Confrontando ao Antissemitismo - Anti

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Confrontando ao Antissemitismo - Anti
Confrontando ao Antissemitismo
MITOS E
FATOS...
Confrontando ao Antissemitismo:
Mitos e Fatos
INDICE
Introdução: Foi uma piada... não foi? . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
Estereótipos: “Eles são TODOS assim, sabe?” . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .6
Definições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7
Antissemitismo: Preconceito e Discriminação Contra Judeus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .10
Quem São os Judeus? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12
Uma Breve História do Antissemitismo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13
Definição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
Tempos Bíblicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13
Antijudaísmo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13
A Idade Média. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .14
Antissemitismo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
O Holocausto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
Antissemitismo Contemporâneo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
Quais são as fontes do antissemitismo? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .18
O que há abaixo da superfície? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
Os fatos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
Mito No. 1: Judeus e Dinheiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
Mito No. 2: Os Judeus Controlam os Bancos, a Mídia, Hollywood e o Governo . . . . . . 26
Mito No. 3: Os Judeus São Responsáveis pela Morte de Jesus . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Mito No. 4: Os Judeus se Julgam Melhores do que os Outros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .32
Mito No. 5: Judaísmo é uma raça, não uma religião. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
Mito No. 6: Judeus/Israel possuíam um conhecimento prévio ou foram os
responsáveis pelos ataques terroristas de 11 de Setembro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Orientações para responder. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .38
Antes de responder . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
Respondendo a outros. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
O que fazer quando houver suspeita de crime de ódio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Sites recomendados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .40
Bibliografia anotada para adultos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .44
Bibliografia anotada para estudantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
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INTRODUÇÃO
FOI SÓ UMA PIADA... NÃO FOI?
Após o jogo de futebol, a turma toda sai para tomar sorvete e comer batata frita em um
restaurante local. O serviço é péssimo (como de costume), e na hora de decidir sobre a
gorjeta alguém sugere“agir como judeus”e deixar somente algumas moedas.
Ou então, durante uma discussão sobre terrorismo na aula de história, um aluno diz que
os judeus foram os responsáveis pelos ataques do 11 de setembro de 2001.
Estas situações embaraçosas são apenas exemplos de piadas idiotas, caprichos
detestáveis, talvez ignorância, ou são expressões de antissemitismo real? Quando
incidentes como estes ocorrem, muitos estudantes judeus se perguntam se uma reação
qualquer pode ser vista como exagerada. Passam a não ter certeza se vale a pena dizer
algo. Às vezes se perguntam se não estão vendo algo inexistente no comentário, como se
tivesse sido apenas“indelicado”ou uma “piada”.
Embora não haja uma solução única para todas as situações, existem formas efetivas de
reagir a comentários deste tipo. Admitir que a maioria dos atos esteja relacionada a
estereótipos sobre judeus é um primeiro passo importante. Muitos dos insultos e das
críticas com que os estudantes se deparam têm como origem esses mitos. Embora a
decisão de se posicionar ou não ao se deparar com este tipo de comportamento seja uma
decisão pessoal, fica bem mais fácil se você estiver armado com um conjunto de fatos que
desarmam a teoria dos estereótipos antissemitas. A sua segurança para desafiar estes
estereótipos fica maior quando você conhece a origem destes mitos. Algumas das
pessoas que espalham estes estereótipos antissemitas por aí na verdade não percebem o
quanto essas palavras machucam e fomentam o ódio. Ao fornecer fatos, algumas pessoas
admitem imediatamente que suas ideias eram infundadas. Outros podem levar mais tempo
para mudar de opinião. Este guia oferece algumas ferramentas para serem usadas caso
você decida confrontar comentários antissemitas. Confrontar visões tendenciosas não é
muito fácil, mas você certamente sairá de uma discussão destas sentindo-se melhor em
relação ao que lhe cabe fazer.
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ESTEREÓTIPOS:
“ELES SÃO TODOS IGUAIS, SABIA?”
O estereótipo é uma generalização ultrassimplificada sobre um grupo de pessoas
ignorando as diferenças entre seus componentes. As pessoas que estereotipam assumem
que a maioria, se não a totalidade, dos membros de um grupo pensa e age da mesma
maneira. O que você pensaria se ouvisse alguém dizer as frases abaixo?
Todos os ________________ são estúpidos.
Todos os ________________ são bons dançarinos.
Todos os ________________ são atletas natos.
Todos os ________________ bebem muito.
Todos os ________________ são bons com dinheiro.
Todos os ________________ são gângsteres.
Muitas pessoas aplicam estes estereótipos automaticamente a grupos inteiros, mas será
que TODOS os indivíduos de um determinado grupo são realmente iguais? As pessoas
geralmente aprendem e usam estereótipos quando não conhecem ou entendem o grupo
que estão classificando. Pense nos seus amigos e você provavelmente perceberá que as
generalizações étnicas, raciais ou religiosas que escuta não se aplicam a todos.
Alguns estereótipos parecem não insultar ou menosprezar. Por exemplo, generalizar um
grupo como sendo de atletas natos ou outro como sendo bons com dinheiro pode ser visto
como um elogio. Infelizmente, além de falsos, caso esta estereotipagem “positiva” não seja
contestada, estereótipos negativos surgirão em seguida, como “_______ são atletas natos,
mas não são espertos o suficiente para jogar em posições estratégicas” e “_______ são
bons com dinheiro, mas são também sovinas e gananciosos”.
Na melhor das hipóteses, a estereotipagem é uma forma de pensar preguiçosa. É mais
fácil assumir que todos os membros de um grupo possuem uma característica em comum
do que reconhecer que um grupo é formado por pessoas com características singulares.
A estereotipagem na maior parte das vezes é resultado da ignorância, não tanto do ódio.
Muitas pessoas com pouca exposição a outros grupos de pessoas podem vir a formar
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estereótipos sobre estes com base em uma amostra relativamente pequena de indivíduos
deste grupo, de retratos da mídia, ou informações equivocadas de membros de sua família
ou colegas. A educação pode desempenhar um papel crucial para eliminar a formação de
estereótipos com base na ignorância.
Na pior das hipóteses, a estereotipagem é usada para denegrir grupos inteiros de
pessoas, ao afirmar que todos os membros do grupo possuem as mesmas características
negativas. Os estereótipos são usados com frequência por pessoas que já possuíam
opiniões negativas em relação a um grupo particular. Estas pessoas utilizam os
estereótipos para justificar preconceitos preexistentes.
Infelizmente, os estereótipos não se resumem a palavras ou ideias ignorantes. O
pensamento baseado em estereótipos evolui em geral para problemas mais perigosos —
preconceito, intolerância, bodes expiatórios, difamação, discriminação, racismo e crimes
de ódio. Veja abaixo as definições destes e de outros termos relacionados.
DEFINIÇÕES
Estereótipo (uma ideia)
O estereótipo é uma generalização ultrassimplificada sobre um grupo de pessoas
ignorando as diferenças entre seus componentes. Estereótipos aparentemente positivos
que ligam uma pessoa ou grupo a uma característica específica positiva pode ter
consequências negativas.
Preconceito (um sentimento)
O preconceito consiste em um pré-julgamento ou na tomada de uma decisão sobre uma
pessoa ou um grupo de pessoas sem conhecimento suficiente. O pensamento
preconceituoso é geralmente baseado em estereótipos.
Discriminação (um ato)
A discriminação é a negação da justiça ou de tratamento justo a pessoas ou grupos em
diversas áreas, incluindo direitos relacionados a emprego, educação, moradia, bancos e
política. A discriminação é um ato que surge em geral como consequência de
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pensamentos preconceituosos.
Difamação
Difamação significa atacar outra pessoa ou grupo através do discurso (calúnia) ou por
escrito (acusação).
Calúnia
Calúnia é um aditivo injusto ou irracional a estereótipos e preconceitos negativos.
Bode expiatório
O bode expiatório consiste em culpar um indivíduo ou grupo por algo baseado na
identidade do grupo quando, na realidade, a pessoa ou grupo não são responsáveis. O
pensamento preconceituoso e o ato discriminatório podem levar ao surgimento de bodes
expiatórios.
Raça
A raça se refere às categorias nas quais a sociedade classifica os indivíduos com base em
suas características físicas (como cor da pele, tipo de cabelo, contorno da face e formato
dos olhos). Embora muitos pensem que a raça é determinada pela biologia, este sistema
de classificação foi de fato criado por pessoas por razões sociais e políticas.
Racismo
O racismo é o preconceito e/ou discriminação com base na construção social da “raça”. As
diferenças nas características físicas (por exemplo, cor da pele, textura do cabelo e
formato dos olhos) são usadas para embasar um sistema de desigualdades.
Etnia
A etnia se refere à identificação de uma pessoa com um grupo com base em ancestrais
comuns, origem nacional, cultura, religião, história de opressão ou outros aspectos. Os
indivíduos podem ter identidades étnicas múltiplas ou cruzadas com diferentes níveis de
significado e importância a elas atribuídas em diferentes momentos da vida.
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Sionismo
O sionismo é o movimento nacional judaico de renascimento e renovação na terra de
Israel.
Crime de ódio
Um crime de ódio é um ato criminoso direcionado a um indivíduo ou propriedade devido à
raça, cor, religião, etnia, origem nacional, gênero ou orientação sexual reais ou percebidos.
Para que um crime de ódio exista, é preciso existir um ato criminoso. A mera expressão de
ódio ou intolerância não é um crime por si só, portanto não caracteriza um crime de ódio.
Antissemitismo
O antissemitismo é o preconceito e/ou a discriminação contra os judeus. O antissemitismo
pode ser baseado no ódio aos judeus devido a suas crenças religiosas, na sua pertinência
a um grupo (etnia) e algumas vezes na crença infundada de que os judeus são uma “raça”.
Antissionismo
O antissionismo é a crítica ou rejeição do direito dos judeus a possuírem sua própria
pátria.
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ANTISSEMITISMO:
PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO CONTRA JUDEUS
O preconceito e a discriminação contra judeus possui um nome próprio: antissemitismo.
Este termo foi inventado no século XIX por pessoas que odiavam os judeus europeus e
que acreditavam que os judeus eram uma raça diferente e inferior aos europeus de outras
origens, e que queriam dar um nome sonoramente científico a seu ódio aos judeus.
Há muita confusão relacionada ao termo “semítico”, que historicamente faz referência a
um grupo de idiomas que inclui árabe, aramaico, hebraico e tigrínia. “Semita” era o termo
que descrevia uma pessoa que falava alguns destes idiomas. Independentemente do
significado tradicional da palavra “semita”, o antissemitismo se refere especificamente ao
ódio aos judeus.
Algumas pessoas que expressam preconceito ou ódio ao povo judeu afirmam que não
podem ser antissemitas porque eles também são semitas. Esta é uma discussão
semântica. Dizer que este preconceito não é possível é uma abstração do problema do
antissemitismo e prejudica o diálogo sobre formas de eliminar o ódio de qualquer natureza.
