Água e Saúde

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ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO _________________________________________________1
2.
A ÁGUA NO ORGANISMO HUMANO _________________________________2
3. CONTAMINAÇÃO DA ÁGUA E CONSEQUÊNCIAS SOBRE A SAÚDE HUMANA ___3
3.1. CONTAMINAÇÃO MICROBIOLÓGICA DA ÁGUA E EFEITOS SOBRE A SAÚDE __________4
3.2. CONTAMINAÇÃO QUÍMICA DA ÁGUA E EFEITOS SOBRE A SAÚDE ________________7
4. AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA ______________________________9
4.1.
4.2.
4.1.1
4.1.2
4.3.
PADRÕES MICROBIOLÓGICOS _______________________________________9
PADRÕES QUÍMICOS ____________________________________________10
PARÂMETROS INDIRETOS _________________________________________________ 10
PARÂMETROS DIRETOS – CONCENTRAÇÕES DE ESPÉCIES QUÍMICAS ____________________ 10
PADRÕES FÍSICOS _____________________________________________13
5. CONCLUSÃO _________________________________________________14
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ____________________________________15
0
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1. INTRODUÇÃO
O
Planeta
Terra
aproximadamente
possui
3/4
de
sua
superfície
ocupada
por
água.
A
hidrosfera
(contabilizando
água
no
estado
sólido,
gasoso
e
líquido)
contém cerca de 1,4x 109 km3 de água.
Os oceanos correspondem a 97,5%
desse total, enquanto a água doce
representa 2,5%. Se levarmos em
conta somente a quantidade de água
doce
disponível
para
o
consumo
Figura 1 (excetuando
– Distribuição as
da Água
na Terra
humano
geleiras
e calotas polares e também águas salgadas), as águas
subterrâneas correspondem a 97% desta disponibilidade.
A água é uma substância fundamental para a vida, e seus usos são indispensáveis a um
largo espectro das atividades humanas, onde se destacam, entre outros, o abastecimento
público e industrial, a irrigação agrícola, a produção de energia elétrica e as atividades de
lazer e recreação, bem como a preservação da vida aquática.
Uma característica importante da água é dissolver muitos corpos sólidos, líquidos e gasosos,
especialmente ácidos e sólidos iônicos. Alguns compostos de carbono também são solúveis
em água, como o álcool, o açúcar e a uréia. Essa propriedade solvente da água pode tornála também um meio de transporte de determinadas substâncias e elementos químicos
tóxicos, além de microorganismos patogênicos, restringindo seu consumo. Tais agentes
contaminantes devem ser eliminados ou reduzidos a concentrações nas quais não sejam
prejudiciais à saúde do ser humano.
Grande parte das doenças que se alastram pelos países em desenvolvimento são
provenientes da água de qualidade insatisfatória. As doenças podem ser de transmissão
hídrica ou de origem hídrica. E são causadas por agentes químicos ou biológicos.
No Brasil, estima-se que 60% das infecções hospitalares estejam relacionadas às deficiências
do saneamento básico, que geram outras conseqüências de impacto extremamente negativo
para a qualidade e expectativa de vida da população. Estudos indicam que cerca de 90%
dessas doenças se devem à ausência de água em qualidade satisfatória ou à sua qualidade
imprópria para o consumo.
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2. A ÁGUA NO ORGANISMO HUMANO
O corpo humano é composto de água, entre 70 e
75%. Uma curiosidade é que, na média, a
proporção
de
água
no
corpo
humano
é
semelhante à proporção entre terras emersas e
águas na superfície do planeta Terra.
O percentual de água no organismo humano
diminui com a idade: entre 0 e 2 anos de idade é
de 75 a 80; entre 20 e 40 anos esse teor de água
no corpo humano fica entre 58 a 60%. Entre os 40
Figura 2 – Água no corpo humano
e os 60 anos, essa percentagem cai para 50 a
58%. No próprio corpo humano, os teores de água variam. Os órgãos com mais água são
os pulmões (mesmo se vivem cheios de ar) e o fígado (86%). Paradoxalmente, eles têm
mais água do que o próprio sangue (81%). O cérebro, os músculos e o coração são
constituídos por 75% de água.
Menos da metade da água necessária ao corpo humano (47%) chega por meio de ingestão
de líquidos; uma parte significativa de água, o corpo absorve através da respiração celular
(14%). O resto da água necessária à vida chega através dos alimentos (39%).
Cada sistema do organismo depende da água. Ela é responsável por:

Regular a temperatura corporal

Remover produtos indesejáveis do metabolismo

Transportar nutrientes e oxigênio para as células

Proteger as articulações

Evitar a obstipação

Reduzir o trabalho dos rins e fígado, ajudando a eliminar algumas toxinas do
organismo

Ajudar a solubilizar e permitir a utilização de vitaminas, minerais e outros nutrientes
pelo organismo.
A ingestão de quantidades insuficientes de água pode causar a desidratação. Até mesmo
desidratações leves, como a perda de 1-2% do peso corporal, podem trazer problemas.
Trata-se de um risco à saúde, principalmente em crianças e idosos.
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3. CONTAMINAÇÃO DA ÁGUA E CONSEQUÊNCIAS SOBRE A SAÚDE HUMANA
Até chegar ao consumo humano, a água percorre um longo caminho desde sua nascente até
o rio, represa, ou outra rede qualquer de distribuição. Nesse caminho que a água percorre,
pode sofrer efeitos diversos de poluição e contaminação, seja por ação antropogênica ou
mesmo natural, se tornando meio de transporte de tipos diversos de contaminação. Caso a
água seja utilizada em condições inadequadas pode apresentar muitos riscos à saúde.
O grau de poluição das águas é medido através de características físicas, químicas e
biológicas das impurezas existentes, que, por sua vez, são identificadas por parâmetros de
qualidade das águas. Dessa forma, para estar apta ao consumo humano, a água
interceptada deve passar por uma série de tratamentos e de testes. O conjunto de normas
brasileiras que contém a lista de parâmetros e valores máximos permitidos para avaliação da
qualidade da água, para fins de potabilidade, é a Portaria 518, do Ministério da Saúde.
A poluição/contaminação das águas por ação antropogênica é gerada principalmente por:

Efluentes domésticos (poluentes orgânicos biodegradáveis, nutrientes e bactérias);

Efluentes industriais (poluentes orgânicos e inorgânicos, dependendo da atividade
industrial);

