Museu, MeMória e Criatividade eM Cidades Novas

Transcrição

Museu, MeMória e Criatividade eM Cidades Novas
Museu, Memória e
Criatividade em
Cidades Novas
Publicação Comemorativa
aos 20 Anos do Museu de Arte
de Londrina - MAL
Autor
Leandro Henrique Magalhães
Londrina
2013
M559m
Magalhães, Leandro Henrique.
Museu, memória e criatividade em cidades novas: publicação
comemorativa aos 20 anos do Museu de Arte de Londrina MAL / Lenadro Henrique Magalhães . – Londrina : UniFil, 2013
107 p.
ISBN 978-85-61986-47-6
Inclui bibliografia
1. Patrimônio - Museu 2. Memória cultural . 3. Museu de
Arte de Londrina . Título.
CDD – 069.074
Bibliotecária Responsável Erminda da Conceição Silva de Carvalho
CRB9/1756
MUSEU, MEMÓRIA E CRIATIVIDADE EM CIDADES NOVAS
PUBLICAÇÃO COMEMORATIVA AOS 20 ANOS
DO MUSEU DE ARTE DE LONDRINA - MAL
Leandro Henrique Magalhães (Org.)
Esta publicação apresenta os resultados dos trabalhos apresentados durante o
evento intitulado “IV Encontro Cidades Novas: Museu, Memória e Criatividade –
Evento Comemorativo aos 20 anos do Museu de Arte de Londrina – MAL”, ocorrido
no Centro Universitário Filadélfia – UniFil, entre os dias 13 e 15 de maio de 2013.
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Apresentação
20 ANOS DO MUSEU DE ARTE DE LONDRINA:
HISTÓRIA, DESAFIOS E PERSPECTIVAS
O Museu de Arte de Londrina completou em 2013, 20 anos de existência. Durante esse
tempo vem desempenhando um importante papel, tanto em sua relação com os artistas
da cidade e de outras localidades - como espaço de expositivo e de difusão das artes
visuais -, como em sua relação com o público escolar e a população em geral; atendendo
as premissas do acesso à informação e à formação cultural; além de se configurar como
local de convívio urbano, abrigando atividades de lazer e fruição cultural.
Em que pese as atividades citadas, e seu tempo de existência; tempo razoável
quando se tem em conta que a cidade possui apenas 79 anos; há um dado, referente
à antiga ocupação do prédio, que sobressai quando consideramos a memória afetiva
dos londrinenses e daqueles que escolheram Londrina para viver: antes de abrigar
um espaço destinado às artes, este prédio foi estação rodoviária da cidade.
Inaugurada em 1952, durante três décadas teve sob seus arcos e estrutura
trapezoidal grande circulação de migrantes, imigrantes e visitantes. Local de idas
e vindas, de reencontros e despedidas, de primeiro e último contato entre tantas
pessoas, e, por isso, inscrito na história individual de muitos. O prédio é também
uma importante edificação, considerada um dos marcos da arquitetura brasileira.
Primeira construção modernista tombada no interior do país, foi projetada por João
Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi, recebendo o reconhecimento de sua
relevância e a identificação como patrimônio cultural paranaense em 1974, quando
foi tombada pelo Patrimônio Histórico Artístico do Paraná.
Hoje, a estrutura envidraçada, que revela através da transparência a paisagem
urbana da cidade, abriga em seus dois pisos principais um espaço expositivo;
no subsolo há uma sala de cursos, uma pequena videoteca a Reserva Técnica e a
biblioteca Francisca Garcia Campinha, que conta com um acervo especializado em
arte de mais de 3 mil títulos, além de uma hemeroteca.
O inventário do acervo do Museu de Arte de Londrina, até o momento já catalogou
de mais de 450 obras. Este acervo é composto por gravuras, fotografias, pinturas,
esculturas, desenhos, e objetos de renomados artistas locais, como Letícia Faria, Paulo
Mentem, Dolores Blanco, Yoshiya Nakagawara, além de obras de Juarez Machado,
Poty Lazarotto, Aldemir Martins, Carybé, entre outros mestres representantes das
artes visuais no Brasil. Sob os arcos suspensos, onde antes estacionavam os ônibus de
passageiros, são realizados lançamentos de livros e eventos.
Neste ano a celebração do aniversário do MAL foi integrada às atividades da
11ª Semana Nacional de Museus, promovida pelo IBRAM – Instituto Nacional
de Museus, e escolhida como tema do “IV Encontro Cidades Novas – Museu,
Memória e Criatividade: Evento Comemorativo dos 20 anos do Museu de Arte
de Londrina – MAL”, realizado pela UNIFIL - Centro Universitário Filadélfia.
A conjunção das comemorações artísticas e culturais com um evento de
caráter acadêmico representou um verdadeiro presente ao possibilitar uma
reflexão acurada acerca da atuação do Museu, tanto do ponto de vista de suas
ações educativas e culturais, como das variadas demandas que necessitam
de intervenção para o fortalecimento de sua atuação. A cidade cresce, e com
ela, as necessidades de atualização e qualificação dos funcionários de museus
e o atendimento das demandas da população aumentam e se diversificam, da
mesma forma os cuidados com o patrimônio edificado; assuntos que permearam
trabalhos apresentados, oficinas, palestras e a reunião aberta, ofertadas durante
o encontro.
A composição da programação também ofereceu oportunidades para o
estreitamento das relações de parceria junto a instituições de ensino superior
(UNIFIL, UEL e UNOPAR), além de museus locais e de cidades circunvizinhas.
Foram montadas duas exposições comemorativas: uma no Museu Histórico Pe.
Carlos Weiss – UEL, que integrou obras do acervo do Museu de Arte de Londrina
à sua exposição permanente; e a exposição “Bilhete de Viagem”, na qual jovens
artistas realizaram obras que exploraram aspectos arquitetônicos da edificação,
inter-relacionando suas propostas com a história da antiga rodoviária bem como da
cidade, a partir de interferências cênicas, musicais e plásticas de caráter inusitado.
Ambas as exposições trouxeram a marca da ousadia e da inovação, características
presentes quando, na jovem cidade do interior paranaense, um prédio de arquitetura
até então incomum foi erguido.
As ações de celebração dos 20 anos do Museu de Arte de Londrina se estendem
até o final do ano, assim como os trabalhos de ação cultural e de reflexão em
busca da ampliação da interação junto à população, do atendimento e estímulo de
demandas, e da construção permanente da relação com a cidade. Trabalho vivo, em
constante movimento, balizado, a partir de agora, pelos resultados colhidos durante
as atividades da 11ª Semana Nacional de Museus - IBRAM , e do “IV Encontro
Cidades Novas – Museu, Memória e Criatividade: Evento Comemorativo dos 20
anos do Museu de Arte de Londrina – MAL”.
Lucinéia Chamorro e Silva – Gerente de Ação Cultural
Maria Luisa Alves Fontenelle – Diretora de Ação Cultural
SUMÁRIO
MEDIAÇÃO EM MUSEUS: CASO DO MUSEU DE ARTE DE LONDRINA
Lucinéia Chamorro e Silva ............................................................................................................................... 13
GASTRONOMIA E PATRIMÔNIO CULTURAL LONDRINENSE:
RESULTADOS DE UM PROJETO
Leandro Henrique Magalhães, Mirian Cristina Maretti, Isadora Fernanda Rossi, Jair Junior Monteiro
Solin, Kamilla Banischy Matsuo, Evelyn Nunomura, Silvia Letícia Schroeder Pelanda, Ana Carolina de
Paula Gouvea ..................................................................................................................................................... 18
GESTÃO MUSEAL: DOCUMENTAÇÃO
Gina Issberner .................................................................................................................................................... 28
A IMPORTÂNCIA DO SERVIÇO MUSEOLÓGICO E A FORMAÇÃO DO
PROFISSIONAL DE MUSEUS
Profª. Drª. Sandra C. A. Pelegrini .................................................................................................................... 34
OFICINA DE KIRIGAMI: MAQUETE DO MUSEU DE ARTE
Paulo Tio ............................................................................................................................................................ 36
RESUMOS ESTENDIDOS
PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO DE LONDRINA:
CASO DO EDIFÍCIO AUTOLON
Barbara Monteiro Bilmaia, Karen Bruniere Ragugnetti, Luana Nogueira Souza, Mayara Fernanda do
Carmo, Tathiane de Lima Sereia ...................................................................................................................... 47
A BIBLIOTECA “FRANCISCA CAMPINHA GARCIA CID E A PRESERVAÇÃO
DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO-CULTURAL
Letícia Baptista Pires ......................................................................................................................................... 50
A BIBLIOTECA JOÃO MILANEZ COMO LUGAR DE HISTÓRIA, MEMÓRIA
E CULTURA
Marli Meisen Bleinroth ..................................................................................................................................... 53
CIDADES E SUPERMERCADOS: DISTÂNCIAS E APROXIMAÇÕES
Desire Blum Menezes Torres ............................................................................................................................. 56
COLÉGIO VICENTE RIJO: UM EDIFÍCIO MODERNO PARA UMA ESCOLA
MODERNA
Fábio Luiz da Silva, Julho Zamarian, Fabiane Muzardo .............................................................................. 60
IDENTIDADE LONDRINA: O PORTAL DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E
CULTURAL DA CIDADE
Amanda Keiko Higashi, Camila Silva de Oliveira ......................................................................................... 64
LENDAS URBANAS DE LONDRINA: histórias para ouvir e contar
Ana Maria de Araujo Ventura, Carlos Delfino, Leda Maria Araujo, Marli Meisen Bleinroth, Mayumi
Takei Karyia, Vera Lúcia Ferraciolli ................................................................................................................ 67
MANIFESTAÇÕES DE FÉ COMO PATRIMÔNIO CULTURAL DE
APUCARANA
Brena de Oliveira Brotti, Lorena Angélica Mancini, Michele Leandro da Costa,
Tatyana do Nascimento .................................................................................................................................... 70
EXPOSIÇÃO “O PASSADO PREPARA O FUTURO...” – SEMANA NACIONAL
DO LIVRO E DA BIBLIOTECA NA BIBLIOTECA PÚBLICA MUNICIPAL DE
LONDRINA
Marli Meisen Bleinroth ..................................................................................................................................... 73
MUSEU DE ARTES GRÁFICAS DE LONDRINA – SOBRE A CONSERVAÇÃO
DA MEMÓRIA IMPRESSA ............................................................................................................... 76
OFICINA DE ENTREVISTAS: A MEMÓRIA EM SALA DE AULA ATRAVÉS
DA HISTÓRIA ORAL
Gisele da Silva Oliveira, Taiane Vanessa da Silva, Felipe Augusto Leme de Oliveira,
Regina Célia Alegro ........................................................................................................................................... 80
OFICINA DE FOTOGRAFIA DOCUMENTAL: SENSIBILIZANDO O OLHAR
DO ALUNO
Amanda Camargo Rocha, Aryane Kovacs Fernandes, Kátia Regina Azevedo Vanderley Miche, Vanessa
Caroline Mauro, Regina Célia Alegro .............................................................................................................. 83
OFICINA DE MAPAS ALTERNATIVOS NO MUSEU HISTÓRICO
Juliana Souza Belasqui, Natália Cortez e Sousa, Priscila Rosalen Pasetto de Almeida ............................. 86
EXPOSIÇÃO “O PASSADO PREPARA O FUTURO...” – SEMANA NACIONAL
DO LIVRO E DA BIBLIOTECA NA BIBLIOTECA PÚBLICA MUNICIPAL DE
LONDRINA
Marli Meisen Bleinroth ..................................................................................................................................... 89
O CENTRO HISTÓRICO COMO UMA REINVENÇÃO DA CIDADE
CONTEMPORÂNEA
Elisa Roberta Zanon .......................................................................................................................................... 92
OS LAÇOS POSSÍVEIS ENTRE O PATRIMÔNIO CULTURAL E O TURISMO
Bruna Morante Lacerda Martins, Sandra Cássia Araújo Pelegrini .............................................................. 95
O TURISMO COMO ALTERNATIVA PARA A PRESERVAÇÃO DO
PATRIMÔNIO HISTÓRICO CULTURAL E A REAFIRMAÇÃO DA
IDENTIDADE CULTURAL NA CIDADE DE FÊNIX
Angela Patricia Picoli, Marcelo Yudi Nariji, Michele Leandro da Costa,
Lorena Angélica Mancini .................................................................................................................................. 98
PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS EM RESTAURO
Solange Cristina Batigliana, Vanda de Moraes ............................................................................................ 101
UMA VIA DE MÃO DUPLA: ESTUDO DE RECEPÇÃO DE PÚBLICO NO
MUSEU DE ARTE DE LONDRINA
Claudia Eliza Marques de Matos, Claudia E. P. M. Martinez .................................................................... 105
MEDIAÇÃO EM MUSEUS:
CASO DO MUSEU DE ARTE DE LONDRINA
Lucinéia Chamorro e Silva1
O surgimento do Museu
O município de Londrina possuía sua economia calcada na agricultura, cuja
riqueza oriunda do café possibilitou a “modernização” do centro com a contratação
do arquiteto Vilanova Artigas e do engenheiro Carlos Cascaldi para que juntos
projetassem e construíssem novas edificações públicas e privadas.
A prefeitura municipal de Londrina os incumbiu de projetar e construir a nova
rodoviária, fundamentada na arquitetura modernista e permeada por panos de vidro
que permitia que a riqueza e a prosperidade dos cafezais adentrassem os recintos do
museu. Com o passar dos anos a mesma tornou-se incapaz de atender a demanda da
cidade, sendo substituída por outra rodoviária. O edifício foi tombado pelo IPHAN
estadual, tornou-se um monumento.
No inicio dos anos 1990, o edifício da antiga rodoviária era um monumento no
centro de Londrina totalmente vazio,
...a primeira proposta foi transforma-la em centro de exposições
artísticas. Para tanto foi objeto de projeto de restauração e
adaptação elaborado pelos arquitetos Antonio Carlos Zani e Jorge
Marão Miguel... (SUZUKI, 2003. p.19).
A comunidade artística desejava na época que o Norte do Paraná tivesse um espaço
para abrigar as manifestações das artes visuais, possibilitando a experimentação
estética e que serviria como meio dos cidadãos fruírem e participarem da produção
artística local, sem a influência da indústria cultural que pasteuriza e homogeneíza
o conhecimento.
A rodoviária como todo monumento arquitetônico, passou por reformas, após
a mobilização dos artistas londrinenses e da região e a Prefeitura Municipal de
Londrina no ano de 1993, através do decreto 172, implantou e criou o primeiro
Museu de Arte do Norte do Paraná, ainda sem estrutura para prestar um serviço de
museologia adequado.
1 Especialista em Patrimônio Cultural, UNIFIL; Especialista em Filosofia, UEL; Graduada em Artes Visuais, UEL;
graduada em História, UEL.
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No final dos anos 90, a estrutura da antiga rodoviária passou por novas adaptações
com a intenção de receber obras de arte sendo elas pinturas, esculturas, fotografias,
instalações e performances, foram colocados ar condicionados que impedem o
movimento dos brise-soleil.
O Museu de Arte de Londrina, como muitos outros espalhados pelo Brasil,
foi projetado e nem construído para ser utilizado como museu, onde no projeto
deveriam ter espaços adequados para reserva técnica, sala de restauro, sala de cursos,
ambientes climatizados, bibliotecas entre outros serviços.
O Museu de Arte, possuí muitas restrições, mas procurou durante todos esses anos
seguir as instruções do IBRAM, como por exemplo, cumprir a obrigação de guardar
em sua reserva parte do patrimônio cultural local e nacional, expor seus acervos
e as mostras itinerantes com o objetivo de construir a identidade local e nacional,
além de produzir o conhecimento sobre artes com a edição de folders e catálogos,
proporcionar lazer, fazer a inclusão social e principalmente ao democratizar o acesso
e a fruição dos bens culturais.
Uma das maneiras utilizadas para a democratização dos bens culturais são as
mostras e exposições em que o serviço educacional do museu através da mediação
proporciona aos visitantes a interpretação e a produção de conhecimento, com esse
serviço os museus cumprem parte da determinação da Constituição Federal de
1988, no qual o estado tem o dever de garantir o acesso aos bens culturais.
Espaço Expositivo
O ambiente do Museu de Arte de Londrina é permeado através dos panos de
vidro, a população circulante dentro do edifício pode acompanhar o que acontece
ao redor do mesmo. Deste modo as obras ali expostas, não se encontram em um
cubo branco, fechadas no espaço do sagrado museu, onde o artista e a obra podem
assumir o papel de deuses do conhecimento artístico dentro do universo das artes
visuais, em um espaço separado do mundo externo e da vida cotidiana.
As obras bidimensionais são expostas em pranchas de vidro enquanto objetos e
esculturas são dispostos sob prismas, durante a curadoria da exposição o curador
faz um mapa da exposição, qual será o caminho que o visitante fará pela exposição e
qual a expectativa de leitura das obras.
A permeabilidade do vidro está nas paredes e nos expositores replicas dos criados
por Lina Bo Bardi para o Masp em São Paulo. Assim o visitante ao fruir a obra de
arte expostas as contrapõe com o ambiente interno do Museu no qual possuí outras
obras da exposição permanente ou com a itinerante, ao mesmo tempo em que as
obras ali expostas dialogam com o externo, a rua e a praça, através de suas paredes.
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Exposições
No Museu de Arte de Londrina, desde a sua fundação ocorrem exposições
com duração de um a dois meses, atualmente são divididas em duas, a do seu
acervo permanente com obras de arte como pintura, objeto, fotografia, escultura
pertencentes ao acervo da instituição ou temporárias podendo ser de artistas ou de
curadores que participaram da seleção para obtenção de direito de uso do espaço
expositivo ou mesmo de artistas convidados.
Os servidores da instituição estudam junto aos artistas ou curadores como
serão dispostas as obras no espaço expositivo, o layout, a comunicação visual e a
iluminação das obras.
Durante dois ou três dias a equipe se reveza na montagem da exposição para que
a mesma esteja pronta para a abertura para a visitação. Durante as exposições a uma
grande variedade no público visitante composto por turistas nacionais e internacionais,
estudantes, famílias, grupos agendados ou mesmo por pessoas que desejam se lembrar
dos tempos que utilizavam aquele espaço em suas funções originais, isto rodoviária,
antes de ser transformados em templos da cultura. Muitos desses visitantes só entram
uma única vez no museu, e faze-los retornar é grande desafio.
Mediação
No período das exposições de um artista especifico ou mesmo de obras do
acervo, o museu tem como rotina de trabalho o agendamento das visitas escolares,
no atendimento a esses alunos são previstos o serviço de mediação.
A mediação segundo Coelho, é o processo de aproximar o visitante ou grupos a
obras de arte ou de cultura. Assim, durante a montagem da exposição são pensadas
como será a comunicação eficiente entre visitante e obras de arte, neste momento
entra em cena o mediador, o funcionário que tem a função de aproximar os indivíduos
da linguagem das artes, ele como emissário fica entre a obra e o individuo.
Como o mediador é o servidor que trabalha na instituição museu e conhece as
obras e o artista ele deve estar preparado para receber o visitante que pode ser a
primeira e ultima vez que virá para conhecer as obras de arte naquela instituição.
Para a realização de um serviço de atendimento eficiente é necessário a
elaboração do plano para a mediação, este é elaborado pelo setor educativo, no qual
os servidores visitam o artista ou o curador para conversar sobre o seu processo na
elaboração/criação da sua obra, para compreender o que será exposto, leem textos
ou livros sobre o artista e sua obra para a elaboração do roteiro sobre as obras, e
como será a abordagem para cada faixa etária.
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O serviço do mediador parece aos olhos distantes, um trabalho fácil como se o
mesmo apenas deveria alfabetizar os grupos de alunos que visitam o museu de arte.
Mas o serviço vai muito além, uma vez que ele esta ali também para auxiliar no
dialogo entre a obra e o visitante.
O mediador é o interlocutor das ações educativas do museu e o elo entre a obra
e o fruidor, e tem como termo auxiliar na orientação dos visitantes utilizando o
material elaborado pelo curador.
No serviço diário no Museu, o mediador recebe os visitantes na porta principal,
a linha divisória entre o mundo externo e o monumento utilizado pela arte. No final
da visita grupos, ou alunos fazem a sua ressignificação do espaço museal e das obras
ali expostas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Museu de Arte de Londrina apesar dos seus vinte anos de existência ainda tem
muito que percorrer e se estruturar no campo da mediação, pois como exemplo de
outros serviços de mediação em museus pelo mundo temos uma grande variação no
atendimento.
Por exemplo, a mediação em museus com grande movimento de visitantes não
ocorrem com um funcionário especifico acompanhando o grupo ou individuo, o
visitante frui as exposições muitas vezes através dos textos dispostos no ambiente
expositivo ou mesmo utilizando de audioguia, no qual cada visitante caminha pelas
obras, sozinho acompanhado pelas instruções previamente gravadas.
O processo de criação e de formatação das mediações é diário e a cada
nova exposição, novos desafios são impostos a equipe do setor educativo e de
mediação.
REFERÊNCIAS
JULIÃO, Letícia, BITTENCOURT, José Neves (Org.). Cadernos de Diretrizes
Museológicas 2: mediação em museus - curadorias, exposições, ação
educativa. Belo Horizonte: Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais /
Superintendência de Museus, 2008.
COUTINHO, Rejane Galvão. Arte Educação como Mediação Cultural e Social.
Disponível em <http://www.museus.gov.br/museu/>. Acessado em 11 de julho de
2013.
SUZUKI, Juliana. Artigas e Cascaldi: arquitetura em Londrina. São Paulo: Ateliê
Editorial, 2003.
16
TEIXEIRA COELHO. Dicionário crítico de política cultural. Verbete “Mediação
cultural”. São Paulo: FAPESP/Iluminuras, 2ª ed., 1999.
IBRAM. Plano Nacional setorial de Museus 2010/2020. Brasília-DF: MINC/
IBRAM, 2010.
BUTKUS, Vitor. Caminhando: descrição do lugar de atuação do Mediador.
In.:Musas: Revista Brasileira de Museus, nº4, 2009.
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GASTRONOMIA E PATRIMÔNIO CULTURAL
LONDRINENSE: RESULTADOS DE UM PROJETO1
Leandro Henrique Magalhães
Mirian Cristina Maretti2
Isadora Fernanda Rossi
Jair Junior Monteiro Solin
Kamilla Banischy Matsuo
Evelyn Nunomura3
Silvia Letícia Schroeder Pelanda4
Ana Carolina de Paula Gouvea5
Introdução
O texto aqui apresentado é resultado de pesquisas vinculada ao projeto intitulado
“Gastronomia e Patrimônio Cultural Londrinense”, que pretende identificar quais
pratos e práticas londrinenses podem ser consideradas como bens culturais. Visa
ainda reconhecer e explorar referências de memória gastronômica de imigrantes/
migrantes e seus descendentes no processo colonizador da cidade de Londrina, nas
décadas de 30 a 50 (século XX).
A pesquisa está respaldada em análises de documentos, parte deles do acervo do
Museu Histórico de Londrina Padre Carlos Weiss, que possibilitou a identificação das
nacionalidades daqueles que adquiriram lotes de terras nos primeiros anos de colonização
da cidade de Londrina. A partir destes documentos, foi possível verificar quais os imigrantes
e descendentes com maior número de famílias na cidade e, a partir daí, deu-se início a
pesquisa em torno da contribuição dos mesmos para a constituição de uma cozinha local.
Neste sentido, os objetivos do estudo foram:
Gerais
• Aprofundar os vínculos entre a Gastronomia e o Patrimônio Imaterial, além
de identificar pratos e práticas gastronômicas londrinenses, com referenciais
em imigrantes, migrantes e descendentes, que podem ser integrados na
categoria de bem cultual.
1 Projeto financiado pelo Centro Universitário Filadélfia – UniFil e com bolsas da Fundação Araucária.
2 Professores dos Cursos de Gastronomia e Nutrição do Centro Universitário Filadélfia – UniFil.
3 Gastronôma formada pelo Centro Universitário Filadélfia – UniFil.
4 Alunas do Curso de Gastronomia do Centro Universitário Filadélfia – UniFil.
5 Nutricionais. Especialista em Gestão de Unidades de Alimentação com Ênfase em Gastronomia, pelo Centro
Universitário Filadélfia - UniFil.
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Específicos
• Investigar temas do patrimônio cultural em geral e a composição étnica
londrinense nas primeiras décadas da colonização (30 a 50), desvelando
contribuições específicas para a formação histórico/cultural da cidade de
Londrina/PR, e;
• Realizar estudos teóricos sobre o conceito de Patrimônio Cultural em geral, e
sobre Patrimônio Imaterial em particular, e seu vínculo com a Gastronomia.
Aqui estão apresentadas as contribuições dos japoneses, italianos, alemães e espanhóis.
Os Japoneses em Londrina
Dividindo com os italianos o status de grupos estrangeiros com maior número
de aquisições de lotes no início da colonização de Londrina (MAGALHÃES;
MARETTI, 2012), os imigrantes japoneses chegaram ao norte do estado paranaense
motivados pela convincente campanha propagada pela Companhia de Terras Norte
do Paraná com relação à boa qualidade do solo e condição acessível para compra
dos lotes na região (YAMAKI, 2006). Os atrativos mencionados fizeram com que
parte dos japoneses habitantes e trabalhadores das fazendas do interior paulista
migrassem para o Norte paranaense, incluindo a região de Londrina.
