Baixar o Relatório de Pesquisa - Núcleo Interdisciplinar de
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Baixar o Relatório de Pesquisa - Núcleo Interdisciplinar de
Panorama do ensino de música eletroacústica no Brasil Relatório final Resumo do projeto O presente relatório visa descrever as atividades desenvolvidas durante o segundo quadrimestre da pesquisa Panorama do ensino de música eletroacústica no Brasil. Objetivando uma maior clareza na leitura deste, transcrevemos o resumo do projeto, no intuito de definir os objetivos que nortearam o desenvolvimento de nossos estudos: A pesquisa realizará uma breve análise sobre as variantes técnicas na abordagem do ensino de música eletroacústica no ambiente universitário brasileiro. A pesquisa envolverá a análise das ferramentas utilizadas para o ensino de composição, e possíveis variações sobre o enfoque particular de cada centro de ensino na formação de seus alunos. Essa pesquisa não objetiva realizar uma análise qualitativa dos centros de ensino, apenas um levantamento de técnicas e variantes de abordagem sobre esse tipo de composição musical. Esta pesquisa também está relacionada como uma introdução ao estudo historiográfico da música eletroacústica brasileira que pretendo desenvolver como pesquisa em nível de pós-graduação, por realizar uma abordagem inicial, uma espécie de mapeamento da produção composicional da atualidade. O desenvolvimento desta pesquisa toma por principais motivações a otimização do processo de ensino de música eletroacústica. Como citado no projeto, durante o segundo semestre de 2005 ministrei a disciplina de Tópicos Especiais em Música, em estágio supervisionado orientado pela profª Denise Garcia - também orientadora desta pesquisa. Em posterior conversa com os estudantes que freqüentaram a disciplina, observamos que nenhum deles adotou as mesmas ferramentas computacionais abordadas neste estágio. A questão colocada refere-se então sobre como poderíamos otimizar o trabalho de ensino de música eletroacústica, tomando por referencial os trabalhos desenvolvidos em outros centros de ensino no âmbito nacional e realizando uma análise comparativa dos dados levantados. A segunda motivação para o desenvolvimento deste estudo refere-se a uma 1 discussão, participada inclusive por professores de composição aqui citados, sobre a abordagem da questão técnica do ensino de música eletroacústica, na qual comentou-se sobre possíveis interferências das ferramentas utilizadas para composição musical sobre o resultado final de uma obra. Realizar uma análise desta alegação ultrapassa largamente as atividades aqui propostas, por exigir a análise de uma fração considerável do repertório musical que permita resultados e conclusões fundamentados. No entanto, durante o desenvolvimento desta pesquisa tomei contato com o conceito de "strong action" e renomeado "marca-d'água", apresentado pelo professor Rodolfo Caesar na entrevista com ele realizada, conceito este apresentado em sua tese de doutorado que se refere à carga de 'personalidade' (grifo do próprio professor) deixada pelas ferramentas de suporte à composição em obras conhecidas. Ainda não realizei a leitura deste trabalho, mas apresento-o aqui como referencial a ser pesquisado sobre esta questão. Estruturamos nossa pesquisa em três etapas: a primeira correspondeu ao levantamento de informações biográficas dos compositores aqui estudados (focandonos na formação e atividade acadêmica docente desenvolvida); a segunda etapa correspondeu ao levantamento das grades curriculares adotadas nos cursos de composição abordados e a análise das disciplinas com ementas ligadas de forma mais direta ao conhecimento necessário para o estudo de música eletroacústica. Estendemos a realização deste levantamento de grades curriculares também para o âmbito internacional, o que nos levou a estudar o ECTS (European Credit Transfer and Accumulation System), sistema adotado na Europa que é correspondente a uma padronização no processo de convalidação de estudos entre centros de ensino de diferentes países membros da União Européia. A terceira e última etapa de nossa pesquisa correspondeu aos processos de elaboração, realização e análise das entrevistas com os professores responsáveis pela área de música eletroacústica dos centros de ensino aqui abordados, processos estes desenvolvidos neste último quadrimestre de 2 pesquisa. Atividades previamente desenvolvidas Levantamento de informações biográficas acerca dos compositores Ao desenvolvermos um estudo abrangendo grande número de compositores e núcleos de ensino e pesquisa na área de música eletroacústica, já esperávamos a obtenção de resultados carregados de questões estéticas, conceitos e metodologias de trabalho individualizadas a cada professor. Para a realização de uma análise efetiva dos dados coletados, análise propositalmente estimulada a conter opiniões pessoais sobre o processo de ensino desse gênero composicional, achamos necessária uma preparação indireta nossa, como pesquisadores, no que tange à formação de cada compositor abordado. Transcrevo abaixo a lista de compositores abordados e aos quais solicitamos participação em nossa pesquisa através de entrevistas. Já apresentada no relatório anterior, cito novamente a substituição em relação ao projeto original da compositora Fátima Carneiro dos Santos pelo compositor Fábio Furlanete, professor responsável pela área de música eletroacústica junto à Universidade Estadual de Londrina: * José Augusto Mannis - Unicamp * Jônatas Manzolli - Unicamp * Silvio Ferraz - Unicamp * Rodolfo Caesar - Univ. Fed. Rio de Janeiro (UFRJ) * Fernando Iazzeta - USP * Didier Guigue - Univ. Fed. Paraíba (UFPB) * Ignacio de Campos - Faculdade Santa Marcelina * Flo Menezes (Florivaldo Menezes Filho) - Unesp * Pedro Kröger - Univ. Fed. da Bahia (UFBA) 3 * Sérgio Freire - Univ. Fed. de Minas Gerais (UFMG) * Fábio Furlanete - Univ. Est. de Londrina (UEL) * Conrado Silva - Univ. de Brasília (UNB) * Elói Fernando Fritsch - Univ. Fed. do Rio Grande do Sul (UFRGS) Ao observarmos excertos da produção musical dos compositores aqui abordados, notamos um amplo leque de atuação, abrangendo sub-divisões diversas da música eletroacústica, dentre as principais: peças para eletroacústica solo, música mista com outras fontes sonoras durante a performance, aplicação de partes eletroacústicas em tempo real (sejam mistas com outras fontes sonoras, sejam interativamente controladas ou automatizadas), espacialização e música para cena. De suas formações acadêmicas, destacamos o fato desses compositores possuírem (individualmente) experiências oriundas de outros campos do conhecimento, como Engenharias Civil e Elétrica, Ciência da Computação, Matemática e Física, Acústica e Psico-acústica, Teorias da Comunicação, Semiótica, Música para Cena (dança e teatro) e Artes Plásticas, além de atuarem também em outras sub-áreas próprias da música, como Estética, História da Música, Análise Musical, Harmonia, Contraponto e Fuga, Improvisação e Instrumento. Também menciono a recorrência de estudos fora do país, embora não observemos uma padronização. Constituem experiências em centros distintos, e