O que VOCÊ espera da VIDA?

Transcrição

O que VOCÊ espera da VIDA?
SOBRE O AUTOR
Descobri minha missão pessoal e profissional ao trabalhar com o
desenvolvimento do capital humano.
Sou psicólogo e graduado em Filosofia. Estes saberes compõe a
base deste e-book e de todos os projetos que participo.
Trabalho como professor de Filosofia e
Psicólogo Clínico e Organizacional.
Criador da CH Mentoring – Academia do Capital Humano
e sócio fundador da S/A Consultoria.
Contatos:
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Instagram: @samuelbuenopsicologia
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“A vida é muito curta para ser pequena”
(Benjamin Disraeli)
O desenvolvimento do capital humano engrandece o existir
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Causa Perfeita das coisas imperfeitas.
Aos meus professores e mestres que me contagiaram com a escrita.
Aos meus pacientes, clientes e alunos que me ensinam poderosas lições.
Aos meus pais, amigos, amores e colegas pelo carinho e
possibilidade de crescimento pessoal e profissional.
DEDICATÓRIA
Aos que ainda se encantam com o ineditismo da vida
PREFÁCIO (ou primeira provocação)
Há muito tempo estas linhas aguardam o momento de ganhar asas. Gosto
das palavras e do que elas conseguem transmitir. Seu poder de batizar
sentimentos e gerar ideias fez com que eu, em sinal de respeito, vivesse o tempo
de amadurecimento necessário que estes textos precisavam.
O título deste e-book traduz o que este projeto significa: são provocações e
pensatas originadas em meus encontros com o mundo, temperadas com conceitos
da Filosofia e Psicologia. Entre os temas estão o Tempo, inveja, procrastinação,
frustração, vida e morte. Tudo alinhado ao desenvolvimento do capital humano.
Apesar de versar sobre o desenvolvimento do capital humano, este e-book
não tem a pretensão de ser um “manual sobre como viver melhor”. Ao contrário!
Não acredito que existam fórmulas para a vida. Caso você conheça alguém que lhe
ofereça fórmulas sobre como ter a vida perfeita, atente-se! A lógica das exatas
nem sempre se aplica à vida. Fórmulas são para conceitos exatos e na vida não
existe exatidão. É o ineditismo do mundo que tinge a existência, e encarar este
ineditismo de peito aberto é o que dá sentido à vida.
Agradeço aos que me apresentaram ao mundo das letras. Contudo, não me
considero um escritor. Como bom mineiro que sou, estou mais para
“escrevinhador de ideias que me surgem”. Assim, convido você a ler o que
escrevinhei ao longo de muito tempo!
ÍNDICE PROVOCATIVO
O TEMPO não cura nada!
5
O que VOCÊ espera da VIDA?
6
50 tons de PRETO no BRANCO
8
A CAIXA de PANDORA nossa de cada dia!
10
Inveja, Beijinho no Ombro e Recalque
12
Você está no CORREDOR da MORTE
14
Não LEIA HOJE. Deixe para amanhã!
16
Manual do Manifestante (ou Panelaço por si mesmo)
18
A lição de SUZANE
19
Fiquei frustrado. E agora?
21
A PRIMEIRA IMPRESSÃO é a que fica?
23
Síndrome de Gabriela
25
Adeus ano velho. Feliz ano novo! Será?
27
MAIS UMA CANÇÃO (ou, simplesmente Ode aos Hermanos)
29
Retalhos de um FUTURO EPITÁFIO
31
Sobre encarar o SOL
32
Sobre FUTOROLOGIA
34
Sobre TEMPO RUIM
35
Sobre o MENINO que VOAVA
36
Sobre PROCURAS
37
O DIA mais IMPORTANTE!
38
1
O TEMPO não cura nada!
Uma das características da vida que mais me chama atenção é o fato dela
ser dinâmica. Um dia se está “voando baixo” no trabalho, nos estudos, nos
relacionamentos, e no outro as coisas confluem para que sua vida desestabilize. É
a famosa lei do pêndulo aplicada na vida!
Demissão, reprovação escolar, fracassos pessoais e profissionais,
desilusão amorosa, perda de pessoas queridas…. situações que podem te levar à
sensação de que o mundo desabou nas suas costas. O ser humano, que não é de
ferro (ainda bem), sente as feridas que a vida lhe apresenta. Cada qual a seu modo.
Quando estamos bem, quase nunca voltamos para nós mesmos e
refletimos sobre o momento. Infelizmente, na quase totalidade das vezes, só
paramos para refletir sobre nós quando as coisas não estão muito bem. Por vezes
tentamos encontrar a culpa ou responsabilidade pelos maus momentos da vida. As
razões para esse movimento das coisas nem sempre são fáceis de se encontrar.
Fruto das nossas escolhas, fruto das escolhas do outro, ou simplesmente por falta
de sorte.
Contudo, o que quero tratar nestas linhas é o movimento que muitos
fazem para lidar com situações como essa, que é recorrer à falácia do Tempo: “o
tempo cura”…. “O tempo é o senhor do destino”… “O tempo revela a verdade!”…. É
comum pessoas dizerem que é o tempo que cura as feridas! Não é verdade! O
tempo não cura nada! Se essa premissa fosse real, indivíduos na velhice não se
queixariam de alguma desilusão ocorrida na juventude.
O que cura realmente é o debruçar-se sobre si mesmo, tentar entender o
que realmente aconteceu, chorar, sentir raiva, frustração, medo, rir de si mesmo.
Elaborar os sentimentos. Extrair desse instante, em que o mundo parece ter vindo
abaixo, a lição e o ânimo suficientes para continuar a caminhada. O tempo é o
nosso maior aliado nessas circunstâncias, e possui as melhores ferramentas de
que o ser humano pode precisar: ele te oferece a oportunidade de elaborar o
passado, viver o presente e planejar um futuro.
5
Por isso, ouso dizer que a vida não é dinâmica, apenas. Ela é dialética. Um
momento é superado por outro, que, por sua vez, também será superado, e assim
sucessivamente, como uma espiral.
O tempo é uma categoria que existe independente de nós. Nascemos com
infinitas possibilidades! Não deixe o seu processo de desenvolvimento nas mãos do
tempo ou acredite em uma obra do destino. Não deposite na conta do Tempo
responsabilidades que são suas! O tempo ajuda a esquecer, criar distância. A
superação da dificuldade só vem com trabalho pessoal, voltar o olhar para dentro
de si mesmo, lidar com seus anjos e demônios. Crescer! (E nessa tarefa um
psicólogo pode te ajudar!).
Quando a transformação ocorre e o momento difícil é superado, não veja
como mérito do Tempo. O mérito é todo seu, que utilizou das suas possibilidades e
do Tempo como um aliado para seu crescimento pessoal!
6
O que VOCÊ espera da VIDA?
Questionamentos existenciais como esse são muito importantes para o
autoconhecimento e, consequentemente, para o nosso desenvolvimento enquanto
indivíduos.
