animais de laboratorio
Transcrição
animais de laboratorio
Série Didática 11 Animais de Laboratório no Instituto Butantan Introdução: A experimentação animal data dos antigos Gregos e Romanos, porém foi durante os séculos dezoito e dezenove que progrediu lentamente de uma prática relativamente incomum, até alcançar um enfoque científico. O Instituto Butantan, em 1928 inicia a construção de um Biotério, ato pioneiro, já que era raro literatura ou informações especializadas sobre normas de manutenção e instalação para as espécies de animais de laboratório, utilizados na experimentação. Em 1935, o Instituto já possuía a maior criação de animais para experimentação e infra-estrutura básica para pleno desenvolvimento da medicina experimental. Em 1999, a Divisão Biotério Central do Instituto Butantan, passou por uma grande adequação física das áreas de criação das espécies convencionais de laboratório (camundongos, cobaias, ratos, hamsters e coelhos), com o intuito de produzir animais, sanitária e geneticamente definidos. As áreas de criação foram adequadas às mais modernas normas internacionais de instalações, de acordo com as exigências internacionais de cGMP (Current Good Manufacturing Practices) da WHO (World Health Organization), garantindo o padrão “SPF” (Specific Pathogens Free), a ética e o bem estar dos animais utilizados no desenvolvimento dos programas e projetos da instituição. O Instituto Butantan, que mantém tradição centenária no desenvolvimento de soros contra venenos de animais peçonhentos e a raiva, é também o maior produtor de vacinas da América Latina e Treinamento Biotério Atual Década de 70, ausência de cGMP principal parceiro do Ministério da Saúde nas campanhas nacionais de vacinação. O Biotério Central do Instituto Butantan tem por finalidade a realização da produção, manutenção e fornecimento de animais de laboratório, das diversas espécies como camundongos, ratos, coelhos, cobaias, hamsters e macacos rhesus, para serem utilizados na produção e controle da qualidade de imunobiológicos e fármacos, desenvolvimento de pesquisas e alimentação de outras espécies animais tais como serpentes, aranhas e sapos. A produção, manejo e descarte dos animais são realizados obedecendo rigorosamente as Normas de Boas Práticas de Produção de Animais de Laboratórios e Biossegurança. Estas normas incluem validação de barreiras sanitárias, estabelecimento de fluxos, procedimentos operativo padrão, certificação e validação de equipamentos e processos. Todos os processos obedecem ao código de ética animal e aos Princípios dos três Rs. Uma outra finalidade da Divisão Biotério Central é a formação de profis- Década de 40, caixas de madeira sionais na área da Ciência de Animais de Laboratório. Realizamos anualmente, cursos de treinamento para técnicos de nível médio e superior, para os funcionários do biotério, do Instituto e de outras Instituições. Ambiente: dade, troca mínima de ar por hora, temperatura e umidade relativa, níveis de ruído e iluminação. Uma importante característica do biotério é o sistema de exaustão. Os animais são alojados em gaiolas, distribuídas em estantes metálicas com seis prateleiras cada e a exaustão é feita através de um sistema de plenos, instalados nas paredes das estantes, atrás das gaiolas. Isto significa, que os odores fortes de amônia produzidos pela urina e fezes dos animais são exauridos diretamente das gaiolas sem circular na sala. Produzimos animais dentro dos conceitos da Garantia da Qualidade.Isso significa assegurar que os reagentes biológicos (animais) são consistentemente produzidos e controlados, com padrões de qualidade apropriados para o uso pretendido. A aplicabilidade desses conceitos para produção de animais de laboratório é ainda muito recente no Brasil, sendo o Instituto Butantan o pioneiro. Animais: São inúmeros os modelos animais utilizados nas pesquisas cientificas, porém foram definidas cinco espécies como sendo as espécies convencionais de animais de laboratório. Estas espécies são conhecidas popularmente pelos seguintes nomes, camundongo, rato, hamster, cobaia e coelho. No Instituto Butantan, temos as cinco e mais uma colônia de macacos rhesus. O Biotério Central é um prédio independente, isolado das demais áreas do Instituto, com uma área de 2.100 m2. Possuí entrada e vestiários separados, casa de máquinas, caldeiras e gerador exclusivo. Sua arquitetura é pavilhonar, sendo que cada linhagem é mantida em um pavilhão e este totalmente independente dos demais. As áreas auxiliares como; laboratório, vestiários de barreira, administração, Camundongo – É um roedor da família Muridae, almoxarifado, área de descanso e refeição são total- muito utilizado nas pesquisas biomédicas e seu nome cientifico é Mus domesticus domesticus. Nascem com mente