Santos vê recordes no horizonte

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Santos vê recordes no horizonte
Jornal Valor --- Página 4 da edição "30/05/2012 1a CAD G" ---- Impressa por lmmorresi às 29/05/2012@16:34:13
Jornal Valor Econômico - CAD G - ESPECIAIS - 30/5/2012 (16:34) - Página 4- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW
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Valor
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Quarta-feira, 30 de maio de 2012
Especial | Portos
Movimento Demanda de exportações resulta em 17% de aumento no primeiro bimestre
Santos vê recordes no horizonte
ANNA CAROLINA NEGRI/VALOR
Martha Funke
Para o Valor, de São Paulo
Com recordes sucessivos em
movimentação de cargas, o Porto
de Santos tem pela frente um cenário de crescimento ainda maior
graças ao equilíbrio fiscal estabelecido com o fim da guerra dos portos. O crescimento da demanda de
exportações, com destaque para a
soja, fez o movimento crescer 17%
só no primeiro bimestre e ampliou
a expectativa para 2012, agora superando 100 milhões de toneladas. Em 2011, foram 97,1 milhões,
também um recorde, com crescimento de 1,2% sobre 2010.
Os US$ 482 bilhões de movimentação de trocas comerciais o
colocam em primeiro lugar no
ranking nacional, superando quase quatro vezes a soma dos três
concorrentes seguintes – Vitória,
com (US$ 43,2 bilhões), Itaguaí
(US$ 35,1 bilhões), e Paranaguá
(US$ 32,4 bilhões). O volume consolida o complexo como o grande
hub port do país.
Localizado ao lado de regiões de
concentração do PIB nacional, incluindo São Paulo, Minas Gerais,
Goiás e Mato Grosso, escoa um de
cada quatro reais da balança comercial. Sua matriz diversificada,
com multifuncionalidade de terminais, permite atender granéis líquidos e sólidos e cargas gerais
com a mesma desenvoltura.
Os resultados têm correspondência no ritmo de investimentos,
tanto públicos quanto privados.
Até 2015, serão mais de R$ 7 bilhões, estima o presidente da Codesp, José Roberto Correa Serra. Na
área privada, são R$ 3 bilhões no
curto prazo. Embraport e Brasil
Terminal Portuário (BTP) investem
respectivamente R$ 2,3 milhões e
R$ 1,8 milhão em operações com
início marcado para os próximos
doze meses. Da EcoRodovias, que
acaba de arrematar o terminal Tecondi, são mais R$ 200 milhões.
Maior porto brasileiro
Santos lidera em comércio exterior
24,9%
das exportações no primeiro
trimestre/2012, em valor
25,5%
das importações no mesmo período
8,5 milhões
de toneladas de carga em março/2012,
recorde para o mês
22,1 milhões
de toneladas de carga no trimestre,
um recorde
100,5 milhões
de toneladas é a projeção do porto
para movimentação de cargas este ano
461 mil
contêineres de janeiro a março/2012
75,1%
foi o crescimento das exportações
de açúcar em contêineres no
primeiro trimestre
47,1%
das exportações de soja em
grão de janeiro a março/2012
Fila recorde de navios no porto de Santos: programa de dragagem elevou a profundidade de 12 para 15 metros
Fonte: Codesp
Itamarati e MST respondem por
R$ 100 milhões e R$ 66 milhões,
respectivamente.
Para mapear as demandas de
infraestrutura para atender o ritmo de crescimento do porto, a
Codesp preparou um Plano Diretor indicando ações de curto, médio e longo prazos para equacionar questões como a acessibilidade marítima e terrestre e a estrutura de cais. “Não adianta fazer
do porto uma Disneylândia cercada pela Faixa de Gaza”, compara o presidente da Codesp. “Estamos brigando por um projeto de
desenvolvimento logístico desde
o planalto até aqui.”
