VISITA MONITORADA

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VISITA MONITORADA
EPEA 2001 - 1 de 13
ANÁLISE DO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL - VISITA
MONITORADA - DESENVOLVIDO NO ZOOLÓGICO MUNICIPAL DE
PIRACICABA.
Elizabeth da Silveira Nunes UNESP Campus Rio Claro, Prefeitura do Município de
Piracicaba
Luiz Marcelo de Carvalho UNESP Campus Rio Claro
palavras-chave: Educação Ambiental; Zoológicos; Trabalhos de Campo
Resumo: Um dos caminhos apontados como significativos para o desenvolvimento de
atividades de educação ambiental é da exploração do potencial educativo, que algumas
áreas naturais e/ou alteradas pelo homem oferecem, ou seja, a possibilidade de
desenvolvimento de trabalhos de campo. Dentre essas áreas destacamos os zoológicos
que, em sua maioria, no Brasil, possuem estrutura adequada para receber visitas de
escolas e, em muitos deles, projetos de Educação Ambiental têm sido desenvolvidos. O
Zoológico Municipal de Piracicaba, desde 1996, vem desenvolvendo o programa de
educação ambiental - Visita Monitorada e, desde então, nenhuma análise sistematizada
do programa foi realizada. Esta pesquisa apresenta os resultados da análise do programa
e discute algumas perspectivas para a re-estruturação desta proposta, tendo como
referência algumas dimensões consideradas fundamentais para o desenvolvimento de
trabalhos de educação ambiental por meio de atividades fora da sala de aula.
AN ANALYSIS OF THE ‘SUPERVISED VISITATION’ ENVIRONMENTAL
EDUCATION PROGRAM – DEVELOPED IN THE CITY OF PIRACICABA
MUNICIPAL ZOO
keywords: environmental education; zoos; field projects
Abstract: One of the procedures considered relevant to the development of environmental
education is the use of the educational potential certain natural or man-made areas have
to offer, that is, the development of field projects. Of these areas, it is noted that
Brazilian zoos have adequate structure to receive school visits and to develop
environmental education projects. The Piracicaba City Zoo has been developing an
environmental education program, named "Supervised Visitation", since 1996.
Nevertheless, no systematic analysis had ever been performed on the latter. This study
presents just such an analysis, as well as prospects for the restructuring of the proposal.
As reference, the authors selected a few important aspects of environmental education
field projects.
INTRODUÇÃO
Os impactos ambientais negativos provocados por ações antrópicas têm suscitado
questionamentos quanto aos padrões de relacionamento que o homem, historicamente,
estabelece com a natureza. Na era moderna, através das descobertas tecnológicas e de
novos conhecimentos, o homem ocidental começou a se sentir capaz de manipular e
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controlar a natureza. Com a Revolução Científica, a natureza passou a ser regida pelo
cálculo racional e pela técnica. (Harman, 1995).
A partir do momento em que o cenário natural e social começou a sofrer alterações
devido ao acúmulo de resíduos gerados pela produção desenfreada, ao aumento da
população mundial e ao uso descontrolado dos recursos naturais, o homem começou a
perceber que a sobrevivência de sua espécie estava em jogo (Cascino, 1998) e que,
alterações da natureza de dimensão regional podem ter conseqüências globais. Esta
constatação tem gerado uma série de reflexões acerca dos modelos da relação ser humano natureza e levado a discussões de propostas para o estabelecimento de novos padrões para
essa relação.
É neste contexto que a Educação é colocada muitas vezes, como a principal, senão a única
responsável pela reversão do atual quadro de degradação ambiental, caracterizando o que
Brandão (1987) chama de “utopismo pedagógico”. Mas, como a política e a economia, a
educação é uma prática social que para contribuir com a reversão desse quadro, depende do
sistema social e cultural em que o indivíduo está inserido.
