Mundo Jovem: Desafios e Possibilidades: uma Proposta de
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Mundo Jovem: Desafios e Possibilidades: uma Proposta de
m e v o j o mund possibilidades desafpioostasdeetrabalho com adolescentes uma pro mundo jovem desafios e possibilidades uma proposta de trabalho com adolescentes 00-LMonitor_01-54final_Layout 2 1/18/12 10:44 AM Page 2 Presidente do Conselho Colaboradores Maria Alice Setubal Alexandra Araújo de Queiroz André Moreira Cássia Aparecida de Souza Florência Fuks Joana de Vilhena Novaes Junia de Vilhena Leonel Braga Neto Lídia Chaib Luis Guilherme Florence Marcelo Afonso Ribeiro Mauricio Érnica Miriam Debieux Rosa Mônica Herculano Silvia Meirelles Yudith Rosembaum Conselheiros Guilherme Setubal Souza e Silva José Luiz Egydio Setubal Olavo Egydio Setubal Junior Rosemarie Teresa Nugent Setubal Coordenação Administrativa Mirene Rodrigues São José Coordenação Editorial Tide Setubal Souza e Silva Autores Beatriz Penteado Lomonaco Maria Vilela Pinto Nakasu Tide Setubal Souza e Silva Viviane Hercowitz Viviane Soranso dos Santos Impressão IBEP Gráfica Ltda. Tiragem 1.500 exemplares Preparação de texto Carlos Eduardo Matos Projeto Gráfico e diagramação Adesign Ilustrações Felix Reiners Viviane Hack Weberson Santiago As texturas foram gentilmente cedidas pela Little Dreamer Designs L837m Realização Fundação Tide Azevedo Setubal Rua Jerônimo da Veiga 164 – 13º andar – Itaim Bibi São Paulo – SP – CEP: 04536-000 Telefax (11) 3168-3655 www.ftas.org.br Agradecemos a todos os jovens e profissionais que participaram dos projetos Espaço Menina-Mulher, Espaço Jovem e de outros projetos da Fundação que, de algum modo, contribuíram para a realização desta publicação. São Paulo, setembro de 2008. Lomonaco, Beatriz Penteado, et allii. Mundo jovem: desafios e possibilidades: uma proposta de trabalho com adolescentes. São Paulo: Fundação Tide Setubal, 2008. 148p. ilus. Inclui bibliografia ISBN 978-85-62058-01-1 1. Adolescentes. 2. Educação 3. Lazer. 4. Saúde. 5. Cultura. I. Fundação Tide Setubal. II. Nakasu, Maria Vilela Pinto. III. Souza e Silva, Tide Setubal. IV. Hercowitz, Viviane. V. Santos, Viviane Soranso. CDD 362.796 Helga Ilse Bekman – CRB 8ª/669 índice 05 Apresentação . . . . . . . . . . . . . 06 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . 11 Integração . . . . . . . . . . . . . . . . Identidade e diversidade . . . . 21 39 Corpo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 Sexualidade . . . . . . . . . . . . . . 71 Família . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83 Drogas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101 Profissão e trabalho . . . . . . 121 Cidadania . . . . . . . . . . . . . . o ã ç a t n e s e apr riada em 2005, a Fundação Tide Setubal é uma instituição privada sem fins lucrativos que nasce com objetivo de apoiar o desenvolvimento local e fortalecer o exercício da cidadania nas comunidades em que atua. O foco de sua atuação é o território local, onde as pessoas efetivamente vivem e constroem suas relações sociais, econômicas e políticas. C A construção de uma sociedade justa e igualitária, o respeito às diferentes temporalidades e pluralidades, a valorização da cultura, das experiências e dos costumes são os princípios básicos que norteiam as ações da Fundação Tide Setubal. Nossos projetos focalizam com maior ênfase adolescentes, jovens e famílias, moradores de regiões que apresentam altos índices de vulnerabilidade social. Nossas atividades acontecem na zona leste de São Paulo, especialmente no bairro de São Miguel Paulista. A Fundação desenvolve iniciativas e projetos multidisciplinares e multissetoriais; avalia, sistematiza e disponibiliza os resultados e conhecimentos gerados pelas experiências desenvolvidas; promove e estimula o acesso da comunidade à informação e à apropriação do conhecimento. Além disso, as ações da Fundação buscam uma articulação com as políticas públicas. Para tanto, desenvolvemos parcerias com órgãos governamentais, entidades não governamentais, empresariais e comunitárias, por meio da construção de vínculos de confiança e do desenvolvimento conjunto de projetos e programas. Assim, o reconhecimento do território e suas relações são de fundamental importância em todas as etapas de implementação dos projetos. Nesse contexto, é com muita satisfação que apresentamos Mundo Jovem: desafios e possibilidades – uma proposta de trabalho com adolescentes, publicação que sistematizou o trabalho da Fundação nos projetos Espaço Jovem e Espaço Menina Mulher, de modo que essa metodologia pudesse ser acessível a um grupo maior de educadores assim como às diversas instituições governamentais e não governamentais. Mundo Jovem socializa a experiência dos projetos mencionados acima que aconteceram em diferentes espaços públicos – tanto comunitários como em escolas – e buscaram estimular a autonomia de adolescentes e jovens, sustentando reflexões compartilhadas no coletivo e procurando desenvolver questionamentos e pensamentos mais críticos a respeito de suas histórias de vida, de seus desejos e do mundo em que vivem. Com a implementação do projeto, são discutidos temas relacionados à identidade, diversidade, corpo, sexualidade, família, profissão, drogas e cidadania. Ao longo de um ano, essas meninas e meninos podem exercitar as habilidades de convivência e criação de iniciativas coletivas, fortalecendo a possibilidade de escuta e de fala, mediante a troca de saberes e a apropriação das novas informações. Dessa maneira refletem e compartilham a possibilidade de começar a construir um projeto de vida possível e autêntico. Acreditamos que, com esta publicação, estamos contribuindo para que um número maior de adolescentes e jovens possa inserir-se em espaços coletivos de reflexão que potencializem seus saberes, ampliem seu universo cultural e contribuam para construção de seus projetos de vida. Maria Alice Setubal Presidente Fundação Tide Setubal 5 introdução um pouco de história... ste material nasceu dos projetos Espaço Menina-Mulher e Espaço Jovem, dirigidos especialmente para adolescentes de 13 a 18 anos, moradores de São Miguel Paulista, bairro da periferia de São Paulo. Uma pesquisa realizada em 2005 pela Fundação Tide Setubal em parceria com o Ibope, abordando temas como saúde, educação, cultura, segurança, necessidades e sonhos da população, forneceu informações essenciais para o delineamento do projeto. Dentre elas, cabe ressaltar o alto índice de desemprego, a falta de perspectivas para o futuro na população jovem e a escassez de opções de cultura e lazer na região. Assim, o projeto foi idealizado visando oferecer às adolescentes um espaço alternativo à escola que fosse, ao mesmo tempo, um lugar de informação, reflexão, aprendizado, cultura e lazer, no qual se disponibilizassem instrumentos para a melhor compreensão da fase adolescente como o momento de intensas transformações que marcam a trajetória da infância para a fase adulta. Consideraram-se, portanto, as pessoas nessa faixa etária em suas múltiplas dimensões – corporal, subjetiva e sociocultural. E O Espaço Menina-Mulher teve início no primeiro semestre de 2006 com dois grupos de adolescentes (de 13 a 15 anos e de 16 a 17 anos). Eles foram realizados no CDC Tide Setubal (Clube da Comunidade), um espaço público, dotado de equipamentos esportivos, ambientes de convivência, CPDOC (Centro de Pesquisa e Documentação) e um telecentro. Esse local é gerido pela Fundação Tide Setubal conjuntamente com outras instituições da comunidade local1. 1 Os bons resultados do primeiro semestre deram origem a um segundo módulo de 14 encontros, voltado, especificamente, para o projeto de vida de cada adolescente, realizado de agosto a dezembro de 2006. Em 2007, procurando atender a uma demanda crescente, a equipe responsável decidiu ampliar a proposta. Além de abrir seis novos grupos (dos quais dois mistos, chamados de Espaço Jovem, realizados em uma escola pública), o projeto tornou-se anual. Em 2008, o projeto continua em vigor, com quatro grupos, em três diferentes espaços: CDC, Galpão Cultural do Jardim Lapenna e Escola Municipal Dom Paulo Rolim. O objetivo mais amplo do projeto é promover a saúde mental e física de adolescentes e jovens por meio de múltiplas atividades vinculadas ao desenvolvimento e ao interesse pessoal dos participantes no mundo contemporâneo, focalizando aspectos relacionados a: identidade e diversidade, corpo, sexualidade, família, drogas, trabalho e profissão e cidadania. Pretende-se, com isso, que os integrantes ampliem sua visão crítica da realidade e reflitam sobre temas próprios às suas vivências. O trabalho com os adolescentes e jovens é essencial, pois esse período da vida caracteriza-se por grandes transformações físicas e subjetivas, que demandam reflexão e compartilhamento de experiências para a construção de uma identidade adul- No atual mandato (2007/2009), a Associação Recreativa Brasil do Jardim Miragaia é parceira da Fundação Tide Setubal na gestão do CDC. 6 ta capaz de se posicionar no mundo. Esse é um período de escolhas cruciais, tanto no plano profissional quanto no afetivo; para tanto, é fundamental que existam espaços de troca que ajudem esses jovens a se apropriar de sua crescente autonomia e a trilhar caminhos saudáveis, que busquem um equilíbrio entre o desejo de cada um e as possibilidades que a realidade oferece. A escolha de trabalhar com essa faixa etária também se baseou na idéia de que as políticas públicas devem criar espaços diferentes das escolas, mas conectados a elas, objetivando a montagem de uma rede efetiva que contribua para a formação de sujeitos-cidadãos, aptos a buscar, escolher e inventar um futuro melhor para suas vidas. Para atingir esses objetivos, foi criada uma metodologia específica, apoiada em atividades com abordagens diversas, pouco usuais nas escolas. As oficinas incluíram atividades com vídeos educativos, discussões, jogos, dramatizações, conversas e propostas lúdicas com materiais de artes. A maior parte das atividades foi feita coletivamente para que os adolescentes desenvolvessem habilidades de convivência em grupo e de cooperação. O sucesso do projeto fez com que a equipe sistematizasse sua experiência, elaborando um material que tornou possível reproduzi-la, a fim de multiplicar o trabalho, ampliar o seu alcance e, desse modo, atingir um público maior em todo o país. Este material baseia-se, portanto, em atividades já realizadas, longamente discutidas e avaliadas, e contou com a participação dos próprios jovens. Assim, esperamos que este material ajude profissionais interessados na adolescência a formar jovens capazes de assumir o mundo adulto com confiança e autonomia. Principais eixos do projeto corporal informações e reflexões sobre as questões relativas à saúde e à estética (consciência corporal, cuidados com o corpo, nutrição, sexualidade); subjetivo envolve diversas temáticas, tais como: construção de identidade, auto-estima, projeto de vida, relações interpessoais e sexualidade; cultural discute a sociedade de nossos dias, desde as relações familiares até a profissionalização e a cidadania. Procura questionar os valores atuais e levar os jovens a uma melhor compreensão da realidade e da cultura contemporâneas. 7 A quem se destina Profissionais de ONGs, escolas, grupos informais, centros de juventude, postos de saúde. Como desenvolver o trabalho O grupo Nossa experiência mostrou que o grupo deve ser constituído por preferencialmente, no máximo, 20 adolescentes. Um número inferior a oito jovens pode empobrecer as discussões e um número muito grande pode acabar por causar dispersão, além de dificultar a participação de todos, algo essencial na proposta. Em razão dos grandes "saltos" próprios a essa fase de desenvolvimento, optou-se por reuni-los em grupos com idades próximas, por exemplo, entre 12 e 15 anos, ou entre 15 e 18 anos. Os monitores Sugerimos que o trabalho seja desenvolvido, se possível, por dois monitores, o que permite maior troca de idéias e de interação entre jovens e adultos. É importante que os monitores tenham tempo para discutir e avaliar as oficinas após sua realização, a fim de adequar a metodologia às necessidades de seu grupo. Eles devem estar disponíveis e atentos aos movimentos do grupo, mobilizando os adolescentes a cada atividade, escutando os pedidos deles, dando informações e mediando os conflitos que surgirem. Muitas vezes os jovens se expõem ao tratar de temas mais delicados (como sexualidade ou conflitos familiares), o que exige respeito e acolhimento da parte dos adultos. O papel do monitor é fundamental à condução dessa proposta; ele precisa lançar mão de seu repertório cultural, ser receptivo e aberto o suficiente para falar de todos os assuntos, transmitir 8 confiança e acolhimento, mas não deve perder o seu lugar de autoridade enquanto coordenador. É importante que os jovens encontrem adultos com os quais tenham afinidade, mas que se diferenciem deles no modo de falar e de se comportar. Duração e rotina O material pode ser usado de acordo com as necessidades de cada grupo. Há atividades em número suficiente para se desenvolver um trabalho semanal ao longo de um ano. Sugerimos que os encontros tenham a duração de duas a três horas, com freqüência semanal. Contudo, ele pode ser também usado de maneira esporádica, como por exemplo, por um professor em sala de aula que queira desenvolver somente um ou outro módulo específico com seus alunos. Propomos ainda que todos os encontros sejam iniciados com uma roda de conversa, o que permite aos jovens contar as novidades da semana e se preparar para a atividade que virá a seguir. A roda é uma forma de aquecimento, podemos usá-la para lançar uma primeira conversa sobre o tema que será trabalhado no dia. Nossa experiência nos mostrou que um momento de socialização, ao término de cada oficina, promove maior integração e descontração entre os participantes, ainda mais se acompanhado de um lanche. Portanto, sempre que possível, deve-se reservar algum tempo para a realização dessas trocas informais, preferencialmente ao final dos trabalhos. Como usar este material Livro do monitor Avaliação Os módulos estão divididos em oito temas – Integração, Identidade & Diversidade, Corpo, Sexualidade, Família, Drogas, Profissão e Trabalho e Cidadania –, embora vários deles se entrecruzem. Cada módulo contém um texto apresentando a temática, um texto de aprofundamento teórico escrito por um especialista na área, a descrição das oficinas e outras informações complementares (como a sugestão de livros, sites ou vídeos que possam enriquecer o trabalho). Avaliações são sempre muito importantes tanto para os monitores quanto para os participantes, porque permitem uma reflexão mais atenta acerca do trabalho desenvolvido. As oficinas sugeridas em cada módulo podem ou não ser trabalhadas sequencialmente. Cabe ao monitor decidir, de acordo com as necessidades de seu grupo e do tempo disponível para o projeto, tanto o número de oficinas quanto sua seqüência. É muito importante que o monitor leia atentamente os textos introdutórios, pois eles lhe darão recursos para enfrentar com segurança os desafios que cada temática propõe. Todos os temas podem ser enriquecidos com outras atividades e materiais que os monitores julguem pertinentes, como vídeos, livros, palestras, dramatizações, materiais informativos, discussões e passeios. Alguns desses materiais são sugeridos ao final dos módulos. Livro do adolescente O Livro do adolescente é um material que pode ser oferecido a cada um dos participantes e usado de forma complementar ao trabalho das oficinas. Igualmente organizado em módulos temáticos, ele aprofunda a reflexão sobre cada assunto sem, no entanto, retomar o que foi feito presencialmente. Assim, ele dispõe de certa autonomia em relação ao que acontece nas oficinas e não substitui as atividades realizadas em grupo. Se você quiser receber esse material, entre em contato conosco (www.ftas.org.br). As avaliações realizadas durante o processo (ao final de cada módulo, por exemplo) orientam o monitor a efetivar eventuais mudanças no percurso e permitem ao jovem analisar o que aprendeu ou vivenciou a cada etapa. Ao final, é fundamental, para ambos, analisar de que maneira o projeto repercutiu na vida dos jovens. Os temas desenvolvidos abriram novos horizontes? Quais? As oficinas foram capazes de fazê-los pensar de forma diferente? Como? Quais assuntos mais interessaram? O que foi difícil durante o processo? Cada monitor certamente terá suas próprias questões que devem ser contempladas na avaliação que fizer. Mesmo que as conversas coletivas sejam uma boa forma de avaliar, sugerimos que o monitor proponha algum registro escrito para os adolescentes. Perguntas objetivas podem ser feitas nessa avaliação, mas é interessante contemplar outras formas mais lúdicas, como um auto-retrato feito no início do projeto e complementado ao final dele. Qualquer que seja a opção do monitor, é importante que a avaliação dê a idéia do caminho percorrido. Em nosso projeto, ao final do ano os adolescentes têm a oportunidade de escolher uma atividade prazerosa, uma espécie de “produto final”, que represente o trabalho ou o próprio grupo. Assim, algumas turmas escolheram fazer um jogral, outras compuseram um rap, e também realizaram desfiles, escreveram poemas ou confeccionaram um grande cartaz representativo de seu percurso. 9 Os jovens se envolveram intensamente nessa produção e algumas turmas quiseram apresentá-la para outras pessoas que freqüentavam o mesmo espaço onde as oficinas ocorriam. Construir cole- 10 tivamente esse produto é uma forma de os jovens se apropriarem ainda mais dos temas trabalhados e, ao mesmo tempo, elaborarem uma despedida do grupo. integração 11 introdução riar um clima de solidariedade e de intimidade no grupo é essencial ao projeto, uma vez que os conteúdos trabalhados exigem cumplicidade e respeito entre os participantes, assim como confiança entre adolescentes e adultos. Por essa razão, as oficinas introdutórias têm os objetivos de favorecer o entrosamento e apresentar o trabalho. Esse é um período de formação do grupo. C Na primeira oficina, é importante: • Explicitar os objetivos do projeto; • Estabelecer regras com o grupo: horários, assiduidade, utilização do espaço e de materiais, arrumação, avaliação etc. Nesse momento, é importante estabelecer um tempo para a roda de conversa inicial, decidir se haverá intervalo, de quanto tempo e se haverá lanche no final, organizando-o; • Escutar as expectativas dos jovens para ter um panorama das dúvidas, interesses e dificuldades de cada um; • E, principalmente, garantir aos participantes absoluto sigilo sobre aquilo que for discutido, já que vários assuntos íntimos serão tratados. Essa é uma maneira de estabelecer um vínculo de confiança entre jovens e adultos. Além disso, nesse início de trabalho, é importante que você se aproxime do tema adolescência, aprofundando seus conhecimentos, questionando-se, por exemplo, sobre quem são esses adolescentes da atualidade, quais são suas características, necessidades e dificuldades. Isso pode ajudá-lo a entendê-los melhor e a se posicionar de uma maneira mais consistente diante do grupo. Para tanto, além dos textos dos especialistas presentes em cada módulo, sugerimos uma bibliografia ao final, caso você queira se aprofundar ainda mais. Após o texto do especialista, você encontrará diversas atividades que auxiliam o grupo a se entrosar, mesmo quando os adolescentes já se conhecem. Algumas delas podem ser realizadas no primeiro encontro como forma de apresentação e outras, ao longo das primeiras oficinas, para criar um clima amistoso antes da realização das atividades. Cabe ao monitor avaliar as necessidades de seu grupo. Bom trabalho! objetivos do módulo: • Apresentar o projeto aos jovens e conversar sobre as expectativas de cada um. • Conhecer o grupo e promover uma integração dos participantes. • Criar um clima de descontração e confiança, preparando o grupo para as discussões e reflexões dos temas abordados ao longo do projeto. 12 com a palavra... Os desafios do trabalho com os adolescentes Tide Setubal Souza e Silva uem são os adolescentes dos tempos de hoje? Como eles podem estar mais preparados para enfrentar o mundo contemporâneo? Quais são os desafios com que os profissionais que trabalham com esse público têm de lidar? As possíveis respostas para essas perguntas sem dúvida são muitas e incessantemente renováveis, uma vez que a realidade se apresenta de diversos modos. Também não podemos falar de uma única adolescência, mas de várias, com caminhos, estilos, pensamentos e características particulares. Q Escrever sobre adolescência é, sobretudo, lidar com o tema das contínuas transformações. Adolescência é uma trajetória marcada pela passagem de um mundo infantil, protegido, no qual sempre há adultos (pais ou seus substitutos) zelando pela criança, para um mundo adulto no qual cada um tem de se responsabilizar pela sua vida e suas escolhas. O adolescente se vê, então, obrigado a lidar com todas essas mudanças. Obrigado porque ele não pode escolher entre crescer ou não: a todos nós, impõe-se a tarefa de lidar com esse novo lugar no mundo. E como é essa trajetória que o adolescente constrói, ensaiando novos lugares, jeitos de ser, possibilidades de futuro? É, antes de tudo, intensa. Recheada de conflitos, crises, questões. Não é fácil conquistar a autonomia, o engajamento no mundo, e responsabilizar-se pelas próprias atitudes. Tudo isso implica necessariamente um certo tempo. Tempo para se dar conta, experimentar, testar, questionar, brigar, descobrir, construir outro jeito. Tempo para aceitar as perdas dos benefícios de ser criança e para descobrir que também há benefícios em ser adulto. Discute-se hoje o fenômeno de alargamento do tempo da adolescência. De um lado, a globalização, a rapidez, a variedade e a quantidade de estímulos aos quais as crianças estão expostas levam-nas a entrar precocemente na adolescência. De outro, a saída desse tempo também é mais tardia, em virtude, por exemplo, do mercado de trabalho, que exige maior preparo e especialização dos jovens. Assim, por um bom período da vida, as pessoas ocupam um lugar adolescente, marcado por mudanças e instabilidades. E, na busca de um espaço na sociedade, muitas delas tornam-se questionadoras: arriscam-se, provocam, constrangem, perguntam, desafiam, testam e acontecem. Outras, assustadas, mostram-se apáticas e desinteressadas. TIDE SETUBAL SOUZA E SILVA é psicóloga e psicanalista, mestre pela Université René Descartes - Paris V, trabalha na equipe Menina-Mulher/Espaço Jovem da Fundação Tide Azevedo Setubal e coordenou a produção desse material. 13 O que podemos fazer então? Qual é o nosso papel? Compreender esse momento é a primeiro passo para encontrar verdadeiramente esses adolescentes, saber conversar com eles e saber se fazer escutar por eles. É preciso estar atento ao fato de que, apesar de inúmeras vezes eles se mostrarem muito rebeldes, distantes ou intransigentes, no fundo estão ávidos por conversas e encontros. E não exclusivamente com os amigos, que sem dúvida têm um papel fundamental nessa fase, mas também com os adultos. Com aqueles que podem ser referências, modelos e interlocutores. Das muitas transformações vivenciadas pelos adolescentes, as relacionadas ao corpo estão entre as mais fortes e importantes. É ele que indica a entrada na puberdade. Nesse momento, o corpo vai deixando de ter um aspecto infantil para ganhar a forma adulta. Os hormônios começam a atuar, surgem espinhas, acontece uma mudança na voz, os caracteres sexuais se desenvolvem. Os adolescentes são, então, invadidos por inúmeras questões e conflitos com o próprio corpo. A partir do processo de materialização desse novo corpo, o adolescente vê-se confrontado e estimulado com uma novidade: a possibilidade de usufruir de uma sexualidade adulta, ou seja, de poder beijar, namorar, transar. Fato completamente inédito em sua vida. Novamente ele é bombardeado por infinitas perguntas: o que eu faço com todos esses meus desejos? Como lidar com a minha sexualidade? Nesse sentido, as primeiras experiências amorosas são extremamente importantes. Elas são uma espécie de brincadeira, jogos em que o adolescente vai experimentando as novas possibilidades de seu corpo, de seu jeito de se relacionar e gostar dos outros. Elas são de uma intensidade e volatilidade notáveis. Grandes paixões e aventuras, mas também as maiores desilusões e desgostos. Todas essas novas vivências corporais e sexuais implicam necessariamente muitas mudanças subjetivas. Quem sou eu? Do que eu gosto? A que turma eu pertenço? Estar integrado a um grupo de amigos, por exemplo, adquire uma enorme importância. Vemos então que nesse momento a família – e também as pessoas mais próximas, como os professores e parentes – deixam de ser a única referência, e os laços fraternos com os amigos ganham uma nova dimensão. A turma de amigos torna-se um fator de pertencimento e de troca, que amplia os referenciais e as experiências de vida. Ela é o primeiro laço social construído pelo adolescente fora de sua família de origem, um espaço que possibilita a experimentação da condição de ser jovem. Essa nova relação não substitui a relação familiar, contudo ela é fundamental para que o adolescente sinta-se autorizado a experimentar situações novas. 14 No trabalho com adolescentes, somos continuamente confrontados com um pedido: “queremos exemplos.” Isso nos indica, entre outras coisas, que nesse percurso de se tornar adulto os jovens querem ter referências tanto de outros jovens com quem se identificam horizontalmente, mas também de adultos, pais, familiares, educadores. Contudo, nos deparamos freqüentemente, na atualidade, com adultos que não sabem como se relacionar com adolescentes. E esse desencontro pode gerar uma ausência da figura do adulto de diversas formas. Alguns exemplos: adultos que querem ser tão jovens quanto os jovens e se colocam de igual para igual em relação a eles; homens que não assumem o papel de pais e simplesmente não se responsabilizam pela criação de seus filhos; mães cansadas de tanto trabalhar e cuidar da família que se ausentam não fisicamente, mas emocionalmente na criação de seus filhos; educadores que, sem entender seus alunos, não conversam, estimulam, discutem com eles; e até um governo que, sem conseguir cumprir o seu papel, o de investir nos jovens, acaba também por deixá-los desamparados. Enfim, toda uma série de ausências e desencontros. E diante de tudo isso, o adolescente sente-se perdido e clama por ajuda. É verdade que não é fácil escutar esse grito, muitas vezes desesperado, desordenado, violento, sem causa aparente. Gritos que aparecem em forma de revolta, ações criminosas, uso de drogas, indisciplina, gravidez precoce ou até suicídio. E afinal, o que querem os adolescentes de hoje? Querem um futuro, um trabalho, um sentido para suas vidas, um mundo adulto que ajude e dê espaço para que eles possam construir projetos de vida possíveis. Como abrir mão dos prazeres imediatos da juventude se eles olham para o futuro e não vislumbram nenhuma possibilidade? Como investir nos estudos, se a escola de hoje, muitas vezes, não se configura como um lugar de aprendizado valorizado, de desenvolvimento pessoal e profissional, de ampliação de horizontes? Como construir um projeto de vida, se muitas vezes eles sequer imaginam por onde começar? Finalmente, perante esse quadro complicado da situação do adolescente na atualidade, poderíamos concluir (como muitos deles, aliás) que não há saída. No entanto, não é isso o que o trabalho com eles tem nos mostrado. Ao contrário, vemos o quanto podem ser potentes e criativos. Para isso é preciso estar com eles, escutá-los, entender o que estão passando, colocar-se ao lado. Eles querem falar, conversar, ser reconhecidos nessa trajetória adolescente. Talvez possamos entender que o papel do adulto frente ao adolescente é o de apostar nele. Apostar é poder sobreviver aos momentos de dúvidas, ataques e desamparo pelos quais ele passa. Apostar é estar física e emocionalmente presente na vida dele, sendo uma referência, colocando limites, conversando sobre questões importantes e até questionando o mundo junto com ele. Apostar é acreditar que existe um futuro possível para os adolescentes de hoje. 15 atividades 1. Brincadeira do nome OBJETIVOS: Estimular a integração do grupo por meio de uma brincadeira com os nomes dos participantes. Auxiliar a memorização os nomes de cada integrante. DESCRIÇÃO: Peça a todos que fiquem em pé, em círculo, e que cada um diga o seu nome um após do outro, pausadamente. Feito isso, explique que na próxima rodada cada um vai dizer o nome do companheiro que está à sua esquerda. Depois, faça uma inversão, peça para que digam o nome do companheiro que está do lado direito. A seguir, proponha que andem pela sala e que refaçam um círculo colocando-se em outros lugares. Repita a brincadeira. 2. O adolescente gosta... OBJETIVO: Promover interação grupal e criar uma atmosfera agradável que estimule conhecer o outro e reconhecer-se no outro. DESCRIÇÃO: Primeiramente, peça que os participantes sentem-se em cadeiras organi- zadas em círculo. Um deles ficará em pé, pois haverá uma cadeira a menos que o número de participantes. Aquele que ficar de fora deve completar a frase: “O adolescente gosta de... (tênis, por exemplo)”. Se preferir, você pode também propor outras frases como: “O adolescente que mora no bairro tal é...” ; “Minha expectativa nesse projeto é...”. Os participantes que concordarem com a idéia do colega devem sair do seu lugar e procurar uma outra cadeira. Aqueles que não se identificarem com a frase, devem permanecer em seu lugar. Com a troca de cadeiras, alguém necessariamente vai ficar de fora. Caberá a essa pessoa reiniciar o jogo. Repita a proposta algumas vezes. Ao final, é interessante comentar com o grupo o que ocorreu, observando quais características mencionadas se destacaram (aspectos físicos, atitudes, hábitos; quais tiveram maior ou menor adesão etc.), como eles reagiram e assim por diante. 3. Apresentando um amigo OBJETIVO: Promover o conhecimento entre os participantes DESCRIÇÃO: Cada participante deve sentar-se ao lado de um colega desconhecido e se apresentar, falando o nome, a idade, do que gosta, com quem mora, onde estuda, o que faz etc. Depois de 5 ou 10 minutos de conversa, abra a roda e peça para cada um apresentar ao grupo o colega que acabou de conhecer. 16 4. Terremoto OBJETIVO: Promover interação grupal e o conhecimento do outro. DESCRIÇÃO: Os participantes do grupo devem formar trios e um adolescente deve ficar de fora. Em cada trio, duas pessoas devem erguer as mãos formando uma espécie de casa ou cabaninha sobre uma terceira que ficará dentro dessa casa. A idéia é formar a imagem de “uma casa com um morador dentro”. A seguir, aquele participante que ficou de fora deve falar algo sobre si, por exemplo, “Eu gosto de...” ou “Eu sou...” Em seguida ele deve escolher uma entre três palavras – casa, morador ou terremoto – para provocar uma mudança de lugar dos participantes. a. Se ele disser casa, as duplas que formam a casa devem procurar outros pares, trocando de lugar e formando uma nova configuração de duplas na sala; b. Se disser morador, somente os moradores trocam de lugar; c. Se disser terremoto, todos os participantes devem mudar de posição e formar novas casinhas com moradores. Quando as pessoas trocarem de lugar, aquele que deu a ordem deve adentrar nas formações, obrigando o novo participante que “sobrou” a recomeçar a brincadeira, dizendo alguma característica de si mesmo para o grupo. COMENTÁRIOS: Caso você use a brincadeira como aquecimento de uma oficina, pode sugerir que a frase inicial tenha a ver com o tema proposto. Por exemplo, se estiver trabalhando no Módulo Família, o adolescente pode dizer: “Eu sou o caçula”, “Eu gosto do meu quarto”, “Em casa eu lavo a louça” e assim por diante. 