as inovacoes que o radio e a tv trouxeram para a pratica
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as inovacoes que o radio e a tv trouxeram para a pratica
AS INOVAÇÕES QUE O RÁDIO E A TV TROUXERAM PARA A PRÁTICA PEDAGÓGICA E A FORMAÇÃO DO EDUCANDO Luciene Cláudio da Silva (UFAL) RESUMO: O presente trabalho apresenta discussões a respeito do uso das novas tecnologias em sala de aula, a fim de imprimir uma nova dinâmica ao processo ensino-aprendizagem, assim como desafiar o professor a assumir um novo papel, inovando e rompendo com a aplicação de soluções e práticas padronizadas. Diante do novo paradigma, muda também o papel da escola, que passa de transmissora a produtora de conhecimento. É inegável que as tecnologias despertam a atenção de toda uma geração de crianças e jovens, plugadas no mundo digital. Nessa perspectiva, há uma proposta de apresentar o rádio e a televisão, como tecnologias que auxiliarão na prática pedagógica, bem como na formação do educando. A proposta é levar para a sala de aula equipamentos e tecnologias com os quais os alunos já estão familiarizados, para que o aprendizado torne-se mais atraente e eficiente e os professores ganhem novas formas de trabalhar o conteúdo curricular. Palavras-chave: Novas tecnologias. Ensino-aprendizagem. Prática pedagógica. Introdução Atualmente nossa clientela escolar fascina-se pelo novo, moderno e arrojado. A internet, com seus atributos, tem atraído um número estrondoso de usuários de toas as camadas sociais. Mas será que, ao falarmos em radio estaremos nos arremessando ao passado e ultrapassado veículo de comunicação? Evidentemente que não. De acordo com pesquisa realizada, as grandes capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Recife têm implantado em suas escolas projetos como: rádio-escola, rádio-educativa, nas ondas do rádio, dentre outros temas, mas, com o mesmo objetivo, de romper com o preconceito de que o rádio já teve sua fase de apreciação e hoje é apenas uma modalidade inerte da sociedade. Quando a escola promove atividades que envolvem méis habitualmente usados pelos alunos, o diagnóstico é meio que já esperado, pois eles estarão transpassando apenas aquilo 2 que rotineiramente fazem. Porém quando criamos a possibilidade do individuo conhecer mais a fundo algo que ele sabe que existe, no entanto, nunca se interessou em saber um pouco mais, o resultado é inesperado e supera todas as expectativas. Partindo do ponto de vista que as ondas do rádio transmitem informação, entretenimento, prestação de serviço social, entre outras vantagens, compreendemos o seu campo imensamente intenso a ser explorado pelo professor e concebido pelo aluno. O locutor busca articular de forma correta e compreensível aos ouvintes, interagindo com os mesmos. Nesse ângulo, o aluno exercita sua desinibição ao falar em público, mesmo que este não o veja; o foco da notícia requer precisão, o que vai ser falado deve constar de detalhes imprescindíveis à compreensão dos fatos; as escolhas das músicas e comerciais precisam estar condizentes com os gostos de todos os gêneros, o respeito ao próximo é fundamental; as reclamações e reivindicações, sem dúvida alguma, são aspectos importantíssimos ao bom funcionamento do rádio, eles são um meio de mobilizar as mudanças necessárias à sociedade e fazer valer os direitos dos cidadãos. Com isso, não se pode negar que o rádio vem acompanhando – ao contrário do que muitos pensam – o processo de evolução de cada geração que por ele passa. E acaba por ser obrigação das escolas atualizarem seus alunos de que o moderno nem sempre é o novo, mas o velho que se renova. Cientes dessa importância, constatamos que a criação de uma rádio-escola facilitaria o cotidiano escolar e enriqueceria o processo ensino-aprendizagem. E, quem sabe, os atributos do rádio não intensificaram com a criatividade dos alunos?l Vale a pena fazer essa experiência que renderia bons frutos na educação em nosso município. Já a televisão, esse veículo de comunicação é um dos produtos da indústria cultural que mais provoca discussões sobre as conseqüências na vida dos cidadãos, seja pela informação ou pela alienação. Ela faz parte da escola porque somos todos, educadores e educandos, telespectadores. Sendo assim, escola e televisão cruzam-se e sobrepõem-se nos sujeitos sócio-históricos que compõem o grupo escolar. 