Hoje em dia, o antissemitismo pode estar baseado no ódio aos judeus devido a suas
crenças religiosas ou a sua pertinência a um grupo (etnia), além da crença equivocada de
que os judeus são uma “raça”. De vez em quando, o antissemitismo toma forma de
crenças e atos anti-Israel e antissionistas.
A palavra Israel tem sido e ainda é usada para se referir a diversas coisas. Israel é outro
nome para os judeus. Israel também se refere à terra localizada na costa leste do Mar
Mediterrâneo. Além disso, Israel pode se referir ao país moderno.
O sionismo é um movimento político, baseado em princípios religiosos tradicionais judeus,
que afirma que a terra de Israel é a pátria dos judeus, assim como a Irlanda é a pátria dos
irlandeses e a Itália é a pátria dos italianos.
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O antissionismo é uma forma extrema de posicionamento anti-Israel, que declara na sua
essência que o país moderno de Israel não deve existir, que os judeus não têm direito a
uma pátria.
Como país moderno e soberano, Israel possui políticas que podem ser e são questionadas
e contestadas, mesmo pelos próprios israelenses, assim como muitos americanos
contestam algumas políticas do governo dos Estados Unidos. Entretanto, quando ações e
posicionamentos anti-Israel são baseados em dois pesos e duas medidas (isto é, quando
Israel é julgado com padrões diferentes daqueles aplicados a outros países), ser anti-Israel
é em geral antissemitismo dissimulado.
É importante que todos os países sejam julgados por padrões coerentes em relação às
práticas internacionais e direitos humanos. Infelizmente Israel é julgado por padrões
injustos, e nestas ocasiões devemos questionar se isso se dá em parte devido ao
antissemitismo.
Natan Sharansky, ex-ministro de Israel para Assuntos Relacionados a Jerusalém e à
Diáspora, aplica um teste nestes casos que ele denominou“teste dos 3 dês”: demonização,
dois pesos e duas medidas e deslegitimização.
1. Está havendo demonização do Estado judeu devido à sua ação? A culpa dos problemas
do mundo ou do Oriente Médio está sendo atribuída a Israel?
2. Há o uso de dois pesos e duas medidas ao criticarem Israel em relação a outros
países? Os erros de Israel estão sendo exagerados enquanto violações de direitos
humanos mais graves em outros lugares são ignoradas?
3. Há alguma tentativa de deslegitimizar o Estado judeu? O povo judeu está isolado ao não
ter direito à soberania?
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QUEM SÃO OS JUDEUS?
Os judeus são descendentes de Abrão e Sara, são os habitantes da terra de Israel no
passado e no presente, e são uma nação assim como os irlandeses ou os italianos.
Seguidores das leis outorgadas por Deus a Moisés no Monte Sinai, os judeus são
membros de uma religião, assim como os cristãos ou os muçulmanos.
Segundo a lei judaica tradicional, é judeu todo aquele filho de mãe judia. Algumas
tradições judaicas modernas reconhecem também os filhos de pais judeus como sendo
judeus. Assim como ocorre em outras religiões, um não judeu pode tornar-se judeu através
da conversão. A lei judaica tradicional estabelece que aquele nascido judeu será judeu
para sempre, mesmo se esta pessoa não acreditar ou não professar nenhuma lei do
judaísmo, e mesmo se esta pessoa professar outra religião.
Os números variam de acordo com a fonte, mas hoje em dia o mundo é habitado por mais
de 6,4 bilhões de pessoas. Aproximadamente 2 bilhões são cristãos, quase 1,4 bilhão é
muçulmano, e apenas 13 milhões são judeus. A maioria da população judaica mundial vive
nos Estados Unidos, cerca de 5,6 milhões de pessoas, um pouco menos de 2 por cento da
população americana total, que é de 300 milhões de pessoas. Em seguida vem Israel com
cerca de 5,1 milhões de judeus. O restante dos judeus está espalhado ao redor do mundo,
com populações significativas na França, Rússia, Canadá, Reino Unido e Argentina.
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BREVE HISTÓRIA DO ANTISSEMITISMO
Definição
Antissemitismo é o ódio aos judeus simplesmente por serem judeus. Eventualmente
chamado de “o mais antigo dos ódios”, tem sido chamado de antijudaísmo quando seu
alvo são práticas e crenças judaicas, e antissemitismo quando o seu alvo é o povo judeu
como “raça” odiada. Historicamente, o que se iniciou como um conflito entre crenças
religiosas se transformou em uma política sistemática de isolamento político, econômico e
social, exclusão, degradação e tentativa de aniquilação. O antissemitismo não teve início
na era nazista, nem acabou com o fim da Segunda Guerra Mundial. Sua continuidade ao
longo dos milênios se relaciona ao poder de tomar como bode expiatório um grupo
definido como “outro”.
Tempos Bíblicos
Abrão, o pai das três principais religiões monoteístas (judaísmo, cristianismo e islamismo)
levou sua família a Canaã, onde uma nova nação — o povo de Israel — surgiu
aproximadamente 1.000 anos antes da Era Comum (AEC). Durante estes diversos séculos
antes de Jesus, os hebreus (os primeiros judeus) sofreram perseguições intermitentes por
se recusarem a adorar ídolos dos dominantes locais, o que era costume na época. Esta
recusa em idolatrar ídolos foi vista como teimosia e foi tida como ofensiva.
Antijudaísmo
No ano 70 EC o Templo Judeu foi destruído pelos romanos e a maior parte dos judeus foi
exilada pelo mundo antigo. Após o advento do cristianismo, surgiu um novo antijudaísmo.
Inicialmente, o cristianismo era visto simplesmente como outra seita do povo judeu uma
vez que Jesus e seus discípulos eram judeus e pregavam uma forma de judaísmo.
Durante os primeiros séculos após a crucificação de Jesus pelos romanos, os seguidores
do judaísmo e do cristianismo coexistiam, por vezes em paz, por vezes com animosidade,
pois eles buscavam o proselitismo de sua fé na mesma terra.
Com a conversão dos imperadores romanos, o cristianismo se tornou a religião oficial do
Império Romano. Os primeiros padres da Igreja tentaram estabelecer o cristianismo como
o sucessor do judaísmo. Como as duas religiões derivam do Velho Testamento, os
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Fatos
cristãos buscaram estabelecer a validade de sua nova religião declarando que ela
substituía o judaísmo. A recusa dos judeus em aceitar Jesus como sendo o Messias foi
vista como um desafio ao domínio romano e à fé cristã.
A Idade Média
Nos anos que precederam a Idade Média (de 300 a 600 EC), surgiu um novo padrão de
discriminação institucionalizada contra os judeus. Foi proibido aos judeus se casar com
cristãos (399 EC), ocupar altos cargos no governo (439 EC), e se apresentarem na corte
como testemunhas contra cristãos (531 CE). Como os judeus estavam sendo oficialmente
banidos, surgiram algumas fantasias bizarras sobre os judeus no norte da Europa que
prenunciaram o antissemitismo do século XX. Neste momento na Idade Média alegava-se
que os judeus possuíam chifres e rabos e que eles praticavam o assassinato ritual de
cristãos (por exemplo, para produzir matzá para Pessach). Esta última alegação,
conhecida como “libelo de sangue”, foi inventada por Thomas de Monmouth em 1150 para
explicar a morte misteriosa de um menino cristão. Isso gerou mitos na Inglaterra e na
Alemanha.
Em 1095, o Papa Urbano II fez um apelo geral aos cristãos da Europa para tomarem a
cruz e a espada e libertar a Terra Santa dos muçulmanos, dando início ao que ficou
conhecido como as Cruzadas. O fervor religioso que motivou homens, e depois até mesmo
crianças, a participarem das Cruzadas teve consequências diretas para os judeus. Os
exércitos dos cruzados, que mais se pareciam hordas de criminosos, varreram
comunidades judaicas, saqueando, estuprando e massacrando os habitantes. Assim
nasceu o pogrom, o massacre organizado de judeus.
Na metade do século XIV, a peste bubônica se alastrou pela Europa, matando
aproximadamente um terço da população. O medo, a superstição e a ignorância tornavam
urgente a necessidade de encontrar os culpados, e os judeus eram um bode expiatório
conveniente devido aos mitos e estereótipos nos quais já se acreditava sobre eles.
Embora os judeus também estivessem morrendo devido à peste, eles foram acusados de
contaminar poços e disseminar a doença.
Em 1290, Eduardo I expulsou os judeus da Inglaterra, fazendo da Inglaterra o primeiro
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país europeu a expulsar judeus. Após mais de 200 anos, em 30 de julho de 1492, a
comunidade judaica da Espanha — cerca de 200 mil pessoas — foi expulsa por um édito
do rei Fernando e da rainha Isabel de Castela. Isso fez parte da grande inquisição
espanhola, que teve em parte o objetivo de converter os judeus ao catolicismo.
Em 1545, Martinho Lutero, fundador da Reforma do século XVI e do protestantismo,
escreveu um folheto intitulado “Judeus e Suas Mentiras”, em que afirmava que os judeus
tinham sede de sangue cristão e invocava o assassinato dos judeus. Os nazistas
reimprimiram este folheto em 1935. Alguns estudiosos acham que estes ataques
indecentes marcaram a transição do antijudaísmo (ataques motivados pela recusa dos
judeus de aceitar o cristianismo) para o antissemitismo (ódio aos judeus como uma “raça”
cuja existência contaminaria a pureza de outras “raças”).
Cada vez mais os judeus foram submetidos à discriminação política, econômica e social,
culminando com a perda de seus direitos legais e civis. Eles foram obrigados a viver em
guetos e, no início do século XIII, foram obrigados a vestir um emblema distintivo (uma
insígnia e /ou um chapéu com ponta) para que pudessem ser imediatamente
reconhecidos. Como a Igreja não permitia aos cristãos emprestar dinheiro a juros, alguns
judeus o faziam. Uma vez associados ao negócio proibido da usura, outra série de
estereótipos surgiu em relação aos judeus como sendo monetaristas e gananciosos. Como
prestamistas, os judeus eram frequentemente úteis a governantes, que se utilizavam de
seu capital para construir catedrais e financiar exércitos. Enquanto os judeus beneficiavam
os governantes através das finanças ou sendo um bode expiatório conveniente, eles foram
tolerados, mas quando conveio aos governantes, eles foram expulsos — da Inglaterra em
1290, da França em 1394 e da Espanha em 1492.
Antissemitismo
O termo “antissemitismo” foi cunhado em 1879 por Wilhelm Marr, um agitador político
alemão. Coincidiu com o desenvolvimento de uma nova pseudociência baseada em
teorias de superioridade e inferioridade racial no norte da Europa e nos Estados Unidos.
