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4.1 CADEIA PRODUTIVA AVÍCOLA
João M. de S. Alves*
Celso L. Weydmann**
A indústria avícola catarinense tem sido considerada um setor de destaque em âmbito
nacional e internacional. Ao longo das últimas três décadas, a atividade erigiu-se
consolidando o Estado como um dos maiores e mais competitivos entre as unidades da
federação. O bom desempenho desta agroindústria pôde ser alcançado pelo seu nível de
aprendizado, grau de articulação entre os diferentes elos fornecedores de insumos e pela
capacidade de adaptação de todo o sistema produtivo às exigências dos diferentes segmentos
de consumo nos mercados interno e externo. Atualmente, enfrenta seu maior desafio dado
alguns entraves existentes ao desenvolvimento da atividade e os níveis de crescimento e
ganhos produtivos apresentados pelos demais Estados produtores que possuem um diferencial
competitivo relevante, menores custos de produção oriundos da abundância de matériasprimas.
Este texto está dividido em 5 seções, onde na 1ª seção, 4.1.1, apresentam-se a
localização e as características produtiva-institucional; na 2ª seção, 4.1.2, discute-se o
ambiente institucional; na 3ª seção, 4.1.3, apresentam-se o nível e a capacitação tecnológicas;
na 4ª seção, 4.1.4, apontam-se as formas de cooperação e governança e por fim, na 5ª seção,
1.4.5 elegem-se as vantagens, desvantagens e políticas de desenvolvimento.
4.1.1 Localização
4.1.1.1Configuração e trajetória de constituição
O desenvolvimento do setor avícola em Santa Catarina, segundo Canever et al (1997),
ocorreu a partir da década de sessenta, quando as empresas que já possuíam negócios na
produção de suínos e em cereais se diversificaram atuando na produção e comercialização de
carne de frango, impulsionadas pela oferta de créditos para investimentos de longo prazo
associados à utilização de tecnologias importadas no que se refere aos segmentos da genética,
da nutrição, sanidade e industrialização.
*
Professor Substituto do Curso de Graduação em Ciências Econômicas e Mestre em Agronegócios na
Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
**
Professor dos Cursos de Graduação e Pós-graduação – Mestrado – em Economia da Universidade Federal de
Santa Catarina.
394
A estrutura fundiária regional encontrada e a predominância de uma colonização
européia, com tradição na criação de pequenos animais, favoreceram a implantação de um
modo de produção, de forma contratual, entre produtores e agroindústrias, a exemplo do que
já ocorria nos Estados Unidos (TALAMINI e KIMPARA, 1994). Conhecido como “Sistema
Integrado”, desenvolvido pela agroindústria, o sistema de integração foi também fator
responsável pela conquista de bons resultados da avicultura.
Disseminado pelo Brasil, teve sua implantação e origem na região Oeste do Estado
onde rompeu radicalmente com o modelo tradicional que até então era caracterizado pelo
trabalho dos colonos com galinhas caipiras, criadas extensivamente e de raças crioulas, sem
nenhuma tecnologia e destinadas ao consumo próprio, sendo comercializadas no caso de
excedentes (DALLA COSTA, 1997). Possuindo certa experiência necessária para trabalhar
com carnes por abater, industrializar e comercializar suínos desde meados da década de 40, as
empresas catarinenses, especificamente a Sadia, foram precursoras na adoção deste modo
intensivo de produção.
A atividade, que alguns anos atrás era caracterizada como marginal, passou a
constituir uma das mais importantes atividades econômicas do Estado, alavancando-se com a
inserção no mercado internacional a partir de meados da década de 70, pela exportação do
frango inteiro. Na dianteira do desenvolvimento, a indústria avícola catarinense começou, em
meados da década de 80, a comercializar cortes de frango para o exterior. A atuação no
comércio internacional mostrou sua capacidade de competitividade e flexibilidade,
decorrentes de um padrão tecnológico adotado e das vantagens específicas encontradas. A
abertura externa permitiu que as agroindústrias estaduais ampliassem seus ganhos e
escoassem toda a sua capacidade produtiva não absorvida no mercado interno. As
perspectivas de um mercado lucrativo atraíram a atenção de grandes grupos multinacionais,
dos quais Bunge e Macri, que se instalaram no Estado, e inversões dos demais grupos
econômicos nacionais acirrando a concorrência nos anos noventa. Nesse período, conforme
Canever et al (1997), com a abertura econômica, com a estabilização da economia e
mudanças nos padrões de consumo, a agroindústria passou para a era da competitividade, na
qual a reestruturação tecnológica, a eficiência, a diminuição dos custos e a reestruturação
administrativa das empresas transformaram-se nas estratégias de sobrevivência.
A migração de investimentos das principais agroindústrias catarinenses para o Centro
Oeste brasileiro, atraídas pela abundância de matérias-primas, mão-de-obra e incentivos
fiscais proporcionados pelos Estados daquela região, foram os efeitos diretos desta nova
dinâmica de mercado. Desta forma, a distribuição espacial da atividade sofreu alteração,
395
ocorrendo um deslocamento da produção para novas áreas interferindo na participação efetiva
de cada Estado nos mercados interno e externo.
4.1.1.2 Caracterização sócio-produtiva e perfil da comercialização da cadeia industrial
avícola catarinense
Na produção, o modelo implantado em Santa Catarina e a posteriori difundido no país
concilia a eficiência de milhares de pequenos avicultores e a enorme capacidade de produção
em escala e distribuição das empresas processadoras de carne. As atividades são divididas de
maneira que os avicultores canalizem esforços somente para a criação. Assim, os produtores
integrados recebem as aves (em idade de um dia), a ração e a assistência técnica da
agroindústria, para as criarem e as entregarem com peso e idades pré-determinados. As
empresas processadoras são responsáveis diretas pelas etapas seguintes, que envolvem o
abate, o processamento, a distribuição e a divulgação da qualidade do produto (SOUZA,
2003).
Na formação do valor bruto da produção agrícola estadual, o abate de aves representa
24% do total (R$ 1,13 bilhão). Diretamente emprega cerca de 35.000 pessoas na indústria e
indiretamente mais de 80 mil trabalhadores (ICEPA, 2003). São 9,6 mil produtores integrados
distribuídos em uma malha de 173 municípios que mantém plantéis efetivos de produção
entre 50 mil e 10 milhões de aves (IBGE, 2004). Do efetivo total, 74% concentram-se na
região Oeste, principalmente nos municípios de Concórdia, Chapecó, Joaçaba, Xanxerê e São
Miguel do Oeste. A atividade encontra-se dividida em seis mesorregiões geográficas no
Estado, de acordo com a Tabela 4.1.1 e a Figura 4.1.1.
