Landshapers: território do Freestyle, uma geografia do skate O

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Landshapers: território do Freestyle, uma geografia do skate O
Landshapers: território do Freestyle, uma geografia do skate
Ana Gabriela Araujo – PPGG/UFRJ. E-mail: [email protected]
O espaço geográfico reflete e condiciona territórios e territorialidades que revelam a variedade de
relações de comum existência num mesmo espaço-tempo. Algumas dessas intencionalidades expressam
singularidades e criatividades frente à força pretensiosamente hegemônica do capital e suas produções
espaciais. Da mesma forma, o Skate é composto por uma variação de modalidades e significados. Seus
praticantes chegam a denominá-lo como um “estilo” ou “filosofia de vida”. A atividade pode expressar
insubordinação e resistência à ordem sócio-espacial capitalista ao se apropriar dos espaços para a
realização das manobras, e nesse sentido será abordada, a partir de sua resignificação de espaços
públicos constituídos pelo caráter disciplinador, como as escolas públicas, em seu viés denominado estilo
livre, ou freestyle.
Na direção de contribuir com as reflexões teórico-metodológicas do conteúdo da geografia a
cerca do conceito território, o trabalho analisa elementos da prática sócio-espacial do skate freestyle,
grupo que apresenta um território com sentidos que superam o entendimento tradicional do conceito;
trabalhado por muito tempo na ciência geográfica como uma noção voltada estritamente ao Estado ou ao
processo de acumulação do capital, e definida pela delimitação fixa e contínua “no” espaço e por ser
materialmente concreta.
De forma mais específica, pretende ampliar as leituras de nossa sociedade propondo a
interpretação da geograficidade do skate freestyle enquanto prática criativa de re-apropriação do espaço
geográfico, nos campos do simbólico e do concreto. Uma perspectiva de engajamento social presume a
aplicação da pesquisa numa relação de complementaridade com os agentes do freestyle. Para o
fortalecimento do uso político das relações construídas pelo grupo, no estabelecimento de espaços mais
plurais e menos heterônomos, o trabalho de geógrafos pode assim se articular.
Ainda que o termo freestyle evoque uma série de entendimentos, como: 1) a liberdade no andar
de skate sem se adequar a preceitos pré-estabelecidos ou padronizados, sendo um estilo livre, portanto,
qualquer (ou todos eles); 2) um andar “instituído” mas que ainda não obedece os formatos e estilos
tradicionais no skate e sem agregar todas elas, não sendo overall, ou ainda; 3) a própria modalidade
profissional Freestyle instituída dentro do Skate competitivo. Abordaremos neste artigo elementos que
configuram o freestyle dentro do skate como territorialidade específica, exercida por conteúdos materiais,
imateriais e simbólicos.
Tanto o não instituído, praticado sem maiores pretensões a não ser realizar as manobras na
possibilidade de super(ação) a todo instante (seja do indivíduo realizador, seja do meio – que a cada
olhar pode ser (re)utilizado objetivamente); quanto o institucionalizado como modalidade profissional
reconhecida mundialmente e o “instituído” em expressividades do freestyle em suas imaterialidades e
relações simbólicas: como a estética e a cultura do grupo (como a música); e em outras produções que
co-substanciam o exercício das manobras, e são reconhecidamente importantes para o fortalecimento da
prática (nessas produções, o território do freestyle além de possuir a ciberespacialidade dos sites, blogs,
fotologs, etc., é composto por imagens em vídeos e fotos que materializam produtos da ação do grupo e
movimentam uma economia de mercado).
O freestyle, uma das primeiras práticas do skate, se define como a modalidade mais livre do
skate e consiste em realizar manobras ritmadas pela música em lugares variados. Usando as ruas e
espaços inusitados, vai além das formas ordinárias do espaço urbano, se realizando ao se apropriar
dessas formas. O retorno deste “estilo de vida” ao campo do skate na virada do século pode expressar
um movimento de insurgência aos espaços construídos para a prática do skate nos anos 1990,
normatizadores. A persistência da freestyle em espaços públicos como os pátios das escolas, indica a
potencialidade do grupo de re-significação desses equipamentos públicos do espaço urbano da
sociedade capitalista atual, espaço fortemente influenciado pela lógica de poder disciplinar, inspirada no
panóptismo de Jeremi Benthan (2000).
Desconsiderando os limites construídos para o Skate, o freestyle não é visto somente como um
esporte de competição, sendo considerado uma “filosofia” não comercializável e que em seu discurso
reforça a liberdade. Configura-se como um movimento, que, de passagem, se realiza em si e no instante
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empreendido, a partir das possibilidades do meio e da criatividade dos praticantes. Ainda que muitas
vezes sequer registrado, em sua ação expressa relações de imanência sócio-espacial.
O trecho abaixo, retirado do site da União dos Skatistas do Freesyle, ilustra a variedade de
intenções e sentidos da prática, como a atmosfera de amizade e diversão, trabalho e saúde; e também
as diversas “posições” dos indivíduos neste encontro específico (como videomakers ou atletas em níveis
variados) e o papel do ciberespaço na comunicação do grupo:
Os skatistas de freestyle se juntaram no último sábado, dia 19, para uma jam session no
parque Ibirapuera, em São Paulo. Iniciantes, amadores, profissionais e algumas
personalidades puderam andar de skate, compartilhar experiências e trocar idéias. A
energia positiva de todos criou um ambiente saudável onde o principal objetivo foi a
confraternização. O cinegrafista Anderson "Tuca" registrou os principais momentos entre
manobras e depoimentos, que serão publicados em breve no programa SkateParadise.
Fique antenado! Isnard Rocha. (www.sk8.com.br, publicado em 26/12/09, acesso em
06/01/10).
SK8 Livre!!
O skate é um esporte criado na Califórnia (EUA) na década de 1960. Adaptação do surf, a
atividade consiste em deslizar sobre o solo e obstáculos equilibrando-se no skate, uma prancha (shape
ou deck) com dois eixos e quatro rodas. É considerado um esporte radical pelo risco de quedas e lesões
e exigência física e psicológica e envolve a criatividade, pois sua proficiência é verificada pelo grau de
dificuldade das manobras executadas. Segundo a página eletrônica da Confederação Brasileira de Skate,
existem mais de 300 competidores profissionais em atividade no país e mais de 10 mil competidores das
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categorias de base , nestes termos, a participação feminina representa 3% do contingente, entretanto
vem ganhando espaço nos últimos anos (CBSK, 2009).
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Diremos meio o lugar, o espaço material onde é realizado, como as ruas, os pátios, enfim, os locais onde se manifesta.
Feminino 1 e 2, Infantil, Mirim, Iniciante, Amador 1 e 2,; e de veteranos (Master, Grand Master e Legends).
Não existem muitos dados estatísticos sobre seu crescimento. A 100%, uma das maiores revistas
especializadas na área, mapeou em 2006 a existência de 1024 pistas distribuídas em todos os estados
brasileiros. Ainda segundo a CBSk, as entidades reguladoras passam de 130 (entre associações,
federações e a confederação) e seu mercado fatura aproximadamente R$250 milhões por ano; o Brasil
possui a segunda maior indústria mundial, sendo importante exportador de seus produtos.