O termo Educação Ambiental se desenvolveu na década de 60 e desde então vem sendo
amplamente discutido, gerando uma grande diversidade de concepções. Levando em
consideração o constante processo de transformação do meio ambiente, das ações políticas,
sociais, econômicas e culturais de uma sociedade, é aceitável que tal termo esteja em
processo contínuo de construção de significados.
Como referência para o desenvolvimento deste trabalho, salientamos três aspectos que um
trabalho de Educação Ambiental poderia envolver, explicitados por Carvalho (2000):
Ø Dimensão relacionada à natureza dos conhecimentos, considerando a
complexa interação dos elementos, fenômenos e dinâmicos processos de
transformação não só do mundo natural como também do homem organizado em
sociedade;
Ø Dimensão relacionada com os valores éticos e estéticos presentes na
relação homem – natureza;
Ø Dimensão relacionada à questão da participação política do indivíduo,
buscando a “construção da cidadania e de uma sociedade democrática”.
Nesse sentido, a Educação Ambiental é um processo que, se baseado em questionamentos e
reflexões sobre a relação homem – natureza, buscando a construção de conhecimentos e de
valores que visem a participação política e o exercício da cidadania, pode trazer grandes
contribuições para o indivíduo e para o meio ambiente. A partir do momento em que
valores individuais e sociais são questionados e o indivíduo se sente sensibilizado, há uma
busca por novos conhecimentos, que podem trazer respostas ou levar a outros
questionamentos que envolvam a comunidade e a sociedade que o cerca. Sensibilizado e na
posse de novos conhecimentos, esse indivíduo, ao refletir e ao procurar identificar em sua
comunidade a origem dos problemas sócio-ambientais que vêm afetando a população
mundial, pode instigar e envolver outros indivíduos, buscando a participação política de
todos.
Uma das grandes contribuições para o desenvolvimento de atividades de educação
ambiental é a exploração do potencial educativo que algumas áreas naturais ou modificadas
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pelo homem oferecem, dentro ou fora da área urbana, ou seja, a possibilidade de
desenvolvimento de trabalhos de campo (Carvalho, 1999). Para tanto, é imprescindível
criar parcerias com o setor público municipal, estadual, federal e privado para “... o uso
dessas ilhas urbanas, desses espaços encantados dentro da cidade, como locais de
experiências inesquecíveis e transformadoras” (Mergulhão, 1998, p.136).
Torna-se necessário que o educador tenha consciência da importância desses recursos, bem
como os objetivos que se procura alcançar quando se programa um trabalho de campo, a
metodologia a ser utilizada e, sem dúvida, a constante avaliação dos dados obtidos durante
um trabalho dessa natureza. Bonotto (1999) destaca a importância das atividades de campo
estarem sempre apoiadas num roteiro de atividades previamente elaborado e com uma
prévia orientação aos alunos sobre seu desenvolvimento.
Dentre algumas áreas verdes urbanas que podem ser exploradas nos trabalhos de campo
podemos destacar os Zoológicos, que no Brasil, são mantidos, em sua maioria, por
instituições públicas municipais, com estrutura adequada para receber visitas de escolas.
Em muitos deles, projetos de Educação Ambiental têm sido desenvolvidos.
Com relação à evolução dos zoológicos no mundo, a história nos mostra que as coleções de
animais eram mantidas por vários motivos: como símbolos de bem-estar e poder para a
ostentação de um “status”, por interesse zoológico, para entretenimento e diversão. No
século XIX, a principal função dos zoológicos era divulgar a diversidade das espécies e
suas adaptações para a vida (Auricchio, 1999). A partir da segunda metade do século XX,
os zoológicos passaram a dar uma maior ênfase à ecologia, biologia e ao comportamento
dos animais e desde então vêm-se buscando objetivos como: a conservação das espécies,
funcionando como centros de reprodução; a pesquisa, funcionando como um centro de
divulgação de informações conservacionistas e como um valioso banco de informações; a
educação, através de programas educativos dinâmicos e interativos e o lazer, já que os
zoológicos, geralmente, são áreas verdes urbanas que proporcionam ao público momento
de relaxamento, descanso ou diversão (Mergulhão & Vasaki, 1998).
