Influência da Lanolina na Cicatrização
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Influência da Lanolina na Cicatrização
0000116saude16.book Page 19 Thursday, September 8, 2005 5:51 PM EDGAIR FERNANDES MARTINS, ET AL. ARTIGO ORIGINAL /ORIGINAL ARTICLE Influência da Lanolina na Cicatrização Influence of Lanolin on Cicatrization EDGAIR FERNANDES MARTINS Departamento de Fisiologia e Biofísica – Instituto de Ciências Biomédicas (USP/SP) LEONARDO MADEIRA PEREIRA* Curso de Educação Física – Faculdade de Ciências da Saúde (UNIMEP/SP) THAIS MARTINS DE LIMA Departamento de Fisiologia e Biofísica – Instituto de Ciências Biomédicas (USP/SP) GUILHERME RIBEIRO DE AGUIAR Departamento de Fisiologia e Biofísica – Instituto de Ciências Biomédicas (USP/SP) SILVIA CASSALES CHEN Departamento de Fisiologia e Biofísica – Instituto de Ciências Biomédicas (USP/SP) ALESSANDRA FOLADOR Departamento de Fisiologia e Biofísica – Instituto de Ciências Biomédicas (USP/SP) TÂNIA CRISTINA PITHON-CURI Curso de Educação Física – Faculdade de Ciências da Saúde (UNIMEP/SP) RUI CURI Departamento de Fisiologia e Biofísica – Instituto de Ciências Biomédicas (USP/SP) *Correspondências: Av. Prof. Lineu Prestes, 1.524, sala 105, Cidade Universitária, 05508-900, São Paulo/sp [email protected] Saúde em Revista INFLUÊNCIA DA LANOLINA NA CICATRIZAÇÃO RESUMO A lanolina é utilizada em alguns medicamentos para tratamento de feridas. Contudo, há controvérsias sobre seus possíveis efeitos adversos no processo de regeneração tecidual. Ela é formada por uma mistura de ésteres e poliésteres de álcoois de cadeia longa e por ácidos graxos, com predominância dos insaturados, representados por uma proporção elevada dos ácidos eicosapentaenóico (EPA), linoléico e docosa-hexaenóico. Neste estudo, verificamos que a lanolina médica até a concentração de 2% não afeta o processo de cicatrização em ratos, nem apresenta efeitos tóxicos sobre monócitos (células J774) em cultura. Palavras-chave LANOLINA – ÁCIDOS GRAXOS – CICATRIZAÇÃO – TOXICIDADE – CÉLULAS J774. ABSTRACT Lanolin is used in some medicine prescribed for treatment of wounds. However, controversies exist on possible adverse effects of lanolin on tissue regeneration process. It is formed by a mixture of esters and polyesters of long chain alcohols and a mixture of fatty acids with a high proportion of unsaturated fatty acids, mainly eicosapentaenoic (EPA), linoleic, and docosahexaenoic (DHA) acids. In this study, we found that lanolin, up to 2%, has no adverse effect on cicatrization in rats and it is not toxic for monocytes (J774 cells) in culture. Keywords LANOLIN – FATTY ACIDS – CICATRIZATION – TOXICITY – J774 CELLS. 19 0000116saude16.book Page 20 Thursday, September 8, 2005 5:51 PM EDGAIR FERNANDES MARTINS, ET AL. INTRODUÇÃO cicatrização de uma ferida ocorre pela interação de células, fatores de crescimento e componentes da matriz extracelular, existindo, entre esses, relações dinâmicas e freqüentemente recíprocas.1, 2 Levando-se em conta as possibilidades de a ferida cirúrgica, ou por outro tipo de lesão, infeccionar, desenvolver excesso de tecido conjuntivo, gerar uma contratura da pele ou até mesmo tornar-se crônica, é de grande importância uma cicatrização rápida e controlada, diminuindo os possíveis efeitos negativos que podem acometer o paciente, bem como o tempo de morbidade desse indivíduo.3 A grande diversidade de produtos para o tratamento de feridas gera insegurança nos profissionais da saúde sobre qual a opção mais indicada. Existem várias controvérsias sobre o tratamento de feridas.4, 5 Alguns estudiosos mencionam a escassez de informações específicas acerca da indicação e dos efeitos adversos dos produtos ou de alguns de seus componentes convencionalmente utilizados. Um deles