Tendências em exposição
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Tendências em exposição
Internacional Por Hudson Silveira Divulgação Chicago na primavera: temperatura agradável e as tulipas coloridas enfeitando o caminho Tendências em exposição NRA, nos Estados Unidos, apresenta as tendências em food service que servem como bussólas para os caminhos da indústria da carne daqui para frente O maior evento mundial da área de food service se deu no último mês de maio em Chicago, Estado de Illinois, nos Estados Unidos. O National Restaurant Association Show 2013 (NRA) é um evento patrocinado pela entidade homônima que congrega mais de 500 mil 34 associados representando a indústria de food service norte-americana; comer fora de casa é uma paixão e uma necessidade do povo da América. Neste ano, mais de 60 mil visitantes, mais de 1900 estandes sendo aproximadamente cem deles de países expondo seus produtos e mais de 80 palestras. Agosto 2013 Falou-se e mostrou-se muito sobre os desafios que este setor vem vivenciando nos últimos anos, bem como caminhos para solucionar os problemas de rentabilidade e a baixa no tráfego de clientes que os restaurantes vêm sofrendo desde o início da crise em 2007/2008 nos EUA. Mais que uma feira, o NRA Show 2013 também trouxe palestras especificas, chamadas de education sessions, sobre vários temas do setor que foram proferidas por profissionais, técnicos e executivos que vivem o dia a dia do mercado em suas empresas. Temas como o redesenho de menus, como saber se meu restaurante está pronto para o franchise, estratégias de compra para períodos turbulentos e como a possível nova lei dos planos de saúde podem afetar o negócio, entre outros; eram palestras disputadas quase sempre com sala cheia. Dentre as atrações da feira, uma era especificamente para se tirar dúvidas sobre um tema que esta tirando o sono dos operadores de restaurantes, a entrada da obrigatoriedade das empresas fornecerem seguro saúde para seus funcionários. Nos EUA, diferente de outros países, não há saúde pública, toda a saúde é privada e o governo Obama está tentando universalizar o acesso à saúde a todos os norte-americanos e isto vai elevar os custos de operação do setor, que, muito provavelmente, não serão integralmente repassados aos preços e vai corroer ainda mais as margens do negócio; muitos ainda não sabem como farão para se manter operando em um nível de competitividade adequado. O setor de food service do país vem sofrendo desde o início da crise em 2007/2008 com a redução da frequência de clientes, a elevação de preço dos alimentos e em especial da proteína animal, do alto nível de desemprego e do aumento dos custos de operação. Em meu artigo de maio de 2010 nesta revista, eu comentei sobre os resultados desastrosos do setor impactado pela crise, redes com Outback Steakhouse e suas coligadas nos EUA – Bonefish Grill, Fleming’s Steakhouse e a cadeia Wine Bars – perderam juntas 10,2% de faturamento no terceiro quarto de 2008 fechando o ano com queda de 4,9% comparado ao resultado do ano de 2007. Outras empresas com o T.G.I Fridays, Applebee’s, IHOP, todos eles lutando para recuperar os números de tráfego e vendas. Naquela época, em 2010, o então CEO da empresa H.J. Heinz Co., William Johnson, em entrevista ao The Wall Street Journal, afirmou que este comportamento norte-americano de economizar, nascido na crise econômica de 2008, não é um fenômeno temporário e sim um novo comportamento. Houve muita migração de alimentação dos restaurantes para as casas. William Johnson estava certo nas suas afirmações, três anos depois e mais do que nunca, o norte-americano busca mais que preço baixo, ele busca valor em cada uma de suas refeições tornando a vida dos restaurantes cada vez mais difícil em agradá-los com sabor, qualidade e preços acessíveis, problemas diferentes dos encontrados nas décadas passadas. Para solucionar os problemas diferentes há necessidade de soluções também diferentes. Para isto a feira contou com uma área de inovações e se instituiu uma premiação para as melhores soluções por meio de um júri de especialistas em cada categoria. O prêmio de inovações foi dividido em categorias, sendo elas alimentos e bebidas, cozinha e Agosto 2013 35 35 Internacional Divulgação Divulgação Visão geral da feira Estande da Premier Foods (Wagyu Burgers, Suíno berkshire) operações; esta última categoria era também dividida em subcategorias como, por exemplo, em segurança alimentar, saúde e nutrição, desenvolvimento de menu, sustentabilidade e tecnologia. Cabe destacar o tema sustentabilidade com foco em redução do desperdício, um tema que cresce cada vez mais nos vários segmentos dos negócios no mundo, não só no food service. Dos projetos selecionados como finalistas para o prêmio de sustentabilidade, destaque para a operação de dois restaurantes localizados em universidades, o primeiro na Kannesaw State University, onde o restaurante serve mais de 5000 36 refeições por dia e fez um trabalho de integrar vários programas de sustentabilidade baseado em aproveitar tudo que passa pelo restaurante, sendo o gerenciamento dos resíduos a peça-chave do programa. Com esforços de trazer os alimentos da fonte mais próxima possível, está se reduzindo o impacto com transporte e retorna-se para a fazenda sobras para compostagem ( Farm-to-Campus-to-Farm), reciclagem de água, digestão aeróbica dos resíduos, óleo usado nas frituras para geração de biodiesel, entre outras iniciativas a fim de reduzir o impacto da operação no meio ambiente. O outro exemplo é da Universidade de Wisconsin Oshkosh, que também implementou em seu restaurante um projeto inovador com o desenvolvimento de um biodigestor para fermentação a seco de resíduos