cada um se tornasse um vegetariano. Sua literatura não estava chocando as pessoas presentes no restaurante, porque suas declarações foram feitas com humor. Nigel sentiu-se desconfortável, enquanto Nathan se sentiu entretido e ficou mais intrigado pelo seu personagem. Zack pareceu estranho em sua roupa branca e ele também se comoveu repentinamente. Mas sua aparência e seu humor estavam em agudo contraste com sua eloquência. Após a refeição,Zack dirigiu pelo Bronx e Distrito de Queens. Zack não dirigiu pelos distritos mais empobrecidos por acaso. Nathan e Nigel entenderam que com isso Zack quis demonstrar a grande contradição entre distritos mais pobres e os mais ricos. 212 ─ Isso não é estranho, Nathan ─ Zack disse ─ ver tanta pobreza em uma cidade onde o mais importante centro dos negócios americanos é localizado e também a maior bolsa de valores do mundo? ─ O contraste é realmente muito grande, disse Nathan. ─ E então segue a mesma pergunta, o que nós fazemos em relação àisso? Zack perguntou. Nigel reagiu imediatamente a essa declaração. ─ Nós não temos o poder para mudar isso, Zack. ─ Enquanto você pensar dessa forma, você realmente não será capaz de mudar muito, contou Zack a ele. ─ Que tipo de mudanças você criou então? Nigel perguntou em um tom de repreensão. ─ Alguma coisa está se movendo, Zack contou a ele. Mais e mais pessoas querem mudar. Nesse sábado teremos uma manifestação. Você quer vir conosco? ─ Qual a razão para a manifestação? Nathan perguntou ─ Nós estamos nos levantando para os direitos de todos que estão aqui e trabalham aquiilegalmente. Nós exigimos que eles tenham os mesmos direitos. Agora usualmente eles devem trabalhar muito mais que residentes legais, por um salário menor e sem segurança. ─ Quem está organizando a manifestação? Nathan perguntou. ─ Muitas uniões com outros grupos, Zack disse a ele. ─ Zack tem boas intenções, disse Nigel, mas ele não entende que ele está sendo questionado por quêcom cada manifestação ele mobiliza muitas pessoas. ─ O que você não entendeNigel, é sobre o que é tudo isso, Zack replicou defensivamente. ─ Então é sobre o quê? Nathan perguntou. ─ Eu quero envolver o maior número de pessoas possível com relação à violência tomando lugar em nossa comunidade. ─ Quem são as pessoas que acompanham você durante essas ações? Nathan perguntou. ─ Amigos que eu tenho cultivado quando ninguém quer cuidar deles, disse Zack. ─ Existem pessoas vivendo abaixo do nível da pobreza, que estão seguindo ele por causa do que podem pegar dele, Nigel disse. ─ Não, Nigel, Zack reagiu, assim você vai ficar olhando novamente mais o mal do que o bem. Eles me seguem pelo que eu represento. Eles sabem que eu posso liderar eles para o objetivo final. 213 ─ A que objetivo final você está se referindo? Nathan perguntou. ─ Zack aspira afelicidade para todos, disse Nigel. ─ Sozinho isso é um lindo objetivo, disse Nathan, como você quer alcançá-lo, Zack? Ensinando os quatro grandes princípios para todos de uma maneira pacífica: Não temer o fracasso, não ferir nenhuma forma de vida, lutar pela recuperação da justiça, e o último, não deixar sua felicidade ser determinada por bensmateriais. Novamente Nathan reconheceu os ensinamentos de Gandhi nas palavras de Zack, o que não mais foi discutido enquanto eles voltaram para casa. Antes de ir dormir, Nathan pensou sobre tudo que ele havia vivido naquele dia. O que Nathan achou marcante sobre Nova Iorque era a grande variedade étnica e o modo de vida agitado. Apesar da comoção, Nathan gostou de ficar nessa dinâmica metrópole. Essa cidade cosmopolita fez Nathan pensar das palavras de Simon durante a estada deles na Alemanha. Cidades separadas por grandes rios geralmente também têm grandes diferenças em suas mentalidades. Justamente como São Francisco, Nova Iorque era também uma cidade com rios correndo por ela. Mais tarde, Nathan tentou formar uma imagem de Zack. Ele não pôde avaliá-lo completamente, mas teve a sensação que ele pode ser de importância. Ele teve esperança de que os dias subsequentes poderiam trazer a ele mais clareza. Na manhã seguinte, Zack acordou Nigel e Nathan cedo. Ele manteve o mesmo nível de energia, embora o café da manhã que ele preparou não era para o gosto de Nigel. Lá tinha grãos, musli de banana e pão de centeio alemão. O programa de hoje inclui um passeio pelo centro de Manhattan. Eles visitaram o prédio das Nações Unidas, muitas galerias de arte, e até assistiram um ensaio gospel em uma igreja. Em uma das galerias de arte, Nathan usou a oportunidade para conversar com o administrador da galeria. Como ele responder entusiasticamente, Nathan prometeu mandar para ele um catálogo dos trabalhos de Sophie. Nathan começou a ficar mais conectado a Nova Iorque. Ele achou ser uma cidade cheia de extremos, onde os sonhadores se sentem em casa. Aqui vive o pensamento de que os maiores sonhos podem se tornar realidade, se alguém acreditar neles. Isso criou grandes dinâmicas e para muitos também uma atitude positiva, a qual Nathan teve também vivenciado em São Francisco. Naturalmente essas cidades não são somente beleza. Como qualquer cidade progressiva, é também um lugar de desilusão para todos que desistiram durante suas jornadas 214 ou cultivaram expectativas irreais. Nathan reparou isso particularmente de acordo com o grande número de prostitutas que ele viu nas ruas. Quando ele fez uma observação sobre isso, Zack perguntou o que ele pensou que fossemas causas disso. ─ O que você aponta como explicação, ele disse, desde o simples fato de que é uma cidade de milhões, onde todos falam virtualmente a mesma língua, haver ainda tantas pessoas que estão sozinhas? Nathan observou que Zack, e Nigel também, estavam fazendo mais perguntas e ficou curioso de suas opiniões. Ele pensou sobre isso e decidiu ir mais longe. ─ Eu acredito que o maior impedimento é o espírito competitivo que impera pelo mundo. Muitas pessoas apenas vivem para mostrar que elas são as melhores, as mais fortes e mais poderosas. Isso estimula indiferença, egoísmo e inveja. Competição é realmente a causa de muita miséria e é o que nós vemos nessa comunidade. Vivemos em uma comunidade na qual queremos estar associados com pessoas que alcançam coisas. Aqueles que não se apresentam bem são considerados fracos e então também a visão de grande solidão. Nigel concordou com isso. ─ Essa compulsão pela realização ainda está dentro das famílias. Estranho como as pessoas fazem isso a elas mesmas, não é? Nigel perguntou a Nathan. Nathan ouviu na voz de Nigel que falavasobre algo que ele havia vivenciado. Ele havia sofrido por causa disso? Teria seu irmão tido problemas também por tamanha pressão? Nathan quis saber mais sobre isso e continuou com o assunto. ─ É esperado um desempenho cada vez maior. Pessoas não apenas colocamessa pressão nelas mesmas, mas com certeza naquelas em que amam. Por exemplo, pais têm boas intenções e pensam que dessa maneira eles estão preparando suas crianças do modo mais eficiente para a vida que os aguarda... Zack interrompeu Nathan: ─ Eles não sabem que suas crianças querem principalmente ter amor... mas, sim aqueles que não se amam não podem amar a mais ninguém. Isso confirmou o pensamento de Nathan. Nigel dirigiu-se a Nathan. ─ Você provavelmente já entendeu que nós não temos boas experiências em relação a isso, Nigel disse. 215 ─ Podemos descobrir o verdadeiro valor das coisas de todas as vivências, disse Nathan. Nosso humor não é determinado pelas nossas experiências, mas pelas nossas expectativas! Quanto mais tempo eles passavam com Nathan, mais impressionados eles ficavam com seu discernimento. Suas conversas cada vez mais pareciam conversas entre professor e aluno. Eles deixaram o tumulto do centro da cidade e foram para o Central Park, em meio às muitas carruagens que faziam suas voltas ali. Zack quis ir para Strawberry Fields com Nathan para mostrar a ele o lugar dedicado a um famoso cantor que havia sido assassinado. Uma vez lá ele mostrou a Nathan o mosaico com o texto no centro "Imagine", como referência a uma de suas músicas mais famosas. ─ Ele também teve a coragem para conquistar seu medo, Zack contou a ele. Pode alguém ser tão inspirador, Nathan? ─ Gandhi não indicou não olhar para os outros, mas apenas para o que podemos contribuir para esse mundo? Nathan reagiu. Zack olhou para Nathan e acenou. No caminho de casa Nathan ficou ciente de quão fortemente ele havia transferido suas opiniões. Isso aconteceu mais e mais sem esforço consciente. Ele teve que lembrar-sedas palavras de Catalina, quando ela disse que agora um período havia iniciado no qual ele começaria sua missão como um guia. Vadim havia dado a ele a mesma mensagem por Deborah. Como sempre, antes de ir deitar-se, Nathan tentou lembrar-se de todas as ocorrências do dia. Mais uma vez ele se perguntou aonde todas suas experiências o iriam levar. Essa pergunta foi seguida de um forte sentimento de coragem e confiança. Um sentimento ficouclaro para ele que era sua voz interior. Uma voz que o advertiu e a qual se tornou clara com o tempo. Mas hoje essa voz pareceu diferente! Ela pareceu como se fosse ainda mais clara do que nos outras vezes. Nathan se concentrou e descobriu que ele poderia distinguir cada palavra. Ele podia entender a mensagem de uma maneira mais clara, como se outra pessoa estivesse falando com ele no quarto. A mensagem que ele ouviu era a seguinte: ─ Se você seguir sempre a estrada indicada, o tempo dará a certeza de que todas as suas perguntas se juntarão às respostas no final! Então o silêncio se seguiu. Essas palavras deram a Nathan ainda mais convicção do que antes, que tudo que está acontecendo em sua vida tem um significado maior. Hoje era sexta-feira, o dia anterior à manifestação. Nathan e Nigel sabiam que eles poderiam encontrar Zack no Central Park. Ele 216 sempre planejava suas ações ali com seus amigos. Quando Nathan e Nigel chegaram, eles viram um grupo de pessoas sentadas na grama. A cena lembrou algo de uma fábula. Zack estava sentado em frente e estava dando uma explanação. O sol brilhou em sua roupa branca. Antes dele estavam aproximadamente trinta pessoas ouvindo atentamente quem estava encorajado para também envolver seus conhecimentos na revolta deles. Nathan e Nigel cumprimentaram Zack e sentaram na grama ao fundo. Eles repararam imediatamente que estavam também entre as pessoas presentes. Alguns estavam de terno; provavelmente era a hora do almoço delas. Nigel sussurrou para Nathan que ele estava errado em sua opinião sobre os seguidores de Zack. Agora questões diferentes eram perguntadas para o grupo, para o qual Zack demonstrou que era um bom locutor. A natureza das perguntas era sobre a desigualdade na comunidade e como ir contra isso. Inicialmente ideiasinteressantes eram introduzidos, mas então a atenção diminuiu porque todo mundo quis expressar suas opiniões ao mesmo tempo. Era principalmente sobre a correta aproximação para amanhã, as palavras certas, o tempo exato e outros detalhes pequenos. Todos estavam falando ao mesmo tempo e o volume cresceu até que Zack requisitou silêncio em voz alta. Isso foi efetivo, porque as pessoas presentes pararam de falar imediatamente. Zack agora apontou para Nigel e Nathan. ─ Eu quero apresentar alguém para vocês, disse Zack. O homem com o cabelo louro é Nigel e é meu irmão mais novo. Todos viraram e olharam na direção indicada por Zack. Nigel olhou para seu irmão, sem entender. O que estava fazendo o seu irmão? E quais eram suas intenções? ─ Nigel trouxe alguém aqui, continuou. Seu nome é Nathan. Agora todos os olhos eram direcionados para Nathan, o qual estava curioso também para as intenções de Zack. ─ Nathan viaja pelo mundo. Eu não o conheço há muito tempo, mas desde já eu posso dizer que nunca conheci alguém que tenha tanto conhecimento. Embora ele seja ainda jovem, para mim ele representa o exemplo que todos deviam seguir. Nathan estava surpreso pelo comentário, mas reagiu serenamente. Ele mostrou Zack que ele estava preparado pra qualquer coisa que pudesse ser requisitada por ele agora. ─ Eu não perguntei a ele ainda, mas eu gostaria de saber o que, em sua opinião, seria a aproximação correta para lutar contra a desigualdade e a injustiça. Além disso, eu gostaria de perguntar a 217 ele o que ele pensa sobre a maneira na qual nós estamos lutando contra isso agora. Nathan tentou abalizar rapidamente o que poderia estar acontecendo agora. Ele tomou conta de toda a circunstância e pensou sobre seu próximo curso de ação. Ele viu um grupo de pessoas antes dele que esperava ansiosamente por suas respostas. Ele pensou sobre os possíveis motivos de Zack para convidá-lo para compartilhar suas opiniões. Ele também se lembrouda requisição de Nigel para ajudar o seu irmão. Depois de alguns segundos Nathan se levantou. Ele andou para frente e sentou próximo a Zack. Ele colocousua mão no ombro de Zack para indicar seu apoio e que o considerava um amigo. Então Nathan olhou para todos e falou com frases fortes. ─ Eu estou feliz com o que eu vi hoje. Eu vejo pessoas que vieram aqui, guiadas por um forte sentimento de poder. Um desejo de poder que motiva vocês a fazerema coisa certa. Quando eu vejo pessoas que se esforçam para o bem, eu me sinto feliz. Nathan fez uma pausa. Ele estava surpreso comsuas próprias palavras e reparou a impressão que suas palavras surtiamem sua audiência. Sem pensar adiante ele continuou sua declaração. ─ Porque eu vejo que muito entre vocês querem fazer algo significante contra a injustiça, eu quero contar a vocês algo importante. A audiência estava completamente em silêncio. ─ Lembre, e isso, meus amigos, é algo que eu quero enfatizar, que quando isso é sobre o melhoramento da vida na Terra, existe algo mais poderoso e efetivo que o desejo de poder. Agora todos estavam curiosos sobre a importante declaração que Nathan estava transferindo para eles. ─ E isso é o discernimento! Discernimento pode ser à base de todas as nossas ações. Quando o discernimento é finalmente ancorado na origem dos nossos pensamentos e sentimentos, nosso desejo de poder será guiado pelas intenções ricas com discernimento. Novamente Nathan pausou paradeixar o significado de suas palavras serem absorvidas. Um homem de terno perguntou para ele: ─ Como nós podemos verificar o que é a origem dos nossos pensamentos e sentimentos?─ Pensando sobre nossa reais motivações, Nathan respondeu. Nós fazemos isso perguntando a 218 nós mesmos: Qual o objetivo final que aspiramos alcançar?De novo Nathan pausou e nesse tempo continuou dinamicamente: ─ Eu ouvi como vocês estavam falando sobre a maneira correta de ir nessa ação. Mas está cada um de vocês convencido da verdadeira razão do manifesto?Nathan pausou. Todos estavam ainda em silêncio. ─ Vocês não têmque responder essas perguntas em voz alta, mas respondê-las para vocês mesmos. O que o meu mundo ideal se parece? O que eu posso fazer para alcançar isso? Essas são as questões, as quais direcionam para discernimentos profundos se nós prestarmos atenção suficiente aisso. Agora Nathan levantou e finalizou seu discurso com mensagens fortes, interrompidas por longas pausas. Suas palavras tiveram um efeito nas pessoas presentes, comparável a uma hipnose coletiva. ─ Utilizando esse método irãocertificar-se, quem estiver realmente aspirando para o bem, irá reconhecer uns aos outros! Eles sentirão uma forte conexão! Eles serão capazes de usar seus potenciais por inteiro! Suas ações serão exemplos para todos e suscitarão neles a vontadepara gradualmente mudar o mundo em um lugar de hospitalidade e inspiração para todos nós. Nathan agradeceu a todos e imediatamente andou para fora do parque. Nigel se levantou e o seguiu. Ele andou próximo a ele e viu que ele ainda pensava profundamente. Ele não se atreveu a conversar com ele. Parecia como se Nathan estivesse preocupado com o que acabara de acontecer. Algum tempo depois, Nigel falou. ─ Tanto Deborah quanto Zack haviam visto isso imediatamente!Nathan não reagiu. Nigel não desistiu. ─ Você é realmente excepcional!Nathan ergueu os olhos por causa das palavras de Nigel, mas ainda não disse uma palavra. Mas então ele forçou Nigel a parar segurando seu braço. ─ Eu não entendo o que aconteceu aqui. Eu apenas lembro que eu estava pensando um pouco, mas o que se seguiu... apenas aconteceu... como se algo dentro de mim tivesse formulado tudo. Eles continuaram andando. Nigel quis saber algo mais. ─ Posso perguntar uma coisa? ─ Acredite em mim, Nigel, nemmesmo eu não sei aonde tudo isso irá levar!Nigel estava surpreso pelo fatode que Nathan tivesse adivinhado sua pergunta. Ele viu que Nathan tinha pensado o suficiente sobre isso e viu que era melhor deixar tudo descansar por agora. Nathan pediua Nigel para deixá-lo sozinho pelo resto do dia. Nigel foi para a cidade comprar algo. Nathan foi para Coney 219 Island, uma praia o sul doBrooklyn. Raramente Nathan tinha tido tanta necessidade de olhar para o mar e se isolar. Ele foi a uma loja na praia e pediuao caixa por uma bolsa. Na loja ele tirou suas roupas, deixando apenas o seu short e perguntou àmulher se ele podia deixar suas coisas ali. A mulher pegou a bolsa com um sorriso e colocou-a de lado. Nathan saiu da loja, foi à praia e mergulhou no mar. Por horas ele permaneceu na água. Ele queria mais clareza sobre sua missão maior. Pelos anos ele descobriu que suas palavras e ações foram grandemente inspiradas pelo "elemento natural" na origem de sua vida. Um "elemento natural", o qual o guioupara uma missão maior, o qual é para esclarecer algo para a humanidade; um "elemento natural", no qual ele se reconhece mais e mais. Nessa noite Nathan chegou tarde e foi dormir imediatamente. No dia seguinte Zack partiu cedo. Nathan levantou ao meio-dia. Nigel havia preparado almoço para os dois. Nigel viu que Nathan havia descansado bem. Embora houvessefeito muitas perguntas para Nathan, ele se conteve. Ele sabia que um momento chegariaem queNathan indicaria que queria falar. Depois do almoço, Nathan e Nigel foram à manifestação para ver o final dela. Ambos não eram grandes advogados de muitas ocorrências, mas fizeram principalmente como um favor para Zack. Zack sabia disso e apreciou seus gestos. Quando a manifestação terminou, Nathan, Nigel e Zack andaram pelas ruas de Nova Iorque. Zack agradeceu a Nathan por seu discurso de ontem e indicou como ele e os outros ficaram fortemente impressionados. Estava quente e eles decidiram sentar na varanda de um bar. Naturalmente Zack e Nigel quiseram perguntar todo tipo de perguntas. Zack começou primeiro perguntando a ele o que seria a melhor aproximação para lutar contra a pobreza e a injustiça. ─ Ontem e durante a manifestação hoje, eu pensei sobre o que você disse. Eu concordo com você que todos devem primeiro pergunta a si próprio aonde querem ir para obter discernimento sobre oque a contribuição pode ser. ─ Estou feliz de ter sido útil, disse Nathan. Zack ficou quieto, como se ele estivesse reunindo toda a sua coragem para dizer o seguinte:─ Nathan, toda pessoa que conhece você pessoalmente sabe que você é capaz de nos dar muito mais direção. ─ O que você está tentando me dizer, Zack? Nathan perguntou. ─ Eu quero perguntar a você como eu posso trazer mais discernimento às pessoas. Vivemos em uma era na qual tanto pobre 220 como rico gastam a maior parte do tempo trabalhando. Seja por sobrevivência ou paraacúmulo de posses, a atenção deles é quase exclusivamente direcionada para isso. ─ E se eles não estão trabalhando, eles querem ter o maior prazer possível e tem menos atenção para as doenças sociais, Nigel paramostrar que apoia a pergunta de Zack. ─ Você também conhece a razão para isso? Nathan perguntou. Nigel e Zack pensaram sobre isso. Eles deram respostas diferentes até que Nigel deu a seguinte resposta. ─ Eu diria que eles estão muitoenvolvidos consigo mesmos. ─ Você deu justamente a resposta correta, disse Nathan. As pessoas devem primeiro se sentir satisfeitas e felizes e então fazer um esforço poralguém mais. Apenas quando suas próprias necessidades forem preenchidas, eles podem se tornar mais conscientes das necessidades dos outros. ─ Certamente, geralmente as pessoas felizes são as únicas a fazer os maiores esforços, Zack declarou. ─ Quando sua própria vida está suficientemente preenchida, você irá sentir mais envolvimento com as pessoas ao seu redor, Nathan disse, e então você naturalmente sentirá uma necessidade de se envolver de uma maneira ou de outra. ─ Por que as pessoas felizes são mais capazes de fazer esforços do que outras? Nigel perguntou. ─ Isso se refere ao fato que uma pessoa pode apenas ajudar as outras se ele pode entendê-las e as suas necessidades sobsuas próprias perspectivas. Isso só é possível quando essas pessoas aprenderam a compreender as suas necessidades e a dos outros. Sem conhecimento sobre si próprio, entender os outros é impossível. ─ É esse o discernimento que você estava falando ontem?─ Tanto o que eu disse ontem quanto hoje, e o que eu direi amanhã, formarão parte de um e do mesmo discernimento Se eu olhar ao redor, disse Zack, para o que prende a maior parte da atenção das pessoas, é difícil entender comoeles serão capazes de conhecer isso. Você ainda tem esperanças, Nathan? ─ As coisas podem mudar rapidamente, disse Nathan, o discernimento de um momento pode abrigar mais valores que a experiência de uma vida inteira. 221 Destino Durante a segunda semana da estada deles na costa Leste, Nathan e Nigel foram perambular por alguns dias. Durante a viagem, Nigel se tornou ainda mais fascinado pela profunda visão da vida de Nathan. Primeiro eles visitaram a bela cidade histórica de Boston, com suas casas pitorescas. Depois disso, eles foram para o Canadá, onde eles visitaram duas grandes cidades. Primeiro eles visitaram Toronto, a maior cidade no país, a qual é chamada "a cidade de vidro", por causa de suas altas construções. Então eles dirigiram para French Quebec, onde eles visitaram Montreal. Lá Nigel e Nathan ficaram fascinados principalmente pela bela cidade antiga. Em um dos cafés na "Vieux Quartier" Nathan e Nigel trocaram suas visões sobre a vida de Zack. Isso levou a uma fascinante conversa sobre um tema que prendeu fortemente a atenção de Nigel. Ele precisava da opinião de Nathan sobre a liberdade que cada um de nós tem de escolher um caminho de vida: ─ Até que ponto nós temos nossos destinos em nossas próprias mãos? Nathan entendeu a importância daquela pergunta e o valor que Nigel daria às suas palavras. ─ Sabendo que você deve terum entendimento claro do destino de um lado e do livre arbítrio do outro e fazer distinções corretas entre oque nós não escolhemos para nós mesmos e oque nós o fazemos. Nigel ouvia muito atentamente: ─ O que você quer na realidade é conhecer para ondevãoas forças e onde nossa função começa. Vamos começar primeiro com o destino. Nathan bebericou o seu café: ─ O que nós vivenciamos como destino, ele então disse, é a expressão de uma ordem universal. ─ Uma ordem universal? Nigel repetiu. ─ Em todo o mundo existem diferentes nomes para isso. Por exemplo, o Professor Vadim chama isso de unidade perfeita. Nigel fez a associação com ambososnomes e então entendeu perfeitamente o que Nathan dizia. ─ De acordo com o professor, essa unidade perfeita está em todo o ser vivente, disse Nigel. 222 ─ Essa ordem, Nathan continuou, é o conjunto de todos os princípios criativos, os quais regulam a vida e a evolução no universo inteiro. Em essência, estamostodos nós com essa unidade perfeita, na qual nós temos um lugar único. ─ Como podemos reconhecer o nosso lugar único na ordem universal? ─ Utilizando nossas possibilidades congênitas, assim como nossa natureza, nossos genes, nossa personalidade e tal. Essas são as expressões do nosso destino. ─ Então o que acontece com o nosso livre arbítrio? Nathan deu outra bebericada em seu café, enquanto Nigel ouvia atentamente. ─ Dentro dessa ordem que eu estava falando, cada um de nós cria a nossa própria vida. Nós não fazemos isso sozinhos, mas juntos com nossas companhias desde a concepção. Usando ou não certas possibilidades e fazendo escolhas certas, nós influenciamos a vida de cada um de nós. ─ As escolhas não estão ligadas ao nosso destino? ─ A essência de nosso livre arbítrio é a maneira na qual tratamos com nosso lugar único na ordem universal. Para dominar isso completamente, eu irei explicar para você como o nosso pensamento funciona. ─ Isso soa fantástico! ─ Séries inumeráveis de escolhas se apresentam para nós em qualquer ponto durante o dia. Como você sabe, essas escolhas têm consequências e então cada escolha no presente determina nosso futuro. ─ Mas o que determina que fizemos uma escolha certa e não outra? ─ Quando pensamos conscientemente sobre uma escolha, nós sempre tentamos fazer uma estimativa das consequências relativas. Cada um de nós faz isso baseado em percepções derivadas de experiências anteriores. ─ No Central Park você falou sobre a importância de encontrar a origem dos nossos pensamentos e sentimentos verdadeiros. ─ Você tem uma boa memória. Paraganhar discernimento no modo de como pensamos, devemos ser cientes do fato que sempre decidimos quais sentimentos nós ligamos acada pensamento. Nigel pensou por um instante. ─ Cada pensamento não está conectado ainda com certos sentimentos? 223 ─ Parece como isso, mas lembre-seque cada um de nós tem a capacidade de escolher qual sentimento ligara qualpensamento. Quanto mais temos ciência disso, mais corretas as nossas escolhas e mais felizes seremos no fim de nossas ações. Nigel pensou que isso estava muito claro e agora tomou tempo para pensar sobre o que aconteceu com cada escolha. Nathan permaneceu em silêncio o olhou para as pessoas andando ao seu redor. Ele conscientemente deixou o tempo fazer o seu trabalho e esperou até que sua mensagem alcançasse seu destino. ─ Agora eu posso vivenciar claramente a origem de nossos pensamentos, Nigel disse após pequena pausa, e eu entendi melhor o que é determinado pelo destino e o que diz respeito ao nosso livre arbítrio. Agora eu sou ainda mais ciente de que nosso destino depende da extensão na qual aprendemos a sentir as coisas da maneira certa. ─ Você poderia dizer que somos destinados a ser livres, Nathan replicou. Nathan e Nigel deixaram o café e passearam de volta para o hotel. No caminho, Nigel teve outro questionamento. ─ Você tem me dado informações muito claras e valiosas sobre um tema que eu tenho me questionado por toda a minha vida. Você aprendeu essas declarações ou elas vieram até você espontaneamente hoje? Nathan percebeu que Nigel queria descobriro que havia acontecido no Central Park. Ele respondeu com um sorriso. ─ Vamos apenas dizer que eu posso facilmente colocar o que eu já recebi em palavras! Após a visita deles à Montreal, Nathan e Nigel dirigiram de volta para Nova Iorque. Na chegada deles Zack perguntou se poderiaacompanha-lo no dia seguinte. Ele tinha uma surpresa para eles. No dia seguinte eles foram com Zack para um gigantesco centro de compras coberto. Era sábado, o dia mais cheio da semana. Nathan e Nigel estavam muito curiosos sobre a surpresa. Quando eles entraram no centro de compras, Zack disse com certo orgulho: ─ Olhe para vocês mesmos! Nathan e Nigel olharam em volta, mas não viram nada incomum. ─ Vocês não veem? ─ O que deveríamos ver? Nigel perguntou. Quando Nathan olhou para cima, percebeu alguma coisa. Eram fotos enormes. Estas eram imagens dos bairros pobres e dos desabrigados. Abaixo, essas 224 grandes aspas haviam sido adicionadas. Agora Nigel também olhou para cima e leu as aspas: ─ Isto também é Nova Iorque!, O dia moderno Nova Iorque!, Isso é onde nós vivemos! Nathan olhou para Zack: ─ Você conseguiu que pusessem essas fotos aí? ─ Esse projeto foi criado depois que eu, juntamente com alguns amigos, pensamos sobre as suas palavras, Zack respondeu. Nós temos que agradecer a você por isso, Nathan. ─ O que você quer dizer? Nigel perguntou. ─ Nathan falou sobre duas questões que tivemos que perguntar para nós mesmos. Com o que o nosso mundo ideal se parece e o que eu posso fazer pessoalmente para alcançá-lo. O debate que tivemos sobre isso nos inspirou para esse projeto. Além disso, muitos outros projetos foram propostos. Nathan não disse nada e emocionou-se por Zack, que continuou falando. ─ Esses são todos projetos que mostram a injustiça, mas queremos trabalhar usando uma fundação criativa. Nós esperamos que quando as pessoas verem em que situação patética muitas cidades vivem, eles serão mais cientes de quão sortudos eles são. Quem sabe, talvez eles também irão se impor sobre alguns fatos concernentes à injustiça. ─ Como você planeja realizar isso em alguns dias? Nigel perguntou. ─ Isso é incrível! Zack disse. Muitos fotógrafos, um escritório de publicidade e uma prestadora de serviços trabalharam de graça nisso. Adicionalmente, eles me apoiaram em convencer a diretoria do centro de compras para contribuírem. Nathan foi até Zack e o abraçou. Quando eles se separaram, ambos estavam com os olhos cheios de lágrimas. ─ Como você disse, Zack disse para Nathan, o discernimento de um momento pode ser mais valioso que a experiência de uma vida inteira. ─ Você é puro, Zack, Nathan adicionou, você é puro e justo! Depois dessas palavras emocionadas eles passearam pelo centro de compras, que hoje também funcionavacomo uma área de exposição para essa exposição imprevisível. Na manhã seguinte eles disseram adeus para Zack no Aeroporto JFK em Nova Iorque. Zack tinha uma última pergunta para Nathan. 225 ─ O que exatamente você quis dizer quando disse que eu sou puro e justo? Nathan pegou sua mochila e então pôs sua mão sobre o ombro de Zack. ─ Você não é o que você pensa, Zack, você é autêntico! De volta a São Francisco, Nathan ligou para Deborah e Vadim para avisá-los que ele estava de volta. Vadim imediatamente convidou Nathan para jantar na casa deles em North Beach. Durante a refeição, Nathan discursou sobre sua viagem a Nova Iorque. Vadim, Deborah e sua mãe ouviram atentamente. Depois do jantar, Vadim propôsque Nathan ficasse com eles por um momento. Ele gostaria de passar mais tempo com ele; um desejo que também era compartilhado por Nathan, então ele aceitou o convite. Vadim teve que sair, mas ele manteria a próxima noite livre para falar com Nathan. Nathan e Deborah sentaram nasacada. Era uma noite quente e úmida e existia uma agradável atmosfera no ar de São Francisco. A mãe de Deborah abriu uma nova garrafa de vinho regional e a trouxe para a sacada. Naquela noite Deborah seria muito honesta com Nathan. Talvez o vinho tenha algo a ver com isso. ─ Quando éramos mais jovens, Deborah disse, Zack e eu tivemos um relacionamento por um longo período. Eu tinha pedido a Nigel para não contar ainda para você sobre isso. Eu não queria influenciar sua relação com Zack. ─ Eu entendo, disse Nathan, por favor, continue. ─ Para mim era claro que Zack seria o homem da minha vida, mas quando ele partiu para Nova Iorque ele terminou o nosso relacionamento. ─ Qual foi a razão? ─ Ele era completamente devoto a sua carreira e pensou que seria melhor se nós seguíssemos nossas vidas separadas. ─ Você já quis vê-lo novamente? ─ Ele havia dito para eu esquecê-lo. Eu tentei, então não muito depois ele já estava casado. Nathan podia ouvir que Deborah ainda achava isso difícil. ─ Quando eu ouvi que ele estava em coma, eu quis vê-lo. Então eu voei para Nova Iorque com Nigel e passei uma noite com ele. Ele acordou algumas semanas depois. ─ O que aconteceu quando ele acordou? ─ Quando Nigel me contou, eu senti algo indescritível, um intenso sentimento de alegria. 226 ─ Você o visitou em que momento? ─ Quando ele deixou o hospital, ele se tornou viciado em álcool. Ele não era mais ele mesmo e foi Nigel quem me alertou para não voar para Nova Iorque. Ele me disse que Zack discutiu com todo mundo, especialmente com sua esposa. ─ Você se arrependeu em não ir?Deborah pensou por um instante. ─ Eu sabia que não seria uma boa ideiaencontrá-lo naquele momento. Mais tarde, quando ele estava em Los Angeles, eu fui visitá-lo, mas ninguém sabia sobre isso. ─ Por que não? ─ Eu ainda não sei se Zack se lembra. Foi um dia estranho. Eu não acho que ele me reconheça. ─ Deve ter sido um momento difícil para você. ─ Ele mudou muito. Ele pareceu diferente com sua careca. Suas palavras foram tão incoerentes. ─ Eu não podia veratravés dele. Eu acho que esse momento foi o mais triste da minha vida. Nathan olhou para o lindo pôr-do-sol. Ele pensou sobre as palavras de Deborah e tentou ligar todas as informações. ─ O que você está pensando, Nathan? Nathan tomou algum tempo para responder. ─ Zack tem renascido! ─ Renascido? ─ Ele havia se distanciado muito de seu núcleo pela sua maneira de viver nesse momento. Depois do seu acidente e seus problemas com a bebida ele recebeu ajuda de um poder superior. Deborah ouviu atentamente. ─ Você pode comparar isso com uma experiência de quasemorte, Nathan continuou. Deborah acenou levemente e indicou que ela já havia feito essa comparação. ─ Se isso ajuda, Deborah, hoje Zack está mais feliz do que jamais esteve. ─ Até mesmo mais feliz de quando nós estávamos juntos? Nathan olhou para os olhos de Deborah. ─ Apenas saiba que Zack é capaz de amar você, Deborah. Quando ela ouviu aquelas palavras, era como se todos os sentimentos dolorosos que Deborah guardou daquele período fossem subitamente liberados. Nathan viu as lágrimas em seus olhos. Ele colocou sua cadeira próxima para escutar e pôs seu braço em seus ombros. 227 ─ Suas lágrimas estão brotando, porque você pode dar um novo significado para o que aconteceu durante aquele tempo. Deixe-as cair; elas irão encher o seu coração com novos sentimentos. Deborah se sentiu melhor nos braços de Nathan e pensou quão sortuda era porque ele tinha cruzado o seu caminho. ─ Obrigada pelo que você fez por mim e por Zack. ─ Essa é a minha forma de agradecer a você, Deborah, por seu convite. Graças a você eu encontrei pessoas fantásticas em um país fantástico. 228 Pensamento Nas noites seguintes, Deborah deixou Nathan e o pai dela conversarem. Algumas vezes ela sentava com eles e ouvia. Ambos foram transportados paralongas conversas sobre o qual foi o conhecimento mais importante que o homem moderno precisou. Muito rapidamente Nathan foi de grande importância no preparo das palestras de Vadim. Embora Vadim tivesse grande conhecimento nesses temas, ele estava se tornando progressivamente impressionado com as claras inspirações de Nathan. Até que, não mais de que um mês mais tarde ele pediu a Nathan um importante favor. Vadim foi convidado para uma recepção em Atlanta, mas também foi convidado a fazer um discurso em Los Angeles na mesma noite. Ele perguntou a Nathan se ele queria substituí-lo e fazer o discurso em seu lugar. O tema seria sobre "pensamento", um assunto que eles falaram extensivamente nos últimos dias. Nathan disse a ele que ele amaria dar esse discurso e ele mesmo o prepararia para seu primeiro grande teste. O público consistiria tanto de conhecidos como desconhecidos do mundo literário. O discurso formou parte de um seminário dedicado à inspiração. Deborah disse a ele que iria com ele. Alguns dias depois Nathan iria também pedira Nigel para ir com ele para Los Angeles. Isso aconteceu durante um passeio que eles fizeram no belo Parque Yosemite. Eles tiveram uma conversa na qual Nathan enfatizou a análise da verdadeira motivação de nossas ações. ─ Eu tenho falado para diferentes amigos, disse Nigel, sobre o que você me disse concernente ao destino e ao livre arbítrio. Todos os meus amigos ficaram impressionados. ─ O que foi a sua verdadeira motivação durante a conversa, Nigel? O que você quer dizer? ─ Qual era o seu propósito? Compartilhar conhecimento ou fazer uma impressão? Nigel estava de certa forma confuso pelas declarações de Nathan. Nathan não esperou por uma resposta. A mensagem foi clara. ─ Tente se libertar do esforço pela aprovação e poder, nenhum deles são capazes de fazer você feliz. 229 Era a intenção de Nathan fazer Nigel pensar a respeito disso. Ele viu que ele foi bem sucedido e então o tranquilizou imediatamente. ─ Não se preocupe, isso faz parte do seu processo de evolução. É importante que você aprenda a procurar quais sentimentos são a origem dos seus motivos. ─ Os motivos também têm sentimentos? ─ Motivos também são pensamentos, eles existem por eles mesmos. Como eu disse a você mais cedo, todos temos a capacidade de ligar os pensamentos aos sentimentos. ─ De onde vêm os pensamentos, então? Nathan olhou para Nigel e percebeu naquele momento que ele tinha que pedir a Nigel para acompanhá-lo ao seminário em Los Angeles. ─ Vadim me pediu para dar uma palestra em Los Angeles na semana que vem. Eu falarei sobre a origem dos pensamentos. Você quer vir? ─ Gostaria muito! ─ Bom, Deborah também virá. Ficaremos por lá por todo o fim de semana. ─ O pai de Seth vive em San Diego e ele frequentemente pede para ficarmos em suacasa. Talvez devêssemos visitá-lo primeiro. Seth certamente ficará feliz, eu falarei com ele primeiro. Um pouco depois Nathan se preparou para sua palestra. Vadim deu a ele conselhosvaliosos. Em um curto período, Nathan ficou preparado para se tornar um orador público muito capaz. Seth respondeu entusiasticamente ao convite. Nathan, Deborah, Nigel e Seth saíram juntos no avião para San Diego, onde o pai de Seth os aguardava. Ele era um homem jovial que já conhecia Deborah e Nigel. Ele dirigiu-se a Nathan e se apresentou. Seu nome era Richard.─ Então você é Nathan! Eu tenho ouvido muito sobre você e quero agradecer por salvar a vida do meu filho. ─ Obrigado a você pela hospitalidade, respondeu Nathan. Em relação ao que aconteceu em Puerto Angel, foi uma experiência que deu ênfase à percepção para todos nós. ─ Definitivamente, por todos nós, enfatizou Deborah. ─ Eu tenho que dizer que por causa disso Seth também mudou, Richard acrescentou. Ele tem se tornado mais calmo e mais pensativo. Poderia isso ter algo a ver com todo o que aconteceu? ─ Uma grande mudançasempre toma lugar internamente e então se expressa externamente, respondeu Nathan. 230 Richard não entendeu imediatamente o que Nathan queria dizer. Ele ouviu algo sobre ele e acenou como se ele tivesse a confirmação do que ele tinha ouvido. Richard viviaem uma grande vila com um jardim enorme. Existiam lagos repletos de peixes coloridos no jardim e uma grande piscina em forma de concha. Seth e Nigel imediatamente trocaram suas roupas para roupas de banho e pularam na piscina. Nathan e Deborah sentaram próximosáRichard. Eles estavam sentados nas sombras de grandesárvores quando Anna, uma garçonete de sotaque espanhol, veio perguntar o que eles gostariam de beber. Quando Nathan ouviu que Anna veio do México, ele disse que esteve lá recentemente e havia viajado por grande parte do país. ─ Eu vim de Guadalajara, mas não vou lá há cinco anos. Quase toda a minha família vive lá. Nathan pode sentir que a mulher estava emocionada pelo seu tom de voz. Ele suspeitou que ela provavelmente não poderia deixar uma cidade como aquela e retornar sem problemas. ─ Você sente falta deles? ─ Eu sinto falta das pessoas, disse Anna, eu sinto falta do país, sinto muita falta. Nathan agora falou em espanhol. ─ Quando você sentir falta de algo, você tem que aprender a ver isso com o seu coração. Seu coração te coloca emtodos os lugares. Anna sorriu e também respondeu em espanhol. ─ Dizemos que quando sentimos amor por alguém, iremos sempre ver mais do que nossos olhos podem ver! Anna foi alegremente para dentro da casa e preparou suco de frutas frescas. Richard, que também falava espanhol, seguiu a conversa. ─ Você é muito astuto, Nathan. ─ Quando você escuta o seu coração, você ouve o que acontece no coração de qualquer pessoa, complementou Nathan. ─ Como você faz isso? Richard quis saber. ─ Falando sobre sentimentos podemos abrir atalhos para outros sentimentos. Richard estava ficando impressionado com Nathan. ─ Eu ouvi que você está indo dar uma palestra que é normalmente dada por Vadim e que o público será composto por escritores renomados e roteiristas. ─ Talvez você pudessevir também amanhã à noite? Nathan perguntou. 231 ─ Normalmente eu tenho algo mais planejado, mas eu posso reprogramá-lo. ─ Estou certo de que você não iria recusar, disse Deborah. Após um momento de silêncio, Richard propôs uma ideiapara Nathan. ─ Nathan, eu posso ajudar você a fazer dinheiro dando palestras. ─ Obrigado Richard, mas para mim isso é sobre algo mais. Os drinques foram servidos em belos copos de cristal. ─ Qual é o seu motivo então? Richard quis saber. ─ Estou preocupado com a humanidade, respondeu Nathan. Houve um pequeno silêncio. Todos estavam bebendo seus sucos. Depois de pouco tempo, Richard falou novamente. ─ Para ajudar a humanidade você precisa de recursos, e para adquirir recursos você precisa de dinheiro. Nathan olhou ao seu redor novamente e viu como tudo exibia luxúria. Ele sabia que isso era um assunto sensível com Richard e falou cuidadosamente. ─ Existe dinheiro suficiente no mundo. O que perdemos é o discernimento! ─ Que tipo de discernimento você está falando, Nathan? ─ Discernimento doque a humanidade realmente necessita! Seth veio beber seu suco e correu em direção à piscina. ─ Você despreza o dinheiro, Nathan? Richard perguntou. ─ Eu tento dar ao dinheiro o menor papel possível em minha vida. ─ De acordo com você, é errado apreciar o dinheiro? Richard perguntou. ─ Nunca é errado apreciar, enquanto não é para a desvantagem de outra pessoa. Embora a vida tenhame ensinado que aqueles que apreciam a riqueza, são aqueles que precisam o mínimo, na maioria das vezes.Novamente a conversa seguiu silenciosa. Mais tarde Nathan ouviria de Seth que essas palavras fizeram o seu pai pensar. ─ Nathan, disse Richard, eu quero te perguntar uma coisa. Quando eu lhe disse que Seth tem se tornado mais pensativo, você disse que grandes mudanças primeiro se iniciam internamente e então são expressas externamente. O que exatamente você quis dizer? Deborah olhou para Nathan. ─ Posso responder essa? ─ Vá em frente, Deborah! Nathan disse. ─ O que Nathan quis dizer é que grandes mudanças são resultados visíveis do nosso processo de evolução. Tais processos começam 232 com o nosso nascimento e se diferenciam de pessoa para pessoa, dependendo dos discernimentos que tenhamos obtido. Richard acenou e a resposta pareceu ser suficiente para ele. No dia seguinte eles tomaram o café da manhã juntos no terraço. ─ Quais são os seus planos para hoje? Richard perguntou. ─ Após o café eu quero mostrar aos nossos convidados os mais belos lugares de San Diego, disse Seth, e à tarde talvez nós possamosir para a praia. Nathan, Deborah e Nigel concordaram com o programa. Após o café da manhã quatro deles exploraram San Diego. Ao meio-dia eles almoçaram em um dos muitos restaurantes no dique. Mais tarde eles foram para a praia. Nathan procurou por um local apropriado para tirar uma sesta, seguindo um bom costume. Ele foi o primeiro a adormecer. Em seguida Nigel seguiu o seu exemplo. Deborah leu um livro, enquanto Seth colocava os headphones e ouvia música. Quando Nathan e Nigel acordaram, todos eles mergulharam no mar. Quando eles saíram da água, Nathan disse a eles que poderiam começar a ir para casa. Ele iria seguir um pouco mais tarde. Uma vez sozinho, Nathan foi ao fundo da água para se fortalecer para sua primeira grande missão como guia. Uma vez no fundo na água, ele abraçou completamente o silêncio e encontrou a força para sempre encontrar as palavras certas, para transferir suas mensagens da maneira mais adequada. A voz que ele ouviu claramente pela primeira vez alguns dias atrás, enquanto ele estava em seu quarto em San Francisco, inegavelmente veio para ele de novo, "O universo dará sempre a você a força que precisar." Com essas palavras, Nathan sentiu sua autoestimacrescer ainda mais. Ele percebeu por algum tempo que sua vida inteira foi compreendida de mensagens que ele anunciaria e que o universo inteiro o ajudaria, mas hoje cada célula de seu corpo estava verdadeiramente convencida disso. Quando ele retornou da água, sentiu uma segurança invencível. Nathan nunca antes havia sentido isso tão poderosamente. Uma vez na casa de Richard, Nathan tomou banho. Então ele se juntou aos outros na mesa. Anna preparou um prato com frutos do mar delicioso. Depois cada um se preparou para a viagem para Los Angeles. Cada um pôs sua melhor roupa para essa ocasião. Nathan vestiu uma bela blusa azulclarae uma calça de linho branca. Cinco deles entraram no interior negro brilhante do carro de Richard. Depois de algumas horas eles chegaram a Los Angeles. Quando eles entraram no prédio do congresso, eles puderam ver que muito mais pessoas assistiram ao 233 seminário do que eles esperavam. Até Deborah, que acompanha Vadim regularmente às suas leituras, estava surpresa de quantas pessoas haviam vindo. Por causa da presença de grande número de pessoas bem conhecidas, muitos jornalistas também vieram cobrir todo o evento. Essa noite houve três locutores no programa. Cada um deles falaria por meia hora com uma pausa de quinze minutos entre eles. O primeiro locutor foi um famoso psicólogo de Chicago com um grande serviço recorde. O segundo era um filósofo do Brasil. E Nathan seria o terceiro, atuando como substituição em nome de Vadim. Nathan se sentiu bem tranquilo, e isso o surpreendeu. Nigel e Seth eram os únicos que estavam nervosos. Deborah sentiu a serenidade de Nathan e ficou calma, como resultado disso. Todos sentaram próximos uns dos outros. Durante a sua palestra, o primeiro locutor explicou como o cérebro trabalha. Ele ajustou o nível para o público usando conceitos claros e simples. Após a primeira pausa, o segundo locutor apareceu. Quando ele apareceu no palanque, Richard sentiu-se subitamente muito entusiasmado. Quando Seth perguntou a ele o que causou isso, seu pai respondeu que o palestranteera um velho amigo seu que se mudou para o Brasil anos atrás e essa era uma surpresa muito agradável. O filósofo era um belo homem negro de quarenta anos. Seu nome era Melvin e ele deu algumas classificações muito interessantes sobre a maneira na qual nossa inteligência vocal vivencia a realidade. Ele indicou que nós vivenciamos a realidade pelos nossos sentidos enquanto eles ocorrem na superfície das coisas. Ele imediatamente complementou que nós temos que estarcientes que nossos sentidos também escondem a realidade enquanto ela se torna aparente. Então Melvin mostrou como nós poderíamos subdividir a realidade em três dimensões, duas das quais são mais ou menos conhecidas para nós. De acordo com ele, a terceira teve de ser redescoberta por muitos. Nathan continuaria ouvindo essa passagem em sua mente, palavra por palavra. Melvin traçou a primeira dimensão como a nossa observação do mundo físico. Ele chamou de a primeira realidade: A vida, vivida por cada um de nós, dependendo do nível no qual nós estamos acerca do nosso processo de evolução pessoal. A segunda dimensão continha o modo de pensar do nosso ambiente. Nessa segunda realidade nós podemos encontrar todas as formas da nossa influência consciente, e como isso se aplica a todas as coisas. 