Mundo Jovem: Desafios e Possibilidades: uma Proposta de

Transcrição

Mundo Jovem: Desafios e Possibilidades: uma Proposta de
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uma proposta de trabalho com adolescentes
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Presidente do Conselho
Colaboradores
Maria Alice Setubal
Alexandra Araújo de Queiroz
André Moreira
Cássia Aparecida de Souza
Florência Fuks
Joana de Vilhena Novaes
Junia de Vilhena
Leonel Braga Neto
Lídia Chaib
Luis Guilherme Florence
Marcelo Afonso Ribeiro
Mauricio Érnica
Miriam Debieux Rosa
Mônica Herculano
Silvia Meirelles
Yudith Rosembaum
Conselheiros
Guilherme Setubal Souza e Silva
José Luiz Egydio Setubal
Olavo Egydio Setubal Junior
Rosemarie Teresa Nugent Setubal
Coordenação Administrativa
Mirene Rodrigues São José
Coordenação Editorial
Tide Setubal Souza e Silva
Autores
Beatriz Penteado Lomonaco
Maria Vilela Pinto Nakasu
Tide Setubal Souza e Silva
Viviane Hercowitz
Viviane Soranso dos Santos
Impressão
IBEP Gráfica Ltda.
Tiragem
1.500 exemplares
Preparação de texto
Carlos Eduardo Matos
Projeto Gráfico e diagramação
Adesign
Ilustrações
Felix Reiners
Viviane Hack
Weberson Santiago
As texturas foram gentilmente
cedidas pela Little Dreamer Designs
L837m
Realização
Fundação Tide Azevedo Setubal
Rua Jerônimo da Veiga 164 – 13º andar – Itaim Bibi
São Paulo – SP – CEP: 04536-000
Telefax (11) 3168-3655
www.ftas.org.br
Agradecemos a todos os jovens e profissionais que
participaram dos projetos Espaço Menina-Mulher,
Espaço Jovem e de outros projetos da Fundação
que, de algum modo, contribuíram para a realização
desta publicação.
São Paulo, setembro de 2008.
Lomonaco, Beatriz Penteado, et allii.
Mundo jovem: desafios e possibilidades: uma proposta de trabalho
com adolescentes. São Paulo: Fundação Tide Setubal, 2008.
148p. ilus.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-62058-01-1
1. Adolescentes. 2. Educação 3. Lazer. 4. Saúde. 5. Cultura. I. Fundação
Tide Setubal. II. Nakasu, Maria Vilela Pinto. III. Souza e Silva, Tide Setubal.
IV. Hercowitz, Viviane. V. Santos, Viviane Soranso.
CDD 362.796
Helga Ilse Bekman – CRB 8ª/669
índice
05
Apresentação . . . . . . . . . . . . .
06
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . .
11
Integração . . . . . . . . . . . . . . . .
Identidade e diversidade . . . .
21
39
Corpo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
55
Sexualidade . . . . . . . . . . . . . .
71
Família . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
83
Drogas . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
101
Profissão e trabalho . . . . . .
121
Cidadania . . . . . . . . . . . . . .
o
ã
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a
t
n
e
s
e
apr
riada em 2005, a Fundação Tide Setubal é
uma instituição privada sem fins lucrativos
que nasce com objetivo de apoiar o desenvolvimento local e fortalecer o exercício da cidadania nas comunidades em que atua. O foco de sua
atuação é o território local, onde as pessoas efetivamente vivem e constroem suas relações sociais,
econômicas e políticas.
C
A construção de uma sociedade justa e igualitária, o respeito às diferentes temporalidades e
pluralidades, a valorização da cultura, das experiências e dos costumes são os princípios básicos
que norteiam as ações da Fundação Tide Setubal.
Nossos projetos focalizam com maior ênfase
adolescentes, jovens e famílias, moradores de regiões que apresentam altos índices de vulnerabilidade social.
Nossas atividades acontecem na zona leste de São
Paulo, especialmente no bairro de São Miguel Paulista. A Fundação desenvolve iniciativas e projetos
multidisciplinares e multissetoriais; avalia, sistematiza e disponibiliza os resultados e conhecimentos
gerados pelas experiências desenvolvidas; promove
e estimula o acesso da comunidade à informação e
à apropriação do conhecimento.
Além disso, as ações da Fundação buscam uma
articulação com as políticas públicas. Para tanto,
desenvolvemos parcerias com órgãos governamentais, entidades não governamentais, empresariais e comunitárias, por meio da construção de
vínculos de confiança e do desenvolvimento conjunto de projetos e programas. Assim, o reconhecimento do território e suas relações são de
fundamental importância em todas as etapas de
implementação dos projetos.
Nesse contexto, é com muita satisfação que apresentamos Mundo Jovem: desafios e possibilidades
– uma proposta de trabalho com adolescentes,
publicação que sistematizou o trabalho da Fundação nos projetos Espaço Jovem e Espaço Menina
Mulher, de modo que essa metodologia pudesse
ser acessível a um grupo maior de educadores
assim como às diversas instituições governamentais e não governamentais.
Mundo Jovem socializa a experiência dos projetos
mencionados acima que aconteceram em diferentes espaços públicos – tanto comunitários como
em escolas – e buscaram estimular a autonomia de
adolescentes e jovens, sustentando reflexões compartilhadas no coletivo e procurando desenvolver
questionamentos e pensamentos mais críticos a
respeito de suas histórias de vida, de seus desejos
e do mundo em que vivem.
Com a implementação do projeto, são discutidos
temas relacionados à identidade, diversidade,
corpo, sexualidade, família, profissão, drogas e
cidadania. Ao longo de um ano, essas meninas e
meninos podem exercitar as habilidades de convivência e criação de iniciativas coletivas, fortalecendo a possibilidade de escuta e de fala, mediante
a troca de saberes e a apropriação das novas informações. Dessa maneira refletem e compartilham a
possibilidade de começar a construir um projeto de
vida possível e autêntico.
Acreditamos que, com esta publicação, estamos
contribuindo para que um número maior de adolescentes e jovens possa inserir-se em espaços
coletivos de reflexão que potencializem seus
saberes, ampliem seu universo cultural e contribuam para construção de seus projetos de vida.
Maria Alice Setubal
Presidente Fundação Tide Setubal
5
introdução
um pouco de história...
ste material nasceu dos projetos Espaço
Menina-Mulher e Espaço Jovem, dirigidos
especialmente para adolescentes de 13 a 18
anos, moradores de São Miguel Paulista, bairro da
periferia de São Paulo. Uma pesquisa realizada em
2005 pela Fundação Tide Setubal em parceria com
o Ibope, abordando temas como saúde, educação,
cultura, segurança, necessidades e sonhos da população, forneceu informações essenciais para o
delineamento do projeto. Dentre elas, cabe ressaltar o alto índice de desemprego, a falta de perspectivas para o futuro na população jovem e a
escassez de opções de cultura e lazer na região.
Assim, o projeto foi idealizado visando oferecer às
adolescentes um espaço alternativo à escola que
fosse, ao mesmo tempo, um lugar de informação,
reflexão, aprendizado, cultura e lazer, no qual se
disponibilizassem instrumentos para a melhor
compreensão da fase adolescente como o momento de intensas transformações que marcam a
trajetória da infância para a fase adulta. Consideraram-se, portanto, as pessoas nessa faixa
etária em suas múltiplas dimensões – corporal,
subjetiva e sociocultural.
E
O Espaço Menina-Mulher teve início no primeiro
semestre de 2006 com dois grupos de adolescentes
(de 13 a 15 anos e de 16 a 17 anos). Eles foram
realizados no CDC Tide Setubal (Clube da Comunidade), um espaço público, dotado de equipamentos esportivos, ambientes de convivência, CPDOC
(Centro de Pesquisa e Documentação) e um telecentro. Esse local é gerido pela Fundação Tide
Setubal conjuntamente com outras instituições da
comunidade local1.
1
Os bons resultados do
primeiro
semestre
deram origem a um
segundo módulo
de 14 encontros,
voltado, especificamente, para
o projeto de vida
de cada adolescente, realizado de agosto a dezembro de 2006. Em 2007, procurando atender a uma
demanda crescente, a equipe responsável decidiu
ampliar a proposta. Além de abrir seis novos grupos (dos quais dois mistos, chamados de Espaço
Jovem, realizados em uma escola pública), o projeto tornou-se anual. Em 2008, o projeto continua em
vigor, com quatro grupos, em três diferentes
espaços: CDC, Galpão Cultural do Jardim Lapenna
e Escola Municipal Dom Paulo Rolim.
O objetivo mais amplo do projeto é promover a
saúde mental e física de adolescentes e jovens por
meio de múltiplas atividades vinculadas ao desenvolvimento e ao interesse pessoal dos participantes
no mundo contemporâneo, focalizando aspectos
relacionados a: identidade e diversidade, corpo,
sexualidade, família, drogas, trabalho e profissão
e cidadania. Pretende-se, com isso, que os integrantes ampliem sua visão crítica da realidade e
reflitam sobre temas próprios às suas vivências.
O trabalho com os adolescentes e jovens é essencial, pois esse período da vida caracteriza-se por
grandes transformações físicas e subjetivas, que
demandam reflexão e compartilhamento de experiências para a construção de uma identidade adul-
No atual mandato (2007/2009), a Associação Recreativa Brasil do Jardim Miragaia é parceira da Fundação Tide Setubal na gestão do CDC.
6
ta capaz de se posicionar no mundo. Esse é um
período de escolhas cruciais, tanto no plano profissional quanto no afetivo; para tanto, é fundamental
que existam espaços de troca que ajudem esses
jovens a se apropriar de sua crescente autonomia
e a trilhar caminhos saudáveis, que busquem um
equilíbrio entre o desejo de cada um e as possibilidades que a realidade oferece.
A escolha de trabalhar com essa faixa etária também se baseou na idéia de que as políticas públicas
devem criar espaços diferentes das escolas, mas
conectados a elas, objetivando a montagem de uma
rede efetiva que contribua para a formação de
sujeitos-cidadãos, aptos a buscar, escolher e
inventar um futuro melhor para suas vidas.
Para atingir esses objetivos, foi criada uma
metodologia específica, apoiada em atividades com
abordagens diversas, pouco usuais nas escolas. As
oficinas incluíram atividades com vídeos educativos, discussões, jogos, dramatizações, conversas
e propostas lúdicas com materiais de artes. A
maior parte das atividades foi feita coletivamente
para que os adolescentes desenvolvessem habilidades de convivência em grupo e de cooperação.
O sucesso do projeto fez com que a equipe sistematizasse sua experiência, elaborando um material
que tornou possível reproduzi-la, a fim de multiplicar o trabalho, ampliar o seu alcance e, desse modo,
atingir um público maior em todo o país. Este material baseia-se, portanto, em atividades já realizadas,
longamente discutidas e avaliadas, e contou com a
participação dos próprios jovens.
Assim, esperamos que este material ajude profissionais interessados na adolescência a formar
jovens capazes de assumir o mundo adulto com
confiança e autonomia.
Principais eixos do projeto
corporal
informações e reflexões sobre as
questões relativas à saúde e à estética (consciência
corporal, cuidados com o corpo, nutrição, sexualidade);
subjetivo
envolve diversas temáticas, tais
como: construção de identidade, auto-estima, projeto de vida, relações interpessoais e sexualidade;
cultural
discute a sociedade de nossos dias,
desde as relações familiares até a profissionalização e a cidadania. Procura questionar os valores
atuais e levar os jovens a uma melhor compreensão da realidade e da cultura contemporâneas.
7
A quem se destina
Profissionais de ONGs, escolas, grupos informais, centros de juventude, postos de saúde.
Como desenvolver o trabalho
O grupo
Nossa experiência mostrou que o grupo deve ser
constituído por preferencialmente, no máximo, 20
adolescentes. Um número inferior a oito jovens
pode empobrecer as discussões e um número
muito grande pode acabar por causar dispersão,
além de dificultar a participação de todos, algo
essencial na proposta. Em razão dos grandes
"saltos" próprios a essa fase de desenvolvimento,
optou-se por reuni-los em grupos com idades
próximas, por exemplo, entre 12 e 15 anos, ou
entre 15 e 18 anos.
Os monitores
Sugerimos que o trabalho seja desenvolvido, se
possível, por dois monitores, o que permite maior
troca de idéias e de interação entre jovens e adultos. É importante que os monitores tenham tempo
para discutir e avaliar as oficinas após sua realização, a fim de adequar a metodologia às necessidades de seu grupo. Eles devem estar disponíveis
e atentos aos movimentos do grupo, mobilizando
os adolescentes a cada atividade, escutando os
pedidos deles, dando informações e mediando os
conflitos que surgirem. Muitas vezes os jovens se
expõem ao tratar de temas mais delicados (como
sexualidade ou conflitos familiares), o que exige
respeito e acolhimento da parte dos adultos.
O papel do monitor é fundamental à condução
dessa proposta; ele precisa lançar mão de seu
repertório cultural, ser receptivo e aberto o suficiente para falar de todos os assuntos, transmitir
8
confiança e acolhimento, mas não deve perder o
seu lugar de autoridade enquanto coordenador. É
importante que os jovens encontrem adultos com
os quais tenham afinidade, mas que se diferenciem
deles no modo de falar e de se comportar.
Duração e rotina
O material pode ser usado de acordo com as
necessidades de cada grupo. Há atividades em
número suficiente para se desenvolver um trabalho
semanal ao longo de um ano. Sugerimos que os
encontros tenham a duração de duas a três horas,
com freqüência semanal. Contudo, ele pode ser
também usado de maneira esporádica, como por
exemplo, por um professor em sala de aula que
queira desenvolver somente um ou outro módulo
específico com seus alunos.
Propomos ainda que todos os encontros sejam iniciados com uma roda de conversa, o que permite
aos jovens contar as novidades da semana e se
preparar para a atividade que virá a seguir. A roda
é uma forma de aquecimento, podemos usá-la
para lançar uma primeira conversa sobre o tema
que será trabalhado no dia.
Nossa experiência nos mostrou que um momento
de socialização, ao término de cada oficina, promove
maior integração e descontração entre os participantes, ainda mais se acompanhado de um lanche.
Portanto, sempre que possível, deve-se reservar
algum tempo para a realização dessas trocas informais, preferencialmente ao final dos trabalhos.
Como usar este material
Livro do monitor
Avaliação
Os módulos estão divididos em oito temas – Integração, Identidade & Diversidade, Corpo, Sexualidade,
Família, Drogas, Profissão e Trabalho e Cidadania –,
embora vários deles se entrecruzem. Cada módulo
contém um texto apresentando a temática, um texto
de aprofundamento teórico escrito por um especialista na área, a descrição das oficinas e outras informações complementares (como a sugestão de livros,
sites ou vídeos que possam enriquecer o trabalho).
Avaliações são sempre muito importantes tanto
para os monitores quanto para os participantes,
porque permitem uma reflexão mais atenta acerca
do trabalho desenvolvido.
As oficinas sugeridas em cada módulo podem ou
não ser trabalhadas sequencialmente. Cabe ao
monitor decidir, de acordo com as necessidades de
seu grupo e do tempo disponível para o projeto,
tanto o número de oficinas quanto sua seqüência. É
muito importante que o monitor leia atentamente
os textos introdutórios, pois eles lhe darão recursos para enfrentar com segurança os desafios que
cada temática propõe.
Todos os temas podem ser enriquecidos com outras atividades e materiais que os monitores
julguem pertinentes, como vídeos, livros, palestras, dramatizações, materiais informativos, discussões e passeios. Alguns desses materiais são
sugeridos ao final dos módulos.
Livro do adolescente
O Livro do adolescente é um material que pode ser
oferecido a cada um dos participantes e usado de
forma complementar ao trabalho das oficinas.
Igualmente organizado em módulos temáticos, ele
aprofunda a reflexão sobre cada assunto sem, no
entanto, retomar o que foi feito presencialmente.
Assim, ele dispõe de certa autonomia em relação
ao que acontece nas oficinas e não substitui as
atividades realizadas em grupo. Se você quiser
receber esse material, entre em contato conosco
(www.ftas.org.br).
As avaliações realizadas durante o processo (ao
final de cada módulo, por exemplo) orientam o
monitor a efetivar eventuais mudanças no percurso e permitem ao jovem analisar o que aprendeu
ou vivenciou a cada etapa.
Ao final, é fundamental, para ambos, analisar de
que maneira o projeto repercutiu na vida dos jovens. Os temas desenvolvidos abriram novos
horizontes? Quais? As oficinas foram capazes de
fazê-los pensar de forma diferente? Como? Quais
assuntos mais interessaram? O que foi difícil durante o processo? Cada monitor certamente terá
suas próprias questões que devem ser contempladas na avaliação que fizer.
Mesmo que as conversas coletivas sejam uma boa
forma de avaliar, sugerimos que o monitor proponha algum registro escrito para os adolescentes.
Perguntas objetivas podem ser feitas nessa avaliação, mas é interessante contemplar outras formas
mais lúdicas, como um auto-retrato feito no início
do projeto e complementado ao final dele. Qualquer
que seja a opção do monitor, é importante que a
avaliação dê a idéia do caminho percorrido.
Em nosso projeto, ao final do ano os adolescentes
têm a oportunidade de escolher uma atividade
prazerosa, uma espécie de “produto final”, que
represente o trabalho ou o próprio grupo. Assim,
algumas turmas escolheram fazer um jogral, outras compuseram um rap, e também realizaram
desfiles, escreveram poemas ou confeccionaram
um grande cartaz representativo de seu percurso.
9
Os jovens se envolveram intensamente nessa produção e algumas turmas quiseram apresentá-la
para outras pessoas que freqüentavam o mesmo
espaço onde as oficinas ocorriam. Construir cole-
10
tivamente esse produto é uma forma de os jovens
se apropriarem ainda mais dos temas trabalhados
e, ao mesmo tempo, elaborarem uma despedida
do grupo.
integração
11
introdução
riar um clima de solidariedade e de intimidade no grupo é essencial ao projeto,
uma vez que os conteúdos trabalhados exigem cumplicidade e respeito entre os
participantes, assim como confiança entre adolescentes e adultos. Por essa razão,
as oficinas introdutórias têm os objetivos de favorecer o entrosamento e apresentar o trabalho. Esse é um período de formação do grupo.
C
Na primeira oficina, é importante:
• Explicitar os objetivos do projeto;
• Estabelecer regras com o grupo: horários, assiduidade, utilização do espaço e de materiais, arrumação, avaliação etc. Nesse momento, é importante estabelecer um tempo
para a roda de conversa inicial, decidir se haverá intervalo, de quanto tempo e se haverá
lanche no final, organizando-o;
• Escutar as expectativas dos jovens para ter um panorama das dúvidas, interesses e
dificuldades de cada um;
• E, principalmente, garantir aos participantes absoluto sigilo sobre aquilo que for discutido, já que vários assuntos íntimos serão tratados. Essa é uma maneira de estabelecer
um vínculo de confiança entre jovens e adultos.
Além disso, nesse início de trabalho, é importante que você se aproxime do tema adolescência, aprofundando seus conhecimentos, questionando-se, por exemplo, sobre quem são
esses adolescentes da atualidade, quais são suas características, necessidades e dificuldades. Isso pode ajudá-lo a entendê-los melhor e a se posicionar de uma maneira mais consistente diante do grupo. Para tanto, além dos textos dos especialistas presentes em cada
módulo, sugerimos uma bibliografia ao final, caso você queira se aprofundar ainda mais.
Após o texto do especialista, você encontrará diversas atividades que auxiliam o grupo a se
entrosar, mesmo quando os adolescentes já se conhecem. Algumas delas podem ser realizadas no primeiro encontro como forma de apresentação e outras, ao longo das primeiras
oficinas, para criar um clima amistoso antes da realização das atividades. Cabe ao monitor
avaliar as necessidades de seu grupo.
Bom trabalho!
objetivos do módulo:
• Apresentar o projeto aos jovens e conversar sobre as expectativas de cada um.
• Conhecer o grupo e promover uma integração dos participantes.
• Criar um clima de descontração e confiança, preparando o grupo para as discussões
e reflexões dos temas abordados ao longo do projeto.
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com a palavra...
Os desafios do trabalho com os adolescentes
Tide Setubal Souza e Silva
uem são os adolescentes dos tempos de hoje? Como eles podem estar mais
preparados para enfrentar o mundo contemporâneo? Quais são os desafios com
que os profissionais que trabalham com esse público têm de lidar? As possíveis
respostas para essas perguntas sem dúvida são muitas e incessantemente renováveis,
uma vez que a realidade se apresenta de diversos modos. Também não podemos falar
de uma única adolescência, mas de várias, com caminhos, estilos, pensamentos e características particulares.
Q
Escrever sobre adolescência é, sobretudo, lidar com o tema das contínuas transformações. Adolescência é uma trajetória marcada pela passagem de um mundo infantil,
protegido, no qual sempre há adultos (pais ou seus substitutos) zelando pela criança,
para um mundo adulto no qual cada um tem de se responsabilizar pela sua vida e suas
escolhas. O adolescente se vê, então, obrigado a lidar com todas essas mudanças.
Obrigado porque ele não pode escolher entre crescer ou não: a todos nós, impõe-se a
tarefa de lidar com esse novo lugar no mundo.
E como é essa trajetória que o adolescente constrói, ensaiando novos lugares, jeitos de
ser, possibilidades de futuro? É, antes de tudo, intensa. Recheada de conflitos, crises,
questões. Não é fácil conquistar a autonomia, o engajamento no mundo, e responsabilizar-se pelas próprias atitudes. Tudo isso implica necessariamente um certo tempo.
Tempo para se dar conta, experimentar, testar, questionar, brigar, descobrir, construir
outro jeito. Tempo para aceitar as perdas dos benefícios de ser criança e para descobrir
que também há benefícios em ser adulto.
Discute-se hoje o fenômeno de alargamento do tempo da adolescência. De um lado, a
globalização, a rapidez, a variedade e a quantidade de estímulos aos quais as crianças
estão expostas levam-nas a entrar precocemente na adolescência. De outro, a saída
desse tempo também é mais tardia, em virtude, por exemplo, do mercado de trabalho,
que exige maior preparo e especialização dos jovens.
Assim, por um bom período da vida, as pessoas ocupam um lugar adolescente, marcado por mudanças e instabilidades. E, na busca de um espaço na sociedade, muitas delas
tornam-se questionadoras: arriscam-se, provocam, constrangem, perguntam, desafiam,
testam e acontecem. Outras, assustadas, mostram-se apáticas e desinteressadas.
TIDE SETUBAL SOUZA E SILVA é psicóloga e psicanalista, mestre pela Université René Descartes - Paris V, trabalha na
equipe Menina-Mulher/Espaço Jovem da Fundação Tide Azevedo Setubal e coordenou a produção desse material.
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O que podemos fazer então? Qual é o nosso papel? Compreender esse momento é a
primeiro passo para encontrar verdadeiramente esses adolescentes, saber conversar
com eles e saber se fazer escutar por eles. É preciso estar atento ao fato de que, apesar de inúmeras vezes eles se mostrarem muito rebeldes, distantes ou intransigentes,
no fundo estão ávidos por conversas e encontros. E não exclusivamente com os amigos,
que sem dúvida têm um papel fundamental nessa fase, mas também com os adultos.
Com aqueles que podem ser referências, modelos e interlocutores.
Das muitas transformações vivenciadas pelos adolescentes, as relacionadas ao corpo
estão entre as mais fortes e importantes. É ele que indica a entrada na puberdade.
Nesse momento, o corpo vai deixando de ter um aspecto infantil para ganhar a forma
adulta. Os hormônios começam a atuar, surgem espinhas, acontece uma mudança na
voz, os caracteres sexuais se desenvolvem. Os adolescentes são, então, invadidos por
inúmeras questões e conflitos com o próprio corpo.
A partir do processo de materialização desse novo corpo, o adolescente vê-se confrontado e estimulado com uma novidade: a possibilidade de usufruir de uma sexualidade adulta, ou seja, de poder beijar, namorar, transar. Fato completamente inédito
em sua vida. Novamente ele é bombardeado por infinitas perguntas: o que eu faço
com todos esses meus desejos? Como lidar com a minha sexualidade?
Nesse sentido, as primeiras experiências amorosas são extremamente importantes.
Elas são uma espécie de brincadeira, jogos em que o adolescente vai experimentando
as novas possibilidades de seu corpo, de seu jeito de se relacionar e gostar dos outros.
Elas são de uma intensidade e volatilidade notáveis. Grandes paixões e aventuras, mas
também as maiores desilusões e desgostos.
Todas essas novas vivências corporais e sexuais implicam necessariamente muitas
mudanças subjetivas. Quem sou eu? Do que eu gosto? A que turma eu pertenço? Estar
integrado a um grupo de amigos, por exemplo, adquire uma enorme importância.
Vemos então que nesse momento a família – e também as pessoas mais próximas,
como os professores e parentes – deixam de ser a única referência, e os laços fraternos com os amigos ganham uma nova dimensão.
A turma de amigos torna-se um fator de pertencimento e de troca, que amplia os referenciais e as experiências de vida. Ela é o primeiro laço social construído pelo adolescente fora de sua família de origem, um espaço que possibilita a experimentação
da condição de ser jovem. Essa nova relação não substitui a relação familiar, contudo ela é fundamental para que o adolescente sinta-se autorizado a experimentar
situações novas.
14
No trabalho com adolescentes, somos continuamente confrontados com um pedido:
“queremos exemplos.” Isso nos indica, entre outras coisas, que nesse percurso de se
tornar adulto os jovens querem ter referências tanto de outros jovens com quem se
identificam horizontalmente, mas também de adultos, pais, familiares, educadores.
Contudo, nos deparamos freqüentemente, na atualidade, com adultos que não sabem
como se relacionar com adolescentes. E esse desencontro pode gerar uma ausência da
figura do adulto de diversas formas. Alguns exemplos: adultos que querem ser tão
jovens quanto os jovens e se colocam de igual para igual em relação a eles; homens que
não assumem o papel de pais e simplesmente não se responsabilizam pela criação de
seus filhos; mães cansadas de tanto trabalhar e cuidar da família que se ausentam não
fisicamente, mas emocionalmente na criação de seus filhos; educadores que, sem
entender seus alunos, não conversam, estimulam, discutem com eles; e até um governo que, sem conseguir cumprir o seu papel, o de investir nos jovens, acaba também por
deixá-los desamparados. Enfim, toda uma série de ausências e desencontros. E diante
de tudo isso, o adolescente sente-se perdido e clama por ajuda. É verdade que não é fácil
escutar esse grito, muitas vezes desesperado, desordenado, violento, sem causa
aparente. Gritos que aparecem em forma de revolta, ações criminosas, uso de drogas,
indisciplina, gravidez precoce ou até suicídio.
E afinal, o que querem os adolescentes de hoje? Querem um futuro, um trabalho, um
sentido para suas vidas, um mundo adulto que ajude e dê espaço para que eles possam
construir projetos de vida possíveis. Como abrir mão dos prazeres imediatos da juventude se eles olham para o futuro e não vislumbram nenhuma possibilidade? Como
investir nos estudos, se a escola de hoje, muitas vezes, não se configura como um lugar
de aprendizado valorizado, de desenvolvimento pessoal e profissional, de ampliação de
horizontes? Como construir um projeto de vida, se muitas vezes eles sequer imaginam
por onde começar?
Finalmente, perante esse quadro complicado da situação do adolescente na atualidade,
poderíamos concluir (como muitos deles, aliás) que não há saída. No entanto, não é isso
o que o trabalho com eles tem nos mostrado. Ao contrário, vemos o quanto podem ser
potentes e criativos. Para isso é preciso estar com eles, escutá-los, entender o que estão
passando, colocar-se ao lado. Eles querem falar, conversar, ser reconhecidos nessa trajetória adolescente.
Talvez possamos entender que o papel do adulto frente ao adolescente é o de apostar
nele. Apostar é poder sobreviver aos momentos de dúvidas, ataques e desamparo pelos
quais ele passa. Apostar é estar física e emocionalmente presente na vida dele, sendo
uma referência, colocando limites, conversando sobre questões importantes e até questionando o mundo junto com ele. Apostar é acreditar que existe um futuro possível para
os adolescentes de hoje.
15
atividades
1. Brincadeira do nome
OBJETIVOS: Estimular a integração do grupo por meio de uma brincadeira com os
nomes dos participantes. Auxiliar a memorização os nomes de cada integrante.
DESCRIÇÃO: Peça a todos que fiquem em pé, em círculo, e que cada um diga o seu nome
um após do outro, pausadamente. Feito isso, explique que na próxima rodada cada um
vai dizer o nome do companheiro que está à sua esquerda.
Depois, faça uma inversão, peça para que digam o nome do companheiro que está do
lado direito. A seguir, proponha que andem pela sala e que refaçam um círculo colocando-se em outros lugares. Repita a brincadeira.
2. O adolescente gosta...
OBJETIVO: Promover interação grupal e criar uma atmosfera agradável que estimule
conhecer o outro e reconhecer-se no outro.
DESCRIÇÃO: Primeiramente, peça que os participantes sentem-se em cadeiras organi-
zadas em círculo. Um deles ficará em pé, pois haverá uma cadeira a menos que o
número de participantes. Aquele que ficar de fora deve completar a frase: “O adolescente gosta de... (tênis, por exemplo)”. Se preferir, você pode também propor outras frases como: “O adolescente que mora no bairro tal é...” ; “Minha expectativa nesse projeto
é...”. Os participantes que concordarem com a idéia do colega devem sair do seu lugar
e procurar uma outra cadeira. Aqueles que não se identificarem com a frase, devem
permanecer em seu lugar. Com a troca de cadeiras, alguém necessariamente vai ficar
de fora. Caberá a essa pessoa reiniciar o jogo. Repita a proposta algumas vezes.
Ao final, é interessante comentar com o grupo o que ocorreu, observando quais características mencionadas se destacaram (aspectos físicos, atitudes, hábitos; quais tiveram
maior ou menor adesão etc.), como eles reagiram e assim por diante.
3. Apresentando um amigo
OBJETIVO: Promover o conhecimento entre os participantes
DESCRIÇÃO: Cada participante deve sentar-se ao lado de um colega desconhecido e se
apresentar, falando o nome, a idade, do que gosta, com quem mora, onde estuda, o
que faz etc. Depois de 5 ou 10 minutos de conversa, abra a roda e peça para cada um
apresentar ao grupo o colega que acabou de conhecer.
16
4. Terremoto
OBJETIVO: Promover interação grupal e o conhecimento do outro.
DESCRIÇÃO: Os participantes do grupo devem formar trios e um adolescente deve ficar
de fora. Em cada trio, duas pessoas devem erguer as mãos formando uma espécie de
casa ou cabaninha sobre uma terceira que ficará dentro dessa casa. A idéia é formar
a imagem de “uma casa com um morador dentro”. A seguir, aquele participante que
ficou de fora deve falar algo sobre si, por exemplo, “Eu gosto de...” ou “Eu sou...” Em
seguida ele deve escolher uma entre três palavras – casa, morador ou terremoto –
para provocar uma mudança de lugar dos participantes.
a. Se ele disser casa, as duplas que formam a casa devem procurar outros pares,
trocando de lugar e formando uma nova configuração de duplas na sala;
b. Se disser morador, somente os moradores trocam de lugar;
c. Se disser terremoto, todos os participantes devem mudar de posição e formar novas
casinhas com moradores.
Quando as pessoas trocarem de lugar, aquele que deu a ordem deve adentrar nas formações, obrigando o novo participante que “sobrou” a recomeçar a brincadeira, dizendo alguma característica de si mesmo para o grupo.
COMENTÁRIOS: Caso você use a brincadeira como aquecimento de uma oficina, pode
sugerir que a frase inicial tenha a ver com o tema proposto. Por exemplo, se estiver trabalhando no Módulo Família, o adolescente pode dizer: “Eu sou o caçula”, “Eu gosto do
meu quarto”, “Em casa eu lavo a louça” e assim por diante.
5. Mapeando o grupo
OBJETIVO: Fazer um mapeamento do grupo e colher dados pessoais de cada participante.
DESCRIÇÃO: Cada participante deve receber uma folha com o quadro abaixo. O objetivo do jogo é que cada um preencha a coluna “resposta” com o maior número de
nomes dos colegas. Para isso, dado o sinal, todos devem circular pela sala simultaneamente, fazendo as perguntas propostas, mas cada um só poderá escrever o nome
daqueles que responderem “sim” em cada questão (por exemplo: Maria, Isabel e
Sandra têm bichos de estimação – neste caso, o participante poderá colocar o nome
das três). Quando o monitor perceber que a maioria está terminando, deve dar o sinal
para parar. Quem conseguir responder todas as perguntas e tiver o maior número de
nomes diferentes será o vencedor.