Uso na agricultura (poluentes advindos da drenagem de áreas: fertilizantes,
defensivos agrícolas, fezes de animais e material em suspensão).
Essa água impactada pode ser veículo de transmissão de contaminantes e/ou patógenos por
meio de contato dérmico, inalação e ingestão, prejudicando a saúde das pessoas através de
atividades corriqueiras, como ingestão direta, preparação de alimentos e uso na higiene
pessoal, nas atividades de limpeza e no lazer. As doenças relacionadas com a água podem
ser distribuídos em duas categorias principais:
1. Doenças de transmissão hídrica: a água atua como veículo do agente infeccioso, sendo
contaminada por agentes biológicos (vírus, bactérias e parasitas) ou por meio de insetos
vetores que necessitam da água em seu ciclo biológico;
2. Doenças de origem hídrica: causadas por substancias químicas presentes na água em
concentrações inadequadas, geralmente devido à lançamento efluentes de esgotos
industriais.
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3.1. Contaminação Microbiológica da Água e Efeitos sobre a Saúde
A contaminação microbiológica da água se dá principalmente devido ao despejo indevido de
esgoto e lixo em corpos d’água. Com o aumento da exposição humana a esgotos domésticos
e efluentes contaminados, coloca-se a saúde em risco pela possibilidade de contato ou
ingestão de água com organismos infecciosos como bactérias, vírus, protozoários e
helmintos.
Entre a segunda metade do século XIX e início do século XX houve um rápido aumento
populacional no Brasil e, com ele, grandes epidemias de doenças passaram a ser mais
freqüentes. Data do mesmo período o advento da descarga hidráulica nos vasos sanitários
primeiramente na Europa e Estados Unidos e depois no resto do mundo.
“Epidemias como a de febre amarela, a de cólera e a de varíola eram comuns em todo o
território brasileiro, atingindo drásticas proporções nas cidades mais populosas. Estas
enfermidades tornavam mais fortes a compreensão da interdependência social, segundo a
qual todos os homens estavam ligados pelo agente causador da doença. A cada nova
epidemia tornava-se mais evidente a vulnerabilidade de toda a população à doença, que não
fazia escolha entre pobres e ricos” (Hochman, 1996 apud REZENDE, 2002, p. 06).
Este trecho salienta para o fato de que pessoas com atividades e padrões de vida totalmente
diferentes estavam expostos às doenças da mesma maneira. Essa constatação podia ser
aplicada à maioria das populações mundiais, despertando o interesse de muitos estudiosos
que começaram associar essas doenças a água consumida.
Naquela época não se admitia que a água pudesse ser transmissora de doenças e
desconheciam-se os agentes infecciosos destas doenças. Alguns estudiosos, entretanto,
recomendavam que a água devesse ser tratada antes de chegar ao ambiente domiciliar, pois
esta pode veicular direta ou indiretamente agentes causadores de doenças infecciosas.
Conhecendo-se a capacidade de transporte da água e com o esquema abaixo pode-se
entender melhor o papel da água na transmissão de doenças:
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RESERVATÓRIO
Homem, animal ou
planta infectados
DIRETO
Ingestão por
ou contato
veículo
HÓSPEDE
SUSCETÍVEL
com
Água
VETOR
Artrópode ou
veículo
Meio Ambiente
INDIRETO
invertebrado
HÓSPEDE
INTERMEDIÁRIO
OUTROS
VEÍCULOS
Figura 3 – O papel da água na transmissão de doenças
O esquema demonstra que água veicula o agente infeccioso, porém este deve ser
introduzido na água para a transmissão da doença. Os microrganismos com potencial
patogênico (ao homem), geralmente, não se desenvolvem espontaneamente nos corpos
d’água. Eles são introduzidos nestes sistemas pelo próprio homem através de seus
excrementos e águas residuárias. Trata-se então de um verdadeiro círculo vicioso, em que
os patogênicos são introduzidos nos mananciais, a partir de pessoas portadoras de doenças
entéricas, retornam ao ambiente domiciliar por meio de captação de água “potável”,
contaminando populações saudáveis.
Com o passar do tempo a percebeu-se que havia uma necessidade de tratar a água dos
esgotos a fim de exterminar ou reduzir o número de agentes patológicos dos mananciais.
