O DESAFIO DO ENVELHECIMENTO AO LONGO DA VIDA

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O DESAFIO DO ENVELHECIMENTO AO LONGO DA VIDA
Modalidade: Comunicação Oral GT:Artes Visuais
Eixo Temático: Mediações Culturais: fundamentos, práticas e políticas.
O DESAFIO DO ENVELHECIMENTO AO LONGO DA VIDA: Sociologia do corpo
apresentado em obras pictóricas
ALMEIDA, Simone Aparecida Pinheiro de1 (UEPG - Paraná - Brasil)
RESUMO:
Este artigo é um relato sobre uma Oficina Pedagógica realizada em julho de 2014 para
Formação em Ação de professores da Rede Estadual de Educação do Paraná. Dentre as
temáticas sugeridas estava “Educação para o Envelhecimento Digno e Saudável: Uma
Questão Curricular”. A temática foi trabalhada no primeiro momento apresentando as Leis
que embasam a proteção do idoso na sociedade, bem como as Diretrizes curriculares de
inserção da temática como tema transversal em todas as disciplinas da Educação Básica.
Utilizou-se de slides com imagens de obras de pictóricas pintadas por artistas que se
destacaram ao longo da história. A descrição sociológica e análise das pinturas objetivaram
fazer uma reflexão sobre a representação de idosos em períodos diferentes. Ao final da
Oficina foram apresentadas algumas questões norteadoras para reflexão do grupo. Destacase que a representação de um segmento da sociedade poderá ser realizada a partir da
observação detalhada de obras pictóricas. Para essa reflexão adotamos a Nova História
como concepção teórica que embasa a discussão por apresentar novas técnicas de
pesquisa, novos métodos de descrição e interpretação da realidade e do cotidiano dos
sujeitos, auxiliando assim na análise das imagens enquanto recurso de interpretação de
uma determinada realidade.
Palavras-chave: Envelhecimento; Currículo; obras pictóricas.
EL RETO DE ENVEJECIMIENTO DE POR VIDA: Sociología del cuerpo se presenta
en las obras pictóricas
RESUMEN:
Este artículo es un informe sobre un taller pedagógico, celebrada en julio de 2014 en
Formación Acción para los maestros del Estado de la Red de Educación de Paraná. Entre
los tema propuesto fue "Educación para el Envejecimiento digno y saludable: Currículo de la
materia". El tema se trabajó en la presentación de la primera de las leyes que apoyan la
protección de las personas mayores en la sociedad, así como los lineamientos curriculares
introducir el tema como un tema transversal en todas las disciplinas de la Educación Básica.
Utilizamos diapositivas con imágenes de obras pictóricas pintados por artistas que se han
distinguido a lo largo de la historia. La descripción y el análisis sociológico de las pinturas
destinadas a reflexionar sobre la representación de las personas mayores en diferentes
períodos. Al final del taller se presentaron algunas preguntas orientadoras para la reflexión
en grupo. Es de destacar que la representación de un segmento de la sociedad se puede
realizar desde la observación detallada de obras pictóricas. Para esta discusión se adopta la
nueva historia como un concepto teórico que subyace en el debate mediante la presentación
de nuevas técnicas de investigación, nuevos métodos de descripción e interpretación de la
realidad y la vida cotidiana de las personas, ayudando así al análisis de las imágenes como
un recurso de interpretación de una realidad dada.
Palabras clave: Envejecimiento; currículum; obras pictóricas.
1 Introdução
Os aportes teóricos que se pretende abordar dentro desta temática são aqui
formulados a partir da perspectiva de uma formação histórica e sociológica da
educação.
Em primeiro lugar é preciso lembrar que o processo de pesquisa teórica é
sempre complexo, pois envolve diferentes autores com diferentes pontos de vista, ou
defensores dos mesmos métodos.
Tomamos como eixo para a revisão da historiografia, a problematização do
processo de construção e desconstrução da imagem e da contextualização histórica
e sociológica de idosos na sociedade.
