Moda Ayê: Guia de elementos afro-brasileiros para
Transcrição
Moda Ayê: Guia de elementos afro-brasileiros para
Moda Ayê: Guia de elementos afro-brasileiros para moda Aye Fashion: Elements' guide Afro-Brazilian to fashion Ivan Luis Sérvulo Porto, graduado em Design [email protected], graduado pela IESB/PREVE de Bauru/SP Jennifer K. Silva Francisco, graduada em Design [email protected], graduado pela IESB/PREVE de Bauru/SP Profª. Drª. Lílian Henrique de Azevedo, docente da IESB/PREVE [email protected], Doutora em História pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, campus de Assis RESUMO Com a inserção do negro em nosso país, desde sua chegada ao Brasil, retirados de suas tribos na África e trazidos em porões dos navios negreiros, ficando aqui cativos, obrigados a adaptar-se aos hábitos e costumes de seus senhores, houve, com a adaptação, a assimilação da nova cultura e reinvenção da sua própria. Desta mistura de cores, ritmos e fé, emergem os afrobrasileiros, com hábitos próprios - nem europeus, nem africanos. Buscamos informações para definir como fora dada esse processo de influência na moda, se houvera uma importação da moda africana ao Brasil ou se os negros passaram a produzir uma nova moda e em que momento puderam retomar sua cultura, através de suas vestimentas, pois a escravidão os impediu de praticar sua própria cultura. Visto tudo isso, busca-se identificar as influências afro-brasileiras na cultura brasileira, especificamente através da moda, destacando algumas características da moda afrobrasileira e elementos como os tipos de estampas, tecidos preferidos, e modelagem mais apropriada. Embora busca-se elementos afro-brasileiros, relacionou-se elementos contemporâneos, modernos e bonitos , pois não se trata de uma moda simplesmente folclórica ou festiva, o intuito do guia gerado pela pesquisa foi relacionar elementos aplicáveis a peças de roupas, para desenvolvimento de peças contemporâneas, para o uso geral. Elementos aplicáveis a roupas masculinas e femininas, adulto ou infantil, enriquecidos através da singularidade da cultura afro-brasileira. Podendo assim dar o devido valor, a esta cultura que faz parte dos pilares culturais brasileiros, mas é pouco conhecida, divulgada e apreciada. Palavras-chave: cultura, moda, África, Brasil, design ABSTRACT With the insertion of the black in our country, since their arrival to Brazil, taken from their tribes on Africa and brought into the holds of slave ships, staying here, forced to adapt to the habits and customs of their lords, had , with the adaptation and assimilation the new culture and reinvention of their own. This mix of colors, rhythms and faith emerge the Afro-Brazilians, with their own habits neither European nor African. We seek to define how information was given this process of influence in fashion, whether there had been an importation of African fashion in Brazil or if blacks started producing a new fashion and when they could resume their culture through their clothing, for slavery prevented them from practicing their own culture. With all, we seek to identify the AfroBrazilian influences in Brazilian culture, specifically through fashion, highlighting some features fashion Afro-Brazilian elements and the types of prints, fabrics preferred, and modeling appropriate. While we seek Afro-Brazilian elements, related to elements of contemporary, modern and beautiful, because it is not just a fad or folk festival, the purpose of the guide was produced in the study relate to the applicable articles of clothing, for the development of contemporary pieces for general use. Elements applicable to male and female clothing, adult or child, enriched by the uniqueness of Afro-Brazilian culture. May thus give due weight to this culture that is part of the Brazilian cultural pillars, but is little known, disseminated and appreciated. Keywords: culture, fashion, Africa, Brazil, design MODA AYÊ: Guia de elementos afro-brasileiros para moda As raízes da cultura brasileira são plurais, mas as maiores influências vêm das etnias indígenas, que já habitavam nosso país quando a segunda etnia, a portuguesa, aqui chegou. E, devido a necessidades da época, uma terceira etnia foi trazida ao Brasil, a etnia negra, representada pelos escravos trazidos da África para trabalhar neste país. Então, a partir desta tríade cultural, foi se construindo a essência da cultura do Brasil, e esta cultura, segundo Darcy Ribeiro, é uma cultura própria que já não era mais uma cultura nativa, européia ou africana, uma cultura resultante do processo de desenvolvimento da nação brasileira. Nação esta que mesmo influenciada por indígenas e negros, ainda não se consolidou socialmente a estas etnias, visto que ainda nos dias de hoje necessita de políticas públicas que lhe assegurem respeito e igualdade de direitos. Prova disso que foi sancionada a Lei 11.465/08, que obriga a inclusão no currículo escolar a temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”, conforme visto na versão online do jornal Correio do Brasil do dia 12/03/2003. Desejamos contribuir para a divulgação da cultura afro-brasileira, através da moda. Desenvolvendo um instrumento o qual o usuário possa ter acesso à informações, voltadas para moda, sobre esta etnia. Devido à falta de uma tradição em produção de moda, nota-se um desinteresse em documentar a moda afro-brasileira. Sabe-se que os negros desenvolveram muitos dos produtos típicos nacionais e influenciaram, juntamente com os índios, nosso vocabulário, mas pouco sabemos de como se vestiam nas senzalas e como passaram a se vestir quando alforriados, o por quê das negras baianas usarem branco e o por quê muitos negros evitam usar vermelho e preto? Existiria um sincretismo negro na moda brasileira, assim como afirmam existir um sincretismo religioso com os negros, ou seja, a moda brasileira é negra ou existe uma moda étnica afro-brasileira? Partindo destas questões, este trabalho de conclusão de curso busca demonstrar que a cultura negra influencia a cultura brasileira muito além do que conhecemos e que observando mais de perto a cultura negra podemos desenvolver uma moda rica e com grande personalidade. A metodologia aplicada ao projeto foi adaptada de Munari (2008) e será linear. A partir da coleta e análise de dados, definirá o produto gráfico e os requisitos do projeto para desenvolvê-lo, segundo os objetivos deste trabalho. Para o desenvolvimento e produção deste produto gráfico poderá realizar-se uma análise de produtos similares, caso disponíveis, auxiliando assim na