3 Com a TV aprendemos modos de falar, padrões de comportamento, modos de julgamento, informações sobre diversos assuntos. Na escola também aprendemos o mesmo, porém, enquanto a TV privilegia a linguagem oral, a escola privilegia a linguagem escrita. A influência da televisão é muito marcante em toda a população. Diante da expansão das tecnologias de informação na sociedade contemporânea, do uso não funcional desses recursos por parte de jovens e adultos, o rádio tornou-se um recurso cuja utilidade ficou dirimida ao reduto da programação musical. Como despertar a atenção do alunado para esse tipo de mídia tão expressiva para a formação do leitor crítico, enquanto sujeito que está construindo do saber? Qual o papel da escola nesse ínterim? Qual o papel da TV na sala de aula como espaço de discussão critica-construtiva no processo ensinoaprendizagem? Pela sua acessibilidade e facilidade e penetração nas diversas classes sociais, o rádio e a TV têm sido os meios de comunicação mais utilizados pela população em geral, quando comparado ao jornal e à revista. Os objetivos deste trabalho são tentar responder as questões acima e conhecer as inovações que o rádio e a TV trouxeram para a prática pedagógica e a formação do educando, possibilitando conhecer ou atualizar algumas práticas e perceber a importância da utilização deste meio de comunicação na escola. Além de identificar o papel social do rádio para a educação e o ensino-aprendizagem; inserir toda a comunidade escolar no universo da comunicação, pois, além de ser um veículo socializador de informações, conhecimentos e propagador de ideologias e, por isso, vem sendo utilizado para vários propósitos nas instituições escolares. 1 Novos horizontes na educação moderna 4 A formação de estudantes nunca foi tão vinculada a fatores determinantes da sociedade como hoje. Levando-se em consideração que a escola tem por pressuposto socializar os indivíduos mantendo-os integrados com todas as possíveis vertentes do meio humano, considera-se indispensável em suas modalidades de ensino, o uso de novas tecnologias que não só visem manter uma relação de atualização, mas de dinamismo no cotidiano escolar. Além do que, não é apenas a aprendizagem do aluno que está sendo questionada é também a didática do professor que se renova e se abre a novas práticas de ensino: Os meios de comunicação e as tecnologias da informação significam para a escola em primeiro lugar isto: um desafio cultural, que torna visível a distância cada dia maior entre a cultura ensinada pelos professores e aquela outra aprendida pelos alunos. Pois os meios não só descentram as formas de transmissão e circulação do saber como também constituem decisivo âmbito de socialização através dos mecanismos de identificação/projeção de tecnicidade mediática como dimensão estratégica da cultura que a escola pode inserir-se nos processos de mudanças que atravessam a nossa sociedade (CITELLI, 2000, p.22). É importante ressaltarmos que a realidade escolar nem sempre é a mesma do mundo lá fora e o pior os sujeitos é bem menos atraído pelos artefatos educacionais, pois em sua maioria, eles estabelecem uma exigência ou obrigação e não motivam o prazer em aprender. De certa forma, acaba-se por consolidar uma concorrência: quadro e giz X jogos virtuais; exercícios de fixação X internet; leitura e produção de textos X reality show. Conhecendo o universo que circula na mente dos jovens, não fica difícil saber quem ganhará essa competição. Mas é justamente aí que se encontra o foco. As instituições educacionais não precisam e não podem ser vistas como centros inertes da modernidade. A escola está integrada na esfera social, formando um vínculo de acesso cada vez mais estreito entre aluno e o ser humano em sua totalidade: 5 Educação significa educar para a sociedade. É a socialização do patrimônio de conhecimento acumulado, o saber sobre os meios de obter o conhecimento e as formas da convivência social. É também educar para a convivência social e a cidadania, para a tomada de consciência e o exercício dos direitos e deveres do cidadão (PERUZZO, 1998 p.3). Nessa perspectiva, em uma escola, a interferência da comunidade externa é fundamental para a interação e a troca de conhecimento acumulado. Favorecer este intercâmbio por meio do uso de um meio de comunicação social estimula a troca de experiência e favorece a aproximação e o convívio com a instituição de ensino. Conforme Peruzzo (1998), a realidade escolar deve, de certa forma, torna-se o reflexo das interferências sociais. Mediante tal processo, é nítido o quanto a escola ganha inovando suas metodologias. Professores e alunos passam a interagir no mesmo patamar, onde o conhecimento é adquirido por ambas as partes. 