o desenho como construcao e significacao do pensamento infantil

Transcrição

o desenho como construcao e significacao do pensamento infantil
17 e 18 de maio de 2016
ISSN 2358-0070
O DESENHO COMO CONSTRUÇÃO E SIGNIFICAÇÃO DO PENSAMENTO INFANTIL 1
Nathassia Leandro de Jesus Cezar Santos2
Jussara Maria Viana Silveira3
RESUMO
É importante sabemos que o desenho tem papel fundamental na construção do
pensamento de uma criança. Por meio do desenho a criança entende o mundo ao seu
redor, além de ser compreendida algumas vezes pelos adultos, a partir dos inúmeros
significados das representações por diversas formas de desenho. Com imaginação a
criança estabeleceu rápidas conexões com tudo que está a sua volta, o que a possibilita
imaginar formas que levam a rabiscos, que logo mais originam os desenhos. O trabalho
de pesquisa aqui apresentado tem como objetivo entender a importância do desenho no
processo de significação do pensamento da criança. A metodologia escolhida foi um
estudo de caso realizado através da observação e atividades aplicadas com alunos do
Centro Educacional Futuro Feliz, com crianças de três anos da Educação Infantil. É nos
primeiros anos de idade que a criança, usa sua imaginação, liberdade e expressão,
começando assim o processo das garatujas, logo mais os desenhos, como representação
das imagens que o cercam. Para o estudioso Victor Lowenfeld (1970) o desenho é uma
forma de linguagem, representação, além de ser um ato prazeroso. Toda criança
necessita nessa forma de linguagem, quando ainda não utiliza-se da linguagem verbal.
Por ser uma ação libertadora e criadora a criança necessita de liberdade de expressão,
sem a interferência de um adulto, apontando os erros ou acertos. Buscou-se analisar
também nesse estudo como as crianças crescem cognitivamente ao desenhar o que se
passa pela sua imaginação, ao traçar linhas, fazer rabiscos e rabiscões. Portanto o
trabalho aqui apresentado busca ressaltar a importância do desenho ou grafismo, bem
como entender que este é uma forma de linguagem própria da criança.
Palavras-Chaves: Criança. Desenho. Educação Infantil. Representação. Significação do
pensamento.
1
Artigo apresentado como fragmento do Trabalho de Conclusão de Curso
2
Graduanda do Curso se Pedagogia da Faculdade Amadeus. Email: [email protected]
3
Professora Doutora e Mestre em Educação. Docente Titular do Curso de Pedagogia da Faculdade
Amadeus. Email: [email protected]
FAMA – Faculdade Amadeus
II Encontro Científico Multidisciplinar – Aracaju/SE – 17 e 18 de maio 2016
ABSTRACT
Reference for Early Childhood Education V.III (1998); The Law of Education Guidelines
and Base 9.394 of December 20, 1996, among others. It's the first years of age the child,
use your imagination, freedom and expression, thus beginning the process of scribbling,
soon the designs, as representation of the images that surround it. For the scholar Victor
Lowenfeld (1970) dIt is unquestionable the importance that the design has to build the
thought of a child. Through drawing the child understands the world around them, and is
sometimes understood by adults from the many meanings of representations by various
drawing shapes. With imagination the child has established fast connections with all that is
around you, which makes it possible to imagine ways that lead to scratches which soon
originate drawings. The research work presented here aims to understand the importance
of drawing in the child's thinking process of signification. The chosen methodology was a
case study through observation and activities three years of early childhood education. To
further this work, we used theoretimplemented with students from Happy Future
Educational Center, with children ical as Ferraz and Fusari (1999); Lima (2001); Lowenfeld
(1970); Piaget (1978); in addition to the National Curriculum rawing is a form of language,
representation, besides being a pleasurable act. Every child needs this form of language,
when it is not used even verbal language. Because it is a liberating and creative action the
child needs freedom of expression without interference from an adult, pointing out the
mistakes or successes. He attempted to also consider this study as children grow
cognitively to draw what goes through your imagination, to draw lines, scribbles and do
rabiscões. So the work presented here aims to emphasize the importance of drawing or
graphics, as well as understand that this is a form of child's own language.
Keywords: Child. Drawing. Childhood education. Representation. Significance of thought.
1 APRESENTAÇÃO
“Objetos, pessoas, situações, animais, emoções, ideias, são tentativas de
aproximação com o mundo. Desenhar é conhecer, é apropriar-se”. (Edith
Derdyk,1994, p.24).
O artigo aqui apresentado tem como objetivo entender a importância do desenho
na construção da aprendizagem infantil. A arte de cada criança começa pelos rabiscos e
garatujas, à medida que esse processo se evolui, seus gestos fazem ligações uns com os
outros, fazendo com quer se originem novos significados. Os rabiscos quando
aperfeiçoados dão origem ao desenho que se torna representação cognitiva da criança.
O desenho é uma representação onde a criança expressa, seus sentimentos,
anseios e realidades. É através do mesmo que a criança estabelece uma comunicação
com o mundo ao seu redor, originando-se a representação da escrita.
155
FAMA – Faculdade Amadeus
II Encontro Científico Multidisciplinar – Aracaju/SE – 17 e 18 de maio 2016
Quando se fala que o desenho é uma forma de expressão infantil, pode-se
perceber que ou mesmo tempo em quer está rabisca, a criança está se comunicando com
o mundo e pessoas à sua volta.
Segundo Cagliari (1997), houve uma necessidade de comunicação entre os
nossos antepassados, a qual não entendia-se pela forma verbal, mais si por figuras, que
eram expostas nas paredes das cavernas, feitas através de pictogramas- associados com
imagens e não sons; assim como a criança tem ideia de representação, as figuras
rupestres, também transmitiam á representação, não havia um significado real, e sim
pictórico, puro desenho.