Abastecimento de água e o tratamento de esgotos estão diretamente associados à presença
destes microrganismos e, conseqüentemente, às doenças.
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Gráfico 1. Cobertura por abastecimento de água no Brasil e sistema de coleta de esgotos
1968 a 1998
Fonte: IBGE - PNAD´s 1968-1998 e Censos Demográficos de 1970, 1980 e 1991.
Gráficos 2 e 3 - Proporção de óbitos por doenças infecciosas e parasitárias no Brasil e nas
Grandes Regiões, 1979-1999
a) % dentro do total geral de óbitos do Brasil
b) % dentro do total geral de óbitos por Região do Brasil
Fonte: DATASUS – MS.
Analisando-se os gráficos podemos constatar, para o período de 1980 a 1998, que com o
aumento da cobertura de abastecimento de água (com e sem canalização interna), da rede
coletora de esgotos e das fossas sépticas há a diminuição concomitante das mortes
infecciosas associadas à água.
As principais doenças transmitidas pela água são: Cólera, Febre tifóíde e Febres paratifóides;
Disenteria infecciosa; Leptospirose; Giardíase; Enterites gastrointestinais.
Assim, a importância sanitária do abastecimento de água é das mais discutidas; a
implantação ou melhoria dos serviços de abastecimento de água traz como resultado uma
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rápida e sensível melhoria na saúde (diminuição das moléstias cujos agentes epidemiológicos
são encontrados nas fezes humanas) e nas condições de vida de uma comunidade
principalmente através de:
 controle e prevenção de doenças;
 promoção de hábitos higiênicos da população;
 desenvolvimento de esportes (como a natação);
 melhoria da limpeza pública;
 conforto e segurança coletiva (refrigeração e combate a incêndio).
3.2. Contaminação Química da Água e Efeitos sobre a Saúde
São muitos os poluentes potenciais que podem prejudicar a qualidade das águas dos rios,
lagos e águas costeiras e marinhas. A poluição aquática pode ser causada por matérias
orgânicas, nutrientes e um grande número de substâncias químicas que ou são produzidas
para utilização deliberada, como os pesticidas, ou são formadas não intencionalmente em
processos de produção, como os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos gerados em
processos de combustão.
A água sendo um excelente solvente, através do seu ciclo hidrológico conserva-se em
contato com os constituintes do meio ambiente (ar e solo), dissolvendo muitos elementos e
carregando outros em suspensão. Nesse sentido, estima-se que cerca de 4 bilhões de
metros cúbicos de contaminantes, provenientes, principalmente, de efluentes industriais, uso
agrícola, dejetos domésticos e outros, atinjam o solo a cada ano e, conseqüentemente, a
água.
A variedade de contaminantes é enorme, e os mais importantes são os metais pesados
(como
chumbo,
arsênio,
cádmio
e
mercúrio);
agrotóxicos
(nitratos,
compostos
organoclorados, organofosforados ou carbamatos) e compostos orgânicos voláteis (como
produtos combustíveis e solventes halogenados).
A. Metais Pesados
Os metais pesados são micropoluentes inorgânicos provenientes, na sua maioria, de
efluentes industriais e altamente tóxicos para a vida aquática. O processo de
biomagnificação transforma concentrações consideradas baixas no meio ambiente, em
concentrações tóxicas em diferentes organismos vivos inclusive no homem. A persistência,
outra característica dos metais pesados, garante a influência desses metais, mesmo após o
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interrompimento das fontes poluidoras. Os principais metais pesados presentes nas águas
em forma dissolvida são cádmio, cromo, chumbo, mercúrio, níquel e zinco.
Os metais pesados, além de serem tóxicos são cumulativos no organismo e podem provocar
diversos tipos de doenças no ser humano com a ingestão de pequenas doses, por períodos
consideráveis.
Um fato histórico que exemplifica a toxidade dos metais pesados foi o envenenamento pelo
chumbo proveniente das tubulações de água, um fator que contribuiu para a queda final do
Império Romano. Tantas pessoas começaram a morrer de envenenamento por chumbo em
longo prazo que o vigor de toda a nação foi se exaurindo.
B. Orgânicos Voláteis