expandir nossos estudos a esse nível de pesquisa sobre a formação dos compositores não nos cabe no tempo delimitado para finalização desta pesquisa. O detalhamento individualizado dos dados obtidos sobre cada compositor foram apresentados no relatório anterior, que abrangeu sua formação e atividades didáticas desenvolvidas. Os dados levantados são excertos das informações obtidas junto ao Sistema Lattes (http://lattes.cnpq.br/index.htm), centro de acesso aos currículos de pesquisadores brasileiros. Para que o foco deste relatório permaneça sobre as atividades desenvolvidas durante este quadrimestre, re-apresento apenas os dados dos cinco 4 professores que participaram em nossa pesquisa através de entrevistas, para contextualização das análises realizadas. * Silvio Ferraz Mello Filho: graduado em música pela USP, possui mestrado pela mesma instituição com foco em composição e análise musical do século XX; possui doutorado em comunicação e semiótica pela PUC/SP com foco em análise musical do século XX (Olivier Messiaen e Bryan Ferneyhough). Possui também dois cursos de curta duração, pelo IRCAM e pela Fondation Rauyoumont, ambos na França. É pósdoutor pela PUC/SP. Ministrou disciplinas de graduação e pós-graduação nas áreas de composição, harmonia dos períodos barroco, clássico e pós-guerra, análise, arte e comunicação (em comunicação e semiótica) e improvisação. * Rodolfo Caesar: graduado em Licenciatura em Música pela UNIRIO, possui especialização em música eletroacústica pelo Conservatoire National Supérieur de Musique de Paris, especialização em filosofia pela UFRJ, especializações pelo Groupe de Recherches Musicales (GRM-França) em Studio 123 e Synthèse en Temps Réel. É doutor em música pela University of East Anglia, Inglaterra, com a tese "The Composition of Electroacoustic Music". Ministrou disciplinas nas áreas de composição de música eletroacústica, tecnologia musical e psico-acústica. * Didier Jean Jorges Guigue: graduado em música pela Univ. de Paris VIII, possui especialização em Esthétique Sciences Technologie Des Arts pela mesma instituição; possui mestrado em música, com foco em literatura e música também pela Univ. de Paris; é doutor em música e musicologia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, França, com foco em análise musical. Ministrou disciplinas em nível de graduação e pós-graduação nas áreas de computação aplicada à musica, música do Séc. XX, estética e história das artes. * Flô Menezes: graduado em composição pela USP, é mestre em composição eletrônica pela alemã Musikhochschüle Köln; possui doutorado em artes e ciências da música pela 5 Université de l'État à Liège, Bélgica, em trabalho desenvolvido sobre a obra de Luciano Berio. Possui três pós-doutorados, o primeiro pela Paul Sacher Stiftung, Suíça; o segundo pelo IRCAM, França; o terceiro pela Musikhochschüle Köln. Não são citadas as especializações destes pós-doutorados. É livre-docente pela Unesp, em trabalho sobre música eletroacústica. Ministrou disciplinas em nível de graduação e pós-graduação, inclusive no exterior, nas áreas de composição musical e composição eletroacústica, análise de musica eletroacústica, síntese e tratamento, e composição assistida por computador. * Sérgio Freire Garcia: graduado pela UFMG, possui mestrado em sonologia pelo Koninklijk Conservatorium. É doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP, com foco em música eletroacústica. Possui especialização em Composição Algorítmica pela Stanford University, EUA. Ministrou as disciplinas de Instrumentação Eletroacústica, e Processamento de Sons e de Música, atuando também nas áreas de composição, análise e música eletroacústica. Realizamos este estudo prévio da formação e atividades acadêmicas desenvolvidas pelos compositores aqui abordados como meio de tornar nossa abordagem através de entrevistas mais consistente e embasada, eliminando possíveis erros de uma análise superficialmente subjetivada das informações. Levantamento de grades curriculares e ementas de disciplinas nos diferentes centros, ECTS (European Credit Transfer and Accumulation System) e comparação com apoio bibliográfico. Segunda etapa desenvolvida em nosso trabalho, o processo de levantamento e análise das grades curriculares dos cursos de composição que estamos abordando nos apresentou resultados mais distintos que o esperado. Observamos a ausência de disciplinas claramente voltadas à composição eletroacústica na maior parte dos centros 6 estudados, e a recorrência da presença de disciplinas com ementas muito generalizadas ou denominações muito amplas, que pretendem abrigar uma grande quantidade de conteúdo didático, que na prática imaginamos ser impossível, associada à ausência de um núcleo comum de disciplinas que estabelecessem um paralelo claro para comparação em nosso trabalho. Realizamos também um levantamento de grades curriculares de cursos de composição eletroacústica em outros países, como mecanismo de equilíbrio referencial para a análise das informações obtidas no contexto nacional, elaborando assim uma forma de análise comparativa. Embora observemos nos centros pesquisados fora do país uma certa recorrência de um núcleo comum de disciplinas base, ainda assim permanecem a existência de disciplinas muito abrangentes, sendo esse fator associado a uma falta de clareza no agrupamento de conteúdos. E essa aparente falta de estruturação no agrupamento dos conteúdos nos levou a pesquisar o ECTS (European Credit Transfer and Accumulation System), sistema adotado na Europa para facilitar o processo de aproveitamento de estudos desenvolvidos em outro centro, que abrange todas as áreas de ensino em nível superior. Quase todos os centros pesquisados apresentam um valor referencial de créditos, correspondentemente medidos segundo as regras desse sistema. Infelizmente, quando iniciamos a busca de informações pelo ECTS esperávamos encontrar informações que na realidade se referem a esta associação de competências gerais para o estudante. Para o caso das artes, especificamente para a composição musical eletroacústica, não encontramos nenhuma descrição mais detalhada ou consistente de um núcleo comum de estudos. E baseados nessa ausência de informações, espelhamo-nos no atual sistema vigente no Brasil para avaliar o processo de aproveitamento de estudos entre diferentes centros, denominado convalidação de disciplinas. Esse mecanismo deixa a cargo da instituição que receberá o aluno transferido a decisão sobre quais disciplinas o aluno deverá cursar, e quais 7 disciplinas o conteúdo será julgado equivalente. Com nossa pesquisa, o que pudemos aferir é que o sistema ECTS não é totalmente diferente do similar adotado no Brasil: ainda há uma grande parcela de responsabilidade deixada sob a incumbência da instituição que receberá o aluno, sobre o aproveitamento de estudos previamente realizados. Ainda sobre as grades observadas no exterior, re-apresento destaque para o curso de composição eletroacústica do centro belga "Musiques et recherches", sob a direção da compositora Annette Vonde Gorne, referência pela estruturação individualizada das disciplinas, com clara apresentação dos conteúdos e ementas