5. Mapeando o grupo OBJETIVO: Fazer um mapeamento do grupo e colher dados pessoais de cada participante. DESCRIÇÃO: Cada participante deve receber uma folha com o quadro abaixo. O objetivo do jogo é que cada um preencha a coluna “resposta” com o maior número de nomes dos colegas. Para isso, dado o sinal, todos devem circular pela sala simultaneamente, fazendo as perguntas propostas, mas cada um só poderá escrever o nome daqueles que responderem “sim” em cada questão (por exemplo: Maria, Isabel e Sandra têm bichos de estimação – neste caso, o participante poderá colocar o nome das três). Quando o monitor perceber que a maioria está terminando, deve dar o sinal para parar. Quem conseguir responder todas as perguntas e tiver o maior número de nomes diferentes será o vencedor. 17 COMENTÁRIOS: Ao final do jogo, é importante que o monitor socialize as resposta em um painel ou na lousa, escrevendo os nomes daqueles que responderam afirmativamente cada pergunta. Juntos, todos podem analisar se há poucos ou muitos nomes em cada questão, quais os nomes que aparecem mais etc. Isso possibilitará que sejam verificadas as semelhanças e as diferenças entre si. Naturalmente, você pode modificar as perguntas de acordo com o seu grupo. Se o grupo já se conhecer bastante, você pode mudar a proposta, pedindo para que adivinhem quem corresponde à pergunta. Depois eles devem verificar se acertaram. QUESTIONÁRIO 18 Nº Pergunta 1. Você tem um bicho de estimação? 2. Você tem mais que dois irmãos? 3. Você tem namorado? 4. Você tem pais separados? 5. Você gosta de ouvir pagode? 6. Você gosta de matemática? 7. Você pratica esporte? 8. Você é chocólatra? 9. Você já dançou na frente do espelho? 10. Você já amou sem ser correspondido? Resposta 6. Montagem de painel OBJETIVO: Fazer uma marca pessoal que identifique e apresente cada participante. MATERIAL: Para essa atividade você precisará de: • um grande pedaço de papel pardo • papel sulfite • lápis e canetas hidrográficas • revistas • cola DESCRIÇÃO: Peça que cada participante pense em algo que possa ser sua marca pes- soal – um desenho, uma frase, um logotipo, suas iniciais, seu próprio nome. Distribua papéis para cada um fazer seu rascunho. Estenda o papel pardo no chão e organize os materiais de modo que sejam facilmente utilizados. É importante que o papel tenha um tamanho suficiente para todos ocuparem seu espaço. Quando estiverem prontos, cada um deve registrar (se preferirem, colar) sua marca no papel pardo, de modo a formar um único painel. Ao final, sentados em roda, peça que apresentem sua marca ou desenho, justificando-a (Por que a escolheu? De que maneira essa idéia o representa? Por que utilizou determinadas formas e cores?). Favoreça os comentários dos colegas. COMENTÁRIOS: Observe como cada um ocupa o papel pardo, se compartilham o espaço, se deixam o colega ocupá-lo etc. Além de ser um instrumento para que os participantes se conheçam e se expressem, o painel pode cumprir a função de pessoalizar o espaço usado pelo grupo. Se for possível, deixe o painel afixado na parede nas próximas oficinas. Se você tiver mais tempo e recursos, também poderá utilizar um grande tecido para realizar a proposta. Mais tarde, será possível transformá-lo em uma toalha para a hora do lanche ou uma cortina para a sala onde as atividades são realizadas. Ao final do projeto, esse pano poderá ser sorteado entre os participantes. 19 para se aprofundar... Livros ABRAMO, Helena Wendel; BRANCO Pedro Paulo Martoni. Retratos da Juventude Brasileira: analises de uma pesquisa nacional. São Paulo: Fundação Perseu Abramo/Instituto Cidadania, 2005. ABRAMO, Helena; FREITAS, Maria Virgínia; SPOSITO, Marília Pontes (Orgs.). Juventude em debate. São Paulo: Cortez, 2000. ASSIS, Simone Gonçalves de; AVANCI, Joviana Quintes; PESCE, Renata Pires. Resiliência na adolescência. Porto Alegre: Artmed, 2006. CALLIGARIS, Contardo. A adolescência. São Paulo: Publifolha, 2000. (Folha Explica, 4) CENPEC. Diálogo e Ação. v. 1-4, São Paulo: Cenpec, 2002. CENPEC. ONG espaço de convivência. 4ª ed., Col. Educação e Participação. São Paulo: Cenpec, 2003. CENPEC. JOVENS e escola pública. 2.ed. 3 v. V.1: Escutar: um ponto de encontro. V.2: Olhar: histórias de lugares e vínculos. V.3: Pertencer: subjetividade, socialização e saber. São Paulo: Cenpec, 2006. FREIRAS, Maria Virginia (Org.). Juventude e adolescência no Brasil: referências conceituais. São Paulo: Ação Educativa, 2005. 20 MATHEUS, Tiago Corbisier. Ideais na adolescência: falta (d)e perspectivas na virada do século. São Paulo: Annablume, 2002. (Selo Universidade - Psicologia, 195). NOVAES, Regina; VANNUCHI, Paulo (Orgs.). Juventude e Sociedade: trabalho, educação, cultura e participação. São Paulo: Fundacão Perseu Abramo, 2004. PALADINO, Erane. O adolescente e o conflito de gerações na sociedade contemporânea. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005. REVISTA IMAGINÁRIO. Juventude. São Paulo: LABI – Laboratório de Estudos do Imaginário do Instituto de Psicologia da USP, Ano XII, N. 12, 1º semestre de 2006. REVISTA MENTE E CÉREBRO. O olhar adolescente 1, 2 e 3. São Paulo: Duetto, 2008. SAYÃO, Rosely. Como Educar Meu Filho? São Paulo: Publifolha, 2003. SERRÃO, Margarida; BALEEIRO, Clarice. Aprendendo a ser e a conviver. São Paulo: Fundação Odebrecht/FTD, 1999. SPOSITO, Marília Pontes. Os jovens no Brasil: desigualdades multiplicadas e novas demandas políticas. São Paulo: Ação Educativa, 2003. ZAGURY, Tânia. O adolescente por ele mesmo. Rio de Janeiro: Record, 1996. e e d a d i ident e d a d i s r dive introdução m uma idade de descoberta de si, de afirmação dos desejos, de busca pelos direitos e conscientização das responsabilidades, algumas perguntas são recorrentes para os adolescentes: Quem sou eu? Do que eu gosto? Quem eu quero ser? A qual grupo eu pertenço? Enfim, qual é a minha tribo? Essas perguntas falam da construção da própria identidade que se dá na relação com o outro e consigo próprio. E Nessa fase da vida, construir uma imagem de si mesmo é uma questão fundamental. O adolescente não é mais aquela criança completamente ligada aos pais, ele começa a querer levantar vôo próprio, tem opiniões e visões singulares, que são, muitas vezes, diferentes das de seus familiares. Nesse sentido, o grupo de amigos torna-se algo essencial. Ter uma turma, uma tribo, adotar um estilo próprio de se vestir, eleger seu tipo de música preferido são formas de se encontrar, de se organizar e de construir uma identidade. Discutir a identidade, aquilo que é singular em cada um, remete, necessariamente, não só aos gostos pessoais, mas também ao diverso e ao coletivo. Olhar o outro, tentar compreendê-lo, é uma forma de se entender. Muitas vezes, os confrontos entre a identidade pessoal e a grupal, ou entre grupos com fortes características identitárias (como as torcidas, por exemplo) geram conflitos bastante intensos. É nesse momento que a tolerância, a aceitação de si e do outro podem se fortalecer, contribuindo para um desenvolvimento pessoal e social saudável. A proposta deste módulo caminha nessa direção. Você vai observar que as três primeiras oficinas são complementares e, por isso, os resultados podem ser mais interessantes se elas forem trabalhadas em seqüência. Contudo, nada impede que você escolha apenas alguma delas para trabalhar isoladamente. Além disso, você vai perceber que a primeira metade deste módulo privilegia as questões mais individuais e perguntas como: Quem sou eu? Quem eu quero ser? Com quem me identifico? Já a segunda metade aborda questões mais ligadas ao outro, à alteridade e à diversidade. Nas oficinas correspondentes à segunda metade do módulo, as questões das diferenças, dos preconceitos e da tolerância ficam mais evidentes. A experiência nos mostrou que, para constituirmos uma grupalidade interessante, pode ser muito importante trabalhar esse tema da diversidade e do preconceito, pois em muitos momentos ele aparece internamente no grupo. Além disso, há muitos filmes e músicas que você pode usar de modo a enriquecer esse tema. Boa sorte! 22 objetivos do módulo: • Favorecer a reflexão do adolescente sobre suas características pessoais, sua história e seus projetos, levando-o a construir uma identidade e uma auto-imagem mais fortalecida. • Favorecer o olhar do adolescente para o outro de modo que conheça e respeite as diferenças entre os seres humanos, ajudando-o a refletir sobre os próprios preconceitos e abrindo uma nova perspectiva sobre a questão da diversidade como algo positivo e enriquecedor. com a palavra... Intolerância Yudith Rosenbaum E xistem pelo menos dois processos acontecendo, ao mesmo tempo, quando o adolescente se relaciona com seu grupo social (a família, os colegas da escola, os amigos do bairro etc.). De um lado, ele quer mostrar que tem personalidade e não se submete ao que os demais pensam. Os comportamentos exibicionistas e rebeldes mostram essa necessidade de se afirmar e se discriminar de todos para ser ele mesmo. Seria mais ou menos assim: “Como saber quem sou eu se não me desgrudar dos meus pais, dos colegas, das figuras de autoridade?” Isso costuma gerar a intolerância do adolescente com irmãos, pais, professores e amigos. O isolamento ou a antipatia por pessoas que possam influenciá-lo acaba sendo um jeito de definir sua identidade e não se confundir com os que o rodeiam. É uma fase difícil, sobretudo para os familiares, que não compreendem a razão de atitudes tão intolerantes. De outro lado, esse mesmo jovem precisa sentir que é igual aos seus pares e que faz parte de uma turma, um grupo de referência, diferenciando-se, então, dos jovens de outros grupos. Para sentir que pertencem a uma comunidade, seja ela qual for (negros, brancos, punks, evangélicos, roqueiros, gays etc.), muitos adolescentes se mostram intolerantes com quem não pensa da mesma forma ou tem gostos diferentes. Parece importante para eles marcar um território no qual sejam incluídos. E o que eles fazem para ser incluídos? Excluem quem lhes pareça ameaçar a “verdade” do seu grupo, ou YUDITH ROSENBAUM é psicóloga, formada pela PUC – SP e professora de literatura brasileira na USP. Publicou os seguintes livros: Manuel Bandeira: Uma poesia da ausência (Edusp/Imago, 1993); Metamorfoses do mal: Uma leitura de Clarice Lispector (Edusp/Fapesp, 1999); Clarice Lispector (Publifolha, 2002); O livro do psicólogo (Companhia das Letras, 2007). 23 seja, hostilizam os que são diferentes nas crenças, nos hábitos, na opção sexual, na escolha de um time esportivo. Mas por que seria tão ameaçador conviver amistosamente com quem está do outro lado do território demarcado? Para entender isso, é preciso lembrar que o adolescente está em busca de sua identidade, e nesse processo há muitos aspectos de sua personalidade que ele desconhece ou quer esconder dele mesmo. É que uma das maiores dificuldades no amadurecimento dos adolescentes é conseguir aceitar o que ele é – seus limites e sua medida. Só quando seus próprios defeitos ou fragilidades são reconhecidos e aceitos como parte de sua personalidade, sem se envergonhar por isso, torna-se possível tolerar os outros com suas diferenças. Vamos pensar isso por vários lados. Se, por exemplo, o jovem não aceita em si mesmo ter dúvidas, hesitar, ficar inseguro, ter medo, como vai respeitar os que são como ele? Como vai respeitar os velhos se não admite envelhecer? Como vai aceitar alguém de outra religião se tem a ilusão de que a sua é infalível? O primeiro passo para uma convivência tolerante é reconhecer que todos somos de fato imperfeitos e que ser humano significa necessariamente ser incompleto e estar sempre se buscando, se questionando, enfrentando conflitos e superando impasses. Nesse sentido, podemos dizer que a intolerância nasce da resistência das pessoas em perceber nelas aquilo mesmo que rejeitam nos outros. Se não existisse essa dificuldade, a convivência entre grupos diferentes ou mesmo opostos não acarretaria violência, agressividade, comportamentos preconceituosos, como forma de expressar superioridade e auto-afirmação. Bastaria cada um ser o que é e deixar os outros serem o que são em paz. Justamente por isso, nem todos os grupos são intolerantes. Não é apenas o fato de participar de um grupo que torna as pessoas intolerantes. Mas quando se formam gangues, grupos de extermínio, torcidas rivais e outros agrupamentos que ameaçam e atacam “os de fora”, estamos diante de um fenômeno de intolerância mais sério. E nesses casos, vale pensar que algo muito incômodo dentro de cada um ou da própria turma está sendo evitado, encoberto pela intolerância. Um exemplo prático talvez ajude. Se eu tenho desejo de comer muito mas reprimo, ou seja, tento afastar de mim essa tendência indesejável, posso começar a desenvolver uma intolerância aos gordos (que, afinal, realizam o que eu não me permito e nem aceito como um desejo meu). Os gordos, nesse caso, acabam sendo uma espécie de espelho do que eu não tolero em mim. Outro exemplo: se eu escolhi um time e “visto a camisa” desse time – ou seja, me identifico com ele e me sinto humilhado quando o time perde (pois a derrota acaba sendo minha e não do time), sou levado a rejeitar torcidas alheias que ponham em risco meu lugar invencível. 24 Vale lembrar aqui o fato de que ninguém isoladamente se põe a brigar com um grupo rival. Há atitudes que só existem amparadas pela turma. Cada membro do grupo se apóia no próprio grupo para vaiar, atacar ou mesmo executar os oponentes, o que mostra que fora da turma é a fragilidade que predomina. É só lembrar das humilhações coletivas que alguns alunos sofrem na sala de aula, por qualquer motivo: um defeito físico, um traço de personalidade estranho, um desempenho escolar ruim ou melhor do que o dos outros... Talvez fosse interessante dividir os grupos em dois tipos: os que se formam por uma legítima autodescoberta (gays, roqueiros, anarquistas, ecologistas, hippies etc.) e, portanto, estão juntos por afinidades e descobertas comuns, encontrando seus iguais sem destruir ou intimidar os que são heterossexuais, sambistas, ou militantes de outros partidos; e um segundo tipo de grupos que se constituem pelo autodesconhecimento, ou seja, pessoas que buscam fugir do que não querem ver em si e nos outros: anti-gays, anti-mendigos, racistas, nazistas etc. A intolerância desses últimos revela sua fragilidade e sua ignorância em relação às próprias características. A cultura, a mídia e as desigualdades sociais acabam reforçando esse processo, fazendo das minorias bode expiatório, no qual os grupos mais fortes depositam sua raiva, sua inveja, sua intolerância. 25 Oficina 1. Jogo das cartas e preparação para pintura na camiseta OBJETIVO: Ajudar os participantes a refletirem sobre si mesmos, buscando características marcantes que expressem sua identidade. MATERIAL: Cartolina e canetinhas para fazer as cartas; folhas de sulfite (se possível recortadas em formato de camiseta), tintas guache e pincéis. DESCRIÇÃO: Recorte previamente seis cartas (retângulos de cartolina de aproximadamente 12x8 cm). Em cada uma delas você deve escrever, em um dos lados, as palavras: mãe, pai, namorado(a), irmão, melhor amigo, eu. No outro lado, escreva a palavra Identidade. Distribua no chão (ou na mesa) as cartas de modo que o lado com a palavra Identidade fique voltado para cima. Utilize uma garrafa para servir de “roleta” e sorteie o participante que vai começar. A pessoa sorteada deve virar uma das cartas. Assim que ela o fizer, leia a questão correspondente descrita abaixo. Depois que o participante responder, outras pessoas também poderão fazê-lo, cabe a você decidir. Repita esse procedimento até que todas as cartas sejam exploradas. Em seguida, distribua folhas de sulfite, tintas guache e pincéis. Proponha que os participantes pensem em algum desenho, imagem ou palavra que responda a pergunta: Quem sou eu? Diga que devem levar em conta tudo o que foi conversado na atividade anterior. Explique que esse desenho também servirá de rascunho para uma pintura de camiseta que será feita na próxima oficina. Explicar esse objetivo é fundamental, porque a imagem escolhida, além de ser uma marca pessoal, deve se adequar à pintura em tecido. COMENTÁRIOS: A proposta de abordar as semelhanças e diferenças em relação a várias pessoas próximas tem como intuito alimentar a noção de identidade. Nesse sentido, é fundamental que o monitor ajude os jovens a transpor aquilo que pensaram no jogo para o que querem expressar no desenho da camiseta. Preste atenção no tempo para cada resposta, pois é fundamental que todas as cartas sejam trabalhadas. 26 QUESTÕES PARA CADA CARTA: CARTA “MÃE” CARTA “PAI” CARTA “IRMÃO” O que eu tenho de parecido e de diferente de minha mãe? O que eu tenho de parecido e de diferente de meu pai? O que eu tenho de parecido e de diferente de meu irmão? CARTA “NAMORADO(A)” CARTA “MELHOR AMIGO” CARTA “EU” Quais características eu espero encontrar em um(a) namorado(a)? Quais características eu espero encontrar no melhor amigo? O que é mais marcante na minha personalidade? OU O que eu tenho de parecido e de diferente do meu melhor amigo? 27 Oficina 2. Pintura na camiseta OBJETIVO: Trabalhar a identidade pessoal por meio da confecção de um produto va- lorizado pelos adolescentes: a camiseta. MATERIAL: Camiseta branca; um pedaço de papelão ou saco de lixo; pincéis; tinta para tecido, trapos e copos para limpar os pincéis. Opcional: aparelho de som para colocar uma música de fundo. DESCRIÇÃO: Para pintar a camiseta, algumas etapas são necessárias: a. Distribua a cada participante um pedaço de papelão ou um saco de lixo e peça que o coloquem dentro da camiseta para impedir que a tinta vaze para o lado de trás. b. Peça que organizem o espaço a ser utilizado. A seguir, a camiseta deve ser esticada sobre a mesa, e uma ou duas cores serão escolhidas para começar a pintura. c. Forneça algumas instruções gerais de uso do material, tais como: • não é necessário usar muita tinta nas camisetas, pois elas ficam pesadas e demoram muito para secar; • as tintas podem e devem ser diluídas em água, em um recipiente apropriado; • melhor manter um pincel fixo para cada tinta. Se não for possível, é preciso limpar bem os pincéis para trocar de tinta; • tomar cuidado com a própria roupa, pois a tinta não sai após lavagem. Se for possível, peça que os participantes da oficina usem nesse dia uma roupa velha ou coloquem um avental. d. Entregue os desenhos que cada um fez na oficina anterior para que possam reproduzi-los em suas camisetas. e. Ao final do trabalho, peça para todos lavarem os pincéis e ajudarem a arrumar a sala. COMENTÁRIOS: A possibilidade de o adolescente ser autor de uma camiseta que fale da própria identidade é um exercício lúdico e muito valorizado por eles. Além disso, a camiseta possibilita dar visibilidade aos adolescentes, que podem se manifestar de maneira criativa. Se a instituição onde você trabalha não puder adquirir camisetas para todos os participantes, peça que cada um traga a sua, usada ou não, de preferência toda branca. 28 Oficina 3. Fotografia OBJETIVO: Promover diferentes situações de registro de marcas pessoais, dentre elas, a camiseta produzida. MATERIAL: Maquiagem, tintas apropriadas para pele, sabonete e lenço umedecido. DESCRIÇÃO: Distribua as camisetas pintadas da semana anterior e peça que os parti- cipantes as vistam. A seguir, disponibilize a maquiagem e as tintas e peça aos jovens que pintem o próprio rosto livremente. Incentive a ousadia no uso da maquiagem. Esta deve servir como uma máscara, de tal modo que os participantes da oficina possam representar um personagem ou sentimentos que os identifiquem. Dê aproximadamente 40 minutos para a atividade. Quando todos tiverem terminado, cada um deve escolher um local para tirar sua foto. Durante a “sessão de fotos”, estimule poses ou expressões faciais significativas, pois a foto também faz parte da brincadeira da “marca pessoal”. Os adolescentes também podem tirar fotos uns dos outros, podem ainda registrar uma imagem do tipo “o jeito que eu me vejo” e outra que mostre “o jeito que o outro me vê”. Na próxima oficina, as fotos devem estar disponíveis. Caso não seja possível que cada um fique com sua foto, é importante que tenha pelo menos uma do grupo. Rafael Hess COMENTÁRIOS: Seria interessante que você participasse usando a tinta e a maquiagem no próprio rosto para ajudar o grupo a entrar na atividade. Oficina 4. Identidade & diversidade OBJETIVO: Observar diferenças e semelhanças nas características pessoais dos participantes para refletir sobre o tema “diversidade”. MATERIAL: Papel sulfite; lápis de escrever e/ou canetinhas. DESCRIÇÃO: Distribua uma folha de papel e um lápis a cada participante e peça que lis- tem dez características pessoais. A seguir, solicite que classifiquem essas características em duas categorias: aquelas que lhes trazem facilidades ou dificuldades. Para isso, podem refazer a lista, dividindo os atributos em duas colunas ou acrescentando marcas coloridas que as distingam. Em seguida, forme um círculo e peça para cada um escolher duas ou três dessas características e comentá-las. QUESTÕES PARA DISCUSSÃO: • O que você pode fazer em relação às características que, a seu ver, lhe trazem dificuldades? Existe alguma maneira de lidar com elas? • Quais são as características que facilitam sua vida? O que você pode fazer para cultivá-las? • Instigue os jovens a pensar que uma mesma característica pode ser positiva ou negativa dependendo do contexto. Por exemplo, uma pessoa perfeccionista pode ser extremamente valorizada num trabalho que exija capricho e cuidado e ao mesmo tempo pode criar empecilhos quando uma tarefa exige rapidez. Terminada essa primeira discussão, levante com o grupo as características que mais apareceram, aquelas que são comuns aos participantes. Com base nessas características, pergunte: é possível pensar em que “cara” esse grupo tem? Poderíamos pensar em uma palavra marcante para defini-lo? COMENTÁRIOS: Essa atividade é muito interessante para que os adolescentes percebam a diversidade de características pessoais e a importância do contexto nas situações que vivem (uma qualidade pode ser boa em um momento e não ser tão boa em outro). A discussão deve mostrar aos jovens a necessidade de se compreender, de desenvolver a análise crítica e até a tolerância para consigo ou para com os outros. Explore ao máximo essas questões. Você também pode questionar quais seriam as características do grupo diante dessas descrições individuais. 30 Oficina 5. Diversidade: o que é isso? OBJETIVO: Discutir a diversidade a partir das características, vivências e conhecimen- tos do próprio grupo. DESCRIÇÃO: Na oficina anterior, trabalhamos prioritariamente as características comuns aos participantes do grupo, contudo, também sabemos que existem particularidades que diferenciam cada um. Introduza a atividade pedindo para os adolescentes descobrirem o que diferencia as pessoas desse grupo (como cor da pele, dos cabelos, idade, temperamento etc.). Discuta com eles: o que é diversidade? Como se dá a diversidade nesse grupo? Em seguida, divida os participantes em subgrupos e peça para cada um contar uma situação na qual uma característica pessoal provocou um conflito. Por exemplo, uma pessoa idosa que não foi bem atendida no banco, um menino gordo que não foi escolhido para o jogo de futebol etc. Após esse primeiro momento, cada grupinho deve eleger uma das histórias para contá-la no grupão. Abra a discussão geral. QUESTÕES PARA DISCUSSÃO: • O que a história contada provoca? • O que é identidade? O que é diversidade? Como conviver com ambas? • Quais são seus preconceitos? O que você pode fazer com eles? COMENTÁRIOS: Pertencer a um grupo é, em geral, reconfortante, pois compartilhamos coisas com outras pessoas. Contudo, muitas vezes nossas características pessoais destoam, divergem ou entram em conflito com o grupo. Essa dinâmica pode ser frutífera quando se pode conversar e aparar arestas. Dessa forma, o monitor deve ser cuidadoso ao trabalhar essa proposta. Ao discutir os preconceitos, é importante não se restringir aos fatos relatados, analisando o contexto em que vivemos, questionando os valores de nossa época para que os jovens percebam que as idéias são fruto de um tempo e de um lugar. Durante o debate, procure evitar uma postura moralista ou prescritiva, ensinando o que se deve fazer, pois isso geralmente impede que questões importantes venham à tona e sejam discutidas. Estimule-os a entrar em contato com seus preconceitos e pensar em maneiras de lidar com eles. 31 Oficina 6. Debate Homossexualidade OBJETIVO: Aprofundar o debate sobre o tema diversidade a partir da reflexão sobre questões polêmicas. DESCRIÇÃO: Inicie a atividade informando que nesse encontro eles farão um debate acerca de um tema polêmico: a legalização da união homossexual. Divida os participantes em dois subgrupos, distribuindo-os aleatoriamente (você pode atribuir os números 1 e 2 seqüencialmente e depois pedir que os participantes de mesmo número se reúnam). Cada grupo deverá ficar responsável por defender um dos lados da questão. Sorteie quem ficará a favor ou contra. Ressalte que, nesse momento, as opiniões pessoais não contam, esse é um exercício de argumentação, os participantes de cada grupo devem defender a idéia que lhes foi atribuída, mesmo que, pessoalmente, não concordem com ela. Para enriquecer o debate, você pode ler alguma reportagem a respeito da legalização da união homossexual (há vários artigos na internet a respeito). Após a leitura, entregue uma cópia da reportagem para cada grupinho e solicite que a discutam. Dê cerca de 20 minutos para que cada grupo pense em argumentos que justifiquem e embasem sua posição. REGRAS PARA O DEBATE: • Cada grupo terá um minuto para defender a sua posição. Cada vez que um grupo defender seu ponto de vista, o outro terá outro minuto para réplica e assim por diante. • Não existe um vencedor no final: questões polêmicas não têm certo ou errado. Quando você entender que o debate se esgotou, interrompa a atividade e levante as seguintes questões: • O que acharam da atividade? Como cada um se sentiu nesse grupo defendendo uma idéia que não é necessariamente a sua? • Quais são os preconceitos mais comuns no Brasil? • O que gera um preconceito? • É possível não ter nenhum preconceito? • Como lidar com os nossos preconceitos? Ao final, é importante enfatizar que esse encontro não tem como propósito levantar bandeiras contra ou a favor da legalização da união homossexual e muito menos da homossexualidade, mas possibilitar a reflexão sobre a nossa postura diante das diferenças, assim como entender todas as variáveis que estão ao nosso redor e que interferem em nossas escolhas e opiniões. 32 COMENTÁRIOS: É importante que você levante alguns argumentos contra e a favor da questão debatida para alimentar a discussão inicial dos grupinhos. Ajude aqueles que tiverem maior dificuldade em defender uma idéia que não é a sua. A organização do debate é importante para que a atividade não se torne uma briga entre os grupos. É muito comum que os adolescentes se envolvam e, às vezes, se exaltem nas dramatizações. Se você perceber excessos, interrompa a cena e converse com eles. Mesmo que você dê espaço a todo tipo de opinião, inclusive as preconceituosas, a tolerância e o respeito são valores inquestionáveis, que devem ser ressaltados. Nada melhor do que exercitá-los em grupo. Você também pode fazer esse debate escolhendo outra questão polêmica, por exemplo: o sistema de cotas nas universidades, a diminuição da maioridade penal etc. 33 Oficina 7. Gênero OBJETIVO: Promover a discussão sobre os papéis feminino e masculino. MATERIAL: Cartolina e caneta hidrográfica. DESCRIÇÃO: Confeccione previamente seis cartões de cartolina nos quais você deverá escrever as seguintes frases: • • • • • • Se você fosse mulher por um dia, o que você faria? Se você fosse homem por um dia, o que você faria? Eu gostaria de ser mulher porque... Eu não gostaria de ser mulher porque... Eu gostaria de ser homem porque... Eu não gostaria de ser homem porque... Peça para todos sentarem em círculo (no chão ou em cadeiras). Coloque no centro desse círculo uma roleta (uma garrafa vazia ou uma caneta podem servir). Um voluntário deve girar a roleta improvisada para sortear o participante que vai começar o jogo. Essa pessoa deverá escolher um cartão e completar a frase proposta (que diz respeito ao sexo oposto ao seu). Depois que o sorteado responder, o grupo também poderá fazê-lo, de modo que todos possam participar. Repita esse procedimento até que todos os cartões sejam explorados. Ao final, faça uma discussão coletiva. Pontos para discussão: • O que mais apareceu como vantagem de ser homem ou mulher? • O que mais apareceu com desvantagem de ser homem ou mulher? • Na sociedade atual, existe discriminação por essa questão de gênero? Quais são os motivos que podem estar por trás disso? • Alguém do grupo já passou por alguma situação de preconceito por ser homem ou mulher? Como reagiu? Como lidar com esse tipo de conflito? COMENTÁRIOS: Fornecer elementos históricos pode ser uma boa maneira de fomentar e contextualizar a discussão entre os participantes da oficina. Conte casos de como eram os comportamentos de homens e mulheres no início do século XX, por exemplo, em relação ao casamento, às tarefas domésticas ou ao trabalho. 34 Oficina 8. Resolução de conflitos – Injustiças OBJETIVO: Auxiliar os jovens a refletirem sobre conflitos cotidianos relacionados à injustiça ou ao preconceito e a pensarem novas possibilidades de solução. MATERIAL: Cópia da situação de injustiça (ver página 37) para cada pequeno grupo. DESCRIÇÃO: Inicie a oficina perguntando aos integrantes do grupo se eles já viveram situações de injustiça ou preconceito em seu cotidiano. Quais? Como se sentiram? Em seguida, peça para formarem grupinhos (trios ou quartetos), conforme o número de jovens. Distribua os depoimentos de conflitos (em anexo) para cada grupo. Cada grupo deve planejar uma dramatização da situação relatada ou, se preferir, pode inventar uma outra situação de conflito que seus membros queiram dramatizar. A encenação deve ser rápida para que os jovens tenham tempo de discuti-la. A cada apresentação dos grupinhos, problematize as principais questões de cada situação na discussão coletiva. As questões abaixo devem ajudá-lo. • O que fez quem sofreu a injustiça ou o preconceito? • O que fez quem se comportou injustamente? • Quais são as possíveis causas desse conflito? • Como os personagens se sentiram e lidaram com a situação? • Quais são as possíveis soluções para esse conflito? • O que você faria se estivesse no lugar dessa pessoa? • Esse tipo de conflito já aconteceu com você? Como se sentiu? Como reagiu? • Você reconhece situações em que tenha sido injusto ou preconceituoso? Ao final, promova um debate a partir das cenas sobre a questão dos preconceitos, pergunte como se sentiram assistindo às dramatizações ou participando delas e o que as diversas cenas têm em comum. COMENTÁRIOS: Uma análise fragmentada de um fato sempre leva a opiniões parciais. Na adolescência, conceitos e princípios estão sendo construídos, por isso, os jovens se apegam a suas idéias com paixão e nem sempre conseguem se deslocar para observar outros pontos de vista. A idéia central dessa atividade é ajudar os adolescentes a analisar as situações relatadas de vários pontos de vista, para forjar uma opinião crítica e sólida. Analisando as situações relatadas, os jovens terão elementos para buscar soluções para muitos conflitos que podem ter sido vividos pelos participantes, o que certamente irá enriquecer a atividade. Ajude-os a pensar soluções para resolver esses conflitos de maneira justa, pacífica e equilibrada. 