orgânicos para geração de gás metano a ser consumido no campus para gerar eletricidade. Esta eletricidade gerada hoje chega a representar 10% da necessidade do consumo de eletricidade do campus, além de produzir adubos e aquecimento em locais por meio do calor gerado no processo de fermentação. Na parte de tecnologia o uso de menus em tablets, e não mais no tradicional papel, vem aumentando. Tive a oportunidade e ir a um restaurante com esta tecnologia em Chicago e a experiência de selecionar fica mais interessante e prazerosa, pois fotos e vários outros elementos podem ser incorporados para ajudar o cliente na sua escolha. Agosto 2013 Internacional Divulgação Costela Suína Assada na Brasa pronta para consumo, produto para o food servisse Na parte de saúde e nutrição, a preocupação com a alimentação cada vez mais saudável passa por programas de redução de sal e uso de alimentos cada vez mais frescos. O incentivo ao consumo de produtos com menos gordura instituído no restaurante do Overlook Medical 38 Center em New Jersey, fui um dos finalistas da categoria; o cliente pode se associar ao programa de recompensas chamado pontos por bom comportamento (Points for Good Behavior). Quando se consome produtos que são elencados como promotores de benefícios para saúde o consumidor ganha pontos no caixa e troca os pontos por descontos no restaurante, a cada 200 pontos ganhos um desconto decinco dólares na conta. Na Universidade de Stanford na Califórnia, o menu do restaurante foi criado com apoio da parte atlética da universidade, bem como da escola de medicina da faculdade e do Instituto Culinário da América, onde é realizada uma análise holística da nutrição que, ao invés de contar calorias e gorduras, foca na influência positiva dos alimentos divididos em seis categorias ajudando Agosto 2013 Agosto 2013 Divulgação FoodTruck externo (acima) e Estande Sysco – Carne de Angus Certificada Divulgação os alunos, corpo docente e funcionários a melhorar e aumentar a seu pico de performance mental e física. Também a Força Aérea norte-americana implementou programas onde a seleção dos alimentos, metodologia de cocção e disponibilização de refeições diferentes, guia os militares a fazer escolhas mais saudáveis em suas refeições, ajudando a elevar o nível de alerta, recomposição energética e saúde como um todo. O programa foi avaliado como de sucesso quando os resultados foram comparados entre usuários e não usuários do programa. Agora, vocês devem estar se perguntando o que tudo isto tem haver com as carnes? Ora tem tudo a haver. Quando falamos que a proteína animal representa o maior valor nos pratos no food service e o mercado esta passando por transformações em como consumir os alimentos fora de casa, isto tem tudo haver com os produtos que a indústria de carnes terá que fazer. E por falar em carnes, apenas alguns representantes da indústria estavam presentes, mais processadores do que frigoríficos, dos grandes norte-americanos, apenas a Hormel estava presente. Os canadenses com a sua associação de carne bovina, os australianos e neozelandeses também com carnes bovina e ovina, estiveram presentes sendo as empresas com estandes sob o guarda-chuva da associação. Dentre os destaques das carnes, está a bovina da raça Wagyu, raça japonesa famosa, criada também nos EUA e conhecida popularmente também como Kobe Beef, onde a busca por maior valor agregado e diferenciação esta se mostrando mais presente. Chamou-me a atenção como produtos mais comuns e corriqueiros do fast food, como hambúrgueres e salsichas, já se tornam mais disponíveis no mercado com esta matéria-prima, eles ampliam o seu status de gourmet para uma tentativa de popularização do consumo do item, além da sua forma em cortes como contra-filé, ponta de contra-filés. Os hambúrgueres e salsichas preparados com carne de Wagyu se proliferam, bem como os produtos cozidos ou semiacabados. Nos estandes da Premier Proteins, que além do Waguy trazia produtos de suínos da raça Berkshire, a Hormel com produtos cozidos de suínos, a raça Angus também apareceu forte com produtos certificados em empresas como a Sysco. Na área de aves, as demandas são para produtos cada vez mais naturais, com cara de fazenda, tanto que um dos produtos da TFC Poultry, empresa sediada em Ashby Minesota, o Free Range and Antibiotic free Heritage Chicken. Em uma tradução livre seria “frango local criado solto e livre de antibióticos” é chamado de The Ugly Chicken ou o Frango Feio, por ser criado totalmente natural. Os restaurantes sobre rodas ou Foodtrucks, como são chamados, também foram destaque. Uma febre nas grandes cidades como, por exemplo, New York e Miami, vão muito além do que as carrocinhas de cachorro quente ou churrasquinho grego no meio da rua, são verdadeiras cozinhas completas ambulantes que são capazes de fazer pratos sofisticados sem perder a higiene e segurança alimentar. É o verdadeiro eat on the go, uma das tendências da alimentação fora de casa a mobilidade, desta vez não em relação ao alimento de ser consumido em trânsito, mas sim de levar a comida à diferentes pontos das cidades. O mercado de food service, demanda produtos de valor agregado, os clientes estão ávidos por novidades, valor e novas experiências de consumo. Isto acontece nos EUA, aqui no Brasil não é diferente, eu vivo isto diariamente e atender este mercado dinâmico não é fácil, inovação é um ponto que todos devem se atentar, seguido das práticas de sustentabilidade e no fato de que os consumidores estão cada vez mais atentos nas suas escolhas. Hoje em nossas ruas, o povo clama por mudanças, hoje políticas, nos restaurantes clamam por novidades e novas experiências de consumo, quem se habilita? Mês que vem tem mais, até lá. 39