relacionadas. Devemos, entretanto, apresentar a ressalva que tal estrutura é aplicada a um curso dedicado exclusivamente à composição eletroacústica, o que implica em uma elevada carga horária dedicada nesse curso às disciplinas específicas da área de eletroacústica. Os cursos de composição nacionais abrangidos por esta pesquisa em sua maioria possuem objetivos mais amplos, conciliando a composição eletroacústica com outros gêneros musicais. Essa abrangência de objetivos obrigou-nos a abdicar de qualquer expansão às disciplinas não ligadas diretamente à eletroacústica, simplesmente por uma questão de tempo hábil para desenvolver nosso estudo. Por uma questão de restrição à temática de nossa pesquisa, atentamo-nos apenas às disciplinas específicas de música eletroacústica, tecnologia aplicada à música, aplicação de softwares, disciplinas voltadas à gravação e técnicas de estúdio, e aquelas disciplinas voltadas ao conhecimento de acústica e psicoacústica. Para os centros que adotam o sistema de disciplinas eletivas, incluímos em nossa esfera de estudo todas as disciplinas oferecidas, independentemente do fato de serem ou não obrigatórias, necessitando apenas constar oficialmente nos catálogos de curso. A listagem das disciplinas constantes nos catálogos das universidades pesquisadas 8 que possuem denominações ou ementas relacionadas ao ensino de música eletroacústica, agrupadas por centro de ensino, foram apresentadas no relatório anterior. Como adotado ao citarmos os dados biograficos dos compositores abordados, reapresentarei aqui apenas as informações dos centros de ensino cujos professores participaram em nosso processo de entrevista. * Universidade Estadual de Campinas (Unicamp): Acústica musical I e II Introdução à informática aplicada à música I Eletroacústica I e II (eletivas) Como sou aluno desta universidade, possuo conhecimento de que as disciplinas intituladas Prática de Estúdio e Equipamentos, cujos títulos e ementas poderiam ter relação indireta com o estudo aqui abordado, são focalizadas especificamente para o curso de música popular, portanto já as excluí deste levantamento. Também possuo conhecimento que grande parte do conteúdo específico de música eletroacústica e praticamente toda sua parte prática é ministrado conjuntamente às disciplinas Composição I a X. * Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ): no caso da UFRJ, as disciplinas de composição e música eletroacústica aparecem apenas no sétimo período (quarto ano), estendendo-se pelos semestres seguintes, em uma grade pré-definida. Embora conste no currículo do professor Rodolfo Caesar, não encontramos referência à área de acústica. Atento para a separação entre parte teórica e prática. As disciplinas são: Música Eletroacústica I e II Tecnologia Musical I e II Composição de Música Eletroacústica I e II * Universidade Federal da Paraíba (UFPB): o curso de bacharelado em música da UFPB é voltado para a formação na modalidade instrumental. Existe, porém, o COMPOMUS 9 (Laboratório de Composição Musical), que funciona como um curso de extensão para compositores, não sendo um curso de graduação (bacharelado, ou licenciatura). As disciplinas comentadas quando avaliado o currículo do professor Didier Guigue contemplam apenas as ministradas em nível de pós-graduação. * Universidade Estadual Paulista (Unesp): retificando um dado apresentado erroneamente no relatório anterior, o currículo do curso de Composição da Unesp não teve sua carga de disciplinas reduzidas a partir do ano de 2007. A versão que encontramos da grade curricular apenas agrupou as disciplinas Teoria da Música Eletroacústica I e II, e Composição Eletroacústica I e II na referência que entendemos anteriormente como sendo apenas uma disciplina, Música Eletroacústica: História. O caderno de horários estabelecido para os alunos que freqüentam o quarto ano em 2007 confirma a estrutura destas disciplinas para o curso. * Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG): além das disciplinas de Composição, encontramos na grade curricular da UFMG as seguintes disciplinas: Música Eletroacústica Instrumentação Eletroacústica Música e Multimeios Tópicos em Música e Tecnologia Acústica Musical Introdução à Física e Psicofísica da Música Para os cursos levantados no exterior, julgo conveniente re-apresentar o do já citado centro belga "Musiques et recherches", dirigido pela compositora Annette Vonde Gorne (www.musiques-recherches.be). Segue excerto da lista de disciplinas, contendo exclusivamente as disciplinas selecionadas segundo padrão citado anteriormente, com seus títulos traduzidos do francês: 10 Acústica Audições comentadas do repertório eletroacústico Composição acusmática História da música e da lutheria eletroacústica Informática musical, ambientes e linguagens Semiologia musical aplicada à eletroacústica Solfejo dos objetos sonoros, percepção auditiva Espacialização Técnicas interativas Técnicas de escrita sobre suporte Instrumentação eletroacústica Técnicas de gravação Técnicas de síntese Realizamos a análise a partir dos conteúdos apresentados junto às ementas de cada disciplina - atentando que parte considerável dos centros não disponibilizam na Web suas ementas e a descrição dos conteúdos disciplinares e, para aqueles centros que não apresentam descrição do conteúdo a ser abordado, baseamo-nos estabelecendo uma média entre a pesquisa comparativa realizada no exterior e as ementas de disciplinas com denominação semelhante, levantadas nos centros aqui abordados. Com base no que é informado como conteúdo didático a ser ministrado, realizamos um levantamento de referenciais bibliográficos que abordam as informações citadas, estabelecendo uma matriz dos conteúdos, ao qual nos referenciamos para estruturação das entrevistas, e tornará a ser utilizado no processo de análise das respostas obtidas. Devo ressaltar que tal levantamento está restrito ao acervo bibliográfico pessoal do pesquisador, orientadora, e do acervo do sistema de bibliotecas da Unicamp. Do levantamento de conteúdos com apoio bibliográfico, re-apresento os materiais 11 consultados, começando pelo livro de Juan G. Roederer (ver detalhes do material em Referências Bibliográficas) para as áreas de acústica e psico-acústica. Embora o material se apresente - como o próprio nome designa - sendo uma introdução a um assunto muito amplo, ainda assim são abordados os principais conceitos da física aplicada à música. Ondulatória, sistemas ideais de tubos e cordas, série harmônica e o mecanismo de audição humana, todos são abordados em uma linguagem fácil, explicativa. Para o levantamento de processo de síntese, destaco a consulta aos materiais de Perry Cook, John Chowing e Rajmil Fischman. O primeiro, de Cook, aborda de maneira introdutória aos moldes de Roederer diversos mecanismos e procedimentos comuns ao processo de síntese; o segundo, de Chowing, discorre especificamente sobre a temática de FM's aplicadas como processo de síntese; o último, de Fischman, apresenta não apenas síntese, como também diversos processos técnicos de manipulação sonora, com foco de aplicação voltado para o software Csound. A esse material, associo também o guia