A arte da gravura Gravura implica reprodutibilidade

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A arte da gravura Gravura implica reprodutibilidade
A ARTE DA GRAVURA
Planta-se um grão, colhem-se várias espigas. (Vicent Van Gogh)
Tom muse, to dream, to conceive beautiful Works is delightful [...] but
then comes the creation, the production, the upbringing of the child.
To tame the mad chaos of life and let it rise again through one’s work
to new life that will speak to all the human beings, that is the work of
the artist. His hands have to act as the infatigable servant of his
fantasy. The artist must work in a tight space like the miner in the
rubble of his shaft. He has to fight down all his difficulties, one after
other, just as the enamored knight of the fairy tale has to fight the
sorcerer in his constantly changing disguises, until he wins his
princess. (Honoré de Balzac)
Gravura implica reprodutibilidade. Diferentemente do desenho, da pintura, do
mural, a gravura permite que se obtenham cópias a partir de uma matriz original.
Não é fácil precisar a sua origem. Como processo artístico, é recente se
compararmos ao desenho que existe há mais de trinta mil anos. No entanto, como
técnica de reprodução de imagens, sabe-se que os antigos chineses já usavam um
processo de gravação parecido com a serigrafia e que os índios brasileiros
estampavam algumas peças decorativas valendo-se de uma técnica muito parecida
com a nossa xilogravura. O termo gravura é muito recente: em português, data de
1798; em francês, gravure, é de 1538; o espanhol grabado, do século XVII; o inglês
engraving, de 1601 e o italiano incisione, do século XVI. A gravura em madeira ou
xilogravura, sua versão mais antiga, teve início como produção sistemática apenas
na Idade Média.
Há basicamente três tipos de técnicas de gravura: em relevo; de sulcos ou
intaglio; e, finalmente, a gravura plana ou por permeação. No primeiro grupo,
existem a xilogravura e a linoleogravura; no segundo, a gravura em metal ou
calcografia com as suas variadas técnicas: água-forte, água-tinta, ponta seca, buril,
maneira-negra. Finalmente, a gravura plana que usa três técnicas: a litografia, a
serigrafia e a monotipia.
Considera-se a xilogravura como a mais antiga dessas técnicas, tendo sido
utilizada na Idade Média para impressão de livros. Desde então, grandes artistas,
como o alemão Dürer, utilizaram as xilogravura e obtiveram excelentes resultados.
Pode-se dizer que a xilogravura possui técnica simples: madeira previamente lixada,
chamada de taco, formões e goivas e se imprime, por exemplo, com uma simples
colher de pau. Apesar de tamanha simplicidade, são ilimitados e belíssimos seus
resultados. Pode-se usar a madeira retirada na direção das fibras ou na sua direção
transversal. À primeira denomina-se gravura ao fio; e à segunda, gravura de topo.
Os ingleses utilizam dois termos para este tipo de gravura: woodcut e wood
engraving. Os resultados são distintos devido às diferentes resistências oferecidas
ao corte. Durante muito tempo, a xilogravura foi utilizada principalmente para a
impressão de livros; mais tarde, alguns artistas, como Paul Gauguin, Munch,
Picasso, Matisse, exploraram recursos inusitados com esta técnica, permitindo
efeitos mais dramáticos. Os expressionistas alemães exploraram com ênfase esta
técnica, permitindo a obtenção de efeitos soturnos, dramáticos, onde a superfície
áspera da madeira ao mesmo tempo em que as farpas abruptamente arrancadas
eram evidenciadas na impressão final.
A gravura em metal originou-se das oficinas de ourivesaria, em cujas técnicas
os primeiros gravadores em metal se inspiraram. Os processos mais importantes já
foram citados, sendo o mais conhecido a água-forte. A gravura em metal é
complexa, envolve uma parafernália de ingredientes e processos, costumando-se
chamar de “cozinha” o atelier do artista. A técnica da água-forte consiste em expor
uma placa previamente revestida de material resistente ao ácido, depois de ter sido
desenhada (arranhada) com uma espécie de agulha. As linhas que foram
arranhadas serão expostas ao ácido produzindo uma espécie de corrosão seletiva.
Utiliza-se, como corrosivo, o ácido nítrico, o mordente holandês ou um composto
tendo como base o percloreto de ferro. Costuma-se usar placa metálica de cobre ou
zinco. A impressão será feita numa prensa especial com o auxílio de feltros.
A litografia (vocábulo originando dos radicais gregos lithos = pedra e graphein
= escrever) foi criada em 1796 por Alois Senefelder. A reprodução da imagem na
litografia é conseguida por um processo químico. Sobre uma matriz de pedra porosa
e de superfície polida, o gravador realiza seu trabalho com material gorduroso (lápis,
bastão, pasta) que permite diferentes texturas, grau de luminosidade e demais
recursos gráficos. Em seguida, o impressor, em conjunto com o artista, submete a
pedra a uma solução de água, goma arábica e ácido nítrico, breu e talco que limpam
a pedra e reforçam as áreas gordurosas, permitindo a visualização do desenho e a
realização dos testes de cor e registro para a obtenção da primeira prova. A
impressão é obtida pela pressão de um rotor que desliza sobre o papel.
A monotipia é uma técnica de gravura bastante simples, mas que produz
efeitos belíssimos. Consiste simplesmente no ato de se desenhar (pintar) a imagem
desejada sobre uma superfície resistente qualquer (plástico, metal, etc.).
Normalmente, utiliza-se tinta tipográfica, podendo também ser utilizada tinta a óleo
usada na pintura de telas. Após ter sido preparada a matriz, faz-se a impressão em
pensa especializada. Obtém-se apenas uma cópia, daí a denominação de
monotipia. Esta técnica permite uma grande liberdade ao artista, já que ele trabalha
com pincéis, podendo fazer uso direto de cores.
Considera-se uma gravura original quando ela é assinada e numerada pelo
autor dentro de conceitos aceitos internacionalmente, segundo os quais o artista ou
impressor especializado, sob sua supervisão trabalha a matriz de metal, pedra,
madeira ou seda com intuito de imprimir a tiragem de exemplares “idênticos”,
diretamente da matriz. Depois de aprovada pelo artista, são tiradas várias cópias
chamadas P.A. (prova do artista). Ao chegar ao resultado aceito, é impressa uma
cópia “Bonne à tirer” (em português, “boa para imprimir” B.P.I.). Ao final, é feita uma
tiragem da obra, sendo que o artista aí, então, assina a lápis, data, coloca o título e
numera a série.
Existem aqueles que consideram imperativa a destruição da matriz após ter
sido feita a tiragem final. Considero isto uma grande tolice. Como poderíamos hoje
conhecer a estupenda técnica de Rembrandt se ele tivesse destruído as matrizes
originais? Coloquei no parágrafo superior o termo idênticos entre aspas porque
acho que as cópias, verdadeiramente, não são iguais; o próprio processo de
impressão não permite a reprodução completamente igual.
Toda a graça da gravura deve-se à utilização do ponto e da linha. Ela me
parece ser uma “prima” sofisticada do desenho, com a rara propriedade de poder ser
adquirida por muitos. É a arte da maturidade do artista. Nunca se inicia pela gravura
um aprendizado artístico. A gravura fala profundamente àqueles que amam a arte.

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