2009 – paper – ciência da vida

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2009 – paper – ciência da vida
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ESTUDO DA VARIABILIDADE ANUAL E INTRA-ANUAL DA
PRECIPITAÇÃO E DO NÚMERO DE DIAS CHUVOSOS
NO ESTADO DA PARAÍBA
VICENTE DE PAULO RODRIGUES DA SILVA1
EMERSON RICARDO RODRIGUES PEREIRA2
PEDRO VIEIRA DE AZEVEDO3
JOÃO HUGO BARACUY DA CUNHA CAMPOS4
RAMON CAMPOS BRAGA5
1- (Doutor, Professor Associado da Universidade Federal de Campina Grande; Av. Aprígio Veloso, 882, Bodocongó,
Campina Grande, PB; Tel: 83-33101202; Fax: 83-33101202; e-mail: [email protected])
2- (Mestre em Meteorologia; Av. Aprígio Veloso, 882, Bodocongó, Campina Grande, PB; Tel: 83-33101202;
Fax: 83-33101202; e-mail: [email protected])
3- (PhD, Professor Associado da Universidade Federal de Campina Grande; Av. Aprígio Veloso, 882, Bodocongó,
Campina Grande, PB; Tel: 83-33101202; Fax: 83-33101202; e-mail: [email protected])
4- (Doutorando em Recursos Naturais; Av. Aprígio Veloso, 882, Bodocongó, Campina Grande, PB; Tel: 83-33101202;
Fax: 83-33101202; e-mail: [email protected])
5- (Graduação em Meteorologia; Av. Aprígio Veloso, 882, Bodocongó, Campina Grande, PB; Tel: 83-33101202; Fax:
83-33101202; e-mail: [email protected])
ABSTRACT: SILVA, V. P. R.; PEREIRA, E. R. R.; AZEVEDO, P. V.; CAMPOS, J. H. B. C.; BRAGA, R. C. A
study on annual and intra-annual variability of rainfall and rainy days in Paraíba state. Revista de Ciências
da Vida, Seropédica, RJ: EDUR, v. 29, n. 1, jan. - jun., p. 50-62, 2009.The annual and intra-annual variability of
rainfall and rainy days were analyzed for Paraíba state based on 46 daily time-series with more than 30 years containing
both continuous and no missing data. The coefficient of variation maps were provided for dry, wet and annual periods
of the rainfall and number of rainy days. Results showed that the Cariri, Seridó and Curimataú microregions have a
high coefficient of variation for both rainfall and rainy days than those located in Litoral, Agreste e Brejo microregions.
The highest values of coefficient of variation are associated to the lowest values of rainfall and rainy days. The rainfall
variability in Paraíba state is smaller on rainy regions and periods than on both dry regions and periods. The high
variability in rainfall and rainy days are limiting features to the rainfed agriculture in semi arid environments.
Key word: variation coefficient, rainy day, dry and wet periods.
Rev. de Ciên. da Vida, RJ, EDUR. v. 29, n. 1,jan-jun, 2009, p.50-62.
, et al.
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INTRODUÇÃO
A precipitação é uma das variáveis
meteorológicas mais importantes do ciclo
hidrológico, pois influencia várias atividades
humanas, tais como na agricultura, na pesca,
na pecuária e no consumo humano e animal
de água potável. Ela tem sido bastante estudada em diferentes regiões do mundo como principal indicador de secas: Guiana1; Áustria2;
USA3, 4; Sahel5; Iran6; Brasil7.
