Acessibilidade
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Acessibilidade
l a i c e Esp 100 por Flávio Scavasin Cidade para Todos O Movimento “Cidade para Todos” foi constituído há pouco mais de um ano por cidadãos com e sem deficiência – em sua maioria cegos - não vinculados a governo ou instituições, que lutam por espaços públicos e privados, que ofereçam as mesmas condições de inclusão e acessibilidade a todas as pessoas. Recentemente com um perfil no Facebook (www.facebook.com/cidadeparatodosacessibilidade), vem ganhando notoriedade por exigir dos governos que as boas leis sejam cumpridas e que os discursos oficiais sejam substituídos por ações concretas em prol da acessibilidade e inclusão das pessoas com deficiência. Breve “RAIO X” da Deficiência no Brasil Apesar dos discursos oficiais que nos fazem pensar que estamos na Dinamarca ou Suiça, os brasileiros com deficiência ainda se encontram em situação de exclusão com relação aos outros cidadãos, incluindo os com deficiência de muitos outros países. Mesmo se desconsiderarmos as deficiências leves do Censo de 2010 (aqueles com “alguma dificuldade para realizar algo”), a população com deficiência no Brasil soma algo próximo às populações somadas de países como Suécia e Porto Rico. E as políticas públicas devem considerar que a população com deficiências sensoriais (surdos e cegos) é praticamente o dobro da com deficiências físicas, mostrando que há muito a ser feito além das rampas e elevadores. Muitos brasileiros com deficiência não são sequer atingidos pelo Estado ou mercado, já que, mesmo os advindos de famílias abastadas, se surdos, não conseguem ser inclusos adequadamente em programas educacionais ou quaisquer outras atividades culturais. Se cegos, conseguem acessar apenas ínfima parcela dos mais de 60 mil títulos publicados anualmente no Brasil pelas editoras, além de terem grande dificuldade para se locomover com autonomia. Se cadeirantes, não conseguem transitar pela maioria das calçadas brasileiras. E se com alguma deficiência intelectual, ficam praticamente sem qualquer oportunidade de se valer das funcionalidades não abarcadas pela deficiência. Os problemas são muitos e envolvem todas as deficiências. Na Locomoção e transporte, por exemplo, exige-se a difusão das novas tecnologias, hoje disponíveis e em franco desenvolvimento, para que os cegos possam se servir de todos os transportes públicos com autonomia, como necessitam até mais que outras pessoas, lembrando estarem totalmente excluídos como condutores de carros, motos, bicicletas, patins ou skates. Pagando impostos como outros cidadãos, os cegos também ficam excluídos de apreciar a arquitetura de edificações e de perceber a disposição geográfica de seu próprio bairro, por não existirem maquetes e mapas táteis. Como todos sabemos, grande parte das questões relativas à acessibilidade, embora amparadas pela legislação e em especial Lei 10.098, de 2000, não vêm sendo cumprida pela maioria dos entes públicos ou privados. No tocante à acessibilidade urbana, o Movimento tem algumas propostas interessantes: Calçadas Acessíveis e sem postes No Brasil, a conservação dos passeios públicos é de responsabilidade do munícipe, que determina o material utilizado e inclinação do piso conforme a sua conveniência. Em países desenvolvidos há o enterro do cabeamento, sem haver necessidade dos postes, e toda a extensão da calçada é padronizada pela prefeitura, como o é o leito carroçável. Com isso, além da acessibilidade e melhoria estética, os custos de manutenção são bastante inferiores e com segurança muitas vezes maior - como atesta o Edson Electric Institute, um dos mais respeitáveis dos Estados Unidos - bem como a tarifa de energia é menor do que a praticada no Brasil. Proposta do Movimento: 1 - Mudança na legislação para que a responsabilidade de todos os passeios públicos seja municipal, com acessibilidade e enterro de fiação, bem como, na medida do possível, plantem-se árvores no lugar de postes retirados quando desnecessário ou quando não sustentem semáforos ou iluminação pública, desde que haja área para trânsito superior a 1,20 m destinada à acessibilidade. 2 - Eliminação de obstáculos aéreos 101 incluindo a poda regular de árvores em altura mínima de 2 metros na primeira bifurcação, visando evitar acidentes especialmente com os cegos. Quando se fala em acessibilidade, não falamos apenas na acessibilidade física ou do meio físico. Para os cegos, mais uma vez, por exemplo, o governo poderia disponibilizar equipamentos como scanners “falantes” e softwares leitores de tela, bem como outros dispositivos e softwares voltados à acessibilidade para leitura em todas as bibliotecas, escolas, telecentros, centros culturais, museus etc. Também poderiam providenciar a instalação de Semáforos Sonoros, e o modelo mais apropriado seria o de cidades como Madri (Espanha), por exemplo, onde cada vez em que o semáforo para pedestres “abre” é emitido um sinal sonoro que lembra o canto de pássaros, facilmente identificado pelos cegos para realizar a travessia de forma segura e que também torna o ambiente agradável a todos. Nesta proposta de semáforos sonoros com acionamento automático para a travessia de pedestres deve ser rejeitada qualquer proposta que exija que a pessoa cega acione algum botão, dadas as suas dificuldades de localização do próprio poste ou display que o contenha, além de ser uma equiparação de oportunidades com relação às pessoas videntes, já que a maioria dos sinalizadores de pedestres não contém botões. O Piso tátil em espaços de uso público é extremamente necessário à pessoa cega, que o tateia com sua bengala e detecta os pontos em que pode avançar (piso direcional, com faixas em relevo) e parar ou se preparar para alguma alteração (piso de alerta, com saliências como pontos ou bolas). Como há pisos táteis apropriados a cada superfície, deve ser instalado no maior número possível de calçadas, bem como em demais espaços de uso público. Deveríamos ter a obrigatoriedade do piso tátil em calçadas e em todos os locais de trânsito de pedestres visando a autonomia da pessoa cega, conforme normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT e em atendimento ao Decreto Federal 5.296/2004. Transporte público Ainda focando nas pessoas com deficiências visuais, o comunicador sonoro nos transportes públicos, especialmente no caso dos ônibus, mas extensível aos demais transportes municipais