234 Melvin prestou mais atenção para a terceira dimensão. Ele disse que essa realidade era o conhecimento de nossa consciência, o conhecimento que nos aproxima de nosso centro. Melvin explicou que esse conhecimento estavaalém do mundo físico e então não poderia ser encontrado na primeira dimensão. Isso também não poderia ser encontrado na segunda dimensão, porque esse conhecimento era em um nível mais profundo que o dos pensamentos do nosso ambiente. Melvin enfatizou que nós podemos apenas obter a realidade dessa terceira dimensão por nós mesmos. Essa dimensão pode apenas ser acessada por um caminho que não é determinado ou indicado pelo nosso ambiente. Mesmo sábios conselhos de nosso ambiente não poderiamnos ajudar com isso. Entretanto, sábios conselhos poderiam contribuir para um grande conhecimento geral e até para um melhor conhecimento sobre nós mesmos, mas apenas o exercício individual poderia nos dar discernimento em nossa consciência e capacitar-nospara obter o discernimento para os nossos sentimentos. Quando eles ouviram essas últimas palavras, Nathan e Richard se olharam, percebendo que exatamenteno dia anterior eles haviam conversado sobre o que as pessoas realmente necessitam. Desde as primeiras palavras pronunciadas por Melvin, Nathan havia percebido que ele não havia simplesmente aparecido em sua vida e que ele faria uma grande contribuição. O fato de Melvin ser um amigo de Richard não era uma coincidência. Durante a pausa, Richard avistou Melvin. Ele o viu em uma mesa um pouco mais abaixo. Ele estava bebericando um drinque, enquanto muitas pessoas vinham cumprimenta-lo. Melvin imediatamente reconheceu Richard. Ambos estavam muito felizes de se verem novamente. Durante a conversa, Richard mencionou a razão para a sua presença. Dessa forma Richard aprendeu que há algum tempo Melvin havia conhecido Vadim em Seattle. Ele manteve uma impressão muito boa e no momento ele achou a palestrade Vadim muito impressionante. Melvin complementou dizendo que quem quer que esteja substituindo Vadim, certamente valeria a pena ouvir. Melvin quase não podia acreditar que hoje seria a primeira palestra de Nathan. Aquilo o fez ainda mais curioso. Richard olhou ao seu redor para ver se ele poderia convidar Nathan para a mesa deles, mas exatamente naquele momento o fim da pausa foi anunciado. Melvin sentou próximo a Richard, no mesmo assento que Nathan havia usado. Enquanto isso Nathan pisou no palanque e foi anunciado. A mulher que o anunciou, leu uma pequena nota 235 preparada por Vadim. Nela, ele se desculpava por sua ausência. Vadim complementou que o público deveria estar muito orgulhoso, porque hoje à noite eles seriam testemunhas da primeira palestra pública de alguém que possui uma disposição para passar mensagens nunca mostrada antes. Nathan se levantou depois dessas palavras. Ele foi ao microfone e imediatamente iniciouuma nota cômica, em reação às palavras de Vadim. ─ Muito obrigado, Vadim, como se a pressão não fosse grande o suficiente! Então Nathan olhou para o público e foi surpreendido, pois não se sentiu pressionado. Mesmo agora que ele estava de pé no palanque, ele se sentiu tão relaxado como o usual. Os ouvidos atentos até deram a ele uma boa sensação. Ele estava ciente de que todas as forças do universo o ajudavam. E não poderia ser de outra maneira, visto que ele era predestinado para isso. Ele começou sua palestra agradecendo a Vadim pela oportunidade oferecida a ele e pelas suas respeitosas palavras. Depois, Nathan informou ao público que sua palestra se basearia na origem de nossas causas. Ele complementou que ele havia preparado esse texto junto com Vadim. Antes de ele continuar, Nathan perguntou a um cameraman se ele poderia conseguir uma cópia da gravação. O cameraman admirou-se sobre a pergunta, mas imediatamente concordou em fazer. Depois dessa introdução, a curiosidade na sala era extremamente grande. Nathan foi bem sucedido em prender a atenção de cada um. ─ Eu tenho ouvido que hoje à noite existem escritores, roteiristas, atores e outras pessoas criativas nessa sala. Então vocês são perfeitamente capazes de entender que essa criatividade vem a nós na forma de pensamentos. A questão é por que cada um não usa seus pensamentos criativamente ainda mais então, se sabemos que cada pessoa é inclinada a alcançar algo único na Terra. Então, talvez nós devêssemos discutir primeiro a natureza dos pensamentos e então o que nos causa colocar certos pensamentos em ação. Ou, colocando nas palavras do locutor anterior: "Trazer conhecimento da terceira dimensão para a segunda e finalmente para dentro da primeira." Nathan piscou para Melvin, que por sua vez acenou e sorriu. Depois Nathan deu uma explicação muito detalhada, porém clara, da direção dos pensamentos. Usando isso, ele explicou como os pensamentos que vêm a nós estão seguindo um plano fixo, que formou o plano para o processo universal de evolução. Nathan 236 poderia discutir sobre a ordem universal muitas vezes. Nathan também falou sobre a importância de fazer distinções entre os pensamentos com uma força construtiva e os com uma força destrutiva. Aprendendo a fazer essa distinção nos faz ver a construção ou a quebra da energia, não apenas em nós, mastambém em outros. Nathan também notou que quando fossemosser capazes de reconhecer pensamentos construtivos e aprender como os usar criativamente, seríamos também capazes de fazer essas coisas visíveis, que estavam escondidas até esse momento. Nathan terminou fazendo sua ciência pública da posição privilegiada que eles têm em propagar novos pensamentos pelo mundo todo. Ele enfatizou as oportunidades que isto ofereceu, mas também a responsabilidade que isso exige. Quando Nathan terminou de falar, um curto período de silêncio seguiu. Lentamente suas palavras penetraram através da multidão. Os aplausos começaram lentamente, mas se tornaram muito fortes e se mantiveram por algum tempo. Todos o ovacionaram de pé. Cheio de admiração, Melvin e o primeiro locutor também aplaudiram. Depois da palestra, grande parte das pessoas quiseram apresentar-separa Nathan. Então demorou algum tempo até que ele pudesse se juntar aos seus amigos novamente. Eles confirmaram o quão fortemente o público ficou tocado por suas palavras. Então Nathan foi apresentado a Melvin. Eles se agradeceram pelos novos discernimentos que adquiriram ouvindo as palestras um do outro. Nathan falou sobre a jornada que ele iniciou anos antes e disse que ele está ficando atualmente com Vadim, Deborah e sua mãe em San Francisco. Melvin disse que ele poderia ficar algumas semanas nos Estados Unidos antes que ele retornasse para o Brasil. Deborah estava ouvindo também e sugeriu um encontro em San Francisco. Ela estava convencida de que Vadim também ficaria feliz com sua chegada. Melvin agradeceu a eles e aceitou esse convite, mas primeiro teve que cuidar de alguns outros compromissos. Richard, que encontrou alguns outros colegas, retornou e tomou um drinque no bar. Lá eles relembraram sobre eventos da juventude de Melvin e Richard. Richard também convidou Melvin para visitá-lo em casa. No dia seguinte Richard retornou para San Diego. Nathan retornou para Laguna Beach junto com seus amigos. Nathan gostou desse lugar. Eles fizeram uma longa caminhada e também visitaram uma galeria de arte. Seth contou a eles que Jennifer havia feito algumas exposições ali. Agora Nathan se lembrou de Sophie e do fato de que seria interessante se ela e Jennifer se conhecessem. 237 Assim como em Nova Iorque, Nathan também falou com as pessoas para ver se seria possível para Sophie expor seus trabalhos de arte ali. O gerente da galeria de arte reagiu entusiasticamente. No dia seguinte, o grupo retornou para San Francisco. Durante o vooNathan ponderou todos os eventos dos últimos dias. Na sua chegada Vadim parabenizou Nathan por sua palestra e falou a ele sobre as reações positivas que ele recebeu. Durante os próximos dias, Nathan ainda receberia múltiplas ofertas para organizar palestras em vários lugares, mas ele decidiu não aceitálas por enquanto. O encontro mensal em Carmel foi planejado para essa semana. Na sexta à noite, NathanDeborah e sua mãe foram lá. No dia seguinte, Vadim poderia seguir. A mãe de Deborah foi dormir quando eles foram para casa. Nathan e Deborah saíram para um passeio. Era noite e eles admiravam o céu estrelado. Nesse momento Nathan lembrou algo que ele havia lido uma vez; supostamente durante a noite os pensamentos procuram por novos hospedeiros. Deborah disse a Nathan que ele precisava repousar bem porque os encontros amanhã poderiam demorar muito. Nathan declarou que ele já estava descansando, porque esse lugar o fazia sentir-sebem. No dia seguinte cerca de dez pessoas chegaram para o encontro. Nathan era de longe o mais jovem do grupo. Muitos dos convidados eram professores e cientistas e vieram de todos os Estados Unidos. Cada um conhecia o outro, com exceção de Nathan. À tarde eles foram a uma grande sala e tomaram café. No início do encontro, Vadim apresentou Nathan. Ele disse que ele estava tomando para si uma grande jornada e que ele estava agora explorando os EUA, e que depois estaria na Europa e na África. Então Vadim também disse algo relativo ao sucesso da palestra de Nathan em Los Angeles. Nesse momento uma das pessoas presentes também disse que ele ouviu que Nathan havia deixado grande impressão em Los Angeles, embora tenha sido sua primeira palestra. Outro homem perguntou a Nathan sobre o que sua palestra tratou. Nathan respondeu declarando: ─ Como o público consistiu de pessoas do mundo cultural, eu quis primeiro discutir o que realmente os motiva durante o trabalho deles. Então eu mostrei a eles as consequências que suas mensagens poderiam causar. Todos os convidados presentes viram que Nathan tinha um nível de autoconfiança extremamente bem desenvolvido pra discutir tais temas, sendo um palestrante jovem e inexperiente, e que ele 238 realmente queria se suceder com sua intenção. O grupo começou o encontro discutindo muitos assuntos. Nathan não quis se impor sobre eles e na maior parte do tempo ouviu atentamente. Em certo momento uma mulher perguntou a Nathan qual a coisa mais importante que ele havia aprendido durante a sua jornada. Nathan tomou algum tempo para ponderar sua resposta: ─ Que um número crescente de pessoas estáseguindo uma abordagem materialista da vida e por isso tem pouca harmonia entre suas ambições e suas ações. Um homem perguntou a Nathan o que causou isso. ─ O mundo está evoluindo de tal maneira que mais ênfase é colocada no desenvolvimento intelectual e tecnológico. Por causa de essa humanidade ter caído em um ambiente competitivo e consequentemente os aspectos físicos e emocionais estão sendo abandonados. Nathan deu uma pequena pausa para apreciar seu drinque. Ele prestou atenção cuidadosamente a sua pausa e tomou tempo suficiente para manter atenção otimizada e então continuou. ─ Muitas pessoas não estão procurando indícios que os conduza para seus destinos verdadeiros ou para o trabalho concreto que os proporcionam ganhar mais satisfação interior. Para eles isso é usualmente sobre dinheiro, status ou desempenho. No fim, eles se tornam apenas como máquinas e isso significa que essas pessoas não viveram realmente. Alguém então disse que as ideiasque Nathan estava explicando, para ouvir mais os nossos sentimentos, têm de ser anunciados por todo o mundo. ─ O que você pensa disso, Nathan? Vadim perguntou. ─ Você não pode forçar as ideias nas pessoas, ninguém quer isso. Uma mulher então disse que nós deveríamos ter uma delicada aproximação. Então Nathan citou outro elemento que deve ser levado em conta. ─ Assim como a água toma outra forma dependendo do vaso em que é posta, cada ideia é diferente dependendo do ouvinte! Com isso, Nathan demonstrou belamente a diversidade de percepção. A mesma mulher então perguntou a Nathan o que ele proporia. ─ Nós não podemos impor os pensamentos nos outros. O que podemos fazer é forçar as pessoas a pensar! Alguém então disse que isso poderia tomar séculos antes detodos tomaremciênciadisso. 239 ─ Se a maneira na qual essas ideiassão anunciadas forforte demais, então o tempo não irá desempenhar um papel nisto! Existiu um silêncio. Ninguém no grupo disse uma palavra. Todos estavam olhando para Nathan. ─ O que eu quero dizer é que o que nos mantém num mundo ideal não é mais do que um segundo. Esse momento em que todos nós iremos considerar o mesmo pensamento no mesmo tempo e decidir localizar movimento através das nossas ações! Durante esse encontro Nathan não deixou ninguém intacto. Nos dias seguintes Nathan e Vadim tiveram muitas conversas sobre o futuro do mundo. Uma manhã, Nathan e Vadim receberam uma carta, endereçada para ambos. A carta veio do Brasil. Melvin, o filósofo, que também deu uma palestra em Los Angeles, enviou a carta. Melvin contou a eles que ele, devido a todos os seus compromissos, não encontrou tempo para visitá-los em San Francisco. Ele se desculpou por isso e os convidou para vir ao Brasil. Eles poderiam ficar em uma pousada de um de seus amigos. A pousada, um hotel designado para parecer acomodações locais, era na costa da Bahia, em Salvador. Melvin moravano centro da cidade. Nathan e Vadim discutiram a proposta de Melvin e decidiram viajar para lá durante o feriado da Páscoa. Vadim poderia apenas ficar lá por uma semana e Nathan, que não tinha compromissos, poderia provavelmente ficar lá por mais tempo. Eles saíram durante o primeiro fim de semana do feriado de Páscoa. Deborah, Nigel e Seth os levaram ao aeroporto. Cada um novamente expressou sua gratidão a Nathan. Seth falou primeiro: ─ Meu resgate significou o fim e também o início de uma nova vida. Eu nunca esquecerei que esse renascimentonãopoderia ter lugar, graças a você. Você pode acreditar que eu irei manter minha promessa para sempre. Nathan deu um grande abraço nele. Então Nigel veio dizer adeus. ─ Graças a você eu sei que nós temos a capacidade de mudar o destino a qualquer momento e que cada um de nós é capaz de fazer coisas grandes. Eu serei eternamente grato a você por isso. Depois, Nigel agradeceu a Nathan, eles se deram um grande abraço. As palavras finais vieram de Deborah. Ela tentou segurar as lágrimas, mas não pode. ─ Você tem me dado o mais belo presente que uma pessoa poderia receber. Você me deu plena confiança de que existe realmente um desenho da base do universo. 240 Eles se abraçaram fortemente. Deborah sussurrou essas últimas palavras nos ouvidos de Nathan: ─ Mesmo que nós nunca venhamos a nos ver novamente, tenho certeza que irei ouvir de você! Nathan olhou profundamente em seus olhos. Era como se eles pudessem entender um o pensamento do outro. Ele sorriu e a abraçou forte. Nathan tinha uma última mensagem para seus amigos. ─ Cuidem muito bem uns dos outros e lembrem-se de que o sentido da vida é dar sentido a ela! 241 242 -8Confiança Ilimitada 243 244 Convicção Após várias escalas Nathan e Vadim finalmente chegaram a Salvador, Bahia. Melvin estava esperando por eles. As primeiras palavras que Vadim e Melvin trocaram imediatamente deram o tom para conversas excitantes. ─ Bem vindos ao país do futuro! Disse Melvin. ─ Por que isso? Disse Vadim ─ Por causa do que tem sido dito a respeito deste país, respondeu Melvin. Ou seja, que o Brasil é o país da “esperança sem fim”. Como Nathan esperava, Vadim e Melvin mostraram um grande interesse e apreciação um pelo outro. Quando eles estavam dirigindo do aeroporto para a pousada, Melvin explicou porque ele estava tão apaixonado pelo país. Ele falou poeticamente a respeito das pessoas maravilhosas e das paisagens extraordinárias. Melvin disse que no Brasil houve um encontro das culturas indígena, africana e europeia. ─ Todas essas culturas ainda são existentes aqui! Ele disse. Enquanto eles estavam dirigindo pela costa em direção ao norte, Nathan pôde perceber que havia chegado a um país especial. As primeiras impressões o encantaram e deram a ele um sentimento irreal, como se ele estivesse admirando uma pintura. A paisagem adiante dele estava cercada por florestas tropicais com o Oceano Atlântico no plano de fundo e um magnífico céu azul por cima. Eles chegaram a um lugar chamado Sítio do Conde. Na praia eles encontraram cabanas de madeira, feitas com folhas de palmeira e cercada por coqueiros. Uma vez na pousada, Nathan e Vadim foram apresentados ao muito amigável João, um bom amigo de Melvin e um homem com um verdadeiro amor pela vida. Ele havia projetado a pousada sozinho e falou orgulhosamente sobre como ele a havia criado, até os pequenos detalhes. Tanto a enorme vivenda quanto o jardim exótico com piscina foram atrativamente planejados. Nathan disse que estava claro que ele havia feito com entusiasmo. Após João tê-los levado para um completo reconhecimento do local, ele levou os hóspedes para seus quartos. Quinze minutos depois todos retornaram para o pátio da piscina. Havia ficado muito quente, mas o ar era fresco àsombra das grandes árvores. João pediu um pouco de água de coco. Melvin 245 agradeceu seus convidados por vir visitá-lo e, virando-separa Vadim disse: ─ Finalmente nos vimos de novo. Desta vez teremos mais tempo para colocarmos nossa conversa em dia. ─ Obrigado a você por ter-nos convidado. ─ Obrigado a vocês também por aceitarem o convite! ─ Vocês têm muito em comum,disse Nathan. Ambos estão tentando realizar o mesmo objetivo. Eu acho fascinante que estejam se encontrando novamente. Vadim reagiu primeiro, dizendo a Melvin: ─ Eu sei que você é famoso por apresentar e dividir sabedoria como um meio de viver dirigido para o descanso espiritual e a felicidade interior. ─ O espírito não brilha somente por si mesmo, declarou Melvin. De qualquer formaé,sobretudo por causa do reflexo desta luz em outros espíritos que alguém se torna consciente. ─ Desta forma, você pode libertar as pessoas de suas ilusões, Vadim adicionou, e mostrá-los a pura realidade exterior às limitações de observação habitual. ─ Você faz isso também, disse Melvin. Graças ao seu trabalho, pessoas são mais bemcapacitadas para entender que o mundo não é uma coleção aleatória de coincidências circunstanciais, mas sim um sistema ordenado curiosamente. Nathan ouviu estes homens especiais trocando elogios entre si. ─ O que vocês têm em comum com certeza, ele disse aos dois, é que vocês dois são capazes de influenciar as crenças fixas das pessoas. ─ E, portanto, de toda a humanidade, adicionou Vadim. ─ De fato, disse Melvin concordando, porque no final, a humanidade consiste na soma de todas as convicções unidas. Elas formam a fonte da qual todos os sentimentos e ações se originam. ─ Outra coisa que vocês têm em comum, notou Nathan, éque ambos são sensíveis à essência do mundo e querem especificamente esclarecer este aspecto. ─ Comunicação com os outros é um fator importante, disse Melvin. ─ Está certo, Vadim concordou. Quando nós estamos em um mundo fechado de pensamento, nossa produtividade chega a um impasse. É confrontando os outros que o diálogo se torna possível. 246 ─ É somentepor uma troca aberta de pensamentos que a sabedoria pode crescer e que a apreciação, o entendimento e o encantamento podem prosperar organicamente, continuou Melvin. ─ Quando as pessoas prestam atenção umas às outras, os seus espíritos se encontram, disse Vadim. Seus pensamentos então se entrelaçam e se dispersam; assim dá significado a suas existências. ─ Você também vê diferenças entre nós? Melvin quis saber. ─ Não as fundamentais, de qualquer maneira. Talvez, por sua experiência particular. Vadim tem um olhar mais para evidências prováveis e Melvin assume que é mais importante que não julguemos uns aos outros. ─ Nossa meta em comum é que nós três lutamos por mais felicidade no mundo, concluiu Vadim. Melvin sugeriu a Nathan e Vadim que descansassem pelo restante do dia, uma vez que eles haviam completado uma longa jornada. Ele estaria esperando por eles no dia seguinte em Salvador e mostraria a cidade a eles. Após o almoço, Nathan e Vadim foram explorar a costa. Eles alugaram um carro e dirigiram para um cativante lugar chamado Mangue Seco. Quando eles chegaram, o sol estava brilhando ininterruptamente na praia. A água estava com um estonteante verde turquesa. Vadim deitou-se à sombra das árvores próximas enquanto Nathan mergulhou na água clara. Quando o tempo se tornou mais fresco, eles visitaram a vila. Então eles retornaram para sua pousada no Sítio do Conde onde aproveitaram uma refeição prazerosa. No dia seguinte eles se dirigiram para Salvador e lá, conforme combinado, Melvin os estava esperando em sua casa para levá-los para um passeio pela cidade. Melvin vivia em Santo Antônio, um distrito mais velho, com casas atraentes. A casa de Melvin possuía uma vista da praia da cidade. Do terraço, Melvin pôde ver seus convidados chegando. Ele os deixou entrar e ofereceu-os água gelada. Então eles começaram o passeio pela cidade. Primeiro eles visitaram o coração da cidade, o distrito do Pelourinho. Um distrito acolhedor com muitas casas coloridas. Aqui eles também encontraram muitos restaurantes, terraços e pequenos bares, dos quais uma música animada reverberava.Melvin disse a eles que a cultura africana era tão profundamente enraizada neste lugar, que Salvador era chamado de Memorial africano do Brasil. Em todos os lugares, podiam-sever mulheres negras que estavam vestindo belos vestidos brancos, e envoltórios de cabeça intrinsecamente concebidos. Os homens eram cumprimentados de maneira amigável por quase 247 todos que encontravam. Melvin disse a eles que os habitantes de Salvador eram pessoas muito felizes que aproveitavam toda oportunidade para fazer uma festa. Após uma longa caminhada através da cidade eles chegaram a um lugar onde moças e rapazes atléticos estavam dançando capoeira, que é a graciosa arte marcial. A arte consiste emfazer movimentos fortes enquanto se dança o mais perto possível do seu oponente sem tocá-lo. Os homens sentaram-se em um atrativo restaurante na esplanada. Melvin pediu uma refeição regional, frango com macarrão e camarão, cozido no óleo de dendê e molho de tomate. Enquanto esperavam beberam três caipirinhas geladas, a bebida nacional do Brasil. Então, tomaram algum tempo para admirar a maravilhosa arte dos dançarinos de Capoeira. Todos os elementos apropriados estavam presentes para uma boa conversa, que era o passatempo favorito deste grupo. Nathan deu o tom aqui também. Enquanto falava,apontou para os dançarinos. ─ A paixão tem que ser uma das condições para a felicidade? ─ A felicidade é principalmente experimentada quando alguém pode expressar sua criatividade e alegria. Melvin respondeu. Se você olhar para eles você pode ver que têm seus movimentos cuidadosamente estudados. Agora expressam sua criatividade e sua alegria compartilhando conosco. ─ Eu sou da mesma opinião, disse Vadim. Em minha opinião, não existe um caminho definido ao qual todos deveriam seguir para encontrar a felicidade. Uma vida feliz somente pode ser vivida enquanto olhamos para o caminho que é o verdadeiro para nós e então por segui-lo. ─ Sim, surge como um resultado da descoberta dequem nós realmente somos, ─ continuou Melvin, a partir do desenvolvimento de nossos talentos específicos e de repartir estes talentos com os outros. ─ Você ilustrou com beleza, disse Nathan. ─ De fato, eu acho que nós dois aprendemos a desenvolver nossa felicidade compartilhando nossa sabedoria, revelou Melvin. Nós sabemos que quanto mais compartilhamos nossa sabedoria, mais será acrescentado a ela. Isso é provavelmente o porquê de sempre estamos procurando por novas pessoas. ─ Eu passo por este processo com os meus alunos, disse Vadim. Quando estou ensinando, isto significa que o que está na minha cabeça é transferido em tantas partes quanto há ouvintes e, uma 248 vez que cada um tem um passado diferente, cada um tem um contexto diferente. ─ Definitivamente, eu tenho notado como cada um de seus estudantes tem recebido suas mensagens pegando-as por diferentes pontos de vista, comentou Nathan. A informação foi filtrada por suas crenças pessoais e por seus próprios sentimentos. ─ Por causa disso, nossos ouvintes podem descobrir coisas que nós podemos não haver notado – Melvin enfatizou. ─ É isso que é tão brilhante a respeito do conhecimento! Disse Vadim. Quanto mais conhecimento compartilhamos, maior nosso conhecimento se torna! ─ São poucas as coisas que nos dão mais satisfação do que encontrar outras criaturas que querem se aproximar de nós, por sua própria experiência interior! Declarou o filósofo. Nathan estava exultante com a conversa e usou-a para mergulhar mais profundamente em alguns tópicos. ─ Você faz parte daqueles que lutam diariamente para usar o conhecimento para o bem. Lutar pelo bem é algo que pode ser ensinado? ─ Eu acredito que sim, Vadim respondeu, embora o bem seja algo mais experimentado do que pensado. No entanto, é verdade que nos tornamos similares às pessoas ao nosso redor, isso é uma tendência que podemos encontrar em todos os humanos. ─ Certamente, nós todos somos inclinados a reverter ou elevar a nós mesmos ao mesmo nível das pessoas em nossa volta, Melvin concordou. Todos nós ensinamos o que nós demonstramos com nosso próprio comportamento. ─ Isto confirma o que eu sempre pensei, disse Nathan. Então, o bem também pode ser ensinado e pode ser transmitido. ─ Com certeza, o cientista afirmou, embora se devanotar que para atingir bondade sincera, o ouvinte terá que tomar as ações necessárias. Durante os poucos dias que se passaram os homens discutiram várias coisas. Essas conversas sempre aconteceram em alguma espetacular cidade costeira do estado da Bahia, cada uma mais cativante que a outra. A primeira semana no Brasil voou e Vadim teve que retornar a São Francisco. Como esperado, Nathan não retornou, ele sabia que ainda tinha muito para ver e aprender muitas coisas no Brasil. Vadim despediu-se de Melvin um dia antes e junto com os vizinhos de Melvin, uma pequena festa foi organizada. Na noite antes de Vadim voar de volta para os Estados 249 Unidos, ele passou algum tempoasós com Nathan. Eles falaram sobre o país que Vadim havia escolhido como sua nova terra natal. ─ Por que você se mudou dos Estados Unidos para outro país? Nathan quis saber. ─ Mesmo quando criança o país me atraía, eu sempre soube que eu iria ficar lá. Mas deixe-me responder sua pergunta com outra pergunta. Qual foi a sua impressão enquanto você estava viajando pelos Estados Unidos? ─ É um país especial com uma mentalidade única. A candura e a atitude positiva do povo americano me impressionamrepetidamente. ─ Exatamente, e é por isso que os americanos são pioneiros e seus ancestrais vêm de todos os possíveis cantos do mundo. Eu mesmo trouxe o meu plano de fundo intelectual e cultural comigo. ─ Isto é provavelmente o que eu experimentei. Talvez o país não tenha uma longa história, mas certamente tem a incontável história de seus habitantes. ─ Uma vez que incorpora a história de todas as culturas, é provavelmente capaz de experimentar e expressar a evolução interior da humanidade de uma forma que ninguém mais pode. Com isto, Vadim respondeu à pergunta de Nathan perfeitamente. Desde criança Vadim queria contribuir para a evolução interior da humanidade e para ele, os Estados Unidos forneciam o lugar perfeito para que ele continuasse seu trabalho. ─ Sua parte nisto é de grande valor, Nathan continuou, e eu desejo a você todo o sucesso. No dia seguinte, Nathan acompanhou Vadim ao aeroporto onde eles se despediram. Ambos se tornaram amigos. ─ Graças a você, disse Nathan, eu aprendi a apreciar como os pequenos detalhes neste mundo adquirem infinito significado considerando a ordem universal. ─ Pessoalmente, graças a você, eu agora obtive uma confiança ilimitada em saber que tudo no universo vai de acordo com um plano, disse Vadim. Esta confiança já estava se desenvolvendo antes que eu te conhecesse, mas agora se tornou muito mais reforçada. ─ Estas são quase as mesmas palavras que Debora disse para mim quando nos despedimos, comentou Nathan. ─ Você é, de longe, a pessoa mais excepcional que tanto ela quanto eu, já conhecemos. Melvin me disse a mesma coisa. Nathan ouviu Vadim enquanto ele olhava para a distância. 250 ─ Eu sei que você tem altas expectativas, ele disse discretamente. ─ Mas especialmente confiança, Nathan. Todos nós confiamos que você irá restaurar o balanço entre o racional e o espiritualmente irracional. Após estas palavras, eles disseram adeus um ao outro. Enquanto Nathan estava dirigindo de volta para a pousada, ele manteve-se pensando nas últimas palavras de Vadim. Ele passaria o resto do dia no mar e deixaria a pousada no dia seguinte. Nathan alugou um carro e informou a Melvin que ele iria explorar a costa nordeste entre Salvador e Recife. Esta estrada costeira era cercada por coqueiros intercalados pela floresta tropical, havia vilas pesqueiras e magníficas praias brancas. Nathan aprendeu a falar bastantes coisasem português e passou por uma variedade de experiências. Ele achou que as áreas visitadas foram agradáveis por todo o caminho. Nas cidades maiores Nathan encontrou tempo para reunir o máximo de impressões possível. Assim ele ficou vários dias em Aracaju, Maceió e Recife, onde conheceu pessoas maravilhosas. Ele ficou por mais tempo na bela Recife, antes de dar a volta em seu carro alugado e voar novamente para Salvador. 251 Despertar Quando Nathan encontrou Melvin novamente ele contou a ele sobre o tempo maravilhoso que ele teve e descreveu suas experiências. Ele falou sobre as impressionantes florestas verdes que havia visto e contou a Melvin como ele havia dirigido por praias brancas que pareceram a ele completamente irreais. Nathan disse como ele havia notado que apesar de algumas pessoas terem pouco em seu nome, elas ainda irradiavam alegria de viver, com sua música e dança vivaz. Estas pessoas maravilhosas haviam deixado sua impressão nele juntamente com a magnificência do ambiente natural que ele havia descoberto. Nathan discutiu como ele havia experimentado contratempos e eventos inesperados. Ele notou que, como um resultado, ele havia experimentado cada encontro como se tivesse um significado especial, tanto para ele quanto para aqueles com quem se encontrava. ─ Quando você viaja pelo Brasil, disse Melvin, você não deve planejar muito, porque deve ser experimentado. ─ Graças aos meus encontros eu descobri a existência de novas coisas. Por exemplo, o que eu mais tenho notado neste país é que muitas pessoas são supersticiosas. ─ Você não tem que viajar para longe para compreender completamente quão grande é a influência da superstição no Brasil. Aqui em Salvador existem exemplos mais que suficientes. Aquela noite, graças a Melvin, Nathan descobriria uma multidão de crenças espirituais e rituais mágicos. Havia pequenas lojas e barracas com uma grande variedade de amuletos da sorte, ervas e bebidas mágicas sendo vendidas em vários lugares da cidade. Vários artigos eram para colocar uma maldição em alguém ou para compeli-los a confessar seu amor. Além disso, Nathan encontrou uma ampla variedade de poções, vendidos para melhorar a saúde, tais como, casco de tartaruga, peles de cobra e outros itens exóticos, cada um com o seus tão chamados “poderes sobrenaturais”. ─ Muitos desses impostores espalham as trevas sobre as vidas dos outros, disse Melvin. Eles pregam uma falsa sabedoria que é contagiosa, porque as pessoas olham para eles, uma vez que são vistos em uma posição de poder. 252 ─ Como você distingue entre pessoas sinceras e impostores? ─ Pessoas com más intenções diversas vezes escondem suas verdadeiras personalidades nos relacionamentos. Você pode descobrir isto de várias formas, há sempre sinais, e seus olhos geralmente são a primeira coisa que os entrega. Após um tempo, Nathan e Melvin chegaram a um lugar onde um grupo de pessoas estava sentado no chão assistindo a uma cerimônia. Melvin sugeriu que eles ficassem para assistir. Nathan concordou, e eles se sentaram no chão. Era um desempenho bem teatral, que fazia parte com um ritual, um homem fazia uma densa nuvem de fumaça e gritava bem alto. Nathan achou o desempenho estúpido, mas o que o intrigou mais era como a maioria dos espectadores estavam seriamente olhando para este homem. Ele tinha um sentimento similar com aquele que ele teve quando havia ido a um encontro espiritual com Songo. Aqui muitos também acreditavam nos estranhos poderes do homem, Após alguns minutos, Nathan disse a Melvin que eles eram espectadores de um show comum e que ele queria partir. Melvin notou o quanto Nathan ficara irritado por causa do engano sendo mostrado. Quando ambos se levantaram para sair, todos os presentes ficaram surpresos. Eles haviam acabado de chegar e já estavam de saída. O homem, que estava se apresentando, também os havia notado. Então algo muito inesperado aconteceu. O homem, que viu sua credibilidade sendo questionada, interrompeu seu ritual e ordenou a Nathan que permanecesse sentado. Embora Nathan estivesse assustado, ele agradeceu ao homem e disse que estava partindo. Apesar disso o homem insistiu. ─ Fique, porque você também precisa ser limpo! Agora todos estavam olhando na direção de Nathan. Melvin continuava muito calmo. Agora Nathan entendera que não havia entrado nesta situação por nada e respondeu ao homem com um forte tom de voz. ─ Não, obrigado, já vi o suficiente! O homem ficou amedrontado pelo grito de Nathan. ─ Você tem que gritar? Ele perguntou. ─ Me perdoe, eu pensei que você não podia escutar direito, já que estava gritando o tempo todo. Agora algumas pessoas presentes tiveram certa dificuldade de conter suas risadas. O homem claramente não estava feliz com a situação. Isso não interrompeu Nathan, que continuou a falar com ele. 253 ─ Mas me diga, por que eu deveria ser limpo? ─ De seus pecados, respondeu o homem. ─ Eu te ouvi direito? Nathan replicou. Agora Nathan olhou para os espectadores e falou no seu melhor português. ─ Este homem está dizendo que é capaz de me limpar de meus pecados? Então se voltou novamente ao homem. ─ É nisto que você quer que estas pessoas acreditem? Perguntou Nathan. ─ Você não sabe que estamos nesta terra para sofrer e desta forma limpar a nós mesmos de nossos pecados? Ohomem respondeu. Mais uma vez Nathan olhou silenciosamente aos espectadores e disse as palavras seguintes a eles. ─ Marquem bem minhas palavras e isto se aplica a todos os presentes. Ninguém está nesta terra para sofrer! E ninguém é capaz de nos limpar, exceto nós mesmos! Cada um de nós tem esta vida para melhorar a nós mesmos e se escolhermos este caminho, então seremos capazes de experimentar a verdadeira alegria. O homem quis reagir, mas não podia pensar em nada para dizer. Nenhuma de suas ideias era forte o suficiente para liberá-lo desta situação. Ele estava claramente fora de seu elemento e resolveu desafiar Nathan. ─ Devo provar os meus poderes para você? Ele gritou. Nathan se dirigiu a ele pessoalmente e disse a ele calmamente. ─ Os seus poderes não são segredo para mim. O que você faz é usar o medo para preencher o futuro daqueles que acreditam em você com experiências desagradáveis. E você sabe que você é a grande vítima, porque o medo deles não vai deixá-lo facilmente. O homem estava sem palavras. Era como se tivesse perdido a voz. Nathan havia jogado o medo contra ele. Agora o homem se tornara bastante inquieto. Nathan continuou a falar com voz calma. ─ Agora que você aprendeu isto através de mim, você não mais tem uma desculpa. Então, lembre-se em todas as suas ações e nas intenções que as precedem, que cada momento pode fazer a diferença entre vida e morte! Após dizer estas palavras, Nathan se virou e foi embora. Ele andou para casa com Melvin através das ruas escuras de Salvador. Todas as pessoas na reunião ficaram impressionadas por suas palavras. Algumas até seguiram Nathan e Melvin por certa distância. Alguns adolescentes andaram até eles para dizer que o homem havia feito 254 as malas e partido. Nathan estava quieto e Melvin deixou-o escolher o momento para quebrar o silêncio, que só aconteceu após vários minutos, quando eles estavam sozinhos. ─ Este evento me irritou! Disse Nathan, Eu não podia mais controlar meus sentimentos. ─ Nosso poder está intimamente relacionado com nossas fraquezas. Juntos eles garantem o equilíbrio que nos faz verdadeiramente quem somos. Sua raiva mostra a pessoa que você é, Nathan. ─ A pessoa que eu sou? ─ Você tem uma aversão inata à injustiça. É por isso que você sente por todas as pessoas que permitem a si mesmas serem mal guiadas e isso te irrita. Mas também é esta raiva que pede paraque você faça o que faz. Essa raiva fez com que você se levantasse desafiadoramente e, desta forma, fazer aquele homem agir. Isto era novo para Nathan e também deixava tudo muito mais claro. Sentimentos negativos podiam nos confrontar e nos impulsionar a fazer a coisa certa. ─ Minha raiva me fez agir daquela forma. ─ Aqui também, e talvez em maior medida, a visão é de grande importância. Nós devemos ser cuidadosos com sentimentos negativos e ter certeza de que eles não vão nos surpreender. Nós podemos fazer isso tomando algum tempo para escolher como lidaremos com eles. Nathan estava em profundo pensamento e não disse mais nada até que eles estavam parados em frente à porta da casa de Melvin. ─ Obrigado Melvin, eu aprendi uma importante lição hoje. ─ Eu também quero agradecer, em nome de todos aqueles presentes, nós testemunhamos um forte exemplo de coragem e inspiração. Nathan e Melvin agora passaram a maior parte dos dias que seguiram na companhia um do outro. Ambos aproveitavam a presença do outro e falavam por horas. Um dia Melvin e Nathan foram convidados para visitar Adriana, a mãe de Claudio, de dois anos de idade, que era filho de Melvin. Melvin e Adriana nunca viveram juntos, mas tinham um bom entendimento. Melvin não queria se comprometer, e Adriana aceitava isso. Adriana e Claudio viviam em Porto Seguro, uma cidade no sul do estado da Bahia. Quando eles chegaram à casa de Adriana, Nathan imediatamente percebeu que ela e Melvin tinham uma boa amizade. Nathan e Melvin foram para ficar por uma semana. 255 O incidente com o homem em Salvador deixou uma profunda impressão em Nathan. Junto com Melvin ele tentava entender como as pessoas divergiam de sua verdadeira espiritualidade por falsas crenças. Assim, eles tiveram uma interessante discussão sobre este assunto enquanto passeavam pela cidade de Arraial d’Ajuda. ─ É uma pena que a espiritualidade não seja mais que expressar expressões adquiridas, disse Nathan. É por isso que o significado mais profundo de espiritualidade está perdido e há pouco entendimento do significado superior. ─ Como você sabe, há diferentes graus de consciência. Muitos devem primeiro tornar-se conscientes a respeito de seus mais profundos sentimentos antes que possam fazer qualquer exploração espiritual mais profunda. ─ Por causa de suas crenças, falta-lhes visão sobre a verdadeira espiritualidade. A verdadeira espiritualidade é experimentada sem argumentos racionais, porque é inspirada por nossa intuição. ─ Nós temos que aceitar que muitos são desviados durante uma fase onde acreditam no que querem e ignoram o que prefeririam não saber, independente dos fatos. ─ Então eles ignoram o que intrinsecamente são capazes de saber. ─ Para muitos, conhecimento intrínseco foi substituído por suas crenças. ─ E suas crenças repostas por suas próprias opiniões. ─ Está muito mais claro para mim agora, disse Nathan, porque tantos são convencidos por verdades imaginárias contadas por outros. ─ Geralmente acontece a eles durante a infância, quando eles ainda não adquiriram conhecimento suficiente ou quando eles estão em uma posição mais fraca como um adulto durante sua busca espiritual. Nathan pensou novamente sobre a grande tão chamada congregação que ele havia testemunhado na África. ─ O pó da doutrinação não é mais um mistério, disse Nathan. Agora eu entendo que o ser humano é capaz de imaginar um futuro distante e que esta imaginação é geralmente guiada pelo medo. ─ E estes sentimentos de medo não são dominados, continuam criando novos sentimentos de medo, disse Melvin. Isso se aplica ao medo do desconhecido, medo de falhar, medo de perder e outras facetas do medo. 256 ─ Medo é verdadeiramente o agente através do qual as pessoas podem perder o seu poder, disse Nathan. A fim de fugir deste medo muitos escolhem escutar àqueles que os presenteiam com um cenário ideal no qual seres mais poderosos se apegam a tudo. ─ Com tais pensamentos, pessoas são encorajadas a fazer grandes sacrifícios, continuou Melvin, quando suas expectativas são realizadas, eles agradecem aos seus seres superiores imaginários e quando suas expectativas não se cumprem, eles continuam insistindo que o caminho de seus seres superiores é insondável. ─ Para esses, todos os eventos confirmam a autenticidade de sua crença, concluiu Nathan. ─ Eu mesmo me pergunto às vezes se essas pessoas não são mais felizes por causa desses seres superiores imaginários. O que você acha Nathan? Nathan pensou um pouco antes de responder. ─ Eles aprenderam a dar satisfação aos seus seres superiores mostrando um comportamento perfeito. Isso é impossível de se fazer então eles desenvolvem sentimentos de culpa. Para serem felizes, eles devem primeiro aprender a se livrar destes sentimentos de culpa auto-impostos. ─ Está certo, eles não podem ser felizes porque foram ensinados que vivem em pecado. O incessante pensamento de que são pecadores tem feito muitos deles fatalistas. O que poderia libertálos disso? ─ Por si mesmos, não é o pecado que os fazem infelizes, mas a sua visão destes pecados. Então o conhecimento é a única coisa que pode libertá-los para que eles possam experimentar a verdadeira felicidade. ─ Você está certo, somente o conhecimento pode deixá-los sóbrios e libertá-los. ─ O conhecimento é perceber a essência de nossa existência, continuou Nathan, a percepção de que nós viemos para este planeta para nos desenvolver passo a passo e não para antes que tenhamos entendido o universo. Melvin ouviu atentamente a Nathan e ficou muito impressionado por sua visão. ─ Qual é a sua compreensão do universo, Nathan? ─ Quando eu penso a respeito do universo, eu tenho um sentimento de unidade. É como se eu estivesse em contato com o universo em mim. Sinto um jeito intenso de olhar para tudo como parte de um 257 todo e uma percepção de que a Terra e todo ser vivo éparte de mim. Melvin olhou para Nathan com admiração. Ele se lembrou de seu primeiro encontro. O que ele havia visto nele agora estava sendo completamente expressado. Melvin havia percebido que Nathan era um homem excepcional. ─ Além de seus dons naturais, disse Melvin, você também tem atributos de um mestre. Nathan ficou intrigado por esta declaração. ─ Você é capaz de imediatamente entender o que alguém precisa. Não é difícil pra você expelir qualquer sentimento de rivalidade e você continua abanando a chama do interesse como ninguém mais pode. Como resultado, você é alguém que pode trazer outros a visões mais amplas com suas palavras e pode capacitá-los a desenvolver suas habilidades. Nathan agradeceu a Melvin pelo elogio. ─ Eu fui sortudo por passar tempo com excelentes mestres que foram meus exemplos. – respondeu Nathan. Antes de retornar para Salvador, Nathan, Melvin, Adriana e Claudio velejaram em um iate catamarã de Caravelas, para a Ilha de Abrolhos. Eles admiraram as baleias perto destas ilhas. Quando Nathan retornou com Melvin a Salvador, Sophie informou-os que ela estaria voando para São Francisco no mês seguinte. Nathan havia dito a ela, que enquanto estava nos Estados Unidos, que havia muitas possibilidades para artistas em Nova Iorque e Califórnia. Ele enviou para ela o telefone e endereço de Jennifer e disse que podia ser interessante voar até lá. Sophie havia seguido o conselho de Nathan e entrado em contato com Jennifer. Elas se deram instantaneamente e Jennifer convidou Sophie para os Estados Unidos. Sophie primeiro iria para Nova Iorque, onde ela tinha vários compromissos com gerentes de galerias. Ela disse a Nathan que sentia falta dele e queria vê-lo. Ele assegurou-a que sentia o mesmo e sugeriu que eles viajassem juntos pelo Brasil mais tarde. Sophie pensou que era uma grande ideia e entusiasticamente contou a ele que havia conhecido Uiara um ano atrás, uma artista brasileira vivendo em Belo Horizonte. Uiara havia pedido a ela várias vezes para visitá-la. Nathan pensou sobre isso e respondeu que, quando eles estivessem viajando pelo Brasil, eles poderiam definitivamente visitar Belo Horizonte. Nathan disse a Melvin que ele ficaria no Brasil e que Sophie estava 258 chegando. Melvin ficou feliz de ouvir que Nathan prolongaria sua estada. Durante as semanas seguintes Nathan acompanhou Melvin quando ele viajou para dar suas palestras nos estados do nordeste do Brasil. Assim como Vadim havia feito, Melvin também perguntou se Nathan ajudaria a preparar os textos de suas palestras. As semanas voaram e Nathan aprendeu bastante. Sua fascinação pelo Brasil havia aumentado e ele estava pensando em explorar o resto do país com Sophie. 259 Beleza Era um belo e ensolarado dia quando Sophie chegou a Salvador. Assim como o sol, ela também brilhou quando viu Nathan. Eles caíram nos braços um do outro e se abraçaram longa e ternamente. Nathan apresentou Sophie a Melvin. No caminho para a cidade, Sophie disse a eles como havia sido bem sucedida a sua visita aos Estados Unidos. Seus trabalhos foram grandemente admirados e havia várias exposições no programa. Ela também disse quão prestativos e interessantes Jennifer e todos os seus amigos haviam sido. Jennifer havia mandado seus cumprimentos e acrescentou que Nathan havia deixado uma impressão inesquecível neles. Finalmente, Sophie disse a eles algo que deixou Nathan muito feliz. Zack e Deborah estavam juntos novamente e estavam planejando viver juntos em breve. Eles ainda não haviam decidido entre Nova Iorque ou São Francisco. Nos primeiros dias que se seguiram Nathan e Sophie passaram muito tempo juntos no idílico litoral do sul de Salvador pelas belas praias estendendo-se até Itacaré. Primeiro, eles visitaram os banhos naturais do morro de São Paulo. A beleza natural da área e a simpatia de seus habitantes imediatamente encantaram Sophie. Após o Morro de São Paulo eles viajaram adiante e descobriram as praias paradisíacas de Maraú. Lá, Nathan e Sophie tiveram tempo de discutir suas últimas experiências. Pareceu que Sophie estava frequentemente recebendo sinais. Pelas suas conversas, Nathan entendeu que Sophie havia desenvolvido sua espiritualidade fortemente, o que se demonstrava em suas atitudes em relação aos outros e nas perguntas que ela fazia. Enquanto havia apenas os dois na praia, Sophie perguntou a Nathan uma coisa importante. Ela queria saber como convencer as outras pessoas de que cada um de nós tem um propósito único na vida e que todos nós fazemos parte de uma ordem universal. ─ Eu tive muitas conversas durante o ano passado sobre a ordem universal em que nós vivemos. Eu notei como este assunto é difícil para pessoas que não acreditam na existência de um poder superior. 260 ─ Para aqueles que perderam sua fé, em tudo que forma uma parte, a renovada descoberta de um poder superior é o mais importante propósito nesta vida! ─ Como podemos ajudá-los a se tornar conscientes disso? Nathan olhou para Sophie. O sol estava brilhando em seus olhos verdes. Sua pele havia adquirido um belo tom marrom avermelhado. Nathan percebeu o quanto ele a amava, de uma forma que ele nunca amara mais ninguém. Ele rolou para o lado na areia de forma que a cabeça dela ficou em seu peito. ─ Esta é uma pergunta que eu me faço desde que sou jovem, disse Nathan, uma pergunta que me mantém ocupado todos os dias. ─ Quais as respostas que você encontrou? Nathan pensou e procurou pelas palavras certas. ─ A descoberta da existência de um poder superior é um processo que só pode acontecer numa experiência pessoal. ─ Nós podemos estimular o processo nos outros? Quis saber Sophie. ─ Somente quando a pessoa está pronta para isso e nunca antes. ─ Mas quando então? Nathan compreendeu que Sophie precisava de um exemplo concreto. ─ Quando você notar que uma pessoa está procurando por uma evidência infalível da existência de um poder superior, então peça a pessoa para ir sozinha para a água em uma noite clara e olhar para o céu. ─ Em um lago? No mar? ─ Isto não é importante, Quando as pessoas olham por um longo tempo para a profundidade e vastidão do céu, elas repentinamente são surpreendidas por um sentimento estranho e passam a experimentar o maravilhoso universo. ─ Sempre acontece assim? ─ Existem diversas maneiras de se abrir completamente a esta experiência. O único requerimento é estar pronto para isso. ─ E se estiverem com medo? ─ Conquistar seus medos faz parte do processo. Diga às pessoas que elas não devem temer. Ao contrário, é um sentimento maravilhoso, um sentimento que nunca se esquece. Após seu regresso para Salvador, Melvin disse a eles que havia sido convidado para uma convenção em Fortaleza e que Adriana e Cláudio iriam com ele. Melvin perguntou se Nathan e Sophie gostariam de se juntar a eles. Melvin sugeriu que ficassem em 261 torno de cinco dias na cidade no norte do país. Nathan e Sophie aceitaram e quando chegou a hora todos se reuniram no aeroporto. Durante o voo o pequeno Claudio adormeceu. Assim Sophie e Adriana puderam se conhecer sem interrupção. Melvin discutia a palestra que daria em Fortaleza com Nathan. ─ Você ainda se lembra de como eu dividi a realidade observável em três dimensões durante a minha palestra em Los Angeles? Perguntou Melvin ─ Eu ainda me lembro exatamente do que disse, respondeu Nathan. Você falou as dimensões nas quais a realidade pode ser dividida: a física, a intelectual e a espiritual. ─ Desta vez eu quero me aprofundar neste tema e mostrar que, junto com a sabedoria escondida nestas dimensões, existe outro conhecimento que é muito importante para que entremos em contato com o universo dentro de nós. ─ Eu estou muito interessado. Por que você não disse nada a respeito em Los Angeles? ─ Porque somente agora eu percebi que a fonte desta sabedoria não está em nossa realidade observável. Pode soar estranho, mas só se tornou claro para mim abordo do iate catamarã perto das ilhas de Abrolhos, enquanto eu estava observando as baleias com Claudio em meus braços. ─ No que você estava pensando então? ─ Eu me lembrava da conversa que tivemos em Arraial d’Ajuda quando você estava falando sobre sua experiência do universo em que vivemos. ─ Qual foi o seu discernimento? ─ O que ficou claro para mim foi que para entender a essência da vida, e sabedoria observável, é mesmo necessária outra coisa... ─ O que é necessário, Melvin? Nathan perguntou cheio de curiosidade. ─... Beleza, Nathan! Nós temos que aprender a reconhecer e experimentar a beleza em todos os lugares! Nathan não disse nada por um tempo e permaneceu imerso em pensamentos. ─ Eu percebi que o conhecimento sozinho não pode fazer a essência do mais alto para nós. O conhecimento nos ajuda a entender melhor as coisas que nós já sabemos bem no fundo de nós mesmos, mas nós também temos a necessidade de experimentar a beleza, beleza em todas as suas formas. Nathan escutou atentamente. 