é a lanolina. A lanolina (do latim lana, lã) é uma substância complexa, formada por uma mistura de ésteres e poliésteres de álcoois de cadeia longa e por ácidos graxos derivados da secreção das glândulas sebáceas dos carneiros acumuladas na lã desse animal.6 É empregada, desde o antigo Egito (± 2000 a.C.) e em larga escala nos dias atuais, como emoliente e veículo para cosméticos e medicamentos, em razão de sua excelente propriedade oclusiva, de penetração e manutenção da hidratação da pele.7 Em meados de 1950, descreveu-se o primeiro caso de sensibilização possivelmente gerado pela lanolina. Desde então, vários estudos enfatizam uma freqüência elevada de reações alérgicas a ela, levando muitos a acreditar que produtos cosméticos e/ou medicamentosos com lanolina em sua formulação não seriam recomendados.8, 7 Entretanto, há relatos de que tal componente apresenta baixa freqüência de citoxicidade. Wakelin et al.9 verificaram que, de 24.449 pacientes testados, apenas 1,7% demonstraram algum tipo de citoxicidade à lanolina.8, 9, 10 Outro fator a ser observado é que a lanolina ultrapurificada e/ou hipoalergênica possui taxas de citoxicidade extremamente baixas A 20 (próximo a zero),7 sendo classificada como lanolina médica e empregada especialmente pelas indústrias farmacêuticas. Por sua vez, os macrófagos desempenham papel crítico no desenvolvimento do processo de cicatrização, modulando a produção de quimiocinas e fatores de crescimento que promovem proliferação celular e síntese protéica.11 As células J774 são uma linhagem de macrófagos diferenciados dos monócitos, ou seja, o mesmo tipo celular envolvido na cicatrização.12 Com base nessas informações, o objetivo do presente estudo foi testar em ratos o efeito da lanolina médica sobre a cicatrização e em cultura a toxicidade dela para células J774. METODOLOGIA Animais Para a realização dos experimentos foram usados 30 ratos machos da linhagem Wistar, pesando 190 ± 20 g, fornecidos pelo biotério do Departamento de Fisiologia e Biofísica, ICB/USP. Eles mantiveram-se em gaiolas individuais substituídas diariamente, em ambiente com temperatura controlada de 23oC e ciclo claro-escuro controlado de 12 horas. Tiveram livre acesso a dieta (Nuvilab CR1, Nuvital Nutrientes Ltda., Curitiba/PR) e receberam água ad libitum. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética de pesquisas em animais do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, protocolo registrado sob n.º 85 na folha 5 do livro 2 para uso de animais em experimentação. Procedimento Cirúrgico Os animais receberam anestesia tiopental na dose de 33 mg/kg de peso corpóreo, injetada por via intraperitoneal. Realizou-se tricotomia da região dorsal, com lâmina, seguindo-se, então, a assepsia com álcool a 70 GL e delimitação da área de 1 x 2 cm com molde milimetrado de plástico. Procedeu-se a incisão no dorso do animal com um bisturi de lâmina 19, comprometendo toda a espessura da pele, removida.13 O dorso foi escolhido para se fazerem as feridas, de acordo com as observações de Kashyap et al.,14 que o consideraram o melhor sítio para incisão, pois evita irritação por contato e autocanibalismo. Após o ato operatório, os animais foram colocados em gaiolas individuais limpas, contendo maravalha autoclavada. SAÚDE REV., Piracicaba, 7(16): 19-25, 2005 0000116saude16.book Page 21 Thursday, September 8, 2005 5:51 PM EDGAIR FERNANDES MARTINS, ET AL. Preparação da Lanolina para Tratamento dos Animais A lanolina (Medilan® – Croda, São Paulo, Brasil) foi acondicionada em tubos de plástico de 50 mL e derretida em banho-maria a 37∞C. Posteriormente, transferiu-se a lanolina líquida para seringas estéreis de 10 mL, utilizadas para aplicação no dorso dos animais. Tratamento dos Animais As feridas realizadas