Trovante, Rio Grande, Vitorino, Resistência, Sétima Legião

Transcrição

Trovante, Rio Grande, Vitorino, Resistência, Sétima Legião
Trovante, Rio Grande, Vitorino,
Resistência, Sétima Legião
Arquivo de letras de música
28 de Janeiro de 2002
1
Vou-me embora vou partir
Conteúdo
125 azul . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Aerograma (Põe o meu retrato...) . . . . . . . . . .
A fisga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
A hora do lobo . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Além-Tejo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Ao canto da noite . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Ao fim ao cabo . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Aquele Inverno . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Aqui não me parece . . . . . . . . . . . . . . . . .
A reconquista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Assalto (ao beijo armado) . . . . . . . . . . . . . .
Às vezes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
A última festa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Ausência e tu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
A veza mais próxima do fim . . . . . . . . . . . .
Benção de ser homem . . . . . . . . . . . . . . . .
Bolero do coronel sensível que fez amor em Monsanto
Canção para a minha filha Isabel adormecer quando
tiver medo do escuro . . . . . . . . . . . . .
Chave dos sonhos . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Cinco estradas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Com um desejo só . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Contos do príncipe Real . . . . . . . . . . . . . . .
Delicada da cintura . . . . . . . . . . . . . . . . .
Diz a laranja ao limão . . . . . . . . . . . . . . . .
Do fundo do tempo . . . . . . . . . . . . . . . . .
E foi Dezembro . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Em 25 de Março . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Em frente do sol . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Enquanto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Enquanto dormes . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Eu hei-de amar uma pedra . . . . . . . . . . . . .
Fado do Campo Grande . . . . . . . . . . . . . . .
Fado Pessoa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Falei demais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Feiticeira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Fim (Quando eu morrer) . . . . . . . . . . . . . .
Fizeram os dias assim . . . . . . . . . . . . . . . .
Flor de Maio (?) . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Foi como foi . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Fora de tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Fragilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Fui às sortes e safei-me . . . . . . . . . . . . . . .
Guaguancó y fado . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Horas de ponta e mola . . . . . . . . . . . . . . . .
Imortais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Laurinda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Letra e música: popular: Alentejo
Intérprete: Vitorino (?)
Vou-me embora, vou partir mas tenho esperança
de correr o mundo inteiro, quero ir
quero ver e conhecer rosa branca
e a vida do marinheiro sem dormir
E a vida do marinheiro branca flor
que anda lutando no mar com talento
adeus adeus minha mãe, meu amor
eu hei-de ir hei-de voltar com o tempo
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lundum mas se quiserem chamem-lhe fado
anda linda ...
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Libre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Linha da frente . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Memórias de um beijo (Lembras-me uma marcha
de Lisboa) . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Menina dos olhos de água . . . . . . . . . . . . . .
Menina estás à janela . . . . . . . . . . . . . . . .
Namoro II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Não me atrevo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Não sou o único . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Nasce selvagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Navegar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Neva sobre a marginal . . . . . . . . . . . . . . . .
No escuro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Noutro lugar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
O caçador da Adiça . . . . . . . . . . . . . . . . .
Oh que janela tão alta . . . . . . . . . . . . . . . .
Olhos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
O melhor de mim . . . . . . . . . . . . . . . . . .
O menino da sua mãe . . . . . . . . . . . . . . . .
Ó patrão dê-me um cigarro . . . . . . . . . . . . .
O que vai ser . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Os homens do largo . . . . . . . . . . . . . . . . .
Os limites do mar . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Para sempre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Peter’s . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Por cima da vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Por quem não esqueci . . . . . . . . . . . . . . . .
Porque não me vês Joana . . . . . . . . . . . . . .
Postal dos correios (querida mãe, querido pai, ...) .
Proscritos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Quando me perco . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Queda do Império (perguntei ao vento) . . . . . . .
Quem disse . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Rua do Quelhas (homenagem a Florbela Espanca) .
Saudades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Senhora das rosas . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Senta-te aí . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Ser Poeta (Perdidamente) . . . . . . . . . . . . . .
Sete mares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Sombras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Sospirastes Baldovinos . . . . . . . . . . . . . . .
Timor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Travessa do poço dos negros . . . . . . . . . . . .
Vou-me embora vou partir . . . . . . . . . . . . .
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125 azul
Travessa do poço dos negros
Música: João Gil
Letra: Luís Represas
Intérprete: Trovante
In: ’Terra firme’ 87
Música: João Gil
Letra: Luís Represas
Intérprete: Trovante
In: ’saudades do futuro’,1991
jj; <a href=’http://www.geocities.com/SunsetStrip/Alley/9516’>SkyMusic</a>
Sol
Do
mim
Foi sem mais nem menos
Sol
Que um dia selei a 125 azul
Foi sem mais nem menos
Que me deu para abalar sem destino nenhum
Foi sem graça nem pensando na desgraça
Que eu entrei pelo calor
Sem pendura que a vida já me foi dura
P’ra insistir na companhia
O tempo não me diz nada
Nem o homem da portagem na entrada da auto-estrada
A ponte ficou deserta nem sei mesmo se Lisboa
Não partiu para parte incerta
Viva o espaço que me fica pela frente e não me deixa recuar
Sem paredes, sem ter portas nem janelas
Nem muros para derrubar
Re
Fa
Do
Sol
Talvez um dia me encontre
Re
Fa
Do
sib7
A história que gente vos quer contar
Do
ré
ré7
dó
aconteceu um dia em Lisboa
dó
sib7
aonde o tempo corre devagar
Chegamos era cedo à ribeira
ainda todo o peixe respirava
e a outra carne aos poucos definhava
o gemido do cordame das amarras
juntava-se ao lamento dos porões
e o que nos chega fora são canções
a gente viu sair muita gente que dançava
um estranho bailado em tom dolente
marcado pelo bater das corrente
mim
dó
anda linda
ré7
ré
dó
vamos pra ver se é verdade
Sol
sib7
Assim talvez me encontre
Curiosamente dou por mim pensando onde isto me vai levar
De uma forma ou outra há-de haver uma hora para a vontade de parar
Só que à frente o bailado do calor vai-me arrastando para o vazio
E com o ar na cara, vou sentindo desafios que nunca ninguém sentiu
Talvez um dia me encontre
Assim talvez me encontre
Entre as dúvidas do que sou e onde quero chegar
Um ponto preto quebra-me a solidão do olhar
Será que existe em mim um passaporte para sonhar
E a fúria de viver é mesmo fúria de acabar
Foi sem mais nem menos
Que um dia selou a 125 azul
Foi sem mais nem menos
Que partiu sem destino nenhum
Foi com esperança sem ligar muita importância àquilo que a vida quer
Foi com força acabar por se encontrar naquilo que ninguém quer
4
dó
que lá se pode ouvir cantar
anda linda
vamos ao poço dos negros
pra ver quem pode lá morar
mais tarde fomos ter àquela parte da cidade
que é mais profunda do que maré baixa
e a lua só visita por vaidade
De novo a estranha moda se dançava
agora com suspiros de saudade
agora com bater de corações
anda linda ...
batiam-se com barriga e roçavam-se nas coxas
os corpos já dourados de suor
e as bocas já vermelhas dos amores
quisemos nós saber qual é o nome desta moda
respondeu-nos um velho já mirrado
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Timor
Mas Deus leva os que ama
Só Deus tem os que mais ama
Música: João Gil
Letra: João Monge
Intérprete: Trovante
In: ’Um destes dias’,1990
jj
Lavam-se os olhos nega-se o beijo
do labirinto escolhe-se o mar
no cais deserto fica o desejo
da terra quente por conquistar
Nobre soldado que vens senhor
por sobre as asas do teu dragão
beijas os corpos no chão queimado
nunca serás o nosso perdão
Ai Timor
calam-se as vozes
dos teus avós
Ai Timor
se outros calam
cantemos nós
Salgas de ventres que não tiveste
ceifando os filhos que não são teus
nobre soldado nunca sonhaste
ver uma espada na mão de Deus
Da cruz se faz uma lança em chamas
que sangra o céu no sol do meio dia
do meio dos corpos a mesma lama
leito final onde o amor nascia
Ai Timor
calam-se as vozes
dos teus avós
Ai Timor
se outros calam
cantemos nós
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Aerograma (Põe o meu retrato...)
Sospirastes Baldovinos
Música: João Gil
Letra: João Monge
Intérprete: Trovante
In: ’Sepes’
Letra e música: Luyz Mylan
In: ’romances’, 1980 (Vitorino, Pedro Caldeira Cabral)
(romance renascentista)
Praça das flores
Versos de Segunda
Sospirastes Baldovinos
Las cosas que yo mas queria
O teneis miedo a los moros
O en Francia teneis amiga
Deus queira que esta
Vos mate a fome aos sentidos
Por agora
Deus queira que esta
Vos guarde a dor aos gemidos
Noite fora
No tengo miedo a los moros
Ni en Francia tengo amiga
Mas tu mora y yo cristiano
Hazemos muy mala vida
Dançamos fandangos
Sobre uma navalha
Pássaros em bando
Em nuvens de limalha
Si te vas con migo eu Francia
Todo nos sera alegria
Hare justas y torneos
Por servirte cada’l dia
E assim eu cá vou indo.
Vem-me o fel à boca
As tripas ao coração
A noite trás a forca pela sua mão
Y veras la flor del mundo
De mejor cavalleria
Yo sere tu cavallero
Tu seras mi linda amiga
Sonho com fantasmas
De pele preta e luzidia
Com manuais de coragem e cobardia
Dizem que há sempre
Um barco azul para partir
Nosso hino
Embarca a alma
E os restos de um rosto a sorrir
Do destino
Põe o meu retrato
No altar de S. João
E uma vela com formato de canhão
Cansa-se esta escrita
Com dois dedos num baraço
Assim o quis a desdita
Vai um abraço.
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111
Sombras
A fisga
Letra e música: Luís Represas
In: ’Represas’ EMI 1993
Música: João Gil
Letra: João Monge
Intérprete: Tim; Rio Grande
In: ’Rio Grande’ 1996
lr
Sorrateiras sombras entre o nevoeiro
Esgueiram-se furtivas sem deixar vestígio
Fogem quando os uivos das sirenes frias
Como o azul que deitam lhes aguça a vida
Nem o frio conta como companhia
O orvalho borda a colcha de uma cama fugidia
Os dias ao contrario são as noites do avesso
São as febres ao começo do inferno em delírio
jj, Luís Garção Nunes, Kim Moreira
C
Trago a fisga no bolso de trás
G7
E na pasta o caderno dos deveres
Mestre-escola, eu sei lá se sou capaz
C
De escolher o melhor dos dois saberes
C
O meu pai diz que o Sol é que nos faz
F
Às vezes têm fome de saber ter fome
E gritar por quem a fome lhes sacia
Ou o medo esmaga comum beijo quente
E com uma carícia adoça a angustia de ser gente.
Minha mãe manda-me ler a lição
G7
Dm
Mestre-escola, eu sei lá se sou capaz
C
Faz-me falta ouvir outra opinião
E
Os olhos vêm longe quando estão fechados
E até lhes trazem cheiros que há muito não sentiam.
Há muito não é tanto porque o tempo ainda é pouco
e enquanto os olhos sonham não lhes dão cuidados.