2 O rádio e a TV como princípios articuladores do saber As tecnologias de comunicação e informação estão em constante evolução, o que acaba favorecendo a aplicação de novas abordagens de ensino e estratégias pedagógicas que influenciam um paradigma educacional bastante atual. Estamos vivendo momentos históricos em que as tecnologias permitem que o indivíduo tenha uma formação ética, profissional e intelectual bastante sólida e diversificada. Na contemporaneidade, educar implica receber criticamente os meios de comunicação. Segundo Sampaio e Leite (1999) para isso a escola deve utilizar estes meios a seu favor, mudando as formas de ensinar, de rever o papel do professor e do aluno, de ter uma nova visão da escola e da sala de aula, de se postar diante das tecnologias e de encarar a 6 educação e sua função social com maior abrangência. O rádio e a TV, por exemplo, se observados por esse viés podem se transformar em fortes aliados nos processos educativos. Desde a implantação da radiodifusão no Brasil, em 1923, por Roquette Pinto e Henry Morize, o rádio tem forte compromisso social. Devido a suas características e ao grande poder de penetração, este meio de comunicação tornou-se espaço ideal para o despertar da consciência crítica e do estímulo a cidadania. Associar a aprendizagem ao prazer é uma das possibilidades que a televisão pode proporcionar para todos. Em uma apresentação em sala de aula de um programa ou filme, há muito que se explorar. As mensagens audiovisuais exigem pouco esforço e envolvimento do receptor. Suas narrativas usam uma linguagem concreta, plástica, de cenas curtas, com ritmo acelerado, multiplicando os pontos de vista, mexendo constantemente com a imaginação e delegando à afetividade o papel de mediação entre o sujeito e o mundo. Soares (1996, p. 71) descortina uma visão mais ampla sobre o assunto ao afirmar que Quem se preocupa em produzir comunicação democrática e participativa e em promover a ação comunicativa, por onde quer que ande, revela que entendeu que o problema das comunicações – sobretudo no dia de hoje - não se reduz às tecnologias de ponta e não diz respeito apenas aos governantes ou aos empresários do setor. Na verdade produzir comunicação tem se revelado a melhor forma de celebrar em plenitude o exercício da cidadania, na família, na escola, nos ambientes de trabalho, nas igrejas... Não se pode negar que a grande evolução nas telecomunicações de certa forma, aproximou mais as pessoas umas das outras. Conseqüentemente, as origens, a cultura, o proceder de cada um interfere na formação do outro. Negativa ou positivamente vamos atribuindo em nosso jeito de ser, costumes, hábitos, expressões de outros que passam por nós, diariamente. O papel da escola é conciliar essas diferentes ideologias na soma de saberes, ou seja, trabalhar as potencialidades do indivíduo em uma zona de conhecimento que lhe dê condições de ampliá-las. É tarefa do professor enquanto mediador da aprendizagem propor situações 7 que levem os alunos a interagirem entre si e com o meio, utilizando as diferentes mídias e linguagens na produção de seu conhecimento. Moran (1993 p. 19) diz o seguinte: Os meios de comunicação desempenham também um importante papel educativo, transformando-se, na prática, numa segunda escola, paralela à convencional. Os meios são processos eficientes de educação informal, porque ensinam de forma atraente e voluntária – ninguém é obrigado, ao contrário da escola, a observar, julgar e agir tanto individual como coletivamente. O rádio é um instrumento que pode muito bem ser utilizado no desenvolvimento de atividades culturais, científicas ou artísticas de forma eficiente, envolvendo o aluno em atividades que proporcionam a produção e o uso da linguagem radiofônica. A TV para fins educacionais foi usada de forma positiva na fase inicial, onde vários incentivos aconteceram no Brasil, especialmente nos anos 60 e 70. Em 1972, é criado o Programa Nacional de Teleducação (PRONTEL) que teve vida curta, tendo em vista o surgimento do Centro Brasileiro de TV Educativa (Funtevê) como um órgão integrante do Departamento de Aplicações Tecnológicas do Ministério da Educação e Cultura. No início dos anos 90, as emissoras ficaram desobrigadas de ceder tempos diários para transmissão dos programas educacionais, significando um grande retrocesso. Em 1994 é reformulado o Sistema Nacional de Radiodifusão Educativa, cabendo à Fundação Roquete Pinto a coordenação das ações. Os anos se passaram e não ocorreram resultados concretos nos canais abertos de televisão. Na maioria dos casos, os programas são transmitidos em horários incompatíveis com a disponibilidade dos possíveis alunos usuários. Vale registro positivo à Fundação Roberto Marinho, que criou alguns programas de sucesso, como os telecursos, que atenderam - e continuam ainda atendendo - a um número incontável de pessoas, através de mecanismos de apoio, para que os alunos obtenham a certificação pelo Poder Público. 