A velhice não impede que as mulheres elaborem projetos de vida, na terceira
idade é que elas exponham com maior determinação suas vontades, libertando-se
valores tradicionais que lhes foi cobrado durante boa parte de sua vida. A concepção
de envelhecimento de reclusão da mulher em seu ambiente familiar está mudando,
agora a mulher da terceira idade está inserida em espaços de educação
permanente, elas têm a liberdade de exporem suas lembranças e sentirem-se
valorizadas.
A presente discussão teórica pautada na Nova História tem como objetivo
descrever a contribuição de alguns autores que embasam a temática história,
cultura, memória e gênero na terceira idade.
A arte visual na perspectiva de obras pictóricas podem ser um recurso
didático excelente para se abordar assuntos históricos e sociais. A concepção da
Nova História quando enfatiza a contribuição para novos recursos de análise
sociológica destaca justamente a possibilidade de novos métodos novas
abordagens.
O artigo aqui apresentado refere-se a uma descrição de uma prática
pedagógica realizada no momento de aplicação de uma Oficina com a temática
“educação para o envelhecimento humano digno e saudável: uma questão curricular
– aspectos legais”, tendo como participantes professores da Rede Estadual de
Educação no momento da Formação em Ação agendada pela Secretaria de Estado
da Educação. Cada professor oficineiro recebe a temática em geral e pode montar
seu material a perspectiva, o método e o material que pretenda abordar a temática.
Após a discussão dos textos sobre políticas públicas e legislação para o
idoso, passou-se para a observação de obras pictóricas apresentadas em slides.
Assim instigou-se a possibilidade de aprendermos algo com a pintura o que ela nos
ensina? qual a mensagem educativa, social, cultural, política implícita nela? Qual a
relação das pinturas com a temática velhice, idoso ou terceira idade? Como
podermos tratar desta temática nos temas transversais nas disciplinas escolares?
Desta maneira ao longo deste trabalho apresenta-se a concepção teórica e os
aportes que embasaram as discussões sobre a velhice ao longo do tempo.
1.
A VELHICE
TEÓRICOS
RETRATADA
EM
OBRAS
PICTÓRICAS:
APORTES
(...) a diversidade dos testemunhos históricos é quase
infinita. Tudo o que o homem diz ou escreve, tudo o que
fabrica, tudo o que toca pode e deve informar-nos sobre
ele
Marc Bloch
A Nova História/História Nova, cuja principal expressão é a História das
Mentalidades, insere-se no contexto conturbado da década de 60, influenciada pelos
acontecimentos de maio de 1968, em Paris, da Primavera de Praga, dos
movimentos feministas, entre outros movimentos.
A publicação do artigo do historiador francês Jaques Le Goff, As mentalidades
– uma História ambígua (1974) tornou-se um marco no pensamento historiográfico,
apresentando novas abordagens, novos problemas e novos objetos.
Le Goff entendeu que o discurso filosófico desdobrou a História em dois
modelos de inteligibilidade. O modelo événementielle correspondendo a História dos
acontecimentos e o modelo estrutural remetendo à História das grandes estruturas
políticas e econômicas, o que levou ao desaparecimento da historicidade. A
Historicidade, portanto, permitiu a inclusão no campo da ciência histórica de novos
objetos e exclui a idealização da História.
Nessa primeira fase de abertura da história a novas influências, a psicologia
foi à ciência que mais atraiu certos historiadores, inclusive Lucien Febvre. A
mudança em relação ao pensamento histórico ocorreu a partir de 1929 com a
criação da Escola de Annales com Lucien Febvre e Marc Bloc, considerados
historiadores da primeira geração.
A Terceira Fase (geração) de Annales foi marcada pela Nova História (1960)
com Le Goff (novos problemas novos objetos).
Burke (1992) destaca que a expressão “a nova história” é mais conhecida na
França.
La nouvelle histoire é o título de uma coleção de ensaios editada pelo
renomado medievalista francês Jacques Le Goff. Le Goff também
auxiliou na edição de uma maciça coleção de ensaios de três
volumes acerca de “novos problemas”, “novas abordagens” e “novos
objetos”. (BURKE, 1992, p. 09).