referencial The Csound Book, editado por Richard Boulanger, um enorme compêndio de síntese, processamento de sinal e programação desse software. Para utilização referencial sobre aplicação de processos, referenciamosnos nas documentações dos softwares MaxMSP e Pure Data. Para a parte conceitual sobre materiais utilizados em música eletroacústica, referenciamos-nos no livro de Trevor Wishart. Quanto aos materiais citados pelos professores nas entrevistas, irei apresentá-los adiante, durante a análise das entrevistas. Entrevistas A realização das entrevistas, etapa final de nosso trabalho realizada durante este quadrimestre, objetivou tomar contato com especificidades do ensino de música eletroacústica no Brasil que não puderam ser aferidas apenas a partir dos dados constantes nas grades curriculares levantadas. O modelo de entrevista utilizado, que não 12 se encontrava finalizado na ocasião da apresentação do relatório anterior, tomou como referenciais o recolhimento de metodologias para o ensino de música eletroacústica e o levantamento das opiniões pessoais dos professores sobre as características positivas e carências observadas em seus nos centros de ensino. As entrevistas abordaram questões sobre a aplicação do conteúdo didático, mecanismos adotados para o ensino do ferramental de suporte composicional, estrutura curricular, nível de formação dos estudantes (competências), e a possível influência das preferências musicais do docente sobre o trabalho dos alunos. Apresentada como proposta de trabalho no relatório anterior, julgamos que citar conteúdos didáticos e atermo-nos a procedimentos demasiadamente técnicos iria tornar a entrevista demasiadamente longa, desestimulando a participação dos docentes neste processo. O modelo adotado foi finalizado objetivando um menor número de questões, porém induzindo a respostas mais amplas e acordando com nossos objetivos opinativos, além de conterem conteúdos coerentes para o processo de análise e comparação. Apresento o modelo de entrevistas utilizado, que é o mesmo para todos os docentes exceto pela quarta questão, referente a detalhes específicos da grade curricular de cada centro de ensino individualmente. Entrevista: 1a) Com relação à metodologia de ensino adotada nas disciplinas que abrangem conteúdos referentes ao ensino de música eletroacústica – nesse sentido incluo as disciplinas voltadas para os ensinos de prática composicional e aquelas de base técnica - desejamos saber como o professor define sua estrutura de trabalho. Se possível, agradeceríamos por uma breve descrição do desenvolvimento de algum projeto proposto para disciplinas das quais o professor foi responsável. 2a) O pacote de softwares escolhido como suporte ferramental para o desenvolvimento das atividades didáticas foi determinado por alguma razão externa, como software livre ou limitações de sistema operacional? 2b) Com relação à estrutura para o ensino de softwares: há algum roteiro pré13 estabelecido para seu ensino? Em caso afirmativo, o professor poderia realizar uma breve descrição deste roteiro. Desejamos nesta questão conhecer padrões seqüenciais ou a recorrência de uma ordenação para o ensino das ferramentas adotadas. 2c) Para o estudo individual do aluno (sobre softwares) e pensando em sua futura atividade profissional fora da Universidade, desejamos saber do professor a opinião sobre como dotá-lo da capacidade de reconhecer as limitações de cada ferramenta? 3) Com relação ao conteúdo bibliográfico adotado, há algum material utilizado como apoio didático que o professor gostaria de mencionar? 5) Iniciando nossas questões de cunho pessoal e avaliativo, o professor considera eficiente o modelo adotado em sua universidade para o ensino de eletroacústica? Quais seriam os pontos positivos e negativos de sua experiência didática (em nível curricular) que poderiam ser destacados? 6) Qual a opinião pessoal do professor sobre o atual estágio do ensino de eletroacústica, nos contextos de seu centro e nacional? Nesta pergunta gostaríamos de conhecer sua opinião sobre o nível de formação, bagagem de conhecimentos adquiridos e o nível de evolução técnica e estética dos estudantes tanto em nível nacional quanto de seu centro de ensino. 7) Qual a opinião pessoal do professor sobre a estruturação de um núcleo comum de disciplinas, que forneçam a base teórica ao aluno interessado em eletroacústica? O professor possui alguma sugestão de disciplinas ou conteúdos que formariam um núcleo comum/básico? 8) Com relação às experiências auditivas individuais dos estudantes, o professor observa a influência de algum trabalho ou corrente composicional nas composições de seus alunos? Em caso afirmativo, o professor conhece ou imagina o motivo que possa ter resultado nessa influência, incluindo sua própria formação e gostos pessoais? Questões específicas a cada Universidade: Unicamp Com base em minha experiência de aluno da Unicamp, pude observar que o ensino de eletroacústica é vinculado às disciplinas Composição. O professor considera eficiente o modelo de se juntar teoria e prática em um mesmo trabalho, ou considera que a carga horária sofre comprometimento ao se reunir as partes práticas e teóricas em uma mesma disciplina? Como o professor avalia o formato de ensino adotado na Unicamp? Unesp Analisando a estrutura curricular do curso de Composição e Regência da Unesp, observamos que o estudo de eletroacústica e também as disciplinas voltadas para a prática composicional concentram-se na última metade do curso. Como o professor avalia a estrutura curricular do curso de Composição em sua Universidade? 14 UFRJ Analisando a estrutura curricular do curso de Composição da UFRJ, observamos que o estudo de eletroacústica e também as disciplinas voltadas para a prática composicional concentram-se na última metade do curso. Como o professor avalia a estrutura curricular do curso de Composição em sua Universidade? USP Ao analisarmos o currículo Lattes do Prof. Dr. Iazzetta, encontrarmos referências às disciplinas Tecnologia Musical e Música Eletroacústica I e II. Porém, as mesmas não constam na grade curricular levantada junto ao site da USP. O professor poderia esclarecer-nos a dúvida sobre como é estruturado o ensino desse gênero composicional, como são aplicados os conteúdos prático e teórico e a quais disciplinas este conteúdo está associado? UFPB Analisando as informações levantadas sobre a estrutura curricular dos cursos de música da UFPB, encontramos referência ao curso de composição apenas no site oficial de vestibulares da universidade. Como não conseguimos informações sobre a estrutura curricular do curso de composição especificamente, e as disciplinas voltadas à área de informática musical e eletroacústica encontradas no currículo Lattes do Prof. Dr. Didier Guigue são referentes apenas ao ensino em nível de pós-graduação, solicitamos ao professor uma breve descrição de como são estruturados os conteúdos didáticos referentes a esse gênero composicional - como são aplicados os conteúdos prático e teórico e a quais disciplinas este conteúdo está associado? UFBA Analisando a estrutura curricular do curso de composição na UFBA, observamos