262 ─ Para sermos capazes de experimentar a beleza nós temos que desenvolver um atributo especial, que é a profunda receptividade. Quanto mais receptivos nos tornarmos, mais beleza nós reconhecemos. Melvin agora esperou pela reação de Nathan, uma vez que ele estava olhando para fora da janela. Foram apenas alguns momentos depois que Nathan reagiu. ─ Você está completamente certo, Melvin. Aprendendo a reconhecer a beleza, nós descobrimos a essência da pessoa, da natureza e do poder superior! Melvin ficou feliz por Nathan compartilhar sua opinião e seu discernimento. ─ O Mundo é maravilhoso, continuou Nathan. ─ Por que diz isso? Perguntou Melvin. ─ Adnan, um amigo meu que mora no Marrocos, uma vez me disse que o peixe maior está em um estado constante de sensibilização, um tipo de estado meditativo. Ele disse que se pudéssemos encontrar sensibilidade suficiente para este silêncio, nós poderíamos receber insights, que vem de áreas ainda desconhecidas para nós. Agora Melvin estava pensando. ─ Você acha, agora ele perguntava a Nathan, que eu cheguei a este insight quando estava observando as baleias? ─ Você sabe Melvin, respondeu Nathan, eu estou convencido que ainda há muito que temos que aprender da natureza. ─ Uma vez eu conheci um e velho e muito marcante homem indígena, disse Melvin. Foi em Lençóis, uma cidade pequena do interior da Bahia. Seu nome era Thiago; ele trabalhava como um guia para a área natural da Chapada Diamantina. ─ Como você o conheceu? ─ Ele havia vindo em uma de minhas palestras, e era notável em meio às pessoas presentes. Após minha palestra ele veio e se apresentou. Ele me disse que os seus ancestrais eram da tribo Pataxó, os habitantes originais da região. Eu me lembro que ele me agradeceu por quem eu era. Eu perguntei como ele me via. “Como uma pessoa que ajuda as pessoas a entenderem o que sentem e o porquê sentem.”, ele respondeu. ─ Você viu este homem de novo alguma vez? ─ Não, mas ele me afirmou que nos veríamos novamente. Eu respondi que era possível, porque eu viajo um pouquinho. O que 263 ele disse então foi estranho. Ele disse que chegaria o dia em que eu o procuraria na Chapada Diamantina. Melvin tentou se lembrar das palavras exatas da conversa. ─ Eu perguntei a ele por que ele pensava que eu o procuraria. Ele deu uma resposta mais entranha ainda. Ele me disse que se eu queria realmente entender a razão de nossa existência, primeiro eu teria que ser capaz de reconhecer a beleza da vida. ─ Ele disse algo mais? ─ Ele disse que quem quer que consiga isso experimentaria uma paz interior que guiaria a conclusão essencial. Nathan e Melvin deixaram de falar por um tempo. Nathan olhou para o céu azul através da janela: ─ Talvez agora seja o tempo de procurar por esse homem, ele disse. Você sabe onde encontrá-lo? Melvin pensou. ─ Ele falou sobre um acampamento na estrada da primavera mágica. O avião pousou no Aeroporto de Fortaleza. Era meio dia e a conferência iria começar no dia seguinte. O grupo foi para seu hotel e então foram explorar a cidade. O primeiro lugar para o qual andaram, foi o distrito Irecemar. Fortaleza era uma cidade cheia de atmosfera com um centro de boas vindas, bonitas praias arenosas e prazerosos restaurantes e bares. Música de festa estava sendo tocada e as pessoas eram amigáveis, e explanavam que a razão disso era que eles viviam no estado do sol. No dia seguinte Melvin apresentou sua palestra. No final ele mencionou o que havia discutido com Nathan sobre a importância da busca de se experimentar a beleza. A palestra foi bem recebida. Nathan pode notar que Melvin estava a caminho de se tornar famoso. Nathan ouviu uma mulher na audiência dizer que os livros de Melvin, além do sucesso nos Estados Unidos, também estavam sendo vendidos pelo Brasil e eram muito populares. No dia seguinte a palestra o grupo foi explorar parte da costa do estado do Ceará. As empolgantes dunas lembraram Nathan do Saara. Aqui, a natureza também irradiava serenidade e dava uma sensacional sensação de liberdade. No paraíso de uma praia em Jericoacoara, ou Jeri, como é chamada localmente, Melvin contou a eles que havia decidido procurar por Thiago na Chapada Diamantina. Ele também disse que gostaria que Nathan e Sophie o acompanhassem. No voo de volta para Salvador, Nathan e Sophie discutiram sobre a proposta de Melvin. Sophie falou sobre tudo que haviam lido sobre 264 esta área e que tinha um sentimento de que iriam lá. Alguns dias depois eles partiram para Lençóis. Adriana não pôde ir com eles por causa de seus compromissos com o hospital, onde ela trabalhava. Uma vez que chegaram a Lençóis, eles passaram a noite em um hotel e partiram na manhã seguinte em um ônibus para a primitiva área da Chapada Diamantina. No começo de sua jornada Melvin, Nathan e Sophie ficaram encantados pela paisagem imponente das montanhas e a impressionante variedade de flora e fauna que eles encontraram lá. Eles andaram por profundos vales, ao lado de lagos e rios de beleza maravilhosa. Após andar por algumas horas através de uma floresta tropical, Nathan escutou um barulho que se tornou cada vez mais alto. Um pouco mais tarde Sophie escutou e também Melvin. Nathan andou mais rápido que os outros e foi o primeiro a sair da floresta. De repente ele parou e olhou para cima. Sophie e Melvin se apressaram para o seu lado. Todos eles estavam impressionados pela vista maravilhosa... uma esplêndida cachoeira. No final da cachoeira estava uma maravilhosa lagoa. Nathan e Sophie se apressaram em direção a ela, tiraram suas roupas e pularam na água. Melvin deixou que fossem e sentou-se quieto em uma rocha para aproveitar a cena. Somente após a insistência de Nathan e Sophie que Melvin pôs bermudas e pulou na água. ─ Este deve ser um dos poucos lugares na terra que permanece intocado, disse Nathan. ─ Você sabe em que eu estou pensando agora Melvin? Perguntou Sophie, sobre suas palavras sobre beleza. Eu acabei achando a melhor parte da sua palestra e outras pessoas tiveram a mesma opinião. ─ Quase todos estavam falando sobre isso após a palestra, Nathan continuou. Um homem até me disse algo bonito, ele me disse: “Felicidade é sempre refletida na beleza” ─ Muito bonito, de fato, disse Melvin. Após nadarem, eles continuaram. Eles encontraram um grupo de jovens em uma excursão e perguntaram ao guia se eles sabiam onde era a primavera mágica. O guia disse que eles provavelmente estavam falando sobre a primavera encantada. Ele disse que o caminho mais fácil para se chegar até lá era através da água. Eles teriam que seguir por pequenos córregos até que chegaram ao grande rio. Uma vez lá eles pegariam uma gaiola, que eram pequenos barcos fluviais usados pelos habitantes locais. Eles seguiram seu conselho e chegaram meia hora depois à costa do São 265 Francisco, um amplo rio fluindo através da Chapada Diamantina. De lá eles podiam ver algumas pessoas locais sentadas em suas gaiolas do outro lado do rio. Eles acenaram e um dos homens veio em sua direção. Melvin perguntou se poderia levá-los a primavera encantada. O homem assinalou que poderiam subir a bordo. A bordo todos os três aproveitaram as maravilhosas paisagens e a serenidade do lugar. Nathan disse que este era um dos lugares mais inspiradores em que ele já havia estado. Melvin perguntou ao indígena que guiava o barco por que a nascente para a qual estavam indo era chamada de a primavera encantada. O Homem disse que esta nascente tinha um poder mágico. Toda pessoa que olhava através da água clara como cristal para o fundo se lembraria para sempre de sua beleza. Nathan deitou sua cachorrinha no colo de Sophie e aproveitou a paisagem em silêncio. Quando ouviu as palavras do homem, ergueu-se; Nathan e Melvin se entreolharam, porém não trocaram uma única palavra. Pouco tempo depois o homem ancorou o barco. Melvin perguntou a ele se conhecia Thiago. Enquanto ele calmamente ajudava-os a sair do barco, o homem respondeu que eles haviam vindo para Thiago. Sophie sugeriu agendar uma hora para que o homem do barco viesse pegálos novamente. Quando Melvin começou a discutir este tópico, o barqueiro disse que eles estavam com Thiago e que não deveriam temer, após observaram o homem do barco desaparecer rio acima. Eles haviam acabado de começar a caminhar, quando de repente um velho homem apareceu, andando em direção a eles. Ele tinha pele escura e o torso nu. Seu longo cabelo negro estava preso em um rabo de cavalo. Ele parecia muito bem, apesar de sua idade. ─ Olá Melvin. Maravilhoso o fato de haver trazido amigos junto. Melvin olhou para cima. Ele reconheceu Thiago, mas ficou surpreso por Thiago vir buscá-los aqui. Parecia que o velho homem havia sabido que Melvin o visitaria naquele dia. ─ Olá Thiago... Disse Melvin – e eu pensando que iria surpreendêlo. ─ Você não surpreende um velho guerreiro como eu assim tão fácil! Thiago riu Melvin apresentou Thiago a Nathan e Sophie. Thiago cumprimentou Sophie primeiro. Quando Thiago apertou a mão de Nathan, ele segurou-a por um longo tempo, enquanto olhava para ele silenciosamente. Alguns momentos depois ele deixou a mão de Nathan ir e então se dirigiu a todos. ─ Eu estou honrado por sua chegada e lhes dou boas vindas. 266 Imediatamente depois Thiago se virou e gesticulou para que o seguissem. Eles andaram através de uma floresta tropical onde orquídeas selvagens estavam crescendo. O pensamento que intrigavaMelvin, Nathan e Sophie era o de como era possível que Thiago houvesse aparecido no momento de sua chegada. Thiago havia dito que os estava esperando, mas como isso era possível? Melvin não o havia dito sobre sua chegada, eles sequer sabiam onde ele vivia. Melvin escutou que Nathan e Sophie estavam falando sobre isso e sinalizou que não havia entendido isso também. Eles decidiram não levar a discussão adiante. Nathan apenas disse que ele estava curioso para saber o que ele iria aprender desta jornada. Após uma longa caminhada eles chegaram a um pequeno acampamento, que havia sido criado na entrada de uma caverna profunda. Lá o grupo foi recepcionado por duas mulheres e crianças. ─ Eu vivo aqui, Thiago disse, junto com nossa pequena comunidade. Eu sou o homem mais velho; os outros homens estão trabalhando agora. Eles trabalham como guias e guiam visitantes na área. Eles voltarão em breve. Neste meio tempo, se tornou tarde e o sol estava se pondo. Nathan pode ver que as mulheres estavampreparando a refeição da noite. Parecia que iampassar a noite ali. Thiago disse que daria mais informação a eles sobre a primavera mágica no dia seguinte. Neste meio tempo, Melvin havia se refrescado e Sophie havia ido com o grupo de mulheres. O fato de que ela não conhecia a língua não a impediu de se comunicar com elas. Sophie não teve problemas em se ajustar à situação. Thiago reuniu lenha para fazer fogo e Nathan o ajudou. A cena fez que com lembrassedo dia em que ele havia andado para o topo do Tajumulco junto com o homem sábio e a mulher e construído uma fogueira através da fronteira do México na Guatemala. Desta vez a fogueira serviria apenas para iluminar o acampamento ao cair da noite. Quando a lenha havia sido reunida, foi honra de Melvin acendê-la. Enquanto isso, os homens mais jovens haviam voltado e sentaram-se ao redor do fogo. Eles conheceram seus visitantes e então comeram uma refeição vegetariana. Após a refeição todos se reuniram e falaram uns com os outros. ─ Eu já visitei várias grandes cidade, mas nenhuma delas pôde me cativar – começou Thiago – E mais, eu não consigo entender por que tantas pessoas escolhem viver em lugares onde há tanta poluição, pobreza e violência. 267 ─ Muitos estão apenas tentando sobreviver, Nathan respondeu. ─ Que objetivos estas pessoas estão tentando alcançar? ─ Eles não têmum grande propósito ou ideais e geralmente vivem retirados dentro de si mesmos, continuou Nathan. ─ Eles vivem em confusão! Disse Melvin. Eles lutam por riquezas materiais, algo que eles pensam que é necessário. Sophie dirigiu-se a Thiago. ─ O que você faria caso pudesse mudar o mundo em que estas pessoas vivem? Thiago pensou sobre isso. ─ Eu vejo o mundo como um deserto espiritual. Eu deixaria as pessoas experimentarem o poder da natureza mais uma vez, então eles se lembrariam deque fazem parte dela também. E, dessa forma, poderiam se manter firmes em três sabedorias existenciais. Melvin traduziu para Nathan e Sophie, que tiveram dificuldade em entender Thiago. ─ O que são estas três sabedorias existenciais? Perguntou Sophie ─ Estas são as sabedorias que nos fazem ver porque nós estamos na terra e qual é o nosso propósito aqui. Thiago calmamente tomou algum tempo antes de começar a falar. ─ A primeira sabedoria é entender o ambiente natural de onde viemos, nossos pais que nos criaram e a comunidade onde crescemos. Para entender nossas possibilidades e limitações quando começamosa crescer, e que genes e valores nós recebemos. Nesse momento uma borboleta brilhante e colorida assentou-se no ombro de Thiago. Ele continuou calmamente. ─ A segunda sabedoria é se tornar consciente de que nós temos habilidades únicas. Aqui a natureza também ajuda a nos lembrarmos deque nós formamos o mais recente elo na cadeia de evolução e de que nós temos a mais impressionante habilidade de experimentar coisas,tais como a fantasia, a criatividade e o amor. Tendo dito isto, Thiago se levantou e retornou com uma cesta de mangas. Todos pensaram que Thiago usaria as mangas para ilustrar a terceira sabedoria. Ele colocou a cesta no meio, pegou uma, abriu-a e comeu. Enquanto estava saboreando a manga, ele encarou o horizonte sonhador. Melvin, Nathan e Sophie olharam um para o outro maravilhados. Um longo tempo se passou sem que ninguém dissesse nada, até que Melvin perguntou a Thiago se não havia uma terceira sabedoria a seguir. Thiago olhou para ele e mais uma vez cortou um pedaço de manga. Após comê-lo, ele respondeu. 268 ─ Você poderia adivinhar a terceira sabedoria, sendo que um dia não estaremos mais nessa terra. Tendo dito isto, ele mais uma vez encarou o horizonte, sonhador. Nathan, assim como Sophie e Melvin, ficaram surpresos pela capacidade de Thiago para ensinar e com sua sabedoria. ─ Nós gostaríamos de agradecê-lo, disse Melvin, por compartilhar conosco o que a natureza te ensinou. ─ Nós também achamos que muitas pessoas perderam o seu contato com a natureza, acrescentou Nathan. ─ Muitos perderam até mesmo ocontato com seus companheiros seres humanos, finalizou Sophie. ─ O que não é usado, se atrofia, disse Thiago. Quando alguém não pode mais experimentar o poder da natureza, perde-se o sentimento de conexão com a terra, com a flora, a fauna e finalmente também com seus companheiros seres humanos. ─ A questão é se todos ainda são capazes de entender a natureza, Melvin perguntou. ─ Nesse momento, muitos não são capazes nem mesmo de entender seus próprios sentimentos, responde Thiago, e ainda assim, é somente através de nossos sentimentos que conseguimos entender a infinidade da natureza. Nathan estava impressionado pelo que Thiago havia aprendido sem nenhum tipo de educação formal. Ele soube por Melvin que Thiago nunca havia ido à escola ou sequer lido um livro. E ainda assim possuía um grau de conhecimento que ia muito além da média. Thiago propôs que todos fossem dormir cedo, assim estariam descansados para sua jornada pela manhã. Os locais de dormir para convidados haviam sido preparados enquanto eles conversavam. Na manhã seguinte os convidados foram acordados pelo cheiro de beignets quentes, um cheiro que lembrou a Nathan de sua estadia com Adnan no Marrocos. Após o café da manhã, Thiago, Nathan, Sophie e Melvin partiram para a primavera encantada. No caminho, Melvin quis comentar algo sobre a conversa que haviam tido no dia anterior. Nathan escutou sem interromper. ─ Thiago, eu pensei sobre nossa conversa de ontem. Mais tarde, eu até mesmo escrevi tudo, porque eu quero usar o material em minha próxima palestra. ─ Esta também é uma razão para você ficar aqui, disse Thiago. Então você pode ensinar as pessoas a prestar mais atenção à natureza. 269 ─ De fato, eu quero trazer à tona as maravilhas da natureza. Pode ajudar se eu colocar melhor minhas palavras em um quadro mais amplo. Thiago assentiu e não disse mais nada. Algum tempo depois Thiago parou em um espaço aberto. Era provavelmente um lugar usado para descansar ou se conversar. Isso pôde ser determinado pelos três troncos de árvore dispostos em um círculo. Thiago sentou-se e esperou até que todos fizessem o mesmo e então compartilhou a água que havia trazido com ele. Estava claro que ele havia escolhido este lugar para falar sobre a primavera mágica. Após cada frase, Thiago dava tempo a Melvin para traduzir suas palavras. ─ Todos vocês três não vieram aqui hoje por acaso, mas para aprender uma importante lição, uma lição que vai derramar grande luz sobre seus destinos. Thiago continuou após uma pequena pausa. ─ O fato de vocês haverem conhecido um ao outro nesta vida não é uma coincidência. Melvin, e é claro, você Sophie, são de vital importância para cumprir a grande tarefa. Melvinlimitou-sea apenas traduzir as palavras e não fez nenhuma pergunta. Nathan e Sophie também não. Todos os três estavam curiosos sobre a grande tarefa da qual Thiago estava falando. ─ As pessoas novamente se tornarão parte da luz que é a fonte de toda a vida! O tom de Thiago se tornou mais profundo. ─ Para isso as pessoas serão confrontadas com a força da natureza. O que parecerá ser um grande caos no início; gradualmente nos fará mais conscientes da ordem dentro do universo e do papel único que cada um de nós tem nela. Thiago bebeu um pouco de água e então continuou no mesmo tom. ─ Para nos confrontar com seu poder, a natureza nos enviou alguém. Alguém que é capaz, como ninguém mais, de entender a humanidade e saber como cumprir esta tarefa. Quando Melvin traduziu estas palavras, se tornou claro para todos que esta pessoa a qual Thiago agora se referia era ninguém mais do que Nathan. ─ Você está certo de sua previsão? Perguntou Melvin Agora Thiago continuou em um tom mais calmo. ─ Sua chegada foi anunciada há tempos atrás. Sophie agora falou. Porque não havia dúvida de que Thiago falava de Nathan. Melvin traduziu sua pergunta. 270 ─ Mas como você pode ter certeza de que é ele o escolhido? ─ Eu posso reconhecer os diferentes grausde consciência. Thiago parou de falar e então continuou. ─ Eu nunca conheci ninguém com tão profunda nostalgia pelo poder superior quanto Nathan. Agora que o nome de Nathan havia sido falado, houve silêncio até que o próprio Nathan falou. ─ Quais são as importantes lições que aprenderemos hoje na primavera mágica? Mais uma vez Thiago levou algum tempo para responder. ─ Não importa quão grande seja a nossa capacidade mental, eventualmente o nosso espírito encontrará limites que a limitam. É um limite que somente pode ser ultrapassado quando vemos que a natureza de nosso ser não está em nós mesmos. ─ Não em nós mesmo, mas onde está então? Perguntou Melvin ─ Na presença do nosso mais alto, respondeu Thiago. ─ O que você quer dizer com “o nosso mais alto”? Perguntou Melvin ─ Eu acho que sei sobre o que Thiago está falando, disse Nathan, Ele está se referindo ao nosso verdadeiro eu, àquele que estava aqui antes que nós nascêssemos e aquele que estará aqui após a nossa morte nesta terra... Ele está falando sobre a nossa sensibilidade. Melvin traduziu o que Nathan disse para Thiago e perguntou a ele se estava certo. Thiago olhou para Nathan e assentiu afirmativamente. ─ Nosso espírito vê pouco, mas nossa sensibilidade vê amplamente, disse Thiago. ─ Como aprendemos a entrar em contato com nossa sensibilidade? Perguntou Sophie ─ Aprendendo a meditar em nossas mais profundas questões, respondeu Thiago. Agora, Thiago se levantou e indicou que tudo que tinha que ser dito, havia sido dito. Eles continuaram sua jornada para a primavera mágica. Todos caminharam sem falar nada. Thiago havia dado a eles o suficiente para se pensar. Após um tempo, chegaram ao topo de uma colina. De lá eles foram para a encosta através de uma abertura cavernosa. Dentro era escuro, mas Thiago havia trazido lanternas com ele e as distribuiu. Eles andaram cuidadosamente através dos túneis estreitos na caverna até que se encontraram em uma ampla câmara. Este espaço era aberto no 271 topo, de forma que a luz do sol pudesse entrar. Thiago sinalizou que podiam botar as lanternas de lado. Sophie se segurou em Nathan para ver o quão profunda a caverna era. Quando ela foi longe o suficiente para ver o fundo, ela encorajou Nathan e Melvin para também darem uma olhada. No fundo havia um belo lago azul. Esta era a primavera mágica. Thiago começou a descer para o manancial, seguido por seus convidados. Era como se eles estivessem indo para o meio de uma montanha. Quanto mais eles desciam pelo caminho estreito, mais eles ficavam maravilhadoscom a beleza do lago. Uma vez lá embaixo, eles puderam ver a clareza da água. Eles tentaram estimar sua profundidade, mas não importava quão clara a água parecesse ser, eles não podiam ver o fundo. Thiago sentou-se em uma rocha plana e chamou seus convidados para que se sentassem perto dele. Sophie estava exultante. ─ Dá pra sentir que a primavera é muito especial, ela disse. ─ Quais são seus poderes especiais? Perguntou Melvin ─ A água da fonte nos limpa de falsidades que consideramos verdades, respondeu Thiago. Quanto mais profundo alguém mergulha, mais falsidades irão desaparecer. ─ Se isso funciona, deve ser por mágica! Disse Sophie. Funciona com todo mundo? ─ Há condições para se cumprir, disse Thiago a eles, A primeira é que devemos estar realmente buscando pela verdade. A segunda é que, antes de mergulharmos, nós não tomamos mais ar do que nossos pulmões podem suportar. ─ Por que isso? Perguntou Melvin. ─ Pensamentos circulam através do ar, respondeu Thiago, tanto os bons quanto os maus, tanto os verdadeiros quanto os falsos. ─ Qual a terceira condição? Quis saber Sophie. ─ Antes de mergulhar é preciso esvaziar a cabeça completamente, disse Thiago, para que nenhum pensamento possa nos influenciar. Sophie não podia mais esperar e se preparou para mergulhar primeiro. Ela caminhou para a beira e esvaziou sua cabeça. Quando chegou a hora ela tomou o máximo de ar que conseguia e então mergulhou na água o mais profundamente que conseguiu. Após uns dois minutos ela voltou à superfície. Nathan ajudou-a. Ela sentou-se e olhou para Nathan sem dizer uma palavra. Ele tomou-a em seus braços e sussurrou o quanto ele a amava. Thiago agora sorriu e sinalizou para Melvin que agora era sua vez. Melvin caminhou para a beira com sua bermuda. Ele seguiu o exemplo de 272 Sophie e pulou na água. Após quase o mesmo tempo ele voltou à superfície. Nathan também o ajudou. Melvin estava claramente impressionado e não disse uma palavra. Primeiro ele encarou Sophie que moveu a cabeça para ele como se ela soubesse o que ele estava pensando. Então ele encarou Nathan. Agora era a vez de Nathan. Ele estava ciente que esta seria uma experiência de longo alcance. Ele soubera desde o momento em que Thiago havia segurado sua mão e permanecera olhando para ele por um longo tempo.Nathan se levantou usando somenteuma bermuda e caminhou para a beira da água. Nathan sabia que o segredo de seu dom seria descoberto hoje. Antes de pular ele pediu que ninguém reagisse ao que quer que fosse acontecer naquele dia. Ele pediu para eles permanecerem calmos e ter uma “confiança ilimitada” em um final feliz. Quando todos os três responderam afirmativamente, ele encheu os seus pulmões. Um completo silêncio se seguiu; não havia realmente nenhum som a ser ouvido. Agora Nathan também mergulhou na água. Os minutos voaram. Melvin foi o primeiro a ficar preocupado. Ele caminhou para a beira da água, mas não importava o quão fundo olhasse para dentro da água clara, Nathan não estava em nenhum lugar que pudesse ser visto. Sophie sabia que Nathan podia ficar bastante tempo embaixo d’água. Mesmo que ele nunca tenha contado a ela esse seu segredo, ela havia notado o quanto tempo ele conseguia nadar por baixo d’água. Alguns minutos depois ficou difícil até para ela. Ela se ergueu e sentou-se ao lado de Melvin, que estava fazendo o melhor para não mostrar o quão preocupado ele estava. Quando eles não podiam mais esconder sua preocupação, se dirigiram para Thiago. ─ Ele está embaixo d’água por um tempo demasiado longo, disse Melvin. Thiago ainda estava sentado no mesmo lugar e disse calmamente: ─ Confiem neste homem, disse Thiago, ele sabe o que está fazendo. Melvin tomou Sophie pelos ombros e pediu para que ela se sentasse de novo. ─ Não se esqueça do que Nathan nos pediu antes que mergulhasse no lago. Então sejamos fortes e vamos seguir o conselho dele. Sophie sabia que Melvin estava certo, mas não pôde deixar de se preocupar. Ela reuniu toda a coragem e tentou reunir o máximo de confiança e fé em um final feliz. Conseguiu por um tempo até que não teve mais paciência e caminhou para a beira da água, em pânico, olhou para a fonte profunda e então verbalizou: 273 ─ Eu ainda não o vejo, isto não é possível! Agora se tornara muito para Melvin. Com medo no coração ele foi para perto dela. Ele também não via nada. Ambos olharam desolados para Thiago, que reagiu da mesma maneira calma. ─ Como eu disse antes, não importa quão grande seja nossa capacidade de pensar, cedo ou tarde o espírito vai encontrar limites.Nestes momentos, somente a confiança pode nos ajudar, deixe que isso seja uma grande lição para vocês. Sophie pediu a Melvin para traduzir as palavras de Thiago. Enquanto ele fazia isso, Sophie viu o quanto Thiago estava calmo e que até mesmo sorrira. ─ Pergunte a ele como ele pode permanecer calmo, ela pediu a Melvin. ─ Isto faz parte da preparação de Nathan para a grande tarefa, disse Thiago. Vocês também estão sendo preparados hoje. Sentem-se, os dois, e tentem entrar em contato com sua sensibilidade e seus sentimentos de medo serão substituídos por calma e confiança. Por mais irracional que isso parecesse, Sophie e Melvin fizeram o que Thiago disse. Eles se sentaram novamente e tentaram seguir seu conselho. O tempo pareceu se mover ainda mais lento do que antes, mas Sophie e Melvin tiveram sucesso em manter a calma. De repente Thiago falou. ─ Vocês podem ficar orgulhosos do que conseguiram hoje. Agora Nathan deve estar voltando à tona em breve, de outra forma eu também começaria a me preocupar. Thiago levantou-se e foi até a beira da fonte. Melvin e Sophie seguraram um no outro e pararam perto de Thiago. ─ Eu acho que o vi, disse Thiago repentinamente. ─ Onde? Disse Sophie, eu não vejo nada. ─ Espere um momento, disse Melvin, acho que eu vi também! ─ Sim! Sophie falou aliviada. Agora eu o vejo também, ele está subindo depressa. A felicidade retornou. Alguns momentos depois Nathan subiu. Ele parecia exausto e segurou-se na beira da fonte. Melvin e Thiago quiseram ajudá-lo, mas ele sinalizou para que o deixassem respirar um pouco. Estava claro que Nathan havia atingido seu limite. Thiago agora parara na frente dele e perguntou em palavras simples. ─ Você chegou onde achou que chegaria? ─ Sim Thiago... disse Nathan – Eu toquei o fundo! 274 Melvin traduziu a conversa para Sophie, que estava esperando com uma grande toalha. Agora Nathan saiu da água e beijou Sophie. Ele se desculpou com ela e com Melvin pelo que eles tiveram que passar. ─ Você não deve se desculpar, disse Melvin, ao contrário, eu acho que para mim e para Sophie, esta foi a mais instrutiva experiência de nossas vidas. Agora Thiago tomou Nathan em seus braços. ─ Fico feliz de ter podido contribuir com isso. ─ Este foi o começo da contribuição, disse Nathan, para isso que está esperando por nós, sua ajuda seria de grande valor! Após este misterioso anúncio, eles retornaram ao acampamento. Uma vez lá eles novamente comeram uma refeição vegetariana. Após dizer adeus, Melvin não pode evitar fazer a Thiago a seguinte pergunta. ─ Você acha que veremos um ao outro novamente? Thiago abraçou Melvin. ─ Desta vez é Nathan quem vai nos dar a resposta, mas eu tenho a sensação de que ele terá uma tarefa em comum para todos nós. Nathan não disse nada com relação a isso. Agora Sophie veio se posicionar na frente de Thiago. Ela seguiu o exemplo de Melvin e abraçou Thiago antes de entrar na gaiola que os levaria embora. Como os outros, Nathan disse seu adeus. Quando se abraçaram, Thiago tinha uma mensagem final para ele. ─ Não importa quão impossível sua missão possa parecer, nunca duvide do bom resultado que obterá dela. ─ A única dúvida que eu tenho é se as pessoas terão vontade de me escutar. ─ Nuca subestime o poder que lhe foi dado. – respondeu Thiago – Não se esqueça deque toda pessoa está ciente que a última sabedoria não pode ser mantida por uma única pessoa.Não importa quão dura e longamente uma pessoa tenha estudado, eles sabem lá no fundo que precisarão da entrada do maior. Nathan não entendeu Thiago completamente, mas memorizou suas palavras. Uma vez no barco, pediu a Melvin que traduzisse as palavras de Thiago. Quando o encorajamento de Thiago se tornou claro, Nathan gritou para Thiago enquanto o barco estava saindo lentamente. ─ Agora eu só tenho que lembrar isso tudo a todos! Durante a jornada de retorno todos estavam quietos. Nathan, Sophie e Melvin tomaram tempo para ponderar a experiência pela 275 qual haviam passado. Foi uma jornada cheia de pensamentos de volta para Salvador. Durante os dias que se seguiram Nathan e Sophie viajaram por Salvador, e conheceram-na ainda melhor do que haviam discutido em seus planos de viagem. Sophie falou sobre Uiara, a escritora brasileira que ela conhecera na França e de quem se tornara boa amiga. Ela disse que Uiara havia herdado uma grande casa de campo há mais ou menos um ano e, portanto retornara para sua terra natal. Uiara havia crescido em Belo Horizonte, mas a casa de campo que ela havia herdado era em Curitiba, no estado do Paraná. Agora ela vivia lá com sua amiga e sua mãe, com quem havia ficado. Sophie disse que quando Uiara soubera que ela viria para o Brasil, havia insistido que ela deveria ir para Curitiba junto com Nathan e passar algum tempo com ela. Sophie repetiu várias vezes o quanto Uiara era especial, por esta razão Nathan compreendeu o quanto Sophie queria visitá-la. Eles decidiram ir para Curitiba na semana seguinte e comunicaram isso a Melvin. No dia anterior a partida de Salvador eles sentaram com Melvin no terraço. Sophie ofereceu-se para preparar duas caipirinhas geladas na cozinha. Nathan e Melvin permaneceram no terraço e olharam por cima dos tetos de Salvador e para a bela praia. Nathan calmamente disse adeus à cidade que ele havia gostado tanto. Ambos os homens falaram sobre o futuro, e sobre o fato de suas estradas estarem se separando aqui. Para Melvin estava claro que ele era devotado a este lugar. Ele estava convencido de que este era o seu lugar e que sua missão era aqui. Ele disse que o Brasil era um país maravilhosoque tinha tudo para deixar seus habitantes felizes, mas que isso era interrompido pela grande diferença entre pobreza e riqueza. Enquanto Nathan o escutava, Sophie chegou com três grandes caipirinhas. Ela pôs os copos sobre a mesa e todos se sentaram nas cadeiras de vime. ─ É a primeira vez que eu as faço sozinha. – ela disse – Espero que gostem. Melvin foi o primeiro a provar a bebida e disse a Sophie que estava deliciosa. Nathan concordou com ele. Sophie ficou feliz com os elogios e perguntou sobre o que conversavam. ─ Estávamos falando sobre Melvin, que encontrou este lugar na terra, disse Nathan. ─ Como é que você veio parar no Brasil? Sophie perguntou ─ Eu sempre fui atraído por este país. Desde minha primeira visita ao Brasil eu sabia que poderia realizar grandes coisas aqui. 276 ─ Por favor, continue! Pediu Sophie Melvin continuou seriamente e divulgou o verdadeiro propósito em sua mente. ─ As pessoas daqui têm um sentimento otimista inato sobre seus futuros, mas... ─ Isso é errado? Perguntou Sophie ─ Não! Ao contrário. Para muitos isto é até mesmo de importância essencial para vencerem a dureza de suas vidas. Mas eu acredito que em vista do processo evolucionário humano, esperança é uma força imperfeita! ─ Pode explicar? Pediu Sophie, enquanto Nathan também estava escutando atentamente. ─ Se as pessoas somente vivem na esperança, eles caem numa situação de viver sempre esperando por mais ou por algo melhor. A longoprazo, a situação pode nunca ser satisfatória. ─ Que alternativa melhor você ofereceria a eles? Nathan perguntou ─ Bem, neste sentido, os dias que nós passamos juntos foram bastante iluminadores. Agora eu sei quanta beleza pode ser encontrada em formas ilimitadas e em todos os lugares possíveis. O que eu quero é que todos os meus ouvintes e leitores aprendam a experimentar um sentido mais profundo de beleza cada dia. ─ Não será possível esperar por uma vida melhor e experimentar a beleza todo dia? Perguntou Sophie ─ Quando se experimenta a beleza na vida, sabe-se que não precisamos esperar por mais nada para sermos felizes, respondeu Melvin. Houve um curto silêncio, após o qual Nathan pôs sua mão no ombro de Melvin. ─ Quando sua jornada pela terra da esperança eterna estiver acabada, disse Nathan, terá que ser renomeada para terra da beleza sem fim! ─ Quais são os seus planos para quando sua visita ao Brasil estiver acabada? Melvin perguntou a Nathan e Sophie. ─ Depois de Curitiba, Sophie é esperada de volta na França, disse Nathan. E eu, não sei ainda, mas com certeza te avisarei. No dia seguinte Melvin acompanhou seus convidados ao aeroporto onde se despediram.Primeiro ele beijou Sophie e confiou a ela estas palavras. ─ Sophie, saiba que você, por causa de quem é e de seus maravilhosos trabalhos de arte, é prova para todos de quão maravilhoso este mundo é. 277 Sophie agradeceu a Melvin por estas bonitas e sinceras palavras, desejou-lhecoragem e sorte ao cumprirsua tarefa. Em seguida, Melvin foi até Nathan e o abraçou. ─ Nathan, certifique-se de que suas palavras sejam ouvidas pelo mundo afora, para que as pessoas possam enxergar que não podem viver uma vida de racionalismo e que podem ser libertas de suas próprias ilusões. ─ Você será de grande ajuda, disse Nathan. ─ Como? Perguntou Melvin ─ Finalizando sua própria tarefa! Com estas palavras Nathan tomou Sophie pelo braço e juntos seguirampara seu avião. Foi um voo curto, durante o qual eles falaram sobre suas aventuras nos dias anteriores. ─ Qual a coisa mais importante que você aprendeu aqui? Sophie perguntou ─ Eu aprendi muitas coisas importantes, mas a mais importante foi na fonte mágica. Lá eu me tornei consciente de energias sutis, que me fizeram mais consciente do que nunca de que nós determinamos nossas vidas usando as oportunidades que nos são dadas. ─ Energias? ─ Este é o melhor nome em que posso pensar para o que eu experimentei, Sophie. Qual foi a mais importante lição para você? ─ Depois que você saiu da água, eu me tornei mais consciente de quão felizes devemos ser com tudo que se apresenta; que devemos considerar tudo na vida como um dom, começando pela vida em si. Nathan olhou para Sophie com admiração e amor. Fez bem a ele saber que poderiam compartir seus sentimentos com toda a sinceridade. Naquele momento, Nathan se tornou ciente, mais do que nunca, de como eles eram felizes juntos. Nathan estava profundamente convencido de que ele poderia nunca ter a mesma intimidade com outra pessoa. Ele tomou Sophie em seus braços e juntos adormeceram. 278 Mensagem Quando o avião pousou em Curitiba, uma anfitriã gentilmente acordou Nathan e Sophie. Eles aterrissaram no tempo exato em que Sophie havia dito a Uiara, portanto, quando foram para o saguão de chegada, Uiara estava lá para recebê-los entusiasticamente. Ela caminhou em direção à Sophie e abraçou-a longamente. Então ela abraçou Nathan com o mesmo entusiasmo. Quando percebeu que poderia ter sido muito íntima, soltou-a. Ela não sabia se Nathan consideraria seu entusiasmo muito agressivo e apressou-se em explicar em francês que ela havia ouvido falar tanto dele, que era como se o conhecesse há muito tempo. Sophie prontamente a acalmou dizendo que ela havia contado a Nathan sobre sua personalidade extrovertida. Então Uiara perguntou o que mais ela havia contado sobre ela. Sophie disse que havia contado também que era uma mulher muito bonita de descendência mista. Uiara estava bastante animada com a visita de Nathan e Sophie. Ela disse que poderiam ficar com ela o tempo que quisessem e enfatizou que era muito sincero. Enquanto isso, eles andaram para o estacionamento onde Amão, amigo de Uiara, estava esperando no carro. Uiara apresentou Amão a Nathan e Sophie. Amão era do Rio de Janeiro, mas havia conhecido Uiara na França, enquanto também estava lá. Do aeroporto de Curitiba, Amão dirigiu para o leste, para a pequena cidade de Morretes. Uiara contou que eles viviam em uma grande casa de campo, que havia sido herdada de seu pai. Ela disse que sabia pouco a respeito dele, exceto pelo fato de que ele era descendente de europeus e que havia deixado ela e a mãe alguns anos após seu nascimento. Ele havia deixado Belo Horizonte e voltado para o estado de Santa Catarina, no sul do país, onde sua família vivia. A mãe de Uiara a havia criado sozinha; felizmente a solidariedade no distrito em que viveram era grande. Uiara ainda tinha muitos amigos em Belo Horizonte. Uiara havia começado a trabalhar quando ainda era muito jovem e, por causa disso não pudera mais frequentar a escola, portanto passava seu tempo livre lendo livros. Assim ela havia desenvolvido habilidades de escritora. Uiara explicou que jamais esperava ouvir nada do pai até que receberaa carta no ano anterior explicando que 279 ele havia falecido em Florianópolis e que havia deixado para ela a casa de campo em uma cidade não tão longe de Curitiba. Isso por si só foi memorável, porque seu pai havia se casado novamente e tinha três outros filhos. Então, Uiara voou da França para o Brasil com a intenção de vender a casa. Quando finalmente viu a casa, souberaque nunca partiria de novo. Por estranho que parecesse, soubera pelo tabelião que o pai havia predito que acabaria acontecendo deste jeito. Ele havia dito ao tabelião que sua filha sugeriria vender a casa e adicionou que uma vez que entrasse na casa não desejaria partir nunca mais. Sophie perguntou se a segunda esposa de seu pai ou seus filhos haviam tido algum problema com o fato de ela haver herdado a casa. Uiara disse a eles exatamente o que o tabelião havia dito a ela. O testamento declarava que a segunda esposa de seu pai havia herdado outra casa, sendo a casa onde viviam em Florianópolis. O tabelião disse que nem a segunda esposa nem os filhos que tiveram juntosnão sabiam absolutamente nada sobre a existência de uma segunda casa. Ele acrescentou que eles sequer sabiam que ele havia sido casado anteriormente. Sophie abraçou Uiara. Nathan também escutou atentamente a sua história. Houve um curto silêncio e então Amão pôs alguma música para ajudar a todos a relaxar. Nathan e Sophie aproveitaram o magnífico panorama da montanha. Está área era diferente dos estados do nordeste, uma das coisas era a temperatura mais baixa. Quando eles chegaram à casa, Nathan e Sophie viram que de fato era uma bela casa de campo. Ficava situada em uma propriedade privada cercada por altos pinheiros. Charmene, mãe de Uiara, estava esperando por eles na estrada. Ela convidou Nathan e Sophie para sentarem-se embaixo da sombra das árvores e deixou que Amão e Uiara se encarregassem das bagagens. Charmene já havia preparado drinks e bombardeado Nathan e Sophie com perguntas. Ela estava muito curiosa por suas impressões sobre o Brasil. Sophie, que entendia um pouco de português, deixou Nathan responder. Nathan disse a ela que havia passado um tempo em Salvador e que também havia visitado vários lugares nos estados do nordeste. Charmene então, disse orgulhosamente que ela também havia estado em Salvador uma vez. Todos concordaram que era uma cidade incrivelmente interessante. Charmene quis sabe se eles já haviam estado na África. Quando Nathan respondeu afirmativamente, ela perguntou se Salvador era de fato a cidade mais africana fora da África. Ela pareceu extremamente satisfeita 280 quando Nathan disse a ela que de todos os lugares que havia visitado, Salvador era uma das que mais merecia este título. Neste momento Uiara retornou e ouviu que ele estava falando de Salvador. Ela suspeitou que sua mãe houvesse contado a eles que eles haviam assistido o Carnaval lá uma vez e que era uma de suas lembranças mais bonitas. Uiara disse à mãe que um de seus amigos havia vindo visitá-la e estava esperando por ela no corredor. Charmene se levantou, desejou a seus convidados uma prazerosa estadia e foi ver seu amigo. ─ Sua mãe é uma pessoa adorável, disse Sophie para Uiara. ─ Independentemente do fato de ela não ter tido uma vida fácil, eu aprendi com ela a reconhecer o bem e as coisas positivas na vida. ─ É isso que você irradia, Uiara! Disse Nathan Uiara olhou para Nathan e então para Sophie. Essas palavras claramente a deixaram feliz. Durante os dois dias que se seguiram Uiara e Amão mostraram os mais bonitos lugares na vizinhança. Eles deram uma longa caminhada pela pitoresca cidade de Morretes, onde visitaram um artista que esculpia em pedra. Outro dia,fizeramuma pequena viagem para a praia mais próxima, Paranaguá. Aproveitaram juntos mergulhando e nadando nas ondas do mar.Este bonito dia terminou com um churrasco. Alguns dias depois fizeram uma espetacular viagem no trem que viaja através de profundas ravinas e ao lado de estonteantes cachoeiras, Amão disse a Nathan e Sophie que se caso quisessem ver cachoeiras impressionantes, não deveriam perder as de Iguaçu. Ele também disse que um amigo deles gerenciava uma pequena pousada junto com sua esposa. Uiara sugeriu uma visita em um fim de semana. Nathan e Sophie gostaram da ideia e naquele dia Amão contatou Eder, seu amigo em Iguaçu, e reservou dois quartos para o fim de semana seguinte. No caminho para as cachoeiras, eles ficaram em Curitiba e visitaram a cidade. Nathan e Sophie notaram que esta cidade estava imbuída com influência europeia. Nos dois últimos séculos, muitos imigrantes europeus haviam se estabelecido por ali. A cidade parecia moderna e era deitada com bastante cuidado e tinha muitos parques diferentes. Por causa disso, apesar do grande número de habitantes, era quieta e prazerosa para se viver. Passaram a noite em um hotel no centro e voaram para o ponto de encontro entre Argentina, Paraguai, e Brasilno dia seguinte. Lá pelo meio dia eles se encontraramno hotel que pertencia a Eder e sua esposa Beatriz. Após um pequeno almoço eles visitaram a cachoeira. Eles sabiam antes de ir que esta era uma famosa atração 281 turística. Ainda assim Nathan e Sophie ainda aproveitaram a grosseira beleza natural da dramática cachoeira que estava localizada em um exuberante parque, onde a água caía rugindo para circular em volta de muitas pequenas ilhotas. No seu retorno à pousada, descobriram que Beatriz havia feito uma grande e deliciosa refeição para eles. Em seguidaabriram duas garrafas de vinho e Uiara compartilhou alguns detalhes de sua vida. ─ Eu achei meu equilíbrio escrevendo, disse Uiara. O que quer que aconteça, quando eu posso ter tempo para mim mesma, começo a escrever. Então posso por tudo em perspectiva. ─ Você publicou alguma coisa? Perguntou Sophie. Uiara olhoupara Amão. ─ Apenas algumas das minhas histórias foram publicadas. ─ Eu sempre digo que ela é uma grande escritora, interrompeu Amão, e que ela deveria publicar mais de seus escritos. ─ Eu escrevo principalmente para mim mesma, disse Uiara. Pode soar estranho; apesar de este ser um caminho pra que eu me aproxime dos outros... Uiara queria acrescentar algo, mas estava duvidosa. Nathan encorajou. ─ No que está pensando Uiara? ─ Existe outra razão importante pela qual eu não estou publicando meus trabalhos. – respondeu Uiara – Eu nunca disse isso a ninguém exceto a Amão. Somente ele sabe o porquê. ─ Eu acho que seria bom falar sobre isso agora, disse Amão. ─ Como eu posso dizer isso, Uiara falava sem dúvida, algumas coisas sobre as quais escrevo requerem muito de mim. Quando eu leio as palavras de novo,algumas vezes chego a duvidar que eu mesma as escrevi sozinha. Sophie queria dizer algo, mas Nathan fez menção para que deixasse Uiara acabar de falar. ─ De fato, eu me sinto desconfortável com o fato de que as pessoas serão capazes de ler meus segredos mais profundos, continuou Uiara. Eu sei que soa estranho para um escritor, principalmente para alguém que é tão extrovertida quanto eu. Nathan ouviu interessado. Uiara disse: ─ Eu quero saber com quem eu estou compartilhando os meus textos e ser capaz de lê-los alto e sentir que são entendidos plenamente. 282 Alguns dias depois após o retorno deles para Iguaçu, Nathan teve um sonho estranho. Sem revelar seu sonho a Sophie, ele disse que precisava falar com Uiara. Pelo seu tom de voz, Sophie pode ouvir que era algo de grande importância e imediatamente procurou por ela: ─ Uiara, Nathan gostaria de falar com você amanhã à noite. ─ Se é importante, disse Uiara, eu posso ir agora. ─ Não, ele quer falar com você amanhã à noite. Somente você e ninguém mais pode estar lá. Uiara pareceu surpresa, não disse nada e concordou. ─ Amanhã Amão vai sair com uns amigos, ela disse a Sophie. Mas é sobre o quê? ─ Não se preocupe, disse Sophie. Nathan me disse que é algo bom! Saiba por mim que se existe alguém em quem você pode confiar cegamente, este alguém é Nathan. ─ Você sabe do que se trata? Perguntou Uiara curiosa. ─ Não! Ele quer falar com você antes. Uiara estava intrigada. Que misteriosa mensagem Nathan poderia ter para ela? Ela não conseguiu tirar isso da cabeça pelo resto do dia. Queria visitar Nathan neste momento, mas ele havia ido à cidade com Amão e só retornaria tarde da noite. Quando eles voltaram, era de fato tarde, e eles foram dormir imediatamente. Uiara não conseguiu dormir e ficou pensando a noite toda. No dia seguinte teve que se controlar para ter certeza de não mostrar sua excitação. Quando Amão finalmente saiu, ela procurou por Sophie que disse que Nathan estava esperando por ela na varanda. Nathan estava olhando para fora de costas para ela. ─ Você queria falar comigo? Perguntou Uiara. Nathan virou-see olhou profundamente nos olhos dela sem dizer nada. A curiosidade de Uiara agora havia atingido o topo. Ela tentou imaginar todas as possíveis mensagens que Nathan poderia ter. Ela pôde sentir que tinha que ser algo importante. Nathan veio até ela e pediu que ela mostrasse onde ela escrevia. Uiara não entendeu imediatamente a razão, mas fez o que Nathan pediu. Eles subiram as escadas guiando-se para o sótão. Uma vez lá em cima, Uiara abriu a porta da pequena sala. Dentro havia uma mesa perto de uma pequena janela, construída no teto, pela qual a suave luz da lua caía. Por trás estava uma estante generosamente cheia de livros, seguida de uma cadeira velha. Nathan olhou para o espaço, andou até que atingisse a janela e olhou para o lado de fora por um longo tempo. Uiara que neste meio tempo havia sentado na cadeira, 283 perguntou a ele sobre o que queria falar com ela. Nathan se virou e sentou-se à seu lado: ─ Uiara, você tem um dom muito especial. ─ Eu? Qual? ─ O dom de escrever. ─ Oh, é isso que você quer dizer, obrigada! Você quer me dizer que eu devo publicar os meus escritos? Nathan percebeu que Uiara estava fazendo um esforço para falar com ele despreocupadamente, mas ele sabia que este era um assunto difícil pra ela. ─ Se seus escritos são publicados ou não isso não é importante. Eu estou me referindo a sentimentos de uma camada inferior que a impedem de publicá-los. ─ Talvez eu não tenha sido feita para ser uma escritora. Eu geralmente não entendo o que eu escrevo muito bem. Nathan se levantou e parou perto da janela para olhar para fora. Uiara o observou encarar a lua. ─ Todos nós somos muito mais do que pensamos. Somosainda mais do que aprendemos a ser, disse Nathan suavemente. Quando Nathan disse essas palavras, Uiara se tornou emotiva. Suas palavras trouxeram a tona sentimentos muito profundos. Sentimentos estranhos que ela havia sentido apenas em sua infância. Nathan virou-se, parou em frente a ela e olhou-a nos olhos. “Sim Uiara, eu sei seu segredo!”. Agora Uiara sentia-se quente e começara a suar. O que ela havia temido tanto agora se tornara um fato. Ela sabia que este momento era inevitável, o momento em que ela deveria se confrontar com a verdadeira razão pela qual temia escrever para o público. ─ Eu sei porque você tem tanta dificuldade em saber que outras pessoas irão ler o que escreve. Ela se lembrou deque Sophie havia dito que Nathan podia ver o que outras pessoas não podiam. De uma forma inexplicável ele agora havia descoberto o seu mais profundo segredo. Nathan sentiu o seu medo e segurou suas mãos. ─ Uiara, você sabia que cada um de nós tem um destino na vida? ─ Sim, eu sempre senti que fosse assim. ─ Você sabe qual a sua missão pessoal na terra? Agora foi a vez de Uiara olhar pela janela, para a lua. ─ Eu sei que este mistério está escondido em minhas palavras escritas, respondeu, como se soubesse disso o tempo inteiro. ─ Uiara, disse Nathan, nos tínhamos que nos encontrar. 284 Uiara esperou em suspense pelo que Nathan iria dizer. ─ Você irá escrever a grande mensagem e publicá-la ao tempo certo. ─ A grande mensagem? Uiara perguntou. Não tenho certeza de que compreendi direito. ─ Uiara, você tem o dom de transmitir mensagens do mundo escondido para este mundo. Uiara não disse nada. Ela parou de respirar momentaneamente, e então uma lágrima desceu por sua bochecha. Agora Nathan segurou suas duas mãos firmemente. ─ Eu também sei que você tem sido abordada em seus pensamentos para transmitir outras mensagens. Mensagens que você sabe que não são boas. ─ Eu tenho tido muitos momentos desagradáveis, Nathan. ─ Isso agora irá terminar. O rosto de Uiara clareou. ─ Sério? Você tem certeza? Como você pode saber disso? Como pode saber? Nathan continuou calmamente. ─ Seu encontro com Sophie não foi mero acaso, assim como não existem coincidências. Nós teríamos nos encontrado de qualquer forma, para que eu pudesse explicar o significado do seu dom. Agora que você está ciente deste significado, cabe a você fazer uma escolha. ─ Você mesmo disse que esta é minha verdadeira missão. Então eu tenho outra escolha? ─ Qualquer dom que nos é dado não pode ser determinado ou escolhido por mais ninguém. Esta é a base de nosso livre arbítrio. Uiara tomou algum tempo para pensar nas palavras de Nathan. Ela olhou para as mãos dele, os dedos ainda entrelaçados, então falou solenemente e com grande convicção. ─ Eu com certeza farei com que todos os meus escritos secretos que não são para o bem maior sejam destruídos. Eu prometo que de agora em diante eu somente escreverei para promover o bem maior. ─ Através da escolha que você fez hoje, você somente será tocada por inspiração amorosa e será para sempre livre destes maus momentos. Saiba que ninguém mais neste mundo pode completar esta tarefa melhor que você. É o destino de sua vida, Uiara! 