O LIVRO NUNCA ESTEVE TÃO VIVO!

Transcrição

O LIVRO NUNCA ESTEVE TÃO VIVO!
Maria Capitão
A HistóriA de diAblocity
O LIVRO ESTÁ MORTO!...
...O LIVRO NUNCA ESTEVE TÃO VIVO!
Agradecimentos
Um muito obrigado aos meus amigos e a todos
aqueles que acreditaram em mim.
Um grande abraço às minhas professoras (Mª de
Lurdes Santana, Mª Celeste Francisco e Ana Reis).
Um especial agradecimento à minha família pois
eram eles que me davam coragem para continuar a
escrever e prometeram-me que um dia o livro seria
publicado - Para vocês, aqui está ele. - Obrigada mãe,
pelo teu incentivo e por me teres mostrado o caminho da
leitura e escrita.
Há pessoas que não estão presentes neste livro mas
que estarão para sempre marcados no meu coração.
Um agradecimento do fundo do coração às pessoas
que me apoiaram independentemente das minhas
escolhas.
Obrigada Malhada, Branca e Farrusca e Pedra, sabem
o que são para mim.
Para ti Diogo e Farrusquinha. Não estiveram lá
sempre lá porque nessa altura ainda não existiam.
Nuno tinhas razão, venceste a aposta. É pena não
estares aqui para teres a tua parte.
Finalmente mas não último um grande, grande
obrigado à Corpos Editora por ter acreditado na minha
escrita quando outros simplesmente não ligaram.
À minha mãe.
Ao meu pai.
À minha família.
A todos.
Há quem pense que treze é um número maligno, ou
que é benigno, dependendo das opiniões. Mas para mim é
tudo mentira. A sorte somos nós que a fazemos.
Os treze são o Ned, o Miguel, a Juliana, o Jonas, a
Rafaela, a Benvinda, o Daniel, o Rúben, a Joana, o André,
o Jorge e o Alemão (Ricardo), alguns dos meus melhores
amigos.
Há outros amigos que também têm um papel
relevante nesta história que vos vou contar.
Bem, estes são só doze, mas falto eu.
A História de Diablocity Maria Capitão
Capítulo 1
Uma estranha aparição
Eram cerca de cinco da manhã quando ao longe
começaram a aparecer vestígios dum Ovni. Era redondo,
parecia que era constituído por várias cores, desde o azul
ao rosa clarinho embora fosse uma mera ilusão devido
aos raios solares. Este Ovni, para quem olhasse, transmitia
paz e sossego. De forma alguma parecia ser uma ameaça
ao planeta.
A nave preparava-se para pousar quando um outro
Ovni apareceu, vermelho e preto, tendo sido pintada a
preto a palavra “VANDERDECKEN”. Ao contrário do
outro, este transmitia medo, guerra. O Ovni azul tentou
imediatamente ganhar altura e fugir, mas um raio branco
atingiu o Ovni fazendo com que o motor fosse destruído.
Os passageiros do Ovni azul trocaram imediatamente
o motor por outro, mas novamente um raio branco os
atingiu enquanto o Ovni vermelho se ia aproximando.
Uma voz ressoou no silêncio da madrugada “Rendam-se
ou destruiremos a nave e morrerão queimados. Quando
se entregarem, eu próprio os escoltarei aos vossos
aposentos.” E libertou uma risada maléfica.
Do Ovni azul apenas uma palavra foi dita:
“Ganhaste”. O Ovni vermelho aproximou-se cada vez
mais enquanto dava instruções: “Aterrem de imediato
a nave, saiam os pais e os filhos, e em seguida os meus
A História de Diablocity Maria Capitão
lacaios entrarão na nave e sairão deste planeta com
a vossa tripulação. Entendido?” Como resposta, os
passageiros fizeram tudo o que ele disse. De dentro do
Ovni saíram seis extraterrestres: dois adultos e quatro
crianças.
Houve um membro da tripulação que também saiu,
sem ninguém ver e se escondeu num compartimento
desconhecido por toda a tripulação. Os extraterrestres
não eram burros e já sabiam que isto iria acontecer, por
isso havia um membro da tripulação que à primeira vista
não servia para nada, mas pelo contrário, era a pessoa
que nestas condições, tinha de se arriscar: sair da nave,
e entrar no compartimento secreto, para que para onde
quer que levassem a nave ele fosse, mas sem ninguém
saber, para poder avisar a família dos extraterrestres e a
autoridade.
Após os extraterrestres terem saído e os lacaios de
Vanderdecken terem entrado, a nave levantou voo e os
extraterrestres entraram na nave de vermelha, olhando
com pesar para a nave deles que desaparecia no silêncio
da madrugada.
A nave Vanderdecken atravessou metade da
Galáxia, demorando cerca de quatro dias. Durante esse
tempo, o membro da tripulação que ia escondido foi-se
alimentando de mantimentos que ali haviam mas como
só davam para um dia, quando acabaram ele ficou sem
alimento. No segundo dia continuou sem se alimentar, e
no terceiro e no quarto também. Na manhã do terceiro dia
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A História de Diablocity Maria Capitão
ouviu uma conversa que o ajudou a localizar para onde
iriam levar os seus amos.
-Porque é que o chefe vai para um sítio tão
longínquo?
-Sei lá!
-Sinceramente ir para a Terra…
-Não é para a Terra! É para um planeta similar à
Terra.
-É a mesma coisa.
-Está bem, está.
Quando a nave aterrou, ele esperou que todos
descessem desta e depois saiu ele. Reparou numa tabuleta
que dizia o nome do planeta e da região onde estavam.
Encontravam-se no local onde viviam os primos dos
extraterrestres. Estava toda a gente a dormir, excepto na
casa deles, pois estava a haver uma cerimónia de escolha
de raparigas para se casarem com um dos primos.
Apressou-se a chegar a casa deles, entrando
de rompante, pondo as raparigas aos gritos, dada a
aparência dele. Estava pálido, com a cara encovada e já
sem conseguir levantar os barcos, dada a fome que tinha.
Como tinha conseguido chegar até à casa era um mistério.
Aproximou se do Jonas, e do Daniel, puxou-os para
um canto e disse-lhes:
-Vossos primos… capturados... - Não dizia a maior
parte das palavras devido à dificuldade em falar. - Planeta
A História de Diablocity Maria Capitão
parecido… quatro dias daqui. Vanderdecken, filho
Diabo raptou-os. Salvá-los. Lacaios Vanderdecken… cá.
Vanderdecken escondê-los... planeta. Ide, já. - E fechando
os olhos, entrou em paragem cardíaca, desmaiando de
seguida.
-E que mais? Mais! - Gritou o Jonas, abanando o
corpo inanimado.
-Não vale a pena. Já morreu. - Disse o Daniel,
medindo-lhe a pulsação.
-Mas… mas…
-Nem mas, nem meio mas, ele morreu e agora temos
uma missão à frente.
-Vamos salvá-los?
-E dar cabo do Vanderdecken de uma vez por todas.
- Imagino o sofrimento dele. Estar cerca de três
dias sem comer e beber, concentrando-se apenas num
objectivo: avisar-nos para que pudéssemos salvar a
família. Ele sempre foi um amigo muito fiel, o mais fiel.
-Agora continuemos a cerimónia da escolha da tua
noiva.
-E depois fazemos as malas e preparamos tudo.
-Okay.
E assim, duas raparigas foram escolhidas e Jonas
decidiu adiar a escolha de uma delas para outro dia, um
dia que teria de esperar muito, pois agora ele e o irmão
iriam para muito longe, salvar a família.
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A História de Diablocity Maria Capitão
-Tu só queres ir hoje, para não escolheres a tua noiva.
E caso morras lá, pelo menos morres feliz.
-Tens razão. Eu não gosto de nenhuma delas, só
para amigas, e mesmo assim… Elas são super histéricas e
parvas. São tão emproadas… Grrr…
-Quem me dera conhecer uma rapariga gira,
querida, que não fosse histérica, atlética, engraçada, fixe,
simpática… e que me adorasse.
-Em média queres uma rapariga que não existe.
-Existe sim. E eu? Eu adoro-te! - Exclamou uma voz
que se aproximava de ambos.
A namorada do Daniel acabara de aparecer, e ela
tinha razão. Ela era a rapariga perfeita. Linda, engraçada,
atlética, fixe, e gostava do Daniel. E o sentimento era
recíproco.
-Tu és namorada do Daniel. E não existe mais
nenhuma assim.
-Neste planeta não. Mas sabes lá se não existe
noutro?
-Nos outros planetas, as raparigas são feias, têm
tentáculos a saírem-lhes da boca, e dos braços… Bhlak!
-Existe outro planeta com características físicas iguais
às nossas.
-Aonde é?
-Para o planeta para onde nos dirigimos.
A História de Diablocity Maria Capitão
-Para onde vão vocês? Amanhã tens de escolher a
tua noiva.
-Eu não me quero casar com nenhumas delas! São
feias e tudo o que tu não és, e que a minha rapariga de
sonho também não é!
-Nós vamos para o planeta similar à Terra.
-Fazer?
-Não te posso dizer.
-Ai é? Só por causa disso, vou-me embora!
-Ana…
-Não te preocupes que eu não digo a ninguém!
Quando se foi embora, saindo a chorar, o Jonas
dirigiu-se ao Daniel.
-Porque não lhe contaste?
-Porque ela iria contar às amiguinhas e depois elas
contariam aos pais e o senhor ficaria a saber e depois nós
é que nos lixamos.
-Mas ela ficou chateada contigo.
-Neste momento nada mais importa do que a família.
-Afirmou, fazendo com o Jonas sorrisse e abanasse a
cabeça, comovido.
-Agora vamos mas é fazer as malas.
-Bora. - Afirmou, e começaram a arrumar as malas,
cada um embrenhado nos seus pensamentos.
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A História de Diablocity Maria Capitão
Capítulo 2
A Chegada
A viagem até onde Vanderdecken os queria levar foi
tranquila. Os prisioneiros eram alimentados duas vezes
ao dia pelo lacaio de Vanderdecken. Ele nunca deu a cara
mas eram habituais as suas gargalhadas maléficas na
calma da noite e os seus passos de um lado para o outro.
O lacaio de Vanderdecken não falava e durante os
quatro dias de viagem, os prisioneiros não deram mostra
de saberem falar, nem mesmo entre si. Estavam calmos,
talvez até demais e nem mesmo quando num dia à tarde
lá apareceu Vanderdecken eles falaram. Este apareceu de
cara tapada, como sempre, e apenas as pálidas mãos eram
visíveis. Falou-lhes num tom alegre e bem-disposto.
-Vamos para a suposta Terra. Ninguém vos
procurará lá. - disse rindo - Eu sou director e subdirector
de uma escola lá… Ninguém suspeita de mim,
obviamente. E já aterrorizei as pessoas para não irem para
o bosque… - liberta, novamente, uma maléfica risada Faremos delícias com vocês, não é?
Inclinou-se para tocar na face de um dos filhos de um
prisioneiro, quando foi impedido por uma mão firme e
encolerizada, com os músculos distendidos.
-Então, meu querido amigo? Pensei que as nossas
rivalidades tivessem acabado no tempo da escola…
A História de Diablocity Maria Capitão
-Estamos a chegar. - Informou o lacaio
desaparecendo de seguida.
-Muito bem. - Endireitou-se e ordenou - Activar
dispositivo de invisibilidade. Não queremos que os
humanos se assustem pois não? -Riu- se de uma piada
privada - Activar trens de aterragem. Activar a protecção.
Preparem-se para aterrar!
Lentamente foram descendo de altitude enquanto os
prisioneiros trocavam olhares apreensivos.
-Ora deixa cá ver… Aonde havemos de aterrar?
-Se me permite… - Interrompeu a medo o lacaio.
-Fala lá escravo…
-Desculpe senhor. Que tal na sua suite para lazer?
No bosque impenetrável? Onde lançámos…
-Desculpa?!
-Desculpe, meu amo, a minha impertinência. Onde
lançou de modo perfeito as maldições?
-Não é uma má ideia de todo Palki… Como
recompensa irás levar o chão das masmorras…
-Obrigado senhor!
-Muito bem! Cá vamos nós! Até logo…
prisioneiros…
E soltou mais uma vez uma gargalhada que ecoou
por toda a nave enquanto o barulho das pesadas botas se
ia desvanecendo.
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Capítulo 3
Os Oito
Há muito tempo atrás, por volta do século XX, numa
galáxia bem distante num planeta igual à Terra, existia
uma aldeia moderna com um centro de saúde, discotecas,
tinha uma população superior à duma cidade, e tudo o
que uma cidade tem. Mas, curiosamente, nunca passou
de aldeia para cidade. Essa aldeia era como todas as
outras com excepção, talvez, de ser moderna e, também,
devido ao facto de ser assombrada. Quero dizer... não era
assombrada, mas o bosque que lá existia era assombrado
por espectros, monstros e maldições.
Essa aldeia tinha o invulgaríssimo nome de
Diablocity. O mais sinistro é que ninguém sabia há
quantos anos aquela aldeia existia e se alguém fosse
procurar algum registo da existência da cidade, dizia
que nunca existira nenhuma cidade com aquele nome;
se alguém fosse ao mapa, e visse o que dizia onde estava
a aldeia deles, dizia que aquilo era penas mato grosso.
Parecia que a aldeia nunca tinha existido e isso fazia com
que as pessoas andassem sempre cabisbaixas e confusas,
pois ninguém em todo o mundo sabia que eles existiam.
Como se isto não bastasse, as pessoas que atravessavam o
bosque nunca mais eram vistas...
Havia uma escola na aldeia de Diablocity, mas essa
escola estava dividida em duas partes: uma de raparigas
A História de Diablocity Maria Capitão
e outra de rapazes. Nessa escola andavam 50 alunos.
Haviam 44 que iam de carro para a escola e haviam seis
alunos que preferiam ir de bicicleta e de skate. Éramos
três rapazes e três raparigas: eu que era irmã do Miguel,
do Jorge e do André, a Juliana irmã da Rafaela. Nós
os seis íamos de bicicleta, mas havia um cão que nos
acompanhava. Esse cão era o meu Ned, o lavrador preto
que eu tinha encontrado há uns anos atrás abandonado
no bosque. É muito querido e embora seja meu, do
Miguel, do Jorge e do André, o Ned se dá bem com toda a
gente e é muito esperto, se lhe pedirmos ele dá-nos a pata,
rebola, vai buscar... enfim, tudo o que lhe pedirmos.
Aos Sábados à tarde todas as mães (no meu caso,
do Miguel, o pai, pois os nossos pais separaram-se e o
André e o Jorge vivem com a mãe) faziam uma coisa
para cada um de nós levarmos, depois juntávamos a
comida e comíamos, também ajudávamo-nos uns aos
outros a fazer os trabalhos de casa. Aos Domingos à
tarde, iam os três rapazes jogar à bola e eu e a Rafaela
também participávamos. A Juliana era o árbitro e o
Ned costumava ser o apanha-bolas. Às vezes, quando
estávamos a jogar, o Ned aparecia, pegava na bola com a
boca e fugia com ela para brincar connosco; outras vezes
punha-se à patada à bola, como se estivesse mesmo a
jogar futebol.
As equipas eram sempre as mesmas: eu e o Miguel
contra a Rafaela, o Jorge e o André. Cada membro do
grupo tinha uma alcunha: a minha era Mosca, a do
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Miguel era Tackles, a da Rafaela Ruffles, a da Juliana
Juju, a do Jorge era Joginhu e a do André, NeAllex. Não
temos um clube nem nada do género, somos apenas sete
amigos muito unidos, a contar com o Ned, claro! Nunca
as utilizamos mas mesmo assim podemos dizer que cada
um tem uma alcunha.
Por volta das 17.00 de cada fim-de-semana, eu,
o André, o Miguel, o Jorge, a Juliana e a Rafaela
costumávamos ir dar uma volta de skate pela vizinhança,
depois íamos até ao nosso café preferido, Deus e Diabo,
comer, preparavam uns crepes e uns sorvetes de pôr
água na boca. O dono desse café era o pai da Rafaela e da
Juliana, e fazia-nos um desconto de 60%. Quando o sol
se punha, por volta das 19.00 voltávamos para as nossas
casas, cansados e prontos para no dia seguinte irmos para
as aulas.
Fisicamente, todos nós éramos parecidos. Quem não
soubesse quem eram os nossos pais, diria que éramos
todos irmãos gémeos e que tínhamos pai com cabelo
castanho e mãe com cabelo loiro/arruivado. Ainda para
mais éramos todos mais ou menos da mesma altura.
Eu tinha cabelo comprido castanho, que me dava
abaixo dos ombros e olhos castanhos. O Miguel tinha o
cabelo com caracóis ruivos/acastanhados e olhos azuis. O
Jorge tinha o cabelo comprido, que lhe dava pelo pescoço
e era preto e tinha também os olhos castanhos. A Rafaela
tinha o cabelo tão comprido como o meu e tinha também
os olhos castanhos. Nós éramos como irmãs, conhecíamo
A História de Diablocity Maria Capitão
nos há dois anos, e nenhuma tinha nenhum segredo que
a outra não soubesse, ela sabia tudo sobre mim, e viceversa.
A Juliana tinha o cabelo castanho tão comprido
como o meu, e olhos castanhos, éramos muito amigas,
era quase como uma segunda irmã para mim, visto que a
Rafaela era a primeira. O André tinha o cabelo castanho,
um pouco ondulado castanho, e tinha os olhos castanhos.
O Ned era todo preto, um lavrador preto.
Psicologicamente, éramos semelhantes. Havia
inclusive uma coisa em que éramos todos iguais:
estávamos todos virados para a brincadeira e para a
aventura.
Eu era esperta, curiosa, atrevida, dinâmica,
desportiva, sempre pronta para a pancada e muito, mas
muito maria-rapaz. O Miguel era dinâmico, curioso e
muito esperto, era o mais inteligente do grupo, mas claro
que havia outras pessoas além dele que eram inteligentes.
Passava a maior parte do tempo a estudar mas arranjava
sempre tempo para os irmãos e para os amigos. Nas aulas
era muito bem comportado, mas era só uma espécie de
máscara que ele usava para os professores o acharem
um santo, mas fora das aulas, ele era tão ou até mais
extravagante do que todos nós juntos.
O Jorge à primeira vista parecia calmo, mas quem o
conhecesse bem, diria que ele era tudo menos calmo. Nas
aulas até se costumava portar bem, à excepção de estar
sempre a cantar em voz baixa nas aulas. O André, tal
como o Jorge parecia um rapaz calmo, tranquilo, mas era
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A História de Diablocity Maria Capitão
tudo menos isso. Era óbvio que eram irmãos. Se alguém
olhasse para mim e para o Miguel, não diria que éramos
irmãos. Se olhasse para o Jorge, para o André e para o
Miguel talvez dissesse que eram irmãos.
A Juliana era a típica menina calminha, mas
conversadora, tal como eu, só que eu não sou calminha.
Nas aulas era uma santinha, tal como o Miguel (acho
que eles fazem um belo casal, mas não lhes digam…
schiuu!), mas fora delas era tal e qual como ele (formam
mesmo um belo casal). A Rafaela, tal como eu, era super
conversadora e maluca nas aulas, e também o era fora
delas (wla já gostou do Miguel, e ainda gosta, mas não
digam a ninguém… schiu!).
O Ned era super curioso e maluco. Sempre que via
um cão desatava a ir- lhe cheirar o rabo (como todos
os cães), adorava sorvetes, e era um cão muito bem
comportado dentro das lojas/ restaurantes e em casa, e
estendia a pata. Como fazia tudo o que mandávamos,
o pai da Juliana e da Rafaela costumava deixar o Ned
entrar, apesar de a pastelaria ser interdita a cães. Eu tinha
encontrado o Ned há uns anos, atrás da nossa casa, perto
do bosque, muito magro e ferido. Tratei muito bem dele, e
ele decidiu ficar connosco. Hoje, já faz parte da família.
Ah! Para quem não sabe, e ninguém deve saber,
chamo-me Maria e tenho 12 anos. Nós somos os sete,
juntamente com o Ned! Um grupo que ainda vai dar
muito que falar!!!
A História de Diablocity Maria Capitão
Capítulo 4
O Monstro
Segunda-feira, dia 25 de Maio - foi o dia em que as
nossas vidas mudaram para sempre.
-Despacha-te molengão! - Gritámos eu, o André e o
Jorge ao Miguel (às segundas, quartas, sextas e domingos,
o André e o Jorge dormiam em nossa casa, nos restantes
dias ficavam em casa da mãe).
O nosso pai não se importa, na verdade ele nem
se interessa. Desde que se separou da nossa mãe, que
está assim, não liga, não reage, não fala, passa o dia a
ver televisão ou a olhar para o vazio. Somos nós, eu e
o Miguel quem fazemos as compras, mas é o nosso pai
quem cozinha. É triste ver o nosso pai assim.
-Eu vou indo e digo à professora que ainda te estás a
vestir! - Acrescentou o André, rindo-se da própria piada.
Passados dez minutos, por estar a demorar tanto,
subi as escadas, bati à porta e como ninguém respondeu
entrei. Quando entrei não vi ninguém o que me espantou.
Fui à casa de banho e não vi ninguém e comecei a ficar
preocupada. Então, vi um papel colado à mesa da
secretária que dizia o seguinte:
Maria, André e Jorge, desculpem não ter esperado por
vocês. Fui andando para a escola.
A História de Diablocity Maria Capitão
Desculpem. Fui com a Ju… Bem, depois digo- vos.
Beijos Miguel…
PS: Desculpem! Altamente vocês estarem à minha espera
que deve ser o que está a acontecer. Upi! Agora até faço os meus
maninhos esperarem por mim mais de 20 minutos! Adeus!
-Eu mato aquele safado! - Gritei quando terminei de
ler a carta.
-O que foi? - Perguntaram o Jorge e o André quando
ouviram o meu grito, subindo as escadas a correr.
-Leiam! - Respondi e entreguei-lhes a carta. Passados
dois minutos, mais dois gritos se ouviram dentro da nossa
casa.
-Com que então faz os seus maninhos esperar por ele
mais de 20 minutos?
-Agora não é tempo de discussão, temos de arranjar
uma maneira de ir para a escola rapidamente.
-Onde está o Ned? - Perguntei. Como resposta
apareceu o Ned vindo da cozinha.
-Au, au, au! - Ladra Ned.
-Olá Ned! - Respondemos.
Sempre que o Ned nos vê ou ao Rafael, à Juliana ou
à Rafaela começa um ritual de cumprimento. Primeiro
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A História de Diablocity Maria Capitão
ladra-nos amigavelmente, depois baixamo-nos, o Ned
estende a pata, nós apertamo-la, e em seguida desata a
lamber-nos a cara. E foi o que aconteceu após lhe termos
dito bom dia. No final das lambidelas, surgiu-me uma
ideia fantástica e apressei-me a transmiti-la aos meus
irmãos.
-Tive uma ideia de como podemos ir para a escola
sem nos atrasarmos!
-Como?
-Atravessamos o bosque!
-Estás doida?! - Exclamaram o André e o Jorge.
-Porquê?
-Correm rumores que no bosque há monstros e que
quem se aproxima é logo comido - Informou o Jorge
-Acreditas nisso?
-Sim! Nunca ouviste falar das pessoas que
desapareceram no interior do bosque?
-Desapareceram porque se perderam. Eu nunca me
perdi e não vai ser agora a primeira vez. Ninguém me vai
impedir, nem mesmo os meus irmãos. Bye, Bye!
Dito isto peguei no skate, saí de cada e desapareci
entre os arbustos do bosque. Como eu era a pessoa mais
próxima do Ned, seguia-me para todo o lado e desta vez
não abriu nenhuma excepção e foi comigo.
A nossa casa era pegada ao bosque, por isso éramos
um pouco temidos na vizinhança com medo que
A História de Diablocity Maria Capitão
tivéssemos as supostas doenças que existiam no bosque.
O que eu mais gostava de fazer era chatear os meus
irmãos e era “pro” nisso. O bosque era mesmo muito
assustador, negro e ninguém, mesmo ninguém, se
aventurava a lá ir. Eu também, embora fosse corajosa,
não me aventurava a ir para lá, mas não queria dar parte
de fraca. Adorava chatear os meus irmãos, e além disso,
como o Ned estava comigo, não receei e entrei no bosque.
-Fogo! Ela é muito teimosa! - Disseram o Jorge e o
André em coro, incrédulos pela minha teimosia.
- ‘Bora lá! Não temos outro remédio. Além disso, hoje
temos teste de Matemática e se chegarmos atrasados mais
de um minuto a professora mete-nos falta, nega no teste
e o pai ralha à Maria e ao Miguel e a mãe a mim e a ti e
ficamos sem os skates!
-Ela consegue sempre levar a melhor. - Resmungou o
André carrancudo.
O que se passa é que o André tem ciúmes por eu
viver com o Miguel e com o pai e ele viver com o Jorge
com a mãe. E como a mãe está sempre a trabalhar, entra
às 12.00 e sai às 00.00, o André e o Jorge nunca estão
com ela. Têm falta de afecto paterno e materno. Embora
ausente, o nosso pai, costuma fazer-nos perguntas do
tipo “Correu bem a escola?” ou “ Têm amores novos?”, e
brinca connosco, quando não está a pensar na nossa mãe.
-‘Bora lá! Ela já deve ter chegado.
E dito isto, puseram-se a caminho. Quando estavam
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A História de Diablocity Maria Capitão
precisamente no meio do bosque o André vislumbrou
uma clareira e estava para dizer ao Jorge o que tinha
visto, quando ouviram algo:
-Socorro! Ajudem-me!
-Ouviste isto? - Era uma pergunta desnecessária,
visto que todos os animais no bosque pareciam ter
ouvido, porque se ouviram barulho nas árvores e nos
arbustos.
-Sim, o que será?
-‘Bora lá descobrir!
Quando chegaram ao que pensavam ser a origem
do grito não viram nada de anormal, mas ouviram um
arfar como que a indicar que estava ali ao pé uma pessoa
cansada.
-Mosca!
-Estás bem? O que se passa?
-Porque gritaste? - Perguntou o Miguel aparecendo
por entre os arbustos, após ter ouvido o grito. Estava todo
sujo, tinha as calças esfarrapadas, a cara estava cheia de
terra e super cansado, como se tivesse corrido durante
muito tempo sem parar à velocidade máxima.
-Onde está o Ned?
-Eu não gritei, mas ouvi um grito, pensei que tinha
sido um de vocês. Pensei que ele vos tinha apanhado.
Então vim aqui ter a correr. O Ned, mal o viu desatou a
correr na direcção da escola.
A História de Diablocity Maria Capitão
-Não. Mas porque estás aqui escondida? A quem é
que te estás a referir ao dizeres “ele”?
-Estou aqui porque fugi dele e porque pensei que ele
vos tinha apanhado. E “ele” é um monstro.
-Tolice! Não existem monstros. - Disse com
convicção o Miguel. Apesar de ser o mais esperto, o
Miguel é também o mais céptico.
“XEWRRCH! XEWRRCH!”, ouviu-se de repente.
-Escusam de me tentar assustar.
- Não foi nenhum de nós, foi ele , estou-te a dizer. Insisti.
-Então onde é que ele está? - Perguntou
sarcasticamente o Miguel.
-Não sei! Mas juro que ele estava mesmo aqui agora!
De repente ouviu-se um desfolhar de folhas e ele
apareceu.
-Atrás de vocês! Fujam!
Lentamente o Miguel, o André e o Jorge viraramse para trás e a visão que tiveram deixou-os de boca
aberta: um monstro (se é que aquilo se chama monstro),
com quatro braços, cauda cheia de espigões, pele da cor
das chitas, escamosa, olhos azuis, nariz, boca e orelhas
estranhamento humanas.
-Ah! Que nojo! O que é isto?
-Fala menos e anda mais! - Gritei, começando a
correr.
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A História de Diablocity Maria Capitão
-Bora lá! Vamos de skate! - Aconselhou o Miguel.
-Eu perdi o meu, foi para dentro de uma gruta e
depois apareceu o monstro!
-Vem para o meu! - Exclamou o André
-Ok!
Após este susto, seguimos de skate até à escola,
mudos de espanto e ainda a tentar recolher tudo o que
vimos.
A História de Diablocity Maria Capitão
Capítulo 5
A Professora Desaparecida
Chegando ao cruzamento que divide as escolas
separámo-nos. O Ned, que estava à nossa espera no
cruzamento com ar abatido, e eu fomos para um lado a
pé e eles para outro de skate. Quando o Miguel, o André
e o Jorge chegaram à escola deles a professora ainda não
tinha chegado, o que era estranho.
Dentro da sala D5 estava tudo numa barafunda: os
alunos estavam a brincar e a correr, todo o material estava
no chão, o que nunca teria sido possível se ali estivesse
algum adulto. À entrada de Miguel a sala silenciou-se, era
o delegado da turma e todos tinham medo dele.
Perante esta mudança de situação, o Miguel virou-se
para eles e ralhou:
-Que é isto? - depois sorriu e disse - Continuem a
brincar! Temos de aproveitar enquanto não está aqui
nenhum adulto!
Um aluno destemido avançou e perguntou:
-Queres dizer que não vais fazer queixa de nós?
-Claro que não! Alguma vez me queixei de vocês?
Também me quero divertir! Já taparam a câmara que está
na secretária da professora?
-Qual câmara? - Perguntaram todos.
-Não me digam que não taparam! - Gritou o Miguel
A História de Diablocity Maria Capitão
aflito, dirigindo-se rapidamente à secretária e constatou
com alívio que algum aluno tinha atirado o casaco para
cima duma estátua de um olho que era (afinal) uma
câmara disfarçada.
-Como sabias que havia aqui uma câmara?
-São os benefícios que traz ser delegado da pior
turma do século. - Disse o Miguel a sorrir - Agora
aproveitemos e brinquemos tudo o que podermos pois
tenho a certeza que não voltaremos a ter dias assim.
-Sim, Miguel Capitão Santos!
Sim, os nossos nomes são uma piada que já
têm barbas. Costumavam gozar connosco dizendo
frases como “Ao seu dispor senhor Capitão!”. O mais
embaraçoso é que não era os nossos colegas que gozavam.
O professor de física também costumava gozar connosco
dizendo frases como “Ó Capitão tome conta da tropa”
quando ia a algum lado ou quando estavam raparigas
ainda nos balneários dizia “Capitão Maria vá chamar o
resto da tropa feminina”. Sabíamos que estavam a brincar
connosco e por isso não nos ofendíamos.
A nossa turma era muito fixe. Como devem saber,
tínhamos uma escola dividida em duas partes. Uma de
raparigas e outra de rapazes. Achava muito estranho, mas
nada podia dizer. Tínhamos dois pátios, dois refeitórios
e por aí adiante. O melhor desta palhaçada, é que nós,
raparigas, podíamos ir para a parte deles, e eles por
sua vez, podem ir para a nossa. Apenas não podíamos
34
I
A História de Diablocity Maria Capitão
almoçar na parte deles, nem assistir às aulas. Tínhamos
E.D. (expressão dramática), Formação Cívica e E.T.
(educação tecnológica) juntos.
Éramos 28 alunos ao total, 18 raparigas e 10 rapazes.
Os rapazes eram o André, o Eduardo, o Jorge, o João,
o Kevin, o Miguel, o Pedro Nunes, o Pedro Rocha, o
Ricardo e o Rúben. As raparigas eram a Adriana, Ana
Moreira, a Ana Catarina, a Ana Salvado a Ana Rute, a
Bárbara, a Bruna, a Beatriz, a Carolina, a Daniela, a Diana,
a Inês Saraiva, a Inês Rosário, a Joana Rosário, a Juliana,
eu, a Magda, e a Rafaela. A Joana Rosário e a Inês Rosário
eram irmãs gémeas, mas não se davam lá muito bem. Esta
era a nossa turma, a minha primeira turma no 3º ciclo.
Era muito fixe, volto a repetir, todos éramos amigos e
ajudávamo-nos uns aos outros.