35 para se aprofundar... Livros Filmes ABRAMO, Helena. Cenas juvenis, punks e darks no espetáculo urbano. São Paulo: Saiita/ ANPOCS, 1994. American Pie Paul Weitz, 1999. COSTA, Cristina. Caminhando contra o vento: uma adolescente dos anos 60. São Paulo: Moderna, 1995. ERIKSON, Erik. Identidade, juventude e crise. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1987. FRAGA, Paulo Cesar; JULIANELLI, Jorge (Orgs.). Jovens em tempo real. Rio de Janeiro: DP e A, 2003. INSTITUTO CREDICARD. Educadores e jovens em ação. São Paulo: Via Impressa, 2006. KOLE. A. T.; DIAS, F. L. Encontro da galera. CD Rom. Projeto Saúde Integral. SENAI, 1997. Sites Educarede: http://www.educarede.org.br Museu da Pessoa: http://www.museudapessoa.net Mundo Adolescente: http://www.mundoadolescente.com.br Onda Jovem: http://www.ondajovem.com.br 36 Antonia Tata Amaral, 2006. Código Desconhecido Michael Haneke, 2000. Crash – No Limite Paul Haggis, 2004. Elephant Gus Van Sant, 2003. Em Busca da Terra do Nunca Marc Forster, 2004. História Real David Linch, 1999. Ken Park Larry Clark e Edward Lachman, 2002. Sociedade dos Poetas Mortos Peter Weir, 1989. ANEXOS Depoimento 1 José Antônio, 17 anos Eu estava na rua com meus amigos indo para uma balada. A polícia apareceu para dar uma batida. Pediu os documentos, a gente mostrou, eles olharam e nos revistaram. Até aí eu achei normal, mas o policial ficou dizendo que a gente era maloqueiro, que ia vender drogas, que a gente era desocupado, ficou humilhando. Foi bem ruim mesmo... Eu estudo, não sou desocupado, mas não podia discutir com eles. Depois de ficar com a gente 15 minutos, resolveram dispensar, mas a gente até perdeu o embalo, nem quis mais ir pra balada. Eu acho muito injusto a polícia tratar a gente assim, se eu fosse “branquelo”, talvez eles não tivessem feito isso. Depoimento 2 Maria Eduarda, 15 anos Tem uma menina na minha classe que é muito metida, ela se acha. Ela é uma das mais bonitas da escola e eu a odeio. Sempre que pode, ela esnoba a gente, diz que eu e minhas amigas andamos mal-vestidas, que a gente é burra, que não vai ser nada na vida. Um dia, eu não agüentei, acabei brigando e dei um tapa na cara dela logo na saída da escola. Isso foi para ela aprender a não ser besta e a me respeitar. Se implicar comigo de novo, vai levar. Não estou nem ligando se levar suspensão. Depoimento 3 Aline, 17 anos Acontece com muita gente, eu sei, mas eu não acho certo. No domingo, eu fui ao shopping do meu bairro com minhas amigas. A gente não tem muita grana, mas gosta de ver as vitrines e às vezes alguém compra alguma coisa. Entrei numa loja para perguntar o preço de uma saia que eu achei legal. A vendedora, que era um pouco mais velha do que eu, me mostrou a saia na maior má vontade e quando eu perguntei o preço ela disse: “não sei se vai caber no seu orçamento, ela custa R$ 70,00.” Eu fiquei doida de raiva, eu disse que podia embrulhar, só pra mostrar que eu posso pagar. Mas eu não posso, acabei com o meu orçamento e tive que fazer uma prestação. Agora nem tenho vontade de usar a tal da saia! 37 o p r o c introdução ste módulo aborda um tema que ocupa boa parte das preocupações adolescentes: o corpo. As intensas transformações físicas que acontecem nessa época têm importantes conseqüências sobre a auto-imagem, as emoções e a sociabilidade dos jovens. Assim, promover o acesso a conhecimentos e informações sobre o corpo e saber cuidar dele é uma tarefa importante a ser realizada nessa fase da vida. E As atividades aqui propostas procuram enfocar diferentes pontos de vista – o biológico, o psicológico e o sociocultural – para que o adolescente possa ter uma visão ampliada de si e do seu desenvolvimento. Trabalharemos o exercício de apropriação e aceitação do novo corpo que se forma nesse período e o que essa transformação acarreta na vida do adolescente. Abordaremos também a questão da alimentação sob a perspectiva da saúde e da imagem corporal. Além disso, é importante que você dê um lugar ao corpo ativamente, a fim de que os adolescentes não se limitem a pensar sobre ele, mas possam senti-lo, experimentá-lo e percebê-lo em todas as suas dimensões. Por essa razão, no início de cada oficina, estão previstas algumas atividades de aquecimento nas quais sugerimos um pequeno trabalho corporal. Você perceberá que este módulo contém menos oficinas que os demais. Nossa experiência mostrou que algumas questões fundamentais relacionadas ao corpo falam também da sexualidade. Por esta razão, elas são abordadas a seguir, no módulo dedicado a esse tema. Não se esqueça de recorrer ao Livro do adolescente sempre que necessário. Bom trabalho! objetivos do módulo: • Promover maior conhecimento acerca do funcionamento do corpo humano e das transformações ocorridas na puberdade. • Favorecer a reflexão sobre as necessidades e particularidades de cada indivíduo em relação ao próprio corpo, estimulando uma maior consciência e percepção corporal. • Discutir as relações entre corpo e cultura, de modo que o jovem possa questionar os conceitos de saúde e beleza vigentes em nossa sociedade. 40 com a palavra... O adolescente e seu corpo Junia de Vilhena Joana de Vilhena Novaes adolescência é um período caracterizado não apenas por profundas mudanças no corpo, nas relações familiares, na escola, nas amizades, como também por grandes incertezas. Um novo corpo surge, uma nova sexualidade e sensorialidade despontam e a pressão do grupo social, amparada na mídia, torna-se extremamente poderosa. A Por estarmos vivendo em uma sociedade que cultua a imagem, o corpo do adolescente pode acabar se tornando uma prisão. Lócus privilegiado da construção identitária, a relação com o próprio corpo, em alguns momentos, pode gerar desprazer e até uma certa obsessão. A estética nos dias de hoje assume um papel distinto daquele que exercia em outros tempos. Com o arsenal de técnicas corporais disponíveis e acessíveis a todas as classes sociais (um bom exemplo é o número de academias de ginástica nas favelas e periferias), gerou-se a crença de que “só é feio quem quer”. A beleza, antes um atributo “natural”, passou a ser “moralizada”, sendo agora entendida como uma demonstração de força de vontade. De atributo físico (“se eu conseguir ser bonito, melhor”), a beleza tornou-se um dever moral (“se realmente quiser, eu consigo ser bonito”). O fracasso em ser belo não se deve agora a uma impossibilidade mais ampla, mas a uma incapacidade individual. O culto ao corpo Sabemos que a gordura é, hoje em dia, associada à feiúra e alvo de explícita exclusão social. Objeto de grande regulação social, os corpos passaram a ser monitorados pelo viés da saúde (comidas orgânicas, combate aos radicais livre, dietas as mais variadas) e também da estética. Em uma sociedade na qual os ideais continuam a ser brancos e burgueses, não é de estranhar uma pasteurização nos modelos estéticos tidos como belos. Os discursos sobre os corpos nos falam de mulheres louras, magras, altas e eternamente jovens que em nada se assemelham ao biótipo da maioria das brasileiras. O mesmo pode ser dito acerca da imagem que se veicula do homem ideal – “sarado”, bem-vestido, circulando em praias e dirigindo carros fantásticos – o que gera a ilusão da saúde perfeita e do sucesso pessoal associado a ela. JUNIA DE VILHENA, psicanalista e terapeuta familiar, é professora da PUC-Rio e coordenadora do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa e Intervenção Social – Lipis da PUC-Rio. JOANA DE VILHENA NOVAES é doutora em psicologia clínica, pós-doutoranda da UERJ e bolsista da FAPERJ. Coordena o Núcleo de Doenças da Beleza do Lipis da PUC-Rio. 41 Ora, se observamos a submissão a tal ditadura estética em homens e mulheres mais maduros, como não imaginar o impacto causado nos adolescentes que não se encaixam nesse modelo? Tal marginalização social provoca um profundo sofrimento psíquico e produz vínculos sociais até então não evidenciados, tais como a profunda exclusão vivida por jovens que não se sentem pertencentes ao grupo desejado. Certamente não podemos reduzir todo o desconforto à questão estética. Na adolescência, quando se observa o desabrochar de uma sexualidade adulta que ainda necessita ser experimentada, aparecem, muitas vezes, grandes angústias. Serei atraente para o outro? Saberei ter um bom desempenho sexual? Conheço os limites de meu corpo? O que busco para mim? São perguntas que servem de pano de fundo para inúmeras incertezas e inseguranças. Contudo, grande parte dessas angústias ainda está ancorada em um sentido de inadequação aos modelos estéticos vigentes. Como ser loura/o e com cabelos lisos se vivemos em país majoritariamente negro/mestiço? Observamos, com freqüência, que atender a esses apelos da estética vigente significa, em última instância, aceitar a extinção da própria raça – ou seja, os ideais ainda são de embranquecimento. Felizmente, já podemos observar movimentos de resistência, através da cultura hip-hop, por exemplo, na qual tanto a identidade quanto a estética e as produções artísticas negras passam a ser valorizadas. Sem dúvida, não podemos generalizar, nem circunscrever a questão do culto ao corpo aos ideais de embranquecimento – mas podemos, sim, situá-la em uma cultura que, além de importar modelos exógenos, é muito pouco tolerante às diferenças – ponto crucial para o adolescente. Este precisa sentir-se pertencendo ao grupo; quando isso não acontece, podemos vislumbrar possibilidades não muito promissoras: dos transtornos alimentares que aumentam dia a dia, aos atos agressivos e/ou violentos que apelam por um reconhecimento mais justo. 42 Alguns caminhos É possível obter sem grandes dificuldades algumas indicações acerca da existência de problemas dos adolescentes com seus corpos e sua sexualidade. Podemos convidá-los a falar de possíveis desconfortos com o próprio corpo e a que atribuem isso; discutir criticamente com eles a cultura que supervaloriza o sucesso midiático; acompanhar suas interações com os colegas (retraídos, agressivos, violentos?); observar seu vestuário – se escondem ou se mostram em demasia? Estão sempre de casaco mesmo em dias muito quentes? Quais hábitos alimentares consideram inadequados e desejariam mudar? Todos esses aspectos fornecerão algumas indicações acerca de eventuais problemas. Sabemos que há uma profunda ligação entre a ansiedade e a comida. Aquele gordinho simpático e extrovertido pode estar aprisionado no conhecido estereótipo de que gordinhos têm de ser “boa praça” e fazer tudo certinho. As notas escolares podem ajudar na aferição do adolescente, mas não se deve esquecer que também é importante estar bem consigo mesmo. Ter de ser o melhor aluno ou não poder fracassar jamais não são bons parâmetros para avaliar a auto-estima do aluno. Observar a aparência – um emagrecimento a olhos vistos pode indicar o início de uma anorexia ou bulimia. Por exemplo, "Ana" e "Mia" são comunidades no Orkut que ensinam os jovens a desenvolver essas práticas e, simultaneamente, a enganar pais, pedagogos, psiquiatras, terapeutas e professores. Ariscos e espertos, os adolescentes geralmente acreditam que o melhor conselheiro é o amigo. O caminho ideal para um adulto ajudar um jovem é, em particular; dizer-lhe que você está disponível caso ele queira conversar sobre qualquer tema. Sempre sem constrangê-lo. Os adultos que trabalham com jovens devem estar atentos aos indícios que eles podem nos dar quando não estão bem. Se notar algo de diferente como um rápido emagrecimento ou aumento de peso, um afastamento do grupo, talvez seja o momento de conversar com os pais, cuidadores e amigos próximos, para entender o que está acontecendo. 43 Oficina 1. As transformações do corpo OBJETIVO: Discutir as mudanças corporais da adolescência, os novos cuidados decor- rentes e as conseqüências sobre a auto-imagem. MATERIAL: Tiras de papel sulfite e caixa para sorteio. DESCRIÇÃO: Peça que os adolescentes se deitem no chão e fechem os olhos. Proponha que se transportem para a infância, quando tinham cerca de 10 anos. Levante uma questão por vez: Como era seu corpo? Como você se sentia? Que roupas usava? Como as pessoas o viam? Dê um tempo para que possam rememorar suas experiências. A seguir, continue a perguntar lentamente: Seu corpo está mudando? De que maneira? O que você observa de diferente? Como você tem encarado essas mudanças? Como acha que vai ser daqui a alguns anos? Peça então que abram os olhos e, devagar, retomem seus lugares, sentados em círculo. Em seguida, cada participante deve escrever, em uma tira de papel, uma mudança que ocorreu (ou está ocorrendo) em seu corpo após a entrada na puberdade, depois dobrar a tira e colocá-la em uma caixa. Quando todos tiverem terminado, cada um vai sortear uma dessas tirinhas (que não seja a sua), lê-la e pensar em uma conseqüência positiva e outra negativa dessa mudança descrita pelo colega. Por exemplo: Menino: Minha voz engrossou. Conseqüências: Isso é bom porque você já parece um homem. Isso é ruim porque você anda desafinando de vez em quando. Evidentemente, há mudanças que não são nada agradáveis, o que vai obrigá-los a descobrir algo de positivo nelas, como no caso abaixo: Menina: Eu estou com espinhas. Conseqüências: Isso é bom porque você tem de cuidar mais da pele. Isso é ruim porque fica feia. Discuta com o grupo sobre cada mudança relatada e as sugestões dos colegas para lidar com elas. Tentar positivar os problemas não significa desprezar os dramas que afligem o adolescente, mas permite encarar mudanças temporárias com mais leveza e bom-humor. Ao final, retome todas as mudanças citadas e pergunte se alguém lembra de alguma que não foi mencionada. Estimule a discussão grupal em torno dessa experiência de mudança corporal para que os participantes compartilhem seus pontos de vista. 44 COMENTÁRIOS: As questões que surgirem darão informações úteis para você encaminhar as oficinas subseqüentes. Permita que o próprio grupo busque soluções para as dificuldades e ansiedades relatadas. Se for necessário, pesquise com especialistas, em revistas ou livros formas de amenizar os problemas enfrentados, respondendo as questões em encontros posteriores. As informações abaixo (que também estão presentes no Livro do adolescente) podem ajudar a desenvolver a atividade: • Alguns hormônios fazem seu trabalho de forma mais ativa na adolescência. Esse processo começa entre os 8 e 13 anos para as meninas e entre os 9 e 14 anos para os meninos. • Os adolescentes ganham nessa fase de 20 a 25% da altura e 50% da massa corporal (peso) definitivas. • O crescimento se acelera primeiramente nas extremidades do corpo (braços, pernas, mãos e pés) e depois no tronco (para os meninos) e no quadril (nas meninas). • Na adolescência há o chamado “estirão de crescimento” entre os 10 e 16 anos. Podese crescer até 10 cm por ano nessa fase, durante três anos consecutivos. • As mudanças corporais costumam durar de dois a quatro anos e meio. • O timbre de voz dos meninos se altera durante toda a puberdade, em especial nas fases mais avançadas, por causa do crescimento da laringe. • O desenvolvimento dos órgãos genitais acontece devagar, em etapas. Nas meninas, crescem os seios (mamas); nos meninos, o processo começa pelos testículos, que aumentam de tamanho antes do pênis. Os pêlos crescem devagar, até cobrirem a região pubiana na fase final de maturação. 45 Oficina 2. As funções do corpo OBJETIVO: Discutir as funções de diferentes partes do corpo de modo a promover maior conscientização de suas potencialidades. MATERIAL: Cartolinas e canetas hidrográficas. DESCRIÇÃO: Como uma forma de aquecimento, peça que os participantes, em silêncio, façam caretas de acordo com suas instruções: “Faça uma cara de alegria, de saudades, de medo, de ironia, de fome, de nojo, de espanto” ou outras quaisquer que você quiser. A cada instrução, dê um tempo para que observem uns aos outros, sem falar. Depois, peça que acrescentem gestos à expressão facial: “Agora você está bravo”, “agora você está mandando em alguém”, “agora você está pedindo algo”, “agora você está agredindo” etc. Ao final da brincadeira, converse um pouco sobre essa experiência, ressaltando a importância da expressão não-verbal. A seguir, divida os participantes em pelo menos três grupos e distribua uma cartolina e canetinhas para cada um deles. Peça que dobrem a cartolina em três partes iguais. Diga que eles devem desenhar, coletivamente, um rosto no primeiro terço da folha e escrever uma palavra relacionada às partes do rosto que desejarem. Por exemplo: sinceridade para os olhos, comunicação para a boca, e assim por diante. Sem mostrar sua produção para os demais, a folha deve ser dobrada e passada para o grupo do lado que vai continuar a figura humana no segundo terço da folha, com o desenho do tronco. Eles também devem escrever atributos para as partes que desejarem (por exemplo, cintura – "jogo de cintura", flexibilidade, habilidade; braço – força; tórax – acolhimento, sensibilidade etc.). Novamente peça que dobrem e troquem as folhas entre si, de modo que o grupo que recebê-la não olhe o que já foi feito pelos demais. Nesse último desenho, eles devem desenhar as pernas e os pés, atribuindo-lhes também significados. Ao final, todas as cartolinas devem ser abertas e expostas. Naturalmente, os desenhos serão divertidos e inusitados. Abra uma discussão, orientando-os a refletirem sobre: • Como foi fazer essa atividade? • Houve algum desentendimento no grupo para atribuir palavras às partes do corpo? Como isso ocorreu? • Você já havia pensado nas funções do seu corpo? • Agora, olhando todos os desenhos, o que mais chama a atenção? Você acrescentaria alguma coisa? 46 • Você se lembra de alguma experiência, sua ou de outros, em que os gestos foram mais importantes que as palavras? COMENTÁRIOS: Nesse momento em que o corpo se transforma, é importante os adolescentes perceberem seus limites e potencialidades. Ajude-os a compreender que seus gestos, expressões ou silêncios revelam sentimentos e idéias e, certamente, interferem nas relações pessoais. Essa é uma oportunidade de se conscientizarem das mensagens que enviam de seu corpo sem perceber, e daquelas que recebem. É uma forma de perceber e conhecer o outro. 47 Oficina 3. Alimentação e nutrição OBJETIVO: Discutir o tema dos cuidados corporais, abordando-o com o foco na alimentação e no lugar que ela ocupa na vida dos adolescentes. DESCRIÇÃO: Para afinar o grupo com o tema da oficina, proponha algumas perguntas norteadoras para uma conversa inicial. Por exemplo: Você acha que se alimenta bem? Por quê? A sua alimentação mudou desde quando você era criança? Se você fosse uma comida, o que seria? O que você pensa da frase: Eu sou o que eu como? Em seguida, peça que os adolescentes abram o seu livro no Módulo Corpo, na página em que está desenhado um menu, e montem o cardápio do dia, ou seja, que relatem o que estão acostumados a comer durante o dia (segue abaixo a reprodução da proposta). Quando todos terminarem, convide-os a falar sobre o cardápio (não é necessário que todos relatem), marcando as diferenças individuais, fazendo perguntas pertinentes. Chame a atenção para a ingestão de líquidos e para os alimentos que são consumidos fora das refeições, porque muitos adolescentes não bebem água ou gostam muito de beliscar. Depois, abra o Livro do adolescente nas páginas seguintes e explore as informações, sempre dando espaço para perguntas e comentários. Por fim, divida os jovens em grupos e solicite que montem um cardápio diário saudável, equilibrado e, mais importante, viável, a partir das discussões e informações aprendidas no dia. É preciso usar a criatividade! Para terminar, peça que elejam o cardápio mais adequado às suas necessidades. COMENTÁRIOS: Como você pôde perceber, essa oficina exige uma leitura antecipada e atenta das informações contidas no Livro do adolescente, de modo que você possa ajudar os participantes em suas dúvidas. No momento da discussão, procure não ser muito prescritivo, pois não há adolescente que coma somente alimentos saudáveis; o cardápio nessa fase da vida é recheado de refrigerantes, doces e salgadinhos que não podem ser completamente banidos do dia-a-dia. Muitas vezes, vale a pena levá-los a se questionar: “O que estou fazendo comigo comendo isso?”. Se houver tempo, promova um bate-papo para que os participantes possam trocar dicas de alimentação. Recomende a leitura das informações do Livro do adolescente. SUGESTÕES: Se possível, convide um nutricionista para participar dessa oficina. Ele poderá dar mais informações, tirar dúvidas, deixando a discussão ainda mais rica e interessante. Você também pode colocar a música “Comida”, dos Titãs, para que escutem ao final da oficina. 48 MENU Café da manhã: Lanche da tarde: Lanche da manhã: Jantar: Almoço: Antes de dormir: Você come em outros horários? O quê? Quando? 49 Oficina 4. Espelho, espelho meu OBJETIVO: Trabalhar aspectos subjetivos da relação de cada um com seu corpo. MATERIAL: Aparelho de som, CD de música suave, papel pardo, lápis de cor, canetas hidrográficas (se desejar, pedaços de papéis coloridos e cola). DESCRIÇÃO: Em um clima suave e tranqüilo, com uma música de fundo, peça que os participantes fechem os olhos. Dirija o relaxamento lentamente, começando pelos pés, seguindo pelas pernas, tronco, membros, até a cabeça. Peça que pensem sobre como sentem e vêem o próprio corpo. Depois que abrirem os olhos, solicite que formem duplas. Entregue a cada participante uma folha de papel pardo do tamanho de cada um. Peça que desenhem, com a ajuda do colega, um molde do próprio corpo. A seguir, eles devem trocar de lugar, de modo que ambos tenham seu contorno do corpo. Distribua lápis de cera e hidrográficas (se houver diferentes papéis para colar também pode ser interessante) a fim de que cada um preencha esse contorno, desenhando rosto, roupas e quaisquer detalhes que desejar. Quando terminarem, faça as seguintes perguntas, que devem ser respondidas no próprio desenho: • • • • O que penso quando imagino o meu corpo? O que eu costumo ouvir das pessoas sobre o meu corpo? O que eu gostaria de ouvir? O que eu mais gosto no meu corpo? Ao final, todos devem colocar seus desenhos no chão e circular pela sala para olhar os dos colegas. Abra uma roda de conversa para discutir como se sentiram quando desenhavam o próprio corpo, ressaltando os seguintes pontos: diferenças individuais, aspectos hereditários, o belo em cada um e o modelo social de beleza, a influência da mídia na visão que temos do corpo, cuidados e exigências nessa fase da vida etc. COMENTÁRIOS: No momento do relaxamento, procure utilizar uma música instrumental e não ultrapasse 10 minutos. Essa oficina mobiliza muito os adolescentes, portanto, requer toda a atenção do monitor. É importante que você perceba o modo como cada um se vê, eventualmente confrontando-o com o olhar dos outros. Em geral, um excesso de autocrítica leva a uma imagem distorcida de si que pode ser questionada nesse momento. Procure conversar sobre as mudanças que podem ocorrer nessa fase de desenvolvimento: esse ainda não é o corpo adulto. Há muitas maneiras saudáveis de ficar mais satisfeito com seu corpo e você pode instigá-los a pensar sobre isso. Essa oficina é uma grande oportunidade de discutir as dificuldades que todos, adolescentes ou adultos, encontram para corresponder ao padrão de beleza veiculado pela mídia. 50 Oficina 5. História da beleza OBJETIVO: Favorecer a reflexão sobre as relações entre beleza e cultura para que o jovem perceba que os padrões de beleza são historicamente construídos e possa refletir sobre a interferência dos modelos atuais na construção de sua auto-imagem. MATERIAL: Ilustrações anexas (ao final do módulo). DESCRIÇÃO: Divida os participantes em dois grupos, preferencialmente em meninos e meninas se o grupo for misto. Apresente a folha com as fotos para cada grupo e peça que responda por escrito: Observando esses quadros, qual você acha que era o padrão de beleza em cada uma dessas épocas? O que era ser bonito? Quais os detalhes que chamam sua atenção em cada uma das imagens? Depois que os adolescentes tiverem discutido, peça que respondam uma segunda questão: O que é ser bonito hoje? A seguir, abra a discussão geral e alimente o debate acerca da influência da mídia na criação de um padrão de beleza. Para finalizar, peça que respondam a questão individualmente: O que é ser bonito para mim? COMENTÁRIOS: Os textos da seção Papo cabeça e o texto do especialista no início deste módulo abordam essa importante questão. Não deixe de lê-los antes de iniciar a oficina para estar mais preparado para o debate. Se você achar pertinente, pode também pedir para o grupo ler o texto da história da beleza presente no Livro do adolescente e promover uma discussão sobre ele. 51 para se aprofundar... Livros Sites COLASANTI, Marina. O homem que não parava de crescer. São Paulo: Global, 2005. Centro Vergueiro de Atenção à Mulher: http://www.cevam.org.br COSTA, Ana. Tatuagem e marcas corporais. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003. Dermatologia: http://www.dermatologia.net Dieta: http://www.dietaesaúde.com.br COSTA, Cristina. Os grilos da galera: as questões da adolescência. São Paulo: Moderna, 1996. ECO, Humberto. História da beleza. São Paulo: Record, 2007. Meu Corpo: http:/www.meucorpo.com.br GREEN, Christine. Mudanças no corpo. São Paulo: Moderna, 1994. Nutrição: http:/www.nutrimais.com MATHEUS, Andrea; EISENSTEIN, Evelyn. Fala sério! Perguntas e respostas sobre adolescência e saúde. Rio de Janeiro: Vieira & Lent, 2006. Tratamentos NOVAES, Joana Vilhena de. O intolerável peso da feiúra. Sobre as mulheres e seus corpos. 1a. ed. Rio de Janeiro: PUC/Garamond, 2006. Ambulatório de bulimia e transtornos alimentares do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Tel, (11) 3069-6975. http://www.ambulim.org.br/ RODRIGUES, José Carlos. Tabu do corpo. Rio de Janeiro: Achiamé, 1979. Programa de Orientação e Assistência a Pacientes com Transtornos Alimentares (Proata) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp): http://www.proata.cepp.org.br SALERNO, Silvana e CHARBIN, Alice. Mini Larrouse do Corpo Humano. São Paulo: Larousse, 2003. Filmes SANT’ANNA, Denise Bernuzzi de (Org.). Políticas do corpo. São Paulo: Estação Liberdade, 1995. 52 Manual do Adolescente: http:/www.adolescente.psc.br/ Assuntos de Meninas Léa Pool, 2001. Beleza Americana Sam Mendes, 1999. SANT’ANNA, Denise Bernuzzi de. Corpos de Passagem: ensaios sobre a subjetividade contemporânea. São Paulo: Estação Liberdade, 2001. Espanglês James L. Brooks, 2004. STEINER, Denise. Beleza levada a sério. São Paulo: Celebris, 2006. Pequena Miss Sunshine Jonathan Dayton, 2006. TUCUNDUVA. Sonia. A dieta do bom humor. São Paulo: Panda, 2006. Supersize Me – A Dieta do Palhaço Morgan Spurlock, 2004. Anexo 53 introdução om a chegada da puberdade e as conseqüentes mudanças corporais, muitas novidades acontecem para o adolescente, não apenas físicas, mas também psíquicas. O jovem ingressa num processo de apropriação de um corpo em transformação e encara a possibilidade de exercer a sexualidade de forma ativa, o que exige um trabalho de reflexão acerca dessa nova fase. C Nesse movimento de ampliação de suas possibilidades, o adolescente confronta-se com a complexidade das relações humanas, das escolhas amorosas e sexuais, dos encontros e desencontros presentes nessas experiências. Refletir sobre a sexualidade humana é ir além do físico. É compreendê-la como expressão afetiva, envolvendo emoções, sentimentos, atitudes, crenças e valores que representam um tempo, um espaço e uma cultura singulares. O adolescente de hoje vive em uma sociedade repleta de apelos eróticos nas músicas, propagandas, novelas ou na moda, que o obrigam a lidar com diversas demandas de obtenção de prazer sexual da vida adulta. Frente a essa realidade, a maior parte das famílias encontra dificuldades para conversar sobre esse assunto. Por todas essas razões, os jovens precisam encontrar outros interlocutores para conversar sobre suas dúvidas e angústias. Além disso, para que o adolescente exerça sua sexualidade de forma responsável, é preciso não apenas que tenha informações sobre métodos contraceptivos ou sobre a importância do uso da camisinha, por exemplo, mas também que compreenda o funcionamento de seu corpo e do corpo de seu parceiro. Em virtude dos conteúdos tratados, as atividades do Módulo Sexualidade exigem do monitor uma postura madura, segura e isenta de preconceitos. Seu papel consiste em informar e promover a discussão, permitindo que os jovens se expressem e busquem suas próprias respostas, estimulando a reflexão, o respeito e a cumplicidade entre os participantes. Bom trabalho! 56 objetivos do módulo: • Favorecer a criação de um ambiente acolhedor entre os participantes de modo que possam tirar suas dúvidas acerca do tema e compartilhar experiências. • Ampliar e compreender as informações acerca do exercício da sexualidade. • Conscientizar sobre os valores e as pressões sociais que influenciam a sexualidade (banalização do sexo, erotização exagerada, preconceitos e exigências culturalmente construídas, idealização dos papéis feminino e masculino, direitos e deveres do homem e da mulher nas relações amorosas), enfatizando o reconhecimento do consentimento mútuo indispensável para usufruir do prazer numa relação a dois. • Informar sobre os métodos contraceptivos, doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e gravidez na adolescência, bem como promover uma reflexão crítica sobre esses temas. • Estimular o respeito à diversidade de valores, crenças e comportamentos existentes relativos à sexualidade, desde que garantida a dignidade do ser humano. com a palavra... Adolescência e gravidez Miriam Debieux Rosa dolescência e gravidez são duas experiências intensas, marcantes e formadoras, de repercussões fundamentais para a vida das pessoas e para o campo social. Quando associadas – gravidez na adolescência – têm resultado em discursos unívocos, reduzindo a situação à condição de problema, risco e precocidade, desqualificando a experiência e sua potência em produzir significações e novas formas de enfrentamento dos fatos da vida. A A adolescência pode ser caracterizada como um período de intenso trabalho psíquico, subjetivo e relacional, geralmente desencadeado pela entrada na puberdade, trabalho necessário para produzir um cidadão com autonomia, engajamento e capacidade de escolha. Em outras palavras, o adolescente é uma pessoa em processo de desenvolvimento de sua capacidade de amar e trabalhar criativamente. A adolescência toma características particulares na atualidade dadas as novas perspectivas sociopolíticas e econômicas que dificultam o acesso, de modo diversificado MIRIAM DEBIEUX ROSA é psicanalista e professora de psicologia clínica na USP, onde coordena o Laboratório Psicanálise e Sociedade, e professora da pós-graduação em psicologia social da PUC-SP, onde coordena com Maria Cristina Vicentim o Núcleo Violências: Sujeito e política. É autora do livro Histórias que não se contam (Cabral Editora Universitária) e de vários capítulos de livros e artigos nacionais e internacionais na temática da família, infância e adolescência. 