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A celebração do Primeiro de Maio e o boicote de 2006 e durante os meses antes de Maio levaram milhões de imigrantes às ruas nas cidades e nas povoações, grandes e pequenas, de costa a costa para protestar contra a legislação repressiva contra os trabalhadores indocumentados. Os maiores portos do país, Los Angeles e Long Beach, Califórnia ficaram praticamente paralisados. As embaladoras de carne no sul e na região central tiveram de fechar. As casas comerciais fecharam ou trabalharam com menos pessoal. Houve absentismo nas escolas: os estudantes encheram as ruas. A onda de imigrantes da classe trabalhadora, liderada por latinos, mas formada por trabalhadores vindos da Ásia, África ou Médio Oriente encheu as ruas de Los Angeles, San Diego, Sacramento, San Francisco, Seattle, Denver, Houston, Kansas City, Milwaukee, Chicago, Nova Iorque, Atlanta, Orlando, Tampa, Miami e muitas outras cidades. Tratou-se da maior expressão política da massa trabalhadora dos Estados Unidos na história recente e foi uma combinação de greve/boicote/manifestação. Não se limitou a ser um protesto pelos ataques do Congresso e da direita contra os trabalhadores indocumentados, mas sim uma demanda por ampliar os seus direitos e por fim à repressão. As manifestações emanaram de organizações de base de Los Angeles e convocaram o Primeiro de Maio por ser o Dia Internacional do Trabalho, e porque os milhões de imigrantes documentados a indocumentados vêm de países com uma sólida tradição em torno desta data e uma consciência de classe forte. Uma parte do movimento trabalhador, à escala local ou estatal, deu o seu apoio e participou na comemoração do Primeiro de Maio nos locais onde existe uma classe trabalhadora imigrante forte, como no caso da Califórnia. A razão na maioria dos casos foi o peso dos trabalhadores imigrantes nas suas organizações. Na realidade, os trabalhadores imigrantes indocumentados desempenham um papel decisivo nos seguintes sectores da economia dos Estados Unidos: restaurantes, hotéis, construção, processamento de carnes, agricultura, serviços domésticos e cuidados infantis. O objectivo do presente texto é descrever a situação que os imigrantes enfrentaram nos Estados Unidos ao longo dos últimos dois anos, abordar o ataque renovado da classe dominante e os seus meios de comunicação massiva contra os dos imigrantes — com especial destaque para Lou Dobbs, o locutor «estrela» da CNN e difamador de imigrantes — a fim de analisar a luta contra o TLC do México e vincular a luta dos imigrantes com a da classe trabalhadora, particularmente nos Estados Unidos e no México. As massivas manifestações de imigrantes na primavera de 2006 constituíram um passo extraordinário para a frente na luta de classes dos Estados Unidos. Estas mobilizações foram extremamente bem-vindas, sobre tudo pelo longo período de reacções que despertaram. Parecia que a classe capitalista dominante e os seus representantes no governo norte-americano estavam a ganhar e que a luta de massas se encontrava em letargia. Então vieram as manifestações de Março, Abril e Maio, deixando a classe dominante assustada e profundamente preocupada. Esses factos deixaram ver, até na voragem de reacções, as vastas e cruciais lutas que se perfilam no horizonte. Tal é o significado das acções de um sector vital e nunca antes ouvido da classe trabalhadora na primavera passada, todos os seus testemunhos souberam vislumbrar nelas o futuro. Os especialistas burgueses dos meios dominantes prestaram e continuam a prestar muita atenção à evolução do movimento pelos direitos dos imigrantes. Estão extremamente interessados no assunto. Depois de tudo, quando milhões de trabalhadores se manifestaram e uma dessas manifestações se leva a cabo numa semana, máximo Primeiro de Maio, e os trabalhadores tomam as ruas não há dúvida que a classe dominante segue a situação com sumo interesse. A verdade é que, embora as manifestações massivas tivessem