qualidade química e bacteriológica da água utilizada na

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qualidade química e bacteriológica da água utilizada na
Revista Tecnologia & Inovação Agropecuária
QUALIDADE
Junho de 2008
QUÍMICA E
BACTERIOLÓGICA DA ÁGUA UTILIZADA
NA DESSEDENTAÇÃO DE AVES
1
Médica Veterinária, Doutora, PqC VI – Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento /CAPTAA/Instituto Biológico. Av. Gaspar
Ricardo, 17690-000. Bastos-SP. [email protected]
2
Zootecnista, Doutora, PqC-I - Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento /CAPTAA/Instituto Biológico. Av. Gaspar Ricardo, 17690000. Bastos-SP.
3
Bióloga, PqC-I - Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento /CAPTAA/Instituto Biológico. Av. Gaspar Ricardo, 17690-000. Bastos-SP
4
Médico Veterinário.
5
Médico Veterinário, Doutor, PqC II – Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento Avícola/CAPTAA/Instituto Biológico. Av. Gaspar
Ricardo, 17690-000. Bastos-SP.
RESUMO
Este artigo discute a importância da água para as aves exploradas comercialmente, do ponto de
vista fisiológico, nutricional e como insumo utilizado para o manejo da vacinação, limpeza, desinfecção
de equipamentos e instalações, utilizados na exploração industrial de aves. Foram demonstrados os
parâmetros físicos, químicos e bacteriológicos da qualidade da água de dessedentação das aves de
produção industrial, tendo em vista a fisiologia das aves e os níveis de exigências nutricionais. No texto
são discutidos vários fatores relacionados a promoção e manutenção da qualidade da água a ser utilizada
na avicultura, dentre eles, a formação e importância do biofilme, as medidas de eliminação de
contaminantes da água, a importância do método de colheita de amostras de água para análise e as
recomendações para a limpeza da linha d'água.
Palavras-chave: água de dessedentação, avicultura, parâmetros
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INTRODUÇÃO
2. DISCUSSÃO
A demanda de água vem aumentando
mundialmente devido ao crescimento populacional.
Neste contexto, o desenvolvimento industrial e a
expansão da agropecuária intensiva têm sido
responsabilizados pela maior parcela do consumo e
poluição das reservas de água doce.
Do total de água disponível, 97,5% é salgada e
está em oceanos e mares e 2,5% é doce, porém, desta,
2,4% está armazenada em geleiras ou regiões
subterrâneas de difícil acesso e apenas 0,1% é
encontrada nos rios, nos lagos e na atmosfera, de fácil
acesso às necessidades do homem. Deste percentual, o
Brasil detém 12% (Macedo, 2004), concedendo-lhe um
grande potencial agrícola. Este fato nos assegura um
fator diferenciador único para o futuro de nossa
avicultura e seu papel no suprimento das necessidades
mundiais por produtos avícolas (Desouzart, 2006).
Para atender às exigências do mercado crescente,
conceitos de qualidade estão sendo implantados em
todos os níveis e setores de produção, para manutenção
da saúde das aves e obtenção de produtos de qualidade,
sem risco à saúde pública. Quanto aos mercados interno
e externo, segundo Lucas Júnior (2004), várias são as
ferramentas que, de forma direta ou indireta,
estimulam o setor a melhorar não só a produtividade,
bem como seu processo, conferindo-lhes selos e/ou
certificados, obtendo-se, assim, produtos
diferenciados, com retorno econômico, ambiental e
social. Além de nutriente essencial, a água é utilizada na
higiene das instalações, na melhoria das condições
climáticas dentro das instalações, como veículo de
vacinas, medicamentos e nutrientes, devendo para isto
possuir constituição física, química e microbiológica
adequadas. Assim, são de fundamental importância
seu uso racional e sua qualidade.
Quando utilizada na dessedentação das aves,
visto que todos os animais têm acesso à mesma fonte, o
uso de água de qualidade duvidosa pode interferir nos
índices zootécnicos e na disseminação de enfermidades,
acarretando graves prejuízos econômicos, além de
carrear agentes patogênicos de doenças de interesse em
saúde pública.
Aliados à genética, os programas de
biosseguridade, nutrição, profilaxia e manejo,
promovem e mantêm a saúde e o desempenho
produtivo das aves, com o objetivo de garantir a
qualidade dos produtos avícolas destinados ao
consumo humano - carne e ovos. Juntamente com os
programas necessários ao processo produtivo de carne
e ovos, a água assume importância vital, não havendo
substituto, em virtude das funções que ela exerce
(Pendleton & Scheideler, 1995).
A importância da
organismo das aves
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água
para
o
Para as aves de produção, a água é considerada o
nutriente essencial mais importante, e ainda assim é
subestimada pelos empresários e pela maioria dos
técnicos avícolas (Reddy et al., 1995).
As aves consomem pequenas quantidades de
água, porém com muita freqüência, devendo lhes ser
garantido um fornecimento constante (Curtis et al.,
2001). O controle da qualidade da água e a manutenção
correta do sistema de distribuição são fatores críticos
que contribuem para o êxito da exploração avícola.