geração de alternativas. O Design no Brasil Muitos têm a idéia de que o design existe somente nas classes dominantes deixando de lado seu papel social. Da mesma forma que diferentes pessoas têm diferentes preferências e necessidades, assim também ocorre nas visões que cada pessoa tem sobre o design. Além de ser uma profissão relativamente nova, pois obteve sua maturidade acadêmica nos últimos 30 anos. De acordo com Rafael Cardoso Denis (2000), para se entender um pouco mais sobre o trabalho de um designer, é só perceber que existe uma nítida separação de funções ao se fabricar determinado objeto, pois o designer o projeta, deixando com que o artesão ou o operário o fabrique. Ao se projetar determinado objeto, pode-se determinar uma função prioritária dentre a estética, funcional, mas não é somente isso, também há a preocupação em resolver problemas do cotidiano, tentando assim facilitar a vida de seus usuários, pesquisando, encontrando respostas e obtendo as melhores soluções, através de métodos, reconhecendo as características gerais do público-alvo. Este profissional necessita pesquisar o signo juntamente ao símbolo de seu usuário, para que possa interpretar e agir com responsabilidade, criando algo útil, funcional e estético, utilizando de metodologias, com base em muitas pesquisas e testes até chegar ao produto final. A maior parte da população ainda não tem essa consciência, fugindo do conceito, e às vezes até ridicularizando esse profissional, utilizando termos como designer de carnaval, hair designer, design de sobrancelhas, entre outros. Interferências como estas fazem com que o profissional designer perca seu real significado, dificultando a valorização exata que este profissional tem com a sociedade. Na década de 50 não se conhecia a expressão design, mas sim Industrial Design, ou Desenho Industrial, um equívoco que limitava o significado exato da profissão. Na década de 70, seu nome foi alterado para design, originado pelo idioma inglês, com origem do latim designare, com o sentido de designar, indicar, representar, marcar, ordenar. O português de Portugal se assemelhou tendo o significado de projetar, configurar, desenhar e inovar. Percebe-se claramente que na maioria de suas definições, o design atribui na junção de conceitos intelectuais com sua forma material. No seu livro, Rafael Cardoso Denis (2000) afirma que no Brasil o design teve influência européia, seguindo modelos de estruturações educacionais da Alemanha. Em 1963, a ESDI (Escola Superior de Desenho Industrial), primeira escola do gênero no Brasil, teve como seus primeiros professores profissionais estrangeiros ou formados no exterior, isso fez com que o ensino permanecesse com suas características culturais, estéticas e éticas, obtendo expressão estética modernista, impedindo assim que seus alunos construíssem uma linguagem formal própria, pois obtinham essa forma de aprendizado por um longo tempo. Somente em 1993, com a renovação do corpo docente, a instituição criou uma comissão de pós-graduação, formada por professores de três 2 departamentos, obtendo a junção do Projeto de Produto, Programação Visual e Integração Cultural, assim formando uma nova base de ensino para o design. Em décadas passadas o Brasil era considerado como inferior, por ser um país com variada mistura de etnias e povos de diferentes culturas e etnias. Esse é um detalhe, ou melhor, uma prioridade que o design brasileiro tem acima de outros países, pois podemos criar novos horizontes, ampliando e exibindo nossas riquezas materiais, sociais e culturais, riquezas únicas, que não podem ser encontradas em nenhum outro lugar no mundo. Nos dias de hoje o design brasileiro é visto por outros países como muito criativo, colorido e até mesmo exótico, podendo ser um elemento simples que expresse determinado cotidiano regional, ou um elemento que transforme o simples em algo muito sofisticado, tornando-se um objeto de desejo. Bons exemplos de designers brasileiros são grandes renomes como os irmãos Campana, Sergio Rodrigues, Romero Brito entre muitos outros, reconhecidos no Brasil e exterior. A Origem do povo afro-brasileiro Ao longo de quatro séculos (de 1530 a 1880), mercadores europeus rumavam à África onde se negociavam negros e os destinavam para o território brasileiro, por serem submetidos à condição escravos, assim assimilando os valores da cultura dominante, sem abandonar os fundamentos das culturas de suas origens. Estes negros eram trazidos para, na grande maioria, servirem nas lavouras, garimpos e serviços braçais. Segundo Darcy Ribeiro (1995), a cultura africana trazida ao Brasil se distingue em três grandes grupos étnicos. O primeiro desses grupos nos trouxe a cultura sudanesa das tribos Yorubás, Dahomey, Fanti-Ashanti, Gâmbia, Serra Leoa, Costa Malagueta e Costa do Marfim; o segundo grupo que é de tribos do norte da Nigéria como Peuhl, Mandinga e os Haussa, que trouxeram a cultura islamizada; e o terceiro grupo, o Congo-angolês, das tribos Bantu, Angola e Moçambique. Cada um destes grupos tinha sua sociedade completamente desenvolvida com uma cultura rica e distinta, e muitos já dominavam a metalurgia e faziam escravos, e todos eles tinham seus processos de tecelagem. No início da formação da cultura brasileira, a contribuição cultural do negro foi pouco relevante, sendo muito mais passiva que ativa. Darcy Ribeiro (1995) explica que estes negros produziam tecidos, roupas, objetos de cerâmica, praticavam agricultura, criavam gado, domesticavam diversas plantas e dominavam técnicas da metalurgia. Existia um valor sagrado ao ferro, celebravam sua potência divina. Nas aldeias, possuíam casas e campos, sendo senhores proprietários da terra, da água, das florestas e dos sertões com todos os animais em que neles viviam e em alguns casos eles mantinham inimigos derrotados como escravos. 