À ESQUERDA Revista Brasileira de Engenharia de Pesca

Transcrição

À ESQUERDA Revista Brasileira de Engenharia de Pesca
Revista
Brasileira de
Engenharia de Pesca
ISSN 1980-587X
ISSN –
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
Volume 1, Número 1 - Agosto de 2006
Pesca, Aqüicultura, Tecnologia do Pescado e Ecologia Aquática
Engenharia de Pesca
na UEMA
Pesca na ZEE: Sua
Importância para
o Brasil
Planejamento da
Aqüicultura no Brasil
HB: Novo Modelo
de Incubadora
VEJA TAMBÉM NESTE NÚMERO
AEP-AM: Histórico
Reversão Sexual em Tilápia
Parachromis managuensis no Brasil
Ectoparasitas e Bactérias em Tilápia
Egeria densa e a Piscicultura Extensiva
Organização dos Pescadores no Agreste de PE
Nova Metodologia para Hipofisectomia
Arranjos Produtivos: Pesca e Aqüicultura
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ATENÇÃO: PARA NAVEGAR USE “BOOKMARKS” À ESQUERDA
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE PESCA
VOLUME 1, NÚMERO 1, 2006
Eds.: José Milton Barbosa e Haroldo Gomes Barroso
DIRETOR GERAL
Haroldo Gomes Barroso - UEMA
EDITOR CHEFE
JOSÉ MILTON BARBOSA
DIRETOR DE MARKETING
Rogério Bellini - Netuno
ASSISTENTES DE EDIÇÃO
PAULO DE PAULA MENDES - UFRPE
Ivo Thadeu Lira Mendonça – UFRPE
WEBMASTER
Junior Baldez - UEMA
COMISSÃO EDITORIAL
Athiê Jorge Guerra dos Santos - UFRPE
Leonardo Teixeira de Sales - FAEP-BR
Luiz de Souza Viana – Emater/PR
Maria do Carmo Gominho Rosa - Unioeste
Maria Nasaré Bona de Alencar Araripe - UFPI
Paula Maria Gênova de Castro - Instituto de Pesca/SP
Paulo de Paula Mendes - UFRPE
Rogério Souza de Jesus - INPA
Raimundo Nonato de Lima Conceição - UFC
Neiva Maria de Almeida - UFPB
Vanildo Souza de Oliveira - UFRPE
Walter Moreira Maia Junior - UFPB
CONSULTORES AD HOC (NESTE NÚMERO)
José Milton Barbosa - UFRPE
Manlio Ponzi Junior - UFRPE
Maria do Carmo Figueredo Soares - UFRPE
Neiva Maria de Almeida - UFPB
Paula Maria Gênova de Castro – Instituto de Pesca/SP
Paulo de Paula Mendes - UFRPE
Rogério Souza de Jesus - IMPA
Raimundo Nonato de Lima Conceição - UFC
Walter Moreira Maia Junior - UFPB
2
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
© Publicada em agosto de 2006
Todos os direitos reservados aos Editores
Proibida a reprodução, por qualquer meio,
Sem autorização dos editores.
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
Ficha catalográfica
Setor de Processos Técnicos da Biblioteca Central – UFRPE
R454
Revista Brasileira de Engenharia de Pesca
Nacional / editores José Milton Barbosa, Haroldo Gomes
Barroso -- São Luís, Ed. UEMA, 2006.
V.1, N. 1: 143p : il.
Quadrimestral
1. Pesca 2. Aqüicultura 3. Ecossistemas Aquáticos,
4. Pescados – Tecnologia I. Barbosa, José Milton II. Barroso
Haroldo Gomes III. Universidade Estadual do Maranhão
CDD 639
__________________________________________________________________________________
Apoio
Curso de Engenharia de Pesca
Universidade Estadual do Maranhão
Departamento de Pesca e Aqüicultura
Universidade Federal Rural de Pernambuco
3
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
ISSN-1980-587X
REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE PESCA
Volume 1
Agosto, 2006
Número 1
EDITORIAL
P
rezados Engenheiros de Pesca, de formação ou por adesão, temos o
prazer de apresentar o primeiro numero da nossa Revista Brasileira de
Engenharia de Pesca (REPesca): baseada no sonho de alguns e no esforço de
muitos.
Críticas são estímulos para os que querem vencer. Assim, lembro o dia em que
Haroldo Gomes Barroso, da UEMA, colocou a idéia na rede, provocando um
reboliço, como era de se esperar quando se trata de nossa aguerrida classe.
Serenados os ânimos vieram as idéias, as conversas e, como diria nosso querido
Leonardo Sales: os encaminhamentos...
Durante a conferência da SEAP, em Luziânia, alguns colegas reunidos
decidiram dar os primeiros passos e a mim foi dada a incumbência de traçar o
perfil de nossa REPesca. O que não é uma tarefa fácil, em virtude da logística,
principalmente de informática, adequada para a tarefa.
Mas, felizmente a idéia virou realidade e cá estamos com o primeiro
volume de nossa revista eletrônica. Vencedores? Somos todos nós. Ninguém
mais... ninguém menos. Afinal, não importa o tamanho do tijolo que cada um
trouxe: o que importa é o tamanho da construção. Lembrando que o importante
não é fazer, é dar continuidade.
Sobre o Curso de Engenharia de Pesca na UEMA
Mas a REPesca não veio só: o seu lançamento se deu durante a aula
inaugural do Curso de Engenharia de Pesca da Universidade Estadual do
Maranhão, UEMA.
Este curso, o mais novo implantado no Brasil, coroou a visão política das
autoridades governamentais e acadêmicas, e dos colegas Engenheiros de Pesca
do Estado do Maranhão, cujo feito espelha o espírito supremo do povo
maranhense.
José Milton Barbosa
Editor Chefe
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
CONTATOS
FAEP/BR - FEDERAÇÃO DAS ASSOCIAÇÕES DE ENGENHEIROS DE PESCA DO BRASIL
PRESIDENTE - Leonardo Teixeira de Sales
E-mail: [email protected]
VICE-PRESIDENTE - Osvaldo Segundo da Costa Filho
E-mail [email protected]
SECRETÁRIA GERAL - Maria do Carmo Figueiredo Soares
E-mail: [email protected]
PRIMEIRO SECRETÁRIO - Elizeu Augusto de Brito
E-mail: [email protected]
SEGUNDA SECRETÁRIA - Adriana Maria Cunha da Silva
E-mail: [email protected]
DIRETORA FINANCEIRA - Eliana Barbosa Ferreira
E-mail: [email protected]
DIRETOR DE POLÍTICA PROFISSIONAL - Jair Valentim da Silva
E-mail: [email protected]
DIRETOR DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS - Rogério Souza de Jesus
E-mail: [email protected]
DIRETOR DE RELAÇÕES PÚBLICAS - Luiz de Souza Viana
E-mail: [email protected]
DIRETOR TÉCNICO CIENTÍFICO - José Milton Barbosa
E-mail: [email protected]
AEPs - ASSOCIAÇÃO DOS ENGENHEIROS DE PESCA DOS ESTADOS
AEP/Amazonas - Presidente: Leocy Cutrim dos Santos Filho
E-mail: [email protected]
AEP/Pará - Presidente: Mutsuo Asano Filho
E-mail: [email protected]
AEP/Maranhão - Presidente: Lauro Ferreira do Nascimento
E-mail: [email protected]
AEP/Ceará - Presidente: José Roberto Pinto
E-mail: [email protected]
AEP/Rio Grande do Norte - Presidente: Elizeu Augusto de Brito
E-mail: [email protected]
AEP/Paraíba - Presidente: Alberto Luiz Vasconcelos Motta
E-mail: [email protected]
AEP/Pernambuco - Presidente: Vanildo Souza de Oliveira
E-mail: [email protected]
AEP/Sergipe - Salustiano Marques dos Santos
E-mail: [email protected]
AEP/Bahia - Presidente: Leonardo Campos Dell'Orto
E-mail: [email protected]
AEP/Espírito Santo - Presidente: Jair Valentim da Silva
E-mail: [email protected]
AEP/Paraná - Preseidente: Fernando Angst
E-mail: [email protected]
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
Sumário
Pag.
Normas para Publicação
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Artigos Técnico/Informativos
Pesca na Zona Econômica Exclusiva, ZEE: sua importância para o Brasil
Fábio HAZIN
10
Contribuições para o Planejamento Estratégico da Aqüicultura Brasileira
Rodolfo RANGEL
19
Histórico da Associação dos Engenheiros de Pesca do Estado do Amazonas
Leonardo Teixeira de SALES; Leocy Cutrim dos SANTOS FILHO; José Milton
BARBOSA; Rogério Souza de JESUS; Maria do Carmo Figueredo SOARES
23
Arranjos produtivos no sertão nordestino: aqüicultura e pesca
José Milton BARBOSA e Manlio PONZI-JUNIOR
30
Organização do Polo Pesqueiro do Agreste de Pernambuco e Propostas de Ações para a Pesca e
Piscicultura
Sileno Luís de ALCÂNTARA; Márcia Maria Galvão de AGUIAR
38
Artigos Científicos
Reversão sexual em larvas de tilápia-do-nilo Oreochromis niloticus (Linnaeus, 1758) em
diferentes condições ambientais
Ana Paula CORREIA; Ângela Raquel Moraes ALVES; José Patrocínio LOPES; Fátima
Lúcia Brito dos SANTOS
54
Comportamento social e crescimento em alevinos de Parachromis managuensis (Günther,
1867) (Pisces, Cichlidae): uma espécie introduzida no Brasil
José Milton BARBOSA; Ivo Thadeu Lira MENDONÇA; Manlio PONZI JÚNIOR
65
Diagnóstico de ectoparasitas e bactérias em tilápias (Oreochromis niloticus) cultivadas na região
de Paulo Afonso, Bahia
Jeudi Brito de LEMOS; Maria Elizabeth de Barros RODRIGUES; José Patrocínio LOPES
75
Nova metodologia de Hipofisectomia em curimatá Prochilodus brevis (Prochilodontidae)
visando melhor beneficiamento do peixe hipofisectomizado
José Patrocínio LOPES; Jeane Gomes de SOUZA; Maria Conceição Freire ROCHA
91
Contribuição de elódea Egeria densa à piscicultura através da colonização do camarão-canela
Macrobrachium amazonicum no submédio rio São Francisco
Emerson dos SANTOS; Silevagno de Oliveira GOMES; José Patrocínio LOPES
102
Incubadora HB para ovos de peixes de água doce e sua larvicultura
Haroldo Gomes BARROSO
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE PESCA (REPesca)
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO
Objetivo: A Revista Brasileira de Engenharia de Pesca (REPesca) tem por objetivo publicar artigos
resultantes de pesquisa científica e técnicos/informativos, das diversas áreas da Engenharia de Pesca,
com enfoque nas áreas de Aqüicultura e Ecologia Aquática, Técnicas de Pesca, Estatística Pesqueira,
Organismos Aquáticos e Tecnologia do Pescado, prioritariamente redigidos em português, abordando
temas de interesse para o setor pesqueiro.
Informações Gerais: Os originais enviados à Comissão Editorial, que estejam rigorosamente de
acordo com as Instruções aos Autores, serão enviados aos assessores científicos “ad hoc”, indicados
pela Comissão Editorial. O parecer do assessor será transmitido anonimamente aos autores. Em caso
de recomendação desfavorável, será pedida a opinião de um outro assessor. Os trabalhos serão
publicados na ordem de aceitação pela Comissão Editorial e estarão disponíveis na revista on-line.
Preparação de originais: O trabalho a ser considerado para publicação deve obedecer às seguintes
recomendações gerais:
Digitação: ser digitado em letra Times New Roman, tamanho 12, em tamanho A4 e em espaço 1,5
(entre linhas) com uma margem de 2 cm em todos os lados e, justificado à direita e à esquerda, sem
dividir palavras no final da linha. Nomes científicos e palavras estrangeiras devem der grafados em
itálico.
Título: o título deve dar uma idéia precisa do conteúdo e ser o mais curto possível, escrito em letras
maiúsculas, tamanho 12.
Nomes dos autores: Os nomes dos autores devem constar sempre na sua ordem correta, sem inversões,
com o sobrenome maiúsculo, do endereço institucional e seguido do e-mail do primeiro autor ou autor
correspondente. Mais de um autor separar com “;” (ponto e vírgula).
Ciro Mendes CASTOR ([email protected]); José Mário BRAGA
Departamento de Educação, Universidade Federal de Carolina
Maria da Penha PIRILO
Instituto de Pesca de Carolina
Recomendações: os trabalhos devem ser redigidos de forma concisa, com a exatidão e a clareza
necessárias à sua fiel compreensão. Os mesmos (incluindo ilustração e tabelas) devem ser submetidos
por e-mail. Se as figuras forem muito “pesadas” devem ser enviadas em separado, com a indicação do
trabalho a que pertence. As figuras não devem ser “recortadas” e “coladas” e sim “inseridas” no texto.
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
O Resumo e o Abstract – que é iniciado com o título em inglês – devem conter as mesmas
informações e sempre sumariar resultados e conclusões. Não devem ultrapassar 300 palavras e serem
seguidos de no máximo 5 palavras-chaves e Key-words
Os artigos devem ter, no máximo, 15 páginas, incluindo tabelas e figuras, estas restringidas ao
necessário para o entendimento do texto. Artigos mais extensos poderão ser publicados a critério da
Comissão Editorial.
Os artigos devem ter os seguintes itens, em linhas gerais:
Artigos científicos: Resumo (+ Palavras-chave), Abstract (+ Key words), Introdução, Material e
Métodos, Resultados e Discussão (estes dois juntos ou separados), Conclusões (opcional),
Agradecimentos (opcional) e Referências.
Artigos Técnicos/informativos: Resumo (+ Palavras-chave), Introdução, Corpo (desenvolvimento do
assunto) Conclusões (denominados de Comentários Conclusivos ou Finais, Considerações Finais),
Agradecimentos (opcional) e Referências (quando houver citações no texto).
Os nomes dos itens devem ser grafados em letras times New Roman 12, maiúsculas e centralizados,
com um espaço acima e abaixo.
Referências Bibliográficas: No texto, será usado o sistema autor–ano para citações bibliográficas,
utilizando-se “;” (ponto e vírgula), no caso de dois ou mais autores. As referências, devem aparecer em
ordem alfabética. Deverão conter nome(s) e iniciais do(s) autor(es), ano, título por extenso, nome da
revista (abreviado e sublinhado), volume e primeira e última páginas. Citações de livros e monografias
deverão também incluir a editora e, conforme citação, indicar o capítulo do livro. Deve(m) também ser
referido(s) nome(s) do(s) organizador(es) da coletânea. Exemplos:
SELVA, T. R., 1999, Assembléia de Peixes no Rio Farinha, MA. Rev. Brasil. Biol., 10 (2): 33-39.
REIS, J., 1980, Microbiologia, pp. 3-31. In: M. G. Ferri; Motoyama, S. (orgs.), História das
Ciências no Brasil, EDUSP, São Paulo, 468p.
BRITO, N.; DATENA, C. R., 2005, Efeito da dieta sobre o crescimento de miracéu Astrocopus
y-grecum, criado em laboratório, pp.33-37. In: H. G. Barroso (ed.), Biology of the Sea Fishes,
Editora Amazonia, São Luis, 777p.
RIZZINI, C. T., 1979, Tratado de Fitogeografia do Brasil. Aspectos Sociológicos e Florísticos.
HUCITEC, São Paulo, 2 vol., 374p.
PANTALEÃO, N. T.; ONIMO P.; FALCÃO, E., 1947, Contribuição ao estudo das raias do
Brasil. Arq. Zool. 7: 3-13.
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
Os trabalhos que necessitarem de correções serão enviados aos autores para revisão (restrita a erros e
composição) e deverão ser devolvidos imediatamente. Os que não forem devolvidas em tempo hábil (7
dias) terão sua publicação postergada para outra edição, dependendo de espaço.
Material Ilustrativo: Os autores deverão limitar as tabelas e as figuras (ambas numeradas em
arábicos) ao estritamente necessário e podem ser inseridas no próprio texto do manuscrito.
As tabelas deverão ter sua própria legenda, auto-explicativa, acima da mesma e as figuras, abaixo.
Símbolos e abreviaturas devem ser definidos nas legendas.
Na preparação do material ilustrativo e das tabelas, deve-se ter em mente o tamanho da página útil da
REVISTA. Desenhos e fotografias muito grandes devem ser evitados, pois poderão perder a nitidez
quando forem reduzidos.
As ilustrações devem ser agrupadas, sempre que possível. A Comissão Editorial reserva-se o direito de
dispor esse material do modo mais econômico, sem prejudicar sua apresentação.
Todos os desenhos devem ser nítidos e apresentados de tal forma que seja possível sua reprodução sem
retoques, deve-se ter cuidado as figuras copiadas da internet.
Disquete e CD: Os autores podem a enviar seus manuscritos em disquete ou CD. Textos devem ser
preparados em Word for Windows.
Atenção: Antes de remeter o trabalho, o autor deve verificar se está de acordo com as instruções
anteriores, atentando ainda para os seguintes itens: correção gramatical, correção da digitação,
correspondência entre os trabalhos citados no texto e os referidos na bibliografia, tabelas e figuras em
arábicos, correspondência entre os números de tabelas e figuras citadas no texto e os referidos em cada
um e posição correta das legendas.
Nunca use negrito no texto, em parte ou para destacar expressões.
Dúvidas sobre estas normas podem ser dirigidas a Comissão Editorial.
José Milton Barbosa/Haroldo Gomes Barroso
E-mail exclusivo da REPesca para contato e envio de trabalhos:
[email protected]
A Repesca está disponível no site da Universidade Estadual do Maranhão/Engenharia de Pesca:
www.engenhariadepesca.uema.br
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
I - ARTIGOS TÉCNICOS/INFORMATIVOS
A PESCA NA ZONA ECONÔMICA EXCLUSIVA, ZEE: SUA IMPORTÂNCIA PARA O
BRASIL
Fábio H. V. HAZIN ([email protected])
Departamento de Pesca e Aqüicultura, Universidade Federal Rural de Pernambuco
A produção mundial de pescado por captura saltou de 17 milhões de toneladas, em 1950, para
35 milhões, em 1960, representando, assim, um crescimento de 100% em uma única década. A partir
dos anos 70, porém, a taxa de crescimento passou a declinar de forma acentuada, levando duas décadas
para a produção vir a dobrar novamente, alcançando cerca de 70 milhões de toneladas, somente em
1980. Nas duas décadas que se seguiram, a taxa de crescimento caiu ainda mais, reduzindo-se para
35%, com a produção em 2003 atingindo apenas 90 milhões de toneladas. Na verdade, essa
desaceleração do crescimento indica uma aproximação do limite da capacidade produtiva dos estoques
explotados. A Organização para Alimentação e Agricultura das Nações Unidas, FAO, estimou que em
2005 a produção mundial de pescado por captura atingiu o seu nível máximo, próximo a 105.000.000t.
A referida Organização estima ainda que 7% dos estoques de pescado no mundo estão exauridos, 16%
estão sobre-explotados, 52% plenamente explotados e 1% em recuperação. Assim sendo, cerca de
apenas 25% dos estoques existentes apresentariam alguma possibilidade de expansão.
Apesar de sua grande extensão costeira, com cerca de 8.500km de costa no Atlântico Sul, o
Brasil possui uma produção pesqueira bastante reduzida, ocupando a 27a posição entre os países
produtores, atrás de nações como Vietnã, Bangladesh e Myanmar. Em grande parte, a tímida
participação brasileira nos desembarques mundiais de pescado deve-se às condições oceanográficas
prevalecentes nos mares brasileiros, as quais não favorecem uma elevada produtividade. Diversos
entraves políticos e estruturais, porém, também têm contribuído historicamente para esta situação.
A produção pesqueira nacional por captura cresceu significativamente entre 1967 e 1973,
saltando de 435.000 t para 750.000 t, um crescimento equivalente a 70%, em 6 anos, crescimento este,
em grande medida, propiciado pelos incentivos fiscais instituídos pelo Decreto-Lei 221. Nos 12 anos
seguintes, entre 1973 e 1985, a taxa de crescimento caiu para menos da metade, alcançando cerca de
30%, para o período, com uma produção desembarcada, em 1985, igual a 970.000 t. A partir deste
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máximo, a produção pesqueira nacional entrou em declínio, caindo para 650.000 t, em 1995,
significando uma retração de 30% em uma década. A razão para esta forte queda na produção foi à
exaustão dos estoques, resultante da falta de planejamento e do conseqüente crescimento desordenado
vivenciado pelo setor, o qual resultou em um esforço de pesca fortemente concentrado na pesca
extrativa e nos recursos costeiros. Mesmo hoje, a maior parcela (45%) da produção nacional de
pescado provêm da pesca costeira, com a pesca oceânica apresentando uma participação, embora
crescente, ainda reduzida (apenas 7%). A pesca continental responde por 25% e a aqüicultura pelos
demais 23%. A pergunta que se impõe, portanto, é: quais as alternativas para o crescimento da
produção brasileira de pescado?
No segmento da pesca costeira e continental, considerando-se a atual condição de esgotamento
da maioria dos estoques, já não há praticamente qualquer possibilidade de expansão das capturas. A
recuperação do setor deve ser, assim, buscada a partir do aprimoramento dos instrumentos de gestão,
ordenamento e fiscalização, no sentido de assegurar a sustentabilidade da atividade, além de iniciativas
que permitam agregação de valor ao produto capturado, sem que haja necessariamente uma ampliação
da produção. Entre as alternativas disponíveis para se estimular a recuperação do setor estão: a)
desenvolvimento da aqüicultura, particularmente em escala familiar; b) organização da base produtiva
(associativismo, cooperativismo e gestão); c) desenvolvimento de técnicas de beneficiamento e
conservação do pescado que permitam a agregação de valor ao produto capturado; d) desenvolvimento
de novas tecnologias de captura, que permitam a explotação de novos estoques; e) política de crédito
adequada à atividade e voltada para a melhoria de infra-estrutura, aparelhos de pesca e embarcações; f)
capacitação e treinamento nas várias fases da cadeia produtiva, incluindo a alfabetização dos
pescadores e dos seus filhos; e g) aprimoramento dos processos de comercialização.
Cabe destacar a importância do trabalho desenvolvido pelo Programa REVIZEE- Programa de
Avaliação dos Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva Brasileira, em relação às avaliações de
estoque das espécies existentes sobre a plataforma continental e quanto à descoberta de novos recursos
pesqueiros presentes no talude continental, como o peixe-batata Lopholatilus villarii, o cherne
Epinephelus spp. e o caranguejo-de-profundidade Chaceon epp., na costa nordestina. Essas espécies,
entretanto, habitam águas frias (abaixo da termoclina/+200m), possuindo um ciclo de vida longo e área
de distribuição estreita, o que implica um potencial de explotação relativamente reduzido.
Em relação à pesca oceânica, a situação é bastante diversa. No Oceano Atlântico, atualmente,
são capturadas cerca de 600.000t de atuns e espécies afins, por ano, correspondendo a um valor da
ordem de US$ 4 bilhões. A participação brasileira neste total, contudo, é ainda bastante tímida, com
uma produção próxima a 40.000t, o que representa cerca de apenas 7% do total capturado.
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
Considerando-se, porém, que praticamente a metade da produção brasileira é de bonito listrado, uma
das espécies de atum de menor valor comercial, capturada quase que inteiramente dentro da ZEE, a
participação nacional, em termos de valor, é ainda muito mais reduzida.
Os recursos pesqueiros oceânicos apresentam uma série de vantagens comparativas, em relação
aos recursos costeiros, dentre os quais pode-se destacar: a) grande proximidade das principais áreas de
pesca, no caso do Brasil; b) algumas espécies capturadas, como as albacoras, apresentam um alto valor
comercial para exportação, constituindo-se em uma importante fonte de divisas para o País; c) outras
espécies, também presentes nas capturas, como os tubarões e agulhões, apresentam preço relativamente
baixo, apesar do seu excelente valor nutritivo, representando uma importante fonte de proteínas para a
população de baixa renda; d) ciclo de vida independente dos ecossistemas costeiros, já intensamente
degradados; e) ampla distribuição; e f) biomassa elevada. Uma vantagem adicional é que, desde que
adequadamente planejado, o desenvolvimento da pesca oceânica nacional poderia resultar em uma
redução do esforço de pesca sobre os estoques costeiros, já sobre-explotados.
A produção nacional de atuns e afins cresceu de pouco mais de 20.000t, em 1995, para mais de
40.000t, em 2001, em decorrência, principalmente, da ampliação dos arrendamentos promovidos pelo
DPA/ MAPA (Departamento de Pesca e Agricultura do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento). Entre 2002 e 2004, porém, a produção de atuns e afins decresceu quase 40%,
principalmente em função da retração da frota espanhola, em retaliação à ampliação da quota brasileira,
e da frota chinesa, em função de dificuldades para o adequado cumprimento da legislação nacional. Tal
situação, evidentemente, expõe a elevada vulnerabilidade do País, em função de sua dependência da
frota estrangeira.
Para que o País consiga ampliar a sua participação na pesca oceânica, precisa consolidar uma
frota pesqueira oceânica nacional, ampliar quotas de captura, formar mão-de-obra especializada e gerar
conhecimento científico e tecnológico sobre as espécies explotadas. As principais dificuldades para o
desenvolvimento da pesca oceânica nacional são a falta de mão-de-obra especializada, de tecnologia e
de embarcações adequadas, as quais, devido ao seu elevado custo, encontram-se, muito comumente,
além da capacidade de investimento das empresas de pesca nacionais.
No intuito de superar tais dificuldades e de fomentar o desenvolvimento da pesca oceânica, o
governo brasileiro tem realizado um grande esforço, a partir de diversos instrumentos, que incluem
desde o arrendamento de barcos estrangeiros, passando pela sua importação, até o apoio à construção
de embarcações pesqueiras no país, aspecto crucial para a consolidação de uma frota genuinamente
nacional, sem o que o País jamais conseguirá ingressar de forma definitiva no fechado clube dos
grandes pescadores de alto mar.
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
A necessidade de fomentar o desenvolvimento da pesca oceânica brasileira foi, assim, um dos
principais motivadores para a criação do Programa de Financiamento da Ampliação e Modernização da
Frota Pesqueira Nacional, PROFROTA.
Como os estoques pesqueiros oceânicos, porém, também já estão sendo explotados em níveis
próximos do limite sustentável, a ampliação da produção brasileira dependerá diretamente da sua
capacidade de negociação com os países pesqueiros tradicionais, no âmbito da ICCAT- Comissão
Internacional para a Conservação do Atum Atlântico, assim como na FAO, no seu Comitê de Pesca, na
OMC e na própria ONU. Ocorre que os atuns e afins são espécies altamente migratórias com suas
populações distribuindo-se por todo o Oceano Atlântico ou hemisfério oceânico. A albacora-bandolim
capturada por barcos nacionais, por exemplo, pertence à mesma população explorada pelos barcos
norte-americanos na costa do Maine, ou pelos barcos espanhóis na Baía de Biscay, uma vez que há
uma única população em todo o Atlântico. Já a albacora-branca que o Brasil captura no nordeste
brasileiro faz parte do mesmo estoque explorado pelos sul-africanos e namibianos, na costa africana.
Ou seja, são todos estoques internacionais, explotados simultaneamente por vários países.
Não existe, assim, atum brasileiro. O atum brasileiro é somente aquele pescado por barcos
nacionais ou estrangeiros arrendados a empresas brasileiras e desembarcado nos portos do País. É
exatamente em função disto, por serem recursos internacionais e altamente migratórios, que o seu
ordenamento tem que ser realizado por um organismo internacional, no caso a Comissão Internacional
para a Conservação do Atum Atlântico- ICCAT, da qual o país é membro desde a sua fundação, aliás,
na cidade do Rio de Janeiro, em 1966. A ICCAT possui um corpo científico, denominado de Comitê
Permanente de Pesquisa e Estatística (SCRS- Standing Committee on Research and Statistics),
integrado por pesquisadores dos vários países membros, e uma Comissão política.
De uma maneira simplificada, a ICCAT funciona da seguinte forma: todos os anos o SCRS se
reúne e define os limites sustentáveis de captura das diversas espécies explotadas. Subseqüentemente, a
Comissão política decide como a captura máxima permitida (TAC- Total Allowable Catch) será
repartida entre os vários países membros. Um ponto fundamental, neste contexto, é que a grande
maioria, se não a totalidade, das espécies de atuns e afins já estão sendo capturadas no limite de suas
capacidades máximas sustentáveis, ou seja, não há, concretamente, como se ampliar a captura total de
atuns no Oceano Atlântico sem comprometer a sustentabilidade dos seus estoques. Neste sentido, a
posição do governo brasileiro tem sido sempre a de defender o respeito aos limites máximos
sustentáveis de captura, com a mesma ênfase com que tem defendido o direito do País de desenvolver a
sua pesca oceânica. Ou seja, o tamanho da torta de atum do Atlântico deve ser respeitado, mas o
tamanho da fatia brasileira tem que aumentar. Assim sendo, é evidente que o crescimento da produção
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
nacional de atuns e afins implicará necessariamente a redução das capturas por parte dos países
pesqueiros tradicionais, como Espanha, Japão, Taiwan, etc. Considerando-se que esta atividade no
Oceano Atlântico envolve valores da magnitude de US$ 4 bilhões, conforme dito acima, é fácil
compreender a forma agressiva com que os países pesqueiros tradicionais têm defendido a sua
hegemonia histórica nesta atividade.
É óbvio, também, que o atum que o Brasil não pescar, será pescado por outras nações. O que
precisa ser compreendido é que há, claramente, uma guerra em curso: a guerra pelos recursos atuneiros
do Atlântico, travada entre os países pesqueiros tradicionais e os países em desenvolvimento com
pescarias emergentes.
É preciso, também, contextualizar o momento político atravessado pela ICCAT hoje. A entrada
em vigor da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, em novembro de 1994, e do
Acordo das Nações Unidas sobre as Espécies de Peixes Transzonais e Altamente Migratórias, em
Dezembro de 2001, estabeleceu um arcabouço jurídico com base no qual os países pesqueiros em
desenvolvimento conquistaram uma condição muito mais favorável de ampliar as suas quotas de
captura, a partir do pleno reconhecimento do seu direito de desenvolverem sua pesca oceânica.
Foi com base nestes e em outros instrumentos jurídicos internacionais, como o Código de
Conduta para uma Pesca Responsável, da FAO (Organização para Alimentação e Agricultura das
Nações Unidas), com os seus Planos Internacionais de Ação correlatos, que o Brasil conseguiu aprovar
na ICCAT, em novembro de 1998, um Grupo de Trabalho para a Definição de Novos Critérios para
Alocação de Quotas de Captura. Finalmente, em 2001, após 4 longas reuniões, marcadas por
negociações duríssimas, a ICCAT terminou por aprovar uma lista de 27 novos critérios, em
substituição ao critério de capturas históricas, até então utilizado de forma quase que exclusiva pela
Comissão na distribuição de quotas de captura. Entre os novos critérios aprovados, incluem-se, por
exemplo, a ocorrência do estoque na Zona Econômica Exclusiva do país, a necessidade de se
privilegiar a pesca artesanal e de pequena escala, a importância do estoque para as comunidades
costeiras, entre outros.
A vitória dos países em desenvolvimento foi resultado de sua sólida argumentação jurídica,
fundamentada nos instrumentos citados. Segundo o critério de capturas históricas, as quotas eram
tradicionalmente divididas em função dos montantes capturados pelo País nos últimos anos, ou seja, os
países desenvolvidos com pescarias tradicionais perpetuavam a sua hegemonia, enquanto os países em
desenvolvimento viam os seus direitos legítimos de desenvolverem sua pesca oceânica tolhidos. Assim
foi que em uma reunião realizada na Paraíba, em Julho de 1997, ao Brasil coube apenas 16% (2.340 t)
14
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
da quota do espadarte do Atlântico Sul, cabendo à Espanha e ao Japão (países sem costa no Atlântico
Sul), respectivamente, 40% e 26%.
Vale ressaltar que até o ano de 1987 a Espanha não possuía qualquer captura no Atlântico Sul.
Naquele ano, em decorrência da aplicação de medidas de limitação das capturas no Atlântico Norte, a
Espanha deslocou boa parte da sua frota para o Atlântico Sul com o objetivo óbvio de construir um
histórico de captura, que assegurasse a sua hegemonia quando de uma futura alocação de quotas, como
de fato aconteceu. De zero t, em 1987, a captura espanhola de espadarte no Atlântico Sul alcançou já
no ano seguinte, em 1988, 4.400 t, saltando para 9.622 t, em 1996, ano anterior ao da reunião da
Paraíba, 1997, quando as quotas de captura para os anos de 1998 a 2000 foram estabelecidas.
Nas reuniões da ICCAT em 2000 e 2001, grande parte em função de um endurecimento da
posição brasileira, não foi possível se alcançar um consenso para distribuição das quotas de espadarte
no Atlântico Sul. Finalmente, na reunião da ICCAT realizada em Bilbao, em 2002, com base nos novos
critérios de captura, a delegação brasileira conseguiu aumentar a quota para o País no Atlântico Sul, de
2.340 t, para 4.086 t, em 2003, crescendo deste ano em diante até atingir 4.365t (ou 27,2% do total), em
2006. Além disto, conquistou, também, pela primeira vez, o direito de pescar até 200t no Atlântico
Norte, além de haver sido perdoado da penalidade de 1.500t que deveria descontar em função do seu
excesso de captura em 1998.
Em função dessas conquistas, imediatamente após a reunião da ICCAT, o Governo da Espanha,
em retaliação, proibiu a continuidade das operações dos barcos espanhóis arrendados a empresas
brasileiras. O despacho do Secretário Geral de Pesca Marítima do Ministério de Agricultura, Pesca e
Alimentação da Espanha, datado de 05/12/2001, no qual baixa a referida ordem, é bastante
esclarecedor acerca de como as autoridades daquele país compreendem a gestão dos recursos atuneiros
do Atlântico: “As razões para impedi-lo (o arrendamento) são sólidas e se fundamentam na melhor
defesa do patrimônio espanhol gerado pelos direitos históricos na pesca de espadarte e outras
espécies reguladas pela ICCAT”.
Uma grande dificuldade enfrentada pelo País no processo de negociação foi, e continua sendo, o
fato dos principais adversários serem também os nossos principais mercados (Espanha, EUA e Japão).
Assim, o Brasil tem disputado com estes países o direito de pescar mais, em grande parte com barcos
arrendados aos mesmos, para vender o peixe capturado para eles. É evidente, que tal circunstância
torna o País altamente vulnerável, em função da possível utilização por parte dos mesmos de barreiras
comerciais, sejam estas de natureza tarifária ou não. Um outro argumento recorrente tem sido o de que
o país não deve receber quotas de captura se não tem a capacidade de utilizá-las de forma plena. Neste
contexto, uma outra batalha dificílima, finalmente vencida também na reunião da ICCAT em Bilbao,
15
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
foi o reconhecimento formal por parte da Comissão, refletido na Recomendação 02/21 (Art. 5), de que
as capturas realizadas pelos barcos arrendados pertencem ao país arrendatário (Brasil).
Note-se que esta batalha vem sendo travada também em outros fóruns internacionais,
particularmente no Comitê de Regras de Origem, da Organização Mundial do Comércio (OMC). Aliás,
pulverizar a agenda internacional da pesca em diversos fóruns tem sido uma das estratégias dos países
pesqueiros tradicionais para preservar a sua hegemonia, apostando na tradicional dificuldade dos países
em desenvolvimento de acompanhar os desdobramentos internacionais, em decorrência de suas
deficiências de coordenação interna.
Com a retirada dos barcos espanhóis arrendados, a aposta da Espanha foi a de que o Brasil não
conseguiria utilizar a integralidade de sua quota a partir de 2003, o que de fato se confirmou, aspecto
que deverá trazer grandes dificuldades para o País na rodada de negociações prevista para novembro de
2006, quando as quotas deverão ser revistas. A batalha dos países em desenvolvimento pelo direito de
ampliarem as suas capturas, entretanto, de certa forma, já foi vencida a partir da aprovação dos novos
critérios.
Há, ainda, duas outras grandes dificuldades conjunturais que vêm diminuindo sobremaneira a
capacidade competitiva da pesca oceânica nacional: a defasagem cambial e o preço do petróleo. O
valor do Real frente ao Dólar atingiu em 2006 níveis próximos à metade do que se verificou no início
da década reduzindo, portanto, substancialmente a margem de lucro do pescado exportado. Por outro
lado, em função de um aumento de quase sete vezes no preço do petróleo no mesmo período, o custo
do diesel e do frete, particularmente o aéreo, subiram de maneira bastante forte, aumentando
simultaneamente o custo de operação e de exportação do produto capturado.
Cabe destacar, por fim, que o desenvolvimento da pesca oceânica nacional não diz respeito
apenas à produção de pescado, nem à geração das divisas, empregos e renda dela resultantes, ele
implica também a efetiva ocupação, não apenas da Zona Econômica Exclusiva, mas das águas
internacionais do Atlântico Sul, essencial à plena realização da estatura geopolítica do País.
Por fim, cabe destacar a grande importância da maricultura para a produção nacional de
pescado, já respondendo por mais de 100.000t anuais. O crescimento da carcinicultura nacional, assim
como do cultivo de salmão no Chile, para dar um exemplo, sinalizam o enorme potencial para o
desenvolvimento da atividade. Cabe notar, neste contexto, que somente de salmão e truta, o Chile já
produz cerca de 600.000t, valor superior a toda a produção nacional pela pesca e aqüicultura marinha
(585.000t). Uma fazenda de cultivo de beijupirá, por exemplo, com 48 gaiolas de 500m2 cada e
ocupando uma área de apenas 2,5 ha, poderia produzir cerca de 5.000t/ ano.
16
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
em 1988, 4.400 t, saltando para 9.622 t, em 1996, ano anterior ao da reunião da Paraíba, 1997, quando
as quotas de captura para os anos de 1998 a 2000 foram estabelecidas.
Nas reuniões da ICCAT em 2000 e 2001, grande parte em função de um endurecimento da
posição brasileira, não foi possível se alcançar um consenso para distribuição das quotas de espadarte
no Atlântico Sul. Finalmente, na reunião da ICCAT realizada em Bilbao, em 2002, com base nos novos
critérios de captura, a delegação brasileira conseguiu aumentar a quota para o País no Atlântico Sul, de
2.340 t, para 4.086 t, em 2003, crescendo deste ano em diante até atingir 4.365t (ou 27,2% do total), em
2006. Além disto, conquistou, também, pela primeira vez, o direito de pescar até 200t no Atlântico
Norte, além de haver sido perdoado da penalidade de 1.500t que deveria descontar em função do seu
excesso de captura em 1998.