Nas galinhas, a quantidade de água corporal
varia conforme a idade, sendo em torno de 85% do peso
na primeira semana de vida, chegando a 64% em um
frango adulto. Para a galinha de produção de ovos,
tanto reprodutora como poedeira comercial, a água
representa cerca de 55% do peso na idade adulta, além
de constituir 65% do peso do ovo.
A água é responsável pela maioria das funções
do organismo, sendo considerada uma das principais
ferramentas termorregulatórias para manter a
homeostase térmica.
É o componente principal do sangue e dos
fluidos extra e intracelular, é responsável pelo
transporte, absorção e digestão de nutrientes, excreção
de metabólitos, além de outras funções importantes
(Leeson & Summers, 2001). As galinhas podem
sobreviver sem ração por cerca de 30 dias, suportam a
perda de 98% da gordura e 50% da proteína do corpo,
todavia não toleram a perda de 20% da água do corpo
(Vohra, 1980; Reddy et al., 1995).
As aves devem ter acesso a quantidade suficiente
de água com qualidade e temperatura adequadas,
principalmente no período de verão, pois a capacidade
de perda de calor corporal tem influência direta no
ganho de peso, na produção de ovos e também na taxa
de sobrevivência.
As aves consomem maior quantidade de água
quando a temperatura ambiental aumenta. O principal
método de perda de calor nas aves é o resfriamento por
evaporação de água, através do sistema respiratório
durante o ofego (Pizauro Junior, 1996). O consumo de
água pode dobrar ou triplicar durante os períodos de
estresse calórico, pois é necessária a sua reposição, em
vista da necessidade de manutenção do balanço hídrico
corporal (Fairchild & Ritz, 2006).
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Além da temperatura ambiental, a ingestão de
água pelas aves é influenciada pela genética, tipo e
idade da ave, composição da ração, programa de luz,
densidade populacional, temperatura da água de
bebida, tipo e regulagem dos bebedouros, dentre outros
(Pens Jr, 2002; Fairchild & Ritz, 2006). A sobrevivência
dos frangos em casos de estresse calórico depende do
consumo de água, o que faz com que a ave mantenha o
consumo de ração em nível constante. Para as galinhas
poedeiras e reprodutoras, a quantidade de água
ingerida sofre também influência de fatores como a
maturidade sexual e a percentagem de produção de
ovos. Na maturidade sexual e no pico da produção de
ovos, as aves aumentam o consumo de água. Durante o
período de produção, ao longo do dia, o consumo atinge
o máximo imediatamente antes da oviposição,
apresentando novo aumento 6 a 8 horas após, no
momento do início da formação da casca do ovo
(Mongin & Sauer, 1974, citado por Macari, 1996).
Para as aves de exploração comercial, o consumo
de água está estreitamente relacionado ao consumo de
ração, de tal maneira que fatores que afetam o consumo
de água indiretamente influenciam o consumo de
ração. Além do simples consumo de ração, ocorrendo
altos níveis de alguns dos seus constituintes, tais como
proteína e sal, haverá aumento da ingestão de água
(Tabler, 2003).
Para a dessedentação de animais, a legislação brasileira,
através da RESOLUÇÃO CONAMA Nº 357, de
17/3/2005 (CONAMA, 2005), estabelece a utilização de
água da classe 3. Entretanto, vários estudos indicam que
a água destinada ao consumo animal deve ter as
mesmas características da água potável consumida
pelos seres humanos e que para limpeza das instalações
deve-se usar água isenta de microrganismos, com baixo
nível de dureza e pH entre 6-8. Em resumo, para uma
produção animal de qualidade deve-se dar à água uma
importância semelhante à que se dá a outros fatores de
produção, como instalações, alimentação e manejo
(Viana, 1978; Amaral, 2001).
Características físicas e químicas
ideais para a água de dessedentação
das aves de exploração comercial
A água, essencial ao desenvolvimento e à
sobrevivência de todos os seres vivos, é inodora,
insípida e transparente.
A alteração da qualidade da água quando pode
ser percebida pelo ser humano o é através dos sentidos,
em face das características físicas da água. Sabor, odor e
turbidez são características não desejáveis (BRASIL,
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2004), isto é, não devem aparecer em água de boa
qualidade, sendo suas detecções bastante difíceis, pois
dependem exclusivamente da sensibilidade dos seres
humanos.
Na água, sabor e odor são originados por
produtos de decomposição da matéria orgânica,
atividade biológica de microrganismos ou de fontes
industriais de poluição. Já as alterações da cor indicam a
presença de substâncias orgânicas, oriundas dos
processos de decomposição e de alguns íons metálicos,
como ferro e manganês, plâncton e despejos industriais.
A turbidez, por sua vez, interfere na intensidade da
penetração da luz, pois é resultante da presença de
partículas em suspensão na água (plâncton, bactérias,
argila, material poluente fino e outros), que provocam a
difusão e a absorção da luz (Figueiredo, 1999; Macêdo,
2004).
