O LIVRO NUNCA ESTEVE TÃO VIVO!
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O LIVRO NUNCA ESTEVE TÃO VIVO!
Maria Capitão A HistóriA de diAblocity O LIVRO ESTÁ MORTO!... ...O LIVRO NUNCA ESTEVE TÃO VIVO! Agradecimentos Um muito obrigado aos meus amigos e a todos aqueles que acreditaram em mim. Um grande abraço às minhas professoras (Mª de Lurdes Santana, Mª Celeste Francisco e Ana Reis). Um especial agradecimento à minha família pois eram eles que me davam coragem para continuar a escrever e prometeram-me que um dia o livro seria publicado - Para vocês, aqui está ele. - Obrigada mãe, pelo teu incentivo e por me teres mostrado o caminho da leitura e escrita. Há pessoas que não estão presentes neste livro mas que estarão para sempre marcados no meu coração. Um agradecimento do fundo do coração às pessoas que me apoiaram independentemente das minhas escolhas. Obrigada Malhada, Branca e Farrusca e Pedra, sabem o que são para mim. Para ti Diogo e Farrusquinha. Não estiveram lá sempre lá porque nessa altura ainda não existiam. Nuno tinhas razão, venceste a aposta. É pena não estares aqui para teres a tua parte. Finalmente mas não último um grande, grande obrigado à Corpos Editora por ter acreditado na minha escrita quando outros simplesmente não ligaram. À minha mãe. Ao meu pai. À minha família. A todos. Há quem pense que treze é um número maligno, ou que é benigno, dependendo das opiniões. Mas para mim é tudo mentira. A sorte somos nós que a fazemos. Os treze são o Ned, o Miguel, a Juliana, o Jonas, a Rafaela, a Benvinda, o Daniel, o Rúben, a Joana, o André, o Jorge e o Alemão (Ricardo), alguns dos meus melhores amigos. Há outros amigos que também têm um papel relevante nesta história que vos vou contar. Bem, estes são só doze, mas falto eu. A História de Diablocity Maria Capitão Capítulo 1 Uma estranha aparição Eram cerca de cinco da manhã quando ao longe começaram a aparecer vestígios dum Ovni. Era redondo, parecia que era constituído por várias cores, desde o azul ao rosa clarinho embora fosse uma mera ilusão devido aos raios solares. Este Ovni, para quem olhasse, transmitia paz e sossego. De forma alguma parecia ser uma ameaça ao planeta. A nave preparava-se para pousar quando um outro Ovni apareceu, vermelho e preto, tendo sido pintada a preto a palavra “VANDERDECKEN”. Ao contrário do outro, este transmitia medo, guerra. O Ovni azul tentou imediatamente ganhar altura e fugir, mas um raio branco atingiu o Ovni fazendo com que o motor fosse destruído. Os passageiros do Ovni azul trocaram imediatamente o motor por outro, mas novamente um raio branco os atingiu enquanto o Ovni vermelho se ia aproximando. Uma voz ressoou no silêncio da madrugada “Rendam-se ou destruiremos a nave e morrerão queimados. Quando se entregarem, eu próprio os escoltarei aos vossos aposentos.” E libertou uma risada maléfica. Do Ovni azul apenas uma palavra foi dita: “Ganhaste”. O Ovni vermelho aproximou-se cada vez mais enquanto dava instruções: “Aterrem de imediato a nave, saiam os pais e os filhos, e em seguida os meus A História de Diablocity Maria Capitão lacaios entrarão na nave e sairão deste planeta com a vossa tripulação. Entendido?” Como resposta, os passageiros fizeram tudo o que ele disse. De dentro do Ovni saíram seis extraterrestres: dois adultos e quatro crianças. Houve um membro da tripulação que também saiu, sem ninguém ver e se escondeu num compartimento desconhecido por toda a tripulação. Os extraterrestres não eram burros e já sabiam que isto iria acontecer, por isso havia um membro da tripulação que à primeira vista não servia para nada, mas pelo contrário, era a pessoa que nestas condições, tinha de se arriscar: sair da nave, e entrar no compartimento secreto, para que para onde quer que levassem a nave ele fosse, mas sem ninguém saber, para poder avisar a família dos extraterrestres e a autoridade. Após os extraterrestres terem saído e os lacaios de Vanderdecken terem entrado, a nave levantou voo e os extraterrestres entraram na nave de vermelha, olhando com pesar para a nave deles que desaparecia no silêncio da madrugada. A nave Vanderdecken atravessou metade da Galáxia, demorando cerca de quatro dias. Durante esse tempo, o membro da tripulação que ia escondido foi-se alimentando de mantimentos que ali haviam mas como só davam para um dia, quando acabaram ele ficou sem alimento. No segundo dia continuou sem se alimentar, e no terceiro e no quarto também. Na manhã do terceiro dia 12 I A História de Diablocity Maria Capitão ouviu uma conversa que o ajudou a localizar para onde iriam levar os seus amos. -Porque é que o chefe vai para um sítio tão longínquo? -Sei lá! -Sinceramente ir para a Terra… -Não é para a Terra! É para um planeta similar à Terra. -É a mesma coisa. -Está bem, está. Quando a nave aterrou, ele esperou que todos descessem desta e depois saiu ele. Reparou numa tabuleta que dizia o nome do planeta e da região onde estavam. Encontravam-se no local onde viviam os primos dos extraterrestres. Estava toda a gente a dormir, excepto na casa deles, pois estava a haver uma cerimónia de escolha de raparigas para se casarem com um dos primos. Apressou-se a chegar a casa deles, entrando de rompante, pondo as raparigas aos gritos, dada a aparência dele. Estava pálido, com a cara encovada e já sem conseguir levantar os barcos, dada a fome que tinha. Como tinha conseguido chegar até à casa era um mistério. Aproximou se do Jonas, e do Daniel, puxou-os para um canto e disse-lhes: -Vossos primos… capturados... - Não dizia a maior parte das palavras devido à dificuldade em falar. - Planeta A História de Diablocity Maria Capitão parecido… quatro dias daqui. Vanderdecken, filho Diabo raptou-os. Salvá-los. Lacaios Vanderdecken… cá. Vanderdecken escondê-los... planeta. Ide, já. - E fechando os olhos, entrou em paragem cardíaca, desmaiando de seguida. -E que mais? Mais! - Gritou o Jonas, abanando o corpo inanimado. -Não vale a pena. Já morreu. - Disse o Daniel, medindo-lhe a pulsação. -Mas… mas… -Nem mas, nem meio mas, ele morreu e agora temos uma missão à frente. -Vamos salvá-los? -E dar cabo do Vanderdecken de uma vez por todas. - Imagino o sofrimento dele. Estar cerca de três dias sem comer e beber, concentrando-se apenas num objectivo: avisar-nos para que pudéssemos salvar a família. Ele sempre foi um amigo muito fiel, o mais fiel. -Agora continuemos a cerimónia da escolha da tua noiva. -E depois fazemos as malas e preparamos tudo. -Okay. E assim, duas raparigas foram escolhidas e Jonas decidiu adiar a escolha de uma delas para outro dia, um dia que teria de esperar muito, pois agora ele e o irmão iriam para muito longe, salvar a família. 14 I A História de Diablocity Maria Capitão -Tu só queres ir hoje, para não escolheres a tua noiva. E caso morras lá, pelo menos morres feliz. -Tens razão. Eu não gosto de nenhuma delas, só para amigas, e mesmo assim… Elas são super histéricas e parvas. São tão emproadas… Grrr… -Quem me dera conhecer uma rapariga gira, querida, que não fosse histérica, atlética, engraçada, fixe, simpática… e que me adorasse. -Em média queres uma rapariga que não existe. -Existe sim. E eu? Eu adoro-te! - Exclamou uma voz que se aproximava de ambos. A namorada do Daniel acabara de aparecer, e ela tinha razão. Ela era a rapariga perfeita. Linda, engraçada, atlética, fixe, e gostava do Daniel. E o sentimento era recíproco. -Tu és namorada do Daniel. E não existe mais nenhuma assim. -Neste planeta não. Mas sabes lá se não existe noutro? -Nos outros planetas, as raparigas são feias, têm tentáculos a saírem-lhes da boca, e dos braços… Bhlak! -Existe outro planeta com características físicas iguais às nossas. -Aonde é? -Para o planeta para onde nos dirigimos. A História de Diablocity Maria Capitão -Para onde vão vocês? Amanhã tens de escolher a tua noiva. -Eu não me quero casar com nenhumas delas! São feias e tudo o que tu não és, e que a minha rapariga de sonho também não é! -Nós vamos para o planeta similar à Terra. -Fazer? -Não te posso dizer. -Ai é? Só por causa disso, vou-me embora! -Ana… -Não te preocupes que eu não digo a ninguém! Quando se foi embora, saindo a chorar, o Jonas dirigiu-se ao Daniel. -Porque não lhe contaste? -Porque ela iria contar às amiguinhas e depois elas contariam aos pais e o senhor ficaria a saber e depois nós é que nos lixamos. -Mas ela ficou chateada contigo. -Neste momento nada mais importa do que a família. -Afirmou, fazendo com o Jonas sorrisse e abanasse a cabeça, comovido. -Agora vamos mas é fazer as malas. -Bora. - Afirmou, e começaram a arrumar as malas, cada um embrenhado nos seus pensamentos. 16 I A História de Diablocity Maria Capitão Capítulo 2 A Chegada A viagem até onde Vanderdecken os queria levar foi tranquila. Os prisioneiros eram alimentados duas vezes ao dia pelo lacaio de Vanderdecken. Ele nunca deu a cara mas eram habituais as suas gargalhadas maléficas na calma da noite e os seus passos de um lado para o outro. O lacaio de Vanderdecken não falava e durante os quatro dias de viagem, os prisioneiros não deram mostra de saberem falar, nem mesmo entre si. Estavam calmos, talvez até demais e nem mesmo quando num dia à tarde lá apareceu Vanderdecken eles falaram. Este apareceu de cara tapada, como sempre, e apenas as pálidas mãos eram visíveis. Falou-lhes num tom alegre e bem-disposto. -Vamos para a suposta Terra. Ninguém vos procurará lá. - disse rindo - Eu sou director e subdirector de uma escola lá… Ninguém suspeita de mim, obviamente. E já aterrorizei as pessoas para não irem para o bosque… - liberta, novamente, uma maléfica risada Faremos delícias com vocês, não é? Inclinou-se para tocar na face de um dos filhos de um prisioneiro, quando foi impedido por uma mão firme e encolerizada, com os músculos distendidos. -Então, meu querido amigo? Pensei que as nossas rivalidades tivessem acabado no tempo da escola… A História de Diablocity Maria Capitão -Estamos a chegar. - Informou o lacaio desaparecendo de seguida. -Muito bem. - Endireitou-se e ordenou - Activar dispositivo de invisibilidade. Não queremos que os humanos se assustem pois não? -Riu- se de uma piada privada - Activar trens de aterragem. Activar a protecção. Preparem-se para aterrar! Lentamente foram descendo de altitude enquanto os prisioneiros trocavam olhares apreensivos. -Ora deixa cá ver… Aonde havemos de aterrar? -Se me permite… - Interrompeu a medo o lacaio. -Fala lá escravo… -Desculpe senhor. Que tal na sua suite para lazer? No bosque impenetrável? Onde lançámos… -Desculpa?! -Desculpe, meu amo, a minha impertinência. Onde lançou de modo perfeito as maldições? -Não é uma má ideia de todo Palki… Como recompensa irás levar o chão das masmorras… -Obrigado senhor! -Muito bem! Cá vamos nós! Até logo… prisioneiros… E soltou mais uma vez uma gargalhada que ecoou por toda a nave enquanto o barulho das pesadas botas se ia desvanecendo. 18 I A História de Diablocity Maria Capitão Capítulo 3 Os Oito Há muito tempo atrás, por volta do século XX, numa galáxia bem distante num planeta igual à Terra, existia uma aldeia moderna com um centro de saúde, discotecas, tinha uma população superior à duma cidade, e tudo o que uma cidade tem. Mas, curiosamente, nunca passou de aldeia para cidade. Essa aldeia era como todas as outras com excepção, talvez, de ser moderna e, também, devido ao facto de ser assombrada. Quero dizer... não era assombrada, mas o bosque que lá existia era assombrado por espectros, monstros e maldições. Essa aldeia tinha o invulgaríssimo nome de Diablocity. O mais sinistro é que ninguém sabia há quantos anos aquela aldeia existia e se alguém fosse procurar algum registo da existência da cidade, dizia que nunca existira nenhuma cidade com aquele nome; se alguém fosse ao mapa, e visse o que dizia onde estava a aldeia deles, dizia que aquilo era penas mato grosso. Parecia que a aldeia nunca tinha existido e isso fazia com que as pessoas andassem sempre cabisbaixas e confusas, pois ninguém em todo o mundo sabia que eles existiam. Como se isto não bastasse, as pessoas que atravessavam o bosque nunca mais eram vistas... Havia uma escola na aldeia de Diablocity, mas essa escola estava dividida em duas partes: uma de raparigas A História de Diablocity Maria Capitão e outra de rapazes. Nessa escola andavam 50 alunos. Haviam 44 que iam de carro para a escola e haviam seis alunos que preferiam ir de bicicleta e de skate. Éramos três rapazes e três raparigas: eu que era irmã do Miguel, do Jorge e do André, a Juliana irmã da Rafaela. Nós os seis íamos de bicicleta, mas havia um cão que nos acompanhava. Esse cão era o meu Ned, o lavrador preto que eu tinha encontrado há uns anos atrás abandonado no bosque. É muito querido e embora seja meu, do Miguel, do Jorge e do André, o Ned se dá bem com toda a gente e é muito esperto, se lhe pedirmos ele dá-nos a pata, rebola, vai buscar... enfim, tudo o que lhe pedirmos. Aos Sábados à tarde todas as mães (no meu caso, do Miguel, o pai, pois os nossos pais separaram-se e o André e o Jorge vivem com a mãe) faziam uma coisa para cada um de nós levarmos, depois juntávamos a comida e comíamos, também ajudávamo-nos uns aos outros a fazer os trabalhos de casa. Aos Domingos à tarde, iam os três rapazes jogar à bola e eu e a Rafaela também participávamos. A Juliana era o árbitro e o Ned costumava ser o apanha-bolas. Às vezes, quando estávamos a jogar, o Ned aparecia, pegava na bola com a boca e fugia com ela para brincar connosco; outras vezes punha-se à patada à bola, como se estivesse mesmo a jogar futebol. As equipas eram sempre as mesmas: eu e o Miguel contra a Rafaela, o Jorge e o André. Cada membro do grupo tinha uma alcunha: a minha era Mosca, a do 20 I A História de Diablocity Maria Capitão Miguel era Tackles, a da Rafaela Ruffles, a da Juliana Juju, a do Jorge era Joginhu e a do André, NeAllex. Não temos um clube nem nada do género, somos apenas sete amigos muito unidos, a contar com o Ned, claro! Nunca as utilizamos mas mesmo assim podemos dizer que cada um tem uma alcunha. Por volta das 17.00 de cada fim-de-semana, eu, o André, o Miguel, o Jorge, a Juliana e a Rafaela costumávamos ir dar uma volta de skate pela vizinhança, depois íamos até ao nosso café preferido, Deus e Diabo, comer, preparavam uns crepes e uns sorvetes de pôr água na boca. O dono desse café era o pai da Rafaela e da Juliana, e fazia-nos um desconto de 60%. Quando o sol se punha, por volta das 19.00 voltávamos para as nossas casas, cansados e prontos para no dia seguinte irmos para as aulas. Fisicamente, todos nós éramos parecidos. Quem não soubesse quem eram os nossos pais, diria que éramos todos irmãos gémeos e que tínhamos pai com cabelo castanho e mãe com cabelo loiro/arruivado. Ainda para mais éramos todos mais ou menos da mesma altura. Eu tinha cabelo comprido castanho, que me dava abaixo dos ombros e olhos castanhos. O Miguel tinha o cabelo com caracóis ruivos/acastanhados e olhos azuis. O Jorge tinha o cabelo comprido, que lhe dava pelo pescoço e era preto e tinha também os olhos castanhos. A Rafaela tinha o cabelo tão comprido como o meu e tinha também os olhos castanhos. Nós éramos como irmãs, conhecíamo A História de Diablocity Maria Capitão nos há dois anos, e nenhuma tinha nenhum segredo que a outra não soubesse, ela sabia tudo sobre mim, e viceversa. A Juliana tinha o cabelo castanho tão comprido como o meu, e olhos castanhos, éramos muito amigas, era quase como uma segunda irmã para mim, visto que a Rafaela era a primeira. O André tinha o cabelo castanho, um pouco ondulado castanho, e tinha os olhos castanhos. O Ned era todo preto, um lavrador preto. Psicologicamente, éramos semelhantes. Havia inclusive uma coisa em que éramos todos iguais: estávamos todos virados para a brincadeira e para a aventura. Eu era esperta, curiosa, atrevida, dinâmica, desportiva, sempre pronta para a pancada e muito, mas muito maria-rapaz. O Miguel era dinâmico, curioso e muito esperto, era o mais inteligente do grupo, mas claro que havia outras pessoas além dele que eram inteligentes. Passava a maior parte do tempo a estudar mas arranjava sempre tempo para os irmãos e para os amigos. Nas aulas era muito bem comportado, mas era só uma espécie de máscara que ele usava para os professores o acharem um santo, mas fora das aulas, ele era tão ou até mais extravagante do que todos nós juntos. O Jorge à primeira vista parecia calmo, mas quem o conhecesse bem, diria que ele era tudo menos calmo. Nas aulas até se costumava portar bem, à excepção de estar sempre a cantar em voz baixa nas aulas. O André, tal como o Jorge parecia um rapaz calmo, tranquilo, mas era 22 I A História de Diablocity Maria Capitão tudo menos isso. Era óbvio que eram irmãos. Se alguém olhasse para mim e para o Miguel, não diria que éramos irmãos. Se olhasse para o Jorge, para o André e para o Miguel talvez dissesse que eram irmãos. A Juliana era a típica menina calminha, mas conversadora, tal como eu, só que eu não sou calminha. Nas aulas era uma santinha, tal como o Miguel (acho que eles fazem um belo casal, mas não lhes digam… schiuu!), mas fora delas era tal e qual como ele (formam mesmo um belo casal). A Rafaela, tal como eu, era super conversadora e maluca nas aulas, e também o era fora delas (wla já gostou do Miguel, e ainda gosta, mas não digam a ninguém… schiu!). O Ned era super curioso e maluco. Sempre que via um cão desatava a ir- lhe cheirar o rabo (como todos os cães), adorava sorvetes, e era um cão muito bem comportado dentro das lojas/ restaurantes e em casa, e estendia a pata. Como fazia tudo o que mandávamos, o pai da Juliana e da Rafaela costumava deixar o Ned entrar, apesar de a pastelaria ser interdita a cães. Eu tinha encontrado o Ned há uns anos, atrás da nossa casa, perto do bosque, muito magro e ferido. Tratei muito bem dele, e ele decidiu ficar connosco. Hoje, já faz parte da família. Ah! Para quem não sabe, e ninguém deve saber, chamo-me Maria e tenho 12 anos. Nós somos os sete, juntamente com o Ned! Um grupo que ainda vai dar muito que falar!!! A História de Diablocity Maria Capitão Capítulo 4 O Monstro Segunda-feira, dia 25 de Maio - foi o dia em que as nossas vidas mudaram para sempre. -Despacha-te molengão! - Gritámos eu, o André e o Jorge ao Miguel (às segundas, quartas, sextas e domingos, o André e o Jorge dormiam em nossa casa, nos restantes dias ficavam em casa da mãe). O nosso pai não se importa, na verdade ele nem se interessa. Desde que se separou da nossa mãe, que está assim, não liga, não reage, não fala, passa o dia a ver televisão ou a olhar para o vazio. Somos nós, eu e o Miguel quem fazemos as compras, mas é o nosso pai quem cozinha. É triste ver o nosso pai assim. -Eu vou indo e digo à professora que ainda te estás a vestir! - Acrescentou o André, rindo-se da própria piada. Passados dez minutos, por estar a demorar tanto, subi as escadas, bati à porta e como ninguém respondeu entrei. Quando entrei não vi ninguém o que me espantou. Fui à casa de banho e não vi ninguém e comecei a ficar preocupada. Então, vi um papel colado à mesa da secretária que dizia o seguinte: Maria, André e Jorge, desculpem não ter esperado por vocês. Fui andando para a escola. A História de Diablocity Maria Capitão Desculpem. Fui com a Ju… Bem, depois digo- vos. Beijos Miguel… PS: Desculpem! Altamente vocês estarem à minha espera que deve ser o que está a acontecer. Upi! Agora até faço os meus maninhos esperarem por mim mais de 20 minutos! Adeus! -Eu mato aquele safado! - Gritei quando terminei de ler a carta. -O que foi? - Perguntaram o Jorge e o André quando ouviram o meu grito, subindo as escadas a correr. -Leiam! - Respondi e entreguei-lhes a carta. Passados dois minutos, mais dois gritos se ouviram dentro da nossa casa. -Com que então faz os seus maninhos esperar por ele mais de 20 minutos? -Agora não é tempo de discussão, temos de arranjar uma maneira de ir para a escola rapidamente. -Onde está o Ned? - Perguntei. Como resposta apareceu o Ned vindo da cozinha. -Au, au, au! - Ladra Ned. -Olá Ned! - Respondemos. Sempre que o Ned nos vê ou ao Rafael, à Juliana ou à Rafaela começa um ritual de cumprimento. Primeiro 26 I A História de Diablocity Maria Capitão ladra-nos amigavelmente, depois baixamo-nos, o Ned estende a pata, nós apertamo-la, e em seguida desata a lamber-nos a cara. E foi o que aconteceu após lhe termos dito bom dia. No final das lambidelas, surgiu-me uma ideia fantástica e apressei-me a transmiti-la aos meus irmãos. -Tive uma ideia de como podemos ir para a escola sem nos atrasarmos! -Como? -Atravessamos o bosque! -Estás doida?! - Exclamaram o André e o Jorge. -Porquê? -Correm rumores que no bosque há monstros e que quem se aproxima é logo comido - Informou o Jorge -Acreditas nisso? -Sim! Nunca ouviste falar das pessoas que desapareceram no interior do bosque? -Desapareceram porque se perderam. Eu nunca me perdi e não vai ser agora a primeira vez. Ninguém me vai impedir, nem mesmo os meus irmãos. Bye, Bye! Dito isto peguei no skate, saí de cada e desapareci entre os arbustos do bosque. Como eu era a pessoa mais próxima do Ned, seguia-me para todo o lado e desta vez não abriu nenhuma excepção e foi comigo. A nossa casa era pegada ao bosque, por isso éramos um pouco temidos na vizinhança com medo que A História de Diablocity Maria Capitão tivéssemos as supostas doenças que existiam no bosque. O que eu mais gostava de fazer era chatear os meus irmãos e era “pro” nisso. O bosque era mesmo muito assustador, negro e ninguém, mesmo ninguém, se aventurava a lá ir. Eu também, embora fosse corajosa, não me aventurava a ir para lá, mas não queria dar parte de fraca. Adorava chatear os meus irmãos, e além disso, como o Ned estava comigo, não receei e entrei no bosque. -Fogo! Ela é muito teimosa! - Disseram o Jorge e o André em coro, incrédulos pela minha teimosia. - ‘Bora lá! Não temos outro remédio. Além disso, hoje temos teste de Matemática e se chegarmos atrasados mais de um minuto a professora mete-nos falta, nega no teste e o pai ralha à Maria e ao Miguel e a mãe a mim e a ti e ficamos sem os skates! -Ela consegue sempre levar a melhor. - Resmungou o André carrancudo. O que se passa é que o André tem ciúmes por eu viver com o Miguel e com o pai e ele viver com o Jorge com a mãe. E como a mãe está sempre a trabalhar, entra às 12.00 e sai às 00.00, o André e o Jorge nunca estão com ela. Têm falta de afecto paterno e materno. Embora ausente, o nosso pai, costuma fazer-nos perguntas do tipo “Correu bem a escola?” ou “ Têm amores novos?”, e brinca connosco, quando não está a pensar na nossa mãe. -‘Bora lá! Ela já deve ter chegado. E dito isto, puseram-se a caminho. Quando estavam 28 I A História de Diablocity Maria Capitão precisamente no meio do bosque o André vislumbrou uma clareira e estava para dizer ao Jorge o que tinha visto, quando ouviram algo: -Socorro! Ajudem-me! -Ouviste isto? - Era uma pergunta desnecessária, visto que todos os animais no bosque pareciam ter ouvido, porque se ouviram barulho nas árvores e nos arbustos. -Sim, o que será? -‘Bora lá descobrir! Quando chegaram ao que pensavam ser a origem do grito não viram nada de anormal, mas ouviram um arfar como que a indicar que estava ali ao pé uma pessoa cansada. -Mosca! -Estás bem? O que se passa? -Porque gritaste? - Perguntou o Miguel aparecendo por entre os arbustos, após ter ouvido o grito. Estava todo sujo, tinha as calças esfarrapadas, a cara estava cheia de terra e super cansado, como se tivesse corrido durante muito tempo sem parar à velocidade máxima. -Onde está o Ned? -Eu não gritei, mas ouvi um grito, pensei que tinha sido um de vocês. Pensei que ele vos tinha apanhado. Então vim aqui ter a correr. O Ned, mal o viu desatou a correr na direcção da escola. A História de Diablocity Maria Capitão -Não. Mas porque estás aqui escondida? A quem é que te estás a referir ao dizeres “ele”? -Estou aqui porque fugi dele e porque pensei que ele vos tinha apanhado. E “ele” é um monstro. -Tolice! Não existem monstros. - Disse com convicção o Miguel. Apesar de ser o mais esperto, o Miguel é também o mais céptico. “XEWRRCH! XEWRRCH!”, ouviu-se de repente. -Escusam de me tentar assustar. - Não foi nenhum de nós, foi ele , estou-te a dizer. Insisti. -Então onde é que ele está? - Perguntou sarcasticamente o Miguel. -Não sei! Mas juro que ele estava mesmo aqui agora! De repente ouviu-se um desfolhar de folhas e ele apareceu. -Atrás de vocês! Fujam! Lentamente o Miguel, o André e o Jorge viraramse para trás e a visão que tiveram deixou-os de boca aberta: um monstro (se é que aquilo se chama monstro), com quatro braços, cauda cheia de espigões, pele da cor das chitas, escamosa, olhos azuis, nariz, boca e orelhas estranhamento humanas. -Ah! Que nojo! O que é isto? -Fala menos e anda mais! - Gritei, começando a correr. 30 I A História de Diablocity Maria Capitão -Bora lá! Vamos de skate! - Aconselhou o Miguel. -Eu perdi o meu, foi para dentro de uma gruta e depois apareceu o monstro! -Vem para o meu! - Exclamou o André -Ok! Após este susto, seguimos de skate até à escola, mudos de espanto e ainda a tentar recolher tudo o que vimos. A História de Diablocity Maria Capitão Capítulo 5 A Professora Desaparecida Chegando ao cruzamento que divide as escolas separámo-nos. O Ned, que estava à nossa espera no cruzamento com ar abatido, e eu fomos para um lado a pé e eles para outro de skate. Quando o Miguel, o André e o Jorge chegaram à escola deles a professora ainda não tinha chegado, o que era estranho. Dentro da sala D5 estava tudo numa barafunda: os alunos estavam a brincar e a correr, todo o material estava no chão, o que nunca teria sido possível se ali estivesse algum adulto. À entrada de Miguel a sala silenciou-se, era o delegado da turma e todos tinham medo dele. Perante esta mudança de situação, o Miguel virou-se para eles e ralhou: -Que é isto? - depois sorriu e disse - Continuem a brincar! Temos de aproveitar enquanto não está aqui nenhum adulto! Um aluno destemido avançou e perguntou: -Queres dizer que não vais fazer queixa de nós? -Claro que não! Alguma vez me queixei de vocês? Também me quero divertir! Já taparam a câmara que está na secretária da professora? -Qual câmara? - Perguntaram todos. -Não me digam que não taparam! - Gritou o Miguel A História de Diablocity Maria Capitão aflito, dirigindo-se rapidamente à secretária e constatou com alívio que algum aluno tinha atirado o casaco para cima duma estátua de um olho que era (afinal) uma câmara disfarçada. -Como sabias que havia aqui uma câmara? -São os benefícios que traz ser delegado da pior turma do século. - Disse o Miguel a sorrir - Agora aproveitemos e brinquemos tudo o que podermos pois tenho a certeza que não voltaremos a ter dias assim. -Sim, Miguel Capitão Santos! Sim, os nossos nomes são uma piada que já têm barbas. Costumavam gozar connosco dizendo frases como “Ao seu dispor senhor Capitão!”