285 ─ Eu estou tão feliz de saber meu propósito maior e agora que eu sei,considero uma grande honra. Há tantas coisas se tornando claras para mim. ─ Tudo que acontece em sua vida tem a ver com isso direta ou indiretamente. O universo sempre nos dá estas experiências que sempre se encaixam perfeitamente dentro de nós. Do momento de seu nascimento até o momento de sua transição. ─ E sobre as nossas escolhas? ─ A cada momento nós estamos escolhendo como lidar com nossas experiências. Uiara olhou para Nathan cheia de admiração e entendeu as palavras que Sophie usara para descrevê-lo. ─ Agora que eu finalmente entendo isto melhor, eu estou livre do meu medo. Obrigado Nathan! Uiara olhou para a lua novamente e não disse nada até que perguntou: ─ Como é o sentimento de ter uma missão na vida que afeta toda a humanidade? ─ Cada um de nós tem uma missão na vida e cada missão influencia a humanidade. E mais, cada pensamento e ação afeta até mesmo o mais longínquo canto do universo! Agora Nathan se levantou e disse a Uiara que dormisse bem, mais uma vez ela agradeceu. Quando retornou para Sophie em seu quarto, explicou tudo a ela. Antes de cair no sono, Nathan entendeu que sua tarefa estava completa. Alguns dias depois, Nathan e Sophie partiram para São Paulo, de lá, Sophie voaria de volta para a França. Nathan ainda não sabia o que iria fazer, mas de uma coisa estava certo, sua jornada não terminaria tão cedo. Nathan e Sophie passaram dois dias em São Paulo, o centro econômico e cultural do Brasil e uma das maiores cidades do mundo.Após um jantar suntuoso passearam pelo parque do Ibirapuera. Quando voltaram ao hotel, deitaram-se e tiveram a seguinte conversa. ─ Talvez eu não devesse começar com este assunto, disse Sophie, mas você tem ideia de quando nos veremos de novo? ─ Não posso te dizer Sophie, eu nem sei qual é o meu próximo destino. ─ Nathan, eu quero lhe perguntar algo... onde eu me encaixo em sua vida? Nathan beijou os lábios de Sophie ternamente e disse: 286 ─ Não existe ninguém na Terra por quem eu sinta mais amor do que eu sinto por você, você é minha companheira espiritual. ─ O que companheira espiritual quer dizer exatamente? ─ Companheiros espirituais têm um relacionamento que tem um significado maior do que ser apenas companheiros nesta vida. Eles estão juntos na Terra para lutar por perfeição e segurança interior. Sophie olhou para Nathan por um longo tempo sem dizer uma palavra. Estas foram as palavras mais sinceras e amáveis que ela já escutara, e deu a ela um sentimento de “confiança ilimitada”. Ela pôs sua cabeça no ombro de Nathan e ambos caíram no sono. No dia seguinte se despediramno aeroporto, mas desta vez Sophie não sentiu mais tristeza ou dúvida, apenas felicidade por quem ela era e pelo que significava. Agora Nathan estava sozinho e passeou pelos distritos de São Paulo. Ele tentou descobrir dentro de si mesmo onde ele deveria continuar sua jornada. Ele entrou em contato com amigos e conhecidos para descobrir como eles estavam. Todos queriam saber tudo sobre suas experiências. Após Nathan passar um longo tempo no distrito oriental da Liberdade. As cenas que ele viu lá o fezlembrar dediferentes passeios que havia dado com Simon na Ásia. Ele percebeu o quãoeducativas estas viagens haviam sido e se tornou ciente de que poderia aprender coisas importantes destas culturas. Dois dias depois Nathan passou pela vitrine de uma agência de viagens e sua atenção foi focada em uma imagem em um pôster. Era a imagem de um veleiro azul escuro em um mar perto de uma praia muito bonita. A imagem o fez pensar no pôster pendurado na parede de seu quarto em Bruxelas, aquele que havia sido um dos primeiros sinais que mostraram a jornada que ele havia começado anos atrás. As palavras impressas no topo do pôster eram: “Austrália, a memória do mundo!”. Estas palavras inspiraram Nathan a entrar na agência de viagens e, sem titubear, seguiu sua intuição e abriu a porta da agência. Quando estava dentro, a primeira coisa que viu foi um folder comercial, anunciando um voo promocional para Sidney. Perguntou ao agente de viagens se a tarifa ainda era válida. Ele foi avisado que a tarifa acabara de subir. Sem nenhuma dúvida Nathan agendou o voo. De volta em seu quarto, percebeu repentinamente que estaria partindo para a Austrália em três dias sem ter nenhuma ideia do que iria fazer lá. 287 288 -9Lucidez Crescente 289 290 Envolvimento O vôo para Sidney chegou sem dificuldade. Dessa vez não haveria ninguém para buscar Nathan. Enquanto aguardava por sua bagagem, ficou claro para ele que havia deixado para o outro lado do mundo sua intuição que o incomodava espontaneamente. Mas isso não o preocupou. Ao contrário, deu a ele o sentimento de liberdade. Ele confiou em sua intuição e estava certo que a razão para estar na Austrália poderia ficar mais clara mais tarde. Na realidade, ele já queria visitar Austrália há muito tempo. Sua única preocupação era que suas economias estavam se esgotando rapidamente. Quando chegou ao centro da cidade, procurou um hotel. Não demorou muito para que encontrasse um bom hotel, onde ficou com um quarto no nono andar, de onde ele tinha uma bela vista do porto. Ele tomou banho e então foi conhecer o centro da cidade por um instante. O sol estava brilhando cintilantemente nos altos arranha-céus, mas felizmente havia uma agradável brisa. Nathan passeou pelas belas e mais populares ruas de compras. Sidney pareceu ser uma cidade muito bem organizada, assim como as pessoas, que estavam muito bem vestidas. Imediatamente sentiu-se em casa. Nathan pediu uma deliciosa refeição em um dos vários shoppings na cidade e passou o tempo observando as pessoas. Mais tarde ele retornou ao hotel. No dia seguinte, Nathan foi a um Centro Turístico. Ele pegou um mapa da cidade e foi informado que Bondi-Beach era uma das melhores praias em Sidney. No primeiro dia, Nathan explorou as melhores partes do centro com o mapa em suas mãos. No dia seguinte, pegou suas roupas de natação e um livro e foi para Bondi-Beach. O ambiente estava muito agradável, então Nathan ficou por lá o dia inteiro. Quando ele voltou para o seu hotel tarde da noite, ele decidiu comprar alguns aperitivos na loja de conveniência mais próxima. Ele foi à loja e cumprimentou dois homens que estavam casualmente conversando. Um dele era o proprietário, um homem de origem chinesa com uma barba pequena. O outro homem tinha pele clara e estava bronzeado. Ambos estavam sentados em bancos e pareciam conhecer-se muito bem. Enquanto Nathan estava escolhendo seus produtos pode ouvir partes da conversa deles. Estavam discutindo qual era a fonte mais segura de informação: 291 sentimentos ou inteligência. O homem chinês disse que sentimentos dizem mais que o que as pessoas pensam ser possível. O outro homem replicou que ele confiava em sua inteligência mais que em seus sentimentos. Nathan pensou que isso não era exatamente um assunto que alguém abordaria uma loja de conveniência. Quando ele foi pagar, entrou na conversa. Pete, que era realmente um bom amigo do proprietário, estava tão convencido de que estava certo, que supôs que Nathan estaria compartilhando sua opinião. ─ Não é verdade que nós devemos confiar mais em nossa inteligência do que em nossos sentimentos? Ele perguntou a Nathan. O homem chinês se apresentou antes de deixar Nathan responder. Ele apertou sua mão e disse que seu nome era Qiao. Pete então seguiu seu exemplo. Nathan também se apresentou e disse a eles que havia acabado de chegar à Austrália. Ambos deram as boasvindas a ele. Então Qiao abordou o assunto: ─ Claro que nossa inteligência é de grande importância, Qiao disse. ─ Com ela nós podemos converter a informação que recebemos em conhecimento. ─ O que eu estou tentando explicar para Pete é que os sentimentos nos dão a clareza para distinguirmos entre a informação certa e a errada. Tanto Pete como Nathan aguardaram por uma reação e ambos esperaram por uma confirmação de suas próprias visões. ─ Pete, perguntou Nathan, você pode descrever o que você quer dizer exatamente com a palavra inteligência? ─ Com isso eu quero dizer o nosso intelecto, nossa lógica racional, a capacidade que temos de construir certezas. ─ Poderia ser que essas certezas que nos leva com a impressão que nós não estamos nos enganando? Colocando essa pergunta, Nathan teve sucesso em fazer Pete duvidar de sua convicção de modo simples, porém irrefutável. ─ Todos nós precisamos de certeza? Perguntou Pete. ─ Nós temos uma necessidade muito forte de não aceitar nada como uma resposta, Nathan replicou. ─ Em que nós nos basearíamos se não pudéssemos ter certeza de nada, nossos sentimentos? Foi a próxima pergunta de Pete. Agora Nathan pegou um banco e sentou em frente a Pete e Qiao. 292 ─ Nossos sentimentos dão sentido às nossas vidas, Nathan respondeu. ─ Sem sentimentos não podemos apreciar belas melodias nem nos impressionar com as praias ou tenros carinhos. ─ Mas os sentimentos nem sempre nos dão a informação correta, Pete continuou. ─ Os sentimentos nunca mentem, disse Nathan, mas somos nós quem precisa aprender a interpretá-los corretamente. ─ Como? Pete perguntou. ─ Sempre descobrindo suas origens usando nosso guia interno, Nathan respondeu. Pete desejou saber a resposta de Nathan. Ele olhou para ele e então olhou para Qiao. Nathan ficou em silêncio e então Qiao falou. ─ Ele está falando sobre a nossa intuição, disse Qiao. Pete olhou pra Nathan procurando questionar se Qiao estava certo. Nathan acenou. Pete imediatamente fez uma nova pergunta a Nathan: ─ Para mim, intuição é algo ambíguo. ─ Você pode descrevê-la para mim? ─ Responder a essa pergunta é o mesmo que contar a um cego o que é a percepção visual ou explicar o som para um surdo. Intuição é uma capacidade, a qual nos mostra a infinita diversidade de mensagens que aparecem para nós. Ela pode ser vista, tocada de uma maneira ou de outra? Isso é principalmente uma força que nos faz suspeitar que existam novos aspectos do invisível, do intocável. Qiao ouviu atentamente a Nathan. Assim como Pete, ele estava impressionado pela maneira como Nathan esclareceu seu ponto de visão. ─ Nós podemos apenas entender o poder da intuição se nós a vivenciarmos em nós mesmo, Nathan continuou. ─ Acredite em mim, Pete, quando você realmente quiser ficar ciente desse poder, você verá o mundo sob uma luz completamente diferente. ─ Muitos querem provar isso e duvidam dessa capacidade interna, Qiao declarou. ─ Muitos tiveram aprendido a olhar por evidência, disse Nathan. ─ A evidência pode nos dar um sentimento de certeza, mas com a intenção de realmente compreender os segredos da vida, nós devemos sempre reconsiderar tudo sempre. 293 ─ Suas palavras mostram que a vida realmente tem um sentido mais profundo, mas eu tenho que admitir que frequentemente me questiono se esse é o caso, disse Pete. ─ Para entender o sentido da vida, Nathan disse, você tem que perguntar a si mesmo o seguinte: ─ Qual o significado da minha vida? Somente procurando uma resposta para essa pergunta é que você irá encontrar os limites intelectuais. Além do meu intelecto, o que mais pode me fazer entender o sentido da minha própria vida? Pete perguntou a Nathan. ─ Esse que é ilimitado em essência, Nathan respondeu. ─ E isso é? Pete perguntou. Novamente Nathan se manteve em silêncio e novamente Qiao se sentiu estimulado a responder. De um modo ou de outro Nathan percebeu que Qiao obteve o seu conhecimento, mas que ele achou difícil de conduzir. ─ Agora ele está falando sobre o nosso espírito, disse Qiao, que se sentiu completamente correto em sua declaração. Tanto Qiao como Pete entenderam que Nathan estava concedendo a cada um deles o conhecimento adequado. Pete precisou de informação relativa aos fatos para melhor entender o centro do conhecimento, enquanto Qiao precisou aprender como compartilhá-lo. ─ Nosso espírito é ilimitado e, assim, se abre para tudo, Nathan continuou. É o único que pode nos tornar livres. ─ Tornar-nos livres de quê? Pete perguntou curiosamente. Nathan disse que agora Qiao sentira-se suficientemente forte e deixou-o continuar por si próprio: ─ Da nossa falta de consciência! Quanto mais nosso espírito se desenvolve, mais aceitamos a vida. E mais felizes nos sentimos sem lamentos, impaciências ou Cansaço. As palavras de Qiao confirmaram o que Nathan tinha suspeitado desde o início: que Qiao tem uma grande fundação teórica de conhecimento. Agora, Pete também entendeu isso. ─ Agora eu estou preso a dois sentimentos, disse Pete, de um lado sou grato porque minha vida tem um significado maior do que eu pensava originalmente. E de outro, também tenho a sensação que tenho perdido muito tempo com problemas superficiais e sem utilidade. ─ Continue com seu pensamento de hoje em diante e você irá continuar apenas com o primeiro sentimento, Nathan disse. O 294 segundo sentimento desaparecerá quando você descobrir que seu espírito reteve tudo de real e bom. Nada de valor se perde para o espírito: ele se funde continuamente com seu eu profundo! Depois dessas palavras Nathan se levantou e agradeceu aos dois homens pela conversa. Ambos claramente mostraram o quão gratos estavam pelo que ele os ensinou. Nathan disse adeus e saiu da loja. Uma vez do lado de fora, Qiao alcançou-o: ─ Espere um momento, onde você está hospedado? Ele gritou para Nathan. ─ Nesse hotel, aqui em frente. ─ Você vai voltar? ─ Você gostaria que eu voltasse? ─ O que eu digo pode parecer estranho, mas eu tenho a sensação que você pode ser de grande importância para mim. ─ Nesse caso você também será importante para mim. Depois dessas palavras Nathan se virou e continuou a andar. ─ Você não me respondeu. Ver-lhe-ei novamente? Qiao perguntou. Nathan parou antes de atravessar a rua e sorriu para Qiao: ─ Mas eu disse, eu respondi a você. Qiao não entendeu completamente, mas antes que pudesse reagir Nathan atravessou a rua e acenou para ele. No dia seguinte Nathan alugou um pequeno motor home. Ele deixou Sidney e rumou para o norte ao longo da costa. Depois de alguns dias, ele chegou ao estado de Queensland. Passou um bom tempo nessa região. Os bancos de areia continuaram por longos trechos, as montanhas caprichosas e o clima subtropical providenciaram a ele o descanso de que precisava. Em Queensland, Nathan passou muito tempo na cidade de Brisbane. Ele ficou em Redcliffe e foi lá que decidiu começar a escrever um livro. Daquele momento em diante ele poderia frequentemente adicionar novos comentários e anotações ao manuscrito. Nathan aprendeu que a literatura era um grande meio para dispersar a mensagem em larga escala. Ele estava querendo escrever há muito tempo, mas foi o talento de Uiara que o convenceu a começar. Desde sua conversa com ela que se sentia confiante que sua mensagem seria apresentada da maneira correta. Nathan escreveu suas primeiras palavras em uma noite fria. Essa foi uma sessão de escrita que terminou apenas no raiar do sol. Nathan passou a noite inteira trabalhando sem perceber. Inumeráveis pensamentos vieram voando pelo espírito de Nathan. A noite inteira, ele tentou o melhor que pode para escrever seus 295 pensamentos clara e conscientemente. Pela manhã, sentiu-se incrivelmente cansado. Antes de ir dormir, arrumou um tempo para reler seus textos. Um título e uma estrutura clara ainda estavam faltando, mas ele achou que aquelas milhares de palavras tinham que ser postas em papel. Ele foi dormir sentindo-se satisfeito. Ele agora entendia que isso era o início de um trabalho incrivelmente importante, que o tomaria muitas noites mais. Como estava se afastando de Brisbane, Nathan visitou muitas cidades ao redor da costa. Nenhum dia passou sem dar um mergulho no oceano. Ele ainda teve a maioria de suas inspirações enquanto estava debaixo da água. Enquanto estava em Caloundra, Nathan conheceu um pintor que vendia seus trabalhos na rua. Tinha belas pinturas de paisagens de montanha. O homem contou que as montanhas pintadas em seus trabalhos eram chamadas de Montanhas da casa de vidro. Ele adicionou que essas montanhas eram sagradas e que estavam lá para lembrar-nos o quão importante é a caridade. Nathan ficou muito comovido pela beleza das pinturas e realmente quis ver a Montanha da casa de vidro. No dia seguinte, tomou um rápido café da manhã e dirigiu até lá. Ao chegar, ficou tão impressionado pela beleza da paisagem que decidiu escalar uma das Montanhas da casa de vidro. Ele observou cada uma delas de perto e então escolheu a montanha chamada Ngungun. Nathan percebeu que seria uma grande escalada. Ele alcançou o topo depois de algumas horas. Lá, sentou-se em uma pedra plana e tomou algum tempo para curtir a serenidade e a vista apaixonante. Enquanto admirava a beleza natural ao seu redor, seus olhos avistaram uma velha árvore. Algo o impeliu a ir até lá. Levantou-se e andou até ela. Quando alcançou a árvore, Nathan tocou nela com as duas mãos e admirou-a dos pés à cabeça. De repente, ele viu que uma sequência de palavras foram entalhadas no alto do tronco. Ele não pode lê-las porque estavam muito altas, mas estava tão curioso que decidiu escalar a árvore e sentou em um galho. Daquele lugar ele pode plenamente ler as palavras. Elas estavam escritas em um idioma desconhecido para ele, então não conseguiu nada com isso. Nathan pegou uma caneta e alguns papéis de seu bolso e escreveu as palavras: ─ Cooma el ngruwar, ngruwar el cooma, illa booka mer ley urrie urrie! Quando ele estava de novo em solo firme, sentou-se na mesma pedra lisa e tentou adivinhar o que acabara de escrever. De repente, o vento começou a soprar muito forte. A areia subiu tão alto que Nathan teve que manter seus olhos fechados, e somente 296 abriu seus olhos novamente quando a intensidade diminuiu. Foi nesse momento que ele viu uma jovem com uma bela pele morena e longos cabelos negros ondulados. Ela andou em direção a ele. Nathan manteve-se olhando fixos nela e pareceu como se ela estivesse impressionada. Quando ela aproximou-se dele, olhou-o gentilmente para e sorriu. Nathan quis dizer alguma coisa, mas não teve êxito em dizer nada que fizesse sentido. Isso era muito raro para ele, e fez com que se sentisse inseguro. A jovem se apresentou primeiro. O nome dela era Leewana. Nathan levantou-se: ─ Desculpe, meu nome é Nathan. ─ Você não deve se desculpar, eu é que devo. ─ Por que aquilo? ─ Eu estava tão surpresa de ver você aqui que não dei tempo a você para pensar! Nathan não soube como interpretar essas palavras. O que ela quis dizer exatamente? Por que ela disse que não dera tempo a ele para pensar? ─ Posso perguntar o que está fazendo aqui? Leewana perguntou. ─ Estou viajando e quis muito ver essas montanhas, Nathan replicou. Quando eu cheguei aqui, eu tive repentinamente o desejo de escalar uma delas. ─ Por que essa montanha? Leewana perguntou. Nathan supôs que Leewana estava procurando por uma razão mais profunda. ─ Como de costume eu segui meus sentimentos, Nathan respondeu. Leewana olhou para Nathan por um longo tempo, mas não disse nada mais até que Nathan continuou a conversa: ─ Você vive nessa região? ─ Eu tenho vivido em quase todo lugar, mas eu cresci em Adelaide, se é isso o que você quis dizer. Eu vivi aqui com meus pais adotivos. Eles vieram da Polônia e viveram na Austrália por muito tempo. Quando Nathan ouviu que Leewana era adotada, ele naturalmente quis saber se ela conheceu seus pais biológicos. Ela deu uma resposta antes mesmo que ele pudesse fazer a pergunta. ─ Meus pais naturais viveram numa região ao norte de Adelaide. Eles formaram parte de uma tribo de Aborígenes, os habitantes originais da Austrália. ─ Você foi para lá? 297 ─ Não, a tribo inteira da qual eles pertenciam perdeu suas vidas durante uma das mais pesadas tempestades desse país. Foi um milagre eu ter sobrevivido. ─ O que aconteceu depois disso? ─ Quando eu fui encontrada, fui levada para Adelaide. Lá meus pais adotivos me pegaram e cuidaram de mim de uma maneira maravilhosa. Nathan ficou sem fala quando ele ouviu a história de Leewana. A similaridade com a sua história era impressionante. ─ Existiu algum outro sobrevivente? Leewana deu uma olhada para Nathan e então agarrou seu braço. ─ Nós temos muito mais em comum, Nathan! Agora, Nathan estava realmente impressionado. Não apenas pela similaridade entre a história deles, mas também por causa do fato que Leewana sempre parecer saber disso, mesmo antes dele ter dito alguma coisa sobre seu passado. Agora Nathan estava incrivelmente curioso. ─ Por que você está aqui hoje? Ele perguntou. ─ Eu também segui meus sentimentos! Essa conversa claramente confundiu Nathan. Ele quis ser capaz de organizar seus pensamentos, então deu alguns passos e sentou-se novamente. Leewana sentou próxima a ele. Ela viu que ele carregava uma anotação em suas mãos e perguntou o que aquilo significava. Nathan a deixou ler. Enquanto ele estava esticando o papel, Leewana olhou para a árvore que ele acabara de subir. Ela estava olhando diretamente para o lugar onde o escrito foi entalhado. Agora Nathan não tinha mais dúvidas. Alguma coisa muito rara estava acontecendo aqui. ─ Como você soube que estas palavras podem ser lidas naquela árvore? Ele perguntou. Inicialmente Leewana não disse nada, e então replicou: ─ Você vai acreditar em mim se eu te contar? ─ Acredite em mim, se você me contar a verdade, eu vou acreditar em você. ─ Isso é um segredo, mas eu sei que posso dividir com você. Leewana sentou-se muito perto de Nathan e pegou sua mão. ─ Eu tenho um talento extraordinário. ─ Qual é o seu talento? Leewana respirou fundo. ─ Eu tenho percepções no mundo dos pensamentos. ─ O que exatamente você quer dizer? 298 ─ Eu tenho a capacidade de ver onde os pensamentos voam. ─ Onde os pensamentos voam? ─ O desejo da cada pensamento é ser recontado! Nathan não disse nada por um momento e pensou por um instante. Será que Leewana falara a verdade? Ela tinha esse talento excepcional? ─ Diga-me, como os pensamentos viajam? ─ Pensamentos viajam em todos os lugares. Eles tentam se converter em ações acerca da dimensão na qual nós vivemos. Eles podem fazer isso quando são convidados pelos sentimentos. ─ Você pode me contar quais pensamentos estão aqui nesse momento? ─ Agora mesmo existem dois pensamentos ao seu lado e eles deixaram dois pensamentos entraram em você. O primeiro sentimento é a emoção, o qual faz você pensar que eu também fui levada a Terra com uma missão maior. Essas palavras convenceram Nathan que mais do que nunca Leewana estava falando a verdade. ─ O segundo sentimento é sua boa amiga, a curiosidade, a qual faz você supor que elemento natural me levou á Terra. Nathan entendeu que Leewana possuía o conhecimento que ele recebeu no Saara. Mesmo que mais forte, Leewana não apenas viu os sentimentos que se manifestaram, mas também os pensamentos que eles evocaram. E tudo isso em plena consciência. ─ Eu gostaria definitivamente de saber que elemento natural a mandou à Terra, respondeu Nathan. ─ A relação que você tem com a água, Nathan, eu tenho com o vento. ─ Você conhece a sua missão maior? ─ Assim como você, eu não sei ainda. Novamente houve uma pequena pausa. ─ Eu pensei que nós tivéssemos sido trazidos juntos em ordem de dividir nossas experiências, Leewana continuou. E para ganhar mais percepção em direção à nossas missões. ─ Eu também tenho uma forte sensação que nós iremos precisar um do outro. É o que a mensagem nesta árvore esta tentando passar para nós. ─ Pode uma árvore também enviar mensagens? Nathan perguntou. ─ Assim como todos os seres vivos! Agora Leewana tomou as anotações das mãos de Nathan e leu-a em voz alta. Depois de lê-la, ela sorriu. ─ Por que você está rindo? Perguntou Nathan. 299 ─ Eu vi a impaciência correndo para você. ─ Eu nunca tentarei esconder nada de você. Leewana piscou os olhos: ─ Isso seria engraçado. Leewana pegou firmemente nas mãos de Nathan e disse então em um tom sério: ─ Aqui está escrito: Um por todos, e todos por um, e o egoísmo não morrerá! ─ Em que idioma está escrito? Nathan perguntou. ─ Em uma velha linguagem usada pelos Aborígenes para revelar mensagens do tempo do sonho. ─ Tempo do sonho? ─ O tempo do sonho é um tempo numa dimensão diferente, que acontece simultaneamente a este. É uma realidade diferente próxima à essa. ─ O que acontece durante o tempo do sonho? ─ Pensamentos viajam de lá e eles tentam ser magníficos em nossa dimensão. Leewana trouxe aperitivos e os pegou em sua mochila. Pegou um cobertor amarrado à sua bolsa e o esticou no chão. Depois, convidou Nathan para sentar-se com ela. ─ Você sabe, disse Nathan, pelo que eu aprendi de você, eu entendo melhor como toda a tristeza no mundo vem para dentro dos seres. ─ Para que isso termine, as pessoas devem ter ciência do fato de que cada ação delas é o fruto dos pensamentos que evocam os sentimentos. ─ Nós podemos dizer que as pessoas têm que aprender a sentir de novo. Leewana sorriu e limpou um cacho de uvas com água. Então, cortou o cacho em dois e deu metade para Nathan. ─ Você sorriu de novo quando ouviu minhas palavras, Nathan disse. Leewana olhou gentilmente para Nathan. ─ Nathan, não existe na Terra ninguém que saiba como fazer as pessoas conscientes de seus sentimentos mais profundos melhor do que você! O que Leewana disse, fez Nathan pensar novamente. ─ E o que você pode fazer melhor do que qualquer um na Terra? Ele perguntou para Leewana. ─ Transferência de pensamentos, com certeza. 300 Um silêncio se seguiu. ─ O que você absorve das palavras entalhadas na árvore? Leewana perguntou a Nathan. Nathan tomou algum tempo para pensar. ─ Que cada missão individual forma parte de uma grande missão. Leewana acenou. ─ Eu penso da mesma forma. Depois de comerem os aperitivos, Nathan e Leewana desceram a montanha juntos. Leewana seguiu atrás de Nathan até eles chegarem a Caloundra, onde ficaram juntos por três dias e discutiram muitas das suas experiências. Por causa disso, eles ganharam mais percepção em suas missões maiores. Tornaram-se incrivelmente cientes do que poderiam significar um para o outro, e uma forte ligação cresceu entre eles. No terceiro dia, despediramse. Nathan continuaria sua jornada em direção a Cairns, enquanto Leewana era esperada na Rússia. Antes de suas partidas, eles falaram sobre suas excepcionalidades. Leewana iniciou: ─ Assim como a água é o princípio de toda nova vida, você tem a capacidade como ninguém mais de trazer novos pensamentos à vida. ─ Assim como o vento pode colocar tudo em movimento, você tem a capacidade, como ninguém mais, de transportar pensamentos muito antigos. Nathan piscou para Leewana e eles se abraçaram longa e intensamente. Ambos estavam convencidos de que se encontrariam novamente. 301 Consciência Nathan dirigiu para o Norte e descobriu muitos outros lugares bonitos. Depois de alguns dias ele chegou a Tropical Cairns, onde ele conheceu Jack, um jovem rapaz com longos cabelos louros, que veio de Vancouver. Jack obteve seu diploma como biólogo no Canadá. Imediatamente após seus estudos, ele começou a trabalhar para uma grande companhia farmacêutica, mas seu emprego não estava satisfazendo-o. Desde criança, Jack sonhava em viver na Austrália. Dois anos atrás, quando havia economizado o suficiente, ele realizou esse sonho e mudou-se para Cairns. Uma vez na Austrália, Jack decidiu fazer algo completamente diferente. Ele comprou um catamarã e ofereceu cruzeiros para a Grande Barreira de Recifes. Nathan e Jack conheceram-se em uma varanda de bar. Eles tiveram uma conversa sobre a beleza da natureza, mas também sobre as mudanças climáticas e as possíveis consequências disso se não houver uma grande mudança na mentalidade. Eles se entenderam muito bem. Jack convidou Nathan para navegar no Mar de Coral no dia seguinte. Ele disse que teriam o prazer de navegar com duas jovens moças da Romênia. A bordo da catamarã o quarteto pode se conhecer melhor. As duas morenas com olhos castanhos são irmãs e seus nomes são Mihaela e Ioana. Mihaela viveu na Irlanda e trabalhou em Dublin. Ela também imediatamente ressaltou que não havia encontrado grande satisfação com o trabalho. Sua irmã mais nova, Ioana, esteve estudando psicologia em Bucareste e fez isso com muita devoção. Ambas as irmãs terminaram uma viagem na Nova Zelândia, onde haviam visitado amigos com seus pais. As duas irmãs voaram de Auckland para uma viagem de dez dias pela costa leste da Austrália. Quando o barco se aproximou da barreira de coral, Nathan pulou na água. Mihaela e Ioana seguiram o seu exemplo, enquanto Jack permaneceu no barco. Nathan admirou os maravilhosos corais e nadou por entre muitos cardumes de peixes cheios de cores com as garotas. Para Nathan, isso confirmou novamente como a natureza pode ser bela, tanto em cima como debaixo d'água. Ele adoraria mergulhar mais fundo, mas ele pensou que era importante não causar suspeitas em suas companheiras. Mihaela e Ioana já estavam no barco por algum tempo, quando 302 Nathan retornou a bordo. Uma vez que se puxou para bordo, Jack continuou navegando. Um pouco depois eles ancoraram em uma pequena ilha. Sentaram-se embaixo das árvores. Quando se sentiram suficientemente confortáveis, Jack serviu deliciosas saladas. ─ Eu já tinha ouvido e lido sobre as belezas dos corais, disse Nathan, mas o que eu vi debaixo das águas excede as minhas expectativas. Tudo aqui é verdadeira e incrivelmente lindo, disse Mihaela. ─ Isso ainda é tão especial para você, Jack? Ioana perguntou. ─ Certamente, eu não apenas aprecio a beleza da natureza, como também o prazer vivido pelos convidados que eu trago a bordo. Depois da refeição, Mihaela e Ioana passearam pela ilha. Nathan e Jack se fizeram confortáveis na praia. Jack contou a Nathan que a conversa deles no dia anterior fez com que pensasse bastante, e que tinha algumas perguntas: ─ Nathan, você me disse que eu não apenas tive um sonho para vir aqui, mas existiu uma razão mais profunda para isso. ─ Tudo tem uma razão mais profunda, isso não é limitado aos sonhos. Eu me convenci disso, mas o que isso poderia significar especificamente para mim? ─ Sabendo que você tem que perguntar a si mesmo as perguntas certas concernentes às importantes fases da sua vida e, então conectar-se às respostas. Nathan sentou-se ereto e olhou Jack diretamente nos olhos para indicar a importância da informação que ele passaria agora: ─ Jack, que meio-ambientes tem sempre interessado mais a você? ─ Tudo relativo à natureza, vida na Terra, as mútuas relações entre cada ser vivo. ─ E sobre que lugar você tem sonhado viver desde a sua infância? ─ Esse lugar, onde eu estou vivendo hoje. ─ Qual é a sua maior preocupação hoje? ─ Sem dúvida, o que nós, como humanos estamos fazendo para a natureza. Desde ontem eu tenho aprendido com você que o lugar no qual estamos hoje é uma das mais valiosas áreas para estar para ser capaz de seguir o status da Terra. ─ Não é esse o caso? 303 ─ Sim, tá certo. Aqui o mar eleva-se ao máximo e os corais fazem parte dos mais delicados seres vivos na Terra. Eles são extremamente sensíveis a qualquer mudança no clima. Nathan agora se deitou de costas e não tirou os olhos do céu. ─ Bem Jack, até a delicadeza dos corais tem um significado mais profundo. Os olhos de Jack abriram-se totalmente: ─ Para nos prevenir de um possível desastre? Nathan acenou afirmativamente. ─ Isso poderia também explicar porque o mar se eleva ao máximo nesse lugar? Jack continuou. Novamente Nathan acenou e então disse: ─ Agora ligue toda essa informação às importantes fases da sua vida, Jack. Por que você foi interessado em Biologia? ─ Por que você agora tem esse conhecimento específico? ─ Por que você teve esse desejo ardente de vir aqui? Jack ficou bem quieto agora. ─ Realmente Jack, Nathan continuou, você tem sempre seguido a estrada em direção ao seu destino de vida e hoje, como ninguém mais, pode tornar-se o protetor da Grande Barreira de Recifes. Daqui você será capaz de fazer o mundo ver a importância do que engana o mais perto do seu coração. Enquanto Jack estava observando calado o horizonte, Mihaela e Ioana retornaram do passeio. As garotas sugeriram nadar de novo. Jack, que ainda estava pensando nas palavras de Nathan, disse que elas poderiam ir e que ele seguiria mais tarde. Mihaela e Ioana foram para o mar, enquanto Nathan ficou com Jack por um momento. Então, foram juntar-se às mulheres. Eles se divertiram bastante antes de retornarem para casa na catamarã. A bordo, Nathan disse a eles que esse seria seu último dia em Cairns. Amanhã ele começaria a dirigir de volta para Sidney. Depois de alguma hesitação, Mihaela atreveu-se a perguntar a Nathan se elas poderiam tomar uma carona de volta para Sidney, porque elas estariam voando de volta para Europa daquela cidade em quatro dias. Nathan respondeu que nunca recusa boas companhias. Quando eles voltaram à terra firme, eles disseram adeus a Jack. Mihaela e Ioana agradeceram a ele pelo maravilhoso dia que viveram e foram para dentro do motor home de Nathan. Nathan trocou algumas palavras com Jack. ─ Você ficou quieto no retorno. Nathan disse. 304 ─ Suas palavras têm me dado sentido para muitas coisas que eu tenho vivenciado em minha vida. Muito tem significado agora. ─ Eu apenas disse em voz alta o que sua pequena voz estava sussurrando. ─ Você é verdadeiramente especial, Nathan, você sabe disso? ─ Todos somos, Jack, embora nem todos saibam. Nathan abraçou Jack e eles desejaram um ao outro muita sorte. Então Nathan entrou no motor home e dirigiu para o hotel onde Mihaela e Ioana estavam para que pudessem pegar suas bagagens. ─ Hoje nós ouvimos um pouco da sua conversa, Mihaela disse. ─ Você parece ter dito ao Jack coisas importantes. ─ Às vezes nós temos todos os elementos do conhecimento, disse Nathan, mas isso não é suficiente até que apareça alguém e os aponte para nós, para que vejamos. Ioana quis perguntar o que isso tudo significava, mas Mihaela sinalizou que isso poderia ser algo muito pessoal. Elas não quiseram ser desrespeitosas e não fizeram outra pergunta mesmo Nathan tendo conhecimento da curiosidade delas. ─ A conversa era sobre nosso verdadeiro destino de vida. ─ E atualmente, quais são os seus grandes objetivos na vida? ─ Quais são os seus sonhos? ─ Eu estudo psicologia e espero fazer algo com isso mais tarde, Ioana disse. ─ E você, Mihaela? ─ Eu tive sonhos, mas eu não sonho mais, ela respondeu. ─ Isso soa pessimista, Nathan declarou. ─ Mihaela tem um sonho, disse Ioana, ela tem guardado isso em seu coração por muito tempo. ─ Bem, eu estou muito curioso sobre isso, disse Nathan. ─ Não, esqueça isso, Mihaela disse, a vida tem escolhido outra coisa para mim. ─ Mihaela sempre quis fundar um grande orfanato, Ioana disse. ─ Isso explica muito, Nathan disse. ─ O que você quer dizer? Mihaela quis saber. ─ No seu interior há compaixão suficiente para ter uma grande influência em muitas vidas, Nathan respondeu. ─ As pessoas que conhecem Mihaela bem, todas dizem que ela tem um bom coração, confirmou Ioana. Nathan puxou o motor home para a lateral da estrada e se virou em direção a Mihaela: 305 ─ Mihaela, se você desistir do sonho que vem guardando em seu coração por tanto tempo, isso significa o mesmo que morrer um pouco. Você tem a mais valiosa percepção; você tem a percepção em seus objetivos de vida, o íntimo desejo que chegou com você a Terra. ─ O íntimo desejo que chegou a Terra comigo? Mihaela disse. ─ No começo de sua existência, cada pessoa tem conhecimento de seu destino de vida, Nathan respondeu. Isso é um desejo escondido bem dentro de nós e de lá nunca sai - Você quer dizer nossa responsabilidade de vida? Ioana perguntou. ─ Isso não é uma responsabilidade, Nathan replicou, nós fazemos nossas próprias escolhas se prestamos ou não atenção a elas. ─ E para aqueles que nunca descobriram seus objetivos de vida? Ioana perguntou, enquanto Mihaela ouvia atentamente. ─ Isso significa que eles estão ignorando os sinais e que eles estão prestando pouca atenção aos seus desejos interiores. Eles aspiram por objetivos transitórios, os quais podem trazer a eles algum prazer, mas nunca serão capazes de realmente os satisfazerem. ─ Isso é uma escolha que determina nossa felicidade? Mihaela perguntou. ─ Realmente Mihaela, quando nós conhecemos nosso íntimo desejo e tentamos realizá-lo, nós vivemos a nossa vida de forma completa. ─ O que você acha que devo fazer? Mihaela perguntou. ─ Você já sabe qual é o seu propósito de vida, o que já é fantástico. Agora você deve prestar atenção aos sinais. ─ O que são sinais? Disse Ioana. ─ Sinais trazem mensagens, as quais podem contribuir para a realização do seu destino de vida. A partir do momento em que você prestar atenção a eles, eles seguirão uns aos outros em sucessão. Nathan religou o motor home. Suas palavras impressionaram. Ele falou com tanta convicção que nem Mihaela nem Ioana puderam duvidar de suas palavras. No caminho para Sidney, Nathan e Mihaela revezaram no volante. Eles gastaram dois dias na estrada. Quando eles chegaram a Sidney, Nathan devolveu o motor home. Nathan então voltou para o hotel onde ele estivera anteriormente. Mihaela e Ioana também reservaram um quarto nesse mesmo hotel. Nathan prometeu passar a noite com elas antes de sua partida. No dia seguinte Nathan passou ao lado da loja noturna à noitinha. Qiao 306 estava muito ansioso para vê-lo novamente. Nathan perguntou quando teria tempo livre para conversarem um pouco, ao que Qiao respondeu entusiasticamente que seu sobrinho sempre poderia dar uma olhada para ele por um instante. Qiao imediatamente chamou seu sobrinho e em menos de meia hora, Nathan e Qiao estavam andando juntos por Kings Cross, o distrito de vida noturna de Sidney. Nathan estava curioso sobre a vida de Qiao e este pareceu extremamente feliz com sua atenção. Ele contou a Nathan sobre suas principais fases da vida com muito de seu passado, de forma nostálgica. ─ Desde que eu escolhi deixar o meu país, eu tenho o sentimento que eu inconscientemente também escolhi me boicotar, isso não é estranho? ─ Cada sentimento tem sua razão. Conte-me mais sobre a sua vida na China. ─ Minha família é originalmente de Xangai, mas eu gastei boa parte de minha juventude em um monastério perto de Lijiang, uma cidade ao sul, na província ocidental de Yunnan. Eu fui levado para lá como um jovem monge e segui os ensinamentos de um velho mestre. ─ Em que consistem esses ensinamentos? ─ Nosso mestre, que nesse meio tempo ficou muito velho, nos ensinou como no início de nossas vidas, estamos ainda muito perto da mais elevada consciência e como projetamos nossos pensamentos para o mundo externo quando envelhecemos. Nathan ouviu com grande interesse. ─ Por causa disso, aprendemos a ficar sabendo como, com o tempo nos identificamos com o nosso corpo, nossas posses, nossa imagem, nosso desempenho e muito mais. ─ O que o seu mestre mostrou a você com isso? ─ O ponto constante de seus ensinamentos foi um retorno para nosso interior. Ele quis que nós víssemos que todos nós temos imagens erradas da realidade, que pode nos separar do nosso íntimo e através disso da mais elevada consciência. Nathan acenou para indicar que ele também compartilha da mesma opinião. Quanto mais Qiao contava sobre seus ensinamentos, mais podia contar com o interesse de Nathan. Qiao teve ciência de sua atenção e sugeriu discutirem isso em mais detalhes amanhã. Nathan respondeu que havia prometido passar a noite com duas amigas que havia conhecido em Cairns. Disse que não poderia adiar seu encontro, porque as garotas estariam 307 retornando para a Europa no dia seguinte. Qiao não viu isso como um problema e também as convidou. Disse que sua esposa poderia prepara um delicioso jantar para a ocasião. De volta ao hotel, Nathan passou pelo quarto de Mihaela e Ioana para contar sobre o convite e elas ficaram empolgadas. Na noite seguinte, Nathan, Mihaela e Ioana foram recepcionadas por Qiao e sua esposa, Stephanie, uma mulher pequena e magra . Ela era de Perth, uma cidade na costa oeste da Austrália e era uma mulher socialmente muito ocupada. Ela ainda havia viajado pelas áreas mais pobres e havia participado em diferentes projetos humanitários. De todos os países que havia visitado, a China foi o país que lhe deixou a maior impressão. Ela esteve lá por muitas vezes com Qiao e se tornou incrivelmente fascinada pelo país. Essa noite, Stephanie preparou um prato especial da China. Durante o jantar as conversas logicamente foram sobre a China. ─ A China tem uma cultura que incita tanto nossa inteligência quanto nossa fantasia, disse Stephanie. É realmente um país encantador. ─ Uma vez que você se enche com a magia, Qiao continuou, você vivenciará experiências íntimas muito marcantes. ─ O que você quer dizer com experiências íntimas? Ioana perguntou. ─ Experiências nas quais você é confrontada com você mesma, Stephanie respondeu. ─ Na China eu tenho aprendido a meditar sobre o que aconteceu comigo e tenho aprendido muito sobre mim dessa forma. Qiao e Stephanie falaram por um longo momento, e com paixão, sobre suas experiências na China. Foi marcante como todos eles eram capazes de discutir sobre o território do país. Após a refeição Stephanie tirou a mesa. Mihaela e Ioana decidiram ajudar voluntariamente. Enquanto as mulheres conversavam na cozinha, Qiao convidou Nathan para sentar na sala de estar. Eles continuaram a conversa com um copo de chá. ─ Eu queria falar para você essa noite sobre um homem marcante que conheci recentemente, disse Qiao. ─ Seu nome é Yeshe; ele é da cidade de Lhasa no Tibete e agora vive em Melbourne, onde dá lições de meditação. ─ O que o torna marcante? Nathan perguntou. ─ Tive uma longa conversa com ele e entendi que sua visão de vida é baseada nos mesmos velhos conhecimentos de meu antigo mestre. 308 Nathan deixou Qiao falar. ─ Ouvi de um amigo que Yeshe é o pioneiro de um movimento que está progressivamente atraindo mais seguidores, mesmo que esteja longe da China. Nathan sentiu crescer mais seu interesse pelos velhos conhecimentos sobre os quais Qiao estava falando. ─ O que mais você pode me contar sobre os velhos conhecimentos? Nathan perguntou. ─ O mais importante elemento ensinado para nós por esses conhecimentos é que o mundo não é gerenciado por seres humanos, mas pelas forças que influenciam nossas vidas. ─ De que forças você está falando? ─ Meu antigo mestre as chama forças de luz e forças de escuridão. Essas forças trabalham cada uma ordeira ou destrutivamente e influenciam todas as nossas ações. As palavras de Qiao fizeram com que Nathan ficasse curioso. Ele sentiu intuitivamente que essa informação não lhe foi dada sem um propósito. ─ O que você acha que faz Yeshe ter tanto sucesso? Qiao pensou sobre isso. ─ Eu acho que existe um aspecto muito importante. ─ Esse velho estado de conhecimento de que o mundo é gerenciado por poderes superiores e não pelas pessoas em si. E com isso eles tiram o sentimento do pecado. ─ Essa opinião realmente será atrativa para muitos, porque isso nos liberta dos nossos sentimentos de culpa, mas o que esses conhecimentos então dizem sobre as ações do mal? ─ De acordo com o meu mestre, e que também se aplica a Yeshe, o mal não existe, apenas "bom" e "pior"! Nathan ficou cada vez mais interessado nesses velhos conhecimentos de que Qiao falava e disse a que precisava conhecer Yeshe. Qiao estava muito entusiasmado e sugeriu que o visitassem em Melbourne em alguns dias. Ioana veio para a sala de estar e trouxe notícias importantes para Nathan. Stephanie trabalhou para uma grande organização internacional que criou e apoiou grandes projetos humanitários pelo mundo. Durante a conversa delas, Ioana disse a Stephanie que isso era o sonho de Mihaela, criar um orfanato, de preferência na Romênia. Tudo isso junto determinou que uma boa amiga de Stephanie esteve à frente dessa organização humanitária e que ela tem a experiência necessária, bem como ofereceu recursos para 309 realizar tais projetos. Stephanie disse que ela deseja ajudar com o envio de uma proposta. Qiao pulou e pegou duas garrafas de vinho para que pudessem celebrar. Nathan foi olhar Mihaela na cozinha. Stephanie deixou-os sozinhos e foi para a sala de estar. Mihaela chorava de alegria e abraçou Nathan. Ela quis dizer algo, mas Nathan pôs seus dedos nos lábios dela. Nenhuma observação poderia dar a esse momento mais significado que o silêncio. Juntos eles retornaram para a sala de estar e foi uma noite agradável. Um táxi os levou de volta para o hotel. Mihaela e Ioana andaram até o quarto de Nathan. Ioana disse que estava muito cansada e agradeceu a Nathan pelo bom momento que tiveram juntos nos últimos dias. Ela disse boa noite e foi para o seu quarto. Nathan sentou-se em sua cama e Mihaela se recostou próximo a ele. Ela estava mentindo com uma mão atrás de sua cabeça e a outra na barriga, e olhou de modo sedutor para Nathan. ─ E então? Mihaela perguntou. Para Nathan tornou-se imediatamente claro o que Mihaela queria. Ela chegou perto dele e pegou em sua mão. Justamente no momento em que os lábios dela tocaram os dele, ele pensou em Sophie. Então repentinamente e com tal resistência que pareceu como se ele pudesse sentir a presença de Sophie. Nathan conteve Mihaela e desculpou-se por não ter contado a ela mais cedo que ele já estava noivo. Mihaela imediatamente o deixou ir. O desapontamento dela era visivelmente aparente. Nathan disse: ─ Isso também é culpa minha, eu não deveria ter deixado isso ir tão longe. ─ Podemos ser amigos? ─ Nós já somos, Mihaela. Nathan foi com Mihaela até a porta. ─ Mihaela, você é uma mulher linda, por fora, mas especialmente por dentro. Se eu já não estivesse com alguém, eu provavelmente veria nossa relação de forma diferente. As palavras de Nathan fizeram Mihaela chorar. ─ Como posso eu encontrar alguém mais como você? Eu inconscientemente irei comparar todo homem a você. Novamente Nathan pôs seus dedos nos lábios dela. ─ Nesse momento tudo é confuso e você não pode pensar coerentemente. Depois dessas palavras, Nathan deu-lhe um delicado beijo no rosto. Mihaela sorriu e acariciou o rosto de Nathan suavemente. ─ Quem quer que seja ela, disse, é muito sortuda! 310 Ela se desculpou e foi para seu quarto. Nathan fechou a porta e se sentiu desconfortável com a situação. Ele deveria ter sido mais claro desde o início. Culpou a si mesmo por ser tão egoísta e consequentemente causar tanto sofrimento. No dia seguinte, todos três tomaram café da manhã juntos. Quando Ioana saiu por um momento, Nathan usou a oportunidade para perguntar a Mihaela como ela havia ficado. Ela apreciou sua honestidade e pensou que suas ações se encaixam com sua natureza. Agora ela estava um pouco temerosa que a amizade deles estivesse afetada pelo que aconteceu. Nathan disse a ela que não era o caso, na realidade ele contou a ela que haviam se tornado bons amigos em um curto tempo por causa disso. Ele também pediu a que o mantivesse informado com relação ao progresso do projeto que ela estaria iniciando com Stephanie. Depois do café da manhã, Nathan acompanhou Mihaela e Ioana ao aeroporto. Alguns dias depois, Nathan retornou ao mesmo aeroporto e voou para Melbourne junto com Qiao. 311 Desejo Profundo Pelo meio-dia, Nathan e Qiao chegaram a Melbourne, onde estavam indo ao encontro de Yeshe no próximo dia. Reservaram um hotel no distrito de Fitzroy e exploraram a cidade em um bonde elétrico. Aqui em Melbourne, Nathan também ficou impressionado pela beleza dos parques. Admirou o modo como foram desenhados, entre belas casas e prédios. Na próxima noite, Nathan e Qiao foram à casa de Yeshe. Qiao se sentiu orgulhoso, porém nervoso ao mesmo tempo. Ele foi à pessoa que organizou o encontro entre Nathan e Yeshe. De uma maneira ou de outra soube que estava fazendo algo de suprema importância. Uma mulher amável os recebeu e os levou a uma pequena, porém aconchegante área com largos travesseiros no chão. Ela nos trouxe chá e disse que Yeshe chegaria em pouco tempo. Qiao se saciou com três copos e aguardou a chegada de Yeshe, que chegou com um livro em baixo de seu braço. Ele era um homem magro e bem cuidado, com cabelos negros e uma bela barba. Nathan e Qiao levantaram-se e agradeceram pelo tempo concedido a eles. Então algo estranho aconteceu. Ao invés de saudá-los, Yeshe não disse uma palavra quando ele viu Nathan, sem dizer nada, Yeshe sentou numa das almofadas em frente a Nathan e Qiao. Agora Nathan e Qiao sentiram-se um pouco desconfortáveis. Para quebrar o silêncio, Nathan agradeceu mais uma vez a ele pelo convite e disse que ele gostaria de aprender sobre a sua visão. Yeshe manteve-se olhando para Nathan. Finalmente, desculpou-se pela sua falta de atenção, mas não fez nada para se explicar. Como se nada tivesse acontecido ele reagiu ao que Nathan tinha dito: ─ Eu adquiri minha visão na vida pelo “Verdade da verdade”! Nathan e Qiao olharam-se, sem saber o que fazer devido ao comportamento estranho de Yeshe. Estava claro que alguma coisa havia chamado sua atenção. Como Yeshe não disse nada a respeito, Nathan decidiu também não prestar atenção. Então ele continuou o diálogo: ─ Por que essa doutrina é chamada “Verdade da verdade”? Perguntou Nathan. Agora Yeshe estava entusiasmado. Durante a continuação da conversa ele poderia mostrar com grande entendimento que tinha 312 um profundo conhecimento dos antigos conhecimentos nos quais baseou suas visões. ─ Primeiramente, nós experimentamos esse mundo como ele se apresenta à nossa convicção, o mundo da experiência. Mas por detrás da existência de um mundo, que não é acessível para nós, porque o mundo da experiência se esconde. A visão da “Verdade da verdade” nos mostra como nós podemos tirar essa venda. ─ O que essa visão diz sobre a existência humana? Perguntou Nathan. ─ Estamos aqui na Terra para desenvolver-nos espiritualmente; o que podemos fazer conquistando o menor instinto animal e orientação manual. ─ Cada um de nós é livre para escolher seu trajeto de vida, mas a “Verdade da verdade” nos ensina que a pessoa que não presta atenção ao seu desenvolvimento espiritual mergulhará, cada vez mais profundamente, no materialismo e no animalesco por causa dos seus desejos e suas vontades. ─ Qual é o destino daqueles que estão à procura do desenvolvimento espiritual? Nathan precisava saber. ─ Eles são livres. Consequentemente, mais e mais do instinto animal e da orientação material deles retornam sempre ao seu interior, para o estado mais puro. ─ Um estado puro? ─ O estado puro ocorre quando o sofrimento desapareceu completamente. Nesse momento, nós temos o conhecimento e a distinta intenção de opor-nos contra esse sofrimento. Desse momento em diante, somos capazes de sentir o fluir da maior consciência. Nathan tirou um momento para pensar sobre as palavras de Yeshe. ─ Como essa evolução espiritual acontece e como podemos alcançar o estado puro? ─ Direcionando nossos pensamentos na direção correta. Qiao também quis dizer alguma coisa: ─ A maior parte das pessoas não fica parada com seus pensamentos. Essa é a causa do grande sofrimento em todo o mundo. Até agora Nathan teve a confirmação de tudo o que ele sabia. Embora tenha sido dito aqui com palavras diferentes, em essência dizia respeito à mesma coisa. O que lhe deu confiança nas revelações de Yeshe. Ele soube que, fazendo as perguntas corretas, poderia obter o conhecimento. 