a ausência de disciplinas ligadas diretamente à eletroacústica, e as disciplinas levantadas junto ao currículo Lattes do Prof. Dr. Pedro Kröger são todas voltadas à Pós-Graduação. * O curso de composição da UFBA abrange também a área de música eletroacústica? Em caso afirmativo, como são estruturados os conteúdos didáticos referentes a esse gênero composicional - como são aplicados os conteúdos prático e teórico e a quais disciplinas este conteúdo está associado? * O professor considera que a ausência de um curso de graduação específico para a área implica em uma sobrecarga no estudo composicional para o aluno de pós-graduação, dada a observância de um grupo um pouco extenso de disciplinas associadas à eletroacústica neste nível (pós-graduação)? FASM Analisando a grade curricular do curso de Composição da FASM, não foi observada a presença de disciplinas voltadas à eletroacústica exclusivas ao curso de Composição, apenas aquelas integrantes do núcleo comum a todos os alunos dos cursos de música. * O professor julga que apenas as disciplinas integrantes do núcleo comum conseguem abranger todo o conteúdo didático necessário ao estudo de composição eletroacústica? 15 * Como são divididas as partes prática e teórica do estudo de eletroacústica, na grade apresentada? Todos os alunos desenvolvem trabalho de composição? * O andamento das disciplinas é prejudicado pela dedicação dos alunos de outras áreas, sendo elas obrigatórias? UFMG Analisando as ementas das disciplinas do curso de Composição da UFMG, observamos que estas possuem características técnicas; como é realizada a abordagem da parte prática? Caso seja abordada conjuntamente às disciplinas Composição (presumo, baseado na grade), como é estruturado o trabalho entre os diferentes projetos composicionais dos alunos? UEL Analisando a grade curricular da UEL, encontramos referência a uma disciplina que abrange todo o conteúdo de música computacional, no período de um ano. * Como o professor realiza essa abordagem? * Como o professor relata a experiência de ensinar música eletroacústica em um curso de licenciatura? Há uma boa resposta por parte dos alunos? UNB Analisando a grade curricular do curso de Composição da UNB, observamos que o curso possui uma grande oferta de disciplinas de conteúdo teórico; como é aplicada a parte composicional do estudo de eletroacústica? Caso seja ministrada conjuntamente às disciplinas Composição, como é estruturado o trabalho entre os diferentes projetos composicionais dos alunos? * Como o professor avalia a estrutura curricular do curso de Composição em sua Universidade? * Com relação às disciplinas Lógica e Estatística, das quais não encontrei a ementa da disciplina, estas possuem alguma relação específica com o campo computacional ou mesmo musical, ou abrangem exclusivamente os conteúdos puros desses conhecimentos (em sua origem, matemáticos)? UFRGS * Analisando a grade curricular do curso de Composição da UFRGS observamos a presença das disciplinas “Música Eletroacústica” de níveis I a III. As ementas descrevem atividades de ensino técnicas. A parte prática (estudo composicional) é realizada conjuntamente a estas disciplinas ou vinculada às disciplinas de Composição Musical? Participaram de nossa pesquisa os professores Didier Guigue, Rodolfo Caesar, Sílvio Ferraz, Flô Menezes e Sérgio Freire. Os professores Fernando Iazzetta, Jônatas Manzolli, José Augusto Mannis, Ignacio de Campos e Fábio Furlanete responderam solicitando-nos um período maior para responder as questões. As entrevistas foram enviadas aos professores no dia 17 de outubro deste ano. Das respostas obtidas com as entrevistas, inicio comentando a realizada junto ao 16 Prof. Dr. Didier Guigue, da UFPB. O professor confirma (sem que tenha tomado contato com nossa pré-análise de grades curriculares) a ausência de disciplinas envolvendo música eletroacústica em seu Departamento, ao que ele associa a falta de recursos humanos e de infra-estrutura. O professor também comenta que seu grupo de pesquisa trabalha com softwares de análise musical, porém no âmbito de pesquisas de PIBICS (terminologia utilizada pelo professor) ou mestrados, não produzindo disciplinas. O professor não respondeu nossas questões individualmente, apenas elaborou um texto onde apresentou os problemas acima citados. Iniciando a análise de nossas entrevistas, na primeira questão proposta procuramos levantar informações sobre a metodologia de ensino adotada pelo professor. Lembro de antemão que todos os referenciais são as opiniões dos professores. Portanto, ao citarmos o nome de um centro de ensino, solicito que se subentendam as colocações do professor membro do corpo docente entrevistado. O professor Sérgio Freire, da UFMG, nos informa que o conteúdo didático para o ensino da parte técnica de música eletroacústica é dividido entre as disciplinas "Instrumentação eletroacústica", "Fundamentos de sistemas musicais interativos" e "Processamento digital de sons e música". Atento que apenas a primeira disciplina listada pelo professor apareceu em nosso levantamento sobre a grade curricular da UFMG. Destas disciplinas, o professor informa que a primeira é aberta a todos os interessados (incluindo profissionais de estúdio e outros sem experiência, sem problema de convivência entre os alunos) e é uma disciplina de nível básico. Para a segunda disciplina o professor costuma fazer uma pré-seleção, e a terceira faz parte do currículo do mestrado, com a possibilidade de ser eletiva para alunos de graduação selecionados. O trabalho de ensino composicional de música eletroacústica está vinculado às disciplinas composição, nas quais podem aparecer projetos envolvendo música eletroacústica, sem obrigatoriedade. Os trabalhos e projetos são flexibilizados em 17 relação ao perfil e interesses dos alunos matriculados. O professor comentou sobre três projetos composicionais desenvolvidos, sendo o primeiro utilizando flauta e eletrônica em tempo real; o segundo, projeto multimídia utilizando um violão que controla a projeção de excertos sonoros de um poema interativados com imagens em Flash; o terceiro projeto comentado refere-se à adaptação das sonoridades de um disco previamente gravado para performance ao vivo, processo controlado por um dispositivo MIDI. O professor Sílvio Ferraz, da Unicamp, nos informa que o curso de Composição da Unicamp encontra-se em processo de reestruturação, sendo que nem todas as propostas apresentadas pelos demais professores da universidade foram ainda implementadas. Ele apresenta então o curso de Composição "tal qual o venho realizando". Em sua exposição, ele estrutura o trabalho em dois princípios fundamentais: produção e repertório. A parte de produção refere-se ao trabalho composicional dos alunos, estruturado em períodos semestrais, sobre efetivos instrumentais tradicionais (quartetos de cordas, quintetos de sopros, grupo de percussão, obras solo e para piano, piano e voz, orquestra e grupo misto). A parte de repertório do curso está estruturada sobre aulas expositivas, nas quais são analisadas obras de diversos compositores tendo em vista os problemas composicionais observados pelos rascunhos das peças dos