CORREIO DA

Transcrição

CORREIO DA
PANORAMA
Mons. Elio Sgreccia, presidente da Academia
Pontifícia para a Vida, também aplaudiu a iniciativa.
Num artigo publicado no Corriere della Sera salienta
que «não é um regresso ao passado, mas um avanço:
assim como se combateu a escravatura, a discriminação entre brancos e negros, ou entre ricos e pobres,
deve-se continuar a reconhecer o direito à vida
também em sentido vertical, para os nascituri e os
nascidos, para os culpados e os inocentes».
AESE
Escola de Direcção e Negócios
Publicação: quinzenal
Director: J.L.Carvalho Cardoso
Editor e Proprietário: AESE
Impresso por: Moinho Velho
Depósito legal: nº 21228/88
Preço: e 1
D. C.
20º Ano
AESE
CORREIO DA
Nº 478, 1-2-2008
RESGATE DO SOLDADO RYAN
Saving Private Ryan
Realizador: Steven Spielberg
Actores: Tom Hanks; Matt Damon
Música: John Williams
Duração: 170 min.
Ano: 1998
Comandar as tropas exige possuir diversas
capacidades, como a de liderança, saber interagir
com os outros, de superar imprevistos e de auto-domínio, virtudes que são também úteis em
diferentes situações da vida.
O início do filme recria com bastante realismo
e crueza o desembarque americano na Normandia,
durante a Segunda Guerra Mundial. Depois dessa
batalha, as autoridades reparam que uma família já
perdera todos os filhos, excepto um. As chefias
decidem então que o soldado ainda vivo regresse a
casa, para acompanhar os pais. Mas esse filho estava
a lutar na frente de combate e, como havia
dificuldades de comunicação, é formado um corpo
expedicionário para o ir buscar.
Oito homens comandados por um capitão. A
tarefa parecia absurda. O seu objectivo não era
derrotar os nazis alemães, mas ir à procura de um
colega, sabendo que corriam o risco de eles próprios
perderem a vida para o salvar. Mal partiram para a
expedição, os soldados começaram a protestar
contra o sentido de tudo aquilo. A certa altura
resolvem perguntar ao capitão se ele concordava ou
Associação de Estudos Superiores de Empresa
z
não com a missão. O que pensaria o líder do grupo?
A resposta é magistral e mostra a fibra de quem
comanda: «[…] as queixas fazem-se aos superiores.
Não seria à vossa frente que me iria queixar.» A
mensagem ficou clara para todos. Não os queria
desmoralizar ainda mais ou dar motivos para que a
missão não fosse cumprida. Mas um dos soldados
insistiu e tornou a perguntar: «Imagine que não era o
nosso capitão. O que é que achava?» E ele então
respondeu: «Diria que é uma excelente missão,
merecedora de todos os meus esforços, e tenho muita
pena pela mãe do soldado Ryan […]». Os outros
soldados ficaram a admirar ainda mais o seu capitão.
Apesar de ele ter evidentes dificuldades físicas,
nunca as revelou ao grupo, para que não se sentissem
fragilizados. Queria inspirar segurança e sempre agiu
com firmeza, depois de reflectir e de se informar sobre
cada situação em concreto. Procurou conhecer os seus
homens e no final dará a vida por eles, lançando-se
sem medo contra os inimigos.
Foram muitas as dificuldades encontradas, mas
a missão cumprira-se!
Tópicos de análise:
1. Aceitar uma missão implica assumi-la como
própria.
2. Conhecer os colaboradores é essencial para
saber o que pode exigir a cada um.
3. Um líder abre horizontes em vez de encerrar
o grupo em angústias.
4. A confiança inspira-se por acções práticas e
não por palavras teóricas.
Administração: Calçada de Palma de Baixo, 12 – 1600-177 LISBOA – Tel.: 21 722 15 30 – Fax: 21 722 15 50 – E-mail: [email protected]
"Pr
ecisamos
"Precisamos
de mais crianças",
diz a Alemanha
Um anúncio gigante a duas páginas completas
apareceu no domingo 30 de Dezembro na imprensa
alemã. Vê-se um bebé nos braços da sua mãe no
banheiro. O texto diz: «Foste um acidente, um
pequeno acidente, um percalço. Realmente,
descuidámo-nos por um momento. Mas tudo correu
bem, muito bem! Não podia ter ocorrido nada
melhor! Toda a gente pode ficar a saber: A culpa é
nossa!»
Este anúncio é um dos doze que irão
aparecendo até ao mês de Maio em toda a imprensa
alemã para fomentar uma mudança de clima mental
que consiga uma maior aceitação das crianças na
sociedade alemã. Além dos anúncios impressos, todos
os dias, pelas 19.58, surge um spot de dois minutos
de duração nas televisões mais importantes do país.