separadas. O projeto arquitetônico contemplou cada pavilhão aproximadamente uma a duas gramas, sem pêlo, de com estrutura física, equipamentos e definição de olhos e orelhas fechadas e sem dentes. Atingem a fluxos de forma a minimizar ou eliminar os riscos de puberdade por volta dos 40 dias de idade, são acasacontaminação através dos insumos e pessoas envia- lados com 60 dias, o período gestacional das fêmeas é em média vinte e um dias, dos as áreas de produção. têm ninhadas grandes de 10 A definição do fluxo de a 12 filhotes e o desmame materiais e de pessoas dessas ninhadas ocorre aos evita a contaminação cruvinte e um dias de vida. Há zada. Todos os equipauma enorme variedade de mentos são regularmente linhagens de camundongos, validados, possuem suas que vão do branco ao preespecificações fixadas ao to. Há varias linhagens allado e os procedimentos binas, que fenotipicamente de uso e limpeza descritos (aparência externa) parecem nos procedimentos operiguais, mas geneticamente ativos padrão (POPs) e no são totalmente diferentes. manual de limpeza. Cada O camundongo é a espécie unidade de produção disque apresenta maior variepõe de salas que possuem dade de linhagens. No Biosistema de filtração de ar, tério Central, trabalhamos com filtros HEPA (High Efcamundongo com linhagens heterogênificiency Particulate Air). A cas (não consangüíneas) e construção obedece aos princípios de zoneamento, onde ocorre um efeito em as isogênicas (consangüíneas). Essa diferença genécascata, com o fluxo de ar partindo da área de maior tica define o tipo de manejo a ser seguido, para que pressão, para as áreas de menor pressão. As zonas não haja uma contaminação genética, pois o objediferenciam-se pela pressão e pureza do ar, porém tivo principal nas linhagens heterogênicas é a maior mantendo os demais parâmetros físicos, como: variedade genética entre seus indivíduos (o que fluxo do ar não turbulento e unidirecional, veloci- ocorre com a população humana). Já com as linha- depressão,cancer de mama e próstata. No Instituto Butantan são usados por quase todos os Laboratórios de Pesquisas. Rato Hamster – O hamster dourado, um roedor também gens consangüíneas, o objetivo principal é o maior grau de parentesco possível. Após ser conseguido a isogenidade, mantêm-se os acasalamentos entre irmãos, conseguindo-se uma semelhança genética por volta 96,9% em todos os loci cromossômicos. Estes animais isogênicos foram desenvolvidos para permitir a continuidade dos estudos sobre câncer e muito ajudaram no entendimento de várias doenças. No Instituto Butantan são mais usados na produção de anticorpo e em testes de vacinas recombinantes para diferentes doenças. Rato – O rato é um roedor da família Muridae, po- dendo ser o Rattus rattus, que é o rato do telhado e o Rattus norvegicus. A principal diferença entre os dois é o tamanho da cauda, o Rattus rattus possui a cauda maior que o corpo, com uma finalidade preênsil (de agarrar); o Rattus norvegicus tem a cauda menor que o corpo. A principal linhagem utilizada nas pesquisas é a linhagem Wistar, um rato albino (branco). Nasce com peso variando entre quatro a seis gramas, sem pêlo, de olhos e orelhas fechadas, sem dentes. Atingem a maturidade sexual por volta dos sessenta dias de idade, as fêmeas são acasaladas aos noventa dias, o período gestacional é em média vinte e um dias, têm ninhadas grandes de 10 a 14 filhotes e o desmame dessas ninhadas ocorre aos vinte e um dias de vida. Existem ratos heterogênicos e isogênicos. Desde o século passado, o papel do rato na medicina mudou de portador de doenças contagiosas à uma ferramenta indispensável no desenvolvimento experimental da medicina e de produtos farmacêuticos. Foi no rato que desenvolveram-se vários estudos sobre os medicamentos destinados a Hamster conhecido como hamster da Síria (Mesocricetus auratus), é a espécie mais comum da subfamília Cricetidae a ser usada na pesquisa biomédica, sendo chamado, normalmente, de hamster de laboratório. O hamster dourado se originou no sudoeste da Europa e no Oriente médio, de um macho e duas fêmeas sobreviventes de uma ninhada de 10 filhotes capturados na região de Aleppo na Síria, numa expedição liderada pelo zoólogo Israel Aharoni. Comparados com ratos e camundongos, o uso de hamster na pesquisa biomédica é menos expressivo, porém como animal de estimação é o mais usado. Nesta espécie as fêmeas são maiores e mais agressivas que os machos. Como os outros roedores (rato e camundongo), nascem sem pelos, com olhos e orelhas fechadas, porém nascem com dentes. Quando adultos têm a pele muito flácida. Este roedor apresenta “bolsas guturais” na boca, onde alojam alimento. Nascem pesando por volta de duas gramas, Cobaia o período gestacional é de aproximadamente 18 dias e o tamanho da ninhada é