ou intermunicipais é essencial. Deveria haver a possibilidade de identificação sonora da chegada do ônibus desejado ao ponto e – muito importante - também do local da porta de entrada, bem como, quanto ao motorista do veículo, a confirmação por aproximação eletrônica de que o cego ainda se encontra no ponto. Essa última observação decorre de que, especialmen- te em um ponto com muitas pessoas, o próprio motorista pode ter dificuldade de visualizar rapidamente a pessoa cega – que ainda pode estar tentando passar por pessoas para chegar ao ônibus - ou que essa já não estaria no ponto por ter subido em ônibus anterior. Esse equipamento também é útil para cadeirantes, já que o motorista – ao saber que uma pessoa com deficiência o espera - pode posicionar o ônibus da melhor forma junto à calçada. Além disso, A Lei 10.098 do ano 2000 e o Decreto 5.296 do ano de 2004, são claros e respectivamente criaram e regulamentaram esse direito, ou seja, o direito da pessoa com deficiência visual de atravessar com segurança ruas, avenidas e cruzamentos das cidades brasileiras. Além da sinalização visual, comum em salas de espera e outros locais de uso público – destinadas às pessoas sem deficiência, os pontos de ônibus deveriam ter esses equipamentos, 102 que também servem aos surdos. Por isso são necessários painéis visíveis e senhas sonoras para o atendimento ao em todos os locais, públicos ou privados. culturais, hospitais, postos de saúde, escolas, delegacias, postos policiais, bombeiros, cemitérios, parques, zoológico e até determinadas praças. Os surdos Maquetes e Mapas Táteis As maquetes táteis permitem que todos – especialmente as pessoas cegas - possam conhecer, mesmo em ambiente fechado, os detalhes arquitetônicos externos e internos de uma determinada edificação. No caso dos cegos, é a única opção para “sentir” com as mãos esses detalhes, especialmente importantes em se tratando de centros urbanos, servindo como exemplo os novos e majestosos estádios construídos em função da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos. Qual cego conhece as asas de avião com que Lucio Costa planejou Brasília ? E as obras de Oscar Niemeyer e outros grandes arquitetos, quando serão apreciados pelos cegos ? Atualmente existem profissionais de grande desenvoltura na área de maquetes táteis e que prestam excelentes serviços, procurando e desenvolvendo materiais que cada vez mais se aproximam da textura original da edificação. Mas também pode-se recorrer, em alguns casos, às novas impressoras em três dimensões, eventualmente com um novo acabamento, podendo ficar disponível em base fixa ou removível, recomendando-se, nesse caso, a utilização de uma simples bússola que reposicione a maquete tátil na mesma posição da obra original. Igualmente, os mapas táteis são necessários ao cego para se posicionar em um determinado ambiente desconhecido e, de forma autônoma, tomar decisões quanto à sua destinação. Por isso, deveria-se ter a obrigatoriedade de que todas as edificações públicas ou de uso público, dispusessem desses recursos em sua entrada, como em estações de metrô, rodoviárias, estações de trem, museus, teatros, cinemas, centros Os problemas mais comuns no dia a dia para as pessoas com deficiência auditiva passam, portanto, pela falta de informação da população em geral, aliado à falta de acessibilidade nas escolas e universidades, a dificuldade de resolver problemas que requerem contato telefônico e dificuldade de localização em situações que só usam informações sonoras. Dentre as pessoas com deficiência, os surdos são os mais excluídos socialmente. Por isso, acreditamos que caiba ao Estado disponibilizar o implante Coclear aos surdos, dando ainda a eles todo acompanhamento especializado. Aos que usam aparelhos auditivos, o SUS deveria fornecer as baterias e manutenção aos que não tem condição financeira. A Libras – Língua Brasileira de Sinais deveria fazer parte do currículo do ensino fundamental. Dessa forma, crianças surdas e ouvintes se integrariam desde o início de seus estudos. E os órgãos públicos e de atendimento ao público em geral, deveriam ter funcionários aptos em Libras. Bem como devemos incentivar o uso do sistema de Estenotipia (legenda em tempo real) nos eventos públicos, como forma de atender mais surdos, muitos deles com boa leitura e que não se valem de Libras, como forma de atraí-los a participar de discussões às quais fazem jus na qualidade de cidadãos. No Brasil, esse é ainda um serviço muito caro, especialmente pela falta de profissionais. Isso sem falar nos programas de TV e cinemas, que deveriam ter as legendas embutidas ou em Closed/Open Caption. Existe ainda o recurso do chamado Aro Magnético, comum em outros países, inclusive na nossa vizinha Argentina, mas que não temos no Brasil. É comum também, que em locais públicos, como aeroportos, as informações aos usuários seja prestada exclusivamente pelo auto-falante, excluindo o surdo do entendimento de mudança de portão de embarque ou outra informação importante. Por isso, alarmes luminosos e informações escritas são essenciais nesses locais, assim como avatares em Libras, quando possível, em todos os locais onde haja alto-falantes destinados ao público, de forma que tudo que seja dito por alto falantes apareça também escrito em telões. Ainda tocando nos problemas dos surdos, eles não conseguem sequer acionar um serviço de emergência, sendo necessário que haja profissionais preparados para trocar mensagens via celular ou smartphones com o surdo, com a devida compreensão das dificuldades de alguns quanto ao nosso idioma. Serviços essenciais, como polícia, bombeiros, ambulâncias, bancos etc... deveriam ter atendimento ao surdo via “chat” ou SMS. Pessoas com Deficiências Físicas e com dificuldades de locomoção Agora com o advento da Copa do Mundo no Brasil e das Olimpíadas, o número de turistas com deficiência será grande pelas nossas cidades. E como o nosso sistema atual de Taxis vai dar conta de atender a todo esse contingente ? 