2015.1 volume 1
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2015.1 volume 1
Anais do Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem – FAMO AWEA’ 2015 Anais do Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. AWEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. Famo Faculdade Porto das Monções Anais do Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem FAMO AWEA’2015 Campo Limpo Paulista – SP. 2015 Anais do Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. AWEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. Anais do Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. AWEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. Comitê de Programa e Organização Prof. Dr. Nelson Gentil Prof. Me. Abelardo Vilela Neto Prof. Ademar Benedito Ribeiro da Mota Prof. Elton Bruno Ferreira Prof. Érica Martelini Messias Borin Prof. Fábio Marcelo de Azevedo Prof. Fernando Silvestre Prof. Helinês Moreira Prof. Leandro Butier Leite Prof. Me. Marcelo Tuani Prof. Me. Milena Fernandes Diana Prof. Nislei Rosa da Silva Thomazetto Prof. Dr. Paulo Cesar Oliveira Prof. Me. Silvio Luis Amâncio de Abreu Prof. Simone Rossi Leite Prof. Suelen Azulini Bel. Aline de Fátima Gonçalves Anais do Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. AWEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. Apresentação T rata-se do nosso primeiro Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem. E está sendo realizado a apenas seis meses. Este fato mostra o esforço, empenho e apoio que recebemos dos professores e colaboradores da Instituição. Tivemos a participação de diversas áreas. Agradecemos a cada professor que conseguiu escrever o seu artigo. Agradecemos também ao Comitê de Programa e Organização, responsável por este evento e, em especial, ao prof. ME. Marcelo Tuani, Coordenador de Programa e a auxiliar de biblioteca Aline de Fátima Gonçalves sem os quais não teríamos este primeiro Workshop. Os trabalhos deste Workshop podem ser classificados segundo quatro temas a partir dos quais a ordem dos artigos desta ata e as sessões de apresentações orais foram desenvolvidas. O primeiro tema refere-se a Educação e Trabalho Docente e conta com trabalhos dos autores prf. ME Ademar B. Ribeiro da Motta, prof. Especialista Leandro B.Leite, prof. ME. Marcelo Tuani, prof. Especialista Abelardo Vilela Neto, profa. Especialista Simone Rossi Leite, profa. ME. Érica M. Messias Borin e prof. especialista Fernando Silvestre. Temos como segundo tema o Direito e a Gestão de Empresarial e traz trabalhos das autoras profa. Especialista Helinês Moreira e profa. ME. Milena Fernandes Diana. Tendo uma dimensão mais diretiva e aplicada à Educação Matemática, o terceiro tema congrega os trabalhos dos autores prof. Especialista Fábio Marcelo de Azevedo, prof. ME. Silvio Luis Amâncio de Abreu e prof. Dr. Paulo Cesar Oliveira. Finalizando como quarto tema trazemos trabalhos na área da Arte, Saúde e Cultura com os autores profa. Especialista Nislei Rosa da Silva Thomazetto, profa. Especialista Suelen Azulini e o prof. Me. Elton Bruno Ferreira. Prof. Dr. Nelson Gentil Diretor da Faculdade Porto das Monções Anais do Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. AWEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. SUMÁRIO A Importância do Tutor Presencial na Educação a Distância ......................................................................... 6 Ademar Benedito Ribeiro da Mota ........................................................................................................... 6 Polêmicas caipiras: Cornélio Pires e Monteiro Lobato ................................................................................ 10 Elton Bruno Ferreira ............................................................................................................................... 10 CARACTERIZAÇÃO DA FUNÇÃO EXPONENCIAL E GEOGEBRA ...................................................................... 14 Fábio Marcelo de Azevedo ..................................................................................................................... 14 CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA E A DESVALORIZAÇÃO IMOBILIÁRIA ........................................................... 18 Helinês Moreira ..................................................................................................................................... 18 A ESTRUTURAÇÃO DO OBJETO INDIRETO ................................................................................................... 23 Leandro Butier Leite ............................................................................................................................... 23 A capacitação em serviço dos professores do EJA em uma Escola Estadual no Município de Porto Feliz ..... 26 Marcelo Tuani ........................................................................................................................................ 26 A tecnologia torna o professor invisível? .................................................................................................... 33 Marcelo Tuani ........................................................................................................................................ 33 Abelardo Vilela Neto .............................................................................................................................. 33 AVALIAÇÃO DOS JOGOS TEATRAIS NO COTIDIANO ESCOLAR ...................................................................... 36 Nislei Rosa da Silva Thomazetto ............................................................................................................. 36 Sugestões de atividades para as aulas de matemática: Adaptações de jogos no ensino da geometria ........ 41 Silvio Luis Amâncio de Abreu.................................................................................................................. 41 Paulo Cesar Oliveira ............................................................................................................................... 41 O perfil do docente universitário contemporâneo ...................................................................................... 45 Simone Rossi Leite ................................................................................................................................. 45 EFEITO DA PRÁTICA DO YOGA NAS CAPACIDADES FÍSICAS: FORÇA, FLEXIBILIDADE E NAS CARACTERÍSTICAS ANTROPOMÉTRICAS .................................................................................................................................. 49 Suelen Azulini ........................................................................................................................................ 49 O ALUNO DA EJA E SEU COTIDIANO ESCOLAR ............................................................................................ 53 Érica Martelini Messias Borin ................................................................................................................. 53 Fernando Silvestre ................................................................................................................................. 53 BENEFÍCIOS DA ADOÇÃO DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DE MARKETING PELAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS ................................................................................................................................................. 59 Milena Fernandes Diana......................................................................................................................... 59 Anais do Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. AWEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. A IMPORTÂNCIA DO TUTOR PRESENCIAL NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Ademar Benedito Ribeiro da Mota Famo Faculdade Porto das Monções Av. Monsenhor Seckler, 1250 Vila América 18540-000 Porto Feliz, SP, Brasil (15) 3262-5605 [email protected] RESUMO Este artigo busca apresentar uma reflexão sobre o papel do tutor na Ead de maneira pontual, pretende ainda analisar o perfil profissional que trabalha nos pólos presenciais, tendo como objetivo colaborar na construção do conceito de tutoria local. Inicialmente apresentamos um breve relato da trajetória percorrida da EaD no Brasil, e em seguida definir as funções e o conceito de tutor, seu perfil e quais são suas competências básicas para a realização do seu trabalho, este são os objetivos principais desta pesquisa. Na construção deste trabalho foram utilizadas referências bibliográficas sobre o tema. Palavras chave Educação, tutor. ABSTRACT In this work, we present reflections on the role of faceto-face tutor in Ead, their roles and expectations in a new profession in our educational legislation. Keywords Education, tutor. INTRODUÇÃO O presente artigo traz as reflexões e apresenta alguns resultados de uma pesquisa que visa contribuir para a discussão sobre as funções e trabalho desenvolvido pelo tutor local na Educação a Distância - EaD, este debate se faz necessário devido à evolução crescente da EaD no Brasil, como destaca Belloni (2009, p. 9). Nas últimas décadas, muito do que se escreveu, disse e fez em EaD baseava-se em modelos teóricos oriundos da economia e da sociologia industriais, sintetizados nos “paradigmas” fordismo e pós-fordismo. A importância deste debate é crucial, já que estes modelos (criados para descrever formas específicas de organização da produção econômica) têm influenciado não apenas a elaboração dos modelos teóricos, mas as próprias políticas e práticas de EaD, no que diz respeito tanto às estratégias desenvolvidas como à organização do trabalho acadêmico e de produção de materiais pedagógicos. Com o crescente desenvolvimento das Tecnologias da Informação e Comunicação–TIC, o conceito de EaD aparece cada vez mais no contexto da sociedade contemporânea, sendo considerada uma modalidade de educação de extrema relevância, devido principalmente à perspectiva educacional exigida no século XXI que é a da “aprendizagem ao longo da vida”, assim a Ead com a sua flexibilidade e abrangência se torna uma ferramenta importante na busca desse objetivo. Nesse contexto, a pesquisa tem como objetivo analisar de maneira pontual o a serviço prestado pelo tutor local na Ead, aquele que trabalha diretamente com os discentes nas aulas presenciais realizadas nos pólos. Foram analisadas várias referências bibliográficas sobre o assunto, assim como a minha própria experiência profissional sobre o tema, uma vez que exerci esta função à aproximadamente cinco anos, tendo trabalhado como tutor no curso de administração de empresas, pedagogia e também no curso de Pós-Graduação Pigead – Planejamento Implementação e Gestão da Ead da Universidade Federal Fluminense. Assim, apresenta-se a seguir uma síntese da evolução da EaD no Brasil, e o estudo sobre a importância do tutor neste processo que foi o universo desta pesquisa. BREVE HISTÓRICO DA TRAJETÓRIA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO BRASIL DA Analisando o caminho percorrido pela EaD no Brasil, (ANDRADE, p. 3) relata: A trajetória da EaD no Brasil se iniciou em 1904, com a oferta de cursos técnicos por correspondência oferecido por instituições privadas, sendo que os mesmos para serem realizados não exigiam a escolarização anterior, com a criação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro em 1923, por Henrique Morize e Roquete Pinto e também com o surgimento do Instituto Monitor (1939), do Instituto Universal Brasileiro (1941) este modelo de ensino foi perpetuado. A partir de 1996, com a publicação da LDB nº 9394, que tornou oficial a Ead no Brasil, conforme enunciado abaixo, iniciaram os primeiros cursos. Artigo 80. O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada. 6 Anais do Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. AWEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. § 1º A educação a distância, organizada com abertura e regime especiais, será oferecida por instituições especificamente credenciadas pela União. § 2º A União regulamentará os requisitos para a realização de exames e registros de diplomas relativos a cursos de educação a distância. § 3º As normas para produção, controle e avaliação de programas de educação a distância e a autorização para sua implementação, caberão aos respectivos sistemas de ensino, podendo haver cooperação e integração entre os diferentes sistemas. § 4º A educação a distância gozará de tratamento diferenciado, que incluirá: I – custos de transmissão reduzidos em canais comerciais de radiodifusão sonora e dos sons e imagens; II – concessão de canais com finalidades exclusivamente educativas; III – reserva de tempo mínimo, sem ônus para o Poder Público, pelos concessionários de canais comerciais. No ano de 1997 as universidades e centros de pesquisa passaram a criar seus primeiros cursos de graduação e pós-graduação lato sensu em ambientes virtuais de aprendizagem. Analisando as gerações da EaD, (CORRÊA , p.10) apontam que: Como a educação a distância possui uma longa tradição, é possível inclusive, seu agrupamento em gerações de acordo com os recursos tecnológicos utilizados. Desta forma temos a primeira geração que utiliza o material impresso como forma de desenvolver os conteúdos e manter a comunicação como os alunos; a segunda geração que utiliza de materiais de áudio e vídeo, favorecendo assim, a comunicação sincrônica, que permite ampla difusão da informação, contatando pessoas em espaços diferentes e em tempo real. E, com o avanço das telecomunicações, temos uma maior flexibilização dos processos informacionais e comunicativos, o que permitiu configurar a terceira geração em EaD, que contata pessoas, em espaços e tempos diferentes por meio da comunicação assincrônica. À medida que um novo recurso tecnológico se insere no campo educacional temos sua incorporação pelas práticas educativas de modo a constituir as mediações pedagógicas a serem utilizadas na EaD. Percebe-se que com o desenvolvimento contínuo das novas TIC, muitas gerações ainda irão surgir na consolidação da modalidade de ensino EaD. Em relação a esta primazia da técnica nos dias atuais, Belloni (2009, p. 52) complementa: Vivemos num ambiente cada vez mais técnico e menos natural: árvores, animais, riachos e pedras – a natureza – vão sendo substituídos por automóveis, fliperamas, telefone e vídeo games, objetos técnicos de todos os tipos e com as mais variadas funções e utilidades. Este mundo técnico inclui tudo o que é produto da aplicação da técnica, da mais simples ferramenta ao mais sofisticado equipamento industrial, da poltrona do microcomputador doméstico. E neste mundo reina a deusa máquina. Analisando esta evolução tecnológica onde os valores naturais estão sendo substituídos pelos técnicos notamos cada vez mais nesta sociedade contemporânea a inversão gradativa deste fato, onde seus efeitos mais evidentes serão relativos aos modos de pensar, de perceber, de compreender e de sentir dos seres humanos. O EAD COMO CAMINHO PARA A DEMOCRATIZAÇÃO DO ENSINO No Brasil que possui dimensões continentais e ainda sofre com o alto nível de analfabetismo e de formação inadequada dos professores, um caminho que se abre é a utilização das novas TIC para combater esta defasagem, através desta ferramenta poderemos atingir um número maior de pessoas em um curto espaço de tempo e em diversas localidades, outro fator importante que a EaD proporciona em um mundo onde o tempo se torna cada vez mais escasso, é a maior flexibilidade ao permitir que o aluno acesse o curso no momento em que desejar, respeitando o seu ritmo e também a sua disponibilidade de horários surgindo assim o conceito de aprendizagem autônoma, sobre o tema Belloni (2009, p.46) destaca: O conceito de aprendizagem autônoma implica uma dimensão de autodireção e autodeterminação no processo de educação que não é facilmente realizada por muitos estudantes típicos de EaD. Para que as instituições de educação aberta e a distância possam atender às demandas prementes a realizar a finalidade de ensinar a aprender e formar o aprendente autônomo, será necessário que a pesquisa sobre educação de adultos se volte para a clientela, produzindo conhecimento sobre suas características socioculturais e socioeconômicas, suas experiências vividas, e integrando este conhecimento na concepção de estratégias e metodologias que criem efetivamente condições para a aprendizagem autônoma. É neste sentido que se salienta a importância do tutor, para ajudar a formar este novo aprendente, buscando identificar as necessidades e desejos, além de promover circunstâncias que concretizem na formação de um aluno autônomo, em que o aprender a aprender tanto em voga nos dias atuais se torne perene neste novo aprendiz. Segundo Belloni (2009, p.81), a característica principal do ensino a distância é a transformação do professor de fator importante sobre esta modalidade de ensino, diz respeito a sua clientela, que geralmente é formada por adultos que estão procurando recuperar o tempo perdido, e nunca praticaram o auto-estudo em sua vida acadêmica, esta transformação não é fácil, pois gerar a sua própria aprendizagem leva algum tempo, e adaptações, esta mudança didática leva a EaD possuir um índice elevado de evasão dos seus alunos. O PAPEL DO TUTOR NO ENSINO A DISTÂNCIA Com o surgimento das novas tecnologias da informação e comunicação que consequentemente proporcionou a 7 Anais do Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. AWEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. evolução da educação a distância em nosso país, um novo debate se abre sobre o papel e a importância do tutor neste processo, neste sentido Pretto (2001, p.29) relata: Se, de fato, queremos educação e não um simples processo de distribuição de informações, torna-se necessário pensarmos na relação professor-aluno e nas condições concretas de trabalho desses profissionais. (...) (insisto) na inadequação da denominação daquele professor que trabalha na ponta do sistema de programas de EAD de tutor, monitor, orientador ou qualquer outra denominação que seja pura e simplesmente professor. Notamos que não há uma concordância nem mesmo com a nomenclatura designada a este profissional que atua na ponta do sistema de forma direta com os alunos. A discussão do papel da tutoria está intimamente ligada a compreensão que se tem sobre a EaD, Corrêa (2007, p.85) relata sobre o cotidiano da tutoria: Nos últimos tempos, o trabalho da tutoria começa a se fazer cada vez mais presente nos ambientes acadêmicos, sobretudo quando está em pauta a discussão dos elementos essenciais na adequação do processo educativo. No entanto, é preciso rever e discutir o papel da tutoria como uma ação pedagógica necessária nas diversas etapas de uma proposta de EaD. Nesse sentido, cumpre pontuar e entender os conflitos enfrentados pela tutoria na busca de se adequar a um ritmo individual e coletivo de tempos e espaços curriculares, o que implica a necessidade de desenvolver uma pedagogia que se alicerce em uma nova compreensão do processo educativo, exigindo das instituições formadoras e, consequentemente, da tutoria a construção de novas competências para desenvolver propostas pedagógicas em EaD. Analisando o parecer da autora sobre o cotidiano da tutoria, percebe-se a preocupação da mesma no sentido de definir e adequar às instituições formadoras sobre o perfil desejado deste novo profissional, que tenha condições de aprender a aprender, com competência para fazer a educação a distância, um espaço de construção coletiva de conhecimento, buscando oferecer aos alunos uma aprendizagem significativa. participação nas atividades propostas; conduzir os acadêmicos a um bom aproveitamento nos momentos de auto-estudo; aplicar e realizar a correção das avaliações, assim como atribuir-lhes nota, por meio de critérios definidos pela Coordenação Pedagógica e pelos professores, no mesmo manual o professor interativo é responsável por: ministrar as aulas interativas, esclarecer dúvidas e questionamento durante as aulas transmitidas; realizar a tutoria eletrônica (atendimento em plantões on-line) e responder às mensagens enviadas pelos alunos, por meio do portal acadêmico; elaborar as avaliações eletrônicas e presenciais; preparar os critérios de aplicação e correção das avaliações e atividades; instigar os discentes à interatividade nos momentos presenciais, percebemos que as funções estão bem definidas e até mesmo a nomenclatura dos cargos são distintas. Analisando MTL (Manual do Tutor Local) de uma faculdade privada, constatamos que o perfil desejado para exercer a função de tutor local em um determinado curso é que o profissional preenche os seguintes requisitos: •Ter, no mínimo, três anos de conclusão no curso do qual será tutor; •Ter bom domínio oral e escrito da língua portuguesa; •Apresentar amplo conhecimento e domínio dos recursos de multimídias, internet e ferramentas do office; •Ter curso de especialização, mestrado ou doutorado. Estes requisitos facilitariam na execução dos seus trabalhos, podendo dirimir as dúvidas dos acadêmicos com mais propriedade. Em relação a formação dos professores para atuarem na EaD, Belloni (2009, p.46) adverte: Do ponto de vista teórico, a formação de professores, tanto para EaD como para o ensino presencial adequado ao presente e ao futuro, dever organizar-se de forma a atender a necessidades de atualização em três grandes dimensões: pedagógica, tecnológica e didática. Nota-se uma preocupação da autora em relação à formação dos professores para atuarem neste nível de ensino, pois devem ter competência e habilidade na área pedagógica, tecnológica e didática. Mesmo sendo uma profissão sem a sua súmula ainda indefinida, muitas funções já são consideradas pertencentes a este profissional, como a de orientação, aconselhamento e acompanhamento no processo de aprendizagem do aluno, outro entrave neste debate é a própria nomenclatura entre tutoria que geralmente é aquele professor que acompanha o aluno a distância e de tutor como sendo o profissional que trabalha na ponta, ou seja, diretamente com os acadêmicos nas aulas presenciais de cada curso. Aprofundando no documento denominado Manual do tutor local, observamos as atribuições e desempenhos esperados do tutor local, que são: Consultando o MOG – (Manual de Orientações Gerais) para discentes das Faculdades Interativas COC, em relação ao papel do tutor local cita as suas principais funções: mediar as aulas interativas; orientar o desenvolvimento das atividades, estimular a interação e •Mediar a interação entre os acadêmicos e o professor titular; Planejar e organizar a aula a ser transmitida (acessar o Portal, imprimir o material disponibilizado, verificar datas e avisos postados); •Recepcionar os acadêmicos; •Permanecer na sala de aula, dando suporte aos acadêmicos; •Incentivar a leitura do material impresso e das aulas transmitidas; 8 Anais do Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. AWEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. •Orientar os acadêmicos na realização das atividades e dos trabalhos propostos pelo professor titular; •Selecionar questões que sejam pertinentes ao conteúdo da aula ministrada; •Intermediar junto ao tutor eletrônico, via chat, as dúvidas surgidas; •Resolver, no pólo, o maior número possível de casos que surgirem ao longo da realização do curso; •Manter a disciplina e o bom andamento da turma nos momentos presenciais; •Manter uma relação de cortesia com os acadêmicos e os integrantes do pólo; •Adequar-se às normas estabelecidas pelo pólo e cumprilas; •Corrigir e lançar as notas das provas presenciais e de participação dos acadêmicos; •Lançar a frequência dos acadêmicos, em todos os momentos presenciais, no Portal Acadêmico; •Esclarecer os trâmites referentes aos procedimentos da vida administrativo-acadêmica da instituição; •Manter um canal de comunicação com as coordenações dos cursos; •Verificar e cumprir as demais atividades correlatas. 2 - CONCLUSÃO A pesquisa não pretendeu esgotar o assunto. Entretanto, possibilitou verificar algumas tendências que se delinearam no decorrer da expansão do ensino a distância em nosso país e na importância do tutor. Em relação ao tutor local, percebemos no decorrer deste trabalho que ocorre ainda uma divergência na própria nomenclatura do cargo, sendo que alguns autores sugerem que estes profissionais sejam chamados simplesmente de professor. Percebemos que este profissional deve possuir um perfil desafiador, ou seja, um mediador que encoraje seus alunos nos momentos de dificuldades que aparecerão durante o curso, motivando nos estudos para a construção de uma aprendizagem significativa, e de modo especial despertando um dos pilares mais importante apontado pela UNESCO neste mundo contemporâneo que a capacidade de “aprender a aprender” ao longo da vida. REFERÊNCIAS ANDRADE, Antônio Carlos, Educação a Distância uma breve História. Publicado em 01/10/2007. Disponível em www.revistaead.ufpi.br. Acesso em: 27/12/ 2014. BELLONI, Maria Luiza. Educação a distância - 5.ed.1. reimpressão - Campinas, SP: Autores Associados, 2009. O que é mídia-educação – 3.ed.rev. – Campinas, SP: Autores Associados, 2009. CORRÊA, Juliana (org) . Educação a distância: orientações metodológicas – Porto Alegre : Artmed, 2007. PRETTO, Nelson de Luca. Desafios para a educação na era da informação: o presencial, a distância, as mesmas políticas e o de sempre. In: BARRETO, Raquel G. (org.) Tecnologias educacionais e educação a distância: avaliando políticas e práticas. Rio de Janeiro: Quartet, 2001.p. 29-53. A temática da importância do tutor no ensino a distância se tornou relevante após a modalidade EaD ter sido normatizada pela LDB n° 9.394/1996. A Ead cresceu em relação ao ano 2000 o espantoso índice de aproximadamente 39.279% em número de alunos matriculados, sendo que possui 13 cursos superiores que reuniam 1758 discentes, já no ano de 2013, segundo dados da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed) este número passou para 1772 cursos de graduação e pós-graduação lato sensu com 692.279 alunos matriculados. Esta autodisciplina para com os estudos se torna cada vez como uma característica principal do aluno que frequenta estes cursos. Uma outra característica marcante nesta modalidade de ensino é o perfil de sua clientela que na sua maioria é formada por alunos adultos que estão correndo atrás do prejuízo, sendo que os mesmos desistem com muita facilidade, tornando a EaD como uma das modalidades de ensino com o maior índice de evasão. Notamos assim a importância fundamental do tutor local neste processo, pois é ele que irá evitar esta desistência, motivando e orientando no seu auto-estudo através do seu acompanhamento direto dos resultados alcançados pelos acadêmicos, direcionando o melhor viés a ser percorrido para a concretização dos seus objetivos. 