As verbas públicas sustentaram
iniciativas para maior acessibilidade, como o programa de dragagem, que elevou a profundidade
Ferroanel, a duplicação de cremalheiras e de alguns trechos e a
construção de um viaduto rodoviário sobre a linha na Ilha do Barnabé, enquanto no modal hidroviário o objetivo é a utilização dos
200 quilômetros de vias interiores para interligação por barcaças. “Carbocloro e Libras já solicitaram a montagem de terminais
no final do canal para fazer tratamento de carga por barcaças. Daria para levar passageiros de Cubatão para Santos”, ilustra Serra.
As medidas são vitais para atender as expectativas futuras, já que o
porto está próximo da saturação.
“Com todas as ampliações, estaremos prontos para movimentar
180 milhões de toneladas de carga
em cenário pessimista”, estima o
presidente da Codesp.
Plano Nacional
espera definição
De São Paulo
O detalhamento do Plano Nacional de Logística Portuária
(PNLP) e de demandas relacionadas à expansão de capacidade está
fundamentando a previsão da Secretaria Especial de Portos (SEP) de
serem investidos no sistema portuário entre R$ 50 bilhões e R$ 60
bilhões nos próximos 20 anos, triplicando a média anual de R$ 1 bilhão registrada desde seu nascimento. Também serve como parâmetro para as discussões envolvendo um grupo multidisciplinar
que reúne, além da SEP, Ministério
dos Transportes e Casa Civil, com
suporte do Tesouro Nacional, Ministério da Fazenda, Secretaria de
Assuntos e Acompanhamento
Econômico e Ministério da Fazenda, para fechar o desenho do modelo portuário nacional.
Só depois disso, avisa o diretor
do departamento de Sistemas de
Informações Portuárias da SEP,
Luis Claudio Montenegro, serão
definidos os arranjos de investimentos necessários para colocar o
planejamento em prática, dando a
partida para as aguardadas decisões relacionadas a leilões, licitações e outorgas.
Segundo Montenegro, ainda estão sendo finalizadas algumas
questões de engenharia, um retrato detalhado com diagnóstico e
prognóstico dos portos brasileiros
em relação a quesitos como demanda, expectativa, especialização, logística, cargas preferenciais
e reais necessidades de aportes e
que deve ser finalizado apenas no
segundo semestre. “O PNLP em essência é setorial, integrando planos de investimentos”, diz. “O objetivo maior é não fazer mais nenhuma obra se não for necessária.”
Na prática, isso indica que dificilmente sairão este ano as licitações anunciadas. E que o cronograma de algumas prioridades pode ser revisto. Uma das que entra-
ram em nova fase de avaliação é o
Porto Sul, em Ilhéus (BA).
Mesmo confirmando a necessidade premente de ampliação
dos portos de Manaus; de Águas
Profundas, no Espírito Santo, para contêineres; e do Porto Sul,
com foco em granéis sólidos, o
diretor da SEP adianta que os
dois primeiros estão mais avançados, enquanto na Bahia a dependência de rodovias exige avaliação mais cuidadosa.
Imbituba, porto privado cuja
concessão vence no final do ano, é
outra preocupação emergente.
Manaus já tem pronto o projeto
para a construção e um novo porto, mas ainda se discute a opção de
ampliação do atual. Mais uma urgência envolve arrendamentos de
98 terminais vencidos ou a vencer.
“Dependendo do que for apontado pela engenharia, podemos avaliar a necessidade de novos arrendamentos ou o agrupamento dos
já existentes”, adianta.
Qualquer ação, segundo ele, só
será definida depois de finalizado
o retrato fiel do sistema e definidos
tanto o arranjo institucional quanto os modelos de exploração dos
portos, e a palavra final, em última
análise, vai depender mesmo é da
presidente Dilma Rousseff. “Estamos fechando as discussões sobre
trechos de rodovias e ferrovias e
sobre competições entre portos.”