Para Derdyk
O homem sempre desenhou. Sempre deixou registros gráficos, índices de sua
existência, comunicados íntimos destinados à posteridade. O desenho, linguagem
tão antiga e tão permanente, sempre esteve presente, desde que o homem
inventou o homem. Atravessou as fronteiras espaciais e temporais, e, por ser tão
simples, teimosamente acompanha nossa aventura na Terra. (1993, p.10)
Os primeiros anos de vida de uma criança são representados pelo procedimento de
garatujas, que segundo Lowenfeld (1970) começa, quando a criança está entre a idade
dos 2 aos 4 anos, esse período é de grande importância, pois é fundamental para o
desenvolvimento cognitivo da criança; toda a realização feita pela criança nesse estágio
servirá como melhor desenvolvimento cognitivo. Ao rabiscar a criança, não sabe o que
está naturalmente fazendo, mas ela rabisca por prazer, por também ser um ato lúdico,
prazeroso, de pura imaginação, traz à criança o desenvolvimento da criatividade,
expressividade, compreensão de mundo, desenvolvimento de personalidade e inteligência
cognitiva.
Para o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil
O desenvolvimento progressivo do desenho implica mudanças significativas que,
no início, dizem respeito à passagem dos rabiscos iniciais da garatuja para
construções cada vez mais ordenadas, fazendo surgir os primeiros símbolos.
(RCNEI, 1998, V.III, p. 92)
As maiorias dos rabiscos não vão acontecer por acaso, tudo o que a criança
observa, escuta ou até mesmo fala, ela vai querer fazer uma pequena demonstração,
através do seu desenho. A criança utiliza-se muito do ambiente que vive, como
inspiração, quando mais colorido e chamativo for o observado, na criança crescerá a
chance de que haja uma maior estimulação para que seja feito o desenho propriamente
feito através do rabisco.
Tanto os rabiscos como o desenho são livres expressões que vem da criança, o
desenho principalmente precisa ter alguns acessos para acontecer, para surgir. Segundo
o RNCEI V.III (1998,p.93), para que a criança possa desenhar, é importante que possa
156
FAMA – Faculdade Amadeus
II Encontro Científico Multidisciplinar – Aracaju/SE – 17 e 18 de maio 2016
fazê-lo sem intervenção do adulto, explorando-se de vários materiais, como lápis preto, de
cor, de cera, canetas, carvão, giz, penas, gravetos etc., e utilizando-se de diferentes
suportes, com o papel, cartolina, lixas, chão, areia, terra, etc. É por meio do desenho que
a criança constrói caminhos que a possibilita originar as primeiras representações
gráficas.
Para Seber :
Quando a intenção é desenhar, as crianças constroem figuras; se a intenção é
escrever, elas fazem traços contínuos, esses traços se apresentam como linhas
onduladas, serrilhadas ou ainda, uma combinação das duas possibilidades. .Além
de representar nomes, as marcas gráficas ainda servem para representar
histórias. (1997, p.19)
Percebe-se que, o desenho, não é somente um conjunto de rabiscos toscos ou
desprovidos de significado, e sim, uma representação simbólica na vida da criança,
resultando-lhe uma visão de mundo. Dentro dessa perspectiva, o artigo científico que se
apresenta justifica-se a partir da observação da importância e um olhar cuidadoso do
professor com o desenho infantil, pois se percebeu que o desenho é um instrumento no
desenvolvimento cognitivo da aprendizagem na criança, ajudando-a contextualizar o
mundo e facilitando-a no processo da escrita.
Pais, professores e aqueles que estão próximos a criança precisam saber quais as
causas que a levam a desenhar imagens tristes, desenhos que transmitem solidão,
desespero, entre outros. Como sendo uma expressão da linguagem infantil, o desenho
sem dúvidas faz da criança, mais criança, traz sentido à vida, a faz viver.
A metodologia escolhida foi um estudo de caso realizado através da observação e
atividades aplicadas com alunos do Centro Educacional Futuro Feliz, com crianças de três
anos da Educação Infantil.
Segundo GIL (2008), o estudo de caso é caracterizado pelo estudo profundo e
exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e
detalhado.
Já para YIN (2005, p. 32) “o estudo de caso é um estudo empírico que investiga um
fenômeno atual dentro do seu contexto de realidade, quando as fronteiras entre o
fenômeno e o contexto não são claramente definidas e no qual são utilizadas várias
fontes de evidência”.
O Estudo de Caso é um dos tipos de pesquisa qualitativa que vem conquistando
crescente aceitação na área da educação. Evidencia-se como um tipo de pesquisa que
tem sempre um forte cunho descritivo. O pesquisador não pretende intervir sobre a
situação, mas dá-la a conhecer tal como ela lhe surge. Pode utilizar vários instrumentos e
157
FAMA – Faculdade Amadeus
II Encontro Científico Multidisciplinar – Aracaju/SE – 17 e 18 de maio 2016
estratégias. Entretanto, um estudo de caso não precisa ser meramente descritivo. Pode
ter um profundo alcance analítico, pode interrogar a situação. Pode confrontar a situação
com outras já conhecidas e com as teorias existentes
Devido a algumas inquietações existentes, tais como: O que é o desenho infantil?
Como é construído? Qual seu papel na construção do pensamento cognitivo da criança?
Para tanto, procurou-se realizar essas pesquisas através de autores que se debruçaram
sobre o tema, e destaco: Ferraz e Fusari (1999); Lima (2001); Lowenfeld (1970); Piaget
(1978); Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil V.III (1998); Seber
(1997); Vygotsky (1998), Freire (1997), entre outros, com objetivo de da sustentação
teórica e responder além das inquietações que são norteadoras nesse artigo. Como
também ao objetivo proposto no projeto de pesquisa.
Entende-se que ao mesmo tempo em que se está rabiscando, a criança também
expressa o que há de melhor dentro de si. Para os autores Ferraz e Fusari (1999), nesse
momento acontece uma mobilização de manifestações exteriores para ás interiores.
Ainda segundo esses autores, quando rabiscando e posteriormente desenhando, a
criança desenvolve percepção cognitiva, aprenderão a perceber as cores, formas,
tamanhos, linhas. Claro que ela não vai analisar e aprender tudo sozinha, mais é de suma
importância que os pais e professores colaborem para e com esse aprendizado. À medida
que a criança vai rabiscando ela tem o domínio dos gestos, ou seja, das representações
gráficas surge os gestos.