Os primeiros formatos do skate foram o Downhill, o Freestyle, o Pool Riding. O primeiro foi
adaptação dos que pretendiam a sensação do surf no asfalto, descendo ladeiras. Com o passar do
tempo, diversas modalidades
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deram novas formas e conteúdos à atividade, o que expressa a
diversidade de relações em torno do skate. O Pool Riding surgiu na intenção de praticar dentro das
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piscinas vazias na Califórnia, que tem forma de bowl (bacia), muito comuns nos EUA . A modalidade até
hoje é praticada e promove a construção de bowls semelhantes a essa forma original, encontradas em
diversas partes do mundo, como em paises tropicais como o Brasil.
O Freestyle é a modalidade que apresenta várias manobras em sequência, geralmente no solo, e
deu origem a maioria das manobras do skate. Cada skatista efetua suas combinações de manobras num
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certo tempo de forma livre e afinado com a música, sua trilha . Na sua variação skate de rua (Street
skate), os praticantes utilizam a arquitetura da cidade e seus equipamentos urbanos, bancos, escadas e
corrimãos, como obstáculos. O Freestyle é considerado de alto nível de dificuldade e possui semelhanças
com o Street e o Downhill, como o acontecer nas ruas, sem o condicional de maiores construções e
estruturas de apoio, fato que os torna mais baratos e acessíveis em relação às outras modalidades; nem
sempre primar pela competição, e ter como registro significativo a materialidade das imagens que
circulam nas revistas e vídeos especializados.
A consolidação do skate hoje envolve toda a diversidade de suas concepções, o que pode ser
observado no organograma da CBSk que possui Conselhos específicos para cada modalidade. Nesses
50 anos, a prática passou das três citadas para uma variedade, outras mais “modernas” e “elaboradas”
que tiveram grande notoriedade na década de 90. A década de 1990 foi o período de maior crescimento
do esporte, entretanto o freestyle perdeu (literalmente) espaço para modalidades que tornaram o skate
mais conhecido e lhe imprimiram formas mais comerciais, como o Vertical e o Big Air.
A partir daí e com sua profissionalização, o skate movimentou e movimenta uma dinâmica de
produção sócio-espacial que o configura portador de certa territorialidade, inquestionável se
considerarmos sua própria espacialidade e seus atributos subjetivos, como o discurso de ser uma
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Como as sub-divisões do Downhill, o Slalon, Vertical, Banks (street), Big Air (Mega Rampa), Mini Rampa, Pool Riding, e a Overall,
que envolve todas elas (www.sk8.com).
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Pois devido ao gelo, a arquitetura das piscinas possui a transição redonda entre as paredes e o chão (azulejos e coping), o que
impede o congelamento da água fazendo a água subir para a superfície e a pressão das paredes. A transição arredondada é muito
atraente para os skatistas.
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Não estamos dizendo que a liberdade na execução implica em aleatoriedade; nela, existe uma sistematização do saber-fazer e
inúmeras manobras registradas, como as criadas pelo “lendário”skatista Mullen: flip, heelflip, hardflip, kickflip, casper, darkslide,
rockslide, 50-50, body varial, nollieflip underflip, primo, reemo, varialflip, inward heelflip, 360 flip, fs flip, bs flip, varial heelflip, fs
heelflip, bs heelflip (WWW.wikkipedia.com.br).
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“filosofia de vida”, suas formas de vestir , a proximidade com o RaP , seus lugares como as pistas
públicas, skate-parks, lojas, mídias, bares temáticos, etc. Este processo de crescimento da atividade (e
do mercado do skate) pode ser explicado de muitas maneiras entretanto, o que queremos destacar aqui
são alguns elementos do freestyle que os torna uma forma específica de geografização do social
(RODRIGUES, 2005), entendidos como relações outras que a idéia genérica de esporte, muitas vezes,
encerrada na subjetividade capitalista. Presumindo que o território do skate freestyle possui elementos
materiais, imateriais e simbólicos. Apresentamos algumas considerações sobre o que entendemos ser a
espacialidade da prática.
Landshapers: construindo um território
A cultura do skate, no saber-fazer desses indivíduos, mostra relações simbólicas que há muito
indicam resistência à ordem pretendida hegemonicamente, como uma postura diferente, que revela uma
relação de afeto com o Skate e seus pares (não mediada pelo dinheiro, por exemplo) e articulações de
comunicação dadas por canais alternativos, como uma rede de relacionamento que se estabelece por
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encontros e no uso de espaços virtuais. A relação com a cidade vai desde seu transporte pelo skate, o
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envolvimento com a política pública no objetivo de fortalecer a prática à leitura da configuração espacial,
que lhe permite ou não atuar.
A relação de afeto, significados que revelam pertencimento e atitude, é observada no conteúdo
dos discursos e práticas que reforçam o amor, a saúde, respeito, tolerância (já que frequentemente são
hostilizados pelos “de fora” quando pretendem dominar um espaço para o rolê e são impedidos) e um
estilo de vida carregado até o fim de suas próprias vidas, defendido imensuravelmente como o da
liberdade em criar e agir,
Pais, não tenham receio de deixar seus filhos andar de skate. Skate é um esporte, é
saúde. E o principal, é Amor, no Skate seu filho irá conhecer o que são amigos de
verdade, que não estão do lado dele pra aproveitar o melhor que ele possa oferecer,
mas sim para ajudá-lo, fazê-lo rir e fazer ele sentir o que é uma verdadeira vida de
aventuras, amizades e amores. O skate e o estudo são as únicas coisas que podem
salvar um jovem do mundo do crime, e é sim possível conciliar os dois. Entrevista com
Renan Donizete Pereira (http://www.sk8.com.br/br/conteudo.asp?cn=110&ct=3088,
acesso em 06/01/10).
Por que o freestyle? Sinto-me à vontade, posso andar na rua e em qualquer cantinho,
além de carregar a satisfação de praticar a modalidade que é uma das pioneiras. Mas,
acho que o mais legal mesmo é o freestyle estar aliado à música e ao grande desafio em
dar bons rolês coreografados com os sons que você curte.[...] De que maneira você acha
que estar envolvido com o skate pode contribuir para sua vida pessoal e profissional? O
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E, em se tratando do freestyle, por que não dizer de olhar? Já que as possibilidades infinitas de manobras realizáveis nos espaços
(não necessariamente) urbanos expressa um olhar diferenciado frente ao rígido ordenamento (sócio)espacial das cidades
capitalistas.
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Ritmo e Poesia, o RAP é um estilo musical de tradição contestatória e insurgente à lógica social “hegemônica”. Um dos elementos
do movimento hip hop, será abordado mais adiante neste trabalho com ênfase na sua forma freestyle, por vermos sua proximidade
(por alguns até imbricação) com a cultura do skate.
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Como alguns desses encontros podemos citar os rolês; as Jam sesions; campeonatos; tours (viagens programadas por um grupo
ou equipe que percorrem um circuito intermunicipal/regional no objetivo de conhecer lugares da prática, andar e produzir material
em imagens para serem comercializados ou divulgados. Podem ser patrocinadas pela marcas ou não; promos (materiais em
imagem produzidos de um atleta realizando as manobras que são divulgadas nos canais de comunicação); e as premiers (eventos
de lançamento de vídeos ou fotos que reúnem os adeptos do skate).