Tais grupos alimentavam a esperança de encontrarem uma nova e melhor
realidade econômica, deixando para trás a complicada situação vivida nas lavouras
paulistas devido à queda da produção, acometimento da qualidade do solo e
dificuldade na aquisição de suas próprias terras (CAPELO, 2000; OGUIDO, 1998).
Ao adquirirem a posse de suas propriedades, os japoneses poderiam assim cultivar
os seus próprios e típicos ingredientes, superando assim um dos grandes obstáculos
encontrados no em território brasileiro: a alimentação.
O período de adaptação com os novos padrões alimentares foi bastante difícil
para os japoneses. Tiveram que acostumar a utilizar e consumir alimentos de
sabores mais fortes, salgados e com texturas diferentes, como os embutidos, a carne
e gordura de porco, bastante utilizados pelos europeus.
Os imigrantes nipônicos conseguiram cultivar o arroz, ingrediente base de sua
cultura alimentar. (MAGALHÃES; MARETTI, 2012). Inseriram em sua dieta o
consumo de alimentos encontrado na comunidade local como picão, mamão verde,
milho, fubá, feijão, quiabo, farinha de mandioca, espaguete. Esses ingredientes
regionais eram utilizados em pratos servidos a moda japonesa: picão e mamão verde
eram transformados em picles (conservas); com a farinha de mandioca misturada
com a farinha de trigo, produziam os dangos; o espaguete para o preparo do udom; o
feijão cozido com açúcar no manju; o quiabo no missoshiro (HANDA, 1987).
19
De acordo com Magalhães e Maretti (2012), o exotismo da culinária japonesa,
encarado a priori pela população local, conquistou o paladar dos londrinenses.
Pode-se evidenciar esse fato através da incorporação de preparações que traz consigo
referências de memória gastronômica como, por exemplo, o tempurá, o missoshiro,
o sushi e o manju. Essas preparações tipicamente japonesas são encontradas com
facilidade em feiras livres, supermercados e restaurantes da cidade, fazendo parte
assim da mesa não apenas de descendentes japoneses como também de grande parte
dos apreciadores locais dessa culinária.
Os Italianos em Londrina
A vinda dos italianos a Londrina ajuda a compreender parte do que seria os
pilares de uma cozinha local, considerando que os mesmos foram os estrangeiros
que chegaram em maior número à cidade. Uma pesquisa realizada no início dos
anos 2000 demonstra que 25% da população norte paranaense têm descendência
italiana.
A vinda dos italianos ao Brasil se deu a partir da segunda metade do século XIX,
quando a mão de obra escrava estava sendo substituída pela livre (ALENCASTRO,
RENAUX, 1997). Já no início da primeira guerra mundial, os italianos formavam
um grupo de 1.356.398 de imigrantes, representando mais de um terço da imigração
total para o Brasil. São originários de diversas localidades da Itália, com destaque
para a região norte, onde já atuavam na agricultura, entre outros ofícios:
Dentre as profissões vinculadas à área gastronômica, destacam-se
os comércios de secos e molhados, cafeicultura, fábricas de bebidas,
pecuária, criação de gado leiteiro, comércio e beneficiamento de
café e arroz (MAGALHÃES; MARETTI, 2012).
Companhias comerciais privadas e colonizadores, através da facilitação de
doações de terras após a Proclamação da República, também sustentaram a imigração
desses europeus como parte da inserção do país no capitalismo internacional.
Com a aceleração demográfica, os italianos que inicialmente haviam se instalado
em São Paulo, principalmente devido a expansão da frente cafeeira paulista,
passaram a migrar internamente e, entre os destinos, estava Londrina, que apareceu
como terra da promissão e das oportunidades “consolidando-se a partir de uma elite
marcada pela ideia de progresso, os chamados pioneiros” (ARIAS NETO, 1998).
Aprofundando ainda mais as pesquisas, observou-se que, esses italianos
concentravam-se, em Londrina, onde hoje é o Jardim Bandeirantes (ASSOCIAÇÃO
PRÓ MEMÓRIA DE LONDRINA E REGIÃO, 2004). Já na capital do Estado, um
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dos principais núcleos coloniais está localizado no bairro de Santa Felicidade, e é
através dele que se podem avultar as principais influências gastronômicas no Brasil,
e, consequentemente, também em Londrina.
Destaca-se como alimento cotidiano básico a polenta, insígnia das classes rurais
italianas, fortalecida e transformada com a chegada do milho, que ocasionou a
substituição dos cereais utilizados no preparo da polenta. Estava solidificado o prato
mais típico desses imigrantes no Brasil: a polenta de fubá. Quando sofisticado, era
acrescido o bacalhau, sendo esse um dos pratos mais tradicionais em Vêneto, origem
da maioria dos imigrantes de São Paulo e, de São Paulo para Londrina.
Destaca-se ainda o arroz, consumido em forma de sopa; pão caseiro de centeio;
carne de porco e derivados, como salame e linguiça; a carne de galinha, que com o
passar do tempo foi implantada nas principais refeições e, evidentemente, as massas.
É relevante na dieta desses imigrantes também o macarrão redondo e fino (bigoli)
e o macarrão em forma de fitas achatadas (tagliatelle), servido em dias de festa
(PILATTI BALHANA, 1978). Por fim, à lista de influências dos ítalo-brasileiros na
atual gastronomia londrinense, não se pode deixar de citar a notória macarronada.
Outro ingrediente importante muito utilizado pelos italianos foi o azeite, obtido
de oliveiras da região e consumido em saladas feitas com muito óleo e pouco vinagre.
O uso do pão também foi relevante na rotina dos colonos. Um dos pratos clássicos
italianos, o ensopado menestra, em Londrina sofreu adaptação e era feito com arroz,
feijão e queijo, assim, junto à polenta de fubá, estava formado o duo gastronômico
mais apreciado na cidade pelos imigrantes (NOGUEIRA, 2004). Quando a baixa
temperatura diminuía a atividade no campo, os colonos tinham tempo de preparar
a charcutaria (por eles chamada de salumeria) e, com a carne de porco faziam
toucinho salgado, porém sem passar pelo processo de defumação.
Por ser base da sopa al brodo, a galinha também estava presente no cardápio das
famílias. Esse prato era um caldo com carne, pão e queijo, servido para a mulher após
o parto, no período de quarentena, resguardo e regimes. Na dieta dos colonos ainda
estavam aves como marrecos e patos. Entre as verduras destacam-se o almeirão,
a couve e a alface, além da cebola. Somam-se ainda as ervas medicinais para chá:
arruda, losna, menta, alecrim, camomila, erva-doce e outras. Completando a dieta,
a roça proporcionava a batatinha, batata doce, abóbora, cará, quiabo, amendoim e
outros vegetais (NOGUEIRA, 2004).
Os Alemães em Londrina
No século XIX, o Brasil só perdeu para os Estados Unidos na recepção de
emigrantes alemães. Por sua vez, foram eles que deram início ao processo imigratório
21
no país: em 1818 chegaram a cidade de Ilhéus - BA, em 1819, em Nova Friburgo - RJ,
em 1824, em São Leopoldo - RS, em 1828, a Três Forquilhas e Torres - RS, e em 1829,
a São Pedro de Alcântara e Itajaí-SC, e na Colônia de Rio Negro - no PR, totalizando
9% de imigrados no período. Segundo dados apresentados no Salão e Exposições
do BADEP, de 1819 a 1959 entraram 257.114 alemães imigrantes no Brasil (BADEP,
1979).
Ou seja, os primeiros imigrantes alemães chegaram ao Brasil antes mesmo da
independência, no contexto da abertura dos portos, contando com comerciantes
que desenvolvem atividades de importação e exportação, estabelecendo-se
principalmente no Rio de Janeiro e na Bahia, integrando os primeiros projetos
de colonização autorizados pelo então governo português. No entanto, o marco
inaugural da imigração alemão está em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul,
associada ao povoamento e colonização da região Sul (ARTE E GASTRONOMIA
DO PARANÁ, 2005).
Dentre as principais razões que motivaram a imigração alemã, destacam-se
(REINHARDT, 2007):
• 1a leva: razões econômicas, como os imigrantes vindos para trabalhar nas
lavouras. Em geral, os alemães eram autorizados a obter 25 hectares de terra,
mas não podiam ter escravos;
• 2a. leva (a partir de 1848): razões políticas, com a vinda dos chamados de
Brummer (mosqueteiros). Eram artesãos, intelectuais e operários que, ao
chegarem ao Brasil, direcionaram-se para os centros urbanos;
• 3a. leva (último terço do século XIX): corrente imigratória expressiva,
estimulada por entidades privadas como a Igreja Luterana e a Liga
Pangermânica, que ofereciam assistência, visando fortalecer os vínculos com
o país de origem;
• 4a. leva (período de guerras): motivados pela 1a guerra mundial e, depois,
pela 2a. guerra mundial, muitos destes, fugindo do nazismo.
No que se refere a alimentação dos alemães no Brasil, sua adaptação foi rápida,
contribuindo com a inserção do gado leiteiro, dos cereais, da carne de porco, da
banha, da batata, do repolho e da tração animal. Em seu país de origem, era comum
o consumo de trigo, cevada, repolho, batata inglesa, lentilha, videira, leite, carne de
porco e defumados. Inseriram em suas práticas o milho, a mandioca, o amendoim, a
batata doce, o arroz, o feijão preto, a cana-de-açúcar e a abóbora, além do chimarrão,
nos Estados do Sul, e da cachaça. Passa-se a fazer pão de milho, ao invés de trigo, e
inicia-se o consumo de arroz, antes inexistente.
22
Na região de Londrina, a primeira leva de alemães, chegaram em meados de 1929,
aumentando o seu fluxo imigratório a partir de 1930. A fonte de alimentação desses
primeiros imigrantes era a base de palmito, sendo complementado com a carne de caça e
a mandioca. Houve a necessidade de adaptarem a sua alimentação. Assim começaram a
fazer o plantio de mandioca, milho, feijão, passaram a produzir leite, queijos, ovos, frutas
e verduras, para seu próprio consumo e para o abastecimento dos habitantes da cidade.
A maioria desses alemães se instalou na região do Heimtal, sendo que uma das
famílias mais famosas é a Strass, que após o ciclo do café, buscou alternativas e, em
parceria com outras famílias da região, redirecionavam as suas propriedades para a
plantação de hortifruti.
Com o passar do tempo sentiram a necessidade de resgatar a cultura alimentar
germânica, passando a fabricação de salsichas, com a receita original do sul da
Alemanha, incrementando seu cardápio com: o einsbein, lombo, costela, entre outros
cortes suínos defumados, que hoje em dia compõem o cardápio de restaurantes da
cidade como o strassberg, restaurante do Toninho e o Porco no tacho.
Os Espanhóis em Londrina
A imigração espanhola ao Brasil ocorreu de forma distinta dos demais
movimentos colonizadores, especialmente por ocorrer em fases diversas e com
características que o diferem dos demais grupos estudados.
O fluxo imigratório ocorreu em dois momentos específicos: o primeiro, entre 1897
e 1930 que foi constituído, em sua maioria, por camponeses e jornaleiros, fugidos
da fome, em geral analfabetos e possuidores de uma cozinha de sobrevivência.
O segundo ocorreu após a Guerra Civil Espanhola e a 2a. Guerra Mundial, entre
1948 e 1963, formado por um grupo de escolarizados, preocupados com a cozinha
espanhola, o que resultou, segundo Dolores Martins Rodrigues Corner (2005), na
abertura de casas de refeições, bares, pensões e restaurantes.
Entre os motivos que favoreceram a emigração espanhola em fins do século XIX
estão uma crise de subsistência, também denominada por Cánovas (2004) de miséria
institucionalizada, presente entre o campesinato andaluz, ou seja: falta de trabalho,
baixos salários e condições desfavoráveis do sistema tributário, com a emigração
vista como uma possibilidade de enriquecimento: “Curiosamente, questões de ordem
local, como a miséria ou a carência de oportunidades, parecem igualmente povoar
o imaginário daqueles que vivenciaram o processo como emigrantes (CÁNOVAS,
2001, p.41)”.
No Sul do Brasil, segundo Regina Weber, sua presença remonta o período de
povoamento da região, com autores afirmando que: “os espanhóis têm um papel
23
tão importante quanto os portugueses na ocupação da região, zona de limites
indefinidos entre a América portuguesa e a América espanhola até o início do
século XIX (WEBER, 2012, p.138)”. O livro intitulado Arte e Gastronomia do Paraná
(2005), ao abordar a presença espanhola no Estado, faz referência ao ano de 1541,
quando Don Alvar Nuñes Cabeza de Vaca, em nome do Rei da Espanha, veio tomar
posse da Província do Rio da Prata. De Santa Catarina dirigiu-se ao Caminho de
Peabiru, utilizado pelos índios, subdino a Serra do Mar, em direção ao Rios Ivaí e
Piquiri e, ao cruzar o Rio Iguaçu, tomou conhecimento das cataratas.
No entanto, quando trata do processo de imigração, o mesmo se dá a partir do
século XX, com espanhóis e descendentes deslocando-se do Estado de São Paulo,
especialmente das fazendas de café do interior. A partir daí, seriam formadas, nas
cidades de Jacarezinho, Santo Antônio da Platina e Wensceslau Brás. Entre 1942 e
1952 este processo é intensificado, com novos municípios, na região de Londrina,
sendo formadas (KRAFT FOODS BRASIL, 2005), informações estas confirmadas
no site do Estado do Paraná (2012)
Os primeiros imigrantes espanhóis que chegaram ao Paraná
formaram Colônias nos municípios de Jacarezinho, Santo
Antônio da Platina e Wensceslau Brás. Entre 1942 e 1952 a
imigração espanhola tornou-se mais intensa. Novos municípios,
principalmente na região de Londrina, foram formados por esses
imigrantes. Eles desenvolveram atividades comerciais, artesanais e
relacionadas à indústria moveleira.
No que se refere a alimentação, os imigrantes espanhóis observaram no Brasil
uma grande fartura de alimentos, contrapondo-se a sua pobreza material. Houve
um esforço, nas primeiras décadas do século XX, em reproduzir no Brasil hábitos
alimentares transportados, seja nos lares, seja nas barraquinhas de alimentos, em
pequenos comércios ou em festividades, como é o caso do bacalhau e grão de bico
ou dos doces como o churros, os borrachuelos e os mantecaus.
Entre os pratos de origem que se reproduziam aqui, destacam-se a tortilla de
ovos batidos com batatas cortadas em cubos; migas, feitas com migalhas de pão, frito
no azeite e alho, com sardinhas ou pimentões fritos; pucheros, combatatas, couve,
carne de porco, azeite e alho. A alimentação era a base de arroz, batatas, carnes e
peixe, com destaque para sardinha, com frutos do mar (CORNER, 2008). Para os
espanhóis que viviam no Brasil, o odor que caracterizaria a cozinha espanhola seria
o açafrão, seguido do pimentón ou páprica.
Um dos pratos mais lembrados pelos imigrantes é o cozido, como prato cotidiano,
e a paella, seu cartão postal, sendo “inventada” para a cozinha internacional, visando
atender a turistas na região da Andaluzia (CORNER, 2008).
24
Outro ponto importante a ser realçado são as adaptações. Um dos motivos era
a dificuldade de obter ingredientes, levando a formação de uma cozinha mesclada
devido a necessidade de substituições buscando-se, porém, manter os sabores
e aromas de origem. Além disso, tiveram que incorporar os alimentos básicos
da cozinha brasileira, como o arroz e o feijão, na sua cozinha diária, por serem
ingredientes de bons preços na cidade. Um dos elementos que favorecera a adaptação
fora a convivência e a influência dos portugueses, povo identitariamente próximo,
pois ibéricos.
Na cidade de Londrina, a influência espanhola na cozinha local estabeleceu alguns
pratos mais conhecidos, como a clássica paella e o churros. Este último pode ser
facilmente encontrado em feiras livres e outros estabelecimentos, enquanto a paella
é personagem principal em alguns restaurantes e outros vários abrem a possibilidade
de encomenda. Em entrevista, Ernesto Diez, proprietário do restaurante Empório
Araçá é descendente de espanhóis e contou que embora seja um prato que tenha
sofrido várias transformações, a paella é um ícone da culinária espanhola na cidade
de Londrina.
Embora a cozinha da Espanha tenha suas peculiaridades, não houve um choque
cultural tão intenso, pois como afirmou Dr. Luis Parellada1, “não há muitas diferenças,
já que a culinária ibérica e a lusitana não são tão distintas”. Por fim, observouse através das pesquisas e entrevistas a distinta marca espanhola na gastronomia
londrinense.
REFERÊNCIAS
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II. São Paulo. Companhia das Letras, 1997.
ARIAS NETO, José Miguel. O Eldorado: Representações da Política em Londrina
(1930-1975). Londrina: EDUEL, 1998.
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Imigrante na Cafeicultura Paulista: O Caso De Villa Novaes, 1880-1930. 2001.
Dissertação (Mestrado em História) – Universidade de São Paulo – USP. São Paulo
– SP.
1 Dr. Luis Parellada é um imporante médico na cidade de Londrina e imigrou à cidade em 1957, vindo de Barcelona,
na Espanha.
25
CÁNOVAS, Marília D. Klaumann. A Grande Imigração Européia para o Brasil e
o Imigrante Espanhol no Cenário da Cafeicultura Paulista: Aspectos de uma (In)
Visibilidade. Sæculum - REVISTA DE HISTÓRIA, No. 11, João Pessoa, ago./ dez.
2004
CÁNOVAS, Marília D. Klaumann. Imigrantes Espanhóis na Paulicéia: Trabalho
e Sociabilidade Urbana, 1890-1922. 2007. Tese (Doutorado em História). –
Universidade de São Paulo – USP. São Paulo – SP.
CAPELO, Maria Regina Clivati. Educação, Escola e Diversidade Cultural no
meio rural de Londrina: Quando o presente reconta o passado. 2000. Tese
(Doutor em Educação) – Universidade de Campinas – UNICAMP. Campinas –
SP
CORNER, Dolores Martin Rodrigues. A Cozinha do Imigrante Espanhol na
Cidade de São Paulo. Anais 34. Encontro Nacional do Ceru. 2008.
CORNER, Dolores Martin Rodrigues. A Gastronomia Como Fator Identitário.
Lembranças e Silêncios dos Imigrantesespanhóis na Cidade de São Paulo (19461965). 2005. Dissertação (Mestrado em História Social) – Pontificia Universidade
Católica – PUC. São Paulo – SP.
DA MATTA, Roberto. O que faz o Brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1986.
FOLHA DE LONDRINA. Carlito Strass e seus 912 meses no Heimtal / Vale dos
Alemães Evoca Aldeia Russa. 27 de Agosto de 2010. HANDA, Tomoo. O Imigrante Japonês: história de sua vida no Brasil. São Paulo:
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KRAFT FOODS BRASIL. Arte, e Gastronomia do Paraná. Curitiba: Solar do
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MAGALHÃES, Leandro H. MARETTI, Mirian C. Gastronomia e patrimônio
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PILATTI BALHANA, Altiva. Santa Felicidade: Uma paróquia veneta no Brasil.
Curitiba: Fundação Cultural, 1978.
26
REINHARDT, Juliana Cristina. Dize-me o que comes e te direi quem és - alemães,
comida e identidade. Curitiba, 2007. Tese (Doutorado em História). Setor de
Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná.
WEBER, Regina. ESPANHÓIS NO SUL DO BRASIL: DIVERSIDADE E
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137-157, jan./jun. 2012.
YAMAKI, Humberto. Labirinto da Memória: Paisagens de Londrina. Londrina:
Edições Humanidades, 2006.
27
GESTÃO MUSEAL:
DOCUMENTAÇÃO
Gina Issberner1
Os trabalhos desenvolvidos nos bastidores de um museu superam os limites da
exposição, e oferecem o suporte necessário para o desenvolvimento de ações inerentes
a salvaguarda e preservação do patrimônio cultural. A documentação, por ser um
trabalho que não se mostra, na maioria das vezes é imperceptível ao grande público.
De acordo com Helena Ferrez (1994), a documentação de acervos
museológicos é o conjunto de informações sobre cada um dos seus itens
e, por conseguinte, a representação destes por meio da palavra e da
imagem (fotografia). Ao mesmo tempo, é um sistema de recuperação de informação
de transformar, como anteriormente visto as coleções dos museus de fontes de
informações em fontes de pesquisa científica ou em instrumentos de transmissão
de conhecimentos (FERREZ, 1994, p 64). Entendemos a pesquisa de acervo como
fonte mediadora entre o público e o museu, visando a produção de conhecimento e
a preservação da memória.
Nesta atividade, os recursos documentais na organização dos termos jurídicos que
antecedem a efetiva entrada do objeto no museu são de fundamental importância.
Os termos de doação e empréstimo costumam estar padronizados e assinados pelo
responsável jurídico da instituição, pelo doador e duas testemunhas. (FERREZ, 1994
p. 64.)
Comissão de Acervo
O processo de aquisição de acervo costuma ser realizado a partir de proposta
dirigida à Comissão Permanente de Política de Acervo para análise e emissão de
parecer, acompanhado de um dossiê sobre a peça, realizada pelo responsável pelo
acervo. A comissão é normatizada pelo regimento interno do museu com mandato
de quatro anos, constituída por uma média de seis representantes da área. O diretor
do museu costuma ser o presidente da Comissão de Acervo.
O veto à entrada de novas unidades pode acontecer quando estas apresentarem
condições inadequadas de conservação, grande volume da doação – alterando o
perfil do acervo do museu, ou grandes proporções da obra de modo a interferir no
1
Gina Issberner. Museu Histórico de Londrina. Museóloga. 009-I COREM5ªR
28
espaço interno do museu, entre outros fatores. A metodologia para seleção de acervo
utilizada segundo Moro (1986) na própria dinâmica museológica.
Para que um museu possa funcionar bem, atendendo a sua
proposta como instituição é preciso que a aquisição de seu acervo
seja bem selecionada, além de sistematizada. A idéia de selecionar
o acervo, sistematizando a aquisição, não implica em qualquer
tipo de atitude antiexpansionista, e tem a missão de uma boa
estruturação do mesmo, isto é, a vinculação perfeita entre acervo
x filosofia da instituição x proposta de trabalho x comunidade”
(CAMARGO-MORO, 1986, p. 19). Grifo da autora.
Livro Tombo
Nos acervos museológicos o livro tombo constitui o primeiro registro após o
aceite da obra, assim como a sua baixa. A expressão Tombamento e Livro de Tombo,
provém do Direito Português, onde a palavra tombar tem o sentido de registrar,
inventariar inscrever bens e direitos nos arquivos do Reino. Desde o final do séc.
XIV, o principal arquivo português tem a designação de Torre do Tombo, por se
guardarem na torre Albarrã do Castelo de S. Jorge, em Lisboa (Portugal).
O livro tombo possui capa dura, de sentido horizontal, pautado e suas folhas
numeradas. Recebe o termo de abertura no anverso da primeira página e termo
de fechamento no término dos registros. Um glossário de preenchimento com as
abreviações com o significado de cada atributo2 pode ser anotado nas duas páginas
seguintes. As folhas do livro são rubricadas pelo responsável pelo preenchimento
após a checagem das informações. Na ocasião de sua abertura, recomenda-se o
registro no cartório de títulos e documentos a fim de assegurar sua guarda.
De acordo com Moro (1986), são três os livros tombos utilizados pelo museu.
O de Acervo Permanente, o de Acervo de Comodato e o Acervo de empréstimo à
Curto Prazo. Utilizamos uma numeração corrida, sem repetições ou reutilizações.
As numerações e siglas são específicas de cada entrada. Observamos que o acervo
em comodato não pertence ao museu, e pode ser retirado a qualquer momento ou
conforme previsto em contrato.
Numeração de Acervo
Para diferenciar as numerações colocamos para o acervo permanente, a sigla
do museu antes da numeração. Para o comodato ou empréstimo de longo prazo
2
Entende-se como atributos as particularidades da peça.
29
utilizamos no início da numeração a letra “E” maiúscula. No empréstimo de curto
prazo a letra “e” minúscula. Algumas instituições utilizam numeração binária
seqüencial com o número de registro e o ano como na série MHL 0113.2013;
MHL 0114.2014 .Neste exemplo de numeração, observamos que foram realizados
cento e treze registros no ano de 2013. Seqüencialmente há uma continuidade
na numeração, mudando apenas o ano de registro. No caso de objetos formados
por partes — xícara e pires, por exemplo —, a numeração ou código de registro
deve ser o mesmo, acrescido ao final de letras minúsculas também seqüenciais
(a,b,c...), as quais diferenciarão as partes. Esta numeração deve ser obrigatoriamente
registrada no próprio objeto, através de etiquetas soltas ou caneta nanquim, sendo
imprescindível a participação de um museólogo neste processo, visto que alguns
fatores como suporte e estado de conservação da obra podem sofrer riscos devido à
má manipulação do suporte.
