Scientific Journal of Natural Medicine - 2º Número

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Scientific Journal of Natural Medicine - 2º Número
Vol. nr.: II | Semestral
SCIENTIFIC JOURNAL OF
NATURAL
MEDICINE
REVISTA CIENTÍFICA DE MEDICINA NATURAL
JULHO / 2014
Centro de Investigação em Medicina Natural
Instituto Português de Naturologia
notas prévias
Índice
SCIENTIFIC JOURNAL OF NATURAL MEDICINE
REVISTA CIENTÍFICA DE MEDICINA NATURAL
Notas Prévias
Maria Manuela N. da Costa Maia da Silva
Editorial
Rui Miguel Freitas Gonçalves
3
4
Hábitos de Ingestão de Água
Em crianças do 3º e 4º ano do 1º ciclo do
Concelho de Santarém
O Papel da Fáscia na Medicina Chinesa
Parte 1
5
16
Aplicação da Anestesia com Acupuntura
numa Endodontia - Estudo de Caso
30
A Acupuntura no Tratamento de DTM
e Dor Orofacial
38
A Acupuntura Anestésica
60
Membros do Conselho Científico
(Resumo Curricular)
85
Diretor:
Professora Doutora Maria Manuela N. da Costa Maia da Silva
Conselho Científico:
Professora Doutora Ana Cláudia Barreira Nunes
Professora Doutora Ana Cristina Esteves
Professora Doutora Ana Cristina Estrela de O. C. Cordeiro
Professor Doutor António José Afonso Marcos
Professor Doutor Arménio Jorge Moura Barbosa Professor Doutor Carlos Manuel Moreira Mota Cardoso
Professor Doutor João Paulo Ferreira Leal Doutor José Maria Robles Robles
Professor Doutor Luis Alberto Coelho Rebelo Maia
Professora Doutora Maria Isabel do Amaral A.V. P. de Leão
Professora Doutora Maria Manuela N. da Costa Maia da Silva
Professor Doutor Miguel Tato Diogo Doutor Rui Miguel Freitas Gonçalves
Editor:
Doutor Rui Miguel Freitas Gonçalves
Depósito legal:
Os artigos são da responsabilidade dos seus autores.
São reservados todos os direitos.
Toda a reprodução, desta revista, seja qual for o meio, sem
prévia autorização, é ilícita e incorre em responsabilidade
civil e criminal.
Julho/2014
Publicação Semestral
Edições: Centro de Investigação em Medicina Natural Instituto Português de Naturologia
E-mail: [email protected]
F
oi divulgado, pela OMS, no início deste ano de 2014, um importante documento intitulado
– WHO Traditional Medicine Strategy 2014-2023 – ( "Estratégia da OMS para a Medicina
Tradicional 2014-2023" ). Neste documento assinala-se, entre outros aspetos, a necessidade de
"estimular a pesquisa estratégica em MT&C, através da disponibilização de apoio para projetos de
investigação clínica sobre segurança e eficácia".
Ainda, de acordo com este documento, no que se refere à formação e pesquisa científica, faz constar que o número de Estados Membros que oferecem programas de formação de nível superior em
MT&C, incluindo licenciatura, mestrado e doutoramento, de nível universitário, aumentaram de apenas alguns, para 39 EM, representando 30% dos países participantes do documento (129 países membros). Quanto aos Estados Membros que desenvolvem pesquisa científica em MT&C, em institutos
nacionais, o aumento foi de 19 Estados em 1999 para 73 Estados Membros, em 2012.
Em Portugal, assinala-se a regulamentação das Terapêuticas Não Convencionais, que vêm reconhecer
a autonomia científica e profissional em determinadas áreas naturológicas.
Estamos, sem dúvida, a atravessar tempos de grande mudança na história da Medicina Natural. Estamos crentes que esta revista está no bom caminho no que se refere à dignificação do estudo e da prática clínica em MT&C. Aberto a todos os investigadores e clínicos estudiosos, o Centro de Investigação
em Medicina Natural, a que está associada a Revista, está pronto para aceitar os futuros desafios da
nova era da abordagem da saúde.
Agradecemos a todos os colaboradores e desafiamos os especialistas em Medicina Natural em investigar e partilhar o conhecimento para que possamos fazer parte dos números a apresentar em 2023,
pela OMS.
Está lançado o desafio.
Parceiros e Projetos:
Normas para Publicação
88
e-medico+
A Diretora
Maria Manuela Nunes da Costa Maia da Silva
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editorial
HáBITOS DE INGESTÃO DE ÁGUA
Em Crianças do 3 e 4º ano do 1º ciclo do Concelho de Santarém
“Knowledge is power. Information is
liberating. Education is the premise of progress, in every society, in every family.”
(Kofi Annan)
A
necessidade humana de conhecimento é, por resultar da constante evolução humana, em si
mesma infindável. Assim sendo é de forma orgulhosa que lançamos o segundo número da
Scientific Journal of Natural Medicine. Continuamos a pretender erguer o edifício do conhe-
cimento na área da Medicina Natural e com isto contribuir para a informação do publico em geral contribuindo para a evolução no que diz respeito à sua implementação na sociedade Portuguesa e Europeia.
Neste número podemos contar com trabalhos de investigação de alta qualidade sobre problemáticas atuais
Catarina Maia, Fernanda Reis, Diogo Maia, Eunice Figueiredo, Hélio Simões, Ana Martins,
André Carvalho, Tatiana Brito e Ana Sofia Mil-Homens *
[email protected]
Resumo:
Objectivo: caracterizar os hábitos de ingestão de água em crianças do 3º e 4º ano do 1ºciclo do concelho de Santarém.
Metodologia: A população do estudo foi constituída pelas das crianças inscritas nos 3.º e 4.ºs anos, do
1.º ciclo das escolas do concelho de Santarém. Foi constituído um questionário de administração direta, de natureza confidencial com respostas fechadas. A análise estatística foi realizada através do programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) para Windows, após a recolha de todos os dados.
Resultados: Participaram 485 crianças, 96,3% com as idades compreendidas entre os 8 e os 10 anos e
3,5% com mais de 10 anos (um inquirido não respondeu, correspondendo a 0,2%). Dos inquiridos,
51,6% eram do sexo masculino e 48,2% do sexo feminino (um inquirido não respondeu, correspondendo a 0,2%). Verificou-se que a maioria das crianças não tem noção da quantidade de água ingerida
diariamente, bem como a totalidade dos inquiridos não bebe quantidade adequada e suficiente de
água por dia. Constatou-se um baixo consumo de água fora de casa, nomeadamente na escola, assim
como baixa ingestão de água na hora do exercício físico.
Conclusões: A implementação de programas de informação e sensibilização, junto da aludida comunidade escolar poderá prevenir eventuais repercussões de uma deficiente hidratação.
e relevantes na prática clínica em Medicina Natural, produzidos por profissionais reconhecidos da área.
É com entusiasmo que acolhemos trabalhos originais que visem elucidar os profissionais de saúde, a
comunidade científica e o público geral acerca da avaliação, validação, desenvolvimento e integração da
Medicina Natural com recurso a estratégias científicas robustas em que o rigor metodológico e formal é
de suma importância.
* Síntese curricular:
Catarina Maia, Fernanda Reis, Diogo Maia, Eunice Figueiredo, Hélio Simões, Ana Martins e André Carvalho
Alunos 2º ano de Naturopatia do Instituto Português Naturologia (IPN) - Pólo Lisboa
Aguardamos a sua contribuição,
Tatiana Brito
Docente de Naturopatia e Coordenadora no Instituto Português Naturologia (IPN) - Pólo Lisboa
O Editor
Rui M. Gonçalves, PhD
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Ana Sofia Mil-Homens
Nutricionista, Docente Responsável pela disciplina de Dietoterapia e Nutrição do Instituto Português Naturologia (IPN) Polo Lisboa
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■■ Introdução
A água é uma substância química indispensável à
vida. As adaptações críticas atravessam uma matriz de espécies, incluindo o homem. Sem água,
os seres humanos podem sobreviver apenas por
alguns dias. O organismo humano é formado em
média por cerca de 70 % de água, sendo a água
representativa de 75% do peso médio nas crianças
e 55% do peso médio em idosos (Evaristo Eduardo de Miranda, 2004). É portanto essencial para a
vida e a para a hemóstase célula (Barry M. Popkin,
D’Anci E. Kristene Irwin H. Rosenberg, 2010).
Sem água o organismo não funciona, uma vez que
a mesma é utilizada em várias funções fisiológicas, nomeadamente na digestão, na absorção e no
transporte de nutrientes, na realização de reacções
químicas e como solvente para os resíduos do organismo. A diluição dos resíduos permite reduzir
a sua toxicidade, facilitando o processo de excreção desses mesmos compostos do organismo
(Barry M. Popkin, D’Anci E. Kristene Irwin H.
Rosenberg, 2010).
A água, para além de fundamental na manutenção da temperatura corporal, constitui a base do
sangue e de todas as secreções líquidas, como as
lágrimas, a saliva e os sucos gástricos. O resultado da sua ingestão insuficiente é a desidratação da
pele, o enfraquecimento dos cabelos, as alterações
ao nível do funcionamento do trato digestivo, bem
como, por acumulação de substâncias, formação
de cálculos renais, biliares e hipertensão (Kathleen
M. Zelman, 2008). No caso particular das crianças,
as suas necessidades hídricas diárias destinam-se a
repor as perdas sensíveis, como a urina e fezes, e
insensíveis, como a água perdida por evaporação
através dos pulmões e da pele, decorrente de uma
actividade diaria com exercicio fisico (Gina Rubi,
Manuel Salgado, 2009).
6
Consequências de um consumo
de água deficiente
A correcção da hidratação traz de volta a energia
e a estamina perdidas;
Segundo o European Hydratation Institute, os humanos nem sempre respondem a sinais fisiológicos de sede, expondo-se, desse modo, aos nefastos
efeitos da desidratação. Esse facto pode depender
de vários fatores como o desconhecimento das
vantagens da ingestão de líquidos; esquecimento
de ingerir líquidos; não gostar do sabor da água;
ausência de sede; falta de água para beber; necessidade frequente de urinar e perturbações no local
de trabalho/escola. (European Hydration Institute, 2014; Professor Simon Thornton Université de
Lorraine), France, 2010) A desidratação pode ter
influência nas capacidades físicas e cognitivas dos
indivíduos. Uma perda de líquido equivalente a 1%
do peso corporal pode ser considerada suficiente
para diminuir as funções biológicas em 10%, uma
perda de 2% do peso corporal poderá resultar
numa diminuição de 20% e, por conseguinte, até
aos 10% de peso corporal, poderá ocorrer uma
perda de consciência no limite a morte (Vasey,
Christopher, 2006). Alguns estudos sobre a disponibilização de água, a crianças em idade escolar,
demostram a sua influência na atenção e atividade
cognitiva. (European Hydration Institute, 2014)
As pesquisas que envolveram crianças às quais foi
administrada água, nas quantidades adequadas,
mostram melhorias na atenção visual. No estudo
realizado por Benton e Burgess, a memória e o
desempenho foram melhorados com a hidratação
das crianças.
Algumas patologias poderão ter a sua origem na
falta ou deficiência do consumo adequado de
água, ao nivel das crianças, nomeadamente:
Obstipação – na presença de desidratação crónica, o reaproveitamento normal de líquidos do bolo
fecal nos intestinos pode ser excessiva, a fim de
compensar as deficiências hídricas do organismo.
Quando isto acontece, as fezes tornam-se duras e
difíceis de serem eliminadas. Com o aumento da
ingestão diária de água, é recuperada a humidade
normal necessária para uma eliminação eficiente.
Fadiga – a desidratação é responsável por um
abrandamento das reacções enzimáticas responsáveis pela produção de energia. O efeito não é
só sentido fisicamente com lassitude e prostração,
como também se reflecte no estado mental, caracterizado por falta de entusiasmo e alegria de viver.
Problemas respiratórios – as membranas mucosas do trato respiratório são levemente humedecidas como protecção contra partículas estranhas
(como pólen e pó) mas também para humedecer
o ar inspirado quando este é muito seco. Na desidratação, porções do trato respiratório secam,
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Distúrbios digestivos – o corpo produz cerca de
7 litros de sucos digestivos diariamente. No caso
de desidratação crónica, as secreções são menos
abundantes e os processos digestivos não se operam adequadamente, o que pode resultar em indigestão, gases, distensão abdominal, dor, náusea e
perda de apetite. Neste caso, beber água durante
o dia e antes das refeições assegura que existem
líquidos suficientes para a produção de sucos digestivos.
Gastrite e Úlceras – a fim de proteger as membranas mucosas dos ácidos digestivos, o estômago
secreta uma camada grossa de muco. Esta camada
é constituída por 98% de água e 2% de bicarbonato de sódio. Devido às suas propriedades alcalinas, o bicarbonato neutraliza os ácidos que tentam
corroer esta barreira protectora. Num estado de
desidratação, o estômago não tem à sua disposição água suficiente para produzir o muco, fazendo com que as membranas fiquem vulneráveis à
acção dos ácidos digestivos, provocando primeiro
uma inflamação e por fim, uma lesão nos tecidos
ou úlcera.
tornando-se menos permeáveis às trocas gasosas
e mais sensíveis aos ataques por agentes externos.
O resultado é uma propensão para tosses, alergias
e outros distúrbios respiratórios que desaparecem
uma vez que se optimize a hidratação.
Desequilíbrio ácido-base – de maneira a que
o organismo trabalhe da melhor forma possível,
deve haver um balanço interno entre substâncias ácidas e alcalinas. O estilo de vida e dieta da
maioria das pessoas têm a tendência a acidificar o
ambiente interno celular do corpo, o que pode originar inúmeros problemas de saúde. Esta acidificação é tornada pior com o consumo insuficiente
de água, que limita a redução de substâncias acidificante e produtos metabólicos normais, pelos
órgãos excretórios.
Excesso de peso e obesidade – uma teoria,
poucas vezes mencionada, para o que leva um indivíduo a comer mais do que as suas necessidades
fisiológicas, é a sede. Existem duas opções para satisfazer a sensação de sede, beber líquidos ou comer alimentos ricos em água. Se o indivíduo optar
pela segunda, vai receber os líquidos necessários
mas também um excesso de substâncias nutritivas
de que não precisa e que vão contribuir para o
aumento do peso. É dito que muitas vezes a sede é
confundida com a fome, uma razão possível para
tal é que ao comermos, podemos também saciar
a sede, o que pode gerar um ciclo vicioso, pois
quantos mais alimentos forem ingeridos, maior
é a necessidade de água para produção de sucos
digestivos e reação enzimática de transformação
desses alimentos. Além de redução do volume de
comida, uma maior ingestão diária de água vai traduzir-se numa estimulação dos processos metabólicos normais, que vão promover a perda de peso.
Eczema – as glândulas sudoríparas eliminam diariamente entre 6 a 7 decilítros de suor, a quantidade necessária para diluir as toxinas segregadas
de forma a não irritarem a pele. No caso de desi-
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dratação crónica, o volume necessário para a produção de suor é insuficiente, dando origem a um
suor mais concentrado e agressivo, tendo como
consequência irritação e inflamação cutânea,
acompanhada de vermelhidão, comichão, borbulhas e microlesões na pele.
Hipercolesterolemia – o colesterol, necessário
para a construção das membranas celulares, é
constantemente requerido pelas células. No caso
de desidratação, essa necessidade irá aumentar
substancialmente para evitar que as células percam
fluido intercelular excessivamente. Ainda que este
mecanismo compensatório evite males maiores,
um efeito secundário indesejável é o aumento de
colesterol na circulação sanguínea e todos os problemas de saúde relacionados.
Cistite e Infecções urinárias – caso as toxinas
contidas na urina não estejam devidamente diluídas, podem prejudicar as membranas urinárias,
criando microlesões que são por sua vez atacadas
por germes, que se multiplicam no local afectado
e originam infecções dolorosas.
Hipo e Hipertensão arterial – é graças à capacidade de vasoconstrição e vasodilatação dos
vasos sanguíneos que o sistema circulatório é tão
bem adaptado a mudanças no volume de sangue.
No entanto, estas capacidades podem ser usadas
de forma exagerada, o que pode resultar em problemas de saúde. Quando o corpo lida com um
volume sanguíneo diminuído causado por desidratação, os vasos contraem-se fortemente. Isto
assegura que o volume é suficiente para preencher
os vasos e capilares de forma a não haverem espaços vazios. Mas esta vasoconstrição defensiva
pode tornar-se permanente se o corpo sofrer uma
desidratação crónica e o resultado é a hipertensão crónica. Embora a falta de líquidos possa
originar hipertensão, o mesmo se pode dizer do
contrário, com a hipotensão. Esta condição aflige
pessoas cujas capacidades vasoconstritoras estão
8
diminuídas. Com um volume sanguíneo reduzido,
os vasos vão ser forçados a realizarem a contracção, uma necessidade que pode ser diminuída com
uma maior ingestão de água, de forma espaçada,
de maneira a não sobretaxar o sistema circulatório.
Problemas articulares – a cartilagem é um tecido
com um elevado teor de água. A sua função é proteger as superfícies dos ossos, impedido que nos
movimentos, haja fricção e dano. Um indivíduo
cronicamente desidratado irá, desenvolver uma
cartilagem mais fina. O resultado é um aumento
de atrito entre os ossos, causando inflamação e
dor. Para além disso, o aumento da concentração
de metabolitos tóxicos na circulação sanguínea e
nos tecidos celulares, causados pela desidratação,
vão aumentar a exposição das articulações a toxinas e outras substâncias irritantes.
O equilíbrio hídrico das crianças depende da acção da aldosterona e da hormona antidiurética.
Esta é responsável pela manutenção da osmolalidade plasmática entre 285 e 295 mOsm/Kg. (G
Rubino, M Salgado, 2009). De acordo com as recomendações Autoridade Europeia de Segurança
Alimentar (EFSA, 2010), as crianças com as idades compreendidas no presente estudo, deverão
realizar um consumo diário de 1600 ml/dia para
rapazes e raparigas entre os 4 e 8 anos, bem como
2100 ml/dia para rapazes e1900 ml para raparigas,
ambos entre os 9 e 13 anos.
A ingestão de água do ponto de vista das Terapias
Complementares
A Medicina Ortomolecular e a Naturopatia atuam
essencialmente ao nivel da prevenção primária e
encaram o paciente como um todo, ou seja, como
sendo um conjunto que deve funcionar em harmonia. Dessa forma é possível encontrar a origem
dos problemas e encontrar o caminho para a homeostase. Quando existem alterações metabólicas
(desequilíbrios orgânicos) que levam ao quadro de
“doença”, os nutrientes são utilizados de forma a
restabelecer o equilíbrio, através da utilização de Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2
substâncias e elementos naturais, onde se inclui a
água. A ingestão de água, em jejum, permite corrigir uma possível desidratação desencadeada no
período de sono. Cerca de 30 minutos antes das
refeições e/ ou após as refeições (cerca de duas
horas e meia depois de uma refeição) poderá auxiliar o funcionamento do aparelho digestivo, facilitar a transformação e assimilação dos nutrientes.
A hidratação antes e durante o exercício permite
repor as perdas resultantes do desgaste muscular e
suor (José Macieira, 2009).
■■ Objectivos do Trabalho
O presente estudo surge no âmbito do trabalho
final da disciplina de Dietoterapia e Nutrição, do
curso de Naturopatia, do Instituto Português de
Naturologia – Polo de Lisboa. O estudo foi realizado pelos alunos do 2º ano, com o objectivo
de caracterizar os hábitos de ingestão de água
em crianças do 3º e 4ºanos do 1º ciclo do Concelho de Santarém.
Algumas considerações foram tomadas em consideração na definição do objectivo deste estudo,
designadamente:
a) As crianças ativas que brincam quando está
calor, podem perder grandes quantidades de
água, através do suor, e por vezes estão tão distraídas a brincar e esquecem-se de ingerir água;
b) Alguns estudos (European Hydration Institute, 2014); indicam que a ingestão adequada de agua pelas crianças pode ajudá-las a ter
melhores resultados a nivel da aprendizagem,
aumentando os niveis de concentração e memória em curto prazo;
c) A Autoridade Europeia para a Segurança
dos Alimentos (European Food Safety Authority – EFSA, 2010) concluiu que a ingestão
de água recomendada em crianças entre 4 e 8
anos é de 1,600 ml/dia e de 2,100 ml/dias para
rapazes e 1,900 ml para meninas, ambos entre
9 e 13 anos.
d) Apesar de as Balanças Alimentares Portu-
guesas fornecerem estimativas do consumo, a
partir das disponibilidades dos alimentos e dos
Inquéritos Nacionais de Saúde fornecerem
informação sobre o consumo alimentar individual de alguns alimentos, estas informações
são insuficientes para se conhecer a real tendência do consumo e dos padrões alimentares
da população portuguesa, no caso particular
relativamente ao consumo de água (Lopes et
al., 2006).
■■ Material e Métodos
Foi elaborado um questionário de administração
direta, de natureza confidencial e com respostas
fechadas, o qual foi aplicado aos alunos dos 3.º
e 4.ºs anos, do 1.º ciclo das escolas do concelho
de Santarém. A seleção do concelho seleccionado
para o desenvolvimento deste estudo prendeu-se
com conveniência de residência dos alunos destacando-se a excelente colaboração e empenho,
manifestados pela Câmara Municipal de Santarém, nomeadamente pela Divisão de Educação e
Juventude, contribuindo desse modo, para o êxito
do trabalho realizado.
O trabalho de campo realizou-se no período compreendido entre os dias 26 de Maio e 5 de Junho
de 2014, tendo sido efetuado um pedido de autorização prévia aos respetivos Agrupamentos de
Escolas e tendo-se obtido o consentimento por
parte dos encarregados de educação. Foram distribuídos 1000 questionários, tendo sido recolhidos
485, que correspondem aos alunos cujos encarregados de educação autorizaram a participação no
presente estudo.
A amostra não inclui crianças com idades inferiores a 6-7 anos, na medida em que, em idades mais
jovens, as crianças não conseguem conceptualizar
a noção real de tempo e por isso a avaliação do
seu consumo alimentar tem que ser recordada
através das suas famílias (Livingstone, Robson,
& Wallace, 2004). Para além disso, embora tenho
sido contemplado o parâmetro da idades superior
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a 10 anos, este fator foi limitado com a determinação do ano escolar, pois acima desta faixa etária
as necessidades energéticas e nutricionais e hídricas aumentam consideravelmente ((Wrieden et al.,
2008). A análise estatística dos dados foi realizada
através do programa Statistical Package for the Social
Sciences (SPSS).
No questionário foram colocadas 16 perguntas
fechadas (cada uma, de escolha múltipla): Idade/
Sexo/ Bebes água?/Se não bebes água, que bebidas bebes?/ Qual a água que bebes mais?/ Qual é
a água que gostas mais?/ Qual a quantidade, mais
ou menos, de água que bebes por dia?/ Onde
bebes mais água?/ Qual a altura do dia em que
bebes mais?/ O que é que bebes às refeições?/
Costumas beber água da torneira em casa?/ Costumas beber água engarrafada em casa?/ Das
águas engarrafadas que existem, quais são as que
mais bebes?/ Escolhes sempre a mesma marca
de água engarrafada?/ Costumas encher garrafas
com água da torneira para levares contigo?/ Na
tua casa bebes água da torneira filtrada?
■■ Resultados e Discussão
Das 485 crianças participantes, 250 (51,6%) eram
do sexo masculino e 234 (48,2%) do sexo feminino (1 criança, correspondente a 0,2% não respondeu), bem como 96% das crianças apresentava
idades compreendidas entre os 8 e os 10 anos e
4% tinha mais de 10 anos.
 À pergunta “Bebes água?”: Das 485 crianças,
472 (97,5%) responderam afirmativamente e apenas 12 (2,5%) responderam que não.
Caracterização da amostra por idade:
-8 anos de idade: 100 (98%) crianças bebem
água e apenas 2 (2%), não bebem;
-9 anos de idade: 229 (95,8%) crianças bebem
água e 10 (4,2%) não bebem;
-todas as crianças com 10 anos de idade (126), assim como as crianças com mais de 10 anos de idade (17), responderam afirmativamente à pergunta.
10  31,8% das crianças inquiridas desconhecem a
quantidade de água ingerida.
Caracterização da amostra por idade:
-8 anos de idade: 11 (10,8%) crianças bebem 2 copos de água (0,4L), 25 (24,5%) crianças bebem 4
copos de água (0,7L), 17 (16,7%) crianças bebem 6 copos de água (1L), 17 (16,7%) crianças
bebem 8 copos de água (1,5L);
-9 anos de idade: 35 (14,6%) crianças bebem 2 copos de água (0,4L), 49 (20,5%) crianças bebem 4
copos de água (0,7L), 43 (18%) crianças bebem 6
copos de água (1L), 31 (13%) crianças bebem 8
copos de água (1,5L);
-10 anos de idade: 11 (8,7%) crianças bebem 2 copos de água (0,4L), 22 (17,5%) crianças bebem 4
copos de água (0,7L), 39 (31%) crianças bebem 6
copos de água (1L), 18 (14,3%) crianças bebem
8 copos de água (1,5L);
-> 10 anos de idade: 2 (11,8%) crianças bebem 2
copos de água (0,4L), 2 (11,8%) crianças bebem 4
copos de água (0,7L), 4 (23,5%) crianças bebem 6
copos de água (1L), 4 (23,5%) crianças bebem 8
copos de água (1,5L);
Caracterização da amostra por género:
-masculino: 34 (13,6%) crianças bebem 2 copos
de água (0,4L), 46 (18,4%) crianças bebem 4 copos de água (0,7L), 57 (22,8%) crianças bebem 6
copos de água (1L), 42 (16,8%) crianças bebem
8 copos de água (1,5L);
-feminino: 25 (10,7%) crianças bebem 2 copos de
água (0,4L), 52 (22,2%) crianças bebem 4 copos
de água (0,7L), 47 (20,1%) crianças bebem 6
copos de água (1L), 28 (12%) crianças bebem 8
copos de água (1,5L);
 À pergunta “O que bebes às refeições?”: 347
(71,5%) bebem água, 88 (18,1%) bebem sumos e
néctares, 38 (7,8%) bebem refrigerantes, 6 (1,2%)
bebem leite e 5 (1%) não bebem às refeições (1
não respondeu correspondendo a 0,2%).
