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O PAPEL DAS UNIDADES SUBNACIONAIS NA INSERÇÃO INTERNACIONAL DO BRASIL: UMA ANÁLISE DO ESTADO DE PERNAMBUCO Salomão Carlos Silva da Cunha Lima Orientador: Prof. Msc. Rodrigo Barros de Albuquerque RESUMO Dentro de um novo cenário nas Relações Internacionais contemporâneas, no qual novos atores são inseridos no sistema internacional, os governos subnacionais passam a permear neste contexto a partir da busca pela inserção internacional de seus mercados. Tendo como fundamentos a Teoria da Paradiplomacia e o paradigma do Estado Logístico, os entes federativos reforçam seu papel no apoio à iniciativa privada, agindo de uma forma mais intencional e trabalhando no fomento à prática da internacionalização de empresas em seu território. No Estado de Pernambuco, objeto desta análise, a atuação do Governo do Estado ainda se dá de uma forma bastante restrita, já que não há uma institucionalização das ações voltadas à inserção internacional das empresas e, consequentemente, do Estado. Em 2011, Pernambuco vive um período promissor, com um crescimento econômico eminente, um grande aporte de investimentos em infraestrutura, educação e na atração de grandes empreendimentos. Contudo, os esforços para a internacionalização ainda são realizados por um grupo pequeno de instituições, formado por órgãos públicos nacionais, estaduais e entidades de classe, inseridos em uma rede restrita. Essas iniciativas de apoio à iniciativa privada são autônomas, mas não integradas. Por isso, entende-se que o Governo de Pernambuco precisa exercer seu papel de fomentador e principal responsável pela inserção internacional do Estado em seus mais variados segmentos econômicos, tomando as providências necessárias para garantir que tal processo seja feito de maneira proativa, de acordo com o paradigma do Estado Logístico. Acreditamos na necessidade de criação de uma Secretaria Estadual de Relações Internacionais, a qual se torna a responsável por orientar, monitorar, promover e centralizar as ações promotoras da inserção internacional pernambucana, atuando de maneira articulada com as instituições que já operam neste processo, fortalecendo-as, e em parceria com o Poder Legislativo e com a sociedade civil em geral, sobretudo com as universidades. PALAVRAS-CHAVE: Estado Logístico, Paradiplomacia, Internacionalização, Inserção Internacional, Secretaria de Relações Internacionais. 2 1. Introdução Dado o fenômeno da globalização em larga escala que permeia as mais variadas esferas das relações internacionais, observa-se que a integração e cooperação entre nações torna-se um objetivo cada vez mais desejado pela comunidade internacional. A partir daí, cria-se um sistema global de câmbios e interligações, as quais demandam dos países uma participação neste entrelaçamento a fim de obter mais segurança, notabilidade política, garantia de direitos e a inserção de seu sistema financeiro e comércio no movimento econômico internacional. Neste contexto, o Brasil desempenha um papel relevante dentro do sistema internacional, agindo como um grande ator político-econômico-social. Sua atuação está adquirindo uma força motora pulsante e crescente nas esferas nas quais se insere, principalmente no que diz respeito ao período posterior à redemocratização brasileira, com a abertura econômica do país aos mercados internacionais1. Sendo o Brasil um país de dimensões continentais, admite-se assim a necessidade iminente da adoção de medidas governamentais pelas unidades subnacionais, tais como os estados e municípios, para o desenvolvimento de ações de política externa com certa autonomia em relação ao governo nacional. A contribuição ativa desses entes federativos na formulação e execução de política exterior, haja vista o desejo de fomento de suas economias e a busca de um desenvolvimento social para seu povo, pode advir diretamente da sociedade civil, cujos interesses são, na maioria das vezes, representados por meio de seus governos municipais ou estaduais. O processo de inserção internacional do Brasil é ainda recente, pois foi iniciado com a abertura de mercado ocorrida durante o Governo Collor (1990-1992). A partir daí, dentro de uma nova ordem mundial globalizada e inter-relacionada, o país afirma sua posição de emergente no cenário internacional e começa a adotar ações que tragam maior visibilidade política, expansão econômica e melhoria na qualidade de vida de sua população, principalmente a mais empobrecida. 1 Este período remete à política econômica adotada pelo Governo Collor (1990 – 1992), em que o Brasil tem como meta prioritária conquistar novos mercados internacionais e não mais privilegiar os produtores internos detentores de um Estado desenvolvimentista. 3 Nesse contexto, o Governo Federal está realizando várias ações e desenvolvendo estratégias para fortalecer seu soft power2, tornando-se cada vez mais respeitado pela comunidade internacional. Diversos recursos de origem governamental estão sendo destinados, junto à criação de políticas públicas, para facilitar a inserção internacional do país, como, por exemplo: o fortalecimento e apoio ao setor privado para pesquisa e desenvolvimento (P&D)3; a criação de agências de fomento no exterior, como a Apex Brasil4; a inserção da internacionalização de empresas na pauta dos acordos bilaterais e multilaterais para acesso a mercados, especialmente aos que possuem maior potencial de absorção de produtos brasileiros com maior valor agregado; as ações de estímulo à promoção de investimentos diretos estrangeiros; a promoção da Marca Brasil; a busca incessante do governo por status em espaços políticos dentro dos organismos internacionais. Todas essas intervenções contribuem para gerar um maior crescimento das economias locais, de estados e cidades brasileiras, fazendo com que essa preocupação seja advinda também das unidades subnacionais da nação. O fenômeno da inserção internacional das federações emergentes, sobretudo o Brasil, promove a reflexão acerca do papel e relevância das unidades federativas dentro desse processo, que é o cerne da teoria da paradiplomacia. Os estados brasileiros e as grandes cidades do país procuram obter um maior espaço nas esferas globais, principalmente no que diz respeito à necessidade de fomento de suas economias e inserção de seus produtos no comércio internacional. Cabe, então, ao governo facilitar esse processo, através da utilização de políticas públicas que resultem na criação de vantagens competitivas das empresas de um estado internacionalizado, frente a outro estado que ainda não se inseriu nesse novo contexto. No Estado de Pernambuco, dado o seu recente período de industrialização, as empresas locais começam a se interessar pelo tema de forma tardia, já que caso não adotem o 2 Keohane e Nye definem "soft power" como a habilidade para conseguir resultados desejados porque os outros querem o que você quer. É uma habilidade para atingir metas por meio da atração em vez da coerção. [...] O soft power reside no apelo às ideias, à cultura ou à habilidade para organizar agendas por meio de padrões ou instituições que moldam a preferência dos outros atores (KEOHANE; NYE, 2001, p. 220, tradução do autor). 3 Investimento em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) compõe uma das quatro principais metas da Política de Desenvolvimento Produtivo – PDP, lançada pelo governo em 2008, onde se pretendeu alcançar para o ano de 2010 a elevação dos gastos privados em P&D para 0,65% do PIB, tendo em vista que o índice de investimento em P&D está muito aquém do que seria adequado para as dimensões do país. 4 A Apex Brasil é uma iniciativa do Governo Federal para promover as exportações de produtos e serviços brasileiros, apoiar a internacionalização de empresas e atrair investimentos externos diretos (IED) para o Brasil. 