As numerações tripartites são utilizadas em museus com coleções
multidisciplinares (geologia, etnografia, arqueologia, botânica etc...) e demandam
nomenclaturas diferenciadas. Geralmente o primeiro numeral é seqüencial
(representa o nº da peça), o segundo identifica a coleção (por exemplo, a de
geologia) e o terceiro, o ano de entrada. Cada coleção ou área possui seqüência
específica. O número 0001 aparecerá em todas as coleções, diferenciado pela
segunda seqüência que representa a área de conhecimento, finalizado pelo ano de
entrada.
Algumas instituições de grande porte utilizam numerações fracionadas com o ano
de entrada após o número de registro ou nº. de entrada, ano e área de conhecimento
(geologia, etnografia, arqueologia, botânica etc...).
Atributos no Livro Tombo
O tombamento de acervos museológicos utiliza uma breve descrição sobre
a obra, acrescentando os dados físicos e documentais da peça essenciais para a
identificação da obra. Os atributos do livro tombo possuem suas variantes, de acordo
com as especificidades da coleção. Museus de arte podem considerar os seguintes
itens: nº. de tombo, data de entrada, tipo de aquisição, título da obra, técnica,
autor, procedência (doador), origem (onde foi fabricado), data da obra, metragem,
descrição, estado de conservação, observações e nº. anterior. Para museus históricos
aplicamos um sistema de informação mais generalizada como nº. de tombo, data de
entrada, tipo de aquisição, nome da peça, classificação genérica, autor/fabricante,
procedência (doador), origem (onde foi fabricado), data de fabricação, metragem,
descrição, observações e nº. anterior.
30
Glossário de Termos
No glossário de preenchimento, esclarecemos que a data de aquisição é
relativa à data constante na ficha de entrada do objeto, preenchida na ocasião em
que foi depositada na instituição para análise futura da comissão de acervo. No
conteúdo referente à descrição da obra, incluímos tipo de material, dimensões,
peso, cronologia, autor, estado de conservação, etc. São informações que auxiliam
na identificação técnica da peça. Classificação genérica: deve-se analisa-lo através
da informação mais objetiva possível, baseada na função da peça ou Tipologia,
como sugestão podemos empregar a da seguinte maneira: Armamento e munição;
Arqueológico; Arte Sacra; Artes Plásticas; Audiovisual; Botânica; Cultura Popular/
Artesanato ; Documento Sonoro; Documento Textual; Equipamento industrializado;
Etnográfico; Filatelia; Fotografia; Indumentária; Instrumento Musical; Maquinário
e utensílio; Mineralogia; Mobiliário; Numismática e Medalhística; Objeto de Culto
; Paleontológico; Publicações; Uso doméstico; Uso pessoal; Veículos; Zoologia;
Outros.
Também no glossário, o item Origem refere-se local onde a peça foi feita ou
fabricada e Procedência refere-se ao antigo proprietário ou de quem a peça foi
adquirida.
Tombamento de Acervos Museiológicos
O tombamento pode ser feito via digital, suas folhas impressas, encadernadas
e numeradas, assinadas pelo declarante e o livro registrado no cartório de títulos
e documentos. De acordo com Moro (1986), são três os livros tombos utilizados
pelo museu (Acervo Permanente; Acervo em Comodato e Acervo de Empréstimo à
Curto Prazo). Utilizamos uma numeração corrida, sem repetições ou reutilizações.
Cada registro deve ocupar uma linha apenas. As numerações e siglas são específicas
de cada entrada. Observamos que o acervo em comodato não pertence ao museu, e
pode ser retirado a qualquer momento. Para diferenciar as numerações colocamos
para o acervo permanente, a sigla do museu antes da numeração. Para o comodato
ou empréstimo de longo prazo utilizamos no início da numeração a letra “E”
maiúscula. No empréstimo de curto prazo a letra “e” minúscula.
Catalogação
Segundo Camargo - Moro, catalogar é o ato de identificar e relacionar bens
culturais através de estudo “que poderá ter maior ou menor profundidade em sua
31
análise e posterior fichamento. Este, com uma descrição completa e a localização da
peça no tempo e espaço, objetiva uma forma de identificá-la”. (CAMARGO-MORO,
1986, p. 79).
Denomina-se classificar a segunda parte de análise, mais
profunda, em sua decodificação da peça, tendo como ponto
principal a ficha classificatória e as deduções conseqüentes
que dela se extraírem. Esta ficha é também denominada
ficha de inventário museológico, pois representa o enfoque
museológico pleno, e uma prova disso é a demonstração
da abrangência desta documentação, classificando a peça,
além de identificá-la. [...] Quanto ao preenchimento da
ficha classificatória, é da alçada do especialista, e deve ser
feito de forma paulatina, acompanhando a pesquisa, cuja
orientação deve ser multidisciplinar para atingir a necessária
interdisciplinaridade (CAMARGO-MORO, 1986, p. 79-80).
Grifo da autora.
Na catalogação do acervo, recomendamos a utilização de software com a
recuperação da informação por diferentes entradas como autor/fabricante, doador,
data, etc. Observamos que para a montagem da base de dados, são empregadas
inúmeras ferramentas como Donato, Pergamum, Dspace e Winissis entre outros
programas adaptados dos sistemas de bibliotecas e arquivos para museus. Algumas
instituições ainda utilizam o InfoMusa.doc (disponível online), formatados para
pequenos museus pela Universidade Lusófona.
Lembramos que a guarda da documentação original do acervo composta
por recibos, contratos, cadernos de anotações entre outros, devem apresentar
condições de acondicionamento e segurança adequados, conservados mesmo após
uma eventual alienação de alguma unidade do acervo considerando seu valor de
referência.
Ressalve-se que o sistema integrado de informações museais, montado em
uma única plataforma de dados, é meta para o sistema brasileiro de museus em
diversas instâncias administrativas. Porém, a realidade dos museus brasileiros
fora dos grandes centros carece de recursos para a execução de serviços mínimos
de pesquisa, comunicação, conservação e segurança, atividades mínimas
previstas na lei nº 7568/2006, do Estatuto de Museus que regulamenta as
atividades da instituição. Apesar disso, fazer uso da tecnologia em rede digital
para o fomento de ações que promovam o diálogo entre os museus constitui-se
uma forma de fortalecimento e apoio mútuo entre os profissionais de diferentes
áreas de atuação a fim de romper o isolacionismo recorrente destas unidades
museais.
32
REFERÊNCIAS
ACAM Portinari. Documentação e conservação de acervos museológicos: diretrizes.
São Paulo: Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, 2010.
BARBUY, Heloisa. Manual para preenchimento da ficha de objetos. 2. ed. São Paulo:
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1987.
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Rio de Janeiro. 1986.
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Disponível em <http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_
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IPHAN, 1994.
POLÍTICA NACIONAL DE MUSEUS. Bases para a Política Nacional de Museus.
IBRAM. Maio/2003.
33
A IMPORTÂNCIA DO SERVIÇO MUSEOLÓGICO
E A FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DE MUSEUS
Profª. Drª. Sandra C. A. Pelegrini1
A temática proposta para esta palestra mostra-se desafiadora e complexa, uma
vez que, as reflexões sobre os espaços museais pressupõem múltiplas possibilidades
interpretativas. No entanto, interessa-nos particularmente destacar que, apesar
das transformações dos estudos da museologia, os museus ainda continuam
representando locais ora de inclusão, ora de exclusão social, em especial, quando
representam predominantemente aspectos comemorativos de memórias triunfantes.
Exposto isto, cabe-nos lembrar que os espaços museais são partes integrantes
da sociedade e que podem (ou não) atuar diretamente na formação da “consciência
crítica” e na “salvaguarda das memórias coletivas” das comunidades nas quais se
incluem. Esta proposição não é uma novidade porque desde a realização da MesaRedonda de Santiago do Chile (1972), os estudiosos dessa área de conhecimento, na
América Latina e Caribenha, veem reafirmando preocupações em relação às funções
sociais dos museus e sua efetiva conexão com os problemas da sociedade e suas
possíveis soluções. Logo, consideramos inegável a contribuição dessa instituição no
âmbito do desenvolvimento socioeconômico e da inclusão sociocultural.
Podemos afirmar que existe um esforço por parte dos estudiosos brasileiros no
sentido de agregar o legado da Carta de Santiago ao saber-fazer museológico, mas,
muito está por ser feito. Entendemos que seja imperioso garantir investimentos
na preservação e modernização das instalações físicas dos museus, na formação
de novos profissionais e na criação de projetos de educacionais que estabeleçam
relações diretas entre acervos e memórias regionais ou comunitárias.
Sem dúvida, as estatísticas do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) apontam a
ampliação do número de instituições dessa natureza em nosso território, bem como
a criação de museus por iniciativa da própria população. Tal constatação evidencia
também o crescimento do público visitante, o desenvolvimento de projetos cuja
ênfase centra-se na interatividade entre a educação formal e informal.
Cumpre-nos lembrar que a possibilidade de atribuição de novos usos aos
espaços museais tem empolgado alguns pensadores como Nestor Canclini que
chegou a afirmar com veemência que os museus “[...] podem desempenhar um
papel significativo na democratização da cultura” (2008, p. 169). Ao partilharmos
1 Universidade Estadual de Maringá. Coordenadora do Museu da Bacia do Paraná.
34
desta proposição, propomos que nosso diálogo priorize o debate sobre: 1. a
implementação de políticas públicas nesse setor; 2. a relevância de investimentos na
formação profissional dos agentes que atuam nos museus e 3. a aposta na criação de
um curso de graduação em museologia no Estado do Paraná.
REFERÊNCIAS
BOURDIEU, Pierre. O amor pela arte: os museus de arte na Europa e seu público.
São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Zouk, 2003.
CANCLINI, Néstor García. Culturas Híbridas: estratégias para entrar e sair da
modernidade. 4.ed.São Paulo: Ed. USP, 2008.
CHAGAS, Mário. Museália. Rio de Janeiro: JC Editora, 1996.
ESTUDOS de Museologia. Cadernos de Ensaios nº 2, Ministério da Cultura.
Instituto do patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, 1994.
MONTANER, Josep. Maria. Museus para o século XXI. Editorial Gustavo Gili,
Barcelona, 2002.
MENESES, Ulpiano Bezerra de. Para que serve um Museu Histórico? Como explorar
um museu histórico. São Paulo: Museu Paulista: USP, 1992.
NOIRIEL, Gérard. Socio-historique d’un concept: les usages du mot “nationalité” aux
XIX siècle. (Dossier. Gêneses) Paris, 20, sept., 1995. p. 4-23.
PINHEIRO, Aurea Paz e PELEGRINI, Sandra C. Tempo, memória e patrimônio
cultural. Teresina/Piauí: EDUFPI, 2010.
PELEGRINI, Sandra C. A. Patrimônio cultural. Consciência e Preservação. São
Paulo: Brasiliense, 2009.
Corpo Documental
Carta de Santiago do Chile (1972)
Declaração de Caracas (1992)
35
OFICINA DE KIRIGAMI:
MAQUETE DO MUSEU DE ARTE
Paulo Tio
O Museu de Arte de Londrina foi criado pelo decreto nº 172 em 12 de maio de
1993, data em que foi inaugurado. A exposição de inauguração exibiu a escultura
A Eterna Primavera, de Auguste Rodin, e também obras dos artistas Menotti Del
Pichia e Vitor Brecheret.
O prédio que abriga o museu fica na região central de Londrina, na Rua Sergipe,
nº 640, e é tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico. Foi construído em
1952, pelo arquiteto João Batista Vilanova Artigas, e era empregado como terminal
rodoviário da cidade até 1988, quando o terminal mudou de lugar.
Para comemorar os 20 anos da transformação de Rodoviária para Museu
foi proposto uma oficina: confecção de uma maquete com materiais reciclados
(tubinhos de papel higiênico e caixas de papelão). A intenção da oficina foi trazer
novas experiências em arte, através de técnicas de escultura em papel como o
“KIRIGAMI”.
Através da técnica do “KIRIGAMI”, podemos estimular a coordenação motora
e a concentração, assim podemos inseri-la em algumas modalidades de arte, no
auxílio a matérias tais como português, matemática, história, entre outras.
As aulas despendidas na confecção da maquete do Museu de Arte de
Londrina, com as técnicas em “KIRIGAMI” e “ESCULTURA EM PAPEL” foram
oportunidades para que as crianças pudessem descobrir e experimentar uma
vivência criativa. Alguns educadores afirmam que a escola tem pautado o ensino
com base na racionalidade humana, sem considerar o caráter simbólico do homem.
A escola visa mais o ensino dos conteúdos do que a expressão artística da criança.
É sempre por meio da arte, do desenho e de sua percepção, que a criança vive
experiências importantes em sua formação física, psíquica e social. Para a confecção
de determinado objeto é necessário ter uma noção do que se vai executar, então,
o aluno o visualiza através do desenho, apreende todas as formas no momento da
execução e o concebe não como uma forma estática, mas que pode ser mutável e
articulada, enfim, com alma própria.
36
Antiga Rodoviária de Londrina – década de 50
Museu de Arte de Londrina – 2013
37
De modo geral, o que se percebe é que nas escolas, o ensino da arte é feito de forma
acadêmica, sem incentivar a individualidade na criação. As crianças, submetidas às
demandas de um mercado de trabalho, são condicionadas a um padrão, no intuito,
apenas, de formar indivíduos capazes de executar tarefas. Em decorrência disto, o
vivenciar artístico e a capacidade impulsionadora, que poderia ser desenvolvida pela
criança em diversas áreas, seja na arquitetura, advocacia, medicina, entre outras,
acabam se perdendo. O intuito do “KIRIGAMI” é introduzir na criança, novos
processos de criação; parte-se do desenho, corte, dobra e ao final, montagem.
Cabe ao educador o papel de mediar o contato da criança com o mundo onde
ela vive e a arte. Neste momento é que o “KIRIGAMI” torna-se uma tarefa mais
complexa, apesar dela ter suas regras de execução, pode ser uma descoberta a cada
objeto proposto e é nesta complexidade que o aluno pode exercitar o seu poder de
criação.
A confecção de uma maquete de papel, com recortes e montagens, pode parecer
somente um exercício banal e divertido. Sim, claro, a diversão é importante, mas
quando introduzimos uma meta, que é “deixar a maquete em pé”, estimulamos o
fazer e mais ainda, indagamos à criança: como fazer? Criar modos de como fazer é o
que sempre moveu a humanidade para frente; os primeiros abrigos humanos eram
de pedra, o primeiro avião a voar tinha estrutura de bambu, começamos a desenhar
com as mãos ou escrever com penas de animais, enfim, ao longo dos anos fomos
aprimorando tudo a fim de termos nossa vida facilitada.
O principal objetivo da construção da maquete do Museu de Arte é, além de
estimular as percepções táteis e visuais, através da técnica do “KIRIGAMI”, relatar
sobre a importância histórica da construção e sintetizar toda a sua essência num
objeto tridimensional.
Foi adotado o uso de materiais recicláveis e objetos de uso cotidiano. A adaptação
das crianças foi gradativa, levou-se em consideração, o nível perceptivo e motor dos
envolvidos no processo.
A prática experimental, tanto em desenho quanto na expressão tridimensional, explora
diversas linguagens e instiga a criança a descobrir seus próprios caminhos na resolução dos
problemas, assim ela pode ampliar seus conhecimentos e definir suas ações.
Do Kirigami à Escultura em Papel
O “KIRIGAMI” é uma arte oriental com papel, onde se corta o material a fim
de dar-lhe uma forma, resultando em uma folha plana com partes vazadas. Vem da
fusão da palavra kiru (cortar) e kami (papel). Sua origem é atribuída à China e tem
três denominações:
38
• Senshi – utiliza-se somente a tesoura, sua forma final deriva do corte de uma
alegoria ou figura dobrada sequencialmente (Figura 1);
• Sanshi – usado por crianças, na maior parte das vezes, servem como
passatempo, como as conhecidas sanfonas de bonecos de papel (Figura 2);
• Kokushi – formam imagens complexas positivas e negativas, cortadas com
estiletes (Figura 3).
Figura 1 - Exemplo de Kirigami Senshi
Figura 2 - Exemplo de Kirigami Sanshi
39
Figura 3 - Exemplo de Kirigami Kokushi
Masahiro Chatani, arquiteto, professor e pesquisador japonês, precursor do
“KIRIGAMI” ou “ORIGAMI ARQUITETÔNICO” há mais de trinta anos escreveu:
“A despeito da era do computador, a experiência com o origami vai além dos bites e
bytes, para ser uma viagem no mundo da imaginação”.
No período “Edo” (1603-1868), no Japão, o “okoshi-e” (lanternas de papel)
ou modelos tridimensionais com dobraduras eram usados em casas de chá. O
“ORIGAMI ARQUITETÔNICO” deve ser considerado um desenvolvimento
do “okoshi-e”, do origami e do prazer das crianças que brincavam com simples
brinquedos. O “ORIGAMI ARQUITETÔNICO” também pode ser considerado
como uma ponte entre a idade antiga e a moderna, assim como entre as culturas
oriental e ocidental. Estas formas são criadas para se apreciar, explorar, participar.
Toque-as, mova-as, dê-lhes vida, estas são as características desta técnica, criada por
Chatani.
Quando falamos em “ESCULTURA EM PAPEL”, devemos pensar em Leo
Monahan, designer e publicitário norte-americano, que na década de 60 criou suas
primeiras peças publicitárias com esta técnica. Diferente do “KIRIGAMI”, a técnica
de “ESCULTURA EM PAPEL” utiliza corte em camadas, colagem e o seu aspecto
final (objetos, paisagens ou animais) é mais próximo da realidade.
40
“Escultura em Papel” de Leo Monahan
Ao longo de dois encontros (cada encontro com 2h de duração), foram ensinadas
técnicas de recorte, colagem e ao final, partindo da experiência visual dos arcos do
Museu de Arte de Londrina, cada criança fez sua própria maquete.
41
Construção da maquete de tubinhos de papel higiênico e caixa de papelão
A partir do referencial de cada artista, foram propostas experimentações com
formas tridimensionais. O uso específico dos tubinhos de papel higiênico como
suporte, deu-lhes um parâmetro do comportamento estrutural dos diversos arcos
de cobertura, em termos reais.
Quatro coisas foram importantes neste processo:
1 VER – foram observados todos os pormenores;
2 REFERÊNCIA – a construção de qualquer forma requer algum critério de
medição, neste caso, se buscou referências visuais;
3 ESBOÇO - o desenho os auxiliou na percepção das formas;
4 ENQUADRAMENTO ESPACIAL – mesmo sem uso de material técnico de
medição, a maquete pôde ser construída de forma proporcional.
Cada indivíduo “lê” o mundo que o rodeia de maneira particular, o intuito da
linguagem do desenho e da expressão tridimensional é oferecer um repertório de
técnicas e imagens, para que ele possa reprocessá-las e individualmente expressar-se.
A proposta foi desenvolver aulas práticas, com técnicas em “KIRIGAMI” e
“ESCULTURA EM PAPEL”, possibilitando o contato das crianças com atividades
que não fazem parte do seu cotidiano. Com isso, elas experimentaram um conteúdo
diferenciado e acrescentaram novas formas de expressão em seus repertórios
individuais.
42
Apesar de ser uma turma onde havia diferenças consideráveis de idade, procurouse dar um conteúdo que não viesse prejudicar, individualmente, criança alguma.
REFERÊNCIAS
READ, Herbert. A Educação pela Arte. Lisboa: Edições 70, 1982
MARTINS, Mirian Celeste. Aprendiz da Arte: trilhas do sensível olhar-pensante.
São Paulo: Espaço Pedagógico, 1993.
OSTROWER, Fayga. Criatividade e Processos de Criação. Petrópolis-RJ: Vozes,
1977.
CHATANI, Masahiro. Origamic Architecture of Masahiro Chatani. Tokyo-Japan:
Ed. Shokokusha, 1983.
WONG, Wucius. Princípios de Forma e Desenho. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
ARNHEIM, Rudolf. Arte e Percepção Visual. Trad. Ivonne Terezinha de Faria. 4ª ed.
São Paulo: Pioneira, 1986.
EDWARDS, Betty. Desenhando com o Lado Direito do Cérebro. Trad. Ricardo
Silveira. 2a. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2000.
43
RESUMOS ESTENDIDOS
PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO
ARQUITETÔNICO DE LONDRINA:
CASO DO EDIFÍCIO AUTOLON
Barbara Monteiro Bilmaia
Karen Bruniere Ragugnetti
Luana Nogueira Souza
Mayara Fernanda do Carmo
Tathiane de Lima Sereia1
RESUMO:
A falta de manutenção e alterações de uso e forma tornou descaracterizado um dos marcos da
arquitetura londrinense dos anos 50, o edifício Autolon, que apesar de sua relação e conexão
com o então tombado Cine Ouro Verde não recebeu atenção ou sofreu o mesmo processo de
tombamento.
Palavras-Chave: Patrimônio de Londrina, Villanova Artigas, tombamento.
Introdução
Discutir sobre o Patrimônio de Londrina é uma questão um tanto quanto
complexa, pois este não é um assunto de grande repercussão para o cidadão
londrinense. Com isso a identidade da cidade vai se perdendo e os marcos de
londrina esquecidos ao longo do tempo como é, por exemplo, o caso que iremos
tratar nesse artigo, o edifício Autolon – o qual teve uma grande importância tanto
arquitetônica como cultural - que ao longo dos anos foi se descaracterizando quando,
porém grande parte da população mal sabe de sua história, ou os que sabem não
fazem nada para que se mantenha uma linha de preservação.
Podemos destacar Villanova Artigas como um arquiteto que fez história em
Londrina, pois realizou grandes obras como a antiga Rodoviária de Londrina,
a Casa da Criança, e o cine Ouro Verde junto com o edifício Autolon. O edifício
Auto Comercial de Londrina - Autolon - é situado no antigo escritório da antiga
Companhia de Terras Norte do Paraná. Seu projeto previa um andar térreo com pé
direito duplo e mais seis andares com pé direito simples, cada um com treze salas,
todas com copas e sanitários. Na execução houve algumas modificações nas quais
os banheiros se tornaram coletivos, próximos às escadas e elevadores. As salas eram
todas lineares com uma circulação também linear.
1
Alunos do Curso de Arquitetura do Centro Universitário Filadélfia – UniFil.
47
Resultados e Discussões
Podemos observar a análise do Autolon, segundo Juliana Suzuki e chegar a algumas
caracterizações. O edifício abrigava a empresa de três empresários no primeiro andar com
pavimento duplo, Celso Garcia Cid, Angelo Pesarini e Jordão Santoro, a agência de veículos
Chevrolet, no qual podia ser acessado separadamente do edifício por uma entrada em nível
de passeio com grandes pilares em V revestidos de pastilhas, para realçar a imponência da
agencia de veículos, diferente dos outros pavimentos que eram acessados por uma escada
lateral externa disposta paralela a fachada leste e ao final um patamar que avança sobre a
calçada. Era um total de seis andares, onde ficavam o jornal Folha de Londrina, escritório
de engenharia de Rubens Cascaldi e as demais eram destinadas para salas comerciais e
principais empresas de profissionais liberais da época. O edifício se apropria de uma maneira
sutil do espaço urbano, levando-o para o interior e dialogando com a paisagem urbana.
A estrutura do edifício é de concreto armado modulado, que lhe proporcionou uma melhor
planta livre para aberturas de áreas transparentes nas duas fachadas (SUZUKI, 2003).
As grandes áreas transparentes trazem leveza e elegância para o edifício, já ao
oeste, a fachada voltada para o Cine Ouro verde é protegida por Brise-Soleils de
fibrocimento, e a leste traz-se uma critica pela grande incidência de sol. Apesar das
críticas feitas ao edifício, ele faz parte da história por ser um dos primeiros prédios
altos a serem construídos, além de que, foi projetado por um arquiteto importante
para a cidade, dando assim um grande valor arquitetônico para a obra, pelo o uso de
brise-soleils, pela linguagem trabalhada integrando o entorno com a obra, inclusive
com o teatro.
Hoje o Autolon encontra-se descaracterizado, pelo o uso de ar-condicionado em
sua fachada e também por películas escuras para tentar amenizar a incidência de
radiação solar na fachada modificada – leste.
O edifício está orientado no sentido leste–oeste, o que fez com que
os arquitetos protegessem corretamente a fachada oeste; porém, a
fachada leste, como visto no capítulo anterior, também necessita
de sombreamento em certas épocas do ano, isto é, pelo menos de
janeiro a abril e de outubro a dezembro, o que não ocorre, por
ser esta um grande painel envidraçado. Ocorre que os próprios
usuários tentam amenizar o calor e o ofuscamento inserindo
cortinas internas e persianas, modificando as propriedades dos
vidros e até mesmo fazendo pinturas na parte inferior (Figura
21). Para proteger corretamente esta fachada, seria necessária a
inserção de brises semelhantes aos da fachada oeste, que tivessem
boa mobilidade, para que no restante dos meses houvesse
insolação (BASSO, A; ATEM, G. C.)
48
CONCLUSÕES
Para evitar tal descaracterização do edifício, manutenções regulares e prever
o tombamento do mesmo seria uma maneira de se garantir um zelo parcial da
edificação – observando que o edifício forma um conjunto com o antigo cine Ouro
Verde, no qual hoje já se encontra tombado. Deveria ser analisado categoricamente o
uso de técnicas para amenizar o desconforto gerado no prédio, de uma maneira que
não afetasse sua estética e suas configurações originais.