3 Preservando a herança cultural africana os escravos conservaram planos ideológicos próprios como crenças religiosas, práticas de magias, reminiscências rítmicas, musicais, culinárias e associada às culturas indígenas juntamente com as culturas dos portugueses, assim iniciou-se a cultura brasileira. A influência da cultura negra na formação da cultura brasileira O negro escravo, capturado na África, passou a ser a massa trabalhadora durante o período colonial e imperial no Brasil, em decorrência da demanda de mão de obra nas fazendas açucareiras, cafezais e nas minas de ouro. Mas também havia os que viviam nas cidades, que tinham funções domésticas, como carpinteiros, pedreiros, construtores de móveis e carruagens, joalheiros, sapateiros, barbeiros, ferreiros entre muitas outras funções, pois os portugueses que aqui moravam obtinham uma enorme rejeição por qualquer que fosse o trabalho manual, assim sendo, quando um português pobre conseguia um pouco a mais de dinheiro a primeira coisa que este fazia era comprar um escravo, para que fizesse todos os serviços possíveis para ele. E também através deste fato temos a reflexão de que os negros escravos foram a base para a desenvolvimento de nosso país neste período. Os negros que discordavam da condição de escravo e rebelavam-se contra seus feitores e buscavam a fuga. Quando bem sucedidos na fuga organizavam-se em comunidades denominadas Quilombos, em geral, escondidas em áreas de difícil acesso, onde pudessem se sentir realmente livres. Nos quilombos, os negros relembravam suas origens africanas, além de juntamente incorporar elementos da cultura indígena e da cultura branca, dando origem a novas expressões culturais. Ainda hoje existem muitas comunidades remanescentes de quilombos, onde pode-se constatar a cultura negra ancestral preservada. O catolicismo para o negro foi uma forma de se aproximar do ideal do senhor, conquistando seu prestígio e confiança. Mas, por outro lado, se formou diversas irmandades religiosas negras, impondo resistência cultural e étnica do grupo negro, muitas dessas arrecadavam dinheiro dos negros que conseguiam fazer trabalhos extras para comprar a alforria de seus membros. Os negros não tinham a liberdade de cultuarem seus ancestrais e orixás, tendo que esconder seus orixás por trás de santos católicos, assim fingindo que aceitaram os valores e costumes dos brancos, desta forma eram tratados melhor, sofrendo castigos menos violentos. Pois a principal “desculpa” para a escravização dos negros e indígenas era que como eles tinham hábitos diferentes, cultuavam a outros deuses e não reconheciam a Deus como o Criador de todas as coisas, seriam eles criaturas comparadas a animais, daí a facilidade na sociedade aceitar a relação de propriedade dos portugueses com os negros. 4 A cultura negra, juntamente com a indígena e a branca, se reuniu formando características e rituais próprios, dando origem ao Candomblé e a Umbanda. E destes cultos vem a maior riqueza cultural afro-brasileira pois neste panteão cada orixá corresponde a um elemento da natureza, tem sua própria história, hábitos que são muito comuns aos humanos e tem suas vaidades, vestindo-se de maneira distinta preferindo por determinada cor e cada uma destas características vem carregada de significados, a exemplo de Yemanjá que segundo alguns corresponde a Nossa Senhora Aparecida, é a rainha do mar, veste-se de um vestido longo tem os cabelos lisos e prefere as cores azul e branco, a partir daí podemos imaginar seu temperamento e costumes e sendo assim cada orixá tem uma veste apropriada. O afro-brasileiro Darcy Ribeiro (2003) nos lembra que o negro não teve atuação relevante na formação da cultura brasileira no período colonial, pois viera para o Brasil cativo na condição de mão de obra. A princípio, o negro teve dificuldade de se organizar como uma única etnia pois, segundo Darcy Ribeiro (2003), eles eram capturados em diversas regiões e de diversas etnias africanas diferentes, onde cada grupo tinha uma língua e cultura diferente e os escravistas usavam isso para dificultar sua socialização, Darcy Ribeiro (2003, p. 115) nos trás um depoimento interessante do conde de Arcos: [...] A diversidade lingüística e cultural dos contingentes negros introduzidos no Brasil, e essas hostilidades recíprocas que eles traziam da África e à política de evitar a concentração de escravos oriundos de uma mesma etnia, nas mesmas propriedades, e até nos mesmos navios negreiros, impediu a formação de núcleos solidários que retivessem o patrimônio cultural africano. o conde de Arcos. Darcy Ribeiro (2003, p. 115) cita que, devido a essa dificuldade de socializarem-se, os negros se viram obrigados aceitar a aculturação dos seus senhores. [...] ao lado de outros escravos, seus iguais na cor e na condição servil, mas diferentes na língua, na identificação tribal e freqüentemente hostis pelos referidos conflitos de origem, os negros foram compelidos a incorporar-se passivamente no universo cultural da nova sociedade. A partir desta citação entende-se que o negro se viu obrigado a homogeneizar seus costumes para que pudesse se comunicar, entender e organizar para assim tentar reverter sua condição cativa. Darcy Ribeiro (2003) segue afirmando que assim conseguiram aportuguesar o Brasil, além de influenciar de muitas maneiras certas regiões onde se concentravam, “uma flagrante feição africana na cor da pele, nos grossos lábios e nos narigões fornidos, bem como na cadência e ritmos e nos sentimentos especiais de cor e gosto”, neste trecho refere-se especialmente a regiões do nordeste e do centro do país. Uma prática que ajudou a desgastar a cultura dos negros escravos, no período do Brasil colônia, foi sua relação com a produção, visto que a princípio eram utilizados nas minas e nos engenhos de cana-de-açúcar, atividades diferentes as que exerciam nas suas terras natais, assim 5 eram incorporados a um universo novo e a cultura africana ia sendo erradicada, em partes visto que o negro buscava formas de preservar algo de sua cultura ancestral, e foram mais bem sucedidos em preservar, adaptando, suas crenças, religiões e práticas mágicas, além de seus ritmos musicais, saberes e gostos culinários. Ou seja, neste período o negro não podia produzir nada além dos produtos exigidos pelos seus senhores, que se travava basicamente açúcar, farinha e, como mineiros, extrair ouro e pedras preciosas, sem falar dos trabalhos braçais das propriedades, sendo assim não poderiam ter produzido roupas ou moda pra si, e se vestiam com trapos fornecidos pelos seus senhores. Ao longo dos séculos, com os negros adaptando-se a cultura aportuguesada brasileira, passaram a desempenhar funções na casa grande, e assim estarem, de certa maneira, mais próximos dos seus senhores e isso levou esses senhores a vestir esses negros com roupas “melhores”, mas roupas conforme o costume das suas senhoras, a moda branca dominante. Com essa aproximação entre senhores e escravas a prática de estupro com as mesmas passou a ser ainda mais comum, visto que as negras eram obrigadas a entregar-se sobre pena de severos castigos em caso de negativa e o risco de terríveis castigos e suas senhoras se descobertas. Como fruto de abomináveis atos, as escravas deram a luz a mestiços os