As bonitas imagens do anúncio são acompanhadas pela seguinte explícita e directa declaração:
«Fazes com que fiquemos doidos. Choras a noite
toda. Urinas na cama. Surgem os teus primeiros
dentes e tens logo a seguir sarampo. Primeiro a
creche, depois a escola... Sim, fazes com que
estejamos imensamente felizes. A tua aquisição é
gratuita. Depois torna-se cara. Precisas de tempo e
espaço. "Custas-nos" os sapatos novos, a televisão
grande e as férias no mar. Não és um luxo, não tens
preço. Há muitos motivos para não ter filhos, e o
melhor para o ter, és tu. Não podes falar e explicas-nos o mundo. Não podes correr e ajudas-nos a dar
um salto. Aprendes tanto todos os dias e ensinas-nos
muito mais. Mostras-nos que nunca é má altura, mas
sim a melhor para te recebermos. Tens pai e mãe e
precisamos de todo o país para poderes crescer de
forma feliz. Não estás sozinho, és a nossa tarefa mais
valiosa. Fazes de duas pessoas uma família, da
PANORAMA
habitação mais pequena, um lugar de jogo e de
aventuras, e de macarrão e molho de tomate, uma
refeição festiva.»
E o anúncio conclui com esta frase rotunda:
«Precisamos de mais crianças como tu, porque sem
ti o presente não é divertido e o futuro já passou.
Tu és a Alemanha [Du bist Deutschland].»
Esta assombrosa campanha (www.du-bistdeutschland.de) é financiada por diversos meios de
comunicação social privados (ARD, ZDF, SAT1, RTL,
Kabel eins, Vox, n-tv, N24, Premiere), que formaram
uma sociedade de responsabilidade limitada para
assegurar que se cumpra o objectivo da campanha.
Participam diversas personalidades da vida pública,
apresentadores de televisão e desportistas, como
Reinhold Beckmann, Johannes B. Kerner, Florian
Langenscheidt, Peter Maffay, Henry Maske, Nina
Ruge, Eva Padverg ou Renate Schmidt, que têm uma
participação gratuita nesta campanha. Empresas
como a Deutsche Post, a E.ON, etc., asseguram o
financiamento do projecto. Por outro lado, importantes grupos editoriais, como o Axel Springer ou o
WAZ-Mediengruppe, oferecem espaços gratuitos para
os anúncios. E, por último, mais de cem emissoras
de rádio, o Google, uma empresa de publicidade em
cartazes nas ruas e uma empresa de cinema
contribuem para a difusão da mensagem.
Crianças de toda a Alemanha contribuíram para
exprimir os seus pensamentos sobre uma Alemanha
com um presente e um futuro feliz, e expressaram-nos em desenhos. Várias agências de marketing e
publicidade colocaram gratuitamente as suas equipas
à disposição da campanha.
É uma volta copernicana. Em 1971, a porta-voz
do feminismo alemão, Alice Schwarzer, lançou, com
a ajuda da revista Stern, uma campanha com a capa
cheia de mulheres famosas, que apareciam sob o
lema «Eu abortei». Mais tarde, algumas disseram que
na realidade não o tinham feito, mas queriam
celebrar a possibilidade de o poder fazer, após a
liberalização da lei na Alemanha. De facto, o cálculo
oficial é que, desde a liberalização, houve 4 milhões
de abortos, e não constitui nenhum absurdo supor
que o número real seja formado pelo dobro.
É também de realçar que, em 2007, a Ministra
federal da Família, Ursula von der Leyden, tivesse
cedido à pressão de muitos pais e desse ordem de
retirar o material da Central Federal para a
Informação Sanitária, que oferecia com todo o
pormenor informação sobre sexualidade e contracepção, sem qualquer atenção pela educação
afectiva, e que era distribuído nas escolas, sem aviso
prévio aos pais.
O esforço que está a ser feito na Alemanha para
mudar a sensibilidade social sobre os filhos não tem
origem no Estado e muito menos na Igreja, mas na
sociedade civil. E curiosamente são os meios de
comunicação social (os mesmos que muitas vezes
difundem antimodelos familiares) que, com esta
campanha, estão a contribuir para um novo modo
de ver a vida e o seu futuro.
J. F. P. V.
O divór
cio
divórcio
entr
e Zapatero
entre
e o meio católico
É difícil encontrar alguém que não esteja a favor
da família, pelo menos da própria. Às centenas de
milhares de cidadãos que se reuniram na Praça de
Colombo, em Madrid, no passado dia 30 de
Dezembro, unia-os o desejo de defender a família
contra leis que a desnaturam. Na sua indignada
resposta, o PSOE destaca as políticas sociais que o
governo espanhol desenvolveu nesta legislatura para
favorecer a vida das famílias. E ambos têm a sua parte
de razão. Aquilo que se tem de observar é se bastam
as ajudas materiais para que a família prospere,
quando as leis relativizam as suas propriedades
essenciais.