Sentem-se insensíveis e desafiantes
Nada, nem os homens, pode causar dano
A vida não ficou pior do que era dantes
Nem vai ficar melhor com o fechar dos panos
Am
Eu até nem sequer sou mau rapaz
E
Am
Dm
G7
Mestre-escola diga lá se for capaz
G
C
Pra que lado é que me viro. Pra que lado?
Trago ...
htmlnnota: correção aos acordes
os acordes das músicas do Rio Grande não estão correctos. Aqui vai a
lista correcta dos acordes.
<pre>
versos: C G C C7
ou ainda (outra tonalidade)
[Sol][Re7][Re][Sol]
[Sol][Do][Lam][Re7][Re][Sol]
[SI][Mim][SI][Mim]
[Lam][Re7][Re][Sol]
</pre>
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A7
Com maneiras até sou bem mandado
7
A hora do lobo
Sete mares
Letra e música: Luís Represas
In: ’A hora do lobo’ BMG 1998
Letra e música: Sétima Legião
In: ’Mar D’Outubro’
lr(Galamares, 29-12-1997)
Se todos os desejos fossem medos
E todos os teus gritos vagabundos
E todos os teus gestos só enredos
De uma novela fora deste mundo
Se todos os teus choros fossem raiva
E os dedos fossem pontas de navalha
Os olhos, de repente, a luz que crava
A lança quando o coração te falha
Se a luz do teu sorriso fosse fogo
E o som da tua voz fosse um punhal
Que brilha ao escuro na Hora do Lobo
Quando um suspiro sopra um vendaval
Espero por ti
Na Hora do Lobo
Quando as nossas sombras são iguais
Espero por ti
Na Hora do Lobo
Se estamos juntos não somos demais
Se todos os teus passos fossem grandes
Correndo todo o mundo num só salto
E os braços fossem asas esvoaçantes
Da Águia que vigia lá no alto
Se todas as fraquezas fossem forças
Daquelas que rebentam as muralhas
Que crescem pelo meio das tuas rotas
E que te põem dentro das batalhas
Se toda a tua vida fosse tua
E o teu destino fosse teu refém
Se a Terra toda fosse a tua rua
E a tua rua fosse de ninguém
8
Tem mil anos uma história
de viver
Há mil anos de memória a contar
ai, cidade á beira-mar
azul
Se os mares são só sete
há mais terra do que mar ...
Voltarei amor com a força da maré
ai, cidade à beira-mar
ao Sul
Hoje
Num vento do Norte
Fogo de outra sorte
Sigo para o Sul
Sete mares
Foram tantas as tormentas
que tivemos de enfrentar...
Chegarei amor na volta da maré
ai, troquei-te por um mar
azul
Hoje
Num vento do Norte
fogo de outra sorte
Sigo para o Sul
Azul
nota:
<pre>
Ricardo Camacho - Teclas,guitarra e programação rítmica
Pedro Oliveira - Voz e Guitarra
Rodrigo Leão - Baixo
Gabriel Gomes - Acordeão
Colaboração de Luís San Payo - Percussão
Colaboração de Francis - Guitarra
</pre>
109
Ser Poeta (Perdidamente)
Além-Tejo
Música: João Gil
Letra: Florbela Espanca
Intérprete: Trovante
In: ’Terra Firme’ 87
Letra e música: Sétima Legião
In: ’Mar D’Outubro’
Versos de Segunda (jeito de jj)
Nas terras do Além-Tejo
ao fim dos vales, um monte
Quatro noites para um rio
encontrei-te junto á ponte...
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Áquem e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhas de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dize-lo cantando a toda a gente!
Do passado de um rio
ficou por contar a primeira vez
O passado de um rio
ficou de voltar outra vez
Passaste como um rio
que eu cantei e me deixou aqui
passaste como um rio
e eu não sei passar sem ti...
Soube o teu nome além Tejo
talvez fosses quem perdi
Passaste como um rio
e hoje não passo sem ti
Nota:
Rodrigo Leão - Guitarra
Pedro Oliveira - Voz e Baixo
Ricardo Camacho - Teclas
Nuno Cruz - Bateria
Gabriel Gomes - Acordeão
Paulo Gabriel - Flauta
colaboração de Marco Santos e Francis - Coros
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9
Ao canto da noite
Senta-te aí
Letra e música: Luís Represas
Música: João Gil
Letra: João Monge
Intérprete: Jorge Palma; Rio Grande
In: ’Rio Grande’ 1996
www.luisrepresas.com(Galamares, 20-10-99)
Ao canto da noite
Esperava o dia
Que fossem horas de a ver chegar
jj
Senta-te aí
Ao canto da noite
Já desesperava
Em todos os cantos que deixou p’ra trás
Esperava como dia
Como tarde
Ou até como amanhã
Está na hora de ouvires o teu pai
Puxa para ti essa cadeira
Cada qual é que escolhe aonde vai
Hora-a-hora e durante a vida inteira
Podes ter uma luta que é só tua
Ou então ir e vir com as marés
Se perderes a direcção da Lua
Olha a sombra que tens colada aos pés
Esperava ao ver-se ontem
já levado em braços
Pelo pôr do Sol
Ao canto da noite
Já ninguém ficava
A fingir que faz poemas a ninguém
Ao canto da noite
Já ninguém deixava
Fugir desabafos por perder alguém
Estou cansado. Aceita o testemunho
Não tenho o teu caminho pra escrever
Tens que ser tu, com o teu próprio punho
Era isso o que te queria dizer
Sou uma metade do que era
Com mais outro tanto de cidade
Vou-me embora que o coração não espera
À procura da mais velha metade
Só quem passasse
E olhasse para o nada
Via um vulto que se esconde
Por trás do nada
O dia espera
Como escravo do horizonte
Espera
No fundo do canto da noite
Foge
P’ra longe do canto da noite
Ao canto da noite
Pensava o dia
Que se podia um dia apaixonar
Se houvesse outro dia
Que para ele olhasse
E se deixassem os dois abandonar
10
107
Senhora das rosas
Ao canto de uma noite
Sem ter medos
Sem ter regras a cumprir
Letra e música: Sétima Legião
In: ’de um tempo ausente’, 1989
A. Guimarães
Depois fugir do canto
Sem destino
Sem ter rotas a seguir
6
8
Se
Se
la
sa
− do
− do
− nho − ra quem cha − mais
− nho − ra quem o − lhai
Não
há
te − nho’al
ro
− guem
quan − do
pon − do’os
− sas
por
pra
quem
pas − so’ao vos
o − lhos no
vos
espe
dar
− rar
− so
pas
−
Já se ouviu contar
Que nesse canto mora a alma
De outras tantas almas
De outros cantos
De outras noites
Senhora quem chamais
quando passo ao vosso lado
senhora quem olhai pondo
os olhos no passado
Senhora é bom esquecer
esse triste amor ardente
poois não sabeis viver
ao sabor do amor ausente
Não há rosas pra vos dar
tenho alguém por quem esperar
Senhora o meu amor
não vive num castelo
senhora o meu amor
é doutro olhar mais belo
Eis as rosas que lhe vou dar
há mil rosas pra eu lhe dar
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Ao fim ao cabo
Saudades
Letra e música: Luís Represas
In: ’Represas’ EMI 1993
Letra e música: Sétima Legião
In: ’Mar D’Outubro’
Ao fim ao cabo a Lua
Já nos pareceu mais clara,
Porque antes em redor
A noite era negro carregada !
E como se fosse luz
Ao fundo do túnel prometida
Avançamos sem medo
E com vontade !
Das janelas da cidade
amei-te como ninguém
Foram tempos sem idade
mas quem teve, hoje não tem...
Saudades, triste fado
é tempo de te amar
Saudades, cantam o fado
é tempo de voltar
Se os passos eram longos
Outros mais longos fomos dar
Até que outros mais longos
Fossem possíveis de alcançar
Pois passo atrás de passo
Também os rios vão dar ao mar
Seguros de que não podem regressar.
Vai
Sem desistir de procurar
Ver
Se os trilhos ainda estão marcados
Vai reviver as estradas velhas
E apontar o rumo de outras novas estradas
Desapareceram vidas
E companhias costumeiras
Algumas por trocarem por companhias derradeiras
Mas mesmo assim persistem apresentadas nas fileiras
Guardando o cofre das recordações.
E dia a dia o tempo
Se desintegra e se recria,
E as horas para trás
Chamam-se noite ou gritam dia.
O Galo não se importa
Com o despertar da CotoviaAfinal, é livre de dizer Bom Dia !
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Das janelas ao teu lado
tão antigas, que eu amei,
vou cantar este meu fado
de viver o que sonhei
Saudades, triste fado
é tempo de te amar
Saudades, cantam fado
é tempo de voltar
Saudades, triste fado
é tempo de te amar
Saudades que serão fado
se o tempo nos faltar
Nota:
Rodrigo Leão - Baixo e Voz
Ricardo Camacho - Teclas, Guitarra acústica e Slide guitar
Paulo Abelho - Percussão
Paulo Gabriel - Flauta e Gaita de Foles
Gabriel Gomes - Acordeão
Pedro Oliveira - Voz
colaboração de Francis e Marco Santos - Coros
105
Rua do Quelhas (homenagem a Florbela
Espanca)
Música: Vitorino
Letra: Lobo Antunes
In: ’Eu que me comovo por tudo e por nada’,1992
jj
Aquele Inverno
Letra e música: Miguel Ângelo; Fernando Cunha
Intérprete: Delfins; Resistência
Hugo Dias
G
Há sempre um piano
C
um piano selvagem
Morre-se devagar neste país
onde é depressa a mágoa e a saudade
oh meu amor de longe quem me diz
Como é a tua sombra na cidade
G
que nos gela o coração
D
e nos trás a imagem
am
daquele inverno
C
Morre-se devagar em frente ao Tejo
repetindo o teu nome lentamente
cintura com cintura, beijo a beijo
e gritá-lo, abraçado, a toda a gente
Morre-se devagar e de morrer
fica a cinza de um corpo no olhar
oh meu amor a noite se vier
é seara de nós ao pé do mar
naquele inferno
Há sempre a lembrança
de um olhar a sangrar
de um soldado perdido
em terras do Ultramar
por obrigação
aquela missão
G
D
C
am
Combater a selva sem saber porquê
G
D
C
e sentir o inferno a matar alguém
G
D
e quem regressou
G
D
guarda sensação
Am
que lutou numa guerra sem razão...
G
sem razão... sem razão...
Há sempre a palavra
a palavra ’nação’
os chefes trazem e usam
pra esconder a razão
da sua vontade
aquela verdade
E para eles aquele inverno
será sempre o mesmo inferno
que ninguém poderá esquecer
ter que matar ou morrer
ao sabor do vento
naquele tormento
Perguntei ao céu: será sempre assim?
poderá o inverno nunca ter um fim?
não sei responder
só talvez lembrar
104
13
D
am
o que alguém que voltou a veio contar... recordar...
recordar...
Aquele Inverno
porque te amava?
Quem disse
que esta paixão te espantaria?
Quem pensou
que esta saudade me rasgava?
Que tudo era diferente
se te via
Que o pior era saber
que aqui não estavas?
Quem disse
que esta ternura te devia?
Quem pensou que este saber
se enganava?
Neste langor crescente
que crescia
Neste entender de nós
que cintilava?