De acordo a IUDZG (1993), os zoológicos têm evoluído rapidamente e a tendência é que
no século XXI se transformem em Centros de Conservação e de Educação Ambiental.
Em relação ao potencial educativo, os zoológicos são os únicos lugares onde se
pode observar e estudar uma grande diversidade de espécies, encontradas no mundo todo.
O encanto e a graça dos animais silvestres servem como ponto inicial para estimular o
interesse de visitantes por relações de equilíbrio do mundo (IUDZG/CBSG (IUCN/SSC),
1993). Através desses valores estéticos presentes na natureza, um programa educativo de
um zoológico pode envolver outros aspectos relacionados à temática ambiental. Por
exemplo, que tipo de relações o homem vem desenvolvendo com esse ambiente
equilibrado? Que sentimentos predominam quando há uma ruptura entre o homem e seu
espaço?
Segundo Escobar (2000), dentre os objetivos da Educação Ambiental em
zoológicos, destaca-se a possibilidade de centrar as atenções sobre os problemas ambientais
locais, estimulando a participação das pessoas, principalmente da comunidade local,
ajudando a promover a busca de soluções para os diversos problemas ambientais locais e
conseqüentemente globais. Além disso, a Educação Ambiental em zoológicos procura
desenvolver conhecimentos, habilidades e fomenta a participação das pessoas em busca de
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decisões conscientes e comportamentos responsáveis, através de ações construtivas e
respeito ao meio ambiente.
QUESTÕES DE PESQUISA E OBJETIVOS
O Zoológico Municipal de Piracicaba há quatro anos vem desenvolvendo um
programa de educação ambiental denominado Visita Monitorada, com alunos e professores
do ensino fundamental da rede pública e particular de Piracicaba. Desde seu início,
nenhuma análise sistematizada das etapas que envolvem o programa foi realizada e desde
então, todo ano, ao se reiniciar o programa, surgem algumas questões fundamentais com
relação ao aproveitamento do potencial educativo que o zoológico oferece aos professores.
Questões que são importantes para se atingir os objetivos da educação ambiental em
zoológicos e para a manutenção da qualidade e da continuidade do programa. Nos anos de
1999 e 2000 foram aplicados questionários aos professores participantes, como instrumento
de avaliação do programa e realizadas observações assistemáticas do monitor durante e
após a visita; porém, até então esses dados não foram objetos de uma análise mais acurada.
Neste sentido, algumas questões justificam e direcionam a realização dessa pesquisa:
Ø Os objetivos do programa Visita Monitorada do Zoológico Municipal de
Piracicaba estão definidos de acordo com os pressupostos teórico-metodológicos
para a Educação Ambiental assumidos neste trabalho?
Ø Este programa tem considerado, em suas atividades, as diferentes
dimensões de um trabalho de Educação Ambiental explicitadas anteriormente?
Ø Até que ponto a participação neste programa tem levado os professores
ao desenvolvimento de atividades de campo relacionadas com a temática ambiental?
Ø Em que medida esse programa vem oferecendo aos educadores
oportunidades para o desenvolvimento de trabalhos de campo sob a perspectiva
apresentada na introdução deste trabalho?
Desta forma, os objetivos deste projeto de pesquisa podem ser assim enunciados:
Ø Analisar o Programa Educação Ambiental - Visita Monitorada
desenvolvido no Zoológico Municipal de Piracicaba, em relação ao referencial
teórico e à metodologia proposta para trabalhos em educação ambiental, assumidos
neste trabalho;
Ø Avaliar em que medida o Programa Visita Monitorada do Zoológico
Municipal de Piracicaba vem incentivando o desenvolvimento de atividades de
campo pelos professores da rede oficial de ensino;
Ø Identificar se os professores que participaram do programa em análise
aproveitaram da oportunidade para desenvolver com seus alunos as diferentes fases
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de um trabalho de campo, conforme perspectiva apresentada na introdução deste
trabalho;
Ø Apontar algumas possibilidades para futuros trabalhos de Educação
Ambiental, aproveitando o potencial educativo que o Zoológico oferece.