alunos. O professor ainda observa que estas análises não seguem padrões escolásticos, tomando por referencial apenas a partitura e sua relação com os repertórios composicional e instrumental. O professor utiliza também o Teleduc, sistema de ensino a distância para as turmas de alunos, e conclui sua resposta dizendo que o objetivo dos cursos é dar oportunidade ao aluno de constituir repertório e desenvolver trabalhos de escritura sob acompanhamento. O professor Rodolfo Caesar nos informa que o curso de Composição da UFRJ separa em disciplinas distintas os conteúdos de prática composicional e fundamentação 18 técnica. Os alunos interessados em música eletroacústica podem seguir dois períodos (de trinta horas/aula cada) em Composição de Música Eletroacústica. Há, no entanto, o pré-requisito de terem cursado previamente as disciplinas Tecnologia Musical I e II (também com trinta horas/aula cada), nas quais são fornecidos aos estudantes a fundamentação técnica necessária para o trabalho de Composição. Os tópicos apresentados nessas disciplinas são contextualizados tanto histórica quanto esteticamente. Sobre o curso de Composição da Unesp, o professor Flô Menezes nos confirma a separação do estudo de música eletroacústica nas disciplinas de Composição Eletroacústica e Teoria da Música Eletroacústica. O professor observa que o curso foi pioneiro na implementação de um curso regular nesta área, não existindo anteriormente (no panorama nacional) nenhuma disciplina na área específica de Composição Eletroacústica. O Studio PANaroma, criado em 1994 e apoiado pela FAPESP, equiparase em disponibilidade de recursos ao presente na Harvard University, e viabiliza o desenvolvimento de pesquisas e atividades didáticas da escola do Studio PANaroma. A segunda questão de nossa entrevista, dividida em três sub-questões relacionadas, abordam a parte técnica do ensino de eletroacústica sob o ponto de vista do ferramental de suporte composicional. No caso da UFMG, não há uma prédeterminação do pacote de softwares para o desenvolvimento das atividades didáticas. O professor se concentra nos conceitos que considera fundamentais, sendo a parte de domínio básico de softwares e sua escolha realizadas pelo aluno. A parte técnica do curso concentra-se assim em microfones, áudio digital e analógico, princípios de gravação e processamento sonoro, protocolo MIDI e uso das unidades Hertz (Hz) e decibéis (dB). Em sistemas interativos, o professor aborda os conceitos de "sensing, processing and response" (Rowe, 1993), utilizando as ferramentas MaxMSP ou Pd escolha do software realizada pelo próprio aluno. Segundo o professor a 19 experimentação é capaz de situar os alunos em relação à adequação do ferramental de acordo com seus projetos profissionais, e também observa a tendência de comunicabilidade entre os softwares. O professor Rodolfo Caesar defende uma abordagem mais ampla, através de programas mais complexos que instrumentalizariam o estudante para a compreensão dos softwares de sua escolha. Esta abordagem serve também para a iniciação de temas como acústica musical, composição algorítmica e a própria eletroacústica. O professor conduz seu curso baseado no aprendizado dos programas livres Csound e Pd, além de outras ferramentas pagas, como as de edição multipista e tratamento sonoro; também estimula seus alunos a desenvolverem seus estudos independentemente dos recursos oferecidos pelos laboratórios da universidade. Dos conceitos técnicos tratados, são abordados a acústica musical, computação musical (DSP e MIDI), música contemporânea e assuntos que tangenciem a área, como cinema, artes plásticas e robótica. No terceiro item de nossa questão o professor comenta sobre o anteriormente citado conceito de "strong action" ou "marca d'água", referindo-se à carga de 'personalidade' deixada pelos softwares em obras conhecidas, conceito desenvolvido em sua tese de doutorado. Exemplos citados são o uso do MIDI na obra "Fabulae" de François Bayle, do banco de filtros em obras da escola inglesa e o pacote GRM-Tools para os compositores desse grupo de pesquisas. O professor atenta para o AudioSculpt, software muito utilizado atualmente que pode gerar efeitos involuntários de flanger. Com relação a Unicamp, o professor Sílvio Ferraz cita o projeto temático criado no período em que foi professor da PUC-SP, posteriormente adaptado para a Unicamp e que contou com o apoio da FAPESP, projeto este que prevê o estudo de composição assistida por computador. O projeto toma por base os dois principais conjuntos de ferramentas que atualmente são referências no trabalho de composição assistida por computador, o pacote IRCAM e o MaxMSP. O professor não comentou na entrevista, 20 porém sou aluno desta instituição e conheço suas instalações, que são montadas sobre um sistema quadrifônico para composição musical, em uma sala acusticamente preparada que não se constitui em um estúdio propriamente dito. Este projeto inclui também alunos de pós-graduação com projetos ligados ao estudo de processos composicionais e pesquisadores em nível de Iniciação Científica. A escolha do software, o professor defende que seja realizada pelo compositor, em uma comparação com a escolha de um bom instrumento. Para o ensino de softwares o professor defende o trabalho de experimentação, em estudo individual com apoio dos tutoriais disponibilizados para seu efetivo domínio, amparados em estudos de conceitos básicos como música e tecnologia, acústica e eletrônica, linguagens de programação e repertório. O foco de seu trabalho reside no trabalho de composição. A estrutura de apoio ao ensino de música eletroacústica da Unesp é oferecida pelo Studio PANaroma, projeto do professor Flô Menezes em criação conjunta com a Faculdade Santa Marcelina (convênio não mais existente) e apoiado pela FAPESP. O estúdio conta com a presença de seis estações de trabalho com ProTools, associado à disponibilidade de ferramentas como os pacotes de softwares desenvolvidos pelo IRCAM e GRM, o sistema de tratamento de áudio KYMA, e a recente implementação do Pd, para o qual o professor desenvolve atualmente pesquisa junto a seu criador, Miller Puckette. O PANaroma conta também com dois sistemas distintos de difusão (quadrifônico e octafônico, respectivamente) e uma orquestra de alto-falantes, o PUTS PANaroma/Unesp Teatro Sonoro. O professor defende que cabe ao compositor escolher suas ferramentas de trabalho e detectar as deficiências de cada ferramenta, sendo papel do estúdio disponibilizar os recursos ao compositor. O roteiro para estudo da parte técnica abriga inicialmente história da música eletroacústica, sendo exigidos durante o curso conhecimentos de acústica musical. Com relação ao material bibliográfico de apoio, o professor Sérgio Freire 21 recomenda sua indicação de acordo com as necessidades dos alunos. Ele cita os tutoriais dos softwares escolhidos, como os do MaxMSP e os livros Composing Interactive Music, de Todd Winkler, e Interactive Music Systems, de Robert Rowe, e quando necessários materiais sobre processamento digital de sons, microfones, espacialização sonora e microcontroladores. O professor Rodolfo Caesar referencia para