Tabela 4.1.1 - Evolução da distribuição dos plantéis de aves por mesorregiões geográficas no
estado de Santa Catarina, 1998 – 2003
REGIÕES
1998
1999
2000
2001
2002
2003
Oeste
Norte
Serra
Vale
Florianópolis
69.001.049
5.570.560
1.399.993
6.121.706
2.895.658
78.795.286
6.029.193
2.348.426
6.476.540
3.184.162
83.204.454
7.184.570
2.073.866
6.766.961
3.310.510
82.752.567
7.040.259
1.793.107
6.767.924
2.632.676
93.633.684
8.130.742
2.046.515
10.493.090
3.477.183
97.011.008
8.257.422
1.849.339
11.095.050
3.630.967
Sul
TOTAL SC
6.659.275
91.648.271
7.358.201
104.191.808
9.081.499
111.561.860
10.075.012
111.061.485
10.654.962
128.438.176
11.182.149
133.025.935
Brasil
589.370.346
624.381.496
659.245.549
692.654.775
703.718.166
737.523.096
15.55%
16.68%
16.92%
16.03%
18.25%
18.03%
% SC/BR
Fonte: IBGE.
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Jaragua do Sul
Dionisio Cerqueira
Quilombo
Videira
Maravilha
Xaxim
Itapiranga
Itajai
Ipumirim
Guatambu
Seara
Chapeco
Concordia
Sao Jose
Capinzal
Lages
Nova Veneza
Forquilhinha
Fonte: Governo do Estado de Santa Catarina.
Figura 4.1.1 - Localização das áreas de produção avícola de Santa Catarina - 2005
No período de análise (1998-2003), o plantel catarinense cresceu cerca de 46%, onde a
região Oeste apresentou as menores taxas de crescimento médio (6,9%), o que significa uma
expansão mais lenta em comparação às demais zonas de produção. Cabe destacar o
incremento da atividade ocorrido nos municípios do Vale do Itajaí, cujas taxas médias de
crescimento atingiram 14,9%. A atividade de abate e industrialização encontra-se instalada
em 17 municípios, 15 destes localizados na região Oeste, onde estão presentes unidades
industriais de 11 agroindústrias. Em 2004, foram abatidas 712 milhões de aves. A Perdigão
Agroindustrial é a empresa líder no número de abates, sendo seguida de perto pela Seara
Alimentos, empresa do grupo americano Cargill e pela Sadia S.A. Em 2000, o Estado perdeu
a liderança nacional no abate de aves para o Paraná, posição que se mantém atualmente. A
falência do Frigorífico Chapecó, agroindústria que abatia em torno de 80 milhões de aves ano,
foi determinante para este novo posicionamento. Contudo, Santa Catarina mantém-se como
maior exportador nacional, 29,4% do total brasileiro destinado ao mercado externo (ABEF,
2004).
Em 2004, segundo relatório do Instituto CEPA, o setor avícola respondeu por 18,8%
dos valores exportados (US$ 910 milhões) por Santa Catarina. A estrutura de exportação
avícola do Estado configura-se atualmente conforme o Quadro 4.1.1, ressaltando a forte
presença das tradings e grupos comerciais envoltos nas atividades do comércio internacional.
397
EMPRESAS
INTEIRO CORTES INDUSTRIALIZADOS
US$ MILHÕES
Sadia S/A
X
X
X
> 50
Perdigão Agroindustrial
X
X
X
>50
Seara Avícola
X
X
X
>50
Cooperativa Aurora
X
X
-
>50
Frigorífico Chapecó
X
X
X
10 a 50
Macedo Koerich
X
X
X
10 a 50
Agrovêneto
-
X
X
> 50
Diplomata Industrial
X
X
-
10 a 50
First S/A
X
X
-
10 a 50
Frigorífico Vale do Itajaí
X
X
-
1 a 10
Ind. de Alimentos Vale do Itajaí
X
X
-
1 a 10
Brascopa Com. Exportadora
X
X
-
1 a 10
Lifeex Imp. E Exp.
X
X
-
Até 1
Vossko do Brasil Ltda.
-
X
X
10 a 50
Oeste Aves Agroindustrial.
-
X
-
1 a 10
Cledi Com. Exportadora ltda.
-
X
-
Até 1
Renar Marcas S/A
-
X
-
10 a 50
Carofema Imp. e Exportações Ltda.
-
X
-
Até 1
Agrofrango Ind.
-
X
-
Até 1
Agropel Agroindustrial Perazzoli Ltda.
-
X
-
10 a 50
Fonte: Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio. Portal Exportadores Brasileiros, 2005
Quadro 4.1.1 - Empresas exportadoras de carne de aves no estado de Santa Catarina – 2004
O interessante a observar é a atividade de algumas empresas que não produzem a
matéria- prima, mas transformam-na agregando valor e exportando o produto. Este é o caso
da Vossko, uma das principais agroindústrias da Alemanha, especializada na produção de
derivados de frango e peru, que instalou unidade fabril no município de Lages. A empresa,
grande cliente das agroindústrias catarinenses (Perdigão, Seara), que fornecem matéria-prima,
exporta produtos de maior valor agregado (cortes e industrializados) para a Europa. Nesse
processo dicotômico, as exportações crescem com a especialização da agroindústria na
produção da ave (matéria-prima).
Os países da Europa constituem o grande mercado para os produtos de Santa Catarina.
Os maiores importadores de frango em 2004, segundo dados compilados pelo Icepa, foram,
pela ordem: Holanda (US$ 119.840.604), Japão (US$ 117.895.745) e Alemanha (US$
96.444.943). No mercado mundial de aves, o Japão concentra a maior parcela da demanda
pelos produtos de maior valor agregado. É considerado o maior importador mundial em valor.
Já a Holanda é vista como uma grande trading, reexportadora do produto. Os volumes,
valores e destinos do frango procedente do Estado podem ser visualizados na Figura 4.1.2.
398
Exportações Catarinenses - Valores (US$ Milhões e Volume Exportado)
Destino das Exportações
Catarinenses de Carne de
Aves
1.000.000
900.000
800.000
700.000
Kwait
600.000
Honk Kong
500.000
8%
7%
Reino Unido
8%
Holanda
24%
400.000
300.000
200.000
100.000
0
1998
1999
2000
2001
US $ Milhõe s
2002
Volume
2003
2004
J a pão
Ará bia
S a udit a
Alemanha
11%
19%
23%
Fonte: Icepa 2004.
Figura 4.1.2 - Volumes, valores e destinos das exportações catarinenses, 1998 – 2004.
