Brad Pitt, o menino de ouro de Hollywood

Transcrição

Brad Pitt, o menino de ouro de Hollywood
CAPA
o doce
abismo
dos
radical
Brad Pitt, o menino de ouro de Hollywood,
envelheceu, seguiu seus instintos
e descobriu o óbvio: no final das contas seu
grande apoio é a família
50
FOTO Victoria Will/AP
Por harold von kursk
ALFA FEVEREIRO 2013 37
CAPA
E
Jogo de Espiões (2001)
O Curioso Caso de Benjamin Button (2008)
38 ALFA FEVEREIRO 2013
Nada é Para Sempre (1992)
Doze Homens e Outro Segredo (2004)
Bastardos Inglórios (2009)
Lendas da Paixão (1994)
Babel (2006)
The Counselor (2013)
FOTOs divulgação
Johnny Suede (1991)
le foi o menino de ouro
de Hollywood, abençoado por uma beleza apolínea e carregado daquele pragmatismo estoico
do meio-oeste americano que definiu
lendas do cinema como Gary Cooper e Robert Redford. O problema é
que, enquanto as mulheres o adulavam e os homens o invejavam, Brad
Pitt parecia afundar em um mal-estar persistente sobre o estado das coisas. No auge da fama, confessou que
sofria de depressão, acreditando que
seus papéis de cinema ficavam aquém
de suas expectativas. Além disso, achava que a bajulação era imerecida. Talentoso e ambicioso, Pitt então tentou
sacudir sua imagem escolhendo personagens peculiares em filmes corajosos.
A impressionante lista incluiu alguns
dos melhores lançamentos dos últimos
anos: Clube da Luta, Snatch, Bastardos Inglórios, A Árvore da Vida, Moneyball. Mas na hora em que a consagração como ator chegou, ele novamente
já estava interessado em outra coisa. À
beira dos 50 anos, que ele completará
em 2013, diz não ter a mínima dúvida
de que seu grande feito foi formar uma
bela e numerosa família multiétnica.
“Encontrei uma mulher que amo, e as
crianças expandiram meu mundo para
muito além do que imaginava. Isso é
muito gratificante, ainda que eu não
consiga mais dormir”, afirma. “Ser pai
de uma grande família amorosa é o
ponto alto da minha vida.”
O que parece aflorar na maturidade de Pitt são os instintos naturais de
um homem criado em uma pequena
cidade do Missouri. Hoje ele trata de
reorientar para o afeto a energia que
antes direcionava para a competição e
o trabalho. Ainda que tenha se rebelado contra a severa educação religiosa
que teve dos pais, sabe que boa parte
de sua força vem do carinho e do respeito que recebeu na infância. “O que
mais quero é capacitar e guiar meus filhos para que eles tenham uma vida
boa”, diz. “Sinceramente, tudo se resume à família, e acho que ela define
o homem acima de tudo.”
É evidente que esse seu maior
projeto começou quando ele conheceu e se apaixonou por Angelina, no
set de filmagens de Sr. & Sra. Smith,
em 2004. Ela estava à procura de um
homem para ser pai de seus filhos adotivos. O casamento de Pitt com Jennifer Aniston entrava em colapso. E
assim ele acabou cedendo aos encantos de
sua sexy e turbulenta
coestrela. Angelina já
havia adotado Maddox,
e a perspectiva de ficar com ela e ainda se
tornar pai instantaneamente cumpriu um
sonho do ator. Na sequência, eles adotaram
mais duas crianças, e Angelina finalmente decidiu ter seus próprios filhos
biológicos, algo a que sempre tinha resistido. “Brad se sente tão perto de nossos filhos e é tão dedicado a ensinarlhes o máximo que pode sobre a vida
e o mundo que eu simplesmente me
emociono”, ela diz. O casal tem seis filhos – Maddox, 11 anos, Pax, 9, Zahara, 8, Shiloh, 6, e os gêmeos Vivienne
e Knox, 4 – os três primeiros adotados
e os três últimos biológicos.
Pitt admite que a paternidade é
seu projeto mais demorado e decisivo. A ela credita, em grande parte, seu
senso de maturidade e a definição dos
propósitos de sua existência. “As crianças seguram um espelho para você”,
ex­plica. “Não se pode dar desculpas.­
Você tem de se certificar se elas es­
cova­ram os dentes e comeram o ca­fé­
da manhã. Precisa estar presente pa­ra
acalmá-las se acordarem no meio de
um pesadelo.” Ser pai, ele diz, o levou
a ser mais reflexivo sobre a própria experiência. O tempo inteiro se questiona se está criando os filhos adequadamente e se o tipo de educação que dá
os transformará em pessoas melhores.
O que Pitt concebe como família é um lugar seguro, onde você pode
crescer, experimentar, cometer erros
e aprender com eles sem muito risco.
Seu ponto de vista é o de uma criança
que não precisa sofrer para se preparar para os desafios da
maioridade. A questão
da proteção é fundamental, mas as condições seguras precisam
ser dadas com o objetivo de lançar os filhos
ao mundo. Os pais, segundo ele, devem ser
capazes de ajudá-los
para que possam lidar
com seus próprios problemas. Pitt tornou-se particularmente próximo do filho mais velho Maddox, com quem
viaja regularmente e para quem dá lições de arquitetura e história em troca
do prazer da convivência. Este é precisamente o tipo de ligação familiar que
ele diz colocar acima de tudo e o faz
pensar, inclusive, em quanto tempo
ainda continuará atuando. Está convencido de que ser ator é tarefa para
os mais jovens. “Sei que não vou fazer
isso quando tiver 80”, ri.
