OGLOBO

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OGLOBO
OGLOBO
Irineu Marinho (1876-1925)
SEGUNDA-FEIRA, 27 DE JUNHO DE 2016 ANO XCI - Nº 30.275
(1904-2003) Roberto Marinho
RIO DE JANEIRO
oglobo.com.br
EXCLUSIVO/MÁQUINA INFLADA
ESPORTES
Estatais
contrataram
56 mil em
quatro anos
_
Velódromo é entregue
GABRIEL DE PAIVA
A OBRA QUE FALTAVA PARA OS JOGOS
Aumento do número de servidores
foi de 11% no período de 2010 a 2014
Entre as empresas públicas federais que dependem
exclusivamente do Tesouro, as contratações cresceram
de 39.443 para 58.553, um salto de 48%
Aprovada. Ciclista testa o velódromo no evento da entrega das chaves da arena ao Rio-2016: a pista vinda da Sibéria foi elogiada
Obra
mais
problemática
da Olimpíada do Rio, o velódromo
foi entregue, ontem, pelo prefeito
Eduardo Paes ao presidente do
Comitê Organizador Rio-2016,
Carlos Arthur Nuzman, com seis
meses de atraso e a 40 dias do início dos Jogos. Ao custo de R$ 147
milhões, foi a última a ser recebida
pelo comitê, mas não está totalmente concluída, como reconhe-
ceu Paes, ao citar a instalação das
arquibancadas provisórias. Presente ao evento, dirigente do COI
fez elogios. O ponto alto do velódromo é a pista importada da Sibéria, testada ontem por ciclistas.
Brasileiro
Sem controle, órgãos da União sofrem desvios
Citadas na delação do ex-presidente
da Transpetro Sérgio Machado, seis
estatais, com menos instrumentos de
controle que a Petrobras, sofreram
desvios. No Banco do Nordeste, o
TCU apontou prejuízo de R$ 683 milhões com esquema de fraudes em
empréstimos. PÁGINA 3
Reforma prevê aposentadoria aos 70
EXCLUSIVO Embora a intenção inicial seja estabelecer em 65 anos a idade mínima para aposentadoria, o
governo de Michel Temer quer elevá-la para 70 anos no caso da futura
geração. A medida só seria aplicada
daqui a 20 anos, mas já constaria da
proposta de reforma da Previdência
a ser enviada ao Congresso, conta
SIMONE IGLESIAS. PÁGINA 4
Entreouvido (ainda!) no teatro de operações
O Fluminense derrotou o Flamengo, por 2 a 1, ontem, em Natal, em jogo no qual os gols saíram por falhas defensivas. William Arão fez contra, de cabeça, o
primeiro gol tricolor. Após falha
de Gum, Guerrero empatou.
Aproveitando bola mal atrasada
de Rafael Vaz, Richarlison decretou a vitória do Flu, que ocupa o
9º lugar no Brasileiro. O Flamengo está em 6º. Já o Botafogo venceu o Internacional, em Porto
Alegre, por 3 a 2, e foi para 17º.
Em Natal. Scarpa, Wellington Silva e Gum festejam o 1º gol do Flu, de William Arão contra
Brexit causa turbulência em partidos britânicos
O Reino Unido viu seu cenário político mergulhar na confusão no
fim de semana, após a vitória do
Brexit — a saída da União Europeia
— em referendo. Ontem, 11 integrantes da cúpula do Partido Trabalhista renunciaram em apoio a
tre outras. Na mira do governo do presidente interino Michel Temer, a EBC
aumentou o número de funcionários
em 180%: de 913 para 2.564. O governo trava embates com o Congresso
para aprovar uma nova lei das estatais, reformando a gestão e a governança, mas há ceticismo do mercado
quanto à sua efetivação. PÁGINA 15
NELSON PEREZ/FLUMINENSE
EM JOGO DE
ERROS, FLU
VENCE O FLA
CHILE É BICAMPEÃO
DA COPA AMÉRICA
Dados do governo mostram que de
2010 a 2014 o número de servidores de
estatais federais cresceu 11%, passando de 497.020 para 552.856. O percentual é ainda maior nas empresas públicas que dependem exclusivamente do
Tesouro: 48%, revela DANILO FARIELLO.
É o caso da Embrapa e da Empresa
Brasileira de Comunicação (EBC), en-
um colega demitido por contestar
a liderança do chefe da legenda,
Jeremy Corbyn. Entre os conservadores, abalados pela demissão do
premier David Cameron, dois grupos rivais se articulam para disputar a sucessão. PÁGINAS 17, 19 e 20
Espanha tem novas
eleições, mas não
sai do impasse
PÁGINA 21
CHICO
— Os que forem a favor da Lava-Jato permaneçam como estão,
os que forem contra... melhor não falar nada!
Médica assassinada
na Linha Vermelha
Dornelles: frota da
polícia pode parar
A médica Gisele Palhares Gouvêa, de 34
anos, foi morta em tentativa de assalto
num acesso da Linha Vermelha, na noite de sábado, na Pavuna. No mesmo
bairro, o PM Denílson de Souza, 48
anos, foi assassinado ontem. PÁGINAS 6 a 8
O governador do Rio em exercício,
Francisco Dornelles, disse que, se a
ajuda federal de R$ 2,9 bilhões não
chegar até o fim da semana, a frota
da polícia pode parar. Mas afirmou
estar confiante no repasse. PÁGINA 9
LEO MARTINS
SEGUNDO CADERNO
VIVÊNCIAS DE MIÚCHA
Celebrando quatro décadas
de carreira, a cantora diz que
guarda gravações inéditas do
ex-marido João Gilberto e
tem planos de fazer cinema.
SOCIEDADE
A nova polêmica no Vaticano
PAPA DEFENDE PEDIDO DE PERDÃO A GAYS
3ª Edição • Preço deste exemplar no Estado do Rio de Janeiro • R$ 4,00 • Circulam com esta edição: Segundo Caderno e caderno Esportes
PÁGINA 22
2
l O GLOBO
Segunda-feira 27 .6 .2016
Página 2
Conte algo que não sei
[email protected]
_
RICARDO
NOBLAT
‘As mulheres foram classificadas como amadoras’
_
Ana Paula Cavalcanti Simioni, professora
Paulista, que pesquisa sobre mulheres artistas antes do período modernista, veio ao Rio para debate no CCBB sobre arte e feminismo no Brasil
FERNANDO LEMOS
“Tenho doutorado em
Sociologia pela USP, onde
sou professora e
pesquisadora
desde 2009, com ênfase
na questão arte e gênero.
Pesquiso sobre mulheres
artistas desde 2000.
Dar aula é uma
satisfação enorme.
É onde acho que a minha
profissão faz sentido.”
|
|
“A corrupção é uma ‘serial killer’ que se
disfarça de buracos de estrada, falta de
medicamentos e pobreza”
PROCURADOR DALLAGNOL
_
Não chore pelo PT
_
Para Hiroo Onoda, a 2ª Guerra Mundial só
terminou no dia 9 de março de 1974, quando
ele emergiu da selva da ilha Lubang, nas
Filipinas, e se rendeu ao seu superior, o major
Yoshimi Taniguch, que lhe ordenara 30 anos
antes resistir até a morte. Depôs a espada e o
rifle ferrolho Arisaka, em perfeito estado de
revista. Vestia um gasto uniforme de soldado.
De volta ao Japão, foi recebido como herói.
ENTREVISTA A:
AMANDA PRADO
[email protected]
ANTONIO LUCENA
Conte algo que não sei.
A primeira artista plástica a ser
premiada, em 1884, é do interior
do Rio de Janeiro, da cidade de
Vassouras, e se chamava Abigail
de Andrade. A premiação foi da
Exposição Geral de Belas Artes.
Ela foi uma pintora muito atuante entre 1881 e 1884. Pioneira, teve bom reconhecimento da crítica, fez várias exposições, mas, infelizmente, nenhum museu público tem obras dela. Ela se mudou cedo para a capital, para estudar no Liceu de Artes e Ofícios,
a primeira instituição pública
com nível próximo ao ensino superior para as mulheres. No Rio,
foi aluna de Ângelo Agostini, dono da revista “Illustrada”. Eles se
apaixonaram. Foi uma reviravolta à época, porque ele era casado.
Grávida do segundo filho dele e
morando na França, assim que o
bebê nasceu ele morreu de tuberculose e ela, também. Apesar
de curta, foi uma trajetória muito
rica. É triste que sua obra fique
apenas em coleções privadas.
l
Por que isso acontece?
As instituições da época não tinham um olhar para as mulheres, o que foi gerando vários empecilhos ao longo do tempo. No
Brasil, isso não é uma questão de
política afirmativa apenas. A
questão é que historicamente as
mulheres foram classificadas como amadoras. Os críticos de arte
viam as mulheres à maneira do
seu tempo, como seres sem plena capacidade. Tudo isso contribuiu para a produção de uma
amnésia. É a história de que desconhecimento gera desconhecimento, assim como conhecimento gera mais conhecimento.
l
O que muda quando as mulheres chegam à universidade?
Elas já podem ganhar prêmios
acadêmicos importantes, e o reconhecimento passa a vir de outra forma. A academia no Brasil
abre a possibilidade de inscrição
para as mulheres a partir de
1892, e no ano seguinte ela já recebe alunas. Com a transforma-
l
ção do regime (monarquia para
República), é sancionada uma lei
em que os cursos superiores passam a admitir mulheres. Esses
cursos são Medicina, Direito, Engenharia e a Escola de Belas Artes. Antes disso, elas só podiam
pensar em Medicina, porque tinham formação de parteiras.
O que chama atenção entre
as primeiras acadêmicas artistas?
Há obras que até chegaram a
museus, mas ficaram em reservas técnicas. Foi o caso de Julieta de França, uma escultora
nascida em Belém, no Pará, e filha de músicos, que veio para o
Rio e fez parte do primeiro grupo de alunas da Escola Nacional de Belas Artes. Ela ganhou o
prêmio de viagem ao estrangeiro em 1900. Era o prêmio máximo da academia, apenas um
por ano. Todos os homens que
ganharam entraram para a História. Mas pouco se sabia sobre
essa mulher, quando comecei a
l
pesquisar. Há obras dela na reserva técnica do Museu Nacional de Belas Artes, sem exibição, onde está escrito “participou do Salão da França de 1903
e obteve menção honrosa”.
Quantos artistas brasileiros foram para Paris, passaram cinco
anos, conseguiram expor no salão e obtiveram menção honrosa? Ela foi para a França, estudou, ganhou prêmio, foi aluna
de Auguste Rodin. Como ela
não entrou para a História?
Como o público poderia conhecer as obras dessas mulheres?
O Masp e o MAM, por exemplo, ou o MoMA, nos EUA, foram formados com doações,
mas acho que nossa elite, hoje,
tem pouca sensibilidade para
essas questões, além de uma
desconfiança em relação à capacidade de as instituições públicas no Brasil cuidarem das
obras. Precisamos encontrar
uma solução.
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Imagem da semana
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A CRISE DE
CUNHA AO
VIVO NA TV
FOTO
ANDRÉ COELHO
Mesmo afastado pelo
STF, o deputado
Eduardo Cunha teve
pronunciamento feito
terça-feira passada,
num hotel de Brasília,
transmitido pela TV
Câmara. Ele negou
que vá renunciar ou
delatar e, fiel a seu
estilo, atacou o
procurador Rodrigo
Janot, adversários e a
mídia. O diretor de
Comunicação da
Câmara foi demitido
no mesmo dia.l
Leia também
_
País
Economia
Foragido da Justiça, o empresário Ricardo Magro,
dono de Manguinhos, entra na lista da Interpol
Café e leite tiveram aumentos acima da inflação este ano:
9% e 18%, de acordo com o IPCA-15. Os motivos são a
redução dos estoques mundiais do grão e a entressafra
PÁGINA 5
PÁGINA 16
Rio
Caixas de som de Parada Funk no Aterro provocam
vibração no prédio do MAM e danificam peça em exposição
Com o pedido de recuperação judicial da Oi, analistas
recomendam cautela com ações de empresas de telecom
PÁGINA 14
PÁGINA 18
Loterias
O leitor deve checar os resultados em agências oficiais e no
site da CEF porque, com os horários de fechamento do jornal,
os números aqui publicados, divulgados sempre no fim da
noite pela CEF, podem eventualmente estar defasados.
l
MEGA-SENA
15 l
27 l
28
l
32 l
48 l
55
l
Um acertador
1.831
DUPLA SENA
1.509
03 l
09 l
11 l
15 l
21 l
28
l
2º Sorteio l
05 l
09 l
12 l
13 l
35 l
47
Acumulado em R$ 308,8 mil
1º Sorteio
QUINA
4.115
09 l
37 l
66
l
75 l
78
l
Acumulado em R$ 478,7 mil
ONODA ALISTOU-SE com 20 anos para servir ao Exército imperial japonês, em guerra contra os Estados
Unidos, a União Soviética, a Inglaterra e demais países aliados. Foi enviado a Lubang para evitar que a
ilha caísse em mãos inimigas. Como ela caiu, ele e
mais três soldados se refugiaram nas montanhas
para resistir. Dois morreram. Onoda não acreditava
que o Japão fora derrotado.
TALVEZ FOSSE o caso de Lula procurar Dilma para
informá-la de que a guerra contra o impeachment
acabou, e que ela, ele e o PT foram derrotados. Ao
contrário de Onoda, Dilma não recebeu ordem do
seu superior para resistir até a morte. Resiste por
teimosia. Lula está em outra, negociando a salvação da própria pele. O PT estima suas perdas, que
podem ser maiores do que supõe.
O QUE MENOS interessa ao PT é o que Dilma promete,
caso sobreviva ao julgamento do Senado e retorne ao
cargo: um plebiscito para que o brasileiro decida se
quer antecipar a eleição presidencial de 2018. Plebiscito ou referendo nem sempre é a melhor solução. Milhões de britânicos arrependeram-se do referendo que
decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia.
EM SEU PIOR momento desde que foi fundado, o PT
está condenado a perder as eleições municipais de
outubro próximo. Como poderia ganhar uma eleição presidencial? De resto, por que o Senado devolverá o poder a Dilma se ela acena com a possibilidade de não governar até o fim do mandato? Não
devolverá. O melhor seria que Dilma se rendesse,
sem provocar mais danos ao país.
BASTAM OS DANOS que provocou legando ao presidente interino a herança maldita de mais de 11 milhões de desempregados. Bastam os que o PT também provocou — entre eles, a corrupção que contaminou todo o aparelho do Estado e suas relações
com sócios e fornecedores privados. O que a
Lava-Jato já descobriu empurrou o Brasil para o cume dos países mais corruptos.
O QUE COMEÇA A ser descoberto poderá catapultar o
PT para a galeria dos partidos mais cruéis com o
povo. Que tal um partido capaz de roubar parte do
salário de funcionários públicos, pensionistas e
aposentados endividados que, para manter suas
famílias, recorriam a empréstimos consignados cujas prestações são descontadas automaticamente
em folha de pagamento?
NA SEMANA PASSADA, Paulo Bernardo, marido da
senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), ex-ministro do
Planejamento do governo Lula e das Comunicações do governo Dilma, foi preso sob a suspeita de
ter sido um dos chefes da organização criminosa
que arrecadou entre 2009 e 2015 algo como R$ 100
milhões em propina para financiar o PT e enriquecer seus caciques.
DE CADA R$ 1 pago mensalmente por um servidor
público como taxa de gerenciamento do seu empréstimo, R$ 0,70 iam parar nos cofres do PT. Roubar dinheiro de quem trabalha para ganhá-lo? Um
partido, aqui, nunca ousou tanto. “Chorei por mim
e por meus amigos. Há várias maneiras de ser assaltada”, comentou a servidora pública Ana Gori,
de Brasília, endividada há 16 anos.
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Segunda-feira 27 .6 .2016 2ª Edição
O GLOBO
País
l 3
ESCÂNDALOS EM SÉRIE
Órgãos federais
menos regulados
e mais corruptos
_
LUCIANA WHITAKER/VALOR ECONÔMICO/4-7-2012
O delator.
O ex-presidente
da Transpetro:
Petrobras era
“mais disciplinada”
do que outras
unidades do governo
Citados por Sérgio Machado, BNB, Funasa,
Dnit, Dnocs, Docas e FNDE são alvo de desvios
SÉRGIO ROXO E TIAGO DANTAS
[email protected]
-SÃO PAULO- Alvos constantes de disputas políticas, os
seis órgãos federais citados na delação de Sérgio
Machado acumulam escândalos de corrupção e
denúncias de irregularidades em suas gestões. Estariam em situação bem pior que a Petrobras, segundo ele “a madame mais honesta dos cabarés do
Brasil”. Em depoimento à Procuradoria-Geral da
República (PGR), o ex-presidente da Transpetro
surpreendeu ao afirmar que a petrolífera, cujo rombo estimado pela Polícia Federal é de R$ 42 bilhões,
era um organismo “bastante regulamentado e disciplinado”. Ele acrescentou que outras unidades do
governo têm práticas “menos ortodoxas”.
Um das instituições citadas por Machado foi o
Banco do Nordeste (BNB). Investigações dos
ministérios públicos Federal e Estadual do Ceará, onde fica a sede da instituição, apontam irregularidades nas concessões de empréstimos, favorecimento de empresas e desvio de recursos
para financiar campanhas políticas. Um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) concluiu que apenas o esquema de fraudes nos empréstimos gerou prejuízo de R$ 683 milhões.
— Uma verdadeira quadrilha se instalou dentro do Banco do Nordeste. Verbas foram loteadas para fins eleitoreiros e se praticou todo tipo
de falcatrua em valores altíssimos dentro da instituição — acusa o promotor Ricardo Rocha, do
Ministério Público Estadual, que deu início às
apurações após ser procurado por um funcionário que denunciou as irregularidades.
De acordo com Rocha, as investigações comprovaram que os balanços de empresas eram
maquiados para permitir a concessão dos empréstimos com a anuência de diretores que “recebiam comissões”. As fraudes beneficiavam
companhias que estavam perto de falir e até
uma das empresas do esquema de lavagem de
dinheiro do doleiro Alberto Youssef, condenado
na Lava-Jato. Também haveria
corrupção na classificação das
notas de créditos das empresas.
Segundo o promotor, elas eram
ameaçadas de ter as notas reduzidas, o que diminuiria as
margens para empréstimos, se
não pagassem propina.
— O que apareceu até agora é
só a ponta do iceberg. O esquema da Lava-Jato operava aqui no
Banco do Nordeste também —
afirma o procurador Oscar Costa
Filho, do Ministério Público Federal (MPF), que não tem conseguido levar suas investigações
adiante.
Até agora, cinco ações penais e
cinco de improbidade administrativa não avançaram por causa
de habeas corpus ou recusa de juízes de primeira
instância. O MPF apresentou recursos ao Tribunal
Regional Federal da 5ª Região.
Para o promotor Ricardo Rocha, os problemas
do BNB estão relacionados à influência política.
— Todos os diretores do Banco do Nordeste
são indicados por políticos — afirma.
Entre 2003 e 2011, quando tiveram início as irregularidades, segundo o Ministério Público, o BNB
foi presidido por Roberto Smith, indicado pelo deputado federal José Guimarães (PT-CE), ex-líder do
governo Dilma Rousseff na Câmara. Smith chegou
a ser denunciado pelo MPF por omissão na recuperação de créditos. A ação foi trancada pelo TRF5.
— Isso não é crime. Só indiquei o presidente
do banco — admite o deputado, negando ter influência sobre toda a gestão da instituição.
Guimarães disse que não se sente responsável
por eventuais irregularidades que tenham ocorrido na gestão de seu indicado. O petista ainda
destacou que, no governo Fernando Henrique
Cardoso (PSDB), o comando do banco era indicado pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) e
que o atual presidente, Marco Costa Holanda,
nomeado em 2015, é apadrinhado pelo líder do
PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE).
Bruno Queiroz, advogado de Roberto Smith,
garantiu que a Justiça comprovou que o cliente
não tinha participação nas irregularidades:
— Embora tenha sido presidente, ele não pode
ser responsabilizado por tudo o que acontece no
banco. Não existe nada formalmente contra ele.
Não existe ação penal em que ele seja réu e nenhum inquérito em que tenha sido indiciado.
O BNB informou que instaurou “processos
administrativos disciplinares” e fez cobranças
judiciais para reaver os prejuízos.
O escândalo mais recente envolvendo as outras “madames do cabaré” foi revelado em maio
e tem como alvo a Superintendência da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) de Santa Catarina. A Polícia Federal (PF) investiga um esquema montado por servidores federais, prefeituras e empreiteiras que teria movimentado cerca
de R$ 2 milhões em propinas. Embora os valores
desviados não sejam tão altos como aqueles
apurados na Petrobras, a fraude se repete em
várias regiões do país, segundo investigadores.
Nos últimos cinco anos, a PF investigou esquemas similares em Amapá, Ceará, Distrito
Federal, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraná,
Rondônia e Tocantins. Responsável por obras
de esgoto e saneamento básico, a fundação tem
orçamento de R$ 3,2 bilhões, maior que o dos
ministérios da Cultura e do Meio Ambiente.
Em Santa Catarina, as empresas investigadas
receberam dinheiro de obras de saneamento
básico mesmo sem ter feito todo o serviço. A PF
chegou a prender o superintendente Adenor Piovesan, filiado ao PMDB e presidente da Fundação Ulysses Guimarães no estado. Piovesan já
está solto, e seu advogado não foi localizado. Segundo a Funasa, as irregularidades apontadas
como de responsabilidade dos funcionários da
fundação “terão todas as providências administrativas internas adotadas”.
Reduto do PR, o Departamento Nacional de
Infraestrutura Terrestre (Dnit) foi palco de um
escândalo que levou à demissão de 20 pessoas e
à queda do então ministro Alfredo Nascimento.
Segundo as denúncias, empresas pagavam 4%
de propina ao PR para ganhar licitações e aditivos. Até agora, ninguém foi preso. No Rio Grande do Norte, o MPF descobriu desvios de R$
13,9 milhões na duplicação da
BR-101 e denunciou 25 pessoas
no ano passado. O Dnit não respondeu.
Ligado ao Ministério da Integração Nacional e dominado
nos últimos anos por PMDB e
PP, o Departamento Nacional
de Obras Contra Seca (Dnocs)
foi alvo de duas investigações
recentes. Em março de 2013, a
Operação Cactus apurou supostos desvios em contratos
distribuídos por 20 municípios
do Ceará. A investigação teve
início com um relatório da
Controladoria-Geral da União
(CGU) apontando suspeita de
fraudes que chegavam a R$ 200
milhões. Os policiais apuram a
participação de parlamentares no esquema, por
meio de emendas ao Orçamento da União. Dois
anos depois, foi desarticulado um suposto esquema de fraudes em licitações no Rio Grande
do Norte. O Dnocs informou que “todos os diretores envolvidos nas denúncias foram afastados
dos cargos de direção e encontram-se respondendo a processos administrativos”.
Também foram citadas na delação de Machado as companhias Docas, que administram portos federais. Em 2012, o MPF denunciou o ex-diretor-presidente da Companhia Docas do Espírito Santo, Hugo Merçon, sob a acusação de favorecer a contratação de uma empresa por dispensar a licitação. O processo ainda está em andamento. Merçon não foi localizado.
Outro órgão que sofreu com influência política
na gestão foi o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que tem orçamento anual
de R$ 60 bilhões e cuida de programas como o fornecimento de merenda. Em abril, às vésperas da
votação do impeachment na Câmara, Dilma nomeou para o órgão Gastão Vieira, do nanico PROS,
ex-ministro do Turismo, na tentativa de ganhar o
apoio da legenda. Em 2013, o então presidente, José Carlos Wanderley Dias de Freitas, foi flagrado
em um grampo da PF alertando o reitor da UFPR
sobre uma investigação contra a instituição. A PF
informou que o caso já foi concluído, mas não poderia dizer se foi constatada alguma irregularidade. O FNDE afirmou que não se pronunciaria sobre um caso ocorrido na gestão anterior. l
Só o esquema
de fraudes nos
empréstimos do
Banco do Nordeste
gerou prejuízo de
R$ 683 milhões,
concluiu relatório
do Tribunal de
Contas da União
O QUE FAZEM
BANCO DO NORDESTE (BNB)
É o banco de desenvolvimento regional que atua nos estados
do Nordeste. Possui cerca de 300 agências na região
Partidos que tiveram influência na direção nos últimos anos:
PT e atualmente PMDB
Investigações: Foram apontadas fraudes nas concessões
de empréstimos e no Programa Nacional
de Financiamento da Agricultura Familiar (Pronaf)
Faturamento: R$ 7,5 bilhões
FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO
DA EDUCAÇÃO (FNDE)
Subordinado ao Ministério da Educação, é responsável
por viabilizar programas em parcerias com municípios,
como o de transporte escolar e merenda
Partidos que tiveram influência na direção nos últimos anos:
PT e atualmente é comandado pelo PROS
Investigação: presidente do FNDE soube previamente de investigação da PF na UFPR, em 2013, e avisou ao reitor
Orçamento: R$ 60 bilhões
DEPARTAMENTO NACIONAL DE OBRAS
CONTRA SECA (DNOCS)
Ligado ao Ministério da Integração Nacional, é responsável
pela atuação no semiárido nordestino
Partidos que tiveram influência nos últimos anos:
PMDB e, mais recentemente, PP
Investigação: Servidores no Ceará e no Rio Grande do Norte
são acusados de desviar recursos de obras no sertão
Orçamento: R$ 1,2 bilhão
DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA
DE TRANSPORTES (DNIT)
Subordinado ao Ministério dos Transportes, é responsável
por obras em rodovias, ferrovias e hidrovias
Partido que teve influência nos últimos anos: PR
Investigação: Em 2011, denúncias mostraram que empresas
pagavam 4% de propina ao PR para ganhar licitações e
aditivos. O esquema causou a queda do então ministro Alfredo
Nascimento e o afastamento de 20 servidores
Orçamento: R$ 8 bilhões
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE (FUNASA)
Vinculada ao Ministério da Saúde, é responsável por ações de
saneamento básico e prevenção de doenças em todo o país
Partidos que tiveram influência nos últimos anos:
PMDB, majoritariamente, e PTN
Investigação: Superintendente em Santa Catarina foi preso
acusado de receber propina para beneficiar empresas
Orçamento: R$ 3,2 bilhões
COMPANHIAS DOCAS
Subordinadas à Secretaria de Portos, as oito companhias
são responsáveis por administrar os portos federais
Partidos que tiveram influência nos últimos anos:
PMDB, em São Paulo e no Rio
Investigação: Em 2012, o presidente da Companhia
Docas do Espírito Santo foi denunciado por contratar
empresas sem licitação
Receita: R$ 1,3 bilhão *
* apenas as companhias de São Paulo, Rio e Espírito Santo.
Dado referente ao ano de 2014
U
Memória
‘DÓLARES NA CUECA’
SAÍRAM DO BANCO
DO NORDESTE
Em julho de 2005, no auge do
escândalo do mensalão, José
Adalberto Vieira da Silva foi
flagrado ao tentar embarcar no
Aeroporto de Congonhas, em São
Paulo, com US$ 100 mil na cueca.
Na época, era assessor do
deputado estadual José Guimarães
(PT-CE), irmão do então presidente
do PT, José Genoino. A divulgação
do caso abalou o mundo político e
obrigou Genoino a abandonar o
comando da legenda.
Além dos US$ 100 mil levados
na cueca, Adalberto carregava
R$ 209 mil em uma maleta. O
Ministério Público Federal (MPF)
do Ceará passou a investigar o
caso e concluiu que o dinheiro
era proveniente de propinas
pagas para facilitar a concessão
de um empréstimo pelo Banco do
Nordeste (BNB).
Após ser preso no aeroporto por
não ter declarado que viajava com
mais de R$ 10 mil, como manda a
legislação, Adalberto, inicialmente,
disse que o dinheiro identificado na
mala pelo raio X era fruto da venda
de legumes na Companhia de
Entrepostos Armazéns Gerais do
Estado de São Paulo (Ceagesp).
Mas os policiais desconfiaram da
versão por causa de suas mãos bem
cuidadas. Então, o assessor de
Guimarães mudou a versão e disse
que a quantia era proveniente de
empréstimo de um amigo para
montar um negócio. As
investigações mostraram que,
pouco antes de ser preso, Adalberto
havia telefonado para Kennedy
Moura, assessor especial da
presidência do Banco do Nordeste.
O MPF apresentou uma ação de
improbidade administrativa ao
concluir que o dinheiro levado por
ele fazia parte de propina paga
depois da liberação irregular de
recursos para o consórcio que
construía uma linha de
transmissão de energia entre
Teresina e Fortaleza. O
ex-presidente do Banco do
Nordeste Roberto Smith, indicado
para o cargo por José Guimarães,
chegou a ser condenado, em
2014, pelo Tribunal Regional
Federal da 5ª região (TRF5) por
participação no caso, mas
conseguiu reverter a decisão.
As condenações de Adalberto e
Moura continuam em vigor.
Guimarães se livrou da ação de
improbidade administrativa ao
recorrer ao Superior Tribunal de
Justiça (STJ), em 2012.
4
l O GLOBO
l País l
2ª Edição Segunda-feira 27 .6 .2016
Governo quer aposentadoria só aos 70 anos
Idade mínima para benefício começaria aos 65 anos, mas seria estendida e aplicada daqui a 20 anos
SIMONE IGLESIAS
[email protected]
-BRASÍLIA- O governo de Michel Temer quer que a
idade mínima para a futura geração se aposentar chegue aos 70 anos. A ideia, segundo uma
fonte do governo que está participando das discussões, é estabelecer no projeto que será enviado ao Congresso duas faixas: a primeira, de 65
anos; e a segunda, de 70 anos, para ser aplicada
só daqui a 20 anos.
Há praticamente consenso de que a reforma
da Previdência em estudo deverá estabelecer 65
anos como idade mínima a partir da aprovação
do texto, mas com uma regra de transição que
não penalize tanto quem já está no mercado de
trabalho e ainda menos quem está mais próximo da aposentadoria.
Por exemplo, se um homem já contribuiu 30
dos 35 anos que determinam a lei atual e tem 50
anos, ele não terá que trabalhar mais 15 anos,
até os 65. Haverá uma transição. O objetivo do
governo é elevar a idade média das pessoas ao
se aposentarem. Hoje, é de 54 anos.
Os que entrarem no mercado de trabalho a partir da sanção da nova regra se enquadrarão integralmente na faixa de 65 anos. Mesmo que o governo envie o projeto ao Congresso ainda este
ano, dificilmente ele será aprovado antes de 2017.
— Se vamos estabelecer a idade mínima agora,
já podemos pensar nas próximas décadas, deixando uma faixa mais alta para a futura geração,
que está longe ainda de entrar no mercado de
trabalho. Agora, a adoção dos 65 anos como idade mínima terá uma regra de
transição muito clara para não
prejudicar quem já está no mercado de trabalho há mais tempo
— afirmou um integrante do
governo Temer.
As fórmulas para esta regra de
transição ainda estão sendo analisadas pelo governo, mas levarão
em conta o tempo de contribuição dos trabalhadores e o período
que falta para a aposentadoria.
Apesar de o presidente Michel
Temer ter declarado na última
sexta-feira ser a favor de que as
mulheres se aposentem levemente mais cedo do que os homens, a intenção da
equipe econômica é, a longo prazo, fazer com que a
idade para ambos os sexos coincida.
Amanhã, haverá reunião entre governo e as
centrais sindicais, da qual poderá sair a primeira
versão da reforma da Previdência. O Planalto ain-
da tem dúvida sobre a apresentação de um documento para evitar um “pacote pronto”, porque
busca entendimento com os sindicatos, que têm
se mostrado inflexíveis especialmente quanto a
alterações na regra que afetem quem está no
mercado de trabalho ou próximo da aposentadoria. A decisão sobre apresentar
ou não essas linhas gerais será
definida em cima da hora, dependendo do clima entre governo e sindicatos.
— As centrais resistem em praticamente todos os pontos, mas
estão começando a assumir a
responsabilidade. A previdência
não é um problema do governo,
que passa; mas de quem vai se
aposentar. Se o governo não fizer
nada rápido, o Brasil vai acabar
daqui a uns anos como países
europeus que quebraram — disse uma alta fonte do governo.
A expectativa do governo é receber algumas
ideias das centrais na reunião de amanhã, mas
há impasse. Os sindicatos querem a manutenção da regra 85/95 (soma entre idade e tempo
de contribuição para mulheres e homens, respectivamente) e pedem, em vez de mudanças
A ideia é elevar
a idade mínima
para a futura
geração, que ainda
está longe de entrar
no mercado
de trabalho
estruturais no sistema, que o governo faça
uma fiscalização rigorosa nos gastos com os
recursos previdenciários.
— Queremos que o governo abra a caixa-preta
da Previdência. O trabalhador não é o responsável pelo deficit que existe no sistema — disse
ontem o vice-presidente da Força Sindical, Miguel Torres, que estará amanhã em Brasília para
a reunião no Palácio do Planalto.
Medidas que afetam quem ainda não entrou
no mercado de trabalho, no entanto, causam
menos polêmica entre as centrais. Segundo Miguel Torres, não há entre as centrais uma decisão sobre o tema.
Há dois pontos apresentados pelas centrais
que o governo vê com bons olhos: a abertura de
um programa de refinanciamento de débitos
inscritos na dívida ativa com a Previdência e a
revisão das isenções às entidades filantrópicas.
A Previdência do setor rural é outro ponto polêmico. Os sindicatos afirmam que este responde
pela maior parte do deficit do sistema. O governo
busca discutir esse problema em mesas separadas. Ouviu as queixas dos sindicalistas, mas quer
discutir alternativas com os ruralistas para não
contaminar as discussões. Uma fonte do governo
disse que alguma medida terá de ser adotada para reduzir as despesas previdenciárias do setor. l
Temer faz ofensiva em aniversário de senador Compra de remédios é nova
CARLOS EDUARDO RECHE/GOVERNO DE GOIÁS
Presidente interino
vai a fazenda em
Goiás atrás de votos
pelo impeachment
Programa era apenas
para funcionários, mas
reembolsou drogas até
para cães, diz ‘Fantástico’
GABRIELA VALENTE E
ANDRÉ DE SOUZA
[email protected]
-BRASÍLIA- Em busca de votos a
favor do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, o presidente interino Michel Temer intensifica o corpo
a corpo com senadores e ontem deixou sua casa em São
Paulo para comparecer ao aniversário do senador Wilder
Morais (PP-GO), em Goiás.
Nas conversas com aliados,
no trajeto entre a base aérea de
Goiás e a fazenda de Morais,
Temer fez uma avaliação sobre
os votos para a aprovação do
impeachment e orientou os líderes a mapearem dificuldades de indecisos e encaminhálas para ele resolver.
Na festa, para cerca de quatro
mil pessoas, Temer conversou
com vários senadores ao som
de músicas de Wesley Safadão e
Aviões do Forró. Os senadores
Eunício Oliveira (PMDB-CE),
Ciro Nogueira (PP-PI), Sérgio
Petecão (PSD-AC), José Medeiros (PSD-MT), Hélio José
(PMDB-DF) e José Perrela (PRMG) estavam presentes. Para a
plateia, fez um rápido discurso.
Homenageou o aniversariante
e cumprimentou nominalmente todos os políticos importantes que estavam ali, inclusive o
governador de Goiás, Marconi
Perillo (PSDB).
— Nessa nossa interinidade,
o que estamos tentando fazer é
unir o país. Os brasileiros têm
que estar unidos para tirar o
país da crise — discursou Temer. — Os brasileiros têm de
ter essa alegria que estão expressando aqui.
Em referência ao aniversariante, o presidente interino lembrou a trajetória do senador que
Corpo a corpo. Temer entre o governador de Goiás, Marconi Perillo (à esquerda), e o senador Wilder Morais (PP-GO)
“Nessa nossa
interinidade, o que
estamos tentando
fazer é unir o país”
Michel Temer
“nasceu na roça” e chegou ao
Parlamento, e aproveitou para
falar da sua origem.
— Eu sou filho de imigrantes
(…) e cheguei aonde cheguei.
A visita ao aniversário do senador foi rápida. Em apenas 40
minutos, Temer já retornava ao
avião que o levaria para Brasília.
No trajeto de helicóptero para a
fazenda de Morais, em Nerópolis, conversou com o líder do
PMDB no Senado, Eunício Oliveira. Ouviu do parlamentar
que, dos 27 governadores, 23 estão aplaudindo a iniciativa de
negociar a dívida com os estados. Temer teria dito que foi
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uma coisa simples de fazer.
— Como Dilma não fez isso
antes? Não recebia o povo, podia ter tentado encaminhar as
coisas simples — disse Temer,
segundo Eunício.
PADILHA: CONCESSÃO AO PP
Ontem à noite, em entrevista ao
jornalista Jorge Bastos Moreno,
no programa “Preto no branco”,
do Canal Brasil, o ministro da
Casa Civil, Eliseu Padilha, admitiu que houve concessões ao
PP para que o partido apoiasse
o impeachment de Dilma na
Câmara. Em troca, a legenda
ganhou um espaço maior no
governo Temer. Coube ao PP,
por exemplo, o Ministério da
Saúde, uma das pastas de maior orçamento da Esplanada.
— A negociação foi feita
considerando o momento. Se
nós formos rememorar, havia
um PP, o PR e o PTB, tinha um
bloquinho que estava fechado
com a presidenta que hoje está
afastada. Houve uma negociação, virou a noite. E o presidente do PP (senador Ciro Nogueira) e o deputado Dudu da
Fonte (PP-PE) numa noite viraram o bloco inteiro — con-
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tou Padilha. — Daí porque
houve essa participação tão
expressiva do PP (no governo).
Padilha negou pressão sobre
os senadores, que confirmarão
ou não o afastamento de Dilma. Segundo ele, o que tem
ocorrido são conversas. Para
Dilma ser afastada de vez, é
preciso o voto de dois terços do
Senado, ou seja, de pelo menos 54 dos 81 senadores.
— O que eu posso dizer é o que
o presidente Temer é um político
de excelência, e ele tem conversado muito — disse o ministro.
Após ter dado a entender
que defendia o fim da Lava-Jato, Padilha afirmou que a operação prestou um grande serviço ao Brasil. Ele disse que esse e outros escândalos atrapalham a imagem dos políticos,
mas negou que haja dificuldades no governo Temer por isso:
— O governo tem mais que
dois terços na Câmara, mais
que dois terços no Senado, votou tudo o que queria até agora; aprovou com larga folga.
Portanto, não há crise política
no governo, mas eu vejo um
desgaste na imagem dos partidos e dos políticos. l
Um programa da Petrobras
destinado a compra de remédios se transformou em mais
uma fonte de fraudes na estatal. Reportagem exibida ontem
pelo “Fantástico”, da TV Globo,
revelou que o uso ilegal do benefício causou prejuízos mensais de R$ 6 milhões, valor correspondente a um terço dos
gastos totais do programa. Levantamento interno apontou
13 mil receitas com reembolso
irregular, incluindo até o caso
de compra de remédios para o
cão de uma funcionária.
O programa, criado para beneficiar cerca de 300 mil funcionários e seus dependentes,
custava mensalmente R$ 30
milhões à estatal. Com a crise,
a Petrobras mudou o modelo
do benefício, chamado de securitização, e contratou a empresa Global Saúde, em setembro do ano passado, para tentar economizar. Como a nova
firma passou a receber um valor fixo de R$ 15 milhões, promoveu um pente-fino nos
reembolsos e achou mais de 13
mil receitas fraudulentas.
REMÉDIO PARA IZA
A busca encontrou notas em
branco, sem data e sem nem
ao menos o nome do médico.
Os resultados foram encaminhados para a Secretaria de
Controle Externo de Estatais
do Tribunal de Contas da União (TCU). Esta semana, o tribunal vai julgar se a Petrobras
deve encerrar o programa ou
criar novos mecanismos de
controle para essas compras.
Um dos casos mais curiosos
foi encontrado em uma farmácia de Curitiba. A receita era de
uma clínica veterinária, emitida
em nome da paciente “Iza”. A re-
portagem do “Fantástico” constatou que Iza é o nome da cachorrinha de Vanessa Silva, casada com um funcionário da
Petrobras. Abordada pelo repórter, Vanessa admitiu que o benefício foi usado para a cadela:
— Mas faz parte da minha família. É para comprar remédio. Se tenho o desconto, tenho o direito.
PROGRAMA SEM CONTROLE
O programa, suspenso pela Petrobras depois da descoberta
das irregularidades, funcionava há dez anos. Para usá-lo,
bastava ao funcionário ir até
uma farmácia conveniada e
apresentar a receita e o cartão
do programa de saúde. A farmácia enviava a conta a uma
firma contratada para administrar o programa, e o custo
era repassado à Petrobras.
Pela regra, os funcionários só
deveriam comprar remédios
para si mesmos e seus dependentes. Mas a falta de controle
abriu caminho para deturpações. É o caso de nove compras
no mesmo dia, 27 de julho do
ano passado, com um mesmo
número de beneficiário, em diferentes estados. O roteiro de
compras começa em Candeias, na Bahia. Minutos depois,
aparece em Angra dos Reis, no
Rio. A seguir, nova compra, em
Salvador. Depois, três vezes no
Rio, uma em São Paulo, outra
em Aracaju e mais uma em
Salvador.
Localizada, a dona do cartão,
Dulce Fernandes Pereira, aposentada da Petrobras em Salvador, negou o envolvimento:
— Não. De maneira alguma.
Eu, inclusive, já tem mais de
três anos que não viajo.
Em nota ao “Fantástico”, a
Petrobras declarou que tomará
todas as medidas legais cabíveis para reparação e compensação de danos, além de mover
eventuais ações de improbidade administrativa. l
NOITE DE POP STAR
Moro é ovacionado em show de rock
Vocalista do Capital Inicial dedica ao juiz da Lava-Jato, presente ao teatro, a música ‘Que país é esse?’
-SÃO PAULO-
O
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fonte de fraudes na Petrobras
juiz Sérgio Moro
viveu mais um
momento de superstar no sábado
à noite, durante show do Capital Inicial em Curitiba. Por
mais de um minuto, ele foi
ovacionado pelo público
presente à apresentação da
banda de rock brasiliense.
Como sempre faz nos shows
do Capital, antes de tocar o clássico “Que país é esse?”, da Legião
Urbana, o cantor Dinho Ouro
Preto criticou o sistema político e
lamentou o momento do país:
— Tenho a impressão de que
o poder é tóxico. Eles se sentam
naquelas cadeiras lá, naqueles
palácios, e tudo desanda. A minha frustração é imensa. Eu não
me sinto representado por nin-
guém. Gostaria que o Brasil voltasse às nossas mãos.
Dinho então disse que iria dedicar a música a uma das 2.400
pessoas que estavam no teatro:
— A gente sempre dedica essa
música a alguém que está envolvido em algum escândalo.
Nesta semana poderia ser o
Paulo Bernardo (ex-ministro
dos governos Lula e Dilma, respectivamente). Mas eu vou de-
dicar essa música hoje ao
juiz Sérgio Moro. Ele está
aqui assistindo (ao show).
Dinho e o público procuraram o juiz, que se levantou, para delírio dos presentes. Vestindo preto, como de
costume, Moro acenou e se
curvou, em reverência, para
a plateia que por mais de
um minuto gritou seu nome
e o aplaudiu. l
l País l
Segunda-feira 27 .6 .2016
O GLOBO
Empresário foragido
na lista da Interpol
l 5
PABLO JACOB/15-10-2012
Acusado de lesar fundos de pensão, Ricardo Andrade
Magro é dono de Manguinhos e integra Grupo Galileo
CHICO OTAVIO
[email protected]
Ele comanda um dos maiores
esquemas de sonegação fiscal
do país, acreditam as autoridades que já o investigaram. Por
onde passou, deixou dívidas
milionárias em tributos. Manteve conexões com o PMDB, o
PT e o PCdoB, provavelmente
em busca de blindagem. E agora aparece ligado a fraudes nos
fundos de pensão de estatais.
Mas onde está o empresário e
advogado Ricardo Magro, perguntam os agentes da Polícia
Federal que desde sexta-feira
tentam prendê-lo.
Ricardo Andrade Magro, dono do grupo que controla a Refinaria Manguinhos e uma rede de distribuidoras de combustíveis, é considerado foragido da Justiça. A 5ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro
autorizou a prisão do empresário, junto com outras seis
pessoas, por desvio de R$ 90
milhões em recursos dos fundos de pensão Petros, da Petrobras, e Postalis, dos Correios, na aquisição de debêntures
(títulos mobiliários) do Grupo
Galileo.