8 A própria TV Educativa, por razões inexplicáveis, não pertence à estrutura do Ministério da Educação, mas sim ao da Cultura, e poucos são os programas educacionais veiculados. Aliás, no campo da radiodifusão, a Rádio MEC também não está ligada ao MEC, apesar de manter o nome. O surgimento do sistema de TV fechada (especialmente a cabo) permitiu que algumas novas emissoras se dedicassem de forma correta à educação, destacando-se as TVs Universitárias, o Canal Futura, a TV Cultura, dentre outras que difundem algumas de suas produções também por canais abertos. Há de se louvar o sistema adotado pela TV Escola, sob a mantença do Poder Público Federal, que gera bons programas, contudo a forma de difusão depende das emissoras abertas ou a cabo para o acesso da população em geral. As escolas recebem, por satélite, (e com o apoio dos correios) os benefícios. Os frutos são bastante positivos: O vídeo com temas geradores de discussão é um poderoso instrumento de dinamização e enriquecimento da aula, tanto do ponto de vista de conteúdo como da dinâmica participativa e interesse. Se não há tempo na aula para um debate imediato, pede-se aos alunos que façam em casa uma ficha de análise a ser apresentada e debatida na aula seguinte. (MORAN, 1993 p.23) Para este mesmo autor os meios de comunicação exercem uma função amplamente pedagógica, contribuindo para a formação crítica do individuo: Os meios podem ser utilizados também como instrução, informação, formas de passar conteúdos organizados, claros e seqüenciados. Principalmente o vídeo instrucional, educativo, é útil para o professor, porque lhe dá chance de completar as informações, reforçar os dados passados pelo vídeo. Eles não eliminam o papel do professor. Antes o ajudam a desenvolver sua tarefa principal que é a de educar para uma visão mais crítica da sociedade. (op. cit.p.27) 3 Rádio Escola: norteando caminhos da aprendizagem 9 A Rádio Escola é um espaço onde crianças, adolescentes e adultos tem a oportunidade de mostrar seu talento, expressar suas idéias, interagir com seu público e participar do processo de difusão de informações e conhecimentos na comunidade escolar. Além disso, é um ambiente de aprendizado onde seus participantes têm a oportunidade de vivenciar experiências de pesquisa, produção escrita, trabalho em equipe que contribui para formação cultural, o domínio da comunicação oral e potencializa a autonomia individual. Devido a sua linguagem coloquial, a proximidade com o ouvinte e o baixo custo, este meio pode promover a interação da comunidade escolar e possibilitar ao educando a chance de ser protagonista de uma ação pedagógica. Na visão de Pretto (1996), p. 103), é muito mais do que meramente uma nova metodologia: Os novos recursos serviram apenas para animar uma educação cansada. Hoje as mudanças que estão ocorrendo exige uma nova postura da escola, preocupada em formar um profissional, capaz de viver plenamente essa civilização da imagem e da informação. Esta barreira entre escola e as novas tecnologias faz-nos acreditar, cada vez mais, que os meios de comunicação deveriam usar a sua influência como transmissores de informação e cultura também para educar e assim, explorar conteúdos de forma criativa e interessante. O rádio como instrumento didático, propõe a aproximação de professores e alunos de uma nova forma de ensino-aprendizagem. A forma diferente de levar a mensagem encontra caminhos de chegar ao interesse de todos que necessitam de formas alternativas para aprender. Assim a utilização do rádio, como forma de revisão, em sala de aula, pode ser um auxílio ao professor, chamando mais a atenção do aluno para o conteúdo proposto e diminuindo, assim, as dificuldades. A educação passa a ter um novo papel diante da sociedade da informação, precisa contribuir para a inclusão tecnológica e suas possibilidades, interferindo na tomada de decisões. Esta é uma forma de promover a democratização ao acesso às novas tecnologias. Para Silva (2003, p. 23): 10 Embora o Brasil caminhe para um processo de desenvolvimento e autonomia tecnológica, na educação a realidade mostra que o índice de escolas que utilizam sistematicamente, as novas tecnologias ainda é muito baixo, e a discussão nos currículos escolares e universitários sobre aspectos relacionados à sociedade da informação também não ocorre de forma sistemática, embora seja fundamental para a inserção de professores e alunos nessa realidade. Sendo assim, „„a escola deve incluir como conteúdo da educação obrigatória alguns aspectos que se refiram ao conhecimento e ao uso das novas tecnologias da informação‟‟, bem como „„a capacitação de equipe docente, inclusive os gestores de escola‟‟ (LITWIN, 1997, p. 84). Antes de qualquer investimento de tecnologias na educação, deve-se ter a preocupação com a formação do professor diante dessa nova forma de ensino. Essa formação precisa interferir na resistência dos