Gravidade

Transcrição

Gravidade
Gravidade
“Aquilo que está em cima é como aquilo que está embaixo.”
2° lei hermética – Hermes Trismegisto.
Texto por Myrthes Gonzalez
Gravidade é um filme de Alfonso Cuarón, que ousa expor de forma sutil algumas questões
humanas dentro de um ambiente que no cinema é tratado geralmente a partir da ótica da aventura
ou da ficção cientifica.
De fato, no primeiro plano o filme parece que vai oferecer ao publico momentos de descontração e
as emoções fortes e fugazes de um thriller. Tenho certeza de que o público, que foi ao cinema
buscando aliviar as tensões com momentos de descontração e com grandes emoções recheadas de
efeitos especiais, saiu decepcionado. O sistema IMAX, promove uma sensação de estar dentro do
filme sim - mas esse filme é mais intimista, perpassa por entre as malhas dos meros efeitos.
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Vamos além do obvio. O filme inicia com um grupo de três astronautas na parte externa de uma
estação espacial realizando consertos. A terra é um pano de fundo para a navegação destes frágeis
personagens que estão vivos graças ao cordão umbilical tecnológico que colocaram no espaço.
Desde o inicio a Doutora Ryan Stone (Sandra Bullock) tem um mal estar com esta situação. A beleza
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Apesar de se passar na orbita da terra, fora da camada da atmosfera, trata-se de um filme reflexivo
e intimista. Para perceber isso temos que ir alem da historia básica do herói que tenta sobreviver
para voltar para casa. Dentro desta perspectiva o filme deixa a desejar.
de ver seu planeta natal do espaço não parece emociona-la, ao contrário, ela lida com a náusea e
constante desconforto.
A fragilidade não consciente é exposta no momento em que a estação espacial é atingida por
estilhaços de um satélite que explodiu devido a um suposto atentado. A conexão com a Terra é
cortada. Todos os personagens morrem, menos a Drª Ryan e Matt Kowalski (George Clooney).
Drª. Rayan é arremessada pelo espaço infinito em giros que poderiam se perpetuar pela
eternidade. Os giros são vistos pelo expectador de dentro do capacete da doutora e como trilha
sonora o som de sua respiração desesperada. A terra aparece e desaparece a cada giro e parece
que dentro daquele capacete, na eminência de ser perdida para sempre, a terra é vista pela
primeira vez. Os giros cessam com o resgate promovido por Matt.
Mas é o previdente e ao mesmo tempo descontraído Matt que vai se perder para sempre no
espaço após deixar a Doutora Ryan em relativa segurança. Matt agora somente reaparece dentro
dos sonhos da doutora, simbolizando o retorno à capacidade de se vincular com a vida. A vida de
Matt é a que deve ser vivida até o ultimo instante, que é a morte. A vida de Ryan é a frieza da
desilusão, a espera da morte, um fardo que impede de ver a beleza e lutar pela existência. Matt
morre para entrar na consciência de Ryan e despertá-la.
Proibida reprodução total ou parcial do texto, sem expressa autorização. © Myrthes Gonzalez 2013.
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Enfim o filme não é sobre um personagem que sobrevive, mas sobre uma mulher que morre e
renasce varias vezes – e como todos os seres humanos, renasce da água para a terra onde
finalmente pode caminhar fincando os pés no chão em sua casa atemporal.
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Nós, partículas insignificantes, viajando em um universo infinito, somos menos que nada fora do
útero de um planeta azul que nos atrai e nos dá consistência.