17
COMENTÁRIOS: Ao final do jogo, é importante que o monitor socialize as resposta em um
painel ou na lousa, escrevendo os nomes daqueles que responderam afirmativamente
cada pergunta. Juntos, todos podem analisar se há poucos ou muitos nomes em cada
questão, quais os nomes que aparecem mais etc. Isso possibilitará que sejam verificadas
as semelhanças e as diferenças entre si. Naturalmente, você pode modificar as perguntas
de acordo com o seu grupo.
Se o grupo já se conhecer bastante, você pode mudar a proposta, pedindo para que adivinhem quem corresponde à pergunta. Depois eles devem verificar se acertaram.
QUESTIONÁRIO
18
Nº
Pergunta
1.
Você tem um bicho de estimação?
2.
Você tem mais que dois irmãos?
3.
Você tem namorado?
4.
Você tem pais separados?
5.
Você gosta de ouvir pagode?
6.
Você gosta de matemática?
7.
Você pratica esporte?
8.
Você é chocólatra?
9.
Você já dançou na frente do espelho?
10.
Você já amou sem ser correspondido?
Resposta
6. Montagem de painel
OBJETIVO: Fazer uma marca pessoal que identifique e apresente cada participante.
MATERIAL: Para essa atividade você precisará de:
• um grande pedaço de papel pardo
• papel sulfite
• lápis e canetas hidrográficas
• revistas
• cola
DESCRIÇÃO: Peça que cada participante pense em algo que possa ser sua marca pes-
soal – um desenho, uma frase, um logotipo, suas iniciais, seu próprio nome. Distribua
papéis para cada um fazer seu rascunho. Estenda o papel pardo no chão e organize os
materiais de modo que sejam facilmente utilizados. É importante que o papel tenha
um tamanho suficiente para todos ocuparem seu espaço. Quando estiverem prontos,
cada um deve registrar (se preferirem, colar) sua marca no papel pardo, de modo a
formar um único painel.
Ao final, sentados em roda, peça que apresentem sua marca ou desenho, justificando-a
(Por que a escolheu? De que maneira essa idéia o representa? Por que utilizou determinadas formas e cores?). Favoreça os comentários dos colegas.
COMENTÁRIOS: Observe como cada um ocupa o papel pardo, se compartilham o espaço,
se deixam o colega ocupá-lo etc. Além de ser um instrumento para que os participantes
se conheçam e se expressem, o painel pode cumprir a função de pessoalizar o espaço
usado pelo grupo. Se for possível, deixe o painel afixado na parede nas próximas oficinas.
Se você tiver mais tempo e recursos, também poderá utilizar um grande tecido para
realizar a proposta. Mais tarde, será possível transformá-lo em uma toalha para a hora
do lanche ou uma cortina para a sala onde as atividades são realizadas. Ao final do
projeto, esse pano poderá ser sorteado entre os participantes.
19
para se aprofundar...
Livros
ABRAMO, Helena Wendel; BRANCO Pedro Paulo
Martoni. Retratos da Juventude Brasileira:
analises de uma pesquisa nacional.
São Paulo: Fundação Perseu Abramo/Instituto
Cidadania, 2005.
ABRAMO, Helena; FREITAS, Maria Virgínia;
SPOSITO, Marília Pontes (Orgs.).
Juventude em debate.
São Paulo: Cortez, 2000.
ASSIS, Simone Gonçalves de; AVANCI, Joviana
Quintes; PESCE, Renata Pires. Resiliência na
adolescência.
Porto Alegre: Artmed, 2006.
CALLIGARIS, Contardo. A adolescência.
São Paulo: Publifolha, 2000. (Folha Explica, 4)
CENPEC. Diálogo e Ação. v. 1-4,
São Paulo: Cenpec, 2002.
CENPEC. ONG espaço de convivência. 4ª ed.,
Col. Educação e Participação.
São Paulo: Cenpec, 2003.
CENPEC. JOVENS e escola pública. 2.ed. 3 v.
V.1: Escutar: um ponto de encontro. V.2: Olhar:
histórias de lugares e vínculos. V.3: Pertencer:
subjetividade, socialização e saber.
São Paulo: Cenpec, 2006.
FREIRAS, Maria Virginia (Org.). Juventude e
adolescência no Brasil: referências conceituais.
São Paulo: Ação Educativa, 2005.
20
MATHEUS, Tiago Corbisier. Ideais na adolescência:
falta (d)e perspectivas na virada do século.
São Paulo: Annablume, 2002.
(Selo Universidade - Psicologia, 195).
NOVAES, Regina; VANNUCHI, Paulo (Orgs.).
Juventude e Sociedade: trabalho, educação,
cultura e participação.
São Paulo: Fundacão Perseu Abramo, 2004.
PALADINO, Erane. O adolescente e o conflito de
gerações na sociedade contemporânea.
São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005.
REVISTA IMAGINÁRIO. Juventude.
São Paulo: LABI – Laboratório de Estudos do
Imaginário do Instituto de Psicologia da USP,
Ano XII, N. 12, 1º semestre de 2006.
REVISTA MENTE E CÉREBRO.
O olhar adolescente 1, 2 e 3.
São Paulo: Duetto, 2008.
SAYÃO, Rosely. Como Educar Meu Filho?
São Paulo: Publifolha, 2003.
SERRÃO, Margarida; BALEEIRO, Clarice.
Aprendendo a ser e a conviver.
São Paulo: Fundação Odebrecht/FTD, 1999.
SPOSITO, Marília Pontes. Os jovens no Brasil:
desigualdades multiplicadas e novas demandas
políticas.
São Paulo: Ação Educativa, 2003.
ZAGURY, Tânia. O adolescente por ele mesmo.
Rio de Janeiro: Record, 1996.
e
e
d
a
d
i
ident
e
d
a
d
i
s
r
dive
introdução
m uma idade de descoberta de si, de afirmação dos desejos, de busca pelos direitos e conscientização das responsabilidades, algumas perguntas são recorrentes
para os adolescentes: Quem sou eu? Do que eu gosto? Quem eu quero ser? A qual
grupo eu pertenço? Enfim, qual é a minha tribo? Essas perguntas falam da construção
da própria identidade que se dá na relação com o outro e consigo próprio.
E
Nessa fase da vida, construir uma imagem de si mesmo é uma questão fundamental.
O adolescente não é mais aquela criança completamente ligada aos pais, ele começa
a querer levantar vôo próprio, tem opiniões e visões singulares, que são, muitas
vezes, diferentes das de seus familiares. Nesse sentido, o grupo de amigos torna-se
algo essencial. Ter uma turma, uma tribo, adotar um estilo próprio de se vestir, eleger
seu tipo de música preferido são formas de se encontrar, de se organizar e de construir uma identidade.
Discutir a identidade, aquilo que é singular em cada um, remete, necessariamente,
não só aos gostos pessoais, mas também ao diverso e ao coletivo. Olhar o outro, tentar compreendê-lo, é uma forma de se entender. Muitas vezes, os confrontos entre a
identidade pessoal e a grupal, ou entre grupos com fortes características identitárias
(como as torcidas, por exemplo) geram conflitos bastante intensos. É nesse momento que a tolerância, a aceitação de si e do outro podem se fortalecer, contribuindo para
um desenvolvimento pessoal e social saudável.
A proposta deste módulo caminha nessa direção. Você vai observar que as três
primeiras oficinas são complementares e, por isso, os resultados podem ser mais
interessantes se elas forem trabalhadas em seqüência. Contudo, nada impede que
você escolha apenas alguma delas para trabalhar isoladamente.
Além disso, você vai perceber que a primeira metade deste módulo privilegia as
questões mais individuais e perguntas como: Quem sou eu? Quem eu quero ser? Com
quem me identifico? Já a segunda metade aborda questões mais ligadas ao outro, à
alteridade e à diversidade. Nas oficinas correspondentes à segunda metade do módulo, as questões das diferenças, dos preconceitos e da tolerância ficam mais evidentes.
A experiência nos mostrou que, para constituirmos uma grupalidade interessante,
pode ser muito importante trabalhar esse tema da diversidade e do preconceito, pois
em muitos momentos ele aparece internamente no grupo.
Além disso, há muitos filmes e músicas que você pode usar de modo a enriquecer
esse tema.
Boa sorte!
22
objetivos do módulo:
• Favorecer a reflexão do adolescente sobre suas características pessoais, sua história e
seus projetos, levando-o a construir uma identidade e uma auto-imagem mais fortalecida.
• Favorecer o olhar do adolescente para o outro de modo que conheça e respeite as diferenças entre os seres humanos, ajudando-o a refletir sobre os próprios preconceitos
e abrindo uma nova perspectiva sobre a questão da diversidade como algo positivo e
enriquecedor.
com a palavra...
Intolerância
Yudith Rosenbaum
E
xistem pelo menos dois processos acontecendo, ao mesmo tempo, quando o
adolescente se relaciona com seu grupo social (a família, os colegas da escola,
os amigos do bairro etc.).
De um lado, ele quer mostrar que tem personalidade e não se submete ao que os
demais pensam. Os comportamentos exibicionistas e rebeldes mostram essa necessidade de se afirmar e se discriminar de todos para ser ele mesmo. Seria mais ou
menos assim: “Como saber quem sou eu se não me desgrudar dos meus pais, dos
colegas, das figuras de autoridade?” Isso costuma gerar a intolerância do adolescente
com irmãos, pais, professores e amigos. O isolamento ou a antipatia por pessoas que
possam influenciá-lo acaba sendo um jeito de definir sua identidade e não se confundir com os que o rodeiam. É uma fase difícil, sobretudo para os familiares, que não
compreendem a razão de atitudes tão intolerantes.
De outro lado, esse mesmo jovem precisa sentir que é igual aos seus pares e que faz
parte de uma turma, um grupo de referência, diferenciando-se, então, dos jovens de outros grupos. Para sentir que pertencem a uma comunidade, seja ela qual for (negros,
brancos, punks, evangélicos, roqueiros, gays etc.), muitos adolescentes se mostram
intolerantes com quem não pensa da mesma forma ou tem gostos diferentes. Parece
importante para eles marcar um território no qual sejam incluídos. E o que eles fazem
para ser incluídos? Excluem quem lhes pareça ameaçar a “verdade” do seu grupo, ou
YUDITH ROSENBAUM é psicóloga, formada pela PUC – SP e professora de literatura brasileira na USP. Publicou os seguintes
livros: Manuel Bandeira: Uma poesia da ausência (Edusp/Imago, 1993); Metamorfoses do mal: Uma leitura de Clarice Lispector
(Edusp/Fapesp, 1999); Clarice Lispector (Publifolha, 2002); O livro do psicólogo (Companhia das Letras, 2007).
23
seja, hostilizam os que são diferentes nas crenças, nos hábitos, na opção sexual, na
escolha de um time esportivo. Mas por que seria tão ameaçador conviver amistosamente com quem está do outro lado do território demarcado?
Para entender isso, é preciso lembrar que o adolescente está em busca de sua identidade, e nesse processo há muitos aspectos de sua personalidade que ele desconhece
ou quer esconder dele mesmo.
É que uma das maiores dificuldades no amadurecimento dos adolescentes é conseguir aceitar o que ele é – seus limites e sua medida. Só quando seus próprios
defeitos ou fragilidades são reconhecidos e aceitos como parte de sua personalidade,
sem se envergonhar por isso, torna-se possível tolerar os outros com suas diferenças.
Vamos pensar isso por vários lados. Se, por exemplo, o jovem não aceita em si
mesmo ter dúvidas, hesitar, ficar inseguro, ter medo, como vai respeitar os que são
como ele? Como vai respeitar os velhos se não admite envelhecer? Como vai aceitar
alguém de outra religião se tem a ilusão de que a sua é infalível? O primeiro passo
para uma convivência tolerante é reconhecer que todos somos de fato imperfeitos e que
ser humano significa necessariamente ser incompleto e estar sempre se buscando, se
questionando, enfrentando conflitos e superando impasses.
Nesse sentido, podemos dizer que a intolerância nasce da resistência das pessoas
em perceber nelas aquilo mesmo que rejeitam nos outros. Se não existisse essa
dificuldade, a convivência entre grupos diferentes ou mesmo opostos não acarretaria
violência, agressividade, comportamentos preconceituosos, como forma de expressar superioridade e auto-afirmação. Bastaria cada um ser o que é e deixar os outros
serem o que são em paz.
Justamente por isso, nem todos os grupos são intolerantes. Não é apenas o fato de
participar de um grupo que torna as pessoas intolerantes. Mas quando se formam
gangues, grupos de extermínio, torcidas rivais e outros agrupamentos que ameaçam
e atacam “os de fora”, estamos diante de um fenômeno de intolerância mais sério. E
nesses casos, vale pensar que algo muito incômodo dentro de cada um ou da própria
turma está sendo evitado, encoberto pela intolerância. Um exemplo prático talvez
ajude. Se eu tenho desejo de comer muito mas reprimo, ou seja, tento afastar de
mim essa tendência indesejável, posso começar a desenvolver uma intolerância aos
gordos (que, afinal, realizam o que eu não me permito e nem aceito como um desejo meu). Os gordos, nesse caso, acabam sendo uma espécie de espelho do que eu
não tolero em mim. Outro exemplo: se eu escolhi um time e “visto a camisa” desse
time – ou seja, me identifico com ele e me sinto humilhado quando o time perde (pois
a derrota acaba sendo minha e não do time), sou levado a rejeitar torcidas alheias
que ponham em risco meu lugar invencível.
24
Vale lembrar aqui o fato de que ninguém isoladamente se põe a brigar com um grupo
rival. Há atitudes que só existem amparadas pela turma. Cada membro do grupo se
apóia no próprio grupo para vaiar, atacar ou mesmo executar os oponentes, o que
mostra que fora da turma é a fragilidade que predomina. É só lembrar das humilhações coletivas que alguns alunos sofrem na sala de aula, por qualquer motivo: um
defeito físico, um traço de personalidade estranho, um desempenho escolar ruim ou
melhor do que o dos outros...
Talvez fosse interessante dividir os grupos em dois tipos: os que se formam por uma
legítima autodescoberta (gays, roqueiros, anarquistas, ecologistas, hippies etc.) e, portanto, estão juntos por afinidades e descobertas comuns, encontrando seus iguais sem
destruir ou intimidar os que são heterossexuais, sambistas, ou militantes de outros partidos; e um segundo tipo de grupos que se constituem pelo autodesconhecimento, ou
seja, pessoas que buscam fugir do que não querem ver em si e nos outros: anti-gays,
anti-mendigos, racistas, nazistas etc. A intolerância desses últimos revela sua fragilidade e sua ignorância em relação às próprias características. A cultura, a mídia e as
desigualdades sociais acabam reforçando esse processo, fazendo das minorias bode expiatório, no qual os grupos mais fortes depositam sua raiva, sua inveja, sua intolerância.
25
Oficina 1. Jogo das cartas e preparação para pintura na camiseta
OBJETIVO: Ajudar os participantes a refletirem sobre si mesmos, buscando características
marcantes que expressem sua identidade.
MATERIAL: Cartolina e canetinhas para fazer as cartas; folhas de sulfite (se possível
recortadas em formato de camiseta), tintas guache e pincéis.
DESCRIÇÃO: Recorte previamente seis cartas (retângulos de cartolina de aproximadamente
12x8 cm). Em cada uma delas você deve escrever, em um dos lados, as palavras: mãe, pai,
namorado(a), irmão, melhor amigo, eu. No outro lado, escreva a palavra Identidade.
Distribua no chão (ou na mesa) as cartas de modo que o lado com a palavra Identidade fique
voltado para cima. Utilize uma garrafa para servir de “roleta” e sorteie o participante que vai
começar. A pessoa sorteada deve virar uma das cartas. Assim que ela o fizer, leia a questão
correspondente descrita abaixo. Depois que o participante responder, outras pessoas também poderão fazê-lo, cabe a você decidir. Repita esse procedimento até que todas as cartas
sejam exploradas.
Em seguida, distribua folhas de sulfite, tintas guache e pincéis. Proponha que os participantes pensem em algum desenho, imagem ou palavra que responda a pergunta:
Quem sou eu? Diga que devem levar em conta tudo o que foi conversado na atividade
anterior. Explique que esse desenho também servirá de rascunho para uma pintura de
camiseta que será feita na próxima oficina. Explicar esse objetivo é fundamental,
porque a imagem escolhida, além de ser uma marca pessoal, deve se adequar à pintura em tecido.
COMENTÁRIOS: A proposta de abordar as semelhanças e diferenças em relação a várias
pessoas próximas tem como intuito alimentar a noção de identidade. Nesse sentido, é fundamental que o monitor ajude os jovens a transpor aquilo que pensaram no jogo para o
que querem expressar no desenho da camiseta. Preste atenção no tempo para cada
resposta, pois é fundamental que todas as cartas sejam trabalhadas.
26
QUESTÕES PARA CADA CARTA:
CARTA “MÃE”
CARTA “PAI”
CARTA “IRMÃO”
O que eu tenho de
parecido e de diferente
de minha mãe?
O que eu tenho de
parecido e de
diferente de meu pai?
O que eu tenho de
parecido e de diferente
de meu irmão?
CARTA
“NAMORADO(A)”
CARTA “MELHOR
AMIGO”
CARTA “EU”
Quais características
eu espero
encontrar em um(a)
namorado(a)?
Quais características
eu espero encontrar
no melhor amigo?
O que é mais
marcante na minha
personalidade?
OU
O que eu tenho de
parecido e de diferente
do meu melhor amigo?
27
Oficina 2. Pintura na camiseta
OBJETIVO: Trabalhar a identidade pessoal por meio da confecção de um produto va-
lorizado pelos adolescentes: a camiseta.
MATERIAL: Camiseta branca; um pedaço de papelão ou saco de lixo; pincéis; tinta para
tecido, trapos e copos para limpar os pincéis. Opcional: aparelho de som para colocar
uma música de fundo.
DESCRIÇÃO: Para pintar a camiseta, algumas etapas são necessárias:
a. Distribua a cada participante um pedaço de papelão ou um saco de lixo e peça que
o coloquem dentro da camiseta para impedir que a tinta vaze para o lado de trás.
b. Peça que organizem o espaço a ser utilizado. A seguir, a camiseta deve ser esticada sobre a mesa, e uma ou duas cores serão escolhidas para começar a pintura.
c. Forneça algumas instruções gerais de uso do material, tais como:
• não é necessário usar muita tinta nas camisetas, pois elas ficam pesadas e
demoram muito para secar;
• as tintas podem e devem ser diluídas em água, em um recipiente apropriado;
• melhor manter um pincel fixo para cada tinta. Se não for possível, é preciso
limpar bem os pincéis para trocar de tinta;
• tomar cuidado com a própria roupa, pois a tinta não sai após lavagem. Se for
possível, peça que os participantes da oficina usem nesse dia uma roupa velha
ou coloquem um avental.
d. Entregue os desenhos que cada um fez na oficina anterior para que possam reproduzi-los em suas camisetas.
e. Ao final do trabalho, peça para todos lavarem os pincéis e ajudarem a arrumar a
sala.
COMENTÁRIOS: A possibilidade de o adolescente ser autor de uma camiseta que fale da
própria identidade é um exercício lúdico e muito valorizado por eles. Além disso, a camiseta
possibilita dar visibilidade aos adolescentes, que podem se manifestar de maneira criativa.
Se a instituição onde você trabalha não puder adquirir camisetas para todos os participantes, peça que cada um traga a sua, usada ou não, de preferência toda branca.
28
Oficina 3. Fotografia
OBJETIVO: Promover diferentes situações de registro de marcas pessoais, dentre elas,
a camiseta produzida.
MATERIAL: Maquiagem, tintas apropriadas para pele, sabonete e lenço umedecido.
DESCRIÇÃO: Distribua as camisetas pintadas da semana anterior e peça que os parti-
cipantes as vistam.
A seguir, disponibilize a maquiagem e as tintas e peça aos jovens que pintem o próprio
rosto livremente. Incentive a ousadia no uso da maquiagem. Esta deve servir como
uma máscara, de tal modo que os participantes da oficina possam representar um
personagem ou sentimentos que os identifiquem. Dê aproximadamente 40 minutos
para a atividade.
Quando todos tiverem terminado, cada um deve escolher um local para tirar sua foto.
Durante a “sessão de fotos”, estimule poses ou expressões faciais significativas, pois
a foto também faz parte da brincadeira da “marca pessoal”. Os adolescentes também
podem tirar fotos uns dos outros, podem ainda registrar uma imagem do tipo “o jeito
que eu me vejo” e outra que mostre “o jeito que o outro me vê”.
Na próxima oficina, as fotos devem estar disponíveis. Caso
não seja possível que cada um fique com sua foto, é
importante que tenha pelo menos uma do grupo.
Rafael Hess
COMENTÁRIOS: Seria interessante que você participasse usando a tinta e a maquiagem no próprio rosto
para ajudar o grupo a entrar na atividade.
Oficina 4. Identidade & diversidade
OBJETIVO: Observar diferenças e semelhanças nas características pessoais dos participantes para refletir sobre o tema “diversidade”.
MATERIAL: Papel sulfite; lápis de escrever e/ou canetinhas.
DESCRIÇÃO: Distribua uma folha de papel e um lápis a cada participante e peça que lis-
tem dez características pessoais. A seguir, solicite que classifiquem essas características em duas categorias: aquelas que lhes trazem facilidades ou dificuldades. Para
isso, podem refazer a lista, dividindo os atributos em duas colunas ou acrescentando
marcas coloridas que as distingam.
Em seguida, forme um círculo e peça para cada um escolher duas ou três dessas
características e comentá-las.
QUESTÕES PARA DISCUSSÃO:
• O que você pode fazer em relação às características que, a seu ver, lhe trazem
dificuldades? Existe alguma maneira de lidar com elas?
• Quais são as características que facilitam sua vida? O que você pode fazer para cultivá-las?
• Instigue os jovens a pensar que uma mesma característica pode ser positiva ou negativa dependendo do contexto. Por exemplo, uma pessoa perfeccionista pode ser
extremamente valorizada num trabalho que exija capricho e cuidado e ao mesmo
tempo pode criar empecilhos quando uma tarefa exige rapidez.
Terminada essa primeira discussão, levante com o grupo as características que mais
apareceram, aquelas que são comuns aos participantes. Com base nessas características, pergunte: é possível pensar em que “cara” esse grupo tem? Poderíamos
pensar em uma palavra marcante para defini-lo?
COMENTÁRIOS: Essa atividade é muito interessante para que os adolescentes percebam
a diversidade de características pessoais e a importância do contexto nas situações que
vivem (uma qualidade pode ser boa em um momento e não ser tão boa em outro). A discussão deve mostrar aos jovens a necessidade de se compreender, de desenvolver a
análise crítica e até a tolerância para consigo ou para com os outros. Explore ao máximo
essas questões. Você também pode questionar quais seriam as características do grupo
diante dessas descrições individuais.
30
Oficina 5. Diversidade: o que é isso?
OBJETIVO: Discutir a diversidade a partir das características, vivências e conhecimen-
tos do próprio grupo.
DESCRIÇÃO: Na oficina anterior, trabalhamos prioritariamente as características
comuns aos participantes do grupo, contudo, também sabemos que existem particularidades que diferenciam cada um. Introduza a atividade pedindo para os adolescentes descobrirem o que diferencia as pessoas desse grupo (como cor da pele, dos
cabelos, idade, temperamento etc.). Discuta com eles: o que é diversidade? Como se
dá a diversidade nesse grupo?
Em seguida, divida os participantes em subgrupos e peça para cada um contar uma
situação na qual uma característica pessoal provocou um conflito. Por exemplo, uma
pessoa idosa que não foi bem atendida no banco, um menino gordo que não foi escolhido para o jogo de futebol etc. Após esse primeiro momento, cada grupinho deve
eleger uma das histórias para contá-la no grupão. Abra a discussão geral.
QUESTÕES PARA DISCUSSÃO:
• O que a história contada provoca?
• O que é identidade? O que é diversidade? Como conviver com ambas?
• Quais são seus preconceitos? O que você pode fazer com eles?
COMENTÁRIOS: Pertencer a um grupo é, em geral, reconfortante, pois compartilhamos
coisas com outras pessoas. Contudo, muitas vezes nossas características pessoais
destoam, divergem ou entram em conflito com o grupo. Essa dinâmica pode ser frutífera
quando se pode conversar e aparar arestas. Dessa forma, o monitor deve ser cuidadoso
ao trabalhar essa proposta.
Ao discutir os preconceitos, é importante não se restringir aos fatos relatados, analisando
o contexto em que vivemos, questionando os valores de nossa época para que os jovens
percebam que as idéias são fruto de um tempo e de um lugar. Durante o debate, procure
evitar uma postura moralista ou prescritiva, ensinando o que se deve fazer, pois isso geralmente impede que questões importantes venham à tona e sejam discutidas. Estimule-os
a entrar em contato com seus preconceitos e pensar em maneiras de lidar com eles.
31
Oficina 6. Debate Homossexualidade
OBJETIVO: Aprofundar o debate sobre o tema diversidade a partir da reflexão sobre
questões polêmicas.
DESCRIÇÃO: Inicie a atividade informando que nesse encontro eles farão um debate
acerca de um tema polêmico: a legalização da união homossexual. Divida os participantes em dois subgrupos, distribuindo-os aleatoriamente (você pode atribuir os
números 1 e 2 seqüencialmente e depois pedir que os participantes de mesmo número
se reúnam). Cada grupo deverá ficar responsável por defender um dos lados da
questão. Sorteie quem ficará a favor ou contra. Ressalte que, nesse momento, as
opiniões pessoais não contam, esse é um exercício de argumentação, os participantes
de cada grupo devem defender a idéia que lhes foi atribuída, mesmo que, pessoalmente, não concordem com ela.
Para enriquecer o debate, você pode ler alguma reportagem a respeito da legalização
da união homossexual (há vários artigos na internet a respeito). Após a leitura,
entregue uma cópia da reportagem para cada grupinho e solicite que a discutam. Dê
cerca de 20 minutos para que cada grupo pense em argumentos que justifiquem e
embasem sua posição.
REGRAS PARA O DEBATE:
• Cada grupo terá um minuto para defender a sua posição. Cada vez que um grupo
defender seu ponto de vista, o outro terá outro minuto para réplica e assim por diante.
• Não existe um vencedor no final: questões polêmicas não têm certo ou errado.
Quando você entender que o debate se esgotou, interrompa a atividade e levante as
seguintes questões:
• O que acharam da atividade? Como cada um se sentiu nesse grupo defendendo uma
idéia que não é necessariamente a sua?
• Quais são os preconceitos mais comuns no Brasil?
• O que gera um preconceito?
• É possível não ter nenhum preconceito?
• Como lidar com os nossos preconceitos?
Ao final, é importante enfatizar que esse encontro não tem como propósito levantar bandeiras contra ou a favor da legalização da união homossexual e muito menos da homossexualidade, mas possibilitar a reflexão sobre a nossa postura diante das diferenças,
assim como entender todas as variáveis que estão ao nosso redor e que interferem em
nossas escolhas e opiniões.
32
COMENTÁRIOS: É importante que você levante alguns argumentos contra e a favor da
questão debatida para alimentar a discussão inicial dos grupinhos. Ajude aqueles que
tiverem maior dificuldade em defender uma idéia que não é a sua. A organização do debate
é importante para que a atividade não se torne uma briga entre os grupos. É muito comum
que os adolescentes se envolvam e, às vezes, se exaltem nas dramatizações. Se você
perceber excessos, interrompa a cena e converse com eles.
Mesmo que você dê espaço a todo tipo de opinião, inclusive as preconceituosas, a tolerância e o respeito são valores inquestionáveis, que devem ser ressaltados. Nada melhor do
que exercitá-los em grupo.
Você também pode fazer esse debate escolhendo outra questão polêmica, por exemplo: o
sistema de cotas nas universidades, a diminuição da maioridade penal etc.
33
Oficina 7. Gênero
OBJETIVO: Promover a discussão sobre os papéis feminino e masculino.
MATERIAL: Cartolina e caneta hidrográfica.
DESCRIÇÃO: Confeccione previamente seis cartões de cartolina nos quais você deverá
escrever as seguintes frases:
•
•
•
•
•
•
Se você fosse mulher por um dia, o que você faria?
Se você fosse homem por um dia, o que você faria?
Eu gostaria de ser mulher porque...
Eu não gostaria de ser mulher porque...
Eu gostaria de ser homem porque...
Eu não gostaria de ser homem porque...
Peça para todos sentarem em círculo (no chão ou em cadeiras). Coloque no centro
desse círculo uma roleta (uma garrafa vazia ou uma caneta podem servir). Um voluntário deve girar a roleta improvisada para sortear o participante que vai começar o
jogo. Essa pessoa deverá escolher um cartão e completar a frase proposta (que diz
respeito ao sexo oposto ao seu). Depois que o sorteado responder, o grupo também
poderá fazê-lo, de modo que todos possam participar. Repita esse procedimento até
que todos os cartões sejam explorados.
Ao final, faça uma discussão coletiva. Pontos para discussão:
• O que mais apareceu como vantagem de ser homem ou mulher?
• O que mais apareceu com desvantagem de ser homem ou mulher?
• Na sociedade atual, existe discriminação por essa questão de gênero? Quais são os
motivos que podem estar por trás disso?
• Alguém do grupo já passou por alguma situação de preconceito por ser homem ou
mulher? Como reagiu? Como lidar com esse tipo de conflito?
COMENTÁRIOS: Fornecer elementos históricos pode ser uma boa maneira de fomentar e
contextualizar a discussão entre os participantes da oficina. Conte casos de como eram os
comportamentos de homens e mulheres no início do século XX, por exemplo, em relação
ao casamento, às tarefas domésticas ou ao trabalho.
34
Oficina 8. Resolução de conflitos – Injustiças
OBJETIVO: Auxiliar os jovens a refletirem sobre conflitos cotidianos relacionados à
injustiça ou ao preconceito e a pensarem novas possibilidades de solução.
MATERIAL: Cópia da situação de injustiça (ver página 37) para cada pequeno grupo.
DESCRIÇÃO: Inicie a oficina perguntando aos integrantes do grupo se eles já viveram
situações de injustiça ou preconceito em seu cotidiano. Quais? Como se sentiram?
Em seguida, peça para formarem grupinhos (trios ou quartetos), conforme o número
de jovens. Distribua os depoimentos de conflitos (em anexo) para cada grupo. Cada
grupo deve planejar uma dramatização da situação relatada ou, se preferir, pode
inventar uma outra situação de conflito que seus membros queiram dramatizar. A
encenação deve ser rápida para que os jovens tenham tempo de discuti-la.
A cada apresentação dos grupinhos, problematize as principais questões de cada situação
na discussão coletiva. As questões abaixo devem ajudá-lo.
• O que fez quem sofreu a injustiça ou o preconceito?
• O que fez quem se comportou injustamente?
• Quais são as possíveis causas desse conflito?
• Como os personagens se sentiram e lidaram com a situação?
• Quais são as possíveis soluções para esse conflito?
• O que você faria se estivesse no lugar dessa pessoa?
• Esse tipo de conflito já aconteceu com você? Como se sentiu? Como reagiu?
• Você reconhece situações em que tenha sido injusto ou preconceituoso?
Ao final, promova um debate a partir das cenas sobre a questão dos preconceitos, pergunte como se sentiram assistindo às dramatizações ou participando delas e o que as
diversas cenas têm em comum.
COMENTÁRIOS: Uma análise fragmentada de um fato sempre leva a opiniões parciais.
Na adolescência, conceitos e princípios estão sendo construídos, por isso, os jovens se
apegam a suas idéias com paixão e nem sempre conseguem se deslocar para observar
outros pontos de vista. A idéia central dessa atividade é ajudar os adolescentes a analisar
as situações relatadas de vários pontos de vista, para forjar uma opinião crítica e sólida.
Analisando as situações relatadas, os jovens terão elementos para buscar soluções para
muitos conflitos que podem ter sido vividos pelos participantes, o que certamente irá
enriquecer a atividade. Ajude-os a pensar soluções para resolver esses conflitos de
maneira justa, pacífica e equilibrada.
35
para se aprofundar...