No início dei-me horrivelmente mal com o Rochinha
(Pedro Rocha). Ele era egoísta, convencido e estúpido,
todas as coisas que odeio num rapaz. Houve até numa
terça-feira, quase no fim do segundo período a “Grande
discussão”, como lhe costumava chamar.
Às terças-feiras tínhamos 2 horas e 10 minutos de
almoço e eu, o Miguel, o Rochinha, o João, o Jorge e
o Rúben costumávamos jogar um jogo inventado por
nós. Esse jogo consistia em duas equipas, de quantos
elementos nós quisermos e havia uma equipa que se
escondia e quando já estava escondida mandava uma
mensagem ou um toque à outra. Podíamos jogar na escola
inteira, excepto dentro do edifício. A outra ia à procura
A História de Diablocity Maria Capitão
da primeira equipa e tinha que os agarrar - não era ver
como no Jogo da Escondida. Quando os membros da
equipa que se esconderam eram todos apanhados, a que
os apanhou escondia-se e por aí adiante. Uma coisa boa
naquele jogo era que na nossa turma todos corríamos
bem, logo éramos difíceis de apanhar.
Ora, nessa tal terça-feira estávamos a jogar e entraram
mais pessoas da nossa turma. Eles esconderam-se e fomos
tentar apanhá-los. Quando já os tínhamos apanhados
todos, menos o Rochinha, a equipa dele disse que já
os tínhamos apanhado todos. Ninguém sentiu falta do
Rochinha. Quando eles já nos tinham apanhado e íamos
recomeçar o jogo, o Rochinha apareceu de repente no
nosso local de encontro e começou a dizer todo emproado
que não o tínhamos apanhado e essas cenas... e que a
equipa dele tinha ganho e lamechices desse género. Eu,
que estava completamente farta dele, levantei-me (apesar
de ser mais baixa que ele, faço-lhe frente) e comecei a
responder-lhe a torto e a direito. Amuado, não abriu
mais a boca. Continuámos o jogo. Estava tudo a correr
sobre rodas, quando ao ser a minha equipa a apanhar,
vimos a Bruna e a Juliana a discutirem com o Rochinha.
Como sou amiga delas, fui ter com elas e comecei a
defendê-las. Passado um bocado aJuliana afastou-se
com lágrimas nos olhos. O problema era que o Rochinha
insultava e chamava nomes, mas quando lhe dizíamos
o que fazia, armava-se em santinho e isso fazia com que
nos irritássemos. Não eram lágrimas de tristeza mas sim
36
I
A História de Diablocity Maria Capitão
de irritação. A Juliana afastou-se e a Bruna e eu fomos
ter com ela. Percebia o que sentia. Estava tão irritada
com ele, como ela! Fui a correr ter com a equipa que se
estava a esconder e disse-lhes que o Rochinha tinha posto
a Juliana a chorar. O João e o Miguel foram connosco
(foram apenas eles quem eu vi) e ficaram com ela. Como
pensei que o Rochinha já não ia chatear mais pedi-lhes
que continuassem. Quando já estavam a 50 metros de
distância, o Rochinha começou a chatear-me e a provocarme. Como estava já tão chateada com ele, aproximei-me
dele e gritei- lhe:
-Pára! Que eu saiba foste tu que disseste à Rafaela
que eu era uma puta! Se me queres bater, bate! Não tenho
medo de ti! Sabes o que me apetece fazer? É dar-te um
excerto de porrada, que nunca mais voltas a insultar
ninguém!
Estava já ele a ir para me bater, quando o João
apareceu a correr de onde estava, empurrou-o e gritou:
-Ó vá! Nem sabes o que te acontece!
Foi nessa altura que me afastei a chorar. Não eram
lágrimas de tristeza, eram lágrimas de raiva e de pena.
Não pena dele, mas pena da Juliana, que tinha de ir com
o Rochinha para a escola de carro, pois as mães deles
eram muito amigas. Quando o Rochinha a provocava, ela
gritava-lhe e ele, por sua vez, fazia queixinha à mãe dele,
mas era a Juliana quem pagava. Afastei-me e deixei tudo
como estava.
A História de Diablocity Maria Capitão
Na aula seguinte, que era matemática (adoro
matemática!), nem estava a prestar atenção, estava a
tentar reprimir as lágrimas e a pensar na minha vida.
O professor deve ter reparado, porque perguntou ao
Pedro Nunes (o meu parceiro), o que eu tinha. Não ouvi,
pois foi no fim da aula. Achei muito querido da parte
dele. Até agora, excepto a parte da “Grande discussão”
estava tudo bem, até que sem qualquer razão aparente
a Bruna chateou-se comigo. Não sabia o que se passava
por isso perguntei à Juliana se sabia o que ela tinha. A
Juliana explicou-me que ela estava chateada comigo por
causa da “Grande discussão”. Quando ouvi nem queria
acreditar. Eu tinha-me sacrificado e tinha ido defender a
Bruna e a Juliana do Rochinha e era assim que a Bruna me
agradecia?
Passou-se tudo mal, este ano, excepto algumas coisas
boas, menos do que as más. Mas ainda não acabou.
Espero que o resto seja fixe. Agora já me dou melhor com
o Rochinha. Não somos amigos, mas também não somos
inimigos. Somos uma espécie de amigos-inimigos, mais
amigos do que inimigos.
Em seguida, voltou tudo a fazer o que estava a fazer
antes do Miguel ter chegado.
-Olá André! Olá Jorge! Olá Miguel! - Disse uma voz
que lhes era familiar por detrás deles.
-Ah?
38
I
A História de Diablocity Maria Capitão
-Olá Rafael!
O Rafael é um amigo nosso há séculos. É fixe,
mas não gosta tanto de aventuras como nós gostamos.
Estou apaixonada por ele. Gosto dele há, mais
aproximadamente, dois períodos. Pensando bem, foi
há dois períodos que o conheci. Ele e o Daniel Bray são
malucos por xadrez, e jogam muito bem. Eu entrei no
clube onde eles andam, e já jogo xadrez bem. Conhecios… e apaixonei-me pelo Rafael. Ele era super lindo,
acreditem. Tinha olhos azuis, cabelo loiro, era da minha
altura, e tinha um sorriso… ai! Nem vos digo!!! Ele era
aventureiro, não tanto como nós, só faz porcaria, e é
sempre chamado ao conselho directivo. Embora o Rafael
seja do 8º ano, na nossa escola, os 8º e 7º têm aulas juntos.
-O que foi? - Perguntou o Rafael.
-O que queres dizer?
-Vocês chegaram atrasados! Não é razão para
perguntar?
-Tens razão. Bem, não sei se acreditas... - Assentiu o
Jorge.
-Vá lá, contem! Já sabem que sou de confiança!
-Ok! Tudo o que te vamos contar é verdade.
...E explicámos tudo tintim por tintim. Ele ficou
muito entusiasmado, e queria ter ido ter connosco para
falarmos, mas não adiantou de nada, pois ele nunca tinha
tempo para estar connosco.
A História de Diablocity Maria Capitão
-A professora? Nunca faltou a uma aula e muito
menos num teste. Sabes dela?
-Népia! - Negou o Rafael, quando, de repente entrou
o director da escola e tossiu para demonstrar a sua
presença.
O Director anunciou que a professora de matemática
tinha sido raptada enquanto atravessava o bosque.
Parecia que o director estava tranquilo e até satisfeito. Do
outro lado da escola estava o vice-director a dar a mesma
notícia às alunas. Também parecia satisfeito. Eu, sempre
curiosa perguntei:
-Desculpe a pergunta, senhor vice-director, mas
como sabe que foi raptada? Como sabe que desapareceu?
-Eu sei que ela foi raptada!
-Desculpe senhor. - Disse, em voz baixa, mas de
cabeça erguida. Achei isto muito estranho e pareceu-me
que o vice-director estava detrás disto.
-Bem não terão aulas até ela aparecer.
-E se não aparecer?
-Darei eu aulas.
-Não!!! - exclamaram todas as alunas e alunos.
O director e o vice-director eram conhecidos por
serem muito maus e ai de alguém que fizesse alguma
brincadeira ao pé deles! Quando a infracção não era
má limitavam-se a dar 100 chicotadas ao infractor, mas
quando era muito grave, levava 300 chicotadas e ficava
40
I
A História de Diablocity Maria Capitão
um dia inteiro no bosque. O bosque estava cheio de
crânios de alunos que ali morreram. Não expulsavam
quem tinha cometido a infracção porque isso era o que
alguns dos alunos queriam. Na nossa aldeia não havia
polícia.
-Então desapareçam daqui!
Mal saímos da escola eu, o André, o Jorge, o Rafael
e o Miguel fomos ter ao nosso esconderijo que era nuns
arbustos ao pé das grades, mas tínhamos tirado as grades
e íamos para lá quando precisávamos e queríamos estar
juntos.
-Olá Rafael! - Disse quando nos encontrámos.
-Olá Maria! - Disse o Rafael.
-Olá para ti também Ned. - Disse o Rafael quando
o Ned apareceu detrás de uns arbustos do nosso
esconderijo e se começou a atirar para cima do Rafael.
-Au, au! - Ladrou o Ned.
-Já lhe contaram o que nos aconteceu? - Perguntei
desta vez para o André, para o Jorge e para o Miguel. O
Miguel e o Jorge acenaram com a cabeça.
-Antes disso, o director foi à vossa aula?
-Sim.
-Disse-vos que...
-A Prof. tinha sido raptada. Sim disse. - Interrompeu
o Rafael.
A História de Diablocity Maria Capitão
-Aqui há coisa. Isso vos garanto eu.
-Porque dizes isso? É um sinal que não teremos mais
testes com a odiosa professora.
-Não reparaste na calma do professor? O vicedirector
disse-nos que a professora tinha sido raptada a
sorrir! Bem, mas agora preciso de fazer outra coisa, depois
trato dele.
-Qual é? - Perguntou o Miguel desconfiado porque
as minhas ideias são sempre malucas.
-Hoje ou amanhã vou lá à gruta e vou buscar o meu
skate.
-Estás doida? - Perguntaram todos em coro excepto o
Rafael.
-Porquê?
-Provavelmente o monstro vive lá para ter saído da
gruta mal o skate entrou para lá para dentro.
-E se ele te apanha?
-Se me apanha, mostro-lhe todas as técnicas de
kickboxing que sei. - Respondi com um sorriso.
-E se te come?
-É da forma que fica com mais 40 kg no corpo.
-Rafael, não dizes nada? - Perguntou o Jorge,
ignorando as minhas respostas.
-Bem… eu tenho de apoiar as decisões dela não? E
além disso, vai haver um concurso a nível mundial sobre
grupos de desportistas e eu tinha esperança que nós
42
I
A História de Diablocity Maria Capitão
fossemos, eu, a Maria, tu, o André, o Miguel, a Juliana e a
Rafaela íamos de skate.
-Tu preocupas-te mais com um estúpido concurso de
desporto do que com a Maria?!?! - Diz ferozmente.
-Apoiado! Obrigado Rafael! Estão a ver? Mais uma
razão para eu recuperar o meu skate! Aonde é a viagem?
-Exclamei, embora estivesse um bocadinho triste por
o Rafael se preocupar mais com um concurso do que
comigo. Isto só me ajudava a perceber que ele não gostava
de mim.
-Nem sequer falei numa viagem... - sorriu com ar
comprometedor - Mas há uma ao Egipto com direito a
guia e tudo para o primeiro prémio! E além disso, como
sei que a Maria é muito teimosa e que não vale a pena
discutir porque ela leva sempre a melhor, achei que não
valia a pena insistir e contrariá-la porque depois ela podia
chatear se comigo.
-Olhem, eu vou hoje à noite à gruta... O monstro tem
menos possibilidades de me ver… Por falar nisso aonde
está a Juliana e a Rafaela?
-Pois…
-Miguel sabes onde é que elas estão?
-Estão no hospital.
-Porquê? O que lhes aconteceu ?
-Sabes o monstro de que vocês falaram e que nos
atacou? Acho que foram mordedelas por esse monstro.
A História de Diablocity Maria Capitão
-Então temos de as ir ver! Porque não disseste antes?
-Elas dizem-te a razão. - Encolhi os ombros e saímos
da escola, enquanto pegávamos nos skates. Fomos ter
ao hospital que ficava na cidade vizinha, Godcity, a 40
quilómetros.
44
I
A História de Diablocity Maria Capitão
Capítulo 6
Uma Grande Coincidência
Após termos chegado a Godcity dirigimo-nos ao
hospital e, mal entrámos, o Miguel foi à recepção e falou
com um tom diplomático:
-Por favor, poderíamos visitar umas pacientes que
deram entrada hoje de manhã?
-Diga-me o primeiro e último nome das pacientes,
por favor. - Pediu a Enfermeira.
-Rafaela Geraldo e Juliana Silva.
-Vejamos… aqui está. Entraram hoje com
mordedelas nos braços e pernas.
-Não queremos saber porque entraram aqui.
Queremos visitá-las. Podemos? - Disse o André já a ficar
enjoado.
-Quantos é que vocês são?
-Somos 6.
-São familiares?
-Não. Somos os seus melhores amigos e só agora é
que soubemos que elas estavam no hospital.
-Digam-me os vossos nomes.
-Maria Capitão, Miguel Santos, André Carreira, Jorge
Sousa, Rafael Luís e Ned Shneeider. -Apesar de sermos
irmãos e de termos o mesmo apelido, o nosso nome (o
A História de Diablocity Maria Capitão
meu, do André, do Jorge e do Miguel) é muito grande.
O meu por exemplo, é Maria João Capitão Santos Sousa
Carreira, logo, cada um de nós, pode escolher qual é osobrenome que mais gosta. É estúpido,
mas é assim. Vou
explicar: o apelido do meu pai é Santos, mas como sempre
gostou do apelido Sousa, decidiu que nos iria pôr os dois
apelidos, e o apelido da minha mãe é Capitão, mas como
foi sempre uma enorme fã do Mickael Carreira, decidiu
pôr-nos os dois nomes também. Assim, graças aos nossos
pais, eu posso escolher dizer que sou a Maria Capitão, a
Maria Santos, a Maria Sousa ou a Maria Carreira!
-Hummmm… Podem vir.
Enquanto seguíamos a enfermeira, o Rafael foi ter
comigo e falou-me em voz baixa para a enfermeira não
ouvir:
-A enfermeira é nova aqui. Se já conhecesse as regras
devia saber que não podem entrar mais de três pessoas
num quarto para visitar algum paciente.
-Ainda bem. Agora cala-te Rafael, a enfermeira já
está desconfiada.
Depois continuámos a seguir a enfermeira, mas desta
vez ninguém disse nada até chegarmos ao quarto 22. Mal
lá chegámos a enfermeira pediu-nos para recuar, abriu a
porta e disse algo em surdina.
-Posso? Têm aqui visitas meninas Juliana e Rafaela.
Querem vê-las ou mando as embora com uma desculpa
qualquer?
46
I
A História de Diablocity Maria Capitão
-Quem são? - Perguntaram do outro lado da porta.
-Maria Capitão, Miguel Santos, André Carreira, Jorge
Sousa, Rafael Luís e Ned Shneeider.
-Eles que entrem, por favor. - Responderam.
A Enfermeira, embora contrariada, fez- nos sinal para
entrar. Entrámos no quarto e vimos duas pessoas mas
nenhuma delas se parecia com as nossas duas amigas.
As pessoas que vimos estavam pálidas, murchas e muito,
mas mesmo muito doentes.
-Olá André, Miguel e Jorge.
-Olá Rafael, Maria e Ned.
Quando entrámos, e o Ned viu a Rafaela e a Juliana
foi a correr ter com elas, mas quando se aproximou mais e
viu como elas estavam esverdeadas, lambeu a mão a cada
uma delas e voltou para ao pé de nós.
-Olá Juliana e Rafaela! - Entoámos todos, excepto o
Miguel que estava envergonhado sem aparente razão.
-Porque estão aqui? - Perguntou a Juliana que era de
longe a mais doente.
-Dah! Para vos vir visitar. Vocês estão no hospital, de
cama, ainda não reparaste?
-Não a trates assim! Ela é a que está em pior estado!
O monstro ia a levando se não o tivesse mordido! E agora
está muito doente! - Rebentou o Miguel que tinha estado
muito calado e envergonhado até ter rebentado daquela
forma.
A História de Diablocity Maria Capitão
-Pronto, desculpa. Não sabia. - Pediu o André que
quando sabia que estava errado pedia sempre desculpas.
-O que aconteceu ao certo Rafaela? Podes explicarnos? - Pedi.
-Claro que sim. Bem, então... Tudo começou de
manhã depois de já estarmos todas arranjadas para ir para
a escola… O Miguel apareceu para irmos todos juntos,
que como sabem é namorado da Juliana…
-O quê? Desde quando?! - Disseram atónitos.
-Porque não nos contaste nada Miguel? - Inquiriu o
André, olhando para ele.
O Miguel que depois de ter rebentado estava
caladinho e encolhido, quase que não se via, encolheu se
ainda mais notando se apenas a sua crista.
-Namoramos desde ontem à noite. Tivemos a falar
pelos walkie-talkies e eu confessei lhe que gostava dela.
E ela disse que também gostava de mim. Pedi-a em
namoro, ela aceitou e combinámos que eu ia ter a casa
dela e íamos juntos para a escola. Íamos contar vos hoje
que namorávamos quando... - Disse o Miguel numa voz
sumida.
-Como estava a dizer, o Miguel foi ter connosco
a nossa casa, mas como só faltavam 2 minutos para as
08.00 decidimos ir pelo bosque. Eu ia de skate, e a Juliana
e o Miguel no skate dele. Já estávamos mais ou menos
no meio do bosque, quando a Juliana, que ia à frente
com o Miguel, chocou com alguma coisa ou alguém. O
48
I
A História de Diablocity Maria Capitão
Miguel caiu para a frente e a Juliana caiu para trás. Eu,
que ia atrás, ouvi a Juliana gritar quando se apercebeu
com o que tinha chocado... Era um monstro com quatro
braços, cauda com espigões, pele da cor da chita, olhos
azuis, nariz, orelhas e boca estranhamente humanos. E
ao mesmo tempo que a Juliana gritava ouvi um barulho
muito esquisito, mais ou menos parecido com “Xewrrch,
Xewrrch!”
-Foi ele! Foi ele! - Exclamou o Miguel.
-Diz?
-Ele o quê?
-O monstro de quem vocês falam!
-Foi o mesmo monstro que vos atacou! - Exlamou
o Rafael que já tinha percebido do que é que o Miguel
falava.
-Podem explicar-me, se não se importarem?
-Foi assim, eu, a Maria… - E o Jorge contou- lhes o
que nos tinha conhecido de manhã.
-Por isso tenho de recuperar o meu skate. - Disse
quando a narração tinha acabado.
-Mas não achas que te estás a sujeitar a muito perigo?
-Perguntou a Rafaela aterrada ao pensar que eu ainda
podia dar de caras com o monstro.
-Só com o skate podemos ter alguma hipótese
de ganhar o concurso e além disso foi uma prenda do
meu pai. Não o quero perder, percebem?! Tenho de o
A História de Diablocity Maria Capitão
recuperar! Não vos estou a pedir que venham comigo,
nem nada disso, apenas quero que me apoiem. Podem
fazer isso?
O Jorge, o Miguel, o Rafael, a Rafaela e a Juliana
trocaram um olhar e o Rafael disse:
-Nós não só te vamos apoiar, como também vamos
contigo à gruta tentar encontrar o teu skate. Certo?
-Certo! - Exclamaram.
-Eram capazes de fazer isso por mim?
-Claro que sim, Maria. Tu és nossa amiga, nos
apoias, e tenho a certeza que tu também eras capaz de ir
ao bosque com algum de nós para procurar alguma coisa.
-Disse a Juliana, tocando no meu braço.
-Obrigada! Gosto muito de vocês! Se pudesse
escolher seis pessoas entre toda a gente do mundo
escolhia-vos a vocês - confessei com lágrimas nos olhos.
-Podem pensar que sou lamechas à vontade, mas com o
divórcio dos pais e o resto, os meus irmãos e amigos eram
a única coisa que nunca me tinha desiludido na vida. Por
isso, gostava tanto deles e fazia tudo o que eles faziam.
-Temos de ter cuidado com o monstro.
-Pois.
-Esse vai ser o maior perigo.
-Mas nós todos juntos vamos conseguir enfrentá-lo.
-Tens razão.
-Mudando de assunto, quando é que vocês têm alta?
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I
A História de Diablocity Maria Capitão
-Boa pergunta.
-Sei como é que podemos saber. - Disse a Juliana.
-Como?
-Alguém tem um telemóvel?
-Eu tenho. - Exclamou o Jorge.
-Emprestas-mo?
-Claro.
-Qual é o número deste hospital?
-127980239. -Informou o Miguel.
-Calem-se por uns momentos. Vou telefonar.
-A quem?
-Ao hospital.
-Que hospital?
-Para este. Ainda não perceberam? Telefono para
este, digo que sou da família, pergunto como é que nós as
duas estamos e fico a saber.
-Boa ideia!
-Shiu!
-Boa tarde, fala o hospital de Godcity. O que deseja?
-Queria saber como estão as pacientes do quarto 22 e
quando terão alta, se faz favor.
-Com certeza.
-Hum... Se continuarem assim terão alta daqui a uma
semana.
A História de Diablocity Maria Capitão
-Só?!
-Sim. Elas foram mordidas por uma espécie que
não existe. Por um tal de Aplocarionte. A sua dentada é
mortal, se o animal assim quiser. Deita um líquido que
vem dos pés até à boca e se morder com esse veneno,
mata.
-Obrigada, na mesma. - Mentiu a Juliana,
desanimada, desligando.
-Eu conheço esse tal de Aplocarionte! Aparece nos
livros de animais venenosos. - Exclamou o Miguel.
-Como se tu não soubesse… - Picou o André.
-Acho que vocês terão de estar uma semana sem
nós… - disseram tristemente a Rafaela e a Juliana em coro.
-Não se preocupem, esta semana vamos estar muito
atarefados.
-Vamos?
-Sim, vamos! Temos de arranjar walkie-talkies,
lanternas, pilhas, bússolas, pedir às mães que nos façam
um lanche para muitos dias, sacos-cama, fósforos,
lenha….
-Espera lá! Não estás a pensar em acampar na
floresta pois não?
-Estou sim, precisamos de o encontrar, e depois
procurar a professora.
-Estás a pensar em procurar aquela velhaca?
-Estou sim. Tens problemas? Se a encontrarmos ela
52
I
A História de Diablocity Maria Capitão
vai ficar muito contente e agradecida connosco e nunca
mais nos vai castigar!
-Boa ideia, mas mesmo assim…
-Mesmo assim, nada! Jorge, tu, o André e o Miguel
vão procurar walkie-talkies, lanternas e fósforos. Eu e o
Ned vamos procurar sacos-cama e pedir às mães comida.
-Entendido?
-Sim! - Gritaram todos.
-E tu Ned, concordas?
-Uof, uof. - Respondeu e rimo-nos todos. O Ned é
mesmo um cão muito esperto!
A História de Diablocity Maria Capitão
Capítulo 7
A Gruta
Durante a semana andámos todos muito atarefados,
procurámos lenha, walkie-talkies e tudo o que fossemos
precisar. Só arranjámos e preparámos tudo um dia antes
de a Rafaela e a Juliana saírem do hospital. Afinal elas
ficaram mais quatro dias do que era previsto e só saíram
na quarta e nesse dia reunimo-nos todos em casa da
Juliana e da Rafaela.
-Bem, finalmente já arranjámos tudo! - Exclamou
satisfeito o Miguel.
-Pois é. Custou muito. - Concordou o André
-Tudo não, falta pedir aos nossos pais se nos deixam
acampar no bosque.
-Mas não lhes podemos dizer que queremos lá ir se
não, não nos deixam.
-Podem pedir para virem a minha casa. - Disse o
Rafael, para ajudar, nem que fosse um bocadinho. - Os
meus pais não se vão importar. - Acrescentou.
A casa do Rafael, era longe das outras, mas era
mesmo à entrada do bosque, por isso, era perfeita!
-Boa ideia!
-Não sei… Talvez os pais da Juliana e da Rafaela
queiram estar com elas.
-Talvez, mas vamos pedir.
A História de Diablocity Maria Capitão
-Trabalhámos muito para parar agora.
-Ainda para mais, não temos escola agora por causa
da professora.
-Amanhã como é sábado, os nossos pais pensam
que vamos todos jogar futebol e vão arranjar-nos lanche.
Encontramo-nos amanhã todos às 09.00 na escola, ok? Perguntou a Rafaela
-Vamos todos ter à escola. Encontramo-nos no portão
que separa as duas escolas.
No dia seguinte levantámo-nos bem cedo, pusemos
as malas às costas e partimos em direcção à escola. Às
08.50 chegaram a Juliana e a Rafaela, e passados 10
minutos cheguei. O André, o Miguel e o Jorge chegaram
2 minutos depois de mim e só passados 20 minutos é que
chegou o Rafael.
-Porque demoraste tanto? - Perguntei.
-Desculpa mas caso não saibas tive uma reunião
com o director e sub-director da escola. Os delegados das
outras turmas do 8º ano também lá estavam.
-Mas tu não és delegado.
-Pois não, mas como sou vosso amigo, eles queriam
saber como é que elas estavam... e tivemos a discutir
cenas sobre a escola.
-Que cenas?
-Cenas secretas.
56
I
A História de Diablocity Maria Capitão
-Tasse bem! Estão todos preparados?
-Sim!
-É melhor separar-nos. Eu vou para Norte com o
Rafael. - Disse, indo para ao pé dele.
-Eu e a Juliana vamos para Sul. - Afirmou o Miguel,
dando- lhe a mão.
-O Ned e eu vamos para Este! - Continuou o Jorge.
-A Rafaela e eu vamos para Oeste! - Terminou o
André.
-Se estiverem em apuros mandem uma mensagem
ou falem pelo walkie-talkie.
-Estão ligados?
-Sim!
-As bússolas funcionam?
-Sim!
-Então boa sorte e encontramo-nos aqui às 19.30.
Se não vierem até às 20.00 é porque ocorreu algum
imprevisto, tiveram de ir para casa ou assim.
-Ok!
Todos percebemos que o Jorge queria dizer que
se não estivéssemos lá até às 20.00 era porque talvez
tivéssemos sido apanhados pelo monstro ou assim, mas
como ele é bom rapaz preferiu não o fazer.
Partiu, então, cada grupo para cada lado. A gruta
A História de Diablocity Maria Capitão
situava-se para Sul a partir da escola, ou seja, era na
direcção em que a Juliana e o Miguel iam, mas nesse
preciso instante o monstro dirigia-se para Norte, na
direcção em que eu e o Rafael estávamos a ir.
-Este bosque era bom para andar de skate. - Disse eu,
para quebrar o silêncio constrangedor que pairava à nossa
volta. Embora eu não me importasse de estar em silêncio,
sabia que o Rafael odiava estes silêncios.
-Achas?
-Se não fosse, num certo modo, assustador.
-Concordo.
-Acho que é um pouco assustador pelas sombras dos
animais e árvores que parecem monstros a espreitar.
Calámo-nos, fitando o arvoredo que existia dos dois
lados, limitando o caminho. Continuámos a caminhar
durante um bom tempo até que decidimos parar.
- Ufa, não aguento mais, se quiseres vai andando. Disse, encostando-me a uma árvore.
-Achas mesmo? - Respondeu o Rafael também se
encostando à árvore.
-Talvez.
Quando o Rafael ia a responder ouviram um
desfolhar de folhas, e subimos ambos rapidamente para
cima da árvore onde nos tínhamos encostado. Por entre
os arbustos apareceu o monstro. Vinha a falar para si,
e encostou-se à árvore onde eu e o Rafael estávamos
aterrorizados de medo.
58
I
A História de Diablocity Maria Capitão
-Uau, nunca pensei que o monstro fosse assim tão
nojento... - Murmurou o Rafael.
-Nós dissemos-te.
- Espero bem que os Evils tenham feito o banquete
real e tenham capturados os Copper, ou então vai haver
bronca. Eu irei ficar muito chateado pelo banquete e o
Grande Supremo Mestre pelos Copper. Como será que
eles conseguiram escapar? Os pais, até compreendo,
mas o puto, não. Ele deve ter uns 14 anos é muito novo
para conseguir escapar dos feitiços, embora pareça
uma Torre Eiffel. Ainda bem que prendemos a irmã
dele nas catacumbas, senão ela seria a primeira a fugir,
aventureira como é. O irmão dele, Rúben acho eu, daqui
a uma semana será crucificado, e a Joana, também. É a
paga pelas coisas que o pai dele tem feito. - Ia dizendo
o monstro em voz baixa, mas não suficientemente baixa
para não ouvirmos.
-Quem serão os Evils? E os Copper? - Perguntei em
surdina para mim.
-Não sei, mas não me parece que os Copper sejam
os maus da fita. - Respondeu o Rafael assustando-me. -
Acho que os Copper estavam presos em qualquer lugar e
fugiram; o puto, como o monstro disse, tem 14 anos e tem
uma irmã que é muito aventureira, mas está presa nas
catacumbas; o Rúben e a Joana daqui a uma semana serão
crucificados!
A História de Diablocity Maria Capitão
-Que horror! Temos de nos despachar e depressa!
Já temos informações suficientes para um dia. Quando o
monstro sair daqui bazamos.
-E se o monstro nunca mais sair?! Tenho uma ideia
melhor.
-Qual? - Perguntou, desconfiado.
Antes que pudesse fazer algo, parti um ramo e
atirei-o com toda a força para o outro lado do bosque. O
monstro, ao ouvir o barulho, correu para lá e pudemos
descer a árvore.
-Vamos para o ponto de partida?
-Sim, mas isto tudo é muito estranho. Acho melhor
termos um sítio especial para pudermos falar destas
coisas, sem sermos importunados, nem nada.
-Que tal nos arbustos que separam as duas escolas?
-Não, qualquer um pode ouvir.
-Que tal enviarmos uma mensagem a todos para lhes
perguntarmos?
-OK. - Assenti, abanando a cabeça.
Enquanto falávamos não vimos que por detrás de nós
se aproximava uma coisa, e quando essa pessoa surgiu
atrás de mim, o Rafael deu um grito e disse:
-Atrás de ti! Foge!!!
Como é óbvio olhei para trás e atrás de mim estava
uma coisa com cerca de 2.40 metros vestida com um
casacão preto e um capuz preto. A cara era maquiavélica,
60
I
A História de Diablocity Maria Capitão
tinha olhos vermelhos como chamas, boca finíssima e
dentes que naquele momento estavam cheios de sangue.
Qualquer um se assustaria com isto (incluindo eu, mas
quis-me armar em forte à frente do Rafael) e dei um passo
à frente e perguntei:
-Quem és tu? - Como resposta a coisa rugiu.
O Rafael agarrou na minha mão e disse:
-Acho que isso não quer conversar, anda!
E fugimos os dois pelo bosque fora. Mas antes que
nós desaparecêssemos de vista a coisa tirou uma minivara
e disse:
-Para o meu corpo eu quero voltar!
No preciso instante em que acabou de dizer estas
palavras, a cara maquiavélica desapareceu e apareceu
uma cara de um rapaz perfeitamente normal - que de
certo modo era atraente. Quando o seu semblante voltou
ao normal, ele gritou:
-Esperem!!! Eu tinha uma máscara!
Apenas eu ouvi estas palavras mas achei que era uma
forma de nos atrair. Pela minha parte era capaz de voltar
atrás mas não voltei porque o Rafael ainda me agarrava e
quer admitisse quer não gostava muito dele.
No outro lado do bosque, a Sul do ponto de partida,
deambulavam dentro do bosque o Miguel e a Juliana.
-Achas que vamos encontrar o monstro?
A História de Diablocity Maria Capitão
-Espero bem que sim.
-Porque dizes isso? Não tens medo dele?
-Tenho, mas se continuar à solta, irá continuar a
raptar mais pessoas, e provavelmente a comê-las.
-Miguel! Que nojo! Não digas isso!
-Estou a brincar! Não leves as coisas tão a peito.
