Por Ludmila Santos Coordenação Maria Ap. L. Leme
Transcrição
Por Ludmila Santos Coordenação Maria Ap. L. Leme
Relatório de turma do 9º ano da área de Geografia Segundo Semestre de 2014 Por Ludmila Santos Coordenação Maria Ap. L. Leme “Chorais pelos dias de hoje? Pois saibam que os dias que virão serão ainda piores. Foi por isso que fizeram esta guerra, para envenenar o ventre do tempo, para que o presente parisse monstros no lugar de esperança. Não mais procureis vossos familiares que saíram para outras terras em busca de paz. Vós vos convertesteis em bichos, sem família, sem nação. Porque esta guerra não foi feita para vos tirar do país, mas para tirar o país de dentro de vós.” Trecho do livro “Terra Sonâmbula” – MIA COUTO O livro Terra Sonâmbula, de Mia Couto, foi escolhido em atenção aos estudos sobre o continente africano que encerra nosso ano letivo e os trabalhos com essa turma na Escola do Sítio. Nós estudamos a guerra e os conflitos, mas nos aproximamos pouco dessa realidade, que de maneira sem igual distorce os interesses e esmaga quem nela está. Portanto escolhemos uma leitura que fizesse os alunos experimentarem uma guerra. Afinal estudar Geografia dessa maneira faz a vivência de outros se manifestar na nossa. Tornamo-nos Muindinga e Tuhanir, protagonistas, mesmo com os insistentes “não entendo como Mia Couto escreve” ou “o que é machimbombo”. As explicações eram técnicas, pontuais sobre a localização, os nomes peculiares que eram quase regionais, para não orientar sentimentos. O entendimento foi se fazendo nas entrelinhas, gradualmente nos escritos das verificações de leitura e apesar das reclamações tivemos momentos que mostraram não só a percepção de Moçambique em guerra, mas de como isso pode afetar a alma das pessoas. Nos debates haviam posicionamentos de encanto com o personagem de Kindizu, que mesmo em guerra opta pela mística de seu país para sobreviver e folcloricamente ser herói. Isso desmanchava percepções mais duras, desnudava posicionamentos insensíveis. Perceberam o desprendimento das relações que nada tem a oferecer a não ser a presença que muitas vezes se fazia no silêncio, absolutamente solidária. Moçambique, país retratado foi a referencia das discussões sobre a colonização e descolonização europeia. A exploração que extenua e arde nos países africanos surpreende os alunos que pegos de surpresa se calam. O horror não aparece no material didático que polidamente informa sobre a colonização de maneira neutra quase casual. Isso incomoda. E a professora aplaude por dentro, afinal a fuga dos conformismos é intuito intrínseco das políticas. Provoca... Desdenhando do papel desses países na Divisão Internacional do Trabalho, na apropriação desmedida dos territórios na colonização e descolonização, na escravidão agora em solo africano, no uso das etnias para melhor exploração. A resposta vem em discussões que se apresentam em vozes ferozes para antagonizar o “calar” inicial. Essas falas são aterrorizadas pelos horrores que estudamos na África, mas fortes no sentido do repúdio a exploração não só africana, mas de qualquer país, de qualquer relação. Os diálogos marcados de indignação argumentavam-se na contra mão do capitalismo, que também era alvo de equívocos, entretanto no final fazia parte de conversas até nos corredores. Esses alunos caminham para o ensino médio com ideias e ideais puros, mas não ingênuos. Vão firmes na melhoria da distribuição de riqueza e aproveitamento dos recursos naturais. Seguem adiante com clareza dos preconceitos e preconizam tempos melhores. Obrigada pelas discussões e pelas produções que inspiram e emocionam pelo aprimoramento e aproveitamento dos conceitos estudados. Que nos encontremos por aí, sempre.