103 Os chamados Táxis Acessíveis já existem nas grandes cidades, mas o modelo atualmente utilizado, será que é o correto? Vemos o modelo dos taxis acessíveis em Londres, por exemplo, que permite que praticamente todos os modelos de automóveis de todas as montadoras, possam atuar no transporte de PcD, por simplesmente portar uma rampa dobrável lateral, que não traz nenhum transtorno a outros usuários e que permite ao motorista transportar, além de cadeirantes, mães com carrinhos de bebê ou mesmo outros objetos de maior porte, que passam a caber no banco traseiro a partir do rebatimento dos bancos. Sabemos que se houver a exigência do Poder Público para que todos os táxis sejam acessíveis em um determinado prazo, as próprias montadoras disponibilizarão modelos de veículos com essa finalidade, que também servirão para serem comercializados para usuários comuns, sem perder valor de revenda. Sugerimos que haja a exigência do Poder Público de que 100 % da frota dos táxis da cidade seja acessível a partir de um determinado prazo a ser estabelecido, com a concessão de novas licenças apenas sob essa condição. E isso não trará custo algum ao Estado. E os ônibus ? No Brasil, os ônibus foram adaptados em estruturas de caminhões, o chassi é o mesmo, o que gerou os degraus que, além de inacessíveis, comumente provocam acidentes, especialmente para idosos. Assim, para todas as pessoas, e não só para as com deficiência, o modelo de ônibus com o piso baixo é o mais adequado, exigindo menor esforço para rapidamente entrar ou sair do veículo, assim como eliminando-se a necessidade de uso de elevadores, geralmente caros e com dificuldade e morosidade de operacionalização pelo motorista. Além disso, os ônibus mais modernos dispõem de suspensão regulável, podendo rebaixar a sua estrutura até próximo à altura da calçada. Por isso nossa sugestão é que a frota brasileira seja renovada, com ônibus de piso baixo e com rampas removíveis. Temos consciência que muita coisa precisa ser feita, essas apresentadas aqui e muitas outras ideias e experiências efetivas já aplicadas em outros países devem ser avaliadas e colocadas em prática para uma melhor qualidade de vida das pessoas com deficiências em nosso País. Muito já se fez, é fato, mas há muito a se fazer ainda, e boas ideias a de serem levadas em conta. Por isso devemos lutar por um Brasil melhor e mais acessível a todos ! Flávio Scavasin é pessoa com deficiência, membro do grupo “Cidade para Todos – Acessibilidade”, consultor e palestrante em temas voltados a pessoas com deficiência. Foi fundador e vice-presidente da Associação Brasileira dos Portadores da Síndrome da Talidomida – ABPST, ex-presidente voluntário do Instituto de Acessibilidade para a Diversidade (IAD), foi coordenador de Desenvolvimento de Programas da Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo (2008 – 2012), foi gestor do Parque Villa-Lobos, segundo em importância na cidade de São Paulo, que se tornou no período o primeiro parque acessível do Estado de São Paulo (2004 – 2008). É ex-presidente do Conselho Estadual para Assuntos da Pessoa com Deficiência – CEAPcD, é pós-graduado em Administração pela Fundação Getúlio Vargas – FGV, formado em Direito pela Universidade de São Paulo – USP. E-mail: [email protected] 104 por Mariana Alves Montoia Calçadas e Estádios A calçada é parte integrante do sistema viário público, e é destinada a circulação de pessoas, implantação de mobiliário urbano, vegetação, sinalização, e outros, oferecendo dessa maneira um ambiente acessível para as pessoas com deficiências, idosos, gestantes e pessoas com mobilidade reduzida, além oferecer uma cidade com maior qualidade de vida e com uma paisagem urbana mais interessante para todos. Na maioria de nossas cidades é comum não haver a preocupação com a calçada, como resultado, aumenta-se o número de atropelamentos, já que o pedestre é obrigado a disputar espaço na pista com o veículo. Toda calçada deve assegurar o deslocamento de qualquer pessoa, independente de sua idade, estatura, limitação de mobilidade ou percepção, com autonomia e segurança. Para isso ela deve atender aos itens abaixo citados: • Acessibilidade: as calçadas e passeios devem assegurar a completa mobilidade dos usuários, especialmente das pessoas que tenham alguma dificuldade de locomoção, com espaço suficiente para circulação e sinalização tátil adequada. • Dimensões: deve atender às dimensões necessárias na faixa livre de circulação (largura mínima de 1,50 m) e ser projetada para acomodar de maneira agradável o maior número possível de pessoas andando ao mesmo tempo simultaneamente. • Segurança: propiciar a todos segurança e tranquilidade enquanto caminham. • Continuidade: a calçada deve servir como rota acessível ao usuário, sendo um caminho contínuo e de fácil percepção, resguardando sempre seus aspectos estéticos e harmônicos. • Espaço de sociabilização: deve oferecer espaços agradáveis para o encontro entre as pessoas e interação social dessas na área pública. • Desenho da paisagem: organizar todos os elementos da via, propiciando climas agradáveis e contribuindo para o conforto visual do usuário. Na cidade de São Paulo, por exemplo, existe um projeto da prefeitura para padronização e adequação das calçadas, apesar desses esforços o pedestre continua sendo um cidadão de segunda classe. Calçadas com inclinações e pisos inadequados continuam a ser construídas em frente a novos prédios. Em grande parte dos casos a calçada é na verdade a rampa de acesso de veículos, deixando ao pedestre o desconforto de se equilibrar, quando consegue. Idosos, cadeirantes e mães empurrando carrinhos de bebês preferem andar pela rua, junto ao meio fio, do que correr o risco de cair nessas rampas. Da mesma forma, nas regiões de terreno acidentado, as inclinações ao longo da calçada são muitos grandes e geram problemas para as pessoas com mobilidade reduzida. A calçada tem espaço para todos, menos para o pedestre, mas com os atuais projetos da Prefeitura, já podemos ter esperança, de que num futuro próximo o pedestre possa tomar posse do seu direito mais simples: Caminhar. E falando em calçadas acessíveis são elas que nos levam aos tão esperados estádios da Copa do Mundo. Quando se fala em acessibilidade, a primeira palavra que me vem à mente é Bom Senso. Existe uma fina linha entre a falta e o excesso de acessibilidade. Sim EXCESSO ! Durante minha atuação em alguns dos estádios me deparei por Luciene Gomes com essa situação, com a falta de conhecimento no assunto, as pessoas enchem os estádios de piso tátil, e “bolsões” reservados para cadeirantes, achando que dessa forma o estádio ficou muito acessível. É importante ter muito cuidado com isso. O piso tátil, por exemplo, é um aliado da pessoa com deficiência visual, ele facilita a circulação, e avisa quando existem obstáculos, porém, quando usado