As secas se constituem num sério problema para a sociedade humana e para os
ecossistemas naturais6. Nesse sentido, diferentes metodologias têm sido utilizadas para se
analisar a variabilidade da precipitação. Silva
et al.8 estudou a variabilidade da precipitação
no Estado da Paraíba com base na teoria
entropia. Analisando variabilidade climática
no Nordeste do Brasil com base no teste de
Mann-Kendall, Silva7 observou tendências significativamente decrescentes em várias localidades dessa região. Ele sugeriu que a essa
variabilidade pode está relacionada com mudanças climáticas no Nordeste do Brasil, que
atinge não apenas o semi-árido da região, mas
também a área litorânea. Como a variação
sazonal da precipitação exerce forte influência no planejamento agrícola, muitos pesquisadores vêm desenvolvendo estudos com base
no número de dias chuvosos10, 11, 12, 9. Ainda
sobre esse assunto, Hess et al.13 registrou que
o decréscimo da precipitação no Nordeste da
zona árida da Nigéria resultou em decréscimo
no número de dias chuvosos. Brunettia et al.10
observou que o decréscimo no número de dias
chuvosos na Itália é mais importante no estudo da intensidade de precipitação do que os
totais anuais. Segundo Jensen & Pedersen16 os
altos coeficientes de variação para a precipitação indicam grande variabilidade dessa variável atmosférica.
A variação da precipitação do Estado da Paraíba é o fator mais importante na agricultura de sequeiro e o seu total varia em função da localização geográfica. Próximo do litoral é mais úmido, pois a precipitação media
anual é aproximadamente 1800 mm; entretan-
to, quanto mais a Oeste do litoral, é mais seco
e a precipitação media anual não supera os 800
mm. Utilizando a teoria da entropia, Silva et
al.8 observou alta variabilidade da precipitação do Estado da Paraíba. Ele observou, ainda, que o período de chuvas no Sertão é de
janeiro a março, no Cariri e Agreste é de março a maio e na Mata Paraibana é de abril a
junho. Na microrregião montanhosa do Brejo
paraibano, os ventos aquecidos na depressão
elevam-se e em seguida resfriam-se dando
origem às chuvas orográficas.
As regiões semi-áridas têm como característica principal as chuvas irregulares
variando espacialmente e de um ano para outro14. Tais irregularidades se constituem num
problema crucial em estudos climatológicos,
principalmente em regiões tropicais onde atuam vários sistemas atmosféricos e sofre a forte influência do fenômeno El Niño. Segundo
Buytaert et al.15, nos ambientes montanhosos
ou de declive pouco mais elevado, a precipitação pode ser extremamente variável no tempo e no espaço e a correlação entre a precipitação e a localização geográfica depende dos
aspectos topográficos.
O sucesso das culturas implantadas
na agricultura de sequeiro depende da precipitação para manter a umidade do solo necessária para o desenvolvimento das culturas. As
irregularidades no regime pluviométrico são
provocadas pelas mudanças da freqüência e/
ou intensidade dos eventos de precipitação. O
melhor entendimento do comportamento da
precipitação, com vistas ao seu aproveitamento
máximo nas atividades agrícolas, pode ser
obtido com o estudo do número de dias chuvosos. Além disso, para muitas aplicações
hidrológicas, tal como para modelagem, o
conhecimento da variabilidade da precipitação torna-se essencial15. A variabilidade espacial e temporal da precipitação no Estado da
Paraíba tem sido pouco estudada apesar de
muito importante para o propósito de formulação de estratégias de combate aos efeitos da
seca no semi-árido. Assim, objetivo do presente estudo é analisar a variabilidade espacial da precipitação no Estado da Paraíba com
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vistas a identificação das áreas mais susceptíveis às estiagem mais prolongadas. Os resultados deste trabalho poderão ser utilizados na
formulação de estratégias para a implantação
de culturas de sequeiro em regiões semi-áridas.
Ceará. A Figura 1 exibe a espacialização dos
postos pluviométricos utilizados no estudo.
Neste trabalho foram utilizadas as séries temporais diárias de precipitação e do
número de dias chuvosos de 46 localidades
do Estado da Paraíba. Os dados foram submetidos a uma análise de consistência, sendo
eliminados os postos pluviométricos cujas séries apresentavam menos de 30 anos de observações completas. Neste estudo foi considerado como dia chuvoso aquele com precipitação acima de 1 mm. Foram construídos
mapas do coeficiente de variação para os períodos seco (janeiro – junho), chuvoso (julho
– dezembro) e total anual do número de dias
chuvosos e do total precipitado. Na Tabela 1
encontra-se identificação de cada posto
pluviométrico, com a sua localização geográfica e o período de estudo.