PROCEDIMENTOS DE PESQUISA
Este trabalho se caracteriza como um estudo preliminar do programa em questão,
tendo como procedimentos de pesquisa:
•
Análise Documental:
Parte dos dados utilizados no processo de análise foram coletados a partir de alguns
documentos de posse da equipe do Zoológico Municipal de Piracicaba, tais como:
Ø Relatório do Rotary Club e Lions Club sobre a fundação e atividades desenvolvidas
no Zoológico Municipal de Piracicaba, nas décadas de 70 e 80;
Ø Censo de Movimentação de Animais Silvestres da SZB - Sociedade de Zoológicos
do Brasil, referente ao ano 2.000;
Ø Relatório de Atividades do Setor de Educação Ambiental dos anos de 1999 e 2000;
Ø Programa de Educação Ambiental – Visita Monitorada ao Zoológico Municipal de
Piracicaba;
•
Análise dos questionários respondidos pelos professores:
Além da análise dos documentos acima explicitados, foram analisados os
questionários aplicados aos professores participantes do programa , nos anos de 1999 e
2000.
No ano de 1999, o questionário aplicado aos professores, utilizado como
instrumento de avaliação do programa de Visita Monitorada, era composto de questões
abertas. No final desse mesmo ano, através de uma análise assistemática das respostas dos
professores, constatou-se a necessidade de reformulação deste questionário, pois as
questões não pareciam suficientes para se obter uma avaliação completa do programa.
Sendo assim, no ano de 2000, além de questões relacionadas com os objetivos e avaliação
da visita, o questionário abrangeu aspectos relacionados à divulgação do programa, à
preparação dos alunos e aos procedimentos utilizados em sala de aula pelos professores
antes e após a visita ao Zoológico. Este questionário foi estruturado com questões objetivas
e questões abertas.
Tanto em 1999 quanto em 2000, os questionários foram aplicados em dois momentos, ou
seja:
Em 1999, antes da visita, os professores responderam à questão referente aos “objetivos da
visita”. Ao término da visita, foi solicitado ao professor que respondesse às questões
referentes à “avaliação” e às “sugestões”. Em 2000, antes da visita, foi solicitado aos
professores que respondessem às questões relacionadas à divulgação do programa, aos
objetivos e à preparação da visita. Após a visita, foi novamente solicitado aos professores
que respondessem às questões relacionadas ao desenvolvimento da visita e às atividades
que, posteriormente, seriam realizadas em sala de aula.
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•
Análise das observações feitas pelo monitor do zoológico durante o
programa de Visita Monitorada:
Apesar de não terem sido documentadas e sistematizadas, também serão
consideradas na discussão deste trabalho algumas observações feitas por uma das monitoras
que desenvolveu o programa de Visita Monitorada do Zoológico Municipal de Piracicaba,
antes, durante e após a visita com os alunos e professores. Isso foi possível pelo fato da
monitora em questão ser a responsável técnica pelo programa e autora do projeto de
pesquisa.
HISTÓRICO DO ZOOLÓGICO MUNICIPAL DE PIRACICABA E TRABALHOS
DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DESENVOLVIDOS
O Zoológico Municipal de Piracicaba foi fundado em 1o de Agosto de 1971, através
do esforço conjunto entre o Lions Clube, o Rotary Clube e a Prefeitura Municipal de
Piracicaba. Situado ao lado da Rodovia Piracicaba – Rio Claro, compõe-se de uma área de
46.723,13 m2, cedida pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade
de São Paulo (ESALQ), em regime de comodato. Alguns anos após sua fundação, o
Zoológico, até então administrado pelo professor da ESALQ, Dr. Edmar José Kiehl, passou
a ser administrado pela Coordenadoria Municipal de Turismo e Lazer. Em 1989, o
Zoológico passou a integrar a Secretaria Municipal de Serviços Públicos, hoje denominada
Secretaria Municipal de Defesa do Meio Ambiente, responsável pelas manutenções,
construções e pagamento dos fornecedores de alimentos, como também, pela arrecadação
dos valores da portaria. Quanto aos recursos humanos, o Zoológico possui em seu quadro
funcionários públicos municipais e funcionários de uma empresa terceirizada.