no dorso do animal foram tratadas diariamente, até o final do experimento, tendo início imediatamente após o procedimento cirúrgico. No sétimo dia, realizou-se debridamento mecânico nas feridas, com auxílio de uma pinça anatômica sem dente. Os resultados foram comparados com os de ratos tratados topicamente com o mesmo volume de solução fisiológica. Morfometria As feridas foram mensuradas com auxílio de paquímetro e fotografadas (Câmera Digital MVCFD97 FD Mavica – Sony) imediatamente após a cirurgia e depois de um, três, sete, 10, 14, 21 e 22 dias do período pós-operatório nos animais sem anestesia. Para a mensuração, imobilizou-se o animal, expondo o dorso com a ferida.13 A contenção realizou-se sem esticar o corpo do animal, para não alterar a morfometria da ferida, conforme descrito por Oliveira et al.13 Com base nas medidas dos lados da ferida, obteve-se o valor de sua área. A contração da ferida foi avaliada por meio da seguinte fórmula:15 (Área inicial - Área do dia da medida) x 100 = % de contração do dia Área inicial Extração Lipídica e Análise por HPLC (High Pressure Liquid Chromatography) Para a caracterização da composição lipídica da lanolina utilizada, os lipídios totais foram obtidos de amostras contendo 50 mg de lanolina, conforme descrito por Folch et al.18 A saponificação dos lipídios procedeu-se com 2 mL de uma solução metanólica alcalina (1 mol/L de NaOH em 90% de metanol), permanecendo em banho de agitação por duas horas a 37º C. Posteriormente, adicionaram-se 2 mL de uma solução aquosa de HCl (1 mol/L) para acidificar o meio (pH ≈ 3). Os ácidos graxos foram extraídos com 2 mL de hexano por três vezes e, após o procediSaúde em Revista INFLUÊNCIA DA LANOLINA NA CICATRIZAÇÃO mento de extração e saponificação,19, 20, 21 derivatizados com 4-bromometil-7-coumarina22 e analisados em HPLC modelo Shimadzu LC10Avp. Na eluição das amostras utilizou-se uma coluna C8 (25 cm x 4,6 id, partículas de 5µm) provida de pré-coluna C8 (2,5 cm x 4,6 id, partículas de 5µm), fluxo de 1 mL/min de acetonitrila/água (77:23, v/v) com detecção por fluorescência (excitação: 325 nm e emissão: 395 nm).23 Os padrões de ácidos graxos adotados foram obtidos da Sigma Chemical Co. (USA): láurico (C12:0), mirístico (C14:0), palmítico (C16:0), palmitoléico (C16:1 ω6), esteárico (C18:0), oléico (C18:1 ω9), linoléico (C18:2 ω6), linolênico (C18:3 ω6), araquidônico (C20:4), eicosapentaenóico (C20:5 ω3, EPA), docosa-hexaenóico (C22:6 ω3) (DHA). Razão entre Ácidos Graxos Insaturados e Saturados (I/S) A razão entre I/S dos ácidos graxos presentes na lanolina estabeleceu-se de acordo com o descrito por Guimarães et al.24 Cultura de Células Foram utilizadas células da linhagem J774 (macrófagos de camundongo) obtidas na Dunn School of Pathology (Universidade de Oxford, Inglaterra). As células mantiveram-se em fase log de crescimento em estufa a 37∞C e atmosfera umidificada contendo 5% de CO2. Elas foram cultivadas entre 1 x 105 e 1 x 106 células por mL de meio RPMI-1640 suplementado com 10% de soro fetal bovino, 20 mM de HEPES, 10 U/mL de ampicilina e 10 µg/mL de estreptomicina.25 Tratamento das Células As células sofreram diluição para 2 x 105 por mL em placas de cultura com seis escavações. Após atingir o número de 4 x 105 células/mL, a lanolina diluída em etanol foi adicionada nas escavações contendo 2 mL de meio. As proporções de lanolina testadas nas culturas foram de 0,25; 0,5; 1; 1,5 e 2% do volume de meio. A concentração de etanol com a quantidade necessária de lanolina para cada teste atingiu no máximo 0,05% do volume total do meio de cultura, não apresentando toxicidade para as células.25 Depois da adição da lanolina, estas foram incubadas, conforme descrito anteriormente, por um período de 24 horas. 