O ensino prático de bateria com utilização de

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O ensino prático de bateria com utilização de
O ensino prático de bateria com utilização de novas tecnologias: gravação
de videoclipes
Resumo: Neste artigo vamos abordar a relevância do uso das novas tecnologias aplicadas ao
ensino/aprendizagem de instrumentos musicais através do relato de uma experiência que
expõe a importância do uso destes recursos de maneira didática, em especial o uso da
gravação em áudio e vídeo como ferramenta no ensino prático de bateria em instituições de
ensino de música. Com o uso das competências de educação de Perrenoud (2000) para a
elaboração do repertório a ser gravado pelos alunos e tendo em vista que essas músicas foram
selecionadas faltando apenas um mês do recesso de fim de ano, intitulamos o processo de
gravação como: “Música de férias”. Obtivemos resultados benéficos na comunicação entre
professor e aluno, crescimento do interesse dos aprendizes pela disciplina e praticamente
nenhuma falta dos mesmos durante o período de ensaios e das gravações. Conseguimos, desta
forma, realizar uma alternativa para registro das aulas e ainda gerar a oportunidade da auto
avaliação por parte dos alunos, tendo o professor como orientador e mediador de todo o
processo.
Palavras chave: Bateria, gravação de videoclipes, tecnologia
Tecnologia a serviço da música
O uso de novas tecnologias no ensino prático e teórico de instrumentos está cada vez
mais presente nas instituições de ensino musical. Ferramentas que passaram por vários
avanços, principalmente nos termos de interatividade/acessibilidade, e que também podem
fornecer melhorias na qualidade do ensino/aprendizagem no campo da educação musical.
Existem diversos tipos de plataformas e programas digitais destinados à edição de
partituras e gravação de áudio e vídeo que podem se transformar em poderosos instrumentos
para a aprendizagem em instrumentos musicais, tais como: Sibelius, Soundforge, Sonar,
iMovie, GarageBand, Nuendo, Pro-Tools e Logic.
Atualmente, educadores que não possuem acesso às tecnologias básicas como a
internet, o pendrive e programas de edição de texto (como Word da Microsoft, por exemplo)
estarão distantes da realidade tecnológica vivida pelos alunos, em especial aos estudantes do
ensino médio. Provocando assim um distanciamento, não só da linguagem usada pelos jovens,
mas também um atraso na velocidade da comunicação/transição de informações.
Desta forma, aqui alertamos para a importância da preparação dos professores de
educação musical para o mundo tecnológico e digital, para que estes possam interagir de
maneira coerente com tais ferramentas nas suas aulas.
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Observando pela perspectiva da educação musical, há exemplos de trabalhos com
enfoque ao ensino de instrumentos, realizados por LOURO & AROSTÉGUI (2004),
MARQUES & MONTADON (2006) e ARAÚJO (2006). Entretanto, nota-se que existe um
déficit de trabalhos que abordem instrumentos mais populares, como a bateria.
Podemos afirmar que os jovens se identificam com o perfil deste instrumento, e que
com maior preocupação em relação a parte didática por parte dos professores, particularmente
através do uso de tecnologias digitais, as aulas podem se transformar em momentos
agradáveis, onde professor e aluno podem interagir e usufruir destas ferramentas comumente.
A gravação de áudio a serviço da aprendizagem musical
A tecnologia da gravação traz a possibilidade de se escutar por mais de uma vez uma
execução musical. Com ela, podemos registrar uma performance que nunca mais se repetirá
100% idêntica. Desta maneira, o aprendiz que tem sua performance gravada, pode ouví-la
diversas vezes, estando sujeito também a perceber e internalizar múltiplos detalhes desse
registro, assim como construir outras possibilidades de arranjos, através da observação dos
seus erros e acertos.
Antes da existência de mecanismos de registros sonoros, um músico só poderia se
ouvir enquanto estivesse tocando, e o processo permanece deste modo na grande maioria das
instituições de ensino de música, onde o recurso da gravação durante as aulas e nos exercícios
propostos dificilmente são utilizados, com exceções em que se registra a peça de conclusão de
curso. Havendo no decorrer destes cursos apenas a transmissão do saber musical repassada de
forma mecânica, durante a qual os professores exemplificam exercícios que envolvem o
instrumento estudado e os alunos os repetem.