313 ─ Em todo lugar do mundo nós vemos que as pessoas são capazes de fazer o melhor, mas também o pior. O que a “Verdade da verdade” diz sobre isso? ─ Que o universo nos dá coragem, disse Yeshe, para mudar o que nós podemos mudar, a tranqüilidade para aceitar o que não podemos mudar e o conhecimento para perceber as diferenças entre eles. Como eu disse mais cedo, somos livres para escolher como lidamos com esses presentes do universo. ─ Eu desejo saber se essa liberdade é boa para nós considerando o grande sofrimento que existe no mundo, Qiao arriscou. ─ Se nós não tivéssemos liberdade seria, Yeshe reagiu, assim seríamos condenados antecipadamente pelos nossos impulsos primitivos e nossa orientação material e nossa existência humana não faria o menor sentido. ─ Como podemos ter a percepção sobre nossa evolução espiritual? ─ Aceitando que vivemos de acordo com a lei do Karma, a qual determina que cada ação, em acréscimo a essa conseqüência direta no mundo da experiência, também tem uma conseqüência espiritual que é sempre a base de nossas experiências futuras. Nathan conheceu a lei universal da causa e efeito e tinha conhecimento que mais cedo ou mais tarde iria colher aquilo que semeou. Yeshe continuou: ─ Quando levamos essa lei em conta e aplicamos em nossas vidas, estamos capacitados a entender que somos responsáveis por nossas experiências futuras e obteremos discernimento da nossa evolução espiritual. ─ Como a “Verdade da verdade” explica que há pessoas com um senso de espiritualidade e outras que preferem misturar nas pessoas? ─ Dentro de cada um de nós existem necessidades íntimas, que todos nós satisfazemos de maneiras diferentes. Por um lado, depende da nossa natureza, e por outro, das nossas ações. A “Verdade da verdade” faz uma distinção entre as quatro necessidades e nos mostra como devemos lidar com isso quando queremos seguir a estrada espiritual. Yeshe agora abriu o livro que ele havia trazido. Depois de dar uma olhada nele, ele apoiou seu polegar, indicando que estaria concluindo as quatro necessidades interiores. Nathan ouviu atentamente: 314 ─ A primeira necessidade é a exclusividade. Cada um de nós tem a necessidade de se diferenciar. Uma pessoa olhando para a satisfação espiritual irá diferenciar a si própria Favoravelmente, não negativamente para outras. Ele faz então trazendo profundidade aos seus relacionamentos, de forma que a energia positiva que ele irradia trabalhe contagiosamente em outras! Yeshe colocou um segundo dedo: ─ A segunda necessidade é unidade. Cada um de nós tem a necessidade de se sentir único com alguma coisa maior que si próprio. A pessoa, olhando para a satisfação espiritual será tocada pelo mundo, de forma que ganhará consciência que espiritualidade não é algo exclusivamente espiritual, mas é desse modo todo abrangido. Agora Yeshe colocou um terceiro dedo: ─ A terceira necessidade é a satisfação. Cada um de nós tem a necessidade de ser criativamente ocupado. A pessoa que olha para a satisfação espiritual estará procurando pela sua virtude criativa mais profunda, até que ele desenvolva uma função puramente espiritual na Terra, então ele se tornará um navio de conhecimento da ordem universal e outros estarão capacitados a vivenciar isso! Então Yeshe colocou um quarto dedo: ─ A quarta necessidade é a reunificação. Cada um de nós tem a necessidade de experimentar um profundo entendimento emocional de seu lugar no mundo. A pessoa que procura satisfação espiritual irá aspirar por purificação mental, iluminação e unificação, de forma que sua vida se tornará estruturada em conformidade com o amor de criação! Nathan pensou por alguns instantes sobre essas quatro necessidades espirituais: ─ Para satisfazer essas quatro necessidades de maneira correta, Yeshe disse, nós sentimos a conexão com nosso interior, e nós desenvolvemos na direção do estado puro. ─ Como nós sabemos qual é o caminho correto? Qiao perguntou. ─ Analisando a natureza dos seus desejos, Yeshe respondeu. Nossos desejos, um após outro, são encorajados pelos nossos sentimentos. ─ O que então determina os desejos que sentimos? Qiao queria saber. ─ Nossos pensamentos secretos, são os nossos pensamentos mais importantes, por que eles dão forma às nossas vidas. 315 ─ E o que determina esses pensamentos secretos? Perguntou Nathan. ─ Isso é determinado pelo seu desejo mais profundo! Nathan olhou intrigado: ─ Nosso desejo mais profundo é a nossa essência e a confiança em nós. Isso é graças ao desejo mais profundo, o que cada um de nós mais gosta, então nós somos capacitados para criar algo que nunca existiu na Terra antes. Agora Yeshe olhou para Nathan. ─ Você seguiu seu desejo mais profundo muito cedo na intenção de satisfazer seu elemento natural. Um poder inacreditável veio das palavras de Yeshe. Nathan sentiu o que havia sentido mais cedo, quando Sanah contou a ele sobre a importância dessa missão de vida. Yeshe tem mostrado a Nathan algo fundamental. Nathan conheceu a importância de verificar cada pensamento e sentimento que estão acompanhando ele nesse momento. Agora, ele também sabia o que é a fonte desses sentimentos. Algo que está diretamente conectado à nossa natureza, nosso desejo profundo. Nathan se levantou e pegou nas mãos de Yeshem, enquanto agradecia a ele: ─ Obrigado por essas sábias palavras. ─ A honra não é minha, mas para aquele que entende e aceita essas palavras. Nathan pediu permissão a Yeshe e saiu da sala, enquanto Qiao ficou com Yeshe para encontrar a razão para o estranho comportamento em relação à Nathan. ─ Eu fui informado que você tem um dom, Qiao perguntou, de ver as especialidades em cada um de nós. É esse o porquê de você ter ficado surpreso ao ver Nathan? ─ O que te falaram sobre mim? ─ Com seus olhos, você seria capaz de ver o ego de cada pessoa. Yeshe não confirmou nem negou a pergunta. ─ O que você quer saber? Perguntou Yeshe. ─ O que você viu em Nathan? Yeshe chegou bem próximo a Qiao e olhou diretamente em seus olhos: ─ Essa é a primeira vez na minha vida que eu conheço uma pessoa cujo ego eu não consigo ver. Qiao olhou surpreso: ─ O que isso significa? 316 ─ Meus sentidos dizem que Nathan nasceu sem ego! Se isso for verdade, ele não faz distinção entre seu próprio bem-estar e o dos outros. Então, não existe poder de desejo ou ambição material ao redor dele. ─ O que mais você sabe? ─ Nathan apenas veio do nono portal. ─ Você está falando dos portais que levam ao estado puro? Yeshe indicou com a cabeça e então continuou: ─ Em breve, Nathan irá procurar pelos últimos dois portais, os quais o mantém na direção do último grande portal, o portal do estado puro. ─ O décimo e o décimo primeiro portais? Tranquilidade e conhecimento? Yeshe estava surpreso com a inteligência especial de Qiao e acenou afirmativamente. ─ O que acontecerá a primeira vez que Nathan tiver chegado ao estado puro? Perguntou Qiao, com curiosidade. Yeshe ficou em silêncio por um instante antes de responder, e então olhou para Qiao como se ele desconfiasse do que ele poderia responder sobre isso. Finalmente ele disse as seguintes palavras: ─ O que vai acontecer exatamente, ninguém pode dizer, mas o que é certo é que Nathan tem receptividade suficiente para fazer o sofrimento do mundo diminuir. ─ Você sabia que eu pensei exatamente a mesma coisa quando eu o vi pela primeira vez? Disse Qiao. ─ Você é muito mais que um simples espectador, desde o princípio existe uma função para você nisso tudo. ─ O quê? Como? ─ O que você deve fazer é levar Nathan para sua fundação. ─ Minha fundação? Onde é minha fundação? ─ Onde você obteve o maior conhecimento. ─ Você quer dizer onde Shuang, meu antigo mestre, está localizado? ─ Shuang é capaz de dar a Nathan nova informação sobre o caminho que ele deve seguir, no intuito de alcançar o estado puro. Depois dessas palavras, Yeshe se despediu de Qiao e desejou uma boa jornada. Qiao ficou completamente confuso quando ele saiu. Nathan veio em direção a ele: ─ O que foi isso? Ele perguntou a Qiao. ─ Yeshe me contou o quão especial você é. 317 ─ O que ele disse? Foi essa a razão do silêncio dele quando ele me viu? Qiao se virou na direção de Nathan e o segurou pelos ombros com seus braços: ─ Yeshe tem um dom. Eu tinha ouvido sobre isso anteriormente, mas queria ter certeza. ─ Que dom? Nathan perguntou. ─ Yeshe pode ver o ego de cada pessoa com seus próprios olhos. Nathan pensou sobre isso e então perguntou: ─ É esse o porquê de ele ter olhado para mim por tanto tempo? Qiao balançou a cabeça: ─ O que ele viu? Perguntou Nathan. Qiao respirou, engolindo a emoção. ─ Com você, algo estanho aconteceu. Nathan olhou para Qiao ansiosamente. ─ Você é a primeira pessoa cujo ego Yeshe não pode ver. Nathan não disse nada e começou a andar. Agora Qiao ficou extremamente curioso: ─ Você pode explicar isso, Nathan? Nathan não respondeu a pergunta, porém fez outra: ─ O que mais ele disse? ─ Yeshe me disse que quando você conseguir tranqüilidade e conhecimento suficientes, você será capaz de fazer algo excepcionalmente maravilhoso. Qiao observava Nathan com a esperança de conseguir mais informação. ─ Ele disse mais alguma coisa? Perguntou Nathan. ─ Sim, eu tenho que levar você a Shuang. ─ Quem é Shuang? ─ Meu antigo mestre em Lijiang. Nathan e Qiao entraram em um táxi que os levaram ao hotel. No hotel, Nathan agradeceu a Qiao pela informação e disse que ele precisava estar sozinho com seus pensamentos. Uma vez chegando a seu quarto, Nathan tomou esse tempo para organizar seus pensamentos. Fez isso enquanto continuava escrevendo em seu livro. Dormiu pela primeira vez quando o sol estava se pondo. Na manhã seguinte, Nathan sentiu o distinto impulso para continuar viajando. Quando encontrou Qiao, pareceu que ele também teve o mesmo impulso. Estava claro para ambos que eles deviam brevemente seguir para a China. No vôo retornando para Sidney, Qiao disse a ele sobre as belas memórias que ainda tinha dos seus 318 momentos no monastério de Lijiang. Qiao terminou dizendo que por muito tempo manteve um desejo de retornar lá um dia, mas que não tinha retornado devido a uma série de razões. Nathan disse a ele que tudo mantido em nossas memórias está lá por causa de uma razão profunda. Acrescentou que quando tentamos entender o que é essa razão profunda, novas visões também aparecem ao mesmo tempo, concernentes às mudanças que nós temos de fazer pra agir de acordo com tudo isso, para poder encontrar nosso verdadeiro destino de vida. 319 Estado Puro Alguns dias mais tarde, Nathan e Qiao voaram para Kunming, a capital da província de Yunnan. Assim que aterrissaram, seguiram para o centro da cidade e reservaram um hotel por lá. Depois de descansarem um pouco, foram às montanhas Xishan. Lá, apreciaram a vista de tirar o fôlego da “cidade com a primavera sem fim”. Quando a noite caiu, eles passearam pelo centro da cidade. Embora Nathan não tenha visto nenhuma grande diferença com o que ele tinha visto antes, percebeu que aqui existia um estilo de vida completamente diferente. Percebeu que um novo mundo poderia abrir-se de novo para ele. Eles passaram o dia seguinte no Parque Cuihu. Qiao contou a Nathan que tanto jovens como senhores de Kunming vão para lá descansar. A maior parte das atividades foi compreendida por pessoas que passeavam pelos templos e pelos belos lagos. Na manhã seguinte, Nathan e Qiao pegaram bem cedo um trem que os levaram à Dali por entre vales e montanhas incríveis. Aqui Nathan e Qiao também reservaram um hotel para a primeira noite, e então exploraram o centro. Um dia depois Qiao conversou sobre a rica história da Província Yunnan que contém uma variedade de culturas, durante um passei pelo lago Erhai. No dia seguinte, tomaram um ônibus para Lijiang. Chegaram à cidade pela noite e reservaram um hotel. Na manhã seguinte, Qiao guiou Nathan entusiasticamente por becos sinuosos cheios de pedras de pavimentação. Para Qiao, esse era um retorno emocionante à cidade que conhecia tão bem. Nathan reparou que essa cidade se parecia com a cidade de Bruges na Bélgica, uma cidade onde ele gostou de passar o tempo na sua infância. Nathan amou as cozinhas aqui, graças às muitas casas de madeira ao longo de pequenos desfiladeiros. Quando apareceu a noite, Nathan e Qiao foram dormir cedo. No dia seguinte eles também levantaram muito cedo, com as cabeças no monastério. Cedo pela manhã, Nathan e Qiao pegaram um ônibus que os levariam à margem da montanha Yulong. No topo dessa montanha nevada estava o monastério, que só pode ser alcançado após árdua escalada. Uma vez chegando, alguns monges recepcionaram Nathan e Qiao. Com suas cabeças raspadas e suas longas túnicas, eles lembram Nathan de Zack, seu amigo de Nova York. Os monges desse monastério são conhecidos 320 por sua hospitalidade e eles definitivamente herdaram essa reputação. Eles se apresentaram para Nathan e Qiao o os mostraram como eles viviam e onde meditavam. Depois do tour eles foram levados a uma sala ampla. Lá eles sentaram no chão, todos de costas. Uma vez sentindo-se confortável, Nathan observou com interesse os rituais, enquanto Qiao dava mais informações sobre eles. Enquanto isso, mais e mais monges moviam-se lentamente para dentro da sala. Centenas de monges estavam esperando pacientemente até que mestre Shuang fizesse sua aparição. Qiao estava muito nervoso. Repentinamente chegou o momento: o velho mestre entrou na sala e sentou-se em uma cadeira de frente. Ele pediu aos seus seguidores para que fechassem seus olhos e respirarem calma e profundamente. Qiao traduziu as palavras de Shuang e então seguiu suas ordens. Ao invés de seguir os exemplos de Qiao, Nathan fez algo completamente inesperado. Ele se levantou. O mestre imediatamente observou Nathan. Eles permaneceram olhando-se até que Nathan decidiu andar em direção ao mestre. Qiao viu o que acontecera e também se levantou e seguiu Nathan por entre a multidão de monges. Qiao não sabia o que estava acontecendo, e perguntou calmamente por uma explicação, mas Nathan continuou andando despreocupado. Quando eles chegaram de frente ao mestre, Shuang abaixou a cabeça de Nathan para os visitantes. Um após o outro, Nathan e Qiao também abaixaram suas cabeças, Shuang falou a Nathan em Mandarim. Qiao traduziu a conversa entre os dois: ─ Sinta-se à vontade aqui, disse Shuang, e eu fiquei honrado pela sua presença. ─ É uma honra ter autorização para ficar com você, disse Nathan. Qiao falou sobre você e assegurou que nós poderíamos nos conhecer. Shuang olhou para Qiao e reconheceu seu antigo estudante. Shuang acenou, indicando que Qiao fez um bom trabalho. Enquanto os monges começaram a sussurrar progressivamente entre si na sala. Shuang então pediu por silêncio completo. Quando nada mais pode ser ouvido, Shuang primeiramente olhou dura e continuamente para Nathan e então fechou seus olhos. Quando ele abriu seus olhos, pareceu como se o mestre tivesse obtido uma visão compenetrada para dentro do que ele pretendia para Nathan: ─ Eu vou te ajudar, disse Shuang a Nathan. 321 Nathan não disse nada, e aguardou pelas próximas palavras de Shuang. ─ Venha me ver à noite e traga Qiao com você. Eu o ensinarei como você pode escutar o som dentro de você, de forma que também possa ver o som interior de outros. Depois dessas palavras, os três homens abaixaram suas cabeças uns para os outros. Nathan e Qiao deixaram a sala sob os olhares penetrantes das pessoas presentes. Quando a noite caiu, Nathan e Qiao foram ao topo do monastério. Shuang estava esperando lá por eles em sua humilde sala. Nathan e Qiao sentaram-se de frente ao mestre, e foi oferecido chá quente, justamente como Yeshe. Qiao traduziria a conversa por inteiro. ─ Você tem viajado por um belo caminho, Shuang disse a Nathan. ─ Você está falando do caminho viajado ou meu caminho de vida? Perguntou Nathan. ─ Qual a diferença? Shuang respondeu de volta. ─ Eu já tive a oportunidade de me familiarizar com várias contemplações de vida. ─ Você está agora melhor capacitado para entender como cada verdade vem para a existência? Shuang queria saber. ─ Eu tenho aprendido que cada verdade consiste em uma percepção. Se isso está certo ou não, é geralmente sem importância. Contemplação da vida pode se tornar uma verdade quando é capaz de convencer as pessoas da sua justiça. ─ Uma verdade é realmente criada nesse sentido. Ela é visível conforme o nível de consciência do vidente. Desse modo, cada um de nós tem a própria verdade e a própria percepção da realidade. Mas é aí que o perigo também mora. Shuang bebeu de seu chá. ─ Quando alguém considera a percepção da realidade de alguém como certeza absoluta, o desejo de anunciar isso como certeza absoluta é também produzido é a causa de todo sofrimento. Nathan ouviu muito atentamente. Shuang continuou muito calmamente. ─ Cada um de nós deve refletir nas certezas que ele tem construído durante o seu tempo de vida. Deve verificar se a suas crenças atuais são justificáveis e se elas são corretas o suficiente para guiar os seus desejos. ─ Para que isso aconteça, é necessário que tenhamos força de vontade, Nathan respondeu, para procurar por conhecimento real concernente a si próprio e ao mundo atual onde vive. 322 ─ Cada um de nós tem força de vontade para realizar isso, no nosso próprio interior. Deve-se apenas fazer a escolha para ser acompanhado de coragem e disciplina; coragem para desafiar a si mesmo, para discutir crenças fundamentais e disciplina para que seja realmente receptivo à novas visões. ─ Coragem e disciplina, Qiao disse, são a base do próprio desenvolvimento! Shuang acenou e sorriu. ─ O próprio desenvolvimento é realmente o melhor presente que podemos dar a nós mesmos! ─ Nathan viu que Shuang estava claramente excitado pelo fato de seu antigo aluno ter lembrado essas instruções corretamente. O velho mestre continuou a história. ─ Cada um de nós tem a necessidade de ter sabedoria de vida para que passemos pela vida sem ser um tolo. Por causa disso, deveríamos sempre se atrever a por nossas crenças para discussão. Shuang bebeu de seu copo de chá de novo e olhou dentro dos olhos de Nathan. E apenas como um tom de voz discreto, Nathan reconheceu essa visão como um anúncio de informação importante. Ele se concentrou e aguardou pacientemente pelo que Shuang diria a ele. ─ Sua natureza sempre o encorajou a procurar pelo conhecimento de vida, Nathan. Por hora, você sabe que nós não podemos alcançar isso pela razão, mas apenas pela experiência. Não demorará antes que você experimente o último conhecimento de vida. ─ O último conhecimento de vida? Perguntou Nathan. ─ O último conhecimento de vida é o estado puro, Qiao replicou. Nathan lembrou que Yeshe também o contou sobre o estado puro. Qiao também soube que essa informação foi de grande importância para Nathan. ─ Diferentes pessoas eu conheci, disse Nathan, entre elas Yeshe, o homem que advertiu Qiao a me trazer aqui, que me falaram sobre o estado puro. O que você pode dizer-me sobre isso, Mestre Shuang? ─ O estado puro é um estado de liberdade, um estado no qual não se conhece egoísmo, sem sofrimento e nem medo. É o estado em que cada um é completamente livre de ego. Nathan e Qiao se entreolharam. Eles pensaram sobre a confusão de Yeshe quando ele viu Nathan pela primeira vez. O olhar trocado entre Nathan e Qiao não passou despercebido pelo mestre. 323 ─ Realmente, continuou, o ego é o que você e todos os outros excepcionais não sabem. ─ Como pode isso? Qiao quis saber. ─ Excepcionais vêm à vida sem ego, de acordo com suas missões maiores. ─ Como Nathan pode nos ensinar a conquistá-la? Qiao perguntou. ─ Entendendo a real razão para a existência do ego, ele irá entender de que maneira nós podemos conquistar o ego. Qiao e Nathan tiveram que entender. ─ Como alguém alcança o estado puro? Perguntou Nathan. Shuang segurou Nathan com suas duas mãos e enfatizou para Qiao a importância de traduzir suas palavras corretamente. ─ O estado puro não é alcançado pela razão ou pela experiência! ─ Como então? Nathan perguntou. ─ O estado puro é alcançado tendo confiança em Deus! ─ Eu sempre tenho confiado nele, Nathan reagiu. ─ Você também nunca deixou o estado puro... a propósito, nenhuma simples criatura viva já o alcançou. As palavras finais de Shuang foram incompreensíveis por Nathan e Qiao. ─ Você disse que não demoraria antes que Nathan experimentaria o último conhecimento de vida, disse Qiao, e agora você está dizendo que nenhuma criatura viva jamais deixou esse estado? ─ Essa é justamente a razão da existência de cada vida, a profunda força de direção por trás de cada destinação de vida, e o caminho da salvação. Nós estamos todos na Terra para sermos lembrados que fazemos parte do estado puro. As palavras de Shuang impactaram Nathan com grande força. Agora isso também deixou claro que seu elemento natural precisou enfatizar essa mensagem. ─ Continue agora na estrada indicada a você pela sua confiança em Deus e olhe para a tranqüilidade e para o conhecimento, então você poderá mostrar-nos o caminho da salvação. Depois dessas palavras, o velho mestre levantou e disse adeus a Nathan e Qiao. No caminho de volta para o hotel os dois conversaram um pouco sobre a percepção que obtiveram de Yeshe e Shuang. Por enquanto ficou claro para eles que o desejo profundo que cultivamos dentro de nós é também o que nos encoraja a mover-nos em direção ao estado puro, o que é a consciência de que todos nós fazemos parte de um conjunto. No dia seguinte, Nathan e Qiao passearam um 324 pouco em Lijiang. Eles sentaram na grama nas proximidades de um agradável quarteirão, onde crianças estavam brincando alegremente. Mal se sentaram e de repente um homem veio andando na direção deles. Ainda ofegando, ele conversou com Nathan. Nathan pediu a Qiao para traduzir as palavras do homem. Qiao disse que o homem falou vietnamita, um idioma que ele não entende. A única coisa que ele pode entender é que o nome do homem é Ngai. O homem então falou em inglês com muita dificuldade. O que Nathan e Qiao puderam entender de suas palavras foi que ele viveu em Hanoi e que insistia que Nathan tinha que ir lá com ele. Quando ele perguntou pela razão, ele respondeu que tem um amigo lá que está seriamente doente. Nathan pediu a Qiao para perguntar ao redor daquela área e ver se alguém podia entender vietnamita. Nathan e Ngai ficaram juntos. Nathan observou o homem e tentou sentir intuitivamente se suas intenções eram sinceras. Lentamente foi ficando claro para ele que isso era um sinal. Quando Qiao retornou com uma mulher que podia traduzir as palavras de Ngai, Nathan já havia tido uma forte suspeita que poderia estar saindo de Hanoi naquele dia. A mulher traduziu as palavras de Ngai. Era isso realmente, ele tinha um grande amigo em Hanoi que estava seriamente doente. Foi seu tio quem o mandou aqui com a missão de procurar por Quan em Lijian e trazê-lo para casa. Qiao, que não pareceu acreditar no homem completamente, frisou que Quan não era o nome de Nathan. Isso não desanimou Ngai; ele estava convencido de que Nathan era o homem que ele estava procurando. Quando Qiao perguntou a ele porque ele acreditava nisso, Ngai disse que isso foi a maneira como ele sentiu. Qiao indicou que isso não fazia sentido. Isso era um mistério para Nathan também, embora ele também tenha acreditado que Ngai estivesse falando a verdade. O pequeno silêncio foi repentinamente interrompido quando a mulher, que estava traduzindo para Qiao, teve um pressentimento. Ela traduziu o significado do nome “Quan”. Em vietnamita, significava “água”. Isso definitivamente retirou todas as dúvidas que Nathan porventura tivesse. Ele disse a Ngai que ele poderia ir com ele. Ngai agradeceu muitas vezes, mas também indicou imediatamente que o tempo era de vital importância. Nathan deu a ele o endereço do hotel que eles estavam hospedados e disse que ele podia esperar por eles na manhã seguinte. Ngai agradeceu a Nathan, Qiao agradeceu à tradutora muitas vezes claramente agitada por ter 325 alcançado seu objetivo e disse até logo. Qiao não pareceu feliz com o evento repentino: ─ Você não sabe nada sobre o homem e vai segui-lo assim à toa? Ele disse a Nathan. ─ O homem radiou simpatia, Nathan replicou, isso significa que ele seguiu o seu coração. ─ Como você sabe que o homem tem boas intenções? ─ Você não tem que definir bondade, você tem que reconhecê-la, Qiao. Qiao entendeu a interminável e profunda crença que Nathan tinha em Deus. Ele entendeu que Nathan sempre a seguiu. Atualmente Qiao também conheceu que algo estava esperando por Nathan em Hanoi, mas ele estava tão ligado a Nathan que teve dificuldades com sua partida. ─ Você tem certeza que quer partir amanhã? Qiao perguntou. ─ Nathan naturalmente tinha dito que Qiao teria dificuldades em dizer adeus. ─ Porque deveria eu ir mais tarde? Isso apenas estenderia nossa despedida. Um longo silêncio se seguiu até que Nathan falasse de novo: ─ Qiao, eu percebi que você sentiu muito mais alegria aqui na China. ─ Isso não é difícil, no meu armazém minha vida é monótona, nada acontece aqui. ─ Quando nossa vida é monótona, não é por causa da vida, mas devido à imaginação que está faltando. È a nossa imaginação que nos mostra a maneira de sair da monotonia. Qiao quis dizer algo, mas pensou melhor sobre isso. ─ Você compartilharia os seus pensamentos comigo? Perguntou Nathan. Qiao hesitou no começo, mas quando ele viu a sinceridade nos olhos de Nathan, ele decidiu confiar nele. ─ Eu não sei exatamente como colocar em palavras. ─ Tome o seu tempo e então fale, eu irei em direção aos seus pensamentos. ─ Você se lembra da nossa primeira conversa com Pete? Num certo momento ele disse que tinha a sensação de que estava perdido, muitas vezes com coisas sem necessidade. ─ Sim, eu me lembro disso. ─ Bem, quando eu vejo pessoas como você, Yeshe ou Shuang, que me fizeram sentir muito pequeno. Eu tenho ciência que a vida me 326 colocou em contato com guias tão especiais e o que eu faço? Eu continuo gastando os meus dias sem fazer nada de valor. Qiao estava agora muito emocionado. Nathan ficou em silêncio e o deixou continuar: ─ Nathan, eu descobrirei o meu verdadeiro destino de vida? ─ Você deve pensar que o que você pensa é importante, e sobre o tempo que você atualmente gasta fazendo isso. Usando esse método, você redescobrirá seus talentos naturais e sentirá quais são as suas possibilidades. ─ É mais fácil dizer do que fazer. Nathan abraçou Qiao e mostrou as crianças brincando no terreno: ─ Você tem que retomar sua imaginação de novo, aquela apreciada quando você estava pensando sobre o nosso futuro, Qiao. Então você deve descobrir que limitações estão impedindo você de realizar a sua imaginação. ─ E então o quê? ─ Esta é a maneira na qual você cria a situação que permitirá a você realizar seus sonhos. Qiao, eu sinto como se uma grande missão estivesse esperando por você aqui. Uma vez iniciado, você descobrirá uma importante especialidade em seu trabalho. Qiao sentiu uma força se liberando enquanto ouvia essas palavras. ─ Talvez eu tenha que viver aqui em alguns anos. Isso poderá deixar Stephanie empolgada se viermos para cá viver. ─ Você sabe, Qiao, mesmo quando temos conhecimento suficiente, algo pode nos conter de seguir nosso destino de vida. ─ O que é isso? ─ O costume do adiamento. ─ O costume do adiamento? ─ Sim, esse sentimento que esconde razões admitidas que apenas parecem importantes. ─ Mas eu simplesmente não posso . ─ Seguir o seu destino de vida é um processo que requer dedicação total, Qiao. Sua vida inteira depende em quem você pensa que é e quais são as suas ambições. Mais uma vez Qiao soube que Nathan estava certo. ─ Você está certo, minha vida inteira eu tenho postergando minhas ambições mais profundas. ─ independente do que você faz, tente fazer com todo o seu ser. Dessa maneira sua consciência elevar-se-á. ─ Eu aprendi de Shuang que quando alguém quer deixar um mau hábito, ele vai procurar um momento verdadeiro. É o que 327 chamamos “o momento no qual nós podemos achar poder para conquistar esse hábito”. ─ Existem momentos nos quais alguém cria coragem e força moral, os poderes que nos direcionam a tudo que é maravilhoso. Nathan e Qiao retornaram ao hotel. Na manhã seguinte, Ngai havia chegado ao hotel cedo com uma mochila nos ombros. Nathan o convidou para tomar café da manhã com ele e Qiao. Quando Qiao veio até a mesa, ele estava radiando alegria. ─ Eu decidi ficar aqui e já contei a Stephanie que nós viremos viver aqui. Eu quero significar algo para essa região e existem projetos humanitários suficientes aqui que nós podemos trabalhar. Sei que seremos felizes aqui. ─ Essa é uma boa escolha; esse é o lugar que você deve ficar. ─ Yeshe também disse isso! Sou muito agradecido a vocês dois. ─ Você tem que ser agradecido a você mesmo. A causa real da sua escolha foi a mudança de pensamento que você tinha sobre você mesmo e sobre o que você queria tornar-se. ─ Repouso garantido, de agora em diante eu serei sempre sabedor que o meu desejo mais profundo é satisfeito por minhas experiências. Depois de um profundo abraço, Nathan deixou o hotel com Ngai. Uma longa viagem de ônibus estava aguardando por eles e também uma viagem de trem, antes que pudessem pegar o avião para o Vietnam. No caminho, Nathan ficou sabendo que naquele momento ele tinha também que deixar seu sentimento determinar sua jornada. Mesmo que esse momento acontecesse de uma maneira muito estranha. Várias questões passaram por sua cabeça. Como Ngai pôde estar tão convencido que tinha que ir e buscá-lo? Por que ele o chamou de “Quan”? E quem é o misterioso amigo dele em Hanoi? Comunicar-se com Ngai sobre isso era difícil. Por enquanto, Nathan aprendeu a reconhecer as questões para as quais as respostas seriam claras mais tarde, então, ele adormeceu com o pensamento que tudo se tornará muito mais claro no Vietnam. 328 - 10 Bem Interminável 329 330 Atenção Quando chegaram a Hanói, Nathan e Ngai pegaram um ônibus indo para o movimentado centro da cidade. Nathan podia ver que a capital vietnamita estava cheia de gente animada e com energia. Eles saíram do ônibus no Lago Hoan Kiem. Nathan não teve muito tempo para desfrutar da paisagem, pois Ngai foi imediatamente levado para um distrito com impressionantes edifícios coloniais. Ngai virou-se enquanto sorria para Nathan e indicou que eles estavam quase lá. Foi a primeira vez que Ngai sorriu durante a viagem. Um pouco mais tarde, foram para dentro de uma casa antiga, porém bastante elegante. Ele subiu as escadas seguido por Nathan. Ngai bateu à porta. Uma simpática senhora os recebeu e os deixou entrar. Ela vestia um longo robe, decorado com flores coloridas. Seu cabelo preto estava preso no alto da cabeça. Ela olhou para Nathan por um longo tempo, trocou algumas palavras com ele e, em seguida lhe deu as boas vindas. Seu nome era Linh, ela era a tia de Ngai e, para sorte de Nathan, falava um inglês perfeito. Nathan mantinha os olhos em Ngai vendo-o andar descalço pela sala para uma varanda interna, onde um jardim de ervas fora plantado. Primeiro, ele teve tempo para verificar atentamente todas as plantas e, em seguida, começou a cuidar delas, uma por uma. Linh sugeriu que Nathan se sentasse. ─ Obrigado por aceitar o pedido de Ngai, ela disse a Nathan. ─ Ficou muito claro para mim que a melhor coisa a fazer era vir com ele. O que ainda não está claro para mim é o motivo disso tudo. Se bem entendi, uma amiga de Ngai está muito doente? ─ Isso mesmo, Myate tem uma doença muito grave em seu trato respiratório e estamos ainda receosos por sua vida. Cuidamos dela o melhor que pudemos e agora já se nota alguma melhora. Mas há dias, como hoje, que ela mal sai da cama. ─ Não seria melhor que ela fosse a um hospital? Linh assentiu. ─ Myate foi colocada em um hospital de Ho Chi Minh, antiga Saigon. Eles fizeram pouco por ela lá. Um médico que nos conhece foi quem a trouxe para nós e, desde então, estamos conseguindo mantê-la estável. ─ Que tipo de tratamento ela tem aqui? 331 ─ Nós vamos fazer com que sua energia volte a fluir em equilíbrio. ─ Como se faz isso? ─ Ngai cuidará das ervas e eu aplicarei o tratamento. Esta informação ainda não fazia sentido algum que justificasse a presença de Nathan ali. Começou a suspeitar que ela saiba mais do que disse e lhe faz uma pergunta direta. ─ Por que estou aqui? ─ Ngai foi pegar você, mediante pedido da Myate. ─ Será que ela me conhece? ─ Ela pergunta frequentemente por você. ─ Não me lembro de ninguém com o nome de Myate. Ela é daqui? ─ Não, veio para o Vietnã depois de ter viajado por quase todo o mundo. ─ De onde ela é? ─ Myate foi encontrada ao longo das margens do rio Irrawaddy, em Mianmar, quando ela era criança. Algumas pessoas dizem que foi em algum lugar nos arredores da cidade de Mandalay, outros dizem que ela foi encontrada mais ao norte. ─ Ela cresceu lá? ─ Nos primeiros anos viveram em Yangon, que é a maior cidade de Mianmar, até que ela foi adotada por um casal de irlandeses e se mudou para Dublin. ─ Ela foi adotada? Linh sorriu. ─ E todos vocês não são? De repente, o coração de Nathan bateu mais rápido. ─ Não fique tão surpreso, Linh disse. ─ Mas como você sabe... ? ─ Você se lembra de Sanah? ─ Sim, claro! ─ Eu sou para Myate o que Sanah foi para você. Nathan estava confuso e olhou para Linh. Um verdadeiro caleidoscópio de pensamentos vieram à sua mente. Linh percebeu e sorriu novamente, Leewana esteve aqui recentemente, ela tinha o mesmo olhar que você tem agora. ─ Você conhece Leewana? ─ Claro que eu conheço a mulher para a qual os meus pensamentos não têm segredos. Ela é uma menina fantástica. Ela sabe perfeitamente o modo pelo qual os pensamentos cruzam o universo. 332 Tornou-se claro para Nathan que Linh, assim como Sanah, tinham que ser anjos! ─ Venha, vou apresentá-lo a Myate. Ela está ansiosa por este momento. Linh leva Nathan para uma sala na parte de trás da casa. Um grande número de seringas e frascos com ervas estava disposto na mesa. Myate estava dormindo. Linh acordou-a e falou-lhe em vietnamita. Myate abriu os olhos e olhou para Nathan. Ela sorriu, mas estava fraca demais para dizer qualquer coisa. Nathan pode ver quão bonita Myate era. Ela acenou para que Nathan se aproximasse e pegou sua mão. De repente, seu rosto se iluminou. Era como se ela tivesse recebendo nova energia de algum lugar. Com longas pausas entre o que falava, ela falou com Nathan em inglês. ─ Obrigada por ter vindo me visitar... Linh me disse que você perguntou quem eu era... sei que o nosso processo criativo já começou... não está muito distante de sabermos quem somos... mas... sobre quem nos tornamos. Estas palavras tinham esgotado Myate completamente. Linh cobriu-a e disse que ela tinha que dormir. Myate sorriu pela última vez a Nathan enquanto soltava suas mãos. Antes que ela fechasse os olhos, ela acenou para que ele se aproximasse. ─ Amanhã eu vou me sentir melhor... vamos dar um passeio de bicicleta. Linh guia Nathan, que agora estava confuso, para fora da sala e sentou-se ao lado dele na sala de estar. ─ Felizmente, ela não está sempre nesta condição. Linh disse. Ela geralmente se sente melhor, mesmo com suas rápidas alterações da doença. ─ Eu não entendo muito bem, ela parecia estar desorientada. ─ Não se engane, ela sabe exatamente o que está dizendo. ─ Por que ela tem que sofrer assim? ─ Myate não tem que sofrer desta forma, aliás, ninguém tem que sofrer. ─ Ela não esta sofrendo? ─ O sofrimento só tem lugar quando as pessoas prestam atenção nele. ─ Quer dizer que Myate pode parar de sofrer se não prestar atenção em sua doença? ─ Não subestime o poder da atenção. Tudo a que nós prestamos atenção se torna uma realidade. Ao dirigir sua atenção somente 333 para a cura, Myate nos dá o exemplo certo. Esse é o processo criativo pelo qual a Terra a enviou para nós. O que Nathan suspeitava agora estava se confirmando. Myate era uma excepcional. Assim como ele tinha sido enviado como mensageiro da água e Leewana como mensageira do vento, da mesma forma Myate era a mensageiro da terra. ─ Essa é a mensagem que a terra quer dar à humanidade, perguntou Nathan, que devemos dirigir nossa atenção para curá-la? ─ A maior missão de todos os Excepcionais é a mesma: chegar a uma consciência coletiva que nos levará à iluminação final. Linh deixou a sala e deixou Nathan sem palavras. Um pouco mais tarde, ela voltou e mostrou o quarto onde ele dormiria. Nathan banhou-se e depois tirou uma soneca. Quando acordou, ele sentiu um forte desejo de pensar em Leewana. Ele não compreendeu imediatamente o motivo e foi para a sala de estar. Uma vez lá, ele podia ver Linh na cozinha. Ela estava lavando louças e falou enquanto sorria a Nathan. ─ De agora em diante ela fará isso frequência. ─ De quem você está falando? ─ Leewana, é claro. Novamente Nathan foi surpreendido pelo notável dom de Linh de sondar seus pensamentos. ─ Ela me faz pensar sobre ela? Linh acenou com a cabeça. ─ Por que ela faz isso? ─ Ela queria mostrar-lhe que ela está ficando melhor em se aprofundar no mundo da meditação. ─ Você sabe onde ela está no momento? ─ Com Dian, na Indonésia. ─ Dian? ─ Dian também visitou recentemente Myate, você vai encontrá-lo também. ─ Onde Dian vive? ─ Em Surakarta na ilha indonésia de Java. Ele foi encontrado ali quando criança, antes de ser criado por seus pais adotivos, na Ucrânia. ─ Será que Dian cresceu na Ucrânia? ─ Dian passou sua juventude em Odessa, às margens do Mar Negro. Mais tarde ele se mudou para Kiev para estudar. De lá ele viajou ao redor do mundo antes de retornar ao seu local de nascimento, na Indonésia. 334 Nathan ficou absorto em seus pensamentos. Linh viu isso e não disse mais nada para que ele pudesse chegar a importantes deduções com tranquilidade. Nathan compreendeu que se Myate tinha sido enviada pela terra, Leewana pelo vento e ele mesmo pela água, Dian tinha de ser o último "elemento natural"... o mensageiro de fogo! ─ Haverá um momento em que nós quatro estaremos juntos? Nathan queria saber. Linh sorriu novamente. ─ O tempo vai certamente chegar quando suas energias se unirão. Durante esse momento específico vocês irão mostrar toda a beleza do "elemento interior" para toda a humanidade ─ O "elemento interior"? ─ Isso é o que chamamos de mundo do conhecimento, onde todas as mensagens viajam. Nathan ouviu com grande curiosidade e perguntou. ─ Você está falando sobre o conhecimento dentro de cada um de nós? Linh acenou afirmativamente. Era claro que para Nathan o "elemento interior" que Linh estava falando poderia ser nada mais que o "poder interior" da "intuição". Após alguns momentos de silêncio, sua curiosidade forçou-o a fazer uma pergunta, que carregaria com ele a partir daquele momento. ─ Quando esse momento vai acontecer? ─ Em breve, você vai notar pela sucessão rápida de sinais que se manifestarão. ─ Eu gostaria que você me dissesse tudo o que você sabe sobre o "elemento interior" e sobre esse momento específico. Como é que vai acontecer exatamente? Será que vai aparecer em forma humana? Como as pessoas vão reagir? Linh sorriu novamente. ─ Você quer saber tudo instantaneamente. Está claro que a paciência é uma virtude que não possui ainda. ─ Você não é a primeira pessoa a observar isto para mim. ─ Eu vou te dizer uma coisa que é de grande importância tendo em vista a sua missão na vida. Ela tinha toda a atenção de Nathan. ─ Vamos permitir que a paciência seja amiga de sua curiosidade natural para que ela permaneça sempre ao seu lado também. A 335 paciência é necessária ao desenvolvimento de uma vida frutuosa e regular. ─ Eu vou lembrar-me disso a partir de agora, vou tentar reconhecer todas as mensagens que podem me ajudar a obter esta característica. Linh secou as mãos e sentou-se em um sofá baixo na pequena sala de estar. Nathan seguiu-a e sentou-se em frente a ela. ─ O "elemento interior" não é um elemento "natural" da terra. Ele não pode aparecer em forma humana ou material, porque este poder está em todos nós. Se ele aparecesse na forma física, a luz brilharia tão intensamente que poderia cegar a humanidade. ─ Mas você estava apenas falando de um momento em que Myate, Leewana, Dian e eu, traríamos o “elemento interior ". ─ Os quatro que representam todos os poderes sobre os quais o mundo físico é construído. Linh pegou as duas mãos de Nathan. ─ Sintonizando as suas energias, vocês serão capazes de direcionar a atenção de toda a humanidade com o mesmo objetivo e, consequentemente, fazer com que todas as criaturas vivas tenham consciência de que elas também têm o poder de utilizar este "elemento interior". Agora, Nathan emudeceu. Linh continuou. ─ Esta experiência será um evento extremamente radical para a humanidade como um todo e isso levará a uma súbita consciência coletiva. Nathan sentiu o forte poder dessas palavras. Ele sabia que neste momento o seu elemento "natural" queria enfatizar a importância deste e, consequentemente, ele iria receber grandes ideias a respeito de sua missão de vida. Nathan precisava de algum tempo para reorganizar seus pensamentos. Avisou a Linh que sairia para uma caminhada ao longo do Lago Hoan Kiem. Linh lhe deu um beijo na testa antes que ele saísse. Havia uma grande quantidade de vendedores ao longo da costa que foram cumprimentados por Nathan enquanto ele passava. Eventualmente, ele se sentou em frente ao lago, com as pernas cruzadas. Uma vez que ele começou a se concentrar, o sol começou a se posicionar. Esse foi definitivamente o lugar perfeito em um momento magnífico para sentar-se ali. Todas as informações que Linh tinha compartilhado estavam lentamente começando a fazer sentido para Nathan. Ele gastou um pouco mais de tempo pensando sobre o evento que Linh mencionou e permaneceu na margem do Hoan Kiem até o pôr do 336 sol estar completo. Linh e Ngai tinham acabado de preparar o jantar. Quando Nathan caminhou até a porta, eles estavam sentados à mesa a sua espera, pois Linh sabia que ele voltaria após o pôr do sol. Muito pouco foi dito durante a refeição. Era óbvio que Linh e Ngai estavam preocupados com a saúde do Myate. Nathan foi direto para a cama depois do jantar. A combinação de viajar ao Vietnã juntamente com a grande quantidade de novas informações que tinha recebido, culminou em uma completa exaustão. O último pensamento que atravessou sua mente antes de adormecer foi em relação à Myate. O Ngai, na manhã seguinte acordou-o para o café. Nathan foi agradavelmente surpreendido. Myate estava sentada à mesa, e parecia muito bem, assim que dirigiu-se imediatamente a Nathan. ─ Dormiu bem? ─ Sim, obrigado, você também! ─ Claro, eu quero aproveitar o tempo que teremos juntos. Nathan percebeu como a saúde de Myate satisfazia Linh e Ngai. ─ Eu pedi a Ngai para pegar as bicicletas, Myate continuou. Nathan compreendeu que Myate estava muito consciente ao que tinha dito ontem, e que sabia o que realmente quis dizer. Naturalmente ele se perguntou se ela era forte o suficiente para isso. ─ Está tudo bem? Você está forte o suficiente para isso? ─ Myate não está pensando em andar de bicicleta sozinha, Linh disse. Ela pediu ao Ngai para colocar um assento confortável na traseira da bicicleta. Myate sorriu e piscou para Nathan. Após o café, Nathan e Myate se preparam para o passeio de bicicleta. Ngai tinha colocado uma cadeirinha confortável com uma almofada no bagageiro de modo que Myate pudesse sentar na parte de trás, com suas pernas uma de cada lado. Era um belo dia ensolarado. Graças a uma brisa fresca que não estava muito quente. Nathan e Myate andavam pelas ruas estreitas e vielas, em Hanói. Na estrada tinham muito a compartilhar um com o outro. Nathan iniciou a conversa dizendo: ─ Linh e Ngai são pessoas muito agradáveis. ─ Estou feliz por eles cruzarem o meu caminho na vida. Estas são as pessoas que prestam atenção à harmonia do mundo, tais pessoas são de grande valor para orientar a humanidade na direção certa. ─ Você está certo, essas são as pessoas que realmente ajudam o mundo a seguir adiante. 337 Paciência Nathan partiu para o aeroporto Hanoi. Ele sentou-se em meio aos passageiros no salão de embarque e examinou o seu mapa. Com as palavras de Linh ainda frescas em sua mente, ele calmamente usou o tempo para pensar em seu próximo destino. Repentinamente, a costa da Tailândia destacou-se a ele. Nathan pediu informação sobre voos para a Tailândia e foi informado que o próximo avião estaria partindo àquela noite. Ele decidiu tomar aquele voo e chegou naquela noite no aeroporto Don Muang em Bangcoc. Ele andou pelo ocupado salão de entrada e tomou um táxi para o centro da cidade, que estava dominada por um úmido calor. O que Nathan instantaneamente notou foram os fortes contrastes de uma cidade com seus luxuosos shopping centers, modernos arranha-céus e caras moradias ao lado de pequenas cabanas quebradas. Assim como em outras cidades, Nathan foi mais uma vez confrontado pela grande desigualdade entre ricos e pobres. Nathan perguntou ao motorista do táxi por um hotel barato e saiu no distrito Banglamphu onde reservou um quarto. Na manhã seguinte Nathan deu um passeio pelo Mercado e conheceu Suchart, um jovem amigável que se ofereceu para mostrar a cidade à Nathan. Nathan pensou que isto seria uma boa idéia e pediu Suchart para levá-lo aos lugares mais naturais. Suchart soube imediatamente onde levar Nathan. Eles tomaram um tuk-tuk, um típico táxi motorizado e dirigiram para o Chao Phraya, o rio que flui através de Bangcoc. Lá eles embarcaram em um longo barco e fizeram uma viagem pelos canais estreitos, alinhados com casas feitas de estacas de madeira. Eles saíram em Thonburi e continuaram a pé. Suchart mostrou a Nathan os mais velhos distritos e, ao mesmo tempo, contou a história da cidade. Quando eles estavam passando em frente a um dos muitos templos, a atenção de Nathan foi tomada por um grupo de pessoas esperando em frente a um portão. Suchart notou o interesse de Nathan e contou a ele. ─ Todos eles querem ver o novo mestre. ─ O novo mestre? Nathan perguntou curiosamente ─ Ele não está aqui há muito tempo, mas já é muito popular. ─ Vamos nos juntar a eles. 338 Nathan ficou na fila com Suchart, que estava um pouco surpreso. Um pouco mais tarde, eles entraram o salão e sentaram-se no chão na parte de trás; De repente eles ouviram música e um homem enorme apareceu. O mestre sentou em uma alta cadeira e pediu por silêncio. Quando ele começou a abordar as pessoas presentes Nathan pediu a Suchart que traduzisse suas palavras; ─ O mestre agradece a todos que trouxeram um presente. Nathan notou que a maioria dos visitantes havia trazido dinheiro, joias ou outros presentes e haviam colocado neste pódio, que havia sido especialmente preparado. Suchart continuou a traduzir. ─ Ele diz que quem quer que esteja disposto a se submeter a ele será libertado. Nathan experimentou a mesma sensação que teve quando o homem no Brasil havia falado a multidão, que acreditava que ele poderia purificá-los. Mesmo que ele não estivesse sendo abordado pessoalmente, ele ainda sentia que tinha que fazer alguma coisa. ─ O que você acha disso, Suchart? ─ Eu acho que o homem é um impostor. ─ Você percebeu isso bem, Suchart. Siga-me! Nathan ficou de pé e seguiu em direção ao homem. Suchart não tinha ideia do que Nathan estava planejando, mas seguiu-o. O mestre viu os dois homens vindo e parou de falar. Uma vez que eles estavam diretamente em frente ao mestre Nathan pediu a Suchart para traduzir suas palavras bem alto, para que todos pudessem ouvi-las. ─ Permita-me perguntar o que é isto tudo? Nathan perguntou. O mestre estava claramente infeliz com aparecimento de Nathan. ─ Quem é você para interromper-me deste modo? Ele perguntou. ─ Meu nome é Nathan e eu gostaria de saber por que você está pedindo por completa subserviência? ─ Eu sou o escolhido para ensinar as regras. Estas são as regras estabelecidas que devem ser seguidas para que se obtenha sabedoria. ─ Sabedoria só pode aparecer para aqueles que livremente fazem escolhas e nunca para aqueles que cegamente seguem regras impostas. Todos os presentes puderam ver que o mestre estava ficando inquieto. Ele abordou Nathan raivosamente. ─ O que você sabe sobre sabedoria? Nathan evadiu da questão. Ele reuniu os presentes no pódio e distribuiu-os entre os visitantes. Inicialmente Suchart olhava para 339 Nathan ceticamente, mas então o ajudou. Nathan agradeceu e pediu que traduzisse suas palavras novamente. ─ Sabedoria nunca aparece através da subserviência ou obediência a outro. A sabedoria também não existe para ser obedecida ou para se tornar rico. Sabedoria é exatamente o que nos inspira a doar. Agora o mestre estava extremamente raivoso. Ele quis falar, mas aparentemente havia perdido sua voz. O incidente lembrou a Nathan do que havia acontecido com a cartomante em Paris, que ele havia visitado com Moshe. Nathan sentiu pena do mestre. Ele tomou Suchart pelo braço e mais uma vez falou ao mestre, mas com uma voz mais amena. ─ Minha mensagem não é direcionada somente a você, mas a todos aqui. Eu tenho um conselho pra você: use seus talentos para transferir verdadeiro conhecimento e você verá que a pessoa que oferece verdadeiro conhecimento recebe verdadeira satisfação. Após pronunciar estas palavras Nathan rapidamente deixou o templo. Profundamente impressionado, Suchart o seguiu. Quando eles estavam do lado de fora Suchart finalmente compreendeu o que havia acontecido. ─ Por que você fez aquilo? ─ Como eu disse, para entregar uma mensagem. Suchart continuou andando silenciosamente ao lado de Nathan. ─ Por que você fez daquele jeito? ─ O que você tinha em mente? Suchart não tinha uma resposta imediatamente. ─ Quando você sente que há algo errado, você não deve fazer o que é esperado, mas mostrar qual é o seu sentimento sem medo ou receio. ─ Após certo ponto, por que foi impossível para o mestre falar algo? ─ Algumas vezes nossa sensibilidade assume o controle. Suchart pensou por um instante. ─ Mas isto não pode acontecer, é impossível, não é? ─ Quando você dá às suas verdades o espaço para mudar você também se torna capaz de efetuar grandes mudanças. ─ De que mudanças você está falando? Agora Nathan parou Suchart e pôs a mão em seu ombro. ─ Quanto mais profunda a experiência de sua vida, mais poderosamente o universo vai se mover através de você e você será livre para mudar o que deveria ser mudado. 