VISITA MONITORADA
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VISITA MONITORADA
EPEA 2001 - 1 de 13 ANÁLISE DO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL - VISITA MONITORADA - DESENVOLVIDO NO ZOOLÓGICO MUNICIPAL DE PIRACICABA. Elizabeth da Silveira Nunes UNESP Campus Rio Claro, Prefeitura do Município de Piracicaba Luiz Marcelo de Carvalho UNESP Campus Rio Claro palavras-chave: Educação Ambiental; Zoológicos; Trabalhos de Campo Resumo: Um dos caminhos apontados como significativos para o desenvolvimento de atividades de educação ambiental é da exploração do potencial educativo, que algumas áreas naturais e/ou alteradas pelo homem oferecem, ou seja, a possibilidade de desenvolvimento de trabalhos de campo. Dentre essas áreas destacamos os zoológicos que, em sua maioria, no Brasil, possuem estrutura adequada para receber visitas de escolas e, em muitos deles, projetos de Educação Ambiental têm sido desenvolvidos. O Zoológico Municipal de Piracicaba, desde 1996, vem desenvolvendo o programa de educação ambiental - Visita Monitorada e, desde então, nenhuma análise sistematizada do programa foi realizada. Esta pesquisa apresenta os resultados da análise do programa e discute algumas perspectivas para a re-estruturação desta proposta, tendo como referência algumas dimensões consideradas fundamentais para o desenvolvimento de trabalhos de educação ambiental por meio de atividades fora da sala de aula. AN ANALYSIS OF THE ‘SUPERVISED VISITATION’ ENVIRONMENTAL EDUCATION PROGRAM – DEVELOPED IN THE CITY OF PIRACICABA MUNICIPAL ZOO keywords: environmental education; zoos; field projects Abstract: One of the procedures considered relevant to the development of environmental education is the use of the educational potential certain natural or man-made areas have to offer, that is, the development of field projects. Of these areas, it is noted that Brazilian zoos have adequate structure to receive school visits and to develop environmental education projects. The Piracicaba City Zoo has been developing an environmental education program, named "Supervised Visitation", since 1996. Nevertheless, no systematic analysis had ever been performed on the latter. This study presents just such an analysis, as well as prospects for the restructuring of the proposal. As reference, the authors selected a few important aspects of environmental education field projects. INTRODUÇÃO Os impactos ambientais negativos provocados por ações antrópicas têm suscitado questionamentos quanto aos padrões de relacionamento que o homem, historicamente, estabelece com a natureza. Na era moderna, através das descobertas tecnológicas e de novos conhecimentos, o homem ocidental começou a se sentir capaz de manipular e Revista Educação: Teoria e Prática. Rio Claro: UNESP – Instituto de Biociências, Volume 9, número 16, 2001. (CD-Rom arquivo: tr14.pdf) EPEA 2001 - 2 de 13 controlar a natureza. Com a Revolução Científica, a natureza passou a ser regida pelo cálculo racional e pela técnica. (Harman, 1995). A partir do momento em que o cenário natural e social começou a sofrer alterações devido ao acúmulo de resíduos gerados pela produção desenfreada, ao aumento da população mundial e ao uso descontrolado dos recursos naturais, o homem começou a perceber que a sobrevivência de sua espécie estava em jogo (Cascino, 1998) e que, alterações da natureza de dimensão regional podem ter conseqüências globais. Esta constatação tem gerado uma série de reflexões acerca dos modelos da relação ser humano natureza e levado a discussões de propostas para o estabelecimento de novos padrões para essa relação. É neste contexto que a Educação é colocada muitas vezes, como a principal, senão a única responsável pela reversão do atual quadro de degradação ambiental, caracterizando o que Brandão (1987) chama de “utopismo pedagógico”. Mas, como a política e a economia, a educação é uma prática social que para contribuir com a reversão desse quadro, depende do sistema social e cultural em que o indivíduo está inserido. O termo Educação Ambiental se desenvolveu na década de 60 e desde então vem sendo amplamente discutido, gerando uma grande diversidade de concepções. Levando em consideração o constante processo de transformação