Em função dessas conquistas, imediatamente após a reunião da ICCAT, o Governo da Espanha,
em retaliação, proibiu a continuidade das operações dos barcos espanhóis arrendados a empresas
brasileiras. O despacho do Secretário Geral de Pesca Marítima do Ministério de Agricultura, Pesca e
Alimentação da Espanha, datado de 05/12/01, no qual baixa a referida ordem, é bastante esclarecedor
acerca de como as autoridades daquele país compreendem a gestão dos recursos atuneiros do Atlântico:
“As razões para impedi-lo (o arrendamento) são sólidas e se fundamentam na melhor defesa do
patrimônio espanhol gerado pelos direitos históricos na pesca de espadarte e outras espécies
reguladas pela ICCAT”. Uma grande dificuldade enfrentada pelo País no processo de negociação foi, e
continua sendo, o fato dos principais adversários serem também os nossos principais mercados
(Espanha, EUA e Japão).
Assim, o Brasil tem disputado com estes países o direito de pescar mais, em grande parte com
barcos arrendados aos mesmos, para vender o peixe capturado para eles. É evidente, que tal
circunstância torna o País altamente vulnerável, em função da possível utilização por parte dos mesmos
de barreiras comerciais, sejam estas de natureza tarifária ou não. Um outro argumento recorrente tem
sido o de que o país não deve receber quotas de captura se não tem a capacidade de utilizá-las de forma
plena. Neste contexto, uma outra batalha dificílima, finalmente vencida também na reunião da ICCAT
em Bilbao, foi o reconhecimento formal por parte da Comissão, refletido na Recomendação 02/21 (Art.
5), de que as capturas realizadas pelos barcos arrendados pertencem ao país arrendatário (Brasil). Notese que esta batalha vem sendo travada também em outros fóruns internacionais, particularmente no
Comitê de Regras de Origem, da Organização Mundial do Comércio (OMC). Aliás, pulverizar a
agenda internacional da pesca em diversos fóruns tem sido uma das estratégias dos países pesqueiros
tradicionais para preservar a sua hegemonia, apostando na tradicional dificuldade dos países em
17
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
desenvolvimento de acompanhar os desdobramentos internacionais, em decorrência de suas
deficiências de coordenação interna.
Com a retirada dos barcos espanhóis arrendados, a aposta da Espanha foi a de que o Brasil não
conseguiria utilizar a integralidade de sua quota de 2003 em diante, o que de fato se confirmou, aspecto
que deverá trazer dificuldades para o País nas negociações prevista para novembro de 2006, quando as
quotas deverão ser revistas. A batalha dos países em desenvolvimento pelo direito de ampliarem as
suas capturas, entretanto, de certa forma, já foi vencida a partir da aprovação dos novos critérios.
Há, ainda, duas outras grandes dificuldades conjunturais que vêm diminuindo sobremaneira a
capacidade competitiva da pesca oceânica nacional: a defasagem cambial e o preço do petróleo. O
valor do real frente ao dólar atingiu em 2006 níveis próximos à metade do que se verificou no início da
década reduzindo, portanto, substancialmente a margem de lucro do pescado exportado. Por outro lado,
em função de um aumento de quase sete vezes no preço do petróleo no mesmo período, o custo do
diesel e do frete, particularmente o aéreo, subiram de maneira bastante forte, aumentando
simultaneamente o custo de operação e de exportação do produto capturado.
Cabe destacar, por fim, que o desenvolvimento da pesca oceânica nacional não diz respeito
apenas à produção de pescado, nem à geração das divisas, empregos e renda dela resultantes, ele
implica também a efetiva ocupação, não apenas da Zona Econômica Exclusiva, mas das águas
internacionais do Atlântico Sul, essencial à plena realização da estatura geopolítica do País.
Por fim, cabe destacar a grande importância da maricultura para a produção nacional de
pescado, já respondendo por mais de 100.000t anuais. O crescimento da carcinicultura nacional, assim
como do cultivo de salmão no Chile, para dar um exemplo, sinalizam o enorme potencial para o
desenvolvimento da atividade. Cabe notar, neste contexto, que somente de salmão e truta, o Chile já
produz cerca de 600.000t, valor superior a toda a produção nacional pela pesca e aqüicultura marinha
(585.000t). Por exemplo, uma fazenda de cultivo de beijupirá, com 48 gaiolas de 500m2 cada e
ocupando uma área de apenas 2,5 ha, poderia produzir cerca de 5.000t/ ano.
• Palestra apresentada no Simpósio: A Segurança das Águas Juridicionais Brasileiras nas Áreas de Exploração
Econômica - Escola de Guerra Naval/Centro de Estudos Político-Estratégicos.
18
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
CONTRIBUIÇÕES PARA O PLANEJAMENTO ESTRATEGICO DA AQÜICULTURA
BRASILEIRA
Rodolfo RANGEL ([email protected] )
Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca
Nos três seminários de aqüicultura do projeto TCP-BRA-300, de fortalecimento institucional da
SEAP-PR, ocorrido nos meses passados (de dezembro de 2005 a maio de 2006) com a participação da
comunidade técnica e cientifica brasileira, os resultados preliminares, serão acervos para subsidiar a
próxima etapa do planejamento estratégico da aqüicultura brasileira.
Recordar que nas prioridades da aqüicultura brasileira estará na aqüicultura familiar, de forma
competitiva e organizada pelo forte apoio institucional, na extensão aqüícola associada ao credito, a
pesquisa e a comercialização. Alem das necessidades dos avanços ambientais e de uma maior
aproximação com a iniciativa privada. Neste contexto é fundamental a participação empresarial em
todos segmentos estimulando mercado, transferindo tecnologia e estabelecendo a parceria com a média,
pequena e micro propriedades no processo de parceria das populações tradicionais e na inclusão social.
Acrescenta a necessidade do crescimento da produção aqüícola de forma diversificada.
Na aproximação da política governamental com a aqüicultura empresarial, nota-se avanços
consideráveis na aqüicultura oceânica. Podendo ser um importante segmento de inovação tecnológicas,
que já vem sendo iniciado no cultivo do beijupirá (Rachycentron canadum).
O domínio tecnológico e a consolidação do mercado na introdução de uma nova espécie,
segundo estarão previstos resultados para períodos de dez a quinze anos. Em menor espaço de tempo
para, talvez, com a continuidade (que já tem atuação de cultivo e da pesquisa do setor privado e
publico) e intensificação da pesquisa e da transferência de tecnologia, nos próximos seis a nove anos
tenha a transferência de tecnologia e a consolidação do mercado da espécie nativa, o pirarucu
(Arapaima gigas) como a marca do peixe brasileiro.
Por outro lado, nos diversos fóruns deste projeto com a comunidade cientifica notou-se uma
preocupação das limitações do crescimento da aqüicultura de tanques-rede em grandes lagos, barragens
e açudes, sobretudo, em águas da união, vinculando a um processo complicado e oneroso na gestão
transversal de licenciamento, outorga e autorização do uso. A unificação institucional do ordenamento
com o desenvolvimento sustentável, sobretudo, fortalecida ao nível de ministério, facilitaria todo este
processo. (assunto que abordaremos com mais detalhes nas próximas edições, visando uma discussão
previa com o setor). Outro aspecto a se considerar refere-se à necessidade da redução do custo de
19
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
ração, que representar cerca 50 % do custo operacional, sobretudo para obter baixo preço de
comercialização do pescado como plataforma de gestão.A redução do preço de ração pode ter sucesso
na produção de insumos e /ou na compra de ração por atacado contando com a organização de toda
cadeia produtiva .Agregar valor no crescimento da industria de cooperativas de couro de pescado é um
dos aspectos que contribuirá na rentabilidade econômica da atividade. Um outro caminho da
rentabilidade da aqüicultura poderá otimizar os lucros, esta na industria de cooperativa de filé de
pescado, bem como, no aproveitamento de subprodutos de pescado (carcaça) na produção de farinha
como insumo de ração e/ou sua interação com a pesca. Talvez concretizando o velho sonho da pesca da
Anchoita.(Engraulis anchoita).
Nota-se também que o exercício da transversalidade nos seminários de aqüicultura desta
cooperação técnica, parece ter efeitos positivo na gestão transversal, sobre o licenciamento, que
predominam em impactos locais, embora, reconheçamos a necessidade da padronização de
procedimentos a níveis estaduais.
Por outro lado, abrem-se perspectivas para uma intensificação de ações em outros ambientes de
cultivos como os pequenos corpos d’água, lagos, viveiros e canais.E na aqüicultura oceânica e de
repovoamento de ambientes naturais.
Os pequenos corpos d’água, do sul da Ásia apresentam em inúmeras potencialidade, que a
exemplo da Índia, chegam a gerar 600 mil toneladas/ano em ocupação de 600mil hectares, podem
constituírem importantes recursos aquáticos para o desenvolvimento do policultivo e do cultivo
consorciado e integrado. No Brasil com potencial, a ser melhor definido.
Imaginar no futuro, uma expansão da ocupação na zona costeira por cultivos simples de algas e
moluscos, como forma de alternativas para as comunidades tradicionais e, sobretudo, atendendo
prioritariamente as trabalhadoras do setor pesqueiro costeiro.
Nota-se também em 78.552 hectares de viveiros existente no Brasil, provavelmente cerca de
21,12 % são ocupadas na zona costeira pela carcinicultura, gerando emprego e contribuído
significativamente no aumento da balança comercial de pescado.Segundo dados do Boletim Estatístico
IBAMA – ABCC, com 16.598 hectares. A ampliação do desenvolvimento sustentável da atividade
nesta região, esta associada ao exercício do zoneamento da zona costeira.
Preliminarmente, a expansão da política de construção de viveiros deve priorizar a sua
interiorização.Esta interiorização da aqüicultura é uma atuação estratégica para o desenvolvimento
sustentável da aqüicultura brasileira. É fundamental estabelecer uma política de construção de viveiros
para a aquicültura brasileira, sobretudo, devido inúmeras analises sobre a margem de lucro são mais
promissora que nos tanques-redes.
20
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
Segundo estudiosos somente no semi-árido nordestino existe um potencial de 18 mil hectares de
áreas degradas consideradas mortas e glebas salinizadas propiciam ao desenvolvimento da aqüicultura.
Poderia em curto espaço de tempo, expandir a interiorização do camarão marinho e dobrar a produção
atual, com resultados significativos na balança comercial de pescado.Acrescenta-se
ainda uma
perspectiva incalculável da expansão de viveiros dulcícolas, para cultivo de peixes e crustáceos. O
aquecimento do mercado do camarão de água doce e a retomada do desenvolvimento da atividade
passam necessariamente no aporte da extensão aquicola e na oferta de pós-larvas e divulgação de um
produto diferenciado de alta palatabilidade e de culinária especifica, associando-se e a pratica do
policultivo pelo tilapicultores de viveiros, ampliando e diversificando a produção local. Além de
incentivar a atividade de monocultivo na carcinicultura de água doce que se desenvolve
predominantemente ao nível de pequena propriedade.
Também expandir a experiência bem sucedida no Amazonas a do cultivo superintensivo do
matrichã (Brycon cephalus) em canais, em áreas de assentamentos.
Buscar a expansão da aqüicultura ornamental gerando emprego e renda, priorizando o mercado
externo de grande perspectiva de crescimento. Além do estimulo a expansão da piscicultura de peixes
ditos “redondos” como, tambaqui (Colossoma macropomum) e o pacu (Piaractus mesopotamicus).
Some-se a isso a necessidade de maiores avanços e estimulo na aqüicultura certificada e
orgânica.
Caberá ainda a iniciativa publica estabelecer programas de gestões de aqüicultura de
repovoamento de ambientes naturais, para integração com a pesca brasileira e melhoria de
produtividades nestes ambientes naturais. Acredita-se que ao longo prazo possamos associá-la a uma
melhoria na taxa de recrutamento das espécies a serem pescadas e/ou de fortalecimento da cadeia
trófica objeto para a pesca .
Estes são apenas alguns dos aspectos que constituirão para o subsidio do planejamento
estratégico da aqüicultura brasileira que a cooperação técnica FAO e SEAP-PR, associará as
contribuições ao relatório do consultor internacional de aqüicultura da FAO Dr. Carlos Wurmann, bem
como, o relatório da oficial de pesca da FAO
Roma Drª. Doris Sotto, que brevemente estará
disponível na pagina http://www.planalto.gov.br/seap/)
Ressalta-se que o projeto se encontra na fase final de aprovação pela FAO-Roma, para ter continuidade
nos próximos meses, provavelmente sendo concluído ainda em 2006
Finalmente, contribuindo para que uma reflexão do futuro do crescimento da aqüicultura
brasileira esteja respaldada no conhecimento e no sentimento da comunidade técnica e cientifica do
crescimento sustentável, estabelecendo a inclusão social e a distribuindo renda e dos avanços das
21
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
parcerias dos setores publico e privado. Que se manifestarão democraticamente na validação do
planejamento estratégico da aqüicultura brasileira para as próximas décadas, e dando em consulta as
suas representações do CONAPE (Conselho Nacional de Aqüicultura e Pesca)/aqüicultura.
22
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
HISTÓRICO DA ASSOCIAÇÃO DOS ENGENHEIROS DE PESCA DO ESTADO DO
AMAZONAS
Leonardo Teixeira de SALES ([email protected]) FAEP-BR; Leocy Cutrim dos SANTOS
FILHO ([email protected]) AEP-AM; José Milton BARBOSA ([email protected])
FAEP-BR; Rogério Souza de JESUS ([email protected]) FAEP-BR; Maria do Carmo Figueredo
SOARES (mcfs@ufrpe) FAEP-BR
INTRODUÇÃO
A AEPA - Associação dos Engenheiros de Pesca da Amazônia, foi fundada em 08 de junho de
1978 para representar e propugnar pelos interesses dos Engenheiros de Pesca que viviam e trabalhavam
na região amazônica. Para alcançar seus objetivos sua abrangência teve caráter regional (Estados do
Amazonas, Acre, Pará e Distritos Federais de Roraima, Rondônia e Macapá). Os engenheiros de pesca
daq região atores desta epopéia estão listados abaixo como membros da primeira diretoria e/ou
fundadores:
PRIMEIRA DIRETORIA
Presidente:
Rigoberto Neide Pontes
Vice-presidente:
Antonio Clerton de Paula Pontes
Primeiro Secretário:
Paulo Ramos Rolim
Segundo Secretário:
Leonardo Teixeira de Sales
Primeiro Tesoureiro:
Clademilson Farias Barreto
Segundo Tesoureiro:
Rolfran Cacho Ribeiro
OBS: Devido ao pequeno número de sócios, não houve eleição para o Conselho Fiscal.
SÓCIOS FUNDADORES:
Antônio Clerton de Paula Pontes (Manaus-AM)
José Cosmo N. de Andrade (Manacapuru-AM)
Antônio Fernandes Dias
(Manaus-AM)
Leonardo Teixeira de Sales (Manacapuru-AM)
Claudemilson Farias Barreto
(Manaus-AM)
Paulo Ramos Rolim
(Manaus-AM)
Efren Jorge Gondim Ferreira
(Manaus-AM)
Rigoberto Neide Pontes
(Manaus-AM)
Flávio Marcelo Correa de Melo
(Manaus-AM)
Rolfran Cacho Ribeiro
(Manaus-AM)
Francisco Jean Frota de Araújo (Rio Branco-AC) Wagner Rocha Silveira
Ivanildo Barbosa de Farias
(Belém-PA)
(Belém-PA)
Em setembro de 1981, numa demonstração de unidade todos os dirigentes da AEPA participaram em
23
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
Recife do II Congresso Brasileiro de Engenharia de Pesca – II CONBEP. Durante a realização do
Congresso, surgiram correntes no âmbito da categoria que defenderam abertamente a extinção da
Federação das Associações dos Engenheiros de Pesca do Brasil -FAEP-BR.
Os sócios da AEPA que participavam do Evento, juntamente com lideranças da AEP-PE
(Raimundo Evangelista Neto, Antônio Lisboa Nogueira, Eudes de Souza Correia e Itamar de Paiva
Rocha) defenderam a manutenção da FAEP-BR e decidiram apoiar e eleger uma Chapa composta
integralmente pelos engenheiros de pesca que trabalhavam na Amazônia e sócios da AEPA, tendo a
frente como candidato e Presidente eleito o Engenheiro Leonardo Teixeira de Sales.
Com a eleição da II Diretoria Executiva da FAEP-BR (1981/1983) composta por Engenheiros
residentes em Manaus / AM, a sede da Federação foi transferida de Brasília-DF para a capital do
Amazonas. Além do presidente Leonardo Sales, a Diretoria Executiva ficou assim composta: vice –
presidente - Antônio Clerton de Paula Pontes; primeiro secretário - Rigoberto Neide Pontes; segundo
secretário - Antônio Fernandes Dias; primeiro tesoureiro - Francisco Jean Frota de Araújo e segundo
tesoureiro - Ivo da Rocha Calado.
A AEPA não mediu esforços pra dar suporte técnico, administrativo e financeiro a FAEP-BR,
durante o período que sua sede esteve em Manaus, contribuindo de forma decisiva para a consolidação
da Federação. Durante o III CONBEP como previa o Estatuto, foi eleita a III Diretoria Executiva da
FAEP-BR que a partir deste período, teve sua sede transferida para Recife-PE, onde permanece até os
dias atuais.
III DIRETORIA DA FAEP-BR (ELEITA EM MANAUS-AM)
Presidente - Raimundo Evangelista Neto; Vice-presidente - Sinfrônio Sousa Silva; Primeira Secretária Isabel Cristina de Sá Marinho; Segundo Secretário - José Dias Neto; Primeiro Tesoureiro - Nilton
Celso Batista de Oliveira; Segundo Tesoureiro - Francisco Ivo Barbosa; Diretores de Política
Profissional - Antônio Clerton de Paula Pontes, Luís Augusto Sisneiros e Claudemilson Farias Barreto;
Diretores de Relações Internacionais - José Augusto Negreiros Aragão, Paulo Parente Lira Cavalcante
e Paulo Roberto Studart Gomes; CONSELHO FISCAL TITULARES - Astrogildo José Gomes de
Melo, Maria de Nazaré Bona de Alencar Araripe e Eudes de Souza Correia; SUPLENTES - Moisés
Almeida de Oliveira, Francisco Arturo Pires de Freitas e Antônio de Almeida Sobrinho (Nogueira,
2005).
24
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
A partir de 1982 a AEPA passou a comemorar no Amazonas o dia 14 de dezembro como o “Dia
Nacional do Engenheiro de Pesca. (Data da colação de grau em Recife-PE da primeira turma de
Engenheiros de Pesca do Brasil).
Diversas foram às atividades desenvolvidas pela AEPA desde a sua criação até a atualidade,
sempre no intuito de divulgar aspectos importantes da profissão e do profissional, destacando-se:
a) O III CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA DE PESCA – CONBEP, realizou-se em
Manaus no ano de 1983, com apoio da FAEP-BR. Esse Congresso beneficiou vários jovens
engenheiros de pesca, recém formados na UFRPE, que ao conhecerem a região amazônica tiveram a
oportunidade de iniciar suas atividades profissionais em função da demanda regional por este tipo de
profissional e da própria vocação natural de região norte com relação aos recursos pesqueiros. Nesta
época a EMATER-AM acolheu um grande número de engenheiros de pesca que passaram a atuar,
principalmente, na Extensão Pesqueira nos diversos escritórios da EMATER, que tinham
representações nos vários municípios do Estado do Amazonas.
Este congresso foi realizado pela AEPA com o apoio da FAEP-BR e sob a presidência do Eng.
Rolfran Cacho Ribeiro, nas dependências do Hotel Tropical Manaus. A abertura oficial realizou-se no
Teatro Amazonas, contando com diversas presenças ilustres, entre elas a do Governador do Estado –
Gilberto Mestrinho e do Presidente do CONFEA – Engenheiro Onofre Braga de Faria, que
oportunamente anunciou a Resolução Nº 279, por ele assinada em 15 de julho de 2003, que discrimina
as atividades profissionais do Engenheiro de Pesca. “Compete ao Engenheiro de Pesca o desempenho
das atividades 01 a 18 do Art. 1º da Resolução nº 218, do CONFEA, de 29 JUN 1973, no referente ao
aproveitamento dos recursos naturais aqüicolas, a cultura e utilização da riqueza biológica dos mares,
ambientes estuarinos, lagos e cursos d’água; a pesca e o beneficiamento do pescado, seus serviços afins
e correlatos.”
B)
APOIO
INCONDICIONAL DOS INTEGRANTES DA
AEPA
PARA A CRIAÇÃO DO TERCEIRO
CURSO
DE
ENGENHARIA DE PESCA DO BRASIL NA UNIVERSIDADE DO AMAZONAS - UA. Em 1979 a UA instituiu em
seu concurso vestibular, cinco vagas para o curso de Engenharia de Pesca. Os discentes, após
realizarem o ciclo básico em Manaus, eram encaminhados à Universidade Federal do Ceará (UFC) para
completarem a sua formação profissional, através de convênio mantido entre as duas instituições.
Em 1988, o Conselho Universitário da antiga UA, hoje UFAM, aprovou o projeto apresentado
pela Faculdade de Ciências Agrárias, de autoria do Prof. Deusimar Freire Brasil, com o apoio de vários
engenheiros de pesca filiados a AEPA, propondo o oferecimento integral do curso no Amazonas.
25
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
(Resoluções No 08/88 do CONSEP e No 19/88 de 6/10/88 do CONSUNI-UA). Assim, teve início, no
primeiro semestre letivo de 1989, a primeira turma do Curso de Engenharia de Pesca integralmente no
Amazonas com o oferecimento de 10 vagas.
c) O I SEMINÁRIO SOBRE VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL DA ENGENHARIA DE PESCA, nos dias 24 e 25 de
agosto de 1995, numa promoção da Federação das Associações dos Engenheiros de Pesca do Brasil FAEP-BR; Associação dos Engenheiros de Pesca da Amazônia - AEPA; Conselho Federal De
Engenharia, Arquitetura e Agronomia - CONFEA e do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura
e Agronomia do Amazonas e Roraima - CREA-AM/RR. e contou com o apoio do Conselho Regional
de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Pernambuco - CREA-PE; do Serviço de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Amazonas - SEBRAE-AM; do Programa Especial de Treinamento do Curso de
Engenharia de Pesca/Universidade do Amazonas - PET/PESCA-CAPES/UA e da Escola Agrotécnica
Federal de Manaus - EAFM.
Este seminário congregou profissionais e estudantes do Setor Pesqueiro a fim de deflagrar um
processo de mobilização nacional para definir uma política adequada ao setor, relevando a sua
importância científica, econômica e social, evidenciando o papel fundamental que o Engenheiro de
Pesca desempenha nesse processo. Apresentou as diversas áreas de atuação do profissional qualificado
na Engenharia de Pesca e discutiu as suas atribuições, sua adequação às peculiaridades das realidades
nacional e regional, com destaque para o setor pesqueiro da região amazônica. Na Tabela 1 é
apresentado o conteúdo programático deste evento, que conseguiu reunir em Manaus Engenheiros de
Pesca que atuavam em quase todas as regiões do país.
Os resultados e sugestões decorrentes dos Grupos de Trabalho (GT), deste evento foi
apresentado, sob a forma de Painel no IX Congresso Brasileiro de Engenharia de Pesca em São Luís do
Maranhão, na última semana de Setembro/95, promovendo uma maior divulgação da ação.
D) INFORMATIVO DA ASSOCIAÇÃO DOS ENGENHEIROS DE PESCA DA AMAZÔNIA, DENOMINADO:
PESCA E
PISCICULTURA, cuja edição no 1 foi editada em Dezembro/1994, durante a gestão 94/95, sendo uma
publicação da AEPA que visava divulgar informações voltadas a Engenharia de Pesca.
26
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
Tabela 1. Conteúdo Programático do I Seminário sobre Valorização profissional da Engenharia de
Pesca, ocorrido em Manaus-AM nos dias 24 e 25/08/1995.
DIA/HORA
TEMA
24.08.95
07:30h
08:00h
Inscrição
Abertura
09:00h
Piscicultura
10:45
Pesca
14:00h
Tecnologia
do Pesado
15:45h
Extensão
Pesqueira
17:00
Formação
de Grupos
de Trabalho
25:08.95
8:00h
Conferências
9:00h
10:00h
14:00h
16:00h
17:30h
18:00h
GT
GT
Relatores
dos GT
Plenário
Mesa
PROGRAMA/PARTICIPANTES
Público alvo: profissionais e estudantes da área
Presidentes do CREA-AM, FAEP-BR, AEPA, SEBRAE,
IBAMA, Reitor da UA, Diretor do INPA, Representante do
Governo do Estado.
Mesa Redonda com participação dos palestrantes:
Eng. de Pesca Geraldo Bernardino - CEPTA/IBAMA/SP
Eng. de Pesca Taciano César - Inst. Ambiental do Paraná/PR
Prof. Deusimar Freire Brasil - DEPESCA / UA
Moderadora: Engª. de Pesca Maria do Carmo F. Soares Presidente da AEPA
Mesa Redonda com participação dos palestrantes:
Eng. de Pesca Efrem Jorge Ferreira - INPA
Eng. de Pesca Pesca Philip Conolly - IBAMA/ SC
Moderador: Eng. Pesca Antônio Nery Oliveira - IBAMA/AM
Mesa Redonda com a participação dos paletrantes:
Eng. de Pesca José Stênio Pinheiro - AMASA / PA
Prof. Dr. Edson Lessi - INPA/AM
Prof. Zeneudo Luna Machado - UFRPE/PE
Moderador: Eng. de Pesca Pedro Roberto de Oliveira - AEPA
Mesa Redonda com participação dos palestrantes:
Eng. de Pesca Ângelo Brás F. Callou - UFRPE/PE
Eng. de Pesca Paulo Ramos Rolim - EAFM/AM
Moderador: Eng. de Pesca Artur S. Dantas - AEPA
Elaboração de propostas sobre a valorização da categoria
profissional dos Engenheiros de Pesca por grandes áreas de
atuação
1. Atribuições do Profissional Engenheiro de Pesca.
Conferencista: Eng. de Pesca Leonardo Teixeira de Sales Presidente da FAEP - BR.
2. Panorama da Piscicultura Brasileira
Conferencista: Geraldo Bernardino. CEPTA / IBAMA/SP
Elaboração de propostas para valorização do Profissional
Continuação dos trabalhos em grupos
Apresentação das propostas elaboradas nos grupos de trabalho
em plenário
Discussão e aprovação das propostas e moções
Encerramento.
27
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
MUDANÇA PARA AEP-AM
A partir de 10 de maio de 2005, cumprindo decisão da Assembléia Geral, a Associação (AEPA)
passou a ser denominada “ASSOCIAÇÃO DOS ENGENHEIROS DE PESCA DO ESTADO DO
AMAZONAS”, designada pela sigla “AEP-AM”, com área de atuação restrita ao Estado do Amazonas,
sede e foro jurídico na Comarca de Manaus. O documento foi lavrado no Cartório do Registro de
Títulos e Documentos sob o número de ordem 16.243 e apontado pelo número 16.269 do Livro de
Protocolo “A”, n.º 15. No mesmo Cartório consta que a Associação Civil tem personalidade jurídica
adquirida desde 28/03/1979, em virtude do primitivo registro lavrado naquela data sob número de
ordem 3.132 no Livro “A” nº 20 de Pessoas Jurídicas.
PRIMEIRA DIRETORIA DA AEP-AM
Presidente: Leocy Cutrim dos Santos Filho; vice-presidente: Sandro Loris Aquino Pereira; Primeiro
Secretário: João Bosco Ferreira da Silva; Segundo Secretário: Leonardo Bruno Barbosa Monteiro;
Primeiro Tesoureiro: Gelson da Silva Batista; Segundo Tesoureiro: Sebastião Batalha Pinto de Souza;
CONSELHO FISCAL TITULARES - Júlio Alberto Dias Siqueira, José Gurgel Rabello e Charles
Hanry Faria Junior; SUPLENTE - Aprígio Mota Moraes; COMISSÃO ELEITORAL - Rogério de
Jesus, Antônio Inhamuns e Leonardo Bruno; COMISSÃO DE FILIAÇÃO - Rigoberto Neide Pontes,
Sandro Loris, Marcelo Barroncas e Nívea Geovana.
A AEP-AM é uma sociedade civil, sem fins lucrativos e que tem como principais objetivos:
α) Congregar os Engenheiros de Pesca que vivem no Estado do Amazonas;
β) Contribuir para o aperfeiçoamento da cultura pesqueira;
χ) Defender os interesses e direitos profissionais dos associados e da classe;
δ) Promover a valorização e a defesa da profissão do Engenheiro de Pesca.
A atual gestão da AEP-AM, através de sua diretoria, participou do XIV CONBEP em Fortaleza
– CE, juntamente com um expressivo número de associados, onde apresentou a proposta vitoriosa da
realização em Manaus-AM, no ano de 2007 do XV CONGRESSO Brasileiro de Engenharia de Pesca –
CONBEP.
A AEP-AM, participou com um stand próprio no evento, divulgando o Estado do Amazonas e
seu potencial pesqueiro. Até a dança folclórica do Boi Bumba animou os participantes, ajudando-os no
convencimento de que o próximo CONBEP precisava ser em Manaus.
28
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
A proposta de Manaus foi vencedora, premiando o esforço dos Engenheiros de Pesca, daquele Estado,
cuja pujança espelha a autivez do povo amazônico.
A AEP-AM é uma das Associações de Engenheiros de Pesca mais antigas do Brasil e encontrase filiada à Federação das Associações dos Engenheiros de Pesca do Brasil – FAEP-BR. Atualmente
possui cerca de 80 associados.
Tabela 2 – Presidentes da AEP/AM com as datas de seus respectivos mandatos.
Nome
Associação
Mandato
Rigoberto Neide Pontes
AEPA
1978 a 1980
Rolfran Cacho Ribeiro
AEPA
1981 a 1983
Ativa – Falta resgatar memória
AEPA
1984 a 1990
Carlos Edward Freitas
AEPA
1991 a 1992
Ativa – Falta resgatar memória
AEPA
1993
Antonio Romildo Ximenes Carneiro*
AEPA
Janeiro a Abril/1994
Maria do Carmo Figueiredo Soares*
AEPA
Abril/1994 a Janeiro/1995
Ativa – Falta resgatar memória
AEPA
1996 a 2002
Charles Hanry Faria Junior
AEPA
2003 a 2004
Leocy Cutrim dos Santos Filho
AEP/AM
2005 a 2007
* Gestões não concluídas por afastamento dos presidentes para doutorado em outros Estados
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MOURA, K. C.; SOARES, M. C. F., 2002. Quarta da Comunicação PET/Pesca. Anais do II JEPEX UFRPE, CD-ROM.
NOGUEIRA, A. J.; BARBOSA, J. M.; SALES, L. T., 2005, A Engenharia de Pesca no Brasil e sua
organização. XIV Congresso Brasileiro de Engenharia de Pesca, Fortaleza-CE. CD-ROM.
SOARES, M. C. F. 2004. Engenharia de Pesca: A profissão, os cursos e o Programa Especial de
Treinamento (PET), Imprensa Universitária UFRPE, Recife, 53 p.
29
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
ARRANJOS PRODUTIVOS NO SERTÃO NORDESTINO: AQÜICULTURA E PESCA
José Milton BARBOSA ([email protected]) e Manlio PONZI JR. ([email protected])
Departamento de Pesca e Aqüicultura Universidade Federal, Rural de Pernambuco.
INTRODUÇÃO
O termo sertão define áreas secas, especialmente no norte ocidental do país. No sentido mais amplo, a
palavra designa regiões longínquas ou pelo menos longe do mar, de forma que o termo deixa implícita
a escassez de água. No entanto, é notável que durante a colonização do Brasil o termo teve um
significado diverso, ligado às aventuras, dos sertanistas, em terras longínquas, distantes das áreas já
colonizadas. Nesta resenha, nos reportamos ao sertão como áreas interiores de baixa pluviosidade,
típicas do Nordeste do Brasil, não sugerindo necessariamente à escassez de água.
O uso da água evolui e democratizou-se, da simples desedentação humana e animal para uso
especializados ligados à arranjos produtivos locais, tais como a pesca e a piscicultura extensiva e mais
recentemente a piscicultura intensiva em tanques redes.
Este trabalho teve por objetivo analisar esta mudança de paradigma e as questões históricas a
ela relacionadas.
RECURSOS HÍDRICOS NO NORDESTE SEMI-ÁRIDO
ÁGUA E AÇUDAGEM NO NORDESTE
O Nordeste do Brasil apresenta uma extensão de cerca de 1,6x106 km2, onde vivem mais de 45
milhões de habitantes. Nesta região, destaca-se espaço semi-árido, designado como o Polígono das
Secas, que ocupa 936.993 km2, ou seja, 60% do território nordestino e se caracteriza por apresentar
temperaturas elevadas durante o ano todo (IBGE, 2002).
As precipitações pluviais concentram-se em poucos meses e são imprevisíveis, o que caracteriza a
existência de grande diversidade climática, incluindo áreas muito secas com menos de 300mm de
chuvas anuais, onde a taxa de evaporação chega a superar a de precipitação e áreas semi-áridas
caracterizadas por isoietas anuais inferiores a 800mm. Esta estratificação é notória no Estado de
Pernambuco (Figura 1). O clima do semi-árido é marcado sobre tudo pela escassez e imprevisibilidade
das chuvas, assim como por uma variabilidade temporal e espacial das precipitações.
As secas no Nordeste são anteriores à colonização, porém sua intensidade vem aumentando com
o crescimento da população no semi-árido, devido às modificações do meio-ambiente, que ocorrem
30
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
-7.0
2200 mm
2100 mm
2000 mm
-7.5
1900 mm
1800 mm
1700 mm
L atitud e
-8.0
1600 mm
1500 mm
1400 mm
-8.5
1300 mm
1200 mm
-9.0
1100 mm
1000 mm
900 mm
-9.5
800 mm
700 mm
-10.0
-42.0 -41.5 -41.0 -40.5 -40.0 -39.5 -39.0 -38.5 -38.0 -37.5 -37.0 -36.5 -36.0 -35.5 -35.0 -34.5 -34.0
Longitude
600 mm
500 mm
400 mm
Figura 1 – Isoietas médias anuais no estado de Pernambuco
lado a lado com o desenvolvimento agro-pecuário, a mais marcada sendo a degradação da cobertura
vegetal (ANDRADE, 1998).
O problema do semi-árido não é apenas decorrente da escassez de chuvas e de temperaturas
elevadas, como também da natureza do solo. Com exceção das serras e das chapadas, beneficiadas por
chuvas orográficas, as formações geomorfológicas do Nordeste semi-árido apresentam grandes
extensões de rochas cristalinas, formando os pediplanos sertanejos, onde as águas das chuvas se
perdem rapidamente, escoadas pela rede fluvial temporária, devido à baixa capacidade de retenção do
solo, fora algumas formações sedimentares ricas em águas subterrâneas. Para conservar a água nessas
áreas, tornou-se necessário a construção de obras hidráulicas, como barreiros, açudes e barragens.
A construção de açudes no Nordeste foi iniciada pelos portugueses, com o objetivo de conduzir
água até os moinhos dos engenhos no início da colonização. Durante a colonização do interior do país,
a açudagem foi uma das estratégias utilizada pelos sertanejos para minimizar os efeitos das secas e
resolver o problema do abastecimento d’água que atingia os colonizadores e os seus rebanhos. Essa
técnica de manejo do meio ambiente, frente à adversidade climática, foi o único meio de suprir a falta
de rios perenes e de fontes permanentes de água no sertão nordestino.
Em 1857 o relatório da comissão, nomeada pelo Imperador D. Pedro II para estudar a
problemática da seca no Nordeste, aconselhava a construção de açudes para conservar a água das
chuvas. Em 1877 o Nordeste foi assolado por uma grande seca, com a morte de cerca de mais de 500
mil pessoas na Província do Ceará e vizinhanças. A falta de água e de alimentos foi tão drástica que
31
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
uma grande massa da humana abandonou o sertão e dirigiu-se para as cidades do litoral ANDRADE,
1999). Essa tragédia, que abalou a opinião pública e a classe política, marcou o início da política
governamental de açudagem no Nordeste. Logo em seguida, foi nomeada uma comissão encarregada
de estudar os meios práticos de abastecer a população, para suprir as suas necessidades e possibilitar a
produção agrícola, com irrigação.
No século XX, o problema da escassez da água agravou-se, com a ocorrência de numerosos e
prolongados períodos de estiagem. O clima do semi-árido, marcado pela intermitência dos rios, as
secas periódicas, e a escassez de água, era o principal fator limitante ao desenvolvimento sócioeconômico regional, cuja solução seria a construção de obras hidráulicas, sem considerar o contexto
social e econômico, as práticas culturais, a estrutura fundiária característica do semi-árido e os direitos
de acesso à água: apropriação e uso múltiplo (ANDRADE, 1980).
Foram criados, a cada seca, órgãos e instituições específicas e desenvolvidos programas de
emergência. Após a proclamação da República foram criadas três comissões: de Açudes e Irrigação; de
Estudos e Obras Contra os Efeitos da Seca e de Perfuração de Poços. Em 1909, estas comissões foram
reunidas na Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (IFOCS), que em 1919, deu lugar ao
Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) (DNOCS, 1940).
Em 1931, o DNOCS programou a construção de onze grandes açudes. O Banco do Nordeste foi o
fruto da seca de 1952, e a SUDENE foi montada depois da seca de 1958. Nos anos setenta, estimava-se
à cerca de 60 mil açudes construídos no Nordeste (GURGEL, 1990) e 100 mil no final do século XX.
Destes, 410 são de grande porte, e acumulam mais de 17,5 bilhões de metros cúbicos de água.