O governo recorda que ao longo destes anos
estabeleceu medidas para promover a natalidade,
para conciliar a vida laboral e familiar, para favorecer
as famílias dos reformados com pensões mais baixas,
para apoiar as famílias com pessoas dependentes,
para que os filhos de famílias com menos recursos
disponham de mais bolsas de estudo... E é verdade.
Provavelmente são estas as leis que contaram com
mais apoio político nesta legislatura, também por
vezes da oposição. Quase não houve críticas contra
elas. Muito menos da Igreja Católica.
O que é reprovado ao governo é a incoerência
na sua política familiar, pois não poucas vezes as
mudanças no direito de família têm custos sociais
que depois se tenta minimizar com prestações
económicas.
Correio da AESE
Foi criado o subsídio de 2500 euros por
nascimento de um filho, enquanto uma aplicação
laxiva e fraudulenta da lei do aborto faz com que uma
em cada seis gravidezes em Espanha não chegue ao
fim, o que não favorece nem o respeito pela vida nem
pela natalidade.
O divórcio expresso permite divorciar-se ao fim
de três meses do casamento sem separação prévia,
inclusivamente por imposição unilateral de um dos
cônjuges, o que se traduziu num aumento de 74%
no número de divórcios num ano. São bem conhecidos os efeitos desta instabilidade familiar, que muitas
vezes tem sequelas de precariedade económica das
famílias a cargo de um só cônjuge, problemas psicológicos e de insucesso escolar dos filhos, e dificuldades
para o pagamento das pensões. Mas, ao mesmo
tempo, o governo prega a necessidade da conciliação
da vida laboral e familiar, para que ambos os pais
possam prestar assistência aos filhos; lamenta que
tantos pais tenham abdicado das suas responsabilidades educativas e explica grande parte do insucesso
escolar por causa das carências das «famílias desestruturadas».
Por um lado, aprova uma lei que pode constituir
uma importante ajuda aos familiares que têm a seu
cargo pessoas deficientes dependentes; por outro, a
filosofia e prática que inspira o divórcio fácil é que
não há compromisso permanente, pelo que se deve
perguntar se no futuro muitos idosos dependentes
irão encontrar familiares que se ocupem deles.
Por um lado, aprova-se uma lei para favorecer
uma presença equilibrada de ambos os sexos na vida
pública e profissional, com a ideia de que assim se
integram melhor as perspectivas masculina e feminina
na abordagem dos problemas; pelo contrário, já não
é necessário que uma criança tenha pai e mãe, pois
pode ser fruto da inseminação artificial da mulher
sozinha ou ser adoptada por um casal do mesmo
sexo, o que implica que não significa qualquer carência na sua educação.
Por último, não se deve esquecer que este
governo, que qualifica de fundamentalistas e
ultraconservadores os críticos, e se apresenta como
símbolo da moderação, começou o seu percurso com
uma atitude realmente extremista no direito de
família. Entre as diversas possibilidades de regular as
uniões homossexuais, optou por lhes abrir o caminho
do casamento, solução que apenas tinha sido
adoptada por poucos países (Holanda, Bélgica e
Canadá).
homem e mulher «opostas ao valor do amor
indissolúvel e ao respeito incondicional pela vida a
partir do momento da concepção até à morte natural,
realidade social possibilitada e favorecida juridicamente pelas leis em vigor».
vários grupos, entre os quais figuravam associações
laicas e católicas, e cujo lema - de ressonâncias bíblicas - foi: «Que ninguém toque em Caim». O sucesso
da campanha levou o diário italiano Il Foglio a propor
outra moratória, neste caso sobre o aborto.
O governo lança uma cortina de fumo quando
apresenta a posição dos críticos como se pretendessem a imposição de uma convicção religiosa,
enquanto a do governo estaria aberta a todas as
ideologias. Na realidade, a aprovação de uma lei
implica sempre apoiar-se em determinado tipo de
convicções perante outras que lhe são contrárias. E a
verdade é que uma lei aprovada por maioria
parlamentar não a torna imune às críticas, não só da
oposição política, mas também da sociedade civil. E
uma das vozes mais representativas dessa sociedade
civil é a da Igreja Católica.
A argumentação de fundo é: se se é a favor do
respeito pela vida de Caim, mesmo que se trate de
culpados de delitos de sangue, quanto mais haverá
que respeitar a vida de Abel, a do inocente não
nascido. A petição surgiu da constatação de que o
aborto, contrariamente a uma das motivações que
acompanhavam a sua aprovação - oferecer uma via
de saída para casos extremos - se converteu num
«fenómeno monstruoso»: «uma média mundial de
quase cinquenta milhões por ano». É necessário,
portanto, chegar a uma situação onde o aborto seja
na verdade uma excepção e algo normal.