A Nova História se afirma “história global, total, e reivindica a renovação de
todo o campo da história” (LE GOFF, 1993, p. 34) ela ampliou o campo do
documento
histórico,
ela
substituiu
a
história
de
Langlois
e
Seignobos,
fundamentada nos textos escritos, para a ampliação de diversas fontes históricas,
como oralidade, arqueologia, filme, fotos, memória etc.
De acordo com Le Goff, a história vive hoje uma “revolução documental”.
“uma
nova
concepção
de
documento
e
da
crítica
desse
documento”.
(Documento/Monumento, in Enciclopedia Einaudi, 1978).
Le Goff destaca que não há realidade histórica acabada. A construção
cientifica do documento deve possibilitar a reconstituição ou explicação do passado.
Reconhecemos que, numa sociedade, qualquer que seja tudo se liga
e se comanda mutuamente: a estrutura política e social, a economia,
as crenças, as manifestações mais elementares e mais sutis da
mentalidade. (LE GOFF, 1993, p. 43).
Volteire já definia o projeto de história nova, “as novas descobertas levaram à
proscrição dos antigos sistemas. “Vai se querer conhecer o gênero humano naquele
detalhe interessante que constitui, hoje, a base da filosofia natural [...]” (VOLTEIRE,
1744, citado por Le Goff, p. 50).
Le Goff ofereceu significativas contribuições analisando o tempo em
diferentes espaços pontua ainda as contribuições de Karl Marx quando apresenta o
modo de produção e faz algumas ressalvas criticando a história (marxista oficial) sob
o viés econômico, a tendência de situar nas superestruturas as mentalidades,
causalidade, linerialidade e um só modo de evolução.
A historiografia da Nova História apresenta a contribuição de textos literários
ou de arquivos que atestam a realidade cotidiana dos mais humildes. Apresenta
também a aproximação entre a história e etnologia/antropologia. “Rever enfim, os
hábitos cronológicos dos historiadores é uma das grandes tarefas da história nova...”
(Le Goff, 1993, p.58).
O diálogo dos historiadores da longa duração com as outras ciências sociais e
com as ciências da natureza só poderá ter relações frutíferas sob duas condições:
a) não esquecer que as estruturas por ela estudadas são dinâmicas;
b) aplicar certos métodos estruturalistas ao estudo dos documentos
históricos, à análise dos textos (em sentido amplo), não há
explicação histórica propriamente dita. (LE GOFF, 2003, p. 15).
Le Goff faz uma crítica a história quantitativa e enfatiza a história qualitativa, o
pesquisador deverá tomar cuidado com a pesquisa quantitativa fazendo uma análise
de leitura qualitativa após exposição de gráficos, tabelas, etc.
A história nova continua sendo em grande parte, qualitativa, e sabese que a fecundidade da história quantitativa depende da qualidade
do programa do historiador e que o essencial do trabalho histórico
ainda está por fazer, depois que o computador fornece seus
resultados. (LE GOFF, 1993, p. 69).
Para Le Goff a História Nova apresenta algumas tarefas tais como: Uma nova
concepção de documento acompanhada de uma nova crítica desse documento. “É
preciso desestruturar o documento para descobrir suas condições de produção”.
(1993, p. 76); é preciso delimitar, explicar as lacunas; e ainda dar um“retratamento”
da noção de tempo. O tempo não é único, homogêneo e linear. Abordar o modelo de
multiplicidade dos tempos sociais. Não generalizar acontecimentos.
O estudo da sociedade torna-se um objeto de investigação a respeito do
modo de vida das pessoas idosas suas vivências e aspirações, essa descrição pode
ter como auxilio a análise de obras pictóricas.
A Nova História aborda a história vivida das sociedades humanas e o esforço
científico para descrevê-las, defendem que a realidade é social e culturalmente
construída.