do meio ambiente, das ações políticas, sociais, econômicas e culturais de uma sociedade, é aceitável que tal termo esteja em processo contínuo de construção de significados. Como referência para o desenvolvimento deste trabalho, salientamos três aspectos que um trabalho de Educação Ambiental poderia envolver, explicitados por Carvalho (2000): Ø Dimensão relacionada à natureza dos conhecimentos, considerando a complexa interação dos elementos, fenômenos e dinâmicos processos de transformação não só do mundo natural como também do homem organizado em sociedade; Ø Dimensão relacionada com os valores éticos e estéticos presentes na relação homem – natureza; Ø Dimensão relacionada à questão da participação política do indivíduo, buscando a “construção da cidadania e de uma sociedade democrática”. Nesse sentido, a Educação Ambiental é um processo que, se baseado em questionamentos e reflexões sobre a relação homem – natureza, buscando a construção de conhecimentos e de valores que visem a participação política e o exercício da cidadania, pode trazer grandes contribuições para o indivíduo e para o meio ambiente. A partir do momento em que valores individuais e sociais são questionados e o indivíduo se sente sensibilizado, há uma busca por novos conhecimentos, que podem trazer respostas ou levar a outros questionamentos que envolvam a comunidade e a sociedade que o cerca. Sensibilizado e na posse de novos conhecimentos, esse indivíduo, ao refletir e ao procurar identificar em sua comunidade a origem dos problemas sócio-ambientais que vêm afetando a população mundial, pode instigar e envolver outros indivíduos, buscando a participação política de todos. Uma das grandes contribuições para o desenvolvimento de atividades de educação ambiental é a exploração do potencial educativo que algumas áreas naturais ou modificadas Revista Educação: Teoria e Prática. Rio Claro: UNESP – Instituto de Biociências, Volume 9, número 16, 2001. (CD-Rom arquivo: tr14.pdf) EPEA 2001 - 3 de 13 pelo homem oferecem, dentro ou fora da área urbana, ou seja, a possibilidade de desenvolvimento de trabalhos de campo (Carvalho, 1999). Para tanto, é imprescindível criar parcerias com o setor público municipal, estadual, federal e privado para “... o uso dessas ilhas urbanas, desses espaços encantados dentro da cidade, como locais de experiências inesquecíveis e transformadoras” (Mergulhão, 1998, p.136). Torna-se necessário que o educador tenha consciência da importância desses recursos, bem como os objetivos que se procura alcançar quando se programa um trabalho de campo, a metodologia a ser utilizada e, sem dúvida, a constante avaliação dos dados obtidos durante um trabalho dessa natureza. Bonotto (1999) destaca a importância das atividades de campo estarem sempre apoiadas num roteiro de atividades previamente elaborado e com uma prévia orientação aos alunos sobre seu desenvolvimento. Dentre algumas áreas verdes urbanas que podem ser exploradas nos trabalhos de campo podemos destacar os Zoológicos, que no Brasil, são mantidos, em sua maioria, por instituições públicas municipais, com estrutura adequada para receber visitas de escolas. Em muitos deles, projetos de Educação Ambiental têm sido desenvolvidos. Com relação à evolução dos zoológicos no mundo, a história nos mostra que as coleções de animais eram mantidas por vários motivos: como símbolos de bem-estar e poder para a ostentação de um “status”, por interesse zoológico, para entretenimento e diversão. No século XIX, a principal função dos zoológicos era divulgar a diversidade das espécies e suas adaptações para a vida (Auricchio, 1999). A partir da segunda metade do século XX, os zoológicos passaram a dar uma maior ênfase à ecologia, biologia e ao comportamento dos animais e desde então vêm-se buscando objetivos como: a conservação das espécies, funcionando como centros de reprodução; a pesquisa, funcionando como um centro de divulgação de informações conservacionistas e como um valioso banco de informações; a educação, através de programas educativos dinâmicos e interativos e o lazer, já que os zoológicos, geralmente, são áreas verdes urbanas que proporcionam ao público momento de relaxamento, descanso ou diversão (Mergulhão & Vasaki, 1998). De acordo a