Mas o PSOE ainda tem uma ideia da laicidade
que o leva a denunciar como ingerência política
qualquer opinião da Igreja Católica sobre leis civis.
Políticos mais modernos, como o presidente francês
Nicolas Sarkozy, demonstram uma ideia muito mais
aberta do que qualificam como «laicidade positiva».
No seu recente e comentado discurso em Roma,
Sarkozy reconheceu que «a República tem interesse
em que exista também uma reflexão moral inspirada
em convicções religiosas». «Na República laica, um
político como eu não decide em função de considerações religiosas. Mas interessa que a sua reflexão e a
sua consciência sejam iluminadas especialmente por
conselhos e reflexões livres das contingências
imediatas. Todas as inteligências, todas as espiritualidades que existem no nosso país devem tomar parte
nisso.» (Aceprensa en Internet, 24-12-2007.)
Estando próximas as eleições espanholas, é difícil
que o governo avalie as críticas à margem das
contingências políticas imediatas. Torna-se mais simples dizer que os bispos fazem política. É verdade que
essa reflexão moral inspirada em convicções religiosas
tem mais possibilidades de ser acolhida se for feita
com palavras e gestos que não sejam vistos como uma
bofetada moral. Mas, de qualquer forma, o governo
não tem um problema com bispos, mas com inúmeros
cidadãos que, num exercício de participação
democrática, manifestam a sua opinião sobre leis do
governo.
I. A.
Na reforma da lei do divórcio, o governo
esqueceu o comunicado do Conselho de Estado, que
não é nenhuma dependência da Conferência
Episcopal e que advertiu que esse modelo de divórcio
«não é o que rege o nosso meio jurídico e cultural».
O divórcio unilateral sem causa, dizia o comunicado,
«é realmente algo de excepcional, e aceite, sempre
através da existência de prazos, em dois países nórdicos (Finlândia e Suécia), mais afastados da nossa tradição jurídica».
Tendo em conta os resultados, não parece
exagerado o cardeal Rouco, quando salienta a
formação de um clima cultural e social que «relativiza
radicalmente a própria ideia do casamento e da
família» e que fomenta um tipo de relações entre
6
Itália: que ninguém
toque em Caim…
nem em Abel
No passado dia 18 de Dezembro, a Assembleia
Geral das Nações Unidas votou a favor do
estabelecimento de uma moratória na aplicação da
pena de morte. Concluía assim uma campanha de
opinião e acção nascida em Itália por iniciativa de
7
Os promotores da iniciativa salientam, além
disso, que o aborto se tem distinguido nas últimas
décadas, pelo sexismo e pela eugenia. «O sexo
feminino é a primeira vítima, também em sentido
estatístico, do aborto maciço: só na Ásia faltam
duzentos milhões de crianças do sexo feminino, que
foram excluídas da vida por serem consideradas
inúteis; está em andamento uma progressiva eliminação de milhões de pessoas por potenciais ou prováveis menos-valias» (que de três casos em quatro se
demonstram depois - demasiado tarde - não reais).
Naturalmente, a proposta de moratória provocou toda uma gama de reacções entre as forças
sociais e políticas italianas, desde a preguiçosa
resposta pré-cozinhada («na lei do aborto não se
toca») até ao confronto livre de preconceitos e argumentado. Diversamente de outras vezes onde o aborto também foi questionado na opinião pública, agora
dá impressão de que o clima é um pouco mais propício para o diálogo. Ninguém se referiu ao aborto
como «conquista» nem - em geral - se desqualificou
automaticamente quem volta a propor o debate.
Embora vários bispos italianos tenham expressado a sua simpatia e adesão à moratória lançada
pelo Il Foglio, como o cardeal Camillo Ruini ou o
presidente da Conferência Episcopal italiana, Angelo
Bagnasco, não se trata de uma iniciativa confessional.
O director do diário e artífice da ideia, Giuliano
Ferrara, provém de uma família de tradição ateia e
comunista, e ele próprio - conforme confessou há
algum tempo - esteve envolvido em vários abortos.
Mas nos últimos anos chegou à convicção de que não
basta continuar a repetir os slogans de 68. Afirma que
a crise da sociedade actual exige respostas, e não
oculta que para muitas delas encontra uma profunda
inspiração nos escritos do cardeal Ratzinger e no
magistério de Bento XVI.
A proposta caracterizou-se pelo seu tom positivo, que gira em torno da proclamação da liberdade
de nascer como um dos direitos fundamentais do
homem. Não se pretende colocar o aborto fora da
lei, mas situá-lo fora da consciência partilhada do que
são os direitos humanos. A moratória exclui
explicitamente qualquer forma de culpabilização das
mulheres que se encontram perante a «escolha» da
maternidade.