O registro sonoro e sua chegada nas instituições brasileiras
Para nos localizarmos a respeito da história do áudio como registro sonoro, iniciamos
com o surgimento do fonógrafo em 1877 e progredimos para o long play (LP) em 1948
(MOREL, 2010, p. 26). Em 1963, a então Philips Company introduziu no mercado a fita
cassete e anos mais tarde se uniu à Sony e lançou o Compact Disc (CD) no ano de 1977
(GOHN, 2003, p.54). Mais recentemente, a evolução do áudio foi demarcada com o
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surgimento do MPEG Audio Layer-3, popularmente conhecido como MP31, possibilitando a
diminuição do tamanho dos arquivos digitais de áudio, como ainda a transmissão facilitada
destes dados pela internet, perfazendo o maior consumo e difusão musical já ocorrido na
história da humanidade.
O registro sonoro, em 134 anos de existência, entre avanços consideráveis nos
quesitos de tecnologia e acessibilidade, ainda não foi implementado em nossas instituições de
ensino de música como disciplina, salve a atitude da Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM), no Rio Grande do Sul, que implementou em 2011 o primeiro curso de graduação do
país a formar músicos capacitados para trabalhar também com essas novas tecnologias e
preparando quatro tipos de perfis profissionais: i) músicos que usam tecnologias adequadas
em sua performance; ii) operadores de áudio, gravação e sonorização; iii) produtor ou diretor
musical; iv) especialista em síntese sonora e criação de timbres.
Em entrevista ao jornal eletrônico PortoWeb2 (2010), o coordenador do curso Amaro
Borges Moreira Filho afirmou que “além da teoria que os alunos têm no bacharelado normal,
vão aprender a gravar, mixar, e criar trilha para audiovisual, entre outras coisas. Vão aprender
também qual equipamento usar em cada ocasião”.3
A iniciativa pioneira da UFSM demonstra que os alunos de música no Brasil, até
então, terminavam o seu curso com um nível técnico e teórico aprimorado, porém, chegavam
em um estúdio profissional para gravar seu instrumento despreparados.
As universidades ou escolas especializadas de música querem formar um músico,
mas que músico é esse que conclui seu curso na atualidade e não entende de registro sonoro,
principalmente em relação ao seu instrumento? Um bom músico, nos dias de hoje, deve
entender e saber se situar não somente com as técnicas que envolvem o seu instrumento
musical e com o grupo em que está inserido, mas também com as técnicas e ambientes do
campo da gravação, para que o seu disco, e/ou sua performance, obtenham os resultados
desejados. Não dependendo exclusivamente de um produtor musical ou de um técnico em
sonorização para tal tarefa, como destaca Gohn (2003, p.46-47), para quem “a prática musical
requer algum tipo de interação, seja entre músicos, entre o músico e uma plateia ou entre o
músico e aparatos tecnológicos”. Logo, reforçamos a importância do conhecimento técnico
1
O MP3 ou MPEG 1 Layer III é um tipo de arquivo digital que compacta o som, mantendo a qualidade próxima
do CD, em até doze vezes menor em relação ao tamanho original.
2
.PortoWeb é um provedor público de acesso à internet, administrado pela Empresa de Tecnologia da
Informação e Comunicação do município de Porto Alegre – PROCEMPA.
3
Entrevista postada em 05/10/2010, disponível em:
<http://www1.prefpoa.com.br/pwtambor/default.php?reg=68&p_secao=122>.
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sobre a utilização de novas tecnologias em música para os educadores musicais, assim como
para qualquer musicista na atualidade.
O músico, por si, deve ter clareza e segurança em ambientes de gravação. Neste
sentido, passamos a adotar a inclusão das gravações como conteúdo nas aulas práticas de
bateria do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB) com
objetivo de formar músicos populares, onde nos preocupamos com o desenvolvimento de um
fazer musical expressivo, consistente, e preparando os alunos para uma melhor inserção no
mercado de trabalho.
Demonstraremos a seguir o ensino prático de bateria com o uso de gravações das
performances dos alunos durante o projeto intitulado “Músicas de férias”, sua metodologia e
objetivos alcançados.
“Música de férias”, elaborando o repertório
Ao final do mês de novembro de 2010, reunimos os 17 alunos matriculados na
disciplina instrumento – bateria, dos cursos técnico integrado ao ensino médio (ETIM) e
subsequente, para divulgação de um repertório para que estes tirassem as músicas de ouvido4
durante as férias. Essas músicas foram escolhidas a partir de sondagens, elaboradas com base
nas novas competências de ensino de Perrenoud (2000), onde ele diz:
Resta trabalhar a partir das concepções dos alunos, dialogar com eles, fazer
com que sejam avaliadas para aproximá-las do conhecimento científico a
serem ensinados. A competência do professor é, então, essencialmente
didática. Ajuda-o a fundamentar-se nas representações prévias dos alunos,
sem se fechar nelas, a encontrar um ponto de entrada em seu sistema
cognitivo, uma maneira de desestabilizá-los apenas o suficiente para levá-los
a reestabelecerem o equilíbrio, incorporando novos elementos às
representações existentes, reorganizando-as se necessário (PERRENOUD,
2000, p. 29).