em excesso acaba por confundir e atrapalhar a circulação da pessoa. Além do projeto de sinalização tátil, também é importante pensar em quais materiais usar, para que eles tenham boa fixação e durabilidade, e beleza. Hoje o mercado dispõe de uma ampla gama de materiais, modelos e cores para aliar a necessidade e boa estética. Outro ponto de extrema importância nos estádios são os locais reservados para cadeirantes e obesos. Eles não devem estar todos juntos, formando um “bolsão” de assentos e espaços reservados. O correto é coloca-los em espaços diversos, com fácil acesso e junto a outras cadeiras comuns, para que a pessoa que vai utilizar esses locais possa ir acompanhada e desfrutar do evento junto aos seus amigos e familiares que utilizarão as cadeiras comuns. Por isso, na hora de projetar um estádio, ou simplesmente reformar uma calçada é importante ter dois itens em mente: Norma Técnica e Bom Senso ! Mariana Alves Montoia é Arquiteta Urbanista especializada e Pós Graduada em Acessibilidade, tendo iniciado seu engajamento pela arquitetura acessível desde seu estágio na São Paulo Transportes (SPTrans), onde já demonstrava grande entusiasmo pela implementação de acessibilidade nos Terminais de ônibus da Cidade. Como docente, trabalhou ativamente no desafio de difundir a causa através do “Curso Acessibilidade na Prática” para representantes das mais diversas áreas técnicas da construção civil, tendo alcançado avanços positivos entre os novos adeptos. Como coordenadora da área de Projetos e Obras da Andaluz Acessibilidade, vem desenvolvendo projetos e consultorias para Estádios, Shoppings e Edifícios residenciais e comerciais de todo o país, sempre focando na arquitetura inclusiva e acessível para todos. Escolha de piso pode se tornar uma armadilha A ndar de cadeira de rodas pela cidade, para mim, é quase sempre um prazer. Meu humor só muda quando não consigo chegar onde quero por falta de acessibilidade, e um elemento importante para permitir ou não o meu (e o de todo mundo) deslocamento é o piso utilizado no espaço construído, uma questão importante em todos os ambientes. A primeira exigência é o uso de antiderrapantes especialmente nas “áreas molhadas” como banheiros, cozinhas e próximo a piscinas, por exemplo, já que nesses locais o uso de água é constante e pisos úmidos e molhados se tornam perigosos e o risco de acidentes aumenta. É fácil imaginar alguém que faz uso de uma bengala utilizando um piso molhado, não é? Sei que nem sempre é fácil fazer alterações nos espaços construídos, mas existem algumas soluções como a colocação de piso antiderrapante sobre o piso existente, só é preciso evitar qualquer desnível acima de 1,5cm como diz a NBR9050/2004 da Associação Brasileira de Normas Técnicas. Outra solução é o uso de fitas antiderrapantes principalmente em rampas e escadas, já que elas também podem ser colocadas sobre o piso já existente. Essas opções são mais baratas e rápidas, mas nem sempre são soluções eficazes e possíveis. Os pisos são diversos e segundo a norma brasileira NBR 13.818/1997 re- vestimentos antiderrapantes são as placas de cerâmica com coeficiente maior ou igual a 0,4 (sempre se informar antes da compra). Algumas pedras não polidas também são antiderrapantes. Para ser acessível, o revestimento precisa ser utilizado de forma fácil e segura, devendo ser também de fácil manutenção e resistente, principalmente quando utilizado nos espaços públicos. Como arquiteta e cadeirante, acho concreto moldado in loco e o concreto os mais adequados, porque quando bem utilizados, são contínuos e possibilitam o uso por usuários de cadeira de rodas, pessoas com mobilidade reduzida ou por pessoas sem dificuldade de locomoção, além de exigirem pouca manutenção. O ladrilho hidráulico, as placas pré- 105 106 por Linamara Rizzo Battistella Mobilidade urbana: uma questão de acessibilidade A -moldadas de concreto e o piso intertravado também podem ser utilizados, mas a manutenção deve ser constante e, sempre que necessário, os pisos devem ser trocados ou reparados. Alguns devem ser evitados como o mosaico tipo português e os pisos de pedra, em especial a Miracema. O mosaico português, que foi amplamente difundido e utilizado na arquitetura brasileira, apesar de lindo, se solta com facilidade e os buracos que acabam se formando por conta de pedras soltas e pela falta de manutenção se tornam perigosos: se as rodas dianteiras da minha cadeira se encaixarem em um desses buracos, posso cair, assim como qualquer pessoa pode tropeçar, mulheres podem enroscar o salto do sapato e se desequilibrar... Além disso, os pisos de pedra em geral provocam trepidações por conta do formato irregular e podem ser escorregadios. É preciso estar atento também à escolha dos pisos táteis que devem ser antiderrapantes, se colados podem se soltar aumentando o risco de tropeços, e quando colocados no contra piso, devem ser nivelados com os demais. É importante pensar no projeto e materiais a serem utilizados nas construções desde a sua concepção sempre se adequando às normas de acessibilidade e ao Desenho Universal, possibilitando assim o uso da cidade por todos. Luciene Gomes é Arquiteta e Urbanista, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Terapia Ocupacional (UFSCar) na área de Acessibilidade e Desenho Universal e Docente do SENAC São Carlos/SP na área de Acessibilidade e Desenho Universal. E-mail: [email protected] Lei Federal Nº 12.587, de janeiro de 2012, que instituiu a Política Nacional de Mobilidade Urbana, tornou obrigatório que as cidades brasileiras com mais de 20 mil habitantes possuam, integrado aos seus Planos Diretores, um Plano Municipal de Mobilidade Urbana, sendo maio de 2015 o prazo final para tal adequação, sob pena de não receberem verbas federais para a área, até que atendam à exigência da lei. Além de buscar eficiência e segurança na circulação urbana, essa norma traz, como primeiro princípio, a “acessibilidade universal”. Assim, para que as cidades cumpram com os requisitos exigidos pela Política Nacional de Mobilidade Urbana, é necessário que adotem os critérios e normas de acessibilidade como pilares fundamentais de seus planos municipais, conforme as leis Nº 10.048 e 10.098 de 2000, bem como o Decreto Federal Nº 5.296 de 2004. Cabe aos estados, como já faz o Estado de São Paulo, tornar prioritárias suas políticas inclusivas e aplicá-las transversalmente. O Metrô paulista, com estações 