Para garantir um funcionamento dinâmico e rotineiro, o Zoológico está dividido em
setores interdependentes, tais como:
Ø Setor Administrativo: responsável pela administração financeira, manutenção,
almoxarifado e demais assuntos de ordem burocrática;
Ø Setor Técnico: responsável pelo manejo, nutrição, reprodução e comportamento
animal, pesquisas científicas, taxidermia, manejo de animais em áreas naturais,
planejamento, construção e ambientação de recintos, profilaxia e tratamento de
doenças, programas de educação ambiental e eventos em geral.
No final do ano 2000, o Zoológico Municipal de Piracicaba possuía em seu plantel
cerca de 121 espécies, sendo 73 espécies de aves, 34 espécies de mamíferos e 14 espécies
de répteis. Num total eram 484 espécimes (Brasil, 2000).
De acordo com o Relatório de Atividades de Educação Ambiental (Piracicaba,
1999), no ano de 1999, 201.370 pessoas visitaram o Zoológico, entre público pagante e não
pagante. No ano 2000, esse número foi reduzido para 175.127 pessoas.
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Até o final do ano 2.000 alguns trabalhos de educação ambiental vinham sendo
desenvolvidos pelo Zoológico Municipal de Piracicaba, como a Campanha contra o Tráfico
de Animais Silvestres; Programa de férias “Natureco”; Programa de Recepção de Escolas;
Aperfeiçoamento de docentes participantes do programa de educação ambiental “Semana
da Água” e o Programa de Visita Monitorada.
O PROGRAMA DE VISITA MONITORADA E A PARTICIPAÇÃO DAS
ESCOLAS
Para que o potencial educativo do Zoológico de Piracicaba fosse melhor explorado e para
fornecer aos professores opções para a realização de trabalhos de campo e atividades
interdisciplinares iniciou-se, em 1996, o Programa Visita Monitorada, direcionado a alunos
e professores de 1a à 6a série do ensino fundamental da rede pública e particular de ensino
de Piracicaba e região. Tal programa tem definido como objetivos:
“Fazer com que a visita da escola ao Zoológico não se torne um simples passeio, mas uma
aula aberta e dinâmica, dando chances aos professores de desenvolverem a
interdisciplinaridade e complementarem os estudos sobre o meio ambiente; fornecer aos
educadores subsídios para a complementação das aulas iniciadas na escola; enfatizar a
importância de um zoológico, tentando melhorar o comportamento do público visitante em
relação aos animais em exposição” (Piracicaba, 1999, p.03).
Das 269 escolas que visitaram o Zoológico Municipal nos anos de 1999 e 2000,
17% participaram do Programa Visita Monitorada, nesse período. Dessas, 40%
responderam aos questionários utilizados como instrumento para avaliação do programa.
Com relação à comunicação e divulgação do programa junto aos professores, foram
realizadas reuniões no início do ano letivo para apresentação da proposta aos coordenadores
e diretores das escolas interessadas. Estes ficaram encarregados de agendar a visita da
escola e divulgar os objetivos do programa aos professores que, em última instância, seriam
os responsáveis pelo desenvolvimento das atividades junto aos alunos. Esse método
pareceu ser eficiente, já que, de acordo com as respostas dos questionários, 98% dos
professores souberam do programa através da coordenação da própria escola. No entanto,
27% dos professores que participaram da visita ao Zoológico, não tiveram acesso às
informações relacionadas à estrutura do programa, como por exemplo, os seus objetivos.
