O super (?) espião
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O super (?) espião
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Mas, em meio a tantos festejos c honrarias, Helms pode duvidar se foi realmente promovi! do — ou "chutado para cima", perdendo o controle direto sobre a CIA para t ? ' • ganhar um comando apenas nominal e volátil. O que é certo, desde já, é que a reorganização dos serviços americanos de inteligência foi decidida pela necessidade de torná-los mais eficientes. Uma das funções de Helms no monótono expediente diário das 9 às 18h30, na sede da CIA em Langley, do outro lado do rio Potomac, junto a Washington, é redigir o relatório secreto que Henry Kissinger, assessor para Assuntos de Segurança Nacional, entrega na manhã seguinte ao presidente Nixon. Ültimamen-. te, porém, Nixon não se limitava a elo. • • I,'••:•••;•• i i J ! ••;• *.':. •• • >«.• , . ' • • ' • " # • • • • • ; . •••.'... • . . b ' • • . continua na página 44 7Tp i í ' • • r: • . ; ; Helms: martinis só às sextas-feiras VEJA . • Ü • . .1 continuação da página 42 giar o "inglês claro" e a forma bem organizada da apresentação das informações no relatório. Ao contrário, tem feito críticas bastante severas ao seu conteúdo. Siglas demais — Na verdade, parece que a "crise da eficiência" nos Estados Unidos se istendeu a esse seu microcosmo, a comunidade da espionagem, que se abriga principalmente nas confortáveis casas do "subúrbio da inteligência" — Oakland, perto de Washington — e se espalha pelo mundo inteiro. Teoricamente, tudo funciona. A NSA (Agência de Segurança Nacional), por exemplo, deve dedicar-se exclusivamente à decifração de códigos. No entanto, ela acumulou em seus armazéns de Fort Mead, em Maryland, toneladas e toneladas de fitas de mensagens radiofônicas trocadas por agentes soviéticos e praticamente impossíveis de decifrar. Ê fácil interceptar as mensagens, que se sucedem às dezenas' diariamente. Não é muito difícil igualmente decifrar um código, desde que seja usado em pelo menos uma frase inteira. No entanto, os soviéticos resolveram misturar em cada mensagem vários códigos inteiramente diferentes. Há dez anos a NSA não consegue decifrar uma única dos milhões de mensagens desse tipo que se acumulam em Fort Mead. Tempo atrás teve de requisitar até mesmo vagões ferroviários para poder estocar as fitas e continua tentando decifrar as mais antigas, nisso desperdiçando metade de seu orçamento anual de quase 1 bilhão de dólares. A coordenação difícil — Na DIA (Agência de Inteligência da Defesa), o panorama não é mais animador. Ela deveria coordenar os serviços secretos do Exército, Marinha e Força Aérea. Não só o ciúme, mas principalmente as exi- I I l' I, • MIM III . , _ gências de ordem e rotina típicas do raciocínio militar, têm tornado a tarefa de coordenação um suplício sem perspectivas. A tal ponto, que a única solução pensada por Nixon não é das mais imaginosas: a criação de outra coordenação dos serviços militares, com o novo cargo de "secretário da Defesa assistente para Assuntos de Inteligência". Há ainda o INR (Divisão de Inteligência e Pesquisa do Departamento de Estado), que deveria preparar análises gerais — exatamente o tipo de informações de que NixOn mais sente falta. Os funcionários desse setor, acostumados ao tratamento sutil das informações diplomáticas, não sabem porém manejar os dados secos obtidos pela tecnologia moderna. E o controle que o FBI (Bureau Federal de Investigações) deveria exercer sobre os agentes estrangeiros nos Estados Unidos tem falhado bastante nos últimos anos, acompanhando a deterioração geral da imagem do órgão e seu diretor, J. Edgar Hoover. Azeitonas e satélites — O desafio de Helms, em tese, é