Trovante, Rio Grande, Vitorino, Resistência, Sétima Legião
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Trovante, Rio Grande, Vitorino, Resistência, Sétima Legião
Trovante, Rio Grande, Vitorino, Resistência, Sétima Legião Arquivo de letras de música 28 de Janeiro de 2002 1 Vou-me embora vou partir Conteúdo 125 azul . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Aerograma (Põe o meu retrato...) . . . . . . . . . . A fisga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A hora do lobo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Além-Tejo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Ao canto da noite . . . . . . . . . . . . . . . . . . Ao fim ao cabo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Aquele Inverno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Aqui não me parece . . . . . . . . . . . . . . . . . A reconquista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Assalto (ao beijo armado) . . . . . . . . . . . . . . Às vezes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A última festa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Ausência e tu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A veza mais próxima do fim . . . . . . . . . . . . Benção de ser homem . . . . . . . . . . . . . . . . Bolero do coronel sensível que fez amor em Monsanto Canção para a minha filha Isabel adormecer quando tiver medo do escuro . . . . . . . . . . . . . Chave dos sonhos . . . . . . . . . . . . . . . . . . Cinco estradas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Com um desejo só . . . . . . . . . . . . . . . . . . Contos do príncipe Real . . . . . . . . . . . . . . . Delicada da cintura . . . . . . . . . . . . . . . . . Diz a laranja ao limão . . . . . . . . . . . . . . . . Do fundo do tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . E foi Dezembro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Em 25 de Março . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Em frente do sol . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Enquanto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Enquanto dormes . . . . . . . . . . . . . . . . . . Eu hei-de amar uma pedra . . . . . . . . . . . . . Fado do Campo Grande . . . . . . . . . . . . . . . Fado Pessoa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Falei demais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Feiticeira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Fim (Quando eu morrer) . . . . . . . . . . . . . . Fizeram os dias assim . . . . . . . . . . . . . . . . Flor de Maio (?) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Foi como foi . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Fora de tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Fragilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Fui às sortes e safei-me . . . . . . . . . . . . . . . Guaguancó y fado . . . . . . . . . . . . . . . . . . Horas de ponta e mola . . . . . . . . . . . . . . . . Imortais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Laurinda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 4 6 7 8 9 10 12 13 15 16 17 19 21 22 23 24 26 Letra e música: popular: Alentejo Intérprete: Vitorino (?) Vou-me embora, vou partir mas tenho esperança de correr o mundo inteiro, quero ir quero ver e conhecer rosa branca e a vida do marinheiro sem dormir E a vida do marinheiro branca flor que anda lutando no mar com talento adeus adeus minha mãe, meu amor eu hei-de ir hei-de voltar com o tempo 28 29 30 31 32 33 34 35 37 39 40 41 43 44 45 47 49 50 51 52 53 54 56 57 58 59 60 61 62 115 lundum mas se quiserem chamem-lhe fado anda linda ... 114 Libre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Linha da frente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Memórias de um beijo (Lembras-me uma marcha de Lisboa) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Menina dos olhos de água . . . . . . . . . . . . . . Menina estás à janela . . . . . . . . . . . . . . . . Namoro II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Não me atrevo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Não sou o único . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Nasce selvagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Navegar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Neva sobre a marginal . . . . . . . . . . . . . . . . No escuro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Noutro lugar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O caçador da Adiça . . . . . . . . . . . . . . . . . Oh que janela tão alta . . . . . . . . . . . . . . . . Olhos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O melhor de mim . . . . . . . . . . . . . . . . . . O menino da sua mãe . . . . . . . . . . . . . . . . Ó patrão dê-me um cigarro . . . . . . . . . . . . . O que vai ser . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Os homens do largo . . . . . . . . . . . . . . . . . Os limites do mar . . . . . . . . . . . . . . . . . . Para sempre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Peter’s . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Por cima da vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Por quem não esqueci . . . . . . . . . . . . . . . . Porque não me vês Joana . . . . . . . . . . . . . . Postal dos correios (querida mãe, querido pai, ...) . Proscritos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Quando me perco . . . . . . . . . . . . . . . . . . Queda do Império (perguntei ao vento) . . . . . . . Quem disse . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Rua do Quelhas (homenagem a Florbela Espanca) . Saudades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Senhora das rosas . . . . . . . . . . . . . . . . . . Senta-te aí . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Ser Poeta (Perdidamente) . . . . . . . . . . . . . . Sete mares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Sombras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Sospirastes Baldovinos . . . . . . . . . . . . . . . Timor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Travessa do poço dos negros . . . . . . . . . . . . Vou-me embora vou partir . . . . . . . . . . . . . 3 64 65 66 67 68 69 71 72 74 75 76 77 79 80 82 83 84 85 87 88 89 90 91 92 94 96 97 98 99 100 101 102 104 105 106 107 108 109 110 111 112 113 115 125 azul Travessa do poço dos negros Música: João Gil Letra: Luís Represas Intérprete: Trovante In: ’Terra firme’ 87 Música: João Gil Letra: Luís Represas Intérprete: Trovante In: ’saudades do futuro’,1991 jj; <a href=’http://www.geocities.com/SunsetStrip/Alley/9516’>SkyMusic</a> Sol Do mim Foi sem mais nem menos Sol Que um dia selei a 125 azul Foi sem mais nem menos Que me deu para abalar sem destino nenhum Foi sem graça nem pensando na desgraça Que eu entrei pelo calor Sem pendura que a vida já me foi dura P’ra insistir na companhia O tempo não me diz nada Nem o homem da portagem na entrada da auto-estrada A ponte ficou deserta nem sei mesmo se Lisboa Não partiu para parte incerta Viva o espaço que me fica pela frente e não me deixa recuar Sem paredes, sem ter portas nem janelas Nem muros para derrubar Re Fa Do Sol Talvez um dia me encontre Re Fa Do sib7 A história que gente vos quer contar Do ré ré7 dó aconteceu um dia em Lisboa dó sib7 aonde o tempo corre devagar Chegamos era cedo à ribeira ainda todo o peixe respirava e a outra carne aos poucos definhava o gemido do cordame das amarras juntava-se ao lamento dos porões e o que nos chega fora são canções a gente viu sair muita gente que dançava um estranho bailado em tom dolente marcado pelo bater das corrente mim dó anda linda ré7 ré dó vamos pra ver se é verdade Sol sib7 Assim talvez me encontre Curiosamente dou por mim pensando onde isto me vai levar De uma forma ou outra há-de haver uma hora para a vontade de parar Só que à frente o bailado do calor vai-me arrastando para o vazio E com o ar na cara, vou sentindo desafios que nunca ninguém sentiu Talvez um dia me encontre Assim talvez me encontre Entre as dúvidas do que sou e onde quero chegar Um ponto preto quebra-me a solidão do olhar Será que existe em mim um passaporte para sonhar E a fúria de viver é mesmo fúria de acabar Foi sem mais nem menos Que um dia selou a 125 azul Foi sem mais nem menos Que partiu sem destino nenhum Foi com esperança sem ligar muita importância àquilo que a vida quer Foi com força acabar por se encontrar naquilo que ninguém quer 4 dó que lá se pode ouvir cantar anda linda vamos ao poço dos negros pra ver quem pode lá morar mais tarde fomos ter àquela parte da cidade que é mais profunda do que maré baixa e a lua só visita por vaidade De novo a estranha moda se dançava agora com suspiros de saudade agora com bater de corações anda linda ... batiam-se com barriga e roçavam-se nas coxas os corpos já dourados de suor e as bocas já vermelhas dos amores quisemos nós saber qual é o nome desta moda respondeu-nos um velho já mirrado 113 Timor Mas Deus leva os que ama Só Deus tem os que mais ama Música: João Gil Letra: João Monge Intérprete: Trovante In: ’Um destes dias’,1990 jj Lavam-se os olhos nega-se o beijo do labirinto escolhe-se o mar no cais deserto fica o desejo da terra quente por conquistar Nobre soldado que vens senhor por sobre as asas do teu dragão beijas os corpos no chão queimado nunca serás o nosso perdão Ai Timor calam-se as vozes dos teus avós Ai Timor se outros calam cantemos nós Salgas de ventres que não tiveste ceifando os filhos que não são teus nobre soldado nunca sonhaste ver uma espada na mão de Deus Da cruz se faz uma lança em chamas que sangra o céu no sol do meio dia do meio dos corpos a mesma lama leito final onde o amor nascia Ai Timor calam-se as vozes dos teus avós Ai Timor se outros calam cantemos nós 112 5 Aerograma (Põe o meu retrato...) Sospirastes Baldovinos Música: João Gil Letra: João Monge Intérprete: Trovante In: ’Sepes’ Letra e música: Luyz Mylan In: ’romances’, 1980 (Vitorino, Pedro Caldeira Cabral) (romance renascentista) Praça das flores Versos de Segunda Sospirastes Baldovinos Las cosas que yo mas queria O teneis miedo a los moros O en Francia teneis amiga Deus queira que esta Vos mate a fome aos sentidos Por agora Deus queira que esta Vos guarde a dor aos gemidos Noite fora No tengo miedo a los moros Ni en Francia tengo amiga Mas tu mora y yo cristiano Hazemos muy mala vida Dançamos fandangos Sobre uma navalha Pássaros em bando Em nuvens de limalha Si te vas con migo eu Francia Todo nos sera alegria Hare justas y torneos Por servirte cada’l dia E assim eu cá vou indo. Vem-me o fel à boca As tripas ao coração A noite trás a forca pela sua mão Y veras la flor del mundo De mejor cavalleria Yo sere tu cavallero Tu seras mi linda amiga Sonho com fantasmas De pele preta e luzidia Com manuais de coragem e cobardia Dizem que há sempre Um barco azul para partir Nosso hino Embarca a alma E os restos de um rosto a sorrir Do destino Põe o meu retrato No altar de S. João E uma vela com formato de canhão Cansa-se esta escrita Com dois dedos num baraço Assim o quis a desdita Vai um abraço. 