EM FESTA
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EM FESTA
ConVisão ANO 3 - NÚMERO 19 - Fevereiro de 2007 R$ 6,00 MENDOZA EM FESTA Visitar Mendoza é sempre uma festa. Considerada uma das capitais mundiais do vinho, em qualquer época do ano a cidade é sinônimo de boa gastronomia e ótimos vinhos. Confira algumas dicas de Cesar Adames sobre onde comer e ficar e o que comprar. Pág. 3 Casa del Visitante Família Zuccardi - restaurante da vinícola Zuccardi, em Mendoza Circuito do vinho Experimente os pratos e os vinhos das degustações do ano passado O QUE COMPRAR Consulte a nossa seleção de vinhos do catálogo da Vinoteca Importadora. Pág. 7 Um orvalho que veio do mar Fernando Quartim fala de alecrim e do restaurante Rosmarino, que pode integrar um Circuito do Vinho, onde encontramos um ótimo serviço em ambiente bastante agradável, em que o vinho, sempre presente, faz um final feliz! Pág. 11 ESPUMANTE ROSÉ NA MODA Conheça o novo lançamento da Miolo. Pág. 14 2 Fevereiro de 2007 Jornal Vinho & Cia Editorial Verão e consumo dos vários tipos de vinhos ANO 3 - Nº 19 Fevereiro de 2007 EDITOR E ntramos no terceiro ano do Vinho & Cia, supervalorização dos tintos, porém pode estar ligada tamnesta edição de verão, com o objetivo claro bém a preconceito oriundo há alguns anos do famoso alemão de levar a você, leitor, informações diferen- da garrafa azul. Esse vinho teve grande aceitação durante ciadas desse mundo que cresce fortemente um tempo, mas depois o seu consumo virou sinônimo de nos últimos anos. Para explicar em números essa frase, nós mau gosto, hábito de segunda categoria, que infelizmente se brasileiros importamos cerca de 25% mais vinhos em 2006 estendeu a todos os brancos. Há, contudo, ótimos rótulos de em comparação a 2005. brancos no mercado, e deixar de tomá-los, principalmente No verão o consumo de vinhos é tradicionalmente menor num clima como o nosso e com muitos pratos leves e delino Brasil, mas é uma época apropriacados da nossa cozinha, é no mínimo da ao consumo dos tipos mais leves: a desperdiçar oportunidades de prazer. No verão o preferência nacional por tintos poderia Mas preconceito mesmo sofrem os consumo de vinhos é ceder espaço aos espumantes, brancos rosés. O colunista Walter Tommasi mais tradicionalmente menor adiante nesta edição comenta o assunto. e rosés. O hábito do consumo de espumantes Os rosados também são vinhos leves e no Brasil, mas é uma cresce a cada dia no país, e hoje há refrescantes, que podem ter o seu espaço época apropriada ao muitos rótulos nacionais e importados a de apreciação em vários momentos e consumo dos tipos preços bem mais em conta do que as tracom companhias diferentes. Assim como dicionais champagnes francesas. É uma há produtos ruins desse tipo de vinho, mais leves bebida refrescante que pode ser apreciaexistem também bons rótulos, e seu conda hoje não mais apenas em momentos de celebração, mas sumo vem sendo incentivado por importadoras e vinícolas. também como drinque, acompanhando refeições leves e até Muitas coisas no Brasil são inexplicáveis, mas felizmente mesmo na praia ou na piscina com canudinho. no mundo do vinho e no Vinho & Cia buscamos respostas Consumimos muito pouco vinhos brancos, menos de 2% pelo lado descontraído da vida e pelo prazer, enquanto no do total. Um produtor italiano em recente visita ao Brasil mundo real não encontramos soluções para violência, falta perguntou-nos porque isso acontece considerando o nosso de ética, corrupção, certas práticas políticas, desigualdade clima. A resposta pode estar relacionada a uma fase de e a tantas outras mazelas. “ ” Assine e aprecie sem moderação O Jornal Vinho & Cia traz matérias e artigos deliciosos sobre o fascinante mundo do vinho, além de roteiros e dicas. Tudo de uma forma descomplicada e irreverente pra você curtir ainda mais o ladodescontraído da vida… Assinatura anual (11 edições) R$ 70,00 Ligue (11) 1-7 ou mande um e-mail para [email protected] Será enviado boleto bancário para pagamento. Nome ou Razão Social Endereço Cidade Fone ( ) e-mail CPF ou CNPJ CEP UF Al. Araguaia, 933, 8o. andar – Alphaville 06455-000, Barueri - SP +55 (11) 4196-3637 Regis Gehlen Oliveira PUBLICAÇÃO ConVisão Al. Araguaia, 933, 8o. andar Alphaville 06455-000, Barueri - SP +55 (11) 4196-3637 [email protected] www.jornalvinhoecia.com.br REDAÇÃO Adriana Bonilha Oliveira Beto Acherboim Cesar Adames Denise Cavalcante Didú Russo Euclides Penedo Borges Fernando Quartim B. Figueiredo Jaqueline Barroso Jorge Monti de Valsassina José Ivan Santos Sérgio Inglez de Souza Valfrido Rico (cartum) Walter Tommasi DESIGNER GRÁFICO Aristides Neto PUBLICIDADE Álvaro Cézar Galvão [email protected] ASSINATURAS (11) 4196-3637 [email protected] CIRCULAÇÃO EM SP Jeferson Tavares (JM Transportes) IMPRESSÃO O Jornal Vinho & Cia é uma publicação da ConVisão dirigida ao segmento de enogastronomia. Circula principalmente na Grande São Paulo e no Rio de Janeiro para público leitor selecionado, determinado especificamente pelo interesse no assunto. Seu conteúdo é descontraído, abrangendo o mundo do vinho e suas relações com o lado gostoso da vida, por meio de linguagem fácil e inteligente, com textos únicos e compromissados com o leitor e o segmento. Os artigos e comentários assinados não refletem necessariamente a opinião do Jornal. A menção de qualquer nome neste Jornal não implica necessariamente em relação trabalhista ou vínculo contratual remunerado. Fevereiro de 2007 Jornal Especial Mendoza em Festa Por Cesar Adames direto de Mendoza Visitar Mendoza é sempre uma festa. Considerada uma das capitais mundiais do vinho, em qualquer época do ano a cidade é sinônimo de boa gastronomia e ótimos vinhos. O mês de fevereiro corresponde ao fim da primavera e ao verão de Mendoza, e é a época alta do turismo local. O tempo é quente e seco e só resta neve no topo dos picos mais altos dos Andes. Em fevereiro ocorre o evento Masters de Gastronomia y Vinos na América do Sul no hotel Park Hyatt e nas principais vinícolas. Por conta disto Vinho & Cia separou algumas dicas para você aproveitar Mendonza com o que ela tem de melhor agora e depois. ONDE FICAR Park Hyatt Mendoza – Chile 1124 – www.mendoza.park. hyatt.com Instalado num magnífico edifício restaurado com fachada colonial espanhola, o hotel fica convenientemente loca- lizado no centro da cidade, a apenas 15 minutos das principais vinícolas de Mendoza e a menos de duas horas dos maiores resorts de esqui. Possui 186 quartos e suítes que asseguram um ambiente refinado e confortável. Park Suítes – San Lorenzo, 660 - www.parksuites.com. ar Com quatro meses de inauguração o hotel Park Suítes oferece andares temáticos patrocinados por vinícolas de Mendoza. Os hóspedes podem ficar no andar Catena Zapata, Norton, Trapiche, Zucardi, entre outros, e em cada quarto é disponibilizada uma seleção de vinhos da vinícola escolhida, além de fotos, quadros e livros relacionados ao produtor. ONDE COMER Restaurante Azáfran – Av. Sarmiento, 765 Próximo do Park Hyatt, este restaurante-adega é conhecido por ter um ambiente rústico mas acolhedor, uma combinação perfeita de gastronomia local com os melhores vinhos argentinos. Casa del Visitante Família Zuccardi – Ruta Prov. 33 km 7,5 O restaurante da vinícola Zuccardi é uma ótima opção de almoço, em que se pode degustar dois tipos de menus. O Tradicional inclui empanadas, salada, carnes assadas ao estilo portenho e sobremesas. O menu Degustação inclui pratos elaborados com ingredientes locais, que variam de acordo com a estação do ano e busca uma harmonização entre os pratos, vinhos e azeites varietais da Família Zuccardi. Aberto todos os dias mediante reserva. Tel: 54-261-441-0000 reservas@familiazuccardi. com ONDE COMPRAR A maioria dos vinhos argentinos pode ser comprada diretamente nas bodegas que ficam nos distritos de Lujan de Cuyo, Maipu, Godoy Cruz. É possível visitar e comprar vinhos das Finca Flinchman, Catena Zapata, Bodega La Rural, Zucardi, entre outras. No centro de Mendoza várias lojas apresentam outros vinhos de vinícolas pequenas que não estão no roteiro de visitação tradicional. Vinho & Cia