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Johann Wolfgang von Goethe
Carl Gustav Jung
Georg Wilhelm Friedrich Hegel
na Igreja e no mundo
Diretor: Giulio Andreotti
www.30giorni.it
nella
nella Chiesa
Chiesa e
e nel
nel mondo
mondo
MENSILE SPED. IN ABB. POST.
Tar. Economy Taxe Percue Tassa Riscossa Roma.
ED. TRENTA GIORNI SOC. COOP. A R. L.
ISSN 1827-627X
Suplemento OS CANTOS DA TRADIÇÃO
“Não é o agnosticismo;
o gnosticismo, este sim,
é que é o perigo
para a fé cristã”
Palavras de Dom Luigi Giussani
a João Paulo II no início
da década de 1990
MENSILE SPED. ABB. POST. 45% D.L. 353/2003
(CONV. IN L. 27/02/04 N.46) ART.1, COMMA 1 DCB - ROMA.
ANO
XXIX
- Romanina
N.4/5 - 2011 R$ 15,00 - € 5
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Roma
per la restituzione
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ISSN 0390-4539
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ano XXIX
Sumário
N. 4/5 ANO 2011
Na capa: “Não é o agnosticismo; o gnosticismo, este sim, é que é
o perigo para a fé cristã”. Palavras de Dom Luigi Giussani a João
Paulo II no início da década de 1990
EDITORIAL
João Paulo II beato
4
— por Giulio Andreotti
NESTE NÚMERO
Oriente
Médio
p. 30
Do Líbano, uma mensagem de convivência.
Entrevista com Sua Beatitude Béchara Raï
novo patriarca de Antioquia dos Maronitas
3OGIORNI
nella Chiesa e nel mondo
Diretor Giulio Andreotti
REDAÇÃO
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3OGIORNI
nella Chiesa e nel mondo
é uma publicação mensal registrada
junto ao Tribunal de Roma na data 11/11/1993
n. 501. A publicação beneficia-se de subsídios
públicos diretos de acordo com a lei
de 7 de agosto de 1990, n. 250
Redação
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De segunda a sexta-feira das 9h às 18h
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VIDA CONSAGRADA
As pretensões dos homens
e a paciência de Deus
Entrevista com João Braz de Aviz — por G. Valente
24
Uma prorrogação ad personam
27
— por G. Valente
ORIENTE MÉDIO
Do Líbano, uma mensagem de convivência
Entrevista com Béchara Raï — por D. Malacaria
30
PÁSCOA 2011
A ressurreição de Cristo é um acontecimento
Mensagem Urbi et orbi do Papa Bento XVI
38
COLÉGIOS ECLESIÁSTICOS DE ROMA
Uma ponte entre Oriente e Ocidente
46
— por P. Baglioni
Forja de patriarcas, de orientalistas
e de futuros santos
47
— por P. Baglioni
O arquipélago maronita
53
— por P. Baglioni
NOVA ET VETERA
Introdução
— por L. Cappelletti
O pacto com a Serpente
— por M. Borghesi
58
60
Este número foi concluído na redação
dia 31 de maio de 2011
Impressão concluída no mês de junho de 2011
CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS: Paolo Galosi: pp.4,6,7,8,9,16,,17,18,19,22,46,47,48,49,50,52,53,54,
55,56; Associated Press/LaPresse: pp.5,24,29,34,35,36,42,43,45; por gentil concessão de monsenhor
Samir Nassar: pp.20-21; Romano Siciliani: pp.25,27; por gentil concessão de padre Sergio Durigon:
p.26; STR New/Reuters/Contrasto: p.30; Epa/Ansa: pp.30-31; Osservatore Romano: pp.31,39,48,51;
Patriarcato maronita: p.32; Epa/Corbis: p.33; Afp/Getty Images: p.34; por gentil concessão do
Departamento de Patrimônio IPAB, Vicenza: p.41; por gentil concessão da Sala de Imprensa da
Presidência da República italiana: pp.43,44; LaPresse: p.44; por gentil concessão da Sala de
Imprensa da Cúria dos Jesuítas: p.49; Arquivo do Pontifício Colégio Maronita: pp.51,52; por gentil
concessão da Ordem Antoniana Marianita de SantʼIsaia: p.57.
SEÇÕES
CARTAS DOS MOSTEIROS
6
LEITURA ESPIRITUAL
10
CARTAS DAS MISSÕES
20
CARTAS DOS SEMINÁRIOS
22
30DIAS NA IGREJA E NO MUNDO
42
30DIAS Nº 4/5 - 2011
3
Editorial
João Paulo II beato
por Giulio Andreotti
Da grande multidão de fiéis – romanos e não romanos – que no
dia da beatificação de João Paulo II lotava a Praça de São Pedro e as ruas adjacentes nos resta o sentimento, a veneração, a
alegria de toda aquela gente. E é uma recordação que não podemos deixar apagar dentro de
nós. Mas também ouvir a ritual proclamação
através da voz daquele que João Paulo II declarou “seu amigo de confiança” foi particular-
mente tocante, porque me veio à lembrança as
palavras de Paulo VI quando disse que o segredo para ser um bom Pastor é a novidade na
continuidade. E a primeira característica comum entre João Paulo II e Bento XVI (mas não
sempre entre todos os papas) é a facilidade
com que chegam ao coração das pessoas com
discursos imediatos e simples, a ponto de serem compreensíveis tanto para gente comum
quanto para os intelectuais.
A multidão na praça de São Pedro durante a cerimônia de beatificação de João Paulo II, 1º de maio de 2011
4
30DIAS Nº 4/5 - 2011
Pertenço a uma antiga escola
de católicos que ensina que se
deve querer bem ao papa
e não a um papa. Mas não
creio sair desta linha se me
associo aos que esperam uma
conclusão rápida do processo
rumo aos altares que segue
à beatificação, como foi para
Madre Teresa e Padre Pio,
para mim as duas canonizações
mais tocantes do pontificado
de João Paulo II
João Paulo II durante a cerimônia de canonização
de Padre Pio em 16 de junho de 2002
Tenho lembranças memoráveis de João
Paulo II e no passado tive a oportunidade de falar várias vezes disso em congressos e entrevistas, mas desta vez quero mantê-las no coração,
porque na ocasião da sua beatificação corre-se
o risco de fazer apologia de si mesmo e não do
beato Wojtyla e isso seria grave.
O dia 1º de maio de 2011 levou-nos idealmente ao dia do funeral de papa Wojtyla, dia
8 de abril de 2005: a sua agonia tinha sido
acompanhada por todo o mundo com uma
participação extraordinária e ergueu-se da
multidão, em particular dos jovens, o grito de
“santo já”, que nos dias passados da beatificação foi novamente evocado com muita intensidade.
A Igreja tem os seus tempos e é absolutamente autônoma, os procedimentos da Congregação são muito rigorosos e se forem cria-
das pressões mediáticas acaba-se provocando o efeito contrário, porém há um capítulo
específico, que me parece importante: a verificação se a santidade é percebida pelos fiéis.
E quanto a isso não há dúvidas, a ponto de
muitos fiéis rezarem há tempo por João Paulo II não menos do que fariam se fosse já santo. O importante é a substância, se em uma figura de cristão reconhece-se a santidade e reza-se, o documento selado terá todo o tempo
para chegar. Pertenço a uma antiga escola de
católicos que ensina que se deve querer bem
ao papa e não a um papa. Mas não creio sair
desta linha se me associo aos que esperam
uma conclusão rápida do processo rumo aos
altares que segue à beatificação, como foi para Madre Teresa e Padre Pio, para mim as
duas canonizações mais tocantes do pontificado de João Paulo II.
q
30DIAS Nº 4/5 - 2011
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Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros
ADORADORAS PERPÉTUAS DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO DO
Os oratórios marianos de Roma
MOSTEIRO DE LA ASUNCIÓN DE MARÍA
Rosarito, Baja California, México
Nas ruas estreitas do centro de Roma, que
cortam os antigos bairros populares, em cada rua, em cada praça, quase em cada canto se encontram oratórios muitas vezes cercados por baldaquinos e lâmpadas. São o
que os romanos chamam “le Madonnelle”
(as pequenas Nossas Senhoras).
Gostaríamos de receber
Quien reza se salva
Rosarito, 24 de fevereiro de 2011
Estimado senhor Andreotti,
louvado seja o Santíssimo Sacramento!
Receba a nossa gratidão por sua grande caridade ao
nos enviar a bela revista 30Días, que alimenta grandemente a nossa vida espiritual, por nos informar e
nos fazer sentir a Igreja
unida. Nós a lemos com
grande interesse e amor.
Gostaríamos muito de receber alguns exemplares
daquele livrinho tão útil,
Quien reza se salva, para
dá-lo a algumas pessoas
muito necessitadas.
Que a nossa Mãe Santíssima de Guadalupe carregue-o sempre em seu
seio como filho predileto e
encha de graças e bênçãos
toda a sua família e os seus
colaboradores.
Receba os afetuosos cumprimentos de nossa reverenda madre superiora e da comunidade.
Irmã Rosa María Amezcua, O.A.P.
Rosarito, 27 de abril de 2011
Nossa Senhora com o Menino Jesus, afresco de 1756,
praça do Relógio, esquina com a via del Governo Vecchio,
bairro Parione
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30DIAS Nº 4/5 - 2011
Estimado senhor Andreotti,
louvado seja o Santíssimo Sacramento!
Na plenitude da alegria pascoal, desejamos ao senhor e a sua ilustre família uma feliz Páscoa de Ressurreição.
Muitíssimo obrigada, senhor Andreotti, por nos
ter enviado os livrinhos Quien reza se salva. Nossa
reverenda madre superiora e a comunidade lhe
agradecem por sua grande bondade e generosidade. Estamos certas de que esses livrinhos farão um
Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros
grande bem aos nossos irmãos mais necessitados de
instrução.
Os livrinhos chegaram da Itália à porta do nosso mosteiro! Que maravilha! Não é fácil, pois estamos numa
pequena colina cercada por precipícios, mas temos uma
bela vista do céu e do mar e muitos pássaros canoros que
nos convidam a louvar o nosso Deus sacramentado.
Que prazer foi para nós, vendo o vídeo da celebração, constatar que o senhor assistiu à beatificação de
nossa madre fundadora, María Magdalena de la Encarnación, ocorrida em São João de Latrão no dia 3
de maio de 2008. Obrigada por sua presença.
Nós sempre o recordamos, gratas e em união de
oração. Que Deus continue a abençoá-lo e a dar-lhe
força em todos os seus apostolados.
Irmã Rosa María Amezcua, O.A.P.
P.S. Perdoe-nos o atraso, que se deveu à Santa
Quaresma.
CLARISSAS DO MOSTEIRO DE NOSSA SENHORA DAS MERCÊS
São Miguel, Açores, Portugal
Vinte exemplares de Quem reza se salva
São Miguel, 21 de março de 2011
Caríssimo senhor Andreotti,
na presença consoladora do Espírito Santo, vimos
saudá-lo cordialmente, desejando-lhe todo o bem no
Senhor.
Vimos, muito reconhecidas, agradecer o envio
da vossa singular revista
30Dias.
É de fato uma revista notável e extraordinária pelo seu
conteúdo que nos
põe a par dos acontecimentos mais importantes na vida da Igreja e do mundo. Bem
haja! Que o divino Espírito Santo sempre vos
assista.
Pedimos o favor de
nos enviarem 20 exem-
Nossa Senhora com o Menino Jesus, alto-relevo em cerâmica
do século XIX, via Sistina, esquina com a via Francesco Crispi,
bairro Campo Marzio
plares de Quem reza se salva. Desde já o nosso sincero agradecimento.
Formulamos votos de uma Santa Quaresma e santas e alegres festas pascais com fecundas bênçãos de
Cristo Ressuscitado.
Oremos uns pelos outros.
Sempre unidos pelo mesmo Corpo e Sangue do
Senhor Jesus.
Irmã Maria Verónica, O.S.C., e as irmãs clarissas
30DIAS Nº 4/5 - 2011
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Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros
Nossa Senhora com o Menino Jesus, alto-relevo em cerâmica do
século XIX, via del Buon Consiglio, bairro Monti
S.V.D., que foi solicitado à China por nosso arcebispo,
para cuidar da comunidade chinesa no Panamá. Ele
vem fazendo esse trabalho há cerca de dois anos em
nossa diocese. Conta-nos que tem visitado a escola chino-panamenha, onde há muitas crianças chinesas, e
gostaria de lhes dar o livrinho.
Vocês podem enviá-los ao nosso endereço, e nós
os entregaremos a ele, pois sua casa fica muito perto
da nossa.
Agradecemos de todo o coração e rezamos por todos vocês. Pedimos à Virgem Santíssima que lhes
conceda muitas bênçãos com a sua Secreta Visita.
Que Deus os recompense.
Irmã Margarita María, V.S.M.
Las Cumbres, 12 de abril de 2011
VISITANDINAS DO MOSTEIRO DE LA VISITACIÓN DE PANAMÁ
Las Cumbres, Panamá
Quem reza se salva
para a comunidade chinesa no Panamá
Las Cumbres, 3 de abril de 2011
Estimado senhor Giulio Andreotti,
receba as nossas saudações e gratidão por todo o trabalho de evangelização que têm feito por meio da revista.
Gostaríamos de lhes pedir cem exemplares de
Quem reza se salva, em espanhol, para a nossa Segunda Jornada Vocacional, que realizaremos nos dias
13, 14 e 15 de maio, no Panamá.
Fazemos também um pedido especial: que nos enviem duzentos exemplares de Quem reza se salva em
chinês. Estamos em contato com padre Pablo Liu,
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30DIAS Nº 4/5 - 2011
Caríssimo senhor Giulio
Andreotti,
somos muito gratas pelos livros Quem reza se salva, que recebemos ontem
de manhã.
Vocês precisavam ver a
alegria de padre Pablo Liu
diante dos livros em sua língua! Pôs-se a lê-los e me disse: “Esta é uma apresentação do bispo Aloysius Jin
Luxian”. Creio que sua alegria aumentará quando começar a distribuí-los entre
os chineses que vivem no
Panamá e sobretudo às
crianças da escola chino-panamenha.
Que Nosso Senhor continue a animá-los no excelente trabalho que fazem ao distribuir esse livro e a revista 30Dias, que é muito interessante.
Pedimos ao nosso santo fundador Francisco de Sales que lhes conceda abundantes bênçãos neste apostolado.
Irmã Margarita María, V.S.M.
Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros
CLARISSAS CAPUCHINHAS DO CONVENTO
DE SANTO APOLINÁRIO DE VECLO
Ravena, Itália
Obrigada pela meditação
sobre a santa Páscoa
Ravena, 14 de abril de 2011
“O Senhor ressuscitou, como havia previsto, alegremo-nos todos e
exultemos, pois Ele reina eternamente. Aleluia”.
Prezado senador Andreotti,
enquanto desejamos comunicar-lhe
nossos votos fraternais de uma santa
Páscoa cheia de paz e de amor, agradecemos imensamente pelo livro que acaba de chegar, “Il Figlio da se
stesso non può fare nulla”. Este também será um instrumento útil para viver mais intensamente estes poucos
dias que nos separam do grande dia da Ressurreição do
Senhor. Nós lhe garantimos nossa oração, rogando que
Deus lhe seja guia, conforto e o encha de seus dons.
Com muita gratidão pelo bem que realiza,
Neste tempo de Quaresma, tomamos a liberdade de expor uma
necessidade premente, que surgiu
quando menos esperávamos.
O pavimento de nossa grande
cozinha (cerca de cem metros quadrados) elevou-se repentinamente
em vários pontos, em razão das infiltrações de água durante os setenta e cinco anos de existência do
mosteiro.
Depois de consultas e de muita
espera, decidimos refazer o pavimento completamente, pois uma
reforma parcial corria o risco de
ser inútil, embora menos cara.
A despesa soma mais de cinco
mil euros, e é por isso que vimos pedir uma contribuição, com muita confiança.
Agradecemos pela atenção e asseguramos nossa
oração pelas intenções dos oferentes.
Irmã Angela da Eucaristia e comunidade
continua na p. 16
as irmãs clarissas capuchinhas
CARMELITAS DO CONVENTO NOSSA SENHORA DO MONTE CARMELO
Haifa, Israel
Pedido de ajuda à Piccola Via
Haifa, 20 de abril de 2011
Somos muito gratas pelo envio de 30Dias em italiano
e em francês.
É um sopro da vida da Igreja e do mundo que chega
até nós para fazermos dele objeto de oração. Nossa
atenção foi atraída para a iniciativa Piccola Via.
Nestes meses em que Santa Teresinha peregrina
pela Terra Santa, nós lhe pedimos que os inspire a
dar-nos um presente.
Rogamos que sejam muitos os que oferecem, para que a caridade de vocês possa alcançar tamanha
pobreza.
Fazemos votos de uma santa Páscoa rica em luz,
em conversão, em fé operante.
Regina Apostolorum, baixo-relevo do século XIX,
via dell’Umiltà, esquina com a via di San Marcello, bairro Trevi
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Leitura espiritual
Leitura espiritual
Leitura espiritual/42
Decretum de peccato originali*
3. Si quis hoc Adae peccatum, quod
origine unum est et propagatione, non
imitatione transfusum omnibus inest
unicuique proprium, vel per humanae
naturae vires, vel per aliud remedium
asserit tolli, quam per meritum unius
mediatoris Domini nostri Iesu Christi,
qui nos Deo reconciliavit in sanguine
suo, «factus nobis iustitia, sanctificatio
et redemptio» (1Cor 1, 30); aut negat,
ipsum Christi Iesu meritum per baptismi sacramentum, in forma Ecclesiae
rite collatum, tam adultis quam parvulis applicari: anathema sit. Quia «non
est aliud nomen sub caelo datum hominibus, in quo oporteat nos salvos fieri»
(At 4, 12). Unde illa vox: «Ecce agnus
Dei, ecce qui tollit peccata mundi» (Gv
1, 29). Et illa: «Quicumque baptizati
estis, Christum induistis» (Gal 3, 27).
* Denzinger 1513.
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30DIAS Nº 4/5 - 2011
Decreto sobre o pecado original
3. Se alguém afirma que este pecado de Adão, que é um só quanto à origem e, a todos transmitido por propagação não por imitação, pertence a todos e a cada um como próprio, pode
ser tirado com as forças da natureza
humana ou com outro remédio que
não os méritos do único mediador,
nosso Senhor Jesus Cristo, que nos reconciliou com Deus no seu sangue,
“tornado por nós justiça, santificação
e redenção” (1Cor 1, 30); ou nega que
este mérito de Jesus Cristo seja aplicado tanto aos adultos quanto às crianças
com o sacramento do batismo, devidamente administrado segundo a maneira da Igreja, seja anátema. Porque
“não há outro nome dado aos homens
debaixo do céu pelo qual devemos ser
salvos” (At 4, 12). Daí esta palavra:
“Eis o cordeiro de Deus, eis o que tira o
pecado do mundo” (Jo 1, 29); e a outra: “Todos vós que fostes batizados
em Cristo, vos revestistes de Cristo”
(Gl 3, 27).
Leitura espiritual
Leitura espiritual
A expulsão do Paraíso na terra, ao fundo da Anunciação, Beato Angélico, Museu do Prado, Madri
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Leitura espiritual
Leitura espiritual
O terceiro cânon do Decreto sobre o pecado original do Concílio de Trento que propomos como leitura espiritual para este número sugeriu-nos publicar, como comentário, dois trechos do papa Paulo VI.
O primeiro trecho é extraído do discurso de abertura da segunda sessão do Concílio Ecumênico Vaticano II, a 29 de setembro de 1963, no qual Paulo VI indica o objetivo de tal vigésimo primeiro Concílio
ecumênico.
“Donde parte o nosso caminho, Irmãos?”; “Qual é o caminho
que desejais percorrer?”; “E que fim, Irmãos, propor ao nosso itinerário?”.
“Estas três perguntas simplicíssimas e capitais, têm, bem o sabemos, uma só resposta, que neste lugar e nesta hora devemos proclamar a nós mesmos e anunciar ao mundo que nos rodeia: Cristo!
Cristo, nosso princípio; Cristo, nosso caminho e nosso guia; Cristo,
nossa esperança e nosso fim.
Que este Concílio tome plena consciência desta relação entre nós
e Jesus abençoado, múltipla e singular, firme e estimulante, misteriosa e claríssima, premente e beatificante; entre esta Igreja santa e
viva que somos nós, e Cristo, de quem vimos, por quem vivemos e
para o qual caminhamos. Nenhuma outra luz se veja sobre esta reunião que não seja Cristo, luz do mundo; nenhuma outra verdade interesse as nossas almas, que não sejam as palavras do Senhor, nosso
único Mestre; nenhuma outra aspiração nos guie, que não seja o desejo de Lhe sermos absolutamente fiéis; nenhuma outra confiança
nos mantenha, senão a que, através da sua palavra, sustenta a nossa
fraqueza desoladora: ‘Et ecce Ego vobiscum sum omnibus diebus usque ad consummationem saeculi’: [‘Eu estou sempre convosco até a
consumação dos séculos’] (Mt 28, 20).
Oxalá fôssemos nós nesta hora capazes de elevar a Nosso Senhor
Jesus Cristo uma voz digna d’Ele! Diremos com a sagrada Liturgia:
“Te, Christe, solum novimus; – te mente pura et simplici – flendo et
canendo quaesumus – intende nostris sensibus!”: [‘Só a Ti, Cristo,
conhecemos; a Ti pedimos, com o coração puro e simples, no pranto e na alegria; atende os nossos desejos!’]”.
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30DIAS Nº 4/5 - 2011
Leitura espiritual
Leitura espiritual
Jesus e Pedro, detalhe da Vocação de Pedro e André, predela da Majestade,
Duccio di Buoninsegna, National Gallery of Art, Washington; à direita,
Paulo VI durante os trabalhos do Concílio ecumênico Vaticano II
30DIAS Nº 4/5 - 2011
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Leitura espiritual
Leitura espiritual
O segundo trecho é extraído do Credo do povo de Deus de 30 de junho de 1968, no qual Paulo VI cita literalmente o terceiro cânon do Decreto sobre o pecado original do Concílio de Trento.
“Cremos que todos pecaram em Adão: isto significa que a culpa
original, cometida por ele, fez com que a natureza, comum a todos
os homens, caísse num estado no qual padece as consequências
dessa culpa. Tal estado já não é aquele em que no princípio se encontrava a natureza humana nos nossos primeiros pais, uma vez
que se achavam constituídos em santidade e justiça, e o homem estava isento do mal e da morte. Portanto, é esta natureza humana assim decaída, despojada de dom da graça que antes a adornava, ferida em suas próprias forças naturais e submetida ao domínio da morte, é esta que é transmitida a todos os homens. Exatamente neste
sentido, todo homem nasce em pecado. Professamos pois, segundo
o Concílio de Trento, que o pecado original é transmitido juntamente com a natureza humana, ‘pela propagação e não por imitação’, e
que ele é, portanto, ‘próprio a cada um’.
Cremos que Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo Sacrifício da Cruz,
nos remiu do pecado original e de todos os pecados pessoais cometidos por cada um de nós; de sorte que se impõe como verdadeira a
sentença do Apóstolo: ‘onde abundou o delito, superabundou a graça’ [cf. Rm 5, 20]”.
De 29 de setembro de 1963 a 30 de junho de 1968 não transcorreram nem mesmo cinco anos. Ainda assim, nos seus dois discursos, parece-nos entrever como a experiência de Paulo VI naqueles anos
fosse a mesma vivida pelo primeiro dos apóstolos, Pedro, no modo em que o Evangelho nos documenta. Um caminho que, partindo do entusiasmo muito humano pelo reconhecimento de Jesus – que é
dom do Pai (“Feliz és tu, Simão, [...] porque não foi carne e sangue quem te revelou isso, mas o meu Pai
que está no céu”, Mt 16, 17), no qual se coloca em jogo toda a iniciativa de Pedro –, chega à experiência
real da nossa “desoladora fraqueza”, assim que toda a iniciativa é deixada ao Senhor e Pedro humildemente ensina “apenas o que foi transmitido” (Dei Verbum, n. 10).
Sem equivalentes é, a este propósito, o comentário de Santo Agostinho às palavras dirigidas por Jesus a
Pedro, depois que, em Cesareia de Filipe, o apóstolo tinha-O reconhecido (cfr. Mc 8, 27-33): “Dominus
Christus ait: ‘Vade post me, satanas’ / E Jesus disse: ‘Vai para trás de mim, satanás!’. Quare satanas? /
Por que satanás? / Quia vis ire ante me / Porque queres ir na minha frente” (Sermones 330, 4).