Livros
Filmes
ABRAMO, Helena. Cenas juvenis, punks e darks
no espetáculo urbano.
São Paulo: Saiita/ ANPOCS, 1994.
American Pie
Paul Weitz, 1999.
COSTA, Cristina. Caminhando contra o vento:
uma adolescente dos anos 60.
São Paulo: Moderna, 1995.
ERIKSON, Erik. Identidade, juventude e crise.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1987.
FRAGA, Paulo Cesar; JULIANELLI, Jorge (Orgs.).
Jovens em tempo real.
Rio de Janeiro: DP e A, 2003.
INSTITUTO CREDICARD.
Educadores e jovens em ação.
São Paulo: Via Impressa, 2006.
KOLE. A. T.; DIAS, F. L.
Encontro da galera. CD Rom.
Projeto Saúde Integral. SENAI, 1997.
Sites
Educarede:
http://www.educarede.org.br
Museu da Pessoa:
http://www.museudapessoa.net
Mundo Adolescente:
http://www.mundoadolescente.com.br
Onda Jovem:
http://www.ondajovem.com.br
36
Antonia
Tata Amaral, 2006.
Código Desconhecido
Michael Haneke, 2000.
Crash – No Limite
Paul Haggis, 2004.
Elephant
Gus Van Sant, 2003.
Em Busca da Terra do Nunca
Marc Forster, 2004.
História Real
David Linch, 1999.
Ken Park
Larry Clark e Edward Lachman, 2002.
Sociedade dos Poetas Mortos
Peter Weir, 1989.
ANEXOS
Depoimento 1
José Antônio, 17 anos
Eu estava na rua com meus amigos indo para uma balada. A polícia apareceu para dar uma batida. Pediu os documentos, a gente mostrou, eles
olharam e nos revistaram. Até aí eu achei normal, mas o policial ficou dizendo que a gente era maloqueiro, que ia vender drogas, que a gente era
desocupado, ficou humilhando. Foi bem ruim mesmo... Eu estudo, não
sou desocupado, mas não podia discutir com eles. Depois de ficar com a
gente 15 minutos, resolveram dispensar, mas a gente até perdeu o embalo, nem quis mais ir pra balada. Eu acho muito injusto a polícia tratar a
gente assim, se eu fosse “branquelo”, talvez eles não tivessem feito isso.
Depoimento 2
Maria Eduarda, 15 anos
Tem uma menina na minha classe que é muito metida, ela se acha. Ela
é uma das mais bonitas da escola e eu a odeio. Sempre que pode, ela
esnoba a gente, diz que eu e minhas amigas andamos mal-vestidas, que
a gente é burra, que não vai ser nada na vida. Um dia, eu não agüentei,
acabei brigando e dei um tapa na cara dela logo na saída da escola. Isso
foi para ela aprender a não ser besta e a me respeitar. Se implicar comigo de novo, vai levar. Não estou nem ligando se levar suspensão.
Depoimento 3
Aline, 17 anos
Acontece com muita gente, eu sei, mas eu não acho certo. No domingo,
eu fui ao shopping do meu bairro com minhas amigas. A gente não tem
muita grana, mas gosta de ver as vitrines e às vezes alguém compra
alguma coisa. Entrei numa loja para perguntar o preço de uma saia que
eu achei legal. A vendedora, que era um pouco mais velha do que eu, me
mostrou a saia na maior má vontade e quando eu perguntei o preço ela
disse: “não sei se vai caber no seu orçamento, ela custa R$ 70,00.” Eu
fiquei doida de raiva, eu disse que podia embrulhar, só pra mostrar que
eu posso pagar. Mas eu não posso, acabei com o meu orçamento e tive
que fazer uma prestação. Agora nem tenho vontade de usar a tal da saia!
37
o
p
r
o
c
introdução
ste módulo aborda um tema que ocupa boa parte das preocupações adolescentes: o corpo. As intensas transformações físicas que acontecem nessa época
têm importantes conseqüências sobre a auto-imagem, as emoções e a sociabilidade dos jovens. Assim, promover o acesso a conhecimentos e informações sobre o
corpo e saber cuidar dele é uma tarefa importante a ser realizada nessa fase da vida.
E
As atividades aqui propostas procuram enfocar diferentes pontos de vista – o biológico,
o psicológico e o sociocultural – para que o adolescente possa ter uma visão ampliada
de si e do seu desenvolvimento. Trabalharemos o exercício de apropriação e aceitação
do novo corpo que se forma nesse período e o que essa transformação acarreta na vida
do adolescente. Abordaremos também a questão da alimentação sob a perspectiva da
saúde e da imagem corporal.
Além disso, é importante que você dê um lugar ao corpo ativamente, a fim de que os
adolescentes não se limitem a pensar sobre ele, mas possam senti-lo, experimentá-lo
e percebê-lo em todas as suas dimensões. Por essa razão, no início de cada oficina,
estão previstas algumas atividades de aquecimento nas quais sugerimos um pequeno
trabalho corporal.
Você perceberá que este módulo contém menos oficinas que os demais. Nossa
experiência mostrou que algumas questões fundamentais relacionadas ao corpo falam
também da sexualidade. Por esta razão, elas são abordadas a seguir, no módulo dedicado a esse tema.
Não se esqueça de recorrer ao Livro do adolescente sempre que necessário.
Bom trabalho!
objetivos do módulo:
• Promover maior conhecimento acerca do funcionamento do corpo humano e das
transformações ocorridas na puberdade.
• Favorecer a reflexão sobre as necessidades e particularidades de cada indivíduo em
relação ao próprio corpo, estimulando uma maior consciência e percepção corporal.
• Discutir as relações entre corpo e cultura, de modo que o jovem possa questionar os
conceitos de saúde e beleza vigentes em nossa sociedade.
40
com a palavra...
O adolescente e seu corpo
Junia de Vilhena
Joana de Vilhena Novaes
adolescência é um período caracterizado não apenas por profundas mudanças no
corpo, nas relações familiares, na escola, nas amizades, como também por grandes
incertezas. Um novo corpo surge, uma nova sexualidade e sensorialidade despontam e a pressão do grupo social, amparada na mídia, torna-se extremamente poderosa.
A
Por estarmos vivendo em uma sociedade que cultua a imagem, o corpo do adolescente
pode acabar se tornando uma prisão. Lócus privilegiado da construção identitária, a
relação com o próprio corpo, em alguns momentos, pode gerar desprazer e até uma
certa obsessão.
A estética nos dias de hoje assume um papel distinto daquele que exercia em outros
tempos. Com o arsenal de técnicas corporais disponíveis e acessíveis a todas as classes sociais (um bom exemplo é o número de academias de ginástica nas favelas e periferias), gerou-se a crença de que “só é feio quem quer”. A beleza, antes um atributo
“natural”, passou a ser “moralizada”, sendo agora entendida como uma demonstração
de força de vontade. De atributo físico (“se eu conseguir ser bonito, melhor”), a beleza
tornou-se um dever moral (“se realmente quiser, eu consigo ser bonito”). O fracasso
em ser belo não se deve agora a uma impossibilidade mais ampla, mas a uma incapacidade individual.
O culto ao corpo
Sabemos que a gordura é, hoje em dia, associada à feiúra e alvo de explícita exclusão
social. Objeto de grande regulação social, os corpos passaram a ser monitorados pelo
viés da saúde (comidas orgânicas, combate aos radicais livre, dietas as mais variadas) e
também da estética. Em uma sociedade na qual os ideais continuam a ser brancos e burgueses, não é de estranhar uma pasteurização nos modelos estéticos tidos como belos.
Os discursos sobre os corpos nos falam de mulheres louras, magras, altas e eternamente jovens que em nada se assemelham ao biótipo da maioria das brasileiras. O
mesmo pode ser dito acerca da imagem que se veicula do homem ideal – “sarado”,
bem-vestido, circulando em praias e dirigindo carros fantásticos – o que gera a ilusão
da saúde perfeita e do sucesso pessoal associado a ela.
JUNIA DE VILHENA, psicanalista e terapeuta familiar, é professora da PUC-Rio e coordenadora do Laboratório Interdisciplinar
de Pesquisa e Intervenção Social – Lipis da PUC-Rio.
JOANA DE VILHENA NOVAES é doutora em psicologia clínica, pós-doutoranda da UERJ e bolsista da FAPERJ. Coordena o
Núcleo de Doenças da Beleza do Lipis da PUC-Rio.
41
Ora, se observamos a submissão a tal ditadura estética em homens e mulheres mais
maduros, como não imaginar o impacto causado nos adolescentes que não se encaixam nesse modelo? Tal marginalização social provoca um profundo sofrimento
psíquico e produz vínculos sociais até então não evidenciados, tais como a profunda
exclusão vivida por jovens que não se sentem pertencentes ao grupo desejado.
Certamente não podemos reduzir todo o desconforto à questão estética. Na adolescência, quando se observa o desabrochar de uma sexualidade adulta que ainda necessita
ser experimentada, aparecem, muitas vezes, grandes angústias. Serei atraente para o
outro? Saberei ter um bom desempenho sexual? Conheço os limites de meu corpo? O
que busco para mim? São perguntas que servem de pano de fundo para inúmeras
incertezas e inseguranças.
Contudo, grande parte dessas angústias ainda está ancorada em um
sentido de inadequação aos modelos estéticos vigentes. Como
ser loura/o e com cabelos lisos se vivemos em país majoritariamente negro/mestiço? Observamos, com freqüência, que
atender a esses apelos da estética vigente significa, em última instância, aceitar a extinção da própria raça – ou seja, os
ideais ainda são de embranquecimento.
Felizmente, já podemos observar movimentos de resistência,
através da cultura hip-hop, por exemplo, na qual tanto a identidade quanto a estética e as produções artísticas negras passam
a ser valorizadas.
Sem dúvida, não podemos generalizar, nem
circunscrever a questão do culto ao corpo aos ideais de
embranquecimento – mas podemos, sim, situá-la em uma
cultura que, além de importar modelos exógenos, é muito
pouco tolerante às diferenças – ponto crucial para o adolescente. Este precisa sentir-se pertencendo ao grupo; quando
isso não acontece, podemos vislumbrar possibilidades não
muito promissoras: dos transtornos alimentares que aumentam dia a dia, aos atos agressivos e/ou violentos que apelam
por um reconhecimento mais justo.
42
Alguns caminhos
É possível obter sem grandes dificuldades algumas indicações acerca da existência
de problemas dos adolescentes com seus corpos e sua sexualidade. Podemos convidá-los a falar de possíveis desconfortos com o próprio corpo e a que atribuem isso;
discutir criticamente com eles a cultura que supervaloriza o sucesso midiático;
acompanhar suas interações com os colegas (retraídos, agressivos, violentos?);
observar seu vestuário – se escondem ou se mostram em demasia? Estão
sempre de casaco mesmo em dias muito quentes? Quais hábitos alimentares consideram inadequados e desejariam mudar? Todos esses aspectos
fornecerão algumas indicações acerca de eventuais problemas.
Sabemos que há uma profunda ligação entre a ansiedade e a comida. Aquele
gordinho simpático e extrovertido pode estar aprisionado no conhecido estereótipo de que gordinhos têm de ser “boa praça” e fazer tudo certinho.
As notas escolares podem ajudar na aferição do adolescente, mas não se deve
esquecer que também é importante estar bem consigo mesmo. Ter de ser o melhor aluno ou não poder fracassar jamais não são bons parâmetros para avaliar a
auto-estima do aluno.
Observar a aparência – um emagrecimento a olhos vistos pode indicar o início de uma anorexia ou bulimia. Por exemplo, "Ana" e "Mia" são comunidades
no Orkut que ensinam os jovens a desenvolver essas práticas e, simultaneamente, a enganar pais, pedagogos, psiquiatras, terapeutas e professores. Ariscos e espertos, os adolescentes geralmente acreditam
que o melhor conselheiro é o amigo. O caminho ideal para um adulto ajudar um jovem é, em particular; dizer-lhe que você está
disponível caso ele queira conversar sobre qualquer tema.
Sempre sem constrangê-lo.
Os adultos que trabalham com jovens devem estar atentos aos
indícios que eles podem nos dar quando não estão bem. Se
notar algo de diferente como um rápido emagrecimento ou
aumento de peso, um afastamento do grupo, talvez seja o momento de conversar com os pais, cuidadores e amigos próximos, para
entender o que está acontecendo.
43
Oficina 1. As transformações do corpo
OBJETIVO: Discutir as mudanças corporais da adolescência, os novos cuidados decor-
rentes e as conseqüências sobre a auto-imagem.
MATERIAL: Tiras de papel sulfite e caixa para sorteio.
DESCRIÇÃO: Peça que os adolescentes se deitem no chão e fechem os olhos. Proponha
que se transportem para a infância, quando tinham cerca de 10 anos. Levante uma
questão por vez: Como era seu corpo? Como você se sentia? Que roupas usava? Como
as pessoas o viam? Dê um tempo para que possam rememorar suas experiências. A
seguir, continue a perguntar lentamente: Seu corpo está mudando? De que maneira?
O que você observa de diferente? Como você tem encarado essas mudanças? Como
acha que vai ser daqui a alguns anos? Peça então que abram os olhos e, devagar,
retomem seus lugares, sentados em círculo.
Em seguida, cada participante deve escrever, em uma tira de papel, uma mudança que
ocorreu (ou está ocorrendo) em seu corpo após a entrada na puberdade, depois dobrar
a tira e colocá-la em uma caixa. Quando todos tiverem terminado, cada um vai sortear
uma dessas tirinhas (que não seja a sua), lê-la e pensar em uma conseqüência positiva e outra negativa dessa mudança descrita pelo colega. Por exemplo:
Menino: Minha voz engrossou.
Conseqüências: Isso é bom porque você já parece um homem. Isso é ruim porque você
anda desafinando de vez em quando.
Evidentemente, há mudanças que não são nada agradáveis, o que vai obrigá-los a
descobrir algo de positivo nelas, como no caso abaixo:
Menina: Eu estou com espinhas.
Conseqüências: Isso é bom porque você tem de cuidar mais da pele. Isso é ruim
porque fica feia.
Discuta com o grupo sobre cada mudança relatada e as sugestões dos colegas para
lidar com elas. Tentar positivar os problemas não significa desprezar os dramas que
afligem o adolescente, mas permite encarar mudanças temporárias com mais leveza
e bom-humor.
Ao final, retome todas as mudanças citadas e pergunte se alguém lembra de alguma
que não foi mencionada. Estimule a discussão grupal em torno dessa experiência de
mudança corporal para que os participantes compartilhem seus pontos de vista.
44
COMENTÁRIOS: As questões que surgirem darão informações úteis para você encaminhar as oficinas subseqüentes. Permita que o próprio grupo busque soluções para as
dificuldades e ansiedades relatadas. Se for necessário, pesquise com especialistas, em
revistas ou livros formas de amenizar os problemas enfrentados, respondendo as questões em encontros posteriores. As informações abaixo (que também estão presentes no
Livro do adolescente) podem ajudar a desenvolver a atividade:
• Alguns hormônios fazem seu trabalho de forma mais ativa na adolescência. Esse
processo começa entre os 8 e 13 anos para as meninas e entre os 9 e 14 anos para os
meninos.
• Os adolescentes ganham nessa fase de 20 a 25% da altura e 50% da massa corporal
(peso) definitivas.
• O crescimento se acelera primeiramente nas extremidades do corpo (braços, pernas,
mãos e pés) e depois no tronco (para os meninos) e no quadril (nas meninas).
• Na adolescência há o chamado “estirão de crescimento” entre os 10 e 16 anos. Podese crescer até 10 cm por ano nessa fase, durante três anos consecutivos.
• As mudanças corporais costumam durar de dois a quatro anos e meio.
• O timbre de voz dos meninos se altera durante toda a puberdade, em especial nas
fases mais avançadas, por causa do crescimento da laringe.
• O desenvolvimento dos órgãos genitais acontece devagar, em etapas. Nas meninas,
crescem os seios (mamas); nos meninos, o processo começa pelos testículos, que
aumentam de tamanho antes do pênis. Os pêlos crescem devagar, até cobrirem a
região pubiana na fase final de maturação.
45
Oficina 2. As funções do corpo
OBJETIVO: Discutir as funções de diferentes partes do corpo de modo a promover maior
conscientização de suas potencialidades.
MATERIAL: Cartolinas e canetas hidrográficas.
DESCRIÇÃO: Como uma forma de aquecimento, peça que os participantes, em silêncio,
façam caretas de acordo com suas instruções: “Faça uma cara de alegria, de
saudades, de medo, de ironia, de fome, de nojo, de espanto” ou outras quaisquer que
você quiser. A cada instrução, dê um tempo para que observem uns aos outros, sem
falar. Depois, peça que acrescentem gestos à expressão facial: “Agora você está
bravo”, “agora você está mandando em alguém”, “agora você está pedindo algo”,
“agora você está agredindo” etc.
Ao final da brincadeira, converse um pouco sobre essa experiência, ressaltando a
importância da expressão não-verbal.
A seguir, divida os participantes em pelo menos três grupos e distribua uma cartolina e
canetinhas para cada um deles. Peça que dobrem a cartolina em três partes iguais. Diga
que eles devem desenhar, coletivamente, um rosto no primeiro terço da folha e escrever uma palavra relacionada às partes do rosto que desejarem. Por exemplo: sinceridade para os olhos, comunicação para a boca, e assim por diante. Sem mostrar sua
produção para os demais, a folha deve ser dobrada e passada para o grupo do lado que
vai continuar a figura humana no segundo terço da folha, com o desenho do tronco.
Eles também devem escrever atributos para as partes que desejarem (por exemplo,
cintura – "jogo de cintura", flexibilidade, habilidade; braço – força; tórax – acolhimento,
sensibilidade etc.). Novamente peça que dobrem e troquem as folhas entre si, de modo
que o grupo que recebê-la não olhe o que já foi feito pelos demais. Nesse último
desenho, eles devem desenhar as pernas e os pés, atribuindo-lhes também significados. Ao final, todas as cartolinas devem ser abertas e expostas.
Naturalmente, os desenhos serão divertidos e inusitados. Abra uma discussão, orientando-os a refletirem sobre:
• Como foi fazer essa atividade?
• Houve algum desentendimento no grupo para atribuir palavras às partes do corpo?
Como isso ocorreu?
• Você já havia pensado nas funções do seu corpo?
• Agora, olhando todos os desenhos, o que mais chama a atenção? Você acrescentaria
alguma coisa?
46
• Você se lembra de alguma experiência, sua ou de outros, em que os gestos foram
mais importantes que as palavras?
COMENTÁRIOS: Nesse momento em que o corpo se transforma, é importante os adolescentes perceberem seus limites e potencialidades. Ajude-os a compreender que seus
gestos, expressões ou silêncios revelam sentimentos e idéias e, certamente, interferem
nas relações pessoais. Essa é uma oportunidade de se conscientizarem das mensagens
que enviam de seu corpo sem perceber, e daquelas que recebem. É uma forma de perceber e conhecer o outro.
47
Oficina 3. Alimentação e nutrição
OBJETIVO: Discutir o tema dos cuidados corporais, abordando-o com o foco na alimentação e no lugar que ela ocupa na vida dos adolescentes.
DESCRIÇÃO: Para afinar o grupo com o tema da oficina, proponha algumas perguntas
norteadoras para uma conversa inicial. Por exemplo: Você acha que se alimenta bem?
Por quê? A sua alimentação mudou desde quando você era criança? Se você fosse
uma comida, o que seria? O que você pensa da frase: Eu sou o que eu como?
Em seguida, peça que os adolescentes abram o seu livro no Módulo Corpo, na página em que está desenhado um menu, e montem o cardápio do dia, ou seja, que
relatem o que estão acostumados a comer durante o dia (segue abaixo a reprodução
da proposta). Quando todos terminarem, convide-os a falar sobre o cardápio (não é
necessário que todos relatem), marcando as diferenças individuais, fazendo perguntas pertinentes. Chame a atenção para a ingestão de líquidos e para os alimentos que
são consumidos fora das refeições, porque muitos adolescentes não bebem água ou
gostam muito de beliscar.
Depois, abra o Livro do adolescente nas páginas seguintes e explore as informações,
sempre dando espaço para perguntas e comentários.
Por fim, divida os jovens em grupos e solicite que montem um cardápio diário saudável, equilibrado e, mais importante, viável, a partir das discussões e informações
aprendidas no dia. É preciso usar a criatividade! Para terminar, peça que elejam o
cardápio mais adequado às suas necessidades.
COMENTÁRIOS: Como você pôde perceber, essa oficina exige uma leitura antecipada e
atenta das informações contidas no Livro do adolescente, de modo que você possa ajudar os participantes em suas dúvidas. No momento da discussão, procure não ser muito
prescritivo, pois não há adolescente que coma somente alimentos saudáveis; o cardápio
nessa fase da vida é recheado de refrigerantes, doces e salgadinhos que não podem ser
completamente banidos do dia-a-dia. Muitas vezes, vale a pena levá-los a se questionar:
“O que estou fazendo comigo comendo isso?”.
Se houver tempo, promova um bate-papo para que os participantes possam trocar
dicas de alimentação. Recomende a leitura das informações do Livro do adolescente.
SUGESTÕES: Se possível, convide um nutricionista para participar dessa oficina. Ele
poderá dar mais informações, tirar dúvidas, deixando a discussão ainda mais rica e
interessante. Você também pode colocar a música “Comida”, dos Titãs, para que
escutem ao final da oficina.
48
MENU
Café da manhã:
Lanche da tarde:
Lanche da manhã:
Jantar:
Almoço:
Antes de dormir:
Você come em outros
horários? O quê? Quando?
49
Oficina 4. Espelho, espelho meu
OBJETIVO: Trabalhar aspectos subjetivos da relação de cada um com seu corpo.
MATERIAL: Aparelho de som, CD de música suave, papel pardo, lápis de cor, canetas
hidrográficas (se desejar, pedaços de papéis coloridos e cola).
DESCRIÇÃO: Em um clima suave e tranqüilo, com uma música de fundo, peça que os
participantes fechem os olhos. Dirija o relaxamento lentamente, começando pelos pés,
seguindo pelas pernas, tronco, membros, até a cabeça. Peça que pensem sobre como
sentem e vêem o próprio corpo. Depois que abrirem os olhos, solicite que formem
duplas. Entregue a cada participante uma folha de papel pardo do tamanho de cada
um. Peça que desenhem, com a ajuda do colega, um molde do próprio corpo. A seguir,
eles devem trocar de lugar, de modo que ambos tenham seu contorno do corpo.
Distribua lápis de cera e hidrográficas (se houver diferentes papéis para colar também
pode ser interessante) a fim de que cada um preencha esse contorno, desenhando rosto,
roupas e quaisquer detalhes que desejar. Quando terminarem, faça as seguintes perguntas, que devem ser respondidas no próprio desenho:
•
•
•
•
O que penso quando imagino o meu corpo?
O que eu costumo ouvir das pessoas sobre o meu corpo?
O que eu gostaria de ouvir?
O que eu mais gosto no meu corpo?
Ao final, todos devem colocar seus desenhos no chão e circular pela sala para olhar
os dos colegas. Abra uma roda de conversa para discutir como se sentiram quando
desenhavam o próprio corpo, ressaltando os seguintes pontos: diferenças individuais,
aspectos hereditários, o belo em cada um e o modelo social de beleza, a influência da
mídia na visão que temos do corpo, cuidados e exigências nessa fase da vida etc.
COMENTÁRIOS: No momento do relaxamento, procure utilizar uma música instrumental e
não ultrapasse 10 minutos. Essa oficina mobiliza muito os adolescentes, portanto, requer
toda a atenção do monitor. É importante que você perceba o modo como cada um se vê,
eventualmente confrontando-o com o olhar dos outros. Em geral, um excesso de autocrítica leva a uma imagem distorcida de si que pode ser questionada nesse momento. Procure
conversar sobre as mudanças que podem ocorrer nessa fase de desenvolvimento: esse
ainda não é o corpo adulto. Há muitas maneiras saudáveis de ficar mais satisfeito com seu
corpo e você pode instigá-los a pensar sobre isso.
Essa oficina é uma grande oportunidade de discutir as dificuldades que todos, adolescentes
ou adultos, encontram para corresponder ao padrão de beleza veiculado pela mídia.
50
Oficina 5. História da beleza
OBJETIVO: Favorecer a reflexão sobre as relações entre beleza e cultura para que o
jovem perceba que os padrões de beleza são historicamente construídos e possa refletir sobre a interferência dos modelos atuais na construção de sua auto-imagem.
MATERIAL: Ilustrações anexas (ao final do módulo).
DESCRIÇÃO: Divida os participantes em dois grupos, preferencialmente em meninos e
meninas se o grupo for misto. Apresente a folha com as fotos para cada grupo e peça
que responda por escrito:
Observando esses quadros, qual você acha que era o padrão de beleza em cada uma
dessas épocas? O que era ser bonito?
Quais os detalhes que chamam sua atenção em cada uma das imagens?
Depois que os adolescentes tiverem discutido, peça que respondam uma segunda
questão: O que é ser bonito hoje?
A seguir, abra a discussão geral e alimente o debate acerca da influência da mídia na
criação de um padrão de beleza. Para finalizar, peça que respondam a questão individualmente: O que é ser bonito para mim?
COMENTÁRIOS: Os textos da seção Papo cabeça e o texto do especialista no início deste
módulo abordam essa importante questão. Não deixe de lê-los antes de iniciar a oficina
para estar mais preparado para o debate. Se você achar pertinente, pode também pedir
para o grupo ler o texto da história da beleza presente no Livro do adolescente e promover
uma discussão sobre ele.
51
para se aprofundar...
Livros
Sites
COLASANTI, Marina. O homem que não parava
de crescer. São Paulo: Global, 2005.
Centro Vergueiro de Atenção à Mulher:
http://www.cevam.org.br
COSTA, Ana. Tatuagem e marcas corporais.
São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.
Dermatologia: http://www.dermatologia.net
Dieta: http://www.dietaesaúde.com.br
COSTA, Cristina. Os grilos da galera: as questões
da adolescência. São Paulo: Moderna, 1996.
ECO, Humberto. História da beleza.
São Paulo: Record, 2007.
Meu Corpo: http:/www.meucorpo.com.br
GREEN, Christine. Mudanças no corpo.
São Paulo: Moderna, 1994.
Nutrição: http:/www.nutrimais.com
MATHEUS, Andrea; EISENSTEIN, Evelyn. Fala
sério! Perguntas e respostas sobre adolescência
e saúde. Rio de Janeiro: Vieira & Lent, 2006.
Tratamentos
NOVAES, Joana Vilhena de. O intolerável peso da
feiúra. Sobre as mulheres e seus corpos. 1a. ed.
Rio de Janeiro: PUC/Garamond, 2006.
Ambulatório de bulimia e transtornos alimentares
do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo
Tel, (11) 3069-6975. http://www.ambulim.org.br/
RODRIGUES, José Carlos. Tabu do corpo.
Rio de Janeiro: Achiamé, 1979.
Programa de Orientação e Assistência a
Pacientes com Transtornos Alimentares (Proata)
da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp):
http://www.proata.cepp.org.br
SALERNO, Silvana e CHARBIN, Alice.
Mini Larrouse do Corpo Humano.
São Paulo: Larousse, 2003.
Filmes
SANT’ANNA, Denise Bernuzzi de (Org.).
Políticas do corpo.
São Paulo: Estação Liberdade, 1995.
52
Manual do Adolescente:
http:/www.adolescente.psc.br/
Assuntos de Meninas
Léa Pool, 2001.
Beleza Americana
Sam Mendes, 1999.
SANT’ANNA, Denise Bernuzzi de. Corpos de Passagem: ensaios sobre a subjetividade contemporânea.
São Paulo: Estação Liberdade, 2001.
Espanglês
James L. Brooks, 2004.
STEINER, Denise. Beleza levada a sério.
São Paulo: Celebris, 2006.
Pequena Miss Sunshine
Jonathan Dayton, 2006.
TUCUNDUVA. Sonia. A dieta do bom humor.
São Paulo: Panda, 2006.
Supersize Me – A Dieta do Palhaço
Morgan Spurlock, 2004.
Anexo
53
introdução
om a chegada da puberdade e as conseqüentes mudanças corporais, muitas
novidades acontecem para o adolescente, não apenas físicas, mas também
psíquicas. O jovem ingressa num processo de apropriação de um corpo em
transformação e encara a possibilidade de exercer a sexualidade de forma ativa, o que
exige um trabalho de reflexão acerca dessa nova fase.
C
Nesse movimento de ampliação de suas possibilidades, o adolescente confronta-se
com a complexidade das relações humanas, das escolhas amorosas e sexuais, dos
encontros e desencontros presentes nessas experiências.
Refletir sobre a sexualidade humana é ir além do físico. É compreendê-la como
expressão afetiva, envolvendo emoções, sentimentos, atitudes, crenças e valores que
representam um tempo, um espaço e uma cultura singulares.
O adolescente de hoje vive em uma sociedade repleta de apelos eróticos nas músicas,
propagandas, novelas ou na moda, que o obrigam a lidar com diversas demandas de
obtenção de prazer sexual da vida adulta. Frente a essa realidade, a maior parte das
famílias encontra dificuldades para conversar sobre esse assunto. Por todas essas
razões, os jovens precisam encontrar outros interlocutores para conversar sobre suas
dúvidas e angústias.
Além disso, para que o adolescente exerça sua sexualidade de forma responsável, é
preciso não apenas que tenha informações sobre métodos contraceptivos ou sobre a
importância do uso da camisinha, por exemplo, mas também que compreenda o funcionamento de seu corpo e do corpo de seu parceiro.
Em virtude dos conteúdos tratados, as atividades do Módulo Sexualidade exigem do
monitor uma postura madura, segura e isenta de preconceitos. Seu papel consiste em
informar e promover a discussão, permitindo que os jovens se expressem e busquem
suas próprias respostas, estimulando a reflexão, o respeito e a cumplicidade entre os
participantes.
Bom trabalho!
56
objetivos do módulo:
• Favorecer a criação de um ambiente acolhedor entre os participantes de modo que
possam tirar suas dúvidas acerca do tema e compartilhar experiências.
• Ampliar e compreender as informações acerca do exercício da sexualidade.
• Conscientizar sobre os valores e as pressões sociais que influenciam a sexualidade
(banalização do sexo, erotização exagerada, preconceitos e exigências culturalmente
construídas, idealização dos papéis feminino e masculino, direitos e deveres do homem
e da mulher nas relações amorosas), enfatizando o reconhecimento do consentimento
mútuo indispensável para usufruir do prazer numa relação a dois.
• Informar sobre os métodos contraceptivos, doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e
gravidez na adolescência, bem como promover uma reflexão crítica sobre esses temas.
• Estimular o respeito à diversidade de valores, crenças e comportamentos existentes
relativos à sexualidade, desde que garantida a dignidade do ser humano.
com a palavra...
Adolescência e gravidez
Miriam Debieux Rosa
dolescência e gravidez são duas experiências intensas, marcantes e formadoras, de repercussões fundamentais para a vida das pessoas e para o campo
social. Quando associadas – gravidez na adolescência – têm resultado em discursos unívocos, reduzindo a situação à condição de problema, risco e precocidade,
desqualificando a experiência e sua potência em produzir significações e novas formas
de enfrentamento dos fatos da vida.
A
A adolescência pode ser caracterizada como um período de intenso trabalho psíquico,
subjetivo e relacional, geralmente desencadeado pela entrada na puberdade, trabalho
necessário para produzir um cidadão com autonomia, engajamento e capacidade de
escolha. Em outras palavras, o adolescente é uma pessoa em processo de desenvolvimento de sua capacidade de amar e trabalhar criativamente.
A adolescência toma características particulares na atualidade dadas as novas perspectivas sociopolíticas e econômicas que dificultam o acesso, de modo diversificado
MIRIAM DEBIEUX ROSA é psicanalista e professora de psicologia clínica na USP, onde coordena o Laboratório Psicanálise e
Sociedade, e professora da pós-graduação em psicologia social da PUC-SP, onde coordena com Maria Cristina Vicentim o
Núcleo Violências: Sujeito e política. É autora do livro Histórias que não se contam (Cabral Editora Universitária) e de vários
capítulos de livros e artigos nacionais e internacionais na temática da família, infância e adolescência.
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entre os grupos sociais, ao mundo produtivo e à independência econômica. As escolhas profissionais estão bastante relativizadas, já que imperam a alta competitividade e a dificuldade de empregar-se. De outro lado, a liberação dos costumes
permite acesso à vida sexual independentemente de compromissos como namoro
ou casamento.