mulatos. Os mulatos nasciam na condição de escravo, mas em alguns casos recebiam o privilégio de servir na casa-grande em serviços mais brandos comparados a lida nas plantações, engenhos ou minas. Com passar das décadas alguns privilégios eram oferecidos aos negros, como a concessão de escravas para satisfação sexual de grupos de . Séculos depois, o Brasil passou por um processo de desenvolvimento sócio-cultural, além disto, a escravidão passou a ser mal vista na comunidade internacional e vários fatores vieram a dificultar o sistema escravista brasileiro, tais como: dificuldade em adquirir escravos trazidos da África, pois o tráfico de escravos passou a ser ilegal e passou a ser combatido por outros países; crescentes revoltas dos escravos, que agora se encontravam mais organizados; grande ocorrência de fugas para os muitos quilombos existentes no final do século XVIII. Paralelo a estes fatos, o Brasil passa por uma reforma política, onde deixa de ser colônia e passa a ser império, e começaram a surgirem leis que vieram a favorecer os escravos, permitindo que tivessem a possibilidade de comprar sua alforria, seguida pela lei do ventre livre que favorecia aos filhos de escravos nascidos a partir da data de sua sansão e a lei dos sexagenários que favorecia aos negros em idade superior a 65 anos. O mais importante a ser percebido nos fatos acima citados é a maneira que a vida no Brasil mudara, não esquecendo que mesmo o negro não recebendo o devido respeito e reconhecimento, naquela época, como cidadão brasileiro, mas com a possibilidade de alforria, a vida do mesmo mudou. 6 Passando a existir principalmente nas regiões urbanas os escravos de ganho, que tinham direito de receber uma parte da remuneração dos trabalhos que executavam a mando do seu senhor. Os escravos de ganho conseguiam comprar roupas melhores e em alguns casos alguma jóia, mas como todo escravo brasileiro era proibido de utilizar sapatos. O afro-brasileiro é uma etnia que passou por muitas transformações. Se originou de diversas etnias retiradas das suas terras natais, subjugadas e trazidas cativas ao Brasil. Então, essas etnias passam a aprender a cultura de seus algozes para unirem-se e, nesse momento, nasce o afrobrasileiro, que durante séculos sobrevive a um alto preço de sangue, suor e lágrimas. O afrobrasileiro se rebela e após anos de lutas conseguem a libertação. Quando libertos, sofrem um novo choque, pois mesmo livres não são respeitados, visto que o racismo está enraizado na cultura brasileira da época, perdem espaço nas lavouras para imigrantes. Sendo obrigados, mais uma vez, a se adaptar e se reinventar, e seguem assim até chegarem ao que são hoje, tendo uma vida digna e condições justas para conviver e ser tratado como igual por qualquer brasileiro. Não entenda esta afirmação como se o racismo e o preconceito não existam mais, mas observe que, hoje, existem muitas maneiras de superá-lo e combatê-lo. Existe esta condição mais privilegiada que outrora, o afro-brasileiro tem condições de buscar mais efetivamente suas relações ancestrais, firmando-se como etnia e neste esforço, ou desejo, de reforçar sua personalidade oferecem-se neste guia, elementos para o desenvolvimento de uma moda étnica afro-brasileira. Moda Desde que o ser humano iniciou o uso de vestimentas para cobrir sua nudez, iniciou-se também a moda, transformando-se em uma forma especializada de ornamentação para o corpo, sendo tudo o que é lançado ou usado naquele momento. Segundo o livro de Sue Jenkyn Jones (2005), houve um tempo em que o estudo das vestimentas era reconhecido como parte da antropologia. Exploradores e viajantes foram os primeiros a documentar e a comentar os ornamentos corporais e os estilos de se vestir que encontravam ao redor do mundo. Assim voltando de suas viagens com desenhos e exemplos de vestimentas, ampliando o desejo não só de artefatos em si, mas também por um conjunto deles. Atualmente, o foco está no uso das roupas que vem de manifestação e passagem de inquietações sociais e de mudanças culturais, a moda obtém como fonte formas e materiais do passado que inspiram e complementam novos estilos. 7 A grande maioria dos consumidores normalmente escolhe suas roupas tendo em mente questões como: o que está na moda, o conforto, a durabilidade, a praticidade e a valorização o seu tipo físico. A composição do vestuário além da roupa, também conta com os adornos. Os adornos possibilitam enriquecer atrativos físicos, afirmar a criatividade e individualidade ou sinalizar nossa associação ou posição dentro de um grupo ou cultura. As pessoas usam acessórios como jóias, bijuterias, calçados, maquiagens, penteados e cortes de cabelo para afirmar sua identidade dentro de uma sociedade. As pessoas também podem usar as roupas para diferenciar e reconhecer profissões, filiações religiosas, níveis sociais e estilos de vida. Uniformes são expressões de autoridade e fazem com que o usuário se destaque na multidão. Um bom exemplo é o traje recatado de uma freira, que identifica sua fé, ou o uniforme de funcionários de determinada empresa, pois a mesma peça pode ser produzida em série alterando cores ou pequenos detalhes. A sociedade exige adequação no vestir-se, mas cada pessoa tem seu estilo próprio sendo este clássico, básico, romântico, contemporâneo entre outros, fazendo com que suas roupas, acessórios e maquiagem se transformem em um ícone que revele seu gosto, inibindo pontos fracos e valorizando pontos fortes. Crenças políticas, sociais e éticas podem obter grande impacto sobre a moda. As pessoas se vestem de modo semelhante para indicarem que pertencem a um determinado grupo. Aquelas que não se moldam aos estilos aceitos são consideradas divergentes ou inconfiáveis, e em último caso são excluídas. Inversamente, a vítima da moda que segue as regras correntes de estilo sem sensibilidade, é percebida como alguém sem personalidade nem gosto, tentando desesperadamente pertencer a um grupo. Em alguns casos as roupas são afirmações de uma rebelião contra a sociedade e a própria moda. Embora os punks não tenham um uniforme, podem ser reconhecidos por uma gama de signos identificadores: roupas rasgadas, coleiras, algemas, alfinetes, penteados extravagantes entre outros acessórios. Esse código de vestir foi desenvolvido pela estilista britânica Vivienne Westwood, como uma provocação a moda convencional e bem-comportada da segunda metade dos anos 1970. As peças de roupas precisam ser adequadas ao estilo de vida de seus usuários, pois estilos usados em subúrbios são significativamente diferentes dos usados em áreas empresariais de grandes metrópoles, não sendo necessariamente menos modernos ou fora de moda. Tendências podem ter significados para determinado grupo etário ou círculo social, podendo não se adequar a outros. Segundo Jones (2005), muitos comerciantes varejistas trabalham de perto e cotidianamente garantindo e fornecendo tipos de roupas que seus clientes solicitam, obtendo uma leitura de condições socioeconômicas locais, identificando nichos de mercado, assim oferecendo uma mercadoria adequada. 