6 111 Sombras A fisga Letra e música: Luís Represas In: ’Represas’ EMI 1993 Música: João Gil Letra: João Monge Intérprete: Tim; Rio Grande In: ’Rio Grande’ 1996 lr Sorrateiras sombras entre o nevoeiro Esgueiram-se furtivas sem deixar vestígio Fogem quando os uivos das sirenes frias Como o azul que deitam lhes aguça a vida Nem o frio conta como companhia O orvalho borda a colcha de uma cama fugidia Os dias ao contrario são as noites do avesso São as febres ao começo do inferno em delírio jj, Luís Garção Nunes, Kim Moreira C Trago a fisga no bolso de trás G7 E na pasta o caderno dos deveres Mestre-escola, eu sei lá se sou capaz C De escolher o melhor dos dois saberes C O meu pai diz que o Sol é que nos faz F Às vezes têm fome de saber ter fome E gritar por quem a fome lhes sacia Ou o medo esmaga comum beijo quente E com uma carícia adoça a angustia de ser gente. Minha mãe manda-me ler a lição G7 Dm Mestre-escola, eu sei lá se sou capaz C Faz-me falta ouvir outra opinião E Os olhos vêm longe quando estão fechados E até lhes trazem cheiros que há muito não sentiam. Há muito não é tanto porque o tempo ainda é pouco e enquanto os olhos sonham não lhes dão cuidados. Sentem-se insensíveis e desafiantes Nada, nem os homens, pode causar dano A vida não ficou pior do que era dantes Nem vai ficar melhor com o fechar dos panos Am Eu até nem sequer sou mau rapaz E Am Dm G7 Mestre-escola diga lá se for capaz G C Pra que lado é que me viro. Pra que lado? Trago ... htmlnnota: correção aos acordes os acordes das músicas do Rio Grande não estão correctos. Aqui vai a lista correcta dos acordes. <pre> versos: C G C C7 ou ainda (outra tonalidade) [Sol][Re7][Re][Sol] [Sol][Do][Lam][Re7][Re][Sol] [SI][Mim][SI][Mim] [Lam][Re7][Re][Sol] </pre> 110 A7 Com maneiras até sou bem mandado 7 A hora do lobo Sete mares Letra e música: Luís Represas In: ’A hora do lobo’ BMG 1998 Letra e música: Sétima Legião In: ’Mar D’Outubro’ lr(Galamares, 29-12-1997) Se todos os desejos fossem medos E todos os teus gritos vagabundos E todos os teus gestos só enredos De uma novela fora deste mundo Se todos os teus choros fossem raiva E os dedos fossem pontas de navalha Os olhos, de repente, a luz que crava A lança quando o coração te falha Se a luz do teu sorriso fosse fogo E o som da tua voz fosse um punhal Que brilha ao escuro na Hora do Lobo Quando um suspiro sopra um vendaval Espero por ti Na Hora do Lobo Quando as nossas sombras são iguais Espero por ti Na Hora do Lobo Se estamos juntos não somos demais Se todos os teus passos fossem grandes Correndo todo o mundo num só salto E os braços fossem asas esvoaçantes Da Águia que vigia lá no alto Se todas as fraquezas fossem forças Daquelas que rebentam as muralhas Que crescem pelo meio das tuas rotas E que te põem dentro das batalhas Se toda a tua vida fosse tua E o teu destino fosse teu refém Se a Terra toda fosse a tua rua E a tua rua fosse de ninguém 8 Tem mil anos uma história de viver Há mil anos de memória a contar ai, cidade á beira-mar azul Se os mares são só sete há mais terra do que mar ... Voltarei amor com a força da maré ai, cidade à beira-mar ao Sul Hoje Num vento do Norte Fogo de outra sorte Sigo para o Sul Sete mares Foram tantas as tormentas que tivemos de enfrentar... Chegarei amor na volta da maré ai, troquei-te por um mar azul Hoje Num vento do Norte fogo de outra sorte Sigo para o Sul Azul nota: <pre> Ricardo Camacho - Teclas,guitarra e programação rítmica Pedro Oliveira - Voz e Guitarra Rodrigo Leão - Baixo Gabriel Gomes - Acordeão Colaboração de Luís San Payo - Percussão Colaboração de Francis - Guitarra </pre> 109 Ser Poeta (Perdidamente) Além-Tejo Música: João Gil Letra: Florbela Espanca Intérprete: Trovante In: ’Terra Firme’ 87 Letra e música: Sétima Legião In: ’Mar D’Outubro’ Versos de Segunda (jeito de jj) Nas terras do Além-Tejo ao fim dos vales, um monte Quatro noites para um rio encontrei-te junto á ponte... Ser poeta é ser mais alto, é ser maior Do que os homens! Morder como quem beija! É ser mendigo e dar como quem seja Rei do Reino de Áquem e de Além Dor! É ter de mil desejos o esplendor E não saber sequer que se deseja! É ter cá dentro um astro que flameja, É ter garras e asas de condor! É ter fome, é ter sede de Infinito! Por elmo, as manhas de oiro e de cetim... É condensar o mundo num só grito! E é amar-te, assim, perdidamente... É seres alma, e sangue, e vida em mim E dize-lo cantando a toda a gente! Do passado de um rio ficou por contar a primeira vez O passado de um rio ficou de voltar outra vez Passaste como um rio que eu cantei e me deixou aqui passaste como um rio e eu não sei passar sem ti... Soube o teu nome além Tejo talvez fosses quem perdi Passaste como um rio e hoje não passo sem ti Nota: Rodrigo Leão - Guitarra Pedro Oliveira - Voz e Baixo Ricardo Camacho - Teclas Nuno Cruz - Bateria Gabriel Gomes - Acordeão Paulo Gabriel - Flauta colaboração de Marco Santos e Francis - Coros 108 9 Ao canto da noite Senta-te aí Letra e música: Luís Represas Música: João Gil Letra: João Monge Intérprete: Jorge Palma; Rio Grande In: ’Rio Grande’ 1996 www.luisrepresas.com(Galamares, 20-10-99) Ao canto da noite Esperava o dia Que fossem horas de a ver chegar jj Senta-te aí Ao canto da noite Já desesperava Em todos os cantos que deixou p’ra trás Esperava como dia Como tarde Ou até como amanhã Está na hora de ouvires o teu pai Puxa para ti essa cadeira Cada qual é que escolhe aonde vai Hora-a-hora e durante a vida inteira Podes ter uma luta que é só tua Ou então ir e vir com as marés Se perderes a direcção da Lua Olha a sombra que tens colada aos pés Esperava ao ver-se ontem já levado em braços Pelo pôr do Sol Ao canto da noite Já ninguém ficava A fingir que faz poemas a ninguém Ao canto da noite Já ninguém deixava Fugir desabafos por perder alguém Estou cansado. Aceita o testemunho Não tenho o teu caminho pra escrever Tens que ser tu, com o teu próprio punho Era isso o que te queria dizer Sou uma metade do que era Com mais outro tanto de cidade Vou-me embora que o coração não espera À procura da mais velha metade Só quem passasse E olhasse para o nada Via um vulto que se esconde Por trás do nada O dia espera Como escravo do horizonte Espera No fundo do canto da noite Foge P’ra longe do canto da noite Ao canto da noite Pensava o dia Que se podia um dia apaixonar Se houvesse outro dia Que para ele olhasse E se deixassem os dois abandonar 10 107 Senhora das rosas Ao canto de uma noite Sem ter medos Sem ter regras a cumprir Letra e música: Sétima Legião In: ’de um tempo ausente’, 1989 A. Guimarães Depois fugir do canto Sem destino Sem ter rotas a seguir 6 8 Se Se la sa − do − do − nho − ra quem cha − mais − nho − ra quem o − lhai Não há te − nho’al ro − guem quan − do pon − do’os − sas por pra quem pas − so’ao vos o − lhos no vos espe dar − rar − so pas − Já se ouviu contar Que nesse canto mora a alma De outras tantas almas De outros cantos De outras noites Senhora quem chamais quando passo ao vosso lado senhora quem olhai pondo os olhos no passado Senhora é bom esquecer esse triste amor ardente poois não sabeis viver ao sabor do amor ausente Não há rosas pra vos dar tenho alguém por quem esperar Senhora o meu amor não vive num castelo senhora o meu amor é doutro olhar mais belo Eis as rosas que lhe vou dar há mil rosas pra eu lhe dar 106 11 Ao fim ao cabo Saudades Letra e música: Luís Represas In: ’Represas’ EMI 1993 Letra e música: Sétima Legião In: ’Mar D’Outubro’ Ao fim ao cabo a Lua Já nos pareceu mais clara, Porque antes em redor A noite era negro carregada ! E como se fosse luz Ao fundo do túnel prometida Avançamos sem medo E com vontade ! Das janelas da cidade amei-te como ninguém Foram tempos sem idade mas quem teve, hoje não tem... Saudades, triste fado é tempo de te amar Saudades, cantam o fado é tempo de voltar Se os passos eram longos Outros mais longos fomos dar Até que outros mais longos Fossem possíveis de alcançar Pois passo atrás de passo Também os rios vão dar ao mar Seguros de que não podem regressar. Vai Sem desistir de procurar Ver Se os trilhos ainda estão marcados Vai reviver as estradas velhas E apontar o rumo de outras novas estradas Desapareceram vidas E companhias costumeiras Algumas por trocarem por companhias derradeiras Mas mesmo assim persistem apresentadas nas fileiras Guardando o cofre das recordações. E dia a dia o tempo Se desintegra e se recria, E as horas para trás Chamam-se noite ou gritam dia. O Galo não se importa Com o despertar da CotoviaAfinal, é livre de dizer Bom Dia ! 