MATERIAL E MÉTODOS
A região em estudo foi o Estado da
Paraíba, que tem clima semi-árido em aproximadamente 80% de sua área, está localizado
na porção oriental da região Nordeste do Brasil entre os paralelos de 6 e 8º graus de latitude sul e entre os meridianos de 34 e 38º graus
de longitude oeste. Esse estado encontra-se
totalmente incluído na zona tropical e tem uma
área de 56.340,9 Km², sendo limitado ao Norte pelo Estado do Rio Grande do Norte; ao
Sul pelo Estado de Pernambuco; ao Leste pelo
Oceano Atlântico e a Oeste pelo Estado do
1
2
4
5
Latitude (graus, min)
8
-7
3
7
9
13
15
16
14
24
23
27
33
26
31
10
18
20
12
17
19
28
29
6
11
32
22
21
25
30
34
37
39
42
40
45
35
36
44
43
38
41
46
-8
-38
-37
-36
-35
Longitude (graus, min)
Figura 1. Distribuição espacial dos postos pluviométricos do Estado da Paraíba utilizados no estudo.
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O software SURFER, versão 7.0, foi utilizado para traçar os mapas, com base no método
de interpolação “Kriging”. Os mapas são de
isolinhas do número de dias chuvosos e do
coeficiente de variação (CVs) para os três períodos estudados. Na identificação dos períodos seco e chuvoso foram construídos gráficos de barras para cada localidade estudada.
O coeficiente de variação da série de dados
CV (%) é uma medida de dispersão da variável analisada, sendo obtido pela equação16:
2
n
 1 n

2 1

 xi -   x i 
n  i n 
 1 - n  i1
CV  
1 n

xi
n in
1



(1)
em que s é o desvio-padrão, m é a média
aritmética e n é o número de dados da série
temporal.
Tabela 1. Localização geográfica das estações pluviométricas do Estado da Paraíba utilizadas no estudo.
Nú me ro
P osto s
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
32
33
34
35
36
37
38
39
40
41
42
43
44
45
46
B.B.C ruz
C.d o Roc ha
A ra ru na
Pi cui
Je ric ó
M at ar ac a
B.S .Rosa
A .Na var ro
Pom b a l
Sa lgado
M a ma ng
A ra ça gi
Ca jaz
Con dado
N az ar ez i
E .Avidos
A re ia
O lived
A .Grand e
Sa lgadin
J.Pe ssoa
Sa pé
Pa tos
Cor em a s
Sta .Rita
T ape roa
O lho d'águ a
C.G ra nd e
G ur jã o
Pi lar
D este rro
I ngá
I tapor an
I m ac ul
A lhandr a
Ca b ac eir as
Á gua Branc a
A roe ira s
Con ce iç ão
Sum é
U m buz .