O desenho como “uma atividade absorvente que conjuga, numa nova forma, o
pensamento, o sentimento e a percepção” (LOWENFELD, 1977, p.14), é também um fator
social, onde a criança interaja com outras; por esse motivo pode ocorrer entre si
satisfações e insatisfações com o que foi desenhado; cabe então uma boa intervenção
adulta, para saber o que o levou a tal sentimento, ocorrendo satisfação, a criança
começará a dar nomes à seus rabiscos.
2 REPRESENTAÇÕES DO DESENHO INFANTIL
A criança incorpora suas manifestações expressivas: canta ao desenhar,
pinta o corpo ao representar, dança enquanto ouve histórias, representa
enquanto fala. (Edith Derdyk, 2003, p.13)
O universo infantil é constituído por um rico e vasto mundo de culturas; a arte na
criança desenvolve um papel potencialmente importante para a formação cognitiva.
158
FAMA – Faculdade Amadeus
II Encontro Científico Multidisciplinar – Aracaju/SE – 17 e 18 de maio 2016
Quando se fala em arte, pensamos logo em desenho junto com a imaginação, pintura,
criatividade, espontaneidade, ludicidade e acima de tudo o modo de expressão. A criança
comunica-se com o mundo através do desenho. Essa necessidade de interagir com o
meio, vem de muito antes; o homem pré-histórico percebeu que deveria existir uma
maneira de comunicar-se como forma de facilitar o trabalho entre si; sua comunicação se
deu através de pinturas rupestres.4
Segundo Cagliari (2007) esse aparecimento de pinturas caracterizou-se em três
momentos: a escrita pictográfica, a ideográfica e a alfabética. A da escrita pictográfica
constituía-se pelos desenhos nas paredes das cavernas, onde eram pintados de maneiras
a associar imagem ao que queriam representar, nesse sentido, sem nenhum interesse em
ser uma comunicação verbal.
Antes de chegar propriamente ao desenho, a criança passa pela construção das
garatujas; Lowenfeld (1970) classifica essa faixa de dois a quatro anos de vida da criança.
É nessa fase também que a criança começa a estabelecer relações de aprendizagem,
sendo refletidas pelo resto da sua vida. A arte de uma criança se inicia pelo contato com o
ambiente- as experiências sensoriais.
De acordo com Lowenfeld
Tocar, cheirar, ver, manipular, saborear, escutar, enfim, qualquer método de
perceber o meio e reagir contra ele é, de fato, a base essencial para a produção
de formas artísticas, quer se trate de nível infantil ou de artista profissional. (1970,
p. 115)
Como dito, as primeiras representações infantis, são as garatujas que é “o início da
expressão que a conduzirá não só ao desenho e à pintura, mas também a primeira
escrita” (LOWENFELD, 1970, p.117). São esses pequenos rabiscos iniciais que servirão
como fase para o seu desenvolvimento cognitivo. Nessa fase a utilização de um simples
lápis, já é o suficiente para a criança, pois essa tem o ato de rabiscar como um momento
de prazer não tendo intenção alguma, de construção.
Existe um fato muito importante, quando se trata dos rabiscos e garatujas; como
não há intenção só prazer na prática, a criança em relação á sua arte, não pode ser
comparada a nenhuma outra com idade mais avançada que ela, não haverá necessidade
de competição, pois a criança nessa fase não tem maturidade suficiente para uma arte de
maior prestígio.
O Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil ressalta que:
4
A arte rupestre é compreendida como o amplo conjunto de desenhos, pinturas e inscrições realizadas pelo
homem pré-histórico. Informações obtidas no site disponível em: <http://www.brasilescola.com/historiag/aarte-rupestre.htm>. Acesso em: 02 set. 2015.
159
FAMA – Faculdade Amadeus
II Encontro Científico Multidisciplinar – Aracaju/SE – 17 e 18 de maio 2016
Na garatuja, a criança tem com hipótese que o desenho é simplesmente uma ação
sobre uma superfície, e ela sente prazer ao constatar os efeitos visuais que essa
ação produziu. A percepção de que os gestos, gradativamente, produzem marcas
e representações mais organizadas permite à criança o reconhecimento dos seus
5
registros. (RCNEI, V.III, p. 92 )
Já o pesquisador Victor Lowenfeld (1970), classifica as garatujas em três
categorias: A primeira é a garatuja desordenada; a segunda, garatuja controlada e a
terceira, garatuja com atribuição de nomes. As garatujas desordenadas são quando a
criança começa a rabiscar a folha e não prestando atenção em linhas ou até direções,
rabisca desordenamento, seus traços variam de direção; nesse processo ela não tem
muita firmeza nos dedinhos, por isso torna-se movimentos aleatórios, quando em contato
ao lápis.
Nas controladas, a criança agora consegue obviamente, ter um certo controle, em
movimentar o lápis ao papel, seus traços são então observados se fora ou dentro da
folha; ainda que essa percepção de traços não seja grande, houve na criança um grande
e importante avanço, quando essa agora passa a notar noção de fora e dentro do espaço
que lhe foi proposto; em relação aos traços, agora esses são feitos no horizontal, vertical,
e até mesmo em círculos.
A garatuja da criança, até então começa a ter significado, é mais elaborada, dando
assim oportunidade para que possa receber nomes, é onde entra a terceira categoria das
garatujas: atribuição de nomes; a criança começa a colocar nomes aos seus desenhos,
mesmo sem nem saber as formas e linhas que a levaram a fazê-lo.
O procedimento de dar nomes foi condicionado à criança pela percepção visual e
também pela imaginação. Lima (2001, p. 22) diz que: “A imaginação depende do meio em
que a criança se encontra e das possibilidades para experimentar, conhecer e explorar os
elementos do meio”.
Para tanto, é importante oferecer à criança ferramentas necessárias e estimulantes
pra o processo criativo acontecer de forma mais prazerosa. Lowenfeld, (1970, p. 137)
corrobora dizendo que: “Qualquer material usado pelas crianças deve ajustar-se ás suas
necessidades”.