REFERÊNCIAS:
SUZUKI, Juliana Harumi; CARNEIRO, Iracema Cordeiro (Orientadora). A
arquitetura de João Batista Vilanova Artigas. Londrina, 2001. 105 p. TCC (Teoria e
História do Curso de Arquitetura) - UniFil, Londrina, 2001.
ATEM, G. C.; BASSO, A. Apropriação e eficiência dos brise-soleil: o caso
de Londrina (PR). Porto Alegre. 2005. Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/
ambienteconstruido/article/viewFile/3656/2012>. Acessado em 16 de Julho de
2013.
49
A BIBLIOTECA “FRANCISCA CAMPINHA
GARCIA CID E A PRESERVAÇÃO DO
PATRIMÔNIO HISTÓRICO-CULTURAL
Letícia Baptista Pires1
RESUMO:
Pretende mostrar o trabalho de informatização da Biblioteca “Francisca Campinha Garcia Cid”,
que se situa no Museu de Arte de Londrina e sua importância para a preservação do Patrimônio
Histórico- Cultural da cidade de Londrina.
Palavras-chave: Bibliotecas de Museus; Informatização de Bibliotecas; Patrimônio Cultural
Não há como falar da Biblioteca do Museu de Artes de Londrina sem citar a
construção do seu prédio. O Museu de Arte de Londrina foi originalmente construído
para ser a quarta rodoviária da cidade. Projetado pelo engenheiro Carlos Cascaldi e o
arquiteto João Batista Vilanova Artigas, de 1948 a 1952 sua construção foi um marco
para a arquitetura modernista da cidade. Tombado pelo Patrimônio Histórico do
Paraná em 1974, reconhecido pela sua originalidade e expressiva importância para a
cidade (MUSILLI, ABRAMO, 2004)
Após ser inaugurada em 1952, funcionou como estação rodoviária até o ano de
1988, quando foi construída a nova rodoviária de Londrina. Ficou fechada até 1993,
quando então foi reformada e adaptada para sua nova função, o Museu de Artes de
Londrina (MUSILLI, ABRAMO, 2004)
A biblioteca “Francisca Campinha Garcia Cid” foi inaugurada em 5 de março
de 1999 e foi estruturada e organizada de maneira a responder aos desafios da
instituição de pesquisa na área especializada em artes plásticas, tendo como missão
antecipar as necessidades de informação dos usuários, contribuindo nas buscas
dos recursos existentes atualizados, para facilitar o desenvolvimento de pesquisas e
produção científica em artes plásticas do Museu de Arte de Londrina.
Atualmente conta com um acervo de aproximadamente 4 mil exemplares, entre
títulos de livros, folhetos, folders, revistas e multimídias. Desde sua organização
inicial, a biblioteca conta com bibliotecários especializados para realizar o
tratamento da informação: catalogação, classificação, indexação e divulgação desse
material. Entretanto isso era feito somente no meio analógico (fichas catalográficas),
a partir de 2013 foi implantado o Sistema Sophia para informatização do acervo
1 Especialista em Patrimônio Cultural e Identidades pela Unifil (2012), Bacharel em Biblioteconomia pela
UEL(2009); Bibliotecária na Biblioteca “Francisca Campinha Garcia Cid” situada no Museu de Arte de Londrina
50
que permitirá ao leitor consultar o catálogo de qualquer lugar que possua um
computador conectado à internet.
Em se tratando de biblioteca especializada o acervo é principal da diferença entre
as bibliotecas especializadas e as demais Ashworth (1967, p. 632 ) diz que:
A biblioteca especializada é uma biblioteca quase exclusivamente
dedicada a publicações sobre um assunto ou sobre um grupo de
assuntos em particular. Inclui também coleções de um espécie
particular de documentos .
Na mesma linha de pensamento Figueiredo (1978) coloca a biblioteca
especializada como um sistema de informação de um assunto ou um grupo de
conhecimentos afins.
Assim Wright (1967, p. l) afirma que “biblioteca especializada significa uma
biblioteca quase exclusivamente dedicada a publicações sobre um assunto ou um
grupo de assuntos em particular”. No caso desta biblioteca os assuntos são Artes em
Geral, Arquitetura e Fotografia.
Nesse sentido tanto a Biblioteca do Museu quanto o próprio edifício enquanto
prédio tombado são Patrimônios para a cidade de Londrina. Choay (2001, p.11),
define a expressão “patrimônio histórico” como um bem destinado ao usufruto
de uma comunidade que se ampliou a dimensões planetárias, constituído pela
acumulação contínua de uma diversidade de objetos que se congregam por seu
passado comum: obras raras e obras primas.
No que se refere à comunidade acadêmica e de artistas da cidade, o acervo
constituído nessa Biblioteca é especial e em alguns casos raro, pois são encontradas
publicações doadas por Museus e doadores particulares que somente foram editados
100 exemplares do mesmo título.
São frequentadores da biblioteca professores e estudantes universitários dos
cursos de Artes Visuais, Artes Cênicas, Arquitetura, Jornalismo, Fotografia, Artes
Graficas, Design Gráfico, Design de Moda, História, Artes Plásticas e artistas em
geral.
Para que estes leitores tenham suas necessidades atendidas mais rapidamente,
é necessário que o profissional bibliotecário especialista na área faça um bom
tratamento informacional, que consiste em organizar a informação de forma
sistemática para que o leitor possa recuperá-las mais facilmente. Os métodos
adotados para esse tratamento como já dito anteriormente é o registro do material,
classificação, catalogação, indexação e sua divulgação.
O tratamento tanto pode ser manual quanto automatizado e, a parte questões
como a de custo, o que interessa para os sistemas e os usuários é a capacidade de
51
recuperação que esse tratamento pode representar. Assim, têm sido muito comuns
os estudos comparativos entre o uso de vocabulário controlado e o uso da linguagem
natural na indexação. Numa avaliação do sistema SAPHIRE, concluiu-se que a
indexação humana representava uma vantagem de cerca de 10% sobre a indexação
automatizada (HERSH E HICKAM 1995)
Com o acervo informatizado, a disseminação da informação se torna mais ampla
e eficaz, pois a indexação dos assuntos de um livro pode ser mais exaustiva como
recomendado para bibliotecas especializadas como esta, tornando a recuperação da
informação mais ágil, além de aumentar a gama de produto/serviços oferecidos aos
seus usuários.
REFERÊNCIAS
ASHWORTH, Wilfred. Manual de bibliotecas especializadas e de serviços
informativos. Lisboa: Calouste Gilbenkian, 1967.
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Unesp, 2001.
FIGUEIREDO, Nice. Serviços oferecidos por bibliotecas especializadas: uma
revisão de literatura. Revista de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v.11,
n. 3/4, p. 155-168.jul./dez. 1978.
HERSH, W.R., HICKAM, D. Information retrieval in medicine: The SAPHIRE
experiencia. Journal of the American Society for Information Science, v. 46, p. 743747, 1995.
MUSILLI, Célia, ABRAMO, Maria Angélica. Londrina puxa o fio da memória.
Joinville: Letradágua, 2004.
WIRGHT, J. E. A biblioteca especializada e o serviço informativo. In: ASWORTH,
Wilfred. Manual de bibliotecas especializadas e de serviços informativos. Lisboa:
Fundação Gubenkian, 1967.
52
A BIBLIOTECA JOÃO MILANEZ COMO LUGAR
DE HISTÓRIA, MEMÓRIA E CULTURA
Marli Meisen Bleinroth1
RESUMO:
O trabalho descreve a Biblioteca João Milanez, conhecida também como Sala Londrina / Paraná,
como um importante espaço cultural da cidade de Londrina. Idealizada inicialmente como Estante
Londrina-Paraná apenas para destacar-se do Acervo Geral da Biblioteca Pública Municipal de
Londrina, constitui-se hoje numa referência histórico/sócio/cultural para a população londrinense.
Integram o seu acervo especial diversos materiais que propiciam ao usuário da biblioteca a
recuperação de informações atuais ou históricas e tem ainda, representada no seu mobiliário feito
de madeira peroba rosa, uma identidade própria que remete a imaginação das pessoas à época da
colonização da cidade de Londrina.
Palavras-chave: Biblioteca João Milanez (Sala Londrina/ Paraná), Patrimônio Cultural – Londrina,
Memória - Londrina
Biblioteca João Milanez
A ideia inicial que previa um destaque para obras londrinenses e paranaenses na
Biblioteca Pública Municipal de Londrina está contida no Projeto Arquivo Histórico
Estante Londrina-Paraná. Essas obras estavam distribuídas de maneira dispersa
pelas classes do sistema de classificação nas estantes do Acervo Geral. O projeto
foi idealizado em 1993 por Afonso Cezare Peres, Lucilia de Godoy G. Duarte,
Benedita Rodrigues Senes e Eli Maria Costa, servidores da instituição. O projeto
foi revisto em 1998, já com o nome SALA LONDRINA/PARANÁ, sob a orientação
da Diretoria de Patrimônio Artístico e Histórico-Cultural da Secretaria Municipal
de Cultura de Londrina quando lhe foi conferido o referencial histórico da cidade
(Londrina, 1993). Por ocasião dos 50 anos da Biblioteca Pública de Londrina, no dia
04 de setembro, recebeu oficialmente o nome de Biblioteca João Milanez.
O jornalista João Milanez foi personagem importante no cenário editorial e
cultural de Londrina. Ele nasceu em Meleiro, Santa Catarina. Chegou à Londrina
em outubro de 1947, como vendedor de seguros. Foi fundador de um dos maiores
e mais importantes jornais do Paraná: a Folha de Londrina. Incentivou importantes
causas políticas, sociais e culturais na cidade, entre elas a criação da Universidade
Estadual de Londrina, do Lago Igapó e muitas outras .
Com a crescente produção editorial sobre a cidade de Londrina e sobre o estado
do Paraná e a forte demanda por essas informações, fez-se necessário ampliar
1
Biblioteca Pública Municipal de Londrina
53
o espaço e dar-lhe uma identidade de acervo especial que hoje caracteriza a Sala
Londrina /Paraná. Isso é confirmado por Reconhecendo o patrimônio cultural em
Londrina que a coloca como uma das “instituições ligadas ao Patrimônio na cidade
de Londrina” por conta de seu acervo especializado (p. 36).
Na Biblioteca João Milanez ou Sala Londrina/Paranál, localizada no piso superior
do edifício da Biblioteca Pública Municipal de Londrina, estão reunidos nas estantes
e nos arquivos vários tipos de suporte informacional, tais como: livros, foldlers,
folhetos, periódicos (jornais e revista), mapas, fotografias, CD’s e DVD’s e um número
considerável de obras históricas. Entre esses materiais estão exemplares da revista A
Pioneira de (1948-1952), o Guia de Londrina 1952, Londrina no seu Jubileu de Prata
(1959), publicações de cunho patrimonial como as obras publicadas pelo IPAC e
PROMIC entre outros, fotografias de próprios públicos dispostas no Arquivo de Fotos
Históricas e ainda, a literatura contemporânea da cidade e do estado.
Esses materiais estão organizados de forma que essas informações, atuais ou
históricas, atendam às necessidades de estudantes do ensino Fundamental, Médio
e Superior, em seus vários níveis, de turistas ou ainda, do leitor que quer apenas
melhorar os seus conhecimentos. A grande maioria dessas materiais pode ser
emprestada aos usuários que sejam cadastrados na Biblioteca Pública, podendo ficar
com o material em seu poder por sete dias. Alguns têm a circulação restrita por sua
importância histórica.
A diversidade de informações e tipos de suportes existentes na Biblioteca João
Milanez é complementada com a disponibilização de um computador aonde o
usuário pode buscar informações digitalizadas, seja através da Internet, das redes
sociais ou ainda, dos multimeios digitais existentes nos arquivos da Sala Londrina /
Paraná. É a Biblioteca participando das tecnologias da informação digital conferindo
ao espaço ares de modernidade.
Somada ao acervo, que contribui para a preservação, divulgação e disponibilização
do patrimônio cultural da cidade de Londrina, está essa intensão sobre os móveis
fabricados com madeira peroba rosa, idealizados pelo artesão Poka Marques. Além
dos móveis, mesas, bancos, estantes, arquivos; existe na ante-sala o Memorial
Peroba Rosa que conta a história de Londrina em um painel de fotos históricas
emolduradas por essa madeira nobre e ainda, um objeto intrigante à primeira vista:
o “chora paulista”. Esse objeto era muito útil nos tempos antigos da cidade para tirar
o barro que grudava nas solas dos sapatos em dias de chuva. Uma árvore peroba rosa
estilizada talhada na madeira da porta de entrada completa o visual desse espaço de
memória.
A madeira peroba rosa usada nesses elementos da Sala Londrina/Paraná foi
reciclada a partir de tábuas de uma tulha de café, recordando a fase áurea do café na
54
cidade, conferindo ao espaço uma ideia de memorial, que remete a imaginação do
usuário ao tempo da colonização da e aos costumes das décadas seguintes.
Conforme Rodrigues (2013) pode-se compreender a importância da Biblioteca
João Milanez como patrimônio cultural porque ...”O patrimônio expressa a
identidade histórica e as vivências de um povo. [...]É a herança cultural do passado,
vivida no presente, que será transmitida às gerações futuras”.
Reunindo-se todos esses elementos, materiais e imateriais, num mesmo espaço,
encontrou-se uma maneira de propiciar, no ambiente da Biblioteca João Milanez,
o regate histórico/sócio/cultural da cidade de Londrina, levando à memória das
pessoas a imensa floresta existente antigamente, das árvores nobres usadas para as
muitas necessidades dos pioneiros, da caminhada histórica nos seus mais variados
aspectos, do povo que se chama londrinense.
REFERÊNCIAS
LONDRINA. Prefeitura do Município de Londrina. Secretaria Municipal de
Cultura. Projeto Arquivo histórico: Estante Londrina-Paraná. Londrina: [sn], 1993
RECONHECENDO o patrimônio cultural em Londrina. Londrina: Midiograf,
2007
RODRIGUES, Donizete. Patrimônio cultural, memória social e identidade: uma
abordagem antropológica. Lisboa: Universidade Beira Interior, [2012]. Disponível
em <www.ubimuseum.ubi.pt/.../CS3-rodrigues-donizete-patrimonio-cultural>.
Acessado em 04 de maio de 2013.
55
CIDADES E SUPERMERCADOS:
DISTÂNCIAS E APROXIMAÇÕES
Desire Blum Menezes Torres1
A presente pesquisa busca verificar fatores que propiciam a aproximação e
o distanciamento do sujeito com o ambiente urbano - supermercado de rede. A
metodologia utilizada baseou-se em Gil (2002), tendo como classificação o tipo de
pesquisa exploratória, os procedimentos técnicos: o levantamento bibliográfico e a
observação em redes de supermercados, na cidade de Curitiba-PR. Um dos principais
fatores abordados foi o espaço urbano, que possui em sua formação limites - áreas
fronteiriças, como centros e periferias. As redes de supermercados trazem muitas vezes
aspectos externos e até globais, criando fronteiras que podem aproximar ou distanciar.
A análise desenvolvida neste estudo vai focalizar um espaço urbano específico
- supermercado de rede - considerado não pela sua classificação de qualquer
natureza e tampouco pelo seu porte, mas em função da sua capacidade para atrair
ou distanciar consumidores.
Uma observação a priori aponta para um distanciamento devido, principalmente:
ao desrespeito das redes às características culturais mestiças da população; às
estratégias mercadológicas impostas pelas indústrias; à localização em regiões
centrais; e, à escassez de contato humano promovido por estruturas, padrões e
tecnologias utilizadas.
A análise dos supermercados de rede justifica-se por uma diferença fundamental
deste tipo de estrutura varejista não são (ou de forma muito tênue) adaptados à
realidade local. Acredita-se, porém, que a informalidade decorrente da adaptação
ao contexto social e espacial pode provocar não apenas aproximações mas também
distanciamentos.
O objetivo desta pesquisa é verificar a(s) causa(s) da aproximação ou
distanciamento do consumidor sob o prisma do consumo nos relacionamentos entre
empresa e consumidor. Com base em Gil (2002), o delineamento metodológico
deste trabalho consiste em: quanto à classificação, pesquisa exploratória, tendo
como procedimento técnico o levantamento bibliográfico e a observação, entre os
anos de 2009 a 2010, em dois supermercados de rede na cidade de Curitiba-PR, nos
bairros Vila Izabel e Bigorrilho.
1 Professora na Universidade Estadual de Londrina. Doutora em comunicação e semiótica – PUC/SP; mestre em
administração de empresas; especialista em comunicação empresarial e graduada em comunicação social - relações
públicas.
56
Os supermercados configuram-se como uma grande indústria a serviço do
consumo e os independentes – de menor porte - estão mais próximos das pessoas
mas, muitas vezes distanciam-nas dos objetos desejados por elas como é o caso, por
exemplo, de itens trancados em armários.
A aproximação interpessoal é cada vez mais escassa nos supermercados de
rede devido à entrada e crescimento de processos tecnológicos que substituem a
presença de funcionários por máquinas, como também, da oferta de “conveniências”
proporcionadas aos clientes por meio de produtos embalados e pesados. Todavia,
favorecem o estabelecimento, pela agilidade nas vendas e economia com a redução
de funcionários.
O espaço urbano - supermercado de rede, com formato padronizado e elevado
sistema de auto-atendimento, aproxima os clientes das prateleiras e produtos, com
isso, o estabelecimento obtêm resultados no crescimento nas vendas, principalmente
pelo consumo por impulso. O resultado desta aproximação é o esvaziamento entre as
relações interpessoais – clientes, funcionários e dirigentes das lojas. Estas estratégias
que aproximam os clientes com as mercadorias, conseqüentemente, os distanciam
das organizações.
Segundo Baudrillard (1995, p. 65), “no sistema, não há lugar para as finalidades
individuais, mas só para as finalidades do sistema.” Com os elementos apresentados
observamos que as aproximações e os distanciamentos nas redes de supermercados
estão todos a serviço para a venda de produtos. A padronização imposta não
possibilita olhar para o ambiente de forma singular. Conclui-se que a estrutura
distancia o sujeito nas suas necessidades, como também da cidade, aproximando-o
somente para consumir.
REFERÊNCIAS
ADORNO, Theodor. Indústria Cultural. In Cohn, Gabriel (org.) Comunicação e
Indústria Cultural. São Paulo, Cia Editora Nacional, 1971.
AUGÉ, Marc. Não-lugares – introdução a uma antropologia da supermodernidade.
Campinas: Papirus, 2001.
BARBERO, Jésus Martin. Ofício de Cartógrafo: Travessia latino-americanas da
comunicação na cultura. São Paulo: Loyola, 2004.
BAUDRILLARD, Jean. A Sociedade do Consumo. São Paulo: Edições 70,
1995.
BENEVOLO, Leonardo. História da Cidade. São Paulo: Perspectiva, 2005.
57
BORDIN, Marcelo; CARDOZO, Poliana; PRIETO, Rafael. Violência e exclusão
socioespacial em Curitiba. Disponível em <www.levs.marilia.unesp.br/.../
Marcelo%20Bordin,%20Poliana%20Cardozo,%20Rafael%20Prieto.pdf>. Acesso em:
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Cascavel.
FERRARA, Lucrécia D´Aléssio. Os significados urbanos. São Paulo: FAPESP, 2000.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002.
IBGE, 2008. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.
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LOTMAN, Iuri M.. La semiosfera. Tradutor: Desiderio Navarro. Madrid: Cátedra,
1996.
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Curitiba/PR e o mito da “ capital ecológica”. Geousp – Espaço e tempo , n. 12, p.
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Revista de Sociologia e Política . Curitiba/PR, n. 13, p. 1-24, 1999.
PARENTE, Juraci. Varejo. São Paulo: Atlas, 2000.
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face da gestão da cidade no final de século . In: REIS , Elisa et. al (Orgs.) Política
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1996.
ROSA, Maria A.; KAUCHAKJE, Samira. A Imagem da cidade e o viver em
Curitiba: dimensão sobre sua gestão. In: FERRARA, Lucrecia D’Aléssio; DUARTE,
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Paulo: Annablume; Curitiba: Champagnat, 2007.
58
ROCHA, Everardo. A Sociedade do Sonho. Rio de Janeiro, Manuad, 1995.
SANCHEZ, F. E. Buscando um lugar ao sol para as cidades : o papel das atuais
políticas de promoção urbana . Revista Paranaense de Geografia , v. 4. 1999.
SANTOS, Boaventura de Sousa. A gramática do tempo: para uma nova cultura
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UNDERHILL, Paco. Vamos às Compras. São Paulo: Campus, 1999.
VICENTINI, Y. Teorias da cidade e as reformas urbanas contemporâneas.
Desenvolvimento e Meio Ambiente: cidade e ambiente urbano , n. 3, p. 9-31, jan./
jun. 2001.
59
COLÉGIO VICENTE RIJO: UM EDIFÍCIO
MODERNO PARA UMA ESCOLA MODERNA
Fábio Luiz da Silva1
Julho Zamarian
Fabiane Muzardo2
RESUMO:
As relações entre educação, arquitetura e política podem estar invisíveis para aqueles que observam
a escola sem se atentar para os usos cotidianos do espaço escolar. Aqui, foi realizada uma breve
reflexão sobre a constituição de um estabelecimento escolar em estilo modernista dentro do
contexto dos anos 60, em Londrina. O objetivo inicial é dar visibilidade às representações
educacionais, arquitetônicas e políticas presentes nos edifícios escolares.
Palavras chave: educação; modernismo; Colégio Vicente Rijo.
Este texto é fruto das reflexões realizadas dentro do projeto “Arquitetura escolar
e suas relações com as práticas de ensino”, que está vinculado ao Programa de
Mestrado em Ensino da Unopar. O objetivo principal desse projeto é realizar o
levantamento da arquitetura dos edifícios escolares de maneira a estabelecer seus
vínculos com a história da educação e com as práticas cotidianas de ensino. Neste
texto, privilegiamos uma das últimas grandes construções escolares em Londrina: o
atual edifício do Colégio Estadual Vicente Rijo. O colégio, que já funcionava onde
atualmente é o Colégio Marcelino Champagnat, foi transferido para novo endereço
em 1966. A essa altura da década de 60, Londrina já havia se rendido ao canto da
sereia da arquitetura moderna e o novo edifício escolar expressava essa tendência.
O ano de 1966 começou com a imprensa dando destaque às operações militares
no Vietnã e aos acordos entre o governo brasileiro, controlado pelos militares desde
1964, e a USAID. O noticiário impresso também dava atenção aos problemas com
a educação quando, apesar da afirmação oficial de que não faltariam vagas para os
alunos no ensino primário, centenas de pais madrugaram na fila tentando obter uma
vaga para seus filhos no Grupo Escolar Hugo Simas.
Nem mesmo a construção de um edifício próprio para a Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras (embrião da UEL) garantia o aumento de vagas no Grupo Escolar
Hugo Simas. As obras desse edifício – onde hoje está instalado o Colégio de Aplicação
- haviam se iniciado em 1958, mas a construção caminhava lentamente. Diversas
paralizações nas obras e modificações no projeto original, inclusive com o abandono
1
2
Doutor – Unopar/CapUel.
Mestre – Unopar.
60
da ideia de se instalar um elevador, acabaram por atrasar a entrega definitiva do
edifício. Mesmo depois de pronto, a Faculdade ainda precisou das instalações do
Grupo Escolar Hugo Simas. Situação que reforça a constatação de como o improviso
é uma das mais duradouras características da educação no Brasil.
Apesar disso, o governo do estado do Paraná se esforçava para manter a imagem
de que se preocupava com a educação pública. Na mensagem enviada à Assembleia
Legislativa em 1967, o então governador do Paraná, Paulo C. Pimentel enfatizava
o fato de ter construído 2458 salas de aula em 15 meses de governo comparando-o
com os números do governo anterior, que construíra 2766 salas de aula em 60
meses (PARANÁ, 1967). Entre as escolas construídas, e que fazia parte dos números
apresentados pelo governo, estava o Colégio Vicente Rijo.
Em meados da década de 60, Londrina já contava com diversos edifícios em
estilo moderno. O afã modernista chegou, em 1966, à catedral londrinense, ano em
que foi apresentado o projeto do atual edifício da catedral de Londrina. Em 1966,
o Colégio Estadual Vicente Rijo fazia 20 anos e ainda funcionava no edifício onde
atualmente é o Colégio Estadual Marcelino Champagnat. O aniversário viria a ser
marcado pela transferência daquela escola para o atual endereço, na esquina das
avenidas Juscelino Kubitschek e Higienópolis.
A construção deste edifício escolar em Londrina pode ser identificada como
representativa da grande importância da cidade no contexto do estado do Paraná. O
crescimento populacional era impressionante, basta lembrar que em 1950, – quatro
anos depois da inauguração do Colégio Estadual – Londrina possuía pouco mais de
34 mil habitantes na área urbana, mas em 1970 esse número já era superior a 160 mil;
em outras palavras, em apenas 20 anos houve um incremento de aproximadamente
126 mil pessoas, apenas na área urbana do município (LONDRINA, 2013). Não é
de estranhar, portanto, que o Colégio Vicente Rijo fosse a segunda maior escola do
estado do Paraná, em número de alunos.