de cinco a oito filhotes por parto. Sua utilização está voltada para estudos de virologia e anomalias congênitas. No Instituto Butantan são mais usados pelo Laboratório de Parasitologia. Cobaia – Conhecida vulgarmente como porquinho da Índia, é um roedor da família Cavidae e seu nome cientifico é Cavia porcellus. Dentre as cinco espécies convencionais de animais de laboratório é a única que tem origem na América do Sul. Foi encontrada no Peru e posteriormente levada a Europa como animais de estimação. Os filhotes diferentemente dos outros, nesta espécie, nascem com pêlo, olhos abertos, orelhas soltas e andam dentre as primeiras horas após o parto, se alimentam de sólidos já na primeira semana de vida. Outras particularidades destes roedores é que não apresentam cauda e não sintetizam a vitamina C, necessitando recebê-la de forma exógena (administrado na água de beber). As fêmeas são acasaladas por volta dos noventa dias de Coelho idade e o período gestacional é em média de setenta dias. No Instituto Butantan são utilizados nos testes de controle de qualidade de praticamente todas as vacinas e soros, principalmente para testes da vacina anti diftérica. Coelho – São Lagomorpha pertencentes a família Leporidae, posição zoológica que lhe foi garantida pela presença de 4 incisivos superiores e não apenas dois como nos roedores. Existem várias raças de coelhos, sendo que a mais utilizada na experimentação cientifica é BNZ (Branco Nova Zelândia). Este animal é de porte médio, pelagem branca, nascem sem pêlos, olhos e orelhas fechadas, pesando por volta de cinqüenta gramas. Atingem a puberdade em torno dos quatro meses de idade e o período gestacional das fêmeas é em média de trinta dias. Os filhotes de coelho, quando recém nascidos, são chamados de láparos. São muito utilizados no desenvolvimento do tratamento da quimioterapia. No Instituto Butantan são mais usados para testes de pirogênio dos imunobiológicos Macaco – Temos uma colônia de macacos Rhesus, originária do continente asiático (Índia), iniciada no ano de 1929, através da importação de 150 animais que foram utilizados no desenvolvimento de trabalhos de pesquisa da febre amarela. Os primatas não humanos ou infra-humanos são mamíferos essencialmente tropicais e são divididos em dois grandes grupos: Primatas do Novo Mundo e Primatas do Velho Mundo, sendo que os macacos Rhesus são do Velho Mundo, pertencendo à Ordem dos Catharrinos, os quais possuem a expansão septal muito reduzida, fi- cando as narinas de forma obliqua. Possuem 32 dentes, o que atesta que estão, no processo evolutivo, mais próximos do homem. Em relação a taxonomia os Rhesus pertencem à classe Mammalia, ordem Primatas, família Cercopitecidae, gênero Macaca, espécie mulatta, com o nome popular: de “macaco rhesus”, sendo os mais utilizados na pesquisa biomédica. As fêmeas desta espécie têm ciclo menstrual semelhante ao dos humanos e apresentam sinais externos de menstruação (sangue na vagina). A 1ª menstruação (menarca) ocorre aos 2 anos de idade, sendo seguida por um período de ciclos menstruais irregulares e a 1ª concepção ocorre geralmente ao redor dos 4 anos de idade e nasce um único produto, com aproximadamente 400 gramas. A gestação varia entre 161 e 175 dias. Os rhesus apresentam estações de acasalamento definidas, como período de anestro e variações estacionais na capacidade reprodutiva. Esta espécie quando criada em cativeiro, na América do Sul, apresenta estação de acasalamento (estro) de abril a setembro e anestro durante o restante do ano. No Instituto Butantan, os animais são mantidos em sistemas de criação semi-natural em viveiros. Os grupos de acasalamentos estão separados e abrigados em dois grandes viveiros. Existe também, um espaço denominado de “creche”, onde são mantidos os animais desmamados, agrupados por idade. Após o nascimento, os bebês permanecem com as mães até o desmame, que ocorre entre o 6º e o 9º mês de vida. Quando as fêmeas atingem a maturidade sexual, ao redor de 04 anos, são colocadas com um macho adulto de hierarquia suficiente para dominar o grupo de fêmeas (3-6). No Instituto Butantan são realizadas algumas pesquisas com estes animais, apenas para verificação da presença ou não de anticorpos de diversas doenças virais humanas, de relevância em saúde pública, que eventualmente possam ser transmitidas aos animais pela proximidade com o público como: sarampo, rubéola, herpes vírus humanos tipos 1 e 2, parvovírus B 19, herpes vírus tipo 6, dengue e febre amarela. FICHA TÉCNICA: Div. Des. Cultural: Henrique M. Canter-Coord. Div. Biotério Central Texto e Fotos: Ubimara P. Rodrigues (Dir. Técnica), Vânia G. M. Mattaraia, Ana Paula R. da Silva, Maria de Fátima C. L. F. Tavora, Elisabeth J. G. Valentini, Virginia B. Moreira e Arquivo Butantan Macaco