Dos sete, quatro ainda não
foram presos. Dois deles, Ricardo Magro e Márcio André Mendes Costa, ambos do Galileo, tiveram os nomes lançados na
difusão vermelha da Interpol
por suspeita de estarem no exterior — Magro, nos Estados
Unidos; e Márcio, em Portugal.
Além de comandar a refinaria, Magro era um dos sócios
do Galileo na época da transação fraudulenta. A Operação
Recomeço, deflagrada pela PF
e pelo Ministério Público Federal, apurou que o grupo
emitiu, em dezembro de 2010,
R$ 100 milhões em debêntures, a pretexto de angariar recursos para recuperar a Universidade Gama Filho. O dinheiro captado, segundo as investigações, foi ilegalmente
desviado para outros fins, em
especial para contas bancárias
dos investigados, o que levou à
quebra definitiva da Gama Filho, com danos a milhares de
estudantes.
LIGAÇÕES COM POLÍTICOS
O esquema prejudicou os fundos de pensão Postalis e Petros,
que amargaram prejuízo de R$
90 milhões ao adquirir em 2011
as debêntures do Galileo. De
2011 a 2015 (governo Dilma), a
Empresa Brasileira de Correios
e Telégrafos (ETC), patrocinadora do Postalis, foi dirigida por
Wagner Pinheiro. O mesmo dirigente também comandou por
oito anos a Petros (governo Lula). Já Adilson Florêncio da Costa, ex-diretor financeiro do Postalis e um dos três presos na sexta-feira, é apontado como indicação do PMDB.
— A gravidade dos supostos
crimes cometidos é potencializada por dois fatores sociais
cruéis: o prejuízo em suas aposentadorias sofrido pelos se-
gurados dos fundos de pensão
afetados e o irreversível dano a
milhares de alunos — lamentou o procurador regional da
República Márcio Barra Lima,
do grupo que conduziu a investigação.
As conexões de Magro com o
mundo político não são recentes. Na Operação Alquila, de
2009, a polícia fluminense revelou que o deputado Eduardo
Cunha (PMDB-RJ), afastado
pelo Supremo Tribunal Federal da Presidência da Câmara,
prometeu, em conversa com
Magro, pressionar a Braskem a
retomar a venda de gasolina A
para Manguinhos. A investigação sustentou que o combustível era despejado no mercado
fluminense em operações ilegais com sonegação de ICMS.
Manguinhos se valia dos benefícios fiscais concedidos a refinarias e adquiria a gasolina A,
já industrializada, como se fosse insumo. A empresa de Magro, porém, não produzia uma
gota de gasolina.
As mesmas gravações também revelaram que Magro, na
época, foi recebido pelo então
senador Edison Lobão Filho
(PMDB-MA), em Brasília. O
encontro foi agendado por um
assessor da Agência Nacional
do Petróleo (ANP). Depois disso, decisões tomadas por dirigentes da ANP, indicados pelo
então ministro das Minas e
Energia, Edison Lobão, pai do
senador, favoreceram as empresas do grupo Magro.
Manguinhos. A refinaria, no Rio de Janeiro: grupo de Magro também controla rede de distribuidoras de combustíveis
“A gravidade dos
supostos crimes
cometidos é
potencializada pelo
prejuízo sofrido
pelos segurados dos
fundos de pensão
afetados e pelo
irreversível dano a
milhares de alunos”
Márcio Barra Lima
Procurador regional da República
Outro personagem citado no
inquérito é o ex-superintendente de Abastecimento da
ANP Edson Menezes da Silva.
Flagrado por interceptações
telefônicas em conversas com
gestores da refinaria, Edson foi
membro da direção estadual
do PCdoB gaúcho. Sendo assim, pertencia ao mesmo partido do então presidente do
Conselho Administrativo de
Manguinhos, Felipi Rizzo.
CUNHA NEGOU ENVOLVIMENTO
Os petistas também tiveram ligação com a refinaria. Em 2008, o
ex-secretário de Comunicação
do PT Marcelo Sereno passou
pelo comando de Manguinhos
como integrante do Conselho da
Grandiflorum, que tinha o controle acionário da refinaria.
Na ocasião, Eduardo Cunha
admitiu as conversas com Magro, mas negou envolvimento
em qualquer tipo de esquema
de fraude. Os demais políticos
citados, também ouvidos pelo
GLOBO na época, negaram conhecer o esquema.
A família Andrade Magro começou atuando na revenda de
combustíveis e lubrificantes
em São Paulo. Nos anos 1990,
logo após entrar no ramo, tornou-se um dos principais grupos dos chamados novos entrantes (distribuidoras TM, JPJ
e Dínamo, entre outras). Foi o
grupo que mais usou liminares
para escapar da tributação de
1998 a 2004. Mais tarde, levou
o mesmo modelo, sustentado
pela indústria de liminares, para o Paraná e para o Rio, onde a
refinaria se transformou no
quartel-general do esquema.
Os investigadores da Operação Recomeço não afastam a
hipótese de ligação entre a fraude contra os fundos de pensão e
as operações ilegais da refinaria. Também estavam foragidos
até ontem Carlos Alberto Peregrino da Silva, do Galileo; e Luiz
Alfredo da Gama Botafogo Muniz, da Gama Filho. l
6
l O GLOBO
2ª Edição Segunda-feira 27 .6 .2016
Rio
INSEGURANÇA NAS RUAS
Morte a caminho de casa
_
Médica é assassinada com um tiro em tentativa de assalto num dos acessos à Linha Vermelha
LUCAS ALTINO, MÁRCIO MENASCE
E GABRIELA L APAGESSE
[email protected]
Depois de participar da inauguração de um
Centro de Acolhimento ao Deficiente e visitar
pacientes em Nova Iguaçu, a médica Gisele Palhares Gouvêa telefonou para o marido e avisou
que estava voltando para casa, na Barra da Tijuca. O trajeto, porém, foi interrompido por uma
tentativa de assalto no acesso da Rodovia Presidente Dutra à Linha Vermelha, na noite de sábado. O tiro que atingiu a cabeça de Gisele, de
34 anos, pôs fim ao caminho que ela começou a
traçar ainda jovem, quando sonhava em ajudar
os mais necessitados, e estava sendo trilhado
por meio do seu trabalho como diretora da Clínica da Família de Vila de Cava, na cidade da
Baixada Fluminense.
O crime ocorreu por volta das 19h. Gisele chegou a ser levada com vida para o Hospital estadual Adão Pereira Nunes, em Saracuruna, mas
não resistiu. Na manhã de ontem, parentes tentavam buscar forças no espírito alegre e solidário cultivado pela médica para superar a perda
de alguém tão querido. Em choque, o marido da
vítima, o cirurgião plástico Renato Palhares, fez
um apelo ao governo e ao secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame:
— Estou abismado com a violência do Rio.
Queria pedir às autoridades que repensem a segurança do estado. Não podemos viver nessas
condições. Não sou o primeiro nem serei o último a pedir isso. Nunca acreditei que a violência
chegaria até mim. Hoje perdi a pessoa que mais
amava no mundo, amanhã a vítima pode ser
outra pessoa. Minha mulher era uma “anja” e
colocava a caridade acima de tudo. Se quisesse,
ela poderia viver em casa, sem trabalhar, devido
ao nosso conforto financeiro, mas ela fazia
questão de ajudar as pessoas necessitadas —
afirmou Palhares, que atendeu a um pedido da
mulher e autorizou a doação da córnea.
Segundo o marido, Gisele tinha o hábito de
olhar o celular ao dirigir e pode não ter reparado
a ação dos criminosos.
— Depois que conversamos por telefone, percebi que ela estava demorando para chegar em
casa. Foi então que minha cunhada me ligou,
contando o ocorrido. Ela também estava tentando falar com a irmã, e o policial atendeu o
celular — explicou o marido, que chegou a encontrar a mulher com vida, na noite de sábado.
— Ela sofreu traumatismo cranioencefálico,
perdeu muita massa encefálica, já estava praticamente morta. Fiquei transtornado.
FAMÍLIA IA COMPRAR CARRO BLINDADO
Gisele fazia o trajeto entre a Barra e a Baixada,
onde trabalhava, diariamente. O percurso já era
motivo de preocupação para o marido há tempos. Ele, que fazia o mesmo caminho duas vezes
por semana, planejava blindar o carro em breve.
— No mês passado fomos à França e à Inglaterra para uma conferência médica. Vimos como o
Brasil é malvisto lá fora por causa da insegurança.
Conversamos bastante sobre isso e eu disse que
queria que ela andasse em carro blindado. Mas
ela era apegada ao Land Rover, estava resistindo
para trocar — explicou Palhares, que clamou por
mudanças no sistema de segurança. — Ou muda
(o sistema), ou o povo terá que andar somente de
carro blindado para conseguir viver.
DIVULGAÇÃO
Muito abalada, a mãe de Gisele não foi ao hospital. Já o pai, Uzias Gouvêa, reforçou o pedido
por segurança:
— Estamos vivendo uma situação terrível no
país inteiro, mas principalmente no nosso estado. Os governantes não se preocupam com segurança nem com educação. O investimento na
educação também é essencial, porque é a base
de tudo. Mas nossos políticos parecem se importar apenas com Olimpíada e em realizar
obras faraônicas.
Ao conversar com amigos e jornalistas, Palhares não deixava de exibir fotos de Gisele em poses alegres e em eventos beneficentes em Nova
Iguaçu. Na tarde de sábado, após participar da
inauguração do centro, no bairro Monte Líbano,
a médica ainda foi à casa de uma paciente, para
ajudar a fazer pratos típicos de festa junina.
— Ela me enviou fotos dos caldos e bolos que
estava fazendo na casa de uma paciente. Ela
costumava fazer essas visitas só para alegrar as
pessoas. Todos a amavam — disse o marido.
“ESTÁ MUITO GRAVE A CRISE NA SEGURANÇA”
Ao saberem do crime, o governador em exercício do Rio, Francisco Dornelles, e o secretário
de Saúde de Nova Iguaçu, Emerson Trindade,
lamentaram o caso e prometeram providências.
A secretaria de Segurança informou que Beltrame cobrou prioridade nas investigações.
— Que desastre. Está muito grave a crise na
segurança — enfatizou Dornelles.
Trindade destacou a competência de Gisele:
— Esperamos que o crime seja esclarecido o
mais rapidamente possível. Neste momento,
nos solidarizamos com a família de Gisele, que
era uma excelente profissional, dedicada, comprometida com a Saúde de Nova Iguaçu e que
fará imensa falta a todos nós.
Nas redes sociais, amigos e parentes também
se manifestaram. Em uma de suas postagens
durante o dia, Renato Palhares definiu a esposa
como “uma pessoa que realmente não pertencia a esse planeta, cheio de pessoas maldosas”.
Nos comentários, muitos pedidos por justiça e
mensagens de condolências.
O corpo de Gisele será enterrado hoje, às
14h30m, no Cemitério Jardim da Saudade, em
Mesquita. Ontem, a Polícia Militar informou
que patrulhas do comando do Batalhão de Policiamento em Vias Expressas (BPVE) que estavam na Linha Vermelha na noite de sábado foram chamadas devido a uma tentativa de roubo.
No local, os policiais encontraram a vítima ferida com um tiro por criminosos, que fugiram.
Os PMs do BPVE chegaram a fazer um cerco
na região, mas ninguém foi encontrado. Desde
janeiro, a área onde houve o crime conta com
reforço no policiamento, com apoio do Batalhão de Policiamento em Grandes Eventos (BPGE). O caso chegou a ser registrado inicialmente na 39ª DP (Pavuna), mas as investigações serão conduzidas pela Divisão de Homicídios da
Baixada. Os policiais acreditam que a médica
estava sendo perseguida desde a Dutra. Os investigadores querem saber também se ela não
percebeu a abordagem ou se tentou fugir ao notar a aproximação dos criminosos. Ontem, O
GLOBO fez contato por telefone com a delegacia, mas a atendente informou que não havia
delegado de plantão. l
Colaborou Giselle Ouchana
REPRODUÇÃO DO FACEBOOK
Tragédia. A
médica Gisele
Palhares
Gouvêa, acima,
no evento em
Nova Iguaçu,
horas antes de
morrer. Ao lado,
o carro da
vítima parado
no acesso à
Linha Vermelha
U
SOLIDÁRIA
SONHO DE MUDAR O MUNDO É INTERROMPIDO
O sonho de “Bijuzinho” — como
Gisele Palhares Gouvêa era
carinhosamente chamada pelo
marido, Renato Palhares —
sempre foi ajudar os mais
necessitados. A percepção de
que estava diante de alguém
especial veio logo no primeiro
encontro, disse o cirurgião.
— Nos conhecemos em um
plantão meu, quando ela
apareceu para levar a tia,
doente, ao hospital. A primeira
vez que a vi ela já estava
salvando uma vida. Era
realmente um anjinho —
lembrou o médico, que também
era chamado pelo apelido de
“bijuzinho” pela mulher.
O casal morava junto há 14
anos, mas o casamento só foi
oficializado há quatro. O desejo de
Gisele de ajudar o mundo
começou a se transformar em seu
ofício quando ela decidiu cursar
medicina na Universidade Iguaçu,
incentivada principalmente pelo
marido. Depois de formada, se
especializou em dermatologia e,
pouco tempo depois, começou a
trabalhar no consultório que os
dois abriram em Nova Iguaçu, há
cerca de cinco anos. Desde o ano
passado, ela trabalhava também
como diretora da Clínica da
Família de Vila de Cava, que fora
reinaugurada após a demolição do
antigo prédio.
Nascida e criada em Nova
Iguaçu, Gisele retornou à cidade
de origem com a missão de ajudar
os mais necessitados, segundo
explicou o pai.
— Não podia ver ninguém
sofrendo. O sonho dela sempre foi
ajudar os outros. Perdi uma joia —
disse Uzias Gouvêa, que ainda
tem outras três filhas.
No Facebook, Gisele costumava
postar fotos de eventos
beneficentes e inaugurações de
obras relacionadas à saúde de
Nova Iguaçu. Além disso, não se
furtava a visitar pacientes,
principalmente os mais idosos.
— Ela era uma excelente
diretora e uma pessoa
maravilhosa. Todos os colegas
gostavam dela — afirmou um
amigo da família.
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Segunda-feira 27 .6 .2016
O GLOBO
l 7
INSEGURANÇA NAS RUAS
_
Um dia depois, policiamento escasso na via
Cabines estavam vazias, e só dois PMs patrulhavam os 22 quilômetros do Centro à Baixada ontem à tarde
FERNANDO LEMOS
GABRIELA L APAGESSE
[email protected]
GABRIEL ROSA
[email protected]
Menos de 24 horas após a morte da médica Gisele Palhares
Gouvêa, uma equipe do GLOBO percorreu a Linha Vermelha e, por volta das 12h30m de
ontem, encontrou apenas uma
viatura com dois policiais militares ao longo de quase 22 quilômetros. Além disso, as quatro cabines de policiamento da
via — que ficam perto da Avenida das Missões e do Fundão,
na altura do Caju e no acesso à
Via Binário — estavam vazias.
Apesar disso, a Polícia Militar
diz que o Batalhão de Policiamento das Vias Expressas (BPVE) realiza um policiamento
ostensivo, com operações sistemáticas na Linha Vermelha. Segundo a PM, os policiais ficam
baseados em pontos estratégicos e circulam pela via expressa
em locais e horários de maior
incidência criminal.
Desde a última quinta-feira,
informa a PM, um grupo de
policiais do BPVE capacitados
no curso de Operações de Policiamento em Vias Expressas
também passou a atuar exclusivamente na Linha Vermelha.
ONDE ACONTECEU O CRIME
MÉDICA FOI ABORDADA EM ACESSO
DA DUTRA À LINHA VERMELHA
Linha Vermelha
Rio Pavuna
Av. Canal da Pavuna
Local da
abordagem
Rod
.
Pre
CENTRO
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utra
N
Editoria de Arte
Abandonado. Posto na Linha Vermelha, próximo à Avenida das Missões, não tinha policiais e está sem parte do teto
Embora a cada caso de violência a polícia diga que reforçou o patrulhamento, os arrastões, tiroteios, assaltos e mortes são frequentes na via, inaugurada em 1992, como principal acesso ao Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim
(Galeão). Em novembro do
ano passado, a imagem de um
homem com um bebê no colo,
buscando proteção atrás do
carro, virou símbolo do desespero dos usuários da Linha
Vermelha. Em dezembro, uma
mulher morreu baleada em
um assalto na altura de São João de Meriti.
ARRASTÃO NA AVENIDA BRASIL
Já na Avenida Brasil, um arrastão deixou os motoristas em pânico ontem, na altura de Guadalupe. Pelo menos dois carros
foram roubados e duas vítimas
registraram ocorrência nas delegacias de Ricardo de Albuquerque (31ªDP) e de Honório
Gurgel (40ªDP). Uma delas levou uma coronhada e precisou
de atendimento médico.
O crime aconteceu por volta
das 18h30m, no sentido Centro. Cerca de dez homens armados abordaram os motoristas, que tentaram voltar pela
contramão. Policiais do BPVE
foram chamados, mas não encontraram mais nada no local.
Diante desse histórico de violência, no início deste mês o secretário de Segurança do Rio,
José Mariano Beltrame, informou que o município contaria
com até três mil homens das
Forças Armadas patrulhando as
vias expressas e outras áreas
consideradas de risco durante
os Jogos Olímpicos. A presença
do Exército, da Marinha e da
Aeronáutica nas ruas será formalizada com a assinatura de
uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO) pelo presidente interino Michel Temer e pelo governador em exercício, Francis-
co Dornelles. A prioridade de
atuação será na Avenida Brasil,
assim como nas linhas Vermelha e Amarela.
No caso da Linha Amarela,
no início de maio a jovem Ana
Beatriz Frade, de 17 anos, morreu ao ser atingida por um tiro
durante um arrastão na altura
de Del Castilho. A adolescente
morava em Guarapari, no Espírito Santo, e tinha vindo ao
Rio fazer uma surpresa devido
ao Dia das Mães. l
l O GLOBO
l Rio l
Forte Apache carioca
Dia 2 de agosto, três dias antes do
início da Rio-2016, três ministros do
governo federal se mudam de mala e
cuia para o Rio. Ficarão hospedados
no Hotel de Trânsito da Marinha, na
Avenida Borges de Medeiros.
São eles: Raul Jungmann
(Defesa), Alexandre de Moraes
(Justiça) e o general Sérgio
Etchegoyen (ministro-chefe do
Gabinete de Segurança
Institucional).
I-Pronatec
Mendonça Filho, ministro da
Educação, prepara o lançamento do
curso à distância, dentro do Programa
Nacional de Acesso ao Ensino
Técnico e Emprego (Pronatec).
Não falta sacanagem
Sabe qual é o último filme da
produtora Brasileirinhas, aquela do
ramo da saliência? “Operação
Leva-Jato.”
O enredo se passa em Brasília com
personagens interpretando
deputados, senadores, assessoras,
operadoras de propina e o escambau.
Crise em terra
A recessão tem afetado as
empresas que administram os seis
aeroportos brasileiros que foram
concedidos à iniciativa privada,
inclusive o Galeão/Tom Jobim.
No mais
A exemplo do que ocorre hoje em
relação à Rio-2016, também meses, e
mesmo semanas antes da Copa do
Mundo de 2014 pairavam sobre o
evento nuvens pessimistas. O que se
viu depois foi que o bordão “Imagina
na Copa” perdeu de 7 a 1 para o
sucesso de organização e segurança.
É como diz o samba-enredo do
carnaval da Mocidade, em 1992:
“Sonhar não custa nada/O meu
sonho é tão real/Mergulhei nessa
magia/Era tudo que eu queria/Para
esse carnaval.”
Segunda-feira 27 .6 .2016
www.oglobo.com.br/ancelmo
ANCELMO
GOIS
ANA CLÁUDIA GUIMARÃES,
DANIEL BRUNET E TIAGO ROGERO
A FESTA DOS
LIVROS JÁ
COMEÇOU
A Flip começa quarta, mas
alguns escritores estrangeiros
convidados já estão chegando.
Sábado, o americano
Benjamin Moser e o holandês
Arthur Japin foram
homenageados com um
almoço no Rio, pelo casal Bia e
Pedro Corrêa do Lago, com
direito a uma moqueca dos
deuses. Antes, os dois fizeram
um programa de pura emoção.
Japin, autor de “O homem com
asas”, romance em torno do
Santos Dumont, visitou a
magnifica exposição sobre o
pai da aviação no Museu do
Amanhã, com direito a esta
foto, onde aparece “pilotando”
a “Libellule”, como ficou
conhecido o modelo
“Demoiselle” criado pelo
aviador brasileiro. Já Moser,
que projetou a obra de Clarice
Lispector pelo mundo, visitou o
túmulo da escritora no
Cemitério Israelita do Caju.
Aliás, Ferreira Gullar, amigo de
Clarice, ao voltar de táxi do
enterro dela, em 1977, não
parava de pensar na escritora e
escreveu o poema “Na
vertigem do dia” ( ... “e o clarão
de teu olhar soterrado
resistindo ainda...”). Mas isto é
outra história. l
BENJAMIN MOSER
Carrinho vazio
‘Jardim-pomar’
Análise da CNC mostra que o
segmento de hiper e supermercados
está sentindo a crise com mais
intensidade.
De janeiro a abril deste ano foram
fechados 14,3 mil estabelecimentos do
setor, contra 2.400 no mesmo período
em 2015.
Nos quatro primeiros meses de 2016,
o segmento viu suas vendas recuarem
3,2%. É a maior queda desde 2003.
O novo CD de
Nando Reis terá
capa assinada
pela artista
plástica Vânia
Mignone. Ela
pintou, veja na
reprodução, um
retrato do
músico, cujo
novo CD se
chamará
“Jardim-pomar” e será lançado em
novembro.
A turnê do trabalho começará em
março de 2017.
Também o desemprego...
O mercado de trabalho do setor
também foi impactado.
Houve o fechamento de 29,7 mil
postos com carteira assinada no
período analisado.
Isto é Barretão!
ARTHUR JAPIN
De Luiz Carlos Barreto, 88 anos,
nosso senhor cinema, sobre a nota em
que ele teria dado vivas a Temer:
— Eu sou lulista e não dilmista. Ainda
assim, em nome do estado de direito, sou
contra o impeachment da presidente.
Quanto ao cinema, Barretão diz
defendê-lo em qualquer governo:
— É uma questão de Estado e não de
partidos.
Maravilha.
Correndo atrás do prejuízo
Acusado de ter sido perdulário no
passado e pouco previdente em
relação aos royalties de petróleo, o
Estado do Rio tem procurado, agora,
fazer o dever de casa.
Temer cobrou dos governadores que
receberam, outro dia, um óbulo de
Brasília, que também abracem a
proposta de que o gasto público não
deve subir mais que a inflação.
Pois bem...
Zona Franca
Nos primeiros quatro meses deste
ano, o governo federal gastou 12% a
mais do que em igual período de 2015.
Já o governo do Rio subiu apenas 2%.
Isso contra a inflação de uns 10%.
Teresa, Ari e Ariel Bergher convidam para
Crise interna na Unimed
U
haskará em memória do deputado Gerson
Bergher, amanhã, às 19h, na Ari.
Luc Bouveret lança, hoje, às 19h, na Travessa
de Ipanema, “O homem que deu à luz”.
Francisco Dornelles recebe, hoje, a Comenda
Padre José de Anchieta, na Academia Carioca
de Letras, que completa 90 anos.
Kees Koolen, cofundador do Booking.com,
vem para o Fire 2016, evento da Hotmart.
É dia 19 a abertura dos festejos pelo centenário
de Jurandyr Noronha, com a inauguração de
galeria que leva o seu nome e mostra permanente no MAM. A curadoria é de Hernani Heffner.
A GSPP, de André Soares, faz amanhã e quinta
workshop de finanças para franquias.
O Faixa Etária toca, dia 16, em Cabo Frio.
Caroline Rossato lança nova coleção.
O médico e administrador Alfredo
Cardoso (ex-ANS, Amil e Rede D’Or)
deixou o comando executivo da
Unimed-Rio. Para ele, “a forte briga
política interna entre os cooperados
compromete o êxito da gestão”.
Som em duas rodas
Os mototaxistas da Rocinha, agora,
oferecem aos passageiros fone de
ouvido com músicas para curtir
durante o trajeto.
Entre as trilhas sonoras estão “as
melhores do baile da favorita”, aquela
festa que é realizada lá na favela.
INSEGURANÇA NAS RUAS
_
Policial que trabalhava com Paes é morto
REPRODUÇÃO DO FACEBOOK
Tenente da PM foi
assassinado em tentativa
de assalto na Pavuna
Região onde médica e
militar foram atacados
teve aumento de 65% no
número de homicídios
GABRIEL ROSA E GISELLE OUCHANA
[email protected]
O tenente da PM Denilson Theodoro
de Souza, de 48 anos, é o 49º policial
morto no Rio este ano. Ele integrava a
equipe de seguranças do prefeito Eduardo Paes e foi baleado na madrugada
de ontem, na Pavuna. De acordo com o
41° BPM (Irajá), o militar reagiu a uma
tentativa de assalto na Rua Sargento
Antônio Ernesto. Ele estava com o cunhado, que conseguiu pedir socorro a
uma viatura do Batalhão de Policiamento em Vias Expressas (BPVE).
O oficial seguia para a casa do sogro
quando foi abordado por quatro bandidos, que já tinham roubado outro veículo. Segundo a família, ao ser rendido
o tenente tentou pegar a carteira, e os
criminosos acharam que ele queria alcançar uma arma. Os ladrões podem
ter desconfiado que o motorista era um
policial militar e atiraram, atingindo a
cabeça e o braço do PM.
Denilson chegou a ser socorrido no
Hospital Central da Polícia Militar, no
Estácio, mas não resistiu aos ferimentos. Durante a fuga, os bandidos abandonaram um dos veículos próximo ao
local do crime. A Polícia Militar fez buscas para tentar prender os suspeitos,
mas ninguém foi encontrado. O caso foi
registrado na 39ª DP (Pavuna), mas as
investigações serão conduzidas pela
Divisão de Homicídios da capital.
“TORÇO PARA A GENTE MELHORAR O RIO”
Ontem, durante a entrega de cinco mil
unidades do programa Minha Casa Minha Vida, em Campo Grande, o prefeito
Eduardo Paes lamentou a morte:
— Só tenho a lamentar. É uma pessoa
que protege a gente e que na sua hora
de lazer acaba sendo ferida e perdendo
a vida. É muito ruim, é muito triste. Lamento pela família dele, lamento por
nós, que estabelecemos uma relação
pessoal. Torço muito para que a gente
possa melhorar o Rio, e que essas coisas não aconteçam mais.
Um bairro da Zona Norte
marcado pela violência
Ataque. O tenente Denilson Theodoro de Souza, morto por bandidos: rendido durante assalto
“É muito ruim, é muito
triste. Lamento pela
família dele, lamento por
nós, que estabelecemos
uma relação pessoal”
Eduardo Paes
Prefeito
Há 29 anos na corporação, Denilson
era casado e deixa dois filhos, um menino de 16 anos e uma menina de 9.
Outra baixa na corporação foi registrada anteontem. Um policial militar
que estava internado desde o dia 14 no
Hospital Estadual Adão Pereira Nunes,
em Saracuruna, acabou morrendo. O
PM aposentado Waldir Nobre foi baleado no rosto durante um assalto em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
Ele fazia compras num mercado invadido por dois criminosos armados. O
corpo do PM será sepultado hoje, no
cemitério Jardim da Saudade, em Mesquita, na Baixada Fluminense.
Na quinta-feira, dois sargentos foram
executados no Rio. Uma das vítimas foi
Ericson Gonçalves do Rosário, de 34
anos. Lotado na UPP de Manguinhos,
ele foi baleado na cabeça ao participar
de uma operação na Favela do Jacarezinho. O militar estava dentro de um carro da corporação quando foi atingido.
Indignado com os ataques a policiais
de folga ou em serviço, o secretário de
Segurança, José Mariano Beltrame, disse, após a morte de Rosário, que o PM
“foi vítima de um ato de terrorismo”.
— Uma torpe emboscada, sem chance de defesa. O objetivo dessas tocaias
em comunidades onde se busca um
projeto de paz é criar a cultura do terror, do medo. Essas tocaias devem ser
tratadas como terrorismo, pois atentam contra a vida, contra as instituições
e contra o estado — disse o secretário,
na semana passada.
O outro PM morto na quinta-feira foi
o sargento João Batista Simas Junior, do
40º BPM (Campo Grande). Ele foi executado no início da manhã, dentro de
um carro, perto da estação do BRT de
Mato Alto, em Guaratiba, deixando em
pânico passageiros que aguardavam a
condução. l
À margem do processo de pacificação, a Pavuna, na Zona
Norte, viu os índices de criminalidade crescerem nos
últimos anos. Localizado na
região onde o PM Denilson
Theodoro de Souza e a médica Gisele Palhares Gouvêa foram mortos no fim de semana, o bairro chama a atenção
pelos constantes episódios
de violência. Nos primeiros
quatro meses do ano, a taxa
de homicídio doloso na área
cresceu 65%, na comparação
com o mesmo período do ano
passado (passou de 20 para
33 casos). O número de roubos aumentou 3,45% (de
1.392 para 1.440).
Cercada pela Rodovia Presidente Dutra e pela Avenida
Brasil, a Pavuna está numa
das regiões que mais preocupam o estado, em termos de
segurança pública na capital.
O bairro fica ao lado de Costa
Barros, onde estão os Complexos da Pedreira e do Chapadão. A Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas
(DRFC) faz investigações nas
favelas para reduzir esse tipo
de crime, um dos mais registrados na área: até abril deste
ano, a 39ª DP (Pavuna) contabilizou 122 boletins.
ROUBO DE CARGAS
O problema já levou empresas
a mudarem o endereço, e, trabalhadores, os hábitos. Motoristas de transportadoras evitam trafegar em horário de
menor fluxo e procuram sair
em comboio dos depósitos para realizar as entregas.
O bairro onde fica a última
estação da Linha 2 do metrô
também tem como vizinhos os
municípios de Nilópolis e São
João de Meriti. As duas cidades
também estão preocupadas
com a violência e apresentaram medidas para freá-la.
Em maio, a prefeitura de Nilópolis anunciou que vai montar barreiras nos acessos da cidade para tentar afastar os
bandidos. Já São João de Meriti
decretou estado de emergência no começo do mês por causa da violência.
PLAYBOY DOMINAVA ÁREA
Em agosto do ano passado, o
traficante Celso Pinheiro Pimenta, o Playboy, foi morto
durante uma operação no
Morro da Pedreira. Chefe da
comunidade, o criminoso era
o mais procurado do estado.
Por meio de informações
passadas pelo setor de Inteligência da Policia Federal,
equipes da Coordenadoria de
Recursos Especiais (Core) da
Polícia Civil chegaram a uma
casa no morro, que seria da namorada do traficante. Houve
troca de tiros. A recompensa
por informações sobre ele era
de R$ 50 mil.
Dois crimes emblemáticos
teriam sido comandados por
Playboy, segundo a polícia.
Um deles foi o roubo de 190
motos de dentro de um galpão
terceirizado do Departamento
de Transportes Rodoviários do
Rio (Detro), na madrugada de
31 de dezembro de 2014, na
Fazenda Botafogo.
O outro ocorreu em outubro
do mesmo ano, quando bandidos fortemente armados invadiram a Vila olímpica de Honório Gurgel. Fotos publicadas
na internet mostravam os criminosos ostentando fuzis dentro da piscina. Na época, investigadores afirmaram que o
grupo era oriundo do Complexo da Pedreira. l
REPRODUÇÃO
8
l Rio l
Segunda-feira 27 .6 .2016
DIVULGAÇÃO
‘PARA TÃO
LONGO AMOR’
O GLOBO
l 9
ENTREVISTA Francisco Dornelles
MARCELO CARNAVAL/29-03-2015
Regiane Alves,
paulista, 37 anos, posa
nos bastidores da peça
“Para tão longo amor”,
em cartaz no Teatro
Morumbi, em São
Paulo. No espetáculo,
a atriz dá vida a Raquel,
uma jovem poeta
que vive um
relacionamento
conturbado com o seu
editor. Regiane, ainda
este ano, volta à TV
como Beth, em “A Lei
do coração”, próxima
novela das 21h da TV
Globo. Já estava com
saudades...
THALES ATHAYDE
LUTHER KING E
AS FAVELAS
Taís Araújo, Lázaro
Ramos e Celso
Athayde, em reunião
sobre o espetáculo “O
topo da montanha”,
que faz alusão ao
último discurso de
Martin Luther King.
Eles querem fazer
uma sessão no Teatro
Municipal do Rio
para moradores de
favelas
Preocupação. Dornelles afirma que pagamento de salários dos servidores será definido após levantamento de quanto o estado tem em caixa
U
Ponto Final
A vitória no referendo no Reino Unido da saída do país da União
Europeia (UE) é um baita acontecimento, que afeta o mundo
inteiro. Mas a notícia internacional mais importante da semana
passada foi, acho, o acordo de paz na Colômbia, mesmo ainda
que só no papel, selado com a presença do secretário-geral da
ONU, Ban Ki-moon. Trata-se de um conflito aqui ao lado, que,
em 50 anos, resultou em 200 mil mortos e 6,9 milhões de pessoas
obrigadas a deixarem suas casas.
e-mail: [email protected]
Fotos: [email protected]
Agentes fazem ‘vaquinha’
para reparo de veículos
Um terço dos carros das
delegacias do estado está
parado por medida de
economia devido à crise
GISELLE OUCHANA
[email protected]
A crise na segurança pública
não afeta só os cidadãos, mas
também os próprios agentes
que trabalham para garantir o
policiamento no estado. Mesmo com os salários atrasados,
policiais civis afirmam que arcam com as despesas de manutenção de veículos, material
de escritório e até reparos de
infiltrações nas delegacias.
Além do combustível escasso para abastecer os carros, um
terço dos automóveis de todas
as delegacias está parado. A ordem foi mais uma medida de
economia. Numa delegacia da
Zona Norte, de oito veículos,
três estão “na base”.
— É impossível conseguir fazer nosso serviço direito. Rondas, investigações, a parte operacional. Tudo fica limitado —
disse um agente que preferiu
não ser identificado.
AJUDA DE COMERCIANTES
Os policiais também afirmam
que a manutenção de parte da
frota da Polícia Civil acaba sendo arcada pelo próprio servidor.
Os consertos dos carros mais
novos, que são alugados, são
feitos por uma empresa conveniada ao governo do estado, em
Bonsucesso. Já os dos mais antigos (modelo Megane, por
exemplo) acabam sendo custeados pelos investigadores.
— Ou conserta ou não trabalha — disse o policial de uma
delegacia especializada. — Se
eu não trocar um filtro, pastilha de freio, lona de freio, eu
estarei na rua e não terei segurança (no trânsito). Na maioria
das vezes, pedimos aos mecânicos que façam o trabalho a
preço de custo, e eles não cobram a mão de obra. Com pe-
na, mas pedimos — relatou o
agente, que no último conserto, cujo valor total foi de R$
500, dividiu a conta com outros dois policiais.
No interior, comerciantes se
tornaram “padrinhos” dos policiais e custeiam a manutenção das viaturas. O problema
atinge não só os carros comuns, mas também os blindados, conhecidos como caveirões, além dos helicópteros.
CAVEIRÃO COM DEFEITO
Dos dois veículos blindados à
disposição das delegacias especializadas, um está apresentando problemas, mas, mesmo
assim, continua sendo usado
em operações. Na semana passada, o veículo enguiçou numa
operação na Vila do João, na
Maré. Uma equipe da Delegacia de Combate às Drogas
(Dcod) precisou de socorro e
só conseguiu sair da comunidade uma hora e meia depois,
quando outro blindado conseguiu chegar ao local. O carro
enguiçado foi rebocado e consertado, de forma amadora,
pelos próprios agentes.
Na sexta-feira, o diretor do
Departamento Geral de Polícia Especializada (DPGE), delegado Ronaldo Oliveira, queixou-se da precariedade dos
equipamentos após não conseguir recapturar o traficante
Nícolas Labre Pereira de Jesus,
o Fat Family, que foi resgatado
do Hospital Souza Aguiar, no
Centro do Rio. Ele vinculou a
falha na operação à falta de um
helicóptero.
Os agentes localizaram a casa
onde o criminoso estava recebendo cuidados médicos, mas
não tiveram o apoio do helicóptero durante a ação. Os policiais
levaram mais de uma hora para
se aproximar do imóvel. Quando chegaram ao local, Fat Family já havia fugido. Dos três
helicópteros da Polícia Civil,
apenas um é blindado. O equipamento está parado por falta
de manutenção. l
‘A frota da polícia
corre o risco de parar’
mim, isso é muito penoso.
Governador em
exercício diz que o
estado só tem verba
para abastecer carros
da PM até o fim da
semana e que, com a
ajuda federal de
R$ 2,9 bilhões,
remanejará recursos
para a saúde, o metrô
e as barcas
LEILA YOUSSEFF
[email protected]
Na semana decisiva para o Rio
receber a ajuda federal de R$
2,9 bilhões, o governador em
exercício Francisco Dornelles
faz o alerta: a segurança do estado está sob ameaça. Ele afirma que a frota da polícia pode
parar porque não há dinheiro
para a gasolina. “Só aguentaremos até o fim desta semana”,
diz ele. Dornelles ressalta, no
entanto, que o crédito extraordinário da União destinado à
segurança pública para a
Olimpíada sairá até quintafeira. O dinheiro seria o suficiente para arcar com os custos
da pasta por três meses. Hoje,
a segurança do estado consome R$ 940 milhões por mês. O
pagamento dos servidores, no
entanto, continua indefinido.
Mas já está batido o martelo
sobre como o estado remanejará seus recursos após receber a verba do Planalto.
O socorro federal de R$ 2,9
bilhões será utilizado para
pagar despesas da segurança pública. De que forma?
A segurança é prioritária, temos que cobrir os problemas
da área. A frota da polícia corre o risco de parar. Conseguimos fazer uma ginástica financeira e só aguentaremos
até o fim da semana. Ao ouvir
o delegado que se queixou da
falta de helicóptero em uma
operação policial, me senti
frustrado, mas dou toda razão
a ele. O secretário (de Segurança, José Mariano) Beltrame
está preocupado com os recursos da polícia. E não é só
ele. São todos os secretários.
Em casa que não tem pão, todos brigam, ninguém tem razão. O da Saúde (Luiz Antônio
de Souza Teixeira Júnior ) chora no meu gabinete e, para
l
E o impacto da crise na Olimpíada do Rio? O senhor tem falado em riscos.
Sou otimista com relação aos
Jogos, mas tenho que mostrar a
realidade. Podemos fazer uma
grande Olimpíada, mas se algumas medidas não forem tomadas, pode ser um grande fracasso. Tenho dito que, sem segurança e sem metrô, haverá dificuldades. Como é que as pessoas vão chegar aos locais de
competições sem metrô? Como
é que as pessoas vão se sentir
protegidas na cidade sem segurança? Temos que dar a demonstração de que estamos
equipando a segurança e com a
mobilidade pronta para que as
pessoas venham ao país.
l
A medida provisória para
liberar o crédito não foi assinada ainda. O que falta?
Ainda está no prazo combinado, que é até o dia 30, quintafeira. Considero que liberação
da subvenção está certa. O governo federal não ia baixar uma
medida se não fosse liberar.
l
E qual será a destinação dos
recursos estaduais que poderão ser remanejados?
Saúde, metrô e barcas, além de
pagamento de despesas atrasadas. O metrô está quase pronto.
Falta pouco mais do que um quilômetro, mas estamos devendo
mais de R$ 400 milhões para as
empresas (responsáveis pelas
obras). Elas já tinham prontas
mais de 7 mil cartas de aviso prévio para demissão de funcionários. Só não deram continuidade
porque fizemos mais uma ginástica. A situação da saúde é calamitosa. No caso das barcas, temos uma embarcação novinha
parada, que não entra em operação por falta de pagamento.
l
Quanto ao salário dos servidores, parte desse remanejamento de recursos não vai
para a folha de pagamento?
A folha de pagamento não tem
nada a ver com o dinheiro que
vai sair. Não posso mentir para
os servidores. A segunda parcela não está definida ainda. Até
terça-feira, vou ter um levantamento do que temos em caixa
para pagar. O pagamento é
obrigação nossa. Ter uma pessoa trabalhando o mês todo e
não receber é uma forma de
trabalho escravo. O funcionalismo do Rio é de bom gabarito.
Nosso problema é a queda de
arrecadação. Nós estamos vi-
l
vendo para pagar a folha. Com
exceção dos professores, que
recebem em dia pelo Fundeb
(Fundo da Educação Básica) e,
ainda assim, estão em greve.
Todos estão com atraso no governo. E digo, aumento, neca.
Não tem dinheiro para isso.
O pagamento de salários para as forças de segurança está
garantido com a ajuda do governo federal?
Temos que olhar os termos da
nova medida provisória. O pessoal vai ser pago, mas temos
que ver como. O salário tem
que ser pago.
l
O que o senhor achou de o
prefeito Eduardo Paes dizer
que a Olimpíada não pode ser
desculpa para a crise?
Cada um fala o que quer. Não
sou candidato a mais nada. Então, podem jogar toda a culpa
em mim. Quero que Paes ganhe
a eleição. Ele está fazendo uma
grande administração. Se tudo o
que ele fala é para ajudar na
eleição, então estou de acordo.
l
As secretarias estão demorando a apresentar os cortes?
Não. O decreto que fiz diz que
os cortes devem começar no
dia 1º de julho, mas ainda assim já estamos agindo.
l
Como está a relação com o
Judiciário e o Legislativo diante da crise?
Em plena harmonia.
l
E passados esses três meses da ajuda federal, o que
será do estado?
O pacto é para a Olimpíada.
Depois a gente vai ter que
pensar.
l
A Cedae será privatizada? A venda é uma imposição do governo federal?
Não houve imposição do
governo federal. Privatização da Cedae é um nome
fantasia. Ninguém pensa
em privatizar a Cedae. Nunca se pensou em privatizar
Petrobras e, sim, quebrar o
monopólio. Há grupos técnicos que defendem que,
para estimular o investimento no estado, a Cedae
poderia conceder à iniciativa privada a exploração de
água, como fazem hoje Niterói, Petrópolis e Resende.
l
Há resistência para isso?
Há posições diferentes. A vitória sangrenta é sempre
burra. A derrota sangrenta é
mais burra ainda. Tem que
se fazer isso dentro de um
clima de consenso. A Cedae
tem que compreender que
certas concessões são mais
vantajosas do que ela explorar sozinha. A companhia
receberia o dinheiro e poderia aplicar em outras áreas.
Mas não há unanimidade.
l
Além da queda do preço
do petróleo, o que fez o Rio
chegar a esta situação?
O pior problema chama-se
Previdência. Muitos se aposentam muito cedo, e temos
quase o mesmo número de
servidores ativos e inativos.
Houve reajuste salarial.
Muitos ganharam o aumento e se aposentaram. Fomos
obrigados a aumentar muito o número de policiais, de
professores... O estado contou com uma economia
crescendo entre 3% e 4%,
quando foi o contrário. Não
se pensou que a cadeia de
petróleo fosse despencar.
l
Como está o governador
Pezão?
Parece tão bem que digo a
ele: “Pezão, acho que você
está enganando a turma".
Nessa hora difícil do estado,
você está mesmo se escondendo da gente.
l
“Sou otimista
com relação aos
Jogos, mas tenho
que mostrar a
realidade. Podemos
fazer uma grande
Olimpíada, mas se
algumas medidas
não forem
tomadas, pode
ser um grande
fracasso”
E o senhor? O que achou
de enfrentar essa crise à
frente do governo?
Para mim foi um abacaxi.
Eu já tinha decidido encerrar a minha minha carreira
política. Não quis concorrer
ao Senado e só aceitei disputar a vice porque achei
que seria como o Marco
Maciel (vice-presidente de
Fernando Henrique Cardoso), só assumindo de vez
em quando. De repente,
caiu essa bomba nas minhas mãos. l
l
l O GLOBO
10
l Rio l
RIO
ZONA
SUL
ZONA
NORTE
ZONA
OESTE
SENSAÇÃO
TÉRMICA/RIO
PROBABILIDADE
DE CHUVA
13°/25°
12°/28°
12°/28°
14°/26°
Baixa
Previsão
Uma grande massa de ar seco
predomina e deixa o tempo firme
com sol em praticamente todo o
estado. O dia ainda começa frio e
com névoa e nevoeiro. Chove um
pouco no Norte Fluminense.