9 Anais do Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. AWEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. POLÊMICAS CAIPIRAS: CORNÉLIO PIRES E MONTEIRO LOBATO Elton Bruno Ferreira Famo Faculdade Porto das Monções Av. Monsenhor Seckler, 1250 Vila América 18540-000 Porto Feliz, SP, Brasil [email protected] RESUMO O artigo se propõe à reflexão sobre o conceito de caipira e a formação de estereótipos que engendram suas representações. Uma reflexão sobre a organização caipira, característico de regiões interioranas, precede a apresentação de formas de representação caipira que estavam em destaque nas primeiras décadas do século XX. A virada e os primeiros anos daquele século foi cenário de mudanças que marcaram a vida do país, como o fim da monarquia e a expansão urbana. Envolto nesse modelo de sociedade mais dinâmica, Monteiro Lobato foi responsável por traçar uma representação de caipira a partir do Jeca Tatu, apontado como um parasita que travava o desenvolvimento. Na outra ponta, Cornélio Pires criou o personagem Joaquim Bentinho, tipo caipira tomado com potencial inteligência e esperteza. Adotando uma linha humorística, era representado desenvolvendo técnicas que no seu cotidiano supriam as carências, como a falta de escolarização. Palavras chave Caipira, Monteiro Lobato, Cornélio Pires. ABSTRACT The article PROPOSE to reflect about the concept of countrymen and the formation of stereotypes that COMPOSE their representations. A reflection about these organization, characteristic of country regions, precede the presentation forms of the representation hillbilly were highlight in the first decades of the 20th century. The turn and the first years of the century was the change of scenery that marked the life of the country, like the end of the monarchy and urban sprawl. Wrapped in this model of society more, Monteiro Lobato was responsible for drawing a redneck representation from Jeca Tatu, appointed as a parasite that hampered development. At the other end, Cornélio Pires created the character Joaquim Bentinho, countryman type taken with potential intelligence and smartness. Adopting a humorous line, it was represented developing techniques in their daily lives that supplied shortages, such as lack of education. Keywords Countryman, Monteiro Lobato, Cornélio Pires. Propõe-se neste artigo refletir questões que envolvem a representação do caipira. Em um primeiro momento fazse pertinente analisar esse interiorano a partir da sua formação social. Nesse contexto, busca-se perceber como ele se organizava e estruturava sua sobrevivência. Atendendo a interesses diversos, criaram-se estereótipos a partir da construção de uma imagem estabelecida. Surgiram, dessa forma, contrariedades nas representações, sendo destacas aqui as de Monteiro Lobato e Cornélio Pires. Ser “caipira” é algo muito abrangente e dificilmente essa terminologia se esgotará em uma definição fechada. O movimento histórico não possibilita congelar determinada camada social em sua trajetória. As necessidades colocadas através do tempo obrigam as organizações sociais a se adequarem em busca da sua sobrevivência. A dificuldade de definição única e estática abriu margem para que muitas vezes o rótulo buscasse alcançar uma simplificação satisfatória. Apesar de não ser consenso, formou-se um estereotipo da figura do caipira, através da sua representação, e que em algumas situações se apresenta como valorização cultural em festividades que também abrangem o meio urbano (FERREIRA, 2013). Em entrevista à Revista Caros Amigos a cantora e apresentadora Inezita Barroso, falecida em 2015, polemizou a representação da figura do caipira em festas escolares: “Porque sempre o caipira foi considerado um idiota, um burro, sem cultura, preguiçoso, doentio, sem dente, sem roupa, com chapéu todo esfiapado, você vê os vestígios nas festas de escola [...] (MENGARDO, et al, 2010).” É a partir dessas festas que muitas vezes a cultura e a sociabilidade caipira ainda se refletem sobre o estigma da inferioridade e da extrema diferença, desleixo, e por que não, miserabilidade que e estabeleceu no imaginário: “Criança com o jeans remendado no traseiro, né? Costurado no traseiro, o dentinho preto com o carvão, chapéu esfiapado. Por que o caipira ia para uma festa com o chapéu desgraçado? E as meninas com pintinhas na cara? As meninas ainda estavam melhores, com trancinha postiça e tudo, mas os meninos eram um desbunde [...] (MENGARDO, et al, 2010).” Buscar-se-á aqui considerar a formação desse grupo social a fim de refletir as representações elaboradas pelos personagens Joaquim Bentinho e Jeca Tatu, respectivamente criados por Pires e Lobato. Herdeiro de um processo cultural formado em meio às entradas dos bandeirantes nos “sertões” conservou algumas características no seu modo de sobrevivência cotidiana. Dessa forma, o ambiente caipira era formado em 10 Anais do Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. AWEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. territórios mais interiores, a povoação se dispersava nesse espaço no qual fomentavam uma economia de subsistência. Sua marca era a agricultura itinerante, a coleta, a caça e a pesca, despreocupados da economia de mercado adotavam técnicas consideradas rudimentares com improvisações. “Foi o povoamento disperso que favoreceu a manutenção duma economia de subsistência, constituída dos elementos sumários e rústicos próprios do seminomadismo. O deslocamento incessante do bandeirismo prolongou-se de certo modo na agricultura itinerante, nas atividades de coleta, caça e pesca, do descendente caipira, a partir do século XVIII. As técnicas rudimentares, a cultura improvisada do nômade encontraram condições para sobreviver (CANDIDO, 2001, p. 57).” Nos interiores, buscaram formas de relacionamento que visava à proximidade do outro, mesmo que territorialmente as habitações fossem distantes. Necessitavam uns dos outros e suas relações eram baseadas, de forma vertical, em questões de trabalho, festas, religiosidade e demais necessidades cotidianas. A solidariedade era uma marca de identidade caipira que transpassava os códigos de bem viver da vizinhança, que pode ser constatada a partir da presença do mutirão. O “muxirão”, “mutirão” ou “puxirão” é a mais bela instituição cabocla. É o trabalho aliado à festa, é o socorro ao necessitado, aliado à folgança, é o serviço prestado se interesse, aliado à alegria deliciosamente franca da caipirada. (PIRES, 2002, p. 103-104). valorizar o estereótipo do caipira como sinônimo de atraso ao desenvolvimento que se propalava na urbe. Em 1914, como forma de acusar o caipira e torna-lo responsável por não atender aos padrões de uma sociedade mais dinâmica em termos econômicos, divergindo da economia de subsistência caipira, Lobato escreveu o artigo Velha Praga. O mesmo escritor parecia propagandear uma representação de organização de cultura que não reunia condições de fazer parte do que ele propunha enquanto civilização. O simples contato com o suposto modo de vida caipira seria suficiente para denegrir mesmo que vinham de outros territórios. Em determinado momento, Monteiro Lobato construiu uma migração inversa, buscando analisar a mudança de uma família, do ambiente urbano para o rural: “Marcando esta divisão especial do ano segundo o ritmo agrário, devemos lembrar a festa de São João, a 24 de junho, que o encerra, e a 16 de agosto a de São Roque, importante em toda essa região do estado, que o inicia, carregada dos votos e esperanças relativas à labuta que se reabre. Ambas, devidas em grande parte ao cumprimento de promessas feitas em prol do bom rendimento da lavoura, mas exprimindo dois momentos diferentes: o da certeza sobre o que foi, o da incerteza sobre o que será (CANDIDO, p. 158).” Essa imbricada forma de organização social gestada em regiões afastadas dos núcleos urbanos, com a expansão da economia cafeicultora, em um primeiro momento, entrava em contato com formas de organizações sociais diversas. Entre o final do século XIX e início do século XX o Brasil passou por transformações significativas, como o rompimento com o modelo político monárquico a partir da proclamação da República. Além disso, algumas cidades, como São Paulo, entram em um ritmo acelerado de crescimento urbano devido à investimentos advindos dos barões do café. É nesse contexto, respirando ares do início do século XX, que Monteiro Lobato intentou “O pai está lá? Insisti. Respondeu um “está” enleado, sem erguer os olhos da rodilha. Como a vida no mato asselvaja estas veadinhas! Note-se que os Alvoradas não são caipiras. Quando comprou a situação dos Periquitos, o velho vinha da cidade, lembro-me até de que entrava em sua casa um jornal. As relações entre trabalho, lazer e religiosidade eram imbricadas, ou seja, constituíam um mesmo laço, o qual era difícil separar o vínculo estabelecido. “Este funesto parasita da terra é o caboclo, espécie de home baldio, seminômade, inadaptável à civilização, mas que vive à beira dela na penumbra das zonas fronteiriças. A medida que o progresso vem chegando com a via férrea, o italiano, o arado, a valorização da propriedade, vai ele refugiando em silêncio, com seu cachorro, o seu pião, o pica-pau e o isqueiro, de modo sempre a conservar-se fronteiriço, mudo e sorna. Encoscorado numa rotina de pedra, recua para não adaptar-se (LOBATO, 2009, p.61).” Mas a vida lhes correu áspera na luta contra as terras ensapezadas e secas, que encurtam a renda por mais que dê de si o homem. Foram rareando as idas à cidade e ao cabo de todo se suprimiram (LOBATO, 2009, p. 46). É significativo perceber a intensidade da palavra “asselvaja”, utilizada por Lobato naquele contexto. Atribuia um valor ao caipira, o de selvagem, o qual os Alvoradas se convertem graças à proximidade e ao modelo de vida adotado no meio rural. A luta na terra alterou também o hábito de leitura e as idas à cidade, apontadas como positivas no trecho, foram suprimidas. Toca também a questão da informação, quando escreveu que se lembrar, ou seja, fato que não mais existia, de que já havia entrado na casa da família, em outras oportunidades, o jornal. “Na sua origem a Revista do Brasil foi concebida enquanto instrumento de ação pelo grupo do jornal O Estado de São Paulo, que acreditava na capacidade transformadora e pedagógica da palavra escrita. Lobato, integrante ilustre dessa plêiade, 11 Anais do Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. AWEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. nunca deixou de comungar dessa opinião (LUCA, 1999, p. 71)”. O escritor asseverou que a nova forma de vida da família Alvorada poderia ser responsável pela ausência da leitura. Se mostrou preocupado, pois valorizava a palavra escrita enquanto instrumento de transformação. campo, publicado em 1924. Apresentado como esperto, o escritor faz dele um mentiroso, adotando uma linha humorística. Enquanto para Lobato o caipira era uma figura sem cores, sem vida, Joaquim Bentinho era cheio de vida e de história e avenuturas para narrar: Convergindo nesse aspecto com Lobato, Cornélio também defendia a instrução escolar. Acreditava na capacidade intelectual e no desenvolvimento que o caipira poderia ter desde que tivesse acesso à escolarização: “[...] -Agora o senhor, seu Salvador, para que é que serve a orelha? - A oreia? A oreia... pa ponha toco de cigarro. -É como o senhor vê, a classe está nesse atraso, mas daqui a um ano sera outra, pois as crianças brasileira são inteligentíssimas. (PIRES, 1929)”. A oralidade acaipirada que responde à pergunta da professora, e o próprio título da narração. Numa escola sertaneja, demonstram o olhar de Cornélio apontado para o meio caipira. “Monteiro Lobato nos trouxe um olhar do caipira já em plena fase de mudança, quando o ideário republicano de modernização do país já tomara conta de quase toda a elite pensante e já se colocara em oposição ao mundo tradicional até então presente no Brasil [...] Mais do que diferenças entre o caipira e o homem urbano, Cornélio se prende a valores que transcendem a cultura e exaltam uma humanidade universal ao falar da honestidade, da solidariedade, da afeição à terra e ao trabalho (VILELA, 2013, p. 166; 168).” As primeiras décadas do século XX marcavam o caipira em uma centralidade de discussões e propostas que utilizavam da sua representação. O ambiente histórico, portanto, era propício à Pires e Lobato: “O „caipirismo‟ ou „nativismo‟ tornara-se uma espécie de moda intelectual, sobretudo depois de 1919, quando foi encenada no Teatro Municipal a peça O contratador de diamantes, de Afonso Arinos, desencadeando uma série de „saraus regionalistas‟ em que se cantavam canções sertanejas ou escritores famosos liam seus poemas de tendências caipiras (SALIBA, 2002, p. 175).” Esse contexto histórico proporcionava uma visão idílica do sertão, que respingava na figura do caipira. Dessa forma, utilizando a via contramão à de Lobato, Cornélio escrevia e fazia apresentações com temáticas acaipiradas. Deu início às suas atividades literárias e artísticas em 1910 quando publicou o livro chamado Musa Caipira. Seguindo linha oposta à forte representação do Jeca Tatu, caracterizado como aquele que “recua para não adaptar-se”, Pires também criou alguns personagens. Entre eles, destacou-se Joaquim Bentinho, personagem principal do livro que recebeu seu nome: As estrambóticas aventuras de Joaquim Bentinho, o queima “No meio da natureza brasílica, tão rica de formas e cores, onde os ipês floridos derramam feitiços no ambiente e a infolhescência dos cedros, às primeiras chuvas de setembro, abre a dança dos tangarás; onde há abelhas de sol, esmeraldas vivas, cigarras, sabiás, luz, cor, perfume, vida dionisíaca em escacho permanente, o caboblo é o sombrio urupê de pau podre, a modorrar silencioso no recesso das grotas. Só ele não fala, não canta, não ri, não ama. Só ele, no meio de tanta vida, não vive... (LOBATO, 2009, p. 177). Porém, antes de apresentar o personagem, logo após a introdução do livro, Cornélio Pires fez questão de polemizar e valorizar o caipira: “Cá estou de novo na “Fazenda Velha”, onde ouvi, há tempos, as “Conversas ao pé-do-fogo.” Estamos em pleno inverno, o “tempo de friu”, na expressão da boa gente roceira. No sul de S. Paulo, nesta época, os dias são mais curtos, e o caipira, ao contrário do que certos escritores asseveram, provando não ser vadio, diariamente lamenta a curteza do dia, que “não dá para nada... Malemá se começa o serviço, dia cabo, e a noite chega de sopetão”. É entre os bons roceiros que venho passar o inverno (PIRES, 2004, p. 25)”. Foi a partir das mentiras que Joaquim Bentinho assumiu a condição de caipira inteligente, superando as carências da escolarização: “Há caipiras mentirosos de uma fecundidade de imaginação assombrosa! Não sabendo escrever, não podendo escrever suas novelas e romances, criações próprias, o caipira desanda mentir (PIRES, 2004, p. 28).” Entre outras, o personagem garantiu que criava abelhas que trabalhavam dia e noite. Questionado sobre essa particularidade do seu apiário, respondeu: “- As abeia que eu tenho, que trabaiam de noite... ua inventiva minha... ua ideia que eu tive... São tudo mistiçada cum vagalume... (PIRES, 2004, p. 42).” Contrariando as perspectivas sombrias apontadas por Monteiro Lobato, Joquim Bentinho representava ter muita vida e história. Também, se na natureza brasílica do criador do Jeca Tatu haviam abelhas de sol, o caipira de Cornélio Pires inventou as noturnas. Refletiu-se a formação social caipira e sua maneira de se organizar. Com a expansão urbana, e as transformações sociais ocorridas na virada do século XIX para o XX o caipira tornou-se peça importante a partir da sua representação que buscava padronizar valores. Os 12 Anais do Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. AWEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. personagens Jéca Tatu e Joaquim Bentinho participaram daquele cenário cultural. O primeiro como um “parasita” e o segundo, “esperto”, enfrentando com as suas técnicas as imposições do analfabetismo. O tema é inesgotável e as questões em torno dessa contradição possibilitam a tentativa de compreensão de um momento da formação do país e de como pensavam alguns intelectuais. REFERÊNCIAS Candido, Antonio. Os parceiros do Rio Bonito: estudo sobre o caipira paulista e a transformação dos seus meios de vida. São Paulo: Duas Cidades; Ed. 34, 2001. Ferreira, Elton Bruno. Sonoridades caipiras na cidade: a produção de Cornélio Pires (1929-1930). Dissertação (Mestrado em História), PUC/SP, São Paulo, 2013. Lobato, Monteiro. Urupês. São Paulo: Globo, 2009. Luca, Tania Regina de. A Revista do Brasil: Um diagnóstico para a (N)ação. São Paulo: Fundação Editora Unesp, 1999. Mengardo, Bárbara; souza, Hamilton Octavio de; rodrigues, Lúcia; nagoya, Otávio; merlino, Tatiana. Viola Minha Vida, 30 anos de resistência da música caipira. Entrevista: Inezita Barroso. Caros Amigos. São Paulo, Ano XIV, n.161, 2010. Pires, Cornélio. As estrambóticas aventuras de Joaquim Bentinho, o queima campo. Itu – SP: Ottoni, 2004. Pires, Cornélio. (Prod.) 20.002 – Numa escola sertaneja. Disco Anedotas (78 rpm), Série Caipira “Cornélio Pires”. São Paulo: Columbia, maio de 1929. Pires, Cornélio. Quem conta um conto... Itu – SP: Ottoni, 2002. Saliba, Elias Thomé. Raízes do riso: A representação humorística na História brasileira – da Belle Époque aos primeiros tempos do rádio. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. Vilela, Ivan. Cantando a própria história: música caipira e enraizamento. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2013. 13 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. CARACTERIZAÇÃO DA FUNÇÃO EXPONENCIAL E GEOGEBRA Fábio Marcelo de Azevedo Famo – Faculdade de Tecnologia Porto das Monções Av. Monsenhor Seckler, 1250 - Vila América 18540-000 Porto Feliz, SP, Brasil (15) 3261-4549 [email protected] RESUMO Motivar os alunos do ensino médio a compreensão e caracterização do conceito da função exponencial precedido do conceito de progressões, desenvolvendo um tratamento manipulativo a partir do uso de um ambiente dinâmico usando o software GeoGebra, com o intuito de explorar os conceitos da caracterização da função exponencial em atividades comuns do Ensino Médio. Palavras chave Caracterização da função exponencial; progressões, GeoGebra. ABSTRACT Motivate middle school students understanding and characterization of the concept of exponential function proceeded from the concept of developing a manipulative treatment progressions from the use of a dynamic environment using software GeoGebra, aiming to explore the concepts of characterization of the exponential function in common activities of high school. Keywords Characterization of the exponential function; progressions, GeoGebra. 1. INTRODUÇÃO Este trabalho decorre da expectativa da utilização do software GeoGebra por parte dos professores do ensino médio, na esperança que as dificuldades do ensino e aprendizagem de funções exponenciais possam ser amenizadas por sua utilização. Neste trabalho apresentamos atividades previamente modeladas matematicamente, que estão presentes no cotidiano dos alunos do ensino médio baseado no teorema da caracterização da função tipo exponencial sem a preocupação com sua demonstração, o objetivo é facilitar o entendimento desse conceito através de atividades que possam motivar e despertar a curiosidade do aluno com o uso do software, explorando a construção de gráficos dessas atividades obtendo resultados rápidos em suas construções, com suas ferramentas o aluno poderá mudar de estratégia utilizando planilhas de cálculos para a resolução da situação problema. O objetivo dessas atividades é mostrar a possibilidade do aluno manipular software específico de Matemática que permitam explorar o conceito de variações e dependências de funções através de representações algébricas e / ou gráficas. 2. FUNÇÕES DE TIPO EXPONENCIAIL E PROGRESSÕES Nesta primeira parte de nosso trabalho será apresentado o marco teórico a utilizar e as ferramentas matemáticas que queremos interpretar através da aplicação do GeoGebra 1 , não daremos rigor as demonstrações dos teoremas e sim a sua aplicação no ensino médio dessa teoria de forma a motivar sua utilização. Uma função 𝑓: ℝ ⟶ ℝ da forma 𝑓 𝑥 = 𝑏𝑎 𝑥 ,onde𝑎, 𝑏são números reais é chamada uma função do tipo exponencial. Se𝑥1 , 𝑥2 , … 𝑥𝑛 , …é uma progressão aritmética de razão ,isto é 𝑥𝑛+1 = 𝑥𝑛 + e 𝑓: ℝ ⟶ ℝ uma função do tipo exponencial,então os valores: 𝑓 𝑥1 = 𝑏𝑎 𝑥 1 , 𝑓(𝑥2 ) = 𝑏𝑎 𝑥 2 , … , 𝑓(𝑥𝑛 ) = 𝑏𝑎 𝑥 𝑛 , … ,formam uma progressão geométrica de razão𝑎 , pois de𝑥𝑛 +1 = 𝑥𝑛 + = 𝑥1 + 𝑛 temos, 𝑓 𝑥𝑛+1 = 𝑏𝑎 𝑥 𝑛 +1 = 𝑏𝑎 𝑥 𝑛 + = 𝑏𝑎 𝑥 1 +𝑛 = 𝑏𝑎 𝑥 1 𝑎 𝑛 = 𝑓 𝑥1 𝑎 𝑛 . Tomando 𝐴 = 𝑎 , segue-se que, 𝑓 𝑥𝑛+1 = 𝑓 𝑥1 . 𝐴𝑛 , em particular, se 𝑥1 = 0 temos 𝑓 𝑥1 = 𝑏 , logo 𝑓 𝑥𝑛 +1 = 𝑏𝐴𝑛 . Posteriormente, verifica-se que este fato pode ser enunciado através de um teorema. A seguir enunciamos resultados referentes à caracterização de uma função exponencial apresentando diversas formas, as demonstrações e detalhes podem ser encontrados nas referências citadas neste trabalho. Teorema da caracterização da função exponencial Seja𝑓: ℝ ⟶ ℝ+ uma função monótona injetiva (isto é, crescente ou decrescente). As seguintes afirmações são equivalentes: (1) 𝑓 𝑛𝑥 = 𝑓(𝑥)𝑛 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑡𝑜𝑑𝑜 𝑛 ∈ ℝ; (2) 𝑓 𝑥 = 𝑎𝑛 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑡𝑜𝑑𝑜 𝑥 ∈ ℝ, 𝑜𝑛𝑑𝑒 𝑎 = 𝑓(1) (3) 𝑓 𝑥 + 𝑦 = 𝑓 𝑥 . 𝑓 𝑦 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑞𝑢𝑎𝑖𝑠𝑞𝑢𝑒𝑟 𝑥, 𝑦 ∈ ℝ. Demonstração seguirá as mesmas ideias segundo [1]. Se 𝑓 𝑥 = 𝑎 𝑥 é uma função monótono para 𝑎 > 0 𝑒 𝑎 ≠ 1, temos 𝑎1 = 𝑎. Se temos uma função que cumpre as três propriedades, observa-se que essa função nunca se anula, tem sempre 𝑓 𝑥 ≠ 0 para todo 1 <http://www.geogebra.org/> 14 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. 𝑥 ∈ ℝ , ainda 𝑓(𝑥) > 0 , pois se 𝑓 𝑥 = 𝑓 𝑥 𝑥 𝑥 2 𝑥 2 𝑥 +2 = 𝑓 𝑓 = 𝑓 > 0 sempre positiva. 2 2 2 Assim deve-se verificar que a função 𝑓 𝑥 = 𝑎𝑛 é exponencial. Supondo 𝑎 = 𝑓 1 𝑒 𝑛 ∈ ℕ , usando 𝑛 = 1 , logo 𝑓 𝑛 = 𝑓 1+ 1+⋯+1 = 𝑓 1 + 𝑓 1 +⋯+ 𝑓 1 = 𝑎. 𝑎 … 𝑎 = 𝑎𝑛 ⟹ 𝑓 𝑛 = 𝑎𝑛 , veja ainda que 𝑓 0 = 𝑓 0+0 = 𝑓 0 𝑓 0 = 1= 𝑓 0 , logo 𝑎0 = 1. Para 𝑛 ∈ ℤ, escrevendo −𝑛 + 𝑛 = 0 ⟹ 𝑓 −𝑛 + 𝑛 = 1 𝑓 0 ⟹ 𝑓 −𝑛 𝑓 𝑛 = 1 ⟹ 𝑓 −𝑛 = 𝑓 (𝑛) , portanto 1 𝑎−1 = 𝑎 , 𝑎 ≠ 0. 𝑚 Se 𝑛 ∈ ℚ , considerando 𝑟 = . Como 𝑛𝑟 = 𝑚 e 𝑛 𝑓 𝑟𝑥 = 𝑓(𝑥) 𝑟 , assim 𝑓(𝑟𝑥) 𝑛 = 𝑓 𝑛𝑟𝑥 = 𝑚 𝑓 𝑚𝑥 = 𝑓(𝑥) 𝑚 , logo 𝑓 𝑟𝑥 = 𝑓(𝑥) 𝑛 = 𝑓(𝑥) 𝑟 . Usando 𝑎 = 𝑓(1) , escrevendo 𝑓 𝑟 = 𝑓 1. 𝑟 = 𝑚 𝑛 𝑓(1) 𝑟 = 𝑎𝑟 , portanto 𝑎 𝑛 = 𝑎𝑚 . A terceira propriedade verifica-se que: Se 𝑓 𝑥 = 𝑎 𝑥 , então 𝑓 𝑥 + 𝑦 = 𝑎 𝑥+𝑦 = 𝑎 𝑥 𝑎 𝑦 = 𝑓 𝑥 + 𝑓(𝑦). Para valores de 𝑛 irracionais a função mantém suas propriedades. O teorema da caracterização de uma função exponencial pode ser representado em diversas situações para os alunos do Ensino Médio, uma versão que apresenta a noção de taxa de crescimento de uma função é dada através dos seguintes teoremas. Teorema da caracterização da função de tipo exponencial Seja f: ℝ ⟶ ℝ+ uma função monótona injetiva (isto é, crescente ou decrescente) tal que, para x, h ∈ ℝ f x+h −f x quaisquer, o acréscimo relativo dependa f x apenas de h, mas não de x. Então, se b = f 0 e a = f(1) , tem-se f x = b. ax para todo x ∈ ℝ. f(0) Seja f: ℝ ⟶ ℝ uma função monótona injetiva (isto é, crescente ou decrescente) que transforma toda progressão aritmética x1 , x2 , … xn , … numa progressão geométrica y1 , y2 , … yn , … yn = f(xn ) . Se pusermos f(1) b = f 0 e a = f(0) para todo x ∈ ℝ. A demonstração pode ser vista em LIMA. Para a compreensão desse teorema pressupõe-se desenvolver duas atividades presentes no cotidiano,um deles relacionada com uso de problemas do consumo de fármacos, em particular medicamentos proibidos ao uso de atletas mal intencionados em competições profissionais, o (antidoping), assunto comum aos jovens interessados nos jogos Olímpicos e na Copa do Mundo. A outra atividade permitirá encontrar um modelo matemático para a evolução de células tumorais (glioblastomas) no cérebro. Como mecanismo de motivação ao aluno de ensino médio, os resultados matemáticos obtidos serão confrontados e verificados através do software GeoGebra. 3. ATIVIDADE 1 Um nadador brasileiro é flagrado em exame antidoping por ingerir substância proibida, devido a esse fato foi suspenso pela Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), a substância ingerida foi o Isometepteno 2 . O atleta que alegou ter utilizado o medicamento para dor de cabeça, terá seus últimos resultados obtidos anulados, já que o exame foi feito enquanto o atleta realizava competições.A reportagem completa pode ser vista em: <http://www.espbr.com/noticias/nadador-brasileiroflagrado-exame-antidoping> Suponhamos que o atleta ingira 30 mg de Isometepteno horas antes de uma competição, esta substância é encontrada no analgésico Neosaldina 3 . A bula do Isometepteno informa que sua meia-vida é em média de 4 horas, por “meia-vida entendemos o tempo necessário para que uma grandeza atinja metade de seu valor inicial”. Sendo assim, se formula as seguintes questões: (a) Após 8 horas da ingestão de Isometepteno, qual a quantidade do medicamento presente no atleta? (b) A quantidade de medicamento após 2 horas da ingestão; (c) Expressar a quantidade 𝑄 em função de 𝑡 horas. Se a meia-vida da substancia de Isometepteno é de 4 em 4 horas, após esse período haverá metade de 30 mg, isto é, 15 mg, posteriormente em mais 4 horas, este valor se reduz novamente à metade de 15 mg, ou seja, após 8 horas haverá 7,5 mg de Isometepteno presente no corpo do atleta. Para responder a questão (b), observa-se o fato que a quantidade de Isometepteno presente no instante 𝑡 ≥ 0 expressada como uma função 𝑄 𝑡 diminui de acordo 𝑄 𝑡+ −𝑄 𝑡 com a variação relativa , logo do segundo 𝑄 𝑡 teorema acima vemos que a quantidade de substancia Isometepteno é caracterizado como uma função tipo exponencial da forma 𝑄 𝑡 = 𝑏. 𝑎𝑡 onde 𝑎, 𝑏 são números positivos. No entanto, a quantidade 𝑄 𝑡 do medicamento no intervalo de 2 horas é multiplicada por uma constante 𝑘. Como em 4 horas o medicamento 1 se reduz à metade, ou seja, 𝑘. 𝑘 = 2 e, portanto 𝑘= 1 2 = 2 2 ≅ 0,707 , então a quantidade do medicamento no intervalo de 2 horas será: 𝑄 2 = 30(0,707 = 21,21 𝑚𝑔. Nota-se que a constante encontrada é relativa a taxa de 𝑄(𝑡+) variação , como mostra Figura1. 𝑄(𝑡) 2 3 < http://en.wikipedia.org/wiki/Isometheptene>. < http://pt.wikipedia.org/wiki/Metamizol> 15 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. Figura 1: Representação gráfica da Atividade 1 Figura 2: Representação gráfica da Atividade 2. 16 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. Para responder a terceira questão, deve-se encontrar os coeficientes 𝑎, 𝑏 𝑑𝑒 𝑓 𝑥 = 𝑏. 𝑎 𝑥 . Considerando que em 𝑡 = 0 o instante da ingestão é de 30mg da droga, tem-se que 𝑄 0 = 30 e, portanto, 𝑏 = 30. Também, como 𝑄 4 = 15, temos: 30. 𝑎4 = 15 ⇒ 𝑎4 = 1 2 ⇒𝑎= 4 1 2 1 = 1 4 2 . Portanto, a quantidade 𝑄 𝑡 de Isometepteno após t horas da sua ingestão é dada por: 𝑡 1 4 𝑄 𝑡 = 30. 2 Com o intuito de verificar esses resultados, é possível mostrar aos alunos construir o gráfico dessa situação e também uma planilha para explorar o dinamismo dos recursos oferecidos pelo software livre GeoGebra. Utilizando este software é possível proceder alterações em parâmetros independentes aos valores de t e h, como na Figura1 com o intuito de validar (ou não) a conjectura de que essa relação funcional caracteriza uma função exponencial, para isso, clique em t e h Figura 1 e movimente o cursor referente às variações, a planilha ao lado mostra o comportamento da eliminação do medicamento nos instantes listados. 4. ATIVIDADE 2 Dados experimentais mostram que uma célula cancerígena no cérebro do tipo glioblastomas evolui ao longo do tempo (medido em horas) através da seguinte tabela: 𝑡 0 1 2 3 4 … 𝑁 𝑡 200 600 1800 5400 16200 … Onde 𝑁 𝑡 é a concentração de célula no tempo 𝑡 , 𝑁 0 = 𝑁0 é a concentração de células no início da observação. Encontre um modelo matemático que determine a população do número de células, após 𝑡 horas. Solução: Dos dados mostrados na tabela, vemos que o tempo 𝑡 varia de acordo com a progressão aritmética 𝑡0 = 0, 𝑡1 , … , 𝑡𝑛 , … em que o termo geral é 𝑡𝑛 = 𝑡0 + 𝑛. , onde = 1 é a razão da progressão aritmética. Do enunciado do problema temos 𝑁0 = 200. Observa-se o fato que a concentração de células presente nas primeiras quatro horas, cresce a cada hora triplicando cada estágio anterior, isto é, o número de células cresce a ritmo de uma progressão geométrica 𝑁 𝑡0 , 𝑁 𝑡1 , … , 𝑁 𝑡𝑛 , … de razão 3 = 3 . Do teorema temos que o crescimento de uma cultura de células cancerígenas obedece à lei 𝑁 𝑡 = 200 3 𝑡 . Afim de estabelecer resultados matemáticos de acordo com a conclusão anterior faz-se uso do GeoGebra. Para isso, basta movimentar os controles deslizantes𝑡0 𝑒 𝑛 e observar os valores de 𝑡𝑛 na tabela com eixo das abscissas (Progressão Aritmética) e 𝑁 𝑡𝑛 , (Progressão Geométrica), e concluímos que a taxa de variação função do tipo exponencial 𝑁 𝑡 = 𝑏. 𝑎𝑡 não depende da variável 𝑡, mas apenas de . Como mostra Figura 2. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A introdução da informática no processo de ensino e aprendizagem é um mecanismo, que permite lidar com a crescente desmotivação e desinteresse do aluno em estudar matemática, assim mesmo, a inserção da tecnologia nas escolas, tanto do ponto de vista do preparo técnico, quanto do preparo pedagógico, sem dúvida alguma permitirá diminuir essa taxa de crescimento tornando a matemática interessante nas diversas áreas de aplicação. Não é suficiente ter o domínio da tecnologia ou do software a ser utilizado, é preciso saber como usar essa tecnologia junto com as matemáticas a favor da aprendizagem. Trabalhar dessa forma implica que o professor se prepare. Tendo domínio dos conceitos de sua área e conhecer o programa com o qual trabalhará com seus alunos. Pode-se assim, mostrar aos alunos que as construções dos modelos são instrumentos de grande utilidade no ensino da geometria e da álgebra, explorando amplamente um determinando software, que oferece diversos recursos que nos permitirá recriar dinamicamente atividades que já foram realizados antigamente. Os ambientes informatizados, na forma que se apresentam hoje, por si só, não garantem a construção do conhecimento. Para que haja avanço no conhecimento matemático do aluno, é importante que o professor projete as atividades a serem desenvolvidas. Uma tarefa difícil é conciliar o que se julga importante a ser aprendido e é Matemática socialmente aceita que fornece os parâmetros para tal com a liberdade de ação do aluno. Assim, por exemplo, se o objetivo é o aprendizado de Funções Exponenciais, atividades devem ser projetadas para tal. Não basta colocar à disposição do aluno um programa de construções dinâmicas; o aluno certamente vai aprender alguma coisa. Mas a apropriação de ideias matemáticas significativas nem sempre acontecem de forma espontânea, mesmo nestes ambientes, e assim um trabalho de orientação por parte do professor, se faz necessário. São os desafios propostos pelo professor que vão orientar o trabalho, desafios estes que se torna de genuíno interesse dos alunos, desde que não sejam eles privados de suas ações e explorações. REFERÊNCIAS LIMA, E. L. Logaritmos. 5. ed. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Matemática, 2013. (Coleção do Professor de Matemática, CPM01). LIMA, E. L. et al; CARVALHO, P. C. P.; WAGNER, E.; MORGADO, A. C. A Matemática do Ensino Médio - volume 1. 9. ed. Rio de Janeiro: SBM 2006. 237 p. FIGURA1:https://www.geogebratube.org/material/sho w/id/127514.Acesso em: 06 jun. 2015. FIGURA2:https://www.geogebratube.org/material/sho w/id/127516.Acesso em: 06 jun. 2015. <http://www.espbr.com/noticias/nadador-brasileiroflagrado-exame-antidoping>. Acesso em: 06 jun. 2015. 