4 procedimento, sucumbirão, oferecendo suas fatias de mercado às empresas que tomam essa iniciativa. A partir de tal realidade, surge a necessidade iminente da criação e reformulação de políticas públicas pelo Governo de Pernambuco com o intuito de apoiar esse movimento exógeno do empresariado local. O presente artigo justifica-se pelo momento atual vivenciado pelo Estado de Pernambuco. Com a atração de grandes investimentos ao país, sobretudo ao Nordeste e ao Estado citado, surge a necessidade de entender os procedimentos políticos que devem ser tomados pelo governo estadual, com vistas a resultar em um intenso fluxo de capitais entre o Estado de Pernambuco e outros países. Dado o processo tardio de industrialização em Pernambuco, medidas governamentais precisam ser tomadas, através de políticas públicas eficientes, a fim de criar espaços favoráveis à atração de Investimentos Externos Diretos (IED) à economia local, sejam através de ativos fixos ou circulantes, assim como diversificar a pauta de exportações pernambucanas para novos mercados. Com o desenvolvimento deste ensaio, poderemos entender como se dá o processo de inserção internacional do Estado de Pernambuco em dois vieses: o viés público, analisando como Pernambuco, unidade subnacional, pode criar políticas públicas proativas com vistas ao fortalecimento de sua economia através da inserção desta nos fluxos comerciais e financeiros internacionais; e o viés privado, explicando quais as vantagens competitivas que o empresariado local obtém a partir da implementação dessas políticas, em relação a empresas de outros Estados, cujos governos não se apropriaram da discussão e implementação do tema. 2. As relações internacionais descentralizadas: a paradiplomacia Com o advento de uma nova ordem mundial, sob a qual se inserem novos atores no cenário internacional, ocorre no mundo um movimento em que as unidades ativas dos Estados nacionais, como os estados-membros da federação e municípios, pressionam suas federações pelo poder de legislarem internacionalmente com certa autonomia, visando, sobretudo, promoverem uma inserção de suas economias e comércio em âmbito internacional. 5 Pensar nesse tema remete a uma série de preocupações, já que cabem aos Estados Nacionais a elaboração, formulação e execução da política exterior de sua nação. A partir dessa análise, surge na academia e no âmbito público, o termo paradiplomacia, o qual designa as relações intergovernamentais entre unidades subnacionais e governos externos. Conhecido na literatura como paradiplomacia, o fenômeno das relações internacionais de governos subnacionais não se restringe a países federais. Entretanto, nas federações, Estados federados, províncias e municípios, ele vem atuando com desenvoltura no plano externo e aumentando sua inserção internacional de muitas formas, a olhos vistos. Se tal fenômeno social e político não apenas existe, mas se amplia, é imperativo estudá-lo e compreendê-lo em sua legitimidade e legalidade, e em seu exercício no âmbito das federações (RODRIGUES, 2008, s.p.). As informações e literatura sobre esse tema ainda encontram-se bastante limitadas, apresentando escassos insumos para os pesquisadores desta área das relações internacionais. Sendo assim, relata-se a dificuldade de se encontrar informação nesse sentido, mesmo que haja nos últimos anos uma tentativa de solidificação de uma teoria sobre a paradiplomacia. O embate gerado pelo tema entre as esferas federais e subnacionais torna-se um fenômeno desconcertante do federalismo na atualidade, já que é função inata do Estado, a partir do estabelecimento da Paz de Westfália (1648)5, guiar a sua política externa e inserir-se nas relações internacionais. Nesse sentido, o Estado-nação zela pelo exercício de seu monopólio, coerência e controle nas tomadas de decisão no que diz respeito à atuação internacional deste. Vários são os motivos que culminaram no surgimento da atividade paradiplomática ao final do século XX e início do século XXI. Sem dúvidas, esse movimento se deu a partir do surgimento de novos atores no sistema internacional, como organizações internacionais, organizações não governamentais, igrejas, indivíduo e empresas multi e transnacionais, além das unidades subnacionais, os quais passaram a desenvolver também relações internacionais paradiplomáticas. De acordo com Mariana Barros e Silva (2006, p. 25): (...) O fato do surgimento de novos atores no cenário internacional e o surgimento de temas transversais trouxeram uma nova dinâmica à realidade internacional contemporânea onde o interesse nacional não mais se restringe 5 A Paz de Westfália, em 1648, é o marco das relações internacionais modernas, quando se cria o conceito de Estado-nação soberano. A partir dai, surge o Estado nacional nos moldes em que é conhecido hoje. 6 ao da parcela do eleitorado que sustenta certo governo no exercício do poder, mas uma consolidação de interesses das mais variadas unidades ativas de alcance transnacional. A globalização também pode ser considerada como um fenômeno exógeno motivacional da paradiplomacia, através da modernização da tecnologia da informação e das telecomunicações. Seu advento gerou um questionamento a respeito do fim do território como espaço intocável dentro da linha da fronteira. Além disso, a globalização mantém-se como responsável pelas interdependências financeiras, comerciais, culturais e de comunicação interestatais. Integralmente relacionado a este fator temos o interdependentismo, já que os países passam a se associar, inicialmente no âmbito regional, para obter melhores condições de desenvolvimento tanto interno quanto externo. Tal fato resulta na criação dos blocos de integração regional, os quais aplicam ações multilaterais e articuladas em redes, enaltecendo o mecanismo multilateral frente ao individualismo estatal. Quando analisamos os fatores endógenos que levam à paradiplomacia, temos em vista a descentralização do poder, fato esse ocorrido no Brasil no período pós-ditadura, a partir da redemocratização e da ideia de garantir uma maior autonomia às unidades subnacionais. A partir da promoção do modelo republicano, do Estado de Direito e dada a consolidação emergente da democracia, as relações internacionais foram também forçadas a uma descentralização. A condução da política externa contemporânea pela União encontra-se precária devido à ausência de um planejamento de alcance nacional e à prática da diplomacia presidencial (síndrome do Príncipe), ou seja, da personalização do sistema político internacional na pessoa do Chefe de Estado. Em consequência, por essa fresta permite-se enxergar novas unidades ativas de significativa pressão internacional (SILVA, 2006, p. 22). Estando as unidades subnacionais mais próximas da população e sendo estas as representantes ativas dos interesses, opinião e desejos da população de um modo geral, sua atuação nas relações internacionais certamente legitima a participação mais ativa da sociedade civil no processo de inserção internacional dessas unidades, com vistas a atrair novas oportunidades para sua população e melhorar a qualidade de vida de seu povo. 7 Dessa forma, as motivações para a paradiplomacia são advindas de fatores endógenos e exógenos e podem ser de natureza econômica, política e cultural, os quais, trabalhados de forma conjunta ou independentes, remontam a um interesse de uma região para a sua projeção internacional, com vistas à criação de medidas que objetivem “a inserção internacional organizada, autônoma e com objetivos de longo prazo, perfeitamente denominável política externa” (KEATING, 2001, s.p.). Mesmo compreendendo as premissas que motivaram a atividade paradiplomática, é difícil identificar a cadeia causal que gerou tal movimento, já que tais motivações se cruzam no decorrer da história sem a existência de um processo dialético coeso e autoexplicativo. Dentro dessa construção teórica, existe a compreensão – exercitada através de práticas políticas já vivenciadas por algumas cidades e Estados – de que as unidades subnacionais podem atuar internacionalmente no âmbito de sua autonomia federativa, isto é, dentro da normativa constitucional que expressa a sua competência, sem contrariar o interesse nacional ou a alta política do país. Dado este contexto, pode-se exemplificar a questão ao entender que um governo federativo não poderia manter relações internacionais com autoridades de um território estrangeiro não reconhecido como Estado, como, por exemplo, o País Basco. Também não poderia manter relações com governos não reconhecidos como legítimos ou legais, sendo, por exemplo, golpistas ou violadores dos Direitos Humanos. Isso significa que nenhuma unidade subnacional pode exercer sua paradiplomacia indo de encontro aos interesses e concepções nacionais. Na Europa, a experiência paradiplomática foi consolidada a partir do princípio da subsidiariedade, segundo o qual o regional ou local atua em nome do nacional. Esse princípio foi fortalecido a partir da criação do Comitê de Regiões, pelo Tratado de Maastricht (1992), o qual institucionalizou a participação dos governos subnacionais na política comunitária europeia, aprofundando a relação entre regionalismo e democracia (STUART, s/d, s.p.). É interessante ressaltar que na América Latina, a Argentina, país vizinho ao Brasil, foi o pioneiro e, até o presente momento, o único do continente sul-americano a desenvolver seu processo de abertura e fomento das relações internacionais federativas, através da inclusão em sua constituição da cláusula da paradiplomacia. A partir desse momento, foi reconhecido às 8 províncias da Argentina o direito de exercer relações internacionais, de acordo com o art. 124 da Constituição Argentina6. Diante disso, vale ressaltar que os acordos internacionais entre governos subnacionais e entre estes com outros Estados estrangeiros não podem ser regidos pela Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados, de 