04 Amarelos.
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04 Amarelos.
setembro/outubro 2012 CONCEITUAL #04 Amarelos editorial CONCEITUAL #04 070 setembro/outubro 2012 Amareluz DESIGN Publishers André Poli e Roberta Queiroz Consultoria Editorial Eduardo Logullo | Marcos Guinoza Conselho Editorial Carolina Szabó, Renata Amaral, Jéthero Cardoso, Amigos e parceiros, Roberto Negrete e Alex Lipszyc JAUNE Diretora Executiva ABD Maria Cecília Giacaglia Colaboradores Amer Moussa, Daniel Costa (tratamento de imagens), Daiane Ferreira Domingos, Evelyn Leine (arte), Fabio Galeazzo, Gustavo Garcia AMARELOS Armário Pavão de madeira, revestido de chapas de madrepérola, com aplicação de pavão esculpido à mão em metal dourado, da Janet Morais. Almofada em veludo amarelo cardinal, com brasão de escola tradicional inglesa, Timothy Oulton. Pote de porcelana amarela com aplicação de dragão, Franz. Mesa Around em madeira de pinus, Muuto. Jogo de chá Bulki Set em porcelana, Muuto. Galo em vidro amarelo da Daum. Sofá Chesterfiled em couro amarelo cardeal, Timothy Oulton (Papanapa), Jéthero Cardoso, Luan Silva, Marcella Aquila, Roberto Negrete, Zoë Melo Diretora de Arte Cinthia Behr André Poli e Roberta Queiroz visitaram a Maison&Objet a convite da organização do evento ABD CONCEITUAL SET/OUT 2012 Editor de Fotografia Renato Elkis Jornalista Responsável Marcos Guinoza MTB 31683 Revisão Ana Cecilia Chiesi Publicidade Para anunciar [email protected] VELVET EDITORA LTDA 11 3082 4275 www.velveteditora.com.br 050 SUSTENTABILIDADE Oito por UM Fundadora em Los Angeles da boutique-design-estúdio Touch, a brasileira Zoë Melo aponta oito produtos com princípios de sustentabilidade, escala humana e funcionalidade ABD Associação Brasileira dos Designers de Interiores www.abd.org.br Amarelos CAPA revista ABD Conceitual terá cinco edições em 2012. A cada número, a publicação vai abordar uma cor e as incontáveis possibilidades que ela oferece. Na edição 04, o tema é o amarelo. Presidente SP Carolina Szabó, Vice Presidente SP Renata Duarte Amaral, Diretora Financeira SP Márcia Regina de Souza Kalil, Diretora Nacional SP Maria Luiza Junqueira da Cunha (Malu), Diretora Nacional RJ Paula Neder de Lima, Diretora Nacional PR Fabianne Nodari Brandalise, Diretor Nacional MG Carlos Alexandre Dumont (Carico), Membro Efet. Cons. Delib. SP Alexander Jonatan Lipszyc, Membro Efet. Cons. Delib. SP Brunete Frahia Fraccaroli, Membro Efet. Cons. Delib. BA Delma Morais Macedo, Membro Efet. Cons. Delib. SP Fernando Piva, Membro Efet. Cons. Delib. SP Jhétero Cardoso de Miranda, Membro Efet. Cons. Delib. RJ Luiz Saldanha Marinho Filho, Membro Efet. Cons. Delib ES Rita de Cássia Marques da Silva (Garajau), Membro Efet. Cons. Delib. SP Roberto Daniel Negrete, Suplente Cons. Deliberat. SP Luciana Teperman, Suplente Cons. Deliberat. SP Maria do Carmo Brandini, Suplente Cons. Deliberat. SP Terezinha Nigri Basiches, Membro Efet. Cons. Fiscal DF Denise Fátima de Faria Zuba, Membro Efet. Cons. Fiscal SP Marília Brunetti de Campos Veiga, Membro Efet. Cons. Fiscal SP Maurício Peres Queiroz dos Santos, Suplente Cons. Fiscal RJ Ana Maria de Siqueira Índio da Costa, Suplente Cons. Fiscal BA Eneida Márcia da Silva Alves, Suplente Cons. Fiscal MG Jaqueline Miranda Frauches Sugestões [email protected] 1 Mutation Series Maarten De Ceulaer A série de mobiliário do belga Maarten de Ceulaer reinterpreta clássicos do design, como se houvessem passado por mutações nucleares. Esferas de espuma são presas à estrutura básica do móvel, que depois é completamente coberto por uma camada de borracha texturizada que lembra o veludo. O processo de manufatura garante que o resultado sejam objetos únicos, diferentes de peças desenvolvidas em grande escala. FOTO NICO NEEFS * #04 ABD CONCEITUAL SET/OUT 2012 028 POP ART YES, NÓS TEMOS Acima, a dançarina norte-americana Josephine Baker e seu saiote de bananas estilizadas, anos 1920, Paris: a pioneira do banana style ELA É FRUTA, ELA É AMARELA, ELA É POP TEXTO EDUARDO LOGULLO FOTOS DIVULGAÇÃO setembro/outubro 2012 Pesquisa de Imagens Charly Ho CoNCeItuAL ABD CONCEITUAL SET/OUT 2012 D A B A N A N A , A F R U TA , muito se sabe, muito se come, muito se vê. Basta fazer um Google para descobrir que a coitada da banana é considerada uma pseudobaga da bananeira. A bananeira, por sua vez, é planta herbácea da família Musaceae. Banana, menina, tem vitamina. Banana é o quarto produto alimentar mais produzido no mundo. Dá-lhe, banana: a pseudobaga da bananeira é cultivada em 130 países. Ou seja, bananas everywhere. Vamos dar uma banana para este parágrafo e escorregar para o próximo. Talvez por tamanha universalidade e ubiquidade, a banana se tornou, durante o século passado (o século que trouxe imenso poder às imagens), um ícone visualmente muito explorado. A banana, descobriram todos, era pop na essência: sua simplicidade de amarelo rajado de manchas escuras, mais o formato curvo quase fálico, permitiram incontáveis citações nas artes plásticas, cinema, publicidade e moda. Mas, cá entre nós, comer banana nunca foi um ato bonito. Faltaria, digamos, estética ao ato de descascar a banana e se deparar com aquele fruto insinuante diante dos lábios. Assim, logo sensualizaram a assexuada banana. A palavra banana, pelo menos em português, ganhou significados pejorativos, maliciosos ou depreciativos. Em inglês, nem sempre: a expressão “You don’t know bananas” (mais ou menos ‘você não entende nada’) caiu em desuso, embora ainda exista. A banana também encantou os europeus que a trouxeram do Oriente para o Novo Mundo. Aqui se adaptaram bem e se tornaram elementos simbólicos dos trópicos, das terras de vegetação exótica, do nativismo colonialista. A banana merecia um estudo sócio-antropológico sério. Bananeira, não sei, bananeira, sei lá: isso é lá com você. Este número da ABD Conceitual vem repleto de luzes, intensidades, atitudes, otimismos e alegrias. São essas, talvez, as principais características da cor que escolhemos para a quarta edição da revista: o amarelo. Difícil explicar as cores. Mas sabe-se que o amarelo é a tonalidade que simboliza o sol, o verão, a prosperidade; estimula o raciocínio; desperta a criatividade. O termo amarelo vem de amarellus, diminutivo de amaros, palavra do baixo latim que significava “amargo”. Amargo? Pois sim. Mas, se a origem da palavra é confusa, seus significados e representações são sempre vibrantes. É cor que incomoda, provoca, divide opiniões. Nunca é neutra, consensual. Há quem goste do amarelo e quem o despreze por sua grande intensidade. Em Chojnice, cidade ao norte da Polônia, descobrimos o WAMHouse, escritório de design que combina elementos de arquitetura, decoração e comunicação visual para criar, com humor e cores fortes, peças inovadoras para ambientes com personalidade. Da Polônia, seguimos para a França, onde fomos convidados a visitar a Maison&Objet e a Paris Design Week para selecionar o que há de inovador no design global. Lá, aproveitamos para conversar com India Mahdavi, designer e arquiteta iraniana radicada na França. Yes, nós também temos banana: a mais pop das frutas não podia ficar de fora desta edição por suas múltiplas e divertidas simbologias nas artes e no design. Assim como o neon, as esculturas de luz. E o amarelo como representação da riqueza barroca, da ostentação das cortes, do ouro como símbolo de poder. Na Alemanha, próximo a Berlim, o Palácio Sanssouci é exemplo mais que perfeito do estilo Rococó, ápice da utilização do ouro na arquitetura e em ornamentos internos. Amarelo é luz. E, na reportagem “Luz do sol”, descobrimos que, ao longo da história, a luz natural sempre influenciou – metafórica ou literalmente – o modo como o homem edifica o seu habitat. Nós, da ABD Conceitual, seguimos edificando ideias e propostas com o objetivo de inspirar os profissionais de design de interiores que trabalham para construir a melhor harmonia entre o homem, seus anseios e seu meio. Carolina Szabó Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade dos autores e não refletem a opinião da revista. abd conceitual SET/OUT 2012 03 04 sumário 20 50 011 YELLOW POWER Por que venerar o amarelo? Um quasemanifesto pelo tema desta edição 020 NAVE FUTUROKITSCH Escritório de design polonês cria ambientes e objetos inovadores com humor e cromatismos vibrantes 024 UMA QUESTÃO DE CONTEÚDO Os encapsulados chegaram para ficar 028 YES, NÓS TEMOS BANANA O que Josephine Baker, Carmen Miranda e Andy Warhol teriam em comum? 