HOJE
Ontem
Mínima
Máxima
12,5˚
Vila Militar
25,4˚
Vila Militar
14°/26°
13°/29°
13°/29°
15°/27°
Baixa
24°
15°/26°
14°/29°
14°/29°
15°/28°
Baixa
15°
Santo Antônio
15°
de Pádua
QUINTA
15°/26°
14°/29°
14°/29°
15°/28°
Baixa
SEXTA
16°/27°
15°/30°
15°/30°
16°/29°
Baixa
SÁBADO
17°/28°
16°/31°
17°/31°
17°/30°
Baixa
DOMINGO
18°/29°
17°/32°
18°/32°
18°/31°
Baixa
13° do Sul
Impróprias (informações Inea): Flamengo,
Botafogo, Leblon, São Conrado, Barra
(Quebra-Mar) e Pontal.
Marés
RIO DE JANEIRO
Baixa
Alta
Baixa
Alta
Hora 3h03m 7h43m 15h25m 20h30m
1m
0,4m
1m
Altura 0,6m
ANGRA DOS REIS
Baixa
Hora 0h47m
Altura 0,5m
Alta
Baixa
Alta
6h48m 13h30m 20h07m
0,9m
0,4m
0,9m
CABO FRIO
Baixa
Alta
Baixa
Alta
Hora 2h07m 7h07m 14h31m 21h12m
0,9m
0,3m
0,9m
Altura 0,5m
de Mauá
37˚/40˚
23°
SERRANA
18°
Nova
Friburgo 5°
20°
Santa Maria
Madalena
24°
16°
AMÉRICA DO SUL Mín. Máx.
São Francisco
de Itabapoana
NORTE
São Fidélis
MUNDO
15°
Campos
Ondas por volta de 1,0m. Ondulação de
sudeste. Melhores locais: Prainha,
Grumari, Macumba e Barra
(informações Ricosurf).
Vento de nordeste a sudeste/leste,
entre 8km/h e 25km/h. Rajadas de até
45km/h. Pressão atmosférica de
1.027hPa.
15°
17°
14°
7°
12°
19°
-4°
15°
12°
12°
4°
18°
15°
15°
25°
6°
23°
17°
22°
18°
Amanhã
Mín. Máx.
S
S
N
C
C
S
C
S
S
14°
5°
10°
19°
0°
16°
8°
13°
8°
0h
24°
15° -2h
0h
14°
27° -1,5h
-1h
6°
23° -2h
0h
16°
22° -2h
0h
22°
AMÉRICA DO NORTE/CENTRAL
20°
8°
24°
São Paulo
12°/ 23°
Porto Alegre
11°/ 22°
C
C
C
C
S
S
C
S
S
Assunção
Bogotá
Buenos Aires
Caracas
La Paz
Lima
Montevidéu
Quito
Santiago
25°
23°
São João
24° da Barra 16°
25° Volta
TEMPERATURAS MÁXIMAS
Acima
de 40˚
Itaperuna
Hoje
22°
Macaé
Teresópolis
BRASIL
24° 8°
Casimiro 26° 17°
Valença
de Abreu 15°
13°
Sol e umidade baixa em quase
27°
Cachoeiras
Redonda
24°
25°
24° Rio das
Barra
todo o Sudeste e Centro-Oeste,
Resende 13°
19° 13° de Macacu
do Piraí 14° Petrópolis
13°
em Santa Catarina, no Paraná,
17° Ostras
7°
25° Barra SUL
25°
no interior do Nordeste, no
Silva
Jardim
25°
Mansa
13°
28° Duque
16°
Búzios
Tocantins, sul do Amazonas,
14°
LAGOS
de Caxias
26°
do Pará e em Rondônia.
26°
12°
25°
Niterói 14°
Araruama
Cabo Frio 25°
Pancadas de chuva nas
15°
14° Mangaratiba
28° Rio de
14°
demais áreas do país.
26°
Janeiro
Saquarema
26°Maricá
12°
15°
Angra
25°
15°
METROPOLITANA
Macapá
Fortaleza
dos Reis
Boa Vista
14°
25°
24° / 35°
23°/ 32°
Natal
23°/ 32°
Paraty
14°
21°/ 29°
São Luís
Belém
/
33°
24°
Manaus
João
Sol
23°/ 33°
23°/ 33°
Pessoa
Nascente
Poente
21°/ 29°
Porto Velho
Teresina
6h34m
17h18m
Recife
21°/ 33°
20°/ 34°
22°/ 29°
Palmas
Rio Branco
Maceió
21°/ 36°
19°/ 28°
22°/ 31°
Aracaju
Salvador
Brasília
Cuiabá
22°/ 26°
21°/ 27°
12°/ 26°
17°/ 35°
Vitória
Campo Grande
18°/ 24°
18°/ 28°
Belo Horizonte
11°/ 24°
Goiânia
Rio de Janeiro
/
29°
12°
Ondas
Ventos
12°/ 28°
4°
Praias
Bom Jesus do
Itabapoana
QUARTA
20° Visconde
Crescente Cheia Minguante Nova
11/7
19/7
27/6
4/7
21°
Porciúncula 14°
AMANHÃ
25° Paraíba
Lua
Segunda-feira 27 .6 .2016
Florianópolis
14°/ 24°
Cid. do México
Havana
Los Angeles
Miami
Montreal
Nova York
Orlando
Washington DC
C
C
S
C
C
S
C
S
12°
24°
20°
25°
20°
14°
25°
19°
21°
35°
33°
33°
29°
30°
34°
28°
C
C
S
C
C
C
C
C
11°
24°
21°
26°
16°
18°
24°
21°
22°
36°
33°
34°
26°
29°
33°
29°
-3h
-1h
-4h
-1h
-1h
-1h
-1h
-1h
C
S
S
S
C
C
S
S
N
S
C
C
S
14°
20°
16°
13°
12°
10°
7°
18°
13°
17°
18°
12°
21°
16°
30°
28°
23°
19°
21°
20°
37°
17°
33°
27°
20°
26°
C
C
S
S
S
S
C
S
C
S
S
S
S
14°
22°
15°
14°
9°
11°
8°
17°
7°
19°
14°
10°
21°
17°
30°
30°
22°
19°
21°
24°
31°
17°
33°
25°
21°
27°
+5h
+6h
+5h
+5h
+5h
+5h
+5h
+4h
+4h
+5h
+6h
+5h
+5h
EUROPA
Amsterdã
Atenas
Barcelona
Berlim
Bruxelas
Frankfurt
Genebra
Lisboa
Londres
Madri
Moscou
Paris
Roma
ÁSIA
Jerusalém
Pequim
Tóquio
S 22° 33°
C 21° 37°
C 20° 27°
S 20° 30° +5h
C 20° 29° +11h
C 18° 21° +12h
Cairo
S 24° 38°
Johannesburgo S 3° 17°
S 23° 38° +5h
S 4° 19° +5h
ÁFRICA
OCEANIA
Sydney
S 6°
S: sol
N: nublado
14°
S 6°
C: chuvoso
16° +14h
Ne: neve
Mais informações sobre o tempo
NA INTERNET
Curitiba
10°/ 20°
oglobo.com.br/servicos/tempo/
PREVISÃO
34˚/36˚
31˚/33º
28˚/30˚
25˚/27˚
22˚/24˚
18˚/21˚
13˚/17˚
Abaixo
de 12˚
Sol
Parcialmente
nublado
Nublado
Sol com pancadas
de chuva
Nublado
com chuvas
Chuvas com
trovoadas
Geada
AMEAÇADO DE EXTINÇÃO
Ofensiva tenta
salvar botos-cinza
na Costa Verde
DIVULGAÇÃO/INSTITUTO BOTO-CINZA
Operação da Polícia Federal combate a pesca predatória em
um dos últimos santuários da espécie no litoral fluminense
ANTÔNIO WERNECK
[email protected]
A
Polícia Federal desencadeou uma
grande ofensiva contra a pesca predatória no litoral de Angra dos Reis,
Paraty e Mangaratiba. A operação,
que começou em maio, é para evitar que o
boto-cinza, ameaçado de extinção, desapareça da Costa Verde, no litoral sul fluminense. A
região é considerada um dos últimos santuários da espécie no mundo. Mas vem convivendo com cenas de carcaças achadas nas
praias e animais presos a redes. Uma realidade que, nos últimos 11 anos, contribuiu para
reduzir a menos da metade a população de
botos no Rio.
A ação da PF está sendo realizada em conjunto com o Ibama e o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), atendendo a uma antiga reivindicação de biólogos e do Ministério Público Federal
(MPF), que no início do ano alertou para o risco
da pesca ilegal à sobrevivência dos botos.
Em menos de dois meses, segundo os policiais federais, a operação — sem data para terminar — já levou à prisão em flagrante de 47 pescadores, com base no artigo 34 da Lei 9605, que
pune os crimes ambientais. Também foram
apreendidas mais de dez embarcações, cinco
toneladas de peixes e camarões capturados ilegalmente, além de redes e outros apetrechos.
— Todos os presos estão sujeitos a penas de
detenção que vão de um a três anos — afirma o
delegado federal Adriano Soares, diretor da Delegacia Regional da PF em Angra dos Reis e coordenador da operação.
Ele explica, contudo, que parte dos pescadores não permanece presa, já que o crime é afiançável. Enquanto isso, as ameaças ao boto
continuam preocupando os ambientalistas
nas baías da Ilha Grande e de Sepetiba.
— O número de carcaças de botos encontradas
nos últimos três anos já está chegando à casa de
50% da população estimada de botos na região. É
alto e muito preocupante — afirma o biólogo Leonardo Flach, coordenador científico do Instituto
Boto-Cinza, que estuda a espécie de 1997.
Ele lembra que em nenhum outro país do
mundo é possível encontrar tantos indivíduos
da espécie juntos. Mas, em 2002, biólogos que
estudam o comportamento dos mamíferos
identificaram entre 700 e 2 mil botos só na Baía
de Sepetiba. No ano passado, em nova pesquisa, o número de animais tinha desabado: foram
catalogados no máximo 850.
— Identificamos grandes pesqueiros do Sul
do país, de estado como Rio Grande do Sul e
Santa Catarina, em atividade ilegal na Baía de
Desolador. Boto encontrado morto no litoral fluminense: ação da PF tenta coibir repetição de cenas parecidas
Sepetiba e na costa de Angra dos Reis e de Paraty. São embarcações que buscam peixes da
cadeia alimentar do boto-cinza usados como iscas vivas na pesca de atum, realizada em alto
mar. Essas ações reduzem o alimento do botocinza — diz Leonardo.
Segundo os biólogos do Instituto Boto-Cinza,
os pescadores também não respeitam o período
de defeso (quando a pesca é proibida) das espécies de peixes das quais o mamífero se alimenta,
como sardinhas boca torta, corvinas e tainhas,
desequilibrando ainda mais a cadeia alimentar.
MEDIDAS MAIS RIGOROSAS
Para tentar reverter essa situação, a procuradora Monique Cheker, da Procuradoria da República em Angra dos Reis, afirma que o MPF estuda medidas mais rigorosas para deter o avanço
da pesca predatória. Foi ela que, em fevereiro,
enviou à PF e ao estado uma recomendação que
acabou resultando na atual operação.
— O que notamos é que a pesca ilícita, de
grandes pesqueiros, está exterminando a vida marinha, afetando principalmente peixes
que são parte da dieta dos botos. Os barcos
que buscam capturar camarões, por exemplo, arrastam tudo, acabando com a biodiversidade. Eles também não respeitam o defeso. O que não é camarão na rede, vai parar
no lixo — diz Monique. — Se for necessário,
vamos aplicar medidas mais duras, como pedir a prisão preventiva dos pescadores. Estamos reprimindo a pesca ilícita para depois
reorganizar a pesca artesanal na região —
afirma Monique.
Na cidade do Rio, um dos últimos botoscinza da Baía de Guanabara, batizado de
“Acerola”, foi encontrado morto este mês pela
Comlurb, com indícios de facadas e marcas
de captura em redes de pesca. Presentes na
bandeira da cidade do Rio, eles agora são
apenas 34 na Baía de Guanabara, contra uma
população de cerca de 400 botos na década
de 1980. l
VLT funcionará até as 17h a partir de hoje
LARGURA
1
1
1
2
2
2
2
2
3
3
3
3
col.
col.
col.
col.
col.
col.
col.
col.
col.
col.
col.
col.
(4,6 cm)
(4,6 cm)
(4,6 cm)
(9,6 cm)
(9,6 cm)
(9,6 cm)
(9,6 cm)
(9,6 cm)
(14,6 cm)
(14,6 cm)
(14,6 cm)
(14,6 cm)
ALTURA
R$
R$
3 cm
4 cm
5 cm
3 cm
4 cm
5 cm
7 cm
8 cm
4 cm
6 cm
7 cm
10 cm
1.125,00
1.500,00
1.875,00
2.250,00
3.000,00
3.750,00
5.250,00
6.000,00
4.500,00
6.750,00
7.875,00
11.250,00
1.518,00
2.024,00
2.530,00
3.036,00
4.048,00
5.060,00
7.084,00
8.096,00
6.072,00
9.108,00
10.626,00
15.180,00
2534-4333
• Para outros formatos consulte:
, de 2ª a 6ª feira, das 8 às 20h.
• Loja: Rua Irineu Marinho, 35, Cidade Nova, de 2ª a 6ª feira, das 9 às 18h.
• Plantão final de semana / feriados: 2534-5501, Sábado, das 10 às 17h.
Sábado, das 10 às 16h para demais dias. Domingo, das 16 às 19h.
Pa amento à vista somente em dinheiro ou che ue.
Número de
composições em
circulação aumenta
para quatro
O horário de funcionamento
do VLT será ampliado mais
uma vez a partir de hoje. Os
bondes continuarão começando a circular às 10h, mas vão
rodar até uma hora mais tarde,
às 17h, por enquanto apenas
de segunda a sexta-feira. A frota em circulação também aumentará, de três para quatro
composições, com intervalos
de 15 minutos entre um bonde
e outro em cada sentido.
Em mais essa etapa da operação, no entanto, o trajeto seguirá o mesmo, sem chegar
ainda à Rodoviária Novo Rio. O
itinerário permanece com nove paradas, do Aeroporto Santos Dumont à Parada dos Navios, próxima ao terminal de
cruzeiros, na altura do Armazém 4 do Porto.
Antes da inauguração do
VLT, a prefeitura tinha divulga-
do um plano operacional do
novo transporte. Pela proposta, até agosto o serviço seria
ampliado gradativamente, em
oito etapas, para atingir o pleno funcionamento, durante a
Olimpíada. A previsão era que,
em média, a cada uma semana
os bondes passassem a circular por mais tempo na cidade.
GRATUIDADE PRESTES A ACABAR
Desde a inauguração do VLT,
no último dia 5 de junho, já foram feitos alguns ajustes no
planejamento, como o aumento do número de composições
acima do previsto para contor-
nar a superlotação da primeira
semana de funcionamento.
Já as passagens devem continuar gratuitas até quinta-feira.
Para o dia 1º de julho, é previsto
o início da cobrança de tarifa
(R$ 3,80). A recarga do Bilhete
Único ou compra do cartão VLT
poderá ser feita, em dinheiro ou
cartão de débito, em máquinas
automáticas, em cada uma das
paradas. A validação terá que
ser feita voluntariamente dentro das composições. Haverá,
no entanto, fiscais da concessionária e guardas municipais
conferindo se os passageiros fizeram o pagamento. l
Segunda-feira 27 .6 .2016
O GLOBO
Dos Leitores
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oglobo.com.br/participe
Eu-repórter
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Das redes sociais
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THIAGO FREITAS/EXTRA
MARCIA FOLETTO/ 15-6-2011
“Se sem chuva já é difícil transitar,
quando chove piora. Tive que ir
para o meio da rua”
l 11
REUTERS
Silvana Machado,
sobre os buracos nas calçadas da
Rua Prefeito Olímpio de Melo, em
Benfica, que além de levar risco às
pessoas acumulam água. A Secretaria de Conservação e Serviços
Públicos diz que vai vistoriar o
local, mas lembra que a responsabilidade das calçadas é compartilhada. Em frente a residências e
estabelecimentos comerciais, é do
proprietário. Já nos locais públicos, o serviço cabe à prefeitura.
|
“O Rio de Janeiro é um
abatedouro a céu aberto”
@JorgeBastos
PM anuncia reforço no
policiamento da Linha Vermelha após morte de médica
Cartas e e-mails
“Gente, esse governador
só sabe lamentar!”
“Cada um tem o Trump
que merece!”
Claudia Bastos
@kaoru
Marido de médica
morta a tiros faz apelo
por segurança no Rio
Ex-prefeito de Londres
quer conduzir o Reino Unido
para fora da UE
|
As cartas, contendo telefone e endereço do autor, devem ser dirigidas à seção Dos Leitores. O GLOBO, Rua Irineu Marinho 35, CEP 20233-900. Pelo fax, 2534-5535 ou pelo e-mail [email protected]
_
_
_
CUSTO BRASIL
FALTA DE DECORO
ROMBO NA PETROS
a Ninguém segura esses criminosos
políticos, meu Deus! Um ministro
monta engrenagem mafiosa para
apropriar-se do dinheiro do pobre.
Quando procura por empréstimo
consignado é que a coisa não está
bem. Aí aparecem corruptos para
tirar proveito dos parcos salários
dessas pessoas. Juiz e promotores
devem pedir uma penalidade
pesada para esses criminosos.
Ainda dizem que são defensores
dos pobres. Quando vamos ver essa
turbulência da corrupção que está
infestada em todos os setores da
administração pública estancar?
a O presidente interino da Câmara,
Waldir Maranhão, comprovou que
não tem condição de exercer o
cargo, ao decretar uma semana de
férias para suas excelências
festejarem São João. Com o país
cheio de assuntos urgentes a serem
resolvidos, é um deboche afrontar a
sociedade dessa maneira. Para o
país voltar a crescer e a ser
respeitado, esse tipo de político que
tem que ser banido da vida pública.
a “Um buraco avantajado de R$ 16,1
bilhões, no fundo Petros, dos
funcionários da Petrobras, será
coberto pela estatal e os próprios
empregados” (25/6). O que o
Sindipetro e a Associação dos
Engenheiros da Petrobras (Aepet)
fizeram para impedir, ou denunciar,
essas irregularidades? Importante
ouvir as duas entidades.
_
a Inaceitável que uma pessoa que
ajudou a desviar milhões de reais,
lesando o patrimônio público, vá
cumprir a pena em casa. Não
adianta tornozeleira. Lugar de quem
rouba é na cadeia. Que lei é essa
que sempre beneficia o infrator? Vai
devolver tudo o que roubou, ou só
um pouquinho, para fazer de conta?
Brasil, país de roubo, jeitinho,
manobras e pouca-vergonha. Que
péssimo exemplo a Justiça está
dando. Aliás, Justiça? Ou injustiça?
ROBERVAL FERNANDES
RIO
a Paulo Bernardo, para se defender
da acusação de corrupção no
Ministério do Planejamento quando
era o titular, disse que o responsável
era o secretário de RH, um dos seus
subordinados. Ou seja, além de,
como sempre, alegar que de nada
sabia, como fazem todos petistas
acusados, Bernardo ainda acusa um
subordinado, numa demonstração
do caráter dos dirigentes do partido.
Até quando pensam que podem
iludir o povo?
ROGERIO FERREIRA ESTEVES
RIO
_
a A bancada do PT no Senado
divulgou nota de solidariedade à
senadora Gleisi Hoffmann, após a
prisão de seu marido, Paulo
Bernardo. Esta mesma bancada não
foi solidária a Delcídio Amaral, não
só deixando-o entregue à própria
sorte, quando foi preso, como
votando pela perda do mandato.
Dois pesos e duas medidas. Estes
políticos ainda não se deram conta
que a impunidade acabou, e que
todos os que têm rabo preso irão,
mais cedo ou mais tarde, prestar
contas à Justiça.
LUIZ FERNANDO VIOLA
RIO
FERNANDO ARTHUR QUEIROZ DE BARROS
RIO
_
PÉSSIMO EXEMPLO
a Injunções regulamentares deter-
LIANE GOUVEA
RIO
_
FORO PRIVILEGIADO
a Os políticos jamais abrirão mão do
foro privilegiado, porque tudo é
muito lento no STF. Dormitam nas
gavetas da Corte mais de dois mil
processos (dados de 2014), alguns,
com mais de 20 anos. Alguém já
assistiu a uma sessão do STF? Já
começa atrasada em pelo menos
meia hora. O relator de uma matéria
perde pelo menos duas horas lendo
seu parecer que todos já conhecem.
E são emitidos mais dez votos,
muitas das vezes, iguais, mas ditos
de forma diferente. Ministros
morrem e se aposentam, e nada
acontece. E assim o tempo passa. E
os bandidos ficam soltos.
_
a Políticos que estão indignados
_
ROMILSON LUIZ
RIO
TAXA DE CORRUPÇÃO
a Será que nos pagamentos mensais
do Bolsa Família e do Minha Casa
Minha Vida não existe o desconto
da taxa petista, tal qual nos
empréstimos consignados ?
RICARDO DE G. PONTE
RIO
JOHN SCHULTS/REUTERS/4-1-1999
OI É TURBINADA NA ERA LULA
Com apoio do BNDES, empresa comprou Brasil
Telecom em 2008 para brigar com estrangeiros.
Sequestro
AVIÃO É LEVADO PARA UGANDA
Há 40 anos, terroristas pró-Palestina desviaram
um Airbus, que ia de Tel Aviv para Paris.
Lenda do boxe
PUGILISTA MAX SCHMELING NO RIO
Em 1958, o campeão alemão esteve na
cidade, onde deu entrevista no Galeão.
acervo.oglobo.globo.com
minam a troca de comando do STF,
em setembro. Acredito que seria de
grande valia para o Brasil se o
julgamento da presidente afastada
fosse realizado após a posse dos
novos mandatários, arejando o
nosso cenário político, mesmo à
custa de recursos protelatórios.
OSCAR POSSOLLO
TERESÓPOLIS, RJ
_
REINO UNIDO FORA DA UE
a O país que inventou o capitalismo
e foi o maior imperialista até a
acensão dos EUA mostrou ao
mundo que não é bobo de
participar desse conglomerado
decadente chamado União
Europeia, formado, em grande
parte, por demagogos esquerdistas.
Caiu fora antes de comprometer
seu poderio econômico, financeiro,
militar e político, uma vez que se
uniu, mas nunca se misturou.
LUIZ THADEU NUNES E SILVA
SÃO LUÍS, MA
_
a Em entrevista à emissora BBC, a
primeira-ministra da Escócia,
Nicola Sturgeon, afirmou que o
Parlamento escocês poderá vetar a
saída do Reino Unido da UE, pois
na Escócia o “Permanecer” venceu
por 62%, e o “Sair” teve 38% dos
votos. Como simples cidadão,
ficarei na torcida para que os 28
países da UE permaneçam unidos,
para que não ocorra mais conflitos,
como as duas grandes guerras
mundiais, onde milhares de seres
humanos foram eliminados.
EDGARD GOBBI
CAMPINAS, SP
_
a O Reino Unido votou pela saída
da UE. Nada mais. Não quer dizer
FELIPE SEBASTIANY BUENO BRANDÃO
RIO
_
a A imprensa divulgou que com a
saída do Reino Unido da UE o
mercado perdeu US$ 1 trilhão. A
coisa não funciona dessa forma. A
regra do mercado é muito simples:
se alguém perdeu alguém ganhou.
No caso, os especuladores que
detinham posições vendidas
encheram a burra de dinheiro. O
resto é choro de perdedor.
Bangu, na Zona Oeste. Certamente,
não sabe quanto custa manter
equipamento, material e pessoal.
Construir neste momento de crise
da saúde é um deboche! Nossos
hospitais estão deficitários de tudo.
Por que não usar os hospitais
militares (Polícia Militar, Exército,
Marinha e Aeronáutica)? É minha
sugestão, bem mais barata.
REINALDO SALEMA
RIO
_
a A ideia de hospital de campanha
para atendimento a presos só pode
ser brincadeira, e de péssimo gosto.
Se no Souza Aguiar bandidos não
tiveram dificuldade para resgatar
comparsa, imaginem numa
unidade bisonha e sem recursos
para casos mais graves? A medida
ocupará maior número de policiais,
que darão plantões na unidade de
campanha e também nos hospitais
convencionais. Além disso, anexar
as instalações de campanha a uma
UPA já existente colocará em risco
um maior de pessoas que estejam
em busca de pronto-atendimento. A
experiência, tão fútil quanto inútil,
custará caro ao contribuinte.
PAULO SÉRGIO RODRIGUES PEREIRA
RIO
NELSON NÓBREGA
RIO
_
_
a Se o Reino Unido quer comandar
sua própria sociedade, fora de um
bloco de ações, ela tem esse direito.
Qualquer país tem o direito de
impor suas próprias leis, e se
diferem das nossas temos que
respeitar as diferenças. A saída foi
obtida pelo exercício democrático
da votação; o povo escolheu. O
reino Unido já pertenceu à UE e no
momento acha conveniente sair.
Quanto às consequências para
aquele Estado ou para o mundo, só
o tempo mostrará, e com certeza
com a sua integridade e soberania
arcará com seu erro ou acerto. Aos
outros compete respeitar a decisão.
ROSA CRISTI BEYER SZRAJBMAN
RIO
_
HOSPITAL DE CAMPANHA
a Sou médico, e sei o que passam
todos que trabalham em hospitais
(médicos, enfermeiros, técnicos de
enfermagem, pessoal de limpeza)
quando há apenados internados
em enfermarias. O secretário da
Saúde, Luiz Antonio Teixeira Junior,
falou em construir centro cirúrgico
e CTI para tratar de presos
custodiados dentro do Complexo
Penitenciário de Gericinó, em
PRIVATIZAÇÃO
a Uma vez que o governo está planejando retomar as privatizações,
uma das primeiras deveria ser a dos
Correios. Do jeito que está não
pode continuar. Se a empresa não
encontra solução para as suas
deficiências, que seja privatizada.
NEUSA BARROS
RIO
_
BAILE FUNK
a O funk carioca é uma vergonha
para o país. Não passa de apologia
ao analfabetismo, à pornografia
(inclusive a infantil), ao desrespeito
às mulheres, à exaltação de facções
criminosas, à perturbação da
ordem, ao estímulo ao consumo de
drogas e a outras coisas mais, ou
seja, um “kit completo” de tudo o
que não desejamos em um processo
civilizatório bem-sucedido. Por que
nosso nobre deputado Marcelo
Freixo não se preocupa em trazer
essa turma para a luz da verdadeira
cultura, em vez de tentar nomear
todo aquele obscurantismo como
uma forma de cultura popular?
ANTONIO FREIRE
RIO
Há 50 anos 27 de junho de 1966
Hoje no
Acervo O GLOBO
Supertele
_
TROCA DE COMANDO NO STF
IRIA DE SÁ DODDE
RIO
com a prisão de Paulo Bernardo
deveriam se solidarizar com os
milhões de funcionários públicos
tungados. Se um ministro rouba,
deixa de ser ministro e vira ladrão.
Estamos vivendo numa época
estranha, em que parlamentares
ficam com pena do ladrão.
MARCIO MOITINHO MALTA
RIO
que milhares de europeus serão
expulsos do país e que cortarão
relações com a Europa. O resultado
mostra apenas o descontentamento
de grande parcela da população em
relação à UE, que de mercado
comum, focado no livre comércio,
migrou para uma instituição de
burocratas sediados em Bruxelas
focados em uma agenda política
pouco eficiente em resolver os
problemas europeus. Os ajustes e
os riscos de curto prazo serão
superados, assim como em 1973,
quando o Reino Unido entrou no
bloco, e poderemos vê-lo resgatar a
imagem de um Estado sério e de
economia pujante que sempre teve.
Europa em festa
NOITE DE GALA EM PARIS
Bolsa francesa comemora o 1º dia
da nova moeda, o euro, em 1999.
Alcino mobiliza ação contra
a corrupção nos Estados
Brasília conhece uma nova
crise: a falta de taquígrafos
Preocupado particularmente com
os testamentos políticos de governos
em fim de mandato, o Prof. Alcino
Salazar, Procurador-Geral da República, disse ontem lamentar que,
mesmo após a Revolução, que teve
como objetivo o saneamento na gestão dos negócios públicos, a crise siga a sua linha ascendente. Daí a necessidade de reunir os procuradores-gerais da Justiça nos Estados, em
Brasília, para o exame da situação e
uma tomada de posição para coibir
crimes contra a Fazenda Pública Estadual e Municipal.
O Supremo Tribunal Federal está impossibilitado de preencher seis vagas
de taquígrafo, porque não dispõe de
moradia para os concursados. Os dois
únicos aprovados na primeira prova
do último concurso, no qual se inscreveram 36 candidatos, desistiram de fazer a segunda prova, porque, residindo
em São Paulo, onde exercem função
pública técnica específica, não se mudariam sem a garantia de apartamento
para morar. O concurso não pôde
prosseguir, e o Ministro Ribeiro da
Costa, presidente da Côrte, solicitou
nova cota de unidades residenciais.
12
l O GLOBO
Segunda-feira 27 .6 .2016
OGLOBO
Tema em discussão
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O funk como manifestação cultural
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Nossa opinião
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Outra opinião
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Respeito ao direito
Cultura da futilidade
conhecida a trajetória do samba. De cadas — a ponto de tais eventos serem explicitamúsica “da malandragem”, proibida, mente proibidos pelos comando de UPPs ali
com seus compositores perseguidos instaladas, uma afronta a direitos comezinhos
pela polícia, tornou-se identificada co- como a liberdade de reunião e de manifestação.
mo autêntica manifestação da cultura do país.
No âmbito institucional, a discriminação mal
A fase clandestina gerou personagens — um disfarçada chegou a virar lei na Assembleia Ledeles chegou a ser cantado nos versos mole- gislativa, em 2008, a partir de projeto do então
ques de Tio João e Nilton Campolino (Delega- deputado Álvaro Lins, o ex-chefe de Polícia predo Chico Palha/Sem alma, sem coração/Não so por se imiscuir com o crime organizado. Sinquer samba nem curimba/Na sua jurisdição./ tomático. Sob o pretexto de regulamentar os
Ele não prendia/Só batia...).
bailes, o diploma os inviabilizava.
Igualmente, o atual estágio de reconhecimenO funk não é, necessariamente, um ritmo de
to de seu valor tem sido mote pabandidos, assim como o rock, a
ra compositores (o sambista João
despeito de a ele se associar o jargão “sexo, drogas e rock’n’roll”, não
Nogueira, por exemplo, enalteceu
A qualidade do
pode ser resumido a “música de
a respeitabilidade ainda que tarque se ouve
drogados”. Ao contrário, de sua simdia: “Samba, és hoje da alta sociemede-se com o
plicidade inicial decorreu uma prodade/Desce do morro pra cidafusão
de músicos de talento.
de/E já frequentas o Municipal”).
tempo. É reproNo caso do funk, há letras que
Não foi outra a origem de ouvável
censurar
exaltam a violência, a criminalidatros ritmos cujo valor hoje é recoo ritmo e
de, o analfabetismo político, o desnhecido pela sociedade — o jazz
respeito à lei. Mas não se pode esdos negros americanos, o jongo,
perseguir
quecer que ele nasceu como manimanifestação de resistência no
seus
adeptos
festação de comunidades onde a
Rio de Janeiro e por aí vai. É imviolência é uma realidade. Se o
portante assinalar a maneira como manifestações culturais nascem e se tornam oportunismo social o associou ao crime é outra
emblemáticas da expressão do que se costuma discussão — um problema de combate ao banchamar de minorias (ainda que não numerica- ditismo, não à música.
A qualidade (ou a falta dela) do que se ouve
mente, mas como grupos de produção de cultura) num momento em que, por discriminação, mede-se com o tempo. O que é bom fica. Poderadicalismo ou quaisquer outras razões, parcela se ou não gostar do ritmo. Letras devem ser julconsiderável da sociedade tem relegado o funk gadas pelo valor (ou, igualmente, pela ausência
dele) em si. Esses são o filtro correto, os critérios
à simplória categoria de “música de bandidos”.
É uma simplificação perigosa. Ela leva, em ge- aceitáveis para discutir o funk — ou qualquer
ral, ao preconceito e à perseguição. Ambos es- outro ritmo; nunca, aqueles que procurem abatão presentes, por exemplo, na estigmatização tê-lo como direito de manifestação cultural, que
policial dos bailes realizados em favelas pacifi- é um princípio universal, e não seletivo. l
neiro. O caso chocou o Brasil e o mundo, abrindo uma série de polêmicas. E, quando o caso
profundamente lamentável que a mú- parecia não ter novas notícias, os marginais utisica brasileira tenha chegado a esse lizaram uma letra debochando da jovem na inponto, depois de ter encantado o pla- ternet. Os “pegadores” cuspiram na cara da soneta com a bossa nova, o chorinho, o ciedade, da lei.
samba de raiz. Isso é o reflexo da falta de cultuFunk não é cultura da favela. É cultura dos
ra de um país que tem um ensino sucateado bandidos. Os que moram na favela não consipelas aprovações automáticas. O que esperar deram os traficantes como heróis, como o funk
do funk, das pessoas que se submetem a um canta. Não odeiam policiais como o funk canta.
pancadão? Seria o cúmulo da vergonha consi- Respeitam mulheres e crianças. Enfim, o funk
derar um tipo de música tão vulgar e ridícula não representa o pobre. Defender o funk é decomo forma de manifestação cultural. Isso sem fender que o morador da favela continue refém
falar que os bailes funk servem pado tráfico.
ra ajudar a fazer apologia ao tráfico
Encaramos esse movimento
Seria o cúmulo
de drogas e armas, que todos já sacomo destruidor de famílias, ou
da vergonha
bem, com letras que fazem exaltar
vamos continuar sendo hipócriconsiderar um
a violência, o crime e a prostituitas achando que as comunidação.
des gostam de conviver com titipo de música
Não que o funk seja a causa disso
roteios, que é normal ver suas
tão
vulgar
e
crianças sendo aliciadas, que é
tudo, mas ele exalta valores que
ridícula
como
legal fazer de sua porta ponto de
perpetuam essa realidade. É no
venda e consumo de drogas e
funk que bandidos viram heróis
manifestação
que é cinematográfico presenciem suas letras malfeitas e sem pocultural
ar os traficantes exibindo suas
esia. A naturalização da violência,
poderosas armas.
já tão presente na vida de jovens e
E quem não gosta do funk, e ainda tem a infecrianças que crescem em comunidades carentes, a desvalorização da vida e a busca inconse- licidade de morar próximo a lugares onde se requente por ascensão social só colaboram para alizam a bagunça, não pode sequer reclamar
maiores índices de morte, tortura, estupro etc. do barulho excessivo que se estende madrugaSão aspectos do funk que infligem frustração e da adentro. Caso o cidadão resolva chamar a
sofrimento em seres humanos. Os valores das polícia, certamente depois vai receber ameaças
famílias e do amor são trocados pelas facções e à sua integridade física. Som alto não é só desrespeito. É contravenção e crime. Enfim, o funk
pela cultura do estupro.
O funk está ligado à banalização do crime e à não é cultura. É uma ameaça devastadora. l
vulgaridade. No último dia 21 de maio, uma
menina de 16 anos sofreu um estupro coletivo Milton Rangel é deputado estadual, líder do DEM
após um baile funk na Zona Oeste do Rio de Ja- na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro
É
MILTON RANGEL
É
DENIS LERRER ROSENFIELD
Quando parar?
Brasil está sendo lavado a
jato. Não há semana, senão
dia, em que um novo evento não mostre as entranhas
fétidas dos últimos governos petistas,
não envolvendo apenas o partido da
presidente afastada, mas, também,
outros partidos que se locupletaram
no assalto ao Tesouro nacional.
Nesta última semana, foi a prisão do
ex-ministro Paulo Bernardo e a busca e
apreensão na sede nacional do PT em
São Paulo, além do envolvimento de
outros próceres e ministros do partido.
Nas semanas anteriores, foi a cúpula
mesma do PMDB e ministros recémnomeados do governo Temer. A abrangência suprapartidária destas investigações e denúncias bem mostra que
essas operações não estão a mando de
partido nenhum, todos podendo ser
igualmente atingidos.
Note-se que esta última operação,
denominada Custo Brasil — poderia
ser igualmente chamada de Custo PT
—, já não se origina na denominada
por Lula “República de Curitiba”, mas
em São Paulo, envolvendo, além da
Polícia Federal, a Receita Federal.
Isto significa que estamos diante de
uma efetiva nacionalização da Lava-Jato, espraiando-se por outros estados e
seguindo um mesmo padrão de moralidade pública e de operacionalidade.
Nada indica que essa operação, desdobrando-se em novos braços, esteja com
data definida de término.
A pergunta pelo término desta operação talvez seja uma questão mal
formulada, embora possa ter um certo sentido. Mal formulada, porque ela
nasce de uma exigência de moralidade pública e de luta contra a corrup-
O
ção, liderada por setores do Judiciário, do Ministério Público Federal e
da Polícia Federal. Questão, porém,
para alguns pertinente, pois para
além do fato de toda operação deste
tipo dever ter um término, ela pode
talvez ter como consequência um enfraquecimento ainda maior do próprio sistema representativo.
Ocorre que a deterioração do sistema
representativo não é um efeito da Operação Lava-Jato, mas a sua causa. Partidos políticos, parlamentares, ministros
de Estado — e mesmo o ex-presidente
Lula — e funcionários públicos e de estatais se aliaram a empresários inescrupulosos, notadamente de empreiteiras, porém não a eles restritos, para o
saqueio da coisa pública. A República
veio para eles significar cosa nostra.
O Estado brasileiro estava sendo
corroído por dentro, aparelhado ideologicamente e partidariamente,
quando uma sociedade atuante, graças à sua imprensa e aos seus meios
de comunicação, começa a denunciar e noticiar a ruína que estava se
aproximando perigosamente.
A atuação de juízes, promotores e
policiais federais inscreveu-se, precisamente, neste processo de resistência, procurando reverter a desestruturação completa da coisa pública.
Desrespeito à Lei Orçamentária e à
Lei de Responsabilidade Fiscal, queda abrupta do PIB, inflação em alta e
desemprego galopante são consequências desta República em crise.
Logo, exigir um término à Lava-Jato
sem levar em conta as suas causas pode ser um contrassenso, na medida em
que ela é efeito. O país deve, antes de
tudo, criar condições e mecanismos
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Roberto Irineu Marinho
VICE-PRESIDENTES
João Roberto
Marinho - José Roberto Marinho
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MARCELO
que impeçam o desvirtuamento da atividade parlamentar e o aparelhamento
do Poder Executivo. Ou seja, o Executivo e o Legislativo deveriam começar a
tomar medidas políticas que atuem sobre as causas desta deterioração da coisa pública, tornando, neste sentido,
desnecessária a própria Lava-Jato e os
seus desdobramentos. Uma reforma
política seria aqui prioritária.
Se não ocorrer, como tudo indica que
não ocorrerá por atingir interesses incrustados nos partidos políticos, nada
mais natural que as investigações em
curso sigam o seu caminho. Em todo caso, os esquemas desvendados na Petrobras muito provavelmente existem em
outras estatais. Outros ministérios continuam também a ser objeto de investigações. Se a faxina continua, é porque exis-
Geral e Redação (21) 2534-5000
Jornais de Bairro: (21) 2534-4355
Missas, religiosos e fúnebres:
(21) 2534-4333. Plantão nos fins de
semana e feriados: (21) 2534-5501
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Cidade Nova
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te ainda muita sujeira a ser lavada.
Alguns economistas, que deveriam,
aliás, rasgar os seus diplomas, fazem
o cálculo de quanto o país estaria perdendo economicamente com a LavaJato. Deveriam calcular o quanto o
país perdeu com os governos petistas,
com a corrupção e o desvio de recursos públicos. Parece que a miopia
ideológica não permite tal cálculo.
No que diz respeito a um eventual
enfraquecimento do sistema representativo, cabe preliminarmente observar
que a operação Lava-Jato e o seu imenso apoio na opinião pública mostram
que determinadas instituições do Estado estão funcionando. A sociedade civil, por sua vez, tornou-se uma protagonista central neste processo de transformação política. De um lado, a repre-
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sentação partidária foi enfraquecida,
de outro, certas instituições republicanas e a sociedade civil se fortaleceram.
Contudo, há uma certa apreensão
em relação ao fato de que, consoante
com a operação Mãos Limpas na Itália, o enfraquecimento dos partidos
políticos poderia levar a aventuras
políticas, mediante a eleição de um
(a) aventureiro(a) em 2018. O risco
existe e é próprio de qualquer sistema
eleitoral. A vontade popular pode
também optar pelo pior. Já o fez, aliás!
Veja-se a situação na qual nos encontramos, tendo se tornado necessário o
próprio impeachment da presidente da
República, no pleno respeito à Constituição brasileira. O povo poder fazer
péssimas escolhas. É da vida política.
Ora, o que não se pode fazer é optar
por frear a Lava-Jato e seus desdobramentos mediante novas leis que perpetuem o status quo político e partidário que está sendo, precisamente,
submetido a um duro teste de moralidade pública. Não há indícios de que
os partidos políticos estejam efetivamente aprendendo com essa nova cena pública brasileira.
A iniciativa cabe precisamente ao novo governo e à representação parlamentar que, com novos exemplos, possam mostrar um novo caminho a ser
percorrido, tornando-se a moralidade
pública uma bandeira política nacional.
Se isto vier a ocorrer, o término da Lava-Jato será uma consequência deste
novo tratamento da coisa pública. Se
tardar, ela tenderá a se perpetuar. l
Denis Lerrer Rosenfield é professor de
Filosofia na Universidade Federal do Rio
Grande do Sul
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co no cartão de crédito, ou débito em contacorrente (preço de segunda a domingo), para
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SP e DF: 4,00; demais estados: 5,50;
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SP: R$ 5,50; DF: 7,00; demais estados: 10,00
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O GLOBO
Segunda-feira 27 .6 .2016
l 13
OGLOBO
PAULO GUEDES
_
Faça algo
a respeito
“A
Operação Lava-Jato deve prosseguir enquanto houver irregularidades”, reconhece Michel Temer.
“Mas o país não pode ficar dez
anos nesta situação”, sugere o presidente interino. Ora, as degeneradas práticas políticas
investigadas pela Lava-Jato parecem existir
há mais de dez anos, e durariam outros dez
não fosse o despertar de instituições republicanas como a Polícia Federal, o Ministério
Público, o Tribunal de Contas da União e o Poder Judiciário. Mas o presidente, que parece ansioso em abreviar nossa penosa situação, pode
fazer muito a esse respeito. Afinal, foram exatamente a omissão e a cumplicidade do Executivo e do Legislativo quanto a essas práticas degeneradas que nos atolaram nesse lamaçal.
Um dia após a aprovação do impeachment de
Dilma Rousseff, Temer deveria encaminhar ao
Congresso uma mensagem com o seguinte teor: “A classe política está sob suspeita. Houve
acusações de compra de votos na aprovação da
emenda constitucional favorável à reeleição, financiamentos irregulares de campanhas eleitorais, compra de sustentação parlamentar, obstrução de Justiça e desvio de recursos públicos
envolvendo nossas principais lideranças políti-
cas. É incontornável a conclusão de que há algo
de profundamente errado com nossa forma de
lidar com a coisa pública. Devemos ao povo
brasileiro uma reforma política.” A negligência
e até mesmo a hipocrisia ante a corrupção sistêmica tornam insaciável a opinião pública e intermináveis as investigações da Lava-Jato.
Piratas privados e políticos corruptos aperfeiçoaram a engrenagem de administração
O presidente Temer acha
que o país não pode ficar
dez anos na atual situação.
Mas sua ansiedade deve
se traduzir em reformas
Riscos regulatórios
Pela Mata
Atlântica
ADRIANO PIRES
H
oje o setor de petróleo no Brasil conta com dois novos sistemas (partilha
e cessão onerosa), que convivem
com o regime de concessões. A mera
existência de regimes regulatórios distintos
num país não é, necessariamente, uma fonte de
incertezas, mas a falta de harmonia entre eles
tem esse potencial.
A aprovação do projeto de lei que prevê a flexibilização da operação única do pré-sal pela
Petrobras responde por uma parcela relevante
da potencial retomada dos investimentos em
petróleo no Brasil, mas não é a única resposta
devida. Muito embora operar um campo no
pré-sal seja atrativo para qualquer grande empresa internacional do setor, o estágio embrionário da regulação brasileira sobre individualização da produção ainda limitaria o retorno do
capital internacional.