um impacto enorme e conseguissem deter o repressivo projecto de lei Sensenbrenner no Congresso, a ofensiva reaccionária anti-imigrante não se deteve e o seu efeito é aterrador. Por exemplo, o Senado aprovou a dotação de seis mil milhões de dólares para levantar um muro na fronteira entre o México e os Estados Unidos. Este é um dos piores ultrajes. Ao mesmo tempo, a Agência de Imigração e Alfândegas, que depende do Departamento de Segurança Nacional, está a executar buscas massivos. Em cidades ao longo e ao largo do país, esta agência procura prender cada vez os trabalhadores imigrantes cada vez mais à economia informal e assustá-los para que se não organizem nem lutem pelos seus direitos. As suas operações são semelhantes às buscas Palmer da década de 1920, cujo objectivo era organizar uma caçada anticomunista contra todas as pessoas progressistas que tinham imigrado para os Estados Unidos vindas da Europa. Além do muro na fronteira e das buscas da Agência de Imigração e Alfândegas, os governos locais e estatais particularmente na Pensilvânia e Arizona, mas também no resto do país, aprovaram leis desapiedadas contra os imigrantes. Em resumo, somos testemunhas de um tentativa calculada para criar uma atmosfera francamente intimidante e ameaçadora para os trabalhadores imigrantes, sobre tudo os indocumentados. Tudo isso é resultado da campanha de difamação de imigrantes que arrasa o país. Lou Dobbs, o deputado Tom Tancredo do Colorado, os Minutemen, as diatribes dessas forças são o caldo de cultivo ideal para a aprovação de leis racistas horríveis. No entanto, a economia viria abaixo sem a mão-de-obra imigrante. Então, porquê, a caça às bruxas? Para continuar a fundir os imigrantes na economia informal, para continuar a manipular este exército de reserva de mão-de-obra. A escalada de repressão A 24 de Junho de 2007, Associated Press informou que no período crítico do debate em torno da imigração no ano passado, de Abril a Junho de 2006, o número de prisões de imigrantes alcançou um número superior ao dobro de prisões no mesmo período de 2005. Segundo informação obtida pela AP depois de apresentar uma solicitação no marco da Lei de Liberdade de Informação, foram presos quase 5 mil imigrantes. Cerca de 20.000 trabalhadores foram deportados em 2006. Os oficiais da Agência de Imigração e Alfândegas fizeram prisões em fábricas e comunidades de todo o país em geral, arrombaram portas de casas nas primeiras horas da manhã ou entraram nas fábricas com metralhadoras e máscaras. A este clima de terror juntam-se notícias como a seguinte: a 8 de Julho o Miami Herald informou que se julga que 630.000 imigrantes nos Estados Unidos receberam ordem de deportação. Trata-se de mães, pais, filhos e filhas, esposas, maridos, companheiros — todos eles trabalhadores — que vivem imersos no núcleo das prisões e as deportações infindáveis enquanto se dilui a esperança da legalização. Novas leis como indício de mais ataques contra os trabalhadores imigrantes O governo de Bush assestou outro golpe contra os imigrantes ao mesmo tempo que outorgou uma grande concessão aos interesses da direita no passado mês de Agosto, quando anunciou medidas importantes vinculadas à política migratória. Posteriormente, a 10 de Agosto de 2007, funcionários do Departamento de Segurança Nacional anunciaram um novo pacote de planos relativos à imigração que, segundo declarações do governo, se apoiariam em múltiplas prisões nos locais de trabalho (New York Times, 8 de Agosto de 2007). Segundo o Centro da Lei Nacional de Imigração, os planos incluem: Uma maior militarização da fronteira entre o México e os Estados Unidos (em Julho, o Senado acrescentou 3 mil milhões de dólares à epígrafe de segurança nacional: a maior parte da quantia para a fronteira) A ampliação de instalações de detenção sem reparar nas violações generalizadas dos direitos humanos que aí têm lugar. Um menor acesso a audiências em tribunais para questionar ordens equivocadas de deportações. A «eficientização» de programas de trabalhadores temporários em que se cometem abusos embora não atendidos, e A ampliação da lista de supostas «pandilhas» internacionais a que se nega o direito de entrada nos Estados Unidos. A elaboração das medidas anunciadas — que no total são 26 — esteve a cargo de uma coordenação esmagadora de entidades governamentais, como os Departamentos de Estado, Trabalho, Comércio, Segurança Nacional, Educação e Tesouro, além da Administração de Segurança Nacional. No entanto, as principais vozes da proposta foram Michael Chertoff, Secretário do Departamento de Segurança Nacional e Carlos Gutiérrez, Secretário do Comércio. A preponderância do Departamento de Segurança Nacional no tema é uma prova da atitude punitiva e repressiva do governo para com a população imigrante. Se bem que a maioria das propostas recentes continuem ou ampliem as políticas vigentes, anunciam um ataque desapiedado não só contra os trabalhadores imigrantes mas, na realidade, contra todos os trabalhadores norte-americanos. Dois dos elementos chave das medidas anunciadas que mais arroxo recebem estão vinculados à política de segurança social e às sanções aos empregadores, ou seja, mais multas para os patrões que, às ocultas, contratam trabalhadores indocumentados. Essas medidas indicam que com elas a classe dominante pretende não só empurrar ainda mais os imigrantes para a economia informal e provocar o medo entre a população, como também bloquear qualquer tentativa de organização. A adopção de tais medidas pretende aliviar a crescente crise económica e evitar assim que estale uma revolta massiva entre a população. Sob pena de sanção, os empresários devem despedir os trabalhadores que utilizem números falsos da Segurança Social. Espera-se que estas directrizes entrem em vigor dentro de dias. Os empresários durante décadas ignoraram as notificações da Administração da Segurança Social, segundo as quais os nomes e os números de segurança social dos trabalhadores não coincidiam com os dados que o governo possuía. São as denominadas «discrepâncias». Os empresários vão dispor de um período fixo, possivelmente até 90 dias, para resolver as discrepâncias. Se os documentos dos trabalhadores não se puderem comprovar, devem despedir os trabalhadores ou arriscarem-se a multas de até 10.000 dólares. As novas medidas estipulam a colaboração entre o Departamento de Segurança Social e a Administração da Segurança Social, o que pressagia a conversão da Administração de Segurança Social numa ferramenta para a aplicação da lei de imigração. Espera-se que a Administração de Segurança Social envie em breve cerca de 140 000 cartas de «discrepância» que implicarão oito milhões de trabalhadores. Um dos maiores centros de detenção do país, situado em Raymondville (Texas), aloja de maneira desumana 2.000 imigrantes, encerrados durante 22 horas por dia a um custo de 65 milhões do dólares. No centro há não só homens e mulheres, como também crianças, vestidos com uniformes de cor laranja, exactamente iguais aos de todas as prisões do país. Esta é uma prova de que hoje em dia as únicas opções que existem para a classe trabalhadora são cada vez mais o cárcere ou alistarem-se no exército, enquanto os ricos, que são os autênticos criminosos, são livres de fazer o que quiserem. Cerca de 230 mil pessoas passam por ano por alguma fase do sistema de detenção. Não há qualquer tipo de legislação ou debate de importância que se ocupe com os verdadeiros problemas. A imigração é um fenómeno internacional A grande maioria dos imigrantes que vem para os Estados Unidos não vem por gosto; vem porque não tem outro remédio. Vem arriscando as suas vidas porque as medidas norte americanas, económicas e políticas, arruinaram os seus países. Vem porque os Estados Unidos patrocinam o terrorismo nos seus países, como a política norte americana na América Central na década de 80 e o golpe de estado no Haiti na década de 90 e, mais tarde, o sequestro de Aristide, o presidente