032 BRILHO NO TUBO Luz vintage. Luz de cassino e cabaré. Luz glamour. É o neon: as esculturas de luz 036 LUZ DO SOL A luz natural através dos tempos e a sua importância nos habitats humanos 042 O SIGNO DO OURO O metal que reluz e que traduz formas de poder abd conceitual SET/OUT 2012 047 1, 2, 3: JÁ! 076 A MORTE DO BEGE ABD organiza rally que leva os competidores às principais lojas de decoração e design de São Paulo O chic-frígido e os sofás sem graça. Por Fabio Galeazzo 050 JUST TOUCH Os ambientes criados pelo designer italiano Nino Zoncada para o transatlântico Eugenio C. Por Roberto Negrete Escolhas certas para tempos que pedem sustentabilidade 057 ADMIRÁVEL MUNDO NOVO ABD Conceitual visita em Paris a feira de moda-casa Maison&Objet e indica as novidades do setor 073 EM ROTA Os percursos do Paris Design Week 57 078 AMBRA E RUBINO 080 ENADE 2012 Participar ou não? Eis a questão. Por Jéthero Cardoso 082 FAÇA-SE LUZ A obra “iluminada” de James Turrell CADERNOINSIDE Por que fugir do amarelo? Por que evitar o amarelo? Por que venerar o amarelo? TEXTO Eduardo logullo design/ilustrações papanapa O mais expansivo entre os matizes também é o que mais atrai os olhos. Quem não gosta de amarelo, bege será. Gostar do amarelo é trazer possibilidade de algum avanço, algum choque, algum raio. Por tantos motivos-rumos-vontades-escolhas-ações, cai na cabeça uma lista com fatos amarelos a varejo. Amarelíadas. Quem misturar verde com vermelho na proporção exata (e difícil), chegará ao amarelo. E se espantará. O amarelo conjuga verbos futuristas. Nunca enganar o olhar de ninguém, nem mesmo dos daltônicos: isso é garantia exclusiva dos amarelos e seus matizes amestrados. O amarelo do sol cega? Dizem que sim. O amarelo do girassol gira? Dizem que sim. Van Gogh entrou em delírios amarelos e se tornou um outsider capaz até de cortar fora a própria orelha. Uma casa de fachada amarela nunca será um endereço normal. O jogo da amarelinha tem 500 anos e se chamava “pular macaca” quando chegou ao Brasil, vindo da Península Ibérica. Suas regras são assim: uma pequena pedra é lançada na primeira casa e o jogador deve percorrer o trajeto do traçado pulando (ora com um pé, ora com os dois), evitando o quadrado onde a pedra caiu. A sequência se repete enquanto a pedra avança de casa em casa e o grau de dificuldade aumenta. O livro mais conhecido do escritor argentino Julio Cortázar (1914-1984) se chama “Jogo da Amarelinha” (em espanhol, “Rayuela”). É um livro de leitura quase aleatória, como indica o próprio autor. Começa-se por qualquer capítulo (Cortázar sugere o 73), por ser um romance de fluxo de consciência introspectiva: os personagens oscilam e brincam com a mente subjetiva do leitor, para permitir vários finais. A rainha Elizabeth II preza a cor amarela em seu imenso e inenarrável guarda-roupa real. Em sua primeira visita oficial à ex-arquiinimiga Irlanda, ela desembarcou toda vestida de amarelo. Inclusive bolsa e chapéu. Causou. O amarelo foi a cor-símbolo dos czares da Rússia. O russo (nascido na atual Geórgia) Vladimir Maiakóvski (1893-1930), um dos poetas mais importantes do mundo moderno, aderiu à Revolução Soviética, participou do movimento cubo-futurista, era homem de paixões, arrebatador e lírico, épico e avançado. Suicidouse com um tiro. Foi o autor do curioso verso “Dizem que existe um homem feliz. E este homem vive no Brasil”. A roupa favorita de Maiakóvski era uma blusa de seda amarela. O quindim brasileiro leva coco e deixou de ser parente culinário do brisa-do-lis, a matriz lusitana que originou o quindim nos tempos coloniais. Sabe-se apenas que ambos continuam amarelos. O tradicional bairro Casa Amarela, em Recife, deve seu nome ao português Joaquim dos Santos Oliveira, que para celebrar a cura de sua tuberculose, pintou em tons ocres a casa em que habitava. E o local virou referência pela “casa amarela”. O cartão amarelo é utilizado em várias modalidades de esporte. No futebol, o juiz indica ao jogador um determinado nível de punição por seu comportamento, como aviso de infração leve. No rúgbi, o jogador é suspenso por 10 minutos. Na esgrima serve como aviso, anulando a ação que o atleta acabou de fazer. Nas MMA (artes marciais mistas), é mostrado como aviso; o terceiro cartão amarelo ao mesmo atleta resulta na sua desqualificação. Escultor e criador de móbiles e stabiles, o norte-americano Alexander Calder (18981976) gostava tanto da cor amarela que, ao ser convidado na década de 1960 para criar a nova identidade da empresa aérea Braniff, estreou a proposta com a pintura externa de um Boeing 727 inteiramente em amarelo. A fuselagem do avião depois recebeu sobreposições de seus abstracionismos coloridos. Os táxis de Nova York são os yellow cabs. Placas de sinalização de trânsito usam o amarelo como cor de fundo. Uma convenção internacional e que se vale de estudos sobre superfícies pintadas de amarelo e que se tornam perceptíveis mesmo sob a escuridão. A bandeira brasileira tem um losango amarelo. Hum... vamos pular este tópico? “E as rosas eram todas amarelas” é o nome de uma canção de Jorge Benjor. Rosas amarelas, para os místicos, trazem significados de alegria, amizade e desejo. Pêra, melão, banana, abacaxi, maracujá: os nutricionistas garantem que os alimentos de cor amarela guardam antioxidantes e substâncias que beneficiam diferentes funções do organismo. Alguns tipos de canários podem ser amarelos e que jamais deveriam ser aprisionados em gaiolas. Quem lembraria, de um momento para o outro, da música “Brasília Amarela”, do grupo Mamonas Assassinas? Ninguém. Estaria ali a gênese cultural da classe C? Vitamina C efervescentes são amarelas. Mas qual será a cor da vitamina C? O jacaré-de-papo-amarelo vive quase 50 anos e ninguém pergunta a sua idade. Lady Gaga já usou muitas perucas amarelas ––but nobody cares. Falar hoje sobre “raças” ou “raça amarela” é quase uma bobagem. Espalhe por aí: Na Fórmula 1, a bandeira amarela aponta um drama: significa “perigo logo à frente”, a expressão “raças humanas” refere-se a antigos conceitos antropológicos, forte- “proibido ultrapassar” ou “reduza a velocidade”. mente criticados e quase em desuso. Classifica grupos populacionais com base em O pequeno sapo amarelo das florestas tropicais é um bufonídeo que contém toxinas conjuntos de características somáticas e crenças sobre ancestralidade comum, ainda pouco analisadas. Pesquisas recentes apontam que a cura do Mal de Alzheimer além de basear-se em traços visíveis como cor da pele, conformação do crânio e poderá vir dele, o raro bufonídeo amarelo. do rosto e tipo de cabelo, bem como a auto-identificação. Em stricto sensu, nem Dandelion, amor-perfeito, margarida, helianthus, buds, açafrão, lírio, mal-me-quer, ch- deveríamos mais falar em raças humanas, desde que se confrontou com o desen- apéu-de-napoleão, moréia, melão de São Caetano, titônia, caaponga, cipó de ouro, xy- volvimento da genética na segunda metade do século 20. Somos todos possíveis ris, cravo amarelo, hibisco, picão, alamanda, estrelinha gorda, mussaenda, trialia, dália: amarelos-pardos-brancos-mouros-louros-índios-semitas-negros-marcianos-ruiv- elas somam mais de uma centena de espécies. os-mezzo símios de olhos puxados e narizes aduncos. Lançaram esmaltes de unhas na cor amarela. Precisamos adotar imediatamente e de- O pior uso da cor amarela em todos os tempos veio do nazismo: o regime totali- pois participar de uma reunião bem séria naquela empresa bem séria. tário alemão que quase destruiu a Europa durante a Segunda Guerra, forçava os Batom amarelo: também tem. cidadãos de origem judaica, de todos os países invadidos pelo exército hitlerista, a O amarelo magnetiza a pupila. usarem uma estrela amarela no peito, para que assim fossem segregados, perse- Recanto: o amarelo ilumina qualquer canto. guidos e condenados. Em 1939, Ary Barroso compôs “Camisa Amarela”, um samba-canção que termina com Fiquei tão triste com a frase acima que vou tomar um suco de laranja para ver se passa. esses versos: O meu pedaço me domina, me fascina, ele é o tal / Por isso não levo a mal Lâmpadas que emitem fachos de luz amarelados são mais quentes e tornam os ambi- / Pegou a camisa / A camisa amarela / Botou fogo nela / Gosto dele assim / Passada entes mais confortáveis, além de estimularem o relaxamento mental. a brincadeira / Ele é pra mim. O amarelo não é normal. O amarelo não é para qualquer um. O sol é amarelo? Amar elos amarelos. Sonhar que chegou em casa e que todos os móveis são amarelos, as paredes amarelas e o piso amarelo. Fechar os olhos e ver tudo amarelo. Amarelo pode ser começo. E pode ser fim. De tudo. De nada. Obrigado. Não tem de quê. 016 ambiente O estúdio WAMHouse oferece produtos de design de interiores que vão de poltronas e aparadores até componentes para cozinhas e banheiros fotos divulgação nave futurokitsch abd conceitual SET/OUT 2012 Equilíbrio, cores vibrantes e bom humor nos projetos do escritório de design polonês WAMHouse texto Amer Moussa 018 ambiente U m e s c r i t ó r i o d e d e s ign p o l o n ê s tem conseguido refletir, em cores e formas, o espírito de liberdade que, finalmente, vibra em um dos países que mais sofreu com a dureza da Guerra Fria. Fundado em 2005 por Karina Wiciak e Mariusz Warsinski – dupla formada em design gráfico, fotografia e engenharia civil –, o estúdio WAMHouse combina elementos de arquitetura, iluminação e comunicação visual para criar peças inovadoras e ambientes descontraídos. Situado em Chojnice, pequena cidade ao norte da Polônia, o escritório está instalado próximo do Parque Nacional Bory Tucholskie. Com um ambiente natural a poucos passos da empresa, a equipe consegue se transportar para fora do método acadêmico de projetar, o que permite uma abordagem Apesar do senso de humor, a dupla se mostra cautelosa na Ao lado, a poltrona Zjedzony, projetada no formato de uma banana descascada. A irreverência é uma das principais características dos projetos do WAMHouse composição