professores em utilizar tecnologia. A relação professor-aluno, inserida nesta realidade tecnológica, pode estimular as reflexões críticas, contribuindo para uma educação mais consciente. Quanto mais próximo o aluno ficar da realidade, mais forte e viável será o fazer pedagógico. Não podemos desperdiçar o enorme potencial educativo das ondas radiofônicas, pois o rádio na escola tem uma utilização muito diversificada: proporcionar no educando uma atitude reflexiva e crítica, além de lavá-lo a identificar, selecionar, relacionar e imaginar a partir da audição; desenvolver capacidade e habilidades de expressão oral e escrita quando se utiliza de propostas de elaboração, produção e realização de projetos para rádio na escola. Além da variedade temática das transmissões radiofônicas que podem abordar temas que fazem parte do cotidiano do aluno, tais como sexo, drogas, violência e preconceitos. Hoje sabemos que a escola não é uma ilha isolada do contexto social e cultural, emergindo assim intensivamente para uma proposta didática que vise estimular habilidades, preconizando os vários âmbitos que se pode abranger a partir de um meio de comunicação como este. Ao utilizar essa ferramenta, vejamos os campos que podem ser explorados nitidamente (GARNER, 2000): 11 Lingüística - esta inteligência poderá ser explorada com muito êxito no momento em que os alunos começarem a produzir os roteiros radiofônicos com a preocupação de escrever aquilo que eles irão falar, não resta dúvida que o desenvolvimento do exercício da lingüística estará presente e o processo de aprendizagem terá um rendimento maior. Lógico-matemática - poderá ser trabalhada quando na ocasião da elaboração das pautas, onde será exigida do discente a estruturação, hierarquização e síntese das coisas. Isto fará com que o aluno exercite também a organização dimensionando os assuntos em pauta dentro de um determinado espaço de tempo. Espacial - na escola os alunos poderão trabalhar com a criação de rádionovela, sociodrama, contos e fábulas e inúmeros recursos que por sua vez, conduzirá ao exercício do pensamento, dando imagem e formas aos assuntos narrados estimulando cada vez mais a criatividade. Xavier chega a dizer que: (...) o comunicador é o ator social com múltiplas faces, em pleno palco invisível à audiência, porém audível que é o estúdio da emissora, de onde interpreta competentemente, diga-se de passagem, suas diversas funções de sujeito protagonista do espetáculo radiofônico. (XAVIER, 2006, p.51) Musical - neste tipo de inteligência o rádio proporciona aos alunos os mais variados recursos sonoros que servirão como uma forma lúdica de ensino-aprendizagem. Eles poderão estar escolhendo e compondo suas próprias músicas, promovendo festivais da canção, criação de vinhetas, imitando sons de animais e inevitavelmente o aprendizado será mais prazeroso. Intrapessoal - o exercício de falar ao microfone faz com que o aluno adquira mais auto-estima, perderá aos poucos a timidez, em pouco tempo estará adotando uma atitude cooperativa e solidária. 12 Interpessoal - no campo das relações interpessoais os alunos estarão sempre trabalhando em grupo na elaboração de programas radiofônicos, aprende-se melhor através da interação, da cooperação com os outros, sempre respeitando as diferenças individuais. Ciente das contribuições deste aparelho interativo só nos resta passarmos para a prática. 3.1 No ar: educação com entretenimento Os programas de rádio escolar produzidos para o intervalo contribuem proporcionando informação e descontração. Neste sentido, para que o conteúdo do programa cative a audiência dos alunos, principalmente durante os intervalos, é preciso balancear o tempo destinado a locução e as inserções musicais. Uma sugestão é utilizar 1/3 do tempo de duração do programa com informes, abertura, entrevistas, dicas culturais e de lazer e despedida. Através da lauda de apresentação é possível otimizar o tempo. O que se pretende com este espaço de tempo é objetividade na divulgação de informações, os alunos não vão querer escutar, e, além disso, o intervalo perderá o sentido de interação. Através das músicas é possível criar um ambiente de descontração e ao mesmo tempo informar ao ouvinte enquanto cumpri seu papel de prestação de serviços. Este canal de comunicação segue com estrutura muito parecida de rádio convencional. A linguagem, a infra-estrutura técnica, a organização dos trabalhos, são adaptados ao ambiente e a realidade escolar. Por isso, devem ser observados aspectos importantes como, por exemplo, a impossibilidade de troca de estação. Neste caso específico, o programa deverá ser produzido atendendo a aspectos de pluralidade cultural, formato do programa observando o tempo de duração, o caráter