A maternidade e paternidade, por sua vez, também são processos revestidos de certos imaginários fixos e ideais. Existe a idéia de que há uma ordem correta no comprometimento do indivíduo: primeiro vem a responsabilidade pessoal, depois a
capacidade de relação amorosa com o outro e só então a possibilidade de cuidado,
educação e afeto com o filho. Se essa lógica descreve certo percurso razoável, não
impede que outras modalidades de percurso sejam legítimas. Independentemente do
preparo anterior, há que se considerar que o nascimento de uma criança é um evento
público que mobiliza todo o gru
upo social, familiar e processos subjetivos para permitir
sua inclusão como membro da família e da so
ociedade.
Em outras palavras, o nascimento do filho produz simbolicamente a parentalidade –
maternidade e paternidade –, que só então se concretiza e efetiva. E para esse processo, em qualquer idade, a rede de apoio familiar é fundamental para ajudar a efetivar
os requisitos dessas funções, tais como responsabilidade e disponibilidade para
cuidar do filho.
A gravidez na adolescência é expeeriência que agrega esses dois acontecimentos e
produz muitos questionamentos bastante importantes, já que quebra algumas
tradições e ideais da família e do próprio jovem.
Em relação aos pais, antecipa um luto pela perda da juventude idealizada com prazeres e liberdade. A maternidade é vista como o encerramento da adolescência
enquanto processo, já que precipita um modo de entrada na vida social. Gera também preocupação com a escolaridade, já que muitos jovens abandonam a escola ou
passam a trabalhar. Essa preocupação encadeia-se com a menor possibilidade de
ascensão e autonomia econômica, com a falta ou adiamento de projetos de independência. Outra temática de conflito é com a relação igualitária entre os sexos, conquista árdua das mulheres, graças em grande parte à sua participação como
provedora econômica da família – ficaria a jovem dependente do pai da criança? Os
pais oscilam entre a idéia de falta de prontidão do adolescente para a vida amorosa
e a sua total responsabilização pela gravidez e pelos cuidados com o filho.
Quanto aos jovens, a reação à gravidez é muito variada, mas sempre traz sentimentos e atitudes ambivalentes – impotência, medo e susto ladeados de alegria, orgulho
e realização.
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Algumas vezes a gravidez não foi planejada, mas estava vislumbrada como uma resolução imediata para um futuro incerto e longínquo. A jovem sabe que a maternidade
gera problemas, mas pode ser vivida como alívio em face de sua incerteza quanto a
outros modos de inserção social, pois a maternidade é valorizada e impõe certa
respeitabilidade difícil de ser conquistada de outros modos. Para alguns, pode autorizar um retorno sem culpa à dependência dos pais, enquanto para outros é um sinal de
independência, já que vão cuidar em vez de ser cuidados. As escolhas nem sempre são
conhecidas pela própria pessoa e a presença dessas dimensões só pode ser esclarecida na vigência do próprio acontecimento.
De qualquer modo, com a gravidez, outras questões tornam-se prioritárias, podendo
desviar momentânea ou definitivamente o jovem das tarefas da adolescência: o encontro com o outro sexo, a relação prazer e responsabilidade; os impasses sociopolíticos
e subjetivos na entrada para a vida social e as dificuldades escolares. Destaco o
encontro com o outro sexo e os conflitos do início da vida sexual como um
dos fatores mais importantes da gravidez na adolescência. O envolvimento amoroso com o outro, a insegurança e vontade de agradar, a
relutância em impor condições para a relação sexual segura ou mesmo
a incapacidade de prever que a relação vai se concretizar, a pressa, são
questões presentes na vida sexual. Tais questões fazem parte da vida
de todos. Elas precisam de espaço para que os parceiros possam conversar, esperar, preparar-se melhor.
Um dos fatores mais angustiantes desse primeiro momento, decisivo
nos modos de enfrentamento dos jovens frente à gravidez, é o
medo da reação dos pais. Seus próprios temores, dúvidas e
decisões ficam misturados com o medo de decepcionar os pais,
de estes não legitimarem a gravidez e de os adolescentes serem
abandonados por eles nesse momento, lançados à própria sorte.
Rafael Hess
A gravidez na adolescência pode ser uma experiência importante
e fecunda para os jovens e suas famílias, desde que considerados
os cuidados necessários a esse momento. Dependem de várias
condições o sentido e o destino dados à gravidez. Uma vez acontecida, os processos da adolescência podem se dar através da gravidez
e concomitantes a ela. Devem ser observados os seguintes cuidados:
envolvimento dos pais com a maternidade e a paternidade; responsabilidade da jovem desde os cuidados pré-natais e a preparação
para a chegada do bebê; adoção de uma atitude de espera, mas vislumbrando no horizonte outros projetos, tais como a continuidade
dos estudos, da família e da vida social.
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Oficina 1. Tudo o que você quer saber sobre sexualidade
OBJETIVO: Identificar as dúvidas dos adolescentes sobre sexualidade e abrir a possibilidade
de diálogo sobre o tema.
MATERIAL: Tiras de papel e caixa para sorteio.
AQUECIMENTO: Para introduzir esse tema, é interessante organizar uma roda de conversa.
Pergunte aos jovens o que eles entendem por “sexualidade”, com quem conversam sobre
isso e se têm muitas dúvidas a respeito do assunto. A proposta da oficina é responder algumas questões e iniciar um debate que vai se estender ao longo do módulo. Nesse aquecimento, deixe claro que o diálogo sobre sexualidade envolve pensar nas relações amorosas,
beijos, namoros etc., e não apenas no ato sexual em si. Pode ser um bom começo perguntar quem já namorou, quem tem um namorado ou quem quer encontrar um. É preciso ficar
atento para entrar suavemente nesse tema e dar espaço para se conversar também sobre
temas como o primeiro beijo ou as relações amorosas.
DESCRIÇÃO: A atividade central da oficina consiste em levantar perguntas sobre o tema da
sexualidade. É imprescindível que essas perguntas sejam anônimas, dando liberdade aos
participantes para eliminarem suas dúvidas sem temor do julgamento alheio. Para tanto,
distribua tiras de papel aos adolescentes e dê um tempo para que escrevam perguntas em
cada uma delas. Não é necessário estabelecer um número fixo de perguntas, cada um pode
escrever quantas quiser. As perguntas podem ir para uma caixa a fim de serem sorteadas.
Assim que todos tiverem depositado as perguntas na caixa, tire-as, leia-as e tente classificálas a fim de organizar as respostas, pois nem sempre dá tempo de responder uma a uma.
A seguir, leia a pergunta (ou o conjunto delas) para que os próprios adolescentes arrisquem
a resposta. É sempre muito interessante ver como os jovens são, na maioria das vezes,
capazes de esclarecer as dúvidas. Porém, se ninguém souber responder alguma delas,
cabe a você dar a resposta ou acrescentar acrescentar informações que ficarem faltando.
COMENTÁRIOS: Quando se sentem seguros para se expressar sobre o tema sexualidade, os
adolescentes fazem perguntas que muitas vezes podem surpreender os adultos, quer pela
ingenuidade ou falta de conhecimentos básicos, quer pela profundidade de suas inquietações. Há perguntas que evidenciam a inexperiência acerca do assunto e outras que falam
de dúvidas próprias de quem já mantém relações sexuais. Desse modo, é importante que o
coordenador esteja preparado para todo tipo de questões, respondendo-as com respeito,
franqueza, sem moralismos. Se o adulto não souber responder alguma pergunta feita pelo
grupo, melhor explicitar esse fato e trazer a resposta posteriormente. Nossa experiência
mostrou que as dúvidas dos adolescentes giram em torno da primeira transa, de masturbação, de anticoncepcionais ou da gravidez. O Livro do adolescente pode ajudá-lo.
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Oficina 2. Funcionamento do corpo e métodos anticoncepcionais
OBJETIVO: Informar os adolescentes sobre o funcionamento do corpo e os métodos
contraceptivos, oferecendo um espaço para discussão das dúvidas sobre o tema.
MATERIAL: Se possível, contraceptivos (pílula, diafragma, DIU, camisinha).
DESCRIÇÃO: Comece a conversa perguntando aos participantes o que eles já sabem
sobre as mudanças do corpo e sobre métodos anticoncepcionais. Depois, leia junto
com eles as informações sobre o funcionamento do corpo humano no Módulo Sexualidade do Livro do adolescente: menstruação, ciclo menstrual, órgãos externos, órgãos
internos, fertilidade, concepção e os métodos contraceptivos. A seguir, divida os participantes em equipes de dois ou três integrantes, distribua os temas (por exemplo: métodos contraceptivos com um grupo, concepção e fertilidade com outro e o funcionamento
do corpo com um terceiro) e proponha que apresentem as informações da maneira que
quiserem: imitando um programa de rádio ou TV, fazendo um jogral, inventando uma
música ou poema.
COMENTÁRIOS: Durante a leitura, é importante que o monitor observe se as informações transmitidas estão sendo compreendidas. Procure instigar os adolescentes a
fazerem perguntas.
É interessante que os adolescentes possam manusear diferentes contraceptivos, inclusive
colocando a camisinha em um pênis de borracha (ou em um objeto passível de ser utilizado para esse fim).
Como são muitas informações a serem discutidas e assimiladas, pode ser mais produtivo
dividir essa oficina em duas. Isso vai depender dos conhecimentos prévios do grupo e do
tempo disponível para o encontro.
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Oficina 3. Doenças sexualmente transmissíveis
OBJETIVO: Informar sobre as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), seus sintomas e possíveis tratamentos. Conversar sobre a primeira consulta ao ginecologista.
DESCRIÇÃO: Comece a oficina conversando sobre o que são as DSTs. Faça as pergun-
tas abaixo ao grupo e registre todas as respostas na lousa ou em um papel grande,
sem dar sua opinião a respeito delas.
• Quais são as doenças sexualmente transmissíveis?
• Quais são os principais sintomas? O que fazer quando se tem algum deles? Existe
tratamento? Como prevenir?
• Como se transmite o vírus HIV?
• Como saber quando se está contaminado com o vírus HIV?
• Onde fazer o exame?
• Quando é preciso ir ao ginecologista?
• O que acontece na primeira consulta?
Depois, peça para o grupo tentar classificar as informações anotadas no quadro em
duas categorias: mito e verdade. Por exemplo, digamos que alguém tenha dito: o vírus
HIV pode ser transmitido pelo beijo – isso é mito ou verdade? Esse exercício promoverá a participação de muitos adolescentes e você poderá verificar quais dúvidas
precisará se aprofundar.
A seguir, abra o Livro do adolescente e leia junto eles as informações dos itens “consulta ao ginecologista” e “DST”, para deixar bastante claro o que é de fato verdade.
COMENTÁRIOS: Muitas questões levantadas pelos jovens devem ter sido contempladas na leitura do livro. Se alguma dúvida persistir, procure levar material (revistas
e livros) para a próxima oficina de modo que eles possam ler ou tente você mesmo
buscar as informações necessárias. Se você tiver um grupo misto e perceber que há
algum constrangimento em discutir essas questões coletivamente, dê um tempo para
que essa conversa aconteça com mais intimidade, em pequenos grupos. Uma outra
possibilidade de organização da atividade é dividir o grupo em dois: um só de meninos e outro só de meninas.
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Oficina 4. Gravidez
OBJETIVO: Trabalhar o tema da gravidez na adolescência e refletir sobre as conseqüências de uma gravidez não planejada.
DESCRIÇÃO: Antes de iniciar a atividade, aqueça o grupo perguntando se conhecem
casos de meninas adolescentes que ficaram grávidas. Esses relatos podem fazer parte
da história que os jovens criarão a seguir.
Peça que os participantes se subdividam em grupos de quatro ou cinco e façam a
encenação da história de uma adolescente grávida. Para enriquecer a discussão posterior, sugira que alguns pontos sejam abordados nessa dramatização. Por exemplo:
quem é a menina? Em que situação ficou grávida? De quem? O que fez o rapaz? Quais
os motivos que a levaram à gravidez? O que sentiu ao saber que estava grávida? Quais
as conseqüências da gravidez em sua vida?
Dê 45 minutos para a preparação e o ensaio da peça. Nesse momento é interessante
circular pela sala para observar as várias hipóteses que os grupos levantam para os
conflitos propostos, quais temas escolhem dramatizar e como resolvem os conflitos.
Tudo isso é material para a discussão. Depois da apresentação de cada grupo, inicie
uma conversa coletiva.
Roteiro auxiliar para a discussão:
• Quais são os pontos interessantes de cada história?
• Os temas das encenações se repetiram?
• Vocês conhecem histórias parecidas?
• Por que vocês acham que as adolescentes ficam grávidas, quando existem tantos
métodos contraceptivos? Falta de informação, ou algum outro fator entra em cena?
• Como os meninos agem diante da notícia de uma gravidez inesperada?
• Quais são as responsabilidades de cada um?
• Quais são as conseqüências de ter ou não um filho?
COMENTÁRIOS: É importante que você organize as atividades desta oficina de modo que
os adolescentes tenham bastante tempo para a discussão, pois esse é um tema muito
envolvente e eles precisam elaborar suas idéias.
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De acordo com muitos estudiosos, para as meninas, a gravidez na adolescência pode
estar ligada aos seguintes temas:
• a maternidade como projeto de vida, especialmente quando há ausência de sentido
na vida cotidiana ou quando há dificuldade para se pensar o futuro – “agora que
estou grávida eu tenho que me preocupar exclusivamente com o meu filho” ou “se
nos estudos e no trabalho não há nenhuma perspectiva de futuro, na maternidade
ela está garantida”;
• a maternidade como transformação da menina em mulher madura – “quando eu
ficar grávida vou ser uma mulher madura”;
• a gravidez como uma maneira de ser cuidada e olhada por parentes ou pelo pai da
criança;
• a maternidade como um papel social valorizado – “ser mãe é uma forma de me sentir poderosa e de deixar uma marca no mundo”;
• a função materna já é exercida com os irmãos – “sei como é ser mãe porque eu já
cuido dos meus irmãos caçulas. Agora, com o meu filho, eu vou poder fazer como
eu quiser”.
Para os meninos, algumas reações costumam ser freqüentes: “eu não sei se o filho é
meu”; “não estou a fim de ter um filho e se ela quiser, vai ter que cuidar”; “eu sou muito
jovem para ser pai, agora minha vida vai mudar e eu não sei o que fazer”.
Assim, é muito importante que você aborde essas ou outras questões na discussão do
grupo, ainda que elas não surjam espontaneamente, levantando argumentos claros
para discutir cada uma. Por exemplo, se a maternidade aparece associada ao poder,
procure abordar outras maneiras que dariam à mulher a possibilidade de exercer seu
poder no mundo contemporâneo.
Ao final, recupere os pontos mais significativos da discussão, de forma a enfatizar as
dificuldades de uma gravidez na adolescência e suas conseqüências, especialmente
na vida da menina: o abandono da escola, a reestruturação familiar, a dificuldade
maior para arrumar emprego, o aumento de responsabilidade em um momento de
formação, a necessidade de readaptar o espaço da casa e o orçamento da família, que
terá de arcar com mais um membro, e até os possíveis problemas físicos caso essa
gravidez aconteça entre 12 e 14 anos (nessa faixa etária, o aparelho reprodutor ainda
não está maduro, e ocorrem três vezes mais casos de má-formação fetal do que entre
as mulheres que engravidam por volta dos 25 anos).
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Oficina 5. Amor e sexo
OBJETIVO: Discutir as várias relações entre amor e sexo refletindo sobre os diversos
aspectos presentes numa relação sexual.
MATERIAL: Papel sulfite; canetas; aparelho de som e CD.
DESCRIÇÃO: Para iniciar a atividade, peça para cada participante completar a(s) frase(s):
“Sexo é...” e “Amor é....” e depois ler o que escreveu.
A seguir, leia junto com a turma a letra da canção de Rita Lee, “Amor e sexo”. Você
pode consegui-la na internet. É importante parar para explicar o significado de
palavras pouco comuns ao repertório adolescente (teorema, latifúndio, pagão, patético,
epiléticos, entre outras). Peça que cada um cite a frase de que mais gostou, justificando
sua escolha. Abra uma roda de discussão e converse sobre as diferentes formas que
existem de lidar com esse assunto.
Sugestões de temas para discussão:
• Existe idade ideal para começar a transar?
• Dá para falar de sexo com seus pais? E com outros adultos?
• Existe pressão de amigos e amigas para transar?
• Por que os jovens têm resistência a usar camisinha? O que vocês fariam se a pessoa não quisesse usar camisinha?
• Dá para namorar sem transar? Dá para transar sem amar?
O trabalho fica bem mais interessante se ao final você colocar o CD e cantar a música
com todo grupo.
COMENTÁRIOS: Nessa oficina alguns preconceitos, fantasias, idealizações ou julgamentos podem vir à tona. Em tais circunstâncias, é fundamental que você assuma uma
posição de neutralidade, ajudando o grupo a discutir. Qualquer que seja a visão dos
adolescentes, é importante combater a idéia de sexo como algo errado, pois mesmo
para aqueles que defendem a idéia de se casar virgem, ele é fundamental em uma
relação conjugal. Muitos adolescentes trazem a questão do “momento certo para
transar”, de modo que é interessante que eles tenham pensado sobre o assunto quando essa hora chegar: com quem será? É uma pessoa bacana? Como realizar o meu
desejo sem prejudicar meu projeto de vida?
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Oficina 6. Mídia e sexualidade
OBJETIVO: Refletir sobre o papel dos meios de comunicação na formação de conceitos
e atitudes dos jovens.
MATERIAL: Revistas.
DESCRIÇÃO: Divida a turma em grupos de três ou quatro pessoas. Distribua algumas
revistas por grupo. Cada um deles deve escolher uma propaganda que contenha imagens associadas à sexualidade (por exemplo: mulheres e cerveja, carros, crianças
vestidas como adultos, etc...) e analisá-la. Algumas perguntas podem orientar a discussão:
• Que mensagem essa publicidade transmite?
• Que imagem de juventude está aqui proposta?
• Você se identifica com ela? Se não, quem você acha que poderia se identificar?
• Você acha que esse produto teria aceitação entre os jovens? Por quê?
• Que modelos de jovens e de adultos você gostaria de ver na publicidade?
Incentive-os a analisar o material tanto na forma (as cores, os personagens, as cenas),
quanto no conteúdo das imagens (os slogans ou textos). Circule pelos grupos para
observar a discussão. A seguir, peça que cada grupo apresente suas conclusões em
uma conversa coletiva.
COMENTÁRIOS: A análise de material publicitário é uma boa maneira de os jovens perceberem o papel da mídia em sua formação. Você pode ampliar a discussão incentivando
que dêem exemplos de propagandas na TV ou no rádio.
66
Oficina 7. Fechamento do tema
OBJETIVO: Refletir sobre os novos conhecimentos aprendidos neste módulo.
MATERIAL: Caixa de papelão e perguntas (folha anexa).
DESCRIÇÃO: Divida os participantes em dois grupos e explique as regras do jogo: eles
responderão perguntas relacionadas a tudo o que discutiram neste módulo. Em cada
rodada de perguntas, um participante representará a sua equipe. Ele deverá retirar
uma pergunta da caixa, ler a pergunta em voz alta, discutir com o seu grupo e em
seguida respondê-la. Você pode recortar as perguntas da folha anexa ou reescrevê-las
em papéis diferentes.
Quando a equipe não souber a resposta, não ganha ponto e a equipe adversária tem o
direito de resposta.
A cada acerto, um ponto. A equipe que conseguir responder mais perguntas ganha a
gincana e um prêmio (que fica a critério do monitor).
Sugestões de perguntas (todas as perguntas abaixo foram feitas por adolescentes que
participaram desse projeto):
PERGUNTAS
RESPOSTAS
1. É possível sentir tesão
mesmo sem transar?
1. Sim, o desejo sexual não está relacionado somente aos carinhos da transa, ele pode ser despertado por fantasias, cheiros,
imagens ou outros estímulos.
2. Penetração dói na menina?
E nos meninos?
2. A penetração pode doer na primeira vez nas meninas, mas
a dor não deve ser uma constante no ato sexual. A penetração
também não deve doer para os meninos.
3. É melhor que ele seja
experiente na primeira vez?
3. Para fazer sexo não é necessário que os jovens tenham
experiência. Ambos podem fazer suas descobertas juntos.
4. Há uma idade certa para
transar?
4. Não há uma idade certa, depende da maturidade do adolescente e de sua capacidade de fazer escolhas responsáveis.
5. O corpo pode mudar depois 5. Não, o corpo muda na fase da puberdade e as mudanças não
estão relacionadas às relações sexuais.
de transar?
6. Por que se usa
anticoncepcional?
6. Para evitar a gravidez indesejada.
7. É verdade que
anticoncepcional engorda?
7. Não necessariamente, mas se a pessoa sentir mudanças
deve consultar o médico.
8. Masturbar-se dá espinha?
8. Não, masturbação não dá espinhas.
9. Mulher também se
masturba?
9. Sim, tanto homens quanto mulheres podem se masturbar.
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10. O que é orgasmo?
10.Orgasmo é o clímax ou ponto de maior excitação e prazer da
relação sexual.
11. Como se transmite o
vírus HIV?
11.O HIV é transmitido pelo sangue ou outras secreções do
corpo que estejam contaminadas pelo vírus. Assim, a contaminação pode ocorrer pela relação sexual, pelo uso coletivo de
seringas, agulhas não esterilizadas (tatuagens e piercings),
transfusões ou pela placenta nas mulheres grávidas.
12. É preciso tomar pílula
sempre que transar?
12.Não, quem escolhe a pílula como método anticoncepcional
deve tomá-la todo dia, conforme orientado pelo médico, e não
somente quando transa.
13. É verdade que quando se
amamenta não se engravida?
13.Não, as mulheres podem engravidar enquanto amamentam.
14. O que é período fértil e
quando ele acontece?
14.O período fértil ocorre quando a menina ovula. Ele dura uma
semana, três dias antes e três depois da data da ovulação.
15. O que são
anticoncepcionais?
15.São métodos que evitam que um bebê seja concebido. A
palavra anticoncepcional significa “não concepção”.
16. Cite três tipos de
anticoncepcionais.
16.Os mais conhecidos são: pílula, DIU, camisinha masculina e
feminina, injeção mensal e diafragma.
17. Cite três sintomas de
DSTs que levariam uma
pessoa ao médico.
17.Nos meninos: corrimento amarelo-esverdeado, ardor ao
fazer xixi, verrugas ou bolhas nos genitais.
Nas meninas: corrimento branco ou mal-cheiroso, coceira na
vagina, dor no ato sexual ou para fazer xixi e verrugas na região
próxima à vagina.
18. O que é TPM?
18.TPM significa tensão pré-menstrual. Caracteriza-se pelo
aparecimento de uma série de sintomas, variáveis em cada
mulher. Entre os mais comuns estão: inchaço, dores nas
mamas, alteração no humor.
19. O que é puberdade?
19.A puberdade é uma fase da vida em que ocorrem muitas
mudanças corporais, tais como: aceleração do crescimento e
desenvolvimento dos órgãos genitais e dos caracteres sexuais.
20. É possível engravidar na
primeira relação sexual?
20.Sim, por isso é importante se prevenir, mesmo na primeira
vez.
COMENTÁRIOS: Você pode acrescentar na caixa as perguntas que já surgiram em outras
oficinas, essa é uma maneira de verificar se as dúvidas foram sanadas.
68
para se aprofundar...
Livros
LOPES, Angélica. Plano B, missão namoro.
São Paulo: Rocco, 2003.
ABRAMOVAY, Miriam; CASTRO, Mary Garcia;
SILVA, Lorena Bernadete (Orgs.). Juventude e
sexualidade.
Brasília: Unesco, 2004.
MANDELLI, Paula. Alguém em quem confiar.
São Paulo: Difusão Cultural do Livro, 2006.
ALMEIDA, Heloísa Buarque et al (Orgs.). Gênero
em matizes.
São Paulo: Universidade São Francisco, 2003.
MAYLLE, Peter; ROBINS, Arthur. O que está acontecendo comigo: guia para a puberdade, com
respostas às perguntas mais embaraçosas.
São Paulo: Nobel, 1984.
AQUINO, Júlio Groppa. Sexualidade na escola.
Alternativas teóricas e práticas.
São Paulo: Summus, 1997.
MULLER Laura. 500 perguntas sobre sexo do
adolescente.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.
ARATANGY, Lídia Rosenberg. Sexualidade: a difícil
arte do encontro.
São Paulo: Ática, 1995.
NICOLELIS, Giselda. O amor não escolhe sexo.
São Paulo: Moderna, 2002.
BOUER, Jairo. O corpo dos garotos.
São Paulo: Panda, 2006.
BOUER, Jairo. O corpo das garotas.
São Paulo: Panda, 2004.
CHARBONNEAU, Paul-Eugène. Namoro
e virgindade.
São Paulo: Moderna, 1985.
SAYÃO, Yara. Refazendo laços de proteção: ações
para combater o abuso e a exploração sexual de
crianças e adolescentes: manual de orientação
para educadores.
São Paulo: Cenpec-Childhood – Instituto WCFBrasil, 2006.
SAYÃO, Rosely. Sexo é sexo.
São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
FELÍCIO, Cláudia. Tudo sobre meninas
para meninas.
São Paulo: Planeta Jovem, 2006.
SUPLICY, Marta. Sexo para adolescentes: amor,
puberdade, masturbação, homossexualidade,
anticoncepção, DST/Aids, drogas.
São Paulo: FTD, 1998.
FIGUEIRÓ, Mary. Educação sexual: retomando
uma proposta, um desafio.
Londrina: UEL, 2001.
TAKIUTI, Albertina. A adolescente está ligeiramente grávida. E agora? Gravidez na adolescência.
São Paulo: Iglu, 1990.
FISHER, Nick. Beijos: coisas que todo mundo
quer saber.
São Paulo: Melhoramentos, 2005.
VEIGA, Francisco Daudt da. O aprendiz do desejo:
a adolescência pela vida afora.
São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
GANYMÉDES, José. Ladeira da Saudade.
São Paulo: Moderna, 2003.
VENTURA, Miriam. Direitos reprodutivos no Brasil.
São Paulo: Fundação Mac Arthur, 2002.
GELLING, Kátia. Essa tal primeira vez.
São Paulo: Moderna, 1995.
69
Sites
Filmes:
AIDS: www.aids.gov.br
A Lei do Desejo
Pedro Almodóvar, 1987.
Doenças Sexualmente Transmissíveis:
http://www.dstbrasil.org.br
Amigas de Colégio
Lukas Moodysson, 1998.
Gravidez: http://www.gravidez-segura.org
Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação
Sexual: http://www.gtpos.org.br/index.asp
Instituto Kaplan: http://www.kaplan.org.br
Programa Casa do Adolescente da Secretaria de
Estado da Saúde – SP:
http://www.saude.sp.gov.br/saude_adolesc/html/
saude_adolesc.html
Da Cor do Leite
Torun Lian, 2005.
Dez Coisas que Eu Odeio em Você
Gil Junger, 1999.
Garotos Não Choram
Kimberly Peirce, 1999.
Juno
Jason Reitman, 2007.
Saúde: http://www.redesaude.org
Saúde Pública: http://www.portalsaude.gov.br
Meninas
Sandra Werneck, 2005.
Secretaria de Atenção à Saúde:
http://www.saúde.gov.br
Mulheres Sexo Verdades e Mentiras
Euclydes Marinho, 2007.
Sexualidade na Adolescência:
http://www.drauziovarella.ig.com.br
Disk-Adolescente: (11) 3819-2022.
Para tirar dúvidas sobre sexualidade
Lembrete importante:
Na próxima semana você vai iniciar um novo módulo: Família. Na primeira oficina está previsto um trabalho com a história de vida dos adolescentes, no qual
é preciso que eles tragam fotos da infância e façam pesquisas em casa.
Portanto, não deixe de ler o item “Apresentação” do novo módulo e solicite esse
material ao final da última oficina do Módulo Sexualidade.
70
a
i
l
í
Fam
introdução
os dias de hoje, a noção rígida e definida de família dá lugar a um conceito mais
amplo que envolve uma flexibilização de suas fronteiras. Alguns estudos mostram que o homem é considerado o chefe da família, corporificando a autoridade moral. Ele é responsável pela respeitabilidade familiar, conferida pela presença
masculina em casa. A mulher, por sua vez, é a chefe de casa, aquela que mantém a
união do grupo; ela é quem cuida de todos e zela pela organização e funcionamento do
lar, mesmo que trabalhe fora. Contudo, no embate com a realidade cotidiana, nem
sempre homens e mulheres conseguem exercer as funções a que se propõem, seja
porque as condições externas são oscilantes e pouco controláveis, seja porque a
própria dinâmica familiar é mutável.
N
Assim, os rearranjos necessários para assegurar tanto a harmonia familiar quanto o
sustento financeiro podem se dar pelos mais diversos motivos: a gravidez inesperada
de um filho adolescente, a separação dos pais, seguida ou não de novos casamentos e
novos filhos de ambos ou de apenas um deles etc. E, embora os pais contem fundamentalmente com a rede consangüínea (avós, tios, irmãos, cunhados), as crianças
podem ser cuidadas por outras pessoas do grupo de referência dos pais. Assim, uma
nova noção de família pode se configurar, composta por membros que não são necessariamente parentes, mas pessoas com as quais se pode contar e que dão origem a
novos vínculos de confiança. As configurações familiares atuais trazem, portanto,
novos arranjos das funções e papéis nelas exercidos.
Dessa forma, discutir com o jovem sobre esse tema envolve, necessariamente, uma
reflexão sobre os ideais de família almejados e valorizados em nossa cultura, as novas
formações familiares, as implicações da presença de adolescentes em uma família e os
recursos afetivos que eles mobilizam nessa fase da vida. A crescente independência do
jovem, as novas responsabilidades, anseios e expectativas quanto ao futuro costumam
gerar conflitos entre pais e filhos, obrigando-os a rever posições, limites e regras.
Por todas essas razões, neste módulo, daremos especial atenção aos aspectos que
interferem na construção da identidade dos adolescentes, oferecendo-lhes a chance de
refletir a respeito dos diversos tipos de família hoje existentes e sobre as relações
familiares, tão essenciais em suas vidas. Procuraremos também resgatar aspectos da
história infantil de cada um, entendendo que essas imagens da infância contribuem
para a afirmação de sua identidade. Relembrando o passado e refletindo sobre o presente, os jovens têm a chance de imaginar seu futuro e de caminhar, com mais segurança, rumo à vida adulta.
Bom trabalho!
72
DICAS PARA O MONITOR:
• Trabalhar a história de vida dos participantes vai requerer que as atividades
propostas sejam feitas seqüencialmente; você vai perceber que uma fornece
instrumentos para o desenvolvimento da outra.
• Na primeira oficina solicita-se que os adolescentes tragam material de casa,
portanto, devem ser alertados antecipadamente. Peça que tragam uma foto de
quando eram crianças. Peça também que conversem um pouco com os pais
sobre sua “pré-história” (como os pais se conheceram? Como começaram a
namorar? Como foi a gravidez da mãe?) e seus primeiros dias de vida (como foi
o dia do seu nascimento? Como escolheram o seu nome?). Essas informações
serão trabalhadas em grupo.
objetivos do módulo:
• Refletir sobre a noção de família a partir do compartilhamento de histórias pessoais,
vivências e expectativas de futuro.
• Discutir os papéis familiares e as relações entre os membros de uma família.
• Favorecer a reflexão pessoal sobre o projeto de futuro a partir da apropriação de
vivências da história de vida.
73
com a palavra...
Sobre a Família: Território de Origem
Leonel Braga Neto
e você é educador, precisa saber que parte da potência do seu trabalho está no fato de
você ser para o adolescente o equivalente de uma pessoa extremamente significativa
para ele. Isso quer dizer que muitas coisas que são dirigidas a você, na verdade conversam com essas figuras significativas internalizadas. São elas que, muitas vezes, os adolescentes buscam no professor, seja para encontrar proteção e reconhecimento, seja para
estabelecer um distanciamento, uma separação, seja para buscar a reparação das rupturas
prematuras que fazem da vida uma deriva. Procure observar as atitudes dos adolescentes
em relação a você e ao grupo e você identificará, ao longo do processo, o "papel" que cada um
lhe reserva. O próprio fato de fazer essa reflexão o ajudará a compreender sua posição em
relação a eles. Sem precisar ser um psicólogo, você pode colocar à disposição dele seu saber
sobre isso. E todos sabem algo sobre isso...