17 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA E A DESVALORIZAÇÃO IMOBILIÁRIA Helinês Moreira Faculdade Porto das Monções Avenida Monsenhor Seckler, 1250 Porto Feliz, SP, Brasil (15) 3261 4549 [email protected] RESUMO O artigo trata de uma espécie tributária denominada contribuição de melhoria e os casos em que os imóveis adjacentes a uma obra pública acabam sofrendo a desvalorização imobiliária. A contribuição de melhoria, prevista na Constituição Federal de 1988, no Código Tributário Nacional, nos artigos 81 e 82 e no Decreto Lei 195 de 24 de fevereiro de 1977 é cobrada pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Tem como fato gerador uma obra pública e que desta obra, decorra valorização em imóveis particulares localizados nas proximidades. INTRODUÇÃO A contribuição de melhoria é uma espécie do gênero tributo e tem como fato gerador o acréscimo do valor de imóveis de propriedade particular localizados nas proximidades de área, que direta ou indiretamente, foram beneficiadas por uma obra púbica. Sendo assim, este tributo está vinculado a uma atuação estatal, qual seja, a construção de uma obra e que, normalmente, acarrete valorização imobiliária ao patrimônio de particulares. Diante disso, pode-se dizer que é um tributo decorrente de obra pública que gera valorização em bens imóveis particulares. No decorrer do estudo será descrito seu conceito, bem como relatado as considerações históricas, as diferenças e semelhanças entre a contribuição de melhoria e as demais espécies tributárias, bem como nos casos em que ocorre a desvalorização imobiliária e suas conseqüências na sociedade. Porém, nem sempre uma obra realizada pelo poder público gera uma valorização imobiliária a bens imóveis localizados nas proximidades. Há inúmeros casos em que obras públicas acabam desvalorizando imóveis de particulares, localizados nas adjacências da obra, ocasionando inúmeras conseqüências e prejuízos. Palavras chave contribuição, melhoria, desvalorização, imobiliária, tributo O tema escolhido tem uma repercussão prática e a cada dia, alcança espaços mais abrangentes na sociedade, haja vista que casos de desvalorização imobiliária são freqüentes na sociedade e geram indenizações para reparar o prejuízo. ABSTRACT In this work wiil be studied a tax assessments and the cases in which property is due to the devaluation. The tax assessments is in the Federal Constitution of 1988 and the National Tax Code, in the articles 81 and 82 and Law Decreew. The Federal Government, State Government, Federal District and Municipalities must collet this tax when arises valorization on particular properties located nearby. During the study will be described its concept and reported historical accounts, the differences and similarities between benefit charges and other tax species, and where is the real estate devaluation and its consequences in society. Keywords contribution, improvements, depreciation, real estate, tax CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS A contribuição de melhoria é um instituto antigo e de grande aplicação em diversos países. Tem sua origem no ano de 1250, em Londres, na Inglaterra, devido a construção de diques para o rio Tâmisa, protegendo a população de inundações, além de obras de retificação e saneamento de suas margens, que chegaram a um raio de 120 Km, que permitiram a navegabilidade Por conseguinte, diversos imóveis de particulares, que eram terrenos pantanosos e alagadições, que se situavam nas margens do rio, tiveram uma grande valorização, além do crescimento da economia da população ribeirinha. Diante dessa situação, a Câmara dos Lords teve a idéia de cobrar um tributo pela valorização desses imóveis, que seriam pagas pelos proprietários, pois a obra do Rio Tâmisa havia sido financiada por toda sociedade. Nos Estados Unidos, a contribuição de melhoria chamada de “special assessment” era para financiar viadutos, pontes, trens metropolitanos, hidrovias e demais obras de grande vulto, segundo Geraldo Ataliba. 18 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. Em Portugal, no século XVI, as Ordenações Filipinas autorizavam a cobrança de fintas com o escopo de reconstruir pontes e calçadas. Na França, a valorização imobiliária sofreu taxação no final do século XVII, com o intuito de custear obras de urbanização. Na Itália, foi utilizada para ampliação de praça em Florença. No Brasil, a contribuição de melhoria surgiu na época do Império, onde foi cobrada para ressarcir as despesas com obras públicas nos estados de Minas Gerais e Bahia. Durante a Primeira República, foram exigidas diversas taxas, onde se estabeleceu no ano de 1905, por meio do Dec. 1.029 do Distrito Federal, a cobrança de metade do custo de pavimentação de obras aos proprietários de imóveis beneficiados com a referida pavimentação. A contribuição de melhoria passa a ser tratada como matéria constitucional na Constituição de 1934, em seu artigo 134. Não prevista na Constituição de 1937, a contribuição volta a ser prevista na Constituição de 1946, instituindo a competência da União, Estados, Distrito Federal e Municípios em cobrá-la. Na vigência da Emenda n. 18/65, foi editado o Código Tributário Nacional e prevista a contribuição de melhoria nos artigos 81 e 82. Hoje, a legislação brasileira prevê a cobrança da contribuição de melhoria na Constituição Federal de 1998, no artigo 145, III, bem como no Código Tributário Nacional nos artigos 81 e 82 e no Decreto Lei 195 de 1964. CONCEITO A contribuição de melhoria é uma espécie tributária, prevista na Constituição Federal de 1988, no Código Tributário Nacional, em seus artigos 81 e 82, bem como no Decreto Lei 195 de 24 de fevereiro de 1977. Tem como fato gerador todo acréscimo no valor de imóveis localizados nas áreas beneficiadas direta ou indiretamente por obras públicas, tendo como limite total a despesa realizada e como limite individual o acréscimo do valor que da obra resulta para cada imóvel valorizado. As obras públicas que geram valorização imobiliária estão taxativamente previstas na lei, como por exemplo: melhoramento em praças e vias públicas, construção e ampliação de parques, bem como estradas, serviços e obras de abastecimento de água potável, esgoto, instalação de redes elétricas, dentre outras. O jurista Paulo de Barros Carvalho em sua obra Curso de Direito Tributário, 22ª edição, São Paulo: Saraiva, p.2010, ensina: “Assim, outra coisa não fez o legislador constituinte senão prescrever manifestamente que as contribuições são entidades tributárias, subordinando-se em tudo e por tudo às linhas definitórias do regime constitucional peculiar aos tributos”. (CARVALHO, 2010) O grande tributarista Hugo de Brito Machado, no livro Curso de Direito Tributário, 22º edição, Editora Malheiros, São Paulo, SP, p. 397, 2003, define a respeito da contribuição de melhoria, como espécie autônoma de tributo. A contribuição de melhoria tem caracterização especial e por isto mesmo foi tratada como espécie de tributo, distinta do imposto e da taxa. Há manifestações doutrinárias em sentido oposto, mas no sistema tributário brasileiro prevaleceu a corrente doutrinária que sustenta ter a contribuição de melhoria caracterização própria, que a distingue das demais espécies tributárias (MACHADO, 2003). Assim, pode-se afirmar com clareza que a contribuição de melhoria é um tributo independente, tratado na Constituição Federal como um das espécies tributárias. O jurista Celso Ribeiro Bastos, no livro Curso de Direito Financeiro e Tributário, 9º edição, editora Celso Bastos, São Paulo, SP, p.232, 2002, esclarece “A contribuição de melhoria é um tributo cobrado em decorrência de obras públicas. É um tributo da modalidade vinculada, porém indireta, pois além da atuação do Estado, necessário se faz que se interponha uma conseqüência desta- a ocorrência de valorização imobiliária (BASTOS, 2002). Tal tributo caracteriza-se como prestação pecuniária imposta pelos entes federativos (União, Estados, Distrito Federal, Municípios) no uso de seu “ius imperi” em razão da realização de obra pública que cause valorização em imóveis circunvizinhos. O tributarista Luciano Amaro, na obra Direito Financeiro e Tributário, 13º edição, editora Saraiva, São Paulo, p.46, 2007, afirma: A Constituição prevê que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios podem instituir “contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas” (art. 145, II). Esse tributo, a exemplo das taxas, conectase com determinada atuação estatal, qual seja, a realização de uma obra pública de que decorra, para os proprietários de imóveis adjacentes, 19 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. uma valorização (ou melhoria) de suas propriedades (AMARO, 2007). Assim, a referida contribuição de melhoria é uma espécie de tributo vinculado, ou seja, tem por fato gerador uma atividade estatal específica, que gera valorização do imóvel do contribuinte, tendo por finalidade a justa distribuição dos encargos públicos para custear a obra pública. FATO GERADOR O jurista Hugo de Brito Machado, em sua obra Curso de Direito Tributário, 22ª edição, São Paulo, editora Malheiros, p.399, 2002 ensina que o fato gerador da contribuição de melhoria é a valorização do imóvel do qual o contribuinte é proprietário, ou enfiteuta, desde que essa valorização seja decorrente de obra pública. Prevalece, no Direito Brasileiro, o critério do benefício. Não é a realização da obra pública que gera a obrigação de pagar contribuição de melhoria. Essa obrigação só nasce se da obra pública decorrer valorização, isto é, se da obra pública decorrer aumento do valor do imóvel do contribuinte (MACHADO, 2002). A contribuição de melhoria deve ser cobrada do contribuinte se a realização da obra pública decorrer a valorização imobiliária, ou seja, acrescer um valor no imóvel do contribuinte. O Jurista Celso Ribeiro Bastos, em sua obra Curso de Direito Financeiro e Tributário, 9º edição, São Paulo: editora Celso Bastos, p. 233, 2002, esclarece de forma objetiva: Há, portanto, um tipo de valorização imobiliária que não decorre nem de áleas do mercado nem de uma iniciativa do particular. Não. Resultam, inegavelmente, da melhoria que lhes foi proporcionada por uma obra custeada pela comunidade. Não é razoável, então, que alguns possam beneficiar-se do esforço e dos recursos de toda a coletividade. Essa repartição desigual dos benefícios da atuação estatal ofende aos princípios de justiça sobre os quais o estado Moderno procura modelar a sua atividade (BASTOS, 2002). Ressalte-se que a contribuição de melhoria é caracterizada como sendo um tributo justo, tendo em vista que atinge apenas os contribuintes que tiveram a valorização imobiliária, beneficiando com a obra pública, não onerando os demais indivíduos sociedade alheios a tal vantagem. da 4. DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS ENTRE CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA E OS DEMAIS TRIBUTOS Conforme previsão na Constituição Federal de 1998, são três as espécies de tributos: impostos, taxas e contribuição de melhoria. O imposto é um tributo unilateral, ou seja, é um tributo não vinculado a atividade estatal, ele destina-se a custear as despesas públicas gerais ou universais. Assim, não há contraprestação estatal ou qualquer atividade do Estado específica em relação ao contribuinte, conforme preceitua o artigo 16 do Código Tributário Nacional. De outra forma, as taxas destacam-se por ser o contribuinte destinatário da atividade estatal de polícia ou de serviço público específico e divisível ou atividade estatal de polícia, conforme o Código Tributário Nacional nos artigos 77 e 78. Em relação às taxas, o autor Paulo de Barros Carvalho, em sua obra Curso de Direito Tributário, São Paulo: editora Saraiva, p. 71, 2010, descreve: Taxas são tributos que se caracterizam por apresentarem, na hipótese da norma, a descrição de um fato revelador de uma atividade estatal, direta e especificamente dirigida ao contribuinte. Nisso diferem dos impostos, e a análise de sal base de cálculo deverá exibir, forçosamente, a medida da intensidade da participação do Estado. Acaso o legislador mencione a existência de taxa, mas eleja base de cálculo mensuradora de fato estranho a qualquer atividade do Poder Público, então a espécie tributária será outra, naturalmente um imposto (CARVALHO, 2010). Por sua vez, a Contribuição de melhoria é um tributo vinculado, referente a serviço público, indiretamente ligado ao contribuinte e cobrado após a valorização imobiliária Pedro Jorge Medeiros, no artigo Contribuição de Melhoria, na Revista Tributária e de Finanças Públicas nº 57, ano 12, São Paulo, 20 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. editora Revista dos Tribunais, p.65, 2004, explica as diferenças entre taxa e contribuição de melhoria: A diferença principal entre a contribuição de melhoria entre a taxa é justamente que aquela tem seu fato gerador vinculado à realização de obra pública e esta se origina no exercício regular de poder de polícia ou com uma prestação de serviços (MEDEIROS,2004). Há semelhanças entre a contribuição de melhoria e a taxa, isso porque ambas são tributos vinculados e retributivos, ou comutativos e comuns. Isso é, são tributos vinculados, pois depende de uma atuação estatal específica, como o exercício do poder de polícia e a prestação de serviço público específico e divisível na taxa, e execução de obra pública na contribuição de melhoria Por fim, os tributos: impostos, taxas e contribuição de melhoria podem ser instituídos pelos entes: União, Estados, Distrito Federal e Municípios, conforme artigo 145, III da Constituição Federal. 5. DESVALORIZAÇÃO IMOBILIÁRIA E SUAS CONSEQUÊNCIAS Conforme mencionado, a melhoria é um tributo que gerador auferir valorização imóveis adjacentes a obra, privada. contribuição de tem como fato imobiliária em de propriedade Porém, há diversas situações onde as obras públicas não ensejam valorização nos imóveis vizinhos, ou ainda, casos em que ocorre desvalorização imobiliária, ou ainda, da realização da obra resulte uma valorização mínima, que não compense os gastos decorrentes do processo de arrecadação. Muitas vezes, a obra estatal desvaloriza os imóveis adjacentes, ensejando com isso, um pedido de reparação de danos do indivíduo contra o Estado. Nesse raciocínio, na contribuição de melhoria a coletividade não deve financiar a obra que enriquece um grupo de indivíduos, também não se pode empobrecer o grupo, para financiar uma obra que interessa a coletividade. Dessa forma, o essencial da contribuição de melhoria é a valorização imobiliária decorrente de obra pública. O artigo 2º do Decreto Lei 195/67 elenca as situações que geram a valorização imobiliária e que dão ensejo a cobrança do tributo. Existem obras que, ao contrário, chegam a provocar desvalorização imobiliária, embora tais obras sejam úteis a coletividade, podendo até mesmo ocasionar malefícios e temor a população. Sendo assim, se uma obra pública resultar desvalorização imobiliária, caberá indenização aos proprietários lesados com fundamento da responsabilidade objetiva do Estado. E se a obra decorrer uma valorização imobiliária mínima, que não compense os gastos decorrentes do processo de arrecadação, o Poder Público estará dispensado de exigir o tributo, a exemplo do que ocorre nos casos de dispensa de licitação em razão do baixo valor do objeto a ser licitado Muitos exemplos podem ser mencionados, um deles é o caso a construção de aeroportos, uma vez que muitas pessoas preferem não residirem próximas a tal área, tendo em vista a insegurança no transporte aéreo, grande movimentação nas áreas próximas, excesso de barulho contínuo, dentre outros. Outro exemplo é a construção de presídio; embora tal obra seja de grande necessidade e importância para a sociedade, as áreas próximas a essa construção, na maioria das vezes, são expostas a riscos, a insegurança das pessoas, medo de rebeliões, possibilidade de fugas, tiroteios, movimentação, etc. Quando há desvalorização de imóveis decorrentes da ação Estatal, geralmente há um paradoxo, pois uma obra pública, que deveria ser uma melhoria para a sociedade, acaba tornando-se empecilho ou descômodo a população adjacente. Assim, se da obra resultar um prejuízo aos proprietários de imóveis adjacentes a obra pública e comprovada a desvalorização imobiliária, o Poder Público deverá pagar uma indenização aos prejudicados. 5. CONCLUSÃO Desde quando o homem passou a se organizar em sociedade, foi necessária a criação de tributos para custear o Estado. Dentre os diversos tributos cobrados ao longo do tempo, a contribuição de melhoria é um dos tributos mais justos, tendo em vista que visa à recuperação dos custos efetuados pela realização de obra pública, desde que tenha por resultado a valorização de imóveis vizinhos. Deve-se ressaltar que, o limite total para a cobrança da contribuição de melhoria é o gasto 21 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. realizado na execução da obra e o limite individual é a valorização imobiliária de cada proprietário. Porém, nem todas as obras realizadas pelo poder público geram a cobrança do referida contribuição de melhoria, tendo em vista que, muitas vezes, pode ocorrer o fenômeno inverso, ou seja, da execução da obra pública cause desvalorização de imóveis localizados próximos á área. Uma vez ocorrido tal situação, o proprietário do imóvel afetado não ficará inerte a tal problema, terá o respaldo legal, sendo possível, por meio de uma ação de indenização, ressarcir o valor perdido. REFERÊNCIAS AMARO, Luciano, Direito Tributário Brasileiro, 13º Edição, Editora Saraiva, São Paulo, 2007. BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Financeiro e Tributário, 9º edição, Editor Celso Bastos, São Paulo, 2001. Informação Legislativa, Secretaria Técnicas do Senado Federal, 1999. de Edições SILVA, Walmir do Nascimento, Contribuição de Melhoria, Revista do Instituto de pesquisas e Estudo, Editora da ITE, Instituição Toledo de Ensino, Bauru, 1998. STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil, 6ª edição, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004 LIMA, Robson Luis Rosa, Contribuição de Melhoria, 18 de janeiro de 2011. 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A ESTRUTURAÇÃO DO OBJETO INDIRETO Leandro Butier Leite Famo – Faculdade de Tecnologia Porto das Monções Rua das Avencas, 25, Jardim Bela Vista 18540-000 Porto Feliz, SP, Brasil [email protected] RESUMO A complementação verbal no Português destaca usos e práticas que inúmeras vezes dificultam a correta definição de sua conceituação. Com o objeto indireto, várias ocorrências determinam que sua natureza é complexa e desta forma, surgem propostas que este complemento ocorre somente em alguns casos e outras que relatam a sua não existência. Este artigo pretende discutir algumas ocorrências do objeto indireto e sua contextualização no atual Português do Brasil. Observar a concepção destes autores e destacar o uso do objeto indireto nos ajudará a refletir sobre a natureza deste complemento. Palavras chave Objeto Indireto, conceituação, complemento. Dillinger (1991) e Perini (1989), “salientam a dificuldade de se distinguir (por meios estruturais) entre (a) objeto indireto (PP 4 complemento) e (b) adjuntos adverbiais preposicionados” e levantam a hipótese de que essa distinção tradicional seja de natureza nãosintática. ABSTRACT Verbal complementation in Portuguese stands customs and practices which repeatedly hinder the correct definition of its concept. With the indirect object, multiple occurrences determine its nature is complex and therefore, proposals that this benefit occurs only in some cases and others that report their absence. This article discusses some instances of indirect object and its context in the current Portuguese in Brazil. Keywords Indirect object, concept, complement. 2. INTRODUÇÃO O Objeto Indireto sempre foi um dos pontos da sintaxe que permite controvérsias e muita discussão. A falta de consenso ora se dá por uma complexa teia de preposições no Português brasileiro, que modificam e moldam as sentenças conforme a necessidade do falante, ora por sua estrutura sintática que em muitas ocasiões não contempla uma superfície sólida para se propor generalizações. Nesse contexto, o objeto indireto tem suscitado, na literatura pertinente, algumas discussões sobre sua natureza, como: seria argumento ou adjunto, complemento dativo ou complemento oblíquo, e ainda, se ele realmente existiria. Entendemos que essas discussões estão ligadas à concepção de estrutura da gramática assumida pelos diferentes pesquisadores e, também, ao modo como estes entendem que as noções de estrutura argumental e de estrutura sintática interagem dentro dessa concepção. 2. A NATUREZA DO OBJETO INDIRETO Alguns autores se questionam sobre a definição de “complemento” do objeto indireto. Observe: (1) a) Eles gostam de carinho. b) Paula foi ao cinema. Outros autores, como Berlinck (2001) se questionaram sobre o papel de complementos preposicionados que seriam derivados do “dativo” latim. O dativo era um dos casos da língua latina que indicava a pessoa para quem algo é dado, dito, enviado, trazido. Exemplo: (2) Jesus falou à multidão. Já a posição de Cunha e Cintra (1985), incluem esses complementos em um conjunto mais amplo de complementos preposicionados sob o rótulo geral de "objeto indireto". Mateus et al. (1983), prefere distinguir os complementos "dativos" dos demais complementos ligados indiretamente ao verbo, com base em suas características semânticas e formais particulares. Uma classificação diferente aparece em Perini (1989; 1995). Sua proposta de categorização das funções sintáticas identifica quatro funções relevantes ("aquelas que são exigidas ou então recusadas por algum verbo") no âmbito da transitividade: objeto direto, complemento de predicado, predicativo e adjunto circunstancial. O complemento "dativo" é incluído no grupo dos "adjuntos circunstanciais". Das quatro funções mencionadas, essa talvez seja a mais problemática, pois inclui, ainda, outros complementos preposicionados (como de Maria em "João apanhou de Maria") e também advérbios (como muito em "José bebe muito "). Dillinger (1991), partindo da proposta de Perini (1989), questiona a pertinência de se definir o objeto indireto 4 Sintagma Preposicional (Prepositions Phrase) 23 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. como uma função sintática independente no português. Ele afirma que semanticamente o objeto indireto é interpretado como uma "localização", uma "orientação" ou uma "direção no espaço". No entanto, esse significado não está na relação estrutural; ele é definido pelas preposições que introduzem o complemento, assim como são as preposições que definem o valor semântico de PP com função adverbial. Desse modo, não haveria como justificar uma categoria "objeto indireto" independente da categoria "adjunto adverbial". E conclui: "Se a relação estrutural fosse portadora de significado independentemente das preposições, seria possível identificar algum elemento de significado comum a todos os casos da relação e que não estaria presente quando as preposições fossem usadas no contexto de outras relações estruturais", o que não ocorre, segundo ele. Ao contrário de Dillinger (1991), Berlinck (2001) considera que “podemos pensar em uma categoria "dativo" para o português, que estaria subordinada a uma categoria mais ampla que também incluiria a categoria "locativo". Quanto ao termo "objeto indireto", ela aponta para uma das formas de expressão do dativo (e de outras categorias), e não para sua natureza semântica.” Uma proposta um pouco radical é encontrada nos estudos de Cançado (2009): “o objeto indireto não existe”, pois esse argumento encabeçado por preposição é um adjunto, independentemente de seu estatuto semântico de argumento, pois na sintaxe esses sintagmas se comportam como qualquer adjunto, ou seja, não existiriam objetos indiretos. Para a inserção dessas preposições na sintaxe, existem três tipos de motivação: ou a preposição é inserida para especificar o sentido da predicação do verbo, ou a preposição é inserida para marcar uma alternância verbal e a consequente violação das regras de correspondência, ou é uma preposição inerente que teria uma explicação diacrônica, ainda recuperável em alguns casos, também marcando a alternância da diátese arcaica. (Cançado, 2009, p. 57) A autora posiciona que argumento é uma noção estritamente semântica que tem relação com a atribuição de papéis temáticos, mas que não tem relação direta com as noções de sujeito e complementos subcategorizados de um verbo. Argumentos também são associados à posição de adjunção, e, com isso, ela assume que complementos e adjuntos são relações estritamente estruturais, de configuração sintática e de atribuição de casos. A associação entre a estrutura argumental, que é semântica, e a estrutura sintática é feita por regras de correspondência. 3. A ESTRUTURA Alguns verbos considerados hoje pela Gramática Tradicional como Transitivos Indiretos, segundo a visão de Cançado (2009) exigem preposições consideradas inerentes ao verbo. Vejamos abaixo: (3) a. Ele gosta de sorvete. b. Ele compareceu ao juizado. c. Ele acredita em fadas. Segundo Cançado (2005), a preposição “de”, em (3), não é predicadora, pois o argumento expresso pelo DP 5 “sorvete” é exigido pelo verbo gostar. Não é funcional, pois primeiro não introduz o terceiro e/ou o quarto argumento do verbo, segundo não introduz um argumento alternado e terceiro não serve para especificar o sentido do papel temático atribuído pelo verbo ao seu argumento (como as preposições funcionais dos verbos de trajetória, locativos e direcionais). O mesmo se pode dizer para as preposições “a” e “em” nas sentenças de (b) e (c). Além disso, essas preposições parecem ser fixas, não podendo ser trocadas por outras (BERG, 2005): (4) a. Ele gosta de / *para / *a / *em sorvete. b. Ele compareceu ao / *para o / *com o juizado. c. Ele acredita em / *de / *com / *para / *a fadas. O teste da troca de preposições não se aplica às sentenças em (4) a - c. Essas preposições, portanto, por não serem predicadoras, de um lado, e, de outro, por não se encaixarem em nenhum dos subtipos de preposições funcionais, além de serem fixas, não podendo ser trocadas por outras, têm uma existência idiossincrática. Isto é, elas não possuem uma explicação semânticolexical como a explicação oferecida por Cançado (2005) a todos as outras ocorrências de preposições nas sentenças do PB. Por isso, a autora pressupõe que elas estejam associadas ao verbo em sua entrada lexical, denominando-as inerentes ao verbo, ou simplesmente preposições inerentes. a. João precisa de Maria. b. João precisa de médicos. c. João precisa de água. d. João precisa de seus animais. e. João precisa de sorvete. f. João precisa correr. g. João precisa limpar a casa. (6) a. b. b. b. Maria gosta de sua casa. Maria gosta de sorvete. Maria gosta de limpar a casa. Maria gosta de ir à escola. Os verbos “gostar” e “precisar” exigem a preposição, mas observamos que quando temos a oração infinitiva como complemento, o verbo “gostar” continua exigindo a preposição e com o verbo “precisar” isso não ocorre. Mioto, Silva e Lopes (2010) menciona estes verbos que c-selecionam (categorial) um PP como seu único argumento interno: (7) 5 a. Maria precisa de um amigo. Determiner phrases (Sintagma Determinado) 24 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. b. c. d. e. Maria precisa de mim. *Maria precisa um amigo. *Maria precisa me. *Maria precisa de me. (Mioto, Silva e Lopes, 2010, p. 203) Segundo Mioto (2010), o núcleo verbal c-seleciona e sseleciona (semântico) o argumento interno, então atribui a ele um papel temático (Ɵ); contudo o verbo fica impedido de atribuir Caso ao DP um amigo, pois este está protegido do verbo através da projeção máxima da preposição. Cita o autor que o regente do DP é a preposição e não o verbo. Resumindo: alguns verbos embora transitivos, não conseguem atribuir caso acusativo ao seu complemento, tendo a preposição que atribuir caso oblíquo a eles para que se tornem visíveis para a interpretação temática. Assim, observamos um quadro em que o objeto indireto deve ser explorado e em que se deve destacar os verbos que o compõe objetivando resultados para se confirmar a definição/classificação do objeto indireto categoricamente. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O complemento verbal denominado Objeto Indireto é por si só contestado e definido diferentemente por diversos autores. Percebemos que isto se deve ao fato da origem latina do Português que determinava casos como o dativo, ablativo e locativo. Muitos exemplos destes casos, se encaixaram como objeto indireto, mesmo sendo difícil a contemplação de todas as ocorrências. Vimos que outros autores concordam que a definição de objeto indireto não é fator de ordem sintática e sim da ordem semântica dependendo assim da relação com as preposições que lhe antecedem. Por fim, acompanhamos a visão de Cançado (2009), que afirma não existir o objeto indireto, pois, segundo sua visão, argumento que começa por preposição é um adjunto, isto independentemente de seu estatuto semântico de argumento, pois na sintaxe esses sintagmas se comportam como qualquer adjunto. Letras, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2005. BERLINCK, R. DE A. Dativo ou locativo? Sobre sentidos e formas do "dativo" no português. Revistas Letras, Curitiba, n. 56, p. 159-175. jul./dez. 2001. Editora da UFPR CANÇADO, M. . A Teoria Generalizada dos Papéis Temáticos. Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v. 11, n.2, p. 83-123, 2003. __________. Posições argumentais e propriedades semânticas. DELTA, São Paulo, v.21, n.1, p 23-56, 2005. __________. 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Lisboa: Editorial Caminho, 1992. Quanto a estrutura do objeto indireto, observamos que, devido a rede argumental e outros fatores (sejam semânticos ou sintáticos), pode-se tecer algumas considerações iniciais em relação a questão estrutural. Um exemplo é quanto a verbos que exigem a preposição em todas as ocorrências e verbos que ora exigem ora dispensam. Esta preposição inerente pode servir de um elemento inicial para estudos mais específicos e apontar em uma direção para uma definitiva descrição e definição do que chamamos de Objeto Indireto. REFERÊNCIAS BERG, M. O comportamento semântico lexical das preposições no português brasileiro. 2005. 128f. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos) – Faculdade de 25 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. A CAPACITAÇÃO EM SERVIÇO DOS PROFESSORES DO EJA EM UMA ESCOLA ESTADUAL NO MUNICÍPIO DE PORTO FELIZ Marcelo Tuani Faculdade Porto Feliz Avenida Monsenhor Seckler, 1250,Vila América 18540-000 - Porto Feliz – SP, Brasil (15) 3261-4549 [email protected]. RESUMO Este artigo tem como objetivo investigar se as capacitações realizadas em serviço contribuem para o trabalho docente no EJA do ensino médio de uma escola estadual em Porto Feliz. Em um primeiro momento são discutidas as propostas educacionais das reformas dos anos 90 no Brasil, propostas estas que subsidiam a Lei de diretrizes e bases da educação nacional (Lei nº 9394/96) e as diretrizes curriculares nacionais para o Ensino Médio (Parecer CEB n° 15/98). Serão também relacionadas às políticas e reformas educacionais do Brasil com a formação continuada dos docentes objetivando demonstrar quais as reais intenções do Estado, assessorado pelas políticas educativas do Banco Mundial. Em seguida será feita uma transcrição de entrevistas diretivas realizadas junto aos sujeitos dessa pesquisa objetivando coletar informações empíricas de suas formações em serviço, fazendo uma interconexão com as análises feitas sobre a política de formação docente. Palavras-chave: Trabalho docente, Ensino de Jovens e Adultos, Formação continuada de docentes do EJA, Políticas e reformas educacionais. ABSTRACT This article aims to investigate whether the training carried out in service contribute to the teaching work at the high school EJA of a state school in Porto Feliz. At first discusses the educational proposals of reforms of 90 years in Brazil, these proposals that support the Law of guidelines and bases of national education (Law No. 9394/96) and national curriculum guidelines for Secondary Education (CEB Opinion n ° 15/98). They are also related to political and educational reforms in Brazil with continued training of teachers aiming to demonstrate what are the real intentions of the state, assisted by the educational policies of the World Bank. Next will be a transcript of policies conducted interviews with the subjects of this research aiming to collect empirical data of their in-service training, making an interconnection with the analysis carried out on teacher education policy. Keywords: Teaching work, Youth and Adult Education, Continuing Education of the EJA teachers, policies and educational reforms. INTRODUÇÃO A formação docente no Brasil tem sido alvo de grandes discussões. Em relação aos professores do EJA, é necessário avaliar os momentos e os espaços nos quais esta formação vem sendo realizada tanto quanto os interesses envolvidos. A Educação de Jovens e Adultos (EJA)6 é considerada de grande importância pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Brasil, 1996), mas este nível de ensino, em muitas administrações municipais e estaduais, ainda hoje é tratado simplesmente como um ensino fundamental e médio normal, mudando apenas a idade mínima para ingresso que é de 16 e 18anos para o ensino fundamental e para o ensino médio, respectivamente. O que podemos notar também através das entrevistas realizadas e de observações feitas na escola é que os professores não utilizam um material específico para esta modalidade de ensino e muitas vezes o conteúdo que é passado no ensino médio tradicional também é utilizado de maneira reduzida no EJA. Em 2008 com a implementação da proposta curricular do governo do estado de São Paulo onde todo o ensino básico passou utilizar um currículo pré-determinado pelo estado, alguns professores passaram a utilizar o material que era voltado para o ensino médio de forma reduzida para o EJA. Em 2009 houve alguma movimentação do 6 Fundado em 1797, Porto Feliz é um município brasileiro do estado de São Paulo, com 51000 habitantes, situado a 110 km da Capital São Paulo e com uma economia diversificada baseada na agricultura e em pequenos e médios estabelecimentos industriais. 26 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. governo no sentido de criar um currículo voltado para o EJA, que deveria ser pautado na matriz de competências e habilidades exigidas no ENCCEJA•. No dia 13.01.2010, entrou em vigor a resolução SE 3, que resolve: Os cursos de jovens e adultos de frequência obrigatória às aulas ou de presença flexível e atendimento individualizado, implementados pelos Centros Estaduais de Educação de Jovens e Adultos – CEEJAs, passarão a adotar em caráter obrigatório, a partir de 2010, materiais didáticos de apoio, organizados e selecionados por esta Pasta, consolidados como Propostas Curriculares dos cursos regulares de Ciclo II do Ensino Fundamental e do Ensino Médio do estado de São Paulo, para os alunos ingressantes e em continuidade. Diante disso observamos que até 2009 os professores não foram orientados de forma adequada, como proceder com esta modalidade de ensino e nem possuíam material voltado para o EJA. Resta-nos saber se a partir de 2010 os professores serão realmente capacitados pelas oficinas pedagógicas, como cita o artigo 15, inciso III item b, desta resolução, e se esta capacitação realmente os habilitará para trabalharem com esse novo material direcionado para o EJA. Desde a Declaração Mundial sobre Educação para Todos, realizada em Jomtiem, Tailândia, observamos algumas afirmações que eram sempre enfatizadas pelosdocumentos e propostas educacionais elaborados pelos especialistas em educação e não pelos professores atuantes. Dentre estas afirmações podemos citar: equidade, reduzir desigualdades, oferecer a todas as crianças, jovens e adultas, a oportunidade de alcançar e manter um padrão mínimo de qualidade de aprendizagem, atender as diversas necessidades básicas de aprendizagem de jovens e adultos mediante uma variedade de sistemas, afirmações estas que reapareceram em outros documentos oficiais até culminarem com as Diretrizes Curriculares Nacionais. Mas os questionamentos que devemos fazer são: Os professores possuem condições e formação necessária para atender as diversas necessidades básicas de aprendizagem dos alunos do ensino de jovens e adultos? Será que tratar os alunos do EJA, pertencente a uma classe de pessoas totalmente heterogêneas, ou seja, advindo de situações sociais, econômicas totalmente distintas, com histórias de vida totalmente diferentes, ocupações diferentes, faixa etária totalmente diferente, de forma igual não estaríamos reproduzindo ainda mais desigualdades, pois estaríamos tratando igualmente os desiguais? Quais seriam as reais intenções então em promover a equidade na educação? 2. PROPOSTAS EDUCACIONAIS REFORMAS DOS ANOS 90 DAS Na década de 90, o volume de informações, produzido em decorrência das novas tecnologias, acarreta em diversas discussões e documentos como a Declaração Mundial sobre a Educação para Todos, aEducación y Conocimiento: eje de latransformaciónproductiva com equidad, culminando com a Lei de diretrizes e bases da educação nacional (Lei nº 9394/96) e as diretrizes curriculares nacionais para o Ensino fundamental e Médio (Parecer CEB n° 15/98) e os PCNs . Esses documentos tinham como objetivo elaborar mecanismos globais para atender essa demanda de informações promovendo universalização do acesso à educação. A Declaração Mundial sobre a Educação para Todos, citada acima, discorre sobre as necessidades básicas de aprendizagem e afirma que todos os indivíduos devem ter condições de aprender a ler, escrever, expressar-se oralmente, calcular e resolver problemas, de modo que possam sobreviver, desenvolver suas potencialidades, viver e trabalhar com dignidade e continuar aprendendo (UNESCO, 1990). Trata também da necessidade da concentração de todos os esforços na aprendizagem dos educandos, munidos de conhecimentos úteis, habilidades de raciocínio, aptidões e valores, afirmando que a educação básica deve ser universalizada, sem que se perca a qualidade além de se tomar medidas efetivas para reduzir as desigualdades e que esta se torne equitativa (UNESCO, 1990). O Banco Mundial com a intenção de melhorar o acesso, promover a equidade e garantir a qualidade dos sistemas escolares por meio de reformas educacionais que em última instância devem possibilitar aos educandos as habilidades requeridas para o mundo do trabalho invariavelmente desenvolve pacotes de medidas elaboradas por economistas dentro da lógica capitalista e da análise econômica. Segundo Torres (1996, p. 134-5) a ideia da qualidade educativa para o Banco Mundial estava em aumentar o tempo de instrução flexibilizando os horários e tarefas de casa, disponibilizando livros didáticos como cooperação ao currículo a fim de compensar os baixos níveis de formação do docente e melhorar a capacitação em serviço dos professores estimulando modalidades de ensino à distância. Torres afirma também que o professorado era deixado de lado na hora da definição, discussão e tomada de decisões, sendo as propostas para a educação feitas por economicistas tornando-se um modelo escolar 27 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. configurado em torno de variáveis observáveis e quantificáveis, não comportando aspectos qualitativos. Com isso a política educativa encontrava-se nas mãos de profissionais que não estavam relacionados ao currículo ou à pedagogia sendo analisada com critérios próprios do mercado e a escola é comparada a uma empresa (TORRES, 1996, p. 138-40). De acordo com TORRES (1996, p. 153), o banco mundial recomenda que a formação dos docentes deveria ser feita em serviço(formação continuada) e de curto prazo, utilizando-se de instruções programadas(com indicações detalhadas passo a passo), evitando os longos programas iniciais de formação docente. Segundo TORRES, não podemos optar ou para a formação inicial ou capacitação em serviço, pois esses dois fatores são inseparáveis e complementares, devemos também relacionar os saberes das disciplinas (o que se ensina) e o pedagógico (como se ensina), levando também em conta como sugerem diversos estudos realizados na América Latina, a atitude e as expectativas do professor, não focando apenas no seu domínio da matéria ou das técnicas de ensino. Ela também afirma que a formação não deve ser pensada apenas como uma necessidade fundamental dos docentes, mas também como necessidade dos diretores, supervisores, funcionários etc.( TORRES, 1996, p.1623). Confirmando a ideia de TORRES, CORAGGIO (1996) afirma que o Banco Mundial sabe que precisa capacitar os professores mas insiste na ideia de capacitação em serviço (se possível à distância) em detrimento da sua formação prévia. RAMOS (2002, p. 425) utiliza-se da fala de Domingues et al.(2000) para afirmar que as reformas curriculares não decorrem das necessidades nacionais coletivas, mas a transposição curricular estrangeira tem sido uma constante nesta área. Diante desta situação os professores são tomados como recursos nas propostas e não como sujeitos, mesmo quando supostamente ouvidos no processo de elaboração. Isto consolida a ideia de TORRES do processo de desqualificação do trabalho do professor, quando ele é deixado de lado nas tomadas de decisões e elaborações de propostas pedagógicas sendo tomados como afirma DOMINGUES, como recursos e não como sujeitos nas propostas. CURY (1998, p. 79), quando relata os equívocos promovidas pela LDBEN, diz que é necessário “Curar do peso que ficou nas costas dos docentes de leis que os obrigaram a um fardo que eles não ajudaram a montar, mas que foram obrigados a transportar”. No caso da nova lei, a cura deve ser vista como remédio do que veio antes e prevenção para o presente que ora se inicia. Dentro desse desafio há que apontar a formação de docentes. É preciso haver e acontecer formação. E que essa formação dê conta efetiva das exigências que a nova LDB põe para a educação nacional. Ignorar o passado omisso a esse respeito, ignorar que tal formação na pode ser aligeirada só poderá conduzir a uma nova modalidade de insucesso. Essa afirmação de Cury contribui ainda mais para confirmar que a formação continuada dos professores sejam eles do ensino regular ou do EJA, é feita de forma equivocada, aligeirada, atendendo somente as políticas voltadas para o mercado assessorado pelo Banco Mundial e seus adeptos. Em relação aos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, nível de ensino no qual se situa o sujeito desse artigo, podemos dizer que a partir de sua publicação constituiu-se como a expressão maior da reforma deste nível de ensino. Este documento foi construído com a intenção de orientar a produção do conhecimento oficial relativo ao ensino médio. De acordo com LOPES (2002, p. 390) “O Documento dos parâmetros, entretanto, é a carta de intenções governamentais para o nível médio de ensino”. Um dos grandes problemas na elaboração dos PCNs foi à ausência dos professores do ensino médio, os principais agentes do processo educacional. Isso vem consolidar a ideia de TORRES (1996) e DOMINGUES (2000) que apontam esse processo de separação dos professores nas elaborações das propostas pedagógicas. De acordo com LOPES (2002, p. 392) “As finalidades educacionais dos PCNEM visam especialmente formar para a inserção social no mundo produtivo globalizado”. LOPES também aponta para o hibridismo dos discursos curriculares, pois estes trazem a baila autores contrários para subsidiar o eficientismo, ou seja, os textos segundo LOPES, são desterritorializados, deslocados, das questões que levaram a sua produção e relocalizados em novas questões, novas finalidades educacionais. Em relação às abordagens das diretrizes curriculares nacionais para o ensino médio (Parecer CEB n° 15/98) gostaria de trazer para discussão uma delas: a visão de desenvolver no aluno o pensamento crítico. De acordo com CARVALHO (2001, p. 158-161) “é inaceitável a ideia de que essa capacidade se desenvolva como produto da aplicação de um método específico, seja ele qual for; ou, ainda que ela se identifique com a posse de um tipo singular de discurso ou de uma determinada visão de mundo, qualquer que ela seja”. CARVALHO (2001, p. 159) utiliza-se de PASSMORE (1984) para relatar que: 28 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. O objetivo de se desenvolver o pensamento crítico em um contexto educacional, na forma em que o concebe esse autor, expressa não simplesmente uma preocupação com o ensino de certas habilidades ou competências, mas volta-se para o cultivo de um certo conjunto de características e valores que se manifestam em nossas formas de conceber, agir ou analisar fatos e discursos. Amparado por esse argumento, CARVALHO (2001, p.159) afirma que: “Não faria sentido afirmar que objetivos como o desenvolvimento de capacidade crítica ou da solidariedade possam ser bem ou mal utilizados-como no caso de capacidades, habilidades ou mesmo competências-, mas, simplesmente, que foram ou não suficientemente cultivados e desenvolvidos”. Diante disso CARVALHO (2001) afirma que os procedimentos críticos devem ser tratados como procedimentos historicamente desenvolvidos em perfeita harmonia com os conteúdos dos diferentes ramos do conhecimento que integram o currículo escolar. Com isso, de acordo com PETERS (1968, p. 107), não podemos conceber o professor: “Como um operador desinteressado que está promovendo algum tipo de resultado o desenvolvimento da capacidade crítica ou da inventividade-em outra pessoa que lhe é exterior. Sua tarefa é a de tentar levar os outros para uma forma pública de vida da qual participa e considera valiosa”. Finalizando esse tópico podemos afirmar que a ação do professor que trabalha com a educação de jovens e adultos consiste, sobretudo em estimular no educando a consciência crítica de si e do mundo, habilitando-o com os conhecimentos cientifico e sociais acumulados pela civilização humana e necessários para este objetivo. 3. METODOLOGIA E RESULTADOS Com o objetivo de analisar a formação dos professores da Educação de Jovens e Adultos, realizei entrevistas semidiretivas com cinco professores do Ensino Médio do EJA em uma escola estadual no município de Porto Feliz, sendo elaborado um roteiro de entrevista utilizando o mesmo padrão para cada entrevistado com questões semiestruturadas (Apêndice A). Foram entrevistados professores de Arte, História, DAC de História, Física e Biologia. Todos os professores que foram convidados aceitaram a gravação e utilização do material da entrevista. Não foi possível entrevistar os professores de Matemática e Língua Portuguesa, pois os mesmos encontravam-se em licença a prêmio e licença saúde respectivamente. Em relação ao tempo de formação no ensino superior, todos possuíam mais de cinco anos chegando até as vinte e sete anos. Em suas licenciaturas, nenhum deles havia cursado alguma disciplina ou tido alguma orientação voltada para o ensino de Jovens e Adultos. Ao concluírem suas licenciaturas a maioria fez algum outro curso, como pós em psicopedagogia, cursos de extensão, mas em nenhum desses cursos eles tiveram alguma formação voltada para o EJA. Notei também que os professores em sua maioria eram efetivos no estado e somente dois eram ocupante de função atividade, sendo que todos tinham mais de quatro anos de experiência em sala de aula chegando até as quinze anos de experiência no caso da professora de Biologia. A jornada de trabalho mais comum entre esses professores era de 32 horas aulas semanais, mas para minha surpresa o professor de DAC História possuía uma jornada de 74 horas aulas semanal. A maioria dos professores lecionava nos três períodos: manhã, tarde e noite. Todos os professores entrevistados haviam trabalhado pelo menos com duas classes do EJA do ensino médio no ano de 2009, sendo que quase todos tinham experiências superiores a 3 anos no EJA. Diante disso podemos afirmar que todos os professores eram licenciados em suas respectivas áreas, possuíam experiência no ensino público e no ensino de jovens e adultos, embora não tivessem recebido nenhuma orientação em suas licenciaturas ou em cursos posteriores de como lecionarem para o EJA. Todos os entrevistados possuíam uma jornada de trabalho relativamente grande sendo distribuída nos três períodos na maioria dos casos. Isso nos dá indícios que esses professores utilizavam-se de saberes tácitos para trabalharem com as classes do EJA, pois nenhum deles possuía formação prévia para isso e trabalhando em três períodos a busca de formação contínua fica relativamente prejudicada, sendo essa formação esporadicamente concebida em trabalho de forma aligeirada e ineficaz. Quando os professores foram questionados sobre quais eram as suas condições de trabalho em relação aos recursos materiais para auxiliá-los em sua disciplina no EJA, obtive as seguintes respostas: “... Bom, em relação a minha disciplina é um pouco complicado, pois a gente precisa de materiais extras. Com o EJA é um pouco mais simples, pois o que você pede para eles trazerem eles trazem, então não temos o problema deles não trazerem o material como temos no ensino tradicional. Em relação à escola é um pouquinho mais complicado. Temos apenas o básico, material diferenciado não.” (Professora de Artes) “... No passado tinha um caderno que vinha para os alunos do EJA, mas estes dois últimos anos não veio nenhum material para o EJA, apenasvou para sala e dou aula.” (Professor de História) 29 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. “...Não possuo material algum.” ( Professor de DAC História) “...Nenhum tipo de material me é fornecido.” ( Professor de Física) “...Nunca tive nenhum material específico para trabalhar com o EJA.” (Professora de Biologia) Essas declarações nos levam a crer que não são fornecidos aos professores materiais diversificados para trabalharem com os alunos do EJA. Questionei também que tipo de material didático ou paradidático eles utilizavam: a grande maioria respondeu que utilizava alguns livros didáticos do acervo deles, utilizavam também apostilas que eram para outras modalidades de ensino, jornais, revistas, painéis informativos e até informações áudio visuais como Internet, filmes, projetor etc. Com isso pude verificar que os professores utilizavam os materiais que eles achavam que poderiam suprir as necessidades dos alunos do EJA, sem nenhuma orientação específica e sem nenhuma discussão em conjunto do que eles deveriam utilizar. Os professores também foram questionados sobre qual eram suas expectativa em relação ao ensino de Jovens e Adultos, ou seja, eles acreditavam estar preparando os alunos para que? A maioria dos professores respondeu que os alunos estavam sendo preparados para o mercado de trabalho embora eles não acreditassem que saindo do ensino básico os alunos com os conhecimentos adquiridos na escola obtivessem sucesso no mercado de trabalho. Diante disso podemos notar que embora eles afirmem que o EJA é voltado para o mercado de trabalho, não confiam que somente isso será necessário para a inserção dos alunos nesse mercado tão restrito. Quando perguntados se eles utilizavam algum parâmetro para desenvolverem os seus planos de ensinos, a maioria respondeu que utilizava os PCNS e que já havia lido os parâmetros de sua disciplina sendo que apenas um professor declarou que utilizava o projeto político pedagógico da escola. Isso nos leva a crer que a maioria dos professores utiliza os parâmetros curriculares nacionais, mas não em conjunto com o projeto político pedagógico da escola. Os professores também foram questionados se conheciam a legislação do EJA, o que era o ENCCEJA, a proposta pedagógica e o regimento de sua escola, as respostas foram as seguintes: “...A proposta curricular e o regimento sim, agora a legislação do EJA e o ENCCEJA não, vou ser clara a dizer.” (Professora de Artes) “...Pouco. Esqueci agora. O objetivo do Enceja seria reenquadrar os alunos dentro da idade. Conheço a proposta e o regimento. O que marcou foi a questão do aprendizado, ou seja, trabalhar de forma diferenciada.” (Professor de História) “...Não. Isso é novo e eu não sei. Não conheço a proposta.” ( Professor de DAC - História) “...Muito pouco. O pouco que eu conheço é que é uma prova que é usada para os alunos conseguirem a certificação.” ( Professor de Física) “...O projeto político pedagógico eu conheço mas não lembro muita coisa. A legislação que ampara o EJA não. O Encceja eu não sei. Acho que é ensino para os jovens que não tiveram oportunidade na idade certa.” (Professora de Biologia) Diante das afirmações acima podemos suspeitar que a maioria dos professores não conhece a legislação do EJA, poucos conhecem o projeto político pedagógico e o regimento da escola e nada sabem sobre o ENCCEJA. Como não conhecem as bases legais e regimentais provavelmente adaptam o currículo do EJA de acordo com que eles acham necessário para seus alunos, cada um da sua maneira, agora resta saber se eles tiveram alguma orientação em serviço para isso? Todos professores quando questionados se tiveram alguma formação continuada no seu ambiente de trabalho, nas reuniões e em HTPCs, responderam que apenas haviam recebido algumas orientações de curta duração e desenvolvido conversas nos horários de trabalho pedagógico coletivo, o que nos leva a crer que a formação continuada não surte efeito nos professores e consequentemente nos seus alunos. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados obtidos nesta pesquisa, diante dos depoimentos dos professores quando afirmam que nunca tiveram formação em serviço voltada para o Ensino de Jovens e Adultos a não ser através de orientações de curta duração, nos leva a crer que a formação continuada dos professores do EJA, como afirma CURY, é feita de forma equivocada, aligeirada, atendendo somente as políticas voltadas para o 30 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. mercado assessoradas pelo Banco Mundial e seus adeptos. Podemos notar também que a formação inicial dos professores também é deficitária no que diz respeito a fornecer subsídios para o trabalho no EJA. Observamos também que a maioria dos docentes estava em consonância com os parâmetros curriculares e convictos que o ensino de Jovens e Adultos tinha como finalidade maior à inserção dos alunos do EJA no mercado de trabalho. Isso justifica a afirmação de LOPES (2002, p. 392) quando ela diz que: “As finalidades educacionais dos PCNEM visam especialmente formar para a inserção social no mundo produtivo globalizado”. Não podemos também deixar de ressaltar a falta de material específico disponível para os professores dessa modalidade de ensino, levando-os a utilizarem material de outras modalidades que não condizem com a realidade do EJA. Diante disso podemos afirmar que enquanto a formação docente inicial e continuada não for feita de forma complementar como afirma TORRES(1996), atendendo as necessidades reais dos professores e não do mercado global, o ensino de Jovens e Adultos, continuará ineficaz, pois a boa formação do profissional do EJA é um dos principais fatores que auxiliará o processo de aperfeiçoamento da qualidade da educação daqueles que buscam na instituição escolar uma oportunidade de ampliar a sua participação na comunidade, de ascender socialmente e de tornar-se um verdadeiro cidadão, processos fundamentais para o desenvolvimento do Brasil REFERÊNCIAS BRASIL/MEC/CNE: Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, Parecer CEB n° 15/98. Brasília, DF, 1998. ______. Resolução SE 3 de 13 de Janeiro de 2010. CARVALHO. José Sérgio. O discurso pedagógico das Diretrizes Curriculares Nacionais: competência crítica e interdisciplinaridade. Campinas: Cadernos de Pesquisa, n. 112, p. 155-165. CEPAL/OREALC. 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Declaração Mundial sobre Educação para Todos – Satisfação das necessidades básicas de Ensino e Aprendizagem, Jomtien, Tailândia, 1990. APÊNDICE – A ROTEIRO DE ENTREVISTA 1. 2. A quanto tempo é formada no ensino superior? No ensino superior você teve alguma disciplina direcionada para o EJA? 31 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. Ao término do Ensino superior realizou algum outro curso? A quanto tempo leciona na rede pública de ensino? Em quantas escolas leciona? Em quais períodos leciona? Qual a sua jornada de trabalho? Em quais séries do EJA você leciona ou lecionou neste ano de 2009? É o primeiro ano que você leciona para o EJA? Quais são suas condições de trabalho em relação aos recursos materiais, ou seja, você tem disponível todos os recursos para trabalhar com a sua disciplina no EJA? Trabalha com livro didático no EJA? Utiliza algum outro tipo de livro, apostila, algum recurso para auxiliá-la? Utiliza alguns textos informativos, painéis? Lecionando no EJA você acredita que está preparando os alunos para que? Para o mercado do trabalho, para continuidade dos estudos ou para a cidadania? Você acredita que ele saindo daqui ele vai ter condições de se inserir nomercado de trabalho? Você segue algum parâmetro para desenvolver os seus planos de ensino? Você conhece a legislação que ampara o EJA? Sabe o que é ENCCEJA? Conhece a proposta curricular da sua escola, o regimento? Teve alguma formação em serviço voltada para esta modalidade de ensino? Se você teve o que ela contribuiu para o exercício de sua função? Você teve alguma orientação técnica, teve alguma orientação na escola voltada diretamente para o EJA? As capacitações recebidas em serviço pelos professores do ensino médio noturno do EJA na sua escola, nos HTPCS e reunião pedagógicas, atende as necessidades pedagógicas, didáticas e curricularesdo EJA? 32 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. A TECNOLOGIA TORNA O PROFESSOR INVISÍVEL? 8 Marcelo Tuani7 Abelardo Vilela Neto Faculdade Porto Feliz Avenida Monsenhor Seckler, 1250 Vila América - 18540-000 – Porto Feliz – SP, Brasil (15) 3261-4549 [email protected] Faculdade Porto Feliz Avenida Monsenhor Seckler, 1250 Vila América - 18540-000 – Porto Feliz – SP, Brasil (15) 3261-4549 [email protected] RESUMO Neste artigo descrevemos o conflito que a tecnologia provem perante a pedagogia ao se deparar com profissionais que não se adéquam e preparam para as novas tendências tecnológicas, ao perfil do novo aluno conectado e a resistência ao uso de ferramentas tecnológicas e pedagógicas. Palavras-Chave: Ensino, Tecnologia, Pedagogia, aprendizado, educação, profissionais. tecnológica, os meios de comunicação eram restritos, sejam eles na sua forma social, econômica e cultural, telefonia residencial era item de luxo,telefonia móvel algo inimaginável, computadores em residências e nas escolas era algo que acontecia somente em filmes de ficção científica, culturalmente e economicamente não era possível e viável o uso de tecnologia por qualquer classe social ou etnia, com isso as informações demandavam tempo para circularem e atingirem os objetivos, não tendo assim um grande alcance para a comunidade escolar. Hoje vivemos em um mundo conectado full time, não podemos imaginar que a educação não se prontifique a acompanhar esta revolução tecnológica. Qual sentido teria a tecnologia se não tivesse conquistado seu lugar nas escolas como um importante recurso de aprendizagem de alunos e professores do século XXI? Por outro lado será que a introdução da tecnologia na educação mudou completamente os métodos de ensino? O computador é um recurso e uma estratégia capaz de oferecer ao aluno auxílio para seu desenvolvimento de percepção, cognição, raciocínio lógico e emoção, coordenação motora, coordenação espaço/tempo, discriminação, atenção, memória visual e auditiva, capacidade de representação entre espaço e tempo virtual e real. Favorece a organização na realização de suas tarefas, rapidez no trabalho, autonomia, trabalha limites, controla ansiedade, regras, normas, ajuda na superação de barreiras ao ato de aprender, eleva a autoestima e se torna um aliado quando bem aplicado o seu uso. Atentar ao que a tecnologia nos oferece cria lugares e olhares sobre o aprender de todas as crianças. Como seria bom se todos os profissionais que trabalham com educação fizessem bom uso desse recurso, mas para tanto é preciso que esses profissionais tenham o conhecimento da ferramenta tecnológica e que ela esteja incluída em sua prática educacional. Segundo PENTEADO (2000): “Professores devem ser parceiros na concepção e condução das atividades com TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação) e não ABSTRACT In this article we describe the conflict that technology prove to pedagogy to come across professionals who do not fit and prepare for new technology trends, profile of the new connected and student resistance to the use of technology and teaching tools. INTRODUÇÃO O mundo tornou-se globalizado e tem como idioma universal a tecnologia. Para obter sucesso, todo movimento educativo deve ser contemporâneo, responsável e estimular as ações do aprender e reaprender. Educar nunca foi uma tarefa fácil e, atualmente, torna-se ainda mais complexa devido às novas tendências tecnológicas, que exigem um grande domínio de conhecimento de inúmeras áreas, visão holística e agilidade em tomada de decisões. Como se isso não bastasse, ainda vivemos em um planeta globalizado, em tempos virtuais que sofrem alteração a um ritmo de nano segundos, fazendo com que esta nova realidade tecnológica ultrapasse a realidade de nosso tempo e nosso relógio. Crianças e jovens são educados hoje de modo diferente como foram às gerações anteriores, já que nascem vivendo esse novo tempo e espaço e neles aprendem a viver e o fazem com tal naturalidade de quem está - e estes são nossos novos educandos que muitas vezes até de forma errônea preferem a informação pronta do que ir em busca do conhecimento puro e genuíno. Antes dessa nova geração 7 Marcelo Tuani, autor deste artigo, é graduado em Administração de Empresas, Licenciado em Matemática e Física, Especialista em Gestão Pedagógica e Mestre em Educação na Universidade de Sorocaba em 2011. 