8 A moda, embora siga tendências que se renovam e se redesenham em ciclos, onde peças desenvolvidas décadas atrás recebem uma re-leitura e são novamente objetos de desejo nos tempos atuais e podem estar fadadas a serem novamente colocadas de lado na próxima coleção, existem certas tendências e peças que estão sempre “na moda”, a blogueira Luana Mester (2010) afirma que a moda étnica é “Rica e atemporal,” e completa lembrando que “a moda étnica anda especialmente em alta em tempos de globalização”. A possibilidade de viagens ao exterior e de fácil acesso e compra de produtos em outros países tem despertado interesse no consumo de peças de vestuários típicos de outros países, culturas e etnias que não a brasileira. A qualidade do tecido, sua confecção e design são fatores decisivos para se produzir uma boa peça de roupa, preocupando com a durabilidade e a manutenção, exemplo dos mercados de classe média que vendem roupas que exigem menos cuidado, sendo fáceis de lavar e passar. Existem várias faixas de preços com diferenças na qualidade da costura, acabamento, tecido, enchimento, forro, etc. Uma marca normalmente cria sua fidelidade e reputação satisfazendo expectativas de seus consumidores, sem deixar de anunciar suas qualidades exclusivas, podendo cobrar preços extremos para roupas muito semelhantes. Com a invenção de processos mecânicos e a prosperidade no pós-guerra, de tecidos baratos e tecidos sintéticos iniciou a primeira onda de moda barata, acessível e até mesmo descartável, para todas as camadas econômicas e etárias. De cem anos para cá o gasto com vestuário vem sendo representado como uma pequena fatia na renda média do consumidor, o ato de se comprar é considerado como lazer, e estar na moda é uma motivação, o consumidor compra roupas com freqüência, e se mantém atualizado conforme as tendências de cada estação, que no Brasil é separada em Primavera/Verão e Outono/Inverno. Para a maioria dos consumidores, o preço é o critério mais importante para a compra. Por mais que desejem uma peça, precisam comparar o valor nela agregado com o seu preço e com os seus próprios orçamentos. No topo do mercado, está a moda da classe média e da massa, no qual se é possível obter economia na escala, onde a máxima é sentir que está dando valor ao seu dinheiro. O caimento de uma roupa é essencial, e responsabilidade principal de um bom estilista. Segundo Jones (2005), estatísticas indicam que existe uma ampla parcela da população que considera difícil encontrar roupas que caiam bem, também fala que o bom caimento é essencial na moda esportista e no lingerie, sendo difícil de quantificar o caimento de uma peça, pois o conceito vai além das medidas do corpo, considerando que indivíduos têm preferências diferentes quanto ao conforto de uma roupa, além de que são conceitos que mudam e variam conforme a moda e seu público alvo. 9 Com as inovações tecnológicas, a área de tecelagem vem permitindo a confecção de roupas sem costuras e acabamentos, sendo tecidos multifuncionais, mais leves e elásticos, não amassando, gerando roupas de fácil manutenção. Com sua variedade de materiais e suas cores vibrantes os tecidos africanos além de serem usados nas vestimentas, também desempenham papel importante na sua cultura. Os tecidos utilizados como valor de referência ao longo de vários séculos, eram usados como moedas de troca, e expressivos em pagamentos elevados como taxas e compensações matrimoniais. Nos casamentos os tecidos tradicionais representavam valor real, tangas e vestimentas eram entregues como compensação às famílias das esposas. As duas principais fibras animais utilizadas na África negra, são a lã e a seda, obtendo também as fibras vegetais sendo a mais antiga delas obtida de cascas de inúmeras espécies de árvores. Sabendo extrair da natureza produtos indispensáveis à sua vida no continente negro, incluindo a manufatura de tecidos. O baobá é um bom exemplo, também chamado de árvore dos mil usos, dele nada se perde, desde a raiz, tronco, casca, folhas frutos sementes até o pólen das flores, originando material fibroso com a qual se fabrica cordas, cestos, redes e tecidos. De acordo com Pezzolo (2007) “Grande parte dos tecidos africanos. Resulta da união, manual, de longas faixas. Tecidas em teares portáteis.” Os principais tipos de teares usados na tecelagem artesanal africana são os teares vertical e o horizontal. O tear vertical é fixo e de fácil montagem, erguido contra uma parede ou preso no telhado das casas, é manejado por homens e se destina ao trabalho com ráfia, permitindo obter tecidos com cerca de 50 cm de largura, sendo mais comum da África Central. Já o tear horizontal é portátil, na maioria das vezes movido com pedal, também reservado aos homens, são tecidas faixas estreitas de algodão, com larguras que variam entre 2 e 20 cm de largura no máximo, sendo manualmente unidas pelas laterais, esta prática tem sido feita por mais de 2 mil anos por industrias domésticas, comuns na África Ocidental para tecer o algodão. [...] há milhares de anos o homem se valia de corantes de origem mineral, animal e vegetal. Usava-os para seu adorno, para decorar objetos e utensílios,fazer pinturas e, principalmente,tingir fios e tecidos, que utilizava em seu corpo e em sua casa. Pezzolo, (2007, p.164) Muito antes de surgirem os primeiros tecidos, o homem já pintava seus corpos com pigmentos minerais, sendo este seu primeiro adorno pessoal. Essa pintura servia para distinguir classes sociais, realçar a beleza e lhes assegurava proteção mágica. Povos primitivos tiveram no barro seu primeiro corante, misturando argilas de diferentes substâncias, conseguindo uma gama de cores e matizes especiais, como vermelho, amarelo, marrom, preto e branco. 