A inauguração estava programada para abril de 1966 e a construção seguiu os
ditames da cartilha modernista. O primeiro edifício, hoje são quatro pavilhões, já
era ocupado por alunos no final de março de 1966, apesar de não estar totalmente
concluído – não havia luz elétrica, por exemplo. O novo diretor do colégio, professor
Manoel Barros de Azevedo – que até então dirigia o Colégio de Aplicação – chegou
a pedir paciência aos alunos diante dos “naturais” problemas que a mudança
acarretava. Apesar de inacabado, o edifício era modernista não só pelo aspecto geral,
mas também pelo uso do “brise-soleil”. No início do mês seguinte, foi anunciada a
construção do segundo pavilhão do Colégio Vicente Rijo. A opção por distribuir
as salas de aula e outras instalações em edifícios paralelos – que aqui chamamos de
pavilhões – teve longa descendência.
61
Podemos perceber isso ao analisarmos o edifício do Colégio Newton Guimarães,
inaugurado em 1976; dez anos depois da construção do Vicente Rijo na Avenida
Higienópolis. Apesar disso, já podemos ver nesse edifício uma tendência que
constituiu o espírito arquitetônico escolar posterior: a vulgaridade do estilo. A não
ser pelos colégios polivalentes, da década de 70, e dos CAICs dos anos logo após o fim
da ditadura, não houve grande empenho na elaboração das plantas arquitetônicas
para as escolas públicas. Coincidência ou não, isso acompanhou a expansão da rede
escolar no Brasil.
Como dissemos anteriormente, uma das marcas da modernidade do edifício do
Colégio Vicente Rijo é a utilização do “brise-soleil”, que é um sistema de proteção
originalmente idealizado pelo arquiteto Le Corbusier. O brise-soleil” é um dos vários
sistemas de filtrar a luz e é especialmente utilizado em edifícios com amplos “panos
de vidro” ou grandes janelas. O uso de artifícios para conter a luz solar tornou-se
necessário devido à grande quantidade de superfícies envidraçadas, nas quais o vidro
tornou-se o único material de vedação. Tal fato provocou desconforto térmico, em
especial em países quentes como o Brasil. Em nosso país, o pioneirismo da utilização
dessa técnica foi o próprio edifício do Ministério da Educação, na cidade do Rio de
Janeiro (PAIVA, 2006). Em Londrina, o “brise-soleil” foi utilizado no edifício da
rodoviária de Londrina (1952), que hoje abriga o Museu de Arte de Londrina, por
exemplo.
Talvez, um dos grandes problemas em se construir escolas segundo os princípios
da arquitetura modernista fosse o custo. Numa época de ampliação da rede escolar
e de crise econômica, como foi o caso da segunda metade dos anos 70 em diante, o
custo das obras precisava ser baixo. O uso de plantas padrão para as escolas voltou
a ter importância, o que levou os edifícios escolares a serem arquitetonicamente
irrelevantes.
REFERÊNCIAS
LONDRINA. Prefeitura Municipal de Londrina. Evolução da população residente
do município de Londrina – 1940/2000. <Disponível em: http://www.londrina.
pr.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=163&Itemid=66>.
Acesso em: 25 de janeiro de 2013.
PAIVA, Ricardo Alexandre. O Ministério da Educação (1937 – 1945) no Rio de
Janeiro: arquitetura, clima e cultura. In: NUTAU, 2006. Disponível em: < http://
www.arquitetura.ufc.br/novo/wp-content/uploads/2011/08/O-Minist%C3%A9rioda-Educa%C3%A7%C3%A3o-1937-1945-no-Rio-de-Janeiro-Ricardo-Paiva-VNUTAU-S%C3%A3o-Paulo-2006.pdf >. Acesso em: 27 de jan. de 2013.
62
PARANÁ. Mensagem apresentada à Assembleia Legislativa do estado por ocasião da
abertura da 1ª sessão ordinária da 6ª legislatura pelo Senhor Paulo Cruz Pimentel
Governador do estado. Curitiba, 1967. Disponível em: <http://www.arquivopublico.
pr.gov.br/arquivos/File/pdf/Mensagem_1967_mfn_1669.pdf>. Acesso em: 05 de
fev. de 2013.
63
IDENTIDADE LONDRINA:
O PORTAL DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO
E CULTURAL DA CIDADE
Amanda Keiko Higashi1
Camila Silva de Oliveira2
RESUMO:
O objetivo deste resumo é apresentar o site “Identidade Londrina” como uma ferramenta virtual
de divulgação, estudo e reflexão do patrimônio histórico e cultural da cidade, descrevendo seu
processo desde a idealização até sua implantação.
Palavras-chave: patrimônio cultural, patrimônio histórico, memória, ambiente virtual
Introdução
É comum ouvirmos que a cidade de Londrina é jovem demais para nos
ocuparmos de questões sobre patrimônio histórico e cultural. A cidade desenvolveuse vertiginosamente, principalmente no auge da economia cafeeira na região (década
de 50), respirando vanguarda no âmbito econômico, social e cultural. O desejo
de inovar, de estar sempre à frente de seu tempo, fez com que alguns elementos
importantes da nossa história fossem esquecidos. Obviamente, não se pode
privar uma cidade de seguir o seu progresso, mas em virtude das dificuldades em
reconciliar desenvolvimento e memória, perdemos relevantes símbolos históricos
que caracterizaram determinadas épocas e que eram genuinamente londrinenses.
Assim, ao longo dos anos, construímos tanto quanto destruímos.
Contrariando o senso comum, falar sobre patrimônio não é obrigatoriamente
falar sobre o passado, mas é assunto atual, frequentemente imbuído de conflitos,
polêmicas e política. O incêndio do teatro Ouro Verde, a troca do piso do calçadão
e a possibilidade de reabertura de uma rua no meio do Bosque Central foram
ocorrências recentes que, de maneira implícita, mas profunda, permearam o campo
do patrimônio, provocaram reflexões, discussões e estimularam muitos londrinenses
a manifestarem-se de maneira calorosa, independente do seu posicionamento.
Somando-se a isso, muitos projetos merecedores de uma divulgação mais
abrangente tem sido desenvolvidos em Londrina. São ações de natureza variada 1 Graduada em Arquivologia (UEL – Universidade Estadual de Londrina, 2007) e Especialista em Patrimônio
Cultural e Identidades (Unifil – Centro Universitário Filadélfia, 2012).
2 Graduada em Arquitetura e Urbanismo (UEL – Universidade Estadual de Londrina, 1999) e Especialista em
Patrimônio Cultural e Identidades (Unifil – Centro Universitário Filadélfia, 2012).
64
educação, fotografia, cinema, literatura, etc. - e tem em comum a valorização do
patrimônio, da identidade e da memória dos londrinenses.
Todo esse contexto foi responsável por motivar a criação de um espaço que
tratasse nosso patrimônio como um assunto contemporâneo e interdisciplinar,
centralizando e organizando informações, difundindo notícias, projetos e ações,
compilando e divulgando manifestações e bens que são apropriados e elegidos
pela própria comunidade. Chegou-se à conclusão de que um portal virtual seria o
formato ideal para atender a essas demandas e, a partir daí, elaborou-se um projeto
cultural com o objetivo de colocar os planos em ação.
Desenvolvimento
O Programa Municipal de Incentivo à Cultura (PROMIC) da Secretaria
Municipal de Cultura é reconhecidamente o mais importante instrumento
de política cultural da cidade, portanto, decidiu-se por submeter o projeto aos
critérios e avaliação do programa, através do edital anual de 2012. Sua aprovação
atribuiu credibilidade e responsabilidade ao trabalho e o subsídio financeiro
garantiu qualidade e profissionalismo em todas as etapas de implementação do
projeto.
O projeto proposto previu o desenvolvimento da logomarca – que remete à
geometria do calçadão de petit-pavé –, a programação visual tanto do portal como
do material gráfico de divulgação – panfleto e cartão de visita, interface na web,
plataforma de dados e hospedagem do site por um ano, pesquisa, postagem de
conteúdo e impressão gráfica dos panfletos.
O Portal, além de funcionar como um catálogo virtual da cidade através
da categorização de uma lista de bens de valor histórico e/ou cultural para os
londrinenses, possui mecanismos que viabilizam a interação do visitante através do
compartilhamento de informações nas redes sociais da world wide web – www. O
ambiente virtual, por ser dinâmico e democrático, não apenas propicia o diálogo
entre grupos de profissionais específicos, mas viabiliza a comunicação entre usuários
das mais diversas as áreas de atuação e níveis de educação.
Durante o processo da construção conceitual do projeto, buscou-se apoio nos
princípios da educação patrimonial de caráter conscientizador, onde a comunidade é
também sujeito do processo, incentivando-a a refletir, expressar-se e, principalmente,
reconhecer-se como sujeito da própria história. O senso de pertencimento que
temos diante do poder de interferirmos e construirmos nossa própria realidade
e elegermos os bens que nos representam, foi o que inspirou o nome “Identidade
Londrina”. Identidade como sinônimo de afinidade.
65
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Identidade Londrina pretende reforçar nosso patrimônio cultural como a
manifestação da nossa identidade, que está materializada na cidade, nos lugares, nas
relações sociais, na culinária, na literatura, nas manifestações artísticas, culturais,
etc. O portal virtual é um instrumento que pretende estimular a manifestação
da comunidade em relação ao seu patrimônio e contribuir para a fruição do
conhecimento em um ambiente que privilegie a identidade e memória não como um
produto acabado e imposto, mas como um processo coletivo e dinâmico, concebido
dia-a-dia.
REFERÊNCIAS
FUNARI, Pedro Paulo Abreu; PELEGRINI, Sandra de Cássia Araújo. Patrimônio
histórico e cultural. Rio de janeiro: Jorge Zahar, 2006.
LONDRINA. Lei Municipal nº 11.118 de 19 de abril de 2011. Plano Diretor de
Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina. Jornal Oficial do Município de
Londrina, ano XIV, n.1547, p.1-4, 28 abr. 2011.
SCIFONI, Simone. Educação e patrimônio cultural: reflexões sobre o tema. In:
TOLENTINO, Átila Bezerra. Educação patrimonial: reflexões e práticas. João
Pessoa (PB): Superintendência do Iphan na Paraíba, 2012. p.30-37.
66
LENDAS URBANAS DE LONDRINA:
histórias para ouvir e contar
Ana Maria de Araujo Ventura
Carlos Delfino
Leda Maria Araujo
Marli Meisen Bleinroth
Mayumi Takei Karyia
Vera Lúcia Ferraciolli1
RESUMO:
Trata-se de um projeto de enriquecimento e incentivo à leitura desenvolvido nas Bibliotecas: Ramal
Vila Nova, Centro Cultural Lupércio Luppi e Biblioteca Municipal Infantil do Sistema Municipal
de Bibliotecas Públicas de Londrina. O projeto Lendas Urbanas de Londrina teve a oportunidade
de trabalhar a interpretação textual de forma diversificada. O projeto consta de uma parte teórica
bibliográfica para embasamento do tema, e a parte prática com a aplicação de contação das lendas
da cidade e atividades de integração com os participantes. Essas atividades foram desenvolvidas
por meio de desenhos e reprodução oral das histórias.
Palavras-chave: Lendas; Lendas urbanas; Londrina lendas; Contos
Apresentação
A respeito da oralidade na cultura da humanidade pode-se afirmar que as fontes
orais “são as principais estratégias usadas pelos homens para testemunhar a própria
existência e à palavra se atribui um grande poder pela crença de que ela pode unir
ou destruir”. (CAUSOS, 2009, p. 6).
Assim, Harris (2008) afirma que as lendas são histórias tidas como verdadeiras,
que passam de uma pessoa para outra alcançando um grande público. Muitas vezes,
partem de um fato real. Porém, se transformam ao serem transmitidas verbalmente
mas possuem aspectos que as caracterizam como: humor, terror, alerta, embaraço,
moralidade ou apelo à empatia. Devido ao enredo imprevisível, porém bastante
verossímel, essas histórias passam por verdadeiras.
Nesse sentido, os preceitos teóricos que fundamentam esse trabalho estão
firmados em autores que versam sobre o tema das fontes orais do folclore do Paraná.
Mais especificamente, da cidade de Londrina com as lendas urbanas que é o foco
desse trabalho.
Londrina, cidade do Norte do Paraná, tem na precocidade histórica e na fabulosa
mistura de etnias as causas de não ter bem caracterizado o seu folclore. As manifestações
1
Biblioteca Pública Municipal de Londrina – Diretoria de Bibliotecas
67
culturais vivenciadas na cidade de Londrina são aquelas que representam os povos
que aqui chegaram anos 20 a 40 e algumas tradições relacionadas à cultura do café,
importadas, muitas vezes, de outras regiões. Todavia, mesmo não tendo um folclore
abundante, o repertório de contos populares que circula na cidade é imenso. As
lendas urbanas correm de boca em boca. Mendonça (2009) na obra Londrinenses
coletou os contos publicados na Folha Norte de Londrina entre 2007 e 2008. De
acordo com o autor, essas lendas revelam o passado da cidade, seus vínculos afetivos
e revelando seu nascimento em circunstâncias próprias.
Vansina (1982 apud CAUSOS, 2009, p.7) afirma que “o texto oral é sedutor,
mas complexo. Deve ser escutado, digerido internamente como um poema e
cuidadosamente examinado para que se possa apreender seus muitos significados”.
Dessa forma, além do resgate das lendas urbanas londrinenses, o projeto visa à
formação de leitores por meio de histórias orais e também escritas incentivando-os
a buscar novos temas de leitura.
Dentro desses pressupostos, justifica-se a elaboração desse projeto, já que os
contos, os causos, as lendas e toda tradição oral fazem parte da história de vida das
pessoas.
Metodologia
O Projeto constou de duas etapas. Na primeira, buscou-se uma bibliografia
para o embasamento teórico do tema como: o que são lendas e lendas urbanas, em
seguida realizou-se a compilação das diversas lendas que circulam pela cidade de
Londrina. Na sequência, foram selecionadas as lendas que mais caracterizavam
a cidade, adaptadas e transcritas para o projeto. Essas lendas foram reunidas
num livro confeccionado artesanalmente, o qual será disponibilizado na Sala
Londrina – Paraná (Biblioteca Pública Municipal de Londrina) para consulta
dos usuários.
Na parte prática, foram aplicadas, em cada unidade da Diretoria de Bibliotecas
de Londrina, atividades de contação das lendas, envolvendo alunos de escolas e
usuários da Biblioteca Pública Municipal Infantil, Ramal Biblioteca Vila Nova e
Biblioteca Lupércio Luppi.
Essas atividades incluíram a contação de histórias e a produção de desenhos,
pelos alunos, de representação das lendas contadas e também recontar uma lenda
conhecida ou criar a sua própria história.
O público alvo foram os alunos de escolas próximas às unidades convidados
especificamente para a atividade e, ainda, frequentadores usuais das Bibliotecas, com
idade entre 07 e 12 anos.
68
CONSIDERAÇÕES GERAIS
Foram compiladas 12 lendas: Asas da morte, O grande golpe de 40, Cadê meu
fígado, O apartamento assombrado, Rosas vermelhas, Nesse mato tem coelho, A
noivinha da Warta, O saci de Luiz de Sá, O lobisomem do Jardim Tóquio, O objeto
sinistro do teatro Zaqueu de Melo e O balcão assombrado do aeroporto.
O tema lendas urbanas é bastante atrativo, visto que os alunos participaram
ativamente das atividades de contação de histórias e da produção dos desenhos das
lendas apresentadas, demonstrando bastante interesse pela participação no projeto.
O público alvo correspondeu acima das expectativas, participando ativamente
na contação das lendas e representando-as nos seus desenhos, conforme registro
em fotografias. Os objetivos propostos aqui foram cumpridos de maneira integral e
satisfatória, visto que foram compiladas lendas desconhecidas do público em geral,
enriquecendo o repertório das unidades de informação.
REFERÊNCIAS
CAUSOS do Norte do Paraná. Londrina: UEL, 2009.
HARRIS, Tom. How stuffworks: como funcionam as lendas urbanas. 16/05/2001.
Atualizado em 18/07/2008, disponível em <http://pesoas.hsw.uol.com.br/lendas
urbanas.htm>, acessado em 05/10/2012.
MENDONÇA, Mauricio Arruda. Londrinenses. Londrina: Electra & Kan, 2009.
69
MANIFESTAÇÕES DE FÉ COMO PATRIMÔNIO
CULTURAL DE APUCARANA
Brena de Oliveira Brotti1
Lorena Angélica Mancini2
Michele Leandro da Costa3
Tatyana do Nascimento4
RESUMO:
A fim de compreender as manifestações religiosas como patrimônio cultural, entende-se que
o município de Apucarana, Paraná, possui uma forte identidade relacionada a estas. Através
da diversidade em bens patrimoniais religiosos pode-se observar que Apucarana, além de
proporcionar à sua comunidade manifestações de diversas religiões, desenvolve o turismo
religioso, atraindo visitantes a não só participarem dos eventos, mas também à colaborarem com
o crescimento do município. O presente trabalho originou-se a partir da execução do projeto
Diálogos Culturais – Cultura e Turismo no Vale do Ivaí, com o objetivo de expor as manifestações
religiosas de Apucarana como patrimônio cultural e assim as manterem “vivas”, buscando que
essa identidade seja valorizada não só pela comunidade local, mas também pelos visitantes que ali
buscam firmarem sua fé.
Palavras-chave: Religião; Identidade; Cultura; Patrimônio Cultural; Apucarana.
É correto afirmar que, as manifestações religiosas sempre estiveram presentes
ao longo da história da humanidade e sua diversidade está ganhando cada vez mais
espaço ao longo dos anos, de acordo com Klintowitz Apud Pinto ( s/d p.2):
No início do século XX, acreditava-se que quanto mais o mundo
absorvesse ciência e erudição, menor seria o papel da religião.
De lá para cá, a tecnologia moderna se tornou parte essencial do
cotidiano da maioria dos habitantes do planeta e permitiu que até
os mais pobres tenham um grau de informação inimaginável cem
anos atrás. Apesar de todas essas mudanças, no início do século
XXI o mundo continua inesperadamente místico. O fenômeno é
global e no Brasil atinge patamares impressionantes [...].
Mesmo com a globalização, a religião não deixou de ser um forte marco cultural
na vida das pessoas, criando assim uma identidade diante da cultura de um povo,
1 Graduanda do curso de turismo da Faculdade Estadual de Ciências Econômicas de Apucarana – FECEA. Bolsista
do projeto Universidade sem fronteiras.
2 Professora do curso de turismo da Faculdade Estadual de Ciências Econômicas de Apucarana – FECEA.
Coordenadora do projeto Universidade sem fronteiras.
3 Coordenadora e professora do curso de turismo da Faculdade Estadual de Ciências Econômicas de Apucarana –
FECEA. Orientadora do projeto Universidade sem fronteiras.
4 Graduanda do curso de turismo da Faculdade Estadual de Ciências Econômicas de Apucarana – FECEA. Bolsista
do projeto Universidade sem fronteiras.
70
sendo então a melhor maneira de expressar suas crenças. A cada dia o número de
fiéis cresce, e juntamente com eles surgiram e estão em amplo desenvolvimento os
eventos religiosos.
Gouthier apud Pinto (s/d) coloca que toda a cultura brasileira é sem dúvida
muito influenciada por todas as manifestações religiosas, tornando-as dessa forma
patrimônio cultural das sociedades onde encontram-se inseridas e ligando o aspecto
religioso a identidade local ou de um povo.
Em meio à análise geral da religião como patrimônio cultural, o município de
Apucarana acaba se tornando um estudo de caso. Dessa forma o objetivo de se
aprofundar sobre o tema explanado se dá por meio da exploração dos bens culturais
religiosos existentes no município de Apucarana, a fim de identificar a relevância
dos mesmos para com a identidade do local. Apucarana sendo um polo do turismo
religioso pode mostrar o quão a fé movimenta a localidade e que isso tudo faz parte
da cultura local e regional.
Para o desenvolvimento dessa pesquisa, primeiramente se obteve base
bibliográfica, para a fundamentação do que seria visto e desenvolvido ao longo do
trabalho de pesquisa de campo com a inventariação desses bens culturais relacionados
às religiões em Apucarana. Conclui-se que a pesquisa de campo aparece neste caso
para diretamente identificar e analisar esses bens de Apucarana, registrando-os para
assim poder compreender a cultura da diversidade religiosa existente no município.
O catolicismo diante das religiões existentes em Apucarana possui um maior
destaque, até mesmo se colocando a frente de outras crenças e manifestações
religiosas, porém, o município possui diversas outras que são de muita relevância
para a cultura e formação de identidade local. É possível citar as Igrejas Ucranianas
Ortodoxas que foram um marco na colonização local trazendo consigo além da
transmissão de fé uma bagagem histórica muito grande. O Budismo, também
fazendo parte da colonização, que possui além do seu público fiel caracterizado pelos
japoneses, novos interessados em seguir essa religião, tendo um destaque histórico
e cultural grande para a cidade. Os terreiros de Umbanda que ainda preservam a
cultura africana de maneira grandiosa, com suas manifestações e eventos atraindo
um grande público e quebrando tabus que a sociedade impõe e, por fim as igrejas
evangélicas que ao longo dos anos se destacam cada vez mais pelos seus fiéis e sua
maneira de transmitir a fé.
Com essa riqueza em patrimônios religiosos, o município recebe um número
significativo de fiéis durante todo o ano, disponibilizando a esse público cerimônias
abertas em parques como o do Santo Expedito, a encenação da paixão de Cristo no
parque da Redenção, algumas missas católicas especiais como a da ressurreição e
da chegada de Jesus em Jerusalém, a comemoração nas mudanças de estações no
71
templo budista e os rituais e comemorações realizadas nos Terreiros de Umbanda,
tudo isso disseminando a diversidade cultural dos apucaranenses para que os
visitantes identifiquem e valorizem esses bens da cidade e da população.
Pode-se concluir então que Apucarana é uma cidade rica em cultura no
âmbito religioso, que traz consigo muita história e muita variedade, atendendo
individualmente seus públicos e também permitindo que outras pessoas conheçam
o que a elas não é julgado comum para que cada dia mais o preconceito acabe.
Através de toda essa diversidade cultural, cria-se uma identidade para a localidade
e esse patrimônio acaba também colaborando com o desenvolvimento do município
através do turismo religioso.
REFERÊNCIAS
MARTINS, Francineide Almeida Pereira. Turismo religioso-cultural: o caso da
cidade de Pombal. IESP. João Pessoa, PB. 2003.
PINTO, Erick Carvalho. Turismo Religioso no Brasil. s/d.
72
EXPOSIÇÃO “O PASSADO PREPARA O
FUTURO...” – SEMANA NACIONAL DO LIVRO
E DA BIBLIOTECA NA BIBLIOTECA PÚBLICA
MUNICIPAL DE LONDRINA
Marli Meisen Bleinroth1
RESUMO:
O trabalho apresenta a Exposição de fotos: “O passado prepara o futuro...”, cujo tema é a história
da Biblioteca Pública Municipal de Londrina. A exposição foi idealizada a partir da intenção de
divulgar publicamente uma das ações da Biblioteca Pública Municipal, na Semana Nacional do
Livro e da Biblioteca, comemorada de 23 a 29 de outubro de 2012. Nessa exposição a história
da Biblioteca Pública de Londrina está representada numa linha do tempo imaginária, em fotos
e textos que foram recuperados do acervo bibliográfico e do Arquivo de Fotos Históricas, da
Biblioteca João Milanez – Londrina/PR.
Palavras Chave: Biblioteca Pública Municipal de Londrina, Biblioteca João Milanez (Sala
Londrina/Paraná), Fotografia e memória - Londrina.
A Exposição “O passado prepara o futuro...” teve como objetivo principal divulgar
uma das ações da Biblioteca Pública de Londrina, na Semana Nacional do Livro e
da Biblioteca, realizada de 23 a 29 de outubro de 2012. Esse evento, além de outras
atividades, contou com exposições de vários temas: fotos históricas, cinema e rádio,
conservação de materiais bibliográficos e livros danificados. Com a ideia da exposição,
pensou-se ainda, em uma atividade que atraísse a atenção do público para o acervo
especial da Biblioteca João Milanez também conhecida como Sala Londrina/Paraná.
A Biblioteca João Milanez faz parte da estrutura organizacional da Biblioteca
Pública Municipal de Londrina e o seu acervo, seja no formato de livros, periódicos,
mapas, mídias digitais ou fotografias, está estritamente voltado para a cidade de
Londrina e para o estado do Paraná. Esse acervo contempla as mais diversas áreas do
conhecimento, com destaque para os materiais que contam a história de Londrina.
Sendo rico e, às vezes, único, faz-se necessário que esses materiais sejam amplamente
divulgados à população. A exposição de fotos históricas Biblioteca Pública foi uma
possibilidade de atingir à demanda potencial. Ela permitiu ao usuário acompanhar
a evolução no tempo e, os espaços que abrigaram a Biblioteca Pública Municipal
de Londrina por meio de fotos e textos recuperados do acervo da Biblioteca João
Milanez que depois transformaram-se num álbum disponibilizado ali, como
material de consulta.