S
Todos sabem que para qualquer um de nós existirmos houve alguém que nos quis: uma
relação sexual (ou uma inseminação artificial), uma gravidez que foi a termo, um parto e,
depois disso, a operação humana mais arcaica e poderosa que existe, pela qual um bebê
fabrica uma mãe: a amamentação. Toda pessoa que se torna mãe sabe desse momento
temeroso e emocionante em que se espera que o bebê a confirme aceitando seu leite (ainda
que não venha de seu corpo), seu cheiro, seu calor. É também essa ordem de incerteza que
está em jogo nos processos de adoção, de tal forma que talvez possamos dizer que toda
maternidade é uma operação de adoção recíproca.
Nesse completo estado de entrega mãe/filho se estabelece uma via fundamental pela qual
se transmitirá algo que vai muito além dos nutrientes que alimentam um corpo: um lugar na
imensa comunidade humana, uma vontade de futuro, mais um elo em uma cadeia
transgeracional. Enfim, nasce uma família e nasce-se sempre em uma família, que é ao
mesmo tempo comum e singular.
A curiosidade pela origem, pela cultura produzida e transmitida pela própria família
(brincadeiras, provérbios, figuras míticas), suas estratégias de sobrevivência, as
transformações ocorridas entre uma geração e outra, estará na base do interesse por todo o
conhecimento posterior: a história, a geografia, a biologia, a matemática e a linguagem.
O educador, sabendo que o conhecimento sobre a origem familiar de cada um facilita o
interesse pelo conhecimento humano em geral, pode convidar o jovem a se aproximar de sua
própria história (através das atividades mais diversas) de forma a possibilitar que a
curiosidade encontre seu rumo, como um rio que, correndo em sentido inverso, busque
a nascente para só depois chegar ao mar.
Também sabemos que toda família é um campo de batalhas, palco de rivalidades, de violências sutis ou explícitas, da força da lei simbólica ou da ausência dela, da imposição moral ou
da luta de resistência ou submissão a ela. Embora muitas vezes idealizada, a família nunca
LEONEL BRAGA NETO. Psicanalista de adolescentes, adultos e famílias. Presidiu, coordenou a equipe clínica e supervisionou
a equipe de professores e terapeutas da Escola de Passagem – equipamento do Centro Integrado de Cuidados ao Adolescente
– Cica do Instituto Therapon Adolescência.
74
é perfeita. Seja porque os filhotes humanos nascem tão desprotegidos e se agarram a essa
figura primordial materna estabelecendo uma ligação de posse recíproca da qual mais tarde
precisarão/desejarão se separar, seja porque a violência e o não-dito vividos pelos pais também se transmitem aos filhos, o fato é que as famílias são potencialmente explosivas em
maior ou menor grau. A proximidade com o explosivo das próprias famílias faz com que,
muitas vezes, os educadores construam verdadeiras muralhas em relação ao "explosivo" do
outro (aluno rebelde, apático ou respondão), com o objetivo de se protegerem daquilo que
reconhecem como familiar, nesse outro que lhes parece tão estranho. Saber disso talvez o
ajude a lidar com essas intensidades dos adolescentes de forma a auxiliá-los a encontrar
expressões criativas que lhes permitam modulá-las (a música de protesto e o grafite são
exemplos disso). É com você que esse jovem (e o grupo de jovens) encontrará a oportunidade
de refazer um caminho, transformando uma experiência extremamente significativa para
ele, em algo comunicável que pode encontrar, no campo da cultura/educação, uma saída,
transformando coisas que poderiam ter um destino funesto (marginalidade, doença, violência) em talentos potenciais (artista/educador/terapeuta/ açougueiro/cirurgião/político/vendedor/empresário). A educação é a oportunidade de sonhar com outro destino.
Estamos fazendo aqui um recorte; muitas vezes se lida com situações de violência extrema
nas quais não há a menor condição de conter ou transformar um impulso de destruição,
mas, outras vezes, confunde-se violência com agressividade.
A agressividade, originariamente, é uma força que busca empurrar para fora algo que tenta
impor-se ao sujeito, dominá-lo. É uma tentativa de restabelecer o domínio sobre si.
Diferentemente da apatia (que é quando a agressividade volta-se silenciosamente contra o
próprio sujeito), a agressividade é uma potência transformadora, é vontade de viver ainda
que (ou por causa disso mesmo) correndo riscos. Tão característica da adolescência, a
agressividade visa, internamente, à separação do corpo infantil em direção ao corpo adulto
(o que só acontece à custa de muitos conflitos) e, "externamente", à separação na relação
com os pais em direção ao grupo social (grupo, banda, bando, trabalho). A escola e os demais
espaços de socialização são campos por excelência, onde os conflitos inerentes a esse
processo de separação irão se atualizar cotidianamente buscando uma resolução. O educador é figura visada e investida e será convocado a "encarnar" os pais. No entanto, deve
aceitar só parte dessa incumbência sem se transformar efetivamente na polaridade do
confronto. O educador comumente acaba por encarnar a lei proibitiva, funcionando como
autoridade, e o adolescente, por vezes, complementa a situação posicionando-se de maneira
submissa (apatia, desinteresse) ou reagindo de forma agressiva. A tarefa do educador é
tentar implicar o adolescente com suas próprias ações e decisões, algo como dizer a ele:
“Você pode fazer ou querer, desde que arque com as consequências e encontre os recursos
para realizar.” O adolescente pode, com seu corpo, efetivamente, realizar mais do que a
criança, mas em contrapartida terá a responsabilidade de cuidar de si e de assumir as
consequências de seus atos. O poder efetivo do jovem deve ser proporcional à sua implicação
e a lei (em vez de ser encarnada por alguém) deve se transformar em um mediador
simbólico, em parâmetros que regulam a sociedade como forma de conter e limitar a
violência. Aqui estamos no campo da ética e da política.
Essencialmente podemos dizer que família é um território de origem que assegura as
condições para que um sujeito surja, encontre a via de acesso ao mundo e uma maneira
(ainda que sempre provisória) de se representar nele. Ela contém e modula, de maneira singular, afetos primordiais como o amor e a agressividade que estarão na base do desejo de
aprender, de conhecer e de transformar.
75
Oficina 1. Minha história
OBJETIVO: Favorecer o contato do adolescente com sua própria história.
MATERIAL: Fotos da infância dos participantes.
DESCRIÇÃO: Como você está iniciando uma nova temática, comece batendo um papo
sobre família, tema dos próximos encontros. Investigue quem é o caçula, quem é o
mais velho, quem é filho único, quais as vantagens de cada posição, quantos irmãos
cada um tem etc. Esse tipo de conversa ajuda a criar uma cumplicidade no grupo.
Como foi alertado anteriormente (quadro “Dicas para o monitor”), nessa oficina os
jovens trabalharão com material trazido de casa. Pergunte a eles como foi conversar
com os pais sobre a época em que nasceram e quais as descobertas que fizeram.
Peça que todos coloquem suas fotos de quando eram crianças no centro de um círculo, viradas de cabeça para baixo. Um dos participantes deve escolher uma foto e tentar adivinhar quem é aquela criança. A seguir, o dono da foto conta por que a escolheu,
onde estava e o que estava acontecendo naquele momento. Continue o jogo até que
todos tenham participado.
A seguir, você vai trabalhar o início da história de vida de cada participante, que deve
ter sido investigada com familiares, conforme fora solicitado. Para sortear quem vai
falar, coloque uma caneta no centro da roda e gire-a como se fosse uma roleta.
Quando ela parar, o adolescente que estiver na direção da tampa contará uma das
histórias pedidas com antecedência (como os pais se conheceram, o dia do nascimento e a escolha do nome). Aquele que estiver do lado oposto deverá perguntar a seu
colega algo sobre a história contada. Isso feito, outras perguntas podem surgir. Repita
esse procedimento até todos contarem pelo menos uma das histórias.
Ao final, comente os aspectos da conversa que mais lhe chamaram atenção.
COMENTÁRIOS: Retomar a infância de cada um é uma maneira de se apropriar de sua
história, de traçar o fio entre as gerações e de buscar suas raízes e pertinência, elementos fundamentais para o desenvolvimento do adolescente.
Você pode inventar outra regra caso a caneta aponte mais de uma vez para a mesma
pessoa.
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Oficina 2. Mapeando a vida
OBJETIVO: Lembrar e compartilhar momentos da infância com o grupo de modo que se
apropriem de marcos importantes da história pessoal.
MATERIAL: Massinha de modelar, papelão ou papel-cartão preto.
DESCRIÇÃO: O monitor deverá desenhar na lousa o seguinte quadro:
Origem da família (estado ou país)
Casa da infância
Brincadeira de criança
Momento marcante da infância
Peça que os participantes façam, com a massinha de modelar, objetos que representem cada um dos momentos referidos no quadro. É importante entregar um papelão
ou papel-cartão preto que sirva de base para os objetos que serão posteriormente
expostos. Quando todos tiverem terminado, peça que apresentem seus trabalhos e,
com base neles, inicie a discussão.
Questões que podem orientar a discussão:
• Como se sentiram ao se lembrar desses momentos da infância?
• O que foi mais difícil de lembrar e de fazer? Por quê?
• Qual foi o objeto de que você mais gostou? Por quê?
• Houve lembranças comuns no grupo? Quais foram diferentes?
Para finalizar a oficina de um modo lúdico e prazeroso, proponha que os participantes
brinquem de uma das brincadeiras infantis mencionadas.
COMENTÁRIOS: A conscientização de aspectos da história pessoal pode contribuir para o
fortalecimento da identidade do jovem. Procure criar um clima propício para o compartilhamento dessas informações. A tarefa de pensar a infância nem sempre é simples
porque envolve a mobilização de afetos muitas vezes “guardados”. Por isso a atividade
requer algum cuidado. Preste especial atenção aos relatos que envolvam temas difíceis,
de modo a evitar uma eventual hiper-exposição do adolescente.
77
Oficina 3. A família de hoje e a de amanhã
OBJETIVO: A partir de uma reflexão crítica sobre a própria família, analisar as relações
familiares e discutir a família que desejam construir.
MATERIAL: Papel sulfite, lápis e canetinhas.
DESCRIÇÃO: Você pode conversar sobre “códigos”, “manias”, peculiaridades de cada
família, começando por contar algo divertido ou particular da sua própria (por exemplo,
todas as mulheres há três gerações têm Maria em seu nome, em casa todos gostam
de comer macarrão frio e assim por diante). Pertencer a um grupo com códigos
próprios dá ao jovem um sentimento de identidade importante.
Peça para os participantes desenharem em uma folha de sulfite a família que têm e,
numa outra, a família que desejam construir no futuro. Ao lado do desenho de cada
membro da família atual, eles devem acrescentar um adjetivo relacionado a uma
característica importante dessa pessoa. Em seguida, cada um apresenta o que fez.
Depois, abre-se a roda de conversa.
Questões que podem orientar a discussão:
• Existem semelhanças entre a família que você tem e a que quer construir?
• O que há de semelhante e de diferente nos desenhos que surgiram no grupo?
• O que cada um pode planejar para se aproximar da família que deseja construir?
COMENTÁRIOS: Não se esqueça de pedir para que incluam em seus desenhos animais de
estimação e parentes que convivem com eles em seus desenhos, pois na maior parte das
vezes essas pessoas e os bichos também fazem parte da rede afetiva mais próxima.
Sugerimos também que você observe a realização dos desenhos. Para isso, ande pela sala
e converse com os participantes. É importante que os jovens explorem, ao máximo, as qualidades positivas de cada família; essa é uma maneira de os adolescentes valorizarem
seu lugar de origem e pertencimento. Com base nas discussões, os participantes podem
descobrir que as fantasias e desejos sobre seu futuro familiar constituem um referencial
para a construção do seu projeto de vida.
78
Oficina 4. A grande família
OBJETIVO: Promover a discussão sobre os papéis e as relações familiares, permitindo
que os adolescentes se coloquem no lugar do outro (pai, mãe, irmão) e, dessa forma,
reflitam sobre o seu papel dentro da família.
DESCRIÇÃO: Peça que os adolescentes se dividam em grupos de quatro ou cinco (dependendo do número de participantes) para encenar uma pequena história familiar. A
história pode ser, por exemplo, uma conversa com os pais, uma briga entre irmãos, a
apresentação do(a) namorado(a) à família ou qualquer outra. Dê aproximadamente 30
minutos para a discussão e o ensaio. Em seguida, peça para cada grupo apresentar sua
história, alertando que todos devem prestem atenção, pois a “platéia” irá participar.
Ao final da primeira apresentação, o monitor deverá eleger um trecho importante da
história que contenha algum impasse ou conflito e pedir para alguém da “platéia” entrar
no lugar de um personagem com o intuito de modificar aquela situação. Por exemplo, se
na cena aparecer um pai agressivo, o novo participante poderá assumir uma postura
compreensiva, autoritária, evasiva, ou qualquer outra. Provavelmente, a nova atitude de
um dos personagens vai requerer que os demais se reposicionem. Repita a dinâmica da
trocas de atores nas demais apresentações. Depois, abra para discussão.
Sugestões de temas para discussão:
• Como você se sentiu fazendo o teatro?
• Quais as questões centrais que surgiram?
• Algo se repetiu nas apresentações?
• O que mudou com a entrada de outros personagens? O conflito presente na cena se
atenuou ou se agravou? Por quê?
COMENTÁRIOS: Observar os grupos na preparação da peça o ajudará a melhor conduzir a
atividade. Muitas vezes, durante as apresentações os jovens ficam excessivamente agitados. Portanto, cabe a você conter eventuais excessos.
Ainda que a cena escolhida se baseie na vida real, a representação favorece um distanciamento do adolescente que não é obrigado a expor conflitos de sua vida pessoal. É
muito importante que você chame a atenção para a complementação de papéis nas
relações sociais, mostrando que uma atitude diferente de uma pessoa pode gerar novos
comportamentos e arranjos em todo o grupo, isto é, se eles agem de uma maneira positiva podem receber uma resposta no mesmo tom. Isso deve ajudá-los a pensar em suas
próprias atitudes. Perceber similaridades entre as famílias e analisar os papéis existentes ajudam o adolescente a colocar-se no lugar do outro e a melhor compreender seu
papel na dinâmica familiar.
79
Oficina 5. Debate
OBJETIVO: Discutir e refletir sobre alguns papéis habitualmente estabelecidos na relação
pai-mãe-adolescente.
MATERIAL: Fotocópia do texto do debate para cada grupo.
DESCRIÇÃO: Os adolescentes devem se subdividir em dois grupos para debater a situa-
ção familiar descrita abaixo. Depois de ler a cena, um grupo ficará encarregado de
defender o pai e o outro de criticá-lo. Cada grupo deve discutir e levantar argumentos
que justifiquem sua opinião, mesmo que alguns não concordem com ela.
Situação-problema
O pai chega do trabalho muito cansado e entrega o dinheiro para a mulher comprar a
“mistura” para o dia seguinte. Senta-se no sofá para ver um pouco de televisão e nesse
momento sua filha de 15 anos pergunta se pode ir a uma festa com seus amigos. O pai
pergunta: quem vai? Onde é a festa? A que horas você vai voltar? A filha diz que irão
todos os seus amigos da escola, inclusive a Claudinha, sua melhor amiga. Fala que a
festa será uma grande balada que vai varar a madrugada. O pai balança a cabeça e fala
para a filha ver essa história com a mãe porque ele trabalhou o dia inteiro e não quer
mais problemas.
Quando você achar que o debate sobre o comportamento do pai se esgotou, levante
algumas questões para que os participantes reflitam sobre os outros personagens,
por exemplo:
• Na sua opinião, por que a filha foi conversar primeiro com o pai?
• Como você acha que a mãe costuma agir em relação ao marido e à filha?
• O que cada um teria que ceder para entrar em um acordo quanto à saída da filha?
• Como vocês acham que essa história terminou?
• E vocês, o que fariam no lugar da menina, do pai e da mãe?
• Nem sempre os adultos concordam entre si quanto à educação dos filhos. Nesses
casos, o que você acha que devem fazer?
COMENTÁRIOS: Dentre os temas em jogo nesta cena, a independência é uma das
questões centrais na vida dos adolescentes. No entanto, maior autonomia implica deveres
e responsabilidade por suas ações, como o cuidado com a própria vida. Esse aspecto deve
aparecer nas discussões. Procure instigar o grupo a pensar em todos os personagens
envolvidos, sem tomar partido de nenhum. Essa é uma maneira de refletir sobre as
relações familiares de maneira mais distanciada e racional. Ajude os jovens a pensar nas
concessões que todos fazemos diante de eventuais conflitos.
Você pode finalizar a oficina tocando a música “Pais e filhos” do grupo Legião Urbana.
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Oficina 6. O que a minha família espera de mim?
OBJETIVO: Refletir sobre as expectativas pessoais e as da família em relação ao proje-
to de vida de cada um.
DESCRIÇÃO: Peça que os participantes preencham o quadro abaixo individualmente.
Quando todos terminarem, solicite que cada um conte suas respostas ao grupo.
Ao final, faça comentários sobre semelhanças e diferenças que surgiram no grupo ou
sobre questões que chamaram sua atenção.
O que a sua família espera
para o seu futuro?
Você concorda ou não?
Por quê?
O que você deseja/
pensa a respeito disso?
Namoro
Trabalho
Estudo
COMENTÁRIOS: As divergências de opinião entre pais e filhos são freqüentes nessa fase.
Portanto, é importante que o adolescente aprenda a ouvir, a pensar e a argumentar,
defendendo suas idéias, ainda que tenha que acatar determinadas decisões dos pais à sua
revelia. Ajude-os a refletir sobre o peso que as expectativas parentais têm em suas
decisões, interferindo nas escolhas que possam fazer durante a vida.
81
para se aprofundar...
Livros
Sites
ALBERGARIA, Lino de. Álbum de família.
São Paulo: SM, 2005.
Adoção
www.portoalegre.rs.gov.br/funcrianca
COOPER, David. A morte da família.
São Paulo: Martins Fontes, 1980.
Associação de Pais e Mães Separados
http://www.apase.org.br
CORNEAU, Guy. Pai ausente, filho carente.
São Paulo: Brasiliense, 1991.
Denúncia - Violência Doméstica
http://diganaoaerotizacaoinfantil.wordpress.com/2
008/05/15/servico-violencia-domestica-contracrianca-e-adolescente
DIAS, Vera. Coisas de mãe.
Belo Horizonte: Lê, 1995.
FORJAZ, Sônia Salerno. Papai não é perfeito.
São Paulo: FTD, 1999.
Denúncia – Violência
www.campanhadenuncieviolencia.blogspot.com/2
007/05/disque-denuncia-contatos
GAARDER, Jostein. A garota das laranjas.
São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
Portal da Família
http://www.portaldafamilia.org/artigos/artigo188
JAFFÉ, Laura; SAINT-MARC, Laure. Convivendo
com a família. (Guia da Criança Cidadã – Unicef).
São Paulo: Ática, 2005.
PSF – Saúde da Família
http://www.portal.saude.gov.br/saude/area
LAING, Ronald David. A política da família.
São Paulo, Martins Fontes, 1983.
Filmes
MATHELIN, Catherine; COSTA-PRADES,
Bernadette. Como sobreviver em família.
Rio de Janeiro: Rocco Jovens Leitores, 2002.
ROUDINESCO, Elisabeth. A família em desordem.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
SARTI, Cynthia. A família como espelho um estudo sobre a moral dos pobres.
2a edição, São Paulo: Cortez, 2003.
SARTI, Cynthia. A. A família como ordem moral.
Cadernos de Pesquisa n. 91.
São Paulo: Cortez, p. 46-53, 1994.
82
Central do Brasil
Walter Salles, 1998.
Kolya – Uma Lição de Amor
Jan Sverák, 1996.
O Fabuloso Destino de Amélie Poulain
Jean-Pierre Jeunet, 2001.
O Quarto do Filho
Nanni Moretti, 2001.
Ponte para Terabítia
Gabor Csupo, 2007.
s
a
g
o
dr
introdução
uso das drogas é tema de preocupação constante para pais, educadores, profissionais da saúde e autoridades. Os aspectos associados a seu consumo assumiram as dimensões de uma questão de Estado, envolvendo áreas diversas como
a Saúde, a Educação, a Assistência Social e a Segurança Pública. Não se discutem apenas os danos físicos e psíquicos causados pelas drogas, mas também os crimes
envolvidos no tráfico de entorpecentes.
O
Abordar essa questão com os jovens requer muito cuidado. É preciso primeiramente
diferenciar o adolescente usuário ocasional do toxicômano já dependente. As razões e
conseqüências de cada modo de usar drogas são distintas e, por essa razão, ao tratar
todos os usuários da mesma maneira, corre-se o risco de não se comunicar efetivamente com ninguém.
São muitas as razões que podem levar o adolescente a experimentar uma droga, a
continuar a usá-la e a se tornar um viciado. A maior parte deles, aliás, não se torna
dependente. Segundo especialistas, a personalidade do usuário, bem como circunstâncias psíquicas e sociais, são mais determinantes para alguém começar a fazer um uso
pesado de drogas (isto é, usá-las diariamente ou mais de uma vez por dia) do que os
princípios ativos da droga propriamente dita. É por essa razão que os adolescentes são
mais suscetíveis aos perigos que a droga oferece.
Adolescer é questionar-se, descobrir-se, viver tudo mais intensamente: a paixão, o
ódio, as inseguranças, os medos de rejeição, a autocrítica, os vazios existenciais; tudo
aumenta. Comumente dizemos que a adolescência é uma fase de crise. E, para aplacar
ou suportar essas intensas “dores do viver”, são muitas as maneiras que o adolescente
encontra: uns comem em excesso, outros se recusam a comer. Há aqueles que
namoram ou saem na “balada” de maneira compulsiva. Alguns vão à academia diariamente e ficam horas e horas malhando. Outros, preocupados com a aprovação de seus
pares, aderem sem pensar a comportamentos do grupo. Nesse mesmo sentido, para
uma parcela dos adolescentes as drogas assumem um caráter de salvação, tornandose o antídoto ilusório contra o sofrimento, permitindo a busca do prazer imediato.
As pessoas viciam-se em uma ou outra droga por razões e caminhos singulares e, por
essa razão, não se pode falar no “toxicômano” de maneira geral. Mas seja
qual for o motivo que leva o adolescente a viciar-se, a droga ocupará na
vida dele uma função apaziguadora das angústias, preenchendo um
sentimento de vazio e promovendo a sensação de onipotência tão
característica dessa fase da vida. A busca desesperada pela
repetição do estado de satisfação que a droga propicia
leva o sujeito a querer sempre mais. Daí o altíssimo
risco de dependência física e psicológica que a
droga aporta.
84
Diante desse assunto tão delicado e difícil, como abordar o tema das drogas com os jovens
sem lançar mão de uma postura moralista ou repressora? As oficinas propostas neste
módulo são informativas e reflexivas, partindo do princípio de que o entendimento do uso e
abuso das drogas, assim como de seus efeitos prejudiciais à saúde e à vida, pode ajudar o
adolescente a fazer uma escolha mais consciente.
Antes de iniciar as oficinas, é fundamental que você estude o material informativo em anexo.
Bom trabalho!
objetivos do módulo:
• Promover maior conhecimento sobre as drogas lícitas e ilícitas e sobre seus efeitos
físicos e psicológicos.
• Favorecer a reflexão sobre o que leva um indivíduo a recusar, a usar ou a abusar da
droga e sobre as funções que esta pode ocupar na vida de uma pessoa.
• Discutir a relação entre as drogas e a sociedade, de modo que o jovem possa perceber
a complexidade das relações socioeconômicas das quais as drogas fazem parte.
85
com a palavra...
Drogas – o que são? O que fazer?
Lídia Chaib
s drogas, ou substâncias psicotrópicas, agem no cérebro
humano estimulando, diminuindo ou perturbando o
seu funcionamento; são capazes de alterar
os estados mentais e o comportamento das
pessoas. Elas existem no nosso planeta em
quantidade e variedade cada vez maiores.
A
Na maior parte das vezes, a pessoa que
experimenta alguma droga pára sozinha de
usar, ou recorre a ela muito ocasionalmente. O
problema se coloca quando a pessoa cria uma
dependência em relação ao uso de determinada
substância, seja com drogas lícitas (como o álcool ou o
tabaco), ou com drogas ilícitas (maconha, cocaína, crack etc.). Essa dependência se
estabelece quando o usuário começa a gastar grande parte do tempo para conseguir
drogas, para usá-las ou se recobrar dos efeitos do consumo; quando passa a usar
em maior quantidade ou com mais freqüência do que pretendia; quando precisa de
maior quantidade para sentir os mesmos efeitos (tolerância); ao se expor a riscos
físicos sob o efeito da droga (como dirigir, pilotar moto, usar máquinas, nadar etc.);
ou no momento em que passa a ter problemas pessoais com a família, amigos, na
escola, no trabalho, com a polícia, com traficantes, além de ficar com a saúde debilitada em decorrência do uso indevido e excessivo de determinadas substâncias.
Um esforço de prevenção eficaz deve priorizar o combate a esse tipo de uso, à
dependência, e não necessariamente à substância em si. A prevenção pressupõe um
trabalho que atue sobre questões que motivam a busca da droga.
No documento “Manifestação do CONEN-SP para o I Fórum da Secretaria Nacional
Antidrogas”, que serviu de base a este texto, o Conselho Estadual de Entorpecentes –
CONEN-SP recomenda oferecer atividades prazerosas, significativas, criativas e
educativas, inseridas no conteúdo da matéria escolar, abordando aspectos de uma vida
saudável, sem necessariamente se referir de maneira direta às drogas.
LÍDIA CHAIB é licenciada em Física, escritora e produtora cultural. Adaptou o livro Que droga é essa?, de Aidan Macfarlane,
Editora 34. Escreveu Ogum, o rei de muitas faces e outras histórias dos orixás, Cia. das Letras, e As melhores histórias de todos
os tempos, Publifolha.
86
O trabalho de prevenção com o adolescente precisa ser feito em conjunto com a
família, a escola e a comunidade. Só desse modo será possível concretizar ações,
amparadas e estimuladas pelo poder público, que tenham como resultado final uma
sociedade mais sadia.
À família cabe acolher a inquietação própria dos adolescentes, sem abrir mão de estabelecer limites claros e não arbitrários (que não resultem dos caprichos de alguém).
Muitos pais precisam de orientação e ajuda de profissionais especializados para estabelecer essa relação com os filhos.
A escola, por sua vez, deve garantir que os alunos recebam informações corretas e
não preconceituosas, além de oferecer múltiplas atividades artísticas e esportivas
para a participação dos alunos. A instituição de ensino pode também transformar as
reuniões de pais e mestres numa atividade produtiva e de troca real de informações,
oferecendo aos responsáveis pelo adolescente assistência e cobertura.
Finalmente, a comunidade precisa abrir oportunidades para o jovem exercitar sua
necessidade de se confrontar com autoridades e regras. Isso pode ser feito por meio
de programas sociais amplos e de trabalhos que busquem soluções para problemas
reais da coletividade, permitindo o exercício da cidadania e incitando o jovem a
extravasar de maneira adequada e produtiva sua rebeldia e espírito crítico.
A experiência de especialistas de diversas áreas tem mostrado que um programa de
prevenção eficiente com adolescentes teria de:
1. levar em conta a dimensão emocional, oferecendo ao jovem opções culturalmente
válidas, que permitissem canalizar o turbilhão de emoções que habitam o adolescente, para se contrapor à intensidade das emoções que a droga propicia. Nesse
arsenal incluem-se, por exemplo, as atividades esportivas, diversas modalidades
de expressão artística e cultural;
2. levar em conta a preocupação social e a necessidade que o jovem tem de pertencer a
um grupo social, abrindo a possibilidade de participação ativa em questões que
envolvem a comunidade da qual a escola faz parte;
3. oferecer informações verdadeiras e não preconceituosas sobre drogas, para que o
adolescente possa fazer escolhas mais conscientes;
4. respeitar a inteligência do jovem, não usando mensagens alarmistas e deformadas
(não tratar, por exemplo, todas as drogas da mesma maneira, como se oferecessem
os mesmos riscos, não confundir o uso eventual de uma substância psicoativa com o
uso habitual e contínuo);
5. não fazer afirmações inadequadas sobre as sensações que a droga produz, para não
correr o risco de se desmoralizar diante de adolescentes que possuem informações
diretas que podem contradizer as suas;
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6. abrir um espaço para orientação dos pais de alunos, para que esses não se sintam tão
despreparados e desamparados para lidar com os desafios da adolescência. Esse trabalho deve ser desenvolvido por equipes especialmente preparadas para levar em
conta as múltiplas dimensões da questão (biológicas, psicológicas, sociais).
O que seria necessário evitar, pois não tem se revelado eficaz nos trabalhos de prevenção às drogas com adolescentes:
1. reduzir a discussão sobre drogas a um curso de química avançada. Por mais respeito que
o adolescente tenha pelo saber científico, ele já tem a consciência clara de que a opção
pelo uso de substâncias psicoativas passa pelo conhecimento de seus efeitos, mas está
longe de se reduzir a isso: é acima de tudo uma questão emocional, não racional;
2. reduzir a discussão sobre drogas a um curso de moral e religião, definindo o bem e o
mal como se fossem absolutos. Uma das mais importantes características da adolescência é a busca de um quadro de referências próprio, baseado nos valores recebidos dos pais e professores, mas que não se confunde com esses. Nesse contexto,
lançar mão de argumentos morais (na maioria das vezes preconceituosos) implica
perder o interesse e a atenção do interlocutor adolescente.
3. patrocinar atividades pontuais e isoladas, como uma palestra proferida por especialista externo ao cotidiano da instituição ou depoimentos de estrelas do universo pop
que se apresentam como ex-viciados reabilitados. Esses eventos são contraproducentes, na medida em que servem para aplacar a ansiedade da própria escola que,
com isso acredita ter feito a sua parte e se exime de qualquer projeto mais comprometido e consistente.
4. palestras com especialistas podem eventualmente ajudar se fizerem parte de um programa de prevenção mais amplo, que inclui atividades a longo prazo. Os depoimentos
de ex-drogados arrependidos, principalmente se famosos, correm o risco de confirmar
a onipotência adolescente, fazendo-os acreditar que, como o depoente, serão capazes
de largar a droga.
Na medida em que as escolas e outras instituições que trabalham com jovens forem
atrativas, estimulantes e respeitosas com
os adolescentes, mais eles terão
confiança e condições de
escutar aquilo que elas
transmitem.
88
Oficina 1. Conversando sobre as drogas
OBJETIVO: Introduzir o tema das drogas identificando as dúvidas dos adolescentes e
abrindo a possibilidade de diálogo sobre o assunto.
MATERIAL: Tiras de papel e canetas.
DESCRIÇÃO: Inicie a oficina perguntando ao grupo: O que são drogas? Quais drogas o
grupo conhece?
Em seguida, distribua uma tira de papel e uma caneta para cada participante e peça
que escrevam suas dúvidas em forma de perguntas sobre o tema das drogas. As perguntas devem ser anônimas, por isso é melhor você utilizar canetas de mesma cor
para que os participantes não sejam identificados. Reúna todas as perguntas em uma
caixa e peça para alguém sortear uma pergunta e fazê-la para o coletivo. Estimule o
grupo a respondê-la e, se necessário, complete as respostas. Repita esse procedimento até que todas as perguntas tenham sido respondidas.
COMENTÁRIOS: Procure criar um clima descontraído e de confiança, isento de preconceitos
e julgamentos. Tenha sempre em mente que essa é uma introdução ao tema das drogas
e, portanto, não é preciso dar conta de todos os aspectos nesse encontro. Esteja atento às
histórias e aos depoimentos que surgirem e também aos pedidos de ajuda que podem
aparecer. Como esse é um assunto acerca do qual muitos adolescentes carecem de informações suficientes, a sua participação é fundamental para esclarecer as dúvidas do grupo.
Por essa razão, prepare-se antecipadamente, lendo as informações abaixo e o Livro do
adolescente, que decerto poderá ajudá-lo a compreender melhor a questão.
Afinal, o que são as drogas?
São substâncias químicas, naturais ou sintéticas, que provocam alterações físicas e
psíquicas naqueles que as consomem podendo levar à dependência física e psicológica. O fato de uma droga ser natural não significa que ela seja benéfica ou menos
prejudicial à saúde.