. O mais embaraçoso é que não era os nossos colegas que gozavam. O professor de física também costumava gozar connosco dizendo frases como “Ó Capitão tome conta da tropa” quando ia a algum lado ou quando estavam raparigas ainda nos balneários dizia “Capitão Maria vá chamar o resto da tropa feminina”. Sabíamos que estavam a brincar connosco e por isso não nos ofendíamos. A nossa turma era muito fixe. Como devem saber, tínhamos uma escola dividida em duas partes. Uma de raparigas e outra de rapazes. Achava muito estranho, mas nada podia dizer. Tínhamos dois pátios, dois refeitórios e por aí adiante. O melhor desta palhaçada, é que nós, raparigas, podíamos ir para a parte deles, e eles por sua vez, podem ir para a nossa. Apenas não podíamos 34 I A História de Diablocity Maria Capitão almoçar na parte deles, nem assistir às aulas. Tínhamos E.D. (expressão dramática), Formação Cívica e E.T. (educação tecnológica) juntos. Éramos 28 alunos ao total, 18 raparigas e 10 rapazes. Os rapazes eram o André, o Eduardo, o Jorge, o João, o Kevin, o Miguel, o Pedro Nunes, o Pedro Rocha, o Ricardo e o Rúben. As raparigas eram a Adriana, Ana Moreira, a Ana Catarina, a Ana Salvado a Ana Rute, a Bárbara, a Bruna, a Beatriz, a Carolina, a Daniela, a Diana, a Inês Saraiva, a Inês Rosário, a Joana Rosário, a Juliana, eu, a Magda, e a Rafaela. A Joana Rosário e a Inês Rosário eram irmãs gémeas, mas não se davam lá muito bem. Esta era a nossa turma, a minha primeira turma no 3º ciclo. Era muito fixe, volto a repetir, todos éramos amigos e ajudávamo-nos uns aos outros. No início dei-me horrivelmente mal com o Rochinha (Pedro Rocha). Ele era egoísta, convencido e estúpido, todas as coisas que odeio num rapaz. Houve até numa terça-feira, quase no fim do segundo período a “Grande discussão”, como lhe costumava chamar. Às terças-feiras tínhamos 2 horas e 10 minutos de almoço e eu, o Miguel, o Rochinha, o João, o Jorge e o Rúben costumávamos jogar um jogo inventado por nós. Esse jogo consistia em duas equipas, de quantos elementos nós quisermos e havia uma equipa que se escondia e quando já estava escondida mandava uma mensagem ou um toque à outra. Podíamos jogar na escola inteira, excepto dentro do edifício. A outra ia à procura A História de Diablocity Maria Capitão da primeira equipa e tinha que os agarrar - não era ver como no Jogo da Escondida. Quando os membros da equipa que se esconderam eram todos apanhados, a que os apanhou escondia-se e por aí adiante. Uma coisa boa naquele jogo era que na nossa turma todos corríamos bem, logo éramos difíceis de apanhar. Ora, nessa tal terça-feira estávamos a jogar e entraram mais pessoas da nossa turma. Eles esconderam-se e fomos tentar apanhá-los. Quando já os tínhamos apanhados todos, menos o Rochinha, a equipa dele disse que já os tínhamos apanhado todos. Ninguém sentiu falta do Rochinha. Quando eles já nos tinham apanhado e íamos recomeçar o jogo, o Rochinha apareceu de repente no nosso local de encontro e começou a dizer todo emproado que não o tínhamos apanhado e essas cenas... e que a equipa dele tinha ganho e lamechices desse género. Eu, que estava completamente farta dele, levantei-me (apesar de ser mais baixa que ele, faço-lhe frente) e comecei a responder-lhe a torto e a direito. Amuado, não abriu mais a boca. Continuámos o jogo. Estava tudo a correr sobre rodas, quando ao ser a minha equipa a apanhar, vimos a Bruna e a Juliana a discutirem com o Rochinha. Como sou amiga delas, fui ter com elas e comecei a defendê-las. Passado um bocado aJuliana afastou-se com lágrimas nos olhos. O problema era que o Rochinha insultava e chamava nomes, mas quando lhe dizíamos o que fazia, armava-se em santinho e isso fazia com que nos irritássemos. Não eram lágrimas de tristeza mas sim 36 I A História de Diablocity Maria Capitão de irritação. A Juliana afastou-se e a Bruna e eu fomos ter com ela. Percebia o que sentia. Estava tão irritada com ele, como ela! Fui a correr ter com a equipa que se estava a esconder e disse-lhes que o Rochinha tinha posto a Juliana a chorar. O João e o Miguel foram connosco (foram apenas eles quem eu vi) e ficaram com ela. Como pensei que o Rochinha já não ia chatear mais pedi-lhes que continuassem. Quando já estavam a 50 metros de distância, o Rochinha começou a chatear-me e a provocarme. Como estava já tão chateada com ele, aproximei-me dele e gritei- lhe: -Pára! Que eu saiba foste tu que disseste à Rafaela que eu era uma puta! Se me queres bater, bate! Não tenho medo de ti! Sabes o que me apetece fazer? É dar-te um excerto de porrada, que nunca mais voltas a insultar ninguém! Estava já ele a ir para me bater, quando o João apareceu a correr de onde estava, empurrou-o e gritou: -Ó vá! Nem sabes o que te acontece! Foi nessa altura que me afastei a chorar. Não eram lágrimas de tristeza, eram lágrimas de raiva e de pena. Não pena dele, mas pena da Juliana, que tinha de ir com o Rochinha para a escola de carro, pois as mães deles eram muito amigas. Quando o Rochinha a provocava, ela gritava-lhe e ele, por sua vez, fazia queixinha à mãe dele, mas era a Juliana quem pagava. Afastei-me e deixei tudo como estava. A História de Diablocity Maria Capitão Na aula seguinte, que era matemática (adoro matemática!), nem estava a prestar atenção, estava a tentar reprimir as lágrimas e a pensar na minha vida. O professor deve ter reparado, porque perguntou ao Pedro Nunes (o meu parceiro), o que eu tinha. Não ouvi, pois foi no fim da aula. Achei muito querido da parte dele. Até agora, excepto a parte da “Grande discussão” estava tudo bem, até que sem qualquer razão aparente a Bruna chateou-se comigo. Não sabia o que se passava por isso perguntei à Juliana se sabia o que ela tinha. A Juliana explicou-me que ela estava chateada comigo por causa da “Grande discussão”. Quando ouvi nem queria acreditar. Eu tinha-me sacrificado e tinha ido defender a Bruna e a Juliana do Rochinha e era assim que a Bruna me agradecia? Passou-se tudo mal, este ano, excepto algumas coisas boas, menos do que as más. Mas ainda não acabou. Espero que o resto seja fixe. Agora já me dou melhor com o Rochinha. Não somos amigos, mas também não somos inimigos. Somos uma espécie de amigos-inimigos, mais amigos do que inimigos. Em seguida, voltou tudo a fazer o que estava a fazer antes do Miguel ter chegado. -Olá André! Olá Jorge! Olá Miguel! - Disse uma voz que lhes era familiar por detrás deles. -Ah? 38 I A História de Diablocity Maria Capitão -Olá Rafael! O Rafael é um amigo nosso há séculos. É fixe, mas não gosta tanto de aventuras como nós gostamos. Estou apaixonada por ele. Gosto dele há, mais aproximadamente, dois períodos. Pensando bem, foi há dois períodos que o conheci. Ele e o Daniel Bray são malucos por xadrez, e jogam muito bem. Eu entrei no clube onde eles andam, e já jogo xadrez bem. Conhecios… e apaixonei-me pelo Rafael. Ele era super lindo, acreditem. Tinha olhos azuis, cabelo loiro, era da minha altura, e tinha um sorriso… ai! Nem vos digo!!! Ele era aventureiro, não tanto como nós, só faz porcaria, e é sempre chamado ao conselho directivo. Embora o Rafael seja do 8º ano, na nossa escola, os 8º e 7º têm aulas juntos. -O que foi? - Perguntou o Rafael. -O que queres dizer? -Vocês chegaram atrasados! Não é razão para perguntar? -Tens razão. Bem, não sei se acreditas... - Assentiu o Jorge. -Vá lá, contem! Já sabem que sou de confiança! -Ok! Tudo o que te vamos contar é verdade. ...E explicámos tudo tintim por tintim. Ele ficou muito entusiasmado, e queria ter ido ter connosco para falarmos, mas não adiantou de nada, pois ele nunca tinha tempo para estar connosco. A História de Diablocity Maria Capitão -A professora? Nunca faltou a uma aula e muito menos num teste. Sabes dela? -Népia! - Negou o Rafael, quando, de repente entrou o director da escola e tossiu para demonstrar a sua presença. O Director anunciou que a professora de matemática tinha sido raptada enquanto atravessava o bosque. Parecia que o director estava tranquilo e até satisfeito. Do outro lado da escola estava o vice-director a dar a mesma notícia às alunas. Também parecia satisfeito. Eu, sempre curiosa perguntei: -Desculpe a pergunta, senhor vice-director, mas como sabe que foi raptada? Como sabe que desapareceu? -Eu sei que ela foi raptada! -Desculpe senhor. - Disse, em voz baixa, mas de cabeça erguida. Achei isto muito estranho e pareceu-me que o vice-director estava detrás disto. -Bem não terão aulas até ela aparecer. -E se não aparecer? -Darei eu aulas. -Não!!! - exclamaram todas as alunas e alunos. O director e o vice-director eram conhecidos por serem muito maus e ai de alguém que fizesse alguma brincadeira ao pé deles! Quando a infracção não era má limitavam-se a dar 100 chicotadas ao infractor, mas quando era muito grave, levava 300 chicotadas e ficava 40 I A História de Diablocity Maria Capitão um dia inteiro no bosque. O bosque estava cheio de crânios de alunos que ali morreram. Não expulsavam quem tinha cometido a infracção porque isso era o que alguns dos alunos queriam. Na nossa aldeia não havia polícia. -Então desapareçam daqui! Mal saímos da escola eu, o André, o Jorge, o Rafael e o Miguel fomos ter ao nosso esconderijo que era nuns arbustos ao pé das grades, mas tínhamos tirado as grades e íamos para lá quando precisávamos e queríamos estar juntos. -Olá Rafael! - Disse quando nos encontrámos. -Olá Maria! - Disse o Rafael. -Olá para ti também Ned. - Disse o Rafael quando o Ned apareceu detrás de uns arbustos do nosso esconderijo e se começou a atirar para cima do Rafael. -Au, au! - Ladrou o Ned. -Já lhe contaram o que nos aconteceu? - Perguntei desta vez para o André, para o Jorge e para o Miguel. O Miguel e o Jorge acenaram com a cabeça. -Antes disso, o director foi à vossa aula? -Sim. -Disse-vos que... -A Prof. tinha sido raptada. Sim disse. - Interrompeu o Rafael. A História de Diablocity Maria Capitão -Aqui há coisa. Isso vos garanto eu. -Porque dizes isso? É um sinal que não teremos mais testes com a odiosa professora. -Não reparaste na calma do professor? O vicedirector disse-nos que a professora tinha sido raptada a sorrir! Bem, mas agora preciso de fazer outra coisa, depois trato dele. -Qual é? - Perguntou o Miguel desconfiado porque as minhas ideias são sempre malucas. -Hoje ou amanhã vou lá à gruta e vou buscar o meu skate. -Estás doida? - Perguntaram todos em coro excepto o Rafael. -Porquê? -Provavelmente o monstro vive lá para ter saído da gruta mal o skate entrou para lá para dentro. -E se ele te apanha? -Se me apanha, mostro-lhe todas as técnicas de kickboxing que sei. - Respondi com um sorriso. -E se te come? -É da forma que fica com mais 40 kg no corpo. -Rafael, não dizes nada? - Perguntou o Jorge, ignorando as minhas respostas. -Bem… eu tenho de apoiar as decisões dela não? E além disso, vai haver um concurso a nível mundial sobre grupos de desportistas e eu tinha esperança que nós 42 I A História de Diablocity Maria Capitão fossemos, eu, a Maria, tu, o André, o Miguel, a Juliana e a Rafaela íamos de skate. -Tu preocupas-te mais com um estúpido concurso de desporto do que com a Maria?!?! - Diz ferozmente. -Apoiado! Obrigado Rafael! Estão a ver? Mais uma razão para eu recuperar o meu skate! Aonde é a viagem? -Exclamei, embora estivesse um bocadinho triste por o Rafael se preocupar mais com um concurso do que comigo. Isto só me ajudava a perceber que ele não gostava de mim. -Nem sequer falei numa viagem... - sorriu com ar comprometedor - Mas há uma ao Egipto com direito a guia e tudo para o primeiro prémio! E além disso, como sei que a Maria é muito teimosa e que não vale a pena discutir porque ela leva sempre a melhor, achei que não valia a pena insistir e contrariá-la porque depois ela podia chatear se comigo. -Olhem, eu vou hoje à noite à gruta... O monstro tem menos possibilidades de me ver… Por falar nisso aonde está a Juliana e a Rafaela? -Pois… -Miguel sabes onde é que elas estão? -Estão no hospital. -Porquê? O que lhes aconteceu ? -Sabes o monstro de que vocês falaram e que nos atacou? Acho que foram mordedelas por esse monstro. A História de Diablocity Maria Capitão -Então temos de as ir ver! Porque não disseste antes? -Elas dizem-te a razão. - Encolhi os ombros e saímos da escola, enquanto pegávamos nos skates. Fomos ter ao hospital que ficava na cidade vizinha, Godcity, a 40 quilómetros. 44 I A História de Diablocity Maria Capitão Capítulo 6 Uma Grande Coincidência Após termos chegado a Godcity dirigimo-nos ao hospital e, mal entrámos, o Miguel foi à recepção e falou com um tom diplomático: -Por favor, poderíamos visitar umas pacientes que deram entrada hoje de manhã? -Diga-me o primeiro e último nome das pacientes, por favor. - Pediu a Enfermeira. -Rafaela Geraldo e Juliana Silva. -Vejamos… aqui está. Entraram hoje com mordedelas nos braços e pernas. -Não queremos saber porque entraram aqui. Queremos visitá-las. Podemos? - Disse o André já a ficar enjoado. -Quantos é que vocês são? -Somos 6. -São familiares? -Não. Somos os seus melhores amigos e só agora é que soubemos que elas estavam no hospital. -Digam-me os vossos nomes. -Maria Capitão, Miguel Santos, André Carreira, Jorge Sousa, Rafael Luís e Ned Shneeider. -Apesar de sermos irmãos e de termos o mesmo apelido, o nosso nome (o A História de Diablocity Maria Capitão meu, do André, do Jorge e do Miguel) é muito grande. O meu por exemplo, é Maria João Capitão Santos Sousa Carreira, logo, cada um de nós, pode escolher qual é osobrenome que mais gosta. É estúpido, mas é assim. Vou explicar: o apelido do meu pai é Santos, mas como sempre gostou do apelido Sousa, decidiu que nos iria pôr os dois apelidos, e o apelido da minha mãe é Capitão, mas como foi sempre uma enorme fã do Mickael Carreira, decidiu pôr-nos os dois nomes também. Assim, graças aos nossos pais, eu posso escolher dizer que sou a Maria Capitão, a Maria Santos, a Maria Sousa ou a Maria Carreira! -Hummmm… Podem vir. Enquanto seguíamos a enfermeira, o Rafael foi ter comigo e falou-me em voz baixa para a enfermeira não ouvir: -A enfermeira é nova aqui. Se já conhecesse as regras devia saber que não podem entrar mais de três pessoas num quarto para visitar algum paciente. -Ainda bem. Agora cala-te Rafael, a enfermeira já está desconfiada. Depois continuámos a seguir a enfermeira, mas desta vez ninguém disse nada até chegarmos ao quarto 22. Mal lá chegámos a enfermeira pediu-nos para recuar, abriu a porta e disse algo em surdina. -Posso? Têm aqui visitas meninas Juliana e Rafaela. Querem vê-las ou mando as embora com uma desculpa qualquer? 46 I A História de Diablocity Maria Capitão -Quem são? - Perguntaram do outro lado da porta. -Maria Capitão, Miguel Santos, André Carreira, Jorge Sousa, Rafael Luís e Ned Shneeider. -Eles que entrem, por favor. - Responderam. A Enfermeira, embora contrariada, fez- nos sinal para entrar. Entrámos no quarto e vimos duas pessoas mas nenhuma delas se parecia com as nossas duas amigas. As pessoas que vimos estavam pálidas, murchas e muito, mas mesmo muito doentes. -Olá André, Miguel e Jorge. -Olá Rafael, Maria e Ned. Quando entrámos, e o Ned viu a Rafaela e a Juliana foi a correr ter com elas, mas quando se aproximou mais e viu como elas estavam esverdeadas, lambeu a mão a cada uma delas e voltou para ao pé de nós. -Olá Juliana e Rafaela! - Entoámos todos, excepto o Miguel que estava envergonhado sem aparente razão. -Porque estão aqui? - Perguntou a Juliana que era de longe a mais doente. -Dah! Para vos vir visitar. Vocês estão no hospital, de cama, ainda não reparaste? -Não a trates assim! Ela é a que está em pior estado! O monstro ia a levando se não o tivesse mordido! E agora está muito doente! - Rebentou o Miguel que tinha estado muito calado e envergonhado até ter rebentado daquela forma. A História de Diablocity Maria Capitão -Pronto, desculpa. Não sabia. - Pediu o André que quando sabia que estava errado pedia sempre desculpas. -O que aconteceu ao certo Rafaela? Podes explicarnos? - Pedi. -Claro que sim. Bem, então... Tudo começou de manhã depois de já estarmos todas arranjadas para ir para a escola… O Miguel apareceu para irmos todos juntos, que como sabem é namorado da Juliana… -O quê? Desde quando?! - Disseram atónitos. -Porque não nos contaste nada Miguel? - Inquiriu o André, olhando para ele. O Miguel que depois de ter rebentado estava caladinho e encolhido, quase que não se via, encolheu se ainda mais notando se apenas a sua crista. -Namoramos desde ontem à noite. Tivemos a falar pelos walkie-talkies e eu confessei lhe que gostava dela. E ela disse que também gostava de mim. Pedi-a em namoro, ela aceitou e combinámos que eu ia ter a casa dela e íamos juntos para a escola. Íamos contar vos hoje que namorávamos quando... - Disse o Miguel numa voz sumida. -Como estava a dizer, o Miguel foi ter connosco a nossa casa, mas como só faltavam 2 minutos para as 08.00 decidimos ir pelo bosque. Eu ia de skate, e a Juliana e o Miguel no skate dele. Já estávamos mais ou menos no meio do bosque, quando a Juliana, que ia à frente com o Miguel, chocou com alguma coisa ou alguém. O 48 I A História de Diablocity Maria Capitão Miguel caiu para a frente e a Juliana caiu para trás. Eu, que ia atrás, ouvi a Juliana gritar quando se apercebeu com o que tinha chocado... Era um monstro com quatro braços, cauda com espigões, pele da cor da chita, olhos azuis, nariz, orelhas e boca estranhamente humanos. E ao mesmo tempo que a Juliana gritava ouvi um barulho muito esquisito, mais ou menos parecido com “Xewrrch, Xewrrch!” -Foi ele! Foi ele! - Exclamou o Miguel. -Diz? -Ele o quê? -O monstro de quem vocês falam! -Foi o mesmo monstro que vos atacou! - Exlamou o Rafael que já tinha percebido do que é que o Miguel falava. -Podem explicar-me, se não se importarem? -Foi assim, eu, a Maria… - E o Jorge contou- lhes o que nos tinha conhecido de manhã. -Por isso tenho de recuperar o meu skate. - Disse quando a narração tinha acabado. -Mas não achas que te estás a sujeitar a muito perigo? -Perguntou a Rafaela aterrada ao pensar que eu ainda podia dar de caras com o monstro. -Só com o skate podemos ter alguma hipótese de ganhar o concurso e além disso foi uma prenda do meu pai. Não o quero perder, percebem?! Tenho de o A História de Diablocity Maria Capitão recuperar! Não vos estou a pedir que venham comigo, nem nada disso, apenas quero que me apoiem. Podem fazer isso? O Jorge, o Miguel, o Rafael, a Rafaela e a Juliana trocaram um olhar e o Rafael disse: -Nós não só te vamos apoiar, como também vamos contigo à gruta tentar encontrar o teu skate. Certo? -Certo! - Exclamaram. -Eram capazes de fazer isso por mim? -Claro que sim, Maria. Tu és nossa amiga, nos apoias, e tenho a certeza que tu também eras capaz de ir ao bosque com algum de nós para procurar alguma coisa. -Disse a Juliana, tocando no meu braço. -Obrigada! Gosto muito de vocês! Se pudesse escolher seis pessoas entre toda a gente do mundo escolhia-vos a vocês - confessei com lágrimas nos olhos. -Podem pensar que sou lamechas à vontade, mas com o divórcio dos pais e o resto, os meus irmãos e amigos eram a única coisa que nunca me tinha desiludido na vida. Por isso, gostava tanto deles e fazia tudo o que eles faziam. -Temos de ter cuidado com o monstro. -Pois. -Esse vai ser o maior perigo. -Mas nós todos juntos vamos conseguir enfrentá-lo. -Tens razão. -Mudando de assunto, quando é que vocês têm alta? 50 I A História de Diablocity Maria Capitão -Boa pergunta. -Sei como é que podemos saber. - Disse a Juliana. -Como? -Alguém tem um telemóvel? -Eu tenho. - Exclamou o Jorge. -Emprestas-mo? -Claro. -Qual é o número deste hospital? -127980239. -Informou o Miguel. -Calem-se por uns momentos. Vou telefonar. -A quem? -Ao hospital. -Que hospital? -Para este. Ainda não perceberam? Telefono para este, digo que sou da família, pergunto como é que nós as duas estamos e fico a saber. -Boa ideia! -Shiu! -Boa tarde, fala o hospital de Godcity. O que deseja? -Queria saber como estão as pacientes do quarto 22 e quando terão alta, se faz favor. -Com certeza. -Hum... Se continuarem assim terão alta daqui a uma semana. A História de Diablocity Maria Capitão -Só?! -Sim. Elas foram mordidas por uma espécie que não existe. Por um tal de Aplocarionte. A sua dentada é mortal, se o animal assim quiser. Deita um líquido que vem dos pés até à boca e se morder com esse veneno, mata. -Obrigada, na mesma. - Mentiu a Juliana, desanimada, desligando. -Eu conheço esse tal de Aplocarionte! Aparece nos livros de animais venenosos. - Exclamou o Miguel. -Como se tu não soubesse… - Picou o André. -Acho que vocês terão de estar uma semana sem nós… - disseram tristemente a Rafaela e a Juliana em coro. -Não se preocupem, esta semana vamos estar muito atarefados. -Vamos? -Sim, vamos! Temos de arranjar walkie-talkies, lanternas, pilhas, bússolas, pedir às mães que nos façam um lanche para muitos dias, sacos-cama, fósforos, lenha…. -Espera lá! Não estás a pensar em acampar na floresta pois não? -Estou sim, precisamos de o encontrar, e depois procurar a professora. -Estás a pensar em procurar aquela velhaca? -Estou sim. Tens problemas? Se a encontrarmos ela 52 I A História de Diablocity Maria Capitão vai ficar muito contente e agradecida connosco e nunca mais nos vai castigar! -Boa ideia, mas mesmo assim… -Mesmo assim, nada! Jorge, tu, o André e o Miguel vão procurar walkie-talkies, lanternas e fósforos. Eu e o Ned vamos procurar sacos-cama e pedir às mães comida. -Entendido? -Sim! - Gritaram todos. -E tu Ned, concordas? -Uof, uof. - Respondeu e rimo-nos todos. O Ned é mesmo um cão muito esperto! A História de Diablocity Maria Capitão Capítulo 7 A Gruta Durante a semana andámos todos muito atarefados, procurámos lenha, walkie-talkies e tudo o que fossemos precisar. Só arranjámos e preparámos tudo um dia antes de a Rafaela e a Juliana saírem do hospital. Afinal elas ficaram mais quatro dias do que era previsto e só saíram na quarta e nesse dia reunimo-nos todos em casa da Juliana e da Rafaela. -Bem, finalmente já arranjámos tudo! - Exclamou satisfeito o Miguel. -Pois é. Custou muito. - Concordou o André -Tudo não, falta pedir aos nossos pais se nos deixam acampar no bosque. -Mas não lhes podemos dizer que queremos lá ir se não, não nos deixam. -Podem pedir para virem a minha casa. - Disse o Rafael, para ajudar, nem que fosse um bocadinho. - Os meus pais não se vão importar. - Acrescentou. A casa do Rafael, era longe das outras, mas era mesmo à entrada do bosque, por isso, era perfeita! -Boa ideia! -Não sei… Talvez os pais da Juliana e da Rafaela queiram estar com elas. -Talvez, mas vamos pedir. A História de Diablocity Maria Capitão -Trabalhámos muito para parar agora. -Ainda para mais, não temos escola agora por causa da professora. -Amanhã como é sábado, os nossos pais pensam que vamos todos jogar futebol e vão arranjar-nos lanche. Encontramo-nos amanhã todos às 09.00 na escola, ok? Perguntou a Rafaela -Vamos todos ter à escola. Encontramo-nos no portão que separa as duas escolas. No dia seguinte levantámo-nos bem cedo, pusemos as malas às costas e partimos em direcção à escola. Às 08.50 chegaram a Juliana e a Rafaela, e passados 10 minutos cheguei. O André, o Miguel e o Jorge chegaram 2 minutos depois de mim e só passados 20 minutos é que chegou o Rafael. -Porque demoraste tanto? - Perguntei. -Desculpa mas caso não saibas tive uma reunião com o director e sub-director da escola. Os delegados das outras turmas do 8º ano também lá estavam. -Mas tu não és delegado. -Pois não, mas como sou vosso amigo, eles queriam saber como é que elas estavam... e tivemos a discutir cenas sobre a escola. -Que cenas? -Cenas secretas. 56 I A História de Diablocity Maria Capitão -Tasse bem! Estão todos preparados? -Sim! -É melhor separar-nos. Eu vou para Norte com o Rafael. - Disse, indo para ao pé dele. -Eu e a Juliana vamos para Sul. - Afirmou o Miguel, dando- lhe a mão. -O Ned e eu vamos para Este! - Continuou o Jorge. -A Rafaela e eu vamos para Oeste! - Terminou o André. -Se estiverem em apuros mandem uma mensagem ou falem pelo walkie-talkie. -Estão ligados? -Sim! -As bússolas funcionam? -Sim! -Então boa sorte e encontramo-nos aqui às 19.30. Se não vierem até às 20.00 é porque ocorreu algum imprevisto, tiveram de ir para casa ou assim. -Ok! Todos percebemos que o Jorge queria dizer que se não estivéssemos lá até às 20.00 era porque talvez tivéssemos sido apanhados pelo monstro ou assim, mas como ele é bom rapaz preferiu não o fazer. Partiu, então, cada grupo para cada lado. A gruta A História de Diablocity Maria Capitão situava-se para Sul a partir da escola, ou seja, era na direcção em que a Juliana e o Miguel iam, mas nesse preciso instante o monstro dirigia-se para Norte, na direcção em que eu e o Rafael estávamos a ir. -Este bosque era bom para andar de skate. - Disse eu, para quebrar o silêncio constrangedor que pairava à nossa volta. Embora eu não me importasse de estar em silêncio, sabia que o Rafael odiava estes silêncios. -Achas? -Se não fosse, num certo modo, assustador. -Concordo. -Acho que é um pouco assustador pelas sombras dos animais e árvores que parecem monstros a espreitar. Calámo-nos, fitando o arvoredo que existia dos dois lados, limitando o caminho. Continuámos a caminhar durante um bom tempo até que decidimos parar. - Ufa, não aguento mais, se quiseres vai andando. Disse, encostando-me a uma árvore. -Achas mesmo? - Respondeu o Rafael também se encostando à árvore. -Talvez. Quando o Rafael ia a responder ouviram um desfolhar de folhas, e subimos ambos rapidamente para cima da árvore onde nos tínhamos encostado. Por entre os arbustos apareceu o monstro. Vinha a falar para si, e encostou-se à árvore onde eu e o Rafael estávamos aterrorizados de medo. 58 I A História de Diablocity Maria Capitão -Uau, nunca pensei que o monstro fosse assim tão nojento... - Murmurou o Rafael. -Nós dissemos-te. - Espero bem que os Evils tenham feito o banquete real e tenham capturados os Copper, ou então vai haver bronca. Eu irei ficar muito chateado pelo banquete e o Grande Supremo Mestre pelos Copper. Como será que eles conseguiram escapar? Os pais, até compreendo, mas o puto, não. Ele deve ter uns 14 anos é muito novo para conseguir escapar dos feitiços, embora pareça uma Torre Eiffel. Ainda bem que prendemos a irmã dele nas catacumbas, senão ela seria a primeira a fugir, aventureira como é. O irmão dele, Rúben acho eu, daqui a uma semana será crucificado, e a Joana, também. É a paga pelas coisas que o pai dele tem feito. - Ia dizendo o monstro em voz baixa, mas não suficientemente baixa para não ouvirmos. -Quem serão os Evils? E os Copper? - Perguntei em surdina para mim. -Não sei, mas não me parece que os Copper sejam os maus da fita. - Respondeu o Rafael assustando-me. - Acho que os Copper estavam presos em qualquer lugar e fugiram; o puto, como o monstro disse, tem 14 anos e tem uma irmã que é muito aventureira, mas está presa nas catacumbas; o Rúben e a Joana daqui a uma semana serão crucificados! A História de Diablocity Maria Capitão -Que horror! Temos de nos despachar e depressa! Já temos informações suficientes para um dia. Quando o monstro sair daqui bazamos. -E se o monstro nunca mais sair?! Tenho uma ideia melhor. -Qual? - Perguntou, desconfiado. Antes que pudesse fazer algo, parti um ramo e atirei-o com toda a força para o outro lado do bosque. O monstro, ao ouvir o barulho, correu para lá e pudemos descer a árvore. -Vamos para o ponto de partida? -Sim, mas isto tudo é muito estranho. Acho melhor termos um sítio especial para pudermos falar destas coisas, sem sermos importunados, nem nada. -Que tal nos arbustos que separam as duas escolas? -Não, qualquer um pode ouvir. -Que tal enviarmos uma mensagem a todos para lhes perguntarmos? -OK. - Assenti, abanando a cabeça. Enquanto falávamos não vimos que por detrás de nós se aproximava uma coisa, e quando essa pessoa surgiu atrás de mim, o Rafael deu um grito e disse: -Atrás de ti! Foge!!! Como é óbvio olhei para trás e atrás de mim estava uma coisa com cerca de 2.40 metros vestida com um casacão preto e um capuz preto. A cara era maquiavélica, 60 I A História de Diablocity Maria Capitão tinha olhos vermelhos como chamas, boca finíssima e dentes que naquele momento estavam cheios de sangue. Qualquer um se assustaria com isto (incluindo eu, mas quis-me armar em forte à frente do Rafael) e dei um passo à frente e perguntei: -Quem és tu? - Como resposta a coisa rugiu. O Rafael agarrou na minha mão e disse: -Acho que isso não quer conversar, anda! E fugimos os dois pelo bosque fora. Mas antes que nós desaparecêssemos de vista a coisa tirou uma minivara e disse: -Para o meu corpo eu quero voltar! No preciso instante em que acabou de dizer estas palavras, a cara maquiavélica desapareceu e apareceu uma cara de um rapaz perfeitamente normal - que de certo modo era atraente. Quando o seu semblante voltou ao normal, ele gritou: -Esperem!!! Eu tinha uma máscara! Apenas eu ouvi estas palavras mas achei que era uma forma de nos atrair. Pela minha parte era capaz de voltar atrás mas não voltei porque o Rafael ainda me agarrava e quer admitisse quer não gostava muito dele. No outro lado do bosque, a Sul do ponto de partida, deambulavam dentro do bosque o Miguel e a Juliana. -Achas que vamos encontrar o monstro? A História de Diablocity Maria Capitão -Espero bem que sim. -Porque dizes isso? Não tens medo dele? -Tenho, mas se continuar à solta, irá continuar a raptar mais pessoas, e provavelmente a comê-las. -Miguel! Que nojo! Não digas isso! -Estou a brincar! Não leves as coisas tão a peito. Após isto, a Juliana fez o seu olhar ameaçador e ao mesmo tempo afectuoso. De repente, ouve-se um som,“Bzzzz... Bzzzz...”