Caracterização da amostra por idade:
-8 anos de idade: 82 (81,2%) crianças bebem
água, 15 (14,9%) bebem sumos e néctares, 2 (2%)
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bebem leite e 2 (2%) bebem refrigerantes;
-9 anos de idade: 171 (71,5%) crianças bebem
água, 48 (20,1%) bebem sumos e néctares, 15
(6,3%) bebem refrigerantes, 3 (1,3%) não bebem
às refeições e 2 (0,8%) bebem leite;
-10 anos de idade: 84 (66,7%) crianças bebem
água, 21 (16,7%) bebem sumos e néctares, 18
(14,3%) bebem refrigerantes, 2 (1,6%) bebem leite
e apenas 1 (0,8%) não bebe às refeições;
-> 10 anos de idade: 9 (52,9%) crianças bebem
água, 4 (23,5%) bebem sumos e néctares, 3
(17,6%) bebem refrigerantes, e apenas 1 (5,9%)
não bebe às refeições;
Caracterização da amostra por género:
-masculino: 166 (66,7%) crianças bebem água,
53 (21,3%) bebem sumos e néctares, 21 (8,4%) bebem refrigerantes, 6 (2,4%) bebem leite e 3 (1,2%)
não bebem às refeições;
-feminino: 180 (76,9%) crianças bebem água, 35
(15%) bebem sumos e néctares, 17 (7,3%) bebem
refrigerantes e 2 (0,9%) não bebem às refeições.
 À pergunta “Se não bebes água, que bebidas
bebes?”: 121 (24,9%) bebem leite. 83 (17,1%) bebem sumos e néctares, 28 (5,8%) bebem refrigerantes, 7 (1,4%) bebem chá e 7 (1,4%) bebem
outras bebidas.
 Inquiridos sobre o tipo de água engarrafada
que mais ingerem: 423 (87,2%) crianças responderam – água sem gás.
Caracterização da amostra por idade:
-8 anos de idade: 94 (92,2%) crianças bebem
água sem gás, 2 (2%) crianças bebem água com
gás, 1 criança respondeu que bebe água com sabores e apenas 1 criança ingere bebidas desportivas.
Neste grupo, apenas 4 crianças não ingerem água
engarrafada.
-9 anos de idade: 197 (82,4%) crianças bebem
água sem gás, 5 (2,1%) crianças bebem água
com gás, 4 (1,7%) crianças responderam que ingerem água com sabores, 12 (5%) crianças ingerem
bebidas desportivas. Neste grupo, 21 (8,8%) crian-
ças não ingerem água engarrafada.
-10 anos de idade: 117 (92,9%) crianças bebem
água sem gás, 3 (2,4%) crianças bebem água
com gás, 2 (1,6%) crianças responderam que ingerem água com sabores, 1 (0,8%) crianças ingerem
bebidas desportivas. Neste grupo, 3 (2,4%) crianças não ingerem água engarrafada.
->10 anos de idade: 14 (82,4%) crianças bebem
água sem gás, 1 (5,9%) crianças responderam
que ingerem água com sabores, 1 (5,9%) crianças
ingerem bebidas desportivas, 1 (5,9%) crianças
não ingerem água engarrafada.
Caracterização da amostra por género:
-masculino: 214 (85,6%) crianças bebem água
sem gás, 7 (2,8%) crianças ingerem água com
gás, 6 (2,4%) crianças bebem água com sabores,
10 (4%) crianças ingerem bebidas desportivas e 13
(5,2%) não bebe água engarrafada.
-feminino: 208 (88,9%) crianças bebem água
sem gás, 3 (1,3%) ingerem água com gás, 2
(0,9%) água com sabores, 5 (2,1%) crianças ingerem bebidas desportivas, 16 (6,8%) não bebe água
engarrafada.
 Inquiridos sobre o número de vezes que enchiam a garrafa de água em casa: 72 (28,8%)
rapazes responderam que enchiam a garrafa de
água muitas vezes, 89 (35,6%) responderam às
vezes, 50 (20%) enchem a garrafa poucas vezes
e 39 (15,6%) nunca enchem a garrafa com água.
Em relação às meninas: 83 (35,5%) enchem a
garrafa com água muitas vezes; 66 (28,2%) enchem apenas às vezes, 51 (21,8%) enchem poucas
vezes e 34 (14,5%) nunca enchem.
 Para aquelas crianças que responderam ter
água filtrada em casa, foi-lhes perguntado onde
bebiam mais água: 150 (71,9%) responderam
que bebiam mais água em casa, 54 (24,4%) responderam na escola, apenas 8 (3,6%) ingerem
água, noutros locais.
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 11
Considerando as recomendações da EFSA, que preconizam um consumo diário de água, para as crianças
com as idades compreendidas no presente estudo, de 1600 ml/dia para rapazes e raparigas entre os 4 e 8
anos, bem como 2100 ml/dia para rapazes e 1900 ml para raparigas, ambos entre os 9 e 13 anos. O presente
estudo verificou que uma grande parte dos participantes (31,8%) não tem noção da quantidade de água ingerida diariamente e, por outro, a totalidade dos participantes não bebe quantidade adequada e suficiente de
água por dia, como se pode ver no gráfico apresentado em baixo.
“em casa”, sendo que, apenas 24,02% afirmaram beber mais água na escola. Este facto suscita a necessidade
de uma análise mais cuidada deste assunto. Considerando que uma boa hidratação é importante para a saúde
física e mental, e que o cérebro representa apenas 2% do peso corporal, mas recebe 20% do fluxo sanguíneo
(European Hydration Institute, 2014); quando o organismo se encontra desidratado, o volume de sangue
diminui, existindo uma possivel diminuição da quantidade de oxigénio e dos nutrientes vitais ao cérebro.
Assim, a realização de tarefas físicas e mentais poderá ser afetada negativamente. De acordo com (European
Hydration Institute, 2014), a perda de cerca de 1-2% do peso corporal – desde 500 ml a 2 litros – pode fazer
com que as crianças se sintam menos alerta, com dificuldades de concentração, mais cansadas e com cefaleias.
Um dado relevante do estudo prende-se com a ingestão de água durante o exercício físico. No âmbito da
pergunta: “em que altura do dia bebes mais água”, embora 47,11% dos inquiridos afirmasse beber água
durante todo o dia, apenas 18,8% das crianças afirmaram fazê-lo durante o exercício físico, como se pode
constatar no Gráfico 2.
Gráfico 1 – Distribuição de respostas à pergunta
“Qual a quantidade, mais ou menos, de água que bebes por dia? (n=485)”
Torna-se ainda importante referir, neste contexto, que, de acordo com o European Hydratation Institute, a
avaliação cognitiva da disponibilidade de instalações sanitárias pode desempenhar um papel na decisão sobre
quando e onde ingerir líquidos, apesar da presença dos sinais fisiológicos da sede.
Estudos recentes (Simon Thornton, 2010; Bonnet F et al, 2012; Stookey JD et al, 2012) demonstram que
uma elevada osmolaridade urinária, em crianças em idade escolar quando chegam à escola, constitui um
sinal de desidratação, sugerindo que um acesso limitado às instalações sanitárias poderá ser um dos factores
que influencia as crianças quanto à altura de ingestão de líquidos. Poderá sugerir-se que, nos seres humanos,
parece existir uma forma de controlo cognitivo na resposta aos sinais de sede e que talvez esta capacidade de
se sobrepor aos sinais de sede leve a que, a longo prazo, exista uma incapacidade de detetar os sinais de sede
corretamente, fazendo com que alguns indivíduos permaneçam hipohidratados durante longos períodos de
tempo ao longo da vida (Simon Thornton, 2010). De acordo com os resultados obtidos neste estudo, relativamente à questão sobre o local onde os participantes bebem mais água, 72,05% das crianças respondeu
12 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2
Gráfico 2 – Distribuição de respostas à pergunta
“Qual a altura do dia em que bebes mais? (n=485)”
Como referido, a desidratação que se produz durante o exercício físico, pode ser reduzida ou evitada através
da ingestão de quantidades suficientes de água durante ou antes das atividades físicas, momento em que se
produz a perda de água. Durante o exercício, a ingestão de líquidos deve ser regular, mas a frequência da ingestão e a quantidade consumida dependem de fatores, como a intensidade e duração do exercício e as condições meteorológicas, bem como as características físicas do indivíduo, incluindo o peso corporal e as características individuais de sudação (European Hydration Institute, 2014); Em climas muito quentes e húmidos, os
desportos de exterior devem ser realizados no início da manhã ou no final da tarde, e é recomendável evitar
esforços físicos desnecessários durante as horas mais quentes do dia (European Hydration Institute, 2014).
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 13
Estes dados serão relevantes no âmbito do planeamento das aulas de educação fisica nos horarios
escolares. Quando se pratica exercício por curtos
períodos de tempo ou a baixa intensidade, como
é o caso das crianças que compõem o universo do
inquérito aqui analisado, a ingestão de água é uma
opção perfeitamente adequada.
■■ Conclusão
Apesar das limitações do presente estudo, nomeadamente, a falta de caracterização social, económica e grau de escolaridade dos projenitores dos
inquiridos, a limitação da amostra a uma determinada área geográfica e terem sido consideradas válidas todas as respostas dos inquiridos, foi possível
constatar a relevância do tema junto desta faixa
etária. Não se pretende, que o presente estudo se
baste a si mesmo, muito pelo contrário. Pretendemos que ele seja um ponto de partida para posteriores estudos e investigações sobre uma matéria
que pautamos de particular importância, quer na
área da prevenção, quer do tratamento de diversas
patologias. Esta preocupação tem vindo a ser manifestada ao nivel da Europa, estando a Comissão
Europeia, a levar a efeito uma consulta sobre a
política da água potável da UE, de forma a verifi-
car onde é possível efectuar melhorias (Comissão
Europeia, 2014)
A constatação, no presente estudo, de um baixo
consumo de água fora de casa, nomeadamente
na escola, da baixa ingestão de água na hora do
exercício físico e do facto de a maioria dos inquiridos não ter noção da quantia de ingestão diária de
água, poderá constituir um indicador da necessidade de um reforço de informação e sensilibilização para este tema, junto da comunidade escolar,
de forma a prevenir eventuais repercussões de
uma deficiente hidratação.
O acompanhamento aos alunos e respectivas famílias, no que respeita aos hábitos de ingestão de
água e o planeamento do consumo de água em períodos em que se acentue a actividade física e mental, poderá constituir uma aposta numa estratégia
eficaz de promoção da ingestão adequada de água
entre as faixas etárias dos alunos do 3ºe 4º anos
do 1º ciclo, inclusivamente através da inclusão
deste tema nos programas curriculares, associando a actividades estimulantes, e ao mesmo tempo
educativas nesta área. Deste modo um Naturopata
poderá surgir como elemento contribuinte na delineação, implementação e avaliação dessas mesmas
estratégias.
PALAVRAS-CHAVE:
Água, Crianças, Hábitos de consumo, Nutrição, Naturopatia.
14 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2
║║
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 15
O PAPEL DA FÁSCIA
na Medicina Chinesa
Parte 1
Paola Augusta Kemenes
[email protected]
Resumo:
Durante décadas a comunidade científica vem buscando encontrar a explicação científica para o funcionamento da acupunctura, e a falta de respostas durante este tempo trouxe a esta prática milenar
um olhar de desconfiança do Ocidente. Na última década, com a evolução dos estudos sobre o tecido
conjuntivo e seu papel no organismo, muitos pontos começam a ser esclarecidos. Esta revisão mostra
em 2 partes, as mais recentes descobertas que colocam a fáscia como a base física e energética para
o funcionamento da acupunctura. Nesta 1ª parte apresentam-se os estudos sobre o papel da fáscia
no DeQi e na localização dos pontos de acupunctura e em uma próxima edição a 2ª parte mostrará
a revisão sobre o trajecto dos meridianos. Com esta informação, mostra-se a acupunctura por uma
visão palpável e compreensível para a mente ocidental relacionando esta prática milenar a estruturas
anatómicas, mostrando assim que o uso da acupunctura pode estar perfeitamente inserido na prática
da medicina moderna.
■■ Introdução
Há mais de 100 anos atrás, quando o Ocidente
descobriu a Medicina Tradicional Chinesa, ou
quando Andrew Taylor Still fundou a Osteopatia (Still abriu a American School of Osteopathy em
1892), a fáscia era vista somente como um tecido
de proteção e sustentação, um tecido que envolvia
outros tecidos. Na verdade, em latim clássico o
termo “fáscia” significa banda (um longo e estreito pedaço de material). O estudo da fáscia não avançou durante muito
tempo já que sua observação em cadáveres estava
longe de refletir a complexidade do seu papel no
organismo. Na verdade a própria fragilidade da
fáscia, sendo um tecido finíssimo tornava quase
impossível um estudo mais aprofundado.
* Síntese curricular:
Licenciada em Engenharia Zootécnica pela Universidade Estadual Paulista Especialização pela Universidade do Arizona.
Mestrado em Genética Molecular pela Universidade de São Paulo. Diplomada em Massagem e Medicina Chinesa pelo Instituto Português de Naturologia. Terapeuta da área de massagem e acupunctura.
16 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2
Nas últimas décadas do século XX, a quantidade
de estudos sobre a fáscia aumentou significativamente, sendo que estes estudos nos mostraram
que este tecido tem um papel bastante mais complexo e abranjente no organismo, sendo essencial
para o crescimento e suporte do mesmo. No primeiro International Fascia Research Congress em 2007,
a fáscia foi definida como: “a componente de tecido
mole do tecido conjuntivo que permeia o corpo, formando
uma matriz contínua, tridimensional que dá suporte estrutural a todo o corpo. Ele interpenetra e envolve todos
os órgãos, músculos, ossos e fibras nervosas, criando uma
integração para o funcionamento dos sistemas do corpo.”
(Findley & Shalwala, 2013)
A fáscia promove suporte mecânico, movimento,
transporte de fluidos, transporte celular, controla o metabolismo em outros tecidos e fornece
ao corpo globalidade. Ao conectar todo o corpo
em uma rede única sem interrupções, a fáscia é
o tecido capaz de transmitir informações a longa distância. O equilíbrio e a integridade da fáscia
refletem-se na homeostase do organismo ou no
desequilíbrio do mesmo.
Provavelmente o termo globalidade, ou rede única
sem interrupções, ou ainda outros termos indicando a capacidade deste tecido percorrer todo o
corpo chamou a atenção de alguns membros da
classe científica, especialmente os ligados a estudos de circulação de energia no corpo e os ligados
a terapias manuais e holísticas.
Em 2000, em seu livro Energy Medicine, James Oshman diz que a trama do tecido conjuntivo é uma
rede de comunicação semicondutora que pode
transportar sinais entre todas as partes do corpo,
e ainda tem a capacidade de gerar energia já que
cada movimento e cada compressão do corpo faz
com que a grade cristalina do tecido conjuntivo
gere sinais bioelétricos. Assim qualquer movimento do corpo produz e faz circular energia e informações. (Oschman, 2000)
Esta capacidade condutora da fáscia desperta a
atenção de outro grupo de pesquisadores: aqueles que há décadas vinham tentando perceber o
mecanismo de funcionamento da acupunctura no
organismo, sem conseguir esclarecer totalmente
este mecanismo.
Não é nenhuma surpresa que o Ocidente tenha
dificuldade em aceitar qualquer metodologia que
não possa ser explicada em termos palpáveis. Li
Ping, em seu livro “El Gran Libro de la Medicina China” diz sobre este assunto: “enquanto no
Oriente os conceitos podem ser abstratos, no Ocidente existe uma necessidade de bases palpáveis e
científicas para que qualquer método de trabalho
tenha credibilidade” (Li Ping, 2002)
A fáscia, segundo mostram os estudos mais recentes (Myers, 2009; Findley, 2012; Langevin,
2009), pode ser uma espécie de “elo perdido” nos
estudos sobre o funcionamento da acupunctura,
esclarecendo alguns conceitos em uma linguagem palpável, de fácil compreenssão para a mente
ocidental, o que auxilia sobremaneira a aceitação
desta metodologia nos países Ocidentais, especialmente pela comunidade médica.
Com os dados obtidos nestes estudos mais recentes, pode-se dizer que a fáscia (rede de tecido conjuntivo) é a estrutura física por onde passa o Qi. É
sobre este tecido que estão localizados os canais
energéticos ou meridianos, e quando algo não está
bem com a fáscia o organismo irá estar em desequilíbrio (Langevin e Yandow, 2002).
Em condições normais a fáscia deve ser flexivel e
deslizante. As restrições e aderências na fáscia que
podem ocorrer por stress, traumatismos, más posturas, etc, tornam a fáscia mais rígida e encurtada,
levando a dor, restrição de movimentos e mau
funcionamento dos órgãos. Qualquer problema
na fáscia afeta e muitas vezes cria problemas de
saúde para os quais não existe qualquer explicação
dentro dos métodos de diagnóstico da Medicina
Ocidental.
Os desequilíbrios da fáscia não aparecem em exames e métodos complementares de diagnósticos,
e podem ser a razão pela qual, já há milhares de
anos a Medicina Chinesa saber avaliar os desequilíbrios do corpo antes mesmo destes tornarem-se
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 17
perceptíveis. Assim, apesar da acupunctura e das
descobertas mais recentes sobre o tecido conjuntivo e seu papel no corpo estarem separados por
milhares de anos, a acupunctura e a fáscia parecem
estar intimamente relacionadas.
cas demonstraram que nas regiões dos acupuntos existem numerosos ramos nervosos,
plexos e terminações neurais. Estes estudos
falharam porém na compreenção das estruturas envolvendo os meridianos.
■■ A Acupunctura e o Ocidente – A
Necessidade de Confirmação
2. Modelo neuroquimico ou neurohumoral
– envolve o efeito mais estudado da acupunctura, o efeito analgésico. Este modelo mostra
que a acupunctura estimula a produção de
substâncias como endorfinas e serotoninas ou
estimula a ligação destas substâncias a seus receptores, no entanto, a sua explicação para os
efeitos sistémicos da acupunctura carece ainda
de confirmação.
A acupunctura começou a ser praticada com mais
ênfase no ocidente a partir da década de 60, e a
medida que a acupunctura vai conquistando espaço como uma opção terapêutica, cresce o interesse
e a necessidade de explicar esta metodologia em
termos científicos. No ocidente o método científico visa dar objetividade as nossas observações
empregando a experimentação com controlo de
alguns parâmetros enquanto se investigam outras
variáveis.
Na área da saúde normalmente os estudos seguem
duas linhas: o estudo dos mecanismos de ação e
a eficácia terapêutica, e no caso da acupunctura
ambos trouxeram grandes dificuldades para a comunidade científica. Neste trabalho nos interessa
o papel da fáscia no mecanismo de ação da acupunctura e por isso os trabalhos sobre a eficácia
terapêutica poderão ser consultados em outras
fontes.
Até antes de 2000, os trabalhos existentes podem
a grosso modo ser divididos em 3 grandes grupos:
os estudos de anatomia; o modelo neuroquímico
e o modelo bioelétrico (Jayasurya, 1995; Lewith,
1985):
1. Estudos de anatomia – envolvendo normalmente dissecação anatómica, onde os cientistas procuraram relacionar a anatomia do corpo, tanto macroscópica como microscópica,
em busca de estruturas que correspondessem
aos meridianos e aos pontos de acupunctura.
Diversos trabalhos conseguiram relacionar
grande parte dos pontos de acupunctura com
o sistema nervoso. Observações microscópi-
18 3. Modelo bioelétrico – este modelo surgiu
quando as análises anatomicas foram incapazes de explicar os meridianos da acupunctura
e seu trajecto. O modelo bioelétrico revelou
que as áreas cutâneas onde se situam os pontos de acupuntura, assim como a trajetória dos
canais energéticos, apresentam maior condutividade elétrica. A base deste modelo foi a já
descoberta ligação dos pontos de acupunctura
com áreas de concentração do sistema nervoso. O funcionamento do sistema nervoso, cria
um campo eletromagnético, pois a condução
dos impulsos nervosos envolve uma grande
movimentação de íons a pequenas distâncias e
cargas elétricas oscilando que geram um campo eletromagnético. Apesar de estes modelos de estudo evidenciarem
e esclarecerem algumas das propriedades terapêuticas da acupunctura, longe estão de substanciar
muitos dos resultados obtidos pelos acupuntores.
Por exemplo, o modelo bioeléctrico não é capaz
de explicar porque o sinal causado pela estimulação de um ponto de acupunctura chega ao córtex
visual no cérebro mais rapidamente do que seria
capaz através dos circuitos neurológicos conhecidos, mostrando que provavelmente o sinal utiliza
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2
outras vias de transmissão (Mattos, 2010).
Uma série de estudos no final do século XX seguem mostrando o papel do tecido fascial na acupunctura, e os cientistas viram aqui uma possibilidade de através desta relação responder a dúvidas
no mecanismo de funcionamento da acupunctura
que nunca tinham ficado totalmente clarificadas
nos modelos de estudo usados anteriormente.
Esta revisão pretende mostrar estes novos conceitos e novas relações entre o conhecimento Ocidental e a filosofia Oriental.
■■ A Fáscia
A palavra fáscia, usada no singular por ser um tecido único, representa um conjunto membranoso
muito extenso no qual tudo está ligado em continuidade, uma entidade funcional que traz globalidade ao organismo. Este tecido se espalha por
todo o corpo, formando uma rede ou teia contínua desde o alto da cabeça até a ponta dos dedos
dos pés, envolvendo fibras musculares, grupos
musculares, vasos sanguíneos, nervos, e todos os
componentes do corpo, desde grandes órgãos até
a mais pequena célula formando o tecido conjuntivo, que representa 70% dos tecidos do corpo
humano (Bienfait, 2004). Promove suporte mecânico, movimento, transporte de fluidos, transporte celular, controla o metabolismo em outros
tecidos e fornece ao corpo globalidade. É preciso
ter a noção inequivoca que este tecido fornece integridade ao organismo, sem a qual seríamos um
aglomerado de células e tecidos desorganizados e
sem comunicação entre si.
O tecido conjuntivo é formado pelas células do
tecido conjuntivo e por sua matriz extracelular,
sendo que ao contrário de outros tecidos como
a pele, ou os músculos que dependem prioritariamente das suas células constituintes, as propriedades do tecido conjuntivo dependem principalmente da quantidade, tipo e organização da sua
matriz extracelular, formada por fibras (colágeno
e elastina), proteinoglicanos, glicoproteinas e líqui-
do lacunar. Com exceção do líquido lacunar, todas
as outras substâncias são sintetizadas pelas células do próprio tecido conjuntivo, os blastos, cuja
nomenclatura varia dependendo da localização do
tecido (osteoblastos, fibroblastos, condroblastos,
etc.) (Bienfait, 2004; Culav et al., 1999).
A matriz extracelular formada então pelas proteínas estruturais fibrosas (colágeno e elastina), pelas
glicoproteínas adesivas e pelo gel de proteinoglicanos, é mais abundante que as próprias células
do tecido conjuntivo. É a matriz que determina as
propriedades físicas do tecido e a forma do mesmo em cada local e regula a actividade de suas
próprias células. Essencial ainda é que a matriz
extracelular distribui as tensões dos movimentos e
da gravidade pelo corpo, gerando equilíbrio ou desequilíbrio, ou na linguagem da Medicina Chinesa
saúde ou doença.
■■ Colágeno e Elastina
O colágeno e a elastina são as duas fibras principais da matriz extracelular. A proporção entre
colágeno e elastina varia dependendo da localização do tecido conjuntivo, sua função principal e
estímulos externos sobre este tecido.
A elastina, proteína de longa duração, é estável e
tem baixa taxa de renovação. É responsável pela
maior parte da elasticidade dos tecidos permitindo
aos seus filamentos deformarem-se quando tensionados, podendo estender-se 150% e retomar
sua forma anterior. Não é conhecido qualquer
mecanismo que estimule a produção de elastina,
mas sabe-se que a quantidade de elastina encontrada no tecido reflete a quantidade de stress mecânico imposto a este e a solicitação de deformação reversível (Culav et al., 1999).
O colágeno, proteína de curta duração, modifica-se a vida toda. É secretado de acordo com a
tensão produzida pelo tecido. Tensões mais prolongadas levam a deposição de colágeno em série
e assim os feixes de tecido conjuntivo ficam mais
longos, já tensões curtas e intermitentes densifi-
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 19
cam o colágeno e sua deposição dá-se em paralelo formando feixes conjuntivos mais resistentes
e compactos, porém com menos elasticidade.
Quanto mais feixes de colágeno o tecido tiver,
menos elástico ele será. De qualquer forma a capacidade de alongamento do colágeno é bastante
restrita, menos de 10% (Mattos, 2010).
Esta capacidade de modificação das fibras de
colágeno parece ser a grande responsável pelos
desequilíbrios no organismo, já que uma das características fundamentais da fáscia é que o menor
tensionamento, seja ele activo ou passivo, repercute sobre o conjunto. Todas as peças anatómicas do
corpo desta forma estão ligadas entre si. As fibras
de colágeno tornam-se mais densas numa tentativa de defenderem o tecido de tensões, e desta
forma o tecido fica mais sólido e menos elástico,
deixando de cumprir sua função mecânica e recebendo desta forma uma maior carga de tensões,
voltando a se densificar. Além da redução na mobilidade e na elasticidade, a densificação do colágeno deixa as fibras mais largas e reduz o espaço
extracelular prejudicando a circulação dos fluidos (Culav et al., 1999).
■■ Proteinoglicanos
Segundo componente mais abundante na matriz
extracelular. São macromoléculas solúveis com
um papel estrutural e metabólico. Algumas funções metabólicas importantes destas moléculas
são a hidratação da matriz, a manutenção da estabilidade da rede de colágeno e assim a habilidade
de resistir a forças de compressão (Bienfait, 2004;
Culav et al., 1999).
Os proteinoglicanos ligam-se de forma covalente
a uma ou mais cadeias de glicosaminoglicanos. As
cadeias de glicosaminoglicanos tem carga negativa e criam um potencial osmótico que faz com
que a matriz extracelular absorva água das áreas
envolventes o que auxilia na manutenção da hidratação da matriz, sendo que o grau de absorção vai
depender do número de cadeias de glicoproteínas
20 no tecido. O tecido conjuntivo vai ter mais destas
cadeias de glicoproteínas e portanto mais hidratação quanto mais sujeito for a cargas de compressão como é por exemplo o caso das articulações.
Desta forma os proteinoglicanos tem a função de
dar rigidez a matriz extracelular, resistindo a compressão e preenchendo espaços.
Existem fortes evidências mostrando que a alteração da fisiologia do tecido conjuntivo associada ao
stress mecânico, provoca uma mudança da quantidade e do tipo de cadeias de proteinoglicanos,
o que altera também a forma habitual do tecido
(Bienfait, 2004).
■■ Glicoproteínas e Integrinas
As glicoproteínas assim como os proteinoglicanos
possuem papel estrutural e metabólico no tecido
conjuntivo. Formam o muco de tecidos e secreções. Estas moléculas tem um importante papel
em promover a conecção entre os componentes
da matriz celular e entre o interior das células e a
matriz extracelular. Através deste papel, tem uma
importante função de regulação, sendo capazes de
promover mudanças não só no formato das células, como na proliferação e diferenciação celular (Ingber, 1998).
As integrinas constituem a principal família de
receptores da superfície celular que intervém na
fixação da célula à matriz extracelular. A importância das integrinas é reforçada pelas funções
que desempenham numa ampla variedade de
processos bilógicos. As integrinas transmitem
informações de tensão e compressão da matriz
extracelular para o interior das células inclusive
para o núcleo, e com isso regulam a organização
do citoesqueleto e modulam processos celulares
como proliferação e diferenciação celular, migração e posicionamento das células, ou simpesmente
o tamanho e formado das mesmas (Dieter, 2005).