“Ser pai de
uma grande
família
amorosa
é o ponto
alto da
minha vida”
O CONSERVADOR CORAJOSO
Embora seja um caminho aparentemente conservador, a guinada familiar de Pitt obedece a um impulso de
mudança. A decisão de ficar com AnALFA FEVEREIRO 2013 39
gelina e criar um vasta prole foi uma
transformação radical em sua vida. E
não foi a primeira. No final dos anos
1980, quando abandonou a faculdade de jornalismo, duas semanas antes
de se formar, e dirigiu até Los Angeles com 300 dólares no bolso, movido
por uma vaga epifania de virar ator, ele
ainda acreditava em algum tipo de sonho americano e se comprometeu a
levar uma vida inspirada. “Queria fazer algo diferente e tive a ideia de me
tornar ator para ver até onde isso me
levaria”, lembra. Foi a primeira vez
que confiou realmente nos instintos.
Uma década depois, estava em
uma crise brava, cansado de aduladores e
incomodado com sua
conversão em símbolo sexual. Sentia-se
um ator qualquer, empacotado pela indústria. Chegava em casa
à noite para se esconder. “Passei boa parte
de meus 30 anos triste e perdido”, confessa. “Fiquei realmente doente nessa época, não sabia
lidar com essa condição de celebridade. Fumava muita maconha e passava o tempo inteiro esticado no sofá.”
E esse sentimento de mal-estar só foi
crescendo. Era pura depressão. Uma
noite Pitt concluiu que estava desperdiçando seu tempo e que, mais uma
vez, era hora de mudar: havia se tornado ator para fazer filmes sérios. “Percebi há alguns anos que o tempo é curto
e passei a entrar só em projetos realmente importantes para mim e que resistirão ao teste da longevidade, que
envelhecerão sem perder a força”, diz.
“Há momentos na nossa vida em que
precisamos seguir os instintos e tomar
uma nova direção.”
O encontro com Angelina foi mais
um desses momentos, talvez o mais intenso de todos. Pitt torna-se filosófico
quando fala dessa mudança, que considera dramática. Não que muitos homens discordem de sua escolha, mas
poucos estariam dispostos a se comprometer com a responsabilidade de
criar uma grande família. Desde o início, ele entendeu o que Angelina esperava dele. “Preferi não ter filhos tão
cedo, mas chegou a hora da grande
guinada”, explica. “As crianças são um
valor dominante na minha vida agora, mas não eram antes.” Pitt sabia que
precisaria esgotar todas as suas necessidades como ator e viver o máximo de experiências para poder ser
um bom pai. Hoje, é
sensível à forma como
divide seu tempo entre
cuidar da família e entregar-se à paixão pelo
cinema. “Aprendi a
gastar meu tempo com
sabedoria”, afirma.
O ator admite que o envelhecimento é uma forma de alívio e até de
libertação de seus dias antigos, quando era objeto de adoração irracional
dos fãs e perdeu o rumo. “Ser mais velho é realmente doce e melhor em alguns aspectos”, diz. “Parei de ser agarrado nas ruas e vi que minha relação
com o público se aprofundou e passou a ser orientada pela qualidade do
meu trabalho.” Com a idade avançando, diminuiu também a sensação de
ser apenas uma mercadoria. Seus interesses e prazeres se multiplicaram,
e a atuação deixou de ser o único deles. Hoje, sua prioridade é aproveitar o
tempo livre e viajar com Angelina e a
prole. Ao longo de um ano típico, a família mora em pelo menos três casas.
“Ser mais
velho é
realmente
doce e
melhor
em alguns
aspectos”
40 ALFA FEVEREIRO 2013
A maior parte do tempo ficam em Los
Angeles, numa mansão de três andares, cercada de árvores e relativamente discreta para os padrões hollywoodianos. Quando tem oportunidade, a
tropa se desloca para o castelo Miraval,
uma propriedade de 40 milhões de dólares, 35 quartos e vinhedo particular
localizada perto da aldeia de Correns,
na Riviera Francesa. O casal também
tem uma casa em Londres, onde costuma passar o verão com as crianças. O
castelo da França, porém, é a residência preferida. Não só oferece proteção
adicional dos paparazzi, como permite
que a família se sinta confortável para
ir às compras na aldeia local ou caminhar tranquila pelas praias vizinhas.
Pitt e Angelina casaram ali. “Ainda me
sinto inquieto e gosto cada vez mais de
viajar. Quero ver o mundo, ver tudo o
que for possível”, declara.
Pitt não tem dúvidas de que sua
atitude é moldada pela forma como
seus pais criaram os três filhos – ele,
seu irmão e sua irmã. Graças à educação e ao afeto que recebeu, foi capaz
de crescer com uma perspectiva positiva e uma boa compreensão do senso comum. Diz querer ser capaz de
transmitir seus valores aos filhos para
que respeitem as outras pessoas e, apesar de serem crianças com um monte
de privilégios, entendam que, às vezes,
a vida pode ser muito difícil, tanto no
sentido físico, por causa de uma doença ou um acidente, como econômico.
“O foco em fazer minha família feliz
e segura me tornou mais generoso e
amoroso”, afirma. “Tenho a vida que
sempre quis.” Ainda que Pitt, a caminho dos 50 anos, não admita isso, por
modéstia ou por qualquer outro motivo, hoje ele é provavelmente mais feliz do que jamais foi em qualquer outro momento da sua trajetória. A
FOTOs Victoria Will/AP
CAPA
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