. -O que é isso? - Sobressaltou-se a Juliana. -É apenas o telemóvel, é uma mensagem da Mosca. -O que diz? -Diz: “Tackles nós achamos que estas coisas estão a ir longe de mais, precisamos de ter um local para falarmos sobre isto. Que lugar achas mais apropriado? Pergunta à Rafaela e aos outros se não achares nenhum lugar bom.” -Quando acabou de ler a mensagem o Miguel começou a escrever no telemóvel. -O que estás a escrever? -Estou a dizer que acho que a casa do André e do Jorge é um bom esconderijo. -Qual casa do André e do Jorge? Tu, a Maria, o André e o Jorge são irmãos... não são ? -Sim, mas os nossos pais separaram-se e o André e o Jorge vivem com a mãe. 62 I A História de Diablocity Maria Capitão -Desculpa falar nisso. -Não há problema. -Bem agora é melhor irmos para o ponto de partida, são quase 19.30. -Não me parece que vão. Ahahahahah! - Ri-se a criatura que se aproximou de rompante emitindo o tão caracterísico XEWRRCH! XEWRRCH! -Ah! Socorro! Miguel! A História de Diablocity Maria Capitão Capítulo 8 O Resgate Enquanto conversavam, Miguel e Juliana, não repararam que o monstro se ia aproximando deles. O monstro veio de Norte para o sul - onde eles estavam atraído pelo pau que mandei, surpreendendo-os. Pegou neles e levou-os, arrastando-os pelo cachaço. Apesar da situação, Miguel pôs a sua inteligência a trabalhar e formulou um plano: pedir um resgate e esperar que nós engendrássemos uma forma de o salvar a ele e à Juliana. -Espera! - gritou o Miguel - Não queres pedir um resgate? Ganhavas um bom dinheirinho e não precisavas de fazer nada. -Uh? O que é um resgate? - Respondeu o monstro. -Um resgate é, por exemplo, o dinheiro que os nossos amigos vão pagar para nós voltarmos para eles e tu deixares- nos ir - Explicou pacientemente a Juliana. -Nem pensem! Apanhei-vos por aqui a espionar e não vos vou deixar sair. -Mas qual é o problema? Se dissermos que vimos um monstro ninguém vai acreditar em nós! -Têm razão. Peçam lá o “rasguete” ou como se diz. -Resgate! -Isso! Após esta discussão, o Miguel pegou no telemóvel A História de Diablocity Maria Capitão e mandou-me uma mensagem a dizer: “Fomos raptados pelo monstro. Tragam 400 doces de morango com tranquilizantes. Nós estamos bem.” -Aonde é para entregaram o resgate? - Pergunta o Miguel. -Na clareira da Caveira. - Responde o Monstro. -Aonde é isso? -Ao pé da vossa escola. -Hum… -Subam à maior árvore que se encontra dentro do pátio da escola dos rapazes e olhem para oeste. Lá verão uma clareira. Entreguem lá. -Ah, Ok. “Subam à maior árvore do nosso pátio e olhem para oeste. Lá está uma clareira. Despachem-se e arranjem alguma armadilha para ele. Beijos Miguel e Juliana.“ Envia, o Miguel, este texto numa segunda mensagem para mim. -Já está. - afirma Miguel - Agora temos que lá ir ter. -Aonde? Perante esta resposta o Miguel e a Juliana trocaram um olhar que significava: Este monstro é mesmo burro! Gostava que fosse mais esperto! -Para a clareira da Caveira! -Para? 66 I A História de Diablocity Maria Capitão -Para ires receber o resgate! -Ok. - Disse o monstro, encolhendo os ombros. Volta a agarrá-los pelo cachaço enquanto se dirigiam para a clareira da Caveira. Às 20.00 todos nós nos encontrámos no portão que separa as duas escolas. Mal nos encontrámos o meu telemóvel começou a vibrar. -Recebi uma mensagem… do Miguel! -O que diz? -Diz que ele e a Juliana foram raptados… pelo monstro! -O quê? -Sim é verdade. O monstro também pede um resgate, 400 doces de morango com tranquilizantes. -Onde raio vamos arranjar 400 doces? - Perguntaram o André e o Jorge em simultâneo. -Eu sei onde. Eu e o Miguel temos exactamente 500 doces guardados no nosso quarto. -Têm? -O pai deu 500 a cada um. Juntámos e já comemos metade. Restam-nos 500, ou restavam, agora vamos ficar só com 100. -Essa parte está resolvida mas onde raio vamos nós arranjar 400 tranquilizantes? A História de Diablocity Maria Capitão -O pai da Juju e da Ruffles é veterinário. -E o que lhe dizemos? Olhe, a sua filha e o Miguel foram raptados por um monstro e precisamos de 400 tranquilizantes para o adormecer e assim recuperá- los? Não me parece. Pensámos todos durante um bom bocado, mas era difícil. Tínhamos de ter 400 tranquilizantes, não sabíamos o que dizer para consegui-los. Não sabíamos o que dizer para não desconfiarem do desaparecimento da Juliana e do Miguel. Era tudo muito complicado. Mas nós tínhamos de conseguir, afinal éramos Os Oito, (com o Rafael) não éramos? Estava a divagar pela minha mente para procurar uma solução para o nosso problema quando a Rafaela interrompendo os meus pensamentos disse: -Nós podíamos dizer que precisamos dos tranquilizantes para Ciências! E para explicar o desaparecimento da Juliana e do Miguel dizíamos que eles já estavam a preparar o trabalho! -Boa ideia! -Então vamos! -‘Bora! Partimos, então para a loja do Sr. Manel, que era o único veterinário num raio de 600 km. Também era médico, mas como era raro haver pessoas doentes e, muito frequente haver animais doentes, o Sr. Manel decidira dedicar-se aos animais. A loja era no centro da aldeia e demorámos, cerca de 15 minutos a lá chegar. 68 I A História de Diablocity Maria Capitão Quando começámos a avistar a loja eram já 20.30 e o Sr. Manel fechava às 20.00, portanto supus que tivesse havido mais clientes do que o habitual. -Boa tarde Sr. Manel! - Gritou o André. -Boa tarde, NeAllex! - O Sr. Manel é também o único adulto que sabe as nossas alcunhas. Nós gostamos todos muito dele, e ele também gosta muito de nós. O Sr. Manel é hippie. Veste sempre uma camisola a dizer “Salvem os animais!” na parte da frente, e na detrás diz “Paz! Queremos paz!”. Usa sempre umas calças largas e sandálias. Mas o que nós mais gostávamos no Sr. Manuel era o seu cabelo. Tinha o cabelo pintado de verde florescente, e com a parte de cima fazia uma crista e com o resto, um rabo-de-cavalo. Era muito excêntrico. -Queríamos comprar 8 caixas com 50 tranquilizantes em gel, se faz favor. - Informou o André. -Para que querem isso tudo? -Para Ciências, a professora vai levar vários javalis vivos e nós formamos grupos de oito. Precisamos dos tranquilizantes para os adormecer. -Aquela professora chanfrada! - Rimo-nos, pois o Sr. Manuel e a professora de Ciências que também é a de Matemática nunca se deram bem. Tudo aconteceu quando eles tinham aproximadamente a nossa idade. Dantes, eles eram muito amigos e toda a gente dizia que iria dar em casamento. Teria sido assim ,se não tivesse sido o que aconteceu A História de Diablocity Maria Capitão dia 29 de Maio de 1935. O Sr. Manuel era muito giro, ainda o é, e tocava guitarra e cantava, e haviam muitas raparigas que estavam apanhadinhas por ele, como por exemplo, a rapariga mais popular da escola, a Isabela. O Sr. Manuel gostava muito da Isabel (é assim que a professora se chama) e estava a escrever-lhe uma carta de amor, mas se enganou no nome e escreveu Isabela. Ora, estava ele a ir corrigir o erro, quando se aproximaram os seus ex-melhores amigos, que eram irmãos da Isabela. Viram o nome da irmã, aproximaram-se, tiraram-lhe a carta e leram-na. Disseram ao Sr. Manuel, que se ele não se declarasse à irmã deles e dissesse que odiava a Isabel, eles iriam mostrar a carta a toda a gente, e iriam dizer que o Sr. Manuel tinha estado sempre com a Isabel para fazer ciúmes à sua irmã, a Isabela. O Sr. Manuel pensou no assunto, decidiu que iria dizer à Isabel que a odiava e iria namorar com a Isabela. Tinha escolhido esta situação, pois preferia dizer sozinho à Isabel que a odiava do que fazê-la passar pela humilhação de pensar ter sido usada. Então, dirigiu-se ao pátio, onde a Isabel falava com as suas amigas, chamou-a para um canto, e com as lágrimas a escorrerem pela cara, disse que a odiava e que nunca mais queria falar com ela. Os anos foram passando e o Sr. Manuel cada vez mais triste, pois não era só o facto de namorar com a Isabela que o entristecia, era também o facto de a Isabel, ao ter ficado com o coração destroçado pois amava do Sr. Manuel, ter começado a fazer-lhe ciúmes. Estava sempre com outros rapazes, e mostrou até 70 I A História de Diablocity Maria Capitão a rapazes, coisas que ela jurara nunca mostrar, as fotos da primária, as cartas que ele lhe mandara e também as fotos de quando o pai do Sr. Manuel foi preso por ter morto e violado uma criança menor. O Sr. Manuel nunca a perdoou por ter mostrado esta última foto. Ainda hoje a odeia. Isto e muitas mais coisas diz-nos o Sr. Manuel quando costumamos ir a casa dele. O Sr. Manuel dissenos, também, que se aparecesse uma mulher que ele amasse e ela retribuísse o amor, ele divorciar-se-ia se da Isabela (foi obrigado também pelos irmãos da Isabela a casar com ela) e casaria com essa mulher. Não tinha medo dos irmãos dela. Mas acrescentou que, se ele não tivesse casado com a Isabela, nunca teriam nascido a Juliana e a Rafaela. -Bem esperem um bocadinho, vou buscar à arrecadação. - Disse o Sr. Manuel enquanto se afastava mas ainda o ouvimos resmungar entre dentes “Maldita mulher que pensa que sabe tudo …”. Já tínhamos cumprido metade do plano, mas faltava ainda pedir autorização para a Juliana, e a Rafaela “dormirem” em casa do Rafael. Quando digo “dormirem”, quero dizer, irem à procura do monstro connosco. Quando ele voltou, trazia oito caixas, que pareciam e eram carregadas. -Eu levo três e cada um de vocês leva uma. - Disse eu. -Mas tenho mais força do que tu, e além disso sou… A História de Diablocity Maria Capitão -Tentou retorquir o André. -Não te atrevas a dizer que por seres rapaz, tens mais força do que as raparigas! - Explodi - Qualquer rapariga, se quiser pode ter mais força do que um rapaz! Estou farta do racismo dos homens contra as mulheres! Queres um braço- de- ferro para provar ou uma luta? O André abanou a cabeça e recuou, pois sabe que quando eu perco a cabeça, tenho muito mais força do que qualquer outra pessoa. Não fervo em pouca água, mas também não aguento certas coisas, como por exemplo o machismo de homens contra mulheres, e pessoas convencidas e estúpidas. -Se não queres, fica calado, e não discutas. E eu levo as três caixas se quiser! O Sr. Manuel que ouviu tudo aproximou-se e disse: -Tens razão Mosca. O machismo é muito falado pelas mulheres, mas nada se resolve. Há apenas alguns países onde já não há machismo. Infelizmente, cá não é assim. -Bem, pai, eu queria pedir-te que me deixasses, a mim e à Juliana, dormir em casa do Rafael o fim-de- emana todo. - Pediu a Rafaela. - Por falar nisso, onde está a tua irmã e o teu irmão? - Perguntou o Sr. Manuel dirigindo-se à Rafaela a mim. Não tínhamos pensado na possibilidade do Sr. Manuel fazer esta pergunta por isso ficámos parados, sem dizer nada. Foi o Jorge que consegue em situações de perigo manter a cabeça fria que nos salvou dizendo: 72 I A História de Diablocity Maria Capitão -Como pensávamos que o Sr. Manuel iria deixá-las irem para casa do Rafael, o Miguel e a Juliana já estão a preparar as coisas. -Ah, pensaram... Bem, por essa não vos devia deixar ir. - Disse o Sr. Manuel. Ficámos mudos, espantados pelo Sr. Manuel ter dito aquilo. Sempre pensei que ele era um tipo às direitas, mas agora, começo a duvidar. -Estava a brincar, seus malucos! É claro que vos deixo ir! Não pensaram que estava a falar a sério, pois não? -É claro que não Sr. Manuel - Menti. Todas as dúvidas que tinha saíram-me da cabeça como um relâmpago. -Bem, mas não digam nada à Isabela. -Não me dizem o quê, Manuel? - Ao ouvir isto, o S. Manuel virou-se rapidamente e cor saiu-lhe do rosto. Aparentemente também não conseguia dizer nada quando era descoberto. -Olá Sra. Isabela! Já voltou do trabalho? Correu bem? Estás com óptimo aspecto. Tenho ali uma dúvida nos trabalhos de casa. Pode ajudar-me? Eu sei que é uma barra a matemática… - Ia dizendo o Rafael, à medida que ia afastando a Dona Isabela para casa (que era pegada ao veterinário). A Sra. Isabela adorava o Rafael, pela forma como este a tratava. Era só graxa, para ela deixar a Juliana e a A História de Diablocity Maria Capitão Rafaela brincar connosco. Enquanto a ia empurrando, virou-se para nós e disse em voz baixa “Vou lá ter às 18.00”. Foi assim que o Sr. Manuel se livrou de ser apanhado e nós também. -Bem - disse eu, pegando nas quatro caixas agora que o Rafael se tinha ido embora - é melhor irmos andando antes que arranje algum problema por nossa causa. -Não vais levar essas quatro caixas sozinhas Mosca. Deixa o Ned levar uma. -Como? - Vou buscar um fio e prendo-o na caixa e faço uma espécie de alça para o Ned levar na boca. - Ao dizer isto, foi e trouxe uma corda, prendeu-a à volta da caixa e fez uma alça. -Ned pega na alça com a boca e vamos para casa do André e do Jorge, sim? - Não foi preciso pedir mais nenhuma vez: o Ned pegou na alça e foi andando para casa. -Adeus Sr. Manuel! - Gritámos. -Adeus Mosca, adeus Joginhu, adeus Ned, adeus Ruffles, adeus NeAllex! Portem-se bem! E partimos então para a casa do Rafael preparar as coisas para tentarmos resgatar o Miguel e a Juliana. 74 I A História de Diablocity Maria Capitão Capítulo 9 Vanderdecken Entretanto, a alguns quilómetros dali, o Miguel, a Juliana e o monstro iam andando até à Clareira da Caveira. Ainda não tinham chegado, pois a Juliana e o Miguel iam fazendo os possíveis para atrasar o monstro. “Como nos iremos safar desta?”, perguntava-se a Juliana enquanto caminhavam. “Será mesmo este monstro um Aplocarionte? Hei-de lhe perguntar”, pensava por sua vez o Miguel. E assim o pensava, assim o fez. -És um Aplocarionte? -O quê? -Perguntei se eras… -Ouvi o que perguntaste. Achas que sou um Aplocarionte? - Perguntou por sua vez o monstro. -Não, és completamente diferente de um, mas no hospital disseram que o veneno que deste à Juliana e à Rafaela era de um Aplocarionte. -O mestre fez um bom trabalho. - Disse para si próprio o monstro sorrindo. -Uh?! -Sou uma espécie de mistura de animais da Terra. Os vossos animais são excelentes. O meu mestre formoume fundindo uma chita, com um Aplocarionte, com um homem e com uma serpente. O resultado foi este. A História de Diablocity Maria Capitão -Como?! Isso nunca foi feito nem experimentado, mesmo com a nossa tecnologia. Pelo menos para nós é impossível fazer isso!!! - Acrescentou. - O teu mestre deve ser super inteligente. Deu-te imensos “poderes”, por assim dizer. Deu-te o poder da fala ao fundir o homem. Ao fundir uma chita corres mais depressa que outro ser humano. Ao fundir um Aplocarionte à mistura deu-te um veneno incrível e uma pele que se sofreres alguma ferida curas-te imediatamente. Finalmente, ao acrescentar uma serpente, deu-te uma destreza enorme e uma óptima habilidade para caçar presas. Tu és imbatível. - Concluiu o Miguel com um ar de surpresa. - Gostava de o conhecer. Deve ser uma pessoa fascinante. -Obrigada. -Como te chamas? -Não sei. O meu mestre ainda não me disse. -Quem é o teu mestre? -Não digo. -Podemos dar-te um nome? -Claro. - Disse o monstro admirado. O mestre tinha- lhe dito que os humanos eram egoístas e antipáticos mas aqueles dois eram bastantes simpáticos. Apesar de ele os ter raptado, não se mostraram zangados nem tentaram fugir. Tinhas-lhe sido impossível escapar pois ele era imbatível, como tinha dito o rapaz. Era óptimo para correr, caçar, matar e além disso, regenerava- se... Em suma, ninguém o conseguiria matar. 76 I A História de Diablocity Maria Capitão -Que tal El Diablo? - Perguntou a Juliana, assustandoos, pois eles tinham estado tão entretidos a falar, que nem se lembravam que ela lá estava. -Shiu… Nãao digaas o nnoome dele… -Do teu mestre? - Perguntou o Miguel, olhando para a Juliana com reprovação. O monstro fez um ligeiro acenar de cabeça. -Desculpa. Não voltamos a dizer. De onde vens? Ainda há bocadinho disseste “os vossos animais”. Não nasceste cá? -Miguel… - Chamou a Juliana olhando para um ponto à sua frente com terror estampado na cara. - Vens de outro planeta? De outro sistema? Continuou o Miguel, sem prestar atenção à Juliana. -Miguel… - Chamou novamente a Juliana, puxandolhe a camisola. -Não sejas chata! O que é? - Ao ver que não respondia, ia para continuar a fazer perguntas ao monstro, quando reparou que ele e a Juliana olhavam na mesma direcção. Seguiu os seus olhares e olhou. Desejou não ter olhado. A visão era simplesmente aterradora. Não vos vou contar todos os pormenores. Vou falar mas de uma forma… geral. Iriam sonhar com ele durante semanas, ou até meses. Eu sonhei. O sonho repetia-se dia após dia. Ele estava-me a puxar para o Inferno. Usava um manto vermelho que contrastava perigosamente com a palidez da sua pele e com os seus olhos brancos, A História de Diablocity Maria Capitão mas com chamas dentro deles. Enquanto me puxava, os seus olhos estavam mais brilhantes que nunca. Gritava por ajuda e então vinham os meus amigos, mas quando me começavam a ajudar, apareciam réplicas dele e começavam a puxar os meus amigos lá para dentro. Então quando estava já a ceder e os meus amigos já tinham caído para o abismo do Inferno, ouvia sair da minha boca as seguintes palavras: Avat cerebromjbg: Desttrrofvru ljisn enhgirfn mfhrug eyt ljisn fifdb enhgirfm anfiurgj! Jfidbs dfhfri, jdi, hegct, mfofbfu, djgoibgfjhf tãjf fjfkdh! Kua, yuia quev arrxa ljas anhgarf vace, rraz ljis Vanderdecken zba bolue mar! Gtdefrf e jfhrf enhgirfm anfiurgj! Implrgbryhe! Avat cerebromjbg! Nunca compreendi o significado desta oração. Após ter dito a oração vê-se uma luz fortíssima, fecho os olhos e quando os abro, ainda há um resto de luz, e vejo as caras de umas pessoas. Não são humanas, mas eu reconheço-as e chamo-as. Eles olham para mim com ternura e quando vão a falar vê-se um clarão de luz e eles desaparecem. Começo a chorar e é então que aparecem os meus amigos. Vão ter comigo, também a chorar, e perguntam o que se passa. Digo-lhes o que vi. Eles dizem que também viram, e prometemos uns aos outros que iríamos ficar juntos 78 I A História de Diablocity Maria Capitão para sempre... Estavam lá pessoas que nunca tinha visto. Como um rapaz que se chamava Rúben, uma rapariga chamada Benvinda, dois outros rapazes, ambos com as roupas todas sujas e rasgadas, outro rapaz com cerca de 15 anos, muito alto, parecido com a Benvinda e com o Rúben, e outra rapariga. Estava lá também um rapaz que não era humano, mas vestia roupas humanas. De resto conhecia tudo: o Ned, o Rafael, o André, o Miguel, o Jorge, a Juliana e a Rafaela. Depois o sonho acaba. E acordo, ou começo a sonhar com outra coisa qualquer, sempre disparatada. - Boa tarde! Porque estão com essa cara de espanto? Perguntou. A sua voz era rouca e parecia que não falava há séculos, fazia sempre uma série de gestos antes de dizer alguma palavra. Não sei como conseguia falar. Tinha uma máscara na cara que a tapava toda menos os olhos. A máscara assentava na perfeição na cara e delimitava-lhe os contornos. Tinha também uma abertura para a boca mas não tinha nada dentro da boca. Nem língua nem nada. Apenas um grande buraco vazio. -Não se cumprimenta? -Olá - Disse a medo o Miguel. -Boa tarde! - repetiu - Como se chamam? -Miguel. A História de Diablocity Maria Capitão -E ela? Ela é muda? - Acrescentou ao ver que a Juliana estava estática, com a boca aberta a olhar aterrorizada para ele. -Não, não sou! - Disse. -Ela chama-se Juliana. -E o que estão a fazer na companhia dele? - Ao dizer ele apontou para o monstro que estava de olhos pregados no chão, como se estivesse à procura de algo. Via-se que estava embaraçado. -Como é que ele se chama? - Interrompeu a Juliana -Quem? -Ele. - Respondeu, apontando para o monstro. -Chamamos-lhe monstro, pois não sabemos o nome dele. - Informou o Miguel. -Monstro é um bom nome, não achas Palki? -Ele chama-se Palki? -É um nome fixe. -Foi o senhor quem o criou? -Fui. -Fantástico! Fez um trabalho perfeito! É um herói da Ciência e da Química. Fez um animal perfeito. Como já disse ao Palki, o senhor deu- lhe poder da fala ao fundir o homem, ao fundir uma chita, corre mais depressa que outro ser humano, ao fundir um Aplocarionte à mistura, deu-lhe um veneno incrível, e uma pele que se sofrer alguma ferida cura-se imediatamente. Finalmente, ao 80 I A História de Diablocity Maria Capitão acrescentar uma serpente, deu-lhe uma destreza enorme e uma óptima habilidade para caçar presas. Ele é imbatível. -Obrigado. -Como se chama? -Chamo-me Vanderdecken, mas toda a gente me chama El Diablo. O nome ficava-lhe bem, naquela cara e naquele corpo. Só o som do nome Vanderdecken causava arrepios na pele, e punha os cabelos em pé. -Ainda não me responderam. O que estão a fazer com o Palki? Eis uma pergunta difícil. Se eles lhe contassem a verdade, estariam fritos com o Vanderdecken. O Palki também estaria mal com a situação, pois tinha estado a conversar com eles, apesar da advertência do mestre. O Vanderdecken já estava a ficar aborrecido com a falta de resposta quando a Juliana disse: -Eu e o Miguel estávamos a andar pelo bosque quando nos perdemos, e começámos a gritar. Apareceu o Palki e prometemos-lhe que se ele nos tirasse daqui, lhe dávamos 400 doces. Não é a nossa moeda, mas temos em casa, e é o mínimo que lhe podíamos dar se nos tirasse daqui. O Palki olhou para ela com admiração. Então era mesmo verdade! Os humanos eram muito inteligentes, e sempre prontos a mentir! A História de Diablocity Maria Capitão -É verdade Palki? -É sim, meu senhor. - Bem, temos que ir andando, não é Palki? Perguntou a Juliana. -É claro que sim. -Já se está a pôr tarde, e queremos chegar a casa cedo. E ainda te temos que dar os doces. -Não se preocupem, eu tenho de me ir embora. -Informou Vanderdecken - Até breve. Qualquer dia, vocês podem nos ir visitar. O nosso esconderijo é no centro deste imenso bosque. Existe uma clareira e lá está uma gruta. Vão lá qualquer dia. Não me olhem assim. Acrescentou ao ver a cara de incredulidade do Miguel e da Juliana. - A única companhia que tenho é o Palki e... É só o Palki. Também, quem diria que Vanderdecken seria tão amigável. Até o Palki olhou para Vanderdecken desconfiado. Não era hábito ser tão amigável. Excepto... Excepto quando não queria fazer mal a ninguém, o que era raro, na verdade nunca tinha acontecido, ou então quando… Quando estava na mira de alguém ou algo. “Deve estar com intenção de apanhar estes dois humanos. Não! Não podia ser! Vanderdecken não podia matar estes humanos, os seus… novos amigos.” - Concluiu Palki com horror e pena... Para Palki a Juliana e o Miguel eram como dois amigos que nunca teve, nem nunca sonhara a vir ter. 82 I A História de Diablocity Maria Capitão Não podia permitir que Vanderdecken destruísse os seus novos amigos humanos. Mas… Palki não era nada contra Vanderdecken. Vanderdecken era indestrutível e Palki era apenas um monstro. Sim, Palki era um monstro. Era uma mistela de animais. Feito do homem, de um Aplocarionte, de uma serpente e de uma chita. Palki queria salvar os seus amigos, mas não sabia como o fazer. Vanderdecken era uma criação do Diabo. Vanderdecken era na verdade filho do Diabo. Como destruir o filho do Diabo? E se o conseguisse destruir, Palki, ou quem quer que tivesse destruído Vanderdecken, sentiria a raiva do próprio Diabo. Era impossível. Tudo isto pensava Palki, enquanto olhava para Vanderdecken. - Qualquer dia iremos visitá-los. Prometemos. Disseram em coro a Juliana e o Miguel. O Miguel fazia figas, mas a Juliana não. Sentia afecto pelo Palki. Sabia que se dissesse ao Miguel, ele a gozaria. Palki era amigável e simpático. Embora a tivesse assustado e à Rafaela, Juliana sentia agora afecto pelo Palki. Decidiu guardar estes sentimentos para dentro, apenas os contaria ao Rafael. Ele compreendia. Aceitava as suas ideias, e Juliana sentia-se próxima dele. Eram muito próximos, mais próximos ainda do que simples amigos. Contavam tudo um ao outro. -De acordo. - Concordou Vanderdecken. - Adeus. E com um estalar de dedos, Vanderdecken A História de Diablocity Maria Capitão desapareceu. A seguir ao seu desaparecimento, seguiu-se um incómodo silêncio, quebrado pelo Palki. -Obrigado. Apenas disse isto, mas a Juliana sentiu que ele estava mesmo agradecido. -Nós é que agradecemos. A maior parte da história é verdadeira. Excepto a par… -Excepto a parte em que vocês estavam perdidos. Vocês foram raptados. Eu raptei-os. - Disse o Palki Quero pedir-vos desculpa… a sério. Desde que o meu mestre me criou, que só me ensinou a ser mau, e que os humanos eram egoístas e antipáticos. Parece que Ele estava enganado. Vocês são muito simpáticos e realmente altruístas. Desculpem. Provavelmente qualquer um de vocês não acreditaria neste discurso, mas a Juliana acreditou. Sabia, tinha a certeza, que no fundo daquela mistela de raças, estava um coração puro, que queria ser bom, e ser aceite por todos. Essas foram as razões que levaram a Juliana a acreditar nele. Mas havia outra coisa. A Juliana nem suspeitava, mas começava a sentir algo pelo Palki. Havia uma parte dela,que o queria odiar por a ter mordido e à Rafaela, mas havia outra parte dela que queria simplesmente amá-lo. Sim, amá-lo. Não gostar, amar. Mas ela nem suspeitava que sentia isso. Pensava apenas que gostava dele por amizade mas uma amizade muito forte. Ainda não o amava, mas lá bem no fundo, tinha a certeza que gostava 84 I A História de Diablocity Maria Capitão dele. Podem perguntar-se “Como é possível a Juliana gostar dele?”