Em alguns casos foi observado que os professores demonstraram ter conhecimento dos
objetivos e da dinâmica proposta pelo programa, porém a saída ao campo não foi planejada
da forma como se propunha. O que parece ter prevalecido nestes casos foi que, esse sistema
foi eficiente no que diz respeito à divulgação da proposta. No entanto, tudo indica que os
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coordenadores e diretores não estavam preparados o suficiente para serem agentes
multiplicadores no sentido de apresentar os pressupostos do programa e oferecer subsídios
aos professores para o planejamento das atividades nelas previstas.
Os objetivos explicitados pelos professores em relação à visita ao Zoológico foram
analisados tendo-se como referência as três dimensões que envolvem um trabalho de
Educação Ambiental, segundo Carvalho (2000). Pudemos observar que em 1999, 41% dos
objetivos mencionados pelos professores e em 2000, 65%, estavam relacionados com a
natureza dos conhecimentos, que envolviam a biologia, a ecologia, o comportamento, a
diversidade e extinção das espécies, como também a estrutura e a importância de um
zoológico. Nessa análise foi possível perceber também, uma certa representatividade
quanto à questão relacionada aos valores: 35% dos professores no ano de 1999 e 23% do
ano 2000, buscaram o programa Visita Monitorada com objetivos relacionados com o
respeito à fauna, bem como despertar nos alunos o interesse pelo meio ambiente através de
um maior contato com os animais. Entretanto, com relação a objetivos que envolvessem
questões da participação política, foi observado que somente no ano de 1999, 2% dos
professores fizeram referência a este aspecto, indicando a possibilidade de se incluir a
questão da cidadania no Programa. Tal resultado propõe alguns questionamentos a serem
considerados pelo programa: o Zoológico Municipal de Piracicaba vem sendo explorado no
sentido de oferecer aos professores chances para o desenvolvimento de um trabalho de
educação ambiental que envolva estes diferentes aspectos? Até que ponto os professores
estão percebendo que o Zoológico serve como recurso para a construção do conhecimento
aliado aos valores éticos e estéticos, como também à participação política do indivíduo?
Em relação à natureza dos trabalhos desenvolvidos na fase de preparação da visita,
observou-se que a conversa em sala de aula foi o método mais utilizado, com 32,14% das
indicações. Pesquisas e aulas expositivas ficaram em segundo lugar, com 12,50%. Também
foi avaliado se os professores sentiram dificuldades na preparação da visita e, de acordo
com os resultados, cerca de 10% dos professores alegaram que sentiram dificuldades
quanto à falta de materiais informativos para servir como base para a preparação das aulas e
da visita, e 83% responderam que não sentiram dificuldade alguma. Esse último dado nos
permite levantar outras questões: até que ponto os professores vêm realizando uma
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preparação das visitas de forma efetiva e sistematizada? Qual a idéia que os professores têm
a respeito do planejamento dos trabalhos de campo?
No que diz respeito a atividades relacionadas com a fase de exploração dos dados
obtidos durante a visita ao zoológico observou-se que 90% dos professores indicaram ter
desenvolvido algum tipo de atividade em sala de aula. No ano de 1999, as atividades
indicadas pelos professores como possíveis de serem utilizadas foram os desenhos, os
relatórios e as dinâmicas de grupo. Em 2000, os professores mencionaram principalmente
as simulações, embora outras tenham sido citadas, como pesquisas, redação, desenhos e
cartazes. Com relação à natureza dos trabalhos desenvolvidos nessa fase de exploração de
dados, é preciso destacar a importância de atividades que contribuam para a concretização
de aspectos mais abrangentes sobre a educação ambiental. Nesse sentido, as simulações, as
pesquisas e os projetos merecem destaque, pois se bem trabalhados, podem oferecer
elementos significativos para que estas metas sejam cumpridas.