E quando atribuído nomes às garatujas e rabisco, a criança começa então a
comunicar-se com o meio em que está, pois agora ela já sabe o que foi feito na folha; por
fim, encontra-se então no papel o desenho propriamente feito e entendido. É por volta de
5
Resolução nº 5, de 17 de dezembro de 2009, Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Infantil. Disponível em: <www.mec.com.br>. Acesso em: 03 set.2015.
160
FAMA – Faculdade Amadeus
II Encontro Científico Multidisciplinar – Aracaju/SE – 17 e 18 de maio 2016
quatro anos de idade, que a criança sai propriamente do processo das garatujas,
passando então a fazer agora desenhos reconhecíveis.
Lowenfeld (1970), também faz uma classificação dos desenhos: fase préesquemática, fase esquemática e fase do realismo. Na fase Pré-esquemática, a criança
tem entre quatro e sete anos, as representações são feitas, em movimentos circulares e
longitudinais.
Continuando o pensamento de Lowenfeld que diz:
De qualquer modo, as primeiras experiências representativas, de um homem, não
devem ser consideradas uma representação imatura, pois na realidade, um
desenho é principalmente, uma abstração ou um esquema de uma vasta gama de
estímulos complexos e o início de um processo mental ordenado. (1970, p. 151)
Nessa fase a criança está descobrindo-se como um ser egocêntrico no mundo, o
que a leva desenhar constantemente, desenhos de figuras humanas, que ela a reconhece
como ela própria. Nesses desenhos são feitos apenas um círculo mais ou menos
nebuloso, como se fosse a cabeça, e depois sendo ligada a pernas e braços, é o que se
chama de esquema corporal.
Para Freire
Para o ser humano, não basta fazer, é preciso compreender (fazer em
pensamento). [...] No brinquedo simbólico, na sua construção imaginada e
corporificada, a criança vive e representa um sem-número de relações. Saltar um
rio largo, atravessar uma ponte estreita, repartir a comida feita, são atividades que
materializam, na prática, a fantasia imaginada, e que retornarão depois da prática
em forma de ação interiorizada, produzindo e modificando conceitos,
incorporando-se às estruturas de pensamento. (1997, p. 45)
A fase esquemática, dos 07 aos 09 anos, é quando a criança sabe e consegue
desenhar outras formas de esquemas, casa, árvores, pessoas. Agora não somente faz
figuras humanas, mais também objetos que a rodeiam; também faz desenhos e
colocando, cabeça, corpo, perna e braço, tudo em seu devido lugar.
Para Lowenfeld (1970, p.183) “esquema de um objeto é o conceito a que a criança
finalmente chegou, e representa seu conhecimento ativo do objeto. O esquema também
pode referir-se ao espaço e às figuras, assim como se refere aos objetos”.
Sobre o realismo, entre 09 aos 12 anos, como o próprio nome diz, é a fase da
descoberta, do real. O interesse da criança é tão notável, que essa vai à busca do novo,
tendo capacidade de realizar atividades artísticas em grupo.
Ainda citando Lowenfeld
Um jovem nessa idade começa a captar, cada vez mais, a consciência de seu
mundo real, um mundo repleto de emoções, mas emoções que estão ocultas dos
adultos; um mundo real com os amigos, planos e recordações; um mundo que só
a ele pertence. (1970, p. 231)
161
FAMA – Faculdade Amadeus
II Encontro Científico Multidisciplinar – Aracaju/SE – 17 e 18 de maio 2016
O desenho é uma forma de linguagem, representação, além de ser um ato
prazeroso. Toda criança necessita nessa forma de linguagem, quando ainda não se utiliza
da linguagem verbal.
Para a estudiosa Derdyk
A criança desenha, entre outras tantas coisas, para divertir-se. É um jogo onde
não existem companheiros, a criança é dona de suas próprias regras... O desenho
é o palco de suas emoções, a construção do seu universo particular. O desenho
manifesta o desejo da representação, mas também o desenho, antes de tudo, é
medo, é opressão, é alegria, é curiosidade, é afirmação, é negação. Ao desenhar,
a criança passa por um intenso processo vivencial e existencial. (1994, p. 50)
Sabendo agora o que desenha e como expressa alegria, imaginação, a percepção
de mundo toma conta da criança, levando-a diferenciar seus desenhos, de acorda com o
que a rodea; sem inibir-se ao que os outros poderiam dizer sobre o novo, agindo assim,
estará essa criança tendo uma compreensão maior de si e si mundo em que vive.
Frisando mais uma vez que o desenho é forma de expressão, de modo algum,
deve ocorrer interferência por parte de segundos, nesse processo de criação; se ocorrer
sugestões como formas e cores corretas, o desenho deixa de ter a sua essência que é o
modo de expressar o que sabe, e o usa da imaginação ficará oculta.
Para se ter uma ideia, sobre o assunto; conta-se um relato de 1948, ano em que a
Escolinha de Arte no Brasil foi criada, que em Milão houve uma seleção de desenhos
feitos por crianças do mundo inteiro; dessa seleção, os desenhos das crianças brasileiras
foram recusados. Porque seriam recursados?
Estudiosos interessadas em saber o motivo da recusa dos desenhos das crianças
brasileira, procuraram os órgãos responsáveis e obtiveram a justificativa, a partir dos
estudos de Cava
[...] mais espontâneos, naturalmente, foram os preferidos. Fizemos uma seleção
na remessa de cada país e tudo o que apareceu ajudado ou menos sugerido por
adultos foi deixado de lado. No entanto, esse trabalho seletivo não pôde ser feito
em relação aos desenhos vindos do Brasil. (fala da organizadora). Nada menos
representativo, menos vivo que as produções brasileiras da exposição. Era como
se nossas crianças tivessem nascidas mortas e com falta de vitalidade. (2014, p.
56)
Por ser uma arte libertadora e criativa; é inadmissível que um adulto queira que a
criança respeite os limites de espaço de um papel, até porque esta começou a entender o
processo a pouco tempo, nas atribuições de nomes ás garatujas; ainda está adaptandose as, formas e espaços; aos poucos, vai criando capacidade cognitiva de perceber as
bordas, pontas, linhas etc., na existência do pedaço de papel.