educativo, o entretenimento saudável e o público alvo. Isto não quer dizer que os programas devam ser todos iguais, seguindo um padrão comum e com um gênero pré-estabelecido. A proposta é criar uma grade de programação rica em diversidade, porém adequada ao ouvinte: 13 Os temas abordados em um evento interacional pelo rádio precisam estar relacionados aos interesses imediatos dos ouvintes e baseados em suas atividades cotidianas, para que consiga adesão da audiência durante o maior tempo possível em que o programa permanecer no ar (XAVIER, 2006,p.22). A rádio escolar pode ser concebida de acordo com a possibilidade da escola, conforme recursos técnicos e financeiros. Instalada no estabelecimento de ensino sua programação é transmitida através de sistema de som por caixas distribuídas adequadamente em sua área a partir de um estúdio local, com alcance interno. Os programas também poderão ser emitidos em qualquer emissora de radiodifusão sonora, comercial, educativa, comunitária, virtual. No entanto, nos deteremos na rádio local (escola). Um ponto fundamental que diferencia nosso pensamento no Rádio Escolar do Educativo está centrado no processo de produção e recepção. Esse último tem no Rádio Educativo o escopo de seus objetivos. Os programas gravados ou exibidos ao vivo são elaborados por profissionais da educação e da comunicação e chegam ao aluno/ouvinte cercado por linguagem e formato fechados. Já na Rádio Escolar a produção é o organismo vivo principal, por isso, é nela que nos prenderemos com atenção especial. Nessa fase, o conhecimento é construído pelos cidadãos-aprendiz que apreendem, aprendem e ensinam, desde as técnicas do veículo, conteúdo didático e outros assuntos correlatos, ao que estão sendo trabalhados para exibição do programa, como cidadania, política, educação, saúde lazer, esporte, cultura, etc. Os educandos e educadores são ativos no processo da produção (em todas as fases) porque partem da condição de imobilidade na frente do rádio e assumem a sua direção em todos os sentidos. E a cada final de um programa, o processo é retro-alimentado estabelecendo a conexão com a necessidade de outros conhecimentos com os temas seguintes, sempre com abordagem inédita. Não é de interesse preparar jornalistas ou comunicadores, mas sim cidadãos que estejam conscientes de si e dos outros, das representações que o cercam. A exibição do programa não é o final do processo, é 14 apenas mais um elemento dele. O que mais interessa na produção e a utilização do meio de comunicação é a capacidade de ensino-aprendizagem que ele proporciona aos envolvidos em suas atividades. Acreditamos que as pessoas somente ouvintes dos programas aprenderão menos do que os participantes ativos, pois os primeiros deixarão de aprender o que os demais compreenderam pela experiência e (con)vivência com os colegas, dos conteúdos teóricos e práticos, resultado do trabalho coletivo/colaborativo. No processo educativo, o rádio, durante toda a sua existência, contribuiu com expressivas realizações, marcando o compromisso com a cultura e construção da cidadania. Quando utilizado para fins educativos, como é o caso desta pesquisa, mostra que pode ser eficiente e democrático. A contribuição deste meio é eficaz para o processo de aprendizagem, especialmente de alunos com dificuldades, basta “que o saibam utilizar nossos educadores” (BARBOSA; PIOVESAN; BANETON, 2004, p. 176). 3.2 Tv e Escola: uma relação interdisciplinar A televisão é um meio de comunicação que está hoje no centro da vida doméstica como meio de entretenimento e fonte de informação permanente para toda família, informando adultos e crianças sobre os mais diferentes aspectos do mundo que os rodeiam. Os alunos estão mais expostos aos conhecimentos que a televisão proporciona do que àqueles advindos da escolaridade ou das relações familiares. Por meio desse recurso eles entram em contato com diferentes conteúdos e encontram estímulos para criar novas relações entre temas já conhecidos. O que vêem vai ganhando sentido, transformando-se em aprendizagens significativas incorporadas à realidade cotidiana. Permeada por diversas mediações, a relação entre as mídias e as pessoas não ocorre igualmente, cabendo as instituições educativas o fortalecimento desta. O professor, por sua vez, não pode ignorar este fato. Deve, pois, reconhecer e integrar o conteúdo veiculado pela televisão ás suas aulas. Programas televisivos podem ser usados para compor a ação 15 pedagógica do professor. Nesta medida, a televisão, assim como outros recursos tecnológicos , deve ser utilizada como mais uma ferramenta eficiente na construção de conhecimentos. É preciso haver diálogo entre a escola e as mídias, tendo o professor como mediador deste processo. Segundo