. Como é possível gostar de um monstro? Como é possível gostar de um monstro com quatro braços, pele cor da chita, olhos azuis, nariz, orelhas e boca estranhamente humanos? Simples. Nunca ouviram o provérbio “As aparências iludem” ou “Quem vê caras não vê corações”? Neste caso é mais ao contrário. No caso da Juliana e do Palki seria “Quem vê corações, não vê caras”. Espero que eles sejam muito felizes, se o Palki gostar dela. Mas acho que gosta. - É claro que te desculpamos. Aliás, tu não tens culpa nenhuma. O Vanderdecken ensinou-te a ser assim, e devias sentir-te feliz por teres parado a tempo para mudares. Para sentires que te desculpamos, porque não nos contas algo sobre Vanderdecken? - Parou para lhe dar tempo de absorver e continuou - Não te preocupes. Confio em ti. - Disse a Juliana, pondo-lhe a mão no braço. - Obrigado. - Respondeu Palki e lançou-lhe um olhar de agradecimento tão profundo que a Juliana ia desmaiando. Definitivamente a Juliana gostava mesmo dele, embora nem ela, nem ele soubessem. -Bem, e agora como é? Vais deixar-nos ir para casa, ou quê? Queres a tua recompensa? -Não é preciso. Sabem, não sei se vão acreditar em mim, mas eu gosto de vocês, para mim, vocês são como amigos. Apenas queria que me dessem um pouco de comida. A História de Diablocity Maria Capitão -Eu acredito em ti. Também gosto de ti como amigo. -Então leva-nos daqui para fora, vamos para nossa casa e alimentamos-te lá. - Como que sentisse que o Palki estava a invadir o seu território, e a sua relação com a Juliana acrescentou - Temos lá uns doces maravilhosos. Temos 400. A Juliana não sabia que o Miguel tinha dito aos outros para porem tranquilizantes nos doces e concordou com a ideia. -Óptimo. Agora vamos lá para a Clareira da Caveira. E foram-se dirigindo para a Clareira da Caveira, agora mais apressadamente. “Parecem tão inocentes” pensou Vanderdecken enquanto via Palki, a Juliana e Miguel a dirigirem-se para a Clareira da Caveira. Sem nenhum dos três saber, Vanderdecken não tinha desaparecido. Apenas tinha estalado os dedos, posto o manto à sua frente e saltado para cima da árvore que se encontrava por cima. Tinha ouvido toda a conversa, e já tinha decidido que ia castigar Palki. Não o mataria pois ele era muito importante, apenas o castigaria por ele ter começado a gostar dos dois humanos e por ter aceitado a comida deles. Sabe-se lá o que poriam eles na comida. Mas, vá lá, não tinha dito nada sobre ele, Vanderdecken nem sobre os prisioneiros. Também castigaria os humanos, sobretudo aquela rapariguinha insolente. Vanderdecken sabia quais eram todos os sinais de uma pessoa apaixonada e tinha visto 86 I A História de Diablocity Maria Capitão que a rapariguinha tinha começado a gostar de Palki. E que, infelizmente para Vanderdecken, Palki, também começara a sentir afecto por ela, o que era a novo para ele. Tinha de impedir aquele amor, o quanto antes. Quando Vanderdecken criou Palki, sabia que havia um senão, e que havia uma forma de ele voltar a humano. Sim, voltar a humano. Sem ninguém saber de nada, apenas Vanderdecken sabia, Palki era o filho dele. Vanderdecken tinha engravidado uma mulher da terra. Tinha usado o disfarce de um homem muito rico e poderoso. Vanderdecken tinha-se apaixonado por essa mulher. Quando já estava suficientemente apaixonado por ela, para ter coragem de mostrar a sua verdadeira forma, Vanderdecken mostrou-lhe, e arrependeu-se de o ter feito. Ela fugiu, e eles já tinham um filho em comum. Chamava-se Palki. Ele ficou com o filho, e com o passar do tempo, o filho ia-se parecendo mais com a mãe, e como Vanderdecken não se queria lembrar da mãe do garoto, no entanto queria um homem forte e valente, apenas fundiu uma chita um Aplocarionte e uma serpente. Gostava dele como se fosse seu filho, e era seu filho. Mas nunca iria dizer lhe. Teria muita vergonha. Era por isso que Vanderdecken odiava os humanos. A sua ex-namorada tinha o abandonando, deixando-o com um filho nos braços. Não confiava nos humanos. E não queria que o filho sofresse como ele sofreu. Vanderdecken era um humano, mas o pai dele, que era o Diabo tinha sofrido também mas às mãos da mulher A História de Diablocity Maria Capitão de Deus. Sim, não sabiam? Deus é casado. E a sua mulher já esteve casada com o Diabo, mas abandonou-o com um filho nos braços, o Vanderdecken. O Diabo sofreu e transformou o seu filho Vanderdecken praticamente num monstro. Quando Vanderdecken fez 18 anos, o diabo disselhe para ter cuidado com as mulheres. Vanderdecken não ligou e conheceu humanos. Apaixonou-se e sofreu. E fez o mesmo que o diabo tinha feito ao Vanderdecken. Transmorfou-o. E Vanderdecken não queria que o filho sofresse. Vanderdecken tinha sido fundido com um macaco, uma víbora e uma tarântula. Todos pensavam que Vanderdecken era imortal, mas era mentira. Tal como todos pensam que o Diabo é imortal. Frankosfti - inimigo mortal de Vanderdecken - tinha enriquecido ao criar umas pistolas que destroem tudo e todos. Se acertar no coração mata as pessoas que tenham sido transmorfadas. As restantes “pessoas” morrem com uma bala em qualquer parte do corpo. Pessoas entre aspas porque Vanderdecken, o Palki e os que habitam o espaço não são pessoas: são extraterrestres. No entanto, também há as que foram transmorfadas que eram pessoas, mas agora já não são nem pessoas nem extraterrestres. Estão algures no meio. Se não fosse o Palki, Vanderdecken já tinha morrido há anos. Estava-lhe profundamente agradecido por lhe ser tão prestável e por nunca ter tentado fugir. Vanderdecken sabia que qualquer dia teria de contar a Palki as suas 88 I A História de Diablocity Maria Capitão origens, mas esse dia ainda estava muito longe. O seu pai, o Diabo já lhe tinha dito várias vezes para contar ao Palki. O próprio Diabo quando Vanderdecken fez 15 anos, contou-lhe que tinha sido fundido e que era seu filho. Vanderdecken aceitou muito bem, achou muito fixe ser filho do Diabo e ter sido fundido com animais mortíferos. Tinha de eliminar aqueles humanos patéticos, poderiam fazer sofrer o seu filho, e isso Vanderdecken nunca perdoaria. Podiam matar ou fazer sofrer Vanderdecken, mas nunca na vida alguém iria magoar o seu filho. “Irei arruiná-los… Hum… os humanos costumam ser muito ligados aos seus animais de estimação… Especialmente aos cães… Será que têm algum animal?...” ia pensando Vanderdecken com malvadez. A História de Diablocity Maria Capitão Capítulo 10 Lyla Lentamente, Vanderdecken começou a se lembrar de um episódio da sua vida que tinha ocorrido há muitos anos. Quando o Diabo quando soube que Vanderdecken tinha sofrido às mãos de uma mulher, quis matar essa mulher, mas Vanderdecken não achou boa ideia, porque apesar de tudo, ele ainda a amava. Disse ao pai que não valia a pena, que já não gostava dela, mas todos os dias livres, seguia-a com diferentes disfarces. Mas num dia ocorreu uma catástrofe. Vanderdecken seguiu-a, como todos os dias excepto nos dias em que não podia, que eram às terças e aos sábados porque tinha que ajudar o seu pai -, e sabia de cor todos os seus movimentos. Seguiu-a numa terçafeira, um dia em que normalmente trabalharia, mas tinha tirado folga pois prometera a si próprio que era a última semana que a seguiria e que depois iria deixá-la seguir a sua vida. Nesse dia ela dirigiu-se para outro lugar, parou na casa de um senhor com idade à volta dos 28 anos, e quando ele a viu, foi ter com ela e beijou-a. Vanderdecken ficou escandalizado! A raiva começou a apoderar-se do seu corpo. Vanderdecken estava escondido atrás de um autocarro e ao ver o rapaz beijá-la, sentiu o seu corpo a vibrar, e com toda a força do macaco, saltou uma altura A História de Diablocity Maria Capitão de 2 metros e 20 metros de comprimento. Saltou, e foi parar a uma árvore, na qual de baixo estavam eles. Com o poder da tarântula, fez uma teia de aranha gigante e, novamente, com o poder do macaco, nasceu-lhe uma cauda e com ela agarrou o rapaz e prendeu-o na teia de aranha. É claro que ele se fartou de gritar, e Vanderdecken mandou-o calar. Olhou para a sua ex-namorada e disselhe: -Preferes este troglodita a mim? Era assim tão feio? -Conheces este homem, Lili? Põe-me no chão! -Põe-o no chão. - Pediu Liliana -Lili. - Cuspiu Vanderdecken. Ao ouvir o pedido de Liliana, Vanderdecken, fez um gesto rude e o rapaz, caiu no chão. - Sim conheço. Não tinha este aspecto… Era um homem mais novo, muito mais novo, e usava um disfarce. A sua verdadeira cara é nojenta. Aliás, esta é a sua verdadeira cara, agora que vejo bem… Quando a vi, fugi logo, e abandonei o nosso filho. - Disse Liliana. Liliana tinha reconhecido Vanderdecken sem dificuldade. A sua voz, áspera e rude, era fácil de relembrar. Tal como a sua cara tapada, apenas com os olhos e o buraco vazio da sua boca à vista. -Sim é verdade. Mas agora, se eu não posso ser feliz contigo, ninguém pode! Morre, seu verme nojento! 92 I A História de Diablocity Maria Capitão E utilizando os poderes da tarântula e da víbora em conjunto, Vanderdecken saltou para o rapaz tentando mordê-lo. Teria mordido o rapaz se Liliana não se tivesse atirado para a frente e se tivesse sacrificado em vez dele. Cego de tanta raiva, Vanderdecken mordeu a primeira coisa que lhe apareceu à frente, o que infelizmente foi o braço de Liliana. -Lili! - Assim acabou por morder Liliana fazendo com que esta tivesse uma morte lenta e dolorosa. Ainda estava viva, quando Vanderdecken e o rapaz se debruçaram sobre ela. -Lili? Estás bem? -Estou... Apenas tenho muitas dores. -Não fales querida. Vamos levar te para o hospital. -Ela não irá sobreviver. - Disse Vanderdecken com os olhos cheios de lágrimas. -Quer que ela morra, é? -É claro que não quero! Mas… ela tem veneno de uma tarântula e de uma víbora no corpo… -Não discutam. Sinto que estou quase a morrer, e quero vos dizer algumas palavras antes. -Vanderdek - Liliana sempre o tratara assim. -Sim, Lyla? - Vanderdecken sempre tratara Liliana assim. -Quero que saibas que entrei em pânico quando vi a tua verdadeira cara. Amava-te, mas entrei em choque. A História de Diablocity Maria Capitão Passados alguns dias de te ter abandonado, percebi que tinha cometido um enorme erro. Quis voltar atrás e falar contigo, mas tinhas partido para o Inferno, onde vive o teu pai. Entretanto conheci o Sérgio e apaixonei-me por ele. Ainda te amo, sempre te amarei. Mas agora gosto do Sérgio, e é com ele que eu estou. Pensava que tinha muitos anos antes de morrer... Que, qualquer dia, ainda te iria ver outra vez, e que iríamos viver juntos muito felizes com o Palki. Como está o nosso filho? -Está muito bem. -Ainda bem. Diz-lhe que o amo muito, e que nunca me esqueci dele, ao longo destes anos todos. Sérgio Virou-se para ele que tinha os olhos cheios de lágrimas -Sérgio, eu gosto mesmo muito de ti. Pensei que íamos namorar durante mais tempo mas afinal, só namorámos durante três meses. Foi bom enquanto durou. - Calou-se durante uns momentos para ganhar fôlego - Agora está na minha hora. Por favor, deixem-se de brigas e discussões. -Pediu - Vivam as vossas vidas à vossa maneira, sem se lembrarem sequer um do outro. Se não se deixam de brigas por vocês, deixem por mim, entendido? -Sim, Lili. -Sempre farei o que quiseres Lyla. Lamento ter sido eu a fazer com que morresses. Estava mesmo de cabeça quente e apenas queria que o Sérgio pagasse. Sempre te amei e sempre te amarei. Desculpa. Não mereço qualquer perdão. - Lamentou-se baixando a cabeça. 94 I A História de Diablocity Maria Capitão -Mereces o meu perdão. - Disse ela, levantando- lhe a cabeça. - Mesmo sabendo que vou morrer, estou feliz. Feliz por saber que me amas e que eras capaz de matar por minha causa, e feliz porque tenho a certeza que para onde quer que vá, estarei muito melhor. Aqui estava dividida entre duas maravilhosas pessoas e lá não estarei. Estarei sempre a vigiar-vos, prometo. -Amo-te muito, Lyla. -Amo te muito, Lili. -Estou a perder as forças. Adeus Vanderdek. Cuida do nosso filho, e cuida de ti. Adeus Sérgio. Cuida de ti... - E com um último suspiro, Liliana caiu no mais profundo e silencioso dos sonos. Durante alguns minutos, nenhum deles abriu a boca. Foi Vanderdecken quem quebrou o silêncio. -Bem gostei de te conhecer. Vou levar a Lyla comigo. Conheço um sítio, onde ela repousará para sempre, e nunca a incomodarão. -Nem penses! Lili ficará aqui, onde pertence. -Não! Irá comigo! -Comigo! -Oiça… se Lyla aqui estivesse escolheria ir comigo. -Para onde a levarias? -Para o céu. - Mentiu. -Então leva-a. - Disse, acariciando-lhe a face pela última vez, tentando em vão reprimir as lágrimas. A História de Diablocity Maria Capitão -Adeus. - E pegando no corpo leve e suave de Lyla, Vanderdecken levantou-a e desapareceu. Foi para uma colina onde gostava de ir quando era criança. Situava-se na Toscana. Subiu a colina, cavou um buraco e pô-la cuidadosamente lá dentro. Tapou o buraco, pegou num pedregulho, pô-lo em cima de onde estava o corpo de Lyla, e com uma pedra escreveu as seguintes palavras: Aqui jaz Lyla, uma mulher cheia de garra, alegre e que estava entre dois amores. Descansa em paz, meu amor. Desejos de uma vida melhor aí em cima de Sérgio, Palki e Vanderdek. Amamos-te muito Lyla. Adeus… Enquanto escrevia as palavras, lágrimas escorriam pela cara de Vanderdecken. Iria tomar conta do filho, tal como tinha prometido à ex-namorada! Vanderdecken pensava sempre neste dia. Era esta e outras razões que o levavam a proteger o filho. Apenas queria que ele fosse feliz. De repente, Vanderdecken abriu os olhos, como se acordasse de um longo sonho. Lembrava-se de tudo, como se tivesse passado ontem, ou até nesse próprio dia. Ainda conseguia ouvir as palavras de Lyla na sua cabeça… Pestanejou muito depressa para 96 I A História de Diablocity Maria Capitão evitar que as lágrimas caíssem. O seu pai, Diabo, poderia estar a vigiá-lo e seria uma desonra para ele, ver o seu filho a chorar. Mas, primeiro que tudo, o que estaria Vanderdecken a fazer em cima de uma árvore? E quem seriam aqueles três vultos indistintos que vagueavam ao longe? Não se lembrava, naquele momento apenas ouvia a voz de Lyla, a dizer- lhe: “Amava-te muito mas entrei em pânico... Adeus Vanderdek. Cuida do nosso filho e cuida de ti.“ O seu nome sempre parecera tão suave ao ser dito por Lyla… Vanderdek… Parecia mágico, uma fórmula mágica, ou algo assim. Então Vanderdecken soube o que fazer, iria proteger o filho, e iria cuidar dele, como lhe tinha pedido Lyla. E se alguém, ou algo se atrevesse a fazer- lhe mal, iria enfrentar as consequências. Mas, havia um pequenino problema, ele não sabia quem era o filho. A História de Diablocity Maria Capitão Capítulo 11 Os Extraterrestres De repente, Vanderdecken olhou para o céu, para um ponto específico, e a cara de seis pessoas vieram-lhe à cabeça: a cara de seis extraterrestres. Benvinda, Alemão, Frankosfti, Indianaly, Joana e Rúben. E sentiu uma raiva incontrolável Frankosfti tinha 53 anos, Indianaly tinha 54, a Benvinda e o Rúben tinham 14, (eram gémeos falsos), e o Ricardo (Alemão para os amigos) e a Joana tinham 16. Frankosfti e Vanderdecken eram inimigos desde que se lembravam. Discutiam por tudo, e faziam competições sobre tudo. Conheciam-se desde que nasceram. Vanderdecken achava que na vida, Frankosfti tinha tido mais sorte que ele. Frankosfti tinha casado e tinha tido quatro filhos, era dono de metade do Universo, e tinham dois mundos só deles, Indianapólis, e Frankostipólis. Como o nome indica, Frankosfti era dono de Frankostipólis, e a sua mulher, Indianaly, era dona de Indianapólis. Vanderdecken tinha tido uma namorada, tinha-a morto, tinha tido um filho, mas não sabia dele. Em acréscimo, era filho do Diabo, portanto todos pensavam que ele era muito mau. E tinham razão, corria maldade pelas veias do Vanderdecken antes de se lembrar de Lyla. Esse foi o remédio para a maldade de Vanderdecken. O A História de Diablocity Maria Capitão que ninguém sabia era o porquê de o Diabo ser tão mau… Alguns pensam que o Diabo nasceu mau, outros que ele ganhou a maldade. A 1ª hipótese está muito longe da verdade. E a segunda hipótese, essa já está mais perto da verdade. Mas não pensem que ele a ganhou como um vírus. Nada disso. Vou contar-vos tudo a seguir... Deverão estar a estranhar a súbita perda de memória de Vanderdecken, mas ele, ao pensar em Lyla, e recordar aquele dia esqueceu-se completamente do presente. Na realidade, ele não se esqueceu… Apenas… as memórias mais recentes tinham-se alojado num canto remoto da mente dele e neste momento recusava-se em recordá-las… Apenas se lembrava que era filho do Diabo, pois uma pessoa que fosse filha do Diabo não se esqueceria assim tão facilmente, pois não? Não pensem que o Diabo era mau para Vanderdecken. Antes pelo contrário. Existem muitas pessoas que temem o Diabo, pois dizem que ele é mau, que ele é a encarnação do mal. Mas não é. O Diabo controla o Inferno, pois mandaram-no controlar o Inferno. Deus controla o Céu, pois mandaramno controlar o Céu. Eles são iguais. As diferenças são mínimas: um controla o Inferno e outro, o Céu. No entanto e após tanto tempo assim, passaram eles próprios a ser a personificação do Bem e do Mal. Na realidade, Deus não criou o mundo sozinho. 100 I A História de Diablocity Maria Capitão Criou-o com a ajuda do Diabo. Eram amigos, e ainda seriam se Deus não tivesse tido ciúmes por uma coisa que pensava que era do Diabo, mas que ele não a desejava… Isso magoou profundamente o Diabo. E nunca mais voltou a falar com Deus. Voltando ao que estava a dizer... Deus construiu o mundo juntamente com o Diabo. Quando o acabaram de construir, sentiram-se felizes, e realizados. Ambos decidiram que a Terra tinha de ser habitada, por isso, criaram um ambiente ameno para que os seres que iriam habitar o planeta evoluíssem. Os seres evoluíram para macacos e com o passar dos séculos para humanos. Deus e o Diabo estavam muito felizes com o que tinham criado e continuaram felizes, até que alguns dos humanos começaram a praticar o mal, e outros a praticar o bem. Decidiram que quando morressem os que tinham praticado o bem iriam para o Céu e os que tinham praticado o mal iam para o Inferno. Não ficou logo decidido quem iria castigar ou congratular quem. No início até tinha ficado previsto ser Deus a controlar o Inferno e o Diabo controlar o Céu. Mas depressa notaram que não eram feitos para isso. Deus era demasiado benevolente com as pessoas que iam parar ao Inferno, e o Diabo demasiado duro para com as pessoas que iam parar ao Céu. Reuniram-se e estiveram muito tempo a discutir sobre o que seria melhor, quando de súbito, apareceu uma estranha figura feminina. Essa figura era Linbéladis, a rainha do nosso A História de Diablocity Maria Capitão Universo, a rainha do Sistema Solar. Dizer que ela era linda, era um insulto à sua beleza. Era leve e graciosa, a sua pele mais branca do que a própria neve. Os cabelos eram brilhantes, suaves, negros como o carvão, e quando a luz do sol tocava nos seus cabelos, o cabelo resplandecia, a sua tonalidade ia de dourado a vermelho. Os seios eram proeminentes e trajava um vestido que aumentava a sua beleza, fazendo um corte em v sobre as suas graciosas pernas. Era uma visão arrebatadora. Tinha sido Linbéladis a causa da ruptura da amizade de Deus e do Diabo. Eles tinham reatado a amizade mas depois voltaram a separar-se, desta vez para sempre. Ela apareceu diante deles, como que por magia e disse-lhes na sua voz suave e bela: -Estão aí há séculos a discutir por nada. Não compreendem que enquanto estão a desperdiçar o vosso tempo aí a palrar e a discutir por nada, há vidas que precisam de ser salvas? Há pessoas que precisam de ser castigadas. -Quem és tu para vir aqui julgar quem quer que seja? -Reclamou o Diabo -Não me conhecem? Não me admira que a minha fama não tenha chegada a este pobre mundo. Até tenho pena dele, vejam lá! Cheio de máquinas, coisas que prejudicam o planeta. Olhem para o Universo. Não vêem como é lindo? -Sim vemos. Mas isso não é para aqui chamado. 102 I A História de Diablocity Maria Capitão Quem é a senhora? - Voltou a perguntar o Diabo, sentindo-se tudo, menos encantado ou rendido pela Linbéladis. -Não me conhecem? Sou Linbéladis, a rainha do Sistema Solar. A minha mãe, Cassiópia, é rainha deste Universo e de todos os outros. Quando morrer, passará tudo para mim e, sabem… -Mas… Mas minha querida senhora, o que estamos para aqui a palrar, como diz é um assunto muito importante. - Interveio Deus. -Ele tem razão. Estamos a discutir sobre quem irá cuidar das pessoas que vão para o céu, e das pessoas que vão para o Inferno. Já tentámos, mas não correu bem. Deus é demasiado brando com as pessoas que vão para o Inferno e eu sou demasiado bruto para as quer vão para o Céu. - A minha ideia era juntar os que vão para o Inferno e os que vão para o Céu. Que lhe parece, minha belíssima senhora? - Perguntou Deus, que tinha ficado encantado com Linbéladis. -Que horror de ideia! Os maus matariam e escravizariam logo os bons! -Então! Aqui não existem os bons ou maus! Trata- se de quem praticou o mal na sua vida e quem praticou o bem. Não lhe admito que fale assim dos humanos! Não os vais rotular por uma coisa que fizeram! Eles são exactamente iguais a si, ou melhor, você é uma rainha A História de Diablocity Maria Capitão toda emproada com a mania que é a melhor. Apenas diz que criou o Sistema Solar, o que duvido. - Parou para tomar fôlego e continuou as acusações - Apenas poderia ter criado um planeta, que já não é considerado planeta. Sabe qual é? Plutão. Porque Plutão não tem vida, é afastado do sol. - Continuou - O segundo planeta mais afastado do sol e mais próximo de você, seria a sua mãe, que se calhar é tão ou mais emproada que você, mas posso estar errado. A sua mãe pode ser uma simpática e humilde senhora. Só não sei o que fez para que você seja tão vaidosa. Nós criámos a Terra, um planeta cheio de vida e alegria. Usámos toda a nossa energia. Cresça e apareça! - Exclamou, com um brilho de fúria nos olhos. -Diabo! Meu Deus! Desculpe-nos imenso, minha caríssima senhora. O meu amigo Diabo não sabe o que diz. - Pediu um envergonhado Deus. -Sei sim. Tudo o que disse é o que eu sinto! Não suporto pessoas convencidas e emproadas, com a mania que são os melhores. -Tem razão. - Admitiu Linbéladis. -O quê? -Disse que tinha razão. Sou uma pessoa super emproada, vaidosa e convencida. -Ah… Ok. -Parece surpreendido. -E estou. Nunca uma mulher me tinha deixado ganhar uma discussão, não depois de ter feito tantas acusações sem fundamentos. 104 I A História de Diablocity Maria Capitão - Pois, mas eu não sou uma mulher como da terra ou das deusas. Criei o Sistema Solar, e também Plutão, admito. - Ao fazer referência a Plutão, as faces do Diabo ficaram vermelhas. -Perdoe-me por ter sido tão directo, e parvo. -Não faz mal. Adoro homens directos e que dizem coisas que não são verdade. Se era possível ficar ainda mais corado, O Diabo ficou. Sabendo que estava a perder terreno contra o Diabo, para conquistar Linbéladis, Deus disse: -Mas o Diabo não tem razão. É linda, querida, simpática, não é vaidosa. Fala sobre o que é, e é até bastante modesta. -Não me venha aqui a tecer elogios, que isso enoja! Nesse súbito instante, ouviu-se um sino ao longe. -Lamento muito, mas tenho de me ir embora. - Disse Linbéladis, -Já?! - Exclamou, não Deus que tinha ficado ofendido, mas sim Diabo -Sim. Lamento muito. Para resolver o vosso problema, sugiro que controlem ao contrário. O Diabo controla os do Inferno, e Deus os do Céu. Adeus, meus queridos amigos - Disse olhando para Deus e para Diabo. - Voltarei um dia para falarmos mais. Combinado? Apenas posso vir às Terças, às Quintas e aos Sábados. -Fixe! - Exclamou o Diabo. A História de Diablocity Maria Capitão -Oh não... - Lamentou Deus - Não estás contente por eu vir, caríssimo Deus? Perguntou Linbéladis, fingindo estar aborrecida. -Claro que sim, mas as Terças, Quartas e Quintas são as folgas do Diabo. As minhas são Sexta, Segunda e Quarta... Ao Domingo não há trabalho. -Lamento muito, mas são só esses os meus dias de folga. -Depois conto-te tudo. - Prometeu o Diabo. -Não posso faltar ao trabalho? -Não. Toca a trabalhar. -Mas hoje é Domingo. - Resmungou Deus. Voltandose para Linbéladis perguntou - Porque está aqui? -Ah... “Venha imediatamente, menina rainha. Fugiu da escola quando estava a ter psicologia, mas encontrámo-la. Já para casa! A sua mãe, está à sua espera”, ouviu-se ao longe. -Ups... Aí está a razão de cá ter vindo hoje. -Que idade tens? - Perguntou Deus. -Tenho mesmo de dizer? “Menina Linbéladis! Ainda tem de preparar a festa dos seus 16 anos”, fala uma voz desconhecida novamente. -Ups... -Já és tão nova e tão reguila! 106 I A História de Diablocity Maria Capitão -Engraçadinho... Até Terça, Diabo! - E com um súbito clarão, desapareceu. -É mesmo reguila! - Exclamou o Diabo -E tu a roubares-ma! -O quê? -Sim, tu! Atirares-te a ela e tudo! -Eu? Tu é que começaste a chamar-lhe linda e tudo! Eu chamei-lhe nomes! Merecia uma chapada bem assente. -Pois merecias. Ela era, é linda. - É linda.. mas é muito estranha. - Retorquiu o Diabo continuando como se não o tivesse ouvido. - Segunda não vou trabalhar. Vou investigar umas coisas. E podes ficar com ela à mesma. Não a quero para nada. Fica com ela! -Exclamou vendo o olhar céptico de Deus. - Não a amo, nem nunca a amarei. Assim o disse, assim o fez. O Diabo foi investigar a vida de Linbéladis. Procurou pela filha de Cassiópia e dizia que apenas tinha uma, a Liliana. Achou muito estranho e foi visitar Cassiópia. Quando o viu, Cassiópia disse, muito admirada: -Que fazei vós aqui, meu caro Diabo? Há algum problema com os seres do Vosso Planeta? -Não, nenhum problema… - Desculpe a minha impertinência, mas vós tendes algum filho? -Sim tenho. Não a conhece? -Não, minha adorada senhora. A História de Diablocity Maria Capitão -Espere um pouco. Liliana! - Chamou Cassiópia. Após o grito de Cassiópia, apareceu uma bela rapariga, com um traje à chinesa. -Chamou minha mãe? -Sim, minha querida. Este jovem - apontou para o Diabo - perguntou-me se tinha alguma filha. E respondi que sim. -Porque perguntou à minha mãe se ela tinha alguma filha? -Hum… a história é um pouco longa. -Conte, por favor. - Disse Cassiópia, sentando-se. -Está bem. Conhecem Linbéladis? -Nem me fale dessa pessoa! -Porquê? - Ela era uma bela e jovem sereia, (as sereias nunca envelhecem), e era a líder das sereias. Um dia, ela cometeu o pecado fatal. Muitas pessoas dizem que as sereias levam, por meio de canto, os barcos contra os rochedos. Isso é mentira. Nunca fizemos isso, nem tencionamos fazer. - Tencionamos? A senhora é uma sereia? Interrompeu. -Sim, mas podemos estar três dias sem a cauda. Porque pergunta? E em poucas palavras, o Diabo explicou-lhe tudo. 108 I A História de Diablocity Maria Capitão -Ela é uma safada. Se não estivesse tão atarefada, e se ela não sentisse a minha presença à distância, iria mandá-la embora do Sistema Solar. O Diabo podia fazêlo. - Continuou, pensativa. -Eu? - Exclamou admiradíssimo - Mas, eu não tenho poderes para tal coisa. -Eu sei disso, mas dou-lhe poderes temporários para a enxotar. -Muito obrigado. E desculpe ter vindo sem avisar. -Não faz mal. Na Terça- feira, como prometido, Linbéladis apareceu e o Diabo agarrou-a pelas costas e gritou : -Agora! - Chamada pelo Diabo, Cassiópia apareceu, furiosa. -Olá Linbéladis. Pensei que te tínhamos dito que não te queremos cá mais. -Larga-me! - Gritou Linbéladis, esperneando. -Querias! Como te atreveste a denegrir a imagem deCassiópia e a mentir descaradamente? És horrível. Estás a sujar o nosso planeta. - Quando o Diabo mencionou que Linbéladis, linda como tudo, estava a sujar o planeta Terra, deu-lhe uma raiva incontrolável, libertou-se e começou a bater no Diabo e a arranhar- lhe a cara. -Sai imediatamente do Sistema Solar! - Gritou Cassiópia! E com um grande estrondo, a rainha Linbéladis A História de Diablocity Maria Capitão desapareceu, desta vez para sempre. O Diabo voltou para ao pé de Deus, e como tinha as roupas toda rasgadas, graças a Linbéladis, Deus pensou logo o pior. -Ela espancou-te? -Bateu-me, mas Cassiópia mandou-a para outro sítio qualquer. -Ela é uma vigarista. -Que horror! Sempre a achei uma imbecil! -Mentiroso! -Vamos continuar? -Para quê? Já sabemos o que fazer! Trocamos. Amanhã eu vou para o Inferno. Tu descansa. Mas se mais alguma vez me voltas a chamar de traidor e a insinuar que me interesso pró uma mulher qualquer… - Ameaçou o Diabo enquanto ambos desapareciam. Linbéladis viveu infeliz para sempre. Foi obrigada a viver para o resto da sua longa vida numa gruta debaixo do mar, no fundo dos oceanos, trabalhando para o Poseidon, deus dos Mares. 