As drogas podem ser divididas em lícitas (legais) e ilícitas (ilegais). No Brasil, são consideradas drogas lícitas o álcool, o cigarro e os medicamentos. Alguns produtos químicos (como solventes e sprays) e medicamentos controlados não são ilegais, mas, se
usados para fins indevidos, isto é, para um uso diferente daquele ao qual se destinam,
também são consideradas drogas e o usuário pode ser penalizado por lei.
89
Oficina 2. Uso e abuso/ Drogas lícitas e ilícitas
OBJETIVO: Aprofundar o conhecimento dos jovens sobre drogas lícitas e ilícitas.
MATERIAL: Cartolina; tiras de papel; canetas e cópias do material gráfico anexo (que
deve ser recortado antecipadamente).
DESCRIÇÃO: Inicie a atividade retomando a discussão da última oficina sobre o que são
drogas, recuperando as principais descobertas do grupo.
Feito isso, peça aos participantes que se dividam em equipes de quatro ou cinco integrantes e distribua uma cartolina para cada uma. Solicite que cada grupo divida a cartolina em três partes e em cada uma delas escreva:
• Drogas Lícitas
• Drogas Ilícitas
• Não Drogas
Em seguida, distribua um jogo de tiras a cada grupo e peça para classificarem todos
os nomes correspondentes às imagens (chocolate; vinho; acetona; cigarro; cocaína;
tinta; remédio; ecstasy; gasolina; cerveja; café e chá) nas três categorias do cartaz.
Quando terminarem, solicite que cada grupo apresente a sua proposta. Nessa apresentação, levante as semelhanças e diferenças nas respostas de cada grupo e abra a
discussão.
PONTOS PARA DISCUSSÃO:
• Quais são as drogas lícitas, ilícitas e não drogas?
Resposta: Drogas ilícitas: cocaína, ecstasy.
Drogas lícitas: cigarro, cerveja, vinho, medicamentos.
Não drogas: chocolate, café, chá, tinta, acetona (se usada para o devido fim), gasolina
(se usada para o devido fim).
• Houve algum item/produto mais difícil de classificar? Qual? Por quê?
• Dessa lista, o que não é considerado droga pode ser consumido em grandes quantidades, pois não faz mal?
Resposta: Não. Muitos dos itens considerados não drogas podem fazer mal à saúde se
consumidos em grandes quantidades. O chocolate em excesso, por exemplo, pode
aumentar os riscos de doenças cardiovasculares e de outros males provocados pela
obesidade. O café, por sua vez, contém substâncias estimulantes que acarretam insônia e agitação.
90
• A seu ver, qual a diferença entre usar e abusar de alguma coisa?
Resposta: O uso designa uma ação social moderada de consumo de um determinado
produto ou substância. O abuso refere-se ao uso excessivo e fisicamente prejudicial
de determinadas substâncias que, a curto ou a longo prazo, dependendo da substância, da dose usada e do número de doses, irá não só determinar alterações patológicas como também induzir à dependência química.
• Quais são os sinais que podem alertá-lo quanto ao uso do abuso de alguma coisa?
Resposta: Necessidade diária de ingerir o produto; sentir falta dele em situações sociais
ligadas ao prazer; propensão a consumir o produto em quantidades cada vez maiores;
achar que o produto é a coisa mais importante da sua vida; o fato de os outros repararem
que você está se excedendo com freqüência; ter antecedentes familiares de vício; pedir
com freqüência dinheiro emprestado ou roubar para poder comprar o produto.
Ao final, se ainda houver tempo você pode perguntar se o grupo conhece pessoas que
são viciadas em drogas lícitas ou ilícitas e quais são as conseqüências disso na vida
dessas pessoas. Pode ser um bom momento para compartilhar histórias, experiências
e aprofundar a conversa sobre esse tema.
COMENTÁRIOS: É importante que você leia antecipadamente as informações contidas no
Livro do adolescente. Tenha sempre em mente que todo o tipo de substância em excesso
faz mal à saúde. Além disso, apesar de o tabaco e o álcool serem drogas legalizadas eles
oferecem muitos riscos. Sabe-se que atualmente, no Brasil, os adolescentes se viciam
mais nas drogas consideradas lícitas do que nas drogas ilícitas. Por serem substâncias
aceitas e comumente consumidas socialmente é muito comum os adolescentes recorrerem à bebida ou ao cigarro.
É importante também que os jovens compreendam que o uso de drogas ilícitas vai além
dos problemas de saúde que elas podem acarretar. Tanto o acesso quanto o uso de drogas
são atividades criminosas que envolvem uma série de questões éticas, sociais e políticas
que merecem ser discutidas. Essa pode ser uma oportunidade.
91
Oficina 3. Saúde no ar!
OBJETIVO: Informar os adolescentes sobre os efeitos fisiológicos e psicológicos acarretados pelo uso de drogas lícitas e ilícitas.
MATERIAL: Informações sobre cada droga (maconha, cocaína, inalantes, anfetaminas,
LSD, álcool e tabaco) contidas no Livro do adolescente, Módulo Drogas.
DESCRIÇÃO: Explique aos jovens que na oficina de hoje eles vão fazer um programa de
televisão chamado “Saúde no ar” e que o tema do programa vai ser as drogas e seus
efeitos. Divida os participantes em quatro grupos e sorteie duas drogas dentre a lista
em anexo (maconha, cocaína, inalantes, anfetaminas, LSD, álcool e tabaco, ecstasy);
cuide para não haver repetição de temas para cada grupo. Distribua o material informativo, e recomende que façam a leitura com bastante atenção, para em seguida
prepararem uma apresentação que simulará um programa de TV. O formato do programa é livre, assim como o número de participantes: pode ser uma entrevista, uma
reportagem, um debate ou um telejornal acerca das informações sobre as drogas
sorteadas. Durante o ensaio, circule pela sala e, se necessário, forneça orientações
aos grupos.
Terminada a preparação, improvise um microfone e disponha as cadeiras em círculo.
Cada grupo apresentará seu programa. Ao final de todas as apresentações, abra um
debate, aproveitando a ocasião para discutir os seguintes pontos:
• O que vocês acharam de fazer o programa?
• O que foi mais fácil ou mais difícil?
• Por que vocês escolheram esse formato apresentado?
• Quais foram os aspectos que chamaram mais atenção de vocês em cada apresentação?
• O que aprenderam de novo sobre essas drogas?
COMENTÁRIOS: Essa é uma maneira lúdica de discutir um assunto sério e de aprofundar
os conhecimentos sobre cada droga. Observe como os participantes abordam a questão:
há preconceito na abordagem escolhida? Banalizam algum tema? Transmitem informações
corretas? Tudo o que você observar é material para a discussão coletiva.
92
Oficina 4. Dramatização
OBJETIVO: Refletir sobre comportamentos e atitudes que estão associadas ao uso de
drogas, sobre os motivos que levam os adolescentes a usá-las ou rejeitá-las. Buscar
compreender a complexidade da questão e os diversos fatores que estão em jogo.
DESCRIÇÃO: Inicie essa atividade contando que eles farão uma dramatização na qual podem
e devem levantar questões e colocar seus pontos de vistas e vivências sobre o tema.
Em seguida, divida os participantes em três grupos e leia as instruções abaixo para
cada um deles. Dê cerca de 20 minutos para que preparem suas dramatizações.
Grupo 1
Crie uma cena cujo personagem central seja um adolescente viciado em drogas.
Explore alguns pontos de sua história e de sua vida: como ele começou a usar, como
o problema se desenvolveu, com que freqüência ele usa, como está a relação dele com
a família e com as drogas.
Grupo 2
Crie uma cena que tenha como foco um adolescente que, pela primeira vez, esteja
experimentando alguma droga. Explore alguns pontos de sua história: em qual
momento da sua vida isso acontece, o que leva a querer usar a droga, onde a consegue, como essa experiência se dá.
Grupo 3
Crie uma cena cujo tema central seja um adolescente que, diante de uma situação de
oferta, se recusa a usar drogas. Explore alguns pontos de sua história: os motivos que
o levaram a dizer não e a reação do grupo de amigos diante dessa recusa.
Depois que todos tiverem apresentado suas cenas, abra para uma conversa coletiva.
Pontos para discussão:
• Quais razões podem levar alguém a usar e/ou abusar das drogas?
• Qual a função que a droga pode assumir na vida dessas pessoas?
• Quais são as conseqüências do uso abusivo de droga na vida de uma pessoa?
• Quais são os fatores que podem ajudar o adolescente a recusar drogas?
COMENTÁRIOS: Como o tema é carregado de preconceitos em relação aos usuários de dro-
gas, é preciso evitar posturas moralizantes. O objetivo do trabalho é fazê-los compreender
a relação de um usuário com a droga, seja ele um iniciante ou um dependente. Para compreender, é preciso analisar todos os elementos das situações apresentadas, de modo que
suas opiniões sejam críticas, baseadas em fatos, experiências ou informações corretas
sobre o assunto.
93
Oficina 5. Drogas e sociedade
OBJETIVO: Aprofundar e ampliar os temas que estão ligados à questão das drogas.
Perceber a relação entre as drogas e a sociedade.
MATERIAL: Leitura das seguintes seções do Livro do adolescente: “As drogas e a lei”;
“Álcool, uma cervejinha aqui, outra ali...”; “Redução de danos, um assunto polêmico” e
“Papo cabeça”. (Se você não tiver um exemplar do livro para cada adolescente, faça
uma cópia dos textos para cada um.)
DESCRIÇÃO: Inicie perguntando quais questões políticas e sociais estão ligadas ao tema
da droga, como, por exemplo, o tráfico de drogas, drogas lícitas e ilícitas e políticas de
saúde pública para usuários. Faça um pequeno aquecimento do tema.
Em seguida, peça que os participantes se dividam em três grupos. Para cada um deles
entregue um dos seguintes textos contidos no Livro do adolescente: “As drogas e a lei”;
“Álcool, uma cervejinha aqui, outra ali...”; “Redução de danos, um assunto polêmico” e
“Papo cabeça”. Peça que os grupos leiam o seu texto e façam uma discussão: o que
acharam do texto? Já haviam recebido essas informações? Acrescentariam algo? Em
que o texto faz pensar?
Feito isso, peça que eles imaginem um jeito criativo de apresentar o tema discutido
para o grupo todo. Pode ser em forma de uma música, uma aula, uma palestra, uma
entrevista etc. O importante é poder passar as informações e a discussão de uma
maneira lúdica e envolvente.
Ao final, procure fazer uma conversa com todos os participantes da oficina. Pontos
para discussão:
• Você aprendeu algo novo nessas apresentações? O quê?
• Do que mais gostou de saber?
• Do que menos gostou?
• Existe algo com que você não concorda sobre esse tema? Poderia acrescentar alguma nova idéia à discussão?
COMENTÁRIOS: Fazer uma pesquisa anterior sobre os temas que serão discutidos e até
trazer outros textos que alimentem a discussão dos grupos, pode ser muito interessante
e o deixará mais preparado para conduzir essa oficina.
94
Oficina 6. Jogo
OBJETIVO: Verificar o que os integrantes aprenderam durante as oficinas e ajudar que
eles se apropriem delas.
DESCRIÇÃO: Divida os participantes em dois grupos e solicite que respondam algumas
perguntas relacionadas ao tema das drogas. Em cada rodada de perguntas um participante representará a sua equipe. Ele deverá ouvir a pergunta feita pelo monitor, discutir com o seu grupo (em 30 segundos) e em seguida responder.
Quando a equipe não souber a resposta, não ganha ponto e a equipe adversária tem o
direito de resposta.
A cada acerto, um ponto. A equipe que conseguir responder mais perguntas ganha a
gincana e um prêmio (a ser escolhido pelo monitor).
PERGUNTAS PARA O JOGO:
1. O que são drogas?
Resposta: São substâncias químicas, naturais ou sintéticas, que provocam alterações
físicas e psíquicas naqueles que as consomem, podendo levar à dependência física e
psicológica.
2. O que caracteriza um dependente?
Resposta: “Aquele que faz uso pesado de drogas e que necessita cada vez mais quantidades para os mesmos efeitos; que gasta seu tempo para conseguir, usar e se recobrar dos efeitos; que vive para a droga, rompe os vínculos sociais, caindo na
marginalidade e decadência física.” (retirado de Que droga é essa?, de Aidan
Macfarlane, pág.18)
3. Cite três drogas lícitas
Resposta: No Brasil, são consideradas drogas lícitas o álcool, o cigarro e os medicamentos. Alguns produtos químicos (como solventes e sprays) e medicamentos controlados não são ilegais, mas, se usados para fins indevidos, isto é, para um uso diferente
daquele ao qual se destinam, também são considerados drogas e o usuário pode ser
penalizado por lei.
4. O que acontece com alguém que é pego com alguma droga ilícita?
Resposta: Depende. No caso brasileiro, a lei 6.368/76 trata, entre outras questões, do
tráfico e do uso indevido de drogas. Se a pessoa for pega com uma pequena quantidade e assumir que é usuária, ela pode ser enquadrada no artigo 16 dessa lei; a pena
é mais leve, com reclusão de 6 meses a 2 anos, que pode ser substituída por prestação
de serviços à comunidade, acompanhada de tratamento obrigatório. Mas, se o indiví-
95
duo estiver com uma grande quantidade ou não assumir que é usuário, seu caso
passa a se enquadrar no artigo 12. A pessoa pode, então, ser condenada como traficante (pena de 3 a 15 anos, além da multa), mesmo que não tenha antecedentes e leve
uma vida normal, trabalhe, estude etc. No caso de menores de idade, a pena máxima
de reclusão é de três anos, como estabelece o Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA). Lembre-se: tráfico de drogas é crime hediondo e não tem fiança.
5. Cite exemplos de danos orgânicos associados ao uso abusivo do álcool.
Resposta: O uso exagerado causa tontura, falta de coordenação motora, confusão, fala
“arrastada”, desorientação, náuseas e vômito.
6. Qual é a relação do uso de drogas com o crime?
Resposta: A relação das drogas com o crime é extensa e profunda. A produção, a venda
e o uso de drogas são considerados crimes. Por serem proibidas, as drogas são contrabandeadas, entram no país através do tráfico. Exatamente por ser uma atividade
ilegal, não há controle em nenhuma das etapas de produção ou de comercialização.
Por exemplo, a droga pode estar misturada a substâncias perigosas ou mesmo mortais:
alguns traficantes chegam a misturar estricnina à cocaína. Em geral, as organizações
do tráfico também estão envolvidas com outros crimes graves, tais como seqüestros,
roubos e assassinatos, contrabando de armas, exploração de menores, formação de
quadrilha etc. Além disso, é comum encontrar, entre os dependentes, casos de envolvimento com roubo para conseguir a droga desejada.
7. Existe tratamento para dependentes? Quais?
Resposta: Sim, existem muitos tratamentos para dependentes de todos os tipos de drogas na maioria das cidades do Brasil. Um deles é, por exemplo, a política de redução
de danos que busca minimizar o efeito negativo do uso de drogas. Existem também
muitos hospitais, grupos e clínicas que oferecem tratamentos, tais como: Alcoólicos
Anônimos, PROAD, Narcóticos Anônimos, entre outros.
8. Há países nos quais as drogas são legalizadas?
Resposta: Países como a Holanda e a Inglaterra têm algumas drogas liberadas. Na
Holanda o consumo da maconha é permitido (cada cliente pode comprar até 5 gramas
de maconha nos cafés), mas não se pode fumá-la em qualquer lugar. O consumo de
outras drogas é ilegal. Vários países como Portugal, Alemanha, Bélgica, Espanha e
Finlândia descriminalizaram o uso, isto é, a lei não impõe condenação para quem é só
usuário. Entretanto, as leis contra traficantes se tornaram mais rígidas.
Em algumas regiões existem políticas específicas de uso de drogas para fins medicinais, como o Canadá e oito estados norte-americanos. Na Califórnia, por exemplo,
para atender à demanda do uso terapêutico, há uma produção legalizada, que obedece
a rígido controle governamental. Existem drogas cujo uso é considerado normal e
96
integrante da cultura de determinado país. Por exemplo, no Peru e na Bolívia, a folha
de coca é consumida livremente, embora a cocaína seja proibida. Esses países são os
únicos nos quais a exportação de folhas de coca é uma atividade legal.
9. Cite dois tipos de drogas estimulantes, depressoras e perturbadoras.
Depressoras
(calmantes)
Diminuem a atividade cerebral,
deixando os estímulos nervosos
mais lentos.
Álcool, ópio e seus derivados
(morfina, heroína), tranqüilizantes,
solventes e aerossóis (como
benzina, éter, tinner, acetona,
removedor etc.)
Estimulantes
Aumentam a atividade cerebral e
aceleram os estímulos nervosos.
Anfetaminas (bolinhas, speedy),
cocaína e derivados (crack),
cafeína (estimulante suave)
Perturbadoras
Fazem o cérebro funcionar fora de
seu estado habitual. Não alteram a
velocidade dos estímulos cerebrais,
mas causam perturbações na mente
de quem usa.
Maconha, haxixe, mescalina,
cogumelos, LSD, voláteis, ecstasy
10. As seguintes afirmações são verdadeiras ou falsas?
• O fumante passivo é aquele que fuma em pouca quantidade (F)
• A Política de Redução de Danos diz que “Não sendo sempre possível interromper o uso
de drogas, que ao menos se tente minimizar o dano ao usuário e à sociedade”. (V)
• O efeito de uma droga é sempre o mesmo para qualquer pessoa (F)
• É mais perigoso misturar álcool com outras drogas do que tomá-lo sozinho. (V)
• O uso de álcool e outras drogas durante a gravidez causa sérios danos ao feto. (V)
• Os dependentes de drogas têm maior chance de sofrer fracasso escolar e perda de memória e de se colocar em perigo. (V)
• A pessoa mais obesa sente menos o efeito do álcool. (V)
97
para se aprofundar...
Livros
Drogas tô fora: http://www.spiner.com.br/modules.
php?name=drogastofora
ARATANGY, Lidia Rosenberg. Doces venenos:
conversas e desconversas sobre drogas.
São Paulo: Olho d'água, 1991.
Grupo Interdisciplinar de Estudos do Álcool e
Drogas (GREA): http://www.grea.org.br
BOUER, Jairo. Álcool, cigarro e drogas.
São Paulo: Panda, 2004.
CAVALCANTE, Antônio Mourão. Drogas: esse barato sai caro. São Paulo: Rosa dos Tempos, 1999.
GUIMARÃES, Eloísa. Escola, galera e narcotráfico.
Rio de Janeiro: UFRJ, 1998.
HERMANN, Kai; RIECK, Horst. Eu, Christiane F.,
13 anos, drogada, prostituída. São Paulo:
Bertrand, 1982.
LARANJEIRA, Ronaldo; PINSKY, Ilana.
O alcoolismo. São Paulo: Contexto, 1998.
Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (PROAD): http://www.unifesp.br/dpsiq/proad
Redução de danos, saúde e cidadania:
http://www.reduc.org
Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD):
0800-61-4321 www.senad.gov.br
Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (UNIAD):
http://www.uniad.org.br
Filmes
LEITE, Marcos da Costa; ANDRADE, Arthur.
Guerra de cocaína e crack: dos fundamentos ao
tratamento. Porto Alegre: Artmed, 1999.
Cidade de Deus
Fernando Meirelles, 2002.
MACFARLANE, Aidan. Que droga é essa? Adaptação de Lídia Chaib. São Paulo: Editora 34, 2003.
Cidade dos Homens
Paulo Morelli, 2007.
MASUR, Jandira; CARLINI, Elisaldo. Drogas, subsídios para uma discussão. Brasiliense, 1993.
Diário de Um Adolescente
Scott Kalvert, 1995.
PINKY, Ilana; BESSA, Marcos. Adolescência e as
drogas. São Paulo: Contexto, 2005.
Meu Nome Não É Johnny
Mauro Lima, 2008.
TIBA, Içami. A maconha e o jovem: família, escola
e sociedade. São Paulo: Agora, 1989.
Notícias de Uma Guerra Particular
Kátia Lund e João Moreira Salles, 2007.
WUSTHOF, Roberto. O que é prevenção de drogas.
São Paulo: Brasiliense, 1991. Col. Primeiros Passos.
O Barato de Grace
Nigel Cole, 2001.
Sites
98
Narcóticos Anônimos: http://www.na.org.br
Traffic
Steven Soderbergh, 2000.
Alcoólicos Anônimos:
http://www.alcoolicosanonimos.org.br
Trainspotting – Sem Limites
Danny Boyle,1996.
Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas
(CEBRID): http://www.cebrid.epm.br
Tropa de Elite
José Padilha, 2007.
Anexo
99
e
o
ã
s
s
i
f
o
pr
o
h
l
a
trab
101
introdução
ara os jovens, a inserção na esfera do trabalho em geral representa um passo
firme em direção ao mundo adulto. Ainda que muitos deles façam “bicos”, ajudem no trabalho doméstico ou familiar desde cedo, um emprego remunerado,
com ou sem registro formal, representa uma grande mudança na vida dos adolescentes. Em geral, o emprego traz novas responsabilidades e direitos, proporciona
aprendizagens e relacionamentos diferentes e oferece certa independência financeira, o que lhes possibilita inserção no mercado de consumo. Ao participar da rede
produtiva, o jovem pode delinear com um pouco mais de nitidez seu papel social, suas
perspectivas de futuro.
P
Muitas vezes, esses primeiros trabalhos não correspondem de fato a uma escolha
profissional. Nesse momento, é fundamental discutir com os jovens as diferenças
entre trabalho e profissão. Um trabalho pode levar a uma profissão? Formar-se em
algo implica conseguir trabalho? Como uma carreira pode ser construída?
Não raro, priorizando sua independência financeira imediata, o jovem fecha portas de
seu futuro. Entretanto, trabalhar não é apenas ter renda. Todo trabalho representa uma
ação criativa no mundo, implica transformação da realidade. Trabalhar é colocar em
prática habilidades e desejos, confrontar-se com limites e frustrações. A escolha da
formação profissional é especialmente difícil porque o jovem se vê às voltas com seu
projeto de vida, o que traz angústias.
As dúvidas com relação às escolhas profissionais acentuam-se por volta dos últimos
anos do ensino médio, quando o jovem realmente precisa tomar uma posição em face
de seu futuro – a escola, a família, o grupo social cobram decisões. Frágil e inseguro,
ele necessita da ajuda dos adultos para definir seus rumos. Daqui para frente, a escolha da formação implica um grande investimento, no qual recursos materiais, pessoais
e familiares estão em jogo.
Muitas variáveis estão envolvidas nessa escolha: as demandas de mercado (oferta de
postos de trabalho e nível dos salários, por exemplo); aptidões e características pessoais; questões familiares (se os pais possuem algum negócio ou trabalham em alguma área de interesse do jovem); local e tipo de formação desejada (curso técnico,
universitário etc.); custos financeiros da formação profissional e o reconhecimento
social que eventualmente se pode obter. Enfim, a tarefa não é simples.
O leque de ofertas de formação é um ponto central que deve ser abordado ao longo
deste módulo. Em um mercado altamente especializado, as opções são cada vez
mais diversas. O jovem precisa ter acesso a informações acerca das possibilidades de formação e de atuação profissional para que possa fazer
escolhas possíveis e que lhe tragam satisfação.
102
Este módulo pode ser de grande ajuda para auxiliar seu grupo a refletir sobre essas
questões.
Boa sorte!
objetivos do módulo:
• Prover informações ao jovem sobre o mundo das profissões e do trabalho e suas
diversas dimensões, tais como: tipos de formações profissionais existentes, lugares
onde buscá-las, primeiro emprego, currículo, entre outras.
• Refletir sobre o trabalho como um projeto de vida fundamental e ajudar o jovem a
descobrir quais são suas habilidades e sonhos para que ele faça as melhores
escolhas possíveis.
• Refletir criticamente sobre a relação entre o trabalho e a sociedade.
• Incentivar o jovem a tomar atitudes que busquem realizar o seu sonho.
103
com a palavra...
Trabalho e trabalhar: uma parte simples e,
ao mesmo tempo, complexa da vida
Marcelo Afonso Ribeiro
arece simples falar de trabalho. Afinal, todo mundo tem uma idéia mais ou
menos clara do assunto. Mas a abordagem fica mais complexa quando se pretende discutir todos os matizes do tema, ou seja, a escolha da carreira, o
binômio emprego-desemprego, a formação educacional, o projeto de vida no trabalho
e a própria relação da identidade do indivíduo com sua atuação profissional.
P
O trabalho é algo que convive conosco desde a infância. “O que você vai ser quando
crescer?”, perguntam pais, tios, avós. Esse interesse, que a partir de uma certa fase
começa a soar como uma espécie de cobrança, nos faz lembrar constantemente do que
o trabalho representa: um fazer inerente ao mundo adulto, uma ação sobre a realidade,
que se vale de diversos instrumentos – técnicas, estratégias, conhecimentos específicos
– e que, em especial a partir do momento em que me dedico a ele, irá definir quem eu
sou. Isso porque, ao trabalhar, eu me desenvolvo enquanto pessoa, assumo um lugar
no mundo e sou reconhecido socialmente. Trabalhar é, portanto, uma ação de autotransformação e autodesenvolvimento, de atuação social e de interação com o coletivo.
É a sociedade que organiza o mercado de trabalho: suas opções, suas formas, os caminhos para o ingresso em cada uma das várias carreiras existentes, a legitimação e
regulamentação das profissões, bem como as modalidades de preparo profissional.
Assim, quando eu digo que eu sou professor, qualquer pessoa pode saber o que eu faço
(dar aulas, ter alunos, avaliar), onde executo meu trabalho (instituições educacionais),
qual é minha remuneração média (valor social da profissão) e também imaginar os
motivos que me levaram a ter essa atividade e não outra (identidade profissional). Mas
será que a resposta é assim tão simples e não há algo a mais nessa história?
Com o desenvolvimento do capitalismo, o trabalho remunerado praticamente tornouse sinônimo de emprego. O trabalhador recebia um salário fixo, numa jornada de trabalho predefinida, pelo desempenho de uma função em um cargo. Esse cargo, ou posto
de trabalho, definia-se conforme determinadas características do indivíduo, a saber,
sua força de trabalho ou sua qualificação, que em geral está associada à experiência
acumulada ou a uma formação específica – na educação fundamental, profissionalizante, média, técnica, tecnológica ou superior.
MARCELO AFONSO RIBEIRO é psicólogo, docente do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.
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Esse modelo, desenhado pela Revolução Industrial dos séculos XVIII - XIX, perdurou por
quase todo o século XX. No entanto, de uns 30 anos para cá, ele tem sofrido transformações significativas. Graças à chamada “flexibilização do mundo do trabalho”, reduziram-se bastante o peso e a importância do emprego – até então a forma mais comum e
hegemônica de inserção no mercado produtivo – e novos modelos começaram a ganhar
espaço, tais como: a terceirização, o trabalho temporário, o teletrabalho (você recebe
tarefas e as executa onde bem desejar), a consultoria e a informalidade.
Além das mudanças nas relações profissionais, houve também um agravamento do
quadro de desemprego, pela mecanização de diversas etapas do processo produtivo,
por exemplo, o que levou à dispensa de funcionários, mas tentou assegurar a competitividade do país diante da concorrência internacional, cada vez mais acirrada.
Equilibrar essa balança, oferecendo oportunidades para que os trabalhadores possam
se aprimorar constantemente e acompanhar os avanços, é um desafio importante.
É fundamental perceber que um desempenho satisfatório no mercado de trabalho é
algo mais que ter um bom emprego em uma empresa ou instituição conceituada,
alcançado graças a uma sólida formação educacional: esse é um caminho possível,
mas não a única opção. Devemos analisar as inúmeras possibilidades e, também, as
diversas restrições, que todos enfrentam ao planejar seu futuro profissional e ao tentar conseguir um lugar nesse mercado cada vez mais competitivo.
Em última análise, é a sociedade que institui valores sobre o que é bom ou ruim – por
exemplo, o que seria um bom trabalho, o que seria desejável para ter um bom
emprego, qual a melhor forma de inserção no mercado, o que é uma formação adequada, o que é uma carreira de sucesso –, que se tornam metas genéricas a serem
alcançadas.
Também é importante ressaltar que a relação entre a pessoa e o mercado de trabalho
é múltipla e complexa. Uma de suas dimensões é a flexibilização do mercado, que, por
um lado, abre novas oportunidades profissionais, e por outro traz o risco da precarização das relações de trabalho (por exemplo, nos casos em que os trabalhadores não
dispõem de garantias ou têm seus direitos desrespeitados).
Tentemos responder algumas perguntas: quem é mais competente: um médico ou
um carpinteiro? Quem tem mais sucesso: um executivo de uma grande empresa ou um
camelô que tem apenas uma banquinha no centro da cidade? Quem é mais feliz: um professor de uma escola pública, um empresário, um bombeiro ou uma dona de casa?
Se respondermos sem pensar muito, todas essas questões parecem fáceis ou óbvias.
No entanto, há muitos fatores envolvidos nessas situações, principalmente pelo simples
fato de que existem pessoas por trás delas, que constroem sua relação com o trabalho
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(projetos e trajetórias de vida no trabalho). Tudo isso confere grande complexidade a
essas respostas aparentemente fáceis, pois não convém fazer generalizações.
O que é um projeto? É um estado que se almeja atingir, uma identidade que se pretende
construir e um conjunto de ações para chegar a um dado fim. Todo projeto emerge do
projeto de vida de cada um e toda escolha leva em conta um projeto preexistente.
Assim, o projeto de vida requer uma estratégia no tempo ou uma ação que envolva a participação da pessoa na construção do seu futuro. Isso implica: compromisso e vontade
de tomar para si o futuro; autoconhecimento; conhecimento dos seus processos de
escolha e do mundo do trabalho; antecipação de dificuldades e obstáculos; operacionalização de estratégias para realizar projetos; existência de um projeto de vida global, do
qual o trabalho é uma parte; consciência de que nenhum projeto é definitivo.
O que uma pessoa busca com seu trabalho tem relação direta com o que ela busca para
sua vida. É por isso que não existem receitas prontas ou caminhos adequados. Qualquer
análise da trajetória ou do projeto de vida no trabalho deve levar em conta o que a pessoa busca para sua vida (aspirações individuais), sem nunca perder de vista o que ela
pode realizar (condições objetivas) e o que existe para ela (possibilidades concretas).
Ter clareza de que qualquer projeto de vida no trabalho se constitui de muitas variáveis
não é fácil, pois de certo modo obriga a desconstruir falsos ideais, evitar frustrações
desnecessárias, e a analisar o contexto de forma mais objetiva, a fim de visualizar as
possibilidades e restrições que serão enfrentadas por toda a vida no trabalho.
Em síntese, ainda que o trabalho pareça algo simples de definir, ele adquire dimensões
mais complexas ao se constatar a existência de uma pessoa que trabalha em dado
contexto social, o que impõe restrições e gera oportunidades que devem ser levadas
em conta em toda análise do trabalho, da trajetória ou do projeto de vida no trabalho.
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Oficina 1. Viagem ao futuro!
OBJETIVOS: Discutir o projeto de vida de cada um e os caminhos possíveis para que ele
se torne uma realidade.
MATERIAL: Folha em formato de hexágono; lápis de cera; canetinhas; lápis de cor;
aparelho de som e música para o relaxamento.
DESCRIÇÃO: Em clima suave e tranqüilo, com uma música de fundo, peça que todos os
participantes fechem os olhos. Dirija um relaxamento lentamente, propondo uma
viagem ao futuro. Pense de antemão como você vai dirigir essa viagem (eles entrarão
em um túnel? Passarão por uma porta? Viajarão pelos céus em uma espaçonave?),
pois cabe a você orientar o pensamento dos adolescentes. Faça algumas perguntas
que possam ajudá-los a se imaginar daqui a dez anos, por exemplo:
• Agora que você avançou dez anos na sua vida, como você está se vendo?
• Está trabalhando? Em quê?
• Está estudando? Qual curso?
• Está casado? Tem filhos? Quantos?
• Tem uma casa própria? E um carro?
• Como é a sua vida social? Como você se diverte?
• E a sua família de origem, com que freqüência os encontra?
• Quais são as suas prioridades nesse momento? O que é o mais importante para você
e o que não é tão importante assim?
Em seguida, peça que abram os olhos lentamente e entregue a cada participante uma
folha de papel em branco, no formato de um hexágono, e material de escrita. Peça que
escrevam na folha o futuro imaginado. No centro da figura geométrica, devem escrever o que consideram o mais importante; os demais aspectos de suas vidas podem ser
distribuídos nas bordas ou como preferirem.