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Além das propostas de criação de espaços para o skate (o que não seria lógico no freestyle), podemos citar ações como a
institucionalização no “dia do skate” no estado de São Paulo, a solicitação de parcerias para a realização de eventos, etc.
skate sustenta minha produtora que lança mensalmente um programa de televisão em
canal aberto. Entrevista com Isnard Rocha, skatista profissional de freestyle
(WWW.cbsk.com.br, acesso em 07/01/10)/
Elementos deste geografar
Ouvimos dos skatistas que é difícil explicar as razões de se andar de skate. O sentimento de
superação e atitude ganha peso em seus discursos. Este estilo de vida pode ter predicados como uma
forma de des-obediência ao imposto e ser uma subjetividade original, indo além do esporte (o que por si
só já seria uma boa razão, sendo uma atividade benéfica fisicamente). Desafiando o pré-estabelecido e
exercendo a criatividade em formas de saber-fazer ilimitadas, o freestyle pode ser visto como um território
alternativo, de possibilidades e potencialidades de sociabilidade e agir-político.
“Mano, eu tava conversando sobre skate na hora da aula, a professora de Geografia
ouviu e disse para gente ficar quieto e que esse papo de skate não ensina nada que
presta e não dá camisa pra ninguém. Aí eu falei que skate era mais legal que Geografia
e que tinha um monte de skatista vivendo do skate no Brasil [...]” (Rafa) (apud
HONORATO, 2005, p.171).
Seja pela estética das roupas e tênis “deles”; seja quase sempre de passagem pelas cidades e
rodoviárias, os freestylers se colocam pela imagem específica e pelo movimento. Os picos, bons lugares
para andar, são conhecidos por todos; e quando descobertos são anunciados nos canais de
comunicação.
Filmagem + Ranking + Diversão: "Olá, Freestylers! Encerraremos este ano com chave
de ouro, vamos nos reunir no Parque do Ibirapuera dia 19/12, neste sábado, às 12h na
Marquise, para uma session for fun na Bússola com direito a filmagem pela ESPN, e
também para a entrega de medalhas aos ranqueados de 2009! Compareça e boa
diversão! Nos veremos lá!" Paulo FOLHA - USF (idem, publicado em 13/11/09, acesso
em 07/01/10).
O trecho acima ilustra a relevância do ciber espaço para a comunicação dos pares do freestyle.
Ler atributos do território do skate é ressaltar o caráter diversificado da realização do sócio-espacial, que
na sua heterogeneidade comporta formas como a aqui analisada. Isto evidencia a multiplicidade de
trajetórias dos indivíduos, ou/e a simultaneidade de aconteceres. Reproduziremos algumas falas dos
skatistas, tomando-as como passagens para o entendimento dessa territorialidade e significados deste
território.
Parte do domingo passado foi dedicada ao skate de solo, coreografado, sem qualquer
obstáculo ou transição. Os skatinhos tomaram conta do cimentão da parte de cima do
Itaguará Country Club, logo acima da piscina coberta, local que já recebeu outros
eventos. Agora sobre o comando da USF (União dos Skatistas de Freestyle), a
competição nacional contou com boa parte dos praticantes da modalidade. [...] Rene
Shigueto andou limpo como sempre, fazendo suas linhas fluídas com manobras rolantes
e algumas pontilhadas sem parar muito. Lúcio Flávio foi mais completo, com quase todos
os fundamentos e bem sincronizado com a música. Venceu Shigueto, bastante
aplaudido por todos. Entre os profissionais, destaques para ótimas performances de
Marcos Toshiro, Fabiano Passarinho e Cláudio Higa. Vinicius Acquaman, recuperandose de um braço quebrado, mandou boas, assim como o Isnard Rocha. Legal ver também
a evolução do Edson Aranha, comparando-se com o último evento, o do CEU-Butantã. A
prova dos amadores foi bem disputada. Elder Jaspinho teve a rotina mais limpa entre
todos, mas as manobras complicadas do Lucas Mansano o colocaram em primeiro lugar.
Entre os 15 competidores, boas manobras e footwork, o que demonstra que o freestyle
resgatou
suas
origens,
mas
sempre
traz
algo
(http://triboskate.globo.com/whatsup.php?id=2723, acesso: 06/01/2010).
novo
[...].
Extraída do site da revista especializada Tribo, a cobertura do último campeonato brasileiro de
freestyle ressalta o trabalho colaborativo para o fortalecimento do freestyle instituído como categoria
profissional. Além dos símbolos e aspectos materiais da prática, como a resignificação do espaço
construído (no caso de tratar de um clube de campo de alto padrão do interior paulista); o caráter de
movimento, fluidez e articulação com a música na execução das manobras é reforçado. Os critérios de
avaliação do freestyle como categoria do skate profissional mostram esta fluidez nos quesitos técnica,
consistência, aspecto artístico e variedade, sempre valorizando a originalidade (CBSK, 2009).
Os protagonistas do freestyle se envolvem em muitas instâncias da sua configuração. O retorno
do freestyle a partir do 2000 precisou um engajamento para a consolidação da prática. Suas formas de
manifestação vão desde o andar de skate, o rolê hedonista sem nenhum compromisso “maior”, a formas
mais instituídas como a profissionalização da modalidade dentro do Skate e na consolidação de mídias
especializadas para seu crescimento e densidade, e a práticas políticas engajadas na sua expansão
dentro e fora do skate. Algumas das ações empreendidas pelos skatistas do freestyle também podem
ajudar a definí-lo como práxis potencialmente transformadora, como os eventos produzidos e apoiados
por ele que contribuem no estabelecimento de “espaços alternativos”como os momentos de
campeonatos esportivos e festivais de hip hop.
“Cara, o Cardoso é uma escola maluca, ninguém entende, antes não podia andar de
skate lá dentro, agora eles chamam a gente para andar de sábado e domingo naquele
projeto, uuuummm, como é nome daquele projeto mesmo!? Ééééé, Escola da Família, é
este o nome do projeto que o pessoal deixa a gente andar de skate na escola [...] Até
parece que a escola precisa da gente”. (Fábio) (apud HONORATO, 2005, p.163).
A seguir, algumas publicações da USF, CBSk e de outros sites e blogs pessoais, evidenciam o
conteúdo filosófico (inerentemente sócio-espacial) do freestyle e aspectos de sua espacialização, como a
apropriação material e simbólica do espaço urbano, transversalizando a lógica hegemônica capitalista, o
que constitui parte de seu território. E da mesma forma, as citações confirmam a importância dos
(ciber)lugares nas relações do grupo:
Raridade em video: Foi publicado um vídeo no you tube que é uma verdadeira pérola do
freestyle,
é
muito
bom!.Bruno
França
Aqui:http://www.youtube.com/watch?v=4ZO0z4JYFAs&feature=related
(USF, 2009).( acesso em 07/01/10)
Joe Flemke: Tem promo novo do Joe Flemke no Youtube, esse moleque vai longe. No
video ele inaugurou uma manobra, cabreira, é um 2.5 kickflip to truckstand, fora outras
que ele manda de boa. Bruno França O link: http://www.youtube.com/watch?v=VHqwdza-_M (idem, publicado em 22/06/09, acesso em 06/01/10).