Correio da AESE
de abortos, e não constitui nenhum absurdo supor
que o número real seja formado pelo dobro.
É também de realçar que, em 2007, a Ministra
federal da Família, Ursula von der Leyden, tivesse
cedido à pressão de muitos pais e desse ordem de
retirar o material da Central Federal para a
Informação Sanitária, que oferecia com todo o
pormenor informação sobre sexualidade e contracepção, sem qualquer atenção pela educação
afectiva, e que era distribuído nas escolas, sem aviso
prévio aos pais.
O esforço que está a ser feito na Alemanha para
mudar a sensibilidade social sobre os filhos não tem
origem no Estado e muito menos na Igreja, mas na
sociedade civil. E curiosamente são os meios de
comunicação social (os mesmos que muitas vezes
difundem antimodelos familiares) que, com esta
campanha, estão a contribuir para um novo modo
de ver a vida e o seu futuro.
J. F. P. V.
O divór
cio
divórcio
entr
e Zapatero
entre
e o meio católico
É difícil encontrar alguém que não esteja a favor
da família, pelo menos da própria. Às centenas de
milhares de cidadãos que se reuniram na Praça de
Colombo, em Madrid, no passado dia 30 de
Dezembro, unia-os o desejo de defender a família
contra leis que a desnaturam. Na sua indignada
resposta, o PSOE destaca as políticas sociais que o
governo espanhol desenvolveu nesta legislatura para
favorecer a vida das famílias. E ambos têm a sua parte
de razão. Aquilo que se tem de observar é se bastam
as ajudas materiais para que a família prospere,
quando as leis relativizam as suas propriedades
essenciais.
O governo recorda que ao longo destes anos
estabeleceu medidas para promover a natalidade,
para conciliar a vida laboral e familiar, para favorecer
as famílias dos reformados com pensões mais baixas,
para apoiar as famílias com pessoas dependentes,
para que os filhos de famílias com menos recursos
disponham de mais bolsas de estudo... E é verdade.
Provavelmente são estas as leis que contaram com
mais apoio político nesta legislatura, também por
vezes da oposição. Quase não houve críticas contra
elas. Muito menos da Igreja Católica.
O que é reprovado ao governo é a incoerência
na sua política familiar, pois não poucas vezes as
mudanças no direito de família têm custos sociais
que depois se tenta minimizar com prestações
económicas.
Correio da AESE
Foi criado o subsídio de 2500 euros por
nascimento de um filho, enquanto uma aplicação
laxiva e fraudulenta da lei do aborto faz com que uma
em cada seis gravidezes em Espanha não chegue ao
fim, o que não favorece nem o respeito pela vida nem
pela natalidade.
O divórcio expresso permite divorciar-se ao fim
de três meses do casamento sem separação prévia,
inclusivamente por imposição unilateral de um dos
cônjuges, o que se traduziu num aumento de 74%
no número de divórcios num ano. São bem conhecidos os efeitos desta instabilidade familiar, que muitas
vezes tem sequelas de precariedade económica das
famílias a cargo de um só cônjuge, problemas psicológicos e de insucesso escolar dos filhos, e dificuldades
para o pagamento das pensões. Mas, ao mesmo
tempo, o governo prega a necessidade da conciliação
da vida laboral e familiar, para que ambos os pais
possam prestar assistência aos filhos; lamenta que
tantos pais tenham abdicado das suas responsabilidades educativas e explica grande parte do insucesso
escolar por causa das carências das «famílias desestruturadas».
Por um lado, aprova uma lei que pode constituir
uma importante ajuda aos familiares que têm a seu
cargo pessoas deficientes dependentes; por outro, a
filosofia e prática que inspira o divórcio fácil é que
não há compromisso permanente, pelo que se deve
perguntar se no futuro muitos idosos dependentes
irão encontrar familiares que se ocupem deles.
Por um lado, aprova-se uma lei para favorecer
uma presença equilibrada de ambos os sexos na vida
pública e profissional, com a ideia de que assim se
integram melhor as perspectivas masculina e feminina
na abordagem dos problemas; pelo contrário, já não
é necessário que uma criança tenha pai e mãe, pois
pode ser fruto da inseminação artificial da mulher
sozinha ou ser adoptada por um casal do mesmo
sexo, o que implica que não significa qualquer carência na sua educação.
Por último, não se deve esquecer que este
governo, que qualifica de fundamentalistas e
ultraconservadores os críticos, e se apresenta como
símbolo da moderação, começou o seu percurso com
uma atitude realmente extremista no direito de
família. Entre as diversas possibilidades de regular as
uniões homossexuais, optou por lhes abrir o caminho
do casamento, solução que apenas tinha sido
adoptada por poucos países (Holanda, Bélgica e
Canadá).
homem e mulher «opostas ao valor do amor
indissolúvel e ao respeito incondicional pela vida a
partir do momento da concepção até à morte natural,
realidade social possibilitada e favorecida juridicamente pelas leis em vigor».
vários grupos, entre os quais figuravam associações
laicas e católicas, e cujo lema - de ressonâncias bíblicas - foi: «Que ninguém toque em Caim». O sucesso
da campanha levou o diário italiano Il Foglio a propor
outra moratória, neste caso sobre o aborto.