Pedro e o seu sucessor assim aprenderam a deixar toda a iniciativa ao agir do Senhor. Aprenderam
que a nós cabe somente reconhecer e seguir o que o Senhor opera.
14
30DIAS Nº 4/5 - 2011
Leitura espiritual
Leitura espiritual
Jesus e Pedro, detalhe do encontro entre Jesus ressuscitado e os apóstolos no lago
de Tiberíades, Majestade, Duccio di Buoninsegna, Museu dell’Opera del Duomo, Sena;
à direita, Paulo VI ao pronunciar o Credo do povo de Deus, 30 de junho de 1968
30DIAS Nº 4/5 - 2011
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Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros
segue da p. 9
Haifa, 25 de maio de 2011
Agradecimentos infinitos à associação Piccola Via
onlus!
Ontem, 24 de maio, chegou o dinheiro para refazer o pavimento da nossa cozinha.
Todas as bênçãos celestes por todo o seu apostolado,
irmã Angela da Eucaristia
P.S. Anexo ao último número de 30Days, recebemos com imensa gratidão também o suplemento
pascal da meditação de padre Giacomo Tantardini.
A meditação é um verdadeiro alimento para o espírito, parece infundida de graças! Muitíssimo obrigada
por esse tesouro. Sabemos que é um grande pedido,
mas seria possível nos enviarem cinco exemplares
em inglês e dois em italiano desse suplemento? Se isso não for um problema para vocês, nosso endereço
segue anexo.
Mais uma vez, obrigada!
CLARISSAS DO CONVENTO SAINT CLARE
Yangyang, Coreia do Sul
Yangyang, 11 de maio de 2011
A meditação sobre a santa Páscoa parece
infundida de graças
Yangyang, 28 de abril de 2011
Prezado diretor Andreotti e amigos todos de
30Giorni,
com a minha sincera saudação de paz, declaro-lhes
meus votos de que recebam abundantes bênçãos do
Senhor Jesus ressuscitado neste tempo de Páscoa! Obrigada mais uma vez por terem continuado a enviar
30Days in the Church and in the World à nossa comunidade, como assinatura de cortesia. Que o Senhor
os abençoe a todos por essa obra de verdadeira evangelização e pela difusão de artigos tão sugestivos e de
importantes informações do mundo inteiro.
O endereço para a nossa assinatura foi corrigido;
assim, agora recebemos dois exemplares da revista,
podendo dessa forma compartilhá-la com os sacerdotes ou os missionários que celebram a missa para
nós, e que podem tirar grande benefício dos artigos.
Nós lhe agradecemos, ainda, pelo envio dos dez
exemplares do suplemento Quem reza se salva em
chinês: pensamos em dá-los a alguns missionários coreanos que atuam no momento na China. Além disso,
padre Francis Mun Ju Lee, diretor da clínica Saint Joseph para os pobres e marginalizados de Seul, que fez
também apostolado no Vietnã, recebeu a assinatura de
cortesia que eu lhes pedi e lhes é extremamente grato.
Que o seu trabalho continue a receber toda as
bênçãos com abundância de graças e a inspiração do
Espírito Santo!
Com gratidão, sua em Cristo,
Caros amigos de 30Giorni,
não sei como expressar minha profunda gratidão
pelo envio tão veloz, em resposta ao meu pedido,
dos cinco exemplares em inglês e dos dois em italiano da meditação de padre Giacomo Tantardini,
Imaculada Conceição, afresco do século XVIII, praça da Rotonda,
irmã Mary Diane Ackerman, O.S.C.
16
30DIAS Nº 4/5 - 2011
bairro Colonna
Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros
“The Son cannot do anything on his own”. Essa bela meditação é algo que
deve ser ponderado lentamente e permite mergulhar profundamente na
oração; eu gostaria de enviar o suplemento a alguns padres e a algumas
pessoas que podem apreciá-lo e beneficiar-se profundamente dele.
Sou muito grata por receber 30Days de presente,
espero-a todos os meses.
Compartilhei alguns artigos e algumas notícias com minhas irmãs coreanas e
com outras pessoas – por exemplo, recentemente, o
artigo sobre o humilde frade capuchinho Leopoldo
Mandic, que gastou muitos de seus dias no confessionário. Não sabíamos muito sobre ele, e amanhã, 12
de maio, celebraremos seu aniversário; conhecê-lo
melhor torna a nossa memória mais significativa! De
novo, muito obrigada!
Peço-lhes, por favor, que comuniquem minha especial gratidão a padre Giacomo, cujas leituras e meditações tocam o meu coração e a minha alma profundamente e me ajudam a abandonar-me mais à maravilhosa graça e ao amor de nosso Deus misericordioso!
Desejando ao senhor, caro diretor, e a todos os seus
colaboradores o amor e a paz de nosso Senhor ressuscitado, permaneço sinceramente em Cristo Jesus,
Nossa Senhora do Rosário, afresco do século XVII,
via dell’Umiltà, esquina com a via dell’Archetto, bairro Trevi
O exemplar do suplemento “The Son cannot do
anything on his own” ajuda a entrar neste grande
mistério da nossa fé.
Rogamos ao Senhor ressuscitado que continue a
inspirá-lo a compartilhar a Boa Nova.
Com devotada gratidão e oração,
irmã Mary Diane Ackerman, O.S.C.
irmã Marie-Céline Campeau, O.S.C.
CLARISSAS DO CONVENTO SAINT CLARE
Mission, British Columbia, Canadá
MONJAS MÍNIMAS DE SÃO FRANCISCO DE PAULA
Saltillo, Coahuila, México
A meditação sobre a santa Páscoa
ajuda a entrar neste grande mistério
da nossa fé
30Dias nos mantém em comunhão
com toda a Igreja
Mission, 1º de maio de 2011
Saltillo, 4 de maio de 2011
Caro senhor Andreotti,
o Senhor ressuscitou verdadeiramente, aleluia! Neste jubiloso tempo de Páscoa desejamos agradecer-lhe pelo dom
que é a sua revista 30Days. Nós a apreciamos muito.
Estimado senador Giulio Andreotti,
quero agradecer-lhe imensamente pela revista mensal
30Dias, que este ano mais uma vez chega até o México, onde, com a providência de Deus, fundamos ¬
30DIAS Nº 4/5 - 2011
17
Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros
Eles também vieram da Itália para fundar uma comunidade para testemunhar no México o carisma de
caridade, de conversão e de reconciliação do nosso
fundador, São Francisco de Paula, pondo-se a serviço das pessoas mais pobres e necessitadas do lugar.
Por isso têm um grande desejo de ter à sua disposição a revista 30Giorni em italiano, como subsídio de
informação segura e constante atualização.
Agradecendo-lhe antecipadamente por sua sensibilidade e compreensão, eu lhe asseguro as orações
de toda a minha comunidade.
Com gratidão e estima, em Cristo,
madre Maria Margherita Bichi,
responsável pela comunidade de Saltillo
CLARISSAS DO CONVENTO SANTA CLARA
Bolinao, Filipinas
Nós lhes somos gratas pela meditação
sobre a santa Páscoa
Bolinao, 4 de maio de 2011
Imaculada Conceição, mosaico do século XX, via dei Serpenti,
bairro Monti
uma nova comunidade de Monjas Mínimas de São
Francisco de Paula.
Graças a sua generosidade e de toda a redação, estamos recebendo gratuitamente este precioso instrumento de informação que, para nós, claustrais, é de
vital importância, pois nos mantém em comunhão
com toda a Igreja e com o mundo atual.
De fato, frequentemente recebemos motivações e
estímulos para oferecer com mais entusiasmo a nossa
vida a Deus, como sacrifício de odor suave, pelas necessidades mais urgentes da Igreja e do mundo, segundo o nosso carisma de orantes e penitentes.
Conscientes do grande presente que recebemos,
gostaríamos que também nossos irmãos, os frades da
Ordem dos Mínimos, presentes em nossa cidade de Saltillo, no México, pudessem usufruir dele, já que apreciam muito a sua revista, admirando a profundidade de
seus conteúdos e a objetividade das informações.
18
30DIAS Nº 4/5 - 2011
Caro senhor Andreotti e equipe de 30Dias,
nós lhes enviamos nossas saudações orantes por este
tempo de Páscoa e lhes manifestamos a nossa gratidão pela assinatura de 30Dias... e pelo exemplar especial com a meditação sobre a santa Páscoa de padre
Giacomo Tantardini. É certamente um belo texto para
a leitura espiritual deste tempo.
Que Deus recompense todos vocês por sua generosidade na difusão da obra da Igreja. Estejam certos
das nossas orações pelo sucesso de seu ministério.
Deus os abençoe.
Boa Páscoa! Aleluia!
as clarissas
P.S.: Estamos também felizes por lhes informar
que a nossa Ordem de Santa Clara festeja os oitocentos anos de sua fundação. As celebrações começaram
no último Domingo de Ramos (17 de abril de 2011) e
se concluirão no ano que vem, por ocasião da festa da
santa madre Santa Clara (11 de agosto de 2012). Nós
rezaremos por vocês durante este ano jubilar. Rezem
também por nós. Obrigada.
Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros
CARMELITAS DO CONVENTO DO CORAZÓN
IRMÃS DO MOSTEIRO DA VISITAÇÃO
DE JESÚS
Washington, D.C., Estados Unidos
Ibarra, Equador
A meditação sobre
a santa Páscoa
para o nosso retiro mensal
Um exemplar em italiano
da meditação
sobre a santa Páscoa
Washington, 4 de maio de 2011
Ibarra, 4 de maio de 2011
Louvado seja Jesus Cristo ressuscitado!
Senhor diretor Giulio Andreotti,
Jesus ressuscitado, que vive e caminha perto de nós, lhe conceda em
abundância os dons e os frutos do
Espírito Santo.
Obrigada pelo envio da revista 30Días. Nós a lemos com interesse porque ajuda-nos a rezar com
maior intensidade pela Igreja e pelo mundo inteiro.
Nós lhe somos gratas pelo livrinho “El Hijo no puede hacer nada por su cuenta”, muito útil para o nosso
retiro mensal. O Senhor o recompensará.
Rezamos por suas intenções e, neste mês de maio,
o recomendamos à Santa Virgem; que lhe conceda
saúde, amor e alegria no Senhor.
Saudações,
a comunidade das carmelitas descalças
Caríssimos senhores,
escrevo para pedir-lhes um exemplar em italiano de sua publicação intitulada em inglês “The Son cannot
do anything on his own”, de padre
Giacomo Tantardini. Se puderem
mandá-la, ficaremos gratas.
Muito obrigada! Boa Páscoa!
Em Cristo ressuscitado,
irmã Maria Roberta Viano
CLARISSAS DO CONVENTO SAINT CLARE
Duncan, British Columbia, Canadá
“The Son cannot do anything on his own”
é muito útil
Duncan, 12 de maio de 2011
Respeitável redação de 30Dias,
somos extremamente gratas pelo fato de 30Days chegar ao nosso convento há muitos anos.
Na última edição havia um suplemento, “The Son
cannot do anything on his own”, que achamos muito
útil. Gostaríamos de encomendar dez exemplares e
gostaríamos de saber quanto custa.
Obrigada, e que Deus os abençoe pelo seu ministério.
Irmã Wylie Aaron
Nossa Senhora em cerâmica do século XIX,
praça Nossa Senhora dos Montes,
esquina com a via dei Serpenti, bairro Monti
30DIAS Nº 4/5 - 2011
19
Cartas das missões
Cartas das missões
ARCEBISPADO MARONITA
Damasco, Síria
Um obrigado
aos refugiados iraquianos
Damasco, 30 de março de 2011
Senhor Giulio Andreotti,
submeto a 30Giorni o testemunho de um povo perseguido, exilado, que prega a Esperança e conta com a oração da numerosa família
de 30Giorni.
A Síria facilitou a acolhida dos refugiados
iraquianos. Vieram aos milhares, sobretudo a
Damasco, e continuam a chegar, às dezenas e
centenas, para escapar da morte e da violência de que são vítimas desde 2003.
O pessoal das Nações Unidas organiza seu
êxodo para outros lugares mais clementes...
À espera de obter um visto, esses refugiados
iraquianos ficam em Damasco geralmente
dois ou três anos, às vezes até mais.
Esses cristãos bem formados, caridosos e
praticantes se refugiam na fé e na esperança
cristãs. Enchem as nossas igrejas, animam as
nossas paróquias, levando a elas um “vento”
novo que reforça a fé cristã na Síria.
– Praticantes cotidianos, os refugiados do
Iraque participam assiduamente da missa todos os dias, vindo até de longe, a pé ou por
transporte público.
– Pedem a confissão antes da comunhão:
contribuíram para o retorno ao confessionário, que volta a ter filas de espera.
– Sua devoção pelos santos e a veneração
da Virgem deram impulso à fabricação de velas, que hoje iluminam noite e dia as capelas
dos santos, dentro e fora das igrejas.
20
30DIAS Nº 4/5 - 2011
– Seus filhos pequenos enchem as aulas de
catecismo da primeira comunhão. Já os adolescentes atuam nos corais das diversas igrejas e nas liturgias.
– A guerra espalhou rapidamente a informática pelo Iraque. Os refugiados que vêm
para Damasco geralmente sabem usar bem a
internet. Puseram seus conhecimentos generosamente a serviço das paróquias e das comunidades. Assim, graças a eles nossas paróquias muniram-se de sites, instrumentos de
vanguarda a serviço da evangelização em escala universal.
Cartas das missões
Cartas das missões
Refugiados iraquianos em oração numa igreja
de Damasco, na Síria
– Impelidos por uma grande caridade, dezenas deles se empenham, duas ou três vezes
por semana, nas grandes faxinas da catedral
e da praça da igreja. Quando obtêm o visto,
antes de partir se asseguram de que outros
continuem essas obras.
– Estão presentes nas noites de oração, na
adoração Eucarística, nas peregrinações e
nas procissões pelas ruas de Damasco durante a Semana Santa e sobretudo no mês de
maio. Seu dinamismo espiritual atrai as outras comunidades; um dos nossos sacerdotes
ajuda na paróquia caldeia.
– Apesar da sua pobreza e das suas condições de vida precária, são generosos e
vivem a partilha. É preciso vê-los, na saída
da missa, oferecer e dar com alegria, sorrisos e lágrimas...
– Vivem os momentos mais íntimos
em silêncio diante do Santíssimo Sacramento, face a face com o Senhor. Por
horas... Pranteiam seus entes queridos
falecidos e se interrogam sobre o futuro;
procuram entender o porquê de tudo o
que acontece.
– Toda semana o arcebispado recebe
muitos deles, que vêm despedir-se antes
de partir para o desconhecido, às vezes
de modo disperso: os pais para a Austrália, os filhos para o Canadá. Nem mesmo
em terra de exílio, podem mais viver como uma família... Uma ruptura ainda
mais dolorosa.
Esses refugiados iraquianos que passam
sempre por Damasco são missionários
ambulantes que marcaram a Igreja na Síria, que os vê de passagem e se questiona
sobre seu próprio futuro...
O Sínodo dos Cristãos do Oriente representou uma oportunidade e uma esperança, sem
todavia conter a hemorragia e o êxodo. Esses
refugiados missionários dispersos pelos quatro
cantos do mundo estão ligados entre si apenas
pela oração e pela internet. Privados de suas
raízes e diante do crepúsculo de sua Igreja, não
poderiam, estes refugiados iraquianos, com a
sua vitalidade religiosa, levar um sopro novo às
Igrejas do Ocidente que os acolhem?
Samir Nassar
arcebispo maronita de Damasco
30DIAS Nº 4/5 - 2011
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Cartas dos seminários
SEMINÁRIO SÃO CAMILO
PARÓQUIA DʼADIDOGOMÉ
Iomerê, Santa Catarina, Brasil
Lomé, Togo
30Dias simplesmente “excelente”
Qui prie sauve son âme
para noventa catecúmenos
Iomerê, 28 de março de 2011
Lomé, 2 de maio de 2011
Prezados senhores,
recebemos regularmente a excelente revista 30Dias
em português. Simplesmente “excelente”!
Que Deus os abençoe sempre pelo muito bem que
fazem.
Pedimos suas orações, precisamos muito. Não nos
esqueçam.
Respeitosamente,
padre Carlos Alberto Pigatto
SEMINÁRIO MAIOR CATÓLICO DE SAINT JOSEPH
Yangon, Mianmar (de Lampang, Tailândia)
Para o nosso seminário maior católico
de Saint Joseph, em Yangon,
em Mianmar
Lampang, 22 de abril de 2011
Caro diretor,
receba os cumprimentos de Lampang. Sou o padre
Clement Angelo, de Mianmar. Encontro-me agora
aqui na Tailândia por um breve período com os sacerdotes do Pime que trabalham com a população que
pertence às tribos das colinas.
Durante esta minha breve permanência, conheci a
sua revista 30Days e pessoalmente considerei interessante e de valor.
Se possível, contando com a sua generosidade,
gostaria de receber um exemplar para mim e um para
o nosso seminário maior católico de Saint Joseph, em
Yangon (Mianmar), onde desenvolvo o meu ministério como professor.
Creio que possa ser uma boa inspiração para os seminaristas maiores, que poderão tomar conhecimento dos acontecimentos religiosos no mundo.
Boa Páscoa,
padre Clement
Nossa Senhora com o Menino Jesus, afresco do século XVII,
via del Gesù, bairro Pigna
22
30DIAS Nº 4/5 - 2011
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
Sou um seminarista do Togo. Gostei muito do livrinho
Qui prie sauve son âme. Durante as próximas férias
de verão, no mês de julho, a minha paróquia organizará um acampamento para os catecúmenos (cerca
de noventa). Meu pároco me encarregou de organizar
e dirigir esse acampamento para crianças. Gostaria
de lhes pedir, como ajuda para a oração naqueles
dias, o livrinho Qui prie sauve son âme, para que fique à disposição dos catecúmenos que participarem.
Seria também uma santa e bela lembrança que essas
crianças poderão levar consigo quando o acampamento se concluir, e que poderão utilizar para a sua
oração pessoal.
Na esperança de uma resposta favorável, recebam
a garantia de minhas orações, e a expressão de minha
gratidão.
Em união de oração.
Fraternalmente,
Romain Semenou
Um patrimônio que une arte,
cultura e espiritualidade na maravilhosa
paisagem natu ral dos Montes “Simbruini”
O patrimônio artístico e cultural
desta região é fascinante.
Os Mosteiros são jóias de inestimável
valor pelas suas elaboradas arquiteturas,
seus raros afrescos e o exclusivo
patrimônio bibliográfico e de museus.
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por S. Bento no século VI.
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românico, construído no
século XI, os três claustros
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Vida consagrada
Irmãs Missionárias da Caridade de Madre Teresa de Calcutá, na Basílica da Imaculada Conceição, em Washington
As pretensões dos homens
e a paciência de Deus
por Gianni Valente
D
os edifícios futuristas de
Brasília aos repletos de
história do Além-Tibre, a
viagem é longa. Dom João Braz
de Aviz, 64 anos, arcebispo emérito da capital brasileira, deu esse
salto há poucas semanas. Em 4 de
janeiro passado, o Papa o chamou a Roma para presidir a Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades
de Vida Apostólica e para abrir
uma nova etapa nas relações –
sempre vivas e às vezes agitadas –
entre a Santa Sé apostólica e a galáxia das congregações e ordens
religiosas.
Dom João, como mudou a
sua vida desde que chegou a
Roma?
JOÃO BRAZ DE AVIZ: É claro
que a mudança foi grande. Em
Brasília, havia pouco mais de dois
milhões e meio de fiéis, com 380
sacerdotes e 128 paróquias, que
24
30DIAS Nº 4/5 - 2011
eu visitava com frequência. Aqui,
não existe o povo, eu só o vejo
quando acontecem as grandes
reuniões na praça de São Pedro...
E algumas vezes, nos primeiros dias, deve ter feito as
refeições sozinho...
Em Brasília, em casa, sempre
havia companhia. Eu tinha como
secretárias duas mães de família,
havia a cozinheira, éramos uma
pequena comunidade. Mas aqui o
raio de amigos também vai-se ampliando com o tempo.
O senhor, mesmo quando
pequeno, em sua família, estava acostumado às mesas
numerosas.
Meus pais eram do sul, eu nasci no estado de Santa Catarina.
Mas quando tinha dois anos minha família se transferiu para o
Paraná, para uma região que, como diziam naquele tempo, começava a ser “colonizada”. Meu pai
começou a trabalhar lá como
açougueiro. Tenho um ir mão
mais velho, também sacerdote, e
depois nasceram outros seis. Ao
todo somos cinco homens e três
mulheres. A mais nova, que tem
síndrome de Down, hoje tem 47
anos. Eu me lembro de que quando nasceu – na época, morávamos em Borrazópolis –, meus
pais, para levá-la para batizar,
percorreram de carroça mais de
quarenta quilômetros, pois não
queriam esperar.
Uma bela viagem, naquela
época.
Onde vivíamos, no início, não
havia sacerdotes. O padre passava de vez em quando, uma vez por
mês. Eram os líderes leigos populares que guiavam a comunidade,
davam o catecismo e promoviam
as práticas da vida de fé, como o
Santo Rosário e a devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Naquele
tempo, a Igreja local se baseava
muito em grupos como o aposto-
Entrevista com o arcebispo João Braz de Aviz
À esquerda,
frades
dominicanos
no claustro da
Basílica de Santa
Sabina,
em Roma.
Abaixo,
frades
franciscanos
em Assis
força o amor de Deus, e como esse
amor é descoberto amando o irmão... Para mim eram coisas novas. Eu até aquele momento só pensava na educação, que era preciso
ser gentil com os outros por uma
questão de boas maneiras. Nunca
imaginei que o outro pudesse ser
servido como o próprio Jesus.
Depois, o seu bispo o mandou estudar teologia em Roma. Era o ano de 1967, o Concílio tinha terminado havia
pouco tempo... Como o senhor
lembra aqueles anos?
Estudei na Gregoriana e depois
um ano no Ateneu Salesiano, pa-
“Eu dizia em Brasília: se vocês, dos carismas maiores,
mortificam e anulam os carismas menores porque têm como
único critério o de crescerem e tomar mais espaço,
isso não é de Deus”. Encontro como novo prefeito
da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada
e as Sociedades de Vida Apostólica
lado da oração, ou os filhos de
Maria... Papai e mamãe mesmo
ajudavam a manter as capelas
abertas.
E como o senhor se tornou
padre?
Embora ainda fosse criança na
época da primeira comunhão,
aos sete anos, já percebi a vocação, que depois foi cultivada pelas
freiras de Santa Catarina, para
onde fui mandado, a fim de continuar os estudos. Quando eu tinha
onze anos, entrei para o seminário menor de Assis, no estado de
São Paulo, a quatrocentos quilômetros da capital. T inha sido
aberto pelos missionários do Pime. Alguns deles tinham sido missionários na China, de onde foram expulsos depois do advento
do poder de Mao. Contavam-nos
suas histórias. Lembro-me de que
eram pessoas profundíssimas; era
bonito crescer vendo-os. E depois, quando adolescente, encon-
trei também a espiritualidade dos
Focolares.
Como isso aconteceu?
Conheci um pintor ateu que depois de ter-se convertido falava de
Deus de maneira viva e concreta.
Eu era um menino, e aquilo me impressionou. Eu pensava: veja só esse ateu que agora conta com tanta
ra fazer os cursos de psicopedagogia. Recebi o diaconato em Roma,
e voltei ao Brasil apenas em
1972. Era uma época marcada
por muitos estímulos e por muitas
dificuldades. Tudo parecia em movimento. Começavam o trabalho
trazido pelo Concílio. Eram atualizados os velhos regulamentos, ¬
30DIAS Nº 4/5 - 2011
25
Vida consagrada
os cursos eram reestruturados,
mas havia também a incerteza que
marca todas as fases de passagem
e de revisão.
E na América Latina vocês
se encontravam também diante do surgimento da Teologia
da Libertação.
Éramos idealistas, queríamos
dar a vida por algo grande. A opção de olhar para os pobres nos
dava uma enorme esperança, sobretudo para nós, que vínhamos
de famílias pobres. Estávamos
prontos a desistir de tudo, até do
seminário, se aquele ímpeto não
fosse acolhido e abraçado na realidade eclesial em que vivíamos.