Após isto, a Juliana fez o seu olhar ameaçador e ao
mesmo tempo afectuoso.
De repente, ouve-se um som,“Bzzzz... Bzzzz...”.
-O que é isso? - Sobressaltou-se a Juliana.
-É apenas o telemóvel, é uma mensagem da Mosca.
-O que diz?
-Diz: “Tackles nós achamos que estas coisas estão a ir
longe de mais, precisamos de ter um local para falarmos
sobre isto. Que lugar achas mais apropriado? Pergunta à
Rafaela e aos outros se não achares nenhum lugar bom.”
-Quando acabou de ler a mensagem o Miguel começou a
escrever no telemóvel.
-O que estás a escrever?
-Estou a dizer que acho que a casa do André e do
Jorge é um bom esconderijo.
-Qual casa do André e do Jorge? Tu, a Maria, o
André e o Jorge são irmãos... não são ?
-Sim, mas os nossos pais separaram-se e o André e o
Jorge vivem com a mãe.
62
I
A História de Diablocity Maria Capitão
-Desculpa falar nisso.
-Não há problema.
-Bem agora é melhor irmos para o ponto de partida,
são quase 19.30.
-Não me parece que vão. Ahahahahah! - Ri-se a
criatura que se aproximou de rompante emitindo o tão
caracterísico XEWRRCH! XEWRRCH!
-Ah! Socorro! Miguel!
A História de Diablocity Maria Capitão
Capítulo 8
O Resgate
Enquanto conversavam, Miguel e Juliana, não
repararam que o monstro se ia aproximando deles. O
monstro veio de Norte para o sul - onde eles estavam atraído pelo pau que mandei, surpreendendo-os. Pegou
neles e levou-os, arrastando-os pelo cachaço. Apesar
da situação, Miguel pôs a sua inteligência a trabalhar e
formulou um plano: pedir um resgate e esperar que nós
engendrássemos uma forma de o salvar a ele e à Juliana.
-Espera! - gritou o Miguel - Não queres pedir um
resgate? Ganhavas um bom dinheirinho e não precisavas
de fazer nada.
-Uh? O que é um resgate? - Respondeu o monstro.
-Um resgate é, por exemplo, o dinheiro que os nossos
amigos vão pagar para nós voltarmos para eles e tu
deixares- nos ir - Explicou pacientemente a Juliana.
-Nem pensem! Apanhei-vos por aqui a espionar e
não vos vou deixar sair.
-Mas qual é o problema? Se dissermos que vimos um
monstro ninguém vai acreditar em nós!
-Têm razão. Peçam lá o “rasguete” ou como se diz.
-Resgate!
-Isso!
Após esta discussão, o Miguel pegou no telemóvel
A História de Diablocity Maria Capitão
e mandou-me uma mensagem a dizer: “Fomos raptados
pelo monstro. Tragam 400 doces de morango com
tranquilizantes. Nós estamos bem.”
-Aonde é para entregaram o resgate? - Pergunta o
Miguel.
-Na clareira da Caveira. - Responde o Monstro.
-Aonde é isso?
-Ao pé da vossa escola.
-Hum…
-Subam à maior árvore que se encontra dentro do
pátio da escola dos rapazes e olhem para oeste. Lá verão
uma clareira. Entreguem lá.
-Ah, Ok.
“Subam à maior árvore do nosso pátio e olhem para
oeste. Lá está uma clareira. Despachem-se e arranjem
alguma armadilha para ele. Beijos Miguel e Juliana.“
Envia, o Miguel, este texto numa segunda mensagem para
mim.
-Já está. - afirma Miguel - Agora temos que lá ir ter.
-Aonde?
Perante esta resposta o Miguel e a Juliana trocaram
um olhar que significava: Este monstro é mesmo burro!
Gostava que fosse mais esperto!
-Para a clareira da Caveira!
-Para?
66
I
A História de Diablocity Maria Capitão
-Para ires receber o resgate!
-Ok. - Disse o monstro, encolhendo os ombros. Volta
a agarrá-los pelo cachaço enquanto se dirigiam para a
clareira da Caveira.
Às 20.00 todos nós nos encontrámos no portão que
separa as duas escolas. Mal nos encontrámos o meu
telemóvel começou a vibrar.
-Recebi uma mensagem… do Miguel!
-O que diz?
-Diz que ele e a Juliana foram raptados… pelo
monstro!
-O quê?
-Sim é verdade. O monstro também pede um resgate,
400 doces de morango com tranquilizantes.
-Onde raio vamos arranjar 400 doces? - Perguntaram
o André e o Jorge em simultâneo.
-Eu sei onde. Eu e o Miguel temos exactamente 500
doces guardados no nosso quarto.
-Têm?
-O pai deu 500 a cada um. Juntámos e já comemos
metade. Restam-nos 500, ou restavam, agora vamos ficar
só com 100.
-Essa parte está resolvida mas onde raio vamos nós
arranjar 400 tranquilizantes?
A História de Diablocity Maria Capitão
-O pai da Juju e da Ruffles é veterinário.
-E o que lhe dizemos? Olhe, a sua filha e o Miguel
foram raptados por um monstro e precisamos de 400
tranquilizantes para o adormecer e assim recuperá- los?
Não me parece.
Pensámos todos durante um bom bocado, mas era
difícil. Tínhamos de ter 400 tranquilizantes, não sabíamos
o que dizer para consegui-los. Não sabíamos o que dizer
para não desconfiarem do desaparecimento da Juliana e
do Miguel. Era tudo muito complicado. Mas nós tínhamos
de conseguir, afinal éramos Os Oito, (com o Rafael)
não éramos? Estava a divagar pela minha mente para
procurar uma solução para o nosso problema quando a
Rafaela interrompendo os meus pensamentos disse:
-Nós podíamos dizer que precisamos dos
tranquilizantes para Ciências! E para explicar o
desaparecimento da Juliana e do Miguel dizíamos que
eles já estavam a preparar o trabalho!
-Boa ideia!
-Então vamos!
-‘Bora!
Partimos, então para a loja do Sr. Manel, que era
o único veterinário num raio de 600 km. Também era
médico, mas como era raro haver pessoas doentes e,
muito frequente haver animais doentes, o Sr. Manel
decidira dedicar-se aos animais. A loja era no centro da
aldeia e demorámos, cerca de 15 minutos a lá chegar.
68
I
A História de Diablocity Maria Capitão
Quando começámos a avistar a loja eram já 20.30 e o
Sr. Manel fechava às 20.00, portanto supus que tivesse
havido mais clientes do que o habitual.
-Boa tarde Sr. Manel! - Gritou o André.
-Boa tarde, NeAllex! - O Sr. Manel é também o único
adulto que sabe as nossas alcunhas. Nós gostamos todos
muito dele, e ele também gosta muito de nós.
O Sr. Manel é hippie. Veste sempre uma camisola
a dizer “Salvem os animais!” na parte da frente, e na
detrás diz “Paz! Queremos paz!”. Usa sempre umas calças
largas e sandálias. Mas o que nós mais gostávamos no Sr.
Manuel era o seu cabelo. Tinha o cabelo pintado de verde
florescente, e com a parte de cima fazia uma crista e com o
resto, um rabo-de-cavalo. Era muito excêntrico.
-Queríamos comprar 8 caixas com 50 tranquilizantes
em gel, se faz favor. - Informou o André.
-Para que querem isso tudo?
-Para Ciências, a professora vai levar vários javalis
vivos e nós formamos grupos de oito. Precisamos dos
tranquilizantes para os adormecer.
-Aquela professora chanfrada! - Rimo-nos, pois o
Sr. Manuel e a professora de Ciências que também é a de
Matemática nunca se deram bem.
Tudo aconteceu quando eles tinham
aproximadamente a nossa idade. Dantes, eles eram muito
amigos e toda a gente dizia que iria dar em casamento.
Teria sido assim ,se não tivesse sido o que aconteceu
A História de Diablocity Maria Capitão
dia 29 de Maio de 1935. O Sr. Manuel era muito giro,
ainda o é, e tocava guitarra e cantava, e haviam muitas
raparigas que estavam apanhadinhas por ele, como por
exemplo, a rapariga mais popular da escola, a Isabela.
O Sr. Manuel gostava muito da Isabel (é assim que a
professora se chama) e estava a escrever-lhe uma carta de
amor, mas se enganou no nome e escreveu Isabela. Ora,
estava ele a ir corrigir o erro, quando se aproximaram os
seus ex-melhores amigos, que eram irmãos da Isabela.
Viram o nome da irmã, aproximaram-se, tiraram-lhe a
carta e leram-na. Disseram ao Sr. Manuel, que se ele não
se declarasse à irmã deles e dissesse que odiava a Isabel,
eles iriam mostrar a carta a toda a gente, e iriam dizer
que o Sr. Manuel tinha estado sempre com a Isabel para
fazer ciúmes à sua irmã, a Isabela. O Sr. Manuel pensou
no assunto, decidiu que iria dizer à Isabel que a odiava e
iria namorar com a Isabela. Tinha escolhido esta situação,
pois preferia dizer sozinho à Isabel que a odiava do que
fazê-la passar pela humilhação de pensar ter sido usada.
Então, dirigiu-se ao pátio, onde a Isabel falava com as
suas amigas, chamou-a para um canto, e com as lágrimas
a escorrerem pela cara, disse que a odiava e que nunca
mais queria falar com ela. Os anos foram passando e o
Sr. Manuel cada vez mais triste, pois não era só o facto
de namorar com a Isabela que o entristecia, era também o
facto de a Isabel, ao ter ficado com o coração destroçado
pois amava do Sr. Manuel, ter começado a fazer-lhe
ciúmes. Estava sempre com outros rapazes, e mostrou até
70
I
A História de Diablocity Maria Capitão
a rapazes, coisas que ela jurara nunca mostrar, as fotos
da primária, as cartas que ele lhe mandara e também as
fotos de quando o pai do Sr. Manuel foi preso por ter
morto e violado uma criança menor. O Sr. Manuel nunca
a perdoou por ter mostrado esta última foto. Ainda hoje
a odeia. Isto e muitas mais coisas diz-nos o Sr. Manuel
quando costumamos ir a casa dele. O Sr. Manuel dissenos, também, que se aparecesse uma mulher que ele
amasse e ela retribuísse o amor, ele divorciar-se-ia se da
Isabela (foi obrigado também pelos irmãos da Isabela a
casar com ela) e casaria com essa mulher. Não tinha medo
dos irmãos dela. Mas acrescentou que, se ele não tivesse
casado com a Isabela, nunca teriam nascido a Juliana e a
Rafaela.
-Bem esperem um bocadinho, vou buscar à
arrecadação. - Disse o Sr. Manuel enquanto se afastava
mas ainda o ouvimos resmungar entre dentes “Maldita
mulher que pensa que sabe tudo …”.
Já tínhamos cumprido metade do plano, mas
faltava ainda pedir autorização para a Juliana, e a
Rafaela “dormirem” em casa do Rafael. Quando digo
“dormirem”, quero dizer, irem à procura do monstro
connosco. Quando ele voltou, trazia oito caixas, que
pareciam e eram carregadas.
-Eu levo três e cada um de vocês leva uma. - Disse
eu.
-Mas tenho mais força do que tu, e além disso sou…
A História de Diablocity Maria Capitão
-Tentou retorquir o André.
-Não te atrevas a dizer que por seres rapaz, tens mais
força do que as raparigas! - Explodi - Qualquer rapariga,
se quiser pode ter mais força do que um rapaz! Estou farta
do racismo dos homens contra as mulheres! Queres um
braço- de- ferro para provar ou uma luta?
O André abanou a cabeça e recuou, pois sabe que
quando eu perco a cabeça, tenho muito mais força do que
qualquer outra pessoa. Não fervo em pouca água, mas
também não aguento certas coisas, como por exemplo
o machismo de homens contra mulheres, e pessoas
convencidas e estúpidas.
-Se não queres, fica calado, e não discutas. E eu levo
as três caixas se quiser!
O Sr. Manuel que ouviu tudo aproximou-se e disse:
-Tens razão Mosca. O machismo é muito falado pelas
mulheres, mas nada se resolve. Há apenas alguns países
onde já não há machismo. Infelizmente, cá não é assim.
-Bem, pai, eu queria pedir-te que me deixasses,
a mim e à Juliana, dormir em casa do Rafael o fim-de-
emana todo. - Pediu a Rafaela.
- Por falar nisso, onde está a tua irmã e o teu irmão? -
Perguntou o Sr. Manuel dirigindo-se à Rafaela a mim.
Não tínhamos pensado na possibilidade do Sr.
Manuel fazer esta pergunta por isso ficámos parados,
sem dizer nada. Foi o Jorge que consegue em situações de
perigo manter a cabeça fria que nos salvou dizendo:
72
I
A História de Diablocity Maria Capitão
-Como pensávamos que o Sr. Manuel iria deixá-las
irem para casa do Rafael, o Miguel e a Juliana já estão a
preparar as coisas.
-Ah, pensaram... Bem, por essa não vos devia deixar
ir. - Disse o Sr. Manuel.
Ficámos mudos, espantados pelo Sr. Manuel ter dito
aquilo. Sempre pensei que ele era um tipo às direitas, mas
agora, começo a duvidar.
-Estava a brincar, seus malucos! É claro que vos
deixo ir! Não pensaram que estava a falar a sério, pois
não?
-É claro que não Sr. Manuel - Menti. Todas as
dúvidas que tinha saíram-me da cabeça como um
relâmpago.
-Bem, mas não digam nada à Isabela.
-Não me dizem o quê, Manuel? - Ao ouvir isto, o
S. Manuel virou-se rapidamente e cor saiu-lhe do rosto.
Aparentemente também não conseguia dizer nada
quando era descoberto.
-Olá Sra. Isabela! Já voltou do trabalho? Correu
bem? Estás com óptimo aspecto. Tenho ali uma dúvida
nos trabalhos de casa. Pode ajudar-me? Eu sei que é uma
barra a matemática… - Ia dizendo o Rafael, à medida que
ia afastando a Dona Isabela para casa (que era pegada ao
veterinário).
A Sra. Isabela adorava o Rafael, pela forma como
este a tratava. Era só graxa, para ela deixar a Juliana e a
A História de Diablocity Maria Capitão
Rafaela brincar connosco. Enquanto a ia empurrando,
virou-se para nós e disse em voz baixa “Vou lá ter às
18.00”. Foi assim que o Sr. Manuel se livrou de ser
apanhado e nós também.
-Bem - disse eu, pegando nas quatro caixas agora que
o Rafael se tinha ido embora - é melhor irmos andando
antes que arranje algum problema por nossa causa.
-Não vais levar essas quatro caixas sozinhas Mosca.
Deixa o Ned levar uma.
-Como?
- Vou buscar um fio e prendo-o na caixa e faço uma
espécie de alça para o Ned levar na boca. - Ao dizer isto,
foi e trouxe uma corda, prendeu-a à volta da caixa e fez
uma alça.
-Ned pega na alça com a boca e vamos para casa
do André e do Jorge, sim? - Não foi preciso pedir mais
nenhuma vez: o Ned pegou na alça e foi andando para
casa.
-Adeus Sr. Manuel! - Gritámos.
-Adeus Mosca, adeus Joginhu, adeus Ned, adeus
Ruffles, adeus NeAllex! Portem-se bem!
E partimos então para a casa do Rafael preparar as
coisas para tentarmos resgatar o Miguel e a Juliana.
74
I
A História de Diablocity Maria Capitão
Capítulo 9
Vanderdecken
Entretanto, a alguns quilómetros dali, o Miguel,
a Juliana e o monstro iam andando até à Clareira da
Caveira. Ainda não tinham chegado, pois a Juliana e o
Miguel iam fazendo os possíveis para atrasar o monstro.
“Como nos iremos safar desta?”, perguntava-se a
Juliana enquanto caminhavam. “Será mesmo este monstro
um Aplocarionte? Hei-de lhe perguntar”, pensava por sua
vez o Miguel. E assim o pensava, assim o fez.
-És um Aplocarionte?
-O quê?
-Perguntei se eras…
-Ouvi o que perguntaste. Achas que sou um
Aplocarionte? - Perguntou por sua vez o monstro.
-Não, és completamente diferente de um, mas no
hospital disseram que o veneno que deste à Juliana e à
Rafaela era de um Aplocarionte.
-O mestre fez um bom trabalho. - Disse para si
próprio o monstro sorrindo.
-Uh?!
-Sou uma espécie de mistura de animais da Terra.
Os vossos animais são excelentes. O meu mestre formoume fundindo uma chita, com um Aplocarionte, com um
homem e com uma serpente. O resultado foi este.
A História de Diablocity Maria Capitão
-Como?! Isso nunca foi feito nem experimentado,
mesmo com a nossa tecnologia. Pelo menos para nós é
impossível fazer isso!!! - Acrescentou. - O teu mestre deve
ser super inteligente. Deu-te imensos “poderes”, por
assim dizer. Deu-te o poder da fala ao fundir o homem.
Ao fundir uma chita corres mais depressa que outro ser
humano. Ao fundir um Aplocarionte à mistura deu-te
um veneno incrível e uma pele que se sofreres alguma
ferida curas-te imediatamente. Finalmente, ao acrescentar
uma serpente, deu-te uma destreza enorme e uma óptima
habilidade para caçar presas. Tu és imbatível. - Concluiu
o Miguel com um ar de surpresa. - Gostava de o conhecer.
Deve ser uma pessoa fascinante.
-Obrigada.
-Como te chamas?
-Não sei. O meu mestre ainda não me disse.
-Quem é o teu mestre?
-Não digo.
-Podemos dar-te um nome?
-Claro. - Disse o monstro admirado.
O mestre tinha- lhe dito que os humanos eram
egoístas e antipáticos mas aqueles dois eram bastantes
simpáticos. Apesar de ele os ter raptado, não se
mostraram zangados nem tentaram fugir. Tinhas-lhe sido
impossível escapar pois ele era imbatível, como tinha dito
o rapaz. Era óptimo para correr, caçar, matar e além disso,
regenerava- se... Em suma, ninguém o conseguiria matar.
76
I
A História de Diablocity Maria Capitão
-Que tal El Diablo? - Perguntou a Juliana, assustandoos, pois eles tinham estado tão entretidos a falar, que nem
se lembravam que ela lá estava.
-Shiu… Nãao digaas o nnoome dele…
-Do teu mestre? - Perguntou o Miguel, olhando
para a Juliana com reprovação. O monstro fez um ligeiro
acenar de cabeça.
-Desculpa. Não voltamos a dizer. De onde vens?
Ainda há bocadinho disseste “os vossos animais”. Não
nasceste cá?
-Miguel… - Chamou a Juliana olhando para um
ponto à sua frente com terror estampado na cara.
- Vens de outro planeta? De outro sistema? Continuou o Miguel, sem prestar atenção à Juliana.
-Miguel… - Chamou novamente a Juliana, puxandolhe a camisola.
-Não sejas chata! O que é? - Ao ver que não
respondia, ia para continuar a fazer perguntas ao
monstro, quando reparou que ele e a Juliana olhavam na
mesma direcção. Seguiu os seus olhares e olhou. Desejou
não ter olhado. A visão era simplesmente aterradora.
Não vos vou contar todos os pormenores. Vou falar
mas de uma forma… geral. Iriam sonhar com ele durante
semanas, ou até meses. Eu sonhei. O sonho repetia-se dia
após dia. Ele estava-me a puxar para o Inferno. Usava
um manto vermelho que contrastava perigosamente
com a palidez da sua pele e com os seus olhos brancos,
A História de Diablocity Maria Capitão
mas com chamas dentro deles. Enquanto me puxava, os
seus olhos estavam mais brilhantes que nunca. Gritava
por ajuda e então vinham os meus amigos, mas quando
me começavam a ajudar, apareciam réplicas dele e
começavam a puxar os meus amigos lá para dentro. Então
quando estava já a ceder e os meus amigos já tinham
caído para o abismo do Inferno, ouvia sair da minha boca
as seguintes palavras:
Avat cerebromjbg:
Desttrrofvru ljisn enhgirfn mfhrug eyt ljisn fifdb enhgirfm
anfiurgj!
Jfidbs dfhfri, jdi, hegct, mfofbfu, djgoibgfjhf tãjf fjfkdh!
Kua, yuia quev arrxa ljas anhgarf vace, rraz ljis
Vanderdecken zba bolue mar!
Gtdefrf e jfhrf enhgirfm anfiurgj!
Implrgbryhe!
Avat cerebromjbg!
Nunca compreendi o significado desta oração. Após
ter dito a oração vê-se uma luz fortíssima, fecho os olhos e
quando os abro, ainda há um resto de luz, e vejo as caras
de umas pessoas. Não são humanas, mas eu reconheço-as
e chamo-as. Eles olham para mim com ternura e quando
vão a falar vê-se um clarão de luz e eles desaparecem.
Começo a chorar e é então que aparecem os meus amigos.
Vão ter comigo, também a chorar, e perguntam o que se
passa. Digo-lhes o que vi. Eles dizem que também viram,
e prometemos uns aos outros que iríamos ficar juntos
78
I
A História de Diablocity Maria Capitão
para sempre...
Estavam lá pessoas que nunca tinha visto. Como um
rapaz que se chamava Rúben, uma rapariga chamada
Benvinda, dois outros rapazes, ambos com as roupas
todas sujas e rasgadas, outro rapaz com cerca de 15 anos,
muito alto, parecido com a Benvinda e com o Rúben, e
outra rapariga. Estava lá também um rapaz que não era
humano, mas vestia roupas humanas. De resto conhecia
tudo: o Ned, o Rafael, o André, o Miguel, o Jorge, a
Juliana e a Rafaela. Depois o sonho acaba. E acordo,
ou começo a sonhar com outra coisa qualquer, sempre
disparatada.
- Boa tarde! Porque estão com essa cara de espanto? Perguntou.
A sua voz era rouca e parecia que não falava há
séculos, fazia sempre uma série de gestos antes de dizer
alguma palavra. Não sei como conseguia falar. Tinha uma
máscara na cara que a tapava toda menos os olhos. A
máscara assentava na perfeição na cara e delimitava-lhe
os contornos. Tinha também uma abertura para a boca
mas não tinha nada dentro da boca. Nem língua nem
nada. Apenas um grande buraco vazio.
-Não se cumprimenta?
-Olá - Disse a medo o Miguel.
-Boa tarde! - repetiu - Como se chamam?
-Miguel.
A História de Diablocity Maria Capitão
-E ela? Ela é muda? - Acrescentou ao ver que
a Juliana estava estática, com a boca aberta a olhar
aterrorizada para ele.
-Não, não sou! - Disse.
-Ela chama-se Juliana.
-E o que estão a fazer na companhia dele? - Ao dizer
ele apontou para o monstro que estava de olhos pregados
no chão, como se estivesse à procura de algo. Via-se que
estava embaraçado.
-Como é que ele se chama? - Interrompeu a Juliana
-Quem?
-Ele. - Respondeu, apontando para o monstro.
-Chamamos-lhe monstro, pois não sabemos o nome
dele. - Informou o Miguel.
-Monstro é um bom nome, não achas Palki?
-Ele chama-se Palki?
-É um nome fixe.
-Foi o senhor quem o criou?
-Fui.
-Fantástico! Fez um trabalho perfeito! É um herói da
Ciência e da Química. Fez um animal perfeito. Como já
disse ao Palki, o senhor deu- lhe poder da fala ao fundir
o homem, ao fundir uma chita, corre mais depressa que
outro ser humano, ao fundir um Aplocarionte à mistura,
deu-lhe um veneno incrível, e uma pele que se sofrer
alguma ferida cura-se imediatamente. Finalmente, ao
80
I
A História de Diablocity Maria Capitão
acrescentar uma serpente, deu-lhe uma destreza enorme e
uma óptima habilidade para caçar presas. Ele é imbatível.
-Obrigado.
-Como se chama?
-Chamo-me Vanderdecken, mas toda a gente me
chama El Diablo.
O nome ficava-lhe bem, naquela cara e naquele corpo.
Só o som do nome Vanderdecken causava arrepios na
pele, e punha os cabelos em pé.
-Ainda não me responderam. O que estão a fazer
com o Palki?
Eis uma pergunta difícil. Se eles lhe contassem a
verdade, estariam fritos com o Vanderdecken. O Palki
também estaria mal com a situação, pois tinha estado a
conversar com eles, apesar da advertência do mestre. O
Vanderdecken já estava a ficar aborrecido com a falta de
resposta quando a Juliana disse:
-Eu e o Miguel estávamos a andar pelo bosque
quando nos perdemos, e começámos a gritar. Apareceu o
Palki e prometemos-lhe que se ele nos tirasse daqui, lhe
dávamos 400 doces. Não é a nossa moeda, mas temos em
casa, e é o mínimo que lhe podíamos dar se nos tirasse
daqui.
O Palki olhou para ela com admiração. Então era
mesmo verdade! Os humanos eram muito inteligentes, e
sempre prontos a mentir!
A História de Diablocity Maria Capitão
-É verdade Palki?
-É sim, meu senhor.
- Bem, temos que ir andando, não é Palki? Perguntou a Juliana.
-É claro que sim.
-Já se está a pôr tarde, e queremos chegar a casa
cedo. E ainda te temos que dar os doces.
-Não se preocupem, eu tenho de me ir embora.
-Informou Vanderdecken - Até breve. Qualquer dia,
vocês podem nos ir visitar. O nosso esconderijo é no
centro deste imenso bosque. Existe uma clareira e lá está
uma gruta. Vão lá qualquer dia. Não me olhem assim. Acrescentou ao ver a cara de incredulidade do Miguel e
da Juliana. - A única companhia que tenho é o Palki e... É
só o Palki.
Também, quem diria que Vanderdecken seria
tão amigável. Até o Palki olhou para Vanderdecken
desconfiado. Não era hábito ser tão amigável. Excepto...
Excepto quando não queria fazer mal a ninguém, o que
era raro, na verdade nunca tinha acontecido, ou então
quando… Quando estava na mira de alguém ou algo.
“Deve estar com intenção de apanhar estes dois humanos.
Não! Não podia ser! Vanderdecken não podia matar estes
humanos, os seus… novos amigos.” - Concluiu Palki com
horror e pena...
Para Palki a Juliana e o Miguel eram como dois
amigos que nunca teve, nem nunca sonhara a vir ter.
82
I
A História de Diablocity Maria Capitão
Não podia permitir que Vanderdecken destruísse os seus
novos amigos humanos. Mas… Palki não era nada contra
Vanderdecken. Vanderdecken era indestrutível e Palki era
apenas um monstro. Sim, Palki era um monstro. Era uma
mistela de animais. Feito do homem, de um Aplocarionte,
de uma serpente e de uma chita. Palki queria salvar os
seus amigos, mas não sabia como o fazer. Vanderdecken
era uma criação do Diabo. Vanderdecken era na verdade
filho do Diabo. Como destruir o filho do Diabo? E se o
conseguisse destruir, Palki, ou quem quer que tivesse
destruído Vanderdecken, sentiria a raiva do próprio
Diabo.
Era impossível. Tudo isto pensava Palki, enquanto
olhava para Vanderdecken.
- Qualquer dia iremos visitá-los. Prometemos. Disseram em coro a Juliana e o Miguel.
O Miguel fazia figas, mas a Juliana não. Sentia
afecto pelo Palki. Sabia que se dissesse ao Miguel, ele a
gozaria. Palki era amigável e simpático. Embora a tivesse
assustado e à Rafaela, Juliana sentia agora afecto pelo
Palki. Decidiu guardar estes sentimentos para dentro,
apenas os contaria ao Rafael. Ele compreendia. Aceitava
as suas ideias, e Juliana sentia-se próxima dele. Eram
muito próximos, mais próximos ainda do que simples
amigos. Contavam tudo um ao outro.
-De acordo. - Concordou Vanderdecken. - Adeus.
E com um estalar de dedos, Vanderdecken
A História de Diablocity Maria Capitão
desapareceu. A seguir ao seu desaparecimento, seguiu-se
um incómodo silêncio, quebrado pelo Palki.
-Obrigado.
Apenas disse isto, mas a Juliana sentiu que ele estava
mesmo agradecido.
-Nós é que agradecemos. A maior parte da história é
verdadeira. Excepto a par…
-Excepto a parte em que vocês estavam perdidos.
Vocês foram raptados. Eu raptei-os. - Disse o Palki Quero pedir-vos desculpa… a sério. Desde que o meu
mestre me criou, que só me ensinou a ser mau, e que
os humanos eram egoístas e antipáticos. Parece que Ele
estava enganado. Vocês são muito simpáticos e realmente
altruístas. Desculpem.
Provavelmente qualquer um de vocês não acreditaria
neste discurso, mas a Juliana acreditou. Sabia, tinha a
certeza, que no fundo daquela mistela de raças, estava um
coração puro, que queria ser bom, e ser aceite por todos.
Essas foram as razões que levaram a Juliana a acreditar
nele. Mas havia outra coisa. A Juliana nem suspeitava,
mas começava a sentir algo pelo Palki. Havia uma parte
dela,que o queria odiar por a ter mordido e à Rafaela, mas
havia outra parte dela que queria simplesmente amá-lo.
Sim, amá-lo. Não gostar, amar. Mas ela nem suspeitava
que sentia isso. Pensava apenas que gostava dele por
amizade mas uma amizade muito forte. Ainda não o
amava, mas lá bem no fundo, tinha a certeza que gostava
84
I
A História de Diablocity Maria Capitão
dele. Podem perguntar-se “Como é possível a Juliana
gostar dele?”. Como é possível gostar de um monstro?
Como é possível gostar de um monstro com quatro
braços, pele cor da chita, olhos azuis, nariz, orelhas e boca
estranhamente humanos? Simples. Nunca ouviram o
provérbio “As aparências iludem” ou “Quem vê caras não
vê corações”? Neste caso é mais ao contrário. No caso da
Juliana e do Palki seria “Quem vê corações, não vê caras”.
Espero que eles sejam muito felizes, se o Palki gostar dela.
Mas acho que gosta.
- É claro que te desculpamos. Aliás, tu não tens
culpa nenhuma. O Vanderdecken ensinou-te a ser assim,
e devias sentir-te feliz por teres parado a tempo para
mudares. Para sentires que te desculpamos, porque não
nos contas algo sobre Vanderdecken? - Parou para lhe
dar tempo de absorver e continuou - Não te preocupes.
Confio em ti. - Disse a Juliana, pondo-lhe a mão no braço.
- Obrigado. - Respondeu Palki e lançou-lhe um
olhar de agradecimento tão profundo que a Juliana ia
desmaiando. Definitivamente a Juliana gostava mesmo
dele, embora nem ela, nem ele soubessem.
-Bem, e agora como é? Vais deixar-nos ir para casa,
ou quê? Queres a tua recompensa?
-Não é preciso. Sabem, não sei se vão acreditar em
mim, mas eu gosto de vocês, para mim, vocês são como
amigos. Apenas queria que me dessem um pouco de
comida.
A História de Diablocity Maria Capitão
-Eu acredito em ti. Também gosto de ti como amigo.
-Então leva-nos daqui para fora, vamos para nossa
casa e alimentamos-te lá. - Como que sentisse que o Palki
estava a invadir o seu território, e a sua relação com a
Juliana acrescentou - Temos lá uns doces maravilhosos.
Temos 400.
A Juliana não sabia que o Miguel tinha dito aos
outros para porem tranquilizantes nos doces e concordou
com a ideia.
-Óptimo. Agora vamos lá para a Clareira da Caveira.
E foram-se dirigindo para a Clareira da Caveira,
agora mais apressadamente.
“Parecem tão inocentes” pensou Vanderdecken
enquanto via Palki, a Juliana e Miguel a dirigirem-se
para a Clareira da Caveira. Sem nenhum dos três saber,
Vanderdecken não tinha desaparecido. Apenas tinha
estalado os dedos, posto o manto à sua frente e saltado
para cima da árvore que se encontrava por cima. Tinha
ouvido toda a conversa, e já tinha decidido que ia castigar
Palki. Não o mataria pois ele era muito importante,
apenas o castigaria por ele ter começado a gostar dos dois
humanos e por ter aceitado a comida deles. Sabe-se lá
o que poriam eles na comida. Mas, vá lá, não tinha dito
nada sobre ele, Vanderdecken nem sobre os prisioneiros.