do Haiti em 2004 ou a repressão neofascista da Colômbia com o regime de Uribe. A maior percentagem de imigrantes hoje em dia procede do México. Entre os anos 2000 e 2005, o México perdeu 900 mil postos de trabalho rurais e 700 mil na indústria, tudo isso devido ao Tratado de Comércio Livre (TCL). Actualmente, a política de imigração representa um fenómeno que ultrapassa os assuntos que todas as noites comenta o racista Lou Dobbs para provocar o medo. Às forças produtivas do capitalismo actual e à expansão económica imperialista costuma dar-se o nome de «globalização». As massas oprimidas em todos e cada um dos continentes do mundo levantaram-se para exigir o fim da globalização. A histeria contra a imigração é um fenómeno mundial que se observa em todos os países capitalistas desenvolvidos. Na França, por exemplo, atacam-se e espancam-se os imigrantes turcos e africanos. Porque surge esse fenómeno internacional? Porque existe um fluxo de imigrantes que cruzam a fronteira em busca de trabalho e que alcançam hoje o número de mais de 200 milhões de pessoas em todo o mundo. É uma onda de trabalhadores em movimento, de emigração forçada de grande parte da humanidade, que alcançou proporções épicas. É o resultado do sistema capitalista que está mergulhado numa grave e profunda crise. A classe dominante do capitalismo não pode travar a resistência do povo iraquiano, que luta heroicamente contra os ocupantes. Não pode deter o fluxo humano que luta contra as condições de vida desesperadas em todo o globo. É uma crise em que os trabalhadores não podem comprar os produtos que eles mesmo produzem. É necessário utilizar o racismo para dividir uma classe trabalhadora multinacional, de forma que a sua raiva e a sua energia se dirijam contra eles mesmos em vez de ir contra a classe capitalista. O racismo tem de tratar de impedir que os Estados Unidos «se tornem coloridos», pois acha que isso é uma autêntica ameaça devido à história da opressão contra os negros. Qual é a solução para o desespero e a frustração que atinge os activistas pelos direitos dos imigrantes? Construir um movimento independente, alheio aos dos partidos pro-capitalistas, que demonstraram ao longo do tempo e durante toda a sua história que sempre defenderam os interesses do capitalismo acima dos direitos das pessoas. O movimento pelos direitos dos imigrantes deve confiar em que as pessoas unidas têm poder e não contar com os poderes vigentes. A legalização e os direitos para os trabalhadores imigrantes não vão aparecer dos grupos de poder em Washington, mas sim das ruas deste país. O movimento pelos direitos dos imigrantes nos Estados Unidos não pode avançar sem estabelecer laços com outras lutas aqui, no nosso país. Isso significa solidariedade com as mulheres, com os sobreviventes do Katrina, com os trabalhadores da Delphi, com os movimentos contra a guerra, contra o racismo, contra o sexismo e contra a opressão do colectivo lésbico-gay. Como os militantes dos movimentos de trabalhadores repetem sempre os direitos dos imigrantes são os direitos dos trabalhadores. Na semente desta luta está construção de um mundo sem fronteiras, sem exploração e sem guerras. Resistência no México No passado dia 31 de Janeiro, dezenas de milhares de camponeses e pequenos agricultores chegaram com os seus tractores e outros veículos de todas as partes do México para se reunir na DF. A eles juntaram-se activistas de destacados sindicatos militantes numa tremenda demonstração de unidade entre trabalhadores do campo e da cidade. Que exigiam? A revogação do Tratado de Comércio Livre da América do Norte, mais conhecido como TCL. Com essa acção, os camponeses mexicanos procuram apresentar um fenómeno mundial que nunca aparece nas ferozes diatribes dos especialistas de direita da CNN, como Lou Dobbs ou os candidatos republicanos, que se esforçam por culpar os imigrantes dos problemas da sociedade. Mais de 180 milhões de trabalhadores em todo o planeta viram-se obrigados a abandonar os