Agosto 2008 - Museu da Lourinhã

Transcrição

Agosto 2008 - Museu da Lourinhã
Número 7
Ano 2008
Mês Agosto
Museu da Lourinhã
Direcção
Agosto costumava ser mês de férias, significando que nada de
importante se esperava acontecer. Descanso para uns, mudança
de actividade para outros, tempo para pôr em dia o que não
pudemos fazer antes. E, claro, mês de trabalho acrescido para os
que apoiam o lazer daqueles.
Este Agosto foi diferente no concelho da Lourinhã.
O Museu contribuiu com a divulgação da réplica do crânio de Torvosaurus (ver notícia
nesta edição) o que trouxe mais visitantes e, consequentemente, a solicitação de visitas
guiadas sem marcação prévia. Passámos então a proporcionar diariamente uma pelas
11 e outra pelas 16 horas. A experiência foi muito bem aceite, havendo interessados
para a quase totalidade das oportunidades. Registemos o reconhecimento pelo trabalho
dos voluntários que viabilizaram a necessária disponibilidade de pessoal.
O Bicentenário da Batalha do Vimeiro animou também boa parte deste Agosto diferente.
Muitas pessoas participaram nos vários actos comemorativos, com destaque para os
membros do Governo que também acorreram e sempre foram dizendo que importantes
coisas nos estão reservadas: o ministro das Obras Públicas salientou a importância da
Lourinhã na evidência do Jurássico, manifestando empenho no projecto do respectivo
“Parque Temático” e o ministro da Cultura explicou o que pretende com o chamado “Arco
Cultural”, percurso integrado de Sintra a Santarém que também passa por aqui.
Mas foi no final deste Agosto que tivemos a notícia que mais nos pode animar. O
Conselho de Ministros, reunido nas Caldas da Rainha no dia 28, aprovou o “Plano de
Acção para os Municípios do Oeste e Lezíria do Tejo” a realizar entre 2008 e 2017.
Trata-se de um investimento de cerca de dois mil milhões de euros, a título
compensatório pela localização do novo aeroporto de Lisboa. É neste “pacote” que se
inclui o financiamento para a construção do Museu do Jurássico.
Continuam as reuniões do grupo de trabalho conjunto entre o GEAL e Câmara Municipal
da Lourinhã. Nunca estivemos tão próximo de reunir os meios necessários. Haja
esperança que “é desta é que é”…
Hernâni Mergulhão
Neste número
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3
9
9
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Mensagem da Direcção
Notícias da Associação
Concurso Jovem
Serviços do Museu
Loja do Museu
Artigos
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6
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O Museu e o Terramoto de 1755
Museu do Jurássico das Astúrias (MUJA)
A cerâmica na Lourinhã
Arqueologia – Mesolítico, Estação de TOLEDO
Torvosaurus – o maior dinossauro carnívoro do Jurássico
Campanha de escavações - Crivagens
Ilustração Paleontológica – Parte I
Capa:. A gravura, que representa uma oficina de alfaiate dos finais do século XIX,
princípios do século XX, pertenceu ao alfaiate José Dias. Está exposta no Museu da
Lourinhã, à entrada da sala das profissões.
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2
Boletim N.º 7
Agosto 2008
Museu da Lourinhã
Notícias
•
MUJA
Um grupo de trabalho composto por uma delegação conjunta do GEAL e da
Câmara Municipal da Lourinhã visitou institucionalmente o Museu do Jurássico das
Astúrias. Ver notícia mais desenvolvida na página 3.
•
Novos sócios
Durante os meses de Julho e Agosto foram aprovados os pedidos de admissão de
15 novos sócios.
•
Apresentação do Torvosaurus, o maior dinossauro carnívoro do
Jurássico em Portugal
O Museu apresentou publicamente, no passado dia 2 de Agosto a réplica do crânio
do Torvosaurus. Mais informação no artigo da página 6.
•
Dia Internacional da Juventude – 12 de Agosto
O Museu aderiu à celebração deste dia facultando o acesso gratuito a todos os jovens com idade até 26 anos.
•
Escavações de Verão
Decorreram de 6 de Julho a 9 de Agosto as escavações paleontológicas de Verão. Pela primeira vez foi utilizada
a técnica de crivagem. Os resultados iniciais são surpreendentes, como se conta na página 7.