IUDZG (1993), os zoológicos têm evoluído rapidamente e a tendência é que no século XXI se transformem em Centros de Conservação e de Educação Ambiental. Em relação ao potencial educativo, os zoológicos são os únicos lugares onde se pode observar e estudar uma grande diversidade de espécies, encontradas no mundo todo. O encanto e a graça dos animais silvestres servem como ponto inicial para estimular o interesse de visitantes por relações de equilíbrio do mundo (IUDZG/CBSG (IUCN/SSC), 1993). Através desses valores estéticos presentes na natureza, um programa educativo de um zoológico pode envolver outros aspectos relacionados à temática ambiental. Por exemplo, que tipo de relações o homem vem desenvolvendo com esse ambiente equilibrado? Que sentimentos predominam quando há uma ruptura entre o homem e seu espaço? Segundo Escobar (2000), dentre os objetivos da Educação Ambiental em zoológicos, destaca-se a possibilidade de centrar as atenções sobre os problemas ambientais locais, estimulando a participação das pessoas, principalmente da comunidade local, ajudando a promover a busca de soluções para os diversos problemas ambientais locais e conseqüentemente globais. Além disso, a Educação Ambiental em zoológicos procura desenvolver conhecimentos, habilidades e fomenta a participação das pessoas em busca de Revista Educação: Teoria e Prática. Rio Claro: UNESP – Instituto de Biociências, Volume 9, número 16, 2001. (CD-Rom arquivo: tr14.pdf) EPEA 2001 - 4 de 13 decisões conscientes e comportamentos responsáveis, através de ações construtivas e respeito ao meio ambiente. QUESTÕES DE PESQUISA E OBJETIVOS O Zoológico Municipal de Piracicaba há quatro anos vem desenvolvendo um programa de educação ambiental denominado Visita Monitorada, com alunos e professores do ensino fundamental da rede pública e particular de Piracicaba. Desde seu início, nenhuma análise sistematizada das etapas que envolvem o programa foi realizada e desde então, todo ano, ao se reiniciar o programa, surgem algumas questões fundamentais com relação ao aproveitamento do potencial educativo que o zoológico oferece aos professores. Questões que são importantes para se atingir os objetivos da educação ambiental em zoológicos e para a manutenção da qualidade e da continuidade do programa. Nos anos de 1999 e 2000 foram aplicados questionários aos professores participantes, como instrumento de avaliação do programa e realizadas observações assistemáticas do monitor durante e após a visita; porém, até então esses dados não foram objetos de uma análise mais acurada. Neste sentido, algumas questões justificam e direcionam a realização dessa pesquisa: Ø Os objetivos do programa Visita Monitorada do Zoológico Municipal de Piracicaba estão definidos de acordo com os pressupostos teórico-metodológicos para a Educação Ambiental assumidos neste trabalho? Ø Este programa tem considerado, em suas atividades, as diferentes dimensões de um trabalho de Educação Ambiental explicitadas anteriormente? Ø Até que ponto a participação neste programa tem levado os professores ao desenvolvimento de atividades de campo relacionadas com a temática ambiental? Ø Em que medida esse programa vem oferecendo aos educadores oportunidades para o desenvolvimento de trabalhos de campo sob a perspectiva apresentada na introdução deste trabalho? Desta forma, os objetivos deste projeto de pesquisa podem ser assim enunciados: Ø Analisar o Programa Educação Ambiental - Visita Monitorada desenvolvido no Zoológico Municipal de Piracicaba, em relação ao referencial teórico e à metodologia proposta para trabalhos em educação ambiental, assumidos neste trabalho; Ø Avaliar em que medida o Programa Visita Monitorada do Zoológico Municipal de Piracicaba vem incentivando o desenvolvimento de atividades de campo pelos professores da rede oficial de ensino; Ø Identificar se os professores que participaram do programa em análise aproveitaram da oportunidade para desenvolver com seus alunos as diferentes fases Revista Educação: Teoria e Prática. Rio Claro: UNESP – Instituto de Biociências, Volume 9, número 16, 2001. (CD-Rom arquivo: tr14.pdf) EPEA 2001 - 5 de 13 de um trabalho de campo, conforme perspectiva apresentada na introdução deste trabalho; Ø Apontar algumas