Depois que terminarem, peça que cada um coloque o seu hexágono no centro da roda,
de modo que, unidos, eles formem uma figura como se fosse uma colméia. Proponha
que cada um apresente seu desenho e depois, abra para discussão.
Questões para discussão:
• Quais são os aspectos que mais apareceram no centro do hexágono? E nas bordas? O
que mais se repetiu no grupo?
• Quais os passos necessários para realizar esses desejos?
• Pensando no presente, o que vocês já estão fazendo para atingir seus objetivos?
• Existe algo que não estão fazendo ainda, mas que poderiam começar a fazer?
• O caminho que vocês estão escolhendo é parecido com o das pessoas da família?
Por quê?
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Exemplo:
Profissão
Faculdade de
Educação Física
Família:
Casada com dois filhos
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Carro
Viagem
Casa Própria
Oficina 2. Relação escola/ qualidade de vida/ trabalho
OBJETIVO: Discutir a função da escola no projeto de vida de cada um, especialmente no
que diz respeito à escolha profissional.
MATERIAL: Cartolina e canetas hidrográficas.
DESCRIÇÃO: Inicie o trabalho promovendo uma discussão sobre qual é a função da
escola, da universidade (e de outros tipos de formação), o que é trabalho e qualidade
de vida.
Em seguida, divida os participantes em três grupos. Peça para cada grupo refletir e
escrever em uma cartolina suas principais idéias sobre um dos seguintes temas:
quais são as relações existentes entre escola e formação profissional (universidade ou
outros cursos); quais as relações existentes entre escola e trabalho; e quais as
relações existentes entre escola e qualidade de vida. É importante que todos os temas
sejam discutidos. Por isso, certifique-se de cada grupo fique com um deles.
Peça para cada grupo apresentar suas reflexões aos demais. Ao final de cada apresentação, realize um debate sobre os pontos levantados pelos grupos.
QUESTÕES PARA DISCUSSÃO:
• Quais são os limites e as potencialidades da escola na preparação do jovem para o
mercado de trabalho, para cursos de nível superior e para a vida?
• Qual é o papel do aluno e o do professor na tarefa de tornar a escola um espaço mais
interessante para a vida dos seus alunos?
COMENTÁRIOS: Esta oficina foi pensada com o intuito de resgatar a função da escola na vida
do aluno, isto é, de problematizar os deveres da escola e do aluno diante da formação de
um aluno crítico e cidadão. É muito importante que você discuta com os jovens as várias
funções da escola para além da entrada no mercado de trabalho, como por exemplo, a formação ética e cidadã, o desenvolvimento emocional e intelectual, o fortalecimento de
idéias, opiniões e valores, o relacionamento social. Os textos introdutórios podem servir de
apoio para a discussão.
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Oficina 3. Minhas habilidades (atividade das cartas)
OBJETIVO: Reconhecer as próprias habilidades e dificuldades por meio das atividades
que mais gostam de fazer ou daquelas que gostariam de realizar.
MATERIAL: Folha de sulfite; lápis preto; canetinhas e lápis de cor.
DESCRIÇÃO: Entregue uma folha de sulfite aos participantes e peça que escrevam, de um
lado, suas habilidades e, do outro, suas dificuldades, levando em conta todos os aspectos
da vida: escola, família, esporte e lazer, amigos, características pessoais etc. Exemplo:
Habilidades
Dificuldades
Fazer amigos
Falar em público
Desenhar
Matemática
Dar conselhos
Escrever
A seguir, entregue três cartas em branco (folhas de sulfite cortadas do mesmo tamanho de cartas de baralho) a cada um dos participantes. Peça que olhem suas listas e
escolham duas habilidades e uma dificuldade que consideram significativas, reescrevendo-as, uma em cada carta.
Assim que todos terminarem, forme um círculo e peça para cada um apresentar suas três
cartas e justificar o motivo de sua escolha. Durante a apresentação, é fundamental que
haja um amplo diálogo entre os participantes de modo que as diferentes percepções interajam. Alguns exemplos:
• Se alguém disser que sua maior dificuldade é fazer amigos, você pode perguntar aos
outros jovens quais dicas eles poderiam dar para ajudar o colega a conquistar novas
amizades.
• Se alguém falar que sua maior habilidade é fazer contas de matemática, pergunte
quais dicas ele daria para aqueles que têm dificuldade em cálculos.
• Se alguém mencionar uma habilidade ou dificuldade que é percebida pelos demais (como
a timidez, por exemplo), os participantes podem expressar a sua opinião sobre esse
aspecto do colega.
Ao final, a partir do que os jovens apresentaram, questione de que maneira essas habilidades e dificuldades podem interferir na escolha da profissão.
COMENTÁRIOS: Nas discussões, procure ajudar os jovens a fazer possíveis ligações entre
suas habilidades/dificuldades e a escolha profissional. Pode ser também interessante
levá-los a perceber que, dependendo do contexto, uma determinada característica pode
ser vista como algo positivo ou negativo. Por exemplo, ser detalhista é bom para algumas
atividades e ruim para outras.
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Oficina 4. Escolhas profissionais. Como posso concretizá-las?
OBJETIVO: Discutir as escolhas profissionais e as possibilidades de concretização.
MATERIAL: Folhas de sulfite e canetas.
DESCRIÇÃO: Inicie a atividade discutindo com o grupo quais são os vários aspectos que
influenciam na escolha profissional de um jovem.
Em seguida, peça a todos que pensem livremente nas numerosas possibilidades de
projetos relacionados a trabalho e/ou estudo que eles imaginam para si depois da conclusão do ensino médio. Nesse primeiro momento, todas as idéias que vierem à tona
devem ser escritas nas folhas de papel. Lembre a eles que existem várias possibilidades de estudo de nível superior como universidades, cursos técnicos, educação a
distância, entre outros. Importante: no Livro do adolescente existe uma descrição de
cada um deles; se for o caso, leia essa página anteriormente com o grupo.
Feito isso, peça que eles escolham, dentre todas as possibilidades que escreveram,
aquelas que combinam melhor com seus desejos pessoais, suas habilidades, e com
as possibilidades concretas de que dispõem, grifando-as.
Divida os participantes em duplas e solicite que conversem sobre os projetos profissionais escolhidos e o que eles levaram em conta nessa escolha.
Ao final, abra a discussão geral, levantando os seguintes pontos para o debate:
• Como é para você fazer uma escolha profissional?
• Quais aspectos tiveram maior peso na escolha do projeto que você acredita que possa
ser concretizado?
• O que sua família acha de sua escolha?
• Quantas pessoas do grupo pensam em fazer cursos superiores e quantas não pensam? Por quê?
COMENTÁRIOS: Tenha em mente que, dentre os aspectos que podem influenciar na escolha
profissional de um jovem, incluem-se a profissão dos pais e dos familiares, as expectativas
da família, os sonhos pessoais de infância, as habilidades de cada um e o retorno financeiro
da atividade profissional escolhida, a curto e a longo prazo. Na discussão em torno do tema
“universidade”, considere o fato de que a opção pela formação universitária não deve ser
vista como a única escolha positiva do jovem após ele concluir o ensino médio. Existem
outras possibilidades de formação ou de inserção no mundo profissional: curso técnico,
cursos de curta duração, ingresso no mundo do trabalho sem curso prévio, dar prosseguimento ao empreendimento familiar etc. O Livro do adolescente aborda amplamente esse
tema, você pode fazer uma leitura coletiva ao final da oficina.
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Oficina 5. Pensando nas profissões (Jogo das profissões)
OBJETIVO: ampliar o conhecimento acerca das profissões existentes, assim como
ensaiar escolhas profissionais possíveis.
MATERIAL: Folha de sulfite; lápis preto; canetinhas e lápis de cor.
DESCRIÇÃO: Peça que todos escrevam numa folha de sulfite as profissões que conhe-
cem, tanto as de que gostam quanto as que não apreciam. Depois, peça que escrevam,
em uma outra folha, cinco profissões com que mais se identificam, assinalando os
pontos positivos e negativos de cada uma.
Assim que todos terminarem, forme um círculo e peça para apresentarem suas
reflexões.
Questões para discussão:
• Quais as profissões que mais apareceram no grupo?
• Quais habilidades são necessárias nas cinco profissões escolhidas?
• Você conhece alguém que trabalha em alguma das profissões escolhidas?
• Vocês já pensaram na profissão em que pretendem trabalhar?
Ao final da discussão, cada um deve escolher uma profissão para conhecê-la melhor.
Isso será trabalhado no próximo encontro.
COMENTÁRIOS: Muitas são as maneiras de escolher uma profissão, mas certamente, infor-
mar-se é fundamental. Peça que os participantes se informem mais sobre a profissão que
escolheram trazendo dados que serão trabalhados no próximo encontro, conversando
com profissionais, lendo revistas ou manuais, consultando a internet. Leia a descrição
desta oficina para melhor orientar a pesquisa dos adolescentes. Entretanto, para assegurar o bom andamento da próxima oficina, é importante que você também leve material
informativo sobre as profissões que serão trabalhadas.
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Oficina 6. Profissões no ar (Telejornal)
OBJETIVO: Aprofundar o conhecimento em torno de uma profissão especifica com a
qual o jovem se identifica.
MATERIAL: Folha de sulfite e lápis preto.
DESCRIÇÃO: Na oficina anterior, os participantes escolheram algumas profissões e
ficaram de trazer informações a respeito delas. É importante que você também levante
esse material que, no mínimo, complementará o trabalho de cada jovem. Além da
internet, os guias de estudantes disponíveis em escolas ou nas bancas podem ser
fontes de pesquisa.
Sugestões de Informações a serem levantadas:
• O que faz esse profissional?
• Qual é o campo de trabalho?
• Quais são as habilidades exigidas nessa área?
• Como a carreira pode se desenvolver?
• Qual é a formação necessária?
• Como é o curso (quantos anos de estudo, matérias principais)?
• Onde se pode estudar (escolas públicas ou privadas, cidades ou bairros onde os cursos são ministrados)?
• Como está o mercado de trabalho nessa área?
Peça para cada um ler o material que você trouxe sobre a profissão escolhida e dê
aproximadamente 20 minutos para os participantes organizarem o conteúdo que será
apresentado ao grupo. Informe que eles farão um “telejornal” durante o qual cada um
dos jovens será entrevistado pelos outros integrantes do grupo. A seguir, organize as
“entrevistas” até que todos passem pela posição de entrevistado.
Sugestões de perguntas que o grupo poderá fazer ao entrevistado:
• Há quanto tempo está formado?
• Onde trabalha?
• Como conseguiu esse trabalho?
• Como é o seu trabalho?
• Você gosta do seu trabalho?
• Qual a duração da faculdade?
• Como conseguiu entrar na área?
• Fez alguma especialização? Qual?
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Comentários: Você também pode participar diretamente da atividade. Poderá, por exemplo, fazer o papel de apresentador, introduzindo cada novo entrevistado, dizendo: “Estamos
aqui no programa ‘Profissões no ar’ com o nosso entrevistado Fulano de Tal que vai falar
sobre sua profissão de...”. Se necessário, acrescente perguntas que considere importantes, dinamizando a atividade.
Além disso, você pode trazer informações sobre alguma profissão inusitada, provavelmente desconhecida do grupo, que ache interessante que os jovens conheçam melhor.
Esse é um momento de aprofundar conhecimentos, portanto, a sua ajuda é fundamental.
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Oficina 7. Primeira Entrevista
OBJETIVO: Discutir sobre a primeira entrevista e oferecer informações úteis para
processos de seleção.
MATERIAL: Fotocópia das duas situações relatadas abaixo.
DESCRIÇÃO: Forme dois subgrupos e, para cada um, entregue uma história de um
jovem que procura o seu primeiro emprego (veja abaixo). Cada grupo ficará responsável por responder as seguintes questões:
• O que o jovem da história deve fazer?
• Onde ele deve procurar trabalho?
• Como ele deve se comportar na primeira entrevista?
Em seguida, peça que os dois subgrupos apresentem suas sugestões. Assim que terminarem, escreva com eles uma lista de dicas sobre como se comportar na primeira
entrevista de trabalho. Isso deve ser feito sempre levando em consideração os exemplos que os próprios adolescentes deram durante a discussão das histórias.
DEPOIMENTO 1
Meu nome é Mariana, tenho 19 anos, sou solteira e residente da cidade de São
Paulo (SP). Curso a Faculdade de Administração e estou à procura do meu
primeiro emprego. Tenho facilidade para lidar com os clientes, conhecimentos
em inglês, espanhol e informática. Quero uma oportunidade, assim como todo
jovem que cursa uma faculdade. Gosto do que estudo e quero começar a trabalhar logo. O que eu faço? Onde procuro trabalho? Como devo me comportar na
primeira entrevista?
DEPOIMENTO 2
Meu nome é João, tenho 17 anos, sou solteiro e moro em Ribeirão Preto (SP).
Estou à procura do meu primeiro emprego para aumentar a renda familiar.
Procuro cargo de atendente e tenho conhecimentos de inglês básico e informática. Atualmente curso o ensino médio (3º ano). O que eu faço? Onde eu procuro
trabalho? Como devo me comportar na primeira entrevista?
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Seguem abaixo algumas dicas sobre os processos de seleção. Elas podem orientar a
discussão.
Sobre apresentação pessoal:
• Cuidar da aparência das roupas (roupa limpa e passada, vestir-se de forma discreta).
• Cuidar da limpeza das unhas.
• Cabelos bem cuidados ou presos de forma a não esconder o rosto.
• Não exagerar no perfume, usar um aroma suave na entrevista.
• Os sapatos devem estar bem limpos.
• Piercings e tatuagens devem ser ocultados em um primeiro momento, é preciso
conhecer a empresa e saber há restrições.
• As pessoas que trabalham com as áreas de criação, design, moda, informática, telemarketing ou esporte podem usar um traje mais despojado. Empregos mais formais como
corretores de seguro, recepcionistas e bancários, por exemplo, necessitam de uma apresentação mais formal.
• É importante que você saiba como as pessoas se vestem para o tipo de vaga que você
está concorrendo. Lembre-se, porém, de que cada empresa tem um perfil.
No caso das mulheres:
• Apresente-se com as unhas limpas, cortadas, se possível com base ou esmalte, pois
valoriza a aparência. A maquiagem, quando suave, valoriza o rosto, mas não deve ser
extravagante. Não usar roupas decotadas, apertadas, que deixem a barriga exposta
ou vestidos curtos demais. Tome cuidado com o uso de brincos grandes, pois eles
podem atrapalhar nas dinâmicas de grupo.
Da preparação para a entrevista, dinâmicas de seleção em geral:
• Seja você mesmo. Embora seja difícil, procure manter a tranqüilidade, seja sincero e
espontâneo.
• Procure conhecer tudo o que puder sobre a empresa contratante antes da entrevista.
Busque informações na internet, grande parte das empresas hoje já tem seu site. Se
você tiver contato com pessoas que trabalham no local, peça algumas dicas. Pesquise
quantos funcionários a empresa tem, qual é a sua missão (seus objetivos para com a
sociedade), sua história, qual é o produto (ou o tipo de prestação de serviços) que realiza, quantas filiais tem etc. Essas informações podem ajudar nos teste de seleção e
fazer diferença. Você pode utilizá-las em algum momento da seleção, isso demonstra
interesse da sua parte em conhecer a empresa, é perfil de um profissional dedicado.
Da conversa com o entrevistador, selecionador:
• Respirar fundo (inspirar e expirar) para baixar a ansiedade.
• Se for sua primeira entrevista e você se sentir muito nervoso diante do entrevistador,
fale que esta é a sua primeira entrevista, a pessoa que está entrevistando lida com
isso o tempo todo e já passou por isso também.
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• Procure demonstrar interesse pela vaga, força de vontade, desejo de batalhar por ela.
• Ouça o entrevistador e responda a cada pergunta que lhe for feita de forma objetiva.
• Não minta. Não se esqueça de que, quando mentimos, passamos insegurança e por
vezes até gaguejamos. Lembre-se de que normalmente as pessoas que entrevistam
são especialistas em comportamento humano e têm boa percepção.
• Não se esqueça de que o entrevistador tem como maior objetivo descobrir suas qualidades, as habilidades para que sua contratação seja favorável, encontrando a pessoa
certa para o lugar certo.
• Você também pode perguntar se tiver dúvidas sobre a vaga. Isso poderá ajudar na
hora de responder e você poderá valorizar mais o que sabe fazer a partir do que é
esperado para a vaga, ou seja, ressalte os pontos mais importantes.
COMENTÁRIOS: Aproveite todas as experiências dos jovens nessa área, especialmente no
caso daqueles que não conseguiram determinada vaga, ajudando o grupo a fazer uma
avaliação do que pode ter ocorrido. Se possível, apresente casos de outras pessoas em
etapas de seleção.
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Oficina 8. Curriculum Vitae
OBJETIVO: Fazer o próprio Curriculum Vitae.
MATERIAL: Folha de sulfite; caneta preta e folha com as informações e o modelo do
Curriculum Vitae.
DESCRIÇÃO: Abra o Livro do adolescente na seção “E aí, já fez o seu CV?”. Nela você
encontrará as informações necessárias para fazer um currículo. Converse com os
participantes sobre cada item do currículo; assim que esgotarem todas as dúvidas,
entregue a cada um deles uma folha de sulfite e uma caneta e peça que façam o
próprio currículo. Assim que todos terminarem, solicite que o apresentem. Ajude o
grupo a analisar cada currículo, sugerindo possíveis mudanças caso necessário.
Discuta os pontos positivos de cada um que merecem ser ressaltados assim como
eventuais fragilidades, por exemplo: “sou bom em computação, mas me falta inglês”.
Pontos que devem ser lembrados na discussão:
• A importância do histórico escolar para obtenção de um trabalho.
• A participação em trabalhos voluntários como algo possível de ser acrescentado no
currículo.
• A importância de se aperfeiçoar participando de cursos oferecidos na própria escola
ou em outras instituições.
COMENTÁRIOS: Nem todos os jovens sabem da existência de cursos gratuitos ou a baixo
custo (de língua estrangeira, informática, especialmente de cursos preparatórios para
o vestibular) oferecidos por universidades e ONGs em várias cidades do país. Assim,
durante a discussão, alerte-os sobre as disponibilidades oferecidas em termos de formação
e/ou aperfeiçoamento na sua região e instigue-os a se informar sobre as possibilidades
existentes. Essa troca de conhecimentos pode ser muito útil.
118
para se aprofundar...
ALVES, Rubem; DIMENSTEIN, Gilberto. Fomos
maus alunos. Campinas: Papirus, 2003.
MACEDO, Roberto. Seu diploma, sua prancha:
como escolher a profissão e surfar no mercado
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São Paulo: Saraiva, 1999.
AMARAL, Sofia Esteves do. Virando gente grande.
Como orientar os jovens em inicio de carreira.
São Paulo: Gente, 2004.
MELLO, Fernando Achilles.
O desafio da escolha profissional.
Campinas: Papirus, 2002.
ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho:
ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho.
São Paulo: Boitempo, 1999.
MELO-SILVA, Lucy Leal; SANTOS, Manoel Antônio
dos; SIMÕES, Joab Tenysson et al. Arquitetura de
uma ocupação: orientação profissional - Vol. 1.
São Paulo: Vetor, 2003.
Livros
BOCK, Ana Mercês Bahia et al.
A escolha profissional em questão.
São Paulo: Casa do Psicólogo, 1995.
BOHOSLAVSKY, Rodolfo.
Vocacional: teoria, técnica e ideologia.
São Paulo: Cortez, 1983.
DEJOURS, Christophe.
A banalização da injustiça social.
Rio de Janeiro: FGV, 1999.
DIAS, Maria Luiza. Profissão, no rumo da vida.
São Paulo: Ática, 2002.
FERRETTI, Celso João. Uma nova proposta de
orientação profissional. São Paulo: Cortez, 1988.
OLIVEIRA, Marco Antonio. O novo mercado de
trabalho - guia para iniciantes e sobreviventes.
Rio de Janeiro: SENAC, 2000.
POCHMANN, Márcio. A inserção ocupacional e o
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Campinas: IE/UNICAMP, 1998.
POCHMANN, Márcio. O emprego na globalização:
a nova divisão internacional do trabalho e os
caminhos que o Brasil escolheu.
Rio de Janeiro: Boitempo, 2001.
PUBLIFOLHA, “Série Profissões” – Administrador
(2006); Advogado (2005); Engenheiro (2006);
Jornalista (2006); Médico (2005); Publicitário (2005).
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GIACAGLIA, Lia Renata.
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GUIMARÃES, Ivan. Ingressando no mercado de
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SCHEIN, Edgard. Identidade profissional.
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GUIMARÃES, Nádia Araújo; HIRATA, Helena. (Orgs.).
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SCHWARTZ, Gilson. As profissões do futuro.
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LEHMAN, Yvette Piha. Não sei que profissão
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SENNETT, Richard. A corrosão do caráter: as
conseqüências pessoais do trabalho no novo
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profissão: uma abordagem psicossocial.
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Pensando e vivendo a orientação profissional.
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Poderemos viver juntos: iguais e diferentes.
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Agência de Apoio ao Empreendedor e
Pequeno Empresário SEBRAE:
http://www.sebrae.com.br
Centro Paula Souza:
http://www.centropaulasouza.sp.gov.br/Cursos/
ETE/Cursos.html
Cooperativas de Trabalho - Incubadoras – USP:
http://www.itcp.usp.br/
Currículo:
http://www.curriculum.com.br
Empregos e recrutamento:
http://www.catho.com.br
http://www.clickempregos.com
FATEC:
http://www.fatec.br
Guia das profissões do Professor Wagner
Horta (revista):
www.agenciaeducacao.com.br
120
Guia do Estudante:
http://www.guiadoestudante.abril.com.br
Lei do Aprendiz:
http://www.leidoaprendiz.org.br
Ministério do Trabalho e Emprego
http://www. mte.gov.br
Programa Universidade para Todos:
http://www.prouni-inscricao.mec.gov.br
Rota do Trampo – CD Rom, 2001.
http://www.cipo.org.br
SENAI
http://www1.sp.senai.br/senaisp/WebForms/
default.aspx
Teenager
http://www.teenageronline.com.br
Vestibular FATEC
http://www.vestibularfatec.com.br
Filmes
Billy Elliot
Stephen Daldry, 2000.
Domésticas
Fernando Meirelles e Nando Olival, 2001.
Eles Não Usam Black-tie
Leon Hirszman, 1981.
Mutum
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Pão e Rosas
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Sábado
Ugo Giorgetti, 1994.
a
i
n
a
cidad
introdução
palavra cidadania parece ter entrado na moda há alguns anos. Ela está presente
no discurso das escolas, dos governos, das ONGs e nos meios de comunicação.
Fala-se em cidadania para se tratar de assuntos tão diversos quanto o desmatamento, o desvio de verbas públicas, os conflitos entre gangues ou a falta de
saneamento básico. E isso não acontece por acaso: em um momento de mudanças de
valores, de amplo acesso à informação, de grandes disparidades sociais, é natural
que a cidadania seja conclamada como um poderoso antídoto para diversas mazelas
da sociedade contemporânea.
A
Isso ocorre porque cidadania nada mais é do que o cumprimento de deveres e direitos
dos cidadãos. Entende-se que a participação dos cidadãos na sociedade é absolutamente necessária para o fortalecimento das instituições, a consolidação da democracia e do Estado de Direito. Mas para exercer a cidadania, não basta conhecer direitos e
deveres (ainda que seja fundamental!); é preciso reconhecer seu valor de modo a
colocá-los em prática nos atos e gestos mais cotidianos.
No caso dos jovens, o exercício da cidadania implica responsabilizar-se por suas
ações, respeitar o outro e os bens coletivos, fazer-se respeitar, participar da vida
comum, combater arbitrariedades, enfim, construir preceitos éticos para que a
convivência social seja mais justa e solidária. Esse caminho
não é simples nem rápido, pois exige profunda tomada de
consciência de si e da realidade, mudanças de modos de
pensar ou de fazer. Contudo, todos sabemos que as
transformações sociais passam pela educação dos
jovens e crianças com os quais trabalhamos. Pode soar
como um jargão, mas, de fato, só haverá um mundo
melhor se cada um fizer a sua parte. Hoje. Desde já.
Cabe a você fazer a sua.
Mãos à obra!
objetivos do módulo:
• Informar-se sobre o que é cidadania e sobre algumas das questões envolvidas nesse
tema, como, por exemplo, meio ambiente, participação política, violência.
• Refletir criticamente sobre o papel do cidadão, buscando compreender quais são os
direitos e deveres de cada um na sociedade.
• Estimular uma participação ativa e responsável do jovem na sua comunidade.
122
com a palavra...
Cidadania: como se chega a ser cidadão
Mauricio Érnica
uvimos e lemos a palavra cidadania em vários lugares, mas nem sempre fica
claro o que se quer dizer com ela. Podemos ter uma boa compreensão do que
esse termo significa tendo em mente que ele diz respeito às características pelas
quais as pessoas podem chegar a se tornar cidadãs.
O
Como definir cidadania, afinal?
A palavra cidadania tem origem na palavra latina civitas, que significa cidade. Em sentido mais restrito, refere-se ao conjunto de direitos e deveres daquele que habita a
cidade, o cidadão. A cidadania, portanto, é caracterizada por um conjunto de direitos e
deveres definidos a partir do que se costuma chamar de direitos humanos.
Os direitos humanos foram criados no curso da história da sociedade a partir de
lutas políticas e não doados como se fossem presentes ou favores dos poderosos.
Costuma-se classificá-los em três grandes grupos: direitos civis, direitos políticos e
direitos sociais.
Os direitos civis dizem respeito às liberdades individuais: liberdade de ir e vir,
liberdade de imprensa, liberdade de participar de grupos de interesse, liberdade de
pensamento e de fé, liberdade para exercer a vida afetiva, liberdade para ter a vida
privada preservada etc.
Os direitos políticos referem-se à participação nos destinos da sociedade, seja atuando
diretamente nas instâncias de poder, seja escolhendo aqueles que participarão dessas
instâncias. Fundamentalmente, correspondem ao direito de votar e ser votado e ao
direito de participar de organizações políticas como associações, partidos e sindicatos.
Os direitos sociais remetem ao usufruto da riqueza produzida pela sociedade, assegurando aos cidadãos níveis de bem-estar de acordo com os padrões definidos historicamente. São exemplos, o direito ao trabalho, ao salário digno, à saúde, à moradia, à
educação, à alimentação saudável, ao lazer etc.
MAURICIO ÉRNICA. Cientista Social, Mestre em Antropologia Social (Unicamp) e Doutor em Linguística Aplicada e Estudos da
Linguagtem (PUC-SP). Trabalhou como professor no Ensino Médio e no Superior. Participou de projetos de diferentes ONGs nas
áreas de educação e cultura. Desde 1995 é pesquisador do CENPEC (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação
Comunitária) e, desde 2006, é consultor da Fundação Tide Setubal.
123
A cidadania no Brasil
Se observarmos diferentes sociedades, veremos que os direitos humanos assumem
características que variam conforme as peculiaridades da história de cada uma delas.
Na história do Brasil, a afirmação da cidadania seguiu um caminho lento e tortuoso.
Nós só vivemos em regimes democráticos em três momentos: de 1934 a 1937; de 1945
a 1964 e após 1985. Entre nós, os direitos sociais foram expandidos por governos
autoritários e populistas, sem que os direitos civis e políticos estivessem assegurados.
Por isso, a tradição de afirmação de direitos é frágil no país e não é comum
reconhecermos nem a nós nem aos outros como pessoas portadoras de direitos. O
mais comum é considerarmos que os direitos são favores concedidos pela vontade
de quem ocupa um lugar de poder. Essa tradição valoriza o líder paternalista com
personalidade forte e disposto a distribuir benefícios aos seus protegidos. Ela
enfraquece a participação na vida púbica e as políticas impessoais, voltadas a todos.
Somos uma sociedade profundamente desigual, com muitas pessoas vivendo em
situação de pobreza e vulnerabilidade, pressionadas por necessidades urgentes, como
moradia, educação, saúde, trabalho etc. Essas urgências não satisfeitas são um
terreno fértil para a reprodução de práticas clientelistas e assistencialistas.
Clientelismo é a prática pela qual um poderoso concede benefícios a um grupo de
pessoas mantidas em situação de dependência (clientela) e que, por receberem esses
favores, tornam-se devedoras de lealdade política. Assistencialismo é a prática que
busca atender pontualmente, caso a caso, necessidades urgentes de pessoas ou
grupos sociais sem que busque a implementação de iniciativas que solucionem essas
questões de modo amplo e impessoal.
Pode-se ver, então, que somos uma sociedade marcada por práticas que não nos
fazem cidadãos. Em vez de afirmarmos nossos direitos, é muito comum que nossas
necessidades sejam atendidas pontualmente na forma de favores. Favores geram
dívidas. Dívidas devem ser pagas, sob o risco de punição. Um modo corrente de
pagar dívidas desse gênero é com a lealdade política e com a reprodução desses
esquemas de poder. Assim, o clientelismo e o assistencialismo se perpetuam e
restringem a afirmação da cidadania por geraram pessoas dependentes dos
poderosos e não cidadãos livres, autônomos e com seus direitos assegurados.
A cidadania como dever
A cidadania pode ser definida pelos direitos e deveres que garantem aos cidadãos
124
liberdade individual, participação política e bem-estar social. O fato de os direitos
serem afirmados nas leis é um passo importante para eles serem realizados
concretamente, na vida cotidiana. Mas, para isso, é preciso consolidar instâncias de
participação social e políticas públicas que universalizem direitos para todos, sem
exceções ou privilégios.
Direitos não geram dívidas, como os favores. Geram algo bem diferente: os deveres do
cidadão. E o dever central de todo e cada um dos cidadãos é zelar pela garantia dos
direitos de todos, dos seus e os dos outros.
Referências bibliográficas:
MARSHALL, T. H.. Cidadania e classe social. In: ____ . Cidadania, classe social e status.
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967.
BOBBIO, N.. A era dos direitos.
Rio de Janeiro: Campus, 1992.
CARVALHO, J. M. de. Cidadania no Brasil: o longo caminho.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.
COMPARATO, F. K.. A afirmação histórica dos direitos humanos.
São Paulo: Saraiva, 2001.
125
Oficina 1. Declaração dos Direitos Humanos
OBJETIVO: Discutir alguns artigos da Declaração dos Direitos Humanos da ONU para
que os jovens tomem conhecimento de direitos e deveres universais.
MATERIAL: Fotocópia da folha tarefa; revistas; lápis e canetas coloridas; tesouras;
cartolinas; papéis coloridos e cola.
DESCRIÇÃO: O conceito de cidadania ainda não é algo de que a maior parte dos jovens
tenha se apropriado. Por essa razão, ao iniciar esse módulo, é interessante que você
introduza o tema com um pequeno aquecimento. Você pode escrever na lousa ou em
um papel três palavras correlatas – cidade, cidadão e cidadania – e pedir aos jovens
que atribuam significados a cada uma delas. Anote todas as idéias dos participantes,
ajude-os a fazer relações entre as palavras e ao final, procure esboçar uma definição
do grupo de cidadania. Você pode ainda compará-la à acepção do dicionário ou de
algum outro livro sobre o tema. Diga que ao longo das oficinas desse módulo, essa
definição será enriquecida por meio de diversas atividades e vocês poderão comparar
as idéias iniciais com as que estão por vir.
A seguir, pergunte aos jovens o que eles sabem sobre a Declaração dos Direitos
Humanos ou sobre a Organização das Nações Unidas – ONU. Leia as informações do
quadro abaixo se necessário.
Depois disso, divida os participantes em duplas ou trios. Entregue a cada pequeno
grupo uma cópia de um dos artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. A
equipe deve elaborar um cartaz que remeta ao seu conteúdo. Procure garantir que
cada um dos grupos entenda o texto que lhe cabe e, se for necessário, explique o significado de palavras que talvez não façam parte do repertório dos jovens.
Quando todos tiverem terminado, peça que cada grupo mostre seu trabalho sem ler o
artigo em questão, para que os demais descubram o conteúdo desse artigo. Dado suas
opiniões, os autores lêem o artigo e o discutem coletivamente.
Propomos algumas questões para aquecer a discussão. As suas contribuições certamente irão enriquecer o debate.
• O que você compreendeu desse artigo?
• Você acha que esses direitos são cumpridos no país? Cite exemplos.