M ana ira
B.S .Mi g ue l
Con go
M o ntei ro
Ca m ala u
Lati tu de
(gr a us, Su l)
6º11 '
6º21 '
6º31 '
6º31 '
6º33 '
6º36 '
6º43 '
6º44 '
6º46 '
6º47 '
6º50 '
6º51 '
6º53 '
6º54 '
6º55 '
6º58 '
6º58 ’
6º59 ’
7º3'
7º6'
7º8'
7º6'
7º1'
7º1'
7º8'
7º12 '
7º13 '
7º12 '
7º16 '
7º16 '
7º17 '
7º17 '
7º18 '
7º23 '
7º26 '
7º30 '
7º31 '
7º31 '
7º33 '
7º39 '
7º42 '
7º42 '
7º45 '
7º48 '
7º53 '
7º55 '
Lon gitu de
( grau s, O est e)
37º 32 '
37º 45 '
35º 44 '
36º 22 '
37º 49 '
35º 3'
36º 4'
38º 27 '
37º 49 '
35º 53 '
35º 7'
35º 22 '
38º 34 '
37º 37 '
38º 20 '
38º 28 '
35º 42 ’
36º 15 '
35º 38 '
36º 51 '
34º 53 '
35º 14 '
37º 17 '
37º 58 '
34º 59 '
36º 50 '
37º 46 '
35º 51 '
36º 29 '
35º 17 '
37º 6'
35º 37 '
38º 10 '
37º 30 '
34º 55 '
36º 17 '
37º 39 '
35º 41 '
38º 31 '
36º 56 '
35º 40 '
38º 10 '
36º 20 '
36º 40 '
37º 7'
36º 52 '
A ltitude
( me tr os)
19 0
25 0
58 0
45 0
21 5
35
44 0
24 0
17 8
40 0
54
17 0
29 1
26 0
26 5
25 0
44 5
54 5
18 0
41 0
5
12 5
25 0
22 0
16
50 0
27 5
50 8
48 0
35
59 0
14 4
23 0
75 0
49
39 0
71 0
34 0
37 0
51 0
55 3
60 5
52 0
50 0
59 6
56 1
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P er iodo
19 35
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19 11
19 10
19 62
19 62
19 30
19 13
19 10
19 62
19 10
19 62
19 10
19 41
19 35
19 36
19 11
19 33
19 10
19 35
19 12
19 24
19 11
19 19
19 10
19 10
19 33
19 10
19 62
19 22
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19 10
19 10
19 33
19 36
19 26
19 31
19 62
19 10
19 31
19 10
19 33
19 62
19 62
19 11
19 62
- 1 993
- 1 993
- 1 994
- 1 994
- 1 993
- 1 987
- 1 993
- 1 994
- 1 990
- 1 993
- 1 993
- 1 994
- 1 993
- 1 989
- 1 993
- 1 989
- 1 993
- 1 993
- 1 990
- 1 993
- 1 985
- 1 993
- 1 985
- 1 985
- 1 989
- 1 993
- 1 993
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- 1 993
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- 1 993
- 1 994
- 1 993
- 1 993
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- 1 993
- 1 994
- 1 993
- 1 994
- 1 994
- 1 993
- 1 993
- 1 994
- 1 985
- 1 994
2
...
54
Os postos pluviométricos representativos das
microrregiões analisadas no Estado da Paraíba
foram os seguintes17:
(i)
Litoral:
Mataraca,
Mamanguape, Sapé, Pilar,
Sta Rita, Alhandra, João
Pessoa;
(ii)
Brejo: Areia, Alagoa Grande;
(iii)
Carimataú: Barra de Santa
Rosa, Olivedos, Solânea,
Araruna;
(iv)
Cariri: Sumé, Monteiro,
Congo, Camalau, Barra de
São Miguel, Gurjão,
Cabaceiras, Taperoá;
(v)
Sertão: Desterro, Patos,
Imaculada, Água Branca,
Olho D’Água, Condado,
Belém de Brejo do Cruz,
Catolé do Rocha, Jericó,
Pombal,
Curemas,
Itaporanga,
Manaira,
Antenor
Navarro,
Cajazeiras, Nazarezinho,
Engenheiro Ávidos, Conceição;
(vi)
Agreste: Araçagi, Campina
Grande, Aroeiras, Ingá,
Umbuzeiro;
(vii)
Seridó: Picuí, Salgadinho.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os mapas das isolinhas do número
médio dos dias chuvosos e dos coeficientes
de variação (CVs) da precipitação e do número de dias chuvosos no Estado da Paraíba, para
os períodos anual, seco e chuvoso são apresentados nas Figuras 2 a 4. Observar que nas
localidades em que a precipitação média é
baixa ocorreram valores de CVs altos; e, para
as localidades em que a precipitação é bastante alta, os valores dos CVs foram baixos.