1.2 Inserção da temática envelhecimento como temas transversais na
Educação Básica
“Envelhecer é uma arte”. (Adoniran Barbosa)
O corpo envelhece sem a sua permissão a alma só envelhece se você permitir.... Um
coração não é capaz de envelhecer quando a pessoa que o carrega traz dentro de si o
desejo de viver eternamente e eternizado no coração das pessoas.... (Patrícia Felix)
A população mundial, e particularmente a brasileira, está envelhecendo
progressivamente, isso implica a emergência de novas prioridades e exigências nos
diferentes níveis da organização social, resultando em novos olhares direcionados
as esferas política, econômica e cultural.
O expressivo aumento de idosos na população é um dado relevante que,
certamente, influenciará na elaboração de políticas públicas que assegurem a
qualidade no atendimento a esse segmento.
A palavra velhice quase sempre aparece com uma conotação depreciativa,
em sociedades distintas e sobretudo nos ocidentais ela esteve associada a um ser
humano decadente e improdutivo.
Com o objetivo de separar a figura do idoso do estereótipo e do estigma que
lhes é direcionado preferimos neste estudo compreender o envelhecimento como
fenômeno intrínseco à experiência humana e ligado a ideia de continuidade de um
ciclo de vida.
A tendência contemporânea é rever os estereótipos associados ao
envelhecimento, A ideia de um processo de perdas tem sido
substituída pela consideração de que os estágios mais avançados da
vida são momentos propícios para as novas conquistas, guiadas pela
busca do prazer e da satisfação pessoal. As experiências vividas e
os saberes acumulados são ganhos que oferecem oportunidades de
realizar projetos abandonados em outras etapas e estabelecer
relações mais profícuas com o mundo dos mais jovens e dos mais
velhos. (DEBERT, 2004, p. 14).
Simone de Beauvoir (p. 17), traz suas contribuições para a descrição da
velhice.
(...) A velhice não é um fato estático; é o resultado e o prolongamento
de um processo. Em que consiste esse processo? Em outras
palavras, o que é envelhecer? Esta ideia está ligada à ideia de
mudança. Mas a vida do embrião, do recém-nascido, da criança é
uma mudança contínua. Caberia concluir daí, como fizeram alguns,
que nossa existência é uma morte lenta? É evidente que não. Um tal
paradoxo desconhece a essencial verdade da vida; esta é um
sistema instável no qual, cada instante, o equilíbrio se perde e se
reconquista: é a inércia que é sinônimo de morte. Mudar é a lei da
vida. (p. 17).
Beauvoir na primeira parte de sua obra, faz uma descrição histórica do
pensamento em relação ao idoso desde as sociedades primitivas até o século XIX.
Salientamos que ao longo da história a longevidade era um privilégio dos
mais ricos até o século XIX. Beauvoir menciona em sua obra que os idosos pobres
não aparecem na história, nem na literatura em determinados períodos. As
literaturas analisadas por Beauvoir mencionam que os velhos (homens); as
mulheres, por terem sido inferiorizadas ao longo da história não estão em evidência
nos registros mais antigos sobre o envelhecimento humano. (BEAUVOIR, 1970).
Novas definições de velhice e de envelhecimento ganharam expressão com a
denominação de “terceira idade”. A categoria terceira idade surgiu na França nos
anos 70 quando da implantação das Universités du Troisième Âge. Vale ressaltar
que o primeiro modelo de universidade da terceira idade, como é conhecido, foi
implantado em 1974, por Pierre Vellas, em Toullose (França).
Outra obra que contribui para estudos historiográficos relacionados a velhice
ou “terceira idade”, estão presentes na obra do historiador Philippe Ariès (1981). O
autor aborda a infância enquanto construção social da categoria idade inspirando
novos estudos em relação a outras categorias como a velhice.
O Estado do Paraná por meio da Secretaria de Educação apresenta proposta
para inserir a temática educação para o envelhecimento como tema transversal em
disciplinas da Educação Básica.
A Lei 10.741/2003 dispõe sobre o Estatuto do Idoso, assegurando os direitos
das pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, apontando como dever da
família da sociedade do Poder Público e da Educação efetivar com qualidade o
direito ao lazer, saúde, educação, alimentação, cultura entre outros direitos que
deverão ser respeitados.