12 Das janelas ao teu lado tão antigas, que eu amei, vou cantar este meu fado de viver o que sonhei Saudades, triste fado é tempo de te amar Saudades, cantam fado é tempo de voltar Saudades, triste fado é tempo de te amar Saudades que serão fado se o tempo nos faltar Nota: Rodrigo Leão - Baixo e Voz Ricardo Camacho - Teclas, Guitarra acústica e Slide guitar Paulo Abelho - Percussão Paulo Gabriel - Flauta e Gaita de Foles Gabriel Gomes - Acordeão Pedro Oliveira - Voz colaboração de Francis e Marco Santos - Coros 105 Rua do Quelhas (homenagem a Florbela Espanca) Música: Vitorino Letra: Lobo Antunes In: ’Eu que me comovo por tudo e por nada’,1992 jj Aquele Inverno Letra e música: Miguel Ângelo; Fernando Cunha Intérprete: Delfins; Resistência Hugo Dias G Há sempre um piano C um piano selvagem Morre-se devagar neste país onde é depressa a mágoa e a saudade oh meu amor de longe quem me diz Como é a tua sombra na cidade G que nos gela o coração D e nos trás a imagem am daquele inverno C Morre-se devagar em frente ao Tejo repetindo o teu nome lentamente cintura com cintura, beijo a beijo e gritá-lo, abraçado, a toda a gente Morre-se devagar e de morrer fica a cinza de um corpo no olhar oh meu amor a noite se vier é seara de nós ao pé do mar naquele inferno Há sempre a lembrança de um olhar a sangrar de um soldado perdido em terras do Ultramar por obrigação aquela missão G D C am Combater a selva sem saber porquê G D C e sentir o inferno a matar alguém G D e quem regressou G D guarda sensação Am que lutou numa guerra sem razão... G sem razão... sem razão... Há sempre a palavra a palavra ’nação’ os chefes trazem e usam pra esconder a razão da sua vontade aquela verdade E para eles aquele inverno será sempre o mesmo inferno que ninguém poderá esquecer ter que matar ou morrer ao sabor do vento naquele tormento Perguntei ao céu: será sempre assim? poderá o inverno nunca ter um fim? não sei responder só talvez lembrar 104 13 D am o que alguém que voltou a veio contar... recordar... recordar... Aquele Inverno porque te amava? Quem disse que esta paixão te espantaria? Quem pensou que esta saudade me rasgava? Que tudo era diferente se te via Que o pior era saber que aqui não estavas? Quem disse que esta ternura te devia? Quem pensou que este saber se enganava? Neste langor crescente que crescia Neste entender de nós que cintilava? 14 103 Quem disse Aqui não me parece Música: Luís Represas Letra: Maria Teresa Horta In: Galamares, 30 de Janeiro de 2000 Letra e música: Luís Represas (Galamares, Dezembro 1999) Aqui não me parece que haja faltas Ou ausência de carinhos entre os dois Aqui não me parece que o vazio Descubra uma janela para entrar Quem disse que esta ausência te devia? Quem pensou que esta denúncia se enganava? Que um dia era pior que outro dia Que à noite era melhor porque sonhava? Aqui não me parece que as parecenças Pareçam mais reais do que a verdade Aqui não me parece que as diferenças Não sejam coincidências de igualdades Aqui não me parece que as manias Sejam donas dos nossos desafios Aqui não me parece que os bons dias Nos acordem mais ou menos frios Quem disse que esta dor te pertencia? Só me parece bem Tudo o que em nós existe E nos vem à memória Quem pensou que este amor me perturbava? Só me parece bem O que no fundo viste E não passou à história Que o longe era mais perto se fugias Que o dentro era mais longe porque estavas? Aqui não me parece que uma carta Tenha a força que já teve outrora Aqui não me parece que os recados Não venham a não ser pela boca fora Quem disse que este ardor te evidência? Quem pensou que esta pena me cansava? Aqui não me parece que haja medos Nem falta de palavras ou expressões Aqui não me parece que se esqueçam Os códigos dos nossos corações Que calar era pior se te despia Que gritar era pior se te largava? Quem disse que esta paixão me curaria? Quem pensou que esta loucura me passava? Que deixar-te era paz porque corria Que querer-te era mau 102 15 A reconquista Queda do Império (perguntei ao vento) Letra e música: Sétima Legião In: ’Mar D’Outubro’ Letra e música: Vitorino In: Flor de la mar/1983 Aveiro, Luís Jordão Dos mares da Irlanda e das costas da Bretanha vão partir velas ao Sol Há bandeiras desfraldadas, torres, lanças, brilham espadas vão reconquistar o Sul Os Celtas que vão partir quando o Sol nascer... Grinaldas nas ameias, ardem as que não nos podem queimar Gaiteiros enfeitados, vão tocar cantos passados por aqui vai começar e vem dançar, vem dançar até o sol nascer Das ribeiras da Galiza, através da Ibéria antiga em nome dos nossos Reis retomar as fortalezas, ’Sant’Iago e aos Mouros’ para impor as nossas leis os Celtas que vão partir quando o mar crescer... Ignorem-se os presságios que nos falam de naufrágios vão partir velas ao sol São guerreiros enfeitados que ao som de cantos passados vão reconquistar o Sul Mas vem dançar, vem dançar até o sol nascer... C Am Perguntei ao vento F G Onde foi encontrar E Am Mago sopro encanto D G Nau da vela em cruz F C Foi nas ondas do mar Am Do mundo inteiro G F Terras da perdição Am E Parco império mil almas F C G C Por pau de canela e mazagão E Am Pata de negreiro D G Tira e foge à morte F C Que a sorte é de quem Am A terra amou F G E no peito guardou E Am Cheiro a mata eterna F C Laranja, Luanda G C Sempre em flor Dos mares da Irlanda Gaiteiros Guerreiros Bandeiras Fogueiras Castelos Reconquista Nota: Rodrigo Leão - Baixo e Coros Pedro Oliveira - Voz e Guitarra Nuno Cruz - Bateria Paulo Gabriel - Gaita de foles e bombarda Paulo Abelho - Percussão Ricardo Camacho - Teclas e guitarra acústica colaboração de Francis e Marco Santos - Coros 16 101 Quando me perco Assalto (ao beijo armado) Letra e música: Luís Represas In: ’Cumplicidades’ EMI 1995 Letra e música: Luís Represas In: ’A hora do lobo’ BMG 1998 lr(Galamares, 23-27/11/1997) Quando me perco busco um abrigo ou um tecto que não tolha os meus sentidos E se o teu céu, por ser maior, cobrir o pranto? eu vou! Quando me peco sigo uma estrela que não brilha igual em todo o firmamento. E se cair para lá das ilhas encantadas? eu vou! Se o teu nome não fosse o do pecado, ou da benção que o céu hoje me deu, nem por montes, nem por mares onde o sol nunca nasceu, perderia o rasto de um sorriso teu! O dia nasceu mais cedo que eu esperava, e nem me deu tempo de esconder a luz que entrava. A noite correu depressa demais e nem fez questão de me avisar. Ainda dormia no ar, aconchegado, um cheiro tão doce de um segredo bem guardado. Nem cara, nem nome, nem voz, nem silêncio. Nem mesmo a lembrança de um recado. O corpo, a alma, alguém os levou de mim. Sem medo, com calma, quem foi que me teve assim? Quando me perco sigo uma voz que me chama bem do fundo das certezas. Mesmo que chegue como um canto de sereia? eu vou ! Sem marcas na cama nem cabelos na almofada, nem traços de lama no tapete da entrada. Nem copos vazios, nem cigarros frios, nem rasgos profundos na guitarra. Alguém me deixou voltar desamparado do fundo do sono num assalto ao beijo armado. Um crime perfeito sem ter um suspeito nem provas do tanto que roubou. Quando me perco ou se me encontro, ou se me der para ser banal tal como agora, tudo não passa da vontade de dizer? eu estou ! Ferido de morte neste assalto -podia o tiro ser de amor! Porque de amor já ninguém morre... só de um desejo matador! 100 17 Proscritos Letra e música: Luís Represas In: ’Represas’ EMI 1993 Descaíram braços ficamos sem contar o resto que se passou outrora apagamos traços ficamos sem notar os vincos na carne da memória Já tapamos os quadros aconchegamos os lençóis das figuras principais e beijamos as testas remetendo p’ra bons sonhos as lembranças ancestrais Somos proscritos senhores da face escura dos sois já nos quiseram benditos já nos amaram como heróis Até já não suportamos tanto voltamos já desarrumados do canto já é depois somos os filhos do espanto já estamos cá ainda nos resta um encanto Como demónios vamos Sobrevoando as partituras das cabeças geniais como toupeiras vamos adivinhando com angústia os passos débeis e finais Estaremos já De pés e mãos atados A um conforto qualquer Ou então esquecemos Que viver merece a luta Que merece uma mulher 18 99 Postal dos correios (querida mãe, querido pai, ...) Música: João Gil Letra: João Monge Intérprete: Tim; Rui Veloso; Rio Grande In: ’Rio Grande’ 1996 Letra e música: Luís Represas Às vezes conto as horas da cabeça aos pés da vela da solidão jj, Luís Garção Nunes, António Pinho G Às vezes Bm Querida mãe, querido pai. Então que tal? C Am Nós andamos do jeito que Deus quer C G Enquanto arde o escuro não se vê Entre dias que passam menos mal Em D (C) G Lá vem um que nos dá mais que fazer Mas falemos de coisas bem melhores A Laurinda faz vestidos por medida O rapaz estuda nos computadores Dizem que é um emprego com saída Cá chegou direitinha a encomenda Pelo ’expresso’ que parou na Piedade Pão de trigo e linguiça pra merenda Sempre dá para enganar a saudade Espero que não demorem a mandar Novidade na volta do correio A ribeira corre bem ou vai secar? Como estão as oliveiras de ’candeio’? Já não tenho mais assunto pra escrever Cumprimentos ao nosso pessoal Um abraço deste que tanto vos quer Sou capaz de ir aí pelo Natal Nota: correcção dos acordes os acordes das músicas do Rio Grande não estão correctos. Aqui vai a lista correcta dos acordes. 