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2
■■ Fluido Intersticial e Circulação
de Água Livre
O fluido intersticial preenche todos os espaços
livres entre as células do tecido conjuntivo, entre
os feixes de colágeno e entre a rede de elastina.
Este líquido, possui intensa actividade metabólica
com importante papel na nutrição dos tecidos e na
eliminação de substâncias. É a partir deste líquido
que se forma a linfa (Moore e Persaud, 2005).
Como foi colocado anteriormente, a densificação dos feixes de colágeno em resposta a tensões
constantes, reduz o espaço extracelular e consequentemente o volume disponível para a circulação do fluido intersticial.
Pelo fluido intersticial ocorre a circulação de água
livre, diferente da circulação de fluidos chamada
circulação de água associada. A circulação de água
livre é uma circulação rápida, que ocorre utilizando as mucinas hidrófilas dos feixes de colágeno
como “conductos”, uma vez que a fisiologia das
mucinas permite trocas osmóticas mediante alteração de densidade no meio interno. Marcell Bienfait diz sobre esta circulação: “...Não é ridículo
pensarmos que essa circulação vital poderia ser
a circulação energética dos acupuntores. Ambas
as circulações de água livre e de água associada,
dependem do movimento da fáscia e confirmam
a noção de globalidade deste tecido” (Bienfait,
2004).
■■ A Fáscia e a Sensação de De Qi
Um dos fenômenos ligados a prática da acupunctura e que intriga os cientistas há décadas é a chamada sensação de De Qi. Esta sensação é descrita
de muitas formas pelos pacientes: na forma de
ardor, pressão, choque, calor, etc e muitos autores consideram o De Qi essencial para o resultado
positivo da prática da acupunctura. Enquanto o
paciente sente o De Qi, o terapeuta sente como se
o tecido em volta da agulha se tivesse contraído e
segurasse a agulha com mais força, sendo que este
efeito biomecânico do De Qi pode ser chamado
de compressão da agulha (needle grasp 1) (Helms,
1995).
Durante algum tempo a explicação fisiológica para
a compressão da agulha era a contração da musculatura esquelética (Gunn e Milbrandt, 1977) o
que entretanto não era suportado pelos resultados
quantitativos das pesquisas, já que a compressão
da agulha acontecia mesmo em locais onde não
há musculatura esquelética como no pulso ou em
punturas superficiais apenas atingindo a pele. No
início dos anos 2000, Helene Langevin e sua equipa na Universidade de Vermont, começaram a trabalhar com uma nova proposta: a de que o tecido
envolvido na compressão da agulha era o tecido
conjuntivo (Langevin et al., 2001).
Langevin propôs que a compressão da agulha
se dá porque as fibras de colágeno e elastina do
tecido conjuntivo se enrolam e comprimem a
agulha durante a rotação da mesma. Desta forma
uma ligação mecânica entre tecido e agulha é estabelecida e um sinal mecânico é transmitido. A
subsequente tradução deste sinal mecânico para a
resposta celular pode explicar os efeitos locais e
distais da acupunctura.
O enrolar das fibras do tecido conjuntivo ao redor
da agulha, resulta numa grande ampliação da conexão mecânica entre a agulha e o tecido conjuntivo no local da inserção. Existe porém logo
no início da inserção, uma força que estimula as
fibras a começarem a se enrolar na agulha, sendo que esta força parece ser derivada da tensão
superficial da agulha, somada a atração elétrica
(Langevin et al., 2001). Uma vez que o tecido
conectivo é formado por células envolvidas pela
matriz extracelular contendo fibras de colágeno
e elastina associadas a glicoproteinas e proteinoglicanos de carga negativa (Aumailley e Gayraud,
1998), a atração elétrica deve ocorrer entre o metal
da agulha e as cargas do tecido. Esta força de atra1 Nos trabalhos científicos utilizados neste capítulo o termo utilizado
pelos autores é “needle grasp”, que traduzi como compressão da agulha
na falta de um termo mais correcto, já que o termo grasp ilustra melhor
a capacidade do tecido em envolver a agulha durante o estímulo da acupunctura.
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 21
ção é fraca, mas com força suficiente para iniciar o enrolamento das fibras na agulha especialmente dado ao
pequeno diâmetro da mesma.
Uma vez que a agulha de acupunctura esteja acoplada ao tecido, os movimentos feitos na agulha enviam
um sinal através do tecido conjuntivo pela deformação da matriz extracelular como mostra a Figura 1 e a
Figura 2.
Langevin observou que depois da manipulação da agulha, as fibras de colágeno estavam mais retas, mais próximas e mais paralelas. É esta alteração no formato das fibras que causa uma transmissão de sinal mecânico
através da matriz extracelular e através do citoesqueleto dos fibroblastos e de outras células do tecido que
sofrem uma reorganização activa, este sinal atinge o interior das células, o que deve contribuir para os efeitos
terapêuticos da acupunctura (Lavengin et al, 2007). A reorganização do citoesqueleto em resposta ao sinal
mecânico recebido pela matriz extracelular pode induzir contração celular, migração ou síntese de proteínas
(Maniotis et al., 1997).
A tradução do sinal mecânico para o interior das células com a subsequente resposta celular e seus efeitos em
cadeia, podem explicar o porquê dos tratamentos de acupunctura terem efeitos que duram por muitos dias
ou semanas, ou mesmo resolvem o problema de forma permanente.
Figura 2: Formação de uma espiral no tecido conjuntivo com a rotação da agulha em tecido conjuntivo observado ao
microscópio. Os números de 0 a 7 mostram o número de rotações efectuadas na agulha (Langevin e Yandow, 2002).
Além da acupunctura, outras formas de terapia manual tem a capacidade de causar deformação no tecido
conjuntivo, e assim produzir um sinal mecânico pelo tecido. Uma das técnicas dentro da Medicina Chinesa
com esta capacidade além da acupunctura é o Gua Sha, usado pelos terapeutas para aplicar força de compressão ao paciente. Esta aplicação de força concentrada e localizada não é possível apenas com as mãos. A
estimulação mecânica feita neste caso nos tecidos moles, resulta em uma produção de factores mecânicos de
crescimento que activam e modificam células musculares e o tecido conjuntivo (Findley et al., 2012)
■■ A Fáscia e os Pontos de Acupunctura
O ideograma Chinês que representa o ponto de acupunctura também significa “buraco”, o que dá a idéia
que os pontos são como fendas no tecido onde a agulha pode penetrar mais profundamente e ter acesso a
componentes mais profundos do tecido (O’Connor e Bensky, 1981) (Figura 3).
Figura 1: A imagem da esquerda mostra a inserção da agulha no tecido conjuntivo e a
direita mostra que com a rotação da agulha as fibras de colágeno representadas pelo amarelo enrolam-se na agulha. Os fibroblastos são atraídos por este sinal mecânico e o sinal chega ao
citoesqueleto representado pela área rosa escuro da figura (Langevin et al., 2001).
Figura 3: ideograma Shu simplificado, usado de
maneira geral para representar todos os pontos do
corpo. O termo Shu tem diversas representações e
diversos significados. (Zhang, 2006)
22 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 23
Os textos de acupunctura mais recentes relacionam a localização dos pontos a estruturas anatómicas e medidas específicas, mas apesar destas referências a melhor forma de encontrar o ponto exacto é através da
palpação, durante a qual o acupuntor procura por uma depressão leve ou mesmo pela sensação de ceder do
tecido a uma pressão suave (Langevin e Yandow, 2002).
Tradicionalmente a acupunctura é feita em pontos específicos do corpo, os pontos de acupunctura ao longo
de meridianos descritos á milhares de anos. Muitos destes locais como os estudos anteriores mostram residem sobre lâminas de tecido fascial entre os músculos ou entre músculos e tendões. Seguindo esta estrutura,
quando a agulha é inserida no ponto correcto, irá penetrar primeiro através da derme e tecido subcutâneo
e em seguida no tecido conjuntivo intersticial, enquanto que por outro lado se a agulha for inserida fora do
ponto correcto irá penetrar a derme e o tecido subcutâneo e depois chegar a uma estrutura como um osso
ou um músculo, como mostra a imagem na Figura 3
Figura 3: O ponto VB 32 (Zhongdu) situado no tecido conjuntivo de conexão entre os músculos
bíceps femoral e vasto lateral, e em preto o ponto de controle. Da mesma forma na figura da
direita o IG 14 (Binao) entre os planos fasciais e o ponto de controle (Lavegin e Yandow , 2002)
Helene Lavegin analisou imagens de cortes transversais do braço com a localização de pontos dos 3 meridianos Yin que por aí passam (Coração, Pulmão e Pericárdio) e dos 3 meridianos Yang (Intestino Grosso,
Intestino Delgado e Sanjiao) e verificou que 80% dos pontos de acupunctura deste meridianos localizam-se
em clivagens de planos fasciais, onde a agulha ao ser inserida encontrará uma maior quantidade de tecido
conjuntivo em relação aos pontos de controle.
James Fox junto com Helene Lavegin, em 2008 (Fox et al., 2008) fez um estudo através de imagens de ultrasom durante a puntura no ponto VB 32 (Zhongdu) e num ponto controle próximo (Figura 3). Para evitar
qualquer alteração mecânica na puntura, a mesma foi feita de forma computadorizada, por isso sempre igual
em todos os locais.
Os resultados deste trabalho mostraram que a capacidade das fibras do tecido conjuntivo se enrolarem na
agulha de acupunctura é maior no ponto de acupunctura em relação ao ponto controle, e que o estímulo
mecânico criado pela agulha, se propaga por mais tempo e a maior distância no ponto de acupunctura.
24 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2
■■ A Fáscia e o Trajecto dos Meridianos
Os meridianos tão procurados por anatomistas,
parecem afinal estar relacionados a linhas miofasciais de tensão criadas ao longo do corpo.
Este tema ficará para a 2ª parte desta revisão, onde
se irá destacar o trabalho de dois autores que parecem ser se não os únicos, mas os primeiros a
desenvolver um conceito mais profundo relacionando a fáscia com a regulação e movimentação
do corpo, assim como com o equilíbrio do corpo
de forma global.
Phillip Beach é um Osteopata australiano que na
década de 80 começou a estudar Medicina Tradicional Chinesa e desenvolveu alguns conceitos
interessantes sobre os meridianos da acupunctura.
Em seu livro “Muscles an Meridians – The Manipulation of Shape”, Beach diz que os meridianos são
linhas que parecem não seguir nenhuma estrutura
anatómica, alguns seguem em linha reta, outros
em zigue-zague. Nesta altura este autor já sugeria que os meridianos deveriam seguir as linhas da
fáscia, porém ele próprio comenta que uma vez
que a fáscia está em toda a parte, naquela altura
esta afirmação acabava significando zero. (Beach,
2010)
Uma década depois, outro terapeuta, Thomas
Myers que nos anos 90 ensinava Anatomia Miofascial no Instituto Rolf começou a exclarecer o
paradigma de Beach e mostrar que apesar da fáscia
estar em todo o corpo e em cada célula, a possibilidade de relação com os meridianos da acupunctura era real. Myers começou a desenvolver
junto com seus alunos um trabalho exaustivo na
área das cadeia miofascia. Nesta altura todos os
livros mostravam a teoria de músculos individualmente, mas Ida Rolf dizia sempre que tudo estava
conectado através da fáscia. Este trabalho resultou na publicação em 2001 da primeira edição de
seu livro “ Anatomy Trains”. Myers, desenvolveu as
relações diretas e indiretas entre músculos e movimentos, e no seu trabalho mostra que estes “meri-
dianos” ou trilhos miofasciais formam linhas pelo
corpo por onde são distribuidas trações, tensões,
fixações, compensações e a maioria dos movimentos do corpo. Ao todo Myers descreve 12 linha
tensionais que se interconectam e dão sustentação
biomecanica a todo corpo2. (Myers, 2009)
Um dos fundamentos básicos utilizados por
Myers para definir os trilhos miofasciais foi a direcção e profundidade das fibras fasciais encontradas. Segundo ele, os trilhos miofasciais devem
prosseguir em uma direção e profundidade consistente através de conexão directa pela membrana fibrosa ou indirecta, conectadas por meio de
uma junção óssea interposta. Mudanças bruscas
de direção ou profundidade acabariam por anular
a capacidade do trilho miofascial em transmitir a
tensão para o próximo elo da cadeia. Segundo a
noção de globalidade da fáscia, qualquer lesão no
trilho miofascial pode gerar problemas em toda a
cadeia e atrapalhar a transmissão de tensão. Em
termos clínicos, ele conduz a um entendimento
diretamente aplicável de como problemas dolorosos em uma área do corpo podem estar ligados
a uma região totalmente “silenciosa” e até certo
ponto distante desse problema. Dessa forma o conhecimento dos trilhos permite ao terapeuta definir uma estratégia de tratamento global em todo o
trilho afetado, uma estratégia holística.
O conceito de que a fáscia conecta o corpo como
um todo em uma trama sem fim não é antagônico ao conceito músculo – osso apresentado na
descrição anatómica usual, ao contrário, é complementar. Quando uma parte do corpo se movimenta, o corpo responde como um todo e funcionalmente o único tecido ao qual se pode atribuir essa
resposta é o tecido conjuntivo.
Phillip Beach corrobora este conceito em sua teoria de “campos contrácteis”, onde desenvolve
um modelo de compreensão biomecânica de todo
o corpo, não só da musculatura, mostrando que
2 Para evitar equivocos, uma vez que Myers chama suas linhas de meridianos miofasciais, neste trabalho as linhas de Myers receberão o nome
de trilhos e o uso do termo meridianos será exclusivamente para os meridianos da medicina chinesa.
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 25
cada célula individual tem elementos contrácteis,
já que tudo está envolvido pela fáscia, sugerindo
que desde a pressão sanguínea até a função dos
rins afeta os padrões de movimento e forma do
corpo. Desta forma o modelo de Beach segue menos a anatomia da fáscia (como o de Myers) e mais
a lógica dos movimentos, relacionando posturas
corporais com a facilidade em palpar os pontos
correspondentes a determinados meridianos da
acupunctura e sua relação superficial e profunda. Em seu trabalho Beach mostra ainda como a
punctura de certos pontos altera a posição subtil
do corpo e diz que a escolha dos pontos é uma
maneira de manipular a forma, sendo que forma e
função estão profundamente correlacionadas.
Ambos os autores citam-se mutuamente em seus
trabalhos e comentam não só a estreita relação
entre os conceitos que desenvolveram sugerindo-os como complementares, como ainda a relação
entre seus trabalhos e a Medicina Chinesa.
■■ Conclusão
Nesta primeira parte da revisão sobre o papel
da fáscia na Medicina Chinesa, pode-se ver que
apesar de a acupunctura e as descobertas mais
recentes sobre o tecido conjuntivo e seu papel no
corpo estarem separados por milhares de anos, a
acupunctura e a fáscia parecem estar intimamente
relacionadas.
Actualmente os estudos mostram que funcionalmente a rede de tecido conjuntivo não promove
apenas suporte para o corpo, mas também mantém o balanço do organismo ao regular os reflexos neurais, a actividade neuroendócrina, a imunidade e
através da reparação de danos em células e tecidos.
Desta forma coloca-se a hipótese de que existe um
sistema de auto vigilância no corpo humano que
difere essencialmente dos nove sistemas funcionais
(sistema digestivo, nervoso, respiratório, circulatório, estrutural, glandular, urinario, imunológico e
linfático) que regula através da fáscia o equilíbrio e
a homeostase do organismo (Wang, 2007).
26 Partindo-se do princípio que mesmo uma energia subtil precisa de um meio físico para fluir e
se manifestar, e baseado nos estudos que foram
apresentados, pode-se definir que a fáscia é a base
física por onde o Qi circula, e suas fibras são essenciais para a transmissão do sinal de acupunctura tanto em termos locais como à distância, podemos dizer que a condição da fáscia será essencial
para um bom fluxo de Qi no organismo.
Em termos funcionais, a fáscia molda e dá forma
ao corpo. A estrutura da fáscia aumenta a resistência, melhora a circulação sanguínea e absorve
choques, além de manter o corpo estruturado,
protegido e lubrificado. Permite que a estrutura
corpórea se mova facilmente, deslizando as lâminas fasciais uma sobre a outra à medida que nos
dobramos e nos movemos.
As restrições e aderências na fáscia e entre os tecidos adjacentes, como no caso de traumatismos,
stress, processos inflamatórios, cirurgias, más posturas, etc, torna a fáscia mais sólida e encurtada,
criando pressões em áreas sensíveis, levando à dor,
restrições de movimento e mau funcionamento
dos órgãos. Num trauma ou irritação o corpo cria
um tecido cicatricial para ajudar a reparar e a imobilizar a área, tal qual uma bandagem. Ela liga as
estruturas como se fosse uma cola e se torna parte
estrutural da fáscia. A porção da fáscia que fornece lubrificação para a mobilidade, agora pode tornar-se uma substância pegajosa e sólida. Isto pode
inibir a circulação do sangue e da linfa, reduzir os
movimentos do corpo, inibir a força dos músculos
e comprometer as funções orgânicas. O fluxo de
Qi será debilitado ou irregular e desequilíbrios irão
aparecer no organismo. Estudos mostraram que
pacientes com dores lombares crônicas possuem
a fáscia na região lombar mais densa e com fibras
mais desorganizadas do que pacientes sem dor
lombar (Langevin et al., 2009).
imobilizada, pode afetar outras áreas ou mesmo
afetar o corpo inteiro já que o suave fluxo de Qi
ficará comprometido. Da mesma forma quando
um bloqueio ou uma cicatriz é tratada, ela libera
o fluxo de energia, transmissão nervosa e circulação sanguínea.
A circulação de água pela fáscia é essencial para
a saúde do próprio organismo, assim como a hidratação da própria fáscia, uma vez que a matriz
extracelular deve estar banhada pelo fuido intersticial. Assim quando este aspecto do corpo não
está bem, surgem bloqueios e com eles sinais de
desequilíbrio do organismo. Edemas que surgem
pela imobilização, manchas na pele, espinhas, furúnculos, vermelhidão, são exemplos de estase do
líquido lacunar; dores agudas sem gravidade, dores que se irradiam ou ‘queimam’, a retração e o
encurtamento muscular, são bloqueios da fáscia.
Marcell Bienfait diz que a osteoartrose (densificação, calcificação e degeneração da cartilagem)
ocorre pelo mal funcionamento da bomba articular causada pela perda da elasticidade cápsulo-ligamentar-comum no processo de envelhecimento e
pela ociosidade do homem moderno. De facto o
próprio processo de envelhecimento do homem
é a densificação progressiva do tecido conjuntivo, reduzindo o volume dos espaços lacunares
e a circulação dos fluídos (Bienfait, 2004), o que
na Medicina Chinesa chamamos de vazio de Yin
causado pela idade e esgotamento dos fluidos orgânicos.
A acupunctura é capaz de proporcionar uma alteração no tecido fascial através do enrolamento
das fibras de colágeno ao redor da agulha e da cadeia de eventos gerados por esta transmissão de
sinal mecânico. Ainda está por ser determinado a
maneira como cada uma das diferentes formas de
manipulação da agulha de acupunctura afecta as
diferentes respostas celulares possíveis.
A conexão entre mente e corpo tão importante na
Medicina Chinesa e por tanto tempo deixada de
lado pela medicina Ocidental é fundamental para
o bom funcionamento da fáscia e consequentemente a boa circulação do Qi. Imagine-se no papel
dos pulmões tentando respirar plenamente numa
pessoa deprimida, curvada, sobre tensão. Imagine-se no papel dos rins tentando filtrar o sangue
quando os seus ductos e vasos internos tem o espaço limitado porque a postura está contraída ou
o corpo caído para baixo. Imagine-se no papel do
fígado tentando purificar o sangue e eliminar detritos tóxicos ou metabólicos enquanto seu dono
está frustrado, enrijecido e afundado na cadeira.
Ajustar a postura corporal, trabalhar a mente de
forma positiva otimiza todos os aspectos do fluxo
natural interior, o fluxo de Qi melhora quando se
relaxa a postura corporal e aquieta a consciência e
esta capacidade de trabalhar em conjunto corpo
e mente é fundamental na Medicina Chinesa, nas
Artes Marciais e em todas as terapias holísticas.
PALAVRAS-CHAVE:
Fascia, Tecido conjuntivo, Meridianos, Tensegridade, De-Qi.
Temos que nos lembrar que a fáscia é continua
ao longo do corpo, assim como a circulação de
Qi, assim quando uma seção dela se retrai ou fica
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 27
║║
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Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 29
■■ estudo de caso
■■ Definição de endodontia
Aplicação da anestesia
com acupuntura numa
endodontia
Paciente com nevralgia do trigémeo (NT) bilateral
Nuno Pacheco, André Santos *
[email protected], [email protected]
Resumo:
A paciente, uma mulher de 51 anos, apresentava um quadro clinico com diagnóstico raro de nevralgia do trigémeo (NT) bilateral com sintomatologia dolorosa na zona do dente 17. Foi realizada a
endodontia com a técnica anestésica por acupuntura e electroestimulação. Nenhuma outra forma de
anestesia química foi utilizada neste procedimento.
Tendo como base a teoria básica da MTC, o protocolo utilizado foi: ID18 (Quanliao), E3 (Juliao),
4IG (Hegu), ponto 20 VG (Baihui) e o ponto dente e Shenemen de auriculoterapia. A corrente elétrica escolhida foi a denso-dispersa, própria para analgesia.
Após 15 minutos, foram feitos os testes de sensibilidade (negativos), iniciou-se o procedimento endodôntico. A zona a tratar estava analgesiada e a dor da NT não foi ativada.
Conseguiu-se uma analgesia completa da zona a tratar, permitindo assim que o tratamento em causa
fosse realizado. Não foram registados os efeitos adversos da anestesia química por infiltração, nomeadamente, a boca dormente, alergia à anestesia química, dor pós operatória.
Num caso complexo como este de NT bilateral, a anestesia por electroacupuntura, foi a opção mais
vantajosa para a paciente.
■■ Nevralgia do trigémeo (NT):
breve resumo
* Síntese curricular:
Nuno Pacheco - Licenciado em Ciências religiosas, pela UCP, Diplomado em MTC, Aromoterapia, reflexologia, Auriculoterapia, pelo IPN, Formador na Área de MTC, às disciplinas de Estrutura de meridianos e localização de Pontos (EMLP) e
Nutrição e Dietética, na perspetiva oriental(NUD). Exerce funções de terapeuta de MTC em várias Clinicas Médicas e de
medicina Dentária, palestrante em congressos da área das terapêuticas não convencionais, autor de artigos em revistas da
especialidade, vice-Presidente da Assembleia Geral da Apsana.
André Santos - Diplomado em MTC, Shiatsu, reflexologia, Auriculoterapia, pelo IPN, Formador na Área de MTC às disciplinas de auriculoterapia, Shiatsu e acupuntura. Pós-graduação em acupuntura pelo IPN. Exerce funções de terapeuta de MTC
em várias Clinicas Médicas e de medicina Dentária, palestrante em congressos da área das terapêuticas não convencionais,
autor de artigos em revistas da especialidade; Presidente da Assembleia Geral da Apsana.
30 Endodontia é a ciência que envolve a etiologia, a
prevenção, o diagnóstico e o tratamento das alterações patológicas da polpa dentária e das suas repercussões na região periapical e, por consequência, no organismo (Leonardo, M.R., 2008).
Do ponto de vista etimológico, endodontia é
a especialidade da odontologia que se ocupa do
interior do dente, mais especificamente, de um
tecido conectivo muito especifico que só se encontra nos dentes, conhecido por polpa dentária
(Rodrigues-Ponce, 2003). É na parte da polpa,
onde se encontram as terminações nervosas e a irrigação sanguínea do dente, que se centra o maior
interesse da endodontia, também conhecida por
desvitalização, termo que por vezes está incorreto,
pois o dente já não tem vida.
O elevado grau de conhecimentos sobre as características anatómicas dos dentes e o aperfeiçoamento da técnica manual para compensar a
inacessibilidade visual que se tem do local a trabalhar, exige que a endodontia implique uma série
de fases que, a serem ignoradas, podem tornar um
tratamento endodôntico aparentemente simples,
em algo difícil e, muitas vezes, impraticável. (Bramante, M.B.,2004).
É de salientar que qualquer tratamento endodôntico pode apresentar complicações ou mesmo acidentes, que necessitarão de outro tipo de intervenções (Andretta, 2009).
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2
A nevralgia ou neuralgia do trigémeo apresenta
um quadro clinico típico e característico, que é difícil confundir com odontalgias (Loeser, 1985;Teixeira, 1997; Siqueira, 2003).
A NT é uma síndrome de dor cronica, caraterizada por paroxismos de dor excruciante nos lábios,
gengivas, bochechas, queixo e muito raramente na
região enervada pela divisão oftálmica do quinto
par craniano. A dor da NT afeta de maneira dramática a qualidade de vida dos pacientes acometidos (Alves, 2004).
A dor é desencadeada por toque em determinados
pontos, pontos gatilho, ou por ações como lavar
os dentes, mastigar ou pode mesmo ser espontânea. Pode ter uma frequência elevada, sendo capaz
de repetir até 100 vezes por dia, o que leva a uma
incapacidade total. A maioria dos pacientes define
a dor como que relâmpagos que atacam a face,
nomeadamente a zona da maça do rosto, perto do
nariz ou área da mandibula.
Muitas teorias foram propostas para explicar a fisiopatologia da NT, mas nenhuma explica todos
os aspetos clínicos desta condição. (Alves, 2004).
A NT tem um diagnóstico difícil, pois a ausência de testes laboratoriais e anátomo-fisiológicos
objetivos e o amplo espetro de síndromes de dor
facial, tornam esta patologia difícil de diagnosticar para não-especialistas (Alves, 2004). Segundo
Alves (Alves,2004), o diagnóstico da NT depende
estritamente da história clinica e pelo preenchimento dos critérios da IHS – International Headache Society (Quadro I) e da IASP – International Association for the Study of Pain.
No caso em estudo, a NT bilateral ainda é mais
rara, o que torna a recolha bibliográfica ainda mais
difícil. O tratamento médico da NT utiliza medicamentos antiepileticos (carbamazepina e oxcarbazepina, os de primeira escolha) e caso falhem,
poder-se-á recorrer a procedimentos cirúrgicos. ■■ Acupuntura e analgesia
Embora sendo uma medicina milenar, a acupuntura não se pôde incorporar no arsenal terapêutico
ocidental até relativamente pouco tempo (Gaudy,2006).
Os tempos mudaram e a pesquisa científica, aliada à publicação de vários estudos, fazem, hoje, da
acupuntura uma ferramenta eficaz e de grande
utilidade no campo da anestesia e, com particular
interesse e eficácia, na medicina dentária.