Muitos têm questionado por que o antissemitismo se tornou genocida na Alemanha, e não
na França ou na Inglaterra, que possuíam a mesma herança medieval. Após a Primeira
Guerra Mundial, a Alemanha era um país profundamente conturbado. Tendo perdido a
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Antissemitismo:
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guerra, seus cidadãos se sentiram humilhados. Os países vitoriosos, entre os quais os
Estados Unidos, França e Inglaterra, compuseram o Tratado de Versalhes, um acordo de
paz que obrigava os alemães a abrir mão de territórios e a pagar grandes somas de
dinheiro aos países cujas terras eles destruíram. Além da deterioração social e econômica,
Adolf Hitler lançou mão de uma liderança demagógica que explorava a norma cultural
alemã da obediência a autoridades e a antiga história de demonização dos judeus. Hitler
difundiu teorias de conspiração de vitimização sobre a Primeira Guerra Mundial, culpando
os judeus por corromper o corpo político da Alemanha. Ele também invocou mitos como o
do“libelo de sangue” espalhando o temor de que os judeus contaminariam o que ele
chamou de “raça ariana” superior. Segundo a doutrina de Hitler, todos os judeus e seu
código genético deveriam ser eliminados.
O Holocausto
É provável que não haja descrição mais sucinta do Holocausto do que a declaração do
Vaticano feita em 12 de março de 1998:
Este século testemunhou uma tragédia indescritível, que não poderá nunca ser esquecida:
a tentativa do regime nazista de exterminar o povo judeu, com o consequente assassinato
de milhões de judeus. Mulheres e homens, velhos e jovens, crianças e bebês, única e
exclusivamente devido à sua origem judaica, foram perseguidos e deportados. Alguns
foram sumariamente mortos, ao passo que outros foram humilhados, maltratados,
torturados culminando no despojamento de sua dignidade humana, e só então
assassinados. Poucos dos que chegavam aos campos [de concentração] conseguiram
sobreviver, e aqueles que sobreviveram ficaram marcados para o resto da vida. Isto foi a
Shoah.
Como admitiu o Papa João Paulo II, “interpretações errôneas e injustas do Novo
Testamento com relação ao povo judeu e a culpa a eles atribuída circularam por muito
tempo...” e podem ter criado um sentimento antijudaico em algumas mentes e corações
cristãos. A desumanização progressiva a que os judeus foram submetidos — a imagem da
“outra face” judaica demoníaca — possibilitou o Holocausto.
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Antissemitismo Contemporâneo
Após o Holocausto, quando o mundo testemunhou os horrores de Auschwitz, o
antissemitismo passou a ser bem menos aceito. Ver a que levou o antissemitismo fez com
que povos e nações passassem a se envergonhar de expressá-lo abertamente. No caso
da Igreja Católica, houve uma mudança radical, culminando com a retirada na década de
1960 da histórica e perigosa acusação contra o povo judeu de terem sido responsáveis
pela morte de Jesus.
O antissemitismo não desapareceu completamente, mas eventos como a Segunda Guerra
Mundial inibiram consideravelmente sua expressão. Com o passar das décadas, as
memórias foram caindo no esquecimento e as críticas ao Estado judeu de Israel
aumentaram e muitas dessas inibições foram enfraquecidas. Nos últimos anos tem havido
um ressurgimento preocupante do antissemitismo no mundo, por vezes relacionado
diretamente com Israel, como o ressurgimento das antigas acusações de libelo de sangue
e o uso do poder maligno para controlar o mundo.
Algumas manifestações de antissemitismo são mais indiretas. A crítica excessiva a Israel
faz com que alguns se sintam mais à vontade para atacar os judeus e as instituições
judaicas ao redor do mundo. Como exemplo, podemos citar que, durante a recente guerra
em Gaza, houve 220 incidentes antissemitas no Reino Unido e 113 na França. Outros
expressam o antissemitismo nas formas mais tradicionais. Por exemplo, pesquisas da ADL
mostraram que um grande número de europeus acredita que os cidadãos judeus não são
leais ao país onde moram e que possuem poder político e econômico desproporcional.
O ressurgimento do antissemitismo é extremamente preocupante, em especial quando nos
distanciamos cada vez mais das lições aprendidas com o Holocausto. O povo judeu tem
os Estados Unidos e outros países como seus aliados, que, entretanto, se lembram das
lições da história e estão prontos a se posicionarem contra este ódio tão antigo e nefasto.
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Antissemitismo:
Mitos
e
Fatos
QUAIS SÃO AS ORIGENS DO ANTISSEMITISMO?
De modo geral, as pessoas se sentem mais à vontade com semelhanças do que com
diferenças.
Quem se recusa a aceitar as normas e modos dos vizinhos em geral é rejeitado por eles.
Ao longo da história os judeus se mantiveram fiéis às suas crenças e modo de vida mesmo
face à perseguição, e muitos se sentiram ofendidos ou ameaçados pela recusa dos judeus
a aceitarem as práticas da sociedade como um todo.
A identidade judaica pode ser remetida até Abraão, que rejeitou a idolatria dos povos da
Mesopotâmia em favor do monoteísmo, a crença em um único Deus. Os judeus foram
escravizados no Egito, mas mantiveram sua diferença, o monoteísmo, em relação a seus
superiores egípcios politeístas (adoração de vários deuses) até que Moisés liderou o
êxodo dos judeus da escravidão à liberdade, como se comemora na ocasião do Pessach.
Na Pérsia, um judeu chamado Mordechai rejeitou o decreto do primeiro-ministro Haman
pelo qual todos os súditos do rei deveriam se curvar diante dele, recusando-se a curvar-se
a qualquer outra figura além de Deus, conforme se festeja hoje em dia durante a festa de
Purim. Quando a terra de Israel estava sob o domínio do império de Alexandre o Grande,
um grupo de judeus se revoltou contra a imposição da religião e cultura gregas, como se
celebra na festa judaica de Chanucá. Posteriormente, quando os judeus se recusaram a
obedecer às leis antijudaicas do Império Romano, o exército romano destruiu o Segundo
Templo em Jerusalém, massacrando milhares de judeus, com a expulsão da maioria que
passou a viver no exílio, como se comemora todos os anos na ocasião do Tisha B’av.
Como pode ser verificado nesta lista, os judeus têm sido discriminados por milhares de
anos, mas o judaísmo, na realidade, comemora a superação das ameaças históricas.
Nos últimos 2000 anos, os judeus se recusaram a aceitar Jesus como sendo o messias.
Combinando essa recusa com a tradicional acusação de que os judeus foram os
responsáveis pela morte de Jesus (veja Mito no. 3), o resultado são séculos de
antissemitismo cristão na Europa.
No mundo islâmico, a recusa dos judeus em aceitar Maomé como profeta de Deus fez com
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Mitos
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Fatos
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que os judeus fossem considerados, junto com os cristãos, com sendo dhimmis (cidadãos
de segunda classe), com menos direitos e privilégios do que seus vizinhos muçulmanos. A
combinação disto com a existência de Israel resultou em décadas de antissemitismo cada
vez mais virulento nos mundos árabe e muçulmano.
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Antissemitismo:
Mitos
e
Fatos
O QUE HÁ ABAIXO DA SUPERFÍCIE?
O antissemitismo pode ser comparado a um iceberg onde apenas uma porção
relativamente pequena fica visível ao observador a olho nu, e a massa maior fica
escondida abaixo da superfície. De forma geral, as pessoas veem ou ouvem somente os
exemplos mais horrendos de antissemitismo, como crimes de ódio que chegam às
manchetes. Os incidentes que atraem a atenção pública são apenas a ponta do iceberg.
Insultos, pichações e outras manifestações preconceituosas sutis que não aparecem nas
notícias podem representar algo como 90% do iceberg que permanece escondido abaixo
do nível da água. As pessoas precisam reconhecer devidamente a ignorância e o
comportamento indelicado. É importante não reagir de modo exagerado, mas ao mesmo
tempo deve-se levar em conta que ignorar pequenas transgressões pode levar a
incidentes mais sérios. Ignorar preconceitos sutis contribui para fomentar um clima que
pode levar a crimes de ódio.
Outro aspecto do antissemitismo é o uso de dois pesos e duas medidas, segundo os quais
os judeus e Israel são medidos com padrões diferentes dos aplicados a outros povos e
países. Por exemplo, os judeus são acusados de formar comunidades muito fechadas,
embora muitos grupos tendam a associarem-se com outros que partilham da mesma
cultura, etnia ou religião. Além disso, há uma base histórica para a formação de
comunidades fechadas entre os judeus: séculos de rejeição por seus vizinhos não judeus
forçaram os judeus a formarem uma rede social e econômica de apoio.
Os Fatos
Então como podemos distinguir se está havendo uma reação exagerada ou se de fato há
antissemitismo? Felizmente, a maioria dos americanos nunca sentirá na pele a parte
visível do iceberg — crimes de ódio, ataques e danos graves à propriedade, pois os
Estados Unidos são um país onde a maioria da população não tolera o comportamento
motivado pelo ódio. Nunca houve perseguições sistemáticas aos judeus nos EUA, e
atitudes antissemitas não são a regra.
Por outro lado, embora haja garantias legais à liberdade nos EUA, não se pode garantir a
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Antissemitismo:
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Fatos
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inexistência de mitos e conceitos equivocados sobre os judeus. Este texto trata de alguns
mitos comuns sobre os judeus e fornece informações e argumentos que podem ser
usados para combater preconceitos e estereótipos.
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Antissemitismo:
Mitos
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Fatos
MITO No. 1:
OS JUDEUS SÃO SOVINAS, GANANCIOSOS E MATERIALISTAS;
OS JUDEUS SÃO BONS COM DINHEIRO
Qual é a origem disso?
O mito da ganância dos judeus data da época do Novo Testamento, com Jesus forçando a
expulsão dos cambistas judeus para fora do Templo. Ensinamentos relativos aos
“malditos” judeus permearam todos os aspectos da cultura cristã, e noções de judeus
como avarentos e gananciosos dominaram a cristandade. Na Idade Média, alguns judeus
se tornaram prestamistas, em parte porque lhes era proibido possuir terras ou exercer uma
profissão, e também porque a Igreja proibiu aos cristãos a prática da usura (empréstimo de
dinheiro a juros). A usura foi condenada como pecado, mas como os judeus não estavam
sujeitos às leis cristãs, e como os reis e a nobreza precisavam de dinheiro, tanto a Igreja
quanto o Estado nomearam os judeus como prestamistas e cobradores de impostos. Num
clássico exemplo de culpar o mensageiro, os cristãos, enraivecidos ao terem que pagar
seus empréstimos e impostos, direcionaram aos judeus a sua raiva, uma vez que eram
eles os prestamistas e cobradores.
Em épocas mais recentes, algumas pessoas acreditam que os judeus ricos e bem
sucedidos prosperaram por serem sovinas, gananciosos e materialistas, ou devido à “sua
habilidade natural com dinheiro” e não pelo compromisso com a educação e trabalho
árduo.
Quais são os fatos?
Como todos os grupos, alguns judeus são bons com dinheiro, outros não são. Alguns
judeus são sovinas, outros não. O mesmo pode ser dito sobre qualquer grupo de pessoas,
seja definido pela religião, nacionalidade ou, no caso, cor do cabelo ou peso.