Também castigaria os humanos, sobretudo aquela
rapariguinha insolente. Vanderdecken sabia quais eram
todos os sinais de uma pessoa apaixonada e tinha visto
86
I
A História de Diablocity Maria Capitão
que a rapariguinha tinha começado a gostar de Palki.
E que, infelizmente para Vanderdecken, Palki,
também começara a sentir afecto por ela, o que era a
novo para ele. Tinha de impedir aquele amor, o quanto
antes. Quando Vanderdecken criou Palki, sabia que
havia um senão, e que havia uma forma de ele voltar
a humano. Sim, voltar a humano. Sem ninguém saber
de nada, apenas Vanderdecken sabia, Palki era o filho
dele. Vanderdecken tinha engravidado uma mulher da
terra. Tinha usado o disfarce de um homem muito rico e
poderoso. Vanderdecken tinha-se apaixonado por essa
mulher. Quando já estava suficientemente apaixonado
por ela, para ter coragem de mostrar a sua verdadeira
forma, Vanderdecken mostrou-lhe, e arrependeu-se
de o ter feito. Ela fugiu, e eles já tinham um filho em
comum. Chamava-se Palki. Ele ficou com o filho, e com
o passar do tempo, o filho ia-se parecendo mais com a
mãe, e como Vanderdecken não se queria lembrar da
mãe do garoto, no entanto queria um homem forte e
valente, apenas fundiu uma chita um Aplocarionte e uma
serpente. Gostava dele como se fosse seu filho, e era seu
filho. Mas nunca iria dizer lhe. Teria muita vergonha. Era
por isso que Vanderdecken odiava os humanos. A sua
ex-namorada tinha o abandonando, deixando-o com um
filho nos braços. Não confiava nos humanos. E não queria
que o filho sofresse como ele sofreu.
Vanderdecken era um humano, mas o pai dele, que
era o Diabo tinha sofrido também mas às mãos da mulher
A História de Diablocity Maria Capitão
de Deus. Sim, não sabiam? Deus é casado. E a sua mulher
já esteve casada com o Diabo, mas abandonou-o com
um filho nos braços, o Vanderdecken. O Diabo sofreu e
transformou o seu filho Vanderdecken praticamente num
monstro.
Quando Vanderdecken fez 18 anos, o diabo disselhe para ter cuidado com as mulheres. Vanderdecken
não ligou e conheceu humanos. Apaixonou-se e sofreu.
E fez o mesmo que o diabo tinha feito ao Vanderdecken.
Transmorfou-o. E Vanderdecken não queria que o filho
sofresse. Vanderdecken tinha sido fundido com um
macaco, uma víbora e uma tarântula. Todos pensavam
que Vanderdecken era imortal, mas era mentira. Tal como
todos pensam que o Diabo é imortal.
Frankosfti - inimigo mortal de Vanderdecken - tinha
enriquecido ao criar umas pistolas que destroem tudo e
todos. Se acertar no coração mata as pessoas que tenham
sido transmorfadas. As restantes “pessoas” morrem com
uma bala em qualquer parte do corpo. Pessoas entre aspas
porque Vanderdecken, o Palki e os que habitam o espaço
não são pessoas: são extraterrestres. No entanto, também
há as que foram transmorfadas que eram pessoas, mas
agora já não são nem pessoas nem extraterrestres. Estão
algures no meio.
Se não fosse o Palki, Vanderdecken já tinha morrido
há anos. Estava-lhe profundamente agradecido por lhe ser
tão prestável e por nunca ter tentado fugir. Vanderdecken
sabia que qualquer dia teria de contar a Palki as suas
88
I
A História de Diablocity Maria Capitão
origens, mas esse dia ainda estava muito longe. O seu
pai, o Diabo já lhe tinha dito várias vezes para contar ao
Palki. O próprio Diabo quando Vanderdecken fez 15 anos,
contou-lhe que tinha sido fundido e que era seu filho.
Vanderdecken aceitou muito bem, achou muito fixe ser
filho do Diabo e ter sido fundido com animais mortíferos.
Tinha de eliminar aqueles humanos patéticos,
poderiam fazer sofrer o seu filho, e isso Vanderdecken
nunca perdoaria. Podiam matar ou fazer sofrer
Vanderdecken, mas nunca na vida alguém iria magoar
o seu filho. “Irei arruiná-los… Hum… os humanos
costumam ser muito ligados aos seus animais de
estimação… Especialmente aos cães… Será que têm
algum animal?...” ia pensando Vanderdecken com
malvadez.
A História de Diablocity Maria Capitão
Capítulo 10
Lyla
Lentamente, Vanderdecken começou a se lembrar de
um episódio da sua vida que tinha ocorrido há muitos
anos.
Quando o Diabo quando soube que Vanderdecken
tinha sofrido às mãos de uma mulher, quis matar essa
mulher, mas Vanderdecken não achou boa ideia, porque
apesar de tudo, ele ainda a amava. Disse ao pai que não
valia a pena, que já não gostava dela, mas todos os dias
livres, seguia-a com diferentes disfarces. Mas num dia
ocorreu uma catástrofe.
Vanderdecken seguiu-a, como todos os dias excepto nos dias em que não podia, que eram às terças e
aos sábados porque tinha que ajudar o seu pai -, e sabia
de cor todos os seus movimentos. Seguiu-a numa terçafeira, um dia em que normalmente trabalharia, mas tinha
tirado folga pois prometera a si próprio que era a última
semana que a seguiria e que depois iria deixá-la seguir a
sua vida. Nesse dia ela dirigiu-se para outro lugar, parou
na casa de um senhor com idade à volta dos 28 anos, e
quando ele a viu, foi ter com ela e beijou-a. Vanderdecken
ficou escandalizado! A raiva começou a apoderar-se do
seu corpo. Vanderdecken estava escondido atrás de um
autocarro e ao ver o rapaz beijá-la, sentiu o seu corpo a
vibrar, e com toda a força do macaco, saltou uma altura
A História de Diablocity Maria Capitão
de 2 metros e 20 metros de comprimento. Saltou, e foi
parar a uma árvore, na qual de baixo estavam eles. Com
o poder da tarântula, fez uma teia de aranha gigante e,
novamente, com o poder do macaco, nasceu-lhe uma
cauda e com ela agarrou o rapaz e prendeu-o na teia de
aranha.
É claro que ele se fartou de gritar, e Vanderdecken
mandou-o calar. Olhou para a sua ex-namorada e disselhe:
-Preferes este troglodita a mim? Era assim tão feio?
-Conheces este homem, Lili? Põe-me no chão!
-Põe-o no chão. - Pediu Liliana
-Lili. - Cuspiu Vanderdecken. Ao ouvir o pedido de
Liliana, Vanderdecken, fez um gesto rude e o rapaz, caiu
no chão.
- Sim conheço. Não tinha este aspecto… Era um
homem mais novo, muito mais novo, e usava um disfarce.
A sua verdadeira cara é nojenta. Aliás, esta é a sua
verdadeira cara, agora que vejo bem… Quando a vi, fugi
logo, e abandonei o nosso filho. - Disse Liliana.
Liliana tinha reconhecido Vanderdecken sem
dificuldade. A sua voz, áspera e rude, era fácil de
relembrar. Tal como a sua cara tapada, apenas com os
olhos e o buraco vazio da sua boca à vista.
-Sim é verdade. Mas agora, se eu não posso ser feliz
contigo, ninguém pode! Morre, seu verme nojento!
92
I
A História de Diablocity Maria Capitão
E utilizando os poderes da tarântula e da víbora em
conjunto, Vanderdecken saltou para o rapaz tentando
mordê-lo. Teria mordido o rapaz se Liliana não se tivesse
atirado para a frente e se tivesse sacrificado em vez dele.
Cego de tanta raiva, Vanderdecken mordeu a primeira
coisa que lhe apareceu à frente, o que infelizmente foi o
braço de Liliana.
-Lili! - Assim acabou por morder Liliana fazendo
com que esta tivesse uma morte lenta e dolorosa.
Ainda estava viva, quando Vanderdecken e o rapaz se
debruçaram sobre ela.
-Lili? Estás bem?
-Estou... Apenas tenho muitas dores.
-Não fales querida. Vamos levar te para o hospital.
-Ela não irá sobreviver. - Disse Vanderdecken com os
olhos cheios de lágrimas.
-Quer que ela morra, é?
-É claro que não quero! Mas… ela tem veneno de
uma tarântula e de uma víbora no corpo…
-Não discutam. Sinto que estou quase a morrer, e
quero vos dizer algumas palavras antes.
-Vanderdek - Liliana sempre o tratara assim.
-Sim, Lyla? - Vanderdecken sempre tratara Liliana
assim.
-Quero que saibas que entrei em pânico quando vi
a tua verdadeira cara. Amava-te, mas entrei em choque.
A História de Diablocity Maria Capitão
Passados alguns dias de te ter abandonado, percebi que
tinha cometido um enorme erro. Quis voltar atrás e falar
contigo, mas tinhas partido para o Inferno, onde vive o
teu pai. Entretanto conheci o Sérgio e apaixonei-me por
ele. Ainda te amo, sempre te amarei. Mas agora gosto
do Sérgio, e é com ele que eu estou. Pensava que tinha
muitos anos antes de morrer... Que, qualquer dia, ainda te
iria ver outra vez, e que iríamos viver juntos muito felizes
com o Palki. Como está o nosso filho?
-Está muito bem.
-Ainda bem. Diz-lhe que o amo muito, e que nunca
me esqueci dele, ao longo destes anos todos. Sérgio Virou-se para ele que tinha os olhos cheios de lágrimas
-Sérgio, eu gosto mesmo muito de ti. Pensei que íamos
namorar durante mais tempo mas afinal, só namorámos
durante três meses. Foi bom enquanto durou. - Calou-se
durante uns momentos para ganhar fôlego - Agora está na
minha hora. Por favor, deixem-se de brigas e discussões.
-Pediu - Vivam as vossas vidas à vossa maneira, sem
se lembrarem sequer um do outro. Se não se deixam de
brigas por vocês, deixem por mim, entendido?
-Sim, Lili.
-Sempre farei o que quiseres Lyla. Lamento ter sido
eu a fazer com que morresses. Estava mesmo de cabeça
quente e apenas queria que o Sérgio pagasse. Sempre te
amei e sempre te amarei. Desculpa. Não mereço qualquer
perdão. - Lamentou-se baixando a cabeça.
94
I
A História de Diablocity Maria Capitão
-Mereces o meu perdão. - Disse ela, levantando- lhe
a cabeça. - Mesmo sabendo que vou morrer, estou feliz.
Feliz por saber que me amas e que eras capaz de matar
por minha causa, e feliz porque tenho a certeza que para
onde quer que vá, estarei muito melhor. Aqui estava
dividida entre duas maravilhosas pessoas e lá não estarei.
Estarei sempre a vigiar-vos, prometo.
-Amo-te muito, Lyla.
-Amo te muito, Lili.
-Estou a perder as forças. Adeus Vanderdek. Cuida
do nosso filho, e cuida de ti. Adeus Sérgio. Cuida de ti... -
E com um último suspiro, Liliana caiu no mais profundo
e silencioso dos sonos. Durante alguns minutos, nenhum
deles abriu a boca. Foi Vanderdecken quem quebrou o
silêncio.
-Bem gostei de te conhecer. Vou levar a Lyla comigo.
Conheço um sítio, onde ela repousará para sempre, e
nunca a incomodarão.
-Nem penses! Lili ficará aqui, onde pertence.
-Não! Irá comigo!
-Comigo!
-Oiça… se Lyla aqui estivesse escolheria ir comigo.
-Para onde a levarias?
-Para o céu. - Mentiu.
-Então leva-a. - Disse, acariciando-lhe a face pela
última vez, tentando em vão reprimir as lágrimas.
A História de Diablocity Maria Capitão
-Adeus. - E pegando no corpo leve e suave de Lyla,
Vanderdecken levantou-a e desapareceu.
Foi para uma colina onde gostava de ir quando era
criança. Situava-se na Toscana. Subiu a colina, cavou um
buraco e pô-la cuidadosamente lá dentro. Tapou o buraco,
pegou num pedregulho, pô-lo em cima de onde estava
o corpo de Lyla, e com uma pedra escreveu as seguintes
palavras:
Aqui jaz Lyla, uma mulher cheia de garra, alegre e que
estava entre dois amores.
Descansa em paz, meu amor.
Desejos de uma vida melhor aí em cima de Sérgio, Palki e
Vanderdek.
Amamos-te muito Lyla.
Adeus…
Enquanto escrevia as palavras, lágrimas escorriam
pela cara de Vanderdecken. Iria tomar conta do filho, tal
como tinha prometido à ex-namorada!
Vanderdecken pensava sempre neste dia. Era esta e
outras razões que o levavam a proteger o filho. Apenas
queria que ele fosse feliz. De repente, Vanderdecken
abriu os olhos, como se acordasse de um longo sonho.
Lembrava-se de tudo, como se tivesse passado ontem, ou
até nesse próprio dia. Ainda conseguia ouvir as palavras
de Lyla na sua cabeça… Pestanejou muito depressa para
96
I
A História de Diablocity Maria Capitão
evitar que as lágrimas caíssem. O seu pai, Diabo, poderia
estar a vigiá-lo e seria uma desonra para ele, ver o seu
filho a chorar.
Mas, primeiro que tudo, o que estaria Vanderdecken
a fazer em cima de uma árvore? E quem seriam aqueles
três vultos indistintos que vagueavam ao longe? Não se
lembrava, naquele momento apenas ouvia a voz de Lyla,
a dizer- lhe: “Amava-te muito mas entrei em pânico...
Adeus Vanderdek. Cuida do nosso filho e cuida de ti.“
O seu nome sempre parecera tão suave ao ser dito
por Lyla… Vanderdek… Parecia mágico, uma fórmula
mágica, ou algo assim. Então Vanderdecken soube o que
fazer, iria proteger o filho, e iria cuidar dele, como lhe
tinha pedido Lyla. E se alguém, ou algo se atrevesse a
fazer- lhe mal, iria enfrentar as consequências.
Mas, havia um pequenino problema, ele não sabia
quem era o filho.
A História de Diablocity Maria Capitão
Capítulo 11
Os Extraterrestres
De repente, Vanderdecken olhou para o céu, para
um ponto específico, e a cara de seis pessoas vieram-lhe à
cabeça: a cara de seis extraterrestres. Benvinda, Alemão,
Frankosfti, Indianaly, Joana e Rúben. E sentiu uma raiva
incontrolável
Frankosfti tinha 53 anos, Indianaly tinha 54, a
Benvinda e o Rúben tinham 14, (eram gémeos falsos), e
o Ricardo (Alemão para os amigos) e a Joana tinham 16.
Frankosfti e Vanderdecken eram inimigos desde que se
lembravam. Discutiam por tudo, e faziam competições
sobre tudo.
Conheciam-se desde que nasceram. Vanderdecken
achava que na vida, Frankosfti tinha tido mais sorte que
ele. Frankosfti tinha casado e tinha tido quatro filhos,
era dono de metade do Universo, e tinham dois mundos
só deles, Indianapólis, e Frankostipólis. Como o nome
indica, Frankosfti era dono de Frankostipólis, e a sua
mulher, Indianaly, era dona de Indianapólis.
Vanderdecken tinha tido uma namorada, tinha-a
morto, tinha tido um filho, mas não sabia dele. Em
acréscimo, era filho do Diabo, portanto todos pensavam
que ele era muito mau. E tinham razão, corria maldade
pelas veias do Vanderdecken antes de se lembrar de Lyla.
Esse foi o remédio para a maldade de Vanderdecken. O
A História de Diablocity Maria Capitão
que ninguém sabia era o porquê de o Diabo ser tão mau…
Alguns pensam que o Diabo nasceu mau, outros que ele
ganhou a maldade.
A 1ª hipótese está muito longe da verdade. E a
segunda hipótese, essa já está mais perto da verdade. Mas
não pensem que ele a ganhou como um vírus. Nada disso.
Vou contar-vos tudo a seguir...
Deverão estar a estranhar a súbita perda de memória
de Vanderdecken, mas ele, ao pensar em Lyla, e recordar
aquele dia esqueceu-se completamente do presente. Na
realidade, ele não se esqueceu… Apenas… as memórias
mais recentes tinham-se alojado num canto remoto da
mente dele e neste momento recusava-se em recordá-las…
Apenas se lembrava que era filho do Diabo, pois uma
pessoa que fosse filha do Diabo não se esqueceria assim
tão facilmente, pois não? Não pensem que o Diabo era
mau para Vanderdecken. Antes pelo contrário. Existem
muitas pessoas que temem o Diabo, pois dizem que ele é
mau, que ele é a encarnação do mal. Mas não é.
O Diabo controla o Inferno, pois mandaram-no
controlar o Inferno. Deus controla o Céu, pois mandaramno controlar o Céu. Eles são iguais. As diferenças são
mínimas: um controla o Inferno e outro, o Céu. No
entanto e após tanto tempo assim, passaram eles próprios
a ser a personificação do Bem e do Mal.
Na realidade, Deus não criou o mundo sozinho.
100
I
A História de Diablocity Maria Capitão
Criou-o com a ajuda do Diabo. Eram amigos, e ainda
seriam se Deus não tivesse tido ciúmes por uma coisa que
pensava que era do Diabo, mas que ele não a desejava…
Isso magoou profundamente o Diabo. E nunca mais
voltou a falar com Deus.
Voltando ao que estava a dizer... Deus construiu o
mundo juntamente com o Diabo. Quando o acabaram
de construir, sentiram-se felizes, e realizados. Ambos
decidiram que a Terra tinha de ser habitada, por isso,
criaram um ambiente ameno para que os seres que iriam
habitar o planeta evoluíssem. Os seres evoluíram para
macacos e com o passar dos séculos para humanos.
Deus e o Diabo estavam muito felizes com o que tinham
criado e continuaram felizes, até que alguns dos humanos
começaram a praticar o mal, e outros a praticar o bem.
Decidiram que quando morressem os que tinham
praticado o bem iriam para o Céu e os que tinham
praticado o mal iam para o Inferno. Não ficou logo
decidido quem iria castigar ou congratular quem.
No início até tinha ficado previsto ser Deus a
controlar o Inferno e o Diabo controlar o Céu. Mas
depressa notaram que não eram feitos para isso. Deus era
demasiado benevolente com as pessoas que iam parar ao
Inferno, e o Diabo demasiado duro para com as pessoas
que iam parar ao Céu. Reuniram-se e estiveram muito
tempo a discutir sobre o que seria melhor, quando de
súbito, apareceu uma estranha figura feminina.
Essa figura era Linbéladis, a rainha do nosso
A História de Diablocity Maria Capitão
Universo, a rainha do Sistema Solar. Dizer que ela era
linda, era um insulto à sua beleza. Era leve e graciosa,
a sua pele mais branca do que a própria neve. Os
cabelos eram brilhantes, suaves, negros como o carvão,
e quando a luz do sol tocava nos seus cabelos, o cabelo
resplandecia, a sua tonalidade ia de dourado a vermelho.
Os seios eram proeminentes e trajava um vestido que
aumentava a sua beleza, fazendo um corte em v sobre as
suas graciosas pernas. Era uma visão arrebatadora.
Tinha sido Linbéladis a causa da ruptura da amizade
de Deus e do Diabo. Eles tinham reatado a amizade mas
depois voltaram a separar-se, desta vez para sempre. Ela
apareceu diante deles, como que por magia e disse-lhes
na sua voz suave e bela:
-Estão aí há séculos a discutir por nada. Não
compreendem que enquanto estão a desperdiçar o vosso
tempo aí a palrar e a discutir por nada, há vidas que
precisam de ser salvas? Há pessoas que precisam de ser
castigadas.
-Quem és tu para vir aqui julgar quem quer que seja?
-Reclamou o Diabo
-Não me conhecem? Não me admira que a minha
fama não tenha chegada a este pobre mundo. Até tenho
pena dele, vejam lá! Cheio de máquinas, coisas que
prejudicam o planeta. Olhem para o Universo. Não vêem
como é lindo?
-Sim vemos. Mas isso não é para aqui chamado.
102
I
A História de Diablocity Maria Capitão
Quem é a senhora? - Voltou a perguntar o Diabo,
sentindo-se tudo, menos encantado ou rendido pela
Linbéladis.
-Não me conhecem? Sou Linbéladis, a rainha do
Sistema Solar. A minha mãe, Cassiópia, é rainha deste
Universo e de todos os outros. Quando morrer, passará
tudo para mim e, sabem…
-Mas… Mas minha querida senhora, o que estamos
para aqui a palrar, como diz é um assunto muito
importante. - Interveio Deus.
-Ele tem razão. Estamos a discutir sobre quem irá
cuidar das pessoas que vão para o céu, e das pessoas que
vão para o Inferno. Já tentámos, mas não correu bem.
Deus é demasiado brando com as pessoas que vão para o
Inferno e eu sou demasiado bruto para as quer vão para o
Céu.
- A minha ideia era juntar os que vão para o Inferno
e os que vão para o Céu. Que lhe parece, minha belíssima
senhora? - Perguntou Deus, que tinha ficado encantado
com Linbéladis.
-Que horror de ideia! Os maus matariam e
escravizariam logo os bons!
-Então! Aqui não existem os bons ou maus! Trata-
se de quem praticou o mal na sua vida e quem praticou
o bem. Não lhe admito que fale assim dos humanos!
Não os vais rotular por uma coisa que fizeram! Eles são
exactamente iguais a si, ou melhor, você é uma rainha
A História de Diablocity Maria Capitão
toda emproada com a mania que é a melhor. Apenas diz
que criou o Sistema Solar, o que duvido. - Parou para
tomar fôlego e continuou as acusações - Apenas poderia
ter criado um planeta, que já não é considerado planeta.
Sabe qual é? Plutão. Porque Plutão não tem vida, é
afastado do sol. - Continuou - O segundo planeta mais
afastado do sol e mais próximo de você, seria a sua mãe,
que se calhar é tão ou mais emproada que você, mas
posso estar errado. A sua mãe pode ser uma simpática
e humilde senhora. Só não sei o que fez para que você
seja tão vaidosa. Nós criámos a Terra, um planeta cheio
de vida e alegria. Usámos toda a nossa energia. Cresça e
apareça! - Exclamou, com um brilho de fúria nos olhos.
-Diabo! Meu Deus! Desculpe-nos imenso, minha
caríssima senhora. O meu amigo Diabo não sabe o que
diz. - Pediu um envergonhado Deus.
-Sei sim. Tudo o que disse é o que eu sinto! Não
suporto pessoas convencidas e emproadas, com a mania
que são os melhores.
-Tem razão. - Admitiu Linbéladis.
-O quê?
-Disse que tinha razão. Sou uma pessoa super
emproada, vaidosa e convencida.
-Ah… Ok.
-Parece surpreendido.
-E estou. Nunca uma mulher me tinha deixado
ganhar uma discussão, não depois de ter feito tantas
acusações sem fundamentos.
104
I
A História de Diablocity Maria Capitão
- Pois, mas eu não sou uma mulher como da terra
ou das deusas. Criei o Sistema Solar, e também Plutão,
admito. - Ao fazer referência a Plutão, as faces do Diabo
ficaram vermelhas.
-Perdoe-me por ter sido tão directo, e parvo.
-Não faz mal. Adoro homens directos e que dizem
coisas que não são verdade.
Se era possível ficar ainda mais corado, O Diabo
ficou. Sabendo que estava a perder terreno contra o
Diabo, para conquistar Linbéladis, Deus disse:
-Mas o Diabo não tem razão. É linda, querida,
simpática, não é vaidosa. Fala sobre o que é, e é até
bastante modesta.
-Não me venha aqui a tecer elogios, que isso enoja!
Nesse súbito instante, ouviu-se um sino ao longe.
-Lamento muito, mas tenho de me ir embora. - Disse
Linbéladis,
-Já?! - Exclamou, não Deus que tinha ficado
ofendido, mas sim Diabo
-Sim. Lamento muito. Para resolver o vosso
problema, sugiro que controlem ao contrário. O Diabo
controla os do Inferno, e Deus os do Céu. Adeus, meus
queridos amigos - Disse olhando para Deus e para
Diabo. - Voltarei um dia para falarmos mais. Combinado?
Apenas posso vir às Terças, às Quintas e aos Sábados.
-Fixe! - Exclamou o Diabo.
A História de Diablocity Maria Capitão
-Oh não... - Lamentou Deus
- Não estás contente por eu vir, caríssimo Deus? Perguntou Linbéladis, fingindo estar aborrecida.
-Claro que sim, mas as Terças, Quartas e Quintas
são as folgas do Diabo. As minhas são Sexta, Segunda e
Quarta... Ao Domingo não há trabalho.
-Lamento muito, mas são só esses os meus dias de
folga.
-Depois conto-te tudo. - Prometeu o Diabo.
-Não posso faltar ao trabalho?
-Não. Toca a trabalhar.
-Mas hoje é Domingo. - Resmungou Deus. Voltandose para Linbéladis perguntou - Porque está aqui?
-Ah...
“Venha imediatamente, menina rainha. Fugiu da
escola quando estava a ter psicologia, mas encontrámo-la.
Já para casa! A sua mãe, está à sua espera”, ouviu-se ao
longe.
-Ups... Aí está a razão de cá ter vindo hoje.
-Que idade tens? - Perguntou Deus.
-Tenho mesmo de dizer?
“Menina Linbéladis! Ainda tem de preparar a festa
dos seus 16 anos”, fala uma voz desconhecida novamente.
-Ups...
-Já és tão nova e tão reguila!
106
I
A História de Diablocity Maria Capitão
-Engraçadinho... Até Terça, Diabo! - E com um súbito
clarão, desapareceu.
-É mesmo reguila! - Exclamou o Diabo
-E tu a roubares-ma!
-O quê?
-Sim, tu! Atirares-te a ela e tudo!
-Eu? Tu é que começaste a chamar-lhe linda e tudo!
Eu chamei-lhe nomes! Merecia uma chapada bem assente.
-Pois merecias. Ela era, é linda.
- É linda.. mas é muito estranha. - Retorquiu o Diabo
continuando como se não o tivesse ouvido. - Segunda não
vou trabalhar. Vou investigar umas coisas. E podes ficar
com ela à mesma. Não a quero para nada. Fica com ela!
-Exclamou vendo o olhar céptico de Deus. - Não a amo,
nem nunca a amarei.
Assim o disse, assim o fez. O Diabo foi investigar
a vida de Linbéladis. Procurou pela filha de Cassiópia
e dizia que apenas tinha uma, a Liliana. Achou muito
estranho e foi visitar Cassiópia. Quando o viu, Cassiópia
disse, muito admirada:
-Que fazei vós aqui, meu caro Diabo? Há algum
problema com os seres do Vosso Planeta?
-Não, nenhum problema… - Desculpe a minha
impertinência, mas vós tendes algum filho?
-Sim tenho. Não a conhece?
-Não, minha adorada senhora.
A História de Diablocity Maria Capitão
-Espere um pouco. Liliana! - Chamou Cassiópia.
Após o grito de Cassiópia, apareceu uma bela
rapariga, com um traje à chinesa.
-Chamou minha mãe?
-Sim, minha querida. Este jovem - apontou para o
Diabo - perguntou-me se tinha alguma filha. E respondi
que sim.
-Porque perguntou à minha mãe se ela tinha alguma
filha?
-Hum… a história é um pouco longa.
-Conte, por favor. - Disse Cassiópia, sentando-se.
-Está bem. Conhecem Linbéladis?
-Nem me fale dessa pessoa!
-Porquê?
- Ela era uma bela e jovem sereia, (as sereias nunca
envelhecem), e era a líder das sereias. Um dia, ela
cometeu o pecado fatal. Muitas pessoas dizem que
as sereias levam, por meio de canto, os barcos contra
os rochedos. Isso é mentira. Nunca fizemos isso, nem
tencionamos fazer.
- Tencionamos? A senhora é uma sereia? Interrompeu.
-Sim, mas podemos estar três dias sem a cauda.
Porque pergunta?
E em poucas palavras, o Diabo explicou-lhe tudo.
108
I
A História de Diablocity Maria Capitão
-Ela é uma safada. Se não estivesse tão atarefada,
e se ela não sentisse a minha presença à distância, iria
mandá-la embora do Sistema Solar. O Diabo podia fazêlo.
- Continuou, pensativa.
-Eu? - Exclamou admiradíssimo - Mas, eu não tenho
poderes para tal coisa.
-Eu sei disso, mas dou-lhe poderes temporários para
a enxotar.
-Muito obrigado. E desculpe ter vindo sem avisar.
-Não faz mal.
Na Terça- feira, como prometido, Linbéladis apareceu
e o Diabo agarrou-a pelas costas e gritou :
-Agora! - Chamada pelo Diabo, Cassiópia apareceu,
furiosa.
-Olá Linbéladis. Pensei que te tínhamos dito que não
te queremos cá mais.
-Larga-me! - Gritou Linbéladis, esperneando.
-Querias! Como te atreveste a denegrir a imagem deCassiópia e a mentir descaradamente? És
horrível. Estás
a sujar o nosso planeta. - Quando o Diabo mencionou
que Linbéladis, linda como tudo, estava a sujar o planeta
Terra, deu-lhe uma raiva incontrolável, libertou-se e
começou a bater no Diabo e a arranhar- lhe a cara.
-Sai imediatamente do Sistema Solar! - Gritou
Cassiópia!
E com um grande estrondo, a rainha Linbéladis
A História de Diablocity Maria Capitão
desapareceu, desta vez para sempre. O Diabo voltou para
ao pé de Deus, e como tinha as roupas toda rasgadas,
graças a Linbéladis, Deus pensou logo o pior.
-Ela espancou-te?
-Bateu-me, mas Cassiópia mandou-a para outro sítio
qualquer.
-Ela é uma vigarista.
-Que horror! Sempre a achei uma imbecil!
-Mentiroso!
-Vamos continuar?
-Para quê? Já sabemos o que fazer! Trocamos.
Amanhã eu vou para o Inferno. Tu descansa. Mas se mais
alguma vez me voltas a chamar de traidor e a insinuar
que me interesso pró uma mulher qualquer… - Ameaçou
o Diabo enquanto ambos desapareciam.
Linbéladis viveu infeliz para sempre. Foi obrigada a
viver para o resto da sua longa vida numa gruta debaixo
do mar, no fundo dos oceanos, trabalhando para o
Poseidon, deus dos Mares.
110
I
A História de Diablocity Maria Capitão
Capítulo 12
O verdadeiro Monstro
-Finalmente acabámos! - Exclamou o Jorge,
espreguiçando-se demoradamente.
-Estava a ver que não! - Resmunguei.
-Demorámos quê? 2 Horas? - Perguntou o Rafael.
-Demorámos 45 minutos. - Informou a Rafaela. Após
45 árduos minutos, tínhamos conseguido pôr todos os
tranquilizantes nos doces.
-Eles devem estar quase a chegar.
-Yah.
-Temos de parecer simpáticos.
-E o que é que nós somos? - Exclamou a Rafaela
parecendo ofendida.
-Somos simpáticos, mas nunca falaste com um
monstro, pois não?
-Não…
-Quando ele entrar, começamos à pancada?
-Não, só quando ele se mostrar agressivo ou não nos
quiser entregar a Juliana e o Miguel.
-A falares assim, até parece que nos vão entregar
droga ou assim. Parecemos traficantes!
-Não sejas parvo. Quando ele entrar oferecemos-lhe
os doces. E depois ele fica K.O.
A História de Diablocity Maria Capitão
-Irá morrer?
-Talvez, tudo depende da força dos tranquilizantes.
-Espero bem que morra! Depois do que fez ao
Miguel e à Juliana bem mereço!
-Está na hora de nos irmos deitar. De certeza que não
vêm hoje. Amanhã fazemos o resto.
-Está bem! - Exclamou o André. - Deitamo-nos nos
sacos-cama e adormecemos rapidamente.