O Museu e o Terramoto de 1755
1 de Novembro de 1755. Dias de Todos os Santos, os
fiéis enchem as igrejas, iluminadas por velas, para a missa
da manhã. É então que um sismo de uma violência nunca
antes vista sacode Portugal.
Embora o epicentro se tivesse localizado no mar, a sul do
Cabo de São Vicente, o sismo fez-se sentir desde o
Algarve até bem acima de Lisboa, tendo espantado a
Europa pela destruição que provocou.
Tendo sido bem documentadas as suas consequências,
serviram mais tarde estas informações na construção da
escala de Richter. Calcula-se que tivesse alcançado uma
magnitude próxima de 9 graus, na escala de Richter, e foi
seguido de um maremoto (tsunami).
Provocou numerosos incêndios, tendo devastado parcialmente Lisboa e causado a morte de mais de 10.000
pessoas. Há até quem aponte para um número de mortos
acima dos 50.000.
Quase 250 anos depois, em 2004, o Museu da Lourinhã
recebeu os restos mortais de algumas das vítimas do
terramoto. Eram constituídos principalmente por crânios
de adultos e crianças, algumas muito novas, partidos,
queimados, cozidos pelas altas temperaturas.
Durante a estadia de cerca de 2 anos no Laboratório de
Paleontologia do Museu, estabilizou-se o material osteológico e procurou-se reconstituir ao máximo cada crânio.
Assim, fragmento a fragmento, foram reconstituídos os
restos de crânios de cerca de 140 indivíduos.
Estes restos são propriedade da Academia de Ciências de
Lisboa e deram ao Museu da Lourinhã a oportunidade de
trabalhar com material muito diferente do que é habitualmente tratado no seu laboratório. Não é comum o Museu
lidar com material humano e tão recente, já que o laboratório prepara sobretudo vertebrados fossilizados, na maioria com mais de 100 milhões de anos.
O Museu da Lourinhã prestou, assim, um serviço de grande importância pois, além do seu valor monetário, cimentou a já forte relação institucional com a Academia de
Ciências de Lisboa.
Desta forma o Museu contribuiu para desvendar e
preservar a história da maior catástrofe natural ocorrida
em Portugal de que há registo. „ Carla Alexandra Tomás
Agosto 2008
Boletim N.º 7
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Museu da Lourinhã
Museu do Jurássico das Astúrias (MUJA)
Nos dias 4, 5 e 6 de Julho um grupo de trabalho composto por elementos da Câmara Municipal da Lourinhã,
entre os quais o seu Presidente e o Vereador da Cultura,
pelo Presidente da Junta de Freguesia da Lourinhã, vários
elementos da Direcção do GEAL, funcionários e investigadores do Museu da Lourinhã e ainda alguns convidados,
fez uma visita institucional ao MUJA – Museo del Jurásico
de Asturias.
Esta visita teve por objectivos estabelecer uma mais
estreita relação com o MUJA e observar directamente uma
iniciativa bem sucedida de criação e operação de um
museu dedicado à paleontologia permitindo, assim, recolher ideias e experiências que possam aproveitar ao projecto do Museu do Jurássico, proposto pelo GEAL e apoiado
pela CML.
O MUJA está situado numa
colina sobranceira ao golfo
da Biscaia, próximo do
município de Colunga.
É um edifício construído
“de dentro para fora”, isto é,
a pensar no seu espaço
interior, e tem a original
forma de uma pegada de dinossauro, símbolo dos achados mais ricos e importantes da região. Foi projectado
pelo Arquitecto Rufino Garcia Uribelarrea.
Esta forma resultou num conceito inovador em termos de
gestão de espaços e no modo de expor todo o acervo que
elucida e entusiasma qualquer visitante.
Para tal muito provavelmente contribuem a complementaridade de conceitos (por exemplo a evolução geológica e
a vida na terra), as imensas imagens, vídeos, esquemas,
postos multimédia interactivos, etc.
Fruto do sonho e persistência do seu director, Dr. José
Carlos García Ramos, foi um projecto muito querido e
comparticipado pela região asturiana, com o objectivo de
consolidar o turismo e implementar um desenvolvimento
científico, sobretudo do período Jurássico, no estudo dos
achados de importante relevância nacional naquela região.