1.a parte : D F#m G Em G D A D 2.a parte : G Bm C Am C G D G na parte final : C G D G e acaba em D Às vezes pinto a cara de uma côr solene só para me entreter A ver se vejo o que se vê E são vezes sem conta que me sento a ler segredos que refaço por prazer Estão escritos numa folha de ar que respirei Às vezes saio em braços a cantar vitória de uma luta desigual Só eu sei como se luta de memória E são mais de mil vezes vezes outras mil que adormeci ao som de uma surdez gentil Que afunda ainda mais o sono no vazio e me passeia pelo meu lado menos frio Quando me vires assim poupa-te ao esforço não tentes guardar recordações de mim Quando me vires assim não é por castigo é porque aprendi contigo a não procurar abrigo 98 19 e assim estar mais junto de ti Porque não me vês Joana Às vezes tenho o telemóvel da cabeça desligado na central que está na terra á minha espera Letra e música: popular: Alentejo Intérprete: Vitorino In: ’Não há terra que resista - Contraponto’, 1979 Victor Almeida (Elvas) À espera dos recados dos sentidos que chegam de todos os lados O coração é uma caixa postal Porque não me vês Joana Pois sabem que meu desejo Crece quando não te vejo Cresce se estou na cidade E não me deixa no mato Não sei se me resguarde E de tudo me recato Não espero que o Sol venha p’ra me confundir quando se veste de noite e convida a fugir do certo ou do errado ou do ainda pior Às vezes faço eu as regras a seguir Não me custa tan barato O dia que te não vejo Que não morra de desejo Num gesto lento e meio raro afasto cortinas de luz vejo-te a sombra do vestido Volto do fim do medo ao mundo volto do fim do mundo à espera de te encontrar ainda aqui 20 97 Por quem não esqueci A última festa Letra e música: Sétima Legião (?) Intérprete: Sétima Legião In: ’de um tempo ausente’, 1989 Letra e música: Luís Represas In: ’A hora do lobo’ BMG 1998 lr(Galamares, 28-10-97) Nuno Jacinto Era uma pérola mais que ia passando de concha em concha Acordes: Lá Sim7 Mi7 Lá Lá Dó#m7Sim7 Lá [4x] Mi7 Lá [3x]/ Lá E ao passar só ficavam conchas fechadas para não voltar. Sim7 Mi7 Lá [3x] Lá Dó#m7Sim7 Lá Um dia, ao de leve, o mar abriu a boca á Sereia da Paixão. E assim nasceu mais um sorriso que se abre a quem vive em solidão Há uma voz de sempre, Que chama por mim. Para que eu lembre, Que a noite tem fim. Por cada pérola mais que encontre o destino da tua boca Ainda procuro, Por quem não esqueci. Em nome de um sonho, Em nome de ti. Por cada beijo que houver sentido o desejo de uma resposta. Procuro à noite, Um sinal de ti. Espero à noite, Por quem não esqueci. Que sopre outra vez em turbilhões e faça estoirar os corações, e regue os desertos das almas que bebem dos rios de ilusões Eu peço à noite, Um sinal de ti. Quem eu não esqueci... Toma de assalto o que resta Dança na ultima festa Voa Quem sabe se há espaço e te espera um abraço ao chegar. Por sinais perdidos, Espero em vão. Por tempos antigos, Por uma canção. Ainda procuro, Por quem não esqueci. Por quem já não volta, Por quem eu perdi. 96 21 Ausência e tu De se ressuscitar Letra e música: Luís Represas In: ’Cumplicidades’ EMI 1995 Voltou Por cima de tudo Desfraldando vida Cavalgando o sonho E na berma da estrada Nem ele se lembra De si lr(20/5/95) A noite já não cai como caía dantes E a lua não se expõe com tanto avontade As ruas brilham menos por não ter brilhantes Que alguém roubou do guarda jóias da cidade Cansadas estão as penas dos nossos poetas Que correm nos papeis em busca dos amantes P’ra lhes dar um motivo p’ra guiar as setas Que os cupidos que restam lançam delirantes Só tu me dás motivos p’ra manter acesa A luz que brilha junto da minha janela Alguma coisa quente e flores sobre a mesa Algum amor que se consome numa vela Já tudo em volta parece estar deserto Contudo um cheiro intenso me revolve o fundo Da alma só me resta um desejo certo De me saber sozinho contigo no mundo Se o sol tiver a força que duvido ter De matar as dúvidas que a noite tem Certamente um olhar se trocará com outro Adivinhando um beijo que decerto vem 22 95 Por cima da vida A veza mais próxima do fim Letra e música: Luís Represas In: ’Cumplicidades’ EMI 1995 Letra e música: Luís Represas In: ’Represas’ EMI 1993 (8/5/95) Deixou Na berma da estrada Um resto de tudo Um rasto De tudo o que era seu E nada lhe dizia Adeus Teus olhos amanheceram como ontem, como sempre, mas com um brilho diferente, sincero, lindo e presente que quase temi por eles ou antes temi por mim Afinal correram anos. E podemos complicar; se em vez de anos foicem horas o peso já era grande para o tempo levar sobre as asas o tempo que fez passar. E nem olhou Por cima do ombro Por cima da vida Por baixo dos sonhos Que há muito as incertezas Perdeu Temi por mim. Atrás de si só terra Queimada pelo vício De esperar muito mais de si Atrás de si só um sinal Que os homens lhe mostraram ’o mundo para ti termina aqui’ Em frente Tanto mais é longo O dia Quanto mais for cega A falta de paixão Que se transforma em frio E dor Porque as vezes que amanheceram e que se abriram assim se calhar já foram tantas se calhar já foram sempre que temi que fosse aquela a vez mais próxima do fim Enquanto o temor fizer com que a angústia me invada não posso querer mais nada a não ser querer rever igual que ontem e sempre o brilho sincero e presente que amanheceu para mim. Sonhar Mesmo sem dormir Mesmo sem ser noite Mesmo sem ter dias Mesmo sem sonhar É como se outra vida Vier O coração só se nega Quando o sonho se entrega P’ra se desesperar Por cada desespero um sonho Por cada sonho uma vontade 94 23 Benção de ser homem Letra e música: Luís Represas In: ’A hora do Lobo’ BMG 1998 lr(Galamares, 4/12-12-1997) p’ra me embalar no meu repouso de aventureiro [refrão] Quem subir ao cimo dessas dunas há-de ver o mar onde eu pescava um dia sem saber que pescar é benção de ser Homem e ser Homem é a benção de poder viver de pé. Já muitas campas eu pisei sem querer e outras eu abri cedo de mais se alguém me obriga a ir além fronteiras eu me assumo aqui como mais um dos animais. (...quisera eu que fôssemos iguais) Quem subir ao cimo desse monte há-de ver a terra onde eu lavrava sonhos sem saber que lavrar é benção de ser Homem e ser Homem é a benção de poder sonhar de pé Já muitas vidas eu levei sem querer e outras eu roubei cedo demais se alguém me obriga a ir além fronteiras fujo como foge qualquer um dos animais. (...quisera eu que fôssemos iguais) Fecho a fronteira p’ra lá de mim olho-me em ti p’ra me ver juro que a paz não faz parte de um sonho espero por ti p’ra vencer Quem descer o curso desse rio há-de ver as margens onde eu amei um dia sem saber que amar é benção de ser Homem e ser Homem é amar a benção de quem nos quiser Já muita esperança eu tirei sem querer e outras eu vivi cedo demais 24 93 Peter’s ninguém me obriga a ir além fronteiras onde ninguém se ama nem o melhor dos animais. (...quisera eu que fôssemos iguais) Música: João Gil Letra: Luís Represas Intérprete: Trovante jj Encontro uma Ilha será maravilha ou tem o que ninguém deu durante a viagem p’ro outro lado É mais outra ilha será que é mais outro porto em que se bebeu e se esqueceu um outro fado [refrão=] Há quem espere por nós assim mesmo ao meio da rota do fim há quem tenha os braços abertos para nos aquecer e acenar no fim Há quem tema por nós assim quando os barcos partem por fim há quem tenha os braços fechados com beijo jurado eu voltarei pra ti Nunca é miragem sabemos que o cais é certo é a estrela polar em sol aberto a castigar Ficamos mais perto sentimos mais dentro a força do que nós somos e do que queremos reconquistar [refrão] Dança de nuvens o vento é meu companheiro 92 25 Bolero do coronel sensível que fez amor em Monsanto Música: Vitorino Letra: Lobo Antunes In: ’Eu me comovo por tudo e por nada’, 1992 Victor Almeida Eu que me comovo Por tudo e por nada Deixei-te parada Na berma da estrada Usei o teu corpo Paguei o teu preço Esqueci o teu nome Limpei-me com o lenço Olhei-te a cintura De pé no alcatrão Levantei-te as saias Deitei-te no banco Num bosque de faias De mala na mão Nem sequer falaste Nem sequer beijaste Nem sequer gemeste, Mordeste, abraçaste Quinhentos escudos Foi o que disseste Tinhas quinze anos Dezasseis, dezassete Cheiravas a mato À sopa dos pobres A infância sem quarto A suor, a chiclete Saíste do carro Alisando a blusa Espiei da janela Rosto de aguarela Coxa em semifusa Soltei o travão Voltei para casa De chaves na mão Sobrancelha em asa Disse: fiz serão Ao filho e à mulher Repeti a fruta Acabei a ceia Larguei o talher Estendi-me na cama Para sempre Letra e música: Luís Represas (Galamares 25 de Janeiro de 2000) Já passaram tantos anos Pela tua porta aberta Já viveste tantos sonhos E hoje ainda tens quem eras Já o corpo perde o brilho Mas não deixas que se apaguem Os incêndios dos desejos E as estrelas de outra idade Esquecida como um quadro Na parede mais Já não vez os mesmos olhos Que adoravam noite e dia Foste a Deusa que deixava Sobre todos os altares As caricias mais ousadas Que ao amor sacrificavas Ainda o vento sopra leve Diz que lá fora Ainda podes voar Dentro de ti Se olhares no espelho Encontrarás A alma p’ra se amar Encontrarás P’ra sempre o teu olhar Já ninguém te rouba ao sono Num assalto de paixão Já ninguém te oferece o dia volve o coração Não encontras mais os versos Escondidos na almofada Que diziam que eras tudo E hoje sentes que és mais nada 26 91 Os limites do mar Letra e música: Sétima Legião In: ’Mar D’Outubro’ No regresso dos navios tantas lendas que ouviu... Quis um rei ir encontrar os limites do seu mar II Mar sem fundo, a dormir o fim do mundo há-de vir... Rei não fiques, vais agitar os limites do teu mar De ouvido à escuta E perna cruzada Que de olhos em chama Só tinha na ideia Teu corpo parado Na berma da estrada Eu que me comovo Por tudo e por nada Nota: Rodrigo Leão - Baixo Ricardo Camacho - Teclas e Guitarra Acústica Nuno Cruz - Bateria Paulo Abelho - Percussão Pedro Oliveira - Vozes e Guitarra Gabriel Gomes - Acordeão 90 27 Canção para a minha filha Isabel adormecer quando tiver medo do escuro Música: Vitorino Letra: Lobo Antunes In: ’Eu que me comovo por tudo e por nada’,1992 jj Os homens do largo Letra e música: Vitorino Intérprete: Janita Salomé In: ’Vozes e Guitarras’, 97 Victor Almeida (viola Pedro Jóia) Não interessa o frio, já é hora das trindades Tosse ao desafio com os cães Colado à brancura da parede dos quintais Ainda mal se vê já aí vem Nem sombra nem luz nem sopro de estrela nem corpinhos nus de anjos à janela nem asas de pombos nem algas no fundo nem olhos redondos espantados do mundo nem vozes na ilha nem chuva lá fora dorme minha filha que eu não vou embora Uma bucha