Sem nenhuma interferência, a criança, utiliza-se de seus maiores impulsos, que
estão enraizados, e começa ter seu próprio estilo, e torna-se acima de tudo uma criança
162
FAMA – Faculdade Amadeus
II Encontro Científico Multidisciplinar – Aracaju/SE – 17 e 18 de maio 2016
alto confiante em si própria. Lowenfeld (1970, p.19), enfatiza que: “O importante é o
processo da criança- o seu pensamento, os sentimentos, as suas percepções, em suma,
as suas reações ao ambiente”.
Toda criança é diferente uma das outras, com o ato de desenhar, acontece o
mesmo, alguns desenhos destacam-se aos outros; há sempre uma criança que se
desempenha mais, pode até ser o caso de essa não ser tão boa em relação á outros
aspectos do universo infantil, mas no desenho ela capricha muito, deixando quem está ao
seu redor impressionado com tamanha admiração e apresso, e acima.
De acordo com Lowenfeld
Quando a criança se concentra em seu próprio trabalho, quando aprende a
apreciar e compreender seu ambiente, envolvendo-se dele, desenvolvendo a
atitude mental. O processo criador abrange a incorporação do eu na atividade; o
próprio ato de criar fornece a compreensão do processo por que outros estão
passando, quando enfrentam suas próprias experiências. Viver cooperativamente,
como seres bem-ajustados, e contribuir, de forma criadora, para a sociedade
torna-se um dos mais importantes objetivos. (1970, p. 28)
Analisando o que foi citado, o desenho traz grandes contribuições para a criança, e
uma delas é o de proporcionar companheirismo entre as crianças. Além do
companheirismo, há o reconhecimento do próprio eu, o desenho possibilita uma
intimidade de relação muito grande, a tal ponto, que a criança começa ter confiança em si
mesma.
Ainda continuando, Lowenfeld corrobora dizendo que:
A criança está exprimindo, assim sua própria importância, pelos seus próprios
meios, e o contentamento que deriva da sua realização se torna óbvio. A
confiança em si mesma, que é desenvolvida por esse tipo de expressão, fornece
a base para níveis mais avançados da arte. (1970, p. 30)
Pensando assim, entende-se que cada criança apresenta seu próprio nível, e é por
meio desde que a criança é ou deve ser encorajada a desenhar por seu própria maneira
de expressão; até porque no mundo artístico infantil à criança que imita, torna-se
dependente do raciocínio de outras pessoas que desenharam; nessa linha de
pensamento não acontecerá uma auto expressão, uma liberdade de expressão.
Para Lowenfeld (1970, p. 30) “a arte pode representar um papel no
desenvolvimento do eu, principalmente no caso das crianças menores; esse papel é tão
importante que, se não houvesse outras razões, já exigiria a inclusão da arte no programa
escolar”.
Falando das contribuições que o desenha favorece à criança, entende-se também
que além de contribuir, também serve como meio de compreender cada desenvolvimento,
na verdade quando são apresentados à criança possibilidades favoráveis, essa se
envolve profundamente a ponto de seu trabalho ser uma verdadeira obra prima.
163
FAMA – Faculdade Amadeus
II Encontro Científico Multidisciplinar – Aracaju/SE – 17 e 18 de maio 2016
À medida que a criança cresce, também ocorrem mudanças e transformações em
seu desenho. As contribuições do desenho de acordo com Lowenfeld (1970, p.19) são:
desenvolvimento
emocional, intelectual,
físico,
perceptual,
social,
estético
e
o
desenvolvimento criador.
O desenvolvimento emocional é caracterizado quando a criança consegui ter uma
grande relação com o desenho, nesse caso acontece uma íntima identificação entre os
dois. Lowenfeld (1977, p.19) diz: “a arte pode constituir o equilíbrio necessário entre o
intelecto e as emoções”. Nesse desenvolvimento a criança, que tem o emocional
desestruturado,
acaba
fazendo
repetições
de
outros
desenhos,
as
rígidas
e
estereotipadas repetições, onde ocorre apenas cópia, e não imaginação.
Em seus estudos Lowenfeld diz:
A criança emocionalmente livre, desinibida, na expressão criadora, sente-se
segura confiante ao abordar qualquer problema que derive de suas experiências.
Identifica-se, estritamente, com seus desenhos e tem liberdade para explorar e
experimentar grande variedade de matérias. (1970, p. 39)
O desenvolvimento social é quando a criança usa dos desenhos e pinturas feitas,
para interagir com as outras. À medida que cresce, a criança refleti sobre a
conscientização, no ambiente em que vive. Se conscientizado do conceito social, é
normal nesse processo a criança desenhar, profissionais que trabalham em favor da
sociedade, como bombeiros, médicos e professores. Lembremo-nos que Lowenfeld
expressa em suas pesquisas que:
O significado da capacidade do individuo para viver de forma cooperativa em sua
sociedade. Essa capacidade só pode ser desenvolvida, se a criança aprender a
assumir a responsabilidade pelas coisas que está fazendo, se for capaz de
enfrentar suas próprias ações e, assim, fazendo, identificar-se com outrem. (1970,
p. 39)
No estético, a criança organiza seu pensamento, juntando a sensibilidade e a
percepção, onde se busca a perfeição artística, integrando experiências, harmonia,
através de “linhas, contexturas e cores utilizadas”. Esse processo diz respeito muito à
personalidade de cada criança. O desenvolvimento criador, o próprio nome já o classifica,
é o processo em que a criança tem a todo momento: criar, fazer acontecer através de sua
imaginação. Esse desenvolvimento acontece desde o processo das garatujas.