O governo lança uma cortina de fumo quando
apresenta a posição dos críticos como se pretendessem a imposição de uma convicção religiosa,
enquanto a do governo estaria aberta a todas as
ideologias. Na realidade, a aprovação de uma lei
implica sempre apoiar-se em determinado tipo de
convicções perante outras que lhe são contrárias. E a
verdade é que uma lei aprovada por maioria
parlamentar não a torna imune às críticas, não só da
oposição política, mas também da sociedade civil. E
uma das vozes mais representativas dessa sociedade
civil é a da Igreja Católica.
A argumentação de fundo é: se se é a favor do
respeito pela vida de Caim, mesmo que se trate de
culpados de delitos de sangue, quanto mais haverá
que respeitar a vida de Abel, a do inocente não
nascido. A petição surgiu da constatação de que o
aborto, contrariamente a uma das motivações que
acompanhavam a sua aprovação - oferecer uma via
de saída para casos extremos - se converteu num
«fenómeno monstruoso»: «uma média mundial de
quase cinquenta milhões por ano». É necessário,
portanto, chegar a uma situação onde o aborto seja
na verdade uma excepção e algo normal.
Mas o PSOE ainda tem uma ideia da laicidade
que o leva a denunciar como ingerência política
qualquer opinião da Igreja Católica sobre leis civis.
Políticos mais modernos, como o presidente francês
Nicolas Sarkozy, demonstram uma ideia muito mais
aberta do que qualificam como «laicidade positiva».
No seu recente e comentado discurso em Roma,
Sarkozy reconheceu que «a República tem interesse
em que exista também uma reflexão moral inspirada
em convicções religiosas». «Na República laica, um
político como eu não decide em função de considerações religiosas. Mas interessa que a sua reflexão e a
sua consciência sejam iluminadas especialmente por
conselhos e reflexões livres das contingências
imediatas. Todas as inteligências, todas as espiritualidades que existem no nosso país devem tomar parte
nisso.» (Aceprensa en Internet, 24-12-2007.)
Estando próximas as eleições espanholas, é difícil
que o governo avalie as críticas à margem das
contingências políticas imediatas. Torna-se mais simples dizer que os bispos fazem política. É verdade que
essa reflexão moral inspirada em convicções religiosas
tem mais possibilidades de ser acolhida se for feita
com palavras e gestos que não sejam vistos como uma
bofetada moral. Mas, de qualquer forma, o governo
não tem um problema com bispos, mas com inúmeros
cidadãos que, num exercício de participação
democrática, manifestam a sua opinião sobre leis do
governo.
I. A.
Na reforma da lei do divórcio, o governo
esqueceu o comunicado do Conselho de Estado, que
não é nenhuma dependência da Conferência
Episcopal e que advertiu que esse modelo de divórcio
«não é o que rege o nosso meio jurídico e cultural».
O divórcio unilateral sem causa, dizia o comunicado,
«é realmente algo de excepcional, e aceite, sempre
através da existência de prazos, em dois países nórdicos (Finlândia e Suécia), mais afastados da nossa tradição jurídica».
Tendo em conta os resultados, não parece
exagerado o cardeal Rouco, quando salienta a
formação de um clima cultural e social que «relativiza
radicalmente a própria ideia do casamento e da
família» e que fomenta um tipo de relações entre
6
Itália: que ninguém
toque em Caim…
nem em Abel
No passado dia 18 de Dezembro, a Assembleia
Geral das Nações Unidas votou a favor do
estabelecimento de uma moratória na aplicação da
pena de morte. Concluía assim uma campanha de
opinião e acção nascida em Itália por iniciativa de
7
Os promotores da iniciativa salientam, além
disso, que o aborto se tem distinguido nas últimas
décadas, pelo sexismo e pela eugenia. «O sexo
feminino é a primeira vítima, também em sentido
estatístico, do aborto maciço: só na Ásia faltam
duzentos milhões de crianças do sexo feminino, que
foram excluídas da vida por serem consideradas
inúteis; está em andamento uma progressiva eliminação de milhões de pessoas por potenciais ou prováveis menos-valias» (que de três casos em quatro se
demonstram depois - demasiado tarde - não reais).