seus países por causa das políticas económicas capitalistas numa das migrações mais colossais da história da humanidade. Esta imigração forçada é cruel e martirizante. Todo aquele que deixa o seu país na África, na Ásia, na América Central e na América Latina arrisca a sua vida em busca de subsistência. Os magnatas nos centros imperialistas utilizaram esta mão-de-obra barata e prescindível para expandir o capitalismo, esse mesmo sistema em que os seus políticos fazem campanha para deportar imigrantes em números recordes. Como noutras épocas anteriores ao crescimento capitalista, como aconteceu na época genocida e brutal da escravatura — que deu lugar ao massacre de dezenas de milhões de africanos — os trabalhadores de hoje também recebem um tratamento de mercadoria desprezível. Qual é a causa desta emigração sem precedentes de trabalhadores dos países oprimidos até aos países capitalistas economicamente dominantes. O presidente Bill Clinton assinou a lei do Tratado de Comércio Livre em Dezembro de 1993 e forçou milhões de trabalhadores e camponeses mexicanos a sair das suas terras e a cruzar a fronteira dos Estados Unidos. Cruzar essa fronteira — com ou sem documentos — não é nada de novo para os trabalhadores mexicanos, cuja relação com ela tem séculos. Mas o TCL intensificou a situação de extrema pobreza do povo mexicano. Hoje a luta contra o TCL não só contínua, como se está a intensificar, e nós saudamos esta luta. Lou Dobbs, a xenofobia e a tentativa de dividir os trabalhadores Há muito tempo que muitos militantes do movimento pelos direitos dos imigrantes e contra o racismo, nos advertiram do perigo de Lou Dobbs, locutor de noticiários da CNN e apresentador do programa «Lou Dobbs Tonight» que passa uma boa parte do seu programa a culpar os imigrantes, sobretudo os que não têm documentos, de todos os problemas da sociedade capitalista. Vejamos quem é e o que representa: Lou Dobbs é um licenciado por Harvard que provem da classe trabalhadora. Em 1980, depois de ter passado por muitos empregos na indústria das notícias foi recrutado pela recém inaugurada CNN. Trabalhou aí como assessor económico chefe e apresentador do programa «Moneyline» (Linha do Dinheiro). Em Junho de 2003, «Moneyline» transformou-se em «Lou Dobbs Tonight», programa de que tem sido director desde então. Os principais jornais qualificam reiteradamente Dobbs como populista. Esta qualificação baseia-se sobretudo na quantidade de programas que dedica à perda de postos de trabalho como resultado da «subcontratação». Muitos trabalhadores que perderam os seus trabalhos ou têm medo de perdê-los acham interessante esse ponto de vista. A revista Mother Jones, considerada progressista, publicou em 2005 uma entrevista muito cordial sobre isso. Mas não nos equivoquemos, Dobbs é perigoso para os trabalhadores e desfavorecidos. No momento em que se está a produzir uma terrível crise económica, em que se embargam muitas casas, quando a Citicorp anuncia milhares de suspensões de postos de trabalho, as perorações de Dobbs contra os imigrantes não são apenas prejudiciais, são extremamente perigosas. O populismo de Dobbs é perigoso e assemelha-se ao fascismo. Como os clássicos movimentos fascistas das décadas de 1920 e 1930, Dobbs mistura um apelo ao sofrimento dos trabalhadores com um malévolo bode expiatório que são os «outros»... e, no caso de Dobbs, os outros são fundamentalmente os imigrantes. As conversas nocturnas do seu programa vão dirigidas de modo inegável à classe trabalhadora, mas os seus pontos de vista não representam em absoluto os seus interesses. As diatribes de Dobbs querem dividir o povo, desarmar as massas, assim como provocar divisões entre a própria classe trabalhadora; querem fazer fracassar a luta dos trabalhadores contra essas pessoas a quem afirma arengar contra os ricos e poderosos. Dobbs é, de facto um demagogo no pior dos sentidos, os seus apelos ao público baseiam-se nos preconceitos e no racismo. A sua afirmação de defender «o