Resultados semelhantes foram obtidos por
Dinpashoh et al.6 em estudo realizado para o
Iran em que os valores da média da precipitação são inversamente proporcionais aos valo-
res dos CVs. As microrregiões do Cariri,
Seridó e Carimataú paraibano foram as que
apresentaram o menor número de dias chuvosos, com valores variando de 1 a 3 dias. A análise dos resultados revela ainda que a variabilidade da precipitação e do o numero de dias
chuvosos no Estado da Paraíba varia de acordo com a época do ano e a localização geográfica. As análises de cada período de estudo
são apresentadas a seguir.
Período anual
Na Figura 2 é apresentada a distribuição espacial dos valores médios do número de dias chuvosos (A) do coeficiente de variação dos dias chuvosos (B) e da precipitação (C) no Estado da Paraíba referente ao período anual. Nesse período, o maior número
de dias chuvosos concentra-se nas
microrregiões no Litoral, Agreste e Brejo
paraibano, com valores entre 60 e 120 dias;
em seguida, decresce em direção à
microrregião do Sertão paraibano com valores entre 40 e 80 dias (Figura 2A). Nas
microrregiões do Cariri, Seridó e Curimataú
paraibano foram encontrados os menores valores do número de dias chuvosos, atingindo
aproximadamente 40 dias. Portanto, em tais
microrregiões somente devem ser implantadas,
em sistema de sequeiro, as culturas de ciclo
curto, em face da estação chuvosa está concentrada em poucos meses, sendo um veranico
prolongado determinante para o insucesso da
colheita.
Os valores dos coeficientes de variação (CVs) são muito baixos nas microrregiões
do Litoral, Agreste e Brejo paraibano, variando entre 29 e 43% para o número de dias chuvosos (Figura 2B) e entre 39 e 53 para a precipitação (Figura 2C). Já na microrregião do
Sertão paraibano, os valores dos CVs da precipitação variaram entre 39 e 67% e do número de dias chuvosos entre 36 e 71%. Nas
microrregiões do Cariri, Seridó, e Curimataú
paraibano, os valores de CVs variaram entre
53 e 67% para a precipitação e entre 43 e 57%
para o número de dias chuvosos. Nessas
microrregiões, além da precipitação média
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, et al.
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anual ser baixa (em torno de 400 mm), os valores dos CVs são muito altos. Os menores
valores dos CVs da precipitação foram observados nas microrregiões do Brejo e Litoral
paraibano. O número de dias chuvosos aumentou do Sertão para o Litoral; enquanto que os
CVs do número de dias chuvosos e da precipitação aumentaram das microrregiões do Sertão e do Litoral para o centro do estado onde
estão localizadas as microrregiões do Cariri e
Curimataú. Portanto, os CVs aumentaram nas
microrregiões em que a precipitação média
anual é baixa.
Período chuvoso
A distribuição espacial dos valores
médios do número de dias chuvosos (A), coeficiente de variação do número de dias chuvosos (B) e do coeficiente de variação da precipitação (C) referentes ao período chuvoso no
Estado da Paraíba é apresentada na Figura 3.
O maior número de dias chuvosos nesse período concentra-se também nas microrregiões no
Litoral, Agreste e Brejo paraibano, com valores entre 5 e 17 dias; em seguida, decresce em
direção à microrregião do Sertão paraibano
com valores entre 5 e 7 dias (Figura 3A).
Nas microrregiões do Cariri, Seridó
e Carimataú paraibano foram encontrados os
menores valores do número de dias chuvosos,
atingindo no máximo 5 dias. Durante o período chuvoso, os menores valores dos coeficientes de variação da precipitação e do número
de dias chuvosos são encontrados nas
microrregiões do Litoral, Brejo e Sertão
paraibano (Figura 3C). Já os maiores valores
foram observados em torno do centro do estado, nas microrregiões do Carimatau, Seridó e
Cariri paraibano. Situação semelhante é observada com os CVs do número de dias chuvosos
(Figura 3B). Nas microrregiões do Cariri,
Seridó e Carimataú paraibano, durante o período chuvoso, observam-se valores médios de
CVs da precipitação muito altos, variando entre 108 e 132%, enquanto para o número de
dias chuvosos eles variaram entre 75 a 95%.