100% acessíveis, o Rodoanel e os ambulifts entregues aos aeroportos, sob administração estadual, são exemplos marcantes nessa área, bem como, de forma emblemática, a atuação da Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo. Com o aprimoramento de seus Planos Diretores, pela inclusão de Plano de Mobilidade Urbana, lastreado em acessibilidade universal, certamente veremos a otimização de esforços na revisão do desenho urbano, priorização dos equipamentos, mobiliários e veículos acessíveis, redução das barreiras arquitetônicas e urbanísticas, entre outras ações que, além de cumprir a legislação vigente, permitirão o acesso igualitário aos diversos bens, produtos e serviços disponibilizados na sociedade, beneficiando, sem dúvida, toda a população. Prefeitos, mãos à obra ! Linamara Rizzo Battistella é médica fisiatra, professora da FMUSP e Secretária de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo. por Robson Gonzales A Acessibilidade ! cessibilidade, segundo a NBR 9050/04 é a “possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para a utilização com SEGURANÇA e AUTONOMIA de edificações, espaço, mobiliário, equipamento urbano e elementos”. Destaquei duas palavras que são de extrema importância no entendimento do conceito de acessibilidade: promovendo segurança nos acessos e travessias, uso de equipamentos e mobiliários, já temos boa parte da legislação atendida. Para isso, utilizamos a sinalização de piso direcional e de alerta para as pessoas com Deficiência Visual, guarda-corpos e corrimãos, portas com sensores que evitam seu fechamento enquanto se está acessando ao elevador ou edificação etc. Se temos então um ambiente seguro, agora precisamos dar autonomia para que a pessoa utilize este ambiente de forma plena. Como ? Através de sinalização eficiente e com clareza de informações, com rampas que tenham inclinação adequada para que a pessoa em cadeira de rodas possa superar o desnível sem auxílio. Além dos prédios públicos, os condomínios comerciais e residenciais devem permitir acesso e uso, inclusive das áreas comuns, como o hall de entrada do prédio, piscinas, churrasqueiras, salão de festas, banheiro do salão de festas, auditórios etc. Áreas de uso comum, por definição são: espaços, salas ou elementos externos ou internos que são disponibilizados para o uso de um grupo específico de pessoas (por exemplo: salas em edifício de escritórios, ocupadas geralmente por funcionários, colaboradores e eventuais visitantes). Integram ainda estes espaços: as piscinas, salas de jogos, salas de vídeo, brinquedoteca, cozinha gourmet, sala de ginástica, sauna etc. Recentemente fui contratado para fazer um laudo de acessibilidade de um condomínio entregue em 2012, e o que vou relatar me deixou extremamente preocupado: A área comum do condomínio residencial, formado por 2 torres, possui exatamente 73 itens de acessibilidade que não atendem à legislação. Como uma das maiores construtoras do país executa e entrega uma obra com esta quantidade de erros e de barreiras arquitetônicas que impedem a acessibilidade ? Alguns itens somente alguém com olhar treinado e conhecedor da legislação poderia constatar, como a falta de piso tátil no início e término de rampas e escadas, aplicação do Braille e Signos em relevo nas placas de informação, inclinação acentuada em rampas, a bitola dos corrimãos, largura das rampas etc. A edificação foi entregue com erros crassos: a porta do banheiro acessível tem apenas 61cm de largura. Para que serve um banheiro acessível se ele não permite que a cadeira de rodas passe pela porta ? Além disso, todas as portas de acesso possuem 2 degraus de 3 cm cada e a rampa que dá acesso à quadra de esportes termina num outro degrau de 4 cm. A Piscina também não é acessível. A situação relatada é comum à maioria dos edifícios entregues, que deveriam atender a legislação. E 3 fatores são a causa: 1 - Falta do projeto de acessibilidade, ou o projeto feito por arquiteto sem especialização. Não basta “dominar” ou “saber de cor” a Norma NBR 9050. A legislação em questão é bem mais ampla, abrangendo resoluções de CPA´s, Leis e Decretos municipais, estaduais e federais. 2 - Falta de treinamento em acessibilidade dos engenheiros e arquitetos que acompanham a execução da obra. 3 - Fiscais da prefeitura que também não tem o conhecimento necessário sobre acessibilidade e aprovam o habite-se sem que essa questão seja verificada de maneira satisfatória. Além do treinamento dos profissionais envolvidos no projeto e na execução, na minha opinião, o projeto de acessibilidade deve ter o status de “projeto complementar”, assim como os projetos de elétrica e hidráulica, que são executados por profissionais especializados. Este procedimento aumentará a qualidade do projeto e consecutivamente do produto final (obra executada), gerando inclusive economia para as construtoras. Por isso, recomendo: na dúvida, consulte um profissional. Robson Gonzales é arquiteto e urbanista, proprietário da ARPA – arquitetura e projetos para acessibilidade e pós-graduado em acessibilidade e especialista em desenho universal, além de membro da ABNT, ABERGO e CBCS E-mail: [email protected] 107 108 por Silvana Cambiaghi Condomínios antigos podem se tornar acessíveis com poucas adaptações Promover acessibilidade em edificações residenciais construídas há mais de 20 anos não é algo tão complexo, basta bom senso e planejamento das adaptações... P romover acessibilidade em condomínios residenciais verticais construídos anteriores à Lei Nº 11.228/92 (Código de Obras e Edificação da Cidade de São Paulo) não é tão complexo como a maioria imagina e, por isso, pode se avançar bastante nessa questão. O Decreto Federal Nº 5.296/2004 determina, em seu artigo 18, que a construção de edificações de uso privado multifamiliar e a construção, ampliação ou reforma de edificações de uso coletivo devem atender aos preceitos da acessibilidade na interligação de todas as partes de uso comum ou abertas ao público, conforme os padrões das normas técnicas de acessibilidade da ABNT e também os acessos, piscinas, andares de recreação, salão de festas e reuniões, saunas e banheiros, quadras esportivas, portarias, estacionamentos e garagens, entre outras partes das áreas internas ou externas de uso comum das edificações de uso privado multifamiliar e das de uso coletivo [...]