1969, o que implica que esses acordos não podem ser tidos como tratados, mas apenas como acordos ou convênios. No Brasil, a Constituição Federal (CF) vigente, promulgada em 1988, dentre suas mais de cinquenta emendas constitucionais, não prevê a possibilidade do desenvolvimento de relações internacionais por parte dos estados federados, Distrito Federal e municípios. O principal artigo da CF que trata da questão é o art. 21, o qual determina que: “Compete à União: I - manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais". Já o art. 84 dispõe que "compete privativamente ao Presidente da República: VII - manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes diplomáticos; VIII celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional”.7 Também o art. 49 da CF prevê ser da competência exclusiva do Congresso Nacional "I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional"; e o Poder Judiciário exerce o controle de constitucionalidade de tais atos (art. 105). Sendo assim, a Constituição Brasileira não traz instrumentos teóricos nem práticos que prevejam a atuação direta e constante dos governos subnacionais na implementação e execução da política externa brasileira. Contudo, em 2005, foi realizada a primeira tentativa de constitucionalização da paradiplomacia no Brasil, quando as discussões foram iniciadas na Câmara Federal, como resultado da efetivação da mesma ação no governo argentino. Soma-se 6 O artigo diz que “Las provincias podrán crear regiones para el desarrollo económico y social y establecer órganos con facultades para el cumplimiento de sus fines y podrán también celebrar convenios internacionales en tanto no sean incompatibles con la política exterior de la Nación y no afecten las facultades delegadas al Gobierno federal o el crédito público de la Nación; con conocimiento del Congreso Nacional. La ciudad de Buenos Aires tendrá el régimen que se establezca a tal efecto”; (Argentina, 1995; ênfase do autor). 7 Todas as referências à CF de 1988 citadas neste artigo estão disponíveis em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm 9 a essa questão o aumento do interesse e das ações internacionais realizadas por governos subnacionais brasileiros, além da necessidade de tornar tais ações legais. A Proposta de Emenda Constitucional (PEC), conhecida como “PEC da Paradiplomacia”8, propôs a adição do § 2º ao art. 23 da CF, com o seguinte teor: "Os Estados, Distrito Federal e municípios, no âmbito de suas competências, poderão promover atos e celebrar acordos ou convênios com entes subnacionais estrangeiros, mediante prévia autorização da União, observado o art. 49, I, e na forma da lei". A PEC não prosperou, já que o deputado Ney Lopes, então relator da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania deu um parecer contrário, considerando-a inconstitucional. Tal fato culminou no arquivamento no início da legislatura seguinte do Congresso, em janeiro de 2007 (RODRIGUES, 2008, s.p.). Mesmo sendo uma grande iniciativa para a paradiplomacia brasileira, certamente essa proposta mostrou-se restritiva quanto à sua aplicação, já que para agirem internacionalmente os governos subnacionais sofrem a exigência de autorização prévia da União. Trata-se de um limitador que fere o princípio da autonomia federativa, considerando que o texto se insere nas competências comuns, com sério risco de inviabilizar o exercício das ações internacionais de Estados e municípios brasileiros. Mesmo com essa inviabilidade legal de atuação internacional, os estados e municípios começam a se institucionalizar no campo das relações internacionais a partir da criação de secretarias, assessorias e departamentos que visem o desenvolvimento de uma política estadual ou municipal com efeitos externos. Não se trata de uma competência concorrente nem complementar da União, mas de atribuir condições legais de cooperação local aos municípios, intendências, províncias e estados, para no exercício de uma autonomia limitada contribuírem harmonicamente e em conjunto com as questões regionais de alcance internacional. (SILVA, 2006, p.12) Dessa maneira, a soberania nacional estabelecida desde Westfália é mantida dentro do cenário internacional. Contudo, os entes federados, sejam estados, intendências ou municípios, mantêm autonomia político-administrativa, organizacional e tributário-financeira, 8 “A PEC da Paradiplomacia” foi proposta em 2005 pelo então deputado federal André Costa (Partido Democrático Trabalhista – PDT-RJ). 10 inclusive para celebrar, como supracitado, acordos e convênios com outras esferas políticas no âmbito internacional. É importante reconhecer que, ao mesmo tempo em que a paradiplomacia pressiona para uma descentralização do poder politico internacional, ela contribui para a democracia, na medida em que aproxima o cidadão do centro das decisões externas. Entretanto, o que se observa é que tal ação somente é efetivada, em geral, nas megacidades9. Vale ressaltar que, mesmo que muitas já tenham despertado o interesse na paradiplomacia, algumas ainda decidem priorizar as políticas internas, pois englobam as necessidades imediatas da população. No Brasil, observa-se que a paradiplomacia das cidades está se desenvolvendo a cada dia, haja vista o movimento organizado desses atores na condução de redes de articulação, sejam nacionais, como a Confederação Nacional de Municípios, cuja principal função é lutar pelo fortalecimento da autonomia municipal ou regionais, como a Rede Mercocidades10, cujas cidades são oriundas dos países-membros do Mercosul. Dessa maneira, as cidades assumem um papel de protagonistas nas relações internacionais do século XXI. Tal assertiva não implica que os municípios serão os condutores das políticas externas de um país, todavia, que eles podem atuar pro-ativamente pela sua população a fim de obter maiores retornos que visem crescimento econômico e desenvolvimento social. Dois aspectos são notórios nos últimos anos, no que concerne à atividade paradiplomática no Brasil. O primeiro retrata a forma de gestão pública que, pouco a pouco, vem contando com os governos subnacionais como mecanismo estratégico de inserção internacional. Dadas as dimensões continentais do Brasil, fica difícil ao poder central efetivar a criação de políticas públicas nacionais para garantir a inserção de suas economias e produtos no sistema financeiro e comércio internacional. Tendo cada região do Brasil uma 9 “Megacidades são áreas urbanas com mais de cinco milhões de habitantes. Os cientistas estimam que, por volta de 2015, o mundo terá cerca de 60 megacidades, albergando no seu conjunto mais de 600 milhões de pessoas. Atualmente, é nestas áreas que está a ser levado a cabo a maior parte do processo de urbanização global.” (Definição extraída do relatório da ONG Planet Earth. Disponível em: www.yearofplanetearth.org. Acesso em 28 Nov 2011). 10 A Rede Mercocidades é uma rede de cooperação horizontal integrada atualmente por 228 cidades de Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai, Venezuela, Chile, Bolívia e Peru, que proporciona a inserção das mesmas no processo de integração regional do Mercosul. 11 particularidade econômica, política e cultural, os governos subnacionais desempenham cada vez mais relevância quanto à sua atuação externa visando à inserção internacional de suas empresas. Outro aspecto diz respeito à discrepância na atuação internacional dos municípios em relação às iniciativas das unidades de federação. As iniciativas municipais em vigor estão muito mais proativas em detrimento dos estados. A criação de Secretarias Municipais de Relações Internacionais em metrópoles brasileiras, como São Paulo, Recife e Porto Alegre, mostram a predisposição que as grandes cidades, ou megacidades, estão bem à frente de seus próprios estados quanto à adoção de políticas públicas voltadas à internacionalização. Além disso, em algumas dessas cidades prevalece a vontade municipal de fazer política externa dado o momento em que participam de redes regionais, como a Rede Mercocidades, por exemplo. De acordo com Mariana Barros e Silva (2006, p. 93), “a maioria das cidades brasileiras desenvolve, principalmente no que tange à captação de recursos no exterior para suprir as carências nacionais, um tipo de relação internacional, mas nem sempre de forma integrada com demais governos subnacionais e o nacional”. Rodrigues e Kleiman (2007, s.p.), por sua vez, afirmam que: (...) os processos de integração têm sido poderosos espaços de ação subnacional, seja em sua dimensão primária fronteiriça, seja em sua vocação progressiva de envolver os diversos atores subnacionais no processo. Nesse sentido, a instalação do Foro Consultivo de Municípios, Estados, Províncias e Departamentos do Mercosul, na Cúpula do Mercosul, em 2007, é um avanço sem precedentes no reconhecimento da legitimidade dos governos subnacionais brasileiros em formular e opinar sobre a política externa relativa ao processo de integração. As organizações internacionais de cooperação, como a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a Organização das Nações Unidas (ONU), também passaram a inserir em suas estruturas e agendas a participação subnacional de maneira direta. São exemplos disso a Agenda 21, documento global que trata do desenvolvimento sustentável, e a Agenda Habitat, programa cuja missão busca promover ambiental e socialmente o desenvolvimento sustentável dos núcleos urbano. Esses são exemplos de intervenções globais que valorizam e reconhecem a legitimidade do poder local nas relações internacionais, no que diz respeito à discussão e decisão sobre os temas globais. Somados a essas organizações, os processos de integração regional também têm ocasionado grandes avanços na legitimação da atuação das unidades subnacionais no sistema internacional. 