Acima, dom João Braz de Aviz com
um grupo de religiosos brasileiros
no Pontifício Colégio Pio Brasileiro,
Roma; abaixo, na Catedral de
Brasília
multânea desses dois fatores. Pensava: esta é a condição em que me
coube viver. Com o tempo, isso me
ajudou a ver que ser sacerdote não
significa exercer um “domínio” religioso sobre a própria vida e sobre
a vida dos outros.
Passado todo este tempo,
que balanço o senhor faz da
época da Igreja que esteve ligada à Teologia da Libertação?
Podemos dizer diversas coisas.
No Brasil, alguns dos grupos pastorais daquela época mais impelidos naquela linha hoje se transformaram em ONGs com muito dinheiro, saindo da Igreja. Diziam
querer mudar a Igreja, depois perderam a fé e ficou só a sociologia.
Isso não pode deixar de suscitar
tristeza. No entanto, continuo con-
No Brasil, desde a independência, sempre foi forte um poder que eu
chamaria “o poder do dinheiro”. É aquele poder que,
por exemplo, continua a resistir a uma verdadeira reforma agrária.
E que nunca teve uma grande relação de proximidade com a Igreja,
e nem com a hierarquia eclesiástica
O senhor já explicou que
nessa passagem a experiência
dos Focolares o ajudou a superar o perigo de que tudo se
dissipasse.
Deus me preservou assim. A
experiência espiritual dos Focolares é forte e simples. Já no final da
década de 1960, Chiara Lubich
nos convidava a rever o nosso modo de viver, à luz do amor de Deus.
Às vezes eu até pensava que ela su26
30DIAS Nº 4/5 - 2011
bestimasse a exigência da transformação social. Foi uma passagem
difícil para muita gente. Mas assim
permanecia a confiança de que havia um caminho, era preciso ter
paciência, mas caminhávamos
juntos e não nos perdíamos. Tornamo-nos sacerdotes com essa
grande luz interior, acompanhada
desse sentimento de inquietude, de
suspensão. Eu nunca quis esconder de mim mesmo a presença si-
victo de que de qualquer forma naquele episódio se deu algo grande
para toda a Igreja. Como a constatação de que o pecado dos homens
cria estruturas de pecado. E de que
a predileção pelos pobres é uma
escolha de Deus, como vemos no
Evangelho. Nas primeiras comunidades as quatro colunas eram a fidelidade à doutrina dos apóstolos,
a eucaristia, a oração e depois a
comunhão fraterna, que não era
Escapou da morte por milagre
Uma prorrogação ad personam
o menos um primado ninguém tira de dom João
Braz de Aviz. O atual prefeito do dicastério vaticano para os religiosos é o único bispo que vive há quase trinta anos carregando 130 fragmentos de chumbo
espalhadas pelo corpo.
João, na época, era um jovem padre de 36 anos, e
naquele dia estava viajando de sua paróquia para a de
uma cidadezinha próxima para ajudar o pároco que celebrava seus vinte e cinco anos de sacerdócio. No meio
do caminho, numa pequena ponte, viu um carro parado. Aproximou-se para ver se podia dar uma ajuda. E
percebeu que não eram pessoas do campo cujo carro
quebrara. No velho fusca estavam dois rapazes que lhe
apontaram suas armas pesadas, tomaram a chave de
seu carro e o obrigaram a segui-los para o outro lado do
riacho, sem dizer uma palavra. Depois de meia hora,
aparecia na curva o carro blindado do banco. Era tarde
de sexta-feira, eles estavam esperando o carro que tinha recolhido os depósitos, e João entendeu então que
estava no lugar errado na hora errada.
Depois a situação piorou. Os assaltantes logo atiraram nos pneus do carro. Mas os guardas do carro
blindado também estavam armados, e responderam
ao fogo. Dom João lembra: “A certa altura, visto que a
situação chegou a um impasse, os dois rapazes apontaram de novo as armas para a minha cara: vá você
falar com os policiais, ou nós o matamos. O que eu podia fazer? Dei apenas alguns passos e logo os guardas atiraram em mim”. João sentiu o corpo todo queimar com as balas do fuzil de cano curto. Um dos olhos
estava perfurado, sentia o sangue lhe jorrando no rosto. Estava estendido no chão. Não conseguia se levantar. Uma imobilidade impotente que salvaria a sua
vida: “Depois me confirmaram que, se tivesse me mexido, acabariam comigo”. Nesse meio-tempo os dois
bandidos fugiram. João percebeu que a respiração ia
ficando difícil, sentia o sangue subindo dos pulmões
para a boca. “Eu dizia no íntimo: Jesus, por que tenho
A
um sentimentalismo, mas uma coisa prática, que significava ajudar as
viúvas e os órfãos, pôr os bens em
comum. A partir disso as pessoas
viam que a comunidade vivia diante de seu Senhor. Hoje, nós escondemos os bens, fechando-os a sete
chaves, mesmo nas comunidades
religiosas.
Dentro da geração dos padres “liberacionistas”, um dos
pontos de diferenciação era a
postura diante da devoção ao
povo.
Naquele tempo alguns pensavam que a devoção popular fosse
alienação. Diziam que a pureza da
fé tinha-se corrompido com as de-
de morrer aos trinta e seis
anos? Eu tinha tanto que
fazer... A resposta desembocou dentro de mim
assim: ʻEu morri aos 33.
Você já teve três anos a
mais que eu...ʼ”. João intuiu então que mesmo a
sua generosidade, o seu
impulso a fazer coisas
boas podia cair no vazio,
se não houvesse um
abandono nos braços de
Jesus. “Então me senti
em paz. Disse minhas últimas orações, fiz minhas
ofertas, pedi perdão, mas depois acrescentei também: Senhor, dá-me dez anos mais. Não sei por que
pedi dez anos”.
De fato, dom João escapou naquela vez. As balas
ficaram nos pulmões e no intestino, sem provocar infecções. Até o olho se salvou e os médicos se perguntavam como aquilo era possível.
Depois daquela experiência, hoje dom João se
lembra de que chegou a entrar num período de depressão: “Eu nem conseguia sair de casa. Só consegui depois de um ano, aos poucos, começando por fazer pequenas coisas, por exemplo pequenos passeios, até onde conseguia. Essa espécie de paralisia
da vontade também foi para mim uma experiência importante, para abraçar o meu limite e a minha fragilidade”. Quando estavam para acabar os dez anos de
“prorrogação” solicitados, veio a nomeação para bispo. “É como se o Senhor me tivesse querido dizer: até
aqui você me pediu a vida, de agora em diante eu peço que o que vier você doe a mim...”. Dom João diz isso rindo. Mas, ao mesmo tempo, o sobressalto das
lembranças umedece seus olhos.
G.V.
voções. Uma ideia que pode ser
confutada mesmo do ponto de vista simplesmente histórico. No Brasil, a crise veio com a abolição das
congregações religiosas por vontade do Marquês de Pombal, que foi
um desastre e comprometeu também toda a experiência pastoral
iniciada com os índios. Até hoje
não dá para entender como 75%
dos brasileiros são católicos, embora só 10% frequentem os sacramentos diariamente. A razão histórica é esta: a devoção popular,
justamente, foi um instrumento
para transmitir e manter a fé, em
muitas comunidades guiadas por
tanto tempo por leigos.
Às vezes, há quem ainda
aponte a Teologia da Libertação
como um “perigo” iminente.
Sim, algumas vezes a Teologia
da Libertação parece um fantasma
que pode ser evocado. Muitas coisas mudaram. Em muitos países
aqueles que eram contra o poder,
como Lula, ou que até eram guerrilheiros, hoje governam. Houve todo um caminho, e é tempo de que
também na Igreja todos se deem
conta disso.
No Brasil, desde a independência, sempre foi forte um poder que
eu chamaria “o poder do dinheiro”. É aquele poder que, por
exemplo, continua a resistir a uma ¬
30DIAS Nº 4/5 - 2011
27
Vida consagrada
verdadeira reforma agrária. E que
nunca teve uma grande relação de
proximidade com a Igreja, e nem
com a hierarquia eclesiástica. A
Igreja não tem apoio financeiro do
Estado, e as próprias igrejas são
construídas com o dinheiro do povo, geralmente, inclusive, com a
ajuda maior dos mais pobres.
O que o senhor pensa da
causa de beatificação de Óscar Romero?
Nos processos de beatificação
há detalhes que são avaliados com
cuidado, como os científicos, implicados no reconhecimento do
milagre exigido. Mas creio que como vida de santidade Romero tenha sido um grande exemplo. Um
bispo que com o episcopado recebe de maneira manifesta também a
graça de se tornar pastor de seu
povo, naquela situação tão perturbada pela violência. O mesmo
aconteceu no Brasil com dom Hélder Câmara. Quando o ouvíamos,
durante o regime militar, ele nos
fazia tremer de emoção. Era uma
pessoa que nos encantava. Um homem de oração. Creio que existam
muitas figuras que aos poucos,
com o tempo, entenderemos melhor. E veremos que toda a sua vida
era impregnada por isso. Do contrário, não teriam oferecido sua vida assim. Câmara sempre viveu
tendo diante de si a possibilidade
de ser assassinado. Só não o mataram porque o povo reagiria muito
mal. E então mandavam advertências bastante claras: em vez dos
bispos, assassinavam os secretários dos bispos, como aconteceu
ao secretário de dom Hélder.
O senhor citou Lula. Como
arcebispo de Brasília, deve ter
tido de lidar com ele. Que balanço faz de sua passagem à
frente do País?
Em sete anos em Brasília, nunca
o vi na Catedral... [ri] E às vezes fazia afirmações um pouco surpreendentes, como quando dizia que tinha uma moral como pessoa privada e outra como presidente... Mas
certamente a percepção de sua
contribuição é muito positiva, e
compartilhada pela maioria dos
brasileiros. Amou o seu povo e, tendo sido um operário, entendeu a
condição dos brasileiros como esta
28
30DIAS Nº 4/5 - 2011
é na realidade concreta. Com ele o
Brasil teve um crescimento impressionante, e houve também uma certa redistribuição da renda. Combateu a corrupção, sem se aproveitar
da posição de presidente para defender os corruptos que estavam
também dentro de seu partido.
E Dilma, a nova presidenta?
Dilma é muito diferente. Lula é
um operário, a sua força é o sindicalismo. Ele é um sindicalista humanista, um fortíssimo lutador.
meçamos a escutar novamente.
Não é uma questão de dizer que os
problemas não existem. Mas podemos enfrentá-los de um outro
modo. Sem condenações prévias.
Ouvindo as motivações. Hoje temos muitos relatórios de investigações sobre os quais temos de
trabalhar. Depois há o relatório de
irmã Clare Millea [a religiosa designada pelo Vaticano como visitadora apostólica, ndr], que será
importante.
Dilma é uma intelectual, e de outros pontos de vista é mais pragmática. Mas dizem que tenha ainda mais apoio popular que Lula.
Esse dado é interessante.
Como começou o seu trabalho na Congregação para
os Religiosos?
Tivemos de enfrentar muitas dificuldades. Havia muita desconfiança por parte dos religiosos em
razão de algumas posições tomadas anteriormente. Hoje, o ponto
focal do trabalho é justamente reconstruir uma relação de confiança. Com o secretário da Congregação, Joseph William Tobin, trabalhamos juntos, conversamos muito, de modo que as decisões sejam
tomadas em comum.
Como vai indo a questão
das inspeções às congregações religiosas femininas dos
Estados Unidos?
Essa questão também não é fácil. Havia desconfiança, conflitos.
Falamos com eles, seus representantes chegaram a vir a Roma. Co-
São legítimas e úteis as
comparações entre as ordens
religiosas mais antigas e os
novos movimentos? Às vezes
eles são vistos por alguns como concorrentes, ou até em
conflito.
Os carismas que florescem no
tempo presente são doados à Igreja de hoje. Talvez daqui a vinte
anos não tenham a mesma relevância. E isso não deveria chocarse com os carismas mais antigos.
Se vivem em fidelidade ao carisma
inicial doado a eles pelo fundador,
encontrarão também a maneira de
oferecer algo neste tempo. O perigo é quando perdem o espírito dos
fundadores.
Nesse sentido, o que representou para o senhor o caso
do fundador dos Legionários
de Cristo?
É claro que é uma dor quando
vemos a expansão de uma realidade que se apresenta como carismática e depois descobrimos a
indignidade de seu fundador. Co-
Entrevista com o arcebispo João Braz de Aviz
Dom Hélder Câmara durante uma
visita pastoral a Morro da Conceição,
Recife, em 1968; à esquerda, Óscar
Romero com os seminaristas em Playa
el Majahual, em 1978
que assim as coisas não podiam ir
para a frente.
O senhor não acha que no
passado tenha havido muita
ênfase nos novos movimentos, que às vezes escondeu aspectos problemáticos?
Nas novas comunidades e nos
novos movimentos nem tudo é belo
e justo a priori. Em algumas realidades vemos que existem aspectos
realmente desequilibrados. É claro
que não podemos negar que em
muitas dessas realidades foram vistas coisas enormes. Em muitos lugares, trouxeram frescor, alegria,
novidade, juventude. Creio que de
qualquer forma o tempo atual não é
mais o tempo em que cada um faz
por si, em que todos estão separa-
mo único critério o de crescerem e
tomar mais espaço, isso não é de
Deus. Se existe um “carisminha”
pequenino, por exemplo numa paróquia, ajudem-no a crescer, em vez
de entrar em conflito com ele.
Além da sua ligação com os
Focolares, é conhecida também a sua amizade com a Comunidade de Santo Egídio.
Sim. Tenho grande estima por
Andrea Ricciardi. Espero poder
encontrá-lo logo.
Nos últimos tempos, um fenômeno disseminado é o de
novos institutos de vida consagrada que por vezes vivem
situações de conflito com os
bispos e com as próprias Igrejas nacionais.
Quando o ouvíamos dom Hélder Câmara, durante o regime militar,
ele nos fazia tremer de emoção. Só não o mataram porque o povo
reagiria muito mal. E então mandavam advertências bastante claras:
em vez dos bispos, assassinavam os secretários dos bispos,
como aconteceu ao secretário de dom Hélder
mo isso é possível continua a ser
um mistério. O caso dos Legionários não é o único. No Brasil, tivemos o caso da Toca de Assis. Uma
comunidade que vestia um hábito
típico franciscano que chamava a
atenção, e que se inseriu no filão
da Canção Nova [comunidadenetwork que nasceu no Brasil e
está ligada ao movimento carismático, ndr]. Davam uma imagem forte de si, com frades que diziam dar glória a Deus cantando e
dançando. Envolveram cerca de
seiscentos jovens. Até que foi descoberto que o fundador tinha também comportamentos moralmente indignos com seus seguidores.
Quanto aos Legionários, já não
me convencia desde antes, em
sua estrutura, a falta de confiança
na liberdade das pessoas. Um autoritarismo que procurava dominar tudo com a disciplina. Eu já tinha tirado os seminaristas de Brasília de seus seminários, pois via
dos até entrar em conflito uns com
os outros e são unidos apenas na referência comum ao Papa. Eu dizia
em Brasília: se vocês, dos carismas
maiores, mortificam e anulam os
carismas menores porque têm co-
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva ergue o braço da recémempossada presidente Dilma
Rousseff, no Palácio do Planalto,
Brasília, em 1º de janeiro de 2011
Eu tenho sempre um pouco de
medo quando um grupo começa a
pensar e a dizer: nós somos os únicos que defendem a verdadeira
Igreja e a Tradição. Nós possuímos
a luz de Deus, e os outros não. Na
Igreja não é assim que funciona. E
Deus não trabalha desse jeito. Ele
distribui seus dons, nunca deu toda
a sua graça a uma só pessoa. Se
pensar mos na experiência de
Deus com seu povo, mesmo na Bíblia o que ressalta não é o exclusivismo elitista, mas a paciência e a
misericórdia perante aquele povo
cheio de limites, que se perdia ao
longo do caminho. Como esperou, quantas vezes foi decepcionado... E se olharmos ainda para os
santos, veremos que os verdadeiros santos são sempre amigos uns
dos outros. São diferentes, talvez
às vezes até briguem, mas depois
pedem perdão e trabalham juntos.
Mesmo os de hoje, como Dom
Giussani e Chiara Lubich.
q
30DIAS Nº 4/5 - 2011
29
Oriente Médio
Do Líbano, uma mensagem de
convivência
O diálogo com o islã, um novo confronto com os políticos cristãos,
a necessidade de uma relação com o Hezbollah, a tragédia do conflito
palestino-israelense: entrevista com Sua Beatitude Béchara Raï,
novo patriarca de Antioquia dos Maronitas
por Davide Malacaria
o dia 15 de março os bispos maronitas, reunidos
em Bkerké (perto de Beirute), na sede do Patriarcado, elegeram Béchara Raï, bispo de
Jbeil, Byblos dos Maronitas, novo
patriarca de Antioquia dos Maronitas. Sua Beatitude Béchara
Broutos Raï, 71 anos, ordenado
N
30
30DIAS Nº 4/5 - 2011
sacerdote em 1967 e nomeado
bispo em 1986, conhece muito
bem Roma e o Vaticano; porque
aqui estudou, no Pontifício Colégio Maronita, e aqui, por muitos
anos, também como membro do
Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais foi o responsável pelo programa árabe da Rá-
Acima, Béchara Raï logo
depois da sua eleição
a patriarca de Antioquia
dos Maronitas,
dia 15 de março de 2011;
à direita, a multidão de fiéis
que foram ao Patriarcado
de Bkerké para saudar
o novo patriarca
Entrevista com o patriarca de Antioquia dos Maronitas
dio Vaticano. Sua Beatitude Béchara Raï é o sucessor de Nasrallah Pierre Sfeir, que pediu sua demissão em fevereiro passado, aos
noventa anos. Dia 14 de abril, ao
receber em audiência o novo patriarca, Bento XVI concedeu a ecclesiastica communio.
Há alguns anos no Líbano,
país crucial para a estabilidade do
Oriente Médio, a solenidade da
Anunciação foi declarada festa
nacional, para a alegria dos cristãos, obviamente, e dos islâmicos,
que veneram Maria a mãe do profeta Jesus. Uma festa nascida com
a marca daquela convivência entre cristãos e islâmicos que, mesmo com alternados e às vezes dolorosos acontecimentos da história, foi a característica deste país.
Béchara em árabe quer dizer
“Anunciação”. Um bom auspício.
enquanto era repetido o meu nome, num certo momento foi lido
também este lema. Era um modo
de dizer que aceitava o que fosse
decidido no Sínodo, mas com a
marca, justamente, da comunhão e do amor.
A Igreja maronita, de rito
oriental e desde sempre em
comunhão com Roma, tem
um papel de ponte entre a
cristandade ocidental e a ortodoxa?
Historicamente, os maronitas
têm relações fecundas tanto com
as Igrejas de tradição grega e síria
quanto com a Santa Sé. Justamente por isso tiveram um papel
muito importante quando se deram uniões entre Igrejas de rito
oriental e Roma – refiro-me às
Igrejas chamadas uniatas. Por his-
tória e tradição o nosso papel é o
de ser ponte entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa. Uma missão ecumênica muito preciosa para a cristandade.
Também a propósito das
relações com a Ortodoxia, o
cardeal Levada, prefeito da
Congregação para a Doutrina da Fé, no seu discurso no
Sínodo para as Igrejas Orientais disse que gostaria de interpelar os patriarcas do
Oriente para reunir pareceres para uma possível reforma do ministério petrino...
Um análogo trabalho já tinha
sido realizado no tempo de João
Paulo II. Eu era membro da Comissão que devia recolher as respostas dos patriarcas e referir ao
Santo Padre. Na época reunimos
O que o senhor pensou no
momento da eleição?
BÉCHARA RAÏ: Durante o Sínodo, os outros possíveis candidatos ao patriarcado, a um certo
momento deram um passo atrás
para que se chegasse a uma eleição unânime. Foi naquele momento que me veio a ideia do lema para o meu mandato: “Comunhão e amor”, que depois escrevi na ficha eleitoral. Assim,
durante a apuração dos votos,
À direita, Bento XVI recebe
em audiência Sua Beatitude Béchara Raï,
dia 14 de abril de 2011
contribuições de vários patriarcas
e bispos orientais, mas depois este trabalho não foi completado.
Entre as várias propostas
que chegaram à Comissão
houve alguma que chamou
mais a sua atenção?
Entre outras, havia a proposta
de que os patriarcados orientais
pudessem estender as suas juridições aos fiéis da diáspora, portanto fora do território tradicionalmente chamado território patriarcal. Essa proposta, infelizmente,
não foi acolhida. Recordo que se
falou disso em 2000, por ocasião
do congresso no 10º aniversário
da promulgação do Código de Direito Canônico das Igrejas ¬
30DIAS Nº 4/5 - 2011
31
Oriente Médio
Orientais, e na época, o Secretário de Estado Vaticano, falando
em nome do Santo Padre, explicou como não seria possível estender a jurisdição dos patriarcados
por dois tipos de motivos. O primeiro refere-se ao princípio da
territorialidade: por tradição o território patriarcal tem um limite
geográfico limitado ao âmbito
oriental, nem o princípio de territorialidade pode-se tornar princípio de subjetividade. O segundo
motivo, foi-nos referido, é que o
patriarcado é uma instituição eclesiástica e, como tal, pode também
desaparecer, enquanto o episcopado e o papado são, ao contrário,
instituições divinas e não passageiras. Como o Papa é bispo de todos
os católicos e como há bispos locais com poder pastoral jurisdicional também sobre os fiéis da diáspora oriental, não há necessidade
de estender a jurisdição do patriarca. Esta foi, com extrema síntese, a
resposta que foi dada.
Quanto é importante a relação entre o Patriarcado de
Antioquia dos Maronitas e os
fiéis da diáspora espalhados
pelo mundo?
Os vários líderes cristãos falaram de suas
diversas opções políticas e, mesmo
confirmando suas próprias posições,
chegaram à conclusão que suas visões políticas
são complementares e não em conflito.
A multiplicidade de opções políticas,
mais do que causar contrastes, pode ao invés,
ser uma riqueza e garantia de democracia
O patriarca Béchara Raï, no centro da foto, e a partir da esquerda:
Amin Gemayel, líder das Falanges Libanesas; Samir Geagea, líder do partido Forças
Libanesas; o ex-general e ex-primeiro-ministro libanês Michel Aoun, líder do Livre
Movimento Patriótico Libanês, a formação política maronita aliada ao Hezbollah;
Suleiman Franjieh, filho do primeiro-ministro assassinado em 1978,
hoje parlamentar e líder do movimento Marada, por ocasião de um encontro junto
ao Patriarcado entre os chefes históricos dos principais partidos políticos cristãos,
a 19 de abril de 2011
32
30DIAS Nº 4/5 - 2011
Para o patriarca de Antioquia
dos Maronitas é importante dar
atenção também a estes fiéis. É
um trabalho que tem sido feito pelas várias dioceses maronitas espalhadas no mundo; em outras localidades, ao invés, tal atenção é
dada pelas comunidades organizadas, ou seja, paróquias maronitas que dependem do ordinário local, que é o latino, enfim há comunidades sem sacerdotes. Portanto
é nosso dever prover a contribuição pastoral: o envio de sacerdotes, religiosos e religiosas e, onde
há comunidades organizadas,
prover às dioceses. Mas a ligação
entre os imigrantes e a terra natal
é mantida também no plano eclesial e de sociedade civil, através
das várias organizações que conservam vitais tais relações. Um aspecto relevante dessa ligação é a
manutenção da cidadania libanesa por parte dos descendentes de
famílias maronitas. É importante
porque, em um sistema político
como o libanês, baseado na demografia, consente aos cristãos
de manterem inalterado o seu número e, consequentemente, o seu
peso político. É preciso lembrar
que o nosso sistema político tem
uma participação paritária na administração dos bens públicos dos
cristãos e muçulmanos, pois a população é formada por metade
cristãos e metade muçulmanos: se
o número de cristãos ou muçulmanos se alterar muito, mudaria
tal equilíbrio. Mas a ligação com
os nossos imigrantes é importante também porque o Líbano representa para os maronitas a sua
pátria espiritual, as suas tradições,
a sua história. Além disso essa ligação permite aos imigrantes sustentar economicamente as famílias que ficaram na pátria e também a “causa” libanesa. Enfim a
diáspora pode fazer muito no plano de projetos de desenvolvimento e de projetos sociais.
Depois da sua eleição, o
senhor quis encontrar os
quatro líderes mais importantes dos partidos cristãos
presentes no Líbano...