A expectativa é que no segundo semestre o plano esteja consolidado o suficiente para ter início
o processo de decisão. Há consenso em torno da manutenção da
característica de uso público dos
portos e o evita-se a caracterização do modelo de privatização
pura e simples, mas ainda discute-se tecnicamente o melhor arranjo caso a caso. “A questão institucional depende do fechamento
das questões de engenharia”, diz
Montenegro. “O importante é
que estamos retomando o planejamento de longo prazo.” (MF)
de 12 para 15 metros, e de alargamento do canal de acesso, hoje
com 220 metros de largura, medidas que permitem a chegada de
navios de grande porte, como o super post panamax, e o tráfego concomitante de duas embarcações
em sentido contrário. A obra requereu a incorporação de novas
tecnologias, como o sistema de
Controle de Tráfego Marítimo (VTMIS), cujo processo licitatório deve
ser deflagrado em junho, bem como um sistema de inteligência de
tráfego em terra.
Só de investimentos do governo
federal a título do Programa de
Aceleração do Crescimento, serão
R$ 1,6 bilhão até 2014, com acessos refeitos para atender as demandas até 2025, segundo Serra –
incluindo berços com cais refeitos
ao longo de 13 km e as rodovias
perimetrais de ambas as margens.
Ainda estão em pauta mais 15 projetos, como os R$ 2,6 bilhões para a
licitação de arrendamento do terminal de veículos da Prainha e os
530 milhões do terminal de passageiros no Valongo. Com diversos
contratos de arrendamento sendo
concluídos até 2014, faz parte do
planejamento a consolidação de
áreas para criação de terminais
maiores, sete na região do Saboó.
Do lado de fora do porto, são
discutidas ações para melhorar a
fluidez do tráfego rodoviário e reduzir a concentração neste modal. Além de melhorias nas rodovias Padre Manoel da Nóbrega,
Conego Domênico Rangoni e Anchieta, são indicadas necessidades nas áreas ferroviária, como o
.
Potencial dos
terminais
atrai players
De São Paulo
Em uma semana, o Porto de
Santos registrou dois negócios
de terminais. Com ágio de R$
80,7 milhões, a catarinense Cattalini venceu a disputa pelo arrendamento da área da Vopak,
na Ilha de Barnabé, com de 39
mil m2. A EcoRodovias, por sua
vez, arrematou por R$ 550
milhões 41% do complexo Tecondi, incluindo as operações de
terminal de contêineres, de armazém alfandegado e de transporte e logística.
A Cattalini é o maior terminal
privado do Brasil de granéis líquidos e atua em Paranaguá com
capacidade de 400 mil m3 de tancagem. A oferta em Santos faz
parte de um plano de expansão
que mira ainda áreas em outros
estados para atender o crescimento de setores onde a empresa
atua. Só em produtos químicos, a
expectativa é de 7% a 8% de expansão este ano. “Temos projetos
para ir mais longe. Vamos ver o
que está disponível quando sair
o PNLP”, diz o diretor presidente
Claudio Fernando Daudt.
O executivo observa que, como
a maioria dos terminais que devem ser licitados são da área de sólidos, há possibilidade de entrar
nessa área, mas o maior objetivo é
ser referência na prestação de serviços em líquidos. A empresa faturou no ano passado R$ 120 milhões, tem expectativa de crescimento entre 6% e 7% este ano.
A EcoRodovias consolida a estratégia voltada à transformação
da empresa em integrador logístico vocacionado ao contêiner iniciada com a conquista dos eixos
rodoviários ligando os principais
portos do país, passando depois
pela construção de áreas retroportuárias e pela aquisição das operações da Columbia. “Faltava a perna
portuária”, diz o presidente da empresa, Marcelino Rafart de Veras.