14
103
Quem disse
Aqui não me parece
Música: Luís Represas
Letra: Maria Teresa Horta
In: Galamares, 30 de Janeiro de 2000
Letra e música: Luís Represas
(Galamares, Dezembro 1999)
Aqui não me parece que haja faltas
Ou ausência de carinhos entre os dois
Aqui não me parece que o vazio
Descubra uma janela para entrar
Quem disse
que esta ausência te devia?
Quem pensou
que esta denúncia se enganava?
Que um dia era pior
que outro dia
Que à noite era melhor
porque sonhava?
Aqui não me parece que as parecenças
Pareçam mais reais do que a verdade
Aqui não me parece que as diferenças
Não sejam coincidências de igualdades
Aqui não me parece que as manias
Sejam donas dos nossos desafios
Aqui não me parece que os bons dias
Nos acordem mais ou menos frios
Quem disse
que esta dor te pertencia?
Só me parece bem
Tudo o que em nós existe
E nos vem à memória
Quem pensou que este amor
me perturbava?
Só me parece bem
O que no fundo viste
E não passou à história
Que o longe era mais perto
se fugias
Que o dentro era mais longe
porque estavas?
Aqui não me parece que uma carta
Tenha a força que já teve outrora
Aqui não me parece que os recados
Não venham a não ser pela boca fora
Quem disse
que este ardor te evidência?
Quem pensou que esta pena
me cansava?
Aqui não me parece que haja medos
Nem falta de palavras ou expressões
Aqui não me parece que se esqueçam
Os códigos dos nossos corações
Que calar era pior
se te despia
Que gritar era pior
se te largava?
Quem disse
que esta paixão me curaria?
Quem pensou
que esta loucura me passava?
Que deixar-te era paz
porque corria
Que querer-te era mau
102
15
A reconquista
Queda do Império (perguntei ao vento)
Letra e música: Sétima Legião
In: ’Mar D’Outubro’
Letra e música: Vitorino
In: Flor de la mar/1983
Aveiro, Luís Jordão
Dos mares da Irlanda e das costas da Bretanha
vão partir velas ao Sol
Há bandeiras desfraldadas, torres, lanças, brilham espadas
vão reconquistar o Sul
Os Celtas que vão partir
quando o Sol nascer...
Grinaldas nas ameias, ardem as
que não nos podem queimar
Gaiteiros enfeitados, vão tocar cantos passados
por aqui vai começar
e vem dançar, vem dançar
até o sol nascer
Das ribeiras da Galiza, através da Ibéria antiga
em nome dos nossos Reis
retomar as fortalezas, ’Sant’Iago e aos Mouros’
para impor as nossas leis
os Celtas que vão partir
quando o mar crescer...
Ignorem-se os presságios que nos falam de naufrágios
vão partir velas ao sol
São guerreiros enfeitados que ao som de cantos passados
vão reconquistar o Sul
Mas vem dançar, vem dançar
até o sol nascer...
C
Am
Perguntei ao vento
F
G
Onde foi encontrar
E
Am
Mago sopro encanto
D
G
Nau da vela em cruz
F
C
Foi nas ondas do mar
Am
Do mundo inteiro
G
F
Terras da perdição
Am
E
Parco império mil almas
F
C
G
C
Por pau de canela e mazagão
E
Am
Pata de negreiro
D
G
Tira e foge à morte
F
C
Que a sorte é de quem
Am
A terra amou
F
G
E no peito guardou
E
Am
Cheiro a mata eterna
F
C
Laranja, Luanda
G
C
Sempre em flor
Dos mares da Irlanda
Gaiteiros Guerreiros
Bandeiras Fogueiras
Castelos Reconquista
Nota:
Rodrigo Leão - Baixo e Coros
Pedro Oliveira - Voz e Guitarra
Nuno Cruz - Bateria
Paulo Gabriel - Gaita de foles e bombarda
Paulo Abelho - Percussão
Ricardo Camacho - Teclas e guitarra acústica
colaboração de Francis e Marco Santos - Coros
16
101
Quando me perco
Assalto (ao beijo armado)
Letra e música: Luís Represas
In: ’Cumplicidades’ EMI 1995
Letra e música: Luís Represas
In: ’A hora do lobo’ BMG 1998
lr(Galamares, 23-27/11/1997)
Quando me perco
busco um abrigo
ou um tecto que não tolha os meus sentidos
E se o teu céu, por ser maior,
cobrir o pranto?
eu vou!
Quando me peco
sigo uma estrela
que não brilha igual
em todo o firmamento.
E se cair para lá das ilhas encantadas?
eu vou!
Se o teu nome não fosse
o do pecado,
ou da benção que o céu
hoje me deu,
nem por montes,
nem por mares
onde o sol nunca nasceu,
perderia o rasto
de um sorriso teu!
O dia nasceu
mais cedo que eu esperava,
e nem me deu tempo
de esconder a luz que entrava.
A noite correu
depressa demais
e nem fez questão de me avisar.
Ainda dormia
no ar, aconchegado,
um cheiro tão doce
de um segredo bem guardado.
Nem cara, nem nome,
nem voz, nem silêncio.
Nem mesmo a lembrança de um recado.
O corpo,
a alma,
alguém os levou de mim.
Sem medo,
com calma,
quem foi que me teve assim?
Quando me perco
sigo uma voz
que me chama bem do fundo
das certezas.
Mesmo que chegue
como um canto de sereia?
eu vou !
Sem marcas na cama
nem cabelos na almofada,
nem traços de lama
no tapete da entrada.
Nem copos vazios,
nem cigarros frios,
nem rasgos profundos na guitarra.
Alguém me deixou
voltar desamparado
do fundo do sono
num assalto ao beijo armado.
Um crime perfeito
sem ter um suspeito
nem provas do tanto que roubou.
Quando me perco
ou se me encontro,
ou se me der para ser banal
tal como agora,
tudo não passa
da vontade de dizer?
eu estou !
Ferido de morte neste assalto
-podia o tiro ser de amor!
Porque de amor já ninguém morre...
só de um desejo matador!
100
17
Proscritos
Letra e música: Luís Represas
In: ’Represas’ EMI 1993
Descaíram braços
ficamos sem contar o resto
que se passou outrora
apagamos traços
ficamos sem notar os vincos
na carne da memória
Já tapamos os quadros
aconchegamos os lençóis
das figuras principais
e beijamos as testas
remetendo p’ra bons sonhos
as lembranças ancestrais
Somos proscritos
senhores da face escura dos sois
já nos quiseram benditos
já nos amaram como heróis
Até já
não suportamos tanto
voltamos já
desarrumados do canto
já é depois
somos os filhos do espanto
já estamos cá
ainda nos resta um encanto
Como demónios vamos
Sobrevoando as partituras
das cabeças geniais
como toupeiras vamos
adivinhando com angústia
os passos débeis e finais
Estaremos já
De pés e mãos atados
A um conforto qualquer
Ou então esquecemos
Que viver merece a luta
Que merece uma mulher
18
99
Postal dos correios (querida mãe, querido pai, ...)
Música: João Gil
Letra: João Monge
Intérprete: Tim; Rui Veloso; Rio Grande
In: ’Rio Grande’ 1996
Letra e música: Luís Represas
Às vezes conto as horas
da cabeça aos pés
da vela
da solidão
jj, Luís Garção Nunes, António Pinho
G
Às vezes
Bm
Querida mãe, querido pai. Então que tal?
C
Am
Nós andamos do jeito que Deus quer
C
G
Enquanto arde
o escuro não se vê
Entre dias que passam menos mal
Em
D
(C)
G
Lá vem um que nos dá mais que fazer
Mas falemos de coisas bem melhores
A Laurinda faz vestidos por medida
O rapaz estuda nos computadores
Dizem que é um emprego com saída
Cá chegou direitinha a encomenda
Pelo ’expresso’ que parou na Piedade
Pão de trigo e linguiça pra merenda
Sempre dá para enganar a saudade
Espero que não demorem a mandar
Novidade na volta do correio
A ribeira corre bem ou vai secar?
Como estão as oliveiras de ’candeio’?
Já não tenho mais assunto pra escrever
Cumprimentos ao nosso pessoal
Um abraço deste que tanto vos quer
Sou capaz de ir aí pelo Natal
Nota: correcção dos acordes
os acordes das músicas do Rio Grande não estão correctos.
Aqui vai a lista correcta dos acordes.
1.a
parte : D F#m G Em G D A D
2.a parte : G Bm C Am C G D G
na parte final : C G D G e acaba em D
Às vezes pinto a cara
de uma côr solene
só para me entreter
A ver se vejo o que se vê
E são vezes sem conta
que me sento a ler
segredos que refaço por prazer
Estão escritos numa folha de ar
que respirei
Às vezes saio em braços
a cantar vitória
de uma luta desigual
Só eu sei como se luta de memória
E são mais de mil vezes
vezes outras mil
que adormeci ao som
de uma surdez gentil
Que afunda ainda mais o sono no vazio
e me passeia pelo meu lado menos frio
Quando me vires assim
poupa-te ao esforço
não tentes guardar recordações de mim
Quando me vires assim
não é por castigo
é porque aprendi
contigo
a não procurar abrigo
98
19
e assim estar mais junto de ti
Porque não me vês Joana
Às vezes tenho o telemóvel da cabeça
desligado na central
que está na terra á minha espera
Letra e música: popular: Alentejo
Intérprete: Vitorino
In: ’Não há terra que resista - Contraponto’, 1979
Victor Almeida (Elvas)
À espera dos recados dos sentidos
que chegam de todos os lados
O coração é uma caixa postal
Porque não me vês Joana
Pois sabem que meu desejo
Crece quando não te vejo
Cresce se estou na cidade
E não me deixa no mato
Não sei se me resguarde
E de tudo me recato
Não espero que o Sol venha
p’ra me confundir
quando se veste de noite
e convida a fugir
do certo ou do errado
ou do ainda pior
Às vezes faço eu as regras a seguir
Não me custa tan barato
O dia que te não vejo
Que não morra de desejo
Num gesto lento e meio raro
afasto cortinas de luz
vejo-te a sombra do vestido
Volto do fim do medo ao mundo
volto do fim do mundo à espera
de te encontrar ainda aqui
20
97
Por quem não esqueci
A última festa
Letra e música: Sétima Legião (?)
Intérprete: Sétima Legião
In: ’de um tempo ausente’, 1989
Letra e música: Luís Represas
In: ’A hora do lobo’ BMG 1998
lr(Galamares, 28-10-97)
Nuno Jacinto
Era uma pérola mais
que ia passando
de concha em concha
Acordes:
Lá
Sim7 Mi7 Lá
Lá
Dó#m7Sim7 Lá
[4x]
Mi7 Lá
[3x]/
Lá
E ao passar
só ficavam
conchas fechadas para não voltar.
Sim7 Mi7 Lá
[3x]
Lá
Dó#m7Sim7 Lá
Um dia, ao de leve, o mar abriu
a boca á Sereia da Paixão.
E assim nasceu mais um sorriso
que se abre a quem vive em solidão
Há uma voz de sempre,
Que chama por mim.
Para que eu lembre,
Que a noite tem fim.
Por cada pérola mais
que encontre o destino
da tua boca
Ainda procuro,
Por quem não esqueci.
Em nome de um sonho,
Em nome de ti.
Por cada beijo que houver
sentido
o desejo de uma resposta.
Procuro à noite,
Um sinal de ti.