Atualmente no Líbano há uma
grande divisão entre o chamado
“Bloco de 14 de março”, que conta
com partidos cristãos aliados com
Entrevista com o patriarca de Antioquia dos Maronitas
A partir da esquerda, o mufti sunita Mohammed Rashid Qabbani, o patriarca Béchara Raï, o mufti xiita Abdel Amir Kabalan
e o mufti druso Naim Hassan por ocasião da cúpula entre os chefes religiosos cristãos e muçulmanos organizada pelo patriarcado
em Bkerké, a 12 de maio de 2011
os muçulmanos sunitas (que têm relações com a Arábia Saudita, Egito
e Estados Unidos), e o “Bloco de 8
de março”, com os outros cristãos
aliados com os xiitas e os Hezbollah,
os quais por sua vez, mantêm relações com o Irã e a Síria. Isso cria
muitas tensões, mesmo porque entre xiitas e sunitas há grande conflitualidade. Essa situação criou distâncias entre os cristãos, a ponto de
os líderes políticos cristãos não conseguirem se encontrar. Por isso organizei este encontro no Patriarcado na esperança de favorecer uma
distensão nas relações entre cristãos
e, consequentemente, também na
nação. E foi o que aconteceu.
Os vários líderes cristãos falaram de suas diversas opções políticas e, mesmo confirmando suas
próprias posições, chegaram à
conclusão que suas visões políticas
são complementares e não em conflito. A multiplicidade de opções
políticas, mais do que causar contrastes, pode ao invés, ser uma riqueza e garantia de democracia. O
encontro foi marcado por uma fraterno acordo, que criou distensão
também no plano público. Agora,
depois que o gelo foi quebrado, o
encontro entre os políticos cristãos
prosseguirão, porém mais alargados, para ampliar as bases do diálo-
go. Além deste encontro, foi realizado no Patriarcado uma cúpula
entre vários chefes religiosos, muçulmanos e cristãos, que deu origem a uma declaração comum sobre os princípios e os fundamentos
da nação nos quais todos os libaneses, além da sua religião, se reconhecem, e sobre o fato de que a política, como tal, deve ser deixada
aos políticos. Creio que tudo isso
possa dar um novo impulso à unidade do país. Espero, enfim, que
logo se possam realizar encontros
entre os políticos muçulmanos e
cristãos, no âmbito dos quais se
possam confrontar sobre temas
mais delicados da vida social e política do país.
Então o problema não é
tanto criar um único partido
político dos cristãos, mas
procurar um acordo entre os
vários partidos.
O Líbano é um país democrático e pluralista, portanto são bemvindas as diversidades de opiniões
e de pontos de vista. Porém há
duas coisas que nos unem: os fundamentos da nação e os objetivos
comuns. O Líbano se fundamenta
em alguns princípios políticos
que, desde o nascimento do Estado, constituem uma constante
inalterada, ou seja, que o Líbano é
um país democrático, parlamentar, baseado na convivência entre
muçulmanos e cristãos, nos direitos do homem, na liberdade, no
pacto nacional segundo o qual
cristãos e muçulmanos participam de maneira igualitária à administração dos bens públicos. Estes são os fundamentos do nosso
país, indispensáveis justamente
pela natureza da nossa nação:
porque no Líbano, considerando
a presença histórica de cristãos e
islâmicos, existem duas tradições
diversas, duas culturas diversas e
assim por diante. No que se refere
aos objetivos comuns, pretendese: como conservar o Líbano como entidade estatal, como conservar a sua identidade e como
agir pelo bem comum e, particularmente em relação aos cristãos,
como conservar a sua presença
no nosso país. Para preservar os
princípios fundamentais do nosso
Estado e para alcançar todos os
objetivos não se trata de unificar
as várias opções políticas, ao
contrário. Dizem que “todos os
caminhos levam a Roma”: são
bem aceitas todas as diversidades
de opiniões, de escolhas políticas, de alianças porque não há
uma facção política que possa
pretender ser aquela “verdadei- ¬
30DIAS Nº 4/5 - 2011
33
Oriente Médio
ra”, todas trazem consigo um aspecto de verdade. A nossa tarefa
é a de favorecer essa abordagem
construtiva e não conflitual.
Como serão as relações do
patriarca com Hezbollah?
No passado existia uma Comissão na qual o Patriarcado e
Hezbollah dialogavam sobre os
problemas do país, mas este confronto profícuo não existe mais.
Depois da minha eleição, quando
uma delegação do Hezbollah veio
prestar homenagem ao novo patriarca, disse-lhes que se devia voltar ao diálogo, em particular através da retomada desta Comissão,
porque não podemos perder essa
oportunidade. Os conflitos entre
homens, entre grupos nascem de
incompreensões ou de preconceitos. Não é que devemos dialogar
sobre todas as escolhas políticas,
porém pode-se tentar esclarecer
muitos pontos. No passado, com
relação ao Hezbollah, houve o
problema da natureza deste partido porque, em particular, alguns
não aceitavam que eles possuíssem armas. Mas, hoje, essa discussão não existe mais, pois é estéril. Agora se fala de estratégia
comum de defesa, ou seja, como
o Líbano deve organizar a posse e
o uso de armas. Não é aceitável o
fato de que o Hezbollah possa
usar armas quando quiser, possa
declarar guerra ou negociar a paz
com Israel sem relação com o governo do país. Fala-se então de
uma estratégia de defesa que se
refere conjuntamente ao Estado,
a Hezbollah, ao exército regular,
às milícias de Hezbollah e assim
por diante. Ainda não chegamos
a um esclarecimento sobre o ponto, porém o conceito foi aceito
mais ou menos por todos. Entretanto, foi recusada integralmente
a tese segundo a qual Hezbollah
deveria entregar as armas. É um
pedido que não pode ser aceito e,
entre outras coisas, torna crítica a
relação com o Hezbollah. Também devemos nos confrontar para obter garantias sobre o fato que
o Hezbollah não use armas no
plano inter no, por rivalidades
com seus próprios adversários
políticos nem declare guerra a Israel prescindido de qualquer referência ao legítimo poder libanês.
Não é aceitável um Estado dentro
do Estado. São temas que se sintetizam com a expressão “estratégia comum de defesa”.
Falou-se muitas vezes da
importância da convivência
entre cristãos e muçulmanos
no Líbano...
No nosso país a convivência foi
sancionada com o Pacto nacional
de 1943, quando muçulmanos e
cristãos expressaram duas negações: não ao Oriente e não ao
Ocidente. Quer dizer que os mu-
çulmanos libaneses não podem
trabalhar em um processo de integração com a Síria ou com qualquer outro país árabe de regime
islâmico, nem os cristãos com o
Ocidente e especificamente com
a França. Ao mesmo tempo os
muçulmanos renunciaram a qualquer pretensão com relação à
possibilidade de instaurar uma
teocracia islâmica enquanto os
cristãos, por sua vez, renunciaram ao laicismo de modelo ocidental. Deste modo construiu-se
no Líbano um Estado que é a metade do caminho entre a teocracia oriental e os regimes secularizados ocidentais. É um país civil,
que respeita a dimensão religiosa
de todos os cidadãos; não pode
ser imposto um sistema teocrático, nem uma religião de Estado.
A convivência entre cristãos e
muçulmanos é estabelecida pela
Constituição, a qual afirma, no
artigo 9, que o Líbano é uma
grande homenagem a Deus, respeita todas as religiões, reconhece seus estatutos, garante a liberdade religiosa e a prática religiosa
de todos. O Estado libanês não legisla em matérias que se referem
à religião, em matéria de matrimônio ou outras coisas, como
acontece em vez no Ocidente onde se fazem leis em contraste com
a lei natural como, por exemplo,
a lei sobre matrimônios entre
À esquerda, um jovem diante da estátua da Virgem Maria no Santuário de Harissa; à direita, fiéis durante a Santa Missa dominical
na igreja de São Jorge no vilarejo de Qoleia
34
30DIAS Nº 4/5 - 2011
Os partidários do Hezbollah manifestam em Beirute em 19 de março de 2011a favor das revoltas populares contra os regimes no
Egito, Tunísia, Yêmen, Líbia e Bahrein
No passado, com relação ao Hezbollah, houve o problema da natureza
deste partido porque, em particular, alguns não aceitavam que eles
possuíssem armas. Mas, hoje, essa discussão não existe mais,
pois é estéril. Agora se fala de estratégia comum de defesa,
ou seja, como o Líbano deve organizar a posse e o uso de armas
pessoas do mesmo sexo. Nestas
matérias as diversas comunidades religiosas têm uma sua autonomia legislativa.
O senhor considera que o
Líbano seja um exemplo virtuoso de convivência também
no plano internacional?
Certamente. Vemos que no Ocidente a religião é colocada de lado e
isso o islã não pode aceitar. Por outro lado vemos como no mundo
oriental tenham-se instaurado sistemas políticos nos quais a religião
tem uma importância fundamental,
mas são fechados. E isso acontece
tanto em países islâmicos como em
Israel. No Líbano, ao invés, há um
Estado democrático, pluralista, que
respeita a dimensão religiosa de todos os cidadãos e os direitos do homem. É a beleza do nosso país que
fez com que João Paulo II afirmasse
que o Líbano mais do que uma na-
ção é uma mensagem e um exemplo, um exemplo virtuoso para o
Oriente em relação aos regimes
fundamentados na religião, e para o
Ocidente em relação aos sistemas
políticos baseados na secularização.
Qual é a sua opinião sobre os
movimentos de revolta que estão se propagando nos países
árabes que, entre outros, afetam um país como a Síria, muito
importante para o Líbano?
O problema é complexo. Na Síria governa uma minoria alawita
enquanto a grande maioria dos muçulmanos sírios são sunitas. Os sunitas, que não são absolutamente
fundamentalistas, governavam o
país antes que chegassem os Assad
e agora pedem reformas... No Egito, ao invés, há a Irmandade Muçulmana que pode levar o novo curso
político a um fundamentalismo. É
preciso considerar que o islã está
sofrendo vários conflitos: entre xiitas e sunitas no Iraque e em outros
lugares, entre alawitas e sunitas na
Síria e em outros países. Não sei
onde tudo isso vai acabar, mas é
preocupante: há o perigo de que
em algum destes Estados se instaure um regime islâmico fundamentalista ou um regime ditatorial pior
que os anteriores; ou mesmo que se
chegue a uma divisão desta região
em pequenos Estados confessionais, segundo o que alguns observadores internacionais chamam
“projeto para um novo Oriente Médio”. O futuro é incerto. Nós esperamos que estes países encontrem
a paz no respeito dos direitos humanos dos povos, porque sabemos
que os regimes contestados são os
ditatoriais, nos quais regem um sistema político-religioso fechado e
com partido único. São países com
grandes recursos, mas cujas ri- ¬
30DIAS Nº 4/5 - 2011
35
Oriente Médio
quezas não são distribuídas e o povo é muito pobre. Todas essas revoltas e manifestações de massa foram conduzidas, geralmente, sem
armas usando apenas o Facebook:
é gente que reclama seus próprios
direitos e liberdade. Alguns países
fizeram reformas, outros não fizeram isso. Onde não se encontrou
uma resposta positiva às esperanças do povo, a situação está pioran-
de internacional para que ajude estes povos.
A última pergunta refere-se
à paz entre Israel e Palestina...
Na origem de todas as crises e
de todos os problemas do Oriente
Médio há o conflito entre Israel e
Palestina. É o “pecado original”, a
matriz que nutre todas as crises da
nossa região. Infelizmente a comunidade internacional não está
giados em um total de quatro milhões de habitantes, um número
exorbitante... Uma presença que
constitui um problema para a segurança, considerando que eles
possuem armas e as usam sem
qualquer controle, mas também
um drama político e social. Os
conflitos que aconteceram no Líbano, desde 1975 até hoje, foram
causados pela presença destes re-
Palestinos no campo de refugiados
de Ein el-Hilweh, na periferia
da cidade de Sidone, no Líbano
Na origem de todas as crises e de todos os problemas do Oriente Médio
há o conflito entre Israel e Palestina. É o “pecado original”,
a matriz que nutre todas as crises da nossa região. Infelizmente
a comunidade internacional não está agindo como deveria: é preciso
aplicar a resolução do Conselho de Segurança, começando com a que
prevê a volta dos refugiados à própria terra
do e isso nos preocupa cada vez
mais, mesmo porque esta crise tem
repercussões muito negativas sobre as comunidades cristãs, como
aconteceu no Iraque, porque infelizmente quem sofre as consequências de certas situações são os cristãos. Estamos muito preocupados
também pelo Líbano, que se encontra no âmbito dessas manifestações e é afetado por todas essas crises. Nós nos dirigimos à comunida36
30DIAS Nº 4/5 - 2011
agindo como deveria: é preciso
aplicar a resolução do Conselho
de Segurança, começando com a
que prevê a volta dos refugiados à
própria terra. A ONU foi criada
para favorecer a paz no mundo e,
ao invés, não faz nada, porque, infelizmente, é refém das grandes
potências. Os palestinos devem
ter seu Estado e os refugiados devem voltar às suas próprias terras.
O Líbano hospeda 500 mil refu-
fugiados, que pressionam para
voltar às próprias terras. Se este
conflito fosse resolvido até o Hezbollah perderia a sua razão de existir... É que as grande potências jogam com o destino dos povos. É
suficiente ver o que aconteceu no
Iraque, onde intervieram, foi dito,
para instaurar a democracia e, depois de uma década, foram mortas
mais pessoas que tenha matado
Saddam Hussein.
q
MUITOS
CAMINHOS DA CARIDADE
PASSAM POR UMA
PICCOLA VIA
A ASSOCIAÇÃO PICCOLA VIA ONLUS foi instituída para enviar gratuitamente
principalmente nos países de missão a revista mensal internacional 30Dias e o
pequeno livro Quem reza se salva, assim como para atender aos pedidos de caridade.
PARA AJUDAR A ASSOCIAÇÃO PICCOLA VIA ONLUS PODE-SE FAZER UMA DOAÇÃO
através de uma remessa bancária na conta corrente
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na Igreja e no Mundo
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PÁSCOA 2011
Mensagem Urbi et orbi do Papa Bento XVI
A ressurreição de Cristo
é um acontecimento
A incredulidade de São Tomé, Giovan Francesco Barbieri, dito o Guercino, Pinacoteca dos Museus do Vaticano
“In resurrectione tua, Christe, coeli et
terra laetentur / Na vossa ressurreição, ó
Cristo, alegrem-se os céus e a terra” (Liturgia
das Horas).
Amados irmãos e irmãs de Roma e do
mundo inteiro!
38
30DIAS Nº 4/5 - 2011
A manhã de Páscoa trouxe-nos este anúncio antigo e sempre novo: Cristo ressuscitou!
O eco deste acontecimento, que partiu de
Jerusalém há vinte séculos, continua a ressoar na Igreja, que traz viva no coração a fé
vibrante de Maria, a Mãe de Jesus, a fé de
Madalena e das primeiras mulheres que vi-
A ressurreição de Cristo não é fruto
de uma especulação, de uma experiência mística:
é um acontecimento, que ultrapassa certamente a história,
mas se verifica num momento concreto da história
e deixa nela uma marca indelével
ram o sepulcro vazio, a fé de Pedro e dos outros Apóstolos.
Até hoje – mesmo na nossa era de comunicações supertecnológicas – a fé dos cristãos assenta naquele anúncio, no testemunho daquelas irmãs e daqueles irmãos que viram, primeiro, a pedra removida e o túmulo
vazio e, depois, os misteriosos mensageiros
que atestavam que Jesus, o Crucificado, ressuscitara; em seguida, o Mestre e Senhor em
pessoa, vivo e palpável, apareceu a Maria de
Magdala, aos dois discípulos de Emaús e, finalmente, aos onze, reunidos no Cenáculo
(cf. Mc 16, 9-14).
A ressurreição de Cristo não é fruto de
uma especulação, de uma experiência mística: é um acontecimento, que ultrapassa certamente a história, mas se verifica num momento concreto da história e deixa nela uma
marca indelével. A luz, que encandeou os
guardas de sentinela ao sepulcro de Jesus,
atravessou o tempo e o espaço. É uma luz diferente, divina, que fendeu as trevas da morte e trouxe ao mundo o esplendor de Deus, o
esplendor da Verdade e do Bem.
Tal como os raios do sol, na primavera, fazem brotar e desabrochar os rebentos nos ramos das árvores, assim também a irradiação
que dimana da Ressurreição de Cristo dá força e significado a cada esperança humana, a
cada expectativa, desejo, projeto. Por isso,
hoje, o universo inteiro se alegra, implicado
na primavera da humanidade, que se faz intérprete do tácito hino de louvor da criação.
O aleluia pascal, que ressoa na Igreja peregrina no mundo, exprime a exultação silenciosa
do universo e sobretudo o anseio de cada alma humana aberta sinceramente a Deus,
mais ainda, agradecida pela sua infinita bondade, beleza e verdade.
“Na vossa ressurreição, ó Cristo, alegrem-se os céus e a terra”. A este convite ao
louvor, que hoje se eleva do coração da Igreja, os “céus” respondem plenamente: as
multidões dos anjos, dos santos e dos beatos unem-se unânimes à nossa exultação. ¬
Bento XVI
30DIAS Nº 4/5 - 2011
39
PÁSCOA 2011
No Céu, tudo é paz e alegria. Mas, infelizmente, não é assim sobre a terra! Aqui, neste nosso mundo, o aleluia pascal contrasta
ainda com os lamentos e gritos que provêm
de tantas situações dolorosas: miséria, fo-
Noli me tangere, Federico Barocci, Galleria degli Uffizi, Florença
me, doenças, guerras, violências. E todavia
foi por isto mesmo que Cristo morreu e ressuscitou! Ele morreu também por causa dos
nossos pecados de hoje, e também para a
redenção da nossa história de hoje Ele ressuscitou. Por isso, esta minha mensagem
quer chegar a todos e, como anúncio profético, sobretudo aos povos e às comunidades
que estão a sofrer uma hora de paixão, para
que Cristo ressuscitado lhes abra o caminho
da liberdade, da justiça e da paz.
Possa alegrar-se aquela Terra que, primeiro, foi inundada pela luz do Ressuscitado. O fulgor de Cristo chegue também aos
povos do Médio Oriente para que a luz da
paz e da dignidade humana vença as trevas
da divisão, do ódio e das violências. Na Líbia, que as armas cedam o lugar à diplomacia e ao diálogo e se favoreça, na situação
atual de conflito, o acesso das ajudas humanitárias a quantos sofrem as consequências
da luta. Nos países da África do Norte e do
Médio Oriente, que todos os cidadãos – e de
modo particular os jovens – se esforcem por
promover o bem comum e construir uma
sociedade, onde a pobreza seja vencida e
cada decisão política seja inspirada pelo
respeito da pessoa humana. A tantos prófugos e aos refugiados, que provêm de diversos países africanos e se veem forçados a
deixar os seus entes mais queridos, chegue
Até hoje – mesmo na nossa era de comunicações supertecnológicas – a fé
dos cristãos assenta naquele anúncio, no testemunho daquelas irmãs e
daqueles irmãos que viram, primeiro,a pedra removida e o túmulo vazio
e, depois, os misteriosos mensageiros que atestavam que Jesus, o
Crucificado, ressuscitara; em seguida, o Mestre e Senhor em pessoa, vivo
e palpável, apareceu a Maria de Magdala, aos dois discípulos de Emaús e,
finalmente, aos onze, reunidos no Cenáculo (cf. Mc 16, 9-14)
40
30DIAS Nº 4/5 - 2011
A ressurreição de Cristo é um acontecimento
Sigamos as suas pegadas, neste mundo ferido, cantando o aleluia.
No nosso coração, há alegria e sofrimento; na nossa face, sorrisos e lágrimas.
A nossa realidade terrena é assim. Mas Cristo ressuscitou,
está vivo e caminha conosco. Por isso, cantamos e caminhamos,
fiéis ao nosso compromisso neste mundo, com o olhar voltado para o Céu
Encontro no caminho de Emaús,
Domenico Tintoretto,
Hospício Proti-Vajenti-Malacarne,
Vicenza
a solidariedade de todos; os
homens de boa vontade sintam-se inspirados a abrir o
coração ao acolhimento, para se torne possível, de maneira solidária e concorde,
acudir às necessidades prementes de tantos irmãos; a
quantos se prodigalizam
com generosos esforços e
dão exemplares testemunhos nesta linha chegue o
nosso conforto e apreço.
Possa recompor-se a convivência civil entre as populações da Costa
do Marfim, onde é urgente empreender um
caminho de reconciliação e perdão, para
curar as feridas profundas causadas pelas
recentes violências. Possam encontrar consolação e esperança a terra do Japão, enquanto enfrenta as dramáticas consequências do recente terremoto, e demais países
que, nos meses passados, foram provados
por calamidades naturais que semearam sofrimento e angústia.
Alegrem-se os céus e a terra pelo testemunho de quantos sofrem contrariedades ou
mesmo perseguições pela sua fé no Senhor
Jesus. O anúncio da sua ressurreição vitoriosa neles infunda coragem e confiança.
Queridos irmãos e irmãs! Cristo ressuscitado caminha à nossa frente para os novos céus e a nova terra (cf. Ap 21, 1), onde
finalmente viveremos todos como uma
única família, filhos do mesmo Pai. Ele está conosco até ao fim dos tempos. Sigamos as suas pegadas, neste mundo ferido,
cantando o aleluia. No nosso coração, há
alegria e sofrimento; na nossa face, sorrisos e lágrimas. A nossa realidade terrena é
assim. Mas Cristo ressuscitou, está vivo e
caminha conosco. Por isso, cantamos e
caminhamos, fiéis ao nosso compromisso
neste mundo, com o olhar voltado para o
Céu.
Boa Páscoa a todos!
30DIAS Nº 4/5 - 2011
41
Curtas Curtas Curtas Cu
3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUN
IGREJA/1
Etchegaray, Papa
Bento XVI e os novos
inícios do cristianismo
“Algumas vezes tem-se a
sensação de que se sabe tudo de Bento XVI, considerando a sua enorme e densa produção teológica. Mas
na realidade começa-se
apenas a descobri-lo, ou
antes, a descobrir o que é
um Papa no exercício da
sua função pastoral, no
sentido que é um pastor
que guia seu rebanho principalmente nas tempestades. Ao ser eleito Papa
Bento tornou-se pároco; a
Igreja descobriu um pastor
e não apenas um teólogo, e
o mundo um seu irrenunciável ponto de referência
[...]. Sim, é isso mesmo.
Não começou por acaso
definindo-se um ‘operário
na vinha do Senhor’? A sua
homilia do Domingo de Ramos foi, neste sentido,
exemplar: falou da humildade de Deus, que escolheu o caminho da Cruz para manifestar de forma extrema o seu amor. O pontificado do Papa Bento se-
gue por esses caminhos”.
Palavras do cardeal Roger
Etchegaray no jornal Avvenire de 19 de abril. Prossegue o purpurado: “Na conversa com Peter Seewald,
há uma passagem fundamental: ‘Hoje o Papa quer
que a sua Igreja se submeta
a uma espécie de purificação... Trata-se de revelar
Deus aos homens, de dizerlhes a verdade. A verdade
dos mistérios da Criação. A
verdade da existência humana. E a verdade da nossa esperança, que está para
além do puramente mortal’
[...]. Tudo poderia se sintetizar neste pensamento: ‘o
cristianismo é um perene
estado de novo início’”.
IGREJA/2
Bartolomeu I,
as calamidades
naturais e as
perversidades
espirituais
“A destruição natural causada por tremores sísmicos
e ondas marítimas, junto
com a ameaça de devastação provocada por possí-
veis explosões nucleares,
bem como os sacrifícios
humanos resultantes de
conflitos militares e ações
terroristas, revelam que o
nosso mundo está em
grande tormento e angústia por pressão das forças
naturais e espirituais do
mal [...]. Contudo, a Ressurreição de Cristo é de fato real e confere aos cristãos fiéis a certeza – e a toda a humanidade a possibilidade – de transcender as
consequências adversas da
calamidade natural e da
perversidade espiritual”. É
uma passagem da homilia
da noite de Páscoa de Sua
Santidade Bartolomeu I,
Patriarca Ecumênico de
Constantinopla, publicada
no Avvenire de 26 de abril
passado.
SAGRADO
COLÉGIO
A morte dos cardeais
Saldarini
e García-Gasco
No dia 18 de abril, aos 86
anos, faleceu o cardeal
Giovanni Saldarini, arcebispo de Turim de 1989 a
1999. E no dia 1° de maio
faleceu o cardeal espanhol
Vicente Agustín GarcíaGasco, 80 anos, de 1992
a 2009 arcebispo de Valência. No dia 31 de maio
– depois de completarem
80 anos os cardeais Bernard Panafieu (26 de janeiro), Ricardo J. Vidal (6 de
fevereiro), Camillo Ruini
(19 de fevereiro), William
H. Keeler (4 de março) e
Sergio Sebastiani (11 de
abril) – o Sagrado Colégio
resulta composto por 198
cardeais dos quais 115
eleitores.