Fevereiro de 2007 Jornal Vinho & Cia Notícias Bebemos a cada ano mais vinhos importados Vinhos franceses de Jean Gagnerot Boa notícia vem das estatísticas de importação de vinhos finos relativas aos últimos anos. Os brasileiros bebem a cada dia mais e melhor. Segundo dados do consultor Adão Morellatto, membro da Abba – Associação Brasileira dos Importadores e Exportadores de Bebidas e Alimentos, a importação em número de garrafas de vinhos cresceu em 2006 cerca de 25%, ou seja, um quarto a mais em comparação a 2005. Foram impor- Uma importadora pequena do Rio de Janeiro que foca num nicho de mercado é a Vitis Vinifera. Seu diretor José Augusto Saraiva está com pretensões ambiciosas para 2007 de ampliar bastante o seu catálogo. A primeira ação neste sentido é com vinhos de Jean Gagnerot, tradicional “maison” da região da Borgonha francesa, que expandiu sua atuação também para outras regiões, como Beaujolais e Côtes du Rhone. Vinho & Cia provou exemplares da linha e recomenda alguns, como o delicioso Bourgogne Chardonnay 04 (R$79 ao consumidor), com aroma amanteigado e sabor amendoado; o Hautes Côtes de Nuits 04 (88), com tados 45 milhões de litros ante 36 milhões. Cresceu mais ainda em qualidade, se considerarmos como parâmetro de medição o valor dos vinhos. Foram importados 118 milhões de dólares na origem em 2006, contra 84 milhões em 2005, o que significa 40% a mais. Considerando o volume importado, a preferência foi pelos chilenos (30%), argentinos (27%), italianos (18%), portugueses (12%) e franceses (7%). excelente aroma e final forte de grande vinho, o Puligny Montrachet 04 (R$240), um vinhaço, com aroma estupendo e sabor delicioso; e o Aloxe-Corton 03 (236), outro vinhaço, equilibrado, com ótimo mentolado. Vinhos de pequenos produtores chilenos Decanter traz ao Brasil espumantes Ferrari O nome não tem nada a ver com a famosa marca de carros esportivos, mas os espumantes Ferrari têm na Itália prestígio semelhante no segmento de vinhos. Por exemplo, o espumante top, Giulio Ferrari (R$504 ao consumidor), foi o único vinho do país a receber 16 vezes a cotação 3 bicchieri do guia Gambero Rosso. Agora eles podem ser encontrados no Brasil por meio da importadora Decanter. Tivemos a opor- tunidade de prová-los, e eles apresentam uma elegância diferente das champagnes francesas. Na linha estão o Ferrari Maximum Brut (R$157), o Ferrari Rosé (R$171) e o Ferrari Perlé Brut 2001 (R$184). A proposta é de certa forma diferenciada: oferecer vinhos de pequenos produtores das várias regiões chilenas. É a intenção da importadora Terramatter, do Rio de Janeiro, que nos instiga a conhecer as variadas características de rótulos que seriam difíceis de encontrar em catálogos de importadoras maiores ou, de modo mais amplo, em supermercados. Marcio Moualla, sócio da importadora, afirma que seus produtos são encontrados principalmente em restaurantes, ou diretamente na importadora. Vinho & Cia teve a oportunidade de provar alguns rótulos, que valem a pena ser conhecidos pelas suas características, pois cada produtor tem a preocupação de levar aos vinhos toda a peculiaridade do seu terroir. São, sem dúvida, vinhos diferentes da média do mercado. O Calyptra Sauvignon Blanc 06 do Vale do Cachapoal (R$ 40), é bem frutado e tem forte presença mineral. O Chocalan Pinot Noir Gran Reserva 05, Maipo Costa (R$98) tem belo aroma e é muito gostoso. O Laura Hardtwig Gran Reserva 00, Colchagua (R$90) foi o melhor provado, com aroma bem diferente e é muito redondo. O Alcar de Terravid 01, Maule (R$90) é um tanto taninoso mas agradável. O Alejandro Hernandez Premium Cabernet Sauvignon 01, Maipo (R$90) tem intenso aroma de menta e o Huelken Cabernet Sauvignon Premium 02, Maipo (R$90) tem bom aroma de mamão e final forte de tostado. Terramatter: (21) 3385-4675 Vinhos Speranza Por Didú Russo Quando era criança e isso faz muito tempo, havia poucas pizzarias em São Paulo. Lembro-me da Monte Nero e da Monte Verde na Barra Funda, do Paulino na Pamplona, da Castelões lá longe no Brás, da Zi Terezza na Rua da Consolação, que ainda era estreita naquela época, e da Speranza, a mais napoletana de todas. Ficava e ainda fica, na Rua 13 de maio, 1004. Era super italiana, com a família morando no andar de cima e trabalhando no andar de baixo. Você era literalmente carregado para dentro, pelo aroma da massa assando no forno a lenha: dava para ver a muzzarella das pizzas borbulhando dentro do forno, junto com o molho de tomate, enquanto o sr. Antonio salpicava por cima um punhado do manjericão. Quase ninguém sabe, mas foram os Tarallo, o Antonio e sua Mãe Speranza que introduziram no Brasil a Marguerita, o Calzone e o Tórtano, nome daquele pão de linguiça bem alto e que vem numa fatia grossa à mesa, e que hoje as pizzarias da moda copiam numa boa. O original é feito lá. Essa famíla, que tem nome de um biscoito salgado que os italianos costumam molhar no vinho, o “Tarallo”, sempre foi pioneira. Abriu uma filial em Moema (Av. Sabiá, 786), há trinta anos, e agora lança uma linha de vinhos com sua marca. Os vinhos são de um produtor que cresceu comendo as pizzas do Sr. Antonio, o simpático e competente Angelo Salton. Eles estão lançando quatro rótulos, um Chardonnay, um Merlot, um Cabernet Sauvignon e um Tannat, que, aliás, na minha opinião é o melhor deles. Os rótulos trazem fotos antigas, de dona Speranza, de Antonio, etc., o que empresta o prestígio e endossa a qualidade dos vinhos, que são bastante adequados à proposta de acompanhar uma ótima pizza com um vinho da casa. Eles custam na mesa R$25. Bom apetite e um brinde à tradição napoletana de São Paulo. Saúde! Fevereiro de 2007 Jornal Vinho & Cia Mundo do Vinho Adegas com descontos Espumantes nas praias do sul As lojas Maison des Caves, do grupo Art des Caves, estão com promoção em fevereiro enquanto durarem os estoques. É válida para adegas em exposição, com descontos de 20% a 40%. As lojas em São Paulo são no Shopping D&D, Morumbi Shopping e al. Gabriel Monteiro da Silva, e há um show room na fábrica da Av. Guarapiranga. No Rio de Janeiro a loja está no Casa Shopping e em Brasília no Park Shopping. A Vinícola Perini teve uma iniciativa muito interessante, idealizada na campanha “Dias melhores, verão”. Em fevereiro distribuiu em várias praias do Rio Grande do Sul espumantes Perini acompanhados de folhetos informativos de uma promoção: na compra de um produto Perini, o consumidor ganhava uma taça para espumante. Nova gestão na SBAV-SP A Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho (SBAVSP) está a partir deste ano com nova diretoria executiva. Daniel Pinto, médico, empresário e professor de enologia, assumiu a presidência no lugar de Edecio Armbruster de Moraes. A vice-presidência passa a ser exercida por Odila Armbruster de Moraes. Passaporte para a União Européia Os vinhos e espumantes elaborados no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, e que ostentam o Selo de Indicação de Procedência do Vale dos Vinhedos, passam a ter entrada livre nos países que integram a União Européia. A Indicação Geográfica (IG) do Vale acaba de ser reconhecida pelos europeus. Só Queijo e vinhos em Campos O Restaurante Só Queijo de Campos do Jordão está agora com uma enoteca no seu espaço. Em janeiro inaugurou com uma degustação de vinhos da Enoteca Fasano. Vinhos e brandy no carnaval baiano O Miolo Wine Group participou da folia no Carnaval Baiano pelo quinto ano consecutivo. Foi nos camarotes de Salvador, entre eles o Expresso 2222, do ministro da Cultura, Gilberto Gil e da Daniela Mercury, com os espumantes Brut Rosé e Brut Miolo, o vinho Seleção Rosé e o Brandy Osborne. Degustações top na Expovinis A Expovinis deste ano será de 24 a 26 de abril em São Paulo, em novo endereço, na Bienal do Ibirapuera. Além das exposições na feira, estão confirmadas degustações top de Mikäel Laizet (enólogo do D&M Rolland Laboratory), Patricio Tapia, (do Guia Descorchados do Chile) e Anibal Coutinho (crítico português). Italianos na Vinea Store A loja e importadora Vinea Store, no bairro do Paraíso em São Paulo, amplia seu catálogo de rótulos exclusivos com a linha de