possibilidades para futuros trabalhos de Educação Ambiental, aproveitando o potencial educativo que o Zoológico oferece. PROCEDIMENTOS DE PESQUISA Este trabalho se caracteriza como um estudo preliminar do programa em questão, tendo como procedimentos de pesquisa: • Análise Documental: Parte dos dados utilizados no processo de análise foram coletados a partir de alguns documentos de posse da equipe do Zoológico Municipal de Piracicaba, tais como: Ø Relatório do Rotary Club e Lions Club sobre a fundação e atividades desenvolvidas no Zoológico Municipal de Piracicaba, nas décadas de 70 e 80; Ø Censo de Movimentação de Animais Silvestres da SZB - Sociedade de Zoológicos do Brasil, referente ao ano 2.000; Ø Relatório de Atividades do Setor de Educação Ambiental dos anos de 1999 e 2000; Ø Programa de Educação Ambiental – Visita Monitorada ao Zoológico Municipal de Piracicaba; • Análise dos questionários respondidos pelos professores: Além da análise dos documentos acima explicitados, foram analisados os questionários aplicados aos professores participantes do programa , nos anos de 1999 e 2000. No ano de 1999, o questionário aplicado aos professores, utilizado como instrumento de avaliação do programa de Visita Monitorada, era composto de questões abertas. No final desse mesmo ano, através de uma análise assistemática das respostas dos professores, constatou-se a necessidade de reformulação deste questionário, pois as questões não pareciam suficientes para se obter uma avaliação completa do programa. Sendo assim, no ano de 2000, além de questões relacionadas com os objetivos e avaliação da visita, o questionário abrangeu aspectos relacionados à divulgação do programa, à preparação dos alunos e aos procedimentos utilizados em sala de aula pelos professores antes e após a visita ao Zoológico. Este questionário foi estruturado com questões objetivas e questões abertas. Tanto em 1999 quanto em 2000, os questionários foram aplicados em dois momentos, ou seja: Em 1999, antes da visita, os professores responderam à questão referente aos “objetivos da visita”. Ao término da visita, foi solicitado ao professor que respondesse às questões referentes à “avaliação” e às “sugestões”. Em 2000, antes da visita, foi solicitado aos professores que respondessem às questões relacionadas à divulgação do programa, aos objetivos e à preparação da visita. Após a visita, foi novamente solicitado aos professores que respondessem às questões relacionadas ao desenvolvimento da visita e às atividades que, posteriormente, seriam realizadas em sala de aula. Revista Educação: Teoria e Prática. Rio Claro: UNESP – Instituto de Biociências, Volume 9, número 16, 2001. (CD-Rom arquivo: tr14.pdf) EPEA 2001 - 6 de 13 • Análise das observações feitas pelo monitor do zoológico durante o programa de Visita Monitorada: Apesar de não terem sido documentadas e sistematizadas, também serão consideradas na discussão deste trabalho algumas observações feitas por uma das monitoras que desenvolveu o programa de Visita Monitorada do Zoológico Municipal de Piracicaba, antes, durante e após a visita com os alunos e professores. Isso foi possível pelo fato da monitora em questão ser a responsável técnica pelo programa e autora do projeto de pesquisa. HISTÓRICO DO ZOOLÓGICO MUNICIPAL DE PIRACICABA E TRABALHOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DESENVOLVIDOS O Zoológico Municipal de Piracicaba foi fundado em 1o de Agosto de 1971, através do esforço conjunto entre o Lions Clube, o Rotary Clube e a Prefeitura Municipal de Piracicaba. Situado ao lado da Rodovia Piracicaba – Rio Claro, compõe-se de uma área de 46.723,13 m2, cedida pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (ESALQ), em regime de comodato. Alguns anos após sua fundação, o Zoológico, até então administrado pelo professor da ESALQ, Dr. Edmar José Kiehl, passou a ser administrado pela Coordenadoria Municipal de Turismo e Lazer. Em 1989, o Zoológico passou a integrar a Secretaria Municipal de Serviços Públicos, hoje denominada Secretaria Municipal de Defesa do Meio Ambiente, responsável pelas manutenções, construções e pagamento dos fornecedores de alimentos, como também, pela arrecadação dos valores da portaria. Quanto aos recursos humanos, o Zoológico