Naturalmente, a proposta de moratória provocou toda uma gama de reacções entre as forças
sociais e políticas italianas, desde a preguiçosa
resposta pré-cozinhada («na lei do aborto não se
toca») até ao confronto livre de preconceitos e argumentado. Diversamente de outras vezes onde o aborto também foi questionado na opinião pública, agora
dá impressão de que o clima é um pouco mais propício para o diálogo. Ninguém se referiu ao aborto
como «conquista» nem - em geral - se desqualificou
automaticamente quem volta a propor o debate.
Embora vários bispos italianos tenham expressado a sua simpatia e adesão à moratória lançada
pelo Il Foglio, como o cardeal Camillo Ruini ou o
presidente da Conferência Episcopal italiana, Angelo
Bagnasco, não se trata de uma iniciativa confessional.
O director do diário e artífice da ideia, Giuliano
Ferrara, provém de uma família de tradição ateia e
comunista, e ele próprio - conforme confessou há
algum tempo - esteve envolvido em vários abortos.
Mas nos últimos anos chegou à convicção de que não
basta continuar a repetir os slogans de 68. Afirma que
a crise da sociedade actual exige respostas, e não
oculta que para muitas delas encontra uma profunda
inspiração nos escritos do cardeal Ratzinger e no
magistério de Bento XVI.
A proposta caracterizou-se pelo seu tom positivo, que gira em torno da proclamação da liberdade
de nascer como um dos direitos fundamentais do
homem. Não se pretende colocar o aborto fora da
lei, mas situá-lo fora da consciência partilhada do que
são os direitos humanos. A moratória exclui
explicitamente qualquer forma de culpabilização das
mulheres que se encontram perante a «escolha» da
maternidade.
Correio da AESE
PANORAMA
Mons. Elio Sgreccia, presidente da Academia
Pontifícia para a Vida, também aplaudiu a iniciativa.
Num artigo publicado no Corriere della Sera salienta
que «não é um regresso ao passado, mas um avanço:
assim como se combateu a escravatura, a discriminação entre brancos e negros, ou entre ricos e pobres,
deve-se continuar a reconhecer o direito à vida
também em sentido vertical, para os nascituri e os
nascidos, para os culpados e os inocentes».
AESE
Escola de Direcção e Negócios
Publicação: quinzenal
Director: J.L.Carvalho Cardoso
Editor e Proprietário: AESE
Impresso por: Moinho Velho
Depósito legal: nº 21228/88
Preço: e 1
D. C.
20º Ano
AESE
CORREIO DA
Nº 478, 1-2-2008
RESGATE DO SOLDADO RYAN
Saving Private Ryan
Realizador: Steven Spielberg
Actores: Tom Hanks; Matt Damon
Música: John Williams
Duração: 170 min.
Ano: 1998
Comandar as tropas exige possuir diversas
capacidades, como a de liderança, saber interagir
com os outros, de superar imprevistos e de auto-domínio, virtudes que são também úteis em
diferentes situações da vida.
O início do filme recria com bastante realismo
e crueza o desembarque americano na Normandia,
durante a Segunda Guerra Mundial. Depois dessa
batalha, as autoridades reparam que uma família já
perdera todos os filhos, excepto um. As chefias
decidem então que o soldado ainda vivo regresse a
casa, para acompanhar os pais. Mas esse filho estava
a lutar na frente de combate e, como havia
dificuldades de comunicação, é formado um corpo
expedicionário para o ir buscar.
Oito homens comandados por um capitão. A
tarefa parecia absurda. O seu objectivo não era
derrotar os nazis alemães, mas ir à procura de um
colega, sabendo que corriam o risco de eles próprios
perderem a vida para o salvar. Mal partiram para a
expedição, os soldados começaram a protestar
contra o sentido de tudo aquilo. A certa altura
resolvem perguntar ao capitão se ele concordava ou
Associação de Estudos Superiores de Empresa
z
não com a missão. O que pensaria o líder do grupo?
A resposta é magistral e mostra a fibra de quem
comanda: «[…] as queixas fazem-se aos superiores.
Não seria à vossa frente que me iria queixar.» A
mensagem ficou clara para todos. Não os queria
desmoralizar ainda mais ou dar motivos para que a
missão não fosse cumprida. Mas um dos soldados
insistiu e tornou a perguntar: «Imagine que não era o
nosso capitão. O que é que achava?» E ele então
respondeu: «Diria que é uma excelente missão,
merecedora de todos os meus esforços, e tenho muita
pena pela mãe do soldado Ryan […]». Os outros
soldados ficaram a admirar ainda mais o seu capitão.
Apesar de ele ter evidentes dificuldades físicas,
nunca as revelou ao grupo, para que não se sentissem
fragilizados. Queria inspirar segurança e sempre agiu
com firmeza, depois de reflectir e de se informar sobre
cada situação em concreto. Procurou conhecer os seus
homens e no final dará a vida por eles, lançando-se
sem medo contra os inimigos.