Hoje em dia, há muitos judeus que não são ricos. Há um número considerável de judeus
que vivem na pobreza, nos Estados Unidos e ao redor do mundo. Segundo um estudo
baseado em dados coletados pelo Estudo da População Judaica Nacional de 2001, cerca
de 1 milhão de judeus vive em domicílios de baixa renda, o que significa que a renda
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dessas pessoas é menor do que 150% da taxa de pobreza federal, ou os 25.000 dólares
para uma família de quatro pessoas.1
Segundo a tradição judaica, a doação de dinheiro aos pobres e necessitados não é
apenas incentivado, é uma obrigação. A palavra em hebraico tzedaká é geralmente
traduzida de forma equivocada como sendo “caridade” que deriva da palavra latina
“caritas”, que significa coração. A doação é feita “pelo coração”, ou seja, motivada pelo
desejo de dar. Uma tradução mais precisa de tzedaká é “justiça”, o que significa que a
tzedaká é dada porque é o que deve ser feito, independentemente da vontade individual.
Segundo a lei judaica, a tzedaká é uma mitzvá, que também é muitas vezes confundida
como sendo “boa ação”. Na realidade, mitzvá significa mandamento. E, como todos os
mandamentos na lei judaica, a mitzvá de tzedaká é obrigatória, e não apenas uma boa
ação.
Diferentemente da lei romana do comércio, o Caveat Emptor (onde o comprador deve ficar
atento), segundo o qual o comprador é quem precisa ficar alerta e cauteloso sobre
vendedores inescrupulosos, o judaísmo dita o oposto.
Segundo a lei judaica, é responsabilidade do vendedor garantir que o comprador se
beneficie no caso de incerteza em alguma transação. Por exemplo, se alguém quiser
comprar um quilo de salada de batatas, o judaísmo obriga o vendedor da loja a colocar um
pouquinho mais, pois a balança pode não ser totalmente precisa.
Como responder?
Assumir que as ações de alguns tipificam o comportamento de todos é o âmago da
intolerância. Todo grupo religioso ou étnico, inclusive os judeus, pode ter membros
gananciosos ou sovinas. A acusação de que os judeus nascem gananciosos (ou que a
ganância é uma característica “judaica”) deriva dos estereótipos medievais do judeu
desprezível, execrável e não tem nada a ver com as práticas financeiras atuais dos judeus.
A resposta a alguém que afirma que os judeus são gananciosos e sovinas deve ser
baseada no questionamento da generalização. Perguntar simplesmente “o que você quer
dizer com isso?” pode resolver; essa pergunta sempre faz com que as pessoas voltem
1
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Mitos
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Fatos
atrás na generalização dos fatos.
Esteja preparado, também, com exemplos que desconstruam mitos e estereótipos (e que
não perpetuam estereótipos sobre outros grupos). Se, por exemplo, alguém reclamar que
os proprietários judeus exploram seus inquilinos, você deve perguntar se essa pessoa tem
conhecimento dos antecedentes de proprietários não judeus. Você também pode
perguntar, “se algum dono de loja cristão fosse desonesto com você, você o descreveria
como um comerciante cristão desonesto ou somente como um comerciante desonesto?
Se o dono fosse judeu, ele seria um comerciante desonesto ou um comerciante judeu
desonesto?”
Por fim, o mito de que os judeus são sovinas é contestável por toda a tradição judaica da
tzedaká. Nos Estados Unidos, este preceito religioso resultou em um recorde
extraordinário de filantropia judaica. Pode ajudar mencionar que o judaísmo prega que as
doações sejam generosas, e não apenas para causas judaicas. O Estudo da População
Judaica Nacional de 2001 mostrou que 71% dos judeus doam para causas judaicas e que
62% doam para causas não judaicas.
Entre os filantropos americanos judeus encontram-se Julius Rosenwald, que construiu
escolas para crianças negras no sul dos Estados Unidos na década de 30; Nathan
Strauss, que montou depósitos de leite que distribuíam leite pasteurizado e fórmulas
infantis para famílias em regiões pobres de Nova York; Adolphus S. Solomons, que, junto
com Clara Barton, fundaram a Cruz Vermelha Americana; e os Guggenheims, que criaram
a Fundação Guggenheim para apoiar a arte e artistas americanos.
Estas informações são uteis como uma demonstração dos ensinamentos morais do
judaísmo, além das práticas éticas dos judeus. Mas, mesmo quando recebem estas
informações, alguns ainda mantêm estereótipos negativos, e as vezes é melhor ignorar
estes posicionamentos. Como afirmou David Lloyd George, primeiro-ministro britânico no
início do século XX, sobre fanáticos antissemitas: “Para estes fanáticos, os judeus hoje
não fazem nada direito. Se eles são ricos, são aves de rapina. Se são pobres, são
vermes... Se fazem doações generosas, e não há doadores mais generosos do que os
judeus, o fazem por alguma razão egoísta. Se não doam, então o que se esperaria de um
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Antissemitismo:
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judeu?”
Um último ponto: por pura ignorância ou desatenção ingênua, muitas pessoas usam a
frase “judiando de alguém” para se referir ao ato de pechinchar ou outra negociação de
preço. A estas pessoas, deve-se dizer que a frase é ofensiva por usar afirmações de
cunho pessoal como: “Ao dizer ‘ele judiou de mim’ parece que você está atacando a mim e
a minha religião”. Também se pode perguntar o que a pessoa quis dizer com essa frase.
Muitas pessoas apenas repetem o que ouviram em outro lugar e não enxergam a natureza
ofensiva. Este é um momento de educar, uma oportunidade de informar a pessoa sobre a
mensagem negativa que essa frase passa.
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Mitos
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Fatos
MITO No. 2:
OS JUDEUS CONTROLAM OS BANCOS, A MÍDIA, HOLLYWOOD,
E ATÉ MESMO O GOVERNO AMERICANO;
OS JUDEUS TÊM UM PLANO SECRETO PARA DOMINAR O MUNDO
De onde vem isso?
Os antissemitas apontam “Os Protocolos dos Sábios de Sião” como uma prova da
conspiração judaica para dominar os setores político e econômico mundiais além da mídia.
Esta comprovada falsificação foi escrita por agentes do czar da Rússia no final do século
XIX, e se diz ser a ata de uma reunião secreta de judeus detalhando o plano dos seus
líderes para dominar o mundo. Essa falsificação foi divulgada ao longo do século XX e até
o dia de hoje continua promovendo o estereótipo de que os judeus são os donos dos
bancos e controlam a mídia.
Em 2004, grande parte do mundo árabe assistiu a uma minissérie na televisão baseada
nos “Protocolos” produzida pelo governo da Síria e apresentada aos espectadores como
sendo a verdade. Entre muitas mentiras, o programa incluía cenas de judeus matando um
menino cristão para obter sangue para fazer matzá para Pessach e a execução brutal de
um comerciante judeu por seus colegas também judeus por manter sua loja aberta no
Shabat.
A realidade é que, nas sociedades, assim como a americana, que estenderam direitos e
liberdade aos judeus, as pessoas que se identificavam como judeus prosperaram. Por
exemplo, no 109º Congresso (mandato de 2005-2007), 11 senadores se identificaram
como sendo judeus. Esse histórico judaico de sucesso não é o resultado de uma
conspiração secreta judaica para dominar o mundo.
Este mito também se relaciona à percepção equivocada de que os judeus são pessoas
diferentes, estrangeiros com poderes estranhos para controlar os outros. Algumas pessoas
que nunca se encontrou com um judeu, ou não os conhece bem, podem formar ideias
estranhas sobre como os judeus são. Durante diferentes períodos da história, os judeus
foram acusados de matar crianças cristãs, causar pragas, e lançar iniciativas para destruir
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Mitos
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Fatos
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a sociedade cristã. Se algo desse errado, os judeus eram acusados de serem os
responsáveis. Hoje, ainda há quem afirme que a aids foi inventada por médicos judeus.
Quais são os fatos?
É mais fácil culpar um grupo por tudo de ruim que acontece em vez de tentar entender as
complexas e variadas causas dos problemas. As teorias da conspiração sempre tendem a
ser populares em tempos de crise econômica, e os judeus geralmente acabam sendo os
bodes expiatórios. Muitos grupos supremacistas brancos hoje em dia crescem
disseminando teorias da conspiração e culpam não somente os judeus como também os
negros, imigrantes, e até mesmo o governo federal por tudo que dá errado.
A acusação de que os judeus têm tentado dominar o mundo é um absurdo diante da
história judaica. Os judeus são minoria em quase todos os países onde vivem e sofrem
perseguições durante vários séculos.
Os judeus contribuíram enormemente para o desenvolvimento da indústria do cinema e
alguns se encontram em posições de destaque nessa indústria. Steven Spielberg e Barbra
Streisand, entre outros, são exemplos de judeus com muito poder e status em Hollywood,
mas basta assistir à cerimônia do Oscar para ver que os judeus não dominam a indústria
do cinema. Da mesma forma, os judeus constituem uma pequena minoria dos líderes das
empresas que figuram na Fortune 500 como a IBM, Exxon e GE.
Como podemos responder?
É importante reconhecer que este pode ser um tipo sutil de antissemitismo porque nos
deparamos com ele indiretamente, com um comentário súbito e inesperado que nos
surpreende como: ”Seu povo controla...”. Se alguém faz um comentário como este, você
pode questionar, ”se os judeus realmente controlam o mundo, por que será que eles têm
sido perseguidos nos últimos milhares de anos?”
Se alguém disser que os judeus são donos de tudo, enfatize que os judeus são indivíduos
como outros quaisquer e devem ser vistos dessa forma. Embora algumas pessoas de
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Antissemitismo:
Mitos
e
Fatos
destaque em uma indústria possam ser reconhecidas como judeus, não significa que a
indústria inteira “seja controlada por judeus.”
Conteste essas afirmações, pergunte se há uma forma “______” de controlar um banco ou
produzir um filme. Não há uma forma “______”, assim como não há uma forma judaica.
Você pode responder, questionando “por que os judeus não deveriam se envolver na
mídia ou no mercado financeiro?”
Ao se deparar com a acusação de que a guerra do Iraque é o resultado de um grupo
pequeno de judeus no governo americano, é interessante ressaltar que o presidente
George W. Bush, o vice-presidente Dick Cheney, a então assessora de Segurança
Nacional e depois secretária de Estado Condoleeza Rice e o secretário de Defesa Donald
Rumsfeld foram todos favoráveis à guerra e tinham a autoridade para tomar decisões
pelos Estados Unidos, e nenhum deles é judeu. Quanto ao fato de que alguns judeus
alcançaram posições de influência no governo americano, é interessante ressaltar que os
judeus não são os únicos a ter alcançado estas posições. É importante desvincular o
indivíduo do grupo ao qual pertence para determinar sucesso ou fracasso. Deve-se olhar
para o sucesso ou fracasso de uma pessoa com base nas suas características individuais.