Maria Angélica: uma rua, vários skatistas e muitas histórias: Exibido originalmente no
programa Zona de Impacto do canal Sportv, nos dias 17 e 18 de janeiro de 2005, o vídeo
documentário “Rua Maria Angélica”, que retrata alguns momentos iniciais do skate no
Rio de Janeiro durante a década de 1970 – mais especificamente de 1971 a 1976 finalmente está disponível para ser visto pela Internet. Produzido por Vanessa Favilla e
dirigido por Alexandre Moreira Leite, este vídeo, que conta com depoimentos de alguns
skatistas que fizeram história [...], traz imagens raras do início do skate no Brasil. [...]
Trata-se de um documento histórico de primeira qualidade, que ao retratar uma época já
muito diferente da atual, acaba por levar o espectador a uma reflexão sobre a evolução
desta
atividade
[...].
Link:http://www.targethosting.com.br/skatecam/mariaangelica/default.asp.
Texto:
Leonardo Brandão (Historiador)* Foto: Divulgação *Obrigado ao Léo Brandão pela
colaboração ao Skate é Cultura. (WWW.skateecultura.com.br, publicado em 09/12008,
acesso em 06/01/10).
Para além do espaço disciplinar: uma apropriação dos espaços escolares e uma sociabilidade
alternativa
”No começo a diretora não deixava entrar com o skate [...] Não! Daí começou a proibir,
mas daí depois liberou, porque uma galera inteira começou a anda lá, pessoal da minha
escola”. (Marcelo) (apud HONORATO, 2005, p.176).
O freestyle se caracteriza pela execução de manobras em lugares variados. Por não depender de
inclinações, obstáculos e outras formas construídas, pode ser realizado em quase todos os lugares.
Desse modo é o meio de andar de skate que mais reflete liberdade (em termos do indivíduo, não se pode
precisar e limitar as possibilidades de manobras executáveis; e do meio, pois existem imagens de
manobras surpreendentes que ultrapassam as “primeiras impressões” do local).
Diante da degradação dos espaços públicos urbanos e a relativa falta de acessos já que a lógica
da propriedade privada impera e restringe, muitos freestylers se apropriam dos espaços das escolas para
desenvolverem suas manobras; ocasionalmente chegam a realizar campeonatos, e assim inauguram
uma relação que se territorializa a medida que é empreendida. É muito comum nas cidades, sejam
“grandes” ou “pequenas”; nas que tem na escola o único ambiente para o skate (devido ao calcamento
de cimento queimado, ou simplesmente cimento) ou nas que aproveitam as configurações das escolas e
incentivam a atividade (como um exemplo entre as escolas em geral, os CEUs na cidade de São Paulo).
Entende-se que o freestyle se apropriando dos espaços das escolas representa uma transversalidade à
ordem do espaço disciplinar, resignificando-o como ma nova possibilidade de “uso”.
Desde seu surgimento, o freestyle imprimi no espaço geográfico uma relação nem sempre
contínua e delimitada materialmente, sendo uma expressão de relação sócio-espacial e territorial que se
revela ora simbólica ora materialmente em redes relacionais “permanentes” (como por exemplo os
campeonatos, o mercado, os rolês, as festas, etc.) que usam (ciber)espaços variados. Esses encontros
são elementos de sua relação/realização e vão desde as redes sociais da web à canais de comunicação
como revistas e produtoras de vídeos especializados. Os próprios registros de imagens tem grande peso
em seu discurso e movimentam muitas atividades. Esta dimensão tecnológico-informacional da
territorializaçao do freestyle abrange muitas redes (como sites, blogs, myspaces, youtube) e o trabalho
colaborativo de registro em imagens, produtos da prática que são valorizados por captar muito mais que
a manobra em si, mas o sentimento de liberdade e potencialidade do skatista,
[...] este momento com seus amigos na hora da captura da imagem, imagine, diversão e
prazer em se ver na foto este momento eternizado por um amigo que anda lado a lado
com
você. Essa
mensagem
que
eu deixo (Uriel
Punk,
fotógrafo).
(http://www.sk8.com.br/br/conteudo.asp?cn=110&ct=3088, acesso em 06/01/10).
Tudo isso pode revelar sua multiterritorialidade (HAESBAERT, 2007), contemporânea das atuais
possibilidades de relacionamento. Identificamos que a escala de prática do freestyle, como um meio de
construir sua realidade, da atividade no “espaço vivido”, transcende os limites fixados “no” espaço por
outras ações (MOORE, 2008).
Conteúdo do site de Otávio Neto, fotógrafo e skatista a 15 anos: Fazer um blog para
mim foi a maneira de me conectar com o mundo da maneira mais natural da
atualidade. Percebi que o formato de site está muito estático e para um skatista, ficar
parado não combina. Resolvi abrir um outro espaço de comunicação dentro do meu
site, com o blog, onde coloco todas as novidades, textos e muitas fotos. Fiquei três
meses viajando e relatando tudo em fotos e textos no meu blog. O formato deu muito
certo e recebi o convite para colocar meu blog dentro do site da ESPN [canal de TV
fechado]. Estou muito feliz com a receptividade da galera e como sempre falo, este
espaço é nosso (http://www.otavioneto.com, acesso em 07/01/10).
A inovação do skate em sua articulação com o uso de tecnologias como os espaços da web para
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a circulação e contemplação dos registros das manobras em imagens , representa uma forma de
espacialidade que não se limita na materialidade física. Sua escala de atuação tem conteúdo diverso se
comparado
a
atividades
mais
contiguamente
delimitadas
e
encerradas
em
ordens
como
local/regional/global. Encontramos referencial em Massey, que diz: “Se, realmente, pensarmos o espaço
de forma relacional, então ele é a soma de todas as conexões e, neste sentido, absolutamente
estabelecido, e essas conexões podem seguir ao redor do mundo” (2008, p.260).
A importância dada à música no fazer-se do freestyle e sua proximidade com o rap nos permitem
algumas proposições sobre os conteúdos das letras do rap em expressar essa “leitura territorial”. A
imanência sócio-espacial pode ser vista em algumas composições e da mesma forma nos significados da
crítica ao pré-consolidado, como as normas de conduta exigidas socialmente pela lógica de acumulação
do capital, fragmentária e excludente.
Na trilha do rap, acontecendo e moldando um freestyle
A proximidade com o rap é um dado. Facilmente observamos imbricação das duas formas de
expressão, nos encontros do fresstyle. Recentemente pudemos observar a freqüência do skate no
festival de hip hop Hutúz realizado anualmente no Rio de Janeiro, que disponibilizou gratuitamente o
espaço do Circo Voador por dois dias e lá o hip hop em seus quatro elementos se territorializou
(WWW.hutuz.com.br/10anos). Os trechos de letras de rap reconhecidas pelo skate freestyle podem
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ajudar na compreensão do que é este território . Iniciaremos com um Mc (mestre de cerimônias) que se
destaca na modalidade fresstyle no rap, ou seja, atua por improviso e elabora sua poesia no instante da
batida (musicalidade). Como um repentista, produz arte não material, inapreensível senão por co-vivência
e registros de gravação. Em sua poesia, demonstra uma leitura ampliada de território imanente,
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O que segundo os skatistas tem muito peso no processo de “formação” do atleta, “é vendo [e fazendo] que se aprende”.
Tomamos a liberdade de “editar” os textos, contudo reconhecemos que este formato acaba prejudicando a forma-conteúdo do
rap, que conta com a batida e com o tempo do Mc em cantar, dando uma configuração diferenciada a letra reproduzida em texto.