comenta Bucci (2000, p. 9): A televisão é muito mais do que um aglomerado de produtos descartáveis destinados ao entretenimento de massa. No Brasil, ela consiste num sistema complexo que fornece o código pelo qual os brasileiros se reconhecem brasileiros. Ela domina o espaço público (ou a esfera pública) de tal forma, que sem ela ou sem a representação que ela propõe do país, torna-se quase impraticável a comunicação – e quase impossível o entendimento nacional. Por esses e outros motivos o poder de comunicação da televisão produz, muitas vezes o indesejável efeito colateral em que “o errado parece certo”, a corrupção, os desvios de caráter estão cada vez mais presentes na sociedade e como tal refletem em proporções maiores na tela da televisão, ficando impossível para alguns, criarem discernimentos sobre as imagens apresentadas. Nesse contexto Machado (2000, p. 10) cita que: Pode-se amar a televisão sem necessariamente precisar fazer concessões a qualquer espécie de banalidade e sem correr o risco de passar por ignorante. Tudo é uma questão de mudança de enfoque. Em lugar de prestar atenção apenas as formas mais baixas de televisão, a idéia é deslocar o foco para a diferença iluminadora, aquela que faz expandir as possibilidades expressivas desse meio. Falar da televisão e de sua utilização como meio que contribui pedagogicamente na educação, é fundamental para nós educadores entendermos o processo de construção da imagem em nossa vida diária, salientando a importância desta que funciona como máquina formadora de opiniões. O papel social que a televisão desenvolve, principalmente com as crianças no mundo contemporâneo, se torna evidente nesse processo em que os pais sem 16 tempo livre adequado para cuidar e educar os seus filhos utiliza esse aparelho de representações de imagens para auxiliá-los: Em muitas famílias, condiciona tanto a organização do tempo como a formação do espaço. Depende da televisão a hora de ir deitar, de ir ao banheiro, de quando serão deitas as refeições, de que forma será organizado o fim de semana, o que consomem... (FÉRRES, 1996, p.08) Está claro que o papel da escola não é o de direcionar ou dissuadir o educando a não assistir determinado conteúdo, mas sim aproveitar as situações apresentadas por esse veículo e que são tão conhecidas pelos mesmos, como ponto de reflexão a respeito dos significados das suas várias narrativas. “A TV não é perfeita e o sistema educativo não vai mudá-la. Então, a escola deve usar esse recurso em benefício próprio”, afirma Ismar de Oliveira, coordenador do Núcleo de Comunicação e Educação da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (USP) - em entrevista a revista TV Escola: Janeiro/fevereiro 2006: “na realidade o que se propõe é uma retomada de visão crítica. Tendo-se a acuidade, observaremos que na TV nada é tão bom que não tenha seu lado ruim, e nada pode ser tão ruim que não tenha seu lado benéfico”. Esse é o primeiro passo para quem espera resultados satisfatórios ao introduzir essa metodologia em sala de aula. O segundo é munir-se de material teórico de qualidade, ou seja, estudar bem os conteúdos que serão abordados, principalmente porque esse dinamismo na rotina escolar não deve ser usado sem critério e objetivos pedagógicos claros, isso pode virar embromação. Como também não se deve usar este recurso em todas as aulas e esquecer outras estratégias, o exagero diminui a eficiência e empobrece as atividades. “Tudo o que se passa na televisão é educativo. Basta o professor fazer a intervenção certa e propiciar momentos de debate e reflexão”, garante Moran (2000, p. 23), professor das Faculdades Sumaré, em São Paulo e pesquisador na área de tecnologias aplicadas a educação. 17 Estimular os alunos a opinar sobre os programas e chamar a atenção deles para cortes das cenas e o uso da trilha sonora, ajuda o aluno a perceber as diversas possibilidades do meio. O autor (op. cit.) afirma que, quando alunos produzem programas, captando imagens e selecionado cenas, fica mais fácil perceber as intenções de quem faz televisão. Mas para tanto a escola precisaria ter equipamentos. Se isso não for viável, um caminho é comparar os programas com os outros produtos culturais: uma novela com o livro que a originou; o telejornal com o jornal impresso; o desenho animado com gibis.Uma das características da televisão é trabalhar com temas atuais. Dessa forma ela pode atualizar conteúdos dos livros didáticos ou mesmo fornecer material que ainda não esteja neles. As novelas, minisséries, seriados ou episódios contam histórias do cotidiano. Ao abordar conflitos pessoais ou sociais comuns, prendem a atenção pela previsibilidade ou pelo humor. Essa relação entre o real e o imaginário atrai os telespectadores, que se identificam com situações ou personagens. A aproximação com a vida real fornece rico material par discutir valores e comportamentos. Através de suas linguagens e programas adaptados às diferentes faixas etárias, a TV torna-se mais atraente e interessante que a escola que desconsidera em seus processos de formação e em seu currículo o aluno e suas experiências de vida: “A TV fala da vida presente, dos problemas afetivos – a fala da escola é muito distante e intelectualizada – e fala de forma importante e sedutora – a escola em geral é mais cansativa (..)”