A consolidação e expansão de um mercado externo para os produtos catarinenses
(frango inteiro, cortes e industrializados) somente têm sido possíveis pelo uso intensivo da
tecnologia e seu aprimoramento que permite modificar as formas do processo industrial e
possibilitar a fabricação, pela capacidade de inovação tecnológica em produtos e processos,
de produtos variados e adequados a uma demanda cada vez mais exigente e específica.
Quanto à oferta de produtos para o mercado doméstico, verifica-se o seguinte
movimento distributivo. No Estado, a oferta tem se mantido estável, em torno de 15% do total
produzido é comercializado e consumido nos municípios catarinenses (aproximadamente 220
mil toneladas). Já o percentual de participação em mercados de outros Estados fora reduzido,
por um lado, em virtude da expansão das exportações, por outro, pelo início e ampliação de
operações das agroindústrias catarinenses fora do Estado, conforme a Tabela 4.1.2. No
período 2002-2004, o consumo individual da carne em Santa Catarina atingiu patamares altos
de consumo, sendo considerado um dos maiores em se tratando de Brasil, por volta de 41 kg
de carne/ano (ICEPA, 2004).
399
Tabela 4.1.2 - Carne de aves - oferta e demanda catarinense 2002-2004
2002 (A)
2003 (B)
2004 (C)
VARIAÇÃO A/C
Produção
SITUAÇÃO
1462
1418
1420
-0,90%
Exportação
607
644
742
22,20%
Vendas Nacionais
639
558
458
-39,50%
Vendas no Estado
216
216
220
1.8%
41.1kg
40.5kg
41.0kg
-0,9
Consumo Per capita
Fonte: Icepa, 2004.
4.1.2 Caracterização do ambiente institucional público e privado
O ambiente institucional possui um importante papel para o nível de competitividade
da cadeia avícola, dado sua influência à dinâmica e estrutura do setor e na medida em que
impõe limites às ações dos agentes. Alguns fatores específicos, de maior influência, são
comentados a seguir.
4.1.2.1 Comércio internacional
Cada vez mais o posicionamento competitivo das empresas avícolas nacionais no
comércio internacional tem sido influenciado por políticas protecionistas adotadas por alguns
países. Conforme o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC,
1999), os entraves decorrentes das políticas protecionistas praticadas pelos países podem ser
resumidos em três grupos mais comuns: barreiras tarifárias (tarifas de importação, novas taxas
e valoração aduaneira), barreiras não-tarifárias (imposição de quotas, restrições quantitativas,
licenciamento de importações, procedimentos alfandegários, medidas antidumping e
compensatórias) e barreiras técnicas (normas e regulamentos técnicos, regulamentos
sanitários, fitossanitários e de saúde animal). Especificamente para a cadeia avícola, estão
vigentes no cenário internacional as seguintes barreiras sanitárias:
a)
Zoonoses: Vírus da Influenza Aviária; Doença de Newcastle;
b) Presença de antibióticos (Nicarbazina e Nitrofurano);
c) Presença de promotores de crescimento (Avilamicina e Flavomicina);
d) Rastreabilidade;
e) GMP (Good Manufacturing Practices);
f)
HACCP (Hazard Analysis Critical Control Points);
400
g) Reclassificação tarifária do frango salgado (1,2% para 1,9%)1.
Os Estados exportadores se enquadram em todas estas situações envoltas com
diferentes países. O Quadro 4.1.2 exemplifica estas restrições impostas ao Brasil.
PAÍS
RESTRIÇÃO
África do Sul
Estabelecimento de tarifas sobre importação da carne de frango
Canadá
Colômbia
Em decorrência do acordo agrícola da Rodada do Uruguai (GATT), estabeleceu quotas
tarifárias. As importações até o limite da quota estariam isentas ou sujeitas a tarifas inferiores
as incidentes sobre importações extraquota. A quota estabelecida foi de 39.843,7 toneladas
para frangos e galinhas vivos, carne de frango e galinha e suas preparações. O problema
está na distribuição da quota, baseada em diferentes critérios, entre os quais o histórico
importador.
Licenças de Importação. Para cada possibilidade de comércio deve ser requerida uma licença
de importação. A execução da licença depende da avaliação do governo.
Coréia do Sul e
Rússia
Estabelecimento de quotas de importação.
EUA
Restringem a entrada de produtos brasileiros e adotam subsídios para garantir suas
exportações. Proibição de importação de carne in natura e derivados não cozidos (doença de
newcastle). Há fortes restrições as empresas que não adotam um sistema de inspeção
baseado no HACCP (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle).
Japão
Restrições às importações (resíduos de nicarbazina).
México
Prioriza barreiras tarifárias (quotas de importação).
Nigéria
Adota uma política protecionista de forma explícita. Para a carne de frango as taxas de
importação chegam a 161%.
União Européia
Barreiras tarifárias e não-tarifárias; Estabelecimento de quotas de importação e subsídios.
Fonte: JANK, M. S. & NASSAR, A. M. Competitividade e Globalização. In: Economia e Gestão dos Negócios
Agroalimentares. Décio Zylbersztajn & Marcos Fava Neves organizadores. São Paulo: Pioneira, 2000. Pp. 137163. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior. Barreiras Externas às
Exportações Brasileiras. Brasília; 1999. P. 23.
Quadro 4.1.2 - Exemplos de restrições às exportações avícolas brasileiras
Os mecanismos utilizados pelos países importadores constituem para alguns apenas
uma questão de cautela quanto ao produto que se está pretendendo habilitar, e para outros
uma forma de retardar o processo de importação buscando o estímulo e incremento da
competitividade da indústria local (BRASIL, 1999). De modo geral, o que se percebe é que há
um protecionismo atuante no mercado internacional para o setor exportador de carne de aves,
sendo definidor da capacidade de exportação e fator desfavorável para as empresas
exportadoras. Cabe ressaltar que Santa Catarina se encontra em condição bastante dependente
destes enlaces com países como Japão e União Européia, cujos volumes comercializados
giram em torno de 75% das exportações do Estado.
1
O Brasil recebeu, em 2005, parecer favorável nesta questão às suas reinvidicações junto à Organização
Mundial de Comércio (OMC).
401
4.1.2.2 Legislação sanitária, ambiental e biossegurança
As questões relacionadas ao controle da sanidade sobre produtos de origem animal, e
conseqüentemente a qualidade dos alimentos, têm influenciado sobremodo a dinâmica do
comércio mundial de carne de aves, estabelecendo novos parâmetros de competitividade
associados a processos de certificação, como a International Organization for Standartization
(ISO), e adoção de métodos de controle, como o Hazard Analysis Critical Control Points
(HACCP).