110 I A História de Diablocity Maria Capitão Capítulo 12 O verdadeiro Monstro -Finalmente acabámos! - Exclamou o Jorge, espreguiçando-se demoradamente. -Estava a ver que não! - Resmunguei. -Demorámos quê? 2 Horas? - Perguntou o Rafael. -Demorámos 45 minutos. - Informou a Rafaela. Após 45 árduos minutos, tínhamos conseguido pôr todos os tranquilizantes nos doces. -Eles devem estar quase a chegar. -Yah. -Temos de parecer simpáticos. -E o que é que nós somos? - Exclamou a Rafaela parecendo ofendida. -Somos simpáticos, mas nunca falaste com um monstro, pois não? -Não… -Quando ele entrar, começamos à pancada? -Não, só quando ele se mostrar agressivo ou não nos quiser entregar a Juliana e o Miguel. -A falares assim, até parece que nos vão entregar droga ou assim. Parecemos traficantes! -Não sejas parvo. Quando ele entrar oferecemos-lhe os doces. E depois ele fica K.O. A História de Diablocity Maria Capitão -Irá morrer? -Talvez, tudo depende da força dos tranquilizantes. -Espero bem que morra! Depois do que fez ao Miguel e à Juliana bem mereço! -Está na hora de nos irmos deitar. De certeza que não vêm hoje. Amanhã fazemos o resto. -Está bem! - Exclamou o André. - Deitamo-nos nos sacos-cama e adormecemos rapidamente. Quando mencionaram que o monstro devia morrer, deu uma tontura à Juliana. -Estás bem? - Perguntou o Miguel. O Palki, em vez disso, agarrou a Juliana, que ia caindo se o Palki não a tivesse agarrado. -Que é isso? A aproveitares-te da minha namorada, ó cabeçudo? - Gritou o Miguel enquanto se atirava contra o monstro, deitando a Juliana ao chão. -Ai! -Estás bem? - Perguntou o Palki, enquanto dava um murro ao Miguel, para se livrar dele. -Não! Caí em cima de silvas! -Deixa-a estar! Estará melhor sem ti! Ela é minha namorada! - Gritou o Miguel dando um pontapé e um murro ao Palki. -Eu era tua namorada Miguel. Já não sou. Não tinhas nada de ter ciúmes do Palki. Ele agarrou-me e impediume de cair para cima de Silvas. Tu não. Deixa-me em paz. 112 I A História de Diablocity Maria Capitão O Palki é meu amigo, e tu também o és agora. Perdeste a minha confiança em ti. Até confio mais no Palki, do que em ti! O Miguel ficou inerte ao ouvir a Juliana a romper com ele. O que tinha ele feito de mal? “Tu fizeste uma cena de ciúmes, e não devias… Agora ela gosta mais de mim do que de ti… E eu amo-a… Ela odeia-te e ama-me… És anormal…” - Sussurrou uma voz no seu cérebro. Quem seria? O Miguel perguntou-se a si próprio, até olhar para o Palki. Ele estava muito concentrado a olhar para si, e de repente virou-se e olhou para a Juliana, também muito concentrado. Seria ele o causador da sua voz no cérebro? Por sua vez, a Juliana também estava a ouvir vozes, mas em vez de serem como as que o Miguel estava a ouvir, eram carinhosas e meigas. Ao início não sabia de onde vinham aquelas palavras, mas desejava fortemente que viessem do Palki. Agora, ela já sabia o quanto amava o Palki, e esperava que ele sentisse o mesmo, embora soubesse que não tinha quaisquer hipóteses com ele. -É melhor irmos indo, não acham? - Perguntou o Palki, tentando acalmar os ânimos. -Vamos, não queremos demorar muito. - Respondeu a Juliana, dando a mão ao Palki - Ajudas-me? Dói-me a perna e se não me apoiar em algo ou em alguém, caio. -Claro. A História de Diablocity Maria Capitão -Porque não me perguntaste a mim? - Resmungou o Miguel, ofendido. -Porque, já não confio em ti, já te esqueceste? Ainda me podias deixar cair! -Não sejas tão dura com ele, Juliana. Ele não te iria deixar cair. Gosta demasiado de ti. Sei que ele fez mal em ser ciumento, mas não sejas tão dura com ele. - acalmou Palki - Porque é que foste tão ciumento? Eu sou um monstro, não te lembras? Era possível gostar da Juliana, mas é impossível ela gostar de mim. - Acrescentou o Palki. -Porque não lhe pedes desculpa? -Desculpa Juliana por ter sido ciumento, sem ter razão. - Resmungou o Miguel. -É melhor deitarmo-nos, está-se a pôr tarde - Disse a Juliana, fingindo que não tinha ouvido o Miguel. - Concordo. Vou fazer-vos uma cama maravilhosa. E pegando em urze, folhas de bananeiras, e de palmeiras, o Palki fez três camas maravilhosas. Eram muito macias e quentinhas. - Durmam bem. -Onde aprendeste a fazer camas assim? -Não gostas? -Adoro. - Respondeu com um sorriso. -Aprendi, pois às vezes o meu mestre tem acessos de raiva, e tenho de sair de onde vivemos para não levar cachaporra, ou para ele não me transformar num simples animal. 114 I A História de Diablocity Maria Capitão -Oh, ok. - Respondeu, evitando ter que responder. Adormeceram todos rapidamente. Tinha sido um dia fatigante. No dia seguinte, o primeiro a acordar foi o Palki, e decidiu ir colher um ramo de flores chamadas Miraclius que curavam qualquer dor, e colheu também um ramo de flores com flores muito alegres para oferecer à Juliana. Já sabia que a amava, e queria fazer os possíveis para a conquistar. Apaixonara-se pela simpatia dela, por ser tão carinhosa e sensível. Quando a Juliana acordou, foi ao rio que era ali perto e lavou a cara, e quando ia para acordar o Palki, notou que ele não estava na cama. “Abandonou-me e ao Miguel aqui?”, pensou a Juliana com tristeza. No dia anterior tinha pensado que era impossível ter feito tal coisa, mas hoje já não estava com tanta segurança. Como fora tola ao pensar que ele a podia amar com tanta intensidade como ela o amava. -É melhor ir acordar o Miguel, embora não me apeteça ouvir as bocas dele, por o Palki nos ter abandonado em pleno bosque. Credo! Fui tão burra ao pensar que ele poderia gostar de mim! Foi por ele que acabei com o Miguel… -Não faças isso. Porque achas que vos abandonei? Era capaz de abandonar o Miguel, mas não a ti. Apenas acordei muito cedo, e fui dar uma volta. A História de Diablocity Maria Capitão Lentamente, a Juliana virou-se para trás e viu o Palki, mais lindo que nunca, com dois ramos de flores, um em cada mão. -Palki! - Gritou a Juliana enquanto se atirava para os braços dele. - Pensei que nos tinhas abandonado! Oops… Desculpa ter-me atirado para cima de ti! - Acrescentou a Juliana, corada enquanto se afastava do Palki. -Não faz mal. Toma, isto é para ti. - Disse o Palki, entregando-lhe os dois ramos de flores. -Para mim? -Sim. Este é para as dores, e este é para ti. Flores para uma flor, como se costuma dizer. - Disse o Palki, desajeitadamente. -Obrigada! - Gritou, atirando-se mais uma vez para os braços do Palki, mas desta vez, beijando-o. -Amo-te tanto Palki… - Disse a Juliana beijando-o mais uma vez. - Sei que não gostas de mim, mas não consigo evitar amar-te… - Acrescentou a Juliana, pois o Palki tinha aberto a boca para falar. - Já disse o que tinha para te dizer… Agora, sim, tenho de acordar o Miguel… Amo-te mesmo muito… - Repetiu, largando o Palki, e precipitando-se para a cama do Miguel, com a intenção de o acordar. -Espera! - Disse o Palki, agarrando-a por um braço e puxando-a para si. Ficara em estado de choque, quando a Juliana lhe disse que o amava, e quando o beijara. Mas, agora recuperara do choque, e não a iria deixar ir tão rapidamente. 116 I A História de Diablocity Maria Capitão -Sim? -Eu… também te amo. Nunca amei ninguém, na verdade, nunca tinha entrado em contacto com humanos. Amo-te muito Juliana. -A sério? E o Palki, respondeu-lhe beijando-a. -Sim, a sério. -Uau… fantástico! Bem, temos muito tempo paraconversar… Já são 10 da manhã. É melhor irmos indo. -Concordo. Vamos acordar esse molengão. -Miguel! Acorda! - Gritou a Juliana. Como não acordou, o Palki foi ao rio, fez uma concha com as mãos, encheu-as com água e atirou água à cara do Miguel. -Mas, que raio?! -Acorda dorminhoco! -Onde estou? Ah, já sei. Estou na companhia de um monstro e da sua namorada! -Cala-te seu idiota! Tens muita sorte, em o Palki te ter acordado, porque se fosse por mim, já estava bem longe! Se queres sair do bosque e ir para tua casa, levanta-te e vamos. E a resmungar, e a mandar pragas, o Miguel levantou-se. E calmamente seguiram o caminho que os levaria até casa, desta vez com uma diferença… Já não iam arrastados pelo cachaço... Mas ia a Juliana de mão A História de Diablocity Maria Capitão dada com o Palki. Faltavam cerca de 20 metros, e já conseguiam ver a casa. -Em que casa estarão? -Vou perguntar-lhe. - Disse o Miguel. E assim o disse, assim o fez. Passados dois minutos, obtiveram resposta. -Estão na minha casa. -Então… é esta casa à nossa frente… -Sim. -Porque estão tão nervosos? Não estão felizes por chegar a casa? -Tenho medo do que eles te possam fazer, mas se lhes explicar que és amigo, talvez compreendam. -Não te preocupes, sei defender-me… - Acalmou o Palki, apertando-lhe a mão. -Eu sei. É isso que me assusta. Batem à porta. -Quem é? - Perguntaram de dentro da casa. -Tackles, Palki, e Juju. -Tackles! -Juju! - Gritámos enquanto abríamos a porta e saltávamos para cima deles. Quando acabámos de os sufocar, bombardeámo-os com perguntas. -Quem é ele? 118 I A História de Diablocity Maria Capitão -É o monstro? -O que fazes com ele? -Ele fez-vos mal? Parecíamos demasiado simpáticos para ele, apesar de ele ter raptado o Tackles e a Juliana mas só não nos atirávamos a ele, pois a Juju estava à frente dele, com os braços abertos, a defendê-lo. -Porque o estás a defender, Juliana? -Ainda não sabes a resposta? Ela está apaixonada por ele. Imaginem lá uma rapariga como ela, apaixonar-se por um monstro como ele. - Atirou o Miguel. -Pelo menos, ele não me deixa cair para cima de silvas, nem me ignora! E qual é o mal de gostar dele? Se for correspondida, tudo bem! -E és correspondida, Juliana. - Declarou o monstro apaixonadamente, beijando-a à frente de todos. -Gostas mesmo dele, Juju? -Já te esqueceste do que ele te fez? -Ele fez o que o mestre lhe mandou. Confio mesmo nele. Se estão contra mim, estejam… - Gostas mesmo dele? - Perguntei, olhando-a nos olhos. É claro que eu estava espantada, tal como os outros, mas confiava na Juliana, e quando a olhei nos olhos, vi que estava mesmo apaixonada por ele, e que era capaz de nos abandonar, para estar com o Palki. -Gosto. A História de Diablocity Maria Capitão -Bem, eu estou do teu lado. Já vi que gostas mesmo muito dele. - E dizendo isto, aproximei-me e fui para o lado da Juliana e do Palki. - Olá Palki. Tudo fixe? - Exclamei, estendo a mão para o Palki. O Palki olhou para a Juliana, como que a perguntarlhe se devia apertar a minha mão. Como a Juliana fez um olhar afirmativo, o Palki apertou a minha mão, e partir daí tornámo-nos amigos. Após o aperto de mão, fez-se um silêncio incomodador… Se não tivesse sido o Jorge, o André, a Rafaela e o Ned, a aproximarem-se de mim, da Juliana, e do Palki, acho que ainda hoje estávamos em nossa casa todos calados. -Bem… eu também estou do lado da Juliana. Ninguém manda no coração, e já vi que eles os dois estão mesmo apaixonados. - Disse o Jorge. -Eu também. -Já somos três. -Au, au! -Também concordas connosco, Ned? - Perguntou o Jorge. -Au, au! - Assentiu o Ned. -E vocês os dois? -Sabem o que eu penso disso. - Disse o Miguel. -E tu, Rafael? -Não contem comigo. Onde é que já se viu, um monstro e uma rapariga andarem? 120 I A História de Diablocity Maria Capitão -É de loucos. -Não queres um doce, Palki? -Claro. -Um doce? - Repeti. -Sim, um doce. - Repetiu. Por um momento, achei que o Miguel estava a ser simpático, mas quando o Palki ia a levar o doce à boca, dei um murro ao Palki, que fez com que ele deixasse cair o doce. -Estás maluca? - Gritou a Juliana, mandando-me um dos olhares ameaçadores e furiosos que só ela sabe fazer. -Não, não estou! O doce que o Palki ia comer, está cheio de tranquilizantes, e com a dose que pusemos podia morrer! -Ah? -Muito antes de chegarem, quando soubemos que foram raptados, comprámos os tranquilizantes, e pusemos nos doces. - expliquei - Os tranquilizantes, com a dose que pusemos, dão para matar o Palki. - Repeti, nervosa e cheia de raiva do Miguel. Também ele estava com raiva de mim. Via-se nos olhos dele. Estava zangado comigo por não ter deixado que o plano dele desse resultado. -Ai, seu parvalhão! - Ouvi a Juliana gritar antes de se atirar aos murros e pontapés ao Miguel. -Parem os dois! - Gritou a Rafaela e separou-os. -Já percebemos que há aqui dois tipos de opiniões. A História de Diablocity Maria Capitão Mas não é isso que agora interessa. O Palki está arrependido, e trouxe até aqui a Juliana e o Miguel, sem qualquer dano, verdade? - Perguntou o André. -Sim. - Dissemos todos. -E além disso, ontem à noite, o Palki fez-nos camas maravilhosas, feitas com urze… - Com urze, folhas de bananeira, e de palmeira. Corrigiu o Palki - Eram super macias. Se o Palki nos quisesse fazer mal, já tinha feito, e também não nos abandonou. E deume um ramo de flores que curam as feridas e curou-me a ferida que fiz. -Como a fizeste? -Quando me deu uma tontura, o Palki agarrou-me, e impediu-me de cair, e o Miguel deu um murro ao Palki que fez com que o Palki me deixasse cair. -Sinceramente, não sei porque é que o Miguel lhe deu um murro. - Disse a Rafaela. -Fê- lo porque estava com ciúmes. -Muito bem. Já falámos disso. - Disse o André, já farto daquela conversa. -A razão por eu e o Rafael vos termos mandado reunir-se aqui, é porque achamos que isto está a ir longe de mais. Hum… Palki importas-te de sair durante uns minutos? A conversa não te vai agradar. - Perguntei. -Ok. Vou à casa de banho. Até já. 122 I A História de Diablocity Maria Capitão -Ouvimos uma conversa do Palki, a falar sobre seis extraterrestres que estão capturados não sei onde. São dois adultos e quatro crianças. Crianças que têm a nossa idade. -Eles estavam todos na mesma cela, só que conseguiram fugir. O mestre do Palki, (não sei o nome), e ele apanharam os extraterrestres. - Continuou o Rafael. -Vanderdecken. -Ah? -O mestre chama-se Vanderdecken. -Ah. Resultado: puseram- nos em sítios diferentes. O Alemão, que tem 14, está numa cela com os pais. -O Rúben e a Joana estão a ser preparados para serem crucificados… “Ahs” e “Ohs” ouviram-se na sala, enquanto digeriam a notícia. -E a Benvinda está nas catacumbas porque, segundo sabemos, ela é a mais aventureira. -Que horror… Bem, mas nós temos o resto da história. E agora, se não te importas precisamos do Palki. Interrompeu a Juliana. -Já contam… Ainda falta uma coisa que aconteceu. -O que foi? -Quando estávamos a conversar e a tentar digerir tudo, uma pessoa aproximou-se por trás de nós com uma cara horripilante… - Carreguei de propósito no som A História de Diablocity Maria Capitão “horripilante”. - Tinha cerca de 2.40 metros tinha um casacão preto, e um capuz preto... -...a cara era maquiavélica, tinha olhos vermelhos como chamas, boca finíssima e dentes que naquele momento estavam cheios de sangue. - Acabou o Rafael. -Uh! -Vanderdecken é parecido com ele. -Conta lá a tua parte. - Pedi. A Juliana fechou-se nos seus pensamentos, e de repente apareceu o Palki com um sorriso nos lábios. -Olá! - Exclamou. Aproximou-se da Juliana beijou-a demoradamente, estava com saudades… Depois, como que para ninguém ouvir, aproximou-se do ouvido e sussurrou- lhe: -Eu sabia que irias conseguir. -E beijou-a outra vez. -Então, tudo começou quando…. E explicou-nos a parte da história que já conhecemos. Explicou-nos como tinha conhecido Vanderdecken, como tinham conhecido o verdadeiro Palki, e como o este fora formado. Quando a Juliana acabou, lembrei-me subitamente de uma coisa que acontecera quando eu e o Rafael tínhamos visto o rapaz de 2.40m e decidi contar. -Olhem, quando eu e o Rafael vimos o rapaz de 2.40 metros, e desatámos a correr, ele disse: “Esperem! Eu tenho uma máscara.“. Em seguida tirou do bolso uma mini-vara e disse “Para o meu corpo eu quero voltar!”, e a 124 I A História de Diablocity Maria Capitão cara transformou-se e apareceu um rapaz muito giro, em cima doutro. Acho que aquilo era só para nos afastar dali. -Concordo, mas não tenho nenhuma informação que o Vanderdecken faça isso, e os Evils não são assim. -O que são, e quem são os Evils? -E os Copper? - Já vi que fizeram o trabalho de casa. Os Copper são a família que me ouviram falar quando estavam por cima da árvore. Os adultos e as quatro crianças. -Sim, porque eu sabia que lá estava, só que nunca tinha conhecido os humanos, e por isso não vos fiz nada. E porque estavam em cima de uma árvore. - Acrescentou ao ver a minha cara e a do Rafael. -E quem são os Cooper? -Os Cooper são uma família de extraterrestres. Mal ele disse aquilo, senti que o meu coração ia explodir! Um dos meus assuntos predilectos: extraterrestres! Tenho a certeza que existem. É impossível não existir nenhuma planeta com vida na imensidão do Universo. Devem existir milhares de planetas. Aposto que os extraterrestres não nos vêm visitar porque não têm condições necessárias para tal, ou porque nos consideram hostis, com todas as guerras e isso ou porque não querem desperdiçar tempo connosco. -De extraterrestres? - Repetiu o Miguel céptico. -Sim, de extraterrestres. Vanderdecken sempre A História de Diablocity Maria Capitão teve um ódio terrível pelo Frankosfti, pensa que Frankosfti sempre teve sucesso na vida, ao contrário de Vanderdecken que sempre teve de trabalhar. Mas émentira. É exactamente ao contrário. Frankosfti casou com Indianaly, e teve quatro filhos: dois pares de gémeos falsos, Benvinda e Ricardo e Joana e Rúben. Vanderdecken disse-me que foi a mando do Diabo, mas tenho a certeza que foi ele quem criou o plano… -Que plano? - Frankosfti e Indianaly são também donos de metade do Universo, juntamente com Engrious. Engrious é o pior controlador possível. O Diabo é o braço direito dele. Infelizmente para nós, quem controla a nossa parte é Frankosfti e Indianaly. É infelizmente, porque se alguém ou algo matar Frankosfti e Indianaly, e os herdeiros deles, os filhos, quem passará a governar a outra parte, será o braço direito do outro governador. - Ou seja, se Frankosfti e Indianaly e os seus filhos morreram, quem passará a controlar o Universo serão o Engrious e o Diabo? - Perguntei. - Exacto. Há alguns anos atrás, mais precisamente há décadas atrás, era Cassiópia quem governava o nosso Universo. Era uma excelente controladora, mas quando morreu não havia quem a substituísse, e então fizeram uma votação. Por mais incrível que pareça, metade das pessoas votaram em Engrious, ele é muito mau, e Frankosfti e Indianaly são pessoas muito boas. Ficaram as 126 I A História de Diablocity Maria Capitão coisas mais ou menos equilibradas… Entendem? -Mais ou menos. -Então, o plano de Vanderdecken era matar Frankosfti, Indianaly, e os seus filhos… -Não era, é. -Mas, afinal, quem são os Evils? - Bem… não sei como explicar… Imaginem um dinossauro carnívoro, com 1.80, com 200 dentes bem afiados, com duas pernas, e que de 2 em 2 anos, pusesse 5 ovos cada. E que cada ovo, só precisasse de 1 ano para nascer, e nascia adulto. - Ninguém falou durante algum tempo. Estávamos todos, ou pelo menos eu estava, a tentar fazer com que aquilo entrasse na minha cabeça, mas era difícil. Tenho imaginação, mas aquilo já é um exagero. Nunca acreditei em Deus, nem no Diabo, nem em monstros, nem nos Evils. E agora, dizem-me que isso tudo existe?! E o pior é que já vi o monstro. E o Vanderdecken também existe... Dum momento para o outro, a minha vida deu uma reviravolta dos Diabos! Uma coisa boa é que os extraterrestres existem! -Então… a nossa missão, é ajudar os extraterrestres, libertá-los, mandá-los para o planeta deles e destruirVanderdecken. É só isso. -Só? - Repetiu a Juliana espantada. A História de Diablocity Maria Capitão -Sim, só. Ah, já me esquecia, e evitar sermos apanhados pelos Evils, ou pelo Vanderdecken. Uma coisa boa, é que já não temos de temer aqui o Palki, pois não? -Claro que não! - Retorquiu ele, corando. -É melhor pormos as mãos à obra. - Exclamei. -Como? -Palki, agora tens de nos ajudar muito. Ok? -Fazer o quê? -Dizer-nos onde estão os extraterrestres, onde estão os Evils, e isso… -Está bem… Os extraterrestres…. 128 I A História de Diablocity Maria Capitão Capítulo 13 O Plano -Preparados? -Sim! O Palki disse-nos tudo o que precisávamos de saber, pelo menos por agora. Ficámos a saber que os extraterrestres estão dentro da gruta, mas não logo à entrada. Como era difícil de decorar, concordámos que a Juliana e o Palki ficariam em cima de uma árvore, perto da gruta, a dar-nos instruções e verificarem se a costa estava livre. Os Evils que estão de guarda à gruta costumavam sair à noite para irem caçar animais para comerem, costumam sair à meia-noite e regressam às 02.30, o que nos deixa uma margem de 2 horas para entrarmos na gruta, procurarmos e encontrarmos os extraterrestres, e trazê-los cá para fora, antes dos Evils regressarem. O Vanderdecken costumava ficar na gruta, mas é longe de onde os extraterrestres estão. O pior é que eles não estão todos juntos, ou seja, temos de nos separar. Segundo Palki, o Alemão, e a Benvinda estão com os pais e a Joana e o Rúben estão separados, logo temos de nos separar em grupos de três. Ah, mas como o Rafael também vai… Somos 9, a contar com o Ned, com o Palki e com o Rafael, porque o Ned é uma pessoa, e como o Palki a Juliana não vão estar no grupo de buscas, ficamos sete, a dividir por 3 dá 2.33..., algum grupo terá de ficar com dois A História de Diablocity Maria Capitão e o resto com três. -Dividam-se em dois grupos de três e um de dois. O Ned, eu e o Rafael somos um grupo. - Os grupos que se formaram foram o Miguel, e a Rafaela, e outro foi o André e o Jorge. -Muito bem, Palki, diz-nos uma noite em que possamos atacar. -É preferível que seja daqui a uma semana. -Tanto?! Nessa altura o Rúben e a Joana já foram crucificados! -Pois é… Então… daqui a três dias. É o mínimo de tempo para arranjarem tudo! -O que queres dizer com tudo ? -Tudo! Bússolas, lanternas, walkie-talkies… -Para quê walkie-talkies? - Perguntou o Miguel que tinha estado a falar com o Rafael, abstraindo-se da conversa. -Porque a gruta tem vários túneis, e vocês não se querem perder, pois não?! -Não. -E três dias é o máximo de tempo que consigo aguentar sem crucificar os rapazes… -Meninos! Quem está aí em cima? -Ai, o nosso pai! -Rápido, Palki esconde-te dentro do guarda-roupa! 130 I A História de Diablocity Maria Capitão -Não caibo! - Resmungou. -Tenta! Queres que tudo vá por água abaixo?! Quando o nosso pai apareceu ainda se via o Palki a tentar entrar no guarda-roupa e, instantaneamente, atireime contra a porta que se fechou com um estrondo. -Que conversa é essa de Evils e monstros? E crucificar rapazes… -É um jogo que estávamos a jogar, Sr. Guilherme. -Consiste em dizer as palavras e frases mais horrendas… -Está bem… mas se tiverem pesadelos não digam que não vos avisei. Porque é que estás encostada ao armário? Estão a esconder alguma coisa? -Achas pai? Dói-me muito as costas e então encosteime ao armário… - Disse eu, corada. Fez o olhar de quem não acredita muito, mas encolheu os ombros. -Tu é que sabes. Se quiserem comer alguma coisa encomendem uma pizza, está bem? Vou ver televisão. Não me acordem. Boa noite. -Sim, pai! -Adeus. -Mal se foi embora, tranquei a porta do quarto, e o Rafael disse: -Não me acordem? Mas já se vai deitar? Que horas são? -São três da tarde... A História de Diablocity Maria Capitão -E é boa- noite? -O nosso pai diz boa noite, pois quando se põe a ver televisão, não toma atenção à televisão, chora por causa da nossa mãe. Depois não quer que nós o vejamos a chorar e finge que está a dormir quando vamos à sala. - Expliquei, com os olhos marejados de lágrimas. -Lamento. -Tasse bem. Nós é que devíamos ir dormir… -Estás doida?! - Questionou o Miguel, olhando para mim. -Cala-te. Digo ao nosso pai que vamos dormir, tranco a porta e saímos pela janela para ir comprar as coisas que precisamos. -Ah, ok. -Se nos vê a ir comprar agora coisas mata-nos, e só temos três dias…. -Mas não está nenhuma loja aberta a esta hora… -Tenho uma ideia, mas se nos apanham… -Diz lá. -Assaltamos a loja do Sr. Manel. -Não é preciso assaltar. Tenho a chave. - Disse a Rafaela, mostrando um molho de chaves sorrindo. Dirigi-me à porta do quarto, e gritei para o meu pai. -Pai vamos dormir! -Até manhã. - Respondeu-me. 132 I A História de Diablocity Maria Capitão Silenciosamente dirigimo-nos para a janela, e um a um saltámos. Fomos a correr até à loja do Sr. Manel, e abrimos a porta. Ainda não tinha dito, mas a loja do Sr. Manel tem de tudo: material para a escola, mercearia, material electrónica, roupa… É tipo uma loja do chinês mas com mais qualidade, acrescentando o facto de ter uma sala para tratar dos animais. Tirámos o que queríamos, mas como não somos ladrões, deixei o dinheiro respectivo em cima do balcão. A História de Diablocity Maria Capitão Capítulo 14 O Sonho Durante os três dias seguintes, cada um fez o que quis. Eu fui pesquisar sobre o sonho que tenho todos os dias. Procurei em todas as línguas o significado daquilo, e encontrei num site antigo, que estava escrito português, tinha um alfabeto esquisito, e era igual ao que dizia no meu sonho. Procurei por todas as palavras e o resultado foi este: Avat cerebromjbg: Destrói os meus inimigos e os dos meus amigos! Queridos pais, pai, mãe ajudem-me, apoiem-me neste momento. Voz, tu que iluminas a minha vida, leva o Vanderdecken para bem longe! Salva-me e aos meus amigos! Imploro vos! Avat cerebromjbg. Uou! O que significa esta oração? Oração?! Desde quando é que eu rezo?! Como já tinha dito, eu não acredito em Deus. Sempre achei, aliás, tinha a certeza de que o Universo tinha sido criado pelo Big Bang e que Deus não tinha sido mais uma invenção do Homem para tentar explicar os mistérios da Natureza. A História de Diablocity Maria Capitão Não entendo como é que eu aprendi a dizer isto… Mas, se pensar que isto é realidade… o que é ou quem é a Voz ? E... Isto tem que ser verdade!!! Se eu falo no Vanderdecken… E quer queira quer não, o Vanderdecken existe. Para mal dos meus pecados... Tenho que falar urgentemente com o Palki. Ele tem que me ajudar! Mas, por falar nisso… como é que consegui falar esta língua? Duvido que alguma vez tenha aprendido a falar este alfabeto. Só sei falar quatro línguas. Português (é óbvio), Inglês (nas aulas), Francês (também nas aulas), e Espanhol (como Espanha é o nosso país vizinho, está claro que tenho de saber dizer alguna cosita). Como es posible yo saber hablar una lengua que nunca e olido? Nada mal, ah? Ainda me safo. Agora, chega de brincar e vamos voltar aos assuntos sérios. Hoje é O dia. Hoje vamos reaver aquilo que eles raptaram, sem pedir autorização. Vamos reaver os extraterrestres! Vanderdecken pode ser mau, mas não conseguirá vencer- nos! Até parece que é filho do Diabo, ou algo parecido! Nesta altura, ainda eu não sabia quão verdadeiras as minhas palavras eram. 136 I A História de Diablocity Maria Capitão Capítulo 15 Jonas -Hola! - Ouvi por detrás de mim. Assustei-me, dei um salto na cadeira e gritei: -Quien eres?! - Então, olhei bem para a pessoa e reconheci-a. Era um rapaz muito giro, com caracóis castanhos, e uns olhos castanhos também. Reconheci-o imediatamente do dia em que eu e o Rafael estávamos a combinar um sítio para nos reunirmos. Lembram-se?! No dia em que o Miguel e a Juliana foram raptados… O monstro com a máscara? Que tirou uma mini-vara e gritou uma cena marada qualquer e a cara transmorfou-se completamente?! Transmorfou-se (linda palavra, li-a num livro). O que raio está este gajo todo bom a fazer aqui?! Eu sei que isto é uma biblioteca (é a única que há. Apenas há em Godcity. Só entra quem tem cartão de estudante ou é membro. Como sou as duas, there’s no problem babe!) -Tu hablas español? -Um bocado. Mas sou portuguesa. E tu? - Parei para respirar e ponderar no que iria dizer e continuei - Só por acaso, quem raio és tu, o que estás aqui a fazer, e porque raio é que me pregaste um susto daqueles há uns dias?! -Mais devagar… Chamo-me Jonas. Tenho 15 anos. Estou aqui pois venho pesquisar uma cena… e vim à tua A História de Diablocity Maria Capitão procura. E quanto àquilo do bosque… Não posso dizer. O meu mano obrigou-me a jurar. -Obrigou-te?! Mas que raio é isto?! O teu irmão obriga-te?! Os meus nem me mandam fazer algo, quanto mais obrigar. -Pois, mas