dos espaços, fotos divulgação dedicando especial atenção aos detalhes e buscando o equilíbrio das partes com o todo abd conceitual SET/OUT 2012 sem preconceitos do programa arquitetônico – bem como um olhar aberto para novos conceitos do mobiliário de interiores. No resultado é possível reconhecer a natureza como uma das maiores fontes de inspiração do grupo, desde seus aspectos universais até suas especificidades regionais. O WAMHouse oferece uma gama de produtos de design de interiores que vai desde poltronas e aparadores até precisos componentes para cozinhas e banheiros. Todos os produtos sintetizam o minimalismo moderno com a irreverência contemporânea. Apesar do senso de humor onipresente, a dupla se mostra sempre cautelosa na composição dos espaços, dedicando especial atenção aos detalhes, buscando sempre a coesão e o equilíbrio das partes com o todo. Um ótimo exemplo é a excêntrica poltrona Zjedzony (algo como “comido”, em polonês). Projetada no formato de uma banana descascada, permite que o usuário se sente confortavelmente enquanto é “abraçado” pelo mais puro plástico tropicalizado. A estrutura de encaixe da peça assimila o modo de fabricação industrial moderno, ao mesmo tempo em que reinventa a tradicional cadeira funcional. Pelo seu desenho incomum, cairia bem tanto em residências particulares como em saguões públicos – uma maneira divertida de esperar por alguém ou de se alimentar de novas energias. Paralelamente à linha de mobiliário, o WAMHouse se ocupa também com projetos de interiores em diferentes escalas, como o conceito “Gold Kitchen”. Dentro da ideia de facilitar as operações culinárias do dia a dia, pressupõe a compatibilização dos desenhos personalizados, desenvolvidos pelo estúdio, com os melhores fabricantes de ferragens e marcenaria do mercado. Ao final, tem-se uma cozinha que se adapta perfeitamente aos hábitos do morador sem perder a matriz estética de cores e luzes intensas. No site do escritório na internet é possível encontrar mais informações sobre os projetos, bem como links para um blog e um portal de fotografia – que também leva o nome do grupo e aparece como uma extensão das mesmas ideias arquitetônicas, só que aplicadas à linguagem fotográfica. O WAMHouse costuma postar referências em sua página no Facebook, onde pode-se constatar que a nave futurokitsch dos objetos resignificados ainda pretende percorrer muitas galáxias. n www.wamhouse.pl www.facebook.com/wamhouse.company 020 tecnologia uma questão de conteúdo Fique por dentro dos novos encapsulados foto divulgação texto andré poli abd conceitual SET/OUT 2012 Ambiente com objetos encapsulados, da Bleu Nature tecnologia C e r ta v e z , e m F i r e nz e , eu olhava “O Nascimento de Vênus”, de Sandro Botticelli, em uma sala da Galeria Uffizi. Na tela, em que flores voam e uma concha flutua, vi a natureza tão encapsulada dentro de tantas representatividades que encontrei o meu discurso: a Imagem Interior. Durante a Renascença, entre os ideais de perfeição, estava criar ilusões que fossem as mais próximas possíveis da natureza. Mas a pintura evoluiu com os séculos – e os interesses, claro, se tornaram outros. Eugene Delacroix (1798-1863) viu a luz do Marrocos e mostrou, meio século antes, possibilidades para o impressionismo, o estilo que, na tentativa de capturar a luz, abriu caminho para os modernistas que subverteriam as formas e assumiram a cor (um exemplo dessa representatividade da natureza é o italiano Giorgio Morandi). Mais tarde vieram os expressionistas abstratos, como Mark Rotko (19031970), que assumiram a pintura como massa física de pigmento sob superfícies, na maioria dos casos linho, telas ou papel. Onde quero chegar? Na evolução da tecnologia industrial, em que hoje podemos representar (ou apresentar) a natureza com a própria matéria: encapsulamos exemplos do mundo natural como se Botticelli apenas pegasse a flor ou a concha e a mantivesse em suspensão dentro de outra matéria. Isso não é uma descoberta desta década. Lembro perfeitamente das peças de resina que adornavam bares de beira-mar nos anos 1970 com caranguejos, cavalos marinhos e estrelas-do-mar encapsuladas em esferas de resina. Essas esferas quase sempre terminavam como pesos de papel ou no câmbio de algum táxi. Agora, grandes empresas desenvolvem técnicas de escala para este processo quase artesanal: em chapas de alguns metros quadrados ou cúbicos, é possível incorporar uma grande possibilidade de texturas e de objetos, das mais incríveis formas, texturas e cores. Sem contar que também é possível a qualquer pessoa customizar suas criações/escolhas. Podem encapsular-se fibras naturais, materiais sintéticos, metais, peças orgânicas, flores, conchas, raízes etc. Na sequência, os encapsulados em chapas ou blocos se transformam naquilo que a imaginação mandar: portas, mesas, divisórias, luminárias. Os encapsulados chegaram e apontam para o futuro. n abd conceitual SET/OUT 2012 Ambiente e bancos com troncos de árvores encapsulados, da Bleu Nature VERSÁTIL E INOVADOR Acima, tecido metálico e cubos de papel dourado encapsulados em chapa, da 3Form fotos renato elkis | divulgação 022 São vários os processos de desenvolvimento de produtos encapsulados. O mais comum é o uso de algum tipo de resina líquida que, por meio de um “catalisador”, transforma-se em bloco sólido. Há empresas que utilizam material reciclado. Na fabricação dos produtos são usadas duas chapas prontas de resina e, entre elas, são colocados os materiais a serem encapsulados. Depois, as chapas vão para uma prensa e, por fim, são refilados. O interessante desse processo é a versatilidade: diversos tipos de materiais podem ser encapsulados, mesmo que não sejam materiais de série das empresas fabricantes. 024 pop art YES, Nós temos Acima, a dançarina norte-americana Josephine Baker e seu saiote de bananas estilizadas, anos 1920, Paris: a pioneira do banana style Ela é fruta, ela é amarela, ela é pop fotos divulgação texto Eduardo Logullo abd conceitual SET/OUT 2012 D a b anana , a f r u ta , muito se sabe, muito se come, muito se vê. Basta fazer um Google para descobrir que a coitada da banana é considerada uma pseudobaga da bananeira. A bananeira, por sua vez, é planta herbácea da família Musaceae. Banana, menina, tem vitamina. Banana é o quarto produto alimentar mais produzido no mundo. Dá-lhe, banana: a pseudobaga da bananeira é cultivada em 130 países. Ou seja, bananas everywhere. Vamos dar uma banana para este parágrafo e escorregar para o próximo. Talvez por tamanha universalidade e ubiquidade, a banana se tornou, durante o século passado (o século que trouxe imenso poder às imagens), um ícone visualmente muito explorado. A banana, descobriram todos, era pop na essência: sua simplicidade de amarelo rajado de manchas escuras, mais o formato curvo quase fálico, permitiram incontáveis citações nas artes plásticas, cinema, publicidade e moda. Mas, cá entre nós, comer banana nunca foi um ato bonito. Faltaria, digamos, estética ao ato de descascar a banana e se deparar com aquele fruto insinuante diante dos lábios. Assim, logo sensualizaram a assexuada banana. A palavra banana, pelo menos em português, ganhou significados pejorativos, maliciosos ou depreciativos. Em inglês, nem sempre: a expressão “You don’t know bananas” (mais ou menos ‘você não entende nada’) caiu em desuso, embora ainda exista. A banana também encantou os europeus que a trouxeram do Oriente para o Novo Mundo. Aqui se adaptaram bem e se tornaram elementos simbólicos dos trópicos, das terras de vegetação exótica, do nativismo colonialista. A banana merecia um estudo sócio-antropológico sério. Bananeira, não sei, bananeira, sei lá: isso é lá com você. pop art aparece com uma cascata de frutas que parecem jorrar de sua cabeça até o fundo infinito, com efeitos visuais arrojados para a época. Ali aconteceu o ápice da banana-star. Parece que os gringos têm mais fetiche na banana do que nós, os habitantes do país que Paulo Francis chamava de “Bananão”. Por aqui tivemos pelo menos um destaque importante no culto à pseudo-baga da bananeira: o pintor e desenhista Antônio Henrique Amaral, celebrado no mercado das artes do final dos anos 1960 em diante. É dele a série de trabalhos que usaram a banana como leit-motiv em telas grandes, intensas e tropicalistas, pintadas no começo dos 70’s. Pouco antes disso, a banana havia caído no colo de Andy Warhol, na alucinada Nova York dos sixties. Foi quando o inventor da cultura pop, o sacerdote do lixo-luxo, criou a capa do primeiro disco do grupo Velvet Underground & Nico, cujo vocalista tinha o nome de Lou Reed. O resto é história. Hoje, aquela capa é considerada uma das cem mais representativas do século 20. Bananas não faltariam para outras citações. Contudo, é melhor preservar um pouco a sua santa imagem para evitar desgastes. Uma salva de palmas para a mais simpática das frutas. Salve a banana. n fotos renato elkis Porém, estamos aqui para fugir do banal – este termo francês que traz o mesmo sentido em português e que não tem nada a ver com “banana”. Estamos aqui para louvar a amarelidão da banana, a pseudobaga que já foi louvada musicalmente até por Jorge Ben Jor em “Vendedor de Bananas”. (A letra cita as variedades da