Conforme artigo 10, inciso III, do Decreto Lei nº 1.948/1996 da Política
Nacional do Idoso, (8.842/84),
Artigo 10. Ao Ministério da Educação e do Desporto, em articulação
com órgãos federais, estaduais e municipais de educação, compete:
I viabilizar a implantação de programa educacional voltado ao idoso,
de modo a atender o inciso III do art. 10 da Lei n° 8.842 de janeiro de
1994;
II incentivar a inclusão nos programas educacionais de conteúdo
sobre o processo de envelhecimento;
III estimular e apoiar a admissão do idoso na universidade,
propiciando a integração intergeracional. (BRASIL, 1996).
Tanto no Estatuto do idoso como na Política Nacional do Idoso ambas as leis
são delegadas atribuições para a educação, o que descreve-se em seu Artigo 22:
Nos currículos mínimos dos diversos níveis de ensino formal serão
inseridos conteúdos voltados ao processo de envelhecimento, ao
respeito e à valorização do idoso, de forma a eliminar preconceito e a
produzir conhecimentos sobre a matéria. (BRASIL, 2003).
Neste sentido a Secretaria de Educação do Paraná assume o compromisso
de trabalhar com os professores, diretores e equipe pedagógica a temática sobre
envelhecimento digno para que os mesmos insiram no Projeto Político Pedagógico
da escola e como tema transversal a partir dos conteúdos estruturantes de cada
disciplina.
1.3 Metodologia: Resultados e Análise
As Leis do Estatuto do Idoso bem como a Política Nacional do Idoso tornamse uma contribuição teórica para a abordagem inicial da temática.
Por uma questão de tempo limitado para trabalhar a temática foram
selecionadas algumas obras pictóricas.
Para descrever analisar as imagens dos quadros com os(as) cursistas recorri
ao estudo de Albano (2010), em seu artigo “arte e pedagogia; além dos territórios
demarcados”, a autora menciona que para desenvolver sua atividade prática
pedagógica recorreu aos estudos de Jung:
No texto Jung and the arts, ajudou-me a identificar alguns
procedimentos que utilizo na orientação, enquanto método, que
ainda não havia conseguido explicitar com a mesma clareza.
Propõe que, diante de uma obra de arte, a atitude junguiana é
fazer uma pausa, tão longa quanto for necessário, para emergir
tudo que for preciso ser descoberto. Realmente o termo
apropriado é “deixar acontecer”. (ALBANO, 2010, p. 30).
A orientação da autora é que existem estágios de observação de uma obra de
arte, sendo a primeira a observação da obra para ver o que chama a atenção o que
é mais impressionante é uma análise subjetiva instigando a sensação, emoção todo
sentimento que está exposto na obra e que é transmitido para quem observa.
Após o momento de observação instigou-se a possibilidade de aprendermos
algo com a pintura o que ela nos ensina? qual a mensagem educativa, social,
cultural, política implícita nela? Qual a relação das pinturas com a temática velhice,
idoso ou terceira idade? Como podermos tratar desta temática nos temas
transversais nas disciplinas escolares?
Os professores puderam dialogar e justificar a necessidade da temática proposta
pela SEED/PR “Educação para o envelhecimento humano digno e saudável: uma
questão curricular – aspectos legais”.
Para a realização dos textos propostos pela SEED o grupo realizou leitura sobre
Currículo Escolar e o Art. 22 do Estatuto do Idoso, o texto apresenta os aspectos
legais sobre a Política do Idoso e indica as disciplinas que devem inserir esta
demanda nos conteúdos, aponta também algumas sugestões de trabalhos. Foi feito
a reflexão a partir de texto sobre violência contra a Pessoa Idosa, identificando os
tipos de violência praticada contra as pessoas idosas o objetivo é chamar a atenção
sobre os índices de violência bem como a falta de políticas sociais que rompam com
esse ciclo.
Após leitura dos textos partiu-se para apresentação de algumas obras pictórica
que retratam a velhice.