Pensar a partir de problemáticas relacionadas à nossa existência pode
parecer (às vezes) clichê de autoajuda ou psicologismos. Concordo que existe
muito material por aí que busca trilhar estes caminhos. Todavia, acredito que
inquietações como a que dá título a este texto podem ter efeito terapêutico quando
tomadas com mais profundidade pela nossa capacidade de compreensão. Tudo
depende do modo como tomamos para nós a angústia provocada por perguntas
assim.
O que você espera da vida? Possivelmente você já se deparou com essa
provocação em algum momento da sua história, seja buscando ou criando algum
sentido para a mesma. Ademais, esta é uma pergunta muito pertinente na
conjuntura capitalista em que vivemos, onde a busca por méritos sempre está
presente nas nossas relações.
Mas o que esperar da vida, realmente? Acredito que a resposta seja: NADA.
Isso mesmo, não podemos esperar NADA da vida. Não temos esse direito! Me
justifico dizendo que esperar algo da vida traz a noção de uma postura passiva
diante dos acontecimentos e das nossas escolhas.
Percebendo constituição da nossa subjetividade, marcada pelas inúmeras
possibilidades que temos para construir a nossa história, enxergo como pequenez
esperar algo da vida. Podemos ir além! Podemos mais! Podemos utilizar a nossa
capacidade de seres humanos e edificar a nossa individualidade.
Nesse sentido, uma postura mais ativa nas nossas escolhas e no nosso
agir inverte a provocação: O QUE A VIDA PODE ESPERAR DE VOCÊ? O seu trabalho, o
seu casamento, o seu relacionamento, as suas amizades… o que eles podem
esperar de você? Torço seriamente que esta nova provocação desperte angústia
em você, meu caro amigo leitor.
7
50 tons de PRETO no BRANCO
Me atrevi a escrever sobre o relacionamento que está dando o que falar
entre Anastasia Steele e Christian Grey. O filme “50 tons de cinza”, que vem
batendo recordes de bilheteria nos cinemas, é uma adaptação do best-seller
mundial Fifty Shades of Grey. Lançado em 2011, o livro vem colecionando polêmicas
e, com isso, enorme repercussão em todas as mídias desde então.
O envolvimento da jovem estudante com o executivo milionário que possuía
fantasias sexuais “excêntricas”, eu diria, acumula fãs em todo o mundo. Há quem o
recomende! Há também quem odeie e condene toda a trilogia a qual esta história
pertence. Respeito a todos, não venho aqui fazer apologia a nenhum dos grupos,
apesar deste texto ser uma propaganda implícita para o livro/filme (sem ganhar
nenhum centavo, ainda por cima!).
Sadismo, masoquismo, amor, dinheiro… são os temas principais do enredo.
Amor, paixão, entrega e ingenuidade orbitam ao redor como coadjuvantes. O filme
lançado propositalmente no Valentine’s Day, o dia dos namorados para os
americanos, pode levantar algumas questões pertinentes. Este é o motivo deste
texto.
Quando li o livro (sim, eu li o livro!) fiquei me questionando sobre alguns
aspectos que o best-seller apresenta. Trago aqui estes questionamentos em forma
de provocação:
Quais os limites do amor? Até que ponto a submissão emocional e sexual à
outra pessoa é prova de amor? Onde a paixão acaba e começa o amor? Acaba a
paixão? Começa o amor?
O que é saudável e o que é destrutivo em um relacionamento marcado pela
submissão? Será mesmo que existe submissão ou é uma manifestação da
liberdade pessoal?
Quais os limites entre a fantasia e doença? Onde termina a sanidade e
começa a patologia na área sexual? Há prazer na dor? Há dor no prazer?
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O filme traz a nuance do acinzentado. Por si só, o cinza já revela um
simbolismo muito interessante. Algo acinzentado é costumeiramente ligado à falta
de vida e estabilidade. Cinza é o produto de algo que foi incinerado. É pra se
pensar, não é? Curiosa também é a tradução para nosso país, pois o original
remete a algo como “50 sombras de Grey”, um título mais apropriado para um
texto que revela as obscuridades do ser humano.
Mas ainda bem que estamos falando de uma obra fictícia (ou será
realidade?). A vida real é bem diferente! (Será mesmo?). Mas, e aí, o que o
livro/filme tem a ver com desenvolvimento pessoal? Simples: Entre um conto de
fadas cinzento ou a vida real no preto e no branco, o que escolher?
A vida é a soma das nossas escolhas.
P.S.: Não assisti ao filme. Fidelidade entre o livro e o filme é algo dúbio.
9
9
A caixa de PANDORA nossa de cada dia!
Terra, água!
Frio, quente!
Outono, primavera!
Líquido, sólido!
Saúde, doença!
Esse é o movimento dialético da vida! Há algo e o seu respectivo contrário.
A roda da vida é tocada por um dinamismo de contrários.
E como isso se aplica a tudo, nós, meros mortais, também somos feito pela
síntese dos opostos. Há tristeza porque se viveu a alegria. Há coragem porque
outrora o medo foi experimentado. Há sentido na vida pela estreiteza da mesma
com a morte. Essencialmente também somos marcados pela contradição. Luz e
sombra.
A luz pode ser identificada naquilo que mais gostamos em nós, no que mais
mostramos aos outros, no que mais agrada e faz sorrir. Sombra se faz presença
por aquilo que, por vezes, nos envergonha, nos enraivece, nos neurotiza, nos faz
perder a razão. Aquilo que pode trazer instabilidade ao existir.
Na sombra, geralmente, estão os nossos segredos cuja revelação
implicaria em reconhecer a nossa imperfeição. (E como isso é dolorido!). Como
pavimento da nossa obscuridade estão nossas mentiras existenciais, raízes de
inveja e ciúme, sementes do medo e todos os nossos equívocos que teimam em
manchar nossa pretensiosa humanidade imaculada.
É uma cena divertida quando a criança ainda sem a capacidade de
assimilação abstrata tenta desfazer-se da sua sombra correndo dela. Todavia,
também quando adultos tentamos desesperadamente fugir da nossa sombra, como
aquela criança que outrora já fomos. Mera ilusão. Não é possível nos desfazermos
de algo que está na nossa constituição. (síntese dos opostos, lembra?).
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Muitos não tem conhecimento desta parte de si mesmo. Outros a conhecem
e preferem ignorá-la. E é compreensível quem prefere não reconhecê-la como
parte de si, já que a sombra nos faz entrar em contato com as nossas misérias.
Carl Gustav Jung, o pai da Psicologia Analítica, em sua obra Os arquétipos e o
inconsciente coletivo, diz:
Se formos capazes de ver nossa própria sombra, e suportá-la, sabendo
que existe, só teríamos resolvido uma pequena parte do problema. Teríamos, pelo
menos, trazido à tona o inconsciente pessoal. A sombra, porém, é uma parte viva
da personalidade e por isso quer comparecer de alguma forma. Não é possível
anulá-la argumentando, ou torná-la inofensiva através da racionalização. Este
problema é extremamente difícil, pois não desafia apenas o homem total, mas
também o adverte acerca do seu desamparo e impotência. O encontro consigo
mesmo significa, antes de mais nada, o encontro com a própria sombra!