340 Nathan continuou a andar enquanto Suchart permaneceu parado. As palavras de Nathan surtiram ainda outra grande impressão sobre ele. ─ Espere Nathan, eu quero saber mais! ─ Em momento oportuno, agora eu estou com fome. Leve-nos a um lugar onde possamos comer. Eles retornaram para o centro da cidade e pararam em ‘Sana Luang’, uma movimentada praça com pequenos estandes onde vendiam lanches, amuletos e ervas curativas. Eles encontraram uma vaga, não muito longe da praça, em um restaurante onde Suchart conhecia o dono muito bem. Quando eles estavam sentados, Suchart quis que Nathan sobre as mudanças que ele poderia promover. ─ Eu sabia que nosso encontro não era uma coincidência. ─ Que encontro pode ser uma coincidência? disse Nathan Suchart olhou para Nathan e sentiu mais admiração pela visão de vida dele. Ele também sentiu que Nathan não havia apenas o selecionado como um guia, mas que ele queria encorajá-lo a fazer algo. ─ Nathan, você tem uma mensagem para mim? ─ Não temos todas as mensagens uns para os outros? Suchart entendeu que deveria escolher suas perguntas mais cuidadosamente. ─ Você sabe o propósito final pelo qual eu devo lutar? ─ Ninguém sabe melhor que você, Suchart. ─ Eu tenho já venho me preocupando com há um longo tempo. ─ E ainda assim você sabe mais do que você acha que sabe. ─ Você não pode me ajudar? ─ Mas é isso que estou fazendo. Suchart levou algum tempo para ponderar a questão, ele tinha que perguntar a si mesmo e então disse a Nathan. ─ O que pode me fazer tomar consciência de uma coisa que eu já sei? Nathan notou o quão rápido o pensamento de Suchart processou o desenvolvimento. ─ Sua sensibilidade, ele respondeu. ─ Minha sensibilidade? ─ Com isto você mostra a causa de sua ignorância. Você aprendeu a esperar por sinais dos outros, enquanto a sua sensibilidade tem tentado quietamente mostrar a você o caminho. 341 ─ Espere um minuto, disse Suchart, agora está ficando muito difícil pra mim. ─ Então deixe os sinais ajudá-lo. ─ Você está falando sobre eventos inesperados? ─ Eventos inesperados estão lá para nos lembrar do que nós originalmente queríamos! ─ Você não está me ajudando de verdade! ─ Eu estou, mas você é que não está acostumado a obter respostas valiosas. ─ Mas você não está me respondendo. ─ Eu estou. Eu te dou as respostas como questões para ajudá-lo a corrigir seu modo de pensar. Mais uma vez, após pensar por um momento, Suchart entendeu o que Nathan queria mostrar a ele que ele não precisava de mais ninguém para decidir o seu caminho de sua vida. ─ Há algo que você vê que pode ser útil para mim? Ele então perguntou a Nathan. ─ Eu reconheço em você uma alegria de viver ainda por nascer; você ainda precisa aprender a como dividí-la com outros. ─ Obrigado Nathan, então agora eu tenho uma indicação. ─ Não se esqueça de que aqueles que se mantém na busca irão achar o que procuram. Após a refeição, Nathan e Suchart passearam através de um emaranhado de vielas onde eles acharam várias lojas pequenas. ─ Amanhã eu deixarei Bangcoc, disse Nathan, e continuarei viajando ao longo da costa. ─ Você já sabe para onde você irá? ─ Onde você me recomenda? ─ Isso depende, o que você está procurando? ─ Eu estou procurando por descanso, Suchart! Suchart pensou por alguns instantes. ─ Ano passado eu fui até a ilha Koh Chang com alguns amigos. Nós ficamos em uma casa sobre palafitas na Vila Bang Bao ao lado sul da ilha. A tranquilidade que você experimenta naquela maravilhosa pequena vila pesqueira não pode ser comparada a nada mais. ─ Obrigado por este conselho, Suchart. Ambos disseram adeus. Na manhã seguinte Nathan tomou o trem para a Província de Trat e então o barco para Koh Chang. Era tarde da noite quando Nathan chegou. Ele alugou um quarto em um pequeno hotel com vista para 342 o oceano. No dia seguinte Nathan passou horas no mar. Mais tarde naquele dia ele foi mais para o sul da ilha. Quando ele chegou à vila pesqueira de Bang Bao ficou imediatamente claro o porquê de Suchart ter gostado tanto de estar ali. As casas de palafita com o oceano azul como plano de fundo era empolgante. A beleza que ele estava vendo trazia a confiança mais concreta de que ele havia chegado ao lugar correto. Nathan se sentou no terraço de um bar. A única cliente era uma garota que sorriu para ele. Nathan foi até ela e perguntou onde ele poderia achar um lugar simples para dormir. A garota disse a Nathan que a maioria das acomodações estava cheia. Após hesitar um pouco ela deu a ele o nome de um distante alojamento. Nathan notou sua hesitação e perguntou se ela saberia a razão de ainda haver quartos neste alojamento. A garota respondeu que “Chuenchai” era muito mais que um alojamento normal. Quando Nathan perguntou a ela o que havia de tão especial sobre o alojamento ela respondeu que era uma instituição de ensino para aumentar a força espiritual. Nathan olhou para cima e respondeu que ele estaria satisfeito com uma cama e um chuveiro, mas se ele pudesse aprender alguma coisa durante sua estadia, ele certamente não se absteria de fazê-lo. A garota sorriu, tomou um pedaço de papel e desenhou uma rota para Nathan. Ela disse que o alojamento podia ser alcançado facilmente, mas que o desenho o levaria a começar na direção correta. Nathan ofereceu a garota algo para beber e então disse adeus. Na estrada Nathan viu que o desenho no papel de repente parou. Até ali a garota havia desenhado tudo perfeitamente, mas não havia alojamento para ser visto de onde ele estava. Ele decidiu descansar um pouco e deitouse. Enquanto ele estava admirando o céu azul ele percebeu que estava ficando impaciente e naquele momento um pastor se aproximou. Nathan falou com ele em inglês. ─ Você sabe onde eu posso achar o alojamento “Chuenchai”? Nathan sacou seu rascunho, mas o pastor fez sinal de que não era necessário e respondeu com um inglês quebrado. ─ Eu irei com você! Eles atravessaram uma grande extensão de terra por meio de uma grande floresta crescente ao lado da água. O pastor, que havia permanecido quieto até então, falou com Nathan. ─ O que você sabe a respeito do “Chuenchai”? ─ Não muito, uma garota na vila me falou sobre ele. O pastor olhou para Nathan sem fazer um som. Eles continuaram andando até que Nathan falou. 343 ─ O que você sabe sobre o “Chuenchai”? ─ Uma mulher idosa do Japão vive lá; ela é chamada “Aquela que Sabe” Nathan ponderou a respeito deste nome, que ele havia previamente ouvido na Espanha e no México. O pastor continuou andando, olhando diretamente à frente. Nathan, que estava ficando consideravelmente curioso, perguntou a ele por que a mulher era chamada desta forma. O pastor parou e olhou para Nathan, como se a questão fosse supérflua. ─ Porque ela sabe o que os outros não sabem a respeito de si mesmos! Então o pastor e Nathan continuaram até que Nathan mais uma vez falou com o menino. ─ O que mais você sabe sobre o “Chuenchai”? O pastor não respondeu imediatamente, como se ele não tivesse ouvido a pergunta. Apenas quando Nathan quis perguntar mais uma vez, ele respondeu. ─ Dentro dos muros do “Chuenchai” o tempo viaja mais devagar. Antes que Nathan pudesse reagir, o pastor apontou para uma grande casa. Então ele desejou a Nathan uma estadia instrutiva e partiu sem olhar para trás. O alojamento era uma bela e antiga casa que havia sido construída perto da água, no topo de uma floresta. Nathan caminhou para a porta da frente, por todo o tempo pensando nas últimas palavras do menino. Ele empurrou a porta da frente abrindo-a e encontrou-se em um pequeno saguão. Ele chamou para ver se havia alguém ali, mas não obteve resposta. Então Nathan se encaminhou para uma sala maior e entrou em uma grande área cheia de esculturas e retratos pintados. Nathan pôs sua bagagem no chão e olhou as obras de arte uma a uma. Repentinamente sua atenção foi capturada por uma pintura, pendurada sozinha em um canto. Era a única pintura que não era um retrato, mas uma imagem abstrata de formas coloridas com formas humanas que pareciam fundir-se umas com as outras. Nathan andou até a imagem. Quanto mais ele olhava, mais ele ficava fascinado por sua beleza. As formas humanas, o lembrava de sua estada no Sahara. Agora ele sentia como se as pinturas quisessem dizer algo para ele. Uma mulher idosa apareceu e sorriu para ele. Ela era pequena, vestia um terno de seda colorido e tinha o cabelo preso no alto da cabeça. Nathan pode ver que, apesar de sua avançada idade, a mulher irradiava uma energia jovial. Ela falou com Nathan em inglês. 344 ─ Eu estava esperando você! Nathan ficou surpreso por isso e quis perguntar a ela como ela sabia que viria. Repentinamente ele pensou a respeito da garota no bar e pensou que ela havia ligado para a mulher para contar de sua chegada. Antes que Nathan pudesse dizer qualquer coisa, a mulher falou novamente. ─ Eu vejo que encontrou o seu caminho para a única obra de arte, isso é ótimo. Quase todas as palavras dela confundiram a cabeça de Nathan. A mulher notou isto e disse: ─ Meu nome é Takara, bem vindo ao “Chuenchai”. ─ Obrigado, meu nome é Nathan. ─ Claro! Nathan tentou não deixar que as palavras dela confundi-lo. ─ Você pode me dizer se há algum quarto disponível? ─ Seu quarto está disponível, você somente tem que encontrá-lo. Nathan não pôde evitar ficar surpreso com suas respostas incomuns. ─ Eu não tenho certeza de que entendi muito bem. ─ Todos os quartos estão disponíveis, exceto um, o quarto embaixo das escadas, lá é onde eu durmo. ─ E quantos quartos você tem? ─ Sete no total, então isso significa que ainda restam seis quartos. ─ Então não deve ser difícil achar um quarto para mim. ─ Algumas vezes acontece rapidamente, algumas vezes demora um pouco mais. Esta é a lei de tudo que é inesperado. ─ Acredito que não a compreendi novamente. ─ Ainda não, mas isso irá mudar! ─ O quarto que eu escolho faz diferença? ─ Nem todos os quartos são adequados para você. Apenas em um dos quartos você vai se sentir no seu melhor. Você é responsável por identificar este quarto dentre todos os outros. Nathan concluiu que estava lidando com uma mulher bastante incomum, mas ele também sabia que parte de sua sabedoria era porque tais pessoas haviam entrado em sua vida. Ele confiou nisso, mesmo que o que ela havia dito a ele agora parecesse estranho, se tornaria claro mais tarde. ─ Você mesma planejou todas estas coisas bonitas aqui sozinha? ─ Todo o trabalho de arte foi dado a mim, incluindo a pintura que você está admirando. Nathan deu mais uma olhada na pintura abstrata. 345 ─ O artista foi bem sucedido em fazer uma expressão muito profunda. Você conhece o artista? ─ O artista desta pintura sempre é a pessoa que a está vendo. ─ Como assim? ─ O que você vê agora é uma projeção da sua imaginação; esta projeção toma seu lugar sem que as imagens sigam o caminho da razão. O que Nathan escutou desta vez foi muito incomum e quase irreal, mas o fascinou. ─ Quando você olha para este trabalho, você vê algo diferente? Ele perguntou. ─ Este é o caso com tudo o que eu vejo, Nathan. Nathan entendeu que esta obra de arte era simbólica da própria percepção. ─ Acho que entendi. ─ Ainda não, mas isso vai mudar! Após ter dito isso, a mulher virou-se e voltou para o pequeno saguão. Ela voltou bem rapidamente e deu a ele seis chaves e consequentemente deixou bem claro que ele poderia iniciar sua missão. ─ Eu serei capaz de achar o melhor quarto para mim? ─ Isso será apenas um exercício de paciência. Nathan reconheceu a expressão sábia. ─ Gaste tempo suficiente em cada quarto, continuou Takara, até que você sinta o que é melhor para você. ─ Você já sabe qual quarto será? ─ Eu não estaria te fazendo um favor se te contasse. Nathan compreendeu que era pra ser um processo de aprendizado. ─ Além de qual quarto é mais adequado para se dormir, o que eu aprenderei? ─ Reconhecer lugares que sejam os melhores para você. A compreensão de Nathan sobre sua missão já havia se aperfeiçoado e agora ele confiava que ela tencionava o melhor. ─ Há algo mais que você precisa saber Nathan. Um dos quartos não é nada adequado para você. Aprender a distinguir tais lugares também é muito importante. Nathan pegou a bagagem e dirigiu-se para as escadas. Ele virou-se um pouco e viu que Takara estava sorrindo para ele. ─ Eu ainda não posso te dizer por quanto tempo eu irei ficar, ele disse para ela. ─ Acredite todos os dias em si mesmo. 346 Nathan começou sua missão inspecionando cada quarto. Ele viu que todos pareciam iguais. Eles eram exatamente do mesmo tamanho, decorados no mesmo estilo e mobiliados identicamente. A única diferença que Nathan pôde perceber foi a posição da mobília em cada quarto. Ele passou alguns minutos em cada quarto, mas não importava o quão perto ele chegasse, nenhum quarto parecia ser o melhor para ele do que outro. Desencorajado, ele foi procurar por Takara. Nathan procurou por todo o andar térreo, mas não pôde achar Takara em lugar nenhum. Eventualmente, ele ouviu um som de água corrente. Ele foi em direção ao som e viu luz brilhando através de uma porta de vidro. Quando ele a abriu ficou maravilhado com o que viu. Por trás da casa um belo jardim de ervas havia sido plantado com todos os tipos de plantas e flores exóticas. Na grama havia grandes potes, sendo preenchidos por uma fonte. Os potes eram feitos de folhas, tecidas firmemente juntas. Nathan viu Takara de pé, folhas longas e finas nas mãos. Estas ela usava como um cordão, para tecer entre e ao redor das folhas mortas que estavam pendendo dos ramos. Ela cuidadosamente as trouxe para baixo e colocou-as em uma tigela menor na sombra. Então ela pegou vários ramos secos, com os quais ela fez pequenos buracos na terra macia. Então ela colocou pequenas sementes neles. Nathan observou o que ela estava fazendo e se sentiu comovido pela tranquilidade e dedicação expressas por Takara. Este jardim de ervas era realmente uma maravilhosa obra de arte. Enquanto Nathan estava admirando como Takara cumpria suas tarefas prestando muita atenção ao trabalho dela, ela falou com ele sem virar sua cabeça em sua direção. ─ O que você vê aqui é o coração do “Chuenchai”. ─ Isto é maravilhoso! Takara continuou a trabalhar imperturbável. ─ Eu vi os seis quartos, mas não pude fazer distinção entre eles. ─ O tempo é uma condição que você vai aprender a sentir. ─ Poderia deixar isso mais fácil para mim? ─ Eu poderia, mas a questão é se isso é desejável. ─ Então é realmente importante que eu descubra por mim mesmo? ─ É importante que você faça amizade com a paciência. Agora Nathan se lembrou das palavras de Linh. Ela recentemente havia dito que este era um processo de aprendizado necessário para ele. Takara secou suas mãos e as moveu para que ele a seguisse. Eles entraram em uma área que era completamente vazia e onde as 347 paredes, o chão e o teto eram brancos como a neve. Takara ficou de pé em frente a Nathan e segurou suas duas mãos. ─ Tente esvaziar sua mente e não deixe nenhum pensamento entrar. Nathan realizou sua missão. ─ Agora pense somente na água. O que você vê? ─ Eu vejo a mim mesmo seguindo por montanhas e vales. ─ Água sempre flui para onde isto é possível. Sua natureza é tão receptiva que não há cognição de tempo e espaço. A única maneira que a água encontrou para expressar a si mesma foi tomar forma humana. ─ O que você está dizendo é que meu “elemento natural” não é capaz de entender que cada ação precisa acontecer em um local e tempo específicos? ─ Esta é de fato a razão pela qual a água enviou um mensageiro, primeiro para compreender e então agir. Nathan olhou para Takara e sentiu a habilidade em suas mãos. Suas palavras tronaram tantas coisas claras. Nathan acabara de obter uma revelação sobre sua verdadeira razão para existir. Ele agora sentia a presença de seu “elemento natural” como nunca antes sentira. Ele entendeu que todas as suas experiências haviam sido necessárias para obter um melhor entendimento do comportamento humano e das mudanças necessárias que precisavam vir à tona. ─ Agora se tornou claro para mim a causa subjacente de meus defeitos. ─ Agora você aprenderá a aceitar que o tempo decide em todas as mudanças e que cada um de nós pode escolher em que prestar atenção. Você também mostrará compreensão por todos que não possuem o mesmo sentido de profundidade. ─ A água não mostrou compreensão suficiente? ─ Até a água tem seus momentos de fúria. Pense sobre as enchentes em Dhaka ou as circunstâncias em que você veio à vida. Tudo estava se tornando cada vez mais claro para Nathan; tudo agora fazia sentido. ─ Como posso corrigir estes defeitos? ─ Como com qualquer defeito, aqui é tudo sobre sentir o desequilíbrio das circunstâncias. Reconhecendo a linha em que o defeito está presente, nós podemos lutar por equilíbrio. ─ Que linha eu tenho que reconhecer, com relação a minha impaciência? 348 ─ Você encontrará o equilíbrio entre paciência e impaciência se mantendo firme por um momento e você aprenderá a aceitar que todas as coisas devem ter um fim antes que as coisas novas possam surgir. As palavras de Takara fizeram Nathan pensar. ─ Então a minha impaciência está me impedindo de aceitar as coisas? ─ De fato, por causa da impaciência nós perdemos a revelação de que nem tudo acontece como desejado. ─ Em tais momentos, o tempo é realmente difícil de suportar. ─ O tempo é intrínseco para o nosso mundo e governa toda mudança. A paciência nos ensina a aceitar que o tempo acompanha todas as mudanças. ─ A paciência nos guia para a tranquilidade que todos nós buscamos? ─ Tranquilidade, por si só, não é nada além de confiar no tempo. Isto permite que as mudanças tomem seu lugar nos momentos adequados. ─ Agora eu entendo porque a paciência é tão importante. Ainda não está claro porque eu tenho que aprender os lugares que são melhores para mim? ─ As linhas de tempo e espaço são fortemente inter-relacionadas. Há sempre um lugar onde o tempo é propício para as mudanças que nós podemos trazer! Os olhos de Nathan piscaram. Ele abraçou Takara e deixou a sala. Enquanto ele estava indo para o andar de cima, sentiu-se extremamente preparado para executar sua missão. Nathan não precisou de muito mais tempo para encontrar o quarto em que ele se sentiu menos confortável. Precisou de muito mais para achar o quarto no qual se sentiu melhor. Finalmente ele o encontrou e retornou para Takara satisfeito. 349 Tranquilidade Durante as semanas seguintes, Nathan era frequentemente encontrado com Takara no jardim vegetal próximo ao alojamento. Ele gostava de trabalhar com ela e aprendia bastante observando-a. Takara comia apenas os vegetais de seu jardim. Ela disse que quando escolhia comida facilmente digerível, ela também se sentia leve. Além do seu relacionamento com a natureza, Nathan descobriu importantes facetas do seu relacionamento com o tempo. Quaisquer que fossem as circunstâncias, Takara nunca se apressava e nunca se esquecia de nada. O que mais impressionava Nathan era o fato de que ela irradiava uma tranquilidade especial em todos os momentos e em todos os dias. ─ Parece que o tempo é seu amigo, disse Nathan. ─ O tempo é amigo de tudo que vive, Takara respondeu. ─ Ainda assim, o tempo é frequentemente combatido. ─ Isso é completamente sem sentido, porque é a única coisa que realmente possuímos. ─ Takara, tem uma coisa que tem me incomodado por algum tempo. ─ Então é hora de dividir o seu pensamento comigo. ─ Eu sei que nós só podemos encontrar tranquilidade confiando no tempo. Mas se o tempo decide em todas as mudanças, então quão importantes são nossas ações? Takara olhou para Nathan e tomou conhecimento da profundidade da sua questão. Ela sugeriu que dessem um passeio junto à água. Ela continuou a conversa uma vez que eles começaram a andar. ─ Você sabe que nós devemos confiar no tempo se queremos aceitar o inevitável, mas isso não significa que nós temos que assistir a vida passivamente. Ao longo do tempo, o equilíbrio pelo qual devemos lutar é bem distante da paciência assim como da impaciência. Agora Nathan precisou de tempo para compreender completamente a última declaração de Takara. ─ Isso quer dizer que precisamos tanto da impaciência quanto da paciência? – ele perguntou. ─ Pode-se dizer isso. Não é para nada que nos foi concedida a habilidade de fazer mudanças através de nossas ações. Por 350 exemplo, pegue o jardim de vegetais ou o de ervas; que tipo de forma eles teriam se eu apenas olhasse para eles. ─ Até aqui, também é sobre lutar para pelo equilíbrio certo. ─ Quando nós assistimos a vida passivamente existe um perigo de queda na preguiça espiritual e nós ficamos incapazes de cumprir ações significativas. Então é de grande importância que mantenhamos nossas intenções alinhadas com nossas ações. ─ Então tranquilidade não é uma forma de se ficar parado na vida? ─ A vida nunca fica parada. Quanto mais caminhamos no caminho de nosso destino, mais vemos que é um caminho ininterrupto com possibilidades ilimitadas, um caminho que gradualmente se abre perante nós como o desabrochar de uma flor. ─ Por que existem tantos entre nós que nunca prestam atenção a sua tarefa única e nem mesmo estão cientes que a vida tem um significado mais profundo? ─ Eles nunca foram informados ou não mostraram nenhum interesse. Por causa disso experimentam a vida como uma sucessão de ocorrências caóticas que eles chamam de destino. ─ Está se tornando mais claro para mim. Por causa do medo deles do destino, eles escolhem o que parece ser um caminho seguro e acabam vagando completamente fora de seu caminho. ─ De fato, vagueiam por medo de vagar. ─ Para muitos, a vida consiste em esperar pelo que virá. ─ Assim eles passam o tempo olhando para os momentos perdidos de suas vidas. ─ É possível para uma pessoa mudar. Alguém que nunca tenha antes vivido a vida pensando em sua única tarefa? ─ Nosso comportamento não é determinado por nossas experiências, mas por nossas ambições. As palavras de Takara deixaram Nathan feliz, mesmo que ele não soubesse se era por causa da esperança ou confiança, ou talvez uma combinação de ambas. Ele quis saber: ─ O que pode alterar a nossa atenção em direção a nossa única tarefa? Takara se sentou em uma pedra e fez um movimento para que Nathan se sentasse em frente a ela. ─ Nossa tarefa única só aparece quando nós liberamos nossa fonte sem fim! ─ Nossa fonte sem fim? 351 ─ Se alguém viaja para uma trilha errada e fecha a si mesmo para a fonte de todo o conhecimento, eles terão que reabrir a porta se quiser se familiarizar com os seus desejos íntimos. Nathan entendeu que o que Takara chamava de fonte sem fim, era mais uma vez um novo nome para nossa força interior. Takara continuou. ─ O verdadeiro sentido de nossa vida só pode ser descoberto quando prestamos atenção a esta fonte. Aprendendo a agir intuitivamente, nós tomamos o poder sobre nossos sentimentos. Então nós estamos livres da infinita corrente de ações sem sentido. As palavras de Takara trouxeram muitos pensamentos para dentro de Nathan. Ela viu acontecendo e silenciosamente encarou a água. Levou certo tempo até que Nathan falasse novamente. ─ Deve existir um meio de fazer a humanidade entender que a vida não precisa ser um destino? – declarou Nathan. ─ Somente quando as pessoas se tornam mais conscientes da existência da fonte sem fim, eles irão reconhecer a ordem universal e seu lugar único dentro dela. ─ Eu sinto que deve existir um meio de ajudar a todos a virem à consciência, sem exceção. Takara se levantou e segurou a cabeça de Nathan bem próxima a dela. ─ Aproveite o processo de desenvolvimento, Nathan! Takara deixou Nathan para meditar e retornou ao alojamento sozinha. Nathan passaria o resto do dia na água. Os dias seguintes ele estava na água a maior parte do tempo e lá ele encontrava inspiração como nunca antes. Uma noite, quando ele tinha quase alcançado o alojamento, ele reconheceu no ar um cheiro prazeroso de madeira queimando. Ele olhou e viu que uma grande fogueira havia sido construída. Um rapaz, parado bem perto do fogo, estava mexendo em galhos secos vermelhos brilhantes no fogo com uma vara longa. Os olhos deles se encontraram. Nathan soube imediatamente que Dian havia chegado. ─ É muito bom te conhecer, finalmente, disse Nathan. ─ Eu estou apenas aquecendo, Dian sorriu. Nathan sentou-se no chão, um pouco longe das chamas. Dian sentou-se próximo a ele e perguntou. ─ Como foi com Myate? ─ Ela se sentia melhor no dia em que parti. ─ Leewana está com ela agora. Houve um curto silêncio. 352 ─ Nós não podemos esperar muito tempo mais Nathan. ─ O fato de todos estarmos nos encontrando agora indica que nossos processos de aprendizado estão chegando ao fim. Takara fez um chá e veio sentar-se com eles. ─ Você já escolheu o seu quarto? Nathan perguntou para Dian. ─ Dian não precisa disso, Takara interrompeu. ─ O que eu tenho que aprender, disse Dian, é como manter minha espontaneidade em cheque. Eu frequentemente tenho a inclinação de impor minha vontade aos outros. ─ Por causa de sua natureza, Dian não conhece moderação, disse Takara. Nathan lembrou-se que Takara havia lhe ensinado que ele precisava determinar o equilíbrio para cada necessidade. Então não precisou de muito esforço para saber o que Dian precisava. ─ Como Dian pode lutar por moderação? perguntou Nathan. ─ Prestando atenção à harmonia dos contrastes, disse Takara. Quando ele reconhecer esta harmonia, ele entenderá melhor como contrastes necessários podem direcionar nossas energias dentro do contexto de nossa evolução. Nathan considerou estas palavras e então perguntou. ─ Nós, assim como muitas outras pessoas, não queremos ajudar àqueles que estão perdidos? Tudo tem a ver com o quanto queremos mudar as coisas, disse Takara. ─ Quando eu quero que pessoas perdidas se tornem conscientes de seu destino, eu normalmente trabalho destrutivamente. Dian confirmou. ─ Quando a chuva vem como uma inundação, Takara ilustrou, plantas sem raízes profundas são varridas e perecem. Isso também acontece com espíritos mais lentos se eles não ouvirem nada sobre a vida espiritual. ─ É difícil para eu deixar de mostrar às pessoas suas escolhas erradas, disse Dian. ─ Dian pode realmente destruir coisas se ele não aprender a entender sem julgar, disse Takara. Ele deve aprender que poucas pessoas têm a mesma capacidade de fazer as perguntas certas sobre suas vidas e sobre o mundo em que vivem. Nathan ouviu atentamente e percebeu similaridades com sua impaciência. 353 ─ Dian viajará para a Bolívia, Takara contou a ele. Lá ele aprenderá a ver que tudo que acontece é necessário, mesmo que invoque sentimentos negativos. ─ Por que Bolívia? pergunto Nathan. ─ Dian viajará para os maiores lagos de sal do mundo, o Salar de Uyuni. Não há lugar melhor na terra para aprender a reconhecer a harmonia entre contrastes. ─ Você sabe qual é a minha próxima tarefa Takara? Nathan perguntou. Takara deitou um pouco de chá nos copos e serviu os convidados antes de continuar. ─ Depois que nós seguirmos caminhos separados, você se reconectará com alguém que você não vê há um longo tempo e que está perdido. ─ Minha tarefa será fazer esta pessoa ciente da situação? Takara assentiu com a cabeça. ─ Isto é o que sempre fazemos o que será diferente nesta tarefa? perguntou Dian. ─ Desta vez Nathan estará envolvido emocionalmente, isto será novo para você. Terá que aprender a lidar com o que irá circular dentro de seu ser interior. Nathan se tornou ciente da seriedade de sua próxima tarefa e perguntou. ─ Quem é? ─ Você não está fazendo a pergunta certa, disse Takara. Nathan sabia que Takara quis dizer que não havia sentido e esperar mais pistas sobre a pessoa. Faria mais sentido perguntar sobre o nível que ele teria que trabalhar para restaurar o equilíbrio. Dian viu que Nathan estava em pensamento profundo e ajudou-o. ─ Lembre-se que esta tarefa influencia fortemente seu envolvimento emocional. ─ Isso significa que eu não sou suficientemente comprometido com o destino das pessoas? ─ Você está à deriva por causa da sua natureza, independente do que se encontra em seu caminho, disse Takara. ─ Então para você é importante aprender a manter-se firme com o que as pessoas sentem. Nathan entendeu o que Takara disse e perguntou. ─ Como eu aprenderei a ser mais prudente? ─ A compaixão cresce na medida em que você se torna ciente de sua orientação interior! 354 ─ Minha orientação interior? ─ Sua sensibilidade, Nathan. Os dias seguintes Nathan e Dian passaram a maior parte do tempo juntos. Os dois sabiam que tinham difíceis tarefas pela frente, mas sentiam-se encorajados pela ideia de que, juntos com Myate e Leewana, eles seriam capazes de completar algo único. Tornou-se muito claro para eles que se unissem forças seriam capazes de atingir algo de proporções indescritíveis. No dia que Nathan estava deixando o alojamento, Takara olhou para os dois homens. Ela pediu a eles que a seguissem e foram para a área cheia de trabalhos de arte. Ela imediatamente foi à pintura abstrata e olhou para ela atentamente. Nathan e Dian posicionaram-se perto dela. ─ Vocês dois aprenderam que podemos ver elementos de diferentes dimensões. ─ Eu me lembro disto muito bem, disse Dian. Na primeira dimensão vemos o mundo físico, na segunda o mundo dos pensamentos e na terceira a estrada para nossa consciência. ─ Você chegou a conhecer Melvin, o filósofo brasileiro? perguntou Nathan. Não! – Dian respondeu – eu aprendi isso de um psicólogo Búlgaro. O trabalho que vocês estão vendo aqui engloba toda a segunda dimensão, Takara interrompeu. ─ Isso significaria que todos os pensamentos estão reunidos nesta obra de arte? observou Dian. ─ Certo! disse Takara. Em nosso mundo físico um pensamento toma a forma pela qual é observado. Nathan e Dian se entreolharam, sem entender. Eles acharam difícil entender o raciocínio de Takara. Takara foi para a cozinha e Nathan e Dian a seguiram. Uma vez lá ela pegou uma maçã verde redonda nas mãos e se dirigindo a Nathan disse. ─ No que você pensa quando você olha para isso? ─ O pensamento é sobre uma maçã! Takara pôs a maçã sobre o aparador da cozinha, pegou uma faca afiada, cortou uma fatia fina. Ela pôs a fatia de lado e perguntou a Dian a mesma coisa. No que você pensa quando olha para isso? ─ Mesmo que a forma esteja um pouquinho diferente, minha opinião é a mesma que a dele, o pensamento é sobre uma maçã! Takara pôs a maça sobre o aparador e pegou a fatia fina que havia acabado de cortar. Ela a segurou e fez a mesma pergunta a Nathan. ─ Acho que a entendi, respondeu Nathan. ─ Sim, está claro para mim agora, disse Dian. 355 ─ Certo! disse Takara. Na primeira dimensão só podemos ter pensamentos limitados, mas não se aplica a segunda dimensão. Eles deixaram a cozinha e foram para o jardim. Takara se virou e perguntou a Nathan e Dian: -Vocês se lembram do que eu estava segurando na cozinha? ─ Uma maçã, é claro! disse Dian. Com isto, Takara foi capaz de tornar claro que todos os pensamentos existem por si só, mesmo que eles não possam ser vistos no mundo físico. Enquanto Dian e Nathan sentavam-se em um banco no jardim, Takara agarrou um jarro com suco fresco e encheu três copos grandes. ─ Um pensamento decide por si mesmo quando entrar no mundo físico? perguntou Nathan. ─ Isso só é possível quando ele sabe quando persuadir a nós para dar certa forma, respondeu Takara. É por isso que é o desejo de todo pensamento ser contado. ─ Então pensamentos têm desejos? – Dian perguntou surpreso. ─ Assim como as pessoas, pensamentos têm sua própria natureza. ─ Eles também têm uma única tarefa dentro da ordem universal? perguntou Nathan. Takara sorriu e expressou satisfação. Ela havia conseguido guiar Nathan e Dian para esta importante ideia. Ela reencheu os copos e continuou. ─ Todos os pensamentos são interconectados e sempre tentam armar uma conexão entre a primeira dimensão e a terceira. Como eles não são ligados a tempo e espaço eles podem até mesmo causar grandes mudanças. ─ De que mudanças você está falando? perguntou Dian. ─ A transferência de pensamentos que nós geralmente não lidamos da primeira dimensão, Takara disse seriamente. Nathan e Dian se lembrariam desta conversa por um longo tempo. Graças a Takara eles agora tinham um melhor entendimento sobre as energias trabalhando na ordem universal e sua influência. Ambos sentiram que estas compreensões finais seriam de grande uso para eles no futuro. Agora Nathan disse adeus para Dian e Takara. Neste momento o vento ganhou força, como tão frequentemente acontece em despedidas. ─ Foi bom te conhecer Nathan. Pense sobre isto na próxima tarefa: A fonte principal é direcionada pelo que acontece dentro de você! 356 ─ Obrigado Dian. Foi bom te conhecer também. Eu também tenho um pensamento para que você seja forte na Bolívia, se o frio não existisse você não saberia o que era o calor. Takara sorriu e disse. Leewana passou bastante tempo aqui. Nós aprendemos bastante uma com a outra, mas eu tenho que dizer que ela ainda pode me surpreender. ─ Nathan e Dian estavam surpresos, após isso Dian perguntou: ─ Você quer dizer que estes pensamentos finais vieram dela? ─ Hoje ela mandou mais pensamentos! Takara riu. Nathan se levantou e abraçou Takara e Dian com carinho. Então ele pegou sua bagagem e deixou o alojamento. Uma vez do lado de fora, ele viu o mesmo pastor que havia mostrado a ele o caminho. Nathan foi até ele e perguntou: ─ Você pode me mostrar o caminho para o porto? ─ Você mudou de ideia? perguntou o pastor. ─ O que você quer dizer? ─ Você queria ir para o “Chuenchai”? ─ Mas é de lá que eu venho! O pastor estava surpreso pela resposta de Nathan e o encarou penetrantemente. Ele continuou andando silenciosamente. Nathan andou próximo a ele e perguntou: ─ Por que você está tão surpreso em me ver? Mais uma vez o pastor olhou para Nathan e perguntou: ─ Posso te perguntar algo? Nathan assentiu. ─ Há quanto tempo atrás foi à última vez que você me viu? ─ Umas duas semanas; você não se lembra? O pastor ficou maravilhado. ─ Você parece surpreso? disse Nathan. Eu percebi o quanto a sua única tarefa deve ser! ─ O que a sua surpresa tem a ver com minha única tarefa? ─ Como eu disse antes, o tempo no “Chuenchai” vai mais devagar, apenas o atraso em sua estadia deve ter sido extraordinário. ─ Tem alguma coisa a ver com minha única tarefa? ─ O atraso que ocorre no alojamento depende da magnitude única do visitante. Quanto mais devagar o tempo vai, maior é a tarefa. O pastor parou e disse seriamente: ─ Nunca antes eu vi alguém entrar e sair no mesmo dia! Estas notícias foram a confirmação para Nathan sobre a importância de sua tarefa. Eles permaneceram em silêncio pelo 357 resto do caminho. Uma vez no porto o pastor disse adeus para Nathan. Mais uma vez o vento se tornou mais forte. ─ Eu tenho uma mensagem final para você, algo que será útil na sua próxima tarefa. Nathan ouviu atentamente. ─ Mostre compaixão por aqueles que cometeram grandes erros, porque você não sabe pelo que o coração deles tem passado. O pastor partiu após dizer estas palavras. Nathan o agradeceu e teve uma palavra de agradecimento por Leewana. Nathan tomou o primeiro barco que pode para La em Ngop. Enquanto estava a bordo fez a si mesmo duas questões. Qual seria exatamente a sua próxima tarefa e quem seria a pessoa perdida? Com estas perguntas em mente adormeceu. 358 Missão Quando o barco ancorou em Laem Ngop, Nathan acordou de um profundo sono. Ele saiu do barco e pegou um ônibus para a cidade de Trat. Uma vez lá ele procurou por um hotel. Nathan estava exausto pelos últimos eventos e vagueou pelas ruas de Trat. Ele acabou andando pela mesma rua três vezes, as duas primeiras a rua estava vazia, mas na terceira vez ele viu serviços de segurança e um grupo de pessoas na porta de uma casa. Nathan estava curioso e foi ver o que estava acontecendo. Uma mulher disse a ele em inglês que um homem havia sido encontrado e parecia ter cometido suicídio. Nathan pensou que haver passado três vezes pela mesma rua havia acontecido por um motivo. Ele perguntou a mulher se ela iria dentro com ele para pegar mais informações. Ela acompanhou Nathan até dentro da casa onde encontraram dois oficiais de polícia analisando os documentos do falecido. Nathan perguntou se também poderia dar uma olhada. A mulher traduziu suas palavras para os dois policiais. Eles não tinham nenhuma objeção. Parecia, pelos documentos, que o falecido viera de Camboja. Ele vivia em Phnom Penh, mas estava em Trat há vários meses. Havia também uma carta escrita em Khmer e um envelope endereçado para o Camboja. Nathan quis saber o que a carta dizia. A mulher não podia ler Khmer, mas um dos policiais podia. Primeiro ele leu a carta sozinho e resumiu em tailandês. A mulher traduziu em inglês para Nathan. Era uma carta de adeus do falecido para seu filho. Pela primeira carta poderia se entender que o homem se sentia abandonado pelo filho. De repente uma foto caiu do envelope. Um dos policiais pegou-a e Nathan pediu para vê-la. Quando ele segurou a foto seu coração parou por um segundo. Ele perguntou se eles leriam o nome do envelope em voz alta. Suas suspeitas se tornaram realidade. O nome e a foto revelaram que o filho do homem morto não era ninguém mais que... Y Chao, seu amigo de infância que havia ido à escola com ele em Bruxelas. Nathan agora sabia que seu destino seria o Camboja. Ele perguntou aos policiais se podia fazer uma cópia da carta e prometeu entregar em pessoa. No dia seguinte Nathan partiu para a fronteira do Camboja de ônibus. De lá ele tomou um mini-ônibus, que o levou até a capital, Phnom Penh. Uma vez que havia cruzado a fronteira, 359 Nathan imediatamente notou que o Camboja era muito mais pobre que a Tailândia. As estradas eram sem pavimentação, os veículos eram mantidos inteiros por fios e as ruas eram ladeadas por muitas crianças pedintes, uma visão que o entristeceu. Na capital Nathan tomou um táxi e mostrou ao motorista o envelope com o endereço. O motorista o levou a um prédio de escritórios no distrito de negócios da cidade. Nathan estava surpreso. Ele havia esperado uma habitação familiar normal, mas o motorista confirmou que o endereço no envelope era de fato o local. Nathan entrou no prédio e pediu a recepcionista se poderia ver Y Chao. A recepcionista quis saber se ele tinha um horário marcado. Nathan respondeu que ele não tinha, mas que tinha uma mensagem importante do pai de Y Chao. A recepcionista fez algumas ligações e então contou a Nathan que Y Chao havia partido par sua casa de férias em Kampot, uma cidade costeira a algumas horas de Phnom Penh. Quando Nathan perguntou quando Y Chao iria retornar, ela respondeu que somente Y Chao sabia disso, já que era dono da companhia. No dia seguinte, Nathan partiu para a cidade de Kampot, que era no mesmo estado, e chegou ao início da noite. Depois de fazer algumas perguntas, se tornou claro para ele que Y Chao havia se tornado uma pessoa de negócios bem sucedida. A maioria das pessoas sabia onde era sua casa de férias, então Nathan rapidamente achou o lugar, que era uma imponente casa de campo construída em estilo colonial. Ele tocou a campainha e a empregada abriu a porta. Quando Nathan perguntou por Y Chao, a empregada deu um passo ao lado e deixou que ele entrasse. Ela perguntou-lhe o nome e o propósito da visita para que pudesse anunciar sua chegada. Nathan respondeu que era um amigo com uma mensagem pessoal. A empregada se foi e retornou alguns momentos depois para buscar Nathan. Ela abriu uma porta e fez menção para que entrasse. Nathan entrou em um grande escritório e viu Y Chao que estava vestido em um terno. Y Chao reconheceu Nathan e imediatamente se levantou de trás de sua mesa. ─ Que surpresa agradável você vir me visitar! Nathan tinha apenas um pensamento agora. Quando seria o melhor momento para dizer a Y Chao sobre seu pai morto? ─ Como me encontrou? perguntou Y Chao. ─ Como te achei não é importante, Nathan respondeu. É mais importante saber que nossos caminhos se cruzaram de novo! ─ Ainda bem profundo, vejo eu. 360 Y Chao sentou-se em um dos grandes sofás, pediu a Nathan que se sentasse ao seu lado e pediu a empregada para trazer café. ─ Algumas vezes as coisas podem ser um pouquinho estranhas. Há algumas semanas atrás eu estava em umas férias em um cruzeiro no Mar Mediterrâneo e você tem alguma ideia de quem encontrei? Laura! Ela disse que encontrou o amor da sua vida na Grécia... Aliás, ela também perguntou por você. ─ Estou feliz por ela. Talvez eu a visite. Mas como você está indo? ─ Os negócios vão indo bem, Nathan! Y Chao apontou para um grande quadro onde um slogan estava escrito: ─ Se alguém quer viver, não se submeta, mas comprometa-se! Juntamente com alguns parceiros estrangeiros, eu sou o dono de vários prédios na capital. Além disso, eu também tenho participação em alguns grandes projetos imobiliários. Para alguém que começou do nada, eu posso ficar bastante orgulhoso do que eu alcancei. ─ Quais são seus objetivos para o futuro? ─ Do jeito que as coisas vão indo, em alguns anos eu poderei me tornar um dos maiores desenvolvedores imobiliários na cidade. Nathan continuou olhando silenciosamente para Y Chao. ─ Como está sua vida pessoal Y Chao? ─ Recentemente eu me divorciei... Mas estou melhor agora. Por que a pergunta? ─ Eu perguntei a mesma coisa a você três vezes! Nathan se levantou, pegou a carta de seu bolso e pôs na mesa. Y Chao pegou-a. ─ É do meu pai! ver a carta o deixou animado. Nathan não disse nada e deu a Y Chao o tempo necessário para lêla. Após haver lido a carta Y Chao permaneceu em profundo silêncio por vários minutos, com sua cabeça baixa. ─ Eu levei até agora um modo de viver no qual não prestei atenção a ele ou a minha esposa. Minha única preocupação era ser bem sucedido financeiramente. Y Chao tinha lágrimas em seus olhos. Nathan se sentiu comovido e sentou-se perto dele. ─ Como você pegou esta carta? perguntou Y Chao. ─ Uma pergunta melhor seria: como esta carta veio para mim? Muitas ocorrências simultâneas aconteceram para esta reunião acontecer. 361 ─ Eu aprendi que tudo tem uma razão com você, qual é a razão agora? ─ Nós fomos colocados juntos para entender nossos sentimentos com maior profundidade e experimentar novos sentimentos, sentimentos que nos fazem mais conscientes de nossa fonte sem fim. ─ Você se refere a nosso conhecimento interior. Nathan assentiu e disse: ─ Quanto mais conscientes dessa fonte nos tornamos, mais nossas visões se tornam claras e nosso propósito de vida se torna mais claro ainda. ─ Você não foi sempre consciente dessa fonte? ─ Não soaria estranho pra você que alguns sentimentos são desconhecidos para mim. Graças a você eu posso aprender a desembaraçá-los e assim continuar crescendo. Y Chao havia passado tempo suficiente na presença de Nathan para saber que ele nunca, ou raramente, havia experimentado sentimentos dolorosos. Agora ele perguntou. ─ O que você quer dizer exatamente com “continuar a crescer”? ─ Você estava apenas falando sobre evolução, mas a única evolução realmente importante durante nossa existência não tem nada a ver com graus ou saúde. Tem a ver com a evolução de sua sensibilidade. Y Chao levantou seus olhos ouvindo as palavras de Nathan, que continuou: ─ Nossa sensibilidade contém nossa mais profunda verdade. Nunca se esque do plano original do universo e sempre tenta lembrar-nos de nossos desejos originais. As palavras de Nathan não eram completamente estranhas a Y Chao. Ele sabia exatamente o que Nathan queria dizer, mas havia um longo tempo desde que alguém havia lembrado a ele dessas ideias. ─ Nathan, você sabe o que acontece com nossa sensibilidade após nossa morte? Nathan entendeu que Y Chao estava pensando no pai. ─ Após nossa morte, nossa sensibilidade revive o que experimentou durante nossa vida, mas do ponto de vista das pessoas que foram influenciadas por ela. Y Chao pensou sobre seus últimos momentos com o pai e disse. ─ Então eu temo que meu pai sinta grande tristeza quando se lembrar de mim! 362 ─ Não se preocupe, quando a sensibilidade revive experiências, acontece sem julgamento ou dor. ─ Então o que nossa sensibilidade experimenta? ─ As lições necessárias para continuar nosso desenvolvimento. ─ Acho que compreendo. ─ Não completamente, mas isso virá, Nathan repetiu as palavras sábias de Takara. Agora você precisa descansar e meditar, continuou Nathan enquanto se preparava para sair. ─ Onde você está indo? ─ Eu ficarei na cidade. ─ Eu gostaria que ficasse comigo. Nathan pensou sobre isso por um momento. ─ Eu retornarei à noite. Nathan abraçou Y Chao e passou o resto do dia na praia. Quando retornou para a casa de campo àquela noite, Y Chao mostrou a ele o quarto de hóspedes. Nathan tinha um pedido para ele. ─ Eu gostaria que fizesse uma viagem comigo por uns dois dias. ─ Dois dias? Isso não é possível para mim. Eu tenho muitos compromissos. ─ Nada precisa de mais atenção do que seu eu interior. Y Chao pensou a respeito e perguntou: ─ Aonde você quer ir? ─ Para o lugar que mais impressionou você. Y Chao quis reagir, mas Nathan o interrompeu: ─ Eu vou dormir agora, responda-me amanhã. No dia seguinte Nathan sentou-se à mesa de café da manhã, onde Y Chao o recebeu com boas-vindas. ─ Eu pensei a respeito, Nathan. Eu quero mudar as coisas na minha vida e eu sei que não há pessoa melhor que você para me ajudar. Nathan sabia que a conversa do dia anterior estava tendo seu efeito. ─ Bom, então para onde estamos indo? ele perguntou. ─ Após o café da manhã nós partiremos para um templo que há em Siem reap. Nós viajaremos de carro e estaremos na estrada por uns dois dias, é a melhor maneira de explorar meu país. ─ Eu tenho lido sobre os templos de Angkor, eles parecem ser impressionantes. ─ Eu quero levar você para o “Ta Prohm”. Eu me senti comovido como nunca antes quando eu entrei nas ruínas deste templo e vi o incrível poder da natureza. ─ Você está me deixando curioso. 363 Após o café da manhã eles seguiram para o norte. Eles pararam brevemente em Phnom Penh e então continuaram pelo país para Siem Reap. Nathan viu muita pobreza. Muitas pessoas viviam em vilas que eram bem distantes umas das outras. Famílias, com muitas crianças pequenas, frequentemente viviam em casas pequenas sem nenhuma provisão sanitária. Y Chao contou a Nathan que essas pessoas haviam sofrido por causa das guerras duradouras. Mesmo que o país estivesse em paz agora, muitas pessoas ainda eram feridas ou machucadas pelas minhas terrestres. Isso explicava o porquê do grande número de pessoas com membros amputados. E como se não fosse mal o suficiente, este ano, pelo curso de vários meses, muitas colheitas de arroz haviam falhado, causando uma escassez que afetou muitas famílias. Nathan simpatizou-se pelas pessoas e frequentemente pediu a Y Chao que parasse o carro. O que foi marcante para Nathan foi que, apesar da miséria, em cada vila, as pessoas eram muito amigáveis e respeitosas. ─ O que se pode fazer a respeito de tanto sofrimento? Y Chao disse. ─ Você acaba de fazer uma pergunta que pode ser a causa de milagres, Y Chao. Y Chao olhou para Nathan e viu que ele se preparava para ir dormir. Isso deu a oportunidade para Y Chao meditar nesta conversa em silêncio. Quando eles chegaram a Siem Reap, Y Chao foi diretamente para o templo sobre o qual ele havia falado mais cedo. Nathan previu que algo especial aconteceria. Quando eles chegaram ao templo “Ta Prohm” já era tarde e o sol estava se pondo, mudando a cor do céu para um bonito vermelho-alaranjado. ─ É tarde, talvez devêssemos voltar amanhã? disse Y Chao. Nathan viu que a maioria dos visitantes partindo. Quando ele estava para aceitar a proposta de Y Chao, sentiu algo lhe pedindo para entrar mesmo assim. Ele respondeu dizendo: ─ Nós temos que entrar agora! Y Chao não entendeu, mas conhecia Nathan o suficiente para saber que ele sempre seguia seus sentimentos e que não faria sentido contradizê-lo. Dentro, Nathan viu que o templo tinha uma miríade de corredores e galerias cobertas por trepadeiras e musgo. Ele como viu torres e estátuas haviam sido tomadas por cipó e como velhas árvores com raízes gigantescas estavam enroladas ao redor do templo. 