21 0000116saude16.book Page 22 Thursday, September 8, 2005 5:51 PM EDGAIR FERNANDES MARTINS, ET AL. Viabilidade e Fragmentação: avaliação da toxicidade da lanolina Feito o cultivo das células J774 por 24 horas com as diferentes concentrações de lanolina, as células foram ressuspensas (1 x 106 células) em tampão de lise (0,1% de Triton X-100, 0,1% de citrato de sódio e 50 µg/mL de iodeto de propídio – PI) e mantidas protegidas da luz, em geladeira, por 24 horas. Avaliou-se a fluorescência celular para análise de viabilidade por meio de citometria de fluxo (FACS, Calibur-Becton Dickinson Systems, USA), com tripla análise: para PI (índice de fragmentação de DNA), volume e granulosidade. Os resultados foram apresentados como histogramas, indicando a fluorescência do PI por célula (excitação 488 nm e emissão maior que 620 nm). Para análise, adotou-se o programa CellQuest (Becton Dickinson Systems) e avaliou-se cerca de 10 mil eventos (células) por experimento.26 O ensaio de fragmentação de DNA consiste na avaliação do conteúdo deste em cada célula. Após o tratamento com PI, composto fluorescente que se intercala no DNA, segue-se sua detecção fluorimétrica em citômetro de fluxo. Depois do cultivo, as células (1 x 106) passaram por centrifugação por 10 minutos a 700 x g. O precipitado celular foi, então, lavado com tampão fosfato (PBS) gelado e, finalmente, após uma centrifugação a 12 mil x g por 30 segundos, ressuspenso em 200 µL de tampão de lise. As amostras, ao abrigo da luz, terminaram acondicionadas em geladeira e, passadas 24 horas, procedeu-se a leitura em citômetro de fluxo.26 Análise Estatística Os resultados de contração da área da ferida foram avaliados por teste t de Student. Já os dados de viabilidade e fragmentação celulares, examinados por análise de variância (ANOVA) e teste de Tukey – ambos os testes realizados para p < 0,05 (GraphPad Instat tm V2.05a). RESULTADOS Os valores percentuais dos ácidos graxos determinados no HPLC estão apresentados na tabela 1. A lanolina usada nos experimentos revela predominância de ácidos graxos insaturados (71%). A razão entre ácidos insaturados e saturados é de 2,48. Os insaturados estão representados pela proporção elevada dos ácidos EPA (C20:5n n-3) 22 (26%), linoléico (C18:2, n-6) (19%) e DHA (C22:6, n-3) (17%). Os ácidos saturados mais abundantes são mirístico (C14:0) (11%) e palmítico (C16:0) (9%). Na morfometria das feridas, observou-se um aumento médio de 14% da área, imediatamente após a cirurgia. No 21.° dia, ambos apresentavam apenas uma cicatriz discreta. A avaliação macroscópica das feridas do grupo tratado com lanolina em relação ao grupo controle era de coloração mais rosada e sem ressecamento. Até o sétimo dia de tratamento, algumas feridas do grupo controle exibiam as bordas avermelhadas e edemaciadas, o que não se observou no grupo tratado com lanolina, possivelmente pela ação antiinflamatória dos ácidos EPA e DHA nela presentes.27 No sétimo dia, as crostas remanescentes foram retiradas com o auxílio de uma pinça anatômica, soltando-se com facilidade e não ocorrendo sangramento. Encontrou-se maior número de crostas remanescentes no grupo controle (todos os animais). Nenhum animal, de ambos os grupos, apresentou exsudato purulento de odor fétido sob as crostas. A contração das feridas foi estatisticamente avaliada (fig. 1), não havendo diferença significativa entre os grupos nos períodos estudados. Tabela 1. Composição de ácidos graxos das amostras de lanolina. ÁCIDOS GRAXOS 12:0 Ácido láurico 14:0 Ácido mirístico 16:0 Ácido palmítico 16:1 Ácido palmitoléico (ω-7) 18:0 Ácido esteárico 18:1 Ácido oléico (ω-9) 18:2 Ácido linoléico (ω-6) 18:3 Ácido γ-linolênico (ω-3) 20:4 Ácido araquidônico (ω-6) 20:5 Ácido eicosapentaenóico (ω-3) 22:6 Ácido docosahexaenóico (ω-3) Ácidos graxos saturados Ácidos graxos monoinsaturados Ácidos graxos poliinsaturados Total de ácidos graxos ω-3 Total de ácidos graxos ω-6 Total de ácidos graxos ω-7 Total de ácidos graxos ω-9 Ácidos graxos insaturados/ácidos graxos saturados (%) 4,30 ± 0,59 10,86 ± 0,11 9,06 ± 0,58 5,54 ± 0,47 4,55 ± 0,63 2,61 ± 0,16 18,53 ± 0,37 0,77 ± 0,23 1,38 ± 0,10 25,85 ± 1,00 16,55 ± 0,40 28,77 8,15 63,08 43,17 19,91 5,54 2,61 2,48 Os valores estão expressos em percentagem e apresentados como média ± EPM de seis análises. SAÚDE REV., Piracicaba, 7(16): 19-25, 2005 0000116saude16.book Page 23 Thursday, September 8, 2005 5:51 PM EDGAIR FERNANDES MARTINS, ET AL. Os resultados obtidos pelo tratamento das células J774 estão apresentados na tabela 2. A perda de integridade de membrana (viabilidade) e/ou a fragmentação do DNA foram consideradas como indicadores de toxicidade. Os valores percentuais demonstrados na tabela 2 representam o percentual de células com integridade de membrana e sem fragmentação de DNA, ambos determinados por citometria de fluxo após 24 horas de incubação com lanolina. As células tratadas com lanolina a 0,5% revelaram viabilidade significativamente maior do que o controle. As demais concentrações não mostraram alteração significativa, exceto para lanolina na concentração de 2%, na qual percebeu-se leve redução da viabilidade celular; 1,97% menor quando comparada ao controle. Não se observou diminuição da integridade do DNA nas células tratadas com lanolina ao serem confrontadas ao controle. Figura 1. Perfil de redução da área das feridas. Tabela 2. Porcentagem de células J774 viáveis e com DNA íntegro (ensaio de fragmentação) analisadas por citometria de fluxo, após incubação por 24 horas com diferentes concentrações de lanolina. Os valores estão expressos em porcentagem e apresentados como média ± EPM de 18 amostras. GRUPOS PORCENTAGEM CÉLULAS CÉLULAS COM VIÁVEIS Controle etanol (0,05%) 83,97 ± 0,57 Lanolina 0,25% 91,33 ± 1,71 Lanolina 0,50% 92,65 ± 1,38* Lanolina 1% 91,72 ± 2,57 Lanolina 1,5% 90,84 ± 0,91 Lanolina 2% 81,99 ± 2,08* DNA INTACTO 98,31 ± 0,13 98,19 ± 0,01 97,72 ± 0,16 97,73 ± 0,24 98,23 ± 0,07 98,10 ± 0,11 *p < 0,05 para comparação com o grupo controle (etanol a 0,05%). Saúde em Revista INFLUÊNCIA DA LANOLINA NA CICATRIZAÇÃO DISCUSSÃO A análise da composição de ácidos graxos realizou-se para caracterização da lanolina empregada nos experimentos. Essa lanolina apresenta grande proporção de ácidos graxos ω-3 (EPA e DHA) e a capacidade destes de interferir na função de macrófagos, neutrófilos e linfócitos tem sido a base para a sua utilização como antiinflamatórios.27 A medida da área inicial da ferida em relação à área do molde original aumenta, pois as bordas sofrem retração centrífuga, em virtude da tensão elástica da pele circunjacente, perda da aderência à fáscia profunda e mobilidade da pele do rato.28, 29 Essa variação, porém, não interferiu no cálculo da área da ferida, visto que a contração depende da diferença entre as áreas inicial e aquela medida no dia da avaliação, sendo isso feito com os valores individuais, e não com as médias.13 Além do mais, a análise da contração da ferida, e não da área, nos dias estipulados, elimina possíveis diferenças nos tamanhos das áreas imediatamente após a cirurgia.13 Os mamíferos de pele solta (roedores, coelhos e porquinhos da índia) possuem músculo carnoso, o panículo subcutâneo, em contraste com humanos e outros mamíferos com peles aderidas. O panículo deve contribuir significativamente na cicatrização da ferida.14 Segundo Cross et al.,28 é essencial manter esses animais numa posição padrão durante a mensuração. Porém, esses trabalhos não apresentam claramente que posição seria essa e como poderia ser realizada com