8 Abelardo Vilela Neto, autor deste artigo, é graduado em Tecnologia em Redes de Computadores e MBA em Marketing e Gestão de Negócios na Esamc de Sorocaba em 2011. 33 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. meros espectadores e executores de tarefas.” Pois, conforme PENTEADO (2000): “Não se trata, portanto, de fazer do professor um especialista em Informática, mas de criar condições para que ele se aproprie, dentro do processo de construção de sua competência, da utilização gradativa dos referidos recursos tecnológicos. Somente tal apropriação da utilização da tecnologia pelos educadores poderá gerar novas possibilidades de sua utilização educacional.” O processo de ensino-aprendizagem deve manter relação direta com o contexto social em que os educandos estão inseridos, implicando no conhecimento com a utilização de qualquer recurso eletrônico. Enfatizando a importância da reformulação do planejamento pelo docente, Rörig e Backes (2011) compreende que: “Ao estruturar sua proposta pedagógica, utilizando tecnologia digital, o professor precisa estabelecer vínculos com os alunos, conhecer seus interesses, saber o que o aluno já sabe, o que o aluno não sabe e o que ele gostaria de saber. Motivar o aluno a fazer parte da proposta pedagógica, colocando-o a par sobre o que será abordado e convidando-o a contribuir.” De acordo com Michell Zappa o papel do professor em um cenário de novos recursos pedagógicos, está além das salas de aulas: “Todos os profissionais de educação devem estar preparados para as novas tendências tecnológicas, não importa se já estão preparados ou não. O fato é que precisam estar preparados tecnologicamente para, no mínimo, falar a língua dos estudantes. A dissonância cognitiva causada entre alunos e docentes pelo acréscimo de conteúdo cultural e mudanças de conceitos está em um ritmo cada vez mais veloz e força o professor a acompanhar mais os seus alunos. Em vez de deter o conhecimento, o educador do futuro será o guia que aponta assuntos e matérias que cada aluno deve aprender, o que ele deve ler e fazer. Cada vez mais, os assuntos fundamentais vêm sendo desmembrados e separados. Por isso, é preciso que o educador indique ao aluno o caminho certo, para que ele possa fazer o melhor com seus dons e capacidades. O ensino fundamental será radicalmente redefinido diante de um mundo em que tudo, absolutamente tudo, pode ser aprendido instantaneamente." Mas hoje em dia como estão os profissionais de educação, como suas escolas ou seus cursos de especialização os preparam para este futuro eminente? Vivemos numa era de carência de profissionais? Sim e não. Há muitos profissionais com desejo de melhorar a qualidade e a capacitação tecnológica na educação. Mas há pouco suporte para quem quer implementar tais sugestões em escolas. Em contrapartida, há profissionais que não conseguem se desgrudar da inerência do passado, da fórmula usada há ano que reside a sua zona de conforto. A formação de educadores conscientes e críticos é muito importante, isto é, professores que entendam o contexto histórico e social de seus educandos e com o intuito de valorizar a cidadania e a humanização das práticas escolares e superando assim o fracasso escolar. Com isso deve haver a construção da identidade do professor de maneira com que ele tenha uma formação dialética e crítica em seu contexto formacional (PIMENTA, 2000). E o papel dos formadores destes profissionais? Como está o avanço tecnológico destes formadores? Suas convicções de ensino acompanham a globalização e as tendências tecnológicas do futuro? Eles formam profissionais que possuem uma pequena base de conceitos e conhecimentos básicos em tecnologias, softwares e tendências que podem alavancar e enriquecer profissionalmente? A grande maioria não acompanha essa evolução, deixando a seus formandos a preocupação e a necessidade de uma nova atualização para o mercado que a cada dia está mais exigente. Em 1999 a pedido da UNESCO, Morin sistematiza um conjunto de reflexões que possivelmente serviriam de ponto de partida para repensar a educação do próximo milênio. Morin procurou aprofundar a visão transdisciplinar da educação, através de um texto que nos proporciona profunda reflexão, e que sabiamente foi intitulado os Sete Saberes Necessários a Educação do Futuro. Segundo MORIN (2009) devemos enfrentar o desafio de não nos tornarmos evidentes evitando assim que nos tornemos invisíveis. E para não nos tornarmos evidentes devemos enquanto educadores utilizar a tecnologia como uma das ferramentas para o benefício da educação. Atualmente presenciamos colegas professores reclamando de que não sabem mais o que fazer para conseguir a atenção dos alunos, será que estes não se tornaram evidentes por tentarem em pleno século XXI utilizar a mesma metodologia de aula do século passado sem a inserção da tecnologia como um dos instrumentos do seu trabalho docente? Agora nós enquanto docente o que devemos fazer para que não nos tornemos invisíveis em sala de aula? Como podemos chamar a atenção no sentido de ter a atenção dos alunos, pois eles percebem tudo o que está ocorrendo em sala, como a conversa do colega da frente, a mensagem que chegou ao telefone celular, a música que está tocando no Iphone do outro colega, menos o professor que tenta impor a voz cada vez mais para ser ouvido. Será que realmente punir com a proibição do uso da tecnologia em sala de aula é o suficiente ou estaríamos tentando impor uma metodologia ultrapassada que não funciona mais? Será que estamos preparados para inserir em nosso cotidiano escolar este avanço rápido da tecnologia? Será que temos tempo para nos capacitarmos ou somos obrigados a acumular jornadas excessivas de aulas pela falta de uma remuneração mais adequada, impossibilitando-nos de aprendermos novas metodologias de ensino? Finalizando quando seremos capazes de nos tornarmos um profissional que atenda a essa demanda tecnológica nesse mundo acelerado? 34 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. REFERÊNCIAS FERREIRA, Valdivina Alves; GOBARA, S. T. Dificuldades dos professores diante do uso pedagógico dos recursos da informática no ensino médio. In: XIII ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino, 2006, Recife. Anais doXIII ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino. Recife: UFPE, 2006. v. 1. p. 1-13. JORDÃO, Teresa C. A formação do professor para a educação em um mundo digital. 2009. POCHO, Claudia Lopes; AGUIAR, Márcia de Medeiros; SAMPAIO, Marisa Narcizo. Tecnologia educacional: descubra suas possibilidades na sala de aula. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 2003. RÖRIG, Cristina; BACKES, Luciana. O professor e a tecnologia digital na sua prática educativa. PIMENTA, Selma Garrido (orgs). Saberes pedagógicos e atividade docente. São Paulo: Cortez, 2000. MORIN, Edgar. Os Sete Saberes Necessários para a Educação do Futuro. Cortez, 2009. 35 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. AVALIAÇÃO DOS JOGOS TEATRAIS NO COTIDIANO ESCOLAR Nislei Rosa da Silva Thomazetto Famo Faculdade Porto das Monções Av. Monsenhor Seckler, 1250 Vila América 18540-000 Porto Feliz, SP, Brasil (15) 3262-5605 [email protected] Resumo O artigo apresenta um breve relato sobre os Jogos Teatrais trabalhados por Viola Spolin ( 19061994, autora e diretora de teatro, desenvolveu a técnica dos jogos teatrais) e Ingrid Dormien Koudela ( 1948, escritora, professora e tradutora, principal desenvolvedora do sistema de jogos teatrais da Viola Spolin), os questionamentos sobre a Avaliação desses Jogos no cotidiano escolar do Ensino Médio. A importância desses jogos no desenvolvimento humano, a dificuldade na avaliação de arte, e a avaliação formativa encontrada no desenvolvimento dos jogos teatrais, as contribuições desses jogos na vida escolar, bem como a história dos jogos teatrais, como eram e como são trabalhados na escola, muitas vezes trabalhados de forma inadequada, os tipos de avaliação e uma breve descrição de cada tipo, e como isso pode encaixar no desenvolvimento humano, segundo SPE e o Método Keller. Palavras- chave: Jogos Desenvolvimento humano. Teatrais, Avaliação, Aprendemos através da experiência, e Ninguém ensina nada a ninguém Viola Spolin Introdução Avaliar é um dos momentos mais difíceis e conturbados da educação, difícil para o professor, difícil para os alunos. Infelizmente a Avaliação não é trabalhada e nem vista como deveria. Ela tem a função de ajudar tanto o aluno como o professor a identificar o que foi aprendido, o que está errado, o que precisa ser reformulado e não é isso que encontramos nas escolas. Encontramos alunos com trauma (medo) das avaliações e professores usando as avaliações como instrumento de tortura. Essa visão de avaliação precisa ser mudada com urgência, precisamos tratar a avaliação com a devida importância que realmente ela tem, pois ela tem uma função importante tanto para o professor como para o aluno. A legislação atual fala sobre avaliação, a LDB 9394/96 aponta que “avaliar” tem sentido de acompanhamento e verificação da aprendizagem do aluno. Estabelece que a avaliação deva ser continua e cumulativa do desempenho do aluno, prevalecendo os aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais. Encontramos também nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) a seguinte definição para Avaliação: “Avaliar é uma ação pedagógica guiada pela atribuição de valor apurada e responsável que o professor realiza das atividades dos alunos. Avaliar é também considerar o modo de ensinar os conteúdos que estão em jogo nas situações de aprendizagem”. Esse texto será caracterizado como construtor de um paralelo sobre a dificuldade em avaliar e como é avaliado os Jogos Teatrais e a sua importância no desenvolvimento humano dos alunos. Será feito inicialmente uma breve exposição sobre os tipos de avaliação e sobre o que é avaliar, sobre avaliar arte, as relações entre teatro e como é avaliado. Apresentando os referenciais teóricos usados na elaboração da proposta pedagógica para o ensino de Jogos Teatrais na educação escolar. Concordo que é muito difícil avaliar, mas extremamente necessário para alcançar um desenvolvimento desejável, a avaliação tem que fazer parte do processo, ser como uma consequência, não como uma obrigação, em arte torna-se mais difícil, pela maneira como é vista por todos, mas a arte é fundamental no desenvolvimento da criança e do adolescente. Em seguida, será esclarecida a noção de Jogos Teatrais, e, por fim apresentar as possíveis maneiras de avaliar Jogos Teatrais, como utilizamos a Avaliação Formativa com tanta facilidade nesta área e as contribuições da articulação entre o paradigma histórico cultural do desenvolvimento e a implementação pedagógica do ensino de jogos teatrais. Por conta disso é preciso pontuar também a origem dos Jogos Teatrais, como foram trabalhados por Viola Spolin e Ingrid Dormien Koudela. A dificuldade em avaliar Na área de ensino de Arte a avaliação implica na necessidade de conhecimento de como os conteúdos são assimilados pelos estudantes a cada momento da escolaridade, bem como o reconhecimento dos limites e da flexibilidade necessária para dar oportunidade à coexistência de distintos níveis de aprendizagem, num mesmo grupo de alunos. Sendo assim, a arte não pode ser caracterizada pelo corpo discente somente como lazer, recreação ou luxo. O ensino da Arte e mais 36 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. especificamente o de jogos teatrais está totalmente ligada ao desenvolvimento cultural da criança e do adolescente, sendo importante o desenvolvimento integral do aluno e não o resultado alcançado. Jussara Hoffmann, mostra em seu texto Avaliação Mediadora: Uma Relação Dialógica na Construção do Conhecimento. Perspectiva da ação avaliativa como uma das mediações pela qual se encorajaria a reorganização do saber. Ação, movimento, provocação, na tentativa de reciprocidade intelectual entre elementos da ação educativa. Professor e aluno buscando coordenar seus pontos de vista, trocando ideias, reorganizando-as. (HOFFMAN, 28ª edição) O paradigma proposto por Hoffmann pretende opor-se ao modelo do “transmitir-verificar-registrar”, que no ensino de jogos teatrais não pode acontecer, pois o aluno tem que ser o construtor de seu conhecimento. Nesse caso, o resultado final não pode ser mais importante que o desenvolvimento do trabalho. Desde o século passado, vem se desenvolvendo de modo sistematizado estudos sobre a avaliação da aprendizagem, voltados particularmente para a mensuração de mudanças de comportamento humano (SOUZA, 1991). Tal consideração pressupõe que os professores devam partir da seguinte premissa: “A avaliação não deve ser importante somente para mensurar uma nota, fazer uma classificação, mas sim se houve uma evolução, uma mudança de comportamento no individuo, se este conseguiu aprender de uma maneira efetiva”. Outro autor que fala sobre a conceituação da avaliação é Dias Sobrinho. Segundo ele a avaliação parte de um julgamento e leva a uma tomada de decisão, mas deve também conduzir a transformações, ou pelo menos oferecer elementos de reflexão para as ações de transformação e melhoria, sobretudo na educação. A avaliação é um elemento fundamental no processo de ensino aprendizagem, na formação humana, e o individuo que passa por essa avaliação tem que ter consciência desse processo. (DIAS SOBRINHO, 2003) Enquanto os autores já citados se preocupam em transmitir uma ideia clara do que seria o processo de avaliação, Bernard Charlot (2006) considera a educação como um processo de construção do ser humano. Esse processo por sua vez, não precisa e não pode acontecer somente dentro da escola, e a avaliação por sua vez, pode contribuir não somente para o ensino, mas principalmente para a formação integral do aluno. Na perspectiva de Charlot é através do aprender que o individuo se constrói, se relaciona com o mundo e com ele próprio. Modalidades de Avaliação Etimologicamente falando, o termo avaliar, vem do latim valere, que significa atribuir valores e mérito ao objeto em estudo. Em um sentido amplo avaliar faz parte do nosso dia a dia, da nossa vida cotidiana. A avaliação formal é muito antiga, remonta a 2000 a.C., mas evoluiu muito em sua função. O ato de avaliar é amplo e não se restringe a um único objetivo, vai além da medida, posicionando-se favorável ou desfavorável à ação avaliada, proporcionando uma tomada de decisão. Sob a ótica de Ilza Martins Sant‟Anna avaliação é: Um processo pelo qual se procura identificar, aferir, investigar e analisar as modificações do comportamento e rendimento do aluno, do educador, do sistema, confirmando se a construção do conhecimento se processou, seja este teórico (mental) ou prático. (SANT‟ANNA, 1998, p.29, 30). Observando esse pressuposto, avaliação não consiste em só reconhecer o mérito do aluno, mas pensar o contexto escolar na sua totalidade, permitindo fazer um diagnóstico para sanar as dificuldades do processo no sentido teórico e prático. A avaliação da aprendizagem é um componente indispensável do processo educativo, é fundamental que haja um acompanhamento do desenvolvimento do educando no processo de construção do seu conhecimento. Regina Célia Haydt (2004) considera que a avaliação da aprendizagem apresenta três funções básicas: Diagnosticar (investigar), Controlar (acompanhar) e Classificar (valorar). Juntas a essas três funções, existem três modalidades de Avaliação: Diagnóstica, Formativa e Somativa. Avaliação Diagnóstica – tem a função de diagnosticar a situação, definir encaminhamentos adequados para a aprendizagem, tem a função de autocompreensão do sistema de ensino, do professor e do aluno. Não é só mais um instrumento de aprovação ou reprovação. A Avaliação Diagnóstica veio para ajudar o professor a conhecer seus alunos, deve ser realizada no inicio do processo para poder identificar os pontos fracos e fortes dos alunos, suas dificuldades, o que precisa ser sanado. Para poder escolher o tipo de trabalho mais adequado. A Avaliação Diagnóstica é aquela realizada no início de um curso, período letivo ou unidade de ensino, com a intenção de constatar se os alunos apresentam ou não o domínio dos pré-requisitos necessários, isto é, se possuem os conhecimentos e habilidades imprescindíveis para as novas aprendizagens. É também utilizada para caracterizar eventuais problemas de aprendizagem e identificar suas possíveis causas, numa tentativa de saná-los. (HAYDT, 2004, p.16-17). Como disse Haydn (2004, p.20), um dos propósitos da avaliação com função diagnóstica é “informar o professor sobre o nível de conhecimento e habilidades de seus alunos, antes de iniciar o processo ensino-aprendizagem, para determinar o quanto progrediram depois de certo tempo”. A Avaliação Diagnóstica auxilia o professor a analisar os conhecimentos já alcançados pelos alunos, suas experiências pessoais, seus raciocínios e estratégias, suas atitudes adquiridas em relação à aprendizagem, para poder adequar seu conteúdo as 37 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. necessidades e dificuldades dos alunos. E para que os próprios alunos saibam qual deve ser o ponto de partida. É na Avaliação Diagnóstica, que o professor constata se os alunos estão preparados ou não para adquirir novos conhecimentos e identifica as dificuldades de aprendizagens. Esta avaliação não tem a função de mensurar uma nota. Avaliação Formativa- Acontece durante o processo de ensino, com a função de pensar e repensar o ensino, pensar em outra proposta para o aluno aprender, tentar solucionar os problemas apresentados durante o processo. Este tipo de avaliação fornece dados para aperfeiçoar o processo ensino aprendizagem, verifica se os objetivos foram atingidos. Os alunos são parte integrante desse processo, trabalham a autoavaliação, e junto com o professor melhoram o processo de ensino aprendizagem. Nesta avaliação não é atribuída nota. A avaliação formativa, com função de controle, é realizada durante todo o decorrer do período letivo, com o intuito de verificar se os alunos estão atingindo os objetivos previstos, isto é, quais os resultados alcançados durante o desenvolvimento das atividades. [...] É principalmente através da avaliação formativa que o aluno conhece seus erros e acertos e encontra estimulo para um estudo sistemático. (HAYDT, 2004, p. 17-18) A avaliação formativa tem a finalidade de fornecer informações sobre o desenvolvimento de um processo de ensino e aprendizagem, assim ajudando o professor a ajustá-lo as características dos alunos a que se dirige. As principais funções da avaliação formativa são: tranquilizar, apoiar, reforçar, orientar, corrigir, entre outras. É uma avaliação incorporada no ato do ensino e integrada na ação de formação. É uma avaliação que contribui para melhorar a aprendizagem, pois informa ao professor sobre o desenvolver da aprendizagem e ao aluno sobre os seus sucessos e fracassos, o seu próprio caminhar. Assim, proporciona segurança e confiança do aluno nele próprio; feedback ao dar rapidamente informações úteis sobre etapas vencidas e dificuldades encontradas; dialogo entre professor e aluno, bem fundamentado em dados precisos e consistentes. Além disso, a avaliação formativa assume uma função reguladora, quando permite tanto a alunos como os professores ajustarem estratégias e dispositivos. Ela pode reforçar positivamente qualquer competência que de acordo com alguns objetivos previamente estabelecidos e permitir ao próprio aluno analisar situações, reconhecer e corrigir seus eventuais erros nas tarefas. (RABELO, 1998, p. 73-74, grifos do autor). A avaliação deve ser constante, fazer parte do processo educativo, deve motivar o aluno a superar suas dificuldades e jamais deve ser encarada como instrumento de tortura e punição. Avaliar é perceber se o objetivo foi atingido em relação ao que foi proposto. A avaliação tem que ser instrumento que vai fornecer informações sobre o aluno, como ele está se aprendeu ou não. Com esses elementos em mãos, o professor observa se precisa retomar o conteúdo, trabalhar de forma diferente se todos os alunos já aprenderam. Avaliação Somativa – acontece no final do processo de ensino. Serve para ver o que aluno aprendeu depois de todo conteúdo trabalhado pelo professor. São atribuídas notas que serão divulgadas posteriormente. É uma avaliação que gera ansiedade nos alunos, muitos professores por sua vez utilizam esse tipo de avaliação como forma de punição, para “ferrar” os alunos. A avaliação somativa, com função classificatória, realiza-se ao final de um curso, período letivo ou unidade de ensino, e consiste em classificar os alunos de acordo com níveis de aproveitamento previamente estabelecidos, geralmente tendo em vista sua promoção de uma série para outra, ou de um grau para outro. (HAYDT, 2004, p.18) O professor deve usar todos os recursos disponíveis para obter o máximo de informações sobre o desenvolvimento e o aproveitamento do aluno. Não convém utilizar apenas um instrumento de avaliação, confiando apenas em seu resultado, o que fica difícil obter um resultado preciso. Mas sim, é recomendável o uso de técnicas diversificadas e instrumentos variados para um melhor aproveitamento do ensino aprendizagem. Não devemos esquecer também que a avaliação não pode ter a função única de classificação, de atribuição de nota, mas sim de desenvolvimento integral do conhecimento do aluno. Jogos Teatrais A imaginação teatral, dramática deve estar no centro da criatividade humana, deve estar no centro de qualquer forma de educação. Esta imaginação teatral é parte fundamental no processo de desenvolvimento da inteligência do aluno. Jean Piaget afirma que o jogo está diretamente relacionado ao desenvolvimento do pensamento dos alunos. Segundo Piaget o jogo assimila a nova experiência e, então, prossegue pelo mero prazer do domínio; já a imitação, relaciona-se com a experiência de modo a acomodá-la dentro da estrutura cognitiva (jogo para assimilar, imitação para acomodar). Infelizmente a Arte é considerada periférica ao sistema escolar e é atribuída a característica de “recreação”. Se considerarmos que o símbolo elaborado pelo individuo através da imitação, do jogo, do desenho, possui significado lógico, sensorial e emocional, concluímos que a Arte constitui a base do processo educacional. A Arte é um meio para a liberdade, o processo de liberação da mente humana que é o objetivo real e último de toda educação deve cumprir uma tarefa que 38 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. lhe é própria, uma tarefa que não pode ser substituída por qualquer outra função. (CASSIRER, Ernst, 2001). O Jogo Teatral vê o aluno como um organismo em desenvolvimento, desde que esteja em um ambiente aberto à experiência, o objetivo é a livre expressão da imaginação criativa, diferente da visão tradicional, que possuía a função de preparar o espetáculo, não se preocupando com a formação do indivíduo como um todo. Através dos Jogos Teatrais os alunos adquirem uma experiência criativa e independente, uma prática de cooperação social, desenvolve a sensibilidade e uma liberação emocional. Viola Spolin sugere que o processo de atuação no teatro deve ser baseado na participação em jogos, pelo envolvimento criado pela relação de jogo, o aluno desenvolve liberdade pessoal e cria técnicas e habilidades pessoais necessárias para o jogo. Os jogos são sociais, baseados em problemas a serem solucionados, as regras do jogo incluem estrutura (Onde, Quem, O Que). É com esse processo que o aluno aprende a trabalhar em grupo e desenvolve sua criatividade. Spolin desenvolveu um sistema de atuação que propõe que o aluno é plenamente capaz de utilizar a linguagem artística do teatro e expressar-se através dela. O processo de Jogos Teatrais visa efetivar a passagem do jogo dramático para a realidade objetiva do palco. Podemos identificar nos Jogos Teatrais a possibilidade de trabalhar com o significado do gesto, o processo se fundamenta no jogo e na ação improvisada. O Foco é um ponto importantíssimo nos Jogos Teatrais, define o objetivo comum e elimina modelos de comparação, critérios de qualidade, julgamento de valor e respostas subjetivas. Através do Foco, a avaliação gira em torno da solução de um problema de atuação e não do desempenho de uma cena. A partir do Foco aparecem as técnicas de ensino, direção, representação e improvisação de cena. Na medida em que cada detalhe é desdobrado, torna-se um passo em direção a um novo todo integrado tanto para a estrutura total do individuo como para a estrutura do teatro. Trabalhando intensamente com partes, o grupo também estará trabalhando com o todo, o qual naturalmente é formado por partes. (SPOLIN, 2006, pg. 28). O orientador do Jogo é quem determina a complexidade das propostas, ele atua como um diagnosticador, que observa e propõe situações problemas para que o aluno possa solucioná-los. Como o problema vai ser solucionado depende da atuação do jogador (aluno). A tensão desempenha no jogo um papel fundamental, ela significa incerteza, acaso; a solução do problema implica no esforço dos jogadores para chegar à improvisação espontânea de ações. A concentração de atenção gera energia e estabelece a relação direta com os acontecimentos. Uma das funções mais importantes do jogo de regra é a confiança, quando o jogador (aluno) percebe que não existe a imposição de modelos ou critérios de julgamento, ele deixa de lado o medo de se expor e participa da ação, quando a avaliação faz parte do processo, sem uma imposição de nota de classificação o aluno sente-se mais a vontade e percebe que todo o seu crescimento vai ser levado em conta e que ele vai crescer com isso. No Jogo Teatral a Avaliação Formativa é a mais trabalhada e que tem um melhor desempenho, pois o aluno faz parte do processo e se sente como parte do processo, isso facilita o seu desenvolvimento e sua aprendizagem. A preocupação maior em todo o processo é libertar a interpretação de toda a carga de super - atuação, que impede a ação espontânea. A ação espontânea não equivale simplesmente à ação livre, para Spolin, a espontaneidade é “um momento de liberdade pessoal quando estamos frente a frente com a realidade pessoal quando estamos frente a frente com a realidade e a vemos, a exploramos e agimos em conformidade com ela”. A liberdade de ação e o contato com o ambiente podem ser considerados espontaneidade. Cada jogo propõe um novo problema a ser solucionado, que será solucionado pelo grupo, de diferentes maneiras até encontrarem uma que melhor se encaixe na proposta. Nos jogos teatrais a Avaliação é evidenciada pelo processo, que é a solução do problema e não simplesmente pela apresentação de um teatro no fim do curso, pelo contrario, se o teatro acontecer ótimo, se não também ótimo, o mais importante é o processo pelo qual o grupo passou e quanto evoluíram. A socialização entre os participantes é um dos pontos mais marcantes no processo, aos poucos percebemos que os alunos passam por outras modificações também, como a diminuição da agitação, da agressividade, cedendo lugar ao respeito pelo trabalho realizado pelos colegas do grupo. Os alunos passam a ter consciência do potencial que possuem, sentem-se capazes. Conclusão Após ler vários textos e livros sobre a Avaliação, percebemos que nos jogos teatrais encontramos com maior facilidade e maior eficácia a avaliação formativa, ou seja, o importante é o processo pelo qual o aluno passa o que ele consegue desenvolver sem se preocupar com a apresentação teatral do final do curso. O processo com os jogos teatrais provoca nos alunos a consciência movimento presente e a percepção da realidade como algo em constante transformação. O resultado mais evidente nos jogos teatrais é a transformação do grupo, a consciência do significado do trabalho desenvolvido vai sendo construído aos poucos, os alunos conseguem demonstrar como se deu a aprendizagem durante o processo. Os alunos conseguem fazer a transposição da aprendizagem adquirida para a realidade de cada um, eles possuem consciência do que e como estão aprendendo. Por isso podemos dizer que os jogos teatrais além de ajudar no desenvolvimento do aluno, como um ser único e criativo, ajuda também no desenvolvimento da 39 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. sua autoestima, e da maneira como o aluno passa a encarar a avaliação. A avaliação passa a ser empolgante e parte do cotidiano e não mais um castigo, o aluno consegue visualizar seu desenvolvimento, o que aprendeu, o que construiu, conseguem até escolher quem serão os personagens de uma peça final, pois sabem quem está mais preparado e que vai desempenhar um bom trabalho. Avaliar não é fácil, nem para o aluno nem para o professor, é um processo que exige um envolvimento muito grande de ambos os lados e como os alunos na maioria das vezes encara a avaliação como punição, isto dificulta, e infelizmente alguns professores também encaram a avaliação como punição. Já nos jogos teatrais isso não acontece, pois o aluno se envolve no processo, ou seja, faz parte do processo, o professor vai moldando os alunos conforme vão interagindo no jogo, os próprios alunos vão analisando a evolução pela qual passam. SOUZA, N. A. de. Mapa conceitual: limites e possibilidades como instrumento de avaliação formativa. . 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América 18540-000 Porto Feliz, SP, Brasil (15) 3261 4549 [email protected] Universidade Federal de São Carlos Rodovia João Leme dos Santos, Km 110 SP-264, Bairro do Itinga 18052-780 Sorocaba, SP, Brasil (15) 3229 6136 [email protected] RESUMO Este artigo foi elaborado com base na releitura e reflexões sobre a dissertação de Mestrado do primeiro autor, a qual contém um anexo que apresenta adaptações de jogos conhecidos pelas crianças, com o objetivo de auxiliar na aprendizagem de conceitos envolvendo figuras planas. As adaptações foram desenvolvidas pensando em dar suporte aos professores nas aulas de matemática, com alunos que estudam no 7º Ano do Ensino Fundamental, contudo nada impede que sejam desenvolvidas em outros anos de acordo com a necessidade e a realidade de trabalho do professor. Este artigo visa também fornecer ao professor outros meios de aprofundar o estudo das figuras planas e suas propriedades, sugerindo o trabalho em sala de aula por meio de adaptações de jogos infantis já conhecidos, porém com uma intenção pedagógica, visto que aborda conceitos de geometria em figuras planas. inserção no mercado de trabalho. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) (BRASIL, 1998) e preciso explorar a matemática partindo de problemas encontrados no cotidiano. Neste sentido, ou seja, buscando trabalhar os conteúdos de formas variadas, fazendo uso de diversas estratégias, um recurso possível, motivador e debaixo custo são os jogos, pois de acordo com os PCN: Palavras chave Geometria, Ensino, Figuras planas, Jogos. ABSTRACT This article was prepared on the basis of re-reading and reflections on the first author's master's thesis, where it brings an attachment that features games adaptations known by the children, in order to assist in the learning of concepts involving plane figures. Adaptations have been developed considering giving support to teachers in math classes, with students studying in the 7th year of elementary school, but nothing prevents them from being developed in other years according to the need and the teacher's work reality. This article also aims to provide the teacher other means to deepen the study of plane figures and their properties, suggesting the work in the classroom with children's games known adaptations, but with a pedagogical intention, as it addresses geometry concepts plane figures Keywords Geometry, education, flat Figures, Games. INTRODUÇÃO Cada vez mais se evidencia a preocupação tanto por parte dos governantes, como por parte da sociedade com o aprendizado dos alunos no que se refere às competências que são necessárias para o exercício da cidadania e “Os jogos constituem uma forma interessante de propor problemas, pois permitem que estes sejam apresentados de modo atrativo e favorecem a criatividade na elaboração de estratégias de resolução e busca de soluções. (BRASIL, 1998, p.46)”. Usar como estratégia de ensino o desenvolvimento de jogos em sala de aula, utilizando materiais de baixo custo acessíveis às escolas, caracterizam atividades interessantes e motivadoras do ponto de vista pedagógico. Pensando em adaptações de jogos infantis para a aprendizagem de conceitos matemáticos, o professor além de ensinar os conceitos matemáticos atrelados ao jogo, desenvolve nos alunos a formação de atitudes, a aceitação de regras e o desenvolvimento de estratégias. “Os jogos podem contribuir para um trabalho de formação de atitudes – enfrentar desafios, lançar-se à busca de soluções, desenvolvimento da crítica, da intuição, da criação de estratégias e da possibilidade de alterá-las quando o resultado não é satisfatório – necessárias para aprendizagem da Matemática. (BRASIL, 1998, p.47)”. As atividades descritas na seção seguinte são adaptações de jogos conhecidos pelas crianças e que servem de instrumentos de aprendizagem para conceitos de geometria. SUGESTÕES DE ADAPTAÇÕES DE JOGOS Com o objetivo de fornecer ao professor outros meios de aprofundar o estudo das figuras planas e suas propriedades, o presente artigo propõe adaptações de jogos infantis já conhecidos, porém abordando o ensino de conceitos de geometria no nível do Ensino Fundamental. Os jogos cujas adaptações são apresentadas neste artigo são: JOGO DA MEMÓRIA, ADIVINHA QUEM e JOGO DE DADOS. Para o desenvolvimento dessas adaptações foi observado, além da questão pedagógica, o custo, pois pretendeu-se 41 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. criar jogos de baixo custo, fazendo uso de materiais disponíveis nas escolas. Neste sentido, todos os professores podem ter acesso a este recurso e enriquecer suas aulas, fornecendo aos estudantes aulas diferenciadas, motivando-os ainda mais para os estudos, em particular ao estudo das figuras planas e suas propriedades. Jogo da memória: Figuras Planas O JOGO DA MEMÓRIA foi adaptado de duas formas. A primeira com figuras diferentes, sendo jogado por três participantes de cada vez, apresentando três figuras nas cartelas (quadrado, retângulo e triângulo). Ressaltamos que nada impede que o professor faça uma cartela com mais figuras podendo assim ter jogos com grupos maiores de estudantes participantes. Figura 1: Jogo da Memória será o terceiro a jogar. 2 - As fichas do jogo são embaralhadas e colocadas com as informações para baixo de forma que os participantes não enxerguem o que esta escrito. 3 - A ordem de preenchimento da cartela será: Primeiro preenche-se o nome da figura, depois as propriedades e por último a fórmula para calcular a área da figura. Vence o jogo quem completar primeiro a sua coluna na ordem correta (Figura, propriedades e fórmula da área). 4 - Os participantes irão, cada um na sua vez, virar duas fichas aleatoriamente e verificar se a informação é a mesma (observando a ordem de preenchimento da cartela). Se as fichas possuírem a mesma informação, elas deverão ser colocadas no devido lugar e o estudante ganha o direito de jogar novamente. Se as informações forem diferentes, o estudante deve virar as fichas novamente na mesa e passar a vez para o jogador seguinte. Caso do estudante vire as fichas com as mesmas informações, mas coloque no lugar errado (por exemplo, a propriedade não é da figura que ele está completando), o estudante terá que iniciar a sua cartela novamente, retornando à mesa as fichas que colocou corretamente. Essa verificação será feita por um árbitro do jogo, no caso, o professor. Assim, o professor deverá acompanhar os estudantes e verificar se as cartelas estão sendo preenchidas corretamente. O jogo em questão aborda três figuras, o quadrado, o retângulo e o triângulo. Estas figuras foram àquelas exploradas na pesquisa de mestrado do primeiro autor. Caso o professor ache pertinente, ele poderá montar cartelas com mais figuras planas, aumentando o número de participantes e interação entre os estudantes. Jogo da memória: Triângulos Da mesma forma que o exposto para figuras planas diferentes, o jogo da memória também pode ser adaptado e explorado para a aprendizagem das propriedades que classificam os triângulos. Segue abaixo as instruções para esta situação. A segunda forma de adaptação do JOGO DA MEMÓRIA teve por objetivo o estudo da classificação dos triângulos (equilátero, isósceles e escaleno) onde aborda-se apenas as propriedades que classificam os triângulos. Figura 2: Jogo da Memória Regras do jogo da memória: Para jogar este jogo são necessários três estudantes. As regras são: 1 - Os estudantes irão fazer a brincadeira do 2 ou 1, onde o estudante que tirar o número diferente dos demais será o primeiro a jogar. Os dois estudantes restantes irão tirar par ou impar. O ganhador será o segundo e o outro estudante 42 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. Figura 3: Jogo da Memória As regras do jogo serão as mesmas já descritas no JOGO DA MEMÓRIA visto anteriormente. de um cubo, onde cada face tem a imagem de uma figura plana diferente. Ver figuras 5. Jogo Advinha que Figura Sou O jogo “ADIVINHA QUE FIGURA SOU” consiste na confecção de cartas (como as de baralho) onde cada carta contém o nome de uma figura plana e suas propriedades. Este jogo é uma adaptação do jogo “ADIVINHA QUEM?”. Ver figura 4. Figura 5: Dado Geométrico Figura 4: Jogo da Memória Regras do jogo “advinha que figura sou”: Neste jogo, que é uma adaptação do jogo infantil “Adivinha quem”, o professor irá elaborar fichas (tipo cartas de baralho) onde cada uma deverá trazer o nome de uma figura plana (quadrado, retângulo, triângulo, losango, paralelogramo, trapézio) e suas propriedades. Como sugestão, este jogo deverá ter quatro participantes sendo um deles terá o papel de narrador enquanto os demais irão tentar adivinhar a figura. O jogo se dá da seguinte forma: Depois de eleito o narrador, este embaralha as cartas e as deixa viradas para baixo na mesa. Retira-se uma de cada vez sem que os outros participantes as vejam. O narrador começa então a dizer as propriedades da figura enquanto os outros estudantes vão ouvindo até identificarem a figura que está sendo narrada. Quando identificada a figura, o estudante ergue a mão e pede a palavra para dizer qual a figura que está sendo narrada. Se o estudante acertar, este ganha um ponto. Caso erre perderá um ponto (no caso de ainda não tenha ganhado nenhum ponto e erre, o estudante acumulará pontos negativos lembrando que no 7º Ano os estudantes já tem conhecimentos acerca do conjunto dos números inteiros. Quando acabarem as fichas, ganha aquele que tiver feito mais pontos. Caso ocorra empate, o narrador escolhe três cartas aleatoriamente e repete o jogo com os alunos que empataram para que ocorra o desempate. Jogo do Dado Geométrico O jogo “DADO GEOMÉTRICO” consiste na confecção Regras do jogo do “Dado Geométrico”: Para este jogo é necessário um cubo que pode ser feito pelos estudantes sob a orientação do professor. As faces do cubo devem conter imagens de figuras planas (quadrado, retângulo, triângulo, losango, paralelogramo, trapézio). Sugerimos grupos de 4 estudantes sendo que um deles fará as anotações e os outros 3 irão dizer as propriedades das figuras. Os participantes deverão proceder da seguinte forma: 1 - Para verificar quem dos 3 participantes que será o primeiro a jogar, os estudantes irão fazer a brincadeira do 2 ou 1, onde o estudante que tirar o número diferente dos demais será o primeiro a jogar. Os dois estudantes restantes irão tirar par ou impar. O ganhador será o segundo e o outro estudante será o terceiro a jogar. 2 - Eles em seguida irão cada um na sua vez jogar o dado. A cada figura que ficar com a face para cima, o estudante que jogou deverá primeiro dizer o nome da figura e depois uma propriedade desta figura. O estudante responsável pelo preenchimento da cartela irá colocar a ficha da propriedade dita na respectiva figura. A cada propriedade dita corretamente o estudante ganha um ponto e a cada propriedade dita que não pertence aquela figura o estudante perderá um ponto. As propriedades ditas não poderão ser repetidas. 3 - Cada estudante terá direito a seis jogadas com o dado e ao final das seis rodadas ganha o estudante que fizer mais pontos. Caso haja empate, os estudantes que empataram irão jogar mais três rodadas para o desempate. Considerações finais As adaptações de jogos trazidas neste artigo têm como objetivo principal servir de instrumentos de aprendizagem de conceitos geométricos. Outro aspecto a ser destacado neste artigo é a possibilidade de fornecer ao professor outros meios de aprofundar o estudo das figuras planas, suas propriedades e o cálculo de suas áreas. 43 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. É importante deixar claro que o professor deve analisar o Projeto Político Pedagógico da escola para organizar e estruturar a junção dos conteúdos escolares a sua metodologia de ensino. O professor deve buscar atrelar os conteúdos a serem ensinados com o cotidiano dos alunos, buscando trazer para o ambiente escolar, através dos jogos, situações reais vivenciadas pelos estudantes em seu cotidiano onde eles possam enxergar a matemática de uma forma divertida e que ao mesmo tempo eles percebam sua real importância. Espera-se que este artigo possa vir a ser fonte de pesquisa e leitura para estudantes de graduação em Matemática e professores que atuem na rede pública ou particular de ensino. Destacamos também que este trabalho abre espaços para que outros professores pesquisadores desenvolvam pesquisas em outros níveis da educação, testando adaptações de outros jogos aplicados a diferentes conteúdos. Além de formar o conceito do cálculo de áreas de figuras planas, busca-se também com o desenvolvimento das adaptações dos jogos promover a interação entre professor-aluno e aluno-aluno, pois Vygotsky (1987) defendeu a ideia de que a aprendizagem impulsiona o desenvolvimento intelectual, e neste processo a presença de fatores externos sociais é fundamental. Dentro do contexto escolar as interações sociais ocorridas entre professor-alunos e alunos-alunos propiciam a aprendizagem, ou seja, a internalização do seu próprio saber a partir do que está socialmente exposto e culturalmente à disposição. Sugerimos ainda aos professores que forem desenvolver os jogos abordados neste artigo, que elaborem os cartazes, cartas e cubos em sala de aula com a participação dos estudantes, pois assim, além de fixarem as propriedades das figuras planas na confecção dos itens, eles se sentirão motivados ainda mais a jogar e a conservar os materiais, uma vez que irão jogar com instrumentos construídos por eles próprios. Martins Fontes, 1987. REFERÊNCIAS ABREU, S. L.A. O uso do software régua e compasso na aprendizagem do conceito de cálculo de áreas de figuras planas no ensino fundamental. 2014. 156 f. Dissertação (Mestrado), São Carlos: UFSCar, 2014. BARBOSA, João Lucas Marques. Geometria euclidiana plana. 10ª ed. Rio de Janeiro: SBM, 2006. BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. Brasília: MEC/SEF, 1998. 148 p. DANTE, L. R. Tudo é matemática: Ensino fundamental. São Paulo: Ática, 2005. LORENZATO, S. 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ABSTRACT This article discusses about the importance of higher education professional as a transforming agent in society and its process in search of better teaching methods and research in academic careers. The changes in the demand growth process by teachers and their new challenges in the didactic and pedagogical issue. Keywords: Higher education, academic career, teachers, challenges. INTRODUÇÃO O perfil do docente universitário apresenta faces diferentes na questão da didática de ensino quanto à metodologia utilizada como agente mediador do conhecimento. “[...] os professores das diferentes áreas da educação superior, com exceção da área da pedagogia, passam a integrar o corpo docente dessas instituições e outras exigências formais, sem ter recebido nenhuma preparação especial para o trabalho docente, a não ser aquela relativa à sua especificidade.”.(Lüdke e Sales, 1997; 170) Esta não é uma forma generalizada de como são formados os docentes que atuam no ensino superior,embora infelizmente seja a grande maioria. “[...] Há também para uma pequena parte desses professores, a possibilidade de receber alguma formação para o magistério em curso de mestrado e doutorado e, em casos ainda mais raros, em curso de especialização ou de atualização dedicadas a essa formação”. (Lüdke e Sales, 1997; 170). ALTA DEMANDA Com o crescimento das instituições de ensino superior em todo o país nas últimas décadas, houve uma necessidade quase que imediata de contratação de docentes que pudessem suprir essa demanda de conhecimento e lecionar nas instituições de forma a promover o conhecimento baseado muitas vezes em sua própria experiência pessoal embasada no tempo de trabalho do que em sua formação profissional, porém esses professores não tinham acesso a um embasamento didático. Este modelo ainda é muito encontrado nas instituições de ensino. “A docência na universidade, (...) não deve se limitar à atividade docente do professor na sua classe, pelo contrário, deveria incluir outros contextos que influenciam a decisão de como, quando e por quem vai ser transportado o ensino e com que objetivos ou finalidades. Supõe assim, um conjunto de atividades pré, inter e pró-ativas que os professores têm de realizar para assegurar a aprendizagem dos alunos. Conceber a atividade docente a partir dessa perspectiva tem importantes repercussões tanto para a formação do professor como para a sua avaliação, na medida em que os conhecimentos e competências que os professores devem dominar e demonstrar não se referem apenas à interação direta com os alunos.” (Pachane, 2007;243) Em contrapartida, existe um grande número de docentes mestres e doutores que atuam nas instituições de ensino com a visão de desenvolver o ensino e a pesquisa para com seus alunos. O que acontece na maioria das instituições onde os professores mestres e doutores atuam, é um distanciamento do modelo pedagógico na qual a maioria dos alunos espera, ou seja, eles esperam que os docentes pratiquem o ensino-aprendizagem de modo convencional, o que de fato não acontece. Isto ocorre por parte dos docentes, quanto estes utilizam métodos de pesquisa, onde esperam que os alunos desenvolvam sozinhos o processo ensino-aprendizagem, o que na maioria das vezes não acontece. FATORES PRIMORDIAIS NO PROCESSO EDUCACIONAL “Não basta o saber teórico para ser um professor comprometido com a formação integral, é preciso bem mais que mera teoria, a criatividade passa a ser papel supremo do processo ensino-aprendizagem, pois é evidente que a globalização vem passo a passo tomando conta de todas as questões econômicas, políticas, sociais e até cultural.” (Kochhann, 2007;146) 45 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. É necessário que este professor seja sensível o suficiente em sua didática pedagógica para reconhecer se a sua metodologia está caminhando ao encontro dos alunos ou o contrário. “A docência envolve todas as atividades desenvolvidas pelos professores visando à formação de seus alunos e deles próprios. Estas atividades estão relacionadas a conhecimentos, saberes e fazeres em relações interpessoais de cunho afetivo, valorativo e ético, revelando que estas não se esgotam na dimensão técnica, mas remetem ao que há de muito pessoal em cada professor.” (Isaia,2006) O docente precisa explorar seu lado pedagógico, buscar informações, aprender a lidar com as diferenças existentes na sociedade que desenvolvem muitas formas de driblar preconceitos, costumes, crenças, de uma forma sadia onde o que se prioriza é a aprendizagem. Segundo (Freire, 1979) “é papel do educador assumir seu compromisso em colaborar com um processo de transformação da sociedade.” O professor é um agente transformador da sociedade através do conhecimento. Mais do que formar profissionais, eles formam pessoas, seres sociais que atuam intensamente na sociedade na maneira de agir e pensar. Afirma “[...] que a formação do docente do ensino superior vai além do desenvolvimento do ensino e do desenvolvimento pessoal e está relacionado com o desenvolvimento da organização e com as questões gerais com as quais se defrontam as instituições educativas.” (Pachane, 2006) A busca por um perfil de docente flexível, adaptado às constantes mudanças sociais, econômicas, tecnológicas, políticas, tem sido construída e alimentada pela formação destes professores em nível de mestrado e doutorado além de outras especificidades. “Visto que o professor competente está além do seu tempo e espaço, sempre questiona e pesquisa, apresenta forte capacidade de reflexão, é analítico por excelência e ama toda a inovação sendo muito prático, trabalhando o conhecimento com base no autoconhecimento, expondo suas ideias por meio de sentimento, a inovação é a ousadia maior. Esse deve ser o perfil do docente a ser construído.” (Kochhann, 2007; 20) É um objetivo a ser conquistado, embora seja certo que ainda demandará tempo para que esse novo perfil do profissional de ensino superior seja alcançado em sua maioria. só dá aula, a vida toda, quase sempre a mesma aula, e não estuda mais. (...) O perfil buscado do professor é aquele que, além de sua formação original adequada,mantém-se em formação permanente como condição fatal de sua profissão. Deve ser a imagem viva de quem sabe aprender, estudar, pesquisar, elaborar, para poder construir tais efeitos nos alunos.” (Demo,2006;126) Este é o perfil do docente preparado para as constantes transformações sejam elas no campo social, político, tecnológico e humano. “Uma epistemologia construtivista requer que o professor haja de forma relacional, descartando a visão de tabula rasa, mas percebendo o aluno como ser em constante processo de aprendizagem. Isto significa não apenas nas escolar de modo geral, mas também no ensino superior, no qual se encontra a formação de professores, formação esta que ainda está calcada na fragmentação do conhecimento, voltada a uma visão empírica do processo de aprendizagem.” (Pietrobon, 2006;84) “Possibilitar que todos os seres humanos tenham condições de ser participes e desfrutadores dos avanços da civilização historicamente construída e compromissados com a solução dos problemas que essa mesma civilização gerou.” (Pimenta; Anastasiou, 2002; 162) “A articulação ensino-pesquisa é necessária para que se alcance um ensino de alta qualidade,pois há um mundo a construir juntamente com a construção do conhecimento. Momento em que professores e alunos trabalham juntos, procurando solucionar problemas extraídos da realidadehomem-natureza-sociedade.” (Kochhann, 2006; 24) “Queremos uma universidade em contínuo fazer-se através do estudo e pesquisa, ocasionando o desenvolvimento do potencial de reflexão crítica dos alunos, sendo o professor o motivador do saber [...]”(Kochhann, 2006; 23) “Há ainda, muitas questões para sistematizar, grandes desafios para enfrentar, mas nossas lutas e utopias permanecem com a necessidade de saber fazer bem.” (Rios, 2001) “A avaliação da capacitação docente não pode basear-se portanto, exclusivamente na titulação docente, pois esta não pode ser um indicador discriminatório de competência.” (Vasconcelos, 2005) “Em jogo está à mudança do perfil do professor. É preciso superar aquele professor que, uma vez formado, 46 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. PERSONALIZAÇÃO DO ENSINO Existe uma necessidade latente de reestruturar a formação inicial do docente universitário brasileiro, focando o aprendizado nas competências dos alunos e não apenas ofertar o conteúdo. É importante estabelecer espaços de pesquisa e desenvolvimento sobre o ensino, locais que mapeiem deficiências, identifiquem obsolescências e que tragam referências, que convidem quem compõe a instituição para juntos desenvolver soluções. A educação no Brasil, assim como no mundo todo passa por uma crise. O modelo atual das instituições de ensino superior foi desenhado em sua essência para atender demandas da Revolução Industrial. É um modelo funcionalista, de educação massificada e não atende mais às demandas da sociedade contemporânea nem os interesses do aluno do século 21. Precisam ser abertos canais para mudança de paradigma, colocando a organização da educação em questão. Usar a inovação para solucionar problemas cotidianos. Criar ambientes colaborativos no espaço educativo. As pessoas aprendem com seus pares, o professor ser um mediador e não apenas um entregador de conteúdo. A tecnologia precisa estar no processo educacional de forma mais transparente, tem que ser inserida não apenas em momentos especiais, mas sim, usada organicamente pelos alunos da instituição como uma ferramenta facilitadora do aprendizado. Pela própria mudança cultural das pessoas em suas diferentes gerações e o desapego por métodos antigos de ensino, aqui entra um papel fundamental das instituições de ensino superior, que reside na formação dos professores. Elas podem fazer o de sempre, mesmo sabendo que não dará resultado; ou podem formá-lo para buscar novas alternativas de ensino, construir novas possibilidades educacionais. Não é apenas entregar conteúdo como dito anteriormente neste artigo. O mundo de hoje, além do conhecimento, demanda atitudes, comportamentos, entre outras competências que precisam ser conquistadas. O aluno precisa ser desenvolvido de forma ampla, trabalhando a interdisciplinaridade e a transversalidade, com profissionais de diversas áreas trazidos ao universo da educação, criando-se assim equipes multidisciplinares conquistando efetividade nos resultados. Não é inovar por inovar, e sim descobrir de fato qual o papel do professor universitário na atualidade. Ele é um facilitador, um mentor, um curador ou um mediador? Assim também como o aluno que deve ser mais autônomo, mais agente do seu processo educativo. Com o passar do tempo novos papéis vão surgindo. Deve-se pensar em aspectos como uma nova subjetividade que diz respeito à forma como as novas gerações pensam, agem e se posicionam numa outra maneira de estar no mundo e se organizar. As novas tecnologias são parte intrínsecas da sociedade e têm papel facilitador, e não podemos descartar a sustentabilidade tão em foco na atualidade que fala em questões sociais, ambientais e econômicas que, se não resolvidas, comprometem nossa existência. Estas questões não são tendências, são a nossa realidade atual. CONCLUSÃO É necessário um grande envolvimento na busca por melhorias e respostas. Há uma maior responsabilidade pelo que demanda atitude e comportamento, ou seja, um ser humano mais forte. Estamos falando de educar pessoas para um diferencial, para uma vida com significado para elas próprias e para o coletivo. Os melhores espaços de formação para o docente agir nos atuais ambientes educacionais são os espaços de criação. Há um papel da política pública fundamental para criar ambientes favoráveis à inovação. Precisamos de boas ideias, bons argumentos e força de representação. Se há gente hoje com flexibilidade, recurso, interesse para melhorar essa relação, esse alguém são as instituições privadas. Esse processo é de responsabilidade fundamental para a sobrevivência do negócio de todas elas. Caso não consigam mudar este cenário e modificar este ciclo, o negócio delas estará ameaçado. Diante desta situação, é urgente a necessidade de maiores investimentos e da criação de mecanismos que impeçam o ensino público de se manter passivo diante da situação atual. O PNE (Plano Nacional de Educação) preocupa-se em inserir mais 10 milhões de estudantes no Ensino Superior, no entanto, maior do que a preocupação com a quantidade deve ser a questão da qualidade. Expandir o número de estudantes universitários requer melhorias e reformas na formação de base, qualificando os atuais e futuros docentes para a garantia de seu exercício com qualidade, resultando na formação de formandos habilitados. REFERÊNCIAS FREIRE, P. Educação e mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. ISAIA, S. M. Desafios à docência superior: pressupostos a considerar. In: RISTOF, Dom; SAVEGNANI, P. Docência na educação superior. Brasília: Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio, 2006. 47 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. PACHANE, G. Teoria e prática na formação de professores universitários; elementos para discussão. In: RISTOFF, D.; SAVEGNANI, P. Docência na educação superior. Brasília: Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais, 2006. PIMENTA, S.G; ANASTASIOU, L. das G.C. Docência no ensino superior. São Paulo; Cortez, 2002. VASCONCELOS, M. M. M. Desafios da formação do docente universitário. 2005. Tese (Doutorado) Faculdade de Educação, Faculdade Estadual de Campinas, Campinas. DEMO, Pedro. Professor do futuro e reconstrução do conhecimento. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006. KOCHHANN, Andréia. Assim caminha a Universidade. In: Corpo Magazine. Revista da Pós-Graduação. 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EFEITO DA PRÁTICA DO YOGA NAS CAPACIDADES FÍSICAS: FORÇA, FLEXIBILIDADE E NAS CARACTERÍSTICAS ANTROPOMÉTRICAS Suelen Azulini Faculdade Porto Feliz Avenida Monsenhor Seckler, 1250, Vila América 18540-000 - Porto Feliz – SP, Brasil (15) 3261-4549 [email protected] [email protected] RESUMO Este artigo tem como objetivo investigar os benefícios das posturas do yoga nas capacidades físicas: Força, flexibilidade, composição corporal. MÉTODOS: Este estudo de caso tem característica longitudinal com duração de um mês. O indivíduo realizará as posturas do Yoga. Antes da iniciação deste treinamento foi realizada: anamnese, contendo dados pessoais, histórico familiar de patologias; avaliação física e antropometria: (circunferências, estatura e porcentagem de gordura corporal); força: (dinamometria por preensão manual, cintura escapular e dorsal); Flexibilidade: (banco de Wells). O estudo foi realizado sobre consentimento do individuo. RESULTADOS: Dinamometria dorsal 29% de aumento de força; Dinamometria escapular 26% de aumento de força; Dinamometria de preensão manual 14% de aumento de força; Flexibilidade aumentou em 12,5%. Na avaliação antropométrica houve ganho de massa muscular magra de 44,79 kg (avaliação inicial) para 46,20 kg (avaliação final) CONCLUSÃO: Foi constatado uma melhora em todas as capacidades físicas avaliadas, sugerindo que a prática regular do yoga contribui nas capacidades físicas relacionadas à saúde e interfere na composição corporal de forma favorável. Mais estudos são necessários para corroborar com esses resultados encontrados. Palavras-chave: Yoga; Capacidades Flexibilidade, Força Muscular, Benefícios. Físicas, ABSTRACT This article aims to investigate the benefits of the postures of yoga in physical abilities: strength, flexibility, body composition. METHODS: This case study is characteristic longitudinal with duration of 1 month. The individual held the postures of yoga. Before the initiation of this training was conducted: anamnesis, containing personal data, family history of diseases evaluation physical and anthropometry (circles, stature and percentage of body fat); Strength (dynamometry by the manual removal wais scapular and dorsal); Flexibility (bank Wells). The study was conducted on consent of the individual. RESULTS: Dynamometry dorsal 29% increase of strength; Dynamometry scapular 26% increase of strength; Dynamometry of the manual removal 14% increase of strength; Flexibilities increased by 12,5%. In assessing anthropometry was no gain in lean muscle mass of 44,79kg (initial assessment) to 46,20kg (final evaluation). CONCLUSION: It was found that I improved in all physical abilities related to health and interfere with the body composition so favorable. More studies are needed to corroborate with the results found. Keywords: Yoga, Physical Capabilities, Flexibility, Muscular Strength, Benefits. INTRODUÇÃO Atualmente, ouve-se falar muito sobre o Yoga, mas será que realmente sabemos o que ele é? De onde veio? Quais são os seus benefícios? Com base em várias referências bibliográficas, pode ser dizer que o Yoga é uma antiga filosofia de vida que se originou na Índia há mais de cinco mil anos a.C. A princípio, era ligada à religião do Hinduísmo, em que seus praticantes visavam o lado espiritual, o desenvolvimento da mente e o poder de meditação. Vale muito ressaltar que o Yoga não é uma religião, ele apenas valoriza a vida religiosa qualquer que seja seu credo. O Yoga atua em todos os níveis do nosso ser: físico através dos asanas que trabalham o fortalecimento corporal, flexibilidade, agilidade. Mental e emocional adquiridos pela meditação, relaxamento corporal e respiração. A prática regular do yoga garante uma qualidade de vida melhor, livre dos efeitos nocivos da correria e da tensão do cotidiano. A Aptidão física relacionada à saúde e recomendada como essencial na qualidade de vida é atualmente buscada em diversas práticas esportivas e de exercícios físicos. As várias definições sobre aptidão física chegam ao mesmo conceito de que ela é um atributo individual, associado ao estado de vigor e disposição para a 49 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. realização das tarefas diárias. Portanto, o objetivo desse estudo é verificar o treinamento de um mês da prática do yoga nas capacidades físicas que promovem a saúde (força muscular, flexibilidade, capacidade cardiorespiratória e composição corporal). 