Portfólio VER-SUS João Pessoa, edição 2015

Transcrição

Portfólio VER-SUS João Pessoa, edição 2015
PORTFÓLIO DE VIVÊNCIA
AGUINALDO JOSÉ DE ARAÚJO
João Pessoa – PB
Março de 2015
Quando os pacientes perderem a paciência*
Ninguém mais vai morrer na porta dos hospitais
Nenhum desrespeito será tolerado
Não existirão mais farmácias privadas
nem planos nem seguros
pois será proibido pagar por saúde
quando os pacientes perderem a paciência.
O lucro não vai mais definir doenças
e ninguém mais vai engolir junto com os comprimidos
as péssimas condições de vida e trabalho
porque não haverá mais opressores e oprimidos
quando os pacientes perderem a paciência.
Não existirão propagandas de remédios nem de alimentos
Será tamanha a clareza do cidadão sobre seu corpo
que a palavra prescrição será abolida do dicionário
Todo e qualquer tratamento será decidido em conjunto
quando os pacientes perderem a paciência.
Muitos intelectuais ficarão sem chão
ao verem que o problema central não era de administração
que as grandes soluções não eram humanização, formação,
avaliação, regulação, negociação
Ficará claro que o melhor dispositivo de gestão é a revolução
quando os pacientes perderem a paciência.
Todo contrato de trabalho será digno
Fundações, O.S., EBSERH, serão apenas letras
e palavras indecifráveis de papéis amarelados
no museu de nosso passado precário
quando os pacientes perderem a paciência.
Não haverá mais abismos nem hierarquias
nem gritos nem silêncios nem indiferenças
Os pacientes é que serão os deuses
quando perderem a paciência.
Quando os pacientes perderem a paciência
numa reunião qualquer do centro comunitário do bairro
serão decididos os rumos da ciência.
(Lucas Bronzatto)
*versão do belíssimo poema de Mauro Iasi “Quando os Trabalhadores Perderem a Paciência”
Dedico
este portfólio aos usuários do Sistema Único
de Saúde, como registro de uma das mais
ricas experiências em minha vida acadêmica.
Estes que em grande parte ainda sofrem as
amarguras das iniquidades sociais, e que por
este motivo, me fortalecem nessa caminhada
de luta por um SUS efetivamente universal,
integral e equitativo.
Agradecimento especial
ao grupo Sérgio Arouca, o qual fiz parte
durante toda a vivência. Sem dúvidas,
contribuíram da melhor forma possível no
desempenho das atividades e desafios
vivenciados. Gratidão à Rafaela Domingos da
Cunha, Iasmim Viana Cristo dos Santos,
Damião Romero Firmino Alves e Wendy
Crhystyan Medeiros de Sousa, essas mentes
brilhantes que enriqueceram toda a vivência.
Agradecimentos,
A comissão organizadora do VER-SUS, por toda dedicação e luta: antes, durante e
depois da vivência;
Ao Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal da Paraíba, por
disponibilizar o prédio para o alojamento conjunto dos participantes;
A equipe de Serviços Gerais, que sempre integrados e compreensivos,
desempenharam suas funções de forma impecável e muito satisfatória;
A Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura Municipal de João Pessoa, que
durante a vivência, mantiveram diálogos e disponibilidade para esclarecimentos e
discussões.
A todos os viventes, que juntos {des}construímos conceitos do que é ter saúde, ser
gente e sentir-se gente. Em especial a Dande, Jana, Isadora, Natália, Carol, Larissa,
Gabi, Luana, Márcio, Maria do Livramento, Gleydson, Herbert, Sonnally, Raquel,
Isabella e Dani.
Enfim, a todos que acreditam que juntos, podemos construir dias melhores:
AbraSUS e Gratidão!
Sobre o vivente
Aguinaldo José de Araújo, 22 anos.
Acadêmico de Enfermagem da Universidade Estadual da Paraíba, Campus Campina Grande – PB.
Bolsista de Iniciação Científica do Projeto: Avaliação da efetividade das medidas de proteção social na
adesão ao tratamento da tuberculose e controle da doença em algumas regiões do Brasil - UEPB/USP.