Bartolomeu I
42
30DIAS Nº 4/5 - 2011
Fernando Filoni
SANTA SÉ
Filoni Prefeito de
Propaganda Fide e
Becciu substituto na
Secretaria de Estado
No dia 10 de maio o arcebispo Fernando Filoni, de 65
anos, originário da Apúlia,
foi nomeado prefeito da
Congregação para a Evangelização dos Povos substituindo o cardeal indiano Ivan
Dias que completou 75
anos. Sacerdote desde 1970
na diocese de Nardò, entrou
para o serviço diplomático
vaticano em 1981 e em
2001 foi eleito arcebispo e
núncio apostólico na Jordânia e Iraque. Foi nomeado
urtas Curtas Curtas Curtas
NDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO
núncio nas Filipinas em
2006, e desde 2007 era
substituto para os Assuntos
Gerais da Secretaria de Estado. Para este último cargo,
ainda no dia 10 de maio, foi
nomeado o arcebispo Giovanni Angelo Becciu, da Sardenha, 63 anos, desde 1972
sacerdote na diocese de
Ozieri. Tendo entrado para o
serviço diplomático vaticano
em 1984, em 2001 Becciu
foi eleito arcebispo e núncio
apostólico em Angola. Desde 2009 era representante
pontifício em Cuba.
MUNDO
A morte de Bin Laden e a de Hitler
“A morte de Osama Bin Laden,
em alguns aspectos, leva a memória a 60 anos atrás, a um homem entrincheirado em um
bunker entre as ruínas de uma
Berlim destruída. Adolf Hitler
acabou com sua própria vida dia
30 de abril de 1945 e o anúncio
da sua morte foi dado no dia 1º
de maio. Também a morte de
Bin Laden foi anunciada em um
primeiro de maio”. Publicada no
La Stampa de 3 de maio.
ORIENTE MÉDIO/1
Peres, o acordo entre
Hamas e Fatah e
a paz entre israelenses
e palestinos
Para Shimon Peres negociar
com o Hamas é possível. Em
uma série de entrevistas concedidas à imprensa israelense, o chefe de Estado comentou o acordo assinado em 4
de maio passado no Cairo
entre os dois principais partidos palestinos: Hamas, que
governa Gaza e é indicado
pelos israelenses como uma
organização terrorista, e Fatah, no poder na Cisjordânia.
“Se eles quiserem se unir,
que se unam. Quando comecei a negociar com Arafat”,
recordou Peres, “todos me
diziam: ‘Não há esperança’.
Hoje vale o mesmo para o
Hamas. O nome não me interessa, o que contam são os
conteúdos. Tudo pode acontecer”. Porém é melhor que
as negociações aconteçam
longe dos refletores: “Em público cada parte deve demonstrar à sua gente que é
forte e agressiva, mas no seu
coração os líderes sabem que
Shimon Peres e Giorgio Napolitano em Jerusalém a 15 de maio
de 2011. O presidente da República Italiana recebeu o prêmio
Dan David
Palestina, para que vivam
em paz e segurança”.
não há alternativa à paz. Por
isso devemos manter distintas as aparências do potencial oculto”.
MEDITERRÂNEO/1
ORIENTE MÉDIO/2
Enzo Bettiza
e a guerra neocolonial
na Líbia
O fim do embargo
a Gaza e a política
dos Estados Unidos
“Gaza, a faixa palestina dos
sem-terra, desde ontem não
é mais uma prisão. Depois
de quatro anos a passagem
de Rafah, na fronteira com
o Egito, foi reaberta. O Cairo de Hosni Mubarak tinha
fechado como represália à
revolta dos fundamentalistas de Hamas contra a ANP
do presidente leigo Abu Mazen. Ontem a junta militar
egípcia, nascida da chamada “primavera árabe” decidiu cancelar a proibição”.
Este o início de um artigo
publicado no Corriere della
Sera de 29 de maio, que assim se concluía: “É também
claro que o sinal de Gaza
conjuga-se com aquele incentivo internacional, guiado por Obama, para chegar
aos dois Estados, Israel e
“Qualquer que seja a conclusão, a história não poderá deixar de recordar do
péssimo resultado da intervenção neocolonial na Líbia, revestida pela fraseologia do Tigellino ‘buonista’
do Eliseu, Bernard-Henri
Lévy, grande incentivador
em todos os sentidos de
‘bombas humanitárias’. Já
na intervenção franco-britânica anterior em Suez em
1956 tinha sido contraproducente, reforçando o panarabista Nasser e dando a
Krutchev um ótimo álibi para destruir paralelamente
com ar mas a revolução
húngara e favorecendo
substancialmente o estabelecimento soviético no
Oriente Médio”. Trecho do
editorial do La Stampa de
11 de abril escrito por Enzo
Bettiza.
¬
30DIAS Nº 4/5 - 2011
continua na p. 45
43
Curtas Curtas Curtas Cu
3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUN
ITÁLIA/1
Pisapia e Dom Giussani
Giuliano Pisapia
enquanto vota
no Liceu Berchet,
para as recentes
eleições municipais,
Milão, 29 de maio
de 2011
Pisapia quando estudante, fascinado por Dom Giussani. É o título de um pequeno artigo publicado no dia
14 de maio no Corriere della Sera de Milão. No artigo, o novo prefeito de Milão conta da sua relação com
Dom Giussani, seu professor de religião no Liceu Berchet, e particularmente dos almoços em casa com o sacerdote ambrosiano, nos tempos de estudante, todos à
mesa com sua mãe, seu pai e os outros (seis) irmãos
“falando de Deus, do mundo, do papel que cada um de
nós teria tido”.
Sobre a relação com Dom Giussani, Pisapia já tinha
comentado também em uma outra entrevista, concedida
a Giuseppe Frangi para a revista Vita, de 28 de fevereiro
de 2005, começando pelo primeiro, surpreendente, encontro: “Entrou na sala de aula e perguntou-nos se considerávamos correto que um pai católico educasse seus
próprios filhos segundo aqueles princípios. Um de nós repropôs-lhe a pergunta: o senhor considera correto que
um pai comunista eduque o próprio filho segundo os
princípios aos quais crê? Dom Giussani não teve um segundo de hesitação. E respondeu sim”. Desde então,
ITÁLIA/2
Giorgio Napolitano, Barack Obama
e “o momento de oportunidade”
“A Europa deve olhar de frente às novas realidades e aos
novos desafios e deve demonstrar que é capaz de enfrentar
as próprias responsabilidades em um mundo globalizado.
prossegue Pisapia na entrevista a Vita, começou a frequentar o sacerdote e o grupo de jovens que lhe estavam
ao redor. “Todos os domingos íamos à “Bassa milanese”,
uma região periférica mais pobre. Nas casas rurais compartilhávamos as atividades, fazíamos as refeições e se
brincava. Também falávamos de fé, mas sem qualquer
pretensão de doutrinação [...]. Dom Giussani tinha uma
carga humana enorme. E abolia todas as formalidades. A
sua força era o diálogo. Queria que fôssemos nós mesmos, que tivéssemos a coragem de defender o nosso pensamento, mesmo se fosse contrário ao seu. Nunca começava com os dogmas, como faziam os outros padres.
Queria-nos livres. Por isso com ele falávamos de tudo,
mesmo de questões nossas que não eram ligadas à fé”.
Mais tarde a estrada do jovem tomou outras direções:
veio 1968, a luta política, em particular na esquerda italiana. Mesmo assim Pisapia dá àquele encontro juvenil
uma importância fundamental, como reconhece na entrevista a Giuseppe Frangi: “Sem Giussani não sei se teria
entendido o sentido de estar ao lado dos mais fracos.
Também ensinou-me que a experiência conta mais do
que qualquer leitura. É um valor que reencontrei na esquerda. Mas a primeira vez que me foi
clara foi nos pátios
na “Bassa milanese”.
Dom Luigi Giussani
Entre tais responsabilidades, há as que surgem dos acontecimentos de grandeza revolucionária que ocorreram no
Norte da África e no Oriente Médio. E a este propósito estímulos importantes e sérias interrogações foram colocadas
pelo recente discurso do presidente Obama ‘A Moment of
Opportunity’, e pelo seu discurso realizado aqui esta noite.
É essencial que como europeus nós também vejamos nas
mudanças na África e no Oriente Médio ‘um momento de
oportunidade’ não simplesmente uma fonte de incertezas e
de preocupações”. São palavras do presidente da República italiana Giorgio Napolitano referindo-se ao encontro
com o presidente dos Estados Unidos Barack Obama,
ocorrido durante a cúpula dos chefes de Estado da Europa
Central que se realizou em Varsóvia. As palavras do presidente Napolitano foram publicadas no Corriere della Sera
de 28 de maio.
Giorgio Napolitano e Barack Obama em Varsóvia,
a 27 de maio de 2011
urtas Curtas Curtas Curtas
NDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO
segue da p. 43
MEDITERRÂNEO/2
Todorov: a guerra na
Líbia, o messianismo
político e o pecado
original
“Infelizmente, creio que a
guerra tenha uma sua lógica interna, que a torna impossível ser tão circunscrita
e cirúrgica como sustentam
seus promotores. Antes de
19 de março as tropas de
Kadafi estavam para realizar um massacre em Bengasi, repetiu-nos o presidente Sarkozy para convencer o Ocidente a intervir. Então foram legítimos
os primeiros bombardeios,
os que bloquearam o avanço das tropas do regime.
Mas depois, a intervenção
pseudo-humanitária transformou-se em outra coisa”.
São palavras do filósofo
Tzvetan Todorov no Corriere della Sera de 12 de
abril, que acrescenta: “Estamos diante de uma nova fase de messianismo político.
A primeira é, justamente, a
napoleônica pintada por
Goya. A segunda onda
messiânica foi a do comunismo [...]. E agora assistimos a um terceiro despertar do messianismo político: a primeira guerra do
Golfo foi um treinamento, a
intervenção no Kosovo,
sem mandato da ONU, o
ensaio geral, e eis depois o
Afeganistão, Iraque”. E, à
pergunta se é possível um
não absoluto à guerra, responde: “Não, e não creio
que seria um bem. A ambição de extirpar totalmente
o Mal seria ainda mais danosa: é a função do pecado
original a nos recordar, como dizia Romain Gary, que
existe uma ‘parte inumana
da humanidade’. Porém,
devemos tentar limitar ao
máximo as guerras não inevitáveis. Como a da Líbia,
por exemplo”.
As bandeiras da Turquia e da União Europeia diante da Mesquita Nur-u Osmaniye em Istambul
EUROPA
Patten, a crise
da União Europeia
e a Turquia
No dia 5 de abril o jornal La
Stampa publicou uma lúcida
análise sobre a situação da
União Europeia, escrita por
Chris Patten, ex-governador
britânico de Hong Kong, excomissário europeu para as
Relações Exteriores e reitor
da Universidade de Oxford.
O tema central era a fragilidade da União Europeia no
contexto político internacional. Como responder a tal
crise? Pergunta-se Patten.
“Para mim, a resposta”, lêse no artigo, “ encontra-se
na Turquia. Uma Europa
com a Turquia como membro teria naturalmente uma
economia mais dinâmica. A
Turquia é uma referência
energética regional. Tem peso e respeito na própria região graças a formidáveis
forças de combate. E, principalmente, hoje a Turquia é
um modelo para outras sociedades islâmicas, que tentam fazer as contas com a
democracia, as liberdades civis, o Estado de direito, uma
economia aberta, o pluralismo e a religião. Na qualidade
de membro da União Europeia, a Turquia deveria
acrescentar uma nova dimensão de enorme importância histórica. Os europeus demonstrariam que é
possível abraçar uma democracia islâmica e construir
uma sólida ponte entre a Europa e a Ásia Ocidental. Isso,
por sua vez, poderia criar
uma nova identidade e imagem europeia, dar à União
Europeia um novo motivo
para existir neste século, um
modo de recusar a política de
divisão do antigo modelo”.
RÚSSIA
Putin cita São
Francisco
Em um discurso público, o
primeiro-ministro Vladimir
Putin declarou que ainda
não chegou o momento de
candidatar-se às próximas
eleições presidenciais,
nem para ele nem para o
atual presidente da Federação Russa Dmitrij Medvedev, porque, explicou, “se
agora lançarmos sinais errados, metade da administração e mais da metade do
governo deixarão de trabalhar na espera de mudanças”. “Ao invés disso”,
acrescentou, “todos nos
seus próprios lugares devem fazer como São Francisco, capinar todos os dias
na sua própria horta”. As
declarações de Putin foram
publicadas no Avvenire de
14 de abril.
q
Vladimir Putin
30DIAS Nº 4/5 - 2011
45
Colégios eclesiásticos de Roma
Uma ponte entre
Oriente e Ocidente
Fundado em 1584 por Gregório XIII para
promover as relações entre a Santa Sé e a Igreja
Maronita, hoje o Pontifício Colégio Maronita
propõe-se como lugar de diálogo entre diversas
culturas e religiões
por Pina Baglioni
No alto, o afresco no átrio do Colégio
Maronita que representa a Coroação
á um belo vaivém no número 18 da via de Porta Pinciana, sede do Pontifício
Colégio Maronita, em Roma: são
peregrinos carregados de bandei-
H
46
30DIAS Nº 4/5 - 2011
ras, provenientes do Líbano e das
eparquias maronitas do Oriente
Médio. Mas oriundos também da
diáspora presente nos quatro cantos do mundo – sobretudo nos Esta-
de Nossa Senhora, inspirado na figura
do santuário de Qannoubine;
aqui, acima, a entrada do colégio,
na via de Porta Pinciana
dos Unidos e no Canadá –, que representa dois terços dos três milhões e meio dos herdeiros de São
Maron. No domingo de manhã,
por volta das 10h30, é fácil encontrar os maronitas residentes na Cidade Eterna encaminhando-se, seguidos por pencas de crianças, para a igreja de São Maron, contígua
ao Colégio, na via Aurora – rua que
passa pelo lado leste do edifício –,
onde é celebrada a missa em rito sírio-antioqueno, frequentada também por muitas famílias muçulmanas. Depois da missa, ficam conversando em volta do único banco
de praça do lado de fora da igreja,
ou no jardim interno, enquanto outros preferem frequentar os cursos
de língua árabe organizados para
as crianças nascidas na Itália.
Tudo isso acontece ao redor do
elegante edifício do bairro Ludovisi, encaixado entre grandes hotéis
superluxuosos, bancos e lojas para
turistas ricos.
O Colégio Maronita, do qual os
sacerdotes estudantes ali residentes, todas as manhãs, voam como
um enxame para as Pontifícias
Universidades, representa o elo
entre a Santa Sé e a Igreja Maronita, antiquíssima Igreja sui iuris de
rito sírio-antioqueno, a única entre
todas as Igrejas cristãs do Oriente
Médio a ostentar desde sempre
A missa dominical em rito sírio-antioqueno na igreja de São Maron,
contígua ao colégio
plena comunhão com o sucessor
de Pedro. Suas origens são estabelecidas pela tradição histórica entre os séculos IV e V, quando, após
a morte do anacoreta sírio Maron,
seus seguidores começaram a edificar mosteiros ao lado de seu túmulo, em Apameia, na Síria, às
margens do rio Oronte.
Mas na via de Porta Pinciana
não se encontra apenas o Pontifício Colégio Maronita para sacerdotes estudantes; essa é também
a sede da pastoral que se dedica
aos frequentadores da igreja contígua de São Maron e da Procura-
doria do Patriarcado Maronita de
Antioquia junto à Santa Sé. Instituições que, nos últimos meses,
viram-se no centro de um turbilhão de acontecimentos: em
2010, as celebrações dos mil e
seiscentos anos da morte de São
Maron; depois, a chegada a Roma das relíquias dos grandes santos maronitas do século XIX: São
Charbel Makhlouf, Santa Rafka
Rayes e São Nimatullah Al-Hardini, cuja devoção vem-se difundindo amplamente; enfim, em 23 de
fevereiro passado, a instalação da
imagem de São Maron num ni- ¬
História do Pontifício Colégio Maronita
Forja de patriarcas, de orientalistas e de futuros santos
a sala de ingresso da Cúria Generalícia dos Jesuítas, em Roma, é possível admirar um mapa antigo
em que aparecem os primeiros cinco colégios nacionais, edificados, ao longo do século XVI, todos nas proximidades do Colégio Romano (a Universidade Gregoriana, na época). Assim, os seminaristas poderiam chegar rapidamente às aulas: eram o inglês, o alemão-húngaro, o armênio, o grego e o maronita. Este último, diferentemente de todos os outros, era o colégio de uma
Igreja sui iuris difundida sobretudo no Líbano e na Síria,
com ritos e liturgia derivados da tradição sírio-antioquena. E que ostentava plena comunhão com Roma, apesar da extrema dificuldade de comunicação entre a Santa Sé e o Oriente Médio.
O contato entre a Santa Sé e a Igreja Maronita fora
consolidado durante as Cruzadas, durante as quais os
N
exércitos cristãos receberam grande ajuda dos maronitas. E uma das consequências do reatamento de relações foi a viagem a Roma do patriarca Jeremias de
Amshit, para o Concílio Lateranense IV, em 1215. Nos
séculos seguintes, os pontífices enviaram missionários
e visitadores apostólicos ao Líbano para verificar as
eventuais problemáticas doutrinais entre os fiéis de São
Maron. A Igreja Maronita era na época uma Igreja de
fronteira, fechada entre as montanhas do Líbano e isolada não apenas de Roma, mas também do resto do
mundo, pela necessidade de proteger-se da pressão
dos Otomanos.
Um dos resultados mais brilhantes das embaixadas
pontifícias no Líbano entre 1578 e 1580 foi justamente a
fundação do Colégio Maronita em Roma, em 1584, por
iniciativa do papa Gregório XIII, que o instituiu com a ¬
30DIAS Nº 4/5 - 2011
47
Colégios eclesiásticos de Roma
Acima, Bento XVI com o presidente libanês Michel Suleiman e o cardeal
Nasrallah Pierre Sfeir, por ocasião da inauguração da imagem de São Maron
instalada num nicho externo da Basílica de São Pedro, em 23 de fevereiro
de 2011; à direita, a imagem de São Maron no dia da inauguração
cho externo da Basílica de São Pedro, na presença de Bento XVI. Isso sem contar que entre 28 de fevereiro e 15 de março deu-se também
o pedido de demissão de sua beatitude, o cardeal Nasrallah Pierre
Sfeir, depois de vinte e cinco anos à
frente do Patriarcado, e a eleição
de seu sucessor, Béchara Boutros
Raï, bispo de Jbeil, Byblos dos Maronitas, septuagésimo sétimo patriarca maronita de Antioquia. Logo após sua eleição, o novo patriarca esteve em Roma duas vezes em
poucos dias: em 14 de abril, para a
audiência particular com o Papa, e
em 1º de maio, para a beatificação
de João Paulo II.
O Colégio Maronita: um gomo de cristianismo médiooriental na Cidade Eterna
“Vivemos um período com uma
riqueza de acontecimentos como não
nos lembrávamos de ter tido há tempos. Estamos todos um pouco confusos, mas muito, muito contentes.”
Monsenhor Antoine Gebran é procurador do Patriarcado há dois anos, e
há alguns meses reitor do Colégio e
capelão dos migrantes adeptos da
Igreja sírio-antioquena maronita residentes na diocese de Roma. Com
pouco mais de quarenta anos, provém, como a maior parte dos sacerdotes libaneses, do vale de Qadisha,
no norte do país, também chamado
Vale Santo, pela miríade de mosteiros encastrados sob os cimos dos
montes. Foi lá, entre os séculos VIII e
IX, que encontraram refúgio os seguidores de São Maron que fugiram da
Síria em consequência das constantes perseguições por parte de bizantinos, monofisistas e muçulmanos.
cas, esses jovens assimilaram com extrema facilidade o
bula Humana sic ferunt. O objetivo era formar em Roma
latim, o italiano, o francês e o espanhol. Tanto que se diaspirantes sacerdotes que, de volta a seu país, podefundiu, logo, o ditado “culto como um maronita”. Conriam imprimir uma virada decisiva no âmbito das relacluídos os estudos, muitos eram chamados às cortes
ções entre o papa e o patriarca maronita de Antioquia.
dos soberanos europeus como tradutores e embaixadoEste, por sua vez, deveria promover as relações com tores. Aqueles que voltavam ao Líbano,
das as outras Igrejas orientais.
por sua vez, abriam escolas em todo o
A primeira sede romana, cuja direção
país. Assim, os maronitas que tinham esfoi entregue aos jesuítas, foi uma casa
tudado em Roma difundiram por toda a
junto à igreja de São João de Ficozza, a
Europa as línguas, a história, as instituipoucos metros da atual Universidade
ções e as religiões do Oriente Médio.
Gregoriana e de Fontana de Trevi. Numa
Ainda graças a eles foram impressos os
rua que, depois, assumiria o nome de “via
primeiros livros litúrgicos em siríaco. O
dos Maronitas”. Aos quatro primeiros esprimeiro, em Roma, em 1585.
tudantes, já em Roma, se juntaram, em
Em 1662, o patriarca Youhanna Mah31 de janeiro de 1584, outros seis provelouf pediu ao Papa que afastasse os jenientes de Alepo, na Síria.
suítas da direção do Colégio Maronita,
Começaram a chegar a Roma jovens
em razão da má gestão financeira e da
de oito ou nove anos para frequentar os
dispersão das vocações. Daquele moestudos primários, depois os cursos de
mento em diante, o Colégio só teria reitoFilosofia e Teologia. Tendo já aprendido
res maronitas.
na pátria a gramática das línguas semíti- O patriarca Estêvão El Douaihy
48
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O jovem monsenhor, antes de
assumir o triplo encargo, foi ecônomo do Colégio e trabalhou durante
sete anos no Pontifício Instituto para a Família: “Aqui”, explica, “recebemos sacerdotes enviados pelos
bispos de todas as eparquias maronitas. Mas também aqueles que
pertencem a todas as outras Igrejas
cristãs do Oriente Médio, tanto as
que estão em comunhão com Roma quanto as que não estão. O
mesmo acontece no Líbano, onde
os maronitas sempre conviveram
com os armênios apostólicos e os
armênios católicos, os greco-ortodoxos e os melquitas, os sírio-ortodoxos e os sírio-católicos, os assírios, os coptas, os caldeus e os católicos de rito latino. Além dos xiitas, dos sunitas, dos drusos, dos judeus e dos protestantes”.
Os sacerdotes chegam a Roma
já tendo terminado o primeiro ciclo
de estudos de Filosofia e Teologia
nos mais de noventa seminários
diocesanos e interdiocesanos espalhados pelo Líbano. “Graças a
Deus temos ainda muitas vocações, até mesmo adultas. Tanto assim, que foi necessário instituir no
Líbano casas de formação especializadas nas vocações maduras”,
acrescenta monsenhor Gebran.
“Aqui no Colégio hospedamos sacerdotes de 26 a 40 anos. São doze
libaneses, dos quais dez maronitas
e dois greco-católicos. Os outros
nos foram indicados pela Congregação para as Igrejas Orientais, que
lhes concede bolsas de estudo para
se sustentarem em Roma. Atualmente hospedamos um ortodoxo
do Patriarcado de Jerusalém, um
assírio e três sírio-católicos do Iraque e quatro coreanos de rito latino. Temos também dois leigos, um
francês e um italiano. Nos anos anteriores recebíamos também muitos caldeus. Dizemos que os consideramos ausentes justificados...”
Os momentos em comum são a
missa da terça-feira celebrada na
igreja de São Maron – oficiada em
língua italiana, mas de acordo com
o rito do celebrante da vez – e, diariamente, o café da manhã às
7h30, o almoço à 13 e o jantar às
19. Enquanto o grupo de maronitas, nos outros dias, se reúne para
as vésperas e a missa das 18h45
numa capela interna do segundo
andar do Colégio, todos os outros
se organizam por conta própria.