Quanto às atividades desenvolvidas pela monitora durante a visita da escola ao
zoológico, o programa previa três momentos: uma conversa “quebra-gelo” de 15 minutos
com os alunos, sobre os objetivos e funcionamento de um zoológico; a visita aos animais
em exposição, seguindo um trajeto previamente definido com 1 hora e meia de duração,
quando a monitora explicava alguns conceitos sobre biologia, ecologia, comportamento
animal, aspectos morfológicos e adaptativos, ou seja, informações relacionadas à dimensão
dos conhecimentos. Em alguns momentos, também eram enfocadas questões relacionadas
com os valores estéticos presentes na natureza. Pelas observações realizadas pela monitora
e autora deste projeto, nem sempre eram discutidas questões relacionadas à participação
política do indivíduo. Enfim, pode-se perceber que a concepção de trabalho de campo,
durante o desenvolvimento da visita, estava ainda muito centrada no “guia”, ou seja,
durante a maior parte do tempo, as atividades eram direcionadas pela monitora, sendo que
poucas vezes alunos e professores faziam algum tipo de interferência. No terceiro
momento, ao término da visita, o programa previa um jogo com a participação dos alunos e
do professor, como forma de a monitora recuperar os assuntos abordados durante a visita,
de forma rápida e descontraída. No entanto, devido à falta de tempo, poucas vezes esses
jogos foram realizados.
Em relação às condições oferecidas pelo Zoológico Municipal de Piracicaba para o
desenvolvimento do programa de Visita Monitorada, constatou-se que a falta de recursos
humanos qualificados para atender o grande número de escolas interessadas foi um dos
pontos que comprometeram a qualidade do Programa. Por dia, era agendada apenas uma
classe e, muitas vezes, a quantidade de alunos por classe, limitada a 40, dificultava a
condução do grupo e das atividades. Para o desenvolvimento de todos os programas de
Educação Ambiental, inclusive o programa alvo desta pesquisa, o Zoológico contava
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apenas com uma bióloga em período integral e uma professora em período parcial. Quanto
à estrutura, a falta de um Centro de Educação Ambiental trouxe conseqüências que
comprometeram o desenvolvimento e a continuidade do programa, como o cancelamento
das atividades em dias de chuva e as dificuldades enfrentadas no atendimento de alunos e
professores interessados em pesquisas bibliográficas. Outra questão que também merece ser
considerada é a maneira como a maioria dos animais vem sendo exposta: em recintos tipo
“jaulas”, o que pode favorecer uma visão preconceituosa sobre os zoológicos, ou seja,
algumas pessoas acabam associando o zoológico a “prisões” de animais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Inicialmente, neste trabalho discutimos a potencialidade dos zoológicos como locais
para o desenvolvimento de atividades de educação ambiental. O fato de os animais
silvestres exercerem um certo fascínio no ser humano oferece inúmeras possibilidades de se
desenvolver um trabalho educativo que estimule o interesse dos visitantes por relações mais
harmoniosas com o meio ambiente. Além disso, a manutenção de coleções de animais
silvestres permite a exploração de muitas atividades práticas no desenvolvimento de
conceitos diversificados e relacionados com a zoologia, a biologia e a ecologia. Além
destas possibilidades, vários aspectos da relação ser humano - natureza podem ser
considerados em atividades educativas desenvolvidas em espaços como esses.
Segundo Mergulhão (1998),
“... o zoológico é um importante espaço com potencial para a vivência e o aprendizado
sobre o meio ambiente, além de um local com potencial para experiências inesquecíveis e
transformadoras” (p.02).
Com a intenção de trabalhar a construção de conhecimentos e a consciência ambiental junto
ao público visitante, o Zoológico Municipal de Piracicaba desenvolve vários programas de
educação ambiental, destacando-se o Programa de Educação Ambiental "Visita
Monitorada”.
A análise realizada nesta pesquisa oferece alguns indícios para uma possível reestruturação desse programa. Um dos pontos que merece atenção especial é o contato
realizado com os professores antes da visita. Através de mecanismos que permitam o
contato direto com os professores e a possibilidade de planejamento das atividades de
campo com a participação ativa dos mesmos, ganhos pedagógicos significativos podem
ocorrer. Desta forma, consideramos que a visita ao Zoológico propriamente dita, ou seja, a
excursão com os alunos, pode ser compreendida pelo professor como uma das etapas de um
trabalho de campo. Por este mesmo caminho, o professor poderia se envolver de tal
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maneira que a presença de um monitor do Zoológico para o desenvolvimento do trabalho
de campo não seria tão relevante quanto a sua própria participação.