italianos da vinícola Palagetto, entre eles, Chianti Colli Senesi DOCG 2004 (R$39), Rosso Di Montalcino DOC 2004 (R$89) e o Brunello Di Montalcino DOCG 2001 (R$ 245). SÉRGIO INGLEZ DE SOUZA O vinho e a sensualidade humana (1) A zdegustação de um vinho vai muito além do ato de sorver gordas talagadas coroando-as com um estridente estalar de língua. Apreciar implica entrega e deleite. Beber apressadamente só faz rebaixar o apreciador à condição de mero aprendiz de amante, sem noção dos prazeres ocultos sob pequenas nuanças. Degustar é um ritual praticado sob a empatia gole-a-gole, num crescendo sutil que estimula nossa sensibilidade, incitando-nos a alçar vôos imaginação afora, onde o vinho permeia a própria sensualidade humana. Há muito pretenso conhecedor de vinho pecando pela, digamos, ejaculação precoce. Quantas vezes um troglodita não apanha uma garrafa onde o vinho evoluiu em ritmo lento de reações da química fina, quase repouso interno e, sem o menor cuidado, a manuseia com movimentos bruscos, culminando por arrancar-lhe a rolha num descuidado golpe seco final. Um verdadeiro estupro! Em seguida, sem a menor sensibilidade, despeja o vinho num recipiente qualquer e sorve-o num glu-glu automático, como se fosse uma bebida sem alma. Se, em lugar da garrafa de vinho fosse uma mulher, este egoísta seria um cavalgador solitário que não prestaria atenção à sua companheira que, coitada, não teria a menor chance de chegar lá... Embora a sensualidade original tenha supostamente se perdido na fábula da maçã proibida e nos conselhos rasteiros da serpente, nada nos tira a certeza de que tudo começou num dia como outro qualquer, na chatice do primeiro condomínio fechado da humanidade, o Paraíso. Ali, Adão e Eva, embalados numa conversa-vai-conversa-vem, inventaram de tirar a limpo suas diferenças físicas. Corações disparados, adrenalina à toda, ocultaram-se entre as ramagens de uma paradisíaca videira, tornando-a o primeiro motel da Terra. Estava inaugurada a sexualidade humana! Momentos após, saíram disfarçando, folha de parreira cobrindo a genitália e assobiando aquela música do Jota Quest: “fácil, extremamente fácil...”. Por esta natural entrega aos prazeres da carne, o casal original foi botado para correr... correr mundo afora e, como resultado, somos bilhões de seres humanos sobre a face do planeta embalados pelo pecado original. Muitas vindimas mais tarde, as exuberantes uvas das encostas do Monte Ararat foram transformadas em vinho por Noé, empolgado que estava pelo sucesso de sua arca, após um cruzeiro que tinha a nobre missão de salvar do dilúvio casais sexualmente ativos para a perpetuação das espécies. Como comemoração do grande feito, transformou as uvas em vinho, tomou um porre bíblico e, empolgado, saiu nu da barraca mostrando todas as suas vergonhas. Era o vinho trazendo liberação do comportamento humano. Em conexão com estes antecedentes, a mitologia grega vinculou o vinho à sensibilidade humana, de pronto oficializando uma descrição que, com boa dose de imprecisão cronológica, explicava a sua descoberta. Consta que a revelação do vinho coube ao deus Dionisio, protetor do vinho e da viticultura, o mesmo Bacco dos romanos. Ele vivia no Olimpo, mas passeava freqüentemente pelas pla- nícies gregas para atividades populares, acompanhado de faunos e musas. Certo dia, brincando de pega-pega, no meio dos parreirais às margens de um lago, mordiscavam cachos de uvas, lançando alguns deles nas águas do lago. Este embalo deve ter se avançado no tempo até que todos, exauridos, estiraram-se na relva e adormeceram. Mais tarde, acordaram sedentos e correram para a margem do lago em busca de água. Esta, repleta de cachos de uva madura, formava com eles um composto novo, uma mistura que fermentou e se alcoolizou. A bebida, além de saciar a sede, levou-os a sentir um êxtase inebriante de alegria e excitação. Experimentaram de corpo e alma as qualidades afrodisíacas daquele vinho que, para todo o sempre, foi eleito o mensageiro do prazer e da alegria, consumo obrigatório em reuniões festivas. Esta tradição grega desembocou na invenção dos primeiros recipientes para tomar vinho. Contam as más línguas que a forma destes primeiros cálices foi influenciada pelo costume da época de se derramar o vinho no colo da companheira e sorvê-lo pouco abaixo de seus seios. A partir dai, os primeiros cálices tomaram a forma dos seios de uma mulher de beleza exemplar na Antiga Grécia: Helena de Tróia. A conformação rasa e bordos sutilmente alargados, eternizaram a delicadeza daqueles seios formosos. O vinho e a sensualidade seguiram sempre unidos, como no intrincado jogo amoroso, no qual existe sempre um ritual a ser cumprido a dois. Um dos momentos mais importantes do relacionamento homem-mulher está justamente no despertar do interesse, nos olhares furtivos, roubados ao controle das outras pessoas, num jogo malicioso que desemboca numa crescente atração. É justamente assim que começa a degustação de vinhos: um flerte inicial de avaliação visual. Com o cálice de vinho à frente, mergulhamos num jogo sensorial de descobertas de cor, brilho, matizes, detalhes que vão enchendo os olhos, a boca com uma gulosa saliva premonitória. Numa fase de maior intimidade, o nariz prevê delícias, aproxima-nos daquilo cuja profundidade queremos alcançar. Que homem não se sentiu atraído, envolvido pelo mistério das insinuações de um cheiro feminino, do aroma de um vinho? Algumas pessoas têm sua sensibilidade atraída pelo aroma adocicado, outras pelo perfume de flor, outros pelo cheiro de fruta... Podemos até, ousando, afirmar que o nariz é sensual. Os mil e um aromas, identificados nos porões de nossas lembranças evocam relações secretas que correspondem a esse buquê. Um gole pausado e generoso traz finalmente o esperado gozo, que inunda nosso corpo com um prazeroso calor. Com o vinho, homem ou mulher podem caminhar na trilha da fruição. Homem, mulher e vinho fecham o ciclo do prazer. Sérgio Inglez de Souza é enófilo, colunista e escritor sergio@jornalvinhoecia.com.br www.todovinho.com.br Fevereiro de 2007 Nas ondas do Rio Jornal Vinho & Cia Beabá Região dos Vinhos Verdes Por Jaqueline Barroso [email protected] Por José Ivan Santos [email protected] Eleição na ABS-Rio Os associados da ABS-Rio estão de presidência nova! Tenho o prazer de informar que o novo presidente é o colunista do Jornal Vinho & Cia Euclides e o vice-presidente, Paulo Decat. A eleição realizou-se no dia 13/01 na própria sede do Flamengo. Na altura dos seus 23 anos de tradição, Euclides irá implementar várias novidades na associação, e, deixa todos os associados à vontade para dar sugestões que possam agregar ainda mais em prol dessa respeitada instituição. Tradicionalmente, sempre após a eleição para brindar à nova gestão, comemora-se com um almoço (com muitos vinhos, claro), neste ano realizado na churrascaria Porcão Rio’s. Parabéns mestre! www.abs-rio.com.br Festa da ABS-Rio, com o novo presidente Euclides Penedo Borges (1o. à esquerda) Folia Gastronômica no Cais da Ribeira O Hotel Pestana Rio Atlântica decidiu dar uma “forcinha” no que diz respeito à alegria e oferece uma grande folia gastronômica entre os dias 16 e 19/02. No 1º piso do hotel fica o restaurante Cais da Ribeira, comandado pela renomada Chef Sabrina Mahler, que criou um cardápio carnavalesco para ninguém botar defeito. Quem quiser ver a banda passar, pode desfrutar da confortável e aconchegante varanda tropical.Av. Atlântica, 2.964 – Tel: (21) 2548.6332 – www. pestana.com.br Vinhos e outras cachaças O título acima é a coluna de Alexandre Lalas da revista Programa do Jornal do Brasil na seção de gastronomia. Não dá mais para ficar sem comprar o JB às sextas-feiras. A coluna é bem diversificada e super bem escrita. Alexandre além de escrever sobre vinhos ainda informa sobre os eventos, harmonizações, jantares e promoções que acontecem e irão acontecer, ou seja, funciona também como um guia. Desejo muito sucesso e parabéns! Adorei! [email protected] É a maior região vinícola de Portugal, com 35 mil hectares de vinhedos, representando 15% da área de vinhedos do