Assim manifestamos a responsabilidade da edição, não obedecendo à grafia e a pontuação das letras, e nem co-respondendo à
apresentação dos Mcs.
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ultrapassando fronteiras estabelecidas no planeta, e uma postura reflexiva da lógica hegemônica vigente,
que segundo ele, é sempre contigente de fissuras e passível a transformações:
2 hemisférios, 5 continentes, 7 mares, Inumanos e Acadêmicos invadindo seus lares. Do
pavimento asfaltado às estações lunares, versos no terceiro mundo, profundo em todos
os lugares.[...] Tenho a missão da verdade em todo lugar que se passa. Não tem
desgraça que supere a informação, não tem graça que engrace a situação. Por
maior que pareça hoje o mundo tá pequeno. Pra rimas sinceras é preciso uma dose
de veneno. O som tem pondo de partida e não tem paradeiro. Pro mundo São Paulo, Rio
De Janeiro. Siglas manipulam a maioria, tipo, argila. Simplesmente somem sob o solo,
dissimulam, não assimilam, ao sabor do vento amargo gosto de nada, situação
dramática sujeita a relâmpagos, trovoada. O lar da lábia, onde os sinos se situam, o
cérebro da metrópole, onde os sintomas se acumulam. O espelho pro mundo
sempre há algo a refletir escritores profundos, menestréis, mcs. O esforço é
mínimo. Que enrola a linha do raciocínio, um olhar clínico. Mãos atadas pro mímico,
nó cego, nóis cegos, duelo de cegos. Se eu me enxergo não nego eu confronto seu ego.
Peça sem desgaste, no mais perfeito encaixe, agindo tipo guindaste elevando a
engrenagem. Todos somos partes, comparsas ao redor da esfera. Por todo planeta só
sangue bom se regenera. Pro mundo São Paulo, Rio De Janeiro. Swing maninho e Tone
Maneiro Fora do alcance do radar, sem parar na fronteira. Visto sem passaporte,
forte, passando barreiras. Pro mundo [...] Escritores profundos sempre apostos,
apostos desde os primeiros segundos, nunca em pólos opostos. Eu tô com pressa, mas
vou deixar essa mensagem. Ainda tem mais lugares pra se ver na viagem Sem
malandragem a potência aqui é super sônica Por toda cidade velocidade bubônica. Lírica
e harmônica filha da mãe gentil Por Max 3.0 e Aoritron 3000. Dom executa na tática,
didática na prática, 16 válvulas de rimas, batidas automáticas. Espetando a gramática,
dando passo a frente. [...] Esse é o mundo visto através de uma fresta. Por que do
mundo o que mais nos resta? De quem é esse mundo? Será que alguém se interessa?
Por que pro mundo irmão, a hora é essa. Pro mundo... (Max B. O. e Aori (Inumanos),
disponível em: www.myspace.com/maxbo) (grifo nosso)
Outro protagonista que apresentamos é Kamau, freestyle no rap e no skate. Suas poesias
representam o conteúdo cultural e político dos dois meios de freestyle. A primeira letra, da música Poesia
de concreto explicita a insatisfação com a forma moderna de construção do espaço urbano e das
relações com/nele, pretendendo ir além por meio da atitude libertária, emancipatória e criativa.
De cada calçada de concreto da cidade, cada viga que se ergue, cada vida que se
segue, cada cidadão persegue a sua cota, lutando pra se manter, marcando a mesma
rota, lutando, pra nunca se perder [...] E cada esperança de criança se mistura ao
ar impuro inspirado e espirado, por cada cidadão comum que deixa escorrer a
liberdade na sarjeta da calçada de concreto da cidade. Dedicada, a cada, poeta da
cidade, dedicada, a cada, atleta da cidade, dedicada a cada ser humano da cidade que
cultiva a liberdade no concreto da cidade [...] Entre as paredes de concreto da cidade, se
esconde o mundo de quem faz qualquer negócio só pra não ser taxado de vagabundo.
Sonhos de adultos se dissipam por segundo a cada insulto do patrão, é o culto do
“faz de conta que eu sou feliz assim: salário no fim do mês é o que conta, paga as
contas e faz bem pra mim” não é o caso em que eu me encaixo, sonho alto demais pra
viver por baixo, igual capacho, e acho que existem outros por aí que olham pras
paredes só pensando em demolir, pra ser livre, mas na real nem sabe como, perdeu
toda noção acostumado a viver com dono. Não condeno, mas não concordo e não me
adapto, fora das paredes mais inspiração eu capto, me sinto apto pra cantar a
liberdade que se esconde entre as paredes de concreto da cidade. (Música: Poesia
de Concreto CD: Non Ducor Duco (2008) Composição: Kamau)
Parte de Mim se remete mais ao freestyle do rap do que do skate, mas apresentamos no sentido
da representação do freestyle como ação de atitude e potência-criativa, na insurgência do préestabelecido. Seu primeiro trecho expressa uma visão de transversalidade à realidade dicotomizada do
arranjo sócio-espacial moderno. Não se colocando como opositor, enfatiza a convivência das diferenças
numa condição de multiplicidade:
Parte de mim a iniciativa de rimar o que eu acho que presta, sem me importar se o meu
som nunca toca na festa [...] Mas tudo bem, nem é bom ser unanimidade, comodidade
é arquiinimiga da evolução, que é o que eu preso e carrego como prioridade. Pra que
tenha validade minha contribuição busco progresso sem perder a essência, coerência no
que eu faço do começo ao fim. Eu penso que vim pra fazer a diferença na ciência da
fluência, que é parte de mim. Parte de mim, do meu show do meu ser, do meu jeito
de fazer o que eu chamo de arte. Eu falo de mim, do que eu sou, do que eu vejo, do
que eu penso e desejo pra fazer minha parte [...] mal sabe você o que a batida
provoca, parte dos espíritos antigos, evoca, é tipo um ritual tribal, me coloca mais perto
da minha origem. [...]
O segundo trecho do rap permite uma leitura que foca a potencialidade criativa de cada um, que
em sua singularidade e vontade, contribui para a diversidade sócio-espacial:
[...] Me atingem insultos e elogios ao talento que somente aos 21 emergiu e me impeliu a
fazer parte da arte que admirava. Contribui bem mais do que quando eu só escutava e
observava, agora eu enxergo nitidamente, transformo em poesia a energia do ambiente
ao meu redor me sinto bem melhor assim porque sei que ser Mc, faz parte de mim. Parte
de mim, do meu show, do meu ser do meu jeito de fazer o que eu chamo de arte. Eu falo
de mim, do que eu sou, do que eu vejo, do que eu penso e desejo pra fazer minha parte.
(Música: Parte de Mim CD: Non Ducor Duco Composição: Kamau)
Sapiência em se Espacializar e a Ciência do Espaço
A Geografia pode ser definida como a ciência social que busca compreender os movimentos da
sociedade por meio de sua espacialização. Tomando o espaço como categoria da organização da
relação entre homem e natureza (estes termos aqui entendidos da mesma forma como categorias),
podemos pensar uma interpretação do arranjo sócio-espacial que os indivíduos constroem para si, o que
possibilita a ampliação do entendimento das relações sociais.
Uma noção de espaço imanente à prática dos homens, um espaço “relacional” (HARVEY,
1973[1980]) abrange as formas de potencialidade criativa dos homens e mulheres, em devir. Esta visão
mais proativa sucedeu definições de espaço que foram desde a noção clássica, amparada em
fragmentações e dicotomias como natureza-sociedade, sujeito-objeto, espaço-tempo, natural-artificial...