Quando mencionaram que o monstro devia morrer,
deu uma tontura à Juliana.
-Estás bem? - Perguntou o Miguel.
O Palki, em vez disso, agarrou a Juliana, que ia
caindo se o Palki não a tivesse agarrado.
-Que é isso? A aproveitares-te da minha namorada, ó
cabeçudo? - Gritou o Miguel enquanto se atirava contra o
monstro, deitando a Juliana ao chão.
-Ai!
-Estás bem? - Perguntou o Palki, enquanto dava um
murro ao Miguel, para se livrar dele.
-Não! Caí em cima de silvas!
-Deixa-a estar! Estará melhor sem ti! Ela é minha
namorada! - Gritou o Miguel dando um pontapé e um
murro ao Palki.
-Eu era tua namorada Miguel. Já não sou. Não tinhas
nada de ter ciúmes do Palki. Ele agarrou-me e impediume de cair para cima de Silvas. Tu não. Deixa-me em paz.
112
I
A História de Diablocity Maria Capitão
O Palki é meu amigo, e tu também o és agora. Perdeste a
minha confiança em ti. Até confio mais no Palki, do que
em ti!
O Miguel ficou inerte ao ouvir a Juliana a romper
com ele. O que tinha ele feito de mal?
“Tu fizeste uma cena de ciúmes, e não devias…
Agora ela gosta mais de mim do que de ti… E eu amo-a…
Ela odeia-te e ama-me… És anormal…” - Sussurrou uma
voz no seu cérebro. Quem seria? O Miguel perguntou-se a
si próprio, até olhar para o Palki.
Ele estava muito concentrado a olhar para si, e de
repente virou-se e olhou para a Juliana, também muito
concentrado. Seria ele o causador da sua voz no cérebro?
Por sua vez, a Juliana também estava a ouvir vozes, mas
em vez de serem como as que o Miguel estava a ouvir,
eram carinhosas e meigas. Ao início não sabia de onde
vinham aquelas palavras, mas desejava fortemente que
viessem do Palki. Agora, ela já sabia o quanto amava
o Palki, e esperava que ele sentisse o mesmo, embora
soubesse que não tinha quaisquer hipóteses com ele.
-É melhor irmos indo, não acham? - Perguntou o
Palki, tentando acalmar os ânimos.
-Vamos, não queremos demorar muito. - Respondeu
a Juliana, dando a mão ao Palki - Ajudas-me? Dói-me a
perna e se não me apoiar em algo ou em alguém, caio.
-Claro.
A História de Diablocity Maria Capitão
-Porque não me perguntaste a mim? - Resmungou o
Miguel, ofendido.
-Porque, já não confio em ti, já te esqueceste? Ainda
me podias deixar cair!
-Não sejas tão dura com ele, Juliana. Ele não te iria
deixar cair. Gosta demasiado de ti. Sei que ele fez mal em
ser ciumento, mas não sejas tão dura com ele. - acalmou
Palki - Porque é que foste tão ciumento? Eu sou um
monstro, não te lembras? Era possível gostar da Juliana,
mas é impossível ela gostar de mim. - Acrescentou o
Palki.
-Porque não lhe pedes desculpa?
-Desculpa Juliana por ter sido ciumento, sem ter
razão. - Resmungou o Miguel.
-É melhor deitarmo-nos, está-se a pôr tarde - Disse a
Juliana, fingindo que não tinha ouvido o Miguel.
- Concordo. Vou fazer-vos uma cama maravilhosa. E pegando em urze, folhas de bananeiras, e de palmeiras,
o Palki fez três camas maravilhosas. Eram muito macias e
quentinhas. - Durmam bem.
-Onde aprendeste a fazer camas assim?
-Não gostas?
-Adoro. - Respondeu com um sorriso.
-Aprendi, pois às vezes o meu mestre tem acessos
de raiva, e tenho de sair de onde vivemos para não levar
cachaporra, ou para ele não me transformar num simples
animal.
114
I
A História de Diablocity Maria Capitão
-Oh, ok. - Respondeu, evitando ter que responder.
Adormeceram todos rapidamente. Tinha sido um dia
fatigante.
No dia seguinte, o primeiro a acordar foi o Palki, e
decidiu ir colher um ramo de flores chamadas Miraclius
que curavam qualquer dor, e colheu também um ramo
de flores com flores muito alegres para oferecer à Juliana.
Já sabia que a amava, e queria fazer os possíveis para a
conquistar. Apaixonara-se pela simpatia dela, por ser tão
carinhosa e sensível.
Quando a Juliana acordou, foi ao rio que era ali perto
e lavou a cara, e quando ia para acordar o Palki, notou
que ele não estava na cama. “Abandonou-me e ao Miguel
aqui?”, pensou a Juliana com tristeza. No dia anterior
tinha pensado que era impossível ter feito tal coisa, mas
hoje já não estava com tanta segurança. Como fora tola ao
pensar que ele a podia amar com tanta intensidade como
ela o amava.
-É melhor ir acordar o Miguel, embora não
me apeteça ouvir as bocas dele, por o Palki nos ter
abandonado em pleno bosque. Credo! Fui tão burra ao
pensar que ele poderia gostar de mim! Foi por ele que
acabei com o Miguel…
-Não faças isso. Porque achas que vos abandonei?
Era capaz de abandonar o Miguel, mas não a ti. Apenas
acordei muito cedo, e fui dar uma volta.
A História de Diablocity Maria Capitão
Lentamente, a Juliana virou-se para trás e viu o Palki,
mais lindo que nunca, com dois ramos de flores, um em
cada mão.
-Palki! - Gritou a Juliana enquanto se atirava para os
braços dele. - Pensei que nos tinhas abandonado! Oops…
Desculpa ter-me atirado para cima de ti! - Acrescentou a
Juliana, corada enquanto se afastava do Palki.
-Não faz mal. Toma, isto é para ti. - Disse o Palki,
entregando-lhe os dois ramos de flores.
-Para mim?
-Sim. Este é para as dores, e este é para ti. Flores
para uma flor, como se costuma dizer. - Disse o Palki,
desajeitadamente.
-Obrigada! - Gritou, atirando-se mais uma vez para
os braços do Palki, mas desta vez, beijando-o.
-Amo-te tanto Palki… - Disse a Juliana beijando-o
mais uma vez. - Sei que não gostas de mim, mas não
consigo evitar amar-te… - Acrescentou a Juliana, pois o
Palki tinha aberto a boca para falar. - Já disse o que tinha
para te dizer… Agora, sim, tenho de acordar o Miguel…
Amo-te mesmo muito… - Repetiu, largando o Palki, e
precipitando-se para a cama do Miguel, com a intenção de
o acordar.
-Espera! - Disse o Palki, agarrando-a por um braço e
puxando-a para si. Ficara em estado de choque, quando
a Juliana lhe disse que o amava, e quando o beijara. Mas,
agora recuperara do choque, e não a iria deixar ir tão
rapidamente.
116
I
A História de Diablocity Maria Capitão
-Sim?
-Eu… também te amo. Nunca amei ninguém, na
verdade, nunca tinha entrado em contacto com humanos.
Amo-te muito Juliana.
-A sério?
E o Palki, respondeu-lhe beijando-a.
-Sim, a sério.
-Uau… fantástico! Bem, temos muito tempo paraconversar… Já são 10 da manhã. É melhor
irmos indo.
-Concordo. Vamos acordar esse molengão.
-Miguel! Acorda! - Gritou a Juliana.
Como não acordou, o Palki foi ao rio, fez uma concha
com as mãos, encheu-as com água e atirou água à cara do
Miguel.
-Mas, que raio?!
-Acorda dorminhoco!
-Onde estou? Ah, já sei. Estou na companhia de um
monstro e da sua namorada!
-Cala-te seu idiota! Tens muita sorte, em o Palki te ter
acordado, porque se fosse por mim, já estava bem longe!
Se queres sair do bosque e ir para tua casa, levanta-te e
vamos.
E a resmungar, e a mandar pragas, o Miguel
levantou-se. E calmamente seguiram o caminho que os
levaria até casa, desta vez com uma diferença… Já não
iam arrastados pelo cachaço... Mas ia a Juliana de mão
A História de Diablocity Maria Capitão
dada com o Palki.
Faltavam cerca de 20 metros, e já conseguiam ver a
casa.
-Em que casa estarão?
-Vou perguntar-lhe. - Disse o Miguel. E assim o
disse, assim o fez.
Passados dois minutos, obtiveram resposta.
-Estão na minha casa.
-Então… é esta casa à nossa frente…
-Sim.
-Porque estão tão nervosos? Não estão felizes por
chegar a casa?
-Tenho medo do que eles te possam fazer, mas se
lhes explicar que és amigo, talvez compreendam.
-Não te preocupes, sei defender-me… - Acalmou o
Palki, apertando-lhe a mão.
-Eu sei. É isso que me assusta.
Batem à porta.
-Quem é? - Perguntaram de dentro da casa.
-Tackles, Palki, e Juju.
-Tackles!
-Juju! - Gritámos enquanto abríamos a porta e
saltávamos para cima deles. Quando acabámos de os
sufocar, bombardeámo-os com perguntas.
-Quem é ele?
118
I
A História de Diablocity Maria Capitão
-É o monstro?
-O que fazes com ele?
-Ele fez-vos mal?
Parecíamos demasiado simpáticos para ele, apesar
de ele ter raptado o Tackles e a Juliana mas só não nos
atirávamos a ele, pois a Juju estava à frente dele, com os
braços abertos, a defendê-lo.
-Porque o estás a defender, Juliana?
-Ainda não sabes a resposta? Ela está apaixonada por
ele. Imaginem lá uma rapariga como ela, apaixonar-se por
um monstro como ele. - Atirou o Miguel.
-Pelo menos, ele não me deixa cair para cima de
silvas, nem me ignora! E qual é o mal de gostar dele? Se
for correspondida, tudo bem!
-E és correspondida, Juliana. - Declarou o monstro
apaixonadamente, beijando-a à frente de todos.
-Gostas mesmo dele, Juju?
-Já te esqueceste do que ele te fez?
-Ele fez o que o mestre lhe mandou. Confio mesmo
nele. Se estão contra mim, estejam…
- Gostas mesmo dele? - Perguntei, olhando-a nos
olhos. É claro que eu estava espantada, tal como os
outros, mas confiava na Juliana, e quando a olhei nos
olhos, vi que estava mesmo apaixonada por ele, e que era
capaz de nos abandonar, para estar com o Palki.
-Gosto.
A História de Diablocity Maria Capitão
-Bem, eu estou do teu lado. Já vi que gostas mesmo
muito dele. - E dizendo isto, aproximei-me e fui para o
lado da Juliana e do Palki. - Olá Palki.
Tudo fixe? - Exclamei, estendo a mão para o Palki.
O Palki olhou para a Juliana, como que a perguntarlhe se devia apertar a minha mão. Como a Juliana fez um
olhar afirmativo, o Palki apertou a minha mão, e partir
daí tornámo-nos amigos. Após o aperto de mão, fez-se
um silêncio incomodador… Se não tivesse sido o Jorge,
o André, a Rafaela e o Ned, a aproximarem-se de mim,
da Juliana, e do Palki, acho que ainda hoje estávamos em
nossa casa todos calados.
-Bem… eu também estou do lado da Juliana.
Ninguém manda no coração, e já vi que eles os dois estão
mesmo apaixonados. - Disse o Jorge.
-Eu também.
-Já somos três.
-Au, au!
-Também concordas connosco, Ned? - Perguntou o
Jorge.
-Au, au! - Assentiu o Ned.
-E vocês os dois?
-Sabem o que eu penso disso. - Disse o Miguel.
-E tu, Rafael?
-Não contem comigo. Onde é que já se viu, um
monstro e uma rapariga andarem?
120
I
A História de Diablocity Maria Capitão
-É de loucos.
-Não queres um doce, Palki?
-Claro.
-Um doce? - Repeti.
-Sim, um doce. - Repetiu. Por um momento, achei
que o Miguel estava a ser simpático, mas quando o Palki
ia a levar o doce à boca, dei um murro ao Palki, que fez
com que ele deixasse cair o doce.
-Estás maluca? - Gritou a Juliana, mandando-me um
dos olhares ameaçadores e furiosos que só ela sabe fazer.
-Não, não estou! O doce que o Palki ia comer, está
cheio de tranquilizantes, e com a dose que pusemos podia
morrer!
-Ah?
-Muito antes de chegarem, quando soubemos
que foram raptados, comprámos os tranquilizantes, e
pusemos nos doces. - expliquei - Os tranquilizantes, com
a dose que pusemos, dão para matar o Palki. - Repeti,
nervosa e cheia de raiva do Miguel. Também ele estava
com raiva de mim. Via-se nos olhos dele. Estava zangado
comigo por não ter deixado que o plano dele desse
resultado.
-Ai, seu parvalhão! - Ouvi a Juliana gritar antes de se
atirar aos murros e pontapés ao Miguel.
-Parem os dois! - Gritou a Rafaela e separou-os.
-Já percebemos que há aqui dois tipos de opiniões.
A História de Diablocity Maria Capitão
Mas não é isso que agora interessa. O Palki está
arrependido, e trouxe até aqui a Juliana e o Miguel, sem
qualquer dano, verdade? - Perguntou o André.
-Sim. - Dissemos todos.
-E além disso, ontem à noite, o Palki fez-nos camas
maravilhosas, feitas com urze…
- Com urze, folhas de bananeira, e de palmeira. Corrigiu o Palki
- Eram super macias. Se o Palki nos quisesse fazer
mal, já tinha feito, e também não nos abandonou. E deume um ramo de flores que curam as feridas e curou-me a
ferida que fiz.
-Como a fizeste?
-Quando me deu uma tontura, o Palki agarrou-me,
e impediu-me de cair, e o Miguel deu um murro ao Palki
que fez com que o Palki me deixasse cair.
-Sinceramente, não sei porque é que o Miguel lhe
deu um murro. - Disse a Rafaela.
-Fê- lo porque estava com ciúmes.
-Muito bem. Já falámos disso. - Disse o André, já
farto daquela conversa.
-A razão por eu e o Rafael vos termos mandado
reunir-se aqui, é porque achamos que isto está a ir longe
de mais. Hum… Palki importas-te de sair durante uns
minutos? A conversa não te vai agradar. - Perguntei.
-Ok. Vou à casa de banho. Até já.
122
I
A História de Diablocity Maria Capitão
-Ouvimos uma conversa do Palki, a falar sobre seis
extraterrestres que estão capturados não sei onde. São
dois adultos e quatro crianças. Crianças que têm a nossa
idade.
-Eles estavam todos na mesma cela, só que
conseguiram fugir. O mestre do Palki, (não sei o nome), e
ele apanharam os extraterrestres. - Continuou o Rafael.
-Vanderdecken.
-Ah?
-O mestre chama-se Vanderdecken.
-Ah. Resultado: puseram- nos em sítios diferentes. O
Alemão, que tem 14, está numa cela com os pais.
-O Rúben e a Joana estão a ser preparados para
serem crucificados…
“Ahs” e “Ohs” ouviram-se na sala, enquanto
digeriam a notícia.
-E a Benvinda está nas catacumbas porque, segundo
sabemos, ela é a mais aventureira.
-Que horror… Bem, mas nós temos o resto da
história. E agora, se não te importas precisamos do Palki. Interrompeu a Juliana.
-Já contam… Ainda falta uma coisa que aconteceu.
-O que foi?
-Quando estávamos a conversar e a tentar digerir
tudo, uma pessoa aproximou-se por trás de nós com
uma cara horripilante… - Carreguei de propósito no som
A História de Diablocity Maria Capitão
“horripilante”. - Tinha cerca de 2.40 metros tinha um
casacão preto, e um capuz preto...
-...a cara era maquiavélica, tinha olhos vermelhos
como chamas, boca finíssima e dentes que naquele
momento estavam cheios de sangue. - Acabou o Rafael.
-Uh!
-Vanderdecken é parecido com ele.
-Conta lá a tua parte. - Pedi.
A Juliana fechou-se nos seus pensamentos, e de
repente apareceu o Palki com um sorriso nos lábios.
-Olá! - Exclamou. Aproximou-se da Juliana beijou-a
demoradamente, estava com saudades…
Depois, como que para ninguém ouvir, aproximou-se
do ouvido e sussurrou- lhe:
-Eu sabia que irias conseguir. -E beijou-a outra vez.
-Então, tudo começou quando….
E explicou-nos a parte da história que já conhecemos.
Explicou-nos como tinha conhecido Vanderdecken,
como tinham conhecido o verdadeiro Palki, e como o
este fora formado. Quando a Juliana acabou, lembrei-me
subitamente de uma coisa que acontecera quando eu e o
Rafael tínhamos visto o rapaz de 2.40m e decidi contar.
-Olhem, quando eu e o Rafael vimos o rapaz de 2.40
metros, e desatámos a correr, ele disse: “Esperem! Eu
tenho uma máscara.“. Em seguida tirou do bolso uma
mini-vara e disse “Para o meu corpo eu quero voltar!”, e a
124
I
A História de Diablocity Maria Capitão
cara transformou-se e apareceu um rapaz muito giro, em
cima doutro. Acho que aquilo era só para nos afastar dali.
-Concordo, mas não tenho nenhuma informação que
o Vanderdecken faça isso, e os Evils não são assim.
-O que são, e quem são os Evils?
-E os Copper?
- Já vi que fizeram o trabalho de casa. Os Copper são
a família que me ouviram falar quando estavam por cima
da árvore. Os adultos e as quatro crianças.
-Sim, porque eu sabia que lá estava, só que nunca
tinha conhecido os humanos, e por isso não vos fiz nada.
E porque estavam em cima de uma árvore. - Acrescentou
ao ver a minha cara e a do Rafael.
-E quem são os Cooper?
-Os Cooper são uma família de extraterrestres.
Mal ele disse aquilo, senti que o meu coração
ia explodir! Um dos meus assuntos predilectos:
extraterrestres! Tenho a certeza que existem. É impossível
não existir nenhuma planeta com vida na imensidão do
Universo. Devem existir milhares de planetas. Aposto
que os extraterrestres não nos vêm visitar porque não têm
condições necessárias para tal, ou porque nos consideram
hostis, com todas as guerras e isso ou porque não querem
desperdiçar tempo connosco.
-De extraterrestres? - Repetiu o Miguel céptico.
-Sim, de extraterrestres. Vanderdecken sempre
A História de Diablocity Maria Capitão
teve um ódio terrível pelo Frankosfti, pensa que
Frankosfti sempre teve sucesso na vida, ao contrário
de Vanderdecken que sempre teve de trabalhar. Mas émentira. É exactamente ao contrário.
Frankosfti casou
com Indianaly, e teve quatro filhos: dois pares de
gémeos falsos, Benvinda e Ricardo e Joana e Rúben.
Vanderdecken disse-me que foi a mando do Diabo, mas
tenho a certeza que foi ele quem criou o plano…
-Que plano?
- Frankosfti e Indianaly são também donos de metade
do Universo, juntamente com Engrious. Engrious é o
pior controlador possível. O Diabo é o braço direito dele.
Infelizmente para nós, quem controla a nossa parte é
Frankosfti e Indianaly. É infelizmente, porque se alguém
ou algo matar Frankosfti e Indianaly, e os herdeiros deles,
os filhos, quem passará a governar a outra parte, será o
braço direito do outro governador.
- Ou seja, se Frankosfti e Indianaly e os seus filhos
morreram, quem passará a controlar o Universo serão o
Engrious e o Diabo? - Perguntei.
- Exacto. Há alguns anos atrás, mais precisamente
há décadas atrás, era Cassiópia quem governava o nosso
Universo. Era uma excelente controladora, mas quando
morreu não havia quem a substituísse, e então fizeram
uma votação. Por mais incrível que pareça, metade
das pessoas votaram em Engrious, ele é muito mau, e
Frankosfti e Indianaly são pessoas muito boas. Ficaram as
126
I
A História de Diablocity Maria Capitão
coisas mais ou menos equilibradas… Entendem?
-Mais ou menos.
-Então, o plano de Vanderdecken era matar
Frankosfti, Indianaly, e os seus filhos…
-Não era, é.
-Mas, afinal, quem são os Evils?
- Bem… não sei como explicar… Imaginem um
dinossauro carnívoro, com 1.80, com 200 dentes bem
afiados, com duas pernas, e que de 2 em 2 anos, pusesse
5 ovos cada. E que cada ovo, só precisasse de 1 ano para
nascer, e nascia adulto. - Ninguém falou durante algum
tempo.
Estávamos todos, ou pelo menos eu estava, a tentar
fazer com que aquilo entrasse na minha cabeça, mas era
difícil. Tenho imaginação, mas aquilo já é um exagero.
Nunca acreditei em Deus, nem no Diabo, nem em
monstros, nem nos Evils. E agora, dizem-me que isso tudo
existe?! E o pior é que já vi o monstro. E o Vanderdecken
também existe... Dum momento para o outro, a minha
vida deu uma reviravolta dos Diabos! Uma coisa boa é
que os extraterrestres existem!
-Então… a nossa missão, é ajudar os extraterrestres,
libertá-los, mandá-los para o planeta deles e destruirVanderdecken. É só isso.
-Só? - Repetiu a Juliana espantada.
A História de Diablocity Maria Capitão
-Sim, só. Ah, já me esquecia, e evitar sermos
apanhados pelos Evils, ou pelo Vanderdecken. Uma coisa
boa, é que já não temos de temer aqui o Palki, pois não?
-Claro que não! - Retorquiu ele, corando.
-É melhor pormos as mãos à obra. - Exclamei.
-Como?
-Palki, agora tens de nos ajudar muito. Ok?
-Fazer o quê?
-Dizer-nos onde estão os extraterrestres, onde estão
os Evils, e isso…
-Está bem… Os extraterrestres….
128
I
A História de Diablocity Maria Capitão
Capítulo 13
O Plano
-Preparados?
-Sim!
O Palki disse-nos tudo o que precisávamos de
saber, pelo menos por agora. Ficámos a saber que os
extraterrestres estão dentro da gruta, mas não logo à
entrada. Como era difícil de decorar, concordámos que
a Juliana e o Palki ficariam em cima de uma árvore,
perto da gruta, a dar-nos instruções e verificarem se a
costa estava livre. Os Evils que estão de guarda à gruta
costumavam sair à noite para irem caçar animais para
comerem, costumam sair à meia-noite e regressam às
02.30, o que nos deixa uma margem de 2 horas para
entrarmos na gruta, procurarmos e encontrarmos os
extraterrestres, e trazê-los cá para fora, antes dos Evils
regressarem. O Vanderdecken costumava ficar na gruta,
mas é longe de onde os extraterrestres estão. O pior é que
eles não estão todos juntos, ou seja, temos de nos separar.
Segundo Palki, o Alemão, e a Benvinda estão com os
pais e a Joana e o Rúben estão separados, logo temos de
nos separar em grupos de três. Ah, mas como o Rafael
também vai… Somos 9, a contar com o Ned, com o Palki e
com o Rafael, porque o Ned é uma pessoa, e como o Palki
a Juliana não vão estar no grupo de buscas, ficamos sete, a
dividir por 3 dá 2.33..., algum grupo terá de ficar com dois
A História de Diablocity Maria Capitão
e o resto com três.
-Dividam-se em dois grupos de três e um de dois. O
Ned, eu e o Rafael somos um grupo. - Os grupos que se
formaram foram o Miguel, e a Rafaela, e outro foi o André
e o Jorge.
-Muito bem, Palki, diz-nos uma noite em que
possamos atacar.
-É preferível que seja daqui a uma semana.
-Tanto?! Nessa altura o Rúben e a Joana já foram
crucificados!
-Pois é… Então… daqui a três dias. É o mínimo de
tempo para arranjarem tudo!
-O que queres dizer com tudo ?
-Tudo! Bússolas, lanternas, walkie-talkies…
-Para quê walkie-talkies? - Perguntou o Miguel
que tinha estado a falar com o Rafael, abstraindo-se da
conversa.
-Porque a gruta tem vários túneis, e vocês não se
querem perder, pois não?!
-Não.
-E três dias é o máximo de tempo que consigo
aguentar sem crucificar os rapazes…
-Meninos! Quem está aí em cima?
-Ai, o nosso pai!
-Rápido, Palki esconde-te dentro do guarda-roupa!
130
I
A História de Diablocity Maria Capitão
-Não caibo! - Resmungou.
-Tenta! Queres que tudo vá por água abaixo?!
Quando o nosso pai apareceu ainda se via o Palki a
tentar entrar no guarda-roupa e, instantaneamente, atireime contra a porta que se fechou com um estrondo.
-Que conversa é essa de Evils e monstros? E
crucificar rapazes…
-É um jogo que estávamos a jogar, Sr. Guilherme.
-Consiste em dizer as palavras e frases mais
horrendas…
-Está bem… mas se tiverem pesadelos não digam
que não vos avisei. Porque é que estás encostada ao
armário? Estão a esconder alguma coisa?
-Achas pai? Dói-me muito as costas e então encosteime ao armário… - Disse eu, corada. Fez o olhar de quem
não acredita muito, mas encolheu os ombros.
-Tu é que sabes. Se quiserem comer alguma coisa
encomendem uma pizza, está bem? Vou ver televisão.
Não me acordem. Boa noite.
-Sim, pai!
-Adeus.
-Mal se foi embora, tranquei a porta do quarto, e o
Rafael disse:
-Não me acordem? Mas já se vai deitar? Que horas
são?
-São três da tarde...
A História de Diablocity Maria Capitão
-E é boa- noite?
-O nosso pai diz boa noite, pois quando se põe a
ver televisão, não toma atenção à televisão, chora por
causa da nossa mãe. Depois não quer que nós o vejamos
a chorar e finge que está a dormir quando vamos à sala. -
Expliquei, com os olhos marejados de lágrimas.
-Lamento.
-Tasse bem. Nós é que devíamos ir dormir…
-Estás doida?! - Questionou o Miguel, olhando para
mim.
-Cala-te. Digo ao nosso pai que vamos dormir, tranco
a porta e saímos pela janela para ir comprar as coisas que
precisamos.
-Ah, ok.
-Se nos vê a ir comprar agora coisas mata-nos, e só
temos três dias….
-Mas não está nenhuma loja aberta a esta hora…
-Tenho uma ideia, mas se nos apanham…
-Diz lá.
-Assaltamos a loja do Sr. Manel.
-Não é preciso assaltar. Tenho a chave. - Disse a
Rafaela, mostrando um molho de chaves sorrindo.
Dirigi-me à porta do quarto, e gritei para o meu pai.
-Pai vamos dormir!
-Até manhã. - Respondeu-me.
132
I
A História de Diablocity Maria Capitão
Silenciosamente dirigimo-nos para a janela, e um a
um saltámos. Fomos a correr até à loja do Sr. Manel, e
abrimos a porta. Ainda não tinha dito, mas a loja do Sr.
Manel tem de tudo: material para a escola, mercearia,
material electrónica, roupa… É tipo uma loja do chinês
mas com mais qualidade, acrescentando o facto de ter
uma sala para tratar dos animais.
Tirámos o que queríamos, mas como não somos
ladrões, deixei o dinheiro respectivo em cima do balcão.
A História de Diablocity Maria Capitão
Capítulo 14
O Sonho
Durante os três dias seguintes, cada um fez o que
quis. Eu fui pesquisar sobre o sonho que tenho todos os
dias. Procurei em todas as línguas o significado daquilo,
e encontrei num site antigo, que estava escrito português,
tinha um alfabeto esquisito, e era igual ao que dizia no
meu sonho. Procurei por todas as palavras e o resultado
foi este:
Avat cerebromjbg:
Destrói os meus inimigos e os dos meus amigos!
Queridos pais, pai, mãe ajudem-me, apoiem-me neste
momento.
Voz, tu que iluminas a minha vida, leva o Vanderdecken
para bem longe!
Salva-me e aos meus amigos!
Imploro vos!
Avat cerebromjbg.
Uou! O que significa esta oração? Oração?! Desde
quando é que eu rezo?! Como já tinha dito, eu não
acredito em Deus. Sempre achei, aliás, tinha a certeza
de que o Universo tinha sido criado pelo Big Bang e que
Deus não tinha sido mais uma invenção do Homem para
tentar explicar os mistérios da Natureza.
A História de Diablocity Maria Capitão
Não entendo como é que eu aprendi a dizer isto…
Mas, se pensar que isto é realidade… o que é ou quem
é a Voz ? E... Isto tem que ser verdade!!! Se eu falo no
Vanderdecken… E quer queira quer não, o Vanderdecken
existe. Para mal dos meus pecados... Tenho que falar
urgentemente com o Palki. Ele tem que me ajudar!
Mas, por falar nisso… como é que consegui falar
esta língua? Duvido que alguma vez tenha aprendido a
falar este alfabeto. Só sei falar quatro línguas. Português
(é óbvio), Inglês (nas aulas), Francês (também nas aulas),
e Espanhol (como Espanha é o nosso país vizinho, está
claro que tenho de saber dizer alguna cosita). Como es
posible yo saber hablar una lengua que nunca e olido? Nada
mal, ah? Ainda me safo. Agora, chega de brincar e vamos
voltar aos assuntos sérios. Hoje é O dia. Hoje vamos
reaver aquilo que eles raptaram, sem pedir autorização.
Vamos reaver os extraterrestres! Vanderdecken pode
ser mau, mas não conseguirá vencer- nos! Até parece que
é filho do Diabo, ou algo parecido!
Nesta altura, ainda eu não sabia quão verdadeiras as
minhas palavras eram.
136
I
A História de Diablocity Maria Capitão
Capítulo 15
Jonas
-Hola! - Ouvi por detrás de mim. Assustei-me, dei
um salto na cadeira e gritei:
-Quien eres?! - Então, olhei bem para a pessoa e
reconheci-a.
Era um rapaz muito giro, com caracóis castanhos, e
uns olhos castanhos também. Reconheci-o imediatamente
do dia em que eu e o Rafael estávamos a combinar um
sítio para nos reunirmos. Lembram-se?! No dia em
que o Miguel e a Juliana foram raptados… O monstro
com a máscara? Que tirou uma mini-vara e gritou
uma cena marada qualquer e a cara transmorfou-se
completamente?! Transmorfou-se (linda palavra, li-a num
livro). O que raio está este gajo todo bom a fazer aqui?! Eu
sei que isto é uma biblioteca (é a única que há. Apenas há
em Godcity. Só entra quem tem cartão de estudante ou é
membro. Como sou as duas, there’s no problem babe!)
-Tu hablas español?
-Um bocado. Mas sou portuguesa. E tu? - Parei para
respirar e ponderar no que iria dizer e continuei - Só por
acaso, quem raio és tu, o que estás aqui a fazer, e porque
raio é que me pregaste um susto daqueles há uns dias?!
-Mais devagar… Chamo-me Jonas. Tenho 15 anos.
Estou aqui pois venho pesquisar uma cena… e vim à tua
A História de Diablocity Maria Capitão
procura. E quanto àquilo do bosque… Não posso dizer. O
meu mano obrigou-me a jurar.
-Obrigou-te?! Mas que raio é isto?! O teu irmão
obriga-te?! Os meus nem me mandam fazer algo, quanto
mais obrigar.
-Pois, mas eu vivo sozinho com o meu irmão, ele
toma conta de mim e eu dele.
-Vives sozinho?! Que cena marada! Também posso?!
Estou a gozar… Estás a ver?
-Por acaso não, não estou a ver. - Respondeu,
franzindo o sobrolho.
-Ah, pois… Olha, o meu nº é 9179802…
-Tu és uma beca sociável a mais, não? - Interrompeu
o Jonas, um bocado irritado
-Há quem diga isso. Porquê?
-É que… tipo… eu e o meu mano pregamos te um
susto do catano há uns dias, não nos conhecemos de lado
nenhum, nem tu a nós, e tas aqui a falar comigo como se
nos conhecesse mos há anos. Até já me estás a dar o teu
nº…
-Se nos conhecêssemos há anos, não te estava a dar o
meu nº, já o tinhas há anos. Sabes, apenas tenho 7 amigos.