No Brasil, os Ministérios da Saúde e Agricultura instituíram, através da Portaria nº
1428/93, a utilização dos programas Good Manufacturing Practises (GMP) e Hazard
Analysis Critical Control Points (HACCP) como ferramentas para inspeção de todo o
processo de produção da indústria de alimentos. O programa GMP é adotado pela
Organização Mundial de Saúde e o Food and Drugs Administration (FDA), órgão regulador
americano, como critério mínimo recomendado para a fabricação dos produtos sob condições
sanitárias adequadas e como rotina de inspeção. Contempla aspectos higiênicos e sanitários,
incluindo a eliminação da contaminação microbiológica, física e química (MELLO, 2001).
O sistema HACCP busca estabelecer o controle em todo o processo produtivo,
considerando a matéria-prima, o processamento e ambiente até os operadores envolvidos na
produção. Os programas GMP e HACCP constituem uma meta maior das empresas, que é a
garantia da qualidade total do alimento. Este último, HACCP, é disseminado de forma ampla
na cadeia produtiva, onde todas as empresas com sistema de inspeção sanitária federal adotam
esse instrumento de qualidade. Para as empresas exportadoras, este é um pré-requisito para o
acesso aos mercados externos. A adoção de tal mecanismo por parte das empresas não
exportadoras permite evitar possíveis problemas de qualidade dos produtos.
O controle do uso de uma legislação sanitária e ambiental dependem, em parte, da
inspeção e fiscalização pelos órgãos credenciados. Para a indústria avícola (abate e
processamento), este item consiste em um importante fator de credibilidade, pois certifica o
produto para os mercados interno e externo. A inspeção é um requisito sanitário mínimo para
a obtenção da certificação de qualidade do produto. Normalmente, os órgãos públicos têm
dificuldade em disponibilizar pessoal para todos os abatedouros ou mesmo as granjas de
matrizes, sendo contratado um fiscal por parte da empresa.
A questão da biossegurança na cadeia avícola ganha espaço com o aparecimento de
suscetíveis surtos de infecções nos plantéis de aves de diversos países. A biossegurança
objetiva reduzir os riscos de infecções em uma população específica, aumentando o controle
402
sanitário dos plantéis, minimizando a contaminação do ecossistema e garantindo a saúde do
consumidor. Assim, é necessário desenvolver e implementar normas e procedimentos rígidos
em todos os elos da produção. Segundo Jaenisch (2002), na avicultura, a utilização correta de
medidas sanitárias e programas de imunoprofilaxia é que previne a instalação de doenças nos
plantéis e protege o consumidor, usuário final do produto avícola. No entanto, os programas
de vacinação e de biossegurança não asseguram total eficácia, fazendo-se necessário uma
interdependência entre as etapas do controle sanitário.
Também, alguns importantes aspectos devem ser considerados em um programa de
biossegurança quando relacionado ao setor produtor de insumos avícolas, como: cuidados
com a ração (controle tanto da qualidade nutricional quanto das características
microbiológicas) e vacinação. O êxito de um programa de vacinação está condicionado ao
estado sanitário e nutricional das aves. Os desafios sanitários de cada região é que determinam
o esquema de vacinação adotado por cada empresa.
4.1.2.3 Rastreabilidade
De acordo com definição do Sindicato e Associação dos Abatedouros e Produtores
Avícolas do Paraná (SINDIAVIPAR, 2005), a rastreabilidade é um processo crescente
impulsionado pelas economias de escala, decorrentes do avanço tecnológico e da demanda do
mercado importador.
A exigência está na transparência nos processos de produção e
distribuição dos produtos. Por meio da abrangência dos controles, da disponibilidade dos
registros, da definição de lotes e das características acordadas entre o cliente e a indústria,
define-se o nível de rastreabilidade. Neste processo, as características de maior interesse são:
a linhagem da ave, origem da ração, rações livres de antibióticos terapêuticos, bem estar
animal, boas práticas veterinárias, níveis microbiológicos, presença de organismos estranhos e
controle de qualidade.
4.1.2.4 A questão ambiental
A questão ambiental2 também tem recebido maior atenção nos dias atuais. Problemas
de contaminação do ambiente podem ocorrer em função da criação de aves e seu
processamento, tanto pela deposição indevida de resíduos das granjas, que comprometem o
2
Novas tecnologias de processamento, do uso da energia e da água são demandadas devido à influência dos
efeitos da avicultura no meio ambiente.
403
ecossistema, como de resíduos do processamento industrial (sangue, vísceras, penas, carne e
tecidos gordurosos, detergentes ativos e cáusticos, etc.).
O tratamento de efluentes, já utilizado pela indústria, permite a redução do impacto
das descargas poluentes no meio ambiente. No entanto, medidas de controle de geração de
resíduos na própria planta, de controle de processos e vários níveis de tratamento biológico se
fazem necessários. As normas referentes à qualidade ambiental são mais rigorosas para as
empresas avícolas voltadas à exportação, constituindo-se, segundo Mello (2001), um
diferencial competitivo entre as empresas.
4.1.2.5 Condições no Estado
Os números do Sistema de Inspeção Federal (SIF) para o abate de frangos em Santa
Catarina são positivos. Praticamente 100 % das empresas são inspecionadas (ABEF, 2004).
Contudo, o contínuo crescimento dos plantéis (frango) e de outras atividades criatórias de
aves no Estado (frango colonial, perus, patos e marrecos) traz a necessidade de uma maior
implementação de medidas de controle, uma vez que problemas de ordem sanitária podem
comprometer o acesso aos mercados.
Ainda, medidas conjuntas necessitam ser adotadas na indústria para a obtenção de
melhores resultados na produção e qualidade do produto. As principais seriam: o
monitoramento sorológico dos plantéis, o acesso às granjas de reprodução de material
genético, a sanidade das instalações, o armazenamento de vacinas, demais produtos e rações,
bem como o transporte dos mesmos. Também, os cuidados com a limpeza e desinfecção dos
locais. Dado o alto custo operacional da implantação destes cuidados, a insuficiência de
recursos destinados à sanidade animal pode desacreditar o serviço do Estado, servindo de
arma para os concorrentes e enfraquecendo posições nas negociações. O devido tratamento da
água é outra questão fundamental e problemática que ocorre de forma mais intensa no Oeste
catarinense. Milhões de litros de água são consumidos diariamente no abate e industrialização
da ave (em média 17 litros de água/ave) sem um tratamento adequado para a reutilização da
mesma.
4.1.2.6 Canais de distribuição
Conforme interpretação de Schorr (2005), os canais de comercialização são os vetores
que podem permitir uma vantagem competitiva consistente a uma empresa. Isto se aplica à
404
indústria avícola brasileira, onde as tecnologias de produção de aves e o processamento
industrial são muito semelhantes e, a princípio, disponíveis para todos os participantes do
mercado. No Estado, atuam vendedores, representantes, atacadistas, distribuidores, indústrias
processadoras, varejistas e traders que desempenham importante papel nas exportações. A
necessidade de reestruturação e mudanças estratégicas não fixa postos para estes agentes.