(MOREIRA, 2009) à formulações sobre a importância do espaço produzido por determinada sociedade
para sua própria manutenção e existência (sociedade e espaço imbricados), e sobre a relevância do
12
espaço para o entendimento das questões sociais do capitalismo . Rodrigues (2005, op. cit.), em sua
dissertação de mestrado sobre a geograficidade do hip hop no Rio de Janeiro discorreu muito bem sobre
esta questão dentro da geografia, e partindo dele, ressaltamos autores estruturalistas que neste contexto
contribuíram para esse processo de retomada do “espaço” reforçando a importância das pesquisas sobre
o “espaço”, como David Harvey, Yves Lacoste, Maximo Quaini, Edward Soja e Milton Santos (Idem,
p.69).
Podemos destacar também correntes questionadoras como as pós-estruturalistas e pós-coloniais
em Jonathan Murdoch, Bruno Latour e Stuart Hall e, concordando com Rodrigues, a geografia cultural
12
Nesses termos podemos citar as contribuições de autores como Henri Lefebvre, Michael Foucault, Gilles Deleuze e Félix Guattari,
Doreen Massey.
marxista inglesa que desde a década de 70 buscou apre(e)nder a geograficidade da ação humana em
questões como a cultura, conflitos étnicos, sexualidade, gênero, movimentos sociais, etc. Uma dessas
geografias é a Geografia Insurgente, que in-surge contra a organização sócio-espacial hegemônica
capitalista e busca fortalecer a luta contra ela. De “dissidência intelectual” ao estruturalismo economicista
que o antecipou, esta corrente se define da seguinte forma:
Remete-se às praticas sócio-espaciais concretas, que englobam a ação, o trabalho, o
labor, a cultura, a subjetividade dos seres humanos. É a totalidade múltipla, inseparável
e complexa da vida, é o movimento continuo dos homens e mulheres produzindo suas
histórias e geografias [...] (RODRIGUES, op. cit. p. 98, grifo nosso).
Para Rodrigues, a Geografia Insurgente vem se fortalecendo e enxerga o protagonismo sócioespacial de grupos subordinados à ordem instituída que buscam a produção de espaços e práticas que
lhes permitam emancipação enquanto sujeitos históricos não mais subordinados às relações
heterônomas (idem). Neste contexto, podemos visualizar um novo horizonte pragmático e epistemológico
para o conhecimento científico que passa a se questionar em múltiplos aspectos.
Dessa forma, vemos a pertinência de uma pesquisa sobre o olhar do freestyle que lida com a
lógica do capital e seu espaço normatizado. Em seu território, a prática do freestyle mostra uma
contestação às formas rígidas exigidas pela ordem disciplinar do capitalismo. Entendemos também que o
freestyle pode representar uma subjetividade mais libertária, criativa e saudável, que se engajada
politicamente, contribui no fazer-se sócio-espacial (relacional).
Os conteúdos materiais, simbólicos e imateriais do território do skate freestyle permitem uma
análise geográfica baseada em Haesbaert, que define território como “como funcional e simbólico [...],
pois as relações de poder têm no espaço um componente indissociável tanto na realização de “funções”
quanto na produção de “significados” (2007, op. cit., p.23). Na geograficidade do freestyle, constatamos
sua territorialidade enquanto “imagem” ou simbólico de um território, [que] existe e pode inserir-se
eficazmente como uma estratégia político-cultural” (p.25) e sua multiplicidade de territórios que o
13
configurará multiterritorial . A medida que o freestyle atua numa territorialidade diversificada, como das
escolas, das ruas, das mídias, das redes de relacionamento virtuais, dos encontros, das tours, das
promos, rodoviárias, aeroportos, das pistas públicas e privadas, campeonatos...tudo isso em diferentes
paises. Admitimos sua multiplicidade, de acordo com a definição de Haesbaert:
[...] a experiência da multiterritorialidade em sentido estrito, inclui: uma dimensão
tecnológico-informacional [...] uma reterritorialização via ciberespaço [...] que resulta na
extrema valorização da maior densidade informacional extremamente seletiva de alguns
pontos altamente estratégicos do espaço [...] uma compressão espaço-tempo de
múltiplos alcances ou “geometrias do poder” [...]; uma dimensão cultural-simbólica cada
vez mais importante dos processos de territorialização, com a identificação territorial
13
De acordo com a obra de Haesbaert, ao nosso ver os territórios do/no freestyle seriam: o c) Territorializações político-funcionais
mais tradicionais: como a do Estado-nação que sob a bandeira de uma “nação”não admite a pluralidade de poderes (skate é skate
e freestyle é freestyle, outros esportes, são outros esportes...); d) Territorializações mais flexíveis, que admitem a sobreposição
territorial seja sucessiva, seja simultaneamente (território do freestyle como esporte competitivo, como o simplesmente andar de
skate, como “estilo de vida” nos rolês; como profissão; como profissão não sendo atleta; ou atleta que é vídeo maker, vendedor,
produtor, patrocinador, juiz...) e, e) Territorializações efetivamente múltiplas: territorialização por conexões flexíveis de territóriosrede multifuncionais, multi-gestionários e multi-identitários (seus indivíduos, pelo “encaixe de territórios em diferentes escalas”
(idem, p.35).
ocorrendo muitas vezes no/com o próprio movimento e, no seu extremo, referida à
própria escala planetária como um todo [...] (HAESBAERT, op. cit., p.39).
Um agir transdisciplinar: pensar o espaço e fazer política ou fazer o espaço e pensar política
Podemos dizer que o freestyle passa por apropriações para além das formas disciplinares como
das escolas, não se limitando ao meio construído e se realizando na relação vontade-criatividade do
indivíduo. O trabalho de Foucault (1974[2003], 1976[1999], 1978[2008], 1984, 1985(a e b) em analisar as
formas de exercício de poder e os efeitos desse exercício nas micro-escalas (microfísica do poder) crivou
três determinações de espaço que, segundo ele, comunicam três tecnologias de poder: o espaço do
soberano, o disciplinar e o de controle ou regulamentação (biopoder).
Segundo Foucault, o desenvolvimento da acumulação do capital se co-substanciou com o
desenvolvimento da acumulação dos homens, e a partir da época clássica, novas formas de coesão
social foram além das de poder do rei-soberano, que era violento e instituído pela oposição legítimoilegítimo. Das três analisadas pelo autor, esta primeira forma de poder (do soberano) teve no Direito e na
sua produção de verdade (discurso) um “contrato” de opressão e obediência entre “as partes”,
transcendental, que dissolveu a opressão dos sujeitos dentro do poder, naturalizando a obediência (op.
cit.1985a[1976], p.181).
O emprego de mecanismos coercitivos disciplinares que sucedeu as tecnologias de poder do Rei
soberano garantiria o controle da uma multiplicidade social de forma mais barata, impessoal e eficiente,
adestrando-a para utilizá-la política e economicamente. A partir da vigilância panóptica e da produção de
normatizações, possibilitou-se a docilidade dos corpos, ordenando-os segundo a lógica de dominação e
sujeição (FOUCAULT, 1984). Novas práticas e assim espaços e territórios foram produzidos nesta
intenção. Em Vigiar e Punir Foucault esclarece as novas técnicas de docilidade como: 1) uma escala de
controle pela vigilância: poder infinitesimal sobre o corpo ativo do ver sem ser visto: movimentos, gestos,
atitude, rapidez; 2) o objetivo do controle: uma economia do corpo, a eficácia nos movimentos, sua
organização interna; 3) uma nova modalidade: implica numa coerção constante, ininterrupta como
podemos pensar as câmeras de segurança.