1. CONSIDERAÇÕES SOBRE O YOGA Patanjali, pai do Yoga, se aprofundo nos diversos pensamentos existentes na Índia juntamente com outros pensadores indianos, os quais acabaram criando suas escolas filosóficas com base na felicidade humana. Diante dessas inúmeras escolas existentes nos séculos da era Cristã, a escola de Yoga de Patanjali foi a que acabou sendo reconhecida como sistema oficial da tradição yogue. Em observações e reuniões ocorridas da escola de Patanjali, originaram-se os principais caminhos do yoga, como Hatha, Jnâna, Karma, Bakti e Râja. Cada um destes trabalha algo em especifica no corpo humano (Fernandes, 1994). A palavra Yoga significa união entre corpo e mente. O sistema yóguico divide-se em vários tipos. Destaco o Hatha Yoga, pois este trabalha o fortalecimento do corpo físico, flexibilidade além de relaxamento corporal, tranqüilidade mental e concentração, fatores que contribuem para a manutenção da saúde (Fernandes, 1994). Segundo Singleton, Patanjali (200 a.C. e 200 d.C), em sua obra Yoga Sutras, descreve oito métodos sobre a prática do yoga, conhecidos como Ashtanga Yoga (Ashta=oito; anga=membros). São eles 1º Yamas: Aprender a viver em harmonia com os outros. 2º Niyamas: Manter corpo e mente saudável. 3º Asanas: São exercícios físicos que fortalecem o corpo, aumentam a agilidade e previnem contra várias doenças, principalmente as psicossomáticas. 4º Pranayama: São exercícios respiratórios. No início eles vão reeducar os músculos envolvidos na respiração, ampliando e melhorando a absorção de oxigênio. 5º Pratyahara: Concentração das sensações do nosso ser. 6º Dharana: Concentração. 7º Dhyana: Meditação. 8º Samadhi: Comunhão com Deus. Do sistema yóguico, iremos utilizar no presente estudo apenas as Asanas, as posturas físicas para obtermos os resultados esperados que são o desenvolvimento das capacidades físicas ligadas a aptidão física, aspectos fundamentais para a promoção da saúde segundo ACSM (American College of Sports Medicine). Guedes, em 1995, completa este conceito dizendo que é “um estado dinâmico de energia e vitalidade que permite a cada um não apenas realizar as tarefas do cotidiano, as ocupações ativas das horas de lazer e enfrentar emergências imprevistas sem fadiga excessiva, mas também, evitar o aparecimento das disfunções hipocinéticas...“. Com base nesses dois conceitos, podemos dizer que aptidão física está relacionada com a capacidade de realizar algum esforço físico que garanta a sobrevivência, por exemplo, estender a roupa no varal ou correr para não perder o ônibus. Os componentes da aptidão física são divididos em dois grupos: os relacionados a habilidades esportivas e os relacionados à saúde. A aptidão física ligada às habilidades esportivas dá o suporte necessário para a prática e o desempenho atlético e esportivo das pessoas desse ramo. Os componentes que compreendem as habilidades esportivas são: agilidade, equilíbrio, velocidade, potência e coordenação. Eles visam o desempenho de um atleta, e não a saúde. Esses componentes não são necessários para a vida adulta, em que a prática de qualquer esporte ou atividade física tem como objetivo principal a manutenção da saúde. Por outro lado, temos as capacidades físicas relacionadas com a saúde, visando o bem-estar do indivíduo, podendo proporcionar a ele uma melhor qualidade de vida, aperfeiçoando seu estado de “vigor” em realizar as tarefas de seu cotidiano ou de seu tempo disponível. Os componentes que compreendem essa capacidade são: força muscular, flexibilidade, capacidade cardiorespiratória e composição corporal. Neste trabalho, procura-se investigar os benefícios que o yoga poderá trazer para o aprimoramento das capacidades físicas citadas acima. 3. METODOLOGIA Tratou-se de um estudo de caso de característica longitudinal e se desenvolveu no período de 01 (um) mês. Durante o mês, o indivíduo realizou as posturas do yoga três vezes por semana, nos dias que correspondiam à segunda-feira, quarta-feira e sexta-feira, no horário das 17h até as 17h45. As aulas tinham duração de, 45 (quarenta e cinco) minutos. O participante assinou um termo de consentimento livre e esclarecido de todas as atividades realizadas. 4. RESULTADOS 2. APTIDÃO FÍSICA As várias definições sobre aptidão física chegam ao mesmo conceito de que ela é um atributo individual, associado ao estado de vigor e disposição para a realização das tarefas diárias (Conte & Gonçalves, 2004). Houve melhora em todas as capacidades físicas do indivíduo. Podemos observar que, na Dinamometria dorsal constata-se 29% de aumento de força, enquanto que na Dinamometria escapular o registro apontou 26% 50 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. de aumento de força. Na Dinamometria de preensão manual, o aumento de força foi de 14%. A Flexibilidade ampliou-se em 12,5%. Na avaliação antropométrica houve ganho de massa muscular magra de 44,79 kg (avaliação inicial) para 46,20 kg (avaliação final). Tabela 1.1 – Circunferências iniciais do indivíduo Direito (a) Esquerdo (a) Tórax: 94,00 Antebraços: 26,00 26,00 Cintura: 80,00 Braços: 29,00 29,00 Abdome: 83,00 Coxas: 54,00 54,00 Quadril: 96,00 Panturrilhas: 35,00 36,00 Tabela 1.2 – Circunferências finais do indivíduo após o período de um mês de exercícios Direito (a) Esquerdo (a) Tórax: 92,50 Antebraços: 26,00 25,60 Cintura: 80,00 Braços: 31,00 29,60 Abdome: 84,80 Coxas: 53,90 54,20 Quadril: 98,00 Panturrilhas: 35,90 36,00 Tabela 1.3 – Força de resistência de braços (1RML MMSS) e teste de flexibilidade (Banco de Wells) Neuromuscular Inicial Final RML MMSS 16 19 Flexibilidade 1 cm 3 cm Neste estudo também podemos dizer que obtivemos um aumento expressivo na força e na força de preensão da mão direita do individuo. 7. CONCLUSÃO O presente estudo demonstrou que a prática do Yoga durante o período de um mês foi capaz de melhorar as capacidades físicas relacionadas à saúde do praticante. No entanto, esperava-se um aumento maior da flexibilidade do indivíduo. Porém acredita-se que esse objetivo não foi alcançado devido às dores lombares que o praticante sentiu no momento de executar o teste no Banco de Wells. O avaliado relatou que conseguiria ir além da onde estava tocando, porém sentia certo receio provocado pela dor. Podemos constatar que houve melhora em todas as capacidades físicas avaliadas, sugerindo que a prática regular do yoga contribui nas capacidades físicas relacionadas à saúde e interfere na composição corporal de forma favorável. Mais estudos são necessários para corroborar com esses resultados encontrados. REFERÊNCIAS CONTE, Marcelo; GONÇALVES, Aguinaldo. Qualidade de Vida e Atividade Física. Barueri: Manole, 2004. COOPER, Kenneth. Capacidade Aeróbia. Trad. Orlando Agueda. 2 ed. Rio de Janeiro: Forum, 1970. Traduzido de the news aerobics. Publicado por M. Evans and Compsny, Inc – New York, USA, 1970. COOPER, Kenneth. Aptidão Física: em qualquer idade, método Cooper. Trad. Maria Antonieta Tróia. 4 ed. Rio de Janeiro: Forum, 1972. Tabela 1.5 – Dinamômetros FERNANDES, Nilda. Yoga: uma prática alongamento. 2 ed. São Paulo: Ground, 2003. Dinamômetros Inicial Final Dorsal 48 kg 62 kg Escapular 15 kg 19 kg Manual 21 kg 24 kg 5. DISCUSSÃO Até o momento poucos estudos demonstram cientificamente os benefícios do yoga nas capacidades físicas em população ocidental e as características de um treino baseado nas posturas do yoga. Godoy em seu artigo relata que alguns autores estudaram vinte indivíduos com idades entre doze e quinze anos que se submeteram a pratica do yoga por seis meses, ao final concluíram que houve aumento significativo na força e na força de preensão das mãos. de FERNANDES, Nilda. Yoga Terapia: o caminho da saúde física e mental. 4 ed. São Paulo: Ground, 1994. FLECK, Steven J.; KRAEMER, William J. Fundamentos do treinamento de forca muscular. Trad. Jerri Luiz Ribeiro. 3.ed. Porto Alegre RS: Artmed, 2006. GOBBI, Sebastião; VILLAR, Rodrigo; ZAGO Anderson Saranz. Bases teórico-práticas do condicionamento físico. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. GODOY, Dagoberto Vanoni; BRINGHENTI, Raquel Longhi; SEVERA, Andréa; GASPERI, Ricardo; POLI, Leonardo Viera. Ioga versus atividade aeróbia: sobre provas espirométricas e pressão inspiratória máxima. 51 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. Jornal Brasileiro de Pnemologia. Disponível em:<http://www.jornaldepneumologia.com.br/portugues /artigo_detalhes.asp?id=269>. Acesso em: 20 jun. 2007. KUVALAYANANDA, Swami. Asanas. Trad. Ignez Novaes Romeu. São Paulo: Phort, 2005. SINGLETON, Mark. Yoga Para você e seus filhos. Trad. Maria Alayde Carvalho. São Paulo: Gente, 2004. 52 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. O ALUNO DA EJA E SEU COTIDIANO ESCOLAR Érica Martelini Messias Borin Fernando Silvestre Faculdade Porto Feliz Av. Monsenhor Seckler, 1250, Vila América 18540-000 Porto Feliz, SP, Brasil (15) 3261 4549 [email protected] Faculdade Porto Feliz Av. Monsenhor Seckler, 1250, Vila América 18540-000 Porto Feliz, SP, Brasil (15) 3261 4549 [email protected] RESUMO: Este artigo tem como objetivo geral refletir sobre a trajetória de vida dos alunos do Ensino Supletivo identificando aspectos do mundo contemporâneo, presentes no cotidiano escolar e, por meio de entrevistas conhecer, desde sua exclusão do período regular, até seu retorno à escola, os motivos relacionados por eles que fizeram abandonar os estudos, assim como os que os levaram a retornar. Utiliza como referencial teórico de análise o conceito de “refugo humano”, desenvolvido por Baumam. Foi possível identificar que, de modo geral, a maioria dos alunos que deseja retomar os estudos, ainda o deixa incompleto. Os alunos entrevistados apontam uma trajetória no ensino regular de dificuldades pessoais associada à falta de oportunidades concretas oferecidas pelo Estado. Na comparação com o previsto em lei, quando voltam a estudar, as condições de sala de aula, horários, entre outros, ainda são obstáculos para a continuidade dos estudos. O refugo humano é identificado nesta população por sua exclusão da realidade social, por uma inadequação definida pela própria sociedade. Palavras-chave: Cotidiano escolar. Trajetórias de vida. Ensino Supletivo. Exclusão ABSTRACT: This work objective is to reflect on the life histories of students in Adult Education by identifying aspects of the contemporary world, in everyday school life, and through interviews provided from their exclusion from the regular period until his return to school, the grounds that they did drop out of school, as well as those who led them to return. Used as a theoretical analysis of the concept of "human waste", developed by Bauman. We could identify that, in general, most students who want to go back to school, still leaves incomplete. Students interviewed indicate a trend in the mainstream of personal difficulties associated with lack of concrete opportunities offered by the state. In comparison with that provided by law, when returning to study the conditions of the classroom, schedules, among others, are still obstacles to the continuation of studies. The human waste is identified in this population by their exclusion from social reality, defined by a failure by the company. Key words: Daily school routine. Life paths. Supplementary teaching. Exclusion. INTRODUÇÃO As histórias de vida dos alunos do supletivo revelam condições sociais excludentes, e a escola não observa suas necessidades para estudar, é necessário dar voz a essa população que foi excluída do ensino regular, e apontar no supletivo, que agora tenta reparar uma situação de exclusão, quais as questões relevantes para oferecer oportunidades verdadeiras de escolarização para essas pessoas. As trajetórias de alunos, os relatos de suas histórias de vida, foram analisados inseridos no contexto contemporâneo, considerando o mundo líquido de Bauman, diferente dos sólidos, os líquidos não mantêm sua forma, estão vulneráveis ao espaço que ocupam. Os líquidos se movem facilmente. Eles fluem, escorrem, esvaem-se, respingam, transbordam, vazam, inundam, borrifam, pingam, são filtrados, destilados; diferentemente dos sólidos, não são facilmente contidos – contornam certos obstáculos, dissolvem outros e invadem ou inundam seu caminho. (BAUMAN, 2001, p. 8) Segundo Santaela (2007, p.13), “não haveria título mais sugestivo para dar conta das incertezas que rondam as condições cambiantes, maleáveis, fluídas, excessivas, transbordantes, fugazes das complexas contradições das sociedades contemporâneas”. Harvey (1989), no seu livro a “Condição Pós-moderna”, diz que uma nova condição ocorre no mundo, uma mudança, um novo tipo de discurso estaria sendo implantado, e que na falta de uma terminologia adequada, ou algo melhor para denominar esse período ele usa o termo pós-modernidade, mas entende que é um termo transitório. Harvey (1989, p. 257), denuncia que o ritmo dos acontecimentos é muito rápido, ditado pela urgência e velocidade das informações dentro do mundo capitalista, o que tem tido forte impacto sobre a vida social e cultural: À medida que o espaço se encolhe para se tornar uma aldeia "global" de telecomunicações e uma "espaçonave planetária" de interdependências econômicas e ecológicas _ para usar apenas duas imagens familiares e cotidianas _ e na medida em que os horizontes temporais se encurtam até ao ponto em que o presente e tudo que existe, temos que aprender a lidar com um sentimento avassalador de 53 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. compressão de nossos mundos espaciais e temporais (Harvey, 1989, p. 240). Na busca para acompanhar as rápidas mudanças pelas quais o mundo vem passando cada vez mais as pessoas se preocupam com a sua imagem, realizam o seu marketing pessoal, são como mercadorias (BAUMAN, 2008). Basta observar os currículos formulados para conquistar um emprego, para constatar que cada vez mais as pessoas se oferecem como se fossem mercadorias colocadas em exposição para serem adquiridas, onde se tem a impressão de que estamos diante de um produto que está sendo oferecido: quem tiver a melhor aparência, estiver mais atualizado, será “levado para casa”. Lampert lembra que: A pós-modernidade exige um novo perfil de profissional, ou seja, com visão ampliada, capacidade de liderança, de trabalhar coletivamente, que seja criativo, flexível e permanentemente atualizado, para atender as exigências do mundo capitalista. (2005,p.31) Analisar o contexto atual é sempre difícil, sem os devidos distanciamentos, e com informações por vezes incompletas, pode-se ocorrer em erros, portanto definir, ou explicar a contemporaneidade leva a leituras diversas, para falar do nosso tempo, e encontramos definições e terminologias diferentes, uns chamam de: condição pósmoderna, modernidade tardia, modernidade líquida, Gilles Lipovetsky (2004), define assim hipermodernidade: Antes, tínhamos uma modernidade limitada, agora é chegado o tempo da modernidade consumada, pois já faz tempo que a modernidade se exibe sob o signo do excesso, da profusão de mercadorias, agora, isso já exacerbou com os shoppings e hipermercados hipermodernos, gigantescos. „Sem limites‟. (LIPOVETSKY, 2004, p. 54). O advento da modernidade apresentou expectativas de uma sociedade mais igualitária, mais fraterna e com mais liberdade. Regida pela fé na inteligência e na razão humana, a Modernidade trazia a promessa de melhor condução da vida humana (PEREIRA, 2003). Mesmo com o avanço da ciência e da tecnologia, não estamos mais felizes, não terminaram as guerras, as diferenças sociais e as misérias continuam, portanto vivemos uma crise da modernidade, da razão, da ciência, que questiona as verdades universais, a objetividade, a ciência neutra, metanarrativas, enfim, todas as estruturas rígidas, e fragmentárias que tentaram explicar a realidade objetiva, estão em crise. (LAMPERT, 2005) Esse é o efeito de um mundo globalizado, competitivo que confirma que os ideais modernos não foram atingidos em sua totalidade. Por globalização entenda-se, segundo Santos (1995) o processo de internacionalização, intercâmbio entre os países, dando a impressão de que todos teriam acesso aos bens, riquezas e aos conhecimentos produzidos pelas sociedades humanas mundo afora. Mas as diferenças de crescimento econômico, capacidade tecnológica e condições sociais entre as diversas regiões do mundo fazem com que a globalização seja um processo desigual, injusto que distancia ainda mais as diferentes regiões do globo (LAMPERT, 2005, p. 2). A grande maioria da humanidade resta a exclusão econômica e social. Bauman (2005, p.12) afirma que os seres humanos refugados, são os que não puderam ou não quiseram ser reconhecidos, não obtiveram permissão para ficar, e são produtos inevitáveis da nossa sociedade. Não há espaço para eles na modernidade; eles são os inadaptados, expulsos, marginalizados, o “lixo humano” produzido pela sociedade de consumo. São pessoas que não tem para onde fugir, não tem futuro. Estão em toda parte e, como não poderia ser diferente, na escola, onde a sociedade é reproduzida. Essa produção de refugo humano intensificou-se ainda mais com o processo da globalização e esse é também um problema para o Estado que não pode mais enviá-los para as antigas colônias (BAUMAN, 2005, p. 13): A nova plenitude do planeta significa, essencialmente, uma crise aguda da indústria de remoção do refugo humano. Enquanto a produção de refugo humano prossegue inquebrantável e atinge novos ápices, o planeta passa rapidamente a precisar de locais de despejo e de ferramentas para a reciclagem do lixo. É possível associar o termo refugo humano utilizado por Bauman com o miserável de Geremek que faz uso desse termo (1995, p. 7), lembrando que em diferentes épocas ele está inscrito, modificando-se a avaliação ética e estética dessa personagem. Ele pode suscitar desprezo ou admiração, indiferença ou atenção, provocar compaixão ou escárnio. Possuem uma desordem excludente, uma presença inquietante, pois são os vadios, os miseráveis e os rejeitados pela cena urbana da modernidade. Por esse motivo, são excluídos não apenas socialmente como culturalmente também, pois são considerados medíocres pela elite cultural, ideia absorvida pela elite social. Paulo Freire, também já tratou do excluído, do oprimido: “o demitido da vida, medroso e inseguro, esmagado e vencido. Mão estendida e trêmula dos esfarrapados do mundo, dos condenados da terra.” (FREIRE, 1987, p. 31). No sistema capitalista, não há espaço para todos, portanto teremos sempre excluídos. Como na cidade de Leônia, uma das “cidades invisíveis” de Ítalo Calvino (2006), as coisas se renovam diariamente e o que é lixo deve estar fora do alcance da visão, pois não se deve pensar em coisas que já foram rejeitadas, que já foram descartadas e não interessa saber para onde o lixo é levado, apenas queremos que fique afastado de nós. Jogar no lixo é expurgar uma impureza recorrente (CALVINO, 2006, p. 105). 54 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. Apropriando-se do termo “refugo humano” utilizado por Bauman, deslocamos o olhar para os alunos do ensino supletivo, caracterizados por não cumprirem o ensino regular dentro da norma etária, por motivos diversos são pessoas que não se adequaram ao padrão e no percurso educacional não tiveram permissão para ficar, e aos poucos vão sendo expulsos da escola regular. Sem espaço na escola regular, se tornam “refugo humano”, mas, teimosamente, voltam, precisam se “reciclar”. Em muitas situações somos todos refugos, vivendo a margem e essa situação é consequência inseparável de um mundo globalizado, o efeito colateral da construção da ordem e do progresso econômico (BAUMAN, 2005). Na maioria das vezes é na escola que as pessoas buscam esse conhecimento. Não é diferente com os alunos que frequentam o Ensino Supletivo. Eles estão dispostos a correr atrás do tempo perdido. A educação, muitas vezes é vista por eles como a “tábua de salvação”, o caminho para participar do mundo que os cerca. Mesmo para aqueles que possuem um pouco mais de conhecimento, é comum aceitar que o objetivo da educação é preparar os indivíduos para a vida social, como um parâmetro universal, que se complementa com o discurso paralelo de formar os indivíduos para o exercício da cidadania (RODRIGUES, 2001). Pensar em uma educação para jovens e adultos deve conduzir, em primeiro lugar, a reflexão e a investigação do que os levou a abandonar a escola na época regular e quais fatores fizeram com que retornassem anos mais tarde. É também conhecer o histórico dessa educação no país, o contexto em que ela surgiu, os interesses envolvidos, quais os desdobramentos desse ensino ao longo das décadas, bem como os planos, no presente, para esses estudantes. A história da educação para jovens e adultos no Brasil mostra que desde o início quando começou a se falar em educação no Brasil, no período colonial, a escolaridade de jovens e adultos sempre foi relegada a segundo plano, isto quando ela nem sequer entrava em questão, demonstrando a condição de exclusão dessa modalidade de ensino (HADDAD; DI PIERRO, 2000). Os primeiros movimentos relacionados à educação de jovens e adultos ocorreram desde a década de 1930, mas foi somente em 1971, por meio da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 5692, que foram elaboradas as regras básicas para a educação supletiva, com um capítulo específico para esta modalidade de ensino (DI PIERRO; JOIA; RIBEIRO, 2001). Mesmo assim, a educação de jovens e adultos ainda não era um direito assegurado por lei, pois a obrigatoriedade do Ensino de Primeiro Grau (agora denominado Ensino Fundamental) referia-se a faixa etária de 7 a 14 anos. Durante a década de 1980, com a abertura política, a democratização das relações sociais e das instituições políticas brasileiras, a sociedade civil começa a se organizar em busca de seus direitos, o que culmina com a promulgação da Constituição Federal de 1988, que entre outras conquistas reconheceu os direitos da população de jovens e adultos ao Ensino Fundamental. O reconhecimento da educação como direito, passou a ser assim considerado na Constituição de 1988 que diz que todos têm direito ao ensino fundamental gratuito adequado à sua condição de jovens e adultos trabalhadores: Art.208º. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I. ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; II. progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio; (BRASIL, 1988) Porém, o que estava reconhecido por lei era negado pelas políticas públicas educacionais, que se voltavam para o Ensino Fundamental regular, então denominado Primeiro Grau, no que diz respeito aos recursos financeiros (HADDAD; DI PIERRO 2000). No início da década de 1990, os programas voltados para a educação supletiva, que passam a cargo dos estados e municípios, ficam por um tempo, estagnados. Só voltam ao cenário das discussões educacionais, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96, que em seu § 1º do Art. 37 dispõe que: Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. (BRASIL, 1996, grifo nosso) No PNE (Plano Nacional de Educação) aprovado em 2001 existem 26 metas dedicadas a EJA (Educação de Jovens e Adultos), podendo ser basicamente classificadas em: - De ampliação de matrícula nessa modalidade (1, 2, 3 e 16) - Apontam ações do governo federal em programas nacionais diversos de apoio a atendimentos diferenciados em EJA (4, 5, 12, 13, 14, 17, 21, 22, 23, 24 e 26) - Para levantamento e avaliação de ações de alfabetização (6) - Integração curricular entre formação geral e formação profissional no ensino fundamental (15) - Formação de professores (7 e 25) - Parceria com a sociedade civil destacando as IES ( 8, 11, 18 e 19) - Apoio federal aos sistemas estaduais e municipais no atendimento a EJA (9.10 e 20) Já no atual PNE, aprovado em 2014, são três as metas relacionadas a EJA: META 8: elevar a escolaridade média da população de 18 (dezoito) a 29 (vinte e nove) anos, de modo a alcançar, no 55 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. mínimo, 12 (doze) anos de estudo no último ano de vigência deste plano, para as populações do campo, da região de menor escolaridade no país e dos 25% (vinte e cinco por cento) mais pobres, e igualar a escolaridade média entre negros e não negros declarados ao IBGE. META 9: elevar a taxa de alfabetização da população com 15 (quinze) anos ou mais para 93,5% até 2015 e, até o final da vigência deste PNE, erradicar o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% a taxa de analfabetismo funcional. META 10: oferecer, no mínimo 25% das matrículas de Educação de Jovens e Adultos, nos ensinos fundamental e médio, na forma integrada à educação profissional. Ou seja, a legislação garante “oportunidades educacionais apropriadas” as características dos alunos, porém, o cotidiano escolar do ensino supletivo não reflete essa adequação, com salas improvisadas em igrejas, ou escolas com adaptações de sala, horários que ignoram a característica do aluno trabalhador, enfim nos comentários que os alunos fazem em aula, são constantes as reclamações, além de não terem tempo de estudar fora da escola, pelos afazeres domésticos, entre outros motivos. Muitos dos alunos vêm direto do trabalho para a escola e, quando chegam, são recebidos com chá e pão. A fila é grande, chegando a atrasar a entrada dos alunos para a 1ª aula, pois na hora do intervalo muitas vezes não há merenda (comida), somente bolachas e o chá, novamente, e, às vezes, pão. Há uma cantina onde os alunos podem comprar salgados, doces e refrigerantes. A breve descrição das condições físicas da escola nos leva a concluir que a realidade não condiz com as condições descritas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (9394/96) sobre a necessidade da educação para jovens e adultos estar voltada para as características, interesses, condições de vida e de trabalho do alunado, o que evidencia a tensão entre um discurso pedagógico que pretende incluir e uma ação cotidiana da escola que exclui. De modo geral os alunos apresentam em seu histórico familiar, pais com pouca escolaridade, e/ou analfabetos. Quando cruzamos informações de idade, os mais idosos têm pais com pouca escolaridade, os mais novos, já identificam pelo menos o ensino básico. Essa realidade tem confirmação em grande parte da zona rural, pelas dificuldades de acesso a escola, e tipo de trabalho incompatível com horários e necessidades emergentes de leitura, mas essa é uma realidade em transformação, pelo menos no estado de São Paulo. Os alunos de maneira geral relatam que os pais às vezes não davam tanta importância à escola, era prioridade o trabalho, a maioria saiu da escola para trabalhar. É muito interessante observar a importância que os alunos, principalmente os mais velhos, atribuem à educação, já que incentivam e demonstram orgulho ao falar dos estudos dos filhos, de como conseguiram fazer os filhos trilharem um caminho diferente dos deles e se formarem em educação superior. Ao mesmo tempo em que relatam os motivos, as dificuldades nos estudos quando possuíam a idade regular, os mais velhos alegam problemas por residirem na zona rural, muito afastados das escolas. Os relatos apresentam uma trajetória de vida com muitas dificuldades, principalmente o relato de alunos mais velhos, dificuldades com moradia, distância, situação econômica, muitas mudanças, entre outras. Na atualidade relatam que estão empregados, formal ou informalmente, e, pelo que foi observado, com certa estabilidade financeira (com renda variando entre R$ 1.000,00 a R$ 4.000,00). Os alunos entraram na escola, em sua maioria, com sete anos na primeira série, sendo que os mais velhos não tiveram a oportunidade de frequentar a Educação Infantil, visto que naquela época não era obrigatório. Entre os mais novos, poucos fizeram o “pré”. Dentro do período escolar, quando eles tinham idade regular, alguns alunos repetiram por não gostarem de estudar ou por irem mudando de sítio. Muitos desses alunos fizeram tentativas de voltar a estudar, mas sem sucesso, pelas condições familiares, pela distância, por novas mudanças de residência. A descrição das trajetórias escolares revela histórias de muitos sacrifícios, pois, mesmo gostando de estudar, a maioria foi obrigada a abandonar a escola. Para muitos não havia a série de continuidade por perto de onde moravam ou porque tiveram que começar a trabalhar para ajudar no sustento da casa ou para ajudar nos afazeres domésticos, como cuidar dos irmãos mais novos, no caso dos que eram filhos mais velhos. Quanto aos motivos que dificultavam o estudo quando esses alunos possuíam a idade regular, os mais velhos alegam problemas por residirem na zona rural, muito afastados das escolas. Muitos dos entrevistados também não eram incentivados a estudar. Mesmo passando por tantas dificuldades, os alunos