Assim, produtores agem como atacadistas, atacadistas como varejistas e operadores logísticos,
criam-se atacadistas especializados, diminuindo espaços para a atuação das médias e
pequenas agroindústrias.
4.1.2.7 Apoio institucional e incentivos públicos
Um dos pontos fortes da avicultura industrial é o apoio prestado pelas suas
associações, no assessoramento de serviços, informações estatísticas e análise de mercados.
Os Estados produtores têm-se beneficiado dos trabalhos desenvolvidos pela União Brasileira
de Avicultura – UBA; pela Associação Brasileira dos Exportadores de Frango – ABEF e pela
Associação Brasileira de Produtores de Pintos de Um Dia – APINCO. Instituições como a
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA Suínos e Aves) e o Instituto
Tecnológico de Alimentos (ITAL), bem como algumas universidades brasileiras
(UFSM,UFRGS,UNICAMP,USP,ESALQ) têm dinamizado o setor por meio da difusão de
importantes pesquisas e trabalhos de campo junto aos produtores e agroindústrias.
O setor produtor de aves em Santa Catarina está representado pela Associação
Catarinense de Avicultura (ACAV), filiada às demais entidades nacionais, que têm
empreendido esforços para a capacitação das distintas áreas envoltas na atividade.
Quanto aos incentivos públicos, o Estado tem procurado fomentar o desenvolvimento
do setor avícola através do Programa de Desenvolvimento da Empresa Catarinense
(PRODEC) criado em 1998. Nos últimos seis anos, cerca de 260 milhões de reais foram
investidos
em
unidades
das
empresas
distribuídas
aproximadamente 3600 empregos, segundo a Tabela 4.1.3.
em
11
municípios,
gerando
405
Tabela 4.1.3 - Principais empresas da cadeia regional de aves do estado de Santa
Catarina beneficiadas pelo financiamento PRODEC - SC - 1998 – 2004
NOME
Perdigão S/A
Perdigão S/A
Perdigão S/A
Perdigão S/A
Perdigão S/A
Perdigão S/A
Sadia Concórdia S/A
Sadia Concórdia S/A
Sadia Concórdia S/A
Agrofrango Ind.Com.Alim. Ltda.
Cooperativa Central Oeste Catarinense
Ltda.
Agroavícola Vêneto Ltda.
MUNICÍPIO
Nº DE EMPREGOS A
SEREM GERADOS
MONTANTE DO
FINANCIAMENTO R$
Capinzal
Lages
Herval d´Oeste
Videira
Salto Veloso
Capinzal
Concórdia
Concórdia
Chapecó
Ipumirim
32
17
407
442
206
890
100
74
210
120
2.843.000,00
2.116.000,00
17.520.000,00
69.023.000,00
9.386.000,00
56.136.000,00
26.173.589,00
2.438.870,00
30.108.220,00
5.168.959,00
Chapecó
747
37.138.617,55
Nova Veneza
360
6.029.253,30
Fonte: Secretaria de Planejamento do Estado de Santa Catarina / PRODEC.
4.1.3 Nível e capacitação tecnológicas
4.1.3.1 Nível tecnológico
A avicultura industrial catarinense e brasileira notabilizou-se por profundas mudanças
apropriando-se de um padrão tecnológico difundido ao longo dos anos. O segmento evoluiu
através da absorção de contribuições advindas da biotecnologia e das tecnologias
complementares da microeletrônica e da automação. Nestas transformações, os fatores
tecnológicos desempenharam um papel destacado na conformação das estruturas industriais e
na competição entre as empresas (SOUZA, 2003).
Estudos efetuados pelo Centro de Pesquisas em Suínos e Aves (CNPSA) da
EMBRAPA (2001) demonstram que 80% das melhorias ocorridas em linhagens de corte e
postura no Brasil foram decorrentes do processo de seleção genética. Os trabalhos realizados
neste segmento trouxeram impactos expressivos na dinâmica da produção mediante o
aperfeiçoamento de características como ganho de peso, conversão alimentar, rendimento da
carcaça, todas trabalhadas no processo de melhoramento genético. A evolução da genética
animal foi acompanhada por novas pesquisas em outras áreas, como a indústria de nutrição,
sanidade animal e de máquinas e equipamentos.
As novas exigências nutricionais da ave demandaram ingredientes mais puros, fáceis
de digerir e de boa assimilação. Assim, os fornecedores deste elo especializaram-se nas rações
prontas, de concentrados e de premix (pré-mistura), com objetivos de suprir as lacunas
nutricionais da alimentação normal, prevenir enfermidades, melhorar o aproveitamento dos
alimentos e estimular o crescimento. A atividade de nutrição fornece rações completas e
406
premix diretamente para criadores independentes, para as granjas de seleção genética, granjas
de bisavós, avós, matrizes e agroindústria processadora. O premix recebido pela agroindústria
processadora é transformado em ração completa, com a adição de cereais, farelo de cereais e
outros produtos que a empresa julgar necessário e distribuídos aos produtores integrados
(ROHENKOHL, 2003).
Existem diferentes tipos de rações, especiais para cada tipo de criação, ou seja, a
formulação para os elos de genética mais apurada como Bisavozeiros e Avozeiros difere das
demais pelas necessidades fisiológicas básicas e totais da ave (tempo de vida útil).
Atualmente, cerca de 30 ingredientes podem ser utilizados para a confecção das diferentes
rações, são eles: o milho, o farelo de soja, o farelo de trigo, o sorgo, o trigulho, fósforo
bicálcico, a farinha de osso, a farinha de pena, as vitaminas A, D3, B1, B6, B12, C, E, K3,
riboflavina, tiamina, colina, treonina, lisina, metionina, biotina, ferro, zinco, manganês, cobre,
iodo, selênio, cobalto (SINDIRAÇÕES, 2003).
Os ingredientes são justamente os que
agregam valor à ração. Grandes grupos multinacionais atuam na compra, produção e
distribuição de ingredientes para ração animal, principalmente os de maior complexidade
tecnológica.