“Na realidade, alguns vêm assistir
também à nossa missa, com a liturgia escrita em siríaco, variante do
aramaico, e pronunciada em árabe.” Como muitos de seus colegas
dos outros colégios de Roma, os sacerdotes do Maronita também são
solicitados pelas paróquias para
ajudar nos fins de semana, no Natal
e na Páscoa. “Já temos relacionamentos estabelecidos com algumas
paróquias de Roma, de Milão, de
Entre os personagens que deram prestígio ao Pontifício Colégio Maronita de Roma destaca-se o patriarca
Stefano El Douaihy, hoje encaminhado para a beatificação. No final do século XVII, ele redigiu os Anais, a primeira história das origens da Igreja Maronita. Apoiou,
ainda, o renascimento das grandes ordens religiosas
maronitas, reinserindo nelas as regras monásticas, niveladas aos ordenamentos vigentes no mundo latino,
segundo o ensinamento de Santo Antão, o protótipo da
vida monástica. A ação de El Douaihy foi determinante
também para a reaproximação entre comunidades cristãs orientais ortodoxas e a Santa Sé. Entre outras coisas, o primeiro patriarca da Igreja sírio-católica, Inácio
Miguel III Jarweh, foi aluno do Colégio Maronita.
Um outro gigante do colégio foi José Simão Assemani, que, com outros membros de sua família, toda
uma dinastia de orientalistas, fez a fortuna da Biblioteca Apostólica Vaticana. José Simão ali entrou em 1710
como escritor. Enviado em 1715 por Clemente XI para o
Oriente em busca de manuscritos, viajou à Síria e ao
Egito, onde conseguiu adquirir quase inteiramente a bi-
Parma e de Como, para onde nossos sacerdotes vão também durante as férias de verão”, explica padre
Joseph Sfeir, o ecônomo do Colégio Maronita.
Charbel Ghoussoub é sacerdote há nove anos e vem da arquieparquia de Antélias, pouco distante de Beirute. Está para obter o
mestrado em Ciências da Formação na Universidade Salesiana.
“Vou voltar para o Líbano, pois o
meu bispo me chamou de volta; lá,
já fui pároco por cinco anos. Provavelmente voltarei a Roma para
o doutorado”, conta-nos. “Em Roma respiramos o ar da universa- ¬
São Maron
no mosaico da igreja
contígua ao colégio
e a ele dedicada
blioteca do mosteiro copta de São Macário e parte da
do mosteiro dos sírios, na Nitria; levou ainda à Europa
os primeiros fragmentos coptas do mosteiro Branco.
Em 1717, todos esses manuscritos – conservados hoje
na Biblioteca Vaticana – foram por ele levados a Roma,
onde se dedicou ao estudo dos siríacos, publicando depois seus resultados na Bibliotheca Orientalis Clementino-Vaticana. Primeiro guardião da Biblioteca Vaticana, em 1739, deu início, em colaboração com o sobrinho, Estêvão Evódio Assemani, à preparação de um
catálogo geral dos manuscritos vaticanos, do qual saíram apenas os três primeiros volumes, dedicados aos
códigos hebraicos e siríacos. José Simão Assemani foi
protagonista, como legado pontifício, do Sínodo do
Monte Líbano, de 1736, cuja presidência assumiu. Foi
ainda ele o redator de uma “Carta Constitucional” da ¬
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Acima, um altar da igreja do colégio com alguns relicários; à esquerda,
uma pintura representando Charbel Makhlouf, Rafka Rayes e Nimatullah Al-Hardini,
os três grandes santos maronitas do século XIX, conservada na igreja do colégio
lidade da Igreja, muitos ritos, muita riqueza. Só aqui entendemos o
quanto a Igreja é grande. E levamos essa consciência para o Líbano, onde o espaço físico e mental
em que atuamos normalmente é
seminário e paróquia, paróquia e
seminário, dentro de uma problemática toda libanesa. É importante estudar em Roma também para
dar a entender aos outros o que é a
Igreja Maronita. Vários colegas,
na Universidade, me perguntaram
se meus pais ainda eram muçulmanos e quando foi que eu me
converti ao cristianismo...” Temos
ainda Autoun Charbel, doutorando em Direito Canônico, já mestre
em Teologia e com experiência
missionária na Nigéria, onde trabalhou por anos numa paróquia
pessoal. Perguntamos a ele se en-
tre os sacerdotes maronitas mais
jovens há esperança de que o Líbano ultrapasse o sistema do “comunitarismo” religioso, julgado
por muitos historiadores libaneses
como o maior obstáculo ao pleno
desenvolvimento e à plena democracia do País dos Cedros. “Por
ora é só um ideal um tanto distante, complicado de alcançar: vivemos ainda o tempo das comunidades religiosas, porque, por ora,
não temos outro sistema além desse. Basta pensar que não existe
uma só história do Líbano, mas
tantas histórias quanto são as comunidades religiosas, ou seja, dezessete. Mas neste momento estamos muito otimistas com a nomeação do novo patriarca: ele certamente será capaz ao menos de pacificar os ânimos em nosso país”.
“Seria bom que o Colégio Maronita pudesse, de maneira cada
vez mais evidente, fazer sua parte
num momento tão delicado para o
Oriente Médio: ou seja, recuperar
o papel de intercâmbio cultural,
religioso e político que teve a partir do século XVI”, diz ainda o reitor, monsenhor Gebran. “Este
ano festejamos também os onze
anos da reabertura do Colégio,
ocorrida em 2001, depois da longa interrupção iniciada com a Segunda Guerra Mundial. Nos longos, terríveis anos da guerra civil
no Líbano, os nossos sacerdotes
continuaram a vir a Roma, alojando-se aqui e ali, sobretudo em Propaganda Fide e no Colégio Capranica. Graças ao trabalho intenso e
inteligente de meu antecessor,
monsenhor Hanna Alwan, o Co-
Elias Boutros Hoyek, que se tornou patriarca em 1899.
Igreja Maronita. O documento, fortemente impregnado
Para reativar a casa de formação sacerdotal de Roma,
de normas latinizantes e no início um tanto contestado,
ele pediu ajuda aos franceses, ao sultão turco e ao impepor ter sido julgado danoso para a antiga disciplina antirador da Áustria, Francisco José. Este último negou-lhe
oquena, foi ao final aprovado: a Igreja Maronita viveria
somas em dinheiro, mas em troca concedeu aos semidessa legislação até a promulgação do Código de Dinaristas maronitas a hospitalidade na Villa dʼEste, em Tíreito Canônico Oriental, em 1991.
voli, perto de Roma, para as férias de verão. Depois de
A vida do Colégio Maronita se interrompeu em 1º de marter obtido a permissão de Roma, o bispo
ço de 1798, quando as tropas francesas que
maronita abriu outro colégio em Paris. Foi,
haviam ocupado Roma requisitaram o edifíentre outras coisas, também o fundador
cio, obrigando os estudantes a refugiaremda congregação das Irmãs da Sagrada
se na Congregação de Propaganda Fide.
Família, e conseguiu criar uma eparquia
Em 1891, papa Leão XIII, com a bula
no Egito. Morreu em 1931 em odor de
Olim sapienter, decidiu reabrir o colégio,
santidade e atualmente está em andadoando aos maronitas metade da soma
mento a causa de sua beatificação.
necessária para a aquisição de um edifíInfelizmente, por falta de estudantes,
cio na via de Porta Pinciana. Alguns anos
em 1906 o colégio voltou a fechar as pordepois, em 3 de julho de 1895, foi adquiritas. E só foi reabri-las em 1920. A tranquido um terreno entre a via de Porta Pincialidade durou até 1939, quando, em vista
na e a via Aurora, para ali construir o colédo início iminente do segundo conflito
gio definitivo e a igreja de São Maron. O
mundial, ocorreu mais um fechamento.
protagonista da reabertura foi o bispo José Simão Assemani
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30DIAS Nº 4/5 - 2011
légio, logo depois do Jubileu de
2000, pôde finalmente retomar
seu caminho”. Transparece, nas
palavras de monsenhor Gebran,
também um pouco de lamento pelos muitos tesouros perdidos ao
longo dos anos: “Centenas de livros preciosíssimos já não estão
aqui. Muitos tomaram o caminho
da biblioteca do Pontifício Instituto Oriental. Para mim foi um golpe no coração, quando eu estudava para o doutorado em Ciências
Eclesiásticas Orientais no Instituto, ver em minhas mãos um livro
com o carimbo do Pontifício Colégio Maronita. Mas por muito tempo tivemos reitores jesuítas...”.
Na arcada da entrada do edifício, um afresco de cores muito vivas representa a Coroação de Nossa Senhora, aos pés da qual está
disposta uma inscrição em siríaco
em louvor à Virgem. “A Coroação
não corresponde à nossa iconografia tradicional”, explica-nos padre
Joseph Sfeir. “Essa imagem se inspira na do santuário de Qannoubine, no vale de Qadisha, sede dos
patriarcas do século XV ao XIX,
um dos santuários mais venerados
do Líbano e o mais antigo do Vale
Santo”. Bem debaixo do afresco
foi posta, sobre um balcão, uma
pequena reprodução da imagem
de São Maron instalada em 23 de
fevereiro passado num nicho externo da Basílica de São Pedro. “O
Bento XVI e o novo patriarca de Antioquia dos Maronitas, sua beatitude Béchara
Boutros Raï, com a delegação de bispos e fiéis que o acompanharam a Roma depois
da concessão da ecclesiastica communio (dada em 24 de março de 2011),
Sala Clementina do Palácio Apostólico Vaticano, em 14 de abril de 2011
justo florescerá, crescerá como o
cedro do Líbano”, reza, em aramaico, o salmo inscrito na estola do pai
da Igreja Maronita. Seguindo na direção de um amplo salão, vemos,
ao fundo, o trono do patriarca, onde evidentemente Sua Beatitude
sentou-se por ocasião de suas visitas à Cidade Eterna.
Nas paredes desfilam os retratos dos patriarcas e dos personagens mais significativos da história
maronita, todos ex-alunos do Colégio: o servo de Deus sua beatitu-
de Estêvão El Douaihy, pai da historiografia maronita e promotor e
patrocinador das grandes ordens
religiosas, já encaminhado para a
beatificação; José Simão Assemani, que viveu entre os séculos XVII
e XVIII, o mais prestigioso representante da dinastia de orientalistas Assemani que formaram o tesouro da Biblioteca Apostólica Vaticana, com os milhares de volumes da patrística oriental levados
a Roma; e ainda Nasrallah Pierre
Sfeir, líder da Igreja Maronita ¬
O procurador, monsenhor Elias Boutros Hoyek, futuro patriarca
de Antioquia dos Maronitas, no centro na foto na primeira fila,
e o reitor do Colégio, padre Gabriel Moubarak,
o terceiro a partir da direita na primeira fila,
com alguns estudantes do colégio, numa foto de 1893
Apesar dos problemas do colégio, a Procuradoria do
Patriarcado de Antioquia continuou ativa; o procurador
continuou a morar na primeira casa adquirida na via de
Porta Pinciana, em 1891.
De 1939 a 1980, o edifício foi alugado e foi transformado em hotel. Voltou definitivamente à atividade em
15 de setembro de 2001, logo depois do Jubileu, graças principalmente ao bispo Emilio Eid, procurador geral do Patriarcado dos Maronitas de 1958 a 2003. Que
devido a sua perseveraça e grande força de caráter,
fez com que o glorioso Colégio Maronita retomasse a
sua atividade. Nos dez anos que seguiram, foi ele
quem cuidou da restauração do Colégio, conseguindo
superar não poucas dificuldades burocráticas e legais.
É considerado um dos personagens mais significativos
da Igreja Maronita do século XX graças tanto à sua capacidade de manter sempre viva e fecunda as relações
entre a Igreja Maronita a Santa Sé; quanto pela sua ¬
30DIAS Nº 4/5 - 2011
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Colégios eclesiásticos de Roma
Acima, monsenhor
Antoine Gebran, atual
reitor do colégio;
à esquerda, o salão
do colégio, com o trono
do patriarca
durante vinte e cinco anos – alguns dos anos politicamente mais
dramáticos para o País dos Cedros
–, e Béchara Boutros Raï, o novo
patriarca. “Um grande pastor, que
já demonstrou com ações concretas que quer pacificar os ânimos
no país”, diz o reitor. “Ele, por
exemplo, logo depois da eleição,
fez questão de reunir todos os representantes das forças políticas
libanesas. Inclusive o Hezbollah,
um partido composto de libaneses
como nós, que, certamente, não
vieram de fora para nos ocupar,
mas foram capazes de defender o
território na última guerra com Israel, em 2006.”
A propósito do papel de ligação
entre Igreja de Roma e Igreja Maronita, perguntamos se o Colégio favoreceu, paradoxalmente, a latinização do antigo rito sírio-antioqueno, considerando que nos século
XVII e XVIII foram enviadas ordens
religiosas ocidentais para controlar
a doutrina e a liturgia dos discípulos
de São Maron. “É claro que, sendo
a única Igreja do Oriente Médio
sempre em comunhão com Roma,
tivemos logo uma certa assimilação”, explica o reitor; “isso ocorreu,
porém, mais no plano externo, como, por exemplo, nos paramentos
litúrgicos, que no plano da substância. Adotamos a casula e a planeta.
Mas preservamos a nossa liturgia sírio-antioquena”. Padre Joseph
Sfeir tem uma opinião ligeiramente
diferente: “Não devemos crucificar
ninguém, pelo amor de Deus, mas
os legados papais revisaram um por
um os nossos textos litúrgicos. E tudo o que, na opinião deles, não estava bastante em linha com a liturgia latina foi queimado, destruído”.
Voltando ao presente, pedimos
ao reitor, enfim, um juízo sobre
uma questão que muitos maronitas consideram o problema dos
problemas: a emigração dos maronitas do Líbano em consequência da instabilidade política e da
explosão demográfica dos muçulmanos. “Negar que isso esteja
acontecendo seria tolo”, responde. “Mas devemos dizer também
que muitos maronitas estão voltando. E que também muitos muçulmanos estão indo embora. Mas
o destino da Igreja Maronita está
nas mãos de Nosso Senhor: ele
nos conservou por mil e seiscentos anos. Se ainda nos quiser lá, ficaremos. O que mais posso dizer?
Seja feita a Sua vontade.”
q
to patriarcal. Enfim, é postulador para a beatificação do
patriarca Elias Boutros Hoyek. Com o apoio da Congregação para as Igrejas Orientais, monsenhor Alwan fez
voltarem ao colégio de via de Porta Pinciana todos os estudantes maronitas espalhados por outros estabelecimentos eclesiásticos, hospedando também os sacerdotes pertencentes
às outras Igrejas
orientais.
P. B.
Papa Pio X com o patriarca Elias Boutros Hoyek,
o quinto a partir da esquerda, em 23 de julho de 1905
Papa Pio XI recebe
em audiência
enorme cultura teológica. Além de monsenhor Eid, a restauração do colégio, foi também obra de monsenhor
Hanna Alwan, reitor por dez anos. Alwan é juiz do Tribunal da Rota Romana, docente in utroque iure nas Universidades Pontifícias e responsável europeu da Congregação dos Missionários Libaneses, uma ordem de direi-
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30DIAS Nº 4/5 - 2011
o patriarca sírio
de Antioquia Inácio
Gabriel I Tappouni,
sentado à direita
do Pontífice, em 15
de agosto de 1929
Panorâmica dos tetos e das cúpulas de Roma vistos do terraço do convento
de Santo Antão, na Colina Ópio; à direita, a fachada do convento na praça de
San Pietro in Vincoli
O arquipélago maronita
Resenha das casas religiosas maronitas em Roma. Algumas hospedam
seminaristas, outras, sacerdotes estudantes, e há, ainda, quem tenha
transformado seu convento em santuário dedicado aos grandes santos
maronitas
por Pina Baglioni
lém do Colégio Pontifício,
Roma hospeda um conjunto de procuradorias e colégios sacerdotais das ordens maronitas mais significativas.
A Ordem Libanesa Maronita
ocupa um pequeno convento pouco distante da Pirâmide de Céstio,
ao lado da paróquia dedicada a
Santa Marcela, uma nobre romana
que, por uma curiosa analogia
com os monges maronitas, seguiu,
no século IV, a regra de Santo Antão com seus amigos.
Na Colina Ópio, diante da Basílica de São Pedro in Vincoli, a
dois passos do Coliseu, fica o
convento de Santo Antão, a sede
A
dos Maronitas Mariamitas da
Bem-Aventurada Virgem Maria.
Estão lá deste 1753, depois de
ter deixado a casa e a igreja dos
Santos Marcelino e Pedro, na via
Labicana. E, ainda, entre a via
Portuense e o bairro do Trullo, está o colégio sacerdotal da Ordem
Antoniana Maronita, de Santo
Isaías. Por último, os padres da
Ordem Missionária Libanesa Maronita que estudam e trabalham
em Roma se hospedam em vários
institutos eclesiásticos. Por ser de
direito patriarcal e não pontifício,
como as outras, a Ordem Missionária não tem uma casa generalícia em Roma.
No final do século XVII, a Ordem
Libanesa Maronita e a Maronita da
Bem-Aventurada Virgem Maria
constituíam uma única realidade, a
Ordem Alepina Libanesa, fundada
em 10 de novembro de 1695 por
três jovens sírios de Alepo, Gabriel
Hawwa, Abdallah Qara’li e Joseph
El-Betn, que estabeleceram sua morada no mosteiro de Nossa Senhora
de Qannoubine, no vale de Qadisha, norte do Líbano.
Em Roma, a Ordem Alepina, já
em 1707, obteve de Clemente XI a
igreja dos Santos Marcelino e Pedro, na via Labicana, também graças ao bom êxito de uma missão
confiada pelo Papa a Gabriel ¬
30DIAS Nº 4/5 - 2011
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Acima, a capela do convento de Santo Antão, sede da Ordem Maronita Mariamita da Bem-Aventurada Maria Virgem;
à direita, um retrato de Santa Teresinha do Menino Jesus no salão de entrada
Hawwa, que reconduziu à obediência a Roma um bispo copta.
Enquanto isso, no Líbano, houve
tamanha afluência de jovens provenientes de Damasco, Jerusalém,
Sídon e de muitas cidades do Egito, que se fez necessária a mudança para o mosteiro mais amplo de
Saint Elysées, em Becharre, e a
fundação de outros mosteiros mesmo fora do País dos Cedros.
Quem se dedicou de modo decisivo à redação das regras, que tomavam vagamente por base as de
Santo Antão mas eram demasiadamente niveladas às das ordens
latinas, foi o patriarca Estêvão El
Douaihy, grande promotor da ordem. Essas regras seriam definitivamente aprovadas em 31 de março de 1732, por Clemente XII.
Profundamente ligados à vida
camponesa, esses monges compartilhavam a dureza dessa existência. Fora do Líbano, esses mon-
ges sempre receberam do patriarca a responsabilidade pela diáspora libanesa no Egito, na Europa e
no Novo Mundo. A Igreja maronita, toda concentrada entre as montanhas do Líbano, deve a eles o
inabalável apego do povo ao cristianismo, à terra e ao papado. E
sobretudo a instrução dos camponeses e dos mais pobres: as escolas
dos vilarejos geralmente surgiam
em torno dos conventos e das igrejas paroquiais.
Com o passar do tempo, porém, apareceram dentro da ordem
sérios conflitos que determinaram
o nascimento de duas correntes:
uma afirmava que o cargo de superior geral deveria ser vitalício e que
a ordem tinha de assumir caráter
missionário; a outra defendia que o
cargo tivesse duração limitada e
que a ordem mantivesse integralmente a vida contemplativa.
As divergências não foram sanadas. Tanto que, em 19 de julho
de 1770, levaram ao nascimento
de dois ramos distintos: a Ordem
Antoniana Alepina dos Maronitas,
de caráter missionário, e a Ordem
Libanesa Maronita, de vocação
contemplativa. Cada uma com
seus membros, seus conventos e
suas posses. Em 1969, a Alepina
tomou o nome de Ordem Maronita Mariamita da Bem-Aventurada
Maria Virgem.
Em Roma, a divisão da ordem
levou os alepinos a ficarem nos
Santos Marcelino e Pedro, para
depois mudar-se para a sede da
praça San Pietro in Vincoli; já a ordem Libanesa Maronita mudou-se
para Chipre, para assistir espiritualmente os maronitas que viviam
na ilha. A presença dos maronitas
em Chipre vinha do século XI,
quando, depois da fuga da Síria em
razão das perseguições, uma pequena parte dos maronitas se refugiara ali, enquanto a maior parte
dos fugitivos encontrou abrigo nas
montanhas do Líbano.
À esquerda, os antigos
textos conservados na rica
biblioteca do convento;
acima, o servo de Deus
padre Antonios Tarabay:
está em andamento sua
causa de beatificação
A ordem do Patriarca:
os Maronitas
da Bem-Aventurada
Maria Virgem
A dois passos do Coliseu fica o
convento de Santo Antão, sede da
A entrada do convento
da Ordem Libanesa Maronita, com a
imagem de São Charbel Makhlouf,
canonizado em 1977 por Paulo VI
Procuradoria da Ordem Maronita
Mariamita da Bem-Aventurada
Maria Virgem e do colégio de formação sacerdotal. Quando fomos
encontrá-los, encontramos os padres mariamitas num estado de
grande euforia: sua beatitude Béchara Boutros Raï, o patriarca recém-eleito, pertence a sua ordem. “A escolha, na minha opinião, vem do Espírito Santo. É ele
a pessoa certa para cada libanês,
cristão ou não, e para a Igreja
Maronita, graças à sua inteligência, ao seu carisma e à capacidade de dialogar com todos”, diz
padre François Nasr, ecônomo e
postulador da Ordem, que neste
período vem-se ocupando do
processo do servo de Deus padre
Antonios Tarabay. “Em sua vida
sacerdotal, esse religioso esteve
encarregado da orientação espiritual das Irmãs de São João Batista no Líbano. Grande devoto
do Santíssimo Sacramento, praticou a ascese e a contemplação.
Enviado, depois, ao mosteiro de
Qannoubine, no Vale Santo, viveu em perfeita e completa união
com Jesus Cristo. Contraiu em
seguida uma grave doença, que
durou vinte e sete anos; suportou
heroicamente a sua condição: ele
encarna o carisma da nossa ordem, ou seja, uma síntese perfeita entre vida missionária mergulhada na realidade de todos os
dias e vida mística feita de renúncia, oração e contemplação”.
Um caso quase mais único que
raro, o colégio ainda hospeda seminaristas que vão para Roma depois de já ter frequentado o biênio
de Filosofia no Líbano: “Até algum tempo atrás, os nossos estudantes também podiam frequentar o biênio em Roma. Acolhemos, além disso, bispos e peregrinos de todas as partes do mundo”. Em Roma, eles fazem o triênio de Teologia e depois os estudos especializados, como Teologia Espiritual, Direito Canônico,
Ciências Humanas. E Mariologia,
“também pela nossa denomina-
ção, adotada durante o Concílio
Vaticano II, graças à insistência de
padre Genadios Mourani (nosso
confrade conhecido por sua grande
espiritualidade, morto num atentado terrorista no Líbano em 1959),
que desejava mais do que qualquer
coisa pôr a nossa ordem sob a proteção de Nossa Senhora”.
No Líbano, esses estudantes serão reitores dos vários campus universitários da ordem, que hoje contam seis mil inscritos. Ou diretores
das escolas, frequentadas por sete
mil estudantes. Ou, ainda, reitores
dos seminários, ou párocos. “Nosso colégio de Roma sempre foi lugar de acolhida dos libaneses maronitas, de estudantes de outras
Igrejas cristãs. No domingo de manhã, muitos vêm assistir à missa
em nossa capela, atraídos pela antiga liturgia sírio-antioquena”.
O convento-colégio ostenta
uma biblioteca rica em textos sacros do século XIII. Entre estes,
muitos livros de literatura árabe.
No salão de entrada, padre François aponta para um retrato de
Santa Teresinha do Menino Jesus. “No Líbano, é imensa a devoção a ela: o primeiro mosteiro que
lhe foi dedicado, depois da canonização, foi um mosteiro masculino mariamita, pois o superior geral da ordem, que tinha assistido à
cerimônia no Vaticano, ficara impressionado com sua vida exemplar. Neste momento suas relíquias estão visitando a Palestina.
E Santa Teresinha, pelo que me
dizem, está fazendo grandes coisas por aqueles lados”.