Uma das ações da psicoterapia na dinâmica do indivíduo é integrar à luz do
consciente esses conteúdos que permeiam a nossa sombra, tingindo a obscuridade
do ser. NÃO EXISTE AUTOCONHECIMENTO SEM O CONTATO MADURO COM A NOSSA
SOMBRA. Não obstante, este contato é demasiadamente frutífero ao nosso
desenvolvimento e crescimento enquanto indivíduos.
Essa nossa caixa de pandora existencial precisa ser (cuidadosamente)
aberta. Tomar consciência dela é o primeiro passo para a convivência harmoniosa
(porém, não sem conflitos) entre luz e sombra. Não deixe a sua caixa de pandora
acumulando pó num canto do armário à mercê de naftalina.
Reconhecer a imperfeição e incompletude humana é o primeiro passo da
autenticidade. Aceitar que o medo, a comparação com o outro, o desânimo, a
frustração e tantos outros atributos humanos fazem parte de algo maior chamado
EXISTIR acalenta o processo de crescimento.
Negar a nossa sombra é rejeitar uma parte de nós. É viver de modo
inautêntico. É estar não estando por inteiro. Abrace-a.
11
Inveja, Beijinho no Ombro e Recalque!
Considerada um dos sete pecados capitais e muito presente nas nossas
relações interpessoais, a inveja sempre foi vista como algo negativo e digno de
repúdio. Vivemos em uma cultura marcada pelo capitalismo, concorrência e alta
exposição da vida através das redes sociais, elementos que contribuem para
despertar o sentimento de inveja.
Todavia, a inveja é um aspecto natural ao ser humano. E, por isso, pode
tornar-se um sentimento positivo ou negativo. Inveja é o oposto da admiração.
Cabe aqui falar sobre a admiração, cuja etimologia remete a mirar algo para além
de mim mesmo, algo que é interessante, mas que eu não quero possuir. Por
exemplo: eu admiro muito quem consegue pintar quadros, reconheço que é um
talento muito nobre, mas não quero tentar ser um pintor de quadros; não quero
isso para mim. Não quero ser igual a esse pintor, apesar de apreciar o seu talento.
Como já mencionei acima, a inveja pode se tornar um sentimento perigoso.
Alguém mal intencionado, com um grande sentimento de inferioridade ou com
desvios de caráter, quando tomado pelo sentimento de inveja pode cometer atos
terríveis para consigo mesmo e para com o outro. Esse é o lado negativo da inveja,
ou seja, quando eu me deprecio, amargando em mim mesmo. A inveja seria então
uma espécie de admiração negativa, quando eu me rebaixo, me considero pouco,
ou até fico com pretensões de tirar do outro.
Nós não temos habilidade ou competências suficientes para sermos bons
em tudo (afirmação que deveríamos aceitar com mais facilidade). Eis o terreno
propício para o surgimento da inveja. Ao invés de aprimorar as minhas
competências, me apropriar do que eu realmente sou, eu quero tirar do outro
aquilo que ele tem, fazendo por vezes um movimento de autodepreciação ou
vitimismo. E isso pode se tornar um problema, pois quando eu não tenho uma
identidade ou não estou seguro dela (baixa autoestima) eu me apoio na identidade
do outro.
12
Se você sente ou sentiu inveja do seu irmão que ganha mais presentes, do
seu companheiro de trabalho que foi promovido utilize isto como uma oportunidade
de autoanálise: Como dito acima, a inveja tem conotação negativa entre nós, seres
humanos. Porém, ela tem um lado positivo. Ela sinaliza que há alguma coisa
ocorrendo que precisa ser aperfeiçoada, como por exemplo a confiança,
responsabilização, autoestima.
Descobrir isso pode não ser a coisa mais prazerosa dentro do seu
processo de desenvolvimento pessoal, mas use a inveja como um sentimento a seu
favor, um indício de que você precisa cuidar mais de si, aumentar sua autoestima,
ter mais amor próprio, confiar nas suas atitudes. Mais importante talvez do que
evitar a inveja é usá-la a favor do seu desenvolvimento.
A maior competição que existe (se existe) no seu desenvolvimento pessoal
não é com o outro, mas consigo mesmo.
Ademais, um pouco de reconhecimento de que o outro foi ou é melhor do
que você em alguma coisa, não faz de ti a pior pessoa que existe na face da terra.
Se eu consigo ver o belo fora de mim, tenho a capacidade de ver o belo dentro de
mim.
A inveja, se bem compreendida, pode contribuir para o seu crescimento
pessoal, pode te inspirar a ser uma pessoa melhor!
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Você está no corredor da morte
Sim, você não leu errado! Você está no “corredor da morte”.
Somos limitados por circunstâncias do nosso mundo. A nossa limitação
enquanto homens passa pela questão da mortalidade. Somos mortais. Ao
nascermos, o ato do médico cortar nosso cordão umbilical é simbólico na medida
em que nos lança para o mundo. Existir é também estar no mundo. Não se pode
separar o homem do mundo onde vive. Logo, criamos uma unidade com o mundo
que vivemos.
Ao sermos chamados para existir no mundo, temos que criar nosso projeto
de vida em função das circunstâncias deste ambiente que nos recebe. E uma
dessas circunstâncias é a mortalidade. Haverá um momento em que nossa
existência irá se deparar com o seu findar. Por mais que isso nos desagrade e
angustie, a morte faz parte do existir humano.
Aí é que reside a parte interessante! Este texto que (petulantemente)
traduz uma concepção existencialista sobre a vida nada tem de desanimador,
depressivo ou melancólico. Pelo contrário, ao compreendermos a essência da
nossa vida e, por consequência da nossa mortalidade, que somos seres-para-amorte, somos impelidos a nos projetar para a vida.
A morte ainda não é. A vida, pelo contrário, sim! A VIDA É! Só somos serespara-a-morte porque também somos e estamos como seres-para-a-vida.
Aqui cabe a provocação de Benjamin Disrael: “A vida é muito curta para ser
pequena”. A mortalidade faz parte da humanidade. Por isso, um existir autêntico
não se faz esperando a morte, mas construindo uma existência, um projeto de vida.
Sempre será muito cedo para morrer.
Esse existir autêntico não está relacionado a um modo de vista hedonista,
apenas voltado aos prazeres mundanos. Ao contrário, é um viver com
responsabilidade para honrar a mortalidade e tantos outros aspectos que
constituem a vida.
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Diante da morte, temos duas escolhas: ou encará-la e viver de modo
autêntico ou ignorá-la tendo um viver superficial. Você escolhe entre estar num
corredor de vida que um dia findará, ou esperar bovinamente pelo fim do existir.
E aí, diz a VIDA, vai encarar?
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Não LEIA HOJE. Deixe para amanhã!
Caso a procrastinação faça parte da sua vida, esta provocação pode te
ajudar. Não deixe pra amanhã…
Procrastinar é um comportamento muito comum na nossa cultura. É a
atitude de adiar uma tarefa que precisa ser feita. É uma tendência de deixar pra
depois, “para amanhã” atividades do cotidiano.