Espero à noite,
Por quem não esqueci.
Que sopre outra vez em turbilhões
e faça estoirar os corações,
e regue os desertos das almas
que bebem dos rios de ilusões
Eu peço à noite,
Um sinal de ti.
Quem eu não esqueci...
Toma de assalto o que resta
Dança na ultima festa
Voa
Quem sabe se há espaço
e te espera um abraço ao chegar.
Por sinais perdidos,
Espero em vão.
Por tempos antigos,
Por uma canção.
Ainda procuro,
Por quem não esqueci.
Por quem já não volta,
Por quem eu perdi.
96
21
Ausência e tu
De se ressuscitar
Letra e música: Luís Represas
In: ’Cumplicidades’ EMI 1995
Voltou
Por cima de tudo
Desfraldando vida
Cavalgando o sonho
E na berma da estrada
Nem ele se lembra
De si
lr(20/5/95)
A noite já não cai como caía dantes
E a lua não se expõe com tanto avontade
As ruas brilham menos por não ter brilhantes
Que alguém roubou do guarda jóias da cidade
Cansadas estão as penas dos nossos poetas
Que correm nos papeis em busca dos amantes
P’ra lhes dar um motivo p’ra guiar as setas
Que os cupidos que restam lançam delirantes
Só tu me dás motivos p’ra manter acesa
A luz que brilha junto da minha janela
Alguma coisa quente e flores sobre a mesa
Algum amor que se consome numa vela
Já tudo em volta parece estar deserto
Contudo um cheiro intenso me revolve o fundo
Da alma só me resta um desejo certo
De me saber sozinho contigo no mundo
Se o sol tiver a força que duvido ter
De matar as dúvidas que a noite tem
Certamente um olhar se trocará com outro
Adivinhando um beijo que decerto vem
22
95
Por cima da vida
A veza mais próxima do fim
Letra e música: Luís Represas
In: ’Cumplicidades’ EMI 1995
Letra e música: Luís Represas
In: ’Represas’ EMI 1993
(8/5/95)
Deixou
Na berma da estrada
Um resto de tudo
Um rasto
De tudo o que era seu
E nada lhe dizia
Adeus
Teus olhos amanheceram
como ontem, como sempre,
mas com um brilho diferente,
sincero, lindo e presente
que quase temi por eles
ou antes temi por mim
Afinal correram anos.
E podemos complicar;
se em vez de anos foicem horas
o peso já era grande
para o tempo levar sobre as asas
o tempo que fez passar.
E nem olhou
Por cima do ombro
Por cima da vida
Por baixo dos sonhos
Que há muito as incertezas
Perdeu
Temi por mim.
Atrás de si só terra
Queimada pelo vício
De esperar muito mais de si
Atrás de si só um sinal
Que os homens lhe mostraram
’o mundo para ti termina aqui’
Em frente
Tanto mais é longo
O dia
Quanto mais for cega
A falta de paixão
Que se transforma em frio
E dor
Porque as vezes que amanheceram
e que se abriram assim
se calhar já foram tantas
se calhar já foram sempre
que temi que fosse aquela
a vez mais próxima do fim
Enquanto o temor fizer
com que a angústia me invada
não posso querer mais nada
a não ser querer rever
igual que ontem e sempre
o brilho sincero e presente
que amanheceu para mim.
Sonhar
Mesmo sem dormir
Mesmo sem ser noite
Mesmo sem ter dias
Mesmo sem sonhar
É como se outra vida
Vier
O coração só se nega
Quando o sonho se entrega
P’ra se desesperar
Por cada desespero um sonho
Por cada sonho uma vontade
94
23
Benção de ser homem
Letra e música: Luís Represas
In: ’A hora do Lobo’ BMG 1998
lr(Galamares, 4/12-12-1997)
p’ra me embalar
no meu repouso
de aventureiro
[refrão]
Quem subir ao cimo dessas dunas
há-de ver o mar
onde eu pescava um dia
sem saber
que pescar é benção de ser Homem
e ser Homem é
a benção de poder viver de pé.
Já muitas campas eu pisei sem querer
e outras eu abri cedo de mais
se alguém me obriga a ir além fronteiras
eu me assumo aqui
como mais um dos animais.
(...quisera eu que fôssemos iguais)
Quem subir ao cimo desse monte
há-de ver a terra
onde eu lavrava sonhos sem saber
que lavrar é benção de ser Homem
e ser Homem é
a benção de poder sonhar de pé
Já muitas vidas eu levei sem querer
e outras eu roubei cedo demais
se alguém me obriga a ir além fronteiras
fujo como foge
qualquer um dos animais.
(...quisera eu que fôssemos iguais)
Fecho a fronteira p’ra lá de mim
olho-me em ti p’ra me ver
juro que a paz não faz parte de um sonho
espero por ti p’ra vencer
Quem descer o curso desse rio
há-de ver as margens
onde eu amei um dia sem saber
que amar é benção de ser Homem
e ser Homem é
amar a benção de quem nos quiser
Já muita esperança eu tirei sem querer
e outras eu vivi cedo demais
24
93
Peter’s
ninguém me obriga a ir além fronteiras
onde ninguém se ama
nem o melhor dos animais.
(...quisera eu que fôssemos iguais)
Música: João Gil
Letra: Luís Represas
Intérprete: Trovante
jj
Encontro uma Ilha
será maravilha ou tem
o que ninguém deu
durante a viagem
p’ro outro lado
É mais outra ilha
será que é mais outro porto
em que se bebeu
e se esqueceu
um outro fado
[refrão=]
Há quem espere por nós assim
mesmo ao meio da rota do fim
há quem tenha os braços abertos
para nos aquecer
e acenar no fim
Há quem tema por nós assim
quando os barcos partem por fim
há quem tenha os braços fechados
com beijo jurado
eu voltarei pra ti
Nunca é miragem
sabemos que o cais é certo
é a estrela polar
em sol aberto
a castigar
Ficamos mais perto
sentimos mais dentro a força
do que nós somos
e do que queremos
reconquistar
[refrão]
Dança de nuvens
o vento é meu companheiro
92
25
Bolero do coronel sensível que fez amor
em Monsanto
Música: Vitorino
Letra: Lobo Antunes
In: ’Eu me comovo por tudo e por nada’, 1992
Victor Almeida
Eu que me comovo
Por tudo e por nada
Deixei-te parada
Na berma da estrada
Usei o teu corpo
Paguei o teu preço
Esqueci o teu nome
Limpei-me com o lenço
Olhei-te a cintura
De pé no alcatrão
Levantei-te as saias
Deitei-te no banco
Num bosque de faias
De mala na mão
Nem sequer falaste
Nem sequer beijaste
Nem sequer gemeste,
Mordeste, abraçaste
Quinhentos escudos
Foi o que disseste
Tinhas quinze anos
Dezasseis, dezassete
Cheiravas a mato
À sopa dos pobres
A infância sem quarto
A suor, a chiclete
Saíste do carro
Alisando a blusa
Espiei da janela
Rosto de aguarela
Coxa em semifusa
Soltei o travão
Voltei para casa
De chaves na mão
Sobrancelha em asa
Disse: fiz serão
Ao filho e à mulher
Repeti a fruta
Acabei a ceia
Larguei o talher
Estendi-me na cama
Para sempre
Letra e música: Luís Represas
(Galamares 25 de Janeiro de 2000)
Já passaram tantos anos
Pela tua porta aberta
Já viveste tantos sonhos
E hoje ainda tens quem eras
Já o corpo perde o brilho
Mas não deixas que se apaguem
Os incêndios dos desejos
E as estrelas de outra idade
Esquecida como um quadro
Na parede mais
Já não vez os mesmos olhos
Que adoravam noite e dia
Foste a Deusa que deixava
Sobre todos os altares
As caricias mais ousadas
Que ao amor sacrificavas
Ainda o vento sopra leve
Diz que lá fora
Ainda podes voar
Dentro de ti
Se olhares no espelho
Encontrarás
A alma p’ra se amar
Encontrarás
P’ra sempre o teu olhar
Já ninguém te rouba ao sono
Num assalto de paixão
Já ninguém te oferece o dia
volve o coração
Não encontras mais os versos
Escondidos na almofada
Que diziam que eras tudo
E hoje sentes que és mais nada
26
91
Os limites do mar
Letra e música: Sétima Legião
In: ’Mar D’Outubro’
No regresso dos navios
tantas lendas que ouviu...
Quis um rei ir encontrar
os limites do seu mar
II
Mar sem fundo, a dormir
o fim do mundo há-de vir...
Rei não fiques, vais agitar
os limites do teu mar
De ouvido à escuta
E perna cruzada
Que de olhos em chama
Só tinha na ideia
Teu corpo parado
Na berma da estrada
Eu que me comovo
Por tudo e por nada
Nota:
Rodrigo Leão - Baixo
Ricardo Camacho - Teclas e Guitarra Acústica
Nuno Cruz - Bateria
Paulo Abelho - Percussão
Pedro Oliveira - Vozes e Guitarra
Gabriel Gomes - Acordeão
90
27
Canção para a minha filha Isabel adormecer quando tiver medo do escuro
Música: Vitorino
Letra: Lobo Antunes
In: ’Eu que me comovo por tudo e por nada’,1992
jj
Os homens do largo
Letra e música: Vitorino
Intérprete: Janita Salomé
In: ’Vozes e Guitarras’, 97
Victor Almeida (viola Pedro Jóia)
Não interessa o frio, já é hora das trindades
Tosse ao desafio com os cães
Colado à brancura da parede dos quintais
Ainda mal se vê já aí vem
Nem sombra nem luz
nem sopro de estrela
nem corpinhos nus
de anjos à janela
nem asas de pombos
nem algas no fundo
nem olhos redondos
espantados do mundo
nem vozes na ilha
nem chuva lá fora
dorme minha filha
que eu não vou embora
Uma bucha dura, navalhinha de cortar
Venha mais um copo p’ra aquecer
Tem a alma fria de tanto tempo passar
Lá vem mais um dia p’ra esquecer
Sentado num banco, espera sempre o vento norte
O sol posto dita
Já não espera mágoas nem dá danos a ninguém
Dorme e já não volta amanha
28
89
O que vai ser
Chave dos sonhos
Letra e música: Luís Represas
Música: Luís Represas
Letra: Sérgio Godinho
In: ’Cumplicidades’ EMI 95
(Galamares, 23-8-99)
Reconhecer o perigo
Reconhecer o mal
Não há pior instinto
É como ser um cristal
(Novembro 95)
Luz sai da frincha, é manhã
Sei que o dia já desarvora
Chave dos sonhos na mão
Olho-te e vais embora
Adivinhar um beijo
De um olhar sedutor
As coisas que antevejo
Trespassam-me de temor
Sais pela rua velo
Sinto a brisa do teu corpo perto
Chave dos sonhos guardei
No quarto já deserto
Acendem-se os sinais
Repetem-se os avisos
Um ou dois passos mais
Ou só mais alguns sorrisos
Passei a noite em claro
Passei p’la noite em ti
E abri com a chave dos sonhos
A porta e a varanda que em sonhos abri
Enquanto o nevoeiro
É cada vez mais denso
Entre o que ainda não disse
E o que se calhar não penso
O que vai ser juro que vi
Sair aquela porta e nem sequer se despedir
O que vai ser juro que ouvi
Dizer que este momento nunca passa além daqui
O Sol á meia-noite
Cega mais que de dia
Só quem nele se queima
É que sabe da agonia
São mais confusas agora
As imagens que em ti eu tocava
Eram do sonho ou de olhar
O que o prazer mostrava ?