dura, navalhinha de cortar Venha mais um copo p’ra aquecer Tem a alma fria de tanto tempo passar Lá vem mais um dia p’ra esquecer Sentado num banco, espera sempre o vento norte O sol posto dita Já não espera mágoas nem dá danos a ninguém Dorme e já não volta amanha 28 89 O que vai ser Chave dos sonhos Letra e música: Luís Represas Música: Luís Represas Letra: Sérgio Godinho In: ’Cumplicidades’ EMI 95 (Galamares, 23-8-99) Reconhecer o perigo Reconhecer o mal Não há pior instinto É como ser um cristal (Novembro 95) Luz sai da frincha, é manhã Sei que o dia já desarvora Chave dos sonhos na mão Olho-te e vais embora Adivinhar um beijo De um olhar sedutor As coisas que antevejo Trespassam-me de temor Sais pela rua velo Sinto a brisa do teu corpo perto Chave dos sonhos guardei No quarto já deserto Acendem-se os sinais Repetem-se os avisos Um ou dois passos mais Ou só mais alguns sorrisos Passei a noite em claro Passei p’la noite em ti E abri com a chave dos sonhos A porta e a varanda que em sonhos abri Enquanto o nevoeiro É cada vez mais denso Entre o que ainda não disse E o que se calhar não penso O que vai ser juro que vi Sair aquela porta e nem sequer se despedir O que vai ser juro que ouvi Dizer que este momento nunca passa além daqui O Sol á meia-noite Cega mais que de dia Só quem nele se queima É que sabe da agonia São mais confusas agora As imagens que em ti eu tocava Eram do sonho ou de olhar O que o prazer mostrava ? Chave dos sonhos na mão Entrarei em qualquer fechadura P’ra lá da porta, o melhor É sempre da aventura Guardo com a chave dos sonhos Segredos que o corpo merece Se alguém não quis arriscar Então que o não tivesse Que vem assim de dentro r tão fria Como um surdo lamento Como uma maré vazia Ontem arriscaste mais Do que uma simples coisa exigia Deste-me a chave dos sonhos O caos e a harmonia E se deixasse cair os braços Ou lança-los em redor de ti E se deixasse enganar a alma E fosse o abismo que já previ 88 29 Cinco estradas Ó patrão dê-me um cigarro Música: Rildo Hora Letra: Luís Represas (Galamares, 27 de Janeiro de 2000) Letra e música: popular: Alentejo Intérprete: Vitorino In: ’semear salsa ao reguinho’, 1975 Já corremos As cinco estradas Já juntamos muitas mãos p’la vida fora Descansar nunca foi ponto de chegada E resistir foi sempre o porto de partida Ó patrão dê-me um cigarro Acabou-se o tabaco E o trigo que eu hoje entarro Fumando dá mais um saco Companheira Das cinco estradas Como cruz que carregamos na encruzilhada Todas elas nos levaram à felicidade De estarmos juntos já no final desta jornada Canta o melro no silvado E o rouxinol na ribeira Ó minha pombinha branca Quero ir à tua beira Quero ir à tua beira Quero viver a teu lado Rola o pombo na azinheira Canta o pardal no telhado Por cada estrada da vida Construímos um sonho Por cada sonho outra vida Que outra estrada andou Uma foi feita de guerra E outra de acreditar Outra de dor Outra de amor Outra de Paz Se a morte fosse interesseira Ai de nós o que seria O rico comprava a morte Só o pobre é que morria. Cinco estradas Sem ter fronteiras Onde os medos e as paixões se olharam de frente Cinco gotas de suor outras de pranto Fizeram rios que se juntaram no mesmo mar 30 87 dela) que se chama ’Passaros do Sul’ e onde ela ’põe’ musica neste lindissimo poema, e faz uma coisa tão simples que se torna espectacular. Não sei se já ouviste alguma vez mas olha que vale bem a pena. Acresnto só que o album tem a produção e direcção musical de um Trovante que é o Manuel Faria (que também toca teclas em duas canções) e a participação de outros ’Trovantes’ como José Salgueiro (bteria), Artur Costa (metais) e Fernando Judice (baixo), também de um homem que pertenceu à primeira formação dos Trovante (a de ’Baile no Bosque’) que é o João Nuno Represas. Além de outros excelentes musicos como: Antonio Ferro, Renato Junior, Rui Luís Pereira e Mario Gramaço. Com um desejo só Letra e música: Luís Represas In: ’Cumplicidades’ 1995 (9/5/95) Andavam passeando como se tudo fosse meu o céu, a rua, o vento os beijos que alguém me ofereceu Pareciam radiantes e contentes de poder saltar o mundo e cruzar espaços que ficaram por se ver Falavam dessas coisas que costumamos falar se é que falar é tão silencio como o que se ouve no ar Voavam pelos cheiros que já não posso lembrar e embalavam-me nas ondas que ainda cheiravam a mar Os pensamentos vivem com um desejo só amarem-se por nada por tudo ou por ninguém poderem ver-se livres só por um instante e ter coragem de fazer o que eu há muito me esqueci. Depois de já cansados debruçaram-se p’ra ver se o meu cansaço ainda se consome num desejo de te ver. Assim, mais adiante, como se tudo fosse teu juntaram-se uns aos outros e partiram sem promessa de um adeus. 86 31 Contos do príncipe Real O menino da sua mãe Letra e música: Vitorino In: ’Não há terra que resista’, 1979, para a Florbela Espanca Música: Mafalda Veiga Letra: Fernando Pessoa In: ’Pássaros do Sul’, 1987 Victor Almeida Victor Almeida No jardim do Príncipe Real (ainda hoje tenho de lá ir) Encontrei-me com fulana de tal Pus-me a ver as estrelas a luzir Trocámos silêncios de mãos dadas Conversámos com os olhos e o pensar Espreitavam-nos do quarto da criada Do Palácio Italiano com portal Mas um dia perdeu-se o coche vermelho Que a princesa levava sempre ao jardim Meteu-se por caminhos que não têm fim Perco a esperança de à noite tornar a vê-lo Novembro, maldito mês das almas, nesse ano nem o azul do céu poupaste, carregaste com nuvens de negro corte, Mas vamos rapazes depressa ao vinho, Porque ao vinho não o vence nem a morte No plaino abandonado Que a morna brisa aquece, De balas trespassado - Duas, de lado a lado-, Jaz morto, e arrefece Raia-lhe a farda o sangue De braços estendidos, Alvo, louro, exangue, Fita com olhar langue E cego os céus perdidos Tão jovem! Que jovem era! (agora que idade tem?) Filho unico, a mãe lhe dera Um nome e o mantivera: «O menino de sua mãe». Caiu-lhe da algibeira A cigarreira breve Dera-lhe a mão. Está inteira É boa a cigarreira. Ele é que já não serve. De outra algibeira, alada Ponta a roçar o solo, A brancura embainhada De um lenço... deu-lho a criada Velha que o trouxe ao colo. Lá longe, em casa, há a prece: ’Que volte cedo, e bem!’ (Malhas que o Império tece’) Jaz morto, e apodrece, O menino de sua mãe. Nota: Hoje estava eu muito sossegado no meu cantinho a ’dar um olho’ a Pessoa quando me aparece este poema. Lembrei-me de um excelente album de 1987 da Mafalda Veiga (o primeiro 32 85 O melhor de mim Delicada da cintura Letra e música: Luís Represas In: ’Cumplicidades’ EMI 1995 Letra e música: popular: Alentejo Intérprete: Vitorino In: ’Não há terra que resista - Contraponto’, 1979 (19/5/95) Victor Almeida (Redondo) Falei demais Quando te quis mostrar Quem ficou Esperei demais E afinal é quase nada O que restou Delicada da cintura Como a palha do centeio Tu é que és a criatura Por quem eu tanto vareio Os olhos do meu amor São duas azeitoninhas Fechados são dois botões Abertos duas rosinhas E como foi Em tanta gente Tanta gente confiou E se entregou Como se entrega ao vento A nuvem que passou Eu gosto dos figos lampos Da figueira rebeldia Gosto das moças do campo Olha a minha simpatia Pensava que não pensavam E tudo ficava assim; Mas quando abri os olhos Já tinham pensado por mim! Pensava que não falavam E nada ficava por fim; Mas sempre tinham tentado Levar o melhor de mim. Nas ondas do meu cabelo Vou-me deitar a afogar É p’ra que saibas amor Que há ondas sem ser no mar Como será ? Será que tudo isto se repetirá!? De quem será Que a primeira gota Se derramará!? Quisera ver Quisera ter só risos para recordar E entregar A alguém que saiba rir E nunca o que é chorar! 84 33 Diz a laranja ao limão Olhos Letra e música: popular: Alentejo Intérprete: Vitorino In: ’Não há terra que resista - Contraponto’, 1979 Letra e música: Luís Represas In: ’Represas’ EMI 1993 Victor Almeida (Elvas) O Arco Íris não me faz medo se no fundo houver um pote em segredo que guarde a história dos homens e esconda a história da vida dos olhos dos predadores Diz a laranja ao limão Qual de nós será mais doce Sou fiel ao meu amor Assim ele p’ra mim fosse Uma tempestade não me faz medo Se no ar houver uma força em segredo que anime a história dos homens e guarde a história da vida dos olhos dos predadores Assim ele p’ra mim fosse Fiel ao meu coração Qual de nós será mais doce Diz a laranja ao limão O mar revolto não me faz medo se a água não revela segredos e benze a história dos homens e lava a história da vida dos olhos dos predadores O vento norte não me faz medo se a brisa sul disser em segredo - eu amo a história dos homens e turvo a história da vida nos olhos dos predadores A Lua Nova não me faz medo se lá viver um Velho em segredo que oculte a história dos homens e esconda a história da vida dos olhos dos predadores A selva inteira não me faz medo enquanto houver uma árvore em segredo que aqueça a história dos homens e feche a história da vida á estrada dos predadores Os elementos que gritem e a matéria se revolte e quem mais puder que ajude a dar novo brilho ao sol 34 83 Oh que janela tão alta Do fundo do tempo Letra e música: popular Intérprete: Vitorino In: ’Romances’; 1991 Letra e música: Luís Represas In: ’A hora do lobo’ BMG 1998 lr(Galamares, 5-10-97) A. Guimarães (Arranjos: Pedro Caldeira Cabral) Quero mais Sentir assim O que o amor revelou. Sentir mais Como chegou Sem se assustar com um fim. Oh que janela tão alta feita de cal e areia oh que menina tão linda numa janela tão feia Janela de pau de pinho que a meu respeito te abriste torna-te a cerrar janela disfarça que me não viste Se ao menos forem as cores da Lua Que nos queimaram de leve, As marcas serão eternas Enquanto a vida quiser. Além naquela janela eu a fiz eu a risquei a menina que lá mora só por morte deixarei Quero mais Ouvir assim Silêncios sem te tocar. Ouvir mais Dentro de ti O que quiseres revelar. Se ao menos forem os sons da Lua Que nos fizeram dançar, Os passos serão eternos Enquanto a vida tocar. E se algum dia esqueceres O que a paixão te ensinou, Não vás procurar na Lua Aí só descansa a dor. Procura o fundo do tempo A porta onde passou Um dia a felicidade E para ti se fechou. Quero mais Saber-te assim Num sono sem repousar. Cada sonho é um mistério Que tenho de desvendar. Se ao menos forem das cores que o Sol Nos pintou ao acordar, Os sonhos serão eternos Enquanto a vida os pintar. 