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MITO No. 3:
OS JUDEUS SÃO RESPONSÁVEIS PELA MORTE DE JESUS
De onde vem esse mito?
A crença de que os judeus mataram Jesus tem origem na interpretação das partes do
Novo Testamento relacionadas a seu julgamento e crucificação. Os Evangelhos
descrevem os líderes religiosos judeus entregando Jesus às autoridades romanas com a
ordem de executá-lo por blasfêmia e ameaça pública. No Evangelho de Mateus (27:25),
está escrito que os judeus gritaram: “Seu sangue esteja sobre nós e nossas crianças” ao
ordenar sua crucificação. Por conta disso, os cristãos historicamente responsabilizaram os
judeus de modo coletivo pela morte de Jesus.
Quais são os fatos?
A crucificação, o método usado na execução de Jesus, é proibida pela lei judaica. Além
disso, Jesus não cometeu nenhum crime passível de pena de morte segundo a lei judaica.
As autoridades religiosas da atualidade acreditam que Jesus foi morto pelos romanos que
dominavam Israel, os mesmos romanos que executaram milhares de outros judeus através
da crucificação, incluindo outros dois indivíduos no mesmo dia da execução de Jesus.
O mito da responsabilização dos judeus pela morte de Jesus está impregnado em 2.000
anos de educação cristã e na cultura ocidental, iniciado com a tentativa pelos evangelhos
de definir quem eram os verdadeiros judeus. Embora maioria das pessoas respeita o
direito dos outros de seguirem a doutrina de sua religião, há uma grande ressentimento
histórico dos cristãos com os judeus que não conseguem entender por que Jesus foi
rejeitado tão veementemente. Desde a Idade Média, os cristãos acreditavam que os
judeus profanavam hóstias e matavam crianças cristãs para usar seu sangue para a matzá
(a famosa acusação do“libelo de sangue”). Hoje, essas questões aparecem nas mais
diversas formas, desde aulas de história onde as Cruzadas são ensinadas como sendo
épocas heroicas (milhares de judeus foram assassinados neste período) até a literatura e
a mídia que responsabilizam os judeus pela morte de Jesus. O exemplo mais recente de
amplo alcance foi o filme “A paixão de Cristo”, de Mel Gibson. Nele, não há nenhuma
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Mitos
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ambiguidade sobre quem foi responsável pela morte de Jesus — os judeus.
Segundo o teólogo cristão Carl Evans, “desde os tempos do Novo Testamento até os dias
de hoje, é raro encontrar um único período em que a Igreja não tenha atuado de forma
vergonhosa em relação aos judeus. Estou convencido de que o antissemitismo tem sido
um castigo poderoso e persistente principalmente devido ao falso testemunho da Igreja
contra os judeus.” Até hoje, ainda se ensina a algumas crianças cristãs que “os judeus são
assassinos de Cristo” e que “os judeus bebem sangue de cristãos”.
Independentemente do quanto persistentes possam ser estes mitos, a Igreja Católica deu
passos importantes recentemente para corrigi-los. Em 1965, o Conselho do Vaticano
publicou a Nostra Aetate, que declara que a morte de Jesus “não pode ser atribuída a
todos os judeus, sem distinção, da época, nem aos judeus de hoje.” Em 1992, o
Catecismo da Igreja Católica (um guia de estudo) afirma que não há como ter certeza do
que de fato ocorreu há 2.000 e que os judeus como grupo não devem ser considerados
responsáveis pela crucificação.
Como podemos responder?
Quando alguém rotula outra pessoa com algo tão pesado quanto“assassino de Cristo” é
muito fácil reagir com o coração. Mas o melhor neste caso é evitar levar o comentário a
sério e responder com objetividade. Embora a razão não funcione em todos os casos,
pode ajudar mostrar que responsabilizar uma pessoa hoje em dia por algo que ocorreu há
2.000 anos é um absurdo. Mostrar a posição da Igreja Católica sobre essa questão hoje
em dia também pode fazer com que a pessoa pare para refletir. Lembre-se de que
comentários deste tipo geralmente derivam de ignorância, e não necessariamente refletem
posições antissemitas. Ao mencionar fatos em vez de condenar pessoas por afirmações
como essas, elas podem ficar mais abertas a ouvir e aprender.
Um exemplo a ser mencionado nessa hora é a ironia do libelo de sangue, uma vez que as
leis alimentares dos judeus proíbem estritamente o consumo de qualquer tipo de sangue.
Muitos preferem responder a esta afirmação personalizando a resposta: ”Você está me
Confrontando
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Mitos
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culpando pela morte de Jesus? Como pode me responsabilizar por algo que ocorreu há
2.000 anos? Eu não estava lá, por acaso você estava?”. Embora este tipo de resposta não
forneça informações factuais, ela leva a pessoa a refletir sobre o que está dizendo.
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Mitos
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Fatos
MITO No. 4:
OS JUDEUS SE JULGAM MELHORES DO QUE OS OUTROS
De onde vem isso?
Segundo o judaísmo, os judeus são o “povo escolhido”. Este conceito tem sido mal
interpretado tanto por judeus como por não judeus. Muitas pessoas assumem que, ao se
designar como o povo escolhido, os judeus declaram que se julgam melhor do que outros
grupos étnicos e religiosos.
Quais são os fatos?
Ser o povo escolhido não significa que os judeus tenham mais privilégios do que os não
judeus. Ao contrário, de acordo com a lei judaica, ser do povo escolhido implica ter
responsabilidades especiais no sentido de preservar os ensinamentos éticos judaicos.
A ideia deriva de uma porção da Torá (a bíblia judaica) em que o povo judeu foi
“escolhido” para aceitar as responsabilidades da Torá e para ser “uma luz entre as
nações”, ou seja, um exemplo de bom comportamento para todos. Mas o conceito de
“povo escolhido” tem sido distorcido ao longo do tempo por aqueles que afirmam que este
título prova que os judeus se julgam melhores do que os não judeus.
Os judeus, como a maioria dos grupos, se orgulham da sua herança e identidade.
Entretanto, isso não os faz melhores do que os outros. Os judeus ortodoxos interpretam a
ideia de “povo escolhido” como sendo a responsabilidade de respeitar os 613
mandamentos da Torá. Todas as seitas do judaísmo agem de acordo com esta
responsabilidade ética com seu trabalho nas questões sociais.
Além disso, o judaísmo adere ao conceito do gentio justo, pelo qual o não judeu que segue
as Sete Leis de Noé receberá a mesma recompensa na vida após a morte do que o judeu
justo. Os judeus não encaram o fato de ser judeu como algo exclusivo reservado apenas
para aqueles que nasceram dentro da fé. Segundo a lei judaica, qualquer pessoa pode se
converter ao judaísmo aceitando as mesmas responsabilidades do que os outros
membros.
Confrontando
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Antissemitismo:
Mitos
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Como podemos responder?
É importante esclarecer o que distingue o “povo escolhido” para romper a barreira do mau
entendimento. Toda religião possui características particulares — e são estas as palavras
que levaram algumas pessoas a confundir os fatos. No que diz respeito a privilégios
especiais, como dias de férias a mais que os judeus precisam para celebrar seus feriados
religiosos, vale a pena lembrar que estes privilégios são concedidos a membros de
quaisquer grupos, não apenas aos judeus. A maioria das escolas, empresas e agências
governamentais americanas se esforçam para respeitar a diversidade do povo americano
e as circunstâncias especiais que garantem a ausência na escola e no trabalho.
Para responder a comentários do tipo “Os judeus pensam que são tão especiais”, pode-se
dizer que os judeus às vezes se sentem diferentes como minoria, e às vezes os judeus
são mal compreendidos devido a suas diferenças religiosas e culturais. Os judeus sentem
uma conexão especial com sua herança (como acontece com a maioria dos grupos), mas
como um grupo eles não se sentem superiores aos outros. A frase “povo escolhido” se
refere a obrigações bíblicas e a princípio não deveria sugerir que exista uma hierarquia
entre os grupos religiosos.
Se ouvir alguém reclamando que o “povo escolhido” está solicitando privilégios especiais
(como o abono de faltas na escola nos dias de feriados judaicos) porque pensam que sua
condição de escolhidos os colocam acima das regras, isso é claramente uma interpretação
ou entendimento equivocados dos fatos. A isso se pode responder lembrando que os
judeus buscam os mesmos direitos para professar sua fé como os outros. Os feriados
cristãos, como o Natal e a Páscoa, são observados normalmente e nesses dias não há
aula nas escolas e programas especiais. O respeito a esses dias são garantidos na
sociedade americana, mas o respeito aos feriados judaicos ou islâmicos podem ser vistos
como “estranhos” ou como sendo privilégios especiais. Apontar estes dois pesos e duas
medidas pode fazer com que os demais pensem sobre a falta de igualdade.
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Antissemitismo:
Mitos
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MITO No. 5:
OS JUDEUS SÃO UMA RAÇA, NÃO UMA RELIGIÃO
De onde vem isso?
A ideia de que os judeus não são apenas um grupo religioso, mas também um grupo
racial, foi o centro da política nazista e a justificativa para o assassinato de qualquer
pessoa judia que vinha a estar sob a ocupação nazista –– independentemente de ser ou
não judeu praticante. Até mesmo os filhos e netos de judeus que haviam se convertido ao
cristianismo foram assassinados durante o Holocausto por pertencer à “raça” judaica.
Todo o conceito de “ciência racial” e, portanto, a noção de “raça” judaica se originou na
Europa Ocidental durante o século XIX. Em resposta ao declínio da influência do
cristianismo tradicional, além do crescimento da assimilação dos judeus e mobilidade
social, os antissemitas adotaram argumentos raciais como nova racionalização de seu
ódio aos judeus. O argumento pode ser resumido da seguinte forma: os judeus são
diferentes dos não judeus não por suas crenças mas por sua natureza física; sua
“judaicidade” não é ensinada nem adquirida, mas herdada pelo sangue.
Quais são os fatos?
É importante reconhecer que as teorias das diferenças “raciais” dos judeus foram
desenvolvidas muito antes do desenvolvimento dos ramos modernos da ciência como
fisiologia e genética. Embora haja hoje em dia um debate acadêmico sobre a existência ou
não de algum significado científico no termo “raça”, todos os cientistas de renome
concordam que, embora os traços físicos — cor da pele, suscetibilidade a certas doenças
— sejam herdados, não há nenhuma predisposição étnica ou racial a emoções, ao
intelecto ou aos valores morais. Portanto, a ideia de que os judeus (ou qualquer outro
grupo étnico) tenham predisposição a um comportamento ruim ou inconveniente devido à
sua constituição genética não possui nenhuma base científica.
A definição de judaísmo baseada em traços físicos ou genéticos também é equivocada,
pois os judeus estão espalhados ao redor do mundo. Em geral, os judeus se parecem com
seus colegas não judeus do seu país de origem. Após séculos de casamentos mistos e
Confrontando
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Antissemitismo:
Mitos
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Fatos
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conversões, os judeus da Europa Oriental tendem a se parecer com os europeus orientais,
os judeus da Etiópia tendem a se parecer com os etíopes, os judeus da Turquia tendem a
se parecer com os turcos e os judeus da Índia tendem a se parecer com os indianos.