A sanidade avícola empreendeu esforços relacionados basicamente à produção de
medicamentos diretamente ministrados ou misturados aos alimentos, objetivando diagnosticar
e tratar as enfermidades das aves. Os ganhos produtivos propiciados pelas inovações nestes
elos resultaram em um crescimento não tão ordenado da atividade e o aparecimento de
zoonoses. A indústria veterinária desenvolveu pesquisa e desenvolvimento em vacinas e
medicamentos que constituíram o grande instrumento no controle de doenças, e seu uso tem
sido responsável por reduções marcantes em mortalidade e ganhos consideráveis em
performance. A avicultura de corte é uma das explorações animais em que mais se utilizam
vacinas, desde 1 (um) dia de idade até o abate (40 dias) (BACK, 2003), sendo todas
importadas.
O segmento fornecedor de máquinas e equipamentos para a avicultura industrial
também é dominado por poucas empresas. Somente seis empresas no mundo fornecem
sistemas completos para o abate e a industrialização de aves: as empresas holandesas Stork,
Meyn e Systemate, a alemã Baader, a islândesa Marel HF e a americana Johnson Food
Equipment Company. Estas empresas também atuam em outros segmentos, fornecendo tipos
variados de equipamentos. Um grupo maior de empresas atua no fornecimento de tecnologias
para as granjas. De menor complexidade, as tecnologias são fornecidas por empresas que
407
atuam em mercados segmentados, ou seja, por exemplo, algumas produzem somente sistemas
de climatização, outras, equipamentos diversos para alimentação.
Diante do exposto, observa-se que são os diferentes elos os agentes inovadores desta
cadeia e que parte significativa dos ganhos produtivos da agroindústria avícola depende do
desenvolvimento tecnológico gerado por estes. Os principais pólos geradores de inovação
para a avicultura estão representados na Figura 4.1.3.
Os números da produção avícola catarinense fazem menção à importância do mercado
local aos fornecedores de insumos. Muitas empresas possuem unidades industriais localizadas
no Estado, como as multinacionais Rooster (USA) e Petersime NV (Holanda) na área de
incubação; a americana Embrex e a israelense Plasson (fases diversas da criação) e a ítalobrasileira Avioeste (criação). Outras empresas possuem somente representações. Há também
fornecedores de outras unidades da federação, como Rio Grande do Sul, São Paulo (maior
concentração) e Paraná. Assim, o Estado se beneficia de uma ampla rede de fornecedores de
alta tecnologia difundida em um curto período de tempo desde seu desenvolvimento à sua
aplicação.
Máquinas e
Equipamentos
Vacinas e
Medicamentos
Granjas de
Seleção
Bizavozeiros
Vacinas e
medicamentos
Rações
diferenciadas
Avozeiros
Agroindústria
Abate
Matrizeiros
Integração
Pintinho
Reprodução
s
Agroindústria
Premix
Máquinas e Equipamentos
Fonte: Souza, 2003.
Figura 4.1.3 - Principais pólos geradores de inovações na cadeia da avicultura
408
A entrada de linhagens genéticas mais sofisticadas em Santa Catarina surgiu com a
formação de parcerias entre as agroindústrias e as grandes empresas fornecedoras mundiais, o
que exigiu uma atualização técnica nos padrões de manejo e nutrição, confeccionando
mercado e atraindo fornecedores dos elos distintos como os citados anteriormente. A
princípio, o material genético era diretamente importado, multiplicado nas granjas das
empresas. Posteriormente, com a vinda e instalação de unidades produtivas de genética de
aves no Brasil, foram rompendo-se os acordos. Atualmente, as linhagens puras são fornecidas
pelas multinacionais americanas Cobb-Vantress (detém cerca de 60% do mercado nacional),
Avian e Arbor Acres e a Escocesa Ross Breeders em consórcio com a Agroceres conforme o
Quadro 4.1.3. A Agrogen, empresa sediada no Rio Grande do Sul, é parceira multiplicadora
de genética da Cobb, fornecendo ovos incubados e aves para as agroindústrias do Estado.
EMPRESA
LINHAGEM
EMPRESA FORNECEDORA
Sadia
Ross/Cobb/Arbor Acres
Ross Breeders/Cobb Vantress/ Arbor Acres
Perdigão
Ross/Cobb/Hubbard
Ross Breeders/Cobb Vantress/ISA
Seara
Ross/Cobb/Arbor Acres
Ross Breeders/Cobb Vantress/ Arbor Acres
Chapecó (2002)
Ross/Cobb
Ross Breeders/Cobb Vantress
Aurora
Ross/Cobb
Ross Breeders/Cobb Vantress
PROCESSADORA
Fonte: Avisite, vários acessos, 2004
Quadro 4.1.3 - Material genético utilizado pelas agroindústrias catarinenses e fornecedores de
material genético (2004)
Em termos de mercado, vale observar a venda da genética do “chester”, praticamente
única ave totalmente desenvolvida em nível nacional e produzida em escala industrial,
pertencente ao grupo econômico catarinense Perdigão, à Cobb-Vantress. O contrato garante a
continuidade do fornecimento deste insumo à agroindústria Perdigão no Brasil.
Os esforços inovativos das empresas de genética seguem no sentido de produzir uma
ave mais robusta, com maior peso concentrado no peito e nas coxas do animal. As previsões
do setor são ganhos aproximados de 3% em carne e redução de gordura total entre 1,5-2,0%
no decorrer dos próximos dez anos (COBB, 2005).
A indústria avícola desempenha o papel de usuária das inovações desenvolvidas pelos
setores fornecedores de insumos. No entanto, de acordo com Gomes Filha (1999), a dinâmica
tecnológica não se resume somente na apropriação de inovações exógenas. O
desenvolvimento de novas técnicas de processo de abate e novos produtos requer novas
formas de processamento e conservação, desenvolvidas internamente. Assim, na
409
agroindústria, a inovação ocorre na adequação de métodos e processos das tecnologias
geradas pelos demais elos e no desenvolvimento de produtos, que, por sua vez, geram novos
processos.
Em geral, a oferta de produtos se caracteriza pela produção de tipos variados de cortes
ou então industrializados à base de frango. Contudo, as maiores agroindústrias possuem um
portfólio diferenciado em relação às demais. Utilizando-se de criatividade, inovação e
percepção das tendências do mercado consumidor, inovam lançando produtos variados, tais
como: cortes temperados, pratos prontos, pizzas, lanches, etc.; (SCHORR, 2005). Os
lançamentos não acontecem de forma contínua, dado um certo padrão de maturidade nas
possibilidades de novos produtos. Como estratégia, esforços têm sido direcionados para
modificações nas embalagens e formas de apresentação dos produtos, ocorrendo relançamento
de produtos sem uma modificação nas características fundamentais (sabor, textura, etc.).
Como evidência, segundo consulta à base de dados do Instituto Nacional de Propriedade
Industrial (INPI, 2005), a Sadia detém patentes (6) em embalagens para produtos cárneos,
desenvolvidas e registradas pela unidade industrial em Concórdia, região Oeste do Estado.