Extensionista voluntário do Projeto de Extensão: Contribuindo para efetividade do Tratamento
Diretamente Observado da Tuberculose no município de Campina Grande – PB – UEPB/SMS-CG.
Integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisas Epidemiológicas da Universidade Estadual da Paraíba – NEPE/UEPB.
Membro do Grupo de Pesquisa em Avaliação dos Serviços de Saúde – UEPB/CNPq.
Membro do Centro Acadêmico de Enfermagem da UEPB – Gestão UnEnf.
APRESENTAÇÃO
O presente portfólio trata-se da descrição de minhas experiências, enquanto
vivente do VER-SUS João Pessoa, edição 2015. Foi desenvolvido durante toda a
vivência, com o intuito de registrar cada experiência adquirida.
SUMÁRIO
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4.1
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O VER-SUS...................................................................................................
João Pessoa como cenário das vivências................................................
A UFPB como palco de formações............................................................
Programação: Vivências e Formações......................................................
Vivências.......................................................................................................
Formações.....................................................................................................
Considerações Finais...................................................................................
Referências....................................................................................................
Galeria............................................................................................................
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1. O VER-SUS
O projeto Vivências e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde
(VER-SUS), objetiva estimular a formação de trabalhadores e trabalhadoras para o
SUS, com comprometimento ético com os princípios e diretrizes do sistema e que se
entendam como atuantes sociais, agentes com formação política e capazes de
promover transformações (OCTICS, 2015).
A proposta do Ministério da Saúde, em parceria com a Rede Unida, a Rede
Governo Colaborativo em Saúde/UFRGS, a União Nacional dos Estudantes, o
Conselho Nacional dos Secretários de Saúde e o Conselho Nacional de Secretarias
Municipais de Saúde, é de realizar estágios de vivência no SUS para que os
participantes possam tenham a oportunidade de vivenciar e debater acerca da
realidade do sistema (OCTICS, 2015).
O VER-SUS possibilita o despertar de uma visão ampliada do conceito de
saúde, abordando temáticas sobre Educação Permanente em Saúde, quadrilátero
da formação, aprendizagem significativa, interdisciplinaridade, Redes de Atenção à
Saúde, reforma política, discussão de gêneros e movimentos sociais, questões
essas, que estão intrinsecamente relacionadas à saúde e ao SUS (OCTICS, 2015).
A edição do VER-SUS João Pessoa, ocorreu entre os dias 1 e 10 de março de
2015, com participantes de diversos locais e instituições, como Ceará, Bahia, São
Paulo, Sergipe, Itália, Pernambuco, etc. Com imersão total, os participoantes
passaram 10 dias vivenciando e compartilhando experiências sobre a realidade do
SUS, tanto adquiridas durante a vivência, quanto das realidades locais de cada
participante.
2. João Pessoa como cenário das vivências
João Pessoa é a capital do estado da Paraíba. Com 780.738 habitantes é a 8ª
cidade
mais
populosa
da Região
Nordeste e
a
24ª
do Brasil.
Sua região
metropolitana, formada por João Pessoa e mais onze municípios tem cerca de
1.223.284 habitantes, sendo a 6ª mais populosa do nordeste brasileiro (IBGE/2014).
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) é ligada diretamente à Prefeitura de
João Pessoa e tem por responsabilidade a gestão plena do SUS no âmbito
municipal. Além das ações e serviços de saúde oferecidos ao município, o órgão é
responsável pela formulação e implantação de políticas, programas e projetos que
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visem à promoção de uma saúde de qualidade ao usuário do sistema (SMS/JP,
2015).
Neste sentido, a SMS de João Pessoa considera que ser parceira das
instituições de ensino na construção da aprendizagem pelo trabalho para os
estudantes/ futuros profissionais de saúde é uma ação política estratégica, faz parte
de sua agenda de trabalho e é uma das maneiras do SUS municipal contribuir para
a ordenação da formação dos profissionais de saúde, que é uma diretriz
constitucional do SUS (SMS/JP, 2015).