centralizar todo esse mecanismo. Na juventude, êle gostou de aventuras. Entrou na CIA no ano de sua fundação, em 1947; fêz parte durante quinze anos do Setor de Planos — o setor de operações secretas —, responsável entre outras coisas pela queda dos governos esquerdistas do Irã, em 1953, e da Guatemala, em 1954, e a construção do túnel secreto sob Berlim oriental em 1955. Desde 1966, porém, quando se tornou o primeiro diretor da CIA saído do quadro de funcionários da agência, Helms passou a ser um tecnocrata e preferiu restringir as aventuras ao campo doméstico. Comandou a revolução tecnológica da espionagem, passando a recomendar o uso dos célebres microfo" ncs em azeitonas de martinis e de gigantescos satélites artificiais, ao mesmo .. i - , . . . I , «««....i. .. I .i >*^—»Tr tempo que casava com uma madura divorciada, da qual se separou em 1968 para casar noventa dias depois com uma vizinha igualmente recém-divorciada, Cynthia McKelvie, mãe de quatro filhos. Diante do deserto em que foi mergulhando a espionagem americana, a CIA de Helms surge quase como um oásis, com seus 15 000 funcionários, todos com alto grau de instrução, doutores acadêmicos em 298 especialidades diferentes, inclusive engenharia florestal e astronomia. "Cite um assunto qualquer e a CIA pode tirar de suas cavernas uma pessoa que dedicou as melhores décadas de sua vida ao seu estudo exclusivo", diz-se nos corredores da Casa Branca. Helms, que instalou todos esses técnicos, encerrando a fase romântica da CIA, tem oficialmente a missão de estender seus métodos às outras oito agências, na qualidade de chefe da Comissão de Inteligência dos EUA. No entanto, como êle já detinha esse cargo — a novidade é que Nixon lhe pediu agora dedicação exclusiva, deixando o comando da CIA para o vice-diretor Robert Cushman —, muitos consideram que na verdade Helms foi engolido pela máquina. O blefe de Kruschev — Os veteranos da CIA, como Helms, podem afinal vangloriar-se de muitos êxitos. Em 1961, um operador de guincho de Porto Sudão, agente da CIA, deixou cair um lote de caixotes desembarcados de um navio checo e dezenas de fuzis soviéticos destinados às tropas rebeldes de Antoine Gvzenga, no Congo, se espalharam pelo* cais, tornando impossível às autoridades^ sudanesas continuar coniventes com o contrabando. No dramático jogo de pôquer sobre os foguetes soviéticos em Cuba, Kruschev blefou sem saber que Kennedy conhecia todas as suas cartas. O agente duplo soviético Oleg Penkowsky havia revelado à CIA que a União Soviética não tinha condições de entren- *', B Uma modesta sinalização em Langley para o núcleo central da espionagem VEJA 44 — " . ' • • • * • ' * " • " « » " - ' * ' ' r~' • • • • • i m<-w ' - « f i J.«Tj BP) AfJ,P?fO rf 0.eZl,ACL.4/2A,f>.$ — M, f ' _ , , . ,.,. . , ^ • „ , . . , , , , O PRESIDENTE CONSELHO CONSULTIVO OE INTELIGÊNCIA EXTERIOR Um grupo de personalidades importantes com funçõea apenas consultivas; reúne-se de dois em dois meses. BT Os serviços CONSELHO OE SEGURANÇA NACIONAL (NSC) de inteligência O órgão básico de tomada de decisões. Todas aa Informações destinadas to presidente possam pelo NSC e seu chefe, Henry Klsslnger. dos EUA "COMISSÃO DOS QUARENTA" OU "GRUPO 303" COMISSÃO DE INTELIGÊNCIA DO NSC Um órgão secreto, presidido por Kisalnger, assessora o presidente em operações slollosas. Um novo departamento, chefiado por Kisslnger. Sua missão: distribuir tarefas aos serviços de inteligência • avaliar os resultados. LINHAS OE SUBORDINAÇÃO GRUPO DE AVALIAÇÃO UNHAS DE RELACIONAMENTO COMISSÃO CONSULTIVA DE RECURSOS PARA A INTELIGÊNCIA D e s membramento da Comissão de Inteligência, sob a , * chefia de Helms. com a missão de limitar orçamentos. Outra comissão nova. Incumbida