3 CADA DESENHO: UMA HISTÓRIA
Rabiscar num simples papel, para um adulto, não é lá essas coisas, é apenas um
momento em que está fazendo algumas anotações para não esquecer no seu cotidiano
corriqueiro; mas para uma criança pequena, rabiscar significa muita coisa. Daiane Leão
164
FAMA – Faculdade Amadeus
II Encontro Científico Multidisciplinar – Aracaju/SE – 17 e 18 de maio 2016
Simas (2001, p. 33), enfatiza em sua monografia ao citar Edith Derdyk (1993, p. 10) que:
O prazer de rabiscar, faz a criança “[...] num piscar de olhos descobre uma “gente”, uma
“semente”.
A autora aponta que o rabisco, é apenas uma ponte onde se inicia toda uma
preparação a infinitas coisas, traços, riscos, borrões, que formam pessoas, objetos e
nomes. Interessante que quanto menor for a criança, menor também será sua expressão
de desabafo, através do rabisco. A criança se entrega tanto ao rabisco na fase inicial que
“não tem tempo sequer para olhar à sua volta ou suspender seus movimentos”.
(LOWENFELD,1977, p.95).
No processo de rabiscagem, a criança também começa a desenvolver algumas
habilidades, como o senso de organização, exemplo é quando lhe é apresentado um
papel e lápis, então a criança começa a rabiscar, para, e percebe que seu desenho esta
voltado somente para um lado da folha, sendo que a outra metade ficou em branco,
inconscientemente, ela se organiza ampliando algumas mudanças para que seu desenho
tome por completo o papel.
É de grande importância para a criança determinar o resto do espaço na folha,
mais para isso Lowenfeld (1970), enfatiza que a uma necessidade da criança fazer
contraste das cores, ou seja, o lápis preto sempre será sobre o papel branco, ou o giz
branco no quadro-negro. Estas cores são estabelecidas, até a criança entrar na fase de
atribuir nomes, onde poderá escolher outras cores, como assim desejar.
Como sendo também um ato de expressão jamais se deve corrigir a arte feita pela
criança, a sempre um sentido e razão que a levou a desempenha-la. “Enquanto a criança
estiver satisfeita com sua própria expressão, não deveríamos interferir em seu trabalho,
pois isto só servira para torná-la inibida.” (LOWENFELD, 1977, p.31). A intenção da
criança, em suas primeiras expressões, não é o belo, a estética, e sim, a importância do
ato de que sua marca fique registrada.
Os rabiscos, denominado garatujas, teve sentido ampliado desde a década de
1970, através da pesquisadora Rhoda Kellogg, quando foi percebida certa regularidade
nas produções, criadas por crianças de 3anos. Segundo a pesquisadora, a produção das
garatujas, promove na criança uma importante exploração de experiências iniciais, pois as
garatujas são os primeiros passos ao mundo artístico infantil.
Kellog mapeou 20 tipos de rabiscos de crianças, onde foi percebido que as
combinações dos rabiscos, são convergidos seis diagramas básicos: círculo ou oval,
165
FAMA – Faculdade Amadeus
II Encontro Científico Multidisciplinar – Aracaju/SE – 17 e 18 de maio 2016
quadrado ou retângulo, triângulo, cruz ou X e formas irregulares. Como está representada
na figura 1 abaixo:
Figura 1 – mapa de rabisto
Fonte: Revista Nova Escola, edição 228, dezembro 2009.
Ao começar a registrar seus desenhos, a criança entra em figuração- uma relação
topológica entre os objetos, essa relação pode ser pela proximidade e distância;
continuidade e descontinuidade. Partindo dessas relações se interessa em desenhar tudo
o que esta ao seu redor, usou recursos coma a transferência e o rebatimento. A
transferência é quando ela desenha imaginando, por exemplo, um cachorrinho na barriga
da mãe cachorra; o rebatimento é quando se vir a figura por vários ponto de vista.
A artista e estudiosa Edith Derdyk (1990) enfatiza que há expressividade no
desenho quando existe uma afinidade entre a mão, gesto e instrumento, o pensar no
desenho faz-se acontecer. O desenho comunica, transmite sentido á sensações, traz
implícito, os sentidos, pensamentos e realidades de uma criança, por meio de linhas,
traços, cores e formas; desenhando, há representações de personagens do mundo
adulto, no desenho é possível perceber gráficos e traços do mundo real, feitos pela
observação cotidiana da criança, que depois começa a imita-los.
Ferraz e Furasi apontam:
166
FAMA – Faculdade Amadeus
II Encontro Científico Multidisciplinar – Aracaju/SE – 17 e 18 de maio 2016
A criança em atividade fabuladora ou expressiva participa ativamente do processo
de criação. Durante a construção ela se coloca uma sucessão de imagens, signos,
fantasias [...] importantes para o conhecimento da produção da criança e
evidenciam o desenvolvimento e expressão de seu eu e de seu mundo. Para a
criança, essa linguagem ou comunicação que ela exercita com parceiros visíveis
ou invisíveis, reais ou fantasiosos, acontece junto com o seu desenvolvimento
afetivo, perceptivo e intelectual e resulta do exercício de conhecimento da
realidade. (1993, p.56)
Os desenhos podem ser do tipo: memorização, observação, criativa e individual. O
desenho pela memorização é aquele realizado pela memória da criança, essa não tem
nada pra observa enquanto desenha. O desenho de observação é quando existe algo a
ser observado pela criança, tendo objetivo de transforma-lo no papel. O criativo pode ser
livre ou dirigido: sendo livre, vem da própria imaginação e criatividade.
A espontaneidade é o que caracteriza o desenho infantil. O desenho dirigido é
quando o adulto estabelece um tema para a criança desenhar, sendo livre a sua criação.
A representação individual, o aluno tem seu próprio estilo, tendo sempre um estímulo do
seu professor.
Pode ser uma simples bobagem, alguns podem até pensar, quando ver uma
criança desenhando, podem até comentar dizendo que os professores deixaram a criança
desenhar por não ter mais o que fazer em sala de aula; ou até mesmo, em casa os pais
dão lápis e papel pra que a criança posso se entreter, e deixá-los resolver as coisas. O
que não se pode de maneira alguma esquecer é que: o desenho é um ato de expressão,
todos, independentes de ser criança ou adulto, temos necessidade de expressamos
dessa forma.