82 35 fechei os olhos ao medo a tua mão não me escapa não é tarde nem é cedo [refrão] 36 81 O caçador da Adiça E foi Dezembro Música: João Gil Letra: João Monge Intérprete: Rio Grande; Vitorino In: ’Rio Grande’, 96 Música: Luís Represas Letra: Soledade Martinho Costa In: ’Cumplicidades’ 1995 jj, Luís Garção Nunes E foi Dezembro Dito Em tua voz Que as minhas mãos Colheram Devagar. D Subi à serra da Adiça G D e só parei no talefe D F#m a lua alegre e roliça A Bm aumentava o tefe tefe E foi Dezembro Escrito Quando a sós Tudo disseste Quase Sem falar. Em G Levei a saca de estopa (G) preparado para caçar G D faço dela a minha roupa G D se o frio da noite apertar D O teu coração parece Foi um palco Vazio A acontecer No frio Que se ergueu Dentro de nós. D Bm uma pedra sem destino F#m D dizem que só amolece Bm A ao canto de um gambozino Uns dizem que é fugidio os outros que é de má raça tenho de ter algum brio para não espantar a caça Uma distância O mar Que se estendeu A separar da minha A tua mão. [refrão] F#m Bm Assim me fiz caçador F#m Bm Sem espingarda nem ’Piloto’ G D para ter o teu amor G D para te cair no goto G D para ter o teu amor G D7 E foi Dezembro Inteiro A anunciar A solidão Dos dias Por nascer. D para te cair no goto E foi Dezembro À chuva a reviver As pedras E os rios E os luares. As coisas que a gente faz a dar vazão ao que sente já pensava em vir pra trás sai-me um vulto pela frente Os nomes Que vestiam Abri a boca da saca 80 37 Noutro lugar Os lugares E os sonhos Repartidos Que não fomos. Letra e música: Sétima Legião In: ’Mar D’Outubro’ A coragem Nascida De aceitar A verdade de ser O que hoje somos. D’outra vez, noutro lugar ninguém espera junto ao cais sem razão, barcos que não voltam mais os dias vão sem te levar... E tenho tanto a contar hey, tens tanto para ver Tens ainda de aprender os nomes que te vou dar E foi Dezembro Vivo Na roseira Despida No silencio Do jardim. Oh noutro lugar para todo o sempre Oh há uma canção que faz partir Oh noutro lugar para sempre, sempre Oh, há uma canção que está por descobrir Vem... E foi Dezembro Ainda na cegueira Das asas de uma ave Que há em ti. Foi um tempo De amantes A aprender Que não deve esquecer-se O verbo amar. D’outra vez noutro lugar os anos passam sem pesar sem razão, vão em busca da canção que ficámos de cantar... Ou um inverno Apenas A perder-se Da primavera Do primeiro olhar. E tenho tanto por contar hey, tens tanto para ver Tens ainda de aprender os nomes que dei ao mar Oh noutro lugar Nota: Rodrigo Leão - Baixo Pedro Oliveira - Guitarra e Voz Ricardo Camacho - Teclas Paulo Gabriel - Flauta Gabriel Gomes - Acordeão Nuno Cruz - Bateria Colaboração de Marco Santos - Voz 38 79 Em 25 de Março darás por todos os recados que mandei. Música: Vitorino Letra: popular: romanceiro de José Leite de Vasconcelos In: ’Romances’; 1991 (rimance) A. Guimarães (Arranjos: Pedro Caldeira Cabral) Em vinte e cinco de Março ouve uma grande paixão disparceram três rapazes deste povo d’Armação Té aqui não são chegados nem à praia à costa deram té aqui não são chegados nem à praia à costa deram Té aqui não há espera nem tão pouco que esperar os nomes de todos três eu os vou d’explicar O primeiro é José da Silva José da Silva Negrão lá posto ao mar a pescar para a sua perdição O segundo era José Cravo José Cravo encarnado fazia linda cintura sem andar muito apertado O terceiro era João Barreiro uma cara sem sinais era o pai da pobreza não no podia ser mais Abalaram todos três dentro daquele barquinho a bebida que levaram uma garrafa de vinho Abalaram todos três não levavam a certeza que o mar que se levantava d’altura da fortaleza 78 39 Em frente do sol No escuro Letra e música: Luís Represas In: ’A hora do lobo’ BMG 1998 Letra e música: Luís Represas In: ’A hora do lobo’ BMG 1998 lr(Galamares,5/6-11-97) lr(Galamares, 11/12-11-97) Tinha o pecado calado no fundo do corpo que um dia foi seu. Ás vezes pensava em promessas juradas por homens que nem conheceu. Todos os sonhos que tinha guardados no canto do seu coração. Deitou-os ao mar e olhou-se nos lagos que a chuva fazia no chão. Pode ser que um dia vá tropeçar no amor e cair de pé em frente do Sol. Empurrar as nuvens e abraçar os ventos que a façam voar. Quando saía para a rua sentia que os pés só pisavam vazio. E a Alma insistia em esconder-se no escuro de um quarto que nunca existiu. Vi-te de longe no escuro onde já não te esperava encontrar. Não era a noite, nem era o sono. Nem falta de alma p’ra te procurar. Fui-me chegando mais perto, devagarinho para não pisar o coração... talvez o meu bata tão forte para te avisar. Há tantas vidas sigo o cheiro que me deixaste preso ás mãos e me sufoca ao meio da noite numa boa maldição Há quantas vidas que eu desejo ter mais coragem que paixão, e confessar tudo o que o tempo me guardou no coração Não era falta de fé ou confiança p’ra me revelar, era só medo que as tuas águas fossem tão fundas que perdesse o pé. Já me perdi no passado por insistir em querer adivinhar o que pensavas, que não abrias nenhuma porta para eu entrar. Pelas paredes pintadas de céu pregava retratos sem cor. Memórias ausentes de olhares indigentes suspensos por fios de dor. Sem procurar um fim por onde começar vai-se agarrando aos poucos risos que a vida lhe dá. 40 Talvez mate o destino de uma vez se um beijo escorregar mesmo á traição Quem sabe se no escuro a luz se acende e então... 77 Neva sobre a marginal Enquanto Letra e música: Luís Represas In: ’Represas’ EMI 1993 Letra e música: Joaquim de Almeida; Luís Represas In: ’cumplicidades’ EMI 1995 (20/10/95) O Norte entrou pela barra já ninguém se espanta aqui basta um abrigo, uma capa ou um beijo. Enquanto mortos e vivos Enquanto Enquanto vivos ou mortos Nós somos Os vivos que querem viver Por enquanto Temos os mortos que não tiveram tanto O Norte avisa que o tempo só se altera por três dias e o vento que nos trespassa não sabia. Enquanto vivos E vivos assim Sentimos vozes Por ti e por mim Que a noite e o dia Não cabem no sermos De sermos o mesmo De todos os dias Neva sobre a Marginal só que a neve não espera não se vai com a primavera nem fica á espera no chão Neva sobre a Marginal quem me dera que mar fosse o mar é muito mais doce e não fere o coração Enquanto caem palavras Do cimo de torres Gemidos do fundo de heróis Vão calando a noite O Norte foi como veio sem avisar, sem um gesto sem um grito ou manifesto sem dizer se isso lhe dói Leva para outras paragens O resultado dos ventos leva também as imagens dispersas de lamentos. Mas deixa as dos bons momentos para voltar. Crianças de uniforme grande Limparam o mundo de risos Deixando espalhados nos cantos Bocados de paz Enquanto todos os dias Nos vendem O sofrimento de longe Tão perto Vão consumindo o azul E as cores da terra Sabendo nós que a paz Não é só o contrário da guerra Enquanto vivos E enquanto formos Grita a vontade De deixarmos vivos Os cheiros e as imagens Que sentimos E não só lembranças 76 41 Deixadas em arquivo Navegar Enquanto morrem as arvores O verde Torna-se terra de corpos De guerras. Queremos tambores e guitarras Voando nas ruas Com a alegria da vida Que não devia ter fim Letra e música: Sétima Legião (?) Intérprete: Sétima Legião In: ’de um tempo ausente’, 1989 Nuno Jacinto Dó Cantar, Lám Fá Como quem canta um fado. Dó Um amor que passou, Lám Fá Traços de um vento apagado. Dó Um mundo que acabou, Lám Fá P’ra não ter de mudar. Vou cantar, Nas palavras de um fado. As trovas que nos diz, Um rei sem trono nem reinado. Sem novas nem país, Por ter de navegar, Ter de navegar. Fá Sol Eu vou cantar por quanto passei. Fá Dó Eu vou cantar porque te encontrei. Fá Sol Vem navegar para longe no mar. Fá Dó Sol Há um navio para nos levar ao fim do mar... Dó Lám Fá Cantar um temporal que se levanta para nos alcançar. Dó Mas a bandeira azul e branca vai tornar ao mar. Dó Da cor do teu olhar, Lám Fá Azul no olhar. 