popular banana: prata, ouro, São Tomé, nanica, da terra, ouro, figo, d’água, maçã etc.) Pergunta: quem foi a primeira pessoa a incorporar a banana como elemento pop? Resposta: Josephine Baker, nos loucos anos 1920, nos palcos de Paris. A dançarina americana que abalou a Europa com coreografias livres e absurdas, apareceu de repente com um saiote feito de bananas estilizadas. Isso nos anos 1920, repito. Dá para imaginar o escândalo. Assim, La Baker é madrinha da banana pop, banana louca, banana sexy. Em 1943, outra mulher absurda chamada Carmen Miranda estava no auge do sucesso no Hemisfério Norte, sendo a terceira artista a ganhar mais dinheiro no star-system americano. Seus filmes agora são obras-primas do camp. O mais rico, mais exagerado e melhor produzido de todos foi “The Gang’s All Here” (em português, “Entre a Loura e a Morena”), dirigido por Busby Bekerley e coreografado por Hermes Pan. No meio do filme, La Miranda vem numa carroça repleta de bananas, cantando “The Girl With the Tutti-Frutti Hat”. Cenas depois, sua figura se destaca no meio de uma mega-coreografia de estúdio (cenários imensos, piscinas quilométricas, balés aquáticos, figurinos luxuosos e câmeras panorâmicas). Em cena antológica, Carmen fotos divulgação 026 abd conceitual SET/OUT 2012 Cenas de “The Gang’s All Here”, filme estrelado por Carmen Miranda em 1943: o estilo camp do diretor Busby Bekerley e as bananas na “paisagem” tropical. Abaixo, na página à esquerda, reproduções da capa de Andy Warhol para o disco do Velvet Underground & Nico, 1967 028 luz brilho no tubo Neon: esculturas de luz abd conceitual SET/OUT 2012 texto Luan Silva | fotos renato elkis luz A at m o s f e r a t e r r e s t r e é o ar que respiramos. Ela é composta, principalmente, por nitrogênio, oxigênio e argônio. Os demais gases que a compõe estão presentes em quantidades ínfimas e podem ser manipulados pela indústria para diversos fins. Um desses gases é o neônio. Gás nobre, escasso na Terra, mas presente em abundância no cosmos. Com ele, faz-se o neon. Luz vintage e retrô. Luz de cassino e cabaré. Luz glamour. Impossível imaginar as ruas de Las Vegas sem fachadas e sinalizações repletas de neon. Ou a Time Square dos anos 40, época ápice do neon na avenida, com cerca de duas mil lojas iluminadas por essa luz. No Brasil, os bordéis e estabelecimentos da Rua Augusta, em São Paulo, surgiam no século passado “escrevendo sua história com neon” nas mais variadas formas, como canta o rapper Emicida. Símbolo do insone e incandescente, toda essa novidade luminosa não teria sido possível sem a dedicação de dois personagens da história. No final do século 19, desfrutando das farturas advindas da Revolução Industrial, a Inglaterra era a nação mais rica e poderosa do mundo. Em 1898, nos laboratórios da University College London, trabalhavam dois renomados químicos britânicos, Sir Willian Ramsay e seu assistente, Morris W. Travers. Ramsay, já famoso por ter descoberto a existência dos gases nobres na atmosfera terrestre, sabia da possibilidade de outras descobertas e, por isso, abd conceitual SET/OUT 2012 insistia nas pesquisas. Em um dos experimentos, retirou amostra de ar da atmosfera e a resfriou em baixas temperaturas. O ar virou líquido e, em seguida, foi fracionado e fervido. Na medida em que fervia, o gás era capturado em um tubo. Ao notarem que o tubo estava sendo preenchido por tonalidade vermelha, perceberam a existência de um novo elemento. “A chama da luz vermelha do tubo contou sua própria história”, disse Travers. Desse modo, descobriram o neon, (do grego néos, que significa novo). Na ocasião, desvendaram também a existência de dois outros elementos: criptônio (Kr) e xenônio (Xe) – completando, assim, a família dos gases nobres na tabela periódica. A descoberta possibilitou que os engenheiros pensassem em novos produtos. Em 1910, pelas mãos do francês George Claude, surgiu o primeiro letreiro em neon. Dependendo dos gases misturados e das cores dos tubos, pode-se chegar à tonalidade desejada. Além disso, devido à forma de produção, é possível dar qualquer formato ao tubo de luz. Os publicitários logo se apropriaram do potencial do produto, expandindo seu uso pelo Ocidente. Em 1920, empresários norte-americanos já importavam a invenção para os Estados Unidos. Arquitetos passaram a utilizar em seus projetos, delineando os contornos dos edifícios com aplicações luminosas. As luzes de neon se transformaram em um dos símbolos mais emblemáticos da cultura de Dependendo dos gases misturados e das cores dos tubos, pode-se chegar a várias tonalidades de neon. Além disso, é possível dar qualquer formato ao tubo de luz fotos renato elkis 030 Las Vegas, decorando com as mais diversas cores as fachadas de cassinos como Planet Hollywood, Caesars Palace, Binions Horsehoe, Golden Nugget e muitos outros. A substituição das fachadas de neon por outras fontes de iluminação e o fechamento de alguns desses cassinos motivaram a criação do primeiro museu do mundo dedicado a preservar as obras em neon. O Neon Museum foi fundado em 1996, em Las Vegas, e hoje possui cerca de 150 peças que já estiveram presentes, desde a década de 1930 até os dias atuais, nas superfícies dos edifícios da cidade. No Brasil, o neon também foi usado em projetos arquitetônicos e de design. Maurício Queiroz, designer de consumo, acredita que, com a chegada do LED, a produção do neon está em declínio. Para ele, o LED já substituiu o neon. “A proposta de utilizar o neon não é ter uma luz fiel, até porque a qualidade do foco não é a melhor. Utilizo o neon esporadicamente, para uma iluminação indireta, quando quero proporcionar um clima vintage.” Já para Rafael Leão, arquiteto de iluminação, há prós e contras de se trabalhar com o material. “Com o neon, tem-se liberdade em relação à forma. É possível fazer curvatura para todos os lados, atingindo uma forma tridimensional. É uma escultura de luz.” Apesar de concordar que o LED ilumina com mais intensidade quando comparado ao neon, Leão acredita que um nunca substituirá o outro, pois os dois apresentam propostas diferentes. Além disso, para ele, novas tecnologias favoreceram o uso do neon, o que contradiz com a ideia de declínio. “Antigamente, os transformadores utilizados para acender as peças de neon eram eletromagnéticos. Faziam barulho, vibravam e esquentavam. Hoje, as fontes são eletrônicas. São mais modernas, consomem menos energia e não fazem ruído.” n www.neonmuseum.org o especialista Edvar Ferreira Silva é dono da Neon Três Estações, empresa que há mais de 30 anos produz letreiros luminosos de neon. Cores O neon pode ser executado em 20 cores. Trabalhamos com 10 em gás argônio e 10 em gás neônio. Durabilidade As cores iluminadas com gás argônio duram mais. Vida útil Depende de vários aspectos, mas neon exposto no tempo tem vida útil menor. Se estiver em ambiente interno, dura de 3 a 4 anos, e pode ser consertado caso os eletrodos queimem. Diâmetros Os mais comuns são de 10 mm e 12 mm. Processo de execução Recebemos a arte via e-mail e a reproduzimos no tamanho e cor solicitados pelo cliente. Valores Quando trata-se de filetamentos retos, é cobrado por metro linear; quando o logo é trabalhado, a cobrança é pela arte. 032 ARQUITETURA luz do sol Ao longo da história, a luz natural sempre influenciou o modo como o homem edifica o seu habitat fotos divulgação texto Marcella Aquila abd conceitual SET/OUT 2012 D e s d e o s p r i m ó r di o s at é h o j e , o sol ainda fornece elemento fundamental para que a vida possa crescer e florescer neste planeta azul. O astro que dita o ritmo das nossas jornadas é também aquele que nos surpreende com os espetáculos lunares, rompe com a monotonia ambiental marcando o compasso das estações do ano e, sobretudo, estabelece a medida da nossa passagem pelo tempo. No espaço-terra, porém, a presença em maior ou menor intensidade da luz solar leva não apenas a diferenças no comportamento humano, mas também se reflete no modo como o homem edifica o seu habitat. Olhar para a maneira como o engenho humano responde aos estímulos da luz solar na história nos traz indícios tanto das necessidades do corpo quanto do espírito em cada época e em cada cultura. Inúmeros são os exemplos em que o sol influencia – metafórica ou literalmente – as construções ao longo dos tempos. Na antiguidade, ele reinava absoluto no panteão da civilização egípcia e, embora não exercesse influência direta sobre as formas-funções, era o sol quem determinava a localização das mais famosas edificações dessa civilização. As pirâmides encontram-se na margem esquerda do Nilo, alinhando-se na direção poente, do crepúsculo, e, portanto, apontando o caminho que deveriam seguir os mortos. Já na Hélade clássica, aquele que quisesse vir a ser livre das sombras deveria caminhar na direção da luz do sol – era o que cantava Platão, no mito da caverna (e Gal Costa em “Fa-Tal”, de 1971). No Panteão romano, por sua vez, não é o deus-sol, como imagem-representação, que protagoniza a cena e, sim, a própria presença-luz. É no Panteão de Agripa, uma das construções greco-romanas em melhor estado de presentificação, que se revela a luz como elemento plástico na composição arquitetônica. Uma abertura no centro da