SILVIA COSTANTI/VALOR
Antônio Carlos Sepúlveda, presidente da Santos Brasil: investimentos de R$ 80 milhões serão destinados à aquisição de scanners para contêineres
Empresas querem produtividade
De São Paulo
Além de novos terminais e ampliações, a iniciativa privada investiu em equipamentos para se
adaptar ao novo perfil das embarcações resultante das melhorias na infraestrutura — a tonelagem média por navio, que se situava em 15,1 mil toneladas em
2010, passou para 16,5 mil no
ano passado. A Libra este ano
tem R$ 550 milhões destinados a
investimentos em Santos, com
foco em expansão e produtividade. O projeto visa integrar seus
três terminais em um berço único de atracação de mais de 1.700
metros, preenchendo o enclave
existente entre dois deles e reacomodando a linha férrea fora do
terminal, com um acesso passando por cima dele.
Segundo o presidente Wagner
Biasoli, a capacidade deve passar
dos 850 mil TEUs atuais para 1,7
milhão. Nos últimos dois anos a Libra comprou quatro portêineres
com lanças maiores e três RPGs e
tem iniciativas para aumentar a
eficiência no terminal como porta
tampa, para economizar espaço
utilizado pela tampa com a movimentação de um pórtico ao longo
do costado, e pesagem nos RPGs,
que em breve será implementada
em outros equipamentos. “A produtividade saltou para até 70
MPH”, registra Biasoli.
A Santos Brasil também mira a
produtividade. No ano passado,
adquiriu 12 novos RTG twin pick
(guindastes sobre pneus capazes
de içar dois contêineres de 20 pés)
e 34 terminal tractors (veículos para transporte de contêineres dentro do terminal). Com isso, ampliou a produtividade média de 50
para 80 movimentos por hora
(MPH), chegando a registrar o recorde de 155 MPH. A meta para o
super post Panamax é ficar na média de 100 MPH, mas a empresa já
se prepara para atender o padrão
ultra light conteiner ship (ULCS),
navios com capacidade de transportar 13 mil TEUs que devem começar a chegar a Santos em 2013.
“A meta é a produtividade ficar
na média de 120 MPH”, adianta o
presidente Antonio Carlos Sepúlveda. Este ano, os investimentos de
R$ 80 milhões serão destinados
principalmente à aquisição de
scanners para contêineres – o terminal tem capacidade de 2 milhões de TEUs/ano e chegou a 1,4
milhões em 2011. Em parceria
com a MRS, estão sendo realizadas
adequações no pátio para permitir
o empilhamento de dois contêineres no trem e atingir a meta de ampliar a participação do modal ferroviário de 5% para 15%. “Isso é
pioneiro no Brasil”, diz.
Os investimentos da Embraport e da BTP são os mais vistosos. A Embraport programou,
no total, R$ 2,3 bilhões. Já está
construindo os primeiros 350
metros de cais e 50 hectares de
retroárea para armazenagem de
cargas em geral, estrutura que
será disponibilizada para o início das operações no começo do
ano que vem. Quando estiver
concluído, o terminal terá cais
de 1,1 mil metros e retroárea de
324 hectares para movimentação anual estimada de 1,2 milhão de TEUs e 2 bilhões de litros
de graneis líquidos.
Já a BTP prevê R$ 1,8 bilhão para
instalar capacidade para movimentar 1,2 milhão de TEUs e 1,6
milhão de toneladas de granéis líquidos por ano. Segundo o presidente da empresa, Henry James
Robinson, cerca de 55% do projeto
já está desenvolvido e todos seus
equipamentos estão encomendados — só aqui foram investidos
mais de US$ 230 milhões.
Em agosto devem chegar os oito portêineres e são mais 26
RBGs, oito empilhadeiras, 55 veículos de transporte horizontal. O
grosso dos investimentos foi direcionado para a remediação
ambiental de 340 mil metros da
área que o terminal ocupa, contaminada por décadas de utilização para descarte de resíduos do
porto. “No primeiro trimestre de
2013 estaremos operando com
contêineres”, diz o executivo.