. Embora o município de São Paulo possua um Código de Obras e Edificações bastante exigente, muitas construções anteriores a esta data ainda não contemplam as determinações de acessibilidade previstas, porém qualquer pessoa que se sinta prejudicada pode entrar com uma ação judi- cial baseada na Constituição Federal de 1988, em seu artigo 3º, inciso IV e 5º inciso XLI, que garante a todos os cidadãos direito a igualdade, independentemente da condição do indivíduo, sem distinção de qualquer natureza. De acordo com a arquiteta da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida, Silvana Cambiaghi, promover acessibilidade em edificações residenciais construídas anteriormente à Lei 11.228/92 não é algo tão complexo. “Construções antigas podem se tornar acessíveis bastando bom senso e planejamento das adaptações”. Silvana lista algumas modificações mínimas para serem feitas em edifícios residenciais, tais como: rampas na entrada de acesso de pedestres e nas vagas reservada na garagem (quando necessário) sempre com no máximo 8,33% de inclinação, elevadores com metragem de 1,10m por 1,40m e botoeira dos elevadores em Braille. A vaga na garagem para pessoa com deficiência deve ter medida de 3,50m por 5,50m e é obrigatório a reserva de 1% das vagas em prédios que possuam acima de 100 veículos. Silvana Cambiaghi é arquiteta, usuária de cadeira de rodas, mestre em Desenho Universal pela FAU-USP, arquiteta da Secretaria da Pessoa com Deficiência da Cidade de São Paulo, Membro Fundador da Comissão Permanente de Acessibilidade (CPA - SP) e sua atual secretária executiva. Membro da revisão da NBR9050 da ABNT sobre Acessibilidade. Docente dos cursos de Acessibilidade no SENAC, Fupam - FAUUSP , Câmara de Arquitetos e FGVOnline, ABRAFAC, IABSP. Autora do Livro “Desenho Universal: “Métodos e Técnicas para Arquitetos e Urbanistas”, entre outras atividades. nota Supervisor de Acessibilidade A Prefeitura de São Paulo criou o cargo de supervisor de acessibilidade em todas as 32 subprefeituras da capital. O responsável técnico fará o acompanhamento de projetos, obras e demais assuntos relacionados à acessibilidade de pessoas com deficiência e mobilidade reduzida. A portaria foi publicada em 21 de agosto no Diário Oficial do Município pelas Secretarias Municipais da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida (SMPED) e de Coordenação das Subprefeituras. Um servidor público, arquiteto ou engenheiro, será designado em cada local para exercer o cargo e terá que observar a adoção de critérios básicos para a promoção da acessibilidade, incluindo a supressão de barreiras e de obstáculos nas vias e espaços públicos. Um grupo formado por integrantes das duas secretarias coordenará as atividades realizadas pelos “Responsáveis Técnicos para Assuntos de Acessibilidade das Pessoas com Deficiência e Mobilidade Reduzida”, como serão denominados os supervisores nas subprefeituras. Esses profissionais farão a interlocução com a Comissão Permanente de Acessibilidade (CPA), órgão vinculado à SMPED, que oferecerá o suporte técnico e legal referente às normatizações vigentes sobre rampas, calçadas, piso tátil, inclinações, espaçamentos, dentre outras. Os supervisores não terão o papel de fiscalização, que já é feito pelos agentes vistores das subprefeituras, mas poderão fornecer os subsídios técnicos do que deverá ser fiscalizado. Empresas se especializam em acessibilidade para atender a demanda do mercado nacional A lei prevê que todos os edifícios, de uso coletivo (públicos ou privados) e as áreas comuns dos edifícios residenciais (condomínios horizontais e verticais) devem atender as especificações de acessibilidade conforme a Norma NBR9050. E a ACESSO, empresa especializada em consultoria e projetos de arquitetura em acessibilidade atua fortemente em projetos que requerem prioridades técnicas e de melhor solução espacial e estética atendendo ao Decreto 5.296 / 2004 que regulamenta a lei 10.048/2000. Ela oferece consultoria junto aos escritórios de arquitetura não especializados em projetos de acessibilidade e trabalha em parceria na concepção de novos projetos e laudos técnicos para empresas públicas e privadas com comprometimento técnico e legal, requisitos vitais no setor. “Os projetos elaborados pela Acesso, são orientados para atender instituições e órgãos públicos, shoppings, escolas, supermercados, prefeituras, hotéis, hospitais entre diversos estabelecimentos que são nossos clientes, e que em muitas vezes, não possuem um arquiteto responsável para orientá-los no projeto ou execução, o que resulta em compras e instalações equivocadas de produtos de acessibilidade”, comenta Jair Rais, diretor da empresa Andaluz, empresa parceira da Acesso, que também viabiliza projetos de mobiliário urbano, comunicação visual e tátil vertical e horizontal que atendam a legislação. A equipe de arquitetos da empresa, possui experiência e especialização em acessibilidade. Levando acessibilidade para todo Brasil Empresa 100% brasileira, a recém inaugurada Tátil Acessibilidade, fica na região do Butantã, na capital paulista, já firma parcerias estratégicas para seu negócio com duas importantes empresas do setor de acessibilidade. Dentre outras, ela é distribuidora oficial da empresa Andaluz Acessibilidade, líder em produtos para sinalização vertical e horizontal focados na pessoa com deficiência visual, e também parceira da empresa Acesso, especializada em consultoria e projetos de arquitetura em acessibilidade, com forte atuação em empresas públicas e privadas. A empresa comercializa e distribui nacionalmente produtos como: sinalização podotátil em placas e elementos soltos que podem ser colados ou adesivados ao piso, como também fixados em carpete para rede de cinemas e hotéis através de um novo conceito de fixação mecânica, além de toda linha de sinalização alerta e direcional, com placas em porcelanato, para utilização em áreas internas ou externas em shoppings, hotéis e prédios comerciais. Também comercializa placas em Braille, pictogramas, placas de comunicação visual, barras de apoio e anel de corremão. 