cúpula (um feixe duro e em contraste com a penumbra interna) permite que o sol penetre no edifício, destacando a cada hora do dia uma porção do edifício. Trata-se de uma das mais impressionantes sínteses da relação homem-natureza no que diz respeito ao espaço edificado. Essa equação onde, de um lado pese a razão humana – curiosa, inventiva e capaz de transformar a natureza – e do outro, a própria natureza – uma força que, muitas vezes, demonstra sua preponderância sobre as vontades do homem – nem sempre encontra confluência na história. Do ponto de vista da produção artística e, mais especificamen- Inúmeros são os exemplos em que o sol influencia as construções ao longo dos tempos 034 ARQUITETURA Enquanto a mística gótica tem a luz como materialidade divina, o Renascimento se apoiará na razão humana abd conceitual SET/OUT 2012 te da arquitetura, é interessante observar como o trabalho com o signo “luz” pode expressar ora uma tendência de pesar para um lado da equação, ora para o outro. Um exemplo emblemático dessa “diferença de pesos” encontramos quando, durante a Idade Média, contrapõem-se as proposições do gótico e do Renascimento. Na arquitetura gótica, a luz é elemento concreto, fundamental para a estruturação do espaço e símbolo da presença divina. Enquanto a mística gótica se apoia na contemplação dos elementos naturais e, sobretudo, na luz como materialidade divina, o Renascimento se apoiará na razão humana como instrumento de conhecimento, de apreensão da natureza. Ao estabelecer o homem como “medida de todas as coisas”, o Renascimento irá valorizar outros prioridades na composição arquitetônica que não a própria materialidade-luz. Ao mesmo tempo, a luz será pensada e investigada, principalmente no campo da pintura, enquanto matéria-prima fundamental ao estímulo ótico, ao sentido visual humano. Após um longo período de dicotomia, será apenas no século 20 que a luz-clareza de propósitos & a luz-elemento plástico-construtivo irão constituir um só corpo. O século 19, que vira nascer a luz elétrica, também amargava as piores condições de habitação nas grandes cidades. Se, por um lado, o avanço técnico-científico da “era do maquinismo” permitia a construção de palácios de vidro em Londres e arranha-céus em Chicago e Nova York, grande parte da população vivia em habitações extremamente insalubres – conforme descreve Angels em “A questão da Habitação”, de 1873. O século 20 amanhecia diante das possibilidades abertas pelos novos meios e das contradições de metrópoles que não respondiam mais às necessidades fundamentais do homem. Mas, como a época era miraculosa, as leis do movimento moderno nasceram do próprio rotamento dinâmico dos fatores destrutivos. Em arquitetura, isso significou a fundação de uma nova linguagem e, com ela, um conjunto de princípios-elementos construtivos que buscavam, essencialmente, “restabelecer ou estabelecer a harmonia entre o homem e seu meio.”, escreve Le Corbusier. Nesse sentido, a luz natural, assim como a ventilação, figuram tanto como elementos funcionais – signos de uma racionalidade construtiva – quanto plástico-poéticos – pensados e trabalhados em sua materialidade. Os mesmos princípios que levam Alvar Aalto a construir na Finlândia, seu país natal, com o maior 036 ARQUITETURA Ao lado, projeto para escola em Várzea Paulista, do escritório FGMF, de São Paulo. As outras imagens que ilustram esta reportagem são do projeto Camarines House, do escritório A-cero, de Madrid aproveitamento possível da luz solar e com materiais de maior capacidade térmica, e que geram os brise-soleil, o teto-jardim e a fachada livre em Le Corbusier. No Brasil, é a antropofagia que comanda toda uma geração de arquitetos deglutidores dos princípios modernos. Entre os resultados aqui formulados, temos desde a releitura dos muxarabis árabes – nas fachadas construídas com cobogós – até o pavilhão tropicalista realizado por Sérgio Bernardes para incorporar o Brasil, em 1958, na exposição mundial de Bruxelas. Este edifício, que consiste num avarandado descendente que encontra um amplo jardim tropical na sua parte central, tem a entrada de luz e água das chuvas controlada por uma enorme bola flutuante. abd conceitual SET/OUT 2012 fotos divulgação A luz natural figura tanto como elemento funcional quanto plástico-poético Em tempos de eletrificação do mundo – onde os muxarabis da primeira geração do moderno tornaram-se verdadeiras pupilas eletrônicas (Instituto do Mundo Árabe, em Paris) – o trabalho com a luz na arquitetura pode assumir novos programas. Na medida em que os espaços virtuais assumem-se mais e mais como possíveis espaços de trabalho, “resta” aos espaços físicos a dimensão do encontro corpóreo e de possíveis experiências coletivas. Abre-se, assim, para a arquitetura, um campo amplo para experimentação, onde a luz, enquanto estímulo à percepção, pode ser explorada ambientalmente não apenas em uma única direção (visual), mas nos cinco sentidos. n 038 metal Aqui, escultura gigante de maçã feita de cerâmica, com pintura dourada (Lisa Pappon para Bull&Stein). Na pág. ao lado, espelho Guilt, em metal martelado com moldura dourada abd conceitual SET/OUT 2012 o signo do ouro O estilo Rococó, derivado do Barroco, foi o ápice da utilização do ouro na arquitetura e em ornamentos internos. Mas o universo simbólico de “sucesso” que permeia a palavra ouro permanece forte até hoje texto Amer Moussa metal O o u r o é d o s m e tai s mais resistentes. Capaz de manter solidez reluzente mesmo em condições extremas de temperatura, umidade e poluição; e sempre atrai olhares e pensamentos mundanos distraídos. Absurdamente rentável: com apenas um grama do material puro é possível esticar um fio de 3 km de extensão e 0,005 milímetros de diâmetro. Ou obter uma lâmina quadrada semitransparente de 70 cm de largura por 0,1 micrômetro de espessura. Acredita-se que o ouro tenha aterrissado na superfície terrestre de carona em meteoritos pré-históricos. Devido à alta densidade, supõe-se que a maior parte tenha afundado, e permanece depositada no núcleo do planeta na forma de pepitas. Ainda assim, hieróglifos egípcios de 4600 anos atrás o descrevem como substância “mais abundante do que a sujeira”. Civilizações posteriores também fizeram uso do metal: dentro do templo grego Pathernon ficava a escultura em madeira de 12 metros de altura da deusa Athena, coberta por ouro e marfim. Os romanos trataram de desenvolver novos métodos de extração em larga escala, por introdução de minas hidráulicas. Apesar de o considerarem inútil e preferirem outros metais, na América dos astecas o ouro era intitulado “excremento divino”. O período conhecido como barroco – entre o fim do século XVI e meados do século XVIII – foi um dos grandes momentos da utilização do ouro na arquitetura, seja na forma de iconografia externa – revestimento de estátuas e monumentos – ou em espaços internos, em minuciosos detalhes ornamentais. Em 1747, o então rei da Prússia, Frederico o Grande, inaugura, nas cercanias de Berlim, uma das mais luxuosas construções da Europa. Situado em Potsdam, o Palácio Sanssouci (que em francês significa “sem preocupação”) foi uma deslumbrante residência de verão concebida a partir dos desejos estéticos pessoais do monarca, o que resultou em abd conceitual SET/OUT 2012 grande experimentação de formas e ornamentos. O resultado? Ambientes reluzentes gotejantes, onde nenhum componente parece ter escapado de uma pincelada dourada – inclusive as capas dos livros. Construído sobre um platô com horizonte a perder de vista, a residência tinha como objetivo servir de refúgio a artistas e filósofos cansados dos exaustivos compromissos e representações da corte alemã. Voltaire, amigo íntimo do rei, era figura tão frequente no palácio que possuía um quarto com o seu nome. Além do edifício principal, foram construídas pelo parque pequenas estruturas de apoio. Peculiares e bizarras edificações, todas exibem algo em comum: acabamentos em ouro. Tal conjunto de obras maneiristas caracterizou um estilo que ficaria conhecido como Rococó Fredericano, o qual mais tarde influenciaria diversas escolas de arquitetura na Europa (e mesmo no Brasil). Com a Revolução Industrial, as propriedades e qualidades químicas do ouro passam a receber atenção especial, sobressaindo o seu valor utilitário sobre o simbólico. Apesar de a burguesia emergente adorar um adorno, as vanguardas do século 20 trataram de colocar o ouro no devido lugar, detonando o patamar de frivolidade e desperdício que a exces- siva exuberância dos palácios e igrejas rococós havia atingido. A elas coube o papel histórico fundamental de avisar que a verdadeira riqueza reside na ideia do “que fazer”, e não na matéria em si. A tecnologia moderna encontrou outros usos para o ouro em edifícios, revestindo vidros com películas que refletem raios (infra) vermelhos e amarelos, deixando passar verdes e azuis. Vantagens: barrar o calor no verão e guardá-lo no inverno – porque o inverso do processo é verdadeiro. Ainda assim, o universo simbólico de “sucesso” que permeia a palavra ouro permanece muito forte até hoje. O bom rapaz é um “menino de ouro”. A pessoa generosa tem “coração de ouro”, e os grandes campeões são condecorados com