povo trabalhador norte-americano», a «desprotegida classe média», é uma mentira. As suas arengas e os seus pontos de vista beneficiam só uma classe e só essa: a classe dirigente capitalista, que pretende obter uma grande vantagem do êxito de Dobbs. Uma classe trabalhadora que luta contra si mesma é uma classe que não pode enfrentar o seu inimigo verdadeiro: o imperialismo norte-americano. Porque está Dobbs a levar a cabo uma campanha tão odiosa, nauseabunda e racista contra os imigrantes? Porque a sua formação em Harvard lhe permite aperceber-se do futuro. No horizonte, percebe-se uma grave crise económica. Haverá mais hipotecas executadas, os armazéns Home Depot obterão menos lucros, perder-se-ão mais empregos. Não será então mais conveniente atirar a culpa para os trabalhadores imigrantes e não para os empresários? Não será mais fácil apontar o dedo a um dos sectores mais vulneráveis da classe trabalhadora? No entanto, no horizonte também se vislumbra a luta dos trabalhadores e dos oprimidos. Cedo ou tarde, mesmos alguns dos trabalhadores hoje seduzidos pela visão do mundo de Dobbs dar-se-ão conta que não são os trabalhadores imigrantes quer estão executando os despedimentos nem as hipotecas das suas casas. Não são os trabalhadores imigrantes que destruíram os diques de Nova Orleães ou penduraram as sogas de enforcar na árvore de Jena (1). Os culpados de todos os infortúnios da sociedade são a classe capitalista e o sistema capitalista e toda a sua infra-estrutura: os bancos, o governo, o exército. Crise económica nos Estados Unidos Isso está profundamente ligado com a crise económica que enfrentam os trabalhadores neste país. Num artigo destinado a apoiar a luta pelos direitos dos imigrantes, O Million Worker March Movemenmt (MWMM) sublinhou que «as corporações querem explorar ao máximo os trabalhadores imigrantes, Não querem ser responsáveis por lhes pagar o valor do seu trabalho ou de lhes dar serviços sociais e direitos democráticos básicos. Estão a utilizar a legislação contra os imigrantes para ocultar a verdade sobre o desemprego maciço e a crise que enfrentam os trabalhadores nos Estados Unidos e a enorme dívida financeira do governo (2). O MWMM acrescentou que os empresários estão a transformar os imigrantes em bodes expiatórios da crise. Esta criminalização pretende criar também um ódio xenófobo aos estrangeiros para se opor à imensa onda de mudança que está a surgir em toda a América Latina e que desafia a política mundial dos Estados Unidos. Essa perspectiva centra-se nos trabalhadores imigrantes como parte e parcela da luta de classes neste país, o que é correcto e contribui genuinamente para o debate. Afirma que os ataques contra imigrantes devem considerar-se como ataques a todos os trabalhadores. A não ser assim, a classe dirigente pode enfrentar entre si imigrantes e trabalhadores nativos deste país, em prejuízo de todos, salvo os empresários. A 10 de Agosto de 2007, o governo de Bush lançou uma nova onda de ataques contra os trabalhadores imigrantes. Incapaz de fazer aprovar no Congresso a legislação que desejava, saltou-a e anuncia uma nova ronda de políticas. Em concreto, o Departamento de Segurança Nacional e a Administração de Segurança Social iniciaram uma importante escalada na política de discrepâncias. A palavra discrepância faz aqui referência às contradições entre os números da Segurança Social que estão na base de dados do governo e os indicados pelos trabalhadores. O governo anunciou que penalizaria economicamente os empresários se continuassem a acolher os trabalhadores cujo número de Segurança Social não coincida com os dos registos do governo. Por sorte, o sindicato AFL-CIO, apoiado pelos grupos de defesa dos direitos dos imigrantes, apresentou uma demanda judicial contra a dita política. Numa sentença definitiva emitida a 31 de Agosto, um juiz federal proibiu temporariamente que o organismo da Segurança Social envie avalanches de cartas de discrepâncias aos empresários. Obviamente, o