O que une os judeus como um povo, sejam eles oriundos da Europa, Ásia, África, ou das
Américas, é a cultura comum, enraizada em uma religião comum. Os judeus ao redor do
mundo se unem através da herança religiosa e cultural e não por igualdade racial.
Como podemos responder?
Se alguém lhe disser que o povo judeu é uma raça, pergunte o que esta pessoa quer dizer
com o termo “raça”; a maior parte dos antissemitas que repetem ideias pseudocientíficas
não conhecem a definição deste termo. Pergunte-lhe como “deveria” ser a aparência de
um judeu. Pode existir judeu negro? E judeu da Ásia Oriental ou indiano? É possível
alguém nascer cristão e se tornar judeu? A resposta a todas essas perguntas é sim — e
todas elas refutam a ideia da uma raça judaica como sendo qualquer outra coisa além do
produto da imaginação antissemita.
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Antissemitismo:
Mitos
e
Fatos
MITO No. 6:
OS JUDEUS/ISRAEL POSSUÍAM UM CONHECIMENTO PRÉVIO OU SÃO OS
RESPONSÁVEIS PELOS ATAQUES TERRORISTAS DE 11 de SETEMBRO
De onde vem isso?
Logo após os trágicos acontecimentos de 11 de Setembro de 2001, surgiram rumores de
que o sequestro dos aviões e os ataques suicidas às torres do World Trade Center e ao
Pentágono teriam sido trabalho do serviço secreto de Israel, o Mossad. No âmago desta
propaganda, conhecida como a “Grande Mentira”, havia mensagens estereotipadas:
“Somente os israelenses poderiam ter habilidade suficiente, somente os judeus seriam
espertos o suficiente para planejar e executar um plano tão complicado”. Há outra
afirmação antissemita virulenta nas entrelinhas desta declaração: “Somente os judeus
poderiam ter tido tamanha maldade”.
Outra versão desta inverdade é a de que os judeus tinham conhecimento prévio dos
ataques, de que funcionários judeus foram avisados secretamente para não irem ao
trabalho naquele dia. De fato, o poema de Amiri Baraka, poeta laureado de Nova Jersey,
uma longa afronta ao 11 de Setembro, repete a conspiração sobre o conhecimento prévio
dos judeus e de Israel sobre os ataques, e o falso rumor de que 4.000 israelenses faltaram
ao trabalho no World Trade Center.
Quais são os fatos?
Os ataques de 11/9 foram executados por membros da organização terrorista Al Qaeda.
Os judeus e israelenses não tinham nenhum conhecimento sobre os ataques. Das 2,9962
vítimas que morreram durante os ataques em 11 de Setembro, aproximadamente 400
eram judeus, incluindo pelo menos dois cidadãos israelenses. Os primeiros propagadores
da mentira, segundo a qual os judeus estavam de alguma fora por trás do plano, são a
mídia árabe e muçulmana do Oriente Médio, numa tentativa de aliviar a culpa de seus
irmãos depositando-a nos judeus e em Israel.
2
Confrontando
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e
Fatos
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Os ataques terroristas de 11 de Setembro foram planejados por 19 membros da Al Qaeda,
dos quais 10 deles sequestraram dois aviões de passageiros e fizeram-nos colidir contra
as torres do complexo World Trade Center na cidade de Nova York, cinco sequestraram
outro avião fazendo-o colidir conta o Pentágono em Washington, DC, e outros quatro que
morreram quando passageiros de um quarto avião sequestrado se rebelaram e impediram
que os sequestradores colidissem o avião contra a Casa Branca.
Como podemos responder?
Embora a ideia de que os judeus/Israel foram responsáveis pelos ataques do 11 de
Setembro soe incompreensível para a maioria das pessoas, este mito se espalhou pela
internet e pelo Oriente Médio com rapidez e acolhimento.
Este mito é um caso de antissemitismo clássico. A ideia de que os judeus controlam o
mundo e conspiram para manipular o resto da sociedade possui características da
propaganda nazista, tendo os judeus como a origem de todo o mal.
É importante questionar a validade da afirmação de que os judeus foram os responsáveis
pelos ataques de 11 de Setembro e perguntar a quem fizer esta acusação de onde eles
obtiveram essa informação. Muitos leem esta mentira na internet, e muito embora a
internet é uma ótima fonte de informações, deve-se ter muito cuidado de onde as
informações são obtidas. Uma opção é indicar para a pessoa o site da Liga Antidifamação
que
documenta
como
essas
mentiram
acabaram
expostas
na
mídia,
http://www.adl.org/anti_semitism/9-11conspiracytheories.pdf. Pode-se também recomendar
que comparem a origem dessa informação com as contidas em fontes de noticias de
reputação como a CNN, que possui páginas na internet dedicadas aos ataques de 11 de
Setembro.
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Antissemitismo:
Mitos
e
Fatos
ORIENTAÇÕES PARA RESPONDER
Essa questão se resume em respeito, respeito e aceitação de pessoas diferentes.
Algumas pessoas dizem que as palavras não ferem, mas comentários impensados que
advém da ignorância podem se tornar populares e mais perigosos. Escolher por o que
lutar é uma decisão pessoal, mas você deve estar sempre atento ao que ouve e diz.
Certamente não há regras rígidas para questionar comportamentos indelicados ou
antissemitas, mas eis aqui alguns pontos para serem lembrados. Não há nenhum
problema em ficar bravo ou chateado. Perceba que você não fez nada de errado e que
nada disso é sua culpa. E o mais importante é saber que você não está sozinho; há muito
apoio e ajuda, é só buscar. Não existe uma única reação adequada para todas as
situações. A reação adequada dependerá da situação e de você. Cada um deve encontrar
as respostas com que se sintam mais à vontade.
Antes de responder:
Pense antes de responder.
Conte até 10 se você precisar se acalmar.
Pergunte a você mesmo: “Devo responder ou ignorar?”
Pergunte a você mesmo: “É melhor ficar calmo, educado, e manter a cabeça erguida?”
Pergunte a você mesmo: “Tenho conhecimento suficiente para poder responder, ou
preciso buscar mais fatos?”
Pense se não vale mais a pena puxar alguém de lado em vez de se dirigir a um grupo
todo.
Não ria de piadas indelicadas contra você ou outros.
Caso esteja inseguro sobre como deve agir, troque ideias com outras pessoas.
Se você não conseguir responder imediatamente, poderá fazê-lo mais tarde — nunca é
tarde demais.
Respondendo a outros:
Deixe o outro falar antes de você responder.
Responda com clareza e firmeza, mas não levante a voz.
Procure expressar como um comentário fez você se sentir.
Foque no comportamento ou nas palavras, mas não faça um ataque à pessoa.
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Antissemitismo:
Mitos
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Fatos
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Conte a alguém de sua confiança sobre o incidente (amigo, parente, professor, rabino).
Registre o incidente no escritório da ADL de sua região.
O que fazer em caso de suspeita de crime de ódio:
Informe as autoridades apropriadas (diretor da escola, rabino, pais etc.).
Deixe todas as provas no lugar — não retire nada. Tire fotos da cena se possível.
Escreva todos os detalhes para não esquecer.
Ligue para a polícia.
Ligue para a ADL.
Ninguém pode dizer qual será a resposta correta para você, mas haverá consequências
caso opte por não responder. Algumas pessoas contaram que ficaram bravas consigo
mesmas por ter sido intimidadas ou por não terem contestado os outros ao se deparar com
situações de antissemitismo. Às vezes pode não valer a pena iniciar uma conversa como
essa com algumas pessoas, mas às vezes isso poderá lhe fazer sentir muito melhor e fará
a diferença.
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Antissemitismo:
Mitos
e
Fatos
SITES RECOMENDADOS
A Liga Antidifamação é uma das principais organizações que se dedicam a identificar e
combater o antissemitismo. Há muitas outras organizações e sites que possuem
informações sobre o antissemitismo.
Comitê de Assuntos Públicos Americano-Israelense (AIPAC) http://www.aipac.org)
Através de mais de 2.000 reuniões com membros do Congresso –– em casa ou em
Washington –– os ativistas do AIPAC ajudam a aprovar mais de 100 iniciativas legislativas
pró-Israel por ano. Seja conseguindo aproximadamente US$ 3 bilhões em ajuda crítica
para a segurança de Israel, ou fornecendo fundos para esforços conjuntos entre os
Estados Unidos e Israel para defesa contra armas não convencionais, os membros da
AIPAC estão envolvidos nas questões mais cruciais enfrentadas por Israel.
Comitê Judaico Americano (AJC) (http://www.ajc.org/)
O AJC é um centro de estudos internacional que promove sociedades pluralistas e
democráticas onde todas as minorias são protegidas. Suas principais áreas de atuação
incluem o combate ao antissemitismo e todas as formas de intolerância; promoção do
pluralismo e valores civis comuns; proteção dos direitos humanos e combate a formas de
abuso; garantir o direito de Israel de existir em paz e segurança com seus vizinhos; e
salvaguardar e fortalecer a vida judaica.
Liga Antidifamação (Anti-Defamation League) (http://www.adl.org)
Fundada em 1913, a ADL é uma das principais agências de direitos civis e relações
humanas, trabalhando para combater o antissemitismo e todas as formas de intolerância.
Lendas antissemitas (http://www.pitt.edu/~dash/antisemitic.html)
Lendas compiladas pelo acadêmico da área de folclore D.L. Ashliman que reflete o
sentimento antijudaico exibido historicamente pelos cristãos europeus.
Antissemitismo e xenofobia Hoje/AXT (http://www.axt.org.uk)
Publica análises de alta qualidade de manifestações de racismo, xenofobia e,
especialmente, antissemitismo no cenário do contexto social e político onde ocorrem tais
Confrontando
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Antissemitismo:
Mitos
e
Fatos
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manifestações.
A Torre de Clifford –– Massacre em York, Inglaterra (1190)
(http://ddickerson.igc.org/cliffords-tower.html)
Testemunha um evento trágico na história dos judeus da Inglaterra quando uma pequena
comunidade judaica foi massacrada.
Fórum de Coordenação do Combate ao Antissemitismo
http://antisemitism.org.il/?lang=en
O Fórum de Coordenação do Combate ao Antissemitismo é um fórum estadual que
monitora atividades antissemitas e antijudaicas ao redor do mundo. Ele também coordena
a luta contra este fenômeno com vários órgãos governamentais e organizações judaicas
no mundo todo.
Encarando a História e a Nós Mesmos (http://www.facinghistory.org/)
Oferece a professores e alunos de diferentes origens uma análise do racismo, preconceito
e antissemitismo para promover o desenvolvimento de cidadãos mais humanitários e bem
informados.