possui em seu quadro funcionários públicos municipais e funcionários de uma empresa terceirizada. Para garantir um funcionamento dinâmico e rotineiro, o Zoológico está dividido em setores interdependentes, tais como: Ø Setor Administrativo: responsável pela administração financeira, manutenção, almoxarifado e demais assuntos de ordem burocrática; Ø Setor Técnico: responsável pelo manejo, nutrição, reprodução e comportamento animal, pesquisas científicas, taxidermia, manejo de animais em áreas naturais, planejamento, construção e ambientação de recintos, profilaxia e tratamento de doenças, programas de educação ambiental e eventos em geral. No final do ano 2000, o Zoológico Municipal de Piracicaba possuía em seu plantel cerca de 121 espécies, sendo 73 espécies de aves, 34 espécies de mamíferos e 14 espécies de répteis. Num total eram 484 espécimes (Brasil, 2000). De acordo com o Relatório de Atividades de Educação Ambiental (Piracicaba, 1999), no ano de 1999, 201.370 pessoas visitaram o Zoológico, entre público pagante e não pagante. No ano 2000, esse número foi reduzido para 175.127 pessoas. Revista Educação: Teoria e Prática. Rio Claro: UNESP – Instituto de Biociências, Volume 9, número 16, 2001. (CD-Rom arquivo: tr14.pdf) EPEA 2001 - 7 de 13 Até o final do ano 2.000 alguns trabalhos de educação ambiental vinham sendo desenvolvidos pelo Zoológico Municipal de Piracicaba, como a Campanha contra o Tráfico de Animais Silvestres; Programa de férias “Natureco”; Programa de Recepção de Escolas; Aperfeiçoamento de docentes participantes do programa de educação ambiental “Semana da Água” e o Programa de Visita Monitorada. O PROGRAMA DE VISITA MONITORADA E A PARTICIPAÇÃO DAS ESCOLAS Para que o potencial educativo do Zoológico de Piracicaba fosse melhor explorado e para fornecer aos professores opções para a realização de trabalhos de campo e atividades interdisciplinares iniciou-se, em 1996, o Programa Visita Monitorada, direcionado a alunos e professores de 1a à 6a série do ensino fundamental da rede pública e particular de ensino de Piracicaba e região. Tal programa tem definido como objetivos: “Fazer com que a visita da escola ao Zoológico não se torne um simples passeio, mas uma aula aberta e dinâmica, dando chances aos professores de desenvolverem a interdisciplinaridade e complementarem os estudos sobre o meio ambiente; fornecer aos educadores subsídios para a complementação das aulas iniciadas na escola; enfatizar a importância de um zoológico, tentando melhorar o comportamento do público visitante em relação aos animais em exposição” (Piracicaba, 1999, p.03). Das 269 escolas que visitaram o Zoológico Municipal nos anos de 1999 e 2000, 17% participaram do Programa Visita Monitorada, nesse período. Dessas, 40% responderam aos questionários utilizados como instrumento para avaliação do programa. Com relação à comunicação e divulgação do programa junto aos professores, foram realizadas reuniões no início do ano letivo para apresentação da proposta aos coordenadores e diretores das escolas interessadas. Estes ficaram encarregados de agendar a visita da escola e divulgar os objetivos do programa aos professores que, em última instância, seriam os responsáveis pelo desenvolvimento das atividades junto aos alunos. Esse método pareceu ser eficiente, já que, de acordo com as respostas dos questionários, 98% dos professores souberam do programa através da coordenação da própria escola. No entanto, 27% dos professores que participaram da visita ao Zoológico, não tiveram acesso às informações relacionadas à estrutura do programa, como por exemplo, os seus objetivos. Em alguns casos foi observado que os professores demonstraram ter conhecimento dos objetivos e da dinâmica proposta pelo programa, porém a saída ao campo não foi planejada da forma como se propunha. O que parece ter prevalecido nestes casos foi que, esse sistema foi eficiente no que diz respeito à divulgação da proposta. No entanto, tudo indica que os Revista Educação: Teoria e Prática. Rio Claro: UNESP – Instituto de Biociências, Volume 9, número 16, 2001. (CD-Rom arquivo: tr14.pdf) EPEA 2001 - 8 de 13 coordenadores e diretores não estavam preparados o suficiente para serem agentes multiplicadores no sentido de apresentar