109 110 por Scott Rains Design for All India Turismo Inclusivo é a aplicação sistemática dos sete princípios do Desenho Universal pela indústria de viagens e hospitalidade. Abordam a idealização, desenvolvimento, marketing e supervisão de todos os seus produtos e serviços. Desenho Universal inclui sempre a acessibilidade para pessoas com deficiência. No entanto, ele sempre supera a acessibilidade, apontando até o objetivo da atitude da inclusão. Esta filosofia de projetar visa a inclusão da mais ampla gama de pessoas sob a mais ampla gama de circunstâncias. Resumindo os objetivos em uma só palavra, eles abrangem os temas de: I magine que você foi a um restaurante com algumas pessoas. Você ficaria se descobrisse que não havia cadeiras suficientes para todos do seu grupo de amigos ? Se todas as luzes do estabelecimento estivesse apagadas ? Se você fosse proibido de falar dentro do ambiente ? Você provavelmente iria embora e nunca mais voltaria, não é mesmo ? Algo publicado este mês pela Dra. Regina Cohen colocou a indústria do turismo do Brasil em estado de alerta, pois dizia que o país era visto como um restaurante que não tinha o essencial. Esse momento é ideal para nós, como pessoas com deficiência. Imaginem novamente: e se o nosso restaurante imaginário for de comida japonesa, tailandesa ou afegão, onde sentar em almofadas no chão é tradicional ? Ou se este é um dos vários restaurantes boutiques do mundo, onde todos os cozinheiros e empregados são cegos e compartilhar essa experiência sensorial junto com a comida boa é a sua especialidade ? Ou se você tiver escolhido um teatro e depois um jantar ? Cultura, atitude e definições de lazer guiam um negócio, uma indústria, ou mesmo um país inteiro na construção da experiência que eles consideram normal. Não conseguem entender que o “normal” não é universal, e eles simplesmente nunca vão ver aqueles que optaram por não vir por terem sido excluídos da imaginação daqueles que tem o poder de construir a realidade social. Viagens para pessoas com deficiência é o tema da edição recente da Design for All India, revista que a professora Regina Cohen, da UFRJ escreve. Especificamente, na seção “Turismo Inclusivo: Perspectivas Internacionais, Acessibilidade e Inclusão no Turismo Brasileiro”, este é o nome da edição com 183 páginas de artigos em Inglês. O que trago aqui é uma rápida revisão. * Desenho para corpos atuais * Conforto * Consciência * Entendimento * Integração social * Personalização * Adequação A partir desta perspectiva de renome mundial Regina Cohen junta com 5 outros autores, inclusive eu, para analisar os resultados do seu trabalho abrangente dos últimos 10 anos e orientar a indústria para o que é necessário na proxima etapa. E o que é necessário agora ? O que é necessário agora é chamado de cadeia de fornecedores ? 111 Cada cidade deve garantir que eles tenham pelo menos um itinerário totalmente acessível disponível para cada uma das três principais classes de turistas com deficiência: cegos, surdos e pessoas com mobilidade reduzida. Eles devem incluir: transporte adequado, opções para comer, alojamento e acesso aos seus destinos turísticos, como praias, museus e estádios da Copa 2014. Felizmente, a recente edição da “Design for All India” fornece a base de conhecimento para lançar estas cadeias de fornecedores regionais e alia-las a nível nacional e internacional. Ela contém artigos como: - Acessibilidade no lazer e turismo: Reflexão de uma Nova Sociedade - Ricardo Shimosakai - A cidade do Rio de Janeiro, Inclusive Turismo e megaeventos - Augusto Cardoso Fernandes - Acessibilidade e Turismo Inclusivo em Cidades Históricas. O Caso de Ouro Preto/MG - Brasil - Natália Rodrigues de Mello, Cristiane Rose Duarte e Regina Cohen - Perspectivas Internacionais - a experiência de Scott Rains Pense nisso como a rede movimentada que o nosso restaurante precisa para permanecer no negócio: os agricultores, os caminhoneiros, os mercados, os fabricantes de utensílios de cozinha, até mesmo as pessoas que vendem cadeiras e lâmpadas, porque não? O Brasil deve unir os seus fornecedores distintos de conhecimentos, serviços e produtos, que possibilitam o turismo para pessoas com deficiência. Três autores deste jornal, Regina Cohen, seus colegas de pesquisa: Cristiane Rose Duarte e Natalia Rodrigues de Mello, juntos com o Grupo Pro Acesso da UFRJ, fazem um dos mais fortes motores de conhecimento no Brasil neste campo. Autores: Augusto Cardoso Fernandes, do Comitê Paraolímpico Brasileiro e Ricardo Shimosakai, da Turismo Adaptado, colocam esse conhecimento em prática através de serviços, como oficinas. De fora do Brasil, eu ajudo em ambas as áreas de conhecimento e de serviços, bem como direcionando produtos de turismo e reabilitação do exterior para o mercado brasileiro. Mas é necessário ainda mais. Para crescer nessa cadeia, ajudaria se cada uma das 12 cidades-sede da Copa 2014 pensasse em si como um produto, que é montado por cada turista que a visita. Esse produto é uma experiência de lugar. Algumas pessoas que vêm a ter essa experiência terão deficiência. Quem dá o ritmo dessa experiência, de antemão, é normalmente chamado de itinerário. Itinerários acessíveis e inclusivos são os “produtos”, que uma cadeia de fornecedores inclusiva no Brasil torna possível. No coração desta edição da revista está uma peça escrita por Regina Cohen e Duarte chamada: INCLUSÃO NO TURISMO BRASILEIRO. Ela abrange sustentabilidade, características do mercado de pessoas com deficiência que viajam, a importância da imagem de acessibilidade para um destino turístico, e uma metodologia para a criação de um guia de acessibilidade para os destinos. Algum dia, toda esta revista de 183 páginas poderá ser traduzida em Português - ou talvez não. O que importa agora é que este tesouro de pesquisa e visão traduzida em ação e absorvido pelo DNA cultural do Brasil. Scott Rains é cadeirante, americano, escritor e palestrante, mora na Califórnia, e é um dos maiores consultores mundiais sobre acessibilidade, uma verdadeira referência. Foi o fundador do Fórum Global em Turismo Acessível e escreve artigos para várias publicações em diversos países falando sobre o tema da pessoa com deficiência. E-mail: [email protected] 112 por Deborah Prates Rock in Rio não foi para todos ! F oram 150 mil m² de área glamorosa, maravilhosa, mágica, mas que pessoas com algum tipo de necessidade especial - dentre elas as pessoas com deficiência - não puderam usufruir inteiramente. Lamentável ! E olha que o slogan do evento é: “POR UM MUNDO MELHOR”... Vale enfatizar que as acessibilidades constituem genuínos DIREITOS HUMANOS. Sem elas estão maculadas a dignidade, honra e a cidadania das pessoas. Deixam de ser assegurados os direitos de ir e vir, igualdade, segurança, lazer... Dessa sorte, justificadas foram as visitas da Comissão de Direitos Humanos da