H-Antisemitism (http://www.h-net.org/~antis/)
O H-Antisemitism faz parte da organização interdisciplinar “H-Net Humanities & Social
Sciences OnLine”, e promove discussões acadêmicas da história do antissemitismo e
disponibiliza recursos de pesquisa bibliográfica e de ensino.
Hadassah (http://www.hadassah.org)
Hadassah é uma organização comprometida com o fortalecimento e união do povo judeu.
Hamagshimim (http://www.youngjudaea.org/html/university.html)
Hamagshimim é um movimento pluralista, apartidário, liderado por ativistas que fortalece o
sionismo e a identidade judaica enfatizando a centralidade de Israel na vida dos judeus.
Centro Simon Wiesenthal (http://www.wiesenthal.com/)
É uma organização judaica internacional de direitos humanos dedicada a preservar a
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Antissemitismo:
Mitos
e
Fatos
memória do Holocausto através do incentivo da tolerância e do entendimento através de
participação, educação e ação social. O Centro faz frente a importantes questões
contemporâneas incluindo racismo, antissemitismo, terrorismo e genocídio.
Museu da Tolerância (http://www.museumoftolerance.com/)
O Museu da Tolerância é um museu experiencial com alta tecnologia, com atividades
práticas que foca em dois temas centrais através de exposições interativas exclusivas: a
dinâmica do racismo e do preconceito na América e a história do Holocausto.
Tools for Tolerance (http://tft.museumoftolerance.com/)
O Tools for Tolerance® for Professionals (Ferramentas Para a Tolerância para
Profissionais) é um dos principais fornecedores do ensino de transformação do ambiente
de trabalho e desenvolvimento de lideranças.
Instituto Stephen Roth para o Estudo do Antissemitismo e Racismo Contemporâneos
http://www.tau.ac.il/Antissemitismo/
O Instituto Stephen Roth para o Estudo do Antissemitismo e Racismo Contemporâneos na
Universidade de Tel Aviv começou suas atividades como o Projeto para o Estudo do
Antissemitismo no segundo semestre de 1991. Sua sede fica na Biblioteca Wiener, e
contém um dos maiores acervos de literatura antissemita, nazista e extremista do mundo.
Centro Internacional Vidal Sassoon para o Estudo do Antissemitismo (http://sicsa.huji.ac.il)
O Vidal Sassoon International Center (SICSA) foi criado em 1982 como um centro de
pesquisa multidisciplinar dedicado a uma abordagem independente, apolítica para
concentração e disseminação de conhecimento necessário para a compreensão do
fenômeno do antissemitismo. O Centro realiza pesquisas sobre antissemitismo ao longo
das épocas, focando nas relações entre judeus e não judeus, principalmente em situações
de tensão e crise.
Bibliografia sobre Antissemitismo Árabe e Muçulmano
(Um projeto do Centro Vidal Sassoon) (http://sicsa.huji.ac.il/islam.html)
Confrontando
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Antissemitismo:
Mitos
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Fatos
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COMBATENDO O ANTISSEMITISMO:
BIBLIOGRAFIA ANOTADA PARA ADULTOS
A lista selecionada de fontes abaixo tem o intuito de auxiliar os leitores a saber mais sobre
o antissemitismo. Alguns itens tratam da questão do antissemitismo especificamente e
outros tratam da luta contra o ódio e o preconceito de modo geral. Outros ainda abordam o
tópico através de um dos mais profundos exemplos de antissemitismo da história recente:
o Holocausto. Observação: os filmes estão identificados com um símbolo; todos os outros
títulos referem-se a material impresso ou CD-ROMs. A letra “c.” significa que o vídeo é em
cores.
Berenbaum, M. (1993). The World Must Know: The History of the Holocaust as Told in the
United States Holocaust Memorial Museum. Boston, MA: Little, Brown e Companhia.
Baseado nos extensos relatos de testemunhas oculares, coleções de artefatos e
fotografias do Museu, seu ex-diretor conta a história do Holocausto.
Cook, S.D. (ed). (1997). Black-Jewish Relations: Dillard University National Conference
Papers. Franklin, TN: Providence House Publishing.
Os discursos e ensaios deste livro mostram como a aliança entre judeus e negros teve
papel importante no Movimento de Direitos Civis.
Dinnerstein, L. (1994). Anti-Semitism In America. New York, NY: Oxford University Press.
Nesta obra, Leonard Dinnerstein apresenta uma história ampla do preconceito contra os
judeus nos Estados Unidos desde os tempos coloniais até o presente.
Dinnerstein, L. (1998). The Leo Frank Case (reissue edition). Athens, GA: University of
Georgia Press.
Neste estudo, o autor detalha a prova da inocência de Leo Frank e mostra como Frank,
judeu do norte e um industrial, simbolizava forças “de fora” ao sul insular.
Foxman, A. (2003). Never Again?: The Threat of the New Anti-Semitism. New York, NY:
Harper Collins Publishers.
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Antissemitismo:
Mitos
e
Fatos
Ao explorar a história do antissemitismo e fornecer o primeiro exame amplo do novo
sentimento antijudaico crescente ao redor do mundo, Abraham Foxman, o diretor nacional
da Liga Antidifamação, oferece uma análise crucial dos passos que devem ser dados para
impedir que este século testemunhe uma repetição dos horrores ocorridos no século
passado.
Grasshoff, A. (1984). A Onda (The wave). 46 min. Chicago, IL: Films, Inc. Division of Public
Media, Incorporated.
Esta dramatização de um evento real em uma sala de aula quando um professor montou
seu próprio “Reich” como uma forma de pesquisa sobre o individualismo versus
conformidade (para o trabalho escrito veja o item: A Onda, escrito por M. Rhue).
Hegi, U. (1994). Stones from the River. New York, NY: Simon and Schuster.
Este romance sobre uma jovem que se torna historiadora não oficial em uma pequena
cidade da Alemanha oferece uma forma de compreensão do processo incremental pelo
qual cidadãos comuns participaram do Holocausto. [Este texto também é apropriado para
alunos de colegial.]
Kaufman, J. (1998). Broken Alliance: The Turbulent Times Between Blacks and Jews in
America. New York, NY: Scribners.
Este é um retrato das relações entre os negros e os judeus desde a firme parceria criada
durante o Movimento de Direitos Civis na década de 1960 até as relações mais recentes
incluindo colaborações e recriminações.
Langman, P.F. (1999). Jewish Issues in Multiculturalism: A Handbook For Educators and
Clinicians. Northvale, NJ: Jason Aronson, Inc.
Este texto discute como o antissemitismo é diferente de outras formas de intolerância e
explora por que o antissemitismo tem sido tão predominante e intenso em certos
momentos da história.
Lewis, B. (1999). Semites and Anti-Semites: An Inquiry into Conflict and Prejudice. New
York, NY: W.W. Norton & Company.
Um dos mais proeminentes acadêmicos do mundo no campo do Oriente Médio leva os
Confrontando
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Antissemitismo:
Mitos
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Fatos
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leitores através da história dos povos semitas, do surgimento dos judeus e seus inimigos.
Lipstadt, D. (1994). Denying the Holocaust: The Growing Assault on Truth and Memory.
New York, NY: Penguin.
Este livro discute que os ataques aos registros fatuais do Holocausto não somente
ameaçam os judeus mas têm um poder inimaginável de alterar dramaticamente a forma
em que a verdade e o significado são transmitidos de uma geração a outra.
Mathews, Q. (1998). Holocaust Hero: A Tree for Sugihara. 30 min. Derry, NH: Chip Taylor
Communications.
Este filme documenta a história de Chiune Sugihara, o consul japonês na Lituânia que
desobedeceu às ordens de seu próprio governo e emitiu vistos para judeus durante a
Segunda Guerra Mundial.
Meinback, A.M., e Kassenoff, M. (1994). Memories of the Night: A Study of the Holocaust.
Torrance, CA: Frank Schaffer Publications.
Este guia de estudo usa uma variedade de atividades interdisciplinares que incentiva os
estudantes a associarem as lições do Holocausto aos princípios que governarão a própria
vida.
O’Neill, P. e Miller, R. (1995). Not in Our Town. 27 min. c. Oakland, CA: The Working
Group.
Este vídeo oferece orientação a comunidades que querem externar seu apoio para alvos
locais de vandalismo e preconceito.
Rosenbaum, R. (2004). Those Who Forget The Past: The Question of Anti-Semitism. New
York, NY: Random House Inc.
Ron Rosenbaum, autor do famoso Explaining Hitler, nos traz uma coletânea de ensaios
poderosos sobre a origem e a natureza do novo antissemitismo. Paul Berman, Marie
Brenner, David Brooks, Harold Evans, Todd Gitlin, Jeffrey Goldberg, Bernard Lewis, David
Mamet, Amos Oz, Cynthia Ozick, Frank Rich, Jonathan Rosen, Edward Said, Judith
Shulevitz, Lawrence Summers, Jeffrey Toobin, e Robert Wistrich estão entre os distintos
autores e intelectuais que enfrentam questões dolorosas: Por que agora? O que é, ou não
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Antissemitismo:
Mitos
e
Fatos
é, novo? É possível haver um segundo Holocausto, desta vez no Oriente Médio? Como o
antissemitismo difere do antissionismo?
Rhue, M. (1981). A Onda (The wave). New York, NY: Delacorte Press.
As poderosas forças da pressão grupal que impregnam muitos movimentos históricos
como o nazismo são recriados na sala de aula quando o professor de história Burt Ross
apresenta um “novo” sistema aos seus alunos.
Sachar, H.M. (1992). A History of the Jews in America. New York, NY: Alfred A. Knopf.
Este texto é uma crônica histórica abrangente que trata de 350 anos de experiência dos
judeus no país.
Sartre, J.P. (1965). Anti-Semite and Jew: An Exploration of the Etiology of Hate. New York,
NY: Schocken Books.
Este livro, do famoso filósofo e autor francês Jean-Paul Sartre, oferece um desafio ao
antissemitismo de um ponto de vista não judaico.
Sorin, G. (1997). Tradition Transformed: The Jewish Experience in America. Baltimore,
MD: The Johns Hopkins University Press.
Este livro trata das experiências dos judeus americanos, sua religião, suas ocupações,
seus comprometimentos políticos e suas contribuições para a educação e cultura.
Strom, M.S. (1994). Facing History and Ourselves: Holocaust and Human Behavior.
Brookline, MA: Facing History and Ourselves.
Esta fonte, que é uma abordagem interdisciplinar a educação para a cidadania, inclui
leituras e atividades para explorar as consequências do racismo, antissemitismo e outras
formas de discriminação.
Svonkin, S. (1997). Jews Against Prejudice: American Jews and the Fight for Civil
Liberties. New York, NY: Columbia University Press.
Este livro investiga os registros do arquivo do mais importante grupo americano de defesa
aos judeus para criar o primeiro registro abrangente desta perspectiva na história dos
direitos civis americanos.
Confrontando
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Antissemitismo:
Mitos
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Wistrich, R. (1991). The Longest Hatred: The History of Anti-Semitism, Parts 1 and 2. 150
min. Boston, MA: WBCH Productions.