Individualizações de produção ocorrem
quando dois ou mais blocos compartilham
uma mesma jazida de petróleo. Para evitar investimentos ineficientes e competição predatória, todas as empresas donas dos blocos por
onde a jazida se estende passam a ter uma
participação. As participações são determinadas por quanto da jazida se localiza em cada
bloco. Com os megacampos de pré-sal, as individualizações de produção serão relativamente frequentes, como os exemplos recentes
preconizam. A complexidade evidente é aumentada quando os blocos vizinhos estão em
regimes regulatórios diferentes, e ainda mais
quando um desses blocos é uma área estratégica ou do pré-sal ainda não licitada.
Há três pontos fundamentais a serem endereçados, sendo o primeiro relativo à diferença
de regimes regulatórios. Numa individualização de produção entre um regime de concessão e a cessão onerosa ou área não licitada, há
diferença nas participações governamentais.
O regime de concessão é sujeito a royalties e
participação especial, a cessão onerosa somente a royalties na mesma alíquota do regime de concessão, as áreas não licitadas pagam apenas royalties numa alíquota diferente
do regime concessão. O panorama não é diferente no caso do conteúdo local; como conciliar exigências diferentes para regimes distintos unidos por uma mesma jazida? Não há um
caminho claro na regulação. As soluções não
precisam ser complicadas, a ANP pode ajustar
os créditos ou débitos devidos nas participações especiais nos recolhimentos futuros. O
conteúdo local da jazida individualizada deveria seguir — em percentual e regras — as
exigências do bloco que concentra a maior
parte da jazida individualizada.
O segundo e o terceiro pontos dizem respeito
a Pré-Sal Petróleo S.A. (PPSA), que representa a
União nos procedimentos de individualização
MARCIA HIROTA
M
Alocação proporcional de
responsabilidades não
está explicitada na regulação
hoje. Esse é um ponto
caro ao investidor
da produção em área estratégica ou do pré-sal
ainda não licitada. A PPSA é um participante
mandatório nesses casos, mas não faz pagamentos diretos, sendo carregada pelos demais
participantes. O retorno virá da própria produção da jazida individualizada, sendo a dívida da
PPSA abatida do volume de produção a que essa tem direito. A PPSA deveria ter autonomia
para gerir suas receitas e honrar seus compromissos como as demais partes.
O último ponto é mais sutil, mas certamente
mais polêmico. O que acontece caso ocorra um
acidente ambiental de larga proporção num
campo individualizado com a PPSA e não seja
mais possível produzir? A PPSA deveria responder como as demais partes, utilizando seus recursos para responder na proporção de sua participação. Mas a alocação proporcional de responsabilidades não está explicitada na regulação hoje. Esse é um ponto caro ao investidor, como ensinou a experiência de Macondo, no Golfo do México.
Os fatores necessários à retomada do investimento em petróleo e gás natural no Brasil
não se limitam apenas à Petrobras como operador único dos contratos de partilha no présal. A convivências de regimes regulatórios
distintos precisa ser harmonizada para que
um novo componente de risco não seja criado. O país e o setor seriam gratos pelas respostas necessárias. l
Adriano Pires é diretor do Centro Brasileiro de Infra
Estrutura
A necessária e improvável reforma
MARCUS PESTANA
O
país está de pernas para o ar. A combinação da mais grave recessão desde 1929 com o maior escândalo de
nossa história, desvendado pela Lava-Jato, e seus desdobramentos políticos tem
efeito devastador e decreta a falência do atual
sistema político.
Não se troca presidente da República como se
troca de camisa. Um impeachment é sempre
traumático, deixa feridas e cicatrizes. Mas não
há nenhum golpe em curso. Crimes fiscais, eleitorais, morais e de obstrução da Justiça foram
cometidos. E a lei é para todos. O processo é absolutamente constitucional, e o país saberá
construir seu futuro sem retrocessos.
Hoje, a distância abissal que existe nas sociedades contemporâneas entre as pessoas e sua
representação política é agravada, no Brasil, pela corrupção sistêmica e institucionalizada e
por um sistema político disfuncional e irracional. Há visível esgotamento e uma inviabilização clara do chamado “presidencialismo de coalizão”, transformado em “presidencialismo de
cooptação”, onde a dinâmica movida a chantagens, concessões e cooptação dita o ritmo da
República.
centralizada herdada do regime militar. A
corrupção na política e a armadilha do baixo
crescimento na economia são as duas faces
de um governo central hipertrofiado e disfuncional. Um pacto federativo permitiria a
reforma administrativa do Estado para enxugamento radical do número de ministérios e
a descentralização de recursos para estados e
municípios. A descentralização das políticas
públicas coloca um eixo republicano na busca de sustentação parlamentar e na gestão
dos recursos públicos. Menos dinheiro para a
roubalheira na engrenagem estatal de administração centralizada e mais dinheiro para
saúde, segurança, saneamento e educação
onde o povo está. Nos estados e nos municípios, não em Brasília. l
Isto, somado a um sistema de financiamento
da atividade política vulnerável e ao império da
demagogia, do populismo e do corporativismo,
impede a aprovação das reformas necessárias e
inadiáveis para que o Brasil saia da crise.
Embora seja falso afirmar que a corrupção e a
crise são culpas do sistema, em grande parte
nossas mazelas se devem a regras políticas mui-
Há visível esgotamento e uma
inviabilização clara do chamado
‘presidencialismo de coalizão’,
transformado em
‘presidencialismo de cooptação’
to ruins, que norteiam nosso processo decisório
coletivo.
Como abordar temas complexos e polêmicos
num plenário da Câmara com inacreditáveis 27
partidos políticos? Como obter a confiança da
sociedade quando até as doações legais foram
demonizadas e criminalizadas? Como estabelecer controles sociais sobre os mandatos se, segundo as pesquisas, 70% dos brasileiros não sabem sequer citar o nome de seu deputado?
A atual crise repõe a necessidade urgente de
retomar a discussão sobre a reforma política.
Após a Lava-Jato, o financiamento público exclusivo é quase uma imposição no Brasil. Mas
ele só é viável se tivermos a mudança do sistema eleitoral, só é possível com a introdução
do voto distrital como nos EUA e no Reino
Unido, ou da lista partidária, como na Itália,
Espanha e Portugal. Ou do modelo misto da
Alemanha ou Coreia do Sul. Com a cláusula
de desempenho para assegurar representação
parlamentar, na Alemanha a exigência é de 5%
dos votos nacionais.
Mas aí nos vemos no espelho diante de nossa armadilha existencial. A vida e a sociedade, cansadas de escândalos e ansiosas por
mudanças, reclamam alterações radicais.
Mas o sistema apegado ao status quo não se
autorreformará. E dizem juristas conceituados que Constituinte exclusiva não faz sentido em plena vigência de uma Constituição
democrática.
Ou seja, estamos diante de um verdadeiro
enigma da esfinge: decifra-me ou devoro-te. A
democracia brasileira, duramente conquistada,
não pode se render a este impasse. l
Marcus Pestana (MG) é líder do PSDB na Câmara
uitas pessoas têm a falsa
impressão de que a Mata
Atlântica está restrita
àquelas grandes áreas de
florestas distantes das cidades. Na verdade, ela está muito mais perto do que
a gente imagina. Somos 145 milhões
que habitamos as 3.429 cidades do bioma, inclusive algumas das maiores do
país. O Rio de Janeiro é belo exemplo.
Moramos na Mata Atlântica e dependemos dos serviços por ela prestados,
como a regulação do clima, abastecimento de água, fornecimento de recursos para a economia, qualidade de vida
e bem-estar. Entretanto, do mesmo jeito que usufruímos desses benefícios,
também pagamos um preço alto por
termos destruído cerca de 90% da sua
área original.
Os motivos para tamanha devastação
recontam a própria história do Brasil.
Mas, do mesmo modo como nossa história se confunde com a da Mata Atlântica, nosso futuro também depende dela, o que faz da conservação e recuperação do bioma um desafio coletivo. Já
parou para pensar como seria sua vida,
sua rua e sua cidade se vivesse num local onde cuidar do meio ambiente fosse uma prioridade?
Existem inúmeras formas de contribuir para um ambiente melhor, principalmente se pensarmos naquele local
onde vivemos e que pode ser mais sadio e equilibrado. É nisto que a SOS
Mata Atlântica acredita, que cada um
pode fazer algo, individual ou coletivamente. Para reunir histórias de
Há inúmeras gente que faz a
diferença, criaformas de
mos o portal
contribuir
www.gpsmataapara um meio tlantica.org.br,
uma ferramenta
ambiente
para as pessoas
melhor
compartilharem
suas causas e se
conectarem em rede com outros que
também desenvolvem iniciativas ambientais. E como tem sido surpreendente observar a quantidade de jovens
engajados lutando por causas nobres.
São tantas histórias inspiradoras que,
em maio passado, numa parceria com a
Fundação Roberto Marinho, nos reunimos no Museu do Amanhã para conhecer algumas dessas soluções inovadoras.
Ali ouvimos sete jovens que apresentaram suas causas: Marcelo Rebelo, que
desenvolveu uma plataforma que viabiliza a revitalização de praças públicas; Celina Hissa, fundadora de uma empresa
de moda que investe no artesanato e estimula os consumidores a repensarem
seu consumo; Flávia Rego, coordenadora
de um projeto de turismo ecológico; Tom
Adnet Moura, educador ambiental que
trabalha com o tema da conservação dos
recursos hídricos; Christian Engelmann,
criador de um aplicativo que indica pontos de coleta para descarte de resíduos;
Deloan Perini, que desenvolveu um modelo inovador de agricultura para cidades de pequeno porte; e Iago Hairon, que
abordou o incentivo ao ativismo ambiental entre jovens. Com um público formado igualmente por jovens e apresentação de Serginho Groisman, foi um momento de reflexão e muito brilho nos
olhos para o amanhã que desejamos.
Esses jovens empreendedores estão
plantando sementes para germinar esse
sonho coletivo por um ambiente melhor
para todos. No que depender deles, e de
tantos outros que estão contribuindo em
prol desta causa, nosso futuro (e o da
Mata Atlântica) está garantido. l
Marcia Hirota é diretora-executiva da
Fundação SOS Mata Atlântica
14
l O GLOBO
l Rio l
Segunda-feira 27 .6 .2016
Som do Rio Parada Funk danifica obra no MAM
Museu teve que fechar mais cedo, e vibrações geradas por volume das músicas derrubaram peça em exposição
CAROLINA CALLEGARI
[email protected]
O evento era do lado de fora, no
Aterro do Flamengo, mas o som
da sexta edição do Rio Parada
Funk causou prejuízos dentro
do Museu de Arte Moderna
(MAM) ontem. A vibração gerada pelo volume alto das músicas provocou a queda de uma
obra de porcelana da artista
plástica Gabriela Machado que
fazia parte da exposição
“Things that fit in my hand". A
peça acabou danificada ao cair
da mesa em que era exibida. E,
em todo o MAM, os visitantes tiveram de conviver com o funk
de 12 equipes que tocavam,
desde as 9h, em palcos perto do
Monumento aos Pracinhas.
— Não fomos avisados sobre o
evento. Colocaram as caixas de
som viradas para o museu e não
nos falaram nada. Se sabiam que
o som seria tão potente, deveriam ter nos alertado. Se soubéssemos, pelo menos teríamos tomado alguma medida de proteção
— afirma Carlos Alberto Chateaubriand, presidente do MAM.
A instituição teve, inclusive,
que cancelar parte de sua programação e encerrar as atividades mais cedo, às 15h, em
vez de fechar às 18h. Além disso, para evitar novos danos, a
equipe do MAM teve de retirar
do lugar algumas obras que
também poderiam sofrer danos. A administração do museu fez um boletim de ocorrência e afirma que vai procurar
ressarcimento na Justiça.
Moradora de Copacabana,
Maya Pijnappel chegou ao
MAM para visitar a exposição
de Ivens Machado, em seu último dia cartaz. Às 16h, ela encontrou as portas fechadas.
— Eu venho sempre ao
MAM. Não queria perder essa
exposição — lamentou Maya.
Em nota, a Secretaria municipal de Ordem Pública (Seop)
disse que não foi comunicada
dos prejuízos no MAM: “Mas
entraremos em contato com os
organizadores do evento para
que o dano seja reparado, caso
fique comprovado que o incidente foi causado pelo impacto do som”. l
PEDRO TEIXEIRA
Prevenção. Museu precisou mudar obras de lugar para evitar outras quedas
Evento faz
parte do
calendário
cultural do Rio
Sexta edição da festa
teve a apresentação de
90 MC’s e 120 DJ’s
Apesar dos problemas causados no Museu de Arte Moderna (MAM), o Rio Parada Funk
tinha autorização da prefeitura. Como parte do calendário
oficial de eventos culturais da
cidade, já tinham ocorrido edições anteriores no Largo da
Carioca, na Lapa e na Apoteose. Na programação de ontem,
no Aterro do Flamengo, apresentaram-se 12 equipes de
som, 90 MC’s e 120 DJ’s, entre
eles os DJ Marlboro.
A escolha do novo local para
a festa agradou Thais Arimateia, moradora de São João de
Meriti. Segundo ela, o espaço
amplo proporcionou que artistas de diferentes épocas pudessem se reunir.
— Tem como escutar as músicas em todos os lugares. Se o
público cansa de um artista,
pode ir para um palco com
outra apresentação. Está tudo
maravilhoso. Tomara que tenha mais vezes — disse Thais,
que também tinha participado de edições anteriores do
Rio Parada Funk.
Uma das novidades este ano
foi a distribuição de prêmios
em quatro categorias: melhor
funk de todos os tempos, melhor vinheta de equipem,
funk do momento e melhor
baile funk. Para o evento, tido
como o maior baile do tipo no
mundo, foi montando um esquema especial de trânsito
entre o Monumento aos Pracinhas e o MAM. l
Hoje
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Segunda-feira 27 .6 .2016
O GLOBO
Economia
BLOOMBERG
PEDRO KIRILOS
Inflação
l 15
Você Investe
PÁG. 16
PÁG. 18
CAFÉ COM LEITE
COM PREÇO SALGADO
CAUTELA COM AÇÕES
DO SETOR DE TELECOM
Produtos tiveram alta acima da inflação: 9,3% e 18,5%,
por causa da entressafra e da redução dos estoques
Rafael Ohmachi (foto), da Guide, diz que crise
econômica e mudanças tecnológicas afetam negócios
CONTRATAÇÕES EM ALTA
Estatais federais infladas
_
Em quatro anos, número de servidores subiu 11%. Entre as dependentes do Tesouro, 48%
OS NÚMEROS DAS EMPRESAS PÚBLICAS FEDERAIS
DANILO FARIELLO
[email protected]
-BRASÍLIA- Apesar da propalada dificuldade finan-
ceira de várias estatais federais, as 135 que existem país afora continuam infladas, com crescimento constante de pessoal. Dados atualizados
do governo mostram que, de 2010 a 2014, o número total de contratados nessas empresas teve
um acréscimo de 11,2%, o que representa
55.836 novas contratações. O aumento foi ininterrupto. Mas, se forem levadas em conta as estatais que dependem exclusivamente do Tesouro Nacional — como a Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e a
Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), entre outros exemplos — a alta foi de 48,4% no período. Já de 2006 a 2014, o volume de servidores
nas estatais aumentou em 30%, e o das dependentes do Tesouro, em 75%. Enquanto o número de funcionários disparou, o volume de investimentos das estatais federais no primeiro quadrimestre caiu ao menor nível desde 2006.
Entre as distorções no setor está a Agência
Brasileira Gestora de Fundos de Garantidores e
Garantias (ABGF), criada em 2012 e com quase
96 funcionários. A estatal foi fundada com o objetivo principal de gerir um novo fundo garantidor de concessões de infraestrutura que, no entanto, nunca foi lançado, e o atual governo não
confirma os seus planos de capitalização.
Na mira do governo interino de Michel Temer, a
EBC viu seu número de funcionários saltar de
913, em 2010, para 2.564, em 2014, um incremento de 180% em quatro anos. No mesmo período,
os investimentos das estatais cresceram 13,6%.
Em termos agregados, o prejuízo das empresas públicas brasileiras, no ano passado, beirou
os R$ 60 bilhões, com os resultados negativos de
gigantes como Petrobras, Eletrobras, Correios e
Infraero. A penúria financeira das estatais contamina as contas públicas. Segundo relatório
do Tribunal de Contas da União (TCU) divulgado neste mês, as empresas públicas responderam por um deficit primário de R$ 1,7
bilhão no ano passado.
— Os governos anteriores acreditavam no
aumento do gasto público como motor de
crescimento da economia, mas as empresas tiveram problemas por má gestão — disse Paulo
Vicente, professor de gestão pública e estratégica da Fundação Dom Cabral.
Evolução do número de estatais
2010
2011
2012
2014
138 139 141 141 135
550.029
2013
552.856
2014
539.219
2012
Evolução do número
de empregados
nas estatais
AUMENTO DE
2010 A 2014
11,2%
515.318
2011
497.020
2010
AUMENTO DE
2010 A 2014
48,4%
Evolução de empregados
de empresas dependentes
do Tesouro Nacional
39.443
2010
40.270
2011
43.096
2012
Investimentos das
estatais federais
2010
58.533
2014
2013
97.968
2012
83.976
47.433
2013
113.541
(R$ MILHÕES EM VALORES
CORRENTES DE 2014)
“O congelamento da folha,
proposta pelo governo
Temer, é cruel, como todas
as medidas possíveis,
mas é um remédio
para amenizar gastos”
2013
95.506
2014
82.468
2011
Paulo Vicente
Professor de gestão pública e estratégica
da Fundação Dom Cabral
É com esses números que a equipe do presidente interino, Michel Temer, está trabalhando para moldar o conceito de “Estado suficiente”, que vai balizar todas as privatizações
que estão por vir, caso se confirme o afastamento da presidente Dilma Rousseff. Segundo
Fernando Soares, diretor do Departamento de
Estatais do Ministério do Planejamento — que
deverá ser alçado a secretaria nos próximos dias —, o governo vai procurar trazer um modelo
de gestão privada para as estatais, com regras
adaptadas de governança e transparência. Ele
destaca, porém, que as estatais têm de atender
aos interesses da sociedade, e não apenas render lucros ao governo.
— Os retornos da Embrapa ou dos hospitais
são sociais. Algumas empresas dão retorno econômico e outras, apenas social — disse Soares.
Já Vicente destacou, contudo, que, uma vez
infladas as folhas de pagamento das estatais, a
redução não é trivial. Os programas de de-
missões voluntárias (PDVs) existentes em algumas delas, disse ele, tendem a tirar os servidores
mais competentes, que conseguem se realocar
em outras empresas. Outras medidas, como
afastamentos, implicam riscos jurídicos.
— O congelamento da folha, proposto pelo
governo Temer, é cruel, como todas as medidas
possíveis, mas é um remédio para amenizar
gastos — disse o professor da Dom Cabral.
O governo interino trava embates com o Congresso para, além de definir o teto de gastos que
comprimirá os salários dos servidores, aprovar
uma nova lei das estatais, reformando a gestão e
a governança das maiores empresas. Mesmo
com a aprovação do texto, porém, há ceticismo
do mercado quanto à sua efetiva revolução na
gestão das estatais.
BB
114.200
CAIXA
100.677
21%
CORREIOS
120.461
22%
Fontes: Dest e TCU
18%
Maiores estatais
federais em número de
empregados próprios
(EM % DO TOTAL)
PETROBRAS
56.945
10%
Editoria de Arte
“A mistura de papéis entre
governo e empresas levou
ao sonho de um Brasil maior,
mas esse sonho pode ter
virado delírio, ou pesadelo”
Paulo Pedrosa
Secretário executivo do Ministério de Minas e Energia
O tempo dirá se a nova lei vai alterar substancialmente a qualidade e a assertividade da governança das estatais, escreveu o presidente
do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), Emilio Carazzai, aos seus
associados na última sexta-feira:
“Todavia, assim como foram falsas as
expectativas de que a mera promoção de
funcionários de carreira seria bastante
para blindar aquelas empresas de más
práticas, o acervo de conhecimento do
IBGC nos permite afirmar que as medidas
incluídas no novo estatuto estão longe de assegurar que aquele intento seja plenamente
alcançado.”
A carta se refere ao fato de ex-servidores da Petrobras alçados a cargos de chefia terem capitaneado grande parte dos crimes e desvios que foram alvo da Operação Lava-Jato. Agora, o governo procurou indicar nomes notáveis para as principais estatais e dar-lhes autonomia. Pedro Parente, novo presidente da Petrobras, assumiu dizendo que comandará a empresa sob uma ótica
empresarial, sem espaços para interferências do
governo. Na Eletrobras, segunda maior estatal, o
ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho
Filho, indicou o presidente da CPFL, Wilson Ferreira, e já decidiu que seu secretário executivo
não será mais conselheiro da empresa e que seus
diretores não participarão da cúpula que define
os rumos do setor em Brasília.
— A mistura de papéis entre governo e empresas levou ao sonho de um Brasil maior, mas esse
sonho pode ter virado delírio, ou pesadelo, e agora estamos no momento do despertar — disse
Paulo Pedrosa, secretário executivo do Ministério
de Minas e Energia, sobre o rumo das estatais.
Antes de o governo determinar o bloqueio a
indicações de políticos em estatais, foram apontados nomes claramente políticos, como o presidente do PSD, Guilherme Campos, para a presidência dos Correios, e Gilberto Occhi, do PP,
para a Caixa — embora ele seja servidor do banco. Para Soares, limites por relações políticas ou
sindicais muitas vezes são insuficientes para
blindar as empresas.
— A lei já é um avanço, mas vamos avançar
mais em partes — afirmou Soares.
Nesse cenário, o ministério do Planejamento prepara uma reformulação do seu
Departamento de Estatais (Dest), transformando-o em uma secretaria — sob a batuta
de Soares e com um contingente maior —
encarregada sanear as empresas públicas
em dificuldade e prepará-las para a privatização. Ou seja, cuidará da saída do setor público de áreas estratégicas, como energia,
transportes, petróleo e gás. Soares explica
que terá uma equipe dedicada exclusivamente a analisar essas operações. l
16
l O GLOBO
l Economia l
Segunda-feira 27 .6 .2016
Preços muito acima da média
para o tradicional café com leite
[email protected]
GEORGE
VIDOR
Produtos tiveram alta superior a inflação este ano: 9,32% e 18,52%
LUCIANNE CARNEIRO
|
|
FILETE DE LUZ
Índices de julho devem confirmar queda
da inflação e Banco Central poderá então
reduzir a taxa básica de juros
H
á um filete de luz no fim do túnel da economia
brasileira e não é uma “locomotiva” vindo em direção contrária. A inflação, finalmente, está cedendo. Os índices estão sendo ainda puxados por altas nos
chamados preços administrados — fruto da correção automática pela inflação passada — e por variações pontuais
em alguns alimentos por questões climáticas. A demanda
esmoreceu porque os consumidores estão assustados diante da perda de empregos e retração de salários. Como as
leis de funcionamento da economia não foram “revogadas”, a inflação teria de ceder e isso só não havia ainda ocorrido por força dos mecanismos de indexação que não conseguimos nos livrar por causa do trauma remanescente de
décadas de alta de preços desenfreada no país.
Esse filete de luz ficará mais visível com os índices de
preços de julho. Então, em agosto, o Banco Central (BC)
terá condições de cortar os juros básicos, mesmo que faça
isso simbolicamente, reduzindo a Taxa Selic de 14,25%
para 14% ao ano. Os juros reais continuarão excessivamente elevados no Brasil, porém é o que pode ser feito
em uma economia abalroada por uma crise política que
provavelmente não terá solução antes de 2018. Por mais
ínfimo que seja, um corte nos juros decidido por uma
equipe que tem credibilidade junto aos mercados sinalizará
que a economia de fato começa a se recuperar.
_
Biodegradáveis
Até setembro, a Petrobras terá de substituir fluídos usados
na perfuração de poços por produtos que representem
menos riscos ao meio ambiente. Os fluidos são usados para auxiliar a penetração da broca, proteger as paredes dos
poços (evitando desmoronamento) e retirar o cascalho à
medida que a perfuração avança. A quantidade usada na
perfuração de cada poço é considerável, especialmente em
águas profundas, pois a coluna de perfuração é preenchida
com fluidos antes mesmo de a sonda alcançar o leito do
mar. O volume de cascalho retirado também só pode ser
descartado em terra, porque está contaminado com produtos poluentes. Uma parte dos fluidos usados pela Petrobras fica estocada nas embarcações de apoio às plataformas. O estoque é grande porque a empresa previa a utilização de setenta sondas de perfuração no mar — e atualmente só trabalha com sete no pré-sal da Bacia de Santos.
Em face dessa questão ambiental, estão avançando as
tecnologias dos fluidos biodegradáveis, com soluções à
base de água (usadas originalmente na perfuração de poços), mas que se autodegradam com auxílio dos chamados nano particulados. Como não são poluentes, o cascalho e os fluídos podem ser lançados no mar. Uma empresa brasileira de perfuração de poços em terra (Great) vai
usar pela primeira vez esses fluidos biodegradáveis em
blocos que arrematou na Bacia do Recôncavo. É uma espécie de teste São Tomé. Se passarem bem pela experiência, os riscos ambientais relacionados à perfuração de poços
diminuirão muito.
_
Desafio na saúde
Os custos médicos e hospitalares sobem acima da inflação,
e esse é um fenômeno que não se restringe ao Brasil. Reduzir esses custos sem prejudicar os pacientes é um desafio
que envolve várias frentes, e uma delas é razoavelmente
barata e não exige tanto emprego da tecnologia. Trata-se
do combate à desnutrição hospitalar. Pacientes que recebem tratamento nutricional adequado antes de uma cirurgia ficam dois dias a menos internados, revela um estudo
realizado no Brasil junto a 20 mil pacientes em 110 instituições hospitalares (públicas e privadas). A pesquisa, denominada Brains, revelou um risco especialmente entre idosos, ainda mais os que estão em tratamento contra o câncer. “Estamos sensibilizando nossos colegas para a necessidade de se estabelecer protocolos específicos para esses
pacientes e encontramos boa receptividade no Instituto
Nacional do Câncer (Inca)”, observa Monica Meale, nutricionista responsável pelo Brains. Em face da rotatividade de
profissionais de saúde no atendimento dos pacientes, tais
protocolos são essenciais porque definem procedimentos
e rotinas nutricionais antes da realização de exames. O cuidado nutricional dos pacientes evita muitas vezes a reinternação e os riscos de infecções.
A pesquisa Brains mostra como é possível se reduzir custos nos sistemas de saúde sem ter que se reinventar
a roda.
_
[email protected]
A VARIAÇÃO PELO IPCA-15
O feijão não é o único item do
cardápio brasileiro com forte
alta de preços em 2016: o tradicional café com leite também
está mais caro. O preço do leite
longa vida subiu 18,52% este
ano, até junho, segundo o Índice de Preços ao Consumidor
Amplo-15 (IPCA-15), considerado a prévia da inflação oficial
no país. Já o café teve alta de
9,32%. Quem gosta de adoçar
com açúcar cristal, viu o preço
saltar 16,29%. No mesmo período, o preço dos alimentos e
bebidas avançou 7,30% e a inflação geral, 4,62%.
— O leite sobe porque nessa
época chove pouco, e as pastagens ficam prejudicadas. O gado
se alimenta mal e produz menos
leite — explica Andre Braz, da
Fundação Getulio Vargas.
ACUMULADO NO ANO (JANEIRO A JUNHO)
REFLEXO NOS LATICÍNIOS
O início do período de entressafra é a principal razão do aumento do preço do leite, mas não a
única, explica o consultor de
mercado da Scot Consultoria Rafael Ribeiro de Lima Filho:
— Neste ano, houve um
agravante. O milho e a soja,
usados para completar a alimentação do rebanho quando piora a qualidade dos pastos, aumentaram de preço, e o
custo do produtor subiu.
Levantamento da GfK — que
monitora preços de 35 categorias de produtos em 320 supermercados do país — mostra que
o preço médio do litro do leite
longa vida subiu quase 30%
desde o início do ano e está em
R$ 3,33 em junho, considerando as duas primeiras semanas
do mês. Em janeiro, era R$ 2,61.
É o maior nível do preço nominal em cinco anos, desde 2011.
Pelo site PesquisaPraMim,
que faz levantamentos diários
de preço, o litro de leite varia-
Inflação geral
Alimentos e bebidas
Apenas em junho,
o leite sofreu
aumento de
4,62%
7,30%
18,52%
LEITE
5,35%
12,29%
Leite e derivados
41,89%
Manteiga
Iogurte e bebidas lácteas
Leite condensado
Café moído
Açúcar cristal
7,33%
12,87%
9,32%
16,29%
Fonte: IBGE
“Os preços devem
ficar firmes ao
menos até julho e
agosto. A partir de
setembro, começa
o período de
chuvas,
favorecendo os
pastos e a
produção de leite”
Rafael Ribeiro de Lima Filho
Consultor da Scot Consultoria
Editoria de Arte
va entre R$ 3,80 e R$ 4,29 em
supermercados da Barra da
Tijuca e do Recreio na semana passada.
— O leite é o tipo de produto
que as pessoas não têm muito
como substituir ou reduzir o
consumo. Com isso, acabam
cortando outros itens para garantir sua compra — afirma o
diretor de atendimento da
GfK, Marco Aurélio Lima.
CAEM SAFRAS DE CAFÉ E AÇÚCAR
Mais do que apenas um produto, o salto no preço do leite
afeta toda a cadeia de laticínios, que inclui itens como
manteiga, queijo, iogurte e
requeijão. O preço da manteiga disparou este ano, com
alta de 41,89%. Já o iogurte
subiu 7,33%, e o leite condensado, 12,87%.
E nas próximas semanas o
preço vai continuar em alta,
segundo Lima Filho:
— Os preços devem ficar firmes ao menos até julho e
agosto. A partir de setembro,
começa o período de chuvas,
que favorece os pastos e a
produção de leite.
No caso do café, a produção
brasileira está em época de
colheitas, mas os estoques
mundiais do grão devem cair
este ano, o que tem pressionado os preços. Dados do Departamento de Agricultura
dos Estados Unidos (USDA)
mostram que os estoques
mundiais de café devem recuar 11% na safra 2016/17, para
31,5 milhões de sacas. Segundo o pesquisador do Centro
de Estudos Avançados em
Economia Aplicada (Cepea),
da Esalq/USP, Renato Garcia
Ribeiro, é o menor nível desde
a safra 2012/2013.
O preço do açúcar cristal,
por sua vez, tem sido afetado
pelas chuvas, que prejudicam
a moagem da cana-de-açúcar,
também de acordo com análise do Cepea. O movimento é
reforçado pela alta no mercado internacional, em função
das expectativas de déficit
global de açúcar. No mês de
junho, o preço ao produtor já
avançou 12,05%, segundo o
Cepea, o que sugere efeitos
mais à frente para o consumidor. l
Senado sabatina indicados à diretoria do BC
Entrevistas ocorrem
amanhã, data da
divulgação da previsão
de inflação
GABRIELA VALENTE
[email protected]
-BRASÍLIA - No
mesmo dia em
que o Banco Central (BC) divulgará as previsões para a inflação e atividade no relatório
trimestral, os novos integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) serão sabati-
SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA SESI e o SERVIÇO NACIONAL DE
APRENDIZAGEM INDUSTRIAL - SENAI
tornam público aos interessados que
realizará a licitação abaixo:
Pregão Presencial SESI-RJ/SENAI-RJ nº 028/2016
Objeto: Registro de Preços para eventual aquisição
de frascos de plástico para atendimento às necessidades do SESI-RJ e do SENAI-RJ.
Data abertura das propostas:
06/07/2016, às 14h00.
Retirada do edital:
http://portaldecompras.firjan.org.br
Comissão de Licitações do Sistema FIRJAN-CLSF
nados no Senado. A Comissão
de Assuntos Econômicos
(CAE) marcou para amanhã a
entrevista com os indicados
aos cargos de diretores da autoridade monetária.
Para a diretoria de Política
Econômica, concorre o economista da PUC-Rio Carlos
Viana de Carvalho. Reinaldo
Le Grazie ocupará, se aprovado pelos senadores, a diretoria de Política Monetária e Tiago Couto Berriel é o indicado
para a diretoria de Assuntos
Internacionais. O atual procurador do BC, Isaac Sidney,
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CASCADURA Av. Dom Helder Camara, 9.783
deixa o posto e pode ter um
assento no Copom, se autorizado pelos senadores. Sidney
comandará a diretoria de Relações Institucionais.
GOLDFAJN TRAÇARÁ CENÁRIO
Depois de aprovados pela
CAE, os quatro nomes devem
ser avalizados pelo plenário do
Senado Federal. Só depois disso, os indicados podem assumir os cargos.
No mesmo momento em que
os senadores fizerem perguntas
para os possíveis diretores, o
novo presidente do BC, Ilan
SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA SESI e o SERVIÇO NACIONAL DE
APRENDIZAGEM INDUSTRIAL - SENAI
tornam público aos interessados que
realizará a licitação abaixo:
Pregão Eletrônico SESI-RJ/SENAI-RJ nº 043/2016
Objeto: Aquisição de equipamentos para laboratório
(balança analítica, destilador de cianeto, termômetro
digital e afins) para atender às necessidades de
diversas Unidades do SESI-RJ e do SENAI-RJ.
Data abertura das propostas:
08/07/2016, às 10h00.
Retirada do edital:
http://portaldecompras.firjan.org.br
Comissão de Licitações do Sistema FIRJAN-CLSF
Goldfajn, dará sua primeira entrevista coletiva no cargo. Ele
aproveitará a apresentação do
relatório trimestral de inflação
para traçar um cenário do atual
momento econômico do país.
A fala ganha ainda mais importância depois de Goldfajn
ter passado o fim de semana
inteiro em debates com outros
presidentes de bancos centrais, na Basileia, Suíça. As
atenções estarão voltadas para
sua leitura do cenário internacional após a decisão dos britânicos de deixar a União Europeia. l
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Oportunidade pós-Lava Jato
Com as grandes empreiteiras atoladas na operação LavaJato, têm surgido oportunidades para empresas médias
no setor. Agora em julho, um consórcio liderado pela Barbosa Mello Participações, grupo empreiteiro local, assina
um contrato de parceria público-privada para modernizar toda a iluminação das ruas de Belo Horizonte. Será a
primeira capital brasileira a assinar esse tipo de contrato.
Serão trocados 145 mil pontos de luz por lâmpadas LED,
mais econômicas e ambientalmente mais sustentáveis.
Por 20 anos o consórcio ficará responsável pela manutenção dessa rede, com redução de 45% na conta de luz da
prefeitura. l
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l Economia l
Segunda-feira 27 .6 .2016
BIS alerta para ‘trindade de
riscos’ na economia global
Para instituição, mercado estava exposto mesmo antes do Brexit
-LONDRES E PEQUIM- A política econômica
global precisa urgentemente ser reequilibrada, afirmou o Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla
em inglês) ontem, enquanto o mundo
enfrenta uma “trindade de riscos”. O
BIS, órgão que reúne os principais bancos centrais, disse, ainda, em seu relatório anual que a economia global estava altamente exposta mesmo antes do
voto de quinta-feira pela saída do Reino Unido da União Europeia.
“Há desenvolvimentos preocupantes,
uma espécie de ‘trindade de riscos’, difícil
de assistir”, disse o chefe do departamento
monetário e econômico do BIS, Claudio
Borio, listando esses problemas: “crescimento da produtividade que está anormalmente baixo, jogando uma sombra sobre melhoras futuras no padrão de vida;
níveis globais de dívida que são historicamente altos, elevando os riscos à estabilidade financeira; e um espaço notavelmente estreito para manobras políticas.”
Ele afirmou que a economia global
não pode depender mais do modelo de
crescimento estimulado pela dívida,
que levou à atual conjuntura.
Apesar das taxas de juros abaixo de zero e dos trilhões de dólares em estímulos,
os bancos centrais da Europa e do Japão
estão tendo dificuldade para levantar a
inflação e o crescimento. Os mercados se
acostumaram com este suporte, mas estão cada vez mais preocupados de que o
poder de fogo já foi, na maior parte, gasto.
“Caso essa situação seja prolongada ao
ponto de abalar a confiança pública na
elaboração de políticas, as consequências
para os mercados financeiros e para a
economia podem ser sérias”, acrescentou.
O BIS também afirma que o mundo
está cada vez mais sob risco de ser afetado por turbulências que começam
nas economias emergentes, em função
da influência crescente destes países
no comércio e nas finanças globais.
BRENDAN SMIALOWSKI/AFP/11-07-2013
Brexit. Ministro das Finanças da China, Lou Jiwei: “repercussões vão emergir em cinco anos”
A instituição ressalta que nos, emergentes, os tomadores de créditos não
bancários — que acumularam trilhões
em dívidas em dólar na era do dinheiro
barato pós-crise de 2009 — estão sob
tensão, enquanto suas economias desaceleram, e as moedas enfraquecem.
EFEITO LIMITADO SOBRE A CHINA
Legisladores e economistas chineses
manifestaram preocupação sobre o
Brexit. O ministro das Finanças da China, Lou Jiwei disse que o processo elevou a incerteza no mercado financeiro,
apesar de uma expectativa de impacto
limitado sobre a economia chinesa.
A decisão “lança uma sombra sobre a
economia global. As repercussões vão
emergir durante os próximos cinco a
dez anos”, disse Lou, acrescentando:
— A reação instintiva do mercado é provavelmente um pouco exagerada. É preciso acalmar e ter uma visão objetiva.
As Bolsas pelo mundo despencaram
após o resultado do referendo britâni-
co, e a libra atingiu seu menor valor
desde 1985 frente ao dólar.
As declarações de Lou foram apoiadas pelo chefe do principal órgão de
planejamento econômico da China e
outros economistas no Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), na cidade de Tianjin.
— O incidente do Brexit afetará a economia chinesa através de investimento, comércio e capital, mas acredito que o impacto não será grande, e departamentos
de governo relevantes prepararam planos
de contingência — afirmou Xu Shaoshi,
presidente da Comissão de Reforma e Desenvolvimento Nacional, no WEF.
Li Daokui, professor da Universidade
de Tsingua e ex-consultor do BC chinês, é mais otimista sobre os efeitos do
Brexit na China:
— O impacto de curto prazo acho que
pode ser na taxa de câmbio do yuan.
Mas acho que, dentro de algumas
sessões de mercado, a situação será rapidamente controlada. l
‘City’ não deixará de ser centro financeiro, mas
se enfraquecerá, diz executivo do Deutsche Bank
JOHN MACDOUGALL/AFP/21-6-2016
O inglês John Cryan
espera volatilidade
acima do habitual nas
próximas semanas
-BERLIM- O diretor executivo
do D eutsche Bank, John
Cr yan, afirmou ontem que
Londres não morrerá como
centro financeiro. Contudo,
ele disse acreditar que a região conhecida como City de
L ondres — uma pequena
área no Centro histórico da
capital que funciona há séculos como importante polo
financeiro global — ficará
enfraquecida após a decisão
do Reino Unido de sair da
União Europeia.
John Cryan, inglês que divide o tempo entre Frankfurt e
Londres, disse ao jornal financeiro alemão “Handelsblatt”
que espera maior volatilidade
do que o comum nos mercados financeiros nas próximas
semanas.
“O centro financeiro não
morrerá, mas enfraquecerá”,
Seu
espaço
Consequência. Cryan não comentou efeito direto do Brexit para o banco
ressaltou Cryan em Londres.
O executivo não comentou o
possível impacto direto que o
Deutsche Bank pode enfrentar
após o referendo britânico realizado na quinta-feira.
REPATRIAÇÃO
O Deutsche Bank emprega
ao menos 11 mil funcionários no Reino Unido. A instituição financeira mantém
um grupo de trabalho para
analisar a repatr iação de
parte de sua operação para a
zona do euro, sobretudo na
Alemanha.
Cryan está trabalhando em
uma revisão estratégia do maior banco creditício na Alemanha. Ele já anunciou que cortará nove mil postos de trabalho, dos quais quatro mil serão
eliminados no país sede. l
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O GLOBO
l 17
Investidores atentos
ao desenrolar político
Incertezas e apetite
moderado por risco
vão dar o tom das
negociações
-SYDNEY E NOVA YORK- A libra — que
na sexta-feira registrou sua
maior queda para um dia ante
o dólar — estendeu o recuo na
abertura dos mercados asiáticos hoje (noite de domingo no
Brasil). O movimento levou
outras moedas europeias a caírem, enquanto a inesperada
vitória do voto pela saída do
Reino Unido da União Europeia no referendo de quintafeira pesou nos mercados cambiais pelo segundo dia. E as
questões políticas devem se
tornar o foco.
A cotação da libra caía 1,6% às
7h em Tóquio, a US$ 1,3468, e o
euro se desvalorizava em 0,5%.
A coroa norueguesa, por sua
vez, recuava mais de 2%, também ante a moeda americana.
Já a divisa japonesa, comumente comprada em momentos de
estresse nos mercados, operava
quase estável, a 102,19 por dólar, após chegar a avançar 0,7%.
Na sexta-feira, o iene chegou
próximo de sua máxima em três
anos, a 99,02 por dólar.
MENOS US$ 2 TRILHÕES
Na sexta-feira, já havia sido possível notar a busca dos investidores por ativos seguros, o que
fez com que a cotação do ouro
também subisse. As incertezas
levaram a quedas generalizadas
nas Bolsas de Valores, o que fez
com que o mercado global perdesse US$ 2 trilhões.
O foco agora está mudando e
sendo direcionado para os
bancos centrais, enquanto estas instituições buscam uma
forma de minimizar os danos
nos mercados. Isso também se
reflete nas expectativas. Agora,
as apostas de que o banco central americano (Fed) vá aumentar os juros em dezembro
caiu para 15%. Antes do referendo, 50% esperavam a alta.
— Os desenvolvimentos políticos vão definir, em grande parte, o tom para os mercados nas
próximas semanas, e muitas
questões continuam sem resposta — avaliou Jason Wong,
estrategista cambial do Banco
da Nova Zelândia. — A incerteza à frente sugere que um período de apetite moderado por risco deve se desenvolver nas próximas semanas.
Entre os temores no radar
dos investidores, está o receito
de que os investimentos das
empresas tanto na UE quanto
na Grã Bretanha serão adiados, agravando a situação nas
já fragilizadas economias.
Ninguém sabe exatamente
qual será o impacto do Brexit, o
que é um grande problema, já
que para investimentos de longo prazo as empresas precisam
ter uma ideia clara sobre regras
de comércio e tarifas, além das
regulações, que enfrentarão no
futuro. Assim, o voto pela saída
do Reino Unido deixou o horizonte ainda mais imprevisível.
Andrew Hood, diretor sênior
da Dechert, disse à agência de
notícias AP, que grandes empresas de tecnologia e manufatura temem enfrentar problemas se o Reino Unido focar demais em manter os serviços financeiros. Segundo Hood, ele
já ficou sabendo de três acordos
postos em espera indefinidamente em função do Brexit. l
Partidos em guerra interna, na
página 19
18
l O GLOBO
l Economia l
Luz amarela
para ações de
operadoras
de telefonia
Setor, que sempre foi visto como
defensivo, passa por mudanças, o
que exige cautela, dizem analistas
JOÃO SORIMA NETO
[email protected]
-SÃO PAULO- O pedido de recuperação judicial da Oi acendeu a
luz amarela para os investidores que sempre viram no setor
de telecomunicações um porto seguro no mercado acionário. Consideradas defensivas,
já que oscilam menos que a
média do mercado, além de
boas pagadoras de dividendos
(parte do lucro que é distribuída aos acionistas), as ações das
teles, segundo especialistas,
estão em processo de mudança. Por isso, eles recomendam
cautela com esses papéis.
— As ações de telecomunicações sempre foram procuradas
pelo investidor interessado em
receber dividendos, o que ajuda
a se proteger de perdas no mercado de ações em tempos de
baixa. Mas a crise da economia
e as mudanças tecnológicas estão afetando o negócio — explica Rafael Ohmachi, analista da
Guide Investimentos.
Na prática, as empresas do setor estão tendo que se reinventar, e isso tem um custo. Com as
inovações tecnológicas constantes (3G, 4G), elas precisaram
aumentar seus investimentos
para atender às necessidades
do consumidor. Isso consome o
caixa, eleva o endividamento e
reduz os dividendos, explicam
analistas. É um cenário diferente do observado logo após a privatização das teles, no início
dos anos 2000, quando a Telebras foi fatiada em 12 empresas,
que tiveram de investir pesado
em infraestrutura para, depois,
fazer apenas a manutenção.