Solventes Halogenados - constituem um grupo de compostos orgânicos muito
utilizados na indústria, principalmente indústrias de plásticos, de tintas e corantes,
etc. Os principais representantes dessa classe são: 1,1-dicloetano, 1,1-dicloeteno,
tetracloeteno e tetracloreto de carbono.

Solventes Aromáticos – os principais são: benzeno, tolueno, etilbenzeno e xilenos
(BTEX). A presença de tais compostos em águas de abastecimento se deve à
contaminação por resíduos de combustíveis e indústrias, principalmente de tintas, de
plástico, de medicamentos, etc. São considerados potencialmente cancerígenos.
C. Biocidas
Os biocidas constituem um grupo de compostos orgânicos utilizados por várias décadas no
controle de insetos, de fungos, pragas nas lavouras. Devido à sua alta persistência no
ambiente (água, solo), ou seja, não se degradar facilmente, a fabricação e comercialização
dessas substâncias está proibida na grande maioria dos países desde o começo da década
de 1980. Entretanto, devido exatamente à sua difícil degradação natural, são encontrados
ainda resíduos no solo e na água e, por isso, os pesticidas organoclorados, por exemplo, são
incluídos na legislação para análise obrigatória em águas de abastecimento. Sua presença na
água consumida, em concentrações muito acima dos limites toleráveis (VMP) pode acarretar
prejuízos à saúde que vão desde sintomas de envenenamento, como dor de cabeça,
distúrbios gastrointestinais, etc., até danos ao fígado, rins e sistema nervoso, além de efeitos
cancerígenos, dependendo do tipo de pesticida.
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4. AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA
Para estar apta ao consumo humano, a água interceptada deve passar por uma série de
tratamentos e de testes. Diversas leis estabelecem padrões entre alguns parâmetros para a
água distribuída.
Em São Paulo, a SABESP realiza analises constantes das águas desde a captação até os
pontos de consumo. Os parâmetros analisados são: cloro, turbidez, cor, pH, coliformes e
flúor. Entretanto, além desses, muitos outros parâmetros podem ser utilizados com o fim de
avaliar a qualidade da água, como DBO, OD, concentração das espécies contaminantes,
entre outros.
Os padrões para avaliação da qualidade da água podem ser químicos, físicos e biológicos.
4.1. Padrões Microbiológicos
A qualidade de uma água em relação aos fatores biológicos é avaliada usando organismos
indicadores. A probabilidade de existência das doenças na água passadas a ela por fezes de
indivíduos doentes, se faz por contagem de microorganismos não patogênicos, produzidos
em grande número no intestino, sendo uma referência, ao invés de uma contagem
verdadeira de patógenos, mais difíceis de identificar. Os organismos usados como referência
pertencem a um grupo de bactérias chamados Coliformes, dividido em três sub-grupos:
coliformes totais, coliformes fecais e estreptococos fecais. A tabela 1 apresenta os padrões
microbiológicos de qualidade conforme a Portaria 518.
Tabela 1 - Padrão Microbiológico de potabilidade da água para consumo humano
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4.2. Padrões Químicos
Os parâmetros existentes para avaliar a contaminação da água devido à compostos
químicos, podem ser diretos ou indiretos, ou seja, podem ser parâmetros que identificam e
quantificam os compostos contaminantes, ou parâmetros que indicativos da presença de
algum contaminante.
4.1.1 Parâmetros Indiretos