Este vídeo utiliza uma variedade de vozes e imagens de época para evocar a consciência
do antissemitismo ao longo do mundo e da história. A Parte 1 trata do Terceiro Reich; a
Parte 2 foca no mundo islâmico.
Zakim, L. (2000). Confronting Anti-Semitism: A Practical Guide. Hoboken, NJ: Ktav
Publishers.
Este livro é uma ferramenta ideal para rabinos, sacerdotes cristãos, pais, educadores e
outros que buscam ensinar e combater o antissemitismo.
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Antissemitismo:
Mitos
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COMBATENDO O ANTISSEMITISMO:
BIBLIOGRAFIA ANOTADA PARA ESTUDANTES
A lista de fontes selecionadas abaixo pretende auxiliar alunos de todas as idades a saber
mais sobre o antissemitismo. Alguns itens abordam a questão do antissemitismo
especificamente e outros tratam da luta contra o ódio e o preconceito de forma mais geral.
Outros ainda abordam o tópico através de um dos mais profundos exemplos do
antissemitismo da história recente: o Holocausto.
Observação: os filmes estão identificados com um símbolo; todos os outros títulos se
referem a material impresso.
A Liga Antidifamação atualiza constantemente sua biblioteca infantil online com novos
livros sobre antissemitismo, preconceito e ódio. Nossa mais recente bibliografia pode ser
acessada através do link http://www.adl.org/bibliography.
Para ajudar na seleção dos materiais apropriados a cada nível de leitura, procure o
símbolo após cada item. As letras significam:
(E) = do kindergarten ao 5º ano (J) = 6º ao 9º ano
(M) = 5º ao 8º ano (S) = 9º ao 12º ano
(A) = Ensino Superior, Adulto
Arrick, F. (1990). Chernowitz! New York, NY: Signet Publishing.
É a história de um menino que sofre insultos antissemitas nas mãos de um colega de
classe durante o 9º e 10º ano e planeja uma revanche contra seu agressor.
(Ficção) (J/S)
Bunting, E. (1989). Terrible Things: An Allegory of the Holocaust. Philadelphia, PA: The
Jewish Publication Society.
À medida que todas as criaturas da floresta desaparecem sendo levadas pelas “Coisas
Terríveis”, os leitores são levados a pensar o que acontece quando as pessoas não
enfrentam o mal. (Ficção) (E/M)
Bush, L. (1986). Rooftop Secrets and Other Stories of Anti-Semitism. New York, NY: Union
of American Hebrew Congregations.
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Antissemitismo:
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Cada uma das histórias deste livro foi escrita do ponto de vista de uma criança judia
enfrentando o antissemitismo. As histórias acontecem em diversos cenários, como a
Espanha da época da Inquisição, os Estados Unidos na época colonial, a Alemanha
nazista, Israel antes da independência e a União Soviética.
(Não-ficção) (M/S)
Cohn, J. (1995). The Christmas Menorahs: How a Town Fought Hate. Morton Grove, IL:
Albert Whitman & Company.
Esta é a história de como os habitantes de Billings, no estado de Montana nos Estados
Unidos, se organizaram para combater o ódio dentro de sua comunidade.
(Não-ficção) (E)
Dawidowicz, L.S., and Altshuler, D.A. (1978). Hitler’s War Against the Jews. West Orange,
NJ: Behrman House, Inc.
Neste livro, os autores tentam responder perguntas difíceis em relação ao que possibilitou
o antissemitismo perdurar na Alemanha durante o Terceiro Reich e como esta ideologia se
tornou a base para uma realidade política. (Não-ficção) (M/J)
Doyle, B. (1997). Angel Square. Toronto, Canada: Groundwood Books.
Neste livro de mistério, um jovem detetive vê sua casa, Angel Square, com outros olhos
quando o pai de seu melhor amigo é atacado somente por ser judeu. (Ficção) (E/M)
Finkelstein, N.H. (1997). Heeding the Call: Jewish Voices in America’s Civil Rights
Struggle. Philadelphia, PA: The Jewish Publication Society.
Este livro mostra como a história compartilhada dos judeus e negros une e não divide
estes dois grupos e relata crônicas do papel multifacetado de americanos judeus na difícil
luta pelos direitos civis. (Não-ficção) (S/A)
Gallaz, C. and Innocenti, R. (1985). Rose Blanche. Mankato, MN: Creative Education.
Esta é uma história sobre uma jovem que mostra sua coragem perante a injustiça ao levar
comida a prisioneiros de campos de concentração. (Ficção) (M)
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Antissemitismo:
Mitos
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Fatos
Gies, M. (1987). Anne Frank Remembered: The Story of the Woman Who Helped to Hide
the Frank Family. New York, NY: Simon and Schuster.
Miep Gies e seu marido ajudaram os Franks a se esconderem doa nazistas por mais de
dois anos. Assim como milhares de heróis desconhecidos do Holocausto, arriscavam a
vida todos os dias para levar comida, notícias e apoio emocional para as vítimas. (Nãoficção) (J/S/A)
Hegi, U. (1994). Stones from the River. New York, NY: Simon and Schuster.
Este romance sobre uma jovem que se torna historiadora não oficial em uma pequena
cidade da Alemanha oferece um meio de compreender o processo crescente que levou
cidadãos comuns a participar do Holocausto (Ficção) (S/A)
Jaffe, S. (1992). School Ties. 110 min. c. Los Angeles, CA: Malofilm Group.
Esta é a história de um jovem de classe trabalhadora que recebe uma bolsa de estudos de
futebol americano num time de elite de uma elitista escola preparatória da região da Nova
Inglaterra e é considerado um herói no time – até que seus colegas descobrem que ele é
judeu. (Ficção) (J/S)
Karas, P. (1995). The Hate Crime. New York, NY: Flare Publishing.
Quando Zach, um jovem jogador do colégio, percebe que seu colega de time e amigo é o
responsável pelo último caso de pichação profanando um templo local, este ato
irresponsável passa a ter um significado mais pessoal. (Ficção) (M/J/S)
Levine, E. (2000). Darkness over Denmark: The Danish Resistance and the Rescue of the
Jews. New York, NY: Holiday House.
Este livro conta como os dinamarqueses ajudaram ativamente a proteger e resgatar seus
vizinhos judeus das mãos dos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. (Não-ficção)
(M/S)
Levitin, S. (1991). The Return. Greenwich, CT: Fawcett Books.
Esta é a história de Desta, que aos 15 anos, junto com seu irmão e sua irmã, deixam seus
tios e enfrentam a longa e perigosa viagem para a liberdade — do Sudão para Israel, a
Terra Prometida. (Ficção) (M/J)
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Levitin, S. (1993). Journey to America. New York, NY: Atheneum.
A história da fuga de uma família judia de Berlim em 1938, contada por Lisa Platt, uma
menina de 10 anos. A tensão da época é retratada quando Lisa e sua família são forçados
a deixar tudo para trás. (Ficção) (M/J).
Matas, C. (1993). Daniel’s Story. New York, NY: Scholastic.
Publicada paralelamente a uma exposição “A História de Daniel: Lembre-se das Crianças”
no Museu Americano de Memória do Holocausto em Washington, DC, esta ficção conta
como era enfrentar o terror do Holocausto pelos olhos de uma criança. (Ficção) (M/J/S)
Meltzer, M. (1976). Never to Forget: The Jews of the Holocaust. New York, NY: Harper &
Row.
Além de expor as raízes do antissemitismo alemão e a ascensão de Hitler ao poder, este
livro também traz histórias das experiências individuais de judeus registradas em cartas e
diários pessoais, memórias, poemas e músicas sobre a vida cotidiana nos guetos e nos
campos de trabalho e de concentração. (Não-ficção) (S)
Mochizuki, K. (1997). Passage to Freedom: The Sugihara Story. New York, NY: Lee & Low
Books.
Esta é a história de um diplomata japonês que vivia na Lituânia e emitiu milhares de vistos
para refugiados judeus contra as ordens de seu governo, salvando-os da morte certa.
(Não-ficção) (M/J)
Orgel, D. (1978). The Devil in Vienna. New York, NY: Dial.
Esta é a história de duas adolescentes, uma judia e a outra filha de nazistas, que eram
melhores amigas desde o início da vida escolar e que enfrentam dificuldades em manter a
amizade em 1938. (Ficção) (M)
Patterson, C. (1982). Anti-Semitism: The Road to the Holocaust and Beyond. New York,
NY: Walker Publishing Company.
Este livro explora os eventos mais significativos que deram forma ao antissemitismo e as
importantes raízes e ramificações deste aspecto da história. (Não-ficção) (S)
52 | C o n f r o n t a n d o
ao
Antissemitismo:
Mitos
e
Fatos
Rosen, S. (1999). Speed of Light. Atheneum Books
Uma jovem que vive no sul dos Estados Unidos na década de 50 luta contra o
antissemitismo e o racismo característicos da sua pequena comunidade.
Sachs, M. (1973). A Pocket Full of Seeds. New York, NY: Scholastic Publishing, Inc.
Esta história se passa na França na época da guerra. Nicole Nieman nunca pensou sobre
o fato de ser judia, mas agora, com a ocupação nazista da França, ela não pensa em outra
coisa. (Ficção) (J)
Sherman, E.B. (1998). The Violin Players. Philadelphia: PA: The Jewish Publication
Society.
A vida de Melissa Jensen começa a ter surpresas quando seu pai aceita um convite para
ser professor em uma cidade remota do meio-oeste americano longe de casa na cidade de
Nova York. Melissa, pela primeira vez na vida, precisa decidir entre revelar sua identidade
judaica e enfrentar preconceitos ou ficar calada. (Ficção) (J/S)
Svidercoschi, G. (1994). Letter to A Jewish Friend: The Simple and Extraordinary Story of
Pope John Paul II and His Jewish School Friend. New York, NY: Crossroad Publishing
Company.
Esta é a história de dois meninos, um cristão e outro judeu, que moravam numa cidade
polonesa durante as décadas de 1920 e 1930. A vida de Jurek e de Lolek muda com o
advento do antissemitismo e com os nazistas, a guerra e as deportações. (Não-ficção)
(J/S)
Toll, N.S. (1993). Behind the Secret Window: A Memoir of a Hidden Childhood During
World War Two. New York, NY: Dial.
Estas são as memórias de uma garota que se escondeu dos nazistas com a mãe por 13
meses em um quarto pequeno na casa de um casal polonês em Lwow durante a Segunda
Guerra Mundial. (Não-ficção) (M/J)
Robert G. Sugarman, Presidente
Abraham H. Foxman, Diretor
Kenneth Jacobson, Vice-Diretor
Richard D. Barton, Presidente, Comitê Educacional
David S. Waren, Diretor Educacional
Lorraine Tiven, Diretor de Programas Educacionais
Liat Altman, Coordenadora,Relações Latinas
Sonia Spar, Analista, Relações Hispano/Latinas
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