Deste modo, realizamos sondagens no início do curso, antes das aulas práticas,
aplicando questionários com os quais pretendíamos que os alunos apontassem seus gostos
musicais, suas perspectivas com a disciplina e quais eram as suas representações/expectativas
do que é “ser” um músico. A partir das respostas, obtivemos um perfil musical eclético, onde
o rock obteve destaque (claramente pela aproximação em que a bateria tem com este estilo de
música e com o perfil dos jovens); as expectativas com a disciplina foram, em sua grande
4
Sobre a dialética do ensino musical com metodologias envolvendo o “tocar de ouvido” como um período
precioso na aprendizagem musical, remeto ao leitor: SCHROEDER, 2009, Revista da ABEM, nº 21, p. 50.
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maioria, a de aprender outros ritmos musicais; a perspectiva em “ser” músico mais apontada
foi: se tornar um profissional.
A partir deste diagnóstico, tentamos desestabilizar os gostos musicais que os
aprendizes traziam consigo para a disciplina, e desta forma proporcionar aos alunos a
ampliação dos seus horizontes no campo da música, indicando novas janelas e novos
caminhos (muitas vezes bem próximos), através de estilos musicais associados aos estilos
preferidos dos alunos. Respeitando assim as condições prévias que os alunos já possuíam, e
na tentativa de provocar suas respectivas expansões.
Entretanto, para contrapor com a teoria de Perrenoud (2000), foram escolhidos dois
alunos com boa leitura musical como exceções na elaboração do repertório a ser gravado.
Com o primeiro aluno, tentamos colocá-lo distante dos seus gostos musicais e confiamos na
sua capacidade técnica para o desafio. Este aluno apresentou dificuldades, não somente por
ser um estilo musical distante de sua vivência, mas pela proposta do “Música de férias” ter a
tarefa de tirar a música de ouvido, as partituras (leitura musical) não foram disponibilizadas
durante o processo e ficando a cargo do próprio aluno escrever a partitura para auxiliá-lo.
Neste ponto específico, ficou evidenciado um certo tipo de “dependência” da pauta como guia
para execução e internalização de trechos musicais.
Já o segundo aluno, que também possuía ótima leitura musical e escolheu sua própria
“Música de férias”, e não passou pelo processo de desestabilização. Este aluno apresentou
uma ótima performance, tanto nos ensaios como na gravação em definitivo, pecando apenas
no fator de cansaço físico, devido a música escolhida se tratar de um jazz-fusion com cerca de
sete minutos de duração.
Os outros 15 alunos receberam suas músicas com entusiasmo, pois relataram que
nunca tinham passado pela experiência de tocar tais músicas e juntamente da possibilidade de
gravá-las.
A surpresa do vídeo
Os alunos matriculados na disciplina já haviam passado anteriormente pela
experiência da gravação em áudio envolvendo ritmos musicais variados. Entretanto, para o
“Música de férias”, a proposta de ser registrada a performance dos alunos em vídeo (no
formato de videoclipe mais precisamente), ocasionou surpresa, ansiedade e empolgação, não
somente pelos alunos matriculados na disciplina instrumento – bateria, mas também a atenção
de outros alunos matriculados em outros instrumentos musicais. Algumas vezes, alunos de
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diferentes instrumentos compareceram durante o processo de gravação, aparentemente por
curiosidade.
Muitos dos alunos de bateria voltaram do recesso das férias sem ter escutado a sua
música selecionada com seriedade, até assistirem o resultado da performance do professor em
um videoclipe gravado e editado por ele, da música “Spin you Around” da banda de rockalternativo Puddle of Mudd. O vídeo foi disponibilizado no canal de vídeos do professor no
Youtube5 e enviado por e-mail para todos os alunos matriculados na disciplina.
A partir deste modelo editado, os alunos se sentiram incentivados para fazer um
trabalho semelhante, mas ficando claro que o objetivo do processo seria o aluno acompanhar
na bateria a música da banda/artista proposto. Respeitando assim os “climas” sonoros e
“dublando” a bateria gravada pelo artista da banda.