apoio bibliográfico o Solfège de l'objet sonore de Pierre Schaeffer, o Computer Music Tutorial de Curtis Roads, o Csound Book de Richard Boulanger e o Le son de Michel Chion. O professor comenta também sobre a discografia de apoio: Bernard Parmegiani, Pierre Henry, John Cage, Iannis Xenakis, François Bayle, Christian Zanési, Karlheinz Stockhausen, Luc Ferrari, Steve Reich, Terry Riley e Barry Truax, além de compositores brasileiros e peças radiofônicas. O professor Flô Menezes recomenda seus próprios livros, que abordam da história do gênero às questões estéticas da composição eletroacústica, além de seu livro de acústica. O professor Sílvio Ferraz não respondeu a esta questão sobre apoio bibliográfico. A quarta questão de nossa entrevista foi elaborada procurando sanar as dúvidas restantes de nossa análise das grades curriculares ou questionar pontos específicos referentes às instituições individualmente. No caso da UFMG, nossa dúvida referia-se a quais disciplinas o trabalho de composição de música eletroacústica era vinculado. Como já citado anteriormente, tal estudo realiza-se juntamente às disciplinas Composição Musical, e o professor Sérgio Freire não observa conflito em se abordar conjuntamente as partes técnicas e práticas do ensino de eletroacústica. No caso da UFRJ e da Unesp, instituições que separam o ensino técnico da parte prática, nossa dúvida era sobre o fato da carga horária para o ensino de Composição de Música Eletroacústica concentrarem-se nos últimos anos de curso. O professor Rodolfo 22 Caesar observa que a grade do curso de composição da UFRJ está em transformação, porém defende que o fato da disciplina "Tecnologia Musical" anteceder a de Composição adequa-se melhor ao projeto pedagógico, que considera bom. O professor Flô Menezes confirma sua intenção, ao elaborarem a grade curricular do curso de Composição da Unesp, de inserir as disciplinas após o aluno ter cursado ao menos dois anos de estudos em Composição e de ter passado pelas disciplinas que julga fundamentais para a formação do estudante. Assim, o professor defende que o aluno aproveitará melhor e de maneira mais responsável as disciplinas relacionadas à eletroacústica, sem correr o risco de incidir em fetichismo pelas novas tecnologias, utilizando-a para fins musicais e menos técnicos. O professor Sílvio Ferraz defende que a música eletrônica nasceu ligada à composição, atualmente tendo se expandido e ultrapassado as práticas tradicionais, como a produção sonora. Desta maneira, desvincular esta produção sonora do viés composicional resultará por formar alunos sem repertório, o que não seria próprio de um curso universitário. O professor considera interessante o estudo de eletroacústica continuar vinculado à área de composição, porém não à disciplina Composição. Nossa quinta questão corresponde a uma avaliação do próprio professor sobre os pontos positivos e negativos de sua experiência didática. O professor Sérgio Freire nos faz atentar que não há na UFMG um modelo para o ensino de música eletroacústica. As disciplinas de tecnologia propiciam ao aluno contato com diversas abordagens. A experiência de cada professor é aliada aos interesses dos alunos, construindo assim um curso flexível. O professor vê essa abertura como um ponto positivo (cerca de metade dos créditos são optativos), e cita como exemplo permitir disciplinas com focos diversos, como sistemas musicais interativos com instrumental, imagens, dança ou teatro. O ponto negativo nessa estrutura é que a continuidade dos conteúdos não está garantida pela grade curricular, sendo dependente da criação de turmas específicas, com 23 disciplinas cuja demanda compete com a carga horária do professor. Com relação a UFRJ, o professor Rodolfo Caesar chama a atenção para a falta de espaço físico do LaMuT para o desenvolvimento de atividades de experimentação com materiais de eletrônica e atividades interdisciplinares, em conjunto com dança, artes plásticas e vídeo, por exemplo. Os professores Sílvio Ferraz e Flô Menezes não se sentiram aptos a responderem esta questão, o primeiro por ter participado da elaboração da grade curricular de seu curso, e o segundo por estar mais ligado à escrita instrumental, recomendando-nos o contato com os professores Jônatas Manzolli e José Augusto Mannis, que também receberam cópia desta entrevista, mas não a responderam. A sexta questão de nossa entrevista foi estruturada sobre a opinião dos professores com relação ao estágio atual do ensino de música eletroacústica. O professor Sérgio Freire observa que o perfil dos alunos de sua escola é variado, e curiosamente parte dos alunos com boa experiência em eletroacústica não cursa Composição, curso esse que valoriza a escrita instrumental. Os estudantes de Composição que se interessam pela área dividem o desenvolvimento de seus estudos entre composição instrumental assistida por computador e composição com o som diretamente. O professor vê essa variedade de atuação também entre os professores de outras escolas, dado o reduzido número de pessoas atuantes. A opinião do professor Rodolfo Caesar, por sua vez, é de que os estudantes chegam ao final do curso com uma carga ampla de conhecimentos, preocupando-o a falta de espaço para empregá-los no trabalho fora do ambiente acadêmico, e temendo por sua cristalização em torno do círculo universitário. O professor Sílvio Ferraz atenta para o crescente número de estudantes interessados na área, especialmente na área de performance em tempo real, provenientes de centros de pesquisa como a USP, Unicamp e UFMG, além do fato de composições eletroacústicas constituírem dois da série de 24 concertos organizados pelo ENCUN, o Encontro Nacional de Compositores Universitários, evento iniciado na Unicamp em 2002 e itinerante. O professor Flô Menezes comemora a mudança qualitativa que pôde observar em seus anos à frente do Studio PANaroma, tanto dos estudantes quanto do público geral, alterando num processo paulatino os critérios de escuta das pessoas. Nossa sétima questão foi elaborada sobre a opinião dos professores sobre quais conteúdos fariam parte de um núcleo comum de conteúdos para o estudante na área de música eletroacústica. O professor Sérgio Freire defende o estúdio como um espaço para encontro e troca de experiências entre compositores com diferentes áreas de atuação, atentando para a flexibilidade do professor ao lidar com formações heterogêneas. O professor comenta que futuramente, uma solução viável seria a criação de uma habilitação específica para essa área, citando como exemplo o curso de Sonologia do Conservatório Real da Holanda, onde fez seu mestrado. Dos conteúdos, o professor cita a prática de gravação, audio design, multimídia e processamento de sons. O professor sugere-nos examinar o programa do curso de sonologia do Conservatório. De nossa consulta à lista de disciplinas oferecidas no curso, destaco a presença de matemática, física e programação. Apresento excerto das disciplinas oferecidas com seus títulos traduzidos do inglês, seguindo o critério adotado anteriormente, de pertinência ao assunto aqui trabalhado: Técnicas de estúdio digital Música e programação Música sem