medalhas de ouro. Os bem-nascidos foram criados em “berço de ouro”, provavelmente por casais que selaram a união com alianças de ouro. Manter um segredo é “esconder o ouro”, contá-lo à pessoa errada é “entregar o ouro”. O bom conselho é ficar calado, pois o “silêncio é de ouro”. Basta escolher a frase certa e, assim, fechar tudo com “chave de ouro”. n Lustre Eternity, com aplicação manual de cristais que são colocados individualmente na estrutura da peça (Janet Morais para Koket). Abaixo, banqueta de madeira com estofado em tecido adamascado (Koket) O Palácio Sanssouci, em Postdam, é exemplo do estilo Rococó, o ápice da utilização do ouro na arquitetura e em ornamentos internos. Abaixo, Gran Vase, em porcelana pintada (Jean Boggio para Franz) BANHADO EM OURO fotos divulgação 040 Douração consiste na aplicação de uma finíssima camada de ouro sobre qualquer elemento, metálico ou não. Existem diversas técnicas possíveis, como a colagem de folhas sobre a base através de adesivos, bem como aplicação de ceras, vernizes e até mesmo compostos metálicos com pó de ouro. Atualmente, foi desenvolvido um método conhecido por galvanoplastia, que utiliza correntes elétricas para melhor aderência dos materiais. A vantagem deste procedimento sobre os demais é a durabilidade, tornando-se ideal para peças que exigem manipulação constante, como louças e joias. O fator negativo é a presença de metais pesados no procedimento, o que torna essa indústria, somada ao processo predatório da garimpagem do ouro, um dos ciclos produtivos mais tóxicos engendrados pelo homem. Evento abd Apresentam Evento abd 1,2, 3, já! Acima, Daniela Taboada, Jéthero Cardoso e Marcia Pinto. Ao lado, a equipe vencedora do rally Rally organizado pela ABD leva competidores às principais lojas de decoração e design de São Paulo N a p r i m e i r a e di ç ã o do Design Weekend, evento que teve como missão celebrar o design, a arte, a decoração e o urbanismo na cidade de São Paulo, a ABD criou um rally de regularidade em que os participantes – para vencer os desafios da prova – tiveram que passar pelas principais lojas de decoração e design da capital paulista. Disputaram o rally 26 equipes, totalizando 88 profissionais inscritos. Durante a corrida, a ABD e os competidores aproveitaram para recolher alimentos não perecíveis que foram doados para a Cruz Verde, instituição sem fins lucrativos que presta assistência a portadores de paralisia cerebral grave. Foram arrecadadas 2,5 toneladas de alimentos. “Achei maravilhoso, veio bastante gente. Todos gostaram e conheceram lojas que não conheciam. Foi um encontro perfeito.”, avalia Carolina Szabó, presidente da ABD. O Design Weekend aconteceu entre os dias 23 e 26 de agosto e, além do rally organizado pela ABD, teve intervenções artísticas, cursos, feiras, exposições, palestras e shows espalhados por diversas localidades de São Paulo. n www.abd.org.br www.designweekend.com.br www.cruzverde.org.br Participantes com as regras da prova. Carolina Szabó, presidente da ABD, explica aos designers as regras do rally. Cave Evangelista, Paulo Roberto e Adriana Rezende abd conceitual SET/OUT 2012 1º Lugar Roberta Banqueri, Manoel Brancante, Ana Bartira e Omar Zein 2º Lugar Myrna Porcaro, Priscila Bernardi, Karina Korn e Angela Maluf 3º Lugar Cave Evangelista, Paulo Roberto, Adriana Rezende e Camila Barbosa Acima, da esquerda para a direita: Monica Seabra, Midiã Borges e Maria Claudia; Cecília Giacaglia, Jéthero Cardoso e Carolina Szabó. Ao lado, à esquerda: Elba Cristina, Patricia Rocha e Cristina Rocha; abaixo, Renata Amaral e Márcia Kali. Ao lado, à direita, Christian Blum, Angela Borsoi, Marta Castineiras e Andrea. Abaixo, Danilo Costa, Luana Mattos, Alessandra Marques e Rodrigo Costa 046 sustentabilidade Oito por um Fundadora em Los Angeles da boutique-design-estúdio Touch, a brasileira Zoë Melo aponta oito produtos com princípios de sustentabilidade, escala humana e funcionalidade 1 Mutation Series foto NICO NEEFS Maarten De Ceulaer abd conceitual SET/OUT 2012 A série de mobiliário do belga Maarten de Ceulaer reinterpreta clássicos do design, como se houvessem passado por mutações nucleares. Esferas de espuma são presas à estrutura básica do móvel, que depois é completamente coberto por uma camada de borracha texturizada que lembra o veludo. O processo de manufatura garante que o resultado sejam objetos únicos, diferentes de peças desenvolvidas em grande escala. 048 sustentabilidade 2 tendência 049 4 Batucada Brunno Jahara A coleção Batucada, produzida em alumínio anodizado, é composta por vasos, lustres e bandejas de formatos, cores e tamanhos diversos. A superfície martelada dos objetos faz alusão aos instrumentos de percussão improvisados com latas e galões metálicos, utilizados em comunidades periféricas. A matéria-prima, reciclada, passa por um processo que a torna 30% mais resistente que o ferro e possibilita acabamento de cores vibrantes. São os primeiros produtos desenhados pelo designer Brunno Jahara a serem lançados no Brasil, depois de trabalhar por mais de cinco anos na Europa. A coleção foi exibida no Milan Fuori Salone e nas semanas de design ICFF New York e de Valência, como parte das exposições da TOUCH. Softwall 5 Molo (Canada) Invento do grupo canadense que tem tudo a ver com a praticidade da vida urbana e que propõe soluções inteligentes: um sistema de divisórias independentes, que se expande ou contrai para criar espaços privativos em grandes áreas. A estrutura celular das divisórias agem no isolamento acústico, enquanto as superfícies translúcidas ou opacas controlam a luz. Rita Botelho Carambola Sergio Matos Por ter vivido próximo da reserva Xingu, na cidade de Paranatinga (MT), o designer brasileiro Sérgio Matos desenvolve um trabalho bastante influenciado pela cultura indígena e pela floresta, nas cores e no uso de materiais naturais. Seus objetos, que buscam uma identidade brasileira, ganharam prêmios e participações em exposições no Brasil e no exterior. abd conceitual SET/OUT 2012 fotos ACERVO TOUCH / ZÖE MELO 3 Drop O desenho do cofre “Drop” faz um paralelo entre economia e responsabilidade no uso do dinheiro e da água. O conteúdo acumulado só pode ser acessado ao quebrar a gota de cerâmica, lembrando que só deveríamos usar nossos recursos quando realmente necessário. A designer portuguesa Rita Botelho participou de exposições em Lisboa, Edimburgo, Milão e Nova York. Ela projeta móveis, produtos, embalagens e joias. 050 sustentabilidade touch 6 8 Balance Nathalie Dewez Criado pela designer belga e produzido pela Established & Sons, de Londres, a luminária de mesa Balance é um tubo de alumínio. O transformador das lâmpadas de LED ficam acomodados na base do objeto, o que garante o peso necessário para o equilíbrio da peça. Com um toque, a peça entra em movimento pendular, em torno do apoio horizontal. Cadeira Vó Judith fotos ACERVO TOUCH / ZÖE MELO Nicole Tomazi/Oferenda Objetos abd conceitual SET/OUT 2012 Studio Veríssimo O banco Open tem design simples e inteligente: além de sua função básica, pode ser usado como mesa de apoio ou para segurar portas. Projetado pelo Studio Veríssimo, de Portugal, é produzido pela Touch em Los Angeles em diversas cores, com madeira reciclada de freixo. O estúdio surgiu da colaboração entre Cláudio Cardoso e Telma Veríssimo. Seus trabalhos foram expostos na Itália, Estados Unidos, Japão e Holanda. 7 A muito simpática cadeira Vó Judith conecta gerações por meio de design em escala e artesanato. Com o uso do refugo da indústria têxtil, o projeto reforça a questão da sustentabilidade, enquanto sua técnica remete ao uso do tempo com atividades desconectadas do mundo virtual. Os trabalhos de Nicole Tomazi já foram expostos na mostra Brazil è Cosi (Fuori Saloni di Milano, 2009) e Saloni Satellite (Saloni Del Mobile di Milano 2010). Atualmente tem produtos nas lojas Tok&Stok, A Lot Of (SP), entre outras. Open Com estúdios em Los Angeles e São Paulo, a empresa faz estratégias de criação, desenvolvimento e vendas. Na curadoria de design, propõe parcerias com feiras de design, lojas, galerias, museus, hotéis e restaurantes em todo o mundo. Seleciona criações que consigam bom posicionamento mercadológico, no intuito de expandir o design como uma ferramenta que faz a diferença. “O objetivo maior é realizar trabalhos que incorporem processos de soluções sociais e sustentáveis”, resume Zoë Melo. www.do-not-touch.com design Admirável mundo novo O design globalizado e sustentável mostrado em Paris texto e fotos andré poli Ambiente de Timothy Oulton em exposição na Maison&Objet 054 ambiente DESIGN foto divulgação Na página ao lado, Cheval, cavalo em madeira forrado com retalhos de tapetes antigos, de Frederrique Morrel. Aqui, instalação no hall de entrada da Maison&Objet e muro de grama na entrada do pavilhão 8, onde estavam reunidos os principais lançamentos da feira abd conceitual SET/OUT 2012 Facilidad e s n ã o falta m para se chegar ao centro de exposições Paris Nord Villepinte, onde aconteceu este ano a Maison&Objet: há linhas de ônibus gratuitas à disposição dos visitantes, em shuttle service a cada 15 minutos a partir de vários pontos da cidade – chamados de “navetes”, são ônibus modernos, com