Observa-se, ainda, que os valores de CVs são
maiores para a precipitação do que para o número de dias chuvosos.
Período Seco
Na Figura 4 é apresentada a distribuição
espacial dos valores médios do número de dias
chuvosos (A), coeficiente de variação do número de dias chuvosos (B) e do coeficiente de
variação da precipitação (C) referentes ao período seco no Estado da Paraíba. Nesse período, o maior número de dias chuvosos concentra-se nas microrregiões no Litoral, Agreste e
Brejo paraibano, com isolinhas entre 3 e 5
dias; em seguida, decresce em direção à
microrregião do Sertão paraibano com valores de apenas 1 dia. Nas microrregiões do
Cariri, Seridó e Carimataú paraibano foram
encontrados isolinhas do número de dias chuvosos, entre 0 e 1 dia (Figura 4A). Nesse período as microrregiões do Sertão, Cariri, Seridó
e Curimataú são as mais secas em todo o Estado da Paraíba. Para as regiões áridas e semiáridas do Iran, Modarres e Silva9 encontraram
a média de dias chuvosos no ano variando
entre 12 e 48 dias.
Na microrregião do Sertão paraibano
foram observados altos valores das isolinhas
dos CVs, entre 130 a 190% para o número de
dias chuvosos (Figura 4B) e entre 200 e 260%
para a precipitação (Figura 4C). Já nas
microrregiões do Cariri, Seridó e Carimataú,
os valores das isolinhas dos CVs variaram
entre 160 e 230% para o número de dias chuvosos e entre 140 e 230% para a precipitação.
Por outro lado, as microrregiões do Litoral,
Agreste e Brejo apresentaram isolinhas de CVs
menor do que 140%, tanto para o número de
dias chuvosos como para a precipitação.
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Figura 2. Distribuição espacial dos valores médios do número de dias chuvosos (A), do coeficiente de variação dos
dias chuvosos (B) e da precipitação (C) referente ao período anual no Estado da Paraíba.
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Figura 3. Distribuição espacial dos valores médios do número de dias chuvosos (A), do coeficiente de variação dos
dias chuvosos (B) e da precipitação (C) referente ao período chuvoso no Estado da Paraíba.
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Figura 4. Distribuição espacial dos valores médios do número de dias chuvosos (A), do coeficiente de variação dos
dias chuvosos (B) e da precipitação (C) referente ao período seco no Estado da Paraíba.
Rev. de Ciên. da Vida, RJ, EDUR. v. 29, n. 1,jan-jun, 2009, p.50-62.
, et al.
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Variabilidade intra-anual
No período seco, os valores de CVs da
precipitação foram maiores do que aqueles do
número de dias chuvosos. Esses resultados
indicam que a variabilidade da precipitação e
do número de dias chuvosos é maior do período seco do que nos períodos chuvoso e anual. As Tabelas 2 a 4 exibem as médias mensal
e anual do número de dias, os coeficientes de
variação do número de dias chuvosos e da precipitação no Estado da Paraíba. No mês de
janeiro, as microrregiões do Carimataú, Cariri
e Seridó paraibano apresentaram o menor número de dias chuvosos, variando entre 2,0 e
2,7 dias. Já os maiores valores do número
médio de dias chuvosos nesse mês foram nas
microrregiões do Litoral e Brejo, atingindo até
7,9 dias (Tabela 2). Esse resultado indica que
o alto número de dias chuvosos nessas
microrregiões pode ser associado à presença
de vórtices ciclônicos nessa época do ano na
costa do Nordeste do Brasil. Nas
microrregiões do Sertão, Brejo e Agreste
paraibano, o número de dias chuvosos aumen-
tou consideravelmente a partir do mês de março, como conseqüência da atuação da Zona
de Convergência Intertropical (ZCIT). Esse fenômeno é responsável pelo aumento da precipitação nessa região do estado devido ao seu
deslocamento nessa época para o hemisfério
sul.