42 75 Lám Fá Nasce selvagem Enquanto dormes Música: Fernando Cunha Letra: Miguel Ângelo Intérprete: Resistência In: Palavras ao vento Letra e música: Luís Represas In: ’A hora do lobo’ BMG 1998 Aveiro (alterado por jj) (jeito de Luís Jordão) Dizer toda a verdade enquanto dormes mesmo se a confessei quando desperta tem sabor ainda a mais verdade pois tens todas as portas mais abertas. lr(Caparica/Galamares-8/96-27/11/97) C Mais do que a um país X Que a uma família ou geração C Mais do que a um passado É como se ao postigo me encostasse e ele de mal fechado me sorrisse e lá dentro uma palavra entrasse e num murmúrio aquela porta abrisse X Que a uma história ou tradição C Tu pertences a ti F Não és de ninguém Quem quer saber cedo demais o encanto morre pela certa. Dormindo assim em paz deixo-te o bem e o mal, e o que a vida fizer de nós. C Mais do que a um patrão X Que a uma rotina ou profissão C Mais do que a um partido X Que a uma equipa ou religião O silencio envolve os passos da certeza que transporta as confissões mais arrojadas. Que são boas -já sabias- mas agora semearam-te surpresas na entrada. C Tu pertences a ti F Não és de ninguém C Vive selvagem A força das palavras vem das estrelas ou de algo mais além p’ra lá do céu. Quando dormes acompanho a luz das velas que te contam mais segredos do que eu. F E para ti serás alguém G Nesta viagem G C Quando alguém nasce, nasce selvagem F G Não é de ninguém nota: viola X = (012300) 74 43 Eu hei-de amar uma pedra Letra e música: popular: Alentejo Intérprete: Vitorino; Janita Salomé In: ’Romances’, 1991 (romance) jj Eu hei-de amar uma pedra deixar o teu coração uma pedra sempre é mais firme tu és falsa e sem razão (4X) Am G Não, não sou o único (eu não sou o único) Dm C Não sou o único a olhar o céu. Am G Dm C Am G Dm C Nota: Viola INTRO (2X) Riff1 Tu és falsa e sem razão eu hei-de amar uma pedra eu hei-de amar uma pedra deixar o teu coração e--0--------------------3--5--7-8-7--5--3--5--3--1--0-------B--1------------3--5--3-------------------------------0--2--0 G--2----2--4-5----------------------------------------------D--2--------------------------------------------------------A--0--------------------------------------------------------E------------------------------------------------------------ Quando eu estava de abalada meu amor para te ver armou-se uma trovada mais tarde deu em chover Mais tarde deu em chover sem fazer frio nem nada meu amor para te ver quando eu estava de abalada 44 73 Não sou o único Fado do Campo Grande Música: Xutos e Pontapés Letra: José Pedro Intérprete: Resistência In: Palavras ao vento Música: António Vitorino de Almeida Letra: Ary dos Santos Intérprete: Carlos do Carmo Javier Tamames Nuno Cabral ([email protected]) e Luís Tavares (jeito de jj, Luís Jordão) Am G Pensas que eu sou um caso isolado Dm C Não sou o único a olhar o céu Am G A ver os sonhos partirem Dm C À espera que algo aconteça Am G A despejar a minha raiva Dm C A viver as emoções Am G A desejar o que não tive Dm C Agarrado às tentações F C E quando as nuvens partirem Dm A O céu azul ficará F C A minha velha casa, por mais que eu sofra e ande, é sempre um golpe de asa, varrendo um Campo Grande. Aqui no meu pais, por mais que a minha ausência doa, é que eu sei que a raiz de mim está em Lisboa. A minha velha casa resiste no meu corpo, e arde como brasa dum corpo nunca morto. À minha velha casa eu regresso à procura das origens da ternura, onde o meu ser perdura. E quando as trevas se abrirem Dm Vais ver o sol, brilhará. A Vais ver o sol, brilhará. Am G Não, não sou o único (eu não sou o único) Dm C Não sou o único a olhar o céu Am G Não, não sou o único (eu não sou o único) Dm C Não sou o único a olhar o céu (Riff1) Pensas que eu sou um caso isolado Não sou o único a olhar o céu A ouvir os conselhos dos outros E sempre a cair nos buracos A desejar o que não tive Agarrado ao que não tenho Não, não sou o único Não sou o único a olhar o céu E quando as nuvens partirem ... (SOLO) 72 Amiga amante, amor distante. Lisboa é perto, e não bastante. Amor calado, amor avante, que faz do tempo apenas um instante. Amor dorido, amor magoado e que me doí no fado. Amor magoado, amor sentido, mas jamais cansado. Amor vivido é o amor amado. Um braço é a tristeza, o outro é a saudade, e as minhas mãos abertas são chão da liberdade. A casa a que eu pertenço, viagem para à minha infância, é o espaço em que eu venço e o tempo da distância. E volto à minha casa, porque a esperança resiste a tudo quanto arrasa um homem que for triste. Lisboa não se cala, e quando fala é minha chama, 45 Não me atrevo meu castelo, minha Alfama, minha pátria, minha cama. Amiga amante, amor distante. Lisboa é perto, e não bastante. Amor calado, amor avante, que faz do tempo apenas um instante. Amor dorido, amor magoado e que me doí no fado. Amor magoado, amor sentido, mas jamais cansado. Amor vivido é o amor amado. Ai, Lisboa, como eu quero, é por ti que eu desespero. Letra e música: Luís Represas In: ’A hora do lobo’, 1998 Victor Almeida Não me atrevo a adivinhar o que tu sentes Quando tens quatro paredes por morada E lá fora sabes que és mais um ausente Que um dia apostou na carta errada. Não me atrevo sequer a falar das horas que tu passas conversando com os segundos que te ouvem quando às vezes te demoras a pensar se há mundo entre os nossos mundos. Não me atrevo a imaginar p’ra onde vais quando partes navegando pelos sonhos, quando voltas à frieza deste cais à distante realidade que nós somos. Não me atrevo a adivinhar a vida inteira que tu passas em revista a cada dia. Os momentos que tu lanças p’rá fogueira e as memórias que tu guardas por mania. Quando um dia me puderes ir visitar, não te vires para trás nem um momento. Segue o caminho que te leva à beira-mar dança com ele e faz de conta que és o vento. Não me atrevo a caminhar pelos teus pés que regressam sempre ao ponto de partida que te levam por caminhos que não vês e te acordam junto à porta de saída. Não me atrevo a perguntar por quem te espera quando chegar a hora de matar saudades. Espera-te o mar, porque esse nunca desespera, e te ensinou como é amar a Liberdade 46 71 Fado Pessoa Bem no meio do salão Acabei no tal convite Em jeito de confissão E a resposta foi tão doce Que a beijei com emoção Só que a malta não gritou Como ouvi numa canção Música: Vitorino Letra: Fernando Pessoa Intérprete: Lua Extravagante Javier Tamames O tempo que hei sonhado quantos anos foi de vida! Ah, quanto do meu passado foi só a vida mentida de um futuro imaginado! Aqui à beira do rio sossego sem ter razão. Este seu correr vazio figura, anónimo e frio, a vida vivida em vão. A’spr’ança que pouco alcança! que desejo vale o ensejo? E uma bola de criança sobe mais que a minha ’spr’ança, rola mais que o meu desejo. Ondas do rio, tão leves que não sois ondas sequer, horas, dias, anos, breves passam - verduras ou neves que o mesmo sol faz morrer. Gastei tudo que não tinha. Sou mais velho do que sou, a ilusão, que me mantinha, só no palco era rainha: despiu-se, e o reino acabou. Leve som das águas lentas, gulosas da margem ida, que lembranças sonolentas de esperanças nevoentas! Que sonhos, o sonho e a vida! Som morto das águas mansas que correm por ter que ser, leva não só as lembranças, mas as mortas esperanças mortas, porque hão-de morrer. 70 47 Ondas passadas, levai-me para o olvido do mar! Ao que não serei legai-me que cerquei com um andaime a casa por fabricar. Namoro II Música: João Gil Letra: Luís Represas Intérprete: Trovante In: ’Sepes’ 86 versos de segunda (jeito de jj) Ai se eu disser que as tremuras Me dão nas pernas, e as loucuras Fazem esquecer-me dos prantos Pensar em juras Ai se eu disser que foi feitiço Que fez na saia dar ventania Mostrar-me coisas tão belas Ter fantasia E sonhar com aquele encontro Sonhar que não diz que não Tem um jeito de senhora E um olhar desmascarado De céu negro ou céu estrelado, ou Sol Daquele que a gente sabe. O seu balanço gingado Tem os mistérios do mar E a certeza do caminho certo que tem a estrela polar. Não sei se faça convite E se quebre a tradição Ou se lhe mande uma carta Como ouvi numa canção Só sei que o calor aperta E ainda não estamos no verão. Quanto mais o tempo passa Mais me afasto da razão E ela insiste no passeio à tarde Em tom de provocação Até que num dia feriado P’ra curtir a solidão Fui consumir as tristezas P’ró baile do Sr. João Não sei se foi por magia Ou seria maldição Dei por mim rodopiando 48 69 Menina estás à janela Falei demais Letra e música: popular: Alentejo Intérprete: Vitorino Letra e música: Luís Represas In: ’Cumplicidades’ EMI 1995 jj, Creissac, Aníbal Vinhas C F Falei demais quando te quis mostrar quem ficou. Esperei demais E afinal é quase nada o que restou. Menina estás à janela G C com o teu cabelo à lua Am F não me vou daqui embora G C Am sem levar uma prenda tua sem levar uma prenda tua sem levar uma prenda dela com o teu cabelo à lua menina estás à janela E como foi? Em tanta gente, tanta gente confiou e se entregou como se entrega ao vento a nuvem que passou. Os olhos requerem olhos e os corações corações e os meus requerem os teus em todas as ocasiões Pensava que não pensavam e tudo ficava assim. Mas quando abri os olhos já tinham pensado por mim! Pensava que não falavam e nada ficava por fim. Mas sempre tinham tentado levar o melhor de mim. [Gosto muito dos teus olhos mas ainda mais dos meus se não foram os meus olhos como iria (eu) ver os teus] [Chorai olhos chorai olhos que o chorar não é desprezo também a virgem chorou quando viu seu filho preso] Como será? Será que tudo isto se repetirá!? De quem será que a primeira gota se derramará!? Quisera ver quisera ter só risos para recordar e entregar alguém que saiba rir e nunca o que é chorar! 68 49 Feiticeira Menina dos olhos de água Música: Luís Represas Letra: Francisco Viana In: ’Represas’ EMI 1993 Letra e música: Pedro Barroso In: ’Cantos da Borda D’Água’,1986 Creissac & amigos(ago.96) C Am Menina em teu peito sinto o Tejo De que noite demorada Ou de que breve manhã Vieste tu, feiticeira De nuvens deslumbrada Dm G e vontades marinheiras de aproar Menina em teus lábios sinto fontes de água doce que corre sem parar Menina em teus olhos vejo espelhos e em teus cabelos nuvens de encantar E em teu corpo inteiro sinto feno rijo e tenro que nem sei explicar De que sonho feito mar Ou de que mar não sonhado Vieste tu, feiticeira Aninhar-te ao meu lado Se houver alguém que não goste não gaste, deixe ficar que eu só por mim quero te tanto que não vai haver menina para sobrar De que fogo renascido Ou de que lume apagado Vieste tu, feiticeira Segredar-me ao ouvido De que fontes de que águas De que chão de que horizonte De que neves de que fráguas De que sedes de que montes De que norte de que lida De que deserto de morte Vieste tu feiticeira Inundar-me de vida. 50 Aprendi nos ’esteiros’ com Soeiro e aprendi na ’fanga’ com Redol Tenho no rio grande o mundo inteiro e sinto o mundo inteiro no teu colo Aprendi a amar a madrugada que desponta em mim quando sorris És um rio cheio de água lavada e dás rumo à fragata que escolhi Se houver alguém que não goste não gaste, deixe ficar que eu só por mim quero te tanto que não vai haver menina para sobrar 67 Memórias de um beijo (Lembras-me uma marcha de Lisboa) Música: João Gil Letra: Luís Represas Intérprete: Trovante In: ’Terra firme’ 87 Fim (Quando