país. A área demarcada, reconhecida em 1908, começa um pouco abaixo da cidade do Porto e vai até o extremo norte de Portugal, onde o rio Minho delimita a fronteira com a Espanha. A oeste, o Oceano Atlântico serve como moderador do clima e, a leste, ficam serras como a de Marão, a de Alvão, do Geres e da Peneda. Uma característica da região é sua grande riqueza hidrográfica, com cinco dos dez mais importantes rios portugueses, com seus afluentes: o rio Minho, o Lima, com seu afluente o rio Vez; o Cávado, com o rio Homem; o Ave, com o Vizela e o Douro, que nessa região recebe as águas do Sousa, do Tâmega e do Paiva. No horizonte, descortina-se uma imensa paisagem vegetal verde, que é a hipótese mais aceita para explicar a origem do nome Vinho Verde. Outra hipótese associa o nome ao estado que as uvas são colhidas e que originam vinhos de baixo teor alcoólico, para consumo jovem – esta não é admitida pelos produtores da região. As principais uvas brancas são as nativas alvarinho, arinto (chamada localmente de pedernã), trajadura, loureiro, azal e avesso. As principais tintas são alvarelhão, espadeiro e vinhão, a souzão do Douro. Os Vinhos Verdes mais conhecidos no nosso País são os brancos, os tintos são consumidos na própria região, e pouco exportados. A DOC Vinhos Verdes é subdividida em 9 regiões, com suas uvas e particularidades: Monção (onde predominam alvarinho e trajadura), Lima (loureiro), Cavado (loureiro), Basto (azal e pedernã), Ave (loureiro e trajadura), Sousa (pedernã e trajadura), Amarante (azal e pedernã), Baião (avesso e pedernã) e Paiva (uvas tintas). O desenvolvimento da região dos Vinhos Verdes é recente. Muitos produtores usavam práticas tradicionais, em que a quantidade predominava sobre a qualidade. Antigamente as videiras eram plantadas junto a uma árvore e cresciam livremente para o alto, enroscando-se nos seus galhos. Eram chamadas de “vinhas de enforcado” e, ainda hoje, podem ser vistas à beira das estradas. Econômico, já que requeria poucos cuidados, esse processo não favorecia o amadurecimento das uvas, originando vinhos inferiores. Passou-se depois ao sistema de ramada, que é a nossa conhecida latada (pergolado). O ingresso de Portugal na Comunidade Européia, na metade da década de 80, permitiu ao país receber recursos, que foram investidos em diferentes setores da economia. Nos Vinhos Verdes, ocorreu a reconversão dos vinhedos, adotando-se modernos sistemas de condução, como o cordão simples e a espaldeira. Os vinhedos que ocupavam apenas as partes baixas dos vales passaram a ser plantados nas encostas, onde há melhor exposição ao sol e boas condições de drenagem. Os equipamentos das adegas foram atualizados. O resultado foi imediato: os vinhos ficaram mais aromáticos e com acidez mais equilibrada. Os vinhos tradicionais ainda mostram o estilo consagrado: são leves, de baixo teor alcoólico e grande frescor, para serem consumidos jovens. Para atender ao gosto do consumidor alguns têm um toque picante na língua, a “agulha”, conseguida por meio de microaplicações de gás carbônico no vinho. 7 Fevereiro de 2007 Jornal Vinho & Cia O que comprar Seleção de vinhos Confira na tabela abaixo vinhos do catálogo da Vinoteca Importadora que consideramos como boa relação custo-benefício. Mais informações: Vinoteca-Proalbe, (41) 3373-3444, www.vinotecabrasil.com.br EUCLIDES PENEDO BORGES Tendências de início de século N it produtor/origem vinho/uva tipo/safra preço obs 1 Cristalino Espanha Cristalino Cava Brut Várias Espumante 32 N/I Refrescante 2 Santa Ema Chile Syrah Reserva Syrah Tinto 2004 Pimentão interessante 3 Cristalino Espanha Cristalino Vintage Várias Espumante 46 2002 4 Castillo de Liria Espanha Reserva Tinto Tempranillo, Garnacha 2000 5 45 Muito refrescante e agradável 49 Concentrado e agradável Herdades da Pestana Tapada Grande Branco Branco Portugal Várias 2004 52 Diferente, leve e saboroso 6 Herdades da Pestana Tapada Grande Portugal Várias 54 Redondinho e gostoso 7 Santa Ema Chile Chard Gran Reserva Branco Chardonnay 2004 55 Gostoso, macio 8 Santa Ema Chile Merlot Gran Reserva Tinto Merlot 2003 55 O melhor da lista 9 Domingo Hermanos Domingo Molina Argentina Malbec Tinto 2003 65 Docinho para brasileiros Tinto 2001 10 Arnáiz Espanha Crianza Várias Tinto 2003 65 Grande aroma e sabor 11 Bodega del Abade Espanha Carracedo Tinto mencía Tinto 2003 70 Tabaco fino e grande concentração 12 Santa Ema Chile Gran Reserva Carmenère Tinto 2003 85 Ótimo pimentão, redondo 13 Marqués de Cáceres Reserva Espanha Várias Tinto 1998 88 Grande impacto na boca 14 Marqués de Cáceres Gran Reserva Espanha Várias Tinto 1995 105 Muito macio 15 Santa Ema Chile Tinto 2002 130 Macio, boa concentração Catalina Várias os últimos seis anos o mundo do vinho tem visto o surgimento de novidades que alteram o mercado global, tanto do lado da oferta quanto da procura. Algumas são surpreendentes. É o caso da superprodução de vinhos na França com suas implicações econômicas (fechamento ou fusão de vinícolas), operacionais (destinação de vinhos para produzir álcool) e com suas conseqüências políticas, legais e de marketing (inclusão do nome da uva no rótulo, etc.). Aliado à conquista de espaço por vinhos do Novo Mundo, tal fato pode significar a redução do preço de vinhos populares e a manutenção do preço dos grandes. Outras eram de se esperar. Com base na evolução dos anos noventa eu mesmo me atrevi, em 1999, a fazer conjecturas para os primeiros dez anos do século 21. Incluí vinhos da América do Sul entre os mais bem avaliados, destaque renovado de regiões tradicionais (Douro, Rioja, Rhône, Toscana), a aclimatação da Syrah por toda parte, a pujança internacional australiana e o avanço dos tintos da Malbec. Sem a pretensão de ter acertado muito, consulto a recente lista dos cem vinhos top de 2006 da Wine Spectator e vejo indícios de que não me equivoquei de todo. Deixo de lado, então, as controvérsias suscitadas por esse tipo de lista, cheia de restrições e evidentemente destinada ao consumidor dos EUA, e retiro dali alguns comentários. A França reafirma-se no topo, é claro, mas com desvios internos curiosos. Em Bordeaux, a margem esquerda (Médoc) sobrepuja a direita (Pomerol) e St. Julien faz mais milagres do que St. Emilion. A avaliação dos tintos do Rhône, com seus Chateauneuf e Hermitage, nivela-se ou ultrapassa grandes da Bourgogne. A moda das variedades rodanenses – Syrah, Grenache, Mourvedre – condimentadas, robustas, “à bon marché”, emparelha os tintos do Rhône aos Pinot Noir da Bourgogne, frutados, refinados e excessivamente caros. A Itália vem a seguir, como sempre. Mas a Toscana está mais na moda do que as demais regiões, no turismo, no cinema e nos vinhos, o que se evidencia na concentração em vinhos da Sangiovese. O top dos tops é um Brunello e vários outros toscanos lhe fazem companhia entre os grandes. Já os Barolo, do Piemonte, são poucos e os Amarone, do Veneto não aparecem, para meu desespero. O restante da França é representado pontualmente por Champagne, Sauternes, Loire e Alsace, sem surpresas, e os demais europeus são do Douro, da Rioja, do Mosel e de Tokaji, entre outros. No panorama mundial, o Novo Mundo se consolida e representa metade do total dos melhores de 2006. Os Estados Unidos e a Austrália marcham na frente, os primeiros com Cabernets e Chardonnays, a segunda com Shiraz. E os Sauvignon Blanc da Nova Zelândia marcam presença. Finalmente, não pode passar despercebida a presença sulamericana. Confirmando a ascensão da América do Sul, isolada e desconhecida até quinze anos atrás fora dos muros, entre os quarenta vinhos mais bem avaliados estão dois excepcionais Cabernets chilenos e um Malbec argentino. Aproveito para mais uma conjectura. Diferentemente do que se dizia no século passado, o Brasil ainda chega lá, na companhia de seus vizinhos. É questão de tempo. Euclides Penedo é presidente da ABS-Rio, professor e escritor. [email protected] 8 Fevereiro de 2007 Jornal Vinho & Cia Cia do mês Vinhos que combinam com os pratos Confira o resumo das 10 degustações realizadas pelo Vinho & Cia em 2006 Salmão Feijoada Prato: Salmão em crosta de