364 ─ Impressionante, não é? Y Chao perguntou. Nathan não disse nada e continuou a andar. Por causa do por do sol e porque o sol dificilmente passava pelas folhas espessas, era escuro lá dentro. Y Chao viu que a maioria dos visitantes havia partido a esta altura e insistiu que eles deveriam voltar pela manhã. ─ Me dê à lanterna e você pode ir se sentar no carro, disse Nathan. Mesmo antes que Y Chao tivesse uma resposta, Nathan seguiu pelo corredor. Y Chao estava acostumado com o comportamento estranho de Nathan, mas não pode evitar se sentir preocupado com ele. A caminho do carro esse sentimento começou a se tornar mais forte. Nathan andou através das ruínas ainda sem saber para onde estava indo. De repente parou em um corredor com colunas quadradas e viu como as colunas estavam sendo destruídas pelas raízes, mas ao mesmo tempo também eram mantidas juntas por elas. Do momento em que ele pisou dentro do templo Nathan havia ficado impressionado pelo poder destrutivo da natureza, mas agora ele via como a floresta mantinha todas as paredes e colunas direitas. O complexo inteiro havia se tornado um com a terra. Neste momento ele teve um sentimento muito estranho. Entre as colunas ele viu a estátua de Myate, Leewana e Dian. Todas as três estava no chão entre as colunas e estavam olhando para o que a natureza tinha conseguido. Mesmo que Nathan soubesse que não estavam ali realmente, pareceu-lhe real. Foi como se todos eles juntos estivessem recebendo a mesma mensagem. Nathan sentouse no chão entre as duas colunas. Ante si ele viu Dian, a sua esquerda estava Myate e na sua direita Leewana. Juntos eles tentaram reconhecer a mensagem deste sinal. De repente tudo se tornou claro para Nathan e, naquele momento, seus amigos desapareceram. Nathan se levantou e foi para fora. Ele havia estado fora por um longo tempo. Y Chao havia até mesmo considerado chamar a segurança. No entanto ele estava aliviado quando viu Nathan reaparecer. ─ O que aconteceu lá? ─ Não existem palavras para descrever esta experiência, Y Chao. ─ Você pode me dizer o que aprendeu? ─ Esta experiência me ensinou que o universo não teve um grande início e também não terá um grande final porque cada final será seguido de um novo início. Y Chao olhou para Nathan, mas não entendeu muito bem o que ele quis dizer. 365 ─ faz pouco sentido continuar fazendo perguntas, continuou Nathan, qualquer outra descrição seria uma traição com a própria experiência. Eles fizeram reserva em um hotel no centro da cidade e dirigiram de volta para Phnom Penh no dia seguinte. Após dirigirem o dia todo, apenas com uma parada para comer, Y Chao sugeriu que eles passassem a noite na próxima vila. Suas palavras tinham acabado de sair de sua boca quando o motor começou a dar-lhes problemas. Y Chao só foi capaz de colocar o carro no acostamento ao lado da estrada. Eles saíram para ver se podiam ligar o motor mais vez, mas sem sucesso. Enquanto isso, a noite havia caído, e não havia mais luz para ser vista em lugar nenhum ao redor deles. Y Chao sacou sua lanterna e tentou encontrar o problema sob o capô do carro. Ele não viu nada de incomum e achou tudo muito estranho, uma vez que o carro era novo e havia estado em perfeito estado até o momento. Quando Y Chao quis fazer uma ligação, ele percebeu que o telefone celular não tinha nenhum sinal. Nathan observou que uma vez que fazia um bom tempo desde que eles haviam avistado casas, que eles deveriam estar provavelmente fora da área de cobertura. Ambos os homens estava cansados e decidiram passar a noite no carro. A manhã seguinte traria uma solução. Os primeiros raios de sol os acordaram. Após explorar na luz, eles viram que era uma área desolada. Nathan sentou-se em uma pedra e pensou por um momento. ─ Muita coisa ainda tem que acontecer antes que você comece a se preocupar, declarou Y Chao. ─ Você tem que confiar nas ocorrências inesperadas. Elas sempre vêm acompanhadas de sabedoria. Y Chao tentou não demonstrar que estava apreensivo e sentou-se próximo a Nathan. De repente Y Chao apontou para o céu. Ele viu uma grande ave de rapina voando em círculos. Quando Nathan também olhou para cima, eles viram como a ave de rapina mergulhou em linha reta para o outro lado da colina. Eles olharam um para o outro... Isso parecia muito com um sinal. Eles decidiram se arriscar e subiram a colina. Demorou mais que o esperado para alcançarem o topo. Eles ficaram bastante surpresos por acharem uma grande propriedade cercada por uma cerca onde podiam ver uma grande vila no meio de um jardim magnífico. Eles se dirigiram para a entrada da propriedade e tocaram a campainha no portão, que parecia ser equipada com vários sistemas de segurança. Nathan e Y 366 Chao suspeitaram estar em uma tela e sob observação neste momento. Levou um tempo até que alguém aparecesse. O homem que abriu o portão para eles era chamado de Hyun-Ki e era empregado da propriedade. Y Chao explicou para ele que eles estavam tendo problemas com o motor. Hyun-Ki fez menção para que o seguissem. Eles andaram através do jardim, que era cheio de lagoas graciosas e trabalhos de arte. Uma vez que chegaram a casa, um homem idoso apareceu pela porta da varanda. O homem apresentou a si mesmo em inglês. Seu nome era Chong e ele era da Coréia do Sul. Y Chao disse a ele sobre o problema no carro após o que ordenou que Hyun-Ki pegasse o carro e lavasse para reparar. Então os convidou para beber chá com ele. Seung parecia estar bem curioso a respeito de seus convidados. ─ Onde vocês estavam? ─ Nós estávamos em Siem reap, onde visitamos o “Tah Prohm”, respondeu Y Chao. Seung , que estava apenas bebendo seu chá, quase entrou em choque. ─ Que coincidência, na semana passada mesmo eu estava no mesmo templo. ─ A pessoa que presta atenção na coincidência, achará um guia, declarou Nathan. Seung olhou para Nathan por um longo período e se tornou mais curioso. ─ Com o que você trabalha? ─ Eu tenho uma imobiliária em Phnom Penh, respondeu Y Chao. ─ E você Nathan o que faz? ─ Eu bebo chá e ouço você. ─ você prefere não falar sobre suas atividades? perguntou Seung. ─ Não é isso, eu apenas quis dizer que eu experimento cada momento como se eu estivesse fazendo uma experiência. ─ Então você não está no ramo dos negócios como seu amigo? ─ Eu aprendi que muitas coisas não são para ser possuídas, mas para ser usadas. Y Chao ficou visivelmente desconfortável por esta afirmação. Nathan pôs sua mão em seu braço. Seung olhou mais uma vez para Nathan por um longo tempo e então disse. ─ Então posses temporárias, se posso chamá-las assim, não têm nenhum valor para você? 367 ─ Quando alguém eleva tais bens a um patamar mais alto, isto é perigoso porque esta pessoa se torna subserviente a estes bens e finalmente sacrifica sua vida por eles. ─ Sacrifícios fazem parte da vida. – declarou Seung. ─ Por fazer uma distinção clara entre o que é certo e o que é aparentemente certo para nós, apenas queremos o que realmente precisamos. Coisas que melhoram nossa liberdade, não que a limitam. ─ A que coisas se refere? disse Seung inquisitivamente. ─ A nossas percepções. Percepções não pedem sacrifícios e aumentam nossa liberdade. Elas nunca podem ser tomadas de nós, porque fazem parte de quem realmente somos. ─ Interessante, disse Seung. Y Chao percebeu que Seung estava ouvindo mais atentamente a Nathan. O mal-estar que ele havia sentido a princípio agora havia mudado em um sentimento de orgulho, tanto que ele confirmou as palavras de Nathan. ─ É verdade que bens parecem apenas melhorar nossa liberdade. Quanto mais nós possuímos, mais discernentes nos tornamos e mais difícil se torna experimentar satisfação. Seung permaneceu em silêncio por um longo tempo. Nathan sentiu que ele havia obtido sucesso em fazem ambos Seung e Y Chao pensar. Agora Seung falou. ─ O que eu estou para te contar você provavelmente achará estranho. Hoje à noite eu sonhei que eu receberia percepções que radicalmente mudariam a minha vida. ─ Você sentiu que o que estava ouvindo agora era como algo que poderia mudar sua vida? perguntou Nathan. ─ A questão é se eu iria querer mudar alguma coisa, disse Seung. ─ A verdadeira questão é se você quer permanecer sozinho, disse Nathan. ─ O que te faz pensar isso? Seung perguntou a Nathan ─ Os dois tem seguido um caminho que resultou em sacrifícios, um caminho que sempre termina em solidão. Nathan deixou que o silêncio falasse por um pouco, então Seung falou novamente. ─ Você mal me conhece e ainda assim você já foi rapidamente através do luxo. ─ Se Nathan trouxe isso à tona, disse Y Chao, ele teve suas razões para fazê-lo. 368 ─ Isso mesmo, disse Nathan. Assim como a solidão, cada sentimento aparece por uma razão e é anunciado por um desejo pelo significado da vida. ─ Um desejo pelo significado da vida? Seung perguntou. ─ Um desejo de seguir seu desejo original, disse Nathan. ─ O que é que eu desejo? Seung quis saber. ─ O desejo de seguir o caminho de seu propósito de vida, respondeu Nathan. ─ Você quer dizer que a solidão é indicada pelo seu desejo original? Y Chao repentinamente quis saber. ─ Nossos desejos mais profundos são indicados pela nossa sensibilidade, explicou Nathan. ─ Por que nossa sensibilidade escolhe nos fazer sentir a dor da solidão? perguntou Seung. ─ Para todos aqueles que estão em um caminho de sacrifício, disse Nathan – geralmente é a única forma de torná-los cientes de sua existência. Agora havia um profundo silêncio deixado no ar pelas palavras de Nathan. Então Nathan perguntou se poderia se refrescar. Quando retornou a conversa entre Y Chao e Seung era sobre a grande necessidade de dar abrigo ao país. Eles estavam discutindo sobre como cada um deles sentia o grande desejo de fazer algo. Seung explicou que ele tinha grandes tratos de terra perto do cruzamento dos dois rios com terrenos férteis e, no entanto também uma locação ideal para construir uma grande vila. Agora Nathan falou a ambos Y Chao e Seung. ─ Mais sinais seriam mortais. O fato de vocês dois se encontrarem hoje não é coincidência, assim como nada é uma coincidência. ─ Eu estou maravilhado pela maneira que você nos colocou juntos, disse Y Chao. ─ Você tem que olhar além, disse Nathan, O que os reuniu foi o sentimento de justiça. ─ Você sabia que iríamos trabalhar juntos? Seung quis saber. ─ Durante nossa conversa se tornou claro que um grande projeto estava sendo criado. Pelo que vocês puderem alcançar pelo povo do Camboja, todos os sentimentos de culpa e solidão que vocês estão sentindo irão definitivamente se tornar algo do passado. Hyun-ki veio dizer que o carro estava reparado. Nathan e Y Chao se levantaram e se prepararam para partir. Y Chao e Seung acertaram uma data para se encontrarem de novo para dar uma forma mais concreta a seu projeto. Depois, Seung levou os dois 369 jovens à saída. Quando chegaram ao portão Y Chao já estava andando na frente. Seung ainda tinha algumas perguntas para Nathan. ─ Como você sabia que Y Chao seria importante para mim? ─ Y Chao é alguém que foi apresentado à camada escondida deste mundo antes de ir para a Europa. Por causa disso, quando criança, ele já tinha uma visão muito clara a respeito da vida. Ele será capaz de colocar em prática agora e você aprenderá bastante de suas lições. ─ E o que eu significarei para ele? ─ Y Chao sempre teve um inibição natural. Existe um grande medo de falhar dentro dele. Por causa dessa sensibilidade sempre tem a urgência de encontrar um aliado que pudesse ajudá-lo a vencer este medo. Seung assentiu em entendimento e Nathan agradeceu a ele abundantemente pela ajuda. Uma vez no carro, Nathan e Y Chao conversaram sobre sua reunião com Seung. Durante a conversa os pensamentos de Y Chao eram similares ao de Seung. ─ Como você sabia que Seung seria importante para mim? ─ Aconteceu durante a conversa. Seung segura um grande senso de autoridade dentro de si desde sua juventude e se tornou rico muito rápido. Por causa disso ele rapidamente apresentou-se a poderosos relacionamentos neste mundo. Lidando com ele você aprenderá muito de suas experiências. ─ O que e serei capaz de ensinar a ele? ─ Seung nunca teve uma visão clara de objetivos mais altos. Isso também explica muitos desapontamentos. Por causa disso, sua sensibilidade o tem sempre encorajado a encontrar um aliado para ajudá-lo a obter clareza. ─ Nathan, eu não sei como eu posso te agradecer por isso. ─ Mantendo-me informado dobre o andamento desse seu projeto. Com essas palavras Y Chao entendeu que Nathan viu seu programa de ação como cumprido. ─ O que você aprendeu, Nathan? ─ Eu obtive a confirmação de que todos os nossos sentimentos estão a serviço de nosso desejo original e no “ Ta Prohm” eu aprendi algo extremamente importante sobre a natureza. Y Chao ainda estava curioso sobre o que havia acontecido em Siem Reap. ─ Mesmo quando há furacões, Nathan continuou, terremotos e enchentes, após um curto período de tempo os elementos estão 370 exaustos e o silêncio retorna. É neste silêncio que as coisas realmente começam a existir. Y Chao não era muito sábio, mas ele sabia que um dia se tornaria mais claro. Você sabe onde está indo? ele perguntou a Nathan. ─ Você não disse que Laura queria me ver? Algumas horas depois Y Chao levou Nathan ao aeroporto e ajudou-o a reservar um voo para a Grécia. 371 372 - 11 Sabedoria da Compreensão 373 374 Essência Ao chegar a Atenas naquela manhã, Nathan logo telefonou para Laura para contar-lhe sobre sua chegada e disse-lhe que ficaria por alguns dias na capital antes de seguir viagem até onde ela morava. Reservou acomodação em Plaka, no coração da cidade. Durante todo o dia, passeou pela parte antiga da cidade apreciando a excepcional atmosfera histórica. No dia seguinte, ele decidiu subir até o topo da montanha de Areópagos, viu a impressionante vista da cidade de Atenas do alto do topo da montanha. Como estava cansado com o esforço da subida e também com o calor intenso, ele procurou um lugar à sombra para descansar um pouco. Não demorou muito até que caiu no sono. Quando acordou, percebeu a presença de uma jovem sentada ao seu lado. Ela olhou para ele, amigavelmente sorriu e serenamente continuou apreciando a vista. Nathan sentou-se ao lado dela e lhe dirigiu a palavra em Inglês. ─ Há quanto tempo você está aí? Ela jogou o longo cabelo para o outro lado e disse sorrindo: ─ Não muito, mas você já estava manifestando o seu futuro quando eu cheguei. A jovem notou que Nathan o olhou surpresa e continuou a falar mantendo o mesmo sorriso: ─ Isso é o que acontece durante o sono. Enquanto Nathan esfregava os olhos na tentativa de despertar totalmente, a jovem apresentou-se. ─ Meu nome é Rajiya. ─ Sou Nathan. De onde você é? ─ De Beirute, capital do Líbano. E você? ─ Me criei na Bélgica, mas tenho viajado por muitos anos. Rajiya lançou um olhar como se acabasse de entender algo e então perguntou: ─ Você já sabe onde seu caminho o está levando? ─ Todos os dias eu deixo a minha luz determinar a direção. Rajiya e Nathan se olharam sorrindo. Os dois sentiram que o encontro deles não era apenas uma coincidência. ─ Seu caminho é tão claro que sua luz também ilumina outros caminhos. ─ O que lhe faz dizer isso? 375 ─ Isso me foi revelado pelo sentido das suas palavras não pronunciáveis. Novamente Nathan a olhou surpreso. Rajiya esclareceu: ─ Estou falando das emoções que trazem vida às suas palavras. ─ Como você as reconhece? Nathan perguntou. ─ Aprendi com meu pai e ele, por sua vez, aprendeu com seu tio. Depois dessas palavras Rajiya fixou os olhos num ponto distante por um momento e depois continuou. ─ Estou seguindo um dom que me foi dado. ─ O que você faz exatamente? Nathan queria saber. ─ Escrevo poemas. ─ Do que fala seus poemas? ─ Na maioria das vezes de paz. Rajiya chegou mais perto de Nathan e continuou. ─ Com minhas palavras eu tento demonstrar que ninguém consegue ter paz na vida enquanto existir o desejo de possuir algo pertencente à outra pessoa. ─ Você crê que a verdadeira paz na terra é possível? ─ Um dia será sim, quando as pessoas tiverem a voracidade de se unir em busca de algo que é maior do que elas mesmas! O entardecer começou a cair sobre a cidade de Atenas. Nathan e Rajiya desceram a montanha de Areópagos e combinaram de jantarem juntos. Eles pegaram um taxi para a Taverna, um pequeno restaurante à beira rio, que serve comida grega. Enquanto isso o dia se tornou noite. Eles se sentaram num terraço caprichosamente iluminado e discutiram as sublimes ideias que ambos tinham em suas mentes. Nathan contou a Rajiya sobre sua grande admiração por poetas e músicos: ─ Sempre achei fascinante a maneira como poetas e músicos lindamente dão forma à essência da vida. ─ Sim, músicos frequentemente também deixam seu coração e seu intelecto conectarem mutuamente... é estranho você se referir a músicos. Ela fez uma pausa. ─ Eu estive recentemente em Istambul. Ouvi falar de um senhor de idade que possuía poderes milagrosos. Fiquei curiosa e o procurei. Ele previu que meus poemas seriam transformados em música. ─ Um senhor que tem poderes milagrosos. Fale-me mais sobre esse homem. 376 ─ Ele é muito um homem extraordinário. Chamado Koan. Dizem que se mudou dos países Bálticos para Istambul há muito tempo atrás. ─ Em que sentido ele é extraordinário? ─ Ele disse que viveu de acordo com uma sabedoria que não é possível ser expressa em palavras; e ele se expressava através de metáforas. Depois que leu um de meus poemas, disse que a vida tinha mais vida em meus versos que na própria vida por si mesma. ─ Essa foi uma definição muito bonita. ─ Segundo ele, eu tenho um dom muito especial o qual ele chamou de o dom de Bsharri! ─ O dom de Bsharri? ─ Bsharri é uma pequena cidade no norte do Líbano, também minha cidade natal; detalhe esse que seria impossível de ele saber. Nathan sentiu que Rajiya estava muito impressionada pela conversa que teve com aquele homem. Deixou que prosseguisse. ─ Koan foi capaz de dizer-me que meu dom era originário de Khalil Gibran ─ O poeta? ─ Ele mesmo. Koan disse-me que ele recentemente o havia encontrado. ─ Um encontro? Mas Khalil Gibran já esta morto, não? ─ Certamente. Quando eu disse a ele o quão impossível aquele encontro era, ele me deu uma resposta extraordinária. Nathan ouvia atentamente. ─ Ele disse que nada era impossível nos sonhos e nas visões! Nathan permaneceu com o olhar fixo num ponto distante por um tempo. Inúmeros pensamentos passaram pela sua cabeça. Rajiya prosseguiu falando: ─ Quando perguntei a ele se havia se encontrado com mais gente do passado... ele disse... de ambos... do passado e do futuro! Muito embora as palavras de Rajiya parecessem improváveis, Nathan não teve duvida de sua sinceridade. Ele sabia que haveria uma explicação para o que o homem havia revelado a ela e havia apenas uma maneira de descobri-la. ─ Gostaria de conhecê-lo, onde posso encontrá-lo? ─ Ele mora recluso no morro de Camlica, a leste de Istambul. ─ Você sabe exatamente onde? ─ Da casa dele, ele tem a vista para um riacho que corre a um continente diferente, e é dessa maneira que eles também me mostraram o caminho. 377 Nathan decidiu-se rapidamente. Depois de visitar Laura, viajaria à Istambul e procuraria por Koan. Já era meia noite quando Nathan acompanhou Rajiya ao hotel. Na despedida deles, Rajiya pediu a Nathan que aguardasse um pouco. Ela foi ao seu quarto, pegou um maço de papéis e o entregou a Nathan. ─ São seus poemas? Rajiya acenou a cabeça. ─ Esses são alguns de meus poemas, os quais foram traduzidos do Árabe pra o Inglês. Nathan folheou as páginas e parou para ler um poema. Não precisou de muito tempo pra notar a beleza das palavras dela. ─ Continue escrevendo Rajiya. Sinto que seus poemas desempenham uma tarefa essencial. Rajiya lançou um olhar de expectativa a Nathan. ─ Eles mostram uma breve beleza onipresente! ─ Obrigada Nathan, isso significou muito para mim. ─ Não por isso Rajiya... desenvolva seu talento. ─ Algo me diz que entregando isso a você, estou também entregando a humanidade! Nathan deu um beijo em sua testa e ambos disseram adeus. Uma vez no quarto do hotel, Nathan leu a coleção de poemas sem parar. Ele continuou a ler a noite toda sentado a beira da janela, abaixo de um incrível céu estrelado. Estava claro pra ele de que Rajiya era extremamente talentosa. Na última página ele leu essas palavras. ─ Com meus agradecimentos a Khalil, minha fonte inesgotável de inspiração No dia seguinte, Nathan tomou o trem para Thessaloniki, localizado no norte do país. Quando saltou do trem, na plataforma, imediatamente reconheceu Laura. Ela estava ao lado de seu namorado e acenava para ele. Quando Nathan aproximou-se do casal, pode ver que Laura estava grávida. Assim, suas primeiras palavras também foram os bons votos para esse feliz acontecimento. Depois de se abraçarem, ela o apresentou ao futuro pai de sua criança. O nome dele era Zaim, e era da cidade de Teheran no Irã. Eles entraram no carro e seguiram em direção ao centro da cidade. Nathan apreciou a aconchegante atmosfera de Thessaloniki com suas praças encantadoras. Depois de um passeio inicial, seguiram para casa onde Laura e Zaim viviam. Era um bonito casarão. Sentaram-se ao jardim sombroso, no fundo do quintal da casa. 378 ─ Você visitou Y Chao... Laura disse. ─ Como ele está? ─ Ele estava deprimido devido à morte de seu pai, mas agora já superou. ─ Quando o encontrei, ele estava passeando com o navio que o tinha trazido aqui. Foi uma estranha coincidência encontrá-lo aqui em Thessaloniki. ─ As coincidências devem ser observadas com atenção, nós devemos tentar ver o significado maior de cada uma delas. Zaim era da mesma opinião: ─ Aprendo com o grande poeta persa e fonte de inspiração Hafiz, que as coincidências têm um significado maior e sempre estão acompanhados de sabedoria. ─ A maneira como conheci Zaim foi uma estanha e pura coincidência. ─ Você está me deixando curioso. Nathan comentou. ─ Eu estava em Kassandra, Laura disse. ─ Um lugar na costa, não tão longe daqui. Meu avô tem uma casa de verão lá. ─ Eu estava viajando com amigos na Grécia. Visitamos Thessaloniki e fomos a Kassandra para curtir a praia e passar a noite. ─ Eu me encontraria com uma amiga naquela noite, Laura continuou, Mas ela não pôde ir. Estava uma noite quente então saí a caminhar sozinha. ─ Sabia que aquela noite era uma noite cheia de energia, Zaim continuou. Meus amigos preferiram relaxar e decidiram tomar outro drinque no terraço, enquanto isso, eu saí sozinho para uma caminhada próximo à praia. ─ De repente, ambos estávamos caminhávamos na mesma direção na praia, Laura disse. Zaim caminhava com os pés na água e segurava suas chinelas nas mãos. ─ Estávamos caminhando relativamente no mesmo passo, Zaim acrescentou. ─ Sabia que era um bonito entardecer, Laura lembrou. A areia, as árvores, a água estavam cobertos com um brilho rosa azulado. Um espetáculo fantástico. ─ Notamos um ao outro imediatamente, Zaim disse, pois estávamos sozinhos na praia. Daí até pareceu de que nossos passos se tornaram sincronizados. 379 ─ Continuamos caminhando por um longo tempo sem dizer nada um ao outro. Imediatamente sentimos um tipo de conexão. ─ Isso mesmo, disse Zaim, Foi uma boa sensação. ─ Como é que vocês finalmente se juntaram? Nathan perguntou. ─ Esse foi a mais estranha das experiências que tivemos, Laura respondeu. Nathan ouvia com atenção. Zaim continuou. Então, estávamos caminhando por bastante tempo quando de repente um brilho de luz surgiu do nada. Parecido com um raio, mas não era. ─ O raio era uma luz branca bastante clara, Laura explicou; que refletiu na água e tudo envolta estava imerso de luz naquele momento. ─ Ficamos cegos por alguns segundos e imediatamente olhamos um para o outro para saber se tínhamos visto a mesma coisa... mas ainda não dissemos nada um ao outro. Era como se soubéssemos que tínhamos testemunhado algo excepcional. Olhamos nos olhos um do outro por longo tempo. ─ Quanto mais o tempo passava, mais sentíamos de que tínhamos presenciado algo único, Zaim disse. Pareceu um momento mágico intencionado a nós dois. Zaim veio até mim e perguntou se eu tinha visto aquilo também Ele respondeu de que havia principalmente sentido. Houve um momento de silêncio. Daí Laura continuou. Sentamos na areia e admiramos juntos os últimos raios de sol. Foi assim que conhecemos um ao outro. Numa noite que ficará guardada, como uma das mais belas, em nossas memórias para sempre. Nathan olhou para eles sem palavras. Laura notou isso e perguntou. Nathan, você tem conhecimento sobre tais eventos. O que você acha disso tudo? Nathan permaneceu em pensamento profundo por um bom tempo. Laura e Zaim ficaram ansiosos, mas esperaram pacientemente pela resposta. Depois de algum tempo ela respondeu: ─ Vocês já sabem o sexo do bebê? Laura e Zaim se olharam com um ar de incompreensão. Nenhum deles entendeu a razão da pergunta. ─ É um menino, respondeu Laura. Nathan abriu um sorriso como se tivesse recebido uma confirmação de suas certezas. ─ Vocês vivenciaram uma ocorrência espiritual, ele disse. Essa experiência os uniu pela vida toda. 380 ─ O que você quer dizer com isso exatamente? Zaim curiosamente perguntou. ─ Vocês estavam destinados a receber essa dádiva. ─ Dádiva? Laura perguntou. ─ De quem? Zaim queria saber. ─ Do Sol, é claro! ─ Como... ? Laura retrucou. Antes mesmo que ela terminasse de falar, Nathan a interrompeu: ─ Mais perguntas serão supérfluas nesse momento; a vida de seu filho vai tornar tudo muito mais claro para você. Zaim pegou na mão de Laura. As palavras de Nathan os deixaram perplexos. Estava claro de que essa não era a resposta de que eles esperavam, muito embora Nathan tenha confirmado o que sentiram. Eles sabiam que algo especial tinha sido dado a ambos, mas agora sentiam uma nova responsabilidade. Nathan notou isso e disse: ─ Saibam que o Sol não os escolheu somente. A ambos têm sempre sido transbordado um amor ilimitado, a força essencial para deixar essa dádiva florir. Nathan sentiu de que era uma boa hora para deixá-los a sós. Levantou-se e saiu para caminhar. Quando retornou, Zaim estava pondo a mesa. O peixe fresco preparado e assado por Laura estava delicioso. Depois do jantar Zaim buscou uma garrafa na adega. Ele a desembrulhou de um tecido do qual estava embrulhada e a colocou na mesa. Laura serviu os cálices e disse: ─ Essa bebida é chamada de “Mede” e foi preparada pelo avô de Zaim. ─ É uma bebida centenária, Zaim disse. Também nos cura de varias indisposições e doenças. Pode até revelar sabedoria dentro de nós. Zaim cheirou sua bebida, um cheiro que ele gostava muito. Laura disse: ─ Zaim tem o habito de cheirar tudo. ─ Aromas funcionam diretamente em nossas emoções, Zaim disse. ─ São capazes de agir diretamente na nossa memória e suscitar lembranças. Nathan também cheirou sua bebida e disse: ─ O que vivenciamos emocionalmente está sempre conectado a nossa memória. Zaim ergueu seu copo e disse: 381 ─ Em nossos países o mais consciente espírito aparentemente é capaz de ver claramente as energias universais quando tomam essa bebida. Não demorou muito até que a garrafa estivesse vazia e Laura abriu uma segunda. Gradualmente foi escurecendo, a noite adentrou e as conversas foram até tarde da noite. Zaim inesperadamente olhou para Laura. ─ Você quer me dizer algo? Laura perguntou. ─ Certamente, Zaim disse. Acabei de pensar em um nome para o nosso filho. O que você acha do nome Kiran? ─ É um nome muito bonito, Laura comentou. ─ O que Kiran significa? Nathan perguntou. ─ Kiran é persa e significa “Raio de sol”. Laura sorriu e beijou Zaim. Nathan ergueu sua taça brindando o ultimo cálice a Kiran. Nos próximos dias Nathan e seus amigos exploraram a região montanhosa na selva. Durante os passeios Nathan especialmente admirou os rios selvagens e as encantadoras cachoeiras. Na manhã de sua saída de viagem a Turquia, Nathan agradeceu a Laura e Zaim pela hospitalidade e desejou boa sorte na atual missão. Logo que tomou o trem para a Turquia, ficou ansioso para encontrar Koan. 382 Claridade Já era noite quando Nathan chegou a Istambul. A atmosfera da cidade impressionou Nathan imediatamente. Outro viajante levouo ate o bairro onde havia acomodação barata no distrito de Gálata. Na manhã seguinte ele tomou café no terraço do Golden Hoorn. Ele passearia o dia todo pelas vielas e ruas emaranhadas, estreitas e cobertas da cidade. Na manhã seguinte Nathan fez um passeio de barco em Bosporus, o rio que divide a cidade ao meio. O barco atracou na vila de Cengelkoy. De lá ele tomou um taxi até o pé do morro Camlica, onde Koan morava. Ele subiu o morro e lá de cima viu uma casa de chá. Ele seguiu até lá, sentou-se e pediu um chá para a jovem proprietária. Ainda era bem cedo e havia uma serena tranquilidade. Uma mulher mais velha entrou e Nathan cumprimentou-a. Ela sorriu e sentou-se em outra mesa sem fazer pedido algum. Nathan notou aquilo e chegou até ela. Ele se dirigiu a ela em inglês e perguntou se ele poderia pedir um chá para ela. Ela balançou a cabeça. Nathan não teve certeza de que ela o havia entendido, mas pediu dois chás do mesmo jeito. Depois Nathan perguntou se ela da região. Para indicar de que ela vinha de outro lugar, ela balançou a cabeça da esquerda pra direita. Não ainda completamente convencido de que ela o entendia, Nathan perguntou de onde ela era. Dessa vez ela se acenou em direção ao leste. Nathan agora tinha certeza de que ela compreendia suas perguntas, e que provavelmente não podia falar. Daí Nathan perguntou se ela conhecia Koan. Ela acenou a cabeça com um sorriso. Em seguida ele perguntou se ela sabia onde ele morava. A mulher virou-se e acenou para a direção oeste. Nathan apontou na mesma direção e perguntou confirmando. A mulher segurou a mão dele e apontando um pouco mais para a direção norte. Nathan estava certo de que ela realmente sabia onde era a casa de Koan. Ele agradeceu e levantou-se para pagar a conta. Como a mulher o havia impressionado, Nathan perguntou à jovem proprietária da casa de chá se ela a conhecia. A proprietária o olhou surpreso e perguntou de quem o ele falava. Nathan virou-se para mostrar a senhora, mas ela já havia desaparecido. Nathan respondeu que falava da senhora pra quem ele havia pedido o chá. A proprietária respondeu que não havia visto nenhuma senhora, mas comentou 383 que havia achado bem estranho que ele tivesse trocado de mesa e pedido dois chás ao mesmo tempo. Nathan deixou a casa de chá meio atordoado para seguir a rua indicada pela senhora. De cima do morro ele tinha uma vista maravilhosa da cidade. O lugar o lembrou das palavras de Rajiya, “Da casa ele tem a vista da água que corre a outro continente”. Nathan sentou-se e apreciou a vista. Deitou-se para descansar da subida e contemplar o céu. Ele fechou os olhos e cochilou um pouco. De repente acordou com a imagem de uma casa de madeira. Para ele não havia sombra de duvida de que aquela era a casa de Koan! Levantou-se, e direcionou-se a direção nordeste e um pouco mais tarde viu a casa de madeira, justo onde o morro começava a depressão, exatamente como na visão dele. Ele subiu até lá e viu um homem trabalhando no jardim. Ele tinha uma barba grisalha e peito nu. Havia um cavalo branco parado próximo a ele. Apesar de sua idade o homem parecia radiante e forte. Nathan suspeitando de que tinha encontrado Koan, dirigiu-se a ele em francês. ─ É você o homem que dizem ter poderes milagrosos? O homem parou de trabalhar, olhou para Nathan e enxugou o suor de sua testa antes de responder: ─ Poderes são somente milagrosos para aqueles que não o conhecem! Depois dessas palavras o homem continuou a trabalhar. Na mente de Nathan ele não tinha duvidas de que ele havia encontrado Koan. ─ Venho até você para um conselho, ele disse ao homem. Koan olhou de relance para Nathan e continuou trabalhando. ─ Poderias dar-me um conselho sobre qual caminho devo seguir? Nathan esclareceu sua pergunta. ─ Se você ouvir atentamente poderá escutar o riacho. Koan respondeu sem parar com o seu trabalho. Nathan aprumou o ouvido e pode escutar o som da correnteza da água a distancia. Ele esperou por mais explicações, mas Koan permaneceu silencioso. ─ O que o meu caminho tem de ver com o riacho? Nathan perguntou. ─ O riacho é a sua estrada, Koan respondeu, novamente sem parar o trabalho. Daí Koan levou seu cavalo para o estábulo um pouco mais abaixo. Nathan teve a sensação de que Koan não queria perder seu tempo com ele. ─ Você não quer me ajudar? ele perguntou. 384 Koan parou por um momento e se virou para ele. ─ Eu cumpro todas as tarefas a mim designadas. A pergunta é, se você tem consciência de como pode ser ajudado a partir de agora! Depois dessas palavras Koan continuou caminhando em direção ao estábulo. Nathan notou que o sol estava em seu ponto mais alto e suspeitou de que o homem tinha seu dia de trabalho terminado. Agora Koan seguia em direção a sua casa. Nathan o acompanhou. Uma vez lá dentro ele viu como a casa era mobiliada de modo simples. Havia apenas uma sala de estar e uma escada que dava acesso ao sótão. Na sala de estar, a mobília era composta apenas de uma mesa, duas cadeiras, um sofá e um par de velhas prateleiras. Koan tinha agora uma toalha nos braços e saia para porta que dava entrada para o terraço. Nathan ouviu barulho de água caindo e só então tomou uma cadeira para esperar pacientemente até que Koan terminasse seu banho. Koan voltou um pouco mais tarde. Foi até a prateleira e pegou uma massa e alguns vegetais. Daí acendeu um pequeno forno, colocou duas panquecas e uma forma com vegetais. Em um momento e outro Koan lembrava Nathan de seu próprio pai. Koan encheu as panquecas quentes com os vegetais e deu uma a Nathan logo após enrolá-la. Nathan agradeceu e esperou que Koan se sentasse à mesa. Koan encheu uma jarra com água e colocou-a sobre a mesa junto com dois copos. Koan permanecia em silêncio. Nathan agradeceu e disse: ─ Está apimentado! Koan acenou, mas não disse nada. Nathan provou mais uma vez. ─ Foi Rajiya, uma poeta libanesa, quem me falou você. Koan olhou para fora e balançou a cabeça. Nathan tentou chamar sua atenção. ─ Do que consiste a sua vida exatamente? ─ Eu observo o mundo e tento não julgá-lo De repente Nathan entendeu de que Koan somente falava quando ele formulava uma pergunta. ─ Como você tem sucesso não julgando? ─ Prestando atenção no coração de todas as coisas e não na forma delas. Nathan recebeu sua confirmação, ele apenas falava quando lhe era dirigido uma pergunta. ─ Como é que podemos não prestar atenção à forma? perguntou Nathan. ─ No mundo físico tudo existe em uma forma especifica? 385 ─ Apenas prestando atenção na força do silencio de cada forma. Essa força ensina mais do que as formas temporárias que, dentro de cada uma delas, guia a um estado puro. Nathan sentiu que Koan tinha uma visão profunda e extremamente clara da realidade, mas era difícil para ele compreender exatamente qual era a sua percepção da vida. ─ O que lhe chama a atenção quando você encontra pessoas? Koan fez uma pausa limpando seus lábios e bebericou um pouco de água. Depois disso lançou um olhar penetrante a Nathan. ─ Eu estou em uma posição da qual observo toda sensibilidade. ─ E como essa observação acontece? Nathan queria saber. ─ Através de uma linguagem superior de ordem universal, a linguagem das sensações, a língua na qual cada mensagem é sinalizada de consciência para consciência. Nathan estava extremamente curioso agora. Koan realmente possuía uma característica excepcional e Nathan queria saber o tanto quanto fosse possível sobre isso. ─ Pode descrever-me exatamente o que você vê? ─ Eu reconheço todo desejo tão logo o cérebro de uma pessoa é formado e assim posso observar o desejo original de cada um de nós. Nathan parou para ponderar sobre isso. ─ O que você viu quando Rajiya estava na sua frente? ─ Eu vi uma sensibilidade que tem o potencial de colocar a humanidade no caminho de uma ordem superior. As palavras dela dão luz ao amor, as palavras não poderiam estar mais próximas da ordem superior. ─ São as palavras também simplesmente formas? ─ Palavras se referem a pensamentos; pensamentos referem-se à ordem superior. Koan levantou-se e colocou o seu chapéu. Nathan seguiu- o e juntos desceram o morro. ─ Onde estamos indo? perguntou Nathan. ─ Para onde a estrada nos leva, Koan respondeu. Com essas palavras, Koan deixou claro que ele somente responderia perguntas os quais ele acreditava fazer sentido. Quase todas as pessoas que encontravam Koan pelo caminho o cumprimentavam. Ele não fazia mais do que acenar a cabeça um pouquinho. Nathan apreciava estar na presença de Koan e tentava descobrir como seria o mundo visto através de seus olhos. Uma pergunta aguçou-se em sua mente. 386 ─ Você é capaz de reconhecer a sensibilidade em cada uma das pessoas, bem como seu desejo inicial. Então porque não as informa dos verdadeiros fatos do destino de suas vidas? Koan olhou para Nathan e colocou sua mão sobre seus ombros. ─ Nem todas as pessoas tem a mesma receptividade. Qualquer um que esteja pronto para receber a luz de seu destino na vida ouve as minhas mensagens, mas o restante ouve nada exceto o eco de minhas palavras. Eles continuaram a caminhar e uma pergunta surgiu em sua mente novamente. ─ Koan, qual é a minha contribuição ao mundo? Koan sabia quão importante essa pergunta era para Nathan. A pergunta que ele fazia a si mesmo desde sua chegada à Terra e cujo motivo o havia guiado àquela viagem. Sentaram-se em um barranco. ─ Outros mensageiros e você estão prestes a fazer uma evolução espiritual jamais vista, e através dela as pessoas não mais verão a si mesmas como entidades individuais, e sim como parte única da ordem universal. Nathan sentiu seu coração palpitar. ─ Durante essa evolução espiritual cada um nós será capaz de ver seu desejo interior e ele os levará a tomar uma atitude na qual deixará todos os aspectos de seus comportamentos serem determinados por esse novo conhecimento. ─ O que posso aprender antes que desta evolução? Koan fitou o horizonte e depois novamente Nathan antes de responder. ─ A conexão entre todos os desejos. Depois dessas palavras Koan se levantou e seguiu caminhando. Nathan seguiu-o. Não mais palavras foram trocadas até Nathan notar que tinham chegado de volta ao pé do morro. Assim Koan aparentemente não tinha outra intenção do que fazer uma caminhada. Chegando a casa, Koan se deita em sua esteira e cochila imediatamente. Nathan pegou uma coberta e dormiu no chão. Na manhã seguinte Nathan foi despertado pelo som de chuva caindo na beirada da janela. Koan já estava de pé, preparando chá. Nathan na tentativa de acordar, perguntou: ─ Já é tarde? ─ Quando você é capaz de reconhecer a perfeição da ordem universal, cada observação de tempo se torna relativa. 387 Essas palavras imediatamente recordaram Nathan da pessoa excepcional que o hospedara. Koan colocou o bule de chá em uma pequena mesa e encheu uma pequena xícara. Nathan falou sobre a sua compreensão do tempo. ─ Na Tailândia, aprendi quão relativo o tempo pode ser. Takara, a senhora que me hospedou, me disse que no estado puro nenhum passado ou futuro existia. Koan tomou um gole de chá e depois esvaziou o restante de volta no bule. Adicionou açúcar e mexeu antes de encher as duas xícaras. Em seguida bebeu de sua xícara sem demonstrar reação alguma ao que Nathan acabara de comentar. Nathan lembrou-se de que seu anfitrião somente falaria quando lhe era direcionada uma pergunta. ─ Como é o passado e o futuro experimentado através de um estado puro? Nathan perguntou. ─ Não muito diferente... mas ambos estão presentes no aqui e no agora. ─ Pode explicar-me como? ─ Quando somos capazes de conectar o passado a uma visão clara no futuro, ficamos alerta de que cada momento completamente observado contém a eternidade. Não era fácil para Nathan conceber a dimensão de um estado puro. Ele sabia que teria que experimentá-la por si mesmo para que pudesse compreendê-la, mas não conseguia parar de perguntar. ─ O tempo aqui é diferente do tempo no estado puro? ─ Nenhum outro tempo, além desse, existe lá. Para Nathan não estava claro, então tentou simplificar a sua pergunta. ─ E a respeito desse tempo anterior ao que estamos presentes. ─ E o tempo depois que morremos? ─ Nos não morremos, somente mudamos de forma. Nathan tinha dificuldade em compreender esse estado e persistia nas perguntas. ─ Deixe-me colocar dessa maneira. Havia um tempo no qual eu tinha menos conhecimento que agora. Não seria necessária certa progressão de tempo para isso? Koan olhou calmamente para Nathan e saboreou completamente sua primeira xícara de chá. Nathan conscientizou-se de que não receberia uma resposta, pois não tinha claramente formulado uma questão. Assim, tentou uma maneira diferente. ─ Não haveria um tempo no qual eu era mais jovem? 388 ─ Você está confundindo a sua idade com o desenvolvimento de sua consciência. Vou repetir; através do absoluto da ordem universal, todos os acontecimentos começam agora, ambos, passados e futuros! Com essas palavras Koan colocou Nathan na linha de raciocínio em relação ao processo de pensamento. Koan manteve-se em silêncio e encheu as xícaras novamente. Nathan continuou pensando e falou muito mais tarde. ─ Não é verdade que a ordem num estado puro é diferente da ordem no mundo físico? ─ Todo ser conhece uma e a mesma ordem e a experimenta de acordo com o nível consciente em qual estiver. Gradualmente a mensagem de Koan foi passada e Nathan se tornou consciente de que a sabedoria daquele homem tinha-o guiado a uma fabulosa descoberta. Ele se tornou consciente de que Koan podia estar em diferentes lugares e em múltiplos lugares simultaneamente. Agora Nathan compreendia que isso não somente se aplicava a Koan, mas a todos os sábios na Terra. Porque estavam em um estado no qual não conheciam tempo nem espaço, cada um deles era capaz de se mover através de diferentes dimensões e podiam experimentar o mundo físico, o mundo dos pensamentos e o mundo puro simultaneamente. Koan olhou para Nathan e sorriu. O sorriso dele demonstrou que Nathan aprendeu uma importante lição. Ele se trocou para o trabalho e foi cuidar de seu cavalo. Nathan ajudá-lo-ia com varias atividades. Durante as mesmas, não trocariam uma única palavra, assim o resto do dia progrediria em silêncio. Isso deu a Nathan a oportunidade de meditar sobre tudo que tinha aprendido com Koan. Durante o jantar também não trocaram palavra alguma. Nathan se tornou ainda mais consciente de que quando o silêncio era preenchido com palavras demais, tornava-se mais difícil desenvolver o conhecimento puro. Ele entendeu o porquê Koan falava tão pouco e o porquê, quando falava, as palavras deveriam ser valiosas o bastante para quebrar aquele silêncio. Na manhã seguinte o sol brilhou cedo através das grandes vidraças. Nathan notou que Koan já tinha se levantado e preparado o chá. Uma vez pronto, trouxe-o até a mesa e sentou-se. Nathan perguntou: ─ Você faz as mesmas tarefas todos os dias? Koan encheu as xícaras e respondeu: ─ Você tem conhecimento de um acontecimento antes mesmo de acontecer? 389 ─ Isso não se aplicaria a cada novo acontecimento? ─ O que é novo acontecimento? Nathan entendeu que Koan o encorajava a pensar em suas próprias questões. ─ Não é todo acontecimento ocorrendo pela primeira vez um novo ato? ─ Como pode algo acontecer sem mesmo ter existido antes em um pensamento? Através de suas perguntas Koan tinha obtido êxito em fazer Nathan pensar além do que somente nas formas físicas. Entretanto, ele foi alertado do fato de que pensamentos não são atados pelo tempo. Nathan também se lembrou das palavras de Catalina quando ela falava sobre a memória do mundo, a energia que compassa tudo que já aconteceu no mundo. Daí lembrou-se das três dimensões que Melvin tinha comentado. Fortalecido com essa confirmação, Nathan continuou. ─ Como você consegue pensar através das três dimensões ao mesmo tempo? Koan calmamente saboreou seu chá, verificando se estava doce o suficiente e adicionou mais um pouco de açúcar. ─ O que lhe faz pensar que eu faço isso? ele então adicionou. Nathan notou que Koan tinha alterado sua abordagem. Agora ele respondia a cada questão com outra questão que dava à Nathan mais consciência e também o levava a um novo questionamento. ─ Estão seus pensamentos estão acontecendo em todas as dimensões ao mesmo tempo? ─ E qual o pensamento que não ocorreria assim? Esse questionamento fez Nathan ver que mesmo quando o pensamento é parte da segunda dimensão, ele não atravessa para as outras dimensões e funcionam como um túnel. Com isso as três dimensões nunca se separam uma da outra e são compostas como uma só. Nathan Continuou pensando. ─ Está claro pra mim como os pensamentos surgem, mas como pode o estado puro passar para o mundo físico? ─ Você não vê a claridade quando a pureza se encontra no estado físico? Nathan questionou-se de qual claridade Koan estaria falando. Depois de algum momento era da claridade do insight em si mesma que o presenteou com a resposta. Nathan compreendeu que todas as vezes que alguém tinha um momento de insight, ele se 390 tornava mais consciente do mundo em que vivemos. Essa era uma forma de presença do estado puro no mundo físico. Koan se levantou pra pegar um pão quentinho. Nathan pegou o queijo e o azeite de oliva. Novamente o café da manhã permaneceu em silêncio. 391 Mudança Após o café da manhã, Nathan colheu alguns vegetais. Koan pegou duas grandes sacolas e as encheu com vegetais frescos que Nathan havia colhido e os colocou nos cestos sobre o lombo do cavalo. Nathan pressentiu que não mais retornaria a casa e levou consigo seus pertences. Eles desceram o morro e ambos caminharam ao lado do cavalo. Nathan sabia que não faria sentido perguntar aonde iam. Durante a caminhada Koan era cumprimentado por todos por quem passavam. Ele retribuía os cumprimentos com aceno de cabeça, educadamente porem silencioso. Depois de caminharem por aproximadamente uma hora e meia, chegaram a uma imensa feira livre. Koan prendeu o cavalo e fez sinal para que Nathan o aguardasse ali. Ele voltou alguns minutos mais tarde, acompanhado por um senhor mais velho vestindo uma beca e dois jovens carregando sacolas com pacotes de alimentos. Os rapazes, que aparentemente eram gêmeos, retiraram as sacolas do lombo do cavalo e as colocaram nas sacolas que carregavam. O homem vestido com a beca preta veio até Nathan e apresentou-se. ─ Olá, meu nome é Hakim. Vim para lhe encontrar. ─ De onde você é? ─ Nasci no Azerbaijão, na cidade de Baku as beiras do Mar Cáspio. O homem abraçou Nathan e continuou caminhando calmamente, acompanhado pelos gêmeos. ─ Muito está sendo falado sobre você, Hakim disse. Nathan olhou surpreso para Hakim. ─ O que tem sido falado sobre mim? ─ Que você floresceu na pessoa única que poderia ser. Nathan manteve-se em silêncio e aguardou com curiosidade o que estava por vir. ─ amanhã, volte aqui ao nascer do Sol. Vamos a um lugar onde você poderá ver o futuro no mundo físico e a grandiosidade de sua missão. Nathan certamente não compreendeu o que Hakim quis dizer, mas também sabia que seria inútil fazer perguntas. Hakim foi trazido até ele por Koan, então Nathan poderia confiar nele. Hakim 392 abraçou-o e saiu. Nathan caminhou de volta ao lugar onde Koan o aguardava. Koan naquele momento falou com ele. ─ Por enquanto nossos caminhos se separaram aqui Nathan. Você agora esta preparado para experimentar a sensação ilimitada de reunificação com seu elemento natural e realizar a grande mudança que quer ver no mundo. ─ Nos veremos novamente uma vez que isso tudo tenha terminado? Nathan perguntou. ─ Eu ainda estarei aqui quando voltar a viver aqui nesta parte do mundo! Depois de dizer essas palavras, Koan deu a Nathan um beijo na testa e também um abraço bem apertado. Nathan entendeu que Koan tinha concluído sua tarefa. Nathan deixou a área do mercado e saiu para passear. Ele havia caminhado por longo tempo quando notou uma casa de banho publica que despertou a atenção a sua completamente. Nesse tempo ele foi capaz de reconhecer tais sinais e entrou a casa de banho. Ele achou que era um lugar ideal para relaxar, com uma vista que o esperava no dia seguinte. Dentro da casa de banho ele desfrutou de uma chuveirada quente e depois seguiu para a sauna, onde havia alguns poucos homens. Nathan deitou-se numa grande mesa de mármore no meio da sauna. Fechou seus olhos e pensou sobre as últimas palavras de Hakim, mas seu pensamento foi interrompido por uma voz que lhe parecia familiar. Sentou-se rapidamente e viu Moshe, filho de Simon, ali parado. ─ Oi Moshe, Nathan a ele dirigiu-se. Que coincidência a gente se encontrar aqui! Moshe estava realmente surpreso de ver Nathan ali. Do lado dele, Nathan não tinha que pensar muito pra saber que seu encontro tinha sido uma razão especial. Ele deu espaço para Moshe e convidou-o para sentar-se ao seu lado. ─ O que o traz aqui, Moshe? ─ Moro em Haifa, Israel e venho frequentemente a Istambul a negócios. ─ Como você está? ─ Em altos e baixos, como manda a vida. ─ Voltou a ter contato com seu pai? ─ Não. Não desde aquele dia... você o viu recentemente? ─ Eu o visitei na Florida, mas isso já foi ha algum tempo atrás. Houve uma pausa. ─ Como ele estava? Moshe queria saber. 