de comparações especificas no equilíbrio de poder no mundo. . . . FLUXO DE INFORMAÇÃO /H COMISSÃO DEPARTAMENTO DE DEFESA DE INTELIGÊNCIA DOS EUA 7 £ s "diretoria" dos serviços de Inteligência. Todas aa agências nela estio representadas; seu chefe 4 Helms. da CIA. BURFAU DE INTELIGÊNCIA E PESOUISA Pequeno maa com autoridade; chefiado por um ax-funclonárlo da CIA. mfrPWBW AGÊNCIA DE SEGURANÇA NACIONAI^NSA) AGENCIA DE INTELIGÊNCIA DA DEFESA (DIA) COMANDO NACIONAL DE CRIPTOLOGIA ôrgáo coordenador da Inteligência militar. Utiliza um orçamento de 100 milhões de dólares. Despende mais de 700 milhões através das Forças Armadas. Com 5 500 funcionários. Elabore e decifra c ó d i g o s . Com 20 000 funciona'rios, quase todos em Fort Meada, Estado de Maryland. 1 ! BUREAU FEDERAL DE INVESTIGAÇÕES (FBI) O principal responsável pei a c o n tra espionagem doméstica AGENCIA CENTRAL DE INTELIGÊNCIA (CIA) O mala Importante serviço da inteligência Orçamento calculado am 750 milhões da dólares: 15 000 funcionários Analisa grande parta da produção da DIA • da NSAr COMISSÃO DE ENERGIA ATÔMICA Interpreta Informações sobre acontecimentos mundiais no campo nuclear. Com 3Í500 funcionários; orçamento da 775 miIhoee da dólares Realiza quaaa todo o aau trabalho da espionagem para a NSA. Com 10 000 funcionários a orçamento Igual ao do Exército. Deixou de utilizar navloaespióes Com 60 000 f uncionárlos; orçamento de 2.8 bilhões de dólares, quase todo aplica' do no programa da satêlltes-espiõea. O olho de Nixon — A falha mais importante que Helms terá de combater, no entanto, é de origem burocrática. Os serviços militares não conseguem pôr-se de acordo a respeito do sistema de vigilância sobre as armas estratégicas, a tal ponto, que Nixon. não pode formular uma política coerente nas conversações W W Inteligência no campo daa drogas a da economia. - nos documentos secretos do Pentágono, o órgão do governo americano que tinha visão mais realista da guerra da Indochina, a CIA errou ao menosprezar a feroz resistência comunista no Laos, onde mantém quase um exército particular. A ' CIA também demorou demais, segundo Nixon, em apcrccber-se da instalação de foguetes soviéticos na zona egípcia de cessar-fogo. y DEPARTAMENTO DO TESOURO T V tar os Estados Unidos num eventual teste de força. Nesse campo, porém, é que hoje se situa o maior desafio à CIA — e a principal crítica do píesidente Nixon. Os maiores buracos até hoje cavados pela espécie humana têm surgido como cogumelos nas estepes das buses soviéticas de foguetes. E ninguém, nem mesmo Helms, sabe que mortíferos engenhos neles váo ser instalados. Isso apesar de a espionagem americana dispor de maravilhas como o avião SR-71 (3 200 km por hora), os •satélites do Projeto 647 (3 500 km de altura, capazes de detectar um submarino nuclear no fundo do oceano), o satélite Grande Pássaro (10 toneladas). Por outro lado, embora parecesse ser, y! DEPARTAMENTO DE ESTADO — — • — — — — • com Moscou a respeito da limitação dessas armas.' Helms terá ainda de enfrentar os liberais que desconfiam que a CIA planeja combater também o "inimigo interno" e os numerosos congressistas que julgam excessivos os gastos com espionagem. Muitos também não consideram patriótico nem eficiente um agente da CIA imitar a voz do príncipe pró-comunista Norodom Sihanouk e sugerir pelo rádio que moças cambojanas durmam com vietcongs — com o fim de lançar os camponeses do Camboja contra os comunistas. Acima de tudo, porém, Helms deve preocupar-se cora o olho vigilante de Nixon, que não quer mais ler informações errôneas ao tomar o café da manhã. 45 24/11/71 •-••• -..».,.fi.!.«M....|..y. W F I i p g j p 4 n n i u 1 . i l pi.jijijj(jijwii,j • •TWWVi «Wf™ mi)ii|iiwi ,—-