É interessante, quando observamos, seja no chão, parede, areia, barro ou até em
vidros de carros ou ônibus, crianças por simples expressões que seja sempre conseguem
deixar alguma marquinha, nesses lugares, sejam nomes, desenhos, rabiscos ou até
pequenos pontinhos, feitos por meio da poeira deixada no vidro do carro do papai, essas
expressão podem não apresentar beleza alguma, mais foi feita através do envolvimento
em que a criança estabeleceu com o momento oportuno.
Philippe Greig diz o seguinte:
Quando a criança se instala com sua folha de papel contra a parede, ela encontra
um espaço que se torna um prolongamento de seu “eu”, no interior do qual ela
pode tudo. Essa superfície branca, tela ou espelho, permite que, sozinha consigo
mesma, viva um momento fora do tempo e do espaço reais, rico de sensações e
de necessidades pessoais... Exprimir-se aparece aqui como um ato que permite
ser ela mesma e um modo de se libertar: A expressão proporciona um grande
alívio, uma enorme satisfação. Ela realiza um ato sério, dramático, que desperta a
alegria e às vezes também uma profunda dor. [...] (2004, p. 141)
É brincando e fantasiando, que nessa forma a criança deixa seu rastro por onde
anda, sua expressão, sua marca, e assim vai gradativamente construindo sua história,
167
FAMA – Faculdade Amadeus
II Encontro Científico Multidisciplinar – Aracaju/SE – 17 e 18 de maio 2016
sendo esta, feita do seu próprio jeito. Para Oliveira (1994, p.46): “Experiência gráfica é
uma manifestação da totalidade cognitiva e afetiva, quanto mais à criança confia em si,
mais ela se arrisca a criar e a se envolver no que faz”.
O desenho deve ser visto como um processo mediador á uma aprendizagem
significativa, por isso deve ser visto pelo adulto que acompanha a criança, como um
instrumento preparatório, exercitando o desenvolvimento imaginário e propondo
posteriormente a linguagem e escrita.
Em seus estudos Vygotsky (1998, p. 29), enfatiza que “a criança, à medida que se
torna mais experiente adquire um número cada vez maior de modelos que ela
compreende.” Quando mais propicia oportunidades para a criança expressar seus
sentimentos, muito mais ela estará apta a responder cognitivamente ao mundo ao redor.
Já Piaget (1978), dá dois sentidos para o que chamamos de representação: um ele
chamou de representação conceitual- inteligência no sistema de conceitos; e a
representação simbólica – imagens mentais, lembrança das realidades. O símbolo é a
primeira maneira de a criança representar; os símbolos ele são construídos, na medida
em que a criança sabe ter relação com o objeto a ser representado. O autor enfatiza que
os desenhos estão bem mais próximos de serem símbolos. Já os signos são feitos, mais
sem nenhuma relação com o objeto que o representa, exemplos, números, letras.
Em suas considerações Piaget (1978) diz que a criança desenha mais o que sabe
do que realmente consegue ver. Ao desenhar ela elabora conceitualmente objetos e
eventos. Daí a importância de se estudar o processo de construção do desenho junto ao
enunciado verbal que nos é dado pelo indivíduo.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o estudo apresentado conclui-se que não importa o lugar, a criança sempre
terá motivos pra desenhar, até porque sua imaginação é infinita, seu contexto social
sempre apresentam novidades, boas ou mais, tristes ou alegres, as quais servirão de
inspiração para suas expressões.
Não são apenas traços, linhas, formas ou até mesmo simples passatempo; cada
desenho possui uma realidade a ser dito, um grito a ser ouvido. É desenhando que a
criança faz um encontro consigo mesmo, obtendo conhecimento do mundo ao seu redor.
Portanto percebe-se que os desenhos não são traços isolados, revela o
conhecimento, que a própria criança, tem de si mesma e do mundo, sendo adquirido
168
FAMA – Faculdade Amadeus
II Encontro Científico Multidisciplinar – Aracaju/SE – 17 e 18 de maio 2016
socialmente, vemos, por exemplo, que muitas crianças, desenham o pai, mãe, irmãos, a
família, bonecos, flores, carrinhos, casas. Seu raciocínio, habilidade de pensar evolui a
cada momento, seja na cada cor á ser pintada, detalhes feitos, traços formados e nomes
que são dados.
Por algumas vezes, se percebeu no estudo de caso que tinham crianças que não
queria aprender o conteúdo passado, como por exemplo: a letrinha A; mas com a
criatividade, em propor que se aprendesse desenhando a letrinha; as crianças se
animaram em querer estudar. Importa-se entender que cada criança é diferente e que
necessita de estímulos para o ensino aprendizagem.
A peça central é sempre a criança, a continuação do processo da expressão
depende do ambiente, professor ou do adulto que acompanha. O professor tem um papel
fundamental, em proporcionar, um momento, um ambiente agradável, para que a criança
explore de sua imaginação.
O desenho não pode ser usado como uma maneira de tapar o buraco da aula, tipo:
o professor não tem nada pra fazer, e pensa em dar papel e lápis às crianças, para que
elas se entretenham e a aula passe rapidamente. O momento artístico da criança com
seu desenho deve ser usado como intermediador das aulas deve haver uma significação,
seja desenhar o pai ou a mãe (homenageando-os), ou um desenho livre, mas que no final
o professor, pergunte a essa criança o que foi feito, e que anote ao lado do desenho.
A representação do que a criança conhece é fantástica, no decorrer de cada idade,
percebe-se que as “perfeições”, vão se formando, os detalhes vão sendo feitos, e dos
rabiscos se têm grandes e formosos desenhos. Para tanto é necessário que ao se tratar
de desenho, sempre deve ser oferecidos, ferramentas variáveis a serem utilizadas.
O desenho não está condicionado ao que a criança é ou deixa de ser; é um
procedimento que acontece naturalmente, com estímulos da imaginação. Os desenhos
são considerados resultado da compreensão que a criança tem com o mundo, estímulos
ao seu desenvolvimento intelectual. Os desenhos não acontecem por acaso.