12 3. O novo modelo de Estado: o Estado Logístico Com o vasto rol de desafios que se apresentam às unidades subnacionais nos últimos anos, mais especificamente Pernambuco, é preciso considerar a alteração nos paradigmas de atuação estatal, como forma de se atingir um modelo que se conforme às necessidades do estado em seu atual processo de internacionalização. Mutatis mutandis, a análise do professor Amado Luiz Cervo (2002) sobre os diferentes tipos de Estado pode ser aproveitada para compreendermos o papel que Pernambuco deve assumir em seu processo de internacionalização. Cervo propôs a existência de três tipos de Estado em sua análise sobre a inserção do Brasil, a partir da década de 1930: desenvolvimentista, normal e logístico. O primeiro, que foi o paradigma dominante entre 1930 e 1990, relaciona-se com uma atuação máxima do Estado na internacionalização da economia, por meio do processo de substituição de importações e do expressivo aporte do capital estatal nas atividades dos setores de maior risco, passando progressivamente para um processo de dependência em relação ao capital privado estrangeiro. O segundo, fruto do Consenso de Washington e da abertura internacional do país, em 1990, orienta-se de forma oposta ao modelo anterior, com um Estado mínimo que sirva basicamente como garantidor das relações jurídicas, o que proporcionou a massiva entrada de transnacionais no país e uma fragilização do capital privado nacional. A experiência de mais de uma década revela que esse paradigma envolve três parâmetros de conduta: como Estado subserviente, submete-se às coerções do centro hegemônico do capitalismo; como Estado destrutivo, dissolve e aliena o núcleo central robusto da economia nacional e transfere renda ao exterior; como Estado regressivo, reserva para a nação as funções da infância social (CERVO, 2002, s.p.). O terceiro é o Estado Logístico, que passou a ser implementado no final do governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 – 2002) e ganhou contornos mais definidos durante a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (2003 – 2010), surgindo como uma posição conciliadora em relação às duas anteriores. Logístico é o ente que proporciona a infraestrutura adequada como forma de estimular os investimentos privados, reduzindo o excessivo ônus que o paradigma desenvolvimentista concedia ao Estado, ao mesmo tempo em que não deixa o desenvolvimento e a inserção 13 internacional às forças do mercado, como no Estado normal. Nesse sentido, além de contribuir para o desenvolvimento do setor privado nacional, o Estado Logístico tem atribuições sociais de garantir a melhor distribuição de rendas em seu interior, impulsionando a germinação dos benefícios para toda a sociedade. “A indefinição oriunda da coexistência paradigmática da política exterior brasileira desde 1990 levou à agonia do Estado desenvolvimentista, à emergência do Estado normal e ao ensaio de Estado logístico” (CERVO, 2002, s.p.). 4. O novo ciclo de desenvolvimento em Pernambuco O Estado de Pernambuco abriga hoje um dos grandes centros de desenvolvimento do Brasil. Com uma população de 8,7 milhões de habitantes, distribuídos em 185 municípios, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), Pernambuco cresce em ritmo acelerado a cada ano. Dados da Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco (CONDEPE/FIDEM), mostram que o Estado cresceu proporcionalmente numa escala maior que o Brasil no segundo trimestre de 2011, já que teve um crescimento de 5% no período, enquanto o país cresceu em torno de 3%. Conhecido historicamente por ser detentor de uma economia meramente agropecuária, principalmente com a produção de cana-de-açúcar, voltadas para a produção interna e exportação, o setor industrial pernambucano permaneceu, durante décadas, praticamente estagnado. Ademais, foram também preponderantes para essa estagnação a falta de infraestrutura necessária para o crescimento industrial e a ausência de incentivos fiscais do governo para a atração de investimentos. Entretanto, no final do século XX, os governos começaram a tomar iniciativas quanto à industrialização, a fim de garantir o desenvolvimento do Estado, seja através dos impostos recolhidos, seja proporcionando uma maior geração de emprego e renda que beneficiaria a população de um modo geral. A partir daí, grandes investimentos de infraestrutura começaram a ser feitos com esse intuito. Um exemplo disso é a criação do Complexo Industrial Portuário de Suape, em 1978, através da construção de um “super-porto” destinado à exportação e de um complexo industrial em seu entorno. Suape hoje está conectado a 160 portos em todos os continentes e localizado a apenas 35 km do Recife. Por sua excelente localização geográfica, está apto a ser o principal porto concentrador do Oceano Atlântico, 14 enquanto atualmente já movimenta mais de 5 milhões de toneladas de carga. As empresas instaladas no Complexo Industrial Portuário de Suape encontram uma completa infraestrutura de transportes com rodovias e ferrovias internas, rede de abastecimento de água, energia elétrica, telecomunicações e gás natural em todo o complexo. Além de Suape, o Porto do Recife também movimenta cargas e passageiros durante todo o ano.11 Somada à estrutura portuária do Estado, Pernambuco também conta com dois aeroportos internacionais, Aeroporto Internacional dos Guararapes Gilberto Freyre (Recife) e o Aeroporto Internacional Senador Nilo Coelho (Petrolina), os quais são dotados de estrutura para voos cargueiros e comerciais. A superfície de Pernambuco é cortada pelas principais rodovias do sistema federal, como a BR 232, BR 101 e a BR 116, somando ao todo 17 estradas. Essas rodovias garantem que haja no Estado uma excelente articulação com os demais estados do Nordeste. As principais cidades ligam-se à capital Recife e ao restante do país através de 41.657 km de rodovias. O sistema ferroviário do Estado é operado pela Transnordestina Logística, contando com mais de 1.000 km de extensão. Estão sendo realizadas as obras da Ferrovia Transnordestina, que ligará os portos de Pecém (Ceará) e Suape ao município de Eliseu Martins (Piauí). Quanto ao transporte fluvial, Pernambuco possui também um pequeno trecho navegável do rio São Francisco e planeja, no médio prazo, um aproveitamento intermodal dos seus sistemas rodoviário, ferroviário e hidroviário, a partir do terminal de Petrolina/Juazeiro.12 É interessante observar que esse conjunto de ações governamentais realizadas a fim de gerar a infraestrutura necessária à industrialização foi o primeiro passo dado pelo Governo de Pernambuco na busca de atrair empreendimentos ao Estado. Tais esforços foram essenciais para que a retomada de um novo ciclo de desenvolvimento na região fosse bem sucedida. Além desses investimentos em infraestrutura, o governo passou também a adotar medidas que visassem à promoção de incentivos fiscais às empresas que se instalam em 11 Dados extraídos do portal Invest in Pernambuco. Disponível em: http://www.investinbrazilagency.org/sys/br/porque-pernambuco/ambiente/infraestrutura.html 12 Idem. 15 Pernambuco. Para isso, foi criado em 1999 o Programa de Desenvolvimento de Pernambuco (Prodepe), pacote de incentivos tributários disponíveis aos empresários dispostos a investir no Estado. Tal instrumento é monitorado pela Secretaria da Fazenda do Estado e gera benefícios fiscais13 para algumas categorias de empreendimentos, conforme listados abaixo: Agrupamento industrial especial (farmacoquímica, química fina, automobilística, siderúrgico, laminação de alumínio a quente, fabricação de vidros planos). Indústria prioritária (agroindústria, exceto sucroalcooleira; metalomecânica e material de transporte; eletroeletrônica; farmoquímica, higiene e beleza; minerais não-metálicos, exceto cerâmica vermelha; têxtil; plástico; móveis; bebidas). Comércio importador atacadista Agrupamentos industriais com