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 31
Reconhecida quer pela OMS quer por outros organismos internacionais, a acupuntura e a sua aplicação na analgesia tem vindo a crescer e os relatos
apresentados confirmam, mostrando evidências
científicas, a sua eficácia. Graças ao trabalho desenvolvido nos últimos anos, à realização de estudos e publicações de estudos efetuados segundo
as exigências da medicina baseada em evidências
(que, contudo, já não deve ter a pretensão de validar tudo: só reúne 20% do consenso médico) se
pôde incorporar a acupuntura em consultas hospitalares e médicas (Gaudy, 2006).
Não querendo fazer deste trabalho uma longa
abordagem científica exaustiva, tentaremos mostrar, através deste caso prático, a aplicabilidade,
com sucesso, da anestesia com acupuntura, na
endodontia, numa paciente com nevralgia do trigémeo bilateral.
Segundo a MTC a nevralgia do trigémeo pode
ter a sua origem na invasão de vento frio na face,
que pode ser facilitada por uma condição preexistente de deficiência de Qi e Xue (ROSS,2005). A
sua origem pode estar relacionada, também, com
problemas de dentes. Segundo Ferreira, (Ferreira, 2011), a MTC inclui a NT na dor facial e na
odontalgia, sendo consideradas na sua etiologia
as agressões pelas energias perversas vento/frio e
vento/calor ou por subida à extremidade cefálica do fogo interno que origina uma obstrução na
circulação de Qi e de Xue, causando dor; fogo de
fígado ou fogo de estômago, associados a raiva reprimida e preocupação, deficiência de Yin de Rim
ou a hábitos alimentares irregulares (Ross,2005).
O seu tratamento em MTC deve ter em conta
simultaneamente quer as ramificações do nervo
trigémeo e quer as causas da nevralgia de base do
diagnóstico em MTC.
Preparação da paciente
Após a recolha de dados da grelha elaborada, passamos para a preparação da paciente, tarefa levada
a cabo pela equipa. Numa primeira fase a medica
dentista abordou a paciente para a possibilidade
32 de se realizar a anestesia com acupuntura, facto
que a paciente aceitou. De seguida os terapeutas
de acupuntura explicaram todo o procedimento,
detalhadamente. Notou-se alguma apreensão inicial na paciente, que rapidamente, após a explicação de todo o procedimento, ficou mais descontraída e confiante no tratamento. De realçar que a
paciente nunca tinha realizado nenhum tratamento de acupuntura e o seu desconhecimento sobre
a terapia poderia ter ajudado a um “ certo medo”,(
palavras da paciente) e alguma desconfiança.
Já na sala onde se iria realizar a endodontia, foram colocadas as agulhas de acupuntura e ligadas
à máquina de electroestimulação. Foi aplicada
uma corrente denso-dispersa/analgesia. Durante
15 minutos a corrente foi sendo aumentada até
a paciente referir formigueiro na zona a tratar e
uma certa dormência (Ver correntes no ponto
4.3). Neste momento a médica dentista começou
a realizar alguns testes de sensibilidade e perante
os resultados iniciou o procedimento endodôntico no dente 17. Durante todo o procedimento foi
realizado shiatsu craniano à paciente, para relaxar.
Material Utilizado
O material utilizado foi escolhido pelas suas características mais especificas, nomeadamente o tipo
de agulha e a máquina de electroestimulação. Não
apresentaremos o material necessário para a parte
dentária, nem o material de esterilização, pois é suposto a sua utilização em qualquer procedimento
endodôntico, tais como luvas, máscaras e demais
acessórios.
O tipo de agulha utilizada foram agulhas filiformes com cânula da medida 0,25x25 mm e 0,13x18
mm de liga metálica e com revestimento de cobre, porque a condutividade é melhor, da marca
TEWA, de fabrico chinês e controlo de qualidade
alemão. Esta agulha permite uma inserção rápida,
indolor, na maioria dos casos, de grande resistência e com uma condutividade excelente.
A máquina de electroestimulação utilizada foi da
marca Hwato, modelo SDZ-IV, digital, de seis ca-
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2
nais de saída, com 3 correntes pré-defenidas: corrente de tonificação, corrente de dispersão e corrente denso-dispersa, a utilizada neste caso. O modelo em causa é dos mais atuais do mercado e ofereceu as garantias
exigidas neste trabalho em clinica.
Protocolo de pontos selecionados
A seleção de pontos foi criteriosa, tendo em conta o objetivo principal, a analgesia. Contudo, o facto de a
paciente sofrer de nevralgia do trigémeo bilateral, também pesou na escolha dos pontos de acupuntura.
Tal como diz Jeremy Ross (Ross,2005) a combinação de pontos aqui escolhida não tem a intenção de ser uma
fórmula fixa. São dadas como diretrizes passíveis de modificação de acordo com as necessidades individuais
do paciente e estilo do terapeuta (Ross, 2005).
Certo é que a combinação proposta tem como princípios teóricos de combinação a base da teoria da medicina tradicional chinesa (MTC). Foi ainda utilizado pontos da auriculoterapia, como auxiliar da analgesia.
O protocolo por nós proposto é o seguinte:
ID18 (Quanliao), E3 (Juliao) , 4IG (Hegu), ponto 20 VG (Baihui) e o ponto dente e shenemen de auriculoterapia.
Foto 1: Localização dos pontos de acupuntura (imagem real do caso em estudo)
A escolha destes pontos teve como principal preocupação a analgesia e a patologia da paciente, Nevralgia
do Trigémeo bilateral. Porque se trata de uma área anatómica restrita, não utilizamos muitos mais pontos
que, segundo as suas ações em MTC, poderiam ser úteis num tratamento distinto da patologia da paciente.
Como pontos locais, escolhemos o ponto 18 do ID e o ponto 3 do E.
O ponto 18ID – Quanliao - tem a sua localização na borda inferior do arco zigomático, perpendicular-
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 33
mente abaixo do ângulo externo do olho, na margem anterior do músculo masséter (Jarney, 2010).
A profundidade de inserção foi de 0,3 a 0,5 Cun,
(Yu-Lin Lian,2005) obliqua, em direção à zona a
analgesiar. Este ponto tem como indicações a síndrome dolorosa miofascial (síndrome de Costen),
nevralgia do trigémeo, espasmo facial, dor dentária, sinusite maxilar, transtornos gnatológicos. Na
MTC a sua ação torna-o importante nos transtornos faciais do vento-frio e vento-calor e alivia a
dor (Ross, 2005).
O ponto 3 do E - Juliao localiza-se abaixo do
arco zigomático, diretamente abaixo do 1E, ao
nível da extremidade inferior da asa do nariz, no
músculo zigomático menor e, mais profundamente, no levantador do ângulo da boca (Yu-Lin
Lian,2005) (Jarney, 2010). A inserção foi de 0,2 a
0,5 cun, obliqua em direção à zona a analgesiar.
As suas principais indicações são: congestão nasal, sinusite e dor na bochecha (Jarney, 2010), no
entanto, pode ser utilizado na paralisia facial e na
nevralgia do trigémeo (Ross, 2005).
O ponto 4 IG – HEGU, ponto Yuan – fonte,
tem inúmeras variações para a localização, sendo
recomendada a palpação da área inteira à procura
dos pontos mais reativos (Jarney, 2010). No entanto a localização padrão mais comum é nas costas da mão, ao lado do ponto médio do segundo
osso metacárpico, no músculo abdutor do polegar
(Yu-Lin Lian,2005). Segundo Jarney ,2010, a localização padrão é o centro do músculo, entre o
primeiro e o segundo osso metacárpico, no ponto
mais alto da saliência do músculo interósseo dorsal quando o polegar está aduzido, no nível do
ponto médio do segundo osso metacárpico (Jarney, 2010).
Por causa desse efeito extremamente poderoso
sobre o corpo e a mente, o IG4 talvez seja o ponto de acupuntura mais usado de todo o corpo e
tem sido empregue na maioria das doenças e sin-
34 tomas (Jarney, 2010)). Este ponto é considerado
um dos pontos mais importantes do corpo para
a anestesia (combinado com pontos nas orelhas),
pois move fortemente o Qi estagnado e descende
o yang excessivo, aliviando, dessa forma, a dor e
acalma a mente (Jarney, 2010). Trata-se do ponto
distal mais poderoso para tratar desordens da face,
boca e órgãos sensoriais (Jarney, 2010). Nas suas
capacidades de tratamento podemos incluir uma
lista bastante alargada de ações. Aqui apresentaremos as que mais se adequam a este caso: dor
facial, nevralgia do trigémeo (Ross, 2005), dor de
dente, dor e rigidez da mandíbula (Jarney, 2010).
A inserção foi de 0,5 a 0,8 cun perpendicular (Yu-Lin Lian,2005).
Electroestimulação:
tipo de correntes e
frequências e duração
A partir de 1934 são efetuados os primeiros testes
de acupuntura com electroestimulação. Na década
de 40 e 50, médicos japoneses começam a trabalhar com a electroacupuntura. Segundo Silvério-Lopes( Silvério-Lopes,2007), a justificativa, é a
premissa de que somados os estímulos da agulha
e da electricidade há um maior efeito analgésico,
mediado por opióides endógenos. O desenvolvimento desta técnica evolui muito nas últimas
décadas, sendo cada vez mais utilizada a electroacupuntura nas mais diversas áreas: dor, estética,
psiquiatria, anestesia. A corrente usada neste caso
foi a Denso-Dispersa, a mais apropriada para a
analgesia. Trata-se de uma corrente com dois tipos
de pulsos, onde um utiliza uma corrente tonificadora e outro, uma corrente que dispersa, sendo a
sensação no paciente, um período de estímulo e
outro de repouso, provocando assim uma maior
libertação de opióides ou neuropétideos opióides
endógenos que modelam o processo bioquímico
da analgesia(Silvério-Lopes, 2007).
Sendo um processo gradual, de baixa intensidade
e frequência até atingir a analgesia, definimos o
procedimento segundo o quadro seguinte:
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2
frequência
intensidade
tempo
Corrente
Denso-dispersa
10 hz
10 hz
5 MIN.
Primeiros sinais de
formigueiro
30 hz
15 hz
5 MIN.
Efeito analgésico ativo.
Inicio do procedimento
endodôntico
50 hz
20 hz
7 MIN.
60 hz
25 hz
5 MIN.
80 hz
30 hz (tOLERADA
PELA PACIENTE)
Até final do procedimento endodôntico
No início do processo, a corrente foi baixa para que a paciente se ambientasse, subindo gradualmente até à
primeira sensação de formigueiro na zona a tratar. Após os primeiros 10 minutos de electroestimulação a paciente referiu os primeiros sinais de formigueiro, aumentando-se a frequência e a intensidade para valores de
50hz e 20hz, respetivamente. Após 15 minutos de electroestimulação, foram realizados os primeiros testes de
sensibilidade: toque, frio. Os testes foram negativos à sensibilidade. Iniciou-se o procedimento endodôntico
aos 20 minutos já com uma frequência e intensidade de 60hz e 25hz, respetivamente.
O procedimento endodôntico decorreu sem problema, a paciente nunca referiu dor nem desconforto. A frequência e a intensidade foram aumentadas até ao limite de 80hz e 30hz, respetivamente. A electroestimulação
foi desligada após a conclusão do procedimento endodôntico.
A corrente denso-dispersa garantiu que todo o tratamento decorresse dentro dos parâmetros normais de
analgesia, isto é, não foi sentida qualquer dor, nem desconforto. Em relação à NT, não houve sinais de ativação, nem antes nem depois do procedimento endodôntico.
Resultados verificados
Os resultados verificados confirmaram que a anestesia através da acupuntura funcionou. A paciente nunca
revelou dor, mantendo-se durante todo o tratamento bem, confiante e sem revelar qualquer tipo de desconforto. A dor de ativação da NT não foi registada.
De salientar que não foi usada qualquer anestesia química, ou qualquer outro método anestésico, à exceção
da anestesia por acupuntura e electroacupuntura, em todo o procedimento endodôntico.
Este decorreu sem intercorrências e foram realizadas todas as técnicas necessárias e especificas estabelecidas,
a priori, para este tratamento.
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 35
■■ Conclusão
A anestesia através da acupuntura e electroacupuntura permitiu realizar o procedimento endodôntico proposto para este caso clinico. Foi conseguida uma anestesia completa da zona a tratar e não foi ativada a dor da
NT. Não foram registados os efeitos adversos da anestesia por infiltração, nomeadamente, a boca dormente,
alergia à anestesia química, dor pós operatória.
Torna-se claro, que analisando em profundidade o caso a tratar, a anestesia por electroacupuntura, poderá
ser uma solução bastante eficaz e sem os efeitos adversos da anestesia química por infiltração. Serão precisos
mais casos para que os conhecimentos dos seus efeitos sejam divulgados e postos em prática. Uma dose
grande de desconhecimento, ou muitas vezes, falta de vontade, leva a que estes procedimentos anestésicos
complementares, sejam postos de parte. E nem se trata de um acréscimo significativo no valor monetário
dos tratamentos.
A anestesia através da acupuntura e electroacupuntura mostrou-se uma ferramenta de tratamento anestésico,
em odontologia, capaz de obter resultados bem significativos, merecedores de novos aprofundamentos e
novas áreas de aplicação.
Num caso complexo como este de NT bilateral, a anestesia por electroacupuntura, foi a opção que mais
vantagens trouxeram para a paciente. Os resultados obtidos são bastante animadores e capazes de, por si só,
merecerem mais atenção dos especialistas em odontologia.
║║
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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PALAVRAS-CHAVE:
Analgesia Dentária, Acupuntura, Eletroacupuntura, Nevralgia do Trigêmeo, Endodontia.
36 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 37
A ACUPUNTURA NO
TRATAMENTO DE DTM E DOR
OROFACIAL
Luís M. S. Viegas
[email protected]
Sérgio Ferreira
[email protected]
João Carlos Pinho
[email protected]
Resumo:
Os distúrbios temporomandibulares (DTM) e a dor orofacial são problemas que atingem grande
parte da população, relacionando-se quer com a região da articulação temporomandibular (ATM),
quer com outras estruturas da cabeça, face, pescoço e da cavidade oral.
O objetivo deste trabalho foi estudar a ação da Acupuntura, como especialidade coadjuvante, no
tratamento de DTM e dores orofaciais. Pretendeu-se verificar os principais sintomas num grupo de
pacientes com DTM e dores orofaciais, selecionar a terapêutica adequada a cada caso, com base nos
princípios de tratamento da Acupuntura – MTC, registando os resultados obtidos. Ficou demonstrado que a Acupuntura, quando direcionada para cada indivíduo, conduz a resultados satisfatórios no
tratamento dos DTM e dores orofaciais.
Síntese curricular:
Luís M. S. Viegas
Terapeuta/Profissional de Terapias Não Convencionais; Formação académica em Economia e Gestão; Diplomado em
Medicina Tradicional Chinesa, Biopuntura Homeopática, Aromaterapia, Massagem Ocidental e Desportiva, Shiatsu pelo
Instituto Português de Naturologia (IPN); Mestre de Reiki Essencial - sistema Usui; Formador na área das Terapias Não
Convencionais.
Sérgio Ferreira
Diplomado em Medicina Tradicional Chinesa na especialidade de Acupuntura, Instituto Português de Naturologia (IPN);
Doutor em Acupuntura, World Federation of Chinese Medicine Societies (WFCMS); Pós graduado em Acupuntura
e Moxibustão, Associação Médica Chinesa; Diplomado em Osteopatia, IPN; Diretor do Departamento de Medicina
Chinesa do IPN e docente nesta instituição.
João Carlos Pinho
Regente das Unidades Curriculares de Oclusão, ATM e Dor Orofacial da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto; Professor Associado com Agregação da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto.
38 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2
■■ Introdução
Avaliação do problema
e sua relevância
Os distúrbios temporomandibulares (DTM) e a
dor orofacial são problemas que atingem grande
parte da população e são causa, cada vez mais frequente, de consulta médica.
Por definição, dor orofacial é toda a dor associada
a tecidos moles (pele, vasos sanguíneos, glândulas,
músculos, estruturas nervosas) e mineralizados
(ossos, dentes) da cavidade oral e da face. A dor
relacionada com os DTM é um subgrupo comum
da dor orofacial, que com frequência é incorretamente referida como síndrome da ATM. De facto,
o termo DTM refere-se a problemas relacionados
com a ATM e / ou estruturas associadas (De
Leeuw, 2013; Ferreira, 2010). Usualmente, essa
dor pode ser referida na região da cabeça e / ou
pescoço ou mesmo estar associada a cervicalgias,
cefaleias primárias e doenças sistémicas como fibromialgia e artrite reumatoide. (De Leeuw, 2013)
O tratamento inapropriado da dor aguda pode
levar à dor crónica, mais complexa de resolver
com a terapêutica convencional. Com o objetivo
de otimizar o tratamento da dor crónica, torna-se importante perceber os mecanismos da dor, a
sua etiologia e patogénese, (De Leeuw, 2013) bem
como a utilização de tratamentos não convencionais, tais como a Acupunctura, especialidade integrante da Medicina Tradicional Chinesa (MTC).
Objetivos
A realização deste trabalho de investigação foi
norteada pelo objetivo de provar a relevância do
papel da Acupuntura como especialidade coadjuvante no tratamento de DTM e dores orofaciais.
Na referida investigação pretendeu-se verificar, de
entre os utentes da clínica da FMDUP, da Unidade
Curricular de Oclusão, ATM e Dor Orofacial, e
nos pacientes que se propuseram participar (em
diferentes graus), os principais sinais e sintomas
relacionados com DTM e dores orofaciais, sele-
cionar a terapêutica adequada a cada caso, com
base nos princípios de tratamento da Acupuntura
como especialidade coadjuvante, registar e analisar
os respetivos resultados.
■■ Revisão de Literatura
A anatomia que envolve
DTM e Dor Orofacial
Sumariamente, e reportando-nos apenas aos constituintes ósseos, a articulação temporomandibular
(ATM) é formada pela fossa mandibular e eminência articular (vertente posterior do túberculo
articular) do osso temporal e pelo côndilo da mandíbula, sendo considerada a mais complexa do
corpo humano. É classificada como uma diartrose
bicondílea pois é constituída por duas articulações, direita e esquerda, que não podem funcionar
separadamente.
Como permite, ao mesmo tempo, executar movimentos de rotação e de translação, também classificada como uma articulação ginglemoartroidal
(Okeson, 2013).
Anatomicamente, a ATM é constituída por várias
estruturas, nomeadamente, côndilo mandibular,
fossa mandibular, eminência articular do temporal, disco articular, cápsula articular, ligamentos e
músculos que se relacionam e/ou afetam a sua dinâmica (músculos elevadores, depressores e posturais). É a única articulação que possui no seu
interior um músculo, o pterigóideo lateral superior
(Okeson, 2013; Dawson, 2007).
Distúrbio Temporomandibular
e Dor Orofacial
Definição de DTM e Dor Orofacial
É consensual que os DTM têm uma etiologia multifatorial e podem comprometer a função mastigatória, a deglutição e a fala. Esta multifatoriedade
etiológica deve-se à atuação só, ou em combinação, de vários fatores que podem ser definidos
como fatores predisponentes, iniciantes ou perpetuantes. Dependendo das circunstâncias, um fator
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 39
pode integrar mais do que uma destas categorias
e/ou, num DTM ser um fator perpetuante. Enquanto noutro poderá ser um fator predisponente,
etc. Como fatores etiológicos, e no estado atual do
conhecimento, podem mencionar-se fatores oclusais, trauma, stress emocional, dor profunda e parafunção, para além dos fatores genéticos, biológicos e hormonais (Okeson, 2013; Prakash A, et al).
Dos sinais e sintomas que podem ser observados
nos DTM, a dor e a disfunção são os principais.
A dor orofacial pode apresentar multiplas origens
podendo estar associada a condições físicas (dores somáticas ou neuropáticas) e/ou associada a
condições psicológicas. A dor muscular é a principal queixa dos pacientes com patologia funcional muscular, em que poderá existir restrição dos
movimentos mandibulares, podendo haver alteração da posição postural da mandíbula. Pode estar
associada à função (mastigação, deglutição e fala),
que pode ser agravada pela palpação manual dos
músculos. Existem diversos tipos de distúrbios
musculares relacionados com os DTM, nomeadamente co-contração de proteção, miosite, mialgia
de mediação central, miospasmo, e dor miofascial
(originada por pontos de gatilho musculares).
No que diz respeito à disfunção mastigatória,
a sua causa mais comum pode estar relacionada
com desarranjos internos do complexo côndilo/
disco, incompatibilidades estruturais das superfícies articulares e distúrbios inflamatórios da ATM
e estruturas associadas.
Frequentemente surgem sinais, como os ruídos
articulares, antes de haver qualquer sintomatologia dolorosa, pelo que são, muitas vezes, ignorados
pelos pacientes. Nestas circunstâncias, por norma,
não se efetua tratamento. No entanto, o doente
deve ser avaliado periodicamente e alertar o médico dentista, caso surja sintomatologia dolorosa
concomitante.
40 Abordagens terapêuticas para o tratamento
de DTM e Dor Orofacial
O tratamento para os DTM e para a dor orofacial
não tem reunido um grande consenso. Não existe uma forma única de os tratar, sendo necessária
uma abordagem multidisciplinar (Dionne, 2006;
Okeson, 2013; De Leeuw, 2013).
A terapêutica farmacológica para o tratamento da
sintomatologia dolorosa é muito comum, embora
o uso incorreto e abusivo seja uma preocupação
(Dionne, 2006). A medicação mais frequentemente usada no tratamento dos DTM inclui analgésicos, AINES, corticosteroides, relaxantes musculares, ansiolíticos e suplementos nutricionais
como o magnésio, a glucosamina e a condroitina
(Dionne, 2006).
Sempre que possível, os sintomas crónicos dos
DTM devem ser controlados através de terapêutica não farmacológica, como é o caso das terapêuticas comportamentais e terapêuticas oclusais
não invasivas, nomeadamente goteiras oclusais de
estabilização (Wright, 2005).
Existem outras terapêuticas que podem coadjuvar
o tratamento da sintomatologia dos DTM como
é o caso das terapias de relaxamento. O paciente
pode ser treinado a relaxar os músculos sintomáticos, de modo a haver um maior aporte sanguíneo
e, consequentemente um maior fluxo de oxigénio
e a eliminação das substâncias algogénicas, resultantes do processo metabólico, que estimulam os
nociceptores, sejam eliminadas.
A massagem é uma prática antiga que permite a
inativação dos pontos de gatilho, promovendo
uma diminuição da dor e um aumento da amplitude dos movimentos mandibulares. É considerada
um dos meios alternativos mais benéficos para o
tratamento dos DTM. Contudo, a melhoria da sintomatologia obtida a partir da massagem é temporária, sendo necessário sessões regulares para que
os seus efeitos se mantenham (Wright, 1995).
Outra terapia benéfica no tratamento da sintomatologia dos DTM e na dor músculo-esquelética,
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2
que tem vindo a ter um papel cada vez mais relevante, é a Acupuntura.
Tratamento do DTM e Dor Orofacial pela
Acupuntura
Em MTC não existe especificamente uma definição de DTM e dor orofacial conforme existe na
Medicina Convencional. Daí a necessidade de se
fazer o seu enquadramento segundo alguns princípios básicos que fundamentam a Medicina Tradicional Chinesa.
A Acupuntura pode e deve fazer parte do processo de reabilitação dos pacientes que apresentem
DTM e dores orofaciais.
Do ponto de vista da Acupuntura, a região da face
e da ATM é privilegiada pela confluência e riqueza
dos pontos que ostenta. Vemos que praticamente
todos os canais Yang (com exceção do da Bexiga)
têm relação de proximidade com a ATM e com a
mandíbula (Ferreira, 2010).
A identificação do padrão de síndrome, de acordo
com os meridianos, é um dos mais antigos métodos de diagnóstico. Permite-nos distinguir os
sinais e sintomas patológicos de acordo com o
meridiano envolvido (Maciocia, 2007).
A teoria dos meridianos, para além de ser uma
base de diagnóstico, permite, também, elaborar o
princípio de tratamento. Por exemplo, os pontos
do meridiano do Estômago E6 (Jiache) e E7 (Xiaguan) são pontos locais para problemas dos dentes,
do queixo, da face, do pescoço e da garganta; para
tratar a artrite temporomandibular pode-se usar a
combinação dos pontos E6 (Jiache), E7 (Xiaguan),
E44 (Neiting) e IG4 (Hegu) (Ross, 2003); já os pontos E7 (Xiaguan), IG4 (Hegu), Sj17 (Yifeng) e E6
(Jiache) poderão ser usados para tratar problemas
na mandíbula (Yamamura, 2001).
Outro canal de energia afetado no distúrbio temporomandibular é o da Vesícula Biliar. A combinação de pontos VB1 (Tongziliao), VB2 (Tinghui),
VB43 (Xiaxi), ID2 (Qiangu), ID17 (Tianrong),
ID18 (Quanliao) e IG4 (Hegu) é utilizada na cefaleia
lateral e dor facial lateral (Ross, 2003).
■■ Material e Métodos
Materiais utilizados
Para este trabalho foram utilizados os seguintes
materiais:
•Agulhas filiformes de acupuntura descartáveis, com as medidas 0,22x25 mm e 0,25x40
mm (Huan Qiu / Suzhou Huanqiu Acupuncture Medical Aplliance Co. Lda.);
•Recipiente de contenção para deposição das
agulhas de acupuntura (Quick Box / Rigling
GmbH);
•Charutos de moxa para realização de moxibustão local (Moxa Roll Pure / Green Nature Co. Ltd.);
•Cilindros de moxa para realização da moxibustão sobre a agulha de acupuntura (Moxa
Roll / Green Nature Co. Ltd.);
•Material para a assepsia (algodão hidrófilo,
álcool a 70º);
• Luvas latex descartáveis;
•Óleo vegetal de grainha de uva 100% biológico de 1ª pressão a frio e óleo essencial
de lavanda 100% biológico (Florame / Florame);
•Aparelho de electroestimulação (innoTENS-SD / Heller - Medizintechnik);
•Eletromiógrafo de superfície de oito canais,
EMG2 BioResearch Inc. (USA) e respetivo
software de processamento de dados;
•Elétrodos descartáveis bipolares auto-adesivos Ag/AgCl “nogel” BioFLEX EMG
Electrodes (BioResearch Inc. USA).
Métodos
Apresentação da amostra
Este estudo teve como amostra inicial dez indivíduos, selecionados de entre os utentes da clínica
da FMDUP, das Unidades Curriculares de Oclusão, ATM e Dor Orofacial, onde eram acompanhados por médicos dentistas e estudantes do último ano do curso de Medicina Dentária. Destes,
apenas cinco, de ambos os sexos e com idades
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 41
 


CORPO: um pouco
débil, cor vermelha
púrpura, mais vermeTenso, escorrega- lha na ponta, marcas
laterais de dentes, vasos
dio, débil
sublinguais púrpura.
CAPA: fina e branca,
inexistente na ponta.
42 - Dor Orofacial
- DTM
- Bruxismo
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2





Àg

5
- Dor orofacial e
cervical;
- DTM;
- Tensão nos trapézios.