1
Biblioteca Pública Municipal de Londrina
73
Biblioteca Pública e o Patrimônio Histórico-Cultural
A importância da Biblioteca Pública de Londrina é inquestionável, como afirma
Pellegrini (2001, p.5) referindo-se ao aniversário da Biblioteca Pública: “... a Biblioteca
foi, ao longo desses 50 anos, muito mais que um arquivo de livros, realizando o papel
de fomentador cultural para várias gerações de leitores...”. Não só na área cultural,
mas ela é importante também no aspecto histórico, arquitetônico e de memória. Isso
é confirmado em Reconhecendo o patrimônio cultural de Londrina (2007):
Este edifício é considerado patrimônio por vários motivos.
Primeiramente, existe o fato histórico de ter sido o primeiro fórum
da cidade, continuando, mesmo depois do fim destas atividades, a
abrigar funções de uso público. Além disso, ele resistiu à passagem
do tempo e foi incorporado no imaginário da população, como
um componente marcante do centro da cidade, sendo que suas
características formais são representantes de uma arquitetura
muito praticada no período de sua construção. (p.9)
Dentre as formas mais conhecidas e eficientes de se recuperar a memória de
acontecimentos, lugares e pessoas uma delas é a fotografia. Silva (2000) confirma
essa premissa apresentando
[...] a fotografia como um suporte que possibilita recuperar
o passado. [...] A fotografia, quando é observada, produz no
indivíduo uma relação direta com o passado, pois uma das suas
propriedades é o registro daquilo que desapareceu, modificou-se
ou o que está em transformação. (Internet)
Por meio desse suporte de informação coisas que não existem mais ou foram
alteradas, têm como serem apreciadas além da pura imaginação anos ou décadas
depois de serem captados por uma fotografia. Conforme Lissovsky (2011) apud
Revelações da História... (2012) “as fotografias atravessam os tempos como fantasmas
atravessam paredes, ambos condenados a fazer a incessante mediação entre o que
foi, o que é, e o que será. Fotografia é História”.
Essa mesma ideia está contida no título da exposição: O passado prepara o futuro.
Quando pensou-se numa linha do tempo imaginária para a história da Biblioteca
Pública de Londrina, contida nas fotografias e legendas selecionadas, era isso que se
pretendia mostrar. A ação realizada cabe bem no pensamento de Lissovsky (2011)
apud Revelações da História: ... (2012):
... cada fotografia guarda em si a difícil pergunta sobre o propósito
de sua sobrevida, a pergunta sobre o que nela, a despeito do que
74
passou, ainda será. [...] Porque as fotografias são essa condensação
de tempos, nunca estão inteiramente no passado e no presente [...].
Estão aqui e agora, conosco, e no mesmo momento, nos fornecem
testemunho da nossa irremediável diferença em relação ao que foi
[...]. (p.25)
Como seria possível admirar-se com as cenas da Londrina antiga, onde os ingleses
pioneiros jogavam tênis numa quadra empoeirada de terra vermelha, onde está
fincado o imponente prédio do antigo Fórum, que hoje é ocupado pela Biblioteca
Pública Municipal? E o que dizer de pessoas e eventos realizados ao longo dos anos,
que fizerem desse bem público uma instituição sólida e confiável, tornando-se nos
dias de hoje um referencial no imaginário coletivo da cidade? Uma exposição de fotos
contando a história da Biblioteca Pública de Londrina foi a alternativa encontrada
para essas questões.
A intenção de reportar a história de próprios públicos da cidade de Londrina,
não se esgota com a essa atividade sobre a Biblioteca Pública Municipal de Londrina.
Tendo em vista o interesse em divulgar, explicitamente ou não, a Biblioteca João
Milanez serão pensadas, proximamente, outras formas e ocasiões de utilizar os
materiais desse acervo especial.
REFERÊNCIAS
PELLEGRINI, Bernardo. In. Biblioteca Pública de Londrina: 50 anos no coração da
cidade. Londrina: [sn], 2001
RECONHECENDO o patrimônio cultural em Londrina. Londrina: Midiograf,
2007
REVELAÇÕES da História: o acervo do Foto Estrela. 2.ed. Londrina: Câmara
Clara, 2012.
SILVA, Marcio Assumpção Pereira da. Memória e Fotografia: um estudo sobre
informação visual em São Carlos (SP). 2000. Disponível em <www.ies.ufpb/ojs>.
Acessado em 15/04/2013.
75
MUSEU DE ARTES GRÁFICAS
DE LONDRINA – SOBRE A CONSERVAÇÃO
DA MEMÓRIA IMPRESSA
“Arte Gráfica é o conjunto de representar caligrafia, desenho, figura,
fotografia, gravura, pôster ou qualquer outra técnica de impressão”.
http://www.girafamania.com.br/tudo/a_grafica.html
“El concepto de Artes Gráficas hace principalmente referencia a la
elaboración de todo tipo de elementos visuales fundamentalmente
a partir de técnicas de dibujo y grabado, aunque tiende a
restringirse en especial a técnicas relacionadas con la imprenta.”
http://haciendofotos.com/artes-graficas/
O que é Arte Gráfica
Segundo estas definições, Gravura, Xilogravura, Litografia e Serigrafia também
são e devem ser consideradas Artes Gráficas, pois estas técnicas tem como fim a
reprodução. Consideramos técnicas desenvolvidas a partir da criação da imprensa
em torno de 1439 por Johannes Gutenberg (1398-1468), que passam pela tipografia
até a impressão Ofsete (Offset, Off-set), culminando nas modernas técnicas de
impressão. Portanto, este projeto tem como alicerce o conceito, relativamente
moderno, de Indústria Gráfica. Esta apresentação privilegia a produção das revistas
de Histórias em Quadrinhos e de Tiras, Charges e Cartuns, para jornais ou não, e
ainda dá ênfase para a Ilustração Editorial e a Caricatura.
Histórias em Quadrinhos ou Gibi?
Histórias em Quadrinhos ou Arte Sequencial é chamada de comics nos EUA,
tebeos na Itália, historietas na Argentina, fumetti na Itália, bandes-dessinées na França,
histórias aos quadradinhos em Portugal, mangá no Japão... No Brasil é chamada de gibi.
Originalmente, a palavra gibi significava menino, guri ou moleque, mas, depois
do grande sucesso da revista de Histórias em Quadrinhos intitulada Gibi, publicada
de 1939 a 1950, passou a ser sinônimo de História em Quadrinhos.
Fonte: Artigo publicado no site Universo HQ. http://www.universohq.com/quadrinhos/museu_gibi.cfm
Pequeno histórico dos Museus de Artes Gráficas pelo mundo
Segundo fontes não precisas, há 19 Museus de Artes Gráficas nos Estados Unidos,
3 na Alemanha, 3 na França, 10 na Itália, 7 no Japão, 6 na Bélgica, 2 na China, 4
76
na Holanda, 4 na Inglaterra, 3 na Argentina, 3 no México, e 1 no Chile, Uruguai,
Austrália, Coréia, Portugal e Grécia. No Brasil não temos nenhum Museu de Artes
Gráficas em funcionamento.
Um dos destaques entre estes Museus é o Museu Hergé, dedicado a Georges
Prosper Remi (1907-1983), criador do personagem Tintim, localizado na cidade de
Louvaine-la-Neuve, na Bélgica, país onde também está instalado o Centre Belge de
la Bande Dessinée, na cidade de Bruxelas.
Sobre o Museu de Artes Gráficas do Brasil
Localizado em São Paulo, infelizmente, a história até aqui do Museu de Artes
Gráficas do Brasil é bastante conturbada. Criado por Gualberto Costa (Gual) em
2002 acabou sendo fechado em 2003 e o que era um decreto está se transformando
em lei. Enquanto o projeto de lei 510/211 está tramitando quase 10 mil originais
estão armazenados. Há informações que o Arquivo do Estado de São Paulo está em
posse desse verdadeiro tesouro.
Em 2003, o Prof. Dr. Waldomiro Neto, um dos criadores do Núcleo de Histórias
em Quadrinhos na USP-SP, pronunciou-se de forma contundente contra o
fechamento do MAG em um artigo publicado em várias páginas na Internet (http://
omelete.uol.com.br/quadrinhos/a-triste-sina-do-museu-de-artes-graficas/).
Link para o projeto de lei nº 510/2011
http://www.radarmunicipal.com.br/proposicoes/projeto-de-lei-510-2011
Matéria sobre a criação do Museu de Artes Gráficas do Brasil
http://www.estadao.com.br/arquivo/arteelazer/2002/not20021216p7712.htm
A produção digital na Arte Gráfica
Com a evolução tecnológica muitos desenhistas estão abandonando o papel
e passando a desenhar diretamente em mesas digitalizadoras e tablets. Com isso
perdem-se as páginas originais. Desenhistas como Mike Deodato Jr. (Deodato Borges
Filho) só desenha capas no formato tradicional. Atualmente muitos desenhistas
fazem apenas o esboço/estudo no papel, escaneiam/digitalizam a imagem e fazem
toda a arte-final/acabamento no computador. O cartunista Laerte Coutinho é um
destes.
A importância da preservação de Originais
É indiscutível o pioneirismo brasileiro nas Histórias em Quadrinhos. A primeira
charge de que se tem notícia é atribuída a Manuel José de Araújo Porto-Alegre
77
(1806-1879) que a produziu em 1837. Em 1869, o ítalo-brasileiro Angelo Agostini
(1843-1910) publicou As aventuras de Nhô Quim no semanário Vida Fluminense,
considerada a primeira História em Quadrinhos do mundo.
A importância da conservação um objeto gráfico, que consideramos parte
de um patrimônio, está no fato deste se constituir registro material da cultura,
da expressão artística, da forma de pensar e sentir de uma comunidade em
determinada época e lugar, um registro de sua história, dos saberes, das técnicas
e instrumentos que utilizava. A conservação dos acervos e documentos em
suporte de papel tem preocupado bibliotecas e arquivos sempre às voltas com
a deterioração desse patrimônio e a precariedade em que se encontram esses
acervos.
Fontes:
http://www.sjsp.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=3836&Itemid
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u29489.shtml
CONCLUSÃO
Com a rapidez da aplicação de novas tecnologias na feitura das Artes, em pouco
tempo não teremos mais “páginas originais”, somente Arte Digital. Os Webcomics e
e-books estão ganhando espaço comercial rapidamente e vários jornais do mundo
deixaram de circular na sua forma impressa e estão disponíveis apenas para leitura
online. Além da valorização do patrimônio artístico e cultural, esses pontos só
incentivam a criação de um Museu de Artes Gráficas.
Um Museu com este viés teria os objetivos de armazenar e preservar originais,
divulgar o trabalho dos desenhistas, ilustradores, quadrinhistas e cartunistas, e,
ainda, estimular a produção artística.
Uma biblioteca especializada, um arquivo digital para consulta, uma livraria e
cursos profissionalizantes também seriam indispensáveis numa iniciativa como esta.
Um Museu de Artes Gráficas também deve se preocupar com a apresentação de
trabalhos gráficos modernos e contemporâneos e com espaço para ser vivenciada a
experiência de impressão ofsete e outras técnicas gráficas.
REFERÊNCIAS
LEMOS, Renato (Org.) Uma História do Brasil Através da Caricatura – 1840-2001.
São Paulo: Bom Texto/Letras & Expressões, 2001
JAL & GUAL A História do Futebol no Brasil Através do Cartum. São Paulo: Bom
Texto, 2004
78
SCHWARCZ, Lilia Moritz As Barbas do Imperador. São Paulo: Companhia das
Letras, 1998
DE MOYA, Álvaro História da História em Quadrinhos. São Paulo: L&PM, 1987
79
OFICINA DE ENTREVISTAS: A MEMÓRIA EM
SALA DE AULA ATRAVÉS DA HISTÓRIA ORAL
Gisele da Silva Oliveira1
Taiane Vanessa da Silva2
Felipe Augusto Leme de Oliveira3
Regina Célia Alegro4
RESUMO:
Apresenta-se aqui relatos da experiência realizada com a oficina de “Entrevistas”, realizada no
projeto de extensão “Contação de Histórias do Norte do Paraná” em parceria com o Museu
Histórico de Londrina “Pe. Carlos Weiss. O projeto visa estudar a memória de localidades do
norte do Paraná sendo que professores e alunos da rede básica de ensino agem em conjunto
nesse processo. Para apoiar o seu estudo, são oferecidos cursos e oficinas. Uma delas é a oficina
de entrevistas que apresenta a história oral como metodologia para a preservação da memória. A
oficina aborda com os alunos, adaptando-se às suas condições e necessidades, a problemática da
memória e da história, tratando lembranças individuais e grupais como fontes para a construção
de conhecimento em sala de aula. Na oficina explora-se um roteiro para a coleta e tratamento de
entrevistas destinado a educação básica e a partir dele sensibiliza-se os alunos para um processo de
“produção da fonte histórica”. A experiência obtida até aqui demonstra que o aluno envolvido em
atividades propiciadas pela oficina que contemplam desde a coleta até a análise desses documentos
em sala de aula propiciam aprendizagem efetiva, além da sensibilização para a importância da
história local.
Palavras-chave: História e Ensino; Saber Histórico Escolar; Memória
O projeto de extensão “Contação de Histórias do Norte do Paraná”, desenvolvido
em parceria entre o Núcleo Regional de Ensino e o Museu Histórico de Londrina
Pe. Carlos Weiss, atua em escolas de ensino básico tendo como objetivo trazer para
o ambiente escolar a história local, pautando-se principalmente na memória de
trabalhadores.
Nessa comunicação são relatadas as experiências obtidas até aqui com a oficina
de “entrevistas” que tem como temas de trabalho a memória, história, a “produção”
e o tratamento de fontes orais.
Utilizar-se das entrevistas é um recurso necessário quando um dos objetivos
do projeto é trazer à superfície a memória de grupos locais excluídos das grandes
narrativas.( POLLAK, 1989) A visão que historiadores contemporâneos têm das
suas fontes subsidia o trabalho. A visão positivista do ofício do historiador que
1 Graduada em História pela Universidade Estadual de Londrina. Aluna da pós-graduação a nível de especialização
em História e Patrimônio pela mesma instituição.
2 Bolsista MEC/Sesu, Projeto “Contação de Histórias do Norte do Paraná: memória e educação patrimonial”
3 Bolsista MEC/Sesu, Projeto “Contação de Histórias do Norte do Paraná: memória e educação patrimonial”
4 Orientadora. Departamento de História da Universidade Estadual de Londrina.
80
limitava suas fontes ao documento escrito e de caráter oficial, não reconhecia na
“entrevista” uma fonte para o conhecimento histórico, pois a considerava carregada
de subjetividades. Hoje esta questão foi superada e se reconhece que até as fontes
escritas possuem estas características e neste contexto a própria subjetividade pode
constituir-se em objeto do pensamento histórico.(ALBERTI, 2005)
Se é possível no campo do estudo especializado reconhecer a entrevista como
documento válido, o que ocorre no ensino de História? Seria possível também nesse
espaço a exploração da entrevista como documento?
Hoje se sabe que em sala de aula acontece a interpretação do desconhecido pelo
conhecido e alguns alunos têm dificuldades para atribuir sentido aos conteúdos
ensinados, geralmente o particular sobressai.
Assim o ensino precisa levar em conta as estruturas que o aluno traz de seu meio
social. Embora o conhecimento cientifico e o comum sejam opostos este fato não
justifica a simples exclusão do primeiro, é papel do educador considerá-lo.
Metodologia
A Oficina dura 4 horas-aula e pode ser dividida da seguinte forma:
1 Teoria: em um primeiro momento trata-se da questão da memória, em
seguida da relação do historiador com suas fontes, contextualizando com a
produção das mesmas através da história oral.
2 Prática: os alunos realizam um exercício de simulação de coleta e de
tratamento das entrevistas baseando-se em um manual produzido por este
projeto.
Tratar sobre a memória com alunos do ensino fundamental e médio requer
alguns cuidados, pois o “passado” perde espaço diante da valorização do presente, o
consumo, a rapidez de informações e a mídia pedem uma abordagem que valorize
o conhecimento que o aluno traz de seu meio social (FRANCO; VENERA, 2007).
Deste modo a discussão acerca da memória procura a todo tempo trazer para a
exposição a experiência dos alunos, utilizando-se de exemplos onde possam se
identificar de algum modo.
Em seguida trata-se das fontes históricas tendo como base as discussões de
Alberti, Worcman e outros (ALBERTI, 2005; WORCMAN, 2006). Aborda-se o que
antes era fonte, documentos de caráter oficial, e como o historiador na atualidade
não restringe mais suas fontes de estudos, dando espaço às entrevistas de indivíduos
que são compostas de memórias individuais e coletivas.
81
Explora-se, os elementos da memória individual e coletiva (os acontecimentos
da vida pessoal e coletiva; as pessoas e personagens; os lugares da memória) e a
seletividade da memória.(POLLAK, 1992)
O trabalho realizado vem obtendo resultados satisfatórios, o envolvimento
não só dos alunos, mas de toda a escola e a comunidade que as cercam é evidente,
principalmente quando sentem-se “valorizados” e que seu depoimento é importante
para memória não só do bairro ou da escola, mas de toda a cidade.
REFERÊNCIAS
ALBERTI, Verena. Histórias dentro da História. In: PINSKY, Carla M. (org.).
Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2005.
FRANCO, Alexia P.; VENERA, Raquel A.S. A Memória e o Ensino de História
hoje: um desafio nos deslizamentos de sentidos. In: ZAMBONI, Ernesta (org.).
Digressões sobre o ensino de História. Memória, História Oral e razão histórica.
Itajaí: Maria do Cais, 2007.
NEVES, L. A. Memória, história e sujeito: substratos da identidade. In: História
Oral, 3, 2000, p. 109-16.
POLLAK, Michael. Memória esquecimento, Silêncio. In: Estudos Históricos. Rio de
Janeiro, vol. 2, n. 3, 1989, p. 3-15.
POLLAK, Michael. Memória e Identidade Social. In: Estudos Históricos. Rio de
Janeiro, vol.5, n. 10, p. 200-212, 1992.
Worcman, Karen; PEREIRA, Jesus Vasquez (coord). História falada: memória,
rede e mudança social. São Paulo : SESC-SP : Museu da Pessoa : Imprensa Oficial
do Estado de São Paulo, 2006.
82
OFICINA DE FOTOGRAFIA DOCUMENTAL:
SENSIBILIZANDO O OLHAR DO ALUNO
Amanda Camargo Rocha1
Aryane Kovacs Fernandes2
Kátia Regina Azevedo Vanderley Miche3
Vanessa Caroline Mauro4
Regina Célia Alegro5
RESUMO:
A oficina fotográfica documental promovida pelos estagiários do Museu Histórico de Londrina Padre Carlos Weiss em conjunto com a Ação Educativa do mesmo, tem como público alvo alunos
do ensino fundamental e médio. O objetivo da oficina é pensar a função histórica da fotografia,
promover a sua interpretação e confecção, buscando assim refinar o olhar e a percepção acerca
desse tipo de documento histórico. A oficina se divide em quatro momentos: a sensibilização
do olhar do aluno em relação à percepção da vivência em um mundo visual; a apresentação da
fotografia enquanto produção humana e, sendo assim, documento histórico; uma introdução
de técnicas básicas de tomada fotográfica, e por fim, a realização da produção imagética pelos
próprios alunos participantes da oficina.
Palavras Chave: Oficina de Fotografia Documental; Museu Histórico de Londrina; Ensino e
História; Projeto Contação de Histórias no Norte do Paraná.
Vivemos em um mundo em que o aspecto visual é predominante. Diariamente
temos contato com imagens produzidas das mais diversas formas e com objetivos
diferentes, seja através de propagandas, noticiários, produções artísticas, entre outros.
O objetivo da oficina de fotografia documental promovida pelo Museu Histórico de
Londrina é pensar a produção da imagem fotográfica enquanto expressão humana
inserida no tempo e no espaço. Constitui assim uma fonte diferenciada para o
desenvolvimento da pesquisa em história e visa promover um ensino de história que
objetiva o refinamento do olhar do aluno e sua alfabetização visual, para que este
possa agir de maneira mais crítica em relação às informações visuais que chegam até
ele cotidianamente. Lucia Santaella afirma que,
[...] a alfabetização visual significa aprender a ler imagens,
desenvolver a observação de seus aspectos e traços constitutivos,
detectar o que se produz no interior da própria imagem, sem
fugir para outros pensamentos que nada têm a ver com ela.
1 bolsista Promic no Museu Histórico de Londrina (UEL)
2 bolsista de iniciação extensionista MEC/SESU no Museu Histórico de Londrina (UEL)
3 bolsista de iniciação extensionista MEC/SESU no Museu Histórico de Londrina (UEL)
4 bolsista Fundação Araucária no Museu Histórico de Londrina (UEL)
5 Orientadora: Profª Drª Regina Célia Alegro, docente do Departamento de História da Universidade Estadual de
Londrina (UEL) e Diretora do Museu Histórico de Londrina.
83
Ou seja, significa adquirir os conhecimentos correspondentes
e desenvolver a sensibilidade necessária para saber como as
imagens se apresentam, como indicam o que querem indicar, qual
é o seu contexto de referência, como as imagens significam, como
elas pensam, quais são seus modos específicos de representar a
realidade. (SANTAELLA, 2012, p.10)
Para tanto, a oficina é iniciada com o questionamento aos alunos a respeito do
contato que eles possuem com a imagem em seu cotidiano e qual a idéia que eles
possuem acerca da origem da expressão humana através da imagem. A seguir é
apresentada uma pintura rupestre encontrada na Serra da Capivara, estado do Piauí,
demonstrando assim, que a imagem foi uma das primeiras formas de expressão
humana, pertencendo a determinado contexto histórico.
A partir de então se busca desenvolver a idéia de que ao longo do tempo, o ser
humano tem desenvolvido diversas maneiras de produção de imagens, sendo estas
completamente influenciadas pelas condições históricas e tecnológicas em que estão
inseridas, um exemplo significativo disso é o surgimento da fotografia no século
XIX.
Ao longo dos séculos, as diferentes sociedades têm criado
distintas formas de produzir, olhar, conceber, dialogar e utilizar
suas produções imagéticas. Ao possibilitar o constante desejo de
eternizar a condição humana, por certo transitória, a imagem
fotográfica se aproxima de outras iconografias produzidas no
passado. Como essas, a fotografia também desperta sentimentos
de medo, angústia, paixão e encanto. Reúne e separa homens e
mulheres, informa e celebra, reedita e produz comportamentos e
valores. Comunica e simboliza. Representa. (BORGES, 2003, p.02)
A partir daí, são apresentados alguns modelos de câmeras fotográficas
provenientes de diversos períodos históricos, com o objetivo de demonstrar a
influência que o desenvolvimento tecnológico exerce sobre a produção fotográfica,
demonstrando também que a fotografia nem sempre foi tão acessível quanto é na
atualidade.
Em um segundo momento, apresenta-se os usos mais comuns que damos
à fotografia ao longo do tempo, destacando então três aspectos. O primeiro faz
referência à fotografia enquanto forma de recordação de momentos que são
considerados importantes em nossas vidas; o segundo aspecto apresentado é o
fotojornalismo, ou seja, a fotografia que informa, noticia algo; o terceiro e último
aspecto abordado é da fotografia enquanto propaganda, que tem por objetivo vender
um produto ou uma idéia.
84
O terceiro momento da oficina de fotografia consiste em pensar a produção da
imagem fotográfica e sua manipulação, seja através de meios digitais ou do próprio
ponto de vista utilizado pelo fotógrafo e da escolha dos elementos componentes
da imagem fotográfica. A partir de então, desenvolve-se os elementos necessários
para que os alunos compreendam que a produção fotográfica não é realizada sem
um objetivo pré-determinado, bem como o fotógrafo não possui um olhar neutro
em relação à imagem retratada. Sendo assim, a imagem fotográfica, produção
humana que tem por objetivo expressar uma idéia previamente pensada a partir
de um determinado contexto vivenciado por quem produz, constitui importante
documento histórico. Dessa maneira,
Fotografia é memória e com ela se confunde. Fonte inesgotável de
informação e emoção. Memória visual do mundo físico e natural,
da vida individual e social. Registro que cristaliza, enquanto dura,
a imagem – escolhida e refletida – de uma ínfima porção de espaço
do mundo exterior. É também a paralisação súbita do incontestável
avanço dos ponteiros do relógio: é, pois o documento que retém a
imagem fugidia de um instante da vida que flui ininterruptamente.
(KOSSOY, 2001, p.156)
São apresentadas então fotografias produzidas por fotógrafos londrinenses
como José Juliani, Haruo Ohara e George Craig Smith, objetivando a realização
de um exercício oral conjunto de interpretação desses documentos fotográficos a
partir do que eles representam e da época em que foram produzidos e o objetivo de
sua produção. São realizadas algumas considerações a respeito de técnicas básicas
de iluminação e enquadramento fotográfico para que então os alunos coloquem
em prática as considerações que foram feitas sobre a fotografia documental
e vivenciem a produção de suas próprias imagens. A oficina é finalizada com a
apresentação, por parte dos alunos, das fotografias que produziram, verbalizando
o que desejaram expressar e a interpretação que os outros alunos tiveram de suas
fotografias.
REFERÊNCIAS
BORGES, Maria Eliza L. História & fotografia. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
KOSSOY, Boris. Fotografia e História. 2ª ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001.