Qualquer temperatura da água de dessedentação
inferior à temperatura corporal trará benefícios à
performance de frangos e galinhas (Harris Jr et al.,
1975). De acordo com Fairchild & Ritz (2006), vários
estudos têm examinado os efeitos do resfriamento da
água durante as estações quentes. A maioria deles
demonstra a melhoria da performance de frangos, que
apresentam melhor ganho diário de peso. Já nas
poedeiras, ocorre a melhoria da qualidade da casca
externa e interna dos ovos (Harris Jr. et al., 1975;
Damron, 2002). Estes efeitos aparecem, provavelmente,
em decorrência do aumento do consumo de água.
Refrigerar a água artificialmente ainda não é viável
economicamente, porém alguns ajustes podem ser
realizados para promover a queda da temperatura, o
que poderia resultar numa crítica diferença nos
resultados zootécnicos.
Os parâmetros químicos são importantes para a
caracterização da qualidade da água, permitindo sua
classificação pelo conteúdo mineral, determinação de
seu grau de contaminação e evidenciação dos picos de
concentração de poluentes tóxicos (Macêdo, 2004). A
Tabela 1 apresenta as sugestões de concentrações
máximas dos elementos e compostos presentes na água,
segundo diferentes pesquisadores, para manutenção da
saúde e da produtividade das aves. Um grande número
de elementos ou compostos químicos pode ocorrer na
água, naturalmente ou por contaminação. Estão
presentes em quantidades que podem ou não interferir
nas funções de metabolismo ou digestão de galinhas,
perus, codornas e outras aves de exploração comercial.
Quando os níveis dessas substâncias químicas estão
fora do equilíbrio, podem por si só ou em combinação
com outras afetar o desempenho das aves.
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Tabela 1. Níveis de elementos, compostos químicos e indicadores bacterianos, sugeridos para água de dessedentação de aves de exploração
comercial
Item
Vohra,
1980
Água,
1988
Carter &
Sneed, 1996
Leeson & Summers,
1997 e 2000
Curtis et al.,
2001
Van
Gulick, 2003*
Brasil,
2004
Conama,
2005 Clas. 3
Coetzee,
Van
Ph
6,0-9,0
6,4 - 8,5
6,8 - 7,5
6,8 – 7,5
6,8-7,5 6,8-8,0
5,0 -8,0
6 – 9,5
6,0 - 9,0
>6,0
5
0,1 - 6
0,075 - 0,15
0,7 - 5
mg/L
Sdt
1000
1500
<1000
500
Dureza
180
110
60 - 180
60 - 180
60-110 - 180
500
60
200 - 60
Alumínio
0,05
0,2
0,2
0,2 - 0,25
Cálcio
600
600
60
600
Chumbo
0,02
0,02
0,01
0,033
Cloro
14 - 250
2
Cobre
0,002 - 0,6
0,002 -0,06
0,002 - 0,6
2
0,013
0,06 - 2,5
Ferro
25
0,2 - 0,3
2 -10
0,2 - 0,3
<0,5
0,3
Fósforo
0,1
Magnésio
350
125
14 -125
14 -125
14 - 125
Nitrato
20
10 - 25
10 - 25
10 - 25
<25
10
10
20 - 200
0,4 - 4
<0,1
1
1
1-4
Enxofre
Nitrito
0,4 - 4
50 - 350
Potássio
10
Selênio
0,01
0,05
0,01 - 0,5
Sódio
1000
50
14 -125
32 - 50
32 - 50
<50
200
250
Sulfatos
500
125 - 250
125 - 250
32 - 250
<100
250
60 - 400
1,5
1,5
<5
5
1,5 25
Zinco
5
50 - 200
Bactérias (UFC/100mL)
Coli Total
0
0 100
0
0 100
0
0
4000
100
Coli Fecal
0
0 50
0
0 50
0
0
1000
50
A determinação de sólidos dissolvidos totais
(SDT) na água se dá pela quantificação de todas as
impurezas nela dissolvida, com exceção dos gases.
Cálcio, magnésio, sódio, cloro, bicarbonato e enxofre
são os minerais que mais contribuem para o nível de
SDT, pelo qual se pode primariamente determinar a
qualidade química da água (Pens Jr., 2002; Macedo,
2004). À medida que o valor de SDT aumenta, a
qualidade piora, ocorre a redução do consumo de água
pelas aves, causando prejuízos no desempenho
zootécnico (NRC, 1974).
O teor de oxigênio dissolvido (OD) é um índice
expressivo da qualidade da água. As águas superficiais
devem se apresentar saturadas de oxigênio. Entretanto,
a água de captação subterrânea pode ser deficiente de
oxigênio, mesmo não estando poluída, pois o oxigênio
pode ter sido consumido na oxidação de minerais
dissolvidos na água. O OD é de fundamental
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importância para a sobrevivência dos seres aquáticos
aeróbios e atualmente existem especulações de que
altos valores de OD na água de dessedentação
favorecem o melhor desempenho de frangos de corte.
Segundo o CONAMA (2005), a água de dessedentação
de animais deve apresentar uma concentração de O2
não inferior a 4 mg/litro.