57 entre os grupos sociais, ao mundo produtivo e à independência econômica. As escolhas profissionais estão bastante relativizadas, já que imperam a alta competitividade e a dificuldade de empregar-se. De outro lado, a liberação dos costumes permite acesso à vida sexual independentemente de compromissos como namoro ou casamento. A maternidade e paternidade, por sua vez, também são processos revestidos de certos imaginários fixos e ideais. Existe a idéia de que há uma ordem correta no comprometimento do indivíduo: primeiro vem a responsabilidade pessoal, depois a capacidade de relação amorosa com o outro e só então a possibilidade de cuidado, educação e afeto com o filho. Se essa lógica descreve certo percurso razoável, não impede que outras modalidades de percurso sejam legítimas. Independentemente do preparo anterior, há que se considerar que o nascimento de uma criança é um evento público que mobiliza todo o gru upo social, familiar e processos subjetivos para permitir sua inclusão como membro da família e da so ociedade. Em outras palavras, o nascimento do filho produz simbolicamente a parentalidade – maternidade e paternidade –, que só então se concretiza e efetiva. E para esse processo, em qualquer idade, a rede de apoio familiar é fundamental para ajudar a efetivar os requisitos dessas funções, tais como responsabilidade e disponibilidade para cuidar do filho. A gravidez na adolescência é expeeriência que agrega esses dois acontecimentos e produz muitos questionamentos bastante importantes, já que quebra algumas tradições e ideais da família e do próprio jovem. Em relação aos pais, antecipa um luto pela perda da juventude idealizada com prazeres e liberdade. A maternidade é vista como o encerramento da adolescência enquanto processo, já que precipita um modo de entrada na vida social. Gera também preocupação com a escolaridade, já que muitos jovens abandonam a escola ou passam a trabalhar. Essa preocupação encadeia-se com a menor possibilidade de ascensão e autonomia econômica, com a falta ou adiamento de projetos de independência. Outra temática de conflito é com a relação igualitária entre os sexos, conquista árdua das mulheres, graças em grande parte à sua participação como provedora econômica da família – ficaria a jovem dependente do pai da criança? Os pais oscilam entre a idéia de falta de prontidão do adolescente para a vida amorosa e a sua total responsabilização pela gravidez e pelos cuidados com o filho. Quanto aos jovens, a reação à gravidez é muito variada, mas sempre traz sentimentos e atitudes ambivalentes – impotência, medo e susto ladeados de alegria, orgulho e realização. 58 Algumas vezes a gravidez não foi planejada, mas estava vislumbrada como uma resolução imediata para um futuro incerto e longínquo. A jovem sabe que a maternidade gera problemas, mas pode ser vivida como alívio em face de sua incerteza quanto a outros modos de inserção social, pois a maternidade é valorizada e impõe certa respeitabilidade difícil de ser conquistada de outros modos. Para alguns, pode autorizar um retorno sem culpa à dependência dos pais, enquanto para outros é um sinal de independência, já que vão cuidar em vez de ser cuidados. As escolhas nem sempre são conhecidas pela própria pessoa e a presença dessas dimensões só pode ser esclarecida na vigência do próprio acontecimento. De qualquer modo, com a gravidez, outras questões tornam-se prioritárias, podendo desviar momentânea ou definitivamente o jovem das tarefas da adolescência: o encontro com o outro sexo, a relação prazer e responsabilidade; os impasses sociopolíticos e subjetivos na entrada para a vida social e as dificuldades escolares. Destaco o encontro com o outro sexo e os conflitos do início da vida sexual como um dos fatores mais importantes da gravidez na adolescência. O envolvimento amoroso com o outro, a insegurança e vontade de agradar, a relutância em impor condições para a relação sexual segura ou mesmo a incapacidade de prever que a relação vai se concretizar, a pressa, são questões presentes na vida sexual. Tais questões fazem parte da vida de todos. Elas precisam de espaço para que os parceiros possam conversar, esperar, preparar-se melhor. Um dos fatores mais angustiantes desse primeiro momento, decisivo nos modos de enfrentamento dos jovens frente à gravidez, é o medo da reação dos pais. Seus próprios temores, dúvidas e decisões ficam misturados com o medo de decepcionar os pais, de estes não legitimarem a gravidez e de os adolescentes serem abandonados por eles nesse momento, lançados à própria sorte. Rafael Hess A gravidez na adolescência pode ser uma experiência importante e fecunda para os jovens e suas famílias, desde que considerados os cuidados necessários a esse momento. Dependem de várias condições o sentido e o destino dados à gravidez. Uma vez acontecida, os processos da adolescência podem se dar através da gravidez e concomitantes a ela. Devem ser observados os seguintes cuidados: envolvimento dos pais com a maternidade e a paternidade; responsabilidade da jovem desde os cuidados pré-natais e a preparação para a chegada do bebê; adoção de uma atitude de espera, mas vislumbrando no horizonte outros projetos, tais como a continuidade dos estudos, da família e da vida social. 59 Oficina 1. Tudo o que você quer saber sobre sexualidade OBJETIVO: Identificar as dúvidas dos adolescentes sobre sexualidade e abrir a possibilidade de diálogo sobre o tema. MATERIAL: Tiras de papel e caixa para sorteio. AQUECIMENTO: Para introduzir esse tema, é interessante organizar uma roda de conversa. Pergunte aos jovens o que eles entendem por “sexualidade”, com quem conversam sobre isso e se têm muitas dúvidas a respeito do assunto. A proposta da oficina é responder algumas questões e iniciar um debate que vai se estender ao longo do módulo. Nesse aquecimento, deixe claro que o diálogo sobre sexualidade envolve pensar nas relações amorosas, beijos, namoros etc., e não apenas no ato sexual em si. Pode ser um bom começo perguntar quem já namorou, quem tem um namorado ou quem quer encontrar um. É preciso ficar atento para entrar suavemente nesse tema e dar espaço para se conversar também sobre temas como o primeiro beijo ou as relações amorosas. DESCRIÇÃO: A atividade central da oficina consiste em levantar perguntas sobre o tema da sexualidade. É imprescindível que essas perguntas sejam anônimas, dando liberdade aos participantes para eliminarem suas dúvidas sem temor do julgamento alheio. Para tanto, distribua tiras de papel aos adolescentes e dê um tempo para que escrevam perguntas em cada uma delas. Não é necessário estabelecer um número fixo de perguntas, cada um pode escrever quantas quiser. As perguntas podem ir para uma caixa a fim de serem sorteadas. Assim que todos tiverem depositado as perguntas na caixa, tire-as, leia-as e tente classificálas a fim de organizar as respostas, pois nem sempre dá tempo de responder uma a uma. A seguir, leia a pergunta (ou o conjunto delas) para que os próprios adolescentes arrisquem a resposta. É sempre muito interessante ver como os jovens são, na maioria das vezes, capazes de esclarecer as dúvidas. Porém, se ninguém souber responder alguma delas, cabe a você dar a resposta ou acrescentar acrescentar informações que ficarem faltando. COMENTÁRIOS: Quando se sentem seguros para se expressar sobre o tema sexualidade, os adolescentes fazem perguntas que muitas vezes podem surpreender os adultos, quer pela ingenuidade ou falta de conhecimentos básicos, quer pela profundidade de suas inquietações. Há perguntas que evidenciam a inexperiência acerca do assunto e outras que falam de dúvidas próprias de quem já mantém relações sexuais. Desse modo, é importante que o coordenador esteja preparado para todo tipo de questões, respondendo-as com respeito, franqueza, sem moralismos. Se o adulto não souber responder alguma pergunta feita pelo grupo, melhor explicitar esse fato e trazer a resposta posteriormente. Nossa experiência mostrou que as dúvidas dos adolescentes giram em torno da primeira transa, de masturbação, de anticoncepcionais ou da gravidez. O Livro do adolescente pode ajudá-lo. 60 Oficina 2. Funcionamento do corpo e métodos anticoncepcionais OBJETIVO: Informar os adolescentes sobre o funcionamento do corpo e os métodos contraceptivos, oferecendo um espaço para discussão das dúvidas sobre o tema. MATERIAL: Se possível, contraceptivos (pílula, diafragma, DIU, camisinha). DESCRIÇÃO: Comece a conversa perguntando aos participantes o que eles já sabem sobre as mudanças do corpo e sobre métodos anticoncepcionais. Depois, leia junto com eles as informações sobre o funcionamento do corpo humano no Módulo Sexualidade do Livro do adolescente: menstruação, ciclo menstrual, órgãos externos, órgãos internos, fertilidade, concepção e os métodos contraceptivos. A seguir, divida os participantes em equipes de dois ou três integrantes, distribua os temas (por exemplo: métodos contraceptivos com um grupo, concepção e fertilidade com outro e o funcionamento do corpo com um terceiro) e proponha que apresentem as informações da maneira que quiserem: imitando um programa de rádio ou TV, fazendo um jogral, inventando uma música ou poema. COMENTÁRIOS: Durante a leitura, é importante que o monitor observe se as informações transmitidas estão sendo compreendidas. Procure instigar os adolescentes a fazerem perguntas. É interessante que os adolescentes possam manusear diferentes contraceptivos, inclusive colocando a camisinha em um pênis de borracha (ou em um objeto passível de ser utilizado para esse fim). Como são muitas informações a serem discutidas e assimiladas, pode ser mais produtivo dividir essa oficina em duas. Isso vai depender dos conhecimentos prévios do grupo e do tempo disponível para o encontro. 61 Oficina 3. Doenças sexualmente transmissíveis OBJETIVO: Informar sobre as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), seus sintomas e possíveis tratamentos. Conversar sobre a primeira consulta ao ginecologista. DESCRIÇÃO: Comece a oficina conversando sobre o que são as DSTs. Faça as pergun- tas abaixo ao grupo e registre todas as respostas na lousa ou em um papel grande, sem dar sua opinião a respeito delas. • Quais são as doenças sexualmente transmissíveis? • Quais são os principais sintomas? O que fazer quando se tem algum deles? Existe tratamento? Como prevenir? • Como se transmite o vírus HIV? • Como saber quando se está contaminado com o vírus HIV? • Onde fazer o exame? • Quando é preciso ir ao ginecologista? • O que acontece na primeira consulta? Depois, peça para o grupo tentar classificar as informações anotadas no quadro em duas categorias: mito e verdade. Por exemplo, digamos que alguém tenha dito: o vírus HIV pode ser transmitido pelo beijo – isso é mito ou verdade? Esse exercício promoverá a participação de muitos adolescentes e você poderá verificar quais dúvidas precisará se aprofundar. A seguir, abra o Livro do adolescente e leia junto eles as informações dos itens “consulta ao ginecologista” e “DST”, para deixar bastante claro o que é de fato verdade. COMENTÁRIOS: Muitas questões levantadas pelos jovens devem ter sido contempladas na leitura do livro. Se alguma dúvida persistir, procure levar material (revistas e livros) para a próxima oficina de modo que eles possam ler ou tente você mesmo buscar as informações necessárias. Se você tiver um grupo misto e perceber que há algum constrangimento em discutir essas questões coletivamente, dê um tempo para que essa conversa aconteça com mais intimidade, em pequenos grupos. Uma outra possibilidade de organização da atividade é dividir o grupo em dois: um só de meninos e outro só de meninas. 62 Oficina 4. Gravidez OBJETIVO: Trabalhar o tema da gravidez na adolescência e refletir sobre as conseqüências de uma gravidez não planejada. DESCRIÇÃO: Antes de iniciar a atividade, aqueça o grupo perguntando se conhecem casos de meninas adolescentes que ficaram grávidas. Esses relatos podem fazer parte da história que os jovens criarão a seguir. Peça que os participantes se subdividam em grupos de quatro ou cinco e façam a encenação da história de uma adolescente grávida. Para enriquecer a discussão posterior, sugira que alguns pontos sejam abordados nessa dramatização. Por exemplo: quem é a menina? Em que situação ficou grávida? De quem? O que fez o rapaz? Quais os motivos que a levaram à gravidez? O que sentiu ao saber que estava grávida? Quais as conseqüências da gravidez em sua vida? Dê 45 minutos para a preparação e o ensaio da peça. Nesse momento é interessante circular pela sala para observar as várias hipóteses que os grupos levantam para os conflitos propostos, quais temas escolhem dramatizar e como resolvem os conflitos. Tudo isso é material para a discussão. Depois da apresentação de cada grupo, inicie uma conversa coletiva. Roteiro auxiliar para a discussão: • Quais são os pontos interessantes de cada história? • Os temas das encenações se repetiram? • Vocês conhecem histórias parecidas? • Por que vocês acham que as adolescentes ficam grávidas, quando existem tantos métodos contraceptivos? Falta de informação, ou algum outro fator entra em cena? • Como os meninos agem diante da notícia de uma gravidez inesperada? • Quais são as responsabilidades de cada um? • Quais são as conseqüências de ter ou não um filho? COMENTÁRIOS: É importante que você organize as atividades desta oficina de modo que os adolescentes tenham bastante tempo para a discussão, pois esse é um tema muito envolvente e eles precisam elaborar suas idéias. 63 De acordo com muitos estudiosos, para as meninas, a gravidez na adolescência pode estar ligada aos seguintes temas: • a maternidade como projeto de vida, especialmente quando há ausência de sentido na vida cotidiana ou quando há dificuldade para se pensar o futuro – “agora que estou grávida eu tenho que me preocupar exclusivamente com o meu filho” ou “se nos estudos e no trabalho não há nenhuma perspectiva de futuro, na maternidade ela está garantida”; • a maternidade como transformação da menina em mulher madura – “quando eu ficar grávida vou ser uma mulher madura”; • a gravidez como uma maneira de ser cuidada e olhada por parentes ou pelo pai da criança; • a maternidade como um papel social valorizado – “ser mãe é uma forma de me sentir poderosa e de deixar uma marca no mundo”; • a função materna já é exercida com os irmãos – “sei como é ser mãe porque eu já cuido dos meus irmãos caçulas. Agora, com o meu filho, eu vou poder fazer como eu quiser”. Para os meninos, algumas reações costumam ser freqüentes: “eu não sei se o filho é meu”; “não estou a fim de ter um filho e se ela quiser, vai ter que cuidar”; “eu sou muito jovem para ser pai, agora minha vida vai mudar e eu não sei o que fazer”. Assim, é muito importante que você aborde essas ou outras questões na discussão do grupo, ainda que elas não surjam espontaneamente, levantando argumentos claros para discutir cada uma. Por exemplo, se a maternidade aparece associada ao poder, procure abordar outras maneiras que dariam à mulher a possibilidade de exercer seu poder no mundo contemporâneo. Ao final, recupere os pontos mais significativos da discussão, de forma a enfatizar as dificuldades de uma gravidez na adolescência e suas conseqüências, especialmente na vida da menina: o abandono da escola, a reestruturação familiar, a dificuldade maior para arrumar emprego, o aumento de responsabilidade em um momento de formação, a necessidade de readaptar o espaço da casa e o orçamento da família, que terá de arcar com mais um membro, e até os possíveis problemas físicos caso essa gravidez aconteça entre 12 e 14 anos (nessa faixa etária, o aparelho reprodutor ainda não está maduro, e ocorrem três vezes mais casos de má-formação fetal do que entre as mulheres que engravidam por volta dos 25 anos). 64 Oficina 5. Amor e sexo OBJETIVO: Discutir as várias relações entre amor e sexo refletindo sobre os diversos aspectos presentes numa relação sexual. MATERIAL: Papel sulfite; canetas; aparelho de som e CD. DESCRIÇÃO: Para iniciar a atividade, peça para cada participante completar a(s) frase(s): “Sexo é...” e “Amor é....” e depois ler o que escreveu. A seguir, leia junto com a turma a letra da canção de Rita Lee, “Amor e sexo”. Você pode consegui-la na internet. É importante parar para explicar o significado de palavras pouco comuns ao repertório adolescente (teorema, latifúndio, pagão, patético, epiléticos, entre outras). Peça que cada um cite a frase de que mais gostou, justificando sua escolha. Abra uma roda de discussão e converse sobre as diferentes formas que existem de lidar com esse assunto. Sugestões de temas para discussão: • Existe idade ideal para começar a transar? • Dá para falar de sexo com seus pais? E com outros adultos? • Existe pressão de amigos e amigas para transar? • Por que os jovens têm resistência a usar camisinha? O que vocês fariam se a pessoa não quisesse usar camisinha? • Dá para namorar sem transar? Dá para transar sem amar? O trabalho fica bem mais interessante se ao final você colocar o CD e cantar a música com todo grupo. COMENTÁRIOS: Nessa oficina alguns preconceitos, fantasias, idealizações ou julgamentos podem vir à tona. Em tais circunstâncias, é fundamental que você assuma uma posição de neutralidade, ajudando o grupo a discutir. Qualquer que seja a visão dos adolescentes, é importante combater a idéia de sexo como algo errado, pois mesmo para aqueles que defendem a idéia de se casar virgem, ele é fundamental em uma relação conjugal. Muitos adolescentes trazem a questão do “momento certo para transar”, de modo que é interessante que eles tenham pensado sobre o assunto quando essa hora chegar: com quem será? É uma pessoa bacana? Como realizar o meu desejo sem prejudicar meu projeto de vida? 65 Oficina 6. Mídia e sexualidade OBJETIVO: Refletir sobre o papel dos meios de comunicação na formação de conceitos e atitudes dos jovens. MATERIAL: Revistas. DESCRIÇÃO: Divida a turma em grupos de três ou quatro pessoas. Distribua algumas revistas por grupo. Cada um deles deve escolher uma propaganda que contenha imagens associadas à sexualidade (por exemplo: mulheres e cerveja, carros, crianças vestidas como adultos, etc...) e analisá-la. Algumas perguntas podem orientar a discussão: • Que mensagem essa publicidade transmite? • Que imagem de juventude está aqui proposta? • Você se identifica com ela? Se não, quem você acha que poderia se identificar? • Você acha que esse produto teria aceitação entre os jovens? Por quê? • Que modelos de jovens e de adultos você gostaria de ver na publicidade? Incentive-os a analisar o material tanto na forma (as cores, os personagens, as cenas), quanto no conteúdo das imagens (os slogans ou textos). Circule pelos grupos para observar a discussão. A seguir, peça que cada grupo apresente suas conclusões em uma conversa coletiva. COMENTÁRIOS: A análise de material publicitário é uma boa maneira de os jovens perceberem o papel da mídia em sua formação. Você pode ampliar a discussão incentivando que dêem exemplos de propagandas na TV ou no rádio. 66 Oficina 7. Fechamento do tema OBJETIVO: Refletir sobre os novos conhecimentos aprendidos neste módulo. MATERIAL: Caixa de papelão e perguntas (folha anexa). DESCRIÇÃO: Divida os participantes em dois grupos e explique as regras do jogo: eles responderão perguntas relacionadas a tudo o que discutiram neste módulo. Em cada rodada de perguntas, um participante representará a sua equipe. Ele deverá retirar uma pergunta da caixa, ler a pergunta em voz alta, discutir com o seu grupo e em seguida respondê-la. Você pode recortar as perguntas da folha anexa ou reescrevê-las em papéis diferentes. Quando a equipe não souber a resposta, não ganha ponto e a equipe adversária tem o direito de resposta. A cada acerto, um ponto. A equipe que conseguir responder mais perguntas ganha a gincana e um prêmio (que fica a critério do monitor). Sugestões de perguntas (todas as perguntas abaixo foram feitas por adolescentes que participaram desse projeto): PERGUNTAS RESPOSTAS 1. É possível sentir tesão mesmo sem transar? 1. Sim, o desejo sexual não está relacionado somente aos carinhos da transa, ele pode ser despertado por fantasias, cheiros, imagens ou outros estímulos. 2. Penetração dói na menina? E nos meninos? 2. A penetração pode doer na primeira vez nas meninas, mas a dor não deve ser uma constante no ato sexual. A penetração também não deve doer para os meninos. 3. É melhor que ele seja experiente na primeira vez? 3. Para fazer sexo não é necessário que os jovens tenham experiência. Ambos podem fazer suas descobertas juntos. 4. Há uma idade certa para transar? 4. Não há uma idade certa, depende da maturidade do adolescente e de sua capacidade de fazer escolhas responsáveis. 5. O corpo pode mudar depois 5. Não, o corpo muda na fase da puberdade e as mudanças não estão relacionadas às relações sexuais. de transar? 6. Por que se usa anticoncepcional? 6. Para evitar a gravidez indesejada. 7. É verdade que anticoncepcional engorda? 7. Não necessariamente, mas se a pessoa sentir mudanças deve consultar o médico. 8. Masturbar-se dá espinha? 8. Não, masturbação não dá espinhas. 9. Mulher também se masturba? 9. Sim, tanto homens quanto mulheres podem se masturbar. 67 10. O que é orgasmo? 10.Orgasmo é o clímax ou ponto de maior excitação e prazer da relação sexual. 11. Como se transmite o vírus HIV? 11.O HIV é transmitido pelo sangue ou outras secreções do corpo que estejam contaminadas pelo vírus. Assim, a contaminação pode ocorrer pela relação sexual, pelo uso coletivo de seringas, agulhas não esterilizadas (tatuagens e piercings), transfusões ou pela placenta nas mulheres grávidas. 12. É preciso tomar pílula sempre que transar? 12.Não, quem escolhe a pílula como método anticoncepcional deve tomá-la todo dia, conforme orientado pelo médico, e não somente quando transa. 13. É verdade que quando se amamenta não se engravida? 13.Não, as mulheres podem engravidar enquanto amamentam. 14. O que é período fértil e quando ele acontece? 14.O período fértil ocorre quando a menina ovula. Ele dura uma semana, três dias antes e três depois da data da ovulação. 15. O que são anticoncepcionais? 15.São métodos que evitam que um bebê seja concebido. A palavra anticoncepcional significa “não concepção”. 16. Cite três tipos de anticoncepcionais. 16.Os mais conhecidos são: pílula, DIU, camisinha masculina e feminina, injeção mensal e diafragma. 17. Cite três sintomas de DSTs que levariam uma pessoa ao médico. 17.Nos meninos: corrimento amarelo-esverdeado, ardor ao fazer xixi, verrugas ou bolhas nos genitais. Nas meninas: corrimento branco ou mal-cheiroso, coceira na vagina, dor no ato sexual ou para fazer xixi e verrugas na região próxima à vagina. 18. O que é TPM? 18.TPM significa tensão pré-menstrual. Caracteriza-se pelo aparecimento de uma série de sintomas, variáveis em cada mulher. Entre os mais comuns estão: inchaço, dores nas mamas, alteração no humor. 19. O que é puberdade? 19.A puberdade é uma fase da vida em que ocorrem muitas mudanças corporais, tais como: aceleração do crescimento e desenvolvimento dos órgãos genitais e dos caracteres sexuais. 20. É possível engravidar na primeira relação sexual? 20.Sim, por isso é importante se prevenir, mesmo na primeira vez. COMENTÁRIOS: Você pode acrescentar na caixa as perguntas que já surgiram em outras oficinas, essa é uma maneira de verificar se as dúvidas foram sanadas. 68 para se aprofundar... Livros LOPES, Angélica. Plano B, missão namoro. São Paulo: Rocco, 2003. ABRAMOVAY, Miriam; CASTRO, Mary Garcia; SILVA, Lorena Bernadete (Orgs.). Juventude e sexualidade. Brasília: Unesco, 2004. MANDELLI, Paula. Alguém em quem confiar. São Paulo: Difusão Cultural do Livro, 2006. ALMEIDA, Heloísa Buarque et al (Orgs.). Gênero em matizes. São Paulo: Universidade São Francisco, 2003. MAYLLE, Peter; ROBINS, Arthur. O que está acontecendo comigo: guia para a puberdade, com respostas às perguntas mais embaraçosas. São Paulo: Nobel, 1984. AQUINO, Júlio Groppa. Sexualidade na escola. Alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1997. MULLER Laura. 500 perguntas sobre sexo do adolescente. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005. ARATANGY, Lídia Rosenberg. Sexualidade: a difícil arte do encontro. São Paulo: Ática, 1995. NICOLELIS, Giselda. O amor não escolhe sexo. São Paulo: Moderna, 2002. BOUER, Jairo. O corpo dos garotos. São Paulo: Panda, 2006. BOUER, Jairo. O corpo das garotas. São Paulo: Panda, 2004. CHARBONNEAU, Paul-Eugène. Namoro e virgindade. São Paulo: Moderna, 1985. SAYÃO, Yara. Refazendo laços de proteção: ações para combater o abuso e a exploração sexual de crianças e adolescentes: manual de orientação para educadores. São Paulo: Cenpec-Childhood – Instituto WCFBrasil, 2006. SAYÃO, Rosely. Sexo é sexo. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. FELÍCIO, Cláudia. Tudo sobre meninas para meninas. São Paulo: Planeta Jovem, 2006. SUPLICY, Marta. Sexo para adolescentes: amor, puberdade, masturbação, homossexualidade, anticoncepção, DST/Aids, drogas. São Paulo: FTD, 1998. FIGUEIRÓ, Mary. Educação sexual: retomando uma proposta, um desafio. Londrina: UEL, 2001. TAKIUTI, Albertina. A adolescente está ligeiramente grávida. E agora? Gravidez na adolescência. São Paulo: Iglu, 1990. FISHER, Nick. Beijos: coisas que todo mundo quer saber. São Paulo: Melhoramentos, 2005. VEIGA, Francisco Daudt da. O aprendiz do desejo: a adolescência pela vida afora. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. GANYMÉDES, José. Ladeira da Saudade. São Paulo: Moderna, 2003. VENTURA, Miriam. Direitos reprodutivos no Brasil. São Paulo: Fundação Mac Arthur, 2002. GELLING, Kátia. Essa tal primeira vez. São Paulo: Moderna, 1995. 69 Sites Filmes: AIDS: www.aids.gov.br A Lei do Desejo Pedro Almodóvar, 1987. Doenças Sexualmente Transmissíveis: http://www.dstbrasil.org.br Amigas de Colégio Lukas Moodysson, 1998. Gravidez: http://www.gravidez-segura.org Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual: http://www.gtpos.org.br/index.asp Instituto Kaplan: http://www.kaplan.org.br Programa Casa do Adolescente da Secretaria de Estado da Saúde – SP: http://www.saude.sp.gov.br/saude_adolesc/html/ saude_adolesc.html Da Cor do Leite Torun Lian, 2005. Dez Coisas que Eu Odeio em Você Gil Junger, 1999. Garotos Não Choram Kimberly Peirce, 1999. Juno Jason Reitman, 2007. Saúde: http://www.redesaude.org Saúde Pública: http://www.portalsaude.gov.br Meninas Sandra Werneck, 2005. Secretaria de Atenção à Saúde: http://www.saúde.gov.br Mulheres Sexo Verdades e Mentiras Euclydes Marinho, 2007. Sexualidade na Adolescência: http://www.drauziovarella.ig.com.br Disk-Adolescente: (11) 3819-2022. Para tirar dúvidas sobre sexualidade Lembrete importante: Na próxima semana você vai iniciar um novo módulo: Família. Na primeira oficina está previsto um trabalho com a história de vida dos adolescentes, no qual é preciso que eles tragam fotos da infância e façam pesquisas em casa. Portanto, não deixe de ler o item “Apresentação” do novo módulo e solicite esse material ao final da última oficina do Módulo Sexualidade. 70 a i l í Fam introdução os dias de hoje, a noção rígida e definida de família dá lugar a um conceito mais amplo que envolve uma flexibilização de suas fronteiras. Alguns estudos mostram que o homem é considerado o chefe da família, corporificando a autoridade moral. Ele é responsável pela respeitabilidade familiar, conferida pela presença masculina em casa. A mulher, por sua vez, é a chefe de casa, aquela que mantém a união do grupo; ela é quem cuida de todos e zela pela organização e funcionamento do lar, mesmo que trabalhe fora. Contudo, no embate com a realidade cotidiana, nem sempre homens e mulheres conseguem exercer as funções a que se propõem, seja porque as condições externas são oscilantes e pouco controláveis, seja porque a própria dinâmica familiar é mutável. N Assim, os rearranjos necessários para assegurar tanto a harmonia familiar quanto o sustento financeiro podem se dar pelos mais diversos motivos: a gravidez inesperada de um filho adolescente, a separação dos pais, seguida ou não de novos casamentos e novos filhos de ambos ou de apenas um deles etc. E, embora os pais contem fundamentalmente com a rede consangüínea (avós, tios, irmãos, cunhados), as crianças podem ser cuidadas por outras pessoas do grupo de referência dos pais. Assim, uma nova noção de família pode se configurar, composta por membros que não são necessariamente parentes, mas pessoas com as quais se pode contar e que dão origem a novos vínculos de confiança. As configurações familiares atuais trazem, portanto, novos arranjos das funções e papéis nelas exercidos. Dessa forma, discutir com o jovem sobre esse tema envolve, necessariamente, uma reflexão sobre os ideais de família almejados e valorizados em nossa cultura, as novas formações familiares, as implicações da presença de adolescentes em uma família e os recursos afetivos que eles mobilizam nessa fase da vida. A crescente independência do jovem, as novas responsabilidades, anseios e expectativas quanto ao futuro costumam gerar conflitos entre pais e filhos, obrigando-os a rever posições, limites e regras. Por todas essas razões, neste módulo, daremos especial atenção aos aspectos que interferem na construção da identidade dos adolescentes, oferecendo-lhes a chance de refletir a respeito dos diversos tipos de família hoje existentes e sobre as relações familiares, tão essenciais em suas vidas. Procuraremos também resgatar aspectos da história infantil de cada um, entendendo que essas imagens da infância contribuem para a afirmação de sua identidade. Relembrando o passado e refletindo sobre o presente, os jovens têm a chance de imaginar seu futuro e de caminhar, com mais segurança, rumo à vida adulta. Bom trabalho! 72 DICAS PARA O MONITOR: • Trabalhar a história de vida dos participantes vai requerer que as atividades propostas sejam feitas seqüencialmente; você vai perceber que uma fornece instrumentos para o desenvolvimento da outra. • Na primeira oficina solicita-se que os adolescentes tragam material de casa, portanto, devem ser alertados antecipadamente. Peça que tragam uma foto de quando eram crianças. Peça também que conversem um pouco com os pais sobre sua “pré-história” (como os pais se conheceram? Como começaram a namorar? Como foi a gravidez da mãe?) e seus primeiros dias de vida (como foi o dia do seu nascimento? Como escolheram o seu nome?). Essas informações serão trabalhadas em grupo. objetivos do módulo: • Refletir sobre a noção de família a partir do compartilhamento de histórias pessoais, vivências e expectativas de futuro. • Discutir os papéis familiares e as relações entre os membros de uma família. • Favorecer a reflexão pessoal sobre o projeto de futuro a partir da apropriação de vivências da história de vida. 73 com a palavra... Sobre a Família: Território de Origem Leonel Braga Neto e você é educador, precisa saber que parte da potência do seu trabalho está no fato de você ser para o adolescente o equivalente de uma pessoa extremamente significativa para ele. Isso quer dizer que muitas coisas que são dirigidas a você, na verdade conversam com essas figuras significativas internalizadas. São elas que, muitas vezes, os adolescentes buscam no professor, seja para encontrar proteção e reconhecimento, seja para estabelecer um distanciamento, uma separação, seja para buscar a reparação das rupturas prematuras que fazem da vida uma deriva. Procure observar as atitudes dos adolescentes em relação a você e ao grupo e você identificará, ao longo do processo, o "papel" que cada um lhe reserva. O próprio fato de fazer essa reflexão o ajudará a compreender sua posição em relação a eles. Sem precisar ser um psicólogo, você pode colocar à disposição dele seu saber sobre isso. E todos sabem algo sobre isso... S Todos sabem que para qualquer um de nós existirmos houve alguém que nos quis: uma relação sexual (ou uma inseminação artificial), uma gravidez que foi a termo, um parto e, depois disso, a operação humana mais arcaica e poderosa que existe, pela qual um bebê fabrica uma mãe: a amamentação. Toda pessoa que se torna mãe sabe desse momento temeroso e emocionante em que se espera que o bebê a confirme aceitando seu leite (ainda que não venha de seu corpo), seu cheiro, seu calor. É também essa ordem de incerteza que está em jogo nos processos de adoção, de tal forma que talvez possamos dizer que toda maternidade é uma operação de adoção recíproca. Nesse completo estado de entrega mãe/filho se estabelece uma via fundamental pela qual se transmitirá algo que vai muito além dos nutrientes que alimentam um corpo: um lugar na imensa comunidade humana, uma vontade de futuro, mais um elo em uma cadeia transgeracional. Enfim, nasce uma família e nasce-se sempre em uma família, que é ao mesmo tempo comum e singular. A curiosidade pela origem, pela cultura produzida e transmitida pela própria família (brincadeiras, provérbios, figuras míticas), suas estratégias de sobrevivência, as transformações ocorridas entre uma geração e outra, estará na base do interesse por todo o conhecimento posterior: a história, a geografia, a biologia, a matemática e a linguagem. O educador, sabendo que o conhecimento sobre a origem familiar de cada um facilita o interesse pelo conhecimento humano em geral, pode convidar o jovem a se aproximar de sua própria história (através das atividades mais diversas) de forma a possibilitar que a curiosidade encontre seu rumo, como um rio que, correndo em sentido inverso, busque a nascente para só depois chegar ao mar. Também sabemos que toda família é um campo de batalhas, palco de rivalidades, de violências sutis ou explícitas, da força da lei simbólica ou da ausência dela, da imposição moral ou da luta de resistência ou submissão a ela. Embora muitas vezes idealizada, a família nunca LEONEL BRAGA NETO. Psicanalista de adolescentes, adultos e famílias. Presidiu, coordenou a equipe clínica e supervisionou a equipe de professores e terapeutas da Escola de Passagem – equipamento do Centro Integrado de Cuidados ao Adolescente – Cica do Instituto Therapon Adolescência. 