A raiz desse comportamento pode ser diversa. Há os que acreditam que
sempre vai dar certo no final (às vezes não dá!) e por isso adiam ao máximo a
realização de um trabalho de faculdade, por exemplo. Outros retardam suas ações
pelo medo de dar/agir errado, o que pode estar associado a uma mania de
perfeição. Tarefas muito tediosas sobre as quais o indivíduo não consegue
encontrar ou criar sentido dentro da sua área profissional também podem
conduzir pessoas a evitar e/ou protelar tarefas. Atividades consideradas fáceis
comumente são adiadas para o último momento por procrastinadores.
Todavia, existe uma questão que considero mais profunda no hábito de
procrastinar: o desejo; o que impele a pergunta: será que eu estou procrastinando
porque na verdade eu não quero realizar isso? Eu realmente preciso fazer isso? Na
essência, eu realmente quero/desejo fazer isso? A minha procrastinação diária
não tem sido uma forma de autossabotagem?
Ainda nessa esteira, ocorre em muitos casos de procrastinação uma certa
relação com o prazer. A busca por prazer imediato, diga-se de passagem. Pois
geralmente eu adio a tarefa a ser feita porque é prazeroso, demonstrando uma
distorção no mecanismo de recompensa do indivíduo.
Contudo, a procrastinação pode destruir a nossa vida como um todo.
Atividade profissional, estudos, relações conjugais são as vítimas mais comuns
deste comportamento. Os efeitos disso podem ser o aumento do nível de ansiedade
e estresse em razão do crescente volume de trabalho e redução do tempo hábil
para fazê-lo, diminuição efetiva da produtividade. Sintomas consequentes da
procrastinação podem ser arrependimento, diminuição da autoestima e instalação
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de sentimento de culpa (quando o resultado da procrastinação é o fracasso ou
não-êxito) que, quando elevados e intensos, pode conduzir a uma situação mais
aguda como tristeza prolongada, depressão e despersonalização.
Se você é um procrastinador crônico atente para como estão organizadas
as atividades do seu cotidiano. Faça um checklist das suas tarefas a curto, médio e
longo prazos e estabeleça prazos objetivos para a realização dos mesmos.
Desenvolva tarefas que desafiem a você mesmo. Organize-se. Reconstrua
a sua capacidade de concentração!
Permita se conhecer melhor. Encarar de frente o funcionamento do seu
mecanismo de recompensa. Faça um exercício de introspecção e perceba se você
tem como característica maior de gostar de ter tudo à mão do que construir a sua
existência. Aceite que se existe procrastinação é porque o seu ócio precisa ser
melhor vivido.
Eliminar distrações também é fundamental. Facebook, Twitter, Instagram,
Whatsapp pordem se tornar vilões da sua produtividade quando não usados de
forma racional. (Uma pergunta: na relação entre você e seu smartphone/gadgets
quem manda em quem?).
Use a sua rede de suporte. A procrastinação quando compartilhada com
amigos, colegas e familiares tende a ser melhor compreendida e as chances de ir
além desse comportamento potencializam-se.
Por mais precisas e pontuais que sejam as sacadas acima para lidar com a
procrastinação, sem dúvida a melhor só você pode encontrar. O processo de
autoconhecimento e desenvolvimento do seu capital humano são as bases para
descobrir as raízes deste hábito e desenvolver competências para
conviver/superar o mesmo! E nisso, um psicólogo pode ser um importante
companheiro de jornada.
Deixar para amanhã custa caro. A vida cobra. E geralmente, com juros. Não
espere pelo momento perfeito. Construa o momento perfeito!
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Manual do Manifestante (ou Panelaço por si mesmo)
As manifestações públicas recentemente circularam as pautas de
discussões. Um dos pilares da democracia é o legítimo direito de expressar o seu
contentamento ou descontentamento em relação aos caminhos ditados nas urnas.
Manifeste pelo seu país, pelas seus ideais, pelas suas indignações. Não esqueça,
contudo, de manifestar por si mesmo:
Manifeste sua alegria por ocasião das conquistas pessoais e daqueles que
lhe são próximos.
Manifeste a sua dor por ocasião das travessias sinuosas da existência.
Manifeste o seu desejo por ocasião do despertar das vontades.
Manifeste o seu perdão quando a ofensa acinzentar o dia.
Manifeste a sua tristeza por ocasião das perdas e das mortes diárias.
Manifeste o seu luto quando a separação for inevitável.
Manifeste seu amor próprio quando do outro somente receber migalhas de
afeto.
Manifeste (prudentemente) sua raiva quando a indignação fizer parte do
cardápio. Elimine os seus efeitos corrosivos.
Manifeste sua dignidade quando o valor recebido estiver aquém do real.
Manifeste seu medo quando o novo ainda estiver intocado.
Manifeste a sua ânsia por liberdade interior antes que os seus próprios
grilhões acorrentem os seus sonhos!
Manifeste a si mesmo, por fim, antes que o si mesmo deixe de existir
levando consigo todas as possibilidades de realização.
P.s. Não marque uma data. A vida não espera por manifestações assim!
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A lição de SUZANE
A televisão brasileira teve um dos seus momentos mais memoráveis este
ano: a entrevista de Suzane Von Richtofen concedida ao apresentador Gugu
Liberato. Para quem não se recorda do nome ou não assistiu à reportagem, Suzane
Von Richtofen foi condenada a 39 anos de prisão por matar os pais com a ajuda do
namorado e do cunhado, os irmãos Cravinhos, no ano de 2002.
Após dez anos de silêncio, a parricida abre o seu coração ida e fala sobre
quase todos os aspectos da sua vida dentro do presídio. Com cabelos e pele bem
cuidados, unha feita e com uma aparência que certamente deu inveja a muitas
mulheres, Suzane respondeu a perguntas que muitos de nós gostaríamos de fazer.
Marco jornalístico a parte, como psicólogo tenho que mencionar a aula de
psicopatologia dada por Suzane durante a entrevista de mais de uma hora.
Navegando pelas redes sociais durante e após a entrevista notei que
grande parte dos telespectadores estava indignado com a postura da assassina.
Em nenhum dos momentos ela demonstrou com atitudes remorso ou qualquer
outra espécie de sentimento. Nenhuma lágrima escorreu pelos seus olhos em mais
de uma hora de entrevista. Quando ela falou do irmão que conheceu a orfandade
por sua culpa e do plano perversamente arquitetado para matar os pais a pauladas
enquanto dormiam e da falta que sente dos mesmos o que se viu foi frieza e
racionalidade. Não houve expressão emocional. Ao contrário, o que se percebia era
uma menina com traços meigos, esboçando sorrisos.
Somos de origem latina e a questão afetiva é importante para a nossa
cultura. Esperar uma comoção de quem comete uma barbárie como essa é natural
da nossa civilização. Contudo, não me espantei com a postura de Suzane pelo
seguinte motivo: ninguém dá o que não tem. A maioria de nós queria ver ali sentada
diante do entrevistador uma pessoa comovida, chorando a morte dos pais,
demonstrando seu arrependimento em cada lágrima. Porém, isso não ocorreu
porque ela não tem isso para mostrar, devido talvez às características da sua
personalidade. A lágrima de Suzane não rolou pelo seu rosto porque talvez ela nem
exista.