2
CORPO: edemaciado, marcas laterias de
dentes, mais vermelha
lateralmentee na ponta,
Superficial, vasto, fissura central e vasos
tenso, escorregadio, sublinguais um pouco
diminuídos.
débil em R
CAPA: um pouco
grossa, ligeiramente
amarelada na raíz e
aspeto gorduroso.


Legenda:  - em excesso; - em défice; - muita deficiência; - Zang-Fu em oposição;
 -alterado

 

1
CORPO: débil, um
pouco pálida, trémula,
- Dor Orofacial
Rápido, tenso, dé- algumas marcas laterais
- DTM
escorregadio de dentes, vasos
- Dor a irradiar para bil,
sublinguais dilatados e
em C, vazio em R
a nuca e trapézios
púpura.
CAPA: fina e branca.
Inexistente na ponta.
Mt
mtc
descrição
da língua
Tr
mtc
tipo de pulso
Fg
QUEIXA (S)
pRINCIPAL (ais)
Md
INDIVíDUO
mtc - 5 movimentos
- Dor Orofacial
- DTM
- Bruxismo


4
CORPO:
vermelho
violáceo, marcas laterais de dentes, mais
Profundo,
tenso, vermelha lateralmente
escorregadio, fino, e na ponta, vasos sublinguais dilatados e
vazio em R
escuros.
CAPA: muito fina e
branca, inexistente lateralmente e na ponta.
Recolha de dados para definição do diagnóstico
Na primeira consulta, após esclarecimento do âmbito deste estudo, via oral e escrita (Explicação do Estudo),
e a anuência de cada paciente em participar neste projeto, foi assinada, por cada um deles, a Declaração de
Consentimento Informado.
Para a realização do diagnóstico, foram recolhidas, através do preenchimento da Ficha de Recolha de Dados,
várias informações relativas ao historial clínico de cada paciente, queixa(s) principal(ais), sintomas gerais e de
MTC. Seguidamente, e para um diagnóstico mais preciso, solicitou-se a resposta às questões da Ficha de Dados
de Avaliação do Distúrbio e da Ficha de Avaliação – Oclusão, que constituíram a anamnese.


3
CORPO: afilado na
ponta, marcas laterais
de
dentes, mais ver- Dor Orofacial
Profundo, rápido, melha lateralmente e
- DTM
-Fibrose ( por tra- tenso, escorregadio, na ponta, vasos sublinguais pouco dilatados e
tamento de radio- vazio em R
púrpura.
terapia)
CAPA: praticamente
inexistente.

compreendidas entre os 25 e os 76 anos, vieram a constituir a amostra final deste estudo, uma vez que foram
os que realizaram maior número de sessões relativamente ao tratamento estipulado. Estes cinco pacientes
apresentavam sintomas de DTM, nomeadamente níveis variados de limitação de abertura bucal e dores
orofaciais, pelo que realizavam tratamentos convencionais (terapia comportamental, utilização de goteiras
oclusais de estabilização e farmacoterapia).

Tabela 1 - Anamnese - MTC ( resumo)
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 43
1
2
3
4
5
1 - Sente dificuldade em abrir a boca?
s
s
s
s
AV
2 - Sente dificuldade em mover a mandíbula para os lados?
S
S
s
N
AV
3 - Tem cansaço/dor muscular quando mastiga?
S
S
N
S
S
4 - Sente dores de cabeça com frequência?
S
N
S
S
S
E6
E7
IG4
F3
S
N
S
S
AV
VB34
E44
Pc7
VB21
R6
5 - Sente dores na nuca ou torcicolo?
E36
INDIVÍDUO 1
Paciente do sexo feminino, 34 anos, professora, altura 157 cm e peso 96 kg. Relatava dor orofacial mais acentuada do lado esquerdo, com irradiação para a cervical e trapézios, DTM e bruxismo. Na palpação muscular
apresentava dor ou desconforto nos músculos masseter, pterigóideo medial e trapézio. Sofria de estados depressivos e dizia-se ansiosa. Referiu que por vezes tem refluxo gástrico e azia. Sentia-se cansada. Para analisar
os dados da língua e pulso, consulte-se a tabela 1.
De acordo com os dados obtidos, chegou-se ao seguinte diagnóstico por MTC: estagnação de Qi e Xuè do F,
originando calor no E; vazio de Qi do R, com ascensão de calor ao C; retenção de Humidade no Jiao médio
e no C.
Princípio de Tratamento por MTC: drenar a estagnação de Qi e Xué no F, tonificando-o; tonificar o Qi do
R; acalmar o C.
AV
S
N
S
AV
1a
xe
xe
x
x
x
x
x
x
7 - Já notou se tem ruído na ATM quando mastiga ou quando abre a
boca?
S
S
N
S
S
2a
xe
xe
x
x
xm
x
x
x
x
x
8 - Já observou se tem algum hábito como apertar ou ranger os dentes?
S
S
N
AV
S
3a
xe
xe
x
x
xm
x
x
x
x
x
4a
xe
x
xe
x
x
x
x
5a
xe
x
xe
x
x
x
x
6a
xe
x
x
x
xm
x
Índice de Sintomas de DTM
85
80
AV
45
Legenda: S - Sim; Legenda: S - Sim; N - Não; Av - Às vezes;
Escala analógica para cálculo do índice de sintomas de DTM: Não - 0; Às vezes - 5; Sim - 10
N
S
75
S
S
80
x
x
xe
x
x
x
x
x
ren17
x
ba6
S
N
r3
S
S
pc6
10 - Considera-se uma pessoa tensa/nervosa?
N
sessão
id3
9 - Sente que os seus dentes não se articulam bem?
pontos
vb20
6 - Tem dores de ouvido ou próximo dele (ATM)?
Tratamento: O tratamento desenvolveu-se nas seis sessões previstas (ver tabela 3).
Yin Tang
iNDIVÍDUOS
Questionário
Diagnóstico, princípio de tratamento e descrição do tratamento
C7
A partir da análise das respostas dadas pelos pacientes às fichas de recolha de dados anteriormente referidas
(resumo nas tabelas 1 e 2) e breve descrição oral dos sintomas e disfunções apresentados pelos médicos
dentistas e / ou estudantes de medicina dentária que acompanhavam cada um dos casos, foi realizado o
diagnóstico para cada um dos pacientes.
x
x
x
x
Legenda: x - ponto punturado; xe - punturado com electroestimulação; xm - punturado com moxa.
Tabela 3 - Registo de pontos punturados no indivíduo 1, ao longo das sessões
Tabela 2- Anamnese – sintomas de DTM – Fase Inicial (resumo)
44 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 45
INDIVÍDUO 2
Paciente do sexo masculino, 63 anos, reformado, altura 164 cm e peso 69 kg. Relatava dor orofacial mais forte
quando acorda devido ao bruxismo noturno e DTM. Na palpação muscular apresentava dor ou desconforto
nos músculos masseter (mais intenso de manhã), temporal e trapézio. Sofreu de depressão traumática pós-guerra e no momento da consulta referiu que tinha estados depressivos e de ansiedade; tomava medicação
para o efeito. Irritava-se com facilidade e era bastante agitado. Referiu que, por vezes, tinha refluxo gástrico e
azia. Para analisar os dados da língua e pulso, consulte-se a tabela 1.
De acordo com os dados obtidos, chegou-se ao seguinte diagnóstico por MTC: estagnação de Qi e Xuè do F
gerando hiperatividade do Yang, com agressão ao E e C; vazio de Yin Qi do R; deficiência de Qi e Xuè do Ba.
Princípio de Tratamento por MTC: drenar a estagnação de Qi e Xué no F; aclarar o calor no E e no C; tonificar o Qi do R; tonificar o Qi e Xuè do Ba.
x
4
x
5
x
x
x
x
x
x
x
xe
x
x
m
xm
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
Legenda: x - ponto punturado; xe - punturado com electroestimulação; xm - punturado com moxa.
Tabela 4 - Registo de pontos punturados no indivíduo 2, ao longo das sessões
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
xm
xe
x
x
x
xm
xe
1a
x
x
2a
xe
xe
x
xm
3a
xe
xe
x
xm
4a
xe
xe
x
5a
xe
x
6a
xe
x
x
x
e44
x
x
ba9
x
m
x
x
vb21
x
e
x
x
vb34
6
a
x
x
e36
e
xm
x
vb20
a
x
x
ig4
e
x
x
E6
a
x
x
x
ba10
xe
x
ba6
3a
x
m
an mian
x
pontos
a
e4
x
x
sj21
x
x
pc6
2
e
x
ba4
x
f3
x
c7
bai hui
x
r3
ba4
x
e7
vb34
x
vb20
pc6
xm
f3
e7
x
e8
E36
x
e44
c7
x
r6
IG4
xe
sessão
r3
Yin Tang
1a
pontos
vb21
E6
Tratamento: O tratamento desenvolveu-se nas seis sessões previstas (ver tabela 4).
INDIVÍDUO 3
Paciente do sexo feminino, 58 anos, professora reformada, altura 160cm e peso 50kg. Relatava dor orofacial,
DTM e perda de mobilidade ao nível da cervical devido a fibrose formada durante tratamento de radioterapia. Há 16 anos que lhe fora detetado um carcinoma nasofaríngeo com metástases nos nódulos linfáticos cervicais, tendo sido sujeita a tratamento de radioterapia durante 5 anos. Com esse tipo de tratamento surgiram
uma série de problemas: grande perda de audição e olfato, osteo-rádio-necrose a nível do maxilar, ausência
de função salivar, grande dificuldade em falar, hipotiroidismo, fratura das vértebras C6 e C7, o que lhe trouxe
algumas dificuldades motoras no membro superior direito, danos na epiglote, impedindo o controlo da deglutição e que por tal fazia a alimentação por sonda direta no estômago. Devido ao tratamento anteriormente
referido, toda a área do pescoço, cervical, músculos masseter, pterigóideo medial, esternocleidomastóideo
e trapézio se encontravam muito fibrosados, limitando-lhe imenso os movimentos normais da cabeça, seja
a nível das funções do pescoço, da fala ou mastigatórios. Sofria de estados depressivos, era ansiosa e costumava sentir opressão torácica. Sentia défice emocional e energético. Para analisar os dados da língua e pulso,
consulte-se a tabela 1. De acordo com os dados obtidos, chegou-se ao seguinte diagnóstico por MTC: vazio
de Yin e Yang Qi do R com deficiência de Jing; estagnação de Qi e Xuè do F; deficiência de Qi e Xuè do Ba
com retenção de Humidade no Jiao médio.
Princípio de Tratamento por MTC: tonificar Qi e Xuè do F e Ba e drenar Humidade do Jiao médio; tonificar
o Jing – Yin e Yang do R; acalmar o C.
Tratamento: O tratamento desenvolveu-se nas seis sessões previstas (ver tabela 5).
x
x
x
x
x
sessão
x
x
Legenda: x - ponto punturado; xe - punturado com electroestimulação; xm - punturado com moxa.
Tabela 5 - Registo de pontos punturados no indivíduo 3, ao longo das sessões
46 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 47
INDIVÍDUO 5
Paciente do sexo feminino, 25 anos, médica dentista, altura 160 cm e peso 49 kg. Relatava dor orofacial e cervical, DTM e episódios de bruxismo. Na palpação muscular apresentava dor ou desconforto nos músculos
masseter, temporal e trapézio. Dizia-se ansiosa, tensa e entrava em stress com facilidade. Tinha uma aparência
pálida e sentia-se cansada. Sofria de cefaleias que afetavam áreas correspondentes ao meridiano da vesícula
biliar. Para analisar os dados da língua e pulso, consulte-se a tabela 1.
De acordo com os dados obtidos, chegou-se ao seguinte diagnóstico por MTC: estagnação de Qi e Xué do
F; deficiência de Qi e Xué do Ba; deficiência de Yang do R e do Ba.
Princípio de Tratamento por MTC: drenar o F; tonificar Qi e Xué do Ba; tonificar Yang e Qi do R e Ba.
Tratamento: Das seis sessões previstas para o tratamento apenas ocorreram três (ver tabela 7).
pontos
x
x
x
3a
xe
x
xm
x
xe
x
x
x
x
x
x
4a
xe
x
xm
x
xe
x
x
x
x
x
xe
5a
xe
x
xm
x
x
x
x
x
x
x
c7
x
e7
x
vb20
x
vb21
x
ig4
x
e6
xm
r7
xe
1a
xe
xe
x
x
x
x
2a
xe
x
xe
x
x
3a
xe
x
xe
x
x
sessão
p7
xe
ba6
2a
pc6
x
e40
x
sessão
ren17
e7
x
sj21
vb21
x
r6
vb20
xe
r3
e36
x
pc7
ig4
1a
c7
E6
pontos
yin tang
Tratamento: Das seis sessões previstas para o tratamento apenas ocorreram cinco (ver tabela 6).
vb2
INDIVÍDUO 4
Paciente do sexo feminino, 76 anos, reformada, altura 150 cm e peso 56 kg. Relatava dor orofacial constante,
tipo “moedeira”, com zumbidos, mais acentuada do lado direito, DTM e bruxismo. Na palpação muscular
apresentava dor ou desconforto nos músculos masseter, pterigóideo medial, trapézio e paravertebrais. Já fora
sujeita a intervenção cirúrgica ao peito para remoção de tumor (benigno). Sofria de dores na coluna, principalmente na cervical e lombar. Desde há 30 anos que sofria de estados depressivos e se dizia ansiosa. Tinha
uma aparência pálida e sentia-se cansada. Para analisar os dados da língua e pulso, consulte-se a tabela 1.
De acordo com os dados obtidos, chegou-se ao seguinte diagnóstico por MTC: vazio de Yin e Yang Qi do R
com deficiência de Jing; deficiência de Yang Qi e Xuè do C; deficiência de Qi e Xuè no F e Ba com retenção
de Humidade no Jiao médio.
Princípio de Tratamento por MTC: tonificar Qi e Xuè do F e Ba e drenar Humidade do Jiao médio; tonificar
Qi do C; tonificar o Jing – Yin e Yang do R.
x
x
x
Legenda: x - ponto punturado; xe - punturado com electroestimulação; xm - punturado com moxa.
Tabela 7- Registo de pontos punturados no indivíduo5, ao longo das sessões
x
x
x
x
x
Legenda: x - ponto punturado; xe - punturado com electroestimulação; xm - punturado com moxa.
Tabela 6 - Registo de pontos punturados no indivíduo 4, ao longo das sessões
48 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 49
ELETROMIOGRAFIA
A eletromiografia de superfície é um método não
invasivo, bem tolerado pelo doente, que não interfere com o normal funcionamento muscular.
Permite avaliar a terapêutica instituída, independentemente das impressões subjetivas sentidas
pelos doentes. Como desvantagens, pode existir
uma sobreposição da atividade elétrica de músculos vizinhos, (Basmajian, 1985; Widmalm, 1988) e
não poder registar a atividade elétrica dos músculos profundos, por serem inacessíveis neste tipo
de exame (Ferrario, 1993; Koole, 1991; Ferrario,
1991).
O exame eletromiográfico foi efetuado numa sala
pequena (3,20 mt x 3,70 mt), com um só observador, tendo sido utilizada apenas a iluminação
em que a fonte de luz estava dirigida para o chão,
originando uma iluminação suave, de modo a proporcionar ao doente um ambiente calmo e propício à descontração, fator extremamente importante para registar a atividade basal de repouso.
Todos os registos foram obtidos com o doente
sentado numa cadeira com apoio dorsal, com o
plano de Frankfort sensivelmente paralelo ao solo.
Os testes EMG foram todos realizados na mesma
sessão, para evitar qualquer tipo de alteração, tanto técnico como emocional. Houve um descanso
de cinco minutos entre cada teste para permitir
um melhor relaxamento e evitar a fadiga psíquica
e muscular.
Os potenciais bioelétricos dos músculos do doente, foram obtidos mediante a colocação de elétrodos, Ag/AgCl bipolares autoadesivos “nogel”
(Bio Research, USA), sobre a pele que recobre os
músculos, previamente limpa com álcool a 70º,
para reduzir a impedância da passagem da corrente elétrica.
A colocação destes elétrodos foi efetuada paralelamente à orientação das fibras musculares, após
palpação muscular, tendo em atenção as referências anatómicas (Ferrario, 1993).
O elétrodo de terra, situado no 1º canal do eletromiógrafo, para derivação da eletricidade estática
50 que pode produzir interferências, foi colocado na
parte lateral esquerda do pescoço do doente.
Este eletromiógrafo processa os sinais da atividade muscular, obtidos através dos elétrodos, e
fornece, automaticamente, registos quantitativos
do espectro de frequência desenvolvido pelos
músculos estudados, que ficam armazenados no
disco rígido.
Registo dos potenciais bioelétricos da atividade basal de repouso
Para efetuar este registo, o doente foi instruído
para estar o mais relaxado possível, com a cabeça
erecta, com os dentes separados e os lábios ligeiramente encostados, manter as pernas paralelas e
colocar os braços nos apoios laterais da cadeira, de
modo a manter sempre a mesma posição, durante
o exame (Shpuntoff, 1956; Mohl, 1984) e os olhos
fechados, sem esforço, para evitar a possível interferência provocada pelos músculos oculares, bem
como quaisquer interferências ambientais.
Este teste, para além de determinar a atividade
bioelétrica basal de cada músculo, serve, também,
para verificar a correta colocação dos elétrodos.
Foram efetuados vários registos, até se verificar
que existia um padrão de registo idêntico, sendo
então gravado o registo com atividade muscular
mais baixa.
Registo dos potenciais bioelétricos durante a
contração máxima voluntária (Clench)
Neste teste, o doente foi instruído para cerrar os
dentes, com a máxima força possível, sem despertar dor, durante 10 segundos (que é o tempo do
teste).
Foi realizado um estudo eletromiográfico na segunda sessão, com o objetivo de medir o grau de
tensão muscular ao nível do temporal, masseter
e trapézio, nas fases de relaxamento/ repouso e
contração máxima voluntária (clench) iniciais (antes do tratamento) e finais (depois do tratamento),
cujos resultados se poderão verificar nas fig. 1 e 2,
e no gráfico 1.
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2
Fig. 1 - Eletromiografia nas fases de repouso e clench iniciais, antes do tratamento
Fig. 2 - Eletromiografia nas fases de repouso e clench finais, depois do tratamento
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 51
4
Após 1ª sessão: ligeiro alívio da tensão muscular e
dor orofacial; mais calma e dormiu melhor.
Sessões seguintes: dores orofaciais menos intensas,
ligeiras do lado direito, atrás do pavilhão auricular; no
final, sente que está muito melhor ao nível das dores
orofaciais; sono mais regular nos dias a seguir ao
tratamento, sendo que para o final dorme bem; tem
sentido menos ansiedade.
Ansiedade
5
Após 1ª sessão: menor dor orofacial e menor tensão
muscular do masséter; maior abertura bucal.
Sessões seguintes: diminuição da tensão muscular
e da dor, principalmente durante os primeiros quatro
dias após a sessão de tratamento.
Tensão muscular e dor
orofacial
Tabela 8- Resultados obtidos ao longo do tratamento, segundo relato dos pacientes
Gráfico 1 - Dados de eletromiografia realizada ao paciente 5
■■ ANÁLISE DE RESULTADOS
Decidiu-se apresentar os resultados em forma de tabela de modo a garantir uma maior facilidade de leitura
dos mesmos, uma vez que os registos efetuados tiveram em consideração descrições da evolução da sintomatologia pelos pacientes (tabela 8) e as respostas às questões de anamnese no final do tratamento (tabela
9). Finalmente, o gráfico 2 permite fazer a comparação entre os índices de sintomas de DTM no início e no
final do tratamento.
INDÍVIDUOS
DESCRIÇÃO DA EVOLUÇÃO
SINTOMAS QUE SE
MANTIVERAM
1
Após 1ª sessão: sem dores e sem grandes limitações na
abertura da boca durante quatro dias; depois regrediu.
Sessões seguintes: não voltou a sentir dores orofaciais; a partir da quinta sessão passou a dormir bem.
Dores no trapézio
2
Após 1ª sessão: a dor orofacial diminuiu um pouco.
Sessões seguintes: passou gradualmente da situação
de acordar ainda com dor, para a de não ter dores na
face.
3
Após 1ª sessão: menor tensão muscular e menor dor
orofacial.
Sessões seguintes: melhoras graduais mas lentas;
começou por sentir mais alívio nas dores e tensão
apenas nos primeiros 2 a 3 dias, com sono irregular,
passando a sentir melhoras efetivas da tensão muscular e melhoras graduais na dor orofacial.
52 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2
iNDIVÍDUOS
Questionário
Tensão muscular no trapézio
Tensão muscular no trapézio
1
2
3
4
5
AV
AV
s
AV
AV
2 - Sente dificuldade em mover a mandíbula para os lados?
N
AV
S
AV
AV
3 - Tem cansaço/dor muscular quando mastiga?
n
av
N
S
av
4 - Sente dores de cabeça com frequência?
av
N
av
av
S
5 - Sente dores na nuca ou torcicolo?
n
N
S
av
AV
6 - Tem dores de ouvido ou próximo dele (ATM)?
n
av
N
av
AV
7 - Já notou se tem ruído na ATM quando mastiga ou quando abre a
boca?
av
S
s
av
S
8 - Já observou se tem algum hábito como apertar ou ranger os dentes?
av
S
N
AV
av
9 - Sente que os seus dentes não se articulam bem?
N
S
N
N
S
10 - Considera-se uma pessoa tensa/nervosa?
S
av
AV
S
S
1 - Sente dificuldade em abrir a boca?
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 53
Índice de Sintomas de DTM
30
55
50
55
70
Legenda: S - Sim; Legenda: S - Sim; N - Não; Av - Às vezes;
Escala analógica para cálculo do índice de sintomas de DTM: Não - 0; Às vezes - 5; Sim - 10
Tabela 9 - Anamnese – sintomas de DTM – Fase Final (resumo)
Gráfico 2 – Comparação do índice de sintomas de DTM, no início e no fim do tratamento, por indivíduo.
■■ Interpretação/Discussão dos Resultados
A utilização da Acupuntura como especialidade coadjuvante no tratamento dos DTM e dores orofaciais
foi o princípio de orientação deste trabalho. Como tal, em todos os tratamentos efetuados procurou-se dar
prioridade ao problema apresentado como queixa principal: o DTM e a dor orofacial. Contudo, em MTC não
podemos dissociar um problema particular sem analisar o todo que constitui o indivíduo.
O estudo realizado implicou a análise simultânea de diversas variáveis, dado que os pacientes que participaram neste trabalho foram uma amostra de conveniência, não tendo havido possibilidade de uma seleção de
forma a garantir uma amostra mais homogénea. Por outro lado, tal acabou por se tornar o mais adequado,
uma vez que esta amostra é mais similar com a diversidade/tipologia de pacientes que acorrem às clínicas
dentárias e/ou aos terapeutas de MTC. Também a duração do tratamento (nº de sessões) levou a uma seleção
dos indivíduos que constituíram a amostra final. Assim, todos os pacientes que constituíram a amostra final
procuraram ajuda na clínica da FMDUP, Unidade Curricular de Oclusão, ATM e Dor Orofacial por apresentarem queixas relacionadas com o âmbito de intervenção desta Unidade Clínica.
Os resultados dos tratamentos aplicados a cada paciente vieram mostrar, como se pode verificar na tabela 8,
que de sessão para sessão, ocorreram melhoras, nomeadamente ao nível da tensão muscular, na dor orofacial
54 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2
e na qualidade do sono, muitas delas sentidas logo
após o primeiro tratamento. Do mesmo modo, a
tabela 9 e o gráfico 2 mostram que ocorreram melhorias em todos os pacientes embora com graus
diferentes e, no caso particular do individuo 3,
existir um agravamento da sintomatologia no final
do tratamento. Neste paciente, o agravamento da
sintomatologia pode considerar-se que é apenas
aparente, atendendo a que o mesmo apresentava, no início dos tratamentos, uma imobilização
severa que afetava a região da ATM e músculos
paravertebrais cervicais, masseter, esternocleidomastóideo e trapézio (parcialmente), resultante
de tratamento de radioterapia que lhe provocou
a fibrose dos tecidos. Com a progressão do tratamento, o paciente em causa foi adquirindo alguma
da mobilidade perdida e com isso revelaram-se
alguns sintomas provenientes dessa mobilidade
como ruídos na ATM. Assim, pode-se considerar
que mesmo neste caso particular houve uma evolução positiva resultante do tratamento efetuado.
Relativamente às diferenças na evolução das melhoras sentidas pelos pacientes, como se constata
na comparação estabelecida no gráfico 2, refira-se
que tal poderá ficar a dever-se a diferentes estados
emocionais e às diferentes sensibilidades de cada
indivíduo à dor, pelo que as respostas às questões
da anamnese dependem destes e assim poderem
apresentar alguma subjetividade; ao grau de severidade de cada caso que, apesar de apresentarem
sintomas semelhantes, é diverso e tem origens diferentes; a alguns pacientes terem já sido sujeitos
a tratamentos convencionais (utilização de goteira
oclusal de estabilização e/ou fármacos) e continuarem a fazê-lo enquanto outros não. De referir,
ainda, que o número de sessões em que foi aplicado o tratamento também poderá ter contribuído
para os diferentes resultados, como se pode verificar no caso do indivíduo 5, que teve apenas três
sessões, o que pode ter dificultado, para além das
condicionantes referidas anteriormente, a obtenção de uma melhoria mais substancial dos sintomas. Nesta altura, e face às diferenças verificadas
nos diversos pacientes relativamente à melhoria da
sintomatologia, pode ser pertinente refletir se as
mesmas não serão, também, o resultado dos diferentes tratamentos aplicados aos indivíduos que
constituíram a amostra. Urge então relembrar que
após a anamnese, realizada seguindo os princípios
da MTC, foi feito um diagnóstico individual e estabelecido o respetivo princípio de tratamento de
acordo com as particularidades de cada um. Como
se constata neste estudo, apesar dos pacientes terem chegado todos com queixas similares ao nível
de dor orofacial e DTM, estes tiveram um diagnóstico e tratamentos diferenciados, como já foi
referido anteriormente, pois a origem dos problemas é multifatorial.
Como todos os indivíduos apresentavam queixas
de dor orofacial e DTM, foram sempre selecionados pontos locais E6, E7, e pontos distais IG4,
E44, como pontos específicos no tratamento destas sintomatologias.
A MTC tem uma visão holística do ser humano
e, assim sendo, há uma interação entre todos os
órgãos e estruturas com as emoções do indivíduo.
De facto, todos os pacientes apresentaram uma
influência da área emocional sobre a patologia em
estudo. Todos revelaram ansiedade e tensão ao nível dos músculos masseter e trapézio, e em alguns
encontraram-se sintomas de estados depressivos,
razão pela qual foram punturados pontos como
C7, Bai Hui, Yin Tang, Ren17, entre outros.