Chave dos sonhos na mão
Entrarei em qualquer fechadura
P’ra lá da porta, o melhor
É sempre da aventura
Guardo com a chave dos sonhos
Segredos que o corpo merece
Se alguém não quis arriscar
Então que o não tivesse
Que vem assim de dentro
r tão fria
Como um surdo lamento
Como uma maré vazia
Ontem arriscaste mais
Do que uma simples coisa exigia
Deste-me a chave dos sonhos
O caos e a harmonia
E se deixasse cair os braços
Ou lança-los em redor de ti
E se deixasse enganar a alma
E fosse o abismo que já previ
88
29
Cinco estradas
Ó patrão dê-me um cigarro
Música: Rildo Hora
Letra: Luís Represas
(Galamares, 27 de Janeiro de 2000)
Letra e música: popular: Alentejo
Intérprete: Vitorino
In: ’semear salsa ao reguinho’, 1975
Já corremos
As cinco estradas
Já juntamos muitas mãos p’la vida fora
Descansar nunca foi ponto de chegada
E resistir foi sempre o porto de partida
Ó patrão dê-me um cigarro
Acabou-se o tabaco
E o trigo que eu hoje entarro
Fumando dá mais um saco
Companheira
Das cinco estradas
Como cruz que carregamos na encruzilhada
Todas elas nos levaram à felicidade
De estarmos juntos já no final desta jornada
Canta o melro no silvado
E o rouxinol na ribeira
Ó minha pombinha branca
Quero ir à tua beira
Quero ir à tua beira
Quero viver a teu lado
Rola o pombo na azinheira
Canta o pardal no telhado
Por cada estrada da vida
Construímos um sonho
Por cada sonho outra vida
Que outra estrada andou
Uma foi feita de guerra
E outra de acreditar
Outra de dor
Outra de amor
Outra de Paz
Se a morte fosse interesseira
Ai de nós o que seria
O rico comprava a morte
Só o pobre é que morria.
Cinco estradas
Sem ter fronteiras
Onde os medos e as paixões se olharam de frente
Cinco gotas de suor outras de pranto
Fizeram rios que se juntaram no mesmo mar
30
87
dela) que se chama ’Passaros do Sul’ e onde ela ’põe’ musica
neste lindissimo poema, e faz uma coisa tão simples que se
torna espectacular. Não sei se já ouviste alguma vez mas olha
que vale bem a pena. Acresnto só que o album tem a produção e direcção musical de um Trovante que é o Manuel Faria
(que também toca teclas em duas canções) e a participação de
outros ’Trovantes’ como José Salgueiro (bteria), Artur Costa
(metais) e Fernando Judice (baixo), também de um homem
que pertenceu à primeira formação dos Trovante (a de ’Baile
no Bosque’) que é o João Nuno Represas. Além de outros
excelentes musicos como: Antonio Ferro, Renato Junior, Rui
Luís Pereira e Mario Gramaço.
Com um desejo só
Letra e música: Luís Represas
In: ’Cumplicidades’ 1995
(9/5/95)
Andavam passeando
como se tudo fosse meu
o céu, a rua, o vento
os beijos que alguém me ofereceu
Pareciam radiantes
e contentes de poder
saltar o mundo
e cruzar espaços que ficaram por se ver
Falavam dessas coisas
que costumamos falar
se é que falar é tão silencio
como o que se ouve no ar
Voavam pelos cheiros
que já não posso lembrar
e embalavam-me nas ondas
que ainda cheiravam a mar
Os pensamentos vivem
com um desejo só
amarem-se por nada
por tudo ou por ninguém
poderem ver-se livres
só por um instante e ter
coragem de fazer o que eu
há muito me esqueci.
Depois de já cansados
debruçaram-se p’ra ver
se o meu cansaço ainda se consome
num desejo de te ver.
Assim, mais adiante,
como se tudo fosse teu
juntaram-se uns aos outros
e partiram sem promessa de um adeus.
86
31
Contos do príncipe Real
O menino da sua mãe
Letra e música: Vitorino
In: ’Não há terra que resista’, 1979, para a Florbela Espanca
Música: Mafalda Veiga
Letra: Fernando Pessoa
In: ’Pássaros do Sul’, 1987
Victor Almeida
Victor Almeida
No jardim do Príncipe Real
(ainda hoje tenho de lá ir)
Encontrei-me com fulana de tal
Pus-me a ver as estrelas a luzir
Trocámos silêncios de mãos dadas
Conversámos com os olhos e o pensar
Espreitavam-nos do quarto da criada
Do Palácio Italiano com portal
Mas um dia perdeu-se o coche vermelho
Que a princesa levava sempre ao jardim
Meteu-se por caminhos que não têm fim
Perco a esperança de à noite tornar a vê-lo
Novembro, maldito mês das almas,
nesse ano nem o azul do céu poupaste,
carregaste com nuvens de negro corte,
Mas vamos rapazes depressa ao vinho,
Porque ao vinho não o vence nem a morte
No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
- Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece
Raia-lhe a farda o sangue
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos
Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho unico, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe».
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve
Dera-lhe a mão. Está inteira
É boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.
De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
’Que volte cedo, e bem!’
(Malhas que o Império tece’)
Jaz morto, e apodrece,
O menino de sua mãe.
Nota:
Hoje estava eu muito sossegado no meu cantinho a ’dar um
olho’ a Pessoa quando me aparece este poema. Lembrei-me
de um excelente album de 1987 da Mafalda Veiga (o primeiro
32
85
O melhor de mim
Delicada da cintura
Letra e música: Luís Represas
In: ’Cumplicidades’ EMI 1995
Letra e música: popular: Alentejo
Intérprete: Vitorino
In: ’Não há terra que resista - Contraponto’, 1979
(19/5/95)
Victor Almeida (Redondo)
Falei demais
Quando te quis mostrar
Quem ficou
Esperei demais
E afinal é quase nada
O que restou
Delicada da cintura
Como a palha do centeio
Tu é que és a criatura
Por quem eu tanto vareio
Os olhos do meu amor
São duas azeitoninhas
Fechados são dois botões
Abertos duas rosinhas
E como foi
Em tanta gente
Tanta gente confiou
E se entregou
Como se entrega ao vento
A nuvem que passou
Eu gosto dos figos lampos
Da figueira rebeldia
Gosto das moças do campo
Olha a minha simpatia
Pensava que não pensavam
E tudo ficava assim;
Mas quando abri os olhos
Já tinham pensado por mim!
Pensava que não falavam
E nada ficava por fim;
Mas sempre tinham tentado
Levar o melhor de mim.
Nas ondas do meu cabelo
Vou-me deitar a afogar
É p’ra que saibas amor
Que há ondas sem ser no mar
Como será ?
Será que tudo isto se repetirá!?
De quem será
Que a primeira gota
Se derramará!?
Quisera ver
Quisera ter só risos para recordar
E entregar
A alguém que saiba rir
E nunca o que é chorar!
84
33
Diz a laranja ao limão
Olhos
Letra e música: popular: Alentejo
Intérprete: Vitorino
In: ’Não há terra que resista - Contraponto’, 1979
Letra e música: Luís Represas
In: ’Represas’ EMI 1993
Victor Almeida (Elvas)
O Arco Íris não me faz medo
se no fundo houver um pote em segredo
que guarde a história dos homens
e esconda a história da vida
dos olhos dos predadores
Diz a laranja ao limão
Qual de nós será mais doce
Sou fiel ao meu amor
Assim ele p’ra mim fosse
Uma tempestade não me faz medo
Se no ar houver uma força em segredo
que anime a história dos homens
e guarde a história da vida
dos olhos dos predadores
Assim ele p’ra mim fosse
Fiel ao meu coração
Qual de nós será mais doce
Diz a laranja ao limão
O mar revolto não me faz medo
se a água não revela segredos
e benze a história dos homens
e lava a história da vida
dos olhos dos predadores
O vento norte não me faz medo
se a brisa sul disser em segredo
- eu amo a história dos homens
e turvo a história da vida
nos olhos dos predadores
A Lua Nova não me faz medo
se lá viver um Velho em segredo
que oculte a história dos homens
e esconda a história da vida
dos olhos dos predadores
A selva inteira não me faz medo
enquanto houver uma árvore em segredo
que aqueça a história dos homens
e feche a história da vida
á estrada dos predadores
Os elementos que gritem
e a matéria se revolte
e quem mais puder que ajude
a dar novo brilho ao sol
34
83
Oh que janela tão alta
Do fundo do tempo
Letra e música: popular
Intérprete: Vitorino
In: ’Romances’; 1991
Letra e música: Luís Represas
In: ’A hora do lobo’ BMG 1998
lr(Galamares, 5-10-97)
A. Guimarães (Arranjos: Pedro Caldeira Cabral)
Quero mais
Sentir assim
O que o amor revelou.
Sentir mais
Como chegou
Sem se assustar com um fim.
Oh que janela tão alta
feita de cal e areia
oh que menina tão linda
numa janela tão feia
Janela de pau de pinho
que a meu respeito te abriste
torna-te a cerrar janela
disfarça que me não viste
Se ao menos forem as cores da Lua
Que nos queimaram de leve,
As marcas serão eternas
Enquanto a vida quiser.
Além naquela janela
eu a fiz eu a risquei
a menina que lá mora
só por morte deixarei
Quero mais
Ouvir assim
Silêncios sem te tocar.
Ouvir mais
Dentro de ti
O que quiseres revelar.
Se ao menos forem os sons da Lua
Que nos fizeram dançar,
Os passos serão eternos
Enquanto a vida tocar.
E se algum dia esqueceres
O que a paixão te ensinou,
Não vás procurar na Lua
Aí só descansa a dor.
Procura o fundo do tempo
A porta onde passou
Um dia a felicidade
E para ti se fechou.
Quero mais
Saber-te assim
Num sono sem repousar.
Cada sonho é um mistério
Que tenho de desvendar.
Se ao menos forem das cores que o Sol
Nos pintou ao acordar,
Os sonhos serão eternos
Enquanto a vida os pintar.
82
35
fechei os olhos ao medo
a tua mão não me escapa
não é tarde nem é cedo
[refrão]
36
81
O caçador da Adiça
E foi Dezembro
Música: João Gil
Letra: João Monge
Intérprete: Rio Grande; Vitorino
In: ’Rio Grande’, 96
Música: Luís Represas
Letra: Soledade Martinho Costa
In: ’Cumplicidades’ 1995
jj, Luís Garção Nunes
E foi Dezembro
Dito
Em tua voz
Que as minhas mãos
Colheram
Devagar.
D
Subi à serra da Adiça
G
D
e só parei no talefe
D
F#m
a lua alegre e roliça
A
Bm
aumentava o tefe tefe
E foi Dezembro
Escrito
Quando a sós
Tudo disseste
Quase
Sem falar.
Em
G
Levei a saca de estopa
(G)
preparado para caçar
G
D
faço dela a minha roupa
G
D
se o frio da noite apertar
D
O teu coração parece
Foi um palco
Vazio
A acontecer
No frio
Que se ergueu
Dentro de nós.