A integração de alguém ao universo de uma dada cultura exige-lhe
vontade de participar dela. Para aprender bem a mensagem contida
em uma obra de arte, o espectador deve esforçar-se por aprimorar
sua capacidade de percepção. Esse aprimoramento quando feito de
modo empírico, consome um longo tempo, pois a multiplicação de
tentativas característica do empirismo, torna moroso o processo. É
possível porém, acelerar esse processo e abreviar o tempo
necessário, desde que se obedeça a um roteiro adequado.
(COSTELLA, 2002, p. 12).
O livro de Costella (2002) torna-se uma das referências para a descrição de um
roteiro para apreciadores da arte. Dentre as sugestões de descrição apresentadas
pelo autor optou-se pela descrição do ponto de vista estético. Destaco que não
entramos na contextualização histórica e técnica dos artistas das obras
apresentadas o objetivo foi destacar a presença da velhice nessas obras.
Imagem 1 – Velha senhora lendo –Gerrit Dou
Fonte: mol-tagge.blogspot.com.br
A obra pintada por Gerrit Dou em 1639 é possivelmente o retrato da mãe de
Rembrandt do qual ele foi aprendiz. A obra recebe o nome de idosa lendo ou retrato
de uma velha lendo.
Rembrandt foi um artista difícil de definir e por algumas vezes controverso:
Fascinado por texturas, Rembrandt foi o mestre supremo da pintura
da mais difícil de todas: a pele do rosto humano, em especial de
pessoas velhas. Particularmente difícil de representar é a área frágil
ao redor dos olhos, que varia entre os indivíduos – somente
Rembrandt conseguiu captar de verdade essa característica.
(CUMMING, 2010, p. 48).
A obra de Rembrandt selecionada para apresentação ao grupo foi o
“Banquete de Baltazar”, com descrição detalhada do quadro. Não a expomos neste
momento por questão de limitação de espaço.
Imagem 2 – Autorretrato de Renoir (1910)
Fonte: http://5arquitetura.blogspot.com.br/2009/10/auto-retratos-de-renoir.html.Acesso em 30 de
junho de 2014.
Pierre Auguste Renoir foi um artista plástico francês impressionista retratando
cenas urbanas, paisagens e a delicadeza da velhice.
Nos últimos anos de vida Renoir contraiu artrite o que foi lhe impedindo de
continuar suas pinturas em alguns momentos amarrava o pincel em seu braço para
poder realizar as obras.
Imagem 3 - Dois velhos comendo sopa - Francisco Goya (1819-1823)
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Dois_velhos_comendo_sopa. Acesso em 01 de julho de 2014.
Imagem 4 - Misantropo, (1568)
Fonte: http://www.casthalia.com.br/a_mansao/obras/bruegel_misantropo.htm. Acesso em 26 de julho
de 2014.
O quadro “Misantropo” de Pieter Bruegel, o Velho pintor holandês, é óleo sobre
madeira, retrata um velho recluso em sua própria capa de uma maneira distanciada
da sociedade há também uma representação de sabedoria pela barba branca o que
caracteriza em algumas sociedades o respeito aos mais velhos como sábios.
Imagem 5 - La Celestina, 1903 Retrato de Carlota Valdivia, Barcelona
Fonte: http://arteseanp.blogspot.com.br/2012/01/pablo-picasso-fases-azul-e-rosa.html. Acesso em 24
de agosto de 2014.
Pablo Ruiz Picasso, pintor espanhol cubista naturalizado francês apresentou
alguns momentos de sua vida artística retratados por fases de cores, nesse quadro
La Celestina Picasso está na fase azul que é de 1901 a 1905, ele retrata os
aspectos mais tristes da vida a solidão, a pobreza, mendigos, cegos os
desamparados e a velhice. A descrição de La Celestina é de uma espanhola do séc.
XVI, Picasso usou como modelo para posar para ele uma cafetina de Barcelona
chamada Carlota Valdívia.