A dureza da água refere-se, principalmente, à
concentração de íons de cálcio e magnésio em solução,
formando precipitados devido aos carbonatos de cálcio
e magnésio, sendo expressa em mg/L de CaCO3. Em
determinados níveis, a dureza causa sabor
desagradável à água, incrustações nas tubulações,
efeito laxativo e interferência na eficiência de alguns
medicamentos e desinfetantes, como, por exemplo, a
amônia quaternária, que tem sua efetividade diminuída
(Block, 1991; Mouchrek, 2003; Gama et al., 2004;
Fairchild & Ritz, 2006).
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A dureza da água influencia a capacidade de o
sabão e o detergente formar espuma, característica que
também deve ser observada na água utilizada em
granjas, interferindo no manejo de limpeza e
desinfecção das instalações. Vohra (1980) relata que a
dureza não é prejudicial às aves, a menos que os íons
estejam presentes em quantidades tóxicas, podendo
causar aumento da mortalidade por doença
cardiovascular (Neri et al., 1975). Há especulações
quanto ao fato de a dureza da água estar relacionada
com o surgimento da síndrome do fígado graxo em
poedeiras, embora Jensen et al. (1977) não tenham
conseguido demonstrar esta relação,
experimentalmente. Para a água utilizada em granjas
avícolas deve-se ter como ideal o índice de dureza até 60
mg/L, tolerando-se índices até 110 mg/L de CaCO3 e
observando-se a partir deste índice seus efeitos
deletérios (Pomiano, 2002).
O pH da água representa o teor de dióxido de
carbono livre, ácidos minerais e sais de ácidos fortes, os
quais por dissociação resultam em íons hidrogênio em
solução. De um modo geral, a acidez é classificada em
carbônica, mineral e orgânica, sendo que as águas
naturais normalmente apresentam reação alcalina,
embora a acidez não seja necessariamente indesejável
(Macêdo, 2004). Em experimentação, as aves não
diminuíram o consumo de água com pH entre 2 e 10
(Vohra, 1980). Entretanto, o nível recomendado pela
maioria dos pesquisadores está entre 6-8 (Tabela 1). O
consumo de água com pH diferente de 6 a 8 pode alterar
o desempenho das aves, afetando a performance de
frangos, a produção e a qualidade dos ovos, precipitar
antibióticos e interferir na eficiência da cloração da água
(Pomiano, 2002). Em frangos, analisando o efeito do
consumo de água com pH 5,75; 6,25 e 6,75, Grizzle et al.
(1996) não observaram diferença entre os pesos:
corporal, da bursa de fabricius e do timo. Oliveira
(2007), estudando vários lotes de frangos de uma
integração, observou correlação positiva entre pH
elevado da água e ocorrência de ascite.
A acidez em nível elevado pode causar corrosão
nas tubulações e prejudicar a ação de desinfetantes
como a clorexidina e compostos de iodo (Block, 1991;
Figueiredo, 1999). Diferentemente de outros produtos
desinfetantes, o glutaraldeído tem sua efetividade
melhorada em pH alcalino (Block, 1991). A alcalinidade
é encontrada nas águas sob a forma de carbonatos e
bicarbonatos e resulta da presença de sais de ácidos
fracos, carbonatos, bicarbonatos, hidróxidos e,
ocasionalmente, silicatos e fosfatos, podendo ser
cáustica (Macêdo, 2004).
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Os cloretos podem ser encontrados em águas
naturais, mas em níveis baixos, e em altas concentrações
conferem sabor salgado à água, podendo significar
infiltração de águas residuárias e de urina de pessoas e
animais (Mouchrek, 2003). Estudos têm mostrado que o
nível de 14 mg/L na água de bebida pode ser prejudicial
para frangos, se combinado com 50 mg/L de Na
(Coetzee, 2005).
O nitrogênio em recursos hídricos pode se
apresentar nas formas de nitrato, nitrito, amônia,
nitrogênio molecular e nitrogênio orgânico, sendo que
níveis elevados de nitratos indicam poluição que pode
estar ocorrendo há algum tempo, porque estes são os
produtos finais da oxidação do nitrogênio (Macêdo,
2004). A toxicidade aguda provocada por estes
compostos em seres humanos e animais está associada à
redução de nitrato a nitrito, que por sua vez oxida o
ferro da hemoglobina, transformando-o em Fe+++ e
formando a metahemoglobina, que é incapaz de
transportar oxigênio às células (Macêdo, 2004;
Pomiano, 2002). Amostra de água que apresenta
concentração acima de 3,0 mg/L de NO3-N indica a
possibilidade de estar contaminada por resíduos
provenientes de atividades antropogênicas, devendo
ser monitorada (Bouchard et al., 1992). Atualmente, a
agricultura intensiva pelo excesso de fertilização e a
exploração animal em alta densidade são responsáveis
pelo aumento da concentração de nitratos em águas
subterrâneas. Os efeitos da toxicidade crônica de
nitrato/nitrito em aves incluem inibição do
crescimento, diminuição do apetite e agitação
(Arkhipov, 1989), sendo que, para monogástricos, o
nitrito é 10 vezes mais tóxico que o nitrato. Até a década
de 1980, a concentração de 300 mg/L de nitrato na água
de dessedentação de galinhas era considerada aceitável
(Vohra, 1980). Evidências sugerem que, na água, na
forma de NO3-N, concentração de nitrato acima de 20
mg/L reduz a produtividade das aves; entretanto,
pesquisadores sugerem que níveis entre 3-20 mg/L de
água podem causar efeitos indesejáveis na produção
das aves (Grizzle et al., 1996).