Foram muitas as dificuldades encontradas, mas
a missão cumprira-se!
Tópicos de análise:
1. Aceitar uma missão implica assumi-la como
própria.
2. Conhecer os colaboradores é essencial para
saber o que pode exigir a cada um.
3. Um líder abre horizontes em vez de encerrar
o grupo em angústias.
4. A confiança inspira-se por acções práticas e
não por palavras teóricas.
Administração: Calçada de Palma de Baixo, 12 – 1600-177 LISBOA – Tel.: 21 722 15 30 – Fax: 21 722 15 50 – E-mail: [email protected]
"Pr
ecisamos
"Precisamos
de mais crianças",
diz a Alemanha
Um anúncio gigante a duas páginas completas
apareceu no domingo 30 de Dezembro na imprensa
alemã. Vê-se um bebé nos braços da sua mãe no
banheiro. O texto diz: «Foste um acidente, um
pequeno acidente, um percalço. Realmente,
descuidámo-nos por um momento. Mas tudo correu
bem, muito bem! Não podia ter ocorrido nada
melhor! Toda a gente pode ficar a saber: A culpa é
nossa!»
Este anúncio é um dos doze que irão
aparecendo até ao mês de Maio em toda a imprensa
alemã para fomentar uma mudança de clima mental
que consiga uma maior aceitação das crianças na
sociedade alemã. Além dos anúncios impressos, todos
os dias, pelas 19.58, surge um spot de dois minutos
de duração nas televisões mais importantes do país.
As bonitas imagens do anúncio são acompanhadas pela seguinte explícita e directa declaração:
«Fazes com que fiquemos doidos. Choras a noite
toda. Urinas na cama. Surgem os teus primeiros
dentes e tens logo a seguir sarampo. Primeiro a
creche, depois a escola... Sim, fazes com que
estejamos imensamente felizes. A tua aquisição é
gratuita. Depois torna-se cara. Precisas de tempo e
espaço. "Custas-nos" os sapatos novos, a televisão
grande e as férias no mar. Não és um luxo, não tens
preço. Há muitos motivos para não ter filhos, e o
melhor para o ter, és tu. Não podes falar e explicas-nos o mundo. Não podes correr e ajudas-nos a dar
um salto. Aprendes tanto todos os dias e ensinas-nos
muito mais. Mostras-nos que nunca é má altura, mas
sim a melhor para te recebermos. Tens pai e mãe e
precisamos de todo o país para poderes crescer de
forma feliz. Não estás sozinho, és a nossa tarefa mais
valiosa. Fazes de duas pessoas uma família, da
PANORAMA
habitação mais pequena, um lugar de jogo e de
aventuras, e de macarrão e molho de tomate, uma
refeição festiva.»
E o anúncio conclui com esta frase rotunda:
«Precisamos de mais crianças como tu, porque sem
ti o presente não é divertido e o futuro já passou.
Tu és a Alemanha [Du bist Deutschland].»
Esta assombrosa campanha (www.du-bistdeutschland.de) é financiada por diversos meios de
comunicação social privados (ARD, ZDF, SAT1, RTL,
Kabel eins, Vox, n-tv, N24, Premiere), que formaram
uma sociedade de responsabilidade limitada para
assegurar que se cumpra o objectivo da campanha.
Participam diversas personalidades da vida pública,
apresentadores de televisão e desportistas, como
Reinhold Beckmann, Johannes B. Kerner, Florian
Langenscheidt, Peter Maffay, Henry Maske, Nina
Ruge, Eva Padverg ou Renate Schmidt, que têm uma
participação gratuita nesta campanha. Empresas
como a Deutsche Post, a E.ON, etc., asseguram o
financiamento do projecto. Por outro lado, importantes grupos editoriais, como o Axel Springer ou o
WAZ-Mediengruppe, oferecem espaços gratuitos para
os anúncios. E, por último, mais de cem emissoras
de rádio, o Google, uma empresa de publicidade em
cartazes nas ruas e uma empresa de cinema
contribuem para a difusão da mensagem.
Crianças de toda a Alemanha contribuíram para
exprimir os seus pensamentos sobre uma Alemanha
com um presente e um futuro feliz, e expressaram-nos em desenhos. Várias agências de marketing e
publicidade colocaram gratuitamente as suas equipas
à disposição da campanha.
É uma volta copernicana. Em 1971, a porta-voz
do feminismo alemão, Alice Schwarzer, lançou, com
a ajuda da revista Stern, uma campanha com a capa
cheia de mulheres famosas, que apareciam sob o
lema «Eu abortei». Mais tarde, algumas disseram que
na realidade não o tinham feito, mas queriam
celebrar a possibilidade de o poder fazer, após a
liberalização da lei na Alemanha. De facto, o cálculo
oficial é que, desde a liberalização, houve 4 milhões