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Agora trazendo para a realidade cotidiana: As nossas relações
interpessoais, profissionais e relacionamentos amorosos sempre esperamos algo
do outro. Seria hipocrisia negar isso. A relação eu e tu se dá por meio de
reciprocidade de afetos e ações. Esperamos do outro com quem nos relacionamos
nem que seja o mínimo inconsciente. É cultural do ser humano.
Contudo, em certos momentos esperamos que o outro corresponda às
nossas expectativas pessoais e profissionais e não somos atendidos, o que gera
frustração. O outro pode não atender aos nossos desejos porque não quer ou
porque não tem. Quando o outro não quer, a responsabilidade é partilhada. Já
quando ele não dispõe, a responsabilidade é minha. A lição de Suzane é que, por
vezes, esperamos algo do outro e este outro não tem esse “algo” para oferecer.
Reveja como tem sido a dinâmica das suas relações pessoais e
profissionais. Não devemos esperar de alguém o que ele não tem. Ninguém dá o
que não tem. Esperar algo que não existe é o primeiro passo para a frustração.
P.s.: Sou humano e nada que é humano me é estranho. Mas que nunca
percamos a sensibilidade diante das atrocidades que a vida por vezes nos
apresenta.
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Fiquei frustrado. E agora?
O ser humano é repleto de possibilidades de realização das suas
potencialidades. Tudo depende da sua coragem em assumir um projeto de vida, um
projeto de desenvolvimento pessoal. A tradição remete ao filósofo Sócrates a
frase: “Uma vida sem busca não é digna de ser vivida!”. Uma premissa muito
instigante dada a repercussão que isso traz ao nosso viver.
Se você quer progredir em alguma dimensão da sua vida, quer se tornar
uma pessoa melhor, atingir seus objetivos ou alcançar a tão buscada realização
pessoal e profissional, certamente irá se deparar com a frustração, cedo ou tarde,
pois a frustração faz parte do caminho de quem quer crescer.
Estudar muito para um concurso e não passar… Preparar-se para a
entrevista do tão sonhado emprego e ter um desempenho aquém das
expectativas… Fazer um investimento financeiro, psíquico ou emocional e “quebrar
a cara”… Estas são algumas das situações em que o sentimento de frustração
pode invadir a nossa vida.
Acima eu disse que a frustração é um sentimento que faz parte do caminho
de quem quer crescer. Concordo que dizer isso pode soar estranho. Mas, a
frustração é parte do processo daquele que busca algo a mais para si mesmo. Não
existe frustração sem vontade. Por trás de toda frustração tem que haver um
desejo, um sonho, um objetivo a ser alcançado.
O sentimento de frustração pode surgir quando não conseguirmos superar
um obstáculo (desafio) que porventura surja e venha a impedir a realização de
alguma meta pessoal. É comum a frustração vir acompanhada do desânimo,
sentimento de incapacidade e anseio de desistir do sonho.
Todavia, diante disso há duas opções: Superar esse sentimento ou deixar a
frustração vencer você e todos os seus sonhos. Cabe a você decidir qual caminho
seguir. Caso opte por tentar superar a frustração, posso te sugerir algumas
sacadas para te ajudar a trabalhar esse sentimento.
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Passada a fase do abatimento ou desânimo que a frustração traga,
procure fazer uma avaliação da situação de maneira mais objetiva possível.
Compreenda o que realmente aconteceu. Faça uma autoanálise e entenda qual a
sua responsabilidade (caso haja) no ocorrido. Foi descuido? Agi tarde demais ou
antecipadamente? Estou despreparado? Excesso de autoconfiança? Preciso me
preparar melhor? Caso seja necessário, corrija seus passos e desenvolva suas
habilidades para evitar novos equívocos.
Procure inspirar-se novamente. Renove o comprometimento para com o
seu sonho! Não existe outra pessoa que deva acreditar mais nos seus sonhos do
que você mesmo. Clichês motivacionais à parte, você não pode desistir dos seus
sonhos!
Restabeleça suas metas, caso seja necessário. Muitas frustrações surgem
devido a metas irrealistas que estabelecemos para nós mesmos. Já tratei desse
assunto neste post.
Trabalho pessoal com ajuda psicoterápica também é eficaz na elaboração
desses sentimentos.
É sempre bom lembrar que não tenho a pretensão de ser guru aqui nesse
blog, dando a receita para superar as dificuldades e ser feliz. O que quero aqui é
lançar luz, trazer questionamentos para que você mesmo possa encontrar o seu
caminho para superar a frustração e as outras adversidades que possam surgir
no decorrer da vida. Acima de tudo, VOCÊ é o maior especialista em VOCÊ!
A frustração não é algo de todo ruim. Pode tornar-se um sinal de que
estamos em processo de crescimento e amadurecimento pessoal diante de
situações desconfortáveis e doloridas. Isto só depende de você! Só corre o risco
de se frustrar aquele que dá movimento ao seu existir.
O que é maior? A frustração ou a sua vontade?
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A PRIMEIRA IMPRESSÃO é a que fica?
Somos seres sociais, e por isso sempre estamos a estabelecer novos
contatos, criando novas conexões profissionais e gerando relacionamentos
pessoais. Conhecemos várias pessoas e também nos damos a ser conhecidos. Em
meio a essa rede de relacionamentos diários, quando você conhece alguém, a
primeira impressão é a que fica? Sim ou não? Isto depende, e muito, do contexto.
Em uma entrevista de emprego a impressão inicial que você passa é
determinante dentro de um processo seletivo. Já em um relacionamento amoroso
talvez esta premissa não tenha tanto valor, já que é aos poucos que vamos
conhecendo o outro.
Porém, você teria um segundo encontro com alguém que passou uma
impressão negativa no primeiro contato? Este é o meu ponto. A impressão que
passamos no primeiro contato pode não ser a que fica, mas é a mais marcante.
Pode não ser a determinante, mas abre portas para próximos contatos.
Nesse momento, você que lê pode pensar em outro ditado muito comum:
“Não devemos julgar um livro pela capa!”. Mas, seja sincero: você compraria um
livro com uma capa que não te atraia, não chame a sua atenção ou desperte o seu
interesse pela leitura? (A propósito, editoras contratam pessoas só para
confeccionar capas que atraiam os leitores. Até quem faz livros já atentou para
isso!).
Não pretendo ser radical aqui. O julgamento que fazemos do outro no
primeiro contato pode ser desfeito. Mas isso a médio e longo prazo, sem falarmos
do ônus que isso cobra, do investimento psíquico para refazermos uma má
impressão.
Como disse acima, a primeira impressão pode até não ser aquela que fica.
Mas, certamente, é a mais marcante. Por isso, se você tem a oportunidade de
causar uma boa impressão logo de cara, por que arriscar isso em uma segunda
oportunidade já que pode ser que ela nem venha a existir? A possibilidade de um
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segundo contato existirá na medida em que você deixou uma marca positiva
primeiramente.