Com um trabalho de campo planejado de forma mais sistematizada o professor teria muitas
possibilidades de enriquecer os trabalhos desenvolvidos em sala de aula, antes e após a
visita.
Com a intenção de fornecer subsídios para o desenvolvimento desses trabalhos voltados à
temática ambiental, um dos caminhos que pode ser explorado pelo zoológico é o
planejamento de visitas temáticas. Estas visitas explorariam temas que:
Ø Do ponto de vista do conhecimento, teriam uma abordagem ecológica –
evolutiva,
como
por
exemplo,
cadeia
alimentar;
dinâmica
e
funcionamento
dos
ecossistemas; relações intra e interespecíficas; classificação zoológica; morfologia e
adaptações evolutivas de espécies animais e vegetais; hábitos alimentares e reprodução de
espécies animais; comportamento animal; estratégias de proteção; disseminação e
reprodução de espécies vegetais;
Ø Do ponto de vista dos valores, aspectos éticos e estéticos poderiam ser
exploradas, como por exemplo, questões que envolvessem o tráfico de animais silvestres; a
conservação dos ecossistemas; aspectos sociais e culturais que envolvessem a relação dos
seres humanos com os animais; aspectos comportamentais do público visitante e suas
interferências na manutenção, alimentação e reprodução dos animais em cativeiro;
conceitos e preconceitos relacionados à aparência dos animais; relações de afeto e respeito
entre o ser humano e os animais; comportamentos de animais em cativeiro que
despertassem o interesse do público seja de forma positiva ou negativa;
Ø Do ponto de vista político, poderiam ser trabalhadas questões como a origem,
evolução e importância dos zoológicos para a educação e para a conservação da vida
silvestre; envolvimento em campanhas de redução, reutilização e reciclagem de resíduos;
participação em campanhas e ações contra o tráfico de animais silvestres; participação em
campanhas educativas e ações junto aos planos de manejo que procuram a preservação de
reservas naturais, visando a readaptação e soltura de animais apreendidos ou nascidos em
cativeiro; participação em campanhas e ações contra a instalação de usinas termelétricas e
indústrias que não possuam um sistema de redução, reutilização e reciclagem dos recursos
naturais utilizados, bem como um rigoroso sistema de controle da poluição ambiental.
Outra questão que deve ser levada em consideração nos programas de educação ambiental
desenvolvidos no Zoológico Municipal de Piracicaba é a urgente necessidade de se refletir
sobre a forma como o Zoológico poderia contribuir para melhorar o desenvolvimento do
processo de educação ambiental nas escolas, buscando um trabalho fundamentado e
sistematizado que contribuísse para a construção de conhecimentos e valores, visando a
participação política de todos.
Ao procurar direcionar os trabalhos do zoológico para uma linha educativa e
conservacionista, é de fundamental importância que o sistema de distribuição dos animais
em recintos seja revisto. Assim, por meio de uma nova forma de exposição dos animais,
com uma maior interação destes com o público visitante, seja através de contatos diretos,
com um sistema de comunicação visual eficiente ou de outros tipos de interações, o
zoológico possui grande potencial para favorecer o desenvolvimento de trabalhos de campo
relacionados à temática ambiental. Por se tratar de uma área verde urbana e com uma
Revista Educação: Teoria e Prática.
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grande diversidade de espécies, favorece o desenvolvimento de trabalhos bastante
diversificados e com temas variados que podem ser explorados pelos técnicos do zoológico
em conjunto com os professores.
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Endereço do autor
Elizabeth da Silveira Nunes
E-mail: [email protected]
Rua Frei Henrique de Coimbra, 41 – Nova América - Piracicaba – SP- CEP 13.417.560.
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