Os Distúrbios Ondulatórios de Leste
(DOL) também são bastante freqüentes nessa
época do ano e microrregiões do estado. Por
outro lado, a maior média anual do número de
dias chuvosos é nas microrregiões do Litoral
e Brejo, com valores de 125,2 e 114,6 dias,
respectivamente; enquanto que as menores
médias anuais encontram-se nas microrregiões
do Carimataú, Cariri, Sertão e Seridó
paraibano. Este resultado também foi encontrado por meio da análise da distribuição espacial do número de dias chuvosos, que sugere a inadequabilidade da implantação de culturas de ciclos longos nessas microrregiões em
face do baixo número de dias chuvosos e a
alta variabilidade da precipitação durante a
estação de cultivo.
Tabela 2. Médias mensal e anual do número de dias chuvosos em cada microregião do Estado da Paraíba
Meses
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
Ano
Litoral
7,9
8,6
12,4
13,3
14,8
15,2
15,3
12,0
8,4
5,9
5,3
6,1
125,2
Brejo
7,0
8,1
11,3
11,8
13,4
14,2
14,0
10,9
7,8
5,2
5,1
5,8
114,6
Microrregiões do Estado da Paraíba
Agreste
Carimataú
Cariri
4,1
2,5
2,0
4,7
3,3
3,3
7,6
6,2
5,9
9,1
6,8
6,1
10,0
6,4
4,6
10,8
6,2
4,2
11,1
5,9
3,7
7,9
3,4
1,6
4,7
1,8
1,0
2,8
0,9
0,5
2,7
1,0
0,6
3,3
1,5
1,1
78,8
45,9
34.6
Sertão
4,6
7,3
11,2
9,2
5,4
3,1
2,1
0,7
0,5
0,6
1,0
2,1
47,8
Rev. de Ciên. da Vida, RJ, EDUR. v. 29, n. 1,jan-jun, 2009, p.50-62.
Seridó
2,7
4,3
6,9
6,0
4,3
3,5
2,6
1,4
0,5
0,3
0,7
1,1
34,3
...
60
Tabela 3. Médias mensal e anual do coeficiente de variação (%) do número de dias chuvosos em cada microrregião
do Estado da Paraíba
Meses
Janeiro
Fevereiro
Março
Abrril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
Ano
Litoral
58,7
59,6
49,0
45,4
41,9
41,4
42,7
50,1
61,5
68,4
71,4
70,0
55,0
Brejo
76,0
69,3
58,4
55,1
52,2
52,7
53,6
62,6
74,9
90,0
79,4
74,9
66,6
Microrregiões do Estado da Paraíba
Agreste
Carimataú
Cariri
79,0
102,3
105,0
79,0
98,8
95,1
60,4
67,6
72,3
55,7
57,5
70,5
49,3
53,3
76,3
51,6
65,8
84,4
49,5
68,6
89,6
59,4
102,6
170,3
79,6
137,5
148,2
97,7
222,7
248,7
103,7
200,7
208,2
86,5
127,7
145,3
70,9
108,7
126,1
Sertão
73,7
66,9
48,6
59,5
75,8
91,5
115,4
209,3
198,5
187,1
150,4
115,4
116,0
Seridó
100,9
88,8
65,9
72,8
75,5
77,6
87,5
129,2
165,6
236,8
171,9
130,2
116,9
Tabela 4. Médias mensal e anual do coeficiente de variação (%) da precipitação em cada microrregião do Estado da
Paraíba
Meses
Janeiro
Fevereiro
Março
Abrril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
Ano
Litoral
98,8
95,3
85,0
74,4
65,1
68,6
73,9
82,2
95,4
113,1
121,9
124,3
91,5
Brejo
106,1
98,1
81,7
78,4
69,7
75,3
74,1
80,1
110,3
137,9
140,5
121,9
97,8
Microrregiões do Estado da Paraíba
Agreste
Carimataú Cariri
135,8
144,4
145,9
127,0
137,6
127,9
91,8
103,6
104,6
80,6
89,0
98,6
68,0
75,6
103,9
78,9
82,8
109,7
77,1
103,5
128,5
81,5
119,3
203,6
107,7
166,9
213,6
151,0
298,2
323,7
155,9
287,5
285,4
137,2
198,1
209,3
107,7
150,5
171,2
De acordo com a Tabela 3, os maiores e menores valores do CVs do número de dias chuvosos foram de 248,7 e 41,4 %, respectivamente, e ocorreram em torno dos períodos e