— Era uma receita constante
Você investe
FÔLEGO MENOR
MUDANÇA NO MODELO DE NEGÓCIOS E CRISE ECONÔMICA AFETAM
SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES (EM BILHÕES DE REAIS)
Oi
TIM
NOVA ONDA DE REESTRUTURAÇÃO
No Ibovespa, principal índice do
mercado brasileiro, o setor de
telecomunicações representa
hoje apenas 2,9%, o que mostra
a rapidez da consolidação. No
passado, as ações das teles já
chegaram a representar quase
50% da carteira do índice.
Na Guide, a única recomendação positiva entre os três papéis é para a Vivo. Segundo
Ohmachi, embora a companhia tenha sofrido com a conjuntura adversa para o setor, ela
se mantém eficiente, com margens maiores de ganho e bom
pagamento de dividendos.
Na Bolsa, as ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da
Vivo, que têm prioridade no recebimento dos dividendos, têm
valorização de 19,3% no ano. Já
os papéis PN da Oi têm queda
de 22,3% em 2016. Na semana
passada, no dia seguinte ao pedido de recuperação judicial, as
ações da operadora chegaram a
21/06 0,2169% 22/06 0,2135% 23/06 0,2057%
Selic: 14,25%
Correção da Poupança
Até 03/05/12
DIA
09/07
10/07
11/07
12/07
13/07
14/07
15/07
16/07
17/07
18/07
19/07
20/07
21/07
22/07
23/07
HOJE - PESQUISAS: A FGV divulga a Sondagem do Consumidor de junho. Em maio, o
indicador ficou em 67,9 pontos. No dia 29, sai o IGP-M de
junho. Espera-se aceleração
de 0,82% para 1,52%
A partir de 04/05/12
ÍNDICE
0,7121%
0,6694%
0,6635%
0,6923%
0,7132%
0,6945%
0,6834%
0,7217%
0,6795%
0,6529%
0,6911%
0,7316%
0,7180%
0,7146%
0,7067%
DIA
09/07
10/07
11/07
12/07
13/07
14/07
15/07
16/07
17/07
18/07
19/07
20/07
21/07
22/07
23/07
ÍNDICE
0,7121%
0,6694%
0,6635%
0,6923%
0,7132%
0,6945%
0,6834%
0,7217%
0,6795%
0,6529%
0,6911%
0,7316%
0,7180%
0,7146%
0,7067%
Obs: Segundo norma do Banco Central, os
rendimentos dos dias 29, 30 e 31 correspondem ao
dia 1º do mês subsequente.
1,8
Dezembro
-3,9%
Janeiro
-6,79%
Fevereiro +5,91%
Março
+16,9%
Abril
+7,7%
Maio
-10,1%
R$ 788
R$ 788
R$ 880
R$ 880
R$ 880
R$ 880
R$ 953,47
R$ 1.052,34
R$ 1.052,34
R$ 1.052,34
R$ 1.052,34
R$ 1.052,34
Obs: * O valor do salário mínimo a partir de 1º de
janeiro de 2016 é de R$ 880. ** Piso para
empregado doméstico, entre outros.
IMPOSTO DE RENDA
IR NA FONTE JUNHO 2016
Base de cálculo
R$ 1.903,98
De R$ 1.903,99 a 2.826,65
De R$ 2.826,66 a 3.751,05
De R$ 3.751,06 a 4.664,68
Acima de R$ 4.664,68
Alíquota Parcela a deduzir
Isento
7,5%
15%
22,5%
27,5%
—
R$ 142,80
R$ 354,80
R$ 636,13
R$ 869,36
Deduções: a) R$ 189,59 por dependente; b) dedução
especial para aposentados, pensionistas e
transferidos para a reserva remunerada com 65 anos
ou mais: R$ 1.903,98; c) contribuição mensal à
Previdência Social; d) pensão alimentícia paga devido
a acordo ou sentença judicial.
Obs: Para calcular o imposto a pagar, aplique a
alíquota e deduza a parcela correspondente à faixa.
Esta nova tabela só vale para o recolhimento do IRPF
este ano.
A correção da terceira parcela do IRPF de 2016, que
vence no dia 30 de junho, é de 2,11%.
Desde março,
a situação se
agravou. Ao
pedir
recuperação
judicial, a
empresa
informou uma
dívida de R$
65,4 bilhões
Dívida bruta
4
2,2
1,9
41,7
51
2,3
2016*
2010
27
14,4 16,4
10,2
2010
2016*
2010
2016*
2010
2016*
2010
2016*
15,7
Operadora vem
enfrentando
dificuldades
em suas
operações
2010
4,3
-6,22
2016*
3,2
2010
2016*
Fonte: Economática *Em 12 meses até março
Reinvenção. Rafael Ohmachi, da Guide: “A crise da economia e as mudanças tecnológicas estão afetando o negócio”
cair mais de 30%, recuperandose após o governo sinalizar que
agilizará a tramitação da Lei
Geral das Comunicações. Na
quinta e na sexta-feira, subiram
35% e 18%, respectivamente. A
TIM, que só negocia ações ordinárias (ON, com direito a voto),
perde 1,4% no ano.
Ohmachi observa que, para o
investidor que busca o pagamento de dividendos, há hoje
empresas do setor de energia
mais interessantes que as teles:
— Os papéis de algumas
transmissoras de energia, como
Alupar e Taesa, estão oferecendo dividendos melhores que os
do setor de telecomunicações.
Para o consultor de investimentos Paulo Bittencourt, o in-
Salário de contribuição (R$)
Até 1.556,94
de 1.556,95 a 2.594,92
de 2.594,93 a 5.189,82
Alíquota (%)
8
9
11
Obs: Percentuais incidentes de forma não cumulativa
(artigo 22 do regulamento da Organização e do
Custeio da Seguridade Social).
Trabalhador autônomo
Para o contribuinte individual e facultativo, o valor da
contribuição deverá ser de 20% do salário-base.
Contribuição mensal mínima de R$ 176,00 (para o piso
de R$ 880,00) e máxima de R$ 1.037,96 (para o teto de
R$ 5.189,82)
Junho
R$ 1,0641
Obs: foi extinta
29/6 - DESEMPREGO: O IBGE
informa os dados de emprego referentes a maio, pela
Pnad Contínua Mensal. Em
abril, o índice de desemprego foi de 11,2%. As projeções apontam 11,4%
UFIR/RJ
Junho
R$ 3,0023
IPCA (IBGE)
(12/93=100)
4493,17
4550,23
4591,18
4610,92
4639,05
4675,23
Obs: A Unif foi extinta em 1996. Cada Unif vale 25,08
Ufir (também extinta). Para calcular o valor a ser
pago, multiplique o número de Unifs por 25,08 e
depois pelo último valor da Ufir (R$ 1,0641). (1 Uferj
= 44,2655 Ufir-RJ)
No ano Últ. 12meses
0,96% 10,67%
1,27% 1,27%
0,90% 2,18%
0,43% 2,62%
0,61% 3,25%
0,78% 4,05%
10,48%
10,67%
10,71%
9,39%
9,28%
9,32%
Índice Variações percentuais
Dezembro
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
617,044
624,060
632,114
635,349
637,434
642,651
No mês
No ano Últ. 12meses
0,49% 10,54%
1,14% 1,14%
1,29% 2,44%
0,51% 2,97%
0,33% 3,30%
0,82% 4,15%
10,54%
10,95%
12,08%
11,56%
10,63%
11,09%
IGP-DI (FGV)
Índice Variações percentuais
(8/94=100)
UNIF
No mês
IGP-M (FGV)
(8/94=100)
Dezembro
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
610,128
619,476
624,366
627,060
629,345
636,468
móvel e transmissão de dados de
forma separada. Hoje, as empresas precisam oferecer os três serviços integrados, além de ter em
seu pacote a TV por assinatura.
Bittencourt lembra ainda que a
crise econômica reduziu o consumo dos serviços de telefonia
nas classes C e D, que migraram
para os pré-pagos e usam WiFi
para transmissão de dados. Ele
acredita que a situação da Oi pode desencadear uma nova onda
de reestruturação do setor, com a
entrada de grandes grupos estrangeiros, por exemplo. E que
TIM e Vivo podem se beneficiar
com a migração de clientes da
Oi. Isso, diz, teria impacto positivo nos papéis do setor, mas esse
cenário ainda é incerto.
2016*
2010
2016*
No mês
Para quem já tem ações da Oi
em seu portfólio, o especialista
em investimentos do banco Ourinvest, Mauro Calil, recomenda
a venda dos papéis se eles representarem uma parte pequena
do total de recursos aplicados.
Mas, se o valor alocado for robusto, o melhor é esperar.
— Se o valor alocado for igual
ou superior a 50% do total de
investimentos, é melhor ficar
com as ações. Mas se representar apenas 5% do portfólio, o
ideal é cair fora. E para quem
não tem nenhum papel de tele
neste momento, não recomendo comprar. Há outras alternativas na renda variável mais interessantes, como os fundos recebíveis imobiliários, que oferecem um retorno melhor no
curto e médio prazo — diz Calil.
DEBÊNTURES: NA FILA
Os investidores que aplicam em
fundos de investimento com
papéis da Oi também terão perdas. Isso porque esses fundos
terão de reconhecer o prejuízo
e provisionar perdas, o que afetará negativamente o rendimento. Levantamento da Economática mostra que 163 fundos têm debêntures ou ações
da Oi, no total de R$ 519 milhões. Como as debêntures são
títulos de dívida privada emitidos por uma empresa, quando
ela entra em recuperação judicial o pagamento é suspenso.
— Os donos de debêntures
entram na fila com os demais
credores para receber. Algumas
debêntures oferecem garantias,
como imóveis ou o pagamento
atrelado à receita da empresa.
Isso pode reduzir um pouco o
prejuízo — explica Calil. l
30/6 - REINO UNIDO: O governo britânico publica os dados revisados do PIB no
primeiro trimestre. Segundo analistas, o crescimento
de 0,4% divulgado em maio
não deve ser alterado
1/7 - INDÚSTRIA: O IBGE divulga a produção industrial
referente a maio. E o Ministério do Desenvolvimento
informa o resultado da balança comercial para o mês
de junho
CÂMBIO
BOLSA DE VALORES: Informações sobre
cotações diárias de ações e evolução dos
índices Ibovespa e IVBX-2 podem ser
obtidas no site da Bolsa de Valores de São
Paulo (Bovespa), www.bovespa.com.br
CDB/CDI/TBF: As taxas de CDB e CDI
podem ser consultadas nos sites de
Anbima (www.anbima.com.br) e Cetip
(www.cetip.com.br). A Taxa Básica
Financeira (TBF) está disponível
no site do Banco Central (www.bc.gov.br).
Para visualizá-la, clicar em “Economia e
finanças” e, posteriormente, em “Séries
temporais”
FUNDOS DE INVESTIMENTO:
Informações disponíveis no site da
Associação Brasileira das Entidades dos
Mercados Financeiro e de Capitais
(Anbima), www.anbima.com.br. Clicar em
“Fundos de investimento”
IDTR: Pode ser consultado no site da
Federação Nacional das Empresas de
Seguros Privados e de Capitalização
(Fenaseg), www.fenaseg.org.br. Clicar na
barra “Serviços” e, posteriormente, em
FAJ-TR. Selecionar o ano e o mês desejados
ÍNDICE DE PREÇOS: Outros indicadores
podem ser consultados nos sites da
Fundação Getulio Vargas (FGV, www.fgv.br),
do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE, www.ibge.gov.br) e da
Anbima (www.anbima.com.br)
DÓLAR
Índice Variações percentuais
Dezembro
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
1,8
|
INFLAÇÃO
Trabalhador assalariado
UFIR
vestidor pessoa física deve, neste momento, ficar fora dos papéis de telecomunicações. Ele
não vê parâmetros para estimar
o comportamento dessas ações
em prazo mais longo, como deve ocorrer com o investimento
em renda variável.
— Estamos em um momento
de mudança de paradigma no
setor, em que o modelo de negócios está sendo reelaborado,
com novo mix de produtos. Por
isso, acho os papéis arriscados
para investidor pessoa física,
que tem pouca informação. O
momento é de cautela, e é melhor esperar — explica.
O consultor observa que o modelo de privatização foi concebido para oferecer telefonia fixa,
Fique de olho
AMANHÃ - EUA: O governo
americano divulga a revisão do Produto Interno
Bruto (PIB) no primeiro trimestre. A previsão é que o
dado fique em 1%, contra
0,8% da estimativa anterior
2010
8,9
7,04
Editoria de Arte
PEDRO KIRILOS
INSS/JUNHO
BOVESPA SAL. MÍNIMO SAL. MÍNIMO
(FEDERAL)*
(RJ)**
TR
Lucro líquido
e previsível, com fluxo de caixa
estável — diz Ohmachi.
Nas três companhias do setor
que têm ações negociadas na
Bolsa de Valores, Oi, TIM e Telefônica Brasil (Vivo), a distribuição de dividendos vem minguando nos últimos anos. Segundo levantamento da consultoria Economática, a Oi pagou
R$ 2,4 bilhões em dividendos
em 2012 — mas, no ano passado, apenas R$ 57 milhões. Na Vivo, a divisão dos lucros com os
acionistas caiu de R$ 5,3 bilhões
em 2011 para R$ 3,6 bilhões em
2015. E na TIM, encolheu de R$
734 milhões em 2013 para R$
360 milhões no ano passado. A
Claro não tem papéis no pregão.
ÍNDICES
Indicadores
Vivo
Receita líquida
|
HOJE - SAGA BREXIT: Os investidores acompanharão
com a atenção os mercados
de ações e de câmbio, que
ainda devem reagir à decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia
Segunda-feira 27 .6 .2016
No ano Últ. 12meses
1,19% 10,21%
0,44% 10,70%
1,53% 1,53%
0,43% 2,78%
0,36% 3,15%
1,13% 4,32%
10,64%
10,70%
11,65%
11,07%
10,46%
11,26%
Dólar comercial (taxa Ptax)
Paralelo (São Paulo/CMA)
Diferença entre paralelo e comercial
Dólar-turismo esp. (Banco do
Brasil)
Dólar-turismo esp. (Bradesco)
EURO
Euro comercial (taxa Ptax)
Euro-turismo esp. (Banco do Brasil)
Euro-turismo esp. (Bradesco)
Compra R$
Venda R$
3,3766
3,30
-2,27%
3,28
3,3772
3,50
3,63%
3,46
3,13
3,57
Compra R$
Venda R$
3,7558
3,6413
3,47
3,7571
3,8482
3,96
OUTRAS MOEDAS
Cotações para venda ao público (em R$)
Franco suíço
Iene japonês
Libra esterlina
Peso argentino
Yuan chinês
Peso chileno
Peso mexicano
Dólar canadense
3,47015
0,0330056
4,60844
0,226469
0,509689
0,00496328
0,178430
2,60038
FONTE: MERCADO
Obs: As cotações de outras moedas estrangeiras
podem ser consultadas nos sites www.xe.com/ucc e
www.oanda.com.
Segunda-feira 27 .6 .2016
O GLOBO
Mundo
A nova Europa
l 19
Partidos em guerra interna
Conservadores se dividem sobre sucessão de Cameron, e trabalhistas se rebelam contra líder
ODD ANDERSEN/AFP
Racha britânico. Homens caminham sobre a ponte de Westminster envoltos em bandeiras do Reino Unido: decisão pela saída da União Europeia deu início a uma disputa interna de poder nos partidos Conservador e Trabalhista
DAN BALZ, ANTHONY FAIOLA E GRIFF WITTE
Do “Washington Post”
U
As consequências políticas da decisão
sem precedentes do Reino Unido de deixar a
União Europeia (UE) intensificaram-se ontem,
com uma rebelião interna nos dois principais
partidos do país. De um lado, o Partido Conservador se divide sobre a escolha do sucessor do
primeiro-ministro David Cameron. Do outro, o
líder do Partido Trabalhista, da oposição, denuncia uma tentativa de golpe.
Descrito como o evento mais importante na
História do pós-guerra do Reino Unido, o referendo que deu vitória ao Brexit (saída do bloco
europeu) deixou o país instável, praticamente
sem líder e em território desconhecido. O complexo processo de negociação dos termos da separação da UE colidiu com uma crise de liderança, desencadeada pela revolta dos eleitores
contra quase todo o establishment político.
Na madrugada de domingo, foi noticiada a
primeira baixa do Partido Trabalhista como resultado direto do Brexit. O líder Jeremy Corbyn
demitiu Hilary Benn, um dos membros mais
antigos de sua equipe de liderança e secretário
de Relações Exteriores do chamado Gabinete
paralelo, a quem acusou de conspirar contra
ele. A demissão de Benn provocou a debandada
de outros dez membros da cúpula da sigla, que
renunciaram em solidariedade ao colega.
A revolta nas fileiras da principal legenda da
oposição reforçou o temor de que o partido sofra o que Benn chamou de uma derrota “catastrófica” se houver uma eleição geral em novembro, depois de o Partido Conservador escolher
um novo líder para suceder a Cameron.
— Ele é um homem bom e decente, mas não é
um líder — disse Benn sobre Corbyn, à BBC.
PARTIDO TRABALHISTA
-LONDRES-
TRABALHISTA ENFRENTA MOÇÃO DE DESCONFIANÇA
Corbyn enfrenta um voto de desconfiança entre
os seus pares nesta semana, mas prometeu manter-se firme contra os esforços para derrubá-lo.
Eleito líder no ano passado numa onda de entusiasmo por suas posições de esquerda, o trabalhista está sendo criticado por falhar em persuadir
eleitores em votarem pela permanência na UE.
Ele tem amplo apoio de membros da base do partido, o que poderia resultar numa guerra civil potencialmente desastrosa dentro da sigla.
“Lamento que tenha havido renúncias hoje em
meu Gabinete paralelo. Mas não vou trair a confiança daqueles que votaram em mim, ou os milhões de apoiadores país afora que precisam dos
trabalhistas para representá-los”, disse Corbyn
num comunicado. “Aqueles que quiserem mudar
a liderança trabalhista devem concorrer numa
eleição democrática, na qual eu serei candidato.”
O destino de Corbyn, porém, é visto como secundário em relação à escolha de quem vai liderar os conservadores, uma vez que o nomeado
U
SEM SINTONIA
REUTERS
‘RECALL’ DO BREXIT
PARTIDO CONSERVADOR
REUTERS
AFP
AFP
Puxão de tapete. Hilary Benn (esquerda) e Corbyn
Rivais pela liderança. Theresa May e Boris Johnson
REBELIÃO DE CORRELIGIONÁRIOS
SUCESSÃO EM ABERTO
O líder trabalhista Jeremy Corbyn, à esquerda da
maioria de seus correligionários, nunca teve apoio
expressivo na bancada. Em sua eleição, em 2015,
menos de 20 dos 230 deputados trabalhistas
votaram nele, mas sua vitória foi garantida pelos
votos dos filiados ao partido. Acusado de fazer
campanha anti-Brexit morna, sofre contestação
liderada pelo agora ex-secretário de Relações
Exteriores do Gabinete paralelo, Hilary Benn.
A vitória do Brexit levou à renúncia do premier David
Cameron, que apoiou a permanência na UE. A
próxima eleição só precisa ser convocada em 2020,
mas com a saída do premier, especula-se que seu
sucessor, a ser escolhido internamente no partido,
possa antecipá-las. Boris Johnson, um dos líderes do
Brexit, é candidato forte, mas enfrentará a secretária
do Interior, Theresa May, cujo nome é articulado pela
ala contrária ao ex-prefeito de Londres.
se tornará imediatamente premier. Os conservadores se reunirão em outubro para apontar
um novo comandante. Boris Johnson, ex-prefeito de Londres e a voz de liderança na campanha
pela saída da UE, está sendo considerado o favorito para assumir o lugar de Cameron.
Mas o exuberante Johnson é um ímã de controvérsias, e emergiram relatos ontem sobre esforços
por parte de outros conservadores para negar-lhe
o cargo, que ele vem manobrando para reivindicar. Uma possível rival do ex-prefeito é Theresa
May, atualmente secretária do Interior e uma silenciosa militante a favor da permanência do Reino Unido no bloco europeu. Ela é vista como uma
alternativa a Johnson e uma figura que poderia
unificar o partido após o terremoto provocado
pelo referendo também no Partido Conservador
— cujos parlamentares ficaram praticamente rachados ao meio sobre a saída.
Alan Duncan, deputado conservador e ex-ministro, disse que é errado considerar que o novo
líder deva ser necessariamente um partidário
do Brexit. Outro possível candidato é Amber
Rudd, secretário de Energia, que confrontou
Johnson na TV e agora está sendo pressionado a
concorrer pela ala mais progressista.
A crise política se acentuou no momento em
que líderes europeus continuam a exigir a ação
rápida do Reino Unido para a separação. O presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz,
pediu ontem a Cameron que inicie o processo já
amanhã, quando será realizada uma cúpula europeia. O premier deixou a seu sucessor a tarefa.
— Essa atitude de dúvida, simplesmente para
seguir o jogo tático dos conservadores, prejudica a todos — afirmou Schulz.
Ao mesmo tempo, a ministra-chefe da Escócia,
Nicola Sturgeon, pressiona pela realização de um
novo referendo para declarar a independência do
Reino Unido e buscar um acordo separadamente
para ficar na UE. Ela reiterou a determinação de
avançar com ações que poderiam desmantelar o
país. Embora os escoceses tenham rejeitado a independência nas urnas, há dois anos, as circunstâncias mudaram, disse Sturgeon ontem à BBC.
PAPA PEDE ‘CRIATIVA E SAUDÁVEL DESUNIÃO’
Pesquisas apontam que a opção separatista
volta a crescer entre os escoceses após o Brexit. A premier também levantou a possibilidade de o Parlamento escocês tentar bloquear a
separação. Especialistas, porém, dizem que o
órgão não pode vetar a retirada britânica da
UE, embora possa não dar seu consentimento
sobre questões relativas aos poderes autônomos do país que passem pelo bloco.
Alertando contra o “ar de divisão na Europa”, o
Papa Francisco afirmou ontem que a UE deve “redescobrir a força em suas raízes, uma criativa e
saudável desunião, dando mais independência e
mais liberdade para os países da união”. (Com
agências internacionais) l
PETIÇÃO É INVESTIGADA
POR SUPOSTA FRAUDE
-LONDRES- A petição demandando a realização
de um novo plebiscito sobre a permanência
ou não do Reino Unido na União Europeia
(UE) já obteve mais de três milhões de
assinaturas. A iniciativa, porém, está sendo
investigada, após denúncias de
irregularidades. O Parlamento britânico
confirmou que monitora de perto o processo,
e o Comitê que analisa petições já anulou 77
mil assinaturas, suspeitas de terem sido
computadas de forma fraudulenta.
A petição só pode ser assinada por
cidadãos britânicos e residentes do Reino
Unido. Dados da campanha, no entanto,
mostram assinaturas oriundas de vários
países, inclusive Islândia, Ilhas Cayman e
Tunísia. Além disso, em alguns casos, o
número de assinaturas supera o da
população. É o caso do Vaticano, cuja
população é de apenas 800 habitantes,
mas aparentemente 39 mil residentes da
cidade-Estado assinaram o pedido. Helen
Jones, presidente do Comitê de petições,
afirmou que as assinaturas falsas serão
eliminadas e acrescentou que essas
fraudes “enfraquecem o processo de
democracia parlamentar”.
O dado curioso é que William Oliver
Healey, autor da petição para refazer o
plebiscito, é partidário do Brexit. Ele fez o
pedido em maio passado, temendo que a
opção por sair da União Europeia fosse
derrotada na consulta. Em sua página no
Facebook, Healey admitiu ser o criador da
petição, acrescentando que devido ao
resultado do plebiscito, os que apoiam a
opção pela permanência na UE
“sequestraram” a petição.
Segundo a proposta, qualquer plebiscito
que não receba ao menos 60% dos votos
com 75% de comparecimento às urnas
deve ser refeito. O resultado foi de 52%
pela saída, contra 48% por permanecer no
bloco, com 72% de comparecimento.
Especialistas indicam que a chance de a
petição ir adiante é quase nula, por se
referir a fato já passado.
A petição de Healey já é a mais assinada
desde que esse tipo de mobilização
on-line foi introduzido no Reino Unido,
em 2011. Qualquer petição com mais de
cem mil adesões obriga o Parlamento a
debater suas propostas.
20
l O GLOBO
l Mundo l
Segunda-feira 27 .6 .2016
A nova Europa
Brexit estimula clima xenófobo no Reino Unido
Incidentes racistas contra poloneses e outros imigrantes se espalham; cidadãos do Leste Europeu cogitam partir
AFP
GRAÇA MAGALHÃES-RUETHER
Correspondente
[email protected]
Após terem servido como um dos pretextos para a saída da União Europeia (UE), os
imigrantes do Leste Europeu que vivem no
Reino Unido e não têm grandes chances de
permanecer quando os britânicos deixarem o
bloco já começaram a manifestar a intenção
de voltar a seus países de origem. Esta é pelo
menos a conclusão de um estudo do Instituto
de Relações Internacionais de Varsóvia, que
constatou a tendência em 40% dos chamados
“migrantes do trabalho”. Desde a realização do
plebiscito, na última quinta-feira, inúmeros
incidentes de cunho xenófobo e racista ocorreram no país.
A polícia britânica investiga um ataque “racialmente motivado” de vândalos contra a Associação Social e Cultural Polonesa, um centro comunitário no Oeste de Londres, cujas paredes e
janelas foram pichadas com a expressão “Go
home” (“vá embora”). Em Cambridgeshire, as
autoridades apuram a distribuição de panfletos
deixados do lado de fora de uma escola primária, onde se lia: “Saiam da UE! Chega de vermes
poloneses!”. Hoje, vivem no Reino Unido 850 mil
poloneses — o maior grupo de estrangeiros do
Leste Europeu. Há cinco anos, eram no total 700
mil. Desde então, vieram para o Reino Unido
mais 2,6 milhões, sobretudo dos países pobres
do Leste. O combate a essa migração foi um tema central da campanha do Brexit.
— Não há dúvida de que o Reino Unido está
dando uma guinada para um clima mais racista
— disse Adam Posen, diretor do Peterson Institute for International Economics.
Incerteza. Mulher observa a loja de um pequeno comerciante polonês em Berwick-upon-Tweed, no Norte da Inglaterra: clima de incerteza entre imigrantes cresceu após referendo
RISCO DE DEPORTAÇÃO
Para defender os interesses dos seus cidadãos e
evitar o caos que resultaria se houvesse um retorno maciço de imigrantes, o chefe do governo
tcheco, Bohuslav Sobotka, exigiu que também
os países do Leste Europeu participem das negociações sobre o Brexit. Cem mil tchecos vivem no Reino Unido. Segundo o estudo do instituto de Varsóvia, eles querem voltar porque
sabem que não poderão ficar. Mesmo os que
querem ficar, mas chegaram há menos de cinco
anos, precisam contar com o risco de deportação. Dados do governo polonês revelam que
cerca de 400 mil poderão ser deportados.
Durante o debate sobre o Brexit, muitos poloneses decidiram se mudar de Londres para Berlim,
elevando o número de trabalhadores poloneses
residentes na capital alemã nos últimos meses em
50%, para 354 mil. Com a boa imagem de trabalhar bem, de forma meticulosa, rápida e barata, os
poloneses e outros imigrantes do Leste são, porém, alvo das críticas dos sindicatos, que receiam a
pressão de redução dos salários. Eles também são
acusados de “roubar” os empregos dos britânicos.
Marek Szczesny, polonês que vive em Londres
há oito anos, afirmou que há um clima de grande apreensão entre os imigrantes do Leste da
Europa, sobretudo os que chegaram nos últimos cinco anos, mais vulneráveis à deportação.
O presidente da Polônia, Andrej Duda, aconselhou os compatriotas a voltarem para a pátria,
mas Szczesny diz que muitos têm medo de retornar para a pobreza e o desemprego.
Desde que a Polônia ingressou na UE, em
2004, a situação econômica melhorou bastante.
O desemprego caiu de 20% para cerca de 10%,
taxa registrada em dezembro último. Mas o nível salarial do país é ainda bem mais baixo do
que a média da UE. Muitas cidades pequenas,
sobretudo do Leste, perto da fronteira com a
Ucrânia, encolheram nos últimos anos com a
emigração em massa. Diversos analistas afirmam que o desemprego caiu porque os desempregados foram embora.
Para o economista alemão Gabriel Felbermayr, com o Brexit os ingleses disseram clara-
-BERLIM-
mente aos europeus do Leste: “Não queremos
mais vocês aqui”.
Segundo Jasvir Singh, advogado em Londres e
ativista do Partido Trabalhista, o tom do plebiscito “legitimou a retórica racista”:
— Há agora uma minoria que se sente fortalecida para usar o resultado do plebiscito para expressar seu ódio.
AGRESSÕES VERBAIS A IMIGRANTES
Desde a vitória do Brexit, os britânicos estão denunciando incidentes xenófobos e racistas nas
redes sociais, como Facebook e Twitter. Cerca
de cem foram registrados nos últimos dias. Fiona Anderson, por exemplo, disse ter testemunhado num ônibus uma senhora dizendo a uma
jovem polonesa e seu bebê para “fazer as malas
e dar o fora”. Já Heaven Crawley, professor da
Coventry University, disse no Twitter que sua filha “ao sair do trabalho em Birmingham, viu um
grupo de jovens encurralar uma menina muçulmana, enquanto gritavam: “Saia, nós votamos
pelo Brexit”. (Com agências internacionais) l
Produção cultural deve ficar mais difícil e cara
REUTERS
Saída da UE pode afetar
sobretudo os projetos que
dependem do financiamento das
agências de fomento europeias
SILVIO ESSINGER
[email protected]
Responsável, em grande parte, pela imagem
que o mundo faz do Reino Unido, a sua indústria cultural deve ser profundamente afetada
com a decisão dos britânicos de se retirarem
da União Europeia (UE). Reconhecida em todo o mundo por causa de artistas que vão de
Beatles a One Direction, a indústria fonográfica britânica — que traz, anualmente, cerca de
£ 4 bilhões para os cofres do governo — será
uma das primeiras a sentir o baque, alerta Geoff Taylor, presidente executivo da BPI, associação que representa os produtores de música
gravada no Reino Unido.
— O resultado do referendo da UE virá como
uma surpresa para muitos na comunidade de
música, que ficará preocupada com a incerteza
econômica que se avizinha e com o impacto
que isso pode ter sobre as perspectivas de negócios — alerta Taylor. — Essa decisão vai significar novas prioridades para a indústria da música em nosso trabalho com o governo.
GOLPE PARA AS PRODUÇÕES INDEPENDENTES
A ideia daqui para frente, afirma o executivo, é
pressionar as autoridades a negociarem rapidamente acordos comerciais que garantam o livre
acesso aos mercados da UE para a música britânica e para os seus artistas em turnê.
— Nosso governo também terá agora a oportunidade de legislar em prol de regras mais severas para os direitos autorais que incentivem o
investimento aqui no Reino Unido e que protejam os criadores da pirataria e da perda de dinheiro, nas brechas da lei, com as plataformas
de tecnologia — acrescenta.
De Lily Allen aos Chemical Brothers, passan-
Protesto. Um flash mob, realizado no Festival de Glastonbury, pediu a permanência do Reino Unido na União Europeia
do pelo guitarrista dos Smiths, Johnny Marr,
muitos foram os músicos britânicos que lamentaram o resultado do referendo. Entre os nomes
mais notórios da música, apenas os vocalistas
do The Who, Roger Daltrey, e do Iron Maiden,
Bruce Dickinson, assumiram publicamente a
defesa do afastamento da União Europeia.
Presidente da Independent Film and Television Alliance e sócio da GFM Films, Michael
Ryan acredita que a decisão dos eleitores britânicos tenha efeito “devastador” para o setor
criativo dos países, como afirmou em comunicado divulgado na sexta-feira.
“É um grande golpe para a indústria do cinema e da TV. A produção de filmes e de programas de televisão é um negócio muito caro e
muito arriscado, e é obrigatório que haja certeza sobre as regras que afetam o negócio.”
Para Ryan, a mudança abala as fundações da
indústria britânica.
“A partir de hoje, já não sabemos como os nossos relacionamentos com os coprodutores, financiadores e distribuidores vão funcionar,
nem se novos impostos serão lançados sobre
nossas atividades no resto da Europa, ou como
o financiamento de produção vai ser obtido sem
apoio de agências de financiamento europeias.”
Como demorará anos — pelo menos dois, provavelmente algo entre cinco e seis — para o Reino
Unido desembaraçar-se legalmente das instituições
europeias, a insegurança jurídica tornará mais difícil e cara a realização de filmes independentes com
o envolvimento britânico, acredita o executivo.
“A incerteza é o maior problema”, aponta Michael Ryan. “Fazer um filme independente financiado é arriscado mesmo no melhor dos
tempos. Isto significará ainda mais gastos com
advogados e contadores... Daqui a cinco ou
seis anos, tenho certeza que vamos ficar bem.
Até lá, estamos ferrados.” l
PENÚRIA
Cornualha: se
arrependimento
matasse...
Região pobre votou pelo
Brexit, e agora teme perder
recursos que vinham da UE
-LONDRES-
E
nquanto alguns têm ressaca pelo Brexit, a Cornualha tem pesadelos.
Só agora, depois de dar
56,52% de seus votos pela saída
da União Europeia (UE), a região
— uma das mais pobres do Reino
Unido — se deu conta de que é
fortemente dependente dos subsídios do bloco. E a perspectiva
de ficar sem os cruciais recursos
fez a ficha cair nos dias seguintes
ao referendo.
Não bastou a ligação histórica
com a Europa — a região foi povoada pelos celtas assim como a Bretanha, que está do outro lado do Canal da Mancha — para fazer os habitantes locais se comoverem pela
permanência na UE. Os córnicos
seguiram a pregação do campo do
Leave (de “sair”) de que o dinheiro
pago à UE poderia ser utilizado internamente. Localizado no Sudoeste da Inglaterra, o condado com
pouco mais de 500 mil habitantes
enfrenta a decadência de suas principais atividades econômicas — a
mineração e a pesca— e recebe
anualmente cerca de € 82 milhões
da UE para projetos de desenvolvimento, que incluem desde banda
larga à construção de um campus
universitário em Penryn.
Com a vitória do Brexit, a região
espera que o fluxo de dinheiro
não pare, como afirmou o conselho local em um comunicado:
“Antes do referendo, fomos assegurados de que a decisão não
afetaria o financiamento já alocado para a Cornualha. Estamos pedindo aos ministros a confirmação urgente de que esse é o caso”.
John Pollard, líder do conselho
local, disse ao jornal inglês “The
Independent” que tomará as medidas necessárias:
A Cornualha tem mesmo o que
temer. Após a divulgação do resultado do referendo, o líder do Partido da Independência do Reino
Unido (Ukip), Nigel Farage, afirmou não estar certo de que todas
as promessas seriam cumpridas. l
l Mundo l
Segunda-feira 27 .6 .2016 2ª Edição
O GLOBO
Espanha volta
ao ponto de
partida após
nova eleição
l 21
MARCELO DEL POZO/REUTERS
PP melhora desempenho, mas, sem
maioria, Rajoy terá de negociar
PARLAMENTO FRAGMENTADO
M
AI
OR
QUATRO PARTIDOS
DIVIDEM A MAIOR
PARTE DOS
ASSENTOS
71
PSOE
90
PSOE
PP
2016
69,84%
85
76
:1
IA
137
Participação
dos eleitores
123
PP
350
69
PO
PO
DE
M
OS
UPUPEC
2
assentos
40
32
26
25
OUTROS
OUTROS
2015
Fonte: Agências internacionais
fim do bipartidarismo entre PP e
PSOE, com a entrada em cena
de Podemos e Cidadãos, que fizeram campanha com temas
como combate à corrupção e
críticas à austeridade.
Líder do Podemos, Pablo Iglesias reconheceu o desempenho
aquém do esperado e expressou preocupação com o au-
Editoria de Arte
mento do apoio ao conservador
PP. Com o lema da mudança e
da esperança, o Podemos nasceu em grande parte do movimento dos Indignados e teve
uma rápida ascensão.
— Os resultados não foram
satisfatórios. Tínhamos expectativas diferentes — afirmou.
As últimas sondagens antes
Iraque anuncia retomada total de Falluja
REUTERS
Militares sufocam
últimos focos de
resistência do
Estado Islâmico
-BAGDÁ- O governo do Iraque
anunciou ontem que as Forças Armadas do país, com
apoio aéreo dos Estados Unidos, retomaram completamente a cidade de Falluja,
que estava sob poder do grupo extremista Estado Islâmico
(EI) desde janeiro de 2014.
Localizada a 50 quilômetros a
oeste de Bagdá, a cidade já
havia sido parcialmente libertada há cerca de uma semana,
mas o EI ainda resistia em algumas áreas, inclusive o distrito de Jolan.
— Hoje, o comandante das
operações em Falluja, general
Abdelwahab al-Saadi, anuncia
que a cidade foi libertada depois
que as forças de elite antiterroristas assumiram o controle do
bairro al-Jolan — afirmou ontem
o porta-voz militar Sabah al-Noman. — Al-Jolan, último bastião
do Daesh (acrônimo em árabe
do grupo Estado Islâmico) na cidade, está agora protegido deste
grupo terrorista.
A ofensiva para reconquistar
Falluja teve início em 23 de
maio e resultou na morte de
pelo menos 1,8 mil combatentes do EI. Mais de 85 mil residentes da cidade fugiram para
UN
ID
OS
OS
ADÃ
CID
CIDADÃOS ACENA AO PP
Ontem mesmo, o líder do Cidadãos, Albert Rivera, anunciou a
disposição de abrir negociações
imediatas para uma coalizão
com o PP. Os dois partidos juntos teriam 169 cadeiras — ainda
sete abaixo da maioria absoluta,
mas há chance de cooptar outros dois partidos menores com
mais seis cadeiras.
Após os partidos fracassarem na tentativa de formar um
governo de coalizão, o rei Felipe IV foi forçado a convocar
novas eleições para romper o
bloqueio político na quarta
maior economia da zona do
euro, com um governo interino desde dezembro. Como na
votação de ontem, nenhum
partido havia conseguido maioria parlamentar.
— Espero que façam melhor
desta vez e sejam capazes de
deixar o egoísmo e formar um
governo — disse à AFP Justina
Zamora, aposentada de 65
anos, após votar nos socialistas
na província de Barcelona.
As legislativas de dezembro resultaram num Parlamento muito fragmentado e provocaram o
Alegria pós-eleitoral. Partidários do PP celebram em Madri a vitória do partido nas urnas: resultado fortalece legenda, mas não garante formação de governo
OS
M
DE
RAJOY REIVINDICA GOVERNO
O PP de Rajoy venceu pela segunda vez, com 33% dos votos. A
legenda obteve 137 assentos no
Parlamento, ante os 123 conquistados em dezembro, enquanto todas as outras siglas diminuíram ou ficaram estáveis.
Para governar com maioria, um
partido ou coalizão precisa de
ao menos 176 das 350 cadeiras
do Parlamento.O PSOE, de esquerda, manteve-se em segundo lugar com 22,68% dos votos,
mas caiu de 90 assentos para 85.
Já a aliança do Podemos ficou
estável, com 21% de apoio e 71
assentos. O partido liberal Cidadãos (13%), por sua vez, reduziu
a bancada para 32 assentos, contra os 40 do fim do ano passado.
Em seu discurso, Rajoy comemorou a vitória e acenou
para negociações com os partidos a partir de hoje.
— Foi duro, mas ganhamos a
batalha pela Espanha. Sintome enormemente orgulhoso
pelo meu partido — afirmou,
reivindicando o direito de governar o país depois de chegar
pela segunda vez consecutiva
à frente dos outros.
OS
ADÃ
CID
-MADRI- Os resultados das eleições espanholas, ontem,
apontam para uma grande
fragmentação do cenário político entre os quatro maiores
partidos do país e indicam
uma nova e complicada rodada de negociações, como ocorreu na disputa de dezembro. O
governista Partido Popular
(PP) melhorou seu desempenho, mas ainda ficou longe do
número de cadeiras necessário
para a maioria no Parlamento.
A previsão de que uma eventual aliança antiausteridade
entre o Unidos Podemos e o
Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) conquistaria
assentos suficientes para obter
a maioria não se confirmou,
desenhando um cenário muito
similar ao anterior. Para analistas, tal resultado parece indicar que o apelo de última hora
do presidente interino do governo, o conservador Mariano
Rajoy (PP), contra as reformas
profundas defendidas pelo Podemos surtiu efeito, apenas
três dias após o terremoto causado pelo referendo que decidiu a saída do Reino Unido da
União Europeia. Agora os partidos têm novamente o desafio
de tentar formar governo e
destravar o impasse político
que já dura mais de seis meses.
das eleições colocavam o Podemos na frente do PSOE, e
analistas cogitavam uma aliança entre os dois partidos caso
tivessem assentos suficientes
para viabilizar um governo de
maioria de esquerda. Mas o líder socialista, Pedro Sánchez,
que rejeitou a todo momento
uma coligação com o Pode-
JANAÍNA FIGUEIREDO
Correspondente
[email protected]
Após surfar numa
onda de otimismo, quando chegou à Casa Rosada há seis meses, Mauricio Macri viu sua taxa
de desaprovação crescer de 25%,
então, para 43%, agora, segundo
a consultoria Poliarquia. No
mesmo período, o índice de
aprovação ao governo Macri
caiu 15 pontos percentuais, ficando em 56%. Já a popularidade de Evo Morales caiu de 54%
para 29%, após a revelação de
um escândalo, em que o presidente boliviano é acusado de
tráfico de influência, revelou o
jornal “Página Siete”.
“A sociedade avalia de forma
crítica e com grande preocupação a atual conjuntura, mas, ao
mesmo tempo, mantém expectativas elevadas em relação ao
futuro”, comentou o diretor da
Poliarquia, Alejandro Catterberg, segundo o “La Nación”.
De fato, a mesma pesquisa
mostrou que 58% dos argentinos acreditam que a situação
do país melhorará num prazo
de um ano. Macri pretendia
-BUENOS AIRES-
campos de refugiados.
— Bastaram duas horas para
as CTS (forças antiterroristas)
assumirem o controle do bairro,
e o Daesh não deu nenhum tiro,
o que demonstra que estava derrotado antes mesmo da entrada
das tropas — disse o porta-voz.
Algumas horas após a libertação de Falluja, o primeiroministro Haider al-Abadi visitou a cidade e pediu à população que festeje a vitória contra
os extremistas do EI.
— Faço um apelo aos iraquianos para que, onde quer que estejam, saiam e celebrem a vitória
— afirmou diante do hospital da
cidade, com uma bandeira iraquiana ao redor do pescoço. —
Como prometemos a vocês, hoje esta bandeira está erguida em
Falluja e, na vontade de Deus,
voará em breve para Mossul.
‘SEGURA E HABITÁVEL’
O ministro da Defesa, Khalid
al-Obeidi, disse no Twitter que
cerca de 90% de Falluja permanecem “segura e habitável”,
comparando favoravelmente
às cidades de Ramadi e Sinjar,
que foram recapturadas ao EI e
tinham sido severamente da-
nificadas pelos extremistas.
O prefeito de Falluja, Esa alEsawi, disse à agência Reuters
que as famílias deslocadas poderão retornar à cidade em
dois meses se o governo e
agências de ajuda humanitária
fornecerem assistência:
— A cidade não apenas exige
reconstrução de sua infraestrutura, mas também séria reabilitação de sua sociedade.
O porta-voz do comando de
operações contra o EI no Iraque declarou que “ainda há focos de resistência do EI a noroeste de Falluja”. l
DESAFIOS DO BREXIT
Diante dos desafios que surgem com a saída do Reino Unido da União Europeia, após o
resultado do referendo britânico de quinta-feira, o PP apresentou-se como uma garantia
de “estabilidade”. No poder
desde 2011, os conservadores
afirmam que suas políticas
conseguiram tirar a Espanha
da prolongada recessão, registrando um crescimento de
3,2% em 2015, embora a taxa
de desemprego continue extremamente elevada — 21%. l
Popularidade de Macri e Morales
recua, revelam pesquisas
Preocupação com
economia, na Argentina,
e corrupção, na Bolívia,
afeta presidentes
Próximo alvo. Tropas iraquianas auxiliam civis em al-Shirqat, nos arredores de Mossul, alvo da ofensiva contra o EI
mos, resistiu no segundo lugar,
apesar de ter fracassado em
março em ser nomeado chefe
do governos.