Água com alta concentração de sulfatos possui
odor fétido, palatabilidade ruim e ação laxativa,
conferida pelos sulfatos de Mg e Na. A concentração
máxima de sulfatos descrita para a água de bebida das
aves é de 250 mg/litro. Podem interferir na absorção
intestinal de minerais como o cobre e níveis abaixo de 50
mg/L podem exercer efeito negativo na performance,
se tanto o nível de Na quanto o de Mg forem 50 mg/L ou
mais (Coetzee, 2005).
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Ainda hoje, a lista dos elementos e respectiva
concentração que determinam a qualidade da água de
dessedentação para as aves de exploração comercial é
derivada daquela preconizada para o consumo humano.
Recentes estudos foram conduzidos e revelam que,
individualmente, altos níveis de Fe, Mn e NO3 não
afetaram a saúde e a performance de frangos. Entretanto,
quando combinados e em valores elevados, vários
compostos químicos podem causar impactos na
performance das aves (Fairchild & Ritz, 2006). De acordo
com Reddy et al. (1995), uma grande variedade de
compostos orgânicos e inorgânicos podem ter efeitos
tóxicos para as aves. A severidade do efeito dependerá da
dose, período de exposição e outros fatores ambientais.
Características bacteriológicas
ideais para a água de dessedentação
das aves de produção
A importância da qualidade microbiológica da
água a ser fornecida às galinhas se deve principalmente
ao fato de que estas a ingerem duas a três vezes mais do
que ração, aspecto este de grande importância e que
costuma ser subestimado pelos produtores e técnicos
(Gama et al., 2004). Apesar de não apresentar as
condições ideais para a multiplicação de
microrganismos, a água é uma excelente via de
transmissão de agentes patogênicos para seres
humanos e animais, principalmente aqueles que fazem
a rota fecal-oral, uma vez que as atividades urbanas e
rurais têm contaminado os lençóis de água utilizados
em nosso meio (Amaral, 1996).
Pode-se considerar a água como um importante
veículo na transmissão de doenças infecto-contagiosas
e nas intoxicações por diversos elementos ou como
mantenedora da condição ideal para que determinados
patógenos fiquem propícios a infectar as aves (Oliveira,
1994). Durante o uso rotineiro das instalações pode
ocorrer acúmulo de material orgânico e contaminação
do sistema de fornecimento de água. Assim,
crescimento de algas e deposição de minerais e
sujidades acontecem dentro das linhas de fornecimento
de água, propiciando um bom ambiente para os
microrganismos se desenvolverem ou se manterem
viáveis (Lovell, 1996).
Em geral, todos os agentes de doenças infectocontagiosas que não dependem de contato direto para
sua disseminação, podem ser veiculados pela água que
pode ser contaminada na fonte e reservatórios,
principalmente nos atuais modelos de exploração
avícola onde a aglomeração de indivíduos favorece a
disseminação de doenças (Oliveira, 1994). As bactérias
contaminam a água principalmente pelas fezes,
material de expectoração e muco de animais domésticos
e silvestres.
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Tabela 2. Tempo de sobrevivência de agentes patogênicos na água
doce
Microrganismos
Tempo
Fonte
dias
Salmonella sp
16
André et al. (1967)
Shiguella sp
12
André et al. (1967)
E.coli
26
André et al. (1967)
S. Tiphimurium
100
Filip et al. (1988)
Mycoplasma gallisepticum
2
Bonaduce (1980)
S. Enteritidis
30
Pokorny (1988)
(Amaral, 1996)
O controle da qualidade bacteriológica da água
através de filtração e sanitização promove a redução da
presença de agentes patogênicos, minimizando sua
ação oportunista nos processos patológicos nos vários
sistemas do organismo das aves. Também, o uso de
bebedouros tipo nipple tem contribuído notadamente
para diminuir a incidência de problemas respiratórios,
visto que eles não apresentam reserva de água que pode
conter bactérias presentes no meio ambiente, além de
interromper a transmissão de microrganismos de uma
ave doente a uma sadia, através da água.
Podem permanecer viáveis na água o vírus da
bronquite infecciosa das aves, da doença de Newcastle,
da Influenza aviária, o pneumovírus, agente da
pneumovirose aviária, rinotraqueíte dos perus ou
síndrome da cabeça inchada, o vírus da
laringotraqueíte, as diversas espécies de micoplasma, o
Avibacterium paragallinarum, a Pasteurella multocida, a E.
coli, a Ornithobacterium rhinotracheale, Staphilococcus e
Streptococcus, a Pseudomonas aeruginosa, dentre outras.