D
Bm
uma pedra sem destino
F#m
D
dizem que só amolece
Bm
A
ao canto de um gambozino
Uns dizem que é fugidio
os outros que é de má raça
tenho de ter algum brio
para não espantar a caça
Uma distância
O mar
Que se estendeu
A separar da minha
A tua mão.
[refrão]
F#m
Bm
Assim me fiz caçador
F#m
Bm
Sem espingarda nem ’Piloto’
G
D
para ter o teu amor
G
D
para te cair no goto
G
D
para ter o teu amor
G
D7
E foi Dezembro
Inteiro
A anunciar
A solidão
Dos dias
Por nascer.
D
para te cair no goto
E foi Dezembro
À chuva a reviver
As pedras
E os rios
E os luares.
As coisas que a gente faz
a dar vazão ao que sente
já pensava em vir pra trás
sai-me um vulto pela frente
Os nomes
Que vestiam
Abri a boca da saca
80
37
Noutro lugar
Os lugares
E os sonhos
Repartidos
Que não fomos.
Letra e música: Sétima Legião
In: ’Mar D’Outubro’
A coragem
Nascida
De aceitar
A verdade de ser
O que hoje somos.
D’outra vez, noutro lugar
ninguém espera junto ao cais
sem razão, barcos que não voltam mais
os dias vão sem te levar...
E tenho tanto a contar
hey, tens tanto para ver
Tens ainda de aprender
os nomes que te vou dar
E foi Dezembro
Vivo
Na roseira
Despida
No silencio
Do jardim.
Oh noutro lugar
para todo o sempre
Oh há uma canção
que faz partir
Oh noutro lugar
para sempre, sempre
Oh, há uma canção
que está por descobrir
Vem...
E foi Dezembro
Ainda na cegueira
Das asas de uma ave
Que há em ti.
Foi um tempo
De amantes
A aprender
Que não deve esquecer-se
O verbo amar.
D’outra vez noutro lugar
os anos passam sem pesar
sem razão, vão em busca da canção
que ficámos de cantar...
Ou um inverno
Apenas
A perder-se
Da primavera
Do primeiro olhar.
E tenho tanto por contar
hey, tens tanto para ver
Tens ainda de aprender
os nomes que dei ao mar
Oh noutro lugar
Nota:
Rodrigo Leão - Baixo
Pedro Oliveira - Guitarra e Voz
Ricardo Camacho - Teclas
Paulo Gabriel - Flauta
Gabriel Gomes - Acordeão
Nuno Cruz - Bateria
Colaboração de Marco Santos - Voz
38
79
Em 25 de Março
darás por todos
os recados que mandei.
Música: Vitorino
Letra: popular: romanceiro de José Leite de Vasconcelos
In: ’Romances’; 1991
(rimance)
A. Guimarães (Arranjos: Pedro Caldeira Cabral)
Em vinte e cinco de Março
ouve uma grande paixão
disparceram três rapazes
deste povo d’Armação
Té aqui não são chegados
nem à praia à costa deram
té aqui não são chegados
nem à praia à costa deram
Té aqui não há espera
nem tão pouco que esperar
os nomes de todos três
eu os vou d’explicar
O primeiro é José da Silva
José da Silva Negrão
lá posto ao mar a pescar
para a sua perdição
O segundo era José Cravo
José Cravo encarnado
fazia linda cintura
sem andar muito apertado
O terceiro era João Barreiro
uma cara sem sinais
era o pai da pobreza
não no podia ser mais
Abalaram todos três
dentro daquele barquinho
a bebida que levaram
uma garrafa de vinho
Abalaram todos três
não levavam a certeza
que o mar que se levantava
d’altura da fortaleza
78
39
Em frente do sol
No escuro
Letra e música: Luís Represas
In: ’A hora do lobo’ BMG 1998
Letra e música: Luís Represas
In: ’A hora do lobo’ BMG 1998
lr(Galamares,5/6-11-97)
lr(Galamares, 11/12-11-97)
Tinha o pecado calado
no fundo
do corpo que um dia foi seu.
Ás vezes pensava
em promessas juradas
por homens que nem conheceu.
Todos os sonhos
que tinha guardados
no canto do seu coração.
Deitou-os ao mar
e olhou-se nos lagos
que a chuva fazia no chão.
Pode ser
que um dia vá
tropeçar no amor
e cair de pé
em frente do Sol.
Empurrar as nuvens
e abraçar os ventos que a façam voar.
Quando saía para a rua
sentia
que os pés só pisavam vazio.
E a Alma insistia
em esconder-se no escuro
de um quarto que nunca existiu.
Vi-te de longe no escuro
onde já não te esperava encontrar.
Não era a noite,
nem era o sono.
Nem falta de alma p’ra te procurar.
Fui-me chegando mais perto,
devagarinho para não pisar
o coração...
talvez o meu
bata tão forte para te avisar.
Há tantas vidas
sigo o cheiro
que me deixaste preso ás mãos
e me sufoca ao meio da noite
numa boa maldição
Há quantas vidas que eu desejo
ter mais coragem que paixão,
e confessar tudo o que o tempo
me guardou no coração
Não era falta de fé
ou confiança p’ra me revelar,
era só medo
que as tuas águas
fossem tão fundas que perdesse o pé.
Já me perdi no passado
por insistir em querer adivinhar
o que pensavas,
que não abrias
nenhuma porta para eu entrar.
Pelas paredes
pintadas de céu
pregava retratos sem cor.
Memórias ausentes
de olhares indigentes
suspensos por fios de dor.
Sem procurar um fim
por onde começar
vai-se agarrando aos poucos risos
que a vida lhe dá.
40
Talvez mate o destino
de uma vez
se um beijo escorregar
mesmo á traição
Quem sabe
se no escuro a luz se acende
e então...
77
Neva sobre a marginal
Enquanto
Letra e música: Luís Represas
In: ’Represas’ EMI 1993
Letra e música: Joaquim de Almeida; Luís Represas
In: ’cumplicidades’ EMI 1995
(20/10/95)
O Norte entrou pela barra
já ninguém se espanta aqui
basta um abrigo, uma capa
ou um beijo.
Enquanto mortos e vivos
Enquanto
Enquanto vivos ou mortos
Nós somos
Os vivos que querem viver
Por enquanto
Temos os mortos que não tiveram tanto
O Norte avisa que o tempo
só se altera por três dias
e o vento que nos trespassa
não sabia.
Enquanto vivos
E vivos assim
Sentimos vozes
Por ti e por mim
Que a noite e o dia
Não cabem no sermos
De sermos o mesmo
De todos os dias
Neva sobre a Marginal
só que a neve não espera
não se vai com a primavera
nem fica á espera no chão
Neva sobre a Marginal
quem me dera que mar fosse
o mar é muito mais doce
e não fere o coração
Enquanto caem palavras
Do cimo de torres
Gemidos do fundo de heróis
Vão calando a noite
O Norte foi como veio
sem avisar, sem um gesto
sem um grito ou manifesto
sem dizer se isso lhe dói
Leva para outras paragens
O resultado dos ventos
leva também as imagens
dispersas de lamentos.
Mas deixa as dos bons momentos
para voltar.
Crianças de uniforme grande
Limparam o mundo de risos
Deixando espalhados nos cantos
Bocados de paz
Enquanto todos os dias
Nos vendem
O sofrimento de longe
Tão perto
Vão consumindo o azul
E as cores da terra
Sabendo nós que a paz
Não é só o contrário da guerra
Enquanto vivos
E enquanto formos
Grita a vontade
De deixarmos vivos
Os cheiros e as imagens
Que sentimos
E não só lembranças
76
41
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Navegar
Enquanto morrem as arvores
O verde
Torna-se terra de corpos
De guerras.
Queremos tambores e guitarras
Voando nas ruas
Com a alegria da vida
Que não devia ter fim
Letra e música: Sétima Legião (?)
Intérprete: Sétima Legião
In: ’de um tempo ausente’, 1989
Nuno Jacinto
Dó
Cantar,
Lám Fá
Como quem canta um fado.
Dó
Um amor que passou,
Lám Fá
Traços de um vento apagado.
Dó
Um mundo que acabou,
Lám Fá
P’ra não ter de mudar.
Vou cantar,
Nas palavras de um fado.
As trovas que nos diz,
Um rei sem trono nem reinado.
Sem novas nem país,
Por ter de navegar,
Ter de navegar.
Fá
Sol
Eu vou cantar por quanto passei.
Fá
Dó
Eu vou cantar porque te encontrei.
Fá
Sol
Vem navegar para longe no mar.
Fá
Dó
Sol
Há um navio para nos levar ao fim do mar...
Dó
Lám Fá
Cantar um temporal que se levanta para nos alcançar.
Dó
Mas a bandeira azul e branca vai tornar ao mar.
Dó
Da cor do teu olhar,
Lám Fá
Azul no olhar.
42
75
Lám Fá
Nasce selvagem
Enquanto dormes
Música: Fernando Cunha
Letra: Miguel Ângelo
Intérprete: Resistência
In: Palavras ao vento
Letra e música: Luís Represas
In: ’A hora do lobo’ BMG 1998
Aveiro (alterado por jj) (jeito de Luís Jordão)
Dizer toda a verdade enquanto dormes
mesmo se a confessei quando desperta
tem sabor ainda a mais verdade
pois tens todas as portas mais abertas.
lr(Caparica/Galamares-8/96-27/11/97)
C
Mais do que a um país
X
Que a uma família ou geração
C
Mais do que a um passado
É como se ao postigo me encostasse
e ele de mal fechado me sorrisse
e lá dentro uma palavra entrasse
e num murmúrio aquela porta abrisse
X
Que a uma história ou tradição
C
Tu pertences a ti
F
Não és de ninguém
Quem quer saber cedo demais
o encanto morre pela certa.
Dormindo assim em paz
deixo-te o bem e o mal,
e o que a vida fizer de nós.
C
Mais do que a um patrão
X
Que a uma rotina ou profissão
C
Mais do que a um partido
X
Que a uma equipa ou religião
O silencio envolve os passos da certeza
que transporta as confissões mais arrojadas.
Que são boas -já sabias- mas agora
semearam-te surpresas na entrada.
C
Tu pertences a ti
F
Não és de ninguém
C
Vive selvagem
A força das palavras vem das estrelas
ou de algo mais além p’ra lá do céu.
Quando dormes acompanho a luz das velas
que te contam mais segredos do que eu.
F
E para ti serás alguém
G
Nesta viagem
G
C
Quando alguém nasce, nasce selvagem
F
G
Não é de ninguém
nota: viola
X = (012300)
74
43
Eu hei-de amar uma pedra
Letra e música: popular: Alentejo
Intérprete: Vitorino; Janita Salomé
In: ’Romances’, 1991
(romance)
jj
Eu hei-de amar uma pedra
deixar o teu coração
uma pedra sempre é mais firme
tu és falsa e sem razão
(4X)
Am
G
Não, não sou o único (eu não sou o único)
Dm
C
Não sou o único a olhar o céu.