A vida é dinâmica e as situações podem mudar. Sem esquecer que somos
de carne e osso. Podemos julgar e sermos julgados equivocadamente. Um juízo de
valor pode comprometer uma carreira ou abortar um relacionamento frutífero. Há
ocasiões em que uma segunda chance ocorrerá, em outras, não.
A provocação aqui é que a primeira impressão é a que marca o outro; a
última impressão é a que fica. Então trabalhe para que a sua primeira impressão
não seja a última! Crie nos outros a expectativa para que possam te conhecer mais
a fundo. O seu dia está cheio de oportunidades para isso!
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Síndrome de Gabriela
“Eu sempre fiz desse jeito e vou continuar assim….”
“Desculpe, mas eu sou assim…”
“Eu prefiro fazer as coisas do jeito antigo…”
Certamente você conhece ou já se deparou com pessoas que sempre
apresentam um discurso parecido com esse, seja no trabalho, na escola, na família
ou nos relacionamentos. Esse tipo de comportamento é popularmente conhecido
como “Síndrome da Gabriela”. Essa condição não é uma doença, nem está nos
manuais de medicina ou psiquiatria. Estamos falando aqui de uma maneira de
compreender o mundo e se posicionar diante dele.
Jorge Amado escreveu um romance no final dos anos 50 intitulado
“Gabriela, cravo e canela”, que foi adaptado em forma de novela para a TV. A
primeira versão foi um sucesso tendo a jovem atriz Sônia Braga como
protagonista. Contudo, o nome da síndrome remete ao tema musical desta novela,
interpretado por Gal Costa e cujo trecho mais marcante é: “Eu nasci assim, eu
cresci assim, eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim…” (Não conhece ou quer
ouvir novamente, clique aqui).
Geralmente, os “portadores” desta síndrome demonstram em suas
atitudes demasiado apego aos modelos antigos (excesso de romantismo?!),
resistência a tudo que é novo (ideias, paradigmas, conceitos) e, por fim, acham que
o termo reciclagem só se aplica a plástico, papelão, vidro e latinha de refrigerante.
São pessoas que até possuem brilhantes conhecimentos, mas pouca abertura ao
novo. Há um excesso de inflexibilidade na dinâmica pessoal! A rigidez faz com que a
pessoa aninhe-se na zona de conforto, tendo, por conseguinte, os mesmos
resultados sempre!
Compreendo o fato de muitos exergarem a vida desta maneira. Respeito
esta opinião, inclusive. Mudar não é algo fácil, e por isso, entendo a resistência de
certas pessoas. Resistência que pode surgir de vários fatores, dos quais quero
destacar dois:
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Primeiro, o modelo de educação e formação pessoal recebido que pode ter
sido voltado para uma vida limitante e/ou condicionada a sempre esperar as
“coisas caírem do céu”. Em segundo e mais comum, o medo. Diante disso surge a
oportunidade de pensarmos sobre o medo de errar, medo de tentar, medo do
fracasso, medo das críticas negativas: crenças que, geralmente, estão por trás
desta resistência ao que é novo.
Vale ressaltar o que a Síndrome de Gabriela pode acarretar. As
consequências de pensar, falar e agir desta maneira se refletem no não
crescimento pessoal e profissional. Ademais, prejudica a todos os próximos do
“portador” da síndrome, como os colegas de trabalho e estudo, cônjuges,
familiares…
Heráclito, um filósofo pré-socrático que viveu na região da atual Turquia
por volta do século IV a.C., acreditava que nada que existe é estático, isto é, tudo é
movimento, tudo flui. É remetida a ele a premissa de que não podemos nos banhar
duas vezes no mesmo rio, uma vez que ambos, o rio e nós, já não somos os
mesmos de outrora. Isso permite questionar que prender-se demasiada e
neuroticamente a conceitos é ir contra o que a vida tem de instigante: a sua
fluidez. Não somos os mesmos de ontem e certamente não seremos os mesmos
amanhã.
A intenção destas linhas não é te convencer a mudar todos os teus
paradigmas, muito menos te oferecer o traje da metamorfose ambulante. Ao
contrário, é te provocar a refletir sobre os antigos e novos conceitos que
sustentam o seu viver. Permita-se entrar em contato com a beleza das novidades
do cotidiano, com as possibilidades ainda intocadas pela sua alma. Deixe-se
contagiar pelo entusiasmo que renasce todos os dias com o nascer do Sol.
Há algum tempo ouvi a seguinte pergunta: Quando foi a última vez que você
fez algo pela primeira vez? Pertinente, não?
P.S.: Apropriando da ideia de Heráclito, você já não é a mesma pessoa que
começou a ler este texto. Viu, às vezes as mudanças ocorrem sem muito esforço!
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Adeus ano velho. Feliz ano novo! Será?
10…9…8…7…6…5…4…3…2…1…FELIZ ANO NOVO!
“Adeus ano velho, feliz ano novo. Que tudo se realize no ano que vai
nascer!”. O céu fica colorido com as luzes dos fogos, o estouro do champagne
compete com as felicitações de prosperidade para o ano que se inicia.
Comum também são as famosas resoluções para o ano novo, aquelas
promessas que sempre fazemos para nós mesmos quando o ano está iniciando.
Mudar de emprego, fazer uma viagem, sair do sedentarismo, emagrecer, encontrar
um amor, estudar mais…. Esses são alguns exemplos.
Contudo, na maioria das vezes, essa cena é a repetição do ano anterior.
Muitas resoluções propostas se perdem à medida que os dias passam. A motivação
para realizar os objetivos vai minguando até que aquele bom propósito é deixado
de lado.
Acredito que isso ocorre pois na maioria das vezes focamos muito no
resultado e acabamos por deixar de lado ou esquecer mesmo do processo. Tomo
por exemplo aqueles que se propõem a emagrecer. Muitos pensam apenas na
“selfie” diante do espelho comparando os quilos perdidos e acabam por se
esquecer de que para chegar nesta “selfie” é preciso uma mudança de hábitos,
uma dieta mais saudável, a prática de exercícios físicos e o principal que isso
demanda: motivação e disciplina.
Assim, ao propor um objetivo de vida para o ano que se inicia, estabeleça
para você mesmo uma tarefa que não seja nem muito fácil nem muito difícil.
Comece com algo simples e vá aumentando a dificuldade da tarefa à medida que as
pequenas realizações forem acontecendo. Ao propor algo muito difícil em relação
ao modo como se viveu no ano anterior, corremos o risco de nos perder no
caminho. Mudança de hábitos não acontece da noite para o dia.
Mas, você pode estar se perguntando o que a promessa de final de ano tem
a ver com o desenvolvimento pessoal. Tudo! Apenas na matemática é que a
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distância entre dois pontos é uma simples reta. A vida é dinâmica, oscilante e por
isso, ao propor um objetivo de vida, devemos sempre levar em conta o processo
para se chegar até ele, sem deixar de mirar o sonho concretizado no final do
horizonte.
Einstein já dizia que é insanidade fazer as mesmas coisas e esperar por
resultados diferentes. Quer uma boa resolução para o ano novo? Revise o modo
como você faz as coisas no cotidiano! Adeus, ano velho. Feliz ano novo (?). Sim, ano
novo. Novas possibilidades.