As salmonelas são disseminadas para ambientes
aquáticos por diversas fontes, incluindo efluentes da
indústria de exploração animal e da exploração
agrícola, além da excreção de animais selvagens, e sua
sobrevivência está relacionada à natureza da água
(Murray, 2000). Burton et al.(1987) relatam que a
sobrevivência de salmonela na água é afetada pela
presença de protozoários, material orgânico, toxina de
algas, nutrientes dissolvidos, metais pesados,
temperatura e propriedades físicas e químicas. Em água
de bebida, segundo Pokorny (1988), a sobrevivência de
Salmonella Enteritidis diminuiu quando a carga
orgânica aumentou.
A campilobacteriose é a infecção causada pelos
componentes termofílicos do gênero Campylobacter.
Estas bactérias sobrevivem bem nas formações de
biofilme nas linhas de água dos aviários, tornando-se
uma fonte de infecção para as aves (Trachoo et.al., 2002).
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Indicadores bacterianos de contaminação
da água
Segundo Amaral (2000), para o conhecimento da
qualidade microbiológica da água de consumo,
utilizam-se, mundialmente, indicadores bacterianos de
poluição fecal. Essas bactérias são prevalentes em
esgotos e excretadas pelo ser humano e animais e sua
concentração está relacionada com o grau de poluição
fecal da água. Este grupo de bactérias, denominado de
coliformes, é facilmente detectado por técnicas
laboratoriais simples e está presente em pequena
quantidade na água no seu estado natural. Os
coliformes não estão presentes nas fezes dos peixes,
entretanto nas fezes dos animais homeotermos e dos
seres humanos eles são encontrados em grande
número. O decréscimo do número dessas bactérias na
água é relacionado ao decréscimo das bactérias
patogênicas intestinais. Ainda, o mesmo autor
recomenda que o monitoramento da qualidade da água
deve ser realizado periodicamente, em estação seca e
chuvosa, pois o processo de contaminação é dinâmico,
podendo inclusive ser intermitente.
Entre os indicadores destacam-se os coliformes
totais, coliformes fecais e Escherichia coli. O grupo
coliforme consiste de vários gêneros de bactérias
pertencentes à família Enterobacteriaceae. A vantagem
da utilização dos coliformes como indicadores de
contaminação da água deve-se ao fato de estes serem
encontrados normalmente no intestino do homem e dos
animais de sangue quente e serem eliminados em
grande quantidade nas fezes, cerca de 108/g, podendo
ser quantificados por métodos simples. A limitação
reside no fato de que no grupo são incluídas espécies de
origem não fecal e de os métodos de detecção estarem
sujeitos à geração de falsos resultados por interferência
de outras bactérias (Silva et al., 2000).
A Escherichia coli representa 95% das bactérias
que compõem o grupo dos coliformes fecais, sendo a
mais conhecida e a mais facilmente diferenciada dos
não fecais. Sua presença é o melhor indicador de
contaminação fecal conhecido até o momento e,
geralmente, não se multiplica e nem se mantém viável
muito tempo na água, em razão da baixa concentração
de nutrientes e temperaturas adversas (Silva et al., 2000;
Barros et al., 2001).
Outro grupo de indicadores de contaminação
pesquisado nas amostras de água, os estreptococos
fecais, engloba espécies de Streptococcus e Enterococcus
do grupo sorológico D de Lancefield. Essas bactérias
são encontradas em grande quantidade nas fezes
humanas e de animais, tendo o trato intestinal como
hábitat natural.
28
Junho de 2008
Biofilmes: formação e importância
O biofilme é uma complexa matriz, na qual uma
variedade de comunidades bacterianas pode coexistir
em cooperação, estruturadas em uma matriz sólida,
com ramificação de canais por onde circula a água
(Costerton & Wilson, 2004).
A grande contaminação encontrada na água dos
galpões e a ineficiência do processo de filtração e
desinfecção podem resultar na formação de biofilme
nos canos de PVC (cloreto de polivinil) que fazem a
distribuição de água a partir dos reservatórios. Os canos
de PVC possuem uma superfície que proporciona um
bom desenvolvimento do biofilme (Armon et al., 1997).
Tal fato constitui-se em uma recente preocupação que
está sendo considerada, segundo Watkins (2000), no
controle da contaminação da água oferecida às aves.
Com o passar do tempo, o biofilme é formado nas
tubulações, a partir de polímeros extracelulares
excretados por uma variedade de bactérias, compondo
uma camada orgânica na qual bactérias, algas,
protozoários e compostos orgânicos e inorgânicos
convivem (Armon et al., 1997). Os mesmos autores
ainda relatam que o desenvolvimento do biofilme está
associado à atividade biológica intrínseca de bactérias
aeróbicas e anaeróbias, bem como à qualidade da água
do sistema. Uma vez estabelecido na linha de água, o
biofilme se torna um ótimo ambiente para a
sobrevivência de bactérias patogênicas e vírus,
protegendo-os da ação dos desinfetantes (Watkins,
2000). Outros fatores, tais como a temperatura da água e
a presença de minerais, segundo Watkins (2002),
favorecem a manutenção da situação. A temperatura
elevada dos galpões, a qual é transmitida para a água,
beneficia a multiplicação de bactérias patogênicas. Uma
única célula de E. coli, em 24 horas a 32 C, se reproduz
chegando a 24 trilhões de células. Também, minerais
como o ferro, quando presentes em alta concentração,
tendem a formar incrustação ou sedimento nas linhas
de água, o que proporciona abrigo e alimento para os
microrganismos patogênicos.