Am
G
Dm
C
Am
G
Dm
C
Nota: Viola
INTRO (2X)
Riff1
Tu és falsa e sem razão
eu hei-de amar uma pedra
eu hei-de amar uma pedra
deixar o teu coração
e--0--------------------3--5--7-8-7--5--3--5--3--1--0-------B--1------------3--5--3-------------------------------0--2--0
G--2----2--4-5----------------------------------------------D--2--------------------------------------------------------A--0--------------------------------------------------------E------------------------------------------------------------
Quando eu estava de abalada
meu amor para te ver
armou-se uma trovada
mais tarde deu em chover
Mais tarde deu em chover
sem fazer frio nem nada
meu amor para te ver
quando eu estava de abalada
44
73
Não sou o único
Fado do Campo Grande
Música: Xutos e Pontapés
Letra: José Pedro
Intérprete: Resistência
In: Palavras ao vento
Música: António Vitorino de Almeida
Letra: Ary dos Santos
Intérprete: Carlos do Carmo
Javier Tamames
Nuno Cabral ([email protected]) e Luís Tavares (jeito de jj, Luís Jordão)
Am
G
Pensas que eu sou um caso isolado
Dm
C
Não sou o único a olhar o céu
Am
G
A ver os sonhos partirem
Dm
C
À espera que algo aconteça
Am
G
A despejar a minha raiva
Dm
C
A viver as emoções
Am
G
A desejar o que não tive
Dm
C
Agarrado às tentações
F
C
E quando as nuvens partirem
Dm
A
O céu azul ficará
F
C
A minha velha casa,
por mais que eu sofra e ande,
é sempre um golpe de asa,
varrendo um Campo Grande.
Aqui no meu pais,
por mais que a minha ausência doa,
é que eu sei que a raiz de mim
está em Lisboa.
A minha velha casa
resiste no meu corpo,
e arde como brasa
dum corpo nunca morto.
À minha velha casa
eu regresso à procura
das origens da ternura,
onde o meu ser perdura.
E quando as trevas se abrirem
Dm
Vais ver o sol, brilhará.
A
Vais ver o sol, brilhará.
Am
G
Não, não sou o único (eu não sou o único)
Dm
C
Não sou o único a olhar o céu
Am
G
Não, não sou o único (eu não sou o único)
Dm
C
Não sou o único a olhar o céu
(Riff1)
Pensas que eu sou um caso isolado
Não sou o único a olhar o céu
A ouvir os conselhos dos outros
E sempre a cair nos buracos
A desejar o que não tive
Agarrado ao que não tenho
Não, não sou o único
Não sou o único a olhar o céu
E quando as nuvens partirem
...
(SOLO)
72
Amiga amante, amor distante.
Lisboa é perto, e não bastante.
Amor calado, amor avante,
que faz do tempo apenas um instante.
Amor dorido, amor magoado
e que me doí no fado.
Amor magoado, amor sentido,
mas jamais cansado.
Amor vivido é o amor amado.
Um braço é a tristeza,
o outro é a saudade,
e as minhas mãos abertas
são chão da liberdade.
A casa a que eu pertenço,
viagem para à minha infância,
é o espaço em que eu venço
e o tempo da distância.
E volto à minha casa,
porque a esperança resiste
a tudo quanto arrasa
um homem que for triste.
Lisboa não se cala,
e quando fala
é minha chama,
45
Não me atrevo
meu castelo, minha Alfama,
minha pátria, minha cama.
Amiga amante, amor distante.
Lisboa é perto, e não bastante.
Amor calado, amor avante,
que faz do tempo apenas um instante.
Amor dorido, amor magoado
e que me doí no fado.
Amor magoado, amor sentido,
mas jamais cansado.
Amor vivido é o amor amado.
Ai, Lisboa, como eu quero,
é por ti que eu desespero.
Letra e música: Luís Represas
In: ’A hora do lobo’, 1998
Victor Almeida
Não me atrevo a adivinhar o que tu sentes
Quando tens quatro paredes por morada
E lá fora sabes que és mais um ausente
Que um dia apostou na carta errada.
Não me atrevo sequer a falar das horas
que tu passas conversando com os segundos
que te ouvem quando às vezes te demoras
a pensar se há mundo entre os nossos mundos.
Não me atrevo a imaginar p’ra onde vais
quando partes navegando pelos sonhos,
quando voltas à frieza deste cais
à distante realidade que nós somos.
Não me atrevo a adivinhar a vida inteira
que tu passas em revista a cada dia.
Os momentos que tu lanças p’rá fogueira
e as memórias que tu guardas por mania.
Quando um dia me puderes ir visitar,
não te vires para trás nem um momento.
Segue o caminho que te leva à beira-mar
dança com ele e faz de conta que és o vento.
Não me atrevo a caminhar pelos teus pés
que regressam sempre ao ponto de partida
que te levam por caminhos que não vês
e te acordam junto à porta de saída.
Não me atrevo a perguntar por quem te espera
quando chegar a hora de matar saudades.
Espera-te o mar, porque esse nunca desespera,
e te ensinou como é amar a Liberdade
46
71
Fado Pessoa
Bem no meio do salão
Acabei no tal convite
Em jeito de confissão
E a resposta foi tão doce
Que a beijei com emoção
Só que a malta não gritou
Como ouvi numa canção
Música: Vitorino
Letra: Fernando Pessoa
Intérprete: Lua Extravagante
Javier Tamames
O tempo que hei sonhado
quantos anos foi de vida!
Ah, quanto do meu passado
foi só a vida mentida
de um futuro imaginado!
Aqui à beira do rio
sossego sem ter razão.
Este seu correr vazio
figura, anónimo e frio,
a vida vivida em vão.
A’spr’ança que pouco alcança!
que desejo vale o ensejo?
E uma bola de criança
sobe mais que a minha ’spr’ança,
rola mais que o meu desejo.
Ondas do rio, tão leves
que não sois ondas sequer,
horas, dias, anos, breves
passam - verduras ou neves
que o mesmo sol faz morrer.
Gastei tudo que não tinha.
Sou mais velho do que sou,
a ilusão, que me mantinha,
só no palco era rainha:
despiu-se, e o reino acabou.
Leve som das águas lentas,
gulosas da margem ida,
que lembranças sonolentas
de esperanças nevoentas!
Que sonhos, o sonho e a vida!
Som morto das águas mansas
que correm por ter que ser,
leva não só as lembranças,
mas as mortas esperanças
mortas, porque hão-de morrer.
70
47
Ondas passadas, levai-me
para o olvido do mar!
Ao que não serei legai-me
que cerquei com um andaime
a casa por fabricar.
Namoro II
Música: João Gil
Letra: Luís Represas
Intérprete: Trovante
In: ’Sepes’ 86
versos de segunda (jeito de jj)
Ai se eu disser que as tremuras
Me dão nas pernas, e as loucuras
Fazem esquecer-me dos prantos
Pensar em juras
Ai se eu disser que foi feitiço
Que fez na saia dar ventania
Mostrar-me coisas tão belas
Ter fantasia
E sonhar com aquele encontro
Sonhar que não diz que não
Tem um jeito de senhora
E um olhar desmascarado
De céu negro ou céu estrelado, ou Sol
Daquele que a gente sabe.
O seu balanço gingado
Tem os mistérios do mar
E a certeza do caminho certo
que tem a estrela polar.
Não sei se faça convite
E se quebre a tradição
Ou se lhe mande uma carta
Como ouvi numa canção
Só sei que o calor aperta
E ainda não estamos no verão.
Quanto mais o tempo passa
Mais me afasto da razão
E ela insiste no passeio à tarde
Em tom de provocação
Até que num dia feriado
P’ra curtir a solidão
Fui consumir as tristezas
P’ró baile do Sr. João
Não sei se foi por magia
Ou seria maldição
Dei por mim rodopiando
48
69
Menina estás à janela
Falei demais
Letra e música: popular: Alentejo
Intérprete: Vitorino
Letra e música: Luís Represas
In: ’Cumplicidades’ EMI 1995
jj, Creissac, Aníbal Vinhas
C
F
Falei demais
quando te quis mostrar
quem ficou.
Esperei demais
E afinal é quase nada
o que restou.
Menina estás à janela
G
C
com o teu cabelo à lua
Am
F
não me vou daqui embora
G
C
Am
sem levar uma prenda tua
sem levar uma prenda tua
sem levar uma prenda dela
com o teu cabelo à lua
menina estás à janela
E como foi?
Em tanta gente,
tanta gente confiou
e se entregou
como se entrega ao vento
a nuvem que passou.
Os olhos requerem olhos
e os corações corações
e os meus requerem os teus
em todas as ocasiões
Pensava que não pensavam
e tudo ficava assim.
Mas quando abri os olhos
já tinham pensado por mim!
Pensava que não falavam
e nada ficava por fim.
Mas sempre tinham tentado
levar o melhor de mim.
[Gosto muito dos teus olhos
mas ainda mais dos meus
se não foram os meus olhos
como iria (eu) ver os teus]
[Chorai olhos chorai olhos
que o chorar não é desprezo
também a virgem chorou
quando viu seu filho preso]
Como será?
Será que tudo isto se repetirá!?
De quem será
que a primeira gota se derramará!?
Quisera ver
quisera ter só risos para recordar
e entregar
alguém que saiba rir
e nunca o que é chorar!
68
49
Feiticeira
Menina dos olhos de água
Música: Luís Represas
Letra: Francisco Viana
In: ’Represas’ EMI 1993
Letra e música: Pedro Barroso
In: ’Cantos da Borda D’Água’,1986
Creissac & amigos(ago.96)
C
Am
Menina em teu peito sinto o Tejo
De que noite demorada
Ou de que breve manhã
Vieste tu, feiticeira
De nuvens deslumbrada
Dm
G
e vontades marinheiras de aproar
Menina em teus lábios sinto fontes
de água doce que corre sem parar
Menina em teus olhos vejo espelhos
e em teus cabelos nuvens de encantar
E em teu corpo inteiro sinto feno
rijo e tenro que nem sei explicar
De que sonho feito mar
Ou de que mar não sonhado
Vieste tu, feiticeira
Aninhar-te ao meu lado
Se houver alguém que não goste
não gaste, deixe ficar
que eu só por mim quero te tanto
que não vai haver menina para sobrar
De que fogo renascido
Ou de que lume apagado
Vieste tu, feiticeira
Segredar-me ao ouvido
De que fontes de que águas
De que chão de que horizonte
De que neves de que fráguas
De que sedes de que montes
De que norte de que lida
De que deserto de morte
Vieste tu feiticeira
Inundar-me de vida.
50
Aprendi nos ’esteiros’ com Soeiro
e aprendi na ’fanga’ com Redol
Tenho no rio grande o mundo inteiro
e sinto o mundo inteiro no teu colo
Aprendi a amar a madrugada
que desponta em mim quando sorris
És um rio cheio de água lavada
e dás rumo à fragata que escolhi
Se houver alguém que não goste
não gaste, deixe ficar
que eu só por mim quero te tanto
que não vai haver menina para sobrar
67
Memórias de um beijo (Lembras-me uma
marcha de Lisboa)
Música: João Gil
Letra: Luís Represas
Intérprete: Trovante
In: ’Terra firme’ 87
Fim (Quando eu morrer)
Música: João Gil
Letra: Mário de Sá Carneiro
Intérprete: Trovante
In: ’Terra Firme’ 87
Versos de Segunda (jeito de jj)
Alfredo Domingues
Lembras-me uma marcha de lisboa
Num desfile singular,
Quem disse
Que há horas e momentos p’ra se amar
Lembras-me uma enchente de maré
Com uma calma matinal
Quem foi
quem disse
Que o mar dos olhos também sabe a sal
Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.