terceirização Centrais de Distribuição O Prodepe garante a essas empresas que se fixam em Pernambuco uma série de incentivos fiscais, tais como a isenção da cobrança de14: Diferencial de alíquota nas aquisições interestaduais de matéria prima; Diferimento do ICMS na importação de ativo fixo para instalação do empreendimento; Crédito presumido de 47,5% a 95% do imposto devido para empresa instalada no Estado, de acordo com a sua localização e categoria, dentre outros benefícios. Todos esses investimentos em infraestrutura e iniciativas de beneficiamento fiscal proporcionaram ao empresariado a garantia de um ambiente bem preparado, organizado e atrativo para a implementação de seus empreendimentos, promovendo no início do século 13 Dados extraídos da internet. Disponível em: http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=agrupamento%20industrial%20especial%20ind%C3%BAstria%2 0priorit%C3%A1ria%20com%C3%A9rcio%20importador%20atacadista%E2%80%A2%20agrupamentos%20in dustriais%20com%20terceiriza%C3%A7%C3%A3o%E2%80%A2%20centrais%20de%20distribui%C3%A7% C3%A3o&source=web&cd=1&ved=0CB4QFjAA&url=http%3A%2F%2Fwww.fiec.org.br%2Fportalv2%2Fsite s%2Fconselhos%2Ffiles%2Ffiles%2FApresentacao%2520Prodepe%2520reuniao%2520Corin%25205%2520out %252011(1).ppt&ei=EeviTq2kHYHZgAfMobSWBg&usg=AFQjCNFcOrNdPcher3LLAt-8Fh9F8AgQ2Q Acesso em 28 Nov 2011 14 Idem 16 XXI uma grande mobilização de empresas para o Estado, trazendo à tona um novo ciclo de desenvolvimento a Pernambuco, dessa vez não mais apenas no setor agropecuário, mas, sobretudo, através da industrialização. É interessante notar que houve não somente um crescimento econômico no Estado, mas, sobretudo, um desenvolvimento social e melhoria na qualidade de vida de todos. Esse fenômeno se deu através da geração de emprego e renda proporcionados pela chegada maciça dos empreendimentos ao Estado, somado à promoção de políticas públicas por parte do Governo Federal que possibilitou uma maior distribuição de renda às classes menos favorecidas. Paralelo a isso, nos últimos anos - principalmente a partir de meados dos anos 2000 – foram alocados muitos investimentos em educação em todo o Estado, como a inclusão de novos cursos nas universidades federais, estaduais e particulares; a criação de escolas técnicas filiadas ao SENAI e CEFET; a descentralização dos campi das universidades, incentivando os estudantes do interior a permanecerem em suas cidades, evitando um processo migratório desordenado em relação à capital, conforme ocorrido no século passado. O conjunto desses esforços resultou na melhoria da profissionalização dos pernambucanos em geral, garantindo uma maior empregabilidade aos cidadãos. Tal fato gerou uma série de desdobramentos, culminando principalmente no aumento do mercado consumidor em Pernambuco, beneficiando ainda mais o processo produtivo, que se volta ao mercado interno, regional, doméstico e internacional. Outro aspecto a ser analisado é a participação do Estado nesse processo de fundamentação da inserção internacional do Estado. O que se percebe é que, dentre os paradigmas propostos por Amado Luiz Cervo (2002), Pernambuco ainda possui características de um Estado Desenvolvimentista, mas também como já concentra aspectos práticos, mesmo que restritos, de um Estado Logístico, faltando apenas ao governo tomar algumas medidas necessárias à inserção internacional inteligente e proativa do Estado de Pernambuco, especialmente no que diz respeito ao controle, monitoramento e incentivo à internacionalização de empresas pernambucanas, através de políticas públicas eficientes. 17 5. O comércio exterior em Pernambuco Pernambuco concentra hoje um pool de segmentos produtivos em todo seu território. Uma característica importante da industrialização recente no Estado é a descentralização das atividades produtivas, evitando uma concentração de empresas numa só localidade que, usualmente, se trataria da Região Metropolitana do Recife (RMR). A construção de Suape e a organização da infraestrutura e logística estaduais proporcionaram uma expansão da produção industrial para centros ou polos de desenvolvimento, espalhados por todo seu espaço geográfico. Na Região Metropolitana do Recife, concentram-se alguns polos, como o de serviços, tecnologia, médico e de turismo. Na Zona da Mata Norte, estão sendo implementados os polos farmacoquímico e o automobilístico, a partir da instalação da fábrica da Fiat. Na Zona da Mata Sul, onde se localiza o Complexo Industrial Portuário de Suape, uma série de empresas já vem se deslocando e se estabelecendo na região. Os principais segmentos lá instalados são: o petroquímico, com a instalação da Refinaria Abreu e Lima; naval, com o Estaleiro Atlântico Sul; alimentício, com empresas como Bunge e Coca-cola; siderúrgico, com a Gerdau, dentre outros. No Agreste destacam-se os polos têxtil e gesseiro. Este último é responsável por 95% da produção de gesso do país.15 Na região do Rio São Francisco também há o polo vinícola e de fruticultura, com a produção de vinhos, sucos e néctares de sucos para distribuição no mercado doméstico e internacional. Outro setor que vem ganhando muita força e, inclusive, é responsável por grande parte do aumento do PIB pernambucano, é o setor da construção civil. Este tem empregado muitos trabalhadores e rendido uma lucratividade considerável para as empreiteiras. Além da pulverização da atividade produtiva do Estado em seu território, outro fator a ser analisado é a diversificação de sua pauta produtiva, já que, durante o final do século XX e início do XXI Pernambuco passou de uma economia monoprodutora e monoexportadora de cana-de-açúcar para uma economia plural, diversificada e universalizada. Isso implica diretamente na garantia de uma economia mais sólida e resistente a intervenções exógenas, já que as consequências negativas de uma crise externa ou a perda de clientes por 15 Dados extraídos do site PE Desenvolvimento. Disponível em: http://pedesenvolvimento.com/2011/07/29/expogesso-movimenta-economia-do-sertao-de-pernambuco/ Acesso em 27 Nov 2011 18 competitividade vão alterar a cadeia produtiva individual do produtor, sem trazer grandes impactos à economia do Estado. De acordo com informações da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC)16, Pernambuco fechou o ano de 2010 uma balança comercial negativa, com um déficit de 2,16 bilhões de dólares. Esse déficit se dá pelo aumento da importação de bens de capital e intermediários, para a construção e manutenção das indústrias, como chumbo, aço, metais, dentre outros; de bens de consumo duráveis, como automóveis; além de gases, combustíveis e produtos agrícolas, como trigo, arroz e bacalhau. Segundo dados do último relatório do Conselho Temático de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (FIEPE) 17, no período de janeiro a agosto de 2011, Pernambuco mais uma vez teve sua balança comercial negativada em mais de 2,5 bilhões de dólares, enquanto a balança nacional encontra-se superavitária, no mesmo período, em aproximadamente 20 bilhões de dólares. Também se observa que Pernambuco situou-se em 4º lugar nas exportações regionais com um acumulado de US$ 563 milhões em exportações, sendo superado pela Bahia (US$ 7 bilhões), Ceará (US$ 916 milhões) e Alagoas (US$ 821 milhões, sendo o açúcar e álcool responsáveis por 98% da pauta exportadora). Com essas informações, percebe-se que esses produtos importados possuem um grande valor agregado, fazendo-os terem um peso maior na balança comercial pernambucana. No mesmo relatório, consta a informação de que 90,4% dos produtos da pauta importadora de Pernambuco são manufaturados, enquanto apenas 7% são básicos e 2,5% semimanufaturados. Por outro lado, Pernambuco continua exportando em massa produtos agrícolas, alimentícios e de extração vegetal, como cana de açúcar, açúcar, uvas e mangas frescas, sucos, lagostas, borracha, chapas plásticas, dentre outros. Isso implica em um baixo valor agregado na pauta de exportações do Estado, reduzindo a concentração de produtos manufaturados desta pauta para 54,5%. Por essa razão, a balança comercial torna-se deficitária nos últimos dez anos, tendo este déficit um alarmante crescimento desde 2008. Como o Estado encontra-se em processo 16 Site do MDIC Disponível em: http://www.mdic.gov.br//sitio/interna/interna.php?area=5&menu=1078&refr=1076 Acesso em 22 Nov. 2011. 