Apesar de os socialistas permanecerem a principal força
de esquerda, Sánchez disse
não estar satisfeito com o resultado das urnas, e acusou
Iglesias de permitir o aumento
do número de assentos do PP.
— Espero que Iglesias reflita
sobre esses resultados. Teve a
chance de colocar fim ao governo de Rajoy, mas a intransigência e o interesse próprio
acima do interesse público
permitiram a melhora dos resultados do PP — criticou.
começar a mostrar resultados
positivos a partir do segundo
semestre deste ano, mas tudo
parece indicar que a economia, principal preocupação da
população, só se reativará a
partir de 2017. Nos primeiros
seis meses do ano, a inflação
acumulada chega a quase 25%,
e o país deverá terminar o ano
com uma taxa superior a 40%.
FILHO SECRETO DE MORALES
No caso de Morales, a pesquisa,
realizada pela consultoria Mercados y Muestras, revelou que
29% dos consultados classificaram como “boa” a gestão do
presidente boliviano. Em janeiro, esse percentual era de 54%.
Além disso, o levantamento
mostrou que 44% dos pesquisados consideraram o desempenho de Morales como “regular”,
e 25%, “ruim”. No início do ano,
essas percepções eram de 33% e
11%, respectivamente.
Analistas atribuem que a revelação de um filho secreto do presidente e um suposto tráfico de
influência foram os fatores que
levaram Morales à derrota no referendo em que buscava autorização para concorrer a um quarto mandato presidencial (20202025). A pesquisa de ontem
também mostrou que 65% dos
entrevistados opinam que o presidente boliviano deve aceitar o
resultado do referendo. (Com
agências internacionais) l
22
l O GLOBO
Sociedade
Segunda-feira 27 .6 .2016
NOVOS VENTOS
Papa: Igreja
deveria buscar
perdão dos gays
_
AP
Francisco defendeu que o mesmo seja feito
com outras minorias marginalizadas
-CIDADE DO VATICANO- Depois de uma visita de três dias à Armênia, em que irritou o governo turco ao
usar a palavra “genocídio” para se referir ao
massacre de mais de um milhão de armênios
pelo Império Otomano durante a Primeira
Guerra Mundial, o Papa voltou a fazer uma declaração de peso, desta vez referindo-se aos homossexuais. Francisco afirmou ontem que os
cristãos e a Igreja Católica deveriam buscar o
perdão dos gays pela maneira como os têm tratado. E estendeu o comentário a outras minorias que, de uma forma ou de outra, foram marginalizadas pelos católicos.
— Eu acho que a Igreja não deveria apenas se
desculpar com um gay que tenha ofendido.
Acho que ela tem que se desculpar também com os pobres,
com as mulheres que explorou,
com as crianças que foram exploradas no trabalho forçado. A
Igreja tem que se desculpar por
ter abençoado tantas armas —
respondeu Francisco, que relembrou os ensinamentos da
Igreja sobre os gays de que tendências homossexuais não são
um pecado, mas sim os atos. —
Homossexuais não devem ser
discriminados. Eles devem ser
respeitados, acompanhados
pastoralmente.
A declaração foi feita a bordo
do avião papal durante o voo
que levava o Pontífice de volta
ao Vaticano após a visita à Armênia. Durante a cerca de uma
hora de conversa com jornalis- Francisco
tas, que já virou uma das mar- Papa
cas de suas viagens, Francisco
foi questionado por um repórter se, à luz do
massacre que deixou 49 mortos numa boate gay
de Orlando, nos EUA, duas semanas atrás, ele
concordava com os comentários recentes do
cardeal alemão Reinhard Marx de que a Igreja
deveria se desculpar com os homossexuais. Arcebispo de Munique e Freising, Marx faz parte
do conselho de nove cardeais escolhidos por
Francisco para aconselhá-lo. Na semana passada, o cardeal afirmou, durante palestra no Trinity College, em Dublin, na Irlanda, que “a história dos homossexuais nas nossas sociedades é
muito ruim porque fizemos muito para marginalizá-los.”
O Papa continuou sua resposta, afirmando
que os cristãos deveriam pedir perdão, e não
apenas desculpar-se:
— Nós cristãos temos que nos desculpar por
muitas coisas, não só por isso. Mas temos que
pedir perdão, não apenas nos desculpar. Perdão! Deus, essa é uma palavra da qual nos esquecemos muito — disse Francisco.
Durante a conversa com jornalistas no avião papal, Francisco cunhou uma nova versão do discurso feito em sua primeira viagem internacional, em
2013, quando, também referindo-se aos gays,
questionou “quem sou eu para julgar?”, num pronunciamento considerado liberal para um Papa.
— A questão é: se uma pessoa tem essa condição, se tem boa vontade, e se procura por Deus,
quem somos nós para julgá-la? — perguntou na
ocasião.
Ainda se referindo aos homossexuais, o Papa
afirmou ontem existirem “tradições em certos países, em
certas culturas, que têm uma
mentalidade diferente sobre
essa questão” e que há “demonstrações que são muito
ofensivas para alguns”, mas
sugeriu que nada disso deve
servir de base para a discriminação ou a marginalização
dos homossexuais.
Declarações como a de ontem fizeram com que integrantes da comunidade gay
elogiassem a postura de Francisco, por considerá-lo um
Pontífice mais liberal, apesar
do documento resultante do
Sínodo da Família, realizado
em 2015, ter desapontado a
muitos por não mencionar as
novas formações familiares. A
declaração do Papa acontece
em meio as celebrações pelo
orgulho LGBT, realizadas em diversas cidades
do mundo durante o fim de semana.
Já os setores ultraconservadores da Igreja têm
criticado os comentários do Papa sobre o homossexualismo por considerá-los ambíguos sobre a
moralidade sexual exigida pelo catolicismo. A postura de Francisco levantou especulações sobre se
o descontentamento desses grupos aumentaria a
influência do papa emérito Bento XVI, reconhecidamente conservador, no Vaticano. Ainda durante
o voo, Francisco não se esquivou das perguntas
sobre o tema e, em tom de brincadeira, afirmou ter
ouvido que, quando um integrante da Igreja vai a
Bento XVI para reclamar de seu comportamento
liberal, o “Papa emérito o manda embora”.
— Há apenas um Papa — afirmou, agradecendo a Bento XVI por “me proteger com suas
orações.” l
“Temos que nos
desculpar por
muitas coisas, não
só por isso. Mas
temos que pedir
perdão, não apenas
nos desculpar.”
Na rua. Em Nova York, milhares participaram da parada gay, que lembrou os mortos do massacre de Orlando
REUTERS
A bordo.
Durante viagem
de retorno ao
Vaticano, o Papa
Francisco
responde às
perguntas dos
jornalistas
sobre os gays;
Pontífice
afirmou que a
Igreja deveria
pedir perdão a
eles, mas
também a
mulheres e
crianças
exploradas
U
Memória
‘QUEM SOU EU
PARA JULGAR?’
A declaração de ontem sobre os homossexuais não
foi a primeira de Francisco. Em 2013, voltando da
viagem que fez ao Brasil para participar da Jornada
Mundial da Juventude, a primeira de seu papado, ele
afirmou em entrevista durante o voo que “o catecismo
da Igreja católica explica de forma muito bonita” a
homossexualidade. Na ocasião, o Pontífice fez um de
seus comentários mais famosos, que, de certa forma,
repetiu ontem: “Se uma pessoa é gay, busca Deus e
tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?”.
Mas a postura aparentemente mais liberal de
Francisco foi posta em xeque em abril deste ano,
quando o Vaticano divulgou um documento de mais de
250 páginas com as diretrizes da Igreja para as famílias
católicas — resultado de um questionário enviado a fiéis
em diversas partes do mundo e também das discussões
realizadas em dois sínodos (encontros de bispos e
cardeais). No texto, Francisco defende que divorciados e
homossexuais sejam respeitados e acolhidos pela Igreja.
Mesmo assim, não abandona totalmente a postura
conservadora, condenando o casamento entre pessoas
do mesmo sexo e o aborto.
O homossexualismo chegou a ser questão de Estado
quando, em fevereiro de 2015, o cargo de embaixador
da França no Vaticano ficou vago. O presidente François
Hollande indicou um gay assumido para o posto, mas
Laurent Stefanini não chegou a apresentar suas
credenciais. Rumores indicaram que o Vaticano não
daria a aceitação. Hoje, Stefanini é o representante do
país na Unesco. O novo embaixador francês na Santa Sé
entregou as credenciais na quinta-feira passada, depois
do posto ter ficado vago por quase um ano e meio.
[email protected]
A
combinação da crise econômica
com turbulência política fez com
que o país vivenciasse neste semestre provavelmente o maior movimento de
greves e ocupações dos últimos 20 anos. É
difícil ser contra algumas das principais reivindicações, como o reajuste salarial para
professores e a melhoria nas condições de
ensino em escolas ou universidades. É inaceitável saber que ainda há colégios ou
campi sem condições mínimas de infraestrutura. Especialmente no caso da educação básica, pagar salários melhores aos docentes, além de ser uma meta do Plano Nacional de Educação, é um dos investimentos mais importantes para aumentar a atratividade da carreira.
Este modelo da greve na educação pública como forma de pressionar governos,
no entanto, já não é mais unânime nem
mesmo no campo da esquerda. Um exemplo disso foi dado no ano passado, quando
o professor da UFF Daniel Aarão Reis escreveu uma carta se opondo ao movimento que começava na época. Em suas palavras, na ocasião: “A greve por tempo indeterminado não qualifica o debate, anula-o; não acumula forças, dispersa-as; não
concentra, fragmenta e pulveriza; não for-
ANTÔNIO
GOIS
EDUCAÇÃO
Impasses
Greves longas no ensino público têm eficácia discutível. A única
certeza é que os maiores prejudicados serão os alunos
talece, enfraquece.”
Com os ânimos acirrados, surgem também
cenas como as registradas na Unicamp num
vídeo que foi divulgado na semana passada.
Nele aparecem três alunos invadindo a aula
do professor Serguei Popov no Instituto de
Matemática. Ele tenta continuar, mesmo
com o barulho alto de tambores ao fundo e
com os manifestantes circulando à sua fren-
te. Um dos jovens se posiciona ao lado do
professor e, ostensivamente, começa a apagar o conteúdo da lição que Popov acabara
de escrever no quadro. É possível ainda ouvir
um estudante argumentando que eles “estavam desrespeitando um cara que estava querendo dar aula”.
Após o episódio, jornais de São Paulo trouxeram depoimentos de outros professores
que se sentiam intimidados e recorriam a
aulas secretas ou pela internet em universidades paulistas.
Os alunos que invadiram a sala argumentaram depois que o professor se recusara a
dialogar com o movimento, mas acabaram
eles mesmo produzindo um gesto de intolerância com quem exercia seu direito de
dar aulas e com os demais estudantes, que
também estavam no seu direito de não querer apoiar a greve.
A intolerância, é claro, não é monopólio
de um campo ideológico. Poucos dias antes
da divulgação do episódio da Unicamp, circulou outro vídeo, desta vez mostrando alunos em greve na UnB sendo hostilizados
com gritos homofóbicos e racistas por manifestantes contrários ao movimento.
No Rio, foram registrados conflitos entre
grupos de estudantes que queriam ter aulas e outros que ocupavam – e ainda ocupam – escolas em apoio a greve dos professores. No caso da rede estadual fluminense, a paralisação dos docentes completará em breve 100 dias. Não há o menor
sinal de que o governo cederá às pressões
salariais. Há apenas uma certeza: os maiores prejudicados serão, como sempre, os
alunos. l
ESPORTES
OGLOBO
Problemas das defesas
SEGUNDA-FEIRA 27.6.2016
oglobo.com.br
Fernando Calazans PÁGINA 2
NELSON PEREZ/FLUMINENSE
ATUAÇÕES
aa F L A M E N G O
Alex Muralha 6.
Sem culpa. Foi pouco exigido na partida.
Nos gols, nada podia fazer.
Pará 6.
Duas fases. Ajudou Marcelo Cirino no
primeiro tempo. No segundo, foi contido
e pouco atacou.
Réver 7.
Seguro. Não cometeu erros graves no jogo
e mostrou segurança, ganhando seus duelos
com os atacantes tricolores.
Rafael Vaz 3.
Decisivo. Cometeu um erro individual
que ditou o rumo do clássico.
Jorge 5.
Apagado. Não conseguiu participar das
ações ofensivas.
Márcio Araújo 6.
Esforço. Fez alguns desarmes, mas na hora
de atuar no campo rival, ajudou pouco.
Mancuello 6.
Tarde. Entrou e melhorou a criação, mas
ficou pouco tempo em campo.
Willian Arão 4,5.
Infeliz. Fazia boa partida, mas fez contra,
de cabeça, o primeiro gol do Fluminense.
Alan Patrick 6.
Desperdício. Ajudou na criação
de jogadas, mas perdeu boas chances
no primeiro tempo.
Marcelo Cirino 6,5.
Produziu. Fez boas jogadas
no primeiro tempo. No segundo,
participou do gol.
Fernandinho 4,5.
Dificuldade. Sem espaço para
correr, teve problemas para criar
situações de perigo.
Guerrero 7,5.
Ajudou. Voltou bem ao time.
Além de ter marcado o gol, fez boas
jogadas como pivô.
Duelo no clássico. O tricolor Wellington Silva consegue desarmar o rubro-negro Éderson. Apesar da falha no gol do Flamengo, a marcação do Fluminense melhorou em relação aos últimos jogos
Jogos de erros
NATAL TRICOLOR
Na versão potiguar do clássico carioca, Fla cria e erra mais
do que o rival e dá dois gols de presente ao aplicado Flu
Flamengo
1
Fluminense
2
Flamengo: Alex Muralha, Pará, Réver,
Rafael Vaz e Jorge; Márcio Araújo
(Mancuello), Willian Arão e Alan Patrick;
Marcelo Cirino (Fernandinho), Guerrero
e Éderson (Emerson Sheik).
Fluminense: Diego Cavalieri, Wellington
Silva, Gum, Henrique e Giovanni; Édson,
Douglas, Gustavo Scarpa, Cícero e
Maranhão (Osvaldo); Magno Alves
(Richarlison, depois Pedro).
Gols: 2T: Willian Arão (contra) aos 3m,
Guerrero aos 12m, Richarlison aos 30m.
Cartão amarelo: Wellington Silva.
Juiz: Luiz Flávio de Oliveira.
Público pagante: 25.946
Local: Arena das Dunas, Natal (RN)
Éderson 6,5.
Mediano. Teve presença importante
ao buscar o centro do campo. Mas faltou
ser mais decisivo. Saiu no intervalo.
Emerson Sheik 5.
Discreto. Pareceu fora de suas melhores
condições e contribuiu pouco.
Zé Ricardo 5,5.
Progresso. A escalação fez o time fazer
um bom primeiro tempo. As trocas não
ajudaram o time no segundo tempo.
aa F LU M I N E N S E
Diego Cavalieri 6.
Quase... Fazia bom jogo, com pelo menos
duas boas defesas. Mas poderia ter rebatido
melhor a bola no gol do Flamengo.
Wellington Silva 6,5.
Combateu. Salvou bola importante
após chute de Rafael Vaz e marcou bem.
Gum 6.
Cruel. Tinha ótima atuação, mas bobeu
no lance do gol de Guerrero.
S
CARLOS EDUARDO MANSUR
[email protected]
e é verdade que o
Flamengo finalizou
mais, que prevaleceu no primeiro
tempo, também não
é possível dizer que
o volume de chances criadas tenha sido suficiente para
tornar surreal o resultado do Fla-Flu de ontem.
Ainda que o jogo pudesse ter
outro desfecho. Afinal, o futebol
pode ser um jogo decidido pela
construção de jogadas, mas
também pelo acúmulo de erros.
No fim, após um jogo de poucas
ousadias táticas e raros momentos de brilho técnico, o 2 a 1 premiou um Fluminense dedicado
e defensivamente mais sólido
no segundo tempo. E puniu um
Flamengo que abusou dos equívocos individuais graves.
A eterna busca tricolor pela formação que lhe dê equilíbrio entre
ataque e defesa pode não ter acabado. Ontem, o time demorou
muito a conseguir incomodar o
rival. Mas Levir Culpi pode ter
encontrado um caminho com
Douglas ao lado de Édson à frente dos zagueiros. Douglas, aliás,
foi dos melhores jogadores do
clássico, dando agilidade ao
meio-campo tricolor. Desarmou
e ajudou a conduzir o time à frente, mesmo em dificuldade para
achar companheiros à altura na
hora de criar jogadas. Gustavo
Scarpa não foi bem ontem.
GOL DA RODADA
Alex Muralha
Rafael Vaz
Richarlisson
Richarlisson
Rever
Mas, em especial a partir do
intervalo, o Fluminense foi um
time mais organizado na defesa.
Dias antes, contra o Santos, fora
desequilibrado sem a bola.
O mesmo Flamengo que ontem apresentou alguns progressos, segue sua caminhada de incertezas no Campeonato Brasileiro. Uma delas, descobrir qual a
sua casa. Outra, a eterna dúvida
sobre efetivar ou não seu treinador, contratar ou não um nome
definitivo. É como se isto retardasse também a efetivação de
um modelo de jogo. Zé Ricardo
organizou um time de bons momentos na primeira etapa. A entrada de Éderson, possível pela
surpreendente decisão de poupar Éverton, dava ao Flamengo
superioridade no meio-campo, já
que o meia buscava o centro do
campo para tentar trocar passes.
Não era brilhante, longe disso.
Mas criava um movimento diferente num duelo de dois times
com sistemas de jogo muito similares. Acontece que a substituição dele por Emerson Sheik, no
O atacante
Richarlison,
que ficou
apenas
12 minutos
em campo,
aproveitou
recuo errado
do zagueiro
Rafael Vaz
para marcar
o gol da
vitória
tricolor, aos
30 minutos
do 2º tempo,
após driblar
Alex Muralha
e mandar
para o fundo
da rede.
intervalo, acabou com tal predomínio. Já a entrada de Mancuello,
quando o placar já era de 2 a 1
para o Fluminense, devolveu articulação ao Flamengo, mas pareceu uma decisão tardia.
Possivelmente pelo plano original de jogo, no primeiro tempo
o Flamengo criou as raras chances da partida. Alan Patrick perdeu duas ótimas oportunidades,
ambas nascidas pelo lado direito, onde Marcelo Cirino levava
vantagem.
A substituição rubro-negra e
um Fluminense defensivamente
melhor organizado equilibraram a balança do jogo na segunda etapa. E, claro, as circunstâncias da partida acabaram por
ajudar o time de Levir Culpi. Afinal, antes mesmo que esquemas
fossem postos à prova, Willian
Arão, ótimo nome do Flamengo
em 2016, cabeceou contra o próprio gol uma bola oriunda de
um escanteio, aos três minutos.
GOL, EMOÇÃO E LESÃO
Ficava claro que o Flamengo
tentaria agredir e o tricolor, contra-atacar. É verdade que Diego
Cavalieri poderia ter rebatido de
outra forma, que Gum vacilou
ao interceptar o rebote do goleiro, mas o empate do Flamengo
surgiu no primeiro lance de envolvimento de um ataque sobre
a defesa rival na segunda etapa.
Foi após uma triangulação de
Arão, Cirino e Guerrero que o
atacante peruano empatou, aos
12. Mas, do outro lado do campo, o Fluminense também teve
suas oportunidades: Magno Alves andou perto do gol.
Levir apostou em Richarlison e
Osvaldo, Zé Ricardo em Fernandinho. Havia mais rapidez e menos
pensamento em campo. Com isso, menos chances reais. Até que
Rafael Vaz deu a Richarlison a bola do gol da vitória do Fluminense,
aos 30. As lágrimas do jovem atacante, em seu primeiro gol no clube, foram a mais bela cena da tarde de Natal. Quis o destino que, 12
minutos depois, ele saísse machucado. Mas vitorioso. l
Henrique 6.
Inseguro. Ficou abaixo do companheiro
de zaga, mas também teve muito trabalho.
Giovanni 5.
Envolvido. Teve grande dificuldade
na marcação no primeiro tempo.
Édson 6.
Empenho. Não achou a marcação no
primeiro tempo. Aos poucos, foi crescendo
na partida.
Douglas 7.
Versátil. Fez bom jogo. Ajudou muito
no duelo de meio-campo e participou
das transições para o ataque.
Cícero 6.
Alternou. Correu e se esforçou, mas
não participou de lances importantes.
Maranhão 4,5.
Correria. Muito esforço, mas pouca
inspiração.
Osvaldo 5.
Apagado. Entrou e produziu pouco.
Magno Alves 5.
Sem inspiração. Teve duas boas
chances e não aproveitou.
Richarlison 6,5.
Estrela. Entrou, aproveitou falha de
Rafael Vaz para fazer seu gol e, depois,
se machucou após 12 minutos.
Pedro Sem nota.
Pouco tempo. Entrou no fim do jogo,
com a contusão de Richarlison.
Gustavo Scarpa 5,5.
Abaixo. Já teve melhor rendimento com
a camisa tricolor. Teve raras aparições
na construção das jogadas. Ajudou muito
na recomposição.
Levir Culpi 6.
Caminho. Segue em sua busca para
equilibrar o time. Ontem, faltou mais
poder ofensivo, mas o time marcou bem.
No segundo tempo, a equipe produziu mais.
aa A R B I T R AG E M
Tranquilidade. Luiz Flávio de Oliveira
não teve problemas no jogo, que conduziu
com apenas um cartão amarelo.
l O GLOBO
l Esportes l
FERNANDO
CALAZANS
Atrás de novos ídolos
|
Erros decisivos
Foram três gols, três erros de defesa. Não
fossem eles, os erros, o clássico Fla-Flu teria
terminado como devia e como mereciam os
times: 0 a 0. A defesa do Flamengo errou
mais, e por isso o Fluminense venceu por 2 a
1. Porque mostrou, pelo menos, mais
eficiência no aproveitamento das falhas do
adversário. Mas ficou evidente que os dois
times ainda não encontraram a melhor
escalação e o melhor esquema de jogo.
O
primeiro tempo mostrou um Flamengo
mais ofensivo, criando e desperdiçando
mais oportunidades, as duas principais
com Alan Patrick chutando para fora na área. Fla e
Flu se ressentiam também da queda de rendimento de seus maiores criadores de jogadas de ataque.
Gustavo Scarpa do Fluminense, Willian Arão do
Flamengo. Ao contrário de jogos anteriores, Arão
permaneceu mais atrás, restrito à defesa e ao meio
de campo, parecendo evitar as penetrações na defesa rival, que caracterizavam suas atuações anteriores. Gustavo Scarpa não reproduziu os passes das
principais jogadas ofensivas do Fluminense.
Os erros decisivos vieram no segundo tempo.
Num córner sobre a área do Flamengo, Willian
Arão desferiu uma cabeçada indefensável contra o
próprio gol. O goleiro Alex Muralha nada pôde fazer. Depois, foi a bobeada de Gum na outra área, da
qual Guerrero se aproveitou para empatar o jogo.
E, por fim, a falha que decidiu a partida, quando
Rafael Vaz dominou mal a bola e deu o passe precioso para Richarlison penetrar na área, se livrar de
Muralha e decretar o 2 a 1 final.
Levir Culpi ainda está à procura da dupla de ataque do Fluminense. Ontem, trocou Magno Alves e
Maranhão por Osvaldo e Richarlison no segundo
tempo. No Flamengo, é absolutamente inexplicável e ininteligível que Mancuello permaneça no
banco em vários jogos ou entre nos minutos finais,
como só aconteceu ontem. Entram Cirino, Éverton,
Éderson, Emerson Sheik, Gabriel, Fernandinho,
enquanto Mancuello assiste ao jogo do banco.
_
Vitória olímpica
Andrezinho estava meio apagado, como todo o time do Vasco, sábado, em Maceió, quando, aos 13
minutos do segundo tempo, num córner desses
que acontecem a toda hora no futebol, ele mesmo,
Andrezinho, com uma cobrança magistral, fez o
chamado “Gol Olímpico”, vencendo o goleiro e enfiando a bola diretamente na rede do CRB. Imagino
eu que numa referência — ou reverência — aos Jogos Olímpicos que estão chegando ao Rio. Andrezinho definiu, de virada, a vitória de 2 a 1 do Vasco.
O gol surpreendeu muita gente, dentro e fora de
campo, particularmente a mim, porque faz tempo
que (eu pelo menos) não vejo gol olímpico. O jogo
proporcionou essa agradável surpresa e, ao mesmo
tempo, uma dúvida que de agradável não tem nada: será impressão minha ou o time do Vasco perdeu mesmo a arrumação e a fluência que mostrava
até ver interrompida a invencibilidade que manteve em nada menos do que 34 jogos?
Depois, não sei se em decorrência disso, o time
caiu de produção, como mostrou mais uma vez. A
defesa falhou muito, até por um motivo explicável:
Aislan foi escalado na última hora, por causa da
contusão de Jomar no aquecimento. Jomar é que tinha sido preparado para entrar no lugar do “capitão” Rodrigo, suspenso por causa dos cartões coloridos que ele tanto aprecia e faz questão de levar.
Numa das falhas da defesa, Lúcio Maranhão
abriu o placar no primeiro tempo e, numa de suas
poucas jogadas, Leandrão empatou. Outra demonstração da inconstância do time do Vasco foi
que, depois do gol da vitória de Andrezinho, já no
segundo tempo, o CRB voltou a dominar e só não
empatou porque um outro jogador do Vasco conseguiu brilhar mais até do que Andrezinho: o goleiro Martin Silva, com três ou quatro defesas salvadoras— a última delas numa cobrança de pênalti.
Conclusão da partida: ao menos dois jogadores
estão mantendo o alto nível anterior do Vasco, Andrezinho e sobretudo Martin Silva. A vitória de sábado foi dos dois.
_
Segunda-feira com Iniesta
O amigo Paulo Cesar Vasconcellos, que está na
França comentando jogos da Eurocopa para o
SporTV, envia uma mensagem para falar de seu
prazer em acompanhar — de perto, reforça ele —
atuações do espanhol Iniesta, um dos destaques da
competição, no auge de seus 32 anos.
Segundo o PC, Iniesta o faz recordar craques do
meio-campo que já tivemos, como Didi, Gérson ,
Rivellino e outros, sobretudo pela valorização dos
passes, a visão do campo e as jogadas de criação.
Aproveito para lembrar aos leitores que podem
admirar Iniesta, a partir das 13 horas de hoje, num
jogo que vai mexer com a Eurocopa: Itália x Espanha. Segunda-feira especial no futebol. l
PÁGINA VIRANDO
Levir exalta jovens como Richarlison, autor do gol da vitória do Flu, mas pede
calma na busca por novas referências após saída de Fred e admite reforços
-NATAL- Para o Fluminense, o
clássico contra o Flamengo na
Arena das Dunas, em Natal foi
como atuar fora de casa — e
não apenas pela distância em
relação ao Rio. Reconhecendo
que a torcida rubro-negra estava em ampla maioria no estádio, o técnico Levir Culpi comemorou o efeito da vitória
por 2 a 1 no aspecto emocional
da equipe tricolor.
— Clássico é um jogo para o
torcedor. Havia praticamente
85% de flamenguistas no estádio, nem sei de onde sai tanto
flamenguista, mas quem comemorou foi a torcida do Fluminense. Quero cumprimentar os torcedores, sei que muitos tricolores vieram de outras
cidades do Nordeste — comentou Levir, lembrando que
o resultado interrompe uma
sequência negativa do tricolor:
— Houve duas derrotas, se
também perdesse o clássico ficaria difícil recuperar a parte
emocional. Dá para equilibrar
um time com jogadores pouco
conhecidos, mas tudo vai de
acordo com os resultados.
ATACANTE SE EMOCIONA
Após a saída de Fred, o Fluminense ainda tenta criar novas
referências em campo. Levir
admitiu que o clube estuda reforços pontuais, mas mostrou
confiança em jovens como
Gustavo Scarpa, Marcos Júnior
e Richarlison, com a ressalva de
que é necessário ter paciência
para não sobrecarregá-los.
Richarlison, de 19 anos, se
emocionou com o gol, seu primeiro pelo Fluminense. O atacante, que saiu pouco depois
com dores no tornozelo, disse
ter lembrado das orientações
de Levir ao roubar a bola mal
recuada por Rafael Vaz.
— No banco de reservas, o
Levir falou para eu apertar o
Vaz. Apertei, ele recuou fraco e
tive velocidade. É agradecer a
Deus, descansar e tratar do tornozelo — afirmou. l
NELSON PEREZ/DIVULGAÇÃO
Bote. Richarlison tenta desarmar Rafael Vaz: Levir pediu ao atacante tricolor para apertar a marcação na saída de bola
Zé Ricardo alivia após falhas de Arão e Vaz
Treinador prefere elogiar
atuação do Flamengo e diz
que resultado, mesmo com
erros, poderia ser melhor
-NATAL - O
técnico Zé Ricardo
procurou eximir Willian Arão e
Rafael Vaz de culpa após a derrota do Flamengo por 2 a 1 no
clássico contra o Fluminense,
que foi definida em falhas individuais do volante e do zagueiro. Reforçando que gostou da
atuação rubro-negra, o treinador interino lembrou que o time não conseguiu traduzir sua
atuação em mais gols.
— Não tive nada em especial
para falar aos dois. O jogo é feito tanto por momentos ofensi-
vos quanto defensivos. Todos
estão ali para fazer seu melhor,
mas há dias em que as coisas
não acontecem a nosso favor. É
um pecado porque nos sentimos capazes, durante toda a
partida, de conseguir um resultado melhor — afirmou.
O zagueiro Réver foi outro
que fez questão de apoiar Rafael Vaz após a falha.
— Acabou acontecendo com
ele, mas podia ser com qualquer outro. Deixamos a desejar e agora é pensar no próximo jogo (contra o Internacional, quarta, em Cariacica) —
ressaltou o zagueiro.
Zé Ricardo citou o desgaste
físico como motivo para ter
poupado o lateral-direito Ro-
dinei e o meia Everton, lançando em seus lugares Pará e
Ederson, respectivamente. O
treinador citou que outros jogadores vêm sofrendo com
cansaço acumulado, como o
atacante Marcelo Cirino, que
não teve boa atuação no FlaFlu e viu a torcida pegar em
seu pé no segundo tempo.
O retorno do atacante Paolo
Guerrero, por outro lado, foi
comemorado por Zé Ricardo.
O peruano, que estava fora
desde maio por conta da Copa
América Centenário, marcou
seu primeiro gol no Brasileiro.
— Guerrero é um jogador de
peso no setor ofensivo. Fez o
que a gente esperava que ele fizesse — resumiu o treinador. l
Brasileiro - Série A
CLASSIFICAÇÃO
EQUIPE
Libertadores
|
2ª Edição Segunda-feira 27 .6 .2016
BRASILEIRO
[email protected]
Rebaixamento
2
1 Palmeiras
2 Internacional
3 Santos
4 Corinthians
5 Grêmio
6 Flamengo
7 Atlético-PR
8 Atlético-MG
9 Fluminense
10 São Paulo
11 Chapecoense
12 Cruzeiro
13 Ponte Preta
14 Figueirense
15 Vitória
16 Sport
17 Botafogo
18 Santa Cruz
19 Coritiba
20 América-MG
DÉCIMA PRIMEIRA RODADA
P
J
V
E
D GP GC
22
20
19
19
18
17
17
16
16
15
15
14
14
14
13
12
12
11
10
8
11
11
11
11
11
11
11
11
11
11
11
11
11
11
11
11
11
11
11
11
7
6
6
6
5
5
5
4
4
4
3
4
4
3
3
3
3
3
2
2
1
2
1
1
3
2
2
4
4
3
6
2
2
5
4
3
3
2
4
2
3
3
4
4
3
4
4
3
3
4
2
5
5
3
4
5
5
6
5
7
22
15
18
16
17
12
12
16
12
10
17
14
11
10
12
15
11
14
14
9
P - Pontos ganhos; J - Jogos; V - Vitórias; E - Empates;
D - Derrotas; GP - Gols pró; GC - Gols contra; N - Não jogou
12
10
9
10
12
11
13
16
13
11
18
15
19
10
16
16
15
15
18
18
ÚLTIMOS JOGOS
E
V
V
D
E
V
D
D
V
V
E
D
V
D
D
D
V
V
E
D
V
D
D
V
V
E
V
V
D
E
V
D
D
V
D
V
D
D
D
V
V
E
V
D
D
V
E
V
D
E
E
V
D
E
V
E
E
D
E
D
D
D
V
V
D
D
V
V
V
D
D
V
E
E
E
V
V
D
E
D
25/6
Cruzeiro
Corinthians
2x1 Palmeiras
2x1 Santa Cruz
América-MG
Vitória
Flamengo
Santos
Internacional
Atlético-PR
Figueirense
Sport
0x1
1x1
1x2
3x0
2x3
2x0
0x0
5x1
ONTEM
Atlético-MG
Ponte Preta
Fluminense
São Paulo
Botafogo
Grêmio
Coritiba
Chapecoense
DÉCIMA SEGUNDA RODADA
OS ARTILHEIROS
8 gols
7 gols
6 gols
5 gols
4 gols
Grafite (Santa Cruz)
Bruno Rangel (Chapecoense)
e Gabriel Jesus (Palmeiras)
Diego Souza (Sport) e Kieza
(Vitória)
Rafael Moura (Figueirense),
Luan (Grêmio) e Vitor Bueno
(Santos)
Sassá (Botafogo), Kleber
(Coritiba), Arrascaeta
(Cruzeiro), Felipe Azevedo
(Ponte Preta), Fred e Cazares
(Atlético-MG), Vitinho e
Eduardo Sasha (Internacional)
QUARTA
19:30
19:30
19:30
21:00
21:00
21:45
21:45
Vitória
Flamengo
Grêmio
Coritiba
Chapecoense
São Paulo
América-MG
x
x
x
x
x
x
x
Sport
Internacional
Santos
Atlético-PR
Cruzeiro
Fluminense
Corinthians
Palmeiras
Santa Cruz
Atlético-MG
x
x
x
Figueirense
Ponte Preta
Botafogo
QUINTA
19:30
19:30
21:00
8
gols
Grafite,
Santa Cruz
Série C
Macaé perde a quinta seguida
O Macaé perdeu para o
Ypiranga, ontem, por 2 a 0, em
Erechim, no Rio Grande do
Sul, com gols de Maycon e
Danilinho. Foi a quinta
derrota seguida do time
fluminense, que amarga a
penúltima colocação do grupo
B, da Série C, com apenas três
pontos. Com mais esta
derrota, a próxima partida do
time, no sábado, no
Moarcyzão, ganhou ainda
mais importância já que é
contra o lanterna
Guaratinguetá (dois pontos).
l Esportes l
Segunda-feira 27 .6 .2016
O GLOBO
l 3
BRASILEIRO
Contra-ataque
WESLEY SANTOS
ATUAÇÕES
ALEGRIA
NO SUL,
TCHÊ
aa B OTA FO G O
Sidão 8.
Paredão. Em tarde inspirada, fez belas
defesas, saiu-se bem nas bolas aéreas e
foi fundamental para garantir a vitória.
Sem culpa nos gols.
Luís Ricardo 6,5.
Fez a diferença. Bela jogada no 1º gol.
Renan Fonseca 5.
Seguro. Resistiu à pressão colorada.
Emerson Silva 6.
Firme. Bem nas divididas.
Diogo Barbosa 7.
Inspirado. Esteve bem nos desarmes
e deu início a contra-ataques perigosos.
Airton 6.
Substituído. Fez bom primeiro tempo.
Saiu no intervalo com dores.
Rodrigo Lindoso 5,5.
Na mesma. Manteve o nível de Airton.
Fernandes 7.
Fez o seu. Autor do 1º gol, armou bem
os contra-ataques, mas perdeu chance clara
no 2º tempo que poderia ter matado o jogo.
Em jogo dramático, Botafogo vai bem
nas finalizações, algo raro no ano, para
conquistar primeira vitória fora de casa
Gegê Sem nota.
No fim. Jogou cinco minutos.
Bruno Silva 6,5.
Cão de guarda. Firme na contenção
e tirou bola na linha do gol no 1º tempo.
Camilo 8.
Enfim, fora. Fernandes e Luís Ricardo comemoram o primeiro gol do Botafogo, seguidos por Camilo e Ribamar
-PORTO ALEGRE- O Botafogo conse-
guiu sua primeira vitória fora
de casa no Brasileiro, ontem,
contra o Internacional, no Beira-Rio, por 3 a 2. Com um jogador a mais desde os 43 minutos
do primeiro tempo, o time de
Ricardo Gomes soube resistir à
pressão colorada, apostou em
contra-ataques e foi eficiente
nas finalizações, algo raro nesta temporada. A vitória deu fôlego e confiança na luta alvinegra contra o Z-4. Já o Internacional desperdiçou a oportunidade de voltar à liderança.
— Acredito que foi a melhor
atuação pelo resultado que
conseguimos, mas precisamos
melhorar muita coisa ainda —
disse o meia Camilo, estreante
e autor do terceiro gol.
No início de jogo, pelo que o
time vinha apresentando nos
Santos usa
São Paulo de
degrau para
subir ao G-4
últimos jogos, a impressão
era de que o Botafogo estava
perdido, correndo atrás da
bola. Aos seis minutos, o Internacional já tinha 82% de
posse. Esta impressão, no entanto, mostrou-se equivocada
logo em seguida. Jogando
sem afobação, o time de Ricardo Gomes soube lidar com
suas limitações e apostou em
contra-ataques eficientes.
Com 15 minutos, conseguiria
marcar duas vezes.
A estratégia do Botafogo começou a funcionar, aos sete
minutos, quando Luís Ricardo
recebeu a bola pela direita,
passou como quis por Geferson e cruzou para a área. A bola foi de encontro a Fernandes,
livre, bem perto da marca do
pênalti. Ele teve tempo de dominar com a coxa direita e
Internacional
Botafogo
2 3
Internacional: Jacsson, William, Alan Costa,
Ernando e Gefereson (Alex); Rodrigo
Dourado, Fabinho, Anderson, Andrigo
(Marquinhos) e Gustavo Ferrareis
(Bruno Baio); Eduardo Sasha.
Botafogo: Sidão, Luís Ricardo, Renan Fonseca,
Emerson Silva e Diogo; Airton (Rodrigo
Lindoso), Bruno Silva, Fernandes (Gegê) e
Camilo (Gervasio Núñez); Ribamar e Neílton.
Juiz: Wilton Sampaio (GO).
Cartão vermelho: Fabinho
Gols: 1T: Fernandes, aos 7m, e Neílton,
aos 15m. 2T: Sasha, aos 25, Camilo,
aos 26, e Ernando, aos 28m.
Local: Beira-Rio, em Porto Alegre.
chutar com a mesma perna para abrir o placar. Após o primeiro gol, o Internacional, então invicto em casa neste Brasileiro, parecia não acreditar
no gol relâmpago e tentou
Cafeteira espresso
Coffee Cream C-08
MONDIAL
TRÊS GOLS EM TRÊS MINUTOS
Com a tamanha facilidade que
saíram os dois primeiros gols
nos minutos iniciais, a impressão era de que todo contra-ataque alvinegro terminaria com
a bola na rede. Não foi assim,
mas levou perigo quase sempre. Ainda antes do intervalo, a
situação do Internacional piorou após a expulsão de Fabinho. Mesmo com um a mais, o
Botafogo ficou acuado e apostando no contra-ataque. So-
Estreante. Mostrou categoria, distribuiu
mente na metade do segundo
tempo pareceu se lembrar que
era maioria em campo e começou a trocar mais a bola no
meio de campo. Curiosamente, foi neste momento que saiu
o primeiro gol do Internacional e iniciou-se os três minutos
mais eletrizantes do jogo. Aos
25, enfim, Sasha fez o primeiro
do Internacional. Aos 26, Camilo, da entrada da área, marcou com categoria. Aos 28, Ernando cabeceou no ângulo para balançar a rede.
Após os gols, a torcida da casa
tentou empurrar o time acreditando no empate. Fernandes
poderia ter jogado um balde de
água fria nesta festa, aos 33, mas
acertou a trave ao se deparar
cara a cara com o goleiro. A partir daí, o jogo continuou dramático até o apito final. l
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Ainda na parte de cima da tabela, o Grêmio (19), quinto colocado, deixou o G-4 ao perder
por 2 a 0 para o Atlético-PR, em
Curitiba, com gols de Hernani
e André Lima. O goleiro Marcelo Grohe, em tarde inspirada, impediu que o placar fosse
mais elástico. Com a vitória, o
time do Paraná chegou a 17
pontos, mesma pontuação do
Flamengo, e ganhou fôlego para brigar por uma classificação
para a Libertadores. l
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140
Razoável. Entrou no lugar de Camilo, não
foi mal, mas também não manteve o nível
do estreante.
Neílton 7.
Elétrico. Fez gol, provocou a expulsão
de Fabinho e deu trabalho à zaga
do Internacional.
Ribamar 7.
Pivô. Incomodou a zaga e puxou a
marcação em momentos importantes.
Ricardo Gomes 7.
Sofrido. Mesmo inferior tecnicamente, time
criou oportunidades e soube aproveitá-las.
aa I N T E R N AC I O N A L
Ineficiente. O time da casa não soube
transformar a pressão em gols. Sasha e Alex
deram trabalho à defesa alvinegra.
aa A R B I T R AG E M
No limite. Wilton Sampaio (GO) inverteu
algumas marcações, mas soube deixar o
jogo correr e não interferiu no resultados.
Jorginho elogia Andrezinho,
autor do gol olímpico, que
decretou a virada do time
-SÃO PAULO-
R$
bem o jogo, deu passe para gol e deixou
o seu em chute colocado de fora da área.
Gervasio Núñez 6.
SÉRIE B
Vasco festeja
as vitórias
da semana
fora de casa
Calculadora de mesa
CASIO
Em dia de ação pela paz no
futebol, Denis falha feio na
derrota no clássico por 3 a 0
Denis entrou no clima de amizade que levou os times de Santos e São Paulo a
chegarem juntos ao Pacaembu, ontem, em uma ação para
promover a paz no futebol. Logo no primeiro minuto de jogo,
o goleiro são-paulino falhou
no gol de Vitor Bueno que
abriu a vitória por 3 a 0 no clássico. Com a vitória, o Santos
não só chegou ao G-4 como alcançou a terceira colocação.
— A equipe foi séria, concentrada em busca do resultado.
Jogamos em cima das nossas
características, com confiança.
Trabalhando a bola, sendo
uma equipe simples e, em cima dessa simplicidade, conseguiu envolver o São Paulo —
avaliou o técnico Dorival Jr.
Com a vitória sobre o São
Paulo, que foi completada com
gols de Lucas Lima e Rodrigão,
o Santos chegou a 19 pontos,
ficando a três da liderança. Já
que o líder Palmeiras (22) e o
vice-líder Internacional (20)
perderam nesta rodada. Foi a
segunda vitória seguida do
Santos, que havia batido o Fluminense no meio da semana.
transformar a maior posse de
bola em pressão. Não funcionou. Aos 15, Camilo foi lançado em contra-ataque pela esquerda e carregou a bola até a
entrada da área, onde tocou
para Neílton, do outro lado da
área, que bateu cruzado sem
chances para o goleiro Jacsson.
As vitórias sobre o Londrina (1
a 0) e sobre o CRB (2 a 1), ambas fora de casa, na terça-feira
e no sábado, serviram de conforto no Vasco. Elas, de certa
forma, compensam a derrota
para o Paysandu, por 2 a 0,
ocorrida no último dia 18, em
São Januário. O técnico Jorginho fez questão de ressaltar
que os pontos obtidos fora de
casa têm um peso importante
na campanha do time, que lidera a Série B, com 22 pontos.
— Foi ótimo. Conseguimos
o objetivo principal, os seis
pontos nos dois jogos fora. Tivemos resultado ruim em casa
(contra o Paysandu), e são
pontos que a gente não recupera, porque sabemos que vamos perder pontos fora de casa. Esses pontos foram fundamentais para deixar a gente
em uma situação muito boa
na classificação — disse o treinador, após a vitória sobre o
time alagoano, no sábado, em
Maceió.
Jorginho destacou a reação
do time ao não se abater por
ter saído atrás do placar.
— O CRB é uma equipe que
joga em velocidade, muito vertical, tenta pressionar o adversário. Mas o time soube trabalhar,
não se abateu com o gol que tomou e teve poder de reação.