Desta forma, foi implantada no município a Política da Rede Escola através da
formalização do Convênio n° 001/2006, firmado entre a Prefeitura Municipal de João
Pessoa, através da SMS/JP e as instituições de Ensino públicas e privadas, tem
com o objetivo a regulamentação da aprendizagem pelo trabalho no âmbito da rede
municipal de saúde e estabelecer relações de cooperação pedagógica, incluindo
atividades de parceria na área de ensino, atenção e pesquisa em saúde (SMS/JP,
2015).
3. A UFPB como palco de formações
A Universidade Federal da Paraíba, como instituição pública de ensino,
pesquisa e extensão, foi palco das formações e discussões durante toda a vivência.
Os Coletivos da Saúde e Cuidar é Lutar, formados por estudantes da instituição,
atuam como militantes de movimentos sociais em defesas do SUS e do movimento
estudantil.
De maneira independente [não institucionalizada], lutam por qualidade de vida
da população, questões de saúde pública e direitos estudantis. Juntos a alguns
professores e a Secretaria Municipal de Saúde de João Pessoa, organizaram a
edição do VER-SUS João Pessoa 2015.
4. Programação – Vivências e Formações
Durante os 10 dias de vivência, a programação foi diversa e dinâmica. Estava
separada em vivências na realidade dos serviços de saúde e em formações a
respeito das políticas nacionais de saúde.
4.1 Vivências
Os locais que foram visitados pelos participantes, foram autorizados e
acompanhados pela SMS/JP. A diversidade das áreas técnicas contribuíram com
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diferentes experiências a respeito de como funcionam os serviços de saúde no
município.
Os locais e serviços disponibilizados pela SMS/JP foram várias USFs, o
Consultório na Rua, os Centros de Práticas Integrativas e Complementares, os
Centros de Atenção Psicossocial, Unidades Básicas de Saúde, Centro de Atenção
Integral à Saúde do Idoso, o Centro de Testagem e Aconselhamento, o Instituto
Cândida Vargas, Comunidade Quilombola Paratibe e Ocupação Urbana Tijolinho
Vermelho.
Enquanto vivente, pude visitar algumas Unidades de Saúde da Família, tanto
integradas, quanto isoladas, e conhecer quais os desafios enfrentados pelos
profissionais em relação as condições de trabalho, quais medidas tem dado certo
para efetividade dos serviços e quais as perspectivas para o futuro, enquanto
atuantes e mediadores do SUS.
Nas unidades integradas, o grande desafio é a alta demanda de atendimento e
as dificuldades para marcação de exames, além da falta de insumos básicos para
realização de procedimentos odontológicos, enfermagem e de medicamentos. Em
conversa com a gestão municipal, tive a informação de que estavam resolvendo os
problemas relacionados à contratação dos laboratórios para realização dos exames,
e que a falta de insumos para os procedimentos estava ocorrendo, devido a uma
centralização do estoque, que está dificultando a distribuição dos materiais. A gestão
ainda informou que procurará medidas urgentes e resolutivas para solucionar tais
problemas.
Na unidade isolada, a equipe trabalha de forma construtiva e continuada.
Enfrentam problemas de acessibilidade, pois a estrutura física pé antiga e
inadequada, mas garantem atendimento integral à todos os usuários que buscam o
serviço. Tive a oportunidade de conhecer praticamente todos os profissionais da
unidade, como os Agentes Comunitários de Saúde, a Enfermeira, a Dentista, a
Auxiliar de Serviços Gerais, a Recepcionista, a Coordenadora da unidade e alguns
usuários. Apesar de muitos desafios, ficou claro que a Estratégia de Saúde da
Família, está sendo colocada em prática de forma eficiente.
Em relação as Unidades de Saúde da Família, parabenizo a SMS/JP por
instalar a rede de apoio, colocando um gerente em cada unidade, de forma que
facilita as condições e trabalho dos profissionais, a qualidade do serviço prestado
aos usuários e a efetivação do sistema.
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No entanto, foi deixado como crítica, a atitude de colocar os profissionais do
Núcleo de Apoio a Sáude da Família (NASF), como gerentes da unidade, afastandoos de outras atribuições que os competiam e prejudicando a implantação do NASF
dentro do município. Foi sugerido a gestão, a inclusão de outros profissionais
capacitados para desempenhar a função de gestores da unidade.
