20140503 Meia de Rock AO #25
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20140503 Meia de Rock AO #25
22 Sábado AÇORIANO ORIENTAL SÁBADO, 3 DE MAIO DE 2014 COORDENAÇÃO HUGO GONÇALVES, JOÃO CORDEIRO E LÁZARO RAPOSO DIREITOS RESERVADOS Miguel Araújo é o verdadeiro contador de histórias Outra forma de ouvir os mesmo temas Depois de ter lançado um disco com os Azeitonas no ano passado, Miguel Araújo apresenta agora o segundo a solo JOÃO CORDEIRO [email protected] O nome do disco não engana: “Crónicas da Cidade Grande”. Ao segundo disco, que é, de certa forma, conceptual, Miguel Araújo dá-nos a conhecer “meia dúzia” de personagens e as suas experiências. Histórias simples, comoventes ou humoradas, sobre pessoas normais, nas quais é muito fácil revermo-nos. “José”, segundo tema disco, transportou-me de imediato a casa dos Para assinalar o lançamento de “Crónicas da Cidade Grande”, Miguel Araújo fez um pequeno “showcase” no Auditório Luiz de Vasconcellos, da Impresa, para uma plateia presencial reduzida, mas também com transmissão na internet. Sozinho no palco, apenas com a guitarra elétrica, descontraído, bem disposto e informal, Miguel Araújo apresentou algumas músicas do novo disco totalmente despidas de orquestrações. Se ainda houvesse dúvidas, esse concerto (que pode ser visto na internet) mostra duas coisas: que Miguel Araújo é genuinamente talentoso e que as boas canções funcionam mesmo no seu estado mais elementar. “Crónicas da Cidade Grande” conta a história de pessoas normais meus avós, onde passei os melhores momentos da minha infância, ao tempo em que tínhamos a capacidade de transformar um pequeno quintal num mundo de aventuras infinitas. O mesmo pedaço de terra podia ser, de manhã, um rio, e à tarde uma floresta. Miguel Araújo tem essa capacidade extraordinária de nos absorver com as suas letras – simples, informais e descontraídas – e consegue elevar as coisas normais do dia-a-dia a autêntica poesia. Afinal, não é qualquer artista que consegue incluir a palavra “dejeto” numa letra, sem perder o nível. Esta é, aliás, uma capacidade que Miguel Araújo tinha já demonstrado no espetáculo “Como Desenhar Mulheres, Motas e Cavalos”, com Nuno Markl. “Crónicas da Cidade Grande” reúne treze canções – essencialmente baladas – sobre encontros e desencontros, amor e casamento, infância e adolescência, destino e morte, na vida do José dos Santos, da Laurinha, do Salomão, e de tantas outras personagens sem nome. “Contamina-me” é a explosão que contrasta com a contenção de quase todos os temas. Uma música para bater o pé do início ao fim, com um estilo próximo de alguns temas do mais recente disco dos Azeitonas, banda em que Miguel Araújo é guitarrista. É verdade que este disco não tem nenhum ‘hit’ instantâneo com a genialidade desconcertante de “Os maridos das outras”, que deu a conhe- cer Miguel Araújo, mas mostra um artista muito completo, que está à vontade com a composição e interpretação, e que não sabe fazer uma má melodia. Parece tudo tão fácil. Miguel Araújo é, para mim, o cantautor mais interessante da nova geração de músicos portugueses. Vejoo como uma espécie de Rui Veloso. Aliás, os dois conhecem-se bem: Rui Veloso foi o responsável pelo lançamento dos Azeitonas, há mais de uma década atrás, e pretende mesmo contar com a colaboração de Miguel Araújo num futuro disco. O disco, que conta com a colaboração de Inês Viterbo, António Zambujo e Marcelo Camelo, entrou diretamente para o segundo lugar da tabela de vendas em Portugal. E deve continuar por lá por algum tempo. Qualquer adolescente queria “Tragic Kingdom” DIREITOS RESERVADOS LÁZARO RAPOSO [email protected] Às vezes penso que a década de 90 foi madrasta para a história do Rock. Houve muitos movimentos paralelos e muitos estilos alternativos. Mas também houve grandes momentos que vale a pena relembrar. Um destes momentos aconteceu em 1995. Trata-se do lançamento de “Tragic Kingdom” dos norte-americanos No Doubt. Alicerçados na voz e imagem de Gwen Stefani, os No Doubt, inicialmente uma banda Ska, gradualmente transitam para uma mistura de registos como PósGrunge, com reminiscências de Ska, pitadas de Punk e o tal alternativo, ou Indie. “Tragic Kingdom” capta toda esta essência. E a isso junta-se a energia e juventude da banda. Gwen Stefani viria a tornar-se um ícone da cultura pop/rock, mas a sua inocência, a inocência da banda, na altura, reflete-se num álbum genuíno. Os próprios singles, como “Spiderwebs” e “Just a Girl” eram autênticos, nada de produtos para as massas. Curiosamente, à parte de tanta energia, foi a balada “Don’t Speak” que catapultou a banda para o estrelato. Geralmente, não sou muito amante de “hit singles”. Esgotam-se facilmente. Mas, mais uma vez, trata-se de um tema autên- Gwen Stefani era o símbolo da banda tico, tanto é que só quase um ano depois se veio a tornar single. Aconselho também a ouvirem “Sunday Morning”, tema muito bem construído e executado, aliás, como a generalidade do álbum. Nem se nota que demorou cerca de 2 anos a ser gravado, tal é a consistência entre as músicas. “Tragic Kingdom” era um daqueles álbuns que qualquer adolescente fazia questão de ter. Bem produzido, com uma sonoridade fantástica e ainda hoje atual. Tem alguns temas mais fortes que outros, naturalmente, mas vale a pena ouvir o álbum na totalidade. Acima de tudo é um marco do que foi ser adolescente antes de Justin Bieber.
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