10 A arte de estampar percorreu um longo caminho desde a inicial forma artesanal até as avançadas técnicas atuais, sendo inúmeros os meios utilizados pelo homem para estampar seus tecidos. Provavelmente o homem usou a mão para estampar seus primeiros tecidos, como carimbos a mão ou conchas que eram molhadas no pigmento e estampadas no tecido, dessas primitivas origens o homem criou carimbos de argila, madeira e metal. Também utilizava pedaços de madeiras muitas vezes com extremidades amassadas, permitindo assim novas formas e traços, logo começou a utilizar pêlos de animais atados a um pedaço de madeira, assim surgindo os primeiros pincéis. Na Costa do Marfim as roupas para cerimônias de iniciação da comunidade masculina de Poro eram pintadas à mão, o artista que executava este trabalho em um processo de grande concentração, agregava força vital ao tecido dotando-o de poderes particulares. O Batik que vem da palavra batikken que quer dizer “desenho ou pintura com cera”, é um método artesanal onde muitas vezes é associada à tinta aplicada com as mãos e a detalhes estampados com auxílio de pranchas de madeira gravadas em relevo usadas como um carimbo. Processo nascido na Índia que se mantém até os dias de hoje. Cera quente ou parafina que é aplicada com as mãos sobre o tecido seguindo o motivo, com a finalidade de isolar áreas em que o tingimento não deve agir, após a tintura, a cera é dissolvida em água quente, podendo repetir esse processo várias vezes, dependendo do número de cores que se deseja usar. Da Índia esse processo se expandiu para vários países como Indonésia, Tailândia, Siri Lanka e Holanda. Foi através dos holandeses que o batik chegou à África, tornando-se tradição e forma de expressão artística. Na Costa do Marfim e no Senegal este trabalho é feito com espécies de carimbos esculpidos em madeira, com motivos geométricos, animais, flores e frutas, especialmente o ananás. Na Nigéria esse processo é realizado com pasta de amido, a aplicação é feita com as mãos ou com o auxílio de moldes vazados, estende-se o tecido numa superfície lisa, e em seguida os moldes vazados são colocados sobre ela, a aplicação do amido de arroz, soja ou mandioca, feita com auxílio de uma espátula de madeira, quando a pasta de amido seca, o tecido é tingido e em seguida fixa-se a tintura com vapor, e finalmente lava-se o tecido para retirar a pasta. Em Moçambique a estampa batik é muito usada em tecidos para vestuário. Em locais freqüentados por turistas no Quênia, é comum encontrar pedaços de tecidos de algodão com cenas do cotidiano de seu povo reproduzidas por essa técnica. Uma característica marcante na moda africana, que influencia fortemente a moda étnica africana, é a utilização de muitas cores, sendo na maioria das vezes vibrantes e alegres, percebe-se isso nos afro-descentes espalhados pelo mundo todo, pois existe na cultura negra uma afinidade pelo uso de cores para elevar o espírito, alegrar os olhos e a alma. 11 Uma curiosidade é o fato de, ao contrário da maioria dos povos e assim como no Japão, na África o luto é simbolizado pelo branco, mas esse costume não acompanha a diáspora1 brasileira, pois aqui, devido à catequização dos negros, o luto é simbolizado pelo preto, e o branco significa pureza, luz, paz a mensagem católica de Jesus Cristo, quase sempre retratado como um homem trajando branco. As cores na moda são muito importantes e determinam muito sobre a personalidade do usuário e da própria roupa. Existem muitas tendências que variam conforme a região, a cultura e a estação do ano, pois as cores podem expressar sentimentos e até mesmo interferir psicologicamente no usuário e nos observadores e considerando o Brasil um país de proporção continental pode-se notar algumas diferenças entre as regiões. Mas, hoje em dia, devido à globalização e ao acesso rápido à informação essas diferenças não são tão evidentes, ainda assim podemos notar pequenos nuances, como os negros que tem por hábito usar roupas muito coloridas e de tecidos leves, e encontramos com mais facilidade pessoas que utilizam roupas com muita influência africana, entre os praticantes do candomblé, tornando comum o uso de saias rodadas coloridas e lenços na cabeça. Em todas regiões as influências africanas estão mais implícitas nas roupas, mas mesmo assim se fazem presentes nas estampas das roupas. Em seu primeiro livro, Kandinsky (1911), dizia que a cor era um fenômeno que permitia a evocação das emoções numa linguagem universal, relacionando-se a movimentos, temperaturas e sons musicais. Jean Poirier (1998) no seu livro afirma que a gama cromática de um povo está ligada diretamente a seu tom de pele, e nos ensina que na cultura negra a base da matiz cromática é a cor preta, que tem forte significado de plenitude e perfeição. A aplicação das cores também é bem diferente para os europeus e os negros pois enquanto os brancos buscam uma variada gama de cores e utilizam de pequenos nuances e degrades em suas produções, o africano pratica o extremo o oposto, tem sua classificação cromática definida em três cores o preto, o vermelho e o branco, o que não quer dizer que não utilizem de outras cores, mas cores como verdes e azuis estão dentro da classificação de preto e tons alaranjados, violáceos estão classificados dentro do vermelho e os amarelos no branco e assim observamos sempre uma produção muito contrastante nas produções negras. Visto que o afro-brasileiro se aculturou do amalgama das culturas européias e africanas, notamos uma facilidade em assimilar ambas as características. Mas como neste projeto o objetivo é aproximar o afro-brasileiro de suas raízes ancestrais utilizaremos as cores segundo a cultura africana, com alto contrastes e cores vibrantes e alegres. Outro aspecto muito importante da aplicação das cores a roupas com um significado muito próprio e rico é a maneira que ela é utilizada pelos orixás do candomblé, conforme já citado na 1 Dispersão de elementos de um povo, nação ou de uma comunidade. 