o animal acordado. A exposição repetida do animal a procedimentos anestésicos pode ser deletéria à sua saúde, consome tempo e pode causar danos à ferida durante a indução da anestesia. Em nosso trabalho, empregou-se contenção física, contrastando com outros em que a exposição repetida do animal à anestesia poderia aumentar seu estresse, além do risco de injúria ao tecido de granulação da ferida, especialmente durante a fase de indução. Depois do terceiro dia de tratamento, a área da ferida diminuiu numa freqüência constante, declinando progressivamente em direção ao 14º dia. Após tal período, aproximou-se de zero, estágio final de cicatrização.28 A partir do 22º dia, as feridas estavam totalmente cicatrizadas. Vogt et al.30 observaram que a cicatrização em meio líquido e úmido é significantemente mais rápida, comparada com feridas secas. No 23 0000116saude16.book Page 24 Thursday, September 8, 2005 5:51 PM EDGAIR FERNANDES MARTINS, ET AL. presente trabalho, o fato de a lanolina aderir por mais tempo às feridas manteve o meio lubrificado, evitando a perda de umidade, em contraste com a solução fisiológica, que, depois de administrada sobre a ferida, tende a escorrer em pouco tempo, visto que não se utilizou bandagem. Macroscopicamente, essas feridas revelavam aparência mais ressecada em comparação às tratadas com lanolina. Os testes de viabilidade das células e fragmentação de DNA foram realizados em razão das proporções elevadas de ácidos poliinsaturados (EPA, DHA) na composição da lanolina testada. O efeito citotóxico dos ácidos graxos poliinsaturados é conhecido, indicando inclusive sua natureza apoptótica.31 Acredita-se que esses ácidos poliinsaturados são citotóxicos por promover peroxidação lipídica, havendo participação também da síntese alterada de eicosanóides.32 Alguns estudos indicam a necessidade de um tratamento prolongado com ácidos graxos poliinsaturados para que a morte celular seja disparada, aparentemente sendo essencial a incorporação, por esterificação, desses ácidos na célula. Provavelmente essa incorporação leve a um acúmulo de ácidos graxos poliinsaturados, de tal forma que as defesas antioxidantes deixem de impedir o estresse oxidativo, conduzindo à morte celular.31 Verificamos uma pequena diminuição na viabilidade celular (número de células viáveis) somente na concentração de 2% de lanolina. Esse fato foi observado pela entrada do iodeto de propídeo na célula. Já a fragmentação de DNA não se alterou. CONCLUSÃO Com base nos resultados apresentados, podemos concluir que a lanolina empregada neste estudo, até a concentração de 2%, não afeta o processo de cicatrização in vivo, nem apresenta efeitos tóxicos em monócitos (células J774), que desempenham papel importante na cicatrização. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Politis MJ, Dmytrowich A. Promotion of Second Intention Wound Healing by Emu Oil Lotion: comparative results with furasin, polysporin, and cortisone. Plast Reconstr Surg 1998; 102(7):2.404-7. 2. Carvalho PTC. Análise da Cicatrização de Lesões Cutâneas Através de Espectrofotometria: estudo experimental em ratos diabéticos. [Dissertação]. São Carlos (SP): Universidade de São Paulo; 2002. 3. Smith PD, Kuhn MA, Franz MG, Wachtel TL, Wright TE, Robson MC. Initiating the Inflammatory Phase of Incisional Healing Prior to Tissue Injury. J Surg Res 2000; 92(1):11-7. 4. Ward RS, Safle JR. Topical Agents in Burn and Wound Care. Phys Ther 1995; 75:526-38. 5. 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Normalmente, pode-se obter entre 10 e 15% de gordura de lã neste tipo de processo. A lanolina é, então, obtida através de um sofisticado processo de refinação de cera da lã bruta. Emoliente e sobre...
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