APROVEITAMENTO SOCIAL DOS AÇUDES
A população nordestina está razoavelmente adaptada a conviver com a ausência de
precipitações durante um período anual de até oito meses utilizando a água armazenada em cisternas,
cacimbas, barreiros, poços, açudes e barragens (ANDRADE, 1980). Entretanto, a política de açudagem
nem sempre trouxe os benefícios econômicos esperados para a população na sua maioria ainda
analfabeta, pobre e desestruturada. Apenas 20% dos açudes são usados na distribuição de água, de
forma que pouco ajudam no combate a a seca, devido a baixa capacidade técnica e deficiência no uso
social da água, especialmente no que diz respeito à produção de alimentos, pela pesca e a aqüicultura.
A construção de grandes açudes públicos pelo DNOCS veio acompanhada de uma proposta de
reordenação da estrutura fundiária. à montante do reservatório, a terra era dividida em pequenos lotes,
identificados como “faixa seca”, cuja vocação seria pecuária, e “faixa úmida”, destinada a culturas de
32
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
subsistência. Anos depois, um novo modelo de ordenamento do espaço priorizou a utilização das terras
a jusante com a implementação dos perímetros irrigados. Entretanto em alguns anos apareceram
fenômenos de salinização e de degradação rápida dos solos na maioria dos perímetros irrigados,
limitando seriamente o aproveitamento dessas obras.
Ainda hoje, apesar dos grandes investimentos realizados no semi-árido e das grandes barragens
públicas, a política de combate aos efeitos da seca continua sendo feita de modo emergencial, com
distribuição de cestas básicas e abertura de frentes de trabalho voltada à construção e limpeza de poços,
cisternas e açudes, para amenizar o êxodo rural e a miséria. Há necessidade da busca de novas
atividades que ofereçam alternativas de renda e melhoria dos Índices de Desenvolvimento Humano das
populações sertanejas, que habitam áreas próximas a mananciais d’água.
A criação de organismos aquáticos visando a produção de alimentos e a pesca esportiva, com
forte apelo para o turismo sertanejo desponta como uma atividade capaz de gerar renda e implementar
as atividades turísticas no nosso sertão.
USO MÚLTIPLO DOS RECURSOS HÍDRICOS: ARRANJOS PRODUTIVOS
O uso múltiplo da água contempla: abastecimento humano e animal, suporte a vida vegetal, produção
de alimentos, uso industrial, produção de energia, navegação, recreação e turismo. É relevante lembrar
que, dos mais importantes usos da água, os quatros primeiros visam a vida.
A Agenda 21 da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente aponta a necessidade
de reconhecer o caráter multissetorial do gerenciamento dos recursos hídricos associado ao
desenvolvimento socioeconômico sustentável, bem como os interesses múltiplos na utilização da água
para abastecimento humano, saneamento, agricultura, industria, desenvolvimento urbano, geração de
energia hidroelétrica, transporte, recreação, manejo de terras baixas e planícies alagadas, pesca,
aqüicultura e turismo interior.
A gestão dos recursos hídricos no Brasil, baseada no Código da Água, promulgado em 1934, dá
ênfase ao valor econômico da água, tendo como prioridade o uso para produção de energia elétrica. O
uso da água para irrigação, aqüicultura, saneamento, lazer e turismo vem em segundo plano.
PROVEITAMENTO PESQUEIRO DAS ÁGUAS INTERIORES DO NORDESTE: AQÜICULTURA
PESCA E TURISMO
VALORIZAÇÃO PESQUEIRA DOS AÇUDES
No Brasil, a piscicultura desencadeou-se a partir das décadas de 20 e 30, quando foram
realizados os primeiros trabalhos de Rodolpho von Ihering sobre a reprodução dos peixes, dando um
33
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
grande impulso para essa atividade a partir da década de 70, com a organização e aperfeiçoamento de
várias estações de pesquisa e produção de alevinos (PROENÇA & BITTENCOURT, 1994).
Nos países do primeiro mundo, a aqüicultura foi desenvolvida numa perspectiva empresarial,
enquanto nos países em desenvolvimento esse setor produtivo foi considerado inicialmente como parte
da economia de subsistência. Sendo assim, a atuação do Estado, através de peixamentos de
reservatórios e de financiamento de projetos estruturadores, foi realizado geralmente a fundo perdido,
dirigido às camadas mais pobres da população.
No Nordeste, o DNOCS foi encarregado de implantar e promover a pesca em água doce, através
da produção de alevinos, realização de peixamentos, administração pesqueira, e estatística de pesca,
cadastramento de pescadores e comercialização do pescado. Estima-se que foram introduzidos mais de
100 milhões de alevinos nos açudes públicos e particulares, através de ações empreendidas pela
ADENE, DNOCS e IBAMA. Ao todo, 39 espécies de peixes e 3 de camarões foram trabalhadas, destas
apenas 14 espécies de peixe e 1 de camarão foram bem aclimatadas. Destacando-se as tilápias Tilapia
rendalli e Oreochromis niloticus, o tambaqui, Colossoma macropomum, a pescada-do-piauí
Plagioscion squamosissimus, as curimatãs Prochilodus spp. e o camarão-sossego Macrobrachium
amazonicum (GURGEL & OLIVEIRA, 1987) .
O DNOCS monitorou a pesca em cerca de 100 açudes públicos de 1948 a 1990. Nesse período,
a produção pesqueira média foi de 111,7 kg/ha, variando entre um máximo de 1.011 kg/ha e um
mínimo de 12,7 kg/há, com produtividade pesqueira média dos açudes estimada em 100-200 kg/ha,
sem considerar, entretanto, a idade, o tamanho e a profundidade dos açudes. Os reservatórios mais
antigos são menos produtivos que os recentes. De modo geral, a introdução das tilápias Tilápia rendalli
e Oreochromis niloticus, contribuiu para o aumento da produção pesqueira dos açudes que passou de
43,5 kg/ha em 1960 para 161,4 kg/ha em 1978, sendo essas espécies representando atualmente mais de
30% das capturas (GURGEL & FERNANDO, 1994).
AQÜICULTURA, PESCA ESPORTIVA E TURISMO
A água é pano de fundo para as mais belas paisagens do planeta, e não seria diferente no sertão.
Além do contraste paisagístico gerado pela água em meio ao semi-árido, o que possibilita a oferta de
passeios temáticos, os turistas poderão visitar projetos de criação de peixes em tanques-rede e praticar
pesca esportiva nos mananciais aquáticos e em pesque-pagues.
CRIAÇÃO EM TANQUE-REDE
A criação de peixes em tanques-rede, além de ser uma atividade produtiva importante em
34
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
mananciais aquáticos, pode apresentar um agradável visual, podendo ser um local de visitação e de
compra de peixes pelos turistas e/ou prática de pesca esportiva. Esta atividade é uma realidade em
várias regiões do Nordeste e, em especial, no Médio São Francisco, onde é praticada em larga escala.
PESQUE-PAGUES
Outra alternativa, que apresenta forte apelo turístico e potencial gerador de renda, é o pesquepague e a sua derivação, o pesque-solte. Esta atividade, se bem administrada, é uma atividade lúdica
das mais apreciadas por turistas de todo mundo. O pesque-pague é uma atividade onde se oferece a
estrutura necessária ao pescador: manancial com peixes, bar, banheiros, áreas de lazer para crianças,
estacionamento, e serviços como aluguel de material de pesca e evisceração e escamação dos peixes
capturados.
PESCA ESPORTIVA NOS MANANCIAIS AQUÁTICOS
As estações de piscicultura promovem a desova e propagação artificial de peixes nos
mananciais a do Nordeste, propiciando o desenvolvimento da pesca, dirigidas ao turismo e o
incremento da criação de peixes, de forma extensiva, nos próprios açudes e barragens e de forma
intensiva em tanques-rede.
As principais espécies utilizadas na aqüicultura nordestina e que podem ser dirigidas à pesca
amadora, são as seguintes: tucunarés Cichla ocellaris. (Figura 2), pescada-do-piauí Plagioscion
squamosissimus (Figura 3), surubim Pseudoplatystoma fasciatum (Figura 4), traíra Hoplias
malabaricus (Figura 5), tambaqui Colossoma macropomum (Figura 6), curimatá-pacu Prochilodus
argenteus (Figura 7), piaus Leporinus sp. (Figura 8), acarás Geophagus brasiliensis (Figura 9), tilápia
Oreochromis niloticus (Figura 10) e apaiari Astronotus ocellatus (Figura 11), dentre outras.
A pesca esportiva apresenta grande potencial, como atividade do turismo rural, pela capacidade
de oferecer lazer e entretenimento, além de propiciar emprego e renda às populações locais.
Figura 2 - Tucunaré Cichla ocellaris
Figura 3 - Pescada Plagioscion squamosissimus
35
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
Figura 4 - Surubim Pseudoplatystoma fasciatum
Figura 5 - Traíra Hoplias malabaricus
Figura 6 - tambaqui Colossoma macropomum Figura 7 - Curimatá Prochilodus argenteus
Figura 8 - Piau Leporinus sp.
Figura 9 - Acará Geophagus brasiliensis
Figura 10 -.Tilápia Oreochomis niloticus
Figura 11 - Apaiari Astronotus ocellatus
36
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
BIBLIOGRAFIA
ANDRADE, M. C., 1980, A terra e o homem no Nordeste, 4a ed. Editora Ciências Humanas, São
Paulo, 334p.
ANDRADE, M. C., 1998, A terra e o homem no Nordeste, 6a ed. Editora UFPE, Recife, 427p.
ANDRADE, M. C., 1989, L'intervention de l'Etat et la sécheresse dans le Nordeste du Brésil. In:
Bernard Bret (coord.). Les Hommes face aux sécheresses. Paris, IHEAL & EST Samuel Tasted Ed., p.
391-398.
GURGEL, J.J.S. & FERNANDO, 1994, Fisheries in semi-arid Northest Brazil with references to the
roles tilapias. Int. Revue ges Hydrob. v. 79, n. 1, 77-94.
GURGEL, J.J.S.& OLIVEIRA, 1987, Efeitos da introdução de peixes e crustáceos no semi-árido do
Nordeste brasileiro, Coleção Mossoroense, série B, No 453, Mossoró, 28p.
IBGE, 2002, Censo demográfico de 2000, IBGE, Rio de Janeiro, 591p.
PROENÇA, C.E.M. & BITTENCOURT, P.R.L., 1994, Manual de piscicultura tropical, IBAMA,
Brasília, 196p.
37
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
ORGANIZAÇÃO DO POLO PESQUEIRO DO AGRESTE DE PERNAMBUCO E PROPOSTAS
PARA A PESCA E PISCICULTURA
Sileno Luís de ALCANTARA ([email protected]);
Márcia Maria Galvão de AGUIAR ([email protected])
INTRODUÇÃO
PROJETO RENASCER/PRORURAL-PE
A coleção de água existente no Agreste Pernambucano apresenta um grande potencial para a
produção de pescado, através da pesca artesanal e do cultivo intensivo. No entanto, a pesca extrativa
carece da melhoria da qualidade de técnicas de pesca e de um ordenamento da atividade, visando o
aumento racional da produção e a resolução de conflitos de interesses. No que concerne à aqüicultura,
trata-se de uma atividade com potencial significativo entre as atividades rurais, em face de fatores
capitais como o atual domínio de tecnologia e rentabilidade relativa muito superior à maioria das
culturas tradicionais. O mercado de pescado qualificado seja local, regional ou internacional, apresentase com demanda em franca expansão.
Essa atividade econômica, tratada de forma planejada em toda sua cadeia produtiva, trará aos
beneficiários, uma forte motivação para o aproveitamento racional, respeitando o conceito de
desenvolvimento sustentável.
O PROJETO POLO PEIXE
Os pescadores dos municípios de Belo Jardim, Bonito, Cumaru, Frei Miguelinho, Riacho das
Almas e São Joaquim do Monte são representados por uma Colônia e Asociações que atuam nas
barragens da região do agreste de Pernambuco.
O Projeto Polo Peixe originou-se da idéia, comum aos municípios, de explorar racionalmente o
potencial pesqueiro existente em suas localidades, através de ações com base em um sistema planejado
de desenvolvimento sustentável, que visa mostrar a viabilidade desta ação na geração de novas
oportunidades de trabalho, renda e na perspectiva de melhoria da qualidade de vida das comunidades
rurais, através do aumento da oferta de produtos pesqueiros com valor agregado.
HISTÓRICO E FORMAÇÃO DO CONSELHO DO POLO PESQUEIRO DO AGRESTE - COPESCA
As ações de organização das comunidades pesqueiras levadas a efeito nos municípios de Belo
Jardim, Bonito, Cumaru, Frei Miguelinho, Riacho das Almas e São Joaquim do Monte (Figura 1),
resultaram na criação ou fortalecimento de entidades. Congregando representantes das Associações e
38
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
ESTADO DE PERNAMBUCO
Surubim
Cumaru
Frei Miguelinho
Riacho das Almas
Belo Jardim
São Joaquim do Monte
Bonito
Recife
Figura 1. Polo Pesqueiro no agreste pernambucano
Colônia de Pescadores, Conselhos Municipais de Desenvolvimento e Prefeituras, foi criado o Conselho
do Polo Pesqueiro do Agreste – COPESCA, com a proposta de reger a administração, o ordenamento e
o desenvolvimento de um Polo pesqueiro em sete municípios na região do Agreste Pernambucano,
denominado Projeto Polo Peixe.
O COPESCA é formado com a participação de três representantes por município, sendo um
representante da Associação dos Pescadores, um representante do Conselho Municipal de
Desenvolvimento e um representante do Governo Municipal.
O município de Surubim, através da Associação de Pescadores, não vinha participando do Polo
pesqueiro mesmo sendo um dos fundadores, sendo reintegrado recentemente, razão pela qual não foi
incluída no diagnóstico. Surubim, assim como Cumaru, Frei Miguelinho e Riacho das Almas margeiam
a barragem de Jucazinho.
A exploração sustentável do potencial da região pode ser avaliada, inicialmente, através do seu
estudo nas principais barragens que compõe o Polo Peixe, que possuem juntas capacidade de
acumulação de água de aproximadamente 416.200.000 m3 (Figura 2).
39
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
40.000.000; 10%
49.200.000; 12%
327.000.000; 78%
Jucarzinho (Cumaru, Frei Miguelinho, Riacho das Almas e Surubim)
Prata (Bonito e S. Joaquim dos Montes)
Ipojuca, Bitury e Tabocas (Belo Jardim)
Figura 2 - Capacidade aproximada de água das barragens do agreste
pernambucano (416.200.000 m3)
OBJETIVOS DO PROJETO POLO PEIXE
O objetivo geral do Projeto Polo Peixe é a melhoria da qualidade de vida das comunidades
integrantes do Polo, através da exploração racional da pesca artesanal e da aqüicultura na região.
São objetivos específicos:
ƒ
O fortalecimento organizacional das comunidades pesqueiras
ƒ
A geração de trabalho e renda para pescadores e aqüicultores
ƒ
O envolvimento de mulheres e jovens nos processos produtivos
ƒ
A legalização das atividades de pesca e aqüicultura, destaque à utilização adequada das águas
públicas.
ƒ
A geração de alternativa de produção para produtores rurais
ƒ
A qualificação, diversificação (transformação) e agregação de valores aos produtos pesqueiros
ƒ
O estímulo à educação formal; e
ƒ
A criação de um centro de referência para a comercialização do pescado.
ENTIDADES PARCEIRAS
Entendendo a importância da formação de parcerias, o Polo Peixe vem mantendo contatos com
entidades governamentais, não governamentais e iniciativa privada, objetivando a consolidação de
ações complementares. Dentre as instituições contatadas, citamos:
•
Prorural/Projeto Renascer
•
Companhia Pernambucana de Saneamento – COMPESA
•
Companhia Pernambucana de Meio Ambiente – CPRH
40
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
•
Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária - IPA
•
Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca - SEAP/PR
•
Secretaria de Ciência Tecnologia e Meio Ambiente - SECTMA
•
Programa de Pós Graduação em Extensão Rural e Desenvolvimento Local/Universidade
Federal Rural de Pernambuco - POSMEX /UFRPE.
•
Departamento Nacional de Obras Contra a Seca - DNOCS
DIAGNÓSTICOS DA COLÔNIA E DAS ASSOCIAÇÕES DE PESCADORES
COLÔNIA DE PESCADORES Z-28 DO MUNICÍPIO DE BELO JARDIM, PE
Os pescadores de Belo Jardim estão organizados na Associação de Pescadores de Belo Jardim –
ADEPE Associação e na Colônia Z-28.
A Associação surgiu com o objetivo de unir os pescadores da região, em busca dos objetivos
comuns. Apresntam boas relações pessoais e vivem de comum acordo.
A Colônia é composta por cerca de 150 sócios, com registro de contribuição financeira mensal,
entre os quais quinze mulheres.
O patrimônio de Colônia é o seguinte: um freezer para conservação do pescado, uma sede em
construção - resultado da parceria firmada com a Prefeitura Municipal. Enquanto isso se reúnem às
margens da Barragem, na localidade Prainha, uma vez por mês e a participação dos sócios é regular.
A Prainha, local de desembarque do pescado, tornou-se ponto turístico e de lazer, como:
competições náuticas, apresentação de shows etc, gerenciado pela Colônia Z-28 em parceria firmada
com o município.
Têm parceira ainda com o Conselho de Desenvolvimento Municipal, o Conselho do Polo
Pesqueiro do Agreste e o Projeto Renascer.
As dificuldades são: cerca de cem pessoas não sócias pescam na área de abrangência da
barragem, o que sugere a necessidade da atenção do IBAMA, no que se refere à fiscalização das
embarcações e apetrechos utilizados por esses pescadores; falta de capacitação dos pescadores.
SOBRE A PESCA E A PISCICULTURA
Os apetrechos de pesca predominantes na Barragem do Ipojuca são tarrafa e rede de espera.
Alguns pescam com linha e anzol. As embarcações predominantes são barco e canoa, cerca de 100
unidades. Na maioria das vezes os pescadores trabalham em forma de parceria, dois ou três na mesma
embarcação.
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
Quanto ao pescado capturado, a tilápia nilótica (Oreochromis niloticus) representa 90%, a traíra
(Hoplias malabaricus) e a piaba (Astyanax gr. bimaculatus) representam, cada uma, 5% das espécies
encontradas. No que se refere à quantidade pescador/dia, apontaram 7 kg para a tilápia, 2 kg para a
piaba e 1 kg para a espécie traíra. A variação de peso do pescado: tilápia (200g a 800g), traíra (500g a
1000g) e a piaba (10g a 20g).
Os pescadores trabalham normalmente de segunda a sexta-feira. Reservando o final de semana
para o “descanso” da barragem. Acreditam que nesse período, a água se renova e aumenta o tamanho e
a quantidade do pescado.
Geralmente conservam o produto em gaiolas ou freezeres e quando beneficiam, limpam e
evisceram. O tempo médio de estocagem do pescado é de 3 (três) dias e o número aproximado de
freezeres é de 10 (dez) unidades distribuídos entre os pescadores da região.
A comercialização é realizada na feira livre, diretamente ao atravessador e no mercado público
do município, onde existe local específico para venda do produto. O meio de transporte mais utilizado é
bicicleta ou moto.
Os preços do pescado variam para o atravessador e para o mercado (feira livre). O quilo de
tilápia e traíra é repassado ao atravessador por R$ 3,00 (três reais) e a piaba por R$ 1,50 (um real e
cinqüenta centavos). Para o mercado, o quilo de tilápia e traíra é vendido a R$ 4,00 (quatro reais) e a
piaba por R$ 2,00 (dois reais).
Quanto as principais dificuldades para exercer a profissão, apontam a falta de um espaço adequado para
estocar e beneficiar o produto, bem como a quantidade insuficiente de apetrechos de pesca e
embarcações em situação precária.
O grupo tem interesse em piscicultura através do sistema de tanques-rede, para a tilápia.
Segundo eles, “é como se tivesse fazendo um depósito para guardar o peixe e tirar na hora certa”.
ASSOCIAÇÃO DOS PESCADORES DO MUNICÍPIO DE BONITO
A Associação dos Pescadores do Município de Bonito surgiu com objetivo principal de
“conseguir projetos e investimentos para a pesca e a comunidade se dedicar exclusivamente a esta
atividade”. Quanto às relações interpessoais afirmaram que “em princípio havia desconfiança, mas
agora estão bem, os complicados saíram.”
No que se refere ao patrimônio, citaram a estação de produção de alevinos (construção em
andamento), resultado da parceria firmada com a Prefeitura Municipal e equipamentos: 10 tanquesrede, 01 balança, 1 barco, caixas d’água. Não possuem sede, se reúnem na casa do presidente, uma vez
por mês e a participação é regular.
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
Além dessa parceria, apontaram o Conselho de Desenvolvimento Municipal, o Conselho do
Polo Pesqueiro do Agreste e o Projeto Renascer, como instituições que apóiam a entidade. Ressalta-se
a articulação dessa associação e da Prefeitura Municipal, com instituições que de forma direta ou
indireta atuam na área de manejo e controle de recursos hídricos, tais como: COMPESA, CPRH,
SECTMA, ITEP, UFRPE, IBAMA e RENASCER/Prorural.
Com as mudanças na administração municipal decorrente das eleições de 2004, estão sendo
rediscutidos compromissos assumidos anteriormente pela administração municipal e outros órgãos
públicos acima citados.
A associação é composta por sessenta sócios. Há registro de contribuição financeira mensal e 10
(dez) mulheres participam da entidade, grande parte trabalha na atividade de alguma forma: captura do
pescado e comercialização. Cerca de cinqüenta pessoas, não sócias, pescam na área da barragem.
Como principais dificuldades, apontaram poucos apetrechos de pesca e tanques-rede para o
número de pescadores e oportunismo por parte de alguns pescadores que aparecem quando tem
recursos.
SOBRE A PESCA E A PISCICULTURA
Os apetrechos de pesca predominantes na Barragem do Prata são a rede de espera e a tarrafa.
Alguns pescam com linha e anzol e mergulham com arpão. A embarcação predominante é barco de
madeira a remo, individual, com número aproximado de seis. Como substituto de barcos utiliza-se bóia,
equipamento considerado bastante inadequado.
Quanto ao pescado capturado, as espécies tucunaré (Cichla ocellaris) e traíra são as mais
representativas, com a média de 40% e 30%, respectivamente. O carito – cará (Cichlasoma sp.), a
tilápia (Oreochromis niloticus) e o piau (Leporinus friderici) representam, cada uma, 10% das espécies
encontradas. No que se refere à quantidade pescador/dia, apontaram 6 kg para o tucunaré, 4 kg para a
traíra, 3 kg para a tilápia, 2 kg para o piau e 1kg para o carito zebu. A variação de peso do pescado:
tucunaré (300g a 700g), traíra (400g a 1000g), tilápia (800g a 1500g), piau (20g a 30g) e o carito (100g
a 250g).
Os pescadores trabalham geralmente da quarta-feira ao sábado, reservando os demais dias para
participar das feiras-livres da região.
Conservam o produto em quatro freezeres, de uso comum entre os pescadores da região, com tempo
médio de estocagem de quatro dias. O pescado é comercializado sem nenhum tipo de beneficiamento.
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
A comercialização é realizada na feira livre ou na residência do pescador. Não utilizam meios
de transporte. O preço/Kg do pescado não varia, o tucunaré, a tilápia e traíra custam R$ 4,00 (quatro
reais), o carito zebu a R$ 3,00 (três reais) e o piau a R$ 2,00 (dois reais).
Quanto as principais dificuldades para exercer a profissão apontam o controle rígido de órgãos
ambientais, poluição ambiental proveniente de esgotos domésticos, agrotóxicos utilizados na
agricultura e a falta de segurança na área, como exemplo o roubo de apetrechos de pesca. No que se
refere à poluição ambiental, proveniente de esgotos domésticos, tem havido entendimentos entre
Associação de Pescadores, Prefeitura do Município e órgãos ambientais para minimizar o problema.
O grupo tem interesse em piscicultura através do sistema de tanques-rede para a tilápia.
Segundo eles, “é mais fácil o manuseio, possuem conhecimento da técnica e o custo é menor”.
ASSOCIAÇÃO DOS PESCADORES E PRODUTORES RURAIS DO SÍTIO CAMPOS
NOVOS, MUNICÍPIO DE CUMARU, PE
A associação surgiu com objetivo principal de “unir, fortalecer e gerar riqueza para a
comunidade”. Quanto às relações interpessoais afirmaram “existir conflitos em determinadas épocas,
mas sempre chegam a um acordo”.
A associação ainda não possui patrimônio. Os sócios vêm se reunindo no Grupo Escolar e a
participação é boa. A contribuição é mensal e tem sido efetuada pela maioria.
Apontaram o Projeto Renascer, o Conselho de Desenvolvimento Municipal e o Conselho do
Polo Pesqueiro do Agreste como instituições parceiras dessa entidade.
A associação é composta por aproximadamente 38 sócios cadastrados. Afirmam que cerca de 50
pessoas, não sócias, pescam na área de abrangência da barragem. Citaram ainda a falta de recursos
financeiros e poucos apetrechos de pesca como as principais dificuldades.
SOBRE A PESCA E A PISCICULTURA
O apetrecho de pesca predominante na Barragem de Jucazinho, área de Campos Novos, é a rede
de espera. Alguns pescam com tarrafa. A embarcação predominante é barco ou canoa, com cerca de
quinze. Na maioria das vezes os pescadores trabalham em forma de parceria, duas pessoas na mesma
embarcação.
Quanto ao pescado capturado, a tilápia (Oreochromis niloticus), representa 80%, a traíra (Hoplias
malabaricus), e a piaba (Astyanax gr.bimaculatus) representam, cada uma, 10% das espécies
encontradas. No que se refere à quantidade pescador/dia, apontaram 5 kg para a tilápia, 2 kg para a
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
traíra e 10 kg para a o camarão. A variação de peso do pescado: tilápia (300g a 500g), traíra (1000g a
2000g) e o camarão (10g a 15g).
Os pescadores trabalham geralmente de domingo a domingo. Conservam o produto em sete
freezeres, de uso comum entre os pescadores da região, por um tempo médio de três dias. O pescado é
comercializado, em parte beneficiado (limpo e eviscerado) ou sem beneficiamento.
A comercialização é realizada pelo pescador no mercado municipal ou ao atravessador. O meio
de transporte é moto ou carro de aluguel. Os preços do pescado variam para o atravessador e para o
mercado. O quilo da tilápia é repassado ao atravessador por R$ 2,00 (dois reais), a traíra por R$ 3,00
(três reais) e o camarão a R$ 1,20 (um real e vinte centavos). Para o mercado, o quilo das espécies
tilápia e camarão é vendido a R$ 3,00 (três reais) e a traíra por R$ 4,00 (quatro reais).
O tempo de estocagem, o beneficiamento, e os preços do pescado comercializado são
semelhantes também nas Associações de Frei Miguelinho (Frei Miguelinho) e Couro D’antas (Riacho
das Almas), sendo que em Couro D’antas a piaba é comercializada a R$ 2,00 (dois reais) o kilo.
Quanto as principais dificuldades para exercer a profissão, apontam a falta de valorização e
apoio para a atividade e local para estocar e beneficiar.
O grupo tem interesse em piscicultura através do sistema de tanques-rede. Segundo eles, “é uma
criação segura, onde pode marcar o tempo para a despesca”.
ASSOCIAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DOS PESCADORES DO MUNICÍPIO
DE FREI MIGUELINHO
A associação surgiu com objetivo principal de “conseguir melhorias econômicas para as
famílias dos pescadores”. Quanto às relações interpessoais “afirmaram não ter problemas”.
A associação não possui patrimônio. Os sócios se reúnem no Centro Comunitário local que se encontra
desativado e a participação é regular.
Apontaram o Conselho de Desenvolvimento Municipal e o Conselho do Polo Pesqueiro do
Agreste como instituições que apóiam a entidade.
A associação é representada atualmente por aproximadamente cinqüenta e oito sócios.
Aproximadamente vinte pescadores estão com a contribuição financeira mensal em dia. Não há registro
de mulheres associadas.
Afirmaram que cerca de vinte pessoas, não sócias, pescam na área de abrangência da barragem. Não
opinaram sobre as principais dificuldades encontradas pela associação.
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
SOBRE A PESCA E A PISCICULTURA
Os apetrechos de pesca predominante na Barragem de Jucazinho, distrito de Capivara, é tarrafa
e rede de espera. A embarcação predominante é canoa, com número aproximado de vinte unidades. Na
maioria das vezes trabalham dois pescadores por embarcação.
Quanto ao pescado capturado, a tilápia representa 95%, e a traíra representa 5%. No que se
refere à quantidade pescador/dia, apontaram 5 kg para a tilápia. Cujo peso varia entre (200g a 300g).
A comercialização é realizada na comunidade ou direto ao atravessador. Utilizam como meio de
transporte moto ou bicicleta.
Quanto as principais dificuldades para exercer a profissão, apontam a pouca produção, falta
espaço para armazenar e comercializar o produto, bem como a quantidade insuficiente de apetrechos de
pesca.
O grupo tem interesse em piscicultura através do sistema de tanques-rede. Segundo eles, “é
para aumentar a produção”. Para a tilápia.
ASSOCIAÇÃO DE PESCADORES DE COURO D’ANTAS, MUNICÍPIO DE RIACHO DAS
ALMAS
A associação surgiu com objetivo principal de “melhorar a pesca e a vida dos pescadores,
através da associação tem mais condições de trabalho”. Quanto às relações interpessoais “afirmaram
que as opiniões podem ser contrárias, mas não existem conflitos”.
A entidade ainda não possui patrimônio. Os sócios se reúnem no Centro Comunitário e a
participação é boa.
Apontaram o Conselho de Desenvolvimento Municipal, o Conselho do Polo Pesqueiro do
Agreste e o Projeto Renascer como instituições que apóiam a entidade.
A associação é representada por aproximadamente cinqüenta e sete sócios. Atualmente todos
contribuem financeiramente para a associação. Sete mulheres participam da entidade. Grande parte das
mulheres da região trabalha na atividade de alguma forma: limpeza, comercialização do produto e
também na captura do pescado.
Afirmaram que cerca de vinte pessoas, não sócias, pesca na área de abrangência da barragem.
Apresentaram a necessidade de uma atuação conjunta entre a associação e o IBAMA, pois são comuns
os casos de roubos de apetrechos, gerando um clima de desconfiança entre os associados. Citaram
ainda a dificuldade de comunicação e transporte como entraves para a comunidade.
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
SOBRE A PESCA E A PISCICULTURA
Os apetrechos de pesca predominante na Barragem de Jucazinho, Vila de Couro D’Antas, são
rede e tarrafa. Alguns pescam ainda com linha e anzol. A embarcação predominante é barco a remo,
com número aproximado de dezesseis. A propriedade é individual.
Quanto ao pescado capturado, a tilápia e o camarão são as mais representativas, com média de
40% e 30%, respectivamente. A piaba representa 20% das capturas e a traíra 10%.
No que se refere à quantidade pescador/dia, apontaram 6 kg para o camarão, 4 kg para a tilápia,
3 kg para piaba e 1 kg para a espécie traíra. A variação de peso do pescado: camarão (5g a 8g), tilápia
(200g a 300g), traíra (500g a 2000g) e a piaba (10g a 20g).
A comercialização é realizada com atravessadores e no mercado. Em alguns casos utilizam
como meio de transporte moto ou carro de aluguel.
Quanto as principais dificuldades para exercer a profissão apontam a falta de apetrechos de
pesca, local para beneficiar e comercializar, a pesca predatória, roubo de apetrechos, pessoas de outras
localidades pescando.
O grupo tem interesse em piscicultura através do sistema de tanques-rede. Segundo eles, “é
mais simples para trabalhar, mais apropriado para a região, conhecimento da técnica e custo menor”.
Para a tilápia.
ASSOCIAÇÃO DE PESCADORES DO MUNICÍPIO DE SÃO JOAQUIM DO MONTE – ADESPE
A associação surgiu com objetivo de “gerar renda fixa e melhoria dos pescadores. Trabalho
independente de patrão”. Quanto às relações interpessoais: “existiam pessoas complicadas, mas não
estão mais”.
A entidade não possui patrimônio. Os sócios reúnem-se na sede do Conselho FUMAC e a
participação é regular.
Apontaram o Conselho de Desenvolvimento Municipal e o Conselho do Polo Pesqueiro do
Agreste, além do Projeto Renascer, como instituições que apóiam a entidade.
A associação é representada atualmente por aproximadamente trinta e seis sócios. Há registro de
contribuição mensal.
Afirmaram que cerca de cinqüenta pessoas, não sócias, pescam na área de abrangência da
Barragem do Prata. Como principais dificuldades da associação, citaram a falta de apetrechos de pesca,
embarcação e a organização da pesca.
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
SOBRE A PESCA E A PISCICULTURA
Os apetrechos de pesca predominante na Barragem do Prata são tarrafa e rede de espera. Os
pescadores utilizam bóias, como ferramenta auxiliar, considerada inadequada para o trabalho, com
número aproximado de trinta unidades. Um tipo de embarcação utilizada é a jangada.
Quanto ao pescado capturado, a maioria absoluta é da tilápia, com a média de 70%. A traíra e o
carito representam, cada um, 10% das espécies encontradas. A piaba e o piau, 5%. No que se refere à
quantidade pescador/dia, apontaram 7 kg para a tilápia, 2 kg para a traíra e carito zebu e 1,5 kg para as
espécies piaba e piau. A variação de peso do pescado: tilápia (400g a 1000g), traíra (500g a 1500g),
caritó-zebu (250g a 350g), piaba (10g a 15g) e o piau (15g a 20g).
Os pescadores trabalham geralmente de segunda a sexta-feira. Conservam o produto em gaiolas
e freezeres. Quando beneficiam, limpam e evisceram. O tempo médio de estocagem do pescado é de
três dias e o número aproximado de freezeres ou geladeira, é de 20 unidades entre os pescadores da
região.
A comercialização é realizada na feira livre do município ou direto ao atravessador. O meio de
transporte mais utilizado é a bicicleta.
O preço do pescado é semelhante ao praticado pela Associação do município de Bonito. Quanto
as principais dificuldades para exercer a profissão, apontam o número insuficiente de apetrechos e
embarcações, transporte para deslocamentos, objetos na água dificultando a captura.
O grupo tem interesse em piscicultura através do sistema de tanques-rede para a tilápia.
Segundo eles, “facilita a captura”.
ANÁLISE DO DIAGNÓSTICO SOCIAL E PRODUTIVO
De acordo com o diagnóstico da organização associativa e produtiva do Polo Pesqueiro do
Agreste, pode-se perceber uma significativa semelhança na gestão dessas entidades através de dados
comuns: legalização, patrimônio, parcerias, número de sócios e participação dos sócios nas reuniões da
entidade (Tabela 1).
Observa-se um tempo de existência curto das entidades que formam o Polo, resultando assim
em ações consideradas ainda incipientes, a exemplo da formação de patrimônios e parcerias.
48
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
Tabela 1. Perfil das Associações de Pescadores do Agreste de Pernambuco: legalização, patrimônio,
parcerias, número de sócios e participação dos sócios.
MUNICÍPIO
Belo Jardim
Bonito
TEMPO/
LEGAL.
EXIST.
4 anos
2 anos
PATRIM.
APOIO INSTITUCIONAL
Nº. PARTICIPAÇÃO
SÓCIOS NAS REUNIÕES
Sim
1 freezer, sede
em construção
Prefeitura, Renascer,
Conselho FUMAC,
COPESCA, SEAP-PR
150
Regular/Boa
Sim
10 tanques-rede,
1 balança, 1
barco, caixas
d’água
Renascer, Conselho
FUMAC, COPESCA,
PREFEITURA
60
Regular/Boa
38
Boa
Cumaru
4 anos
Sim
-
Prefeitura, Renascer,
Conselho FUMAC,
COPESCA, DNOCS
Frei
Miguelinho
2 anos
Sim
-
Renascer, Conselho
FUMAC, COPESCA
58
Regular
Riacho das
Almas
2 anos
Sim
-
Prefeitura, Renascer,
Conselho FUMAC,
COPESCA
57
Boa
-
Prefeitura, Renascer,
Conselho FUMAC,
COPESCA
36
Regular/Boa
São
Joaquim do
Monte
2 anos
Sim
Destaca-se, nesse bloco, o município de Belo Jardim, onde a Associação de Pescadores, em
quatro anos de existência, tornou-se Colônia de Pescadores, garantindo vantagens adicionais para os
associados, como: aposentadoria e seguro desemprego durante o período de proibição da pesca
(defeso). Esse município, juntamente com Bonito, apresentou a formação de patrimônio, justificada
pela parceria com a Prefeitura Municipal.
A representação, ou seja, o número de sócios cadastrados é considerada na média. Observa-se
ainda que a quantidade de sócios não determina a participação e o interesse durante as reuniões da
entidade.
Quanto ao apoio institucional, o quadro apresenta uma repetição de entidades, entendida pela
presença de técnicos desses órgãos nessas localidades. Acreditamos que, paralelamente ao
desenvolvimento de ações e financiamentos de subprojetos de pesca e piscicultura, faz-se necessário a
elaboração de proposta e cronograma de atividades de desenvolvimento organizacional envolvendo as
entidades representadas no Conselho do Polo Pesqueiro do Agreste, bem como o próprio COPESCA.
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
No que se refere à atividade da pesca, dados comuns são observados, tendo como referência captura,
transporte, conservação, beneficiamento e comercialização do pescado (Tabela 2).
Tabela 2. Atividades da Associação de Pescadores do Agreste de Pernambuco
MUNICÍPIOS CAPTURA
Belo Jardim Rede/Tarrafa
TRANSPORTE CONSERVAÇÃO
Gaiola/Freezer
Limpeza,
Evisceração
Feira Livre,
Atravessador
-
Freezer
-
Feira Livre,
Atravessador
Freezer
Limpeza,
Evisceração
Feira Livre,
Atravessador
-
Freezer
Limpeza,
Evisceração
Feira Livre,
Atravessador
Carro
Freezer
Limpeza,
Evisceração
Feira Livre,
Atravessador
Bicicleta
Gaiola/Freezer
Limpeza,
Evisceração
Feira Livre,
Atravessador
Rede/Tarrafa
Cumaru
Rede/Tarrafa Carro, Moto
Riacho das
Almas
Rede/Tarrafa
São Joaquim
Rede/Tarrafa
do Monte
COMERCIALIZAÇÃO
Bicicleta,
Moto
Bonito
Frei
Rede/Tarrafa
Miguelinho
BENEFICIAMENTO
As redes de espera (emalhar) e as tarrafas são os principais apetrechos utilizados para captura.
Devido às condições precárias da maioria desses equipamentos, verifica-se um baixo volume de
produtividade.