17 Dados extraídos do relatório do CONCEX – FIEPE. Retirado do site da FIEPE em 27 de novembro de 2011. Disponível em: http://www.fiepe.org.br/file/c97d82caeb0c44b10ebe5a2bd4927155 19 de industrialização recente, o mais provável é que só haja superávit na medida em que as empresas agora instaladas estiverem operando em sua capacidade plena, com alto poder produtivo voltado à exportação. Basicamente, os investimentos aportados inferem na compra e aquisição destes bens intermediários com o intuito de gerarem a infraestrutura necessária para a instalação adequada dos empreendimentos em Pernambuco. Sem dúvidas, este é o maior desafio que o Estado de Pernambuco enfrenta atualmente: canalizar os investimentos recebidos em um futuro progresso e desenvolvimento, a fim de gerar resultados rentáveis e sustentáveis nos próximos anos. Pode-se dizer que esse processo dar-se-á gradativamente pela “mão invisível”18 que rege as forças econômicas existentes no contexto industrial pernambucano. Contudo, cabe ao Estado intervir na medida certa, dentro do conceito de Estado Logístico, para garantir que a inserção internacional do Estado ocorra de uma forma mais intencional, direcionada e organizada. 6. A internacionalização das empresas pernambucanas Anteriormente centradas na produção para distribuição unicamente no mercado doméstico, nos últimos anos as empresas brasileiras passaram a entender que podem melhorar sua rentabilidade e lucratividade através da inserção de seus produtos e serviços no comércio internacional. De acordo com o Termo de Referência do Ministério de Relações Exteriores (MRE), várias são as razões pelas quais as empresas pretendem se internacionalizar, sendo estas as principais: 1) Aumento da escala do mercado: se a empresa tem como mercado consumidor apenas o mercado nacional, ela pode atingir no máximo 190 milhões de pessoas19. Internacionalizada, ela ganha um incremento em seu mercado consumidor potencial, dependendo de quais países se tornam 18 Termo introduzido por Adam Smith em sua obra "A Riqueza das nações" para descrever como numa economia de mercado, apesar da inexistência de uma entidade coordenadora do interesse comunal, a interação dos indivíduos parece resultar numa determinada ordem, como se houvesse uma "mão invisível" que os orientasse. 19 Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), a população brasileira no último censo (2010) tem aproximadamente 190 milhões de habitantes. Dados disponíveis em: http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1766 20 potenciais compradores. Com a atividade produtiva em maior volume, podese levar à redução dos preços de produção. 2) Aumento da possibilidade de financiamento dos recursos: atualmente as empresas têm basicamente como entidades financiadoras os bancos de desenvolvimento e fomento locais (como BNDES e bancos estaduais), os bancos nacionais estatais (como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal) e instituições nacionais privadas. Com o processo de internacionalização do Estado e de suas empresas, elas poderão captar recursos em escala internacional, tanto de instituições internacionais de fomento e desenvolvimento, como BIRD (Grupo Banco Mundial) e BID, quanto no mercado financeiro internacional. Nesse ponto, é importante ressaltar que há um expressivo fluxo de capitais no mundo, principalmente em decorrência de economias emergentes que já se tornaram ou estão se tornando exportadores de capital, como a China. Uma vez que mercados tradicionais, como os EUA e a Europa, estão passando por crise econômica, com a diminuição da atratividade de seus investimentos por conta do rebaixamento da nota de seus títulos da dívida pública, países como o Brasil tornam-se mais atrativos para receber esse capital excedente. O Estado de Pernambuco precisa se diferenciar em relação às outras unidades da federação e também a outros destinos internacionais desse capital para poder receber esse investimento. 3) Redução do risco por meio da diversificação – as empresas que se internacionalizam terminam por diversificar sua cartela de fornecedores e clientes, o que é bom para a sustentabilidade da própria empresa. Com essa diversificação de mercados fornecedores e consumidores, há uma redução do risco do negócio, já que havendo qualquer impasse na manutenção da operação comercial pela outra parte envolvida, seja por ordem comercial, econômica, política e até cultural, o prejuízo para a empresa torna-se bem menor. Não são apenas as empresas que se beneficiam com a internacionalização de seus produtos e serviços. Os entes subnacionais também desfrutam de resultados positivos 21 oriundos no processo de inserção internacional. Com a possibilidade de se internacionalizar e competir no mercado internacional, o produto nacional precisa tornar-se cada vez mais competitivo e isso demanda um processo de modernização da cadeia produtiva com investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Com isso, há uma expansão dos efeitos positivos da internacionalização para os setores de ciência e tecnologia do estado, uma vez que é criada a demanda por empregos especializados. No cenário nacional, desde o fim do século XX, a Marca Brasil vem se consolidando cada vez mais, trazendo notoriedade, credibilidade e maior valor agregado aos produtos brasileiros. Isso culmina na melhoria da qualidade não apenas dos profissionais envolvidos na produção, mas especialmente na modernização da cadeia produtiva, pois precisará se adequar às exigências do mercado externo. Ademais, o aumento da arrecadação advindo do incremento do faturamento das empresas e do maior movimento econômico gerado por elas também é um aspecto positivo, além do efeito “demonstração” para outras empresas com condições de se internacionalizar, mas hesitantes em aventurar-se neste processo. Dado o recente processo de industrialização do Estado de Pernambuco e etapa inicial de sua inserção internacional, podemos dizer que muitas empresas, sobretudo as micro e pequenas empresas, ainda não dotam de conhecimento necessário para voltarem suas produções ao mercado externo. Muitas sequer não sabem como iniciar o processo e outras não conseguem garantir recursos para tamanha iniciativa. Certamente, a implementação de um departamento de comércio exterior nos empreendimentos que pretendem se internacionalizar se faz essencial, com vistas a incluírem seus produtos no comércio internacional, além de prospectarem novos clientes e fornecedores em todo o planeta. No entanto, é função dos entes subnacionais, que estão mais próximos do empresariado local e são dotados de recursos financeiros e técnicos, facilitar os trâmites para o fomento de novos investimentos, adequação das empresas e seus produtos ao mercado externo, além de promover tais produtos e serviços no comércio internacional. 22 7. O papel do poder público na internacionalização O Estado Logístico permite que pequenas e médias empresas e indústrias que não possuem o know-how e a estrutura institucional suficiente para atingir o mercado internacional, tanto em questão de exportações quanto de captação de investimentos, possam se internacionalizar, utilizando-se do apoio e da consultoria do ente estatal, por meio de secretarias de Relações Internacionais ou de agências de promoção. Nesse sentido, cabe ao ente estatal trabalhar a imagem dos produtos nacionais, ampliando seu valor agregado; fornecer estudos e consultoria para passar informações sobre o mercado e instituições de financiamento; promover e participar de feiras e eventos internacionais para legitimar esses produtos via associação dos mesmos com a Marca Brasil; e garantir a escala para exportação, uma vez que trabalhos feitos no âmbito setorial podem fazer que várias pequenas indústrias ou empresas passem a atender, conjuntamente, por intermédio do apoio do Estado, determinada fatia da demanda internacional por algum produto. Quando analisamos os esforços realizados em Pernambuco voltados à internacionalização de empresas e, consequentemente, do mercado pernambucano, percebemos que são tomadas iniciativas autônomas e individuais por parte de entidades de classe, órgãos públicos estaduais e nacionais. Esses órgãos, que representam o governo ou um grupo de empresários locais com interesses comuns, normalmente atuam na perspectiva de apoiar essas empresas no processo de inserção internacional destas, dentro das áreas em que costumam atuar. Assim sendo, foi criada em 2007 a Rede de Parceiros Exporta Pernambuco, que é um grupo formado por instituições parceiras integradas pelo objetivo de planejar e desenvolver ações para a internacionalização das empresas pernambucanas. Desde sua fundação, foram realizados encontros periódicos no Recife, Caruaru e Petrolina. Fazem parte dessa articulação a AD Diper, Secretaria de Desenvolvimento Econômico, SEBRAE, FIEPE, Banco do Brasil, Visão Mundial (Ética), AMCHAM Recife, Associação Comercial de Pernambuco, Correios, Delegação Comercial Holandesa, Caixa Econômica Federal, SUDENE, dentre outros. Cada uma dessas instituições executa um tipo de ação voltada à internacionalização de empresas de um determinado setor. Na tabela abaixo, encontram-se as ações das instituições mais atuantes na Rede Exporta Pernambuco. 