gergelim preto e molho ao Prosecco Restaurante: Tabu, do Hotel Sonesta, em Moema, (11) 2164-6060 Boas combinações: Chardonnay, Viognier, Carmenère e Sangiovese Prato: Feijoada tradicional Restaurante: Tordesilhas, na Consolação, (11) 3107-7444 Boas combinações: Malbec, Cabernet, Rosés, Espumantes e Syrah Bacalhau Prato: Bacalhau al pil pil (creme maionese) Restaurante: Toro, em Pinheiros, (11) 3068-9888 Boas combinações: Tempranillo, corte de Cabernet e Merlot, Chardonnay Massa ao funghi Prato: Pappardelle al ragú di funghi Restaurante: Vinheria Percussi, em Pinheiros, (11) 3088-4920 Boas combinações: Syrah, Tempranillo com madeira, Malbec, Merlot Cordeiro Prato: Pernil, paleta e costeletas em churrasco Restaurante: Fogo de Chão, em Santo Amaro, (11) 5524-0500 Boas combinações: mistura de uvas chilenas, Cabernet, Tinta Caiada Jornal Vinho & Cia Fevereiro de 2007 A cada mês o Jornal Vinho & Cia realiza uma degustação de vinhos em um restaurante diferente em São Paulo. Importadoras, distribuidoras e vinícolas são convidadas a encaminhar vinhos que possam combinar com um prato previamente definido pelo restaurante. A equipe do jornal e convidados provam os vinhos às cegas (sem conhecimento do rótulo), e os vinhos Tábua de Queijos Risoto trufado Prato: queijos muzzarella de búfala, gouda, provolone e parmesão Boas combinações: Malbec, Tinta Caiada, corte argentino, Cabernet Prato: risoto de lingüiça de cordeiro, batatas e manteiga de trufas Restaurante: Cantaloup, no Itaim Bibi, (11) 3078-3445 Boas combinações: Castelão, portugueses em geral, Cabernet Mighty Murray Chardonnay Tapiz Reserva Malbec Jacques Bernard Tempranillo Terrazas Syrah Balduzzi Grand Reserve Terrazas Reserva Malbec Vale da Judia Safra: 2003 Tipo: Branco Uva: Chardonnay Produtor: Andrew Peace Fornecedor: Best Wine Origem: Austrália Safra: 2003 Tipo: Tinto Uva: Malbec Produtor: Tapiz Fornecedor: Grand Cru Origem: Argentina Safra: 2004 Tipo: Tinto Uva: Tempranillo Produtor: Jacques Bernard Fornecedor: Los Alves Origem: Argentina Safra: 2004 Tipo: Tinto Uva: Syrah Produtor: Chandon Fornecedor: Moët Hennessy Origem: Argentina Safra: 2000 Tipo: Tinto Uva: Várias Produtor: Balduzzi Fornecedor: Planet Origem: Chile Safra: 2004 Tipo: Tinto Uva: Malbec Produtor: Bodegas Chandom Fornecedor: Moët Hennessy Origem: Argentina Safra: 2003 Tipo: Tinto Uva: Castelã Produtor: Sto Isidro de Pegões Fornecedor: Wine Company Origem: Portugal que melhor combinam com os pratos recebem medalhas de ouro, prata e bronze. Não é considerada a qualidade do vinho puro, e sim a qualidade da combinação. Apresentamos aqui os pratos e os vinhos que receberam medalha de ouro nas degustações de 2006. Provar nos restaurantes ou tentar reproduzir em casa pode ser uma experiência muito harmoniosa. Porco tailandês Prato: mignon de porco ao curry vermelho tailandês Restaurante: Nam Thai, no Itaim Bibi, (11) 3168-0662 Boas combinações: Syrah, Gewurztraminer, Viognier, Sauvignon Blanc Massa com alcachofra Prato: penne ao molho de alcachofra e nozes Restaurante: Piccolo Bistrot, em Perdizes, (11) 3872-1625 Boas combinações: Tannat, Gewurztraminer, Chardonnay, Viognier Pizza calabresa Prato: pizza de calabresa com mussarela Restaurante: Pizzaria Veridiana, nos Jardins, (11) 3057-1562 Boas combinações: Barbera, corte português, Malbec, Merlot Costa Pacífico Syrah Amat Tannat Casa Perini Barbera Safra: 2004 Tipo: Tinto Uva: Syrah Produtor: Via Wine Fornecedor: Miolo Origem: Chile Safra: 2001 Tipo: Tinto Uva: Tannat Produtor: Carrau Fornecedor: Impexco Origem: Uruguai Safra: 2005 Tipo: Tinto Uva: Barbera Produtor: Casa Perini Origem: Brasil Fornecedor: Casa Perini 9 10 Fevereiro de 2007 Jornal Vinho & Cia Gastronomia WALTER TOMMASI Por Jorge Monti de Valsassina [email protected] Rosé? Ai, ai, ai. . . Olha o racismo no vinho! P ertenço a uma confraria que possui em seus quadros pessoas experientes e interessadas. Todos os meses nos reunimos em volta de uma mesa sob um novo tema, buscando provar diversas versões de vinhos produzidas com a mesma uva, degustando os vinhos de uma só região, caprichando para ter um espectro bem amplo dos vinhos lá produzidos, ou ainda colocando em disputa vinhos de uvas ou países diferentes. Enfim, sempre achamos uma forma de aprendermos algo mais a cada degustação. Claro que somos humanos e também temos nossos paradigmas. O vinho rosé é um deles, mesmo que não seja o único. Lembro-me uma vez de que um dos nossos confrades (um carioca da gema) resolveu sugerirrrrr (assim "meissmo") por e-mail que gostaria de fazer uma noitada de rosés! Vocês já podem imaginar a reação dos membros da confraria: "Tá loco carioca", disse um, "Aboiolou?", repicou outro, "nesta noite irei ao enterro do meu cachorro de estimação", disparou um terceiro... Pobre companheiro, que desejou nunca ter aberto a boca, ou melhor o e-mail para propor tão grande pecado para um grupo tão seleto de especialistas. Estava decretada em nossa confraria o racismo ao vinho Pink. Mas o tempo é sábio, veio nos desmentir e quem sabe sepultar de vez este ato racista grupal. Muitos de nós degustamos para revistas especializadas e começamos a perceber um aumento consistente nos envios de vinhos rosés para nossas apreciações. Claro que eu particularmente torcia a boca quando “o mais pálido” me era servido, até que um dia tive que ceder aos fatos: tomei um rosé que mudou minha opinião sobre este vinho. Foi um Redoma, vinho português simplesmente espetacular! Depois deste tomei muitos outros que me agradaram bastante como o Carmen, o Morandé, o Crios e outros. O fato é que para mim o batismo ocorreu tomando vinhos do Novo Mundo, que com sua tecnologia e processos modernos tornaram o vinho mais estruturado, o que acabou agradando mais meu paladar. Ainda sinto uma certa dificuldade com os rosés do Velho Mundo, mas, como diz um velho poeta amigo meu, "onde passa um boi passa uma boiada": quem sabe eu ainda não esteja preparado para os Pink suaves! Não é, Beto? Afinal sou Palmeirense, he he. Pessoal, os números comprovam que o rosé esta virando moda, e pensando bem, para um país como o nosso Brasil, com seu clima temperadamente quente, o mundo das cervejas ganha um grande concorrente. Ou não? Para finalizar, já temos uma série de bons lançamentos por aqui também, mas o que mais me agradou mesmo até o momento foi um espumante: o rosé da Miolo. Faça um teste então e depois me mande sua opinião. Eu do meu lado estou prontinho para imitar meu ex-companheiro carioca e propor uma noitada de rosé. Será que a reação será a mesma? Ou discretamente também sairei da hermética confraria? Will see! Walter Tommasi é executivo de multinacional, enófilo e artista plástico tommasi@jornalvinhoecia.com.br Concurso Bocuse D’Or Foi uma grande festa na França o aniversario do Bocuse D’Or, o maior concurso mundial de chefes de cozinha, na sua 20a. edição. Responsável pela coordenação da equipe do Brasil, participei intensamente, durante mais de um ano de trabalho, na nossa preparação. A expectativa era nosso país ficar entre os 10 melhores, mas ficamos no 20º lugar, entre 24, à frente dos países latinoamericanos. Foi uma frustração, após tanto esforço, investimento e dedicação de nossos candidatos. O chefe Marcelo Pinheiro e sua ajudante Lívia Carvalho cumpriram perfeitamente e de forma impecável o plano preparado, sem nenhum erro na apresentação, com a elaboração de receitas brasileiras com ingredientes típicos, como caju, tucupi e cupuaçu. Certamente uma mudança nas regras e no regulamento, que deveriam considerar os ingredientes regionais e a originalidade de cada pais, nos prejudicou, porque o julgamento foi por um critério anterior, muito francês, a ponto de colocar neste ano a França como vencedora sem merecer, pois a Dinamarca apresentou melhor trabalho, assim como a Noruega e a Suécia. Quero render homenagem a toda equipe brasileira, chefe Paulo Carvalho e Eliane Klotz, à minha mulher Lídia e ao meu filho Pedro pelo apoio permanente, mas em especial ao capitãochefe David Jovert, por sua competência profissional e pela atenção de sua família conosco, ao nos receber no restaurante