Durante a pesca são utilizadas pequenas embarcações de madeira a remo com 5m de
comprimento, em média utilizando 2 (dois) pescadores. Os que não possuem embarcações de madeira
utilizam individualmente bóias (câmara de ar) no exercício da atividade.
Para conservação do pescado são utilizados freezeres, em alguns casos gaiolas de madeira ou
plásticas submersas.
Não realizam beneficiamento e quando o fazem, apenas lavam e evisceram com água da própria
barragem. A comercialização é feita ao atravessador na própria comunidade ou diretamente ao
consumidor em feiras livres ou mercado público.
O pescado é acondicionado em caixas isotérmicas geralmente sem gelo e o transporte utilizado
é o mais variável, desde bicicleta até veículos utilitários.
PROPOSTAS DE AÇÕES PARA A PESCA E A PISCICULTURA
Visando a consolidação do Polo Pesqueiro do Agreste quanto a sua sustentabilidade na região,
envolvendo os componentes sócio-econômico e produtivo, serão necessárias ações na área de
legislação e licença ambiental, produção, capacitação, parcerias, beneficiamento e mercado. As ações
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
prepostas, baseadas em Alcântara (2003) visam contribuir para melhorar as condições sócioeconômicas das comunidades envolvidas.
•
Com relação ao meio ambiente, a formação de um fórum de discussão dos importantes aspectos da
atividade, tais como qualidade dos mananciais, conflito do uso das águas, qualidade da água de
esgotamento, uso de agrotóxicos, lixo, entre outros, é fundamental para qualquer processo de
desenvolvimento sustentável. O monitoramento relativo à poluição ambiental deve ser intensificado
pelos órgãos competentes, através de programas de educação ambiental, orientação e
disciplinamento, para o cumprimento da legislação vigente.
•
Considerando que a qualidade da água é um dos fatores básicos na produção de peixes inócuos, fazse necessário seu monitoramento, muito embora seu controle seja de difícil operacionalização
devido ao grande volume de água nas barragens, é de fundamental importância o monitoramento
que irá alertar para a potencial contaminação principalmente de resíduos de esgotos sanitários de
povoados próximos a essas barragens bem como a utilização de adubos químicos e orgânicos
provenientes da agricultura. Os perigos com doenças no ambiente aquático não se limitam apenas
aos peixes, segundo (Leite,2000), pessoas envolvidas com a manipulação de peixes também são
acometidas de doenças.
•
De acordo com observações, é comum encontrar no entorno das barragens criação de animais do
tipo bovino, caprino, ovino, eqüino, entre outros. Sendo estes, grandes vetores de contaminação,
comprometem a qualidade da água, no caso de cultivo intensivo de peixes em tanques-rede (em
estudo), deve-se evitar a sua presença.
•
No caso de alevinos adquiridos para o cultivo intensivo de peixes em tanques-rede nas barragens, o
produtor deve dar preferência às estações de produção de alevinos que adotem programas
profiláticos, métodos usados nas doenças de peixes. (Cecarelli & Rocha, 2000). É importante a
implantação de um sistema de gestão da qualidade visando obter animais livres de enfermidade e
com bom potencial de desenvolvimento.
•
Visando a melhoria na produção, é necessário aumentar o número de embarcações, considerando o
esforço de pesca em cada barragem, bem como a aquisição de melhores apetrechos de pesca.
•
As redes utilizadas para a captura devem ter malha seletiva, de acordo com o tamanho do pescado
para maior controle da produção, além de esta de acordo com as normas dos órgãos ambientais.
•
Para que se possa manter uma produção sistemática, é importante um cronograma de peixamento
nas barragens onde se desenvolve essa atividade.
51
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
•
Considerando que bens como transportes, embarcações, apetrechos e infra-estrutura de conservação
e beneficiamento são fundamentais para atividade, é importante a disponibilização de linhas de
crédito específico, sendo necessária à mobilização de reivindicação das Associações e Colônias de
Pescadores junto aos organismos de crédito.
•
A orientação associativista junto às associações e colônias de pescadores subsidiará essas entidades
na gestão organizacional e na promoção do desenvolvimento das comunidades pesqueiras.
•
A extensão dos treinamentos técnicos a todos os envolvidos na atividade da pesca, da piscicultura,
conservação e beneficiamento do pescado, deverá ser considerada.
•
A realização da capacitação pode ser levada a cabo com as parcerias de representações de
produtores, a exemplo dentre outros do Projeto Renascer, SEAP, IPA, SEBRAE e governo
municipal.
•
A construção de entrepostos básicos para armazenamentos e primeiros beneficiamentos como
lavagem e evisceração irão diminuir os riscos de contaminação ao pescado, bem como proporcionar
maior valor ao produto.
•
As condições existentes de armazenamento e exposição do pescado nas comunidades pesqueiras e
mercados públicos municipais devem ser melhoradas.
•
Apresentação do produto (embalagens), códigos de barra e publicidade devem ser implementadas.
•
A comercialização que atualmente é realizada através de atravessadores, direto ao consumidor ou
em mercados públicos deverá ser melhorada, para isso os pescadores precisarão discutir formas
mais organizadas de comercialização para uma melhor valorização de seus produtos.
•
A legislação brasileira exige para a operação de indústria de alimentos, a implementação do
Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle - APPCC. (APPCC...2000). Para
diminuir os riscos de contaminação dos alimentos para a população, é importante que este sistema
atue em toda cadeia produtiva.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A oferta de produtos pesqueiros no Estado de Pernambuco tem sido insuficiente para atender a
demanda interna, por esta razão o mercado vem sendo abastecido com aproximadamente 70% do
pescado oriundo de outras regiões do país e do exterior.
As barragens de Jucarzinho, Prata, e Ipojuca, onde atua o Polo Pesqueiro do Agreste, possuem
um considerável volume de água – cerca de 416.000.000m3 - que oferecem boas condições para o
desenvolvimento da pesca e aqüicultura.
52
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
Os recursos hídricos do Estado, notadamente na região do agreste são utilizados com o objetivo
principal de abastecimento humano e dos rebanhos, não sendo aproveitado grande parte do seu
potencial para o desenvolvimento ordenado de atividades produtivas, como a pesca e à aqüicultura.
Muito embora essas atividades produtivas tenham evidenciado lucratividade, a grande maioria
das comunidades pesqueiras vive da pesca de subsistência favorecendo dessa forma o seu grau de
pobreza. Contudo, tem se constatado, o interesse dos pescadores em adotar técnicas para melhorar a
produção e beneficiamento do pescado visando melhorar o atendimento ao mercado consumidor.
Para melhorar a rentabilidade da aqüicultura e da pesca, numa perspectiva de desenvolvimento
sustentável, existe a necessidade de estudos sobre a ictiofauna para realização de peixamento devido ao
esforço de pesca praticado em algumas barragens, além dos cultivos intensivos de peixes em tanquesrede, de assistência técnica, aporte de recursos e consolidação de parcerias, atuando em toda a cadeia
produtiva.
A viabilidade dessas ações irá contribuir para o fortalecimento dos grupos e motivá-los na busca
de ações mais empreendedoras, oferecendo condições para o seu desenvolvimento sócio-econômico, ao
mesmo tempo em que proporcionará competitividade as associações no mercado produtivo.
Nessa perspectiva, o trabalho organizacional, visando a inclusão social das comunidades
pesqueiras, será fundamental para assegurar a sustentabilidade e impulsionar a sócio-economia da
atividade no Agreste do Estado de Pernambuco.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
APPCC, 2000. Controle de qualidade de alimentos, senai/dn, cni, sebrae, Brasília, 301p.
ALCANTARA, S. L, 2003. Propostas de melhorias sobre as práticas de cultivo e conservação do
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LEITE, C. A. L, 1999. Noções aplicadas sobre manejo higiênico-sanitário em piscicultura brasileira.
Boletim Técnico ano VIII, n. 62, UFLA, Lavras. 33p.
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
II - ARTIGOS CIENTÍFICOS
REVERSÃO SEXUAL EM LARVAS DE TILÁPIA-DO-NILO, Oreochromis niloticus (LINNAEUS,
1758) EM DIFERENTES CONDIÇÕES AMBIENTAIS
Ana Paula CORREIA ([email protected]); Ângela Raquel MORAES ALVES
([email protected]); José Patrocínio LOPES ([email protected]); Fátima Lúcia Brito dos
SANTOS ([email protected]).
Depto. de Educação, Universidade do Estado da Bahia
RESUMO
Na aqüicultura de águas interiores, uma das espécies mais utilizadas para o cultivo comercial no
Nordeste brasileiro é a Tilápia-do-nilo Oreochromis niloticus. Trata-se de um animal de hábito
onívoro, grande capacidade de adaptar-se a condições adversas do meio, rápidos incrementos de
tamanho e peso, facilidade de reprodução em diferentes condições ambientais, alta resistência a
enfermidades e altos índices de sobrevivência. Este trabalho foi desenvolvido na Estação de
Piscicultura de Paulo Afonso (EPPA), pertencente à Companhia Hidrelétrica do São Francisco
(CHESF), com objetivo de testar a eficiência na obtenção de uma população de monossexo de machos
de tilápia-do-nilo, administrando ração com o andrógeno sintético 17α-metiltestosterona, através de
testes utilizando-se pequena densidade de estocagem em diferentes condições ambientais (águas claras
e águas fertilizadas). No tratamento sem fertilização foi observada a baixa sobrevivência (38 %) o que
não ocorreu nos tanques em tratamento com águas escuras a base de adubação orgânica que apresentou
71 % de sobrevivência. Não houve diferença significativa entre os dois tratamentos no que se refere ao
peso, comprimento e reversão sexual. Portanto, o tipo de tratamento águas claras ou águas fertilizadas,
não influi na taxa de reversão sexual em tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus), no entanto a taxa de
sobrevivência apresentada no tratamento com águas fertilizadas deve ser considerada um fator
relevante na produção de alevinos.
Palavras-chave: Peixes, Reprodução, Masculinização
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
SEXUAL REVERSION IN LARVAE TILAPIA OF NILE, Oreochromis niloticus (LINNAEUS, 1758)
IN DIFFERENT ENVIRONMENTAL CONDITIONS
ABSTRACT
In the aquaculture of interior waters, one of the species more used for the commercial
cultivation in the Brazilian Northeast is the tilapia of Nile Oreochromis niloticus. It is treated of an
animal of habit omnivorous, big capacity of adapting to adverse conditions of the middle, fast size
increments and weight, reproduction easiness in different conditions environmental, high resistance to
illnesses and high survival indexes. This work was developed in the Station of Fish Farming of Paulo
Afonso (SFPA), belonging to the Hydroelectric Company of San Francisco (HCSF), with objective of
testing the efficiency in the obtaining of a population monossexe of males in tilapias of Nile,
administering ration with the androgenic synthetic 17α-metiltestosterone, through tests being used
small stockpiling density in different environmental conditions (clear waters and fertilized waters). In
the treatment without fertilization the low survival was observed (38 %) what didn't happen in the tanks
in treatment with dark waters the base of organic manuring that it presented 71 % of survival. There
was not significant difference among the two treatments in what refers to the weight, length and
reversion. The treatment clear waters or fertilized waters, it doesn't influence on the tax of sexual
reversion in tilapias of Nile (Oreochromis niloticus), however the survival tax presented in the
treatment with fertilized waters a relevant factor should be considered in the alevines production.
Key words: Fishes, Reproducion, Indução, Male protuction
INTRODUÇÃO
A piscicultura vem assumindo importância cada vez maior no panorama do abastecimento
alimentar, uma vez que a alta taxa de crescimento demográfico está em ritmo de colisão com a oferta
de alimentos, notadamente os de origem animal, que requerem um esforço maior para serem
produzidos. Infelizmente a prática de criação de peixes, embora antiga, não tem sido devidamente
disseminada no Brasil (FRANÇA NETO et al. 1998).
A tilápia pertence à Ordem Perciformes, família Cichlidae, oriunda do continente Africano, é
encontrada principalmente nas bacias dos rios Nilo, Níger, Tchade e nos lagos do centro–oeste
(VERANI, 1980). Foi introduzida em mais de 100 países das regiões tropicais e subtropicais, tanto para
melhorar a produtividade pesqueira como para auxiliar o desenvolvimento da aqüicultura (COWARD
& BROMAGE, 2000; LÈVEQUE, 2002).
55
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
As primeiras informações sobre a tilápia no Ocidente, como peixe promissor para a aqüicultura,
surgiram no início da década de cinqüenta. De acordo com Chimits (1955), desde a segunda guerra
mundial, um novo peixe, tilápia, tem aparecido como um dos melhores negócios para os piscicultores;
sua cultura tem tido prodigioso progresso, especialmente em água tropicais e, sem dúvida, constitui
uma nova força para obtenção de proteínas. Na oportunidade, o autor catalogou 173 artigos sobre este
grupo de peixes (SILVA, 1996 apud NOGUEIRA, 2003).
As tilápias possuem alta capacidade de reprodução e podem atingir a maturidade sexual entre o
3° e o 4° mês após a estocagem de alevinos, sendo que esta reprodução prematura ocasiona a
ocorrência de superpopulação dos viveiros, resultando em uma maior competição pelo alimento e
conseqüentemente um crescimento insatisfatório para uma atividade econômica.
A adoção de técnica de reversão sexual para obtenção de tilápia monosexo de machos revela
grandes vantagens na produção de carne, já que neste, o período de crescimento é 2,5 vezes menor que
na fêmea; isto se dá porque as fêmeas utilizam boa parte de sua energia para produção de óvulos, além
de incubar seus ovos na boca com intuito de protegê-los, permanecendo assim sem se alimentar num
intervalo de aproximadamente 10 dias de acordo com a temperatura da água.
A Tilapicultura é um dos segmentos da Piscicultura que tem contribuído com o desenvolvimento
socioeconômico da região de Paulo Afonso. No entanto, um dos problemas que ainda aflige os
pequenos e médios piscicultores é a falta de produção de alevinos de tilápias sexualmente revertidos e
com um bom padrão de qualidade como: peso entre 25 e 30 g, uniformidade e índice de reversão sexual
em torno de 99% para machos. Estas qualidades visam atender aos piscicultores que cultivam suas
tilápias em viveiros escavados ou tanques-rede. Quando o índice de reversão sexual gira em torno de
5% para fêmeas ou superior, contribui favoravelmente à reprodução de tilápias neste sistema de cultivo
prejudicando o desenvolvimento dos peixes através da superpopulação, principalmente os cultivados
em viveiros escavados que oferecem melhores condições à reprodução.
Atualmente é importante a retomada de pesquisas que viabilizem a aqüicultura no Nordeste.
Neste trabalho, busca-se elucidar qual a eficiência na obtenção de uma população de monossexo
machos de tilápia-do-nilo, através de testes de reversão sexual utilizando-se pequena densidade de
estocagem em diferentes condições ambientais (águas claras e águas fertilizadas) contribuindo
significativamente com os Projetos de Produção de Alevinos, pois para a implantação de quaisquer
Projetos de Piscicultura torna-se imperativo que os alevinos estejam
prontamente disponíveis, sem os quais inviabilizariam os trabalhos de comercialização e geração de
emprego e renda.
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
MATERIAL E MÉTODOS
Este trabalho foi desenvolvido na Estação de Piscicultura de Paulo Afonso – EPPA, pertencente
à Companhia Hidro Elétrica do São Francisco - CHESF, entre os meses de julho a outubro de 2004.
Para realização deste trabalho foram utilizados inicialmente cinco tanques de alvenaria
pertencentes a EPPA. São tanques de 50 m2 com profundidades entre 0,80 a 1,00 m apresentando fundo
revestido de tijolos e cimento e com uma camada de areia de rio de 0,20 m. Nestes tanques foi
realizado o acasalamento de reprodutores e matrizes de tilápia-do-nilo, Oreochromis niloticus
(Linnaeus, 1766) variedade Chitralada da própria Estação, visando a obtenção de larvas da referida
espécie. Em cada tanque foram estocados 30 fêmeas com 15 machos. Estes peixes estavam separados
anteriormente por sexo em outros tanques de 144 m2 cada, para descanso. Decorridos quinze dias do
acasalamento as larvas foram coletadas para início da reversão sexual.
Foram realizados dois tratamentos (águas claras e águas fertilizadas) com três repetições. Três
tanques foram fertilizados com esterco bovino na proporção de 0,5 Kg/m2 e estocados com larvas de
tilápia-do-nilo na densidade de 100 larvas/m2. Outros três tanques tiveram suas águas limpas sem
fertilização e também estocadas com 100 larvas/m2.
MATERIAL BIOLÓGICO
A tilápia-do-nilo, Oreochromis niloticus, foi introduzida no Brasil em 1971, procedente da
Costa do Marfim. Nativa de diversos países africanos, ela recebeu o nome de tilápia-do-nilo ou nilótica
por ser originária da bacia do rio Nilo. É a espécie mais cultivada no mundo, destacando-se das demais
pelo seu crescimento e a resistência ao manejo. Apresenta hábito alimentar onívoro, ou seja, alimentase de algas unicelulares, mas aceita outros alimentos, sendo que por isso se torna uma das espécies
mais adequadas para piscicultura (NOGUEIRA, 2003).
Descendente de uma linhagem de Oreochromis niloticus, que desde o final da década de 60 tem
sido domesticada na Tailândia, tornou-se a mais importante espécie de peixe cultivada em diversos
países. Inicialmente, esses peixes foram criados em viveiros da Estação Experimental no Palácio Real
de Chitralada em Bangkok. A partir desses estoques é que houve a distribuição para outras partes do
mundo. A linhagem real, porém, foi entregue ao cuidados do Asian Institute of Tecnology (AIT),
passando a ser denominada Chitralada ou tai-Chitralada. Estudos realizados com essa linhagem
mostraram que ela tem um crescimento superior ao das outras linhagens de Oreochromis niloticus
(TAVE apud NOGUEIRA 2003).
A tilápia Chitralada utilizada neste trabalho é produzida na EPPA e foi importada da Tailândia
procedente do Asian Institute of Technology, chegando ao Brasil em 04 de abril do ano 2000. Esta
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
variedade vem despertando interesse de muitos piscicultores e técnicos pelo rápido crescimento quando
cultivada em tanques-rede, em altas densidade de estocagem (300 a 500 alevinos/m3). Apresenta valor
comercial para venda em feiras livres com peso médio entre 350 a 400 g. Na região de Paulo Afonso,
em virtude da comercialização visando filetagem a preferência é por tilápias com peso de 700 a 800 g.
O PROCESSO DE MASCULINIZAÇÃO
Passados, 15 dias da estocagem dos reprodutores, as larvas foram coletadas com puçá de malhas
finas pela manhã, para evitar risco de mortalidade; transferidas imediatamente para um selecionador, a
fim de remover indivíduos maiores que 14 mm e transportados em baldes com água limpa para os
tanques de reversão. Recomenda-se que a ração com o andrógeno sintético 17α-metiltestosterona seja
administrado oralmente adicionado a ração logo após a absorção do saco vitelínico, período em que a
diferenciação sexual das gônadas torna-se possível.
Para início da reversão sexual sem uso de fertilização, foram estocadas nos tanques 3, 4 e 6, da
EPPA 5000 larvas de tilápia Chitralada recém-nascidas. Nos tanques 8, 10 e 12 com fertilização,
também foram estocadas em cada tanque 5000 larvas da referida espécie. A quantificação foi realizada
pelo método padrão visual. As larvas depois de estocadas nos tanques receberam diariamente uma
ração balanceada com 55% de proteína bruta adicionada do hormônio masculinizante 17 αmetiltestosterona distribuída 4 vezes ao dia durante 30 dias. A ração utilizada foi em forma de pó e
adicionada do hormônio diluído em álcool etílico na proporção de 60 mg de hormônio por quilo de
ração.
Para preparo da ração, foi utilizada uma solução de álcool – hormônio segundo Popma & Green
(1990) que é preparada de acordo com os seguintes procedimentos:
9 Dissolver exatamente 6 g de metiltestosterona em 1 litro de álcool etílico a 90-95% (esta
quantidade é suficiente para tratar aproximadamente 300.000 alevinos);
9 A solução deve ser armazenada em garrafa escura. Deve ser guardada em temperatura
ambiente, mas preferencialmente sob refrigeração. A validade é de no mínimo 3 meses.
Para cada quilo de dieta foram utilizados os seguintes ingredientes:
Solução álcool – hormônio
10 mL
Álcool comum
500 mL
Ingredientes (ração)
1.000 g
PROCEDIMENTOS PARA MISTURA DOS INGREDIENTES:
(a) Preparar o recipiente e peneirar os ingredientes (ração);
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
(b) Misturar a solução de álcool – hormônio com álcool comum;
(c) Adicionar a solução do item (b) vagarosamente sobre a ração e misturá-los;
(d) Esperar a evaporação do álcool que pode ser feita em temperatura ambiente sem presença direta de
luminosidade, cobrindo a mistura com material de espessura entre 3 a 5 cm. Misturar 2 a 3 vezes.
A ração após seca sob temperatura ambiente deverá ser guardada em sacos plásticos, esperando-se
que todo o odor de álcool desapareça, cerca de 6 a 12 horas. Refrigerar ou congelar para ter vida
útil mínima de 2 meses. A dieta pode ser guardada no mínimo por uma semana sob temperatura
ambiente. Alimentação dos alevinos seguiu o propost por Popma & Green (1990) (Tabela 1).
Tabela 1. Quantidade de alimentação diária de acordo com o comprimento total dos alevinos.
Comprimento
médio (mm)
Ração diária por
1000 alevinos (g)
Comprimento
médio (mm)
Ração diária por
1000 alevinos (g)
8
2
17
13
9
3
18
15
10
4
19
16
11
5
20
17
12
6
21
19
13
7
22
21
14
8
23
24
15
10
24
27
16
11
24 >
30
Após os trinta dias de tratamento a base de ração /hormônio; 150, ou seja, 3% do total de
alevinos de cada tratamento foram utilizados para crescimento em tanques distintos e alimentados com
ração para crescimento com 36% de proteína bruta, sem hormônio masculinizante, até atingirem um
peso médio em torno de 50 g, quando então no ato da despesca foi realizada sexagem e biometria dos
alevinos; para confirmação do melhor índice de reversão sexual e também o melhor desempenho
(sobrevivência, crescimento e qualidade dos alevinos) entre os tratamentos. Para análise dos resultados
foi aplicado o teste “t” Student.
Decorridos 60 dias, foi realizada a sexagem final no laboratório da EPPA. Para peixes que
apresentaram dúvidas quanto ao sexo utilizou-se um bisturi para observação das gônadas em
microscópio óptico. A sexagem do tratamento com adubo foi realizada em 137 peixes e sem adubo em
123 peixes.
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
RESULTADOS
No tanque de águas claras, e baixa densidade os resultados apresentados foram: peso médio
1,52±0,97 g e comprimento médio 42,16±8,15 mm. A sobrevivência deste tratamento foi de 38%.
No tratamento sem fertilização foi observada além da baixa sobrevivência a formação de
colônias de algas filamentosas em um dos tanques (Figura 1), o que dificultou a captura dos alevinos.
Este fato não se verificou nos tanques com águas escuras a base de adubação orgânica (Figura 2).
Figura 1. Tanque com águas não feritilizadas (águas
Figura 2 - Tanque com águas não feritilizadas
claras), apresentando proliferação de algas
sem proliferação de algas
filamentosas.
filamentosas.
Os resultados de sexagem, comprimento (mm), peso (g) e percentual de sobrevivência nos
tratamentos (T1 e T2) estão demonstrados na Tabela 2 e Figura 3.
ANÁLISE ESTATÍSTICA
Na análise estatística quando da aplicação do teste de significância entre as duas médias, foi
verificado que não ocorreu diferença significativa entre os dois tratamentos no que se refere ao
peso e ao comprimento. Quanto à sobrevivência foi confirmada expressiva diferença entre os
tratamentos, com melhores resultados no tratamento em águas fertilizadas.
60
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
Tabela 2. Resultados finais dos tratamentos.
TRATAMENTO
ÁGUAS CLARAS
ÁGUAS FERTILIZADAS
L (mm)
106,8
99,6
W (g)
24,62
20,21
Índice de Reversão (%)
95,12
93,43
Sobrevivência (%)
38
71
No tratamento com adubação, os alevinos apresentaram os seguintes dados biométricos: Peso médio
0,7±0,41 g e Comprimento médio de 34,44±5,6 mm. A sobrevivência final foi de 71% alevinos.
W (g) em águas claras
80
L (mm) em águas claras
60
Sobrevivência (%) em águas
claras
40
W (g) em águas fertilizadas
20
L (mm) em águas fertilizadas
0
Valores médios entre os tratamentos
Sobrevivência (%) em águas
fertilizadas
Figura 3. Peso e Comprimento médios, e sobrevivência dos alevinos entre os tratamentos
DISCUSSÃO
MANEJO DOS REPRODUTORES
Os estudos realizados mostraram que a prévia separação dos reprodutores por sexo em tanques
de descanso mostrou-se eficiente por facilitar a captura e seleção dos exemplares. A relação 1 macho
para 2 fêmeas foi suficiente para proporcionar um bom desempenho no acasalamento para produção de
larvas.
Souza (2001), fez referência à relação, macho e fêmea em desova natural, atribuindo a proporção de 1
macho para 1 fêmea, a relação que mais ovos produziu por fêmea durante o experimento, sendo
considerada, portanto, a melhor proporção.
61
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
O período de 15 dias da estocagem dos reprodutores teve sua finalidade alcançada, por
possibilitar a aquisição de larvas em estágios de desenvolvimento ideal para início do processo de
masculinização.
CAPTURA DAS LARVAS
A captura das larvas foi realizada no início da manhã antes do aumento da temperatura da água
por causa do risco de sobrevivência, respeitada a data prevista, evitou-se desta forma o aparecimento de
uma grande quantidade de pós-larvas maiores que 14 mm que já haviam consumido o saco vitelínico.
De acordo com Siqueira Filha et al. (1999), na produção de alevinos monossexo é necessário
evitar estresse das larvas no momento da captura, contagem e seleção evitando a ocorrência de altas
mortalidades durante o tratamento e diminuindo a probabilidade de se fazer o tratamento com larvas
fora do tamanho adequado, o que resultaria em índices de reversão pouco efetivos.
ALIMENTAÇÃO DAS PÓS-LARVAS
Segundo Pascual (1992), citado por Morais Junior (1994), o uso do hormônio alfa metil
testosterona quando ministrado via alimentação em pós-larvas de tilápia-vermelha com comprimento
inferior a 7 mm, tem a capacidade de reverter sexualmente estes animais durante a diferenciação
gonadal, tornando-os 100% machos. Portanto, pôde-se confirmar que comprimentos superiores a 7 mm
e inferiores a 14 mm respondem muito bem ao processo de reversão estando de acordo com Santos &
Silva citado por Brunello (2002), onde diz que por precaução, deve ser o mais cedo possível, ou seja,
logo após o consumo do saco vitelínico, isto porque o "timing" onde o peixe decide pelo sexo pode
variar de acordo com as condições ambientais, principalmente com a temperatura da água. O mais
comum, atualmente, é utilizar - se como referência o tamanho de até 13 mm.
SEXAGEM FINAL
Os resultados de reversão obtidos entre os tratamentos de baixa densidade, mostram que a
presença da fertilização não influi negativamente no mesmo, concordando, portanto, com os estudos
realizados por Siqueira Filha (1999), onde conclui que a utilização de águas verdes para processos de
reversão sexual, produz alevinos homogêneos e saudáveis com boas taxas de crescimento e
sobrevivência, além de eficientes índices de reversão. O estudo de Saldanha et al. (1998) citado por
Saldanha (1999), mostra que esta espécie aproveita muito bem o alimento natural disponível no
ambiente, que seria responsável por cerca de 40 a 50 % do crescimento do peixe.
Saldanha et al. (1999), fizeram referência ao crescimento compensatório da tilápia-do-nilo
(Oreochromis niloticus) submetidos quando juvenis a três diferentes dietas alimentares; citando que a
utilização de algumas técnicas de manejo, cuja finalidade é de minimizar custos, retardam o
62
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
crescimento dos alevinos e estes não conseguem recuperar esta perda, aumentando o tempo de cultivo,
e, conseqüentemente os custos.
Assim, a utilização de fertilizante nas águas onde serão realizados os tratamentos de reversão sexual em
tilápia-do-nilo, além de não influenciar no índice de reversão, completa a dieta alimentar favorecendo o
crescimento do peixe. O tratamento com águas claras apesar de apresentar resultados equivalentes ao
tratamento com águas fertilizadas, não se mostrou muito eficiente, uma vez que a proliferação de algas
no fundo dos tanques dificultou o processo de colheita das larvas além de atingir um baixo índice de
sobrevivência.
Segundo Pretto-Malca, Pruginin e Pereira apud Lira (1999), o tratamento com águas claras em
alta densidade apresentou baixa taxa de reversão já que este fator ocasiona competição pelo espaço e
alimento, canibalismo, heterogeneidade no tamanho e baixo preço no mercado.
A técnica de sexagem através da visualização do aparelho genital mostrou-se satisfatória em
função do bom desenvolvimento biométrico dos espécimes; no entanto a utilização de bisturi e
microscópio óptico fez-se necessário para elucidar o sexo daqueles indivíduos que não atingiram
tamanhos suficientes para visualização do aparelho genital.
Os tanques sem fertilização, os alevinos apresentaram maior crescimento em peso e
comprimento, como visualizado na Figura 3, o que vai de encontro ao esperado com relação aos
tanques fertilizados. No entanto, a baixa sobrevivência nesse tratamento (38 %) inferior a do tratamento
com adubação (7 1%) deve ter influenciado no maior desenvolvimento desses alevinos em relação aos
demais.
CONCLUSÕES
O tipo de tratamento, águas claras ou águas fertilizadas, não influi na taxa de reversão sexual
em tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus), no entanto a taxa de sobrevivência apresentada no
tratamento com águas fertilizadas deve ser considerada um fator relevante na produção de alevinos.
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64
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
COMPORTAMENTO SOCIAL E CRESCIMENTO EM PARACHROMIS MANAGUENSIS
(GÜNTHER, 1867) (PISCES, CICHLIDAE): UMA ESPÉCIE INTRODUZIDA NO BRASIL
José Milton BARBOSA ([email protected]); Ivo Thadeu Lira MENDONÇA
([email protected]); Manlio PONZI JÚNIOR ([email protected])
Deptº. de Pesca e Aqüicultura, Universidade Federal Rural de Pernambuco
RESUMO
Este trabalho teve por objetivo estudar o comportamento: hábito social, hierarquia de
dominância, hábito alimentar, e suas relações com o crescimento no peixe-jaguar Parachromis
managuensis, espécie centro-americana introduzido no Brasil da qual pouco se conhece da biologia,
apesar de utilizado na aqüicultura. Para o estudo do comportamento, os alevinos foram observados por
60 dias em 8 aquários (50 litros d’água, quatro alevinos cada) abastecidos em sistema fechado com
filtro biológico. O crescimento heterogêneo (CHet) foi calculado pelo coeficiente de variação do peso
(CV%) e a avaliação estatística por ANOVA e teste de Tukey (p = 0,05). A alimentação constou de
ração balanceada (34% de proteína bruta) e alimento vivo: um lebiste (Poecilia sp.) por peixe. P.
managuensis apresenta hábito territorial, é um predador voraz, mas também aceita ração. Apresenta
confrontos agonísticos para estabelecimento da hierarquia de dominância, em três níveis: primeiro
dominante (D1), segundo dominante (D2) e submissos (S1 e S2). Os dominantes (D1) crescem mais
que os submissos a partir do trigésimo dia de agrupamento (F(3;28) = 5,56 p<0,01) e que todos os
animais do grupo, dos 45 dias (F(3;28) = 13,13, p<0,01), até o final do experimento (F(3;28) = 20,01,
p<0,01). A posição hierárquica é diretamente proporcional ao crescimento, e o CHet é crescente
(4,25%, no início do experimento e 42,7% no final do experimento). É possível sugerir que fatores
comportamentais afetam diretamente o crescimento de peixes de hábitos territoriais.
Palavras-chave: Peixes, Hierarquia, Dominantes, Submissos
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
SOCIAL BEHAVIOUR AND GROWTH IN PARACHROMIS MANAGUENSIS
(GÜNTHER, 1867) (PISCES, CICHLIDAE): AN INTRODUCED SPECIES IN BRAZIL.
ABSTRACT
This work the objective studied the social behaviour: dominance hierarchy, feeding habit,
relationed with the growth in the Parachromis managuensis (jaguar guapote) a species origined of the
Central America and introduzed in Brazil that the biology is still unknown, but utilizable in aquiculture.
The fingerling behaviour was observed during 60 days in eight aquarium (four fingerling in the 50 litre
of water) stoking in close system with biological filter. The heterogeneous growth (Het-G) were
calculated for coefficient of variation in weight (CV%) and statistical evaluate for ANOVA and Test of
Turkey (p = 0.05). The feed has 34% crude protein and live food; one “lebiste” (Poecilia sp.) for fish.
P. managuensis show territorial habit, it is a voracious predator, but accept feed. Show fight for
establishment of dominance hierarchy, in three levels: first dominate (D1) second dominate (D2)
submissive (S1 and S2). The dominates (D1) to outgrow submissive in the thirtieth day of the grouping
(F(3;28) = 5,56 p<0,01) and all animals of the group, in 45 days (F(3;28) = 13,13, p<0,01), until the end of
experiment (F(3;28) = 20,01 p<0,01). The position of hierarchy is directly proportional for the growth,
and the Het-G is increasing (4,25% in the begin of experiment and 42,7% in the end of experiment).
Was possible to suggest that behaviour factors affecting directly the growth of the fishes with territorial
habits.
Key words: Fishes, Hierarchy, Dominates, Submissives
INTRODUÇÃO
Os peixes apresentam grande variedade de hábitos alimentares, métodos reprodutivos,
crescimento, ciclos de vida e respostas a alterações ambientais (BALDISSEROTTO, 2002), assim
como interações sociais com indivíduos de uma mesma comunidade e coespecíficos.
O estudo do comportamento social é importante especialmente em espécies introduzidas, como
é o caso do peixe-jaguar Parachromis managuensis. Esta espécie, pertencente à família Cichlidae, é
originário da América Central: de Honduras à Costa Rica, onde alcança, 65 cm (CONKEL, 1993). A
primeira referência acerca de sua ocorrência no Brasil encontra-se em Barbosa & Leitão (2003) e,
mesmo que seja utilizada na aqüicultura, não há referências sobre seu comportamento no país, o que
sugere a necessidade desses estudos.
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
Aspectos comportamentais têm relação direta com a variabilidade de crescimento visto que animais
dominantes apresentam taxas de crescimento superiores às dos submissos. Este fenômeno é
referendado na literatura pelo termo crescimento heterogêneo (CHet) e pode ser influenciada por
fatores genéticos e populacionais.
Segundo Hulata et al. (1976), o CHet é decorrente de fatores genéticos que determinam as taxas
de crescimento individual. A ocorrência de diferenças no crescimento de machos e fêmeas seria um
fator que promoveria o CHet. No entanto, Volpato et al. (1987) afirmam que a variabilidade de
crescimento em alevinos de tilápia-do-nilo Oreochromis niloticus não está correlacionado ao sexo dos
animais.
Por outro lado, fatores populacionais envolvem diferentes mecanismos que reduzem o
crescimento dos animais submissos. Estes mecanismos podem ser resumidos em: competição
alimentar, estresse social e substâncias químicas liberadas por coespecíficos dominantes, para inibir o
crescimento dos submissos (BARBOSA, 1997).
Na competição alimentar, alguns indivíduos do grupo obtêm mais alimento do que
outros e crescem mais, ou o sucesso na obtenção de alimento estaria relacionado à posição social do
indivíduo no grupo (VOLPATO et al., 1989). Wohlfarth (1977) argumenta que o aumento na oferta de
alimento em grupos de carpa (Cyprinus carpio) reduz a competição alimentar e, assim, a diferença de
crescimento. No entanto, Korneyeva (1969) verificou um aumento no CHet, após aumentar a oferta de
alimento. (VOLPATO et al., 1989) encontraram que, na tilápia-do-nilo, dominantes e submissos
ingerem porções similares de alimento, mesmo em competição alimentar.
Outro mecanismo refere-se ao estresse social decorrente das interações agonísticas,
quando o estresse é maior nos peixes submissos e atua sobre o crescimento por vários meios, como
redução da eficiência de conversão alimentar, supressão do apetite, alterações nos processos digestivos
e desvio energético.
Estudos nesse sentido foram desenvolvidos para diversas espécies de animais aquáticos. Porém,
nenhuma referência foi encontrada para Parachromis managuensis. Assim, o presente trabalho teve por
objetivo estudar o comportamento social: hábito social, hierarquia de dominância; hábito alimentar, e
suas relações com o crescimento, nesta espécie.
MATERIAL E MÉTODOS
Os alevinos de P. managuensis provenientes da Estação de Piscicultura IBAMA, foram
transportados para o Laboratório de Avaliação Ponderal de Animais Aquáticos (LaAqua) do
Departamento de Pesca e Aqüicultura da Universidade Federal Rural de Pernambuco, onde, após uma
67
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
semana de aclimatização, foram mantidos por 60 dias em oito aquários (30cm X 60cm X 40cm de
altura, contendo 60L d’água), (com quatro alevinos cada) dispostos lado a lado em uma bancada,
distribuídos de forma inteiramente casualizada e separados por folhas de papelão, a fim de evitar
contacto visual entre os indivíduos de diferentes aquários. A água utilizada, inicialmente advinda de
abastecimento público, no decorrer do experimento era recirculada, em sistema fechado, através de
tubulação em PVC instalada no laboratório, com vazão suficiente para renovação total 12 vezes ao dia,
filtrada por filtro biológico composto de casca de ostra, brita e cascalho, com função de oxidação da
amônia dissolvida.
O comportamento social dos indivíduos foi analisado através de observações diretas ao longo do
dia (12 horas no primeiro dia e a partir do segundo, duas horas pela manhã e tarde), quando foram
tomadas as relações comportamentais: hábito social; interações agonísticas, a fim de estabelecer a
hierarquia dominância, e verificada a posição hierárquica de cada animal no grupo.
O hábito alimentar foi avaliado pelo fornecimento de ração balanceada e, extrusada, com 34%
de proteína bruta, ofertada, em 3% da biomassa de peixes, duas vezes ao dia (manhã e tarde),
complementada com alimento vivo que constou de dois lebistes (Poecilia sp.) por peixe experimental.