23 ACP – Agência Fundada em 1839, foi uma das grandes incentivadoras do Comércio Comercial de Exterior no século XX. Foi muito importante para o desenvolvimento de Pernambuco Pernambuco mas hoje sua atuação na internacionalização de empresas não é relevante. AD Diper – Órgão estadual, vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Agência de Apoia as relações das empresas pernambucanas no comércio exterior, Desenvolvimento através de sua Unidade de Negócios Internacionais. Busca incrementar Econômico de as exportações, agregar valor aos produtos pernambucanos e inserir Pernambuco novas empresas no mercado externo, de forma estruturada. A partir do contato das empresas com a Unidade, esta planeja e executa ações, principalmente às micro, pequenas e médias empresas, artesãos, artistas e agricultores familiares, dando as informações sobre todas as etapas do processo exportador de maneira gratuita. Além disso, também é realizado um trabalho na identificação de mercados com os potenciais compradores para os produtos pernambucanos, na definição de estratégias de acesso (inteligência comercial) e na organização ou apoio às missões comerciais, rodadas de negócios e participação nas feiras internacionais (promoção comercial). Para tanto, a Unidade de Negócios Internacionais da AD Diper relaciona-se diretamente com instituições ligadas à promoção do comércio exterior e das relações internacionais, nos âmbitos estadual e federal, como a Rede de Centros de Informações de Comércio Exterior (Rede CICEX), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; o Sistema de Promoção de Investimentos e Transferência de Tecnologia para Empresas (SIPRI), e do Ministério das Relações Exteriores (MRE). AMCHAM Câmara Americana Comércio Recife – Trabalha pelo aprofundamento das relações bilaterais Brasil-Estados Unidos. Possui uma área de Comércio Exterior, cuja grande prioridade é de ajudar a incrementar o fluxo de negócios entre empresas associadas e – parceiros nos Estados Unidos e em outros grandes mercados globais. Com esse objetivo, a entidade oferece a seus sócios um amplo conjunto de produtos e serviços – que vão de capacitação, pesquisas e estudos, 24 comitês e seminários a missões comerciais e rodadas de negócios –, sempre buscando auxiliar companhias, de modo especial as de pequeno e médio portes, em sua inserção no mercado externo e em processos de internacionalização. Banco do Brasil Possui uma consultoria em Negócios Internacionais, que promove solução de conhecimento especializado em câmbio e comércio exterior para auxiliar as empresas brasileiras a atuarem com segurança na inserção, aproveitamento das oportunidades e ampliação dos negócios com o mercado externo. Oferece aos seus clientes uma cesta de serviços voltados ao Comércio Exterior, disponibilizando vários formulários para os trâmites necessários à importação e exportação, tais como Carta de Crédito, Certificado de Origem, dentre outros. Recentemente, o Banco do Brasil e o BNDES firmaram contrato inédito de financiamento a exportações brasileiras de máquinas e equipamentos a países da América Latina, com base em nova modalidade de apoio, o BNDES Exim Automático. Por meio desse acordo, que estabeleceu uma Linha de Crédito no valor equivalente a até US$ 200 milhões, o Banco do Brasil, atuando por meio de suas agências externas, poderá financiar importadores de maquinários fabricados no Brasil, inicialmente nos mercados da Argentina, Chile e Paraguai. Também promove cursos especializados que possibilitam adquirir conhecimentos práticos sobre câmbio e Comércio exterior Exporta Fácil -= Trata-se de um conjunto de serviços dos Correios que oferece facilidades Correios para empresas e pessoas físicas (artesãos, agricultores, etc.) que desejam exportar seus produtos de maneira mais simples. Neste serviço, os Correios cuidam do registro da operação no Sistema de Comércio Exterior - SISCOMEX da Receita Federal, além de assumir todos os trâmites da exportação perante a Alfândega, sem precisar que o exportador se relacione com despachantes ou empresas transportadoras. Fecomércio - PE Atua basicamente na realização de missões empresariais comerciais ao exterior, tendo organizado missões, entre 1996 e 2010, para: Itália, França, Espanha, Portugal, Rússia, Holanda, Alemanha, Polônia, China, 25 Índia/Dubai, Angola e África do Sul. – A FIEPE oferece aos empresários do setor industrial, através do Centro FIEPE Federação da Internacional de Negócios (CIN), alguns serviços essenciais à Indústrias do internacionalização dessas indústrias: emissão do Certificado de Origem; Estado de Capacitação Empresarial (cursos, seminários e workshops); Cooperação Pernambuco Internacional (intercâmbio técnico e tecnológico entre entidades de Pernambuco e de vários países, através de programas e projetos); Promoção Comercial (missões empresariais, rodadas de negócio e participação em feiras); Inteligência Comercial (subsídios de informação, como estatísticas, estudos e pesquisas, para apoiar o exportador); Unidade de atendimento da Apex-Brasil (apoiando, inclusive, no fortalecimento da Marca-Brasil); Programas, acordos e serviços; divulgação do relatório da Balança comercial de Pernambuco, pelo Conselho Temático de Comércio Exterior (Comex); e a organização do Calendário de Eventos Internacionais. SEBRAE – O Sebrae oferece aos pequenos e médios empresários consultoria e Serviço cursos especializados por meio do Programa Internacionalização, Brasileiro de possibilitando a inserção internacional de micro e pequenas empresas. Apoio às Nestes cursos, o pequeno exportador aprende todas as etapas de Empresas exportação, incluindo o conhecimento para preencher os documentos utilizados no processo, além de ter noções de Marketing Internacional. Tabela 1 - Iniciativas para internacionalização realizadas pelas instituições da Rede Exporta Pernambuco Fonte: Sítios das próprias associações listadas (Internet) A ideia inicial da Rede Exporta Pernambuco é que o objetivo comum da internacionalização fosse alcançado a partir da adoção de medidas multilaterais integradas. Contudo, o que ocorre é que cada uma dessas instituições supracitadas apoiam o empreendedor na internacionalização de sua empresa de forma unilateral e sem monitoramento, controle e incentivo do poder público. Mesmo com todos esses esforços de formulação de uma rede de articulação, cada uma dessas instituições age de maneira isolada e autônoma em suas áreas de atuação, como mostrado na tabela. De acordo com as estatísticas do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, das 96,6 mil empresas em atuação no Estado, somente 285 empresas 26 constam como exportadoras. Esse número é alarmante, visto que o Estado de Pernambuco tem um grande potencial para, de fato, produzir com maior enfoque na exportação de seus produtos. A partir dos conceitos de Relações Internacionais Descentralizadas e de Estado Logístico, entende-se que é papel fundamental dos governos dos entes subnacionais promover a internacionalização de suas empresas de maneira proativa, inteligente e intencional. Está no cerne da ideia de Estado Logístico o apoio à iniciativa privada, sendo o Estado seu catalisador, mas não o único promotor. Ele dá a legitimidade para o processo, fornecendo a infraestrutura adequada. Como já existem iniciativas individuais sendo tomadas com vistas à inserção internacional das empresas pernambucanas, cabe ao governo do Estado fomentar tais empreitadas que já estão em vigor, sistematizando o conhecimento adquirido e garantindo todo o suporte necessário ao exportador iniciante. Isso não implica que as iniciativas das instituições vinculadas à Rede Exporta Pernambuco devem ser desprezadas ou descartadas. Pelo contrário, com a atuação do Estado de Pernambuco de maneira proativa nesta questão, por meio de atividades que envolvam a paradiplomacia, como a criação de uma Secretaria Estadual de Relações Internacionais, essas iniciativas poderão ser melhor desenvolvidas, integradas e, principalmente, poderão promover o acesso àquelas instituições que não têm estrutura nem know-how para se internacionalizar. Concomitante a esse processo, o Governo Federal já entende que a participação dos Estados nas relações internacionais descentralizadas é primordial e lançou, em abril de 2011, o Plano Nacional da Cultura Exportadora20. Seu principal objetivo é desenvolver e difundir a cultura exportadora nos estados, capacitando gestores públicos, empresários e profissionais de comércio exterior para que haja o envolvimento e participação dos entes federativos no incremento da base exportadora no país. Inicialmente será feita uma articulação com os estados para aperfeiçoar a divulgação dos dados estatísticos de comércio exterior e para realização dos Encontros Nacionais de Comércio Exterior (Encomex). Além disso, visa-se ampliar a participação das unidades 20 Apresentação nacional do documento disponível em: http://www.mdic.gov.br/arquivos/dwnl_1302283240.pdf Acesso em 20 Nov 2011 27 subnacionais no projeto Primeira