12 pesquisa, cada orixá tem suas cores e elementos conforme sua personalidade, uma análise completa das cores e os significados exigiria uma pesquisa exclusiva, demanda que não é possível trabalho, mas podem observaras cores básicas, primárias e secundárias, e as associações que elas têm. Desenvolvimento A África vem ganhando todo o mundo com suas estampas, cores e cortes, destacando-se pelo conceito cultural de cada etnia que ali existe. Queremos demonstrar a moda afro-brasileira, com todos seus elementos corrompidos, transformados e enriquecidos com este contato direto e indireto com as culturas e etnias que ao longo do século vem inventando e reinventando o Brasil. A partir deste trabalho, será desenvolvido um guia de análise morfológica, onde cada elemento do vestuário será demonstrado separadamente, que facilitará a montagem de determinada peça de roupa utilizando elementos afro-brasileiros, como tecidos, estampas, cortes e acabamentos. Neste guia estão relacionados elementos da cultura afro-brasileira, para que o usuário possa selecionar o melhor elemento para acrescentar e enriquecer a peça de roupa que estiver desenvolvendo. Definição e requisitos do produto Após a análise das informações obtidas por meio de pesquisas, decide-se que a melhor a maneira de transmitir esses conteúdos á futuros pesquisadores será pelo suporte impresso, visto: a facilidade de reprodução; a possibilidade de incluir amostras de tecidos; a relação de custo benefício; facilidade na aquisição; fácil manuseio; transporte e arquivo. Podendo futuramente reproduzir por meio digital, facilitando ainda mais a distribuição, embora com isso perde-se importantes informações contidas nas amostras dos tecidos. Para desenvolver esta peça gráfica com elementos afro-brasileiros para a moda que seja atraente e informativo, deve-se levar em consideração alguns elementos: precisa ser colorido; formato de fácil transporte e manuseio; ter referência com identidade afro-brasileira; ser de fácil entendimento; conter amostra de tecidos; reproduzível para pequenas ou grandes tiragens; imagens ilustrativas; conter elementos aplicáveis a roupas masculinas e femininas. Para a construção deste livro de análise morfológica foram feitas pesquisas avaliando e analisando variados modelos de livros, guias e manuais. Estes com tamanhos e formatos variados, obtendo texturas como alto relevo, baixo relevo, tecidos entre outros. Layout do produto O Moda AYÊ terá a separação de ícones comuns entre todas as peças como tipos de tecidos, estampas e acabamentos adicionando sempre referências culturais. Alguns dos tecidos citados serão 13 o Algodão, Bogolan, a Chita, o Cretone, a Guipure, o Kenté, a lã, o Laise, o Linho, a Renda, a Seda e o Tule. Também obterá estampas sendo algumas criações próprias, com imagens rupestres, florais, ilusão de óptica, máscaras africanas, pele de animais, formas abstratas e geométricas, todas obtendo cores fortes e vibrantes como o vermelho, verde, amarelo, azul, laranja entre outras. Será um guia onde irá separar partes de uma peça de roupa, se for usada uma calça, por exemplo, vamos ter as barras, a cintura, os bolsos e o corte da peça. Da mesma forma, serão adicionadas outras peças de vestuário como vestido, saia, camisa e camiseta, onde terá a separação de todos ou quase todos os detalhes destas peças, adicionando dicas para introduzir elementos da cultura afro-brasileira, assim auxiliando com que seu leitor possa selecionar o melhor elemento para acrescentar e enriquecer a peça de roupa que estiver desenvolvendo. O guia terá o formato de 148 mm X 210 mm com orientação horizontal, decidiu-se por este formato reduzido para ser de fácil manuseio e transporte, para que possa ser levado em uma bolsa feminina com facilidade. Optou-se pelo papel couchê pelas suas especificações por suportar desde impressões profissionais, por exemplo, em offset até impressões domésticas em impressoras a laser ou jato de tinta e principalmente pelo seu acabamento brilhante e sua resistência à água, embora não seja impermeável, com certeza é muito mais resistente que papéis mais porosos como o sulfite. A encadernação será feita pela lombada grampeada, pois os livreto terão pouco volume de páginas e este tipo de encadernação atende as necessidades. O guia será separado em quatro capítulos: o primeiro terá uma explicação rápida e de fácil entendimento para o leitor sobre o guia e sua funcionalidade; o segundo capítulo irá conter sketchs de elementos que constitui uma peça de roupa, como mangas, golas, decotes, saias, proporção de comprimentos de calças e saias; o terceiro capítulo conterá amostras de tecidos; e o quarto e último capítulo irá abordar tipos de estampas com interferências africanas e afro-brasileiras, como estampas florais, formas abstratas, geométricas, ilusão de óptica, imagens rupestres, pele de animais e máscaras africanas. A diagramação dos guias será simples e clara, sendo sua base cromática o preto e o branco, usando sempre como base a cor preta, pois os africanos têm essa cor como base, e as demais cores subtraídas dela. O contraste é uma característica forte desta etnia. Em todas as páginas sempre será encontrado o texto ou imagem referente ao assunto com uma de nossas estampas próprias, ilustrando, equilibrando e harmonizando seus elementos visuais. O grid utilizado no guia é um grid de colunas, escolhido por ser bem simples e pelos guias não conterem muitos textos, ele tem as variações de duas e três colunas. Segundo o Prof. Luiz Agner (2008) na apresentação “Fundamentos do Grid”, onde mostra exemplos de grids mais 14 comuns e apresentam quatro vantagens que um bom grid possibilita à diagramação e à leitura da página: clareza, eficiência, economia e identidade. A identidade visual é uma das partes mais importantes na produção gráfica, pois a capa e o logotipo de um livro ou revista deve falar muito do projeto e de uma maneira atrativa, criativa ou sedutora. Partindo de tais preceitos buscou-se desenvolver um logotipo simples e atraente para não atrapalhar a leitura quando aplicado sobre o fundo das capas dos guias, pois estas serão coloridas. O logotipo escolhido é muito simples, composto por dois tipos de tipologias, uma bastão estilizada e uma manuscrita bem encorpada, com as cores verde e laranja. A palavra MODA escrita com a tipologia “Rage”, que é manuscrita encorpada e com pequenas imperfeições que simulam detalhes de um pincel, o que traz uma personificação à marca, pois transmite o conceito de pessoal, personalizado, próprio, assim como o guia se propõe ser. A palavra AYÊ que vem do vocabulário do povo Yorubá com o significado de vida, está na tipologia “Medici” uma bastão bem refinada na cor laranja pra transmitir energia. Figura 1: Logo. As capas impressas também em papel couchê, com gramatura maior, atribuindo maior durabilidade e proteção ao miolo, serão ilustradas com estampas contidas no guia sempre muito coloridas com cores fortes e vibrantes, utilizando também algumas de nossas estampas, obtendo certo padrão em sua diagramação, sempre simétricos, contendo a logo e a identificação de qual tema será tratado no determinado capítulo. O modelo de embalagem escolhido foi o Box em duas partes encaixadas, pois além de atender os requisitos tem um formato diferenciado e possibilita um fechamento total, oferecendo maior proteção ao guia, e levando em consideração as seguintes características, aptas a acomodar o guia com eficiência, a Caixa com abertura lateral e corte oposto e a Box em duas partes encaixadas. • Fácil produção por serem feitas de papel, tendo assim um fácil processo de produção gráfica. • Sustentabilidade, pois por serem de papel essas embalagens tanto podem ser produzidas de material reciclado quanto serem reciclada após descarte. 