Somos amigos há 13 anos, mas não é isso que está em
causa. Acho que me entrego demasiado à minha amizade
com eles, e se por qualquer razão tivesse de me afastar
deles, acho que me matava. A sério. Se fosse para outro
138
I
A História de Diablocity Maria Capitão
país, só socializava com o Miguel, o Ned e com o meu pai.
E esse nunca está presente, está sempre na lua.
-Miguel? Ned? Pensava que tinhas três irmãos.
-E tenho. O Miguel, o André e o Jorge.
-Quem é o Ned? Namorado?
- Isso são ciúmes? O Ned é o meu cão. - Respondi,
com um sorriso. Ele enrubesceu de vergonha. Não
sei porquê mas gostava de estar a falar com ele. Era
simpático, e tinha um sorriso… ai! Achei que tinha
de lhe dizer algo sobre mim e disparei - Tipo, não sou
daquelas que mal vê um gajo todo bom se põe com
sorrisinhos idiotas e isso. Pessoalmente, acho me bastante
Maria-rapaz. Não é só o facto de me vestir toda de
preto, de adorar subir às árvores e de ser capitã e defesa
central numa equipa de futebol, e de já termos ganho 6
campeonatos seguidos, é também o facto de o meu nome
ser Maria João (meio arrapazado) e de me dar bastante
melhor com rapazes (não é para os seduzir, nem nada
disso), apenas acho que eles entregam-se mais numa
amizade. Sei que posso confiar nos rapazes, enquanto
numa rapariga, nem por isso. Elas são bem capazes de me
trair. Eles, não são. São mais leais (numa amizade), mais
simpáticos e muito mais queridos que elas. As minhas
amigas (são só duas), são também muito arrapazadas,
gostam das mesmas coisas que eu. -Quando fiquei sem
nada para dizer sobre mim, perguntei-lhe - O que dizes
sobre ti?
A História de Diablocity Maria Capitão
-Nada de especial. O que se vê é o que é.
-Eia, com um catano! Estive aqui a desperdiçar o
meu latim, e tu me dizes isso?!
-O que é que queres? Olha, amanhã queres…
“Bzzzz…Bzzz…”. Que inoportuno! Quando ele ia a
falar, o meu telemóvel toca!
-Desculpa. Tenho de atender. -Disse-lhe, virandome de costas para atender a chamada. - Sim?
- É o Rafael! Despacha-te! Até já. Só para ficares a
saber… Amo-te. - Disseram do outro lado da linha.
Desligaram sem me dar tempo para responder. Só
sei que em seguida, comecei a ver tudo a andar à volta,
e depois só vi branco. Acordei com alguém a abanarme e quando abri os olhos, estavam três pessoas a olhar
para mim, com ar de preocupados: o Miguel, o Jonas e o
secretário da biblioteca.
-Está a acordar. - Disse o Jonas.
-Estás bem? - Assenti com a cabeça, e tentei levantarme, mas perdi as forças a meio e ia caindo se o secretário
não me tivesse agarrado.
-O que aconteceu? Quem és tu? - Perguntou o
Miguel ao Jonas.
-Ele não tem nada a ver. Deixa-o em paz. Foi uma
quebra de tensão, de certeza. - Afirmei
-Chamo-me Jonas. Estava a falar com a tua irmã
quando ela desmaiou. Foi stress a mais. - Acrescentou
140
I
A História de Diablocity Maria Capitão
a olhar para mim. - Por tudo o que estás a passar. Estar
em frente àquele monstro, sonhar com ele. Desejo nunca
passar pelo mesmo. Depois falamos. Telefona-me. Depois, inclinou-se para mim e beijou-me. Um beijo longo
e suave, e ao mesmo tempo carregado de emoções. Em
seguida, como um vampiro quando começa a nascer o sol,
desapareceu sem deixar rasto.
-Quem raio era aquele?! E porque te beijou?! De
quem estava ele a falar?!
Apesar de o Miguel me estar a fazer perguntas,
não conseguia ouvir, quanto mais responder. Estava em
estado de choque. O primeiro choque foi o Rafael ter
dito que me amava ao telefone. O segundo foi o Jonas
ter me beijado. Mas que raio?! Tiraram hoje o dia parame chocarem?! É óbvio que não me
importo nada, mas…
Por amor de Deus! Estou há meses à espera que o Rafael
assuma o que sente por mim, ou que diga que nada sente,
mas tinha logo de aparece um gajo bom e beijar me?! Que
cena marada... Mas que o Jonas é bom, lá isso é... O que
queria ele dizer-me com “telefona-me”?! Nem sequer
tenho o nº dele!
-Vens ou não?
Ia dando um salto, pois tinha me esquecido que o
Miguel estava ali. O secretário já se tinha ido embora e o
Jonas, idem!
-Espera só uma beca. Tenho de desligar o pc.
-Ok. Até já! - Exclamou e desatou a correr.
A História de Diablocity Maria Capitão
Dirigi-me ao computador para o desligar, e qual é o
meu espanto quando vejo que alguém tinha aberto uma
página do hi5. Fui ver de quem era o hi5, e reparo que é
o meu! Tinha recebido uma mensagem, fui ver, já que ali
estava e coincidência das coincidências… era do Jonas!
Sim, o meu Jonas. Ok, não é meu, mas é como se fosse!
Rapidamente abro a mensagem, e estava lá escrito isto:
Olá!
De certeza que estás a pensar quem eu sou, porque te beijei,
como fugi e porquê. Sou o Jonas, como já te tinha dito e tenho
um irmão da mesma idade que eu. Chama-se Daniel. Beijei-te
porque me senti e sinto muito atraído por ti. Fugi porque o teu
irmão me estava a fazer muitas perguntas. E agora, como é que
consegui fugir sem ser pela porta principal…
Bem, eu sou descendente dos Cooper. Sim, os Cooper, os
extraterrestres. Nasci com o talento do meu tetravô, Sly Cooper.
Ele era muito ágil, era um ladrão de primeira. Tinha uma
equipa. Era ele, o Murray e o Bentley. Nasci com o seu talento.
Sou muito ágil e difícil de apanhar. Saltei pela janela que está
à tua direita e voei pelos ares com o meu parapente e aterrei no
edifício ao lado. Ah!, já me esquecia. O meu nº é o 915581681.
Telefona-me.
P.S: O monstro de quem estava a falar é do
Vanderdecken… Eu conheço-o e sei que ele tem a minha família
presa. Tem os meus primos e os meus tios presos na gruta. Só
não os resgatámos ainda pois somos só dois e não o conseguimos
142
I
A História de Diablocity Maria Capitão
sem ter uma planta do sítio, e com os Evils a guardar a entrada
… Ai, ai… Boa sorte. Adrt.
P.S.S: Daqui a meia hora vem ter comigo ao centro da
aldeia
A História de Diablocity Maria Capitão
Capítulo 16
A Verdade
A aldeia parecia deserta… Ninguém se via, só se
ouvia o vento a soprar e os espanta-espíritos a tilintar…
Estava sozinha no velho Oeste… Ok, é hora de voltar à
realidade. Desculpem, mas tenho muita imaginação...
Parecia que estava mesmo no velho Oeste. Ninguém se
via, havia muito vento, estava ali sozinha à espera do
Jonas…
-Esperaste muito? Desculpa a demora…
Virei-me lentamente e à minha frente estava…
o Vanderdecken!!! Não hesitei perante aquela cara e
preguei-lhe um pontapé nas virilhas e um soco na cara.
Apesar da cara me ter feito tremer que nem varas verdes
não podia hesitar. Após o que os meus amigos me
disseram do Vanderdecken, sabia do que ele era capaz
-só ainda não sabia que ele era filho do Diabo. Quando
lhe dei o pontapé e o murro, só ouvi um grito, e, seguida
também eu levei um pontapé e dois murros.
-Ah! Jonas, ajuda-me!
Quando dei por mim, estava a gritar pelo Jonas
e estava à pancada com Vanderdecken. Ele podia ser
mais velho e mais forte, mas eu não lhe ficava atrás, e
faria tudo o que pudesse para o derrotar. De repente
ele deu um salto de 6 metros e foi parar em cima duma
casa.”Como fizeste…?! “, pensei para comigo. Logo em
A História de Diablocity Maria Capitão
seguida, começou a fazer uma cena esquisita, e deitou
lã, (ou pelo menos parecia) do rabo. Só depois é que me
apercebi, ele estava a fazer uma teia! Comecei a correr,
peguei no meu telemóvel, e marquei o número do Jonas.
-Sim? - Atenderam do outro lado, e percebi que era o
Jonas.
-Jonas, ajuda-me!
-Quem…? Maria?
-Sim! O Vanderdecken está aqui, está a fazer uma
teia, e duvido que seja para caçar moscas!
-Ai, credo! Onde estás?
-No centro da vila! Onde disseste que vinhas ter
comigo!
-Quem? Eu?
-Sim, tu! Escreveste no computador, onde eu
hoje estava a pesquisar! Quando nos conhecemos, na
biblioteca!
-Ah, já me lembro! Mas… era só daqui a 20 minutos!
-Pois, mas eu vim logo! Ele deve ter ido à biblioteca
e viu!
-Ou se calhar… já lá estava!
-Mas quem?!
-O Miguel!
-O Miguel?!
-Sim!
146
I
A História de Diablocity Maria Capitão
-Estás a dizer que o meu irmão me está a tentar
matar?!
-Não! Quem é que te tinha telefonado?
-O Rafael. - Respondi, corando.
-E porque é que o Miguel apareceu?! Eu não lhe
telefonei!
-Então, o Vanderdecken é o Miguel?!
-Naquela altura, sim.
-Então, onde está o Miguel?! Ai!!!
-Maria?! O que foi?!
Enquanto falava com o Jonas, Vanderdecken ia
fazendo a teia, e quando a acabou, Vanderdecken fez
força e nasceu lhe uma cauda (sim, uma cauda, não estou
a gozar). Atirou-se para o chão, e ia”atirando” a cauda,
a ver se me apanhava. Ora, eu gritei porque a cauda me
apanhou!
-Maria?!
-O Vanderdecken está-me a sufocar!
-O quê?!
-Parece uma cobra, está a tentar matar-me…
-Maria?! - Exclamou aflito.
Em seguida perdi os sentidos. No momento em
que perdi os sentidos, foi quando de repente a cauda de
Vanderdecken parou de fazer força. Tinha sido atingido.
Pelo quê, não sabia, mas tinha um buraco ao pé da cabeça.
A História de Diablocity Maria Capitão
Rapidamente, largou-me e fugiu.
Quando acordei, novamente, - é a segunda vez que
desmaio! -, estava num sítio desconhecido e a forma como
lá fui parar também me era desconhecida. Parecia a copa
de uma árvore pois havia muitas folhas à minha volta.
Acordei com o vibrar do meu telemóvel. Alguém me
estava a ligar. Fui ver quem era e era o Miguel. Atendi.
-Sim?
-Onde estás?! Estamos há duas horas à tua espera!
-Duas horas? - Repeti.
-Ela já acordou. - Ouvi dizer lá em baixo. Falavam
baixo, mas consegui ouvir.
-Se não fosses tu, acho que agora estava a chorar
sobre o corpo dela. - Disse outra pessoa, que percebi ser o
Jonas.
-Estás aí?! - Gritou o Miguel ao meu ouvido.
-Agora não posso, até já! - Disse, e desliguei.
Lentamente, fui-me apercebendo onde estava. Estava
dentro de uma casa de madeira, em cima de uma árvore.
Levantei-me, e vi que estava deitada numa cama e que ao
meu lado havia outra, um fogareiro, um armário e dois
telemóveis em cima da mesa. Perguntei-me de quem seria
aquela casa tão gira e acolhedora.
Havia uma parede que estava coberta de papéis, que
tinham lá coisas rabiscadas. Aproximei-me de um papel
e vi lá escrito oito nomes. Estavam por ordem. O que lá
148
I
A História de Diablocity Maria Capitão
estava escrito era:
1º Miguel - Tem 3 irmãos. É muito céptico. Gosta da
Juliana.
2º Maria - É dona do Ned. Possivelmente gosta do Rafael.
Acredita em tudo.
3º André - Manter sobre investigação.
4º Ned - Adora toda a gente.
5º Jorge - Manter sobre investigação.
6º Juliana - Gosta do Miguel. Tem uma irmã. É muito gira.
7 º Rafaela - Gosta do Miguel, embora ele goste da Juliana.
8º Rafael - Manter sobre investigação.
Mas que raio é isto?! Andam a perseguir-nos?! Senti
a raiva a crescer dentro de mim. O que menos gosto é
que se metam na minha vida e dizerem de quem gosto…
Abusaram! E acredito em tudo?! Que nervos!!!Acho que
estou mais chateada por ser verdade. Acredito em tudo.
Foi por isso que desmaiei na biblioteca. Alguém se fez
passar pelo Rafael e disse que me amava. Pode ter sido o
Rafael, mas não acredito.
Desci as escadas que estavam escondidas atrás do
armário e estava a apreciar a cozinha que se afigurava
diante de mim.
-Olá! Estás melhor? - Virei-me e vi o Jonas
acompanhado dum rapaz muito giro. Devia ser o Daniel.
A História de Diablocity Maria Capitão
-Olá! Estou, obrigada.
-Sou o Daniel. - Disse quem eu pensava ser o Daniel,
com um sorriso maroto.
-Hum… vocês vivem aqui?
-Ya…
-Sortudos…
-Sortudos?! - Repetiu incrédulo o Daniel.
-Achas fixe viver aqui?! - Perguntou por sua vez o
Jonas, franzindo o sobrolho.
Agora que reparo, o Jonas tem uma expressão muito
engraçada quando franze o sobrolho.
- Yah! Eu adoro natureza, o ar livre… Ouvir os
pássaros a cantar… Nem sabem a sorte que têm. Em vez
disso, tenho de ficar fechada dentro de casa. Se ao menos
não houvessem rumores sobre o bosque… - Resmunguei.
-Tens medo?!
-Não… Mas o meu pai não me deixa sair de casa
sem um interrogatório, e não sou muito boa a mentir…
Já agora, onde estamos? E como é que aqui vim parar?
A última coisa de quem em lembro é de estar presa na
cauda do…hum…
-Vanderdecken. - Completou o Jonas - Não precisas
de ter medo. O Daniel sabe de tudo. Tal como eu. Foi o
Danny quem te salvou. Disparou contra o Vanderdecken,
acertou lhe, ele largou- te, e o Daniel trouxe-te até aqui.
Enquanto eu estava aqui, confortável a falar contigo, antes
150
I
A História de Diablocity Maria Capitão
de desmaiares. - Acrescentou envergonhado.
-Não fiques assim. O Danny és tu? - Perguntei
olhando para o Daniel.
-Yah… Pelo menos há 5 minutos era... agora não
sei.
- Onde é que estamos? - Perguntei, sorrindo. Estamos no bosque?
Quando o Daniel ia a responder ouvimos um
desfolhar de folhas (novamente), e desejei que não fosse
o Palki, pois tinha sido assim que tínhamos visto o Palki
pela primeira vez. Eu e o Rafael em cima de uma árvore,
e o Palki debaixo dela a falar sozinho. Quando vi o que
tinha feito aquele barulho, desejei que não fosse real, que
tivesse a sonhar.
-É um Evil… - Informou-me o Daniel.
-O que estará aqui a fazer? Pensei que só saíssem
à noite, da meia-noite às duas e meia… - Disse eu para
mim própria mas alto o suficiente para que os aguçados
ouvidos do Jonas captassem.
-Como sabes isso?! - Perguntou espantado pela
minha sabedoria por uma coisa, que eu preferia ver a 100
milhões de quilómetros de mim.
-Conhecem o Palki?!
-Melhor do que tu pensas!
-A sério?! - Inquiri, franzindo o sobrolho - Então
contem.
A História de Diablocity Maria Capitão
-Vamos contar-te como tudo começou… - Começou
o Jonas.
- Tudo começou quando se criou o planeta. Continuou o Daniel.
-Sabes quem foi? - Perguntou o Jonas
-Ora, eu nunca acreditei nisso, mas dizem que foi
Deus.
-Então acreditas em quê?
-Acredito que o mundo se criou pela Big Bang. É
a única explicação lógica. - Respondi, encolhendo os
ombros.
-Aí é que te enganas! - Declarou o Jonas.
- O planeta foi criado por Deus e pelo Diabo. Continuou o Daniel.
-Então… Deus e Diabo existem?!
-Infelizmente sim.
-Infelizmente? - Já não estava a entender nada...
Estava genuinamente confusa.
-Sim, pois se não fosse o Diabo, os nossos tios e
primos estariam aqui.
-Como estava a dizer, o planeta foi criado pelo Diabo
e pelo Jesus. - Continuou, como se não quisesse prolongar
o assunto que o Jonas estava a trazer à baila: a família
deles. - Nessa altura o Diabo não era mau, pelo contrário!
-Até há alguns anos atrás, o Universo era controlado
pela Cassiópia. Quando a filha dela morreu, ela sofreu um
152
I
A História de Diablocity Maria Capitão
desgosto enorme e então…
-Então?
-Suicidou-se. - Respondeu o Jonas, triste.
- Quando ela morreu, ninguém sabia quem
controlaria o Universo, pois Liliana, a sua filha, não tinha
deixado descendentes.. excepto um filho.. que tinha ficado
com o pai... E o pai desaparecera misteriosamente…
Provavelmente para o Inferno…
-Então fizeram-se votos… - continuou o Jonas,
aproveitando a pausa que o Daniel fizera.
- Essa parte já eu sei. E metade das pessoas votou em
Engrious, e a outra metade em Frankosfti e Indianaly. E
se alguém ou algo matar Frankosfti e Indianaly, serão os
seus filhos a governar, mas se também morrerem, será
o Diabo a governar, pois o Diabo é o braço direito de
Engrious.
-Já vi que sabes muita coisa. Como…?
-O Palki contou- nos.
-O Palki?! - Exclamou o Daniel.
-O Palki é um safado! Ajudou a prender a nossa
família. - Respondeu o Jonas, levantando-se da cadeira, de
tão exaltado que estava.
-O Palki era um safado. Ele apaixonou-se pela
Juliana.
-Mas… a Juliana não namorava com o Miguel?
A História de Diablocity Maria Capitão
-Namorava dizes bem… Acabaram pois o Miguel
agiu mal, e teve um ataque de ciúmes e espancou o Palki
enquanto ele estava a agarrar a Juliana, ela se encontrava
indisposta, que depois acabou por cair numas silvas por
causa do Miguel.
- E agora um monstro e uma rapariga namoram?! Exclamou o Jonas, exaltado.
-E agora o Palki e a Juliana namoram - Corrigi - A
Juliana ama-o, e ele a ela. Vê-se nos olhos dela, e dele.
-Okay! - Declarou o Daniel puxando o Jonas para a
cadeira.
-Porque desmaiaste na biblioteca?! - Perguntou
curioso o Jonas.
-Hum… - Agora tinha chegado a um ponto onde eu
não queria ter chegado…
-Sabias que Vanderdecken foi criado pelo Diabo?
-Explica lá isso. - Pedi, lançando ao Daniel um olhar
de agradecimento por ter mudado de assunto.
-Sabes que o Palki é filho do Vanderdecken, certo?
-Não… Palki foi feito pelo Vanderdecken. - Neguei.
-Aí é que te enganas. Vanderdecken teve um
relacionamento com Liliana, filha de Cassiópia, e nasceu
o Palki. Ele era um rapaz normal. Depois, Vanderdecken
mostrou a sua cara, pois usava uma máscara, e Liliana
abandonou-o. Vanderdecken fez o que fez ao Palki, pois
ele se parecia muito com Liliana.
154
I
A História de Diablocity Maria Capitão
-Queres dizer, que o Vanderdecken é filho do Diabo
e o Diabo fez o mesmo que Vanderdecken fez ao Palki?!
-Yah…
-Ups…
-O que foi?
-Palki não sabe nada disso, pois não?
-Neps.
-Então, se arranjarmos uma maneira de vencer o
Vanderdecken… o Diabo mata-nos. É isso?
-Yah.
-Vai ser muito difícil…
-Ah?
- Eu e o resto do pessoal vamos hoje tentar resgatar
a vossa família. Já temos tudo pronto. Dividimos nos em
grupos de três, dois ficam em cima de uma árvore, a ver
se os Evils aparecem… E entramos dentro da gruta. O
Palki vai dizendo-nos por onde ir…
-Porquê em grupos de três?
-Porque a vossa família está separada. A Joana e
o Rúben estão em grutas separados e a Benvinda e o
Alemão estão com os vossos tios.
Ficamos os três, uma beca em silêncio, até que eu
decidi quebrá-lo perguntando algo que já me estava a
inquietar há algum tempo.
A História de Diablocity Maria Capitão
- Ainda há bocado disseste que o filho da filha de
Cassiópia, ou seja, o neto de Cassiópia, seria o herdeiro do
dever de mandar no Universo… Ou seja: se Liliana teve
um filho com Vanderdecken e esse filho é o Palki… O
Palki é o herdeiro ao Universo?!
-Nunca tinha pensado nisso… mas… sim!
-Como é que Liliana morreu? - perguntei, curiosa.
-Pois.. Vanderdecken matou-a.
-Matou-a?! Porquê? Porque ela o abandonou?
-Não. Porque ela o traiu.
- Oh... que horror... - respondi, verdadeiramente
chocada - Se algum dia o meu futuro namorado me
trair… Nunca o perdoarei… Nunca mesmo… - Afirmei,
olhando de soslaio para o Jonas que estava calado e
silencioso há muito tempo, aliás, há tempo demais. O que
teria ele?
- Então meu, não falas? Estás a ser mal-educado! Exclamou o Daniel que também reparara no estranho
silêncio do Jonas.
-Estou à espera que a Maria me responda.
- Responda ao quê? - Perguntei eu e o Daniel em coro.
-Porque desmaiou na biblioteca.
-Então Jonas! Não se pergunta isso!
-Deixa Daniel… Eu respondo ao Jonas… - engoli
em seco e depois declarei - Desmaiei na biblioteca, pois o
Rafael disse que me amava ao telemóvel.
156
I
A História de Diablocity Maria Capitão
-E o que é que isso tem? - Perguntou o Jonas de
forma dura.
-Ela respondeu-te à pergunta idiota!
-E o que me importa isso?
-Importa- te sim, sabes porquê? - Há séculos que
gostava dele, mas quando ele me diz isso, é quando eu me
começo a apaixonar por outra pessoa! - Gritei, e desatei a
chorar.
-Desculpa. - Disse o Jonas, mas a voz continuava
dura. Olhei-o nos olhos, e só vi raiva. Também vi que
estava arrependido, e tive a certeza que era de me ter
beijado.
-Eu gosto de ti! És assim tão cromo para perceber?!
Fica com a Juliana, já que gostas dela!
-Espera! - Gritou, e agarrou-me o braço.
Mas chateada e desiludida como estava, nem o ouvi
gritar e empurrei-o. Em seguida, saí da casa e saltei para o
chão. Olhei uma última vez para a casa e... logo desatei a
correr com todas as minhas forças, enquanto as lágrimas
escorriam pela cara abaixo.
A História de Diablocity Maria Capitão
Capítulo 17
A Chegada dos Primos
-Vai atrás dela! - Exclamou o Daniel.
-Não! Ela ama o Rafael!
-Ela gosta de ti parvo! E tu também a amas!
-Eu só a conheço desde hoje!
-Mas apaixonaste-te logo por ela! Não sejas estúpido
pela segunda vez! - Gritou, dando- lhe uma chapada ao
de leve na cara.
Jonas virou as costas magoado com o irmão, e foise deitar na cama dele, a mesma onde eu tinha estado
deitada à pouco tempo. O Daniel foi ter com ele e deitouse ao lado dele, abraçando-o.
-É tão difícil Danny…
-Eu sei mano…
-Estar neste planeta… sem os nossos pais… com osnossos primos e tios em perigo... É
desgastante!
-Eu sei irmão… desde que chegámos… é muito
desgastante… - Concordou o Daniel.
Há alguns dias que tinham chegado e já tinham
recolhido muita informação mas não sabiam como
haviam de recuperar os primos e tios. Agora comigo
e com os meus amigos teriam mais hipóteses. Tinham
chegado quatro dias depois de Vanderdecken pois
A História de Diablocity Maria Capitão
tiveram de se esgueirar de noite para os pais não saberem
e assim perderam um dia... e mais três porque se tinham
perdido.
Quando chegaram ao planeta, não sabiam para
onde ir. Perguntaram a um humano que encontraram
se existia algum local naquele planeta que tivesse um
nome esquisito com Diablo ou com Diabo no nome.
Depois de muito pensar, este respondeu afirmativamente
indicando o local: ValDiblo. Viajaram até lá e como
sabiam que Vanderdecken estaria num sítio abrigado,
sem ter interrupção de ninguém e, provavelmente, um
sítio que parecesse ser amaldiçoado. Pediram indicações
novamente, mas, desta vez, no país ValDiblo e disseramlhes
que tentassem em Diablocity. Lá foram e o aparelho
de detecção de naves extraterrestres disparou mal lá
chegaram. Tinham chegado ao sítio certo! Aterraram
a nave na cidade e após tirarem as malas e todos os
utensílios necessários à sua sobrevivência, enviaram a
nave de volta para o planeta deles, de forma a não serem
detectados. Entraram na cidade de mãos dadas com
duas malas de campismo nas costas, pareciam fantasmas
ou demónios: vestidos de preto, pálidos, mãos dadas
e os olhos fixos numa direcção apenas. Na direcção do
bosque. Muitas pessoas olharam para eles, afastando-
se rapidamente. Causaram um alvoroço na aldeia mas
nem Vanderdecken nem nós tínhamos reparado. Nessa
altura Vanderdecken ainda estava a arrumar a gruta e
nós devíamos estar na escola a aturar a professora de
160
I
A História de Diablocity Maria Capitão
matemática, agora desaparecida. Entraram no bosque
e quando encontraram uma árvore grande e forte
montaram o equipamento e fizeram uma casa na árvore.
Tudo corria bem e, apesar das saudades da família eles
estavam a habituar-se à vida na Terra e não tinham tido
recaídas… até agora.
Jonas soluçava compulsivamente enquanto o Daniel
o abraçava e chorava também. Eram duas crianças num
planeta desconhecido a tentar salvar a família.
A História de Diablocity Maria Capitão
Capítulo 18
A Última Reunião
Como é que fora capaz de pensar que ele estava
interessado em mim?! “Que burra que sou“, pensava
enquanto corria na direcção que eu pensava ser a minha
casa. Ia-me arranhando em silvas, e ramos soltos, até que
caí sobre um tronco caído, e torci o pé. Só a mim para me
acontecerem coisas destas...
Não podia voltar para trás, isso era óbvio. Caminhei
durante alguns minutos, até que me sentei no chão, e
olhei à minha volta. Reparei que estava perdida. Então,
que iria fazer? Procurei nos bolsos e tirei o meu telemóvel.
Não tinha rede. Tentei telefonar ao Miguel, mas nada.
Inclinei-me um bocadinho para a direita, e consegui
apanhar rede. Inclinei-me para a esquerda e perdi a rede.
Percebi então que devia ir para a direita, pois se conseguia
apanhar rede, era porque era para ali que era a aldeia.
Caminhei durante o que me pareceram ser horas, mas
estava errada, como estava a coxear andava mais devagar,
acrescentando isso ao sentimento de desespero e raiva
que me assolava fazia com que parecesse estar a andar
à séculos. A casa do Pedro e do Jonas, era para o fim do
bosque, para o lado de Godcity.
Desejei ter aqui o meu skate e estar com o Ned. O
meu skate é todo preto e por baixo tem o Catamon e a
evolução dele. São Digimons. Costumava ver, mas acabou
a série.
A História de Diablocity Maria Capitão
Finalmente avistei a aldeia! Nunca tinha ficado tão
feliz por ver a aldeia! Corri para minha casa, bati à porta
com toda a minha força, e quando o meu pai abriu a porta
abracei- o com muita força. Pensava que nunca mais o
veria.
-O que tens, filha? Credo! Estás toda suja! - Exclamou
ao ver o estado em que eu estava. - Já para o banho!
Ri-me e tive vontade de lhe dizer que estava toda
suja, pois tinha lutado contra o filho do Diabo, saltado
duma árvore, torcido o pé e corrido pelo bosque.
-O que tens? - Perguntou ao ver-me coxear.
-Torci o pé.
-Já tratamos disso. Agora, banho!
-Onde estão os outros? E o Ned?
-Os outros vieram cá há duas horas mais ou menos,
e como viram que não estavas foram para casa da mãe.
-Ao ver o estado em que ele ficou, ao ter falado da mãe,
desejei partir duas pernas, do que voltar a vê-lo assim.
-Adoro-te muito papá.
-Também eu, querida.
-Vou tomar banho. Até já.
Tomei banho, pus um creme para as entorses, calcei
as sapatilhas, e fui à procura deles. Cheguei a casa da
mãe, em poucos minutos e toquei à campainha. Quem
abriu a porta foi o Rafael, e evitei olhar- lhe nos olhos.
164
I
A História de Diablocity Maria Capitão
-Maria! - Gritou e abraçou-me. Depois apareceu o
resto do pessoal.
-Olá!
-Tudo bem?! - Perguntaram e abraçaram-me. Em
seguida apareceu a minha mãe. Tem olhos castanhos
e cabelo castanho também. Costuma chamar me João
quando não está zangada comigo, mas quando está
zangada chama-me Maria, ou na pior das hipóteses,
Maria João.
-Olá mãe. - Disse, e dei lhe um beijo. - Tenho cenas
para vos contar. - Disse, olhando para eles.
-Vamos para o meu quarto. - Disse o André.
Quando chegámos ao quarto, fechei a porta (era a
última) e contei-lhes. Não lhes contei tudo. Era óbvio
que não lhes ia contar a parte do Jonas me ter beijado,
nem o que lhe tinha dito, antes de saltar da árvore. Não
sabia se havia de contar ao Palki que ele era filho do
Vanderdecken, por isso, optei por não contar.
O que me espantou foi o Miguel e o Rafael terem
dito que não tinham ido à biblioteca nem me telefonado.
Entrei mesmo em pânico.
- Significa que o Vanderdecken imitou o Rafael, ou
a voz dele, telefonou-me, fez de Miguel, foi ter comigo à
biblioteca, leu o que estava escrito no computador, foi até
ao centro da aldeia, e tentou matar-me?! - Exclamei.
Os outros pensaram durante um bocado, até que a
Juliana respondeu:
A História de Diablocity Maria Capitão
-É provável. Afinal, quando é que vamos resgatar os
Capper?
-Não é Capper! É Cooper! - Corrigi zangada.
-Prontos desculpa! Quem ouvir, até pensa que gostas
do Jonas!
-E gosto. - Murmurei baixinho - Mesmo que gostasse
(mas não gosto), ele nunca iria gostar de mim, e além
disso, ele acha-te gira. - Retorqui.
-Parem com isso! - Exclamou o Miguel
-O que interessa agora, é resgatar mos os Cooper, e
destruir Vanderdecken.
-Tens razão.
-Já temos tudo, sabemos os horários, e isso. - Hoje à
noite, dá? - Inquiriu a Rafaela virando-se para o Palki.
-Yah.
-Encontramos nos aqui às 23:30?
-Yah…
-Palki, tu é melhor ires ter com o Vanderdecken. Ele
deve estar ferido.
-Okay… Adeus. - Virou-se para a Juliana e
acrescentou - Amo-te. Tem cuidado contigo. Não te quero
perder, se não, também morro.
-Não faças isso. Amo-te. - Foi até à janela, e saltou.
-Tenho coisas para tratar. Adeus. - Ao dizer isto, saí
pela porta, sem olhar para trás.