Pela análise das tabelas 3, 4, 5, 6 e 7 pode constatar-se que, para além dos pontos comuns a todos os pacientes, anteriormente referidos, foram
punturados outros, com funções de tratamento
das especificidades de cada um. Nas referidas tabelas pode também constatar-se que o tratamento
foi sendo alterado / adaptado de sessão para sessão. Tal ficou a dever-se ao facto de haver uma
alteração e evolução da sintomatologia o que
determinou o constante reajuste do tratamento.
Pode também verificar-se que foram utilizadas
outras técnicas associadas à acupuntura, como a
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 55
electroestimulação e a moxibustão, como forma
de aumentar e potenciar o efeito terapêutico da
Acupuntura.
Apesar da interpretação dos resultados obtidos
mostrarem que a Acupuntura altera de forma
positiva as queixas relacionadas com DTM e dor
orofacial, no final dos tratamentos os pacientes
referiram que ainda mantinham, embora mais
atenuados, alguns dos sintomas, nomeadamente
tensão muscular no trapézio (indivíduos 1, 2, 3 e
5), ansiedade (indivíduo 4) e dor orofacial (indivíduo 5).
A tensão muscular no trapézio sentida pelos indivíduos 1, 2 e 3, bem como a ansiedade assinalada
pelo indivíduo 4, poderiam ser melhoradas se o
estudo pudesse desenvolver-se durante mais tempo e assim ter contemplado um maior número de
sessões de tratamento de Acupuntura associada a
outras terapias de MTC. A manutenção de alguma tensão muscular e dor orofacial no indivíduo
5 pode justificar-se pelo facto deste não ter efetuado o número de sessões estabelecido, embora, tal como os restantes, julga-se que viria a ter
necessidade de um tratamento mais prolongado.
Ainda relativamente a este paciente, há a salientar que o mesmo, teve a possibilidade de realizar
uma eletromiografia. Este exame mede a atividade dos músculos do sistema estomatognático, em
repouso e em tensão, permitindo, pela sua análise, avaliar quantitativamente a hiperatividade da
musculatura a qual está diretamente relacionada
com a dor orofacial. Ao efetuar-se a eletromiografia antes e depois de uma sessão de tratamento
pretendeu-se constatar até que ponto o mesmo
afetava o desempenho dos músculos do sistema
estomatognático. Como se pode verificar pelas fig.
1 e 2, e o gráfico 1, houve uma diminuição efetiva
da hiperatividade dos músculos testados após a
aplicação do tratamento de Acupuntura com consequente redução da dor orofacial.
A oportunidade de se ter tido acesso a este exame
veio abrir novas possibilidades para trabalhos de
56 investigação futuros nesta área, uma vez que permite a obtenção de dados quantitativos e, por isso,
mais rigorosos, relativos à ação da Acupuntura no
tratamento de DTM e dor orofacial, anulando-se,
assim, o que se pode considerar, a par com o curto espaço de tempo, uma limitação deste estudo
que foi a quantificação dos sintomas a partir da
opinião dos pacientes, o que pode ter introduzido
alguma subjetividade.
nomeadamente na área odontológica.
Para finalizar, pode dizer-se que este estudo pode ter dado o seu contributo para o reconhecimento da Acupuntura como especialidade médica no mundo ocidental, de forma a que esta deixe de ser considerada um
“tratamento alternativo” e passe a ser vista como um complemento essencial no tratamento de DTM e dor
orofacial a par com as terapias convencionais.
■■ Conclusão
O estudo realizado mostrou que após os tratamentos de Acupunctura, quando aplicada isoladamente ou combinada com outras terapias de MTC, os
pacientes com queixas relacionadas com DTM e
dor orofacial apresentaram melhoras, embora em
graus diferenciados, quer ao nível do desconforto
provocado por este distúrbio (dor, tensão, entre
outros), quer ao nível neuro-emocional, uma vez
que o estado emocional do indivíduo tem um
papel preponderante no desencadear de muitas
patologias, nomeadamente o DTM, participando no equilíbrio energético do organismo. Ficou
também claro que não existe um procedimento/
protocolo clínico padrão no tratamento da patologia bem como na seleção de pontos de acupuntura a serem utilizados em cada tratamento, e de
sessão para sessão, e que esta seleção tem de ir ao
encontro das necessidades individuais dos pacientes e da evolução da sintomatologia ao longo do
tratamento.
Os resultados obtidos mostram haver compatibilidade entre os tratamentos convencionais e o
levado a cabo pela Acupuntura, tendo-se verificado claramente uma redução nas queixas dos pacientes, um aumento na mobilidade mandibular e
uma melhora na qualidade do sono, em suma, na
qualidade de vida dos indivíduos alvo.
Apesar das conclusões obtidas, considera-se que
o estudo da ação da Acupuntura é ainda um campo vasto a ser explorado em várias áreas da saúde,
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2
PALAVRAS-CHAVE:
Acupuntura; Distúrbio temporomandibular (DTM); Articulação temporomandibular (ATM); Dor orofacial; Odontalgia; Bruxismo
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 57
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Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 59
A ACUPUNTURA anestésica
■■ Introdução
Teoria e Prática
Na história da acupunctura verificamos que desde
sempre existiu uma necessidade de se explicar e
justificar o sistema de meridianos e a sua relação
anatómica com o sistema nervoso, contudo várias
questões permanecem sem explicação científica.
Em M.T.C. todas essas perguntas têm resposta e
estão relacionadas com o sistema de Ching Luo e
Zang Fu, sendo fundamental esse conhecimento
na escolha de pontos na prática da acupunctura
anestésica. A descoberta da A.A. foi um desenvolvimento natural, visto que a acupunctura tem
uma acção analgésica, contudo um conhecimento
profundo das técnicas de acupunctura é essencial,
porque sem a sensação de De-Qi a anestesia e
analgesia são inexistentes. Transversalmente na pesquisa clínica e nos estudos publicados verificou-se que a acupunctura
anestésica é um êxito, pois para além do efeito
anestésico e analgésico, proporciona um efeito regulador influenciando num recobro mais rápido
sem efeitos secundários provocados pela anestesia
convencional. (Chien-hsiung, 1972).
Olga Cristina da Silva Salgado
[email protected]
Vasco Filipe dos Santos Morais
[email protected]
Resumo:
Pretendeu-se com o presente trabalho abordar a teoria e a prática da Acupunctura Anestésica, acompanhando vários casos práticos desde a cirurgia ao pós-operatório. A anestesia por acupunctura é
um processo em desenvolvimento, onde médicos e cientistas aperfeiçoam os seus estudos teóricos e
as suas bases práticas na busca da eficácia, aplicando métodos e conhecimentos da ciência moderna,
com o intuito de os melhorar a experiência da Medicina Tradicional Chinesa (M.T.C.).
A Acupunctura Anestésica (A.A.) tem funções diferentes da acupunctura terapêutica, no campo cirúrgico o objectivo está relacionado com o cérebro e com as funções nervosas, com a capacidade
de sentir ou não tudo o que está a acontecer na mesa de operações. Atualmente verifica-se que nem
todos os mecanismos de acção da acupunctura estão esclarecidos, o exercício de descrever as bases
fisiológicas relacionadas com os efeitos da acupunctura é um processo que se tem desenvolvido ao
longo de vários anos, com trabalhos por investigadores diferentes. Infelizmente os com resultados
obtidos são inconclusivos, devido ao desenho do estudo, ao tamanho da amostra, ao uso de controlos inapropriados, entre outros. Contudo, múltiplos são os estudos em que se apoiam as novas
descobertas.
* Síntese curricular:
Diplomada em Medicina Tradicional Chinesa pelo Instituto Português de Naturologia. Participação em diversos trabalhos
de investigação na área da Fitoterapia, dos quais Relaxen e Agiflex, publicados em revista da especialidade. Co-autora de
várias publicações e artigos da especialidade no Jornal de Matosinhos, nomeadamente: “Asma e Sinusite Tratamento pela
Acupunctura”; “Dor Ciática e a Acupunctura”; “Hérnia Discal e a Acupunctura”; “Mudanças de Estação e a Acupunctura”
e “Reumatismo e a Acupunctura”. Especializada em Hipnose, Craniopuntura, Terapia Floral, Aromaterapia, Geotermal.
Diplomado em Medicina Tradicional Chinesa pelo Instituto Português de Naturologia. Participação em diversos trabalhos de investigação na área da Fitoterapia, dos quais Relaxen e Agiflex, publicados em revista da especialidade. Co-autor
de várias publicações e artigos da especialidade no Jornal de Matosinhos, nomeadamente: “Asma e Sinusite Tratamento
pela Acupunctura”; “Dor Ciática e a Acupunctura”; “Hérnia Discal e a Acupunctura”; “Mudanças de Estação e a Acupunctura” e “Reumatismo e a Acupunctura”. Especializado em Hipnose, Craniopuntura.
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■■ Objectivos
O objectivo principal deste trabalho é dar a conhecer a A.A. como uma alternativa à anestesia
convencional. Aprofundar o conhecimento da
acupunctura para além da utilidade que habitualmente lhe conferem e torná-la numa opção credível, uma alternativa mais saudável, mais barata
e disponível para todos os que querem usufruir
dela. Através das pesquisas científicas, clinicas e
trabalhos publicados, verifica-se que a A.A., está
relacionada com o normal funcionamento do
Sistema Nervoso Central, com a sua ligação aos
Meridianos, aos pontos de acupunctura mais correctos dependendo da cirurgia e à capacidade de
sentir a De-Qi. (Ho, S.; Lu, L., 2000).
De salientar o sucesso da Acupunctura ao longo
de vários anos e o facto de já ser uma alternativa
reconhecida pela Organização Mundial de Saúde
desde 1979, no caso da Acupunctura Anestésica
já se pratica em vários países e com uma taxa de
sucesso surpreendente. (World Health Organization, 2003).
■■ Descoberta
Anestésica
da
Acupunctura
Uma das primeiras cirurgias realizada com A.A.
documentada para efeitos de pesquisa foi efectuada na Clínica ORL de Kwanchow. Um médico
com experiência em M.T.C., tendo conhecimento que a acupunctura tinha um tratamento muito
eficaz em casos de amigdalite aguda, (por aliviar
a dor e reduzir a inflamação), resolveu após uma
amigdalectomia e perante um paciente em pós-operatório que se encontrava com fortes dores
de garganta e sem possibilidade de se alimentar,
colocar uma agulha no ponto IG4 (Hegu), a dor
desapareceu e o paciente conseguiu alimentar-se
normalmente. Foi através destes resultados, que
membros desta equipa decidiram experimentar e
comprovar se seria possível utilizar apenas acupunctura anestésica na amigdalectomia suprimindo de forma completa a utilização de anestesia
farmacológica. No início as experiências foram
realizadas nos membros da equipa médica, utilizando os pontos IG4 (Hegu) e E44 (Neiting), verificaram uma diminuição da dor e foi num trabalho
com acupunctores e médicos ocidentais que se realizou e se comprovou que era possível a primeira
cirurgia de sucesso documentada utilizando apenas acupunctura anestésica. (Chien-hsiung, 1972)
Nas primeiras intervenções cirúrgicas ao tórax
com A.A., realizaram-se em 1959, utilizavam-se entre 90 a 100 agulhas nas extremidades dos
pacientes, eram necessários 4 acupunctores para
manipularem e estimularem as agulhas constantemente, mas com a experiência que iam adquirindo
foram excluindo grande parte das agulhas e constataram que o importante era localizar correctamente o ponto, sendo que actualmente o proto-
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 61
colo utiliza apenas uma média de 2 pontos (ver
tabela em anexo). No Instituto de Tuberculose
de Pequim verificaram que um número reduzido
de agulhas e a localização correcta dos pontos de
acupunctura eram suficientes para a eficácia destas cirurgias, as poucas agulhas utilizadas tornam
a manipulação mais fácil e mais segura para os
profissionais de saúde e paciente. Vários autores
actualmente referem que apenas 2 a 4 pontos
dentro desta selecção [IG4 (Hegu), IG11 (Quchi),
SJ5 (Waiguan), Pc6 (Neiguan), E36 (Zusanli), BP6
(Sanyinjiao), F3 (Taichong), R3 (Taixi)] são necessários para que o efeito da anestesia seja generalizado. (Ho, S.; Lu, L., 2000).
■■ A Condutividade do Sistema
Nervoso e dos Ching-Luo
As experiências em laboratório e a prática clínica
revelaram que existem fenómenos que a neurofisiologia não consegue explicar, contudo são entendidos a partir da teoria dos meridianos, sendo que
o seu entendimento já é descrito no “Princípios de
Medicina Interna do Imperador Amarelo”.
“Os Ching-Luo estabelecem comunicação entre o interno
e o externo e se encarregam da circulação de sangue e de
energia (…) o sistema Ching-Luo apresenta-se como uma
estreita união entre os órgãos internos e a estrutura externa
do corpo. A principal função é o transporte e distribuição de energia, a manutenção do corpo e a manutenção do
equilíbrio indispensável à saúde”. Por este motivo, as
sensações produzidas pela agulha nos pontos de
inserção são transmitidas ao longo dos meridianos
correspondentes até aos órgãos que os regem. A
partir dos pontos de acupunctura dos membros
superiores obtém-se a anestesia necessária para
operar áreas da cabeça, cara ou outras partes do
corpo…
“Tratar a doença do lado direito com pontos do lado esquerdo e vice-versa”, esta foi uma das primeiras teorias a ser testada, pois existiu a necessidade de
se arranjarem alternativas uma vez que se tornava
difícil operar um dos membros quando este se
62 encontrava repleto de agulhas. Nas intervenções
seguintes as agulhas foram colocadas no braço
oposto obtendo-se resultados igualmente satisfatórios…
Em neurofisiologia este fenómeno não tem explicação, pois o estímulo de um tronco nervoso só
produz alteração na área abaixo do seu controlo,
o que acontece quando se injecta um anestésico
no plexo braquial, só o membro superior do lado
injectado fica paralisado, sem qualquer efeito do
lado oposto, nem no sentido ascendente.
Nos pacientes com hemiplegia, a punctura do
ponto IG4 (HeGu) no lado afectado não produzia
alterações na actividade eléctrica do cérebro, mas
o mesmo ponto do lado oposto e após a sensação de De-Qi verificaram-se alterações. Analises
ao sangue efectuadas 2 horas após a acupunctura,
revelaram um aumento significativo dos glóbulos
vermelhos e brancos, assim como uma alteração
nos níveis de glucose, tanto em sujeitos saudáveis
como hemiplégicos tratados com agulhas do lado
saudável. Contudo não foram registadas alterações em hemiplégicos tratados do lado da paralisia
(Chinese Medical Journal, 1973).
O feito de anestesia pela acupunctura pode ser
provocado por pontos locais dolorosos ou por
pontos distais de meridianos com acção e função
de tratamento da patologia. Terapeutas antigos
ilustram como os pontos eram unidos por meio
de linhas, chamados de meridianos, onde se verifica que a estimulação num determinado ponto,
produz um efeito num local distante, provocando
alterações no meridiano, órgão ou víscera correspondente.
O facto da anestesia ocorrer com pontos dentro
ou fora de um meridiano levou a que fosse considerado que o efeito da acupunctura era produzido
por um estímulo num qualquer feixe nervoso que
contenha fibras A-δ devido aos efeitos centrais
dos controlos descendentes inibitórios. No entanto, efeitos com maior destaque ocorrem quando
são estimulados pontos de meridiano, onde se obtém analgesia no controlo descendente e no per-
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2
curso ascendente do meridiano, a carência desta
explicação depende de interacções dentro do Sistema Nervoso. (Stux; Hammerschlag, 2005).
A abordagem da dor segundo a M.T.C. é oposta à
da concepção ocidental, analisa o equilíbrio energético do corpo, o Qi deve fluir livremente, pois
caso contrário estamos perante uma patologia...
O tratamento fundamenta-se em dois pontos: a
harmonização do corpo e da mente e aplicações
das agulhas no local da dor. Um dos ensinamentos dos antigos mestres chineses era “…o efeito da
Acupunctura no alívio da dor seria tão rápido quanto o
aparecimento imediato da sombra no chão ao se estender
uma vara de bambu sob a luz do sol…”, a libertação
de endorfinas explica porque a acupunctura consegue resultados tão bons no tratamento da dor,
seja ela crónica ou aguda (Wang, B., 2001).
Diversas pesquisas descobriram que o trajecto de
cada sinal sensorial é diferente e que o sinal da dor
é transmitido pelo tipo mais fino de fibra nervosa.
Os fundamentos da acupunctura são analisados
sob diversos aspectos, entre os quais: a função
analgésica da acupunctura como sendo consequência do choque entre as linhas bioquímicas da
acupunctura e as linhas do estímulo doloroso nos
processos transmissores do S.N.C., as primeiras
anulam as segundas; fortalece os processos inibidores do córtex cerebral e eleva o limiar de dor;
esta técnica tem efeitos sobre as estruturas reticulares do tronco cerebral e sobre o Sistema Límbico; estimula os centros nervosos do hipotálamo e
as suas funções são mediados pelos nervos simpáticos; os efeitos da acupunctura são transmitidos
por substâncias bioquímicas (os receptores para
os opiáceos endógenos e para os opióides são elementos importantes da inibição da dor). A libertação de endorfinas para o líquido cefalorraquidiano durante a terapêutica e os consequentes efeitos
analgésicos explicam algumas das conclusões. Os
mecanismos subjacentes ao alívio das síndromes
dolorosas podem ser descritos e explicados com
uma base científica, desta forma os pontos de acupunctura definidos anatomicamente, localizam--
-se próximo dos nervos ou em regiões de elevada
inervação, o que facilita a resposta dos impulsos
à estimulação mecânica ou eléctrica. Muitos dos
pontos de acupunctura tradicionalmente seleccionados e utilizados no tratamento de uma determinada patologia localizam-se no tecido somático
inervado pelos mesmos segmentos espinhais que
o órgão visceral causador do desequilíbrio. A utilização da agulha desencadeia reacções endógenas
que habitualmente aparecem em situações fisiológicas normais. Estes estímulos excitam os receptores ou fibras nervosas do tecido manipulado – a
utilização com agulha despoleta uma sensação específica (De-Qi), que é um sinal de activação das
fibras nervosas (Stux; Hammerschlag, 2005).
A acupunctura desencadeia a libertação de Peptídeos Opiódes Endógenos (P.O.E.) que desempenham um papel importante na indução de alterações funcionais em diferentes sistemas. Vários
tipos de opióides foram identificados, sendo de
maior interesse as encefalinas, endomorfinas, b-endorfina e dinorfinas pela sua grande influência
no controlo da dor, tendo-se verificado afinidade
com diferentes receptores opióides. Associado
a este facto, percebeu-se que diferentes tipos de
correntes, nomeadamente 2 Hz e 100 Hz sensibilizam diferentes tipos de receptores opiáceos endógenos e a respectiva libertação de P.O.E., a electroacupunctura a 2 Hz utiliza receptores µ e β cujos
seus P.O.E. são a endomorfina, a b-endorfina e a
encefalina para induzir o efeito analgésico; a electroacupunctura a 100 Hz é mediada pelo receptor
opiáceo κ e pelo peptídeo dinorfina. Na electroacupunctura denso-dispersa (alternada por 3 segundos de 2 Hz e 100 Hz) os 3 tipos de receptores
opiáceos são envolvidos (Agne, Jones., 2009).
■■ Acupunctura Anestésica em Cirurgia e Selecção de Pontos
A A.A. tem funções diferentes da acupunctura
terapêutica, no campo cirúrgico o objectivo está
relacionado com o cérebro, com a capacidade de
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 63
sentir ou não o que está a acontecer na mesa de
operações. Numa tentativa de explicar como a
acupunctura conseguia criar um efeito anestésico,
estudaram em ratos, esta dinâmica no cérebro de
animais em laboratório. Ao aplicar um estímulo
doloroso numa parte do corpo, conseguiu-se observar através de um electroencefalograma a área
do córtex cerebral que se alterava dependendo do
ponto tratado. A simulação de uma cirurgia com
A.A. foi conseguida através da inserção da agulha, seguida da referida anestesia e seguidamente
aplicado um estímulo doloroso. Observaram-se
as alterações no electroencefalograma no córtex
cerebral e a inserção em determinados pontos
suprimia ou reduzia consideravelmente as alterações no electroencefalograma produzidos pelo
estímulo doloroso, havendo alteração se a escolha dos pontos fosse diferente, estes efeitos estão
relacionados com os diferentes níveis do Sistema
Nervoso Central. Relativamente ao tálamo, este
interage com dois tipos de impulsos aferentes, uns
provenientes da área onde está a ser realizada a cirurgia e outra de sensação de De-Qi da agulha. Estudos experimentais e clínicos demonstraram que
os impulsos aferentes provenientes dos pontos de
inserção diversamente localizados podem inibir
completamente a dor, contudo os melhores resultados são obtidos quando o paciente sente o De-Qi, caso contrário a inibição da dor pode não ser
completa; a localização do impulso é igualmente
importante, os impulsos aferentes provenientes
de qualquer parte do corpo produzem inibição da
dor no campo operatório, sendo que os impulsos
gerados no mesmo segmento do nervo espinal são
os que produzem uma inibição máxima e quanto
mais próximo do campo operatório se encontra o
ponto, maior é o efeito anestésico obtido (Scientia
Sinica, 1973).
Na A.A. verificou-se que as aferências simpáticas
viscerais e as aferências somáticas convergiam nos
mesmos neurónios de corno dorsal, verificando-se um reflexo somatovisceral (da pele e músculos sobre a víscera) e um reflexo viscerosomático
64 (da víscera sobre a pele e os músculos). Sabendo
que a selecção de pontos é fundamental para uma
anestesia completa, e tendo em consideração os
pontos locais e regionais, os pontos de meridiano
dentro do mesmo segmento, convém salientar a
necessidade de se conhecer devidamente a origem
segmentar do órgão ou víscera – viscerótomo; da
pele – dermátomo; dos músculos – miótomo; e
da parte óssea – periósteo, pois só com a combinação destes diferentes saberes se consegue uma
anestesia completa. Com a experiência clínica,
adoptaram-se 5 regras na selecção dos pontos de
acupunctura anestésicos:
1. Pontos seleccionados pelo meridiano
•Exemplo: E36 (Zusanli) em gastrectomias;
2. Pontos situados nas concentrações das vias
nervosas
•Exemplo: IG18 (Futu) em tiroidectomias;
3. Pontos situados nos músculos próximos ou à
altura do campo operatório,
•Exemplo: IG14 (Binao) na cirurgia ao tórax;
4. Pontos abaixo dos cotovelos e joelhos que
provocam a sensação de De-Qi
•Exemplo: IG4 (Hegu) e E36 (Zusanli) devido ao De-Qi imediato e forte;
5. Pontos auriculares como o Shenmen, Simpático e Pulmão, com outros pontos correspondentes com a área da cirurgia.
A A.A. utiliza 3 métodos para induzir a anestesia,
sendo estes: manipulação manual (com movimentos de rotação até aos 200 por minuto); estímulo
eléctrico (realizada através de uma pequena descarga eléctrica nas agulhas) e injecção de água destilada, soluções de vitamina B, entre outros, esta
injecção é normalmente efectuada em pontos auxiliares e o seu objectivo é reforçar a acupunctura
realizada nos pontos principais, eliminando assim
a lacuna resultante da manipulação irregular da
agulha (Hsing-tung, C., 1972).
No início a A.A. era realizada apenas nos pontos
de Meridiano, contudo actualmente também se
utilizam pontos de auriculoterapia chinesa e fran-
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2
cesa, acupunctura no nariz, crâniopunctura e acupressão… De salientar a administração de fentanila ou óxido nitroso administrado em quantidade
suficiente para promover a inconsciência, mas não
a analgesia (Ma-Tsue, 1972).
■■ De-Qi e a Acção sobre as Funções Nervosas
O primeiro passo para uma técnica de sucesso,
consiste na escolha dos pontos apropriados consoante o meridiano, a localização da cirurgia e a
patologia. Quando o corpo é atacado por factores patogénicos, estes propagam-se pelo sistema
de meridianos, à medida que a doença avança,
começamos a ter sinais e sintomas que nos revelam a extensão e gravidade da disseminação pelos meridianos, órgãos ou tecidos afectados. Cada
meridiano possui o seu próprio canal de circulação e uma conexão única com o órgão, o factor
patogénico agride o órgão e os tecidos, comprometendo os restantes meridianos e prosseguindo
o seu percurso específico de penetração cada vez
mais profunda e grave para o organismo. Geralmente as patologias que afectam um conjunto de
meridianos são identificadas devido à natureza e à
localização da manifestação dos sinais e sintomas.
A selecção implica o conhecimento dos meridianos que mais se adequam à cirurgia em questão e
a partir dessa escolha seleccionar os pontos mais
indicados. Na teoria tradicional, a acupunctura só
é eficaz quando as agulhas produzem no paciente uma sensação especifica, fenómeno já descrito
no livro Princípios de Medicina Interna do Imperador Amarelo “… o êxito se alcança quando aparece o De-Qi”. Esta sensação de Chamada de Chi
no início é forte como um choque, mas tende a
desaparecer, foi o que verificaram nas primeiras
cirurgias ao tórax, que o efeito da anestesia se encontrava no auge no início da operação, quando
as agulhas haviam sido inseridas e manipuladas.
Contudo no decorrer da intervenção cirúrgica não
havendo continua estimulação da agulha o efeito
ia desaparecendo, surgindo assim a necessidade
de uma manipulação ininterrupta das agulhas durante toda a operação e deste modo as restantes
cirurgias foram um êxito…
Resumindo, na A.A., a sensação de De-Qi deve
manter-se constante e a manipulação das agulhas
nunca deve ser interrompida, devendo-se utilizar
os pontos com maior Chamada de Chi, sendo que
estes demonstraram ser os mais eficazes.
A investigação nesta área começou a desenvolver-se e novas questões foram surgindo, nomeadamente a cirurgia em paraplégicos, estes eram incapazes de sentir De-Qi nos membros inferiores,
independentemente do número de pontos tratados nas extremidades inferiores ou da intensidade
da manipulação da agulha, sendo que nos membros superiores a sensação era quase imediata,
provando que existe uma estreita relação entre o
sistema nervoso e a sensação de De-Qi. De forma a comprovar esta teoria realizaram-se várias
experiências com anestesia na área lombar com o
intuito de provocar paralisia nos membros inferiores e observaram que para se obter a sensação
de De-Qi é necessário que as funções nervosas de
encontrem normalizadas.