Monitoria da qualidade: Colheita de
amostras de água para análise local, periodicidade e análises
Para análise, as amostras de água utilizadas em
unidades produtoras de aves devem ser colhidas em
pelo menos três pontos: local de captação, reservatório
principal e galpões. As colheitas deverão ser
realizadas pelo menos duas vezes ao ano, nos meses de
chuva e seca.
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Os frascos para as colheitas deverão ser
esterilizados, com capacidade de até 1000 mL, contendo
1,25 mL de tiossulfato de sódio a 15% e preenchidos em
2/3 de seu volume, sendo devidamente identificados.
Sempre que a amostra for colhida, devem ser
adotadas todas as precauções para que a amostragem se
realize de maneira correta. Deve-se fazer a assepsia das
mãos, do bico do frasco tampado e do local de colheita
(torneiras, nipples, etc.). Deve-se deixar a água escoar
por 3-5 minutos antes da colheita. As amostras devem
ser transportadas sob refrigeração para o laboratório
onde serão realizadas as análises bacteriológicas, em 24
horas, se de água tratada, e em 12 horas, se de água não
tratada.
Para análise química da amostra deve-se
contactar o técnico do laboratório para onde serão
enviadas as amostras, de modo que a colheita seja feita
devidamente correta e com frascos contendo os
conservantes adequados para a análise requerida.
Nas amostras colhidas para análise dos
indicadores bacterianos de contaminação da água,
poderão ser realizadas: contagem de heterotróficos ou
contagem padrão em placa; determinação de coliformes
totais, fecais e E. coli. Dependendo do caso, deverão ser
realizadas determinações de outras bactérias:
Salmonella, Pseudomonas, Clostridium, Pasteurella, etc.
Medidas de eliminação de
contaminantes da água utilizada nas
granjas
De acordo com Macêdo (2006), toda água
utilizada nos aviários, independente do aspecto julgado
a olho nu, deve receber pelo menos dois tratamentos
básicos antes de chegar ao bico das aves: filtração e
desinfecção. Deve também ser considerado o tipo de
fonte de abastecimento de água, se superficial ou
subterrânea, o que provoca variações do sistema de
tratamento, já que as características da água bruta
influenciam as técnicas de tratamento. As águas
superficiais se caracterizam principalmente por uma
grande concentração de sólidos em suspensão, além de
sua composição ser imediatamente afetada pelas
condições climáticas e características geológicas da
região por onde escoam. Já as águas subterrâneas têm
substâncias dissolvidas como principais
contaminantes, destacando-se íons metálicos, de cálcio
e magnésio, e complexos orgânicos naturais. Sua
composição varia de região para região dependendo da
formação geológica, e as condições climáticas afetam
suas características de maneira gradual (Mierzwa &
Hespanhol, 2005).
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O tratamento convencional para obtenção de
água potável inclui os seguintes processos:
gradeamento, retirada de sabor e odor, clarificação e
filtração (Macêdo, 2004).
Filtração
É o processo de separação no qual se removem
contaminantes em suspensão (ex. partículas, fibras,
microrganismos) de uma corrente fluida, através da
passagem do fluido por um meio filtrante poroso. Em
função do diâmetro dos poros, os filtros podem reter
partículas suspensas na água, seja qual for sua origem,
que provocam entupimento nos bebedouros de aves,
pois a água arrasta consigo, desde a captação, partículas
de diversos materiais, somando-se a isto a sujeira
acumulada nos reservatórios. Segundo Macêdo (2004),
a carga bacteriana será reduzida e os componentes
químicos podem ser alterados.
Em um estudo realizado com água filtrada por
este sistema, para dessedentação de poedeiras
comerciais, Gama et al. (2007), relatam a influência
positiva (p<0,05) nos parâmetros de desempenho
produtivo das aves, melhorando a conversão alimentar
e aumentando a percentagem de produção de ovos e o
número de ovos por ave alojada. Ainda, de acordo com
os dados, a água purificada pelo sistema é de boa
qualidade bacteriológica.
Desinfecção
A desinfecção da água consiste na destruição
seletiva dos organismos causadores de enfermidade,
pela adição de um produto desinfetante. O desinfetante
não torna a água estéril, mas elimina os microrganismos
capazes de causar doença. Para exercer ação sanitizante
apropriada necessita-se de um tempo de contato
mínimo do sanitizante com a água.