Abaixo são listados os principais parâmetros para avaliação indireta da qualidade da água.
Oxigênio dissolvido (OD) - Quantidade de gás oxigênio contido na água ou no esgoto,
geralmente expressa em parte por milhão numa temperatura e numa pressão atmosférica
específica. É uma medida da capacidade de água para sustentar organismos aquáticos. A
água com conteúdo de oxigênio dissolvido muito baixo, que é geralmente causada por lixos
em excesso ou impropriamente tratados, não sustentam peixes e organismos similares.
Portanto, o OD é um dos principais parâmetros de caracterização dos efeitos da poluição
das águas decorrentes de despejos orgânicos.
Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) - É a quantidade de oxigênio necessária para
oxidação da matéria orgânica biodegradável. Um valor de DBO alto indica uma grande
concentração de matéria orgânica e baixo teor de oxigênio. Uma DBO alta significa presença
de poluição através da matéria orgânica proveniente de fontes pontuais e/ou difusas de
origem doméstica ou industrial.
Demanda Química de Oxigênio (DQO) - É a quantidade de oxigênio necessária para
oxidação da matéria orgânica através de um agente químico. Um valor de DQO alto indica
uma grande concentração de matéria orgânica e baixo teor de oxigênio. O aumento da
concentração de DQO num corpo d'água se deve principalmente a despejos de origem
industrial.
pH (Potencial Hidrogeniônico) - Medida da concentração relativa dos íons de hidrogênio
numa solução; esse valor indica a acidez ou alcalinidade da solução.
4.1.2 Parâmetros Diretos – Concentrações de espécies químicas
Esses parâmetros podem medir tanto a concentração de contaminantes, como de compostos
benéficos à saúde que são adicionados à água durante o processo de tratamento, como a
concentração de compostos prejudiciais à saúde humana.
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4.1.2.1
Espécies químicas benéficas à saúde
Exemplos de compostos adicionados à água são o flúor e o cloro:
Flúor - Os benefícios do flúor foram descobertos através da observação de um de seus
efeitos colaterais: a fluorose, devido ao alto teor de flúor na água. Dessa forma passou-se a
pesquisar a dose ideal de flúor, capaz de aumentar a resistência do esmalte de um dente
sem alterar a sua aparência. A dose ideal de flúor varia com a temperatura média anual e
com a umidade relativa do ar, desta forma, no Brasil é considerada ideal, a dose de 0,7mg/L.
O flúor favorece a deposição de cálcio e potássio quando está presente em baixa
concentração. Os métodos de aplicação tópica oferecem altas concentrações de flúor,
levando à formação de fluoreto de cálcio, que é uma forma de flúor insolúvel, isso possibilita
a formação de um filme protetor para os dentes.
A fluoretação da água de consumo público é o mais seguro, efetivo, simples e econômico
método de prevenção da cárie dental e sua adoção em todas as áreas onde essa doença
constitui-se em problema de saúde pública tem sido uma recomendação insistentemente
reiterada pelas organizações internacionais e nacionais do setor de saúde. No Brasil, a
fluoretação da água iniciou-se em 1953 na cidade de Baixo Guandu, Espírito Santo, cujo
sistema de abastecimento era operado pela fundação SESP do Ministério da Saúde. Um
grande número de estudos desenvolvidos em países distintos comprova que a dosagem ideal
de flúor na água de consumo está entre 0,7 e 1,2 mg/litro de flúor. Porém a utilização do
flúor deve ser cercada de cuidados, pois pode ser um produto tóxico dependendo da dose:

Toxicidade Crônica: Fluorose, que vai de leves manchas esbranquiçadas no esmalte
do dente até manchas graves em tom castanho levando a fraturas na estrutura
dental.

Toxicidade Aguda: Pode-se ter um leve mal estar, ânsia, vômitos etc. até a morte
dependendo da dose. A dose fatal para adultos é de 2,5 a 5,0 gramas de uma só vez
e em uma criança com peso de 10kg a dose de 535mgs. É suficiente para causar o
óbito.
Cloro - Quando as prefeituras começaram a adicionar cloro na água, no início dos anos
1900, como um desinfetante para a cólera, febre tifóide, e outras doenças, isso foi saudado
como uma das mais eficientes medidas de saúde pública do século. A adição de cloro na
água salvou incontáveis vidas. Anos mais tarde, entretanto, os cientistas descobriram que o
cloro pode reagir com materiais orgânicos na água, tais como folhas mortas, e produzir
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compostos químicos chamados tri-halometanos [THMs]. Um desses THMs - o clorofórmio está associado com o aumento do risco ao câncer. Mais de 10.000 pessoas têm câncer no
intestino reto ou na bexiga a cada ano devido aos derivados do cloro.
O cloro é amplamente utilizado no país. De fato, 75% das residências recebem água clorada.
O cloro é também uma das mais predominantes razões por que água pode ter gosto e cheiro
ruins. O gosto e o cheiro são as razões principais por que as pessoas escolhem alternativas
para a água da torneira.
O cloro é um agente bactericida muito usado para desinfecção da água. Ele é adicionado
durante o tratamento da água com o objetivo de eliminar bactérias e outros microrganismos
que nela podem estar presentes. A água, ao ser entregue para o consumo, deve conter uma
concentração mínima de 0,2 mg/L de cloro residual (de acordo com a Portaria 518/04 do
Ministério da Saúde). Com esse mesmo objetivo, alguns locais utilizam o método de
cloroamoniação para a desinfecção da água. A água destes sistemas deve conter um mínimo
de 2,0 mg/l como cloro residual total (de acordo com a Resolução SS nº 50 de 26/04/1995
da Secretaria de Estado da Saúde).
4.1.2.2
Espécies químicas prejudiciais à saúde
Compostos químicos prejudiciais à saúde, ou seja, contaminantes, devem ter suas
concentrações limitadas à teores toleráveis pelo organismo. A seguir são apresentadas as
tabelas da Portaria 518 que dispoem dos parâmetros e valores máximos permitidos para os
compostos de interesse.
Tabela 3 - Padrão de potabilidade para substâncias químicas que representam risco à saúde
Parâmetro
Unidade
VMP(1)
Parâmetro
Inorgânicas
Unidade
VMP(1)
Agrotóxicos
Antimônio
mg/L
0,005
Alaclor
µg/L
20,0
Arsênio
mg/L
0,01
Aldrin e Dieldrin
µg/L
0,03
Bário
mg/L
0,7
Atrazina
µg/L
2
Cádmio
mg/L
0,005
Bentazona
µg/L
300
Cianeto
mg/L
0,07
Clordano (isômeros)
µg/L
0,2
Chumbo
mg/L
0,01
2,4 D
µg/L
30
Cobre
mg/L
2
DDT (isômeros)
µg/L
2
Cromo
mg/L
0,05
Endossulfan
µg/L
20
Fluoreto
mg/L
1,5
Endrin
µg/L
0,6
Mercúrio
mg/L
0,001
Glifosato
µg/L
500
Nitrato (como N)
mg/L
10
Heptacloro e Heptacloro epóxido
µg/L
0,03
Nitrito (como N)
mg/L
1
Hexaclorobenzeno
µg/L
1
Selênio
mg/L
0,01
Lindano (γ-BHC)
µg/L
2
Metolacloro
µg/L
10
Metoxicloro
µg/L
20
Molinato
µg/L
6
Pendimetalina
µg/L
20
Orgânicas
Acrilamida
µg/L
0,5
Benzeno
µg/L
5
Benzo[a]pireno
µg/L
0,7
Cloreto de Vinila
µg/L
5
Pentaclorofenol
µg/L
9
1,2 Dicloroetano
µg/L
10
Permetrina
µg/L
20
1,1 Dicloroeteno
µg/L
30
Propanil
µg/L
20
Diclorometano
µg/L
20
Simazina
µg/L
2
Estireno
µg/L
20
Tetracloreto de Carbono
µg/L
2
Trifluralina
µg/L
20
Desinfetantes e produtos secundários da desinfecção
Tetracloroeteno
µg/L
40
Bromato
mg/L
0,025
Triclorobenzenos
µg/L
20
Clorito
mg/L
0,2
Tricloroeteno
µg/L
70
Cloro livre
mg/L
5
Monocloramina
mg/L
3
2,4,6 Triclorofenol
mg/L
0,2
Trihalometanos Total
mg/L
0,1
Cianotoxinas
Microcistinas
Notas: (1) Valor máximo permitido.
µg/L
1,0
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Água e Saúde
Tabela 5 Padrão de aceitação para consumo humano
Parâmetro
Tabela 4 - Padrão de radioatividade para água potável
Parâmetro
Unidade
VMP(1)
Radioatividade alfa global
Radioatividade beta global
Notas: (1) Valor máximo permitido.
Bq/L
Bq/L
0,1
1,0
Unidade
VMP(1)
Alumínio
Amônia (como NH3)
mg/L
mg/L
0,2
1,5
Cloreto
Etilbenzeno
mg/L
mg/L
250
0,2
Ferro
mg/L
0,3
Manganês
Monoclorobenzeno
mg/L
mg/L
0,1
0,12
Sódio
mg/L
200
Sólidos dissolvidos totais
mg/L
1.000
Sulfato
mg/L
250
Sulfeto de Hidrogênio
mg/L