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MAIS
UMA
CANÇÃO
(ou,
simplesmente
Ode
aos
Hermanos)
Ele era um Cara estranho, tentando achar um lugar entre os quarteirões.
Estava com um olhar de quem havia feito de tudo. Um olhar que parecia dizer
adeus ao que restou de quem um dia foi feliz...
Assim como todo Carnaval tem seu fim, havia desistido do seu Último
romance.... Abandonou Anna Julia... Só ele sabia a dor de ter e perder alguém... E
nessa dor, nessa solidão que deixa o coração num leva e traz, ele teve que arrumar
alguém pra passar os dias ruins.
Foi pro lado de lá, levando tudo de si... Agora só tinha olhos pra uma
morena, a bela Lisbela. Até quem o via lendo jornal na fila do pão sabia que ele tinha
encontrado alguém. Sentia-se como um Pierrot apaixonado pela colombina...
Amá-la era um doce, todavia o amargo era querê-la para ele. Não sabia se esse
era realmente seu destino. Ele se considerava sentimental demais. Talvez por isso
sofresse um pouco mais..
Via nela uma Primavera, uma nova oportunidade da vida florescer. Levoulhe uma Flor. Linda, vívida, porém que murchou todas suas esperanças. Ela pensou
ser de outro rapaz e se entregou. Aquela flor serviu para que ela achasse outro
alguém... (Veja você. Onde é que o barco foi desaguar... Ele só queria um amor...
Deus parece às vezes se esquecer)...
Ele sofria por saber que não seria ele quem a convenceria. Sofria por cada
dia que passava ser um a menos pro encontro acontecer. Não sabia por onde guiar
o olhar que nada mais enxergava...
A colombina trocou o Pierrot pelo arlequim. E mais uma vez, ficou sozinho,
esperando pelo seu bem querer... Caminhou... Sentou na beira do cais. Ouviu o
vento
passar...
Assistiu
a
onda
bater....
Lançou-se a Palo seco no seu destino... Sem dúvidas, sem medo...
Decidiu esquecer-se do passado vivido no Sétimo andar daquela Casa pré-
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fabricada em que o que mais chamava a atenção era uma moldura clara e simples
em que a gente é aquilo que se vê...
E agora o que sobrou: um filme no close pro fim.
Acima de tudo, ele queria ser só um Vencedor. Essa era sua sina... Levava a vida
devagar, pra não faltar amor!
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RETALHOS PARA UM FUTURO EPITÁFIO
Em um vilarejo encravado entre as montanhas morava um velho sábio. De
cabelos ralos, barbas longas. Todas as manhãs sentava à beira de uma cachoeira
para contemplar a vida e seus mistérios.
Certa manhã um garoto lhe perguntou o que ele considerava como o mais
valioso para o homem. O velho, ainda observando a cachoeira, disse:
"Posso perder tudo...
Amigos...
Amores...
Felicidades...
Dinheiro...
Paz...
Até a fé eu posso perder...
Só não perco a Esperança!"
O garoto saiu e foi procurar a sua esperança. O velho, fitando a natureza,
continuou ali a esperançar. E sentiu-se em paz consigo mesmo!
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SOBRE ENCARAR O SOL
Um velho de barbas longas caminhava! Caminhava um caminho que lhe
pertencia, um caminho que era só seu. Um caminho que sempre foi levado a sério,
um caminho que se fez caminhando.
Quase no final desse caminho ele parou... A vista dali era emblemática,
típica paisagem que os poetas tão bem descrevem. Pela primeira vez sentiu-se
narcoseado. O velho tinha diante de si a montanha onde o Sol se escondia (e o Sol
estava para se esconder...). Deslumbrado ele olhou para trás. Percebeu que o
caminho percorrido até ali era longo, cheio de idas e vindas, paradas e correrias.
Apesar de ter-se mostrado longo, ele conseguiu enxergar onde o caminho
começava. Mirando para trás vivenciou por pequenos instantes cada passo dado,
percebendo que em cada um deles havia um sentido. Ele sabia que seus passos
foram bem dados, que seus rastros haviam sido “bem pisados”, sua marcas eram
firmes. Tinha consigo que a vida era esse jogo de ser e estar e que tudo o que já
havia caminhado foi perfeito.
Mesmo com as rugas que o tempo lhe presenteou e a candidez dos fios no
seu rosto, um sorriso lhe dava a sensação de que ele havia caminhado bem.
Ademais, que havia apostado bem (como este velho seguia à risca o aforismo da
aposta de Pascal).
Houve amigos e inimigos. Paixões e Rusgas. Mas naquele momento do
caminho ele estava sozinho, assim como no início do caminhar, lá no primeiro
passo dado há algumas dezenas de anos. E esse momento solitário não o
entristecia. É solitário para todos os que ali chegam.
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Virando-se, pegou um cantil que carregou sempre na sua cumbuca. Tomou
um bom gole de água fresca. Seu último gole. O gole final. Encarou o Sol e foi
encontrar-se com ele atrás da montanha onde ambos se encontrariam e,
possivelmente, se esconderiam juntos.
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SOBRE FUTOROLOGIA
Se fosse diretor de alguma faculdade ou de qualquer outra escola, uma
disciplina que não iria faltar no currículo seria a futurologia. Sim, a Futurologia.
Que não tem nada a ver com previsões astrais, muito menos com conjugação de
verbos. Etimologicamente seria o estudo do futuro. Aqui o futuro é visto como
logos, como razão. Como algo a ser conhecido.
Costumo imaginar o futuro o como lugar onde o horizonte se deita. É lá o
reino das possibilidades, a morada de todas as escolhas e, por isso, felicidades e
sofrimentos também se encontram por lá. É lá onde o eu ideal repousa à sombra
de uma árvore, na beira de um lago esperando o encontro (ou desencontro)com o
eu real.
O passado já foi. O presente só existe enquanto agir, pois quando penso
nele, o presente já foi, já passou, adentrou às portas do reino do passado. O futuro
é o que sobra de melhor para a existência humana. Ele está la intocado, pronto
para ser criado, esperançado, sonhado ou desprezado, tingido com as cores da
vida.
Eis, implicitamente, a ementa da Futurologia
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SOBRE TEMPO RUIM
Ele continuava a viver sua sina de palhaço, homem da alegria e do fazer rir.
Já havia se acostumado a despertar com os primeiros raios do sol. Contudo, o
amanhecer daquele dia foi banhado pelas gotas de chuva.
Então ele acordou e ansioso colocou o resto da cortina de lado e viu que
tudo era cinza. Não se preocupou, afinal havia acompanhado a previsão na noite
anterior em que o homem do radio anunciava “tempo ruim” para aquele dia.
Estático frente à janela do seu mundo se questionou sobre o que era o
“tempo ruim”, e percebeu que não havia nada de ruim ali. Nada de errado, nem de
mal. Era a natureza. Somente a natureza agindo conforme a sua “natureza”.