Outras obras pictóricas foram apresentadas no momento da Oficina
Pedagógica: foram "O velho livro de leitura". “Retrato Dervish”, “Mulher velha com
óculos”, “Homem Chinês de idade com óculos” ambas de Atanur Dogan pintor
canadense.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Destacamos que a negação de identidades ou a discriminação por sexo,
religião, idade foge aos princípios da Declaração dos Direitos Humanos. A violência
física e mesmo simbólica contra a terceira idade é punível em forma de Lei.
Considerando
que
o
envelhecimento
populacional
foi
amplamente
reconhecido como uma das principais conquistas sociais do século XX, cientistas
sociais destacam, também, que o envelhecimento traz grandes desafios para as
políticas públicas. Um dos mais importantes é o de assegurar que o processo de
desenvolvimento econômico e social ocorra de forma contínua, com base em
princípios capazes de garantir uma vida digna tanto no setor econômico como na
área de lazer e educação.
Constitui-se um desafio criar programas que fomentem a aprendizagem ao
longo da vida incluindo atividades que motivem os idosos a participação efetiva nos
programas de educação não formal espalhados pelo Brasil.
A contribuição das diversas Conferências mundiais tem contribuído para
discussões sobre inclusão e diversidade bem como a valorização do idoso na
sociedade por meio de sua inserção em espaços de educação e de lazer.
A História Nova defende que a realidade é social e culturalmente construída.
A dialética da história resume-se num diálogo entre – passado/presente e/ou
pressente/passado. Esse diálogo não é neutro exprime-se em uma atribuição de
valores, como, por exemplo, nos pares antigo/moderno, progresso/reação,
velho/novo, lembrança/memória.
Este trabalho pretendeu refletir sobre a possibilidade de se articular a
temática sobre o envelhecimento tendo como aporte obras pictóricas, destacando
que existe várias formas de aprender a apreciar a arte como caráter subjetivo, pois a
análise de uma arte pressupõe uma interpretação pessoal com uma leitura crítica de
alguma realidade apresentada pelo autor.
Desataco que o grupo participou e observou as obras descrevendo a
importância de inserir o tema “educação para o envelhecimento humano digno e
saudável” no currículo da Educação Básica, desta maneira os educandos
construirão uma concepção mais humanista em relação aos idosos, estes que
contribuíram e continuam a contribuir com a história de cada sociedade de cada
família. Como foi pontuado há várias maneiras de ver a arte algumas necessitam de
conhecimentos específicos, porém é possível a interpretação a partir do contexto
social, cultural, político e histórico para uma análise crítica sobre aquilo que vemos.
REFERÊNCIAS
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cedes, campinas, vol. 30, n. 80, p. 26-39, jan.-abr. 2010. Disponível em
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BURKE, Peter (org.). A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo: Editora
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Alemanha): Declaração de Hamburgo: agendas para o futuro. Brasília:
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CUMMING, R. Arte em detalhes. São Paulo: Publifolha, 2010.
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d1948.htm. Acesso em 23 de maio de
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DEBERT, G. G. Gênero e envelhecimento: estudos feministas. Rio de Janeiro:
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DEBERT, Guita Grin. A reinvenção da velhice: socialização e processos de
reprivatização do envelhecimento. São Paulo: Editora da Universidade de São
Paulo: Fapesp, 2004.
FLORESTA, Nísia. Cintilações de uma alma brasileira. [1859] Tradução do Italiano
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LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: Editora da Unicamp, 1990.
LE GOFF, Jacques (Dir) A história nova. 2ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
1
Licenciada em História pela UEPG. Bacharel em Turismo pela UCB. Graduada em
Ciências Sociais (UNIMES). Especialista em Educação de Jovens e Adultos (UTFPR).
Especialista em Educação Patrimonial (UEPG). Especialista em Educação do Campo pela
(UFPR). Mestre em Turismo e Hotelaria (UNIVALI). Professora da Rede Estadual de Ensino
do Paraná. Doutoranda em Educação pela Universidade Estadual de Ponta Grossa.
http://lattes.cnpq.br/82192182776704

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