No Hospital Huan San de Shangai foi efectuado
um estudo com electromiografia da correlação da
sensação das agulhas em pacientes com diversas
patologias nervosas, incluindo lesões do plexo
braquial, sequelas de paralisia infantil, esclerose
lateral amiotrófica, miodistrofia, miastenia grave,
siringomielia, tabes dorsalis, entre outras. Os resultados deste estudo foram: pacientes com patologias musculares ou com afecções dos neurónios
motores espinais experimentaram a sensação das
agulhas quando submetidos a acupunctura nos
membros afectados, em alguns casos verificou-se
uma melhoria das funções sensoriais gerais; nos
casos de siringomielia confirmou-se uma melhoria
das sensações dolorosas e melhoria da sensibilidade térmica dos membros afectados; em pacientes
de idade avançada, com historial de tabes dorsalis,
a acupunctura produziu uma perda da sensação
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 65
dolorosa, embora apenas durante a manipulação
das agulhas e a enquanto a sensação de De-Qi se
prologasse; na maioria dos casos, a sensação de
De-Qi foi acompanhada de actividade eléctrica do
músculo tratado por acupunctura, nos casos de
distrofia, nos quais a resposta eléctrica dos músculos não se verificavam apesar da sensação da
agulha ser aparentemente normal, em contrapartida pacientes que experimentaram sensações dolorosas e térmicas perturbadas, nas sensações da
agulha não se manifestaram, apesar das inserções
produzirem ondas electromiograficas de amplitude média (Chinese Medical Journal, 1973).
Estes resultados reflectem que o canal condutor
das sensações das agulhas na espinal medula está
estritamente relacionado com o canal condutor da
sensação dolorosa e térmica. Em clínica demonstrou-se que, independentemente da localização
do tratamento por acupunctura, os estímulos são
transmitidos na sua totalidade ao S.N.C. por via
das terminações nervosas sensitivas que produzem o efeito analgésico, uma obstrução completa
afecta a eficácia da A.A.. A naloxona pode reverter
ou bloquear totalmente a analgesia induzida pela
acupunctura, assim como o efeito de uma injecção
de anestésico local, como a bupivicaína no ponto
gatilho para alívio da dor, também é revertida. A
injecção intracerebroventricular ou intratecal de
CCLK-8, reverte e bloqueia totalmente a analgesia
produzida tanto pela morfina, como pela electroacupunctura. Todos estes estudos provam que a
acção da acupunctura é produzida pelo mecanismo ópiode.
■■ Principais Efeitos Fisiológicos
da Acupunctura Anestésica
O efeito analgésico e anestésico – a acupunctura sempre foi utilizada para suprimir a dor,
produz resultados evidentes a suprimir a dor em
pós-operatório, tendo inúmeros benefícios pois o
organismo não necessita de fármacos e consegue
recuperar melhor.
66 O efeito regulador – na acupunctura um dos
objectivos principais é regular o organismo, o
mesmo ponto de acupunctura pode regular várias
partes do organismo. A acupunctura é eficaz em
caso de inflamação pois é capaz de aumentar o número de glóbulos vermelhos e activar a fagocitose.
A cirurgia implica uma incisão na pele, a remoção
de órgãos ou de tecidos doentes e a sutura da incisão, estas podem alcançar vários centímetros e a
cirurgia demorar várias horas, durante a qual são
provocados traumatismos múltiplos…
Existe uma relação entre o efeito analgésico e o
efeito regulador, devendo-se a estes fenómenos a
diminuição da sensibilidade dolorosa, o aumento
da resistência física do paciente na intervenção
cirúrgica, pois a sua capacidade reguladora das
funções sistémicas por meio do córtex cerebral,
aumenta a resistência corporal, deixando de existir
efeitos secundários e complicações pós-operatório
da anestesia química. Regula as suas funções sistémicas, respiração, pulso, pressão sanguínea, tensão
arterial, sendo por isso reguladora das funções do
corpo e “regulador da energia”. Esta acção reforça
o poder de resistência e reduz a alteração causada
pelo traumatismo da operação, das funções dos
tecidos e órgãos.
No Hospital de Shanghai, através da utilização de
diversos métodos para verificar as funções fisiológicas do cérebro, coração, pulmões, vasos sanguíneos, músculos e pele dos pacientes submetidos a
A.A. e compará-las com outros pacientes submetidos às mesmas intervenções sob anestesia química, comparando a recuperação no pós-operatório
em ambos os grupos.
Os resultados mostraram que a “regulação de
energia” é o efeito exercido sobre os diversos
órgãos (incluindo vísceras e tecidos), pelo córtex
cerebral, através do sistema nervoso, o córtex cerebral actua como um “centro de controlo” do
corpo humano e possui poder regulador sobre
os elementos que o compõem e o efeito de manter as suas funções em óptimas condições. Com
anestesia química, as funções normais dos nervos
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2
e o córtex cerebral são minimizados pela anestesia utilizada e o centro de controlo fica paralisado
durante o qual deixa de regular de forma eficiente
as actividades orgânicas. Em contrapartida, a acupunctura acrescenta as actividades do córtex que
pode regular as actividades orgânicas e superar as
alterações produzidas pelas feridas, contribuindo
assim para uma maior segurança durante a operação e melhorias no pós-operatório. O paciente
anestesiado com acupunctura permanece totalmente consciente o que pode proporcionar uma
dinâmica entre o doente e o médico pois este sabe
quais as sensações vividas pelo paciente, levando
a que a cirurgia possa ser mais precisa e sem risco
de dano de outros tecidos neurocerebrais. Outra
das vantagens da A.A. é o facto de não requerer
instalações ou equipamentos complicados, a dosagem de químicos administrados pode não ser
necessária ou é significativamente inferior, o que
facilita a sua aplicação, fazendo com que a cirurgia
seja muito menos dispendiosa, chegando a mais
pessoas por ser bastante barata.
De ter em consideração o facto de existir um elevado número de desordens, tais como, hipertensão, falência do fígado, rins, estômago e pulmões
que são incompatíveis com a anestesia química.
Por outro lado, pacientes em estado crítico ou
com alergia à anestesia química, podem submeter-se a intervenções cirúrgicas sob a A.A., pois esta é
capaz de regular as funções dos órgãos e ajudar no
processo pós-operatório (Hsiang-tung, C., 1972).
■■ Obstáculos que se Opõem à
Acupunctura Anestésica
Apesar das cirurgias realizadas com A.A. serem
um êxito, este facto não se verifica em todos os
casos, existe a excepção à regra, situações em que
nem sempre é possível realizar a cirurgia com este
método de anestesia até ao fim…
De salientar que um dos aspectos fundamentais
a ter em conta é a influência emocional do paciente, durante a cirurgia, se o doente permanecer
acordado durante todo o procedimento cirúrgico,
onde ouve e observa tudo o que está a acontecer
ao seu redor…
O sistema modulador da dor é composto por estruturas da espinal medula, do tronco encefálico,
do sistema límbico, do tálamo e do córtex cerebral e pelos neurotransmissores como endorfinas
e serotonina, entre outros, que podem inibir ou
excitar sinapses que levam à informação dolorosa.
A modulação da dor ocorre pela integração de estímulos periféricos a processos cognitivos e emocionais. A espinal medula é uma estação de modulação da dor. Na espinal medula os estímulos
dolorosos vindos da periferia interagem com os
estímulos periféricos não nervosos (tacto e temperatura) e com os estímulos nervosos descendentes de estruturas encefálicas (córtex e sistema
límbico). Os sistemas moduladores de dor descendentes são activados e sofrem interferência do
pensamento e do afecto (conceito individual sobre
dor, apreciação da situação, experiências passadas,
medo, ansiedade, depressão, entre outras), de impulsos não dolorosos oriundos da periferia (tacto
e temperatura) e de estímulos vindos dos órgãos
dos sentidos (sons, imagens e cheiros). Dessa interacção entre a periferia, a espinal medula e estruturas encefálicas é que a transmissão do impulso
nervoso será modulada (abrindo ou fechando a
comporta) e, do corno posterior da medula, levada a estruturas subcorticais e corticais, envolvidas
na percepção e na apreciação da dor.
O ambiente do bloco operatório exerce um efeito
negativo sobre o sistema nervoso do paciente, alterando assim o efeito analgésico da acupunctura,
sendo que em certos casos existe a necessidade de
administração de anestesia química. A intervenção cirúrgica sobre acupunctura anestésica com
o paciente desperto é possível, contudo tem que
haver sessões de preparação para esta anestesia,
o paciente tem que estar mentalmente preparado
e convencido da importância deste procedimento
e se sentir confiante para que a cirurgia seja um
sucesso. Existem ainda as diferenças individuais
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 67
referentes ao efeito da acupunctura anestésica,
sendo que a mesma intensidade de estímulo, o
mesmo conjunto de pontos e mesmo tempo de
indução utilizados para o mesmo tipo de cirurgia
produzem resultados diferentes, contudo estas diferenças não se observam nos efeitos analgésicos
entre os vários métodos de acupunctura, produzindo efeitos analgésicos em diferentes partes do
corpo (Chai-hsi, E., 2006).
Existem outras situações em que a anestesia não
é eficaz por si só, designa-se pelos Obstáculos à
Acupunctura Anestésica, sendo a Anestesia Incompleta, a Reacção Indesejável da Contracção
e o Relaxamento Abdominal Insuficiente. Existe
um conjunto de medidas, incluindo fármacos auxiliares, métodos de acupunctura aperfeiçoados
e melhores técnicas cirúrgicas, que ao longo do
estudo se foram desenvolvendo com o intuito de
minimizar os danos provocados aquando da operação. Combater a Anestesia Incompleta:
a) Inserção de agulhas de 10 cm em ambos
os lados ou em ambos os extremos da incisão,
com transmissão de impulsos eléctricos de alta
frequência enquanto se procede a incisão e à
sutura da pele;
b) Fixar eléctrodos de ambos os lados da incisão e transmitir directamente os impulsos sem
as agulhas;
c) Estimular através de impulsos eléctricos a
agulha situada junto das vértebras das vísceras
que se vai operar;
d) Nas cirurgias à orelha, olho, nariz e extremidades, utilizar pontos do tronco nervoso
respectivo em vez de pontos dos meridianos
específicos, exemplo: nas operações das extremidades superiores colocar agulhas no plexo
braquial, nas extremidades inferiores inserir na
fossa poplítea ou na região inguinal;
e) Como sedante e para intensificar a analgesia, injectar 10/15mg de petidina em alguns
pontos;
f) Injectar uma solução salina normal – 0,5
mg de adrenalina por 10 ml de solução ao re-
68 dor da zona da incisão;
g) Injectar 10/20mg de lidocaína na raiz auricular;
h) Injectar água destilada em ambos os extremos da incisão e no ponto B25 (Dachangshu);
i) Na tiroidectomia, inserir profundamente
uma agulha no ponto IG18 (Futu), e a partir
deste inserir outra agulha subcutaneamente na
direcção da incisão; as agulhas profundas têm
a finalidade de reduzir a dor causada pela contracção, enquanto as subcutâneas diminuem a
dor provocada pela incisão.
Para combater a reacção indesejável da contracção:
a) Injectar 120mg de dolantina e electroacupunctura nos pontos B17 (Geshu) e B21
(Weishu);
b) Injectar de 15mg de dolantina e 0,3 mg de
escopolamina no ponto E36 (Zusanli);
c) Puncturar os pontos auriculares Sanjiao,
Abdómen, Supra-renais e Simpático;
d) Aplicar electroacupunctura a raiz da língua
e Pc6 (Neiguan);
e) Puncturar o E36 (Zusanli) e manipular
fortemente com movimentos oscilatórios e
rotativos;
f) Injectar 0,3 mg de escopolamina em 6
ml de solução salina no B21 (Weishu), B23
(Shenshu) e B17 (Geshu);
g) Electroestimulação forte no ponto Pc6
(Neiguan) para combater a contracção abdominal;
h) Injectar novocaína a 1% no plexo do nervo
que alimenta os correspondentes dos órgãos
operados.
Para facilitar o relaxamento muscular abdominal:
a) Electroacupunctura intensa no campo operatório e no peritoneu;
b) Electroacupunctura no peritoneu com
eléctrodos no B21 (Weishu) e B17 (Geshu);
c) Electroacupunctura intensa nos pontos
E36 (Zusanli) e BP6 (Sanyinjiao);
d) Inserções subcutâneas em ambos os lados
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2
da incisão, com eléctrodos colocados a 3,75 cm do bordo da 2ª e 3ª vértebra lombar; e complementar com
a inserção de 3 agulhas à volta do ponto auricular Sanjiao;
e) Inserir agulhas nos pontos auriculares Simpático e Mio-relaxante;
f) Electroacupunctura com estímulo de alta frequência nos 8º, 9º, 10º, 11º e 12º nervos intercostais;
g) Injectar 0,3mg de escopolamina nos pontos B23 (Shenshu) e B21 (Weishu);
h) Injecção intramuscular de 6 ml de glucose a 50% e de 6 ml de bicarbonato de sódio a 4% no local da
incisão, a reacção é imediata e provoca um longo período de relaxamento muscular.
■■ Pesquisa Clínica e Estudos Publicados
Considerando a revisão bilbiográfica da utilização de A.A., um dos trabalhos mais relevante é compilação e
tradução de “Medicine & Health Co”, realizada pelo Dr. S.T. Hu e Dr. L.K. Lu,. Dada a sua extrema aplicabilidade prática apresenta-se em seguida um resumo das conclusões dos estudos realizados. Numa tentativa
de se aprofundar todo o conhecimento existente em A.A., com o intuito de se verificar para cada uma das
cirurgias quais os pontos mais eficazes, sendo estes agrupados por conjuntos e realizada uma análise posterior de toda informação obtida. Nota: os pontos apresentados são puncturados do lado afectado apenas,
quando se verifica punctura no lado saudável existe indicação, em alguns casos existem pontos que não são
de acupunctura, mas correspondentes a áreas com maior irrigação nervosa e provocam igualmente anestesia,
para consulta de localização e acção dos pontos referido.
Cirurgia ao Cérebro
Estudo realizado no Hospital Hua Shan de Shangai, realizado em 619 casos de neurocirurgia, dos quais 120
intervenções à espinal medula e 499 craniotomias devido a tumores.
Região Parietal e Região Frontal (Chinese Medical Journal, 1973)
Grupo 1: ID18 (Quanliao);
Pontos Corporais:
Grupo2:
ID18 (Quanliao), VB41 (Zulinqi), E43 (Xiangu),
F3 (Taichong);
Grupo 3:
B2 (Zanzhu), VB8 (Shuaigu), SJ22 (Erheliao),
VB12 (Wangu);
Pontos Auriculares:
inserção no Shenmen em direcção ao Rim, inserção no Tronco Cerebral em direcção ao Sub-cortex,
ponto Simpático e Pulmão;
Combinação:
IG4 (Hegu), Pc6 (Neiguan), apenas do lado saudável e inserção no Shenmen em direcção ao Rim,
inserção no ponto Frontal até ao Occipital;
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 69
Região Temporal e Região Occipital
Pontos Auriculares:
inserção no Shenmen em direcção ao Rim, inserção no Tronco Cerebral ou Grupo 1:
Occipital em direcção ao Sub-cortex,
ponto Simpático e Pulmão;
Shenmen, inserção no ponto Occipital em Grupo 2:
direcção ao Pescoço, ponto Rim e Fígado;
IG4 (Hegu), Pc6 (Neiguan) apenas do lado saudável,
inserção no ponto Occipital em direcção ao Pescoço, inserção no ponto Pescoço em direcção ao Occipital;
Combinação:
Estrabotomia
Pontos Corporais:
Outras Cirurgias Oculares
Grupo 1: IG4 (Hegu), SJ6 (Zhigou), VB37 (Guangming)
Pontos Corporais:
Grupo 1:
Grupo2:
IG4 (Hegu), E2 (Sibai), B2 (Zanzhu);
Grupo 3: IG4 (Hegu), ID6 (Yanglao), ambos bilaterais;
IG4 (Hegu), B2 (Zanzhu), auriculoterapia ponto Olho e Pulmão dos dois lados;
Combinação:
Grupo 2: Shenmem e Pulmão;
Cirurgia em Otorrinolaringologia
Estudo realizado no Hospital do Primeiro Colégio de Medicina de Shangai, Departamento de Otorrinolaringologia (Chinese Journal, 1973).
Timpanotomia
Pontos Corporais:
Escleroctomia
IG4 (Hegu), auriculoterapia ponto Olho e Pulmão dos dois lados;
Combinação:
Iridotomia
IG4 (Hegu), B2 (Zanzhu) em direcção ao ponto YuShang (acima do Yu-Yiao), E7 (Xianguan), E2 (Sibai);
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2
IG4 (Hegu), Pc6 (Neiguan), E44 (Neiting), todos bilaterais;
cirurgia ao nariz
pONTOS CORPORAIS:
70 IG4 (Hegu) bilateral
Mastoidectomia
Pontos Corporais:
Combinação:
Shenmen, Simpático, Pulmão, inserção do ponto Frontal ao ponto Olho;
Pontos Auriculares:
IG4 (Hegu); punctura do ponto SJ5
Grupo 1: (Waiguan) em direcção ao ponto Pc6
(Neiguan);
Pontos Corporais:
Grupo 2: IG4 (Hegu), SJ6 (Zhigou),
Grupo 3: IG4 (Hegu) bilateral, B1 (Jingming);
Cirurgia Ocular
Estudo realizado no Hospital do Trabalhador, do Soldado e do Camponês de Pequim e no Hospital da Escola de Medicina Chung-shan de Cantão.
Extirpação do Cristalino
IG4 (Hegu), SJ6 (Zhigou), punctura do ponto E2 (Sibai)
em direcção ao ponto E1 (Chengqi);
E3 (Meichong) em direcção ao ponto E2 (Sibai), IG4
(Hegu), SJ6 (Zhigou);
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 71
Pontos AURICULAREs:
Maxilar em direcção ao ponto Frontal, do ponto Supra-renais em direcção Nariz Interno, do ponto Shenmen em direcção ao ponto Simpático;
Pontos Auriculares:
Faringe, Amígdalas, ambos bilaterais;
Esofagoscopia, Traqueoscopia
Plásticas ao Nariz, Pólipos Nasais
Grupo 1: IG4 (Hegu) bilateral;
Grupo 1: IG4 (Hegu) bilateral;
Pontos Corporais:
Grupo 2: IG4 (Hegu), Pc6 (Neiguan), ambos bilaterais;
Pontos Corporais:
Grupo 2: IG4 (Hegu), IG20 (Yingxiang);
Grupo 3: IG4 (Hegu), ID3 (Houxi) bilaterais;
Grupo 1:
Pontos Auriculares:
ponto Nariz Externo em direcção ao ponto Nariz Interno, bilaterais;
Nariz Externo em direcção ao Nariz Grupo 2: Interno, Vértice do Trago, Pulmão,
Simpático;
Cirurgia Facial e Bucal
Estudo realizado na Clinica Dental do Quarto Hospital de Si-na, no Nono Hospital do Povo de Shanghai e
Segundo Colégio de Medicina.
Área Parótida
Pontos Corporais:
E40 (Fenglong), VB38 (Yangfu), B59 (Fuyang), F3
(Taichong), E43 (Xiangu), VB43 (Xiaxi);
Área Submaxilar
Cirurgia ao Maxilar Superior
E40 (Fenglong), VB38 (Yangfu), B59 (Fuyang), F3
(Taichong), BP4 (Gongsun);
Pontos Corporais:
IG4 (Hegu), Pc6 (Neiguan), IG20 (Yingxiang) todos bilaterais;
Pontos Corporais:
Combinação:
IG4 (Hegu) bilateral, Sj5 (Waiguan), pontos auriculares do Maxilar, Rim, Simpático;
Cirurgia à mandíbula
Extracção Cirúrgica da Laringe
IG4 (Hegu), SJ6 (Zhigou), auriculoterapia punctura do ponto Supra-renal em direcção ao ponto Laringe, do ponto Pescoço em direcção ao Ápice do Anti-trago, do ponto Shenmen em direcção ao ponto Simpático, Pulmão, Rim, todos bilaterais;
Combinação:
Amigdalectomias
pONTOS CORPORAIS:
E40 (Fenglong), VB38 (Yangfu), B59 (Fuyang), F3
(Taichong), BP4 (Gongsun), IG4 (Hegu), Pc6 (Neiguan);
Cirurgia à articulação temporomandibular
Pontos Corporais:
E40 (Fenglong), VB38 (Yangfu), B59 (Fuyang), F3
(Taichong), BP4 (Gongsun), IG4 (Hegu), Pc6 (Neiguan),
todos bilaterais;
cOMBINAÇÃO:
IG4 (Hegu), Pc6 (Neiguan), auriculoterapia pontos correspondentes às áreas da cara, de acordo com a cirurgia;
Grupo 1: IG4 (Hegu) bilateral;
Extracção Dentária
Pontos Corporais:
Grupo 2: SJ6 (Zhigou) bilateral;
Pontos Corporais:
Grupo 3:
72 ponto amígdalas (por baixo do maxilar, a 1,5cm do ângulo da mandíbula) bilateral;
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2
Grupo 1:
IG2 (Erjian), IG4 (Hegu) e mais um dos conjuntos seguintes de acordo com o dente a extrair;
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 73
Pontos corporais:
Du26 (Renzhong) em direcção ao IG2
(Erjian);
incisivo
inferior
Ren24 (Chengqiang), E3 (Meichong);
canino
superior
Du26 (Renzhong) em direcção ao IG29, ID18
(Quanliao);
Pontos Corporais:
canino
inferior
Ren24 (Chengqiang) em direcção ao E5
(Daying), E6 (Jiache);
Tiroidectomia
Bicúspide
superior
E7 (Xianguan), ID18 (Quanliao);
Bicúspide
inferior
Ren24 (Chengqiang), E6 (Jiache);
Molar superior:
ID18 (Quanliao), E6 (Jiache);
Molar inferior:
Ren24 (Chengqiang), E6 (Jiache), Ren24
(Chengqiang), E7 (Xianguan);
IG3 (Sanjian) em direcção ao IG4 (Hegu) bilateral;
vértice do trago;
Combinação:
Cirurgia ao Pescoço
Estudo realizado no Primeiro Hospital do Povo de Shanghai (Chinese Medical Journal,1973).
incisivo
superior
Um estudo realizado na Clinica Dentária do 4º Hospital de Si-na em 1250 casos divididos em 6 grupos,
consistiu na injecção de 0,5 a 1ml de solução salina em pontos de auriculoterapia com o intuito de produzir a
analgesia necessária para realizar uma extracção de dentes; a extracção foi efectuada 10 a 15 minutos depois,
verificando-se uma sensação de dormência, distensão e calor.
Traqueotomia
Pontos Corporais:
Pontos Auriculares:
Grupo 1:
IG4 (Hegu), Pc6 (Neiguan), P1
(Zhongfu), todos bilaterais;
Grupo 2:
IG18 (Futu) bilateral;
Grupo 1:
IG18 (Futu) bilateral;
Grupo 2:
IG4 (Hegu), Pc6 (Neiguan), ambos bilaterais;
Grupo 3:
IG4 (Hegu), E6 (Jiache) ou SJ17 (Yifeng),
VB20 (Fengchi), todos bilaterais;
Shenmen, Pulmão, Subcortical, Faringe-Laringe,
Pescoço, todos bilaterais;
Tirocarcinectomia radical
Pontos Corporais:
IG4 (Hegu), Pc6 (Neiguan), ambos bilaterais;
Combinação:
IG4 (Hegu), Pc6 (Neiguan), ambos bilaterais;
auriculoterapia Shenmen, Simpático, Pulmão,
inserção do ponto Pescoço em direcção ao ponto Clavícula, todos bilaterais;
Extracção Dentária
Grupo 1: Dente e Ómega;
Grupo2:
Pontos Auriculares:
:
Face e Lábios;
Grupo 3: Supra-renal;
Grupo 4: Anti-trago;
Grupo 5: Dente, Ómega, Supra-renal e Anti-trago;
Grupo 6:
74 todos os pontos e áreas acima assinaladas;
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 75
Cirurgia ao Tórax
Estudo realizado na Secção de Cirurgia ao Tórax do Grupo Coordenador de A.A. de Pequim, e no Primeiro
Hospital de Tuberculose de Shangai em Pneumotomia, Pneumonectomia, Toracotomia, Tracoplastia e Toraconeumoplastia (Chinese Medical Journal, 1973).
Cirurgia Abdominal
Estudo realizado no Hospital do Povo de Ch’angshan (Chinese Medical Journal, 1973).
Gastrectomia subtotal e Gastrocolostomia
Cirurgia ao Tórax
Pontos Corporais:
Pontos Auriculares:
Grupo 1:
IG4 (Hegu), Pc6 (Neiguan);
Grupo 2:
inserção do ponto SJ8 (Sanyangluo) em direcção ao ponto Pc4 (Ximen);
Grupo 3:
ponto extra Hsia Yi Feng (atrás do lóbulo da orelha, 0,5cm abaixo da depressão situada entre a apófise mastóide e a mandíbula);
Grupo 4:
inserção do ponto IG14 (Binao) em direcção ao SJ14 (Jianliao);
Pontos Corporais:
IG4 (Hegu), Pc6 (Neiguan), SJ6 (Zhigou), todos bilaterais;
Pontos Auriculares:
Shenmen, Tórax, Coração, Pulmão; todos do lado esquerdo;
Grupo 1:
IG4 (Hegu), Pc6 (Neiguan), ambos do lado esquerdo com electroestimulação;
Grupo 2:
IG4 (Hegu), Pc6 (Neiguan), ambos do lado esquerdo com electroestimulação;
Du13 (Taodao), Du11 (Shenzhu);
Pontos Corporais:
Pontos Auriculares:
E36 (Zusanli), SJ17 (Yifeng), ambos bilaterais, e mais dois pontos, um em cada lado da incisão;
Estômago, Shenmen, Simpático; Pulmão, todos bilaterais ou apenas do lado esquerdo;
Esplenectomia
Pontos Corporais:
E36 (Zusanli), BP6 (Sanyinjiao), Ren3 (Zhongji), todos bilaterais;
Grupo 1:
IG4 (Hegu), Pc6 (Neiguan), ambos do lado esquerdo;
Grupo 2:
IG4 (Hegu), Pc6 (Neiguan), IG14 (Binao), SJ10
(Tianjing), todos do lado esquerdo;
Pontos Corporais:
IG4 (Hegu), Pc6 (Neiguan);
Pontos Auriculares:
Shenmen, Simpático, Endócrino, Tórax e Pulmão;
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2
Grupo 2:
Ren15 (Jiuwei), F13 (Zhangmen), ambos do lado esquerdo, Pc4 (Ximen), IG4 (Hegu), E36
(Zusanli), todos bilaterais;
inserção do ponto Orelha em direcção ao baço,
inserção do ponto Pulmão em direcção ao baço,
Baço e Estômago;
Colecistectomia
Pontos Corporais:
E36 (Zusanli), BP6 (Sanyinjiao), VB extra
Pontos Auriculares:
Pâncreas, Vesícula Biliar, Abdómen, Shenmen,
Simpático, Pulmão, Subcortex, todos bilaterais;
Combinação:
IG4 (Hegu), Pc6 (Neiguan), auriculoterapia ponto Shenmen em direcção ao ponto Vesícula Biliar,
Simpático, Pulmão, ponto extra entre o Estômago,
Fígado e Baço;
Enterectomia
Mastectomia
Pontos Corporais:
Grupo 1:
BP4 (Gongsun), bilateral,
auriculoterapia ponto Baço, Sanjiao,
Pulmão, Simpático, Shenmen, todos do lado esquerdo;
Combinação:
Cirurgia ao Esófago
Grupo 2:
Pontos Corporais:
Pontos Nasais:
Cirurgia Pericardíaca
E36 (Zusanli), SJ17 (Yifeng), ambos bilaterais ou apenas do lado esquerdo;
Shenmen, Simpático, Pulmão, Asma, Rim e Tórax;
Cirurgia ao Coração – Hospital da Escola de Medicina de Hunan em
Changsha (Chinese Medical Journal, 1973).