Este novo poder, disciplinar, superaria a forma de poder exercida nas monarquias, violento e
massivo. Para Foucault foi uma tecnologia inovadora no sentido de um poder sobre as individualidades.
Não mais violento, mas “suave-produtivo-lucrativo”. Controlando as atividades, distribuindo os indivíduos
localizando-os funcionalmente, as disciplinas criaram espaços como os celulares, os lugares (sic), as
fileiras, e transformaram as multidões confusas, inúteis ou perigosas (sic), em multiplicidades
organizadas (idem). Por este controle o poder exercido padronizou o tempo e os comportamentos.
Possibilitou o arranjo sócio-espacial do capital (como em sua era fordista/produtivista) e conseguiu minar
a produção das expressividades da diversidade contingente da multiplicidade
14
Lê-se: indivíduos, as pessoas, que carregam singularidades de um “todo” múltiplo, a vida.
14
por um longo tempo.
Os espaços criados sob esta lógica disciplinar apresentam conteúdos dessa rigidez, própria
desta tecnologia disciplinar de poder. Dentro do viés da vigilância, do panoptismo criado por Jeremy
Benthan, são exemplos os hospitais, as escolas, prisões, fábricas e quartéis. Formas até hoje existentes,
que pelo parcelamento espacial (ou quadriculamento), vigilância e normatização, formaram e formam
nossas subjetividades, originalmente fragmentadas.
Sem dúvida, é o que há de diabólico nesta idéia assim como as suas concretizações
[mundo infernal do qual ninguém pode escapar]. Não se tem neste caso uma força que
seria inteiramente dada a alguém e que este alguém exerceria isoladamente, totalmente
sobre os outros; e a máquina que circunscreve todo mundo, tanto aqueles que exercem
o poder quanto aqueles sobre os quais o poder se exerce. Isto me parece ser a
característica das sociedades que se instauram no século XIX. O poder não é
substancialmente identificado com um indivíduo que o possuiria ou o exerceria devido ao
seu nascimento; ele torna-se uma maquinaria de que ninguém é titular [...] (op. cit,
1985a, p.219).
Para Foucault teríamos hoje duas séries para o exercício do poder, a disciplinar e a do biopoder.
A primeira cria ordem disciplinar: corpo-organismo-disciplina-instituições, e a segunda que “regula a
desordem”: população-processos biológicos-mecanismos regulamentadores-Estado (idem, p.298). Esta
última, de regulação do que se concebe como fora de ordem “da sociedade”, se apresenta na atualidade
15
com maior intensidade nas políticas mundiais do (bio)poder .
Ainda que uma nova tecnologia de poder, de controle, tenha surgido, vemos que as formas
espacializadas do poder disciplinar ainda se colocam forte a nossa frente. Elas explicam as formasconteúdo modernas e nos fazem refletir maneiras de superá-las em cada oportunidade, ultrapassando
este saber-fazer imposto e estabelecendo novas formas de saber-poder, territorialidades outras, para
além da disciplinarização da sociedade em sua complexidade, ou sua bio-regulação.
Para uma política contra as tecnologias atuais de poder punitivo e estagnador da potencialidade
criativa dos indivíduos, e afim de uma espacialização plena da multiplicidade humana, nos apoiamos no
conceito de política de Cornelius Castoriadis, que entende o poder como a possibilidade de diálogo e
sociabilização, afinal vivemos em sociedade. Castoriadis se opõe à visão de Foucault que vê o poder de
forma essencialmente repressiva e maléfica. Para ele,
A criação da política ocorre quando a instituição dada da sociedade é questionada como
tal e nos seus diferentes aspectos e dimensões (o que faz descobrir rapidamente,
explicitar, mas também, articular de outra forma a solidariedade). Por conseguinte, a
criação da política ocorre quando outra relação, inédita até então, é criada entre o
instituinte e o instituído (CASTORIADIS, 1983[1979], p.136).
Doreen Massey, comprometida em Pelo Espaço com uma nova política da espacialidade,
considera condição para isso uma política relacional para o lugar, que envolve tanto as inevitáveis
15
Foucault fala do biopoder pela primeira vez em História de Sexualidade I: A vontade de saber (1985b). Segundo ele, o direito de
vida e de morte do poder tem o objetivo produzir forças, e mais do que destruí-las, barrá-las ou dobrá-las, quer fazê-las crescer e
ordená-las (p.128). Esta nova tecnologia de poder se exerce sobre a própria vida e é uma “segunda tomada de poder” que se dirige
não sobre os indivíduos, mas sim sobre a massa, a população. Tem como temas a natalidade, mortalidade, produção, doença,
longevidade, etc.(1976[2009]).Como exemplos atuais de práticas sócio-espaciais condizentes com esta tecnologia, podemos citar o
mercado em torno da possibilidade de congelamento das células do cordão umbilical dos recém-nascidos para, em caso de
desafortunadas surpresas ao longo dessas vidas, os pais terem a ferramenta de conserto e recuperação da saúde; e a política,
inicialmente paulista, de combate ao fumo no Brasil que tem discursos e estratégias do biopoder, como a regulação (do espaço
“total”) em prol da saúde e bem-estar da população.
negociações apresentadas pelo encontrar-se ao acaso [throwntogetherness] quanto uma política dos
termos de abertura e fechamento. Para isso, a geógrafa evoca uma “geografia” do político que olha para
fora, (além de tudo) para as espacialidades mais amplas das suas relações de (sua) construção; o que
ela denomina uma política de conectividade (op. cit., p.255). Assim, ela concorda com Castoriadis na
perspectiva de uma política (radical) que lide com a heterogeneidade do sócio e os conflitos que daí
emanam.
Essa visão representa uma possibilidade de superação da prática aparentemente confortável do
viver-político da modernidade que dominou uma imaginação modulada de progressão linear
escamoteando uma multiplicidade de desejos das populações. Para Massey,
Tudo isso é integral e significativamente espacial. A colocação das lutas locais dentro da
complexa geometria do poder das relações espaciais é um elemento-chave na formação
de suas identidades políticas e de sua política. A atividade política, por sua vez, dá nova
forma tanto às identidades quanto às relações espaciais. Espaço, enquanto relacional e
esfera da multiplicidade, é tanto uma parte essencial do caráter de compromisso político
quanto perpetuamente reconfigurado por ele. E o modo pelo qual essa espacialidade é
identidade em um espaço territorializado de lugares delimitados fornece pouco no rumo
das possibilidades para o desenvolvimento de uma política radical (idem, p.258).
Reforçamos assim, a pertinência da análise das formas de territorialização do freestyle que só
pelo seu relacionar sócio-espacial “diferenciado” já evoca a necessidade de ser contemplado no fazerpolítico relacional de nossa sociedade. Não obstante, já poderíamos entendê-lo como protagonista social
em formas mais “tradicionais” de engajamento político, como suas participações em eventos que
incentivem solidariedade, criatividade, saúde no esporte e compensações por tais atos.