O processo de gravação e os ensaios
Para a preparação da gravação em definitivo no formato de videoclipe, passamos por
três semanas consecutivas de ensaios durante o mês de abril de 2011 e realizamos as
sequencias de atividades a seguir:
Em encontros semanais com 50 minutos de duração, gravamos as performances
individualmente. Desta forma, o aprendiz escutava sua música selecionada através de fones de
ouvido (FIG. 1). Registramos em vídeo, com o uso de uma câmera acoplada ao notebook, e
em áudio, usando uma placa de som M-audio Fast Track Ultra6 com dois microfones.
Após registrar a performance, sincronizamos o áudio da bateria gravada pelo
estudante com a faixa musical selecionada com auxílio de uma DAW7. Para esta etapa
escolhemos usar o Garage Band8 que possui o suporte de edição de áudio e de sincronização
com arquivos de vídeo, deixando o aluno e sua performance de um lado do Panning9 e do
outro lado do Pan a faixa musical selecionada.
5
<http://www.youtube.com/user/btoorrez?feature=mhum#p/u/8/rR__KjC0Avw>.
<http://www.m-audio.com/products/en_us/FastTrackUltra.html>.
7
DAW, digital audio workstations – plataformas (softwares) de trabalho de áudio digitais.
8
Plataforma para Mac OS X e IOS que permite usuários gravarem e criarem suas músicas, desenvolvido pela
Apple Inc.
9
Balanço ou Pan - dois canais de emissão de fontes sonoras. Lado esquerdo e direito, formando o som estéreo.
6
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FIGURA 1 – Aluno do ETIM durante
os ensaios das “Música de férias”
Após a sincronização, realizamos outra edição com os programas digitais Logic Pro
Studio 9
10
e iMovie11, para fins de melhoria na qualidade do áudio gravado e inserção de
dados referentes ao filme do aluno, tais como: o nome do aluno, disciplina, instituição e
música proposta. Com os vídeos dos ensaios prontos, efetuamos o upload12 no formato digital
de mp413 em um link privado na internet e disponibilizamos este link por e-mail para que o
aluno assistisse em casa sua performance de cada ensaio. Anexamos ao e-mail sugestões de
partes específicas das performances, com frases do tipo: “sinta que está acompanhando o
artista” ou “economize notas pra não sair do tempo da banda”.
Muitos detalhes foram aprimorados à medida que os ensaios aconteceram, sendo
percebido que em muitos destes, os próprios alunos observaram onde estavam errando. Os
vídeos gravados e enviados por e-mail com comentários, funcionaram como momentos de
autoavaliação nos intervalos semanais entre os ensaios, restringindo a função do professor
como mediador e orientador apenas nas passagens musicais mais complexas; demonstrando
nos encontros das aulas, através da execução no instrumento, os trechos que os alunos sentiam
maior dificuldade.
Sobre este ponto específico, no qual fornecemos condições para os alunos se autoaperfeiçoarem, envolvendo a autoaprendizagem nos estudos formais, remeto as palavras de
Gohn (2003):
10
Sobre o Logic Pro Studio disponível em: <http://www.apple.com/logicstudio/>.
Sobre o iMovie disponível em: <http://www.apple.com/br/ilife/imovie/what-is.html>.
12
O upload, também popularmente chamado entre os jovens de “subir” ou “upar” é o termo usado para
disponibilizar determinado arquivo do usuário em algum site de hospedagem na internet, para que
posteriormente, outro usuário possa ver, ouvir, assistir ou efetuar ainda o download (“baixar”) o arquivo para o
seu computador pessoal.
13
Este formato digital permite vídeos de alta definição, com o uso da compressão compacta de dados similar as
dos MP3.
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Nos estudos musicais formais em níveis mais avançados, quando há o objetivo de
aperfeiçoamentos através de cursos de pós-graduação nas universidades,
especialmente nas áreas práticas da realização musical, a autoaprendizagem é um
elemento importante. O estudo acadêmico dá direcionamento à autocrítica dos
alunos, promovendo um ambiente de trocas e observações mútuas (GOHN, p.2930).
Gravando os videoclipes em definitivo
Após três semanas consecutivas de ensaios, os alunos estavam preparados para as
gravações em definitivo dos videoclipes das “Músicas de férias”. Pois os mesmos já haviam
compreendido, através dos vídeos enviados dos ensaios, em debates com o professor e nas
demonstrações das passagens mais complexas, as partes que precisariam de maior
concentração na execução do instrumento.
As capturas das imagens e do áudio em definitivo foram exatamente como nos
ensaios, porém, para o formato de videoclipe, seriam necessárias mais imagens, em ângulos
diferentes. Deste modo, cada aluno tocou quatro ou cinco vezes sua música selecionada, e a
cada tomada de gravação, modificamos o ângulo da câmera do notebook em relação ao
estudante. Foi escolhida a melhor performance para servir de gravação guia e utilizamos
novamente o programa digital iMovie para inserirmos nos vídeos os outros ângulos das
imagens capturadas, gerando assim o formato de videoclipe (FIG. 2).