Todavia, o patenteamento não é uma prática comum na indústria avícola brasileira dada as
baixas condições de apropriabilidade.
Para o desenvolvimento de conhecimentos específicos, as indústrias avícolas
catarinenses contam com um setor vinculado ao desenvolvimento de produtos. Este se
caracteriza conforme o tamanho organizacional e o portfólio de produtos da empresa. Os
esforços empreendidos pelas pequenas e médias empresas se caracterizam pelo oferecimento
de um pequeno número de cortes e alguns produtos já conhecidos como uma linha de
embutidos (patês, salsichas, lingüiças) e empanados (nuggets). Essas empresas, quando
inovam, não passam a oferecer produtos novos para o mercado, mas procuram se ajustar
tecnologicamente às empresas concorrentes e líderes, por meio de mecanismos de imitação
(GOMES FILHA, 1999).
Como as principais agroindústrias catarinenses (Sadia, Seara, Perdigão) constituem
parte de grupos já nacionalizados, muitas inovações são desenvolvidas fora do Estado nas
unidades industriais locais e nos centros de desenvolvimento de produtos destas empresas e
posteriormente difundidas para as demais unidades. Exemplos desse comportamento são os
cortes industrializados de peru produzidos pela Perdigão em sua unidade no Paraná e
industrializados da Sadia (pratos prontos e pizzas) em São Paulo (AVISITE, 2005).
Quanto ao acesso a novos mercados e à manutenção dos mercados existentes, os
esforços exigidos referem-se à qualidade sanitária dos plantéis, uma barreira definida, e ao
410
atendimento e adequação aos padrões de consumo dos mercados específicos, como os
mercados no Oriente Médio que, exigem normas específicas de abate e processos produtivos.
4.1.3.2 Capacitação tecnológica
As inovações tecnológicas exigem, por parte das empresas, certos padrões em termos
de capacitação de mão-de-obra, maquinários e equipamentos disponíveis e novas formas de
gestão. As maiores agroindústrias do Estado (Perdigão, Seara, Sadia, Aurora), com sistemas
organizacionais já implantados, e uma estrutura tecnológica bastante desenvolvida, têm
garantido ações efetivas para a melhoria do ambiente de trabalho e a capacitação de seus
funcionários. Uma destas ações, a mais difundida entre as empresas, contempla a educação
básica de seus funcionários. A Perdigão implantou recentemente, no município de Videira, o
chamado projeto Semear. Uma escola de agronegócios com o objetivo de preparar os filhos
dos produtores integrados para a atividade, dando continuidade ao sistema. A Sadia possui a
Universidade Sadia, esforço direcionado para qualificações em funções específicas, como a
oferta de cursos de pós-graduação para o quadro administrativo da empresa (Avicultura
Industrial, 2005). Este é um tipo de ação realizado por meio de parcerias com instituições de
ensino superior, como a Escola de Administração da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Aliás, são as parcerias as principais fontes de capacitação vinculadas às empresas. A
necessidade de suprir gargalos tecnológicos sem custos operacionais adicionais tem orientado
as agroindústrias neste sentido. A exemplo disto, Sadia e Perdigão mantêm parcerias com a
Bayer na aplicação de programas de biossegurança. As unidades seguem padrões de
biossegurança indicados pela Bayer há cinco anos, recebendo produtos, treinamentos teóricos
e práticos para supervisores e demais funcionários. Há aproximadamente seis anos a Sadia e a
empresa Vencomatic vêm realizando estudos e avaliações com sistemas de ninhos com
coletas automáticas de ovos. O resultado deste esforço é uma melhoria no processo produtivo
na etapa anterior ao abate e um contrato para fornecimento desta tecnologia para mais de três
milhões de matrizes e avós (AVICULTURA INDUSTRIAL, 2005).
No campo da comercialização, parcerias como a da Perdigão e Salton, empresa
americana de eletroportáteis para demonstração dos aparelhos com linhas de produtos da
empresa, e da Aurora com a empresa belga Midsummer para a entrada no mercado europeu
são estratégicas. Já os acordos comerciais para o fornecimento de embalagens são em geral
firmados com empresas fora do Estado, como a Hartmann, empresa de embalagens de São
411
Paulo, e a Itap do Paraná. A Klabin começa a atuar no segmento como uma das empresas
fornecedoras de caixas e papel de embalagem.
Para o desenvolvimento de novos produtos, o que geralmente acontece é um
estreitamento das relações com os fornecedores de condimentos, em mudanças de sabor, e
com os clientes estrangeiros quando novos cortes de aves são demandados. A empresa
catarinense Duas Rodas é tida como uma das maiores fornecedoras dentro da atividade.
Cabe ressaltar que os casos citados não indicam que o estabelecimento de parcerias é
uma prática comumente utilizada na indústria estabelecida no Estado. Pelo contrário, são as
grandes empresas que se utilizam desse mecanismo, existindo uma forte necessidade de
extensão do mesmo para as demais empresas (médias e pequenas). A ausência de vínculo com
universidades e instituições de pesquisa também é fato presente.
4.1.4 Governança e coordenação
A integração vertical é o modelo de governança que predomina em toda a avicultura
industrial nacional. Desenvolvido pela agroindústria, o sistema de integração é grande fator
responsável pela conquista de bons resultados dentro da atividade. Nele a agroindústria
acompanha as diferentes fases da cadeia de produção controlando os processos produtivos.
Estão sob coordenação das agroindústrias processadoras as granjas de matrizes e incubadoras
de aves; os núcleos de desenvolvimento genético; as granjas ou unidades de criação; os silos e
fábricas de rações e a indústria de moagem de soja, que conjuntamente são as principais
unidades integrantes desta cadeia, responsáveis, em diferentes proporções, pela confecção do
produto. As atividades que não estão integradas decorrem da falta de domínio tecnológico ou
interesse econômico associado a riscos e investimentos elevados.
Para o ingresso na atividade, as agroindústrias exigem do produtor certa capacitação
tecnológica (infra-estrutura, cuidados essenciais) com o objetivo de obter um produto
padronizado e que priorize a qualidade. A parceria é firmada por contratos nos quais o
produtor integrado se propõe a entregar a ave nos prazos e condições determinados.
No que tange à comercialização, as grandes empresas trabalham com filiais comerciais
e centros de distribuição localizados nos principais Estados consumidores. Nas áreas mais
distantes e de menor consumo, os produtos são distribuídos por representantes.