ar-condicionado, bagageiro e motoristas gentis. No total, a Maison&Objet contou com oito enormes pavilhões, divididos por temas que vão de utensílios domésticos até as mais recentes novidades da indústria do design. Tudo é bem explicado e assessorado por um staff impecável. Vale lembrar que os objetos e materiais expostos na feira já estão prontos para chegar ao mercado e ser adquiridos em lojas. Cada pavilhão tem suas surpresas. Mas era no pavilhão de número 8, chamado “Now! Design à Vivre”, que estavam concentrados os principais lançamentos. Entre tantos acontecimentos, chamou atenção a fusão de coisas muito distantes, de estilos e pessoas. Este é o legado da era da internet, onde o mundo virtual se funde cada vez mais ao real, e conectado por um sistema nervoso digital que aproxima cada ideia e pensamento da sua concretização. É o design francês que desenha peças orientais; o alemão que produz no Marrocos. Os próprios materiais mesclam-se de forma inusitada: peças de metal com matérias orgânicas; linhas com vidro. As cores explodem em combinações flúor, com tons pastéis. As formas angulares e diamantadas se misturam com formas arredondadas e orgânicas. Aliás, os materiais orgânicos estão em alta, numa tentativa de construir um mundo novo e sustentável. Em alguns casos, não passam de tentativas. Mas os acertos nessa área já são grandes. Vale ver a beleza da natureza sendo reproduzida. A Maison&Objet faz um recorte do que está sendo produzido no mundo em todas as áreas que compõem uma habitação, seja ela doméstica ou corporativa. São expoentes de um design que está integrado com as leis da natureza, onde o processo determina a forma e a utilidade do produto. E não foi por acaso que os Irmãos Campana foram homenageados como Criadores do Ano. A seguir, veja o que encontramos de mais interessante na Maison&Objet. MAISON&OBJET – FICHA TÉCNICA n A segunda edição 2012 da feira de moda-casa aconteceu entre os dias 7 e 11 de setembro no centro de exposições Paris Nord Villepinte. n São mais de 3 mil expositores (43% de marcas internacionais) em uma área de 135 mil m2. n A Maison&Objet é realizada duas vezes por ano e apresenta tendências em objetos e acessórios de luxo, cenografias, materiais futuristas e novos conceitos de arquitetura. n A feira é dividida em 8 diferentes pavilhões, como “Scènes d’intérieur” (com criações de designers renomados e de grandes marcas internacionais); “Maison&Objet Projets” (com soluções técnicas para planejamento de ponta); “Now! Design à Vivre” (design para o dia a dia); e “Maison&Objet Outdoor/Indoor” (a arte de viver ao ar livre). n Na edição anterior, o evento recebeu 40 mil visitantes. Mais informações: www.maison-objet.com 056 DESIGN fotos divulgação ESTILO INGLÊS abd conceitual SET/OUT 2012 Sem abandonar as referências clássicas, o estilo inglês apresentado na Maison&Objet aparece rejuvenescido nas cores e nos acabamentos. Ao lado, cama box com colchão feito manualmente com materiais naturais e mais de 7.535 molas. Acima, estante Brass Drum em madeira pintada. Pufe de veludo vermelho cardinal (Master’s Ottoman). Baú Oxford forrado com tecido listrado. Todos os produtos: Timothy Oulton 058 DESIGN Em tempos de preocupação com o meio ambiente, espaços e mobiliários inspirados na natureza são tendência. Mirror Cirkel, madeiras fatiadas com aplicação de espelho. Lustre Artiq, luminária com estrutura de metal e pendentes em cerâmica e luzes de LED. Cadeira Louise Crusoé, com estrutura de galhos entrelaçados, assento e almofadas em tecido ou couro. Candelabros Bougeoir Castor, feitos de galhos. Todos os produtos: Bleu Nature. Menos a luminária de chão Alibabig, feita de fibra de vidro, da marca Karman abd conceitual SET/OUT 2012 fotos divulgação NATUREZA VIVA ambiente DESIGN foto andré poli 060 CROMATISMOS fotos divulgação Sofá e almofadas estofados com tecidos customizados, da Conceptuwall. Vaso de cristal colorido Pivoni – Peony da Daum. Vaso de porcelana com aplicação de bolas coloridas, de Jean Boggio. Na página ao lado, cinzeiro em porcelana com cromolitogravrua e acabamento pintado à mão e folhas de ouro nas bordas. Alian Tomas para Haviland abd conceitual SET/OUT 2012 062 ambiente DESIGN BLACK IS BEAUTIFUL abd conceitual SET/OUT 2012 fotos divulgação foto andré poli Básico e elegante, o preto continua se reinventando e surpreendendo. Na página ao lado, armário Jean Boggio para Franz, em laca preta com aplicação de painel de porcelana. Banqueta Mandy, com estrutura metálica e assento em tecido. Luminária de chão Lotus, com base produzida em madeira esculpida à mão e pintada de dourado, cúpula em seda preta. Mesa de jantar Intuition, com pés em metal fosco, acabamento em dourado e tampo preto. Caveira (falta a legenda). Espelho Reve, com moldura em preto metálico. Todos os produtos: Koket 064 DESIGN IDEIAS POP fotos andré poli | divulgação Referências orientais, cromatismos vibrantes, soluções divertidas. Na página ao lado, adesivos de parede da empresa japonesa. Vaso em porcelana azul com aplicação de dragão laranja e ambiente com inspiração chinesa do designer Jean Boggio. Canecas de Paul Frank. Cadeira Bold Modern, com estrutura metálica forrada de espuma poliuretano, da Seletti abd conceitual SET/OUT 2012 066 DESIGN fotos divulgação jaune André Poli e Roberta Queiroz visitaram a Maison&Objet a convite da organização do evento abd conceitual SET/OUT 2012 amarelos Armário Pavão de madeira, revestido de chapas de madrepérola, com aplicação de pavão esculpido à mão em metal dourado, da Janet Morais. Almofada em veludo amarelo cardinal, com brasão de escola tradicional inglesa, Timothy Oulton. Pote de porcelana amarela com aplicação de dragão, Franz. Mesa Around em madeira de pinus, Muuto. Jogo de chá Bulki Set em porcelana, Muuto. Galo em vidro amarelo da Daum. Sofá Chesterfiled em couro amarelo cardeal, Timothy Oulton 068 design Restaurante Germain, em Paris. Projeto de India Mahadavi com elementos que remetem à década de 1970 e Sophie, uma escultura gigante de uma garota amarela, criação do artista plástico Accueil Xavier Veilhan Em rota Um percurso pela região central de Paris texto Roberta Queiroz suas criações podem ser encontradas. Na Rue de Las Cases, 3, há ambientes completos desenvolvidos pela designer. E no número 5 da mesma rua estão à venda pequenos objetos de decoração de sua autoria. A Paris Week Design foi realizada entre 10 e 16 de setembro, em um momento em que os holofotes do mundo estão voltados para Paris devido à Journées du Patrimoine – dois dias em que o governo organiza diversas atividades para incentivar as pessoas a visitarem os patrimônios culturais da França. www.parisdesignweek.fr fotos andré poli | divulgação A Pa r i s W e e k D e s ign é um evento que acontece em paralelo à feira de moda-casa Maison&Objet. Devido ao sucesso da primeira edição, em 2011, quando atraiu 60 mil pessoas, os organizadores resolveram repeti-lo este ano. O evento consiste em um percurso pelas charmosas ruas e avenidas da região central de Paris, onde o público faz passeios temáticos, conhece novos lugares e coleções, tem acesso a exposições inéditas, encontra nomes importantes do design. O percurso é organizado por zonas geográficas, com visitas a ateliers, lojas, showrooms, galerias e restaurantes. São sete rotas abrangendo diversas áreas do design. Mas o visitante, de acordo com as suas áreas de interesse, pode criar o seu próprio caminho. No trajeto dedicado ao design de interiores, uma das convidadas era India Mahadavi, designer e arquiteta iraniana radicada na França. Em conversa com a ABD Conceitual, a designer falou sobre o seu encanto pelo Brasil. Ela já veio ao país, quando conheceu Trancoso, na Bahia, Rio de Janeiro e Inhotim, em Minas Gerais. India também indicou os locais onde abd conceitual SET/OUT 2012 070 design fotos andré poli | divulgação INDIA MAHADAVI abd conceitual SET/OUT 2012 Abajur com pé em madeira e cúpula que India Mahadavi pescou em um mercado de pulgas. Ao lado, ambientes de lojas em Paris com peças criadas pela designer Roberta Queiroz visitou a Paris Design Week a convite da organização do evento 072 coluna a morte do bege O chic frígido e os sofás imundos Por Fabio Galeazzo cionando como um antidepressivo, um antídoto contra a tristeza; uma terapia. Com isso, é libertador notar que, chegamos ao fim do uso imperativo do bege, cor que ascendeu na historia da civilização ocidental como fórmula infalível para se evitar mensagens indesejadas, tornando-se símbolo de uma época em que os conceitos de bom-gosto vinham de fora para dentro de modo etnocêntrico. Para mim, um ambiente todo bege, muitas vezes, é impressionantemente sombrio e tedioso e conta uma história de superficialidade, um testemunho dos tempos de uma sociedade regida pelo medo e a insegurança. Medo de amar? Medo de errar? Insatisfação? Vontade de agradar a tudo e a todos? Não suporta críticas? Não ouse, escolha o bege! É triste, neste momento onde tanto se comenta sobre economia criativa, vivermos em um dos maiores laboratórios do mundo e, ao folhear revistas e visitar mostras de decoração, notar o crescente número de colegas que mergulham nes- se universo chic-frígido das camas sem tesão e dos sofás imundos disfarçados