O Museu conta ainda com áreas para investigação e
armazenamento do espólio ainda não estudado ou que
não está exposto.
O Museu atrai mais de 150.000 visitantes por ano, com
destaque para as escolas, sendo a esmagadora maioria
de nacionalidade espanhola e apenas cerca de 4%
estrangeiros. Além das visitas livres são proporcionadas
visitas guiadas e ateliers.
O museu pode ser visitado na internet em
http://www.desdeasturias.com/museojurasico/paginas/museo.htm
„ O Editor agradece as contribuições de Maria Matos, Carla
Abreu e Ricardo Araújo
Fotos: GOOGLE Earth (imagens aéreas) e Maria Matos
Os seus conteúdos são extremamente didácticos (dito de
outra forma: sai-se do museu com a sensação de que se
aprendeu algo sem que se tenha notado como).
Alguns dos membros do grupo em frente da réplica em tamanho natural de um Diplodocus, colocado na área envolvente
do Museu. (Foto: Maria Matos)
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Boletim N.º 7
Agosto 2008
Museu da Lourinhã
A cerâmica na Lourinhã
Os barros vermelhos da região da Lourinhã são usados
para o fabrico da cerâmica utilitária e cerâmica de
construção, pelo menos, desde o século XVI. Esta
cerâmica tem tido grande relevo e importância comercial,
embora não tenha atingido nunca grande destaque ou
nomeada, como no caso da cerâmica de Mafra ou a de
Caldas da Rainha.
montou lá uma pequena oficina de cerâmica havendo
algumas peças de sua produção em exposição no Museu
da Lourinhã.
Não sabemos quando começou o fabrico da cerâmica na
Lourinhã. Mas encontramos cerâmica do Neolítico na
necrópole de Feteira (Zilhão, 1984), cerâmica campaniforme na Thollos de Paimogo (Gallay & al., 1973) e
cerâmica da Idade do Ferro em Valmitão. No seu fabrico
há forte probabilidade de utilização da matéria-prima local
pelos respectivos oleiros.
A partir do século XVI, os fornos de cerâmica de Paimogo
produziram as formas de açúcar, conhecidas como o pão
de açúcar, moldes cónicos para escoamento do açúcar, e
vasilhame utilizado no transporte deste produto. Estas
vasilhas eram “exportadas” para a Madeira, a par com
outras fabricadas na região de Aveiro (Sousa, 2004 e
Sousa & al. 2003).
Na primeira metade do século XX, a cerâmica de Paimogo
estava ainda em funcionamento tendo desaparecido com
a morte do último ceramista.
No Anuário Comercial de Portugal, de 1931, referem-se
duas fábricas de telha e tijolo na Quinta Maria Gil e no
Casal do Rol (Miragaia), esta pertencente a António
Pereira Coutinho. No mesmo Anuário, regista-se, também,
sem qualquer localização ou referência ao tipo de
cerâmica, a Fábrica de Cerâmica de Alberto António.
Vaso canalizador de água (GEAL 1143 ETN).
Tem 27 cm de altura, 38 cm de diâmetro de boca e 40 cm de
diâmetro máximo, no bojo. O bico tem 40 cm de comprimento.
Esta peça não é usual. Foi uma experiência de António
Gouveia que a utilizava na rega, despejando baldes de água
que era encaminhada para o regadio. Doado por Zélia
Veríssimo.
No fim do século XIX havia uma cerâmica de tijolo e telhas
na estrada entre Pregança e Capelas, freguesia da Lourinhã, pertencente a Justino da Fonseca.
Na Ventosa do Mar, freguesia de Santa Bárbara, existiu a
Fábrica de Cerâmica ABALSA, fundada em 1926 por
Henrique Ferreira de Carvalho. Em 1995, passou a ser
chamada Rossio Toledo Limitada, extinguindo-se em 1998.
O alvará da fábrica de cerâmica da Cabeça Gorda,
pertencente a Joaquim Matias, passou para os filhos e deu
origem à actual Fábrica de Cerâmica do Outeiro do Seixo.