[refrão]:
As memórias são
Como livros escondidos no pó
As lembranças são
Os sorrisos que queremos rever, devagar
Queria viver tudo numa noite
sem perder a procurar
O tempo, ou o espaço
Que é indiferente p’ra poder sonhar
[refrão]
Quem foi que provocou vontades
e atiçou as tempestades
e amarrou o barco ao cais
Quem foi, que matou o desejo
E arrancou o lábio ao beijo
E amainou os vendavais
[refrão]
devagar
66
51
Fizeram os dias assim
Linha da frente
Música: Manuel Faria
Letra: Luís Represas
Intérprete: Trovante
In: ’Sepes’ 86
Letra e música: Luís Represas; Cristina Represas
In: ’cumplicidades’ EMI 1995
versos de segunda (jeito de jj)
Caminha e sente os pés
Que a areia é fria e dura
Não olhes para trás
Que o mar nada perdura
A onda apaga os traços
E limpa o que foi rasto
Deixando p’ra quem chega
Lugar p’ra novos passos
(1/8/95)
Fizeram os dias assim
Por mais que larguem os braços
Por mais que soltem amarras
E que se tapem as covas
Por mais que rasguem os quadros
Por mais que queimem as leis
E que os costumes esmoreçam
Por mais que arrasem as feras
E que os papões arrefeçam
E que as bruxas se convertam
Por mais que riam as caras
E que ternura se esqueça
Por mais que o amor prevaleça
Vocês
Fizeram os dias assim!
Não nos venham pedir contas
Não venham pôr-nos regras
Sabemos que os nossos dias
Não vão ser gastos assim!
52
Não tenhas esperança
Outra vez
Que a esperança é senhora
De quem já
Perdeu os caminhos,
De quem já não sabe lutar.
Com uma espada feita
De sonhos cravejada
Enfrentas as miragens
Sem tempo p’ra pensar
E se o medo te assalta
É p’ra te despertar
Para o que desconheces
Mas queres conquistar.
Tens a espada e tens o medo
Tens o tempo e o caminho
Esquece a esperança ali sentada
Sem ter esperança de morrer.
Tens a força de quem sabe
E o encanto de quem quer
E poder fazer que a esperança
Seja a primeira a morrer
65
Libre
Flor de Maio (?)
Letra: Pedro Guerra
Intérprete: Luís Represas
Letra e música: Sétima Legião
In: ’de um tempo ausente’, 1989
jj
Puedo andar y ver los mundos
y escojer mi verdad
puedo arar y ver la tierra
entender y pensar
puedo todo lo que quiero
decidir y soñar
quiero todo lo que puedo
decir cantar y besar
= 80
2
4
Soy libre
porque hay alguien más
no estoy sólo
en la ciudad que se mueve
el amor envuelve
mi corazón
en libertad
Puedo ver en los colores
y elegir el color
puedo andar por las pasiones
y elegir la pasión
puedo todo lo que alcanzo
el saber y el sabor
llego a todo lo que puedo
y beso un rayo de sol
64
53
Foi como foi
Foi teu pai quem tu mandou
Letra e música: Luís Represas
In: ’Cumplicidades’ EMI 1995
De quem é aquele suspiro?
De quem é aquele suspiro?
Que ao meu leito se atirou
Laurinda, que aquilo ouviu
Caiu no chão desmaiou
(Nov 95)
Se foi há anos,
Ou dias,
Não sei.
Nem quantas vezes te cheirei
No ar da manhã.
Ó Laurinda, linda, linda
Ó Laurinda, linda, linda
Não vale a pena desmaiar
Todo o amor, que t’eu tinha
Vai-se agora acabar
Nem quantas vezes
Te vi
Despertar
Pensando que essa foi a noite
Melhor de se lembrar
Depois da vez em que o silêncio
Nos quis acompanhar
Pelos segredos
Que julgamos contar.
Em que nas mãos, os nossos olhos
Souberam desvendar
Dentro do escuro a alma
Não se pode ocultar.
Vai buscar as tuas irmãs
Vai buscar as tuas irmãs
Trá-las todas num andor
Que a mais linda delas todas
Há-de ser meu novo amor
Foi como foi.
Como se o céu um dia
Se abrisse em dois.
Foi como foi.
Como se a terra
Nos prendesse e soltasse depois.
A lua via
O sol acordar,
Ficava ás vezes até tarde
Só para o ver deitar.
E juro um dia
Que o vi alugar
Um quarto de motel na Via Láctea
Com vista para o mar.
Estremeci ao ver que o tecto
Não tinha para ver
Nem uma telha aberta para espreitar.
Eu alucino ou quase, sempre
Que me deixas pernoitar
54
63
Laurinda
Nesse motel da Via Láctea
Com vista para o mar.
Letra e música: popular
Intérprete: Vitorino
(rimance)
Quero rever-te em cada dia
Como revi o futuro
Já que o futuro sorria.
Quero um futuro por dia
Já que o passado nos deixa
Vários futuros na vida.
jfc
Am
Am
Ó Laurinda, linda, linda
Am
Am
Ó Laurinda, linda, linda
Dm
Dm
Am
Am
És mais linda do qu’o Sol(e)
Dm
Dm
Am
Am
Deixa-me dormir uma noite
E
E
Am
Nas bordas do teu lençol
Sim, sim, cavalheiro, sim
Sim, sim, cavalheiro, sim
Hoje sim, amanhã não
Meu marido, não esta cá
Foi pr’a feira de Marvão
Onze horas, meia-noite
Onze horas, meia-noite
Marido a porta bateu
Bateu uma, bateu duas
Laurinda não respondeu
Ou ela está doentinha
Ou ela está doentinha
Ou encontrou outro amor
Ou então procur’a chave
Lá no meio do corredor
De quem é aquele chapéu?
De quem é aquele chapéu?
Debroado a galão
É para ti meu marido
Que fiz eu por minha mão
De quem é aquele casaco?
De quem é aquele casaco?
Que ali vejo pendurado
É para ti meu marido
Que o trazeis bem ganhado(?)
De quem é aquele cavalo?
De quem é aquele cavalo?
Que na minha esquadra entrou
É para ti meu marido
62
55
Fora de tempo
Imortais
Letra e música: Luís Represas
Letra e música: Luís Represas
In: ’Represas’ EMI 1993
Helder Carvalho (jeito de jj)
C
Fora de tempo pôs-se o sol
filhos da mesma mãe
Quantos anos tens ?
Talvez nem te lembres quantos.
Quantos anos fizeste ?
Talvez nem te desses conta.
Fora de tempo brotaram da terra
flores e espinhos também
fora de tempo ficaram longe
mais longe do que convém
E enquanto fazias anos
já mães dançavam sozinhas
e o mar já guardava tumbas
solitárias.
Fora de tempo o que era quente
gelou até matar tudo
se um cantava no silêncio
fora de tempo ouviu-se um grito mudo
Quantos anos tens?
Talvez nem te lembres das velas.
Talvez o teu bolo ainda tenha
luz a mais.
[refrão]
F
O tempo também se engana
Talvez haja velas
acesas nos canaviais
em segredo para os que fazem anos
imortais
F
e a lua fora de tempo também
G
F
fora de tempo nasceram dois
C
G
Am
nas casas onde mora
F
Am
o mau tempo que faz dentro
F
G
C
nem sempre é tão bom de fora
Fora de tempo o que era água
teimou em ser areal
fora de tempo já se notava
que um vê bem e o outro mal
Fora de tempo tudo voltou
ao tempo que era atrás
e dentro do tempo um partiu mais cedo
e o outro ficou para amar
56
De um lado ao outro do mundo
dançamos sozinhos no fundo
de um lado ao outro da vida
não temos memórias perdidas
Há quantos anos já foi
e quantos anos nos faltam
para que a memória dos parares
não seja demais
Afinal, quantos anos terão
depois da destruição ?
Afinal, quantos anos farás
em solidão ?
61
Horas de ponta e mola
Fragilidade
Música: Nuno Rodrigues
Letra: António Avelar Pinho
Intérprete: Banda do Casaco
In: ’Dos Benefícios dum Vendido no Reino dos Binifácios’, 1994
Letra e música: Mafalda Veiga
Intérprete: Mafalda Veiga; Luís Represas
Carla Fernandes
Talvez pudesse o tempo parar
Quando tudo em nós de precipita
Quando a vida nos desgarra os sentidos
E não espera, ai quem dera
Victor Almeida
É um sujeito é um escritório
uma gravata, um suspensório
uma conversa de latrina
é um verbete, uma aldrabice
é um trabalho , uma chatice
entre fumo e aspirina
Houvesse um canto pra se ficar
Longe da guerra feroz que nos domina
Se o amor fosse um lugar a salvo
Sem medos, sem fragilidade
É numa rua o pôr da sola
calçada nas horas de ponta e mola
são conversas de cotovelo
é um eléctrico um pendura
um regresso e uma tontura
é um sorrir muito amarelo
É uma casa uma família
uma torrada um chá de tília
uma conversa de fastídio
é um chinelo e um menino
televisão com o Vitorino
a lentidão de um suicídio
Tão bom pudesse o tempo parar
E voltar-se a preencher o vazio
É tão duro aprender que na vida
Nada se repete, nada se promete
E é tudo tão fugaz e tão breve
Tão bom pudesse o tempo parar
E encharcar-me de azul e de longe
Acalmar a raiva aflita da vertigem
Sentir o teu braço e poder ficar
É numa rua o pôr da sola
calçada nas horas de ponta e mola
é um silencio e um ritual
são os lacaios do comendador
são as gravatas sem côr
na procissão dum funeral
60
É tudo tão fugaz e tão breve
Como os reflexos da lua no rio
Tudo aquilo que se agarra já fugiu
É tudo tão fugaz e tão breve.
57
Fui às sortes e safei-me
Guaguancó y fado
Música: João Gil
Letra: João Monge
Intérprete: Rio Grande; Vitorino
In: ’Rio Grande’, 96
Letra e música: Luís Represas
In: ’Represas’ EMI 1993
jj
Havia um mar de olhos postos
Num quadro já repetido
Que tinha o céu por moldura
Num temporal mal contido
Fui às sortes e safei-me
direito que nem um fuso
não compreendo aquele uso
de fazer tudo aprumado
ele há coisas que eu cá sei
que só se fazem curvado
Os corações apertados
Nos peitos nus, reluzentes
Uns de morte angustiados
Outros sorrindo prudentes
Fizeram-me a vistoria
levaram tudo a preceito
até me viram o peito
e um pouco mais ao fundo
cada qual na sua vez
e tal como veio ao mundo
Quem chegava era por certo
Gente devota e austera
Era branca como a cera
Que ardia a céu aberto
Tinham santos como os meus
Feitos de pau e madeira
Rezam da mesma maneira
A uma cruz que chamam Deus
No fim já mais à tardinha
deram um papel timbrado
onde vinha o resultado
não me davam qualquer uso
fui às sortes e safei-me
direito que nem um fuso
So,os almas descobertas
Por quem descobrir é pecado
Às vezes trazem-nos setas
Mas também nos cantam fado
Entre temores e anseios
O sangue juntou-se então
Naquele Deus eu já creio
Eles nos meus ainda não
Agora há dois olhos postos
Num quadro já consumido
O mar guarda o meu recado
E o vento, o tempo perdido.
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