O CHet foi avaliado pelo cálculo do coeficiente de variação do peso (CHet = desvio padrão ×
100 / média do peso) do animal. Para tal, todos os peixes foram pesados no início do experimento e a
cada 15 dias, até 60 dias, final do experimento. Considerou-se como tratamento a posição hierárquica
do animal no grupo, a saber: submisso (I); submisso (II); segundo dominante e primeiro dominante, em
oito réplicas.
Diariamente, foi realizada limpeza dos aquários através de sifonamento, para retirada de detritos
e excrementos dos animais.
As variáveis físico-químicas da água, pH, D.O., salinidade e condutividade foram tomadas a
cada três dias e a temperatura, três vezes ao dia.
Na avaliação estatística dos dados de crescimento foi empregada Análise de Variância,
complementada pelo teste de Tukey (p = 0,05), verificando-se se dados apresentavam distribuição
normal e variâncias homocedásticas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Parachromis managuensis apresentou hábito territorial, sendo bastante agressivo e resistente às
condições de agrupamento. Suportou as mudanças de condições da água, de forma que na fase de
aclimatização não houve mortalidade. Mostrou-se um predador voraz, desde alevino (3 cm de
comprimento), perseguindo presas vivas lebistes (Poecilia sp.) de até 1cm de comprimento.
68
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
Foram verificados sinais de agressividade nas situações de agrupamento, evidenciados por
confrontos agonísticos para estabelecer posições hierárquicas e domínio territorial através de
movimentos comuns entre os ciclídeos. Essas disputas começam cerca de 30 minutos após o
pareamento, o que esta de acordo com o observado por (FERNANDES & VOLPATO, 1993), para a
tilápia Oreochromis niloticus e podem ser assim descritas: A) eriçamento da nadadeira dorsal - nos
primeiros confrontos, antes do estabelecimento da hierarquia de dominância, e após este fato, como
ameaça aos submissos, os dominantes eriçam a nadadeira dorsal (Figura 1A), causando a evitação por
parte do submisso; B) postura lateral – os animais se postam lado a lado e deflagram toques com a
nadadeira caudal na cabeça do coespecífico (Figura 1B); C) tremores, (VOLPATO et al., 1987) – os
peixes se postam transversalmente, com os corpos apresentando tremores curtos, pôr muito tempo até
que um contendor se afaste do local (Figura 1C); D) briga bucal, igual a “mouth fighting” (BAKKER &
SEVENSTER, 1983) – os peixes candidatos a dominantes se pegam pela boca e lutam pela
dominância, até que um seja vencedor (Figura 1D).
Figura 1 – Confrontos agonísticos em Parachromis managuensis: A) eriçamento da nadadeira dorsal,
em sinal de ameaça; B) postura lateral, deflagrando toques com as nadadeira caudal na
cabeça do coespecífico; C) tremores curtos e após afastamento do logal e D) Briga bucal
(=Mouth fighting) na disputa da dominância.
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
Após os confrontos agonísticos, verifica-se a determinação da hierarquia de dominância (HD), com
de três níveis distintos: primeiro dominante; segundo dominante e submissos. Essas posições
hierárquicas dos animais no grupo podem ser responsáveis por alterações nos processos fisiológicos
nos indivíduos, como aventados pôr diversos autores. Variações de coloração e distribuição espacial
são as mais freqüentemente relatadas. Os dominantes adquiriram coloração mais clara e ocuparam a
porção próxima do substrato dos aquários, enquanto os submissos apresentaram coloração mais escura,
mais notável ao redor dos olhos e na região dorsal e foram deslocados para a parte superficial da água.
Resultados semelhantes aos obtidos por (VOLPATO et al., 1987) com tilápia. Para a distinção
de hierarquia são notáveis a agressividade individual e o fator tamanho, pois os dominantes crescime
mais que os submissos. VOLPATO et al., 1989 citam ainda outros fatores, como a posse prévia do
território, condição hierárquica anterior e estado nutricional.
Os submissos de Parachromis managuensis apresentaram manchas esbranquiçadas na região
dorsal, quando submetido a condições de estresse. Hipoteticamente as manchas podem ser
características da espécie, como resposta ao estresse, este fato deve ser testado posteriormente Outra
fato observado nestes indivíduos, após disputas com dominantes, foram injúrias físicas pelo corpo.
O crescimento dos dominantes é superior ao dos submissos. No início do experimento os peixes
apresentam tamanho similar (F(3;28) = 0,25, p > 0,05); a variabilidade não é significativa até o os
primeiros quinze dias (F(3;28) = 1,25, p > 0,05); a partir do trigésimo dia os dominantes apresentam
crescimento igual aos segundos dominantes e superior aos submissos (F(3;28) = 5,56 p < 0,01); a partir
do dos 45 dias o crescimento do dominante é superior a dos demais peixes do grupo (F(3;28) = 13,13, p
< 0,01), o que prevalece até o final do experimento (F(3;28) = 20,01, p < 0,01) (Figura 2).
Estes resultados sugerem a ocorrência de exacerbação do CHet nos dominantes em detrimento
dos demais animais do grupo. Este fato reforça a tese de que energia para o crescimento é disponível
somente depois que a demanda de outras necessidades são atendidas.
Assim, vários estressores têm sido relatados como supressores de crescimento, como reportado para
espécies territoriais que aumentam as interações agonísticas em condição de agrupamento, o que reduz
o crescimento em decorrência das alterações metabólicas decorrentes do estresse social (FERNANDES
& VOLPATO, 1993).
No início do experimento foi de 2,4%, a exacerbação do CHet. Ocorreu desde os primeiros quinze dias
de agrupamento e foi crescente até o final, quando chegou a 42,7% (Figura 3). Da mesma forma que
ocorre em outras espécies da família Cichlidae, a alta variabilidade de crescimento ocorre em função
das diferenças hierárquicas entre os indivíduos: as taxas de crescimento são diretamente proporcionais
à posição hierárquica do animal no grupo.
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
Figura 2 – Parachromis managuensis: média dos pesos (g) de acordo com a posição hierárquica do
animal no grupo pelo tempo de cultivo (● D1; ▲ D2; □ S1; ◊ S2).
Figura 3 – Parachromis managuensis: crescimento heterogêneo (Chet) de todos os animais pelo tempo
de cultivo.
71
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
Estes resultados corroboram muitos trabalhos constantes da literatura que demonstram que o
agrupamento exacerba o CHet, o que sugerem fortemente a participação de controle populacional,
como discutido por (HENRY & ATCHISON, 1979; FERNANDES & VOLPATO, 1993). Desta forma,
é possível inferir que vários mecanismos decorrentes do agrupamento reduzem, de diferentes maneiras,
a energia final disponível para o crescimento, provocando a supressão social do crescimento em alguns
indivíduos.
Dentre os estressores, destaca-se a má qualidade da água, como um importante fator que reduz o
crescimento em peixes. Neste estudo a água apresentou boa qualidade, não variou entre as condições e
manteve-se dentro dos padrões necessários ao bem estar dos peixes: pH 7,8 (7,7-8,0); D.O. 7,1 mg/L
(6,7-7,3); salinidade 0,5 ppm (0,4-0,6) e temperatura 24,6ºC (23,1-26,5).
O comportamento social do peixe-jaguar Parachromis managuensis apresenta relações diretas
com o crescimento e os seguintes padrões de comportamentais: é uma espécie de hábito territorial, é
carnívora, muito voraz, mas também aceita ração balanceada; apresenta hierarquia de dominância bem
definida e a posição hierárquica é diretamente proporcional à taxa de crescimento do indivíduo: os
dominantes crescem mais que os demais animais do grupo, de forma que apresenta alta variabilidade de
crescimento (CHet).
AGRADECIMENTOS
À Helder Correia Lima e Erivaldo José da Silva Júnior pela confecção dos desenhos, Edson
José da Silva Filho e Artur Delmiro S. da Mota pelo auxílio nas coletas de dados e Luiz Fernando S.
Souza pela revisão do texto.
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74
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
DIAGNÓSTICO DE ECTOPARASITAS E BACTÉRIAS EM TILÁPIAS (Oreochromis niloticus)
CULTIVADAS NA REGIÃO DE PAULO AFONSO, BAHIA
Jeudi Brito de LEMOS ([email protected]); Maria Elizabeth de Barros RODRIGUES
([email protected]); José Patrocínio LOPES ([email protected])
Departamento de Educação, Universidade do Estado da Bahia.
RESUMO
No Brasil, o aumento no cultivo de organismos aquáticos, tem ocasionado aparecimento e
manifestações de enfermidades com grandes prejuízos. Esse problema torna-se preocupante devido ao
pouco conhecimento dos aquicultores sobre profilaxia e tratamento adequado. Este trabalho teve por
objetivo diagnosticar ectoparasitas e bactérias em Tilápia (Oreochromis niloticus) nos cultivos da
região de Paulo Afonso/Bahia. O trabalho foi elaborado na Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
com participação da Estação de Piscicultura de Paulo Afonso (EPPA), da Companhia Hidro Elétrica do
São Francisco (CHESF). Foram realizadas visitas para conhecer o manejo de cultivo em duas estações
de produção de alevinos aqui denominadas Estação 01 e 02 e em duas pisciculturas intensivas do setor
privado, tanques-rede (TR) e raceways (RC) que trabalham com juvenis até a comercialização. O
material colhido nas Estações 01 e 02 apresentaram comprimento médio de 5,8±20 e 3,1±15 cm
respectivamente e o procedente dos TR e RC apresentaram pesos médios de 679±165,43 e 531±77,57 g
respectivamente. Os alevinos colhidos nas Estações 1 e 2 foram enviados ao laboratório da EPPA em
sacos plásticos com água e oxigênio, onde realizou-se raspagem do tegumento e das brânquias para
observação em microscópio. No material procedente da comercialização de pescado foi realizado
swabs de cérebro e de rim de cinco peixes de cada forma de cultivo, como também exames externos e
internos para visualizar sinais clínicos infecções causados por bactérias e, posteriormente enviados ao
laboratório para identificação. Os resultados obtidos na Estação de Piscicultura 02 indicaram
ectoparasitas de Trichodina sp. E nas pisciculturas intensivas em TR e RC, as bactérias Streptococcus
agalactiae e Aeromonas hydrophila. Conclui-se que há necessidade de verificar as condições de
manejo de cultivo na Estação de Piscicultura 02, como também nas pisciculturas intensivas em TR e
RC, antes de introduzir tratamentos com produtos químicos.
Palavras-chave: Peixes, Doenças, Parasitas
75
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
DIAGNOSTIC OF ECTOPARASITES AND BACTERIAS IN TILAPIAS (Oreochromis niloticus)
CULTIVED IN PAULO AFONSO REGION – BAHIA
ABSTRACT
In Brazil, the increase in the cultivation of aquatic organisms, it has been causing emergence
and manifestations of illnesses with great damages. That problem becomes preoccupying due to the
little knowledge of the aquiculture on prophylaxis and appropriate treatment. This work aims at to
diagnose ectoparasites and bacteria in Tilapia (Oreochromis niloticus) in the cultivations of Paulo
Afonso/Bahia's area. The work was elaborated in the University of the State of Bahia (USB) with
participation of the Station of Fish farming of Paulo Afonso (SFFPA), of the San Francisco
Hydroelectric Company (SFHC). Visits were accomplished to know the cultivation handling here in
two stations of alevines production denominated Station 01 and 02 and in two intensive fish farmings
of the private section, tank-net (TR) and raceways (RC) that work with juvenile until the
commercialization. The material picked in the Stations 01 and 02 presented medium length of 5,8±20
and 3,1±15 cm respectively and the coming from TR and RC presented medium weights of 679±165,43
and 531±77,57 g respectively. The alevines picked in the Stations 01 and 02 were sent to the laboratory
of EPPA in plastic sacks with water and oxygen, where he/she took place scratching of the tegument
and of the gills for observation in microscope. In the material coming from the fish commercialization
brain swabs was accomplished and of kidney of five fish in each cultivation way, as well as external
and internal exams to visualize signs clinical infections caused by bacteria and, later correspondents to
the laboratory for identification. The results obtained in the Station of Fish farming 02 indicated
ectoparasites of Trichodina sp. and in the intensive fish farmings in TR and RC, the bacteria
Streptococcus agalactiae and Aeromonas hydrophila. It is ended that there is need to verify the
conditions of cultivation handling in the Station of Fish farming 02, as well as in the intensive fish
farmings in TR and RC, before introducing treatments with chemical products.
Key words: Fishes, Disease, Parasites
INTRODUÇÃO
No Brasil, o aumento nos cultivos de organismos aquáticos através da aqüicultura, tem
ocasionado o aparecimento e manifestações de várias enfermidades que muitas vezes respondem por
grandes prejuízos. Esse problema torna-se preocupante devido ao pouco conhecimento dos aquicultores
sobre a profilaxia e o tratamento adequado.
76
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
Há muitos fatores capazes de provocar a morte dos peixes, inclusive as moléstias. As grandes
mortandades de que freqüentemente se têm notícias são provocadas pelas bruscas modificações da
constituição física e química das águas, especialmente no tocante à temperatura, da oxidação da matéria
orgânica, da pressão barométrica e da respiração dos animais e plantas aquáticas, destacando-se os dois
primeiros fatores como os principais (STEMPNIEWSKI, 1978; MARTINS, 1997).
Quando o organismo aquático encontra-se intensamente parasitado ou tomado por lesões
profundas, dificilmente recupera a saúde com tratamento. Portanto, o criador deve concentrar a sua
atenção na prevenção das doenças, tendo em vista que a administração de produtos químicos pode
apresentar conseqüências para o peixe, para o meio ambiente onde se aplica e para a saúde do
consumidor. Devemos aprender a conviver em equilíbrio com certos parasitas e patógenos, tentando
manter boas às condições aquáticas de cultivo, adotando práticas adequadas de manejo como,
monitorar a qualidade da água e utilizar densidades de estocagem e alimentação adequadas a cada
forma de cultivo. O objetivo deste trabalho foi conhecer o manejo e diagnosticar ectoparasitas e
bactérias nos modelos de cultivo praticados na região de Paulo Afonso, Bahia.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi desenvolvido na Universidade do Estado da Bahia (UNEB), na cidade de Paulo
Afonso em parceria com a Estação de Piscicultura de Paulo Afonso (EPPA), pertencente à Companhia
Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF) e da Associação de Piscicultura Beira Rio, que produzem
alevinos para repovoamento de reservatórios e venda a terceiros, respectivamente.
No tocante à comercialização de animais cultivados diretamente para consumo, contou-se com a
participação da Associação de Piscicultura Pia do Roque Xingozinho e da AAT International Ltda.
Assim, este trabalho está contribuindo com empresas públicas e privadas que atuam na produção e
comercialização de alevinos e de pescado.
Nas unidades de cultivo, foram realizadas observações no manejo com relação: ao
abastecimento e qualidade da água - qual a fonte de abastecimento dos tanques e viveiros, a
manutenção da boa qualidade da água através do monitoramento constante das variáveis físicas e
químicas, a utilização de filtros que evita a contaminação direta ou indireta através da água que entra na
criação; à administração de alimento balanceado para a espécie cultivada; ao controle da densidade
populacional de peixes nos viveiros e nos tanques; à eliminação de animais mortos diariamente da
criação, pois podem se constituir em foco de proliferação e de disseminação dos patógenos; à
mortalidade e à alteração no comportamento dos alevinos.
77
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
Na Piscicultura intensiva em tanques-rede, as estruturas dos tanques, apresentam volume de 4 m³,
sendo (2 x 2 x 1,20 m), de aço inoxidável com malha 17 mm e comedouros dos tipos anteparo sobre
tela e redondo. Os tanques-rede estão dispostos em linha reta (A, B e C) num total de 115, distando um
do outro 1,5 m, aproximadamente, e estão amarrados com cabos de aço que ficam presos às margens do
Rio. Os alevinos de tilápia (Oreochromis niloticus) variedade Chitralada, são provenientes de uma
empresa, localizada em Pernambuco, adquiridos de dois em dois meses e são revertidos sexualmente.
Quando, no cultivo, ocorre uma mortalidade alta, principalmente nos peixes com pesos de 400 a 500 g
e esta chega a 15 peixes/tanque/dia, utiliza-se oxitetraciclina (terramicina). A administração é feita
através da mistura de 100 g de oxitetraciclina, 50 g de vitamina C e 50 g de metionina em um litro de
óleo de soja para aderir à ração que vai ser dada aos peixes, por um período de oito dias. Este
tratamento foi indicado aos associados por um fornecedor de ração da região. Quando é necessário
utilizar o tratamento com este antibiótico, em peixes que já estão prontos para a comercialização, a
venda fica suspensa por uma semana e os animais ficam em observação.
Quando há programação para despesca, é feito um jejum nos peixes dos tanques que serão
despescados, de vinte e quatro horas. Os peixes são comercializados quando atingem um peso de 800 a
1000 g, num período de 180 dias de cultivo.
A Empresa que cultiva peixe em sistema intensivo tipo raceways, abrange uma área de duas
baterias com 104 tanques cada uma, ocupando uma área de 0,7 ha, destinada à engorda de tilápia-donilo (Oreochromis niloticus), variedade QAAT 1. Nos raceways, os alevinos, revertidos sexualmente
são estocados com peso médio inicial de 5 a 10 g nas densidades de 150, 115, 85 e 60/m³ por um
período de 240 dias e utiliza-se telas de malha com 8 mm para um total de 5000, 4000, 3000 e 2000
alevinos na 1ª, 2ª, 3ª e 4ª linhas, respectivamente. No momento da estocagem, são aclimatados por
alguns minutos, e é utilizado sal como produto profilático. Antes da despesca, a ração dos peixes é
suspensa por 24 horas. Começa retirando-se os peixes com rede de despesca, faz-se a repicagem,
coloca-os em sacos e leva-os imediatamente para as caixas com gelo que são colocadas em carro
frigorífico. No momento a venda está sendo feita in natura e os pesos variam entre 400 e 900 g.
Os peixes, colhidos nas estações de pisciculturas, foram enviados ao laboratório em sacos
plásticos com 1/3 de água e oxigênio, medidos, e, em seguida, realizaram-se raspagens do tegumento e
das brânquias da espécie em estudo, que foram observadas em microscópio para registrar a presença,
ou não, de ectoparasitas. A quantidade de animais colhidos nas estações de produção de alevinos
(denominadas, neste trabalho, de Estação de Piscicultura I e Estação de Piscicultura II) com os
respectivos comprimentos médios estão representados na Tabela 1.
78
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
Tabela 1. Comprimento médio dos alevinos de tilápias (Oreochromis niloticus) cultivados nas Estações
de Piscicultura visitadas.
Estação de
Piscicultura
Número de
alevinos
Tanque (n˚)
Viveiro (n˚)
Comprimento médio
(mm)
I
15
-
1, 12 e 14
58±20
II
15
8
-
31±15
Os animais procedentes dos tanques-rede, com respectivos pesos e comprimentos, estão
representados na Tabela 2. Os peixes foram colhidos com o auxílio de rede de despesca e puçá, sendo
acondicionados em caixas isotérmicas e transferidos, imediatamente, para o laboratório da EPPA, na
CHESF. Cada peixe foi denominado de acordo com a linha C e o número do tanque de onde foram
retirados.
Tabela 2. Pesos e comprimentos de tilápias (Oreochromis niloticus) cultivadas em tanques-rede.
Tanques-rede
Peso (g)
Comprimento (mm)
C5
815
320
C17
845
311
C18
655
305
C20
430
243
C23
650
309
Média
679±165,43
294±35,04
Os materiais procedentes dos raceways, com respectivos pesos e comprimentos estão
representados na Tabela 3. Todo material foi colhido com o auxílio de rede de despesca e puçá, sendo
acondicionado em caixas isotérmicas e transferidos imediatamente para o laboratório da EPPA, na
CHESF. Cada peixe foi denominado de acordo com as linhas A e B e o número do tanque de onde
foram retirados.
Para o material colhido nas unidades de comercialização de pescado, além de pesados e medidos, foram
colhidos swabs (palito longo com uma das extremidades envolvida em algodão esterilizado) de cérebro
e de rim de cinco peixes de cada forma de cultivo. Os peixes foram lavados, descamados e
desinfectados inteiros, com álcool iodado a 2% em ambiente asséptico. As facas, tesouras e pinças
79
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
Tabela 3. Pesos e comprimentos de tilápias (Oreochromis niloticus) cultivadas em raceways.
Raceways
Peso (g)
Comprimento (mm)
A4
580
320
A6
575
282
A18(1)
395
-
A18(2)
565
292
B15
540
290
Média
531±77,57
291±17,92
também foram desinfectadas com álcool iodado a 2%. Foi feito um corte em “L” na cabeça do peixe e
introduziu-se um swab no cérebro, em seguida o peixe foi cortado pela coluna, na região dorsal, e
introduziu-se o swab no rim até ficar umedecido. Após este procedimento foram realizados exames
visuais externos nos olhos, boca, opérculo, brânquias, tegumento e nadadeiras e internos no estômago,
intestino, fígado, vesícula biliar, rim e baço nos peixes para identificar os sinais clínicos de infecções
causadas por bactérias. As amostras colhidas foram enviadas para o laboratório da Universidade
Federal de Lavras (UFLA) em Minas Gerais, em temperatura ambiente, para isolamento e identificação
de bactérias que possam danificar a qualidade do produto, contribuindo com a disseminação de
doenças, tanto nos cultivos de peixes como nos consumidores dos produtos na região. No laboratório
todas as amostras foram semeadas em ágar sangue, com incubação a 37 ºC, por até 72 horas. Isolados
com diagnóstico presuntivo de Streptococcus sp. foram submetidos à identificação bioquímica pelo kit
API-STREP 20 (Biomerieux, França) e o grupo de Lancefield determinado pelo kit Slidex Strepto
(Biomerieux, França).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nas visitas às estações de piscicultura foram observadas que na Estação I (EP-01) as infraestruturas são compostas por tanques de alvenaria e viveiros escavados, enquanto que na Estação II
(EP-02) somente viveiros escavados. A água de abastecimento nestas Estações é proveniente do rio São
Francisco e passa por filtro até o abastecimento dos tanques e viveiros, não há tratamento dos efluentes
e não possuem lagoa de decantação. São realizadas análises de água, calagem e adubação de acordo
com as necessidades e, diariamente, são retirados os peixes mortos, que são enterrados. Com
relação
ao processo reprodutivo, os machos são colocados junto às fêmeas e após o acasalamento, as larvas são
80
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
coletadas no próprio ambiente de reprodução e transportadas para os tanques e viveiros de alevinagem.
Na EP-01 os tanques de alevinagem são de alvenaria e medem 50 m² (5 m x 10 m), com estocagem de
até 5000 alevinos/tanque, numa densidade de aproximadamente 100 alevinos/m².
A ração utilizada contém 36% de proteína bruta acrescida das vitaminas A, D e E na
proporção de 1 Kg do complexo vitamínico para 100 Kg de ração. A quantidade máxima fornecida é de
1 Kg de ração/tanque/dia, sendo o primeiro arraçoamento às 8:00 horas e o último às 13:00 horas. Esta
estação não faz reversão sexual, pois segundo os técnicos, há trabalhos já comprovados da não
necessidade da reversão sexual em tilápias para cultivo destas em tanques-rede, isto já se pratica
também tendo em vista futuros problemas ambientais.
Após a desova os reprodutores passam por um período de repouso de no mínimo quinze dias.
Nesta Estação, cultivam-se espécies nativas como: Curimatã (Prochilodus argenteus) e outras
alóctones para repovoamento; tambaqui (Colossoma macropomum) e tilápia (Oreochromis niloticus)
para comercialização dos alevinos a terceiros.
A Estação II cultiva somente a tilápia com a finalidade de venda a terceiros. Nesta Estação,
os viveiros medem 1000 m² e dentro destes são colocados 16 tanques de reversão sexual com estrutura
de polietileno e malha de 4 mm medindo 4 m² (2 m x 2 m), onde são colocados 15.000 alevinos/tanque,
numa densidade de 240 alevinos/m².
As pisciculturas não dispõem de unidade de quarentena em local isolado do cultivo, como
também de pedilúvio, rodolúvio e registro de controle de visitas. Os alevinos da EP-01 que foram
observados externamente apresentaram a pele, as nadadeiras, os olhos, os opérculos e as brânquias
aparentemente normais, já os alevinos da EP-02 observados apresentaram-se debilitados, com cabeça
grande e restante do corpo fino, indicando subnutrição.
No material colhido através de raspagem no tegumento e brânquias e observado ao microscópio,
não se identificou ectoparasitas na EP-01, enquanto que na EP-02 foram encontrados vários
protozoários de trichodina (Trichodina spp.).
O diagnóstico de bactérias dos animais colhidos baseou-se nos sintomas externos, internos e
alterações no comportamento dos peixes, conforme a Tabela 4, cultivados nos tanques-rede e no
isolamento e identificação da bactéria Streptococcus agalactiae, realizado através de testes
bioquímicos.
Cada peixe colhido nos tanques-rede recebeu a denominação de acordo com a linha C e o número
do tanque de onde foram retirados. A Figura 1 mostra espécime com sinais clínicos externos como:
pele escura e com lesão, podridão na nadadeira caudal e erosão na nadadeira dorsal.
81
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
Tabela 4. Sinais clínicos de doença em tilápias (Oreochromis niloticus) cultivadas em tanques-rede.
Identificação da
amostra
Sinais clínicos
internos
Alterações no
comportamento
Pele, olhos, nadadeiras
normais, opérculos normais
e brânquias vermelho
brilhante.
Rim, fígado, vesícula
biliar e baço com aspecto
normal.
Aparentemente
normal.
Pele com lesão, exoftalmia,
nadadeira peitoral partida e
hemorrágica.
Rim, fígado, vesícula
biliar e baço com aspecto
normal.
Aparentemente
normal.
TR-C18
Pele com lesão, exoftalmia,
erosão nas nadadeiras.
Rim, fígado e baço com
aspecto normal, vesícula
biliar com cor verde
azulada.
Redução no
apetite, letargia e
peixe boquejando
na superfície.
TR-C20
Pele com lesões, olhos
normais, erosão nas
nadadeiras.
Rim hemorrágico, lesão
na região caudal, fígado
de cor anormal (bege)
aspecto friável.
Redução no
apetite, letargia e
peixe boquejando
na superfície.
TR-C5
TR-C17
TR-C23
Sinais clínicos externos
Pele normal, córneas opacas
(catarata) e exoftalmia
bilateral, erosão nas
nadadeiras.
Rim, fígado e baço com Redução no apetite,
aspecto normal, vesícula
letargia e peixe
biliar extremamente
boquejando na
repleta com cor verde
superfície.
azulada.
Figura 1. Exemplar de tilápia-do-nilo Oreochromis niloticus com sinais de ataque por ectoparasitos.
82
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
Nos resultados do laboratório, as amostras colhidas nos tanques-rede, foram semeadas em ágar sangue,
suplementado com 5% de sangue de ovino, com incubação a 37 ºC, por até 72 horas. Isolados com
diagnóstico presuntivo de Streptococcus sp. foram submetidos à identificação bioquímica pelo kit APISTREP 20 (Biomerieux, França) e o grupo de Lancefield determinado pelo kit Slidex Strepto
(Biomerieux, França). A partir dos espécimes TR-C20 RIM e TR-C20 CÉREBRO foram obtidos dois
isolados identificados como Streptococcus agalactiae (grupo B de Lancefield). No antibiograma
realizado (Tabela 5), esta bactéria apresentou resistência aos antibióticos: ácido nalidíxico,
gentamicina, neomicina, nofloxacina e tetraciclina, isto é, quando o peixe é submetido ao tratamento
com estes produtos químicos não apresenta resposta imunológica suficiente para matar a bactéria;
sensibilidade ao cloranfenicol, cuja utilização está proibida pelo Ministério da Agricultura; e alta
sensibilidade a amoxicilina, eritromicina e sulfazotrim que são os terapêuticos mais indicados por
apresentar melhor eficiência no combate à bactéria.
Tabela 5. Antibiograma para Streptococcus agalactiae nas amostras TR-C20 rim e cérebro.
Drogas
Amostra: TR-C20 Rim
Germe: Streptococcous
Amostra: TR-C20 Cérebro
Germe: Streptococcus
Amoxicilina
MS
MS
Acido Nalidíxico
R
R
Cloranfenicol
S
S
Eritromicina
MS
MS
Gentamicina
R
R
Neomicina
R
R
Norfloxacina
R
R
Tetraciclina
R
R
Sulfazotrim
MS
R
MS = Muito Sensível; R = Resistente; S = Sensível.
FONTE: Laboratório do Departamento de Medicina Veterinária – UFLA, Minas Gerais, 2005.
O exemplar de tilápia colhido num raceway apresentou erosão na nadadeira peitoral e lesão na
pele próximo ao opérculo, conforme a Figura 2. O diagnóstico dos animais colhidos baseou-se nos
83
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
sintomas externos, internos e alterações no comportamento dos peixes, de acordo com as Tabelas 6 e
no isolamento da bactéria, realizada através de testes bioquímicos (Tabela 7).
Figura 2. Oreochromis niloticus com sinais de ataque por Aeromonas hydrophila.
Tabela 6. Sinais clínicos de doença em tilápias (Oreochromis niloticus) cultivadas em raceways.
Identificação da
amostra
Sinais clínicos externos
Sinais clínicos internos
Alterações no
comportamento
Lesão com podridão na
pele próxima ao
opérculo, brânquias
normais.
Lesão próxima à
nadadeira caudal, erosão
em das nadadeiras,
brânquias hemorrágicas
e com lesão, córnea
esbranquiçada.
Vesícula biliar repleta, fígado
hemorrágico e friável
apresentando lesão, baço
escurecido, rim aumentado.
Aparentemente
normal.
Fígado cheio de traços brancos
com área hemorrágica, baço
com aderências de gordura.
Aparentemente
normal.
RC/BL – A18(1)
Lesões próximas às
nadadeiras, exoftalmia,
brânquias pálidas com
lesões.
Coração lesionado, rim
aparentemente normal, fígado
com pontos brancos e áreas
hemorrágicas, baço com área
hemorrágica.
Redução no apetite,
letargia e peixe
boquejando na
superfície.
RC/BL - B15
Escurecimento da pele,
lesão nas brânquias,
erosão em todas as
nadadeiras.
Fígado com lesão e
Redução no apetite,
apresentando áreas mais claras
letargia e peixe
e petéquias, vesícula biliar
boquejando na
repleta e de cor verde azulada,
superfície.
baço e rim aumentados.
RC/BL – A4
RC/BL – A6
Os resultados laboratoriais dos swabs colhidos em raceways apresentam os testes bioquímicos
de: catalase, oxidase, hidróxido de potássio (KOH) e Gram-stain utilizados para crescimento dos
organismos estudados, conforme a Tabela 7.
84
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
Tabela 7. Características bioquímicas dos organismos estudados.
Amostras
Origem
Catalase
Oxidase
KOH
GRAM
Morfologia
RC-Bloco A4
Lesão
*
*
*
*
Levedura
RC-Bloco A4
Rim
+
+
+
-
Cocobacilos
RC-Bloco A4
Cérebro
*
*
*
*
*
Rim
+
-
+
-
Cocobacilos
Rim
+
-
-
+
Cocos
Rim
+
-
-
+
Cocos
RC-Bloco B15
Cérebro
*
*
*
*
*
RC-Bloco B15
Rim
+
+
+
-
Cocobacilos
RC-Bloco A18-1
Cérebro
*
*
*
*
*
RC-Bloco A18-1
Rim
*
*
*
*
*
RC-Bloco A18-2
Cérebro
*
*
*
*
*
RC-Bloco A18-2
Rim
*
*
*
*
Levedura
RC-Bloco A6
*Não houve crescimento.
OBS: Na amostra RC-Bloco A6 Rim, foi observado o crescimento de três tipos de colônias diferentes.
FONTE: Laboratório do Departamento de Medicina Veterinária – UFLA, Minas Gerais - 2005.
A identificação da bactéria Aeromonas hydrophila foi realizada a partir das amostras RC-A4
RIM e RC-B15 RIM, através de testes bioquímicos (Tabela 8). O antibiograma das amostras de
Aeromonas não foi realizado porque a maioria destas bactérias é sensível a oxitetraciclina, no Brasil
(FIGUEIREDO, comunicação eletrônica).
Segundo Vieira e Vieira (2003), com a chegada das tilápias de Bangkok, Tailândia ao Centro de
Pesquisas em Aqüicultura do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas.
(DNOCS) em meados de dezembro de 2002, citam que também chegou a informação de que
uma das causas de elevada mortalidade (70 a 80 %) entre as pós-larvas (PL’s) e alevinos de tilápia- doNilo (Oreochromis niloticus) era a infestação destas PL’s por trichodina (Trichodina spp.) e
Americulture (2005), Walker & Foott (1992), concordam que altas infestações causam mortalidade
elevada em animais jovens.
85
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
Tabela 8. Testes bioquímicos para identificação de Aeromonas hydrophila.
Amostra
Salicina Sacarose Manitol Inositol Arabinose Trealose Dextrina
RC-A4 RIM
+
+
+
-
+
+
+
RC-B15 RIM
+
+
+
-
+
+
+
Vp
Ornitina
Lisina
Arginina
Amostras
Glicose Esculina
RC-A4 RIM
+
-
-
-
+
+
RC-B15 RIM
+
-
+
+
-
+
Kubitza (1998), Fishdoc (2005), relatam que quanto maior o acúmulo de resíduos orgânicos nos
tanques de produção, maior será a população destes parasitos e, quanto maior a densidade de estocagem
dos peixes, maior a possibilidade de infestação. Estes organismos podem estar normalmente presentes
no tanque de cultivo, mas proliferam em águas com excesso de material em decomposição, sendo
encontrados no peixe, (MARTINS, 1997).
As medidas para se evitar ou reduzir a ocorrência do protozoário Trichodina spp. são: manejo
adequado da qualidade da água e boa nutrição; controlar a introdução de novos peixes, adquiri-los de
fornecedor idôneo, providenciar local adequado para quarentena e realizar desinfecção dos
equipamentos, caixas e utensílios usados no transporte para evitar a transferência do parasito e outros
patógenos de uma propriedade a outra; utilizar filtros e telas para controlar a entrada de peixes
indesejáveis; remoção diariamente de peixes mortos do sistema; conscientização do pessoal que
trabalha no cultivo.
Segundo Shoemaker et al. (2000), Kubitza (2000) e Kubitza (2005), no Brasil, os problemas
com Streptococcus parecem ser mais severos e freqüentes em sistemas intensivos. A septicemia
causada pelo Streptococcus continua sendo a doença mais séria no cultivo de tilápias. As condições de
alto adensamento, elevada carga orgânica, má qualidade de água e desequilíbrios nutricionais reduzem
a resposta imune dos peixes, favorecendo as infecções por esta bactéria. Vários sistemas intensivos de
produção de tilápia, nos Estados Unidos, já experimentaram perdas significativas de peixes devido a
infecções por Streptococcus.
O modo de infecção ocorre pela presença de Streptococcus em peixes mortos ou vivos
(moribundos ou sadios), que é liberado na água e pode colonizar a superfície da pele de outros peixes
ou, até mesmo, causar infecções invasivas que podem levar a grande mortalidade. Estas bactérias
86
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
também podem permanecer durante um longo período na água, no lodo ou substrato de tanques e
viveiros e, até mesmo, em equipamentos usados nas operações rotineiras (redes, puçás, roupas, tanques
de transporte, etc.) (KUBITZA, 2001).
Os órgãos indicados para a colheita do material para cultura são: cérebro, fígado e rim. O meio
de cultivo indicado para o isolamento de Streptococcus é o ágar-sangue, Kubitza (2001), suplementado
com 5% de sangue de ovino desfibrinado. O material coletado deve ser semeado em placas de Petri e
incubado a 29 ou 30ºC durante 24 a 48 horas (Phillip Klesius apud KUBITZA, 2001). A partir das
colônias de bactérias desenvolvidas nas placas de Petri, devem ser realizados os seguintes
procedimentos: coloração Gram (positivo para Strepto); teste da catalase (negativa para Strepto);
observar o tipo de hemólise; prova da hidrólise do amido (positivo para Streptococcus iniae); prova da
hidrólise da insulina (positiva para Streptococcus iniae) dentre outros.
Os sinais clínicos típicos desta bacteriose estão representados na Tabela 4, concordando com
os descritos por (KUBITZA & KUBITZA, 1999; KUBITZA, 2001 e 2005; COSTA, 2003). Foram
registradas infecções por Streptococcus também em humanos que manipularam tilápias infectadas, nos
Estados Unidos. Esta bactéria foi isolada do sangue de algumas pessoas que apresentavam um quadro
clínico de edema e vermelhidão nas mãos e nos braços (inflamação cutânea).
Segundo Kubitza (2000), Kubitza (2001) e Costa (2003), os problemas com Streptococcus
podem ser minimizados assegurando boas práticas de manejo como: adequada qualidade da água, uma
correta nutrição e evitando a manipulação excessiva dos peixes nas operações rotineiras e nas
transferências dos mesmos. Peixes moribundos e peixes mortos devem ser removidos dos tanques-rede.
Ficar atento para não cometer excesso na densidade de estocagem. Proporcionar adequada nutrição aos
peixes, evitando o acúmulo excessivo de resíduos orgânicos e a deteriorização da qualidade da água.
Os sintomas mais comumente associados à infecção por Aeromonas hydrophila encontrados no
cultivo em raceways estão descritos no Tabela 04, concordando com (PASTOR, 1981; MARTINS,
1997; CAMUS et al. 1998; PAVANELLI, 1998; BOIJINK & BRANDÃO, 2001; COSTA, 2003;
KUBITZA, 2004). Em humanos, de acordo com Costa (2001) pode causar oftalmites, ulcerações,
infecções e feridas na pele, além de meningite e septicemia.
De acordo com Pavanelli (1998), o diagnóstico é efetuado através do isolamento de bactérias,
por exemplo, a partir do rim – semeadas em meio de cultura de rotina (TSA), incubadas entre 20 e 25ºC
durante 24 a 48 horas, e Kubitza (2000) relata que os meios de cultura utilizados podem ser RimlerShotts e TSA. Assim, será possível identificar a bactéria e confirmar a etiologia da doença, sendo este
procedimento indispensável, já que a sintomatologia é idêntica a de outras septicemias de origem
bacteriana.