Na Carrasqueira, foi fundada, em 1945, a Sociedade de
Cerâmica do Oeste, Limitada que funcionou até 1995.
„ Isabel Mateus
BIBLIOGRAFIA REFERENCIADA
Anuário Comercial de Portugal, 1931. Lisboa. pág. 3005 a 3007.
GALLEY, G., SPINDLER, K., TRINDADE, L. & FERREIRA, O.V. (1973) O Monumento pré- histórico de Pai Mogo. Associação dos Arqueólogos
Portugueses. 31-41.
Vaso incensório ou defumador (GEAL 1146 ETN). Tem 4 cm de
altura e 16 cm de diâmetro. Usado para queimar plantas perfumadas
(incensório), purificar o ar e afastar os maus espíritos. Fabricado por
António Veríssimo Gouveia e doado por sua neta, Zélia Veríssimo.
Temos ainda conhecimento que António Ferreira Gouveia,
nascido em 25 de Março de 1857, exerceu no Toxofal de
Baixo, desde muito novo e a par com seu pai, a profissão
de ceramista, produzindo cerâmica utilitária. Tendo casado
no Sobral, onde veio a falecer em 12 de Março de 1948,
Agosto 2008
SOUSA, E.D.M. (2004) - O Açúcar e o Quotidiano in Actas do III
Seminário Internacional sobre a História do Açúcar. CEHA Centro de
Estudos de História do Atlântico. Funchal. 95-107.
SOUSA, E., SILVA,J. e GOMES, C. (2003) - Chemical and physical
characterization of fragments from ceramic jars called “formas de Açúcar”
exhumed in the town of Machico, Madeira island. Texto apresentado no
EMA’03 7.º Encontro Europeu de Cerâmicas antigas, Lisboa, 27-31 de
Outubro 2003.
ZILHÃO, J. (1984) - A Gruta da Feteira (Lourinhã) Escavação de
salvamento de uma necrópole neolítica. Instituto Português do Património
Cultural. 15-2.
Boletim N.º 7
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Museu da Lourinhã
Arqueologia – Mesolítico, Estação de TOLEDO
indústria lítica (de pedra) é composta sobretudo por
Os trabalhos de investigação sobre os últimos Anúcleos
e resíduos de talhe debitados a partir de matérias-
caçadores-recolectores do Holocénico têm-se centrado,
sobretudo, no estudo dos concheiros mesolíticos dos vales
do Tejo e do Sado que abarcam
um período de ocupação que se
situa, grosso modo, entre 7500 e
6000 AP (Antes do Presente).
primas fundamentalmente locais.
A estação de Toledo encontra-se
a uma cota de 30m, localizada
junto a um antigo curso de água
e a uma distância do mar de,
actualmente, mais ou menos
200m.
As profundas variações climáticas do período pós-glaciar,
neste caso a variação do nível
marinho, obrigaram as comunidades deste período do mesolítico a estabelecerem-se não só
ao longo da costa, como também
nas margens dos grandes estuários como o Tejo e o Sado.
Trata-se de uma estação situada
numa duna consolidada, a qual
se caracteriza por areias pretas
com camadas de areia queimada
encimada por material orgânico,
caracterizado por conchas ou
Kjorkmoddings (definição dinamarquesa de vestígios alimentares com base em restos malacológicos, tendo sido a primeira
definição atribuída a esses primeiros achados) considerados
Os vestígios de restos materiais
Conchas de bivalves e moluscos- Vestigios dos
restos alimentares do Concheiro de Toledo –
conservados
nestas
jazidas
Concelho da Lourinhã
estão, sobretudo, relacionados
© GEAL -Museu da Lourinhã
com a actividade mais básica
destas comunidades humanas: a
subsistência. Face a estas condições de sobrevivência, a restos de alimentação. „ Carla Abreu
alimentação baseava-se na caça, pesca e recolecção de
Bibliografia que pode consultar sobre este tema:
moluscos.
Designam-se por concheiros devido à abundância de
conchas de moluscos que constitui a maior parte dos
restos faunísticos encontrados.
ARAUJO, Ana Cristina, “O concheiro de Toledo (Lourinhã) no quadro das
adaptações humanas do pós-glaciar no litoral da Estremadura”, in
Revista Portuguesa de Arqueologia, Vol I nº2, Lisboa, 1998.