computadores Teoria do sinal e sistema Matemática e física Aplicações DSP (termo normalmente não traduzido: Digital Signal Processing) Música eletrônica em tempo real 25 Música e tempo Modelos físicos Workshop MIDI e voltagem Psico-acústica Engenharia sonora em música eletrônica Som e espaço Estética e performance de música eletroacústica Ainda sobre a sétima questão, o professor Rodolfo Caesar defende que um núcleo comum deveria ser expandido a todos os interessados por música eletroacústica, não apenas os estudantes de Composição. O professor comenta também que cogitando-se o caráter multidisciplinar da música, o núcleo seria composto de uma grande quantidade de disciplinas, partindo de questões mais próprias do fazer musical como acústica e organologia, ampliando para história e estética das artes em geral, cinema filosofia, eletrônica, sem que possa determinar seu espectro. O professor Flô Menezes defende a pertinência dos dois pilares que considera fundamentais, o estudo de Teoria que incluiria a história do gênero, e Composição. O professor Sílvio Ferraz observa que a Unicamp não possui um núcleo comum, embora os professores ofereçam suporte para a prática musical. A oitava e última questão de nossa entrevista refere-se à opinião do professor sobre possíveis influências de correntes composicionais ou de seus próprios gostos pessoais no trabalho de seus alunos. O professor Sérgio Freire observa que os estudantes que trabalham de maneira mais especulativa costumam referenciar-se na música espectral. O professor observa que sua experiência pessoal não está ligada diretamente a essa vertente, porém que o trabalho eletroacústico chama a atenção para características e valores musicais semelhantes. 26 O professor Rodolfo Caesar comenta a dificuldade enfrentada para evitar que o estudante produza obras familiares a seu ouvido, compondo peças semelhantes às de seu professor, reproduzindo a estrutura mestre-aprendiz. O professor observa que esta é uma das considerações que desviaram seu trabalho para um plano mais musicológico que composicional. O professor Flô Menezes observa em seus alunos influência tanto das tendências acusmáticas quanto das estruturalistas, atentando para o distanciamento consciente do universo pop, ao qual opõem-se, sendo essa uma opção do estudante que opta por desenvolver estudos sob sua orientação. O professor Sílvio Ferraz, por não trabalhar com correntes composicionais, não quis avaliar esta questão. Conclusão Após o levantamento e análise de todos os dados obtidos, o que pudemos confirmar de nossas observações iniciais é a grande diferença entre os centro de ensino, a começar por sua estrutura física e de suporte ao ensino. Enquanto observamos cursos como o da UFPB, que não desenvolve estudos por falta de recursos físicos - mesmo tendo professores capacitados para tal atividade, observamos também o extremo oposto no caso da Unesp, que possui um estúdio de ponta para o desenvolvimento de trabalhos de ensino e pesquisa. No caso da Unicamp e da UFRJ, os laboratórios contam com a estrutura mínima para o desenvolvimento das atividades acadêmicas. Com relação à estrutura disciplinar para o ensino de música eletroacústica, foco principal de nosso projeto, durante as entrevistas observamos uma predileção por desvincular a parte técnica da parte composicional de música eletroacústica. Os cursos da UFRJ e da Unesp já adotam esse formato e os professores o consideram eficiente. O professor Sílvio Ferraz também elogia de passagem este formato, atentando para a não desvinculação do estudo de composição em seu sentido mais amplo. O professor Sérgio 27 Freire nos apresenta um curso com formato flexível aos anseios dos alunos, preferindo a continuidade do vínculo composicional de música eletroacústica às disciplinas Composição, como mecanismo de troca de experiência entre os alunos. A parte técnica já encontra-se individualizada na grade curricular adotada pela UFMG. Com relação a nossos questionamentos sobre um núcleo comum de conteúdos para o estudo de música eletroacústica, os professores apontaram como desejáveis o estudo da prática de gravação, acústica, processamento digital de sons, história e estética, além do desenvolvimento de atividades multimídia, multidisciplinares. A grade curricular do Conservatório Real da Holanda apresentada pelo professor Sérgio Freire foi elaborada para o curso de sonologia, o qual possui seu enfoque voltado mais para a parte técnica. Por uma questão de equilíbrio, volto a insistir na grade apresentada pelo curso do centro belga "Musiques et recherches", que possui seu foco voltado para o trabalho composicional, apesar da já comentada carga horária dedicada à área de eletroacústica ser superior ao que pode ser efetivamente oferecido pelos centros de ensino nacionais. Com relação ao pacote de softwares de apoio composicional, todos os professores atentam que a escolha deve ser realizada pelo próprio aluno, mesmo que os motivos para esta conclusão comum sejam divergentes entre as respostas obtidas. A bibliografia apresentada é ampla e distinta, sendo que pudemos observar referências no que tange às temáticas, como o estudo de acústica, microfonação, sistemas interativos, conceitos teóricos, históricos e estéticos. Das opiniões dos professores sobre o atual estágio do ensino de eletroacústica, confrontam-se pontos de vista opostos. Enquanto o professor Rodolfo Caesar preocupase com os alunos egressos, os professores Flô Menezes e Sílvio Ferraz apresentam-se contentes com os resultados atualmente sendo observados. O professor Sérgio Freire cuida de apontar-nos para a diversidade da produção nacional. 28 Como previsto em nosso projeto, a pesquisa que desenvolvemos não pretendeu realizar uma análise classificatória ou qualitativa dos centros de ensino. Cuidamos de levantar a maior quantidade de dados possível sobre o ensino de música eletroacústica, buscando compilar tanto as estruturas curriculares adotadas pelos cursos quanto as opiniões dos professores sobre a estrutura curricular de seus centros, referências nacionais para o estudo e pesquisa desse gênero. Para a efetiva conclusão de nossa pesquisa, falta-nos ainda concluir um texto voltado para a divulgação dos resultados alcançados, que adotará um formato descritivo das informações coletadas e será enviado aos professores de centros de ensino que abordam a área de composição eletroacústica. Referências bibliográficas BOULANGER, Richard (editor). The Csound Book: perspectives insoftware synthesis, sound design, signal processing and programming. Londres. The MIT Press Cambridge. 2000. CAESAR, Rodolfo. The composition of electroacoustic music. Dissertação de doutorado. University of East Anglia, 1992. CAMPOS JÚNIOR, José Ignacio. Interação Tímbrica na música eletroacústica mista. Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual de Campinas, 2005. CHION, Michel. Le son. Éditions Nathan, Paris, 1999. CHOWING, John; BRISTOW, David. FM theory & applications by musicians for musicians. Tóquio. Yamaha Music Foundation. 1986. COOK, Perry R. Real Sound Synthesis for Interactive Applications. 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