O técnico elogiou o meia Andrezinho, autor do olímpico, o
da virada vascaína:
— Andrezinho bate muito
bem na bola. A bola dele sempre vai em direção ao gol, desde faltas laterais. l
4
l O GLOBO
l Esportes l
3ª Edição Segunda-feira 27 .6 .2016
COPA AMÉRICA
NELSON ALMEIDA/AFP
SOBE E DESCE
á
á
BRAVO.
O goleiro
chileno fez
defesa
monumental
na
prorrogação e
defendeu
pênalti de
Biglia.
DECIDIU.
Francisco
Silva entrou
no lugar de
Sánchez e
marcou o
pênalti que
definiu o
título.
O CRAQUE.
Messi não fez
bom jogo no
tempo normal
e perdeu
pênalti.
DE NOVO.
Mais uma
final da
Argentina que
Higuain perde
chance clara.
APITO.
TORCIDA.
Mais de 80
mil
torcedores
lotaram o
estádio em
Nova Jersey.
O brasileiro
Héber
Roberto
Lopes foi
rigoroso
demais nos
cartões e
inverteu
marcações a
ponto de ser o
protagonista
do primeiro
tempo.
Tristeza. Messi cabisbaixo após perder sua cobrança na disputa por pênaltis: derrota argentina por 4 a 2 e bicampeonato do Chile na Copa América Centenário, realizada nos Estados Unidos
Sina
Argentina
0 0
ÍCONE DA CRUELDADE
Nos pênaltis, Chile 4 x 2 Argentina
Argentina: Romero, Mercado, Otamendi,
Funes Mori e Rojo; Mascherano, Biglia e
Banega (Lamela); Messi, Di María
(Kranevitter) e Higuaín (Aguero).
Chile: Bravo, Isla, Medel, Jara e Beausejour;
Díaz, Vidal e Aránguiz; Fuenzalida (Edson
Puch), Vargas (Nicolás Castillo) e Sánchez
(Francisco Silva).
Cartões amarelos: Mascherano, Kranevitter,
Messi, Díaz, Aránguíz, Beausejour e Vidal.
Cartões vermelhos: Marcos Rojo e Díaz.
Juiz: Héber Roberto Lopes (Brasil).
Público presente: 82,026.
Local: Nova Jersey (EUA).
Vitória nos pênaltis dá ao Chile o bicampeonato. Jejum argentino é mantido com cobrança errada de Messi
CARLOS EDUARDO MANSUR
[email protected]
Cruel, esse tal de futebol. Parte
dos 23 anos que já dura o jejum
de títulos do futebol argentino
foram coincidir logo com a passagem de Messi pela seleção.
Dono de superpoderes com a
camisa do Barcelona, consagrado cinco vezes como melhor do
mundo, posto indiscutível, parece condenado a ser figura icônica de uma era de derrotas duras como a de ontem, em Nova
Jersey (EUA). Após 120 minutos
de 0 a 0, logo ele chutou fora um
dos pênaltis: o Chile venceu por
4 a 2 e repetiu o título de 2015. O
gol da conquista chilena foi
marcado por Francisco Silva.
Eram duas propostas claras
de jogo, dois times tentando
adaptar o jogo ao estilo que
mais os deixa cômodos. Mesmo
pressionado em sua saída de
bola, o Chile tentava a todo custo iniciar as jogadas com toques, pela sua boa presença e
capacidade de passe no meiocampo. A Argentina não se incomodava em buscar bolas longas. Ainda não é um time com
tão bom manejo de bola no setor central, preferia fazer a jogada chegar rapidamente aos últimos metros, onde estão seus
homens de enorme capacidade
de definição, como Messi.
Mas a forma mais eficiente
dos argentinos ativarem seus
homens de frente foi com a retomada no campo rival. Éo
ponto em que o time mais evoluiu. Consegue tirar espaços
do adversário, roubar a bola e
explorar a rapidez do ataque.
Nenhum dos times impôs seu
jogo, mas um erro em saída de
bola de Medel resultou na única
chance de gol. E que chance...
Higuaín, de frente para o goleiro
Bravo, perdeu seu terceiro gol
claro em três finais seguidas com
a Argentina: Copa do Mundo,
Copa América de 2015 e ontem.
Daí em diante, o persona-
gem foi Héber Roberto Lopes,
que tirou um jogador de cada
lado: o chileno Marcelo Díaz
em lance até aceitável, após
dois cartões amarelos; o argentino Rojo, este vítima de
uma expulsão direta que teve
um certo exagero, uma cara de
compensação forçada.
Entre uma e outra, a Argentina teve 15 minutos com um a
mais. Faltou apoio dos volantes e dos laterais para criar
oportunidades de gol.
No segundo tempo, seria outra história: um jogo de dez
contra dez que exigiria mais do
físico, mas também da ordem
coletiva e do controle da bola
Chile
para evitar que a defesa fosse
pega desprevenida. Neste terreno, o Chile se impôs, com
ótima partida de Vidal. Era o time que ficava com a posse de
bola, trocava passes e dominava, ainda que faltassem o último passe e a finalização.
Perdendo o meio-campo, o
técnico argentino Tata Martino
trocou Di María por Kranevitter. Aos poucos, amenizou,
mas não reverteu o quadro. A
melhor chance foi chilena, em
passe longo de Sanchez para
Vargas esbarrar em Romero.
A Argentina esperava, na realidade, pela chance de uma arrancada fatal de Messi, encomenda-
va seu destino à genialidade do
do melhor jogador do mundo.
Ela veio, no último minuto, curiosamente após Sanchez perder
um gol incrível na outra extremidade do campo. Na volta, Messi
conduziu mas faltaram-lhe pernas para chutar com equilíbrio.
Vieram mais 30 minutos,
uma prorrogação com uma cabeçada quase fatal para cada
lado, a argentina culminando
em defesa monstruosa de Bravo. Nos pênaltis, além de Messi, perdeu a outra estrela: o
chileno Vidal. Mas Biglia também errou: parou em Bravo. l
Com agências internacionais
EUROCOPA
Favoritos espantam zebras e avançam às quartas de final
AFP
França, Alemanha e
Bélgica seguem firmes.
Itália e Espanha repetem
hoje a decisão de 2012
Alemanha, França e Bélgica finalmente mostraram
bom futebol na Eurocopa e se
garantiram nas quartas de final. Donos da casa, os franceses sofreram um pouco mais,
mas exibiram um segundo
tempo consistente e, graças a
uma atuação decisiva de Griezmann, venceram a Irlanda
por 2 a 1, em Lyon. Atuais campeões do mundo, os alemães
tiveram uma de suas melhores
atuações desde a conquista da
Copa de 2014 e venceram a Eslováquia por 3 a 0, em Villeneuve-d'Ascq. Já os belgas
atropelaram a Hungria por 4 a
0, em Toulouse.
FASE DECISIVA
OITAVAS DE FINAL
QUARTAS
DE FINAL
OITAVAS DE FINAL
Ontem
SUÍÇA
1 (4)
POLÔNIA*
1 (5)
-PARIS-
ADVERSÁRIOS SAEM HOJE
Franceses e alemães conhecerão hoje seus adversários. A seleção do técnico Didier Deschamps terá pela frente o vencedor do duelo entre Inglaterra
e a surpreendente Islândia,
que se enfrentam às 16h (de
Brasília), em Nice. O time de
Joachim Löw pegará o sobrevivente do clássico entre Itália e
Espanha, que jogam às 13h, no
Stade de France, em Saint-Denis. Sportv e Band transmitem.
QUARTAS
DE FINAL
25/6
Quinta - 16h
POLÔNIA
25/6
Sábado - 16h
SEMIFINAIS
6/7 - 16h
3
ALEMANHA
0
ESLOVÁQUIA
ALEMANHA
Hoje - 13h
PORTUGAL
CROÁCIA
0 (0)
ITÁLIA
PORTUGAL** 0 (1)
ESPANHA
7/7 - 16h
25/6
Ontem
PAÍS DE GALES 1
IRLANDA DO N. 0
Sexta - 16h
Domingo - 16h
PAÍS DE GALES
Ontem
HUNGRIA
BÉLGICA
Homenagem. Payet beija a chuteira de Griezmann, autor de dois gols
Os belgas terão como rivais o
País de Gales na sexta-feira.
A França fez um primeiro
tempo sofrível. Levou um gol
de pênalti de Brady logo aos 2
minutos de jogo, mas a entrada
de Coman no lugar de Kanté
no intervalo e a consequente
mudança de posicionamento
de Pogba mudou o time, que
passou a criar mais jogadas no
ataque e chegou à virada com
dois gols de Griezmann.
— Dissemos algumas coisas
no vestiário e demos tudo o que
tínhamos — disse Griezmann,
acostumado com o sofrimento
que a França vem vivendo na
Eurocopa. — Para mim é assim
no ano todo. No Atlético (de
Madrid) ganhamos por 1 a 0 e
sofremos até o fim. Pensava
que seria um pouco diferente
com a França, mas tem sido do
mesmo jeito — brincou.
Já a Alemanha não sofreu pe-
*Nos pênaltis
BÉLGICA
FINAL
FRANÇA
1
IRLANDA
FRANÇA
10/7 - 16h
0
Hoje - 16h
INGLATERRA
4
ISLÂNDIA
**Na prorrogação
la primeira vez no torneio. Pelo
contrário, passou por cima da
Eslováquia sem piedade. Boateng, Mario Gomez e Draxler
fizeram os gols. O meia do
Wolfsburg foi o destaque.
— Não foi fácil para mim ficar de fora no último jogo. Mas
tive nova oportunidade e fico
feliz de ter ajudado o time.
Mais fácil ainda foi a vitória
da Bélgica. O time até sofreu
alguma pressão da Hungria no
2
Editoria de Arte
segundo tempo, mas matou o
jogo nos contra-ataques. Alderweireld, Batshuayi, Hazard
e Carrasco fizeram os gols.
CLÁSSICO NA EURO
Itália e Espanha farão hoje o
primeiro clássico de peso da
Eurocopa. O jogo é uma reedição da final de 2012, quando os
espanhóis golearam implacavelmente por 4 a 0 e conquistaram o bicampeonato.
— A Espanha tem sido a nossa Nêmesis (referência à deusa
da vingança na mitologia grega) desde 2008 (quando a Itália
perdeu nos pênaltis nas quartas de final), quando começaram a era de ouro deles. Gosto
da palavra “vingança”, mas,
mais do que a palavra, precisamos colocar isso em prática —
disse o zagueiro Chiellini, um
dos quatro italianos que estiveram nas duas derrotas. l
l Esportes l
Segunda-feira 27 .6 .2016
Fenômeno
CORRIDA AO
GOLDEN SLAM
Wimbledon começa hoje, com Novak Djokovic em busca
de novas marcas. Especialistas avaliam evolução do sérvio
GUSTAVO LOIO
[email protected]
Disputado pela primeira vez em
1877, Wimbledon, o mais tradicional torneio de tênis do planeta, começa hoje. E, na chave
masculina, as atenções estarão
voltadas, principalmente, para
Novak Djokovic. Hexacampeão
do Aberto da Austrália, em janeiro, e após título inédito em
Roland Garros, no início do
mês, o sérvio vai seguir fazendo
história, caso confirme o favoritismo na grama britânica. Afinal, apenas o líder do ranking
pode conquistar, em 2016, o
Golden Slam: o ouro olímpico e
os quatro Grand Slams na mesma temporada (o último será o
US Open, em setembro), façanha inédita entre os homens.
Campeão de três dos quatro
torneios mais importantes do
circuito em 2015, o tenista de
Belgrado, aos 29 anos, tem mos-
O
trado uma evolução ano a ano.
Em entrevista ao GLOBO, especialistas analisaram o progresso de Djokovic, que estreia
hoje em Wimbledon contra o
anfitrião James Ward (177º do
mundo), às 9h (de Brasília), na
busca pelo 13º Grand Slam.
Sportv 3 e ESPN transmitem.
— Uma das coisas que mais
mudaram no jogo dele foi o saque. Outro fundamento que ele
não fazia com tanta eficiência
era a transição da defesa para o
ataque. A parte física também
impressiona muito. Desde a
história do glúten (que o sérvio
cortou da alimentação no fim
de 2010), ele vem mostrando alto nível durante muito tempo.
Isso faz toda a diferença — observa Fernando Meligeni, comentarista da ESPN, que vê o
sérvio ainda mais motivado,
com grande possibilidade de fechar o Golden Slam neste ano.
Capitão do Brasil na Copa
“Do jeito que ele
está ganhando,
pode chegar ao
número de Grand
Slams de Roger
Federer ”
Fernando Meligeni
Sobre o líder do ranking
Davis e treinador de Thomaz
Bellucci, que hoje enfrenta o
belga Ruben Bemelmans na
primeira rodada, João Zwetsch
assina embaixo:
— A principal mudança foi o
O GLOBO
aprimoramento em questões
técnicas que fizeram diferença
grande, principalmente, o saque. Ele fez uma leve mudança
que ajudou muito, era o golpe
que comprometia um pouco o
jogo dele. Mas a principal mudança foi na parte mental.
Ex-88º do mundo, o paulista
Thiago Alves, que chegou a treinar duas vezes com Djokovic,
em 2005 e 2006, concorda.
— O que mais mudou foi a
parte física. Lembro-me de um
jogo dele com o Rafael Nadal,
em Roland Garros (em 2006),
em que acabou passando mal e
desistiu. Junto com o físico, veio
tudo, e o mental evoluiu demais. A questão técnica sempre
foi muito boa, mas o saque evoluiu bastante. Ele está, praticamente, invencível — analisa.
RECORDE À VISTA
Olhando para a frente, Meligeni, Zwetsch e Alves veem o sérvio com chances de bater o recorde de Grand Slams do suíço
Roger Federer, que tem 17.
— Do jeito que ele está ganhando, pode chegar. Se não
tiver algum problema físico,
vai levar um tempo para deixar
de ganhar com frequência —
aposta Meligeni.
— Não vai ser fácil, mas é
possível que ele até ultrapasse
os 17. Eu o vejo nesta mesma
pegada por mais uns dois ou
três anos — acredita Zwetsch.
Em Wimbledon, Djokovic, se
nenhuma zebra cruzar o caminho, deverá enfrentar nas semifinais o heptacampeão Federer
— que hoje estreia contra o argentino Guido Pella. E uma
eventual decisão seria com o
anfitrião Andy Murray, seu algoz na decisão de 2013.
Revanche à vista? l
Título com sabor diferente
no Intercolegial Olímpico
vasto currículo de Micaela, ex-ala
da seleção brasileira de basquete,
não foi suficiente para aplacar a
emoção de um título no Intercolegial.
Campeã pelo Ciep Professor Álvaro da
Fonseca Lontra, de Miracema, sua cidade
natal, ela parecia uma criança após a
vitória por 19 a 4 sobre o GEO Doutor
Sócrates, de Guaratiba, sábado, no ginásio
do Sesc de Ramos, palco das finais da
modalidade.
Com participações em Olimpíada, PanAmericano, Sul-Americano, entre outras
competições, Micaela agora vive uma
nova fase. Como auxiliar técnica do Álvaro
Lontra participou da conquista do primeiro
lugar na categoria sub-13 não federada
feminina.
– Se me fizesse essa pergunta antes de
eu parar de jogar, eu falaria que jamais
(seria treinadora), mas agora já começo a
pensar. Tenho ajudado o Carlinhos (Bessa,
professor do Ciep) e me tornar treinadora
faz parte meus projetos – disse ela, explicando o significado de sua mais nova
vitória:
– Essa medalha vai ter um lugar especial
porque significa toda a luta dessas meninas, que são guerreiras. Elas batalham
NÚMEROS DE DJOKOVIC
28 14 12
vitórias
consecutivas
(quatro títulos
seguidos) em
Grand Slams
vitórias
consecutivas
(dois títulos
seguidos) em
Wimbledon
títulos de
Grand Slam
na carreira
Das últimas 5 edições de
Wimbledon, chegou a 4
decisões e ganhou 3 (2011,
2014 e 2015)
Dos últimos 9 Grand
Slams, chegou a oito finais
e ganhou 6
TÍTULOS
6 em2016 65 nacarreira
PREMIAÇÕES (US$)
Na carreira
101,9 milhões
8,3 milhões
Neste ano
NO ANO
NA CARREIRA
44
730
vitórias
vitórias
3
Fonte: ATP
P
Editoria de Arte
4
Patrocínio Master:
Apoio:
muito para treinar, vir jogar aqui no Rio de
Janeiro e tudo mais.
Não foi só o Ciep Álvaro Lontra que
comemorou, pelo contrário. Censa, de
Campos, e Lisam, de Nova Iguaçu, conquistaram dois títulos cada um. O primeiro
papou tudo na categoria sub-15, na qual
se sagrou campeão feminino e masculino.
– Sempre falo para meus atletas: temos
objetivo de ser campeões em todas as
competições que formos disputar, respeitando os adversários, pois todos fazem ótimos trabalhos. Quando não vencemos,
O camisa 12 do Colégio Vasco da Gama na vitória sobre o Loide Martha pelo título sub-18 federado
analisamos onde e porque erramos –
garante Carlos Eduardo, técnico do Censa.
Sob o comando da técnica Camila Tomaz,
o Lisam subiu duas vezes ao lugar mais
alto do pódio, nas categorias sub-18 não
federado tanto entre meninos como entre
meninas. Foi a terceira vez que o time
masculino levou o ouro.
– Graças a Deus estamos conseguindo
nos manter no topo, mas vai ficando cada
vez mais difícil. E não sei se vou viver
muitos anos assim. Meu coração dispara
muito aqui à beira da quadra (risos). São
mais de 15 anos no basquete e devo
minha vida a este esporte. Esses meninos
e meninas treinam muito e são muito regrados – revela.
E por falar em campeões seguidos, o
Colégio Vasco da Gama levou o bicampeonato da sub-18 federada masculina e
celebrou ao som do tradicional grito de
“Casaca”, que ecoou pelo ginásio. O ADN
Master, do Méier, conquistou a sub-18
federada feminina, enquanto o GEO Félix
Venerando, do Caju, a sub-13 não
federada masculina.
O Intercolegial Olímpico é uma realização
do GLOBO, com patrocínio master do
Sesc, patrocínio de Furnas, apoio do
Sportv e produção da Abadai Eventos.
149
derrotas
derrotas
Parceria:
Fotos : Ari Gomes
As campeãs do Ciep Álvaro Lontra, que conta com Micaela, ex-jogadora da seleção brasileira de basquete
l 5
Realização:
6
l O GLOBO
l Esportes l
Handebol
Vôlei
Ginástica artística
SELEÇÃO DERROTA
FLÁVIA SARAIVA GANHA
DOIS OUROS EM PORTUGAL TURQUIA NO GRAND PRIX
BRASIL VENCE NA ARENA DO FUTURO
funcionou bem desta vez.
O técnico dinamarquês
Morten Soubak
aproveitou para testar as
18 atletas pré-convocadas
para os Jogos de 2016.
Ainda haverá quatro
cortes antes da Olimpíada.
— Estávamos bem
nervosos no primeiro
tempo e não conseguimos
sair com algumas jogadas.
No segundo tempo,
conseguimos mudar
principalmente na defesa, o
que nos possibilitou mais
contra-ataques. Isso fez a
diferença no jogo — avaliou.
ALEXANDRE LOUREIRO/PHOTO&GRAFIA
A seleção feminina de
handebol venceu a Suíça por
30 a 24 em amistoso, ontem,
na Arena do Futuro. Foi a
primeira vez que as jogadoras
atuaram no palco da
modalidade na Olimpíada. O
evento-teste de handebol, em
maio, havia sido disputado
por equipes masculinas.
As brasileiras aprovaram as
instalações, mas apontaram
alguns detalhes que podem
ser melhorados. A pivô Dara,
capitã da seleção, pediu mais
espelhos nos vestiários. Já o
piso, que descolou em alguns
pontos no evento-teste,
Segunda-feira 27 .6 .2016
As brasileiras da ginástica artística tiveram
grande desempenho na etapa de Anadia da
Copa do Mundo, em Portugal, ontem. Flávia
Saraiva ganhou medalhas de ouro no solo e
na trave, enquanto Rebeca Andrade ficou
com a prata nas duas provas.
Flávia, de apenas 16 anos, brilhou
principalmente na trave. Com nota 15,125, a
brasileira indicou que tem chances de brigar
pelo pódio no aparelho na Olimpíada do Rio.
No solo, Flavinha conseguiu 14,350 na final.
Entre os homens, Sérgio Sasaki conseguiu a
prata no salto sobre o cavalo, com média de
15,212. O ouro ficou com o chinês Yu Cen,
que anotou 15,375.
A seleção brasileira feminina de vôlei se
despediu do último compromisso pela fase
classificatória do Grand Prix, em Ancara, na
Turquia, com vitória: 3 sets a 0 (25/14, 25/21
e 25/19) contra as donas da casa.
O Brasil venceu com facilidade o primeito
set, por 25/14. Mas as turcas cresceram no
segundo set, muitas vezes encostando no
placar. Porém, as brasileiras souberam se
impor e venceram por 25/21. No terceiro set,
a seleção de Zé Roberto Guimarães não deu
chance às turcas e fechou o jogo.
Agora, a seleção brasileira parte para
Bangcoc, na Tailândia, onde disputa de 6 a 10
de julho a fase final da competição.
FOTOS DE GABRIEL DE PAIVA
PARQUE OLÍMPICO
VELÓDROMO. Considerada
a obra mais preocupante do
Parque Olímpico, ainda tem
fachada e corredores internos
inacabados. Após dois aditivos,
o custo saltou de R$ 118
milhões para R$ 147 milhões.
ARENA DO FUTURO. Primeira
instalação esportiva entregue
no Parque Olímpico, em
setembro. Houve críticas
no evento-teste ao piso e ao
mau cheiro, por ficar próxima
à Lagoa de Jacarepaguá.
Custou R$ 140,1 milhões.
ARENAS CARIOCAS. As três
arenas foram entregues entre
janeiro e maio. Duas delas,
com detalhes inacabados.
Entraram na PPP do Parque
Olímpico, que envolve outros
três prédios e infraestrutura,
ao custo total de R$ 1,6 bilhão
Faltando. O velódromo ainda apresenta parte inacabadas, como a arquibancada temporária e a instalação de cadeiras, além da conclusão da área de circulação de torcedores, encoberta por panos verdes
Velocidade máxima
CONTRA O RELÓGIO
Prefeito entrega velódromo ao Rio-2016, mas reconhece que ainda há o que fazer. Diante da perspectiva
de não vê-la pronta, COI elogia arena e, finalmente, atletas puderam testar a pista importada da Sibéria
AGÊNCIA O GLOBO
CAROLINA OLIVEIRA CASTRO
[email protected]
A 40 dias dos Jogos Olímpicos, a
Prefeitura do Rio entregou ontem as chaves do velódromo,
com seis meses de atraso, ao presidente do Comitê Organizador
Rio-2016, Carlos Arthur Nuzman. Com 97% de conclusão, a
última arena a ficar pronta superou as expectativas do Comitê
Olímpico Internacional (COI),
que já duvidava da conclusão
das áreas comuns e da faixada.
O velódromo, no entanto,
ainda corre contra o tempo
para ficar em perfeitas condições, o que somente deve
acontecer dias antes das competições. O custo da obra está
em R$ 147 milhões e, por causa do atraso, o evento-teste,
inicialmente previsto para
março e depois remarcado
para abril, foi cancelado.
A entrega das chaves ao comitê seria no sábado, mas foi desmarcada horas antes pela prefeitura. A assessoria municipal informou que uma incompatibilidade na agenda do prefeito Eduardo Paes teria sido o motivo do
adiamento. No entanto, Paes
confessou, ontem, que um problema na máquina gerou um
atraso na instalação das placas
de metal do lado de fora da arena. Mal-acabada, assimétrica e
visivelmente feita com pressa, a
fachada ainda era montada antes da cerimônia começar.
“ Estou satisfeito.
Ainda faltam
alguns detalhes
a serem feitos,
mas o principal,
que é a parte
dos atletas,
está muito bom”
Christophe Dubi
Diretor esportivo do COI
Elogios. Ciclista testa pela 1ª vez a pista importada da Sibéria, considerada a parte mais complexa da obra. Ela foi aprovada
— Não queria entregar essa
chave para o Nuzman sem todas
as placas da fachada. Botamos a
turma para trabalhar a noite inteira. A gente ainda tem alguns
detalhes, como as arquibancadas temporárias. Mas o que a
gente chama de local de competição está pronto. É um momento de muita alegria, porque é a
última arena. E a que foi mais difícil também — disse Paes.
Dentro do ginásio, também
havia sinais de que ainda há o
que fazer. Panos verdes e pretos, colocados entre as arqui-
bancadas, tiravam a visão dos
corredores e do acesso aos banheiros e lanchonetes, onde os
torcedores circularão durante
as competições. Limitados a
uma parte da arquibancada, os
jornalistas que estiveram no
local não puderam caminhar
por toda a arena.
PEDIDO DO COI
Na parte que era possível ver, algumas cadeiras já estavam instadas. Além da instalação das
arquibancadas temporárias,
faltam o acabamento das pare-
des em que estão os aparelhos
de ar-condicionado, os corrimãos e os acessos às escadas.
No começo do ano, o COI pediu para que o prefeito esquecesse o acabamento e concentrasse esforços na parte de competição. Na ocasião, Paes dissera
que não deixaria de fazer nada,
mas priorizou a parte dos atletas, como a pista e os vestiários.
O mais delicado da obra foi a
instalação da pista de madeira
siberiana. O ar-condicionado
só poderia ser instalado depois
que ela fosse colocada, para
que o vento não influenciasse
a performance dos atletas. Feito isso, a obra tomou outro andamento. A parte de competição foi elogiada pelos atletas:
— A pista é muito boa. Estamos no meio de uma construção e há poeira, mas há tempo
para ficar tudo pronto. É bom
já conhecer a estrutura, assim
como o clima. Não senti falta
de um evento-teste oficial, o
importante é conhecermos a
pista — disse o ciclista suíço
Gael Suter, que disputará sua
primeira Olimpíada e que foi
MARIA LENK. Inaugurado para
o Pan de 2007, passou por
reformas concluídas em maio.
As mudanças, que se
concentraram na parte de
aquecimento dos atletas,
custaram R$ 21,4 milhões.
ESTÁDIO AQUÁTICO. Palco da
natação nos Jogos de 2016,
foi entregue em abril. No dia da
inauguração, houve queda de
energia. Orçada em R$ 225,3
milhões, foi a arena de maior
custo no Parque Olímpico.
CENTRO DE TÊNIS. A quadra
central recebeu evento-teste
em dezembro, mas a obra do
estádio não está concluída.
Em janeiro, a Prefeitura
rompeu o contrato com o
consórcio responsável. Orçada
em R$ 175 milhões, a obra
recebeu aditivo e passou
a custar R$ 201,6 milhões.
um dos ciclistas que testaram a
pista ontem.
No final, o COI ficou satisfeito com o que foi entregue. A
entidade acreditava que a obra
não ficaria pronta e acompanhou de perto a construção. O
diretor esportivo do COI, Christophe Dubi, elogiou a arena:
— Eu gostei. Estou satisfeito.
Ainda faltam alguns detalhes a
serem feitos, mas o principal,
que é a parte dos atletas, está
muito bom. O que vocês veem
aqui reflete os Jogos. Temos todas essas cores; temos todos os
atletas aqui; e é disso que se
trata. Esse velódromo foi incrivelmente complicado, mas,
com esforços combinados, foi
possível encontrar soluções.
O FIM DO PROBLEMA
A obra do velódromo foi a maior dor de cabeça do prefeito
Eduardo Paes durante a construção das arenas. Ele voltou a
criticar a lei de licitações do
país. A Tecnosolo, que venceu
a concorrência por oferecer
menor preço, passava por uma
recuperação judicial quando
assumiu a obra. Desde o início
de 2015, a Riourbe notifica a
empresa sobre atrasos no cronograma. Porém, em janeiro
deste ano, a Tecnocolo sublocou a obra para a Engetecnica
e se retirou oficialmente no
mês passado. Um contrato de
emergência foi firmado entre a
prefeitura e a nova empresa. l
SEGUNDO
CADERNO
OGLOBO
Os imigrantes
levam benesses à
Europa, e pensar
que se pode
detê-los é idiotice
pág. 2
JOSÉ EDUARDO AGUALUSA
SEGUNDA-FEIRA 27.6.2016
oglobo.com.br
ARTE
COLETÂNEA DE
OBRAS DADÁ
IDEALIZADA
EM 1921 VIRA
EXPOSIÇÃO
pág. 6
Comemorando 40 anos de carreira, a cantora Miúcha lembra histórias engraçadas vividas
com João Gilberto, Chico Buarque, Tom Jobim e Stan Getz, entre outros músicos, e fala de
seus planos. Ela tem convites para um filme dirigido por Nelson Pereira dos Santos e para um
curta, e estuda a possibilidade de lançar gravações caseiras inéditas com João Gilberto
LEONARDO LICHOTE
[email protected]
I
rmã de Chico Buarque, exmulher de João Gilberto,
amiga de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, Miúcha fez mais
do que testemunhar a genialidade em torno dela ao longo de
sua vida. É conhecida por grandes discos como “Miúcha & Antonio Carlos Jobim”, de 1977, e
“Miúcha”, de 1989, e por ter gravado com artistas como Stan
Getz e Pablo Milanés, mas não
só isso. Ao completar 40 anos de
carreira, Miúcha celebra o feito
com o projeto de um filme sobre
ela dirigido por Nelson Pereira
dos Santos, e estuda lançar gravações caseiras inéditas de João
Gilberto. Em entrevista ao GLOBO, a cantora, de 78 anos, conta
que foi ela quem deu ensejo para o clássico “álbum branco” do
pai da bossa nova, apresentou
João Donato a seus futuros parceiros Caetano Veloso e Gilberto
Gil, e ensinou os primeiros acordes de violão a seu irmão.
com Luiz Bonfá. Antes desse
compacto teve o disco de capa
branca do João (o cultuado “João Gilberto”, de 1973).
O que tem o álbum branco?
Estava fazendo um disco meu,
gravei “Águas de março”... O João foi conhecer o estúdio, gravamos “Izaura" juntos, ele entrou no disco e, aí, acabou virando um disco dele (risos).
Essa é a origem do álbum.
l
Vocês se conheceram quando?
Em 1963, eu morava em Paris.
Em 1964, fui para Nova York e
arrumei logo um emprego.
Não sabia nem falar inglês,
mas arrumei um emprego de
datilógrafa. Eu era desenhista,
tinha feito publicidade. Uma
das perguntas que me fizeram
na entrevista foi se eu era boa
com figures (cálculos, números,
em português). Eu disse “oh,
l
yes”, pensando que era desenhar figuras (risos). Casei com
João em 1965. Na época viajávamos muito, nos mudamos
muito. Uma vez peguei um
ônibus errado, fui parar em
New Jersey, gostei e voltei com
uma casa alugada.
Como João via isso, essas
ideias malucas?
Ideia maluca era com ele mesmo (risos). Eu insistia, mas ele
l
nunca queria ir ver os apartamentos comigo antes. Teve
um... A gente estava chegando
com a mudança, ele viu e disse: “Heloísa, esqueci de te dizer que não gosto de casa de tijolinho”. Passei boas com ele.
Fomos fazer uma turnê no México, o início estava o maior sucesso. Até que perguntaram se
ele não se sentia mal com a altitude. Então, ele caiu duro na
hora! Sentiu a altitude (risos).
LEO MARTINS
Como João está, na chegada
dos 85 anos?
Igualzinho. Mas tocando como
nunca.
l
Como você começou a fazer
música?
Tinha aqueles encontros lá em
casa, com meu pai (Sérgio Buarque de Holanda), com Vinicius. Aí juntei minhas irmãs e
tínhamos praticamente um
conjunto vocal. E o Vinicius estimulava, ele me ensinou os
primeiros acordes de violão,
eu devia ter uns 12 anos. Depois eu ensinava pro Chico o
pouco de violão que tinha
aprendido com Vinicius. E
Chico logo começou a brincar
de fazer música. Teve uma música que ele fez que eu aprendi,
e uma vez peguei o violão, já
casada com João, e comecei a
cantarolar. João perguntou: “O
que é isso?”. “É a música do
meu irmãozinho”. “Que interessante”. Foi a primeira vez
que ele ouviu Chico.
l
Neste ano, celebram-se quatro décadas do lançamento do
disco “The best of two words”,
com você, Stan Getz e João
Gilberto, o primeiro LP em
que você aparece na capa...
Sim, mas saiu sem meu nome.
Estou na foto da capa, mas não
tem crédito para mim. Reclamei, mas ficou por isso mesmo.
Esse disco teve muita história,
gravamos em várias etapas. Primeiro, gravamos tudo e voltamos para o Brasil. Mas quando
viramos as costas, o Stan Getz
mexeu... Nesse disco, o sax é
muito mais alto do que todo o
resto. Quando vem o solo de
sax, a gente tem que abaixar o
volume (risos). João reclamou
da mixagem, tivemos que voltar
aos Estados Unidos. Ficamos
um tempão morando na casa
do Getz. No final dessa remixagem, encontrei o Tom e gravamos juntos “O boto” (do disco
“Urubu”, de 1976). Estava lá gravando com João e Stan Getz
num estúdio, e o Tom em outro,
e ninguém podia saber, porque
Getz queria que o Tom participasse do disco, e o Tom estava
fugindo. Mas o engenheiro de
som entregou e acabei ficando
mal, ali de espiã entre os dois,
me senti uma Mata Hari.
l
l Antes você já tinha gravado
o quê?
Fiz um compacto duplo, com
duas músicas de cada lado, em
1975. Apresentei Donato a Gil e
a Caetano, e eles fizeram as primeiras parcerias, “Naturalmente” (com Caetano) e “Lugar comum” (com Gil). Pus as duas no
disco e gravei também com a
Bebel, bem criança, uma música anti-homofóbica, “O que
quer dizer”, do Péricles Cavalcanti (“E por que falar/ Prata é
mulher/ Rosa mulher/ Lua mulher/ Se quando a gente é pequeno/ A gente costuma brincar/
Eu vou ser o que você quiser
agora”). É tão bonitinha com
Bebel cantando. A quarta é
“Correnteza”, de Tom Jobim
Parou a turnê, aquilo deu uma
confusão infernal. Mas tenho
muita gravação linda em cassete dessa época. Gal (Costa)
cantando, João acompanhando. Tem muito vocal da gente,
muita música inédita dele. Vamos resolver ainda se isso sai
ou não, o que dessas coisas pode ser recuperado.
l E hoje? O que você prepara
para celebrar sua trajetória?
Foi lançado o “Ao vivo no Paço
Imperial”, enquanto que o “Miúcha”, de 1989, foi reeditado. É
meu disco de luxo. Gravei com
Pablo Milanés em Cuba. Tem
Donato tocando trombone,
quatro músicas de Guinga com
Paulinho (César) Pinheiro. E
estou preparando coisas para
o cinema.
O que você está fazendo para o cinema?
A Georgiana de Moraes e a Dora Jobim estão querendo fazer
um curta comigo: “Curta Miúcha”. A curtição são as cartas
que escrevi. A ideia é fazer um
filme a partir dessas cartas.
Quando morei na Europa e nos
Estados Unidos, escrevia feito
doida pra minha família e pros
amigos. Tenho sete pastas.
Conversei com os irmãos
Campana, meus amigos, pra
eles bolarem um cenário disso,
botar as cartas penduradas como se fosse uma floresta feita
delas. Eu vou andando no
meio, pego uma por acaso, começo a ler. E a partir daí vamos
para essas histórias, e elas são
encenadas. E Nelson Pereira
dos Santos quer fazer um longa nesse formato comigo. Trabalhei com Nelson nos roteiros
dos filmes que ele fez sobre
meu pai (“Raízes do Brasil”) e
Tom (“A música segundo Tom
Jobim”). Agora, estou tomando
coragem de ler essas cartas.
Tem tanta maluquice, leio uns
pedaços e fico muito perturbada. São muitas, é chocante,
não sei como não virei escritora. De repente, ainda viro. l
l
Miúcha
EM PRIMEIRO PLANO
l O GLOBO
l Segundo Caderno l
[email protected]
JOSÉ
EDUARDO
AGUALUSA
|
|
Escrevo esta coluna na sexta-feira, 24 de
junho. A primeira notícia que li, manhã cedo,
dizia respeito ao resultado do referendo
através do qual uma maioria de britânicos
escolheu romper com a União Europeia. A
seguir comecei a receber mensagens de
amigos ingleses desiludidos e assustados. Um
deles defendia a independência de Londres,
mantendo-se a cidade ligada à União
Europeia. Julguei que estivesse a brincar.
Depressa percebi que não. Há mais gente
defendendo o mesmo. A capital inglesa —
famosa pela diversidade étnica e cultural, e
cujo prefeito, Sadiq Khan, é um muçulmano
de origem paquistanesa — votou de forma
expressiva pela permanência do Reino Unido
na União Europeia: 2.263.519 votos sim;
1.513.232 não. “Vamos soltar Londres do
resto da ilha e navegar com a cidade até o
continente”, acrescentou o meu amigo, numa
afirmação que me fez recordar José Saramago
e a sua “Jangada de pedra”.
medo do outro — dos imigrantes — tem sido amplamente utilizado pela direita britânica para mobilizar o país contra a União
Europeia. Acontece que o outro já se tornou — faz
tempo — parte do conjunto, e até parte da norma.
Nos últimos dias circula nas redes sociais um recorte de um jornal em língua inglesa, dando conta
de um episódio ilustrativo daquilo que é hoje o
Reino Unido (e a Europa, de uma forma geral) —
numa estação de trem um passageiro indigna-se
diante de uma mulher, coberta com um niqab, a
qual conversa com o filho num idioma estranho.
“Estamos na Inglaterra”, diz, “vocês deviam falar
inglês!”. Um outro sujeito interrompe-o: “Na verdade estamos no País de Gales, e eles estão falando
galês (cymraeg)!”.
O escritor moçambicano Mia Couto costuma
contar uma estória que tem semelhanças com a
anterior. Uma ocasião, em Estocolmo, entrou num
estabelecimento comercial onde, para sua grande
surpresa, encontrou um velho amigo. O amigo, um
moçambicano negro, vive há décadas na Suécia,
possui passaporte sueco e fala fluentemente a língua do país. Os dois homens abraçaram-se, relembrando casos antigos, falando alto, rindo ainda
mais alto, numa descontração que, entre nós, expressa apenas alegria, mas que, na Suécia, pode facilmente ser confundida com tumulto. Veio o gerente do estabelecimento, já um tanto nervoso.
Voltou-se para Mia Couto e começou a explicarlhe, em sueco, que aquele não era um comportamento adequado. O moçambicano negro sorriu:
“O senhor vai ter de falar comigo. Eu é que sou o
sueco. O meu amigo é africano e não entende uma
palavra da nossa bela língua”.
Os novos europeus mudaram definitivamente o
rosto da Europa. A tese de que é possível deter esse
processo, e mesmo invertê-lo, não me parece apenas idiota; acho-a de uma ingenuidade quase infantil. Ingênua, porque nenhum muro, por mais
alto, consegue deter multidões desesperadas. Enquanto houver territórios em guerra, ou devastados por uma pobreza crônica, e territórios relativamente prósperos e em paz, haverá movimentos de
pessoas de uns para outros. Idiota, na medida em
que assume como ruinoso um fenômeno que,
muito pelo contrário, tem vindo a revitalizar um
continente envelhecido em termos demográficos
e culturais. Há países europeus, como é o caso de
Portugal, cuja população diminui de ano para ano.
Os imigrantes ajudam a equilibrar a demografia e
as finanças, e ainda contribuem para renovar todo
o cenário cultural. A música popular portuguesa,
francesa ou inglesa tem hoje como protagonistas inúmeros rostos de origem africana. No caso francês, isso nem é novo. Boa parte do extraordinário
movimento da chanson française, nos anos 1940,
50, 60 e 70, foi encabeçada por artistas como Charles Aznavour (de origem armênia), Serge Reggiani
(de origem italiana) ou Georges Moustaki (de origem grega), já para não falar na cantora negra, natural de Saint Louis, nos Estados Unidos, Josephine Baker. E o que seria da moderna literatura inglesa sem os imigrantes? Os ingleses não se poderiam orgulhar de figuras como V. S. Naipaul, Zadie
Smith ou Salman Rushdie, entre muitas outras.
Receia-se que a atitude dos britânicos possa impulsionar movimentos nacionalistas um pouco
por toda a Europa, levando a referendos semelhantes e a um eventual desmembramento da União Europeia. Não creio que tal tragédia venha a
ocorrer. O que aconteceu no Reino Unido, contudo, não pode deixar de ser visto como um recuo
enorme no ideal de construção de um mundo
mais unido, livre de fronteiras e aberto à humanidade inteira. l
JOSÉ
EDUARDO
AGUALUSA
3ª
MARCUS
FAUSTINI
4ª
5ª
6ª
FRED
FLÁVIA ZÉLIA
COELHO OLIVEIRA DUNCAN
SAB
MARCIO
TAVARES
D'AMARAL
DOM
FERNANDO
GABEIRA
Boa
|
CLEO GUIMARÃES
Uma derrota da inteligência
2ª
Gente
Email: [email protected] e Blog: http://blogs.oglobo.globo.com/gente-boa/
COM MARIA FORTUNA E FERNANDA PONTES
|
O
Segunda-feira 27 .6 .2016
UM ATO DE RESISTÊNCIA
Elisa Ventura lança revista impressa: ‘Tem um
público a fim de conteúdo’, diz a dona da Blooks
MARCOS RAMOS
Minha vida é andar...
Gonzaguinha deixou um livro pronto
sobre o pai, Luiz Gonzaga, que Louise
Martins, a Lelete, viúva do compositor, vai
lançar em 2017. A obra se chamará “Minha
vida é andar por este país”.
Para onde vai o Pelé?
Uma estátua de Pelé em tamanho natural
está desde 2013 no estúdio do escultor e
cartunista Ique, na Barra, e ainda não tem
seu destino definido. Toda em bronze, ela
foi encomendada pelo governo do estado
para ser instalada no Maracanã na Copa
das Confederações, mas a inauguração foi
adiada porque Pelé operou o quadril,
depois houve uma mudança na Secretaria
de Esportes, em seguida, a crise... “Estou
com a estátua aqui há três anos e não sei o
que fazer com ela”, diz Ique.
Em primeira mão
Palavras. Elisa: “Queremos falar de assuntos não óbvios como afrofuturismo, por exemplo”
E
lisa Ventura lançou, dias atrás,
no bar Olho da Rua, a Revista Blooks, que amplia os horizontes de
sua charmosa livraria homônima. “Parece loucura, né? Todo mundo fechando tudo e eu abrindo uma revista impressa... É quase uma resistência”, diz.
l
“Mas tem um público a fim de conteúdo.
Queremos abrir novos espaços de diálogo e reunir pessoas com ideias interessantes”, continua. “Nossa livraria já é uma
grande revista em movimento”.
O número de estreia tem participação de
Jean Wyllys, entre outros. “Não queremos ser uma revista de literatura ou institucional, nem estarmos ligados ao que
a gente vende”, explica. “Vamos fazer
pautas que não estão na mídia, sobre assuntos não óbvios, mas que as pessoas
estejam discutindo, como afrofuturismo”.
l
A revista, gratuita e bimestral, é bancada com anúncios. Ela pode ser encontrada no IED, MAM, Fundição Progresso e Circo Voador, além da Blooks.
A MÚSICA QUE VOCÊ VESTE
DIVULGAÇÃO
Vinte atletas de alta performance que
competirão nos Jogos vão conhecer, antes
de todo mundo, a nova coleção — é assim
que ela chama seu cardápio — de Roberta
Sudbrack. A chef olímpica (ela cuidará do
menu da delegação brasileira na Vila dos
Atletas) vai mostrar o que é que a taioba,
ingrediente-estrela de seu novo menu, tem.
Os atletas serão definidos de acordo com as
liberações do COB, mas todos têm
expectativa de medalha.
Aliás e a propósito
Assim como fez em Londres, Roberta
estará na Casa Brasil para receber os
atletas medalhistas com o seu já famoso
“brigadeiro da vitória”.
Grana preta
As Olimpíadas vão gerar mais de
R$ 1 milhão ao INPI, órgão público que
registra as marcas no país. Esse valor será
quanto o COI, a Rio 2016 e o Comitê
Olímpico Brasileiro terão que
desembolsar para proteger seus ativos
contra o marketing de emboscada.