0,05
Surfactantes
mg/L
0,5
Tolueno
mg/L
0,17
Zinco
Xileno
mg/L
mg/L
5
0,3
Notas: (1) Valor máximo permitido
4.3. Padrões Físicos
Os padrões físicos, assim como padrões químicos indiretos, são indicativos da presença de
contaminantes na água. Os principais parâmetros físicos para avaliação da qualidade da
água são:
Turbidez - é a medição da resistência da água à passagem de luz, o que ocorre devido à
presença de partículas em suspensão (flutuando/dispersas) na água. Essas partículas podem
ser ou não prejudiciais à saúde. De acordo com a Portaria 518 do Ministério da Saúde o valor
máximo permissível de turbidez na água distribuída é de 5,0 NTU (unidades de turbidez).
Cor - A cor de uma amostra de água está associada ao grau de redução de intensidade que
a luz sofre ao atravessá-la (e esta redução dá-se por absorção de parte da radiação
eletromagnética), devido à presença de sólidos dissolvidos, principalmente materiais em
estado coloidal orgânico e inorgânico. Os esgotos sanitários se caracterizam por
apresentarem predominantemente matéria em estado coloidal; já diversos efluentes
industriais contém compostos como taninos (efluentes de curtumes, por exemplo), anilinas
(efluentes de indústrias têxteis, indústrias de pigmentos, etc.), lignina e celulose (efluentes
de indústrias de celulose e papel, da madeira,etc.). De acordo com a Portaria 518/04 do
Ministério da Saúde o valor máximo permissível de cor na água distribuída é de 15,0 U.C.
Condutividade - Este parâmetro está relacionado com a quantidade de íons dissolvidos na
água, os quais conduzem corrente elétrica. Quanto maior a quantidade de íons, maior a
condutividade. Os íons são levados para o corpo d'água devido às chuvas, ou através do
despejo de esgotos. Substâncias como os alvejantes (água sanitária) possuem íons de cloro,
que ao serem lançados no sistema eleva a condutividade. Porém, a medida de condutividade
não nos mostra qual o íon presente e sim a quantidade de íons na água.
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Água e Saúde
5. CONCLUSÃO
Primeiramente, é válido ressaltar que a água é um recurso natural de suma importância, não
somente para a formação e composição do planeta Terra em si, mas para a manutenção da
vida no mesmo. Por meio de seus ciclos e características específicas, a água mantém o
equilíbrio de diferentes ecossistemas e na biosfera de um modo geral.
Suas propriedades físico-químicas conferem a água um amplo espectro de atuação sobre a
saúde humana, que envolve desde o papel como solvente de substâncias necessárias à
manutenção e bom funcionamento do nosso organismo até a regulagem de temperatura
corpórea via transpiração.
Entretanto, essas mesmas propriedades físico-químicas da água a tornam um meio propício
à proliferação de doenças, seja através da dissolução de substancias tóxicas ao ser humano,
ou mesmo servindo como meio para proliferação de microorganismos patogênicos.
Dadas essas circunstâncias, nota-se que não é possível abordar o tema “água e saúde” sem
mencionar a contaminação e a qualidade da água, pois são fatores determinantes no que diz
respeito à água ser uma substância de valor essencial à saúde humana ou um agente
causador/transmissor de doenças.
Os padrões de qualidade da água são estabelecidos de acordo com a sua finalidade a
periculosidade relacionada a cada poluente considerado, e os parâmetros de avaliação da
qualidade são diversos e dependem também desses fatores.
O saneamento básico está relacionado com a distribuição da água para a população e o
tratamento que a mesma recebe para tornar-se própria para o uso doméstico e afins. Os
métodos escolhidos para a realização do saneamento (tratamentos e testes) da água que
chega à população para consumo e afins devem estar de acordo com os padrões
estabelecidos para a qualidade dessa água, a fim de garantir potabilidade da mesma e evitar
contaminações por quaisquer tipos de agentes.
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Água e Saúde
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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da Contaminação Química da Água: Desafios Normativos -
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BAIRD, C. - Química Ambiental - 2ª ed. Bookman, São Paulo, 2002.
Di Bernardo, L.; Di Bernardo, A.; Centurione Filho, P.L. – Ensaios de Tratabilidade de
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