os pressupostos do programa e oferecer subsídios aos professores para o planejamento das atividades nelas previstas. Os objetivos explicitados pelos professores em relação à visita ao Zoológico foram analisados tendo-se como referência as três dimensões que envolvem um trabalho de Educação Ambiental, segundo Carvalho (2000). Pudemos observar que em 1999, 41% dos objetivos mencionados pelos professores e em 2000, 65%, estavam relacionados com a natureza dos conhecimentos, que envolviam a biologia, a ecologia, o comportamento, a diversidade e extinção das espécies, como também a estrutura e a importância de um zoológico. Nessa análise foi possível perceber também, uma certa representatividade quanto à questão relacionada aos valores: 35% dos professores no ano de 1999 e 23% do ano 2000, buscaram o programa Visita Monitorada com objetivos relacionados com o respeito à fauna, bem como despertar nos alunos o interesse pelo meio ambiente através de um maior contato com os animais. Entretanto, com relação a objetivos que envolvessem questões da participação política, foi observado que somente no ano de 1999, 2% dos professores fizeram referência a este aspecto, indicando a possibilidade de se incluir a questão da cidadania no Programa. Tal resultado propõe alguns questionamentos a serem considerados pelo programa: o Zoológico Municipal de Piracicaba vem sendo explorado no sentido de oferecer aos professores chances para o desenvolvimento de um trabalho de educação ambiental que envolva estes diferentes aspectos? Até que ponto os professores estão percebendo que o Zoológico serve como recurso para a construção do conhecimento aliado aos valores éticos e estéticos, como também à participação política do indivíduo? Em relação à natureza dos trabalhos desenvolvidos na fase de preparação da visita, observou-se que a conversa em sala de aula foi o método mais utilizado, com 32,14% das indicações. Pesquisas e aulas expositivas ficaram em segundo lugar, com 12,50%. Também foi avaliado se os professores sentiram dificuldades na preparação da visita e, de acordo com os resultados, cerca de 10% dos professores alegaram que sentiram dificuldades quanto à falta de materiais informativos para servir como base para a preparação das aulas e da visita, e 83% responderam que não sentiram dificuldade alguma. Esse último dado nos permite levantar outras questões: até que ponto os professores vêm realizando uma Revista Educação: Teoria e Prática. Rio Claro: UNESP – Instituto de Biociências, Volume 9, número 16, 2001. (CD-Rom arquivo: tr14.pdf) EPEA 2001 - 9 de 13 preparação das visitas de forma efetiva e sistematizada? Qual a idéia que os professores têm a respeito do planejamento dos trabalhos de campo? No que diz respeito a atividades relacionadas com a fase de exploração dos dados obtidos durante a visita ao zoológico observou-se que 90% dos professores indicaram ter desenvolvido algum tipo de atividade em sala de aula. No ano de 1999, as atividades indicadas pelos professores como possíveis de serem utilizadas foram os desenhos, os relatórios e as dinâmicas de grupo. Em 2000, os professores mencionaram principalmente as simulações, embora outras tenham sido citadas, como pesquisas, redação, desenhos e cartazes. Com relação à natureza dos trabalhos desenvolvidos nessa fase de exploração de dados, é preciso destacar a importância de atividades que contribuam para a concretização de aspectos mais abrangentes sobre a educação ambiental. Nesse sentido, as simulações, as pesquisas e os projetos merecem destaque, pois se bem trabalhados, podem oferecer elementos significativos para que estas metas sejam cumpridas. Quanto às atividades desenvolvidas pela monitora durante a visita da escola ao zoológico, o programa previa três momentos: uma conversa “quebra-gelo” de 15 minutos com os alunos, sobre os objetivos e funcionamento de um zoológico; a visita aos animais em exposição, seguindo um trajeto previamente definido com 1 hora e meia de duração, quando a monitora explicava alguns conceitos sobre biologia, ecologia, comportamento animal, aspectos morfológicos e adaptativos, ou seja, informações relacionadas à dimensão dos conhecimentos. Em alguns momentos, também eram enfocadas questões relacionadas