Tentativa de fraude
Chamou a atenção da Vigilância Sanitária a
quantidade de tentativas de fraude de seu
sistema de licenciamento desde que ele
passou a funcionar, no início de janeiro. Os
números são impressionantes: das 6.894
solicitações de clínicas médicas e
odontológicas, 6.116 (ou seja, 88% delas)
foram indeferidas — a grande maioria por
fraude. Entre os pedidos de bares e
restaurantes (4.379), 1.931 foram negados
pelo mesmo motivo.
Segue a história
Brilho. Ludmilla: referência de estilo, junto com Karol Conka e Lelezinha, do Passinho
A
cantora Ludmilla é uma das artistas estilosas da nova cena pop
que aparecem retratadas na exposição “A música que você veste”, promovida pelo Instituto Rio Moda, de
Alessandra Martins e Roberto Meireles,
no Fashion Mall, a partir de amanhã.
l
“O foco é a música como fonte de inspiração para a criação de coleções e
lançamento de tendências de moda”,
diz Alessandra. “Ela influencia na criação de padrões estéticos, incluindo estampas, cores e formas de modelagem.
Algumas têm imediata identificação
com novos estilos no vestir”.
A anexação de documentos falsos é a
fraude mais grave. Por causa disso, a
Vigilância mandou um ofício à Delegacia
de Defraudações pedindo ajuda na
apuração dos crimes.
‘É chá de carqueja’
MARIZA LIMA / DIVULGAÇÃO
2
l
O evento, que vai até quinta-feira,
também conta com talk-shows e palestras nacionais e internacionais.
U
Mago do som. Hermeto Pascoal: “Santinho”
Geração do sexo fácil na internet
Ao sair da salinha reservada dentro da
exposição que celebra seus 80 anos,
Hermeto Pascoal entregou a taça de
vinho que segurava a um assistente e
disse: “Melhor levar porque aí vão
pensar que sou santinho!”. No que
alguém ali gritou “é chá de carqueja!”,
brincando com o nome de uma música
de Hermeto. Antes de ouvir o som dos
amigos que se apresentaram em sua
homenagem, Hermeto fez um pedido à
plateia. “Vamos fazer silêncio, mas
quem quiser participar, pode bater o pé”.
Tatiana Presser
Psicóloga de formação, Tatiana Presser é expert em sexo (“sexpert”, como
ela se apresenta) e anda preocupada
com a maneira como os adolescentes
da era da internet (e dos vídeos pornôs
ao alcance de um clique) lidam
com a sexualidade. O assunto é
abordado no livro “Vem transar comigo” (Ed. Rocco), que
ela vai lançar em julho.
O acesso fácil ao conteúdo
pornô mudou a maneira como
os adolescentes lidam com o sexo?
Sim. E a quantidade de material disponível também. Quase 40% da internet é de material pornográfico. Antigamente, os caras que hoje têm 40, 50
anos de idade tinham que fazer todo
um esquema com o jornaleiro para
arrumar uma revista pornô.
l
Algo mais te preocupa?
A qualidade desse material. Antigamente você ia ver revista pornô ou assistir a um filme e encontrava peito,
bunda, casal transando... Enfim, pornô
normal. Hoje em dia um menino
ou uma menina que nunca viram nada disso podem dar de
cara com um vídeo sadomasoquista, uma mulher transando
com um cavalo, ou seja, várias
coisas que, para chegar a esse nível de fantasia sexual, precisa haver
uma evolução natural da sexualidade.
l
Não deve ser fácil lidar com tanta
informação nesta idade.
Não é. E quando esses adolescentes
começam a vida sexual, esperam uma
performance como a do vídeo. Aí entra a frustração. Muita frustração.
l
U
Curtinhas
Walter Carvalho exibe seu filme “Manter a
linha da cordilheira sem o desmaio da planície”,
sobre Armando Freitas Filho, na Flip, quarta.
Ballet da Rússia faz única apresentação no
próximo dia 4, no Teatro Bradesco, na Barra.
Restaurante Barbado, do pescador Wolney,
está completando 32 anos em Geribá.
l Segundo Caderno l
Segunda-feira 27 .6 .2016
O GLOBO
l 3
VEJA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA NO CELULAR
OU ACESSE NO SITE: rioshow.com.br
OS DESTAQUES DE HOJE DA PROGRAMAÇÃO CULTURAL
Concerto ‘Sons na catedral’
Música de câmara e inclusão
A série “Sons na catedral” surgiu a partir do
projeto Som+Eu, ação social de educação
musical para crianças e adolescentes da
região do Morro da Providência. Dirigida
pelo maestro, pianista e compositor Anderson Alves (foto), de 30 anos, a iniciativa
apresenta um concerto, hoje, na Lapa.
— Nossa Orquestra de Câmara da Providência, que conta com 16 músicos, vai tocar
com a Domitila Ballesteros como solista,
uma organista de renome internacional.
Nossa ideia é democratizar a música de concerto — afirma Alves.
O jovem regente destaca o valor do órgão
de tubos da Igreja Nossa Senhora do Carmo
da Lapa, onde será a apresentação.
— É um instrumento raro, de 1898, feito
pelo francês Aristide Cavaillè-Coll — explica.
No programa, obras de Bach, Villa-Lobos,
Vivaldi e Mozart, entre outros.
— Destaco também o “Concerto para órgão e orquestra”, de Händel, uma peça pouco
executada no Rio — diz. (Sérgio Luz)
DIVULGAÇÃO/DANIEL EBENDINGER
Cinema ‘Faça a coisa certa’
O Bonequinho viu
DIVULGAÇÃO
Atrito e tensão
racial nos EUA
DOCUMENTÁRIO
Divisor de águas na
história do cinema
negro americano, o
filme de 1989, de Spike Lee (que vive Mookie, na
foto), será exibido na mostra “Cinema político: o
poder da imagem”, após o curta “Proibidão”, de
Ludmila Curi e Guilherme Arruda.
ONDE: Estação NET Botafogo. Rua Voluntários da Pátria 88. QUANDO: Seg, às 21h. QUANTO: R$ 26. CLASSIFICAÇÃO: 14 anos.
Teatro ‘Os inadequados’
Cachorro, música
alta e desavenças
DIVULGAÇÃO/ELISA MENDES
‘Marguerite’
Um grupo de atletas
paralímpicos brasileiros é
acompanhado durante
alguns anos pela equipe
de Marcelo Mesquita em
um documentário que
revela não só a tenacidade dos personagens, mas
também intrigas e injustiças dos bastidores.
Ponto para a atriz
Catherine Frot, um dos
quatro prêmios Cesar
conquistados pelo longa.
Tudo faz com que nos
sintamos mais envergonhados de nós mesmos
no nosso papel de
juízes do talento alheio
do que por Marguerite.
Sérgio Rizzo
Carlos Helí de Almeida
SUSPENSE
COMÉDIA DRAMÁTICA
‘O caseiro’
Inez Viana dirige a
peça da Cia OmondÉ
que encerra hoje
temporada no Teatro Ipanema. Na trama,
oito atores narram cartas reais de reclamação
dos moradores de um condomínio.
ONDE: Igreja Nossa Senhora do Carmo da Lapa. Largo da Lapa
s/nº, Lapa (3094-8307). QUANDO: Seg, às 18h.
QUANTO: Grátis. CLASSIFICAÇÃO: Livre.
DRAMA
‘Paratodos’
ONDE: Teatro Ipanema. Rua Prudente de Morais 824, Ipanema
(3594-2690). QUANDO: Seg, às 20h30m. Último dia.
QUANTO: R$ 30. CLASSIFICAÇÃO: 14 anos.
‘Nós ou nada
em Paris’
As limitações em relação
aos filmes recheados de
efeitos especiais de
Hollywood ressaltam ainda
mais o bom resultado
obtido pela simplicidade e
falta de pretensão de Julio
Santi, que entrega um
filme que aguça a curiosidade e provoca arrepios.
Dirigido, roteirizado e
estrelado por Kheiron,
astro iraniano-francês
do stand-up, o filme
opta pela comédia para
abordar a juventude de
seus pais, no Irã e em
Paris. O tom leve impede aprofundamento,
mas cria empatia.
Mario Abbade
Ruy Gardnier
Artes visuais
DIVULGAÇÃO/DANIEL FEINGOLD
Agenda da semana
AMANHÃ
O CCBB (3808-2020) inaugura às
19h30m a última exposição da série
Prêmio CCBB Contemporâneo, que
contemplou dez projetos de artistas
contemporâneos em 2015. O carioca
Floriano Romano ocupa o espaço
expositivo com a instalação sonora
“Errância”: uma massa sonora emitida
por seis alto-falantes, cujo conteúdo foi
colhido por pessoas microfonadas em
bares de vários bairros do Rio, tendo
como provocação inicial textos
ficcionais do artista.
l O Centro Cultural Justiça Federal
(3261-2550) inaugura às 19h a
exposição “Ruídos para ver”, com uma
videoprojeção e 13 fotografias de
Fernando Gonçalves. A curadoria é de
Daniela Name.
l
SÁBADO, DIA 2
Geometria. Obra de Daniel Feingold da série “Homage to Corot” (2011), uma das quatro individuais de fotografia em cartaz no Paço Imperial
O PAÇO
SE
RENDE
À FOTO
Novo pacote de exposições
inclui quatro individuais e
mostra do acervo do IMS
NANI RUBIN
[email protected]
N
o mês em que acontece na cidade o FotoRio, com várias
mostras em museus e centros
culturais, o Paço Imperial também
adere ao suporte. A instituição acaba
de inaugurar seis exposições, das
quais cinco são de fotografia. Uma delas, histórica: “O Paço, a praça e o morro” exibe, até 28 de agosto, imagens
(de 1860 a 1930) do acervo do Instituto
Moreira Salles, que privilegiam o Paço
e seu entorno (incluindo uma série
dedicada ao cotidiano do Morro do
Castelo e seu desmonte). Outras quatro são individuais. Cezar Bartholomeu (“Colisões”), Daniel Feingold
(“Fotografia em três séries”), e Flavio
Colker (“Cânticos”) dividem o espaço
do Terreiro, no térreo, até o dia 31 de
julho, enquanto Maritza Caneca
expõe no primeiro andar (até 28 de
agosto) sua série “Piscinas”, com 25
l
O Centro Cultural Oduvaldo Viana
Filho (2205-0655) abre ao público, a
partir das 10h, a exposição “Como
habitar abismos”. A artista Mariana
Guimarães ocupa todos os andares
do Castelinho do Flamengo com
instalações, bordados e desenhos
que tratam das ambiguidades da
intimidade, da sexualidade e do
feminino.
l A Galeria do Ateliê (2541 -3314) abre
às 12h a exposição “Sertão cerrado”,
fruto das inúmeras andanças do
fotógrafo José Diniz na região do
cerrado brasileiro. A curadoria é de
Claudia Tavares.
DOMINGO, DIA 3
O Museu de Arte do Rio – MAR
(3031-2742) realiza visitas guiadas às
10h e 11h (encontro no pilotis). Às 14h,
acontecem a conversa de galeria
“Sagrano profado” e a atividade
educativa “Vogalize”.
l
DIVULGAÇÃO/MARITZA CANECA
Arte pré-colombiana
Masp faz comodato com Coleção Landmann
O Museu de Arte de São Pauloexibe, a partir de hoje, quatro
peças da Coleção Edith e Oscar
Landmann, uma das principais de arte pré-colombiana da
América do Sul, com mais de
900 obras. A exibição celebra o
acordo de comodato feito com
o museu, e antecede a exposição, em 2018, do precioso acervo. A coleção cobre 2.500 anos,
desde 1000 a.C. até a conquista
europeia, na metade do século
XVI, e passa a se chamar Coleção Masp Landman l
Repouso. A imagem “Submerso” (2015), parte da série “Piscinas”, de Maritza Caneca
Na fazenda
Em Miami
imagens clicadas ao longo de três anos
de viagens pelo mundo.
— Na verdade, houve uma certa coincidência, não foi proposital, a não ser no
caso do Terreiro, ocupado por três artistas
que experimentam a fotografia — conta
Claudia Saldanha, diretora do Paço.
A única exposição não fotográfica é a
de Nadam Guerra, “A virgem do Alto do
Moura”, uma narrativa ficcional construída em barro, a partir de residência feita
pelo artista em Caruaru, Pernambuco.
No texto de apresentação das mostras,
Claudia observa que um dos usos do local, no passado, foi servir de ateliê aos artistas que trabalhavam na côrte. Ela lembra, ainda, que uma das primeiras imagens fotográficas da América Latina foi
feita no Largo do Paço e que D. Pedro II
foi um notório entusiasta da fotografia.
— Isso faz uma ligação com a mostra
do Instituto Moreira Salles — diz ela.
A maior das mostras é “Piscinas”, um
recorte, feito pela curadora Vanda Klabin, de um extenso trabalho de registro
EAV abre inscrições
para residência
Polêmica em
mostra brasileira
A Escola de Artes Visuais do Parque Lage acaba de abrir 18 vagas para o Programa de Residência Artística Parque Lage —
Residência São João, que será
realizado de 11 a 30 de agosto
no Vale do Café. O objetivo é utilizar os espaços da fazenda para
o desenvolvimento de pesquisas individuais e colaborativas,
sob a supervisão de sete professores da EAV. Informações e inscrições através do e-mail par
[email protected]
Inaugurada em 3 de junho no
Institute of Contemporary Art
(ICA), em Miami, a exposição
“The inverse”, da brasileira
Laura Lima, voltou ao noticiário na semana passada, depois que uma das participantes da performance de abertura disse que foi “pressionada”
pela artista a fazer uma penetração vaginal com uma corda
de nylon. Ao jornal “Miami
News Times”, Laura se disse
surpresa com a acusação. l
de equipamentos desse tipo pelo mundo. Maritza, que faz a primeira individual de sua recente carreira como artista, é
uma experiente diretora de fotografia de
cinema, cuja trajetória profissional se
iniciou justamente com uma câmera fotográfica, quando, em 1986, assinou o
still de “Cinema falado”, de Caetano Veloso. Para o Paço, a curadora optou por
imagens destituídas de pessoas.
— É uma série com discurso mais silencioso, um universo anônimo, com
uma estética em repouso — diz Vanda,
que também assina a curadoria da mostra de Feingold. — A fotografia do Daniel
é um desdobramento grande do trabalho dele como pintor. Há uma presença
dinâmica da geometria, um jogo de luz e
sombra, uma potência pictórica. l
“O PAÇO, A PRAÇA, E O MORRO” E OUTRAS
ONDE: Paço Imperial — Praça XV de Novembro 48,
Centro (2215-2093). QUANDO: Ter. a dom., das 12h às
19h. QUANTO: Grátis. CLASSIFICAÇÃO: Livre.
4
l O GLOBO
l Segundo Caderno l
Segunda-feira 27 .6 .2016
Os destaques de hoje na TV
FOTOS DE DIVULGAR
Canal Brasil, 20h
Conversas para
se guardar
A série “As grandes entrevistas do Pasquim” reconstitui
a segunda entrevista de
Chico Buarque (Marcos
Sacramento) ao jornal em
1975, sobre carreira, composições e festivais de música.
OFF, 22h
Multishow, 22h30m
Record, 22h30m
Band, 22h45m
‘Surfe no oeste da África’
‘Prêmio Multishow
de humor’
‘Xuxa Meneghel’
‘A liga’
Xuxa recebe o namorado
Junno (foto) e os casais Roberto Justus e Ana Paula
Siebert, e Laura Keller e Jorge
Sousa — dupla vencedora do
reality “Power couple” —
para uma noite de jogos.
É em Copacabana que o
programa acontece. Nas
areias, Mariana Weickert
(foto) acompanha a rotina
dos salva-vidas, enquanto
Guga Noblat entrevista vendedores ambulantes.
No sétimo episódio, os surfistas Carlos Bahia e Rô
Barros chegam ao Senegal
sem as pranchas, que ficaram no aeroporto. Com
equipamentos emprestados,
eles surfam na orla de Youff.
Natalia Castro
[email protected]
Nesta quinta temporada,
Marcelo Marrom entra na
bancada com Natalia Klein,
Sérgio Mallandro, Dani
Valente e Bento Ribeiro.
Horóscopo
POR CLAUDIA LISBOA
(21/3 a 20/4)
Elemento: Fogo. Modalidade:
Impulsivo. Signo complementar:
Libra. Regente: Marte.
Ao sentir que acordou com o
humor alterado e com vontade de
jogar tudo para o alto, é sinal de
que tem alguma coisa errada. É
tempo de perceber o que causa
essa irritação e reverter isso.
LIBRA
(23/9 a 22/10)
Elemento: Ar. Modalidade:
Impulsivo. Signo complementar:
Áries. Regente: Vênus.
Neste momento, você pode ter o
foco necessário para realizar o que
quer e a sensibilidade para intuir o
que pode ser ainda melhor. É
tempo de aproveitar para resolver
as questões difíceis.
TOURO
(21/4 a 20/5)
Elemento: Terra. Modalidade: Fixo.
Signo complementar: Escorpião.
Regente: Vênus.
Ao optar por enxergar o mundo de
uma forma mais bonita, as possibilidades de viver com prazer
serão ampliadas. É tempo de se
dedicar à arte de tornar o mundo
à sua volta mais belo e prazeroso.
ESCORPIÃO
(23/10 a 21/11)
Elemento: Água. Modalidade: Fixo.
Signo complementar: Touro.
Regente: Plutão.
Um tema difícil de ser digerido
pode ser passado de maneira
mais leve sem comprometer o
conteúdo principal. É tempo de
encontrar formas de passar adiante as informações importantes.
GÊMEOS
(21/5 a 20/6)
Elemento: Ar. Modalidade: Mutável.
Signo complementar: Sagitário.
Regente: Mercúrio.
Para dar conta de tantos interesses, talvez seja preciso pensar em
formas de minimizar os excessos.
É tempo de escolher fazer algo de
que você goste e se deixar levar
pelos impulsos da curiosidade.
SAGITÁRIO
(22/11 a 21/12)
Elemento: Fogo. Modalidade:
Mutável. Signo complementar:
Gêmeos. Regente: Júpiter.
Alimentar o espírito é tão importante quanto alimentar o corpo.
Um bom livro é um prato cheio
para nutrir a mente. É tempo de
relaxar, evitando lugares que o
deixam ansioso e estressado.
CÂNCER
LEÃO
(21/6 a 22/7)
Elemento: Água. Modalidade:
Impulsivo. Signo complementar:
Capricórnio. Regente: Lua.
Ao compreender o mundo para
além da sua opinião, você consegue ter uma percepção do todo e
uma sensação de plenitude. É
tempo de usar a sensibilidade
para entender esse outro universo.
CAPRICÓRNIO
(22/12 a 20/1)
Elemento: Terra. Modalidade:
Impulsivo. Signo complementar:
Câncer. Regente: Saturno.
(23/7 a 22/8)
Elemento: Fogo. Modalidade: Fixo.
Signo complementar: Aquário.
Regente: Sol.
Existem tantas formas de se irritar
e perder a paciência que é preciso
ficar atento para que você não
seja dominado pelo mau humor. É
tempo de procurar atividades que
propiciem o bem-estar.
AQUÁRIO
O comprometimento acirrado em
lutar pelo que é justo pode fazer
com que você veja tudo em preto
e branco. É tempo de ter mais
flexibilidade na maneira de ser,
sem que isso afete seus ideais.
(21/1 a 19/2)
Elemento: Ar. Modalidade: Fixo.
Signo complementar: Leão.
Regente: Urano.
Quando existe energia de sobra, é
bom aproveitar para lutar pelos
seus ideais mais nobres e seguir
em frente. É tempo de construir o
caminho que leva à possibilidade
de realizar seus sonhos.
Logodesafio
POR SÔNIA PERDIGÃO
VIRGEM
(23/8 a 22/9)
Elemento: Terra. Modalidade:
Mutável. Signo complementar:
Peixes. Regente: Mercúrio.
Mesmo tendo capacidade crítica,
você pode se sentir inseguro para
expor as suas observações. É
preciso não ter medo de errar. É
tempo de entender que falhas
fazem parte do aprendizado.
PEIXES
(20/2 a 20/3)
Elemento: Água. Modalidade:
Mutável. Signo complementar:
Virgem. Regente: Netuno.
Ao querer dizer algo, e não saber
de que forma fazer isso, a voz
parece que some. Talvez seja
melhor escrever para organizar os
pensamentos. É tempo de buscar
outros meios para se expressar.
Foram encontradas 49 palavras: 32 de 5 letras, 11
de 6 letras, 6 de 7 letras, além da palavra original.
Com a sequência de letras ÇO foram encontradas
10 palavras.
Instruções: Encontrar a palavra original utilizando
todas as letras contidas apenas no quadro maior.
Com estas mesmas letras formar o maior número
possível de palavras de 5 letras ou mais. Achar
outras palavras (de 4 letras ou mais) com o auxílio
da sequência de letras do quadro menor. As letras
só poderão ser usadas uma vez em cada palavra.
Não valem verbos, plurais e nomes próprios.
Solução: abono, anelo, átomo, átono, batom, beato, bemol, benta, bento, boate, boato,
bolão, botão, ébano, então, láteo, lenta, lento, lombo, malte, mambo, manto, melão,
menta, metal, monta, monte, motel, ontem, telão, tombo, tonel, alento, boleto, bolota,
embalo, êmbolo, malote, mental, mentol, moela, montão, também, lamento, metanol,
molambo, moletom, momento, tômbola. MOLAMBENTO. Com a sequência de letras ÇO :
almoço, baço, bolaço, emboço, laço, lenço, maço, maçom, melaço, moço.
ÁRIES
Expediente
EDITORA: FÁTIMA SÁ [email protected] l EDITORES ASSISTENTES: CRISTINA FIBE [email protected],
EDUARDO FRADKIN [email protected], EDUARDO RODRIGUES [email protected], GABRIELA GOULART
[email protected], HELENA ARAGÃO [email protected] l DIAGRAMAÇÃO: MARIANA MORGADO, PAULA
FABRIS E TOMÁS BREVES l TELEFONES: REDAÇÃO: 2534-5703 l PUBLICIDADE: 2534-4310 [email protected] l
CORRESPONDÊNCIA: Rua Irineu Marinho 35, 2º andar. CEP: 20233-900
l Segundo Caderno l
Segunda-feira 27 .6 .2016
GLOBO/ JOÃO MIGUEL JÚNIOR
[email protected]
PATRÍCIA
KOGUT
COM FLORENÇA MAZZA, ANNA LUIZA SANTIAGO
E RAFAELA SANTOS
CARREIRA NOS EUA
Thaila Ayala será uma das
protagonistas do filme americano
“Woddy Woodpecker”, o famoso
Picapau. Ela interpretará Vanessa no
longa com atores — a única animação
será o pássaro. Há dois anos a atriz se
mudou para Nova York e vem
investindo na carreira internacional.
10
0
Para Marcelo Médici, pelo
Agilson de “Haja coração”,
novela de Daniel Ortiz
dirigida por Fred Mayrink.
Ela é um ótimo ator e
construiu seu personagem
dando atenção aos mínimos
detalhes. Está de-mais.
Para as televendas no TV
Max, que agora ultrapassam
todos os limites da sensatez
ao mostrar imagens de um
homem entrando num
aparelho de tomografia.
Pode isso, Arnaldo?
USAM
A LUPA
Dira Paes e Irandhir Santos gravam a cena de “Velho
Chico” em que analisam os documentos da prefeitura
de Grotas em busca de indícios de corrupção. À
direita, o cinegrafista Murilo Azevedo
Cinema
Jornadas
A peça “Tô grávida”, uma
comédia romântica estrelada
por Fernanda Rodrigues e
Paulo Vilhena, vai virar
longa-metragem. A produção
é do marido da atriz, Raoni
Carneiro, e a direção, de
Pedro Vasconcelos. Eles vão
filmar este ano e a ideia é
estrear em 2017.
No ar em “Haja coração”, Tatá
Werneck também grava
“Estranho show de Renatinho”,
programa que estreia em
agosto no Multishow. Simony,
que teve uma passagem
ruidosa pelo “Power couple”, e
Lucélia Santos serão as
primeiras convidadas. É
produção da Floresta.
VAI AO AR
AMANHÃ
Marília Gabriela
gravou com
Juliano Cazarré
para o “TV
Mulher”, do
Canal Viva. O
ator tem se
dedicado ao
cinema desde o
fim de “A regra
do jogo”,
na qual
interpretou o
MC Merlô
MARCELO TABACH
O GLOBO
TV GLOBO/ESTEVAM AVELLAR
PILANTRA
EM SÉRIE
Antonio Calloni
em cena como
Antenor, seu
personagem na
minissérie da
Globo “Justiça”.
Sócio de
Euclydes (Luiz
Carlos
Vasconcellos),
ele vai aplicar
um golpe no
amigo e limpará
a empresa,
deixando os
funcionários
sem
pagamento
LEITE
MATERNO
Walcyr
Carrasco fará
merchandising social
em “Êta
mundo bom!”.
O autor
deixou um
recado numa
sequência em
que Filomena
(Débora
Nascimento)
amamentará
o bebê.
“Atenção,
direção.
Crianças
devem ser
amamentadas
pela mãe. É
uma questão
de saúde
pública.
Façam como
for possível”.
Limitações
Sobe
Nova novela da Record, “A
Terra Prometida” terá
algumas limitações por
conta do horário de
exibição: 20h30m. Por
exemplo, a personagem de
Juliana Silveira, a rainha
Kalesi, será uma
devoradora de homens.
Mas as cenas de sexo dela
serão só insinuadas. O
mesmo acontecerá com as
sequências de sacrifícios de
virgens e crianças.
O “Encontro com Fátima
Bernardes” completou
quatro anos no último dia 25
com audiência ascendente.
No PNT, passou de sete
pontos em 2012 para dez
pontos na média parcial de
2016, um crescimento de
43%. Em São Paulo, o
aumento é de 33% (de seis
para oito pontos).
...E mais
As chuvas recentes no Rio
atrapalharam as gravações
de “A Terra Prometida”.
Embora a equipe já tenha
recebido 60 capítulos, ainda
não há uma frente
confortável de material
pronto. Para reverter essa
situação, eles vêm
trabalhando até aos
domingos.
‘Separação’
T
rês anos após lançar o seu primeiro livro de poemas, “Motivo”,
o escritor e jornalista Luciano
Trigo está de volta ao gênero com “Separação” (ambos publicados pela editora 7Letras). Assim como na sua estreia, os poemas do novo livro foram escritos num curto espaço de tempo, com
exceção de alguns texto guardados, e
refletem sobre relações familiares e afetivas, como o próprio título sugere. Autor de romances e contos,
Trigo demorou para retornar
à poesia pelo tempo próprio
que ela exige.
— A poesia, pelo menos para mim, depende muito de
conseguir entrar numa certa
energia, numa certa onda. Se
você dispõe das ferramentas e
da bagagem necessárias, escrever um romance, um conto
ou um ensaio só depende de ter
vontade e tempo, disciplina e perseverança. Com a poesia é diferente —
diz o poeta, em entrevista por e-mail.
Quando ele entra nessa vibração, explica, tudo pode virar matéria-prima:
uma frase ouvida na rua, a cena de um
filme ou o pedaço de um sonho. Depois, esses elementos vão se juntando e
terminam por se materializar na ideia
de um futuro poema. A etapa seguinte é
escrever, cortar, reescrever, seguida-
.com.br
Rafinha Bastos, que teve
uma série no FX chamada “A
vida de Rafinha Bastos”, vai
lançar um filme homônimo.
Serão seis esquetes, nos
moldes do programa: uma
ficção baseada na vida real
do humorista.
NA WEB
patriciakogut.com
O mundo da televisão passa
por aqui. Visite.
Obituário
_
Bill
Cunningham.
Lenda das ruas
Fotógrafo de moda do
‘New York Times’, ele
era cultuado por seus
retratos e sua persona
Luciano Trigo lança livro de poemas inspirado pelo fim de um
casamento e critica repetição de convidados em feiras literárias
[email protected]
Tela grande
DIVULGAÇÃO/CLARICE SAADI
COMUNHÃO
PELA POESIA
LEONARDO CAZES
l 5
mente, o texto no computador, até que
esteja satisfeito.
No nascimento dos poemas de “Separação”, que já ganhou elogios do poeta Armando Freitas Filho (“Fica difícil
escolher os melhores poemas, pois todos parecem ter sido escritos sem descansar a mão”), está uma experiência
pessoal: o fim de um casamento, que
fez com que o tema da separação aparecesse em vários momentos. Contudo,
o poeta ressalta que não se trata de um
relato autobiográfico, com a exceção de
“Romeu”, que fala do cachorro da sua
filha. A matéria-prima da poesia, afirma, “não é o sentimento, é a palavra”:
— Os relacionamentos são
questões que ocupam uma
boa parte da vida das pessoas e que nunca se resolvem
de forma plena, então esse é
um território comum, um
canal de comunicação potencial entre escritores e
leitores. A poesia pode funcionar, assim, como uma comunhão,
um compartilhamento de experiência
vividas. É claro que o tema é apenas um
dos fatores da equação: se bastassem
sentimentos e experiências para escrever poesia, todo mundo seria poeta.
Um trecho do poema “Diálética” diz:
“escrever poesia é quase pedir esmola,
/ um minutinho da atenção do leitor.” A
poesia é sempre um gênero considerado “difícil” de vender, e Trigo argumen-
Í
Vibração certa. Luciano Trigo defende que vontade e disciplina não bastam para criar poesia
ta que parte da culpa é dos próprios autores. Na sua opinião, a literatura brasileira contemporânea sofre de “um certo ‘umbiguismo’”, pois os autores parecem escrever apenas para si mesmos
ou os seus pares. Incapazes, portanto,
de refletir o Brasil de hoje.
POESIA MARGINAL CAUSOU “GRANDE MAL”
No caso da poesia, especificamente, o
escritor diz que o último movimento
com traços bem claros, a poesia marginal, causou um grande mal às novas
gerações ao limitar as experiências
com a linguagem, algo que tinha um
sentido no contexto cultural e social
da década de 1970. Trigo aponta também um “padrão poético” identificável entre os poetas que frequentam os
principais eventos literários no país,
como a Festa Literária Internacional
de Paraty (Flip).
— Hoje você tem poetas veteranos
ainda em atividade produzindo poesia de grande qualidade e tem uma
miríade de poetas mais jovens com
uma produção bastante desigual. O
que distingue esses poetas é a capacidade de inserção em determinados
circuitos, mais do que a qualidade da
sua poesia. Por exemplo, vou todos os
anos à Flip e a outros eventos literários e percebo, nas mesas dedicadas à
poesia, a repetição de um determinado padrão. Não só um padrão poético,
mas na própria forma de falar e de se
colocar no mundo, de defender determinadas ideias. E vejo também poetas
que não são de forma alguma inferiores, mas que não se encaixam nesse
padrão, ficarem de fora desse circuito,
que se autoalimenta pela reiteração
dos mesmos nomes, por assim dizer,
eleitos — critica ele. l
“SEPARAÇÃO”
AUTOR: Luciano Trigo.
EDITORA: 7Letras.
PÁGINAS: 76.
PREÇO: R$ 34.
cone da fotografia de moda dos Estados Unidos, Bill
Cunningham foi também
uma figura emblemática
das ruas de Nova York. Montado
em sua bicicleta, com uma câmera a tiracolo e sempre de jaqueta azul, ele pedalava pelas
ruas em busca de instantes em
que o comportamento e a moda
se uniam. Reconhecido por seu
trabalho à frente da fotografia de
moda do “New York Times”,
Cunningham garantiu sua vaga
no jornal quando flagrou a reclusa atriz Greta Garbo na rua.
Em 1978, iniciou a sua carreira
no periódico e construiu um
portfólio singular sobre as transformações da cidade, remodelando o imaginário sobre Nova
York e seus habitantes.
Nascido em Boston, em 1920,
Cunningham foi considerado
pelo Departamento de Conservação de Nova York uma “lenda
viva”, em 2009, e dizia: “Não se
deve ter ideias preconcebidas,
você tem que sair e deixar que a
rua lhe diga qual é a história”. Em
um documentário sobre o fotógrafo, a diretora da revista “Vogue” americana, Anna Wintour,
diz que ele via antes “o que viraria tendência em seis meses”.
Cunningham foi hospitalizado na última sexta-feira, depois de sofrer um AVC, e morreu anteontem, aos 87 anos. l
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6
l O GLOBO
C
omo fiz com Patricia
Highsmith, minha autora
favorita, há algumas colunas, resolvi escrever este texto sobre a importância da (curta) obra do
sueco Stieg Larsson, responsável pela mais sólida
série de livros policiais da literatura contemporânea. Se você ainda não conhece, vai se
surpreender. Caso já conheça, puxe a cadeira
mais próxima e iniciemos a conversa.
Eu tinha 18 anos quando “Os homens que
não amavam as mulheres”, primeiro livro da
série “Millennium”, chegou ao Brasil. Na época, eu já era apaixonado por literatura policial,
vinha lendo todos os clássicos europeus e norte-americanos e escrevia os primeiros rascunhos de “Suicidas”, meu romance de estreia.
Ao encontrar “Os homens que não amavam as
mulheres” na livraria, lembro com clareza que
o elogio do Luiz Alfredo Garcia-Roza na contracapa me fez correr ao caixa e levar o livro
para casa. Devorei as 522 páginas em um fim
de semana. Ao concluir a leitura, tive a certeza
de que estava diante de algo grandioso.
Em seu romance de estreia, Stieg Larsson realiza literatura em sua plenitude. O volume
permite várias camadas de leitura: na superfície, uma trama instigante que entretém o leitor
desde o prólogo elegante até o final. Em observações mais atentas, o livro revela uma linguagem apurada, traz críticas sociais pertinentes e
questões políticas contemporâneas pouco
abordadas pela literatura. Sem dúvida, Stieg
Larsson foi o primeiro autor a fazer um “romance policial do século XXI”, num estilo pop
e vibrante, explorando todas as possibilidades
tecnológicas que nosso tempo permite e retomando com força esta tendência da literatura
l Segundo Caderno l
Segunda-feira 27 .6 .2016
E-mail: [email protected]
RAPHAEL MONTES
LARSSON
policial de ser, antes de tudo, uma literatura que
reflete as mazelas da sociedade.
Nesse livro, Stieg Larsson se revelou um profundo conhecedor da tradição de crime fiction:
em suas primeiras páginas, “Os homens que
não amavam as mulheres” lembra um whodunit tradicional de Agatha Christie, com um desaparecimento misterioso, suspeitos em um local fechado e um detetive contratado para investigar o crime ocorrido anos antes. Partindo
dessa premissa clássica, a obra ganha contorno
e ritmo modernos, principalmente graças a seus
dois protagonistas, o jornalista Mikael Blomqvist e a problemática hacker Lisbeth Salander.
Enquanto “Os homens que não amavam as
mulheres” homenageia o romance policial clássico inglês, os dois livros seguintes da série “Millennium” abraçam outros subgêneros da literatura
policial. Com trama ágil, “A menina que brincava
com fogo” faz lembrar um thriller noir americano, com ganchos em cada capítulo e um vilão implacável que ameaça a vida dos protagonistas ao
longo das páginas. Neste segundo volume, Mikael e Lisbeth são levados ao submundo da sociedade sueca e precisam enfrentar seus inimigos
não apenas com o cérebro, mas com os punhos.
Já o terceiro livro, “A rainha do castelo de ar”, tem
referências ao romance de espionagem e certas
pitadas de livros de Ian Fleming, criador de James
Bond, e de John Le Carré.
Merecidamente, a série “Millennium” vendeu
mais de 80 milhões de exemplares no mundo e
rendeu quatro filmes: “Os homens que não
amavam as mulheres”, “A menina que brincava
com fogo” e “A rainha do castelo de ar”, todos
lançados em 2009 na Suécia, e o americano
“Millennium: Os homens que não amavam as
mulheres”, estrelado por Daniel Craig e com di-
O autor foi um dos mais
influentes jornalistas e
ativistas políticos de seu
país. Fundou a revista ‘Expo’,
onde denunciou organizações
neofascistas e racistas
MoMA de Nova York
reção de David Fincher, de 2011.
Pelo que se diz, Stieg Larsson pretendia escrever dez livros protagonizados por Mikael e
Lisbeth. Para mim parece claro que Larsson
pretendia homenagear um subgênero do romance policial em cada volume — há muitos
outros como o suspense médico, o thriller psicológico, etc. Infelizmente, o autor não teve
tempo de ver todo o sucesso que seu trabalho
alcançou: ele faleceu em 2004, aos 50 anos, de
um ataque cardíaco, antes que seu primeiro livro tivesse sido publicado na Suécia.
A própria história de vida de Stieg Larsson
parece uma trama policial: o autor foi um dos
mais influentes jornalistas e ativistas políticos
de seu país. Fundou a revista “Expo”, onde denunciou organizações neofascistas e racistas.
Quando Larsson morreu, por questões jurídicas, Eva Gabrielsson, companheira do escritor
por 32 anos, não teve direito a nenhum tostão
da fortuna obtida com a série “Millenium” —
isto porque ela e Larsson nunca se casaram
oficialmente. O pai e o irmão do autor foram
considerados os únicos herdeiros à luz da lei
sueca, claramente obsoleta.
Ansiosos por continuar a série, os editores suecos contrataram David Lagercrantz, coautor
de “Eu sou Zlatan Ibrahimovic”, a biografia do
atacante sueco, para a insana tarefa de escrever
o quarto livro da série a partir do zero. Ano passado, o livro “A garota na teia de aranha” foi publicado no Brasil e tive a oportunidade de lê-lo.
Como já era de se esperar, a história não chega
aos pés das três anteriores. Só existe um único
Stieg Larsson — e nada pode ser feito a respeito
disso. Mas, se ao contrário de mim, você ainda
não mergulhou nas aventuras ao lado de Mikael e Lisbeth Salander, corra até a livraria mais
próxima para se deliciar na melhor série policial dos últimos tempos. l
FOTOS DE DIVULGAÇÃO
Em exposição. O
“retrato de Sophie
Taeuber com sua
cabeça dadá”, de
1920, e “O rouxinol
chinês” (abaixo), de
Max Ernst, do
mesmo ano: obras
integrantes do
“Dadaglobe”
QUEBRA-CABEÇA
DA ARTE DADÁ
Exposição reconstrói o ‘Dadaglobe’, compêndio idealizado por Tristan Tzara
para seu movimento artístico, após seis anos de pesquisa de curadora
EDUARDO GRAÇA
Especial para O GLOBO, de Nova York
[email protected]
P
ara marcar o centenário do Dadaísmo, o
Museu de Arte Moderna de Nova York dispunha de um caminho seguro: revisitar
sua impressionante “Dada”, de 2006, a primeira
mostra dedicada exclusivamente ao movimento
artístico nos EUA, com curadoria da especialista
Adrian Sudhalter. Mas o MoMA optou por uma
saída mais, digamos, dadaísta. Tal qual uma história de detetive das boas, Sudhalter reconstruiu,
peça a peça, o “Dadaglobe”, livro pensado pelo
poeta, ensaísta e artista plástico francês de origem romena Tristan Tzara (1896-1963), fundador
daquele movimento, e jamais publicado por conta das dificuldades financeiras dos turbulentos
anos 1920. O trabalho do curador levou seis anos,
com pesquisas minuciosas em dezenas de coleções públicas e privadas.
Tzara convidou 50 artistas de dez países a figurar
na sua antologia com
obras em quatro categorias: autorretratos fotográficos, desenhos originais,
fotos de obras de arte e
composições para páginas de livros. A mostra reúne esse material iconográfico, além de algumas
pinturas e esculturas que
aparecem nas fotos feitas
pelos artistas para o livro.
— Quando Tzara morreu, parte do acervo foi
adquirido pelo MoMA,
mas a maior parte foi
passando de colecionador a colecionador. O
mais complicado foi convencê-los a me deixar retirar as obras das molduras, por exemplo, e verificar se elas faziam de fato
parte do “Dadaglobe” —
conta a curadora.
“Dadaglobe reconstructed”, uma parceria
com o museu Kunsthaus Zürich, na Suíça, nascedouro oficial do movimento e onde foi apresentada em tamanho redux na primeira metade
do ano, é, tal qual o título sugere, a recriação, em
forma de catálogo (à venda na loja do museu) e
exposição, de um dos mais curiosos projetos artísticos da primeira metade do século XX, um
ambicioso compêndio da arte de vanguarda europeia no entreguerras finalmente revelado ao
público.
— Quando estava fazendo a curadoria de “Da-
da”, há dez anos, percebi que algumas obras, todas originalmente da coleção de Tzara, tinham
números anotados em seus versos, e com o mesmo giz colorido. Ora, eram as peças enviadas a ele
para seu sonhado “Dadaglobe”! O mito estava
desfeito. Pensei, então, que não poderia haver
homenagem mais interessante no centenário do
movimento do que esta — diz Sudhalter.
As três galerias no segundo andar do MoMA dão
vida até setembro ao que críticos batizaram informalmente de “atlas do dadaísmo”, uma tentativa
pioneira, décadas antes da explosão das feiras de
arte contemporânea e da expansão global dos museus de grife, de se ultrapassar, com a arte, fronteiras geográficas de uma Europa em frangalhos depois da destruição causada pela Primeira Guerra
Mundial. Para o “Dadaglobe”, Tzara amealhou gigantes de Paris — Marcel Duchamp (1887-1968)
—, de Berlim — Max Ernst (1891-1976), George
Grosz, (1893-1959) — e até suspeitos menos óbvios, como o romeno radicado em Paris Constantin
Brancusi (1876-1957) e o americano de origem italiana Joseph Stella (18771946). Tzara e os dadaístas buscavam criar, como
pontua a também curadora Samantha Friedman
(“dadá, a palavra inventada, em si, igualmente sem
significado em todas as
línguas do planeta, é já
um indicador do desejo
de não se identificar com
lugar nenhum”) uma arte
desafiadoramente antinacionalista:
— Pode parecer contraditório reunir pela
primeira vez, em um dos
mais bem estruturados
museus do planeta, o
conjunto de fotos, desenhos, montagens, colagens e manuscritos enviado a Tzara, cujo mote
era justamente o de
apresentar ao público
uma arte revolucionária,
uma antiarte. Mas o ideólogo do Dadaísmo estava, conscientemente,
tentando criar com o livro o inventário definitivo do movimento iconoclasta, agora finalmente
ao alcance do público tal como ele imaginou —
diz Friedman.
AUTORRETRATOS REMETEM A SELFIES
Não há registros de que Tzara vislumbrou, em
1921 — quando, com a ajuda de seu parceiro dadaísta Francis Picabia (1879-1953), encomendou
as 160 obras do livro-manifesto (das quais pouco
mais de uma centena estão presentes no MoMA)
—, uma exposição para acompanhar o livro “Dadaglobe”. Pois um dos aspectos mais interessantes do tributo do MoMA é justamente poder comparar as reproduções enviadas ao poeta com as
esculturas, pinturas e colagens criadas a partir do
projeto muito bem estruturado de Tzara. Não por
acaso, a exposição abre com as sete cartas escritas
por Tzara aos artistas dadá que sobreviveram ao
tempo, com as instruções detalhadas sobre as
obras a serem enviadas.
— A ênfase nos autorretratos remete o espectador contemporâneo imediatamente aos selfies, parte crucial da arte contemporânea, tanto
amadora, com os instagrams e pinterests da vida, quanto à obra de artistas como Cindy Sherman, por exemplo — diz Friedman.
Uma das especificações para o livro era a sugestão de que cada artista enviasse um autorretrato que poderia ser trabalhado artisticamente
mas que teria de ser claramente uma representação do artista em questão, um convite para se
tratar da identidade do indivíduo de acordo
com suas próprias concepções. Pois os dadaístas, tal qual Sherman, passearam pelos estereótipos da autorrepresentação, brincando com
identidades falsas ou inventadas. Entre os destaques estão os autorretratos da escultora e pintora suíça Sophie Taeuber-Arp (1889-1943) (celebrizada como a “Cabeça dadá”), do próprio
Picabia (batizado pelo artista francês de “Tableau rastadada”) e a escultura “To be looked at
(from the other side of the glass) with one eye,
close to, for almost an hour”, de Duchamp.
— Fechamos, creio, uma lacuna da arte moderna com “Dadaglobe”: haveria um magnum
opus do dadá se esse ambicioso livro tivesse sido publicado, e quiçá traria um novo elemento
na história do dadá, quase sempre eclipsada pelo Surrealismo — diz Sudhalter.
O MoMA segue a homenagem ao centenário do
dadaísmo com uma grande exposição sobre Picabia: “Our heads are round so our thoughts can
change direction” será apresentada a partir de novembro reunindo cerca de 200 obras do artista, em
outra parceria com o Kunsthaus Zürich. l

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