393 Nathan pode sentir uma tristeza nele. ─ Ele tenta aproveitar seus anos finais o tanto quanto possível. Moshe não disse nada, mas Nathan ficou altamente em alerta de um triste sentimento, provavelmente alimentado pela negligencia. Nathan sabia que esse sentimento também poderia levar a claros insights. Nathan procurou por palavras adequadas: ─ Mas ele ainda esta sofrendo... assim como você Moshe! ─ Eu nunca tive a coragem de pedir desculpas a ele... e nem a você. O que não significa que isso não possa mudar. ─ Mas não posso trazer o tempo de volta. ─ Assim faria ainda mais sentido encontrar uma maneira para que possa fazer isso agora. ─ Você acredita que ainda posso acertar as coisas? ─ Primeiro você tem que decidir por você mesmo o que é certo e o que você quer. ─ De que tipo de desejo você esta falando? ─ Sobre o mais profundo desejo, Moshe. O desejo escondido bem no fundo da gente, o desejo de amar! Nathan se levantou e encheu uma jarra com água fria. Despejou a água no prato quente; deitou-se e fechou os olhos. Moshe teve um tempo para pensar. As palavras de Nathan o lembraram de uma conversa especifica que teve com seu pai, no qual Simon falou-lhe que nosso mais profundo desejo poderia somente ser satisfeito prestando atenção ao conhecimento superior. ─ Não é sempre fácil seguir o caminho do conhecimento superior, ele disse a Nathan. Nathan manteve-se de olhos fechados e respondeu: ─ É quando você se torna consciente de que o que desejas esta dentro de você mesmo, em uma maneira infinita. Daquele momento em que você esta desejando dividir com os outros sem se preocupar com as aparências e sem esperar algo em troca. ─ Meu pai frequentemente dizia que podemos calcular tudo, exceto o diz respeito ao amor. ─ Seu pai é um homem muito sábio, Moshe. Moseh ficou emocionado. Nathan o consolou. ─ Sabe Moshe, você pode dar ao seu pai uma grande lição de vida! ─ O que eu poderia ensinar? ─ Mostrando remorso, você pode imediatamente tirar a tristeza dele. Durante aquele momento de claridade ele vai ver que 394 somente as emoções do momento é que contam, seja o que for que aconteceu no passado, permanece no passado. Moshe pensou sobre o que Nathan disse e falou: ─ Tenho receio de machucá-lo profundamente. ─ não subestime a força da sinceridade. Essa força é inspirada pelo conhecimento superior e pode curar tudo. Nathan viu Moshe na duvida de que se seria capaz de assim fazer ou não. ─ Talvez seja difícil pra você acreditar, mas na verdade você não é diretamente responsável pela tristeza dele, ela era inevitável. ─ O que você quer dizer com isso? Moshe perguntou. ─ Seu pai teria passado por uma experiência similar independente de você, para poder ter consciência do milagre do remorso. Se não fosse através de você, seria através de qualquer outra pessoa. ─ Você quer dizer que isso era parte de um plano superior? ─ Tudo que acontece é parte de um plano superior Moshe. Isso é inerente à ordem universal. Ou você pensava que nosso encontro aqui é mera coincidência? Ambos os rapazes se levantaram e foram ao chuveiro. Moshe sentiu-se livre para agradecer pela conversa. Eles deixaram a sauna e sentaram-se a uma mesinha, onde pediram suco fresco. Nathan viu que Moshe estava parado, pensando sobre o final da conversa. ─ Aprendi duas importantes certezas. A primeira é que podemos fazer um esforço de alcançar o que desejamos, mas se não estiver de acordo com o plano superior, não acontecerá! ─ E a segunda? ─ Que podemos fazer o esforço necessário para evitar algo, mas se estiver no plano superior, vai acontecer! Moshe ficou em silêncio por um momento e depois disse: ─ Darei prioridade nisso. Comprarei uma passagem área para Miami. ─ Você será capaz de dar a seu pai um presente maravilhoso. ─ O que seria? ─ O presente de ser capaz de perdoar! Moshe sentiu um entusiasmo crescendo dentro dele. ─ Como posso um dia agradecer-lhe por isso Nathan? ─ Encorajando aos que estão a sua volta a acompanhá-lo pelo caminho que você segue a partir de agora. Nathan e Moshe levantaram-se e se abraçaram. ─ Aonde você vai? Moshe perguntou. 395 ─ A única coisa que posso dizer é que eventos importantes estão me aguardando a partir de amanhã. ─ Até onde sei, você veio a terra somente para eventos importantes. ─ Se cuide Moshe; e dê minhas lembranças na Florida. Nathan e Moshe disseram adeus com uma sensação de realização. Nathan passou o resto do dia às margens de Bosporus. 396 Conectividade Nathan retornou a praça ao entardecer e reservou um quarto em um albergue, na manhã seguinte ele foi até a praça no horário combinado. Os gêmeos, que acompanhavam Hakim no dia anterior, o aguardavam. Os nomes deles eram Oktay e Olcay e fez menção a Nathan para segui-los até o carro. Olcay abriu a porta de traz para Nathan e se sentou na frente. Oktay sentou-se à direção. Pareceu ser uma longa viagem na direção sudeste na qual muito pouco foi dito. Nathan aproveitou o silêncio para apreciar a paisagem pela janela. À noite eles chegaram a uma região de vales e platôs coloridos. O por do sol coloriu toda a área com de tom ocre. Logo, Goreme, Olcay fez sinal de que haviam chegado. Um pouco mais adiante, Hakim os aguardava e deu as boas vindas a Nathan. ─ Bem vindo a Cappadocia. ─ Essa região não pode ser comparada com nenhuma outra que jamais visitei. Tem mágica ali. ─ Você ainda tem que descobrir a magia dessa região, Nathan. ─ O silêncio da viagem me ajudou a apreciar a paisagem maravilhosa. ─ Os dois irmãos Curdos não eram de muita conversa, mas eram excelentes guias. Hakim caminhou pela caverna que dava para um espaço que servia como uma moradia. Nathan o seguiu. Hakim abriu uma porta. O cheiro delicioso de jantar despertou nossos sentidos. Hakim e Nathan foram para uma sala pequena e se sentaram em um sofá bem baixo. Irina, a mulher muito amigável de Hakim que era muito mais jovem que ele veio e cumprimentou Nathan. Em seguida trouxe uma jarra de água morna para que lavassem suas mãos antes do jantar. ─ Vamos dizer-lhe o que vai acontecer amanhã, Hakim disse. ─ Mas sabemos que depois do ritual, muitos questionamentos surgirão em você. ─ Alguém será capaz de responder minhas perguntas? Hakim olhou para sua esposa. Irina respondeu: ─ Daquele momento em diante, Sybil será capaz de ajudar você. ─ Quem é Sybil? 397 ─ Sybil é a jovem que você ira encontrar no ritual. Nathan olhou-o surpreso e perguntou: ─ Quem realizará o ritual? ─ Será realizado por monges da cidade de Konya, disse Hakim. ─ Pode dizer-me mais a respeito desse ritual? ─ Durante o ritual o mundo das formas parecerá muito diferente. Os monges unificarão sua sensibilidade com a ordem superior. Irina continuou: ─ Uma vez seus limites de pensamentos desapareçam, você será capaz de sintonizar-se diretamente com o estado puro. ─ E o que exatamente irei experimentar, então? Nathan queria saber. ─ Quando você se conecta com a mais alta ordem, Hakim continuou, você irá experimentar uma visão na qual você se torna mais consciente de seu verdadeiro potencial. Nathan aguardou por mais informação, mas nem Hakim ou Irina continuou a falar. Nathan percebeu que não receberia mais informação alguma e saboreou uns apimentados churrasquinhos no espeto. No dia seguinte o cantar do galo despertou Nathan. Hakim tinha saído e Irina trouxe a Nathan seu café da manhã. ─ Você dormiu bem? perguntou ela. ─ Muito bem, obrigado. Irina olhou para Nathan como se não ousasse perguntar algo. ─ O que você gostaria de saber Irina? ─ Não se preocupe, o deixarei com seu café da manhã. Irina saiu do quarto com essas palavras. Um pouco mais tarde Nathan saiu de dentro da casa. A paisagem parecia algo diferente naquela manhã que na noite anterior. Nathan subiu um morro e tirou um tempo para refletir sobre o ritual que estava por vir. Ele havia pensado nessa experiência no Saara. Irina também foi lá fora e se sentou perto dele. ─ Me pergunte o que você queria saber Irina, Nathan disse. ─ É verdade o que estão dizendo sobre você? ─ O que ouviu sobre mim? ─ Muitos veem você como o salvador. ─ Do que eu os salvaria? ─ Desse mundo! ─ Pra que mundo eles iriam? Nathan olhou bem nos olhos de Irina e disse: ─ Tudo aqui é parte de um único e mesmo mundo! ─ Muitos querem ser libertados dos medos e dores desse mundo. 398 ─ O que você esta mencionando são coisas de que somente nós podemos nos libertar. Irina pegou na mão de Nathan. Nathan sentiu algo estranho acontecendo naquele momento. Irina não fez mais pergunta alguma, como se as palavras não fossem mais necessárias. Depois de segurar a mão dele por um momento, ela comprimiu seus lábios e balançou a cabeça, com isso deixou claro de que para ela Nathan era um salvador, mesmo que ele não admitisse. Ela soltou-lhe a mão, levantou-se e disse: ─ Tenho que voltar pra dentro, Nathan. Nathan notou a estranha reação de Irina quando tinha tocado sua mão e queria saber mais. ─ Irina, diga-me o que você sentiu quando segurou minha mão? ─ Confirmei o que pensava. ─ O que foi confirmado? ─ Que em tempos de imensa escuridão, Excepcionais são enviados a nós como luzes de esperança, de iluminação para que nunca fiquemos totalmente na escuridão! Irina retirou-se após essas palavras. Nathan notou como Irina parecia ter sido tomada pela sensação de completa certeza. Dois carros aproximaram-se enquanto ele estava ainda imerso em seus pensamentos. Nathan reconheceu Hakim que desceu do carro acompanhado de dois homens vestidos em longas túnicas. Hakim os apresentou para Nathan. Nathan não podia compreender suas palavras, mas viu que eles estavam impressionados pelo que ouviam. Depois das apresentações, os homens das longas túnicas entravam no carro e saíam. Hakim falou com Nathan. ─ Você está pronto para a noite de hoje? ─ Estive pronto minha vida toda para o que está por vir. ─ Muito bem, sairemos no final da tarde. ─ Há algo sobre Irina de que eu gostaria de saber. ─ Você provavelmente notou algo de especial nela. Nathan balançou a cabeça. Hakim sentou-se e o convidou a fazer o mesmo próximo a ele. ─ Eu conheci Irina ainda mocinha quando eu viajava pela Armênia. Ela estava vagando sozinha sem direção pelas ruas de Erevan. Quando me dirigi a ela, ela me contou que todos os membros de sua família haviam sido assassinados. ─ Porque assassinaram a família dela? ─ Eu também quis saber, e quando descobri, não pude fazer mais nada alem de trazê-la comigo e deixar o país. 399 Nathan ficou muito curioso. Hakim continuou: ─ O povo dizia que ela era amaldiçoada... eles não viam que ela possuía um dom. ─ Que dom ela possui? Hakim olhou ao longe antes de falar, Irina pode sentir relances da sabedoria universal com suas mãos! As palavras de Hakim confirmaram o que Nathan tinha suspeitado. Hakim levantou-se e colocou sua mão nos ombros de Nathan. ─ Ela te tocou, não tocou? Nathan confirmou com a cabeça. ─ O que seja que ela queria saber, saiba você que agora era sabe a verdade. Hakim disse a Nathan que eles tinham que se preparar. Quando eles estavam prontos para partir, Irina veio desejar a Nathan força em sua jornada. Estranhamente ela não disse uma palavra, mas somente colocou a mão em seu coração. Palavra alguma poderia ter sido dita tão mais claramente. Nathan e Hakim seguiram para o lugar chamado Urgup. Lá estavam Oktay e Olcay esperando por eles numa carruagem. Os irmãos o cumprimentaram e ajudaram o velho Hakim a se acomodar na carruagem. Assim que Nathan ocupou o seu lugar ao lado de Hakim, Olcay deu o comando aos cavalos para seguir. Num ponto na estrada de Avanos, os irmãos deixaram Hakim e Nathan sair da carruagem por uma rocha alta e saíram. Não havia residência alguma ou em qualquer lugar visivelmente próximo. Hakim pediu que Nathan o acompanhasse e seguiu por uma entrada escondida. Um pouco mais a frente eles estavam em frente a um portão. Hakim abriu-o através de uma fenda e entrou. O que Nathan viu estava alem de sua imaginação. O portão era uma passagem secreta que dava para um lugar subterrâneo todo gramado com dúzias de passagens e salas. Hakim disse a Nathan que agora os monges estavam usando aquele lugar para seus rituais. Na praça central, onde músicos ensaiavam, um palco tinha sido montado. Hakim levou Nathan até o meio do palco e disse adeus a ele. ─ Em um curto período de tempo você se verá como nunca se viu antes. Monges vestidos em largas túnicas brancas e chapéus armados vieram até o palco. Sentaram-se em exatamente a mesma distancia um dos outros e fecharam os olhos em concentração. Com as primeiras notas musicais eles começaram a girar em seus próprios eixos. Conforme a musica era acelerada, o giro também era 400 acelerado até que eles entraram numa espécie de transe. Nathan manteve-se sentado no mesmo lugar e viu tudo ficar obscuro. Ele olhou para as imensas e rodadas túnicas brancas dos monges que batiam como as asas de um pássaro. Depois de um tempo as túnicas aparentemente emergiam-se até se tornarem um pássaro gigante. Nathan se viu no dorso desse pássaro. A única ligação que ele tinha com o mundo físico era o som da musica que tocavam. Um pouco mais tarde pareceu que esse pássaro subiu aos céus e voava através das nuvens. Um tempo depois Nathan viu um ser aproximando-se dele, trazido pelo vento, e com ele falou. ─ Eu sou o guardião do Ar. No mundo das formas você me conhece como Vento. Você tem a força e o poder da receptividade. Darei a ti minha habilidade; assim você também terá o poder da conectividade. Nathan agradeceu o ser, experimentou a metamorfose e caiu como uma gota de chuva. Uma vez no chão, viu-se como um rio correndo através de um leito fundo debaixo da Terra. Lá havia um segundo ser que chegou até ele. Esse ser também a ele se dirigiu. ─ Eu sou o guardião da Terra, No mundo das formas você me conhece como solo. Você tem a força da receptividade e agora também o poder da conectividade. Dar-lhe-ei minha habilidade, assim também você terá força física. Nathan agradeceu o segundo ser e foi submetido à segunda metamorfose. Agora ele flutuava em alta velocidade e saiu do solo no meio de uma fonte gigante de chamas vermelhas. De lá um terceiro ser apareceu e disse: ─ Eu sou o guardião do fogo. No mundo das formas sou conhecida como chama. Você tem a força da receptividade, conectividade e agora também força física. Darei a ti minha habilidade, assim você terá também o poder da transformação. Novamente Nathan recebeu a metamorfose. Ele estava sentado numa fila com outros três seres. Todos os quatro estavam olhando para uma límpida luz branca na frente deles. De repente imagens muito impressionantes apareceram de uma força natural nunca antes vista. Sobre a Terra os mares transbordaram. As florestas estavam incendiadas e furacões destruíam tudo a sua volta. O que estava acontecendo não parecia real e ia alem de qualquer sonho. Parecia que o mundo estava na vertente de cruzamento de uma fronteira diferente. De repente Nathan abriu os olhos e retornou a realidade de seus pensamentos. As imagens tinham sido tão impressionantes que elas ficariam com ele para sempre. Seu 401 coração ainda palpitava com o que acabara de ver. Nathan olhou a sua volta e notou que estava em uma montanha debaixo de um céu estrelado. Estava deitado em mantos com esculturas gigantes a sua volta. Eram gigantescas esculturas de cabeças. Nathan não se lembrava de que maneira havia chegado lá e até mesmo duvidava de que o que via era fruto de sua imaginação. Ele sentou-se e viu uma vasta área na frente dele. Pouco a pouco ele se tornou consciente de que estava acordado e que aquela experiência estava realmente acontecendo. Ele sabia que haveria uma razão para o fato de que estava numa montanha. Naquele momento uma jovem loura saiu de trás de uma escultura. Em uma mão ela segurava uma lamparina e na outra uma jarra com água. A jovem sorriu e caminhou em direção a um Nathan surpreso. Ele a questionou: ─ Quem é você e onde nos estamos? A jovem o deixou beber e falou num tom suave. ─ Meu nome é Sybil e estamos na montanha Nemrud. Nathan recordou-se de que Hakim e Irina haviam falado sobre Sybil, a jovem que responderia suas perguntas. ─ Eu presenciei um acontecimento impressionante, Nathan disse,... eu vi o que a natureza é capaz de fazer. ─ Você viu o que o mundo precisa, Sybil disse. ─ Me pareceu como se o mundo estivesse à beira do... Sybil levantou-se, pegou seu óleo e disse: ─ Venha, quero mostrar-lhe algo. Nathan a seguiu por uma espécie de entrada secreta. Essa entrada era muito mais longa do que a anterior que ele havia atravessado com Hakim. E finalmente chegaram a uma área maravilhosamente iluminada por lamparinas e coberta de inúmeros livros antigos e escrituras. ─ Nessa área, Sybil disse. Eles são os mais bem guardados segredos da humanidade. ─ O que você vê aqui são todos os livros que foram uma vez destruídos. Minha tarefa é monitorar todos os pensamentos que uma vez foram escritos. ─ Como você consegue fazer isso? ─ Possuo o dom de experimentar todos os pensamentos que vem a essa dimensão. ─ Pode também explicar visões como um resultado dele? Sybil balançou a cabeça. ─ Pode explicar o que vi durante o ritual? ─ Foi por essa razão que eu esperei dois dias ao seu lado! 402 ─ Como assim, dois dias? ─ Desde que os gêmeos o trouxe aqui. ─ Eu dormi todo esse tempo? ─ O ritual o deixou exausto. Sybil sentou-se no chão ao lado de Nathan e disse. ─ Conte-me o que viu e não esqueça detalhe algum. Nathan explicou a Sybil que ele acreditava que tinha acontecido durante o ritual tão detalhadamente como pode. Sybil escutou muito atentamente e depois permaneceu em silêncio por um longo tempo. Nathan estava muito curioso em saber a explicação que Sybil daria sobre sua missão superior e calmamente deixou que ela meditasse sobre suas palavras. Quando ele sentou-se próximo a ela novamente, pareceu-lhe ter desvendado a visão dele. ─ Foi a mesma visão que tiveram. Você e os três mensageiros que mencionou. Vocês foram enviados como mensageiros pelas forças naturais que nos conecta mais uma vez com o poder maravilhoso dentro de cada coisa. ─ Eles também veem a maneira na qual devemos criar essa conectividade? ─ Certamente. A humanidade se separou tanto da natureza que esse é o único caminho eficaz para nos ensinar como mostrar respeito para com o milagre da vida. Nathan deitou sua cabeça sobre a palma de suas mãos. Agora ele entendeu a magnitude da tarefa de Myate (Terra), Leewana (Vento), Dian (Chama) e dele mesmo. ─ Para que aconteça tal grande mudança, Sybil continuou, primeiro há de ser em um lugar de grande instabilidade. Nathan ergueu sua cabeça novamente e disse: ─ Mas isso não pode desencadear sérias consequências? ─ Você e os outros mensageiros devem confiar nas forças naturais. Elas estão diretamente ligadas à sabedoria universal. Nathan notou a credibilidade de Sybil e perguntou: ─ Pode-me dizer como o mundo será depois disso? ─ Isso vai assegurar uma consciência coletiva jamais vista. Em todos os lugares, mestres irão se erguer com quem será tomado por uma energia superior. As palavras de Sybil asseguraram Nathan. ─ Pode-me explicar mais sobre essa energia superior, perguntou. ─ Essa é a energia que conecta tudo, a energia do elemento interior! 403 Nathan lembrou-se de que Linh tinha usado o mesmo nome quando ele a visitou no Vietnam. Também havia aprendido que essa energia não somente se conectava com os elementos físicos, mas também a todos os pensamentos. Sybil continuou: ─ Estudantes irão se levantar e converter as mensagens em ações. Graças a essa energia superior, as primeiras comunidades crescerão voltadas umas para as outras e finalmente todas as comunidades pelo resto do mundo também. Sybil notou que todas as dúvidas de Nathan estavam desaparecendo. ─ Agora é hora de você por em prática a sua sabedoria, Nathan. A fé que tens na ordem universal! Nathan a beijou na testa e disse que a ultima mensagem era a mãe de todas as mensagens. Sybil viu que ela havia tido êxito na sua missão e sorriu contente. ─ Vamos lá fora agora; os gêmeos não tardarão. Sybil deu a Nathan uma lamparina e saiu primeiro. Eles seguiram por uma particularmente longa e intrigante passagem e finalmente saíram pelo pé da montanha. Uma vez a céu aberto, o sol já estava brilhando totalmente na vasta área. Nathan e Sybil deixaram-se curtir o calor da atmosfera. ─ Obrigado por tudo que você fez por mim Sybil! ─ Obrigada você por tudo que você fará por nós, Nathan! Ambos caíram no sono. Mais tarde Nathan foi despertado por Olcay, enquanto Oktay esperava-os sentado no carro. Levantou-se e se deu conta de que Sybil não mais estava lá. Entrou no carro e sentou-se no banco traseiro e perguntou aos irmãos onde tinha ido a jovem. Oktay e Olcay olharam pra ele estranhamente. Estava claro que eles não tinham ideia de que jovem Nathan estava falando. Olcay viu que Nathan tinha dificuldade de entender a situação. Ele virou-se e disse que Hakim tinha pedido pra eles o trazerem ali depois do ritual e buscá-lo depois do nascer do sol. Havia uma jovem. Quando Nathan perguntou Olcay onde ele o levaria naquele momento, Olcay pegou um mapa e apontou para um lugar que tinha sido circulado por alguém. O lugar era chamado Samandag, uma cidade na costa perto da fronteira com a Síria. Depois de uma longa e bonita viagem através dos muitos campos de frutas, eles chegaram à cidade de Iskenderun. Lá Olcay sugeriu que fossem a um restaurante, o qual era famoso por seus deliciosos pratos. À mesa ficou claro para Nathan o porquê de os 404 irmãos falarem tão pouco. Oktay teve problema com a fala e a maneira que encontraram de confrontá-lo o mínimo possível com isso foi de o irmão aprender a falar somente quando necessário. No caminho de volta, Olcay contou a Nathan que ele e seu irmão não ficariam in Samandag. Eles tinham que retornar e desejaram a ele alegria e força pra o que se seguiria. Nathan não perguntou mais nada e agradeceu muito a Olcay e Oktay. Em Samandag os irmãos indicarem um pequeno hotel nos morros não muito longe da água. Nathan seguiu os conselhos deles e reservou um quarto com vista pro mar. Já no quarto, deitado em sua cama, admirou o maravilhoso mar azul, mas caiu no sono quase que imediatamente devido à exaustão da longa viagem. 405 406 - 12 Redenção Final 407 408 Na manhã seguinte Nathan sentiu-se descansado. Ele tomou seu café da manhã no terraço. Estava convencido de que estava no lugar certo e na hora certa. Seus pensamentos eram claros e ele pôde concentrar-se nas importantes escolhas a seguir. Decidiu passar o dia na água, sabendo que era o melhor lugar para inspirálo. Do hotel, Nathan desceu a colina para a água e descobriu uma pequena praia desolada. Lá ele passou horas, mergulhando repetitivamente, buscando por mensagens do seu elemento natural. Reconheceu as faces e vozes de praticamente todas as pessoas que o influenciaram. De cada uma ele recebeu uma mensagem que sabia ser designada ao propósito maior de sua vida e, portanto teve a força e sabedoria de se tornar unificado com seu destino. No fim da tarde, Nathan caminhou calmamente para fora da água e deitouse na areia, satisfeito. Encarou o céu por um longo tempo antes de retornar ao hotel. Ao chegar lá, o proprietário apressou-se em avisá-lo que havia alguém esperando por ele na sala de estar. Curiosamente, Nathan foi até lá e parou com espanto. Parada em frente a ele estava a mais doce e bela jovem mulher que ele já conhecera. Eles olharam um para o outro e se abraçaram intimamente. Nathan estava completamente emocional e não conseguia proferir uma palavra. A aparência de Sophie tinha um efeito mágico sobre ele. Seus olhos e seu sorriso tornavam-no mais consciente do quanto ele estava atado a ela: ─ Como você sabia que eu estava...? Sophie pôs seus dedos nos lábios dele e disse: ─ Isso não é importante... não foi você quem me ensinou que os sentimentos do coração são mais importantes que os pensamentos do intelecto? Com estas palavras Sophie deixou claro que entender como ela estava ali não era mais importante do que aproveitar o tempo deles juntos. Nathan somente pôde assentir e agradeceu por este presente maravilhoso. Foram para um local mais arejado e então perguntou ao proprietário onde poderiam encontrar um lugar para comer. O proprietário recomendou um pequeno restaurante perto da água que era dirigido por um amigo próximo dele. Seguindo seu conselho, foram bem recebidos por toda a família. Foi-lhes dada uma mesa com uma atraente vista para o mar e para as montanhas 409 sírias. Então Nathan e Sophie tiveram uma conversa em que tudo se tornou muito claro. ─ Quando você decidiu procurar por mim, Sophie? ─ No dia em que eu ouvi que o momento da sua missão suprema estava se aproximando. ─ O que você sabe sobre esta missão? ─ Eu sei que algo maior que todos nós está para acontecer. Sophie tomou suas mãos. ─ Eu sei que você fará possível que todos os seres da terra se reúnam. Nathan já estava confuso sobre como Sophie descobrira onde ele estava neste dia em particular, mas suas últimas palavras trouxeram a tona ainda mais questões. ─ Como você ouviu? ─ Em um sonho... Que foi mais real do que qualquer coisa que já experimentei. Sophie sorveu seu vinho e olhou distante para o horizonte. Um pouco depois ela continuou: ─ Neste sonho eu recebi mensagens e então eu as segui. Sophie pousou o seu copo e olhou seriamente para Nathan. ─ Eu estou aqui para dizer adeus. Nathan segurou suas mãos e perguntou: ─ O que exatamente você viu no seu sonho? ─ Eu vi pessoas de várias cores e culturas vivendo juntas em diferentes lugares da terra. Eles trabalhavam e riam juntos e eram todos muito felizes. A vida parecia ser diferente da vida que conhecemos agora, alguma coisa havia mudado. Nathan estava em silêncio, profundo em pensamentos, então seu rosto abrilhantou-se: ─ Agora eu estou começando a ter um entendimento mais claro. ─ Me diga Nathan. ─ Só existe um poder capaz de criar esta reunificação. É por isso que fomos colocados juntos novamente. Você veio em minha vida para me tornar completamente consciente deste poder. Inicialmente, o rosto de Sophie mostrou curiosidade, até que sua face também se abrilhantou. Ela entendeu sobre o que Nathan estava falando. A única coisa a que ele podia estar se referindo era ao poder do amor. Eles seguraram as mãos um do outro fortemente e olharam profundamente nos olhos por um longo tempo. De repente Nathan sentiu as mãos de Sophie se contraírem ligeiramente. 410 ─ O que é? – ele perguntou. ─ Nada, não é importante. Nathan pôde sentir que Sophie estava tomada pelo medo. ─ É sim – ele disse – Eu sinto que é importante para você. ─ Eu estava apenas imaginando... o que vai acontecer conosco depois disso tudo? Nathan olhou profundamente em seus olhos, então acariciou seu rosto e a libertou para sempre do seu medo. ─ O que quer que aconteça, não importa o quão sem esperança possa parecer, nunca perca a fé de que eu vou retornar para você. As palavras de Nathan trouxeram Sophie de volta à vida. Ela sabia que Nathan jamais diria isso se não tivesse realmente um significado. Esta era a promessa mais linda que já escutara e, talvez por esta razão, ela teve que encontrá-lo. Ela ergueu-se e beijou-o. No dia seguinte eles passaram a manhã na água. Após o meio dia eles deram uma longa caminhada pelas espetaculares colinas de Hatay. ─ Após nossa conversa de ontem, eu recebi outro importante insight – disse Sophie – Eu entendi a base de nosso relacionamento. Nathan escutou atentamente. ─ Nossa preocupação pessoal e pelo nosso bem estar e pelo dos outros. Nathan sorriu. ─ Em todos os relacionamentos, onde esta é a fundação, ambos os parceiros conseguem desenvolver seu envolvimento com total liberdade. Somente desta forma é que eles podem experimentar o amor verdadeiro. Sophie assentiu e o abraçou: ─ É o propósito final... – Sophie perguntou – experimentar o amor? ─ Quando nós experimentamos o verdadeiro amor, sentimos que nos fundimos com nossa consciência e o caminho para experimentar nossa completude original se torna aberto. ─ O caminho para nossa completude original? ─ O caminho para o propósito de nossa vida. Naquela noite, Nathan e Sophie retornaram ao hotel. Após um dia exaustivo eles foram para cama cedo. Nathan repentinamente acordou no meio da noite. Abriu seus olhos e viu a lua cheia através da janela aberta. Como se a lua tivesse escolhido estar em frente ao quarto dele. Nathan sentiu um encorajamento que o levou a ir para a praia deserta imediatamente. Levantou-se e tentou sair 411 sem fazer barulho, para que Sophie não acordasse. Uma vez fora do hotel, Nathan desceu a colina em direção a água. Quando chegou a praia, notou um barco azul escuro com grandes velas brancas, flutuando calmamente. Sentiu que havia algo misterioso sobre o barco e decidiu determinar qual era a causa disso. De repente, ele se virou para olhar a lua cheia. Ele tomou consciência de que o barco parecia exatamente igual ao que estava no pôster em seu quarto em Bruxelas. Naquele momento, Nathan entendeu que o fim da jornada estava próximo. Continuou fitando o barco e tomou tempo para meditar. Quando a luz do dia veio, ele se levantou e retornou para seu quarto. No caminho, procurou pelas palavras certas para dizer a Sophie sobre sua partida. Quando ele abriu a porta ele viu Sophie sentada do seu lado da cama em seu roupão de banho branco. Ela havia acabado de sair do banho e enrolava uma toalha em seu cabelo molhado. Quando ela viu Nathan, levantou-se, abraçou-o e pôs sua cabeça ao em seu peito. ─ Você não tem que dizer nada, Nathan. Ela olhou Nathan diretamente nos olhos e sorriu com ternura. ─ Faça o que sente que tem que fazer. Sophie decidiu partir aquele dia. Após o café da manhã, Nathan acompanhou-a até o ônibus que a levaria a cidade de Adana. De lá ela pegaria o avião de volta para a França. Durante sua despedida, Nathan notou o quanto a promessa do dia anterior havia significado para Sophie. Suas palavras a haviam libertado de um grande desconhecido. ─ Você sabe aonde está indo agora? – ela perguntou. ─ Não, mas eu sinto que estou perto do final da minha jornada. Após estas palavras eles se abraçaram por um longo tempo. Então Nathan retornou para a praia. Ele pôs seus pertences em uma bolsa e atou a si. Sem questionar, entrou na água para nadar até o barco veleiro. Quando subiu a bordo não viu ninguém mais lá. Nathan não fazia ideia do que estava esperando por ele. Sentou-se na proa do barco, de lá ele tinha a visão das montanhas sírias. Assim ele passou o dia inteiro meditando e ao aproximar-se a noite presenciou um maravilhoso pôr do sol. Quando a lua apareceu, ele ficou assustado quando notou que mais alguém subira a bordo. Julgando pela silhueta era uma mulher. Ela sentou-se ao seu lado e apresentou-se. Seu nome era Ilham. A mensagem de Ilham alcançou Nathan sem que ela falasse. Ele nunca havia experimentado algo assim; Nathan fora capaz de receber a mensagem diretamente. Ele estava muito curioso sobre 412 quem era a misteriosa Ilham e como ela havia conseguido entrar em sua mente, porque todas as perguntas que o tentaram receberam a mesma resposta. Assim uma conversa começou em silêncio. ─ Como você pode responder as minhas perguntas sem eu ter que dizê-las em voz alta? ─ Eu posso sentir tudo que você pensa, no momento em que você pensa. – Ilham respondeu. ─ Como isso é possível? ─ Nos comunicamos através da linguagem dos “segredos abertos”: uma linguagem de “segredos”, porque eles não podem ser entendidos pelo intelecto, e “abertos”, porque todos podem experimentá-los. Não obstante lhe soava estranho, Nathan parecia familiarizado com a linguagem dos “segredos abertos”. Ilham também começou a se tornar mais familiar a ele, como se fosse uma velha amiga. A conversa seguinte só veio a confirmar este sentimento. ─ Por que você veio a mim? – Nathan quis saber. ─ Assim como todos os outros, eu nunca saí do seu lado. Agora Nathan teve que pensar sobre os encontros que tivera durante sua jornada e, desta forma, tornou-se claro para ele o que estava acontecendo. Este encontro era o mais especial de todos, Ilham era a personificação de seu “poder interior”; ela era a intuição em si. ─ Por que hoje eu posso vê-la? ─ Porque eu vou guiá-lo e aos outros mensageiros nesta forma! Tornou-se imediatamente claro para Nathan que Ilham não havia aparecido apenas para ele, mas também para Leewana, Myate e Dian. ─ Você pode nos dizer como esta jornada continuará? ─ De agora em diante as grandes forças iluminarão o caminho mais energeticamente. Estas palavras deixaram claro pra Nathan que o que estava para vir excederia os limites de suas individualidades. Naquele momento o barco começou a mover-se. Nathan notou que o barco estava se movendo em direção ao sul e por sua própria vontade. Uma vez no caminho, Nathan se tornou mais familiarizado com a forma pela qual Ilham lhe fornecia as informações. Ele havia descoberto a vasta entrada para a fonte de conhecimento sem fim. ─ Você está comigo assim como está com Leewana, Myate e Dian? ─ Feche seus olhos e veja. 413 Nathan fez o que Ilham disse e viu Leewana Myate e Dian. Ele viu que eles também estavam a caminho de seu destino final. Ilham teve certeza de deixar bem claro para os quatro que eles estavam sendo trazidos juntos. Isto deu a eles um distinto sentimento de coragem e confiança. Eles estavam cientes de que a salvação final estava próxima. Cansado por causa destes estranhos eventos ele entrou na cabine onde rapidamente caiu no sono. Depois, quando Nathan retornou ao convés na manhã seguinte, ele notou nuvens teimosas acima. Não demorou muito até que as gotas de chuva começassem a cair, que então se tornaram em um grande aguaceiro. Apesar da tempestade, Ilham permaneceu sentada no mesmo ponto em que ela estava na noite anterior. Nathan ficou no convés com ela e apreciou o espetáculo de múltiplos raios, enquanto a água fluía por seu corpo. De repente o sol brilhou novamente, mesmo que chovesse sem interrupção, o que criou um arco-íris de tirar o fôlego, tão grande que o topo desaparecia nas nuvens e não podia ser visto. Nathan sabia que este era o sinal pelo qual estava esperando. O barco continuou a navegar sob o arco-íris e finalmente ancorou no Egito, na costa do Sinai, na cidade de Arish. Quando Nathan pôs os pés no solo, um casal de beduínos o recebeu cordialmente. Após os cumprimentos eles o levaram para um dromedário. Nesta hora, Nathan percebeu que somente ele podia ver Ilham. O olhar dela se virou para o sul e ela assentiu aprovando. Enquanto Nathan subia em seu dromedário, os beduínos deram a ele um saco de comida e um grande contêiner de água. Ele colocou-o sobre a corcova do dromedário e agradeceu a eles. Os beduínos desejaram sorte e disseram adeus. Nathan foi pelo deserto do Sinai com Ilham, que era capaz de se mover pelo ar como um pássaro. Sempre permanecendo ao seu lado. No silêncio, que somente podia ser experimentado no deserto, Nathan sentiu-se fora do tempo. Ele aproveitou a conexão especial que ele havia obtido com seu conhecimento interior. Na jornada eles descansaram a intervalos regulares, tanto por oásis verdes quanto à sombra de palmeiras. Nathan usou este tempo para continuar a trabalhar em seu manuscrito. Eles viajaram por extensas planícies arenosas cercadas de montanhas coloridas. A paisagem do deserto era espetacular, especialmente quando a lua surgiu. Após três dias viajando através do deserto, eles chegaram a Nuweiba, no Golfo de Akaba. Nathan Pensou que era um espetáculo inesquecível ver o mar azul aparecer como se houvesse 414 saído do deserto. Assim que chegou Nathan encontrou uma praia com várias cabanas de palha. Ele notou um beduíno ao longe e foi em direção a ele. Ilham seguiu Nathan de perto. Nathan cumprimentou o beduíno com umas poucas palavras arábicas que se lembrava. O beduíno retornou o cumprimento e olhou penetrantemente para Nathan. Então ele olhou para a vasta área arenosa como se imaginasse de onde Nathan repentinamente aparecera. Nathan contou ao beduíno que viajara pelo deserto por três dias e perguntou se podia passar a noite. O beduíno o levou a uma cabana de palha, que parecia servir como uma área de dormir para viajantes que passavam. O beduíno também pegou o cantil vazio e encheu com água antes de devolvê-lo. Nathan agradeceu o homem e viu Ilham na areia perto água. Nathan mudou sua roupa de viagem e foi sentar perto dela. Ilham sabia que por vários dias Nathan estivera ansioso por mergulhar na água e encorajou-o. ─ O silêncio embaixo d’água tem sido sempre a mais alta forma de relaxamento que pode ser experimentada. Vá para a água e relaxe em seu próprio silêncio antes de sua missão. Nathan quis saber: ─ Que faz o silêncio na água ser diferente do silêncio que eu experimentei nos dias que se passaram? ─ Embaixo da água os pensamentos podem fluir para você sem que você tenha que explicá-los. Cada um de nós tem tal lugar na terra, apesar de muitas pessoas não saberem disso. Para você o mundo submarino é onde você está completamente receptivo a pura inspiração! Nathan se levantou e caminhou para dentro da água. Embaixo d’água as palavras de Ilham se tornaram claras para ele. Nathan entendeu o verdadeiro significado da pura inspiração da qual Ilham havia falado a respeito e experimentou maior harmonia interior mais do que antes. Ele podia sentir sua força natural vir para dentro dele. Foi como se ele se tornasse mais do que apenas seu próprio ser. Ele estava livre de todos os pensamento reunidos durante sua existência e sabia que havia se tornado totalmente consciente de seu ser único. Nathan sabia que sua sensibilidade estava pronta para formar uma ponte entre as diferentes dimensões. A vida terrena, os pensamentos eternos e a fonte universal de todo o conhecimento em breve tornar-se-iam uma só coisa. Quando ele saiu da água o início da noite já havia caído. Somente então ele percebeu que havia ficado na água por um longo tempo. Ele olhou para Ilham , que ainda estava sentada no mesmo lugar. Ela 415 balançou a cabeça e desejou-lhe uma boa noite. No dia seguinte, Nathan e Ilham continuaram em direção ao sul, desta vez em direção a Dahab, na costa. No fim do dia , Ilham disse a Nathan que eles haviam chegado ao seu destino final. Nathan olhou em volta. O que ele via era uma área estéril, em si mesma sem nenhuma diferença das paisagens que ele observara nos dias anteriores. Ele se tornou mais atento até que repentinamente, na beira do mar, ele viu um lago azul claro à distância. Era um lago memorável; Do qual a cor azul o lembrara do poço mágico no Brasil, onde Thiago o havia levado junto com Melvin e Sophie. Ele viu Ilham desaparecer na distância e notou que três outras pessoas estavam indo em direção ao lago em dromedários, eles vinham de diferentes direções. Foi uma maravilhosa vista ao por do sol. Um sentimento intenso de excitação brotou em Nathan. Ele sabia que os viajantes eram Leewana, Myate e Dian. Todos os quatro chegaram ao lago ao mesmo tempo. Uma vez que estavam juntos, eles se abraçaram fortemente. Uma fogueira foi acesa e eles se sentaram na areia em um círculo com suas cabeças viradas em direção ao lago. Ilham apareceu mais uma vez e falou com eles da mesma maneira que havia falado com Nathan nos últimos os dias. Silenciosamente, diretamente à suas mentes, sem uma única palavra dita. ─ Vocês foram enviados aqui para investigar e entender o porque de o mundo estar desta maneira e descobrir as causas mais profundas, mas vocês também foram enviados como mensageiros para acabar com esse caos. Tornou-se claro para as forças naturais quão pouca harmonia existe entre as pessoas e entre todos os seres. Vocês estão às vésperas de restaurar esta harmonia. Todas as suas experiências aconteceram de forma a vocês alcançarem esta mudança. Este é o desejo original que vocês deram a terra, e os eventos por acontecer serão como nenhum outro antes. Esta experiência fará com que a toda humanidade volte seus olhos para o mundo interior de pensamentos e sentimentos. Esta experiência inspirará a humanidade a fazer parte da grande conectividade. Para fazer esta mudança, as forças naturais tomarão medidas drásticas excepcionais. As forças naturais criarão circunstâncias em que todas as pessoas serão forçadas a escolher unidade e respeito uns para com os outros, se quiserem sobreviver. Deste tempo em diante a energia universal mais alta será capaz de se desenvolver completamente. Este poder irá extinguir todos os outros poderes e libertar as pessoas da cegueira das luxurias 416 primitivas, resultado do egoísmo. Graças a este poder, todos serão libertos do medo e da dúvida. Eles irão experimentar um profundo envolvimento com a realidade, e assim reconhecer um núcleo de puro bem dentro de si mesmos, que é maior que eles ou que possam imaginar. A humanidade se tornará consciente de que uma vida só é valiosa quando todo mundo presta atenção aos companheiros seres humanos e a todo ser vivente, assim eles aprenderão a entender um estado natural de paz interior. Todo mundo será capaz de ver que o amor é a única coisa que dá um sentido maior a nossa existência. Virá um tempo quando este grandioso poder universal será aplicado simultaneamente através do mundo. Ilham tomou uma grande pausa e continuou seu discurso. ─ A partir do próximo nascer do sol vocês se tornarão consciente do quão único cada um de vocês é e serão capazes de ultrapassar a realidade material. Serão capazes de sintonizar com a grande fonte de todas as energias, o poder que converte todas as limitações físicas em possibilidades e assegura que a somente a expressão é dada a energia espiritual. Esta noite vocês desenvolverão um foco ambiental extremamente forte, que irá continuar a se estender até que o planeta inteiro faça parte dele, graças à imaginação. O que se seguirá é que vocês crescerão completamente até suas habilidades perfeitas. O desejo interior original de cada um de vocês será unido com o grande propósito. Assim vocês conseguirão o último estado harmonioso como um todo. Após estas palavras, Ilham se levantou e desapareceu. Leewana, Nathan, Myate e Dian permaneceram meditando o resto da noite sem trocar uma palavra. Com os primeiros raios de sol eles se levantaram juntos e cada um tomou a mão do outro. Sem ter que falar, eles andaram juntos em direção ao lago. Eles permaneceram um ao lado do outro e deixaram-se encher com energia solar. Quando o momento chegou, eles mergulharam na água ao mesmo tempo e afundaram no lago, onde acharam uma conexão com o mar no fundo. Todos os quatro viram suas limitações desaparecer. Primeiro aquelas que os faziam se comparar uns com os outros e, então, aquelas que os faziam se comparar com todo o ambiente. Sua experiência de tempo e espaço transformada. Sua percepção de realidade afiada. Pareceu como se seus corpos houvessem desaparecido junto com o seu intelecto e que eles foram feitos apenas de sentimentos. 417 Naquele momento a água de todos os mares e oceanos começou a se mover. O gelo polar derreteu completamente o nível do mar alcançou níveis jamais vistos antes. Ao mesmo tempo enormes incêndios apareceram ao redor do mundo. Florestas e o deserto arderam em chamas, dirigidos por fortes ventos e tempestades. Não demorou muito até que as primeiras grandes cidades fossem destruídas. O fogo queimou praticamente tudo em seu caminho. A água passou por cima das áreas secas e queimadas e se juntaram novamente em grandes circuitos fluídos. Lentamente, grandes áreas dos cinco continentes estavam inundadas. Os sobreviventes se misturaram por segurança, sendo em botes, jangadas ou outras embarcações improvisadas. Atividades diárias foram interrompidas e as pessoas começaram a se reunir. Tornou-se claro que a cooperação era necessária para a sobrevivência. Logo algo aconteceu, algo que nunca havia acontecido antes. Simultaneamente, em muitos lugares houve os primeiros sinais do milagre se desdobrando. Novas comunidades foram criadas onde todos se ajudavam. As palavras de Ilham foram confirmadas. Grandes embarcações a prova d’água foram construídas para que muitas pessoas pudessem ser trazidas para a segurança. A comida foi reunida e distribuída de acordo com a necessidade. Lentamente, todos seguiram suas energias em direção ao completo desenvolvimento. Uma a uma as pessoas aprenderam como elas poderiam melhor usar seus talentos e outras qualidades. Desenvolvendo sua consciência intuitiva, as pessoas lentamente viram o significado de suas ações e puderam finalmente satisfazer suas necessidades interiores. A água decidiu retrair. A humanidade pôde ver o grande contexto. A terra havia se transformado em um lugar onde as pessoas eram dirigidas por valores, que viam o benefício do mundo inteiro... A ordem havia sido restaurada! 418 Promessa No pacote que Uiara, a escritora brasileira, havia recebido, não havia nome ou endereço, apenas o nome de uma montanha em um lugar que anteriormente havia sido conhecido como Nova Zelândia. Uiara abriu o pacote postal, sentindo extrema curiosidade. Dentro ela encontrou uma carta acompanhada de um manuscrito. Querida Uiara, Eu espero que estes eventos não a tenham confundido muito. Eu sei que você queria que grandes mudanças viessem. Você também sabia que seria necessário afetar a humanidade e revelar a essência da vida. Um fim chegou para o sofrimento. O curso que ocorre e muda nosso ser inteiro, fluiu e o verdadeiro conhecimento apareceu a todos nós. De agora em diante cada um de nós pode calmamente sair em busca de nosso desejo original, nosso propósito e destino. Como Nathan prometeu, mandamos juntamente com esta o manuscrito em que ele descreve tudo que precedeu estes eventos. Eu confio a você, e peço para que reescreva suas palavras com toda a liberdade criativa que existe dentro de você. Saiba que você será inspirada a escrever como nunca antes, que muitas pessoas serão afetadas por estas palavras e que a disseminação destas palavras alcançará grande reconhecimento. Como você notará, Nathan não deu ao manuscrito um título. Ele com prazer deixa esta tarefa a você. Eu desejo a você todo sucesso e eu quero que você saiba que Nathan e eu estamos muito bem aqui. Nós enviamos a você, Amão e a seus entes queridos nossos mais carinhosos pensamentos. Um grande abraço de ambos, Sophie e Nathan. 419 Uiara passou os muitos dias e noites seguintes escrevendo o livro. Ela não encontrou um título logo no princípio, mas ela deixou que seu amado Amão lesse primeiro. Após ele haver lido o livro inteiro suas primeiras palavras foram, “Este livro será conhecido como a maior de todas as lendas!” 420 Epílogo Foi com uma grande satisfação e um enorme fervor que escrevi este romance na qual tentei explicar a minha concepção da coesão que sustém o Universo e o papel único que aí nos é reservado. Pode ser que este relato vos estimule a compreender melhor as razões da vossa existência. "A Lenda de um Nômade" é, pois, em grande medida, uma incitação à procura do verdadeiro objetivo da nossa vida. Esta narrativa mostra-nos que, para atingir este objetivo, devemos primeiramente, abrir-nos aos acontecimentos que, de maneira aparentemente fortuita, captam a nossa atenção. Deste modo descobriremos, paulatinamente, que possuímos uma enorme fonte de inspiração. Desde esse momento emerge em nós um processo criador, o qual irá modificar totalmente a nossa vida. E quanto mais a nossa curiosidade por esta realidade interior aumenta, tanto mais descobrimos sinais em cada acontecimento, mesmo sem importância, da nossa vida. Nessa altura damo-nos conta que o universo, na sua globalidade, está movido por um princípio criador no qual participamos ativamente. Ao desenvolvermos a nossa criatividade entramos, desta maneira, simultaneamente em contacto com a espiritualidade que cada um de nós alberga. E descobrimos, então, o objetivo da nossa vida, dedicando toda a nossa existência a alcançá-lo. Pelo caminho somos confrontados, ao mesmo tempo, com os nossos talentos inatos e com as nossas limitações. Mas uma vez que tenhamos compreendido o papel único que desempenhamos, o nosso campo de visão ampliar-se-á, permitindo-nos tirar o máximo proveito das nossas capacidades. Esta narrativa ilustra o modo segundo o qual o nosso guia instintivo, a nossa intuição, nos torna conscientes da dimensão dos nossos atos e como, por nossa escolha, somos nós mesmos que traçamos o caminho da nossa vida. 421 Esta intuição não é mais que uma força que nos guia em direção ao propósito da nossa existência, o desejo inicial que motiva a nossa vinda a este mundo e nos ajuda a atingi-lo. Uma finalidade que transcende todos os objetivos que possamos imaginar, ultrapassando até mesmo a nossa existência individual, temporária, para nos fazer descobrir a verdadeira liberdade interior. Para finalizar, permitam-me partilhar convosco uma última reflexão cuja origem remonta à minha infância mais tenra e que se tem revelado prodigiosamente verdade em todas as culturas com as quais tive o privilégio de estar em contacto. Aquele que se consagra com fervor ao verdadeiro propósito da vida segue o caminho do amor e pode, por conseguinte, sensibilizar o seu próximo, de modo a tomar consciência da sua missão e a dedicar-se a ela de corpo e alma. O essencial de tudo isto, quanto a mim e também para muitos outros, é que cada um de nós encontre a sua própria maneira de viver à luz de uma maior verdade, de um grande respeito por tudo o que está vivo, prosseguindo na senda do amor. Quando a humanidade estiver preparada para partilhar esta concepção de existência, poderemos evitar transmitir os nossos erros às gerações vindouras, podendo, então, oferecer-lhes os meios de realizarem os seus desejos interiores! Alex Mero 422 Palavras de agradecimento Eu gostaria de expressar meu respeito e reconhecimento a todos àqueles que tanto diretamente quanto de outras maneiras colaboraram com a realização desse livro. Penso nas pessoas cujo caminho, durante toda a minha jornada, cruzei. Naqueles que me ensinaram a ver a beleza em todas as suas formas. Aqueles que me estimularam a estar sempre atento às maneiras nas quais pensamentos e motivações se manifestam. E também àqueles cujos ensinamentos foram a base na qual construí a mim mesmo. Gostaria de agradecer, Crislaine Sanguino, Kátia Vasconcelos, Fabiana Rodrigues, Silva Mira, Ana Cristina e muitos outros pelo suporte linguístico. Sem eles, esse livro não teria se tornado uma realização tão bonita. Gostaria de endereçar meu agradecimento especialmente aos meus queridos familiares e amigos. Aqueles que comigo dividiram o entusiasmo pessoal e profissional da minha aventura e que são uma fonte contínua de apoio e motivação. Meus mais sinceros votos de gratidão vão para a minha fonte de inspiração. Para a essência de minha existência. Para essa maravilhosa energia que coordena o universo inteiro. A todos, um sincero obrigado. 423 Autor Alex Mero nasceu na Bélgica em 1969 e cresceu em Bruxelas. Viajante apaixonado e um grande observador da diversidade cultural no mundo, experimenta, desde cedo, uma fascinação crescente pelas diversas concepções de vida, no seio de cada cultura. Hoje em dia, o escritor partilha as suas experiências através do estilo inspirador que é a filo-ficção. A filo-ficção tem a sua origem no reconhecimento da diferença e da multiplicidade do mundo no qual vivemos. Este estilo literário baseia-se em diálogos que nos ajudam a explorar diferentes processos de pensamento. A filo-ficção estimula-nos a identificar as fronteiras que nos definem e convida-nos a comunicar através destas fronteiras. Alex Mero oferece a possibilidade de imprimir as suas publicações gratuitamente e em várias línguas, proporcionando, deste modo, que todos tenham acesso à sua literatura. O autor também participa em programas educativos em países em desenvolvimento e apoia diversos projetos que promovem o diálogo intercultural. 424 425 A Lenda de um Nômade © Alex Mero, 2010 Autor / Editor http://www.alexmero.com http://www.alexmeroblog.com 426