SANTAELLA, Lucia. Como Eu Ensino: leitura de imagens. SP: Melhoramentos,
2012.
85
OFICINA DE MAPAS ALTERNATIVOS
NO MUSEU HISTÓRICO
Juliana Souza Belasqui1
Natália Cortez e Sousa2
Priscila Rosalen Pasetto de Almeida3
RESUMO:
Este trabalho propõe uma abordagem para a apresentação do acervo do Museu Histórico de
Londrina ao público infantil, por meio de oficinas de mapas alternativos.
Palavras-chave: museu histórico; oficina de mapas; educação patrimonial
O Museu Histórico de Londrina Pe. Carlos Weiss (MHL) tem voltado suas
preocupações em ampliar o seu papel de instituição museal em algo que transcenda
os antigos padrões de reprodução de conhecimento que o colocavam como local
de salvaguarda de objetos, de memórias de forma estática e impositora. Como
participantes de um dos projetos do museu, “O Museu vai à escola: memória e
educação patrimonial”, percebemos uma realidade diferente e contrastante aquela.
O projeto propõe experiências escolares que, a partir do acervo do museu, permite as
crianças o trabalho destes como documentos históricos e que, assim, sensibilizemnas sobre questões relativas a memória e patrimônio da sua cidade. Este, assim como
os demais projetos, fazem parte da ação cultural educativa do MHL, que
Visa promover a participação, reflexão crítica e transformação
da realidade social integrada à apropriação de uma cultura
museal. [...] consiste no processo de mediação, permitindo
o homem aprender, em um sentido amplo, o bem cultural,
em vistas ao desenvolvimento de uma consciência crítica e
abrangente da realidade que o cerca. (BRASIL, 2006, p. 147 apud
HILDEBRANDO, 2010, p. 71-72)
As atividades desenvolvidas pela ação cultural educativa proporcionam
interação com o conteúdo histórico, concepção de espaço, memória, patrimônio e
preservação. Como por exemplo, visitas monitoradas, oficinas que dão a amplitude
de como trabalhar o documento histórico (oficina de mapas alternativos, fotografia,
1 Graduanda em História, bolsista Universidade Sem Fronteiras do projeto de extensão: O Museu vai à escola:
memória e educação patrimonial. Orientadora: Dra. Regina Célia Alegro (UEL).
2 Graduanda em História, bolsista MEC/SESU, projeto de extensão: A construção da memória e a preservação do
patrimônio cultural em Londrina. Orientadora: Dra. Regina Célia Alegro (UEL).
3 Graduanda em História, bolsista Universidade Sem Fronteiras do projeto de extensão: O Museu vai à escola:
memória e educação patrimonial. Orientadora: Dra. Regina Célia Alegro (UEL).
86
entrevistas, maquete), e exposição itinerante que se constitui como parte do
acervo das exposições temporárias (todo o material é disponível para empréstimo
às escolas). A atividade aqui recortada será a oficina de mapas que, apesar de ter
passado por modificações no interior do desenvolvimento dessa oficina, a proposta
de trabalho que foi solicitada a nós, veio por meio dela.
E o que seria a oficina de mapas alternativos? Apresentar o mapa não somente
como representação geopolítica, mas, também, introduzir a criança na leitura do
mapa como documento histórico que pode representar, inclusive, aspectos do
cotidiano da criança. Inicialmente é levantada uma discussão sobre a função do mapa,
a utilização dele como documento histórico. Após a análise, os alunos reconhecem a
natureza do objeto como documento histórico, e é apresentado o conceito de mapas
alternativos. A idéia surgiu através de leituras realizadas do livro “Guia do Patrimônio
Cultural de Londrina” de Humberto Yamaki no qual o autor apresenta uma nova
forma de mapeamento de alguns pontos da cidade de Londrina, o mapeamento feito
através dos cheiros. O trabalho de Yamaki nos amparou para a criação de formas
alternativas de mapeamento; onde por meio destes, os alunos passam a criar seus
próprios mapas, como por exemplo, mapa de cheiros, de sons, afetivo, patrimônio. A
oficina visa trabalhar questões de identificação e reconhecimento com a localidade de
quem está produzindo as novas formas de mapeamento, eles mostram perspectivas e
possibilitam o contato com a história local.
Como o público que nos foi solicitado o atendimento, compõe-se por um grupo
de crianças do fundamental I – e que foge do que estamos acostumados em atender,
que são os alunos do fundamental II ou do ensino médio -; deparamo-nos com a
necessidade de adaptá-la. Tivemos que rever os conceitos e a metodologia em que a
oficina de mapas alternativos estava embasada, trazendo-a mais próxima à realidade
do aluno e relativa à sua faixa etária.
Em vista que a disciplina de história só é apresentada aos alunos da educação
básica no inicio do 6º ano do fundamental, trabalhar com o conceito de documento
histórico seria um pouco problemático. O desenvolvimento da nova oficina baseouse nos princípios da oficina de mapas alternativos, contudo, com uma metodologia
mais lúdica, obtendo uma ampliação dos instrumentos utilizados durante a mesma
– ao passo que anteriormente ela era restrita a mapas, agora optamos por trabalhar
além destes, como também objetos, fotografias, indumentárias, que compõem
parte do grande acervo do MHL. Partimos de princípios que visam materializar os
conceitos – referentes a tempo e espaço – de forma que a criança compreenda. Então,
dividimos a oficina em quatro momentos, dos quais são: atividade com plotagem
para reconhecimento da cidade de Londrina, o baú de curiosidades e rosa dos ventos
para “montar” a área urbana de Londrina, e mapas alternativos.
87
A dificuldade do aprofundamento no conteúdo proposto durante a realização
de uma nova oficina, não tirou nossa responsabilidade de conduzir a experiência
da oficina em seu aproveitamento máximo e melhor possível; a abordagem a ser
adotada é plástica e pode, como deve, ser moldada dentre as necessidades que
surgirem pelo caminho. Os resultados têm sido satisfatórios e podem ser observados
desde a motivação destas crianças durante a oficina, como nos materiais produzidos
pelas mesmas. Assim, vemos o conhecimento promovido pelo museu não nas ações
determinantes, estáticas e impositoras; mas sendo construído por meio da interação
do museu – representado por seu acervo – e seu público receptor, no caso, das
crianças.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, A. Desafios da relação museu-escola. Comunicação & Educação, Brasil,
v. 3, n. 10, 2008. Disponível em <http://www.revistas.univerciencia.org/index.php/
comeduc/article/view/4369/4079>. Acessado em 07 set. 2012.
HILDEBRANDO, Gilberto. O museu e a escola: memórias e histórias em uma
cidade de formação recente – Londrina/PR. 2010. Dissertação (Mestrado em
História Social) - Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2012.
NEGRÃO, Patrícia. Desenhar Hoje Para Ler Mapas no Futuro. Disponível em
<http://revistaescola.abril.com.br/geografia/fundamentos/desenhar-hoje-lermapas-futuro-426590.shtml 2006>. Acessado em 17 de Julho de 2013.
YAMAKI, Humberto. Guia do patrimônio histórico cultural de Londrina: Nariz ao
Vento, Midiograf II, PR, 2008.
88
EXPOSIÇÃO “O PASSADO PREPARA O
FUTURO...” – SEMANA NACIONAL DO LIVRO
E DA BIBLIOTECA NA BIBLIOTECA PÚBLICA
MUNICIPAL DE LONDRINA
Marli Meisen Bleinroth1
RESUMO:
O trabalho apresenta a Exposição de fotos: “O passado prepara o futuro...”, cujo tema é a história
da Biblioteca Pública Municipal de Londrina. A exposição foi idealizada a partir da intenção de
divulgar publicamente uma das ações da Biblioteca Pública Municipal, na Semana Nacional do
Livro e da Biblioteca, comemorada de 23 a 29 de outubro de 2012. Nessa exposição a história
da Biblioteca Pública de Londrina está representada numa linha do tempo imaginária, em fotos
e textos que foram recuperados do acervo bibliográfico e do Arquivo de Fotos Históricas, da
Biblioteca João Milanez – Londrina/PR.
Palavras Chave: Biblioteca Pública Municipal de Londrina, Biblioteca João Milanez (Sala
Londrina/Paraná), Fotografia e memória - Londrina.
A Exposição “O passado prepara o futuro...” teve como objetivo principal divulgar
uma das ações da Biblioteca Pública de Londrina, na Semana Nacional do Livro e
da Biblioteca, realizada de 23 a 29 de outubro de 2012. Esse evento, além de outras
atividades, contou com exposições de vários temas: fotos históricas, cinema e rádio,
conservação de materiais bibliográficos e livros danificados. Com a ideia da exposição,
pensou-se ainda, em uma atividade que atraísse a atenção do público para o acervo
especial da Biblioteca João Milanez também conhecida como Sala Londrina/Paraná.
A Biblioteca João Milanez faz parte da estrutura organizacional da Biblioteca
Pública Municipal de Londrina e o seu acervo, seja no formato de livros, periódicos,
mapas, mídias digitais ou fotografias, está estritamente voltado para a cidade de
Londrina e para o estado do Paraná. Esse acervo contempla as mais diversas áreas do
conhecimento, com destaque para os materiais que contam a história de Londrina.
Sendo rico e, às vezes, único, faz-se necessário que esses materiais sejam amplamente
divulgados à população. A exposição de fotos históricas Biblioteca Pública foi uma
possibilidade de atingir à demanda potencial. Ela permitiu ao usuário acompanhar
a evolução no tempo e, os espaços que abrigaram a Biblioteca Pública Municipal
de Londrina por meio de fotos e textos recuperados do acervo da Biblioteca João
Milanez que depois transformaram-se num álbum disponibilizado ali, como
material de consulta.
1
Biblioteca Pública Municipal de Londrina
89
Biblioteca Pública e Patrimônio Histórico-Cultural
A importância da Biblioteca Pública de Londrina é inquestionável, como afirma
Pellegrini (2001, p.5) referindo-se ao aniversário da Biblioteca Pública: “... a Biblioteca
foi, ao longo desses 50 anos, muito mais que um arquivo de livros, realizando o papel
de fomentador cultural para várias gerações de leitores...”. Não só na área cultural,
mas ela é importante também no aspecto histórico, arquitetônico e de memória. Isso
é confirmado em Reconhecendo o patrimônio cultural de Londrina (2007):
Este edifício é considerado patrimônio por vários motivos.
Primeiramente, existe o fato histórico de ter sido o primeiro fórum
da cidade, continuando, mesmo depois do fim destas atividades, a
abrigar funções de uso público. Além disso, ele resistiu à passagem
do tempo e foi incorporado no imaginário da população, como
um componente marcante do centro da cidade, sendo que suas
características formais são representantes de uma arquitetura
muito praticada no período de sua construção. (p.9)
Dentre as formas mais conhecidas e eficientes de se recuperar a memória de
acontecimentos, lugares e pessoas uma delas é a fotografia. Silva (2000) confirma
essa premissa apresentando
[...] a fotografia como um suporte que possibilita recuperar
o passado. [...] A fotografia, quando é observada, produz no
indivíduo uma relação direta com o passado, pois uma das suas
propriedades é o registro daquilo que desapareceu, modificou-se
ou o que está em transformação. (Internet)
Por meio desse suporte de informação coisas que não existem mais ou foram
alteradas, têm como serem apreciadas além da pura imaginação anos ou décadas
depois de serem captados por uma fotografia. Conforme Lissovsky (2011) apud
Revelações da História... (2012) “as fotografias atravessam os tempos como fantasmas
atravessam paredes, ambos condenados a fazer a incessante mediação entre o que
foi, o que é, e o que será. Fotografia é História”.
Essa mesma ideia está contida no título da exposição: O passado prepara o futuro.
Quando pensou-se numa linha do tempo imaginária para a história da Biblioteca
Pública de Londrina, contida nas fotografias e legendas selecionadas, era isso que se
pretendia mostrar. A ação realizada cabe bem no pensamento de Lissovsky (2011)
apud Revelações da História: ... (2012):
... cada fotografia guarda em si a difícil pergunta sobre o propósito
de sua sobrevida, a pergunta sobre o que nela, a despeito do que
90
passou, ainda será. [...] Porque as fotografias são essa condensação
de tempos, nunca estão inteiramente no passado e no presente [...].
Estão aqui e agora, conosco, e no mesmo momento, nos fornecem
testemunho da nossa irremediável diferença em relação ao que foi
[...]. (p.25)
Como seria possível admirar-se com as cenas da Londrina antiga, onde os ingleses
pioneiros jogavam tênis numa quadra empoeirada de terra vermelha, onde está
fincado o imponente prédio do antigo Fórum, que hoje é ocupado pela Biblioteca
Pública Municipal? E o que dizer de pessoas e eventos realizados ao longo dos anos,
que fizerem desse bem público uma instituição sólida e confiável, tornando-se nos
dias de hoje um referencial no imaginário coletivo da cidade? Uma exposição de fotos
contando a história da Biblioteca Pública de Londrina foi a alternativa encontrada
para essas questões.
A intenção de reportar a história de próprios públicos da cidade de Londrina,
não se esgota com a essa atividade sobre a Biblioteca Pública Municipal de Londrina.
Tendo em vista o interesse em divulgar, explicitamente ou não, a Biblioteca João
Milanez serão pensadas, proximamente, outras formas e ocasiões de utilizar os
materiais desse acervo especial.
REFERÊNCIAS
PELLEGRINI, Bernardo. In. Biblioteca Pública de Londrina: 50 anos no coração da
cidade. Londrina: [sn], 2001
RECONHECENDO o patrimônio cultural em Londrina. Londrina: Midiograf,
2007
REVELAÇÕES da História: o acervo do Foto Estrela. 2.ed. Londrina: Câmara
Clara, 2012.
SILVA, Marcio Assumpção Pereira da. Memória e fotografia: um estudo sobre
informação visual em São Carlos (SP). 2000. Disponível em <www.ies.ufpb/ojs>.
Acessado em 15/04/2013.
91
O CENTRO HISTÓRICO COMO UMA
REINVENÇÃO DA CIDADE CONTEMPORÂNEA
Elisa Roberta Zanon1
RESUMO:
A cidade como produção social traz em si características dinâmicas e mutáveis nos processos de
ocupação e expansão urbanas. O centro de uma cidade tem como função primeira estruturar sua
periferia, de organizar e ser o nó do sistema urbano. É também a partir do centro que a cidade se
constrói culturalmente como referência espacial. Atribuir ao centro a distinção de centro histórico
é estabelecer a construção de sua imagem por meio de elementos identitários, o que, no entanto,
também é produzir uma nova forma urbana no final do século XX, que busca a revalorização
econômica do setor imobiliário acompanhados de processos de gentrificação e descaracterização
histórica.
Palavras-chave: centro histórico; patrimônio cultural; revalorização econômica.
A Reinvenção do Centro
Neste breve ensaio sobre o centro histórico apresentam-se algumas reflexões sobre a
produção da cidade contemporânea. A urbanização constitui-se um processo contínuo,
com a criação e, por vezes, a reinvenção de formas espaciais, configurando um novo modo
urbano no final do século XX. A produção de novas formas espaciais no modo capitalista
não se trata somente de fazer acréscimos a estrutura urbana existente. Há processos espaciais
que interferem na cidade tradicional ao mesmo tempo em que redefinem os espaços de
outrora. Para tanto, é necessário entender o comportamento atual de estruturas antigas das
cidades, no caso, o centro, antes uma representação simples do poder econômico de uma
sociedade e, que hoje torna-se um espaço complexo influenciado pelos inúmeros centrosirmãos através da reprodução do espaço urbano em todo lugar.
Não existe a realidade urbana sem centro, quer se trate do centro
comercial, do centro simbólico, do centro de informação e de
decisão, etc. Mas todo centro destrói-se a si próprio. Ele se destrói
por saturação; ele se destrói porque remete a outra centralidade;
ele se destrói na medida em que suscita a ação daqueles que ele
exclui e expulsa para as periferias. (LEFEBVRE, 2008, p. 85).
Estudar o centro de uma cidade na atualidade é comparar suas características
com sua gênese e buscar os conceitos que o explicam. Para Beaujeu-Garnier em
1 Arquiteta e Urbanista, com especialização em Teoria e História da Arte, mestranda em Geografia: Dinâmica
Espaço Ambiental pela Universidade Estadual de Londrina e atual docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo do
Centro Universitário Filadélfia – Unifil.
92
seu livro Geografia Urbana de 1995, as definições de Centro e Cidade acabam se
mesclando, pois para explicar a cidade, se reporta ao conceito de núcleo organizador,
e principalmente para diferenciar cidade e fato urbano, que não são sinônimos. De
acordo com Beaujeu-Garnier (2010, p. 15) “quaisquer que sejam os prolongamentos
periféricos, não existirá cidade se não houver um núcleo susceptível de unificar, de
dominar, de organizar a periferia”. No entanto, o que torna um lugar central não é
a sua posição geográfica, no sentido preciso, mas sim as funções centrais, ou seja,
quando seus habitantes exercem profissões que se vinculam por necessidade a uma
posição central. Christaller (1933) inclusive chama estas de “profissões centrais”,
assim como os “bens centrais” e os “serviços centrais” pelo fato destes serem
produzidos e ofertados no lugar central.
Já no final do século XX, o centro principal, também denominado centro antigo,
passa a ser reinventado para assumir a forma urbana de centro histórico, detendo
características além de seu atributo de centralidade do comércio, dos serviços,
tornando-se útil economicamente pelas vantagens que oferece. Para Tourinho (2007,
p. 23), o centro continua sendo centro, uma vez que a centralidade do centro não é
apenas uma centralidade operativa ou funcional. É uma centralidade representativa,
pois o “centro caracteriza-se como espaço qualificado, não só do ponto de vista
funcional, mas também pelos seus aspectos simbólicos e formais”. Portanto, o
centro da cidade, originalmente o lugar do encontro dos ramos de comércio e sede
governamental, ganha novos atributos, uma vez que, a estrutura urbana torna-se
complexa, polinucleada e o centro assume o papel de representar o todo, ou seja, a
cidade em seu contexto cultural e identitário.
Sposito (2001) afirma que com a Terceira Revolução Industrial há uma
generalização da urbanização que produz novas lógicas de comportamento espacial
das empresas, expansão extensiva das áreas residenciais e multiplicação do consumo,
articulação entre novas e antigas localizações e múltiplos fluxos de conexão. Não
há mais um processo de difusão da urbanização, mas uma urbanização que se
reconstrói, uma espacialidade que se redesenha com a fragmentação do tecido
urbano e intensificação de circulação de pessoas.
Ao se considerar o centro histórico como bem patrimonial, este passa a ser uma
construção social do que se deve selecionar para representar a identidade e sua
história. Essa materialidade do centro histórico significa o patrimônio construído
e estabelece as operações de conservação. O que, no entanto, Melé (2006) considera
que tal nova condição dos centros como históricos passou a reunir diferentes tipos
de espaços: áreas comerciais valorizadas, centro comercial popular, espaço do poder
público e bairros populares; o centro torna-se um objeto de política, de discurso e de
práticas que ultrapassam a política de patrimônio.
93
Esses centros históricos foram progressivamente institucionalizados.
E não apenas: este espaço torna-se espaço de referência das medidas
de proteção do patrimônio, mas também da reorganização dos
fluxos e usos da rua; um espaço de referência dos documentos de
planificação; e um sub-espaço particular a ser tomado em conta no
campo da gestão urbana cotidiana. (MELÉ, 2006, p. 204)
Neste processo de construção da imagem do centro como construção da imagem
da cidade interroga-se a maneira pela qual o patrimônio é produzido socialmente.
Nota-se a reprodução de uma fórmula econômica que substitui o conteúdo social,
uma gentrificação, sem critérios de salvaguarda adequados a cada localidade, a
fim de tornar a cidade mais competitiva em relação ao processo de globalização
através do seu centro histórico. Portanto, há grande necessidade de sensibilização da
população quanto ao real valor de seu patrimônio cultural.
REFERÊNCIAS
BEAUJEU-GARNIER, Jacqueline. Geografia Urbana. 3.ed. Lisboa-Portugal:
Fundação Calouste Gulbenkian, 2010.
CHRISTALLER, Walter. Os lugares centrais na Alemanha do Sul: uma pesquisa de
geografia econômica da distribuição e do desenvolvimento das localidades com
funções urbanas. São Paulo, 1981. (Mimeo.) (publicação original de 1933).
LEFEBVRE, Henri. Espaço e Política. Belo Horizonte: UFMG, 2008.
MELÉ, Patrice. (Re)investir nos espaços centrais das cidades mexicanas. In:
BIDOU-ZACHARIASEN, Catherine. (coord.). De Volta à Cidade: dos processos
de gentrificação às políticas de “revitalização” dos centros urbanos. Trad. Helena
Menna Barreto Silva. São Paulo: Annablume, 2006, p. 197-227.
SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão. A urbanização da sociedade: reflexões para
um debate sobre as novas formas espaciais. In: DAMIANI, A. L.; CARLOS, A. F.
A. C.; SEABRA, O. C. de L. (org.). O espaço no fim do século: a nova raridade. 2 ed.
São Paulo: Contexto, 2001, p. 83-99.
TOURINHO, Andréa de Oliveira. Do Centro às novas centralidades: uma
trajetória de permanências terminológicas e rupturas conceituais. In: GITAHY,
Maria Lúcia Caira; DE LIRA, José Tavares Correia (Orgs.). Cidade: impasses e
perspectivas. São Paulo: FAU/Annablume/ FUPAM, 2007. p. 11-28.
94
OS LAÇOS POSSÍVEIS ENTRE O PATRIMÔNIO
CULTURAL E O TURISMO
Bruna Morante Lacerda Martins, UNESPAR
Sandra Cássia Araújo Pelegrini, UEM
Neste estudo abordaremos o patrimônio como legado cultural formado por bens
materiais e imateriais coletivamente significativos e representados como elos das
memórias e tradições locais. O objetivo central é discutir as ligações possíveis dos
bens culturais e o turismo, visando à continuidade histórica do local na presença
do global. Sendo assim, o patrimônio cultural está intrínseco no espaço geográfico,
pois os lugares, objetos e saberes nos remetem a historicidade e as reminiscências
(i)materializadas no espaço habitado. Logo, o sentido de pertencimento ao espaço
vivido contribui para reafirmação dos vínculos identitários “[...] recebido do passado,
vivenciado no presente e transmitidos às gerações futuras” (PELEGRINI, 2009, p.11).
As discussões em torno do patrimônio cultural são construídas conforme o
contexto em que a sociedade encontra-se, de tal modo que, discutem-se questões
de como restaurar, conservar e mantê-lo em segurança, porém o problema mais
desafiante na contemporaneidade diz respeito aos usos sociais do patrimônio cultural
(CANCLINI, 1994). Ballart Hernández (2008) adverte que há uma contradição
entre os que desejam a conservação e os que almejam o uso do legado cultural.
Portanto, faz-se necessário estudar alternativas para a gestão do patrimônio, visando
o desenvolvimento econômico e social.
Na sociedade contemporânea uma das maneiras de fazer uso dos recursos
culturais é por meio do turismo (BALLART HERNÁNDEZ, 2008). Assim, este
estudo busca tratar do uso do patrimônio cultural como fomento do turismo,
compreendendo a atividade turística como uma prática social de deslocamento que
visa o contato humano e cultural, e ainda, possibilita a troca de experiências entre o
turista e o anfitrião (FUNARI; PINSKY, 2001).
A geógrafa Ana Fani (1982, p.54), expõe que “a produção do espaço turístico
descaracteriza o espaço da vida cotidiana, espetaculariza cultura, hábitos e costumes locais
[...],” nesta ótica o turismo apropria-se dos recursos culturais para o consumo deliberado.
A questão basilar está em como promover o uso do patrimônio cultural através do turismo,
sem tender ao risco da mercantilização e simulacros dos lugares da memória?
Para encontrar as respostas para estas preocupações, é importante sinalizar que
o patrimônio cultural está disposto em diversificadas formas de materialização,
espaços e expressões, como em museus, monumentos edificados, o saber fazer,
95
danças, músicas e outros. E que o incremento destes como bens patrimoniais no
mercado turístico deve fomentar a conscientização da comunidade local no sentido
de promover o conhecimento e a proteção destes bens.
almeja-se o entrosamento do Estado, o trade turístico e a comunidade local, onde
haja investimento no turismo, e a preservação do patrimônio cultural, uma vez que,
“[...] tem se valorizado a opção por medidas conjuntas, adequadas ao envolvimento
de atores públicos e privados para garantir a sustentabilidade, o desenvolvimento e a
valorização do patrimônio” (FUNARI; PELEGRINI, 2006, p.59).
Entretanto, são urgentes políticas públicas integradoras que visem à defesa do
meio ambiente, o patrimônio cultural e o fomento turístico. De acordo com Pelegrini
(2006, p.124), “A integração dessas áreas pode vir a corroborar a reafirmação de
códigos visuais das identidades cívicas, patrióticas, ou étnicas, na medida em que
consiga agregar a população residente ao “legado vivo””.