OAB/RJ à Cidade do Rock, em 28 de agosto e 09 de setembro. Entre uma e outra, nenhuma mudança foi registrada a favor das acessibilidades quanto aos erros apontados. As rampas erradas (fora do padrão de acessibilidade) continuaram condenadas; o acesso que ficou de ser providenciado na entrada da sala de imprensa não foi feito; a palestra de capacitação que fiquei de fazer, pelo avançado da hora para a abertura da programação especial para convidados e fornecedores foi adiada e não ocorreu; o piso de pedras continuou solto por todo espaço e perigoso para qualquer transeunte. De novidade, conseguiu-se ver apenas um banheiro acessível, numa das seis ilhas que estariam disponíveis ao grande público. Os banheiros feitos sob encomenda ficaram excelentes. O piso plástico imitando tábua corrida não estava derrapando. O espaço permitia um giro de 360º com a cadeira de rodas. Foram colocados dois vasos sanitários de boa altura e disposição, sendo um deles protegido com barras de ferro atrás e do lado direito. A pia estava bem posta, dando para a entrada da cadeira e para que o cadeirante pudesse usar a torneira adequadamente. Toalheiro e porta sabão estavam em boa altura. Foi sentida a falta de um apoio para bolsas e utensílios que também pudesse servir de trocador de fraldas. Notou-se que a torneira da pia deveria ser de alavanca pensando em pessoas com deficiência que não tenham mãos ou dedos para girar sua chave. Pena que no dia da inauguração muitos banheiros estavam interditados em todas as seis ilhas. Numa delas, o banheiro acessível (com uma plaqueta com uma cadeira de rodas) estava sendo usado por mulheres SEM deficiência. A fila, como de se esperar numa noite com cerca de 90 mil pessoas, era quilométrica. Sem qualquer funcionário para organizar, tive mesmo foi que brigar para entrar. Para tanto, várias poças de urina tiveram que ser vencidas ! Inacreditavelmente a rampa de acesso às ilhas de banheiros estavam fora do padrão, pelo que inacessível aos cadeirantes e demais pessoas com deficiências físicas. Os setores específicos para acomodar pessoas com algumas necessidades especiais (PcD, grávidas, idosos, pessoas com limitações temporárias etc) não estava satisfatório. Por ilustração o espaço voltado para o palco mundo estava com parapeitos, em forma de grades de proteção, soltos e muito elevados. Portanto, além de perigosos, ainda atrapalhando a visão dos cadeirantes. A rampa de acesso estava absolutamente cruel. Nenhuma independência teria um cadeirante para subi-la. Inexistia corrimão que o caminho exigia como medida de segurança. Havia um tapume que tentava atuar como amparador, sendo 113 que um funcionário sugeriu que os que necessitassem poderiam ir fazendo dessa falsa parede seu apoio. Desumano ! A vedação provisória, feita de tábuas, que acompanhava o percurso iniciava depois de alguns metros do começo dessa inacessível rampa, estando frouxo/instável e terminando numa enorme fenda/fresta, à espera do pé de algum cego ! Esse espaço - localizado debaixo do brinquedo tirolesa para aproveitamento do terreno na diagonal principal - prejudicou a visão, por inteiro, do palco. A promessa de existência de Equipe de Apoiadores para o trato/recepção dos “diferentes” somente funcionaria com palestras de capacitação. No dia da estreia, de fato, existiam pessoas credenciadas, no entanto NADA sabiam acerca desse contingente “especial” de pessoas. Nadamos, nadamos e morremos na praia ! Em relação aos brinquedos, a roda gigante estava inacessível às pessoas com deficiências físicas, bem como aos que estivessem com alguma limitação motora temporária. Para os pessoas com deficiências visuais encontrava-se em boas condições. No entanto, qualquer pessoa com deficiência precisaria de ajuda nesse parque. Solicitou-se para a edição 2015, pelo menos, uma cabine com total acessibilidade, melhor explicitando, daquelas que a cadeira de rodas pode entrar e ser protegida pelas grades de segurança. Nenhum dos apoiadores com quem trocou-se ideias havia ouvido falar em parques/brinquedos ACESSÍVEIS !!! Na área VIP havia uma rampa que deveria levar um cadeirante e outras pessoas que necessitassem de acessibilidade a um platô, todavia, íngreme. Seu destino seria um elevador que tinha um degrau para a entrada. Descrição que foge totalmente ao raciocínio lógico, valendo dizer ao bom senso. O elevador estava em sintonia com os critérios de acessibilidade, mas sem eficácia ante os obstáculos apontados. Ao lado do elevador havia uma escadaria onde o corrimão começava, inacreditavelmente, no terceiro degrau, totalmente fora dos parâmetros determinados. Nessa enorme e linda área também havia uma corrediça/trilho - bem saliente no chão - dividindo a área coberta da varanda - que impedia a passagem de cadeiras de rodas e de todos aqueles com dificuldades para andar. Sem contar os distraídos que, certamente, estariam correndo risco de acidente. Assim, no quesito acessibilidade, pouco foi feito para essa edição 2013 que diferencie a situação da edição 2011. Sem dúvida um ponto favorável foi o terreno estar bem mais plano. A nosso pedido fora disponibilizada pulseira, com o objetivo de melhor atendimento aos diferentes que quisessem. Importante deixar esse ponto bem claro, valendo dizer que aos que se sentissem desconfortáveis em seu uso bastaria a recusa. Logo, uma opção a mais sem constrangimento de parte a parte. É o que muitos juristas denominam de “discriminação positiva/afirmativa”. De qualquer forma, ficou a proposta para que, na edição 2015, a campanha do Rock in Rio tenha como foco a pessoa com deficiência, como forma de sensibilizar a coletividade para a construção de um “MUNDO MELHOR PARA TODOS”. Restou ratificada e reiterada a necessidade de, ao longo dos próximos dois anos, fazer palestras de capacitação para toda equipe de trabalho, inserindo, é óbvio, os parceiros/apoiadores, objetivando despertar a solidariedade. A Comissão da OAB/RJ preparou um relatório de falhas a serem corrigidas, na intenção de colher flores na edição 2015 do Rock in Rio. Os grandes eventos têm o dever de deixarem bons legados à coletividade ! Deborah Prates é advogada e delegada da Comissão de Direitos da Pessoa com Deficiência da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/ RJ). Mantém um blog em que trata de questões sobre os direitos dessas pessoas (http://deborahpratesinclui. blogspot.com/)
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