166
I
A História de Diablocity Maria Capitão
Capítulo 19
A minha Escolha
Tinha demasiado para pensar. Fui para o meu sítio
preferido: o meu quarto. Adoro lá estar, deitar-me na
cama, pôr as minhas músicas preferidas, e pensar…
Tenho várias… Quando estou mal de amores, ponho “If
you’re not the one”, do Daniel Bedingfield ou a “Hasta
Mi Final” dos Il Divo.. Quando simplesmente preciso de
pensar, ponho “My Immortal” dos Evanescense. Mas as
músicas que ponho quando preciso de pensar, e estou mal
de amores, são “Implora” do Paul de Seneville, “Endless
Love” do Jackie Chan e da Kim Hee Seon e “Hasta Mi
Final” dos Il Divo. Pessoalmente, prefiro músicas calmas,
do que Rock, Pop e isso. Músicas Clássicas. Acho que as
músicas clássicas são aquelas músicas em que enquanto
as ouvimos podemos pensar em tudo…
Deitei-me na cama, pus as minhas três músicas e
pensei. Pensei em tudo. O beijo do Jonas, o que eu sentia
por ele, o que sentia pelo Rafael… Pensei também no
Rúben, na Benvinda, no Alemão, na Joana e nos pais
deles. Decidi que iria libertá-los, nem que perdesse a
minha vida. Eles mereciam isso. Sobretudo os filhos, pois
tinham de viver, mas também os pais, pois tomam conta
do Universo.
Quando a música chegou ao refrão da Kim Hee
acompanhei a música. É a única parte que já sei de cor.
A História de Diablocity Maria Capitão
Apesar de a música ser cantada em mandarim e coreano
já a sei. Na última palavra do refrão murmurei:
-Mottansondayo…
Significa amo-te. O Jackie Chan voltou a cantar e
comecei outra vez a pensar. Será que tinha feito bem ao
saltar da casa do Jonas e do Pedro? Será que ele gosta da
Juliana? Será que eu gosto dele? Será que gosto do Rafael?
Será que ele gosta de mim? Será que o Jonas me odeia?
Fogo! Tanta pergunta, mas nenhuma resposta!
Pelo menos, o meu “encontro” com o Jonas teve um
bom resultado. Lembram-se de no meu sonho ter visto
dois rapazes ambos com as roupas sujas e rasgadas?
Agora reconheço-os. São o Daniel e o Jonas. E o outrorapaz, que não era humano e vestia
roupas humanas? É
o Palki. Na oração que digo há uma coisa que me intriga
mais do que o resto. A parte “Voz, tu que iluminas a
minha vida, leva o Vanderdecken para bem longe!” A
parte de levar o Vanderdecken para bem longe entendo
mas… Quem… o que é a Voz?! Que quererá isso dizer?!
Assim, não entendo nada!
Só perguntas e mais perguntas, e nem uma resposta.
Acho que o melhor a fazer, por muito que me custe, é
deixar de pensar no Jonas, no Rafael, e tentar esquecê–los.
Quanto ao plano desta noite… Não sei se vai resultar,
acho que… foi feito muito em cima da hora, mas temos
o Palki. Mas quem garante que o Palki é nosso amigo? E
quem garante que o Vanderdecken é o mau? Se é filho do
168
I
A História de Diablocity Maria Capitão
Diabo pode muito bem ser controlado por ele…
-Que confusão! Onde está o Ned?! - Gritei para o
meu pai.
-Não sei! Não o vejo há três dias. Vi-o quando vocês
estavam a jogar àquele jogo esquisito.
Não podia acreditar… Foi também há três dias que
vi o Ned… Liguei ao Miguel para confirmar as minhas
suspeitas, desejando estar errada.
-Miguel?
-Sim?
-Há quanto tempo é que não vês o Ned?!
-Não sei. A última vez que o vi, estávamos no quarto,
antes de “assaltar” a loja do Sr. Manel.
-Oh não!
-O que foi?
-Eu também não o vejo desde essa altura. Há três
dias. - O Miguel ficou em silêncio.
Eu como já estava passada da cabeça, interpretei-o
mal.
-Achas que ele fugiu?! Já sabia! A culpa é minha!
Não lhe dei atenção nenhuma nos últimos dias, e agora…
-Choraminguei.
-Tem calma. Eu não sei se ele fugiu, mas acho que
não. Ele é feliz connosco.
-Mas eu não lhe dei atenção nenhuma…
A História de Diablocity Maria Capitão
-Ele deve aparecer. E ele adora-nos. Especialmente a
ti. Lembra-te que foste tu que o salvaste de morrer à fome.
-Tu é que sabes, mas deve ter fugido… - Disse eu,
num murmúrio. Desliguei e comecei a chorar.
Há quem diga que os treze anos são a fase do choro
e têm razão. Agora choro por tudo e por nada. O meu pai
entrou no meu quarto, e percebendo que algo de mal se
passava comigo perguntou me:
-Queres desabafar?
Desolada, encolhi os ombros e perguntei-lhe:
-Pai?
-Sim?
-Imagina, tu conhecias uma pessoa (A), e depois ela
“fugia” à pressa e beijava-te e dizia que se sentia atraído
por ti, porém antes de conheceres essa pessoa gostavas
doutra (B), mas essa outra não te ligava. E depois, ias
a casa da pessoa A e vias uma lista em que dizia que a
pessoa A achava um amigo teu giro. E começavas a sentir
algo pela pessoa A. O que é que fazias? Esquecias o A e o
B, ou esquecias só um deles? Qual?
O meu pai pensou um pouco, e depois respondeu.
-Bem… se me acontecesse a mim… eu tentava ouvir
o que dizia o meu coração. Um exemplo é tentar passar
um dia sem falar nas duas pessoas e depois via de quem
sentia mais a falta. Se não resultasse, fazia uma lista de
prós e contras. E se isso não resultasse, bem… tentava
perceber o que é que os dois sentiam por mim.
170
I
A História de Diablocity Maria Capitão
-Falar é fácil.
-É só isso que te tem andado a importunar?
-Não… Temo que o Ned tenha fugido.
-Bem… para isso já não posso dar sugestões. Ele teria
algum motivo para fugir?
-Não sei. Acho que não.
-Então… Anima-te! Não gosto de ver a minha
menininha triste…
-Já não sou uma menininha.
-Eu sei. Mas para mim, serás sempre a minha
querida e pequena menininha.
Fiz um sorriso triste para o meu pai.
-Okay pai. Vou dar uma volta e ver se encontro o
Ned, está bem?
-Okay. Tens a certeza que só estavas triste por causa
do Ned?
-Pelo Ned e pelo A e o B.
-Posso recitar-te um poema que um velho filósofo fez
? Foi um dos únicos poemas que fez. A sua assinatura era
sempre iebe.
-Sim, recita-mo, por favor.
-Quando nós acabámos fiquei desolado
Por não estares mais ao meu lado…
Pensei que me amavas
E que sempre a meu lado ficavas.
A História de Diablocity Maria Capitão
Mas percebi que estava errado
E que tu sempre me tinhas enganado…
Perdi o meu melhor amigo
Para estar a toda a hora contigo…
Agora estou na solidão
Sem nenhum amigo
Com isto aprendi uma lição
Os nossos amigos merecem sempre
Um lugar no nosso coração
Nas más alturas os amigos têm
As curas para nos recompor
E ajudam-nos a ultrapassar
Estes desgostos de Amor
-Obrigada pai.
-Mesmo que nenhum do A ou do B te ame, e mesmo
que não sejas feliz com eles... Nunca rejeites os teus
amigos.. eles são a tua fonte de alegria.
Abri a porta, preparei-me para sair, e disse, olhando
para o meu pai:
-Vê lá se te alegras tu também.
Sorriu-me e depois ligou a televisão.
Era hora de me ir embora.
172
I
A História de Diablocity Maria Capitão
Capítulo 20
O Diabo
Após o Palki ter saído de casa do André e do Jorge
foi ter à caverna do mestre, mais precisamente ao salão
principal. O salão principal tinha uma mesa, duas
cadeiras, outra mesa e uma cadeira mais afastada que
servia para os primeiros-socorros. Tinha também uma
bacia gigantesca que era onde Vanderdecken costumava
estar para se refrescar.
Quando lá chegou não viu ninguém, dirigiu-se então
para o sítio preferido do mestre, a caverna onde estava
Frankosfti e Indianaly - Vanderdecken adorava torturálos.
Foi lá, mas também não o viu. Aproximou-se da
masmorra a medo e olhou lá para dentro e... sem contar,
quatro olhos amarelos fixaram-no. Assustado, acendeu as
luzes e logo os olhos se fecharam. Indianaly e Frankosfti
não suportavam a luz. Ficariam cegos se apanhassem
luz, solar ou não. Para isso existiam uns óculos que eles
próprios tinham criado - também eram inventores! - que
impediam os raios prejudicais aos seus olhos, os óculos
reflectiam os raios.
Mais tranquilo, Palki perguntou- lhes:
-Viram Vanderdecken?
-Pensava que andavas sempre com ele. - Respondeu
Indianaly. A sua voz era límpida e desprovida de medo,
mesmo tendo sido raptada. Era a primeira vez que falava,
por isso Palki apanhou um susto ao ouvi-la.
A História de Diablocity Maria Capitão
-Pois enganas-te. Olha-me nos olhos e diz-me o que
vês. - Pediu Palki e apagou a luz.
Indianaly tinha o dom de poder ler o cérebro
das pessoas, se, por exemplo, viviam para o mal ou
para o bem. Palki sabia disso, e queria confirmar
que já não pertencia ao lado do mal, por assim dizer.
Instantaneamente os olhos de Indianaly abriram-se e
olhavam directamente para os olhos do Palki. O que viu
deixou-a muda de espanto.
-É… é espantoso. Como mudaste tanto em tão pouco
tempo? Ainda ontem de manhã eras um ser tão ou mais
horrível que Vanderdecken. Sem ofensa.
-Apaixonei-me. Amo e sou amado.
-Impressionante o que uma rapariga pode fazer…
-É verdade. - Assentiu Frankosfti.
Até agora, pouco ou nada Frankosfti tinha dito.
-Tenho outra coisa para vos dizer…
Frankosfti e Indianaly esperaram em silêncio. Que
mais novidades teria?
-Sabem… os vossos sobrinhos?
-Sim?
-Bem… uns amigos meus… conhecem-os. Melhor,
uma amiga minha. E bem… eles todos em conjunto
querem salvar-vos.
-O quê?
-Estão doidos?
174
I
A História de Diablocity Maria Capitão
- Bem... não. E eles têm tudo planeado… Os horários
dos Evils, os sítios onde vocês estão, e inclusive já se
dividiram em grupos. Também têm walkie-talkies e
bússolas… E cada grupo irá trazer uma mala com comida,
para o caso de ficarem presos.
-E tu?
-Eu e a Juliana iremos lá fora a vigiar e a ver se não
aparecem nenhuns Evils.
-E se aparecerem?
-Dou cabo deles. Por amor faço tudo.
-E… quando tencionam salvar-nos?
-Hoje.
-Hoje?
-Hoje. - Confirmou Palki.
-Bem, eu não diria que eras filho do pai que és…
-Que queres dizer com isso?
-Nada...
Sabendo que nada mais iria arrancar de Indianaly,
Palki foi se embora com um acenar de mão. Saiu da
caverna e foi procurar o Vanderdecken.
Passado pouco tempo, Palki cruzou-se com Eli.
Eli era uma Evil. Palki cumprimentou-a, o que muito a
espantou, pois Palki nunca costumava cumprimentar
quem quer que fosse.
A História de Diablocity Maria Capitão
-O que se passou? - A voz de Eli, era fina, alta demais
e muito irritante.
-O que queres dizer? Sabes do mestre?
-O mestre? Vi-o ainda há bocado. Estava a andar
devagar e sangrava da cabeça.
-E deixaste-o assim?
-Sim. Tu deves tomar conta dele.
-Deve tomar conta de quem? - Perguntou
Vanderdecken enquanto aparecia por detrás dele,
caminhando lentamente.
-Mestre! Estais ferido! Temos de tratar já disso! O
que lhe fez isto?
-Foi uma arma MexMet.
-MexMet? - Repetiu Palki, parecendo confuso.
- Sim! As armas MexMet foram criadas pelo
Frankosfti pois um tiro dessa arma mata uma criatura
qualquer se acertar directamente no coração. Se acertar
noutra parte qualquer do corpo, danifica seriamente o
sítio onde acertou e pode ficar danificado para sempre.
-Hum… mas tenho a certeza que eu poderei curar
essa ferida, se me deixar. - Apesar de Palki estar do lado
da Juliana e querer livrar-se de Vanderdecken, não o
podia fazer agora. E tinha de fazer o seu papel. A ferida
de Vanderdecken estava azul esverdeada e deitava
sangue verde.
-Não! Primeiro tenho de me vingar.
176
I
A História de Diablocity Maria Capitão
-De quem, meu mestre? Quem lhe fez isto?
-O fedelho fez-me isto para salvar a rapariga. O
primo dos filhos de Indianaly e Frankosfti.
-Hei-de torturar o que ela mais deseja.
-E o que é isso, meu mestre?
-O seu cão.
-De quem? Da rapariga?
-Claro! Não sejas estúpido Palki! - Exclamou
Vanderdecken desmaiando em seguida.
-Eli ajuda-me a levá-lo.
-Okay.
Juntos levaram Vanderdecken até ao salão principal.
Quando lá chegaram Palki expulsou Eli, e debruçou se
sobre a ferida de Vanderdecken. Limpou a zona à volta
do buraco com algodão embebido em álcool. Palki vivia
sobre o ditado “O que arde cura”. Na verdade, era um
dos poucos ditados que sabia. Vanderdecken não lhe
dava muita informação sobre os humanos. Pôs um penso
sobre a ferida de Vanderdecken, rabiscou um papel a
dizer que ia buscar comida, e saiu da gruta.
De repente, uma voz ecoou pela caverna:
-Levanta-te seu molengão! - Vanderdecken
estremeceu e acordou.
-Importa- se? Estou ferido! Deixe-me dormir!
A História de Diablocity Maria Capitão
-Resmungou, e tapou os olhos - Nunca entendi como
consegue fazer isso…
-Isso o quê?
-Isso… Fazer com que a sua voz faço eco.
-Isso, e ter pessoas em quem mandar, são as
recompensas de mandar no Inferno.
Em referência ao nome “Inferno”, Vanderdecken
estremeceu, e reclamou:
-Cale-se! Isso dá-me arrepios!
-Qualquer dia és tu quem terá estes “poderes”.
-Nunca na vida. Para isso, tenho de morrer, e tenho
de mandar nessa cambada de imbecis que para aí andam.
O que cá veio fazer afinal? Aposto que não foi ver-me!
-Vim ver o meu neto.
-Cale-se! Ele pode estar por perto!
-Não está. Ele acabou de sair, eu próprio confirmei. E
além disso, que mal tinha? Porque não assumes que ele é
teu filho?
-Porque ele fazia muitas perguntas, e não quero ter
de admitir que matei a mãe dele. E… porque ele ficaria
constrangido, e nunca mais trabalharia para mim à borla.
Além disso, ficaria chateado comigo por lhe ter mentido e
o ter obrigado a trabalhar.
-Okay! Como está a correr a tua vingança?
-Bem.
178
I
A História de Diablocity Maria Capitão
-Já os mataste?
-Não.
- Então despacha-te! Quando o fizeres, tu, o Engrious
e eu governaremos isto tudo! Fez um gesto com as mãos
como se quisesse embarcar todo o Universo e mais além
nelas.
-Tenha calma. Não passa de hoje. - Garantiu, rindose de seguida.
A História de Diablocity Maria Capitão
Capítulo 21
O Suposto Rapto
Querem saber o que aconteceu ao Ned? Bem, na
realidade ele não fugiu. Aliás ele nunca teria fugido. Foi
raptado. Sabem por quem? Não foi pelo Vanderdecken
mas sim pelo Palki. Sim! Mas não pensem que ele é mau.
Antes pelo contrário. Ele é tão boa pessoa, que ao saber
que Vanderdecken queria raptar o Ned, raptou-o ele
mesmo, e escondeu o. Vou contar- vos tudo, tintim por
tintim.
Após ter saído da gruta, Palki já tinha decidido o que
iria fazer:
1º iria raptar o Ned e pô-lo em segurança.
2º iria ajudar os seus amigos na luta contra o
Vanderdecken.
3º…bem… não sabia.
Encontrou o Ned a vaguear pelo bosque, perto de
onde a Maria dizia ser a casa de Jonas e do Daniel.
-Olá jovem!
-Uof!
Via-se que o Ned estava feliz por finalmente ter
encontrado alguém, e como considerava Palki como um
animal, ainda mais contente ficou.
A História de Diablocity Maria Capitão
-Olha preciso de te raptar. Lamento. Mas é mesmo
importante. Alguém me irá matar, se te acontecer algo
antes dessa pessoa te vir. Okay?
-Uof!
-Ai isso é que não vais! - Disserem duas vozes, acima
dele, antes de aterrarem com estrondo no chão.
-Olá Jonas. Olá Daniel.
-Como nos conheces?
-A Maria falou-me de vocês.
-Ah, okay. - Respondeu com desânimo o Jonas,
olhando para o chão.
-Se tocas nesse cão, vais-te arrepender. - Ameaçou o
Daniel.
-Não entendem? O Vanderdecken quer raptá-lo e eu
quero protegê-lo.
-Vai contar essa a outro! - Exclamou exaltado o Jonas.
O Daniel inclinou-se sobre o Jonas e segredou-lhe:
-Lembra-te do que a Maria disse. Ele está diferente.
- Apenas vos peço que guardem o Ned. Ele não fica
em segurança comigo. Queria que o protegessem a todo o
custo do Vanderdecken. Se ele for morto, ou desaparecer,
a Maria irá sofrer muito. Pode que até não recupere. Parou para pensar e depois continuou - Ela ama aquele
cão, mas também te ama a ti. Mas tu magoaste-a muito.
Ela não disse a nenhum de nós o que sentia por ti, mas vi
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I
A História de Diablocity Maria Capitão
na sua voz. Como foste capaz? Ela desistiu do Rafael, e
virou-lhe costas por ti! E tu... Magoaste-a desta maneira.
Porquê? - Gritou Palki, falando para o Jonas.
Jonas encolheu os ombros e baixou a cabeça.
-Se tu voltas… mas se tu voltas a magoá-la assim,
ou a dizeres-lhe alguma coisa, vais sofrer como nunca
sofreste antes! - Palki tinha os olhos vermelhos de raiva,
ao dirigir-se a Jonas.
Na verdade, Jonas queria ter falado, mas as lágrimas
ameaçavam cair-lhe pela cara abaixo. Por isso, nada
disse. Como poderia ter explicado o facto de amar tanto
Maria, que não suportava viver sem ela? Que uma
simples referência do seu nome fazia pulsar tanto o seu
coração que parecia que ia sair-lhe do peito? Que ansiava
mais que tudo, estar com ela? Era impossível explicar
isso, especialmente em frente ao seu irmão e a Palki. Se
pudesse vê-la… Nem que fosse por um segundo…
Jonas tinha sofrido muito desde que ela saltara da
casa deles e tinha a certeza que Palki não podia fazê-lo
sofrer mais. Era impossível sofrer mais do que aquilo.
Passava o tempo todo a suspirar e quando ouvia um
barulho, por mais pequeno que fosse, saltava de casa e
chamava por ela.
-Diz- lhe que lamento muito. Que não desejava que
isto fosse assim. E diz-lhe acima de tudo, que... Eu a … - A
palavra “amo” não parecia querer sair-lhe dos lábios por
isso não a disse.
A História de Diablocity Maria Capitão
O seu irmão olhava para ele com uma pena enorme.
Sabia o que era isso. Já o tinha sentido, mas não tão
intensamente nem tão trágico como o irmão.
Jonas sabia que a Maria o amava, mas… pensava que
nunca poderiam estar juntos. O destino era demasiado
cruel. Se derrotassem Vanderdecken, ele teria de regressar
ao seu planeta juntamente com o seu irmão, com os
primos e os tios. De certeza que Maria não poderia vir. E
ainda por cima, no seu planeta Natal, era normal casaram
os jovens cedo. Mas infelizmente era o Senhor que
escolhia com quem deviam os jovens casar.
O Senhor era uma espécie de Rei que mandava no
planeta dele. Os pais eram donos de metade do Universo,
e como eles eram um bocado retrógrados, aceitavam
que fosse o Senhor a mandar em quem eles casariam
e não os próprios jovens. Os próprios pais tinham
casado com quem o Senhor tinha mandado. O Senhor já
tinha planeado com quem Jonas iria casar. Tinha duas
hipóteses: Hinky ou Jeny.
Jonas apenas desejava uma, que infelizmente não
era nenhuma dessas. Desejava a Maria. Desejava-a
loucamente. Por isso, Jonas chorava em silêncio o seu
infeliz destino. Mais valia matar-se. Custava menos. Pelo
menos não passaria o resto dos seus dias com uma louca
desvairada por quem ele nada sentia, além do ódio e de
desprezo.
Palki olhou para Jonas e para Pedro, e apenas disse:
184
I
A História de Diablocity Maria Capitão
-Tomem conta dele. Entregou a coleira de Ned a
Pedro. - Preparava-se para se ir embora, quando se voltou
de repente e disse - Ah, ia-me esquecendo, nós atacamoshoje às 00:00. Às 23:30 saímos de
casa da Maria. Lá terás
oportunidade de lhe dizer o que sentes.
A História de Diablocity Maria Capitão
Capítulo 22
A Última Vez
As lágrimas corriam como se alguém tivesse aberto
uma torneira que corria água e nunca pararia. Tinha
procurado o Ned em todos os lugares em que ele poderia
estar, e não estava em nenhum deles. Desesperada, deiteime na cama, e adormeci enquanto chorava.
Quando me levantei, eram cerca das oito da noite.
Faltavam quatro horas para irmos atacar o Vanderdecken.
Olhei ao espelho e ia dando um berro. Estava horrível!
Pareciam que me tinham dado uma sova, e passado
uma noite a pé. O cabelo estava todo oleoso, a cara toda
cheia de olheiras e viam-se umas manchas de sujidade
na roupa. Tomei banho, vesti um par de calças e vesti a
minha camisola preferida que diz “I spy with my litle
eye” e o meu casaco com caveiras. Calcei-me (as minhas
sapatilhas estão no meu quarto), atei o cabelo, peguei no
meu skate e desci as escadas. O meu pai estava a jantar.
-Pizza. - Murmurei. Tirei dois pedaços, dei um beijo
ao meu pai e saí de casa.
Fui comendo enquanto ia de skate até casa da minha
mãe. Bati à porta, e mal abriram, disparei:
-O André, o Jorge…
-Saíram. Acho que iam a casa da Rafaela buscar a
Rafaela e a Juliana.
A História de Diablocity Maria Capitão
-Obrigada mãe. Até já. - E fui-me embora.
Quando cheguei a casa da Rafaela, toquei à
campainha, e quem abriu foi a irmã da Rafaela e da
Juliana. Tem 5 anos, e chama se Irina.
-Olá Irina. As tuas irmãs?
-Ela e os outros saíram. Disseram qualquer coisa
sobre Caveira ou assim.
-Obrigada. Adeus.
-Adeus!
Já sabiam onde estava. A Clareira da Caveira. A
Juliana disse-me que o Palki lhes tinha dito para nós
irmos entregar os doces na Clareira da Caveira. Se bem
me lembro… tenho de entrar no pátio dos rapazes, subir à
maior árvore e olhar para Oeste.
Enquanto atravessava a aldeia, ia olhando para tudo
uma última vez, já que bem podia ser a última.
188
I
A História de Diablocity Maria Capitão
Capítulo 23
A Discussão
-Pede-lhe desculpa!
-E o que é que tu sabes sobre isso?! Que eu saiba,
foi contigo que a Ana acabou e disse que nunca mais te
queria ver! - Respondeu Jonas, completamente irado.
-Pois sabes mal! Ontem, pedi-lhe desculpa pelo
intercomunicador e disse-lhe que tinha muitas saudades
dela. Ela perdoou-me e disse que também tinha! Como
vês já namoramos outra vez! - Retorquiu o Daniel.
-Mas o Senhor não te vai deixar casar com quem tu
quiseres!
-O servo dele, o Urugy, consegue ver o nosso
coração. Se o Urugy vir que tu amas mesmo uma rapariga
e ela a ti, podes casar com ela!
-Isso significa que se eu e a Maria, por exemplo, nos
amarmos mesmo e ele vir, poderemos casar?
-Yah!
-Oh… Mas se nós derrotarmos Vanderdecken
teremos de voltar para o nosso planeta! E ela não poderá
vir! E além disso, ela não gosta de mim… - parou - Nem
eu dela! - Acrescentou a olhar para o Daniel.
O Daniel foi apanhado de surpresa, vacilou e ia
caindo. Felizmente, estava perto da cama e sentou-se.
-Tu… não gostas dela?
A História de Diablocity Maria Capitão
-Não! - Mentiu Jonas com lágrimas a assomarem- lhe
aos olhos.
-Mentes muito bem, não? - Retorquiu o Daniel mais
calmo ao ver a mentira do irmão.
-Tu não entendes?! Eu gosto dela. E muito mesmo!
Eu não imagino a minha vida sem ela... Nem quero
imaginar! Mas… ela merece melhor que eu! E… os pais
nunca aprovariam… Ela não pode casar com menos de
18! E tem 13 anos! E se casássemos, onde viveríamos?! No
nosso planeta ou cá?!
-E se…
-Não! - Gritou o Jonas, impedindo o Daniel de dizer
o que quer que fosse a dizer. - Eu casarei com a Hinky.
Arranjará menos problemas e não mudará nada da
tradição. Ela até nem é muito má…
-Pois, pois! Mente que eu gosto! Tu odeias a Hinky,
os modos dela e o facto de ela se importar mais com as
roupas e com a cara do que com coisas mais importantes,
tipo o Planeta, ou a Vida, ou o que estamos cá a fazer!
Sabes o que tens? Medo. Muito medo. Medo de mudar a
tradição. Medo de mudar. Medo de entrares numa nova
aventura sem saberes se resultará bem ou mal. Medo
de dar um passo em falso. Medo de arriscares. Já estás
tão habituado que as coisas sejam assim, que te façam
a papinha toda, que não consegues lutar. Nem mesmo
pela pessoa que amas. Preferes continuar assim e vir a
arrepender-te. A maior parte das pessoas são como tu.
190
I
A História de Diablocity Maria Capitão
Já estão tão habituados à vida tal como está, que não
fazem nada. Continuam assim, e depois todos perdem.
Não és só tu quem perderá. A Maria também perderá. Se
continuares assim, irás casar com a Hinky ou com a outra,
e um dia quando visitares o Planeta Terra, e terás que o
fazer pois qualquer uma das tuas futuras mulheres já me
disse que quer cá vir, irás ver a Maria casado com um
homem qualquer, que lhe baterá e a fará infeliz. E nessa
altura vais-te arrepender de não ter arriscado e ter ficado
com a mulher da tua vida só por causa de uma estupidez
qualquer!
-Ela não terá nódoas negras.
-Ah?
-Ela é forte demais, tanto física como
psicologicamente para se deixar bater por alguém, quanto
mais pelo seu marido.
-Não é isso que te estou a perguntar! Queres isso?
-Não. - Murmurou Jonas.
-Não te ouvi.
-Não. - Disse um pouco mais alto.
-Não te ouvi.
-Não!!! Eu não quero que ela case com outro homem!
Quero que case comigo! Quero acordar ao lado dela todos
os dias! Quero vê-la adormecer e acordar! Quero ver os
seus maus-humores de perto... Quero acalmá-la quando
tiver um pesadelo. Quero andar de mão dada com ela...
A História de Diablocity Maria Capitão
Quero-a perto de mim.
-É assim mesmo! Estava a ver que nunca mais lá
chegavas.
-Auf!
-E o Ned também.
-Ei, Ned?
-Uoff?
-Eu amo muito a tua dona. E vou casar com ela.
Agrada-te?!
-Au! Au!
-Parece que sim! - E desataram ambos a ir, felizes
com o risonho futuro que lhes aparecia no horizonte.
-O que estás a fazer? - Perguntou o Daniel, quando
viu o Jonas a escrever num papel minutos antes de se
irem embora.
-Estou a escrever uma carta à Maria.
-Porque não falas tu com ela? - Questionou o Daniel.
-E se lá estiveram os amigos? Não gosto nada do
Miguel.
-Okay.
Acabou de escrever a carta, pegou no Ned ao colo e
disse-lhe olhando-o nos olhos
-Vou ter saudades tuas meu sardento mas está na
hora de ires para casa! Leva-me até lá Ned!
O Ned guiou-o entre as árvores até chegarem a uma
192
I
A História de Diablocity Maria Capitão
casa castanha, com as janelas percorridas até baixo.
-É aqui?
-Uof!
Prendeu o Ned ao poste do correio, e escondeu-o
para que quem quer que abrisse a porta não o visse. Bateu
à porta e como ninguém ouviu, voltou a bater. Até que
um homem veio abrir a porta.
-Boa-noite. Presumo que seja o pai da Maria.
-Se fosse só da Maria, estava eu bem! Sim sou, e
você? - Perguntou, desconfiado.
-Um amigo da Maria. Ela está?
- Não. Lamento mas saiu há três minutos e foi ter com
os amigos.
-Podia entregar-lhe isto, quando ela voltar? - E
entregou lhe um envelope branco, com a palavra
“Desculpa” bem visível a preto.
-O que lhe fizeste?
-Magoei-a, mas arrependo-me muito desde essa
altura. Nem me alimento em condições.
-Deve ter sido mesmo duro.
-Nem imagina o quanto. Desculpe o incómodo.
Obrigada por tudo.
-De nada, meu filho.
-Adeus.
-Olha, tu magoaste-a hoje não foi?
A História de Diablocity Maria Capitão
Jonas assentiu com a cabeça.
-Estavam no bosque quando isso aconteceu ?
-Sim senhor. Porquê ?
-Primeiro não me trates por senhor. Segundo foi hoje
que ela veio do bosque toda suja e a chorar mesmo muito.
Nunca a tinha visto tão triste, nem quando me separei
da mãe dela… Fizeste mesmo asneira rapaz.. Mas isso
também mostra que ela gosta mesmo de ti pois ela não
iria chorar por um rapaz qualquer… Só te digo isto: vai-te
a ela… e não a magoes!
-Sim! - Exclamou. E saindo da entrada da casa,
desatou a coleira do Ned da caixa de correio, e seguiu
para casa.
194
I
A História de Diablocity Maria Capitão
Capítulo 24
A Preparação
-Calem-se! - Num instante, o barulho que estava
dentro da gruta dissipou se como que por magia. Quando
o Miguel queria mandar, todos o respeitavam.
- Temos de nos preparar. Vou fazer a confirmação do
que precisamos: Bússolas. Tenho a certeza quem os três
caminhos vão para pontos cardeais diferentes.
-Por acaso vão ter ao mesmo. Vão ter à gruta
principal. - Informou o Palki.
-Seguinte: Comida. Cada grupo deve levar 6 sandes.
E um cantil para cada. Ora vejamos. Quem é o teu grupo
Jorge?
-Não sei.
-E o teu Rafael?
-A Maria, e o Ned.
-Onde é que eles estão?
Nesse momento ouviu-se um ribombar dum trovão, e
começou a chover torrencialmente.
-Que chuvada!
-Que horas são? - Perguntou alguém.
-São 20:32.
-Que cena!
-Tenho de ir jantar!
A História de Diablocity Maria Capitão
-Está a chover bué!
-Não podemos sair daqui!
-Acalmem-se! Trouxe jantar!
-É o quê?
-Pizza! Está naquele malote além! - E apontou para
um malote fechado encostado à parede.
Imediatamente todos se dirigiram com rapidez para
a mala, e só pararam quando ouviram um estrondo dum
trovão. Olharam todos para a entrada da caverna e viram
um vulto indistinto a entrar na caverna. Olharam uns
para os outros e começaram a ficar com medo.
Quem seria? Seria… não… seria Vanderdecken?!
Algures no meio deles, alguém mandou um berro. Todos
olharam. O vulto parou. Quem teriam gritado? Olharam
uns para os outros com uma pergunta estampada no
rosto: “Quem gritou? “ Quem é aquele?”