74 é perfeita. Seja porque os filhotes humanos nascem tão desprotegidos e se agarram a essa figura primordial materna estabelecendo uma ligação de posse recíproca da qual mais tarde precisarão/desejarão se separar, seja porque a violência e o não-dito vividos pelos pais também se transmitem aos filhos, o fato é que as famílias são potencialmente explosivas em maior ou menor grau. A proximidade com o explosivo das próprias famílias faz com que, muitas vezes, os educadores construam verdadeiras muralhas em relação ao "explosivo" do outro (aluno rebelde, apático ou respondão), com o objetivo de se protegerem daquilo que reconhecem como familiar, nesse outro que lhes parece tão estranho. Saber disso talvez o ajude a lidar com essas intensidades dos adolescentes de forma a auxiliá-los a encontrar expressões criativas que lhes permitam modulá-las (a música de protesto e o grafite são exemplos disso). É com você que esse jovem (e o grupo de jovens) encontrará a oportunidade de refazer um caminho, transformando uma experiência extremamente significativa para ele, em algo comunicável que pode encontrar, no campo da cultura/educação, uma saída, transformando coisas que poderiam ter um destino funesto (marginalidade, doença, violência) em talentos potenciais (artista/educador/terapeuta/ açougueiro/cirurgião/político/vendedor/empresário). A educação é a oportunidade de sonhar com outro destino. Estamos fazendo aqui um recorte; muitas vezes se lida com situações de violência extrema nas quais não há a menor condição de conter ou transformar um impulso de destruição, mas, outras vezes, confunde-se violência com agressividade. A agressividade, originariamente, é uma força que busca empurrar para fora algo que tenta impor-se ao sujeito, dominá-lo. É uma tentativa de restabelecer o domínio sobre si. Diferentemente da apatia (que é quando a agressividade volta-se silenciosamente contra o próprio sujeito), a agressividade é uma potência transformadora, é vontade de viver ainda que (ou por causa disso mesmo) correndo riscos. Tão característica da adolescência, a agressividade visa, internamente, à separação do corpo infantil em direção ao corpo adulto (o que só acontece à custa de muitos conflitos) e, "externamente", à separação na relação com os pais em direção ao grupo social (grupo, banda, bando, trabalho). A escola e os demais espaços de socialização são campos por excelência, onde os conflitos inerentes a esse processo de separação irão se atualizar cotidianamente buscando uma resolução. O educador é figura visada e investida e será convocado a "encarnar" os pais. No entanto, deve aceitar só parte dessa incumbência sem se transformar efetivamente na polaridade do confronto. O educador comumente acaba por encarnar a lei proibitiva, funcionando como autoridade, e o adolescente, por vezes, complementa a situação posicionando-se de maneira submissa (apatia, desinteresse) ou reagindo de forma agressiva. A tarefa do educador é tentar implicar o adolescente com suas próprias ações e decisões, algo como dizer a ele: “Você pode fazer ou querer, desde que arque com as consequências e encontre os recursos para realizar.” O adolescente pode, com seu corpo, efetivamente, realizar mais do que a criança, mas em contrapartida terá a responsabilidade de cuidar de si e de assumir as consequências de seus atos. O poder efetivo do jovem deve ser proporcional à sua implicação e a lei (em vez de ser encarnada por alguém) deve se transformar em um mediador simbólico, em parâmetros que regulam a sociedade como forma de conter e limitar a violência. Aqui estamos no campo da ética e da política. Essencialmente podemos dizer que família é um território de origem que assegura as condições para que um sujeito surja, encontre a via de acesso ao mundo e uma maneira (ainda que sempre provisória) de se representar nele. Ela contém e modula, de maneira singular, afetos primordiais como o amor e a agressividade que estarão na base do desejo de aprender, de conhecer e de transformar. 75 Oficina 1. Minha história OBJETIVO: Favorecer o contato do adolescente com sua própria história. MATERIAL: Fotos da infância dos participantes. DESCRIÇÃO: Como você está iniciando uma nova temática, comece batendo um papo sobre família, tema dos próximos encontros. Investigue quem é o caçula, quem é o mais velho, quem é filho único, quais as vantagens de cada posição, quantos irmãos cada um tem etc. Esse tipo de conversa ajuda a criar uma cumplicidade no grupo. Como foi alertado anteriormente (quadro “Dicas para o monitor”), nessa oficina os jovens trabalharão com material trazido de casa. Pergunte a eles como foi conversar com os pais sobre a época em que nasceram e quais as descobertas que fizeram. Peça que todos coloquem suas fotos de quando eram crianças no centro de um círculo, viradas de cabeça para baixo. Um dos participantes deve escolher uma foto e tentar adivinhar quem é aquela criança. A seguir, o dono da foto conta por que a escolheu, onde estava e o que estava acontecendo naquele momento. Continue o jogo até que todos tenham participado. A seguir, você vai trabalhar o início da história de vida de cada participante, que deve ter sido investigada com familiares, conforme fora solicitado. Para sortear quem vai falar, coloque uma caneta no centro da roda e gire-a como se fosse uma roleta. Quando ela parar, o adolescente que estiver na direção da tampa contará uma das histórias pedidas com antecedência (como os pais se conheceram, o dia do nascimento e a escolha do nome). Aquele que estiver do lado oposto deverá perguntar a seu colega algo sobre a história contada. Isso feito, outras perguntas podem surgir. Repita esse procedimento até todos contarem pelo menos uma das histórias. Ao final, comente os aspectos da conversa que mais lhe chamaram atenção. COMENTÁRIOS: Retomar a infância de cada um é uma maneira de se apropriar de sua história, de traçar o fio entre as gerações e de buscar suas raízes e pertinência, elementos fundamentais para o desenvolvimento do adolescente. Você pode inventar outra regra caso a caneta aponte mais de uma vez para a mesma pessoa. 76 Oficina 2. Mapeando a vida OBJETIVO: Lembrar e compartilhar momentos da infância com o grupo de modo que se apropriem de marcos importantes da história pessoal. MATERIAL: Massinha de modelar, papelão ou papel-cartão preto. DESCRIÇÃO: O monitor deverá desenhar na lousa o seguinte quadro: Origem da família (estado ou país) Casa da infância Brincadeira de criança Momento marcante da infância Peça que os participantes façam, com a massinha de modelar, objetos que representem cada um dos momentos referidos no quadro. É importante entregar um papelão ou papel-cartão preto que sirva de base para os objetos que serão posteriormente expostos. Quando todos tiverem terminado, peça que apresentem seus trabalhos e, com base neles, inicie a discussão. Questões que podem orientar a discussão: • Como se sentiram ao se lembrar desses momentos da infância? • O que foi mais difícil de lembrar e de fazer? Por quê? • Qual foi o objeto de que você mais gostou? Por quê? • Houve lembranças comuns no grupo? Quais foram diferentes? Para finalizar a oficina de um modo lúdico e prazeroso, proponha que os participantes brinquem de uma das brincadeiras infantis mencionadas. COMENTÁRIOS: A conscientização de aspectos da história pessoal pode contribuir para o fortalecimento da identidade do jovem. Procure criar um clima propício para o compartilhamento dessas informações. A tarefa de pensar a infância nem sempre é simples porque envolve a mobilização de afetos muitas vezes “guardados”. Por isso a atividade requer algum cuidado. Preste especial atenção aos relatos que envolvam temas difíceis, de modo a evitar uma eventual hiper-exposição do adolescente. 77 Oficina 3. A família de hoje e a de amanhã OBJETIVO: A partir de uma reflexão crítica sobre a própria família, analisar as relações familiares e discutir a família que desejam construir. MATERIAL: Papel sulfite, lápis e canetinhas. DESCRIÇÃO: Você pode conversar sobre “códigos”, “manias”, peculiaridades de cada família, começando por contar algo divertido ou particular da sua própria (por exemplo, todas as mulheres há três gerações têm Maria em seu nome, em casa todos gostam de comer macarrão frio e assim por diante). Pertencer a um grupo com códigos próprios dá ao jovem um sentimento de identidade importante. Peça para os participantes desenharem em uma folha de sulfite a família que têm e, numa outra, a família que desejam construir no futuro. Ao lado do desenho de cada membro da família atual, eles devem acrescentar um adjetivo relacionado a uma característica importante dessa pessoa. Em seguida, cada um apresenta o que fez. Depois, abre-se a roda de conversa. Questões que podem orientar a discussão: • Existem semelhanças entre a família que você tem e a que quer construir? • O que há de semelhante e de diferente nos desenhos que surgiram no grupo? • O que cada um pode planejar para se aproximar da família que deseja construir? COMENTÁRIOS: Não se esqueça de pedir para que incluam em seus desenhos animais de estimação e parentes que convivem com eles em seus desenhos, pois na maior parte das vezes essas pessoas e os bichos também fazem parte da rede afetiva mais próxima. Sugerimos também que você observe a realização dos desenhos. Para isso, ande pela sala e converse com os participantes. É importante que os jovens explorem, ao máximo, as qualidades positivas de cada família; essa é uma maneira de os adolescentes valorizarem seu lugar de origem e pertencimento. Com base nas discussões, os participantes podem descobrir que as fantasias e desejos sobre seu futuro familiar constituem um referencial para a construção do seu projeto de vida. 78 Oficina 4. A grande família OBJETIVO: Promover a discussão sobre os papéis e as relações familiares, permitindo que os adolescentes se coloquem no lugar do outro (pai, mãe, irmão) e, dessa forma, reflitam sobre o seu papel dentro da família. DESCRIÇÃO: Peça que os adolescentes se dividam em grupos de quatro ou cinco (dependendo do número de participantes) para encenar uma pequena história familiar. A história pode ser, por exemplo, uma conversa com os pais, uma briga entre irmãos, a apresentação do(a) namorado(a) à família ou qualquer outra. Dê aproximadamente 30 minutos para a discussão e o ensaio. Em seguida, peça para cada grupo apresentar sua história, alertando que todos devem prestem atenção, pois a “platéia” irá participar. Ao final da primeira apresentação, o monitor deverá eleger um trecho importante da história que contenha algum impasse ou conflito e pedir para alguém da “platéia” entrar no lugar de um personagem com o intuito de modificar aquela situação. Por exemplo, se na cena aparecer um pai agressivo, o novo participante poderá assumir uma postura compreensiva, autoritária, evasiva, ou qualquer outra. Provavelmente, a nova atitude de um dos personagens vai requerer que os demais se reposicionem. Repita a dinâmica da trocas de atores nas demais apresentações. Depois, abra para discussão. Sugestões de temas para discussão: • Como você se sentiu fazendo o teatro? • Quais as questões centrais que surgiram? • Algo se repetiu nas apresentações? • O que mudou com a entrada de outros personagens? O conflito presente na cena se atenuou ou se agravou? Por quê? COMENTÁRIOS: Observar os grupos na preparação da peça o ajudará a melhor conduzir a atividade. Muitas vezes, durante as apresentações os jovens ficam excessivamente agitados. Portanto, cabe a você conter eventuais excessos. Ainda que a cena escolhida se baseie na vida real, a representação favorece um distanciamento do adolescente que não é obrigado a expor conflitos de sua vida pessoal. É muito importante que você chame a atenção para a complementação de papéis nas relações sociais, mostrando que uma atitude diferente de uma pessoa pode gerar novos comportamentos e arranjos em todo o grupo, isto é, se eles agem de uma maneira positiva podem receber uma resposta no mesmo tom. Isso deve ajudá-los a pensar em suas próprias atitudes. Perceber similaridades entre as famílias e analisar os papéis existentes ajudam o adolescente a colocar-se no lugar do outro e a melhor compreender seu papel na dinâmica familiar. 79 Oficina 5. Debate OBJETIVO: Discutir e refletir sobre alguns papéis habitualmente estabelecidos na relação pai-mãe-adolescente. MATERIAL: Fotocópia do texto do debate para cada grupo. DESCRIÇÃO: Os adolescentes devem se subdividir em dois grupos para debater a situa- ção familiar descrita abaixo. Depois de ler a cena, um grupo ficará encarregado de defender o pai e o outro de criticá-lo. Cada grupo deve discutir e levantar argumentos que justifiquem sua opinião, mesmo que alguns não concordem com ela. Situação-problema O pai chega do trabalho muito cansado e entrega o dinheiro para a mulher comprar a “mistura” para o dia seguinte. Senta-se no sofá para ver um pouco de televisão e nesse momento sua filha de 15 anos pergunta se pode ir a uma festa com seus amigos. O pai pergunta: quem vai? Onde é a festa? A que horas você vai voltar? A filha diz que irão todos os seus amigos da escola, inclusive a Claudinha, sua melhor amiga. Fala que a festa será uma grande balada que vai varar a madrugada. O pai balança a cabeça e fala para a filha ver essa história com a mãe porque ele trabalhou o dia inteiro e não quer mais problemas. Quando você achar que o debate sobre o comportamento do pai se esgotou, levante algumas questões para que os participantes reflitam sobre os outros personagens, por exemplo: • Na sua opinião, por que a filha foi conversar primeiro com o pai? • Como você acha que a mãe costuma agir em relação ao marido e à filha? • O que cada um teria que ceder para entrar em um acordo quanto à saída da filha? • Como vocês acham que essa história terminou? • E vocês, o que fariam no lugar da menina, do pai e da mãe? • Nem sempre os adultos concordam entre si quanto à educação dos filhos. Nesses casos, o que você acha que devem fazer? COMENTÁRIOS: Dentre os temas em jogo nesta cena, a independência é uma das questões centrais na vida dos adolescentes. No entanto, maior autonomia implica deveres e responsabilidade por suas ações, como o cuidado com a própria vida. Esse aspecto deve aparecer nas discussões. Procure instigar o grupo a pensar em todos os personagens envolvidos, sem tomar partido de nenhum. Essa é uma maneira de refletir sobre as relações familiares de maneira mais distanciada e racional. Ajude os jovens a pensar nas concessões que todos fazemos diante de eventuais conflitos. Você pode finalizar a oficina tocando a música “Pais e filhos” do grupo Legião Urbana. 80 Oficina 6. O que a minha família espera de mim? OBJETIVO: Refletir sobre as expectativas pessoais e as da família em relação ao proje- to de vida de cada um. DESCRIÇÃO: Peça que os participantes preencham o quadro abaixo individualmente. Quando todos terminarem, solicite que cada um conte suas respostas ao grupo. Ao final, faça comentários sobre semelhanças e diferenças que surgiram no grupo ou sobre questões que chamaram sua atenção. O que a sua família espera para o seu futuro? Você concorda ou não? Por quê? O que você deseja/ pensa a respeito disso? Namoro Trabalho Estudo COMENTÁRIOS: As divergências de opinião entre pais e filhos são freqüentes nessa fase. Portanto, é importante que o adolescente aprenda a ouvir, a pensar e a argumentar, defendendo suas idéias, ainda que tenha que acatar determinadas decisões dos pais à sua revelia. Ajude-os a refletir sobre o peso que as expectativas parentais têm em suas decisões, interferindo nas escolhas que possam fazer durante a vida. 81 para se aprofundar... Livros Sites ALBERGARIA, Lino de. Álbum de família. São Paulo: SM, 2005. Adoção www.portoalegre.rs.gov.br/funcrianca COOPER, David. A morte da família. São Paulo: Martins Fontes, 1980. Associação de Pais e Mães Separados http://www.apase.org.br CORNEAU, Guy. Pai ausente, filho carente. São Paulo: Brasiliense, 1991. Denúncia - Violência Doméstica http://diganaoaerotizacaoinfantil.wordpress.com/2 008/05/15/servico-violencia-domestica-contracrianca-e-adolescente DIAS, Vera. Coisas de mãe. Belo Horizonte: Lê, 1995. FORJAZ, Sônia Salerno. Papai não é perfeito. São Paulo: FTD, 1999. Denúncia – Violência www.campanhadenuncieviolencia.blogspot.com/2 007/05/disque-denuncia-contatos GAARDER, Jostein. A garota das laranjas. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. Portal da Família http://www.portaldafamilia.org/artigos/artigo188 JAFFÉ, Laura; SAINT-MARC, Laure. Convivendo com a família. (Guia da Criança Cidadã – Unicef). São Paulo: Ática, 2005. PSF – Saúde da Família http://www.portal.saude.gov.br/saude/area LAING, Ronald David. A política da família. São Paulo, Martins Fontes, 1983. Filmes MATHELIN, Catherine; COSTA-PRADES, Bernadette. Como sobreviver em família. Rio de Janeiro: Rocco Jovens Leitores, 2002. ROUDINESCO, Elisabeth. A família em desordem. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. SARTI, Cynthia. A família como espelho um estudo sobre a moral dos pobres. 2a edição, São Paulo: Cortez, 2003. SARTI, Cynthia. A. A família como ordem moral. Cadernos de Pesquisa n. 91. São Paulo: Cortez, p. 46-53, 1994. 82 Central do Brasil Walter Salles, 1998. Kolya – Uma Lição de Amor Jan Sverák, 1996. O Fabuloso Destino de Amélie Poulain Jean-Pierre Jeunet, 2001. O Quarto do Filho Nanni Moretti, 2001. Ponte para Terabítia Gabor Csupo, 2007. s a g o dr introdução uso das drogas é tema de preocupação constante para pais, educadores, profissionais da saúde e autoridades. Os aspectos associados a seu consumo assumiram as dimensões de uma questão de Estado, envolvendo áreas diversas como a Saúde, a Educação, a Assistência Social e a Segurança Pública. Não se discutem apenas os danos físicos e psíquicos causados pelas drogas, mas também os crimes envolvidos no tráfico de entorpecentes. O Abordar essa questão com os jovens requer muito cuidado. É preciso primeiramente diferenciar o adolescente usuário ocasional do toxicômano já dependente. As razões e conseqüências de cada modo de usar drogas são distintas e, por essa razão, ao tratar todos os usuários da mesma maneira, corre-se o risco de não se comunicar efetivamente com ninguém. São muitas as razões que podem levar o adolescente a experimentar uma droga, a continuar a usá-la e a se tornar um viciado. A maior parte deles, aliás, não se torna dependente. Segundo especialistas, a personalidade do usuário, bem como circunstâncias psíquicas e sociais, são mais determinantes para alguém começar a fazer um uso pesado de drogas (isto é, usá-las diariamente ou mais de uma vez por dia) do que os princípios ativos da droga propriamente dita. É por essa razão que os adolescentes são mais suscetíveis aos perigos que a droga oferece. Adolescer é questionar-se, descobrir-se, viver tudo mais intensamente: a paixão, o ódio, as inseguranças, os medos de rejeição, a autocrítica, os vazios existenciais; tudo aumenta. Comumente dizemos que a adolescência é uma fase de crise. E, para aplacar ou suportar essas intensas “dores do viver”, são muitas as maneiras que o adolescente encontra: uns comem em excesso, outros se recusam a comer. Há aqueles que namoram ou saem na “balada” de maneira compulsiva. Alguns vão à academia diariamente e ficam horas e horas malhando. Outros, preocupados com a aprovação de seus pares, aderem sem pensar a comportamentos do grupo. Nesse mesmo sentido, para uma parcela dos adolescentes as drogas assumem um caráter de salvação, tornandose o antídoto ilusório contra o sofrimento, permitindo a busca do prazer imediato. As pessoas viciam-se em uma ou outra droga por razões e caminhos singulares e, por essa razão, não se pode falar no “toxicômano” de maneira geral. Mas seja qual for o motivo que leva o adolescente a viciar-se, a droga ocupará na vida dele uma função apaziguadora das angústias, preenchendo um sentimento de vazio e promovendo a sensação de onipotência tão característica dessa fase da vida. A busca desesperada pela repetição do estado de satisfação que a droga propicia leva o sujeito a querer sempre mais. Daí o altíssimo risco de dependência física e psicológica que a droga aporta. 84 Diante desse assunto tão delicado e difícil, como abordar o tema das drogas com os jovens sem lançar mão de uma postura moralista ou repressora? As oficinas propostas neste módulo são informativas e reflexivas, partindo do princípio de que o entendimento do uso e abuso das drogas, assim como de seus efeitos prejudiciais à saúde e à vida, pode ajudar o adolescente a fazer uma escolha mais consciente. Antes de iniciar as oficinas, é fundamental que você estude o material informativo em anexo. Bom trabalho! objetivos do módulo: • Promover maior conhecimento sobre as drogas lícitas e ilícitas e sobre seus efeitos físicos e psicológicos. • Favorecer a reflexão sobre o que leva um indivíduo a recusar, a usar ou a abusar da droga e sobre as funções que esta pode ocupar na vida de uma pessoa. • Discutir a relação entre as drogas e a sociedade, de modo que o jovem possa perceber a complexidade das relações socioeconômicas das quais as drogas fazem parte. 85 com a palavra... Drogas – o que são? O que fazer? Lídia Chaib s drogas, ou substâncias psicotrópicas, agem no cérebro humano estimulando, diminuindo ou perturbando o seu funcionamento; são capazes de alterar os estados mentais e o comportamento das pessoas. Elas existem no nosso planeta em quantidade e variedade cada vez maiores. A Na maior parte das vezes, a pessoa que experimenta alguma droga pára sozinha de usar, ou recorre a ela muito ocasionalmente. O problema se coloca quando a pessoa cria uma dependência em relação ao uso de determinada substância, seja com drogas lícitas (como o álcool ou o tabaco), ou com drogas ilícitas (maconha, cocaína, crack etc.). Essa dependência se estabelece quando o usuário começa a gastar grande parte do tempo para conseguir drogas, para usá-las ou se recobrar dos efeitos do consumo; quando passa a usar em maior quantidade ou com mais freqüência do que pretendia; quando precisa de maior quantidade para sentir os mesmos efeitos (tolerância); ao se expor a riscos físicos sob o efeito da droga (como dirigir, pilotar moto, usar máquinas, nadar etc.); ou no momento em que passa a ter problemas pessoais com a família, amigos, na escola, no trabalho, com a polícia, com traficantes, além de ficar com a saúde debilitada em decorrência do uso indevido e excessivo de determinadas substâncias. Um esforço de prevenção eficaz deve priorizar o combate a esse tipo de uso, à dependência, e não necessariamente à substância em si. A prevenção pressupõe um trabalho que atue sobre questões que motivam a busca da droga. No documento “Manifestação do CONEN-SP para o I Fórum da Secretaria Nacional Antidrogas”, que serviu de base a este texto, o Conselho Estadual de Entorpecentes – CONEN-SP recomenda oferecer atividades prazerosas, significativas, criativas e educativas, inseridas no conteúdo da matéria escolar, abordando aspectos de uma vida saudável, sem necessariamente se referir de maneira direta às drogas. LÍDIA CHAIB é licenciada em Física, escritora e produtora cultural. Adaptou o livro Que droga é essa?, de Aidan Macfarlane, Editora 34. Escreveu Ogum, o rei de muitas faces e outras histórias dos orixás, Cia. das Letras, e As melhores histórias de todos os tempos, Publifolha. 86 O trabalho de prevenção com o adolescente precisa ser feito em conjunto com a família, a escola e a comunidade. Só desse modo será possível concretizar ações, amparadas e estimuladas pelo poder público, que tenham como resultado final uma sociedade mais sadia. À família cabe acolher a inquietação própria dos adolescentes, sem abrir mão de estabelecer limites claros e não arbitrários (que não resultem dos caprichos de alguém). Muitos pais precisam de orientação e ajuda de profissionais especializados para estabelecer essa relação com os filhos. A escola, por sua vez, deve garantir que os alunos recebam informações corretas e não preconceituosas, além de oferecer múltiplas atividades artísticas e esportivas para a participação dos alunos. A instituição de ensino pode também transformar as reuniões de pais e mestres numa atividade produtiva e de troca real de informações, oferecendo aos responsáveis pelo adolescente assistência e cobertura. Finalmente, a comunidade precisa abrir oportunidades para o jovem exercitar sua necessidade de se confrontar com autoridades e regras. Isso pode ser feito por meio de programas sociais amplos e de trabalhos que busquem soluções para problemas reais da coletividade, permitindo o exercício da cidadania e incitando o jovem a extravasar de maneira adequada e produtiva sua rebeldia e espírito crítico. A experiência de especialistas de diversas áreas tem mostrado que um programa de prevenção eficiente com adolescentes teria de: 1. levar em conta a dimensão emocional, oferecendo ao jovem opções culturalmente válidas, que permitissem canalizar o turbilhão de emoções que habitam o adolescente, para se contrapor à intensidade das emoções que a droga propicia. Nesse arsenal incluem-se, por exemplo, as atividades esportivas, diversas modalidades de expressão artística e cultural; 2. levar em conta a preocupação social e a necessidade que o jovem tem de pertencer a um grupo social, abrindo a possibilidade de participação ativa em questões que envolvem a comunidade da qual a escola faz parte; 3. oferecer informações verdadeiras e não preconceituosas sobre drogas, para que o adolescente possa fazer escolhas mais conscientes; 4. respeitar a inteligência do jovem, não usando mensagens alarmistas e deformadas (não tratar, por exemplo, todas as drogas da mesma maneira, como se oferecessem os mesmos riscos, não confundir o uso eventual de uma substância psicoativa com o uso habitual e contínuo); 5. não fazer afirmações inadequadas sobre as sensações que a droga produz, para não correr o risco de se desmoralizar diante de adolescentes que possuem informações diretas que podem contradizer as suas; 87 6. abrir um espaço para orientação dos pais de alunos, para que esses não se sintam tão despreparados e desamparados para lidar com os desafios da adolescência. Esse trabalho deve ser desenvolvido por equipes especialmente preparadas para levar em conta as múltiplas dimensões da questão (biológicas, psicológicas, sociais). O que seria necessário evitar, pois não tem se revelado eficaz nos trabalhos de prevenção às drogas com adolescentes: 1. reduzir a discussão sobre drogas a um curso de química avançada. Por mais respeito que o adolescente tenha pelo saber científico, ele já tem a consciência clara de que a opção pelo uso de substâncias psicoativas passa pelo conhecimento de seus efeitos, mas está longe de se reduzir a isso: é acima de tudo uma questão emocional, não racional; 2. reduzir a discussão sobre drogas a um curso de moral e religião, definindo o bem e o mal como se fossem absolutos. Uma das mais importantes características da adolescência é a busca de um quadro de referências próprio, baseado nos valores recebidos dos pais e professores, mas que não se confunde com esses. Nesse contexto, lançar mão de argumentos morais (na maioria das vezes preconceituosos) implica perder o interesse e a atenção do interlocutor adolescente. 3. patrocinar atividades pontuais e isoladas, como uma palestra proferida por especialista externo ao cotidiano da instituição ou depoimentos de estrelas do universo pop que se apresentam como ex-viciados reabilitados. Esses eventos são contraproducentes, na medida em que servem para aplacar a ansiedade da própria escola que, com isso acredita ter feito a sua parte e se exime de qualquer projeto mais comprometido e consistente. 4. palestras com especialistas podem eventualmente ajudar se fizerem parte de um programa de prevenção mais amplo, que inclui atividades a longo prazo. Os depoimentos de ex-drogados arrependidos, principalmente se famosos, correm o risco de confirmar a onipotência adolescente, fazendo-os acreditar que, como o depoente, serão capazes de largar a droga. Na medida em que as escolas e outras instituições que trabalham com jovens forem atrativas, estimulantes e respeitosas com os adolescentes, mais eles terão confiança e condições de escutar aquilo que elas transmitem. 