87
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
A melhor prevenção contra problemas com Aeromonas é garantir uma adequada nutrição e
manuseio dos peixes, Pavanelli et al. (2000), Kubitza (2004), Swann & White (1989) bem como atentar
para as condições de qualidade de água, principalmente no que diz respeito aos níveis de oxigênio
dissolvido e às concentrações de metabólitos como o gás carbônico, a amônia e o nitrito. Boa qualidade
de água é conseguida quando as densidades de estocagem e taxas de arraçoamento se adequam à
capacidade de suporte dos sistemas de produção. Devido às características e ao fato das bactérias serem
um componente normal da flora microbiana aquática, não se deve utilizar antibióticos, mas apenas
controlar os fatores indutores de estresse, que, indiretamente, são os são os responsáveis pelas
epizootias.
A presença de vários ectoparasitas Trichodina spp. encontrados nos alevinos de tilápia
(Oreochromis niloticus) variedade Chitralada na EP-II, pode ter ocorrido em função da quantidade de
ração inadequada e aumento na densidade de estocagem nos tanques de reversão sexual desses
alevinos. Sugere-se que sejam realizados estudos para identificar e quantificar a espécie e determinar o
grau de infestação, como também verificar a densidade de estocagem e a quantidade de ração fornecida
aos animais.
Foi identificada a bactéria Streptococcus agalactiae em tilápia (Oreochromis niloticus) variedade
Chitralada cultivada em tanques-rede. O antibiograma indica que se pode utilizar a amoxicilina,
eritromicina e sulfazotrim no tratamento desta doença. Sugere-se verificar as condições no manejo de
cultivo, com relação à qualidade de água, à limpeza dos tanques-rede e ao descarte de peixes mortos
antes de optar pelo tratamento dos peixes com produtos químicos.
A bactéria Aeromonas hydrophila está presente no cultivo de tilápia (Oreochromis niloticus)
variedade QAAT 1 em raceways. É necessário que sejam avaliadas as condições de manejo do cultivo
com relação às análises da qualidade de água, à limpeza dos tanques e à qualidade e quantidade de
ração fornecida aos peixes em função da capacidade de suporte do sistema. Depois de verificadas as
condições de manejo, deverá ser avaliada a necessidade da utilização de antibiótico.
REFERÊNCIAS
BOIJINK, C. L., BRANDÃO, D. A., 2001, Alterações histológicas e comportamentais provocadas pela
inoculação de suspensão bacteriana (Aeromonas hydrophila) em juvenis de jundiá (Rhamdia quelen).
Ciência Rural, v.31, n.4, p. 687 - 690.
CAMUS, A.C., DURBOROW, R.M., HEMSTREET, W.G., THUNE, R.L., HAWKE, J.P., 1998,
Aeromonas Bacterial Infections - Motile Aeromonad Septicemia. Southern Regional Aquaculture
Center (SRAC). Estados Unidos, n.478, p. 1 – 4.
88
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
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90
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
NOVA METODOLOGIA DE HIPOFISECTOMIA EM CURIMATÃ Prochilodus brevis
(PISCES, PROCHILODONTIDAE)
José Patrocínio Lopes ([email protected]), Jeane Gomes de Souza;
Maria Conceição Freire Rocha
Departamento de Educação, Universidade do Estado da Bahia
RESUMO
No nordeste de Brasil, peixes reofilicos total são usados como doadores de hipófises. O presente
trabalho descreve uma nova metodologia de hipofisectomia em curimatãs, Prochilodus brevis
desenvolvida na Estação de Piscicultura de Paulo Afonso (EPPA), da Companhia Hidro Elétrica de São
Francisco
(CHESF)
buscando
melhor
utilização
do
peixe
hipofisectomizado.
Foram
hipofisectomizados 53 espécimes de curimatãs sexualmente maduros. Foram postas em uma calha de
contenção e com ajuda de arco de serra ou uma faca, foi efetuado um corte na região occipital da
cabeça do peixe. Com pinças metálicas o encéfalo foi removido descobrindo a sela túrsica do esfenóide
onde fica a hipófise. Depois de retirada à hipófise, esta é colocada em recipiente com álcool absoluto.
Os peixes foram eviscerados, espalmados, salgados ficando prontos para o mercado. Esta nova técnica
apresenta diferencial em relação a técnica tradicional, que apresenta uma metodologia complicada,
quando da utilização do cotóstomo que dificulta a realização do procedimento e deixa o peixe com
apresentação de difícil comercialização. Esta pesquisa descreve uma nova metodologia de
hipofisectomia em curimatã Prochilodus brevis com melhor aproveitamento do peixe para o mercado,
contribuindo deste modo com uma metodologia de fácil aplicação.
Palavras-chave: Peixes, Reprodução, Hipófise
NEW METODOLOGY OF HYPOPHYSECTOMY IN Prochilodus brevis
(PISCES, PROCHILODONTIDAE)
ABSTRACT
In the northeast of Brazil, fish of total spawning are used as donors of hypophyses. The present
work aims at to describe new hypophysectomy technique in curimata, Prochilodus brevis developed in
the Station of Fish farming of Paulo Afonso (SFFPA), of the San Francisco Hydro Electric Company
(SFHC). Seeking better use of the fish hypophysectomized. They were hypophysectomized 53
91
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
specimens of curimatã sexually ripe. The fish were put in a contention gutter and with aid of mountain
arch or a knife, traverse cut was given in the subsequent border of the occipital of the head of the fish.
With metallic tweezers the encephalon was moved away discovering the saddle of the sphenoid where
is the hypophysis. After retreat to the hypophysis, it is conditioned in container with absolute alcohol.
The fish were eviscerates, flattened, salty being ready to the market. This new technique presents
differential in relation to the previous technique, that it presented a complicated methodology, using
apparels as scissors that hinders the accomplishment of the procedure and clue the fish with aesthetic
presentation of difficult commercialization. That research lance the importance of that new
hypophysectomized methodology in curimatãs Prochilodus brevis seeking better use of the fish to the
market, contributing in that way with methodology of easy application.
Key words: Fishes, Reproduction, Hypophyses
INTRODUÇÃO
A Aqüicultura tem como finalidade produzir alimentos de alto valor protéico de baixo custo e
melhorar as condições sociais e econômicas da população, buscando criar novos nichos econômicos.
Porém não se pode esquecer que essa produção para ser praticada de forma perene, deve estar
sustentada em três pilares: 1) prudência ecológica; 2) viabilidade econômica e 3) eqüidade social
(VINATEA, 1999). Dessa forma a produção estará atendendo a todos os requisitos da sustentabilidade.
Na América Latina, a Aqüicultura recebeu maior atenção quando entraram em funcionamento
diversas estações experimentais de piscicultura. Na Venezuela, essa atividade teve início em 1937,
destacando-se na aqüicultura daquele país uma espécie de salmonideo de água doce, embora houvesse
alternativas tecnológicas, inclusive de várias espécies nativas (SALAYA et al. 1980).
No
Brasil,
apesar dos 8.400 quilômetros de costa e de extensas bacias hidrográficas (só a Amazônia detém 18% da
água doce do planeta), o consumo anual de pescado é de apenas 5,8 kg percapita, contra 16 kg no
Canadá e 65 kg no Japão. Enquanto em Manaus o consumo de pescado atinge o expressivo número de
50 kg/habitante/ano, há regiões no interior do país onde o consumo percapita está abaixo de um kg/ano.
O hábito alimentar está diretamente relacionado à oferta do produto (Pesca Brasil, 2004).
A pesca predatória está reduzindo drasticamente os estoques pesqueiros de ambientes naturais,
sejam eles mares ou rios. As frotas pesqueiras dotadas de sofisticados equipamentos para detecção de
cardumes facilitam a pesca, porém, torna as populações de peixes cada vez mais vulneráveis. Segundo
a Organização das Nações Unidas – ONU, será necessário cerca de 120 milhões de toneladas de
pescado por ano, um acréscimo de 30 milhões do que é produzido atualmente. Os técnicos garantem
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
que a única forma de fazer frente a esse desafio é através da aqüicultura, que se trata da criação racional
de animais e vegetais aquáticos.
Assim, a reprodução é a atividade biológica mais vital para a preservação das espécies animais e
vegetais. Sendo a reprodução no ambiente natural determinada pela idade de maturação sexual,
condições ambientais e matrizes de muitas espécies.
No Nordeste brasileiro, os peixes de desova total, normalmente, podem ser usados como
doadores de hipófises a partir do mês de novembro de cada ano até a realização da reprodução em
natureza (FONTENELE, 1981). Uma boa parte das espécies de água doce que se destacam quanto ao
seu porte e conseqüentemente ao seu valor comercial são espécies que precisam realizar migrações no
período reprodutivo, a fim de promover a maturação final das gônadas. O período de cheias, o aumento
do fotoperíodo, a quantidade de íons dissolvidos na água (condutividade) e a temperatura da água são
os fatores indutores da finalização desse processo.
Conhecidos como reofílicos, os peixes que apresentam este comportamento somente liberam
seus gametas mediante tais sinais indutores; caso contrário, a desova não ocorre mesmo que as gônadas
já se encontrem desenvolvidas. Desta forma, a reprodução destas espécies em ambientes confinados
somente é possível através de duas maneiras: simulação das condições naturais, como o aumento da
temperatura e elevação do nível da água, ou via indução hormonal (VINATEA, 2004).
Nos dias atuais é de fundamental importância o cultivo de peixes através da propagação em
massa, artificial ou semi-artificial de alevinos das espécies cultiváveis. Por isto, é cada vez maior a
importância atribuída à cultura de peixes, sendo necessário que criadores leigos aprimorem as técnicas
para assegurar o bom êxito na cultura (WOYNAROVICH & HORVÁTH, 1993).
Nos peixes, como em todos os animais, os fatores determinantes da reprodução estimulam uma
glândula, conhecida por hipófise, existente na base do cérebro, que envia mensagens (hormônios) às
gônadas (ovários em fêmeas e testículos em machos), para que se preparem e realizem a desova.
Muitas espécies de peixes de água doce de importância econômica necessitam migrar rio acima para
realizarem a reprodução, fenômeno este conhecido como piracema. É, justamente, essa viagem rio
acima, esse esforço e os fatores ambientais que provocam os estímulos para a reprodução.
A temperatura da água, enxurradas provocadas pela chuva e a ampliação da quantidade de horas
de luz por dia (na primavera), induzem a hipófise a intensificar a produção de hormônios para provocar
a reprodução de muitas espécies de peixes. A “hipófise” é, portanto, uma glândula que comanda todo o
processo de reprodução.
Com vistas a atender a demanda mundial, esta glândula está sendo industrializada e
comercializada por muitos países, principalmente os Estados Unidos da América, Canadá, Hungria,
93
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
França, índia, China e Japão, mediante extração de peixes doadores como a carpa, o salmão, a truta e
outros, que a exportam sob a forma de pó liofilizado, extrato glicerinado ou em unidades integrais
dessecadas. O preço deste produto no mercado internacional é de UD$ 300,00/grama, muito superior ao
do ouro, pelo que seria para o nosso país uma fonte de renda muito boa, se fosse desenvolvida esta
indústria de produção, pois temos de sobra a matéria prima necessária, haja vista a riqueza de nossa
ictiofauna (GURGEL, 2005).
A hipofisação é uma técnica que tem dado bons resultados na maturação e extrusão das células
reprodutoras de peixes adultos. O processo de coleta de hipófises, utilizado convencionalmente, não
altera a qualidade do peixe. No entanto, como é feita através de cortes realizados na cabeça, provoca
aspecto desagradável para comercialização.
Por isso, é que essa pesquisa tem como objetivo desenvolver uma técnica de hipofisectomia em
Prochilodus brevis, através da eficiência na coleta de hipófises para os trabalhos de propagação de
alevinos e maior qualidade no beneficiamento e comercialização do peixe hipofisectomizado.
MATERIAL E MÉTODOS
LOCAL DE EXECUÇÃO
O trabalho de pesquisa foi realizado na Estação de Piscicultura de Paulo Afonso (EPPA),
pertencente à Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF), localizada próximo às usinas
Apolônio Sales, PA I, II, III e IV. Apresenta uma área inundada de 3,8 hectares e é abastecida d’água
através do reservatório de Moxotó. Tendo como objetivo a propagação de alevinos nos reservatórios da
CHESF (Moxotó, Itaparica, PA IV, Delmiro Gouveia) e lagos do acampamento de Paulo Afonso
(Balneário, Touro e a Sucuri, SE III, Vila Militar, Cemitério e Capuchú). Também colabora com a
região através da venda de alevinos para povoamentos de açudes e cultivo em viveiros e tanques-rede.
O peixe utilizado neste trabalho pertence à família Prochilondontide da espécie Prochilodus
brevis (antiga P. cearensis), conhecido vulgarmente na região nordeste do Brasil, como curimatãcomum (Figura 1). Todos eram adultos e estavam sexuadamente maduros.
Figura 1. Exemplar de curimatã Prochilodus brevis
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
Em geral apresentam hábito alimentar iliófago, consumindo matéria orgânica depositada no fundo dos
açudes e viveiros. Esta característica permite usá-las em policultivo, junto espécies que se alimentam
de frutas, sementes e organismos aquáticos de pequeno porte, que são onívoras.
Segundo Fontenele (1982), a curimatã ocupa lugar de destaque pela precocidade, prolificidade,
regime alimentar e principalmente pela grande aceitação que tem merecido por parte dos habitantes da
região nordeste.
A curimatã exige para sua desova uma modificação de ambiente. Essa modificação é produzida
pelas chuvas. O peixe prepara-se para desovar, se não houver águas novas não o faz, pois não consegue
aquele conjunto de fatores necessários a maturação e promove a eliminação dos óvulos (FONTENELE,
1981).
Daí, ser necessária a hipofisação para realização da desova em cativeiro. Para realização de
desovas artificiais se faz necessário o uso de hipófises ou hormônios sintéticos. Para coleta de hipófises
(hipofisectomia) é necessária a captura de curimatãs, peixe este utilizado principalmente pela facilidade
com que é encontrado em açudes nordestinos.
DOADORES DE HIPÓFISES
Como as espécies de piracema necessitam realizar a migração para a reprodução, não atingem
pleno desenvolvimento das gônadas quando se encontram permanentemente em águas paradas (lagoas,
tanques, barragens etc.), é preciso que se estimulem fêmeas e machos, a completarem o estágio de
maturação gonadal, para que consigam realizar a desova. Daí a importância da hipófise, como elemento
imprescindível à obtenção da reprodução artificial. Injetando artificialmente a mesma quantidade de
hormônio que a hipófise forneceria aos ovários e aos testículos, se estivessem em condições ambientais
naturais, então, poder-se-á fazer, também, com que os peixes de piracema se reproduzam em águas
paradas.
Esta técnica, conhecida como “hipofisação", foi desenvolvida pelo cientista brasileiro Rodolpho
von Ihering, no tempo em que dirigiu a Comissão Técnica de Piscicultura do Nordeste, atual Diretoria
de Pesca e Piscicultura do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). Este
acontecimento, o mais notável do Século XX, no campo da biologia da pesca, foi apresentado no XV
Congresso Internacional de Fisiologia, realizado em agosto de 1935 nas cidades de Leningrado e
Moscou, da então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a partir de quando o Método Ihering de
Reprodução Induzida (MIRI), passou a ser adotado no mundo inteiro com êxito total na propagação de
peixes (GURGEL, 2005).
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
A forma mais comum de se obter o hormônio a ser fornecido aos reprodutores e matrizes para a
reprodução artificial, é retirando-o de outros peixes, que funcionam como doadores. Alguns peixes são
cultivados com o objetivo principal de fornecerem suas hipófises para a reprodução de outros peixes.
Cada peixe possui uma hipófise que, próxima à época de desova, apresenta certa quantidade de
hormônio. Para realização de hipofisações com sucessos utiliza-se 5 mg de hipófise por Kg de peixe a
ser hipofisado.
Os hormônios gonadotróficos são produzidos pelo peixe sexualmente maduro e as mudanças
cíclicas, da concentração da glândula pituitária, estão relacionadas com o ciclo reprodutivo do peixe. A
sua concentração é máxima durante o período de pré-desova, e é neste momento que o peixe deve ser
hipofisectomizado. No entanto, ela é muito baixa ou quase nula durante e pós desova. A liberação de
gonadotropina pela glândula pituitária é comandada pelo hipotálamo, através da secreção do hormônio
que libera a gonadotropina.
A gonadotropina é também responsável pela indução da migração da desova, durante a qual sua
concentração na glândula pituitária decresce gradualmente. O desenvolvimento gonadal durante a
migração de desova provavelmente é controlada pela gonadotropina liberada continuamente.
A glândula pituitária está situada do lado ventral do cérebro abaixo do hipotálamo, o qual está
ligado à glândula pituitária por uma estrutura tipo funil, o infundíbulo. A parte do crânio onde a
glândula pituitária se encontra é conhecida como sela túrcica do esfenóide. A glândula está
normalmente envolvida por tecido adiposo.
Quando o cérebro é retirado do crânio a glândula pituitária permanece ligada ao cérebro de
alguns peixes, ao passo que na maioria deles, um infundíbulo se rompe e a glândula fica na base do
crânio. Os doadores de hipófises para este trabalho apresentavam-se maduros sexualmente. Os machos
apresentavam liberação fácil de sêmen e as fêmeas, ventres abaulados com papila genital hiperemiada.
O período propício à coleta de hipófise é de novembro a fevereiro antes das chuvas. Pois ocorrendo
inverno nesse período os peixes já aptos à desova podem realizar a piracema e assim não servem mais
como doadores de hipófises, tendo que se esperar mais um ano para nova coleta.
HIPOFISECTOMIA
Depois de capturados os peixes; deve-se esperar que estes terminem de morrer para se dar início
aos trabalhos de coleta de hipófise. No caso dos peixes utilizados neste trabalho, estes foram mortos
através de choque térmico utilizando gelo na água.
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
PROCESSO TRADICIONAL
A técnica de extração de hipófise (também conhecida por pituitária) de peixe resume-se na
execução de uma craniectomia, nos peixes doadores, visando atingir a sela túrcica do esfenoide,
localizada exatamente sob o encéfalo. Após a coleta, caso se deseje obtenção de desovas, a hipófise é
macerada em soro fisiológico e, em seguida, aplicada por via intramuscular nos exemplares receptores,
que estimulados pela gonadotropina - hormônio da reprodução - são induzidos à desova.
No Nordeste brasileiro são utilizados, geralmente, como doadores de hipófises, exemplares de
curimatã comum, capturados pelos pescadores em açudes públicos e particulares destinados a
comercialização.
No método de coleta utilizado tradicionalmente, usam-se os seguintes instrumentos: calha de
contenção (Figura 2), constituída de duas peças de madeiras, que se engavetam, a maior, 0,30 x 0,20 m,
que tem por finalidade manter o peixe imóvel na posição ventral.
Figura 2. Calha para contenção dos peixes
São utilizados: arco de serra, metálico, e respectiva serra de aço; cotóstomo, instrumento
cirúrgico, metálico, niquelado, tipo tesoura; pinça cirúrgica, niquelada, pontas curvas, corrugadas; vidro
para preservação da hipófise frasco boca larga, cor âmbar com rolha de vidro esmerilhada, com
capacidade de 20 cc; álcool absoluto de boa qualidade (90º ) e algodão hidrófilo.
Contudo, antes da operação se verifica se o peixe preenche as condições para ser doador (fresco e
com desenvolvimento gonadal independente do sexo). Imobiliza-se o doador na calha de contenção, e,
com o auxilio do arco de serra, dar um corte transversal na cabeça, no bordo posterior do occipital
(pouco atrás das órbitas) sem separar a cabeça do peixe e depois com auxílio com cotóstomo retirava-se
o tampão da cabeça para posterior coleta da hipófise (Figura 3).
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
Figura 3. Utilização do cotóstomo para retirada da hipófise
Com auxílio do cotóstomo retirasse uma seção triangular do occipital, com base, na borda
anterior do corte de serra; utilizando a pinça, afastar o encéfalo, descobrindo a sela túrcica do esfenóide
dentro da qual se encontre a hipófise, protegida por uma membrana.
Na eventualidade de peixe possuir bastante substância adiposa ou sangue, usar pelota de
algodão, na ponta da pinça, para absorver o excesso de material existente no local ocupado pelo
encéfalo e finalmente, romper a membrana, extrair a glândula da sela túrcica e introduzi-la no frasco de
vidro contendo álcool absoluto.
PROCESSO INOVADOR
A nova metodologia utilizada segue o mesmo princípio da técnica tradicional. Depois da
hipofisectomia o peixe é eviscerado, espalmado e salgado.
O que diferencia estes processos é que neste, o peixe pode ser ou não imobilizado numa calha
de contenção e isto vai depender do tamanho do exemplar. Quando grande, a exemplo de curimatã pacu
Prochilodus argenteus, utiliza-se a calha de contenção e com o auxílio de um arco de serra, será dado
um corte transversal na cabeça, no bordo posterior do occipital, sem separar a cabeça do peixe. Se de
pequeno porte, a exemplo de P. brevis, utiliza-se a calha apenas como suporte de apoio sem necessitar
de contenção e com auxílio de uma faca efetua-se os procedimentos de craniectomia. Desta forma, é
possível expor a hipófise, com o auxílio de uma pinça
cirúrgica de pontas curvas, com a qual se afasta o encéfalo, para descoberta da sela túrcica e retira-se a
hipófise. O uso de uma pequena pelota de algodão é necessário, na ponta da pinça, para absorver o
excesso de gordura e/ou sangue existente no local ocupado pelo encéfalo. A hipófise depois de extraída
pode ser fixada em álcool absoluto ou tratada com acetona.
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
BENEFICIAMENTO
Depois de retirada a hipófise, o peixe hipofisectomizado deverá ser espalmado tendo suas
vísceras retiradas através da abertura na região dorsal para em seguida ser beneficiado.
O tipo de sal usado foi o sal misturado (partes iguais de sal moído fino e de sal grosso). A
salmoura exudada não deve atingir meia altura das camadas de peixe. Este processo foi realizado a
sombra e a temperatura ambiente. Pelo fato da curimatã ter proteína média e ter gordura alta,
recomenda-se salga por salmoura. O tempo de exposição à salga foi de 8 horas quando então os peixes
foram lavados para retirada do excesso de sal e depois expostos ao sol para secagem.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
HIPOFISECTOMIA
O corte das narinas ao final do pescoço do peixe (processo inovador) (Figura 4), utilizando uma
pequena faca tornou o processo mais ágil, devido a facilidade da coleta e a não utilização de
procedimentos que só inviabilizavam o peixe para comércio, pois quase sempre deixava a cabeça do
peixe estragada o que dificultava a retirada da hipófise.
Figura 4. Descoberta do cérebro para retirada da hipófise
Depois de extraídas as hipófises foram fixadas em álcool absoluto, sendo guardadas em vidro de
cor âmbar.
O corte com arco de serra e depois cotóstomo (processo tradicional) tomava maior tempo para
realização da técnica de coleta de hipófises em função da utilização de mais um aparelho (no caso o
cotóstomo) como pela dificuldade de coleta em função do corte realizado que além da danificação da
cabeça do peixe o que influência na comercialização do pescado hipofisectomizado.
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
BENEFICIAMENTO
O peixe hipofisectomizado pela nova metodologia apresentou melhor aspecto para
comercialização, pois o corte dado rente ao crânio permitiu que a cabeça dos exemplares permanecesse
fixa ao corpo. Também o tipo de corte não deixa ser percebida a craniectomia quando o peixe é
espalmado para salga deixando com bom aspecto para comercialização (Figura 5).
Figura 5. Peixe pronto para comercialização
A certeza de qualidade dos alimentos está ligada não somente a quantidade energética mais
também ao valor nutritivo, em particular de proteína animal. O habitante do mundo desenvolvido
consome 100 kg de carne de peixe e o equivalente a 178 kg de leite por ano, enquanto que no mundo
subdesenvolvido 29 e 31 kg respectivamente (BECKER & FOCKER, 1998).
Pelo decreto nº. 1.255, de 25.06.1942 (Artigo 465, único), regulamentado pelo DIPOA, o pescado
salgado e seco não deve ter mais de 35% de umidade. Freitas & Gurgel (1971), afirmam que o
nordestino prefere peixe com teores de umidade entre 40 e 45% e consideram que a relação sal em base
úmida/umidade é ideal quando apresenta valores superiores a 0,3%. Numa salmoura saturada (a 26%) o
valor desta relação é 26 (100 – 26) = 0,35.
Diante dos espécimes de Prochilodus brevis, utilizados nessa pesquisa, pode-se observar a
diferença em relação ao aspecto externo do peixe hipofisectomizado com a técnica tradicional
comparada a nova metodologia de hipofisectomia.
Essa pesquisa lança uma inovação na metodologia de hipofisectomia em curimatãs Prochilodus
brevis, contribuindo dessa forma com uma metodologia de fácil aplicação, de maior agilidade no
processo de coleta de hipófises e tornando o peixe hipofisectomizado com potencial de ser aproveitado
comercialmente pelos pescadores.
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DO CAMARÃO-CANELA Macrobrachium amazonicum NO SUB-MÉDIO RIO SÃO FRANCISCO,
NO NORDESTE DO BRASIL
Emerson dos SANTOS; Silevagno de Oliveira GOMES; José Patrocínio LOPES
([email protected])
Departamento de Educação, universidade do Estado da Bahia.
RESUMO
Estudou-se, preliminarmente, a dieta de várias espécies de peixes carnívoros encontradas no
sub-médio rio São Francisco, em áreas inundadas pelos reservatórios das usinas da Companhia
Hidroelétrica do São Francisco (CHESF), que compõem o Complexo Hidro Elétrico de Paulo Afonso
(CHPA) e região. Este trabalho teve o objetivo de verificar o efeito de Egeria densa na provável
colonização do camarão-canela, Macrobrachium amazonicum, nos reservatórios da CHESF, submédio rio São Francisco. Foram efetuadas capturas de aproximadamente 200 peixes carnívoros nesses
Reservatórios para análise de conteúdo alimentar, como também a captura deste camarão como fauna
acompanhante entre as macrófitas. Foram analisados os conteúdos estomacais utilizando o percentual
de ocorrência e índices de freqüência do item alimentar dos peixes. Os espécimes, ainda frescos,
foram eviscerados através de uma incisão ventro-longitudinal. A pesca foi do tipo artesanal através de
anzóis, utilizando em muitos casos o crustáceo como isca. A captura foi realizada com base na
presença ou ausência de macrófitas aquáticas nos Reservatórios, o que explicou a oscilação no número
de presas ingeridas pelos peixes. A análise qualitativa mostrou poucas mudanças na dieta dos peixes
carnívoros destes Reservatórios invadidos por E. densa.
Palavras-chave: Rio São Franscisco, Reservatório, Piscicultura
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
CONTRIBUICION OF Egeria densa IN THE FISHCULTURE THROUGHT OF COLONIZATION
OF Macrobrachium amazonicum SHRIMP IN SUB-MEDIUM SAN FRANCISCO RIVER, IN
NORTHEAST OF BRAZIL
ABSTRACT
It was studied, preliminarly the diet of several species of carnivorous fish found in the submedium San Francisco river, in areas flooded by the reservoirs of the dam of the San Francisco Hidro
Electric Company (SFHC), that compose the Complex Hidro Electric of Paulo Afonso (CHPA) and
region. For verification of the effect of Egeria densa in the probable colonization of the shrimp,
Macrobrachium amazonicum, in the reservoirs of CHESF, sub-medium San Francisco river, captures
were made of approximately 200 carnivorous fish for analysis of alimentary content, as well as the
capture of that Shrimp as accompanying fauna among the aquatics macrophytes. The stomach contents
were analyzed using the percentile of occurrence and indexes of frequency of the alimentary item of
fish. The specimens, still fresh, were eviscerates through a ventro-longitudinal incision. The fishing
was of the craft type through fishhooks, using in many cases the crustacean as bait. The capture was
made with base in the presence or absence of aquatic macrophytes in the Reservoirs, what explained
the oscillation in the number of preys ingested by the fish. The qualitative analysis showed few
changes in the diet of the fish of those Reservoirs invaded by E. densa.
Key-words: São Franscisco river, Reservoir, Fish culture
INTRODUÇÃO
De forma geral, a formação de reservatórios para hidrelétricas de grande porte são feitas em
bacias hidrográficas muito expressivas, compostas em grande parte por rios, córregos e nascentes que
estão inseridas num ambiente muito rico em nutrientes minerais e orgânicos, sejam estes de origem
natural (formação geológica), seja pelo uso da terra para agricultura e pecuária, e principalmente pela
descarga sanitária das cidades. O resultado final da degradação do solo associado ao não tratamento dos
esgotos em toda bacia se estende e se acumula nos rios de maior porte, geralmente os primeiros a serem
aproveitados para a geração de energia. Estes nutrientes e elementos estranhos à biota local provocam
um desequilíbrio entre a oferta e demanda de nutrientes, refletindo, inclusive, num crescimento
desequilibrado das macrófitas aquáticas (OIKOS, 2005).
A ocorrência de macrófita aquática Egeria densa no sistema de barragens de Paulo Afonso e Itaparica
foi verificada pela primeira vez no ano de 1984, quando algumas tentativas de resolver o problema
foram tomadas. Mesmo assim vem ocorrendo o agravamento do fato, tendo a barragem Delmiro
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
Gouveia apresentado já alguns problemas preliminares, pois algumas vezes grande massa vegetal se
desprende das áreas de colonização e atinge áreas das comportas, determinando a necessidade de
suspender a geração de energia para a limpeza das grades de contenção (FADURPE, 2000). A
proliferação desta macrófita na década de 1990 trouxe prejuízos na geração de energia elétrica pelas
usinas, o que levou a criação de programas de manejo de E. densa como o da usina de Jupiá que
pertence ao sistema do rio Paraná. Sua presença em alguns locais dos reservatórios aliados a outros
fatores não favorece a implantação de tanques-rede, prejudicando a piscicultura (CORRÊA et al, 2003).
LOPES & TENÓRIO (2002), no entanto, citam que as macrófitas aquáticas possuem grande
importância ecológica servindo de proteção e substrato para muitas espécies aquáticas como também de
alimentação para várias espécies terrestres a exemplo de bovinos, ovinos, suínos e eqüinos que entram
na água para se alimentar de E. densa. Enquanto a demanda mundial por organismos aquáticos tem
crescido em ritmo acelerado durante os últimos anos, em decorrência do aumento populacional e da
procura por alimentos mais saudáveis, com menores taxas de gordura e colesterol, as possibilidades de
captura em ambientes naturais têm dado sinais de esgotamento.
Segundo VINATEA (1999), a taxa de crescimento anual da piscicultura intensiva cresce a mais
de 8% desde 1981, ao contrário de outros setores como o da criação de gado, cuja taxa de crescimento é
da ordem de 3% ao ano. Mas, é difícil acreditar que um dia ela possa empregar todas as pessoas que
vivem da pesca natural hoje, além do que o desafio mais importante para a aqüicultura de hoje é
justamente conseguir garantir a sustentabilidade da produção por um longo prazo dentro de um modelo
inspirado no ecodesenvolvimento.
O cultivo não convencional de camarões caracteriza-se, basicamente, por ser uma alternativa
economicamente viável para as comunidades de pescadores artesanais como ocorre no estado de Santa
Catarina, onde se produzem pós-larvas de camarão marinho para serem liberadas em ambiente natural.
Depois o crescimento dos camarões é monitorado semanalmente por meio de biometrias, com a captura
iniciando quando os camarões atingem tamanho comercial – 10 a 12 gramas (VINATEA, 1999).
Na região do sub-médio rio São Francisco, a carcinicultura extensiva e a pesca natural
revitalizada permitida pela associação entre macrófitas aquáticas e camarões podem beneficiar
populações carentes, surgindo então, uma nova fonte protéica como alternativa alimentar.
No lago Itaparica, o maior prado de E. densa, apresentou a extensão de 250 metros, sendo que a
profundidade do limite superior variou entre 1,2 a 1,9 metro, com plantas entre 0,6 e 0,8 metro de
comprimento. Já nos prados de profundidade, as plantas apresentaram variação de tamanho, de 0,4 a
2,2 metros, sendo encontradas nas profundidades entre 3,5 e 6,0 metros (FADURPE, 2000).
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
Uma conseqüência da superpopulação da macrófita, ratificando as opiniões de pescadores e
pesquisadores é a criação de um ambiente propício ao desenvolvimento e sobrevivência de crustáceos e
moluscos, com destaque para Macrobrachium amazonicum conhecido na região como camarão- canela.
E. densa seria então um meio de proteção para esses organismos, permitindo assim o crescimento e
reprodução dessas espécies. A invasão nos reservatórios por esta macrófita trouxe com o tempo o
aumento na população do camarão-canela, passando o crustáceo a servir como principal fonte de
alimento para os peixes carnívoros e alguns onívoros dos reservatórios da CHESF.
Portanto o objetivo deste trabalho foi mostrar a importância de E. densa na colonização do
camarão-canela e seus inúmeros benefícios às populações de peixes, com especialidade os carnívoros,
contribuindo assim com o desenvolvimento da piscicultura extensiva na região.
MATERIAL E MÉTODOS
A área delimitada para coleta compreende os reservatórios de Itaparica, Moxotó Paulo Afonso
IV, Delmiro Gouveia e lago da Subestação III, localizados no sub-médio São Francisco, sendo
realizada de modo seqüenciado na ordem dada aos cinco reservatórios citados acima. A coleta de
material foi realizada nos reservatórios das usinas hidrelétricas da CHESF no município de Paulo
Afonso – Bahia, sendo analisado na Estação de Piscicultura de Paulo Afonso (EPPA) pertencente a
CHESF. Para cada reservatório foram realizadas diversas coletas em locais variados. A caracterização
dos reservatórios contou com dados bibliográficos cedidos pela CHESF. A descrição dos locais de
coletas foi efetuada durante a realização das atividades.
O trecho sub-médio do rio São Francisco, compreendido entre os municípios de Belém do São
Francisco – PE e Barra do Tarrachil – BA ao norte, e Piranhas – AL e Canindé do São Francisco – SE
ao sul, engloba cinco reservatórios: Itaparica, Moxotó, Delmiro Gouveia, Paulo Afonso IV e Xingó.
Dentre estes, apenas o Delmiro Gouveia não apresenta condições de aproveitamento para projetos
aquícolas, em função de suas dimensões reduzidas e de restrições técnicas impostas pela CHESF. Os
demais reservatórios, cujas características físicas constam na Tabela 1, apresentam potencial variável
de utilização, dependente de suas condições físicas, ambientais e de sua infra-estrutura.
RESERVATÓRIO ITAPARICA
A Usina Hidrelétrica de Itaparica, posteriormente denominada Usina Luiz Gonzaga (ULG), está
localizada na divisa entre os estados de Pernambuco e Bahia, a cerca de 25 Km à jusante da cidade de
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Tabela 1. Dados sobre os reservatórios do sub-médio São Francisco, com potencial para
utilização na aqüicultura.
Dados
Reservatórios
Itaparica
Moxotó
PA - IV
Xingó
828
98
12,9
60
Volume total do reservatório (106 m3)
10.780
1.200
128,5
3.800
Volume útil do reservatório (106 m3)
3.700
50
30
500
2
Área normal do reservatório (Km )
Fonte: CHESF
Petrolândia – PE, distando cerca de 460 Km da cidade de Recife, através das BR’s 423 e 110. Sua Usina
está posicionada a cerca de 50 Km à montante do Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso, tendo não
apenas a função de geração de energia elétrica, mas de permitir uma operação mais eficiente do
Complexo Hidroelétrico de Paulo Afonso (CHPA), com papel decisivo no controle da regularização das
descargas diárias e semanais das usinas do referido Complexo (Moxotó, PA IV e Delmiro Gouveia). Por
esta razão, apresenta uma oscilação sazonal de seu nível, mais marcante que nos demais reservatórios do
trecho sub-médio do rio São Francisco.
O reservatório formado inundou áreas pertencentes aos municípios de Glória, Rodelas e
Chorrochó no estado da Bahia, e Abaré, Belém do São Francisco, Itacuruba, Floresta, Petrolândia,
Tacaratú e Jatobá, no estado de Pernambuco. Este reservatório apresenta uma superfície aproximada de
828 Km2, com uma capacidade de armazenamento da ordem de 10 bilhões de metros cúbicos, e possui
diversas agrovilas implantadas e em implantação, abastecidas por sistemas de irrigação, que servem de
base para as populações reassentadas (FADURPE, 2000).
RESERVATÓRIO MOXOTÓ
A Usina Hidrelétrica Apolônio Sales (UHAS) está localizada no município de Paulo Afonso,
estado da Bahia, distando cerca de 420 Km da cidade de Recife, através das BR’s 423 e 232, e cerca de
380 Km da cidade de Salvador, através da BR 110. Esta Usina integra o CHPA, localizada cerca de três
quilômetros à montante da primeira barragem, de modo que a água turbinada por suas máquinas, aciona
também as Usinas de Paulo Afonso I, II e III (Delmiro Gouveia). Através de um canal escavado em sua
margem direita, o reservatório Moxotó fornece a água necessária ao funcionamento da Usina Paulo
Afonso IV. O reservatório formado inundou áreas pertencentes aos municípios de Glória e Paulo
Afonso no estado da Bahia; Petrolândia, no estado de Pernambuco; e Água Branca e Delmiro Gouveia,
no estado de Alagoas. O mesmo apresenta superfície aproximada de 98 Km2, com uma capacidade de
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
armazenamento da ordem de 1,2 milhões de metros cúbicos. Tem como principal tributário o rio
Moxotó (divisa entre os Estados de Alagoas e Pernambuco), em cujo vale inundado pelo reservatório
estão localizadas diversas vilas, com projetos de irrigação.
A presença da macrófita E. densa, é marcante por grande parte do Lago e sua imponência é bem
mais perceptível na desembocadura e por vasta área adentrando o rio Moxotó. Os bancos de
E. densa marcam todo perímetro submerso, sendo mais visíveis nas margens e em ilhotas quase
emersas no meio do Lago, talvez por se tratar de um ambiente artificial, esse acúmulo de macrófitas, se
torna tão grande em relação aos locais onde o Rio percorre o leito original.