governo dos Estados Unidos, não quer fechar as incontáveis indústrias cujos lucros dependem do trabalho imigrante. O que o governo e a classe capitalista aspiram conseguir é que o trabalho imigrante seja mais manejável e controlável e, portanto, mais rentável. Comentando esta política, o conhecido jornalista David Bacon, que escreveu durante décadas sobre imigração, afirmou que «o impacto [do anúncio do Departamento de Segurança Nacional] será catastrófico». Bacon deixa bem claro de que maneira essa política de «discrepâncias» foi utilizada para destroçar iniciativas sindicais, como sucedeu nos terríveis assaltos terroristas perpetrados por grupos de agentes de imigração e alfândegas no matadouro de suínos Smithfield, em Tar Heel (Carolina do Norte), e na campanha de Woodfin Suites, na Califórnia. Bacon também lança luz sobre o que está por detrás na escalada na política das discrepâncias. Escreve: «Gutierrez, o Secretário de Comércio, declarou que os empregadores que receiem a perda dos seus trabalhadores poderão acolher-se aos programas vigentes de trabalhadores temporários, através dos quais as corporações podem recrutar mão-de-obra fora dos Estados Unidos e trazê-la com vistos condicionados à existência de emprego. O movimento de defesa dos direitos dos imigrantes por seu lado também unirse à comunidade afro-norte-americana. Deverá estabelecer vínculos, sobretudo com os sobreviventes do Katrina e com os activistas que estão a lutar em seu nome. Se estas duas lutas se unissem realmente e marchassem lado a lado, o movimento seria irresistível. A classe dirigente faz tudo o possível para promover divisões entre as comunidades latinas e negras, porque os patrões sabem que se os negros e os latinos se unirem terão muita força, uma força incrível que pode articular a luta dos imigrantes da Ásia, do Pacífico, da África, e do mundo inteiro. E poderia atrair trabalhadores de todas as nacionalidades, incluindo os norte americanos brancos. Lénine, o líder do partido bolchevique e da Revolução russa, dedicou boa parte da sua energia a resolver as contradições entre nacionalidades na Rússia, essa casa-prisão de nações, e mais tarde na União Soviética. Centrou-se especialmente nas responsabilidades da classe operária na nação russa, que era a nação opressora das outras nacionalidades. Seguindo o seu exemplo, os activistas marxistas dos Estados Unidos, devem também esforçar-se com paixão por despertar a solidariedade dos trabalhadores nativos dos Estados Unidos, em favor da causa dos imigrantes. Devemos exigir que o movimento trabalhador dê um passo em frente. Precisamos que as forças que lutam contra a guerra, o clero progressista, outras forças sociais se nos unam. Temos que transformar isto num movimento em que os imigrantes não estejam sozinhos, mas sim apoiados em todos os flancos por aliados que estão com eles e se negam a que os dividam. Tanto o grande rio humano do Primeiro de Maio de 2006 como o menos caudaloso mas também impressionante de 2007 demonstraram que a campanha dos empresários para promover as lutas internas pelos salários — no mundo e nos Estados Unidos — se voltou contra a classe dirigente. Trouxe uma energia renovada, sobretudo no sector imigrante do movimento sindical, que se vai alargar a todos os sectores dos trabalhadores conforme a crise piorar. E contará com os activistas marxistas e os seus partidos para se organizar, num espírito de solidariedade internacionalista, pela luta comum da classe trabalhadora. Notas: [1] Http/news.bbc.co.uk/hi/spanish/international/newsid-7005000/7005220.stm [2] Http/www.ptitionline.com/bbunity/petition.huml * Uma lideres da New York May, 1st Immigrant Rights Coalition, coeditora dp Instituional Action Center — fundado por Ramsey Clark — e editora do jornal Workers World e da sua página em espanhol, Mundo Obrero Comunicação apresentada no Seminário Internacional “Os Partidos e uma Nova Sociedade” realizado no México em Março de 2008 Tradução de Manuela Gouveia