88 Oficina 1. Conversando sobre as drogas OBJETIVO: Introduzir o tema das drogas identificando as dúvidas dos adolescentes e abrindo a possibilidade de diálogo sobre o assunto. MATERIAL: Tiras de papel e canetas. DESCRIÇÃO: Inicie a oficina perguntando ao grupo: O que são drogas? Quais drogas o grupo conhece? Em seguida, distribua uma tira de papel e uma caneta para cada participante e peça que escrevam suas dúvidas em forma de perguntas sobre o tema das drogas. As perguntas devem ser anônimas, por isso é melhor você utilizar canetas de mesma cor para que os participantes não sejam identificados. Reúna todas as perguntas em uma caixa e peça para alguém sortear uma pergunta e fazê-la para o coletivo. Estimule o grupo a respondê-la e, se necessário, complete as respostas. Repita esse procedimento até que todas as perguntas tenham sido respondidas. COMENTÁRIOS: Procure criar um clima descontraído e de confiança, isento de preconceitos e julgamentos. Tenha sempre em mente que essa é uma introdução ao tema das drogas e, portanto, não é preciso dar conta de todos os aspectos nesse encontro. Esteja atento às histórias e aos depoimentos que surgirem e também aos pedidos de ajuda que podem aparecer. Como esse é um assunto acerca do qual muitos adolescentes carecem de informações suficientes, a sua participação é fundamental para esclarecer as dúvidas do grupo. Por essa razão, prepare-se antecipadamente, lendo as informações abaixo e o Livro do adolescente, que decerto poderá ajudá-lo a compreender melhor a questão. Afinal, o que são as drogas? São substâncias químicas, naturais ou sintéticas, que provocam alterações físicas e psíquicas naqueles que as consomem podendo levar à dependência física e psicológica. O fato de uma droga ser natural não significa que ela seja benéfica ou menos prejudicial à saúde. As drogas podem ser divididas em lícitas (legais) e ilícitas (ilegais). No Brasil, são consideradas drogas lícitas o álcool, o cigarro e os medicamentos. Alguns produtos químicos (como solventes e sprays) e medicamentos controlados não são ilegais, mas, se usados para fins indevidos, isto é, para um uso diferente daquele ao qual se destinam, também são consideradas drogas e o usuário pode ser penalizado por lei. 89 Oficina 2. Uso e abuso/ Drogas lícitas e ilícitas OBJETIVO: Aprofundar o conhecimento dos jovens sobre drogas lícitas e ilícitas. MATERIAL: Cartolina; tiras de papel; canetas e cópias do material gráfico anexo (que deve ser recortado antecipadamente). DESCRIÇÃO: Inicie a atividade retomando a discussão da última oficina sobre o que são drogas, recuperando as principais descobertas do grupo. Feito isso, peça aos participantes que se dividam em equipes de quatro ou cinco integrantes e distribua uma cartolina para cada uma. Solicite que cada grupo divida a cartolina em três partes e em cada uma delas escreva: • Drogas Lícitas • Drogas Ilícitas • Não Drogas Em seguida, distribua um jogo de tiras a cada grupo e peça para classificarem todos os nomes correspondentes às imagens (chocolate; vinho; acetona; cigarro; cocaína; tinta; remédio; ecstasy; gasolina; cerveja; café e chá) nas três categorias do cartaz. Quando terminarem, solicite que cada grupo apresente a sua proposta. Nessa apresentação, levante as semelhanças e diferenças nas respostas de cada grupo e abra a discussão. PONTOS PARA DISCUSSÃO: • Quais são as drogas lícitas, ilícitas e não drogas? Resposta: Drogas ilícitas: cocaína, ecstasy. Drogas lícitas: cigarro, cerveja, vinho, medicamentos. Não drogas: chocolate, café, chá, tinta, acetona (se usada para o devido fim), gasolina (se usada para o devido fim). • Houve algum item/produto mais difícil de classificar? Qual? Por quê? • Dessa lista, o que não é considerado droga pode ser consumido em grandes quantidades, pois não faz mal? Resposta: Não. Muitos dos itens considerados não drogas podem fazer mal à saúde se consumidos em grandes quantidades. O chocolate em excesso, por exemplo, pode aumentar os riscos de doenças cardiovasculares e de outros males provocados pela obesidade. O café, por sua vez, contém substâncias estimulantes que acarretam insônia e agitação. 90 • A seu ver, qual a diferença entre usar e abusar de alguma coisa? Resposta: O uso designa uma ação social moderada de consumo de um determinado produto ou substância. O abuso refere-se ao uso excessivo e fisicamente prejudicial de determinadas substâncias que, a curto ou a longo prazo, dependendo da substância, da dose usada e do número de doses, irá não só determinar alterações patológicas como também induzir à dependência química. • Quais são os sinais que podem alertá-lo quanto ao uso do abuso de alguma coisa? Resposta: Necessidade diária de ingerir o produto; sentir falta dele em situações sociais ligadas ao prazer; propensão a consumir o produto em quantidades cada vez maiores; achar que o produto é a coisa mais importante da sua vida; o fato de os outros repararem que você está se excedendo com freqüência; ter antecedentes familiares de vício; pedir com freqüência dinheiro emprestado ou roubar para poder comprar o produto. Ao final, se ainda houver tempo você pode perguntar se o grupo conhece pessoas que são viciadas em drogas lícitas ou ilícitas e quais são as conseqüências disso na vida dessas pessoas. Pode ser um bom momento para compartilhar histórias, experiências e aprofundar a conversa sobre esse tema. COMENTÁRIOS: É importante que você leia antecipadamente as informações contidas no Livro do adolescente. Tenha sempre em mente que todo o tipo de substância em excesso faz mal à saúde. Além disso, apesar de o tabaco e o álcool serem drogas legalizadas eles oferecem muitos riscos. Sabe-se que atualmente, no Brasil, os adolescentes se viciam mais nas drogas consideradas lícitas do que nas drogas ilícitas. Por serem substâncias aceitas e comumente consumidas socialmente é muito comum os adolescentes recorrerem à bebida ou ao cigarro. É importante também que os jovens compreendam que o uso de drogas ilícitas vai além dos problemas de saúde que elas podem acarretar. Tanto o acesso quanto o uso de drogas são atividades criminosas que envolvem uma série de questões éticas, sociais e políticas que merecem ser discutidas. Essa pode ser uma oportunidade. 91 Oficina 3. Saúde no ar! OBJETIVO: Informar os adolescentes sobre os efeitos fisiológicos e psicológicos acarretados pelo uso de drogas lícitas e ilícitas. MATERIAL: Informações sobre cada droga (maconha, cocaína, inalantes, anfetaminas, LSD, álcool e tabaco) contidas no Livro do adolescente, Módulo Drogas. DESCRIÇÃO: Explique aos jovens que na oficina de hoje eles vão fazer um programa de televisão chamado “Saúde no ar” e que o tema do programa vai ser as drogas e seus efeitos. Divida os participantes em quatro grupos e sorteie duas drogas dentre a lista em anexo (maconha, cocaína, inalantes, anfetaminas, LSD, álcool e tabaco, ecstasy); cuide para não haver repetição de temas para cada grupo. Distribua o material informativo, e recomende que façam a leitura com bastante atenção, para em seguida prepararem uma apresentação que simulará um programa de TV. O formato do programa é livre, assim como o número de participantes: pode ser uma entrevista, uma reportagem, um debate ou um telejornal acerca das informações sobre as drogas sorteadas. Durante o ensaio, circule pela sala e, se necessário, forneça orientações aos grupos. Terminada a preparação, improvise um microfone e disponha as cadeiras em círculo. Cada grupo apresentará seu programa. Ao final de todas as apresentações, abra um debate, aproveitando a ocasião para discutir os seguintes pontos: • O que vocês acharam de fazer o programa? • O que foi mais fácil ou mais difícil? • Por que vocês escolheram esse formato apresentado? • Quais foram os aspectos que chamaram mais atenção de vocês em cada apresentação? • O que aprenderam de novo sobre essas drogas? COMENTÁRIOS: Essa é uma maneira lúdica de discutir um assunto sério e de aprofundar os conhecimentos sobre cada droga. Observe como os participantes abordam a questão: há preconceito na abordagem escolhida? Banalizam algum tema? Transmitem informações corretas? Tudo o que você observar é material para a discussão coletiva. 92 Oficina 4. Dramatização OBJETIVO: Refletir sobre comportamentos e atitudes que estão associadas ao uso de drogas, sobre os motivos que levam os adolescentes a usá-las ou rejeitá-las. Buscar compreender a complexidade da questão e os diversos fatores que estão em jogo. DESCRIÇÃO: Inicie essa atividade contando que eles farão uma dramatização na qual podem e devem levantar questões e colocar seus pontos de vistas e vivências sobre o tema. Em seguida, divida os participantes em três grupos e leia as instruções abaixo para cada um deles. Dê cerca de 20 minutos para que preparem suas dramatizações. Grupo 1 Crie uma cena cujo personagem central seja um adolescente viciado em drogas. Explore alguns pontos de sua história e de sua vida: como ele começou a usar, como o problema se desenvolveu, com que freqüência ele usa, como está a relação dele com a família e com as drogas. Grupo 2 Crie uma cena que tenha como foco um adolescente que, pela primeira vez, esteja experimentando alguma droga. Explore alguns pontos de sua história: em qual momento da sua vida isso acontece, o que leva a querer usar a droga, onde a consegue, como essa experiência se dá. Grupo 3 Crie uma cena cujo tema central seja um adolescente que, diante de uma situação de oferta, se recusa a usar drogas. Explore alguns pontos de sua história: os motivos que o levaram a dizer não e a reação do grupo de amigos diante dessa recusa. Depois que todos tiverem apresentado suas cenas, abra para uma conversa coletiva. Pontos para discussão: • Quais razões podem levar alguém a usar e/ou abusar das drogas? • Qual a função que a droga pode assumir na vida dessas pessoas? • Quais são as conseqüências do uso abusivo de droga na vida de uma pessoa? • Quais são os fatores que podem ajudar o adolescente a recusar drogas? COMENTÁRIOS: Como o tema é carregado de preconceitos em relação aos usuários de dro- gas, é preciso evitar posturas moralizantes. O objetivo do trabalho é fazê-los compreender a relação de um usuário com a droga, seja ele um iniciante ou um dependente. Para compreender, é preciso analisar todos os elementos das situações apresentadas, de modo que suas opiniões sejam críticas, baseadas em fatos, experiências ou informações corretas sobre o assunto. 93 Oficina 5. Drogas e sociedade OBJETIVO: Aprofundar e ampliar os temas que estão ligados à questão das drogas. Perceber a relação entre as drogas e a sociedade. MATERIAL: Leitura das seguintes seções do Livro do adolescente: “As drogas e a lei”; “Álcool, uma cervejinha aqui, outra ali...”; “Redução de danos, um assunto polêmico” e “Papo cabeça”. (Se você não tiver um exemplar do livro para cada adolescente, faça uma cópia dos textos para cada um.) DESCRIÇÃO: Inicie perguntando quais questões políticas e sociais estão ligadas ao tema da droga, como, por exemplo, o tráfico de drogas, drogas lícitas e ilícitas e políticas de saúde pública para usuários. Faça um pequeno aquecimento do tema. Em seguida, peça que os participantes se dividam em três grupos. Para cada um deles entregue um dos seguintes textos contidos no Livro do adolescente: “As drogas e a lei”; “Álcool, uma cervejinha aqui, outra ali...”; “Redução de danos, um assunto polêmico” e “Papo cabeça”. Peça que os grupos leiam o seu texto e façam uma discussão: o que acharam do texto? Já haviam recebido essas informações? Acrescentariam algo? Em que o texto faz pensar? Feito isso, peça que eles imaginem um jeito criativo de apresentar o tema discutido para o grupo todo. Pode ser em forma de uma música, uma aula, uma palestra, uma entrevista etc. O importante é poder passar as informações e a discussão de uma maneira lúdica e envolvente. Ao final, procure fazer uma conversa com todos os participantes da oficina. Pontos para discussão: • Você aprendeu algo novo nessas apresentações? O quê? • Do que mais gostou de saber? • Do que menos gostou? • Existe algo com que você não concorda sobre esse tema? Poderia acrescentar alguma nova idéia à discussão? COMENTÁRIOS: Fazer uma pesquisa anterior sobre os temas que serão discutidos e até trazer outros textos que alimentem a discussão dos grupos, pode ser muito interessante e o deixará mais preparado para conduzir essa oficina. 94 Oficina 6. Jogo OBJETIVO: Verificar o que os integrantes aprenderam durante as oficinas e ajudar que eles se apropriem delas. DESCRIÇÃO: Divida os participantes em dois grupos e solicite que respondam algumas perguntas relacionadas ao tema das drogas. Em cada rodada de perguntas um participante representará a sua equipe. Ele deverá ouvir a pergunta feita pelo monitor, discutir com o seu grupo (em 30 segundos) e em seguida responder. Quando a equipe não souber a resposta, não ganha ponto e a equipe adversária tem o direito de resposta. A cada acerto, um ponto. A equipe que conseguir responder mais perguntas ganha a gincana e um prêmio (a ser escolhido pelo monitor). PERGUNTAS PARA O JOGO: 1. O que são drogas? Resposta: São substâncias químicas, naturais ou sintéticas, que provocam alterações físicas e psíquicas naqueles que as consomem, podendo levar à dependência física e psicológica. 2. O que caracteriza um dependente? Resposta: “Aquele que faz uso pesado de drogas e que necessita cada vez mais quantidades para os mesmos efeitos; que gasta seu tempo para conseguir, usar e se recobrar dos efeitos; que vive para a droga, rompe os vínculos sociais, caindo na marginalidade e decadência física.” (retirado de Que droga é essa?, de Aidan Macfarlane, pág.18) 3. Cite três drogas lícitas Resposta: No Brasil, são consideradas drogas lícitas o álcool, o cigarro e os medicamentos. Alguns produtos químicos (como solventes e sprays) e medicamentos controlados não são ilegais, mas, se usados para fins indevidos, isto é, para um uso diferente daquele ao qual se destinam, também são considerados drogas e o usuário pode ser penalizado por lei. 4. O que acontece com alguém que é pego com alguma droga ilícita? Resposta: Depende. No caso brasileiro, a lei 6.368/76 trata, entre outras questões, do tráfico e do uso indevido de drogas. Se a pessoa for pega com uma pequena quantidade e assumir que é usuária, ela pode ser enquadrada no artigo 16 dessa lei; a pena é mais leve, com reclusão de 6 meses a 2 anos, que pode ser substituída por prestação de serviços à comunidade, acompanhada de tratamento obrigatório. Mas, se o indiví- 95 duo estiver com uma grande quantidade ou não assumir que é usuário, seu caso passa a se enquadrar no artigo 12. A pessoa pode, então, ser condenada como traficante (pena de 3 a 15 anos, além da multa), mesmo que não tenha antecedentes e leve uma vida normal, trabalhe, estude etc. No caso de menores de idade, a pena máxima de reclusão é de três anos, como estabelece o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Lembre-se: tráfico de drogas é crime hediondo e não tem fiança. 5. Cite exemplos de danos orgânicos associados ao uso abusivo do álcool. Resposta: O uso exagerado causa tontura, falta de coordenação motora, confusão, fala “arrastada”, desorientação, náuseas e vômito. 6. Qual é a relação do uso de drogas com o crime? Resposta: A relação das drogas com o crime é extensa e profunda. A produção, a venda e o uso de drogas são considerados crimes. Por serem proibidas, as drogas são contrabandeadas, entram no país através do tráfico. Exatamente por ser uma atividade ilegal, não há controle em nenhuma das etapas de produção ou de comercialização. Por exemplo, a droga pode estar misturada a substâncias perigosas ou mesmo mortais: alguns traficantes chegam a misturar estricnina à cocaína. Em geral, as organizações do tráfico também estão envolvidas com outros crimes graves, tais como seqüestros, roubos e assassinatos, contrabando de armas, exploração de menores, formação de quadrilha etc. Além disso, é comum encontrar, entre os dependentes, casos de envolvimento com roubo para conseguir a droga desejada. 7. Existe tratamento para dependentes? Quais? Resposta: Sim, existem muitos tratamentos para dependentes de todos os tipos de drogas na maioria das cidades do Brasil. Um deles é, por exemplo, a política de redução de danos que busca minimizar o efeito negativo do uso de drogas. Existem também muitos hospitais, grupos e clínicas que oferecem tratamentos, tais como: Alcoólicos Anônimos, PROAD, Narcóticos Anônimos, entre outros. 8. Há países nos quais as drogas são legalizadas? Resposta: Países como a Holanda e a Inglaterra têm algumas drogas liberadas. Na Holanda o consumo da maconha é permitido (cada cliente pode comprar até 5 gramas de maconha nos cafés), mas não se pode fumá-la em qualquer lugar. O consumo de outras drogas é ilegal. Vários países como Portugal, Alemanha, Bélgica, Espanha e Finlândia descriminalizaram o uso, isto é, a lei não impõe condenação para quem é só usuário. Entretanto, as leis contra traficantes se tornaram mais rígidas. Em algumas regiões existem políticas específicas de uso de drogas para fins medicinais, como o Canadá e oito estados norte-americanos. Na Califórnia, por exemplo, para atender à demanda do uso terapêutico, há uma produção legalizada, que obedece a rígido controle governamental. Existem drogas cujo uso é considerado normal e 96 integrante da cultura de determinado país. Por exemplo, no Peru e na Bolívia, a folha de coca é consumida livremente, embora a cocaína seja proibida. Esses países são os únicos nos quais a exportação de folhas de coca é uma atividade legal. 9. Cite dois tipos de drogas estimulantes, depressoras e perturbadoras. Depressoras (calmantes) Diminuem a atividade cerebral, deixando os estímulos nervosos mais lentos. Álcool, ópio e seus derivados (morfina, heroína), tranqüilizantes, solventes e aerossóis (como benzina, éter, tinner, acetona, removedor etc.) Estimulantes Aumentam a atividade cerebral e aceleram os estímulos nervosos. Anfetaminas (bolinhas, speedy), cocaína e derivados (crack), cafeína (estimulante suave) Perturbadoras Fazem o cérebro funcionar fora de seu estado habitual. Não alteram a velocidade dos estímulos cerebrais, mas causam perturbações na mente de quem usa. Maconha, haxixe, mescalina, cogumelos, LSD, voláteis, ecstasy 10. As seguintes afirmações são verdadeiras ou falsas? • O fumante passivo é aquele que fuma em pouca quantidade (F) • A Política de Redução de Danos diz que “Não sendo sempre possível interromper o uso de drogas, que ao menos se tente minimizar o dano ao usuário e à sociedade”. (V) • O efeito de uma droga é sempre o mesmo para qualquer pessoa (F) • É mais perigoso misturar álcool com outras drogas do que tomá-lo sozinho. (V) • O uso de álcool e outras drogas durante a gravidez causa sérios danos ao feto. (V) • Os dependentes de drogas têm maior chance de sofrer fracasso escolar e perda de memória e de se colocar em perigo. (V) • A pessoa mais obesa sente menos o efeito do álcool. (V) 97 para se aprofundar... Livros Drogas tô fora: http://www.spiner.com.br/modules. php?name=drogastofora ARATANGY, Lidia Rosenberg. Doces venenos: conversas e desconversas sobre drogas. São Paulo: Olho d'água, 1991. Grupo Interdisciplinar de Estudos do Álcool e Drogas (GREA): http://www.grea.org.br BOUER, Jairo. Álcool, cigarro e drogas. São Paulo: Panda, 2004. CAVALCANTE, Antônio Mourão. Drogas: esse barato sai caro. São Paulo: Rosa dos Tempos, 1999. GUIMARÃES, Eloísa. Escola, galera e narcotráfico. Rio de Janeiro: UFRJ, 1998. HERMANN, Kai; RIECK, Horst. Eu, Christiane F., 13 anos, drogada, prostituída. São Paulo: Bertrand, 1982. LARANJEIRA, Ronaldo; PINSKY, Ilana. O alcoolismo. São Paulo: Contexto, 1998. Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (PROAD): http://www.unifesp.br/dpsiq/proad Redução de danos, saúde e cidadania: http://www.reduc.org Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD): 0800-61-4321 www.senad.gov.br Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (UNIAD): http://www.uniad.org.br Filmes LEITE, Marcos da Costa; ANDRADE, Arthur. Guerra de cocaína e crack: dos fundamentos ao tratamento. Porto Alegre: Artmed, 1999. Cidade de Deus Fernando Meirelles, 2002. MACFARLANE, Aidan. Que droga é essa? Adaptação de Lídia Chaib. São Paulo: Editora 34, 2003. Cidade dos Homens Paulo Morelli, 2007. MASUR, Jandira; CARLINI, Elisaldo. Drogas, subsídios para uma discussão. Brasiliense, 1993. Diário de Um Adolescente Scott Kalvert, 1995. PINKY, Ilana; BESSA, Marcos. Adolescência e as drogas. São Paulo: Contexto, 2005. Meu Nome Não É Johnny Mauro Lima, 2008. TIBA, Içami. A maconha e o jovem: família, escola e sociedade. São Paulo: Agora, 1989. Notícias de Uma Guerra Particular Kátia Lund e João Moreira Salles, 2007. WUSTHOF, Roberto. O que é prevenção de drogas. São Paulo: Brasiliense, 1991. Col. Primeiros Passos. O Barato de Grace Nigel Cole, 2001. Sites 98 Narcóticos Anônimos: http://www.na.org.br Traffic Steven Soderbergh, 2000. Alcoólicos Anônimos: http://www.alcoolicosanonimos.org.br Trainspotting – Sem Limites Danny Boyle,1996. Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas (CEBRID): http://www.cebrid.epm.br Tropa de Elite José Padilha, 2007. Anexo 99 e o ã s s i f o pr o h l a trab 101 introdução ara os jovens, a inserção na esfera do trabalho em geral representa um passo firme em direção ao mundo adulto. Ainda que muitos deles façam “bicos”, ajudem no trabalho doméstico ou familiar desde cedo, um emprego remunerado, com ou sem registro formal, representa uma grande mudança na vida dos adolescentes. Em geral, o emprego traz novas responsabilidades e direitos, proporciona aprendizagens e relacionamentos diferentes e oferece certa independência financeira, o que lhes possibilita inserção no mercado de consumo. Ao participar da rede produtiva, o jovem pode delinear com um pouco mais de nitidez seu papel social, suas perspectivas de futuro. P Muitas vezes, esses primeiros trabalhos não correspondem de fato a uma escolha profissional. Nesse momento, é fundamental discutir com os jovens as diferenças entre trabalho e profissão. Um trabalho pode levar a uma profissão? Formar-se em algo implica conseguir trabalho? Como uma carreira pode ser construída? Não raro, priorizando sua independência financeira imediata, o jovem fecha portas de seu futuro. Entretanto, trabalhar não é apenas ter renda. Todo trabalho representa uma ação criativa no mundo, implica transformação da realidade. Trabalhar é colocar em prática habilidades e desejos, confrontar-se com limites e frustrações. A escolha da formação profissional é especialmente difícil porque o jovem se vê às voltas com seu projeto de vida, o que traz angústias. As dúvidas com relação às escolhas profissionais acentuam-se por volta dos últimos anos do ensino médio, quando o jovem realmente precisa tomar uma posição em face de seu futuro – a escola, a família, o grupo social cobram decisões. Frágil e inseguro, ele necessita da ajuda dos adultos para definir seus rumos. Daqui para frente, a escolha da formação implica um grande investimento, no qual recursos materiais, pessoais e familiares estão em jogo. Muitas variáveis estão envolvidas nessa escolha: as demandas de mercado (oferta de postos de trabalho e nível dos salários, por exemplo); aptidões e características pessoais; questões familiares (se os pais possuem algum negócio ou trabalham em alguma área de interesse do jovem); local e tipo de formação desejada (curso técnico, universitário etc.); custos financeiros da formação profissional e o reconhecimento social que eventualmente se pode obter. Enfim, a tarefa não é simples. O leque de ofertas de formação é um ponto central que deve ser abordado ao longo deste módulo. Em um mercado altamente especializado, as opções são cada vez mais diversas. O jovem precisa ter acesso a informações acerca das possibilidades de formação e de atuação profissional para que possa fazer escolhas possíveis e que lhe tragam satisfação. 102 Este módulo pode ser de grande ajuda para auxiliar seu grupo a refletir sobre essas questões. Boa sorte! objetivos do módulo: • Prover informações ao jovem sobre o mundo das profissões e do trabalho e suas diversas dimensões, tais como: tipos de formações profissionais existentes, lugares onde buscá-las, primeiro emprego, currículo, entre outras. • Refletir sobre o trabalho como um projeto de vida fundamental e ajudar o jovem a descobrir quais são suas habilidades e sonhos para que ele faça as melhores escolhas possíveis. • Refletir criticamente sobre a relação entre o trabalho e a sociedade. • Incentivar o jovem a tomar atitudes que busquem realizar o seu sonho. 103 com a palavra... Trabalho e trabalhar: uma parte simples e, ao mesmo tempo, complexa da vida Marcelo Afonso Ribeiro arece simples falar de trabalho. Afinal, todo mundo tem uma idéia mais ou menos clara do assunto. Mas a abordagem fica mais complexa quando se pretende discutir todos os matizes do tema, ou seja, a escolha da carreira, o binômio emprego-desemprego, a formação educacional, o projeto de vida no trabalho e a própria relação da identidade do indivíduo com sua atuação profissional. P O trabalho é algo que convive conosco desde a infância. “O que você vai ser quando crescer?”, perguntam pais, tios, avós. Esse interesse, que a partir de uma certa fase começa a soar como uma espécie de cobrança, nos faz lembrar constantemente do que o trabalho representa: um fazer inerente ao mundo adulto, uma ação sobre a realidade, que se vale de diversos instrumentos – técnicas, estratégias, conhecimentos específicos – e que, em especial a partir do momento em que me dedico a ele, irá definir quem eu sou. Isso porque, ao trabalhar, eu me desenvolvo enquanto pessoa, assumo um lugar no mundo e sou reconhecido socialmente. Trabalhar é, portanto, uma ação de autotransformação e autodesenvolvimento, de atuação social e de interação com o coletivo. É a sociedade que organiza o mercado de trabalho: suas opções, suas formas, os caminhos para o ingresso em cada uma das várias carreiras existentes, a legitimação e regulamentação das profissões, bem como as modalidades de preparo profissional. Assim, quando eu digo que eu sou professor, qualquer pessoa pode saber o que eu faço (dar aulas, ter alunos, avaliar), onde executo meu trabalho (instituições educacionais), qual é minha remuneração média (valor social da profissão) e também imaginar os motivos que me levaram a ter essa atividade e não outra (identidade profissional). Mas será que a resposta é assim tão simples e não há algo a mais nessa história? Com o desenvolvimento do capitalismo, o trabalho remunerado praticamente tornouse sinônimo de emprego. O trabalhador recebia um salário fixo, numa jornada de trabalho predefinida, pelo desempenho de uma função em um cargo. Esse cargo, ou posto de trabalho, definia-se conforme determinadas características do indivíduo, a saber, sua força de trabalho ou sua qualificação, que em geral está associada à experiência acumulada ou a uma formação específica – na educação fundamental, profissionalizante, média, técnica, tecnológica ou superior. MARCELO AFONSO RIBEIRO é psicólogo, docente do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. 104 Esse modelo, desenhado pela Revolução Industrial dos séculos XVIII - XIX, perdurou por quase todo o século XX. No entanto, de uns 30 anos para cá, ele tem sofrido transformações significativas. Graças à chamada “flexibilização do mundo do trabalho”, reduziram-se bastante o peso e a importância do emprego – até então a forma mais comum e hegemônica de inserção no mercado produtivo – e novos modelos começaram a ganhar espaço, tais como: a terceirização, o trabalho temporário, o teletrabalho (você recebe tarefas e as executa onde bem desejar), a consultoria e a informalidade. Além das mudanças nas relações profissionais, houve também um agravamento do quadro de desemprego, pela mecanização de diversas etapas do processo produtivo, por exemplo, o que levou à dispensa de funcionários, mas tentou assegurar a competitividade do país diante da concorrência internacional, cada vez mais acirrada. Equilibrar essa balança, oferecendo oportunidades para que os trabalhadores possam se aprimorar constantemente e acompanhar os avanços, é um desafio importante. É fundamental perceber que um desempenho satisfatório no mercado de trabalho é algo mais que ter um bom emprego em uma empresa ou instituição conceituada, alcançado graças a uma sólida formação educacional: esse é um caminho possível, mas não a única opção. Devemos analisar as inúmeras possibilidades e, também, as diversas restrições, que todos enfrentam ao planejar seu futuro profissional e ao tentar conseguir um lugar nesse mercado cada vez mais competitivo. Em última análise, é a sociedade que institui valores sobre o que é bom ou ruim – por exemplo, o que seria um bom trabalho, o que seria desejável para ter um bom emprego, qual a melhor forma de inserção no mercado, o que é uma formação adequada, o que é uma carreira de sucesso –, que se tornam metas genéricas a serem alcançadas. Também é importante ressaltar que a relação entre a pessoa e o mercado de trabalho é múltipla e complexa. Uma de suas dimensões é a flexibilização do mercado, que, por um lado, abre novas oportunidades profissionais, e por outro traz o risco da precarização das relações de trabalho (por exemplo, nos casos em que os trabalhadores não dispõem de garantias ou têm seus direitos desrespeitados). Tentemos responder algumas perguntas: quem é mais competente: um médico ou um carpinteiro? Quem tem mais sucesso: um executivo de uma grande empresa ou um camelô que tem apenas uma banquinha no centro da cidade? Quem é mais feliz: um professor de uma escola pública, um empresário, um bombeiro ou uma dona de casa? Se respondermos sem pensar muito, todas essas questões parecem fáceis ou óbvias. No entanto, há muitos fatores envolvidos nessas situações, principalmente pelo simples fato de que existem pessoas por trás delas, que constroem sua relação com o trabalho 105 (projetos e trajetórias de vida no trabalho). Tudo isso confere grande complexidade a essas respostas aparentemente fáceis, pois não convém fazer generalizações. O que é um projeto? É um estado que se almeja atingir, uma identidade que se pretende construir e um conjunto de ações para chegar a um dado fim. Todo projeto emerge do projeto de vida de cada um e toda escolha leva em conta um projeto preexistente. Assim, o projeto de vida requer uma estratégia no tempo ou uma ação que envolva a participação da pessoa na construção do seu futuro. Isso implica: compromisso e vontade de tomar para si o futuro; autoconhecimento; conhecimento dos seus processos de escolha e do mundo do trabalho; antecipação de dificuldades e obstáculos; operacionalização de estratégias para realizar projetos; existência de um projeto de vida global, do qual o trabalho é uma parte; consciência de que nenhum projeto é definitivo. O que uma pessoa busca com seu trabalho tem relação direta com o que ela busca para sua vida. É por isso que não existem receitas prontas ou caminhos adequados. Qualquer análise da trajetória ou do projeto de vida no trabalho deve levar em conta o que a pessoa busca para sua vida (aspirações individuais), sem nunca perder de vista o que ela pode realizar (condições objetivas) e o que existe para ela (possibilidades concretas). Ter clareza de que qualquer projeto de vida no trabalho se constitui de muitas variáveis não é fácil, pois de certo modo obriga a desconstruir falsos ideais, evitar frustrações desnecessárias, e a analisar o contexto de forma mais objetiva, a fim de visualizar as possibilidades e restrições que serão enfrentadas por toda a vida no trabalho. Em síntese, ainda que o trabalho pareça algo simples de definir, ele adquire dimensões mais complexas ao se constatar a existência de uma pessoa que trabalha em dado contexto social, o que impõe restrições e gera oportunidades que devem ser levadas em conta em toda análise do trabalho, da trajetória ou do projeto de vida no trabalho. 