Considerar o espaço não absoluto ou “relativo a um”, e sim de forma relacional (HARVEY,
op.cit.), é válido na investigação das múltiplas formas de espacialização da sociedade, que juntas
compõe uma realidade relacional e dinâmica. Aqui, oposição e contradição são substituídas pela
16
ambivalência e co-existência . A perspectiva de Massey para o espaço é, em primeiro lugar, da
importância em pensar sobre “ele”, pois é dessa “dimensão [que] construiremos nossas cosmologias
estruturantes. Ele modula nossos entendimentos de mundo” (p.15). Em segundo lugar, a autora define o
espaço como “a esfera na qual distintas trajetórias coexistem; é a esfera da possibilidade da existência
de mais de uma voz” sendo co-constitutivo da multiplicidade; e um produto de inter-relações, que assim
nunca se fecha completamente, pois sendo “produto das relações-entre [...] esta sempre em processo de
devir” (p.8).
Pensar o espaço desta forma e consequentemente as práticas territorializadas “nele”, abre para
uma leitura do real com futuro aberto, um real por princípio heterogêneo, portanto potencialmente
emancipatório das razões fragmentárias e instrumentais que minam a ação criativa da heterogeneidade
(sócio-espacial) em termos de solução, política e realização.
16
Superam-se aquelas noções clássicas que legitimaram idéias e ações como as de sociedade homogênea (anulando suas
especificidades, permitindo atitudes como a dizimação do outro ou o seu reconhecimento, contudo “ao lado”, num espaço
seccionado - como as reservas indígenas) e temporalidade hierárquica, onde o “outro” é incorporado dentro de uma escala “em
relação a” abaixo ou atrás na “fila da história” (como os selvagens e subdesenvolvidos).
A partir desse aporte teórico podemos reforçar o valor da ação humana, sua potência-criativa e
da geograficidade do social. Ao analisar a produção do espaço urbano através do hip hop e a
potencialidade de práxis emancipatória e libertária do movimento, Rodrigues (op. cit.) constatou o
ativismo (ou movimento) social do hip hop constituído por meio de suas práticas sócio-espacias,
consideradas insurgentes à ordem do capital. Ao expor os atributos desse ativismo (objetivos,
protagonistas, formas de organização, tipos de manifestação e escalas) contribuiu metodologicamente
para a teoria geográfica crítica. Seu trabalho é um exemplo de análise da geograficidade do
protagonismo social colocado no centro da ação (potência) para a transformação social, que constrói
outros espaços, outros territórios.
Considerações finais, ou corte-fluxo
Esperamos ter empreendido um trabalho geográfico que partindo de uma leitura do território
exercido pelo skate em freestyle nos auxilie no entendimento das múltiplas ações da sociedade que,
inerentemente espacializadas, representam infinitas geo-grafias. Essa territorialidade é praticada, no
espaço das escolas públicas, por exemplo, por indivíduos que vêem no andar de skate o exercício da
liberdade, visualizando possibilidades (de manobras) num espaço construído pela lógica normativa do
capital; uma relação de trabalho; amizade e amor que imprime na multiplicidade do espaço e do
território uma forma de olhar/agir, e assim, existir.
Partir da metodologia defendida por Rodrigues nos ajudou muito a interpretar os atributos desse
agir, por ela compreendemos a geograficidade do social praticada pelo freestyle. Porém encontramos
algumas dificuldades em questões como encerrar o freestyle, já que ele pode ser um estilo livre de
“estilos” e, além disso, não podendo definí-lo como movimento social, não identificar um discurso
engajado tão evidente e homogêneo dentro de sua cultura e identidade. Como desafio ao saber teóricometodológico da geografia, sua imaterialidade territorial se coloca como importante elemento para as
reflexões acadêmicas atuais.
Contudo, esperamos ter conseguido expressar a leitura do freestyle em termos de insurgência à
ordem hegemônica, e assim seu papel potencialmente (cri)ativo ao realizar-se por formas que vão além
da subjetividade capitalística da materialidade e não-reflexão sobre o espaço (re)produzido.
Ainda que na atualidade a ciência social venha dando maior atenção aos processos de oposição
e “resistência” às formas hegemônicas de produção e reprodução sócio-espaciais, defendemos que a
prática do freestyle não se coloca, inicial e absolutamente, como reação, contraditória e inerente aos
processos hegemônicos do sistema de produção capitalista. Como pode ser visualizada nas letras dos
RAPs, a ação do grupo não se identifica como produto ou resultado, nem como modo específico de
inserção nessa lógica de (des)construção do espaço urbano. Pode ser considerada como manifestação
da relação de indivíduos que no exercício do viver podem expressar transversalidade às formas
concretas pré-estabelecidas no espaço urbano, muitas vezes até não se dando conta disso ou atuando
politicamente como opositor ou resistente.
Esperamos ter contribuído na reflexão de como o conceito de território pode ser visto na prática
do skate, e de como este estilo (livre) de vida pode condicionar a leitura da complexidade sócio-espacial
o espaço. Seu uso político, com o trabalho colaborativo de geógrafos, permite a construção de novos
horizontes sócio-espaciais mais plurais. Acreditamos que uma leitura mais aprofundada da(s)
linguagem(s) da cidade se dará a partir do momento que se entender como as relações sociais estão se
espacializando.
Referências Bibliográficas
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CASTORIADIS, C. Socialismo e sociedade autônoma In: Socialismo ou Barbárie. São Paulo: Ed.
Brasiliense, 1983[1979].
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FOUCAULT, M. Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes, 1984.
FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1985a.
FOUCAULT, M. História de Sexualidade. In: A vontade de saber. Petrópolis: Vozes, 1985b.
HAESBAERT, R. Território e Multiterritorialidade – um debate. In: GEOgraphia. Niterói: PósGeo/UFF,
2007. n. 17
HARVEY, D. Justiça Social e a Cidade. São Paulo: HICITEC, 1980[1973].
HONORATO T. A tribo skatista e a Instituição escolar: o poder escolar em uma perspectiva sociológica.
Piracicaba: UMP/FCH/PPEd., 2005. (dissertação de mestrado)
MASSEY, D. Pelo Espaço. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.
MOORE, A. Rethinking scale as a geographical category: from analysis to practice. In: Progress and
Human Geography. 2008. 32(2)
MOREIRA, R. Pensar e Ser em Geografia. São Paulo: Editora Contexto, 2007.
MOREIRA, R. A Estruturação Espaço-Territorial das Sociedades. Disciplina ministrada no Programa de
Pós Graduação em Geografia da UFF. Niterói: agosto-dezembro 2009.
RODRIGUES, G. Geografias insurgentes. Um olhar libertário sobre a produção do espaço urbano através
das práticas do movimento hip hop. Rio de Janeiro: PPGG/UFRJ, 2005. (dissertação de mestrado)
SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996.
Outros acessos:
Kamau. CD: Non Ducor, 2008.
WWW.cbks.com.br
WWW.cemporcento.com.br
WWW.otavioneto.com
WWW.sk8.com.br
WWW.skateecultura.com.br
WWW.triboskate.com.br
WWW.areleitura.blogspot.com
WWW.myspace.com/maxbo
WWW.programafreestyle.com.br
http://cienciadoskate.com/referencias.htm

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