microrregiões mais secos (outubro na
microrregião do Cariri) e chuvoso (junho na
microrregião do Litoral). A média anual do número de dias chuvosos variou de 55 %, na
microrregião do Litoral, a 116,9 %, na
microrregião do Seridó paraibano. A média
anual do número de dias chuvosos foi tam-
Sertão
98,0
87,4
66,0
80,2
102,0
125,4
149,2
307,8
273,2
256,3
209,4
154,1
159,1
Seridó
134,8
132,3
97,2
110,3
99,1
103,2
133,2
243,6
270,8
449,8
319,6
199,0
191,1
bém máxima na microrregião mais seca e mínima na microrregião mais chuvosa. Portanto, a variabilidade do número de dias chuvosos é maior nos períodos e regiões mais secos; inversamente, essa variabilidade é menor
nos períodos e regiões mais chuvosos. Similarmente, os valores dos CVs da precipitação
são maiores nas regiões mais secas e menores
naquelas mais chuvosos (Tabela 4).
As microrregiões do Litoral e Brejo,
onde a média anual de precipitação pode atin-
Rev. de Ciên. da Vida, RJ, EDUR. v. 29, n. 1,jan-jun, 2009, p.50-62.
, et al.
61
gir mais de 1500 mm, os seus valores de CVs
foram menores do que 100 %. Por outro lado,
as microrregiões do Curimataú, Cariri, Sertão e Seridó, onde a precipitação tem medial
anual de até 300 mm, como no Caso de
Cabaceiras no Cariri paraibano, os valores de
CVs variaram de 150,5 % (microrregião do
Curimataú) a 191,1 % (microrregião do
Seridó). Tal como para os valores de CVs do
número de dias chuvosos, os meses mais chuvosos apresentaram os menores valores de
CVs e os meses secos exibiram os maiores
valores do coeficiente de variação.
Na microrregião do Sertão
paraibano, os valores dos CVs da precipitação foram baixos, variando durante o ano entre 65,1 % (período chuvoso no mês de maio)
e 124,3 (período seco no mês de dezembro).
A média anual foi a menor dentre todas as
microrregiões (91,5 %). A microrregião do
Brejo teve comportamento similar, porém a
média anual foi um pouco superior (97,8%).
Por outro lado, as microrregiões mais secas
do estado, como Cariri e Seridó apresentaram
médias anuais dos CVs de 171,2 e 191,1%,
respectivamente. Similarmente, os CVs do
número de dias chuvosos apresentaram os seus
maiores valores nos meses e microrregiões
mais secas e os menores valores nos períodos
e microrregiões mais chuvosos.
CONCLUSÃO
Os resultados deste trabalho permitem concluir que há uma alta variabilidade da
precipitação e o baixo número de dias chuvosos no Cariri e Seridó paraibanos. Os maiores valores de coeficiente de variação são associados aos menores valores de precipitação
e do número de dias chuvosos na região estudada, o que está de acordo com a literatura,
para outras regiões semi-áridas. A variabilidade da precipitação no Estado da Paraíba é
menor no período chuvoso do que no período
seco. Foi verificado que a variabilidade da
precipitação e do número de dias chuvosos
nas microrregiões do Cariri, Curimataú e
Seridó é aproximadamente o dobro daquela
registrada nas microrregiões do Litoral e Brejo paraibano.
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