106 Oficina 1. Viagem ao futuro! OBJETIVOS: Discutir o projeto de vida de cada um e os caminhos possíveis para que ele se torne uma realidade. MATERIAL: Folha em formato de hexágono; lápis de cera; canetinhas; lápis de cor; aparelho de som e música para o relaxamento. DESCRIÇÃO: Em clima suave e tranqüilo, com uma música de fundo, peça que todos os participantes fechem os olhos. Dirija um relaxamento lentamente, propondo uma viagem ao futuro. Pense de antemão como você vai dirigir essa viagem (eles entrarão em um túnel? Passarão por uma porta? Viajarão pelos céus em uma espaçonave?), pois cabe a você orientar o pensamento dos adolescentes. Faça algumas perguntas que possam ajudá-los a se imaginar daqui a dez anos, por exemplo: • Agora que você avançou dez anos na sua vida, como você está se vendo? • Está trabalhando? Em quê? • Está estudando? Qual curso? • Está casado? Tem filhos? Quantos? • Tem uma casa própria? E um carro? • Como é a sua vida social? Como você se diverte? • E a sua família de origem, com que freqüência os encontra? • Quais são as suas prioridades nesse momento? O que é o mais importante para você e o que não é tão importante assim? Em seguida, peça que abram os olhos lentamente e entregue a cada participante uma folha de papel em branco, no formato de um hexágono, e material de escrita. Peça que escrevam na folha o futuro imaginado. No centro da figura geométrica, devem escrever o que consideram o mais importante; os demais aspectos de suas vidas podem ser distribuídos nas bordas ou como preferirem. Depois que terminarem, peça que cada um coloque o seu hexágono no centro da roda, de modo que, unidos, eles formem uma figura como se fosse uma colméia. Proponha que cada um apresente seu desenho e depois, abra para discussão. Questões para discussão: • Quais são os aspectos que mais apareceram no centro do hexágono? E nas bordas? O que mais se repetiu no grupo? • Quais os passos necessários para realizar esses desejos? • Pensando no presente, o que vocês já estão fazendo para atingir seus objetivos? • Existe algo que não estão fazendo ainda, mas que poderiam começar a fazer? • O caminho que vocês estão escolhendo é parecido com o das pessoas da família? Por quê? 107 Exemplo: Profissão Faculdade de Educação Física Família: Casada com dois filhos 108 Carro Viagem Casa Própria Oficina 2. Relação escola/ qualidade de vida/ trabalho OBJETIVO: Discutir a função da escola no projeto de vida de cada um, especialmente no que diz respeito à escolha profissional. MATERIAL: Cartolina e canetas hidrográficas. DESCRIÇÃO: Inicie o trabalho promovendo uma discussão sobre qual é a função da escola, da universidade (e de outros tipos de formação), o que é trabalho e qualidade de vida. Em seguida, divida os participantes em três grupos. Peça para cada grupo refletir e escrever em uma cartolina suas principais idéias sobre um dos seguintes temas: quais são as relações existentes entre escola e formação profissional (universidade ou outros cursos); quais as relações existentes entre escola e trabalho; e quais as relações existentes entre escola e qualidade de vida. É importante que todos os temas sejam discutidos. Por isso, certifique-se de cada grupo fique com um deles. Peça para cada grupo apresentar suas reflexões aos demais. Ao final de cada apresentação, realize um debate sobre os pontos levantados pelos grupos. QUESTÕES PARA DISCUSSÃO: • Quais são os limites e as potencialidades da escola na preparação do jovem para o mercado de trabalho, para cursos de nível superior e para a vida? • Qual é o papel do aluno e o do professor na tarefa de tornar a escola um espaço mais interessante para a vida dos seus alunos? COMENTÁRIOS: Esta oficina foi pensada com o intuito de resgatar a função da escola na vida do aluno, isto é, de problematizar os deveres da escola e do aluno diante da formação de um aluno crítico e cidadão. É muito importante que você discuta com os jovens as várias funções da escola para além da entrada no mercado de trabalho, como por exemplo, a formação ética e cidadã, o desenvolvimento emocional e intelectual, o fortalecimento de idéias, opiniões e valores, o relacionamento social. Os textos introdutórios podem servir de apoio para a discussão. 109 Oficina 3. Minhas habilidades (atividade das cartas) OBJETIVO: Reconhecer as próprias habilidades e dificuldades por meio das atividades que mais gostam de fazer ou daquelas que gostariam de realizar. MATERIAL: Folha de sulfite; lápis preto; canetinhas e lápis de cor. DESCRIÇÃO: Entregue uma folha de sulfite aos participantes e peça que escrevam, de um lado, suas habilidades e, do outro, suas dificuldades, levando em conta todos os aspectos da vida: escola, família, esporte e lazer, amigos, características pessoais etc. Exemplo: Habilidades Dificuldades Fazer amigos Falar em público Desenhar Matemática Dar conselhos Escrever A seguir, entregue três cartas em branco (folhas de sulfite cortadas do mesmo tamanho de cartas de baralho) a cada um dos participantes. Peça que olhem suas listas e escolham duas habilidades e uma dificuldade que consideram significativas, reescrevendo-as, uma em cada carta. Assim que todos terminarem, forme um círculo e peça para cada um apresentar suas três cartas e justificar o motivo de sua escolha. Durante a apresentação, é fundamental que haja um amplo diálogo entre os participantes de modo que as diferentes percepções interajam. Alguns exemplos: • Se alguém disser que sua maior dificuldade é fazer amigos, você pode perguntar aos outros jovens quais dicas eles poderiam dar para ajudar o colega a conquistar novas amizades. • Se alguém falar que sua maior habilidade é fazer contas de matemática, pergunte quais dicas ele daria para aqueles que têm dificuldade em cálculos. • Se alguém mencionar uma habilidade ou dificuldade que é percebida pelos demais (como a timidez, por exemplo), os participantes podem expressar a sua opinião sobre esse aspecto do colega. Ao final, a partir do que os jovens apresentaram, questione de que maneira essas habilidades e dificuldades podem interferir na escolha da profissão. COMENTÁRIOS: Nas discussões, procure ajudar os jovens a fazer possíveis ligações entre suas habilidades/dificuldades e a escolha profissional. Pode ser também interessante levá-los a perceber que, dependendo do contexto, uma determinada característica pode ser vista como algo positivo ou negativo. Por exemplo, ser detalhista é bom para algumas atividades e ruim para outras. 110 Oficina 4. Escolhas profissionais. Como posso concretizá-las? OBJETIVO: Discutir as escolhas profissionais e as possibilidades de concretização. MATERIAL: Folhas de sulfite e canetas. DESCRIÇÃO: Inicie a atividade discutindo com o grupo quais são os vários aspectos que influenciam na escolha profissional de um jovem. Em seguida, peça a todos que pensem livremente nas numerosas possibilidades de projetos relacionados a trabalho e/ou estudo que eles imaginam para si depois da conclusão do ensino médio. Nesse primeiro momento, todas as idéias que vierem à tona devem ser escritas nas folhas de papel. Lembre a eles que existem várias possibilidades de estudo de nível superior como universidades, cursos técnicos, educação a distância, entre outros. Importante: no Livro do adolescente existe uma descrição de cada um deles; se for o caso, leia essa página anteriormente com o grupo. Feito isso, peça que eles escolham, dentre todas as possibilidades que escreveram, aquelas que combinam melhor com seus desejos pessoais, suas habilidades, e com as possibilidades concretas de que dispõem, grifando-as. Divida os participantes em duplas e solicite que conversem sobre os projetos profissionais escolhidos e o que eles levaram em conta nessa escolha. Ao final, abra a discussão geral, levantando os seguintes pontos para o debate: • Como é para você fazer uma escolha profissional? • Quais aspectos tiveram maior peso na escolha do projeto que você acredita que possa ser concretizado? • O que sua família acha de sua escolha? • Quantas pessoas do grupo pensam em fazer cursos superiores e quantas não pensam? Por quê? COMENTÁRIOS: Tenha em mente que, dentre os aspectos que podem influenciar na escolha profissional de um jovem, incluem-se a profissão dos pais e dos familiares, as expectativas da família, os sonhos pessoais de infância, as habilidades de cada um e o retorno financeiro da atividade profissional escolhida, a curto e a longo prazo. Na discussão em torno do tema “universidade”, considere o fato de que a opção pela formação universitária não deve ser vista como a única escolha positiva do jovem após ele concluir o ensino médio. Existem outras possibilidades de formação ou de inserção no mundo profissional: curso técnico, cursos de curta duração, ingresso no mundo do trabalho sem curso prévio, dar prosseguimento ao empreendimento familiar etc. O Livro do adolescente aborda amplamente esse tema, você pode fazer uma leitura coletiva ao final da oficina. 111 Oficina 5. Pensando nas profissões (Jogo das profissões) OBJETIVO: ampliar o conhecimento acerca das profissões existentes, assim como ensaiar escolhas profissionais possíveis. MATERIAL: Folha de sulfite; lápis preto; canetinhas e lápis de cor. DESCRIÇÃO: Peça que todos escrevam numa folha de sulfite as profissões que conhe- cem, tanto as de que gostam quanto as que não apreciam. Depois, peça que escrevam, em uma outra folha, cinco profissões com que mais se identificam, assinalando os pontos positivos e negativos de cada uma. Assim que todos terminarem, forme um círculo e peça para apresentarem suas reflexões. Questões para discussão: • Quais as profissões que mais apareceram no grupo? • Quais habilidades são necessárias nas cinco profissões escolhidas? • Você conhece alguém que trabalha em alguma das profissões escolhidas? • Vocês já pensaram na profissão em que pretendem trabalhar? Ao final da discussão, cada um deve escolher uma profissão para conhecê-la melhor. Isso será trabalhado no próximo encontro. COMENTÁRIOS: Muitas são as maneiras de escolher uma profissão, mas certamente, infor- mar-se é fundamental. Peça que os participantes se informem mais sobre a profissão que escolheram trazendo dados que serão trabalhados no próximo encontro, conversando com profissionais, lendo revistas ou manuais, consultando a internet. Leia a descrição desta oficina para melhor orientar a pesquisa dos adolescentes. Entretanto, para assegurar o bom andamento da próxima oficina, é importante que você também leve material informativo sobre as profissões que serão trabalhadas. 112 Oficina 6. Profissões no ar (Telejornal) OBJETIVO: Aprofundar o conhecimento em torno de uma profissão especifica com a qual o jovem se identifica. MATERIAL: Folha de sulfite e lápis preto. DESCRIÇÃO: Na oficina anterior, os participantes escolheram algumas profissões e ficaram de trazer informações a respeito delas. É importante que você também levante esse material que, no mínimo, complementará o trabalho de cada jovem. Além da internet, os guias de estudantes disponíveis em escolas ou nas bancas podem ser fontes de pesquisa. Sugestões de Informações a serem levantadas: • O que faz esse profissional? • Qual é o campo de trabalho? • Quais são as habilidades exigidas nessa área? • Como a carreira pode se desenvolver? • Qual é a formação necessária? • Como é o curso (quantos anos de estudo, matérias principais)? • Onde se pode estudar (escolas públicas ou privadas, cidades ou bairros onde os cursos são ministrados)? • Como está o mercado de trabalho nessa área? Peça para cada um ler o material que você trouxe sobre a profissão escolhida e dê aproximadamente 20 minutos para os participantes organizarem o conteúdo que será apresentado ao grupo. Informe que eles farão um “telejornal” durante o qual cada um dos jovens será entrevistado pelos outros integrantes do grupo. A seguir, organize as “entrevistas” até que todos passem pela posição de entrevistado. Sugestões de perguntas que o grupo poderá fazer ao entrevistado: • Há quanto tempo está formado? • Onde trabalha? • Como conseguiu esse trabalho? • Como é o seu trabalho? • Você gosta do seu trabalho? • Qual a duração da faculdade? • Como conseguiu entrar na área? • Fez alguma especialização? Qual? 113 Comentários: Você também pode participar diretamente da atividade. Poderá, por exemplo, fazer o papel de apresentador, introduzindo cada novo entrevistado, dizendo: “Estamos aqui no programa ‘Profissões no ar’ com o nosso entrevistado Fulano de Tal que vai falar sobre sua profissão de...”. Se necessário, acrescente perguntas que considere importantes, dinamizando a atividade. Além disso, você pode trazer informações sobre alguma profissão inusitada, provavelmente desconhecida do grupo, que ache interessante que os jovens conheçam melhor. Esse é um momento de aprofundar conhecimentos, portanto, a sua ajuda é fundamental. 114 Oficina 7. Primeira Entrevista OBJETIVO: Discutir sobre a primeira entrevista e oferecer informações úteis para processos de seleção. MATERIAL: Fotocópia das duas situações relatadas abaixo. DESCRIÇÃO: Forme dois subgrupos e, para cada um, entregue uma história de um jovem que procura o seu primeiro emprego (veja abaixo). Cada grupo ficará responsável por responder as seguintes questões: • O que o jovem da história deve fazer? • Onde ele deve procurar trabalho? • Como ele deve se comportar na primeira entrevista? Em seguida, peça que os dois subgrupos apresentem suas sugestões. Assim que terminarem, escreva com eles uma lista de dicas sobre como se comportar na primeira entrevista de trabalho. Isso deve ser feito sempre levando em consideração os exemplos que os próprios adolescentes deram durante a discussão das histórias. DEPOIMENTO 1 Meu nome é Mariana, tenho 19 anos, sou solteira e residente da cidade de São Paulo (SP). Curso a Faculdade de Administração e estou à procura do meu primeiro emprego. Tenho facilidade para lidar com os clientes, conhecimentos em inglês, espanhol e informática. Quero uma oportunidade, assim como todo jovem que cursa uma faculdade. Gosto do que estudo e quero começar a trabalhar logo. O que eu faço? Onde procuro trabalho? Como devo me comportar na primeira entrevista? DEPOIMENTO 2 Meu nome é João, tenho 17 anos, sou solteiro e moro em Ribeirão Preto (SP). Estou à procura do meu primeiro emprego para aumentar a renda familiar. Procuro cargo de atendente e tenho conhecimentos de inglês básico e informática. Atualmente curso o ensino médio (3º ano). O que eu faço? Onde eu procuro trabalho? Como devo me comportar na primeira entrevista? 115 Seguem abaixo algumas dicas sobre os processos de seleção. Elas podem orientar a discussão. Sobre apresentação pessoal: • Cuidar da aparência das roupas (roupa limpa e passada, vestir-se de forma discreta). • Cuidar da limpeza das unhas. • Cabelos bem cuidados ou presos de forma a não esconder o rosto. • Não exagerar no perfume, usar um aroma suave na entrevista. • Os sapatos devem estar bem limpos. • Piercings e tatuagens devem ser ocultados em um primeiro momento, é preciso conhecer a empresa e saber há restrições. • As pessoas que trabalham com as áreas de criação, design, moda, informática, telemarketing ou esporte podem usar um traje mais despojado. Empregos mais formais como corretores de seguro, recepcionistas e bancários, por exemplo, necessitam de uma apresentação mais formal. • É importante que você saiba como as pessoas se vestem para o tipo de vaga que você está concorrendo. Lembre-se, porém, de que cada empresa tem um perfil. No caso das mulheres: • Apresente-se com as unhas limpas, cortadas, se possível com base ou esmalte, pois valoriza a aparência. A maquiagem, quando suave, valoriza o rosto, mas não deve ser extravagante. Não usar roupas decotadas, apertadas, que deixem a barriga exposta ou vestidos curtos demais. Tome cuidado com o uso de brincos grandes, pois eles podem atrapalhar nas dinâmicas de grupo. Da preparação para a entrevista, dinâmicas de seleção em geral: • Seja você mesmo. Embora seja difícil, procure manter a tranqüilidade, seja sincero e espontâneo. • Procure conhecer tudo o que puder sobre a empresa contratante antes da entrevista. Busque informações na internet, grande parte das empresas hoje já tem seu site. Se você tiver contato com pessoas que trabalham no local, peça algumas dicas. Pesquise quantos funcionários a empresa tem, qual é a sua missão (seus objetivos para com a sociedade), sua história, qual é o produto (ou o tipo de prestação de serviços) que realiza, quantas filiais tem etc. Essas informações podem ajudar nos teste de seleção e fazer diferença. Você pode utilizá-las em algum momento da seleção, isso demonstra interesse da sua parte em conhecer a empresa, é perfil de um profissional dedicado. Da conversa com o entrevistador, selecionador: • Respirar fundo (inspirar e expirar) para baixar a ansiedade. • Se for sua primeira entrevista e você se sentir muito nervoso diante do entrevistador, fale que esta é a sua primeira entrevista, a pessoa que está entrevistando lida com isso o tempo todo e já passou por isso também. 116 • Procure demonstrar interesse pela vaga, força de vontade, desejo de batalhar por ela. • Ouça o entrevistador e responda a cada pergunta que lhe for feita de forma objetiva. • Não minta. Não se esqueça de que, quando mentimos, passamos insegurança e por vezes até gaguejamos. Lembre-se de que normalmente as pessoas que entrevistam são especialistas em comportamento humano e têm boa percepção. • Não se esqueça de que o entrevistador tem como maior objetivo descobrir suas qualidades, as habilidades para que sua contratação seja favorável, encontrando a pessoa certa para o lugar certo. • Você também pode perguntar se tiver dúvidas sobre a vaga. Isso poderá ajudar na hora de responder e você poderá valorizar mais o que sabe fazer a partir do que é esperado para a vaga, ou seja, ressalte os pontos mais importantes. COMENTÁRIOS: Aproveite todas as experiências dos jovens nessa área, especialmente no caso daqueles que não conseguiram determinada vaga, ajudando o grupo a fazer uma avaliação do que pode ter ocorrido. Se possível, apresente casos de outras pessoas em etapas de seleção. 117 Oficina 8. Curriculum Vitae OBJETIVO: Fazer o próprio Curriculum Vitae. MATERIAL: Folha de sulfite; caneta preta e folha com as informações e o modelo do Curriculum Vitae. DESCRIÇÃO: Abra o Livro do adolescente na seção “E aí, já fez o seu CV?”. Nela você encontrará as informações necessárias para fazer um currículo. Converse com os participantes sobre cada item do currículo; assim que esgotarem todas as dúvidas, entregue a cada um deles uma folha de sulfite e uma caneta e peça que façam o próprio currículo. Assim que todos terminarem, solicite que o apresentem. Ajude o grupo a analisar cada currículo, sugerindo possíveis mudanças caso necessário. Discuta os pontos positivos de cada um que merecem ser ressaltados assim como eventuais fragilidades, por exemplo: “sou bom em computação, mas me falta inglês”. Pontos que devem ser lembrados na discussão: • A importância do histórico escolar para obtenção de um trabalho. • A participação em trabalhos voluntários como algo possível de ser acrescentado no currículo. • A importância de se aperfeiçoar participando de cursos oferecidos na própria escola ou em outras instituições. COMENTÁRIOS: Nem todos os jovens sabem da existência de cursos gratuitos ou a baixo custo (de língua estrangeira, informática, especialmente de cursos preparatórios para o vestibular) oferecidos por universidades e ONGs em várias cidades do país. Assim, durante a discussão, alerte-os sobre as disponibilidades oferecidas em termos de formação e/ou aperfeiçoamento na sua região e instigue-os a se informar sobre as possibilidades existentes. Essa troca de conhecimentos pode ser muito útil. 118 para se aprofundar... ALVES, Rubem; DIMENSTEIN, Gilberto. Fomos maus alunos. Campinas: Papirus, 2003. MACEDO, Roberto. Seu diploma, sua prancha: como escolher a profissão e surfar no mercado de trabalho. 8.ed. São Paulo: Saraiva, 1999. AMARAL, Sofia Esteves do. Virando gente grande. Como orientar os jovens em inicio de carreira. São Paulo: Gente, 2004. MELLO, Fernando Achilles. O desafio da escolha profissional. Campinas: Papirus, 2002. ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. São Paulo: Boitempo, 1999. MELO-SILVA, Lucy Leal; SANTOS, Manoel Antônio dos; SIMÕES, Joab Tenysson et al. Arquitetura de uma ocupação: orientação profissional - Vol. 1. São Paulo: Vetor, 2003. Livros BOCK, Ana Mercês Bahia et al. A escolha profissional em questão. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1995. BOHOSLAVSKY, Rodolfo. Vocacional: teoria, técnica e ideologia. São Paulo: Cortez, 1983. DEJOURS, Christophe. A banalização da injustiça social. Rio de Janeiro: FGV, 1999. DIAS, Maria Luiza. Profissão, no rumo da vida. São Paulo: Ática, 2002. FERRETTI, Celso João. Uma nova proposta de orientação profissional. São Paulo: Cortez, 1988. OLIVEIRA, Marco Antonio. O novo mercado de trabalho - guia para iniciantes e sobreviventes. Rio de Janeiro: SENAC, 2000. POCHMANN, Márcio. A inserção ocupacional e o emprego dos jovens. Campinas: IE/UNICAMP, 1998. POCHMANN, Márcio. O emprego na globalização: a nova divisão internacional do trabalho e os caminhos que o Brasil escolheu. Rio de Janeiro: Boitempo, 2001. PUBLIFOLHA, “Série Profissões” – Administrador (2006); Advogado (2005); Engenheiro (2006); Jornalista (2006); Médico (2005); Publicitário (2005). São Paulo: Publifolha. GIACAGLIA, Lia Renata. Atividades para orientação vocacional. São Paulo: Pioneira, 2000. RIBEIRO, Renato Janine. A universidade e a vida atual. São Paulo: Globo, 1996. GUIMARÃES, Ivan. Ingressando no mercado de trabalho. São Paulo: C N, 2001. SCHEIN, Edgard. Identidade profissional. São Paulo: Nobel, 1996. GUIMARÃES, Nádia Araújo; HIRATA, Helena. (Orgs.). Desemprego: trajetórias, identidades, mobilizações. São Paulo: SENAC, 2006. SCHWARTZ, Gilson. As profissões do futuro. São Paulo: Publifolha, 2000. LASSANCE, Maria Célia (Org.). Técnicas para o trabalho de orientação profissional em grupo. Porto Alegre: UFRGS, 1999. LEHMAN, Yvette Piha. Não sei que profissão escolher. São Paulo: Moderna, 1999. SENNETT, Richard. A corrosão do caráter: as conseqüências pessoais do trabalho no novo capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 1998. SILVA, Laura Belluzo de Campos. A escolha da profissão: uma abordagem psicossocial. São Paulo: Unimarco, 1996. 119 SOARES, Dulce Penha; LISBOA, Marilu Diez (Orgs.). Orientação profissional em ação: formação e prática. São Paulo: Summus, 1998. SOARES, Dulce Penha (Org.). Pensando e vivendo a orientação profissional. São Paulo: Summus, 1993. SUPER, Donald; BOHN JR, Martin. Psicologia ocupacional. São Paulo: Atlas, 1972. TOMASI, Antonio. Da qualificação à competência: pensando o século XXI. Campinas: Papirus, 2004. TOURAINE, Alain. Poderemos viver juntos: iguais e diferentes. Petrópolis: Vozes, 1998. Sites Agência de Apoio ao Empreendedor e Pequeno Empresário SEBRAE: http://www.sebrae.com.br Centro Paula Souza: http://www.centropaulasouza.sp.gov.br/Cursos/ ETE/Cursos.html Cooperativas de Trabalho - Incubadoras – USP: http://www.itcp.usp.br/ Currículo: http://www.curriculum.com.br Empregos e recrutamento: http://www.catho.com.br http://www.clickempregos.com FATEC: http://www.fatec.br Guia das profissões do Professor Wagner Horta (revista): www.agenciaeducacao.com.br 120 Guia do Estudante: http://www.guiadoestudante.abril.com.br Lei do Aprendiz: http://www.leidoaprendiz.org.br Ministério do Trabalho e Emprego http://www. mte.gov.br Programa Universidade para Todos: http://www.prouni-inscricao.mec.gov.br Rota do Trampo – CD Rom, 2001. http://www.cipo.org.br SENAI http://www1.sp.senai.br/senaisp/WebForms/ default.aspx Teenager http://www.teenageronline.com.br Vestibular FATEC http://www.vestibularfatec.com.br Filmes Billy Elliot Stephen Daldry, 2000. Domésticas Fernando Meirelles e Nando Olival, 2001. Eles Não Usam Black-tie Leon Hirszman, 1981. Mutum Sandra Kogut, 2007. Pão e Rosas Ken Loach, 2000. Sábado Ugo Giorgetti, 1994. a i n a cidad introdução palavra cidadania parece ter entrado na moda há alguns anos. Ela está presente no discurso das escolas, dos governos, das ONGs e nos meios de comunicação. Fala-se em cidadania para se tratar de assuntos tão diversos quanto o desmatamento, o desvio de verbas públicas, os conflitos entre gangues ou a falta de saneamento básico. E isso não acontece por acaso: em um momento de mudanças de valores, de amplo acesso à informação, de grandes disparidades sociais, é natural que a cidadania seja conclamada como um poderoso antídoto para diversas mazelas da sociedade contemporânea. A Isso ocorre porque cidadania nada mais é do que o cumprimento de deveres e direitos dos cidadãos. Entende-se que a participação dos cidadãos na sociedade é absolutamente necessária para o fortalecimento das instituições, a consolidação da democracia e do Estado de Direito. Mas para exercer a cidadania, não basta conhecer direitos e deveres (ainda que seja fundamental!); é preciso reconhecer seu valor de modo a colocá-los em prática nos atos e gestos mais cotidianos. No caso dos jovens, o exercício da cidadania implica responsabilizar-se por suas ações, respeitar o outro e os bens coletivos, fazer-se respeitar, participar da vida comum, combater arbitrariedades, enfim, construir preceitos éticos para que a convivência social seja mais justa e solidária. Esse caminho não é simples nem rápido, pois exige profunda tomada de consciência de si e da realidade, mudanças de modos de pensar ou de fazer. Contudo, todos sabemos que as transformações sociais passam pela educação dos jovens e crianças com os quais trabalhamos. Pode soar como um jargão, mas, de fato, só haverá um mundo melhor se cada um fizer a sua parte. Hoje. Desde já. Cabe a você fazer a sua. Mãos à obra! objetivos do módulo: • Informar-se sobre o que é cidadania e sobre algumas das questões envolvidas nesse tema, como, por exemplo, meio ambiente, participação política, violência. • Refletir criticamente sobre o papel do cidadão, buscando compreender quais são os direitos e deveres de cada um na sociedade. • Estimular uma participação ativa e responsável do jovem na sua comunidade. 122 com a palavra... Cidadania: como se chega a ser cidadão Mauricio Érnica uvimos e lemos a palavra cidadania em vários lugares, mas nem sempre fica claro o que se quer dizer com ela. Podemos ter uma boa compreensão do que esse termo significa tendo em mente que ele diz respeito às características pelas quais as pessoas podem chegar a se tornar cidadãs. O Como definir cidadania, afinal? A palavra cidadania tem origem na palavra latina civitas, que significa cidade. Em sentido mais restrito, refere-se ao conjunto de direitos e deveres daquele que habita a cidade, o cidadão. A cidadania, portanto, é caracterizada por um conjunto de direitos e deveres definidos a partir do que se costuma chamar de direitos humanos. Os direitos humanos foram criados no curso da história da sociedade a partir de lutas políticas e não doados como se fossem presentes ou favores dos poderosos. Costuma-se classificá-los em três grandes grupos: direitos civis, direitos políticos e direitos sociais. Os direitos civis dizem respeito às liberdades individuais: liberdade de ir e vir, liberdade de imprensa, liberdade de participar de grupos de interesse, liberdade de pensamento e de fé, liberdade para exercer a vida afetiva, liberdade para ter a vida privada preservada etc. Os direitos políticos referem-se à participação nos destinos da sociedade, seja atuando diretamente nas instâncias de poder, seja escolhendo aqueles que participarão dessas instâncias. Fundamentalmente, correspondem ao direito de votar e ser votado e ao direito de participar de organizações políticas como associações, partidos e sindicatos. Os direitos sociais remetem ao usufruto da riqueza produzida pela sociedade, assegurando aos cidadãos níveis de bem-estar de acordo com os padrões definidos historicamente. São exemplos, o direito ao trabalho, ao salário digno, à saúde, à moradia, à educação, à alimentação saudável, ao lazer etc. MAURICIO ÉRNICA. Cientista Social, Mestre em Antropologia Social (Unicamp) e Doutor em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagtem (PUC-SP). Trabalhou como professor no Ensino Médio e no Superior. Participou de projetos de diferentes ONGs nas áreas de educação e cultura. Desde 1995 é pesquisador do CENPEC (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária) e, desde 2006, é consultor da Fundação Tide Setubal. 123 A cidadania no Brasil Se observarmos diferentes sociedades, veremos que os direitos humanos assumem características que variam conforme as peculiaridades da história de cada uma delas. Na história do Brasil, a afirmação da cidadania seguiu um caminho lento e tortuoso. Nós só vivemos em regimes democráticos em três momentos: de 1934 a 1937; de 1945 a 1964 e após 1985. Entre nós, os direitos sociais foram expandidos por governos autoritários e populistas, sem que os direitos civis e políticos estivessem assegurados. Por isso, a tradição de afirmação de direitos é frágil no país e não é comum reconhecermos nem a nós nem aos outros como pessoas portadoras de direitos. O mais comum é considerarmos que os direitos são favores concedidos pela vontade de quem ocupa um lugar de poder. Essa tradição valoriza o líder paternalista com personalidade forte e disposto a distribuir benefícios aos seus protegidos. Ela enfraquece a participação na vida púbica e as políticas impessoais, voltadas a todos. Somos uma sociedade profundamente desigual, com muitas pessoas vivendo em situação de pobreza e vulnerabilidade, pressionadas por necessidades urgentes, como moradia, educação, saúde, trabalho etc. Essas urgências não satisfeitas são um terreno fértil para a reprodução de práticas clientelistas e assistencialistas. Clientelismo é a prática pela qual um poderoso concede benefícios a um grupo de pessoas mantidas em situação de dependência (clientela) e que, por receberem esses favores, tornam-se devedoras de lealdade política. Assistencialismo é a prática que busca atender pontualmente, caso a caso, necessidades urgentes de pessoas ou grupos sociais sem que busque a implementação de iniciativas que solucionem essas questões de modo amplo e impessoal. Pode-se ver, então, que somos uma sociedade marcada por práticas que não nos fazem cidadãos. Em vez de afirmarmos nossos direitos, é muito comum que nossas necessidades sejam atendidas pontualmente na forma de favores. Favores geram dívidas. Dívidas devem ser pagas, sob o risco de punição. Um modo corrente de pagar dívidas desse gênero é com a lealdade política e com a reprodução desses esquemas de poder. Assim, o clientelismo e o assistencialismo se perpetuam e restringem a afirmação da cidadania por geraram pessoas dependentes dos poderosos e não cidadãos livres, autônomos e com seus direitos assegurados. A cidadania como dever A cidadania pode ser definida pelos direitos e deveres que garantem aos cidadãos 124 liberdade individual, participação política e bem-estar social. O fato de os direitos serem afirmados nas leis é um passo importante para eles serem realizados concretamente, na vida cotidiana. Mas, para isso, é preciso consolidar instâncias de participação social e políticas públicas que universalizem direitos para todos, sem exceções ou privilégios. Direitos não geram dívidas, como os favores. Geram algo bem diferente: os deveres do cidadão. E o dever central de todo e cada um dos cidadãos é zelar pela garantia dos direitos de todos, dos seus e os dos outros. Referências bibliográficas: MARSHALL, T. H.. Cidadania e classe social. In: ____ . Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967. BOBBIO, N.. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992. CARVALHO, J. M. de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. COMPARATO, F. K.. A afirmação histórica dos direitos humanos. São Paulo: Saraiva, 2001. 125 Oficina 1. Declaração dos Direitos Humanos OBJETIVO: Discutir alguns artigos da Declaração dos Direitos Humanos da ONU para que os jovens tomem conhecimento de direitos e deveres universais. MATERIAL: Fotocópia da folha tarefa; revistas; lápis e canetas coloridas; tesouras; cartolinas; papéis coloridos e cola. DESCRIÇÃO: O conceito de cidadania ainda não é algo de que a maior parte dos jovens tenha se apropriado. Por essa razão, ao iniciar esse módulo, é interessante que você introduza o tema com um pequeno aquecimento. Você pode escrever na lousa ou em um papel três palavras correlatas – cidade, cidadão e cidadania – e pedir aos jovens que atribuam significados a cada uma delas. Anote todas as idéias dos participantes, ajude-os a fazer relações entre as palavras e ao final, procure esboçar uma definição do grupo de cidadania. Você pode ainda compará-la à acepção do dicionário ou de algum outro livro sobre o tema. Diga que ao longo das oficinas desse módulo, essa definição será enriquecida por meio de diversas atividades e vocês poderão comparar as idéias iniciais com as que estão por vir. A seguir, pergunte aos jovens o que eles sabem sobre a Declaração dos Direitos Humanos ou sobre a Organização das Nações Unidas – ONU. Leia as informações do quadro abaixo se necessário. Depois disso, divida os participantes em duplas ou trios. Entregue a cada pequeno grupo uma cópia de um dos artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. A equipe deve elaborar um cartaz que remeta ao seu conteúdo. Procure garantir que cada um dos grupos entenda o texto que lhe cabe e, se for necessário, explique o significado de palavras que talvez não façam parte do repertório dos jovens. Quando todos tiverem terminado, peça que cada grupo mostre seu trabalho sem ler o artigo em questão, para que os demais descubram o conteúdo desse artigo. Dado suas opiniões, os autores lêem o artigo e o discutem coletivamente. Propomos algumas questões para aquecer a discussão. As suas contribuições certamente irão enriquecer o debate. • O que você compreendeu desse artigo? • Você acha que esses direitos são cumpridos no país? Cite exemplos. • Se não o são, por que você acha que isso ocorre? • O que o Estado precisa fazer para garantir plenamente esses direitos? • O que nós podemos fazer para garantir plenamente esses direitos? • De que maneira esses artigos interferem na sua vida e na de seus familiares? 