FIGURA 2 – Aluna do ETIM durante as
gravações em definitivo das “Músicas
de férias”
Ao término do processo, disponibilizamos os vídeos dos estudantes no Youtube com a
devida autorização dos mesmos, para que pudessem circular na internet e entre os outros
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estudantes de outros cursos14, o que ocasionou em grande repercussão do “Música de férias”
pelo IFPB. Também fizemos cópias no formato de DVD para que cada aluno pudesse assistir
em casa o resultado do seu videoclipe, observando sua postura, erros e acertos, quantas vezes
julgasse necessário.
Conclusões
A inclusão do uso das gravações como conteúdo nas aulas práticas de bateria
demonstrou um progressivo interesse pela disciplina por parte dos alunos. Observamos que
durante os ensaios e as gravações em definitivo, nenhuma falta foi registrada dos 17 alunos
matriculados, e quatro alunos do ETIM ganharam uma bateria dos seus pais após o processo.
Verificamos que a teoria de Perrenoud (2000), na relação em trabalhar o diálogo
científico a partir das construções que os alunos já possuem, é de relevância ao ensino de
instrumentos musicais, principalmente se tratando de instrumentos populares, no nosso caso,
ao estudo da bateria.
Despertamos a atenção dos professores de música para a utilização destas novas
tecnologias. Esperamos que a partir da nossa experiência, a gravação possa alcançar um lugar
de destaque no campo da educação musical. Para fornecer a possibilidade da autoavaliação do
aluno (tornando-o uma pessoa mais crítica) e funcionando não somente como um registro,
mas como uma ferramenta valiosa no processo de ensino e aprendizagem instrumental.
Uma alternativa para que o aprendiz possa observar seus erros e acertos, e
principalmente, o quanto ele conseguiu progredir no decorrer dos anos, pois será mais
gratificante não pensar no processo de aprendizagem no período próximo ao da gravação,
mas, a partir do registro, que o aluno volte a assistir sua performance, talvez anos depois, e
possa constatar o quanto que ele evoluiu.
Colocamos desta forma, um espaço específico na disciplina com materiais de
trabalho envolventes e interligados com os mundos musicais dos alunos, no qual o professor e
os estudantes debatem sobre técnicas, métodos e resultados obtidos durante o processo,
tornando assim a ação de ensinar mais prazerosa e eficaz.
14
Matéria publicada e disponível no site do Instituto: <http://www.ifpb.edu.br/campi/joaopessoa/noticias/gravacao-de-videoclipes-estimula-aprendizado-musical?searchterm=bruno+torres>.
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Referências
ARAÚJO, Rosane Cardoso de. Os saberes docentes na prática pedagógica de professores de
piano. EMPAUTA, Porto Alegre, v.17, n.28, janeiro/junho, 2006.
GOHN, Daniel Marcondes. Auto-aprendizagem musical: alternativas tecnológicas. São Paulo:
Annablume/ Fapesp, 2003.
LOURO, Ana Lúcia; AROSTÉGUI, José Luis. Docentes universitários/professores de
instrumento: suas concepções sobre educação e música. EMPAUTA, v.14, n.22, junho, 2004.
MARQUES, Alice; MONTADON, Maria Isabel. Processos de Aprendizagens Musicais
Paralelos à Aula de Instrumento: quatro estudos de caso. XVI Congresso da Associação
Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Música. ANPPOM, Brasília, 2006.
MOREL, Leo. Música e tecnologia: Um novo tempo, apesar dos perigos. Rio de Janeiro:
Beco do Azougue, 2010. p.57-58.
PERRENOUD, Phillippe. Dez novas competências para ensinar. Trad. Patricia Chittoni
Ramos – Artmed, 2000. 181p. p.29.
SCHROEDER, Silvia Cordeiro Nassif. A educação musical na perspectiva da linguagem:
revendo concepções e procedimentos. Revista da ABEM, nº 21, p.50, março de 2009.
Sites:
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COMPOS, Brasília, 2001. Disponível em:
<http://www.compos.org.br/data/biblioteca_1305.pdf>. Acesso em: 19/07/11.
PORTOWEB. Matéria em jornal eletrônico: UFSM oferece graduação em Música e
Tecnologia. Publicada em: 05/10/2010. Disponível em:
<http://www1.prefpoa.com.br/pwtambor/default.php?reg=68&p_secao=122>. Acesso em:
09/07/2011.
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