Au Bon Cru, do seu tio, e na casa da sua irmã, num domingo, num almoço familiar regado a bons vinhos, licor de pêssego e outras iguarias. Na ocasião tive a oportunidade, juntamente com o grupo, meu filho e minha mulher, de visitar o museu do vinho George Duboef, a 40 quilômetros de Lyon, na Borgonha, um lugar inacreditável para todo amante do vinho. Realmente lá se sente o terroir e a cultura do vinho, e eu recomendo a todos os brasileiros que forem a Lyon visitar o museu: vai ser uma experiência única. Além, claro, de almoçar no restaurante Au Bon Cru, com uma comida regional regada com bons vinhos da Borgonha. Até breve! Jorge Monti de Valsassina é presidente da Abaga – Associação Brasileira de Alta Gastronomia 11 Fevereiro de 2007 Jornal No Circuito do Vinho Por Fernando Quartim Barbosa Figueiredo [email protected] Do Arlequim, que nos espera para as folias do Carnaval, ao Alecrim, que nos encanta com suas propriedades... É sempre doce a dúvida na hora de falar Alecrim e tirar risos de minhas netas e da minha mulher quando, proposital e às vezes já casualmente, falo que quero temperar uma carne com “Arlequim”. Só estas incansáveis criaturas ainda fingem achar graça em minha dificuldade de memória! Mal sabem elas que o “amigo alemão” ronda por perto! Alecrim, ou Rosmarinus Officialis significa “orvalho que vem do mar”. Consta que Carlos Magno obrigava os camponeses a cultivá-lo pelas qualidades que se acreditava (e eu ainda acredito) a erva possuir. Algumas: purificador de ambientes quando se queima seu caule; símbolo de imortalidade se usada em forma de coroa, como diziam os antigos gregos; ótimos efeitos medicinais, tais como ser boa para os rins, vesícu- Um orvalho que veio do mar la, pressão arterial, auxiliar nos estados de depressão, eliminar dores reumáticas e, atenção bebedores, combater gota, aftas e estomatites! De todas as propriedades listadas no site da internet que pesquisei, achei uma muito curiosa e, para mim, inútil: o Alecrim facilita a menstruação! E a que mais gostei foi sua propriedade romântica, pois consta que A Bela Adormecida teria sido despertada pelo Príncipe com um ramo de Rosmarino e que se a pessoa amada for tocada com este ramo significa ter seu amor para sempre... Como já falei, eu acredito em tudo isso, e o que é melhor, as propriedades românticas do alecrim podem ser lembradas se fizermos a opção de uma refeição no Rosmarino. Este gostoso e aconchegante restaurante das irmãs Stela e Ângela, assessoradas pelo atencioso Carlos, há seis anos nos encanta com um ambiente despojado e esportivo, onde no almoço é servido um variado e apetitoso buffet e o jantar é a la carte. Ângela cuida mais da administração e Stela da operação, ambas dividem equitativamente a arte gastronômica e, auxiliadas pelo Carlos, fazem as coisas deslizarem sobre carretéis! O gosto e a dedicação que Stela tem pelos vinhos nos permite desfrutar refeições delicadamente harmonizadas com vinhos de uma Carta de 250 rótulos, bem cuidados em adega climatizada. Conta também com a assessoria do mestre Aguinaldo Záckia. Um destaque que considero importante, a Carta oferece além de boas opções de vinhos brasileiros, pequeno sobrepreço! O Rosmarino tem, além do salão da entrada, uma área no jardim onde você encontrará um ambiente em que o clima romântico poderá ser facilmente criado com as propriedades também românticas do alecrim acompanhadas de bons vinhos. No Rosmarino, as confrarias enogastronômicas encontram serviço e pessoal treinado e acostumado a esta magnífica atividade. Se você quiser poderá dispor de uma sala para uma reunião com até 14 pessoas, que, muitas vezes, é uma grande solução. Ângela e Stela organizam em agosto a festa de aniversário do Rosmarino, um delicioso evento musical em perfeita harmonia de vinho, comida e música! O Rosmarino pode integrar um Circuito do Vinho, onde encontramos um ótimo serviço em ambiente bastante agradável, em que o vinho, sempre presente, faz um final feliz! Quase esqueço! Encomende com a Stela ou Ângela o pastel especialidade da casa! Eu adoro! Rosmarino: R. Henrique Monteiro, 44, Pinheiros, São Paulo, (11) 3819-3897. Vinho & Cia 12 Fevereiro de 2007 Jornal Vinho & Cia Vinho & Ocasião BETO ACHERBOIM Por Adriana Bonilha Oliveira Férias? A última semana de novembro do ano passado foi o final do ciclo de degustações “oficiais”, tanto do jornal Vinho & Cia como da “Sereníssima”, confraria da qual faço parte. Pesando os prós e os contras, tive a certeza que, para meu organismo – em especial meu colega fígado – seria muito bom um breve descanso, quem sabe um mês de recuperação (as pessoas acham que é tudo uma maravilha, degustação atrás de degustação, mas, acreditem, tem horas que nosso corpo pede um pouco d’água). Na primeira semana, saio com os amigos de minha esposa para comemorar o final de ano do trabalho dela. Alguns pedem vinho, outros cerveja, refrigerante… e eu? Impossível assistir àquele desfile de copos, taças, garrafas pela mesa... Então dei uma leve escapadinha e fui de cerveja (ou chopp, sei lá). Desce um, dois, três, quatro, epa! Pêra lá! Tá na hora de brecar, Beto, lembra do fígado… Na segunda semana, saio com alguns amigos, vamos a um restaurante comemorar – como fazemos em todos os anos – mais um ano de amizade, bons momentos, e alegrias. Uma amiga, gravidíssima, pede que eu escolha um vinho para ela tomar – só uma tacinha – pois vai tentar parar até o nascimento. Escolho um bom tinto do Rhône para ela, e o resto da turma vai de cerveja, mesmo. Pensei no teor de álcool – bem menor – e achei que era “menos pior” do que algumas garrafas de vinho, mas depois do enésimo copo, vi que estava me iludindo… Terceira semana... Nesta, se me lembro bem, vou só a umas duas degustações com pessoal de restaurante, talvez umas 15 taças, sei lá! Quarta semana... Natal na família da Mariana (já que não comemoro, vou lá). Desta vez, temos pato recheado, bacalhau e tender. Tudo muito bom. Para beber, se me lembro bem, do início ao fim: Prosecco Incontri, Champagne Piper-Heidsieck, Borba Chardonnay / Arinto, Miolo Lote 43 safra 1999 – delicioso – e Merlot Desejo da Salton – ainda bastante jovem, potente demais, precisando de um pouco de tempo – e, ao final, um Chandon Démi-Sec. Quarta semana... Férias com as crianças! Finalmente, agora eu sossego um pouco. Será? Vamos ao litoral norte com um casal de amigos mais o filho, e levamos poucas caixas de cerveja para uma semana. Pois é. Dois dias foi o suficiente para acabar com nosso estoque. Então, compramos mais algumas (várias) caixinhas… Junto com os vinhos que levamos, definitivamente, seria suficiente para o resto da semana. Levo 6 garrafas de espumante para passarmos o reveillón. Mas, no dia 30 de dezembro, resolvo bebericar um pouco na praia. Num dia de sol muito forte, coloco minha garrafa de Pizzato Brut na geladeira, encho de gelo, pego algumas taças, e vou à praia começar nosso reveillón mais cedo. É muito gostoso, além de divertido, com as pessoas nos olhando com se fôssemos um bando de bêbados malucos. Fora isso, no decorrer da semana tomamos outros vinhos muito bons. Malbecão e Shiraz no dia do churrasco, um rosé delicioso que tomamos num almoço/jantar, na varanda do apê, de frente para a praia, com um frango assado com batatas com alecrim… divino! Dia 31, reveillón, espumante na cabeça, umas 4 garrafas, e uma ceia com um salmão muito gostoso. Pois é. Dois dias depois, volto para São Paulo, para nossa rotina de trabalho, correria, e, por que não, mais degustações. E as férias, que deviam servir para desestressar mente e corpo, serviu só em parte para a primeira. Porque o fígado, ah, esse vai ter que trabalhar dobrado em 2007. Afinal de contas, este trabalho é duro, mas dá muito prazer. PS: só espero que meu médico não leia este artigo, senão vai sobrar puxão de orelha… Até a próxima. Beto Acherboim é relações públicas, enófilo, são-paulino e apreciador das boas coisas da vida. beto@jornalvinhoecia.com.br [email protected] Acabou-se o que era doce! Em nosso último papo falamos de férias e verão. Pois é, agora a fase desta curtição está acabando. O verão ainda fica