15 • Fácil logística, o formato retangular auxilia na preparação de caixas e paletes. • Fácil acomodação nos PDV’s, o formato permite ao Box ser disposto junto aos livros e no caso do desenvolvimento de um display também facilita o projeto deste pois não exige soluções especificas para sua disposição. • Fácil acomodação para o consumidos final pois seu tamanho reduzido e formato simples possibilita ao Box ser guardado em qualquer estante, gavetas ou se exposto sobre algum móvel os guias estarão devidamente protegidos no seu interior. • No descarte, não exige nenhum processo químico, ou oferece qualquer risco ou dificuldades ao coleto. • Passível de total reciclagem visto que o produto será composto de papel e grampos. A embalagem será desenvolvida na cor preta, pois como já foi dito antes a cor preta para os africanos é a cor base e as demais cores são subtraídas dela. Além desta cor simbolizar elegância e beleza valorizando os guias que esta embalagem irá acomodar. Optou-se pelo papel couchê com gramatura alta ainda não definida. Através do mesmo processo gráfico que o livro, pois desta forma ambos poderão ser produzidos na mesma gráfica ou editora, economizando processos na fabricação. Conclusão Este trabalho abordou a moda afro-brasileira com todos seus elementos corrompidos, transformados e enriquecidos com este contato direto e indireto com as culturas das etnias indígena e portuguesa. Foi desenvolvido um guia onde contem elementos afro-brasileiros, no qual o usuário pode selecionar o melhor elemento que lhe convir, para acrescentar e enriquecer a peça de roupa que estiver desenvolvendo. Criou-se modelos de estampas próprias e coerentes ao tema étnico afrobrasileiro. Seu formato e diagramação, diferenciados despertam curiosidade e interesse, valorizando a cultura e a moda étnica afro-brasileira. A embalagem além de proteger o guia tem formato criativo, para que o guia possa se destacar quando exposto. Além disso, ele vem atender objetivos secundários que surgiram ao longo do trabalho, que foram os requisitos para o desenvolvimento do guia e da embalagem para o acomodará como puderam constatar nos sub-capítulos referentes, Observados estes itens conclui-se que os objetivos do trabalho foram alcançados. 16 REFERÊNCIAS AGNER. L. Fundamentos do grid. Disponível em meio: <http://www.slideshare.net/agner/aconstruo-do-grid>. Acessado em: 11 mai 2011. AGNER. L. Grid. Estudos de Casos. Disponível em: <http://www.slideshare.net/agner/grid-estudos-de-casos-aula:>. Acessado: em 11 mai 2011. ALENCASTRO, L.F. et al. História da vida privada no Brasil – império: a corte e a modernidade nacional, São Paulo: Companhia das Letras, 2001. ALMADA, Sandra. Negritude Fashion e globalizada. Disponível em: <http://racabrasil.uol.com.br/cultura-gente/142/negritude-fashion-e-globalizada-tres-estilistasbrasileiros-e-uma-168970-1.asp>. Acessado em 11 mar 2011. Bandeira da África do Sul: História, significado, origem, simbolismo, cores da bandeira. Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/paises/africa_do_sul/bandeira_africa_do_sul.htm> Acessado em 19 mai 2011. BARROS, L. R. M. A Cor no Processo Criativo,São Paulo, Editora Senac, 2006. BAXTER, M. Projeto de Produto: Guia prático para o design de novos produtos, São Paulo, Edgard Blucher LTDA, 1995, edição 2. CAMPOS, R. C. B. Debret: cenas de uma sociedade escravista, São Paulo, Atual, 2001. Candomblé, O mundo dos Orixás. Disponível em: <http://ocandomble.wordpress.com/osorixas/>. Acessado em 10 mar 2011. DENIS, R. C. Uma introdução a história do design, São Paulo, Editora Edgar Blücher, 2000. EDITORIAL Manequim. Moda étnica. Disponível em: <http://manequim.abril.com.br/moda/editorial/editorial_moda_278670.shtml>. Acessado em: 12 ago 2010. EDITORIAL Manequim. 50 anos de moda no Brasil. Disponível em: <http://manequim.abril.com.br/moda/historia-da-moda/50-anos-da-moda-no-brasil/o-que-emoda.shtml> Acessado em: 12 ago 2010. FALCÓN, G. LOPES, Goya. Imagens da Diáspora, Salvador, Sólisluna, 2010. FONSECA, Ligia. Moda étnica. Disponível em: <http://bauleleh.blogspot.com/2011/04/moda-etnica.html> Acessado em: 11 mar 2011. GATTI, R. Projeto gráfico Simples: Construindo um “grid”. Disponível em: <http://www.designsimples.com.br/projeto-grafico-simples-construindo-um%E2%80%9Cgrid%E2%80%9D/> . Acessado 09 mai 2011. HOLANDA, S. B. Raízes do Brasil, São Paulo: Companhia das Letras, 1995, edição 26. JONES, S. J. Fashion Design – Manual do estilista,São Paulo: Cosac Naify, 2005. 17 KOK, G. P. A Escravidão no Brasil Colonial, São Paulo: Editora Saraiva, 2001, edição 6. MESTER, Luana. Moda étnica. Disponível em: <http://www.decaronanamoda.com/2010/08/moda-etnica.html> Acessado em: 11 MAR 2011. MESTRINER, F. Design de Embalagem – Curso básico, São Paulo, Pearson Makron Books, 2002, edição 2. MUNARI. B. Das coisas nascem coisas, São Paulo, Martins Fontes, 2008. NIEMEYER, L. Design no Brasil: Origens e instalação, Rio de Janeiro: 2AB, 2000, edição 3. PEZZOLO, D. B. Tecidos – história, tramas, tipos e usos, São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2007. PORIER, J. História dos Costumes: O tempo, o espaço e os ritmos: Lisboa, Editorial Estampa 1998 REDAÇÃO Correio do Brasil. Lei obriga escolas a ensinar história afro-brasileiras e indígenas. Disponível em: <http://correiodobrasil.com.br/lei-obriga-escolas-a-ensinar-historia-afro-brasileirase-indigenas/133386/>. Acessado em: 07 mai 2011. RIBEIRO, D. O povo brasileiro: A formação e o sentido do Brasil, São Paulo: Companhia das Letras, 1995. RIBEIRO, D. O processo civilizatório: estudos de antropologia da civilização: etapas da evolução sócio-cultural, São Paulo: Companhia das Letras, 1998. SEIVEWRIGHT. S. Fundamentos de Design de Moda: Pesquisa e Design, Porto Alegre, Bookman, 2009. SILVA, F. ET. AL. VARIOS AUTORES. História da vida privada no Brasil: Império: a corte e a modernidade nacional, São Paulo: Companhia das Letras, 1997. TREPTOW, D. Inventando Moda: Planejamento de coleção, Brusque: do autor, 2005, edição 3. VALENTE, A. L. E. F. Ser negro no Brasil hoje, São Paulo: Editora Moderna, 1991, edição 8. VILLAS-BOAS, A. O que é [e o que nunca foi] design gráfico: Rio de Janeiro: Editora 2AB, 2000, edição 2. 18