CARDOSO, João Luís, Pré-História de Portugal, Verbo, Lisboa, 2002.
Torvosaurus - O maior dinossauro carnívoro do Jurássico em Portugal
C
om a participação do Prof. Doutor Miguel Telles Antunes, da
Academia das Ciências de Lisboa, Universidade Nova de Lisboa
e Museu da Lourinhã e do Doutor Octávio Mateus, do Museu da
Lourinhã e Universidade Nova de Lisboa, o Museu apresentou
publicamente no passado dia 2 de Agosto a reconstituição de um
crânio de Torvosaurus, o “lagarto selvagem”.
Com aproximadamente 150 milhões de anos, o Torvosaurus é o
maior carnívoro do Jurássico. Na realidade,
os maiores carnívoros que se conhecem
são mais recentes. São exemplos o
Spinosaurus (lagarto com espinhos) que
data de há cerca de 95 milhões de
anos e o famoso Tyrannosaurus
(lagarto tirano) de há cerca de 66 Ma.
Ambos datam do Período Cretácico.
M. Telles Antunes. Estes anunciaram em 2006 a descoberta de
parte de um crânio, incluindo o maxilar, que serviu de base para
reconstituir o crânio – reconstituição que passa, agora, a integrar
a exposição do Museu da Lourinhã.
O espécime foi encontrado em 27 de Julho de 2003 por Jacob
Walen um rapaz holandês, então com 10 anos, quando
passeava com o pai, experiente colector de fósseis. Este
entregou o exemplar ao Museu da Lourinhã.
O
Descoberto em 1972 no Colorado,
Estados Unidos, e descrito por
Peter Galton e James Jensen em 1979,
o Torvosaurus, era o maior dinossauro
carnívoro do Jurássico até então conhecido.
Em Portugal, o primeiro Torvosaurus foi identificado a
partir de um osso da perna pelos paleontólogos do Museu da
Lourinhã e da Universidade Nova de Lisboa, Octávio Mateus e
6
Foto: Simão
Boletim N.º 7
espécime português tem dimensões que
excedem ligeiramente as do norteamericano. É, por isso, o maior
predador terrestre do Período
Jurássico actualmente conhecido.
O crânio, agora exposto ao público
na Sala de Paleontologia do
Museu, mede um metro e quarenta
de comprimento e está munido de
dentes cortantes com 13 cm,
achatados lateralmente, em forma de
lâmina. O animal poderia ter atingido
14 metros de comprimento e mais de
2 toneladas de peso. „ Ed.
Mateus
Agosto 2008
Museu da Lourinhã
Campanha de Escavações – Crivagens
A campanha contou com 27 voluntários de sete países.
Este ano os trabalhos de campo da campanha de Entre os objectivos desta campanha destacamos:
escavações de verão iniciaram-se a 6 de Julho e
estenderam-se até 9 de Agosto, tendo ocorrido em vários
locais de duas zonas, São Pedro de Moel, de 6 a 10 de
Julho, e na Lourinhã, a partir de 13 de Julho.
•
•
•
•
Tal
como
nas
campanhas anteriores tiveram a orientação científica do
Dr. Octávio Mateus,
que também participou na sua organização, juntamente
com Rui Castanhinha
e
Ricardo
Araújo.
•
Estudo dos vertebrados do Jurássico Inferior de
São Pedro de Moel e Água de Madeiros
Estudo de ovos e embriões de dinossauros do
Jurássico Superior de Portugal
Prospecção de fósseis na Formação da Lourinhã
Elenco microfaunístico do Jurássico Superior da
localidade de Zimbral, Lourinhã
Estratigrafia das áreas amostradas
Seguir-se-ão vários estudos dos materiais e exemplares
recolhidos cujos resultados serão a seu tempo publicados.
Mas no artigo seguinte já se levanta uma ponta do véu …
„ Ed. Fotos: Octávio Mateus
Crivar é garimpar mas, neste caso, à procura de fósseis.
Não seria exagero considerar a Lourinhã e localidades
contíguas como o El Dourado dos fósseis, não só de
dinossauros mas também de tudo o resto que se mexia no
Jurássico superior.