com os valores estéticos presentes na natureza. Pelas observações realizadas pela monitora e autora deste projeto, nem sempre eram discutidas questões relacionadas à participação política do indivíduo. Enfim, pode-se perceber que a concepção de trabalho de campo, durante o desenvolvimento da visita, estava ainda muito centrada no “guia”, ou seja, durante a maior parte do tempo, as atividades eram direcionadas pela monitora, sendo que poucas vezes alunos e professores faziam algum tipo de interferência. No terceiro momento, ao término da visita, o programa previa um jogo com a participação dos alunos e do professor, como forma de a monitora recuperar os assuntos abordados durante a visita, de forma rápida e descontraída. No entanto, devido à falta de tempo, poucas vezes esses jogos foram realizados. Em relação às condições oferecidas pelo Zoológico Municipal de Piracicaba para o desenvolvimento do programa de Visita Monitorada, constatou-se que a falta de recursos humanos qualificados para atender o grande número de escolas interessadas foi um dos pontos que comprometeram a qualidade do Programa. Por dia, era agendada apenas uma classe e, muitas vezes, a quantidade de alunos por classe, limitada a 40, dificultava a condução do grupo e das atividades. Para o desenvolvimento de todos os programas de Educação Ambiental, inclusive o programa alvo desta pesquisa, o Zoológico contava Revista Educação: Teoria e Prática. Rio Claro: UNESP – Instituto de Biociências, Volume 9, número 16, 2001. (CD-Rom arquivo: tr14.pdf) EPEA 2001 - 10 de 13 apenas com uma bióloga em período integral e uma professora em período parcial. Quanto à estrutura, a falta de um Centro de Educação Ambiental trouxe conseqüências que comprometeram o desenvolvimento e a continuidade do programa, como o cancelamento das atividades em dias de chuva e as dificuldades enfrentadas no atendimento de alunos e professores interessados em pesquisas bibliográficas. Outra questão que também merece ser considerada é a maneira como a maioria dos animais vem sendo exposta: em recintos tipo “jaulas”, o que pode favorecer uma visão preconceituosa sobre os zoológicos, ou seja, algumas pessoas acabam associando o zoológico a “prisões” de animais. CONSIDERAÇÕES FINAIS Inicialmente, neste trabalho discutimos a potencialidade dos zoológicos como locais para o desenvolvimento de atividades de educação ambiental. O fato de os animais silvestres exercerem um certo fascínio no ser humano oferece inúmeras possibilidades de se desenvolver um trabalho educativo que estimule o interesse dos visitantes por relações mais harmoniosas com o meio ambiente. Além disso, a manutenção de coleções de animais silvestres permite a exploração de muitas atividades práticas no desenvolvimento de conceitos diversificados e relacionados com a zoologia, a biologia e a ecologia. Além destas possibilidades, vários aspectos da relação ser humano - natureza podem ser considerados em atividades educativas desenvolvidas em espaços como esses. Segundo Mergulhão (1998), “... o zoológico é um importante espaço com potencial para a vivência e o aprendizado sobre o meio ambiente, além de um local com potencial para experiências inesquecíveis e transformadoras” (p.02). Com a intenção de trabalhar a construção de conhecimentos e a consciência ambiental junto ao público visitante, o Zoológico Municipal de Piracicaba desenvolve vários programas de educação ambiental, destacando-se o Programa de Educação Ambiental "Visita Monitorada”. A análise realizada nesta pesquisa oferece alguns indícios para uma possível reestruturação desse programa. Um dos pontos que merece atenção especial é o contato realizado com os professores antes da visita. Através de mecanismos que permitam o contato direto com os professores e a possibilidade de planejamento das atividades de campo com a participação ativa dos mesmos, ganhos pedagógicos significativos podem ocorrer. Desta forma, consideramos que a visita ao Zoológico propriamente dita, ou seja, a excursão com os alunos, pode ser compreendida pelo professor como uma das etapas de um trabalho de campo. Por este mesmo caminho, o professor poderia se envolver de tal Revista Educação: Teoria e Prática. Rio Claro: UNESP – Instituto de Biociências, Volume 