RESERVATÓRIO PA IV
O aproveitamento hidrelétrico de Paulo Afonso IV, também integra o CHPA, e está igualmente
localizado no município de Paulo Afonso, estado da Bahia. A água utilizada para a geração de energia
desta Usina é proveniente do reservatório Moxotó, através de um canal de derivação do mesmo. Desta
forma, seu reservatório é operado em paralelo com o Moxotó e as suas vazões turbinadas, juntamente
com aquelas oriundas das demais usinas do Complexo de Paulo Afonso (PA I, II, III), são lançadas
diretamente no reservatório de Xingó. O reservatório Paulo Afonso IV, por sua localização à jusante da
cidade de Paulo Afonso, é aquele que apresenta maior proximidade ao centro urbano. Possui dois
compartimentos (leste e oeste), separados pela estrada que dá acesso à cidade, não apresentando
tributários perenes em sua bacia de captação. Ao longo de suas margens, encontram-se pequenos
empreendimentos agrícolas irrigados, sobretudo para a produção de
olerícolas. Apresenta uma
superfície aproximada de 12,9 Km2, com uma capacidade de armazenamento da ordem de 128 milhões
de metros cúbicos (FADURPE, 2000).
RSERVATÓRIO DLMIRO GUVEIA
É o menor dos reservatórios da CHESF com área de 480 hectares. Na realidade constitui um
reservatório de regularização, embora dele dependam as usinas Paulo Afonso I, II e II escavadas em
cavernas independentes. Um problema que esse reservatório vem enfrentando é a acentuada
proliferação de Egeria densa. Neste reservatório em virtude da pequena extensão e proximidade da
zona urbana de Paulo Afonso, praticamente não existem lugares fixos para desembarque. Os
pescadores, em sua maioria, praticam a pesca eventualmente e, portanto têm nessa atividade apenas um
meio complementar a renda, ou então pescam para o próprio consumo. Um aspecto deste Reservatório
é o predomínio de peixes carnívoros, como Cichla ocellaris (tucunaré), Plagioscion squamosissimus
(pescada-do-piauí), Astronotus ocellatus (apaiarí) e Serrasalmus brandtii (pirambeba) e o uso do anzol
como arte de pesca mais empregada.
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
LAGO DA SE III
O lago da subestação III não apresenta potencial hidroelétrico. Trata-se de um lago de pequena
extensão, dois hectares aproximadamente, cuja área é inacessível a população local. Apesar disso, há
indícios claros de pesca predatória intensa no local, o que diminuiu drasticamente as populações de
peixes que habitam o Lago, peixes estes fruto de repovoamento feito pela EPPA. Trata-se de um
ambiente raso, sem presença significante de macrófitas e com algumas ilhotas de taboas Typha
domingensis (Hunt) no corpo principal deste ambiente.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para realização deste trabalho contou-se com o apoio da EPPA ao ceder seu laboratório para
identificação do conteúdo alimentar dos peixes capturados nos diversos reservatórios. Na identificação
do conteúdo estomacal foi utilizado microscópio binocular com amplitude de 30 vezes o tamanho
normal do material a ser identificado. Todos os peixes foram examinados a fresco com muito cuidado,
sendo a identificação do alimento acompanhada através da freqüência de ocorrência (FO) e itens
alimentares (IA), comumente logo após a captura. Nas capturas de peixes, contou-se com a valiosa
colaboração de diversos pescadores profissionais e amadores nos diversos reservatórios.
A ELÓDEAEgeria densa
A macrófita E. densa Planchon (Figura 1) conhecida vulgarmente na região de Paulo Afonso –
Bahia como elódea, está incluída na relação das monocotiledôneas aquáticas. Segundo COOK, et al.
(1974) (1974) apud FADURPE (2002), apresenta a seguinte classificação:
Classe: Monocotyledoneae
Ordem: Helobiae
Família: Hydrocharitaceae
Gênero: Egeria
Espécie: Egeria densa
Figura 1. Elódea, Egeria (Fonte: LOPES, 2001).
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
O CAMARÃO-CANELA Macrobrachium amazonicum
Existem diversas espécies nativas de camarões de água doce no Brasil. Todas elas pertencem ao
gênero Macrobrachium. Este camarão (Figura 2), conhecido vulgarmente como camarão-canela ocorre
em todo Brasil, principalmente no Nordeste. Possui coloração castanha clara, podendo atingir 10 cm de
comprimento e 12 gramas de peso. Nos camarões existe dimorfismo sexual: os machos de água doce
são maiores e com quelas mais desenvolvidas do que as fêmeas. São animais bentônicos e reptantes. A
sua classificação segundo Heller (1862), segue abaixo:
Classe: Crustacea
Ordem: Decapoda
Família: Pelaemonidae
Gênero: Macrobrachium
Espécie: M. amazonicum
Figura 2. Casal de camarão-canela, M. amazonicum
(♂ a esquerda e ♀ a direita)
EFEITO DE Egeria densa NA COLONIZAÇÃO DE Macrobrachium amazonicum.
Para verificação do efeito de E. densa na provável colonização do camarão-canela, M.
amazonicum nos reservatórios da CHESF, sub-médio rio São Francisco, foram efetuadas capturas de
peixes carnívoros nesses reservatórios para análise de conteúdo alimentar, como também a captura
desse camarão como fauna acompanhante entre as macrófitas. Foram analisados os conteúdos
estomacais de vários peixes carnívoros provenientes dos reservatórios da CHESF, com interesse
especial para C. ocellaris, S. brandtii, H. malabaricus, P. squamossisimus, Salminus brasiliensis,
Serrasalmus natereri e S. piraya (Piranhas). Na oportunidade, foram obtidos também dados
biométricos, peso (g) e comprimento (mm) dos exemplares em estudo.
A pesca foi do tipo artesanal através de anzóis de números 04, 06 e 08 e linha 0,60 para
piranhas e linha 0,30, 0,35 e 0,40 para C. ocellaris e outros peixes carnívoros. Os espécimes, ainda
frescos, foram eviscerados na EPPA através de incisão ventro-longitudinal. Para a análise do conteúdo
estomacal utilizou-se o percentual de ocorrência e índices de freqüência do item alimentar.
No reservatório de Itaparica a coleta de peixes carnívoros, para análise, foi realizada na região do
município de Nova Glória, povoado Agrovila 3. O local preferido dos pescadores localiza-se a 15 Km
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
da Usina Hidroelétrica Luiz Gonzaga. A coleta de M. Amazonicum utilizado como isca viva é feita às
margens do Lago, com jereré, pois estes ficam concentrados em grandes quantidades entre macrófitas
aquáticas, especificamente em E. densa.
O conteúdo estomacal dos espécimes coletados no lago da Usina Hidroelétrica Apolônio Sales
apresentou uma variabilidade muito grande de recursos alimentares. Cinco espécies diferentes de
peixes carnívoros foram coletadas, sendo duas exclusivamente capturadas nesse ambiente, a citar:
Gimnotus carapo (sarapó) e Acestrorhynchus britskii (piau-cachorro).
O reservatório Paulo Afonso IV está situado no entorno da cidade de Paulo Afonso, sendo um
ambiente totalmente artificial criado em função da construção do CHPA centrado entre os bairros da
Prainha e Tancredo Neves, margeado também por outras localidades rurais como Caiçara e Vila
Matias. Sob o ponto de vista limnológico, a característica mais marcante do reservatório PA IV,
notadamente no compartimento Oeste, é a presença de macrófitas aquáticas enraizadas emersas desde a
linha de margem, tendo Typha domingensis e gramíneas terrestres invasoras como as mais dominantes,
e submersas, como E. densa e Hydrotrix gardneri, nas regiões mais profundas (FADURPE, 2000).
Este trabalho contou com o apoio de vários pescadores profissionais e amadores, em diferentes
pontos do lago, onde foi evidenciada uma diferença entre a predominância de espécies de peixes. A
espécie C. ocellaris predominou na parte inicial da montante, próximo ao povoado Caiçara, já outras
espécies como H. malabaricus, S. brandtii e Myleus micans (pacu) eram encontradas na região mediana
do Reservatório. Foram realizadas diversas coletas para verificação do conteúdo estomacal de espécies
de peixes carnívoros como C. ocellaris, H. malabaricus, S. brandtii e da espécie onívora com tendência
a carnivoria M. micans.
O reservatório Delmiro Gouveia, localizado no município de Paulo Afonso, não possui
potencial para grandes empreendimentos aqüícolas. Apesar de encontrar-se dentro de complexo
urbano, em suas margens não possuem residências, pois o local é área particular da CHESF. Isso reduz
muito a quantidade de efluentes domésticos liberados neste Reservatório. Porém, não se verifica no
ambiente uma diminuição na quantidade de macrófitas. Tal fato vem se intensificando após a
implantação de um projeto de piscicultura intensiva em raceways que lança seus efluentes diretamente
neste Reservatório. A luminosidade atinge o fundo do mesmo estimulando a atividade fotossintética e
proliferação vegetal. A pesca intensa com redes é evidente. O reservatório é margeado por vegetação
arbórea e rasteira sendo a pesca realizada com anzol, mas principalmente com a utilização de redes
com malha 12. Os pescadores relatam a presença de M. amazonicum no Reservatório.
Localizado, a princípio, em território restrito aos funcionários da CHESF, o pequeno lago da SE III é
abastecido pelo reservatório da Usina PA IV. As espécies de peixes que habitam esse Lago são frutos
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
do repovoamento realizado pela EPPA, encontrando-se neste, populações carnívoras, herbívoras e
onívoras.
RESULTADOS
A freqüência de ocorrência (FO) demonstrou que entre as espécies de peixes carnívoros dos
reservatórios alimentaram-se principalmente de M. amazonicum isolado ou combinado a outras fontes
de alimento - peixes e vegetais com freqüência de ocorrência superior a 57%. Nos locais de ocorrência
de E. densa permitiu-se conseqüentemente a colonização dos reservatórios pelo M. amazonicum,
interferindo assim, na composição da dieta alimentar das espécies carnívoras (Figura 3).
Figura 3. Domínio do camarão-canela Macrobrachium amazonicum na composição alimentar de
peixes carnívoros, nos Reservatórios do sub-médio do rio São Francisco.
Os exemplares de peixes capturados no reservatório de Itaparica num total de 50 peixes e seus
conteúdos estomacais estão listados na Tabela 2.
O exame da Tabela 2 evidencia que, através foram duas as espécies que figuraram na dieta
alimentar de C. ocellaris (camarão e peixe) com predominância do camarão sobre o item peixe. H.
malabaricus apresentou percentual de 63% de camarão como alimento e S. brasiliensis 100%. S.
brandtii apresentou uma alimentação bastante versátil, pois além de camarão (44%) foram encontrados
moluscos e peixes. M. micans, mesmo sendo espécie onívora deu preferência por camarão associado a
vegetais (93%). Os demais reservatórios apresentaram resultados semelhantes (ver Tabelas), domínio
do camarão-canela, a exceção do lago da SE III que pela ausência de macrófitas a exemplo de E. densa,
o único alimento, encontrado para P. squamosissimus foi peixes.
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Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
Tabela 2. Composição do conteúdo estomacal de espécies de peixes carnívoros do reservatório
Itaparica.
Espécie
Tamanho (mm)
Peso (g)
C. ocellaris
195 – 340
60 - 620
75% camarão, 18% peixe e camarão e 7%
peixe
H. malabaricus
210 – 280
100 - 200
63% camarão, 37% vazio
S. brandtii
155 – 290
100 - 400
44% camarão, 44% camarão, moluscos e
insetos e 12% peixes
M. micans
135 – 150
30 - 90
93% camarão e vegetais, 7% vazio
120
100% camarão
S. brasiliensis
265
Conteúdo estomacal
Foram capturados 40 peixes de cinco espécies diferentes no reservatório Moxotó. Os dados
obtidos estão expostos na Tabela 3. Foram encontrados nas vísceras de determinados peixes, exemplares
de M. amazonicum, gastrópodes, pequenos peixes, além de bivalves. Alguns exemplares estavam de
estômago vazio, já em outros devido ao tipo de alimento e a um longo período depois do alimento
ingerido e, portanto degradado, o material não se prestou a uma identificação substancialmente concreta.
Os exemplares de peixes capturados no reservatório de PA IV num total de 50 e seus conteúdos
estomacais estão listados na Tabela 4. As observações feitas sobre Egeria densa mostraram um grande
índice de adensamento dessa espécie em toda extensão do reservatório.
Tabela 3. Composição do conteúdo estomacal de espécies de peixes carnívoros do reservatório
Moxotó.
Espécie
Tamanho (mm)
Peso (g)
Conteúdo estomacal
210 –230
310 – 450
100% camarão
S. brandtii
160 – 260
90 - 400
80% camarão, 10% moluscos e 10% vazio
P. squamosissimus
110 – 240
25 – 190
50% camarão, 12% peixe e 38% vazio
A. britskii
160 – 200
20 – 50
33% peixe, 33% gastrópodos, 34% vazio ou
não identificado
190 – 205
10 – 20
vazio
A. ocellatus
G. carapo
112
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
Tabela 4. Composição do conteúdo estomacal de espécies de peixes carnívoros do reservatório
PA IV.
Espécie
Tamanho (mm)
Peso (g)
Conteúdo estomacal
C. ocellaris
250-370
150-550 14% camarão, 72% camarão e peixe e 14% vazio
S. brandtii
180-240
170-370
43% camarão, 14% camarão e peixe, 14%
camarão e molusco e 29% vazio
H. smalabaricus
210-270
90-240
61% camarão, 39 % vazio
M. micans
85-120
30-50
14% camarão, 43% camarão e vegetais e 43%
vegetais
Foram realizadas duas coletas neste Reservatório que apresentaram a maior variedade de
espécies entre os ambientes aquáticos estudados, num total de 50 exemplares. Destaca-se a presença de
A. ocellatus e P. squamosissimus como mostra a Tabela 5. A presença de M. amazonicum no
reservatório pode ser confirmada pela análise do conteúdo estomacal dos peixes. A presença de A.
ocellatus pode ser explicada pela preferência que o peixe tem por moluscos bivalves e gastrópodos
encontrados em grande quantidade no Reservatório geralmente associado a macrófitas. É notável
também a preferência de P. squamosissimus pelo M. amazonicum na sua dieta alimentar. Sendo o
menor dos quatro reservatórios pesquisados, o reservatório Delmiro Gouveia demonstrou uma maior
densidade de macrófitas no lado Oeste. As macrófitas, principalmente E. densa, são arrastadas para
essa região devido à ação eólica.
Tabela 5. Composição do conteúdo estomacal de espécies de peixes carnívoros no reservatório Delmiro
Gouveia.
Espécie
Tamanho (mm) Peso (g)
Conteúdo estomacal
C. ocellaris
225
130-130
100% Vazio
S. brandtii
175-265
120-450
52% camarão, 26% molusco, 22% vazio
H. malabaricus
250-360
200-540
40% camarão, 30% peixe, 30% vazio
P. squamosissimus
255-275
200-260
100% camarão
A. ocellatus
215-240
280-380
16% camarão, 84% molusco
M. micans
200
170-170
100% vegetação
No lago da Se III de aproximadamente dois hectares, foram coletados exemplares de P.
squamosissimus (a captura predatória reduz as populações de peixes neste Lago, o que torna a pesca
escassa). O conteúdo estomacal dos exemplares analisados apresentou apenas resíduos de peixe. P.
113
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
squamosissimus apresentou grande preferência por M. amazonicum nos reservatórios povoados por E.
densa, macrófita praticamente inexistente neste Lago. A análise do conteúdo estomacal de alguns
exemplares de P. squamosissimus capturados no Lago confirma a importância de E. densa para a
colonização de M. amazonicum, pois a freqüência do crustáceo como índice alimentar foi de 0% neste
ambiente.
DISCUSSÃO
Os estudos sobre macrófitas aquáticas aumentaram consideravelmente no Brasil a partir de
1980. Essa comunidade apresenta reconhecida importância ecológica, mas, em determinadas situações
em que seu crescimento é acelerado pode provocar sérios prejuízos aos usos múltiplos dos ecossistemas
aquáticos (THOMAZ & BINI, 2003).
As plantas aquáticas como o aguapé, Eichornia crassipes propicia em suas raízes a proliferação
de toda uma comunidade viva, constituída de bactérias aeróbias, algas, protozoários ou pequenos
crustáceos e larvas de insetos ou moluscos (LUTZENBERGER, 1985).
Segundo MILSTEIN (1992) em manejos de lagos, a atividade alimentar da carpa capim,
diminui o esconderijo para invertebrados, pequenos peixes e crustáceos, com a grande disponibilidade
de predação, devido à erradicação da vegetação.
Informações sobre a dieta de peixes do gênero Brycon, em estudo realizado por LEITE (2002),
principalmente adultos, e de jovens maiores que 60 mm, mostraram a importância dos alimentos de
origem vegetal e artrópodes (MULLER & TROSCHEL, 1844; BREEDER, 1927; MENEZES, 1969;
KNÖPELL, 1970; GOULDING, 1980; BORGES, 1986). As informações sobre juvenis iniciais de
Brycon amazonicum (Pisces, Characidae) em condições naturais são escassas, principalmente porque
nas primeiras fases de desenvolvimento, os indivíduos desta espécie se encontram entre as macrófitas
aquáticas (JUNK, 1973).
Áreas alagadas associadas às represas são fonte da diversidade e aumento da biomassa de
espécies de peixes, crustáceos, macrófitas, aves e mamíferos. Os macroinvertebrados bentônicos,
macrozoobentos ou macrofauna bentônica compreendem um grupo de organismos com tamanhos a
partir de 1 mm, que apresentam uma relação direta com o fundo, o que resulta numa certa uniformidade
de modos de vida, apesar das suas distintas origens filogenéticas (DAY et al. 1989).
Em relação a macrofauna de maior mobilidade BEMVENUTI (1992) e GACIA et al. (1996)
mencionam, que nas enseadas estuarinas da Lagoa dos Patos, os juvenis dos camarões Farfantepenaeus
paulensis e Palaemonetes argentinus, do siri Callinectes sapidus e do caranguejo Cytograpsus
angulatus, são encontrados em maior abundância entre as macrófitas. Tanto os juvenis de decápodes
114
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
como os integrantes da epifauna sedentária, beneficiam-se da presença da pradaria pelo aumento da
oferta de alimento, da disponibilidade e diversidade de habitat e de proteção contra a predação de
peixes, decápodes de maior porte e aves (BEMVENUTI, 1987).
A análise dos distintos trabalhos envolvendo os macroinvertebrados bentônicos em pradarias de
Ruppia maritima na região Sul (ASMUS 1984, GARCIA et al. 1996, GERALDI 1997), indicaram que
a espermatófita e suas algas associadas, especialmente Enteromorpha spp. influenciam na estruturação
das associações de macroinvertebrados bentônicos, incluindo os crustáceos decápodes.
No presente trabalho, o estudo dos hábitos alimentares dos peixes carnívoros do sub-médio rio São
Francisco mostrou que em ambientes invadidos por E. densa, espécies de macroinvertebrados tiveram
sua colonização favorecida. Essa invasão variou de um reservatório para outro, no caso do Reservatório
PA IV, por tratar-se de um ambiente não muito profundo em seu leito e as margens possuem largas
faixas bem rasas, possivelmente a espécie tenha encontrado condições favoráveis para sua dispersão,
pois a quantidade excessiva de nutrientes de origem artificial oriundo de esgotos domésticos e
industriais, aliado a transparência da água permite que uma grande penetração de luz favoreça a
proliferação de organismos autotróficos. Quando o nível de água do Reservatório está muito alto e a
água turva, ocorre dispersão da população de E. densa presente nas margens do reservatório. Essa
dispersão, segundo os pescadores, diminui a quantidade de camarão, mesmo assim, alguns exemplares
podem ser capturados na própria vegetação ciliar inundada.
Resultado diferente dos outros reservatórios estudados ocorre no Lago da SE III. Como não
recebe água diretamente do rio São Francisco, não se encontra neste ambiente populações de
macrófitas, sendo as margens e parte central do Lago povoado por gramíneas esparsas. A ausência de
E. densa torna o estudo deste Lago particularmente especial como forma de comparação em relação aos
demais reservatórios estudados onde o vegetal estava presente sempre em grande quantidade. A
ausência de um microambiente para refúgio torna difícil, em tese, a colonização do Lago por M.
amazonicum.
Sobre a alimentação dos peixes nos diversos reservatórios a espécie P. squamosissimus
apresentou 75% de M. amazonicum em sua dieta, enquanto em ambientes sem a macrófita a pesquisa
apontou para 100% de peixes na dieta alimentar dessa espécie. C. ocellaris apresentou em ambientes
invadidos por E. densa uma freqüência de ocorrência de 44,5% para M. amazonicum e 45% de M.
amazonicum associado a peixes na sua dieta alimentar. A espécie onívora M. micans, apresentou quase
sempre camarão associado a macrófitas em sua dieta (FO = 68%) ou apenas vegetação. A. ocellatus
mostrou preferência marcante em sua alimentação por moluscos planorbídeos do gênero Biamphalaria
no reservatório Delmiro Gouveia (FO = 84%). Porém, no reservatório Moxotó esta espécie restringiu
115
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
sua dieta a M. amazonicum. A facilidade para captura do crustáceo ou a ausência de moluscos neste
Reservatório pode ser uma explicação plausível para o fato ocorrido. S. brasiliensis no reservatório
Itaparica, apresentou em seu conteúdo alimentar 100% do crustáceo em estudo. Sabe-se que Salminus
spp., pelo grande porte, alimenta-se também de grande variedade de peixes. Assim, supõe-se que o
percentual de 100% do crustáceo na alimentação da espécie no reservatório de Itaparica deveu-se ao
fato dos exemplares capturados serem juvenis com comprimento médio de 265 mm dando preferência
nessa fase por crustáceos, aliado também à abundância desse alimento no Reservatório.
As macrófitas são componentes muito importantes na biocenose do ambiente aquático.
Constituem fontes de alimentos e abrigo para reprodução e proteção de inúmeros organismos aquáticos.
Também são importantes na promoção de heterogeneidade espacial e sazonal, promovendo maior
diversidade de habitats, com reflexos na diversidade biológica do sistema.
As regiões dos reservatórios da CHESF, sub-médio rio São Francisco povoadas por macrófitas,
principalmente E. densa, contribuem substancialmente à piscicultura extensiva, pois permitem a
colonização nos reservatórios por crustáceos, larvas de peixes, moluscos, destacando-se a presença do
camarão-canela M. amazonicum. Estes organismos beneficiam-se do aumento da oferta de alimento, da
disponibilidade e diversidade de habitat e de proteção contra a predação de peixes.
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118
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
INCUBADORA HB PARA OVOS DE PEIXES DE ÁGUA DOCE E SUA LARVICULTURA
(PATENTE : MU 7903279-6*)
Haroldo Gomes BARROSO ([email protected])
Diretoria do Curso de Engenharia de Pesca, Universidade Estadual do Maranhão.
Athiê Jorge Guerra dos SANTOS ([email protected])
Departamento de Pesca e Aqüicultura Universidade Federal, Rural de Pernambuco.
*Patenteada pelo primeiro autor
RESUMO
Este trabalho teve como objetivo, projetar e operacionalizar um novo sistema de incubação de ovos de
peixes de água doce de valor comercial, motivado pela carência de pesquisas aplicadas ao
desenvolvimento de novos equipamentos capazes de maximizar uma produção segura de larvas e
alevinos na piscicultura. Projetou-se uma incubadora em forma de taça rasa, circular, medindo
1500mm de diâmetro na parte superior e 100mm na tomada d’água, com uma área de 1,77 m2 e
profundidade média de 300mm, seu volume operacional é de 410 L, executada em fibra de vidro,
contendo um filtro em sua base, oferecendo maior qualidade da água durante o processo de incubação.
Os testes realizados na incubação de ovos flutuantes de tambaqui (Colossoma macropomum CUVIER,
1818) e curimatãs Prochilodus spp. e nos ovos aderentes de carpa-comum Cyprinus carpio
LINNAEUS (1758) e bagre-africano (Clarias gariepinus BURCHELL, 1822), mostrou-se eficiente na
qualidade da água nos aspectos físicos, químicos e biológicos. O equipamento ainda mostrou-se eficaz
na sobrevivência dos ovos flutuantes, com índice de 94% e nos aderente com 87%, demonstrou-se
ainda na larvicultura seu total aproveitamento.
Palavras-chave: Peixes, Incubadora, reprodução, sobrevivência, larvicultura.
ABSTRACT
This study had the purpose of projecting and marking operational a new system for the incubation of
commercially valuable fish eggs, motived by the lack of researches applied on developmet of news
equipments able to increase the safe larvae and alevins production in fish culture. A circular and flat
cup shaped incubator was projected, having an upper part of 1.500 mm of diameter and a part of 100
mm on to take water, with an area of 1,77 m2 and average depth 300 mm, its volume is 410 L,
projected in glass fiber with a filter in its base; offering larger quality of water during the process of
incubation. The tests accomplished in the tambaqui (Colossoma macropomum-CURVIER, 1818) and
Curimatás (Prochilodus spp.) floating and adherent eggs and commom carp (Cyprinus carpio119
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
LINAEUS, 1758) and African catfish (Clarias gariepinus-BURCHELL-1822) adherent eggs, has
shown efficacy in the physical, chemical and biological water aspect. The has still equipment shown
efficacy on the floating eggs survival with index of 94%, and on the adherent eggs survival with 87%,
shwn in the larva culture its total profit.
Key-words: Fishes, System for the incubation, reproduction, survival, larviculture
INTRODUÇÃO
A quantidade de água na terra é estimada em aproximadamente 1,65 bilhões de km3 , mantendo-se em
ciclos hidrológicos dinâmicos a partir da energia radiada pelo sol e trabalhado pelos infindos
ecossistemas existentes no planeta, (ODUM, 1975).
De acordo com a publicação do ALMANAQUE ABRIL (2005), a demografia mundial é demografia
mundial foi de 6.3 bilhões de habitantes com um crescimento médio de 1,68% ao ano, apontando para
7.9 bilhões habitantes em 2025. Por outro lado, a Food and Agriculture Organization-FAO,
GARIBALDI (1996), revelam uma produção de pescado na ordem de 108,75 milhões de toneladas,
tendo como média a produção de 98 milhões de toneladas nos últimos 10 anos, o que equivale a um
consumo per capta de aproximadamente 0,02 kg, contra a sua recomendação que é de 13,10 kg,
totalizando uma demanda mundial de 82 bilhões de toneladas necessárias para atender as taxas de
oferta protéica de origem animal à humanidade. Do total produzido em 1995, a América Latina e
Caribe contribuíram com 20,62 milhões de toneladas, correspondente a 18,95% da produção mundial.
Segundo relata SILVA (1996), a partir da década de 70, houve um grande avanço tecnológico
objetivando o aumento da produção de pescado mundial. Fatos como este, concorreram para que a
FAO, em reunião técnica realizada na cidade de Tóquio, em 1996, apontasse a aqüicultura como a
única alternativa viável a atender a demanda mundial crescente de pescado, sem contudo desequilibrar
o meio ambiente. Outrossim, com a estabilização da captura em torno de 100 milhões de toneladas por
ano, a aqüicultura será a real alternativa à oferta regular de pescado no mercado, nos diversos níveis.
Dados demográficos registram uma população de 179,1 milhões habitantes no Brasil, com taxa de
crescimento de 1,3% ao ano em 2004 (IBGE, 2006). Em 2002, cerca de 1,006 milhão de toneladas de
pescado foram produzidas, o que representou um consumo per capta de apenas 0,01 kg, embora
disponha de 55.457 km2 de águas interiores e 7.367 km de litoral.
SILVA, (1996), relata os primeiros trabalhos sobre a fecundação artificial de peixes é datada de 1758,
pelo austro-alemão Jacobi, porém a primeira estação de piscicultura do mundo foi construída em
Munique, na Alemanha, em 1850; daí a disseminação da piscicultura na Europa Central, Inglaterra,
120
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
Estados Unidos da América, Argentina e Brasil, embora a mesma só tenha sido estimulada após o
segundo pós-guerra, devido a carência de alimentos proteicos de baixo custo de produção.
Segundo (VAZZOLER, 1997), os estudos de ecologia de ovos e larvas nos ambientes naturais
encontram-se ainda muito incipiente, porém, a reprodução natural, nos cursos d’água, sofre decadência
em curto espaço de tempo em função das agressões ambientais, que modificam a vida aquática.
Segundo WOYNAROVICH & HÓRVATH, (1983) e TAVARES, (1994); a qualidade de água é um
dos fatores mais importantes no processo de incubação de ovos e larvicultura. Fatores físicos,
químicos, biológicos e mecânicos precisam estar em perfeita harmonia com as exigências das espécies,
garantindo o sucesso da incubação e larvicultura. Tais fatores podem ser alterados não só pelo formato
da incubadora, mas também pelos acessórios que nela possam ser adaptados.
De acordo com relatos de LIMA et al. (1989); CHABALIN et al. (1989) e SILVA (1996), nota-se que,
a exemplo do Brasil, países europeus como a Hungria, Áustria, Espanha, Alemanha, França e Portugal,
promovem poucos investimentos em qualidade na propagação artificial de peixes, principalmente no
que diz respeito à eficiência de equipamentos na incubação de ovos e larvicultura. Os últimos
lançamentos são da década de 70, na Hungria e introduzida no Brasil na década de 80 pelo próprio
inventor Élek Woynarovich (WOYNAROVICH, 1988).
O presente trabalho teve como objetivo, projetar, desenvolver e operar um novo sistema de incubação
de ovos de peixes de água doce, bem como garantir a sobrevivência das larvas até absoverem sua
reserva alimentar e a primeira refeição via oral.
MATERIAL E MÉTODO
O PROJETO INICIAL DA INCUBADORA
Inúmeros foram os motivos que nortearam a projeção da nova incubadora:
- Alta demanda de alevinos e precária oferta;
- Falta de assistência técnica, pública e privada;
- A necessidade de uma aproximação de tecnologias simplificadas, de fácil concepção por
produtores dos diversos níveis.
O primeiro passo foi a elaboração de um projeto de um laboratório móvel, em 1989, na tentativa de
resolver os problemas de demanda, deslocando-se até as propriedades produtoras de peixe em cativeiro.
Como não foi possível sua execução, priorizou-se a construção de parte do projeto que foi o protótipo
da nova incubadora. Ainda naquele ano, várias diligências foram feitas a diversas entidades,
objetivando-se financiamento para sua execução, fato concretizado em 1995.
O projeto da nova incubadora priorizou os seguintes aspectos:
121
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
a) Área: Essa pesquisa foi desenvolvida sobre dois aspectos principais:
ÁREA SUPERFICIAL
– A nova incubadora tem uma superfície de 1,77 m2, considerada de fundamental
importância, tanto em relação contato da água com o ar, como oferta de espaço para natação horizontal
das larvas após o aparecimento da bexiga natatória, para espécies pelágicas, com maior dinamismo.
SUBSTRATO – O desenho da nova incubadora tem forma de taça, contempla uma área de cerca de 3 m3
de substrato para as larvas bentônicas, com menor dinamismo (FIGURAS 1 e 2).
b) Profundidade: outro aspecto de fundamental importância é a pouca profundidade da nova
incubadora, com uma média de 25 cm, em sua maior área e 55 cm no centro da mesma, onde acontece
o abastecimento. O projeto preconizou uma incubadora rasa devido ao grande stress submetido às
larvas nos sistemas utilizado ultimamente (FIGURAS 1 e 2).
Com a construção do primeiro protótipo, as falhas foram sendo detectadas e conseqüentemente
ajustadas de acordo com as necessidades. A primeira necessidade refere-se ao abastecimento da água,
que normalmente conduz inúmeros problemas para a incubação como materiais em suspensão,
predadores, consumidores, entre outros. Daí o estudo de um sistema de abastecimento com filtro
individual. O filtro foi projetado, construído e testado, e posteriormente acoplado na base inferior da
incubadora, na tomada de água.
c) Filtro: Construído em PVC rígido, de 111 mm de diâmetro e 350 mm de comprimento; em sua
extremidade posterior interna, encontra-se um projetor de tela perfurado (furos de 1,00 mm), também
de PVC e uma tela interna de 360 µ, cuja finalidade cuja finalidade é tão somente pressionar o material
filtrante existente no interior do filtro. Na extremidade anterior existe outro protetor e tela semelhante,
descrito ao anterior, que pressiona de forma contrária, mantendo o material filtrante sempre
compactado. Ainda nesta extremidade fechada foi colocado um adaptador em PVC LR de 50 mm para
25 mm., que objetiva receber o abastecimento da água e a válvula de retro-lavagem.
O filtro ainda contém uma pedra porosa, na bolsa formada pelo niple, onde o ar comprimido é lançado,
antes de passar pela filtragem, evitando bolhas. Com isso, eliminam-se os atritos mecânicos das bolhas
de ar e os ovos, especialmente os flutuantes, mais delicados e sensíveis. Este novo sistema de
incubação, de agora em diante denominada HB, foi projetado na tentativa de preencher uma lacuna
deixada na fase pós-eclosão, onde os índices de mortalidade nessa fase são bastante elevados. Teve sua
concepção final com as seguintes fases:
1 – CONSTRUÇÃO
Inicialmente procedeu-se a construção de uma pré-forma, confeccionada em gesso, polida e acabada.
Após construiu-se a primeira incubadora em fibra de vidro, que serviu de molde para a construção da
122
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
forma definitiva, também em fibra de vidro. Foram construídas mais quatro unidades, totalizando em
cinco o número de incubadoras HB, para efetuar os experimentos subseqüentes.
As incubadoras HB são construídas em fibra de vidro, reforçada em suas curvaturas para evitar
flambagem e possíveis rachaduras. Nelas estão contidos drenos simétricos, protegidos com telas de
360µ, para evitar a fuga de ovos, larvas e pós-larvas (dimensões nas FIGURAS 1, 2 e 3). As
incubadoras HB dispõem de filtro capaz de evitar o ingresso de partículas em suspensão, concorrentes
bióticos, e abióticos, neutralizar o pH da água, controlar a oferta de oxigênio a partir de um compressor
de ar, adaptar termostatos para regular a temperatura da água nas incubadoras e de fácil limpeza.
2 – OPERAÇÃO
Operação do equipamento é muito simples. O abastecimento é feito por gravidade, com graduação
mecânica de vazão, que varia de zero a 18,636 L /min., com uma altura monométrica de 2 m. A
drenagem é feita por drenos simétrico. O equipamento dispõe de um filtro na parte inferior, por onde a
água entra na incubadora; por sua vez, o mesmo contém uma válvula para retrolavagem, capaz de
limpar os resíduos retidos na filtragem, evitando-se assim, qualquer risco de interrupção no fluxo
d’água. A incubadora HB deve ser montada em base de ferro ou madeira, de forma que seu
nivelamento seja perfeito, capaz de favorecer a drenagem pelas quatro saídas.
LEGENDA
1 Cano de abastecimento
2 Registro p/retrolavagem do filtro- PVC
25mm.
3 “T” liso PVC 25mm
4 Adaptador p/cx.d’água PVC Liso25mm
5 Caps PVC rígido rosca interna
6 Cano PVC rígido rosca externa 110mm
7 Luva rígida rosca interna 110mm
8 Niple LR-PVC p/drenagem 20mm
9 Cx de coleta d’água drenada em fibra
de vidro
10 Tela micrométrica 360 micras
11 Cupula p/discipação e direcionamento
da corrente d’água
12 Base de sustentação de madeira
Figura 1 – Vista frontal da incubadora (Escala 1:10)
123
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
LEGENDA
1 Raio de pneu de bicicleta
2 Ralo de chuveiro PVC de 80mm
3 Tela de 360 micras
4 Mármore trituado 4mm
5 Carvão ativado
6 Mármore branco triturado 8mm
Figura 2 – Corte frontal da incubadora (Escala 1:10)
Figura 3 – Detalhe do filtro (Escala 1:2)
LEGENDA
1 Ralo de chuveiro PVC 80mm 4 Carvão ativado
2 Tela 360 micras
5 Mármore branco triturado 8mm
3 Mármore triturado 4mm
124
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
3 – CUSTOS
No desenvolvimento do equipamento, obtiveram-se dois tipos de custos, os fixos, com gastos
exclusivos com material e mão-de-obra,e os variados, com despesas de deslocamentos e testes. O custo
de produção de cada incubadora foi estimada em torno de R$ 995,58 (novecentos noventa e cinco reais
e cinqüenta e oito centavos), desde a matéria-prima, mão-de-obra e acabamento (TABELA 1).
TABELA 1 – Custo de produção da Incubadora HB (X R$ 1,00)
Discriminação
Quant.
Unid.
Valor Unit.
Valor Total
Madeirite 150 mm
3
Folhas
22
91,20
Cola
2
L
3
8,30
Lixa
1
Dz
3
4,10
Tinta aparelho
2
L
3
8,30
Desmoldante
2
galão
70
195,50
Fibra de vidro
60
Kg
18
1.492,90
Resina
6
galão
35
290,20
Tinta antitóxica
6
L
26
215,60
Niple de PVC-RR
10
unid
22
304,10
Luva de PVC-RR
5
und
15
103,60
Cano de PVC-RR
1
und
160
221,10
Material filtrante
9
Kg
2
24,80
Mão-de-obra
2.018,20
TOTAL (R$)
4.977,90
TOTAL (U$)
2.118,26
Dividido por 5 temos o valor unitário
125
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
TESTES DE INCUBAÇÃO DE OVOS E
LARVICULTURA
Para testar a eficiência do novo sistema de incubadora, escolheram-se quatro espécies de peixe; duas
que desovassem ovos aderentes e outras duas que possuíssem ovos flutuantes.