É este, também, um pouco, o encanto da paleontologia: o
reportar para o passado, de forma bizarra e com
intervenientes bizarros - numa espécie de sonho – o que
se passa actualmente… como o coaxar dos sapos.
Para se ter uma percepção mais realista do elenco
faunístico da época há que não só procurar o que é
grande, mas também o que é pequeno.
Assim, este ano e pela primeira vez na história do GEAL Museu da Lourinhã, procedeu-se a uma campanha de
crivagens com os objectivos de aumentar o espólio do
museu em micro-vertebrados e efectuar posteriormente o
seu estudo.
As crivagens de sedimento colhido no Zimbral revelaram
dentes de crocodilos, peixes, e dinossauros bem como
mandíbulas de crocodilos, anfíbios e lagartos.
Para mim é incrivelmente arrebatador o simples facto de
saber que estou diante de um pequeno sapo de há 150
milhões de anos … de conseguir ver uma pequena
mandíbula com pouco mais de meio milímetro e de saber
que aquele sapo também coaxou como o fazem
actualmente os do Rio Grande!
Como se fazem crivagens:
Já noutras ocasiões se haviam feito crivagens mas não
com este propósito.
Durante as escavações do ninho de ovos de Paimogo (de
1994 a 1996) montou-se um laboratório de campo fazendo
uso do charco que por lá existe e da boa
vontade de vários voluntários, entre os
quais Isabel Mateus e José Filipe.
1. Recolhe-se uma porção da amostra da rocha original (cerca de 100g).
2. Coloca-se a restante quantidade da amostra num crivo de 1500μm
embebendo-a em água quente e 15 a 20ml de peróxido de oxigénio.
3. Depois de crivado, o refugo é transferido para um recipiente.
4. O refugo é sucessivamente crivado por crivos com malha de 750μm e
5.
500μm; o material é crivado com água parada, no máximo 200g de cada
vez, com o objectivo de minimizar o traumatismo do material; para cada
um dos crivos o material retido é posto a secar num tabuleiro de plástico.
O refugo abaixo de 500μm é lavado com água corrente utilizando o
chuveiro.
Julho 2008
Boletim N.º 6
Na altura procuravam-se embriões que
foram entretanto considerados de dinos-sauros carnívoros bípedes – os terópodes.
Hoje, passada já mais de uma década
sobre a escavação de Paimogo, procura-se
com o mesmo entusiasmo descobrir como
era o nosso mundo há uns quantos milhões
de anos atrás. „ Ricardo Araújo
7
Museu da Lourinhã
Ilustração Paleontológica
I - Desenho paleontológico – Variantes e vantagens
A
ilustração científica é um
desenho de carácter essencialmente técnico que visa transmitir
informação precisa e condensada,
de forma a poupar em palavras o
que é muito mais facilmente
perceptível por imagens.
trabalhos como em livros de divulgação geral.
Sendo este um processo interpretativo é susceptível de erros, mas
em ilustração considera-se que
estes são desprezíveis. No entanto, uma das definições de qualidade é, precisamente, os erros que
existem.
A frase “uma imagem vale por mil
palavras” é a concretização dessa
ideia.
Este artigo é o primeiro de uma
série sobre a ilustração em
paleontologia, o que se torna
necessário para tratar bem o tema
e abranger a ilustração de material
fóssil e o desenho de dinossauros
ou outros animais extintos.
Primeiro vou debruçar-me sobre a
generalidade da ilustração científica e mais tarde sobre o desenho
de dinossauros e, por fim, falarei
na ilustração específica de material fóssil.
Ilustração de material fóssil. Embrião
de Lourinhanossauro.
Técnica: Pontilhismo e acabamento
digital
Autor: Simão Mateus
Actualmente existem formas muito
atractivas de ilustração, tais como
as impressões com dois tipos de
tinta (brilhante e mate), imagens
holográficas, ilustrações digitais,
gifs com movimento, e outras que
se queiram explorar.
Ilustração de material fóssil. Rádio (um
dos dois ossos do antebraço) de
camarossauro.