9, número 16, 2001. (CD-Rom arquivo: tr14.pdf) EPEA 2001 - 11 de 13 maneira que a presença de um monitor do Zoológico para o desenvolvimento do trabalho de campo não seria tão relevante quanto a sua própria participação. Com um trabalho de campo planejado de forma mais sistematizada o professor teria muitas possibilidades de enriquecer os trabalhos desenvolvidos em sala de aula, antes e após a visita. Com a intenção de fornecer subsídios para o desenvolvimento desses trabalhos voltados à temática ambiental, um dos caminhos que pode ser explorado pelo zoológico é o planejamento de visitas temáticas. Estas visitas explorariam temas que: Ø Do ponto de vista do conhecimento, teriam uma abordagem ecológica – evolutiva, como por exemplo, cadeia alimentar; dinâmica e funcionamento dos ecossistemas; relações intra e interespecíficas; classificação zoológica; morfologia e adaptações evolutivas de espécies animais e vegetais; hábitos alimentares e reprodução de espécies animais; comportamento animal; estratégias de proteção; disseminação e reprodução de espécies vegetais; Ø Do ponto de vista dos valores, aspectos éticos e estéticos poderiam ser exploradas, como por exemplo, questões que envolvessem o tráfico de animais silvestres; a conservação dos ecossistemas; aspectos sociais e culturais que envolvessem a relação dos seres humanos com os animais; aspectos comportamentais do público visitante e suas interferências na manutenção, alimentação e reprodução dos animais em cativeiro; conceitos e preconceitos relacionados à aparência dos animais; relações de afeto e respeito entre o ser humano e os animais; comportamentos de animais em cativeiro que despertassem o interesse do público seja de forma positiva ou negativa; Ø Do ponto de vista político, poderiam ser trabalhadas questões como a origem, evolução e importância dos zoológicos para a educação e para a conservação da vida silvestre; envolvimento em campanhas de redução, reutilização e reciclagem de resíduos; participação em campanhas e ações contra o tráfico de animais silvestres; participação em campanhas educativas e ações junto aos planos de manejo que procuram a preservação de reservas naturais, visando a readaptação e soltura de animais apreendidos ou nascidos em cativeiro; participação em campanhas e ações contra a instalação de usinas termelétricas e indústrias que não possuam um sistema de redução, reutilização e reciclagem dos recursos naturais utilizados, bem como um rigoroso sistema de controle da poluição ambiental. Outra questão que deve ser levada em consideração nos programas de educação ambiental desenvolvidos no Zoológico Municipal de Piracicaba é a urgente necessidade de se refletir sobre a forma como o Zoológico poderia contribuir para melhorar o desenvolvimento do processo de educação ambiental nas escolas, buscando um trabalho fundamentado e sistematizado que contribuísse para a construção de conhecimentos e valores, visando a participação política de todos. Ao procurar direcionar os trabalhos do zoológico para uma linha educativa e conservacionista, é de fundamental importância que o sistema de distribuição dos animais em recintos seja revisto. Assim, por meio de uma nova forma de exposição dos animais, com uma maior interação destes com o público visitante, seja através de contatos diretos, com um sistema de comunicação visual eficiente ou de outros tipos de interações, o zoológico possui grande potencial para favorecer o desenvolvimento de trabalhos de campo relacionados à temática ambiental. Por se tratar de uma área verde urbana e com uma Revista Educação: Teoria e Prática. Rio Claro: UNESP – Instituto de Biociências, Volume 9, número 16, 2001. (CD-Rom arquivo: tr14.pdf) EPEA 2001 - 12 de 13 grande diversidade de espécies, favorece o desenvolvimento de trabalhos bastante diversificados e com temas variados que podem ser explorados pelos técnicos do zoológico em conjunto com os professores. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AURICCHIO, A. L. Potencial da Educação Ambiental nos Zoológicos Brasileiros. In: Publicações Avulsas do Instituto Pau Brasil de História Natural, Arujá, Instituto Pau Brasil de História Natural – IPB, 1999. 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