Pareciam ter passado horas, mas apenas passaram
30 segundos até o vulto se aproximar da luz que estava
na caverna. A caverna estava iluminada com velas,
espalhadas por toda a parte excepto à entrada. O vulto
parecia estar com dificuldades, e de súbito algo embateu
no chão.
“Ai! “
Outro berro. Desta vez todos olharam para a Juliana.
Ela justificou-se apontando para uma aranha que por ali
estava a andar.
196
I
A História de Diablocity Maria Capitão
-Também me posso juntar à festa? - Disse o vulto
enquanto se dirigia para a direcção deles. Quando
finalmente se conseguiu ver quem era o vulto misterioso
já toda a gente estava cheia de medo.
-É a Maria! - Gritou o André!
-Cheios de medo. Ah? - Gozei
-Onde tens andado?
-Vejamos… fui à procura do Ned, não o encontrei.
Adormeci das 16:00 às 20:00. Depois vou procurar-vos e
dizem-me que vocês não estão. Finalmente, a Irina disseme que vocês falaram em qualquer coisa da Caveira.
Lembrei-me do que poderia ser e estava a vir para aqui,
quando começa a chover muito. Mais explicações?
-Não.
-Onde iam?
-Íamos começar a comer. Se nos quiseres fazer o
favor de nos acompanhar… - Disse o Miguel.
-Não obrigado. Já comi. O pai comprou pizza.
-Precisamos de 18 sandes, e de 5 cantis cheios de
água.
-Como os vamos buscar a chover assim?
-Eu tenho um chapéu de chuva. - Informei.
-Boa! Mas não podes ir sozinha.
-Eu vou contigo. - Ofereceu-se o Rafael.
-Okay.
A História de Diablocity Maria Capitão
- Aonde tencionas ir buscar as sandes e os cantis? Inquiriu o Rafael enquanto saíamos da gruta.
-Ao supermercado que há ao sairmos da escola.
-Estás doida? Não temos dinheiro!
-E quem disse que precisávamos de ter? - Retorqui.
-Estás a pensar em assaltar a loja?
-Não é bem assim. Tu distrais o empregado da loja e
eu roubo.
-É por estas e por outras que eu gosto de ti. Estás
sempre pronta a arriscar! - Disse, dando-me um abraço.
-Vamos? - Perguntei quando se afastou.
-‘Bora!
Quando chegámos ao supermercado o plano A
começou. Entrámos e dirigi-me à prateleira dos cantis.
Peguei em 5 cantis, em 16 sandes com chouriço, e
dirigi me à caixa. Fiz sinal ao Rafael para ele começar a
distracção. Ele dirigiu-se à prateleira dos sumos, e chocou
propositadamente com os sumos. Imediatamente ouviuse um barulho ensurdecedor e os sumos caíram todos
ao chão, rebentando. Em seguida pegou num pacote de
bolachas e fugiu, accionando o alarme. O empregado
começou a praguejar e correu atrás dele. Como não o viu
dirigiu-se ao sítio onde os sumos estavam todos caídos.
Dei a volta à caixa, cliquei em algumas teclas e abri a
caixa. Retirei o dinheiro que era preciso para pagar as
sandes e os cantis, fechei a caixa e voltei ao meu sítio.
198
I
A História de Diablocity Maria Capitão
-Quanto é? - Perguntei enquanto tentava não me rir.
-São 50.60€.
-Aqui está. - E entreguei lhe 60€.
-Aqui tem o troco.
-Obrigado. E desculpe a cena dos sumos.
-Provavelmente só sairei daqui às dez da noite.
Garoto estúpido. - Ia praguejando o empregado enquanto
se dirigia com uma esfregona para o chão molhado.
Fizemos o caminho de volta à gruta em silêncio a
comer as bolachas de Aveia, até que de repente o Rafael
parou e quando lhe ia a perguntar o que se passava, ele
disse:
-Aconteceu algo na casa do Jonas e do Daniel, não
foi? - Como permaneci em silêncio, ele continuou - Algo
de especial? Algo a ver com o amor?
-Como sabes? - Perguntei num fio de voz.
-Eu conheço-te. Vi a forma como falaste à Juliana
quando ela se enganou no nome deles. E quando ela
ripostou a dizer que parecia que gostavas deles, tudisseste que gostavas. Eu vi-te. De quem
gostas? É do
Jonas? Ou do Daniel?
-Não sei.
-Não sabes? - Repetiu céptico.
-Eu acho que gosto do Jonas, mas há outra pessoa
envolvida de quem eu já gostei durante muito tempo, e
A História de Diablocity Maria Capitão
não tenho a certeza de quem gosto…
-É de mim, não é? De quem tu já gostaste?
Acenei com a cabeça. Já suspeitava... Já gostei de ti,
quando nos conhecemos. Agora não. Estou mais para o
estilo de gajas louras e olhos verdes. - Gracejou.
-Um pouco difícil de arranjar não? - Disse, enquanto
esboçava um leve sorriso.
-Espero bem que não… Preciso de me alimentar... o
sangue delas é o melhor… - Sorri, e retorqui - Não queres
provar o meu, ó santíssimo vampiro? Ainda bem…
Obrigado…
E enquanto fazia uma fingida vénia, ele saltou para
cima de mim, caímos os dois ao chão, e rebolámos pela
relva. Quando parámos, desatámos ambos a rir-nos, e
disse-lhe:
-Sabes mesmo animar uma rapariga triste, vampiro.
-Ainda bem. Pensei já ter perdido o meu truque de
conquistar raparigas.
-O que tu conquistas de mim é um belo murro!
-Quero ver!
-Olha que pode doer!
-Quero ver… - E aproximando me dele, beijei-o.
-Viste? Doeu ou não?
-Não… Quero outro a ver se dói.
200
I
A História de Diablocity Maria Capitão
-Este murro foi só para te agradecer de me teres
animado.
-Ohhh… - Murmurou o Rafael - estava na esperança
de levar outro…
-A esperança é a última a morrer… - Disse, piscando
lhe o olho.
Não quero que pensem que gosto do Rafael, ou ele
de mim, ou que estou de alguma forma a trair o Jonas.
Apenas me estou a libertar. Estou a tentar esquecer o que
vamos fazer a seguir, a desfrutar a vida. Pessoalmente
acho que já nem penso no Jonas. Ele magoou-me, mentiume e após salvarmos os tios e primos dele, nunca mais o
verei. Não sei se isso faz com que fique feliz, ou triste.
Quando chegámos à gruta, estavam todos em
silêncio a ouvir o Palki, que revia o que devíamos fazer.
Se falhássemos, não havia outra oportunidade de repetir.
Era agora ou nunca. Enquanto Palki falava, eu e o Rafael
íamos distribuindo as sandes e os cantis. Cada chefe de
grupo pôs as sandes e os cantis dentro da mochila.
-Eu, juntamente com o Palki, tivemos a ideia de
comprarmos bússolas com um fio para pôr ao pescoço, e
também um walkie-talkie para cada grupo. Carreguem
no botão para falar, e tenham sempre ligado. - Informou a
Juliana.
-Aqui estão. - Disse o Palki, com um grande sorriso.
A cada grupo foi distribuído um, e eu, que era a chefe
A História de Diablocity Maria Capitão
do meu grupo, disse:
-Eu e o Rafael, vamos procurar o Rúben , que pelas
informações do Palki está numa gruta sozinho.
-A que horas é para lá estar? - Interrompeu o Jorge.
-Saímos daqui às 23:30. Atacamos à meia-noite.
Diz- nos como chegaremos às grutas. - Pediu a
Rafaela
-Vocês não irão todos juntos. Primeiro irá o grupo da
Maria, pois a gruta para onde vão é o que está mais longe.
Em seguida, vai o grupo do Miguel buscar a Joana. No
final, mas não menos importante vai o teu grupo buscar
os pais, o Alemão e a Benvinda.
-Okay. - Disseram todos em conjunto.
-Vamos só rever uma vez mais. Ainda temos meia
hora.
Engoli em seco. Meia hora antes de nos deparamos
com o diabo em forma de pessoa. Meia hora antes de
tentarmos salvar aquelas pessoas. Meia hora antes de
nos atirarmos para a boca do lobo. Meia hora antes de
possivelmente ver o Jonas. Só de pensar nele, vieram me
lágrimas aos olhos, e uma delas ameaçou deslizar pela
minha cara. Limpei-a lentamente e esforcei-me para ouvir
o Palki.
-…Portanto, daqui a vinte e nove minutos estaremos
já perto da gruta do Vanderdecken. Vamos rever as
posições: Rafael, tu e a Maria estarão...?
202
I
A História de Diablocity Maria Capitão
- Estaremos a entrar na caverna. Passados dez
minutos o grupo do Miguel entrará e após outros dez
minutos entrará o grupo do Jorge. Durante os dez
minutos anteriores à entrada do grupo do Miguel, tu
irás nos indicar para onde ir, e haverá uma altura em
que tu nos dirás apenas os pontos cardeais a seguir.
Nessa altura, seguiremos por nós próprios. Connosco
levaremos uma navalha, para tentarmos abrir a
fechadura, e se não resultar, poremos explosivos de pouca
intensidade. Certamente isso alertará o Vanderdecken,
mas esperaremos não recorrer aos explosivos. Quando
os conseguirmos salvar, viremos pelo caminho de
volta. Quando cá chegarmos, iremos levar os nossos
protegidos a casa do Jonas e do Daniel. Lá ficarão em
segurança enquanto nós regressamos para a caverna,
para esperarmos pelos restantes grupos. - Respondeu
prontamente o Rafael.
E eu a pensar que ele nunca decora nada.
-Muito bem. Eu não conseguiria explicar melhor.
-Entenderão todos? É isto o que devem fazer. Bem…
chegou a hora. Vamos!
Lentamente e conscientes da nossa missão, saímos da
pequena gruta que fora o nosso abrigo por algumas horas.
Todos pegámos nos nossos skates, excepto o Palki e o
Rafael, pois não tinham.
-Vem no meu, Rafa.
-Okay.
A História de Diablocity Maria Capitão
-E tu no meu, Palki.
-Okay.
E todos juntos seguimos para o que poderia ser a
nossa morte. Ninguém dizia nada. Estávamos todos a
tomar consciência que aqueça poderia ser a última vez
que estaríamos todos juntos. O Rafael envolveu-me a
barriga com os braços, como que para me mostrar que ele
estava ali. Seguíamos calmamente, como se estivéssemos
à espera que alguém aparecesse de repente com a máscara
de Vanderdecken no braço, e dissesse que tudo não tinha
passado duma brincadeira.
Como isso não aconteceu, e ninguém esperava que
acontecesse, apressámo-nos e continuámos viagem.
204
I
A História de Diablocity Maria Capitão
Capítulo 25
Daniel, o Justiceiro
-Danny... Que horas são?
-Hum… - disse, enquanto inspeccionava o relógio
-são onze e vinte e cinco. - O Jonas engoliu em seco ao
ouvir as horas, e o Daniel perguntou porque tinha feito
isso.
-A Maria e o resto do pessoal vão estar na caverna
dentro de cinco minutos. E nós temos de ir andando isto
é, se queremos ir ajudá-los na luta.
-E se tu quiseres dizer a uma certa pessoa o que
sentes por ela.
-Isso também…
-Já está tudo preparado?
-Yah. Temos o Ned, vamos a pé para a gruta, temos a
pistola - e enquanto ia enumerando as coisas que tinham,
tirou do bolso uma arma reluzente - que são capazes de
matar o Vanderdecken se atiradas para o coração e como
ambos temos boa pontaria, não há problema!
-Okay…
-Vamos?
- Espera. Tenho de ir ao meu quarto fazer uma cena. Daniel sorriu pois já sabia o que era.
A História de Diablocity Maria Capitão
Jonas fazia sempre o mesmo antes de partir para
uma longa viagem pois não podia levá-lo com ele. Há
alguns anos, Jonas recebeu de presente de Natal um
quadro que representava um casal de mãos dadas, a
caminhar para o pôr-do-sol no planeta que a mãe criou,
Indianapólis. Mas não era só este quadro que Jonas iria
ver todas as vezes que partisse de viagem. Colocado atrás
do quadro Miraclus (era assim que se chamava), estava
uma dedicatória e um autógrafo do ídolo de Jonas. A
dedicatória era mais um conselho, era sobre nunca desistir
mesmo quando parece que tudo estava perdido. Falava
sobre seguirmos os nossos sonhos, mesmo que tudo e
todos estejam contra eles. Jonas adorava este quadro
e também a dedicatória. A dedicatória e o autógrafo
tinham sido feitos exclusivamente para ele. O seu tio era
um grande homem de negócios e tinha contactos, e era,
inclusive, o melhor amigo do ídolo de Jonas.
O ídolo de Jonas era um homem muito velho, era
o homem mais velho de todo o Universo. Chamavase Daniel e tinha 199 anos. Iria fazer 200 anos dia 8 de
Agosto. Por instantes lembrou-se que hoje era dia 29
de Maio... Era o aniversário da Maria, mas ninguém
se lembrava, nem mesmo ela... Jonas contava estar em
Agosto perto de Daniel. Daniel tinha escrito um livro que
tinha a ver com a dedicatória que fez ao Jonas. O Escritor
tinha sido expulso do seu planeta, Penguini, mudandose para Indianapólis. Foi lá que Jonas o conheceu. Daniel
simpatizou imediatamente com o Jonas. Eram muito
206
I
A História de Diablocity Maria Capitão
amigos, e Daniel contou-lhe a sua história. Contou-lhe
como fora a sua infância, que tinha sido vendido pelos
pais como escravo e que tinha de fazer tudo o que lhe
mandavam, sendo a sua recompensa comida e um
colchão para dormir. Mas vivia na rua. Só entrava na casa
dos seus pais adoptivos, que eram terroristas, para fazer o
que lhe mandavam.
O tempo foi passando e Daniela foi crescendo e
engendrando um plano para fugir. Tentou fugir, mas no
último minuto, uma jovem rapariga denunciou-o. Era
a filha do chefe dos terroristas. Foi castigado, atiraramno para uma cave onde não havia comida apenas água.
Haviam lá canos que levavam a água desde um lago bem
longe da casa. Um dos canos era largo o suficiente para
Daniel caber, e como ele era tão bom nadador, teve uma
ideia, pegou num machado, e dia após dia foi partindo
um pouco do cano, até que conseguiu abri-lo. Quando a
cave começou a encher água ele entrou pelo cano que o
levaria ao lago e começou a nadar. Estava já a ficar sem
ar, quando emergiu no lago. Olhou em volta e só viu
árvores e pássaros a chilrear. Caminhou durante dias
até, exausto, ver uma cidade no horizonte. Correu o mais
depressa que pôde, o que era muito, pois já tinha prática
em fugir dos amos. Quando lá chegou, viu uma tabuleta
a dizer “Peng”. Entrou no bar e imediatamente todas as
caras se voltaram para ele. Era normal, visto que Daniel
era um rapaz muito novo, tinha 9 anos, e estava todo
sujo. Tinha apenas vestido um avental branco, que já não
A História de Diablocity Maria Capitão
era tão branco. Um dos homens que lá se encontravam
perguntou- lhe:
-Olha lá, és de onde? Estás perdido?
-Não. Fugi do meu amo.
-És escravo de quem?
-Dos terroristas que vivem naquela casa gigante.
-Aquela casa que está a 15 quilómetros daqui?
-Sim.
-E onde está ele?
-Nesta altura deve estar a tentar tapar a água que
está a afundar a cave, na casa.
-Tu vieste de lá?
-Sim. Vim a correr.
-Uou!
-Como fugiste? - Perguntou outro homem.
-Ele mandou-me para a cave sem comida nem água,
e então vi o tubo que vem do lago que está aqui perto,
cortei o cano, e entrei e nadei até ao lago. Depois vim a
correr até aqui.
-Então tu sabes onde é que ele esconde a mercadoria
toda e as coisas roubadas?
-Sim, claro. Entram pelo porta principal e vêm
um tapete aos pés. Debaixo do tapete está um alçapão.
Desçam as escadas e virem à direita. Lá encontrarão
caixotes cheios de roupa. Tirem as roupas, e estará lá um
fundo falso. Tirem-no e encontrarão a mercadoria toda.
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I
A História de Diablocity Maria Capitão
-És bem mais corajoso que muitos de nós.
-Que idade tens?
-9 anos.
-Tens pais?
-Venderam-me aos terroristas.
-Não tens familiares?
-Que eu conheça não.
-Agora há um problema. É que tu não tens familiares
e não há ninguém que possa tomar conta de ti…
-Eu conheço uma pessoa que pode. Viraram-se todos
para a pessoa que falara. Era uma mulher com feições
rudes, e estava vestida com um avental rosa. A minha
prima vive em Penguini. Lá estarás em segurança. Como
te chamas?
-Não sei.
-Pois, a partir de agora, o teu nome será Daniel.
-Porquê Daniel?
-Pois o fundador da nossa cidade se chama Daniel
e ele salvou a cidade! Tu, garoto, salvaste a cidade, ao
dizer-nos onde está a mercadoria. Por isso, o seu nome
será Daniel Justiceiro!
-Hurra! Viva o Daniel! - Ouviu-se pelo bar. Joy reúne
a polícia e vão apanhar a mercadoria que nos pertence!
- Sim, senhora! Via-se claramente que era a mulher de aspecto rude
A História de Diablocity Maria Capitão
que mandava ali.
-Deves estar exausto.
-Sim, mas primeiro queria comer, se faz se favor.
Tenho dinheiro, roubei o ao meu amo.
-Não precisas de pagar nada, meu filho. Este é grátis.
-Muito obrigado.
E enquanto Daniel comia um bife com batatas fritas, a
senhora Ivone ia telefonando à prima.
-Está prima? Olha, és capaz de tomar conta dum
rapazinho?
-Até quando?
-Para sempre. Sei que é um pedido muito exagerado,
mas este rapaz salvou a nossa cidade. Fugiu dos
terroristas, e disse-nos onde está a mercadoria roubada.
Os pais dele venderam-no, e ele não tem familiares que
conheça. Tem 9 anos e chama se Daniel Justiceiro.
-Foste tu que lhe deste o nome?
-Sim fui.
-Não sei, prima… É muita responsabilidade.
-Por favor. Só precisas de tomar conta dele durante 9
anos. Depois ele ficará livre. - Bem… quando é que ele
vem?
-Na próxima segunda-feira ponho o Daniel no
comboio espacial.
-Bolas! Hoje já é Sexta! Tenho um fim-de-semana
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I
A História de Diablocity Maria Capitão
para comprar tudo!
-Não te preocupes. Ele está habituado a dormir num
colchão e a comer duas vezes por dia.
-Só?! Ainda mais me ajudas! Preciso de comprar
muita comida para ele se habituar a comer 4 vezes por
dia!
-Não fiques histérica, prima.
-Não sou histérica.
-Pouco… Acalma-te. Ele é muito querido e até me
quis dar dinheiro quando lhe pus à frente um bife e
batatas!
-Bem… está bem. Agora desliga que tenho muito que
fazer!
- Adeus. - E desligou. A dona Ivone ficou a sorrir,
a imaginar como seria a vida daquela criança. Foi
interrompida quando o Joy e três polícias irromperam
pelo bar, com uma ar feliz.
-Tinhas razão! Trinta caixas cheias de mercadoria e
de dinheiro! Quem te disse onde estava a mercadoria?
-Esse rapaz aí. Foi escravo deles durante 4 anos.
O Daniel olhou para ela e disse-lhe:
-Como sabe que eu fui escravo durante 4 anos? Não
lhe cheguei a dizer.
-Porque os rapazes são vendidos quando têm 5 anos.
E as raparigas desde nascença.
-Ah. OK.
A História de Diablocity Maria Capitão
-Onde é que ele vai ficar? Daqui a três dias vais te
embora da cidade, não é?
-Sim.
-Ele vai ter com a minha prima. - Informou a D.
Ivone.
-Aquela em Penguini?
-Sim.
-Hum… está bem. Muito obrigado miúdo.
-De nada.
-Bem, adeus e obrigado outra vez. - E foram-se
embora.
O dia e o fim-de-semana continuaram calmamente e
na segunda-feira de manhã, o Daniel foi-se embora para
outro planeta.
O Daniel costumava contar isto ao Jonas, e ele ficava
maravilhado com as aventuras que ele tivera, e desejava
ter aventuras assim. Daniel contara também que quando
tinha 18 anos saiu de casa e comprou uma para si. Nessa
altura conheceu a Amy, a sua futura mulher.
Quando começaram, Daniel e Amy, a namorar, os
pais nunca aprovaram, faziam tudo para terminá-lo e
chegaram mesmo a inscrever o Daniel na tropa, fazendo
com que fosse convocado para ir para uma guerra. Os
pais de Amy escreveram uma carta como se tivesse
sido o Daniel a escrever a dizer que ele era casado e que
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I
A História de Diablocity Maria Capitão
voltara para a sua mulher. Não se viram durante 10 anos,
e quando se viram outra vez, Amy já tinha casado, pois
pensava que Daniel era casado. Daniel ficou destroçado.
Implorou a Amy que voltasse para ele e contou-lhe a
verdade, que ele tinha ido para a tropa e que tinha sido
os pais dela a escrever-lhe a carta a dizer lhe que ele era
casado. Ela percebeu que era verdade o que ele lhe dizia,
mas disse lhe que não podia separar se do actual marido.
Só quando ele morresse ela poderia casar se outra vez.
O Daniel ficou muito triste pois o marido dela era muito
novo. Mas então, o Daniel teve uma ideia. Falou com
o marido de Amy e disse-lhe que amava mesmo muito
Amy e o que os pais dela tinham feito. O marido de Amy
disse lhe que ele amava outra rapariga e que também
desejava casar se com ela. Ambos chegaram a um acordo:
o marido de Amy fingiu a sua morte para assim se poder
casar com com a rapariga que amava, e Daniel poder
casar com Amy. Casaram-se e viveram muito felizes.
Por estas e por outras é que Jonas adorava o Daniel.
Porque ele lutou pelo que queria e graças ao seu esforço
conseguiu a eterna felicidade.
Jonas ajoelhou-se em cima da cama,e olhou para o
quadro. Repetiu a dedicatória em voz alta, pôs a mão
direita ao peito e fez uma promessa:
-Prometo que quando voltar aqui, se voltar, já terei
falado com a Maria e já a terei pedido em casamento. Se
A História de Diablocity Maria Capitão
ela aceitar ou não, isso já é com ela. Mas eu irei tentar
fazer com que me perdoe por a ter tratado daquela
maneira. Irei até comprar-lhe um anel com uma caveira e
um coração entrelaçados, como prova do meu amor. Ela é
a caveira e eu o coração. Juro.
-Gostas mesmo dela?
Jonas virou-se e viu o Daniel à porta.
-Sim. Amo-a mesmo muito. Espero não ir atrasado.
-Foste muito rude quando ela te fez, de certa forma
uma declaração de amor.
-Eu sei. Acho que pensei que ela se estivesse a referir
a ti.
-A mim? Achas que ela se tinha apaixonado por
mim?
-Sim.
-És tão cromo! Notava-se à distância que ela gostava
de ti. Especialmente pela conversa que teve quando te
conheceu.
-Isso poderia ter tido com muitas outros.
-Mesmo esses outros, tendo pregado-lhe um susto?
-Porque será que ela disse para eu ficar com a
Juliana? Eu nem sequer a acho gira.
-Já olhaste para o papel na entrada?
-Não. O que diz?
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A História de Diablocity Maria Capitão
-Diz os nomes deles, dela e dos amigos e à frente do
nome da Juliana está a dizer que ela é muito gira.
-Mas não fui eu quem escreveu isso!
-Ela pensou que sim.
-Maldita rapariga maluca!
-Mas tu gostas.
-Mas eu gosto. - Respondeu, com um sorriso.
O sino ouviu-se ao longe.
Todos os dias, sem excepção, aquele sino batia
às onze e meia da noite e da manhã. Tinha sido assim
programado para às onze e meia da manhã as pessoas
acordaram, e à noite para mostrar que era hora de deitar.
Aquela era uma aldeia muito primitiva de certo modo,
pois quem mandava naquela cidade era um velho sino.
-Hora de partirmos mano.
- Sabes, a Maria uma vez disse-me “Obrigou- te?! Mas
que raio é isto?! O teu irmão obriga-te?! Os meus nem me
mandam fazer algo, quanto mais obrigar!“
-Sim? - Disse o Daniel, sem perceber a ligação.
-Bem acho que devia ter respondido, que os irmãos
mais velhos são uns mandões que pensam que podem
mandar em tudo! São uns chatos! - Retorquiu o Jonas,
para desanuviar o ambiente que era vivido com grande
tensão.
-Ahaha! És tão engraçadinho! Vamos lá é salvar o dia
e a tua namorada!
A História de Diablocity Maria Capitão
-Futura noiva.
-Esperemos nós.
-Bora Ned! It’s show time!
-Au! Au!
E seguindo o Ned, foram a correr até à entrada da
gruta.
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A História de Diablocity Maria Capitão
Capítulo 26
A Voz
Fui a primeira a chegar à gruta, e escondi
imediatamente o skate debaixo dum arbusto grosso.
Esperei que os outros também o fizessem e virei-me para
o Palki.
-Então… é agora.
-É agora.
-Primeiro sou eu e o Rafael, não é?
-Acho que sim.
Reparei que ele estava tão nervoso como eu, e
após olhar em volta, apercebi me que todos estávamos
nervosos.
-Vamos Maria.
-Já temos as sanduíches e os cantis… Tem a certeza
que temos tudo? É melhor verificarmos… - Disse o Rafael.
-Pára!
-Desculpa?
-Pára! Só estás a fazer passar tempo, porque estás
cheio de medo de entrar e talvez morreres! Pois, queres
saber uma coisa? Eu também estou! Mas quero salvá-los
apesar de tudo!
A História de Diablocity Maria Capitão
-Queres salvá-los para o teu Joninhas te agradecer e
te dar um beijinho, não é?! Mas enganaste porque ele não
te ama! Ele ama a Juliana, mas ela é do Palki! Nunca terás
ninguém. Morrerás infeliz e sem te teres casado!
Caiu imediatamente para trás com uma expressão de
dor no rosto, cuspindo um dente partido para o chão.
-E tu queres enfiar te nos cobertores da tua
mãezinha, para ela te abraçar e te beijar!
Também eu recuei mas a tempo antes do Rafael me
dar um soco.
-Parem vocês!
-Isto é uma missão! Arranjem um quarto!
-Ahahaha! Se arranjasse um quarto com ele, era para
o deixar lá preso, ou então escrever num cartaz, animal à
venda no quarto!
-Ahaaha! Se enfiasses…
-CALEM-SE DE UMA VEZ! - Explodiu não o Palki,
nem a Juliana mas sim o Jorge.
O Jorge, o rapaz mais calmo que conheci estava a
mandar-me calar e a agarrar-me para me impedir de
ir ao Rafael com uma força magnífica. Do outro lado,
estava o André a agarrar o Rafael também com uma força
imensurável.
-Viemos aqui com o propósito de salvar os Cooper!
Não foi para vos vermos a discutir, e aos beijinhos!
-Humf!
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I
A História de Diablocity Maria Capitão
-Humf !
-Não lhe tocava nem que fosse o último homem à
face da terra... - Murmurei.
-Que disseste?! - Perguntou cheio de raiva o Rafael.
-Disse que quero que o Jorge me largue ou o arrasto
comigo para a gruta! - Largou-me mal acabei de proferir
estas palavras, e virei me para o Rafael - Vamos? E
desculpa o que disse, abusei.
- Eu também peço desculpa. Também abusei. Nenhum de nós disse que o que tinha sido dito era
verdade ou mentira. Ambos sabíamos que era tudo
verdade.
Entrámos dentro da gruta, e logo se abateu por cima
de nós o escuro.
- Palki? - Falou o Rafael para o walki-talkie, premindo
o botão para falar.
-Vão sempre em frente, e quando chegarem a um
cruzamento, tenham cuidado. É aí que os guardas estão.
Cortem à direita e sigam sempre em frente. Vão sempre
cortando à esquerda, até chegarem a uma curva à direita.
Aí carreguem no botão que está à vossa esquerda.
Alguém deve aparecer pois isso é um alarme. Só deve
aparecer um... Roubem-lhe as chaves e quando se for
embora, insiram uma das chaves, provavelmente a mais
comprida, numa ranhura um palmo e meio acima do
botão. Depois sigam por vocês. Não conheço mais nada.
Adeus! Asta lu ka!
A História de Diablocity Maria Capitão
-Asta lu ka, ljis fifd!
-Ah?
-Ele desejou-me boa sorte e eu disse-lhe boa sorte
meu amigo.
-Como sabes?
-Hum… - Agora estava em sarilhos… Não lhe podia
contar o meu sonho… - Aprendi essa língua…
-Okay. - Respondeu, nada convencido.
Continuámos caminho até chegarmos ao cruzamento.
Lá, espreitámos com cuidado, até que um pensamento
invadiu a minha cabeça e disse “Quando o sino bate as
onze e meia, eles adormecem e à meia- noite os guardas
da entrada vão alimentar-se. Fazem a sesta da tarde.“
-Estão a dormir.
-Como sabes?
-Para esclarecer a minha resposta, ouviu-se um
ronco por cima de nós, e lá estava um Evil a meio palmo
de nós, com a boca escancarada. Tinha os olhos abertos e
pensei imediatamente em fugir mas mais um pensamento
invadiu a minha cabeça dizendo que eles dormem com
os olhos abertos, e vêm com os olhos fechados. É normal
neles.
-Está a dormir. Dorme com os olhos abertos.
-Como sabes?!
-Confia em mim.
220
I
A História de Diablocity Maria Capitão
Atravessei o cruzamento com passo rápido e
decidido, e tinha razão. Nenhum virara a cabeça para
mim.
-Vem! - Disse ao Rafael em gestos silenciosos, mas
furiosos.
Tínhamos de nos apressar. Prosseguimos caminho
sempre virando à esquerda.
-E agora? - Perguntei quando chegámos à curva à
direita.
-Carregamos no botão.
O Rafael assim o fez e o barulho que esperámos
ouvir, não chegou. “Escondam-se já! Debaixo daquele
cobertor!“, disse-me mais uma vez a cabeça, ou um
pensamento que me fazia arder a cabeça de tão intenso
que era. Parecia ser uma questão de vida ou de morte.
-Vem! Aqui debaixo! Escondemo- nos ambos, e no
preciso momento que a perna do Rafael desaparecia pelo
cobertor, um Evil apareceu.
-Que raios?! - Grunhiu.
As chaves tilintaram ao aparecer dentro do bolso
viscoso e imundo do Evil. Desligou o alarme enquanto
eu e o Rafael conversávamos em código dos mudos. Eu
dizia-lhe para o deitarmos abaixo, só assim poderíamos
ter as chaves e entrar na porta escondida. Ele dizia que
éramos incapazes de o fazer. Teimosa, mas boa lutadora
como sou, apareci de debaixo do cobertor enquanto mais
uma vez uma voz me dizia “Acerta-lhe no lugar onde
A História de Diablocity Maria Capitão
deveria ter o apêndice! Ficará com falta de ar! A seguir
espeta-lhe um bom soco no ouvido! Desmaiará! Agarra-o
quando cair, e pega nas cordas que farás quando rasgares
o teu casaco. Põe o debaixo do cobertor e rouba as chaves.
A seguir façam o que sabem!“. Como já me tinha dado tão
bons conselhos, não hesitei, e passado um minuto já ele
estava amordaçado e escondido.
-Bons golpes! - Elogiou o Rafael.
-Obrigado. Vamos abrir a porta?
-De nada. Vamos.
-Okay.
Cada um pegou num lado da chave (era pesada!),
inserimo-la na ranhura e virámo-la “aos três”.
Ouviu-se o murmurar da parede, que antes estivera
à nossa frente, a desaparecer para dar lugar à escuridão
que parecia não ter fim. A escuridão era assustadora,
e imediatamente pensei que monstros e trevas ali
habitariam… Com um safanão despertei e disse a mim
mesma “Temos de atravessar isto“. Confiante, dei a mão
ao Rafael e ambos demos um passo em frente, caindo
num buraco sem fim.

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