Técnica: Traço Inglês
Autor: Simão Mateus
A ilustração científica de objectos
fósseis encontra espaço nas
publicações científicas, tanto nos
8
nho tem de passar, necessáriamente, pela mão do artista e sobre
toda ela vai haver uma procura de
salientar os aspectos relevantes
do objecto e minimizar os “defeitos” que possam existir.
Mas essas imagens obrigam ao
uso de um suporte bastante
oneroso e pouco prático, como um
ecrã ou uma placa plástica. As
ilustrações em papel são de
utilização prática e cómoda,
podendo ser lidas em qualquer
lado e sem grande dispêndio de
meios. É nesse campo que a
ilustração científica em papel
subsiste e irá sobreviver.
Em relação à fotografia, a principal
vantagem da ilustração científica é
que, nesta, toda a área de deseBoletim N.º 7
Outra das vantagens da ilustração
é a qualidade da imagem numa
menor qualidade de impressão.
Isto é, estando um mesmo objecto
representado numa boa fotografia
e numa boa ilustração, após sucessivas impressões e cópias, a
ilustração perderá menos qualidades.
No caso do desenho de reconstituição de animais extintos em
forma de vida (por exemplo,
desenho de dinossauros) a situação da ilustração é de clara vantagem pois já não se podem obter
fotografias destes animais.
Ilustração de animais em posição de
vida. Saurópode.
Técnica: Grafite
Autor: Simão Mateus
No próximo artigo abordarei
precisamente o tema de desenho
de dinossauros. „ Simão Mateus
Agosto 2008
Museu da Lourinhã
Concurso Jovem – O Mestre Alfaiate
Nesta era do pronto-a-vestir
poucos são os que ainda recorrem a um alfaiate. Mas nem
sempre foi assim, como podes ver
na gravura: um janota do Século
XIX tira medidas para um novo
fato.
Mas o mestre alfaiate distraiuse e perdeu alguns objectos. A
tua missão é descobrir quais!
(Segredo: amplia o PDF)
Se tens menos de 17 anos
fotocopia ou imprime esta página.
Compara as gravuras e assinala
na da esquerda (a original) os
sete objectos em falta na gravura
da direita.
Se quiseres podes escrever o
nome dos objectos perdidos nos
espaços próprios, por baixo das
gravuras.
Preenche os dados da ficha e
entrega-a na Loja do Museu ou
envia-a por correio para a morada
indicada.
No dia 17 de Outubro de 2008
será atribuído um prémio à
primeira entrada correcta extraída.
O vencedor será contactado
directamente, e o seu nome
anunciado no próximo número do
Boletim (caso seja autorizado).
Imagem: O Mestre Alfaiate perdeu sete objectos
Nome: _______________________________________________________________
Contacto: _________________ Idade: _____ Escola: ________________________
Encarregado de Educação ou Tutor:
Nome: _______________________________________________________________
Contacto: ____________________ Assinatura: ______________________________
Envia para:
Boa sorte!
Concurso Jovem - O Mestre Alfaiate
Grupo de Etnologia e Arqueologia da Lourinhã
Rua João Luís de Moura, 95
2530-157 Lourinhã
Portugal
Sim / Não autorizo
a publicação do meu
nome no Boletim do
Museu da Lourinhã
Vencedor do Concurso Jovem - “Onde está Portugal?”
Parabéns ao jovem Paulo Manuel Vieira (à direita
com a T-shirt preta), de 13 anos, aluno da Escola
Básica 23 de Real, Braga. No sorteio, efectuado no
passado dia 25 de Julho, a sua entrada foi a primeira
extraída que correctamente assinalava a massa
terrestre que, depois de uma longa viagem de 150
milhões de anos, viria a ser Portugal (ver a imagem
da esquerda).
O Museu da Lourinhã disponibiliza os seguintes Serviços:
•
•
•
•
Visitas guiadas e palestras
Paleontologia:
o Preparação de fósseis
o Elaboração de moldes
o Venda de réplicas
Agosto 2008
Boletim N.º 7
Conservação e restauro de peças
Workshops:
o Conservação e restauro
o Réplicas
o Preparação de fósseis
9
Museu da Lourinhã
j
Visite a
Agora é mais fácil dar um presente original
Ofereça CHEQUES-BRINDE
Entrada independente pela Rua dos Aciprestes.
10
Boletim N.º 7
Agosto 2008

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