OVOS ADERENTES
a) carpa-comum (Cyprinus carpio LINNAEUS, 1758)
Este teste foi realizado na base de Piscicultura da UFRPE, em novembro de 1996. um total de 44
carpas maduras (26 machos e 18 fêmeas) foram selecionadas no viveiro estoque de 1.000 m2 e
transferidas para o tanque interno de desova de 6,0 m2 (3,0 x 2,0). Logo em seguida foram colocadas
baronesas, Eichornia crassispes, para servirem de substrato para os ovos. O tanque foi mantido com
fluxo de água contínuo. A desova foi induzida naturalmente e após a sua ocorrência, durante a
madrugada, os ovos junto com as baronesas foram transferidos para as incubadoras do tipo HB (duas
incubadoras), e do tipo funil, que serviu como controle. O fluxo de água em ambas incubadoras foi do
tipo ascendente e contínuo. Nas incubadoras tipo HB, porém, foi acoplado o filtro, conforme descrito
no item anterior. Este filtro ficou posicionado no sentido horizontal, junto ao solo, em fase de testes
iniciais.
b) Bagre-africano (Clarias geriepinus BURCHELL, 1822)
Este teste foi realizado em setembro de 1997 na Mar Doce Nordeste Piscicultura Projetos Ltda. –
Produção de alevinos e projetos de piscicultura, empresa de iniciativa privada, localizada em
Camaragibe-PE. Para a desova do bagre-africano foram selecionados quatro peixes maduros; dois
machos e duas fêmeas. A desova foi induzida por meio da hipofisação. Os óvulos foram extraídos da
fêmea logo após a ovulação, e fecundados com sêmen coletados de machos recém sacrificados. Os
ovos foram então espalhados em telas de nylon, armadas em aros de ferro, e dispostas na incubadora
HB e noutra convencional, ou seja, do tipo funil. Na incubadora HB acoplou-se o filtro, porém, já no
sentido vertical, junto à base da incubadora, e não no sentido horizontal como demonstrado no item
anterior. Semelhante à desova de carpa, os parâmetros tais como temperatura da água, oxigênio
dissolvido e pH também foram mensurados. O teste teve a duração de cinco dias.
Ovos flutuantes
a) Tambaqui (Colossoma macropomum CURVIER, 1818)
Este experimento foi realizado em três etapas: a primeira em julho/96 em Colinas – MA. A segunda foi
realizada em novembro/96 em Recife-PE e a terceira em Pedreiras-MA, em janeiro/98; com duração de
cinco dias, as quais passaremos a descrever:
Primeira: Utilizaram-se 2 fêmeas maduras de tambaqui com 10 kg, cada uma, e 4 machos com 8 kg, de
peso médio. A desova foi induzida por meio de tratamento hormonal. Após a fecundação dos óvulos à
126
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
seco, 200 g de ovos hidratados foram colocados nas incubadora tipo funil e HB. Uma terceira
incubadora HB, porém, recebeu 400 g de ovos, a fim de verificar o efeito do adensamento. Todas as
incubadoras funcionaram sem a presença de filtro.
Segunda: Este experimento foi realizado na Base de Piscicultura da Universidade Federal Rural de
Pernambuco – UFRPE. Todas as incubadoras (duas modelo funil e uma tipo HB) receberam 200 g de
ovos hidratados. Neste segundo teste, a incubadora tipo HB já havia sido redefinida, com filtro
individual e nova distribuição de ar comprimido.
Terceira: Este foi realizado em Pedreiras-MA, onde o sistema de incubadora HB sofreu um novo
reajuste. Na parte central da incubadora acoplou-se uma cúpula de 50 cm de diâmetro, para eliminar os
choques mecânicos da água com ovos, em cima da cúpula adaptou-se uma armação cilíndrica para
manter os ovos sempre numa zona de maior fluxo de água ascendente, evitando-se com isto, a sua
decantação.
A segunda etapa, realizada na Mar Doce Nordeste Piscicultura Projetos Ltda., em Camaragibe – PE,
teve uma duração de 16 h para a eclosão das larvas nos dois sistemas de incubação HB e tradicional,
tipo funil. As taxas de eclosão registradas na incubadora HB foram de 68% enquanto na controle foram
de 86%. Após a eclosão, juntaram-se as larvas de duas incubadoras controle, tipo funil, com as da
incubadora HB, não se registrou mortalidade na larvicultura, enquanto as duas incubadoras controle
demonstraram uma eficiência estimada em 72%. O cultivo foi concluído no 5º dia, a contar da
incubação dos ovos.
Na terceira etapa, em Pedreiras – MA com duração de 16 horas, para eclosão de larvas nos dois
sistemas de incubação HB e tradicional, tipo funil, a taxa de eclosão estimada nas incubadoras HB foi
de 96%, enquanto nas controle foi de 84%. Após a eclosão, as larvas permaneceram por 14 dias, não se
registrando mortalidade nas incubadoras HB, enquanto nas controle a sobrevivência das larvas, até 5º
dia, foi de 48%.
Segundo os resultado obtidos, a incubação dos ovos flutuantes, de Tambaqui e Curimatá, foram
incubados com sucesso na incubadora HB, chegando-se a índices de 92 a 96%, respectivamente
(TABELA 2). Com os ovos flutuantes, utilizou-se de artifícios (telado e cúpula) para manter os ovos
sempre no centro da incubadora sob movimentos suaves, evitando-se fortes contatos com a água do
abastecimento, na zona de maior choque mecânico. Tais aparatos foram retirados após a eclosão das
larvas, juntamente com as cascas dos ovos e outros metabólicos da incubação. Os resultados mostraram
que as larvas suportaram bem o período de tratamento de cinco dias.
A incubadora HB, obteve portanto uma ótima performance no que refere-se a produção de pós-larvas,
destacando-se em aspectos positivos como: 1. Espaço físico e 2. Abrigo seguro por um período longo
127
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
(até duas semanas), evitando-se a predação das pós-larvas nessa fase ontogênica em que as mesmas não
dispõem de maiores mecanismos de defesa.
Este experimento ocorreu também em três etapas, com duração de cinco dias em cada etapa descritas a
seguir:
Primeira: Aconteceu no município de Colinas – MA, em julho de 1997. foram utilizadas quatro fêmeas
maduras, peso médio de 0,8 kg e seis machos também de peso igual. A desova foi induzida
artificialmente por meio da hipofisação. Das quatro fêmeas, induzidas, foram obtidos 0,8 kg de ovo,
que, após fecundados, foram distribuídos numa incubadora tipo funil (0,2 kg), e em duas incubadoras
HB sem o acessório filtro. A quantidade de ovos nestas últimas incubadora foi de 0,2 e 0,4 kg,
respectivamente.
Segunda: Este segundo teste foi realizado na Mar Doce Nordeste Piscicultura Projetos Ltda.,
Camaragipe – PE, em setembro de 1997. similar ao primeiro teste, as fêmeas foram induzidas à
ovulação por meio de tratamento hormonal e os óvulos fecundados à seco. Aqui, objetivam-se 0,4 kg
de ovos hidratados, distribuídos da seguinte forma entre as incubadoras: 0,05kg na incubadora HB
adaptadas com filtro e aeração, e 0,1 kg de ovos em quatro incubadoras tradicionais, do tipo funil.
Terceira: O teste aconteceu na cidade de Pedreiras – MA, em janeiro de 1998. Na pesquisa foram
utilizados seis fêmeas maduras, com peso médio de 1,2 kg, e oito machos com peso médio de 0,8 kg.
Obteve-se 1,0 kg de ovos, distribuídos da seguinte maneira: 0,2 kg na incubadora HB, com filtro e
aeração e 0,4 kg em outra, 0,2 kg em duas incubadoras tradicionais tipo funil. Diferente das outras duas
etapas.
Os índices de fertilização foram estimados, de acordo com a seguinte metodologia:
- Os ovos secos foram pesados e calculados em função do seu peso. Após sua hidratação e duas horas
sua incubação coletou-se, assim, um percentual estimado (NOGUEIRA, 1992).
QUALIDADE DE ÁGUA NAS INCUBADORAS
Além das investigações sobre a eficiência da incubadora HB quanto ao tipo de ovos, investigou-se
também a qualidade da água dentro da referida incubadora, referentes aos parâmetros físicos, químicos
e biológicos. Este estudo foi realizado na Mar Doce Ltda., em novembro de 1997. os parâmetros foram
analisados, utilizando-se duas incubadoras HB (com acoplamento do filtro numa delas) e uma
incubadora tipo funil.
Fatores físicos
a) Abastecimento e vazão
O sistema foi abastecido por gravidade, a partir de caixas d’água, com altura máxima de 2,00 m, a
partir da base da caixa até a borda superior da incubadora. A distribuição da água foi feita a partir de
128
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
tubulações de PVC com 100 a 150 mm de diâmetro, com redução para 25 mm no abastecimento
individual das incubadoras. A vazão inicial, em cada incubadora HB, foi de aproximadamente 18,6 ℓ
durante o experimento. A investigação teve um período de 24 horas, começando às 11:00 do dia 1 e
terminando às 11:00 do dia seguinte.
b) Temperatura
A temperatura foi registrada, a cada uma hora, com o termômetro do equipamento modelo YSI
58, juntamente com as medidas de oxigênio dissolvido.
c) Carga sestônica
A carga sestônica foi medida na hora zero (início) e depois com 24 horas de funcionamento, assim
como indicado na TABELA 3, para medir a carga sestônica foi utilizada uma bomba modelo portátil
masterflex e filtro micrométrico para captar as partículas existentes na água. O material filtrado foi
dessecado e pesado.
FATORES QUÍMICOS
No presente estudo, observaram-se os seguintes variáveis: Amônia, Oxigênio dissolvido e pH.
Para a determinação do teor de amônia nas incubadoras, as amostras de água foram coletadas no
instante inicial (hora zero) e 24 h após. O método utilizado para a medição foi o do Indofenol, segundo
CARMOUZE (1994).
As medidas de oxigênio dissolvido foram realizadas simultaneamente com as leituras de temperatura
por meio do Oximetro modelo YSI 58.
As medidas de pH também foram registradas simultaneamente às medidas de temperatura e oxigênio
dissolvido na água. O equipamento usado foi pH-metro, modelo ION ANALYZER – p603 de origem
francesa.
FATORES BIOLÓGICOS
Sabe-se que alguns organismos aquáticos vivos podem adentrar facilmente nas incubadoras, através da
água que as abastece. Fato este que pode ser identificado nos testes preliminares realizados com as
incubadoras HB, em Colinas – MA. Daí surgiu a necessidade de acoplar um filtro específico na entrada
d’água da incubadora (veja o item Projeto da Incubadora). As observações foram realizadas
simultaneamente com os estudos da qualidade d’água dentro das incubadoras.
TESTES ESTÁTICOS
Para a comprovação da significância do projeto, aplicou-se, sobre os resultados obtidos com a
incubação de ovos e sobrevivência das larvas, temperatura, hP oxigênio dissolvido e carga sestônica, o
teste Fisher e o teste Tukey, segundo GOMES (1970).
129
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
RESULTADOS
O PROJETO DA INCUBADORA
Com a viabilidade técnica da construção da nova incubadora, passou-se à fase de testes definitivas.
Capazes de avaliar seu desempenho nos diversos requerimentos da propagação artificial de peixes de
valor comercial. Os aspectos físicos, químicos, biológicos, mecânicos e formato do equipamento
obteve os seguintes resultados:
TESTES DE INCUBAÇÃO DE OVOS E LARVICULTURA
A) OVOS ADERENTES
a.1 Carpa-comum
Nos testes de incubação de ovos da carpa-comum no laboratório da base de piscicultura da UFRPE,
constatou-se que o período de eclosão ocorreu durante o intervalo de 36 a 42 horas de incubação, isto
se deu em virtude dos diferentes tempos de desova dos indivíduos. Após a eclosão, manteve-se o
substrato (baronesas) de fixação dos ovos até o 3º dia para servir de refúgio às larvas, procedeu-se a
limpeza geral das incubadoras, retirando-se plantas aquáticas, restos de raízes e outros, mantendo-se as
larvas até o 6º dia, sendo que no 5º dia elas receberam sua primeira alimentação à base de gema de ovo
cozido e liquidificado.
Tanto no período de incubação de ovos como na larvicultura, não registrou-se mortalidade na
incubadora HB, observou-se ovos j mortos (gorados) nas raízes de baronesas numa taxa de 12%,
acredita-se que estes eram ovos não fecundados. A produção estimada nas incubadoras HB foi de
300.000 ovos em cada e de 30.000 no controle, tipo funil (TABELA 2).
A incubadora controle funil, de 200 ℓ, tem uma área superficial de aproximadamente 0,5m2, o que
limita sua produtividade utilizando-se baronesas como substrato para sustentação de ovos de carpacomum durante a incubação dos mesmos.
A sobrevivência de ovos fecundados e larvas nas incubadoras HB foi total, e na tradicional, tipo funil,
observe-se um índice de 42% (TABELA 2).
a.2 Bagre-africano
A eclosão das larvas foi observada após 18 h de incubação dos ovos neste experimento, a taxa de
fecundação foi de 87%, não se registrando porém nenhuma mortalidade nas fases subseqüentes à
eclosão. As pós-larvas foram retiradas da incubadora HB e controle no quinto dia de cultivo. A
produção média na incubadora HB foi de 98% enquanto na controle foi de 31% (TABELA 2).
130
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
B) OVOS FLUTUANTES
b.1 Tambaqui
Conforme mencionado na metodologia, o experimento ocorreu em três etapas.
Na primeira etapa a eclosão ocorreu após 14 h de incubação, tanto nas incubadoras HB como na
controle, tipo funil. As larvas nasceram debilitadas e o índice de mortalidade foi na ordem de 70%,
ocorrendo mortalidade total em 24 h.
Já na segunda etapa, realizada na UFRPE – Recife – PE, as larvas eclodiram após 16 horas de
incubação, tanto na incubadora HB como na controle, tipo funil, com índice estimado em 20% de
sobrevivência nas incubadoras respectivamente.
Após a eclosão as larvas da incubadora HB, e de uma controle, foram reunidas em uma só incubadora
HB uma outra incubadora usada como controle permaneceu intacta até o quinto dia. Finalizando o
experimento não se observou mortalidade das pós-larvas na incubadora HB, enquanto na tradicional,
tipo funil, observou-ser uma mortalidade de 12%.
Na terceira etapa, realizada em Pedreiras – MA, as larvas eclodiram após 16 h nas incubadoras HB e
tradicional, tipo funil. A temperatura na ocasião manteve uma média de 27ºC. A taxa de eclosão
estimada foi na faixa de 92% em ambos sistemas, porém, enquanto não se registrou mortalidade
durante sua larvicultura nas incubadoras HB registrou-se uma sobrevivência de 56% na incubadora
controle tipo funil, até o 5º dia de cultivo (TABELA 2).
b.2 Curimatá
Este experimento ocorreu em três etapas, em três locais diferentes descritos anteriormente na
metodologia.
A primeira etapa, realizada em Colinas – MA teve uma duração de 16 horas para eclosão das
larvas com uma taxa de 58% e 65% nas incubadoras HB e controle, tipo funil, respectivamente. A
sobrevivência foi estimada em 8% nas incubadoras HB e 2% na controle, tipo funil, até o 5º dia de
cultivo. A segunda etapa, realizada na Mar Doce Nordeste Piscicultura Projetos LTDA., em
Camaragibe-PE, teve uma duração de 16 h para eclosão das larvas nos dois sistemas de incubação HB
e tradicional, tipo funil. A taxa de eclosão registrada nas incubadoras HB foi de 68% enquanto na
controle foi de 86%. Após a eclosão, juntaram-se as larvas de duas incubadoras controle, tipo funil,
com as da incubadora HB, não se registrou mortalidade na larvicultura, enquanto as duas incubadoras
controle demonstraram uma eficiência estimada em 72%. O cultivo foi concluído no 5º dia, a contar da
incubação dos ovos.
131
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
Na terceira etapa, em Pedreiras-MA. com duração de 16 horas, para eclosão de larvas nos dois sistemas
de incubação, HB e tradicional, tipo funil, a taxa de eclosão estimada nas incubadoras HB foi de 96%,
enquanto a controle foi de 84%. Após a eclosão, as larvas permaneceram por mais 14 dias, não se
registrando mortalidade nas incubadoras HB, enquanto nas controle a sobrevivência das larvas, até o 5º
dia, foi de 48%.
Segundo os resultados obtidos, a incubação dos ovos flutuantes, de tambaqui e curimatá, ocorreu com
sucesso nas incubadoras HB,chegando-se a índices de 92 a 96%, respectivamente (TABELA 2). Com
os ovos flutuantes, utilizou-se de artifícios (telado e cúpula) para manter os ovos sempre no centro da
incubadora sob movimentos suaves, evitando-se fortes contatos com a água do abastecimento, na zona
de maior choque mecânico. Tais aparatos foram retirados após a eclosão das larvas, juntamente com as
cascas dos ovos e outros metabólicos da incubação. Os resultados mostraram que as laarvas suportaram
bem o período de tratamento de cinco dias.
A incubatora HB obteve, portanto, uma ótima performance no que refere-se a produção de pós-larvas,
destacando-se em aspectos positivos como:
1-Espaço físico
2-Abrigo seguro por um período longo (até duas semanas), evitando-se a predação das pós-larvas nessa
fase ontogênica em que as mesmas não dispõem de maiores mecanismos de defesa.
Testes de significância para percentagem de sobrevivência de larvas nas incubadoras HB e controle.
A aplicação do teste F demonstrou uma probabilidade de 99% de certeza de haver diferenças
significativas entre os tratamentos. Portanto, conclui-se que o tratamento 1 é superior ao tratamento
Estudos da qualidade de água
Nesta investigação utilizaram-se duas incubadoras HB (HB1 com filtro mais injetor de ar e HB2 sem
filtro de ar), e uma incubadora, tipo funil, como controle. As variáveis físico-químicas foram
registradas durante 24 h (TABELA 4).
TURBIDEZ E CARGA SESTÔNICA
A água da incubadora HB1 (com filtro), mostrou-se cristalina, não apresentando macrocospicamente
nenhum material em suspensão, de origem biótica ou abiótica. Porém, na incubadora HB2 (sem filtro) a
água mostrou-se um pouco turva no fundo, mais precisamente na área destinada ao descanso de larvas.
Já na incubadora controle, a água mostrou-se muito mais turva em sua totalidade.
132
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
TABELA 2 – Níveis comparativos de aproveitamento em incubadora modelo HB1 e HB2, com o
modelo Woynarovich, após o último ajuste de construção do sistema de incubação HB.
Número de Ovos
% de sobrevivência de
% de Eclosão
Espécie
larvas
HB1
HB2
W
HB1
HB2
W
HB1
HB2
W
Tambaqui
400.000
200.000
200.000
92
92
92
100
100
56
Curimatá
400.000
200.000
200.000
96
96
84
100
100
48
Carpa-com.
300.00
300.000
30.000
88
88
88
100
100
42
Bagre afric.
50.000
-
50.000
86
-
86
98
-
31
HB1 = Modelo com micro-filtro e ar comprimido
HB2 = Modelo sem micro-filtro e ar comprimido
W = Woynarovich – Modelo tradicional sem filtro (controle)
TABELA 3 – Níveis comparativos de variações de amônia e carga sestônica em incubadora modelos
HB1 e HB2, com o modelo Woynarovich, período de 24 h.
Modelo
Modelo
HB1 (1)
HB2
Modelo
Especificação
Período
Variação da Amônia (mg / L)
Hora inicial
0,143
0,160
0,161
Hora inicial
0,203
0,214
0,244
Hora inicial
6,13
9,28
7,42
Hora final
11,96
17,23
19,40
Variação da carga setônica (mg / L)
(1) – Incubadora HB1 com micro-filtro
(2) – Incubadora HB2 sem filtro
(3) – Incubadora Woynarovich sem filtro
133
(2)
W (3)
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
2 - TESTE DE SIGNIFICÂNCIA DE VARIAÇÃO DOS FATORES FÍSICOS NAS INCUBADORAS HB E CONTROLE
DURANTE 24 H.
Os resultados estatísticos entre modelos, demonstraram não haver significância. Porém, do espaço
inicial (t1) ao final (t2), do abastecimento, mostrou-se que t2 > T1, com grande variação da carga
sestônica, segundo o teste F com 99% de certeza.
Segundo o teste F, ao nível de 99% de certeza, não houve diferenças significativas nos níveis de
temperatura.
3 – FATORES QUÍMICOS
a) Amônia:
Assim como está indicado na TABELA 3, os valores de amônia elevaram-se em todas as incubadoras
entre o tempo To e o T24. Porém, os valores registrados nas incubadoras HB2 e controle foram maiores
que os registrados na incubadora HB1 com 0,214 mg/L e 0,203 mg/L respectivamente (TABELA 3).
b) Oxigênio dissolvido
Quanto ao oxigênio dissolvido, na incubadora HB1, ele foi constante, em torno de 7.2 mg/L, durante
quase todo experimento. Porém, sempre acima dos teores registrados nas incubadoras HB2 e na
controle, que variou entre 5.2 e 6.9 mg/L. no fim do experimento observou-se uma elevação dos teores
de oxigênio em todas as incubadoras; os valores da incubadora HB1 permaneceram maiores
comparadas com as demais (TABELA 4).
c) PH
Quanto ao pH, os resultados registrados na incubadora HB1 variaram entre 7.2 e 7.9, durante todo o
experimento. Portanto, sempre ligeiramente alcalino. Nas incubadoras HB2 e tradicional a variação foi
de 6.0 e 7.2, ligeiramente ácido e alcalina (TABELA 4).
4 – TESTES DE SIGNIFICÂNCIA DA VARIAÇÃO DOS FATORES QUÍMICOS ESTUDADOS NAS INCUBADORAS HB
E CONTROLE DURANTE 24 H.
Não há significância entre os modelos, porém do espaço inicial (t1) do abastecimento para o espaço
final (t2), da variação de amônia, há diferença significativa, onde t2 é superior a t1, ao nível de 99% de
certeza, segundo o teste F.
Com aplicação do teste Tukey, os tratamentos HB1, HB2 e Woynarovich relativo ao oxigênio
dissolvido na água das incubadoras, diferem entre si. Onde concluiu-se que o tratamento HB1 é
superior aos demais. O tratamento HB2 é superior ao tratamento Woynarovich, ao nível de 99% de
certeza (HB1 > HB2 e HB2 > Woynarovich).
134
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
Para os níveis de pH, o tratamento HB1 é superior aos demais, porém o tratamento HB2 não difere
estatisticamente do tratamento Woynarovich ao nível de 99% de certeza (HB1 > HB2 e HB2 =
Woynarovich).
Tabela 4 – Níveis comparativos de Temperatura (T oC), Oxigênio dissolvido (OD, mg/L) e pH
observados nas incubadora modelo HB1 e HB2, e modelo Woynarovich (W) no período de 24 horas
Variável
Físico-
Modelo de Incubadora
HB1
HB2
Woynarovich
T (oC)
26,51
26,65
26,34
O2D (mg/L)
7,24
6,05
5,63
pH
7,55
6,98
6,85
química
(1) Modelo com micro-filtro e ar comprimido
(2) Modelo sem filtro
(3) Modelo sem filtro
DISCUSSÃO
PROJETO DA INCUBADORA
Segundo relatam CHABALIN et al. (1989); NAKATANI et al. (1997), os equipamentos utilizados
atualmente propiciam a um alto índice de mortalidade, seja pela falta de controle de qualidade de água,
concorrência na incubação, utilização de organofosforados no combate a pequenos predadores
existentes nos reservatórios que abastecem os laboratórios, entre outros. Denuncia também a falta de
geração, adaptação e difusão de tecnologia a respeito do assunto.
O objetivo principal do presente trabalho foi projetar, desenvolver e operar um novo sistema de
incubação de ovos de peixes de água doce; de forma que sua operacionalização venha a favorecer o
crescimento da oferta de alevinos de boa qualidade para um mercado sempre crescente. Visou também
solucionar alguns problemas operacionais dentro da larvicultura de peixes, atendendo assim, algumas
exigências, resultantes de grupos de trabalhos técnicos, relativos ao setor.
Estudou-se portanto, um desenho de incubadora capaz de reduzir todos os fatores que comumente
interferem na incubação de ovos, eclosão de larvas e larvicultura de espécies de água doce.
Inicialmente, o projeto visou à construção de uma incubadora capaz de minimizar a mortalidade das
larvas recém eclodidas e seu desenvolvimento até o estágio de pós-larvas, período em que ocorre
135
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
maior incidência de mortalidade, em torno de 50%, segundo CHABALIN et al. (1989) e LOPES et al
(1995).
O desenho da incubadora em forma de taça oferece uma ampla área superficial (1,77m2)
exposta à atmosfera, propiciando: a) Maior adsorção de oxigênio; b) Maior espaço para as larvas
pelágicas nadarem horizontalmente após absorver total ou parcial seu saco vitelino; c) Pouca
profundidade, evitando-se assim o stress das larvas de natação vertical, lenta ou ativa; d) Amplo
substrato para as larvas que se depositam e agarra-se a objetos ou no fundo. Visando aumentar a sua
eficiência na larvicultura, em relação aos atuais sistemas, algumas modificações foram feitas para o
seu melhor aproveitamento na incubação de ovos tanto flutuantes como os aderentes. O primeiro passo
foi o desenvolvimento de um filtro, cuja finalidade foi a melhoria da qualidade de água, nos seus
aspectos físicos, químicos, biológicos e dos efeitos mecânicos, provocados pelo abastecimento,
circulação e renovação de água durante a incubação dos ovos principalmente. Melhorias essas que
serão abordadas mais detalhadamente em seguida.
Quanto ao aspecto operacional, a incubadora HB, demonstrou ser de fácil manejo, precisando-se
apenas instala-la em nível, para que haja simetria na drenagem em quatro pontos simétricos, podendose aumentar o número de drenos, diminuindo-se assim a pressão das correntes d’água contra os ovos e
larvas, sem contudo, afetar a renovação e o fluxo de água requerido no processo de incubação. As
fontes supridoras de água e ar podem ser a mesma para várias incubadoras HB, dependendo da
disponibilidade e demanda do sistema.
O custo de cada incubadora HB foi na ordem R$ 995,58 (novecentos e noventa e cinco reais e
cinqüenta e oito centavos), o que compreende a incubadora em forma de taça, em fibra de vidro, filtro
com registro em PVC e base de ferro com parafusos.
Testes de incubação de ovos e larvicultura
OVOS ADERENTES
Na incubação dos ovos aderentes de carpa-comum utilizando-se baronesa e tela de nylon para o bagreafricano, como substrato para os ovos fecundados, o desempenho da incubadora HB foi considerado
ótimo por não se registrar na larvicultura este alto rendimento a fatores diversos proporcionado pela
incubadora HB tais como: ausência de choque mecânico, alta oferta de oxigênio, resultante da injeção
contínua de ar forçado a partir de um compressor, e amplo substrato disponível aos ovos, água limpa,
sem agregação de qualquer resíduo nas paredes externas dos ovos. Na larvicultura proveniente de ovos
aderentes, as larvas mostraram-se bastante confortável pelo seu comportamento aparente: os de carpa
continuaram utilizando como substrato às raízes da baronesa, até o terceiro dia, quando se limpou a
incubadora. Mantiveram-se assim, até o quinto dia, quando receberam a sua primeira alimentação. Já
na larvicultura do bagre-africano, o substrato foi retirado (tela com resíduos e cascas de ovos aderidos
136
Rev. Bras. Eng. Pesca 1[1]
a ela), logo após a eclosão das larvas, precavendo-se dos efeitos de ataques de bactérias e fungos a que
naturalmente seriam submetidos. De acordo com a físio-ecologia das larvas, elas descansam
naturalmente em substratos rígidos logo após a sua eclosão. Devido a conformidade das paredes da
incubadora HB, tal substrato foi logo encontrado pelas larvas.
OVOS FLUTUANTES
Na incubação de ovos de tambaquis e curimatás, utilizaram-se artifícios para mantê-los no centro da
incubadora, na área de fluxo ascendente de água, objetivando-se a manutenção dos mesmos sempre em
movimento, sem espalharem-se pelas zonas periféricas da incubadora, onde a corrente é tão pequena
que os ovos juntam-se, formando uma grande massa de ovos, afetando assim sua sobrevivência. Para
evitar os choques mecânicos, colocou-se a cúpula e para evitar espalharem-se para as laterais da
incubadora HB, colocou-se um filtro da incubadora tipo Woynarovich de 200 L; após a eclosão total
das larvas, efetuou-se a limpeza da área central através de sinfonação, retirada do filtro e cúpula para
que as larvas nadassem livremente em toda a área da incubadora HB.
Na TABELA 2, observa-se que há uma grande significância produtiva na incubadora HB1, (com filtro
e ar), para a região Nordeste; demonstrando assim o total aproveitamento na larvicultura das espécies
pesquisadas.
Apesar de obterem-se esses resultados, muitas pesquisas ainda deverão ser realizadas, junto à nova
incubadora para que a mesma tenha seus ajustes crescentes, com perspectivas para sua perfeição,
principalmente no tocante aos ovos flutuantes, que são mais frágeis, que os aderentes.
QUALIDADE DE ÁGUA
FATORES FÍSICOS
a) Abastecimento e vazão
O abastecimento da incubadora HB é do tipo vertical ascendente, objetivando-se a manutenção dos
ovos flutuantes sempre em movimento, assim como acontece também na incubação de ovos aderentes
com a água é sempre limpa e oxigenada. A vazão de abastecimento controlável de zero a 18,6 l/min
satisfaz os requisitos para as distintas eco-fisiologia de ovos e larvas (GERKING 1978; BRANCO
1986; WOYNAROVICH & HÓRVATH 1983; VAZZOLER 1996 e HUET 1983). Utilizando-se,
normalmente uma vazão de 10 a 12 L/min para a incubação de ovos de peixe.
b) Temperatura
Pelos resultados alcançados durante os testes, registrou-se uma maior estabilidade da temperatura na
incubadora HB, garantindo aos ovos incubados um desenvolvimento mais uniforme e uma eclosão de
larvas mais sincrônica. Sabe-se que a temperatura destaca-se como o fator físico de maior importância
no processo de incubação de ovos de peixes, segundo CHABALIN et al. (1989); COLLINS, L. A. &
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NELSON, S. G (1993) ; BROOKS et al (1995); JOHNSTON & VIEIRA (1996); ALBUQUERQUE et
al. (1989).
Conforme observações, os sistemas de incubadoras, tradicional tipo funil e HB, apresentaram
diferentes oscilações de temperatura, a primeira (tipo funil), com uma amplitude de 4ºC e a segunda
(HB) com amplitude de 2ºC, acima e abaixo do eixo 0 (zero). Tais diferenças, atribui-se a fatores
como: o dobro do volume da incubadora HB (410 L) em relação à tradicional (200 L), pH constante na
incubadora HB, maior oferta de oxigênio dissolvido durante os testes. As pesquisas demonstram que a
faixa aceitável para incubação de ovos de peixes tropicais varia de 22ºC a 31ºC, tendo como a melhor
temperatura a de 27ºC (JOHNSTON & VIEIRA, 1996). Quanto menor a oscilação de temperatura
menor a freqüência de choques térmicos, favorecendo um melhor desempenho geral da incubação,
tanto de ovo como de larva , JOHNSTON & VIEIRA (1996); BROOKS et al. (1995).
Um outro ponto de desequilíbrio da incubadora HB em relação à tradicional tipo funil, além dos
citados, é a possibilidade de controle da temperatura da água através de um termostato graduado
instalado na câmera do filtro, ajustando-se a mesma para cada tipo de ovo, dentro de sua tolerância
específica. Para consolidar a eficiência deste mecanismo, será preciso desenvolver maiores
investigações, principalmente em regiões com maiores oscilações térmicas.
Segundo JOHNSTON & VIEIRA (1996), a temperatura é responsável pela duração do período de
incubação de ovos de espécies tropicais, tornando vital a manutenção de temperaturas medianas, e
prejudicial, os valores extremos.
c) Carga sestônica
Os testes realizados durante 24 h, demonstraram que a incubadora HB1 (com filtro e ar), obteve um
índice de 5,83 ng/l de material em suspensão, a HB2 (sem filtro de ar) 7,95 ng/l e a tipo Woynarovich,
11,98 ng/l de material em suspensão e outros. Ao comparar-se esses dados, observa-se a eficiência da
infiltração da água na incubadora HB1, reduzindo-se o material em suspensão na ordem de 51,34% por
dia, em relação ao sistema tradicional, tipo Woynarovich.
Segundo CHABALIN et al. (1989); BOYD (1997); BOUVY (1997), o controle das partículas em
suspensão é sem dúvida indispensável num sistema de cultivo, da incubação à engorda, pois os ovos,
larvas adultos melhor sobrevivem, sem concorrência de outros organismos pelo oxigênio e
espaço.Além de favorecer uma melhor observação ao cultivo pela equipe responsável pela reprodução.
Os resultados dessa pesquisa são animadores para o processo de incubação de ovos e larvas de peixes,
uma vez que a diminuição da amônia concorre para a melhoria do meio aquático, eliminando as
possibilidades de toxidez.
b) Oxigênio dissolvido
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O oxigênio dissolvido na água é também um dos fatores limitantes, no sucesso da incubação. Os ovos
têm um consumo muito baixo de oxigênio nas primeiras fases de desenvolvimento, acelerando sua
demanda gradativamente liberando CO2 e NH3, podendo provocar envenenamento dos ovos e/ou
larvas. Isto requer constante renovação da água, para a troca desses elementos nocivos,
(ALBUQUERQUE, 1989; ALBURQUEQUE, 1995; WOYNAROVICH, 1988).
Segundo JOHNSTON & VIEIRA (1996), a tensão limite de oxigênio requerido para o
desenvolvimento normal, decresce significativamente seguindo a remoção da cápsula do ovo, o que
sugere que o corion e/ou membrana previtelina, constitui uma barreira significativa para a troca
gasosa.A demanda de oxigênio do embrião em desenvolvimento aumenta dramaticamente com a
temperatura, ou seja o oxigênio dissolvido não deve ser dissociado de outros fatores sincrônicos com
temperatura, pH, altitude, entre outros. A incubadora HB, contempla o controle de oxigênio dissolvido
(TABELA 4) onde a menor taxa é de 6,85 mg/l e a maior de 9,2 mg/l ao nível do mar, enquanto que a
incubadora tradicional tipo Woynarovich, demonstrou um desempenho mínimo em 5,19 mg/l e um
máximo de 6,63 mg/l. Concluindo-se que o sistema HB, manteve um nível elevado na oferta de
oxigênio dissolvido, na ordem de 7,33 mg/l em média, enquanto que a incubadora controle manteve
um nível médio de 5,63 mg/l durante 24 h de aferições.
c) pH
Na escala de importância na incubação de ovos e larvicultura de peixes, o pH disponta como um fator
químico de alto valor, pelo que pode proporcionar às reações ao meio aquático, ovos e larvas são
muito sensíveis a mudanças do pH ou a qualquer outro fator que interrompa seu curso normal, seja ele
físico, químico ou biológico, WOYNAROVICH & HÓRVATH (1983); JOHNSTON & VIEIRA
(1996).
Os principais fatores que influenciam as mudanças no pH são: respiração, fotossíntese, poluição,
adubação e calagem na fonte abastecedora do laboratório de incubação. A incubadora HB demonstrou
que pode controlar as variações do pH em conseqüência da filtração da água no abastecimento da
incubadora, dado ao material utilizado na filtragem e injeção de ar comprimido no filtro.
Os resultados obtidos foram animadores; na incubadora HB1 (com filtro e ar), o pH manteve-se
controlado acima de 7, ou seja, ligeiramente alcalino. Na tradicional (controle) o pH médio abaixo de
7,0, ou ligeiramente ácido e a incubadora HB2 manteve-se com o pH médio neutro. As incubadoras
HB, portanto, proporcionam uma grande vantagem em relação a qualidade de água na incubação de
ovos de peixes e larvicultura, quando comparados aos modelos existentes e os métodos para elevar o
padrão de qualidade da água para incubação.
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OUTRAS UTILIDADES DA INCUBADORA HB
Além de sua função de incubação de ovos e larvicultura de peixes, as incubadoras HB podem
assumir outras utilizações, descritas a seguir:
a) Manutenção de alevinos para embalagem e transporte
Considerando-se a necessidade dos centros de propagação servirem também como local de
manutenção de alevinos para a comercialização, obrigam-se de promoverem a eliminação de
excrementos intestinais dos mesmos, profilaxia e acondicionamento para transporte, a incubadora HB,
dispõe de todos os requisitos para solucionar estas atividades com perfeição. A incubadora HB, dispõe
de área capaz de abrigar 10.000 alevinos de 30 dias de vida durante 48 h, período suficiente para todo
o ritual que antecede o seu perfeito acondicionamento e transporte com segurança.
b) Reversão sexual
A área disponível de 1,77 m2, a qualidade de água fornecida pela incubadora HB, sem fitoplancton e
zooplancton, que poderiam servir de alimento aos alevinos em reversão, obrigando-os a alimentar-se
exclusivamente da ração fornecida com hormônio promovendo a eficiência da operação. Além disso, a
oferta de oxigênio dissolvido, controle do pH e temperatura fazem da incubadora HB um equipamento
utilizável nesta operação durante todo o ano.
c) Desova natural
A desova de algumas espécies de pequeno porte em incubadora tipo funil, já é praticada no Nordeste
brasileiro, porém a incubadora HB, oferece maior área e conseqüentemente capaz de abrigar em torno
de três casais de peixes de porte médio, tais como: curimatãs, carpa-comum, piaus, entre outros.
Obviamente, é necessário que se conheça o hábito reprodutivo de cada espécie, a fim de evitar-se
perda por meios de fuga e adensamento inadequados.
d) Banhos profílicos em adultos e isolamento
A incubadora HB, pode servir como isolamento e tratamento de peixes adultos com problemas de
saúde, sejam eles causados por fungos, bactérias e vírus, oriundos de traumatismos ocasionados pelo
manejo e outros. Eles podem ficar isolados e receber tratamentos específicos ou em conjunto para o
mesmo tratamento. O controle de fluxo de água, oxigênio dissolvido, pH e temperatura, disponíveis na
incubadora HB, favorecem, sem dúvida, uma melhor e mais rápida reabilitação dos individuais
submetidos ao tratamento.
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CONCLUSÕES
1. O equipamento HB por apresentar um formato de uma taça rasa, propicia uma superfície de contato
expressivamente superior à tradicional.Apresenta também um grande substrato para o descanso de
larvas, baixa pressão, e uma circulação de água eficiente.
2 .O filtro acoplado na base da incubadora, na tomada de água, favoreceu o controle da qualidade de
água quanto aos aspectos: pH (média 7,55), turbidez (média 5,83 ng/l/dia), controle de predadores e
competidores (total).
3. A incubadora HB, demonstra menor variação de temperatura durante o experimento oscilando em
2oC em 24:00.
4. A incubadora HB dispõe de acessórios que garantem o controle da oferta de oxigênio dissolvido
durante o experimento (média 7,24 mg/l).
5. Os resultados experimentais demonstram uma elevação nos índices de sobrevivência quando
comparados com as incubadoras tradicionais (ovos flutuantes 94% e ovos aderentes 87% em média).
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