procuraram voltar a estudar, seja pela exigência do trabalho ou pela satisfação pessoal. Em conversas informais esses alunos que residem na zona rural comentaram que dividem a condução com alunos do Ensino Regular de outras escolas do município que, segundo relatam, fazem muita bagunça no ônibus, não respeitando nem o motorista. Conversando com o pessoal da secretaria da escola sobre o assunto, eles informaram que o transporte para alunos do Ensino Supletivo só foi regulamentado em 2008, antes esses alunos utilizavam o ônibus na condição de “carona”, demonstrando o descaso com as necessidades desse grupo de alunos. As falas desses alunos revelam que percebem a importância de estudar, de adquirir mais conhecimento. Os mais novos estão mais preocupados com os estudos para o trabalho e os mais velhos muito mais pela realização pessoal já que muitas vezes tiveram que deixar um sonho para trás, lá na infância, depois tiveram que trabalhar e ajudar no sustento da casa, criar filhos e agora vem a possibilidade de realizar aquele sonho e 56 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. demonstram muito entusiasmo (muito mais que os mais jovens) para estudar, para aprender. Ao final das entrevistas foi aberto espaço para comentários livres e alguns relataram que hoje em dia os professores ajudam mais do que antigamente, que entendem as dificuldades que eles apresentam por ficarem tanto tempo sem estudar. Alguns utilizaram o termo “bonzinho” para se referir aos atuais professores. Os alunos lamentam por aqueles outros colegas que não levam a sério e acabam atrapalhando. Dizem que hoje está muito mais fácil, que só não estuda quem não quer. De forma geral esses alunos agradecem quando tem a oportunidade de falar de sua vida, suas passagens com sofrimentos, contar suas histórias engraçadas, passando o sentimento de valorização de sua vida, pois, aparentemente não são muito ouvidos. Sugeriram que para que o ensino melhorasse os pais deveriam voltar para a escola, voltar a estudar, para aprender e assim ajudar aos filhos. É interessante que a maioria desses alunos não conversa muito na sala de aula mas em conversas informais sentem-se muito à vontade. Principalmente para recordar histórias passadas e quanto às comparações com a escola atual. CONSIDERAÇÕES FINAIS As diferentes motivações apresentadas pelos alunos, de modo geral, dizem respeito às condições apresentadas no passado. A maioria estudou em uma determinada época em que a escolarização não era obrigatória e nem acessível a todos. Também era um período em que as exigências quanto à escolaridade não eram tão grandes como hoje. Muitos viviam na zona rural e com residência muito distante da escola. Comentam que precisaram abandonar os estudos para trabalhar ou para ajudar nas tarefas domésticas. Há também aqueles que apresentavam muita dificuldade na escola e, por esse motivo, acabavam abandonando. Devido a esses motivos, ainda é bastante grande o número de alunos que voltam a estudar anos depois de terem abandonado. Da mesma forma, também são muitos os motivos que levam o aluno do Ensino Supletivo a voltar a estudar: a perspectiva de melhores oportunidades no trabalho, a convivência com outras pessoas na mesma situação de aprendizagem, entre outros. Quanto aos profissionais que lecionam no Ensino Supletivo, Freire (1996) considera que ensinar é criar as possibilidades para a produção ou construção do conhecimento, o que só ocorrerá quando os professores estiverem conscientes das condições de seus alunos e quando conhecerem a realidade dos mesmos. Educador e educando são sujeitos que juntos constroem o saber trabalhando com respeito às características da comunidade e valorizando o conhecimento que os alunos já possuem (FREIRE, 1996). Quando não acontece dessa forma, o aluno sente-se desvalorizado e desmotivado, levando-o a desistir. Em uma época de fluidez dos acontecimentos falta uma atenção maior, inclusive no que tange aos recursos financeiros destinados para aqueles que desejam continuar os estudos. Afinal vivemos a emergência da educação continuada. Quando o aluno volta a estudar, ele sente-se novamente incluído, mas quando as dificuldades já descritas se apresentam ele pode desistir novamente. Por isso, a educação a ser oferecida aos alunos que frequentam o Ensino Supletivo deveria possibilitar o enfrentamento dos desafios do mundo atual. Os alunos da EJA ao mesmo tempo em que são excluídos do sistema de ensino formal pelos mais diversos motivos, sentem-se incluídos no ambiente escolar, por estarem convivendo com outros alunos com histórias muito parecidas com as suas. A escola para esses alunos, antes de ser um espaço de aprendizagem, é um espaço de pertencimento social, segundo Pavan (2005). São pessoas que tiveram o sonho negado na infância ou na adolescência, como diz Mébius (1998), buscam não só o conhecimento formal que a escola oferece, querem realizar sonhos, querem fazer parte do mundo em que vivem, de fato. Na maioria das vezes têm pressa de aprender, pois sentem que já perderam muito tempo. Sentem dificuldade e, se fracassam, desistem, por acreditar que não servem mais para isso. Querem uma escola que lhes permita a inserção social, atendendo também às necessidades de um mercado de trabalho que exige um trabalhador que tenha participação mais criativa e um conhecimento escolar reflexivo, segundo Magagna (2004). Não querem mais ser reconhecidos como “[...] o demitido da vida, medroso e inseguro, esmagado e vencido. Mão estendida e trêmula dos esfarrapados do mundo, dos „condenados da terra‟” (FREIRE, 1987, p. 31), que lutam pela restauração da sua humanidade. A inclusão da Educação de Jovens e Adultos no rol de modalidades a serem financiadas pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB) revela uma nova perspectiva, embora o aluno da EJA ainda seja visto como de “segunda categoria”, pois o percentual do valor custo-aluno a ser repassado para esta modalidade está inferior ao dos alunos de outros níveis e modalidades, ou seja, muito aquém da real necessidade de investimentos demandados pela EJA (NEVES, 2000). Estamos vivendo o século XXI em que a palavra de ordem é a educação contínua então mais do que pensar e realizar um Ensino Supletivo que satisfaça as necessidades desse grupo é idealizar e executar também projetos que possibilitem essa continuidade. Essa emergência configura-se, então, como um desafio para as políticas públicas voltadas para o Ensino Supletivo. 57 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. REFERÊNCIAS BAUMAN, Zygmunt. Globalização: as consequências humanas. Rio de Janeiro. Jorge Zahar, 1999. _______________. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro. Jorge Zahar, 2001. _______________. Vida Líquida. Rio de Janeiro. Jorge Zahar, 2005. _______________. Vidas Desperdiçadas. Rio de Janeiro. Jorge Zahar, 2005. _______________. Tempos líquidos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007 _______________. Medo Líquido. Rio de Janeiro. Jorge Zahar, 2008. _______________. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro. Jorge Zahar, 2008. CALVINO, Ítalo. As cidades invisíveis. São Paulo. Companhia das Letras, 2006. DI PIERRO, M. C.; JOIA, O.; RIBEIRO, V. M. Visões da Educação de Jovens e Adultos no Brasil. Caderno CEDES, v. 21, n. 55, p. 58-77, Nov 2001. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17ª Ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987. _______, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 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BENEFÍCIOS DA ADOÇÃO DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DE MARKETING PELAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS Milena Fernandes Diana Mestre em Administração com foco em Micro e Pequenas Empresas, Faccamp – Faculdade Campo Limpo Paulista e Professora de Administração e Marketing, Famo – Faculdade Porto das Monções (15) 3261 4549 [email protected] RESUMO Assim como as grandes empresas, também as micro e pequenas empresas sofrem diversas influências das forças do ambiente externo. Apesar de o planejamento ser um dos conceitos mais abrangentes em administração e em especial em marketing, essa atividade não é frequente em muitas empresas. O marketing possui ferramentas que podem ser utilizadas por empresas de diversos portes, com agilidade e precisão, visando um melhor desempenho no mercado. Porém na prática observa-se que isso não é uma realidade, mesmo nas grandes empresas ainda se encontram muitas dificuldades de interpretação utilização e operação dessa ferramenta da administração estratégica. Este estudo tem como objetivo discutir a importância de se adotar um planejamento estratégico de marketing pelas micro e pequenas empresa, os benefícios que a adoção dessa prática traz e as barreiras que são encontradas. Faz-se para tanto uma análise comparativa entre os níveis de planejamento, suas funções e objetivos organizacionais. Palavras chave Planejamento Estratégico, Marketing, Micro e Pequenas Empresas. ABSTRACT As well as large companies, also small business suffer influences of the external environment forces. Although planning been one of the most comprehensive concepts in management and particularly in marketing, this activity is not common in many companies. The marketing tools can be used by companies of all sizes with velocity and accuracy, seeking a better market performance. But in practice it is observed that this is not a reality, even in large companies are still many difficulties in interpreting use and operation of this strategic management tool. This study aims to discuss the importance of adopting a strategic marketing planning by small businesses, the benefits that the adoption of this practice brings and barriers that are found. It makes up for both a comparative analysis between the levels of planning, its functions and organizational objectives. 1. INTRODUÇÃO Assim como as grandes empresas, globais ou nacionais atuantes no mercado brasileiro, também as empresas de pequeno porte, as micro e pequenas empresas, sofrem diversas influências das forças do ambiente externo: político-legal, econômica, social e tecnológica, que ditam o ritmo das mudanças de mercado de forma bastante acelerada. Partindo deste cenário é de vital importância que o empresário ou proprietário dessas micro e pequenas empresas estejam preparados para reagir de forma rápida, munidos de ferramentas administrativas estratégicas, às mudanças do ambiente que já são encaradas como inevitáveis pelas empresas de grande e médio porte. Apesar de o planejamento ser matéria obrigatória e uma das mais abrangentes em administração e em especial em marketing, essa atividade não é frequente em muitas empresas (IKEDA et al., 2007). Para GRACIOSO (2009), o planejamento estratégico pode ser encarado como uma atitude contrária à natureza humana. Os homens, de maneira geral evitam pensar no futuro e os empresários não se diferenciam dos homens comuns nesse aspecto. O planejamento é a maneira com que a organização encara seu futuro. Portanto, as tarefas associadas com o planejamento geralmente levam à descoberta das relações de causa e efeito entre ações organizacionais e seus resultados (JOHN; MARTIN, 1984). Em função da importância que a micro e pequena empresa vêm adquirindo, no cenário econômico nacional, onde seus resultados já contribuem com mais de 20% do PIB, muitos estudos tem sido realizados para identificar os fatores que contribuem para o sucesso ou fracasso dessas empresas (ALBUQUERQUE; ESCRIVÃO, 2011). O objetivo desse ensaio teórico é o de identificar na literatura qual a importância de se planejar de forma estratégica e qual seriam os benefícios ou resultados práticos que a adoção do processo de planejamento traria às micro e pequenas empresas. Nas seções a seguir será analisado e comparado o processo de planejamento, em nível estratégico, de marketing e operacional, para diferenciá-los em termos de funções e objetivos organizacionais. 59 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. O uso indiscriminado e muitas vezes, mal definido dos termos, levam a crer que os processos são confusos, complexos e complicados de se implementar, além de não deixar claro quais seriam os reais benefícios em termos de resultados para a empresa que os adota. Essa percepção tem origem em estudos publicados recentemente que apontam para a não adoção das práticas de planejamento por diversos setores e tipos de empresas, principalmente por empresários e proprietários de micro e pequenas empresas. 2. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO A longo prazo, a sobrevivência e o desenvolvimento de uma empresa dependem da sua capacidade de antecipar em tempo útil a evolução dos mercados e modificar consequentemente a estrutura e a composição da sua gama de atividades (LAMBIN, 2000). Os possíveis resultados do planejamento são as melhorias da capacidade de coordenação da empresa e de sua rede, diagnosticar possíveis mudanças no ambiente, entender melhor os consumidores com maior velocidade de adaptação (NEVES, 2005). Segundo KOTLER (2000), os planos de negócios estão se tornando mais orientados para clientes e concorrentes e, além disso, são mais bem elaborados e mais realistas do que no passado. O planejamento está se tornando um processo contínuo, para responder às condições de mercado que mudam em grande velocidade. O planejamento é a maneira com que a organização encara seu futuro. Portanto, as tarefas associadas com o planejamento geralmente levam à descoberta das relações de causa e efeito entre ações organizacionais e seus resultados (JOHN; MARTIN, 1984). O planejamento estratégico como um processo gerencial voltado a criar a adequação dos objetivos e recursos da empresa às mudanças de oportunidades de mercados, na prática, significa planejar de modo que a empresa descubra e aproveite as oportunidades da maneira mais inteligente e compatível com seus recursos, estabelecendo objetivos e estratégias factíveis (SILVA et al., 2006). O planejamento estratégico direciona as ações da empresa em busca de resultados, lucros, crescimento e desenvolvimento que assegurem seu sucesso. Ainda em KOTLER (2000), argumenta-se que o planejamento estratégico orientado para o mercado é o processo gerencial de desenvolvimento e manutenção de uma adequação viável entre objetivos, habilidades e recursos da organização e suas oportunidades em um mercado em constante mudança O propósito do planejamento estratégico é dar forma a negócios e produtos da empresa, de modo que possam gerar lucros e o crescimento almejado. Nessa compreensão ele passa a ser ferramenta fundamental na gestão empresarial, pois transforma as atividades da empresa em estratégias claras, servindo, ainda, para o alinhamento da visão dos gestores e direcionamento de recursos, uma excelente forma de se conquistar clientes. 3. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO, DE MARKETING E OPERACIONAL Independentemente do tamanho ou do escopo da organização, a administração estratégica geralmente ocorre em vários níveis da organização: corporativo, divisional ou unidade estratégica de negócio, e funcional ou operacional. No nível corporativo, os gerentes têm como principal responsabilidade a satisfação dos clientes e o desempenho financeiro de toda a empresa no longo prazo. As táticas do nível corporativo tornam-se as estratégias que direcionam as decisões no próximo nível: as unidades estratégicas de negócio (ANDERSON; VINCZE, 2000). Para HAX e MAJLUF (1991), deve haver uma separação do planejamento estratégico entre planejamento estratégico de negócios e planejamento estratégico corporativo. O primeiro representa a forma organizada e disciplinada de implementar uma sequência de tarefas necessárias para o desenvolvimento da estratégia do negócio. O segundo é desenvolvido para adequar a corporação ao ambiente mais turbulento, no qual as unidades de negócios perdem a sua autonomia e suas estratégias passam a ser derivadas da missão e visão da corporação. Com o crescimento das turbulências ambientais e de mercado, o planejamento estratégico corporativo acabou aproximando-se acentuadamente das ferramentas de marketing, levando as estratégias de marketing a serem muitas vezes confundidas com as estratégias gerais do planejamento estratégico (ANDERSON; VINCZE, 2000). Para WESTWOOD (1996), o planejamento estratégico corporativo estabelece os objetivos corporativos que normalmente são expressos em termos financeiros e definem quais serão as metas para um determinado período de tempo. Os objetivos corporativos são expressos, de modo geral, em dados como movimentação de vendas e retorno sobre capital. Ainda segundo WESTWOOD (1996), o termo “planejamento de marketing” é usado para descrever os métodos de aplicação dos recursos de marketing para se atingir os objetivos do marketing. Os recursos e os objetivos se modificarão de empresa para empresa e continuarão se modificando com o tempo. O planejamento de marketing é usado para segmentar os mercados, identificar o posicionamento de mercado, prever o tamanho do mercado e planejar uma participação viável no mercado dentro de cada segmento de mercado. Em NEVES (2005) encontram-se algumas distinções entre planejamento estratégico e planejamento estratégico de marketing no diz respeito ao período de tempo de atuação de cada um, sendo que o primeiro deve ser visto com algo de natureza de longo prazo e o 60 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. segundo como um exercício anual, assim como demonstrado na Tabela 1. Planejamento estratégico Preocupação geral com a direção da organização no longo prazo Providenciar uma estrutura de longo prazo para a organização Planejamento de marketing Preocupação com a performance e os resultados do dia-a-dia Representa apenas uma estágio do desenvolvimento da organização Orientação geral Orientação funcional e necessária para combinar profissional tende a ser a organização e seu predominante desenvolvimento Objetivos e estratégias são Objetivos são avaliados por uma subdivididos em alvos perspectiva geral específicos A relevância dos objetivos A relevância dos objetivos e estratégias é evidente e estratégias é evidente de somente em longo prazo imediato Tabela1- Diferenças entre planejamento estratégico e planejamento de marketing.Fonte: Greenley (1986) Uma importante distinção entre o planejamento estratégico de marketing e o planejamento tático ou operacional demonstra que enquanto o primeiro se concentra no alvo de marketing, na vantagem competitiva, no contexto da missão organizacional e nas metas da corporação, o segundo foca os ingredientes do marketing, mix e as exigências para o acionamento dos programas de marketing (IKEDAet al., 2007). WEBSTER (1992) argumenta que questões de marketing precisam ser planejadas segundo a estrutura de mercado, orientação voltada ao cliente e posicionamento na cadeia de valor no nível corporativo; a segmentação de mercado, posicionamento de produto e equilíbrio do desempenho interno e externo das funções de marketing no nível de unidade de negócios e; o composto de marketing e relacionamento do consumidor no nível operacional. 4. PLANO DE MARKETING Um plano de marketing argumenta WESTWOOD (1996), como parte integrante do plano estratégico corporativo, é como um mapa – ele mostra à empresa para onde ela está indo e como vai chegar lá. Deve identificar as oportunidades de negócios mais promissores para a empresa e esboçar como penetrar, conquistar e manter posições em mercados identificados; o plano estabelece quem fará o quê, quando, onde e como, para atingir suas finalidades. Os conceitos de planejamento e plano estão conectados, mas não têm o mesmo significado. Dessa forma, conclui Ikeda et al. (2007), que o planejamento é uma função organizacional, um processo sistemático, um exercício mental, enquanto o plano é o resultado do planejamento, formalizado por um documento escrito. Para LAMBIN (2000), o plano de marketing estratégico tem por objetivo exprimir, de um modo claro e sistemático, as opções escolhidas pela empresa de forma a assegurar o seu desenvolvimento a médio e longo prazo. Em seguida, essas opções deverão ser traduzidas em decisões e em programas de ação. Em geral, o plano de marketing é um documento que estabelece os objetivos de uma organização, referente a um próximo período de atividades, e define programas de ação necessários para atingir esses objetivos (CAMPOMAR; IKEDA, 2006). Tem por finalidade explicar a situação passada, a atual (com o diagnóstico ou a análise da situação interna e externa) e a futura (programa de ação). Entendendo o passado e o presente da organização, é possível antever o futuro e preparar-se para ele. O plano estratégico é a formalização do planejamento estratégico de uma organização contendo sua filosofia, sua missão, visão e ideais ou objetivos de longo prazo com diretrizes gerais.Ainda segundo os autores, a análise da situação é fundamental para avaliar até que ponto a organização pode ir, nela são verificados os pontos fortes e fracos (análise interna) e as situações favoráveis e desfavoráveis do ambiente (análise externa). São focados os pontos e as situações mais importantes e, nos cruzamentos, são identificadas as ameaças e as oportunidades. Várias questões conceituais e práticas podem emergir durante o processo de planejamento estratégico de marketing e de elaboração de plano (MCDONALD, 2005): Quando deve ser feito, com que frequência, por quem e como? O processo é diferente para uma empresa de grande porte e para uma de médio ou pequeno porte? O processo difere entre empresas diversificadas e empresas com baixo ou nenhum grau de diversificação de produtos e mercados? Qual o papel do executivo principal (CEO) no processo? Qual o papel do departamento do planejamento da empresa ou unidade estratégica de negócio? Qual o papel do departamento de marketing? O planejamento de marketing deve ser feito de cima para baixo (top-down) ou de baixo para cima (botton-up)? Qual a relação e o grau de inter-relação entre o planejamento estratégico, que abrange períodos mais longos, e o planejamento operacional de marketing, que normalmente cobre um período correspondente a um ano? Ao mesmo tempo, os processos relativos ao plano de marketing variam consideravelmente de acordo com a 61 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. empresa. Algumas empresas levam seu plano muito a sério, enquanto outras o veem apenas como um roteiro para a ação. De acordo com executivos de marketing, as principais deficiências dos planos de marketing são a falta de realismo, análises da concorrência insuficientes e foco no curto prazo (KOTLER, 2000). 5. BENEFÍCIOS PRÁTICOS E RESULTADOS É bastante difundida a ideia de que o planejamento prioriza oportunidades e opções estratégicas, desenvolve programas de marketing, melhora a direção dos negócios e que as organizações que formalizam seu planejamento de marketing estão em melhor posição para identificar e responder às mudanças no ambiente competitivo (DIBB et al., 2001). O plano de marketing é um dos resultados mais importantes do processo de administração de marketing e pode beneficiar qualquer organização, independente da estrutura e do porte, havendo uma relação positiva entre o processo de planejamento formal e o desempenho da empresa (ABRATT et al., 1994). Como resultado de uma pesquisa realizada por Cousins (1991), as respostas das empresas pesquisadas referiram-se a alguns benefícios proporcionados pelo plano de marketing, como: controle/disciplina 32%; direção 31%; revisão 10%; comunicação/consenso 10%; ação do planejamento 10%. A proposta de um planejamento de marketing, segundo McDonald (1992), é identificar e criar uma vantagem competitiva sustentável. Para o autor o planejamento estratégico de marketing é uma abordagem aos negócios que permite até mesmo o menor concorrente sobreviver no mercado de forma bem-sucedida. Segundo McDonald (2004), as vantagens do planejamento e plano de marketingsão: a) Coordenação das atividades de muitos indivíduos cujas ações são inter-relacionadas; b) Identificação dos desenvolvimentos esperados; c) Estar preparado para enfrentar mudanças quando ocorrerem; d) Minimizar respostas não racionais e inesperadas; e) Melhorar a comunicação entre os executivos; f) Minimizar os conflitos entre indivíduos, que poderiam resultar em uma subordinação de objetivos da empresa em relação aos objetivos individuais. McDonald (2004) ainda argumenta que existem alguns problemas quando não se tem um planejamento de marketing, como por exemplo: a) Perda de oportunidades lucrativas; b) Falta de objetivos realizáveis; c) Falta de informações estratégicas de mercado; d) Frustração da administração; e) Proliferação de produtos e mercados; f) Desperdício de verbas promocionais; g) Vulnerabilidade à mudança ambiental; h) Perda de controle do negócio. 6. BARREIRAS AO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DE MARKETING Pequenas empresas diferem das grandes empresas em duas dimensões. Primeiro, as pequenas têm mais autonomia e menor direção corporativa no processo de planejamento (a abordagem do planejamento é de baixo para cima). Por outro lado, o nível de gerenciamento corporativo tem mais controle nas grandes companhias, que usam uma abordagem de planejamento de cima para baixo (DEV, 1990). A maneira com que o processo de planejamento de marketing é administrado deve ser congruente com a estrutura organizacional corrente (ABRATTet al.,1994). A falta de recursos, estilo de gestão não orientado para o planejamento e foco em administrar crises surgem como as causas principais da não adoção do planejamento de marketing nas pequenas e médias empresas (IKEDA et al., 2007). Frequentemente há barreiras psicológicas e problemas de comportamento associados com as atividades de planejamento. Entre as limitações psicológicas os autores destacam: (1) conflito de autoridade; (2) incerteza inerente ao planejamento do futuro; (3) medo de falhar ou a assumir riscos e (4) conflitos de indecisões em relação ao papel do indivíduo no processo. Em estudo realizado pela PWC – PRICEWATERHOUSE COOPERS E BIOMINAS BRASIL (2011), foram detectados obstáculos a serem superados a despeito do ambiente externo que assinalaram questões internas como barreiras ao planejamento como, a falta de conhecimento do mercado com foco no valor gerado para o cliente; falta de conhecimento do ambiente regulatório e suas implicações no desenvolvimento e comercialização do produto e a dificuldade em estimar os recursos para investimento no próximos anos, assim como, a dinâmica de crescimento e geração de caixa da empresa. Uma outra barreira encontrada é a falta de conhecimento e utilização de pesquisa de mercado, conforme apontado por SHIMOYAMA (2004), novas empresas surgem a cada momento para disputar os consumidores e o fato de muitos empreendedores não serem bem-sucedidos reside na falta de estabelecimento de metas, busca de informações mercadológicas, planejamento e monitoramento sistemático. Ainda segundo SHIMOYAMA (2004), os fatores fundamentais para a garantia do sucesso estão na dependência de informações sobre o ambiente externo, daí surge a necessidade de pesquisa de mercado, pois ela reúne uma amplitude de dados qualitativos e quantitativos que pode subsidiar decisões mercadológicas, diminuindo o risco a potencializando os impactos positivos na organização. PEREIRA et al (2008) sugerem que uma das causas do fracasso das empresas pode estar na mentalidade com a 62 I Workshop Multidisciplinar sobre Ensino e Aprendizagem na Faculdade Porto das Moções. WEA’2015. Campo Limpo Paulista, SP. qual os pequenos empresários entram no negócio, sem que tenham uma visão global do mercado. Esse despreparo inibe a utilização das ferramentas de gestão em sua potencialidade e, em especial, as ferramentas de marketing. Na discussão de PEREIRA et al (2008) pontua-se que a razão para o fracasso da maioria dos pequenos empreendimentos é a falta de habilidades administrativas, financeiras, mercadológicas ou tecnológicas dos empreendedores. Entre os diversos problemas apresentados pelo autor, a falta de habilidades mercadológicas é caracterizada por conhecimento inadequado do mercado, problemas de qualidade com o produto, ineficiência de marketing, venda e posicionamento errado do produto ou serviço no mercado. A percepção dos especialistas quanto às fontes de informações dos empresários das MPE‟s restringe-se ao relacionamento com o cliente, ao contato com outras pessoas do segmento, e à leitura de revistas e jornais; entretanto, a quantidade de informações para tomar decisões é muito pequena. Muitos desconhecem a disponibilidade de informações no IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, no SEBRAE-SP e em outras entidades relacionadas aos segmentos de atuação, o que dificulta a elaboração de um plano de negócio ou a adequação de suas estratégias (PEREIRA et al 2008). 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS O marketing possui ferramentas que podem ser utilizadas por proprietários e executivos de empresas de diversos portes, inclusive as micro e pequenas empresas com agilidade e precisão, visando um melhor desempenho no mercado. Porém na prática observa-se que isso não é uma realidade, mesmo nas grandes empresas ainda se encontram muitas dificuldades de interpretação, utilização e operação dessa ferramenta da administração estratégica. Em muitas empresas brasileiras as principais barreiras ao planejamento de marketing e à elaboração do plano são o de gerenciamento não orientado ao planejamento, a falta de cultura organizacional, a insegurança em assumir „novas‟ responsabilidades; e o desconhecimento de como fazer o plano e necessidade de orientação. Nesse contexto, entende-se que essas carências podem e devem ser encaradas como oportunidades para que sejam desenvolvidas ferramentas mais adequadas e talvez até adaptadas a realidade e a linguagem da micro e pequena empresa ou do pequeno empresário e, que a dificuldade de transformar teoria em prática ilustra a distância que existe entre a esfera acadêmica e o ambiente de mercado. REFERÊNCIAS ABRATT, R.; BEFFON, M. e FORD, J. (1994). 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