pelo tom bege. Pergunto: onde buscamos nossas raízes? Nossas referências? Em algum hotel de Milão? Na vizinha Miami? Hello, brasilidade! Claro, toda unanimidade é burra e simplesmente gongar, repudiar e tripudiar sobre o excesso do bege seria ato desrespeitoso com um passado glorioso e um presente internacionalmente reconhecido. Tem quem gosta e deve ser respeitado. Quer inovar? Sede de amar? Provocar sensações? Deixar um legado? Assuma seu tom. n Fabio Galeazzo é designer de interiores, consultor e proprietario da Galeazzo Design, empresa multidisciplinar de criação. www.fabiogaleazzo.com.br abd conceitual SET/OUT 2012 foto Célia Weiss As m u da n ç a s sócio-comportamentais do mundo digital, e econômicas, ocorridas pela ascensão dos países emergentes, e que diariamente invadem e transformam nosso estilo de vida e hábitos de consumo, têm gerado resultados irreversíveis na humanidade. Na decoração, felizmente, é cada vez mais crescente o número de profissionais que adotam o uso da cor na busca de soluções estéticas que refletem a própria personalidade, e a dos clientes. O que antes era considerado pelos “cromatófobas” como extravagante e ousado, no mundo contemporâneo tornou-se uma ferramenta na busca pela liberdade de expressão. Segundo Jung, “as cores são a língua nativa do subconsciente”. Não só refletem nossos valores, mas afetam e moldam a maneira como vivemos – por vezes fun- 074 coluna Salão Ambra Salão Rubino AMBRA E RUBINO Os interiores assinados pelo designer italiano Nino Zoncada para o transatlântico Eugenio C Â m b a r é u m a co r d e a m a r e lo que recebeu seu nome da resina fóssil bastante usada na produção de joias. Âmbar, em italiano, é Ambra. E este era o nome de um dos projetos mais emblemáticos de Nino Zoncada (1898-1988), genial artífice italiano dos interiores de transatlânticos notáveis do seu país. O ponto alto da sua carreira foi o projeto do Eugenio C, um dos mais belos navios criados para a rota da América Latina. Antes, houve muitos vapores elegantes: o francês L’Atlantique (sem dúvida, o mais lindo) ou o alemão Cap Arcona ou o inglês Alcantara. Além de transportar, esses navios enfeitiçavam com a beleza de seus salões. E, como navegar era a única forma de chegar, as viagens transatlânticas propiciavam casamentos, negócios ou, simplesmente, diversão. Sabiamente, os franceses usavam os seus navios como exposições do gosto nacional, de interiores a vinhos. Sabiamente, o governo francês subsidiava a construção destas embaixadas. E foi o Eugenio C, italianíssimo, o último desta espécie, navio de três classes com decoração deslumbrante e muito glamour que, em pouco tempo, seria roubado pela simples proposta de cruzar o Atlântico em poucas horas. O Eugenio C chegou um pouco tarde. Houve, no período que se seguiu à Segunda Guerra, uma restauração da frota italiana e um abandono dos interiores de estilo, abrindo espaço para uma decoração mais inspirada no movimento moderno, leve e delicada, para a qual Zoncada tinha uma linguagem singular, confortável e acolhedora. Os interiores do Eugenio C tinham uma unidade como poucos navios. Na verdade, foi Zoncada quem criou o projeto todo, conseguindo um diálogo harmônico e contínuo de proa à popa. O mobiliário fora produzido pela também italiana Cassina e, ainda hoje, pode ser encontrado em leilões mundo afora. Território exclusivo para fanáticos por transatlânticos da era de ouro. Ambra e Rubino eram os salões da primeira classe. Foi no Rubino que, pela primeira vez na vida, experimentei uma orzata (bebida feita de amêndoas, sem álcool). O Rubino, com estofados em tons de vinho e areia, pisos de vinil lustrosos e brilhantes (eram polidos todas as manhãs) e paredes em madeiras escuras. O Ambra tinha pista de baile, parede elíptica com janelas para a proa e tetos na cor da joia que lhe dava o nome, repetida em poltronas de veludo combinadas com outras em tons de areia. Ainda me lembro do cheiro da cera, do barulho da enceradeira e do sabor da bebida. Ainda lembro os painéis de Massimo Campigli, das escadas simétricas e da sutil elegância do décor. Mal sabia eu que, ao notar o trabalho do Nino Zoncada, o meu destino já estava escrito. n Roberto Negrete é designer de interiores. Nasceu em Buenos Aires. Desde 1982, vive em São Paulo. É conselheiro da ABD. www.robertonegrete.com.br abd conceitual SET/OUT 2012 foto Célia Weiss | reprodução do livro “à board des paquebots – 50 ans d’arts decoratifs” (NORMA EDITIONS) Por Roberto Negrete 076 coluna ENADE 2012 Participar ou não? Eis a questão Por Jéthero Cardoso E n t e n d e m os a n ec e ss i da d e e somos favoráveis às avaliações realizadas pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), através do Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes). O resultado dessas provas permite análise do ensino e sua qualidade, e estabelece parâmetros para o aperfeiçoamento dos seus processos. Mas as provas a que os alunos de design de interiores foram submetidos, nos dois últimos exames, não avaliaram o conteúdo que lhes foi ensinado. São provas com ênfase em design de produto e design gráfico, e excluem as especificidades do design de interiores, prejudicando o seu objetivo. Podemos entender design como uma soma de processos criativos que levam à concepção de um projeto, com diversas metodologias, tecnologias e métodos de produção. Entretanto, consideramos um desvio conceitual entender que a titulação em de- sign possa permitir a produção de quaisquer concepções criativas denominadas design. Essas atividades profissionais são distintas e obedecem a necessidades específicas em cada tipo de produção. No mundo, o design está organizado por entidades, subdivididas por sua especialidade: IFI (International Federation of Interior Design), ICSID (International Council of Societies of industrial Design) e ICOGRADA (International Council of Grafic Design Associations). Um exame nacional que objetiva avaliar o desempenho dos cursos de design deverá obedecer também às especificidades de cada uma das atividades. A base do projeto de interiores é o espaço arquitetônico. E o desenho arquitetônico é ferramenta que permite compreender o espaço e sua volumetria. Em nenhuma das outras áreas do design é necessária essa compreensão. Este fato nos leva a refletir sobre as particularidades de cada área – que podem até ter disciplinas em comum, mas possuem mais diferenças do que afinidades no conjunto de seus conteúdos. Depois da análise da publicação das diretrizes da prova de design 2012, constatamos a incompatibilidade entre o que se ensina nas escolas de design de interiores e o conteúdo proposto por essas diretrizes. Soma-se a isso a ausência de Diretrizes Curriculares Nacionais para a área de design de interiores, e temos os dispositivos que resguardam a escola na decisão de participar, ou não, do Enade. Cabe à escola avaliar os conteúdos da prova do Enade e decidir sobre o enquadramento de determinado curso. Certo é que muitos alunos de design de interiores vão participar dos exames do Enade no dia 25 de novembro, e é provável que esses alunos tenham um desempenho sofrível, o que mostrará a incongruência entre a prova e o que foi ensinado. O que precisa ficar claro é que a área de design de interiores ainda não possui Diretrizes Curriculares Nacionais que possam dar lastro e pertinência à elaboração de uma prova especifica. Isso, no entanto, não implica que tenhamos que nos submeter a provas que são elaboradas para outras formações em design. No VI Encontro Nacional de Coordenadores e Professores de Design de Interiores, que ocorre em 26 e 27 de outubro, em Atibaia, SP, teremos a participação da arquiteta Fernanda Marques e do deputado federal Ricardo Izar, que irão apresentar o projeto de lei de regulamentação profissional do designer de interiores. Neste encontro, discutiremos questões relativas ao ensino. E também abriremos espaço para um breve debate sobre o ENADE. n Jéthero Cardoso é coordenador do curso de Design de Interiores da Belas Artes e membro do Conselho Deliberativo da ABD abd conceitual SET/OUT 2012 ambiente FAÇA-SE LUZ A obra “iluminada” de James Turrell El e é a r t i s ta pl á s t ic o , tem 69 anos, e define a sua arte assim: “Meu trabalho é sobre o espaço e a luz que habita nele. Trata-se de como se pode estar diante desse espaço e materializá-lo. Trata-se da visão de cada um, como o pensamento sem palavras que provém de olhar para o fogo.” James Turrell começou sua carreira nos anos abd conceitual SET/OUT 2012 1960, na Califórnia. Por mais de quatro décadas, vem criando obras que utilizam os efeitos da luz dentro de um espaço, e suas criações são exibidas em importantes museus do mundo. A arte de Turrell ultrapassa a investigação puramente científica de fenômenos ópticos e seu fascínio pela luz está relacionado com sua busca pelo lugar que a humanidade ocupa no universo. Atualmente, o artista vive em Flagstaff, no Arizona, de onde supervisiona o seu mais ambicioso trabalho: um projeto de land art em Roden Crater, um vulcão extinto que Turrell vem transformando em observatório. n www.hess-family.com/turrell_ gallery_tour.html foto James Turrel, Dividing the Light, 2007, Skyspace, Pomona College, Claremont, California 078