eu vivo sozinho com o meu irmão, ele toma conta de mim e eu dele. -Vives sozinho?! Que cena marada! Também posso?! Estou a gozar… Estás a ver? -Por acaso não, não estou a ver. - Respondeu, franzindo o sobrolho. -Ah, pois… Olha, o meu nº é 9179802… -Tu és uma beca sociável a mais, não? - Interrompeu o Jonas, um bocado irritado -Há quem diga isso. Porquê? -É que… tipo… eu e o meu mano pregamos te um susto do catano há uns dias, não nos conhecemos de lado nenhum, nem tu a nós, e tas aqui a falar comigo como se nos conhecesse mos há anos. Até já me estás a dar o teu nº… -Se nos conhecêssemos há anos, não te estava a dar o meu nº, já o tinhas há anos. Sabes, apenas tenho 7 amigos. Somos amigos há 13 anos, mas não é isso que está em causa. Acho que me entrego demasiado à minha amizade com eles, e se por qualquer razão tivesse de me afastar deles, acho que me matava. A sério. Se fosse para outro 138 I A História de Diablocity Maria Capitão país, só socializava com o Miguel, o Ned e com o meu pai. E esse nunca está presente, está sempre na lua. -Miguel? Ned? Pensava que tinhas três irmãos. -E tenho. O Miguel, o André e o Jorge. -Quem é o Ned? Namorado? - Isso são ciúmes? O Ned é o meu cão. - Respondi, com um sorriso. Ele enrubesceu de vergonha. Não sei porquê mas gostava de estar a falar com ele. Era simpático, e tinha um sorriso… ai! Achei que tinha de lhe dizer algo sobre mim e disparei - Tipo, não sou daquelas que mal vê um gajo todo bom se põe com sorrisinhos idiotas e isso. Pessoalmente, acho me bastante Maria-rapaz. Não é só o facto de me vestir toda de preto, de adorar subir às árvores e de ser capitã e defesa central numa equipa de futebol, e de já termos ganho 6 campeonatos seguidos, é também o facto de o meu nome ser Maria João (meio arrapazado) e de me dar bastante melhor com rapazes (não é para os seduzir, nem nada disso), apenas acho que eles entregam-se mais numa amizade. Sei que posso confiar nos rapazes, enquanto numa rapariga, nem por isso. Elas são bem capazes de me trair. Eles, não são. São mais leais (numa amizade), mais simpáticos e muito mais queridos que elas. As minhas amigas (são só duas), são também muito arrapazadas, gostam das mesmas coisas que eu. -Quando fiquei sem nada para dizer sobre mim, perguntei-lhe - O que dizes sobre ti? A História de Diablocity Maria Capitão -Nada de especial. O que se vê é o que é. -Eia, com um catano! Estive aqui a desperdiçar o meu latim, e tu me dizes isso?! -O que é que queres? Olha, amanhã queres… “Bzzzz…Bzzz…”. Que inoportuno! Quando ele ia a falar, o meu telemóvel toca! -Desculpa. Tenho de atender. -Disse-lhe, virandome de costas para atender a chamada. - Sim? - É o Rafael! Despacha-te! Até já. Só para ficares a saber… Amo-te. - Disseram do outro lado da linha. Desligaram sem me dar tempo para responder. Só sei que em seguida, comecei a ver tudo a andar à volta, e depois só vi branco. Acordei com alguém a abanarme e quando abri os olhos, estavam três pessoas a olhar para mim, com ar de preocupados: o Miguel, o Jonas e o secretário da biblioteca. -Está a acordar. - Disse o Jonas. -Estás bem? - Assenti com a cabeça, e tentei levantarme, mas perdi as forças a meio e ia caindo se o secretário não me tivesse agarrado. -O que aconteceu? Quem és tu? - Perguntou o Miguel ao Jonas. -Ele não tem nada a ver. Deixa-o em paz. Foi uma quebra de tensão, de certeza. - Afirmei -Chamo-me Jonas. Estava a falar com a tua irmã quando ela desmaiou. Foi stress a mais. - Acrescentou 140 I A História de Diablocity Maria Capitão a olhar para mim. - Por tudo o que estás a passar. Estar em frente àquele monstro, sonhar com ele. Desejo nunca passar pelo mesmo. Depois falamos. Telefona-me. Depois, inclinou-se para mim e beijou-me. Um beijo longo e suave, e ao mesmo tempo carregado de emoções. Em seguida, como um vampiro quando começa a nascer o sol, desapareceu sem deixar rasto. -Quem raio era aquele?! E porque te beijou?! De quem estava ele a falar?! Apesar de o Miguel me estar a fazer perguntas, não conseguia ouvir, quanto mais responder. Estava em estado de choque. O primeiro choque foi o Rafael ter dito que me amava ao telefone. O segundo foi o Jonas ter me beijado. Mas que raio?! Tiraram hoje o dia parame chocarem?! É óbvio que não me importo nada, mas… Por amor de Deus! Estou há meses à espera que o Rafael assuma o que sente por mim, ou que diga que nada sente, mas tinha logo de aparece um gajo bom e beijar me?! Que cena marada... Mas que o Jonas é bom, lá isso é... O que queria ele dizer-me com “telefona-me”?! Nem sequer tenho o nº dele! -Vens ou não? Ia dando um salto, pois tinha me esquecido que o Miguel estava ali. O secretário já se tinha ido embora e o Jonas, idem! -Espera só uma beca. Tenho de desligar o pc. -Ok. Até já! - Exclamou e desatou a correr. A História de Diablocity Maria Capitão Dirigi-me ao computador para o desligar, e qual é o meu espanto quando vejo que alguém tinha aberto uma página do hi5. Fui ver de quem era o hi5, e reparo que é o meu! Tinha recebido uma mensagem, fui ver, já que ali estava e coincidência das coincidências… era do Jonas! Sim, o meu Jonas. Ok, não é meu, mas é como se fosse! Rapidamente abro a mensagem, e estava lá escrito isto: Olá! De certeza que estás a pensar quem eu sou, porque te beijei, como fugi e porquê. Sou o Jonas, como já te tinha dito e tenho um irmão da mesma idade que eu. Chama-se Daniel. Beijei-te porque me senti e sinto muito atraído por ti. Fugi porque o teu irmão me estava a fazer muitas perguntas. E agora, como é que consegui fugir sem ser pela porta principal… Bem, eu sou descendente dos Cooper. Sim, os Cooper, os extraterrestres. Nasci com o talento do meu tetravô, Sly Cooper. Ele era muito ágil, era um ladrão de primeira. Tinha uma equipa. Era ele, o Murray e o Bentley. Nasci com o seu talento. Sou muito ágil e difícil de apanhar. Saltei pela janela que está à tua direita e voei pelos ares com o meu parapente e aterrei no edifício ao lado. Ah!, já me esquecia. O meu nº é o 915581681. Telefona-me. P.S: O monstro de quem estava a falar é do Vanderdecken… Eu conheço-o e sei que ele tem a minha família presa. Tem os meus primos e os meus tios presos na gruta. Só não os resgatámos ainda pois somos só dois e não o conseguimos 142 I A História de Diablocity Maria Capitão sem ter uma planta do sítio, e com os Evils a guardar a entrada … Ai, ai… Boa sorte. Adrt. P.S.S: Daqui a meia hora vem ter comigo ao centro da aldeia A História de Diablocity Maria Capitão Capítulo 16 A Verdade A aldeia parecia deserta… Ninguém se via, só se ouvia o vento a soprar e os espanta-espíritos a tilintar… Estava sozinha no velho Oeste… Ok, é hora de voltar à realidade. Desculpem, mas tenho muita imaginação... Parecia que estava mesmo no velho Oeste. Ninguém se via, havia muito vento, estava ali sozinha à espera do Jonas… -Esperaste muito? Desculpa a demora… Virei-me lentamente e à minha frente estava… o Vanderdecken!!! Não hesitei perante aquela cara e preguei-lhe um pontapé nas virilhas e um soco na cara. Apesar da cara me ter feito tremer que nem varas verdes não podia hesitar. Após o que os meus amigos me disseram do Vanderdecken, sabia do que ele era capaz -só ainda não sabia que ele era filho do Diabo. Quando lhe dei o pontapé e o murro, só ouvi um grito, e, seguida também eu levei um pontapé e dois murros. -Ah! Jonas, ajuda-me! Quando dei por mim, estava a gritar pelo Jonas e estava à pancada com Vanderdecken. Ele podia ser mais velho e mais forte, mas eu não lhe ficava atrás, e faria tudo o que pudesse para o derrotar. De repente ele deu um salto de 6 metros e foi parar em cima duma casa.”Como fizeste…?! “, pensei para comigo. Logo em A História de Diablocity Maria Capitão seguida, começou a fazer uma cena esquisita, e deitou lã, (ou pelo menos parecia) do rabo. Só depois é que me apercebi, ele estava a fazer uma teia! Comecei a correr, peguei no meu telemóvel, e marquei o número do Jonas. -Sim? - Atenderam do outro lado, e percebi que era o Jonas. -Jonas, ajuda-me! -Quem…? Maria? -Sim! O Vanderdecken está aqui, está a fazer uma teia, e duvido que seja para caçar moscas! -Ai, credo! Onde estás? -No centro da vila! Onde disseste que vinhas ter comigo! -Quem? Eu? -Sim, tu! Escreveste no computador, onde eu hoje estava a pesquisar! Quando nos conhecemos, na biblioteca! -Ah, já me lembro! Mas… era só daqui a 20 minutos! -Pois, mas eu vim logo! Ele deve ter ido à biblioteca e viu! -Ou se calhar… já lá estava! -Mas quem?! -O Miguel! -O Miguel?! -Sim! 146 I A História de Diablocity Maria Capitão -Estás a dizer que o meu irmão me está a tentar matar?! -Não! Quem é que te tinha telefonado? -O Rafael. - Respondi, corando. -E porque é que o Miguel apareceu?! Eu não lhe telefonei! -Então, o Vanderdecken é o Miguel?! -Naquela altura, sim. -Então, onde está o Miguel?! Ai!!! -Maria?! O que foi?! Enquanto falava com o Jonas, Vanderdecken ia fazendo a teia, e quando a acabou, Vanderdecken fez força e nasceu lhe uma cauda (sim, uma cauda, não estou a gozar). Atirou-se para o chão, e ia”atirando” a cauda, a ver se me apanhava. Ora, eu gritei porque a cauda me apanhou! -Maria?! -O Vanderdecken está-me a sufocar! -O quê?! -Parece uma cobra, está a tentar matar-me… -Maria?! - Exclamou aflito. Em seguida perdi os sentidos. No momento em que perdi os sentidos, foi quando de repente a cauda de Vanderdecken parou de fazer força. Tinha sido atingido. Pelo quê, não sabia, mas tinha um buraco ao pé da cabeça. A História de Diablocity Maria Capitão Rapidamente, largou-me e fugiu. Quando acordei, novamente, - é a segunda vez que desmaio! -, estava num sítio desconhecido e a forma como lá fui parar também me era desconhecida. Parecia a copa de uma árvore pois havia muitas folhas à minha volta. Acordei com o vibrar do meu telemóvel. Alguém me estava a ligar. Fui ver quem era e era o Miguel. Atendi. -Sim? -Onde estás?! Estamos há duas horas à tua espera! -Duas horas? - Repeti. -Ela já acordou. - Ouvi dizer lá em baixo. Falavam baixo, mas consegui ouvir. -Se não fosses tu, acho que agora estava a chorar sobre o corpo dela. - Disse outra pessoa, que percebi ser o Jonas. -Estás aí?! - Gritou o Miguel ao meu ouvido. -Agora não posso, até já! - Disse, e desliguei. Lentamente, fui-me apercebendo onde estava. Estava dentro de uma casa de madeira, em cima de uma árvore. Levantei-me, e vi que estava deitada numa cama e que ao meu lado havia outra, um fogareiro, um armário e dois telemóveis em cima da mesa. Perguntei-me de quem seria aquela casa tão gira e acolhedora. Havia uma parede que estava coberta de papéis, que tinham lá coisas rabiscadas. Aproximei-me de um papel e vi lá escrito oito nomes. Estavam por ordem. O que lá 148 I A História de Diablocity Maria Capitão estava escrito era: 1º Miguel - Tem 3 irmãos. É muito céptico. Gosta da Juliana. 2º Maria - É dona do Ned. Possivelmente gosta do Rafael. Acredita em tudo. 3º André - Manter sobre investigação. 4º Ned - Adora toda a gente. 5º Jorge - Manter sobre investigação. 6º Juliana - Gosta do Miguel. Tem uma irmã. É muito gira. 7 º Rafaela - Gosta do Miguel, embora ele goste da Juliana. 8º Rafael - Manter sobre investigação. Mas que raio é isto?! Andam a perseguir-nos?! Senti a raiva a crescer dentro de mim. O que menos gosto é que se metam na minha vida e dizerem de quem gosto… Abusaram! E acredito em tudo?! Que nervos!!!Acho que estou mais chateada por ser verdade. Acredito em tudo. Foi por isso que desmaiei na biblioteca. Alguém se fez passar pelo Rafael e disse que me amava. Pode ter sido o Rafael, mas não acredito. Desci as escadas que estavam escondidas atrás do armário e estava a apreciar a cozinha que se afigurava diante de mim. -Olá! Estás melhor? - Virei-me e vi o Jonas acompanhado dum rapaz muito giro. Devia ser o Daniel. A História de Diablocity Maria Capitão -Olá! Estou, obrigada. -Sou o Daniel. - Disse quem eu pensava ser o Daniel, com um sorriso maroto. -Hum… vocês vivem aqui? -Ya… -Sortudos… -Sortudos?! - Repetiu incrédulo o Daniel. -Achas fixe viver aqui?! - Perguntou por sua vez o Jonas, franzindo o sobrolho. Agora que reparo, o Jonas tem uma expressão muito engraçada quando franze o sobrolho. - Yah! Eu adoro natureza, o ar livre… Ouvir os pássaros a cantar… Nem sabem a sorte que têm. Em vez disso, tenho de ficar fechada dentro de casa. Se ao menos não houvessem rumores sobre o bosque… - Resmunguei. -Tens medo?! -Não… Mas o meu pai não me deixa sair de casa sem um interrogatório, e não sou muito boa a mentir… Já agora, onde estamos? E como é que aqui vim parar? A última coisa de quem em lembro é de estar presa na cauda do…hum… -Vanderdecken. - Completou o Jonas - Não precisas de ter medo. O Daniel sabe de tudo. Tal como eu. Foi o Danny quem te salvou. Disparou contra o Vanderdecken, acertou lhe, ele largou- te, e o Daniel trouxe-te até aqui. Enquanto eu estava aqui, confortável a falar contigo, antes 150 I A História de Diablocity Maria Capitão de desmaiares. - Acrescentou envergonhado. -Não fiques assim. O Danny és tu? - Perguntei olhando para o Daniel. -Yah… Pelo menos há 5 minutos era... agora não sei. - Onde é que estamos? - Perguntei, sorrindo. Estamos no bosque? Quando o Daniel ia a responder ouvimos um desfolhar de folhas (novamente), e desejei que não fosse o Palki, pois tinha sido assim que tínhamos visto o Palki pela primeira vez. Eu e o Rafael em cima de uma árvore, e o Palki debaixo dela a falar sozinho. Quando vi o que tinha feito aquele barulho, desejei que não fosse real, que tivesse a sonhar. -É um Evil… - Informou-me o Daniel. -O que estará aqui a fazer? Pensei que só saíssem à noite, da meia-noite às duas e meia… - Disse eu para mim própria mas alto o suficiente para que os aguçados ouvidos do Jonas captassem. -Como sabes isso?! - Perguntou espantado pela minha sabedoria por uma coisa, que eu preferia ver a 100 milhões de quilómetros de mim. -Conhecem o Palki?! -Melhor do que tu pensas! -A sério?! - Inquiri, franzindo o sobrolho - Então contem. A História de Diablocity Maria Capitão -Vamos contar-te como tudo começou… - Começou o Jonas. - Tudo começou quando se criou o planeta. Continuou o Daniel. -Sabes quem foi? - Perguntou o Jonas -Ora, eu nunca acreditei nisso, mas dizem que foi Deus. -Então acreditas em quê? -Acredito que o mundo se criou pela Big Bang. É a única explicação lógica. - Respondi, encolhendo os ombros. -Aí é que te enganas! - Declarou o Jonas. - O planeta foi criado por Deus e pelo Diabo. Continuou o Daniel. -Então… Deus e Diabo existem?! -Infelizmente sim. -Infelizmente? - Já não estava a entender nada... Estava genuinamente confusa. -Sim, pois se não fosse o Diabo, os nossos tios e primos estariam aqui. -Como estava a dizer, o planeta foi criado pelo Diabo e pelo Jesus. - Continuou, como se não quisesse prolongar o assunto que o Jonas estava a trazer à baila: a família deles. - Nessa altura o Diabo não era mau, pelo contrário! -Até há alguns anos atrás, o Universo era controlado pela Cassiópia. Quando a filha dela morreu, ela sofreu um 152 I A História de Diablocity Maria Capitão desgosto enorme e então… -Então? -Suicidou-se. - Respondeu o Jonas, triste. - Quando ela morreu, ninguém sabia quem controlaria o Universo, pois Liliana, a sua filha, não tinha deixado descendentes.. excepto um filho.. que tinha ficado com o pai... E o pai desaparecera misteriosamente… Provavelmente para o Inferno… -Então fizeram-se votos… - continuou o Jonas, aproveitando a pausa que o Daniel fizera. - Essa parte já eu sei. E metade das pessoas votou em Engrious, e a outra metade em Frankosfti e Indianaly. E se alguém ou algo matar Frankosfti e Indianaly, serão os seus filhos a governar, mas se também morrerem, será o Diabo a governar, pois o Diabo é o braço direito de Engrious. -Já vi que sabes muita coisa. Como…? -O Palki contou- nos. -O Palki?! - Exclamou o Daniel. -O Palki é um safado! Ajudou a prender a nossa família. - Respondeu o Jonas, levantando-se da cadeira, de tão exaltado que estava. -O Palki era um safado. Ele apaixonou-se pela Juliana. -Mas… a Juliana não namorava com o Miguel? A História de Diablocity Maria Capitão -Namorava dizes bem… Acabaram pois o Miguel agiu mal, e teve um ataque de ciúmes e espancou o Palki enquanto ele estava a agarrar a Juliana, ela se encontrava indisposta, que depois acabou por cair numas silvas por causa do Miguel. - E agora um monstro e uma rapariga namoram?! Exclamou o Jonas, exaltado. -E agora o Palki e a Juliana namoram - Corrigi - A Juliana ama-o, e ele a ela. Vê-se nos olhos dela, e dele. -Okay! - Declarou o Daniel puxando o Jonas para a cadeira. -Porque desmaiaste na biblioteca?! - Perguntou curioso o Jonas. -Hum… - Agora tinha chegado a um ponto onde eu não queria ter chegado… -Sabias que Vanderdecken foi criado pelo Diabo? -Explica lá isso. - Pedi, lançando ao Daniel um olhar de agradecimento por ter mudado de assunto. -Sabes que o Palki é filho do Vanderdecken, certo? -Não… Palki foi feito pelo Vanderdecken. - Neguei. -Aí é que te enganas. Vanderdecken teve um relacionamento com Liliana, filha de Cassiópia, e nasceu o Palki. Ele era um rapaz normal. Depois, Vanderdecken mostrou a sua cara, pois usava uma máscara, e Liliana abandonou-o. Vanderdecken fez o que fez ao Palki, pois ele se parecia muito com Liliana. 154 I A História de Diablocity Maria Capitão -Queres dizer, que o Vanderdecken é filho do Diabo e o Diabo fez o mesmo que Vanderdecken fez ao Palki?! -Yah… -Ups… -O que foi? -Palki não sabe nada disso, pois não? -Neps. -Então, se arranjarmos uma maneira de vencer o Vanderdecken… o Diabo mata-nos. É isso? -Yah. -Vai ser muito difícil… -Ah? - Eu e o resto do pessoal vamos hoje tentar resgatar a vossa família. Já temos tudo pronto. Dividimos nos em grupos de três, dois ficam em cima de uma árvore, a ver se os Evils aparecem… E entramos dentro da gruta. O Palki vai dizendo-nos por onde ir… -Porquê em grupos de três? -Porque a vossa família está separada. A Joana e o Rúben estão em grutas separados e a Benvinda e o Alemão estão com os vossos tios. Ficamos os três, uma beca em silêncio, até que eu decidi quebrá-lo perguntando algo que já me estava a inquietar há algum tempo. A História de Diablocity Maria Capitão - Ainda há bocado disseste que o filho da filha de Cassiópia, ou seja, o neto de Cassiópia, seria o herdeiro do dever de mandar no Universo… Ou seja: se Liliana teve um filho com Vanderdecken e esse filho é o Palki… O Palki é o herdeiro ao Universo?! -Nunca tinha pensado nisso… mas… sim! -Como é que Liliana morreu? - perguntei, curiosa. -Pois.. Vanderdecken matou-a. -Matou-a?! Porquê? Porque ela o abandonou? -Não. Porque ela o traiu. - Oh... que horror... - respondi, verdadeiramente chocada - Se algum dia o meu futuro namorado me trair… Nunca o perdoarei… Nunca mesmo… - Afirmei, olhando de soslaio para o Jonas que estava calado e silencioso há muito tempo, aliás, há tempo demais. O que teria ele? - Então meu, não falas? Estás a ser mal-educado! Exclamou o Daniel que também reparara no estranho silêncio do Jonas. -Estou à espera que a Maria me responda. - Responda ao quê? - Perguntei eu e o Daniel em coro. -Porque desmaiou na biblioteca. -Então Jonas! Não se pergunta isso! -Deixa Daniel… Eu respondo ao Jonas… - engoli em seco e depois declarei - Desmaiei na biblioteca, pois o Rafael disse que me amava ao telemóvel. 156 I A História de Diablocity Maria Capitão -E o que é que isso tem? - Perguntou o Jonas de forma dura. -Ela respondeu-te à pergunta idiota! -E o que me importa isso? -Importa- te sim, sabes porquê? - Há séculos que gostava dele, mas quando ele me diz isso, é quando eu me começo a apaixonar por outra pessoa! - Gritei, e desatei a chorar. -Desculpa. - Disse o Jonas, mas a voz continuava dura. Olhei-o nos olhos, e só vi raiva. Também vi que estava arrependido, e tive a certeza que era de me ter beijado. -Eu gosto de ti! És assim tão cromo para perceber?! Fica com a Juliana, já que gostas dela! -Espera! - Gritou, e agarrou-me o braço. Mas chateada e desiludida como estava, nem o ouvi gritar e empurrei-o. Em seguida, saí da casa e saltei para o chão. Olhei uma última vez para a casa e... logo desatei a correr com todas as minhas forças, enquanto as lágrimas escorriam pela cara abaixo. A História de Diablocity Maria Capitão Capítulo 17 A Chegada dos Primos -Vai atrás dela! - Exclamou o Daniel. -Não! Ela ama o Rafael! -Ela gosta de ti parvo! E tu também a amas! -Eu só a conheço desde hoje! -Mas apaixonaste-te logo por ela! Não sejas estúpido pela segunda vez! - Gritou, dando- lhe uma chapada ao de leve na cara. Jonas virou as costas magoado com o irmão, e foise deitar na cama dele, a mesma onde eu tinha estado deitada à pouco tempo. O Daniel foi ter com ele e deitouse ao lado dele, abraçando-o. -É tão difícil Danny… -Eu sei mano… -Estar neste planeta… sem os nossos pais… com osnossos primos e tios em perigo... É desgastante! -Eu sei irmão… desde que chegámos… é muito desgastante… - Concordou o Daniel. Há alguns dias que tinham chegado e já tinham recolhido muita informação mas não sabiam como haviam de recuperar os primos e tios. Agora comigo e com os meus amigos teriam mais hipóteses. Tinham chegado quatro dias depois de Vanderdecken pois A História de Diablocity Maria Capitão tiveram de se esgueirar de noite para os pais não saberem e assim perderam um dia... e mais três porque se tinham perdido. Quando chegaram ao planeta, não sabiam para onde ir. Perguntaram a um humano que encontraram se existia algum local naquele planeta que tivesse um nome esquisito com Diablo ou com Diabo no nome. Depois de muito pensar, este respondeu afirmativamente indicando o local: ValDiblo. Viajaram até lá e como sabiam que Vanderdecken estaria num sítio abrigado, sem ter interrupção de ninguém e, provavelmente, um sítio que parecesse ser amaldiçoado. Pediram indicações novamente, mas, desta vez, no país ValDiblo e disseramlhes que tentassem em Diablocity. Lá foram e o aparelho de detecção de naves extraterrestres disparou mal lá chegaram. Tinham chegado ao sítio certo! Aterraram a nave na cidade e após tirarem as malas e todos os utensílios necessários à sua sobrevivência, enviaram a nave de volta para o planeta deles, de forma a não serem detectados. Entraram na cidade de mãos dadas com duas malas de campismo nas costas, pareciam fantasmas ou demónios: vestidos de preto, pálidos, mãos dadas e os olhos fixos numa direcção apenas. Na direcção do bosque. Muitas pessoas olharam para eles, afastando- se rapidamente. Causaram um alvoroço na aldeia mas nem Vanderdecken nem nós tínhamos reparado. Nessa altura Vanderdecken ainda estava a arrumar a gruta e nós devíamos estar na escola a aturar a professora de 160 I A História de Diablocity Maria Capitão matemática, agora desaparecida. Entraram no bosque e quando encontraram uma árvore grande e forte montaram o equipamento e fizeram uma casa na árvore. Tudo corria bem e, apesar das saudades da família eles estavam a habituar-se à vida na Terra e não tinham tido recaídas… até agora. Jonas soluçava compulsivamente enquanto o Daniel o abraçava e chorava também. Eram duas crianças num planeta desconhecido a tentar salvar a família. A História de Diablocity Maria Capitão Capítulo 18 A Última Reunião Como é que fora capaz de pensar que ele estava interessado em mim?! “Que burra que sou“, pensava enquanto corria na direcção que eu pensava ser a minha casa. Ia-me arranhando em silvas, e ramos soltos, até que caí sobre um tronco caído, e torci o pé. Só a mim para me acontecerem coisas destas... Não podia voltar para trás, isso era óbvio. Caminhei durante alguns minutos, até que me sentei no chão, e olhei à minha volta. Reparei que estava perdida. Então, que iria fazer? Procurei nos bolsos e tirei o meu telemóvel. Não tinha rede. Tentei telefonar ao Miguel, mas nada. Inclinei-me um bocadinho para a direita, e consegui apanhar rede. Inclinei-me para a esquerda e perdi a rede. Percebi então que devia ir para a direita, pois se conseguia apanhar rede, era porque era para ali que era a aldeia. Caminhei durante o que me pareceram ser horas, mas estava errada, como estava a coxear andava mais devagar, acrescentando isso ao sentimento de desespero e raiva que me assolava fazia com que parecesse estar a andar à séculos. A casa do Pedro e do Jonas, era para o fim do bosque, para o lado de Godcity. Desejei ter aqui o meu skate e estar com o Ned. O meu skate é todo preto e por baixo tem o Catamon e a evolução dele. São Digimons. Costumava ver, mas acabou a série. A História de Diablocity Maria Capitão Finalmente avistei a aldeia! Nunca tinha ficado tão feliz por ver a aldeia! Corri para minha casa, bati à porta com toda a minha força, e quando o meu pai abriu a porta abracei- o com muita força. Pensava que nunca mais o veria. -O que tens, filha? Credo! Estás toda suja! - Exclamou ao ver o estado em que eu estava. - Já para o banho! Ri-me e tive vontade de lhe dizer que estava toda suja, pois tinha lutado contra o filho do Diabo, saltado duma árvore, torcido o pé e corrido pelo bosque. -O que tens? - Perguntou ao ver-me coxear. -Torci o pé. -Já tratamos disso. Agora, banho! -Onde estão os outros? E o Ned? -Os outros vieram cá há duas horas mais ou menos, e como viram que não estavas foram para casa da mãe. -Ao ver o estado em que ele ficou, ao ter falado da mãe, desejei partir duas pernas, do que voltar a vê-lo assim. -Adoro-te muito papá. -Também eu, querida. -Vou tomar banho. Até já. Tomei banho, pus um creme para as entorses, calcei as sapatilhas, e fui à procura deles. Cheguei a casa da mãe, em poucos minutos e toquei à campainha. Quem abriu a porta foi o Rafael, e evitei olhar- lhe nos olhos. 