conosco mais um tempo, mas a época de passeios prolongados com as crianças, semanas na praia ou no clube, e muita curtição já se foi. E você como passou esta temporada? Espero que bem e bebendo bons vinhos. Qual foi a sua praia? Um local ao ar livre, no jardim de sua casa e uma taça de espumante nas mãos, de dia e de noite? Ou literalmente foi à praia? Dei um pulo em Maresias. Não fui ao “Sirena” mas curti a descontração de “Os Alemão” (é assim mesmo que se escreve), bom reduto para as cervejas. Em Sampa? Um bar legal para uns petiscos? O Café Journal... Os amigos foram todos comigo lá, numa data especial e inesquecível... Ah! Você queria uma outra opção, para degustar o seu vinho? Um local mais requintado? Que tal um espanhol? O restaurante “Toro” abriu as portas em 2007 de cara nova, com um visual totalmente renovado, mantendo a mesma excelência nos pratos e atendimento, e com uma nova carta de vinhos, agora abrangendo vinhos de outros países além da Espanha. Nada disso? Quer dar um descanso para depois reiniciar as saídas noturnas e suas degustações? Então sugiro a Bagel Factory, padaria e sanduicheria especializada nos pães judaicos que dão o nome à casa, e que podem ser servidos simples com um requeijão, para o café da manhã, ou com delícias como damasco, pêra, maçã verde, brie e pastramis. Pois é, acabou-se o que era doce: as férias... Mas a vida e as regalias são para se lambuzar. Bola para frente! Os Alemão, Av. Francisco Loup, 991, (12) 3865-6932. Café Journal, Al. dos Anapurus, 1121, 5055-9454. Toro Restaurante, R. Joaquim Antunes, 224, 3068-9888. Bagel Factory, Av. Moema, 88, 50520161. 1 Fevereiro de 2007 Jornal Vinho & Cia Leitura CESAR ADAMES Por Denise Cavalcante [email protected] Os vinhos nas livrarias do Brasil O vinho é um destes assuntos que não tem fim. O enófilo pode se dedicar a ler, estudar, viajar e degustar, e sempre haverá novas informações, sugestões e dicas a descobrir a cada novo livro lançado. O mercado editorial brasileiro descobriu esse filão há pouco tempo, e diversos títulos de importantes enófilos brasileiros estão expostos atualmente nas boas livrarias. Todo esse crescimento não tem mais de 10 anos. Há um tempo, quem se iniciava no mundo do vinho quase não achava livros em português. O Dr. Sergio Paula Santos publicara diversos livros que ofereciam boa leituras para os já iniciados. Em 1992 o crítico e jornalista Saul Galvão lançou a primeira edição de seu "Tintos e Brancos", que muito ajudava aos iniciantes. No final de 2006 lançou a sua nova edição, pela editora Conex, com 640 páginas, totalmente reescrito para que seja o mais atual possível, como explica o autor. No início oferece informações gerais e na segunda parte avalia, analisa e comenta vinhos das grandes regiões produtoras do mundo. Hoje inúmeros livros sobre vinhos são lançados a cada ano, alguns de leitura básica e até guias de classificação, como o recém-lançado pelo respeitado sommelier Manoel Beato, Guia de Vinhos Larousse, que explica, analisa e sugere os melhores vinhos de 14 países, com destaque aos vinhos brasileiros, que hoje existem em número e qualidade suficiente para fazer parte de um guia como esse, da importante editora Larousse. O enófilo Aguinaldo Záckia Albert escreveu um guia dedicado aos vinhos do Novo Mundo: o "Admirável Novo Mundo do Vinho", de 2004, pela editora Senac-SP. Aborda as regiões produtoras emergentes da Europa e do Novo Mundo, explicando como os vinhos do Chile e da Argentina se tornaram tão importantes em mercados mundiais e como regiões como a do Nordeste brasileiro podem produzir vinhos de qualidade. No final de 2006 lançou um livro cobre a cultura de uma região Portuguesa, "Os Sabores do Alentejo", com uma parte dedicada às origens e características do povo da região, incluindo 66 receitas típicas. Oferece também uma detalhada rota dos vinhos, com informações turísticas e dicas de vinícolas, museus e restaurantes para visitação. Colunistas do Jornal Vinho & Cia lançaram seus livros neste período. Sergio Inglez de Souza já escreveu três roteiros facilitadores de degustação, o ultimo foi "Vinho Branco, O Prazer é Todo Seu", fazendo conjunto aos de vinhos Tinto e Espumantes já lançados. A parte inicial do livro oferece bases conceituais para o leitor conduzir sua degustação, e no final diversas fichas de degustação permitem que o leitor monte o seu próprio guia de vinhos. São editados pela Marco Zero. Outro colunista, José Ivan dos Santos, escreveu em 2003, "Vinhos, O Essencial", pela editora Senac de SP, um ótimo guia onde explica de forma clara e precisa as fases de produção dos vinhos. No final destaca as mais famosas regiões produtoras de vinho do mundo, com nome de vinícolas e rótulos para facilitar a compra dos vinhos indicados. O colunista carioca, Euclides Penedo Borges, que neste ano passou a ser presidente da ABS do Rio de Janeiro, editou um livro onde conta casos e histórias em torno do vinho. São 110 crônicas publicadas ao longo de 10 anos no Jornal da ABS-RJ: "110 Curiosidades sobre o Mundo Do Vinho", pela editora Mauad. Um festival para apreciadores O s apreciadores de charutos devem reservar em suas agendas o período de 26 de fevereiro a 2 de março de 2007 quando acontece em Havana a nona edição do Festival del Habano, organizado pela Habanos S.A. O Festival é um evento único neste segmento e consegue reunir cerca de 1000 pessoas de cinqüenta países em torno de um único tema: o charuto cubano. Fumadores, donos de lojas, importadores, pesquisadores e todos aqueles fazem parte da grande família de amantes dos puros se reúnem na capital cubana para conhecer, falar sobre charutos e, principalmente, degustar. Na noite de 26 de fevereiro, um coquetel de boas vindas abre o festival onde também é apresentada e degustada a nova linha de charutos Cohiba Maduro. No dia seguinte os participantes vão a Pinar del Rio, região de Vuelta Abajo, onde ficam as plantações de tabaco, acompanhar todo processo do plantio até o beneficiamento da folha. Além das plantações, estão previstas visitas nas fábricas de charutos El Laguito (que produz o Cohiba e Trinidad) e H.Upmann. Um seminário com várias palestras comemora o décimo aniversário da marca Vegas Robaina e todos participantes têm a oportunidade de produzir o seu próprio charuto. Nesta classe magistral os participantes recebem folhas de tabaco e material necessário para ir acompanhando passo-a-passo as etapas de como se fabrica um puro, transformando a sala em uma grande fábrica de charutos. No último dia do festival ocorre a final do concurso Habanosommelier, que premia o profissional que realiza o serviço harmonização entre bebidas e charutos. No mais alto estilo, na noite de sexta-feira, dia 2, um jantar de gala encerra o Festival del Habano. Depois de provar o cardápio internacional, os aficionados podem degustar charutos elaborados especialmente para a ocasião e conhecer os novos charutos da Reserva Montecristo. Durante o jantar, é conhecido e premiado o "Hombre Habano del Año", nas categorias de venda ao público, importação e publicidade, além do leilão de umidores assinados por Fidel Castro, contendo charutos especiais. Entre um evento e um charuto não se pode deixar de visitar o La Bodeguita del Médio e provar um Mojito, ou um Daiquiri no La Floridita, ambos imortalizados por Hemingway. Cuba também é reconhecidamente um dos maiores e melhores produtores de Rum, e a Fundacion Havana Club promove visitas guiadas com direito a degustação de vários tipos no final do tour. Para não ficar só nos charutos e bebidas a gastronomia caribenha está muito bem representada nos restaurantes de Havana. Com todos estes atrativos fica difícil resistir e deixar de aproveitar uma semana de puros prazeres. Espero poder te encontrar por lá. Cesar Adames é consultor na área de tabaco [email protected] 14 Fevereiro de 2007 Jornal Últimos aromas Rosé na moda Espumante Rosé Acelerador de aromas A nova loja da Glosh traz um acessório bem diferente. É o O-PEN, um acelerador de decantação, composto por esferas de cristais dentro de um vidro, que produzem vibrações e impulsionam o processo