Para tanto, os poderes locais das pequenas e médias cidades, de agentes culturais
e demais profissionais necessitam superar a ideia de que o turismo se constitui como
“indústria sem chaminés”, o que em outras palavras implica entendê-lo apenas
como uma forma de acumulação econômica, cujo resultado é a deterioração dos
bens culturais. Assim, o turismo em âmbito municipal utilizar-se-ia do patrimônio
cultural local como atrativo em diversos segmentos (museológico, arqueológico,
cinematográfico, gastronômico, religioso etc..), balizado em uma cadeia de ações de
pesquisa de inventariação, planejamento participativo e interpretação patrimonial,
proporcionando a reafirmação de valores identitários locais.
O turismo pensado de maneira equilibrada visa o elo entre o trade turístico, e prevê
o uso do patrimônio cultural respeitando seus limites. A comunidade local necessita
deste encontro com o patrimônio cultural realizado por meio do lazer e do turismo. É
preciso, ater-se ao fato de que o turismo pensado como prática social busca trazer as
particularidades dos espaços vividos de cada comunidade, e estabelecer parâmetros
para o fomento nas dimensões culturais, sociais e econômicas, apresentando como
alternativa viável para o uso do patrimônio cultural.
REFERÊNCIAS
BALLART HERNANDEZ, Joseph. Usos del patrimônio, acción social y turismo:
hacia um necessário consenso. Diálogos, Maringá: DHI e Programa de Pósgraduação em História – Universidade Estadual de Maringá, v.12, n.1, 2008.
CARLOS, Ana Fani Alessandri. O turismo e a produção do espaço. Revista
Geografia e Ensino, Belo Horizonte: Departamento de Geografia – Universidade
Federal de Minas Gerais, n.1, 1982.
96
CANCLINI, Nestor Garcia. O patrimônio cultural e a construção do imaginário
nacional. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Brasília, nº23, 1994.
FUNARI, Pedro Paulo; PINSKY, Jaime. Introdução. In: FUNARI, Pedro Paulo;
PINSKY, Jaime (orgs.). Turismo e Patrimônio Cultural. São Paulo: Contexto, 2001.
_______, Pedro Paulo; PELEGRINI, Sandra Cássia Araújo. Patrimônio Histórico
Cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
PELEGRINI, Sandra Cássia Araújo. Patrimônio Cultural: consciência e
preservação. São Paulo: Ed. Brasiliense, 2009.
PELEGRINI, Sandra Cássia Araújo. Cultura e Natureza: os desafios das práticas
preservacionistas na esfera do patrimônio cultural e ambiental. Revista Brasileira
de História. São Paulo, v.26, nº51, 2006.
97
O TURISMO COMO ALTERNATIVA PARA A
PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO
CULTURAL E A REAFIRMAÇÃO DA
IDENTIDADE CULTURAL
NA CIDADE DE FÊNIX
Angela Patricia Picoli1
Marcelo Yudi Nariji 2
Michele Leandro da Costa3
Lorena Angélica Mancini 4
RESUMO:
A valorização do patrimônio cultural pode levar a uma compreensão histórica bem como a
conservação de bens materiais ou imateriais que fazem parte da identidade cultural de seus
detentores, gerando um sentimento de orgulho e proteção deste legado. A participação e aceitação
da população são fundamentais para que exista o significado real da importância do bem cultural
para estes acrescentando valor e preservação de sua continuidade. O exemplo a ser discutido tratase do município de Fênix que possui patrimônios culturais de imensurável valor e potencialidade,
porém não tem o sido reconhecido e atribuído a sua real importância e se encontram em estado de
esquecimento. O presente trabalho tem como objetivo mostrar a importância da conscientização
sobre os bens patrimoniais, como uma forma de resgate da cultura e preservação da mesma, através
da atividade turística na cidade de Fênix, no Paraná. Para tanto, foram realizadas visitas ao município
com intuito de identificar os bens patrimoniais existentes na localidade, a fim de recuperar a memória
coletiva e conhecer a representatividade de sua cidade em determinados períodos.
Palavras Chave: Fênix. Patrimônio. Turismo. Identidade.
O patrimônio pode ser entendido como manifestação cultural de características
distintas que representam um povo, seja ela material ou imaterial segundo Neves
(2003, p.49)
Patrimônio cultural é um conjunto de bens materiais e imateriais
representativos da cultura de um grupo ou de uma sociedade. Para
que se entenda esse conceito e sua relação com as identidades,
torna-se necessário, antes de tudo, refletir acerca do conceito
“cultura”. (grifo do autor)
Caracteriza-se como a maior fonte de identificação de um povo, e por isso
a necessidade de sua preservação. Possui aspecto social como um elemento
1
2
3
4
Recém Formada – Turismo – FECEA (Bolsista Universidade sem Fronteiras –SETI)
Recém Formado – Turismo –FECEA (Bolsista Universidade sem Fronteiras – SETI)
Coordenadora do curso de Turismo – FECEA (Orientadora do projeto Universidade sem Fronteiras – SETI)
Professora do curso de Turismo – FECEA (Coordenadora do projeto Universidade sem Fronteiras - SETI)
98
diferenciador diante da diversidade das culturas, estando fortemente associado às
tradições e costumes nos espaços que estão inseridos, por intermédio dele é possível
manter viva a história da cidade e a memória coletiva.
Dessa forma Dias (2006) aponta que esse significado social do patrimônio
favorece o incremento do turismo pelo aumento das singularidades de cada local.
Como apontam Carneiro et al.(2010,p.8) “A cultura figura como atrativo significativo
para os turistas, especialmente para aqueles que buscam na apreciação do outro,
um diferencial em relação às suas vivências habituais.” O turismo do segmento
cultural promove o local antes esquecido, e agora despertado pelo interesse dos
turistas permitindo um maior contato entre diferentes culturas, promovendo o
desenvolvimento econômico, social e cultural.
É possível encontrar cidades que possuem riquezas históricas, monumentos
entre outros bens patrimoniais que não são reconhecidos por seus próprios
residentes. A cidade de Fênix, no Paraná, é um exemplo disso, pois ela vivenciou
fatos históricos importantes nos séculos passados e que hoje nem todos os seus
moradores tem consciência de que tais fatos podem ser revertidos em beneficio para
a conservação e continuidade da existência desta história e de tais bens. Além é claro
do desenvolvimento turístico, bem como econômico gerado pelo mesmo.
Portanto o objetivo principal deste é o resgate da cultura, bem como sua
preservação, gerando o sentido da identidade cultural através do Patrimônio. Para
tanto, foram realizadas pesquisas de campo a fim de identificar o potencial e a
viabilização da atividade turística como indutora da preservação do legado cultural.
O município é detentor do Parque Estadual de Vila Rica do Espírito Santo, a
área destinada para o parque é preservada e o acesso às ruínas é restrito para
que não se deteriorem ainda mais. O parque conta com um pequeno museu com
acervo encontrado em escavações, são artefatos indígenas entre outros que foram
descobertos por pesquisadores. Colaborando na preservação dessa parte importante
da história da localidade, explica o site da instituição MaterNatura5que no parque
criado em 1955 por seu valor histórico e arqueológico “estão localizadas as ruínas
de Villa Rica Del Espiritu Santu, uma das 16 comunidades jesuíticas espanholas
fundadas nos séculos XVI e XVII, e que deram origem ao seu nome.”
A cidade ainda possui bens que não são tão reconhecidos quanto o parque e que
também possuem valores históricos. Na entrada da cidade há uma capela, no alto de
um morro, dedicada a Santo Inácio de Loyola. Há quem diga que ela foi construída a
séculos passados e que havia ouro enterrado debaixo da capela. Esta foi revitalizada
5 Revisão do Plano de Manejo do Parque Estadual de Vila Rica, Fênix-PR. Disponível em:
http://www.maternatura.org.br/qfazemos/projetos/proj_pmpevrfenix.htm
99
a pouco tempo de maneira grosseira, pois não foram utilizados materiais adequados,
perdendo a sua essência. Hoje já não é realizada nenhum tipo de manifestação
religiosa, nem mesmo visitação, acabou se tornando algo esquecido. Apesar de
haver interesse do poder público em conservá-la é necessário que haja também a
interação dos residentes com o bem. Outro patrimônio cultural a ser destacado é
a forte identificação da comunidade com o prato típico, Peixe na Cerâmica, que
representa a tradição local da pesca e a cerâmica pelos indígenas que ali residiam. É
importante salientar que a cidade ainda possui outros bens que podem contribuir
para a construção da identidade local e também para o turismo.
A caracterização da história e cultura do município é pouco ou quase nada
reconhecida pela própria população. Acredita-se então que o turismo se apresenta
como a melhor alternativa que poderá atuar como um caminho para a preservação
dessa herança cultural, valorizando e reconstruindo as tradições que se perderam
no tempo, além de ser um indutor para o desenvolvimento local e regional, através
de roteiros que integrem e bens culturais encontrados, de forma que a comunidade
também possa participar e usufruir dos benefícios trazidos por ele.
REFERÊNCIAS
CARNEIRO, E.; OLIVEIRA, S.; CARVALHO, K.. Turismo cultural e
sustentabilidade: uma relação possível?. 2010. Disponível em: <. http://www.eca.
usp.br/turismocultural/07.1Carneiro.pdf>. Acesso em: 25 de abr. 2013
DIAS, R. Turismo e Patrimônio Cultural. Recursos que acompanham o crescimento
das cidades. São Paulo: Saraiva, 2006
NEVES, B.. Patrimônio Cultural e Identidades. In MARTINS, C.. Turismo, Cultura
e Identidade. São Paulo – SP: Ed. Roca, 2003 – p.49-61
100
PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS EM RESTAURO
Solange Cristina Batigliana
Vanda de Moraes1
RESUMO:
O trabalho aborda as primeiras experiências do poder público municipal de Londrina na
contratação de projetos e de execução de obras de restauro arquitetônico. São objeto de projetos
de restauro patrocinados pela Prefeitura Municipal de Londrina dois monumentos da Arquitetura
Moderna da cidade: a Antiga Estação Rodoviária, hoje Museu de Arte de Londrina; e a Antiga
Casa da Criança, hoje Sede da Secretaria Municipal de Cultura.
Palavras chave: Arquitetura Moderna, restauro, monumento, cidade nova.
Não podemos falar da Arquitetura Moderna em Londrina e região norte do
Paraná sem mencionar Vilanova Artigas (1915-1985), um dos grandes expoentes
deste movimento, cuja obra em Londrina teve grande repercussão na construção
civil da cidade.
Conforme Suzuki, no final dos anos 1940, Vilanova Artigas, juntamente com
seu sócio, Carlos Cascaldi foram convidados para projetarem algumas obras
para Londrina dando início a uma série de trabalhos cujas características seriam
amplamente replicadas em toda a região.
Na década de 1950, a cidade vivia um notável crescimento com base na
economia cafeeira, o que possibilitou a “ousadia” de convidar-se os dois arquitetos
oriundos de São Paulo. Ainda hoje, as edificações projetadas por eles destacam-se na
paisagem cultural da cidade, possuindo uma linguagem inequivocamente moderna,
fruto da liberdade de criação possibilitada pela “cidade nova”.
Artigas e Cascaldi projetaram para Londrina, as seguintes obras: a Estação
Rodoviária (1948-1952), hoje Museu de Arte de Londrina; o Complexo Edifício
Autolon (1948 – 1951) / Cine Ouro Verde (1948 – 1952); a Casa da Criança (1950
– 1955), hoje sede da Secretaria Municipal de Cultura; os vestiários do Londrina
Country Clube (1951) a residência Milton Ribeiro de Menezes (1952) e a ampliação
da Santa Casa de Londrina (1952 – 1955). Alguns outros projetos foram produzidos
não tendo sido, no entanto, construídos.
Trataremos aqui de dois desses monumentos da Arquitetura Moderna de
Londrina que, passados 60 anos, são objeto de projetos de restauro patrocinados
pela Prefeitura Municipal de Londrina, atual proprietária da Antiga Estação
Rodoviária, hoje Museu de Arte de Londrina; e Antiga Casa da Criança, hoje Sede
1
Prefeitura Municipal de Londrina
101
da Secretaria Municipal de Cultura, sendo estas as primeiras experiências do poder
público municipal na contratação de projetos e de execução de obras de restauro
arquitetônico.
É pois, bastante emblemático, que uma cidade com 77 anos de emancipação
política, se proponha a restaurar edifícios modernos de 60 anos, demonstrando com
isso não só sua preocupação com a preservação de seu patrimônio, mas sobretudo
de seu patrimônio modernista.
Antiga Casa da Criança, Sede da Secretaria
Municipal De Cultura
Em 2008 através de processo licitatório foi contratada a empresa Arquibrasil
Arquitetura e Restauração, sediada na cidade de Curitiba – Pr., para a elaboração
do projeto arquitetônico e demais projetos complementares visando o restauro da
edificação projetada por Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi para abrigar a primeira
creche pública da cidade, denominada Casa da Criança.
A edificação foi inaugurada em 1955 disponibilizando os serviços de creche
e de puericultura, que funcionaram no local até a década de 1970, quando a
edificação passou a abrigar a Biblioteca Pública Municipal, tendo nesta ocasião
sofrido intervenções descaracterizadoras como a construção de anexos e a
modificação de ambientes internos. Em 1986 a Biblioteca Pública Municipal
foi instalada no prédio do Antigo Fórum, ficando na Casa da Criança apenas
alguns serviços desta, como o Processamento Técnico e o Arquivo Corrente,
dividindo o uso com o Departamento de Cultura, então órgão da Secretaria
Municipal de Educação. Em 1992 foi criada a Secretaria Municipal de Cultura
que permaneceu instalada na já denominada “Antiga Casa da Criança”. No
final da década de 1990 os serviços da Biblioteca Pública Municipal que ainda
permaneciam no local foram transferidos em função dos danos que vinham
causando à edificação devido ao peso excessivo do grande volume de livros do
Processamento Técnico.
Ao longo da última década várias tentativas ocorreram no sentido de promover
reformas e melhorias na edificação, sem contudo lograr êxito. Em 2008, no entanto,
a partir de recursos do orçamento próprio da Prefeitura Municipal de Londrina;
foi possível licitar projeto arquitetônico e complementares visando o restauro
da edificação. A licitação foi vencida pela empresa Arquibrasil Arquitetura e
Restauração, que elaborou o projeto a partir de diretrizes e material para pesquisa
disponibilizado pela Diretoria de Patrimônio Artístico e Histórico-Cultural da
Secretaria Municipal de Cultura.
102
Antiga Rodoviária, Atual Museu de Arte de Londrina
A antiga rodoviária de Londrina foi o primeiro projeto de Vilanova Artigas e
Carlos Cascaldi a ser desenvolvido para a cidade. Inaugurado em 1952 abrigou a
quarta rodoviária da cidade até a década de 1980, quando foi inaugurada o atual
Terminal Rodoviário de Londrina que embora tivesse projeto original de Oscar
Niemeyer, outro ícone da Arquitetura Moderna, infelizmente teve o projeto
descaracterizado para que se viabilizasse sua construção; a ponto da obra executada
não ser reconhecido pelo autor do projeto.
Em 1974 a antiga rodoviária foi tombada pelo Patrimônio Histórico Estadual,
assim como a Praça Rocha Pombo, situada ao seu lado, garantindo com isso a sua
melhor visualização.
Após a transferência da rodoviária a edificação passou por usos tais como
centro de artesanato e espaço cultural, sendo destinado a abrigar o Museu de Arte
de Londrina em 1993, tendo obtido para tanto, autorização do Patrimônio Histórico
Estadual para cobrir sua superfície envidraçada, um dos marcos de sua arquitetura,
com película necessária à proteção das obras de arte dos efeitos do sol.
Para cumprir sua nova finalidade a edificação recebeu projeto de adequação de
autoria dos arquitetos Jorge Marão Carnielo Miguel e Antonio Carlos Zani e algumas
pequenas intervenções posteriores visando a correção de problemas emergenciais.
Com um grau menor de intervenções em relação à Antiga Casa da Criança, mas
com problemas recorrentes de conservação, o Museu de Arte de Londrina passou
a necessitar de um projeto de restauro que não só buscasse a solução para aqueles
problemas como também adequasse melhor seus espaços à sua função.
Em 2009, a partir de recurso disponibilizado pela SETI – Secretaria Estadual de
Tecnologia e Ensino Superior, na ordem de R$ 50.000,00 e com um aporte de mais R$
30.0000,00 do orçamento próprio da Prefeitura Municipal de Londrina; foi possível
licitar o projeto arquitetônico e demais projetos complementares, incluindo-se aí
um projeto museográfico; vencido também pela empresa Arquibrasil – Arquitetura
e Restauração.
Também em 2009 foi dado início ao processo de tombamento da edificação pelo
IPHAN – Instituto do Patrimônio Artístico e Histórico-Cultural, por ser considerado
um ícone da Arquitetura Moderna no Brasil.
CONCLUSÃO
Tendo por base as diretrizes propostas pelo Plano Diretor de Preservação, as
edificações foram inventariadas e documentadas, constituindo-se dessa forma
103
um acervo de documentos e imagens destinados a subsidiar futuros projetos de
restauro que foram amplamente defendidos pela Diretoria de Patrimônio Artístico
e Histórico-Cultural da Secretaria Municipal de Cultura, em virtude da importância
das edificações para a história da arquitetura de Londrina. Dessa forma tornaram-se
as duas primeiras experiências de aquisição de projetos de restauro realizados pela
Prefeitura Municipal de Londrina, o que por sua vez demonstra a importância
do repertório modernista na constituição da cidade e o empenho dos órgãos
municipais envolvidos no reconhecimento e preservação destes ícones na paisagem
cultural de Londrina.
Finalizada a importante etapa da elaboração de projetos de restauro de qualidade,
cabe ainda ao poder público municipal vencer o desafio da execução das obras de
maneira que estas façam justiça aos projetos originais.
REFERÊNCIAS
BATIGLIANA, Solange C., MORAES, Vanda. Patrimônio Cultural e Políticas
Públicas – Reflexão Sobre a Política Cultural do Programa Municipal de Incentivo
à Cultura de Londrina, na Perspectiva de uma Política de Atuação Patrimonial.
In A Construção de Políticas Patrimoniais em Cidades Novas. Londrina. EdUnifil.
2011.
CASTELNOU, Antonio. Arquitetura Londrinense: Expressões de Intenção Pioneira.
Londrina. Atrito Art Editorial. 2002.
INSTITUTO LINA BO E PIETRO MARIA BARDI. Vilanova Artigas. São Paulo.
1997.
SUZUKI, Juliana. Artigas e Cascaldi. Arquitetura em Londrina. São Paulo. Ateliê
Editorial. 2003.
YAMAKI, Humberto (coord.). Plano Diretor de Preservação de Londrina –
Documento para Discussão. Londrina, 2002. Disponível em <www.londrina.pr.gov.
br/cultura>. Acessado em 17 de Julho de 2013.
104
UMA VIA DE MÃO DUPLA:
ESTUDO DE RECEPÇÃO DE PÚBLICO
NO MUSEU DE ARTE DE LONDRINA
Claudia Eliza Marques de Matos
Claudia E. P. M. Martinez1
RESUMO:
Neste trabalho analisaremos a relação público – instituição através da pesquisa de recepção de
público que foi realizada no Museu de Arte de Londrina no ano de 2011. O Museu de Arte de
Londrina, de autoria do arquiteto João Batista Vilanova Artigas, foi construído em 1948 com o
propósito de ser a rodoviária da cidade. Esta importante construção foi tombada pelo Patrimônio
Histórico e Artístico Estadual em 08 de setembro de 1974, como a primeira construção em estilo
moderno do Paraná. A sua transformação em museu ocorreu em 12 de maio de 1993. A escolha
da pesquisa de recepção, ou avaliação de público, deu-se por que entendemos que a comunicação
é a “alma” da instituição museal e também por que nos concebemos como uma via de mão dupla,
onde público e museu são agentes ativos que transmitem e absorvem discursos mutuamente. Esta
dinâmica consiste no fato de que a instituição museal através de seu acervo procura transmitir
uma idéia que reflete os anseios de determinada classe, gosto estético, ou visão política que são
difundidas através das exposições e ação educativa. Contudo, o público também traz a sua própria
ideologia para o museu, ele não é mais uma tabula rasa, ele tem anseios que podem ir contra ou a
favor do que está exposto. Assim, como o nosso espaço é limitado, neste trabalho apresentaremos
apenas a metodologia aplicada para a realização deste trabalho.
Palavras – chave: Museu de Arte de Londrina; Avaliação de Público.
Neste presente trabalho, tomarei como objeto de estudo o Museu de Arte de
Londrina, localizado na Rua Sergipe, nº 640. Este prédio de autoria de João Batista
Vilanova Artigas, foi construído em 1948, posteriormente foi tombado pelo
Patrimônio Histórico e Artístico Estadual em 08 de setembro de 1974, como a
primeira construção em estilo moderno do Paraná e transformado em museu em
12 de maio de 1993 pela Prefeitura Municipal de Londrina. O uso da pesquisa de
recepção, ou avaliação de público, se mostrou um caminho promissor, pois nosso
interesse era saber como era a relação entre esta instituição e seu público. O foco
desta abordagem está no pólo receptor (público) que mantém contato com o museu.
O método empregado para esta análise será o modelo de pesquisa de recepção
delineado por Marília Xavier Cury2 e a pesquisa realizada por Adriana Mortara
Almeida3. Entendemos que Sujeito é todo aquele que teve contato com o objeto.
1 Universidade Estadual de Londrina
2 CURY, Marília Xavier. “Os usos que o público faz do museu: a (re) significação da cultura material e do museu”,
Musas (IPHAN), MinC:IPHAN:DEMU, n. 1, p. 86-106, 2004.
3 ALMEIDA, Adriana Mortara. “Os visitantes do Museu Paulista: um estudo comparativo com os visitantes da
Pinacoteca de Estado e do Museu de Zoologia”. Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material/Universidade de
105
Nessa perspectiva, passam a existir dois tipos de sujeitos: o emissor, que é o próprio
museu e seus funcionários e o receptor, o público que freqüenta o museu. Ambos
são agentes ativos da comunicação museal. O museu transmite seu discurso através
de seu acervo. Ele carrega em si valores que vão desde classe social até visão política.
Ou seja, uma exposição museológica vai mais além que meros objetos agrupados e
organizados em um espaço, ela carrega a visão de alguém que escolhe, que separa,
que organiza, conserva, preserva, pois aquele objeto reflete algo que é considerado
importante para alguma parte da sociedade1.
A realização da análise consistiu, primeiramente, em dividir o público visitante
em categorias, pois isso facilita o processo de classificação, porém, ao reavaliar este
trabalho excluímos uma categoria. Assim, chegamos a duas categorias: os visitantes
da semana, marcados aqui pela sigla DS e os visitantes de sábado, marcados como
SB. Escolhemos usar questionários, pois esses se mostraram o caminho mais
adequado no momento, porém este não é a única maneira de se realizar este tipo
de pesquisa. Os questionários aplicados contaram com três questões dissertativas,
onde procuramos traçar o perfil sócio-cultural dos visitantes, seguidos por oito
questões, também dissertativas, que é onde centramos nossa análise sobre a relação
Museu-Sociedade. A analise das respostas foi feita mesclando dois tipos de análise,
a quantitativa e a qualitativa, pois acreditamos que deste modo, obteremos um
espectro maior de variáveis.
O uso da pesquisa de recepção ainda é recente no Brasil, mas está ganhando
espaço cada dia mais. A escolha do MAL, como objeto de pesquisa se deu por
este ser um museu ligado a Prefeitura da cidade, estar instalado em um prédio
importantíssimo para a arquitetura nacional e se encontrar no centro de Londrina.
No entanto, ele não é muito conhecido, nem divulgado na cidade.
A analise de questionários é muito subjetiva, portanto o historiador deve, não
apenas quantificar os dados encontrados, mas também deve procurar os significados
inerentes à estes dados, usando como base as suas teorias e pontos de vista já préestabelecidos2, ou seja, não se deve “buscar respostas” nos questionários sem estar
com as suas hipóteses já préviamente colocadas, já que é o papel do pesquisador
definir e delimitar o que deve ser utilizado, ou não, na elucidação da tese proposta,
porém, devemos, ao mesmo tempo, nos preparar para o surgimento de respostas
atípicas, aquelas que não deveriam estar presentes nos questionamentos primários.
Por fim, é importante frisar que a realização deste tipo de pesquisa tem como
São Paulo, Museu Paulista. v 12 (jan/dez 2004)
1 CURY, Marília Xavier. “Os usos que o público faz do museu: a (re) significação da cultura material e do museu”, p. 90
2 MORAES, Roque, “Uma tempestade de luz: a compreensão possibilitada pela análise textual discursiva”. Ciência
e Educação, v 09, n 02, p. 191-211, 2003. P. 194
106
ponto principal o pressuposto de que o público é participante ativo da comunicação
museal, na medida em que o discurso apresentado pelo museu, não vai ser
“entendido” de maneira literal pelo seu público. Além disso, temos que levar em
conta que a percepção de cada indivíduo é diferente, portanto, cada expectador que
forma este público vai sair da exposição com uma idéia própria e diferente montada
na cabeça, redefinindo, deste modo, o discurso proposto pelo museu3, ou seja, a
maneira de “entender” o que está sendo exposto, ou mesmo entender o que é um
museu, muda de visitante para visitante.
3 CURY, Marília Xavier. “Os usos que o público faz do museu: a (re) significação da cultura material e do museu”,
p. 91
107

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