.(MORAN, 2009) Assim a TV torna-se mais eficiente em educar que a escola, pois recursos (lingüísticos) daquela são mais eficientes que os empregados por esta no processo educativo. A TV somente entretém enquanto que a escola educa. Justamente porque a televisão não diz que educa o faz de forma mais competente. Ela domina os códigos de comunicação e os conteúdos significativos para cada grupo: os pesquisa, os aperfeiçoa, os atualiza. Nós educadores fazemos pequenas adaptações, damos um verniz de modernidade nas nossas aulas, mas fundamentalmente continuamos prendendo os alunos pela força e o mantendo confinados em espaços barulhentos sufocantes, apertados e fazendo atividades poucos atraentes (...)”. (MORAN, 2009) 18 Diante dessa realidade uma pergunta surge: “Quem educa quem nesse processo?” É a escola que se propõe a isso, mas não faz adaptações para tornar o ensino significativo, que apresenta um alto índice de evasão de seus alunos e cujo processo de ensino-aprendizagem possui problemas crônicos de longas datas? Ou é a TV apresentando aquilo que os alunos querem ver e que tem significado para eles, que adere uma linguagem elaborada e eficiente que prende a atenção de seus telespectadores? E enquanto as tecnologias, especialmente a TV, ficam à margem do processo educativo, nossas escolas continuam formando cidadãos despreparados para o convívio nesta sociedade imersa em tecnologias, gerando assim um contingente humano de excluídos que certamente não encontrarão espaço neste mundo de globalização e competição em todos os setores. Considerações finais Na nova realidade tecnológica, o tempo da educação é o tempo da vida. As escolas podem oferecer acesso para que seus alunos participem de atividades com professores e outros estudantes de qualquer lugar do mundo. As tecnologias – em especial o rádio e a televisão – garantem às escolas a possibilidade de se abrirem e oferecerem educação para todos, indistintamente, em qualquer lugar, a qualquer tempo. A sociedade hoje demanda pessoas criativas, com capacidade de tomar decisões, que saibam trabalhar em grupo. As tecnologias podem auxiliar no desenvolvimento e na formação de pessoas com essas habilidades. É nessa direção que as tecnologias podem auxiliar. No entanto, toda a estrutura educacional e a própria concepção de ensino e das práticas escolares ainda hoje continuam centradas na transmissão de informações. O que é importante é fazer uso dessa tecnologia em sala de aula não apenas para partilhar informações, mas principalmente para construir conhecimentos. As tecnologias como o rádio e a televisão facilitam a aprendizagem quando são utilizados como recursos pedagógicos, pois proporcionam entretenimento, apresentam 19 composição de som, imagens e movimentos, despertam a imaginação e a criatividade, prendem a atenção de quem aprende, tornando o processo ais dinâmico e prazeroso. A aprendizagem ocorre com mais eficácia quando os recursos são mais concretos e bem utilizados. Porém, esses recursos, por si sós, não asseguram a aprendizagem efetiva do aluno, visto que não foram produzidos com fins educativos. É necessário que o professor planeje suas aulas, envolvendo os recursos sempre que possível em suas ações educativas, tornando-os didáticos. A contribuição que o rádio e a televisão podem trazer à escola é imensa, mas não são os únicos recursos que possibilitam a interatividade e envolvem o aluno, tocando a afetividade e a emoção. Referências BARBOSA FILHO, André; PIOVESAN, A.; BANETON, R. Rádio: sintonia do futuro. São Paulo: Paulinas, 2004. BUCCI, Eugênio. A TC aos 50:criticando a televisão brasileira no seu cinqüentenário. São Paulo: FundaçãoPerseu Abramo, 2000. CITELLI, A. Outras linguagens na escola. São Paulo: Cortez, 2000. ______. Comunicação e educação – a linguagem em movimento. São Paulo: Senac, 2000. FÉRRES, Joan. Televisão e educação. Porto Alegre: Artmed, 1996. GARDNER, Howard. Inteligências múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre: Artmed, 2000. LITWIN, Edith. Tecnologia educacional: políticas, histórias e propostas. Porto Alegre: Artmed, 1997. MACHADO, A. 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