• Se não o são, por que você acha que isso ocorre?
• O que o Estado precisa fazer para garantir plenamente esses direitos?
• O que nós podemos fazer para garantir plenamente esses direitos?
• De que maneira esses artigos interferem na sua vida e na de seus familiares?
126
• Você sabia que, assim como a Declaração dos Direitos Humanos aprovada pela ONU
defende os direitos das pessoas, está em vigor no Brasil o Estatuto da Criança e do
Adolescente, conhecido como ECA, que visa assegurar os direitos dos indivíduos nessas
etapas da vida? (comentar que alguns de seus artigos estão no Livro do adolescente).
A idéia de proclamação dos direitos do homem nasceu no século XVIII, durante a
Revolução Francesa, mas somente em 1948, depois dos horrores de duas guerras
mundiais, surgiu a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Foi uma das primeiras
ações da Organização das Nações Unidas – ONU, criada em 1945. Esta Declaração
contém 30 artigos que devem ser respeitados por todos os países que a assinaram
(inclusive o Brasil), em benefício de todas as pessoas, sem restrição.
COMENTÁRIOS: Provavelmente os jovens já ouviram falar em direitos humanos na TV, na
escola ou em outros lugares. Contudo, talvez desconheçam que tais documentos (como
também a Constituição e o ECA, por exemplo) balizam a atuação de instituições que visam
garantir os direitos e deveres em nosso país. Uma compreensão equivocada daqueles que
trabalham na defesa dos direitos humanos, em instituições governamentais ou não, tem
feito crer que seu objetivo é “defender bandidos”. Para muitos, talvez seja difícil compreender que presos, bandidos, travestis, homossexuais ou prostitutas também devem ter seus
direitos garantidos, independentemente da opinião que cada um possa ter sobre as atividades e os comportamentos dessas pessoas. Esse tipo de discussão é fundamental, pois
mostra ao jovem que leis são universais e devem ser cumpridas, ainda que não se concorde com elas.
127
Declaração Universal dos Direitos Humanos
Artigo I – Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns
aos outros com espírito de fraternidade.
Artigo V – Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento ou castigo
cruel, desumano ou degradante.
Artigo XVIII – Todo homem tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião. Este direito inclui a liberdade de mudar de religião
ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observação, tanto em público quanto
em particular.
Artigo XIX – Todo homem tem direito à liberdade de opinião e expressão.
Este direito inclui a liberdade de, sem interferências, ter opiniões e de
procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios
e independentemente de fronteiras.
Artigo XXIII – Todo homem tem direito ao trabalho, à livre escolha do
emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego. Todo homem, sem qualquer distinção, tem direito a
igual remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como
à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana e a
que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.
Todo homem tem direito a fundar sindicatos e a sindicalizar-se para a
defesa de seus interesses.
Artigo XXV – Todo homem tem direito a um padrão de vida capaz de
assegurar a si e à sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação,
vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez,
viuvez, velhice e outros casos de perda dos meios de subsistência em
circunstâncias fora de seu controle. A maternidade e a infância têm
direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças nascidas de
matrimônio ou fora dele, têm direito a igual proteção social.
128
Artigo XXVI – Todo homem tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução
elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito. A
instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos do homem
e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão
e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.
Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que
será ministrado aos filhos.
Artigo XXIX – Todo homem tem deveres para com a comunidade, na qual
é possível o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade. No exercício de seus direitos e liberdades, todo homem está sujeito às limitações
estabelecidas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido
reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de
uma sociedade democrática. Esses direitos e liberdades não podem, em
hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos objetivos e princípios
das Nações Unidas.
129
Oficina 2. Por quê?
OBJETIVO: Problematizar questões relativas à convivência, à ecologia e ao uso dos
espaços coletivos de modo que os jovens se sintam implicados e possam contribuir
para o bem comum.
MATERIAL: Papel; caneta; cópias das fotos em anexo (ao final do módulo).
DESCRIÇÃO: Você pode trabalhar com o grupo todo ou dividir os participantes em
equipes. Sente-se em uma posição da qual todos possam ver as fotos que você vai
mostrar. Mostre uma foto por vez, dê um tempo para que observem cada uma com
atenção. À medida que você mostra cada foto, peça para responderem as questões
abaixo por escrito. Esclareça que esse registro escrito tem apenas a função de apoiar
a discussão, ele não será entregue.
• O que/quem causou isso que você vê?
• Por que isso aconteceu?
• O que você sente quando vê essa cena?
• Você já viu algo parecido?
• O que essa situação tem a ver com você?
• Quais são as possíveis soluções para esse problema?
• E você, o que pode fazer?
A seguir, abra a discussão para todo o grupo.
Questões norteadoras:
• O que você tem a ver com essa imagem?
• Você vê essas situações em seu cotidiano? O que você faz? O que poderia fazer?
COMENTÁRIOS: Todas essas situações aparentemente diversas têm em comum o abuso, a
irresponsabilidade e a impunidade. Sabemos hoje que a maior parte dos problemas de
destruição do patrimônio ou da natureza é causada pela falta de apropriação dos bens
coletivos ou por um sentimento de não-pertencimento à comunidade. Além disso, para
muitos, é difícil pensar nas conseqüências de seus atos, como jogar lixo na rua, por exemplo; por essa razão, tirar proveito pessoal imediato das situações aparece como a solução
mais fácil. No caso dos animais, o fato de eles não serem vistos como seres dotados de
direitos – embora tenham vida e sejam semelhantes a nós por sua sensibilidade à dor, ao
sofrimento, à privação – acaba justificando sua exploração.
O impacto das imagens deve gerar uma discussão interessante acerca desses temas. É
importante mostrar que cada um tem a sua parcela de responsabilidade, mesmo que
não esteja diretamente envolvido na situação. A questão principal é discutir as causas e
conseqüências de cada situação, de modo a envolvê-los com esses problemas.
130
Oficina 3. Dilemas éticos
OBJETIVO: Discutir com os jovens dilemas éticos cotidianos de forma a auxiliá-los a
construir valores e princípios sólidos.
DESCRIÇÃO: Inicie perguntando o que o grupo acha que é um “dilema ético”. Para tanto,
é preciso discutir cada uma das palavras para garantir que compreendam seu significado. Observe as definições do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa:
Dilema s.m. (1679 cf. RB) 1 FIL raciocínio que parte de premissas contraditórias e
mutuamente excludentes, mas que paradoxalmente terminam por fundamentar
uma mesma conclusão.
Ética s.f. (sXV cf. FichIVPM) 1 parte da filosofia responsável pela investigação dos
princípios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento
humano, refletindo esp. a respeito da essência das normas, valores, prescrições
e exortações presentes em qualquer realidade social.
A seguir, leia um dos dilemas listados na próxima página (que também se encontram
na seção “Ética e cidadania” do Livro do adolescente) e peça que alguém diga como
agiria em tal situação. Aprofunde a discussão, perguntando: alguém faria outra coisa,
agiria de outra maneira? Dê a palavra à pessoa que disser que sim, de modo a estimular a discussão. Ajude-os a analisar as causas e conseqüências de cada situação.
Prossiga com a leitura e discussão de cada um dos dilemas.
Depois de exploradas as situações propostas, peça aos participantes que, em duplas,
elaborem outros dilemas para exporem ao grupo.
COMENTÁRIOS: Há muitas situações nas quais os jovens têm dúvidas sobre a maneira
correta de se comportar e, outras vezes, mesmo sabendo como seria adequado agir, não
o fazem. Questionar essas razões e mostrar quais os comportamentos sociais esperados é uma maneira de humanizar as relações sociais.
131
Há regras que são regidas pelas leis, mas há comportamentos e atitudes que fazem
parte da ética e da cidadania. Leia os dilemas éticos abaixo e veja como você agiria
nestas situações:
• Você está sentado em um ônibus cheio, morrendo de sono porque ficou estudando
à noite para a prova. Entra uma senhora de idade, cabelos brancos, mas bem
firmezinha. Você dá o seu lugar para ela ou finge que está dormindo?
• Você foi na lotérica pagar uma conta pra sua mãe. O cidadão da frente deixou cair
R$ 10,00 e ninguém viu. Você o avisa? E se for uma nota de R$ 100,00, você age do
mesmo jeito?
• Sua irmã tem um diário (sem cadeado!). Você lê escondido para ter posse de
informações privilegiadas?
• Você sabe que seu vizinho bate na mulher quando bebe. Você acha que “em briga
de marido e mulher ninguém mete a colher”?
• Para você, o mundo é dos espertos ou é esperto quem acha essa frase um absurdo?
• Você recebe um convite para ganhar um bom dinheiro trabalhando para um candidato
corrupto da sua região, o que você faz?
• Você está precisando de grana e seu colega, que não conseguiu terminar o trabalho de
final de ano da escola, lhe oferece dinheiro para fazer o trabalho dele. Você topa?
132
Oficina 4. O que é violência
OBJETIVO: Ajudar os participantes a refletir sobre o que é violência e o que ela desperta.
MATERIAL: Uma garrafa ou algo que possa passar por uma roleta; cartolina para fazer
os cartões.
Confeccione previamente seis cartões. Em cada um deles você deve escrever as
seguintes frases em um só lado:
Sinto-me agredido quando...
Violência pra mim é...
Quando me sinto agredido eu...
Cite um exemplo de violência que você já presenciou (na rua, na escola, no ônibus etc.);
Quando vejo uma cena de violência me sinto...
Para mim a frase: “violência gera violência” quer dizer que...
DESCRIÇÃO: Inicie dizendo ao grupo que o tema dessa oficina é violência. Pergunte
quais são os tipos de violência que existem (física, psicológica, sexual, negligência/
abandono) e peça para citarem exemplos. Pergunte se eles acham que o bairro onde
moram é violento e por quê.
Em seguida, peça para todos se sentarem (no chão ou em cadeiras), formando um círculo. Coloque no centro a garrafa. Um voluntário deve girá-la para sortear quem
começa; a pessoa para a qual o gargalo da garrafa apontar deverá escolher um cartão
e completar a frase. Depois que o participante responder, o grupo também poderá
fazê-lo de modo que todos possam participar. Repita esse procedimento até que todos
os cartões sejam explorados.
Ao final, pergunte ao grupo como foi falar desse tema e como estão se sentindo.
Lembre-os também de que, no Livro do adolescente, existe um quadro explicando
onde buscar ajuda, caso precisem.
COMENTÁRIOS: Esse é um tema bastante delicado, pois a violência está na vida de todos e
pode mobilizar os participantes da oficina caso se lembrem de alguma experiência pessoal difícil. Procure estar atento e sempre orientar para que saibam onde buscar ajuda
caso necessário.
Também parece importante sempre enfatizar que existem diversas maneiras de
resolver um conflito e que a violência normalmente costuma ser a pior delas.
133
Oficina 5. Modelos: gente que faz
OBJETIVO: Favorecer a identificação dos jovens com pessoas que se destacam por suas
virtudes.
DESCRIÇÃO: Peça para cada participante pensar em alguém por quem sente admiração. Essa pessoa pode ser tanto um anônimo (como os pais, parentes, professores)
quanto uma celebridade; o importante é que ela seja lembrada por sua conduta, seus
princípios (honestidade, generosidade, retidão, responsabilidade, preocupação com o
outro), pela militância em uma causa ou pelo trabalho que realiza. A seguir, divida os
participantes em pequenos grupos e peça que os integrantes de cada um falem sobre
o seu personagem. Depois de ouvidas as histórias, o grupo deve escolher apenas um
deles para apresentá-lo aos demais. Deixe que cada grupo apresente seu personagem, contando um pouco de sua história, suas qualidades e o motivo que levou o
grupo a escolhê-lo como uma pessoa admirável. A seguir, abra a discussão coletiva.
Questões norteadoras para a discussão:
• O que essas pessoas têm em comum? Como elas são?
• Por que elas fazem diferença à sua volta?
• Qual desses personagens mais o sensibiliza? Por quê?
• O que elas têm que você também tem ou gostaria de ter?
• De que maneiras você também pode fazer diferença à sua volta? O que você acha que
poderia fazer para melhorar o mundo?
Comentários: Bons modelos inspiram muitas pessoas, mas os jovens, sobretudo, necessitam de referenciais e exemplos positivos. Valores e princípios sólidos contribuem para a
construção da personalidade. Esse é um bom momento para discutir e questionar os valores de cada um e partilhá-los com o grupo. Você também pode participar, trazendo seus
exemplos. Você pode ainda dar prosseguimento a esse trabalho, estimulando uma entrevista com um dos personagens (se forem acessíveis) ou uma visita a uma instituição que
realize algum trabalho importante no bairro.
134
Oficina 6. Sonhos para um futuro melhor
OBJETIVO: Favorecer a discussão sobre as relações existentes entre indivíduo e
sociedade. Refletir, discutir e nutrir em sonhos pessoais que estejam vinculados a
interesses coletivos.
MATERIAL: Papel sulfite recortado em tiras; caneta e fita crepe.
DESCRIÇÃO: Copie as frases abaixo em um quadro e peça para os participantes completarem cada frase usando uma tira de papel diferente.
Eu sonho para mim ______________________________________________________
Eu gostaria que a minha família __________________________________________
Eu queria que o meu bairro fosse __________________________________________
Eu queria que minha cidade tivesse ________________________________________
Eu queria que o Brasil ____________________________________________________
Eu imagino um mundo __________________________________________________
Assim que terminarem, recolha as frases e afixe-as na parede (ou em um papel pardo)
separando-as de acordo com os temas (eu, família, bairro, cidade, país, mundo) de
modo a construir um painel coletivo com a opinião de cada adolescente. Procure analisar semelhanças e diferenças entre as frases.
Abra a discussão em grupo, levantando a seguinte pergunta: seus sonhos pessoais se
articulam com os demais desejos? Se sim, de que maneira? A idéia é promover um
debate entre as relações indivíduo-coletividade. Outras questões podem ampliar a discussão, por exemplo: como é ter uma bela casa em um bairro sujo e perigoso? Uma
pessoa pode ser bom aluno em uma escola ruim? O que pode fazer uma pessoa mudar
de país? Uma pessoa pode ter bom emprego se a economia do lugar onde mora estiver estagnada?
Ao final, procure resumir as opiniões que surgiram, consolidando as principais
questões discutidas.
COMENTÁRIOS: A realização de desejos e sonhos depende não apenas do esforço pessoal,
mas das possibilidades e circunstâncias da realidade. Ajudar o adolescente a pensar sobre
a realidade à sua volta é uma maneira de, em última análise, integrá-lo ao mundo. Por
isso, é tão importante que ele se informe sobre o que acontece no seu bairro, em sua
cidade e no país.
135
Oficina 7. Nosso bairro
OBJETIVO: Fazer uma cartografia do bairro de modo que os adolescentes possam iden-
tificar seus problemas assim como os potenciais existentes.
MATERIAL: Gravador; música; mapa do bairro; papel sulfite; lousa e giz ou papel pardo
e canetas.
OBSERVAÇÃO: Você pode obter o mapa do bairro nos guias da cidade ou até nas listas
telefônicas. Se você morar em uma cidade pequena, pode trabalhar com o mapa da
região central que você pode conseguir na Prefeitura.
DESCRIÇÃO: Coloque uma música suave e peça para os jovens se sentarem, fecharem
os olhos e imaginarem o percurso que fazem de casa para a escola. Vá orientando
lentamente a vivência, por meio de perguntas: o que você está vendo agora que saiu
de casa? Ande mais um pouco, o que chama a atenção? O que lhe dá desgosto de ver?
O que lhe dá prazer? Existem pessoas/animais/coisas que você vê sempre em seu
caminho? Você passa por algum espaço público? Como ele está: limpo, sujo, com
gente ou vazio? Como estão os muros no seu percurso? E as calçadas? Existe algum
perigo nesse trajeto?
Quando você achar que foi suficiente, peça para abrirem os olhos e registrarem em um
papel o que viram por meio de desenhos, palavras, sinais. Isso vai ser usado ao longo
da oficina. A seguir, socialize a vivência, pedindo que quem quiser dê sua opinião.
Esclareça que essa oficina tem por finalidade levar os jovens a conhecer melhor o bairro em que vivem. Juntos, eles descobrirão as potencialidade e os problemas locais.
Levante com o grupo todos os equipamentos públicos existentes: bibliotecas, praças,
clubes, salões paroquiais, cinemas, teatros, postos de saúde, ONGs, escolas, parques,
enfim, quaisquer lugares em que as pessoas se encontrem. Anote na lousa ou em um
papel pardo aquilo que for mais importante. A seguir, dê-lhes um mapa do bairro (pode
ser um único exemplar se todos conseguirem observá-lo). Primeiramente, ajude-os a
se localizar, marcando onde estão; depois, peça que assinalem os lugares que listaram, classificando-os por cor. Por exemplo: praças em verde, escolas em azul,
clubes em amarelo e assim por diante.
Com esses dados em mãos, inicie uma discussão. Para orientar a conversa, seguem
abaixo algumas questões:
• Quais os locais que já freqüentaram, onde nunca foram e onde costumam ir?
• Por que razão vão ou não a esses lugares? O que fazem?
• Quais os aspectos positivos e negativos desses lugares?
• Quais os aspectos positivos e negativos do bairro?
136
• Do que sentem falta no bairro? Por quê?
• Precisam ir a outro bairro para fazer alguma coisa? Que bairro freqüentam? Como vão
até lá?
• Aproveitam os potenciais do bairro?
• O que deveria/poderia ser feito para melhorar o bairro?
• De que maneiras poderiam contribuir para melhorar a vida no bairro?
A discussão certamente estimulará os jovens a se integrar mais ao local onde moram,
a desenvolver um sentimento de "apropriação". Pode acontecer de alguns jovens se
interessarem por conhecer locais antes ignorados ou até em realizar ações concretas
de intervenção em instituições ou melhoria nos equipamentos públicos. Se isso ocorrer, anote na lousa ou em um papel grande as sugestões levantadas. Qualquer que
seja a ação proposta, um passeio ou de intervenção em algum lugar, ela vai requerer
planejamento, o que pode ser feito em uma outra oficina que tenha por finalidade
específica a organização dessas ações.
COMENTÁRIOS: O sentido de pertencimento é fundamental para a construção da cidadania.
Quanto mais sentimos que o planeta, o país, a cidade, o bairro ou a escola são “nossos”,
melhor cuidaremos desses espaços. Quando as pessoas se dão conta de que estabelecem
relações de troca com cada um dos espaços nos quais vivem ou transitam, aumenta sua
consciência de seus potenciais de utilização e da necessidade de preservação. Conhecer o
bairro é o primeiro passo para os jovens descobrirem espaços coletivos, discutirem o
potencial e os problemas de onde vivem. Essa é uma maneira de se responsabilizarem e
reivindicarem seus direitos de cidadãos.
137
Oficina 8. Caro político...
OBJETIVO: Informar e refletir sobre o funcionamento dos três Poderes no Brasil.
Estimular uma participação política ativa.
MATERIAL: Folha tarefa anexa; lousa e giz ou papel pardo e caneta hidrográfica.
DESCRIÇÃO: O voto é um dos principais meios de participação política. Entretanto, tão
importante quanto votar é acompanhar o trabalho dos governantes. Para tanto, é preciso que o jovem compreenda como o governo funciona e qual o seu papel como
cidadão.
Comece a oficina conversando com os jovens sobre as funções dos três Poderes da
República, perguntando-lhes se sabem o que cada um faz, quem são os profissionais
que trabalham em cada um deles. A seguir, esclareça as dúvidas apoiando-se no
quadro a seguir (um quadro semelhante se encontra no Livro do adolescente).
Informe ao grupo que nesse momento eles vão dirigir sua atenção para o bairro (ou
a região) onde moram. Retome com eles os principais problemas do bairro levantados na oficina anterior, que mereceriam maior atenção das autoridades. Listados os
problemas, peça que elejam o mais importante. O objetivo é que escrevam uma carta
a um vereador, por exemplo, alertando-o para o problema. O destinatário da carta
deve ser a autoridade ou instituição responsável pelo problema em questão (como o
vereador, o prefeito, o governador, o presidente, o Ibama, o Ministério Público, a
Sabesp).
Você será o responsável pela redação dessa carta coletiva. Talvez alguns jovens não
saibam como escrever uma carta a uma autoridade; é uma boa oportunidade para
você explicar algumas regras fundamentais e também esclarecer sobre o tipo de
tratamento e a linguagem que devem ser empregados. Abaixo há um exemplo que
pode ajudá-lo.
Naturalmente, será melhor se o grupo tiver realmente intenção de enviar a carta.
Nesse caso, será preciso postá-la e aguardar o retorno. Mas a atividade também vale
como um exercício para que eles possam utilizar o procedimento em outros momentos, sempre que precisarem.
Os três Poderes
Nas repúblicas, como a do Brasil, a administração da vida pública está a cargo de três
Poderes independentes: o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. O objetivo é evitar a
concentração de poder em um só grupo e também possibilitar que os três poderes se
138
fiscalizem reciprocamente. Acompanhe o quadro abaixo para compreender como eles
funcionam:
Poderes/
Áreas de atuação
Executivo
Legislativo
Judiciário
O que faz?
Principais funções
Administra o Estado
segundo as regras da
Constituição. Aplica leis
Define políticas públicas.
Conduz a política econômica. Zela pela segurança
nacional. Administra
recursos. Representa o
país. Comanda a política
externa.
Elabora leis
Fiscaliza os outros poderes,
inclusive vetando aquilo que
julga inadequado.
Aplica a Constituição e as
leis para garantir a Justiça e
assegurar a vigência dos
direitos individuais.
Quem são?
País
Presidente
Ministros de Estado
Senadores
(Senado Federal) cada estado
tem 3 senadores que exercem
um mandato de 8 anos.
Ministros do Supremo
Tribunal Federal (STF)
Julga questões constitucionais e crimes comuns do
presidente e dos membros
do Congresso Nacional.
Os ministros são nomeados
pelo presidente da República.
Deputados federais
(Câmara dos Deputados)
Os deputados têm mandato
de 4 anos e representam os
cidadãos no Congresso. Cada
estado tem um número de
deputados proporcional ao
número de eleitores.
Ambos formam o Congresso
Nacional. O trabalho deles é
independente, mas coordenado. Eles devem definir as leis
nacionais, aprovar o orçamento do governo e fiscalizar
contas e ações do Executivo.
Quem são?
Estado
Governador
Secretários estaduais
Deputados estaduais
(Assembléia Legislativa)
São eleitos para um mandato
de 4 anos. Eles elaboram e
votam leis de interesse do
estado.
Quem são?
Município
Prefeito
Secretários municipais
Vereadores
(Câmara Municipal)
Têm mandato de 4 anos.
Elaboram e votam leis de
interesse do município.
Superior Tribunal de Justiça
(STJ)
Julga crimes comuns de
governadores e prefeitos,
crimes de responsabilidade
dos desembargadores;
recursos dos tribunais
regionais e estaduais.
Tribunais de Justiça
Estaduais (SJEs)
Comarcas e varas estaduais
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Poder Judiciário
O Poder Judiciário tem uma organização mais complexa, hierárquica e sua atuação se
dá no âmbito federal ou estadual. Atende as demandas jurídicas da população em
ações criminais, civis ou comerciais. Todos os seus membros ingressam na carreira
através de concursos públicos e vão sendo promovidos por critérios de antiguidade e
exercício de funções. Além da Justiça Federal Comum, existe uma Justiça Federal
Especializada, com tribunais nas áreas eleitoral, militar, do trabalho.
Funções essenciais da Justiça que você deve conhecer:
Ministério Público – é o defensor dos interesses da sociedade, deve proteger o
patrimônio público e os interesses coletivos. Pode atuar no âmbito federal ou estadual.
É um órgão autônomo, ligado ao Poder Executivo, mas não a determinado governo:
seus integrantes são escolhidos por concurso. Entre os quadros do Ministério Público
estão os promotores, que recebem os inquéritos policiais e podem oficializar denúncias. Nos tribunais são responsáveis pela acusação de réus. Qualquer pessoa pode
procurar um promotor quando achar necessário.
Defeensoria Pública – sua função é garantir o principio de igualdade entre os cidadãos
perante a lei. A Defensoria Pública da União e as dos Estados são órgãos autônomos,
embora estejam ligadas ao Poder Executivo. Os profissionais orientam aqueles que
não podem pagar advogados.
Local, data
Exmo. Sr. vereador Benedito Souza,
Nós do grupo Espaço Jovem, que se reúne na escola municipal X, estamos trabalhando o tema
Cidadania em nossas oficinas semanais. Apresentação – quem é aquele que escreve, seja uma pessoa ou uma instituição
Nas discussões, percebemos que em nosso bairro existe um grande problema quanto a (apresentação
do problema de forma clara e objetiva). Por esta razão, gostaríamos de (Objetivo da carta: reclamar,
alertar, divulgar, solicitar etc.)
Acreditamos que seu papel é fundamental para a resolução desse problema, uma vez que sua atuação política tem sido marcada pela (defesa dos direitos de alguém, da natureza, pelos interesses do
bairro, da cidade etc.)
Esperamos poder contar com a sua ajuda. (saudações finais)
Atenciosamente,
Fulano de tal (monitor do projeto) e participantes
Projeto Espaço Jovem
Rua da Mata 103
01000-000 – Jururupimpim, SP
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COMENTÁRIOS: Desacreditadas das instituições, é cada vez mais comum que as pessoas
achem que não vale a pena tentar encaminhar seus problemas, sejam eles quais forem.
No entanto, se deixamos de fazer um boletim de ocorrência sobre um dano sofrido,
por exemplo, essa informação não será registrada. Se os dados policiais não forem fiéis
à realidade, as autoridades não identificarão o problema e, por conseguinte, terão uma
visão distorcida da realidade e não poderão estabelecer políticas públicas adequadas
para enfrentar a questão.
Omitir-se ou tentar resolver o problema no âmbito pessoal não são boas saídas.
Atitudes de apatia ou de omissão acabam enfraquecendo as instituições e deixando os
indivíduos inseguros porque não se sentem atendidos em seus direitos. Essa também
é uma maneira de não assumir as próprias responsabilidades. Escrever uma carta a
um político ou à seção de cartas de um jornal (você pode mostrar aos participantes
essas seções nos periódicos mais importantes) é uma maneira de participar, mas há
outras formas que devem ser discutidas no grupo. Esse é um bom momento para
ampliar a discussão e conversar com os adolescentes sobre a importância de dar voz
às suas idéias e indignações sobre os problemas da sociedade contemporânea.
É importante que os jovens compreendam que informar-se é fundamental. Aproveite
para divulgar os sites referentes ao tema. Nos sites dos poderes Legislativo e Executivo
pode-se conseguir o e-mail do político com quem se deseja falar:
www.camara.gov.br
www.senado.gov.br
www.presidencia.gov.br
Outro endereço importante é o do Ministério Público Federal, ligado ao Poder
Executivo. Recorde que também existem quadros do Ministério Público nos estados.
Ministério Público Federal:
www.pgr.mpf.gov.br
141
para se aprofundar...
Livros
BENEVIDES, Maria Vitória. A cidadania ativa.
São Paulo: Ática, 1998.
BOSCO, Sérgio Martinho de Souza;
RODRIGUES, Joel Costa. Redescobrindo o
adolescente na comunidade: uma outra
visão da periferia.
São Paulo: Cortez, 2005.
CHAUÍ, Marilena. Cultura e democracia,
São Paulo: Moderna, 1984.
DIMENSTEIN, Gilberto. O cidadão de
papel: a infância, a adolescência e os
direitos humanos no Brasil.
São Paulo: Ática, 1998. (Discussão Aberta, 1)
FERREZ (Org.). Literatura marginal:
talentos da escrita periférica.
São Paulo: Agir, 2005.
FERRY, Luc. A nova ordem ecológica: a
árvore, o animal e o homem.
São Paulo: Ensaio, 1994.
GARCIA, Edson Gabriel. Uma conversa de
muita gente: o exercício do diálogo e da
participação.
São Paulo: FTD, 2004. 48 p. (Conversas
sobre Cidadania - Temas Transversais)
IMPRENSA OFICIAL. Estatuto da Criança
e do Adolescente.
São Paulo: CMDCA/SP, 2007.
142
KRISHNAMURTI, Jiddu.
Sobre a natureza e o meio ambiente.
São Paulo: Cultrix, 2000.
LATERMAN, Ilana.
Violência e incivilidade na escola.
Florianópolis: Obra Jurídica, 2000.
LEGRAND. Pequenas lições.
Belo Horizonte: Soler, 2007.
MARIN, Isabel da Silva Kahn.
Violências.
São Paulo: Escuta/FAPESP, 2002.
MARTINS, Maria Helena Pires.
Eu e os outros: as regras da convivência.
São Paulo: Moderna, 2007.
NOVAES, Regina; VANNUCHI, Paulo
(Orgs.). Juventude e sociedade: trabalho,
educação, cultura e participação.
São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2004.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS.
Declaração Universal dos Direitos
Humanos.
São Paulo: Paulinas, 1978.
PEREZ, Clotilde; JUNQUEIRA, Luciano
Prates (Orgs).
Voluntariado e a gestão das políticas
sociais.
São Paulo: Futura, 2002.
JAKIEVICIUS, Mônica.
Ambientes brasileiros.
São Paulo: DCL, 2008.
PONS, Esteves.
Valores para a convivência.
São Paulo: A Girafa, 2006.
JORGE, Maria Helena et al.
Jovens acontecendo na trilha das políticas
públicas.
Brasília: CNPD, 1998.
SASTRE, Genoveva; MORENO, Montserrat.
Resolução de conflitos e aprendizagem
emocional.
São Paulo: Moderna, 2002.
Sites
Anjos dos cavalos:
http://www.anjodoscavalos.org.br
Arca Brasil:
http://www.arcabrasil.org.br
Centro de adoção de cães e gatos:
http://www.naturezaemforma.com
Conselho Municipal dos Direitos da
Criança e do Adolescente da Cidade de
São Paulo – CMDCA/SP:
www.prefeitura .sp.gov.br/cmdca
SOS Mata Atlântica – preservação da flora
e da fauna da Mata Atlântica:
http://www.sosmataatlantica.org.br
Filmes
Bicho de Sete Cabeças
Lais Bodanski, 2002.
Cidade dos Homens
Paulo Morelli, 2007.
Edukators
Hans Weingartner, 2004.
Diálogos contra o racismo:
www.dialogoscontraoracismo.org.br
Manderlay
Lars von Trier, 2005.
Desarmamento: Instituto Sou da Paz:
www.soudapaz.org
A Marcha dos Pinguins
Luc Jacquet, 2005.
Documentos: Para tirar:
www.poupaclic.ig.com.br
Meninas Malvadas
Mark S. Waters, 2004.
Estatuto da Criança e do Adolescente:
www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L8069.htm
Nunca Fui Beijada
Raja Gosnell, 1998.
Grupo Gay:
http://www.arco-iris.org.br
O Clube dos Cinco
John Hughes, 1985.
Instituto Nina Rosa:
http://www.ninarosa.org.br
O Que É Isso, Companheiro?
Bruno Barreto, 1997.
Movimento Nossa São Paulo:
http://www.nossasaopaulo.org.br/portal/
Palavra e Utopia
Manoel de Oliveira, 2000.
Quintal de São Francisco:
http://www.quintaldesaofrancisco.org.br
Tiros em Columbine
Michael Moore, 2002.
União Internacional Protetora dos Animais
(UIPA): http://www.uipa.org.br
Um Grande Garoto
Chris Weitz e Paul Weitz, 2002
143
144
Anexo
145
147
Este livro nasceu com a proposta de disseminar
os conhecimentos gerados por alguns dos projetos
desenvolvidos com adolescentes pela Fundação
Tide Setubal. Ele é voltado para educadores
(professores, psicólogos e profissionais de ONGs,
postos de saúde, bibliotecas etc.) que atuam
com jovens e procuram desenvolver um trabalho
consistente através de oficinas temáticas que discutem assuntos relacionados ao universo adolescente, tais como: identidade, diversidade, corpo,
sexualidade, família, drogas, profissão, trabalho e
cidadania. A proposta favorece a convivência dos
jovens, a criação de iniciativas coletivas, fortalecendo a possibilidade de escuta e de fala mediante
a troca de saberes e a apropriação de novas informações. Dessa maneira, os adolescentes refletem
e trocam experiências sobre o início da construção
de um projeto de vida possível e autêntico.
ISBN 978-85-6205801-1
9
788562 058011

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