164 I A História de Diablocity Maria Capitão -Maria! - Gritou e abraçou-me. Depois apareceu o resto do pessoal. -Olá! -Tudo bem?! - Perguntaram e abraçaram-me. Em seguida apareceu a minha mãe. Tem olhos castanhos e cabelo castanho também. Costuma chamar me João quando não está zangada comigo, mas quando está zangada chama-me Maria, ou na pior das hipóteses, Maria João. -Olá mãe. - Disse, e dei lhe um beijo. - Tenho cenas para vos contar. - Disse, olhando para eles. -Vamos para o meu quarto. - Disse o André. Quando chegámos ao quarto, fechei a porta (era a última) e contei-lhes. Não lhes contei tudo. Era óbvio que não lhes ia contar a parte do Jonas me ter beijado, nem o que lhe tinha dito, antes de saltar da árvore. Não sabia se havia de contar ao Palki que ele era filho do Vanderdecken, por isso, optei por não contar. O que me espantou foi o Miguel e o Rafael terem dito que não tinham ido à biblioteca nem me telefonado. Entrei mesmo em pânico. - Significa que o Vanderdecken imitou o Rafael, ou a voz dele, telefonou-me, fez de Miguel, foi ter comigo à biblioteca, leu o que estava escrito no computador, foi até ao centro da aldeia, e tentou matar-me?! - Exclamei. Os outros pensaram durante um bocado, até que a Juliana respondeu: A História de Diablocity Maria Capitão -É provável. Afinal, quando é que vamos resgatar os Capper? -Não é Capper! É Cooper! - Corrigi zangada. -Prontos desculpa! Quem ouvir, até pensa que gostas do Jonas! -E gosto. - Murmurei baixinho - Mesmo que gostasse (mas não gosto), ele nunca iria gostar de mim, e além disso, ele acha-te gira. - Retorqui. -Parem com isso! - Exclamou o Miguel -O que interessa agora, é resgatar mos os Cooper, e destruir Vanderdecken. -Tens razão. -Já temos tudo, sabemos os horários, e isso. - Hoje à noite, dá? - Inquiriu a Rafaela virando-se para o Palki. -Yah. -Encontramos nos aqui às 23:30? -Yah… -Palki, tu é melhor ires ter com o Vanderdecken. Ele deve estar ferido. -Okay… Adeus. - Virou-se para a Juliana e acrescentou - Amo-te. Tem cuidado contigo. Não te quero perder, se não, também morro. -Não faças isso. Amo-te. - Foi até à janela, e saltou. -Tenho coisas para tratar. Adeus. - Ao dizer isto, saí pela porta, sem olhar para trás. 166 I A História de Diablocity Maria Capitão Capítulo 19 A minha Escolha Tinha demasiado para pensar. Fui para o meu sítio preferido: o meu quarto. Adoro lá estar, deitar-me na cama, pôr as minhas músicas preferidas, e pensar… Tenho várias… Quando estou mal de amores, ponho “If you’re not the one”, do Daniel Bedingfield ou a “Hasta Mi Final” dos Il Divo.. Quando simplesmente preciso de pensar, ponho “My Immortal” dos Evanescense. Mas as músicas que ponho quando preciso de pensar, e estou mal de amores, são “Implora” do Paul de Seneville, “Endless Love” do Jackie Chan e da Kim Hee Seon e “Hasta Mi Final” dos Il Divo. Pessoalmente, prefiro músicas calmas, do que Rock, Pop e isso. Músicas Clássicas. Acho que as músicas clássicas são aquelas músicas em que enquanto as ouvimos podemos pensar em tudo… Deitei-me na cama, pus as minhas três músicas e pensei. Pensei em tudo. O beijo do Jonas, o que eu sentia por ele, o que sentia pelo Rafael… Pensei também no Rúben, na Benvinda, no Alemão, na Joana e nos pais deles. Decidi que iria libertá-los, nem que perdesse a minha vida. Eles mereciam isso. Sobretudo os filhos, pois tinham de viver, mas também os pais, pois tomam conta do Universo. Quando a música chegou ao refrão da Kim Hee acompanhei a música. É a única parte que já sei de cor. A História de Diablocity Maria Capitão Apesar de a música ser cantada em mandarim e coreano já a sei. Na última palavra do refrão murmurei: -Mottansondayo… Significa amo-te. O Jackie Chan voltou a cantar e comecei outra vez a pensar. Será que tinha feito bem ao saltar da casa do Jonas e do Pedro? Será que ele gosta da Juliana? Será que eu gosto dele? Será que gosto do Rafael? Será que ele gosta de mim? Será que o Jonas me odeia? Fogo! Tanta pergunta, mas nenhuma resposta! Pelo menos, o meu “encontro” com o Jonas teve um bom resultado. Lembram-se de no meu sonho ter visto dois rapazes ambos com as roupas sujas e rasgadas? Agora reconheço-os. São o Daniel e o Jonas. E o outrorapaz, que não era humano e vestia roupas humanas? É o Palki. Na oração que digo há uma coisa que me intriga mais do que o resto. A parte “Voz, tu que iluminas a minha vida, leva o Vanderdecken para bem longe!” A parte de levar o Vanderdecken para bem longe entendo mas… Quem… o que é a Voz?! Que quererá isso dizer?! Assim, não entendo nada! Só perguntas e mais perguntas, e nem uma resposta. Acho que o melhor a fazer, por muito que me custe, é deixar de pensar no Jonas, no Rafael, e tentar esquecê–los. Quanto ao plano desta noite… Não sei se vai resultar, acho que… foi feito muito em cima da hora, mas temos o Palki. Mas quem garante que o Palki é nosso amigo? E quem garante que o Vanderdecken é o mau? Se é filho do 168 I A História de Diablocity Maria Capitão Diabo pode muito bem ser controlado por ele… -Que confusão! Onde está o Ned?! - Gritei para o meu pai. -Não sei! Não o vejo há três dias. Vi-o quando vocês estavam a jogar àquele jogo esquisito. Não podia acreditar… Foi também há três dias que vi o Ned… Liguei ao Miguel para confirmar as minhas suspeitas, desejando estar errada. -Miguel? -Sim? -Há quanto tempo é que não vês o Ned?! -Não sei. A última vez que o vi, estávamos no quarto, antes de “assaltar” a loja do Sr. Manel. -Oh não! -O que foi? -Eu também não o vejo desde essa altura. Há três dias. - O Miguel ficou em silêncio. Eu como já estava passada da cabeça, interpretei-o mal. -Achas que ele fugiu?! Já sabia! A culpa é minha! Não lhe dei atenção nenhuma nos últimos dias, e agora… -Choraminguei. -Tem calma. Eu não sei se ele fugiu, mas acho que não. Ele é feliz connosco. -Mas eu não lhe dei atenção nenhuma… A História de Diablocity Maria Capitão -Ele deve aparecer. E ele adora-nos. Especialmente a ti. Lembra-te que foste tu que o salvaste de morrer à fome. -Tu é que sabes, mas deve ter fugido… - Disse eu, num murmúrio. Desliguei e comecei a chorar. Há quem diga que os treze anos são a fase do choro e têm razão. Agora choro por tudo e por nada. O meu pai entrou no meu quarto, e percebendo que algo de mal se passava comigo perguntou me: -Queres desabafar? Desolada, encolhi os ombros e perguntei-lhe: -Pai? -Sim? -Imagina, tu conhecias uma pessoa (A), e depois ela “fugia” à pressa e beijava-te e dizia que se sentia atraído por ti, porém antes de conheceres essa pessoa gostavas doutra (B), mas essa outra não te ligava. E depois, ias a casa da pessoa A e vias uma lista em que dizia que a pessoa A achava um amigo teu giro. E começavas a sentir algo pela pessoa A. O que é que fazias? Esquecias o A e o B, ou esquecias só um deles? Qual? O meu pai pensou um pouco, e depois respondeu. -Bem… se me acontecesse a mim… eu tentava ouvir o que dizia o meu coração. Um exemplo é tentar passar um dia sem falar nas duas pessoas e depois via de quem sentia mais a falta. Se não resultasse, fazia uma lista de prós e contras. E se isso não resultasse, bem… tentava perceber o que é que os dois sentiam por mim. 170 I A História de Diablocity Maria Capitão -Falar é fácil. -É só isso que te tem andado a importunar? -Não… Temo que o Ned tenha fugido. -Bem… para isso já não posso dar sugestões. Ele teria algum motivo para fugir? -Não sei. Acho que não. -Então… Anima-te! Não gosto de ver a minha menininha triste… -Já não sou uma menininha. -Eu sei. Mas para mim, serás sempre a minha querida e pequena menininha. Fiz um sorriso triste para o meu pai. -Okay pai. Vou dar uma volta e ver se encontro o Ned, está bem? -Okay. Tens a certeza que só estavas triste por causa do Ned? -Pelo Ned e pelo A e o B. -Posso recitar-te um poema que um velho filósofo fez ? Foi um dos únicos poemas que fez. A sua assinatura era sempre iebe. -Sim, recita-mo, por favor. -Quando nós acabámos fiquei desolado Por não estares mais ao meu lado… Pensei que me amavas E que sempre a meu lado ficavas. A História de Diablocity Maria Capitão Mas percebi que estava errado E que tu sempre me tinhas enganado… Perdi o meu melhor amigo Para estar a toda a hora contigo… Agora estou na solidão Sem nenhum amigo Com isto aprendi uma lição Os nossos amigos merecem sempre Um lugar no nosso coração Nas más alturas os amigos têm As curas para nos recompor E ajudam-nos a ultrapassar Estes desgostos de Amor -Obrigada pai. -Mesmo que nenhum do A ou do B te ame, e mesmo que não sejas feliz com eles... Nunca rejeites os teus amigos.. eles são a tua fonte de alegria. Abri a porta, preparei-me para sair, e disse, olhando para o meu pai: -Vê lá se te alegras tu também. Sorriu-me e depois ligou a televisão. Era hora de me ir embora. 172 I A História de Diablocity Maria Capitão Capítulo 20 O Diabo Após o Palki ter saído de casa do André e do Jorge foi ter à caverna do mestre, mais precisamente ao salão principal. O salão principal tinha uma mesa, duas cadeiras, outra mesa e uma cadeira mais afastada que servia para os primeiros-socorros. Tinha também uma bacia gigantesca que era onde Vanderdecken costumava estar para se refrescar. Quando lá chegou não viu ninguém, dirigiu-se então para o sítio preferido do mestre, a caverna onde estava Frankosfti e Indianaly - Vanderdecken adorava torturálos. Foi lá, mas também não o viu. Aproximou-se da masmorra a medo e olhou lá para dentro e... sem contar, quatro olhos amarelos fixaram-no. Assustado, acendeu as luzes e logo os olhos se fecharam. Indianaly e Frankosfti não suportavam a luz. Ficariam cegos se apanhassem luz, solar ou não. Para isso existiam uns óculos que eles próprios tinham criado - também eram inventores! - que impediam os raios prejudicais aos seus olhos, os óculos reflectiam os raios. Mais tranquilo, Palki perguntou- lhes: -Viram Vanderdecken? -Pensava que andavas sempre com ele. - Respondeu Indianaly. A sua voz era límpida e desprovida de medo, mesmo tendo sido raptada. Era a primeira vez que falava, por isso Palki apanhou um susto ao ouvi-la. A História de Diablocity Maria Capitão -Pois enganas-te. Olha-me nos olhos e diz-me o que vês. - Pediu Palki e apagou a luz. Indianaly tinha o dom de poder ler o cérebro das pessoas, se, por exemplo, viviam para o mal ou para o bem. Palki sabia disso, e queria confirmar que já não pertencia ao lado do mal, por assim dizer. Instantaneamente os olhos de Indianaly abriram-se e olhavam directamente para os olhos do Palki. O que viu deixou-a muda de espanto. -É… é espantoso. Como mudaste tanto em tão pouco tempo? Ainda ontem de manhã eras um ser tão ou mais horrível que Vanderdecken. Sem ofensa. -Apaixonei-me. Amo e sou amado. -Impressionante o que uma rapariga pode fazer… -É verdade. - Assentiu Frankosfti. Até agora, pouco ou nada Frankosfti tinha dito. -Tenho outra coisa para vos dizer… Frankosfti e Indianaly esperaram em silêncio. Que mais novidades teria? -Sabem… os vossos sobrinhos? -Sim? -Bem… uns amigos meus… conhecem-os. Melhor, uma amiga minha. E bem… eles todos em conjunto querem salvar-vos. -O quê? -Estão doidos? 174 I A História de Diablocity Maria Capitão - Bem... não. E eles têm tudo planeado… Os horários dos Evils, os sítios onde vocês estão, e inclusive já se dividiram em grupos. Também têm walkie-talkies e bússolas… E cada grupo irá trazer uma mala com comida, para o caso de ficarem presos. -E tu? -Eu e a Juliana iremos lá fora a vigiar e a ver se não aparecem nenhuns Evils. -E se aparecerem? -Dou cabo deles. Por amor faço tudo. -E… quando tencionam salvar-nos? -Hoje. -Hoje? -Hoje. - Confirmou Palki. -Bem, eu não diria que eras filho do pai que és… -Que queres dizer com isso? -Nada... Sabendo que nada mais iria arrancar de Indianaly, Palki foi se embora com um acenar de mão. Saiu da caverna e foi procurar o Vanderdecken. Passado pouco tempo, Palki cruzou-se com Eli. Eli era uma Evil. Palki cumprimentou-a, o que muito a espantou, pois Palki nunca costumava cumprimentar quem quer que fosse. A História de Diablocity Maria Capitão -O que se passou? - A voz de Eli, era fina, alta demais e muito irritante. -O que queres dizer? Sabes do mestre? -O mestre? Vi-o ainda há bocado. Estava a andar devagar e sangrava da cabeça. -E deixaste-o assim? -Sim. Tu deves tomar conta dele. -Deve tomar conta de quem? - Perguntou Vanderdecken enquanto aparecia por detrás dele, caminhando lentamente. -Mestre! Estais ferido! Temos de tratar já disso! O que lhe fez isto? -Foi uma arma MexMet. -MexMet? - Repetiu Palki, parecendo confuso. - Sim! As armas MexMet foram criadas pelo Frankosfti pois um tiro dessa arma mata uma criatura qualquer se acertar directamente no coração. Se acertar noutra parte qualquer do corpo, danifica seriamente o sítio onde acertou e pode ficar danificado para sempre. -Hum… mas tenho a certeza que eu poderei curar essa ferida, se me deixar. - Apesar de Palki estar do lado da Juliana e querer livrar-se de Vanderdecken, não o podia fazer agora. E tinha de fazer o seu papel. A ferida de Vanderdecken estava azul esverdeada e deitava sangue verde. -Não! Primeiro tenho de me vingar. 176 I A História de Diablocity Maria Capitão -De quem, meu mestre? Quem lhe fez isto? -O fedelho fez-me isto para salvar a rapariga. O primo dos filhos de Indianaly e Frankosfti. -Hei-de torturar o que ela mais deseja. -E o que é isso, meu mestre? -O seu cão. -De quem? Da rapariga? -Claro! Não sejas estúpido Palki! - Exclamou Vanderdecken desmaiando em seguida. -Eli ajuda-me a levá-lo. -Okay. Juntos levaram Vanderdecken até ao salão principal. Quando lá chegaram Palki expulsou Eli, e debruçou se sobre a ferida de Vanderdecken. Limpou a zona à volta do buraco com algodão embebido em álcool. Palki vivia sobre o ditado “O que arde cura”. Na verdade, era um dos poucos ditados que sabia. Vanderdecken não lhe dava muita informação sobre os humanos. Pôs um penso sobre a ferida de Vanderdecken, rabiscou um papel a dizer que ia buscar comida, e saiu da gruta. De repente, uma voz ecoou pela caverna: -Levanta-te seu molengão! - Vanderdecken estremeceu e acordou. -Importa- se? Estou ferido! Deixe-me dormir! A História de Diablocity Maria Capitão -Resmungou, e tapou os olhos - Nunca entendi como consegue fazer isso… -Isso o quê? -Isso… Fazer com que a sua voz faço eco. -Isso, e ter pessoas em quem mandar, são as recompensas de mandar no Inferno. Em referência ao nome “Inferno”, Vanderdecken estremeceu, e reclamou: -Cale-se! Isso dá-me arrepios! -Qualquer dia és tu quem terá estes “poderes”. -Nunca na vida. Para isso, tenho de morrer, e tenho de mandar nessa cambada de imbecis que para aí andam. O que cá veio fazer afinal? Aposto que não foi ver-me! -Vim ver o meu neto. -Cale-se! Ele pode estar por perto! -Não está. Ele acabou de sair, eu próprio confirmei. E além disso, que mal tinha? Porque não assumes que ele é teu filho? -Porque ele fazia muitas perguntas, e não quero ter de admitir que matei a mãe dele. E… porque ele ficaria constrangido, e nunca mais trabalharia para mim à borla. Além disso, ficaria chateado comigo por lhe ter mentido e o ter obrigado a trabalhar. -Okay! Como está a correr a tua vingança? -Bem. 178 I A História de Diablocity Maria Capitão -Já os mataste? -Não. - Então despacha-te! Quando o fizeres, tu, o Engrious e eu governaremos isto tudo! Fez um gesto com as mãos como se quisesse embarcar todo o Universo e mais além nelas. -Tenha calma. Não passa de hoje. - Garantiu, rindose de seguida. A História de Diablocity Maria Capitão Capítulo 21 O Suposto Rapto Querem saber o que aconteceu ao Ned? Bem, na realidade ele não fugiu. Aliás ele nunca teria fugido. Foi raptado. Sabem por quem? Não foi pelo Vanderdecken mas sim pelo Palki. Sim! Mas não pensem que ele é mau. Antes pelo contrário. Ele é tão boa pessoa, que ao saber que Vanderdecken queria raptar o Ned, raptou-o ele mesmo, e escondeu o. Vou contar- vos tudo, tintim por tintim. Após ter saído da gruta, Palki já tinha decidido o que iria fazer: 1º iria raptar o Ned e pô-lo em segurança. 2º iria ajudar os seus amigos na luta contra o Vanderdecken. 3º…bem… não sabia. Encontrou o Ned a vaguear pelo bosque, perto de onde a Maria dizia ser a casa de Jonas e do Daniel. -Olá jovem! -Uof! Via-se que o Ned estava feliz por finalmente ter encontrado alguém, e como considerava Palki como um animal, ainda mais contente ficou. A História de Diablocity Maria Capitão -Olha preciso de te raptar. Lamento. Mas é mesmo importante. Alguém me irá matar, se te acontecer algo antes dessa pessoa te vir. Okay? -Uof! -Ai isso é que não vais! - Disserem duas vozes, acima dele, antes de aterrarem com estrondo no chão. -Olá Jonas. Olá Daniel. -Como nos conheces? -A Maria falou-me de vocês. -Ah, okay. - Respondeu com desânimo o Jonas, olhando para o chão. -Se tocas nesse cão, vais-te arrepender. - Ameaçou o Daniel. -Não entendem? O Vanderdecken quer raptá-lo e eu quero protegê-lo. -Vai contar essa a outro! - Exclamou exaltado o Jonas. O Daniel inclinou-se sobre o Jonas e segredou-lhe: -Lembra-te do que a Maria disse. Ele está diferente. - Apenas vos peço que guardem o Ned. Ele não fica em segurança comigo. Queria que o protegessem a todo o custo do Vanderdecken. Se ele for morto, ou desaparecer, a Maria irá sofrer muito. Pode que até não recupere. Parou para pensar e depois continuou - Ela ama aquele cão, mas também te ama a ti. Mas tu magoaste-a muito. Ela não disse a nenhum de nós o que sentia por ti, mas vi 182 I A História de Diablocity Maria Capitão na sua voz. Como foste capaz? Ela desistiu do Rafael, e virou-lhe costas por ti! E tu... Magoaste-a desta maneira. Porquê? - Gritou Palki, falando para o Jonas. Jonas encolheu os ombros e baixou a cabeça. -Se tu voltas… mas se tu voltas a magoá-la assim, ou a dizeres-lhe alguma coisa, vais sofrer como nunca sofreste antes! - Palki tinha os olhos vermelhos de raiva, ao dirigir-se a Jonas. Na verdade, Jonas queria ter falado, mas as lágrimas ameaçavam cair-lhe pela cara abaixo. Por isso, nada disse. Como poderia ter explicado o facto de amar tanto Maria, que não suportava viver sem ela? Que uma simples referência do seu nome fazia pulsar tanto o seu coração que parecia que ia sair-lhe do peito? Que ansiava mais que tudo, estar com ela? Era impossível explicar isso, especialmente em frente ao seu irmão e a Palki. Se pudesse vê-la… Nem que fosse por um segundo… Jonas tinha sofrido muito desde que ela saltara da casa deles e tinha a certeza que Palki não podia fazê-lo sofrer mais. Era impossível sofrer mais do que aquilo. Passava o tempo todo a suspirar e quando ouvia um barulho, por mais pequeno que fosse, saltava de casa e chamava por ela. -Diz- lhe que lamento muito. Que não desejava que isto fosse assim. E diz-lhe acima de tudo, que... Eu a … - A palavra “amo” não parecia querer sair-lhe dos lábios por isso não a disse. A História de Diablocity Maria Capitão O seu irmão olhava para ele com uma pena enorme. Sabia o que era isso. Já o tinha sentido, mas não tão intensamente nem tão trágico como o irmão. Jonas sabia que a Maria o amava, mas… pensava que nunca poderiam estar juntos. O destino era demasiado cruel. Se derrotassem Vanderdecken, ele teria de regressar ao seu planeta juntamente com o seu irmão, com os primos e os tios. De certeza que Maria não poderia vir. E ainda por cima, no seu planeta Natal, era normal casaram os jovens cedo. Mas infelizmente era o Senhor que escolhia com quem deviam os jovens casar. O Senhor era uma espécie de Rei que mandava no planeta dele. Os pais eram donos de metade do Universo, e como eles eram um bocado retrógrados, aceitavam que fosse o Senhor a mandar em quem eles casariam e não os próprios jovens. Os próprios pais tinham casado com quem o Senhor tinha mandado. O Senhor já tinha planeado com quem Jonas iria casar. Tinha duas hipóteses: Hinky ou Jeny. Jonas apenas desejava uma, que infelizmente não era nenhuma dessas. Desejava a Maria. Desejava-a loucamente. Por isso, Jonas chorava em silêncio o seu infeliz destino. Mais valia matar-se. Custava menos. Pelo menos não passaria o resto dos seus dias com uma louca desvairada por quem ele nada sentia, além do ódio e de desprezo. Palki olhou para Jonas e para Pedro, e apenas disse: 184 I A História de Diablocity Maria Capitão -Tomem conta dele. Entregou a coleira de Ned a Pedro. - Preparava-se para se ir embora, quando se voltou de repente e disse - Ah, ia-me esquecendo, nós atacamoshoje às 00:00. Às 23:30 saímos de casa da Maria. Lá terás oportunidade de lhe dizer o que sentes. A História de Diablocity Maria Capitão Capítulo 22 A Última Vez As lágrimas corriam como se alguém tivesse aberto uma torneira que corria água e nunca pararia. Tinha procurado o Ned em todos os lugares em que ele poderia estar, e não estava em nenhum deles. Desesperada, deiteime na cama, e adormeci enquanto chorava. Quando me levantei, eram cerca das oito da noite. Faltavam quatro horas para irmos atacar o Vanderdecken. Olhei ao espelho e ia dando um berro. Estava horrível! Pareciam que me tinham dado uma sova, e passado uma noite a pé. O cabelo estava todo oleoso, a cara toda cheia de olheiras e viam-se umas manchas de sujidade na roupa. Tomei banho, vesti um par de calças e vesti a minha camisola preferida que diz “I spy with my litle eye” e o meu casaco com caveiras. Calcei-me (as minhas sapatilhas estão no meu quarto), atei o cabelo, peguei no meu skate e desci as escadas. O meu pai estava a jantar. -Pizza. - Murmurei. Tirei dois pedaços, dei um beijo ao meu pai e saí de casa. Fui comendo enquanto ia de skate até casa da minha mãe. Bati à porta, e mal abriram, disparei: -O André, o Jorge… -Saíram. Acho que iam a casa da Rafaela buscar a Rafaela e a Juliana. A História de Diablocity Maria Capitão -Obrigada mãe. Até já. - E fui-me embora. Quando cheguei a casa da Rafaela, toquei à campainha, e quem abriu foi a irmã da Rafaela e da Juliana. Tem 5 anos, e chama se Irina. -Olá Irina. As tuas irmãs? -Ela e os outros saíram. Disseram qualquer coisa sobre Caveira ou assim. -Obrigada. Adeus. -Adeus! Já sabiam onde estava. A Clareira da Caveira. A Juliana disse-me que o Palki lhes tinha dito para nós irmos entregar os doces na Clareira da Caveira. Se bem me lembro… tenho de entrar no pátio dos rapazes, subir à maior árvore e olhar para Oeste. Enquanto atravessava a aldeia, ia olhando para tudo uma última vez, já que bem podia ser a última. 188 I A História de Diablocity Maria Capitão Capítulo 23 A Discussão -Pede-lhe desculpa! -E o que é que tu sabes sobre isso?! Que eu saiba, foi contigo que a Ana acabou e disse que nunca mais te queria ver! - Respondeu Jonas, completamente irado. -Pois sabes mal! Ontem, pedi-lhe desculpa pelo intercomunicador e disse-lhe que tinha muitas saudades dela. Ela perdoou-me e disse que também tinha! Como vês já namoramos outra vez! - Retorquiu o Daniel. -Mas o Senhor não te vai deixar casar com quem tu quiseres! -O servo dele, o Urugy, consegue ver o nosso coração. Se o Urugy vir que tu amas mesmo uma rapariga e ela a ti, podes casar com ela! -Isso significa que se eu e a Maria, por exemplo, nos amarmos mesmo e ele vir, poderemos casar? -Yah! -Oh… Mas se nós derrotarmos Vanderdecken teremos de voltar para o nosso planeta! E ela não poderá vir! E além disso, ela não gosta de mim… - parou - Nem eu dela! - Acrescentou a olhar para o Daniel. O Daniel foi apanhado de surpresa, vacilou e ia caindo. Felizmente, estava perto da cama e sentou-se. -Tu… não gostas dela? A História de Diablocity Maria Capitão -Não! - Mentiu Jonas com lágrimas a assomarem- lhe aos olhos. -Mentes muito bem, não? - Retorquiu o Daniel mais calmo ao ver a mentira do irmão. -Tu não entendes?! Eu gosto dela. E muito mesmo! Eu não imagino a minha vida sem ela... Nem quero imaginar! Mas… ela merece melhor que eu! E… os pais nunca aprovariam… Ela não pode casar com menos de 18! E tem 13 anos! E se casássemos, onde viveríamos?! No nosso planeta ou cá?! -E se… -Não! - Gritou o Jonas, impedindo o Daniel de dizer o que quer que fosse a dizer. - Eu casarei com a Hinky. Arranjará menos problemas e não mudará nada da tradição. Ela até nem é muito má… -Pois, pois! Mente que eu gosto! Tu odeias a Hinky, os modos dela e o facto de ela se importar mais com as roupas e com a cara do que com coisas mais importantes, tipo o Planeta, ou a Vida, ou o que estamos cá a fazer! Sabes o que tens? Medo. Muito medo. Medo de mudar a tradição. Medo de mudar. Medo de entrares numa nova aventura sem saberes se resultará bem ou mal. Medo de dar um passo em falso. Medo de arriscares. Já estás tão habituado que as coisas sejam assim, que te façam a papinha toda, que não consegues lutar. Nem mesmo pela pessoa que amas. Preferes continuar assim e vir a arrepender-te. A maior parte das pessoas são como tu. 190 I A História de Diablocity Maria Capitão Já estão tão habituados à vida tal como está, que não fazem nada. Continuam assim, e depois todos perdem. Não és só tu quem perderá. A Maria também perderá. Se continuares assim, irás casar com a Hinky ou com a outra, e um dia quando visitares o Planeta Terra, e terás que o fazer pois qualquer uma das tuas futuras mulheres já me disse que quer cá vir, irás ver a Maria casado com um homem qualquer, que lhe baterá e a fará infeliz. E nessa altura vais-te arrepender de não ter arriscado e ter ficado com a mulher da tua vida só por causa de uma estupidez qualquer! -Ela não terá nódoas negras. -Ah? -Ela é forte demais, tanto física como psicologicamente para se deixar bater por alguém, quanto mais pelo seu marido. -Não é isso que te estou a perguntar! Queres isso? -Não. - Murmurou Jonas. -Não te ouvi. -Não. - Disse um pouco mais alto. -Não te ouvi. -Não!!! Eu não quero que ela case com outro homem! Quero que case comigo! Quero acordar ao lado dela todos os dias! Quero vê-la adormecer e acordar! Quero ver os seus maus-humores de perto... Quero acalmá-la quando tiver um pesadelo. Quero andar de mão dada com ela... A História de Diablocity Maria Capitão Quero-a perto de mim. -É assim mesmo! Estava a ver que nunca mais lá chegavas. -Auf! -E o Ned também. -Ei, Ned? -Uoff? -Eu amo muito a tua dona. E vou casar com ela. Agrada-te?! -Au! Au! -Parece que sim! - E desataram ambos a ir, felizes com o risonho futuro que lhes aparecia no horizonte. -O que estás a fazer? - Perguntou o Daniel, quando viu o Jonas a escrever num papel minutos antes de se irem embora. -Estou a escrever uma carta à Maria. -Porque não falas tu com ela? - Questionou o Daniel. -E se lá estiveram os amigos? Não gosto nada do Miguel. -Okay. Acabou de escrever a carta, pegou no Ned ao colo e disse-lhe olhando-o nos olhos -Vou ter saudades tuas meu sardento mas está na hora de ires para casa! Leva-me até lá Ned! O Ned guiou-o entre as árvores até chegarem a uma 192 I A História de Diablocity Maria Capitão casa castanha, com as janelas percorridas até baixo. -É aqui? -Uof! Prendeu o Ned ao poste do correio, e escondeu-o para que quem quer que abrisse a porta não o visse. Bateu à porta e como ninguém ouviu, voltou a bater. Até que um homem veio abrir a porta. -Boa-noite. Presumo que seja o pai da Maria. -Se fosse só da Maria, estava eu bem! Sim sou, e você? - Perguntou, desconfiado. -Um amigo da Maria. Ela está? - Não. Lamento mas saiu há três minutos e foi ter com os amigos. -Podia entregar-lhe isto, quando ela voltar? - E entregou lhe um envelope branco, com a palavra “Desculpa” bem visível a preto. -O que lhe fizeste? -Magoei-a, mas arrependo-me muito desde essa altura. Nem me alimento em condições. -Deve ter sido mesmo duro. -Nem imagina o quanto. Desculpe o incómodo. Obrigada por tudo. -De nada, meu filho. -Adeus. -Olha, tu magoaste-a hoje não foi? A História de Diablocity Maria Capitão Jonas assentiu com a cabeça. -Estavam no bosque quando isso aconteceu ? -Sim senhor. Porquê ? -Primeiro não me trates por senhor. Segundo foi hoje que ela veio do bosque toda suja e a chorar mesmo muito. Nunca a tinha visto tão triste, nem quando me separei da mãe dela… Fizeste mesmo asneira rapaz.. Mas isso também mostra que ela gosta mesmo de ti pois ela não iria chorar por um rapaz qualquer… Só te digo isto: vai-te a ela… e não a magoes! -Sim! - Exclamou. E saindo da entrada da casa, desatou a coleira do Ned da caixa de correio, e seguiu para casa. 194 I A História de Diablocity Maria Capitão Capítulo 24 A Preparação -Calem-se! - Num instante, o barulho que estava dentro da gruta dissipou se como que por magia. Quando o Miguel queria mandar, todos o respeitavam. - Temos de nos preparar. Vou fazer a confirmação do que precisamos: Bússolas. Tenho a certeza quem os três caminhos vão para pontos cardeais diferentes. -Por acaso vão ter ao mesmo. Vão ter à gruta principal. - Informou o Palki. -Seguinte: Comida. Cada grupo deve levar 6 sandes. E um cantil para cada. Ora vejamos. Quem é o teu grupo Jorge? -Não sei. -E o teu Rafael? -A Maria, e o Ned. -Onde é que eles estão? Nesse momento ouviu-se um ribombar dum trovão, e começou a chover torrencialmente. -Que chuvada! -Que horas são? - Perguntou alguém. -São 20:32. -Que cena! -Tenho de ir jantar! A História de Diablocity Maria Capitão -Está a chover bué! -Não podemos sair daqui! -Acalmem-se! Trouxe jantar! -É o quê? -Pizza! Está naquele malote além! - E apontou para um malote fechado encostado à parede. Imediatamente todos se dirigiram com rapidez para a mala, e só pararam quando ouviram um estrondo dum trovão. Olharam todos para a entrada da caverna e viram um vulto indistinto a entrar na caverna. Olharam uns para os outros e começaram a ficar com medo. Quem seria? Seria… não… seria Vanderdecken?! Algures no meio deles, alguém mandou um berro. Todos olharam. O vulto parou. Quem teriam gritado? Olharam uns para os outros com uma pergunta estampada no rosto: “Quem gritou? “ Quem é aquele?” Pareciam ter passado horas, mas apenas passaram 30 segundos até o vulto se aproximar da luz que estava na caverna. A caverna estava iluminada com velas, espalhadas por toda a parte excepto à entrada. O vulto parecia estar com dificuldades, e de súbito algo embateu no chão. “Ai! “ Outro berro. Desta vez todos olharam para a Juliana. Ela justificou-se apontando para uma aranha que por ali estava a andar. 