de oxidação, sem contato com o vinho, permitindo que os aromas se liberem mais rapidamente. R$324. Glosh: (11) 3081-2847 Vinho & Cia E a moda abrange também os espumantes rosés. A Miolo lançou agora o Brut Rosé em seguida ao primeiro lançamento no segmento de rosados, o Miolo Seleção. É elaborado com uvas Chardonnay, Pinot Noir e Merlot, e envelhecido por seis meses. Pode ser opção para drinque ou para acompanhar frutos do mar, peixes e massas. Miolo: 0800- 970-4165. O mundo do vinho está se esforçando para colocar os rosés na moda. Há muita badalação em cima e muitos lançamentos. Um deles é o Duetto Rosé Sangiovese Barbera 2006, que pode ser ótima companhia para dias quentes de verão ou para acompanhar pratos mais leves. Casa Valduga: (54) 21053122. Prosecco orgânico Está em lançamento o prosecco italiano orgânico IGT Dino Nardi 2005. É produzido com método charmat pela Perlage, na região do Veneto. A sugestão é para acompanhar entradas, pratos de peixes, massas leves e carnes brancas. É refrescante como aperitivo ou à beira da praia ou piscina. R$28. Marimpex: (11) 4193-5074. Vinho panamericano O Reserva da Serra Merlot - Cabernet Sauvignon 2005 ostenta o selo dourado Rio 2007, como safra especial do XV Jogos Panamericanos. Tem aromas frutados, bom corpo e um toque de doçura que agrada a muita gente. Boa companhia também para o dia-a-dia convencional, não esportivo. Lídio Carraro: (54) 34591225. Malbec Magnum Em embalagem especial de madeira, chegaram ao país em quantidade limitada garrafas Magnum (1,5 litros) do vinho tinto argentino Terrazas Reserva Malbec. Da safra 2002, recebeu 91 pontos da Revista Wine Spectator. É potente e complexo, com notas de frutas vermelhas. R$150. LVMH: (11) 3062-8388 Vodkas com sabores Nem só com os sabores tradicionais podem viver os apreciadores de vodka. A Wyborowa está agora no Brasil com as versões rosa, laranja e maçã. São de origem polonesa, elaboradas com centeio puro e aromatizadas. Encontradas nas principais lojas de São Paulo e Rio de Janeiro. R$60. Pernod Ricard: 0800-014-2011 15 Fevereiro de 2007 Jornal Vinho & Cia Vinho & Comportamento REGIS GEHLEN OLIVEIRA Por Didú Russo [email protected] Cousiño Macul e a libertação sexual A chegada do vinho Cousiño Macul, que agora completa 150 anos e está lançando um ótimo vinho de nome LOTA, foi um período maravilhoso de libertação sexual das mulheres. De repente o que era um pecado e uma vergonha virou “in”. As jovens senhoras reprimidas em sua juventude, simplesmente não conseguiam conviver com suas filhas transando sem mais essa nem aquela e caíram matando. Só quem viveu essa época é que sabe... A Rua Augusta fervia aos sábados numa paquera que ia da Estados Unidos até a Alameda Santos e, lá, duas lojas ofereciam o que havia de melhor: eram o Vilex, que hoje já não existe mais, e a Casa Santa Luzia, que na ocasião ficava na esquina da Oscar Freire. Eram tempos também do vinho nacional Velho do Museu, em garrafa igual ao do Mateus, só que escura e sem rótulo. Apenas uma etiqueta pendurada no gargalo, que dizia que vinho era, e um lacre na rolha. Era bastante bom. Foi aí que surgiu o Cousiño Macul, primeiramente apenas na versão mais simples, com um rótulo branco. Depois vieram os Antiguas Reservas e o Dom Luis. Era muito bom mesmo e chamou a atenção para o Chile, para aqueles que já gostavam de vinho naquela época. Sabia-se muito pouco de quase nada, pois bebiase whisky e vodka nessa época. Era comum, inclusive, senhores elegantes irem do bar à mesa com seu copo de whisky, que o acompanharia por toda a refeição. Vinho bom mesmo era comprado em poucos endereços. Lembro-me da Casa Prata, do Vilex, da Casa Godinho, do Mappin, em seu subsolo, e do Depósito Normal. Lá existiam sempre exemplares de Grand Cru Classé, Barolos, Riojas. Mas eram vinhos para datas muito especiais. O Macul entrou com tudo, pois era vinho de qualidade a preço razoável e cumpriu um grande papel na introdução do hábito do vinho no dia-a-dia. Didú Russo é fundador e vicepresidente da Confraria dos Sommeliers, autor do livro Nem Leigo, Nem Expert Ted Bebedor vai de avião ao Rio A h! Verão, manhã com muito sol, calor, verde das árvores, azul do céu, cinza do escritório, sonhos de azul do mar... Hummm! Grande idéia!... - Chefe? - Sim, Ted Bebedor? - Que tal uma reportagem sobre espumantes, brancos e rosés nas praias do Rio de Janeiro? - Grande idéia, Ted! - Cerrrtu, chefiiinhu! - Que sotaque é esse, Ted? - Tenho de já ir treinando, para me enturrrmarrr com a galera, não é mexxxmu? --Vamos lá... Camisa tipo pólo, camiseta branca regata, bermuda jeans, sunguinha, chinelo havaiana, óculos escuros azul espelho... Algo mais para a mochila? - Ted, você não vai levar o seu casaco estilo detetive Columbo? - Não, caru leitorrr, queru me sentirrr à vontadi no Rio! - Só isso, então? - Ah! Raquete de frexcobol, iPod cor amarelosurfista marca-texto e, claro, umas garrafinhas de espumantes, brancos e rosés.... Bom... É hora de agilizar, porque ir de avião é rapidinho e vai dar tempo de fazer a reportagem hoje. --Aparece aquele som de lata dos alto-falantes: “Atenção, senhores passageiros do vôo um cinco um quatro com destino ao Rio de Janeiro. Devido às chuvas o vôo está atrasado. Favor aguardar a chamada para embarque na aeronave neste mesmo portão em aproximadamente 4 horas. Obrigado”. Ahhh! Que delícia é relaxar no aeroporto! Bancos confortáveis de puro plástico, ar condicionado funcionando direitinho, pouca gente reclamando do atendimento, tudo perfeito! Chuáááá... Ainda bem que o kit de vinho e taças está sempre à mão para essas emergências! Afinal, são apenas quatro horinhas... Hummm! Nada como uma vida cor de rosa! Ligo o Ipod amarelo-surfista marca-texto. “Minha alma canta / Vejo o Rio de Janeiro / Estou morrendo de saudades / Rio, seu mar / Praia sem fim / Rio, você foi feito prá mim...” Ahhh! Nada como ouvir Samba do Avião, do Tom Jobim, em MP3. --Blim... Bom... Gol... Vô... O... Um... Cin... Co... Um... Qua..Tro... Com... Des... Ti... No... Ao.. Ri... O... De... Ja... Nei... Ro... Em... Bar... Que... I... Me... Di... A... To... Por... Tão... Seis. - Ted, chegou a hora do seu vôo! - Ainda bem, caro leitor! A garrafa de vinho rosé já estava vazia. --- Senhor? Suco em caixinha, guaraná ou coca-cola? - Água, por favor. - Ted, como é essa bolachinha de água e sal e essa goiabinha em saquinho plástico que a aeromoça te deu? - Uma delícia, caro leitor! A seco, então, sem nem uma caríssima margarina, é maravilhoso. Mas, para mais uma emergência, tenho aqui uma garrafinha de vinho branco no gela-garrafa!... Ahhh! Agora sim! Toca o iPod... “Cristo Redentor / Braços abertos sobre a Guanabara / Este samba é só porque / Rio, eu gosto de você...” Aparece o som de lata: “Atenção, senhores passageiros, aqui quem fala é o comandante Alfredo. Devido às chuvas, nossa aeronave foi instruída a pousar no aeroporto do Galeão, ao invés do destino original, o aeroporto Santos Dumont. Grato pela compreensão”. “A morena vai sambar / Seu corpo todo balançar / Rio de sol, de céu, de mar / Dentro de um minuto estaremos no Galeão...” --- Tu viu o Romário? O velhiiinhu é demaisss! Entrou e fez treis gols! - É, o cara é bom mexmo! - E jogou com a camisa douze... Tu é católico? - Não, por quê? - É bom tu começarrr a rezarrr! Vamus entrar com o táxi na Liiinha Verrrmelha”... Escuta... Tu não é o Ted Bebedorrr?... Agora que eu viii. Não tava ti reconhecendo com exa camiiiseta regata, exa berrrmuda jeans e exe óculos azul espelho. É diferente da foto do jorrrnal. Pensei que tu andava com o casaco Columbo... Tu veiu fazerrr o que aqui no Rio? - Uma reporrrtagem. - Ah! Me diz uma coisa: o que tu achou do Clodovil no Congressu? --- Pronto! Chegamus em Ipanema! São 40 pratas a corriiida!... Obrigado! Aproveite baxtante! - Ted, você vai fazer a reportagem agora? - À noite nas praias, caro leitor? - É... Complicado... Mas me conta uma coisa, Ted, por que você está de óculos escuros? - Ah! Coisas de paulista... Toca o iPod... “E vamos nós / Aterrar...” Regis Gehlen Oliveira é editor deste jornal. De vez em quando bebe. regis@jornalvinhoecia.com.br