412
4.1.5 Principais vantagens competitivas, entraves e política de desenvolvimento
4.1.5.1 Vantagens
O Estado reúne condições favoráveis importantes à manutenção do ambiente
competitivo, valendo-se principalmente de seu alto grau de aprendizado na avicultura
industrial, haja vista o pioneirismo de suas empresas no desenvolvimento da atividade
integrada no país e a inserção das mesmas no mercado nacional e internacional. A
combinação de três grandes fatores tem contribuído para o bom desempenho de Santa
Catarina nos diferentes cenários, a saber: a pequena propriedade rural diversificada, o
engajamento da mão-de-obra familiar e a tradição agrícola dos imigrantes europeus.
A participação da produção integrada local (Estado) encontra-se acima da média das
demais unidades da federação (em torno de 70%), ultrapassando 80% (ICEPA, 2004). As
agroindústrias catarinenses contam com abatedouros altamente tecnificados e condições de
higiene de acordo com as normas internacionais de qualidade e sanidade animal. Ressalta-se
que o Estado é área livre de zoonoses. Este é um diferencial de luxo para o acesso ao mercado
externo. Ademais, o alto grau de articulação e coordenação da cadeia em Santa Catarina
permite, na ocorrência de problemas sanitários, desencadear procedimentos de defesa rápidos
e adequados.
No conceito eficiência, noção que, traduz a capacidade de se produzir determinados
bens igualando ou superando níveis de eficiência observáveis em outras economias,
restringindo-se as condições de produção, a indústria local é altamente competitiva, ofertando
produtos adequados aos novos hábitos e exigências alimentares, sobretudo na capacidade de
adequação de processos e desenvolvimento de produtos para o mercado externo.
Quanto à infra-estrutura logística, Santa Catarina é praticamente a única unidade da
federação a contar com duas saídas marítimas para o escoamento de suas exportações
avícolas, os portos de São Francisco do Sul e Itajaí. Neste último, localiza-se o primeiro
terminal privado de cargas frigorificadas (Brascarne) no continente Sul-americano,
pertencente à empresa Seara (recentemente adquirida pela americana Cargill), que o utiliza e
presta serviços aos principais exportadores do segmento destas mercadorias. As cargas
escoadas por estes dois portos representam cerca de 90% da produção de aves exportada pelo
Estado. Numa análise comparativa, a configuração logística constitui-se um diferencial para
com os demais Estados.
413
Em se tratando do ambiente institucional, vale enfatizar a presença no Estado da
Embrapa, unidade de pesquisa em suínos e aves, que há décadas tem contribuído para a
difusão tecnológica no setor e ganhos de competitividade.
4.1.5.2 Obstáculos estruturais
O Estado vem sofrendo com a escassez de grãos (milho) em sua produção, o que tem
perturbado o equilíbrio da cadeia, pressionando os preços e inchando os custos, ainda mais
quando o percentual da importação do grão é elevado. Na atividade avícola industrial, o cereal
é responsável por aproximadamente 60% do custo da ração. Em 2004, o déficit catarinense no
mercado deste insumo (grãos) atingiu em torno de 2.900 mil toneladas, fato que, aliado aos
incentivos fiscais e custos da mão-de-obra, tem justificado, em parte, o deslocamento da
atividade de grandes agroindústrias do Oeste catarinense especialmente para o Centro-Oeste,
pólo produtor de grãos (ICEPA, 2004). Em virtude deste componente, a produção de grãos, os
Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás reduzem seus custos de produção da
ave em até 30%.
Os portos e seus acessos apresentam carências e limitações. Neste campo (logístico),
as dificuldades que a avicultura encontra são mais graves do que nos demais segmentos
industriais pela perecibilidade do produto. Tais dificuldades constituem um entrave ao
crescimento da produção e à industrialização. Conforme posição da União Brasileira de
Avicultura (UBA, 2004), a maior barreira para a expansão da atividade não se encontra no
mercado, capacidade de produção ou mesmo problemas de qualidade ou sanidade, encontra-se
na logística. As más condições rodoviárias aumentam em até 40% o tempo de transporte dos
caminhões, as linhas férreas são lentas e os portos estão em seu limite. Dados da
Confederação Nacional de Transportes (CNT, 2004) revelam que em torno de 65% das
estradas catarinenses estão em más condições, apenas 35% dos 6,5 mil quilômetros de
estradas federais, estaduais e municipais no Estado apresentam boas condições de tráfego e
segurança. A despeito do principal trecho utilizado pela agroindústria avícola exportadora
(BR 282 – BR 470), a situação é considerada deficiente tanto para sinalização, engenharia e
pavimentação. Ademais, os projetos anunciados para a revitalização da malha rodoviária no
Estado garantem somente em parte o atendimento das necessidades reais reinvidicadas pelo
segmento. Em média, da geração da carga até os destinos finais, aos portos catarinenses são
percorridos cerca de 500 km. Não obstante, ainda há a necessidade de modernização dos
portos catarinenses, em vista de defasagens operacionais. Isto envolve a aquisição de
414
tecnologias para melhor operacionalização das cargas, construção de molhes e
aprofundamento do calado, vitais para a competitividade industrial e a manutenção dos
mercados já conquistados.
4.1.5.3 Políticas de desenvolvimento
A infra-estrutura necessária para os transportes de cargas não constitui um fator
controlável pela agroindústria e sim pelo governo. Dessa forma, é interessante observar,
segundo assinalam Batalha & Souza Filho (2001) que, da combinação de um conjunto de
fatores, é que resultam as condições necessárias para a manutenção da competitividade,
aqueles controláveis pela agroindústria (estratégia, produtos, tecnologia, política de recursos
humanos e pesquisa e desenvolvimento, etc) e os não-controláveis (condições das estradas e
portos). Estes fatores estão estreitamente ligados com a eficiência e eficácia das Cadeias
Agroindustriais. Assim, ações de coordenação por parte dos controladores destas variáveis são
necessárias.
Quanto à capacitação tecnológica, as pequenas e médias empresas catarinenses
necessitam aporte de recursos para a implementação de novas linhas de produtos atendendo
uma tendência de diversificação da produção no setor e para a manutenção de seus sistemas
sanitários. Também, uma maior presença e esclarecimento dos órgãos responsáveis pelo meio
ambiente e sanidade do Estado se fazem necessários, dado que a manutenção do padrão
sanitário do Estado é prioridade.
É preciso buscar novos mercados e a manutenção dos mesmos, atentando para o
desenvolvimento das marcas estaduais, criando algum tipo de identidade. Para tanto, vale
proporcionar a participação das empresas nas principais feiras comerciais do setor de
alimentos. Para o segmento de insumos, incentivar formas de cooperação entre estes
diferentes agentes de maneira a otimizar os fatores de produção proporcionando ganhos de
competitividade. E, por fim, um engajamento mais forte e uma organização mais ativa das
associações e entidades que representam o setor avícola no Estado.