196 I A História de Diablocity Maria Capitão -Também me posso juntar à festa? - Disse o vulto enquanto se dirigia para a direcção deles. Quando finalmente se conseguiu ver quem era o vulto misterioso já toda a gente estava cheia de medo. -É a Maria! - Gritou o André! -Cheios de medo. Ah? - Gozei -Onde tens andado? -Vejamos… fui à procura do Ned, não o encontrei. Adormeci das 16:00 às 20:00. Depois vou procurar-vos e dizem-me que vocês não estão. Finalmente, a Irina disseme que vocês falaram em qualquer coisa da Caveira. Lembrei-me do que poderia ser e estava a vir para aqui, quando começa a chover muito. Mais explicações? -Não. -Onde iam? -Íamos começar a comer. Se nos quiseres fazer o favor de nos acompanhar… - Disse o Miguel. -Não obrigado. Já comi. O pai comprou pizza. -Precisamos de 18 sandes, e de 5 cantis cheios de água. -Como os vamos buscar a chover assim? -Eu tenho um chapéu de chuva. - Informei. -Boa! Mas não podes ir sozinha. -Eu vou contigo. - Ofereceu-se o Rafael. -Okay. A História de Diablocity Maria Capitão - Aonde tencionas ir buscar as sandes e os cantis? Inquiriu o Rafael enquanto saíamos da gruta. -Ao supermercado que há ao sairmos da escola. -Estás doida? Não temos dinheiro! -E quem disse que precisávamos de ter? - Retorqui. -Estás a pensar em assaltar a loja? -Não é bem assim. Tu distrais o empregado da loja e eu roubo. -É por estas e por outras que eu gosto de ti. Estás sempre pronta a arriscar! - Disse, dando-me um abraço. -Vamos? - Perguntei quando se afastou. -‘Bora! Quando chegámos ao supermercado o plano A começou. Entrámos e dirigi-me à prateleira dos cantis. Peguei em 5 cantis, em 16 sandes com chouriço, e dirigi me à caixa. Fiz sinal ao Rafael para ele começar a distracção. Ele dirigiu-se à prateleira dos sumos, e chocou propositadamente com os sumos. Imediatamente ouviuse um barulho ensurdecedor e os sumos caíram todos ao chão, rebentando. Em seguida pegou num pacote de bolachas e fugiu, accionando o alarme. O empregado começou a praguejar e correu atrás dele. Como não o viu dirigiu-se ao sítio onde os sumos estavam todos caídos. Dei a volta à caixa, cliquei em algumas teclas e abri a caixa. Retirei o dinheiro que era preciso para pagar as sandes e os cantis, fechei a caixa e voltei ao meu sítio. 198 I A História de Diablocity Maria Capitão -Quanto é? - Perguntei enquanto tentava não me rir. -São 50.60€. -Aqui está. - E entreguei lhe 60€. -Aqui tem o troco. -Obrigado. E desculpe a cena dos sumos. -Provavelmente só sairei daqui às dez da noite. Garoto estúpido. - Ia praguejando o empregado enquanto se dirigia com uma esfregona para o chão molhado. Fizemos o caminho de volta à gruta em silêncio a comer as bolachas de Aveia, até que de repente o Rafael parou e quando lhe ia a perguntar o que se passava, ele disse: -Aconteceu algo na casa do Jonas e do Daniel, não foi? - Como permaneci em silêncio, ele continuou - Algo de especial? Algo a ver com o amor? -Como sabes? - Perguntei num fio de voz. -Eu conheço-te. Vi a forma como falaste à Juliana quando ela se enganou no nome deles. E quando ela ripostou a dizer que parecia que gostavas deles, tudisseste que gostavas. Eu vi-te. De quem gostas? É do Jonas? Ou do Daniel? -Não sei. -Não sabes? - Repetiu céptico. -Eu acho que gosto do Jonas, mas há outra pessoa envolvida de quem eu já gostei durante muito tempo, e A História de Diablocity Maria Capitão não tenho a certeza de quem gosto… -É de mim, não é? De quem tu já gostaste? Acenei com a cabeça. Já suspeitava... Já gostei de ti, quando nos conhecemos. Agora não. Estou mais para o estilo de gajas louras e olhos verdes. - Gracejou. -Um pouco difícil de arranjar não? - Disse, enquanto esboçava um leve sorriso. -Espero bem que não… Preciso de me alimentar... o sangue delas é o melhor… - Sorri, e retorqui - Não queres provar o meu, ó santíssimo vampiro? Ainda bem… Obrigado… E enquanto fazia uma fingida vénia, ele saltou para cima de mim, caímos os dois ao chão, e rebolámos pela relva. Quando parámos, desatámos ambos a rir-nos, e disse-lhe: -Sabes mesmo animar uma rapariga triste, vampiro. -Ainda bem. Pensei já ter perdido o meu truque de conquistar raparigas. -O que tu conquistas de mim é um belo murro! -Quero ver! -Olha que pode doer! -Quero ver… - E aproximando me dele, beijei-o. -Viste? Doeu ou não? -Não… Quero outro a ver se dói. 200 I A História de Diablocity Maria Capitão -Este murro foi só para te agradecer de me teres animado. -Ohhh… - Murmurou o Rafael - estava na esperança de levar outro… -A esperança é a última a morrer… - Disse, piscando lhe o olho. Não quero que pensem que gosto do Rafael, ou ele de mim, ou que estou de alguma forma a trair o Jonas. Apenas me estou a libertar. Estou a tentar esquecer o que vamos fazer a seguir, a desfrutar a vida. Pessoalmente acho que já nem penso no Jonas. Ele magoou-me, mentiume e após salvarmos os tios e primos dele, nunca mais o verei. Não sei se isso faz com que fique feliz, ou triste. Quando chegámos à gruta, estavam todos em silêncio a ouvir o Palki, que revia o que devíamos fazer. Se falhássemos, não havia outra oportunidade de repetir. Era agora ou nunca. Enquanto Palki falava, eu e o Rafael íamos distribuindo as sandes e os cantis. Cada chefe de grupo pôs as sandes e os cantis dentro da mochila. -Eu, juntamente com o Palki, tivemos a ideia de comprarmos bússolas com um fio para pôr ao pescoço, e também um walkie-talkie para cada grupo. Carreguem no botão para falar, e tenham sempre ligado. - Informou a Juliana. -Aqui estão. - Disse o Palki, com um grande sorriso. A cada grupo foi distribuído um, e eu, que era a chefe A História de Diablocity Maria Capitão do meu grupo, disse: -Eu e o Rafael, vamos procurar o Rúben , que pelas informações do Palki está numa gruta sozinho. -A que horas é para lá estar? - Interrompeu o Jorge. -Saímos daqui às 23:30. Atacamos à meia-noite. Diz- nos como chegaremos às grutas. - Pediu a Rafaela -Vocês não irão todos juntos. Primeiro irá o grupo da Maria, pois a gruta para onde vão é o que está mais longe. Em seguida, vai o grupo do Miguel buscar a Joana. No final, mas não menos importante vai o teu grupo buscar os pais, o Alemão e a Benvinda. -Okay. - Disseram todos em conjunto. -Vamos só rever uma vez mais. Ainda temos meia hora. Engoli em seco. Meia hora antes de nos deparamos com o diabo em forma de pessoa. Meia hora antes de tentarmos salvar aquelas pessoas. Meia hora antes de nos atirarmos para a boca do lobo. Meia hora antes de possivelmente ver o Jonas. Só de pensar nele, vieram me lágrimas aos olhos, e uma delas ameaçou deslizar pela minha cara. Limpei-a lentamente e esforcei-me para ouvir o Palki. -…Portanto, daqui a vinte e nove minutos estaremos já perto da gruta do Vanderdecken. Vamos rever as posições: Rafael, tu e a Maria estarão...? 202 I A História de Diablocity Maria Capitão - Estaremos a entrar na caverna. Passados dez minutos o grupo do Miguel entrará e após outros dez minutos entrará o grupo do Jorge. Durante os dez minutos anteriores à entrada do grupo do Miguel, tu irás nos indicar para onde ir, e haverá uma altura em que tu nos dirás apenas os pontos cardeais a seguir. Nessa altura, seguiremos por nós próprios. Connosco levaremos uma navalha, para tentarmos abrir a fechadura, e se não resultar, poremos explosivos de pouca intensidade. Certamente isso alertará o Vanderdecken, mas esperaremos não recorrer aos explosivos. Quando os conseguirmos salvar, viremos pelo caminho de volta. Quando cá chegarmos, iremos levar os nossos protegidos a casa do Jonas e do Daniel. Lá ficarão em segurança enquanto nós regressamos para a caverna, para esperarmos pelos restantes grupos. - Respondeu prontamente o Rafael. E eu a pensar que ele nunca decora nada. -Muito bem. Eu não conseguiria explicar melhor. -Entenderão todos? É isto o que devem fazer. Bem… chegou a hora. Vamos! Lentamente e conscientes da nossa missão, saímos da pequena gruta que fora o nosso abrigo por algumas horas. Todos pegámos nos nossos skates, excepto o Palki e o Rafael, pois não tinham. -Vem no meu, Rafa. -Okay. A História de Diablocity Maria Capitão -E tu no meu, Palki. -Okay. E todos juntos seguimos para o que poderia ser a nossa morte. Ninguém dizia nada. Estávamos todos a tomar consciência que aqueça poderia ser a última vez que estaríamos todos juntos. O Rafael envolveu-me a barriga com os braços, como que para me mostrar que ele estava ali. Seguíamos calmamente, como se estivéssemos à espera que alguém aparecesse de repente com a máscara de Vanderdecken no braço, e dissesse que tudo não tinha passado duma brincadeira. Como isso não aconteceu, e ninguém esperava que acontecesse, apressámo-nos e continuámos viagem. 204 I A História de Diablocity Maria Capitão Capítulo 25 Daniel, o Justiceiro -Danny... Que horas são? -Hum… - disse, enquanto inspeccionava o relógio -são onze e vinte e cinco. - O Jonas engoliu em seco ao ouvir as horas, e o Daniel perguntou porque tinha feito isso. -A Maria e o resto do pessoal vão estar na caverna dentro de cinco minutos. E nós temos de ir andando isto é, se queremos ir ajudá-los na luta. -E se tu quiseres dizer a uma certa pessoa o que sentes por ela. -Isso também… -Já está tudo preparado? -Yah. Temos o Ned, vamos a pé para a gruta, temos a pistola - e enquanto ia enumerando as coisas que tinham, tirou do bolso uma arma reluzente - que são capazes de matar o Vanderdecken se atiradas para o coração e como ambos temos boa pontaria, não há problema! -Okay… -Vamos? - Espera. Tenho de ir ao meu quarto fazer uma cena. Daniel sorriu pois já sabia o que era. A História de Diablocity Maria Capitão Jonas fazia sempre o mesmo antes de partir para uma longa viagem pois não podia levá-lo com ele. Há alguns anos, Jonas recebeu de presente de Natal um quadro que representava um casal de mãos dadas, a caminhar para o pôr-do-sol no planeta que a mãe criou, Indianapólis. Mas não era só este quadro que Jonas iria ver todas as vezes que partisse de viagem. Colocado atrás do quadro Miraclus (era assim que se chamava), estava uma dedicatória e um autógrafo do ídolo de Jonas. A dedicatória era mais um conselho, era sobre nunca desistir mesmo quando parece que tudo estava perdido. Falava sobre seguirmos os nossos sonhos, mesmo que tudo e todos estejam contra eles. Jonas adorava este quadro e também a dedicatória. A dedicatória e o autógrafo tinham sido feitos exclusivamente para ele. O seu tio era um grande homem de negócios e tinha contactos, e era, inclusive, o melhor amigo do ídolo de Jonas. O ídolo de Jonas era um homem muito velho, era o homem mais velho de todo o Universo. Chamavase Daniel e tinha 199 anos. Iria fazer 200 anos dia 8 de Agosto. Por instantes lembrou-se que hoje era dia 29 de Maio... Era o aniversário da Maria, mas ninguém se lembrava, nem mesmo ela... Jonas contava estar em Agosto perto de Daniel. Daniel tinha escrito um livro que tinha a ver com a dedicatória que fez ao Jonas. O Escritor tinha sido expulso do seu planeta, Penguini, mudandose para Indianapólis. Foi lá que Jonas o conheceu. Daniel simpatizou imediatamente com o Jonas. Eram muito 206 I A História de Diablocity Maria Capitão amigos, e Daniel contou-lhe a sua história. Contou-lhe como fora a sua infância, que tinha sido vendido pelos pais como escravo e que tinha de fazer tudo o que lhe mandavam, sendo a sua recompensa comida e um colchão para dormir. Mas vivia na rua. Só entrava na casa dos seus pais adoptivos, que eram terroristas, para fazer o que lhe mandavam. O tempo foi passando e Daniela foi crescendo e engendrando um plano para fugir. Tentou fugir, mas no último minuto, uma jovem rapariga denunciou-o. Era a filha do chefe dos terroristas. Foi castigado, atiraramno para uma cave onde não havia comida apenas água. Haviam lá canos que levavam a água desde um lago bem longe da casa. Um dos canos era largo o suficiente para Daniel caber, e como ele era tão bom nadador, teve uma ideia, pegou num machado, e dia após dia foi partindo um pouco do cano, até que conseguiu abri-lo. Quando a cave começou a encher água ele entrou pelo cano que o levaria ao lago e começou a nadar. Estava já a ficar sem ar, quando emergiu no lago. Olhou em volta e só viu árvores e pássaros a chilrear. Caminhou durante dias até, exausto, ver uma cidade no horizonte. Correu o mais depressa que pôde, o que era muito, pois já tinha prática em fugir dos amos. Quando lá chegou, viu uma tabuleta a dizer “Peng”. Entrou no bar e imediatamente todas as caras se voltaram para ele. Era normal, visto que Daniel era um rapaz muito novo, tinha 9 anos, e estava todo sujo. Tinha apenas vestido um avental branco, que já não A História de Diablocity Maria Capitão era tão branco. Um dos homens que lá se encontravam perguntou- lhe: -Olha lá, és de onde? Estás perdido? -Não. Fugi do meu amo. -És escravo de quem? -Dos terroristas que vivem naquela casa gigante. -Aquela casa que está a 15 quilómetros daqui? -Sim. -E onde está ele? -Nesta altura deve estar a tentar tapar a água que está a afundar a cave, na casa. -Tu vieste de lá? -Sim. Vim a correr. -Uou! -Como fugiste? - Perguntou outro homem. -Ele mandou-me para a cave sem comida nem água, e então vi o tubo que vem do lago que está aqui perto, cortei o cano, e entrei e nadei até ao lago. Depois vim a correr até aqui. -Então tu sabes onde é que ele esconde a mercadoria toda e as coisas roubadas? -Sim, claro. Entram pelo porta principal e vêm um tapete aos pés. Debaixo do tapete está um alçapão. Desçam as escadas e virem à direita. Lá encontrarão caixotes cheios de roupa. Tirem as roupas, e estará lá um fundo falso. Tirem-no e encontrarão a mercadoria toda. 208 I A História de Diablocity Maria Capitão -És bem mais corajoso que muitos de nós. -Que idade tens? -9 anos. -Tens pais? -Venderam-me aos terroristas. -Não tens familiares? -Que eu conheça não. -Agora há um problema. É que tu não tens familiares e não há ninguém que possa tomar conta de ti… -Eu conheço uma pessoa que pode. Viraram-se todos para a pessoa que falara. Era uma mulher com feições rudes, e estava vestida com um avental rosa. A minha prima vive em Penguini. Lá estarás em segurança. Como te chamas? -Não sei. -Pois, a partir de agora, o teu nome será Daniel. -Porquê Daniel? -Pois o fundador da nossa cidade se chama Daniel e ele salvou a cidade! Tu, garoto, salvaste a cidade, ao dizer-nos onde está a mercadoria. Por isso, o seu nome será Daniel Justiceiro! -Hurra! Viva o Daniel! - Ouviu-se pelo bar. Joy reúne a polícia e vão apanhar a mercadoria que nos pertence! - Sim, senhora! Via-se claramente que era a mulher de aspecto rude A História de Diablocity Maria Capitão que mandava ali. -Deves estar exausto. -Sim, mas primeiro queria comer, se faz se favor. Tenho dinheiro, roubei o ao meu amo. -Não precisas de pagar nada, meu filho. Este é grátis. -Muito obrigado. E enquanto Daniel comia um bife com batatas fritas, a senhora Ivone ia telefonando à prima. -Está prima? Olha, és capaz de tomar conta dum rapazinho? -Até quando? -Para sempre. Sei que é um pedido muito exagerado, mas este rapaz salvou a nossa cidade. Fugiu dos terroristas, e disse-nos onde está a mercadoria roubada. Os pais dele venderam-no, e ele não tem familiares que conheça. Tem 9 anos e chama se Daniel Justiceiro. -Foste tu que lhe deste o nome? -Sim fui. -Não sei, prima… É muita responsabilidade. -Por favor. Só precisas de tomar conta dele durante 9 anos. Depois ele ficará livre. - Bem… quando é que ele vem? -Na próxima segunda-feira ponho o Daniel no comboio espacial. -Bolas! Hoje já é Sexta! Tenho um fim-de-semana 210 I A História de Diablocity Maria Capitão para comprar tudo! -Não te preocupes. Ele está habituado a dormir num colchão e a comer duas vezes por dia. -Só?! Ainda mais me ajudas! Preciso de comprar muita comida para ele se habituar a comer 4 vezes por dia! -Não fiques histérica, prima. -Não sou histérica. -Pouco… Acalma-te. Ele é muito querido e até me quis dar dinheiro quando lhe pus à frente um bife e batatas! -Bem… está bem. Agora desliga que tenho muito que fazer! - Adeus. - E desligou. A dona Ivone ficou a sorrir, a imaginar como seria a vida daquela criança. Foi interrompida quando o Joy e três polícias irromperam pelo bar, com uma ar feliz. -Tinhas razão! Trinta caixas cheias de mercadoria e de dinheiro! Quem te disse onde estava a mercadoria? -Esse rapaz aí. Foi escravo deles durante 4 anos. O Daniel olhou para ela e disse-lhe: -Como sabe que eu fui escravo durante 4 anos? Não lhe cheguei a dizer. -Porque os rapazes são vendidos quando têm 5 anos. E as raparigas desde nascença. -Ah. OK. A História de Diablocity Maria Capitão -Onde é que ele vai ficar? Daqui a três dias vais te embora da cidade, não é? -Sim. -Ele vai ter com a minha prima. - Informou a D. Ivone. -Aquela em Penguini? -Sim. -Hum… está bem. Muito obrigado miúdo. -De nada. -Bem, adeus e obrigado outra vez. - E foram-se embora. O dia e o fim-de-semana continuaram calmamente e na segunda-feira de manhã, o Daniel foi-se embora para outro planeta. O Daniel costumava contar isto ao Jonas, e ele ficava maravilhado com as aventuras que ele tivera, e desejava ter aventuras assim. Daniel contara também que quando tinha 18 anos saiu de casa e comprou uma para si. Nessa altura conheceu a Amy, a sua futura mulher. Quando começaram, Daniel e Amy, a namorar, os pais nunca aprovaram, faziam tudo para terminá-lo e chegaram mesmo a inscrever o Daniel na tropa, fazendo com que fosse convocado para ir para uma guerra. Os pais de Amy escreveram uma carta como se tivesse sido o Daniel a escrever a dizer que ele era casado e que 212 I A História de Diablocity Maria Capitão voltara para a sua mulher. Não se viram durante 10 anos, e quando se viram outra vez, Amy já tinha casado, pois pensava que Daniel era casado. Daniel ficou destroçado. Implorou a Amy que voltasse para ele e contou-lhe a verdade, que ele tinha ido para a tropa e que tinha sido os pais dela a escrever-lhe a carta a dizer lhe que ele era casado. Ela percebeu que era verdade o que ele lhe dizia, mas disse lhe que não podia separar se do actual marido. Só quando ele morresse ela poderia casar se outra vez. O Daniel ficou muito triste pois o marido dela era muito novo. Mas então, o Daniel teve uma ideia. Falou com o marido de Amy e disse-lhe que amava mesmo muito Amy e o que os pais dela tinham feito. O marido de Amy disse lhe que ele amava outra rapariga e que também desejava casar se com ela. Ambos chegaram a um acordo: o marido de Amy fingiu a sua morte para assim se poder casar com com a rapariga que amava, e Daniel poder casar com Amy. Casaram-se e viveram muito felizes. Por estas e por outras é que Jonas adorava o Daniel. Porque ele lutou pelo que queria e graças ao seu esforço conseguiu a eterna felicidade. Jonas ajoelhou-se em cima da cama,e olhou para o quadro. Repetiu a dedicatória em voz alta, pôs a mão direita ao peito e fez uma promessa: -Prometo que quando voltar aqui, se voltar, já terei falado com a Maria e já a terei pedido em casamento. Se A História de Diablocity Maria Capitão ela aceitar ou não, isso já é com ela. Mas eu irei tentar fazer com que me perdoe por a ter tratado daquela maneira. Irei até comprar-lhe um anel com uma caveira e um coração entrelaçados, como prova do meu amor. Ela é a caveira e eu o coração. Juro. -Gostas mesmo dela? Jonas virou-se e viu o Daniel à porta. -Sim. Amo-a mesmo muito. Espero não ir atrasado. -Foste muito rude quando ela te fez, de certa forma uma declaração de amor. -Eu sei. Acho que pensei que ela se estivesse a referir a ti. -A mim? Achas que ela se tinha apaixonado por mim? -Sim. -És tão cromo! Notava-se à distância que ela gostava de ti. Especialmente pela conversa que teve quando te conheceu. -Isso poderia ter tido com muitas outros. -Mesmo esses outros, tendo pregado-lhe um susto? -Porque será que ela disse para eu ficar com a Juliana? Eu nem sequer a acho gira. -Já olhaste para o papel na entrada? -Não. O que diz? 214 I A História de Diablocity Maria Capitão -Diz os nomes deles, dela e dos amigos e à frente do nome da Juliana está a dizer que ela é muito gira. -Mas não fui eu quem escreveu isso! -Ela pensou que sim. -Maldita rapariga maluca! -Mas tu gostas. -Mas eu gosto. - Respondeu, com um sorriso. O sino ouviu-se ao longe. Todos os dias, sem excepção, aquele sino batia às onze e meia da noite e da manhã. Tinha sido assim programado para às onze e meia da manhã as pessoas acordaram, e à noite para mostrar que era hora de deitar. Aquela era uma aldeia muito primitiva de certo modo, pois quem mandava naquela cidade era um velho sino. -Hora de partirmos mano. - Sabes, a Maria uma vez disse-me “Obrigou- te?! Mas que raio é isto?! O teu irmão obriga-te?! Os meus nem me mandam fazer algo, quanto mais obrigar!“ -Sim? - Disse o Daniel, sem perceber a ligação. -Bem acho que devia ter respondido, que os irmãos mais velhos são uns mandões que pensam que podem mandar em tudo! São uns chatos! - Retorquiu o Jonas, para desanuviar o ambiente que era vivido com grande tensão. -Ahaha! És tão engraçadinho! Vamos lá é salvar o dia e a tua namorada! A História de Diablocity Maria Capitão -Futura noiva. -Esperemos nós. -Bora Ned! It’s show time! -Au! Au! E seguindo o Ned, foram a correr até à entrada da gruta. 216 I A História de Diablocity Maria Capitão Capítulo 26 A Voz Fui a primeira a chegar à gruta, e escondi imediatamente o skate debaixo dum arbusto grosso. Esperei que os outros também o fizessem e virei-me para o Palki. -Então… é agora. -É agora. -Primeiro sou eu e o Rafael, não é? -Acho que sim. Reparei que ele estava tão nervoso como eu, e após olhar em volta, apercebi me que todos estávamos nervosos. -Vamos Maria. -Já temos as sanduíches e os cantis… Tem a certeza que temos tudo? É melhor verificarmos… - Disse o Rafael. -Pára! -Desculpa? -Pára! Só estás a fazer passar tempo, porque estás cheio de medo de entrar e talvez morreres! Pois, queres saber uma coisa? Eu também estou! Mas quero salvá-los apesar de tudo! A História de Diablocity Maria Capitão -Queres salvá-los para o teu Joninhas te agradecer e te dar um beijinho, não é?! Mas enganaste porque ele não te ama! Ele ama a Juliana, mas ela é do Palki! Nunca terás ninguém. Morrerás infeliz e sem te teres casado! Caiu imediatamente para trás com uma expressão de dor no rosto, cuspindo um dente partido para o chão. -E tu queres enfiar te nos cobertores da tua mãezinha, para ela te abraçar e te beijar! Também eu recuei mas a tempo antes do Rafael me dar um soco. -Parem vocês! -Isto é uma missão! Arranjem um quarto! -Ahahaha! Se arranjasse um quarto com ele, era para o deixar lá preso, ou então escrever num cartaz, animal à venda no quarto! -Ahaaha! Se enfiasses… -CALEM-SE DE UMA VEZ! - Explodiu não o Palki, nem a Juliana mas sim o Jorge. O Jorge, o rapaz mais calmo que conheci estava a mandar-me calar e a agarrar-me para me impedir de ir ao Rafael com uma força magnífica. Do outro lado, estava o André a agarrar o Rafael também com uma força imensurável. -Viemos aqui com o propósito de salvar os Cooper! Não foi para vos vermos a discutir, e aos beijinhos! -Humf! 218 I A História de Diablocity Maria Capitão -Humf ! -Não lhe tocava nem que fosse o último homem à face da terra... - Murmurei. -Que disseste?! - Perguntou cheio de raiva o Rafael. -Disse que quero que o Jorge me largue ou o arrasto comigo para a gruta! - Largou-me mal acabei de proferir estas palavras, e virei me para o Rafael - Vamos? E desculpa o que disse, abusei. - Eu também peço desculpa. Também abusei. Nenhum de nós disse que o que tinha sido dito era verdade ou mentira. Ambos sabíamos que era tudo verdade. Entrámos dentro da gruta, e logo se abateu por cima de nós o escuro. - Palki? - Falou o Rafael para o walki-talkie, premindo o botão para falar. -Vão sempre em frente, e quando chegarem a um cruzamento, tenham cuidado. É aí que os guardas estão. Cortem à direita e sigam sempre em frente. Vão sempre cortando à esquerda, até chegarem a uma curva à direita. Aí carreguem no botão que está à vossa esquerda. Alguém deve aparecer pois isso é um alarme. Só deve aparecer um... Roubem-lhe as chaves e quando se for embora, insiram uma das chaves, provavelmente a mais comprida, numa ranhura um palmo e meio acima do botão. Depois sigam por vocês. Não conheço mais nada. Adeus! Asta lu ka! A História de Diablocity Maria Capitão -Asta lu ka, ljis fifd! -Ah? -Ele desejou-me boa sorte e eu disse-lhe boa sorte meu amigo. -Como sabes? -Hum… - Agora estava em sarilhos… Não lhe podia contar o meu sonho… - Aprendi essa língua… -Okay. - Respondeu, nada convencido. Continuámos caminho até chegarmos ao cruzamento. Lá, espreitámos com cuidado, até que um pensamento invadiu a minha cabeça e disse “Quando o sino bate as onze e meia, eles adormecem e à meia- noite os guardas da entrada vão alimentar-se. Fazem a sesta da tarde.“ -Estão a dormir. -Como sabes? -Para esclarecer a minha resposta, ouviu-se um ronco por cima de nós, e lá estava um Evil a meio palmo de nós, com a boca escancarada. Tinha os olhos abertos e pensei imediatamente em fugir mas mais um pensamento invadiu a minha cabeça dizendo que eles dormem com os olhos abertos, e vêm com os olhos fechados. É normal neles. -Está a dormir. Dorme com os olhos abertos. -Como sabes?! -Confia em mim. 220 I A História de Diablocity Maria Capitão Atravessei o cruzamento com passo rápido e decidido, e tinha razão. Nenhum virara a cabeça para mim. -Vem! - Disse ao Rafael em gestos silenciosos, mas furiosos. Tínhamos de nos apressar. Prosseguimos caminho sempre virando à esquerda. -E agora? - Perguntei quando chegámos à curva à direita. -Carregamos no botão. O Rafael assim o fez e o barulho que esperámos ouvir, não chegou. “Escondam-se já! Debaixo daquele cobertor!“, disse-me mais uma vez a cabeça, ou um pensamento que me fazia arder a cabeça de tão intenso que era. Parecia ser uma questão de vida ou de morte. -Vem! Aqui debaixo! Escondemo- nos ambos, e no preciso momento que a perna do Rafael desaparecia pelo cobertor, um Evil apareceu. -Que raios?! - Grunhiu. As chaves tilintaram ao aparecer dentro do bolso viscoso e imundo do Evil. Desligou o alarme enquanto eu e o Rafael conversávamos em código dos mudos. Eu dizia-lhe para o deitarmos abaixo, só assim poderíamos ter as chaves e entrar na porta escondida. Ele dizia que éramos incapazes de o fazer. Teimosa, mas boa lutadora como sou, apareci de debaixo do cobertor enquanto mais uma vez uma voz me dizia “Acerta-lhe no lugar onde A História de Diablocity Maria Capitão deveria ter o apêndice! Ficará com falta de ar! A seguir espeta-lhe um bom soco no ouvido! Desmaiará! Agarra-o quando cair, e pega nas cordas que farás quando rasgares o teu casaco. Põe o debaixo do cobertor e rouba as chaves. A seguir façam o que sabem!“. Como já me tinha dado tão bons conselhos, não hesitei, e passado um minuto já ele estava amordaçado e escondido. -Bons golpes! - Elogiou o Rafael. -Obrigado. Vamos abrir a porta? -De nada. Vamos. -Okay. Cada um pegou num lado da chave (era pesada!), inserimo-la na ranhura e virámo-la “aos três”. Ouviu-se o murmurar da parede, que antes estivera à nossa frente, a desaparecer para dar lugar à escuridão que parecia não ter fim. A escuridão era assustadora, e imediatamente pensei que monstros e trevas ali habitariam… Com um safanão despertei e disse a mim mesma “Temos de atravessar isto“. Confiante, dei a mão ao Rafael e ambos demos um passo em frente, caindo num buraco sem fim.