126 • Você sabia que, assim como a Declaração dos Direitos Humanos aprovada pela ONU defende os direitos das pessoas, está em vigor no Brasil o Estatuto da Criança e do Adolescente, conhecido como ECA, que visa assegurar os direitos dos indivíduos nessas etapas da vida? (comentar que alguns de seus artigos estão no Livro do adolescente). A idéia de proclamação dos direitos do homem nasceu no século XVIII, durante a Revolução Francesa, mas somente em 1948, depois dos horrores de duas guerras mundiais, surgiu a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Foi uma das primeiras ações da Organização das Nações Unidas – ONU, criada em 1945. Esta Declaração contém 30 artigos que devem ser respeitados por todos os países que a assinaram (inclusive o Brasil), em benefício de todas as pessoas, sem restrição. COMENTÁRIOS: Provavelmente os jovens já ouviram falar em direitos humanos na TV, na escola ou em outros lugares. Contudo, talvez desconheçam que tais documentos (como também a Constituição e o ECA, por exemplo) balizam a atuação de instituições que visam garantir os direitos e deveres em nosso país. Uma compreensão equivocada daqueles que trabalham na defesa dos direitos humanos, em instituições governamentais ou não, tem feito crer que seu objetivo é “defender bandidos”. Para muitos, talvez seja difícil compreender que presos, bandidos, travestis, homossexuais ou prostitutas também devem ter seus direitos garantidos, independentemente da opinião que cada um possa ter sobre as atividades e os comportamentos dessas pessoas. Esse tipo de discussão é fundamental, pois mostra ao jovem que leis são universais e devem ser cumpridas, ainda que não se concorde com elas. 127 Declaração Universal dos Direitos Humanos Artigo I – Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade. Artigo V – Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante. Artigo XVIII – Todo homem tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião. Este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observação, tanto em público quanto em particular. Artigo XIX – Todo homem tem direito à liberdade de opinião e expressão. Este direito inclui a liberdade de, sem interferências, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras. Artigo XXIII – Todo homem tem direito ao trabalho, à livre escolha do emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego. Todo homem, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social. Todo homem tem direito a fundar sindicatos e a sindicalizar-se para a defesa de seus interesses. Artigo XXV – Todo homem tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e à sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice e outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças nascidas de matrimônio ou fora dele, têm direito a igual proteção social. 128 Artigo XXVI – Todo homem tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos do homem e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrado aos filhos. Artigo XXIX – Todo homem tem deveres para com a comunidade, na qual é possível o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade. No exercício de seus direitos e liberdades, todo homem está sujeito às limitações estabelecidas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos objetivos e princípios das Nações Unidas. 129 Oficina 2. Por quê? OBJETIVO: Problematizar questões relativas à convivência, à ecologia e ao uso dos espaços coletivos de modo que os jovens se sintam implicados e possam contribuir para o bem comum. MATERIAL: Papel; caneta; cópias das fotos em anexo (ao final do módulo). DESCRIÇÃO: Você pode trabalhar com o grupo todo ou dividir os participantes em equipes. Sente-se em uma posição da qual todos possam ver as fotos que você vai mostrar. Mostre uma foto por vez, dê um tempo para que observem cada uma com atenção. À medida que você mostra cada foto, peça para responderem as questões abaixo por escrito. Esclareça que esse registro escrito tem apenas a função de apoiar a discussão, ele não será entregue. • O que/quem causou isso que você vê? • Por que isso aconteceu? • O que você sente quando vê essa cena? • Você já viu algo parecido? • O que essa situação tem a ver com você? • Quais são as possíveis soluções para esse problema? • E você, o que pode fazer? A seguir, abra a discussão para todo o grupo. Questões norteadoras: • O que você tem a ver com essa imagem? • Você vê essas situações em seu cotidiano? O que você faz? O que poderia fazer? COMENTÁRIOS: Todas essas situações aparentemente diversas têm em comum o abuso, a irresponsabilidade e a impunidade. Sabemos hoje que a maior parte dos problemas de destruição do patrimônio ou da natureza é causada pela falta de apropriação dos bens coletivos ou por um sentimento de não-pertencimento à comunidade. Além disso, para muitos, é difícil pensar nas conseqüências de seus atos, como jogar lixo na rua, por exemplo; por essa razão, tirar proveito pessoal imediato das situações aparece como a solução mais fácil. No caso dos animais, o fato de eles não serem vistos como seres dotados de direitos – embora tenham vida e sejam semelhantes a nós por sua sensibilidade à dor, ao sofrimento, à privação – acaba justificando sua exploração. O impacto das imagens deve gerar uma discussão interessante acerca desses temas. É importante mostrar que cada um tem a sua parcela de responsabilidade, mesmo que não esteja diretamente envolvido na situação. A questão principal é discutir as causas e conseqüências de cada situação, de modo a envolvê-los com esses problemas. 130 Oficina 3. Dilemas éticos OBJETIVO: Discutir com os jovens dilemas éticos cotidianos de forma a auxiliá-los a construir valores e princípios sólidos. DESCRIÇÃO: Inicie perguntando o que o grupo acha que é um “dilema ético”. Para tanto, é preciso discutir cada uma das palavras para garantir que compreendam seu significado. Observe as definições do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa: Dilema s.m. (1679 cf. RB) 1 FIL raciocínio que parte de premissas contraditórias e mutuamente excludentes, mas que paradoxalmente terminam por fundamentar uma mesma conclusão. Ética s.f. (sXV cf. FichIVPM) 1 parte da filosofia responsável pela investigação dos princípios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento humano, refletindo esp. a respeito da essência das normas, valores, prescrições e exortações presentes em qualquer realidade social. A seguir, leia um dos dilemas listados na próxima página (que também se encontram na seção “Ética e cidadania” do Livro do adolescente) e peça que alguém diga como agiria em tal situação. Aprofunde a discussão, perguntando: alguém faria outra coisa, agiria de outra maneira? Dê a palavra à pessoa que disser que sim, de modo a estimular a discussão. Ajude-os a analisar as causas e conseqüências de cada situação. Prossiga com a leitura e discussão de cada um dos dilemas. Depois de exploradas as situações propostas, peça aos participantes que, em duplas, elaborem outros dilemas para exporem ao grupo. COMENTÁRIOS: Há muitas situações nas quais os jovens têm dúvidas sobre a maneira correta de se comportar e, outras vezes, mesmo sabendo como seria adequado agir, não o fazem. Questionar essas razões e mostrar quais os comportamentos sociais esperados é uma maneira de humanizar as relações sociais. 131 Há regras que são regidas pelas leis, mas há comportamentos e atitudes que fazem parte da ética e da cidadania. Leia os dilemas éticos abaixo e veja como você agiria nestas situações: • Você está sentado em um ônibus cheio, morrendo de sono porque ficou estudando à noite para a prova. Entra uma senhora de idade, cabelos brancos, mas bem firmezinha. Você dá o seu lugar para ela ou finge que está dormindo? • Você foi na lotérica pagar uma conta pra sua mãe. O cidadão da frente deixou cair R$ 10,00 e ninguém viu. Você o avisa? E se for uma nota de R$ 100,00, você age do mesmo jeito? • Sua irmã tem um diário (sem cadeado!). Você lê escondido para ter posse de informações privilegiadas? • Você sabe que seu vizinho bate na mulher quando bebe. Você acha que “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher”? • Para você, o mundo é dos espertos ou é esperto quem acha essa frase um absurdo? • Você recebe um convite para ganhar um bom dinheiro trabalhando para um candidato corrupto da sua região, o que você faz? • Você está precisando de grana e seu colega, que não conseguiu terminar o trabalho de final de ano da escola, lhe oferece dinheiro para fazer o trabalho dele. Você topa? 132 Oficina 4. O que é violência OBJETIVO: Ajudar os participantes a refletir sobre o que é violência e o que ela desperta. MATERIAL: Uma garrafa ou algo que possa passar por uma roleta; cartolina para fazer os cartões. Confeccione previamente seis cartões. Em cada um deles você deve escrever as seguintes frases em um só lado: Sinto-me agredido quando... Violência pra mim é... Quando me sinto agredido eu... Cite um exemplo de violência que você já presenciou (na rua, na escola, no ônibus etc.); Quando vejo uma cena de violência me sinto... Para mim a frase: “violência gera violência” quer dizer que... DESCRIÇÃO: Inicie dizendo ao grupo que o tema dessa oficina é violência. Pergunte quais são os tipos de violência que existem (física, psicológica, sexual, negligência/ abandono) e peça para citarem exemplos. Pergunte se eles acham que o bairro onde moram é violento e por quê. Em seguida, peça para todos se sentarem (no chão ou em cadeiras), formando um círculo. Coloque no centro a garrafa. Um voluntário deve girá-la para sortear quem começa; a pessoa para a qual o gargalo da garrafa apontar deverá escolher um cartão e completar a frase. Depois que o participante responder, o grupo também poderá fazê-lo de modo que todos possam participar. Repita esse procedimento até que todos os cartões sejam explorados. Ao final, pergunte ao grupo como foi falar desse tema e como estão se sentindo. Lembre-os também de que, no Livro do adolescente, existe um quadro explicando onde buscar ajuda, caso precisem. COMENTÁRIOS: Esse é um tema bastante delicado, pois a violência está na vida de todos e pode mobilizar os participantes da oficina caso se lembrem de alguma experiência pessoal difícil. Procure estar atento e sempre orientar para que saibam onde buscar ajuda caso necessário. Também parece importante sempre enfatizar que existem diversas maneiras de resolver um conflito e que a violência normalmente costuma ser a pior delas. 133 Oficina 5. Modelos: gente que faz OBJETIVO: Favorecer a identificação dos jovens com pessoas que se destacam por suas virtudes. DESCRIÇÃO: Peça para cada participante pensar em alguém por quem sente admiração. Essa pessoa pode ser tanto um anônimo (como os pais, parentes, professores) quanto uma celebridade; o importante é que ela seja lembrada por sua conduta, seus princípios (honestidade, generosidade, retidão, responsabilidade, preocupação com o outro), pela militância em uma causa ou pelo trabalho que realiza. A seguir, divida os participantes em pequenos grupos e peça que os integrantes de cada um falem sobre o seu personagem. Depois de ouvidas as histórias, o grupo deve escolher apenas um deles para apresentá-lo aos demais. Deixe que cada grupo apresente seu personagem, contando um pouco de sua história, suas qualidades e o motivo que levou o grupo a escolhê-lo como uma pessoa admirável. A seguir, abra a discussão coletiva. Questões norteadoras para a discussão: • O que essas pessoas têm em comum? Como elas são? • Por que elas fazem diferença à sua volta? • Qual desses personagens mais o sensibiliza? Por quê? • O que elas têm que você também tem ou gostaria de ter? • De que maneiras você também pode fazer diferença à sua volta? O que você acha que poderia fazer para melhorar o mundo? Comentários: Bons modelos inspiram muitas pessoas, mas os jovens, sobretudo, necessitam de referenciais e exemplos positivos. Valores e princípios sólidos contribuem para a construção da personalidade. Esse é um bom momento para discutir e questionar os valores de cada um e partilhá-los com o grupo. Você também pode participar, trazendo seus exemplos. Você pode ainda dar prosseguimento a esse trabalho, estimulando uma entrevista com um dos personagens (se forem acessíveis) ou uma visita a uma instituição que realize algum trabalho importante no bairro. 134 Oficina 6. Sonhos para um futuro melhor OBJETIVO: Favorecer a discussão sobre as relações existentes entre indivíduo e sociedade. Refletir, discutir e nutrir em sonhos pessoais que estejam vinculados a interesses coletivos. MATERIAL: Papel sulfite recortado em tiras; caneta e fita crepe. DESCRIÇÃO: Copie as frases abaixo em um quadro e peça para os participantes completarem cada frase usando uma tira de papel diferente. Eu sonho para mim ______________________________________________________ Eu gostaria que a minha família __________________________________________ Eu queria que o meu bairro fosse __________________________________________ Eu queria que minha cidade tivesse ________________________________________ Eu queria que o Brasil ____________________________________________________ Eu imagino um mundo __________________________________________________ Assim que terminarem, recolha as frases e afixe-as na parede (ou em um papel pardo) separando-as de acordo com os temas (eu, família, bairro, cidade, país, mundo) de modo a construir um painel coletivo com a opinião de cada adolescente. Procure analisar semelhanças e diferenças entre as frases. Abra a discussão em grupo, levantando a seguinte pergunta: seus sonhos pessoais se articulam com os demais desejos? Se sim, de que maneira? A idéia é promover um debate entre as relações indivíduo-coletividade. Outras questões podem ampliar a discussão, por exemplo: como é ter uma bela casa em um bairro sujo e perigoso? Uma pessoa pode ser bom aluno em uma escola ruim? O que pode fazer uma pessoa mudar de país? Uma pessoa pode ter bom emprego se a economia do lugar onde mora estiver estagnada? Ao final, procure resumir as opiniões que surgiram, consolidando as principais questões discutidas. COMENTÁRIOS: A realização de desejos e sonhos depende não apenas do esforço pessoal, mas das possibilidades e circunstâncias da realidade. Ajudar o adolescente a pensar sobre a realidade à sua volta é uma maneira de, em última análise, integrá-lo ao mundo. Por isso, é tão importante que ele se informe sobre o que acontece no seu bairro, em sua cidade e no país. 135 Oficina 7. Nosso bairro OBJETIVO: Fazer uma cartografia do bairro de modo que os adolescentes possam iden- tificar seus problemas assim como os potenciais existentes. MATERIAL: Gravador; música; mapa do bairro; papel sulfite; lousa e giz ou papel pardo e canetas. OBSERVAÇÃO: Você pode obter o mapa do bairro nos guias da cidade ou até nas listas telefônicas. Se você morar em uma cidade pequena, pode trabalhar com o mapa da região central que você pode conseguir na Prefeitura. DESCRIÇÃO: Coloque uma música suave e peça para os jovens se sentarem, fecharem os olhos e imaginarem o percurso que fazem de casa para a escola. Vá orientando lentamente a vivência, por meio de perguntas: o que você está vendo agora que saiu de casa? Ande mais um pouco, o que chama a atenção? O que lhe dá desgosto de ver? O que lhe dá prazer? Existem pessoas/animais/coisas que você vê sempre em seu caminho? Você passa por algum espaço público? Como ele está: limpo, sujo, com gente ou vazio? Como estão os muros no seu percurso? E as calçadas? Existe algum perigo nesse trajeto? Quando você achar que foi suficiente, peça para abrirem os olhos e registrarem em um papel o que viram por meio de desenhos, palavras, sinais. Isso vai ser usado ao longo da oficina. A seguir, socialize a vivência, pedindo que quem quiser dê sua opinião. Esclareça que essa oficina tem por finalidade levar os jovens a conhecer melhor o bairro em que vivem. Juntos, eles descobrirão as potencialidade e os problemas locais. Levante com o grupo todos os equipamentos públicos existentes: bibliotecas, praças, clubes, salões paroquiais, cinemas, teatros, postos de saúde, ONGs, escolas, parques, enfim, quaisquer lugares em que as pessoas se encontrem. Anote na lousa ou em um papel pardo aquilo que for mais importante. A seguir, dê-lhes um mapa do bairro (pode ser um único exemplar se todos conseguirem observá-lo). Primeiramente, ajude-os a se localizar, marcando onde estão; depois, peça que assinalem os lugares que listaram, classificando-os por cor. Por exemplo: praças em verde, escolas em azul, clubes em amarelo e assim por diante. Com esses dados em mãos, inicie uma discussão. Para orientar a conversa, seguem abaixo algumas questões: • Quais os locais que já freqüentaram, onde nunca foram e onde costumam ir? • Por que razão vão ou não a esses lugares? O que fazem? • Quais os aspectos positivos e negativos desses lugares? • Quais os aspectos positivos e negativos do bairro? 136 • Do que sentem falta no bairro? Por quê? • Precisam ir a outro bairro para fazer alguma coisa? Que bairro freqüentam? Como vão até lá? • Aproveitam os potenciais do bairro? • O que deveria/poderia ser feito para melhorar o bairro? • De que maneiras poderiam contribuir para melhorar a vida no bairro? A discussão certamente estimulará os jovens a se integrar mais ao local onde moram, a desenvolver um sentimento de "apropriação". Pode acontecer de alguns jovens se interessarem por conhecer locais antes ignorados ou até em realizar ações concretas de intervenção em instituições ou melhoria nos equipamentos públicos. Se isso ocorrer, anote na lousa ou em um papel grande as sugestões levantadas. Qualquer que seja a ação proposta, um passeio ou de intervenção em algum lugar, ela vai requerer planejamento, o que pode ser feito em uma outra oficina que tenha por finalidade específica a organização dessas ações. COMENTÁRIOS: O sentido de pertencimento é fundamental para a construção da cidadania. Quanto mais sentimos que o planeta, o país, a cidade, o bairro ou a escola são “nossos”, melhor cuidaremos desses espaços. Quando as pessoas se dão conta de que estabelecem relações de troca com cada um dos espaços nos quais vivem ou transitam, aumenta sua consciência de seus potenciais de utilização e da necessidade de preservação. Conhecer o bairro é o primeiro passo para os jovens descobrirem espaços coletivos, discutirem o potencial e os problemas de onde vivem. Essa é uma maneira de se responsabilizarem e reivindicarem seus direitos de cidadãos. 137 Oficina 8. Caro político... OBJETIVO: Informar e refletir sobre o funcionamento dos três Poderes no Brasil. Estimular uma participação política ativa. MATERIAL: Folha tarefa anexa; lousa e giz ou papel pardo e caneta hidrográfica. DESCRIÇÃO: O voto é um dos principais meios de participação política. Entretanto, tão importante quanto votar é acompanhar o trabalho dos governantes. Para tanto, é preciso que o jovem compreenda como o governo funciona e qual o seu papel como cidadão. Comece a oficina conversando com os jovens sobre as funções dos três Poderes da República, perguntando-lhes se sabem o que cada um faz, quem são os profissionais que trabalham em cada um deles. A seguir, esclareça as dúvidas apoiando-se no quadro a seguir (um quadro semelhante se encontra no Livro do adolescente). Informe ao grupo que nesse momento eles vão dirigir sua atenção para o bairro (ou a região) onde moram. Retome com eles os principais problemas do bairro levantados na oficina anterior, que mereceriam maior atenção das autoridades. Listados os problemas, peça que elejam o mais importante. O objetivo é que escrevam uma carta a um vereador, por exemplo, alertando-o para o problema. O destinatário da carta deve ser a autoridade ou instituição responsável pelo problema em questão (como o vereador, o prefeito, o governador, o presidente, o Ibama, o Ministério Público, a Sabesp). Você será o responsável pela redação dessa carta coletiva. Talvez alguns jovens não saibam como escrever uma carta a uma autoridade; é uma boa oportunidade para você explicar algumas regras fundamentais e também esclarecer sobre o tipo de tratamento e a linguagem que devem ser empregados. Abaixo há um exemplo que pode ajudá-lo. Naturalmente, será melhor se o grupo tiver realmente intenção de enviar a carta. Nesse caso, será preciso postá-la e aguardar o retorno. Mas a atividade também vale como um exercício para que eles possam utilizar o procedimento em outros momentos, sempre que precisarem. Os três Poderes Nas repúblicas, como a do Brasil, a administração da vida pública está a cargo de três Poderes independentes: o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. O objetivo é evitar a concentração de poder em um só grupo e também possibilitar que os três poderes se 138 fiscalizem reciprocamente. Acompanhe o quadro abaixo para compreender como eles funcionam: Poderes/ Áreas de atuação Executivo Legislativo Judiciário O que faz? Principais funções Administra o Estado segundo as regras da Constituição. Aplica leis Define políticas públicas. Conduz a política econômica. Zela pela segurança nacional. Administra recursos. Representa o país. Comanda a política externa. Elabora leis Fiscaliza os outros poderes, inclusive vetando aquilo que julga inadequado. Aplica a Constituição e as leis para garantir a Justiça e assegurar a vigência dos direitos individuais. Quem são? País Presidente Ministros de Estado Senadores (Senado Federal) cada estado tem 3 senadores que exercem um mandato de 8 anos. Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Julga questões constitucionais e crimes comuns do presidente e dos membros do Congresso Nacional. Os ministros são nomeados pelo presidente da República. Deputados federais (Câmara dos Deputados) Os deputados têm mandato de 4 anos e representam os cidadãos no Congresso. Cada estado tem um número de deputados proporcional ao número de eleitores. Ambos formam o Congresso Nacional. O trabalho deles é independente, mas coordenado. Eles devem definir as leis nacionais, aprovar o orçamento do governo e fiscalizar contas e ações do Executivo. Quem são? Estado Governador Secretários estaduais Deputados estaduais (Assembléia Legislativa) São eleitos para um mandato de 4 anos. Eles elaboram e votam leis de interesse do estado. Quem são? Município Prefeito Secretários municipais Vereadores (Câmara Municipal) Têm mandato de 4 anos. Elaboram e votam leis de interesse do município. Superior Tribunal de Justiça (STJ) Julga crimes comuns de governadores e prefeitos, crimes de responsabilidade dos desembargadores; recursos dos tribunais regionais e estaduais. Tribunais de Justiça Estaduais (SJEs) Comarcas e varas estaduais 139 Poder Judiciário O Poder Judiciário tem uma organização mais complexa, hierárquica e sua atuação se dá no âmbito federal ou estadual. Atende as demandas jurídicas da população em ações criminais, civis ou comerciais. Todos os seus membros ingressam na carreira através de concursos públicos e vão sendo promovidos por critérios de antiguidade e exercício de funções. Além da Justiça Federal Comum, existe uma Justiça Federal Especializada, com tribunais nas áreas eleitoral, militar, do trabalho. Funções essenciais da Justiça que você deve conhecer: Ministério Público – é o defensor dos interesses da sociedade, deve proteger o patrimônio público e os interesses coletivos. Pode atuar no âmbito federal ou estadual. É um órgão autônomo, ligado ao Poder Executivo, mas não a determinado governo: seus integrantes são escolhidos por concurso. Entre os quadros do Ministério Público estão os promotores, que recebem os inquéritos policiais e podem oficializar denúncias. Nos tribunais são responsáveis pela acusação de réus. Qualquer pessoa pode procurar um promotor quando achar necessário. Defeensoria Pública – sua função é garantir o principio de igualdade entre os cidadãos perante a lei. A Defensoria Pública da União e as dos Estados são órgãos autônomos, embora estejam ligadas ao Poder Executivo. Os profissionais orientam aqueles que não podem pagar advogados. Local, data Exmo. Sr. vereador Benedito Souza, Nós do grupo Espaço Jovem, que se reúne na escola municipal X, estamos trabalhando o tema Cidadania em nossas oficinas semanais. Apresentação – quem é aquele que escreve, seja uma pessoa ou uma instituição Nas discussões, percebemos que em nosso bairro existe um grande problema quanto a (apresentação do problema de forma clara e objetiva). Por esta razão, gostaríamos de (Objetivo da carta: reclamar, alertar, divulgar, solicitar etc.) Acreditamos que seu papel é fundamental para a resolução desse problema, uma vez que sua atuação política tem sido marcada pela (defesa dos direitos de alguém, da natureza, pelos interesses do bairro, da cidade etc.) Esperamos poder contar com a sua ajuda. (saudações finais) Atenciosamente, Fulano de tal (monitor do projeto) e participantes Projeto Espaço Jovem Rua da Mata 103 01000-000 – Jururupimpim, SP 140 COMENTÁRIOS: Desacreditadas das instituições, é cada vez mais comum que as pessoas achem que não vale a pena tentar encaminhar seus problemas, sejam eles quais forem. No entanto, se deixamos de fazer um boletim de ocorrência sobre um dano sofrido, por exemplo, essa informação não será registrada. Se os dados policiais não forem fiéis à realidade, as autoridades não identificarão o problema e, por conseguinte, terão uma visão distorcida da realidade e não poderão estabelecer políticas públicas adequadas para enfrentar a questão. Omitir-se ou tentar resolver o problema no âmbito pessoal não são boas saídas. Atitudes de apatia ou de omissão acabam enfraquecendo as instituições e deixando os indivíduos inseguros porque não se sentem atendidos em seus direitos. Essa também é uma maneira de não assumir as próprias responsabilidades. Escrever uma carta a um político ou à seção de cartas de um jornal (você pode mostrar aos participantes essas seções nos periódicos mais importantes) é uma maneira de participar, mas há outras formas que devem ser discutidas no grupo. Esse é um bom momento para ampliar a discussão e conversar com os adolescentes sobre a importância de dar voz às suas idéias e indignações sobre os problemas da sociedade contemporânea. É importante que os jovens compreendam que informar-se é fundamental. Aproveite para divulgar os sites referentes ao tema. Nos sites dos poderes Legislativo e Executivo pode-se conseguir o e-mail do político com quem se deseja falar: www.camara.gov.br www.senado.gov.br www.presidencia.gov.br Outro endereço importante é o do Ministério Público Federal, ligado ao Poder Executivo. Recorde que também existem quadros do Ministério Público nos estados. Ministério Público Federal: www.pgr.mpf.gov.br 141 para se aprofundar... Livros BENEVIDES, Maria Vitória. A cidadania ativa. São Paulo: Ática, 1998. BOSCO, Sérgio Martinho de Souza; RODRIGUES, Joel Costa. Redescobrindo o adolescente na comunidade: uma outra visão da periferia. São Paulo: Cortez, 2005. CHAUÍ, Marilena. Cultura e democracia, São Paulo: Moderna, 1984. DIMENSTEIN, Gilberto. O cidadão de papel: a infância, a adolescência e os direitos humanos no Brasil. São Paulo: Ática, 1998. (Discussão Aberta, 1) FERREZ (Org.). Literatura marginal: talentos da escrita periférica. São Paulo: Agir, 2005. FERRY, Luc. A nova ordem ecológica: a árvore, o animal e o homem. São Paulo: Ensaio, 1994. GARCIA, Edson Gabriel. Uma conversa de muita gente: o exercício do diálogo e da participação. São Paulo: FTD, 2004. 48 p. (Conversas sobre Cidadania - Temas Transversais) IMPRENSA OFICIAL. Estatuto da Criança e do Adolescente. São Paulo: CMDCA/SP, 2007. 142 KRISHNAMURTI, Jiddu. Sobre a natureza e o meio ambiente. São Paulo: Cultrix, 2000. LATERMAN, Ilana. Violência e incivilidade na escola. Florianópolis: Obra Jurídica, 2000. LEGRAND. Pequenas lições. Belo Horizonte: Soler, 2007. MARIN, Isabel da Silva Kahn. Violências. São Paulo: Escuta/FAPESP, 2002. MARTINS, Maria Helena Pires. Eu e os outros: as regras da convivência. São Paulo: Moderna, 2007. NOVAES, Regina; VANNUCHI, Paulo (Orgs.). Juventude e sociedade: trabalho, educação, cultura e participação. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2004. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos Humanos. São Paulo: Paulinas, 1978. PEREZ, Clotilde; JUNQUEIRA, Luciano Prates (Orgs). Voluntariado e a gestão das políticas sociais. São Paulo: Futura, 2002. JAKIEVICIUS, Mônica. Ambientes brasileiros. São Paulo: DCL, 2008. PONS, Esteves. Valores para a convivência. São Paulo: A Girafa, 2006. JORGE, Maria Helena et al. Jovens acontecendo na trilha das políticas públicas. Brasília: CNPD, 1998. SASTRE, Genoveva; MORENO, Montserrat. Resolução de conflitos e aprendizagem emocional. São Paulo: Moderna, 2002. Sites Anjos dos cavalos: http://www.anjodoscavalos.org.br Arca Brasil: http://www.arcabrasil.org.br Centro de adoção de cães e gatos: http://www.naturezaemforma.com Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente da Cidade de São Paulo – CMDCA/SP: www.prefeitura .sp.gov.br/cmdca SOS Mata Atlântica – preservação da flora e da fauna da Mata Atlântica: http://www.sosmataatlantica.org.br Filmes Bicho de Sete Cabeças Lais Bodanski, 2002. Cidade dos Homens Paulo Morelli, 2007. Edukators Hans Weingartner, 2004. Diálogos contra o racismo: www.dialogoscontraoracismo.org.br Manderlay Lars von Trier, 2005. Desarmamento: Instituto Sou da Paz: www.soudapaz.org A Marcha dos Pinguins Luc Jacquet, 2005. Documentos: Para tirar: www.poupaclic.ig.com.br Meninas Malvadas Mark S. Waters, 2004. Estatuto da Criança e do Adolescente: www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L8069.htm Nunca Fui Beijada Raja Gosnell, 1998. Grupo Gay: http://www.arco-iris.org.br O Clube dos Cinco John Hughes, 1985. Instituto Nina Rosa: http://www.ninarosa.org.br O Que É Isso, Companheiro? Bruno Barreto, 1997. Movimento Nossa São Paulo: http://www.nossasaopaulo.org.br/portal/ Palavra e Utopia Manoel de Oliveira, 2000. Quintal de São Francisco: http://www.quintaldesaofrancisco.org.br Tiros em Columbine Michael Moore, 2002. União Internacional Protetora dos Animais (UIPA): http://www.uipa.org.br Um Grande Garoto Chris Weitz e Paul Weitz, 2002 143 144 Anexo 145 147 Este livro nasceu com a proposta de disseminar os conhecimentos gerados por alguns dos projetos desenvolvidos com adolescentes pela Fundação Tide Setubal. Ele é voltado para educadores (professores, psicólogos e profissionais de ONGs, postos de saúde, bibliotecas etc.) que atuam com jovens e procuram desenvolver um trabalho consistente através de oficinas temáticas que discutem assuntos relacionados ao universo adolescente, tais como: identidade, diversidade, corpo, sexualidade, família, drogas, profissão, trabalho e cidadania. A proposta favorece a convivência dos jovens, a criação de iniciativas coletivas, fortalecendo a possibilidade de escuta e de fala mediante a troca de saberes e a apropriação de novas informações. Dessa maneira, os adolescentes refletem e trocam experiências sobre o início da construção de um projeto de vida possível e autêntico. ISBN 978-85-6205801-1 9 788562 058011