A Ordem Libanesa Maronita,
forja de santos
A Ordem Libanesa Maronita,
mesmo dependendo da Santa Sé,
teve muito tarde uma Procuradoria em Roma. “Nós sempre tivemos um grande desejo de vir a Roma. Mas adiávamos sempre, porque estávamos convencidos de
que a presença dos mariamitas na
Cidade Eterna era suficiente”, explica padre Elias Al Jamhoury,
postulador das causas dos santos
da ordem e procurador-geral em
Roma. Quem “levou” a Roma esses monges foi a causa de beatificação de São Charbel Makhlouf,
canonizado por Paulo VI em 9 de
outubro de 1977. Aconteceu há
sessenta anos, quando se fez necessária a presença de um postulador que pudesse acompanhar a
causa de Charbel, nascido em
Bkaakafra, no norte do Líbano,
em 1828 e falecido em 1898. Todo o Líbano e os maronitas do
mundo inteiro são imensamente
devotos desse monge, graças à
abundância de milagres concedidos por sua intercessão.
“São Charbel é como o cedro
no Líbano: já faz parte do nosso
país. Todo maronita, por uma coisa ou outra, tem ligação com ele.
Mas seus devotos já se espalham
pelo mundo todo. É um pouco como o seu Padre Pio”, confirmam
dois jovens monges do convento.
Ambos, por coincidência, se chamam Charbel. Um é doutorando
em Arqueologia Cristã, o outro em
Ciências Bíblicas. Moram estavelmente no Colégio da Universida- ¬
30DIAS Nº 4/5 - 2011
55
Colégios eclesiásticos de Roma
de Santo Anselmo com os outros
quatro membros da ordem presentes em Roma para os estudos
de especialização. Quando os estudos permitem, os dois Charbel
dão uma ajuda a padre Elias. Até
porque o convento recebe, há algum tempo, telefonemas, cartas e
visitas de toda a Itália para pedir
graças a São Charbel e aos outros
dois santos da ordem: Santa Rafka Rayes, uma monja canonizada
em 2001, e Nimatullah Al-Hardini, grande teólogo, feito santo em
2004. A eles, logo, poderá ser
acrescentado um quarto: o frade
Estephan Nehmé, beatificado em
27 de junho de 2010.
A capelinha adjacente ao convento situado perto da Pirâmide
de Céstio hospeda as relíquias dos
Os Antonianos
de Santo Isaías e a amizade
com o povo druso
A Ordem Antoniana Maronita de
Santo Isaías possui, entre suas antigas vocações, uma que se está revelando extremamente atual, dada
a época que vivemos: o diálogo e a
acolhida das outras religiões.
“Tudo começou com o bispo
Gebraël Blouzani, futuro patriarca
da Igreja maronita, que, em 1673,
decidiu fundar o mosteiro de Nossa Senhora em Tamiche, no norte
do Líbano, tornando-o sede de seu
episcopado”, conta padre Maged
Maroun. “Depois de ter educado
muitos jovens às regras da vida
monástica oriental, ele os enviou
para edificar o mosteiro de Santo
Isaías em Broumana, no topo de
Misericordiarum Pater, em 17 de
janeiro de 1740”.
Voltando aos dias de hoje, os jovens aspirantes ao sacerdócio fazem o noviciado no famoso mosteiro de Santo Isaías, no Líbano, considerado casa-mãe da Ordem Antoniana Maronita. A chegada a Roma
deu-se em 1906, com um primeiro
seminário no Gianicolo. Depois,
em 1958, na via Boccea. E, enfim,
em 1998, na via Affogalasino, entre os bairros Portuense e Trullo.
“Hoje são sete os sacerdotes que
estudam em Roma, especializandose em Música Sacra e Direito Canônico”, explica padre Maged. “Mas
sobretudo em Ciências Eclesiásticas
Orientais e no Diálogo IslâmicoCristão no Pontifício Instituto Oriental e no Pontifício Instituto de Estu-
À esquerda,
a entrada
do convento
dos padres da Ordem
Libanesa Maronita,
com uma urna
que contém alguns
relicários;
à direita, a pequena
capela adjacente
ao convento em
que são veneradas
as relíquias
dos santos libaneses
três santos, e tornou-se a meta de
um grande número de pessoas de
Roma e de fora que vêm para visitar esse lugar e pedir graças.
“Uma coisa impensável! Nossa intenção – obviamente se a Congregação para as Igrejas Orientais
permitir – é transformar este lugar
num verdadeiro santuário dedicado a São Charbel: o fluxo de peregrinos não para nunca”, acrescenta padre Elias. “São Charbel começou a fazer milagres no dia seguinte a sua morte. A causa, assim, se iniciou já em 1926. No
Ano Santo de 1950, foram trinta
mil milagres. Ele fazia um par espiritual com os milagres de Nossa
Senhora de Lourdes. Naquela altura, em 1951, decidimos que já
não era o caso de esperar, e finalmente viemos para Roma”.
56
30DIAS Nº 4/5 - 2011
uma colina conhecida como
‘Aramta’. Lá, no dia da festa da Assunção de 1700, foi celebrada a
primeira missa. A região era habitada principalmente por drusos,
um povo que fugiu do Egito e seguia uma religião de derivação muçulmana, nem xiita nem sunita.
Haviam-se estabelecido nas montanhas libanesas em 1300 – cerca
de quinhentos anos depois dos maronitas – para escapar das perseguições dos sunitas. O emir Abdullah Abillamah, chefe dos drusos da
região, acolheu de tão bom grado
a chegada dos monges, que decidiu, com outros emires da região,
manter seus filhos estudando com
os monges antonianos. Muitos deles pediram o batismo. Também
por tudo isso, papa Clemente XII
aprovou a nossa ordem com a bula
dos Árabes e de Islamística. Além do
estudo, vão trabalhar nas paróquias
da região, visitar os doentes. Durante a Páscoa, por exemplo, foram
abençoar as casas dos moradores do
bairro”. De volta ao Líbano, serão
futuros educadores nas escolas e nos
três campus universitários da ordem. Ou párocos no Líbano e entre
os maronitas da diáspora. “Fiéis à
vocação das origens, deverão ser cada vez mais um canal de comunicação com todos, cristãos e não cristãos. Como indicam também os
nossos novos estatutos e a nossa história”, conclui o religioso.
Os Missionários do Patriarca
Espalhados por vários institutos
eclesiásticos de Roma, os sacerdo-
tes da Congregação dos Missionários Libaneses constituem um instituto religioso masculino de direito patriarcal. São também chamados Kreimistas, pois sua fundação
aconteceu em 22 de maio de
1884 no mosteiro de Kreim, em
Ghosta, no Monte Líbano, por
obra de Youhanna Habib, um sacerdote da eparquia de Baalbek,
com a finalidade de educar a juventude maronita e anunciar o
Evangelho também aos não crentes. Uma das características de
seus membros é jurar não ambicionar os graus eclesiásticos.
Além do Líbano, os Missionários
Libaneses são ativos nas comunidades maronitas do Brasil, da Argentina, da África do Sul, dos Estados Unidos e da Austrália.
da Síria, para fugir dos bizantinos,
primeiro, e dos muçulmanos, depois. E a escolha foi no mínimo sábia: quando chegaram ao Líbano,
os turcos pararam na costa e nas cidades do sul, pois temiam tremendamente as montanhas. Portanto,
os maronitas ficaram a salvo.”
O fundador da Congregação
dos Missionários Libaneses Maronitas, Youhanna Habib, foi, no final do século XIX, um juiz do império turco. Seus funcionários, quando perceberam que fazer os maronitas seguirem as leis islâmicas era
um tanto difícil, dispuseram um tribunal para eles e outro para os muçulmanos, de modo que as causas
não fossem acabar todas no tribunal de Istambul. Habib foi escolhido como juiz dos maronitas. Mas,
Sagrada Família, religiosas que
têm como missão principal a família, por meio da educação das
crianças e da assistência aos párocos na pastoral familiar. A Congregação da Sagrada Família é espiritualmente guiada pela Congregação dos Missionários Libaneses Maronitas.
“Uma característica dos missionários libaneses é a grande aplicação ao estudo. Um pouco como
os jesuítas”, acrescenta, com certo orgulho, monsenhor Alwan.
No final, lhe perguntamos se seus
missionários terão, no futuro, um
trabalho cada vez mais pesado,
considerando a emigração constante dos maronitas. E o que deveria fazer a Santa Sé: “O interesse
de Roma aumentou quando per-
À esquerda, uma missa na capela da comunidade da Ordem Antoniana Maronita
de Santo Isaías; acima, a comunidade, com o patriarca Sfeir; à direita, Monsenhor
Hanna Alwan, responsável europeu pela Congregação dos Missionários Libaneses
“Nós mandamos os nossos sacerdotes para estudar diretamente
nas terras de missão. Assim, ao
mesmo tempo, começam a assistir
os maronitas na diáspora. Vêm a
Roma apenas aqueles que têm de se
especializar em disciplinas que só
são estudadas aqui, como Teologia
Dogmática, Direito Canônico e os
estudos bíblicos”. Monsenhor Hanna Alwan, que já encontramos no
papel de reitor emérito do Pontifício Colégio Maronita, é também,
entre muitas outras coisas, o responsável europeu da Congregação
dos Missionários Libaneses Maronitas. Ele também vem do norte do Líbano, o berço da Igreja de São Maron. E entrou para a Congregação
aos dezesseis anos, com o irmão
gêmeo. “Os maronitas se estabeleceram ao norte, depois de ter saído
tendo caído em desgraça perante o
emir, deixou o tribunal para fazerse jesuíta. O patriarca não permitiu. Ordenou-o sacerdote, convocou outros padres e mandou-os
em missão. Eram tempos de emigração para os maronitas. Eles iam
para as Américas. E o patriarca temia fortemente que, chegando na
nova terra, perdessem a fé.
Depois Youhanna Habib foi nomeado bispo. E, morto o patriarca, o Sínodo o escolheu como sucessor. Mas ele recusou, e em seu
lugar, em 1899, foi escolhido, por
sua proposta, um amigo: Elias
Boutros Hoyek, um bispo que, em
1890, tinha ido para Roma adquirir o terreno para construir o Pontifício Colégio Maronita.
Além de tudo isso, Hoyek fundou também a Congregação da
ceberam que a onda de assalto dos
muçulmanos estava-se tornando
forte demais, tanto no Líbano como nas outras Igrejas do Oriente
Médio. Enfim, quando estudaram
os números, se deram conta. O Sínodo das Igrejas Orientais celebrado em outubro passado foi importante. Se não por outros motivos,
pelo menos porque a imprensa do
mundo inteiro falou do estado das
coisas. Estamos todos à espera da
exortação de Bento XVI. Não é
impossível que o que está acontecendo no Oriente Médio e no Norte da África traga boas consequências. Estou convicto de que esses
jovens que vimos nas praças querem liberdade e trabalho. E é justo.
E estou certo de que esse anseio
pela democracia possa favorecer
também os cristãos”.
q
30DIAS Nº 4/5 - 2011
57
Introdução
por Lorenzo Cappelletti
R
epublicamos um belo artigo de Massimo Borghesi de fevereiro de 2003,
“O pacto com a Serpente”, na trilha de acontecimentos de repercussão
nacional e internacional em que o que impressiona não é só a perversidade das ações, mas também o fato de quase parecerem exceder a liberdade
humana e de haver aí uma odiosa ligação com a religião cristã. Como ensina a
história da Igreja antiga e recente, o ódio à fé cristã, dentro e fora da Igreja,
sempre foi produzido por um anseio e um frenesi alimentados de símbolos e
crenças religiosas.
Pensando nisso, relembramos uma das últimas audiências particulares que
Dom Giussani teve com o papa João Paulo II, no início da década de 1990, e
que ele mesmo contou assim: quando o Papa lhe dizia que o agnosticismo, sintetizado na fórmula “Deus, se existe, não tem que ver com a vida”, era o maior
de todos os perigos que a fé pode correr – coisa que o próprio Dom Giussani tinha ensinado diversas vezes –, Giussani respondia com a liberdade dos filhos
de Deus (que é uma das expressões humanamente mais fascinantes da fé):
“Não, Santidade, não é o agnosticismo; o gnosticismo, este sim, é que é o perigo para a fé cristã!”.
Passados vinte anos, podemos nos dar conta do quanto foi antecipadora
essa guinada de Dom Giussani. Guinada que pode ser exemplificada também
por uma entrevista, concedida em abril de 1992, em que o mesmo Giussani fala da perseguição àqueles “que se movem na simplicidade da Tradição”.
Quando o entrevistador lhe pergunta se ele se referia a uma perseguição de
fato, Dom Giussani responde: “Isso mesmo. A ira do mundo, hoje, não se ergue diante da palavra Igreja, fica quieta até diante da ideia de alguém se dizer
católico, ou diante da figura do Papa como autoridade moral. Aliás, existe
uma reverência formal e até sincera. O ódio explode – mal se contém, e logo
transbordará – diante de católicos que se apresentam como tais, católicos
58
30DIAS Nº 4/5 - 2011
Nova
vetera
et
que se movem na simplicidade da Tradição” (Giussani,
Luigi. Un avvenimento di vita, cioè una storia – introdução do cardeal Joseph Ratzinger. Ed. Il Sabato, Roma,
«Non l’agnosticismo,
1993, p. 104).
ma lo gnosticismo
è il pericolo
Numa de suas últimas publicações antes de ser eleiper la fede cristiana»
to sucessor de Pedro (Fé, verdade, tolerância.
Così don Luigi Giussani
a Giovanni Paolo II
agli inizi degli anni Novanta
O cristianismo e as grandes religiões do
mundo , coletânea elaborada em junho
de 2003, reunindo artigos do cardeal Rato,
nosticism
«Non l’ag sticismo
zinger sobre o tema), Joseph Ratzinger
o
ma lo gn colo
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observava nas páginas de interlúdio acresa»
e cristian
per la fed
sani
centadas especialmente para a edição: “O
Luigi Gius
Così don
II
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vanta
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degli anni
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mal não é um lado do todo, do qual carecemos – como queria Hegel, e como Goethe
«Non l’agnostic
ism
ma lo gnosticis o,
quis mostrar no Fausto – mas a destruição do
mo
è il pericolo
per la fede cris
ser. O mal não se pode apresentar, assim cotiana»
Così don Luigi
Giussani
mo o Mefistófeles do Fausto, com as palavras:
a Giovanni Pao
lo II
agli inizi degli
anni Novanta
sou ‘uma parte daquela força que sempre quer
o mal e sempre cria o bem’” (Trad. Sivar
«Non
Hoeppner Ferreira. São Paulo: Instituto Brasil’a
ma lo gnosticism
o,
gno
leiro de Filosofia e Ciência “Raimundo Lúlio”
è il pe sticismo
r
per la
ic
fede c olo
[Ramon Llull], 2007, p. 48).
ristian
Così d
a»
on L
a Giova uigi Giuss
ani
nn
agli in
Mesmo sendo muito erudito e rico em
izi deg i Paolo II
li ann
i Nova
nta
citações, o artigo de Borghesi pode ser lido de um só fôlego. Possui uma estrutura
ismo,
muito simples, evidenciada pelos títulos das segnostic mo
a
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o
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nosticis
ma lo g ericolo
ções, que mostram, primeiro, o crescimento do fascíè il p
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de crist
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nio do mal na era contemporânea, cada vez mais visto
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Giussan
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Così do nni Paolo II
a Giova anni Novanta
como a energia libertadora do homem; depois, a sua
i degli
agli iniz
oposição prometeica ao Deus bom e misericordioso; e,
enfim, o fato de ser concebido não em oposição, mas como princípio interno ao próprio Deus, exatamente como
querem as mais sutis e perversas fábulas gnósticas.
In allegato I CANTI DELLA TRADIZIONE
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Diretto da Giulio Andreotti
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N.4/5
XXIX
ANNO
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William Blake (1757-1827), Eloim cria Adão, detalhe, aquarela e encáustica, Londres, Tate Gallery
O pacto com a Serpente
A Serpente, o tentador, aparece nas vestes do libertador, daquele
que eleva o homem para além do bem e do mal, para além da “lei”,
para além do Deus antigo, inimigo da liberdade. Os últimos
duzentos anos vêm redescobrindo o princípio libertador
do mundo afirmado pela seita dos Ofitas, princípio vislumbrado
pela concepção sabatiana, com seu Messias entregue às serpentes
por Massimo Borghesi
60
30DIAS Nº 4/5 - 2011
A r q u i v o d e 3 0 D i a s - F e v e re i ro d e 2 0 0 3
Nova
vetera
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Hegel, com sua dialética do negativo, dará uma suntuosa veste
teórica a essa idéia. O homem deve pecar, deve sair da inocência
natural para se tornar Deus. Ele deve realizar a promessa da
Serpente: deve conhecer, como Deus, o bem e o mal. Esse
conhecimento “é a origem da doença, mas também a fonte da saúde,
é o cálice envenenado no qual o homem bebe a morte e a putrefação,
e, ao mesmo tempo, o ponto em que nasce a reconciliação, uma vez
que pôr-se como mau é em si a superação do mal”
Os Ofitas: a Serpente como libertador
Há mais de dois séculos a cultura ocidental se compraz
do mal, abranda-o, justifica-o. O negativo é fonte de
vertigens, do delírio da onipotência, de emoções inconfessáveis; ilumina com clarões avermelhados as veredas proibidas, os abismos da noite, os picos congelados. Suas cores tingem o peculiar titanismo moderno,
o desafio provocador que este lança ao Eterno. Se o
Fausto antigo, o de Marlowe, se arrepende na hora da
morte, o posterior vive do ultraje, anseia pela dissolução. O pacto com a Serpente, título dado por Mario
Praz a um de seus últimos livros1, hoje se torna estável.
A Serpente, o tentador, aparece nas vestes do libertador, daquele que eleva o homem para além do bem e
do mal, para além da “lei”, para além do Deus antigo,
inimigo da liberdade. Os últimos duzentos anos vem redescobrindo “o princípio libertador do mundo [afirmado] pela seita dos Ofitas”2, princípio vislumbrado, segundo Gershom Scholem, pela concepção sabatiana,
com seu Messias entregue às “serpentes”3. Princípio
reafirmado por Ernst Bloch em seu Ateísmo no cristianismo, onde o Cristo-Serpente liberta o mundo da
tirania de Yahweh4. Goethe, segundo Vittorio Mathieu, também “ouvira falar da seita dos Ofitas”5. Em
seu Goethe e seu diabo da guarda, Mathieu observa
como em Fausto Mefistófeles é a “força que, das trevas, faz vir à tona o positivo do homem”6. Como afirma Deus, dirigindo-se a Mefistófeles no Prólogo no
Céu, “Não deves senão mostrar-te, livremente, como
o que és; nunca odiei os teus pares; de todos os espíritos que negam, o zombeteiro é o que menos me aborrece. A atividade do homem se enfraquece muito facilmente, e ele se deitaria com prazer num repouso absoluto. Por isso ponho de bom grado a seu lado um companheiro que o estimule, e aja, e que tem, como Diabo,
de criar”7. O Diabo é posto de bom grado (“gern”) por
Deus como colaborador do homem. Como notava
Mircea Eliade, “se poderia falar de uma simpatia orgânica entre o Criador e Mefistófeles”8. Goethe faz de
Mefistófeles, do mal, a mola que leva à ação (“Tat”),
àquilo que é positivo. Trata-se da idéia, destinada a ter
ampla difusão, segundo a qual o caminho para o Céu
passa pelo inferno. O homem só se torna homem, vivo, inteligente, livre, só saboreando até o fundo o sabor
amargo da vida. Ao contrário, a inocência da “alma
boa” é inércia, estase, morte. Hegel, com sua dialética
do negativo, dará uma suntuosa veste teórica a essa
idéia. O homem deve pecar, deve sair da inocência natural para se tornar Deus. Ele deve realizar a promessa
da Serpente: deve conhecer, como Deus, o bem e o
mal. Esse conhecimento “é a origem da doença, mas
também a fonte da saúde, é o cálice envenenado no
qual o homem bebe a morte e a putrefação, e ao mesmo tempo o ponto em que nasce a reconciliação, uma
vez que pôr-se como mau é em si a superação do
mal”9. Nessa perspectiva, a figura do Anjo rebelde, daquele que, provocando o homem, o alçaria à sua liberdade, ganha um novo esplendor. Passo a passo, Mefistófeles se torna o herói, o Prometeu moderno, o libertador. “Sem buscar aqui as suas causas profundas”, escrevia Roger Caillois em 1937, “é preciso constatar o
quanto um dos fenômenos psicológicos mais cheios de
conseqüências do início do século XIX tenha sido o
nascimento e a difusão do satanismo poético, o fato de
o escritor assumir de bom grado o papel do Anjo do
Mal e com este sentir afinidades precisas. Sob essa luz,
o romantismo parece em parte uma transmutação de
valor”10. De Byron a Vigny, a “mitologia satânica” elabora a figura de um “Anjo do Mal”, rebelde e vingador,
cujas premissas remetem ao passado.
Satanás contra Deus
Com razão, Mario Praz, em seu A carne, a morte, e o
diabo na literatura romântica, até hoje a obra mais
interessante sobre o fascínio exercido sobre a literatura
do século XIX por tudo o que é demoníaco, indica o início desse processo na caracterização peculiar de Satanás oferecida por Milton em seu Paraíso perdido. “Foi
Milton quem conferiu à figura de Satanás todo o fascínio do rebelde indômito que já pertencia às figuras do
Prometeu de Ésquilo e do Capaneu de Dante”11. O Adversário “se torna estranhamente belo”12. Como escrevia Baudelaire: “Le plus parfait type de Beauté virile est
Satan – à la manière de Milton”13. Em contraposição,
observa Harold Bloom, “o Deus de Milton é uma catástrofe”, tal como o Cristo, que “é um desastre poético
no Paraíso perdido”14. Para Blake, “Milton não se sentia livre ao escrever de Deus e dos Anjos, e à vontade ¬
30DIAS Nº 4/5 - 2011
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quando escrevia dos Demônios e do inferno, pois era
um verdadeiro Poeta, e da parte do Demônio sem o saber”15. Um juízo que é perfeitamente compartilhado
por Shelley, para o qual “nada pode superar a energia
e o esplendor do caráter de Satanás se encontram expressos no Paraíso perdido [...]. O demônio de Milton,
enquanto ser moral, é muito superior ao seu Deus”16.
Impávido, indômito, o príncipe das trevas aparece
como incansável lutador contra a tirania divina. Satanás é Prometeu, toma o lugar do mítico titã acorrentado por Zeus à rocha que a imaginação de Ésquilo imortalizou. O Prometeu moderno se opõe ao deus hostil,
malvado. O luciferino Satanás parece melhor que o
Criador: “Milton confere claramente uma postura
gnóstica a Satanás, segundo a qual Deus e Cristo são
somente versões do Demiurgo”17. O verdadeiro afirmativo é o demônio. É ele, e não o anjo obediente, que
parece, ética e esteticamente, dotado de um fascínio
maior. Como afirma Hegel: “Quando se apresenta, o
Diabo precisa demonstrar que nele há um afirmativo;
sua força de caráter, sua energia, seu espírito conseqüencial, parecem muito melhores, mais afirmativos
que os de alguns anjos [...]. É o que ocorre em Milton”,
acrescenta Hegel, “onde o Diabo, com sua energia
cheia de caráter, é melhor que alguns anjos”18.
Assim, graças a Milton, à sua reelaboração mítica,
Satanás ingressa no imaginário moderno. Tem-se
com isso o que Praz chama, num capítulo de sua obra,
a “metamorfose de Satanás”, sua passagem de figura
negativa a herói positivo: o rebelde triste, privado da
sua felicidade paradisíaca, como o homem, por um
deus tirano. Em seu estudo, Praz documenta, com
grande perícia, autores e correntes que assumem a mitologia satânica. Se no século XVIII “o Satanás de Milton passou seu fascínio sinistro para o tipo tradicional
do bandido generoso, do sublime delinqüente”19, é no
século XIX, na tempérie romântica, que ele se torna
rebelde, a expressão da revolta metafísica, do “não” à
criação. Foi Byron “quem levou à perfeição o tipo do
rebelde, descendente distante do Satanás de Milton”20.