76 Grupo 1:
Pontos Corporais:
E36 (Zusanli), BP4 (Gongsun), F3 (Taichong), IG4
(Hegu), Pc6 (Neiguan), todos bilaterais;
Pontos Auriculares:
inserção do ponto Shenmen em direcção ao ponto Abdómen;
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 77
Apendicectomia
Pontos Corporais:
Pontos Auriculares:
Nefrolitotomia, Uretrolitotomia
E36 (Zusanli) bilateral, VB26 (Daimai);
Grupo 1:
Apêndice e Boca;
Grupo 2:
Abdómen, Pulmão e Shenmen;
Cirurgia à Hérnia Inguinal
Pontos Corporais:
Grupo 1:
E36 (Zusanli) bilateral ou do lado afectado, VB28 (Weidai);
Grupo 2:
B18 (Ganshu), B25 (Dachangshu), BP15
(Daheng), VB28 (Weidai);
Pontos Auriculares:
ponto joelho em direcção ao ponto Abdómen,
Simpático;
Combinação:
E36 (Zusanli), auriculoterapia Genitais Externos,
Intestino Delgado, Simpático, Pulmão;
Pontos Corporais:
VB38 (Yangfu), B60 (Kunlun), R6 (Zhaohai), E43
(Xiangu), F3 (Taichong), BP3 (Taibai), IG4 (Hegu), SJ5
(Waiguan), ID3 (Houxi), Pc4 (Ximen);
Pontos Auriculares:
Rim, Shenmen, Pulmão, Simpático, Sanjiao, Baço ou Fígado;
Combinação:
bilateralmente os pontos Shu correspondentes aos níveis segmentares da área a operar;
auriculoterapia ponto Rim, Shenmen, Simpático,
Baço ou Fígado;
Cistolitotomia, Cistorrafia
Pontos Corporais:
BP6 (Sanyinjiao) bilateral, Ren3 (Zhongji), Ren4
(Guanyuan);
Pontos Auriculares:
Bexiga, Abdómen, Shemen, Pulmão;
Combinação:
E36 (Zusanli), BP6 (Sanyinjiao), auriculoterapia Bexiga, Shenmen, Subcortex direccionado a Pulmão;
Salpingectomia
Grupo 1:
E36 (Zusanli), F6 (Zhongfeng), ambos bilaterais;
Grupo 2:
E36 (Zusanli), VB26 (Daimai), ambos bilaterais;
Pontos Corporais:
Perineotomia
Pontos Corporais:
BP6 (Sanyinjiao), F3 (Taichong);
Pontos Auriculares:
Ovários, Shenmen, Pulmão, todos bilaterais;
Combinação:
E36 (Zusanli), auriculoterapia Genitais Externos,
Intestino Delgado, Simpático, Pulmão;
Circuncisão
Pontos Corporais:
BP6 (Sanyinjiao), F3 (Taichong) ambos bilaterais,
Ren3 (Zhongji), Ren4 (Guanyuan);
Pontos Corporais:
E36 (Zusanli), BP6 (Sanyinjiao), VB26 (Daimai), ponto extra anestésico (17,5 cm acima do maléolo interno), todos bilaterais;
Combinação:
raiz do pénis, auriculoterapia ponto Genitais Externos, Shenmen, Simpático, ponto Pulmão em direcção ao ponto Sub-cortex, todos bilaterais;
Pontos Auriculares:
Útero, Abdómen, Shenmen, Simpático, Miorelaxante;
Cesariana
Histerossalpingo-ooforectomia
Grupo 1:
Du2 (Yaoshu), Du4 (Mingmen), VB26 (Daimai),
B33 (Zhongliao), B32 (Ciliao);
Grupo 2:
Du2 (Yaoshu), Du4 (Mingmen), VB26 (Daimai),
E36 (Zusanli), BP6 (Sanyinjiao);
Pontos Corporais:
Hemorroidectomia
Pontos Corporais:
B30 bilateral;
Combinação:
B49 (Yishe) bilateral, auriculoterapia Recto,
Pulmão;
Cistectomia do Ovário
Pontos Corporais:
Du2 (Yaoshu), Du4 (Mingmen), VB26 (Daimai), B32
(Ciliao), BP6 (Sanyinjiao) na direcção do meridiano;
Combinação:
BP9 (Yinlingquan), VB34 (Yanglingquan),
auriculoterapia ponto Rim e Coração;
78 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 79
Cirurgia aos Membros Superiores e Inferiores e Coluna
Cubito e Rádio
Pontos corporais:
Clavícula
Pc6 (Neiguan), IG18 (Futu), auriculoterapia Clavícula, Shenmen, Sub-cortex, todos bilaterais;
Combinação:
Articulação do Ombro
Pontos Auriculares:
inserção do ponto ombro em direcção ao ponto Articulação do Ombro, Shenmen, Simpático, Rim;
Combinação:
IG4 (Hegu), P6 (Kongzui), auriculoterapia ponto Ombro em direcção ao ponto Articulação do Ombro, Pulmão, Rim, inserção do ponto Shenmen em direcção ao ponto Simpático;
Bolsa Articular do Ombro
Pontos Corporais:
SJ5 (Waiguan), Pc4 (Ximen), P6 (Kongzui), IG4 (Hegu);
Úmero
Pontos Auriculares:
inserção do ponto Ombro em direcção ao ponto Cotovelo, Shenmen, Simpático, Pulmão, Suprarenal, Rim;
Combinação:
todos os pontos da região anterior e posterior do ombro, auriculoterapia ponto Ombro,
Articulação do Ombro, Shenmen, Occipital,
Vértice da Orelha;
Articulação do Cotovelo
IG15 (Jianyu), IG4 (Hegu), SJ5 (Waiguan), IG11 (Quchi),
auriculoterapia inserção do ponto Cotovelo em direcção ao ponto Ombro, Shenmen, inserção do ponto Baço em direcção ao ponto Pulmão, Rim;
Combinação:
IG11 (Quchi), SJ5 (Waiguan), P10 (Yuji), IG4 (Hegu), P2
(Yunmen), agulha no centro do músculo Deltóide;
Grupo 1:
IG4 (Hegu), IG11 (Quchi), IG15 (Jianyu),
SJ13 (Naohui), agulha no centro do antebraço entre os tendões,
auriculoterapia ponto cotovelo em direcção ao ponto Mão, Pulmão, Rim;
Grupo 2:
Pc6 (Neiguan) em direcção ao ponto SJ5 (Waiguan); auriculoterapia ponto Cotovelo em direcção ao ponto Mão,
Pulmão, Rim;
Combinação:
Transplante dos músculos da Mão
Pontos corporais:
IG17 (Tianding) em direcção ao plexo braquial;
Extracção de Tumores nos Glúteos
Pontos corporais:
E44 (Neiting), B33 (Zhongliao), R6 (Zhaohai),
bilateralmente;
Combinação:
VB24 (Riyue), B40 (Weizhong), E36 (Zusanli),
auriculoterapia ponto Rim, Pulmão em direcção ao ponto Sub-cortex, ponto Shenmen em direcção ao ponto Simpático;
Extracção de Tumores da Coxa
Pontos corporais:
E36 (Zusanli), B60 (Kunlun), extra Hoting;
Veia Safena
Pontos auriculares:
Shenmen em direcção ao ponto Articulação da Anca, ponto Abdómen em direcção ao ponto Joelho, Pulmão, Sub-cortex;
Implante de Prótese por Fractura da Cabeça do Fémur
Antebraço
Pontos corporais:
inserção do ponto IG11 (Quchi) em direcção ao ponto C3 (Shaohai), P5 (Chize), IG4 (Hegu), uma agulha em cada lado cada artéria axilar;
Amputação do Antebraço
Pontos corporais:
P5 (Chize), C2 (Qingling), agulha no centro do músculo Deltóide;
Combinação:
IG4 (Hegu), SJ3 (Zhongzhu), auriculoterapia ponto mão, Shenmen, bilaterais;
80 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2
Pontos Corporais:
Grupo 1:
E36 (Zusanli), B59 (Fuyang), VB36 (Waiqiu),
VB39 (Xuanzhong), BP6 (Sanyinjiao), E43
(Xiangu);
Grupo 2:
Vb34 (Yanglingquan), E40 (Fenglong),
F5 (Ligou), pontos situados a 1,25cm em ambos os lados das apófises espinhosas da 12ª vertebra torácica e 1ª lombar;
Grupo 3:
VB24 (Riyue), VB39 (Xuanzhong), pontos situados acima e abaixo de E4 (Dicang),
do lado afectado, F6 (Zhongfeng)
apenas do lado saudável;
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 81
Pontos auriculares:
Articulação da Anca em direcção ao ponto Calcanhar, Shenmen, Simpático, Rim, Supra-renais;
Combinação:
Amputação de uma perna a altura da coxa inferior
VB30 (Huantiao), B49 (Yishe), ponto a 1,25 cm ao lado das apófises espinhosas da 3ª e 4ª vértebras lombares, auriculoterapia Joelho, Articulação da Anca, Shenmen, Pulmão;
Combinação:
Extracção de partes moles da Articulação do Joelho
Grupo 1:
Pontos Corporais:
Grupo 2:
Amputação da parte inferior da Perna
VB30 (Huantiao), B49 (Yishe), pontos situados a 1,25cm de ambos os lados da 4ª e 5ª vértebras lombares,
auriculoterapia ponto Joelho em direcção ao ponto Calcanhar, Shenmen, Pulmão;
Combinação:
Extracção de Discos Intervertebrais
Pontos corporais:
3º nervo lombar próximo ao ponto B24
(Qihaishu), ponto do Nervo Femoral próximo ao ponto E31 (Biguan), inserção subcutânea em ambos os lados da incisão;
3º e 4º nervo lombar próximo ao ponto B24 (Qihaishu) e B25 (Dachangshu), B51
(Huangmen);
E41 (Jiexi), R6 (Zhaohai), E36 (Zusanli), BP6 (Sanyinjiao),
E37 (Shangjuxu), todos bilaterais, auriculoterapia ponto Calcanhar, Shenmen, Occipital, Pulmão,
Simpático;
IG4 (Hegu), SJ5 (Waiguan), ambos bilaterais, agulhas de ambos os lados da incisão, pontos dos meridianos das costas, por cima e por baixo da incisão;
Grupo 1:
IG4 (Hegu), Pc6 (Neiguan), auriculoterapia ponto Shenmen em direcção ao ponto Simpático, Coluna, Pulmão, Rim;
Grupo 2:
ponto extra (1,25 cm para fora do ponto Du4 – Mingmen), ID3 (Houxi), ambos bilaterais, auriculoterapia inserção do ponto Shenmen em direcção ao ponto Pulmão, inserção do ponto Baço em direcção ao ponto Pulmão, ambos bilaterais.
Combinação:
Tíbia e Perónio
F3 (Taichong), BP9 (Yinlingquan), BP10 (XueHai),
B53 (BaoHuang), VB30 (Huantiao), E31 (Biguan),
auriculoterapia ponto Joelho em direcção ao Calcanhar, Sub-cortex;
Combinação:
Metatarsectomia
Grupo 1:
BP6 (Sanyinjiao), VB38 (Yangfu), BP3 (Taibai),
F3 (Taichong);
Grupo 2:
F3 (Taichong), R6 (Zhaohai), VB39
(Xuanzhong);
Grupo 1:
B54 (Zhishi), B57 (Chengshan), E36 (Zusanli),
E44 (Neiting);
Grupo 2:
B54 (Zhishi), B51 (Huangmen), E36 (Zusanli);
Pontos Corporais:
Tendão de Aquiles
Pontos Corporais:
82 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2
PALAVRAS-CHAVE:
Acupunctura. Anestesia. Analgesia. Medicina Tradicional Chinesa.
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 83
membros do conselho científico (resumo curricular)
║║
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS
•Agne, Jones., “Eu Sei Electroterapia”, 1ª edição, Sociedade Vicente Pallotti, Santa Maria, 2009.
•Chai-hsi, E., “Acupuntura Anestésica”, Edicions Bellaterra, Barcelona, 2006
•Chien-hsiung, “Needling Anaesthesia” Ping Cheng Press, China, 1972.
•Chinese Medical Journal, “Analgesic Effect of Needling Quanliao Point in Neurosurgery”, Pequim, 1973.
•Chinese Medical Journal, “Laryngectomy under Acupuncture Anaesthesia”, Pequim, 1973.
•Chinese Medical Journal, “Acupuncture Anesthesia in Splenectomy”, Pequim, 1973
•Chinese Medical Journal nº 2, “Acupuncture Anaesthesia in Cardiac Surgery”, Pequim, 1973.
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Publishing Co, Hong Kong, 2000.
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•Scientia Sinica vol. XVI, “Integrative Action of Thalamus in the Process of Acupuncture for
Analgesia”, China, 1973.
•Stux; Hammerschlag, “Acupunctura Clínica”, 1ª edição, Editora Manole, Brasil, 2005.
•Wang, B. “Princípios de Medicina Interna do Imperador Amarelo”. Ícone Editora, São Paulo,
2001.
•World Health Organization, “Acupuncture: Review and Analysis of Reports on Controlled Clinical Trials”, 2003.
Ana Cláudia Barreira Nunes
Farmacêutica, licenciada em Ciências Farmacêuticas pela FFUP e doutorada em Química pela
FCUP. Curso de Plantas em Fitoterapia creditado pela Ordem dos Farmacêuticos e SPFiTo;
Coordenadora do Curso de Farmácia, na Escola
Superior de Saúde Jean Piaget de V.N.Gaia, onde
é regente das Unidades Curriculares de Dermofarmácia e Cosmética e Tecnologia de Produção
em Farmácia. Organiza, regularmente Workshops
na área da Dermocosmética e participa como palestrante em diversos eventos da área. Realiza investigação científica na área da Dermocosmética,
estudos de eficácia, em parceria com Laboratórios
Farmacêuticos.
Ana Cristina Esteves
Licenciada e Biologia na Universidade de Aveiro (UA) em 1996 e doutorada em Biologia pela
UA em colaboração com com o Centro de Neurociência e Biologia da Célula, da Universidade
de Coimbra, em 2002. Professora Convidada do
Departamento de Biologia da Universidade de
Aveiro, bem como investigadora do CESAM-UA
(Centre of Environmental and Marine Studies).
A investigação é centrada na relação da interação
dos micro organismos com outros organismos e a
sua resposta às alterações do ambiente.
Ana Cristina Estrela de Oliveira C. Cordeiro
Bolseira de pós-doutoramento da FCT . Ligação à
FMUP e ao IBMC. A área de investigação é a dor
visceral crónica, à qual se encontram associadas
patologias como o síndrome de cólon irritável, a
cistite intersticial, entre outras doenças. Estudo sobre os mecanismos pato-fisiológicos destas doenças, bem como arranjar novos tratamentos e ferramentas de diagnóstico. Percurso escolar na Escola
Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa para obtenção da licenciatura em
Microbiologia. Passagem pelo IPATIMUP. Grau
de mestre em Toxicologia pela Universidade de
Aveiro. Grau de doutor em Biologia Humana, pela
Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.
84 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2
António José Afonso Marcos
Professor Universitário. Mestre em Medicina Natural e Especialista em Dietética e Nutrição pela
Faculdade de Medicina da USC. Pós-graduado
em Acupunctura e Moxibustão pela Associação
Médica Chinesa. Diplomado em Acupunctura e
em Naturopatia pela ESTP. Presidente do Instituto Português de Naturologia. Membro consultor
em Comissões de elaboração de diplomas legais.
Membro do Conselho Científico de várias revistas científicas. Diretor do CTEC e Presidente do
Conselho Científico da Universidade.
Arménio Jorge Moura Barbosa
Licenciado em Bioquímica pela Universidade do
Porto em 2006 tendo participado no programa
Erasmus na Universidade de Modena e Reggio
Emilia (Italia). Doutorado em 2010 pela Universidade de Modena e Reggio Emilia (Itália) em química computacional, sobre a interação de ligandos
com o recetor de serotonina 5-HT3. Em 2010 iniciou o Pos-doutoramento na área da descoberta
e desenvolvimento de fármacos anti-cancro, utilizando bases de dados de moléculas orgânicas de
origem sintética e natural. Participa anualmente
em congressos internacionais apresentando resultados para targets: epigeneticos, recetores GPCR,
complexos proteína-RNA, recetores nucleares.
Colabora com vários grupos de investigação nacionais e internacionais e tem varias publicações
em revistas cientificas.
Carlos Manuel Moreira Mota Cardoso
Licenciatura em Medicina e Cirurgia, pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Título de Especialista em Psiquiatria pela Ordem dos
Médicos. Bolseiro da Direcção Geral de Cuidados
de Saúde Primários para efectuar um estágio em
Trieste (Itália) no Hospital de S. Giovani (1985).
Grau de Mestre em Psicopatologia pela Universidade do Porto (Dissertação: A Clínica Psiquiátrica
de Urgência – 13 anos de experiência). Grau de
doutor em Psicologia pela Universidade do Porto (Dissertação: Os Caminhos da Esquizofrenia).
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 85
membros do conselho científico (resumo curricular)
Director do Hospital do Conde de Ferreira e Presidente do Conselho de Gerência, por vários mandatos. Director do Centro de Saúde Mental do
Norte. Membro eleito do Colégio Português de
Psiquiatria da Ordem dos Médicos. Coordenador
da Ordem dos Médicos para o Serviço Nacional
de Saúde. Mandato no Colégio de psiquiatria da
Ordem dos Médicos. Nomeado pelo Conselho
Científico da Faculdade de Direito da Universidade do Porto como docente convidado da Escola
Superior de Criminologia. Foi-lhe atribuído o título académico de “Professor Afiliado”. Participação em diversos trabalhos de investigação e autor
de várias publicações e artigos da especialidade.
Jose Maria Robles Robles
Licenciado em Fisioterapia pela Universidade Europeia
de Madrid. Diplomado em Ciências da Saúde, Fisioterapia, da Universidade Alfonso X el Sabio, Madrid.
Doutorado em Acupuntura pelo Comitê Internacional
de Exames República Popular da China, pertencente
ao Ministério da Saúde Pública. Formação em Terapias
Alternativas: Acupuntura, Naturopatia, Osteopatia, Massagem. Formação em Medicinas Tradicionais pelas Universidades da China, Tailândia. Diretor da Academia de
Ciências da Saúde, em Barcelona.
João Paulo Ferreira Leal
Consultor científico independente, tendo desempenhado funções docentes ao longo de duas décadas em instituições portuguesas de ensino superior
nas áreas letivas de Antropologia, Bioética, Ética,
Deontologia Profissional, e Política. É licenciado em Antropologia, pós-graduado e mestre em
Relações Internacionais (Ética em RI), DEA em
Antropologia Social e doutorado em Psicologia
(Psicologia de Desenvolvimento Moral). Realizou
pós-doutoramento em Antropologia Médica, com
relatório de pesquisa orientado para os temas da
Antropologia do Corpo, da Doença e da Saúde.
86 Luis Alberto Coelho Rebelo Maia
Editor-in-Chief da “Iberian Journal of Clinical
& Forensic Neuroscience” (ISSN - 2182 - 0290)
.Cédula Profissional da Ordem dos Psicólogos, n.º
102. Professor Auxiliar - Beira Interior University.
Clinical Neuropsychologist, PhD (USAL - Spain).
Neuroscientist, MsC (Medicine School of Lisbon
- Portugal). Medico Legal Perit (Medicine Institute Abel Salazar - Oporto, Portugal). Graduation
in Clinical Neuropsychology (USAL Spain). Graduation in Investigative Proficiency on Psychobiology (USAL-Spain).Clinical Psychologist (Minho University - Portugal). Associated Editor of
“Revista Psicologia e Educação” UBI. Integrated
Researcher in CIDESD - Center for Investigation
in Sports, Education and Health- UBI Portugal.
Maria Isabel do Amaral A. Vaz Ponce de Leão
Licenciatura em Filologia Românica pela Universidade de Coimbra. 3.º Ciclo de Estudos em
Teoria da Literatura e Literatura Comparada pela
Faculdade de Filoloxia da Universidade de Santiago de Compostela. Doutoramento em Literaturas
Hispânicas pela mesma Universidade (reconhecido pela Faculdade de Letras da Universidade de
Coimbra, Portugal, com o n.º 1/98, com publicação no Diário da República n.º 188 de 17.08.98).
Agregação em 2009. Estatuto de formadora na
área e domínio C046 Português / Língua Portuguesa, concedido pelo Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua, conforme registo
CCPFC/RFO-02956/97. Professora Catedrática
da Universidade Fernando Pessoa. Membro integrado do CLEPUL a cuja direcção pertence, e colaboradora do CIEC. Sócia fundadora e elemento
da direcção do Circulo Literário Agustina Bessa-Luís. Coordenadora do projecto e-médico+. Áreas de Investigação: Literatura Portuguesa Contemporânea, Literatura / artes / ciências. Discurso de Imprensa. Autora de vários livros e artigos
que incidem nas áreas acima referidas.
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2
membros do conselho científico (resumo curricular)
Maria Manuela Nunes da Costa Maia da Silva
Licenciatura em Direito. 3.º Ciclo de Estudos Direito pela Faculdade de Direito da Universidade
de Santiago de Compostela. Bolseira de Investigação da JNICT durante 4 anos, com estatuto
de Investigadora. Doutoramento Europeu em
Direito, pela Faculdade de Direito da Universidade de Santiago de Compostela, reconhecido pela
Faculdade de Direito de Coimbra e publicado em
Diário da República. Mestre em Medicina Natural
e Aplicação em Atenção Primária, pela Faculdade
de Medicina da Universidade Santiago Compostela. Pós-graduação em Acupunctura e Moxibustão
pela Associação Médica Chinesa, Beijing, China.
Diretora Geral do Instituto Português de Naturologia. Professora Universitária. Exercício de vários
cargos de direção e reitoria em instituições de ensino superior. Presidente do Conselho Científico
de uma das universidades. Membro integrado do
CLEPUL. Membro consultor em Comissões de
elaboração de diplomas legais. Membro de Conselho Científico de várias revistas científicas. Presidente da APSANA - Associação Europeia de
Profissionais de Saúde Natural. Membro fundador de
Rui Miguel Freitas Gonçalves
Licenciado em Bioquímica com especialização em
Indústrias Alimentares pela Faculdade de Ciências
da Universidade do Porto. Mestre em Tecnologia
Ciência e Segurança Alimentar pela Escola de Engenharia da Universidade do Minho e pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Doutor
em Química pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Bolseiro do Instituto de Bebidas
e Saúde – Unicer. Vencedor do Prémio de Excelência em Investigação Científica pelo Instituto de
Bebidas e Saúde. Investigador na área da Química
de Compostos Fenólicos e seu efeito nutricional
com várias publicações em revistas internacionais
e apresentações em congressos nacionais e internacionais. Licenciado em Ciências Básicas da Medicina pela Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho. Diplomado em Medicina Chinesa
pelo Instituto Português de Naturologia. Formação
complementar em Shiatsu Namikoshi. Formador
na área da Medicina Chinesa.
Centros de Investigação e membro atual de alguns Centros
de Investigação. Autora de várias publicações.
Miguel F. Tato Diogo
Licenciado em Engenharia de Minas pela Faculdade
de Engenharia da Universidade do Porto e Doutorado
em Gestão de Recursos Naturais com apoio em Sistemas de Informação Geográfica pela Universidade de
Vigo, Espanha. Professor da Faculdade de Engenharia
da Universidade do Porto. Membro (Investigador) do
CIGAR – Centro de Investigação em Geo-Ambiente e
Recursos e do CERENA – Centro de Recuros Naturais
e Ambiente. Membro da Comissão Científica do Programa de Formação Contínua da FEUP. Membro (Vogal)
da Comissão Diretiva do Centro de Competências em
Envelhecimento Ativo e Saudável (UPorto Ageing Network) da Universidade do Porto, no grupo de trabalho,
“Fostering Innovation for Age-friendly Buildings, Cities
& Environments.
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 87
normas para publicação
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1. A Scientific Journal of Natural Medicine, pretende ser um espaço de reflexão e trabalho no
âmbito da saúde e, em especial, na Medicina Natural, fundada na ética e no rigor científico.
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9. A seleção dos artigos de investigação, para publicação, será realizada por revisão anónima por
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4. A revista apresenta investigação original com impacto direto nas terapias, protocolos terapêuticos,
abordagem aos doentes, estratégias de ensino e de trabalho com o objetivo último de melhorar a
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5. O âmbito da Revista de Medicina Natural inclui:
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•Fitoterapia
•Farmacologia e metodologia analítica
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•Homeopatia
•Nutrição e suplementação alimentar
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6. As secções tipologias dos trabalhos na Revista de Medicina Natural são:
•Trabalhos originais de Investigação Fundamental Clássica
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•Trabalhos originais de Patologia e Metodologia Terapêutica
88 Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2
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•Conter cinco palavras chave devidamente identificadas pelos autores, para fins de indexação;
• Ser encabeçados pelo título, nome do autor, categoria profissional, instituição e contacto eletrónico, breve resumo curricular com máximo de 5 linhas;
• Os artigos deverão ser divididos em secções claramente identificadas com conteúdo e sequência
coerente;
•Respeitar as regras da metodologia do trabalho científico, concernentes às formas de citar, organizar a bibliografia.
12. A publicação do trabalho é aprovada por todos os autores e, de forma tácita ou explícita pela
autoridades ou instituições em que o trabalho foi realizado e não será publicada nesta, ou noutra
forma, em qualquer idioma, sem o consentimento do editor da revista.
13. A submissão de material assume a ausência de qualquer tipo de conflito de interesse entre todos os
autores e o trabalho realizado. Na sua presença, esta deverá ser declarada e caracterizada aquando
da submissão inicial do trabalho e estará presente no final do manuscrito aquando da publicação. A
título informativo: um conflito de interesse em trabalho científico existe quando um participante no
processo de produção, revisão ou publicação (autor, revisor e/ou editor) tem ligações a atividade que
poderiam, de forma inadequada, influenciar o seu julgamento, independentemente desse julgamento
ser de facto afetado. As relações financeiras com a indústria (emprego, consultadoria, participação
em sociedades financeiras, etc.) são consideradas as mais relevantes mas não devem ser excluídos o
financiamento do trabalho de investigação as ligações pessoais e as de competição académica.
Scientific Journal of Natural Medicine | Vol. 2 89
SCIENTIFIC JOURNAL OF NATURAL MEDICINE
REVISTA CIENTIFICA DE MEDICINA NATURAL
Julho 2014
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