eu morrer) Música: João Gil Letra: Mário de Sá Carneiro Intérprete: Trovante In: ’Terra Firme’ 87 Versos de Segunda (jeito de jj) Alfredo Domingues Lembras-me uma marcha de lisboa Num desfile singular, Quem disse Que há horas e momentos p’ra se amar Lembras-me uma enchente de maré Com uma calma matinal Quem foi quem disse Que o mar dos olhos também sabe a sal Quando eu morrer batam em latas, Rompam aos saltos e aos pinotes, Façam estalar no ar chicotes, Chamem palhaços e acrobatas! Que o meu caixão vá sobre um burro Ajaezado à andaluza... A um morto nada se recusa, Eu quero por força ir de burro. [refrão]: As memórias são Como livros escondidos no pó As lembranças são Os sorrisos que queremos rever, devagar Queria viver tudo numa noite sem perder a procurar O tempo, ou o espaço Que é indiferente p’ra poder sonhar [refrão] Quem foi que provocou vontades e atiçou as tempestades e amarrou o barco ao cais Quem foi, que matou o desejo E arrancou o lábio ao beijo E amainou os vendavais [refrão] devagar 66 51 Fizeram os dias assim Linha da frente Música: Manuel Faria Letra: Luís Represas Intérprete: Trovante In: ’Sepes’ 86 Letra e música: Luís Represas; Cristina Represas In: ’cumplicidades’ EMI 1995 versos de segunda (jeito de jj) Caminha e sente os pés Que a areia é fria e dura Não olhes para trás Que o mar nada perdura A onda apaga os traços E limpa o que foi rasto Deixando p’ra quem chega Lugar p’ra novos passos (1/8/95) Fizeram os dias assim Por mais que larguem os braços Por mais que soltem amarras E que se tapem as covas Por mais que rasguem os quadros Por mais que queimem as leis E que os costumes esmoreçam Por mais que arrasem as feras E que os papões arrefeçam E que as bruxas se convertam Por mais que riam as caras E que ternura se esqueça Por mais que o amor prevaleça Vocês Fizeram os dias assim! Não nos venham pedir contas Não venham pôr-nos regras Sabemos que os nossos dias Não vão ser gastos assim! 52 Não tenhas esperança Outra vez Que a esperança é senhora De quem já Perdeu os caminhos, De quem já não sabe lutar. Com uma espada feita De sonhos cravejada Enfrentas as miragens Sem tempo p’ra pensar E se o medo te assalta É p’ra te despertar Para o que desconheces Mas queres conquistar. Tens a espada e tens o medo Tens o tempo e o caminho Esquece a esperança ali sentada Sem ter esperança de morrer. Tens a força de quem sabe E o encanto de quem quer E poder fazer que a esperança Seja a primeira a morrer 65 Libre Flor de Maio (?) Letra: Pedro Guerra Intérprete: Luís Represas Letra e música: Sétima Legião In: ’de um tempo ausente’, 1989 jj Puedo andar y ver los mundos y escojer mi verdad puedo arar y ver la tierra entender y pensar puedo todo lo que quiero decidir y soñar quiero todo lo que puedo decir cantar y besar = 80 2 4 Soy libre porque hay alguien más no estoy sólo en la ciudad que se mueve el amor envuelve mi corazón en libertad Puedo ver en los colores y elegir el color puedo andar por las pasiones y elegir la pasión puedo todo lo que alcanzo el saber y el sabor llego a todo lo que puedo y beso un rayo de sol 64 53 Foi como foi Foi teu pai quem tu mandou Letra e música: Luís Represas In: ’Cumplicidades’ EMI 1995 De quem é aquele suspiro? De quem é aquele suspiro? Que ao meu leito se atirou Laurinda, que aquilo ouviu Caiu no chão desmaiou (Nov 95) Se foi há anos, Ou dias, Não sei. Nem quantas vezes te cheirei No ar da manhã. Ó Laurinda, linda, linda Ó Laurinda, linda, linda Não vale a pena desmaiar Todo o amor, que t’eu tinha Vai-se agora acabar Nem quantas vezes Te vi Despertar Pensando que essa foi a noite Melhor de se lembrar Depois da vez em que o silêncio Nos quis acompanhar Pelos segredos Que julgamos contar. Em que nas mãos, os nossos olhos Souberam desvendar Dentro do escuro a alma Não se pode ocultar. Vai buscar as tuas irmãs Vai buscar as tuas irmãs Trá-las todas num andor Que a mais linda delas todas Há-de ser meu novo amor Foi como foi. Como se o céu um dia Se abrisse em dois. Foi como foi. Como se a terra Nos prendesse e soltasse depois. A lua via O sol acordar, Ficava ás vezes até tarde Só para o ver deitar. E juro um dia Que o vi alugar Um quarto de motel na Via Láctea Com vista para o mar. Estremeci ao ver que o tecto Não tinha para ver Nem uma telha aberta para espreitar. Eu alucino ou quase, sempre Que me deixas pernoitar 54 63 Laurinda Nesse motel da Via Láctea Com vista para o mar. Letra e música: popular Intérprete: Vitorino (rimance) Quero rever-te em cada dia Como revi o futuro Já que o futuro sorria. Quero um futuro por dia Já que o passado nos deixa Vários futuros na vida. jfc Am Am Ó Laurinda, linda, linda Am Am Ó Laurinda, linda, linda Dm Dm Am Am És mais linda do qu’o Sol(e) Dm Dm Am Am Deixa-me dormir uma noite E E Am Nas bordas do teu lençol Sim, sim, cavalheiro, sim Sim, sim, cavalheiro, sim Hoje sim, amanhã não Meu marido, não esta cá Foi pr’a feira de Marvão Onze horas, meia-noite Onze horas, meia-noite Marido a porta bateu Bateu uma, bateu duas Laurinda não respondeu Ou ela está doentinha Ou ela está doentinha Ou encontrou outro amor Ou então procur’a chave Lá no meio do corredor De quem é aquele chapéu? De quem é aquele chapéu? Debroado a galão É para ti meu marido Que fiz eu por minha mão De quem é aquele casaco? De quem é aquele casaco? Que ali vejo pendurado É para ti meu marido Que o trazeis bem ganhado(?) De quem é aquele cavalo? De quem é aquele cavalo? Que na minha esquadra entrou É para ti meu marido 62 55 Fora de tempo Imortais Letra e música: Luís Represas Letra e música: Luís Represas In: ’Represas’ EMI 1993 Helder Carvalho (jeito de jj) C Fora de tempo pôs-se o sol filhos da mesma mãe Quantos anos tens ? Talvez nem te lembres quantos. Quantos anos fizeste ? Talvez nem te desses conta. Fora de tempo brotaram da terra flores e espinhos também fora de tempo ficaram longe mais longe do que convém E enquanto fazias anos já mães dançavam sozinhas e o mar já guardava tumbas solitárias. Fora de tempo o que era quente gelou até matar tudo se um cantava no silêncio fora de tempo ouviu-se um grito mudo Quantos anos tens? Talvez nem te lembres das velas. Talvez o teu bolo ainda tenha luz a mais. [refrão] F O tempo também se engana Talvez haja velas acesas nos canaviais em segredo para os que fazem anos imortais F e a lua fora de tempo também G F fora de tempo nasceram dois C G Am nas casas onde mora F Am o mau tempo que faz dentro F G C nem sempre é tão bom de fora Fora de tempo o que era água teimou em ser areal fora de tempo já se notava que um vê bem e o outro mal Fora de tempo tudo voltou ao tempo que era atrás e dentro do tempo um partiu mais cedo e o outro ficou para amar 56 De um lado ao outro do mundo dançamos sozinhos no fundo de um lado ao outro da vida não temos memórias perdidas Há quantos anos já foi e quantos anos nos faltam para que a memória dos parares não seja demais Afinal, quantos anos terão depois da destruição ? Afinal, quantos anos farás em solidão ? 61 Horas de ponta e mola Fragilidade Música: Nuno Rodrigues Letra: António Avelar Pinho Intérprete: Banda do Casaco In: ’Dos Benefícios dum Vendido no Reino dos Binifácios’, 1994 Letra e música: Mafalda Veiga Intérprete: Mafalda Veiga; Luís Represas Carla Fernandes Talvez pudesse o tempo parar Quando tudo em nós de precipita Quando a vida nos desgarra os sentidos E não espera, ai quem dera Victor Almeida É um sujeito é um escritório uma gravata, um suspensório uma conversa de latrina é um verbete, uma aldrabice é um trabalho , uma chatice entre fumo e aspirina Houvesse um canto pra se ficar Longe da guerra feroz que nos domina Se o amor fosse um lugar a salvo Sem medos, sem fragilidade É numa rua o pôr da sola calçada nas horas de ponta e mola são conversas de cotovelo é um eléctrico um pendura um regresso e uma tontura é um sorrir muito amarelo É uma casa uma família uma torrada um chá de tília uma conversa de fastídio é um chinelo e um menino televisão com o Vitorino a lentidão de um suicídio Tão bom pudesse o tempo parar E voltar-se a preencher o vazio É tão duro aprender que na vida Nada se repete, nada se promete E é tudo tão fugaz e tão breve Tão bom pudesse o tempo parar E encharcar-me de azul e de longe Acalmar a raiva aflita da vertigem Sentir o teu braço e poder ficar É numa rua o pôr da sola calçada nas horas de ponta e mola é um silencio e um ritual são os lacaios do comendador são as gravatas sem côr na procissão dum funeral 60 É tudo tão fugaz e tão breve Como os reflexos da lua no rio Tudo aquilo que se agarra já fugiu É tudo tão fugaz e tão breve. 57 Fui às sortes e safei-me Guaguancó y fado Música: João Gil Letra: João Monge Intérprete: Rio Grande; Vitorino In: ’Rio Grande’, 96 Letra e música: Luís Represas In: ’Represas’ EMI 1993 jj Havia um mar de olhos postos Num quadro já repetido Que tinha o céu por moldura Num temporal mal contido Fui às sortes e safei-me direito que nem um fuso não compreendo aquele uso de fazer tudo aprumado ele há coisas que eu cá sei que só se fazem curvado Os corações apertados Nos peitos nus, reluzentes Uns de morte angustiados Outros sorrindo prudentes Fizeram-me a vistoria levaram tudo a preceito até me viram o peito e um pouco mais ao fundo cada qual na sua vez e tal como veio ao mundo Quem chegava era por certo Gente devota e austera Era branca como a cera Que ardia a céu aberto Tinham santos como os meus Feitos de pau e madeira Rezam da mesma maneira A uma cruz que chamam Deus No fim já mais à tardinha deram um papel timbrado onde vinha o resultado não me davam qualquer uso fui às sortes e safei-me direito que nem um fuso So,os almas descobertas Por quem descobrir é pecado Às vezes trazem-nos setas Mas também nos cantam fado Entre temores e anseios O sangue juntou-se então Naquele Deus eu já creio Eles nos meus ainda não Agora há dois olhos postos Num quadro já consumido O mar guarda o meu recado E o vento, o tempo perdido. 58 59