No Centro de Práticas Integrativas e Complementares, serviço novo, de acordo
com a Política Nacional de Práticas Integrativas e Completares, e já encontra-se
instalado na rede municipal de saúde João Pessoa, conheci diversos serviços que
são ofertados a população. No entanto, os profissionais alegam como dificuldade, a
falta de conhecimento da população a respeito dos serviços prestados pelo centro e
o pouco reconhecimento popular das práticas alternativas como serviço de saúde e
qualidade de vida.
O Centro de Testagem e Aconselhamento, responsável pelos serviços de
assistência nas áreas de HIV/Aids e DST’s, vivenciei práticas de testagem rápida e
escutei as experiências do profissionais a respeito do serviço. Está pra ser
implantado na rede municipal, o Serviço Ambulatorial Especializado, com o intuito de
prestar maior assistências as pessoas que convivem com o HIV.
Na visita a ocupação urbana Tijolinho Vermelho, no centro da cidade, vi de
perto a realidade de pessoas esquecidas, que vivem em situações entristecedoras,
completamente vulneráveis a situações de violência, doenças infecciosas e uso de
drogas. Desde 2013, a grande ocupação reúne em média 120 famílias, que vivem
em condições precárias, sem saneamento básico, sem energia elétrica, sem água
potável e sem cobertura dos serviços de saúde. Em acordo com os moradores e o
Movimento Terra Livre, vamos oferecer como devolutiva do projeto, auxílio na
realização da cobertura de área, com um mapeamento, que será entregue a
SMS/JP, para que a mesma tome medidas que possam solucionar e melhorar a
qualidade de vida daquela população.
Outra visita bastante enriquecedora foi a da comunidade quilombola Paratibe.
Um experiência de cultura, modos de vida, simplicidade e humildade. Com a auxílio
de uma ACS, específica do quilombo, conhecemos a área e discutimos sobre os
serviços de saúde direcionados para a população negra.
4.2 Formações
Em relação às formações, diversos temas foram abordados. De forma lúdica,
houve discussões sobre a Reforma Sanitária, Reforma Psiquiátrica, Saúde da
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Mulher, Saúde LGBTT e Saúde da População Indígena. Através de oficinas,
místicas e divisão de grupos, as temáticas eram abordadas de forma enriquecedora
e prazerosa.
5. Considerações finais
A vivência possibilitou uma maior aproximação às realidades dos serviços de
saúde. As experiências adquiridas foram de grande importância para a minha
formação, enquanto futuro profissional.
Como devolutiva de toda a vivência, os participantes assumiram o
compromisso de realizar o mapeamento da ocupação urbana do Tijolinho Vermelho
e de publicar um jornal informativo sobre todas as experiências.
Através desse projeto, foi possível ver na prática as dificuldades encontradas
para a efetivação dos serviços de saúde do SUS. As oportunidades de dialogar com
os gestores, os profissionais, os usuários e os participantes do projeto, permitiram
várias reflexões sobre os desafios existentes para garantir políticas públicas de
saúde resolutivas para a sociedade.
Diante disso, é necessário o empoderamento das três esferas, para que as
mesmas possam trabalhar juntas para atingir os objetivos. Medidas como formação
continuada para os gestores e profissionais, educação em saúde para a população e
espaços para exercer o controle social, podem contribuir para políticas públicas de
saúde mais eficientes e garantir qualidade de vida para todos.
6. Referências
IBGE.
Instituto
Brasileiro
de
Geografia
e
Estatística.
Disponível
em:
www.cidades.ibge.gov.br. Acesso em 17/03/2015.
OCTICS, Disponível em: http://www.otics.org. Acesso em 15/03/2015.
SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE JOÃO PESSOA, Disponível em
http://www.joaopessoa.pb.gov.br/. Acesso em 12/03/2015.
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7. Galeria
Visita a USF
Confecção da bandeira
Reunião e partilha das experiências
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Todos os participantes
Formação: Saúde da População Indígena
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Visita a ocupação urbana Tijolinho Vermelho
Arte urbana na cupação Tijolinho Vermelho
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Visita a USF do Cordão Encarnado I
Arte urbana no Diretório Central dos Estudantes da UFPB
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Visita a comunidade quilombola Paratibe
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