Ainda diante daquela paisagem tingida de cinza pela chuva ela começou a
pensar em si, no seu peregrinar de palhaço pelos picadeiros. Feliz, ele possuía um
trabalho que lhe realizava, poucos e bons amigos (que eram o que ele chamava por
família), tinha um amor para amar e ser amado. E, abrindo seu estojo de tintas e
perequetecos que todo palhaço tem, ele se deu conta que carregava consigo os
bens que iam de encontro ao sentido da vida. Ao sentido da sua vida. Não era o
“tempo ruim” que transformaria seu dia em drama.
Seguiu com seu dia. Seguiu com sua vida. Afinal, assim como a natureza
agiu naquela manhã, também ele agiria: seria quem ele era e foi palhaçar entre os
seus!
(P.S.: E quem o viu sair de sua tenda percebeu que o seu sorriso alegre
destoava do cinza da paisagem).
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SOBRE O MENINO QUE VOAVA
Em toda a infância, aquele garoto havia convivido com seres de asas.
Pássaros sempre vinham lhe visitar trazendo consigo aquilo que só as aves
possuem e têm a capacidade de entender e vivenciar na plenitude: voar. Voar! Um
dom invejado pelos homens (Ícaro que o diga!), muito mal copiado pelos inventores
com ânsia de traduzir o alado para o mecânico.
O bater das asas lhe encantava! Trazia-lhe brilho aos olhos! Muito mais do
que a sensação de liberdade, o que chamava a atenção naqueles pássaros tão
frágeis era o modo como viam o mundo. Enxergavam tudo a partir de uma posição
privilegiada. Enxergavam tudo do alto. Mesmo com rasantes e pousos no chão, não
pertenciam à terra.
Com as aves que adotou para a vida aprendeu que, apesar de não ter asas,
podia também voar. Não do modo como fez Ícaro, mas de um modo humano.
Transcendental. Quando se deu conta disso passou a ter medo do chão. Não que
fosse algo patogênico, pelo contrário, era o que lhe motivava a sempre pensar a
partir do alto.
Tinha os pés fincados na terra, mas com a cabeça nas areias celestes. Não
se prendia às coisas daqui, que sempre são efêmeras. Sempre
Aquele que apreende a magia das asas continua terrestre, preso ao chão,
mas com espírito livre, pertencente às alturas!
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SOBRE PROCURAS
Era final de inverno. A primavera já mostrava ao mundo os seus primeiros
sinais, para deleite dos olhares humanos.
Num caminhar pela costa, ele viu um bilhete, um escrito num papel já gasto
e molhado pela maresia. Em letras simples - com uma caligrafia mediana sem
pretensões artísticas - a inquietação de alguém ganhou a linguagem da escrita. “O
que se espera?”. Era o que o bilhete carregava consigo.
Ele leu, releu... Caminhou um pouco observando o movimento das gaivotas
e ruminando sobre o conteúdo que havia lido, pronunciou ao vento que
serenamente refrescava seu rosto:
“Procuro por mim mesmo. Procuro por um lugar aquecido, mas não
distante das misérias – para eu não me esquecer de quem realmente fui e sou.
Procuro pela melodia simples, mas que toca no fundo da alma humana.
Procuro pela letra que traduz sentimentos e batiza momentos de dores e alegrias.
Procuro pelo beijo singelo e sincero, na chuva, nos lábios da mulher que é
amada.
Procuro textos simplesmente complexos. Procuro por entrelinhas.
Procuro o amanhecer. A luz do sol invadindo o universo. O escorregar da
gota de orvalho. Procuro a sinfonia do dia se esvaindo... o crepúsculo. O sol
cedendo lugar à sombra da noite e ao véu do luar.
Procuro pelo SIM, mas sem esquecer que no NÃO a verdade também se
revela.”
Dito isso, ele virou-se. Olhou ao redor e, ao longe, avistou outros como ele.
E num gesto de coragem, jogou o bilhete na areia da praia, para que esses outros
também pudessem experimentar a aventura contida naquele pedaço de papel
úmido pela brisa do mar.
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O DIA mais IMPORTANTE!
Diante da pergunta “Qual o dia mais importante da sua vida?”, o que você
responderia? Alguns responderiam que foi o dia do nascimento ou da formatura.
Outros lembrariam a data do casamento ou do nascimento do filho. Outros
afirmariam que foi quando conseguiu realizar o sonho da casa própria. Várias
respostas surgiriam. Compreendo que essas datas têm para certas pessoas um
valor diferente, o que fazem delas datas significativas ao longo da vida, datas
especiais.
Por falar em dias, faça um raciocínio: Se a expectativa de vida de uma
pessoa é de 75 anos, então ela viverá em média pouco mais de 27 mil dias. Parece
muito ou parece pouco? Continuando o raciocínio: Se você já completou vinte anos,
viveu mais de 7.300 dias; se já está na casa dos trinta anos, certamente já viveu
quase 11 mil dias; se já chegou nos quarenta viveu no mínimo 14.600 dias e pôde
constatar que a vida, pelo menos aqui, não começa aos quarenta. Quando
completamos cinquenta anos de idade, ultrapassamos a marca de 18.250 dias de
vida.
Esse raciocínio serve para ilustrar a importância de cada dia ao longo da
vida. Por isso, ouso dizer que o dia mais importante da sua vida é o HOJE.
Logicamente, o passado já “passou” e dele só podemos extrair lições. O futuro,
ainda não é, não chegou.
A reflexão aqui proposta não vem indicar uma postura hedonista para com
o viver, ou seja, de querer aproveitar tudo sem pensar nas consequências, ao
melhor estilo “como se não houvesse amanhã”, muito menos sinalizar que os seus
objetivos, projetos e sonhos devam ser esquecidos diante da incerteza do futuro.
Não, não é isso. Isso seria inconsequente da minha parte.
O que esta reflexão propõe é uma maior atenção para o presente, já que na
relação com o Tempo é a única coisa que possuímos. O presente que nos separa do
passado e do futuro está cheio de encantamentos e possibilidades ainda não
descobertas. Como está a sua relação com o dia de HOJE? Na sua casa, no seu
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trabalho, nos seus relacionamentos…em tudo há um presente que clama por ser
vivido, mesmo em época de ansiedades e depressões!
Viva o HOJE! A ansiedade pelo futuro pode cegar! Corra menos risco de
lamentar o passado no futuro! A única coisa que pode te ligar a um futuro com
mais realizações é um presente bem vivido. Não há futuro sem a realização do
presente!
“Viva hoje! Arrisque hoje! Faça hoje! Não se deixe morrer lentamente”,
poetizou Neruda.
O dia mais importante da sua vida é HOJE. E você, vai vivê-lo ou deixar que
ele escorra pelas suas mãos?
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Criação, Autoria, Edição e Formatação
SAMUEL BUENO
Revisão
CLIMENE CRISTINA DIAS DE SIQUEIRA
Revisão Final
SAMUEL BUENO
REALIZAÇÃO
www.meudesenvolvimentopessoal.wordpress.com
ALFENAS – MG
2015
A reprodução total ou parcial desta obra é permitida, desde que citada a fonte.
Direitos Autorais pertencentes a Samuel José Bueno Alves
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