Com Byron o rebelde se torna o “estrangeiro”, o homem impenetrável que transcende a maneira ordinária de sentir, que transcende seus próprios crimes. É o
além-do-homem que está mais acima e ao mesmo
tempo mais abaixo dos outros homens. É o infeliz que
se alimenta de ressentimento para com um deus cruel
do qual imita a crueldade. A teologia de Byron é, segundo Praz, a mesma de Sade, cuja obra, segundo o
autor, tem uma influência fundamental na literatura romântica. No centro está o ódio para com a criação e
seu autor, a exaltação do prazer e do crime como escárnio, profanação, ultraje. Para Praz, estamos aqui
diante de um “satanismo cósmico”21. Sua influência é
enorme. Se a natureza cria apenas para destruir, seguir a natureza é repetir seu ritmo, o prazer pela destruição, o gosto (sádico) que faz surgir o prazer pela
dor, o delírio do aniquilamento, o divino a partir do diabólico. É a pintura de Delacroix: “Esse pintor ‘canibal’,
‘moloquista’, ‘dolorista’ que foi Delacroix, com uma
curiosidade incansável por massacres, incêndios, saques, pelos putrideros, ilustrador das cenas mais sombrias do Fausto e dos poemas mais satânicos de seu
idolatrado Byron; esse apaixonado pela felinidade [...]
e pelos países violentos e calorosos”22. É a poesia de
Baudelaire, alimentada por Poe e Sade, cujo pessimismo cósmico é mais semelhante à heresia maniqueísta
que à religião cristã: “Absolu! Résultante des contraires! Ormuz et Arimane, vous ètes le même!”23. É a narrativa de Flaubert, para o qual “Néron vivra aussi longtemps que Vespasien, Satan que Jésus-Christ”24. É a
dos Cantos de Maldoror de Lautréamont, o qual confessa ter “cantado o mal como fizeram Mickiewicz, Byron, Milton, Southey, A. de Musset, Baudelaire”25. É a
de Swinburne, que, fascinado pela teologia gnóstica
de Sade, declama seu homem em revolta: “... se pudéssemos deter a natureza, então sim o crime se tor-
Böhme, segundo Hegel, “lutou para entender em Deus e de Deus
o negativo, o mal, o Diabo”. Deus é a unidade dos contrários,
da ira e do amor, do mal e do bem, do Diabo e do seu oposto, o Filho.
Nessa posição, Cristo e Satanás se tornam de algum modo irmãos,
filhos de um único Pai, partes dEle, momentos da sua natureza polar.
É o que afirmará Carl Gustav Jung em seu esotérico Septem
Sermones ad Mortuos, escrito em 1916, que seus amigos fizeram
circular como opúsculo mas nunca chegou às livrarias. O texto,
que idealmente segue o gnóstico Basilide, afirma a natureza
de “pleroma” de Deus, composto por duplas de opostos das quais
“Deus e o demônio são as primeiras manifestações”
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Nova
vetera
et
A vida, afirmava Jung no Ensaio de interpretação psicológica
do dogma da Trindade, “enquanto processo energético, precisa
dos contrastes, sem os quais a energia é notoriamente impossível.
Bem e mal nada mais são que os aspectos éticos dessas antíteses
naturais”. É por isso que, para Deus, Lúcifer é necessário.
“Sem este último não haveria criação, e muito menos teria havido
alguma história de redenção. A sombra e o contraste são as
condições necessárias de qualquer realização”
naria perfeito e o pecado uma realidade. Se o homem
pudesse fazer isso, se pudesse parar o curso das estrelas e alterar o tempo das marés; se pudesse mudar os
movimentos do mundo e encontrar a fonte da vida e
destruí-la; se pudesse entrar no céu e contaminá-lo, no
inferno e libertá-lo da sujeição; se pudesse erguer o sol
e consumir a terra, e ordenar à lua que derramasse veneno ou fogo no ar; se pudesse matar o fruto na semente e corroer a boca do bebê com o leite de sua
mãe; então o homem poderia dizer ter pecado e ter
feito mal contra a natureza”26.
Destruição e profanação: esse é o prazer maior!
Um filão consistente da literatura, a partir do romance
libertino do século XVIII, goza da profanação. A violação apaixona enquanto transgressão, ultraje. O corpo,
o da mulher, será tanto mais objeto do desejo quanto
mais for indefeso (a criança, a virgem, a freira). Profaná-lo é tirar a transcendência, reconduzir à terra, revelar o rosto obscuro de Eva, o eterno feminino para
sempre ligado ao poder de Satanás. O demoníaco
mescla o puro e o impuro, precisa da inocência para
excitar as paixões, para despertar a força explosiva do
negativo. Com Sade o eros se torna parte de uma teologia gnóstica. Depois dele o conúbio entre Eros e Tanatos, amor e morte, passa a ser o elemento dominante de um niilismo luciferino que encontra no Decadentismo, primeiramente, e no Surrealismo, depois, sua
plena realização.
Satanás em Deus
Satanás não está só em Prometeu, dublê do Anjo caído de Milton. Satanás está também em Deus. A teologia gnóstica que está no centro do ateísmo rebelde dos
últimos dois séculos distingue entre Lúcifer (o libertador) e Satanás (o opressor). Ela encontra sua forma
exemplar no pensamento de Ernst Bloch. Para Bloch,
há, “de um lado, o Deus do mundo que se identifica
cada vez mais claramente com Satanás, o Inimigo, o
estagnado; de outro, o Deus da futura ascensão ao
céu, o Deus que nos impulsiona para frente com Jesus
e com Lúcifer”27. O deus do mundo, criador, é o mau
demiurgo contra o qual, no Éden, se ergueu a Serpente, verdadeira amiga do homem. É Lúcifer, com seu
desejo de ser como Deus, que revela ao homem a sua
destinação. “Só em Lúcifer, mantido secreto em Jesus
para ser manifestado mais tarde, no final, nos tempos
em que esse rosto poderá se revelar; só em Lúcifer, inquieto desde quando foi abandonado pela segunda
vez, desde quando, da cruz, ergueu-se o grito que ficou sem resposta, desde quando, pela segunda vez,
foi esmagada a cabeça da Serpente do paraíso presa
na cruz: só nEle, portanto, no Escondido em Cristo,
enquanto anti-demiúrgico absoluto, está compreendido também o autêntico elemento teúrgico de quem
se revolta porque é filho do homem”28.
Como para a seita dos Ofitas lembrada por Bloch
em Ateísmo no cristianismo, a Serpente é, portanto,
o libertador. Duas vezes subjugada, no Éden e no Cristo levantado na cruz como a Serpente de bronze de
Moisés, ela espera por sua vingança, por sua vitória ¬
William Blake, A casa da Morte, inciso em cores,
coleção particular
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Imortais que caem no abismo , do Il libro di Urizen,
William Blake, 1794
sobre o Demiurgo que abre a “era do Espírito”. Unindo Marcião e Joaquim de Fiore, Bloch é a encruzilhada de toda a gnose moderna. Jesus, antecipação do
deus que virá, do deus “humano”, é o redentor desde
o deus “satânico”, desde o deus do cosmo, da ordem e
da lei. A revolução, como dissolução da velha ordem,
torna-se aqui a obra luciferina por excelência.
Como ilustre precedente de suas reflexões, Bloch
chama a atenção, em Ateísmo no cristianismo, para a
figura de William Blake. O poeta inglês, fascinado pela
revolução americana e pela francesa, teve, além da Bíblia, quatro mestres: Milton, Shakespeare, Paracelso,
Böhme. Ao primeiro dedicou um breve poema épico,
Milton, composto provavelmente entre 1800 e 1803.
Nele Urizen, o Príncipe da Luz, parece idêntico a Satanás. O que é peculiar em Blake é o seu The Marriage of
Heaven and Hell (O matrimônio do Céu e do Inferno),
escrito em 1790. Aqui a santificação dos impulsos e dos
desejos, in primis o sexual, for everything that lives is
Holy (sendo que todas as coisas vivas são Sacras!), obtém a sua consagração teórica. Para ela não há mais o
mal que nega o bem: mal e bem são ambos necessários.
“Sem Contrários não há progresso. Atração e Repulsa,
Razão e Energia, Amor e Ódio são necessários para a
existência Humana. Desses contrários brota o que o homem religioso chama Bem e Mal. Bem é a passividade
que obedece à Razão. Mal é a atividade que brota da
Energia. Bem é o Céu, Mal é o Inferno”29.
O mal, como no Fausto de Goethe, é o que dá energia, o que desperta o bem adormecido. O Diabo é a força de Deus. Nessa sua concepção, Blake era devedor
64
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daquele que, em primeiro lugar, no arco do pensamento moderno, ousara afirmar o mal em Deus: Jacob
Böhme. O philosophus teutonicus, que, segundo Hegel, “foi o primeiro a fazer surgir na Alemanha uma filosofia com características próprias”30, estimado por
Leibniz, Hegel, Schelling, Von Baader e todo o filão
teosófico do pensamento moderno, é aquele para o
qual, “segundo o primeiro princípio, Deus não se
chama Deus, mas Cólera, Furor, fonte amarga, e vêm
daqui o mal, a dor, o tremor e o fogo devorador”31. A
ira de Deus é superada no amor; apesar disso, ela permanece o Urgrund, o princípio originário de tudo.
Böhme, segundo Hegel, “lutou para entender em Deus
e de Deus o negativo, o mal, o Diabo”32. Deus é a unidade dos contrários, da ira e do amor, do mal e do bem, do
Diabo e do seu oposto, o Filho. Nessa posição, Cristo e
Satanás se tornam de algum modo irmãos, filhos de um
único Pai, partes dEle, momentos da sua natureza polar. É o que afirmará Carl Gustav Jung em seu esotérico
Septem Sermones ad Mortuos, escrito em 1916, que
seus amigos fizeram circular como opúsculo mas nunca
chegou às livrarias. O texto, que idealmente segue o
gnóstico Basilide, afirma a natureza de “pleroma” de
Deus, composto por duplas de opostos das quais “Deus
e o demônio são as primeiras manifestações”33. Eles se
distinguem como geração e corrupção, vida e morte.
Todavia, “a efetividade é comum a ambos. A efetividade os une. Portanto, a efetividade está acima deles e é
um Deus acima de Deus, já que seu efeito une plenitude
e vazio”34. Esse Deus que une Deus e o Diabo é chamado, por Jung, Abraxas. Ele é a força originária, que vem
antes de qualquer distinção. “Abraxas gera verdade e
mentira, bem e mal, luz e trevas, na mesma palavra e
no mesmo ato. Por isso Abraxas é terrível”35. Ele é “o
amor e o seu assassino”, “o santo e o seu traidor”, é “o
mundo, o seu devir e o seu passar. Sobre todo dom do
Deus sol o demônio lança a sua maldição”36. A mensagem esotérica dos Septem Sermones levava, como
em Blake, à santificação da natureza, à inocência do
devir. Isso implicava, por si mesmo, a justificação do
mal, do Diabo, a sua inserção, como em Böhme, num
sistema polar. Não por acaso Martin Buber, tomando
conhecimento do opúsculo, falará nesse caso de gnose. “Ela – e não o ateísmo, que anula Deus porque tem
de refutar as imagens que dele foram feitas até agora –
é a verdadeira antagonista da realidade da fé”37. Para
Buber, a psicologia de Jung nada mais constituía senão
“a retomada do mote carpocratiano, ensinado agora
como psicoterapia, que diviniza misticamente os instintos em vez de santificá-los na fé”38.
O aspecto destacado por Buber não era puramente
conjectural. Fora o próprio Jung que, em Psicologia e
religião, chamara a atenção para a atualidade do gnóstico Carpócrates, o qual afirmava que “bem e mal são
apenas opiniões humanas, e que as almas, antes de sua
partida, teriam de viver até a última todas as experiências humanas, se quisessem evitar voltar à prisão do
corpo. Somente o completo cumprimento de todas as
exigências da vida pode resgatar a alma prisioneira no
mundo somático do Demiurgo”39. A vida, afirmava no
Ensaio de interpretação psicológica do dogma da
A r q u i v o d e 3 0 D i a s - F e v e re i ro d e 2 0 0 3
Trindade, “enquanto processo energético, precisa dos
contrastes, sem os quais a energia é notoriamente impossível. Bem e mal nada mais são que os aspectos éticos dessas antíteses naturais”40. É por isso que, para
Deus, Lúcifer é necessário. “Sem este último não haveria criação, e muito menos teria havido alguma história
de redenção. A sombra e o contraste são as condições
necessárias de qualquer realização”41. Essa sombra está antes de mais nada em Deus, no Deus primigênio,
no Inconsciente que, para Jung, é a verdadeira potência que dirige a vida, a qual deve ser “humanizada” pelo
eu consciente. Só no Deus humano, Cristo, o juízo separa o que no pleroma (o inconsciente) está unido: a
luz e a sua sombra. Ora, os “dois filhos de Deus, Satanás, o mais velho, e Cristo, o mais novo”42, a mão esquerda e a mão direita de Deus, se separam. “Essa antítese representa um conflito levado ao extremo, e com
isso também uma tarefa secular para a humanidade,
até o ponto ou a circunstância do tempo em que bem e
mal começarem a relativizar-se, a pôr-se em dúvida, e
se elevar o grito por algo além do bem e do mal. Mas,
na era cristã, ou seja, no reino do pensamento trinitário, semelhante reflexão é simplesmente excluída, pois
o conflito é violento demais para que se possa conceder ao mal alguma outra relação lógica com a Trindade
que não seja o contraste absoluto”43. É preciso que a
Trindade divina, espiritual, se concilie com um “quarto” princípio: a matéria, o corpo, o feminino, o eros, o
mal, para que o idealismo cristão, conciliado com o
mundo, chegue a uma unidade superior. “Pois, mesmo
no tempo da fé absoluta na Trindade, houve sempre
uma busca do quarto perdido, desde os neopitagóricos gregos até o Fausto de Goethe. Ainda que esses
buscadores se considerassem cristãos, eles eram todavia uma espécie de cristãos a latere, uma vez que consagravam sua vida ao opus, que tinha como meta a redenção do serpens quadricornutus, da anima mundi
enredada na matéria, do Lúcifer decaído... Nossa fórmula da quaternidade dá razão à sua pretensão, pois o
Espírito Santo, como síntese daquele que foi origina-
Nova
vetera
et
riamente Uno e depois cindido, flui de uma fonte luminosa e de uma obscura”44. A “era do Espírito”, na peculiar interpretação que Jung dá de Joaquim de Fiore,
é a era que se segue ao eone cristão, o tempo de Abraxas em que paixões e razão, inconsciente e consciente,
mal e bem, Lúcifer e Cristo, se tornarão um.
Em 1919, Hermann Hesse, que em 1920 se submeteria a análise com Jung, publicou um romance,
Demian, sob o pseudônimo de Emil Sinclair. Nele, o
protagonista, um jovem inexperiente, é instruído sobre
o sentido da vida por um espírito “livre” que carrega
em si o sinal de Caim: Demian. Para Demian, “o Deus
do Antigo e do Novo Testamento é uma figura excelente, mas não é a que deveria ser. É o bem, a nobreza, o
pai, o alto, o belo, o sentimental: todas coisas boas,
mas o mundo é feito também de outras coisas. E isso é
atribuído simplesmente ao Diabo, e toda essa parte do
mundo, essa metade é suprimida e morta com o silêncio”45. A ela pertence, segundo Demian, a esfera sexual. Por isso não se pode apenas venerar a Deus, “devemos venerar tudo e considerar sagrado o mundo inteiro, não apenas essa metade oficial, separada artificialmente. Ao lado do serviço para Deus deveríamos
ter também um serviço para o Diabo. A mim pareceria
justo. Ou então deveríamos procurar um Deus que
reúna também o demônio”46. Como em Jung, esse
“Deus se chama Abraxas e é Deus e Satanás e abraça
em si o mundo luminoso e o mundo escuro”47. É o
amor sagrado e o amor profano, “a imagem angélica e
Satanás, homem e mulher ao mesmo tempo, homem
e fera, supremo bem e mal extremo”48.
A visão do divino como coincidentia oppositorum,
versão que sela de forma indissolúvel o “pacto com a
Serpente”, atravessa, dessa forma, uma parte conspícua do mundo cultural do século XX. Lembramos, entre outras, a reflexão de Mircea Eliade, que em dois escritos, O mito da reintegração (1942) e Mefistófeles
e o Andrógino (1962), expõe, a partir das sugestões
de Jung, sua visão da “polaridade divina”. Nessa visão,
toda divindade parece polar, benéfica e maléfica ao ¬
“Encontra-se por toda parte”, escrevia Romano Guardini em 1964,
“a idéia gnóstica fundamental de que as contradições são
polaridades: Goethe, Gide, C. G. Jung, T. Mann, H. Hesse... Todos
vêem o mal, o negativo [...] como elementos dialéticos na totalidade
da vida, da natureza”. Essa atitude, para Guardini, “já se manifesta
em tudo o que se chama gnose, na alquimia, na teosofia. Apresenta-se
de forma programática com Goethe, para o qual o satânico entra até
mesmo em Deus, o mal é força originária do universo tão necessária
quanto o bem, a morte apenas outro elemento nesse todo, cujo pólo
oposto se chama vida. Essa opinião foi proclamada de todas as formas
e concretizada no campo terapêutico por C. G. Jung”
30DIAS Nº 4/5 - 2011
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mesmo tempo. A Serpente é irmã do Sol, tal como, segundo um mito gnóstico, seriam irmãos Cristo e Satanás. Essa bi-unidade divina prepara, no homem, a reintegração de sagrado e profano, de bem e mal numa
unidade superior que encontra, para Eliade, sua meta
simbólica na figura do andrógino.
Conclusão
A moderna teosofia dos opostos, baseada na doutrina
hermética da coincidentia oppositorum, leva a um
conúbio, inquietante, entre divino e diabólico, leva à
idéia do Diabo em Deus. “Encontra-se por toda parte”, escrevia Romano Guardini em 1964, “a idéia
gnóstica fundamental de que as contradições são polaridades: Goethe, Gide, C. G. Jung, T. Mann, H.
Hesse... Todos vêem o mal, o negativo [...] como elementos dialéticos na totalidade da vida, da natureza”49. Essa atitude, para Guardini, “já se manifesta em
tudo o que se chama gnose, na alquimia, na teosofia.
Apresenta-se de forma programática com Goethe,
para o qual o satânico entra até mesmo em Deus, o
mal é força originária do universo tão necessária
quanto o bem, a morte apenas outro elemento nesse
Notas
1
M. Praz. Il patto col serpente. Milão,
1972 (reeditado em 1995).
2
Op. cit., p. 12.
3
G. Scholem. Le grandi correnti della
mistica ebraica. Turim, 1993, p. 307. Edição
brasileira: As grandes correntes da mística
judaica. São Paulo, Perspectiva, 1995.
4
E. Bloch. Ateismo nel cristianesimo.
Milão, 1971, pp. 220-226.
5
V. Mathieu. Goethe e il suo diavolo
custode. Milão, 2002, p. 192.
6
Op. cit., p. 65.
7
W. Goethe. Faust e Urfaust, 2 vol.
Milão, 1976, vol. I, vv. 340-343, p. 19. Edição brasileira: Fausto. Belo Horizonte, Itatiaia, 2002.
8
M. Eliade. Il mito della reintegrazione.
Milão, Jaca Book, 2002, p. 4.
9
G. W. F. Hegel. Lezioni sulla filosofia
della religione, 2 vol. Milão, 1974, vol. II, p.
317.
10
R. Caillois. Nascita di Lucifero. Milão,
2002, p. 31.
11
M. Praz. La carne, la morte e il diavolo
nella letteratura romantica. Florença, 1999,
p. 58. Edição brasileira: A carne, a morte e o
diabo na literatura romântica. Campinas,
Editora da Unicamp, 1996.
12
Id., ibid.
13
C. Baudelaire. Journaux intimes. Cit.
in: M. Praz. La carne, la morte e il diavolo
nella letteratura romantica. Op. cit., p. 55.
14
H. Bloom. Rovinare le sacre verità.
Poesia e fede dalla Bibbia a oggi. Milão,
1992, p. 106.
15
W. Blake. “Il matrimonio del Cielo e
dellʼInferno”. In: Selected Poems di
William Blake. Turim, 1999, pp. 24-25. Edi-
66
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todo, cujo pólo oposto se chama vida. Essa opinião foi
proclamada de todas as formas e concretizada no
campo terapêutico por C. G. Jung”50.
A idéia de fundo é que a redenção passa pela degradação, a graça pelo pecado, a vida pela morte, o prazer pela dor, o êxtase pela obra da perversão, o divino
pelo diabólico. O fascínio que o negativo – metáfora do
demoníaco – exerce sobre a cultura contemporânea
deriva dessa idéia singular: que os caminhos do paraíso
passam pelo inferno, que “Descida ao Ades e ressurreição” são uma coisa só51.
Entregar-se ao demônio é abrir-se a Deus, numa singular transposição gnóstica da idéia segundo a qual perder-se é encontrar-se. Nesse “sagrado” conúbio, Satanás e Deus se unem no homem. É a “identidade de Sade
e dos místicos”52 desejada por Georges Bataille. Segundo ela, o caminho para baixo coincide com o caminho
para cima. Fausto, agora, não pode mais se arrepender,
nem na hora da morte. O Adversário tornou-se cúmplice, “parte” de Deus. É o caminho para se tornar deus.
A emoção do nada, da descida aos Infernos, acompanha a descoberta do Ser, de Abraxas, o pleroma sem
rosto que permanece, imóvel, no devir do mundo. q
ção brasileira: O matrimonio do céu e do
inferno. O livro de Thel. São Paulo, Iluminuras, 2000.
16
P. B. Shelley. Difesa della Poesia. Cit.
in: M. Praz. La carne, la morte e il diavolo
nella letteratura romantica. Op. cit., p. 59.
17
H. Bloom. Rovinare... Op. cit., p. 105.
18
G. W. F. Hegel. Lezioni sulla filosofia
della religione. Op. cit., vol. II, p. 315-316 e
324, nota.
19
M. Praz. La carne... Op. cit., pp. 59-60.
20
Id., ibid., p. 64.
21
Id., ibid., p. 96.
22
Id., ibid., p. 135.
23
Cit. in: Id., ibid., p. 147.
24
Cit. in: Id., ibid., p. 161.
25
Lautréamont. “Lettere”. In: Lautréamont. I canti de Maldoror. Turim, 1989, p.
531.
26
Cit. in: M. Praz. La carne... Op. cit., p.
199.
27
E. Bloch. Spirito dellʼutopia. Florença,
1980, p. 314.
28
Id., ibid., p. 252.
29
W. Blake. Il matrimonio... Op. cit., pp.
19-20.
30
G. W. F. Hegel. Lezioni sulla storia della filosofia, 4 vol. Florença, 1973, vol. III (2),
p. 35.
31
Cit. in: F. Cuniberto. Jacob Böhme.
Brescia, 2000, p. 119.
32
G. W. F. Hegel. Lezioni sulla storia della filosofia. Op. cit., vol. III (2), p. 42.
33
C. G. Jung. “Septem Sermones ad
Mortuos”. In: Ricordi, sogni, riflessioni di C.
G. Jung. Milão, 1990, p. 454. Edição brasileira: Memórias, sonhos e reflexões. Rio de
Janeiro, Nova Fronteira, 2000.
34
Id., ibid., pp. 454-455.
35
Id., ibid., p. 456.
Id., ibid.
M. Buber. Lʼeclissi di Dio. Milão, 1983,
p. 139.
38
Id., ibid.
39
C. G. Jung. Psicologia e religione. In:
C. G. Jung. Opere, vol. 11. Milão, 1984, p.
83. Edição brasileira: Psicologia e religião.
Petrópolis, Vozes, 1995.
40
C. G. Jung. Saggio dʼinterpretazione
psicologica del dogma della Trinità. In: C. G.
Jung. Opere, vol. 11. Op. cit., p. 191. Edição
brasileira: Interpretação psicologica do
dogma da Trindade. Petrópolis, Vozes,
1994.
41
Id., ibid., p. 190.
42
C. G. Jung. Prefazione a Z. Weblowsky, “Lucifero e Prometeo”. In: C. G. Jung.
Opere, vol. 11. Op. cit., p. 299.
43
C. G. Jung. Saggio dʼinterpretazione
psicologica del dogma della Trinità. Op. cit.,
p. 171.
44
Id., ibid., p. 174.
45
H. Hesse. Demian. Storia della giovinezza di Emil Sinclair. In: H. Hesse. Peter
Camenzind - Demian. Due romanzi della
giovinezza. Roma, 1993, p. 185. Edição brasileira: Demian. Rio de Janeiro, Record,
1997.
46
Id., ibid., p. 185. Itálicos nossos.
47
Id., ibid., p. 216.
48
Id., ibid., p. 207.
49
R. Guardini. Diario. Appunti e testi dal
1942 al 1964. Brescia, 1983, p. 245.
50
R. Guardini. Lettere teologiche ad un
amico. Milão, 1979, p. 63.
51
E. Zolla. Discesa allʼAde e resurrezione. Milão, 2002.
52
G. Bataille. “Frammenti su William
Blake”. In: Selected Poems di William Blake. Op. cit., p. 163.
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Estou muito contente, portanto, com o fato de 30Giorni fazer uma nova edição deste
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