A espontaneidade é da criança, ela desenha o que lhe interessa o que mais lhe
chama atenção, portanto, não é conveniente dá-se palpites ao desenho feito pela criança,
apenas ela conhece e sabe o motivo de tê-lo feito no modo como fez. Precisamos estar
cientes de que, para a criança, não importa o tamanho, se é grande, pequeno, alto, baixo,
bonito ou feio, seu desenho, foi naquele momento, sua maior expressão das informações
que venho do meio em que essa estava. A criança faz a arte, por sua própria
espontaneidade, ou seja é próprio da criança desenhar.
169
FAMA – Faculdade Amadeus
II Encontro Científico Multidisciplinar – Aracaju/SE – 17 e 18 de maio 2016
Há necessidade de falar para os pais, que propiciem momentos para seus filhos,
envolverem-se no mundo do desenho, da fantasia, da imaginação; além disso, estarem
sempre prestando atenção ao que desenham, pois esse desenho pode transmitir algo a
ser dito que a criança não conseguiu falar verbalmente.
Diante dos estudos bibliográficos feitos para realização desse artigo, foi possível,
perceber que o desenho é o primeiro passo para a linguagem escrita da criança; pois se
ela tem, quando ainda pequena, a capacidade de expressão, mais adiante estará
apropriada para o sistema de escrita; sendo esta também uma forma de expressão. Os
símbolos são as primeiras formas que a criança conhece, pois através da representação
simbólica, a criança conheceu o mundo, e consegui orienta-se também.
O desenho transforma a tristeza em alegria, ao desenhar, é como sair do mundo
real, e dele transportar ao mundo fantástico. A imaginação é fantástica, de um único
pontinho ou traçado, a criança faz várias coisas; não importa se for, no papel, no chão, na
parede, janela do carro, no barro, na areia; com lápis preto, sem lápis preto, com o dedo,
com lápis de cor, interessa pra criança, expressar seus sentimentos, a partir do momento
em que esta tem necessidade e vontade.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Resolução nº 5, de 17 de dezembro de 2009, Fixa as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Infantil. Disponível em: <www.mec.com.br>. Acesso em: 03
set. 2015.
______. Ministério da Educação e da Cultura. Secretaria de Educação Fundamental.
Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil. Formação Pessoal e Social:
MEC/SEF, 1998b.
CAGLIARI, L. C. Alfabetização e Lingüística. 10. ed. São Paulo: Scipione, 1997.
______. Elementos de fonética do português brasileiro. São Paulo: Paulistana, 2007.
CAVA, Laura Célia Sant´Ana Cabral. Ensino de Arte e Música. Londrina: UNOPAR,
2014.
DERDYK, Edith. O desenho da figura humana. São Paulo: Scipione, 1990.
______. O desenho da figura humana. São Paulo: Scipione, 1993.
______. Formas de pensar o desenho: O desenvolvimento do grafismo infantil. Série:
Pensamento e ação no magistério. São Paulo: Scipione, 1994.
170
FAMA – Faculdade Amadeus
II Encontro Científico Multidisciplinar – Aracaju/SE – 17 e 18 de maio 2016
_____. Formas de pensar o desenho? Desenvolvimento do grafismo infantil. São Paulo:
Scipione, 2003.
FERRAZ, Maria Heloísa de Toledo.;FUSARI, Maria F. de Rezende. Metodologia do
ensino da arte. São Paulo: Cortez, 1993.
______. Metodologia do Ensino de Arte. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1999
FREIRE, J. B. Educação do corpo inteiro: teoria e prática da educação física. São
Paulo: Scipione, 1997.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6.ed.-São Paulo:Atlas,
2008.
GREIG, Philippe. A criança e seu desenho:o nascimento da arte e da escrita. Porto
Alegre: Artmed, 2004.
LIMA, Elvira de Souza. Como a criança pequena se desenvolve. São Paulo:
Sobradinho, 2001.
LOWENFELD, V.; BRITAIN, W. L. Desenvolvimento da Capacidade Criadora. São
Paulo: Mestre Jou. 1970.
______. A criança e sua arte. São Paulo: Mestre Jou, 1977.
OLIVEIRA, Vera Barros de; BOSSA, Nádia (orgs.) Avaliação Psicopedagógica da
criança de zero a seis anos. Petrópolis: Rio de Janeiro, 1994.
PIAGET, Jean . A formação do símbolo na criança. Rio de janeiro: Zahar, 1978.
SEBER, Maria da Glória. A escrita infantil. São Paulo. Scipione, 1997.
VIGOTSKI, Lev Semenovich. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes,
6º Ed. 1998
YIN, Robert k. Case Study Research: design and methods. 2005.Traduzido por: Ricardo
L. Pinto. Adaptado por: Gilberto de A. Martins. Disponível em:
<http://www.eac.fea.usp.br/metodologia/estudo_caso.asp>. Acesso em: 29 jul. 2015
SITES CONSULTADOS
http://www.brasilescola.com/historiag/a-arte-rupestre.htm Acesso em: 02 set. 2015.
www.mec.com.br. Acesso em: 03 set.15.
Publicado em NOVA ESCOLA Edição 228, Dezembro 2009. Título original: Rabiscos e
ideias. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/formacao/rabiscos-ideias-desenhoinfantil-garatujas-evolucao-cognicao-expressao-realidade-518754.shtml Acesso em: 29
set. 2015.
www.novaescola.com.br Acesso em: 29 set. 2015.
171
FAMA – Faculdade Amadeus
II Encontro Científico Multidisciplinar – Aracaju/SE – 17 e 18 de maio 2016
http://criartes.webnode.com.br/products/tipos-de-desenho. Acesso em: 30 set. 2015.
http://sinop.unemat.br/projetos/revista/index.php/eventos/article/viewFile/395/236. Acesso
em: 30 set. 2015.
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141569542010000200003 .
Acesso em: 01 out. 2015.
http://www.uneb.br/salvador/dedc/files/2011/05/Monografia-Daiana-Leao-Simas.pdf Acesso em: 01out. 2015.
http://www.acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/449/1/01d14t06.pdf. Acesso em:
30 out. 2015
172