Exportação, que capacita empresas a realizar a primeira operação de exportação. Também faz parte do plano aumentar as ações de treinamento da Rede Nacional de Agentes de Comércio Exterior (Redeagentes), com cursos básicos de exportação, treinamentos para Empresas de Pequeno Porte e cursos de capacitação de formadores. Partindo do pressuposto da integração, o plano objetiva promover a cooperação institucional, a partir da manutenção das parcerias com entidades federais relacionadas ao comércio exterior, como Suframa, Apex, Sebrae, Correios, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, além de outras. Em 2011, o Governo Federal, através do MDIC, solicitou aos entes federados que desenvolvam em seus estados um Plano Estadual de Cultura Exportadora, no qual conste a estratégia escolhida para promover o aumento dos índices de exportação nos estados. Em Pernambuco, esse processo de construção do Plano já foi iniciado e será concluído no início de 2012, já que ele deverá ser implementado entre 2012 e 2016, segundo falado. Por outro lado, não basta apenas haver um documento estratégico que molde as ações fomentadoras da cultura exportadora no Estado se sua execução não for bem planejada. Fazse necessário que haja uma centralização na tomada de decisões importantes, tais como a celebração de acordos e parcerias com outros países, na figura do poder estadual, sendo este o principal ator e detentor da legitimidade no espaço geográfico de Pernambuco. A partir da criação da Secretaria Estadual de Relações Internacionais, o Governo de Pernambuco articularia em frentes internacionais públicas e privadas, com vistas a: a) Construir estudos de Inteligência Estratégica, fazendo estudos comparativos in loco para analisar quais políticas públicas aplicadas em países do exterior podem ser também implementadas em Pernambuco, sejam nas áreas de Educação, Saúde, Ciência e Tecnologia, Meio Ambiente e Energia, Cultura, etc; b) Articular financiamento internacional com Organizações Internacionais para o desenvolvimento de obras de infraestrutura, desenvolvimento social e promoção cultural; c) Prospectar Investimentos Externos Diretos (IED) para o Estado de Pernambuco, 28 d) Defender os interesses dos produtores e empresários pernambucanos, além de promover intercâmbio acadêmico e educacional para geração de P&D; e) Garantir um incremento na Promoção Comercial, atrelando os produtos de Pernambuco à Marca Brasil; f) Promover a Cooperação Internacional, através de missões internacionais, participação em feiras internacionais e rodadas de negócios; g) Atender às necessidades do pequeno, médio e grande exportador, facilitando todos os processos para que haja um aumento na prática exportadora estadual. Para tal, há a necessidade de mão-de-obra especializada e qualificada na área de Relações Internacionais, com a expertise suficiente para planejar, executar, monitorar e avaliar as ações, sendo os internacionalistas, ou analistas em Relações Internacionais, os principais protagonistas desse processo. Também se faz necessária a organização de uma previsão orçamentária para alocar recursos nessa área. Para tal, é fundamental uma coordenação entre legislativo e executivo, criando-se, inclusive, uma Comissão de Relações Exteriores na Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco. É interessante perceber que a Assembleia Legislativa de Pernambuco ainda não tem dado a devida atenção para a área internacional e a uma atuação mais forte do Estado no cenário internacional, sendo este também um grande desafio. Além do envolvimento do Poder Legislativo, outro ponto é haver o envolvimento do setor consular que, cada vez mais, se instala em Pernambuco, assumindo um papel relevante nas Relações Internacionais contemporâneas. Com esse propósito, a Sociedade Consular de Pernambuco (SCP) desenha importantes fluxos de investimento, atrelando a diplomacia consular ao desenvolvimento econômico do Estado. Assim, foi celebrado recentemente um convênio de cooperação entre a SCP e a Comissão de Relações Internacionais da OAB/PE, haja vista fomentar o diálogo e a articulação destas instituições para promover o Estado no exterior, além de um semelhante convênio entre a SCP e a Assembleia Legislativa de Pernambuco (ALEPE). (...) crescem as demandas para criação de institucionalidade, em âmbito governamental pernambucano ou de assessoramento direto do governo, para 29 representar e centralizar tais interlocuções internacionais. Vários estados da federação, já criaram, por exemplo, Secretarias de Relações Internacionais, gerando maior dinamicidade aos negócios internacionais, à ação externa e à cooperação internacional. Em parceria com o Itamaraty, por meio de seu Escritório de Representação no Nordeste (ERENE) no Recife, essa Secretaria de Relações Internacionais reforçaria, ainda mais, o sentido humanista da prática de cidadania, da promoção dos direitos humanos, da atração de novos investimentos internacionais além do fortalecimento das instituições de direito entre os povos, gerando sinergia para todos os pernambucanos (CASTRO, 2011, s.p.). Nesse ínterim, duas principais iniciativas precisam ser criadas no poder público: a criação de uma Secretaria Estadual de Relações Internacionais no governo estadual e a proposição, no âmbito legislativo, da criação de uma Comissão de Relações Exteriores. Além disso, há a necessidade de uma internacionalização incipiente na iniciativa privada, já que este processo precisa ser desejado pela iniciativa privada e não algo imposto. 8. Considerações finais Dentro da existência de um cenário internacional contemporâneo, no qual os entes subnacionais estão cada vez mais inseridos nas relações internacionais, o Estado de Pernambuco precisa institucionalizar o seu processo de inserção internacional, canalizando esforços e ações para que haja um incremento no fluxo comercial, econômico e financeiro externo do governo e empresas do Estado. A partir do processo de industrialização e crescimento econômico vivido pelas empresas pernambucanas, este é o momento ideal para o governo formular políticas públicas voltadas à internacionalização, agindo de maneira mais atuante na regulamentação, legitimação e apoio à iniciativa privada neste processo. O Estado Logístico é o paradigma pelo qual Pernambuco deve orientar-se em seu processo de internacionalização. A Secretaria Estadual de Relações Internacionais, atuando conjuntamente com outras instituições que já reúnem iniciativas individuais com o mesmo propósito, promoveria a integração dessas ações, gerando maior visibilidade do potencial econômico do Estado no exterior. Isso culminaria na atração e aporte de mais investimentos para a criação de novos empreendimentos no Estado, beneficiando o governo, com o recolhimento de tributos, as empresas pernambucanas, pelo aumento de sua produção, logo lucratividade, e, sobretudo, a 30 toda a população pernambucana, através da geração de emprego e renda que continuarão sendo gerados concomitantemente a esse processo. Também é necessária a criação de uma Comissão de Relações Exteriores na Assembleia Legislativa, para levar as discussões sobre a inserção internacional de Pernambuco ao âmbito legislativo e facilitar a aprovação de leis, políticas públicas, acordos, parcerias e orçamento para uma melhor atuação da Secretaria ligada ao Poder Executivo. Ademais, para responder a essas demandas, há em Pernambuco um número relevante de profissionais formados em Relações Internacionais por Instituições de Ensino Superior e que estão plenamente aptos, com conhecimento acadêmico e de causa, a atuarem profissionalmente nesta empreitada. Também de maneira descentralizada, são formados anualmente analistas de Relações Internacionais pelas Faculdade Estácio do Recife _ FIR, que instalou o primeiro curso de Relações Internacionais do Norte/Nordeste, a Faculdade Damas (em Recife) e a ASCES – Associação Caruaruense de Ensino Superior (em Caruaru). A maioria destes profissionais já ingressou no mercado de trabalho desde sua vida acadêmica\ e, geralmente, são empregados em departamentos de Comércio Exterior de médias e grandes empresas, em ONGs, e em departamentos do governo. Estes profissionais serão ferramentas úteis no desenvolvimento de uma Secretaria Estadual de Relações Internacionais e de outras iniciativas paradiplomáticas que vierem a ser desenvolvidas. Todas essas iniciativas tão somente não foram implementadas por falta de vontade política, pois o poder público certamente entende a importância dessa questão, mas ainda não se esforça de maneira proativa. Cabe, realmente, à sociedade civil pressionar o poder público para que esses desdobramentos saiam do papel e se tornem realidade, beneficiando a vida de muitos pernambucanos, principalmente as novas gerações que herdarão os bônus da atualidade. 31 9. 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