Para alcançar um resultado eficiente deve-se ter
em mente a concentração que se quer alcançar no ponto
de consumo das aves, devido a perdas de concentração
associadas com o tempo de tratamento, o sistema de
armazenamento e de condução da água (Castellanos,
2005). É importante lembrar que, no momento em que
as aves estiverem sendo vacinadas com vacina viva,
deve ser suspensa a sanitização da água, devendo-se,
porém, monitorar o funcionamento adequado do
processo de filtração da água de dessedentação.
A literatura é unânime em recomendar a
desinfecção da água utilizando compostos de cloro, por
reunirem a maioria das propriedades exigidas para o
sanitizante ideal de água (Viana, 1978; Amaral, 1996;
Macêdo & Barra, 2004; Macêdo, 2006).
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Revista Tecnologia & Inovação Agropecuária
Junho de 2008
Para a água de dessedentação de seres humanos
recomenda-se o máximo de 2 ppm de cloro, dosado no
ponto de consumo (BRASIL, 2004).
A água destinada à bebida dos animais
domésticos e utilizada na higiene de instalações,
segundo Viana (1978), deve reunir as mesmas
condições daquela utilizada pelos seres humanos.
Entretanto, a água de bebida adequadamente clorada
não reduz a incidência e o grau da infecção bacteriana
em aves alojadas em ambiente contaminado. Damron &
Flunker (1993), trabalhando com a tolerância de aves ao
hipoclorito de sódio, concluíram que, para sanitizar a
água utilizada em granja, o cloro deve ser utilizado em
concentração de 2-5 ppm e que a realização da
desinfecção não deve substituir a procura pela fonte de
contaminação da água.
O desinfetante químico ideal para água deve
reunir as seguintes características: possuir amplo
espectro de atividade tóxica em altas concentrações de
microrganismos, ser solúvel em água, possuir
estabilidade da ação germicida, isto é, em repouso a
perda deverá ser pequena, não ser tóxico para os seres
humanos e animais, a solução deve ter composição
uniforme, ou seja, o desinfetante não deve ser absorvido
pela matéria orgânica, ser eficaz em intervalos de
temperatura ambiente, ter capacidade de agir nas
superfícies, desodorizar enquanto desinfeta, estar
amplamente disponível no mercado, ser de aplicação
econômica e ser reconhecido através de ensaios
simples, quando presente na água em quantidade
mínima.
- monitoria sistemática da qualidade
microbiológica duas vezes ao ano. Rotineiramente
deverão ser pesquisados os coliformes totais,
coliformes fecais e os microrganismos mesófilos.
Recomenda-se que sejam contempladas as colheitas de
amostras da água do poço, reservatório e dos vários
setores da granja;
- monitoria da qualidade química da água fonte
de captação de água uma vez ao ano;
- limpeza e desinfecção das linhas de distribuição
de água duas vezes ao ano;
-limpeza e desinfecção das linhas de distribuição
dos galpões a cada saída de lote e, se necessário, com a
presença de aves;
- instalação e manutenção do funcionamento do
sistema de purificação de água;
- instalação e manutenção do funcionamento do
sistema de cloração de água após a purificação;
- correção do pH para realização de vacinação
massal e administração de medicamentos e nutrientes.
Se ácido, podem ser utilizados hidróxido de sódio,
carbonato de cálcio ou óxido de cálcio; se básico, deve
ser utilizado um ácido que não cause danos ao
organismo das aves.
- destinação das aves mortas, pelo método de
compostagem;
- manejo correto das fezes produzidas pelas aves;
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tabela 3. Metodologia para limpeza e desinfecção do sistema de
abastecimento de água de bebida
Recomendações e limpeza da linha
d'água
Em relação à qualidade, Curtis et al. (2001)
enfatizam a necessidade de exames laboratoriais para
real avaliação da qualidade da água. Em vista desta
afirmação, sugere-se que os proprietários avícolas
implantem nas unidades de produção um programa
regular de limpeza e sanitização das linhas de água,
impedindo a formação de biofilme e, assim,
providenciando a proteção das aves contra a
contaminação química e infecção bacteriana através da
água de bebida. Tal programa deverá contemplar a
proteção dos pontos de captação de água com ações que
evitem a contaminação das reservas subterrâneas e
superficiais e a promoção e manutenção da qualidade
da água utilizada para as várias finalidades na granja.
Assim sendo, recomenda-se que sejam realizados:
30
Produto
Quantidade para cada 100 L de água no
sistema (ou por litro com um dosador
operando na proporção de 1:100)
Entre lotes (esperar
12h e enxaguar
o sistema)
Com aves no
no galpão***
Ácido cítrico
250 g
60 g
Vinagre comum
1 litro
500 ml
Hipoclorito de sódio a 5%
200 ml
5 ml
Solução concentrada
de amônia
(hidróxido de amônia)
100 ml
Não recomendado
Compostos de amônia
quaternária a 50%
100 ml
Não recomendado
Peróxido de hidrogênio a 35%
3 ml
Não recomendado
Peróxido de hidrogênio 3%
35 ml
Não recomendado
*** O sistema deve ser muito bem enxaguado, principalmente antes da
administração de vacinas, drogas, antibióticos e/ou complexos vitamínicos.
Fonte: Carter & Sneed (1996), Watkins (2000), Watkins (2002).
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